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1.1.Aspectos teóricos
1.2.Conceito
Enzimas são grupos de substâncias orgânicas de natureza normalmente proteica
(existem também enzimas constituídas de RNA, as ribozimas), com actividade intra ou
extracelular que têm funções catalisadoras, catalisando reacções químicas que, sem a
sua presença, dificilmente aconteceriam. Isso é conseguido através do abaixamento da
energia de activação necessária para que se dê uma reacção química, resultando no
aumento da velocidade da reacção e possibilitando o metabolismo dos seres vivos. A
capacidade catalítica das enzimas torna-as adequadas para aplicações industriais, como
na indústria farmacêutica ou na alimentar.
Em sistemas vivos, a maioria das reacções bioquímicas dá-se em vias metabólicas, que
são sequências de reacções em que o produto de uma reacção é utilizado como reagente
na reacção seguinte. Diferentes enzimas catalisam diferentes passos de vias metabólicas,
agindo de forma concertada de modo a não interromper o fluxo nessas vias. Cada
enzima pode sofrer regulação da sua actividade, aumentando-a, diminuindo-a ou mesmo
interrompendo-a, de modo a modular o fluxo da via metabólica em que se insere. Sem
as enzimas as reacções químicas do organismo seriam muito lentas, elas proporcionam
uma maior eficiência reduzindo a energia de activação sem deslocar o equilíbrio
exercendo assim seu poder catalítico.
1.3. Localização
Podemos encontrar enzimas em quase todas as estruturas celulares e fluidos corporais.
Algumas têm uma localização específica, de tal modo que podem servir para indicar que
estamos em presença de um tal tecido, secreção ou fragmento celular se verificar a
actividade de uma dada enzima.
1.4.Historia
Era já sabido, entre o final do século XVII e início do século XVIII, que secreções
estomacais eram capazes de digerir a carne; era também conhecida a conversão de
amido a açúcares pela saliva e extractos vegetais. O mecanismo subjacente a estas
transformações não era, no entanto, conhecido.
As enzimas foram descobertas no século XIX, aparentemente por Pasteur, que concluiu
que a fermentação do açúcar em álcool pela levedura é catalisada por fermentos. Ele
postulou que esses fermentos (as enzimas) eram inseparáveis da estrutura das células
vivas do lêvedo. Pasteur declarou que "a fermentação alcoólica é um acto
correlacionado com a vida e organização das células do fermento, e não com a sua
morte ou putrefacção".
Em 1878, Wilhelm Kühne empregou pela primeira vez o termo "enzima" para descrever
este fermento, usando a palavra grega ενζυμον, que significa "levedar". O termo passou
a ser mais tarde usado apenas para as proteínas com capacidade catalítica, enquanto que
o termo "fermento" se refere à actividade exercida por organismos vivos.
Restava determinar qual a natureza das enzimas. Alguns afirmavam que as proteínas,
associadas à actividade enzimática, apenas eram o suporte da verdadeira enzima, e, por
si próprias, incapazes de catálise. Em 1926, James B. Sumner purificou e cristalizou a
urease, mostrando tratar-se de uma proteína pura, e fez o mesmo, em 1937, para a
catalase. A prova final foi feita por Northrop e Stanley em 1930, com o estudo de três
enzimas digestivas, a pepsina, a tripsina e a quimiotripsina, pelo que receberam o
Prémio Nobel da Química em 1946.
A maioria das enzimas são maiores do que o substrato sobre o qual atuam, e só uma
pequena porção da enzima (cerca de 3 – 4 aminoácidos) está envolvida na catálise.
A região que contém estes resíduos catalíticos, que se liga-se ao substrato e que
desempenha a reacção, é denominada de sítio activo. As enzimas também podem ter
sítios onde se ligam cofactores, que são necessários às reacções catalíticas. Algumas
enzimas também podem ter sítios de ligações para pequenas moléculas, que são
produtos ou substratos, directos ou indirectos, da reacção catalisada.
Tal como todas as proteínas, as enzimas são formadas por longas cadeias lineares de
aminoácidos que sofrem um enovelamento que tem como resultado um produto com
estrutura tridimensional. Cada sequência única de aminoácidos produz também uma
estrutura tridimensional única que tem propriedades específicas. Cadeias individuais de
proteínas podem por vezes agrupar-se para formar um complexo proteico.
A maioria das enzimas pode sofrer desnaturação, isto é, a sua estrutura pode sofrer
desagregação e inactivação pelo aumento de temperatura, o que provoca alterações na
conformação tridimensional da proteína. Dependendo da enzima, a desnaturação pode
ter efeitos reversíveis ou irreversíveis.
Como toda proteína, as enzimas também são sensíveis a variações de pH. O pH pode
alterar factores como a ligação do substrato à enzima, a actividade catalítica da enzima,
a ionização do substrato e a variação da estrutura da proteína.
As cadeias laterais dos aminoácidos no sítio activo das enzimas podem agir como
ácidos fracos ou bases com funções críticas para a manutenção de um estado ionizado
necessário para a actividade enzimática. A faixa de pH na qual a enzima sofre alterações
em sua actividade pode indicar inclusive o tipo de resíduo de aminoácido envolvido na
catálise.
1.6. Especificidade
As enzimas possuem normalmente uma alta especificidade em relação às reacções que
catalisam e aos substratos que estão envolvidos nessas reacções. A forma
complementar, carga e características hidrofílicas/hidrofóbicas, são responsáveis por
esta especificidade. As enzimas exibem também elevados níveis de
estereoespecificidade, regioselectividade e quimioselectividade.
Algumas das enzimas que apresentam maior especificidade e precisão, estão envolvidas
na cópia e expressão do genoma. Estas enzimas possuem mecanismos de proof-reading
(revisão). Um destes casos é a DNA polimerase, que catalisa uma reacção num primeiro
passo, para de seguida confirmar, num segundo passo, se o produto é o correcto.
Este processo em duas etapas resulta em médias de taxa de erro muito diminutas, na
ordem de uma para cem milhões de reacções, no caso de polimerases de mamíferos.
Mecanismos de revisão similares também podem ser encontrados na RNA polimerase,
na aminoacil-tRNA sintetases e em ribossomas.
Como resultado, o substrato não se liga simplesmente a um sítio activo que é rígido. As
cadeias laterais dos aminoácidos que formam os sítios activo sofrem um reorientação de
maneira a que as suas posições potenciem a acção catalítica da enzima. Em alguns
casos, como nas glicosidases, a molécula de substrato também sofre alterações de
conformação à medida que vai se aproximando do sítio activo.
O sítio activo continua a sofrer modificações até que o substrato esteja completamente
ligado e é neste momento em que a conformação final e a carga são determinadas.
1.9.Mecanismos