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Integrantes: Ajeji Dias Santos, Marco Antonio Silva Pinterich, Maria Eduarda da Silva Jana, Isabelly Narciso Alves
Silva
2.1. Uma Reflexão Cosmológica Yanomami sobre o Ocidente: Fala aos Brancos
“Povo da mercadoria”, é assim que Davi Kopenawa define os brancos dentro de sua
fala, esse processo se dá por uma reflexão que encontra amparo cosmológico para se manter,
isso pois dentro do contexto de criação para os Yanomami, existiram assim dois seres de
extrema importância, Omama, criador dos Yanomami, da terra-floresta (urihi) e das palavras
que hoje Kopenawa reproduz aos brancos, e seu irmão Yoasi, deu origem aos brancos, estes
estão atrás – mesmo sem saberem – de algo importante que está por debaixo da terra, o Pai do
Ouro. Essa narrativa toma uma segunda camada quando Davi explica o fato do ouro ser um
agente direto dentro do pensamento Yanomami, esse assim é algo perigoso pois é um ser que
está vivo, sua morte se dá ao “ser queimado”, em decorrência dessa morte o ouro solta seu
sopro vital, ou fumaça do ouro (oru wakixi), sobro esse que é uma fumaça nociva que afeta a
todos, alguns – como os brancos – são afetados de forma a terem que usar óculos para que
possam ver, outros – como os Yanomami – se afetados de formas mais intensas, pois essa
fumaça volta para suas terras, como uma fumaça epidêmica chamada de xawara, que se
alimenta dos Yanomami. O ouro toma assim um duplo local na fala de Davi, se o sol aquece a
terra de dia, o ouro que fica abaixo tem a responsabilidade de aquecê-la de noite, para que
não passe frio, por esse motivo tendo que ser mantido na terra junto com os metais.
Para além disso, os seres da epidemia xawara são os responsáveis por matar e
dizimar em grande parte os Yanomami, para esse fato Davi explica a questão da mercadoria,
isso pois esse serem vem a terra-floresta junto aos brancos, mas não estão atrelados
diretamente com todos os não indígenas, Kopenawa coloca o fato desses seres serem atraídos
pelo cheiro da mercadoria, essa que traz esse seres para floresta (urihi), assim o xamã ao
descrever esses seres os coloca como aparentados aos garimpeiros, e vivem cercado de
mercadorias, e se alimentam da carne Yanomami, principalmente das crianças, dos mais
velhos e mulheres. O maior problema alertado por Davi em relação a esse processo se da com
o fim dos xamãs e da floresta, por meio da fala dos xapiri, Kopenawa coloca que no
momento em que não houver mais xamãs, e a floresta for dizimada na busca por metais, o
céu irá cair, pois o mesmo é segurado pelos metais que estão no solo, deste modo soltando
uma fumaça epidemia capaz de matar toda a humanidade.
A análise de Kopenawa se coloca de maneira muito forte sobre o processo de
acumulação de capital, sobre a necessidade da terra enquanto algo que provem, não por acaso
é colocada sempre como terra-floresta, não é apenas um espaço onde os Yanomami vivem,
essa foi dada por Omama como um ser vivo que irá prover todas suas necessidades, e os
deixaram prosperar bem, mediando a existência de humanos e não humanos um local que em
pode ser lido como necessário ao mundo, o olhar de um xamã como um especialista dentro de
seu modo de viver o mundo.
4. Conclusão
Para concluir podemos pensar que o protagonismo indigena trazem, junto a sua
ontologia, uma reflexão de outra ordem, que proporciona novos trajetos epistemológicos e
políticos para se pensar o ocidente e sua estrutura, ou até refletir sobre as considerações já
feitas pelo diversos antropólogos sobre comunidades tradicionais, dando ênfase no
contrapondo da perspectiva de João Paulo Lima Barreto com a ideia de Viveiro de Castro
sobre o perspectivismo e multinaturalismo na América indígena (2004), colocando a
diversidade do pensamento indigena, que agregam para novas formas de se pensar o mundo
de forma ampla, passando pelo pensamento xamânico de Kopenawa, ou no resgate
cosmológico de Lima Barreto
BIBLIOGRAFIA
BARRETO, João Paulo Lima. Wai-Mahsã: peixes e humanos. Um ensaio de Antropologia Indígena. 2013. 93 f.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Editora Companhia
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NAPËPË. Direção: MARIN, Nadja. Produção: Lente Viva Filmes. São Paulo. 2004. Duração: 40 minutos.
Disponível em: https://vimeo.com/15964569. Acesso realizado em 17 de janeiro de 2023.
SILVA, Andreza Bianca Caxias da. Selvagens, nus, ferozes e canibais: os tupinambás nas representações de
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2012.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O que nos faz
pensar, [S.l.], v. 14, n. 18, p. 225-254, sep. 2004. ISSN 0104-6675. Disponível em:
<http://www.oquenosfazpensar.fil.puc-rio.br/index.php/oqnfp/article/view/197>. Acesso em: 17 jan. 2023.