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1. Introdução...................................................................... 3
2. Propriedades e ações das enzimas..................... 6
3. Cinética enzimática..................................................17
4. Inibidores enzimáticos............................................20
5. Cofatores e coenzimas...........................................24
Referências Bibliográficas .........................................27
ENZIMAS E COENZIMAS 3
1. INTRODUÇÃO
CONCEITO! Catálise, em química, é o
São duas as condições fundamentais aumento da velocidade de uma reação,
para haver vida. Primeiro, o organis- devido à adição de uma substância (ca-
mo deve ser capaz de se autorre- talisador); sendo assim, a catálise pode
ser simplesmente definida como sendo
plicar; segundo, ele deve ser capaz
a ação do catalisador. Esta substância,
de catalisar reações químicas com que normalmente está presente em
eficiência e seletividade. A impor- pequenas quantidades, pode ser recu-
tância central da catálise pode pa- perada ao final da reação, não sendo
consumida pela mesma. Por sua vez, as
recer surpreendente, mas é fácil de enzimas consistem nos catalisadores
demonstrar. biológicos, as quais participam das rea-
ções bioquímicas.
Os sistemas vivos fazem uso da ener-
gia do ambiente. Muitos humanos,
por exemplo, consomem quantidades Neste SuperMaterial, o foco se vol-
substanciais de sacarose (o açúcar tará para os catalisadores das re-
comum) como combustível, geral- ações dos sistemas biológicos: as
mente na forma de comidas e bebidas enzimas, as proteínas mais notáveis
doces. A conversão de sacarose em e mais altamente especializadas. As
CO2 e H2O, em presença de oxigênio, enzimas têm um poder catalítico ex-
é um processo altamente exergônico, traordinário, geralmente muito maior
liberando energia livre que pode ser do que os catalisadores sintéticos ou
usada para pensar, mover-se, sen- inorgânicos. Elas têm um alto grau de
tir gostos e enxergar. Entretanto, um especificidade para os seus respecti-
saco de açúcar pode permanecer na vos substratos, aceleram as reações
prateleira por anos a fio sem qualquer químicas e atuam em soluções aquo-
conversão evidente em CO2 e H2O. sas sob condições suaves de tem-
Embora esse processo químico seja peratura e pH. Poucos catalisadores
termodinamicamente favorável, ele é não biológicos têm esse conjunto de
muito lento. Mesmo assim, quando propriedades.
a sacarose é consumida por seres
humanos (ou por qualquer outro
organismo), ela libera sua energia Importância das enzimas
química em segundos. A diferença As enzimas estão no centro de cada
é a catálise. Sem catálise, as reações um dos processos bioquímicos. Atu-
químicas como aquelas da oxidação ando em sequências organizadas,
da sacarose poderão não ocorrer na elas catalisam cada uma das reações
escala de tempo adequada e então das centenas de etapas que degra-
não podem sustentar a vida. dam as moléculas dos nutrientes, que
ENZIMAS E COENZIMAS 4
SAIBA MAIS!
Durante muito tempo, admitiuse que todos os catalisadores biológicos fossem proteínas. No
início da década de 1980, entretanto, verificou-se que moléculas de RNA catalisavam rea-
ções químicas celulares. A descoberta foi surpreendente e este tipo particular de catalisador
recebeu o nome de ribozima. Comporta-se de forma semelhante às proteínas enzimáticas.
Sua atuação nas reações metabólicas está restrita a alguns casos especiais, porém impor-
tantes. Cerca de 10 anos depois da identificação das ribozimas, foram selecionados, in vitro,
pequenos segmentos de DNA com atividade catalítica, as desoxirribozimas, que, todavia,
não são encontradas na natureza.
Diante da maior atuação das proteínas como enzimas, focaremos na atuação das mesmas
nas reações bioquímicas do organismo.
NÚMERO DA CLAS-
NOME DA
SE (1º NÚMERO TIPO DE REAÇÃO CATALISADA
CLASSE
E.C.)
1 Oxidorredutases Transferência de elétrons (íons hidrido ou átomos de H)
2 Transferases Reações de transferência de grupos
Reações de hidrólise (transferência de grupos funcionais para a
3 Hidrolases
água)
Clivagem de C–C, C–O, C–N ou outras ligações por eliminação, rom-
4 Liases pimento de ligações duplas ou anéis, ou adição de grupos a ligações
duplas.
Transferência de grupos dentro de uma mesma molécula produzin-
5 Isomerases
do formas isoméricas
Formação de ligações C–C, C–S, C–O e C–N por reações de conden-
6 Ligases
sação acopladas à hidrólise de ATP ou cofatores similares
Tabela 1. Classificação internacional das enzimas. Fonte: Nelson (2014)
que formam o sítio ativo estão orga- Atuação das enzimas na cinética
nizados de tal modo que interagem das reações
especificamente com o substrato de
Uma reação enzimática simples pode
uma maneira que envolve atração
ser escrita como:
(complementaridade eletrônica). As
moléculas que diferirem do substrato E+S ⇌ ES ⇌ EP ⇌ E+P
quanto à forma ou à distribuição dos onde E, S e P representam enzima,
grupos funcionais não se ligarão pro- substrato e produto, respectivamen-
dutivamente à enzima, isto é, elas não te; ES e EP são complexos transi-
formarão complexos enzima-substra- tórios da enzima com o substrato e
to que levem à formação de produtos. com o produto.
O sítio de ligação ao substrato, de Para entender a catálise, deve-se pri-
acordo com a hipótese chave e fe- meiro avaliar a importância de distin-
chadura, já existe mesmo na ausên- guir entre o equilíbrio e a velocidade
cia de ligação do substrato ou pode, de uma reação. A função do catali-
como é sugerido pela hipótese do sador é aumentar a velocidade da
ajuste induzido, formar-se sobre o reação. A catálise não afeta o equi-
substrato à medida que ele se liga à líbrio da reação. Qualquer reação,
enzima. Estudos por raios X indicam como S ⇌ P, pode ser descrita por
que os sítios de ligação ao substra- um diagrama de coordenadas da re-
to da maioria das enzimas estão em ação (Figura 2), que representa a va-
grande parte pré-formados, mas a riação de energia durante a reação. A
maioria deles apresenta ao menos energia é descrita nos sistemas bioló-
algum grau de ajuste induzido ao se gicos, em termos de energia livre, G.
ligar ao substrato.
SAIBA MAIS!
Para descrever a variação de energia livre das reações, químicos definiram um conjunto de
condições padrão (temperatura de 298 K; pressão parcial de cada gás de 1 atm e concen-
tração de cada soluto de 1 M) e expressam as mudanças de energia livre de um sistema
reagindo sob essas condições como ΔG°, a variação de energia livre padrão. Uma vez que
os sistemas bioquímicos geralmente envolvem concentrações de H+ muito abaixo de 1 M,
bioquímicos definiram uma variação de energia livre padrão bioquímica, ΔG’°, a variação
de energia livre padrão em pH 7,0.
ENZIMAS E COENZIMAS 10
Estado de transição
Energia livre, G
S
Estado
fundamental P
Estado
fundamental
Coordenada da reação
Estado de transição
Energia livre, G
S
Estado P
fundamental Estado
fundamental
Coordenada da reação
Figura 3. Diagrama da coordenada da reação comparando uma reação catalisada por enzima com uma não catalisa-
da. Fonte: Nelson (2014)
A noção moderna da catálise enzi- substrato ligado ainda deve ter au-
mática, primeiramente proposta por mento na energia livre para atingir o
Michael Polanyi (1921) e Haldane estado de transição. Agora, entretan-
(1930), foi elaborada por Linus Pau- to, o aumento de energia livre neces-
ling em 1946 e por William P. Jencks sário para tensionar o bastão em uma
na década de 1970. Para poder ca- curvatura e quebrar parcialmente a
talisar reações, as enzimas devem conformação é compensado (“pago”)
ser complementares ao estado de pelas interações (energia de liga-
transição da reação. Isso significa ção) que se formam entre a enzima
que interações ótimas entre substra- e o substrato no estado de transição.
tos e enzimas só ocorrem no estado Muitas dessas interações envolvem
de transição. partes do bastão distantes do ponto
A Figura 4b demonstra como uma de quebra. Assim, as interações en-
enzima dessas pode funcionar. O tre a bastonase e as regiões não rea-
bastão de metal liga-se à bastona- gentes do bastão fornecem parte da
se, mas apenas um subconjunto das energia necessária para catalisar a
interações magnéticas possíveis é quebra do bastão.
usado para formar o complexo ES. O
Figura 4. Proposta de uma enzima imaginária (bastonase) que catalise a quebra de um bastão metálico. Fonte: Adap-
tado de Nelson (2014)
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S
P
Coordenada da reação
Figura 5. Papel da energia de ligação na catálise. Fonte: Nelson (2014)
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CINÉTICA
ENZIMÁTICA
substrato ou à co-
enzima. É o caso de
reações catalisadas
por quinases, que
utilizam como co-
enzima o comple-
xo ATP–Mg2+: na
ausência de Mg2+,
o ATP não se liga à
enzima.
As coenzimas atu-
am como aceptores
Figura 9. Inibição não competitiva de uma enzima.
de átomos ou gru-
Fonte: Nelson (2014) pos funcionais do substrato em uma
dada reação e como doadores destes
mesmos grupos ao participarem de
5. COFATORES E outra reação e, por isto, diz-se que as
COENZIMAS coenzimas são transportadoras de
A maioria das enzimas necessita da determinados grupos (Tabela 2).
associação com outras moléculas ou Durante a catálise, coenzima e subs-
íons para exercer seu papel catalítico. trato acham se alojados no centro ati-
Esses componentes da reação enzi- vo da enzima, consistindo a reação
mática são genericamente chama- na remoção de um grupo químico do
dos cofatores. Os cofatores podem substrato e sua transferência para a
ser íons metálicos ou moléculas orgâ- coenzima, ou viceversa.
nicas, não proteicas, de complexidade Fica evidente que as coenzimas não
variada, que recebem o nome de co- apenas sofrem modificações em sua
enzimas. Íons metálicos como Zn2+, estrutura ao participar de uma reação
Fe2+, Cu2+ e Co2+ costumam fazer enzimática, mas são necessárias em
parte da estrutura da enzima ou por quantidades estequiométricas em re-
ligarem-se a cadeias laterais de ami- lação ao substrato. Todavia, o fato de
noácidos, frequentemente perten- as coenzimas serem constantemente
centes ao sítio ativo da enzima, ou por recicladas, oscilando entre duas for-
estarem presentes em grupos pros- mas, permite que suas concentrações
téticos como, por exemplo, o heme. celulares possam ser bastante redu-
Outros íons metálicos como Na+, K+, zidas, muito menores do que as con-
Mg2+, Mn2+e Ca2+ associam-se centrações de substrato.
fraca e reversivelmente à enzima, ao
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ENZIMAS E
COENZIMAS
Os catalisadores
aumentam a Inibidor Misto
velocidade das reações
por diminuírem as Atua diminuindo a
energias de ativação velocidade de reação Inibidor Não
das reações máxima enzimática Competitivo
Atua diminuindo a
Inibidor Competitivo
A energia de ligação é a principal fonte de afinidade da enzima
energia livre utilizada pelas enzimas para a com o seu substrato
diminuição da energia de ativação das reações.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Marzzoco A, Torres BB. Bioquímica Básica. 4. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
Nelson DL, Cox MM. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. – Porto Alegre: Artmed,
2014.
Voet D, Voet JG. Bioquímica. 4. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2013.
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