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POR CYNTHIA CASTRO E VINICIUS LACERDAPUBLICADO EM 14 DE FEVEREIRO DE 2023 |

23H30
A crise humanitária entre os povos Yanomami chegou a uma situação tão crítica, depois da morte
de mais de 500 crianças por fome, malária e pneumonia, que O TEMPO decidiu viajar ao coração
da Floresta Amazônica e tentar ouvir o grito de socorro. Este conteúdo especial Yanomami traz o
resultado do trabalho de dez dias, em Boa Vista, capital de Roraima, e no interior do território
indígena, em Surucucu. Se você quer entender melhor essa crise, como e por que a situação
chegou a esse ponto, não perca as mais de 40 reportagens e entrevistas (veja o índice no fim do
texto).
Num primeiro momento, o conteúdo especial traz o drama do povo Yanomami, visto pelos olhos
dos nossos dois repórteres e dois fotógrafos que pisaram no território indígena, no Norte do
país. Acompanhamos o resgate emocionante de um bebê de 2 meses, com quadro grave de
desnutrição: “Eu não garanto até amanhã”, desabafou a médica, ao reivindicar uma vaga na
aeronave para levar a criança até o hospital de Boa Vista.

Um homem adulto, com corpo esquálido e sem forças, também foi carregado por integrantes da
Força Nacional SUS, sob as lentes da nossa reportagem, para dentro do helicóptero.

Equipe de saúde cuida de bebê Yanomami no posto de Surucucu. Foto: Fred Magno/O
TEMPO

Trazemos fotos desses momentos mais emblemáticos e entrevistas com lideranças indígenas,
profissionais da saúde, militares das Forças Armadas.

Em um segundo capítulo da história que apresentamos, contamos quem são os Yanomami, qual é
o modo de vida desse povo além de ressaltar a importância da mulher Yanomami para a luta
coletiva na floresta. Imperdível também é a entrevista com o escritor Frei Betto e a análise dele
sobre a cultura colonialista que impera até hoje.

As duas netas de Matheus Sanöma com a avó, Larissa Sanumá. Foto: Flávio Tavares/O TEMPO

Na terceira etapa da reportagem especial, mergulhamos na origem da crise Yanomami: o garimpo


ilegal. Além da desestruturação do sistema de saúde indígena, que não consegue oferecer
assistência básica a esses brasileiros, a invasão dos garimpeiros traz um cenário devastador. Do
alto da aeronave das Forças Armadas, mostramos o rombo na Floresta Amazônica e como a
atividade é nociva para o ambiente e para os povos originários.

Ouvimos antropólogos, lideranças e pesquisamos sobre o estupro de mulheres indígenas por


garimpeiros. Trazemos ainda uma reportagem mostrando como os indígenas são os guardiões
da floresta, que ajudam a barrar o desmatamento e as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo,
são os maiores prejudicados pela degradação ambiental.

Vista aérea da terra indígena Yanomami no estado de Roraima. Foto: Fred Magno / O Tempo

Nossa reportagem especial também conta com análises e informações sobre o que está sendo
feito para resolver essa situação e sobre como chegamos até ela. Assuntos como o desmonte da
política indigenista e o corte da verba da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai)
fazem parte das reportagens. O especial de O TEMPO traz ainda o que compete a cada ministério
atualmente, as ajudas de associações nacionais e de organismos internacionais.

Fechamos os capítulos mostrando a presença dos Yanomami na cultura por meio de


manifestações de Milton Nascimento e do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que
escreveu artigos, nos anos 1970, também em defesa desses povos originários. Um deles,
publicado na Folha de S.Paulo, traz um título que continua atual, 44 anos depois: “Não deixem
acabar com os Yanomami”.

Yanomami, acompanhada de criança, carrega alimentos para casa. Luta da mulher indígena é por
sua cultura, seu território e seu povo. Foto: Fred Magno / O TEMPO

Por que decidimos publicar as imagens


Colocar a imagem de um Yanomami em evidência é tido como uma restrição para esses povos
indígenas, principalmente depois que eles morrem. Na cultura Yanomami, todo o rastro das
pessoas, incluindo a fotografia, precisa ser destruído após a morte. Desde o início da concepção
deste especial, a divulgação das imagens dos Yanomami foi tema de longas reuniões de redação.
Levamos o debate, inclusive, a antropólogos, professores e outros profissionais que lidam com o
tema indígena.

Nos momentos em que essas fotos dos Yanomami foram feitas por O TEMPO, na região de
Surucucu e em Boa Vista, a equipe estava acompanhada de alguma liderança indígena. Na edição
do material, a primeira preocupação foi tentar preservar ao máximo as crianças e também algumas
imagens que julgamos ser mais invasivas.

Entretanto, diante da gravidade dessa crise humanitária, de forma respeitosa e em um contexto de


luta por um povo que precisa de ajuda e de sensibilização nacional e mundial, decidimos expor
alguns rostos, inclusive o que ilustra a capa deste caderno especial e traduz de forma profunda o
olhar de quem pede socorro para sobreviver.

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