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Avaliação de parâmetros de qualidade

físico-químicos de polpas congeladas de


acerola, cajá e caju1

Maria Elisabeth Barros de OLIVEIRA2,*, Maria do


Socorro Rocha BASTOS2, Terezinha FEITOSA2,
Maria Aurineide de A. Castelo BRANCO3, Maria das
Graças Gomes da SILVA4

RESUMO
Foi avaliada a qualidade das polpas congeladas
de acerola, cajá e caju, produzidas e
comercializadas por empresas paraibanas e
pernambucanas, através de parâmetros físico-
químicos, com a finalidade de verificar a sua
adequação às normas e padrões vigentes no
país. Os valores médios obtidos, para os dois
Estados, foram: a) polpa de caju - pH = 4,11;
sólidos solúveis = 9,75° Brix; acidez em ácido
cítrico = 0,39%; açúcares redutores =5,74%;
vitamina C = 162,89mg/100g. b) polpa de cajá -
pH = 2,50; sólidos solúveis = 7,5° Brix; acidez
em ácido cítrico = 1,09%; açúcares redutores =
2,73%; vitamina C = 10,29mg/100g. c) polpa de
acerola - pH = 3,07; sólidos solúveis = 6,25°
Brix; acidez em ácido cítrico =1,03%; açúcares
redutores = 3,20%; vitamina C =
989,47mg/100g. Os resultados obtidos para as
polpas de cajá e caju foram comparados com o
P.I.Q. de suco dessas frutas e a polpa de acerola
com o padrão específico. Os resultados
indicaram que 68,2% das amostras de polpa de
cajá e 59,1% das amostras de polpa de caju não
se enquadraram nos padrões para suco das
mesmas frutas. Quanto à polpa de acerola,
40,7% das amostras não atenderam ao padrão,
conforme a legislação vigente. Os resultados
obtidos indicam a urgência na elaboração dos
P.I.Q’s para as polpas de cajá e caju, a fim de
garantir ao consumidor produtos de qualidade.
Palavras-chave: qualidade, polpa de fruta
congelada, Padrão de Identidade e Qualidade.

SUMMARY
Physico chemical parameters evaluation of
acerola, yellow mombin and cashew apple
frozen pulps. This work was conducted to
study the quality of frozen fruit pulps of cashew
apple, yellow mombin and acerola produced by
enterprises from Paraíba and Pernambuco
States (Brazilian northeastern region), in order
to verify if they are according to Brazilian
regulatory laws. The mean values for pulps
from both states were: a) cashew apple: pH
4.11; soluble solids = 9.8°Brix; acidity in citric
acid = 0,39%; reducing sugars = 5.74%;
ascorbic acid = 162.89mg/100g. b) yellow
mombin: pH = 2.50; soluble solids = 7.5°Brix;
acidity in citric acid = 1.09%; reducing sugars =
2.70%; ascorbic acid = 8.87mg/100g. c)
acerola: pH = 3.05; soluble solids = 6.50°Brix;
acidity in citric acid = 1.04%; reducing sugars =
3.20%; ascorbic acid = 989.51mg/100g. The
result revealed that 68.2% of yellow mombin
pulp samples and 59.1% of cashew apple pulp
samples were found in disagreement with the
QIS juice of these fruits. Concerning to acerola
pulp, 40,7% of samples were also in
disagreement with the required standard,
according to Brazilian legislation. Such findings
indicate the necessity to set up QIS for yellow
mombin and cashew apple pulps in order to
offer good quality products to consumers.
Keywords: quality, frozen fruit pulp, Quality
and Identity Standard.

1 – INTRODUÇÃO
A indústria de polpas congeladas de frutas tem se expandido
bastante nos últimos anos, notadamente no Nordeste brasileiro.
As unidades fabris se compõem, em sua maioria, de pequenos
produtores, onde grande parte deles utilizam processos
artesanais, sem a devida observância das técnicas adequadas de
processamento.
A polpa congelada, por apresentar características de
praticidade, vem ganhando grande popularidade, não só entre
as donas de casa, mas também em restaurantes, hotéis,
lanchonetes, hospitais, etc., onde é utilizada, principalmente,
na elaboração de sucos.
A necessidade de diretrizes para a elaboração de Padrões de
Identidade e Qualidade (P.I.Q.) para polpa de frutas tropicais
congeladas se faz presente, em função da atual situação de
comercialização do produto, uma vez que se observa uma
grande variabilidade no que concerne às características
organolépticas: cor, sabor, aroma e textura, que são atributos
mais facilmente detectáveis pelo consumidor, além da
qualidade sanitária, menos notória ao público e que, em
algumas indústrias, deixa muito a desejar.
Em função da não existência de padrões para polpa de cajá e
caju, foram utilizados os P.I.Q.’s para sucos [8, 9], como
referência para avaliar a qualidade destas polpas. A polpa de
acerola, foi comparada com o padrão específico, estabelecido
pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento [7].
O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade físico-química
das polpas de acerola, cajá e caju produzidas e comercializadas
nos Estados de Pernambuco e Paraíba, verificando a sua
adequação às normas e padrões vigentes no país.

2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Material
Foram analisadas 71 amostras de polpas congeladas, de
diferentes marcas, sendo 22 de cajá, 22 de caju e 27 de acerola,
produzidas e comercializadas por empresas paraibanas e
pernambucanas nas cidades de Baieux, Campina Grande, João
Pessoa, Olinda, Petrolina, Jaboatão dos Guararapes, Igarassu,
Gravatá e Recife, no período de julho a setembro de 1996.
As amostras, adquiridas diretamente nas indústrias produtoras
ou no comércio local, foram coletadas, ao acaso, na quantidade
de 1kg, para cada sabor, divididas em saquinhos de 100g,
conforme embalagem original de comercialização. A seguir,
foram armazenadas à temperatura de - 18°C, transportadas por
via aérea para o laboratório do Centro de Agroindústria
Tropical, acondicionadas em caixas de isopor e, novamente
estocadas, nas condições anteriores, para análises posteriores.
A seleção das empresas produtoras de polpas, baseou-se em
listagem expedida pelo Ministério da Agricultura e do
Abastecimento das indústrias registradas naquele órgão e pela
relação das empresas membros da Associação dos Produtores
de Polpa do Estado de Pernambuco (PROPOLPA).
Neste trabalho, foram avaliadas 21 de um total de 54 (38,9%)
indústrias no Estado de Pernambuco e 5 de um total de 11
(45,5%) no Estado da Paraíba.
2.2 – Métodos
Para todas as determinações analíticas, as polpas de frutas
foram descongeladas, homogeneizadas e deixadas equilibrar à
temperatura ambiente (26°C).
Apesar de saber-se que o ácido orgânico predominante na
acerola e no caju é o ácido málico, determinou-se a acidez em
ácido cítrico para viabilizar a comparação com os padrões de
referência.
Admitiu-se uma tolerância de ± 5% sobre os valores obtidos
para efeito de comparação com os padrões utilizados como
referência.
As medidas de pH foram feitas em pHmêtro marca Digimed
MD 20.
Os sólidos solúveis (°Brix), foram determinados em
refratômetro marca AUS-JENA e seus resultados corrigidos
para 20°C [14].
A acidez titulável em ácido cítrico e os açúcares redutores,
foram determinados segundo as normas analíticas do
INSTITUTO ADOLFO LUTZ [14].
O teor de vitamina C, foi determinado por titulação com 2,6
diclorofenolindofenol segundo metodologia descrita em LEES
[16].

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
As características físico-químicas das polpas de acerola, cajá e
caju encontram-se nas Tabelas 1, 2 e 3, respectivamente.
3.1 – pH
O pH das polpas de acerola variou 2,50 a 3,30 com média de
3,07, que de uma maneira geral, são concordantes com os
resultados relatados por NUNES [24], para a polpa in natura
dos clones 99 (3,44) e 410 (2,72); e por DIÓGENES
NOGUEIRA [12], para os clones UFC (3,32), Mt Peq (3,32) e
Mt Gr (3,34), divergindo, no entanto, dos altos valores
relatados por BEZERRA et al., [6] que registram variações de
3,96 a 4,40. Deve-se salientar, que apenas o valor mínimo
detectado, encontrou-se abaixo dos dados relatados para o
fruto de acerola, estudado por diversos autores [6, 11, 12, 24].
Das 27 amostras analisadas, apenas 1 (3,7%) não se enquadrou
no padrão, que estabelece valor mínimo de 2,80. As polpas de
cajá apresentaram pH variando de 2,14 a 3,21 com média de
2,57. Os resultados aqui detectados são inferiores aos
encontrados por SILVA [31] (2,99) e ALDRIGUE [1] (2,9)
para a polpa in natura. Os dados obtidos vêm a confirmar ser a
polpa de cajá bastante ácida. O pH das polpas de caju variou
de 3,51 a 4,46 com média de 4,11, que são concordantes com
valores encontrados pelos diversos autores que estudaram este
fruto, TELLES [33], (4,1) MAIA [20], (4,30), SOUZA FILHO
[32], (clones CP 1001 4,21,CP 76 4,25, CP 06 4,34), MAIA et
al., [21] (4,13). Dos três sabores de polpas analisados, esta
apresentou os maiores valores para pH.
3.2 – Acidez
A acidez é um importante parâmetro na apreciação do estado
de conservação de um produto alimentício. Geralmente um
processo de decomposição do alimento, seja por hidrólise,
oxidação ou fermentação, altera quase sempre a concentração
dos íons de hidrogênio [14], e por conseqüência sua acidez. Os
ácidos orgânicos são produtos intermediários do metabolismo
respiratório dos frutos e são muito importantes do ponto de
vista do sabor e odor. A acidez, em ácido cítrico, das polpas de
acerola variou entre 0,47 e 1,56% com média de 1,04%.
Observou-se, com relação às polpas procedentes do Estado da
Paraíba, que esta variação, correspondeu à do ácido ascórbico.
Apesar de não ser uma correspondência linear, aquela que
apresentou menor valor de acidez, foi a que teve menor teor de
vitamina C, enquanto que as outras polpas, que tiveram maior
percentual de acidez corresponderam aos maiores teores de
ácido ascórbico detectados. De acordo com ASENJO [4], a
acidez do suco varia proporcionalmente ao comteúdo de
vitamina C. Esta variação embora direta, não é linear, o que
indica a presença de outros ácidos. DIÓGENES NOGUEIRA
[12], detectou valores que variaram de 1,24 a 1,29% para a
polpa dos clones UFC, Mt Peq e Mt Gr, enquanto NUNES
[24] obteve valores na faixa de 1,05% para a polpa do clone 99
e 1,22% para o clone 410, ambos os trabalhos, expressam a
acidez em termos de ácido málico. Com relação à acidez, 6
dentre as 27 amostras analisadas (22,2%), estão em desacordo
com o padrão de polpa de acerola [7] que estabelece valor
mínimo de 0,80 e máximo de 1,20%. As polpas de cajá
apresentaram acidez titulável em ácido cítrico que variou de
0,47 a 1,75% com média de 1,31%. A faixa encontrada é
semelhante aos valores, para o cajá, relatados por ANDRADE
[3] (0,39 a 1,65%), ao estudar as características de algumas
frutas de interesse para a fabricação de polpas. O valor médio
observado é inferior ao valor médio detectado por SILVA [31]
(1,43%), porém, semelhante ao encontrado por ALDRIGUE
[1] para a polpa (1,1%) e para a polpa + casca (1,6%). Com
relação a este parâmetro, constatou-se que 14 das 22 amostras
analisadas (63,6%) não se enquadraram no padrão para suco de
cajá, conforme a legislação vigente no país [8]. A acidez das
polpas de caju variou de 0,20 a 0,81% com média de 0,39%. O
valor médio detectado foi inferior ao encontrado por SOUZA
FILHO [32] (0,47%, 0,49%) e superior aos relatados por
OLIVEIRA [25] (0,260%), para a polpa in natura do clone
CCP 09. Este parâmetro foi o que apresentou maior amplitude
nos resultados encontrados, indicando uma grande
variabilidade nas amostras, que pode ser devida à utilização de
frutos em diferentes estados de maturação ou, até mesmo
diluição do produto durante o processamento. Em relação a
este dado, 5 das 22 amostras analisadas (22,7%) encontravam-
se em desacordo com o padrão para suco integral de caju
(0,3%) [9].
O altos valores de acidez detectados, nas polpas aqui
estudadas, poderiam ser atribuídos a fatores, tais como baixa
qualidade da matéria prima e/ou mau estado de conservação
das mesmas, enquanto os baixos valores observados indicam,
possivelmente, a diluição do produto por adição de água.
3.3 – Sólidos solúveis (°Brix)
Sólidos solúveis, medidos por refratometria, são usados como
índice dos açúcares totais em frutos, indicando o grau de
maturidade. São constituídos por compostos solúveis em água,
que representam substâncias, tais como açúcares, ácidos,
vitamina C e algumas pectinas. O teor de sólidos solúveis das
polpas de acerola variou de 4,40 a 9,16°Brix com média de
6,50°Brix. A faixa detectada é compatível com trabalhos de
diversos autores que estudaram a polpa de acerola in natura
[11, 12, 24, 27]. Com relação aos sólidos solúveis, 7 dentre as
27 amostras analisadas, (25,9%) estão em desacordo com o
padrão [7] que estabelece valor mínimo de 6,00°Brix. Vale
ressaltar que o teor de sólidos solúveis pode variar com a
quantidade de chuva durante a safra, fatores climáticos,
variedade, solo, etc, além, é claro, há que se considerar que
durante o processamento, alguns produtores adicionam água
para facilitar o processamento, levando à condição de
abaixamento do teor de sólidos solúveis no produto final. O
teor de sólidos solúveis das polpa de cajá variou de 4,24 a
10,48°Brix com média de 8,74°Brix. Os resultados
encontrados são próximos aos relatados por SILVA [31]
(8,80°Brix), porém inferiores aos relatados por ALDRIGUE
[1] para a polpa (13,1°Brix) e polpa + casca (11,7°Brix) e por
LIMA [18] (14,83°Brix). Considerando o PIQ para suco de
cajá [8], que estabelece o teor mínimo de sólidos solúveis de
8,00°Brix [21], 14 das 22 amostras analisadas (63,6%)
encontravam-se em desacordo com o padrão. As polpas de
caju , com relação aos teores de sólidos solúveis, se situaram
entre 6,50 e 13,90°Brix com média de 9,75°Brix. OLIVEIRA
[25], estudando a polpa in natura, encontrou valor médio
superior (11,22°Brix) como também SILVA JR & PAIVA [30]
para diversos clones (CCP 09 e L 49, 12,60°Brix; CP 76,
11,90°Brix; CP 1001, 10,90°Brix), porém, o valor médio
detectado é compatível com o valor médio encontrado por
MAIA et al., [21], para o fruto maduro (10,7°Brix). De acordo
com o PIQ para suco integral de caju [9], 12 das 22 amostras
analisadas (54,5%) estavam em desacordo com o padrão,
conforme a legislação vigente, que estabelece o teor mínimo
de sólidos solúveis de 10°Brix.
A faixa de maior ocorrência, quanto ao teor de sólidos
solúveis, para as polpas de acerola foi de 5,00 a 6,98°Brix;
para as de caju de 9,08 a 10,66°Brix e para as polpa as de cajá
de 6,00 a 7,80°Brix.
3.4 – Açúcares Redutores
Os frutos carnosos, têm, em geral, como característica comum
sua riqueza em açúcares e acidez relativamente elevada. As
pentoses, e mais concretamente a ribose, são açúcares
redutores mais reativos; as hexoses (glicose, frutose) são um
pouco menos reativas e os dissacarídeos redutores (lactose,
maltose) ainda menos [10]. Os açúcares redutores, na polpa de
acerola variaram de 2,05 a 4,95% com média de 3,20%,
compatível com aqueles detectados por ASENJO &
MOSCOSO [5] (2,8 a 3,7 g/100 ml), SANTINI [28] (3,7 a
3,9g/100 ml) e DIÓGENES NOGUEIRA [12] (2,84 a 3,94%),
porém inferiores aos valores médios encontrados por NUNES
[24] para a polpa ‘in natura" (5,50 e 5,10%). A polpa de cajá
variou de 1,03 a 4,07% com média de 2,73% que é inferior a
aqueles citados por SILVA [31] (4,53%) e bastante diferentes
dos valores médios relatados por ALDRIGUE [1] para a polpa
(7,0%) e polpa + casca (9,0%), LEON & SHAW [17] para a
porção comestível do cajá (9,41 e 6,74%). Para a polpa de
caju, observou-se valor mínimo de 3,14% e máximo de 7,03%,
cuja média de 5,74% é inferior aos relatados por SILVA JR &
PAIVA [30], para 4 clones (11,50; 10,70; 10,00; 10,30%),
MAIA [20] (7,80%), OLIVEIRA [25] para a polpa in natura
do clone CCP 09 (8,84%), ALMEIDA & VALSECHI [2]
(7,28; 6,84%) para as polpa de cajus amarelos e vermelhos,
respectivamente. Os PIQ’s não fazem referência à açúcares
redutores e sim açúcares totais por esse motivo não fez-se a
comparação desse dado.
3.5 – Vitamina C
A vitamina C é a mais facilmente degradável de todas as
vitaminas. É estável apenas em meio ácido e na ausência de
luz, de oxigênio e de calor. Os principais fatores capazes de
degradar o ácido ascórbico são: meio alcalino, oxigênio, calor,
ação da luz, metais (Fe, Cu, Zn) e a enzima oxidase do ácido
ascórbico [29]. Por ser de valor nutricional relevante,
comparou-se aqui, o teor de vitamina C, das polpas de acerola
por Estado. Verificou-se que as polpas paraibanas variaram de
470,24 a 1.191,95mg/100g cuja média de 857,95mg/100g é
semelhante ao valor médio encontrado por NUNES [24] para o
clone 99 (830,77mg/100g), sendo, no entanto inferior ao clone
410 (1.505,8mg/100g) estudado pelo mesmo autor.
DIÓGENES NOGUEIRA [12] encontrou teores elevados para
a polpa in natura dos clones UFC (1.607,00mg/100g), Mt Peq
(1398,43mg/100g) e Mt Gr (1.510,12mg/100g). COUTINHO
[11], fazendo uma avaliação do teor de vitamina C da matéria
prima, oriunda de João Pessoa, para o processamento de polpa
de acerola, detectou variação de 1.214 a 1.876mg/100g. As
polpas do Estado de Pernambuco variaram de 514,46 a
1655,53mg/100g com média de 1.024,95mg/100g. A faixa
detectada neste trabalho é compatível com aquela observada
por LOPES et al., [19], (602,41 a 1.575,49mg/100g) ao estudar
o teor de ácido ascórbico e dehidroascórbico em polpas de
acerola congeladas e comercializadas na cidade de Recife.
Observou-se, que os valores médios detectados para as polpas
pernambucanas, estavam acima daqueles encontrados para as
polpas paraibanas, cerca de 19,5%. Segundo HARRYS &
LOESECKE [13], embora o teor de ácido ascórbico, em
algumas plantas, seja influenciado por fatores hereditários, é
afetado também, pela temperatura, intensidade da luz e
conteúdo de umidade, e que talvez, o exemplo mais extremo
da influência dos fatores genéticos no conteúdo de ácido
ascórbico apareça na acerola, pois há valores deste nutriente,
diferindo de cerca de 300 vezes para este produto. Com relação
a este parâmetro, 4 dentre as 27 amostras analisadas (14,8%),
estavam em desacordo com o padrão para polpa de acerola [7].
A polpa de cajá revelou teores máximos e mínimos de 18,53 a
4,51mg/100g, respectivamente, e média de 10,29mg/100g, que
é inferior ao valor detectado por LEAAL [15] (36,0%) e
MARTINS [23], (28,5%), porém acima do valor médio
observado por SILVA [31], para a polpa in natura de cajá
(5,24mg%). Os teores detectados de vitamina C para a polpa
de caju, variaram de 76,95 a 228,02mg/100g cuja média de
162,89mg/100g é superior ao observado por OLIVEIRA [25]
(148,95mg/100g), para a polpa in natura, porém inferior aos
valores médios relatados por SILVA JR. & PAIVA para clones
selecionados [30] (170,00; 181,20; 170,30mg/100g), sendo
comparável, no entanto, aos detectados por SOUZA FILHO
[32] para três clones (158,26; 157,64 e 153,20mg/100g).
Segundo MAIA & SOARES [22], o caju apresenta grande
variabilidade quanto ao conteúdo de vitamina C, tendo sido
encontrados, valores máximo de 387,0mg/100g e mínimo de
156,0mg/100g para cajus colhidos no mesmo pomar.
OLIVEIRA et al., [26], em trabalho anterior, ao avaliar a
qualidade das polpas produzidas e comercializadas nos
Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, detectou teores de
vitamina C na polpa congelada de acerola de 545,16 a
1244,7mg/100g, com média de 831,72mg/100g. Para a polpa
de cajá de 6,50 a 16,07mg/100g com média de 9,92mg/100g e
a de caju de 65,87 a 277,87mg/100g com média de
143,75mg/100g.
As variações de alguns parâmetros estudados, para cada tipo
de polpa, quando comparados com os valores relatados por
diversos autores que estudaram o assunto, podem ser
atribuídas às diferenças de qualidade das matéria primas que
são adquiridas de diversas fontes. Tais como produção própria,
Centrais de Abastecimento, e até de outros Estados, ou ainda,
às condições de processamento inadequadas, congelamento
lento, entre outros, levando a uma grande heterogeneidade do
produto final.
Com relação às polpas de cajá, constatou-se, por ocasião de
visitas técnicas, que a maioria das indústrias, principalmente
na entressafra, compram a polpa congelada dos grandes
produtores de frutas que destinam aqueles frutos de qualidade
inferior para processamento da polpa, comprometendo
seriamente, dessa maneira, a polpa que vai ser, ainda,
reprocessada para posterior comercialização.
Sugere-se, para melhoria da qualidade do produto, um maior
rigor na escolha dos fornecedores; seleção criteriosa da matéria
prima, de modo que apresentem homogeneidade com relação
aos diversos parâmetros de qualidade; processamento imediato
dos frutos; utilização de congelamento rápido e mão de obra
qualificada na produção, além do uso de vestuário adequado e,
finalmente a aplicação do Sistema de Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC) e a adoção das Boas
Práticas de Fabricação (BPF) como forma de garantir a
qualidade do produto.

4 – CONCLUSÕES
Os dados obtidos permitem concluir que:
(a) apesar das condições de manuseio, armazenamento das
matérias primas e do produto final e de processamento
inadequados, observada na maioria das unidades fabris, as
polpas ricas em vitamina C permanecem com elevados teores
dessa vitamina, como é o caso da polpa acerola cujos valores
oscilaram, de uma maneira geral, de 470,24 a
1.655,53mg/100g e às de caju que variaram de 76,95 a
228,02mg/100g;
(b) Conforme a legislação de PIQ vigente, 68% das amostras
de polpas de cajá analisadas e 59% das polpas de caju
encontram-se em desacordo com os padrões para suco das
respectivas frutas. De acordo com o PIQ de polpa de acerola,
40,7% das polpas analisadas estão em desacordo com a
legislação;
(c) Estes resultados são um alerta para que se agilize a
normatização desses produtos, ao mesmo tempo, em que
reflete a real situação desse segmento da Agroindústria, que
necessita padronizar, além do produto, o processo tecnológico
para obtenção de uma polpa com qualidade, a fim de
possibilitar a conquista de novos mercados, sintonizados com
as demandas e preferências de um consumidor cada dia mais
exigente.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[8] BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
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[9] BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Secretaria de
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Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual
de Campinas.

1 Recebido para publicação em 10/07/98. Aceito para


publicação em 28/07/99.
2 MSc. em Tecnologia de Alimentos, Pesquisadoras da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro
Nacional de Agroindústria Tropical (EMBRAPA/CNPAT) (E-
mail: elisabet@cnpat.embrapa.br
3 Bolsista CNPq/PIBIC
4 Estagiária da EMBRAPA/CNPAT
* A quem a correspondência deve ser enviada.

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