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O Desejo do Outro

Vasco D. Lopes
Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social

Descritores: fantasmagoria, Fight Club, o histéricos em conexão com os sonhos


Outro. diurnos."

3. “ Numa relação direta e exclusiva com


Fundamentação Teórica o inconsciente, ligada ao desejo, como
Fantasma, fantasia, fantasiar, fantasmago- ponto de partida para a formação do
ria são termos que imediatamente evocam, sonho e outras formações do inconsci-
pelo menos na sua noção vulgar, aquilo que ente” (sintoma, acto-falhado).
se opõe à realidade. Se considerarmos es-
Abraham nos seus estudos sobre o fan-
tes termos como o produto mais genuíno da
tasma descreve “o fantasma como uma som-
imaginacão, a fantasia é, sem dúvida, a au-
bra, tratando-se de uma formação do in-
sência de realidade. Contudo, para Freud o
consciente com a particularidade de nunca
termo Phantasie não se situa neste campo de
ter sido consciente, e decorrendo da passa-
oposicição com a realidade; por isso, decidiu
gem do inconsciente de um dos pais para o
traduzir não por fantasia, mas sim por fan-
inconsciente do filho de maneira intrusiva,
tasma.
com uma função diferente do recalcado dinâ-
Segundo Mascarello (2002), ele faz a sua
mico; assim, o fantasma transmitido ao filho
aproximação em três níveis:
encerra aquilo que, para o pai ou para a mãe,
1. No sentido corrente, "são os ’sonhos teve valor de ferida ou catástrofe narcisista.”
diurnos‘, cenas, episódios, romances, Mais do que discutir a definição de fan-
ficções, que o sujeito constrói e conta a tasma, o que nos interessa abordar nesta
si mesmo em estado de vigília." breve inserção teórica, será o fantasma e a
própria fantasmagoria, desta feita, presente
2. A partir da expressão "fantasia incons- em Fight Club, David Fincher (1999), (ob-
ciente"que "serve para designar [tanto] jecto de estudo). A fantasmagoria numa
um devaneio pré-consciente que o su- acepção mais evidente parece estabelecer,
jeito constrói e do qual poderá ou não com certeza, uma relação de oposição rela-
tomar consciência, [quanto] elemento tivamente à realidade. A fantasmagoria é
precursor (escalão prévio) dos sintomas a própria ausência dessa realidade. Freud
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mostrar-nos-á que a ideia de fantasma é como o sintoma, do significante do Outro, do


aquilo que suporta a realidade do próprio su- saber do Outro, a não ser da ausência do Ou-
jeito e abarca toda a sua vida. Está sempre tro).
presente e faz parte do quotidiano de todo o É dizer que tanto o passado, como o pre-
ser falante e pensante, pois uma parte notá- sente, como o futuro, está modulado e mol-
vel de sua vida desperta, nos sonhos, nesses dado pela função do fantasma. O protago-
esquemas e histórias que são parcialmente nista de Fight Club, David Fincher (1999)
acessíveis. A representação mais evidente utiliza, de certa forma, o seu alter ego como
destas sequências é imaginária e sua função psicanalista, na medida em que ele (o outro)
é figurar um jogo de prazer e de gozo que se vai pegar nas próprias imagens fantasma-
funde negativamemte na realidade. góricas, fragmentá-las e tentar traduzir es-
Mas a ideia de fantasma e fantasmagoria sas imagens (passado) em palavras ( “ This
nao se esgota neste vago conceito. Para além is your life. . . and it’s ending one minute a
disso tem muito mais analistas, para além de time!”- Tyler Durden). Este processo siste-
Freud, Abraham e Mascarello, que estudam mático é utilizado como tentativa de terapia
e abordam esta temática do fantasmagórico. e libertação de traumas e complexos no pro-
O fantasma é também uma maneira de ser tagonista através do seu Outro, mas sem re-
e estar do próprio sujeito pensante e falante sultados (imagem-palavra). O estado de alie-
relativamente ao Outro. Esta será, então, a nação mental do paciente (!), o seu constante
ideia crucial. A ideia do Outro deverá es- estado insone e inconstante estado de nerco-
tar sempre presente, pois será a partir dessa lépsia não permitiram o processo de raciona-
conjectura ideária que Fight Club será acre- lização da imagem e sua aniquilação (do fan-
ditado. Ora: tasma). Relembremos que estamos a falar de
Relacciona-se com a própria realidade uma ficção.
(psíquica) e o com o próprio carácter. E o Nos seus primeiros delineamentos do apa-
que é o carácter personificativo? É a uni- relho psíquico, Sigmund Freud irá situar a re-
dade singular e interactiva de um ser humano alidade psíquica entre a sensibilidade e mo-
que diz respeito a um conjunto de caracte- tricidade, e propõe que concebamos cada
rísticas pessoais persistentes e perante estí- uma das instâncias ou sistemas que integram
mulos do exterior, manifesta-se depois numa o seu espaço como diferentes inscrições de
coerência interna. Poderíamos dizer que é signos (Zeichen). Psychische Realität é o
algo que vai e volta sempre ao mesmo sítio. termo de que se serve Freud para designar a
Essa modelação está associada à dimensão realidade psíquica; trata-se, com este termo,
fundamental do fantasma e ao facto de que não só de localizar a mente (em oposição à
este procura no sujeito uma significacão ab- matéria), mas também tudo o que adquire va-
soluta (antes da qual não há nada. É isto que lor de realidade no psiquismo.
distingue a significação do sintoma. Assim São estes signos, ou representantes da re-
como com o sintoma é sempre possível re- presentação (Vortellungsrepräsentanz), que
começar de significante em significante, com Lacan chamará de significantes. O signifi-
o fantasma estamos sempre num começo ab- cante será então definido como o que repre-
soluto. É-o porque o fantasma não procede, senta o sujeito para um outro significante.

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A evidenciação do representante ou do Apesar deste filme sugerir várias ideias e


significante na realidade psíquica do sujeito discussões, inclusivé, sobre a Sociedade de
forçará a conceber a representação (Vors- Consumo (vai no sentido de que, por exem-
tellung) como sendo da ordem do signifi- plo, nós não compramos simplesmente um
cado, quer se trate da representação da pa- cartão de crédito, compramos a forma de
lavra (Wortvorstellung) consciente, ou da re- vida que está implícita nele. Mediante essa
presentação de coisa (Sachevortsellung) ou permissa pode-se concluir que o imaginário
pensamento inconsciente. da sociedade contemporânea está sensivel-
É precisamente no espaço de contenda dos mente relacionado ao consumo e mecanis-
representantes e de suas representações que mos de produção, associação e construção de
Freud situa o fantasma. A miscigenação as- imagens. Fight Club, David Fincher (1999) é
sim atribuída ao fantasma conduz Lacan a um filme inflexível a este mecanismo de pro-
enunciar a estrita equivalência entre este e a dução de imagens abordado no início deste
realidade (psíquica). parágrafo. O filme critica esse sistema no
Todo este conceito foi transferido para a qual estamos inseridos e propõe uma destrui-
tela de cinema pelas mãos de David Fincher ção dessa Sociedade de Consumo. A lógica
em Fight Club, (1999). O filme aborda a his- do filme guia até outra questão, é possível
tória de um homem frustado e solitário que viver sem estar preso a uma imagem -?-), o
está passando por uma terrível crise de in- Homem pós-moderno (as ideias subversivas
sónia (Edward Norton) e que frequenta reu- da desvalorização da vida humana, econo-
niões de grupos de apoio de doenças termi- mia globalizada, stress, desiquilíbrio mental,
nais e encontra aí o seu único conforto. Pas- lógica de consumo, construção de imagem,
sando de grupo em grupo ele depara-se com falta de perspectiva que define o homem pós-
outro simulador/fingidor, ou "turista,"Marla moderno) e a Violência (além da violência
Singer (Helena Bonham Carter). No en- intra-psíquica que pode alcançar um nível
tanto, ao regressar de uma viagem de negó- psicótico, superpõe-se uma outra violência,
cios, ele encontra um personagem (o Outro) de nível social, quando a realidade traumá-
mais intrigante e subversivo Tyler Durden tica é negada pela Sociedade, a partir do con-
(Brad Pitt), vendedor de sabonetes. Tornam- texto grupal comunitário e de suas institui-
se rapidamente amigos, ligados pela repug- ções . A falta do reconhecimento do trauma-
nância mútua em relação à hipocrisía in- tismo real produz uma violência enlouque-
corporada de cultura de consumo. Inevi- cedora. O Niilismo virou mercadoria nessa
tavelmente, os dois formam um Clube de ‘civilização do mal-estar’ ), a principal ideia
Luta, que decorre num porão onde homens do filme é exactamente a relação entre o fan-
de todas as idades e classes sociais decidem tasma e a realidade ( e é isso que queremos
aliviar suas frustrações em lutas brutais de aprofundar): a ideia do subconsciente (!).
corpo a corpo até à exaustão. Esse clube de O personagem de Edward Norton é a re-
luta, torna-se, assim, a única prioridade real presentação do consciente, do lado racional
daqueles homens; quando o clube se começa do ser humano. Repressor, ele é a voz da mo-
a expandir ele ganha dimensões gigantescas ral. Inclusivé é ele o próprio narrador. En-
até se tornar numa organização terrorista. quanto que Tyler Durden (Brad Pitt) é o sub-

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consciente, a voz do instinto, solto. Talvez Na obra de Freud (O poeta e os sonhos


o melhor exemplo desta distinção, e que irá diurnos, 1908) há um exemplo-chave que
servir de paridade análoga exemplificativa, vai analisar o jogo infantil como analogia do
seja a própria relação dos dois com Marla fantasma, o famoso jogo do carrinho: a cri-
Singer (Helena Bonham Carter). Enquanto ança pequena tem um carrinho atado a um fio
que o primeiro a trata com uma sensibilidade e atira-o fora do berço e volta a recolhê-lo.
sistemática – vide sequência em que Norton Um jogo repetitivo: quando atira o carrinho
procura um caroço nos seios de Marla para diz fort (fora) e quando o recolhe da (aqui).
constatar cancro de mama -, Tyler é absolu- A criança manifesta um verdadeiro rego-
tamente desinteressado e desprendido, tanto zijo perante este jogo a respeito do qual
que é um verdadeiro garanhão na cama. Freud vai dizer que a criança nao joga so-
As referências a Freud são inúmeras mas zinha e que à partida se joga com o Outro
a diretriz principal seguida pelo filme é essa materno. Este jogo está em reacção com a
dualidade do ser humano, entre as forças do ausência da mãe, é com esta ausência com a
inconsciente e a razão. A própria descrição qual a criança joga, joga com um Outro do-
de Tyler feita pelo narrador reforça essa afi- mesticado até ao ponto que se pode identi-
guração dual do Outro. ficar com o carrinho mesmo. É neste con-
Tyler é responsável pela montagem de fil- flito que o protagonista do filme em análise
mes a serem exibidos nos cinemas. No en- se encontra. Ele evoca um Outro Eu porque
tanto, ele não faz o seu trabalho de forma sentirá, necessariamente, a falta do anjo tu-
convencional: entre uma cena e outra de um telar e maternal de figura feminina (Marla
filme infantil, ele coloca fotogramas de ór- Singer). Devido aos seus complexos não ul-
gãos genitais masculinos. Essa é uma clara trapassados e actos-falhados não resolvidos
metáfora sobre o subconsciente e seu papel ele terá de se auto-figurar numa afiguração
nos sonhos. "Enquanto todos dormem, ele idealizada na sua realidade (psíquica) e criar
trabalha", ( sonhos diurnos de Mascarello e outra imagem (fantasma) de forma a satisfa-
Freud), diz o personagem de Norton, voice zer as suas necessidades e resolver os seus
over. complexos. Acontece que, depois de tanto
Assim, o cinema seria comparável ao so- brincar com o seu amigo imaginário (fort-
nho e Tyler, ao subconsciente. Na teoria psi- da) vezes consecutivas, ele próprio se ema-
canalítica freudiana, o sonho seria o meio en- ranhou na fantasmagoria criada por si e criou
contrado para o subconsciente se expressar. mesmo outra pessoa (dualidade personifica-
Além disso, o sexo (bem presente em várias tiva).
sequências) e suas representações são o pi- O protagonista joga com a ausência de um
lar fundamental de todas as neuroses e pro- vulto feminino ( a mãe não aparece, mas
blemas psiquiátricos do ser humano. Ele re- aparece Bob com seios gigantescos e Marla,
presenta uma válvula de escape (fantasma) com quem somente o seu alter ego consegue
para o personagem sem nome interpretado relaccionar-se sexualmente), assim como a
por Norton. O relacionamento entre eles vai criança joga com a ausência da mãe, ausên-
se estreitando, principalmente após o aparta- cia que se faz presente do seu desejo; quando
mento de Norton ir pelos ares. nao está, não se pode perguntar a que se deve

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essa ausência, mas sim qual é o seu desejo não se apercebe”), mas principalmente por-
(?). Na angústia suscitada pelo enigma do que são essas imagens subliminares (me-
desejo (evocação) do Outro materno a cri- mórias/evocações) que nos transtornam no
ança produz essa maquinação do Fort-Da. filme. Apesar desse efeito traduzir bem o
Trata-se de domesticar esse desejo do Ou- que vive o personagem principal que está o
tro que suscita angústia e obter a partir desse tempo todo como que preso num sonho, di-
fundo de angústia um prazer através da sua zendo o tempo todo que não sabe o que é
maquinação lúdica. O que ilustra este jogo é real; isso tudo, o tempo todo, as imagens in-
generalizado ao fantasma: o fantasma é uma comodam o leitor e deixa a leitura ser des-
máquina que se põe em jogo quando se ma- confortável. Não que isso seja uma desvan-
nifesta o desejo do Outro (imagens sublimi- tagem. É claro que não. Não esquecer que
nares em Fight Club - evocação), uma má- o fantasma é tecnologia de comunicação en-
quina destinada a proteger-se da angústia e quanto imagem e enquanto matéria.
coordenando o gozo ao prazer. Lacan virá dizer que é imagem aquilo que
O fantasma desencadeia-se, portanto, provoca realmente a angústia, simboliza a
quando encontramos uma falta do Outro, perda que causa o desejo, ou encarna o auto-
uma falta de significante que responda qual é erotismo que a imagem no fantasma fixa.
o seu desejo (?). Perante este enigma do de- Ninguém diria que o jogo da criança se
sejo do Outro a resposta é o fantasma. Ora, opõe à realidade. Pelo contrário, constitui
é sob esta conjuntura teórica que Fight Club, uma actividade central na vida da própria cri-
David Fincher (1999) se vai debruçar. É pelo ança. Através do jogo vemos como a criança
desejo do outro (na sua realidade psíquica) organiza, interpreta e se relacciona com os
que o protagonista vai evocar um alter ego outros e com o mundo: através do jogo ela
que se manifesta em forma de imagens su- vai construir a sua própria realidade. Quando
bliminares no inicio do filme: antes de Ty- a criança deixar de jogar, a pergunta que
ler Durden (o Outro) surgir em cena, a sua surge é qual é a coisa que pode estar a subs-
evocação é feita através do dispositivo téc- tituir o jogo (?): a resposta de Freud é muito
nico de 4 fotogramas isolados inseridos no clara: o fantasma, quer dizer, as histórias que
decorrer do filme, tendo como intencionali- a criança conta para si mesmo. E o jogo,
dade expressiva o desejo pelo Outro. É isso esse, será executado de outra forma (dife-
que vemos. rente da outra).
Estas imagens inseridas no filme vão pro- Através deste filtro, a criança vai fabricar
duzir mediação e rematerializar um mundo a sua própria realidade. Dito de outra forma,
desaparecido, não só porque os fantasmas a realidade, que nao é o real, está marcada
entram no mundo dos vivos através do apa- pelo fantasma, nao é senão uma fantasmati-
relhos mediáticos ( no próprio filme -ficção zacão do real, uma construção do sujeito e
dentro da ficção- Tyler Durden é projecci- de sua reacção com o mundo. O mundo para
onista “ o circulozinho à direita quer di- o sujeito humano, é antes tudo o mundo dos
zer que se vai mudar de bobine” e ele co- outros, daqueles que falam e com os quais
loca um fotograma pornográfico na mudança toda a reacção está mediada pela palavra e
de bobines em filmes infantis e “o público linguagem.

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Voltando à pergunta pelo desejo do Ou- falta no Outro como desejo do Outro; ao
tro, como se manifesta este desejo (?). A mesmo tempo indica que não há significante
pergunta pelo desejo do Outro é uma con- para inscrever a relação sexual; por isso jus-
sequência da inconsistência da língua. A lin- tamente há um desejo; há um desejo porque
gua é inconsistente porque um significante nao se inscreve a relação sexual. Assim a
só se define pela sua reacção a outro signi- pergunta do enigma da sexualidade está in-
ficante, sem que haja um último significante timamente ligada à pergunta pelo desejo do
que seja a garantia da significação. Outro. Ante estes enigmas as crianças in-
Já sabemos que o primeiro Outro da lín- ventam uma série de teorias que tem o valor
gua permanece suportado para a criança na de uma resposta fantasmática. O decisivo
figura da mãe: "fazes isto, mas o que é que é que a resposta ao desejo do Outro - o falo
queres?". Se o que uma mão diz é incompre- - condenará o sujeito à ausência de relação
ensível, não é porque a criança não entenda sexual.
as palavras e a sua significação, porque para Em Fight Club, David Fincher (1999)
além do seu valor de signo, temos de ter em deparamo-nos com uma relação estritamente
consideração o valor de significante. Que masculina (pela ausência da figura feminina
resposta poderá haver perante este vazio da ele vai evocar como carrinho - exemplo do
ausência da significação do seu desejo enig- jogo - uma figura masculina: um alter ego).
mático? É o corpo. O corpo irá preencher o Esta relação poderá ser confundida com um
tal vazio. homoerotismo baseado numa suposta atitude
Efectivamente, ante o insimbolizável, ante comportamental misógina do protagonista,
o real do desejo do Outro, o fantasma ofe- remetendo-o para um contexto gay. Juízo
rece uma resposta que implica sempre o pressuposto este, que poderá ter algum fun-
corpo (materialidade). Encontraremos no damento somente do ponto de vista emoci-
fantasma o corpo como imagem; mas des- onal em que há uma espécie de adicção to-
cubriremos também que essas imagens do xicomaníaca no sentido de se complemente-
corpo que habitam, que conformam o argu- rem (aliás, eles são a mesma pessoa – duali-
mento do fantasma, são a vestimenta que co- dade personificativa), já no que diz respeito
bre o outro corpo que não é o corpo tranqui- ao ponto de vista material nada na imagem,
lizador que nos dá uma resposta ou o corpo explicita ou implicitamente, nos leva a essa
como esperamos que seja reconhecido pelo conclusão (apesar de não chegar a ter rela-
olhar do outro. Noutras palavras, encontrare- ções sexuais com Marla Singer -!-).
mos o corpo no fantasma como imagem, mas O Cinema é a 7a arte. Ele tem de pos-
também na relação às pulsoes (que é aquilo suir uma grande intencionalidade expressiva:
que articula a sexualidade no ser falante des- a função do Cinema é representar as emo-
provido de instinto). ções humanas, e neste filme a reprodução da
No entanto, Teorias sexuais infantis é um vida mental é cuidadosamente reproduzida:
texto fundamental de Freud para entender o vai representar os processos psicológicos in-
modo de resposta do fantasma à falta do Ou- teriores do sujeito que cria o mundo como
tro. Uma falta que tem uma dupla dimen- uma narrativa. Se o filme aborda temati-
são. Por um lado indica o significante que camente as profundezas do inconsciente hu-

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mano, os pensamentos desordenados, a fan- Lacan, J. (1954/1975) ; Livro 1, Os Escritos


tasmagoria, a memória e a imaginação ( o Técnicos de Freud ,Jorge Zahar Editor:
próprio genérico inicial demonstra e justifica RJ
isso mesmo), a sua afinidade com a narrativa
é eminente ( narrativa não-linear). Hoje em Laplanche, J. & Pontalis J.- B. (1985); Fan-
dia, não só a narrativa se desenrola em prol tasme Originaire, Fantasme des Origi-
da unidade temática que queremos abordar; nes, Origines du Fantasmes. Paris: Ha-
cada vez mais os filmes dão relevo à estrutura chette
formal (dispositivo técnico) e os 4 frames de Laplanche, J. & Pontalis J.B. (1982); Voca-
Tyler Durden em Fight Club são disso exem- bulário da Psicanálise, Martins Fontes:
plo (o desejo do outro). São Paulo

Bibliografia Mascarello, Fernando (2002); Questões so-


bre os termos Fantasia e Fantasma, T.
Abraham, Nicolas & Maria Torok (1978); A V. N.
casca e o núcleo, Escuta: São Paulo
Mirat, Dolores Castillo; Diccionario Critico
Assoun,P. (1983); Introdução à Epistemolo- de Ciencias Sociales, Román Reyes
gia Freudiana, Imago: RJ U.CMadrid
Boudrillard, Jean (1981); Simulacres e simu- Palahniuk, Chuck (1997); Fight Club, ed.
lation, Galilée: Paris, Vintage: NY
Boyne, Rob & Ali Rat. (1991); Postmoder- Roudinesco, E. & Plon (1997); Dicionário
nism and Society, McMillan Education de Psicanálise, Jorge Zahar Ed: Rio de
ltd Janeiro
Freud, S. (1920); Mas allá del principio del
placer. In S. Freud, Obras completas
(Vol. 19). Amarrortu: Buenos Aires,
Argentina

Garcia-Roza, L. A (1990); Palavra e Ver-


dade na filosofia antiga e na Psicaná-
lise, Jorge Zahar Editor: RJ

Kaës, R. (1994);La parole et le lien. Dunod:


Paris

Lacan, Jacques (1966); Écrits , Esquema R.:


Paris, Seuil

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