• O que é e em que consiste, situações em que é utilizada:
A estimulação ovárica é uma técnica de reprodução medicamente assistida usada em situações nas quais se verifica que a infertilidade do casal se deve a um problema ovulatório da mulher e, não há nenhum fator de impedimento masculino. Conceitos: • Reprodução medicamente assistida (RMA) contempla o uso de técnicas médicas, com o objetivo de auxiliar a reprodução humana. Estas técnicas são normalmente utilizadas em casais inférteis, mas também em casais em que haja portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV positivo), ou do vírus da hepatite B ou C. A inseminação artificial intrauterina, a fertilização in vitro e a microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides, são exemplo de técnicas de reprodução medicamente assistida. • Infertilidade é a dificuldade de se reproduzir. Geralmente, refere-se ao diagnóstico feito quando um casal não obtém gravidez, mesmo sem o uso de qualquer método contracetivo, após um ano de relações sexuais bem distribuídas ao longo do ciclo menstrual. Existem dois tipos de infertilidade, a primária, quando não há, qualquer, gestação anterior e, a secundária, se já houve gravidez. O facto de a mulher já ter sido mãe, não garante a fertilidade para uma futura gravidez. O diagnóstico de infertilidade também pode ser dado para mulheres que chegam a engravidar, mas por diversos motivos não conseguem manter a gestação até o final. As causas da infertilidade podem ser várias, sendo as principais, a idade (envelhecimento), o peso, as DST e o tabagismo, de acordo com a sociedade Americana de Medicina Reprodutiva. Para detetar quais as possíveis causas para a dificuldade em engravidar, o casal deverá realizar exames que avaliarão sua capacidade reprodutora. Para o homem será indicado o espermograma. Já as mulheres podem fazer um exame clínico para examinar o colo do útero e, em alguns casos, flutuações hormonais do ciclo menstrual. Como sabemos, a ovulação é necessária para a existência de fecundação e, posterior, gravidez. No entanto, o ciclo menstrual é extremamente sensível e pode ser facilmente perturbado. Problemas relacionados com a ovulação são muito comuns e são responsáveis por cerca de 25% dos casos de infertilidade feminina. Nesses casos, a técnica à qual se deve recorrer é a estimulação ovárica. A estimulação ovárica consiste na administração de fármacos que favorecem o desenvolvimento folicular e ovulação. O seu objetivo é o desenvolvimento e maturação de múltiplos folículos, prontos para múltiplas ovulações e fertilização. A estimulação ovárica é diferente da indução da ovulação (IO), uma vez que, são libertados vários óvulos durante um ciclo, em vez de um único óvulo. A indução da ovulação é mais frequentemente utilizada antes de se ponderar tratamentos com recurso a reprodução medicamente assistida (RMA), ao passo que a estimulação ovárica é normalmente utilizada em conjunto com ciclos de fertilização in vitro (FIV), inseminação intrauterina (IIU) e injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). • Processo de tratamento (2) Na estimulação ovárica são dois os principais protocolos de tratamento: com citrato de clomifemo e com gonadotrofinas. - Com citrato de clomifeno. É o tratamento mais adequado para a mulher com disfunção ovulatória e um parceiro fértil. O citrato de clomifeno induz os ovários a produzirem folículos, “enganando” o cérebro, isto é, levando-o a “pensar” que existem quantidades baixas de estrogénios em circulação e desta forma estimula os ovários a produzirem oócitos. Utiliza-se principalmente em mulheres com idade inferior a 40 anos e cuja infertilidade é devida a problemas na ovulação. - Com gonadotrofinas. Se o tratamento com citrato de colmifeno não funcionar, poderá ser necessário o recurso a medicamentos com gonadotrofinas – hormonas que atuam estimulando diretamente os ovários, promovendo o desenvolvimento folicular e a produção de oócitos. As principais gonadotrofinas são a LH (luteoestimulina) e FSH (foliculoestimulina). Nas mulheres, a FSH e a LH exercem ações distintas (embora complementares) sobre o crescimento e desenvolvimento dos folículos ováricos e sobre a síntese e secreção das hormonas ováricas mais importantes (como é o caso dos estrogénios e progesterona). A FSH estimula o desenvolvimento folicular, enquanto a LH é a hormona mais importante na fase luteínica. Normalmente, a maioria dos folículos degrada-se nos primeiros dias do ciclo menstrual, à medida que os níveis de FSH e LH diminuem, pela degeneração do corpo amarelo, que produz essas hormonas. Assim, a fim de permitir que múltiplos folículos continuem a crescer, a estimulação ovárica é utilizada para manter as concentrações de gonadotrofinas. O objetivo é suprir o declínio de FSH e LH, que geralmente ocorre no início do ciclo menstrual. As gonadotrofinas são administradas por via injeção e são dos medicamentos mais utilizados no tratamento da infertilidade. O especialista em fertilidade geralmente escolhe a dose inicial com base na idade, índice de massa corporal (IMC) da mulher, na presença de condições clínicas específicas (por exemplo, síndrome do ovário poliquístico), nos seus níveis hormonais e na contagem de folículos antrais, entre outros fatores. (2º) Aquando o tratamento com gonadotrofinas, poderá utilizado outro conjunto de medicamentos, como os agonistas ou os antagonistas da GnRH, para garantir que a ovulação ocorre exatamente no momento certo. Estes medicamentos controlam a quantidade de FSH e LH que o corpo da mulher produz, para impedir a ocorrência de uma ovulação repentina antes de os óvulos estarem suficientemente desenvolvidos e maturos para serem recolhidos. (3º) Normalmente, o corpo da mulher aumenta os níveis de LH num certo momento do ciclo sexual, a fim de desencadear a ovulação. No entanto, isto não acontece em algumas mulheres. Por isso, é necessária uma injeção de outra hormona, hCG (gonadotrofina coriónica humana) para desencadear a ovulação durante a fase final da estimulação ovárica. Isto leva a que o médico saiba o momento exato em que a ovulação ocorre, permitindo a realização de outros tratamentos, como inseminação artificial ou fertilização in vitro, no momento adequado, aumentando assim as hipóteses de engravidar. • Princípios biológicos inerentes à estimulação ovárica A estimulação ovárica, como já referimos, consiste no favorecimento e estimulação do desenvolvimento folicular e, consequentemente, da ovulação. O desenvolvimento folicular é um processo essencial para a ocorrência de oogénese (processo de formação de oócitos). No desenvolvimento folicular, que ocorre nos ovários, o folículo atravessa várias etapas. Na vida intrauterina, formam-se os folículos primordiais, que consistem num oócito I, com a meiose bloqueada em prófase I, rodeado de células foliculares. A partir destes e, a partir da puberdade e, até à menopausa, uma vez por mês, de forma cíclica, alguns desses folículos recomeçam um processo de desenvolvimento, contudo, desse conjunto, em regra, apenas um completa a sua maturação. Inicialmente, transforma-se num folículo primário. No folículo primário, o oócito I aumenta de tamanho e verifica-se a proliferação das células foliculares. De seguida, este progride para um folículo secundário, que já contém uma camada espessa de células, chamada a granulosa, assim como também a zona pelúcida. Numa próxima fase, forma-se o folículo terciário, que possui uma cavidade folicular, ainda rudimentar. Ao aproximar-se o final do desenvolvimento folicular, durante o qual houve um aumento progressivo do tamanho do folículo, que agora se encontra na divisão II da meiose, a cavidade folicular aumenta muito, designando-se, então, esse folículo por folículo maduro ou folículo de Graaf. Este, acaba por provocar uma saliência na superfície do ovário. Quando este estádio é atingido, o oócito II, rodeado por células foliculares, é libertado na cavidade folicular, preenchida por líquido. Posteriormente e, por pressão da cavidade folicular sobre a parede do ovário, o folículo sofre um rompimento e, o oócito II, envolvido pela zona pelúcida e células foliculares, é libertando, sendo, logo, recolhido pelas trompas de Falópio. Este processo de libertação do oócito II é designado por ovulação. Assim, e concluído este processo, o oócito está pronto para ser fecundado e originar uma gravidez. Na maioria das mulheres, este processo ocorre naturalmente, todos os meses, mas quando isso não se verifica, numa fase inicial e, com o objetivo de aumentar as taxas de êxito dos tratamentos de fertilidade, recorre-se à estimulação ovárica, como referido anteriormente. Na estimulação ovárica, além de se estimular o desenvolvimento folicular, estimula-se, também, a libertação de mais do que um oócito, por ciclo, o que aumenta as hipóteses de fecundação. • Sintomas – síndrome da hiperestimulação ovárica (SHO) Durante o processo médico da estimulação ovárica, podem se desenvolver vários sintomas, sendo o mais recorrente e principal, a síndrome da hiperestimulação ovárica (SHO). A síndrome da hiperestimulação ovárica é uma resposta excessiva e exagerada à administração de fármacos, em especial as gonadotrofinas, usados para o crescimento e desenvolvimento dos folículos. Mulheres com SHO possuem um elevado número de ovários em crescimento, assim como, de níveis de estrogénio. Isto resulta numa acumulação de líquido no abdómen, que pode gerar inchaço e náuseas. A SHO pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Uma em cada três mulheres apresenta sintomas da síndrome leve durante a estimulação ovariana controlada para fertilização in vitro. Estes sintomas podem incluir: dor e desconforto abdominal, aumento do tamanho dos ovários, inchaço, náuseas e vómitos. Em casos raros, em que a síndrome se desenvolve de forma mais grave, os sintomas são: rápido aumento de peso, falta de ar e alterações respiratórias, sanguíneas e renais. O tratamento da Síndrome de Hiperestimulação Ovariana consiste em aliviar os sintomas das pacientes afetadas e prevenir complicações futuras. Consultas médicas para exames de medição dos ovários e do líquido no abdômen, além de exames de sangue, são feitos regularmente. Recomenda-se a diminuição das atividades e o consumo de líquidos ricos em eletrólitos. Podem ser também recomendados medicamentos para as náuseas. Se houver acumulação de líquido no abdômen, a drenagem do fluido usando uma seringa (paracentese) pode fornecer alívio significativo na maioria dos casos. • Taxa de sucesso Estima-se que em 70% dos casos sujeitos a estimulação ovárica, tenha ocorrido ovulação. Desses 70%, 25 a 30%, resultam em fecundação, aquando um procedimento, posterior, de fertilização in vitro. • Conclusão Em suma, nesta apresentação foram abordados vários pontos referentes a esta técnica de reprodução medicamente assistida. Para terminar, vamos realçar e rever os mais importantes. - A estimulação ovárica é um tratamento médico que, tem como objetivo o favorecimento e a estimulação, do desenvolvimento folicular e, assim provocar a ovulação e, consequente, libertação de um oócito pronto a ser fecundado. - A estimulação ovárica é usada, maioritariamente, como ponto de partida e, em conjunto com outros tratamentos de RMA, como a fertilização in vitro ou a inseminação artificial. Na estimulação ovárica é estimulada a libertação de mais do que um oócito, para facilitar e aumentar as possibilidades de fecundação. - Um dos mais frequentes sintomas deste tratamento é a síndrome da hiperestimulação ovárica, que se caracterizada como uma resposta hiperbolizada do organismo aos medicamentos utilizados. Esperemos vos ter esclarecido um pouco mais sobre esta técnica de reprodução medicamente assistida. Muito obrigada pela vossa atenção e, por favor, exponham as vossas dúvidas, caso as tenham. • Kahoot (avaliação formativa).