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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Monossacarídeos........................................................ 3
3. Oligossacarídeos......................................................... 8
4. Polissacarídeos............................................................ 9
5. Catabolismo de carboidratos...............................13
6. Anabolismo de carboidratos................................28
Referências bibliográficas .........................................37
CARBOIDRATOS 3

1. INTRODUÇÃO Carboidratos são poli-hidroxialdeídos


(várias hidroxilas e uma carbonila al-
Os carboidratos e seus derivados,
deídica) ou poli-hidroxicetonas (vá-
também chamados de glicídios, açú-
rias hidroxilas e uma carbonila cetôni-
cares ou hidratos de carbonos, são as
ca), ou substâncias que geram esses
moléculas orgânicas mais abundan-
compostos quando hidrolisadas. A
tes na Terra e possuem uma grande
fórmula empírica para a maioria dos
variedade de funções de teor energé-
carboidratos mais simples é (CH2O)
tica, informativo e estrutural.
n, sendo n>3; alguns também con-
têm nitrogênio, fósforo ou enxofre.
Podem ser classificados em quatro
Funções dos grupos:
carboidratos
• Monossacarídeos
• Dissacarídeos
• Oligossacarídeos
Reserva energética • Polissacarídeos

Composição dos
ácidos nucleicos 2. MONOSSACARÍDEOS
Os monossacarídeos, ou açúcares
Componentes estruturais
de muitos organismos simples, constituem o tipo mais sim-
ples de carboidratos, sendo chama-
dos de aldoses ou cetoses, segundo
Proteção
o grupo funcional que apresentam,
aldeído ou cetona. São glicídios sim-
Sinais de localização celular ples, não ramificados, não hidrolisá-
veis, hidrossolúveis e constituídos
apenas por ligações simples entre
Lubrificação de juntas esqueléticas
carbonos. De acordo com seu núme-
ro de átomos de carbono, podem ser
Adesão intercelular
designados:
• Trioses
• Tetroses
• Pentoses
CARBOIDRATOS 4

• Hexoses apresenta um carbono (C2) assimé-


trico, dando origem a dois isômeros:
• Heptoses
D e L. Os outros monossacarídeos
são teoricamente derivados destas
Os monossacarídeos mais simples trioses; os que são biologicamen-
são as duas trioses: o gliceraldeído, te importantes apresentam, sempre,
uma aldotriose, e a diidroxiaceto- configuração D.
na, uma cetotriose. O gliceraldeído

D-gliceraldeído L-gliceraldeído Di-hidroxiacetona


Aldose Aldose Cetose
Figura 1. Estrutura das trioses

A aldo-hexose D-glicose e a ceto-he- Geralmente, uma molécula com n cen-


xose D-frutose são os monossacarí- tros quirais pode ter 2n enantiômeros
deos mais comuns na natureza. As e estes podem ser divididos em dois
aldopentoses D-ribose e 2-desóxi- grupos de acordo com a configura-
-D-ribose são componentes dos nu- ção do centro quiral mais distante do
cleotídeos e dos ácidos nucleicos. grupo carbonil da molécula. Aqueles
nos quais a configuração do carbono
de referência é a mesma do D-glice-
Isomeria raldeído são designados isômeros D,
Todos os monossacarídeos (exceto e aqueles com a mesma configura-
as cetotrioses), contêm um ou mais ção do L-gliceraldeído são isômeros
carbonos quirais e, portanto, ocor- L. Desse modo, em uma projeção na
rem formas isoméricas opticamente qual o carbonil se encontra no topo,
ativas, os enantiômeros. No caso do se a hidroxila do carbono de referên-
gliceraldeído, que contém um centro cia estiver à direita, é o isômero D,
quiral, apresenta dois enantiômeros, quando à esquerda, é o isômero L.
um designado isômero D, e o outro é A designação D ou L está associada
isômero L. às propriedades físicas e químicas,
mas não determinam a atividade ótica
CARBOIDRATOS 5

dos compostos. Quando um feixe de L. No entanto, para sabermos se um


luz plano – polarizada passa através composto é levógiro ou dextrógiro ne-
de uma solução de um isômero ótico, cessitamos de um dado experimental.
ele poderá sofrer um desvio para a di-
reita. Neste caso dizemos que a mo- SE LIGA! Dois açúcares que diferem
lécula é dextrógira e atribuímos o si- apenas na configuração da hidroxila de
nal (+). Quando o desvio apresentado um carbono são chamados de epíme-
é para o lado esquerdo dizemos que ros; D-glicose e D-manose, que dife-
rem apenas na estequiometria do C2,
a substância é levógira e atribuímos são epímeros, assim como D-glicose e
o sinal (-). Assim, a partir da fórmula D-galactose.
estrutural da molécula podemos dizer
se o isômero é da série D ou da série

D-manose D-glicose D-galactose


(epímera em C₂) (epímera em C₂)
Figura 2. Epímeros. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tava-
res. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v.

Ciclização partir da hidroxila espacialmente mais


próxima do grupo carbonila.
Em soluções aquosas, os monossa-
carídeos com mais de quatro átomos As estruturas cíclicas mais estáveis
tendem a formar estruturas cíclicas. O são as furanoses e as piranoses, no-
anel é formado pela reação do grupo mes dados pela semelhança com os
carbonila com uma hidroxila. Como a ésteres cíclicos com 5 e 6 carbonos,
molécula dos monossacarídeos apre- furano e pirano.
senta várias hidroxilas, os “dobramen-
tos” da cadeia linear fazem com que a
reação de formação do anel ocorra a
CARBOIDRATOS 6

α-D-Glicopiranose β-D-Glicopiranose Pirano

α-D-Frutofuranose β-D-Frutofuranose Furano


Figura 3. Piranoses e furanoses. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHA-
DO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v.

Os anômeros podem ser classifica-


SE LIGA! Mais de 99% da molécula de dos em α e ẞ, que diferem quanto a
glicose, quando em solução, encontra- posição da hidroxila do carbono ano-
-se na forma de piranose.
mérico. O isômero que possui a hidro-
xila voltada para baixo do plano é o
A estrutura cíclica de uma aldose é isômero α e aquele possui a hidroxila
um hemiacetal, uma vez que é forma- voltada para cima é o isômero ẞ. Os
da pela combinação de um aldeído e anômeros de um glicídio em solução
uma hidroxila e a estrutura cíclica de estão em equilíbrio um com o outro
uma cetose é um hemicetal, uma vez (e com a sua forma aberta, apesar de
que é formada pela combinação de aparecer em pequena proporção) e
uma cetona e uma hidroxila. Quan- podem ser espontaneamente inter-
do a estrutura cíclica é estabelecida, convertidos (um processo denomina-
surge um novo carbono assimétrico e, do mutarrotação).
assim, mais um par de isômeros pode
ocorrer. Esse átomo de carbono é de-
nominado anomérico.
CARBOIDRATOS 7

D-Glicose

α-D-Glicopiranose β-D-Glicopiranose
Figura 4. Formação das duas formas cíclicas da D-Glicose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de
bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

SAIBA MAIS!
Ação redutora – Se o átomo de oxigênio do carbono anomérico (o grupo carbonila) de um
glicídio não está ligado a qualquer outra estrutura, esse é um glicídio redutor. Ele pode reagir
com reagentes químicos e reduzir o componente reativo, enquanto seu carbono anomérico
torna – se oxidado.
CARBOIDRATOS 8

3. OLIGOSSACARÍDEOS Dissacarídeos
São carboidratos constituídos por Consistem em dois monossacaríde-
um pequeno número de moléculas os unidos covalentemente por uma
de monossacarídeos unidas por li- ligação glicosídica, na qual um grupo
gações glicosídicas. Entre os oligos- hidroxila de uma molécula de açú-
sacarídeos, os mais comuns são os car, normalmente cíclica, reage com
dissacarídeos. a hidroxila do carbono anomérico de
outro açúcar, havendo a liberação de
uma molécula de água.

Hemiacetal

Álcool

α-D-Glicose β-D-Glicose
Hidrólise Condensação

Acetal Hemiacetal

Maltose
α-D-glicopiranosil-(1→4)-D-glicopiranose
Figura 5. Formação da maltose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

As ligações glicosídicas podem ser Se o grupo estiver na configuração ẞ,


designadas de acordo com a posição a ligação é uma ligação ẞ. A lactose,
do grupo hidroxila no carbono anomé- por exemplo, é sintetizada pela for-
rico do glicídio envolvido na ligação. mação de uma ligação glicosídica en-
Se esse grupo hidroxila está na con- tre o carbono 1 de uma ẞ - galactose
figuração α, a ligação é uma ligação α. e o carbono 4 da glicose. A ligação é,
CARBOIDRATOS 9

dessa forma, uma ligação glicosídica na celulose, ou cadeias ramificadas,


ẞ (1  4) como no glicogênio e no amido. Tam-
bém chamados de glicanos, os polis-
sacarídeos diferem uns dos outros na
identidade das unidades de monos-
sacarídeos repetidas, no comprimen-
to das cadeias, nos tipos de ligação
unindo as unidades e no grau de ra-
Lactose (forma β)
mificação. De acordo com a identida-
β-D-galactopiranosil-(1→4)-β-D-glicopiranose de das unidades, temos a seguinte
Gal(β1 →4)Glc classificação:
Figura 6. Molécula da lactose. Fonte: NELSON, David
L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh- • Homopolissacarídeos: Contêm
ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v uma única espécie monomérica em
toda a molécula. Ex.: amido, glico-
gênio, celulose, insulina e quitina.
Dentre os principais dissacarídeos
encontram-se: • Heteropolissacarídeos: Contêm
dois ou mais tipos diferentes de
• Sacarose: Formada pela união en-
monossacarídeos. Ex.: glicosami-
tre α-D-glicose e por ẞ-D-frutose.
noglicanos, ácido hialurônico.
É o glicídio nacionalmente denomi-
nado de açúcar e está presente em
grandes quantidades na cana de Homopolissacarídeos Heteropolissacarídeos
Dois tipos de Múltiplos tipos
açúcar e na beterraba. A hidrólise Não ramificado Ramificado monômeros, de monômeros,
não ramificados ramificados
desse dissacarídeo é possível pela
ação da enzima sacarase.
• Maltose: Normalmente resultan-
tes de hidrólise do amido.
• Lactose: Predominante no leite,
formada pela união entre a galac-
tose e a glicose.
Figura 7. Homo e heteropolissacarídeos. Fonte: NEL-
SON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquími-
4. POLISSACARÍDEOS ca de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

São polímeros constituídos de cen-


tenas ou milhares de resíduos de Dentre os principais polissacarídeos
monossacarídeos, geralmente glico- encontrados na natureza, temos:
se, formando cadeias lineares, como
CARBOIDRATOS 10

• Amido: É um polímero de α-D- e o muscular, é a grande fonte de


-glicose, que funciona como re- energia para o movimento.
serva energética pelas plantas e
• Celulose: Caracterizado como um
por alguns animais como fonte de
homopolissacarídeo linear e não
alimento.
ramificado, constituído por 10.000
a 15.000 unidades de D-glicose. É
uma substância fibrosa, flexível e
insolúvel em água, encontrada na
parede celular das plantas, parti-
cularmente no caule, no tronco e
em toda a porção de madeira da
planta. A natureza rígida e fibrosa
da celulose a torna útil para pro-
dutos comerciais como papelão e
material para isolamento, e ela é
um dos principais componentes
dos tecidos de algodão e linho. A
celulose é também a matéria-pri-
ma para a produção comercial de
celofane e seda artificial.
Unidades de D-glicose ligadas
por ligações (α1→4)
Figura 8. Estrutura do amido. Fonte: NELSON, David
L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh-
ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v
Unidades de D-glicose
ligadas por ligações (β1→4)
• Glicogênio: É um polímero de su- Figura 9. Estrutura da celulose. Fonte: NELSON, David
bunidades de glicose, assim como L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh-
ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v
o amido, porém é mais ramifica-
do e mais compacto. Constitui o
principal polissacarídeo de arma-
zenamento das células animais,
encontrado no retículo endoplas-
mático liso das células hepáticas
e musculares. O glicogênio he-
pático é uma peça importante no
processo de regulação da glicemia
CARBOIDRATOS 11

• Quitina: É uma substância de


SE LIGA! A maior parte dos animais não sustentação para alguns animais,
possui a enzima ẞ-amilase, logo, não sendo o principal componente dos
apresentam a capacidade de hidrolisa-
exoesqueletos duros de aproxima-
rem a celulose para fins alimentícios. Os
ruminantes, que utilizam celulose como damente 1 milhão de espécies de
fonte alimentícia, têm esta capacidade, artrópodes. É um polímero linear,
pois possuem bactérias, em uma parte com ligações ẞ entre as unidades
do seu sistema digestivo, no rumem, que
produzem a enzima ẞ-amilase. Esta en-
de N-acetil glicosamina. A única
zima cliva a celulose para que ela possa diferença química em comparação
ser utilizada pelo ruminante. com a celulose é a substituição de
um grupo de hidroxila em C-2 por
um grupo de amina acetilado.

UNIDADE
POLÍMERO TIPO TAMANHO FUNÇÃO
REPETIDA
Amido Homo Glicose 50 a 50000 Fonte de energia para as plantas
Fonte de energia em bactérias e
Glicogênio Homo Glicose Mais de 50000
animais
Estrutural em plantas; rigidez e
Celulose Homo Glicose Mais de 15000
força para a parede celular
Estrutural em insetos, aranhas,
N-acetil-glicosa-
Quitina Homo Muito longa crustáceos; dá rigidez e força ao
mina
envelope celular
Tabela 1. Características dos principais polissacarídeos. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI,
Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v.
CARBOIDRATOS 12

Monossacarídeos

Podem ser classificados como

Podem ligar – se para formar


Aldoses Cetoses Isômeros Epímeros Enantiômeros

quando Oligossacarídeos Polissacarídeos


quando contêm quando contêm quando quando são
apresentam

Diferem na Podem ser


Dissacarídeos
configuração Imagens
Grupamento Grupamento A mesma fórmula
ao redor de um especulares
aldeído cetona química Homo
determinado átomo um do outro
de carbono Por exemplo:
Sacarose = Lineares
glicose + frutose
Lactose =
Podem ciclizar, produzindo um galactose + glicose Hetero
Maltose =
glicose + glicose
Ligado covalentemente a outra molécula Ramificados
Carbono anômero Pode ser

que contêm Ligação glicosídica

Grupo hidroxila reativo

quando Não ligado a outra molécula O glicídio é classificado como Glicídio redutor

Fonte: CHAMPE, Pamela C.; HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise


R.. Bioquímica Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006
CARBOIDRATOS 13

5. CATABOLISMO DE simples. No nível 3, em organismos


CARBOIDRATOS aeróbicos, a principal via e o ciclo de
Krebs, onde os intermediários do ní-
Princípios de bioenergética
vel 2 são degradados completamen-
O metabolismo, a soma de todas as te a CO2 e H2O.
transformações químicas que ocor- A informação necessária para especi-
rem em um organismo, é uma ativida- ficar cada reação vem da estrutura da
de celular altamente coordenada, em enzima que catalisa aquela reação.
que muitos sistemas multienzimáti-
cos (vias metabólicas) cooperam para
desempenhar suas funções básicas:
Obter energia química do ambiente,
por captura de energia solar ou por
degradação de nutrientes
Converter moléculas de nutrientes
em moléculas do próprio organismo
Polimerizar precursores monoméri-
cos em produtos poliméricos (ex.:
aminoácidos  proteínas)
Sintetizar e degradar biomolé-
culas requeridas em funções
celulares especializadas
O metabolismo pode ser
dividido em estágios que
refletem o grau de com-
plexidade ou tamanho das
moléculas geradas. No
nível 1, temos as rea-
ções químicas de con-
versão de metabólitos
poliméricos, em seus
constituintes mono-
méricos. No nível 2, es-
ses monômeros são que-
brados em intermediários
CARBOIDRATOS 14

ESQUEMA GERAL DOS TRÊS ESTÁGIOS DO METABOLISMO

Glicídios Proteínas Gorduras

ESTÁGIO 1

Açúcares simples
Ácidos
(principalmente Aminoácidos
graxos + glicerol
glicose)

Carregadores
de elétrons Piruvato
Carregadores ESTÁGIO 2
reduzidos e ATP
de elétrons
reduzidos e ATP
Acetil-CoA

Carregadores
de elétrons
reduzidos e ATP
Ciclo de ácido cítrico ESTÁGIO 3

2CO₂
H₂O Fonte: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da
Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009

Qualquer participante de uma reação processos necessitam de energia,


metabólica, seja ele substrato, inter- geralmente na forma de potencial
mediário ou produto, é chamado de de transferência do ATP e do poder
metabólito, e as moléculas que não redutor de transportadores de elé-
podem ser mais utilizadas pelo orga- trons e baseiam – se na redução de
nismo e, portanto, devem ser elimina- moléculas (ganho de elétrons).
das são denominadas catabólitos.
• Catabolismo: Processos relaciona-
O metabolismo pode ainda ser dividi- dos à degradação de substâncias
do em duas principais categorias: complexas com concomitante gera-
• Anabolismo (ou biossíntese): Pro- ção de energia. Parte dessa energia
cessos que envolvem primaria- é conservada na forma de ATP e de
mente a síntese de moléculas transportadores de elétrons reduzi-
orgânicas complexas a partir de pre- dos; o restante é perdido como calor.
cursores pequenos e simples. Esses Baseiam – se na oxidação de molé-
culas (Perda de elétrons).
CARBOIDRATOS 15

REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DO CATABOLISMO E DO METABOLISMO

ENERGIA ENERGIA

NAD ou FAD Metabólito reduzido Metabólito reduzido NADP

Reação Molécula Reação


energeticamente carreadora energeticamente
favorável ativada desfavorável

ENERGIA

NADHH ou FADH₂ Metabólito oxidado Metabólito oxidado NADPH

CATABOLISMO ANABOLISMO

Fonte: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da


Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009
CARBOIDRATOS 16

No entanto, é importante considerar sua utilização como fonte energética


que muitos substratos das vias ana- pode ser considerada universal e, dos
bólicas são formados como interme- microrganismos ao homem, quase
diários nos processos catabólicos e todas as células são potencialmen-
vice-versa. te capazes de atender suas deman-
Algumas vias metabólicas são line- das energéticas apenas a partir deste
ares e algumas são ramificadas, ge- açúcar.
rando múltiplos produtos a partir de Por meio do armazenamento da gli-
um único precursor (divergente) ou cose na forma de polímero de alta
convertendo vários precursores em massa molecular, como o amido e
um único produto (convergente). Al- o glicogênio, a célula pode estocar
gumas vias são cíclicas: um compos- grandes quantidades da glicose, en-
to inicial da via é regenerado em uma quanto mantém a osmolaridade cito-
série de reações que converte outro sólica relativamente baixa. Quando a
componente inicial em um produto. demanda de energia aumenta, a gli-
No nosso organismo, existem molé- cose pode ser liberada desses polí-
culas que auxiliam algumas enzimas meros e utilizada para produzir ATP
nos processos de óxido-redução e, de maneira aeróbia ou anaeróbia.
portanto, são denominadas coenzi- Em animais e em vegetais, a glicose
mas. São exemplos de coenzimas tem quatro destinos principais: (1)
a nicotina adenina di-nucleotídeo pode ser usada na síntese de polis-
(NAD) e a flavino-adenino dinucleotí- sacarídeos complexos direcionados
deo (FAD), moléculas especializadas ao espaço extracelular; (2) ser arma-
no transporte de hidrogênio. Quando zenada nas células; (3) ser oxidada a
essas coenzimas estão associadas compostos de três átomos de carbo-
ao hidrogênio, encontram-se “reduzi- nos por meio da glicólise para forne-
das” e quando perdem esses hidro- cer ATP e intermediários metabólicas;
gênios, são ditas “oxidadas”. ou (4) ser oxidada pela via das pento-
ses-fosfato produzindo ribose-5-fos-
fato para a síntese de ácidos nuclei-
Glicose cos e NADPH.
Quantitativamente, a glicose é o
principal substrato oxidável para a
maioria dos organismos. De fato,
CARBOIDRATOS 17

AS PRINCIPAIS VIAS DE UTILIZAÇÃO DA GLICOSE

Matriz extracelular e
polissacarídeos da
parede celular

Síntese de polímeros
estruturais

Oxidação pela
via da pentose-
fosfato
Glicogênio, amido,
Ribose-5-fosfato GLICOSE
sacarose
Armazenamento

Oxidação
por glicólise

Piruvato

Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de


bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

SE LIGA! O nível sanguíneo da glicose é Para obterem ATP a partir de glico-


chamado de glicemia e é mantido den- se, todas as células utilizam a oxi-
tro de uma faixa estreita, graças a dife-
dação parcial a piruvato. Nas células
rentes vias metabólicas de síntese de
glicose (gliconeogênese) ou armazena- anaeróbias, a degradação para neste
mento de glicose na forma de glicogênio ponto. A conversão da glicose a piru-
(glicogenogênese), em contraposição a vato permite aproveitar somente uma
vias de oxidação de glicose (glicólise).
Esse processo, que procura manter os
pequena parcela da energia, menos
níveis de glicose no sangue constantes, de 10%, mas que é suficiente para
chama-se homeostase e é regulado por que as células anaeróbias possam
hormônios. suprir toda sua demanda energéti-
ca. Nas células aeróbias, o piruvato é
CARBOIDRATOS 18

subsequentemente oxidado, trazen- duas de gliceraldeído-3-fosfato com


do, naturalmente, um enorme ganho gasto de duas moléculas de ATP. Já
na produção de ATP. as 5 últimas etapas, constituem a
fase oxidativa (ou de pagamento da
glicólise), na qual as duas moléculas
Glicólise de gliceraldeído-3-fosfato são con-
Também chamada de via glicolítica, a vertidas em piruvato com a formação
glicólise ocorre no citosol e consiste de ATP.
na quebra de uma molécula de gli-
cose, produzindo duas moléculas de
Fase preparatóra
três carbonos denominadas piruvato.
É um processo oxidativo no qual duas Fosforilação da glicose, na hidroxila
moléculas de NAD+ são reduzidas a do carbono 6, formando uma molé-
duas moléculas de NADH + H+. cula de glicose-6-fosfato, com o gas-
A glicólise ocorre em 10 etapas, sen- to de uma molécula de ATP (ATP 
do que as 5 primeiras constituem a ADP). Esta reação é catalisada pela
fase preparatória, na qual ocorre a enzima hexoquinase.
conversão da molécula de glicose em

mecanismos de transporte dessa


SE LIGA! Nas células do parênquima molécula não servem para sua for-
hepático e nas ilhotas pancreáticas, tal ma fosforilada. Isto mantém o nível
reação é catalisada pela glicoquinase.
de glicose, na célula, sempre baixo
em relação à concentração extracelu-
Ao ser fosforilada, a glicose não lar. Como o transporte de glicose de-
pode mais sair da células, pois os pende da concentração, a tendência
da glicose é sempre entrar na célula.
CARBOIDRATOS 19

Além disso, essa reação indica o ca- Conversão da glicose em frutose –


minho metabólico que a glicose vai É uma reação reversível do tipo iso-
seguir, haja vista que a fosforilação merização aldose-cetose e é catalisa-
do carbono 6 funciona como uma da por uma fosfo-hexoisomerase.
“etiqueta”, demarcando que a glicose
será degradada na via glicolítica.

Fosforilação da frutose-6-fosfato catalisada pela enzima fosfofrutoqui-


na hidroxila do carbono 1, forman- nase-1 (PFK-1). A atividade dessa
do uma molécula de frutose-1,6-bi- enzima é o ponto de regulação da ve-
fosfato. É uma reação irreversível locidade da via glicolítica.
dependente da energia de ATP e é

Clivagem da frutose 1,6-bifosfa- possuem três carbonos: gliceraldeí-


to – Pela ação da enzima aldolase, a do-3-fosfato (G3P) e diidroxiaceto-
frutose 1,6-bifosfato é quebrada ge- na-3-fosfato (DHAP).
rando duas moléculas isômeras, que
CARBOIDRATOS 20

Interconversão das trioses-fos- isomerase específica, a diidroxia-


fato – Pela ação de uma triose- cetona-3-fosfato é convertida em
gliceraldeído-3-fosfato.

Até este momento, uma molécula de


glicose (6C) foi parcialmente quebra-
da em duas moléculas de gliceral-
deído-3-fosfato (3C), mas não hou-
ve síntese de ATP, apenas gasto de
duas moléculas de ATP. Por este mo-
tivo, essa é a fase preparatória ou de
investimento.
CARBOIDRATOS 21

RESUMO DAS REAÇÕES DA FASE PREPARATÓRIA

Glicose

Glicose 6-fosfato

Frutose 6-fosfato

Frutose 1,6-bisfosfato

Gliceraldeído3-fosfato +
dihidroxicetona-fosfato

2 x Gliceraldeído-3P

FONTE: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian –


Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009

Em seguida, veremos a recuperação etapa oxidativa ou etapa de conver-


do investimento inicial e a síntese de são de energia ou simplesmente eta-
ATP por um conjunto de reações co- pa de síntese de ATP.
nhecido como etapa de pagamento,
CARBOIDRATOS 22

Fase de pagamento de uma molécula de fosfato inorgâni-


co (Pi) à molécula de G3P, sem que
Oxidação e fosforilação do gliceral-
haja consumo de qualquer molécula
deído-3-fosfato, formando uma mo-
de ATP. Nesta reação, uma molécula
lécula de 1,3-bisfosfoglicerato, com
de NAD+ é reduzida a NADH + H+.
ação da enzima gliceraldeído-3-fos-
fato desidrogenase. Nessa etapa, a
fosforilação ocorre por incorporação

Transferência de um grupo fosfato 1,3-bisfosfoglicerato. Assim, a ener-


do 1,3-bisfosfoglicerato – Na rea- gia conservada será utilizada na for-
ção anterior, parte da energia libera- mação de uma molécula de ATP. Esta
da no processo oxidativo foi conser- reação é catalisada pela enzima fos-
vada na formação da molécula de foglicerato quinase.
CARBOIDRATOS 23

SE LIGA! Uma vez que duas moléculas Deslocamento do grupo fosfato do


de gliceraldeído-3-fosfato são formadas
por molécula de glicose na etapa pre-
glicerato – Pela ação da fosfoglicera-
paratória, duas moléculas de ATP são to mutase, o 3PG será convertido em
geradas nesse estágio. Este processo 2-fosfoglicerato.
de formação de ATP é um exemplo de
fosforilação em nível de substrato.

Desidratação do 2-fosfoglicera- funcional hidroxila com o íon fosfato


to – Em uma reação catalisada pela favorece a formação do fosfoenolpi-
enolase, ocorre a desidratação e re- ruvato (PEP), que é também conside-
distribuição da energia dentro da mo- rado um composto de alta energia.
lécula. A proximidade do grupamento

Formação do piruvato – Fosforilação de ATP em uma reação catalisada


em nível do substrato com formação pela piruvato quinase.
CARBOIDRATOS 24

Em resumo, nessa segunda fase, co- duas moléculas de piruvato, duas de


meçamos com duas moléculas de NADH + H+ e quatro moléculas de
gliceraldeído-3-fosfato e formamos ATP.

RESUMO DAS REAÇÕES DA FASE DE PAGAMENTO

Gliceraldeído3-fosfato

Oxidação
e fosforilação

1,3-bisfosfoglicerato

1ª reação de formação de ATP


(fosforilação em nível do substrato)

3-fosfoglicerato

2-fosfoglicerato

Fosfoenolpiruvato

2ª reação de formação de ATP


(fosforilação em nível do substrato)

PIRUVATO

FONTE: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009
CARBOIDRATOS 25

lactato. Alguns tecidos e tipos celular


SE LIGA! O rendimento energético da como as hemácias produzem lactato
glicólise é de 2 ATP haja vista que foram a partir de glicose mesmo em con-
gastas duas moléculas na primeira fase
dições aeróbias. A redução do piru-
da via e quatro foram sintetizadas na se-
gunda fase. vato por essa via é catalisada pela
lactato-desidrogenase.

Destinos do piruvato
Com exceção de algumas variações
entre as bactérias, o piruvato forma-
do na glicólise pode ser metabolizado
por três rotas catabólicas
Em condições anaeróbicas, o NADH
Figura 15. Reação de fermentação lática. Fonte: NEL-
gerado pela glicólise não pode ser SON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquími-
reoxidado pelo O2. A falha na rege- ca de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

neração de NAD+ deixaria a célula


carente de aceptor de elétrons para a
O lactato formado pelo músculo es-
oxidação de gliceraldeído-3-fosfato,
quelético em atividade (ou pelas he-
e as reações geradoras de energia da
mácias) pode ser reciclado; ele é
glicólise cessariam. Portanto, NAD+
transportado pelo sangue até o fí-
deve ser regenerado de outra forma.
gado, onde é convertido em glicose
durante a recuperação da atividade
CONCEITO: O termo fermentação de- muscular exaustiva. Quando o lacta-
signa um processo que extrai energia to é produzido em grande quantidade
(como ATP), mas não consome oxigênio
nem varia as concentrações de NAD+
durante a contração muscular vigoro-
ou NADH. sa, a acidificação resultante da ioniza-
ção do ácido láctico nos músculos e
no sangue limite o período de ativida-
1º Destino: Fermentação Lática de vigorosa.
Quando tecidos animais não podem
ser supridos com oxigênio suficien-
2º Destino: Fermentação Alcoólica
te para realização oxidação aeró-
bia do piruvato e do NADH, como é Leveduras e outros microrganismos
o caso dos músculos esqueléticos fermentam glicose em etanol e CO2,
muito ativos, ou em alguns micror- em vez de lactato, em um proces-
ganismos anaeróbicos, o NAD+ é re- so de duas etapas. Primeiro, ocor-
generado pela redução do piruvato a re a descarboxilação do piruvato em
CARBOIDRATOS 26

uma reação catalisada pela piruvato- etanol pela ação da álcool-desidroge-


-descarboxilase. Na segunda etapa, nase, com o poder redutor fornecido
o acetaldeído formado é reduzido a pelo NADH.

Figura 16. Reação de fermentação alcoólica. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de
Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1

o grupo acetil da acetil-coenzima A; o


SE LIGA! Na fabricação de pães, o CO2 grupo acetil é então completamente
liberado pela piruvato-descarboxilase, oxidado a CO2 no ciclo do ácido cí-
quando a levedura do fermento biológi-
trico. Os elétrons gerados nesse ciclo
co é misturada com o açúcar, faz a mas-
sa crescer. são transferidos ao O2 por uma ca-
deia transportadora de elétron na mi-
tocôndria, formando H2O e liberan-
3º Destino: Conversão em do energia para a síntese de 32 a 36
Acetil-CoA moléculas de ATP.
Em organismos aeróbios ou em teci- Nas células eucarióticas, o piruvato
dos em condições aeróbias, a glicólise entra na mitocôndria, através de uma
é apenas o primeiro estágio da degra- translocase específica, e é transfor-
dação completa da glicose. O piruvato mado em acetil-CoA, através de uma
é oxidado com a perda de seu grupo descarboxilação oxidativa, de acordo
carboxil na forma de CO2 para gerar com a reação:
CARBOIDRATOS 27

Figura 17. Reação geral catalisada pelo complexo do piruvato-desidrogenase. Fonte: NELSON, David L.; COX, Micha-
el M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v

Destinos do
piruvato

Fermentação Lática Fermentação Alcoólica Conversão a Acetil-CoA

Condições anaeróbicas Condições anaeróbicas Condições aeróbias

Ocorre em alguns
Realizada por Ocorre em organismos
microrganismos, em
organismos como leveduras aeróbios ou em tecidos em
hemácias no tecido
e algumas bactérias condições aeróbias
muscular de animais

Duas reações: uma


Catalisada pela Faz parte da oxidação
descarboxilação do piruvato
lactato-desidrogenase completa da glicose
e a reoxidação do NADH

Piruvato + NAD⁺ +
Piruvato + NADH + H⁺ ↔ Piruvato → Acetaldeído →
CoA → Acetil-CoA +
Lactato + NAD⁺ Etanol
NADH + H⁺ + CO2
CARBOIDRATOS 28

6. ANABOLISMO DE do córtex renal), consiste na síntese


CARBOIDRATOS de glicose a partir de compostos que
não são carboidratos: aminoácidos,
A maioria dos tecidos animais é capaz
lactato e glicerol.
de suprir suas necessidades energé-
tica a partir da oxidação de vários ti- Com exceção da lisina e leucina, todos
pos de compostos: açúcares, aminoá- os aminoácidos podem originar glico-
cidos, ácidos graxos. No entanto, para se. Os aminoácidos são provenientes
o cérebro humano e o sistema nervo- de degradação de proteínas endóge-
so, assim como para as hemácias, os nas, principalmente as musculares,
testículos, a medula renal e os tecidos durante o jejum. Ainda no músculo,
embrionários, a glicose é a principal são convertidos a alanina, a forma
ou a única fonte de combustível. No de transporte dessas moléculas para
entanto, o suprimento de glicose es- o fígado. Já o lactato origina-se nos
tocado na forma de glicogênio nos músculos submetidos a contração
músculos e no fígado não é sempre intensa e de outras células que de-
suficiente; entre as refeições e duran- gradam glicose de forma anaeróbia,
te períodos de jejum mais longos, ou a fermentação lática. Então, o lactato
após exercício vigoroso, o glicogênio produzido é liberado para a corrente
se esgota. Para esses períodos, os or- sanguínea e transportado para o fí-
ganismos precisam sintetizar glicose gado onde é convertido em glicose.
a partir de precursores que não são A glicose é então novamente liberada
carboidratos. Isso é realizada por uma no sangue, para utilização pelo mús-
via chamada gliconeogênese. culo como fonte de energia. Este é o
chamado ciclo de Cori. Por fim, o gli-
cerol é derivado da hidrólise de triacil-
Gliconeogênese gliceróis do tecido adiposo durante o
Esta via, processada principalmente jejum e tem pouca importância quan-
no fígado (e em casos de jejum mui- titativa na gliconeogênese.
to prolongado, ocorre participação
CARBOIDRATOS 29

COOPERAÇÃO METABÓLICA ENTRE O MÚSCULO ESQUELÉTICO


E O FÍGADO: O CICLO DE CORI

Glicogênio

Músculo: ATP
produzido pela glicólise
para contração rápida
Lactato Glicose

ATP

Lactato Glicose
sanguíneo sanguínea

ATP

Lactato Glicose
Fígado: ATP usado na síntese
de glicose (gliconeogênese)
durante a recuperação

Glicogênio
CARBOIDRATOS 30

RELAÇÃO ENTRE DIFERENTES ÓRGÃOS NA GLICONEOGÊNESE

Cérebro

Fígado
Glicogênio

Músculo
Glicose Glicose Glicose
(esforço intenso)

Piruvato Lactato Lactato

NH3 Alanina Aminoácidos


Músculo
( jejum)
Ureia Alanina

Fonte: MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquí-


Ureia
mica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
CARBOIDRATOS 31

A gliconeogênese e a glicólise não Conversão de piruvato a


são vias idênticas ocorrendo em dire- fosfoenolpiruvato (PEP)
ções opostas, embora compartilhem
A reação catalisada pela piruvato qui-
de várias etapas – sete das reações
nase é substituída por duas reações.
enzimáticas da gliconeogênese são
Na primeira reação, o piruvato é con-
o inverso das reações glicolíticas. No
vertido em oxaloacetato, através da
entanto, as outras três reações da gli-
sua carboxilação, catalisada pela en-
cólise são irreversíveis e não podem
zima piruvato carboxilase. Na segun-
ser utilizadas na gliconeogênese: a
da reação, o oxaloacetato é converti-
fosforilação da glicose catalisada pela
do a fosfoenolpiruvato , por ação da
hexoquinase (1), a fosforilação da fru-
enzima fosfoenolpiruvato carboxiqui-
tose-6-fosfato pela glicoquinase (3) e
nase (PEPCK).
a conversão de fosfoenolpiruvato em
piruvato pela piruvato quinase (10). É importante observar que o CO2 uti-
Na gliconeogênese, essas três rea- lizado na formação do oxaloacetato é,
ções são contornadas por um grupo em seguida, eliminado na formação
distinto de enzimas, catalisando re- de PEP. Isso aparenta um desperdí-
ações suficientemente exergônicas cio, mas, na verdade, é uma forma de
para serem efetivamente irreversíveis “ativação” do piruvato para que seja
no sentido de síntese da glicose. possível sua conversão em um com-
posto de mais alta energia, o PEP.
A transformação de alanina e lacta-
Essa ativação se dá à custa da hidróli-
to inicia-se por sua conversão a pi-
se de um ATP. A conversão do oxalo-
ruvato. A alanina originada piruvato
acetato em PEP requer a hidrólise de
por ação da alanina aminotransfera-
um GTP, com incorporação do fosfato
se; o lactato é convertido a piruvato
à molécula do PEP. A hidrólise de um
por ação da lactato desidrogenase. A
GTP equivale à hidrólise de um ATP,
transformação de glicose pela glico-
uma vez que essas moléculas se in-
neogênese processa-se no sentido
terconvertem. Dessa forma, para que
oposto ao da glicólise, utilizando qua-
seja contornada a reação da piruvato
se todas as sua enzimas, com exce-
quinase são gastas duas moléculas
ção das que foram citadas anterior-
de ATP.
mente. Então, vamos analisar como
essas reações irreversíveis ocorrem A piruvato carboxilase é uma enzima
na gliconeogênese. de localização essencialmente mito-
condrial, de modo que a formação do
oxaloacetato ocorre dentro da mito-
côndria. A localização da PEPCK varia
de acordo com as diferentes espécies.
CARBOIDRATOS 32

Em humanos, ela é igualmente distri- ligado ao carbono 6, catalisada pela


buída no citosol e na mitocôndria das glicose-6-fosfatase.
células hepáticas. Quando a PEPCK é Glicose-6-fosfato + H2O
usada na mitocôndria, o oxaloaceta- -------------> Glicose + Pi
to pode ser diretamente convertido a
PEP dentro da mitocôndria e depois
translocado para o citosol. Quando a O produto da reação, a glicose, ao
PEPCK é usada no citosol, o oxalo- contrário da glicose fosforilada, pode
acetato deve ser, primeiramente, atravessar livremente a membrana
transportado para o citosol. plasmática. A glicose-6-fosfatase é
O fosfoenolpiruvato produzido nesta exclusiva do fígado e dos rins, e é gra-
etapa é transformado em frutose-1,- ças à sua presença que estes órgãos,
6-bifosfato pelas enzimas que tam- principalmente o fígado, podem ex-
bém compõem a glicólise, que, como portar glicose para corrigir a glicemia.
catalisam reações reversíveis, podem Balanço energético da gliconeogêne-
operar no sentido inverso da via. se: Para cada molécula de glicose for-
mada a partir de duas moléculas de
piruvato são necessários 6 ATP, utili-
Conversão de frutose-1,6- zados nas reações catalisadas por pi-
bifosfato a frutose-6-fosfato ruvato carboxilase, fosfoenolpiruvato
A reação irreversível catalisada pela carboxiquinase (que, na verdade, usa
fosfofrutoquinase é substituída por GTP mas, para o balanço energético,
uma reação de hidrólise do grupo fos- pode ser computado como ATP) e
fato do carbono 1, catalisada pela fru- fosfoglicerato quinase.
tose – 1,6, - bifosfatase. Em seguida A equação geral da gliconeogênese a
a frutose – 6 – fosfato pode ser iso- partir de piruvato é:
merizada a glicose – 6- fosfato pela
2 piruvato + 6 ATP + 6 H2O + 2
fosfoglicoisomerase.
NADH ----> Glicose + 6 ADP + 6 Pi
Frutose 1,6-bifosfato + + 2 NAD+ + 2H+
H2O -------> Frutose-6-fosfato + Pi

Conversão de glicose-6-fosfato a
glicose
Para contornar a irreversibilidade da
reação catalisada pela glicoquinase,
esta reação é substituída por uma
reação de hidrólise do grupo fosfato
CARBOIDRATOS 33

fonte energética a esse tecido. Quan-


SE LIGA! O controle da gliconeogênese do os estoques de glicogênio se es-
é realizado pelo glucagon, que estimula gotam, determinados sintetizam gli-
esse processo, e pela insulina, que atua
cose por meio da via gliconeogênica.
de maneira oposta. Glicólise e glicone-
ogênese não ocorrem ao mesmo tem- O glicogênio é sintetizado a partir das
po. A gliconeogênese ocorre durante moléculas de α-D-glicose. O proces-
o jejum, é também estimulada durante
exercício prolongado, por uma dieta al- so ocorre no citosol e requer energia
tamente protéica, e sob condições de fornecida pelo ATP (para a fosforila-
stress. ção da glicose) e trifosfato de uridi-
na (UTP). A síntese consiste na re-
petida adição de resíduos de glicose
Glicogênese (síntese de
às extremidades de um núcleo de
glicogênio)
glicogênio.
O corpo desenvolveu mecanismos O ponto de partida para a síntese
para armazenar um suprimento de do glicogênio é a glicose-6-fosfato.
glicose em uma forma rapidamen- Esta pode ser derivada da glicose li-
te mobilizável, o glicogênio. Após as vre em uma reação catalisada pela
refeições o fígado remove cerca de hexoquinase no músculo ou pela gli-
dois terços dos monossacarídeos ab- coquinase no fígado. Então a glicose-
sorvidos e utiliza parte deles para re- -6-fosfato é convertida em glicose-
compor sua reserva de glicogênio. Na -1-fosfato na reação catalisada pela
ausência de uma fonte de glicose na fosfoglicomutase.
alimentação, esse composto é rapida-
mente liberado a partir do glicogênio D-Glicose + ATP  D-Glicose-
hepático e renal. Da mesma forma, o -6-fosfato + ADP
glicogênio muscular é degradado em Glicose-6-fosfato 
grande quantidade durante o exercí- Glicose-1-fosfato
cio, proporcionando uma importante

SAIBA MAIS!
Parte da glicose ingerida faz uma via mais indireta para o glicogênio. Ela é captada primeiro
pelos eritrócitos e transformada glicoliticamente em lactato, que é captado pelo fígado e con-
vertido em glicose-6-fosfato pela gliconeogênese.
CARBOIDRATOS 34

O produto desta reação reage com a etapa fundamental da biossíntese do


UTP e é convertido em UDP-glico- glicogênio.
se, o nucleotídeo ativo, pela ação da UTP + Glicose-1-fosfato UDP-
UDP-glicose-pirofosforilase, em uma -Glicose + PPi

Figura 19. Estrutura da UDP-glicose (Uridina difosfato glicose). Fonte: Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da
Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009

A hidrólise subsequente do pirofos- promove a transferência da glicose


fato inorgânico (PPi) pela pirofosfa- da UDP-glicose para uma extremi-
tase inorgânica desloca o equilíbrio dade não redutora de uma molécula
da reação para a direita da equação, ramificada de glicogênio. O equilíbrio
isto é, favorece a formação de UDP total da via desde a glicose-6-fosfa-
– glicose. to até o glicogênio acrescido de uma
A UDP-glicose é o doador imediato unidade de glicose favorece muito a
dos resíduos de glicose na reação ca- síntese do polímero.
talisada pela glicogênio-sintase, que
CARBOIDRATOS 35

VIA DE SÍNTESE DE GLICOGÊNIO

Glicose

ATP
Hexoquinase
ADP

Glicose 6-fosfato

Fosfoglicomutase

Glicose 1-fosfato

UTP
Glicose-1P
uridiltransferase
PPi

UDP-glicose

(glicose)n
Glicogênio sintetase
(glicose)n+1

UDP

Fonte: Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian –


Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009
CARBOIDRATOS 36

SAIBA MAIS!
Até recentemente, a fonte da primeira molécula de glicogênio que podia atuar como um pri-
mer na sua síntese era desconhecida. Porém, foi descoberto uma proteína conhecida como
glicogenina, localizada no centro da molécula de glicogênio, que apresenta uma propriedade
incomum: a de catalisar sua própria glicosilação, fixando o carbono-1 da UDP-glicose a um
resíduo de tirosina na proteína. A glicose fixada pode servir como um primer requerido pela
glicose sintase, que estende a polimerização, enquanto a glicogenina desliga-se do polímero
em crescimento.

Ramificação da cadeia de Esta enzima catalisa a transferência


glicogênio de parte da cadeia 1  4 (mínimo de
seis resíduos de glicose) para uma
A adição de um resíduo de glicose
cadeia adjacente, para formar uma li-
em uma cadeia de glicogênio pree-
gação 1 – 6, estabelecendo assim um
xistente, ou primer, ocorre na extre-
ponto de ramificação na molécula. As
midade não redutora da molécula, de
ramificações crescem por novas adi-
modo que as ramificações da árvore
ções de unidades de glicose 1  4 e
de glicogênio tornam-se alongada
formam-se novas ramificações. Como
pela formação de ligações de glicose
aumenta o número de resíduos termi-
α 1  4 sucessivas. Quando a cadeia
nais não redutores, também aumento
for alongada em 11 resíduos de gli-
o número total de sítios reativos da
cose, uma outra enzima, a enzima de
molécula, acelerando tanto a glicogê-
ramificação, isto é, a amilo ( 1  4 )
nese como a glicogenólise (quebra do
a ( 1  6) transglicosilase, ou glicosil
glicogênio).
(4  6) – transferase entra em ação.

Figura 21. Síntese da ramificação de glicogênio. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica
de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v
CARBOIDRATOS 37

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014. 1 v
Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009
Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009
Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro:
Fundação Cecierj, 2009. 3 v.
CHAMPE, Pamela C.; HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R.. Bioquímica Ilustrada. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006
BAYNES, John W.; DOMINICZAK, Marek H.. Bioquímica Médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Else-
vier, 2015
MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquímica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1999.
DALPAI, Débora; BARSCHAK, Alethéa Gatto. Bioquímica Médica para Iniciantes. Porto Ale-
gre: Editora da Ufcspa, 2018. 133 p.
CARBOIDRATOS 38

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