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COLÈGIO BATISTA MINEIRO

Murilo Fernandes Lopes

UM PEQUENO HISTÓRICO DOS CONFLITOS AGRÁRIOS MAIS MARCANTES


NA HISTÓRIA BRASILEIRA DO SÉCULO XX-XXI
A primeira instância, o campo trás na mente das pessoas um local de paz. Uma
paisagem bonita, e um ar límpido. Entretanto, pelo menos ao se tratar do Brasil, isso é
apenas uma miragem. Uma capa que cobre um cenário terrível, a de que o ambiente
rural é um dos mais violentos do país. Uma pesquisa feita pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT) revelou que no Brasil em 2016, existem diariamente, quatro conflitos
agrários. Isso em média daria 120 disputas mensais, e mais de 25000 em todo ano.

As causas dessas disputas tem em grande parte, como apontado pela pesquisa, o conflito
entre os grandes fazendeiros contra o Movimento Sem Terra (MST) e os povos
indígenas. Muitos proprietários de terras, para tentar acabar com a resistência, usam de
milícias locais e até mesmo de jagunços. Esses meios de contenção geraram atos de
extrema violência, como o fatídico dia do Massacre de Eldorado do Carajás.

O causo, divulgado no Jornal do Brasil em 18 de abril de 1996 com o título de


Vergonha: Sem terra são executados a sangue frio no Pará, foi resultado de uma ação
policial contra uma passeata do MST. Ela visava adquirir posse de uma propriedade na
região e possuía apenas fins passivos. A repórter Marisa Romão presenciou a cena e a
descreveu como uma ação covarde. Segundo o relato, os policiais cercaram o local e
utilizaram toda violência o possível. Uma filial da Rede GLOBO de Televisão mostrou
com detalhes o resultado da ação policial. 19 pessoas morreram. Oito delas com seus
próprios instrumentos (foices e facões) enquanto o restante fora baleado. Os corpos
alvejados, ao todo, contavam com 37 tiros, o que em média daria quatro tiros por
pessoa. Resultou-se que no final, apenas os dois comandantes da operação, José Maria
de Oliveira e Mário Pantoja foram condenados a cumprir pena em liberdade.

Outra ação cruel que marcou o cenário brasileiro foi a morte do sindicalista Chico
Mendes. O homem, antigo trabalhador como seringueiro, defendia os direitos da
profissão e lutava a favor da preservação da Amazônia. Entretanto, suas ações em prol
da sustentabilidade irritaram fazendeiros próximos, e em especial o ruralista Darly
Alves, que já possuía histórico de agressões no passado. Resultou que, em 1988, o
senhor Mendes foi assassinado pelo filho deste, a seu comando. Os dois foram levados a
júri popular e condenados a 19 anos de prisão. Ela só foi possível, pois um menino de
13 anos que trabalhava para os dois tomou nota da preparação para o assassinato.
Mais recentemente, em 2005, mais uma lutadora a favor da preservação e dos direitos
humanos teve sua vida ceifada. Dorothy Stang era uma Norte-Americana naturalizada
brasileira, que devido costumes religiosos, se interessou pela defesa da Amazônia e a
população pobre. Ela era membra da CPT e já havia relatado as ameaças de morte que
havia sofrida. Em uma coluna feita por Frei Beto para o GLOBO, sua frase acerca das
ameaças foi evidenciada: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que
estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor
numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devasta”. Foi então que
aos 73 anos de idade, em uma estrada de terra de difícil acesso, foi alvejada com seis
tiros, sendo que um atingiu sua cabeça.

Em relação ao caso de Dorothy, os acusados quase não tiveram os fins que mereceram,
visto que seus processos penais foram complicados. A cobertura da prisão pelo O
GLOBO mostrou que os principais acusados, os ruralistas Vitalmira Moura e Regivaldo
Pereira Galvão, tiveram respectivamente, um juramento no qual foi absolvido e uma
prisão tardia (apenas em 2019)

Os índices de violência altos, e a morte dessas personalidades servem para mostrar o


quão ruim está a situação. Grande parte se deve a falta de punição, a mesma que libertou
os policiais responsáveis pelo massacre em Eldorado do Pará e deixou os culpados pela
morte de Dorothy mais de 10 anos livre. Enquanto o cenário político não mudar, e ações
começarem a ser feitas, as agressões desse péssimo cenário ainda vão ser sentidas, e a
desigualdade o índice de mortalidade só vai aumentar.

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