Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
1
Mestre em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Professora efetiva
da rede pública de ensino do estado do Ceará. Desenvolve pesquisas sobre a dimensão subjetiva do processo de
inclusão de alunos na escola regular. E-mail: januariamesquita@yahoo.com.br
2
Doutor em Educação: Psicologia da Educação pela Pontífica Universidade Católica de São Paulo
(PUCSP). Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Membro do Grupo de
Pesquisa Educação e Subjetividade por meio do qual participa do projeto de pesquisa "Tecendo redes de
colaboração no ensino e na pesquisa em educação: um estudo sobre a dimensão subjetiva da realidade escolar",
realizado pela PUC/SP, UFPI, UERN e UFAL com apoio do PROCAD/CAPES e, coordena o projeto "A
dimensão subjetiva do processo educacional: estado da arte na pesquisa em psicologia e educação”. E-mail:
julioribeirosoares@yahoo.com.br
ISSN 2176-1396
1459
Introdução
com ele próprio, se apropria dos significados - acumulados histórica e socialmente - e, a partir
deles, num processo psíquico, os converte em sentidos.
Diante do exposto, importante esclarecermos que o significado e o sentido são
categorias de análise e de grande destaque da perspectiva sócio-histórica por darem
visibilidade a elementos da subjetividade do sujeito. Ainda, importante destacarmos que,
mesmo que as categorias em questão sejam diferentes e tenham suas singularidades, “não
podem ser compreendidas descoladas uma da outra, pois uma não é sem a outra”. (AGUIAR;
OZELLA, 2013, p. 304).
Assim sendo, Vigotski (2009, p. 398) defende que o significado é “um traço
constitutivo indispensável da palavra”, uma unidade que não se decompõe dos processos de
pensamento e linguagem. Conforme assinala Oliveira (2004, p. 48), no campo psicológico, o
significado é uma generalização ou um conceito contido na palavra, construído historicamente
e compartilhado nas relações sociais. Logo, “o homem, ao nascer, encontra um sistema de
significações pronto” (AGUIAR, 2001, p. 105), o qual sofrerá modificações e refinamentos,
ininterruptamente.
Para Bock e Gonçalves (2009, p. 61), são os significados “que permitem a
comunicação entre os homens, além de serem fundamentais para a constituição do
psiquismo”. Em outras palavras, os significados são elementos mediadores do intercâmbio
social e, portanto, fundamentais no processo de constituição psíquica dos indivíduos.
No caso dos sentidos, abstraímos que são produzidos pelo sujeito e criados ao longo
de toda a sua história, durante sua atividade no meio externo, por meio das interações sociais.
De acordo com Aguiar (2001, p. 105), “o sentido se constitui, portanto, a partir do
confronto entre as significações sociais vigentes e a vivência pessoal”. A partir disto, o
indivíduo internaliza e transforma os significados sociais, o que faz a categoria ser de maior
complexidade e amplitude do que os significados, sendo estes “apenas uma das zonas do
sentido, a mais estável e precisa” (AGUIAR, 2001, p. 105). O processo é considerado por
Vigotski como uma ‘síntese psicológica’ na qual, explica Rey (2012, p. 52), “o objetivo se
converte em psicológico”.
Porém, é de vital importância destacarmos que, ao converter o significado social em
sentido, o indivíduo não reproduz nem expõe para seu grupo social o já existente. Na
realidade, ele disponibiliza ao social aquilo que produz e constrói, ou seja, os sentidos.
Neste sentido, a pesquisa de cunho teórico-metodológico teve como escopo evidenciar
o papel que a entrevista reflexiva pode constituir no desenvolvimento da reflexão crítica e no
processo de produção das significações do sujeito. Assim sendo, consideramos que a pesquisa
é relevante, visto que a entrevista reflexiva apresenta potencial para desempenhar o
1461
Metodologia
Campo de pesquisa
O sujeito da pesquisa
4 Para Szymanski (2004, p. 12), nesta situação “estão em jogo as percepções do outro e de si,
expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado”.
5 Recurso utilizado pelo pesquisador para demonstrar que está acompanhando o discurso do sujeito da
pesquisa. Esta demonstração deve ser feita utilizando-se do próprio vocabulário do sujeito entrevistado.
(SZYMANSKI, 2004).
1464
6 Entrevista reflexiva.
7 Entrevistadora.
1465
desses alunos. A escola recebe, matricula, muitas vezes, eles permanecem, mas sem aprender
por conta de que a escola não está preparada e que você considera a inclusão importante.
Mas, em sua opinião, o que, hoje, já se faz de positivo? Quais são as ações, hoje, praticadas
que você vê que já ajudam no processo de inclusão? O que a escola já faz?
Fonte: Conteúdo da entrevista reflexiva realizada em janeiro de 2015.
de nossa pesquisa uma questão focalizadora, visto sua fuga não proposital dos objetivos da
pesquisa.
Eu queria saber de você em relação ao seu papel, como é que você se vê, enquanto
profissional da educação. O seu papel é esse de mediação ou vai mais além do que isso? Se
vai além, o que mais cabe a você?
E: Mas, você falou que se preocupava muito com a socialização dele, com a aceitação dele
por parte dos alunos. O que você fazia para incluir, para que esse aluno aprendesse os
conteúdos? Quais eram as suas tentativas?
E: E, como era o processo de avaliação? Você entregava a prova e como era?
E: E, o que você acha disso?
E: Eu entendi que, na sua opinião, a escola não está preparada para atender às necessidades
desses alunos. A escola recebe, matricula, muitas vezes, eles permanecem, mas sem aprender
por conta de que a escola não está preparada e que você considera a inclusão importante.
Mas, em sua opinião, o que hoje já se faz de positivo? Quais são as ações hoje praticadas que
você vê que já ajudam no processo de inclusão? O que a escola já faz?
Fonte: Conteúdo da entrevista reflexiva realizada em janeiro de 2015.
Considerações Finais
Neste sentido, é mister dizermos que, como asseguram Meira e Antunes (2003, p. 9), a
perspectiva adotada em nossa pesquisa - Psicologia Sócio-Histórica:
realidade investigada. Isto proporciona o resgate significativo do seu papel ativo na produção
de situações favoráveis à experiência vivida e da constituição da realidade e de si próprio, o
que o transforma e o faz avançar, efetivamente, na qualidade do trabalho docente.
Assim sendo, a re-significação só se dá a partir da reflexão crítica do professor, ação
que, conforme colocam as autoras, podem proporcionar o resgate significativo do seu papel
ativo diante da realidade vivida.
Através do uso da entrevista reflexiva, enquanto procedimento metodológico, foi
possível tirarmos o sujeito colaborador de sua zona de conforto e ajudá-lo a pensar e a refletir
criticamente sobre sua prática. Sobre isso, afirmam Galdini e Aguiar (2003, p. 90) que essa
possibilidade de trabalho é muito específica da psicologia e, é de caráter intervencionista, pois
possibilita “re-significação e, assim, a produção de novos sentidos”, os quais se constituem “a
partir de um esforço que rompa o cotidiano, desmistifique velhas concepções, aprofunde
compreensões rasteiras, ultrapasse a aparência”, apontando para o professor diferentes
caminhos e formas de apreender a realidade vivida.
Enfatizamos que o trabalho constituiu numa difícil tarefa que, para sua elaboração,
além de perspicácia acentuada, precisamos da prudência de termos sempre em mente o
objetivo da pesquisa e as questões as quais desejávamos esclarecer e aprofundar. Para tanto,
as questões foram sempre abertas para que, de fato, pudéssemos apreender as zonas de
sentidos do sujeito participante da pesquisa.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de. A pesquisa junto a professores: fundamentos teóricos e
metodológicos. In: ______. (Org.) Sentidos e significados do professor na perspectiva
sócio-histórica: relatos de pesquisa. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
______; OZELLA, Sérgio. Apreensão dos Sentidos: aprimorando a proposta dos núcleos de
significação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 94, n. 236, p. 299-322,
jan./abr. 2013.
BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina. A dimensão subjetiva
da realidade: uma leitura sócio-histórica. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 8. ed. São Paulo: Cortez,
2006.