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FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE Ano 129 • Nº 2.193 • Dezembro 2011


ISSN 1413 - 1749

R$ 7,00
Expediente Sumário
4 Editorial
Centenário da Sede História da FEB
10 Entrevista: Jorge Berrio Bustillo
A experiência de unificação na Colômbia
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: A UGUSTO E LIAS DA S ILVA 13 Presença de Chico Xavier
O Natal do Apóstolo – Irmão X
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 129 / Dezembro, 2011 / N o 2.193
Agir de acordo – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da
32 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Esperanto e Esperantismo – Affonso Soares
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA 34 Conselho Espírita Internacional
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO Reunião da Coordenadoria do Conselho Espírita
BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,
MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E Internacional da Europa
SADY GUILHERME SCHMIDT
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA 42 Seara Espírita
Gerente: ILCIO BIANCHI
Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E
SARAÍ AYRES TORRES
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CARVALHO
5 O Livro dos Médiuns – Sociedades Espíritas
REFORMADOR: Registro de publicação
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de
8 Auditórios sofisticados – Vianna de Carvalho
Polícia Federal do Ministério da Justiça) 12 Amor – João de Brito
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
15 Nem o mendigo – Richard Simonetti
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70830-030 • Brasília (DF) Antonio Cesar Perri de Carvalho
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FAX: (61) 3322-0523 18 Lei de Justiça, Amor e Caridade – Christiano Torchi
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26 Em dia com o Espiritismo – Cristo nasceu? Onde?
E-mails: redacao.reformador@febrasil.org.br Quando? (Capa) – Marta Antunes Moura
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29 Amor à profissão – Aprendendo com Jesus –
PARA O BRASIL Fabiano P. Nunes
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Assinatura digital anual R$ 24,00 31 Retorno à Pátria Espiritual – Norberto Pásqua
Número avulso R$ 7,00 36 Mediunidade – Antes e depois de O Livro dos
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 50,00 Médiuns – Adilton Pugliese
Assinatura de Reformador: 39 Sobre os médiuns – O Espírito de Verdade
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
E-m
mail:
40 Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – Resumo
assinaturas.reformador@febrasil.org.br do Regulamento (Continuação do artigo O Livro dos
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA Médiuns – Sociedades Espíritas, p. 5.)
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA 41 Retificando...
Editorial
Centenário da Sede
Histórica da FEB
F
undada em 2 de janeiro de 1884, na cidade do Rio de Janeiro, na época
Capital Federal do Brasil, a Federação Espírita Brasileira conseguiu
inaugurar a sua Sede própria quase 28 anos depois, no dia 10 de dezem-
bro de 1911, na Av. Passos no 30, sob a presidência do confrade Leopoldo Cirne.
Os registros publicados pela imprensa naquela oportunidade mostram que foi
um feito muito marcante, com os pioneiros espíritas trabalhando intensamente
para superar as suas dificuldades no sentido de concretizar o ideal buscado.
O prédio já surgiu com espaço destinado às mais diversas áreas de atividades que
as responsabilidades da Instituição exigiam, tais como: atendimento aos necessita-
dos de assistência espiritual e material; biblioteca com cerca de 1.200 obras, livraria,
espaço para a edição da revista Reformador, na época editada quinzenalmente.
O Suplemento da revista Reformador, publicado nesta edição, oferece ao leitor
uma clara visão do quanto significou para o Movimento Espírita a inauguração da
Sede da FEB em 1911, hoje chamada Sede Histórica, já que a sua sede Central se
localiza em Brasília, atual Capital Federal, desde 2 de janeiro de 1984.
É muito bom e muito útil para nós, voltarmos ao passado e observar esse feito tão
significativo na já longa história da FEB e do Movimento Espírita brasileiro, justifi-
cando, plenamente, as atividades comemorativas do seu Centenário que ocorrerão,
na própria Sede Histórica, nos dias 10 e 11 do corrente mês de dezembro de 2011.
Que realizações como esta estimulem e motivem todos os trabalhadores espíri-
tas a continuarem, com perseverança, na tarefa de promover o estudo, a difusão e a
prática da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, que revive o Evangelho
de Jesus na sua plenitude, em benefício de toda a Humanidade e em favor da cons-
trução do Mundo de Regeneração, que já se opera na Terra.

4 442 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
O Livro
dos Médiuns
Sociedades Espíritas

O
rientações sobre a organi- priorizam os princípios morais no ção de grandes aglomerações. Esses
zação de uma Casa Espí- relacionamento interpessoal, na re- grupos, correspondendo-se entre
rita constam do capítulo solução de dificuldades e proble- si, visitando-se, permutando ob-
XXIX, segunda parte, de O Livro mas, no desenvolvimento de ativi- servações, podem desde já for-
dos Médiuns. Em 17 itens (do 334 ao dades espíritas, entre outros: “[...] mar o núcleo da grande família
350), Allan Kardec apresenta opor- visto que, acerca da questão mo- espírita, que um dia congregará
tuna e atual análise do tema, se- ral, não pode haver duas maneiras todas as opiniões e unirá os ho-
guindo três ordens de ideias: relacio- de encará-la”.1 mens por um único sentimento: o
namento interpessoal dos adeptos; da fraternidade, sancionado pela
assuntos de estudo; rivalidade en- Tanto isso é verdade que, onde caridade cristã”.2
tre as sociedades espíritas. quer que eles se encontrem,
A união dos integrantes da so- uma mútua confiança os atrai As grandes assembleias excluem
ciedade espírita é ponto enfatica- uns para os outros; a recíproca a intimidade, pela variedade dos
mente destacado, assim sintetizado: benevolência que reina entre elementos de que se compõem,
“O Espiritismo [...] ainda é diver- todos os integrantes de uma so- exigem locais especiais, recursos
samente apreciado e muito pouco ciedade exclui o constrangi- pecuniários e um aparato admi-
compreendido na sua essência por mento e o vexame que nascem nistrativo desnecessário nos pe-
grande número de adeptos, de mo- da suscetibilidade, do orgulho quenos grupos. A divergência
do a oferecer um laço forte que pren- que se irrita à menor contradi- dos caracteres, das ideias, das
da entre si os membros do que se ção e do egoísmo, que só cuida opiniões aí se delineia melhor e
possa chamar uma Associação, ou de seus próprios interesses.1 oferece aos Espíritos perturba-
Sociedade. Esse laço só poderá exis- dores mais facilidade para se-
tir entre os que percebem seu ob- Como a discórdia e a intriga mearem a discórdia. Quanto
jetivo moral, o compreendem e o são enfermidades espirituais que mais numerosa é a reunião,
“aplicam a si mesmos”.1 Assim, as ainda fazem parte da vida institu- tanto mais difícil é se contenta-
divergências que produzem divi- cional, em geral decorrentes do rem todos os presentes. Cada
são acontecem sempre que a opi- personalismo marcante de alguns, um quererá que os trabalhos se-
nião pessoal não considera as or- Allan Kardec avalia que “no inte- jam dirigidos segundo o seu
denações morais, continuamente resse dos estudos e para o bem da modo de entender; que sejam
ensinadas pelo Espiritismo. Con- própria causa”,1 seja melhor optar tratados preferentemente os as-
dição oposta é percebida nos nú- pela “multiplicação de pequenos suntos que mais lhe interessam.
cleos espíritas onde os integrantes grupos, do que para a constitui- Alguns julgam que o título de

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adiante”.8 (Veja páginas 40 e
41.) Recomendamos, em espe-
cial, a leitura do item 341, do
capítulo, pois há uma síntese
das principais instruções desti-
nadas à formação de Socieda-
des Espíritas.
Os Assuntos de estudo, evo-
cados por Kardec dos itens 343
ao 347, têm como finalidade
geral formar adeptos mais escla-
recidos, capazes de promover a
própria melhoria espiritual, preve-
nir e identificar influências espiri-
sócio lhes dá o direito de impor mal. Como sabem que a união é tuais prejudiciais, tomar conheci-
suas maneiras de ver. Daí as di- uma força, tratam de destruí-la, mento da realidade do mundo espi-
vergências, uma causa de mal- semeando a discórdia. [...]5 ritual e ter notícias de familiares e
-estar que acarreta, cedo ou tar- amigos desencarnados. O estudo
de, a desunião e, depois, a disso- Pondera também que, além do é especificamente indicado aos
lução, que é a sorte de todas as caráter perturbador revelado por participantes do grupo mediúnico,
Sociedades, sejam quais forem alguns confrades,6 independente- que devem aprender a discernir a
os seus objetivos. [...]3 mente das suas boas intenções, respeito das boas e más comuni-
ocorrem as influências espirituais: cações mediúnicas; as característi-
Considera também que “vinte cas dos benfeitores espirituais e as
grupos de quinze a vinte pessoas [...] Os causadores de perturba- dos Espíritos genericamente deno-
obterão mais e farão muito mais ção não se encontram somente minados sofredores e daqueles ou-
pela propaganda, do que uma as- no meio delas, mas também no tros que produzem perturbações,
sembleia de trezentos ou de qua- mundo invisível. Assim como que alimentam intranquilidade
trocentos indivíduos”.4 Soma-se a há Espíritos protetores das as- ou provocam dissabores, como os
esse fato, a ação dos adversários, sociações, das cidades e dos po- embusteiros, mistificadores e per-
encarnados e desencarnados: vos, Espíritos malfeitores se li- seguidores. Com apropriado bom
gam aos grupos, do mesmo senso, o Codificador propõe que as
Não nos esqueçamos de que o modo que aos indivíduos. [...].7 casas espíritas recém-criadas jamais
Espiritismo tem inimigos inte- devam abrir mão do estudo nem
ressados em impedir a sua mar- O Codificar analisa que “as so- sejam tolhidas da realização de
cha, aos quais seus triunfos ciedades regularmente constituí- trabalhos pela falta de médiuns,
causam despeito. Os mais peri- das exigem uma organização mais propriamente ditos.
gosos não são os que o atacam completa. A melhor será aquela
abertamente, mas os que agem cujo entrosamento seja menos Com toda certeza, os médiuns
na sombra; estes o acariciam complicado. Umas e outras pode- são um dos elementos essen-
com uma das mãos e o apunha- rão tirar o que lhes for aplicável, ciais das reuniões espíritas, mas
lam com a outra. Esses seres ou o que julgarem útil, do regula- não constituem elementos in-
malfazejos se insinuam por to- mento da Sociedade Parisiense de dispensáveis, de modo que seria
da parte em que possam fazer o Estudos Espíritas, que damos logo erro acreditar-se que sem eles

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nada se pode fazer. Certamente, rão prejudicar a causa, que uns cia do aperfeiçoamento dos indi-
os que só se reúnem com o fim e outros pretendem defender.10 víduos. [...] É para o objetivo
de realizar experimentações não providencial, portanto, que de-
podem, sem médiuns, fazer mais Assim, as divergências devem vem tender todas as Sociedades
do que fazem os músicos, num constituir-se em questões acessó- Espíritas sérias, agrupando em
concerto sem instrumentos. rias, se ainda não conseguirmos su- torno delas todos os que se achem
Porém, os que têm em vista o perá-las, porque, lembra-nos tam- animados dos mesmos senti-
estudo sério terão mil assuntos bém o Codificador: “Seria pueril, mentos. [...] porque falarão em
com que se ocuparem, tão úteis portanto, dividir-se o grupo, for- nome da moral evangélica, que
e proveitosos, quanto se pudes- mando outro à parte, por não pen- todos respeitam.
sem operar por si mesmos. sarem todos do mesmo modo. Se- [...] A bandeira que desfraldamos
Aliás, os grupos espíritas que ria pior ainda se os diversos grupos bem alto é a do Espiritismo cris-
possuem médiuns estão sujeitos, ou associações da mesma cidade tão e humanitário, em torno da
de um momento para outro, a se olhassem enciumados. [...]”.11 qual já temos a ventura de ver
ficar sem eles e seria lamentá- tantos homens reunidos, em to-
vel que, nesse caso, julgassem das as partes do globo, por com-
não lhes caber outra coisa se- preenderem que aí está a âncora
não a dissolução. Os próprios de salvação, a salvaguarda da
Espíritos costumam, de vez ordem pública, o sinal de uma
em quando, levá-los a essa si- Nova Era para a Humanidade.
tuação, a fim de lhes ensina- Convidamos todas as Socieda-
rem a passar sem eles. Diremos des Espíritas a colaborarem
mais: é necessário, para apro- nessa grande obra. Que de um
veitamento dos ensinos rece- extremo ao outro do mundo
bidos, que consagrem algum elas se estendam fraternalmente
tempo a meditá-los.9 as mãos, aprisionando o mal
em malhas inextrincáveis.12
A rivalidade entre as Socieda-
des Espíritas está, infelizmente, Referências:
1
relacionada à nossa imaturidade KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.
espiritual, uma vez que cada Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. 9.
Centro Espírita tem missão e tra- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2,
balhos próprios, e todos estão en- Importa, pois, não perdermos cap. 29, it. 334, p. 550.
2
volvidos com o programa comum o foco da missão da Doutrina Espí- _____. _____. p. 550-551.
3
de melhoria de si e do outro. Daí rita, promovendo a união e a paz, _____. _____. It. 335, p. 551-552.
4
Kardec afirmar: sob quaisquer circunstâncias. _____. _____. p. 552.
5
_____. _____. It. 336, p. 552.
6
Todos devem concorrer, embora Se o Espiritismo deve, conforme _____. _____. It. 338, p. 554.
7
por vias diferentes, para o obje- foi anunciado, promover a trans- _____. _____. It. 340, p. 555.
8
tivo comum, que é a pesquisa e a formação da Humanidade, é _____. _____. It. 339, p. 555.
9
propagação da verdade. Os anta- claro que ele só poderá fazê-lo _____. _____. It. 347, p. 562.
10
gonismos não passam de efeito pelo melhoramento das massas, _____. _____. It. 348, p. 563-564.
11
do orgulho superexcitado; forne- o que se dará gradualmente, _____. _____. It. 349, p. 564.
12
cem armas aos detratores e pode- pouco a pouco, em consequên- _____. _____. It. 350, p. 565-566.

Dezembro 2011 • Reformador 445 7


Auditórios sofisticados
E
m todos os tempos, os orado- que ele aprofundou-se no tema, porque se não submetera às suas
res mais hábeis, sempre que revelando a grandeza da persona- tricas e objurgatórias.
convidados a discursar nos lidade de Jesus. A simplicidade e profundeza
auditórios que se celebrizaram Empanturrados do hedonismo dos conceitos emitidos irritavam os
por aqueles que ali passaram, tive- uns, e do cinismo filosófico ou- opositores que, incapazes de deba-
ram a preocupação de dar à sua tros, não dispunham de espaço ter no campo das ideias, apelavam
palavra os tons insuperáveis da mental para novas formulações para a desordem e a força, em vãs
sabedoria, em formulações cultas, em torno da vida e dos seus ob- tentativas de intimidar o apóstolo
que produzissem impacto e admi- jetivos essenciais. preparado para o martírio.
ração inicial nos seus ouvintes. O tédio e a futilidade domina- Ainda hoje encontram-se no
Apelavam para as técnicas do vam-lhes o comportamento, reser- mundo os grandiosos auditórios
discurso, citando personagens cé- vando a inteligência para os sofis- onde desfilam as vaidades e mul-
lebres e suas palavras, em tonali- mas, silogismos e debates inter- tiplicam-se os déspotas disfarçados
dades harmoniosas unidas à gesti- mináveis quão inúteis, em que se de portadores do conhecimento e
culação bem estudada, de forma exibiam, cada qual pretendendo formadores de opiniões.
que pudessem produzir o desejado ser mais hábil e profundo conhe- Normalmente asfixiados pelo
anelo da simpatia geral. cedor do que o outro. soez materialismo ou pelo dani-
Era sempre muito grande a Perderam, pela vã filosofia, ex- nho fanatismo religioso, conside-
preocupação com o estilo e a for- traordinária oportunidade de tra- ram-se os únicos pensadores capa-
ma, sem olvido, naturalmente, do var contato com o Nazareno que zes de traçar comportamentos cul-
conteúdo. desprezaram, porque Ele ressusci- turais para os demais, situando-
Nada obstante esses cuidados, tara, o que lhes parecia mitológi- -se acima daqueles que não com-
quando as ideias não lhes eram co, absurdo, insensato... partem as suas opiniões e aureo-
conhecidas ou não lhes desperta- Antes havia sido Estêvão que, lando-se dos louros da vitória
vam o interesse imediato, os pre- obrigado a defender-se das acri- em simulacro de parceiros das
sentes desviavam a atenção, de- moniosas e injustas acusações a musas e dos deuses do Olimpo
monstrando enfado ou desprezo respeito do seu ministério na Casa da cultura.
pelo orador e sua mensagem. do Caminho, viu-se agredido fisi- Parecem impassíveis às propos-
O caso típico desse comporta- camente por Saulo, o arrogante tas de desenvolvimento intelecto-
mento encontra-se na apresenta- doutor da Lei, que lhe não partici- -moral fora das suas escolas de pen-
ção do Apóstolo Paulo, no Areó- pava das ideias, porque aferrado samento e de fé, combatendo com
pago, em Atenas. ao Judaísmo decadente. acrimônia tudo e todos que se
A presunção e a falsa cultura Entre apupos e vociferações de proponham a melhorar a situação
que predominavam entre os inte- toda ordem, o jovem cristão en- espiritual da sociedade.
lectuais gregos, distantes dos pos- frentou os tiranos sem disfarçar a Suas tribunas e cátedras estão
tulados éticos de muitos dos seus nobreza dos postulados que abra- sempre reservadas aos pares, àque-
nobres ancestrais, apesar de leve çava, abordando com lógica irre- les que são portadores dos títulos
condescendência para com o ex- torquível as lições libertadoras de lisonjeiros que se permutam na
positor malvestido, deixaram de Jesus, por aquele mesmo sodalício disputa do estrelado magnífico
aceitar-lhe as informações, logo condenado à morte pouco antes, da exaltação do ego.

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Não que sejam escassos aque- Nunca preocupar-se em dema-
loutros que, igualmente portadores sia, portanto, todo aquele que se
dos louvores dos centros de cultura dispõe a elucidar a igno-
e de ciência, estão abertos a novas rância e disseminar
reflexões e análises do que ignoram, a verdade em
abraçando os resultados defluen- nome de Jesus,
tes da investigação que se permi- especialmente
tem afanosamente, de imediato através do Espi-
transmitidos aos demais. ritismo, com os
São esses verdadeiros estoicos da cultores da inteligên-
abnegação e da coragem que man- cia trabalhada pelo aca-
têm acesa a claridade do conheci- demicismo tradicional,
mento livre, que se reconhecem mais preocupado em
como aprendizes da Vida, sempre dar brilho ao conhe-
crescendo no rumo da plenitude cimento, colocando os seus ilu- Jesus que foram direcionados para
intelectual, sem a perda dos eleva- minados distantes das necessida- todos os biótipos humanos. Entre-
dos compromissos éticos indispen- des humanas, que alguns se recu- tanto, não será ouvida pelos discu-
sáveis à existência enobrecida. sam atender. tidores inveterados, pelos que se
Diante dos paradoxos de tal na- As tribunas clássicas dos deba- encontram empanturrados de pre-
tureza, torna-se imprescindível a tes culturais vêm sendo corroídas sunção e se acreditam bem situados
todo aquele que divulga as incom- pelo tempo, que lhes tem imposto nos acolchoados da inutilidade.
paráveis lições em torno da imor- novos comportamentos, enquanto Verberando o erro e orientando
talidade da alma não temer a pre- os exemplos daqueles que usam a a conduta saudável, a Mensagem
sunção e o fastio da falsa e dourada palavra na construção e manu- deve chegar aos ouvidos das neces-
cultura, usando cátedras, tribunas tenção da ética da solidariedade sidades como brisa perfumada em
ou os singelos recintos de edificação e do amor permanecem solucio- plena primavera, que impregna e
espiritual, qual o fizeram, a princí- nando os graves problemas que nunca mais desaparece.
pio, Estêvão na Casa do Caminho e afligem a sociedade. Em qualquer lugar, portanto,
Paulo nas mais diversas situações, A palavra espírita é simples e seja a nobre sala das conferências,
inclusive na Domus Aurea,em Roma, desataviada, tendo como escopo o modesto recinto da Casa Espírita, o
diante da truculência de Nero, ci- conduzir as mentes e os sentimen- santuário da Natureza, o confor-
rurgiando os tumores malignos da tos às esferas da harmonia me- tável areópago das grandes cida-
hipocrisia e da promiscuidade, en- diante a razão e o discernimento, des, o contato com o transeunte,
quanto aplicava o mercúrio cro- porque totalmente livre de adere- o verbo eloquente e abençoado po-
mo para a cura desses males, em ços e dependências do status quo. derá atender os transeuntes car-
forma da mensagem de Jesus. Ela é destinada a todos os indi- nais, para os quais os Espíritos
Provavelmente, os untuosos do- víduos que se encontram na Terra, nobres elaboraram, com Allan
minadores mundanos rejeitarão a sejam eles intelectuais ou modestos Kardec, a Codificação.
partitura musical da inolvidável Pa- cultivadores do solo, administrado-
lavra, mas nunca se olvidarão desses res poderosos ou mendigos, exem- Vianna de Carvalho
momentos sinfônicos em que a es- plos de saúde ou enfermos, possui-
cutaram, apesar dos ouvidos entor- dores de riquezas materiais ou des- (Página psicografada pelo médium Divaldo
pecidos pela mentira e a mente atri- pojados de todos os bens, qual Pereira Franco, no dia 10 de junho de 2011,
bulada pelos interesses subalternos. ocorreu com os ensinamentos de no G-19, em Zurique, Suíça.)

Dezembro 2011 • Reformador 447 9


Entrevista J O R G E B E R R I O B U S T I L LO

A experiência de
unificação
na Colômbia
Jorge Berrio Bustillo, presidente da Confederação Espírita Colombiana, comenta
sobre o Movimento Espírita de seu país e sobre eventos da América do Sul

Reformador: Desde quando e juridicamente em 10 de dezembro as Federações e seus respectivos


como funciona a Confederação de 1993, com a união de cinco centros espíritas.
Espírita Colombiana? Federações espíritas existentes
Berrio: A Confederação Espírita na época. Hoje, somos oito Fede- Reformador: Quantas instituições
Colombiana (CONFECOL) nasceu rações espíritas em todo o terri- espíritas estão unidas à CONFECOL?
tório colombiano. A CONFECOL Berrio: Oito Federações regionais
funciona através de uma Assem- encontram-se legalmente filiadas
bleia Geral de Delegados de Fe- ao nosso Movimento, a saber: Bo-
derações, que se reúne anual- lívar, Magdalena e Cesar, Noro-
mente em diferentes cidades e riente, Cundinamarca, Centro Oci-
estabelece as políticas e normas dente, Tolima, Sul Colombiano,
gerais para todas as Federações e Pacífico e, em tramitação para sua
centros espíritas afiliados. Tam- legalização, a Federação Espírita
bém, a cada dois anos, desenvol- do Atlântico.
ve-se o Congresso Colombiano
de Dirigentes Espíritas, no Reformador: Quais são as princi-
qual se avaliam as pro- pais linhas de ação da CONFECOL?
blemáticas e necessi- Berrio: As principais linhas de ação
dades das institui- da CONFECOL são: difundir o Es-
ções e dos traba- piritismo na Colômbia e fomentar
lhadores com o seus ideais de justiça, amor, cari-
fim de estabele- dade, fraternidade, solidariedade,
cer estratégias tolerância e moral espírita para a
e metas que realização integral do homem e da
permitam sociedade; oferecer a seus filiados
fortalecer assessoria em nível doutrinário,

10 448 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
divulgativo, assistencial e admi- Reformador: Qual é a impor- ponsabilidade em seu reconhe-
nistrativo; objetivar pela unifica- tância do recente documento da cimento e implementação. Fala-
ção, fortalecimento e desenvol- CONFECOL? mos de união e não precisamen-
vimento do Movimento Espírita Berrio: O documento “Orienta- te unificação, porque o primeiro
colombiano; zelar pela pureza ção para as Atividades das Insti- é resultado de um momento de
doutrinária, científica, filosófica, tuições Espíritas” representa para amadurecimento e depuração de
moral, ética e mediúnica do Espi- o Movimento colombiano o al- nossas fileiras, perante a pro-
ritismo em âmbito nacional e apli- cance de uma importante fase his- posta kardequiana relacionada
car as correções necessárias para tórica, que é de nos havermos uni- com a prioritária renovação do
evitar a tergiversação de seu con- do fraternalmente a fim de legi- gênero humano. Assim, as pre-
teúdo doutrinário; promo- venções pessoais, naturais
ver a criação de novas Fede- do passado, cedem espaço
rações espíritas e estimulá- para identificação sincera
-las para a conformação e de objetivos que resultam
filiação de grupos, associa- na busca da retomada de
ções e centros com vistas à Kardec em sua essência,
expansão do Movimento em simplicidade e profundida-
nível nacional. de diante da realidade dos
tempos de transição. Dessa
Reformador: Quais são os even- maneira, a unificação, co-
tos mais tradicionais e promo- mo resultado esperado, é
vidos pela CONFECOL? mais profunda porque não
Berrio: Os Congressos Espíri- prevê a padronização de
tas Nacionais são realizados a atividades, práticas ou pro-
cada dois anos. O próximo, cessos do Movimento, senão
o XIV Congresso, será reali- o progressivo despertar
zado em julho de 2012 na ci- coletivo de consciências e
dade de Ibagué. Há também dos esforços individuais
os Congressos de Dirigentes por nossa própria elevação
Espíritas que se realizam a com respeito à fraternida-
cada dois anos em datas dife- de e à tolerância, levando-
rentes dos Congressos Nacio- -nos inevitavelmente à cons-
nais. Realização do 5o Congresso timar o estudo, análise e otimi- trução permanente de ações que
Espírita Mundial, no ano de 2007, zação de nossas práticas e pro- assegurem as bases e o exemplo
quando assumimos a organização cessos em função da pureza dou- para as novas gerações de espíri-
local. Tradicionalmente também trinária, com sérias perspectivas tas. Há necessidade de unirmo-nos
têm sido implementadas as Campa- de unificação. Dizemos legitima- para unificar, pois somente des-
nhas Em Defesa da Vida e Você e a ção porque num momento úni- sa maneira será possível cumprir
Paz, já efetivadas em todas as Fede- co, em que todos os representantes a responsabilidade legada por
rações. Seminários e simpósios para e líderes do Movimento nacional Allan Kardec quando afirmou:
dirigentes espíritas nas áreas me- construíram voluntária, demo- “Somente o Espiritismo, bem enten-
diúnicas, infantojuvenis, doutriná- crática e discursivamente o do- dido e bem comprendido, pode
rias e, em geral, sobre as ativida- cumento, resultando no com- remediar esse estado de coisas e
des básicas do Centro Espírita. promisso específico de corres- tornar-se, conforme disseram os

Dezembro 2011 • Reformador 449 11


Espíritos, a grande alavanca da
transformação da Humanidade”.1
Logo os primeiros chamados a
compreendê-lo e entendê-lo so-
Amor
mos nós que, com o nosso com-
portamento e esforço como Mo-
vimento, seremos uma das mui-
O Amor, sublime Impulso de Deus, é a energia que move os
mundos:
Tudo cria, tudo transforma, tudo eleva.
Palpita em todas as criaturas.
tas alavancas de transformação
Alimenta todas as ações.
para o mundo.

O ódio é o Amor que se envenena.
Reformador: Como sentiu a reali- A paixão é o Amor que se incendeia.
zação do recente 1o Congresso Espí- O egoísmo é o Amor que se concentra em si mesmo.
rita Sul-Americano, efetivado no O ciúme é o Amor que se dilacera.
Uruguai? A revolta é o Amor que se transvia.
Berrio: Excelente o ambiente de O orgulho é o Amor que enlouquece.
fraternidade e desejo de aprendi- A discórdia é o Amor que divide.
zagem tanto dos irmãos uruguaios A vaidade é o Amor que se ilude.
como do Movimento Espírita Sul- A avareza é o Amor que se encarcera.
-Americano em geral. Sentimos O vício é o Amor que se embrutece.
que o Movimento Espírita de A crueldade é o Amor que tiraniza.
língua espanhola tem futuro O fanatismo é o Amor que se petrifica.
importante na divulgação da A fraternidade é o Amor que se expande.
Doutrina Espírita. A bondade é o Amor que se desenvolve.
O carinho é o Amor que se enflora.
A dedicação é o Amor que se estende.
Reformador: Teria alguma recomen-
O trabalho digno é o Amor que aprimora.
dação aos espíritas da América do A experiência é o Amor que amadurece.
Sul? A renúncia é o Amor que se ilumina.
Berrio: Não desfalecer no traba- O sacrifício é o Amor que se santifica.
lho perseverante do amor e da ca- O Amor é o clima do Universo.
ridade sob a inspiração do mes- •
tre Allan Kardec. Ante a realida- É a religião da vida, a base do estímulo e a força da Criação.
de de nossos povos, que se en- Ao seu influxo, as vidas se agrupam, sublimando-se para a imor-
contram numa escala de pobre- talidade.
za muito grande, é hora de nós – Nesse ou naquele recanto isolado, quando se lhe retire a influên-
espíritas –, desenvolvermos pro- cia, reina sempre o caos.
gramas de divulgação da mensa- Com ele, tudo se aclara.
gem consoladora e unirmos es- Longe dele, a sombra se coagula e prevalece.
forços para exercitar a solidarie- Em suma, o bem é o Amor que se desdobra, em busca da
Perfeição no Infinito, segundo os Propósitos Divinos; e o mal é,
dade, a assistência e promoção
simplesmente, o Amor fora da Lei.
social espírita.
João de Brito
1
KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Fonte: XAVIER, Francisco C. Falando à terra. Espíritos diversos. 6. ed. 2. reimp.
Guillon Ribeiro. 1. reimp. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 105-106.
FEB, 2011. P. 2, Projeto 1868, p. 410.

12 450 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
Presença de Chico Xavier

O Natal do Apóstolo
Q
uando Simão Pedro foi arrancado aos grilhões coração, ardia-lhe a saudade do Mestre e ansiava
do cárcere para o derradeiro sacrifício, sen- retomar-lhe a companhia para sempre...
tia o coração varado de angústia, conquanto Escalando a colina, via não longe o Campo de
mostrasse o passo firme. Marte, assinalado pelo monumento de Augusto, as
O velho Apóstolo, que transpusera os oitenta de cintilações do Tibre espreguiçando ao Sol, o casario
idade, levantava a cabeça branca, destacando-se na imenso, as termas e os jardins; no entanto, regressa-
turba à maneira de um pai atormentado por filhos va pela imaginação à Galileia distante, buscando
inconscientes. Jesus em pensamento...
Irmãos do Evangelho ladeavam-no, tristes, escon- Revia o lago de Genesaré, em seus dias mais
dendo o próprio desespero, diante da serenidade belos, e as multidões simples e generosas com que
com que ele, encanecido em duras experiências, se o Senhor repartia o pão e a verdade, o consolo e a
acomodava ao martírio. esperança...
Mulheres e crianças emaranhavam-se, cortejo Por estranhos mecanismos da memória, respirava,
adentro, para beijar-lhe as mãos. Transeuntes, ainda de novo, o perfume das rosas de Betsaida, das romã-
mesmo adversos ao Cristianismo nascente, fitavam- zeiras de Dalmanuta, das quintas frutescentes de
-no, respeitosos, qual se vissem um soberano humi- Magdala e dos pequenos vinhedos de Cafarnaum...
lhado e pobremente vestido, a caminho de inespera- Apesar do calor reinante, rememorava a pesca e
do triunfo... E até soldados da escolta, recordando supunha-se envolvido pelo sopro da brisa, quando
vários companheiros que Simão transfigurara, ao a barca sobre-estava as ondas calmas.
curar-lhes os parentes enfermos, abeiravam-se dele Reconstituía, enlevado, as pregações do Divino
com veneração e carinho... Amigo e parecia-lhe jornadear de retorno à família
Apenas um dos pretorianos, Sertório Aniceto, das crianças e dos enfermos, das mães sofredoras
destacado elemento na expedição, não poupava o e dos velhinhos que ele próprio lhe entregara ao
sarcasmo. coração...
Desejando quebrar a atmosfera de reverência e de Atingido o local do suplício, confiou-se automa-
êxtase que se fazia, desdobrava impropérios: ticamente aos soldados que o desnudaram, e, como
— Para diante, velho impudente! Judeu sujo! Lixo se estivesse hipnotizado pela ideia do reencontro,
humano que envergonharia os postes da arena!... sofregamente aguardado, quase nada percebeu dos
E mais à frente: martelos, rudemente manobrados, que lhe apresa-
— Não abuse da crendice do povo! Ladrão imun- vam pés e mãos ao lenho que se lhe erguera de
do, chegou seu fim!... improviso...
Pedro, entretanto, contemplava o céu escaldante Em derredor, escutava os protestos velados das
da tarde e orava em silêncio... centenas de espectadores da lamentável exibição, de
Sentia-se, agora, fatigado e incapaz! Compreendia mistura com as preces dos companheiros agonia-
que a Boa Nova exigia servidores robustos e rogava dos... Detido, porém, na ânsia de repouso, Pedro não
ao Cristo enviasse obreiros novos e valorosos para a via que o tempo se escoava, sem que lhe desfechas-
vinha do mundo... Mas não era só isso... No imo do sem qualquer golpe...

Dezembro 2011 • Reformador 451 13


Aqui e além, grupos em orações e lágrimas salien- — Então, Senhor, eu também...
tavam-se de mãos postas; contudo, a morte tardava... E, como outrora, demandaram, juntos, os quadros
Aniceto, entretanto, não o perdia de vista, e, reparan- de ação em que se lhes evidenciasse o amor sublime...
do que o crepúsculo baixava, atirou-lhe pontiagudo
calhau à cabeça e gritou: .......................................................................................
— Morre, bruxo!
O Apóstolo observou que o sangue esguichava, Atraídos por centenas de vozes, atravessaram
mas, sem qualquer reação, rendeu-se a invencível Roma, parando, por fim, em espaçoso cemitério da
torpor, qual se fosse repentinamente anestesiado por Via Ápia, mergulhado na sombra noturna...
brando sono. A multidão cantava, glorificando o Senhor...
Semelhante impressão, contudo, perdurou por Não obstante o Natal estivesse na lembrança de
momentos. O ancião, após desalgemar-se do corpo, poucos, rememorava-se, ali, diante da imensidão cons-
identificou-se espiritualmente, livre e eufórico, ao telada, a melodia dos mensageiros angélicos.
pé dos próprios despojos, e, alheio à algazarra em Simão, fremindo de emotividade, começou a cho-
torno, contemplou o firmamento, onde os astros se rar de alegria. Anelava ser bom, aspirava a ser irmão
inflamavam, como se dedos invisíveis acendessem da Humanidade, queria auxiliar a construção do Rei-
lumes deslumbrantes para uma festa no céu... Es- no de Deus e homenagear a manjedoura de Belém,
pantado, observou que um homem descia do alto, ofertando algo de si mesmo, em louvor do Evangelho...
como que materializado pela fulguração das estre- Nesse ínterim, aproximou-se Jesus e disse-lhe ao
las, e, decorridos alguns instantes de assombro, viu ouvido:
Jesus a dois passos, a endereçar-lhe o inolvidável — Pedro, alguém te chama...
sorriso. O Apóstolo voltou-se e, admirado, enxergou na
— Mestre! — clamou, inclinando-se para beijar o pequena comunidade um homem triste, carregando
chão que Ele pisava. O Messias redivivo tomou-o nos nos braços um pequenino agonizante... Era Aniceto,
braços e partiu, conchegando-o ao coração, qual se a rogar-lhe, mentalmente, se lhe compadecesse do
transportasse frágil criança. filhinho que a febre devorava. Qual se lhe registrasse
Por várias semanas restaurou-se Pedro na estância a presença, expunha-lhe os remorsos que amargava e
de luz que o Cristo lhe reservara. pedia-lhe perdão...
Junto dele, visitou paragens de inexprimível bele- O antigo pescador não hesitou. Depois de oscular-
za, recolheu lições preciosas, presenciou espetáculos -lhe a fronte suarenta, afagou a criança atribulada,
soberbos da grandeza cósmica e abraçou afeições impondo-lhe as mãos, e, ali mesmo, magneticamente
inesquecíveis... tocado por forças renovadoras e intangíveis, o menino
Quando mais integrado se reconhecia no plano despertou, lúcido e refeito, enlaçando-se ao pai, à fei-
superior, eis que o Celeste Companheiro lhe anuncia ção da ave assustada que torna à segurança do ninho.
nova separação. Que o discípulo descansasse quanto Aniceto, no íntimo, compreendeu o socorro e a
quisesse, elevando-se às excelsas regiões... Ele, bênção que recebia e, renovado, começou a cantar
porém, devia ausentar-se... em lágrimas de júbilo: “Glória a Deus nas alturas, paz
— Senhor, aonde vais? — indagou o Apóstolo, na Terra e boa vontade para com os homens!...”.
penosamente surpreendido. Para o rude legionário de César começava nova
E Jesus, indicando-lhe escuro recanto da vastidão, vida, e para Simão Pedro o serviço continuou...
em que se adivinhava a residência planetária dos
Pelo Espírito Irmão X
homens, informou, sereno:
— Pedro, enquanto houver um gemido na Terra, Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do natal. 6. ed.
não me será lícito repousar... Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 45.

14 452 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
Nem o mendigo RICHARD SIMONETTI

O
voluntário servia num sos permanecem anos segregados Há Espíritos extremamente
bazar beneficente de rou- no porão do esquecimento. perturbados porque os herdeiros
pas, promovido pelo ope- Os proprietários, à maneira de vaporizam suas adoradas relí-
roso Centro Espírita. escravos dos próprios haveres, re- quias, após concluírem que não
Muita gente, muitas vendas. cusam-se ao benefício da alforria, há o que fazer com elas.
Deparou-se, em dado instante, da qual desfrutariam se os enca- Melhor cultivar desapego, re-
com uma calça encalhada, a única minhassem aos carentes, antes de duzir o patrimônio do que é inu-
que não fora vendida. se transformarem em trastes pelo tilidade para nós, mas que ainda
Surpreso, logo a identificou. impiedoso tempo. pode ter alguma utilidade para
Era sua. Guardamos tanto, e por tanto irmãos carentes.
Foi reclamar com a esposa. tempo, que se tornam imprestá- Caixão, como diz o ditado po-
– Você pôs no bazar minha cal- veis, uma dor de cabeça para nos- pular, não tem gavetas.
ça de estimação? sos herdeiros. Só levaremos para o mundo
Ela respondeu reticente: Khalil Gibran, em O Profeta, espiritual nossas aquisições mo-
– Bem… não fui eu… tem uma observação notável a rais, espirituais e intelectuais, e
– Certamente, artes de nossa esse respeito: também o lastro pesado do ape-
serviçal! go ao que se refere à vida tran-
– Na verdade eu a doei a um ne- Tudo que possuís será um dia sitória, impedindo que des-
cessitado que bateu em nossa porta. dado. frutemos das benesses da vida
Fiquei com pena. Estava andrajoso. Dai agora, portanto, para que a eterna.
– E daí? época da dádiva seja vossa e não de
z
– Ao que parece, meu querido, vossos herdeiros.
ele a dispensou, trazendo-a ao Com o propósito de fazer cir-
nosso bazar. Diga-se de passagem, em tal si- cular roupas, livros e objetos de
Imagine, leitor amigo, o status tuação temos a doação dos her- uso pessoal, consideremos o tempo
da referida! deiros não por desprendimento, ocioso.
Nem o mendigo quis ficar com mas simplesmente porque não Um amigo costuma examiná-
ela! lhes têm serventia alguma. E as- -los, periodicamente.
z
sim engrossam o rol das inutilida- Se estiverem sem uso nos últi-
des que atulham as entidades be- mos dois anos, destina-os a insti-
O episódio remete-nos a velha neficentes a que são destinados. tuições filantrópicas.
tendência humana: o apego, ins- É uma boa medida para que
z
pirado, não raro, em persistente não pretendamos tornar perma-
sentimento de usura, sob a égide Algo a ponderar, amigo leitor: nente o que é transitório, evitan-
do egoísmo. Acúmulo de trastes em vida do o vexame de constatar que nem
Livros, roupas, objetos de uso costuma impor dificuldades na os mendigos usariam o que in-
pessoal, móveis, utensílios diver- morte. sistimos em reter.

Dezembro 2011 • Reformador 453 15


O presépio
de Francisco
A N TO N I O C E S A R P E R R I DE C A RVA L H O

F
ato histórico e pouco lem- se de alguma maneira tivesse partes do mundo cristão. Todavia,
brado é a origem da repre- diante dos olhos os desconfor- a principal intenção de Francisco
sentação do nascimento de tos que teve...3 era que o nascimento do Cristo
Jesus. No Natal do ano de 1223, devesse estar bem vivo nos cora-
de modo nunca visto, Francisco de E assim, uma representação ções das pessoas. Na época, o ce-
Assis celebrou a efeméride na ci- com pessoas, na qual o próprio nário da vida do menino Jesus ja-
dade de Greccio, na Itália. Repro- Francisco veste-se como diácono zia esquecido no coração de mui-
duziu o Natal de Jesus de uma ma- e, com sua bela voz, canta o tos e por meio de Francisco foi
neira realística. Entendia que as Evangelho, marcou o primeiro ressuscitado e sua lembrança im-
pessoas, em geral, estavam muito presépio. O inovador fez adequa- pressa numa memória novamente
esquecidas do Mestre e que a cena ções e introduziu a presença do partícipe.3
da manjedoura poderia fazer com boi e do asno, que não fazem A representação do Natal de
que os fiéis vissem “com os olhos parte do relato evangélico da Na- forma simples encontra-se dentro
do corpo os desconfortos sofridos tividade, e teriam sido acrescenta- de um conjunto de ações e coe-
pelo menino Jesus”.1 dos pelos Evangelhos apócrifos. rente com a trajetória do ilumina-
Mas, Francisco considerou o boi do inovador:
Francisco não teria sido o inven- e o asno indispensáveis para a
tor do presépio, que já seria há- composição de seu teatro sacro.3 Seu exemplo de simplicidade e
bito em algumas catedrais, mas Consta que, previamente, Fran- de amor, de singeleza e de fé,
inovou na maneira da represen- cisco teria submetido ao papa a contagiou numerosas criaturas,
tação e nos objetivos. Destacou ideia de um presépio. que se entregaram ao santo
o renascimento de Cristo nos Além de destacar a simplicida- mister de regenerar almas para
corações e, diferente de outras de da vinda do Cristo, o presépio de Jesus.4
prédicas da época, falou da Greccio também assinala o iní-
misericórdia e doçura de Deus.2 cio de uma tradição que elimina a A interpretação de que Belém
necessidade da viagem até a Terra pode estar próxima a todos é inte-
Há relatos de que Francisco en- Santa e da sua defesa, como era ressante e pode ser levada para
comendou a seu amigo Giovanni comum no contexto da vida de outras dimensões, ampliadas pela
Velita, 15 dias antes do Natal, Francisco, na época das Cruzadas. visão espírita. A epopeia do Natal
a preparação de um cenário ade- Com a ideia da representação e e até as homenagens simbolizadas
quado: dos subsequentes presépios, Grec- pelo presépio devem ser encaradas
cio se torna como que uma nova com simplicidade e ternura. Sem o
Quero representar aquele me- Belém. Esta cidade passa a estar foco principal na representação
nino nascido em Belém como presente nos lares, em todas as material, a evocação da simbolo-

16 454 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
gia da Natividade deve contribuir seja introjetada nos nossos cora- Os objetivos maiores de Francisco
para o robustecimento da mensa- ções e represente o roteiro para o para esta ação histórica são váli-
gem do Cristo nos corações dos caminho que devemos percorrer. dos até nossos dias, pois, indepen-
homens, inclusive nas cotidianas Reaviva uma mensagem que já se dentemente de qualquer represen-
reuniões do Evangelho no lar. encontra há dois mil anos entre tação material, o Natal deve ser
A Espiritualidade superior tem nós. E a comemoração do Natal é um reforço para as reflexões sobre
sido pródiga em elucidações so- realizada num momento, geral- a essência do Cristianismo, e –
bre o significado do Natal. En- mente, de reflexões e influxos po- redivivo na forma do Consolador
tre muitos textos, destacamos da sitivos, coincidindo com os pre- Prometido –, entendemos que o
“Prece diante da manjedoura”, de parativos para o novo ano, que se Espiritismo tem grande contri-
Emmanuel: inicia poucos dias após as festivi- buição a ser consolidada com a
Humanidade para a vivência
Senhor, diante da manje- da paz, do bem e da simplici-
doura em que nos descer- dade, atuando junto a todas
ras o coração, ensina-nos faixas sociais e etárias.8
a abrir os braços para
receber-te.5 Referências:
1
CIANCHETTA, Romeo. A vida de São
E, em outra mensagem do Francisco ilustrada. Trad. Elias Augus-
mesmo autor espiritual: to José. Assis: Ed. Litovald, 2010.
Cap. O Natal de Greccio.
2
As lembranças do Natal, SPOTO, Donald. Francisco de Assis:
porém, na sua simplicida- o santo relutante. Trad. S. Duarte.
de, indicam à Terra o cami- Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
nho da manjedoura. [...]6 p. 292-294.
3
FRUGONI, Chiara. Vida de um ho-
Emmanuel também comen- mem: Francisco de Assis. Trad. Fede-
ta sobre a contínua busca pelo rico Carotti. São Paulo: Companhia
Cristo e até recorda as cons- das Letras, 2011. p. 120-123.
4
tantes expectativas de muitos XAVIER, Francisco C. A caminho da
por um eventual retorno do luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed.
Cristo. O Orientador espiritual 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
é claro: dades do Natal. Sem dúvida, uma Cap. 18, it. Os franciscanos, p. 191.
5
boa lembrança e inspiração para ______. Antologia mediúnica do natal.
Os homens esperam por Jesus e se refletir sobre o ano que finda e Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro:
Jesus espera igualmente pelos as esperanças do ingresso no Ano FEB, 2009. Cap. 12.
6
homens. Novo. ______. ______. Cap. 21, p. 58.
7
[...] É notável como “a epopeia da ______. Fonte viva. Pelo Espírito Em-
Cristianismo significa Cristo e vida do mensageiro do Cristianis- manuel. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro:
nós.7 mo, Francisco de Assis, foi um FEB, 2011. Cap. 17.
8
marco para a história da Humani- CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. A
A simbologia do presépio deve dade”,8 legando-nos também o simplicidade de Francisco de Assis. In:
ser alerta e estímulo para que, a pioneirismo do significado da re- Reformador, ano 129, n. 2.184, p. 34(112)-
cada Natal, a mensagem do Cristo presentação do Natal de Cristo. -35(113), mar. 2011.

Dezembro 2011 • Reformador 455 17


Lei de Justiça,
Amor e Caridade C H R I S T I A N O TO RC H I

N
o mês em que celebramos o Todo esse arcabouço de princí- prias razões. Entretanto, com a mul-
aniversário de Jesus, faz-se pios morais tem como alicerce a Lei tiplicidade dos problemas gerados
oportuno refletir sobre um Natural, que é a Lei de Deus, a úni- pela vida moderna, que afetam con-
dos seus mais belos ensinamentos, ca verdadeira para a felicidade do tinuamente as relações interpessoais,
agora relembrados por meio do Es- homem, que lhe indica “o que de- sentiu-se a necessidade de se apri-
piritismo: o significado moral da ve fazer ou não fazer” e que mos- morar o modelo atual de Justiça,
“Lei de Justiça, Amor e Caridade”.1 tra que “ele só é infeliz porque de- que já não mais atende às demandas
De todas as Leis Morais, esta é a la se afasta”.2 Instados por Kardec a sociais dos tempos coevos. Afinal,
mais importante, não só porque dizerem onde estaria escrita a Lei a deflagração do processo judicial
engloba as demais, mas também de Deus, os Espíritos responde- continua se assemelhando a uma
porque o progresso da Humanidade ram: “Na consciência”.3 declaração de guerra, embora com
depende de sua aplicação, que tem Em vista disso, o sentimento de armas diferentes, que se sabe co-
por fundamento a certeza do futuro justiça é inato no homem, o qual se mo começa, mas não se sabe como
espiritual das criaturas. Nela repou- revolta com a simples ideia de uma e quando termina.
sam as mais sublimes aspirações injustiça. Esse sentimento, porém, A justiça humana constitui páli-
de felicidade do homem, por ser a necessita de ser aprimorado e desen- do reflexo da Justiça Divina, porque,
que faculta a este adiantar-se cada volvido pelo progresso moral, pela ao contrário desta, seus postulados
vez mais na vida espiritual. prática do bem e da compreensão são mutáveis e nem sempre estão
Por si só, a existência e o fun- dos problemas humanos. Muitas ve- em harmonia com as leis naturais,
cionamento das outras leis morais zes, em meio ao sentimento de jus- refletindo costumes e caracteres
constituem a maior prova da equi- tiça natural, misturam-se as paixões da sociedade de uma determinada
dade com que a Providência Divina que induzem as pessoas ao erro. época, em que os detentores do
contempla suas criaturas. Entre- O advento da Justiça como ins- poder legislam em causa própria,
tanto, quis Deus que os homens tituição é produto da evolução do olvidando que nem tudo que é lí-
também praticassem essas leis en- homem. Veio para substituir o des- cito é honesto ou que nem tudo
tre si, pela constante procura desse forço, a vingança, para que não que é legal é moral.
ideal, no relacionamento com os prevaleça a vontade do mais forte Ultimamente, algumas ações têm
semelhantes e consigo mesmo. pelo exercício arbitrário das pró- sido tomadas, com vistas a superar
o anacronismo da justiça humana.
1 Há, por exemplo, iniciativas legais
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. 2
Idem, ibidem. Q. 614. e paralegais que incentivam a con-
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp.
3
Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 873 a 892. Idem, ibidem. Q. 621. ciliação, a arbitragem e a media-

18 456 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
ção, esta última considerada por Jesus legou-nos a base da ver- ção a nós, em circunstância idên-
alguns especialistas como a Justi- dadeira Justiça, consagrada na tica. A resposta que encontrar-
ça do futuro. Busca-se, com essas imorredoura lição: “[...] Desejai pa- mos será a que deverá ditar nos-
medidas, mitigar a presença do ra os outros o que quereríeis para so comportamento em qualquer
Estado nos litígios, auxiliando os vós mesmos [...]”.5 Ensinou-nos contingência.
contendores a encontrarem por que Deus imprimiu no coração do Já o Amor resume toda a dou-
si mesmos a solução dos conflitos, homem essa regra áurea, fazendo trina de Jesus, por ser esse o sen-
porque se firma cada vez mais o com que cada um deseje ver res- timento mais sublime, que não se
entendimento de que os cidadãos peitados os seus direitos. Afinal, restringe apenas à família, à seita,
são, em última instância, os res- em condições normais, ninguém à nação, mas abrange a Humani-
ponsáveis pela construção do pró- desejaria o próprio mal. De fato, dade inteira. Contudo, para pra-
prio destino. trata-se de ensinamento univer- ticá-lo, tarefa árdua e de longo
A justiça, na definição herdada sal. Se fosse compreendido e ob- curso, é preciso cultivar o Espírito
do Direito Romano, de cunho prag- servado fielmente, bastaria às cons- como um campo, despertando a
mático, é a constante e firme von- tituições dos povos adotá-lo co- sua centelha latente em nós, cujo
tade de dar a cada um o que é seu. mo único artigo, o que já seria su- reinado “é uma fatalidade histó-
A nosso ver, a acepção dada pelos ficiente para arrebatar todos os rica da evolução, que vai emer-
Espíritos é mais abrangente e pre- códigos humanos perecíveis. gindo lentamente, à medida que
cisa: “A justiça consiste no respeito Quando estivermos em dúvida o Espírito se desembaraça das suas
aos direitos de cada um”,4 para que quanto ao nosso procedimento em imperfeições”.6
cada um receba de acordo com relação ao semelhante, procure-
6
seu merecimento. mos saber como gostaríamos que MIRANDA, Hermínio C. Reencarnação e
o semelhante procedesse em rela- imortalidade. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2010. Cap. 23, p. 374. Apud SOBRINHO,
4
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Geraldo C. (Coord.) O espiritismo de A a
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. Z. 4. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
5
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 875. Idem, ibidem. Q. 876. 2010. Verbete “Amor”, p. 53.

Dezembro 2011 • Reformador 457 19


E como fazer para atingir o ideal Brasil, não só devido à sua voca- não condena nem absolve, mani-
do amor sem jaça? Os benfeitores ção de povo solidário, como tam- festando-se pela lei de causa e efei-
espirituais ensinam que não há bém porque se apresenta como to como a mais pura: “por mais
outro meio senão trilhar os cami- um meio eficiente de combater a dura e terrível, é sempre a resposta
nhos da Caridade, que abrange miséria e os problemas sociais que da Lei às nossas próprias obras”.10
três requisitos essenciais: “Benevo- afligem nossa pátria, problemas 2. O Amor é a pedra angular do
lência para com todos [inclusive esses que podem ser atenuados programa divino da educação dos
auxílio material, em casos emer- mais eficientemente com o enga- Espíritos. O seu exercício desperta
genciais], indulgência [isto é, com- jamento dos cidadãos, pois “é o os mais nobres sentimentos, garan-
preensão] para as imperfeições indivíduo em última instância que tia da regeneração da Humanidade.
dos outros [o que não significa faz a diferença”.8 3. A Caridade é a maior das
cumplicidade com o erro] e per- O voluntariado, a par de incen- virtudes, porque proporciona aos
dão das ofensas”.7 tivar a solidariedade, alavanca a homens vivenciar o preceito fun-
Desse tripé, talvez o mais difí- promoção do ser humano menos damental que resume os de-
cil de praticar seja o perdão, sendo, afortunado, dando-lhe condições mais: “Amar o próximo como a
por isso, a ação mais meritória. de garantir por si mesmo o pró- si mesmo”. (Mateus, 22:37.)
Quem perdoa é o primeiro bene- prio sustento, por meio da educa-
ficiado, pois, além de não se nive- ção, do ensino profissionalizante Finalizando, rematamos com
lar ao erro do adversário, libera as e de outras atividades úteis que Kardec:
suas tensões e torna-se mais livre. o auxiliem na manutenção e lhe
Trata-se de um procedimento deem condições de vida digna. O amor e a caridade são o com-
científico, de uma terapêutica in- Todavia, “a fé sem obras é irmã plemento da lei de justiça, pois
falível, que nos assegura saúde fí- das obras sem fé”,9 visto que as ati- amar o próximo é fazer-lhe to-
sica, psíquica e equilíbrio moral. vidades de benemerência consti- do o bem que nos seja possível
Mais importante que dar coisas é tuem apenas um meio, porquanto e que desejaríamos que nos fos-
dar algo de si mesmo. promoção do ser humano repousa se feito. [...]11
Tornar a pessoa dependente de na espiritualização e na educação
nosso amparo, anos a fio, não é desse mesmo ser, de edificação Os povos cujas leis se harmoniza-
caridade. Pelo contrário. Foi muito paciente e progressiva, motivo pelo rem com as leis eternas do Criador
feliz e verdadeiro certo pensador qual não pode basear-se apenas viverão e servirão de farol para os
(anônimo para nós), ao enunciar na preocupação individualista outros povos. Quando reinar a jus-
tão grande máxima: “Dê um peixe dos seus empreendedores, sob o tiça verdadeira em nossos corações,
a um homem e o estará alimen- risco de degenerar em persona- não haverá mais necessidade de tri-
tando por um dia; ensine-o a pes- lismo destruidor. bunais na Terra, porque aí sere-
car e o estará alimentando por Resumindo: mos juízes de nós mesmos, e en-
toda a vida”. tão haverá justiça para todos.
O ano de 2001 foi escolhido pelas 1. A Justiça Divina é a equidade
Nações Unidas como o “Ano In- absoluta. Porque não erra, também
10
ternacional do Voluntariado”, que Idem. Justiça divina. Pelo Espírito Em-
manuel. 13. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:
encontrou grande repercussão no 8
KANITZ, Stephen. Guia da cidadania. FEB, 2010. Cap. Jornada acima, p. 225.
São Paulo: Ed. Abril, 2001. p. 74. 11
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
7 9
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. XAVIER,Francisco C.Obreiros da vida eterna. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. Pelo Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 2. reimp. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 886. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 12, p. 209. Comentário de Allan Kardec à q. 886.

20 458 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel

Agir de
acordo “Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras,
sendo abomináveis e desobedientes, e reprovados para toda boa obra.”
– PAULO. (TITO, 1:16.)

O
Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, tem papel muito
mais alto que o de simples campo para novas observações técnicas da
ciência instável do mundo.
A Terra, até agora, no que se refere às organizações religiosas, tem vivido repleta
dos que confessam a existência de Deus, negando-o, porém, através das obras
individuais.
O intercâmbio dos dois mundos, visível e invisível, de maneira direta objetiva
esse reajustamento sentimental, para que a luz divina se manifeste nas relações
comuns dos homens.
Como conciliar o conhecimento de Deus com o menosprezo aos semelhantes?
As antigas escolas religiosas, à força de se arregimentarem como agrupamentos
políticos do mundo, sob o controle do sacerdócio, acabaram por estagnar os impulsos
da fé, em exterioridades que aviltam as forças vivas do espírito.
A doutrina consoladora da sobrevivência e da comunicação entre os habitantes
da Terra e do Infinito, com bases profundas e amplas no Evangelho, floresce entre
as criaturas com características de nova revelação, para que o homem seja, nas
atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 116.

Dezembro 2011 • Reformador 459 21


Congressos Históricos no Uruguai
e Reunião da Coordenadoria
do CEI para a América do Sul
(Gustavo Martinez),Bolívia (Eduardo
Nani), Brasil (Antonio Cesar Perri
de Carvalho), Chile (Cecilia Plaza),
Colômbia (Jorge Berrio), Paraguai
(Milciades Lezcano Torres),Peru (Isa-
bel Loo), Venezuela (José Vasquez)
e Uruguai (Mirta Cal). Como visi-
Representantes dos dez países da América do Sul na abertura dos tantes vieram dirigentes espíritas
Congressos Uruguaio e Sul-Americano
do Equador. A reunião foi dirigida
Punta del Este sediou o 1o Con- López; e o prefeito de Punta del pelo coordenador do CEI-América
gresso Espírita Uruguaio e o 1o Con- Este, Martin Laventure. Houve apre- do Sul, Fabio Villarraga. Além de
gresso Espírita Sul-Americano, nos sentações de Coral e grupo de dan- informações sobre o Movimento Es-
dias 14, 15 e 16 de outubro. Os even- ças de Maldonado e do grupo Dolce pírita de cada país,da América do Sul
tos, com o tema central “Saúde e Corde (de Brasília). Atuaram como em geral e das atividades do CEI,
Felicidade: Desafios da Ciência e da conferencistas: Antonio Sabino Luna foram definidos alguns planejamen-
Espiritualidade”, respectivamente, e Gustavo Martinez (Argentina), tos de ação e aprovada uma decla-
foram promovidos pela Federação Moacir C. de Araujo Lima e Antonio ração de princípios e de ações inti-
Espírita Uruguaia e pela Coordena- Cesar Perri de Carvalho (Brasil), tulada “Esclarecimentos Necessá-
doria do Conselho Espírita Interna- David Ochoa Jara (Peru), Angelica rios sobre o Movimento Espírita”.
cional para a América do Sul. O Cine Bedoya (Chile), Fabio Villarraga e Preliminarmente aos eventos citados,
Libertador esteve lotado nas pales- Jorge Berrio (Colômbia), Eduardo o representante do CEI e da FEB e
tras noturnas franqueadas ao pú- Nani (Bolívia), José Vasquez (Ve- alguns conferencistas proferiram
blico, com a presença de quase 500 nezuela), Milciades Lezcano Torres palestras em vários centros de Mon-
congressistas inscritos. Na ceri- (Paraguai), Marianel Gandolfo e tevidéu e de Maldonado e conce-
mônia de abertura manifestaram- Magdalena Roberto (Uruguai).Com- deram entrevistas em TVs das duas
-se; o presidente da FEU, Mirta pareceram aos Congressos e tam- cidades. A próxima reunião do CEI-
Cal; o coordenador dos Congres- bém à IV Reunião da Coordena- -América do Sul e o 2o Congresso
sos, Eduardo Dos Santos; o repre- doria do Conselho Espírita Inter- Espírita Sul-Americano serão rea-
sentante do CEI, Antonio Cesar Per- nacional para a América do Sul, lizados em Assunção (Paraguai),
ri de Carvalho; o coordenador do que se desenvolveu durante dois dias, em outubro de 2013. Informações:
CEI-América do Sul, Fabio Villar- nas dependências do Hotel Amster- <www.espiritismouruguay.com/
raga; o representante do prefeito re- dam, representantes das Entidades congreso>; <www.intercei.com>;
gional de Maldonado, Horácio Díaz unidas ao CEI, dos países: Argentina <www.febnet.org.br>.

22 460 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
A luta contra
o egoísmo
“Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que
consistem a lei e os profetas.” – Jesus. (Mateus, 7:12.)

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

A
maior parte das vicissitu- sando pelos demais se, porventu- sagrados deveres cristãos, a exem-
des que enfrentamos a ca- ra, servirem aos seus proveitos. plo de amarmo-nos uns aos outros,
da existência procede do Triste evidência que a distancia da assim como Jesus nos amou (João,
egoísmo dos homens. verdadeira fraternidade! 13:34), condição primordial para
Muitos seres pensam em si mes- Allan Kardec, em seus estudos que possamos nos auxiliar mutua-
mos antes de se preocuparem com sobre o tema, conclui que: mente. Entretanto, não é possível
os outros e buscam, de forma de- exigir dos semelhantes situações
senfreada, satisfazer aos seus dese- O egoísmo [...] se origina do análogas de indulgência, benevo-
jos que os levam a enfrentar múl- orgulho. A exaltação da perso- lência e devotamento para conos-
tiplas situações para alcançarem nalidade leva o homem a consi- co se não adotarmos regras de boa
os seus objetivos, sacrificando, derar-se acima dos outros. Jul- conduta para vivermos em con-
muitas vezes, os interesses alheios, gando-se com direitos superio- córdia e solidariedade. Por que
nas menores coisas, como nas res, melindra-se com o que não enaltecer a prática da humil-
maiores, tanto de ordem moral, quer que, a seu ver, constitua dade na busca da paz e da justiça
quanto de ordem material. ofensa a seus direitos. A impor- entre os homens?
Na acepção moral humanista, tância que, por orgulho, atribui Apesar de nos instruirmos
a filosofia define o egoísmo como à sua pessoa, naturalmente o acerca das coisas espirituais, dei-
“amor exclusivo de si, ou seja, ati- torna egoísta.2 xamos que a vida material predo-
tude de quem age tendo em vista mine sobre os nossos atos, afas-
apenas a satisfação de seus inte- A noção de personalidade na tando-nos de sentimentos eno-
resses pessoais”, e tem seus funda- trajetória existencial vem sendo brecedores que nos permitiriam
mentos, entre outros, no conceito prejudicada na justa compreensão agir com equidade para com as
de Kant (1724-1804): “O egoísmo do que seria amealhar legítimos pessoas. Ao cultivar o egoísmo,
é o amor de si que consiste numa valores, para autêntica edificação prejudicamos todas as demais
benevolência excessiva para con- pessoal. Há um entendimento qualidades. O Espírito Fénelon,
sigo mesmo (filautria) ou a satis- equivocado de que “ter personali- ao responder sobre a pergunta:
fação de si (arrogância)”.1 A atitu- dade” é possuir espírito crítico so- “Qual o meio de destruir-se o
de exagerada do egoísmo leva a bre os indivíduos e alcançar como egoísmo?”, afirma categórico:
pessoa a se converter no centro do meta a conquista de posições de
mundo, sobretudo na defesa de notoriedade, em ilusórios triun- [...] Quando, bem compreendi-
seu ponto de vista, só se interes- fos mundanos, esquecendo-se dos do, se houver identificado com

Dezembro 2011 • Reformador 461 23


os costumes e as crenças, o Es- às instituições sociais, às rela- orgulho e pelo egoísmo, o homem
piritismo transformará os hábi- ções legais de povo a povo e de servir-se-á da sua inteligência pa-
tos, os usos, as relações sociais. homem a homem o princípio ra atender às suas paixões e aos
O egoísmo assenta na impor- da caridade e da fraternidade e seus interesses pessoais, utilizando
tância da personalidade. Ora, o cada um pensará menos na sua os conhecimentos que amealhou
Espiritismo, bem compreendido pessoa, assim veja que outros para ferir e destruir seus próprios
[...] mostra as coisas de tão alto nela pensaram. Todos experi- irmãos. Só o progresso moral,
que o sentimento da personali- mentarão a influência mora- pois, pode assegurar as condições
dade desaparece, de certo modo, lizadora do exemplo e do de paz e união entre as criaturas,
diante da imensidade. [...]3 contato [...].3 conforme elucida Kardec:

No entanto, alerta-nos o pre- A despeito da proporção vastís- Semelhante estado de coisas


claro Espírito, na mesma resposta: sima de progresso intelectual ob- pressupõe uma mudança radical
tido até os presentes dias, benefi- no sentimento das massas, um
O choque, que o homem expe- ciando o avanço geral da Terra, o progresso geral que não se podia
rimenta, do egoísmo dos outros mundo contemporâneo encontra, realizar senão fora do círculo das
é o que muitas vezes o faz egoís- ainda, barreiras de preconceitos ideias acanhadas e corriqueiras
ta, por sentir a necessidade de religiosos, sociais, econômicos e que fomentam o egoísmo. [...]4
colocar-se na defensiva. Notan- culturais entre as nações, sem aju-
do que os outros pensam em si dar os povos que enfrentam sé- Falta, porém, a essas reformas
próprios e não nele, ei-lo leva- rios antagonismos e lutas para ob- uma base que lhes permita de-
do a ocupar-se consigo, mais do tenção da verdadeira liberdade. senvolver-se, completar-se e con-
que com os outros. Sirva de base Enquanto for influenciado pelo solidar-se; falta uma predisposição

24 462 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
moral mais generalizada, para com egoístas, com ambiciosos e “[...] O egoísmo é, pois, o alvo
fazer que elas frutifiquem e sejam orgulhosos. Com orgulhosos, para o qual todos os verdadeiros
aceitas pelas massas. Não deixa que se escandalizam e se melin- crentes devem apontar suas ar-
de ser um sinal característico da dram por tudo; com ambiciosos, mas, dirigir suas forças, sua cora-
época, o prelúdio do que se efe- que se decepcionam quando não gem [...].”9 Sigamos o Espiritismo
tuará em mais larga escala, à têm a supremacia, e com egoístas que nos ensina a não negligenciar
medida que o terreno se for tor- que só pensam em si mesmos, a no aproveitamento efetivo das
nando mais favorável.5 cizânia não tardará a ser intro- lições proporcionadas pela exis-
duzida e, com ela, a dissolução. tência atual, melhorando-nos, sem
Amar, em seu sentido amplo, “é [...] Todo grupo que se formar procrastinar o bem que nos cabe
o homem ser leal, probo, cons- sem ter por base a caridade efe- fazer, em nome da Doutrina do
ciencioso, para fazer aos outros o tiva, não terá vitalidade, ao passo Amor e do Evangelho.
que queira que estes lhe façam que os que se fundarem segundo
[...] é considerar como sua a gran- o verdadeiro espírito da doutri- Referências:
de família humana”.6 Essa família na olhar-se-ão como membros 1
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.
nós a encontraremos quando evo- de uma mesma família [...].7 Dicionário básico de filosofia. 5. ed. Rio
luirmos e partirmos para mundos de Janeiro: ZAHAR, 2008. p. 82.
2
mais adiantados, unindo-nos, in- Ao versar sobre o problema da KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.
tegralmente, às criaturas. “vitória sobre nós mesmos”, o Guillon Ribeiro. 2. ed. bolso. 1. reimp. Rio
Mesmos conscientes das suas autor espírita Indalício Mendes de Janeiro: FEB, 2011. P. 1, cap. O egoís-
responsabilidades em prol da cau- (1901-1988), em um de seus arti- mo e o orgulho – Suas causas, seus efei-
sa espírita, determinados tarefei- gos,8 cita o personagem da mito- tos e os meios de destruí-los, p. 237.
3
ros deixam-se influenciar por esse logia grega Sísifo, rei de Corinto, ______. O livro dos espíritos. Trad.
dano, prejudicando nobres tare- em a Odisseia, que teria sido con- Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de
fas, em meio às dificuldades que denado por Hades, rei dos mor- Janeiro: FEB, 2010. Q. 917.
4
surgem, ao exigirem para si o tos, a empurrar uma imensa pedra, ______. A gênese. Trad. Evandro Noleto
valor e a importância dos quais se ladeira acima, até o topo de uma Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
acham investidos. Allan Kardec, montanha, sem jamais conseguir 2011. Cap. 18, it. 20.
5
ao transmitir votos de boas-festas concluir o trabalho, uma vez que ______. ______. It. 21.
6
aos espíritas de Lyon, na França, a pedra, antes de chegar ao cume, ______. O evangelho segundo o espiritis-
no ano de 1862, discorre sobre os sempre rola declive abaixo, exi- mo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp.
obstáculos e desafios enfrentados gindo o recomeço da empreitada. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 11, it. 10.
7
por aqueles que se empenham em O autor compara a “grande pe- ______. Resposta dirigida aos espíritas
defender a Doutrina e destaca os dra” com as imperfeições huma- lioneses por ocasião do ano-novo. In: Revista
perigos do egoísmo, ao observar nas, “eternizando a nossa ingente e espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 5,
de forma explícita: dolorosa tarefa de reconduzi-la ao p. 61, fev. 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
ponto de onde caiu”.8 Assim acon- 3. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
8
A natureza dos trabalhos espíri- tece na luta travada contra o egoís- MENDES, Indalício. Rumos doutrinários.
tas exige calma e recolhimento. mo, que parece ser infindável; con- 3. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Ora, não há recolhimento pos- seguimos, por vezes, dominar es- Cap. Conduta do espírita, it. A vitória
sível se somos distraídos pelas se mal, que volta a nos atingir na sobre nós mesmos, p. 81.
9
discussões e pela expressão de primeira circunstância desfavo- KARDEC, Allan. O evangelho segundo o es-
sentimentos malévolos. [...] mas rável, fazendo-nos recomeçar a piritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 130. ed. 1.
não pode haver fraternidade ingente batalha de onde paramos. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 11, it. 11.

Dezembro 2011 • Reformador 463 25


Capa

Em dia com o Espiritismo


Cristo nasceu?
Onde? Quando?
M A RTA A N T U N E S M O U R A

S
ão indagações que com- A íntegra da entrevista de mais vacilei diante dos potenta-
põem o título de belíssima Vinícius, com destaques nossos, dos do século, quando me era dado
página doutrinária escrita é a que se segue: defender a Justiça e proclamar a
pelo espírita Pedro de Camargo verdade, pois a força e o poder do
(1878-1966), mais conhecido como Perguntemos a Paulo – onde e Cristo constituíram elementos
Vinícius, encontrada em seu livro quando Jesus nasceu? Ele nos integrantes de meu próprio ser.
Em Torno do Mestre, publicado pela dirá: Foi na estrada de Damasco, Chamemos à baila João Evan-
FEB em 1939, cuja última edição, a quando eu, então intolerante e gelista e peçamos nos diga o que
nona, data de 2009. Com admirável fanatizado por uma causa ingló- sabe acerca do natal do Messias,
criatividade, o autor analisa o sig- ria, me vi envolvido na sua divi- e ele nos dirá: Jesus nasceu no dia
nificado e o contexto do nascimen- na luz. Dali por diante – “já não em que meu entendimento, ilu-
to do Cristo, utilizando a entrevista sou eu mais que vive, mas o minado pela sua divina graça,
como recurso literário, então dire- Cristo é que vive em mim”. me fez saber que “Deus é amor”.1
cionada a sete conhecidas persona- Indaguemos de Madalena, on- Dirijamo-nos a Zaqueu, o pu-
lidades do Evangelho, tendo como de e quando nasceu Jesus. Ela blicano, e eis o seu testemunho:
referência este registro evangélico: nos informará: Jesus nasceu em Jesus nasceu em Jericó, numa es-
Betânia, certa vez em que sua plêndida manhã de Sol, quando
O verbo se fez carne e habitou voz, ungida de pureza e santida- eu, ansioso por conhecê-lo, subi
entre nós, cheio de graça e ver- de, despertou em mim a sensa- numa árvore, à beira do cami-
dade, e vimos a sua glória como ção de uma vida nova, com a nho por onde Ele passava, con-
de unigênito do Pai. Mas a to- qual, até então, jamais sonhara. tentando-me com o ver de longe.
dos os que o receberam, aos Ouçamos o depoimento de Pe- Eis que Ele, amorável e bom, ace-
que creem em seu nome, deu dro, sobre a natividade do Senhor, na-me, dizendo: “Zaqueu, desce,
Ele o direito de se tornarem fi- e ele assim se pronunciará: Jesus importa que me hospede conti-
lhos de Deus; os quais não nas- nasceu no átrio do paço de Pilatos, go”. Naquele dia entrou a salva-
ceram do sangue, nem da von- no momento em que o galo, can- ção no meu lar.
tade da carne, nem da vontade tando pela terceira vez, acordou Interpelemos Tomé, o incrédulo:
do homem, mas sim de Deus. minha consciência para a verda- Quando e onde nasceu o Mestre?
(João, 1:4.) deira vida. Daí por diante, nunca Ele, por certo, retrucará: Jesus

26 464 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
Capa

nasceu em Jerusalém, naquele dia o Mestre Nazareno como o Filho sagem original de Jesus (do Novo
memorável e inesquecível em que de Deus ou o Messias prometido Testamento) à de outros textos,
me foi dado testificar que a morte para a salvação da Humanidade. provenientes da época da igreja
não tinha poder sobre o Filho de Embora as reconstruções históri- primitiva, identificando pontos
Deus. Só então compreendi o sen- cas variem, são concordantes em concordantes e discordantes. Em-
tido de suas palavras: “Eu sou o dois pontos: Jesus era um rabino pregaram, então, dois métodos
Caminho, a Verdade e a Vida”. judeu, que atraiu um pequeno gru- para chegarem às conclusões
Apelemos, finalmente, para Di- po de galileus e, após um período finais, publicadas posteriormen-
mas, o bom ladrão: Onde e quan- de pregação, foi crucificado pelos te: a) Redação criticista – trata-se
do Jesus nasceu? Ele nos infor- romanos na Palestina, sob insti- de uma investigação a respeito de
mará: Jesus nasceu no topo do gação dos sacerdotes judeus, du- como cada escritor do Evangelho
Calvário, precisamente quando a rante o governo de Pôncio Pilatos. compilou seu livro, seguida de
cegueira e a maldade humanas A busca pelo Jesus Histórico foi comparação com outros escritos
supunham aniquilá-lo para sem- iniciada pelo filósofo deísta ale- e, também, com fontes orais; b)
pre; dali Ele me dirigiu um olhar mão Hermann Samuel Reimarus Crítica formal – concluíram que os
repassado de piedade e de ternu- (1694-1768) que, junto com ou- evangelhos (segundo Mateus, Mar-
ra, que me fez esquecer todas as tros estudiosos, passaram a duvi- cos, Lucas e João) não foram escri-
misérias deste mundo e antegozar dar da historicidade relatada pelos tos completos, originalmente, tal
as delícias do paraíso. Desde lo- textos sagrados, aceita sem con- como os conhecemos nos dias
go, senti-o em mim e eu nele.2 trovérsias até o século XVIII, atuais. Na verdade, são coleções de
quando surgiu o movimento ilu- fatos separados, de tradições orais,
As respostas transmitidas pelos minista na Europa. Após a Primei- mitos ou parábolas, proposital-
entrevistados nos fazem ver que ra Guerra Mundial, os teólogos mente agrupados para formar
o nascimento do Cristo, o local e a alemães Martin Dibelius (1883- uma coletânea, artificialmente ela-
data, representam, efetivamente, -1947) e Rudolf Karl Bultmann borada, e destinada a divulgar prá-
o exato momento do despertar da (1884-1976) compararam a men- ticas da igreja antiga. Dessa forma,
nossa consciência para a sublimi-
dade do Amor, ensinado e exem-
plificado por Jesus.
Para a Doutrina Espírita, Jesus
é e sempre será “o tipo mais per-
feito que Deus já ofereceu ao ho-
mem para lhe servir de guia e
modelo”.3 É válido, porém, deixar
registrado que no meio acadêmi-
co e entre os historiadores do
Cristianismo configura-se nova
metodologia de estudo da figura
ímpar de Jesus, denominada Jesus
Histórico. Trata-se de estudo críti-
co que não considera os axiomas
religiosos e teológicos tradicio-
nais nem os determinismos bíbli-
cos que, na generalidade, revelam

Dezembro 2011 • Reformador 465 27


Capa

a crítica formal tenta reconstruir estabeleça ainda que contraria- Assim, ante a bênção de mais
os episódios originais, separando o mente às expectativas dos cren- um Natal, enderecemos ao Mestre
que é fato histórico e o que é in- tes atuais. No entanto, ao mon- a nossa eterna gratidão, louvan-
clusão artificial. Há outro ponto tar o quebra-cabeça da história do-o por meio dos vibrantes sen-
relevante: na busca pelo Jesus His- do Cristianismo Primitivo com timentos do poeta Amaral Ornel-
tórico, alguns estudiosos funda- as escassas peças disponíveis, las, expressos no poema Ante
mentam-se na chamada Fonte Q nem sempre é possível ao pes- Jesus, reproduzido nesta página.6
(de Quelle, nome alemão para quisador humano dispensar cer-
fonte), uma coleção de Ditos de ta dose de imaginação.4 Referências:
1
Jesus, que é uma tradição, oral ou VINÍCIUS. Em torno do mestre. 9. ed. 1.
escrita – não se sabe ao certo – Uma evidência poderosa já se reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.
amplamente difundida no mundo destaca das conclusões dos pes- Cristo nasceu? Onde? Quando?. p. 236.
2
cristão da primeira metade do quisadores: a grandeza do Cristo e _____. _____. p. 236-237.
3
século I, e que serviu de base para a sublimidade da sua mensagem. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
a escritura dos evangelhos sinóti- Parâmetros pelos quais devemos Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
cos, assim como para alguns apó- nos guiar, sem jamais perder de reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.
4
crifos. Sendo assim, o documento vista qual é a plataforma do Mes- DIAS, Haroldo Dutra. Cristianismo redivi-
Q, ou fonte Q, é hipoteticamente tre, como ensina Emmanuel: vo: história da era apostólica, Novas per-
considerado como sendo o pri- guntas. In: Reformador, ano 126, n. 2.146,
meiro texto evangélico escrito, e Anunciou-nos a celeste revelação p. 34(32)-36(34), jan. 2008.
5
que teria sido utilizado, mais tar- que Ele viria salvar-nos de nossos XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo
de, por Mateus e Lucas, mas não próprios pecados, libertar-nos da Espírito Emmanuel. 27. ed. 3. reimp. Rio
por Marcos, na redação dos seus cadeia de nossos próprios erros, de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 174, p. 386.
6
escritos, fato que justificaria as afastando-nos do egoísmo e do _____. Antologia mediúnica do natal.
coincidências presentes no Evan- orgulho que ainda legislam para Por Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janei-
gelho de Lucas e de Mateus, e as o nosso mundo consciencial.5 ro: FEB, 2009. Cap. 69.
diferenças com o de Marcos.

Em suma, munidos dos novos Ante Jesus


instrumentos da pesquisa ho-
Eis que passa no tempo a imensa caravana
dierna, tais como história antiga,
A multidão revel que humilhada se agita
crítica literária, crítica textual, Reis, tiranos e heróis, rondando a turba aflita
filologia, papirologia, arqueolo- E fugindo à verdade augusta e soberana.
gia, geografia, religião compa-
Sobre carros triunfais, a treva se engalana...
rada, os atuais pesquisadores E a mendaz ilusão freme, goza e palpita
tentam reconstruir o ambiente Para rojar-se, após a miséria infinita,
sociocultural de Jesus, de modo Na cinza a que se acolhe a majestade humana.
a experimentar o efeito que as Mas Tu, Mestre da Paz, que a bondade ilumina,
palavras do Mestre produziram Guardas, imorredoura, a grandeza divina,
nos ouvintes da sua época. Sem que o lodo abismal te ofenda ou desconforte.
Nesse esforço, procura-se evitar Tudo passa, descendo à sombra do caminho,
juízos preconcebidos, premissas Mas no sólio da cruz inda imperas sozinho,
rígidas, preconceitos étnicos, Na vitória do amor que fulge além da morte.
deixando que a mensagem se

28 466 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
Amor à profissão
Aprendendo com Jesus
F A B I A N O P. N U N E S

P
resenciamos uma época amamos, é sempre amarmos a área tuindo motivo de orgulho fami-
incomum da História, em na qual estivermos trabalhando. liar e garantia de um futuro bri-
face dos avanços nas rela- Malgrado fosse o Excelso Go- lhante. Não obstante, o jovem
ções do homem com seu trabalho vernador da Terra, além do mais, Jesus, sem ter sido informado por
profissional, com leis que res- cocriador planetário muito antes sua mãe sobre seus planos, com
guardam as necessidades funda- de sua gênese, habituado ao con- bonomia e resolução ponderou:
mentais do trabalhador, seu direi- tato com outros Espíritos puros
to ao repouso, à assistência nas em assembleias realizadas no cen- – “Mãe, toda preparação útil e
adversidades da saúde; no entan- tro do sistema solar,2 até iniciar a generosa no mundo é preciosa;
to, ainda encontramos rupturas sua tarefa messiânica neste Orbe, entretanto, eu já estou com
desses direitos e injustiças sociais, exerceu Jesus o nobre e humilde Deus. Meu Pai, porém, deseja
gerando tensões e conflitos na ofício de carpinteiro, na cidade de de nós toda a exemplificação
sociedade. Nazaré da Galileia, tendo apren- que seja boa, e eu escolherei,
Por outro lado, habitualmente, dido desde a infância a arte da desse modo, a escola melhor”.4
julgamo-nos demasiadamente su- carpintaria com seu pai, o tam-
periores e qualificados ao traba- bém carpinteiro José,3 como era Assim, apresenta-se, humílimo,
lho que o mercado nos oferece, da tradição judaica desde eras mais ao seu pai José, como ajudante de
gerando em nós insatisfações e remotas. carpintaria, trabalho rude e pesa-
desânimo. Então, como proceder Revelou-nos o Espírito Hum- do, inundando aquela oficina com
quando não estivermos inseridos berto de Campos4 que os douto- sua alegria transbordante de vida.
no labor a que nos afeiçoamos? res do Templo de Jerusalém infor- Permitindo-nos a liberdade de
Com Jesus aprenderemos o mais maram a Maria, mãe de Jesus, te- fazer um exercício de imaginação,
elevado padrão de conduta.1 Nin- rem ficado muito interessados no poderemos, sem dificuldade, vi-
guém, como Ele, apresentou ao ingresso do menino Jesus nas sualizar o obediente e doce meni-
mundo tão belo exemplo sobre escolas rabínicas, tendo em vista no reproduzindo os cuidados de
como viver de forma prazerosa, a forte impressão que neles deixara, seu pai com a madeira, habilmen-
usufruindo a alegria da existência, após as inteligentíssimas respos- te manipulando o prego, o marte-
independentemente do cenário ex- tas apresentadas a esses douto- lo, o cinzel e o enxó, bem como o
terno que se nos afigure. E, no to- res da Lei, por ocasião de seu Bar júbilo no rosto de José ao obser-
cante ao lavor, nos ofereceu a su- Miztvah, aos 12 (para 13) anos.4 var as mãos suaves do sublime ar-
blime lição de que mais importan- Essa profissão era a mais cobiçada tífice produzirem belas peças, ha-
te que trabalharmos na área que pela sociedade hebraica, consti- bilmente entalhadas no madeiro.

Dezembro 2011 • Reformador 467 29


Oportuno imaginarmos a bele- amor poderia explicar a manu- fizera ao madeiro – encantando e
za das obras em lenho elaboradas tenção de seu entusiasmo conta- comovendo com a simplicidade de
pelo jovem carpinteiro de Nazaré, giante num trabalho tão penoso, seus ensinos, criando parábolas, que
posto que viriam a ser reconhe- mormente por estar habituado à ficaram gravadas na memória por
cidas não só na sua cidade, como culminância da luz. mais de 20 séculos. Artista genial,
também nas redondezas, haja Quantas vezes, entressonhamos, lapidou a pedra bruta do coração
vista que na Galileia, ao apresentar- o lenho não teria ferido as mãos humano, elevando os sentimentos
-se na sinagoga como o Messias es- cariciosas do jovem moveleiro aos patamares diamantinos.
perado pelo povo hebreu,5 mara- galileu? No entanto, quem ama Ao findar seu ministério de
vilhando a todos ao ensinar sobre perdoa. E Jesus, por ter elevado o amor e caridade naquela existên-
o Reino de Amor, fora prontamen- perdão ao grau de excelência, cia planetária, nunca por acaso,
te identificado pelo seu ofício: também prosseguiu amando a volveria a ter contato com o mar-
arte na carpintaria até começar telo, os pregos e o lenho.
– Não é este o carpinteiro, filho sua obra de redenção da Humani- Ele, o amigo devotado e incansá-
de Maria e irmão de Tiago e de dade, tornando-se o inolvidável vel, fora levado a uma condenação
José, e de Judas, e de Simão? E artífice da alma humana, passan- de morte infamante e cruel – a cru-
não estão aqui conosco suas ir- do a exercer outro ofício de eleva- cificação, uma pena aplicada ape-
mãs? E escandalizavam-se nele.6 da relevância: Rabi, Mestre, Pro- nas aos soldados romanos deser-
fessor, enfim, Educador de almas. tores e aos mais vis criminosos –
O amor permeou todos os mo- Seu afastamento do madeiro, sofrendo as dores mais acerbas jus-
mentos da vida terrestre do Cris- entrementes, não perduraria por tamente através do madeiro, dos pre-
to, porquanto, também permeara muito tempo: menos de três anos. gos e do martelo que tanto amara.7
sua dedicação à carpintaria e ao Em três anos prosseguiu, como Depois da ignominiosa aplica-
madeiro, amando seu pesadíssi- um hábil Mestre, trabalhando as ção do flagrum, o amorável rabi
mo ofício. Somente um grande palavras com grande arte – qual abraçou e carregou o patibulum da

30 468 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
cruz, a haste horizontal de madeira perdão – elevados ao mais alto
onde os punhos eram pregados no grau em toda a História da Civili- Referências:
1
processo de crucificação, pesando zação. Entretanto, a despeito da KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91. ed.
de 34 a 57kg, do praetorium até o oprobriosa condenação, Jesus abra- 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.
Gólgota, por mais de 600 metros.7 çara e, em plenitude, nela se inte- 2
XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.
Seu estado de saúde achava-se grando, as ferramentas – o marte- Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 3. reimp.
tão crítico que caíra por três ve- lo, os pregos e a madeira – da no- Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 1.
3
zes durante esse trajeto, só conse- bilíssima arte à qual tantas vezes MATEUS, 13:55.
4
guindo atingir o Monte da Caveira se dedicara. XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Es-
graças ao auxílio de Simão de Ci- Por conseguinte, amar o traba- pírito Humberto de Campos. 3. ed. esp. 4.
rene.8 Não obstante ao cair no so- lho, por mais árduo e entediante reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 2.
5
lo, já em estado de anemia aguda que possa se nos apresentar, LUCAS, 4:21-22.
e choque hipovolêmico,7 susten- transformá-lo em motivação no- 6
MARCOS, 6:3.
7
tou o madeiro horizontal da bre, conquanto não seja aquele EDWARDS, W. D.; GABEL, W. J.; HOSMER,
cruz, não permitindo que tam- anelado por nossos mais altos so- F. E. On the physical death of Jesus Christ.
bém caísse: ensinou ao mundo in- nhos, sobretudo, permeá-lo em In: The journal of the american medical
teiro que qualquer homem pode arte: eis mais um dos inesquecí- association (JAMA). (Trabalho científico
sofrer quedas, mas a tarefa anela- veis ensinos do carpinteiro de publicado pelo Departamento de Patologia
da, a missão confiada, essa jamais Deus, em prodigiosa consonância da Mayo Clinics, Rochester, Minn, EUA),
poderá desmoronar-se. Seu corpo com os desafios da vida moderna. 1986, mar. 21, v. 255, n. 11, p. 1455-1464.
8
derreara ao solo, mas seu elevado Não se preocupe em fazer o XAVIER, Francisco C. A vida conta. Pelo
ideal permanecera imarcescível. que ama, porém, ame o que faz! Espírito Maria Dolores. 3. ed. Rio de Ja-
Ademais, na condição de car- Medite nisso! neiro: CEU, 1984. Cap. 11.
pinteiro transcendental, não po-
deria permitir a queda do lenho
ao solo.
Quanto à forma pela qual Jesus Retorno à Pátria Espiritual
tivera seus punhos e tornozelos
pregados ao madeiro, o qual tanto
amara, dados arqueológicos de res-
tos de corpos crucificados, achados
Norberto Pásqua
próximos a Jerusalém e datados da No dia 8 de novembro desen- Jesus Menino. Norberto milita-
época de Cristo, indicam que se carnou Norberto Pásqua, em va desde jovem no Movimen-
utilizavam pregos de ferro, afilados, Brasília. O companheiro conta- to Espírita, tendo participado
que possuíam aproximadamente va 80 anos e foi assessor jurídico de antigos eventos de Mocidades
de 13 a 18cm de comprimento, da FEB, onde também ocupou o Espíritas nas décadas de 1950
com a cabeça quadrada tendo cerca cargo de diretor, sendo atual- e 1960, como as COMBESPs e a
de 1cm de largura.7 mente assessor da presidência. I COMJEB, e com atuação em
Dessa forma, o meigo carpin- Foi um dos fundadores e exer- Guaxupé (MG).
teiro da Galileia, ao ser pregado à ceu a presidência do Grupo Luz Ao caríssimo confrade Nor-
cruz, transformara essa morte in- e Cura, com sede em Sobra- berto, em seu retorno à Pátria
famante numa epopeia celestial, dinho (DF), que mantém um Espiritual, rogamos as bênçãos
exemplificando o amor, a fideli- Lar para crianças denominado de Jesus!
dade aos amigos e aos ideais, e o

Dezembro 2011 • Reformador 469 31


A FEB e o Esperanto

Esperanto e Esperantismo
A F F O N S O S OA R E S

O
número de junho de 2011 da revista Mo- Até 1991, a atividade se limitou à África: Quênia e
nato, publicada mensalmente em esperanto Maluí (clínicas itinerantes), Camarões (hospital de
(Frankrijklei 140, B-2000 Antuérpia, Bélgica olhos com 40 leitos), Gana (ótica), Marrocos, África
<info@fel.esperanto.be>), apresenta interessante ma- do Sul e Tanzânia (instrumental para tratamento
téria, da autoria de Jacques A. Tuinder, sobre uma oftalmológico), estendendo-se posteriormente a
atividade social apoiada nos ideais que dão consis- regiões da Albânia, Bulgária, Kosovo, Moldávia, Ru-
tência ao esperantismo e que se resumem na divisa mânia, Rússia, Sri Lanka e Tadjiquistão.
Justiça e Fraternidade entre todos os povos. Esse movimento que, a partir de 1991, tem o seu
Jacques Tuinder é o presidente, desde a sua funda- nome mudado para “Fonda5 o EvidEntE”, ainda con-
ção, da organização que patrocina esse empreendi- servando, portanto, os três “E”, é sustentado por doações
mento. É assistente social e representa a Associação e subvenções que se canalizam direta e integralmen-
Universal de Esperanto (Universala Esperanto-Aso- te para os projetos, cuja execução é realizada exclusi-
cio), sediada em Rotterdam, Holanda <uea@co.uea. vamente por voluntários, sem qualquer remuneração.
org> e <www.uea.org>, como delegado da cidade de A ação se ampliou e hoje visa ao socorro dos desvali-
Heemskerk, Holanda, e delegado especializado em dos de toda sorte, exercendo-se principalmente sob a
ecumenismo e assistência a deficientes visuais. forma de missões com oculistas e óticos, ensino a crianças
Em 1966, sensibilizado por uma campanha para a com deficiência visual, recapacitação, moradia, abrangen-
erradicação de deficiências visuais perfeitamente sa- do os que dependem de “lixões” para viver, presidiários,
náveis e inspirado na vida missionária de Lázaro Luís instituições para deficientes e idosos, orfanatos, empreen-
Zamenhof, o criador do Esperanto, que, entre outras dimentos sociais, hospitais psiquiátricos, entre outros.
práticas beneficentes, dedicava gratuitamente parte Os esperantistas convidam a “EvidEntE” com fre-
da sua prática como oculista ao socorro dos necessi- quência, disponibilizam suas instituições, assistem a
tados, Jacques e sua esposa Vera decidiram-se por se- equipe de voluntários em suas atividades, acompa-
guir-lhe os nobres exemplos. nhando-os e, principalmente, servindo-lhes de intér-
Iniciando sua tarefa caritativa pelo continente afri- pretes junto aos assistidos.
cano, verificam que com modestos recursos era possível Jacques Tuinder já atingiu a respeitável idade de
operar portadores de catarata. Aliciam então um bom 78 anos e deseja “passar o archote” para outro volun-
número de esperantistas receptivos à ideia e, em novem- tário coidealista, mas enquanto não se apresenta um
bro de 1966, servindo-se de órgãos da imprensa do candidato, ele permanece no seu posto, na continui-
esperanto, lançam a convocação “Esperantistoj, Esperigu dade das tarefas EEE que, diga-se de passagem, está
Esperantojn” (“Esperantistas, deem Esperança aos que bem em sintonia, sem que ele sequer o tenha suspei-
Esperam”), de que surge o movimento “Agado E3”(Ação tado, com o nosso EEE – Evangelho, Espiritismo,
E3), sempre se sustentando na afirmação: Esperanto –, igualmente impregnado dos ideais da
divisa espírita: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.
O que há de melhor e mais belo do que dar luz aos Os ideais do esperanto têm inspirado, em todo o
que continuamente, mas sem necessidade, vivem em mundo, movimentos e obras beneficentes de pro-
eterna noite? fundo alcance social.

32 470 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
No Brasil, funciona a “Fazenda-Escola Bona Es- direito de considerá-lo tão somente de um ponto de
pero”, em Alto Paraíso de Goiás (GO), distante vista prático e usá-lo em seu proveito próprio, isso
412km de Goiânia e 250km de Brasília. Bona Es- naturalmente não dá a ninguém o direito de exigir
pero, como é conhecida mundialmente, está desde que o tenhamos como algo de natureza exclusiva-
1974 sob a direção do casal esperantista-espírita mente prática. Infelizmente, nos últimos tempos,
Giuseppe e Úrsula Grattappaglia, que também entre os esperantistas, se fizeram ouvir vozes a dizer:
contam, em sua administração, com a valiosa “O Esperanto não é mais do que uma língua; evitem
colaboração da professora Adarci Ferreira de associar, mesmo em caráter particular, o esperantis-
Souza, ex-aluna da Instituição. mo a qualquer ideia, pois de outro modo pensarão
Estatutariamente, é uma organização bilíngue que todos comungamos com essa ideia e, assim, desa-
que “protege, educa e promove atividades culturais gradaremos a diversas pessoas que não simpatizam
em âmbitos nacional e internacional através do uso com ela”. Oh, que palavras! Pelo receio de que talvez
da Língua Internacional Neutra, trazendo novos não venhamos a agradar àqueles que só querem usar
conhecimentos para a região e, assim, formando o Esperanto para objetivos práticos, deveremos todos
nas novas gerações uma consciência de cidadania então arrancar de nosso coração aquela parte do
mundial”. esperantismo que é a mais importante, a mais sagra-
Bona Espero acolhe crianças de 5 a 13 anos, envia- da, aquela que se fez o alvo principal da causa espe-
dos pela Promotoria e Conselho Tutelar das cidades rantista, a estrela que sempre orientou todos os que
de Alto Paraíso e Cavalcante, após a constatação de militam em favor do Esperanto! Oh, não, não, nunca!
que viviam em situação de risco, sofriam abuso se- Com enérgico protesto, repelimos tal exigência. Se
xual, dormiam em banheiros de rodoviárias, enfim, nos obrigarem a nós, os trabalhadores da primeira
viviam em miséria moral e material. hora do Esperanto, a que em nossas atividades evite-
Finalizamos, transcrevendo, em tradução do espe- mos tudo o que seja de natureza ideal, então, indigna-

Ilustração retirada do livro Holzhaus: Granda Galerio Zamenhofa, de Adolf Holzhaus


ranto, este trecho do discurso com que Zamenhof dos, rasgaremos e queimaremos tudo o que escreve-
promoveu a abertura do 2o Congresso Universal mos em favor do Esperanto, anularemos com pesar os
de Esperanto, realizado em 1906, na cidade suíça de trabalhos e sacrifícios de toda a nossa vida, jogaremos
Genebra: longe a estrela verde que está em nosso peito e excla-
maremos com repulsa: “Com um tal Esperanto, que
Se nós, os que trabalhamos em favor do Esperanto, deve servir exclusivamente a objetivos de comércio e
demos voluntariamente ao vasto mundo o pleno utilidade prática, nada queremos ter em comum!”.

Participantes do 2o Congresso Universal de Esperanto, em Genebra


Conselho Espírita Internacional

Reunião da Coordenadoria
do Conselho Espírita
Internacional da Europa

Representantes dos países na Reunião da Coordenadoria do CEI para a Europa

No dia 28 de outubro, realizou- Reino Unido, Suécia e Suíça. Dival- Trava-se a Grande Batalha
-se a Reunião da Coordenadoria do Pereira Franco compareceu ao
do Conselho Espírita Internacional final da Reunião e recebeu psico- Meus filhos:
para a Europa, nas dependências fonicamente a mensagem “Trava- Permaneça conosco a paz do
do Hotel Premium Porto Maia, na -se a Grande Batalha”(veja a seguir). Senhor!
cidade de Maia, região do Nos dias 29 e 30 de outu- Vivemos o abençoado momento
Grande Porto (Portu- bro,ocorreu o VIII Con- das definições no mundo, quando
gal). Foram tratados gresso Nacional de Es- o planeta de provas e expiações, es-
vários temas ligados piritismo, promo- tertorando, transita para o mundo
ao Movimento Espí- vido pela Federa- de regeneração.
rita na Europa; in- ção Espírita Portu- Convulsões internas e desafios
formações sobre as guesa. Tendo como externos acumulam-se em toda
ações nos países e tema central “A Nova parte.
sobre eventos progra- Era. São chegados os As dores acerbas convidam as
mados pelo CEI para os tempos”, proferiram pa- criaturas humanas, ricas de ciência
anos próximos. A Reu- Saudação do presidentre lestras: Divaldo Pereira e de tecnologia, às provas de amor,
nião foi dirigida por da FEB na abertura do Franco, José Raul Teixeira às reflexões profundas em torno
Charles Kempf, coorde- Congresso Português e dezenas de expositores dos objetivos essenciais da exis-
nador do CEI para a Europa, e con- portugueses. O presidente da FEB e tência humana.
tou com a presença do secretário- secretário-geral do CEI, Nestor João Anunciadas desde os dias glorio-
-geral do CEI, Nestor João Masotti. Masotti, compareceu ao evento. sos do Senhor entre nós, cantando
Compareceram representantes dos Informações: <www.intercei.com>, as grandezas do seu Evangelho, tor-
países: Alemanha, Itália, Portugal, <fep.informa@feportuguesa.pt>. nam-se realidade neste período,

34 472 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
quando os cristãos novos são con- cientes das responsabilidades que Somente marchando de mãos
vocados às definições exaradas na vos dizem respeito, e vindes desin- dadas pela trilha segura do Evan-
sua palavra libertadora. cumbindo-vos do compromisso gelho de Jesus é que conseguireis
É compreensível que o fato aflitivo com a retidão possível e, portanto, conduzir o rebanho, ainda espar-
conduza os sentimentos, algo estio- indispensável. ramado, na direção do Pastor.
lados, ao desespero, por falta de re- Permaneceis fiéis, mesmo sob as Comprometestes-vos antes do
sistência moral de alguns dos encar- chuvas de calhaus, de infâmias e de berço realizar este labor de alta mag-
regados da preparação da Era Nova. dificuldades que se transformam nitude para o futuro da Humani-
Nada obstante, é em momento dessa em tempestades ameaçadoras... dade. Deveis, portanto, executar o
natureza, que se podem avaliar os É necessário confiar, sem que o trabalho avançando com toda a
legítimos valores do caráter, da per- desânimo tome conta dos vossos dedicação possível, mesmo que,
sonalidade, do ser interior. ideais. muitas vezes, apresenteis a alma do-
O Espiritismo veio para, no mo- Jesus confia em nós na razão rida e os sentimentos despedaçados
mento grave das dores, consolar as direta em que nos entregamos ao pela injúria, pela perseguição gra-
almas aturdidas. Não somente, po- seu comando. tuita, pelos adversários da luz...
rém, para enxugar-lhes o pranto e Se, sob um aspecto, as dores apre- Apresentai-o, meus filhos da al-
o suor, mas principalmente para sentam-se mais terríveis do que ma, em toda a sua grandeza refle-
apontar-lhes a via de segurança a antes, por outro lado, a claridade tida no vosso exemplo de abnega-
fim de alcançar o objetivo libertador. do Evangelho já oferece a alegria ção e de amor.
Quando o Mestre prometeu o de proporcionar a antevisão dos Em dia não muito distante, des-
Paracleto, asseverou que ele enxuga- porvindouros dias. fraldando ainda a bandeira da paz,
ria as lágrimas. Entretanto, traçaria Mantende a chama da fraterni- podereis sorrir observando o
roteiros novos e apresentaria formu- dade acesa nos corações a qualquer campo de batalha, não mais jun-
lações desconhecidas, repetindo as preço da verdade e do entusiasmo, cado de cadáveres sangrando, mas
lições originais, e Allan Kardec, o a fim de que os enfraquecidos na de Espíritos vitoriosos sobre as pai-
vaso escolhido, desincumbiu-se da luta retemperem o ânimo e pros- xões dissolventes, cantando a gló-
nobre tarefa coroado pelo sacrifício, sigam, mesmo que tenham os joe- ria da imortalidade.
pela abnegação e pela entrega total. lhos desconjuntados. Que o Senhor de bênçãos vos
Passaram-se mais de 150 anos Reuniões como estas devem re- abençoe a todos, são os votos do
desde as primeiras clarinadas de petir-se amiúde, para que quais- servidor humílimo e paternal e
luz, e nesse período surgiram as quer problemas sejam equaciona- dos mentores do trabalho em exe-
dificuldades, os problemas huma- dos por intermédio da comunhão cução nos diferentes países que
nos somados às necessidades da fraternal e do direcionamento para constituem o Conselho Espírita
evolução ante o programa de ilu- o Bem. Internacional!
minação de consciências. É natural que, muitas vezes, sur- Muita paz, meus filhos, com todo
Tendes compreendido que se jam divergências opinativas que o carinho do amigo de sempre,
torna necessária a entrega pessoal se não devem constituir motivo de
com todo amor ao trabalho de dissensão pessoal. Bezerra
dignificação humana. Cada criatura tem uma percep-
(Mensagem psicofônica recebida pelo mé-
Já demonstrastes a fidelidade ção muito especial, que lhe corres-
dium Divaldo Pereira Franco, no dia 28 de
possível ao labor designado pelo ponde ao nível de evolução, e é outubro de 2011, em Maia, Portugal, durante
Mestre incomparável… compreensível que não veja de ma- o encerramento da Reunião da Coordena-
Conduzindo a Terra aos subli- neira igual aquilo que outros con- doria do Conselho Espírita Internacional
mes páramos, permaneceis cons- seguem observar. da Europa.)

Dezembro 2011 • Reformador 473 35


Mediunidade
Antes e depois de O Livro dos Médiuns
A D I LTO N P U G L I E S E

M
uitos homens e mulhe- rão, vossos jovens terão visões e Com o advento de O Livro dos
res deixaram a sua mar- vossos velhos sonharão. [...]1 Médiuns, a mediunidade assumi-
ca pessoal na História ria foro de doutrina. A partir da
da Humanidade. É a profecia da mediunidade di- publicação desse livro de ciência
Jesus, contudo, produziu um nâmica, consoante a denominação espírita, o mediunismo não desa-
acontecimento singular na Terra: do físico inglês William Jackson parece, não é aniquilado. Transfor-
dividiu, com o seu nascimento, a Crawford (1880-1920). ma-se! Porque passa a ser “desen-
História da Humanidade – antes Contudo, até a chegada da se- volvido, racionalizado e submeti-
dele e depois dele. Nenhum outro gunda obra da Codificação Espírita, do à reflexão religiosa e filosófica
homem realizou façanha igual. na segunda metade do século XIX, e às pesquisas científicas, necessá-
Allan Kardec, o Codificador os Espíritos espalhariam a mediuni- rias ao esclarecimento dos fenô-
do Espiritismo, realizou feito dade por sobre a carne na forma pri- menos, sua natureza e suas leis”.3
semelhante: dividiu a história da mitiva do mediunismo, que destaca Esse livro é uma sequência de
mediunidade. Não com o seu nas- as formas rudimentares da mediuni- O Livro dos Espíritos, e Allan Kar-
cimento, mas com um livro: dade, nesses antecedentes históricos. dec, na “Introdução”, destaca que
O Livro dos Médiuns. A epopeia Diferente da mediunidade com O Livro dos Médiuns é também um
dos fenômenos psíquicos, assim, Jesus, que caracteriza o intercâmbio livro dos Espíritos. Ou seja, foi pro-
pode ser vista antes desse livro e com entidades do plano extrafísico, jetado e orientado também por eles.
depois dele. mediante propósitos doutrinários e O anúncio e os sinais precurso-
éticos, o mediunismo é a prática res de O Livro dos Médiuns acon-
O que era a mediunida- mediúnica em si, em estado natural, teceram em 1858. Naquele ano,
de antes de O Livro dos sem objetivos superiores e isenta da Allan Kardec lança um opúsculo
Médiuns? disciplina amparada pelas diretri- experimental, intitulado Instrução
zes da Doutrina Espírita.“É o exer- Prática sobre as Manifestações Es-
Inicialmente, ela foi prevista cício mediúnico em si, a simples píritas, contendo a exposição com-
pelo profeta Joel (século V a. C.), prática mediúnica, a que se refere pleta das condições necessárias pa-
mais de dois mil anos antes de Deolindo [Amorim (1906-1984)], ra se comunicar com os Espíritos,
O Livro dos Médiuns. No seu texto, ou seja, tão somente a utilização e os meios de se desenvolver a fa-
constante da Bíblia, Joel declara, da faculdade inerente ao médium, culdade mediadora nos médiuns.
no capítulo 2, versículos 28 e 29: sem que, com o termo, se queira A partir de 1858, e nos dois
significar uma prática espírita.”2 anos seguintes, 1859 e 1860, Allan
Nos últimos tempos, diz o Se- Kardec, além da publicação de
nhor, derramarei do meu espí- O que tem sido a mediu- O que é o Espiritismo, em 1859, da
rito sobre toda a carne; vossos nidade depois de O Livro continuidade da edição mensal
filhos e vossas filhas profetiza- dos Médiuns? da Revue Spirite, da administra-

36 474 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
ção da Sociedade Parisiense de Es- vés do esclarecimento doutrinário d) a santificação do compro-
tudos Espíritas e de outras ativida- que visa a reforma do ser humano. misso.7
des, irá se dedicar em profundidade Yvonne do Amaral Pereira, pe-
ao estudo da Ciência Espírita. los idos de 1966, proferiu como- Podemos afirmar que o pró-
Para tanto, é secundado por vente prece ao Criador, vendo prio Allan Kardec, embora tenha
eminentes Espíritos, como Eras- aproximar-se o crepúsculo da sua declarado, em discurso pronun-
to,4 Timóteo, Joana d’Arc (1412- profícua jornada como médium: ciado em novembro de 1861, na
-1431), Santo Agostinho (354-430) cidade de Bordeaux, no interior
e São Luís (Luís IX, rei da França – Obrigada, meu Deus, pela bên- da França, na Reunião Geral dos
1214-1270), além dos Espíritos ção da mediunidade que me Espíritas Bordeleses, que não era
Blaise Pascal (1623-1662), Jean- concedeste como ensejo para a médium “no sentido vulgar da pa-
-Baptiste Massillon (1663-1742) e reabilitação do meu Espírito lavra”,8 não ter possuído, assim, uma
supervisão do Espírito de Verdade. culpado. A chama imaculada “mediunidade efetiva”,8 foi o pa-
Juntos, constroem o segundo vo- que do Alto me mandaste, com radigma desses quatro pilares do
lume da Codificação Espírita, O Li- a revelação dos pontos da tua compromisso mediúnico, porque
vro dos Médiuns, publicado em 15 Doutrina, a mim confiados pa- desde os primeiros contatos com
de janeiro de 1861, ou “Guia dos ra desenvolver e aplicar, eu ta o Espírito Verdade, a partir de 12
Médiuns e dos Evocadores”, com a devolvo, no fim da tarefa cum- de junho de 1856, identificou e
segunda edição lançada no mesmo prida, pura e imaculada confor- teve lúcida compreensão da missão
ano, contendo novas instruções. me a recebi [...].6
Foi graças ao estudo de O Livro
dos Médiuns, que dedicadas pes- A exemplo de Yvonne Pereira,
soas paranormais, facilitadoras das inúmeros outros médiuns, no de-
comunicações entre os mundos correr da História, têm sido para-
físico e espiritual, forjaram as suas digmas daqueles que honraram as
faculdades medianímicas, a exem- quatro nobres verdades do compro-
plo de Divaldo Franco (1927-), misso mediúnico:
Yvonne do Amaral Pereira (1900-
-1984), Francisco Cândido Xavier a) a identificação do compro-
(1910-2002) e vários outros, exer- misso,
cendo-as com Jesus. b) a preparação para o compro-
Tudo aquilo que aprendemos misso,
estudando O Livro dos Médiuns são c) a compreensão do
saberes indispensáveis a todo mé- compromisso, e
dium espírita. Mas, um desses sa-
beres, que devemos deixar sinaliza-
do em nossas mentes e em nossos
corações, como torre de vigia para
o exercício da mediunidade com
Jesus, é aquele que o Espírito Vianna
de Carvalho posiciona como fenô-
meno mediúnico mais importan-
te, neste alvorecer do terceiro mi-
lênio, o da moral do homem,5 atra-

Dezembro 2011 • Reformador 475 37


que ia empreender; preparou-se mações que pudemos obter nas piritismo e, também, por que não
então convenientemente, dedican- memórias do Codificador, exara- dizer, para a certificação da me-
do-se exclusivamente à grandio- das na segunda parte do livro diunidade, a fim de que ela adqui-
sa tarefa, sobretudo santificando Obras Póstumas.10 risse cidadania científica, cidada-
o compromisso com excepcional A segunda edição de O Livro nia ética de comportamento mo-
dedicação à Causa e cumprindo a dos Espíritos, publicada em março ral e, sobretudo, fosse empregada
promessa de Jesus. de 1860, concretizou-se devido ao de modo útil, de alcance social.
Naquele momento ele ainda compromisso mediúnico de outra A partir do século XX e neste
era o “professor Denizard Rivail”, jovem médium, Ermance De La século XXI, a compreensão da me-
e a sua sintonia com o seu Ben- Jonchére Dufaux (1841-?), de 17 diunidade também como manda-
feitor espiritual emociona, ao res- anos, que tudo indica ter sido um to mediúnico, um sacerdócio de
ponder-lhe: dos membros fundadores da So- amor, adquire objetivos elevados
ciedade Parisiense de Estudos Es- visando iluminar consciências.
Espírito Verdade, agradeço os píritas, a SPEE, juntamente com o Podemos perguntar, neste ins-
teus sábios conselhos. Aceito seu pai, o Sr. Dufaux.11 tante: Como Allan Kardec, Yvon-
tudo, sem restrição e sem ideia Foram mais de dez médiuns12 ne Pereira, Francisco Cândido
preconcebida.9 que colaboraram com o Codifi- Xavier, Divaldo Franco, consegui-
cador em sua missão; médiuns ram manter fidelidade às quatro
E, em seguida, dirige comove- conscientes do seu compromisso nobres verdades do compromisso
dora prece a Deus: mediúnico. mediúnico?
As meninas Baudin, Ermance Recorramos ao bondoso Espí-
Senhor! Já que te dignaste lançar Dufaux, Eusapia Palladino (1854- rito Joanna de Ângelis que decla-
os olhos sobre mim para cum- -1918), Elisabeth d’Espérance ra: “[...] com Jesus, o Excelso Mé-
primento dos teus desígnios, fa- (1855-1919), Florence Cook (1856- dium de Deus [...] a mediunidade
ça-se a tua vontade! A minha vida -1904), foram médiuns notáveis recebeu o selo da mansidão e a
está nas tuas mãos; dispõe do que pertenceram àquelas fases que diretriz do amor, a fim de se trans-
teu servo. [...] Ampara-me nos inicialmente integraram o pe- formar em luminosa ponte”, e no
momentos difíceis e, com o teu ríodo que Allan Kardec chamou “exercício da mediunidade com
auxílio e o amparo dos teus celes- de elaboração do Espiritismo, e que Jesus, isto é, na perfeita aplicação
tes mensageiros, tudo farei para Charles Richet (1850-1935), em dos seus valores em benefício da
corresponder aos teus desígnios.9 seguida, dividiu em Períodos Espi- criatura, em nome da Caridade, é
rítico e Científico,13 este último ini- que o ser atinge a plenitude das
Esta é a oração do médium ciado por William Crookes (1832- suas funções e faculdades, conver-
consciente de suas obrigações e -1919), em 1872, os quais foram tendo-se em celeiro de bênçãos”.14
responsabilidades. importantes na consolidação do A partir dessa prática, não é o
A elaboração da obra titular bá- surgimento do Consolador na Ter- médium mais que vive, é o Cristo
sica da Doutrina Espírita, O Livro ra, para comprovação da imorta- que vive nele.
dos Espíritos, somente foi possível lidade da alma, atraindo pesquisa- Nesse contexto, e no ensejo das
graças ao efetivo e correto com- dores e cientistas interessados nos comemorações em torno do Ses-
promisso mediúnico de duas meni- fenômenos chamados psíquicos. quicentenário de O Livro dos
nas francesas, Caroline e Julie Naqueles momentos, em Paris Médiuns, podemos afirmar que
Baudin, de 16 e 14 anos, respecti- e em diversas partes do mundo, essa obra está não somente im-
vamente, e da médium Ruth- estavam sendo dados os primeiros pregnada das leis da mediunidade
-Céline Japhet, consoante as infor- passos para a Codificação do Es- e dos postulados científicos da

38 476 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
prática espírita, mas também das
diretrizes evangélicas para o exer-
cício seguro, equilibrado e ético
do intercâmbio mediúnico.
Sobre os médiuns
Referências:
1
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro
T odos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à
causa do Espiritismo, na medida de suas faculdades, mas são
Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: poucos os que não se deixam prender nas armadilhas do amor-
FEB, 2011. Cap. 17, it. 59. -próprio. É uma pedra de toque, que raramente deixa de produzir
2
NÁUFEL, José. Do ABC ao infinito. Espiri-
efeito. Assim é que, de cem médiuns, encontrareis, no máximo, um
tismo experimental. Fenomenologia e me-
diunidade. Editora Éclat. V. 2; tomo 3, p. 33. que, por muito ínfimo que seja, não se tenha julgado, nos primei-
3
PIRES, Herculano. Mediunidade. EDICEL, ros tempos da sua mediunidade, fadado a obter coisas superiores e
1978. p. 44.
4
predestinado a grandes missões. Os que sucumbem a essa vaidosa
HALFELD, Kleber. Um espírito chamado
expectativa – e grande é o número deles – se tornam inevitavel-
Erasto. In: Reformador, ano 111, n. 1.975,
p. 20(304)-23(307), out. 1993. mente presas de Espíritos obsessores, que não tardam a subjugá-
5
FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. -los, lisonjeando-lhes o orgulho e apanhando-os pelo seu lado
Pelo Espírito Vianna de Carvalho. 3. ed.
fraco. Quanto mais eles pretenderem elevar-se, tanto mais ridícula
Salvador: LEAL. p. 42.
6
PEREIRA, Yvonne do Amaral. Recorda-
lhes será a queda, quando não desastrosa.
ções da mediunidade. 4. ed. 3. reimp. Rio As grandes missões só são confiadas aos homens de escol, e Deus
de Janeiro: FEB, 2011. Introdução, p. 9-10. mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e na posição
7
Abordagem da equipe do Projeto Ma-
em que possam prestar concurso eficaz. Nunca será demais reco-
noel Philomeno de Miranda – Seminário
de 21/11/2010, em Salvador, BA. mendar aos médiuns inexperientes que desconfiem do que certos
8
KARDEC, Allan. Reunião geral dos espíri- Espíritos podem dizer, com relação ao suposto papel que eles são
tas bordeleses – Discurso do Sr. Allan chamados a desempenhar, porque, se o tomarem a sério, só colhe-
Kardec. In: Revista espírita: jornal de es-
rão desapontamentos nesse mundo, e severo castigo no outro.
tudos psicológicos, ano 4, p. 491, nov.
1861. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Convençam-se bem de que, na esfera modesta e obscura onde se
2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. acham colocados, podem prestar grandes serviços, auxiliando a
9
______. Obras póstumas. Trad. Evandro
conversão dos incrédulos, ou consolando os aflitos. Se daí tiverem
Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
P. 2, p. 369.
de sair, serão conduzidos por mão invisível, que lhes preparará os
10
______. ______. p. 348 e 352-353. caminhos, e serão postos em evidência, por assim dizer, mesmo
11
______. ______. p. 383. sem se darem conta disso. Que se lembrem destas palavras: “Aquele
12
______. ______. p. 353.
13
que se exaltar será humilhado e o que se humilhar será exaltado”.
RICHET, Charles. Tratado de metapsí-
quica. São Paulo: Ed. LAKE. p. 35.
14
FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas.
O Espírito de Verdade
Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 9. ed. Rio
Fonte: KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. Desen- 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 31, it. 15, p. 595-596.
volvimento, p. 128, it. Conclusão, p. 130.

Dezembro 2011 • Reformador 477 39


Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas
Resumo do Regulamento1
(Continuação do artigo O Livro dos Médiuns – Sociedades Espíritas, p. 5.)

1. Fundação da Sociedade: 1o
de abril de 1858. “Autorizada
pelo Decreto do Sr. Prefeito
de Polícia, em data de 13 de
abril de 1858, de acordo com o
aviso do Exmo. Sr. Ministro do
Interior e da Segurança Geral”.

2. Fins e formação da Socieda-


de: este conteúdo faz parte do
capítulo I do Regulamento,
organizado em sete artigos
que tratam do objeto da So-
ciedade (“o estudo de todos
os fenômenos relativos às
manifestações espíritas e suas
aplicações às ciências mo- Palais-Royal, onde se encontra a Galeria Valois no 35, na qual a Sociedade
rais”); do quadro de sócios realizou, a princípio e durante um ano, as suas sessões
(“sócios titulares, de associa-
dos livres e de sócios corres- lhos”); do pedido de associa- número dos associados”); dos
pondentes e [...] sócio hono- ção (“o pretendente deve sócios correspondentes (“são
rário”); das condições de afi- dirigir ao Presidente um pe- os que, não residindo em Pa-
liação (“A Sociedade só admi- dido escrito, endossado por ris, mantenham relações com
tirá as pessoas que simpati- dois sócios titulares”); dos a Sociedade”).
zem com seus princípios e sócios titulares (“que a pessoa
com o objetivo de seus traba- tenha sido, pelo menos du- 3. Administração: em nove arti-
rante um ano, associado li- gos (do 8o ao 16) constam
1
vre, tenha assistido a mais de informações relativas ao pro-
N. da R.: Veja texto completo no capítulo
30 de O livro dos médiuns, de Allan
metade das sessões”); número cesso de gestão, cargos e fun-
Kardec, tradução de Evandro Noleto de sócios (“A sociedade limi- ções dos membros integrantes
Bezerra, FEB Editora. tará, se julgar conveniente, o da Sociedade (“A Sociedade é

40 478 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 1
nos artigos 17 à Sociedade, podendo os
ao 22, dia das médiuns que as receberam
sessões doutriná- tirar uma cópia. As sessões
rias (às sextas- particulares serão reserva-
-feiras), sessões ge- das aos membros da Socie-
rais (2as e 4as sex- dade.”).
tas-feiras de ca-
da mês), horá- 5. Disposições diversas: sete ar-
rios, tipos de reu- tigos que integram o capítulo
niões (particula- IV, os quais apresentam con-
res ou públicas), siderações sobre o compro-
atitudes sugeri- misso, moral e intelectual, as-
das aos frequen- sumido pelos associados com
tadores (“O si- a Sociedade. Fazem referên-
lêncio e o reco- cia aos critérios de exame de
lhimento são ri- obras espíritas publicadas e à
gorosamente exi- elaboração de um relatório
gidos durante as por um dos membros, pre-
sessões e, princi- viamente indicado, cujo con-
palmente, du- teúdo será publicado na Re-
A partir de 20 de abril de 1860, a Sociedade ficou
rante os estu- vista Espírita, se aprovado pe-
definitivamente instalada na rua Sainte-Anne no 59,
Passage Sainte-Anne
dos”); cuidados la diretoria. Os quatros últi-
com as mensa- mos artigos (26 ao 29) espe-
administrada por um dire- gens mediúnicas (“Nenhuma cificam condições da relação
tor-presidente, assistido pelos comunicação espírita, obtida sócio–sociedade, sobretu-
membros de uma diretoria e fora da Sociedade, pode ser do no que diz respeito ao uso
de uma comissão. A diretoria lida, sem que antes seja sub- do nome da Instituição, ao
se compõe de: 1 presidente, 1 metida ao presidente, ou à afastamento de associados, a
vice-presidente, 1 secretário comissão, que podem admi- atualização estatutária, sem-
principal, 2 secretários adjun- tir ou recusar a sua leitura. pre que necessária, e quanto
tos e 1 tesoureiro. O diretor- Será arquivada na Sociedade ao valor da manutenção da
-presidente deve dedicar todas uma cópia de toda comuni- “unidade de princípios e o
as suas atenções aos interes- cação estranha, cuja leitura espírito de recíproca tolerân-
ses da Sociedade e da ciência tenha sido autorizada. To- cia” entre todos os membros
espírita. Cabem-lhe a direção das as comunicações obtidas integrantes da Sociedade Pa-
geral e a alta superintendên- durante as sessões pertencem risiense de Estudos Espíritas.
cia da administração [...]. O
presidente é nomeado por três
anos, e os demais membros da Retificando...
diretoria por um ano, sendo
indefinidamente reelegíveis.”). No último verso, em esperanto, da trova “Interfrati1o” (Reformador
de novembro de 2011, p. 33), onde se lê “Sen/ese, en /iuhore”.
4. Sessões: sob este título estão leia-se “Ja sen/ese, /iuhore”.
indicados, no capítulo III,

Dezembro 2011 • Reformador 479 41


Seara Espírita

Filme Nosso Lar no Japão André Marcílio Carvalho, André Luiz Peixinho, An-
o
O filme Nosso Lar foi exibido no 7 Festival Cinema dré Luiz Ramos, César Soares dos Reis, Creuza Santos
Brasil, no Japão, em programa que envolveu, em Lage, Marcel Mariano, Ruth Brasil Mesquita, Anto-
sequência, as cidades de Tóquio, Osaka, Quito e nio Cesar Perri de Carvalho, que representou a FEB,
Hamamatsu, no período de 16 de outubro a 12 de além de dezenas de expositores. Informações: <www.
novembro. Informações: <http://2011.cinemabrasil.in feeb.com.br>.
fo>; <wagner.assis@cineticafilmes.com.br>.
Distrito Federal: Edificando a Era da
O Filme dos Espíritos com expressiva Regeneração
frequência O 13o Encontro de Trabalhadores Espíritas, que con-
O Filme dos Espíritos conta a trajetória de um ho- tou com o apoio da Federação Espírita do Distrito
mem que se transforma com a leitura de O Livro dos Federal, foi realizado em 23 de outubro no Centro
Espíritos. Na sua avant-première, em Brasília, contou Espírita Aprendizes do Evangelho, na cidade de Pla-
com representação da FEB e, desde o lançamento na- naltina, e trabalhou o tema “Edificando a Era da Re-
cional no dia 7 de outubro, tem atraído expressiva generação”. Informações: <www.fedf.org.br>.
quantidade de espectadores. É uma produção da Fun-
dação Espírita André Luiz e da Mundo Maior Filmes. M. G. do Sul: Encontros sobre Mediunidade,
Informações: <www.mundomaiorfilmes.com.br>. Médico e Jurídico
Nos dias 1o e 2 de outubro, a Federação Espírita de
Alagoas: Bienal do Livro Mato Grosso do Sul realizou, em Campo Grande, o
A Federação Espírita do Estado de Alagoas manteve Encontro Estadual Trabalhadores da Mediunidade,
um estande na IV Bienal Internacional do Livro de em comemoração dos “150 anos de O Livro dos
Alagoas, realizada de 30 de outubro a 8 de novembro, Médiuns”, e contou com as representantes da FEB,
promovida pela Universidade Federal de Alagoas, no Aldenice Cousseiro de Carvalho e a diretora Edna
Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Fabro. Também com o apoio da FEMS, e como
Jaraguá. Informações: <www.feeal.org.br>. resultado da parceria das Entidades Especializadas
– AJE e AME – ocorreu, nos dias 22 e 23 de ou-
Pernambuco: 150 anos do Auto-de-Fé de tubro, o I Congresso Jurídico-Médico-Espírita de
Barcelona Mato Grosso do Sul, com o tema “O Paradigma
No dia 9 de outubro, a Federação Espírita Pernam- Espiritualista para a Ética e a Saúde”. Informações:
bucana realizou uma Sessão Especial, na sua sede, <www.fems.org.br>.
pelos 150 anos do Auto-de-Fé de Barcelona, sen-
do expositor Humberto Vasconcelos. Informações: Rondônia: Formação de Monitores de
<www.federacaoespiritape.org>. ESDE
Com o objetivo de formar novos monitores para
Bahia: Congresso Espírita o ESDE, de aperfeiçoar a utilização de técnicas, e
A Federação Espírita do Estado da Bahia promoveu conscientizar para a importância dos laços de ami-
o XIV Congresso Espírita da Bahia nos dias 3, 4, 5 e zade entre os participantes do ESDE, a Federa-
6 de novembro, no Centro de Convenções, em Salva- ção Espírita de Rondônia promoveu, no dia 22 de
dor, com o tema central “O Primado do Espírito”. outubro, o Curso de Aperfeiçoamento e Formação
Contou com palestras de Divaldo Pereira Franco, que para Monitores de ESDE. Informações: <www.fero.
abriu o evento, Adilton Pugliese, Alberto Almeida, org.br>.

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