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DEUS, CRISTO E CARIDADE

FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE ANO 138 | N° 2.294 | MAIO 2020

FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

MEDIUNIDADE
ATORMENTADA
Ausência de Jesus,
indisciplina, falta
de estudo...
9 771413 1740 08
ISSN 1413 - 1749

Metempsicose
Os romances históricos de Emmanuel
R$ 15,00
10,00 Considerações sobre a fé
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da FEB ou no site da FEB Editora:
Expediente Sumário

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
04 Editorial
O mais perfeito e inigualável Guia e Modelo
05 Capa
Tormentos na mediunidade
Manoel Philomeno de Miranda (Espírito)
Fundada em 21 de janeiro de 1883 08 A túnica da inocência – Mário Frigéri
Fundador: Augusto Elias da Silva
13 Metempsicose – Luiz Julião Ribeiro
17 Fidelidade à Doutrina Espírita
Waldehir Bezerra de Almeida
Revista de Espiritismo Cristão 20 Esflorando o Evangelho
Ano 138 | N° 2.294 | MAIO 2020 O Trabalhador Divino / La Dia Laboristo
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da Federação
21 Convicção espírita – José Carlos da Silva Silveira
Espírita Brasileira
Diretor: Jorge Godinho Barreto Nery
25 Realidade essencial – Clara Lila Gonzalez de Araújo
Editor: Evandro Noleto Bezerra
Redação: Affonso Borges Gallego Soares, Geraldo 28 Tormentos da obsessão – Servos despreparados
Campetti Sobrinho, Hélio Blume, José Carlos da Silva D. Dinis
Silveira e Marta Antunes de Oliveira de Moura
Jornalista Responsável: Carlos Roberto Campetti 33 A construção da nova mentalidade
- DRT DF 539/83 Dalva Silva Souza
Coordenadora da Editora: Rosiane Dias Rodrigues
Projeto gráfico: Eward Siqueira Bonasser Jr. 36 Em Dia com o Espiritismo
Diagramação: Rones Lima – instagram.com/
bookebooks_designer O Evangelho, os rituais religiosos e as ideias materialistas
Revisão: Mônica dos Santos Marta Antunes Moura
Brasil Espírita: Mayara Paz Costa
Capa: Arte Rones Lima 41 Os deficientes e a realidade espiritual
Foto: istockphoto/FollowTheFlow Orlando Ayrton de Toledo
Registro de publicação n° 121.P.209/73 (DCDP do 43 Os romances históricos de Emmanuel
Departamento de Polícia Federal do
Ministério da Justiça) Wesley Caldeira
CNPJ: 33.644.857/0002-84
I.E.: 81.600.503 48 Mea-culpa – Patrícia Carvalho Saraiva Mendes

Direção e Redação 51 Páginas Escolhidas


SGAN 603 Conjunto F — L2 Norte Considerações sobre a fé – Léon Denis
CEP: 70830-106 — Brasília (DF)
redacao.reformador@febnet.org.br 53 Mediunidade atormentada – Emmanuel (Espírito)
//////////////// 54 O Centro Espírita e as novas demandas da
www.febnet.org.br
feb@febnet.org.br
era pós-moderna
Xerxes Luna
PARA O BRASIL
Assinatura anual: R$ 150,00 57 AEE – I Encontro de Educadores Espíritas do
Assinatura digital: R$ 50,00 Estado do Pará
UEP-DECOM
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual: US$ 100,00 59 Importância da resiliência no atendimento fraterno
Contatos para Assinatura:
Silvana Honorato
Tel.: (61) 2101.6153
www.feblivraria.com.br
www.souleitorespirita.com.br 62 BRASIL ESPÍRITA
Editorial

O mais perfeito e
inigualável Guia e Modelo
///////////////////////////////////////////

A
História da Humanidade seus testemunhos são inigualá- alterará, pois, com o passar
registra a vida e os feitos veis, registrados de forma úni- do tempo, Ele é o único que,
das personalidades que ca, distinta e evidenciados pela pacientemente, permanece
se destacaram nas diversas áreas História que o colocou como esclarecendo, crescendo no
do saber; cada uma, como mis- referência, dividindo-se em ­entendimento e consolando as
sionária ou não, pautou sua vida ­períodos antes e depois d’Ele. multidões em sofrimento, com
em conformidade com suas Sua importância é tão signi- o seu inigualável amor, ­mesmo
convicções exaradas em seus ficativa que, com todo respeito continuando ainda incom-
pensamentos, comportamentos às inteligências registradas pela preendido, vilipendiado, tortu-
ou doutrinas, i­ nfluenciando mi- História, se as reunirmos todas rado, desfigurado e crucificado
norias ou grande ­percentual da ante sua personalidade crística, por aqueles que estacionam nas
Humanidade. não passam de uma pálida ideia zonas inferiores com as quais
No entanto, raras foram as comparada com sua grandeza se sintonizam.
que conseguiram que suas ideias espiritual e intelecto-moral, tal Cabe, no entanto, aos seus
ou doutrinas perdurassem atua- a sua evolução. discípulos, nestes dias em que
lizadas ao longo dos tempos e Allan Kardec, em seu co- Ele ainda continua a ser in-
com seus adeptos aumentando mentário à questão 625, de O compreendido, em que o seu
consideravelmente nos séculos livro dos espíritos, nos diz que amor se faz tão necessário,
posteriores, desafiando as mu- “Para o homem, Jesus constitui seguir a sua recomendação,
danças e o progresso inexorável. o tipo da perfeição moral a que testemunhando o “amar ao
Dentre esses, somente ­Jesus a Humanidade pode aspirar na próximo como a si mesmo”
conseguiu sensibilizar seus se- Terra. Deus no-lo oferece como e colocando-o no seu devido
guidores tão profundamente o mais perfeito modelo e a dou- lugar, como o mais perfeito e
que a sua mensagem libertado- trina que ensinou é a expressão inigualável Guia e Modelo a
ra vem, ao longo dos milênios, mais pura da Lei do S­ enhor, por- ser seguido, porque o Espírito
sendo, cada vez mais, melhor que, sendo Ele o mais puro de Divino o anima.
compreendida, vivenciada por quantos têm aparecido na T ­ erra,
seus discípulos e respeitada o Espírito divino o a­nimava”
REFERÊNCIA:
pela maioria da Humanidade. (KARDEC, 2019).
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Além disso, sua influência Estejamos ou não convic- Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 8. imp.
é tão admirável e tocante que tos desta realidade, ela não se (Edição Histórica) Brasília: FEB, 2019.

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C a pa

Tormentos
na mediunidade
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Manoel Philomeno de Miranda (Espírito)

A
faculdade mediúnica, em dívidas perante os Divinos até, quase que simultaneamen-
embora seja de nature- Códigos, pode expressar-se em te, como alteração profunda
za orgânica, tem as suas caráter múltiplo de expiação, de comportamento.
raízes profundas no ser espiri- quando portadora de posses- Invariavelmente expressa-se
tual, como tudo que constitui a são, ou de provação, abençoado como enfermidades comple-
­criatura humana. campo de experiências ilumi- xas, de natureza diversificada
Sendo uma expressão do nativas. Igualmente, quando e sem facilidade de diagnósti-
sexto sentido, os valores éti- bem educada à luz do Espiritis- co, em razão das alterações em
cos-morais de cada Espírito mo, o que podemos denominar que se apresenta. Entretanto,
respondem pelas ocorrên- como mediunidade com Jesus o seu vigor é mais angustiante
cias nessa delicada área que a serviço do Bem, ergue o ser nos fenômenos psicológicos,
lhe faculta o desenvolvimento às culminâncias da alegria, da como consequência dos neuro-
­intelecto-moral. plenitude, ao mediunato, que peptídios acionados pelas suas
Não é, pois, de se estranhar, o não exime de experimen- ­energias desconexas...
que a sua eclosão em qualquer tar sofrimentos e persegui- Os comportamentos infe-
período da existência huma- ções dos Espíritos inferiores, lizes de existências passadas
na se caracterize por alguns que transforma em bênçãos de mesclam-se com as necessi-
naturais distúrbios, tanto de ­inestimável significado. dades evolutivas do presente
natureza física, emocional,
­ Não raro, apresenta-se e dão lugar a conflitos diver-
como psíquica. como distúrbio de natureza sos, em razão dos conteúdos
Apresentando-se como variada, desde as manifesta- morais de que se fazem por-
oportunidade redentora do ser ções de diversidade de humor, tadores os Espíritos que são

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a­traídos mediante as aspira- o médium, conforme as dire-
ções de cada qual. trizes estabelecidas por Allan
Instabilidade emocional, Kardec, é fundamental para o
personificações múltiplas, ane- seu mister, quais sejam: a ab-
los frustrados, incertezas acerca negação, a ausência de estrelis-
das próprias necessidades são mo, a gratuidade e a doçura do
o cotidiano dos iniciantes no coração tornando-se ímãs de
exercício mediúnico ou naque- atração aos Espíritos bons, que
les que somente lhes sofrem as passarão a administrar as suas
imposições e lhe desconhecem manifestações.
a existência. Se desejas candidatar-te ao
Sempre a mediunidade es- exercício da mediunidade com
teve cercada de superstições e Jesus, não te permitas as va-
práticas não compatíveis com o cuidades humanas nem as suas
seu significado. perturbadoras concessões.
Mesmo na atualidade, em Considera o alto grau de res-
que os fenômenos paranor- ponsabilidade que te é concedi-
mais têm merecido estudos e do e alegra-te pela ­oportunidade
considerações de diversas dou- feliz de servir.
trinas científicas, constatando- Informações destituídas de
-lhes a possibilidade, em razão significado tornaram a mediu-
dos complementos morais que nidade algo dependente de su-
exige, tem sido vista pelos in- perstições, mitos, quando não
divíduos comuns como casti- de graves danos para aquele que
go de Deus ou ­desequilíbrio a pratica.
­psiquiátrico. Grandioso portal para de-
À semelhança da inteligência monstrar a imortalidade do
e da memória, assim como de Espírito é veículo de incompa-
todas outras faculdades huma- ráveis alegrias, dando sentido e
nas, aguarda cuidados especiais, significado à existência física.
para bem atender a ­finalidade Graças aos seus valiosos re-
para a qual é destinada. cursos faculta a vivência espiri-
Exercício meticuloso e sério, tual de maneira incomum, por
reflexão constante, análise cui- favorecer a compreensão de to-
dadosa das suas manifestações, das as ocorrências que aturdem
estudo pessoal do sistema ner- ou felicitam o ser humano.
voso e das reações emocionais Ademais dos benefícios pro-
constituem métodos eficazes porcionados aos seus portado-
para o seu êxito. res, que devem sempre aceitar
Simultaneamente, o ideal para si os conteúdos de que se
de servir que deve caracterizar reveste, enseja a iluminação

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das consciências obnubiladas culoso e fantasista, ao mesmo
que atravessaram os portais da tempo permitindo que todo
desencarnação em profundo aquele que se integre ao espí-
estado de perturbação, tendo rito do bem logre realizações
prolongadas suas dores mes- ­equivalentes.
mo após a decomposição das Quem se lhe dedique ho-
­estruturas orgânicas. nestamente, não teme os
À medida que se expan- sofrimentos que somente
­
dam as informações corretas ocorrem por fazerem parte da
a respeito da mediunidade e a ficha evolutiva, para superar os
sua prática se torne habitual, testemunhos do conhecimento
desaparecerão os tormentos, e o estímulo à caridade a que se
pois que, afinal, nenhuma res- pode dedicar.
ponsabilidade tem a percepção Convidando sempre à vigi-
encarregada de exteriorizar as lância, eis que rutila como uma
captações de que se faz objeto. estrela na alma devotada ao
Em razão dessa sensibili- amor, sendo portal que faculta
dade, as obsessões tornam-se penetrar na senda que leva a
­comuns naqueles que são ini- Jesus.
ciantes no exercício da faculda- Resguarda, portanto, as tuas
de ou não a praticam pelo fato forças mediúnicas da vileza dos
de gerar sintonia com os Espí- Espíritos insensatos e perver-
ritos que transitam em idêntico sos, tornando-te instrumento
padrão vibratório. do amor de Deus a todos e a
Essa ocorrência é obser- tudo. Mesmo assaltado, uma
vada igualmente em outras vez que outra, pelos ardilosos e
funções existenciais, como o infelizes adversários da Luz, re-
­comportamento, as aspirações cupera-te, recobrando a alegria,
e ­necessidades. agradecido pela oportunidade
A cuidadosa observação das de s­ ocorrer e autoiluminar-te.
ocorrências mediúnicas e da Abençoa a tua mediuni-
conduta psicológica faculta o dade com o respeito e a de-
discernimento necessário para dicação que merece de todos
a educação tanto das emoções que anelam pela plenitude da
como dos fenômenos. ­existência.
O Espiritismo nela encon-
trou o veículo hábil e fiel para //////////////////
estabelecer os seus alicerces, (Página psicografada pelo médium
confirmando a especial feno- ­Divaldo Pereira Franco, no dia 11 de
junho de 2018, no Centro Espírita
menologia apresentada por Caminho da Redenção, em Salvador,
Jesus, demitizando-a do mira- Bahia.)

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A túnica
da inocência
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já
agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto
juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas também a
todos quantos amam a sua vinda.” – Paulo (2 Timóteo, 4:7 e 8)

///////////////////////////////////////////

Mário Frigéri*
mariofrigeri@uol.com.br

1. A túnica da inocência, no para essa realidade e sabem fa- – Bem-aventurados os que são
Espiritismo (como veremos zer da sucessividade das horas misericordiosos, it. 18).
no final deste artigo), e a co- uma permanente aquisição de
roa da justiça, no Cristianismo luz para si mesmos na obra do 2. A túnica da inocência é o
(como vimos na epígrafe), são Consolador! prelúdio do sublime concerto que
as duas faces da mesma moe- um dia estabelecerá a união entre
da – a veste pura como o lírio Espiritismo! Doutrina conso- os homens e a Consciência Divi-
e a coroa preciosa como o ouro ladora e bendita! Felizes os que na. Em catadupas de luz, falanges
de que um dia se verão revesti- te conhecem e tiram provei- descem do Infinito sobre todos os
dos e coroados os verdadeiros to dos salutares ensinamentos povos do mundo, conclamando
trabalhadores da vinha do Se- dos Espíritos do Senhor! [...] as criaturas humanas à harmo-
nhor. Quão ­ bem-aventurados – Dufêtre, bispo de N ­ evers nização de sentimentos e à unifi-
são aqueles que já despertaram (KARDEC, 2018, cap. 10 cação de ideais em torno daquele

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que é o Caminho, a Verdade e a e se transforma num Vencedor, família humana, porque essa
Vida para toda a Eternidade. nos moldes estabelecidos pelo família todos a encontrareis,
­
Redentor da Humanidade! dentro de certo período, em
As grandes vozes do Céu res- mundos mais adiantados, já que
soam como sons de trombetas, Espíritas! Amai-vos, este o pri- os Espíritos que a compõem
e o cântico dos anjos se lhes meiro ensinamento; instruí-vos, são, como vós, filhos de Deus,
associa. Homens, nós vos con- este o segundo. Todas as verdades marcados na fronte para se ele-
vidamos ao divino concerto. encontram-se no ­Cristianismo; varem ao infinito. – ­Sansão, ex-
­Tomai da lira; que vossas vozes os erros que nele se arraiga- -membro da Sociedade Espírita
se unam e que, num hino sagra- ram são de origem humana. E de Paris (KARDEC, 2018, cap.
do, elas se estendam e vibrem eis que do A ­ lém-Túmulo, que 9 – Amar o próximo como a si
de um extremo a outro do Uni- julgáveis o nada, vozes vos cla- mesmo, it. 10).
verso. – O Espírito de Verdade mam: “Irmãos! nada perece.
(KARDEC, 2018, Prefácio). ­Jesus Cristo é o vencedor do mal, 6. A túnica da inocência,
sede os vencedores da impieda- com seus eflúvios divinos, ace-
3. A túnica da inocência é o de”. – O Espírito de ­Verdade lera a evolução do homem,
princípio da libertação espiritual (­
KARDEC, 2018, cap. 6 – O dissolvendo o núcleo duro de
do homem, iluminando-lhe as Cristo ­Consolador, it. 5). seu personalismo desagrega-
potencialidades da mente, ainda dor, levando-o a integrar-se no
envolta pela escuridão dos sec- 5. A túnica da inocência espírito daquela identificação
tarismos humanos, e apontan- rompe o egoísmo que amesqui- cósmica revelada por Jesus no
do-lhe a verdadeira vereda por nha o homem e faz de seu con- Evangelho: Eu e o Pai somos um.
onde deve conduzir seus passos, quistador um ser feliz, que ama Arrebatado a esse nível superior
conforme o roteiro de luz traça- e se doa, que socorre e conso- e imerso num oceano de ener-
do pelos Mensageiros do Senhor: la, pleno de empatia por seus gias celestiais, sente em si toda
irmãos em Humanidade. Sabe a opulência do Reino dos Céus e
[...] Moisés abriu o caminho; que em toda parte o homem é o desejo irrefreável de transfor-
­Jesus continuou a obra; o Espiri- feito do mesmo limo, à espera má-la em patrimônio extensível
tismo a concluirá. – Um Espírito de um apoio amigo para ele- a toda a Humanidade.
Israelita (KARDEC, 2018, cap. var-se às culminâncias de sua
1 – Não vim destruir a lei, it. 9). ­sublimação espiritual. [...] A lei de amor substitui a per-
sonalidade pela fusão dos seres;
4. A túnica da inocência Amar, no sentido profundo do extingue as misérias sociais. Fe-
dessectariza a alma do verda- termo, é ser leal, probo, cons- liz aquele que, ultrapassando a
deiro trabalhador do bem e a ciencioso, para fazer aos outros sua humanidade, ama com am-
transubstancia numa alma de aquilo que se desejaria para si plo amor os seus irmãos em so-
amplitude universal. Ao imer- mesmo; é procurar em torno de frimento! Feliz aquele que ama,
gir c­ oração e mente no amor do si o sentido íntimo de todas as porque não conhece a miséria
Cristo e na sabedoria do Conso- dores que acabrunham os vos- da alma, nem a do corpo; seus
lador, ele se abre ao mundo, após sos irmãos, para suavizá-las; é pés são ligeiros e vive como que
abraçar a cruz de sua redenção, considerar como sua a grande transportado, fora de si mesmo.

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Quando Jesus pronunciou a divi- inebriada, possa saciar-se no [...] É ainda o amor que dá paz
na palavra – amor, os povos es- seu elemento de vida no seio aos homens, calma ao mar, si-
tremeceram e os mártires, ébrios do Senhor. – Um Espírito Pro- lêncio aos ventos e sono à dor.
de esperança, desceram ao circo. tetor (KARDEC, 2018, cap. 8 – Ensinos de Sócrates e Platão
– Lázaro (KARDEC, 2018, cap. – Bem-aventurados os que têm (KARDEC, 2018, Introdução
9 – Amar o próximo como a si puro o coração, it. 19). IV – Sócrates e Platão, precur-
mesmo, it. 8). sores da ideia cristã e do Espi-
8. A túnica da inocência é ritismo, Resumo da doutrina
7. A túnica da inocência es- tecida com a mesma substância de Sócrates e Platão, it. XVI).
tabelece um patamar ainda des- etérea empregada por Jesus na
conhecido pelo entendimento confecção de suas bem-aventu- 10. A túnica da inocência
humano, em que toda a mes- ranças. Seu possuidor sabe vi- permite ao homem viver as bên-
quinhez humana é substituída venciar as virtudes do Evangelho çãos do futuro, mesmo durante
pelo Amor Universal, que se com a naturalidade da primave- as agruras do presente. Embora
irradia por todos os quadrantes ra ao estender sobre a campina o imerso em um mundo de provas
do Universo. No vértice des- seu intérmino lençol de flores. A e expiações, persevera em sua fé,
se patamar encontra-se a mais prática do bem, tão espontânea alimenta sua esperança, viven-
pura sensação de imortalida- e desinteressada, já é conquista cia sua caridade, trabalhando
de, proporcionando ao homem estabelecida em sua alma com com Jesus para transportar, das
asas de luz para seu voo em embasamento inabalável. dimensões superiores do plane-
­direção ao Infinito. ta para o reino inferior em que
Para se conquistar um lugar estagia, os vislumbres de um
Se tendes amor, possuís tudo o neste reino [do Senhor], são novo Céu e uma nova Terra de
que se pode desejar na ­Terra, necessárias a abnegação, a hu- que está repleno o seu coração.
possuís a pérola por exce- mildade, a caridade em toda a
lência, que nem os aconteci- sua celeste prática, a benevo- No vosso mundo, precisais do
mentos, nem as maldades dos lência para com todos. Não se mal para sentirdes o bem; da
que vos odeiam e perseguem vos pergunta o que fostes nem noite, para admirardes a luz;
poderão arrebatar. Se tendes que posição ocupastes, mas o da doença, para apreciardes
amor, tereis colocado o vosso bem que fizestes e as lágrimas a saúde. Naqueles outros [os
tesouro lá onde os vermes e a que enxugastes. – Uma Rainha mundos superiores], não há
ferrugem não o podem atacar, de França (KARDEC, 2018, necessidade desses contrastes.
e vereis apagar-se insensivel- cap. 2 – Meu Reino não é deste A eterna luz, a eterna beleza, a
mente da vossa alma tudo o mundo, it. 8). paz eterna da alma proporcio-
que possa conspurcar a sua nam eterna alegria, que não é
pureza. Sentireis diminuir dia 9. A túnica da inocência é, perturbada nem pelas angústias
a dia o peso da matéria e, qual acima de tudo, o amor divina- da vida material nem pelo con-
pássaro que voeja nos ares e mente humanizado e com o tato dos maus, que lá não têm
já não se lembra da Terra, su- condão de envolver o homem acesso. Eis o que o espírito hu-
bireis continuamente, subireis e a Natureza no seu manto de mano tem maior dificuldade em
sempre, até que a vossa alma, ­impregnante espiritualidade. compreender. Ele foi engenhoso

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para pintar os tormentos do in- aquilo que o magoa é também trabalhado no campo do Senhor,
ferno, mas nunca foi capaz de o que o sublima e, em vista dis- com desinteresse e sem outro mo-
imaginar as alegrias do Céu. so, enfrenta os desafios da vida tivo, senão a caridade! Seus dias
Por quê? Porque, sendo infe- com a força do amor e a bênção de trabalho serão pagos pelo
rior e só tendo experimentado do perdão, espelhando seu agir cêntuplo do que tiverem espe-
dores e misérias, jamais entre- nos cristãos das primitivas eras. rado. Felizes os que houverem
viu as claridades celestes; só dito a seus irmãos: “Irmãos, tra-
pode falar do que conhece. [...] [...] A caridade que consiste na balhemos juntos e unamos os
– Resumo do ensino de todos os esmola dada aos pobres é a mais nossos esforços, a fim de que o
espíritos superiores (KARDEC, fácil de todas. Todavia, existe Senhor, ao chegar, encontre aca-
2018, cap. 3 – Há muitas mora- outra muito mais penosa e, por bada a obra”, pois o Senhor lhes
das na casa de meu Pai, it. 11). conseguinte, muito mais meri- dirá: “Vinde a mim, vós que sois
tória: a de perdoarmos àqueles bons servidores, vós que sou-
11. A túnica da inocência que Deus colocou no nosso cami- bestes impor silêncio aos vossos
amplia de tal forma a compreen- nho para serem instrumentos ciúmes e às vossas discórdias, a
são de seu possuidor, que este, do nosso sofrer e para provarem fim de que daí não viesse dano
consciente de que a cada um é a nossa paciência. – Um espírito para a obra!” [...] – O Espírito de
dado de acordo com suas obras, amigo (KARDEC, 2018, cap. 9 Verdade (KARDEC, 2018, cap.
quita com júbilo seus débitos – Bem-aventurados os que são 20 – Os trabalhadores da última
pretéritos, amealha novos cré- mansos e pacíficos, it. 7). hora, it. 5).
ditos presentes, e não se deixa
mais seduzir pelo canto de sereia 13. A túnica da inocência 14. A túnica da inocência
das transitoriedades terrenas. coloca o ser humano no centro consolida no Vencedor a con-
geográfico da Seara do Cristo, tinuidade sem intermitência e
[...] Buscai, pois, consolações munido dos implementos ne- a perseverança sem desânimo,
para os vossos males no futuro cessários à sua labuta. De seu proporcionando-lhe alimento
que Deus vos prepara e a causa redobrado esforço surgirão transcendental à alma, espécie
dos vossos males no passado; uma sementeira promissora de maná escondido que pro-
e vós, que mais sofreis, consi- e uma colheita copiosa, ainda mana de invisíveis celeiros da
derai-vos os bem-aventurados que, eventualmente, tenha de Espiritualidade para energizar
da Terra. – Santo Agostinho operar em meio a tarefeiros de- o santuário de seu coração.
(KARDEC, 2018, cap. 5 – Bem- satarefados, que ainda não des-
-aventurados os aflitos, it. 19). pertaram para a sacralidade da Obreiros, traçai o vosso sulco;
missão que lhes foi cometida e recomeçai no dia seguinte a rude
12. A túnica da inocência que, por invigilância, procuram jornada da véspera; o trabalho
conscientiza seu possuidor de embaraçar-lhe a obra. das vossas mãos vos fornece
que o mérito do bem está na aos corpos o pão terrestre, mas
razão direta da dificuldade em Aproxima-se o tempo em que se vossas almas não estão esque-
realizá-lo. Por isso, o homem cumprirão as coisas anunciadas cidas; e Eu, o divino jardineiro,
em processo de tornar-se um para a transformação da Huma- as cultivo no silêncio dos vossos
Vencedor com Jesus, sabe que nidade. Felizes os que houverem pensamentos [...]– O Espírito de

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Verdade (KARDEC, 2018, cap. 6 16. A túnica da inocência curai-me, mas fazei que mi-
– O Cristo Consolador, it. 6). leva o seu possuidor a não fazer nha alma enferma se cure
acepção de pessoas ou escolha antes que o meu corpo; que
15. A túnica da inocência de campos de trabalho, pois já a minha carne seja castigada,
propicia o exercício do bem sem compreendeu a diferença entre se necessário, para que minha
nenhum sinal de exterioridade semeadura e colheita. Enquanto alma se eleve até vós com a
nem qualquer espécie de nódoa, a semeadura é o esforço que lhe brancura que possuía quando
por mais descorada que seja, nas- compete, em benefício do pró- a criastes”. [...] – Vianney, cura
cida de uma suposta importân- ximo, para a conquista de sua d’Ars (KARDEC, 2018, cap. 8
cia pessoal. Seu labor santificante iluminação com Jesus, a colhei- – Bem-aventurados os que têm
se processa com a naturalidade ta é atributo exclusivo do Divi- puro o coração, it. 20).
do sereno da noite que orvalhas- no Agricultor, que é o Senhor
se a aridez do deserto, ou da Absoluto e o Ceifeiro Supremo 18. A túnica da inocência, fi-
chuva que caísse mansamente da florescente e centenosa seara. nalmente, é a concessão de Deus
sobre um incêndio no campo, à Humanidade que, um dia, fará
­reverdecendo a paisagem. Ide, pois, e levai a palavra di- cessar o alarido provocado pela
vina: aos grandes que a despre- dor humana e o substituirá por
Quem é esta mulher de ar distin- zarão, aos eruditos que exigirão aquele cântico universal de amor
to, de traje tão simples, embora provas, aos pequenos e simples e fé, estabelecido pelo Cristo
bem cuidado, que se faz acom- que a aceitarão, porque é prin- no Evangelho (Mateus, 23:39)
panhar de uma mocinha tão cipalmente entre os mártires como condição de sua volta
modestamente vestida? Entra do trabalho, desta expiação triunfal a este mundo: “Bendito
numa casa de sórdida aparência, terrena, que encontrareis fer- o que vem em nome do Senhor!”
onde sem dúvida é conhecida, vor e fé. [...] – Erasto, anjo da
pois que à entrada a saúdam guarda do médium (KARDEC, “[...] Dia virá em que todos os ho-
respeitosamente. Aonde ela vai? 2018, cap. 20 – Os trabalhado- mens se revestirão, pelo arrepen-
Sobe até a mansarda, onde jaz res da última hora, it. 4). dimento, da túnica da inocência,
uma mãe de família cercada de e nesse dia não haverá mais gemi-
crianças. À sua chegada, brilha 17. A túnica da inocência é, dos nem ranger de dentes [sobre
a alegria naqueles rostos ema- ao mesmo tempo, para aquele a Terra] [...].” – Platão (KARDEC,
grecidos. É que ela vem acalmar que a detém, o remédio salutar 2019, q. 1009).
todas as dores. Traz o de que da alma e o branquejador de suas
necessitam, acompanhado de vestes nupciais, representando a //////////////////
meigas e consoladoras palavras, solução para todos os seus pro- *N.A.: Todos os grifos são nossos,
­exceto os ressalvados.
que fazem que os seus protegi- blemas e o propulsor que o levará
dos, que não são profissionais da à conquista de sua plenitude nos REFERÊNCIAS:
mendicância, aceitem o benefício altiplanos da Espiritualidade. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
sem corar. [...] – Allan Kardec espiritismo. Trad. Evandro Noleto Be-
zerra. 2. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2018.
(KARDEC, 2018, cap.13 – Não [...] Nas vossas aflições, olhai
______. O livro dos espíritos. Trad.
saiba a vossa mão esquerda o que sempre para o céu e dizei do Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 7. imp.
dá a vossa mão direita, it. 4). fundo do coração: “Meu pai, Brasília: FEB, 2019.

266 12 Reformador | Maio de 2020


Metempsicose
///////////////////////////////////////////

Luiz Julião Ribeiro


luizjuliaoribeiro@gmail.com

M
etempsicose? Mas, pode- No que concerne à reencar- precisem ser compreendidas, in-
rá objetar alguém, o que a nação, podemos dizer que exis- terpretadas e aplicadas, uma vez
doutrina da metempsico- tem aqueles que não a admitem que somos seus destinatários.
se tem a ver com o Espiritismo? em hipótese alguma, os que a Uma das muitas virtudes da
Muita coisa, porquanto a pregam de forma generalizada, Doutrina Espírita é que ela nos
teoria da metempsicose tem como é o caso da metempsico- dá uma ideia bastante precisa e
como fundamento a reencarna- se, e os que a entendem confor- absolutamente racional do está-
ção, porém imaginada de forma me revela a Doutrina Espírita, gio evolutivo da Terra e de seus
indiscriminada, por não levar como uma Lei Natural que rege habitantes, permitindo-nos si-
em conta a Lei Natural que dis- as diversas encarnações do Es- tuar no contexto planetário e
ciplina o fenômeno e as demais pírito em um corpo físico e evidenciar as perspectivas se-
Leis Naturais conexas que re- em absoluta harmonia com as guras para o nosso futuro.
gem o Universo, revelando-se, ­demais leis universais. O espírita sabe onde está, de
por isso mesmo, incompatível Porém, lembramos que as onde veio e para onde vai. Sabe,
com a própria Natureza. Leis Naturais não dependem da também, qual é o seu objetivo
Assim, a metempsicose nossa crença, da nossa aceitação enquanto encarnado. Isso é de
constitui uma doutrina segundo e muito menos da nossa inter- grande importância para os se-
a qual uma mesma alma pode pretação para existir e ser como res inteligentes à medida que vão
animar, sucessivamente, corpos são. Simplesmente existem. evoluindo, exatamente para se
diversos, humanos, animais ou Uma interpretação incom- situarem adequadamente no am-
vegetais, pela transmigração, pleta, equivocada ou contra- biente em que se encontram e, as-
passando, indiscriminadamen- ditória não tem o condão de sim, compreenderem melhor a si
te, de um corpo para outro. modificá-las, muito embora
­ próprios e aos seus s­emelhantes,

Maio de 2020 | Reformador 13 267


bem como cumprirem com o seu i­mportantes para a compreen- como a entendem, não é exata.”
mister no concerto universal. são do próprio ser humano e (KARDEC, 2019).
Imaginemos uma pessoa das circunstâncias da sua vida
que, ao despertar, se veja na en- aqui na Terra, bem como para A pobreza da linguagem
fermaria de um hospital e não explicar o poder, a justiça e o humana, circunscrita ao mun-
saiba que local é esse, quais cau- amor de Deus, em face das di- do material, impede a precisa
sas a levaram a estar ali, qual o versidades que saltam aos olhos, conceituação dos elementos de
seu objetivo naquele lugar e qual entre os seres da Terra, mundo natureza espiritual. Foi por isso
será o seu destino. Ou, então, de provas e expiações, onde ain- que o próprio Cristo ensinava
que se veja sentada numa car- da predomina a prática do mal. utilizando-se de parábolas. O
teira escolar, mas desconheça A investigação do assunto pelo mesmo ainda acontece com o
que se trata de uma escola, que Codificador começa com a ques- ensino ministrado pelos Espí-
ali se encontra como estudante tão 611, da obra já m
­ encionada, ritos, em diversos aspectos. A
e ignore qual o grau de ensino nos termos seguintes: presente pergunta diz respeito
que está cursando e quais são ao princípio inteligente ou es-
seus objetivos naquele lugar. O fato de os seres vivos terem piritual, somente perceptível ao
Certamente se sentirá perdida, uma origem comum no princípio ser humano por meio dos ­efeitos
confusa, vivendo a esmo. inteligente não é a consagração de suas ações inteligentes.
Quando o Espírito, por in- da doutrina da metempsicose? Por isso, o Espírito de Verdade
fantilidade ou outra causa qual- “Duas coisas podem ter a mes- lança mão de uma comparação
quer, ainda não atinou para ma origem e absolutamente não afirmando que a árvore deixa de
esses aspectos, nada disso o in- se assemelharem mais tarde. ser semente a partir do seu nasci-
comoda. À medida que vai ama- Quem reconheceria a árvore, mento e essa árvore não retrocede
durecendo, essa compreensão se suas folhas, flores e frutos no e volta a ser semente. A título de
torna uma necessidade para a gérmen informe contido na se- reforço da ideia exemplificativa
sua paz interior e para que pos- mente de onde ela saiu? Desde diríamos que a ave não retroce-
sa conviver em harmonia com o que o princípio inteligente atinge de e volta a ser ovo. Uma pessoa
ambiente em que habita. o grau necessário para ser Espíri- que chegou aos 40 anos não volta
O tema metempsicose foi to e entrar no período de huma- a ser uma criança de 4 anos. A lei
abordado por Allan Kardec, o nização, já não guarda relação de amadurecimentos dos corpos
Codificador da Doutrina Espíri- com o seu estado primitivo e já físicos dos seres vivos impede que
ta, em O livro dos espíritos (2019), não é a alma dos animais, como tal fenômeno aconteça.
quando formulou apenas três a árvore já não é a semente. No A evolução do Espírito se rea-
perguntas ao Espírito de Verda- homem, só resta do animal o liza pelo desenvolvimento das
de, a respeito desse assunto. corpo e as paixões que nascem suas potencialidades intelectuais
Zeloso como sempre, ­Allan da influência do corpo e do ins- e morais, alterando sua maneira
Kardec não podia silenciar a tinto de conservação inerente à de perceber, racionalizar e sentir
esse respeito, para evitar in- matéria. Não se pode, pois, dizer a si mesmo e a realidade que o
terpretações equivocadas em que tal homem é a encarnação cerca. Isso é o que faz o Espírito
torno da reencarnação, um do Espírito de tal animal. Conse- partir da simplicidade à angeli-
dos fenômenos naturais mais quentemente, a metempsicose, tude e da ignorância à sabedoria.

268 14 Reformador | Maio de 2020


Assim, o Espírito que atingiu a que adquiriu e não o esquece O homem pode retrogradar
angelitude não volta a ser sim- mais. Pode permanecer esta- para o estado de natureza?
ples e aquele que conquistou a cionário, mas não retrograda.” “Não; o homem deve progredir
sabedoria não retorna ao estado (­KARDEC, 2019). incessantemente e não pode
de ignorância. Impossível! voltar ao estado de infância.
Em sequência, Allan ­Kardec Observamos que, embora Se progride, é que Deus as-
formula a questão 612, ­conforme curta, essa resposta é bastante sim o quer. Pensar que possa
segue: rica em sua revelação. Primei- retrogradar à sua condição
ro, o Espírito de Verdade fala da primitiva seria negar a Lei do
O Espírito que animou o corpo busca natural da perfeição pelo ­Progresso.” (KARDEC, 2019).
de um homem poderia encar- Espírito, porque, como o aper-
nar num animal? feiçoamento é regido pela Lei Observamos que na questão
“Isso seria retrogradar, e o Es- do Progresso, Lei Natural, o Es- anterior o Codificador inquire
pírito não retrograda. O rio pírito sente, naturalmente, fome de forma específica sobre o Es-
não remonta à sua nascente.” e sede de progredir e por isso pírito, mas nesta, que estamos
(KARDEC, 2019). busca realizar tudo isso instin- examinando, trata-se de saber
tivamente. Em seguida, elucida se o ser humano – o Espírito
Mais uma vez o Espírito de que o conhecimento adquirido encarnado – pode retrogradar,
Verdade utiliza as Leis Naturais não se perde mais, constituindo obtendo resposta semelhante,
conhecidas para nos convidar conquista definitiva do ser espi- pois o que está em jogo é saber
ao raciocínio, à lógica e à razão, ritual. Prosseguindo, revela que se a Lei do Progresso permite a
lançando mão do exemplo da o Espírito pode, sim, permane- retrogradação do ser humano,
água que brota da nascente e, cer estacionário, isto é, deixar ou seja, se o ser humano que
obedecendo à lei da gravidade, de progredir por algum tempo, hoje habita a Terra poderia, por
segue o seu curso natural, não porém esse estado é sempre exemplo, retornar à condição de
retrocedendo à fonte. O tempo temporário, uma vez que a sede um ser primitivo, degenerar-se.
é um outro exemplo, segue sem- e a fome de progredir se tornam Como vimos, a resposta é não.
pre para adiante; não retrograda. irresistíveis e o Espírito, a qual- Continuando a investigar
O progresso para o Espíri- quer momento, rompe com a es- o tema, o Codificador apre-
to é irreversível. Esse assunto tagnação e busca o seu destino. senta ao Espírito de Verdade
é esclarecido pelo Paráclito em Por último, afirma peremptório a questão 613, formulada nos
resposta à inquirição feita por que o Espírito não retrograda, ­seguintes e precisos termos:
Allan Kardec na questão 118, isto é, segue sempre adiante.
assim exarada: Interessante, também, a inda- Por mais errônea que seja, a
gação feita por Allan Kardec por ideia da metempsicose não re-
Os Espíritos podem degenerar? meio da questão 778, quando ele sultaria do sentimento intuiti-
“Não; à medida que avançam, inquire a respeito, não mais so- vo que o homem possui de suas
compreendem o que os dis- bre o Espírito, mas concernente ­diferentes existências?
tanciava da perfeição. Quando ao ser humano, objetivando não “Esse sentimento intuitivo está
o Espírito termina uma pro- deixar lacunas sobre o tema, presente nessa crença, como
va, fica com o conhecimento conforme transcrição a seguir: em muitas outras. O homem,

Maio de 2020 | Reformador 15 269


porém, o desnaturou, como natureza espiritual, fazendo de- e vice-versa, o que implicaria
costuma fazer com a maio- sabrochar a fé, força propulsora a ideia de retrogradação ou de
ria de suas ideias intuitivas.” das suas realizações como ser fusão. Ora, o fato de não poder
(KARDEC, 2019). criado simples e ignorante, mas realizar-se essa fusão entre os
destinado à perfeição. seres corpóreos das duas espé-
Nessa importante i­ndagação Por isso é que muitas ideias cies mostra que essas espécies
o Codificador busca informa- no campo da espiritualidade se encontram em graus não
ções a respeito dos fundamen- foram imaginadas de forma assimiláveis, devendo dar-
tos originários da crença na incompleta, extravagante ou -se o mesmo com relação aos
metempsicose, porquanto já
­ até mesmo absurda, de acordo Espíritos que as animam. Se
existe uma consciência de que do com a infantil concepção dos um mesmo Espírito pudesse
nada não se origina coisa alguma. seres humanos de cada época, animá-las alternativamen-
Allan Kardec então lança a mas que continham o germe de te, haveria, como resultado,
hipótese do sentimento intuitivo, um princípio perfeito e univer- uma identidade de natureza,
natural no ser humano, de uma sal, que precisa ser lapidado por traduzindo-se pela possibili-
realidade que ele ainda não com- meio da Lei do Progresso. dade da reprodução material.
preende bem e, por isso mesmo, Importante, também, enfati- A reencarnação, tal como os
apenas imagina, de acordo com zar que não se deve confundir Espíritos a ensinam, se baseia,
o seu grau de entendimento, tal consciência com pensamento, ao contrário, na marcha ascen-
como concebe essa realidade. pois a consciência é a sede ou a dente da Natureza e na pro-
Essa indagação do Codifica- essência do próprio ser, a fagu- gressão do homem, dentro da
dor é de todo pertinente, com lha inteligente; já o pensamento sua própria espécie, o que em
supedâneo no princípio anun- é a expressão do sentimento, do nada lhe diminui a dignidade.
ciado pelo Espírito de Verdade raciocínio e da vontade do ser O que o rebaixa é o mau uso
na questão 621, conforme se- consciente ou Espírito. que ele faz das faculdades que
gue: Onde está escrita a Lei de Concluiremos a nossa singela Deus lhe concedeu para o seu
Deus? – “Na consciência”. reflexão transcrevendo uma parte adiantamento. Seja como for, a
Ocorre que, ao ser criado, o dos esclarecimentos lançados por antiguidade e a universalidade
Espírito recebe do Criador, diga- Allan Kardec logo após a resposta da doutrina da metempsicose,
mos assim, uma espécie de DNA à questão 613, conforme segue: bem assim o número de ho-
espiritual, contendo o código mens eminentes que a profes-
genético de todos os elementos A metempsicose seria ver- saram, provam que o princípio
da perfectibilidade do ser espiri- dadeira se por esse termo se da reencarnação tem suas raí-
tual, de modo que, em germe, o entendesse a progressão da zes na própria Natureza. São,
Espírito possui em sua constitui- alma de um estado inferior a pois, antes argumentos a seu
ção todo o amor e sabedoria que, um estado superior; em que favor do que contrários a esse
plenamente desenvolvidos, lhe adquirisse desenvolvimentos princípio. (KARDEC, 2019).
conferirão o estado de perfeição. que lhe transformassem a na-
É esse germe de perfeição REFERÊNCIA:
tureza. Mas é falsa no sentido
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
que lhe dá a intuição das verda- de transmigração direta da Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 7.
des universais, mormente as de alma do animal para o homem imp. Brasília: FEB, 2019.

270 16 Reformador | Maio de 2020


Fidelidade
à Doutrina Espírita
“Estamos defrontados no Espiritismo por uma tarefa urgente: desentranhar
o pensamento vivo de Allan Kardec dos princípios que lhe constituem a
codificação doutrinária, tanto quanto ele, Kardec, buscou desentranhar o
pensamento vivo do Cristo dos ensinamentos contidos no Evangelho.”1

///////////////////////////////////////////

Waldehir Bezerra de Almeida


waldehir.almeida@gmail.com

N
este despretensioso artigo Nosso propósito não é po- preparam para uma vida futura,
não nos dirigimos àqueles lemizar sobre concepções dife- estudando a ciência e a filosofia
que já administram uma renciadas a respeito da prática espíritas; transformá-la em um
Casa Espírita com sólido conhe- e da vivência do Espiritismo campo de trabalho-abnegação,
cimento da Doutrina Espírita e e, muito menos, criticar quem onde cada um tem a chance de
competência para conduzirem deixa de seguir à risca as instru- se modificar interiormente e,
com segurança a instituição. ções dos Espíritos que inspira- ao mesmo tempo, convertê-la
Para eles e para os demais cola- ram o pentateuco Kardequiano. em um hospital transcenden-
boradores o nosso respeito e re- Chamamos ao diálogo aque- te, onde Espíritos encarnados
conhecimento pelo esforço que les que desejam fundar uma e desencarnados encontrem
desenvolvem em manter uma Casa Espírita ou assumir car- o alívio prometido por Jesus.
instituição que tem a missão de gos de direção naquela onde Para esses, move-nos o desejo
estudar, vivenciar e divulgar a atuam, para fazer dela um lar de relembrar o que dizem os
mensagem que liberta consciên- fraterno, onde todos se sintam Espíritos alinhados com o Es-
cias, sendo um dos pilares do em família; mantê-la como uma piritismo codificado por Allan
Movimento Espírita brasileiro. escola de almas, onde todos se Kardec.

Maio de 2020 | Reformador 17 271


Nosso propósito não é colo- alertou aqueles que iriam tratar os conhecimentos só estaremos
car em pauta as práticas distin- da parte experimental do Espiri- mais adiantados para o nosso
tas de muitos companheiros de tismo para não serem enganados estado futuro se formos melho-
instituições espíritas, pois cada pelos Espíritos mistificadores, res. [...]3 (Grifo nosso).
um de nós atua na vida segundo buscando no Espiritismo o que
a concepção que dela faz. Nossa este não lhes poderia dar. E ao Logo, diante dessas asserti-
intenção é a de contribuir com colocar o problema para os Espí- vas, não há como nos enganar-
quem pretende atuar no Movi- ritos responsáveis pelo Codifica- mos e criar balizas diferentes,
mento Espírita com a certeza ção, recebeu a seguinte resposta: buscando adaptar a Doutrina
de que está em consonância dos Espíritos para atender aos
com a mais elevada revelação “Parece-me que podeis achar nossos interesses imediatos ou
espiritual do tempo moderno: a resposta em tudo quanto vos às enganosas sugestões de ou-
o Espiritismo. Para tanto, o pri- tem sido ensinado. Certamen- trem, como se estivéssemos
meiro entendimento é sobre a te, há um meio simples para moral e intelectualmente acima
finalidade do Espiritismo. isso: não pedir ao Espiritismo dos mensageiros de Jesus.
Finalidade é a relação entre senão o que ele vos possa dar. Ora, se o Espiritismo veio
um complexo de coisas, ou de Seu fim é o melhoramento mo- para nos lembrar que somen-
acontecimentos, e um fim. O ral da Humanidade; enquanto te nos aproximaremos do
Dicionário Houaiss ensina que não vos afastardes desse obje- ­Nazareno, reformando-nos in-
finalidade é a “[...] tendência tivo, jamais sereis enganados, timamente, cabe-nos arrancar
para a realização de um fim ou porquanto não há duas manei- das entranhas do pentateuco
objetivo derradeiro, culminân- ras de se compreender a verda- Kardequiano os ensinamentos
cia de um processo passível de se deira moral, aquela que todo de como fazer isso. E somente o
manifestar [...]”. Logo, em fun- homem de bom senso pode estudo sério, continuado e apro-
ção da finalidade organizam-se admitir.”2 (Grifo nosso). fundado, aliado à fé divina e à
os meios para alcançá-la. Deve- fé humana, nos capacitará para
mos usar os meios adequados à E mais ainda, para todos o maior desafio de nossas vidas.
medida que contribuem para se os que liam a Revista Espírita,
alcançar a finalidade colimada. ­insistiu: Espiritismo é religião?
Logo, quaisquer ensinamentos Durante muitos anos o Codi-
e atividades oferecidos na Casa O Espiritismo contribui para a ficador pelejou verbalmente pela
Espírita aos seus trabalhadores regeneração da Humanidade: Revista Espírita, afirmando que o
e frequentadores deverão, de isto é um fato constatado. Ora, Espiritismo não era uma religião
forma clara e objetiva, condu- não podendo essa regeneração e sim uma ciência que nascera
zi-los ao encontro da finalidade operar-se senão pelo progresso da experiência mediúnica, com
da Terceira Revelação. moral, resulta que seu objetivo o uso da razão, dando origem, a
essencial, providencial, é o me- partir dos ensinamentos morais
Qual a finalidade do lhoramento de cada um; os mis- dos Espíritos, a uma filosofia de
Espiritismo? térios que pode nos revelar são vida. Sabia ele que se afirmasse ser
O Codificador, ao publicar a parte acessória, porquanto, ao o Espiritismo uma religião, pura
O livro dos médiuns, em 1861, nos abrir o santuário de todos e simplesmente, o entendimento

272 18 Reformador | Maio de 2020


seria desastroso para a Terceira O laço estabelecido por uma pelos Espíritos Superiores; sim,
Revelação, por que a palavra re- religião, seja qual for o seu ob- no sentido filosófico. E será exa-
ligião, segundo Carlos Massi,4 jetivo, é, pois, essencialmente tamente esse conceito que os
possui o que se chama de polis- moral, que liga os corações, dirigentes das instituições espí-
semia assimétrica, significando que identifica os pensamentos, ritas deverão plantar na mente
que o termo tem um sentido as aspirações, e não somente e nos corações dos adeptos da
dominante, emitindo, sempre, a o fato de compromissos mate- Terceira Revelação, usando as
ideia de culto, altares, santuários, riais, que se rompem à ­vontade, sementes apropriadas.
velas, capelas, templos, amuletos, ou da realização de fórmulas Cremos que com o devido
gestos, rezas, romarias, procis- que falam mais aos olhos do entendimento desses dois con-
sões, peregrinações, exorcismos, que ao espírito. O efeito desse ceitos e consequente semeadura
milagres, adorações, casta sacer- laço moral é o de estabelecer de seus resultados, o avanço do
dotal e dogmas. E o Espiritismo entre os que ele une, como Espiritismo não será retarda-
não comporta nenhum deles. consequência da comunhão do, como o foi por nós o Cris-
Esclarecia: de vistas e de sentimentos, a tianismo. Só assim estaremos
fraternidade e a solidariedade, desentranhando o pensamento
O Espiritismo é, ao mesmo a indulgência e a benevolência vivo de Allan Kardec, como nos
tempo, uma ciência de obser- mútuas. É nesse sentido que pede o Espírito André Luiz.
vação e uma doutrina filosófica. também se diz: a religião da
Como ciência prática ele con- amizade, a religião da família.
siste nas relações que se estabe- Se é assim, perguntarão, então
REFERÊNCIAS:
lecem entre nós e os Espíritos; o Espiritismo é uma religião? 1
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
como filosofia, compreende Ora, sim, sem dúvida, senhores! Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel
todas as consequências morais No sentido filosófico, o Espiri- e André Luiz. 14. ed. 3. imp. Brasília: FEB,
2015. Estude e viva (André Luiz).
que dimanam dessas mesmas tismo é uma religião, e nós nos
2
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.
relações.5 (Grifo nosso). vangloriamos por isto, porque
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
é a Doutrina que funda os vín- imp. Brasília: FEB, 2016. 2a pt., cap. 27,
Finalmente, na Sessão Anual culos da fraternidade e da co- it. 303, perg.1
Comemorativa do Dia dos Mortos, munhão de pensamentos, não 3
______. Revista Espírita: jornal de
estudos psicológicos. ano 8, n. 8, ago.
que teve lugar no salão da Socie- sobre uma simples convenção,
1865. O que ensina o Espiritismo. Trad.
dade Parisiense de Estudos Espí- mas sobre bases mais sólidas: Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp.
ritas de Paris, em 1 de novembro as próprias Leis da Natureza.6 Brasília: FEB, 2015.
de 1868, no discurso de abertura (Grifo nosso nesse parágrafo). 4
MASSI, Cosme. O espiritismo é uma re-
feito pelo Sr. ­Allan ­Kardec, fez ele ligião? (Vídeo). Disponível em: https://
kardecplay.net/ Acesso em: jan. 2020.
a seguinte d­ eclaração: Diante dessa declaração do 5
KARDEC, Allan. O que é o espiritis-
“bom senso encarnado”, fica- mo. Trad. Redação de Reformador em
[...] Uma religião, em sua acep- mos entendidos sobre o concei- 1884. 56. ed. 1. imp. (Edição Histórica).
ção larga e verdadeira, é um to de Espiritismo como religião. ­Brasília: FEB 2013. Preâmbulo.

laço que religa os homens numa Não como uma religião tradi- 6
______. Revista Espírita: jornal de
estudos psicológicos. ano 11, n. 12,
comunhão de sentimentos, de cional, mas consequente dos dez. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezer-
princípios e de crenças [...] ensinamentos morais deixados ra. 2. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2010.

Maio de 2020 | Reformador 19 273


Esflorando o E va n g e l h o
Pelo Espírito Emmanuel

O Trabalhador Divino La Dia Laboristo


“Ele tem a pá na sua mão; limpará a sua “Lia ventumilo estas en lia mano, por ke li elpurigu
eira e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas sian draŝejon, kaj kolektu la tritikon en sian
queimará a palha com o fogo que nunca se grenejon; sed la grenventumaĵon li bruligos per
apaga.” – João Batista (Lucas, 3:17) fajro neestingebla.” – Johan-Baptisto (Luko, 3:17)

////////////////////////// //////////////////////////

A A
póstolos e seguidores do Cristo, desde as orga- postoloj kaj sekvantoj de la Kristo, detempe de
nizações primitivas do movimento evangélico, la primitivaj kolektivoj de la evangelia movado,
designaram-no por meio de nomes diversos. ­nomis Lin diversmaniere.
Jesus foi chamado o Mestre, o Pastor, o Messias, Jesuon oni nomis Majstro, Paŝtisto, Mesio,
o Salvador, o Príncipe da Paz; todos esses títulos são Savanto, Princo de la Paco; ĉiuj estas justaj kaj
­
justos e veneráveis; entretanto, não podemos esquecer, respektegindaj titoloj ; sed ni ne povas forgesi, ĉe
ao lado dessas evocações sublimes, aquela inesperada tiuj sublimaj vokoj, la neatenditan prezenton de la
apresentação do Batista. O Precursor designa-o por Baptisto. La Antaŭulo nomas Lin atenta laboristo
trabalhador atento que tem a pá nas mãos, que limpará kun ventumilo en la manoj, kiu elpurigos la duran,
o chão duro e inculto, que recolherá o trigo na ocasião nekulturitan grundon, kiu kolektos la tritikon en la
adequada e que purificará os detritos com a chama da ĝusta tempo, kaj kiu bruligos la forĵetaĵojn per la
justiça e do amor que nunca se apaga. ­fajro de justeco kaj amo, kiu neniam estingiĝas.
Interessante notar que João não apresenta o Se- Gravas rimarki, ke Johano ne prezentas la Sinjo-
nhor empunhando leis, cheio de ordenações e perga- ron tenanta leĝojn en la manoj, portanta amason da
minhos, nem se refere a Ele, de acordo com as velhas ordonoj kaj pergamenoj, nek Lin aludas laŭ la mal-
tradições judaicas, que aguardavam o Divino Mensa- novaj judaj tradicioj, kiuj atendis la Dian Senditon
geiro num carro de glórias magnificentes. Refere-se ao venanta en veturilo el gloroj grandiozaj. Li aludas
trabalhador abnegado e otimista. A pá rústica não des- Lin kiel abnegacian, optimisman laboriston. La kru-
cansa ao seu lado, mas permanece vigilante em suas da ventumilo ne ripozas apude sed restas agopreta
mãos, e em seu espírito reina a esperança de limpar a en liaj manoj dum en lia spirito regas la espero elpu-
terra que lhe foi confiada às salvadoras diretrizes. rigi la teron konfiditan al liaj savaj instruoj.
Todos vós que viveis empenhados nos serviços Ĉiuj el vi, klopodantaj en la surteraj laboroj por
terrestres, por uma era melhor, mantende aceso no co- pli bona erao, tenadu lumanta en la koro la sindo-
ração o devotamento à causa do Evangelho do Cristo. non al la idealo de la Evangelio de la Kristo. Nin ne
Não nos cerceiem dificuldades ou ingratidões. Des- retenu malhelpoj aŭ nedankemoj. Ni disvolvu niajn
dobremos nossas atividades sob o precioso estímulo aktivecojn sub la altvalora stimulado de la fido, ĉar
da fé, porque conosco vai à frente, abençoando-nos a kun ni iras antaŭe, benante nian humilan kunlabo-
humilde cooperação, aquele trabalhador divino que ron, tiu dia laboristo, kiu elpurigos la ­draŝejon de
limpará a eira do mundo. l´ mondo.

// / / / / / / / / / / / /////
Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 90.

274 20 Reformador | Maio de 2020


Convicção espírita
“Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro
e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral [...].”1

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José Carlos da Silva Silveira


csilveira440@gmail.com

C
erta feita, em um grupo de encarar o futuro. A vida fu- se mostram serenos nos seus
de estudo sistematizado tura deixa de ser uma hipótese últimos momentos sobre a
­
da Doutrina Espírita, exa- para ser uma realidade. O esta- Terra [...].3
minávamos a questão da morte, do das almas depois da morte
quando, debruçando-nos sobre não é mais um sistema, porém Em outra parte, diz Kardec:
o conteúdo do capítulo 2 da Pri- o resultado de uma observa-
meira parte de O céu e o inferno, ção. Ergueu-se o véu; o mundo A ideia clara e precisa que se
veio à baila esta instigante afir- espiritual aparece-nos na ple- faça da vida futura dá uma fé
mação de Allan Kardec: “Por que nitude de sua realidade práti- inabalável no porvir, e essa
os espíritas não temem a morte.”2 ca; não foram os homens que fé tem consequências enor-
De súbito, alguém do grupo inda- o descobriram pelo esforço mes sobre a moralização dos
ga, exprimindo dúvida: “Será?” de uma concepção engenho- homens, porque muda com-
De certo, podemos dizer, sa, são os próprios h­ abitantes pletamente o ponto de vista
com Allan Kardec, que a desse mundo que nos vêm sob o qual eles encaram a vida
descrever a sua situação. [...] terrena. Para quem se colo-
[...] Doutrina Espírita modifi- É por isso que os espíritas en- ca, pelo pensamento, na vida
ca completamente a maneira caram a morte calmamente e espiritual, que é indefinida, a

Maio de 2020 | Reformador 21 275


vida corpórea se torna simples o preconceito de seitas, castas
passagem, breve estação num e cores, o Espiritismo ensina
país ingrato. As vicissitudes aos homens a grande soli-
e tribulações dessa vida não dariedade que os há de unir
passam de incidentes que ele como irmãos.”6
suporta com paciência, pois
sabe que são de curta dura- Pelo exposto, podemos en-
ção e devem ser seguidas por trever que o Espiritismo con-
um estado mais feliz. A morte tém permanente expectativa de
nada terá de aterrador; deixa renovação de ideias e sentimen-
de ser a porta que se abre para tos, a ser correspondida pelo
o nada para ser a porta da li- ser humano.
bertação que faculta ao exila- A propósito dessa expectati-
do a entrada numa morada de va e seu eventual contraste com
felicidade e de paz.4 a realidade de nossas ações,
como espíritas, encontramos,
Com certeza, a Doutrina no livro Os caminhos do amor,
Espírita tende a provocar, no publicado pela FEB Editora,
indivíduo, completa transfor- instigante afirmativa:
mação em seu modo de en-
tender a existência na Terra e Não obstante devamos reco-
o futuro que o aguarda, após nhecer esse poder transforma-
a morte, porque lhe descorti- dor do Espiritismo, é p­ reciso
na o panorama de espiritua- constatar que o espírita não
lidade que preside todas as tem alcançado resultados
­manifestações da vida. muito diferentes no âmbito
Em verdade, é esse o grande da ­interação familiar, se com-
papel do Espiritismo: destruir o pararmos o seu desempenho
materialismo.5 com o do indivíduo não espíri-
ta. Isso nos leva a concluir que
“Destruindo o materialismo, ainda não estamos conseguin-
que é uma das chagas da so- do compreender em sua essên-
ciedade, o Espiritismo pode cia a mensagem espírita, para
fazer com que os homens instituir um relacionamento
compreendam onde estão familiar mais democrático e
seus verdadeiros interesses. equilibrado.7
Como a vida futura não mais
estará velada pela dúvida, o Não nos será difícil perce-
homem perceberá melhor que ber a veracidade dessas ob-
pode garantir seu futuro por servações, se considerarmos
meio do presente. Destruindo a generalidade dos que se

276 22 Reformador | Maio de 2020


i­ nscrevem no quadro de adep- inteligências vulgares, moços
tos do Espiritismo. Diríamos mesmo, mal saídos da adoles-
até mais: por vezes, a ação do cência, lhe apreendem, com
indivíduo não espírita, den- admirável precisão, os mais
tro da família, pode mesmo delicados matizes. Isso resul-
ser superior à daquele que se ta de que a parte, por assim
­declara espírita. dizer, material da Ciência
Por que isso estaria aconte- requer somente olhos que
cendo conosco? É a pergunta observem, enquanto que a
que nos vem. parte essencial exige um certo
A resposta está em Kardec: grau de sensibilidade, a que se
pode chamar de maturidade
[...] O Espiritismo não cria do senso moral, maturidade
nenhuma moral nova; apenas que independe da idade e do
facilita aos homens a com- grau de instrução, porque é
preensão e a prática da moral inerente ao desenvolvimen-
do Cristo, facultando uma fé to, em sentido especial, do
inabalável e esclarecida aos que ­Espírito encarnado.8
duvidam ou vacilam.
Muitos, entretanto, dos que E, mais adiante, na mesma
acreditam nos fatos das mani- página:
festações não compreendem
as suas consequências nem o Aquele que pode ser, com
seu alcance moral, ou, se os razão, qualificado de espírita
compreendem não os aplicam verdadeiro e sincero, se acha
a si mesmos. A que se deve em grau superior de adianta-
isso? A alguma falta de cla- mento moral. O Espírito, que
reza da Doutrina? Não, visto nele domina a matéria de
que ela não contém alegorias modo mais completo, dá-lhe
nem figuras que possam dar uma percepção mais clara do
lugar a falsas interpretações. futuro; os princípios da Dou-
A clareza é de sua própria es- trina lhe fazem vibrar fibras
sência e é isso que constitui a que nos outros se conservam
sua força, porque vai direto à inertes. Numa palavra: é to-
inteligência. [...] cado no coração, daí porque
Será então preciso, para com- é inabalável a sua fé. [...]9
preendê-la, uma inteligência (Grifo nosso).
fora do comum? Não, por-
que se veem homens de no- Tais esclarecimentos do
tória capacidade que não a mestre Allan Kardec afastam, a
compreendem, ao passo que nosso ver, toda a perplexidade

Maio de 2020 | Reformador 23 277


de possíveis questionamentos difícil encontrar formas de veis, todos eles, no esforço de
sobre a realidade pessoal dos sentir o Espiritismo e teremos, renovar meios suscetíveis de
que aderem ao Espiritismo. provavelmente, que aguardar o nos tocar o coração.
Com efeito, mostra-nos bisturi do sofrimento. Este, al- Em suma, podemos con-
Kardec, claramente, porque cançando-nos as profundezas cluir que somente adquirimos
nem sempre conseguimos im- da alma, despertará, com toda convicção espírita, a expandir-
primir, em nossos atos, a mar- a certeza, a sensibilidade ador- -se em experiências de mo-
ca do conhecimento espírita. É mecida, lançando-nos a novos ralização de pensamentos e
que não basta compreender o rumos de vida. atos, levando-nos, inclusive,
Espiritismo, por meio de nossas Percorrendo os caminhos a não temer a morte, quando
faculdades cognitivas. Torna-se da reflexão, contudo, ser-nos-á o Espiritismo atinge a esfera
necessário, sobretudo, senti- possível, por iniciativa própria, de nossa sensibilidade. E isso
-lo.10 E, para bem sentir o Es- aguçar e apurar a sensibilidade, porque, se a razão projeta luz
piritismo, é imprescindível que tal como o aprendiz que, dese- no caminho, só o sentimento
nos deixemos sensibilizar por jando adentrar as harmonias tem força bastante para nos
sua mensagem. sublimes da música, se doa in- ­fazer caminhar.
Tal esforço de nossa parte tegralmente às expressões dessa
faz-se necessário, em particular, arte divina. REFERÊNCIAS:
para que enfrentemos a cultura A reflexão levar-nos-á, por 1
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
materialista de nossos dias, que sua vez, à constante avaliação Bezerra. 2. ed. 7. imp. Brasília: FEB,
nos induz a atitudes e realiza- de nossos valores morais, ava- 2018. cap. 17, it. 4.
ções não condizentes com as liação esta que nos fará per- 2
______. O céu e o inferno. Trad.
que deveriam integrar nossos ceber se a mensagem espírita E­ vandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
Brasília: FEB, 2016. 1a pt., cap. 2, it. 10.
propósitos de vida. já nos tocou as fibras da alma,
Como o faremos, porém? ou se ainda estagia na destreza
3
______. ______.

A nosso ver, o caminho a de nossos raciocínios. Desse 4


______. O evangelho segundo o espi-
ritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-
­seguir será o da reflexão. modo, será possível saber se ra. 2. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2018.
De fato, sem que reflitamos ainda pertencemos à categoria cap. 2, it. 5.
sobre os ensinos dos Espíritos dos espíritas imperfeitos,11 ou 5
______. O livro dos espíritos. Trad.
Superiores, empenhando-nos se, ao menos, iniciamos o pro- Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 7. imp.
Brasília: FEB, 2019. q. 799.
em descobrir como tais ensi- cesso de maturação do senso
nos poderiam beneficiar nossa moral, que nos tornará espíritas
6
______. ______.

existência; sem que nos esfor- verdadeiros, na ­ conceituação 7


SOUZA, Dalva S. Os caminhos do amor.
3. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014. it. A
cemos por transformar esses de Kardec. família espírita.
ensinos em material de cons- Enquanto usarmos o Espi- 8
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
trução de pensamentos e atos; ritismo ao sabor exclusivo de o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
sem que, finalmente, nos en- nossas faculdades intelectivas, Bezerra. 2. ed. 7. imp. Brasília: FEB,
2018. cap. 17, it. 4.
treguemos ao enternecimento nada mais faremos que esta-
diante do testemunho daque- cionar no percurso evolutivo,
9
______. ______.

les que se deixaram arrebatar frustrando as expectativas dos 10


______. ______.
pelo ideal espírita, ser-nos-á Espíritos Superiores, incansá- 11
______. ______.

278 24 Reformador | Maio de 2020


Realidade essencial
“Geralmente, ouvimos, vemos e sentimos conforme nossas
inclinações e não segundo a realidade essencial [...]”. – Emmanuel1

///////////////////////////////////////////

Clara Lila Gonzalez de Araújo


claralilazez@gmail.com

I
nfelizmente, ainda nos equi- humana [...] [sem] a serenida- ciais, deixando-nos desesperar
vocamos com certas situações de interior, diante dos conflitos em qualquer condição?
deixando-nos influenciar pelo que buscam envolvê-lo a cada É notório que a realidade es-
caos que instalamos no pró- instante”;2 grifo nosso. sencial, conforme definição dos
prio entendimento. O Espírito Importante indagação surge Espíritos Superiores, não é sen-
Emmanuel, conforme palavras desse equívoco: como ter cons- tida por nós. Sem a devida tran-
destacadas acima, alerta-nos ciência da realidade essencial, quilidade emocional, seremos
para esses perigos sutis, fruto de sem deixar que as oportuni- atingidos por prejuízos morais,
nossas perturbações internas. dades divinas se percam, por especialmente nos momentos
Muitos não conseguem pen- negligência dos próprios pen- de difíceis testemunhos. Sem
sar sobre acontecimentos que samentos e reflexões sobre as harmonia não vamos conquis-
poderiam trazer para si lições lutas vivenciadas no mundo da tar a paz que tanto almejamos!
de alto teor moral, preferindo matéria? Por que interpretamos Essa interpretação da rea-
transformá-los em exemplos erroneamente os problemas do lidade, que se transforma na
corriqueiros sem nenhuma cotidiano sem percebermos que verdadeira existência, nos faz
importância para o seu aper- as influências causadas pelas lembrar certas passagens do
feiçoamento, “[...] em face da emoções conturbadas não nos Evangelho, trazendo interes-
ignorância e da belicosidade possibilitam obter a necessária santes reflexões para o presente
que predominam na estrada calma ante os choques existen- tema. Diz Jesus:

Maio de 2020 | Reformador 25 279


Felizes os vossos olhos porque coerência de seus princípios e de morte. O mundo inteiro se
veem, os vossos ouvidos, por- postulados, tendo em vista a levantará contra vós, em obe-
que escutam; porquanto, em autenticidade de suas verdades diência espontânea às forças
verdade vos digo que muitos por serem decorrentes de cer- tormentosas do mal, que ain-
profetas e justos desejaram ver tezas de natureza humana, pre- da lhe dominam as fronteiras.
o que vedes e não viram, ouvir o parando o próprio homem para Sereis escarnecidos e aparen-
que ouvis e não ouviram. Escu- as conquistas de suas realizações temente desamparados; a dor
tai, pois, a parábola do semea- existenciais. Tal conhecimento vos assolará as esperanças mais
dor. Do coração de todo aquele constitui a base do Espiritismo. caras; andareis esquecidos na
que escuta a palavra do reino e Ora, se esse entendimento Terra, em supremo abandono
não a compreende vem o mau se torna imprescindível para os do coração. Não participareis
Espírito tirar o que nele foi se- adeptos da Doutrina, existindo do venenoso banquete das
meado [...] (Mateus, 13:16 a 19). uma preocupação natural calca- posses materiais, sofrereis a
da nas vivências e nas deduções perseguição e o terror, tereis o
A Parábola do Semeador filosóficas que encaminham o coração coberto de cicatrizes e
mostra de que forma poderemos homem à sua evolução moral, de ultrajes. A chaga é o vosso
aproveitar bem as experiências por que não o interpretarmos sinal; a coroa de espinhos, o
terrenas, que nos foram conce- de forma cuidadosa e assídua, vosso símbolo; a cruz, o recur-
didas pela misericórdia divina, especialmente, quanto à origem so ditoso da redenção. Vossa
à medida que desempenharmos do caráter religioso do Espiritis- voz será a do deserto, provo-
as boas tarefas com compreen- mo? É necessário buscar refletir cando, muitas vezes, o escárnio
são e boa vontade. Antes de sobre a importância do conheci- e a negação da parte dos que
tudo, porém, cumpre façamos mento espírita, à luz do Evange- dominam na carne perecível.
um exame sobre a nossa condu- lho, pois se assenta na existência Porém, no desenrolar das bata-
ta e da maneira pela qual agimos de Deus e nos seus atributos. lhas, sem sangue, do coração,
diante das oportunidades que o Jesus alertou os homens para quando todos os horizontes
Alto nos concede, em benefício os cuidados que deveriam ter no estiverem abafados pelas som-
do progresso moral. Precisamos cultivo da sua crença, exalçando bras da crueldade, dar-vos-ei
deixar de ser Espíritos orgulho- as belezas do Reino de Deus e da da minha paz, que representa
sos e fúteis, voluntariamente sua justiça, conforme palavras água viva [...].
cegos e surdos, desenvolvendo memoráveis pronunciadas por Amados, eis que também vos
sentimento de revolta por qual- Ele, aos seus discípulos: envio como ovelhas aos ca-
quer motivo que nos desagrade minhos obscuros e ásperos.
e que surge, muitas vezes, em fa- “Séculos de luta vos esperam Entretanto, nada temais! Sede
vor da nossa melhoria espiritual. na estrada universal. É preciso fiéis ao meu coração, como
Ao analisar as características imunizar o coração contra to- vos sou fiel, e o bom ânimo re-
da Nova Revelação, devidamen- dos os enganos da vida transi- presentará a vossa estrela! Ide
te orientado pelos Espíritos Su- tória, para a soberana grandeza ao mundo, onde teremos de
periores, Allan Kardec mostra a da vida imortal. Vossas sendas vencer o mal! Aperfeiçoemos
abrangência e a grandeza de seus estarão repletas de fantasmas a nossa escola milenária, para
ensinos, mas também destaca a de aniquilamento e de visões que aí seja interpretada e posta

280 26 Reformador | Maio de 2020


em prática a Lei de Amor do e destino, determinando prin- Codificação, fazendo surgir a
nosso Pai, em obediência feliz cípios fundamentais da criação Nova Revelação e iniciando-
à sua vontade augusta!”3 do Universo, obra de Deus, de -nos no trabalho da plantação
infinita sabedoria e complacên- da semente divina, para deixá-la
Antes da Revelação Espírita a cia, e Pai de todas as criaturas e crescer e nos colocar em condi-
Humanidade se dividia em dois demais seres da Natureza. Fun- ções de compreender o próprio
grandes grupos, cuja influência da-se na certeza da imortalida- progresso a conquistar e que
ainda exerce certa primazia. O de da alma e na continuação da continuará sua marcha enquan-
primeiro constituído por espi- vida, estabelecendo Leis Natu- to não o alcançarmos. Nossos
ritualistas de todas as correntes, rais irrevogáveis para continui- passos serão, a princípio, lentos
que acreditam na existência do dade da evolução do homem, ao e penosos; mas, pouco a pouco,
elemento espiritual no Univer- longo das reencarnações. Entre vencidas as primeiras dificul-
so, mas não têm conhecimento elas, a comunicação entre os dades, abrirão passagem para
específico de suas origens e se dois mundos, estabelecendo as a trilha que nos conduzirá ao
veem envolvidos pelas múltiplas relações existentes entre os Espí- cume da montanha.
situações determinadas pelas ritos encarnados e desencarna- A realidade essencial, dessa
Leis Naturais da vida, equivo- dos, na busca de seu crescimen- forma, desponta para nós de
cando-se sobre os princípios to e transformação até atingir a acordo com a vontade imutá-
que determinam uma só exis- maturidade moral e intelectual, vel de Deus, convidando-nos
tência na Terra; ou na múltipla chegado o tempo da colheita, ao a ter uma postura natural,
existência, mas conduzidos ao alcance das mãos dos ceifadores, tranquila, fraterna, e de com-
engano do panteísmo ilusório. incumbidos da ceifa, para con- preensão objetiva, no cultivo
Em ambas as crenças há um quista do Reino de Deus. e entendimento da Doutrina
­evidente desvio da realidade. O olhar profundo do Mestre, e dos ensinos do Cristo e das
O segundo grupo, mais radical pois, sondava tanto o passado leis que regem a vida, enobre-
e incongruente, nega a existência quanto o futuro da era do Espi- cendo os nossos atos na pos-
do elemento espiritual; não admite ritismo. A expansão do conhe- sibilidade de ajudar aos mais
a verdade incontestável de que há cimento espírita e de sua vivên- necessitados, penetrando na
um Criador, como causa primeira cia depende daqueles que bem terra espiritual da verdade, a
da criação. Sua ­preocupação apli- interpretam a Doutrina; que partir do Bem que difundir-
ca-se, unicamente, na certeza da cultivam a fé raciocinada e são mos diante de tantas tarefas de
matéria. Infelizmente, o segundo efetivamente caridosos, trans- que carece o mundo.
e maior grupo apossou-se, em formando sua condição moral
grande parte, da ciência humana, e material na forma ideal de se REFERÊNCIAS:
dominando-a e alastrando-a for- relacionar com o próximo, ao 1
XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Es-
temente, de modo a preponderar pregar a fraternidade entre to- pírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. B
­ rasília:
FEB, 2016. cap. 65 – Tenhamos paz.
no mundo material, desde muitos dos e solidarizar-se com aque-
séculos. les que mais sofrem e p­ recisam
2
______. ______.

Ao surgir o Espiritismo ficou de consolações. 3


XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo
Espírito Humberto de Campos. 37. ed.
clara a existência do elemento Assim, a Religião dos Espí- 6. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 29 – Os
espiritual, sua origem, trajetória ritos está ressaltada em toda a quinhentos da Galileia.

Maio de 2020 | Reformador 27 281


Tormentos da obsessão
Servos despreparados1
“No que diz respeito ao desempenho mediúnico, o sexo equilibrado é de
vital importância, por oferecer energias específicas para potencializar os
mecanismos delicados de que se utilizam os Espíritos. Simultaneamente,
a faculdade mediúnica, em razão dessas energias que movimenta, irradia,
qual ocorre com outras faculdades artísticas, culturais, científicas, um
campo vibratório que proporciona bem-estar àqueles que se lhe acercam,
envolvendo-os em encantamento e admiração.” (Espírito Alberto a
Philomeno de Miranda. FRANCO, 2013, cap. 6 – Informações preciosas)

///////////////////////////////////////////

D. Dinis
d.dinis1952@gmail.com

A
obra que intitula este ar- Esperança, fundado pelo Es- mas sucumbiram às próprias
tigo, nona das 17 obras pírito Eurípedes Barsanulfo. paixões, em especial a do sexo
ditadas pelo Espírito Essa Instituição objetiva, prin- deseducado, e às influências de
Manoel Philomeno de M ­ iranda cipalmente, socorrer aquelas Espíritos obsessores.
ao médium Divaldo Franco, pessoas que reencarnaram com Todos os assistidos, alguns
tem por base os acontecimen- a missão decorrente da me- deles após décadas de tormen-
tos ocorridos no período de diunidade ou da doutrinação tos em regiões trevosas, por-
apenas um mês, no S­ anatório evangélica à luz do Espiritismo, tavam distúrbios psiquiátricos

282 28 Reformador | Maio de 2020


d­ ecorrentes de suas transgressões nós, espíritas, de que não bas- ção do Espírito conhecido entre
da Lei de Causa e Efeito. O autor ta crer, é preciso ser coeren- nós como Santo Agostinho, que
espiritual introduz (FRANCO, te com a nossa crença no que foi um dos grande colaborado-
2013, Introdução) a obra com a pensamos, falamos e fazemos, res do Espírito de Verdade e de
explicação de Allan Kardec, que uma vez que Céu ou Inferno Allan Kardec na organização da
reproduzo, em parte: começam dentro de nós. Nela, Doutrina Espírita.
são narradas, em cores vivas, a Nesse encontro inicial com
Nalguns, ainda muito tenazes falência de o Espírito Bezerra de Menezes,
são os laços da matéria para este fala, no sanatório, sobre a
permitirem que o Espírito Médiuns levianos, que desres- questão do “erro e punição”, e
se desprenda das coisas da peitaram o mandato de que explica que “O erro é sombra
Terra; a névoa que os envol- se fizeram portadores: divul- que acompanha aquele que o
ve tira-lhes toda a visão do gadores descompromissados pratica até que se dilua median-
infinito, donde resulta não com a responsabilidade do te a luz clara da reparação [...]”
romperem facilmente com os esclarecimento espiritual; ser- (FRANCO, 2013, cap. 1 – Erro
seus pendores, nem com seus vidores que malograram na e punição).
hábitos, não percebendo haja execução de graves tarefas da No 16o “Código penal da
qualquer coisa melhor do que beneficência; escritores equi- vida futura”, da obra O céu e o
aquilo de que são dotados [...] pados de instrumentos cul- inferno, lemos que “O arrepen-
(In: KARDEC, 2017, cap. 17, turais que deveriam plasmar dimento é o primeiro passo
it. 4; grifo nosso). imagens dignificadoras e que para a regeneração, mas não é
descambaram para as discus- suficiente, sendo necessárias
O Espírito Manoel sões estéreis e as agressões in- ainda a expiação e a reparação”
Philomeno de Miranda, em
­ justificáveis; corações que se (KARDEC, 2016, cap. 7). O 17o
sua apresentação inicial do li- responsabilizaram pela edifi- código acrescenta que “A repa-
vro, esclarece-nos sobre os cação da honra em si mesmos, ração consiste em fazer o bem a
“muitos disfarces” (FRANCO, abraçando a fé renovadora, e quem se havia feito o mal [...]”,
2013, prefácio – Tormentos da delinquiram; mercenários da e que se isso não ocorrer numa
obsessão) da obsessão em nos- caridade bela e pura; agentes existência, noutra certamente
sa sociedade atual, que teima da simonia no Cristianismo ocorrerá. Nesse caso, o agres-
em desconsiderá-la, tais como restaurado [...] (FRANCO, sor deverá ter para com suas
o dos fanáticos religiosos, os 2013, cap. 1 – Erro e punição). antigas vítimas não somente
acadêmicos céticos, os ateus e devotamento, como também
a grande maioria de desinfor- Nessa ala do Hospital Es- deverá “[...] fazer-lhes tanto
mados, que se comprometem perança estão em tratamento bem quanto mal lhes tenha fei-
moralmente. psiquiátrico especialmente os to” (­KARDEC, 2016, cap. 7).
Essa obra tem por base, missionários espíritas fracas- Em seguida, diz que
exclusivamente, diversos tra- sados. O nosocômio foi cons-
balhos realizados no Hospital truído após permissão pedida Nem todas as faltas acarretam
­Esperança, no Plano Espiritual. a Jesus pelo Espírito Eurípedes prejuízo direto e efetivo. Em
Serve como mais um ­alerta a Barsanulfo, com a intermedia- tais casos a reparação se opera

Maio de 2020 | Reformador 29 283


fazendo-se o que se deveria colaboração de diversos mé- Tornei-me, desse modo,
fazer e não foi feito, cumprin- dicos psiquiatras, psicólogos portador de psicofonia ator-
do os deveres desprezados, as e enfermeiros desencarnados. mentada, que o carinho dos
missões não executadas; pra- Relataremos e comentaremos, dirigentes encarnados e espi-
ticando o bem em compen- sucintamente, dois casos, den- rituais tentaram a todo esfor-
sação ao mal praticado, isto tre os 10 que foram narrados ço equilibrar, mas as minhas
é, tornando-se humilde se foi por Philomeno de M ­ iranda. inclinações infelizes dificulta-
orgulhoso, amável se foi aus- Todos estes da mais alta vam esse saudável empreendi-
tero, caridoso se foi egoísta, ­importância... mento [...]” (FRANCO, 2013,
benevolente se foi perverso, Primeiro caso: Almério, cap. 5 – Contato precioso).
laborioso se foi ocioso, útil Espírito voluntário que recep-
se foi inútil, moderado se foi cionou Miranda, quando este Numa das entrevistas a
dissoluto, exemplar se foi mal foi ao Hospital Esperança con- Chico Xavier, Adelino da
­
etc. É assim que o Espírito versar sobre seu estágio nesse ­Silveira perguntou-lhe:
progride, aproveitando-se do sanatório com o Dr. Ignácio
próprio passado (KARDEC, Ferreira. O recepcionista, en- “– Chico, por que nós, bra-
2016, cap. 7). quanto aguardavam o aten- sileiros, fomos tão contidos
dimento do diretor, contou a em matéria de sexo, quando o
A partir do segundo capí- Miranda que, desde criança,
­ sexo é praticado livremente nas
tulo de Tormentos da obses- era médium. Após diversas grandes potências?
são, Philomeno de Miranda crises mentais provocadas por E o médium mineiro res-
integra a equipe socorrista entidades obsessoras, passou pondeu-lhe: – Mas as gran-
de Eurípedes Barsanulfo, que a participar das atividades da des potências são os países de
contou, entre outros, com as juventude, sem muito interesse maior índice de suicidas do
ações do Dr. Ignácio Ferreira pelos estudos doutrinários. mundo; se o sexo resolvesse o
que, em vida, foi destacado Anos depois, atuou em tra- problema, eles não se matavam,
médico psiquiatra em Ubera- balhos mediúnicos de psico- não é mesmo?”
ba (MG), e agora dirigia uma fonia na Casa Espírita que o “– Mas e as imensas conces-
ala de socorro espiritual do acolhera. No entanto, sempre sões do amor livre?”
Hospital Esperança, dedicada se sentira atormentado na área Adelino tornou a pergun-
principalmente aos trabalhos sexual, conforme admitiu na tar-lhe. Em resposta, ouviu do
de desobsessão a Espíritos seguinte informação: Chico uma reflexão que apro-
encarnados e desencarnados. veita a todos nós:
Participariam, também, desses “Já participava das ativida- “– Se é livre, não pode ser
trabalhos os Espíritos Alberto des mediúnicas, ao lado de amor, porque o amor é com
e Maria Modesto Cravo, a qual pessoas enobrecidas e cari- responsabilidade”. (SILVEIRA,
seria médium dos seres em dosas, sem que os seus exem- 1987, p. 27).
processo de obsessão, fossem plos repercutissem nos meus
estes encarnados ou desencar- sentimentos exaltados pelo Certo dia, Almério orou
nados. O pavilhão dirigido por sexo em desvario e por falsa com fervor, implorou o au-
Ignácio contava, ainda, com a necessidade que lhe atribuía. xílio espiritual e prometeu

284 30 Reformador | Maio de 2020


­ odificar sua conduta. Nes-
m Levado à depressão, em vir- Em diálogo com o Espírito
sa mesma semana, conheceu tude de sua impotência sexual, Alberto, após ter sido recep-
sua futura esposa, a dedicada Almério passou a maltratar a cionado por Ignácio Ferreira,
­Annette, que o “[...] auxiliaria família e os amigos. Subjuga- Miranda ouviu daquele, entre
na educação das forças gené- do espiritualmente, por sua outras considerações, que
sicas”, pois, como disse em vítima do passado, afastou-se
­seguida, o mau uso das forças da Casa Espírita que o acolhe- “[...] as faculdades genésicas
genésicas “[...] além de pro- ra. Com isso, sob a influência têm finalidade específica,
duzir conexões viciosas com vingativa de sua amante lesada proporcionando a procria-
Espíritos enfermos e vampi- na existência anterior, numa ção, e, para tanto, ensejando
rizadores, debilita os centros “noite de alucinação”, foi “[...] o prazer que leva ao êxtase.
de captação psíquica, dificul- induzido a ingerir algumas Não obstante esse conhe-
tando o correto exercício da drágeas de sonífero, quase cimento, a utilização do
faculdade [...]” (­ FRANCO, automaticamente, sem qual- sexo se transformou em um
2013, cap. 5 – C ­ontato quer reflexão, a fim de apagar mercado de sensações, sem
­precioso). da mente aqueles terríveis qualquer sentido afetivo ou
Após o primeiro ano de pesadelos [...]”. E arremata: de intercâmbio emocional”
casamento, Almério passou “À medida que as substân- (FRANCO, 2013, cap. 6 –
a sentir impotência sexual, e, cias passaram a atuar no meu ­Informações preciosas).
em reunião mediúnica, enti- organismo, um cruel torpor
dade feminina disse-lhe ter e enregelamento tomou-me Mais adiante, Alberto diz:
sido sua vítima em existência todo, produzindo-me a parada
passada, quando então ele, cardíaca e a desencarnação ...” – A maioria dos que aqui se
mesmo sendo casado, “[...] (FRANCO, 2013, cap. 5 – encontram em tratamento
vivia clandestinamente com ­Contato precioso). foi vítima de perturbações na
jovens seduzidas em orgias Embora seu suicídio tenha área sexual, que os fez derra-
e alucinações [...]. Duas ve- sido involuntário, Almério par em compromissos graves
zes, sucessivamente [a moça], passou muito tempo pertur- perante a própria Consciência
concebera, e, sentindo-se fe- bado, no Plano Espiritual, não Divina. Certamente, outros
liz pelo fato, esperava receber somente por aquela vítima do igualmente caíram nos refe-
apoio que lhe neguei, sem passado, mas também por ou- ridos perigos à mediunidade,
qualquer compaixão, levando- tras, que não o perdoaram. Até provocando, no íntimo, satis-
-a ao abortamento insensato que, um dia, em atenção às pre- fações hedonistas, sexuais...
[...]” (FRANCO, 2013, cap. 5 ces de Annette, a esposa atual, (FRANCO, 2013, cap. 6 –
– Contato precioso). O segun- dos pais dele e dos amigos da ­Informações preciosas).
do aborto, ocorrido aos cinco Casa Espírita foi socorrido no
meses de gravidez, provocara Sanatório Esperança, no qual Segundo caso: Leôncio, Es-
a morte da jovem, junto com passou a trabalhar, sinceramen- pírito que aparentava ter pou-
sua “filhinha covardemente te disposto a reabilitar-se espiri- co mais de 60 anos, que fora
assassinada” (FRANCO, 2013, tualmente das faltas cometidas culto expositor e articulista es-
cap. 5 – Contato precioso). no passado. pírita, que dizia ter encontrado

Maio de 2020 | Reformador 31 285


“[...] nos postulados espíritas me convidou o corpo ao tú- Concluamos este artigo com
a lógica profunda e a ética fe- mulo e o Espírito à consciên- as palavras de Leôncio:
liz para uma existência ditosa cia dos atos” (FRANCO, 2013,
[...]” (FRANCO, 2013, cap. 7 – cap. 7 – A amarga experiência Quanto é grave o compor-
A amarga experiência de Leôn- de Leôncio). tamento de querer mudar o
cio). Bem casado e pai de vários No Plano Espiritual, diz ter mundo sem a preocupação
filhos, tornou-se espírita pole- sido de realizar mudanças inter-
mista, “[...] passando a agredir nas, fundamentais, para que,
sistematicamente nomes res- [...] arrastado por antigos assim, o mundo venha a tor-
peitáveis e instituições vene- ­asseclas, inimigos que eu arre- nar-se melhor. É sempre mais
randas [...]” (­FRANCO, 2013, gimentara em reencarnações fácil exigir dos demais, impor
cap. 7 – A amarga ­experiência anteriores, quando me houvera ao próximo, vigiar os atos
de Leôncio). tornado membro-soldado do alheios, do que voltar-se para
Assediado por Espírito ob- Exército de Jesus, e impusera si mesmo, sendo exigente con-
sessor, praticou o adultério a crueldade como instrumento sigo e contemporizador com
com uma jovem médium do de conversão religiosa... [...] O as d­ eficiências que registre nas
Centro Espírita que frequen- meu sofrimento era tão atroz demais pessoas (­ FRANCO,
tavam. Tanto a moça, quan- e a consciência de culpa tão 2013, cap. 7 – A amarga
to Leôncio foram advertidos severa, que não me recordava ­experiência de Leôncio).
e afastados pelo diretor do das blandícias da oração, nem
Centro. Depois disso, sentiu- da intercessão divina sempre
-se incapaz de negar a trai- ao alcance de todos os calcetas //////////////////
1
N.A.: BÍBLIA DE JERUSALÉM. Lucas,
ção à e­ sposa e foi viver com e criminosos (­FRANCO, 2013, 12:47 “Aquele servo que conheceu a
a amante, que ficou pertur- cap. 7 – A amarga experiência vontade de seu senhor, mas não se
bada mentalmente, adoeceu e de Leôncio). preparou e não agiu conforme sua
­vontade, será açoitado muitas vezes”.
­desencarnou ainda jovem.
Leôncio não se perdoou Por fim, após muito sofrer, REFERÊNCIAS:
pelos desvios morais pratica- as intercessões, no Plano Espi- BÍBLIA DE JERUSALÉM. (Nova edição
revista e ampliada). Diversos tra-
dos, transferiu-se de cidade, ritual, de sua mãe e de sua espo- dutores. 3. imp. São Paulo: Paulus,
deixou de atender aos seus sa, que o perdoara, fizeram-no 2004.
“deveres espirituais”, tornou- lembrar-se de Jesus e “supli- FRANCO, Divaldo P. Tormentos da ob-
-se alcoólatra e obsidiado. car-lhe misericórdia e com- sessão. Pelo Espírito Manoel ­Philomeno
de Miranda. 10. ed. Salvador (BA): LEAL,
Nesse tempo, para agravar paixão” (FRANCO, 2013, cap. 2013.
mais seus remorsos, ficou sa- 7 – A amarga experiência de
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
bendo da desencarnação da Leôncio). Socorrido por Eurí- espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131.
esposa e perdeu “[...] o inte- pedes Barsanulfo, que integrava ed. 8. imp. (Edição Histórica). Brasília:
FEB, 2017.
resse pela existência física”. uma das excursões espirituais
Diz então: “[...] Esquecido dos do Espírito Isabel de Aragão, foi ______. O céu e o inferno. Trad.
E­ vandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
e pelos amigos, uni-me a gru- retirado das regiões de trevas e ­Brasília: FEB, 2016.
po de dipsomaníacos elegan- agora aguardava as oportunida- SILVEIRA, Adelino. Chico, de ­Francisco.
tes e vulgares até que a morte des de reparação dos seus erros. São Paulo: Cultura Espírita, 1987.

286 32 Reformador | Maio de 2020


A construção da nova
mentalidade
///////////////////////////////////////////

Dalva Silva Souza


dalvasilvasouza@gmail.com

E
screvendo em meados do Nunca o homem teve tan- e a agressividade nas relações
século XX, Emmanuel, to acesso à informação quanto interpessoais e nos grupos so-
com uma precisão im- nos dias que correm! As portas ciais, isto é, as más experiências
pressionante, parece descrever do conhecimento estão escan- do passado se fazem cada vez
o momento atual: caradas; as lições do passado mais presentes.
nos alertam quanto ao que O esclarecido amigo espi-
Tudo instável. precisaria ser feito, para seguir ritual, em sua reflexão, apre-
A força e o direito caminham o rumo do aprimoramento; os senta o motivo por trás dessa
com alternativas de domí- ensinamentos espirituais abun- estranhável atitude humana: é
nio. Multidões esclarecidas dam nas diversas vertentes que que permanecem as criaturas
regressam a novas alucina- os cultivam. Mas, contradi- enredadas nas ilusões do mun-
ções. O espírito humano, a toriamente, teorias estranhas do material, focalizando as pe-
seu turno, considerado in- emergem, empolgando o espí- quenas questões transitórias e
suladamente, demonstra rito sectarista que ainda se faz relegando a segundo plano as
­recapitular as más experiên- presente em nossos meios e, possibilidades imensas de de-
cias, após alcançar o bom então, avulta o comportamen- senvolvimento dos valores es-
­conhecimento.1 to intolerante, o desrespeito pirituais. No dizer do Apóstolo

Maio de 2020 | Reformador 33 287


O grande desafio do momento é colocar
as mensagens do Consolador à disposição
das criaturas que não encontram sentido
para suas vidas.

istockphoto.com/rudall30
João (12:43): “Porque amavam doria infinita, executou a ação d­ eles seria o diabo (aquele que
mais a glória dos homens do que resistiria à passagem dos desune). Saibamos, portanto,
que a glória de Deus”. anos, preservando para nos- que não faltarão, nas equipes
Essa situação não é estra- so entendimento, hoje, à luz de trabalho cristão, aqueles
nha ao contexto do Movimen- do Espiritismo, a atitude que que mantêm conexões com
to Espírita, por esse motivo ­espera de nós. ­impulsos separatistas.
nos parece ser este um bom Durante a ceia, Jesus revela O grande desafio do mo-
momento para lembrar pri- saber também o que Judas fa- mento que estamos vivendo é
moroso ensinamento do Evan- ria, pois cita o Velho Testamen- o de colocar as mensagens do
gelho (João, 13:1 a 20). Lendo to: “Até o meu próprio ­amigo Consolador à disposição das
com atenção a passagem, per- íntimo em quem eu tanto criaturas que caminham de-
cebemos que Jesus sabia que confiava, e que comia do meu sarvoradas, sem encontrar o
estava prestes a retornar ao pão, levantou contra mim o sentido para suas vidas, enre-
mundo espiritual e, na última seu calcanhar” (Salmos, 41:9). dadas a um sentimento con-
ceia com seus discípulos, ex- Não era a primeira vez que de- fuso de angústia e solidão.
pressa todo o seu amor e cui- monstrava conhecer pormeno- Somos convidados a constituir
dado com eles, preparando-os res do que lhe aconteceria. Em um movimento dinâmico à
para dar sequência ao trabalho outro episódio registrado por altura da excelência da Dou-
de divulgação da Boa-Nova. João (capítulo 6), seu sermão trina que abraçamos. Para dar
É impactante o exemplo do provocara reação adversa nos conta de tão desafiadora tare-
Mestre para ensinar o com- que o ouviam, que se retiram, fa, todos somos necessários e
portamento verdadeiramente e Ele pergunta se também os importantes. Precisamos bus-
fraterno e humilde, que se- doze queriam deixá-lo. Pedro, car as metas pretendidas pelas
ria necessário para garantir falando em nome de todos, diz entidades angélicas que nos
o sucesso da empreitada. Ele, que não, pois somente Jesus te- tutelam. Por isso, mais uma
que todos reconheciam como ria as palavras de vida eterna. vez, é preciso que sondemos
Mestre e Senhor, cingiu-se de A partir dessa resposta, o Mes- a nossa intimidade, a fim de
uma toalha e lavou os pés dos tre informa que os escolheu assumirmos as atitudes ade-
seus discípulos. Em sua sabe- por conhecê-los, mas que um quadas ao enfrentamento do

288 34 Reformador | Maio de 2020


desafio. Não sejamos nós os mo, continua o Mestre se apre- b­em-aventurados se apenas
que incentivem separações e sentando, para lavar-nos os pés. soubermos, mas, sim, se nos
animosidades. Em nós, a liberdade de aceitar aplicarmos a fazer a nossa par-
Precisamos apreender a es- ou rejeitar. Tornar-se um segui- te, pela construção da nova
sência do ensinamento da pas- dor de Jesus pressupõe limpeza mentalidade que nos fará ati-
sagem do lava-pés e interpretar das bases, não dá para prosse- vos colaboradores na Seara de
bem o simbolismo da atitude de guir manifestando desinteres- Jesus. Ainda com Emmanuel,3
Jesus. Nossos pés são a base de se pelas obrigações superiores encontramos a palavra perfeita
sustentação do nosso corpo, são e, muitas vezes, ­aplaudindo o para fecharmos nossa reflexão:
eles que tocam mais diretamen- ­crime e a inconsciência.
te o chão do mundo, estando Amélia Rodrigues,2 inter- Jesus compreendeu a indecisão
sujeitos a assimilar sujidades e pretando os símbolos da pas- dos filhos da Terra e, transmi-
a ferir-se nos impactos com as sagem do lava-pés, aponta-nos tindo-lhes a palavra da verdade
pedras e espinhos do caminho. elementos interessantes que e da vida, fez a exemplificação
Jesus é enfático ao dizer a ­Pedro podem nos motivar em relação máxima, por meio de sacrifí-
que, se não lhe pudesse lavar ao enfrentamento dos impactos cios culminantes.
os pés, não teria parte com deste momento: “A toalha da A existência de uma teoria
Ele. O discípulo, diante disso, cooperação e a água da carida- elevada envolve a necessida-
pediu que Jesus lavasse não só de em que se fundem e se lim- de de experiência e trabalho.
seus pés, mas também as mãos pam todas as sujidades da alma, Se a ação edificante fosse
e a cabeça, demonstrando o e as mãos do amor em união re- desnecessária, a mais humil-
quanto desejava fazer parte da novadora”. Fica mais fácil saber de tese do bem deixaria de
­equipe do Mestre. o que nos cabe fazer. ­existir por inútil.
Entendamos que pés são a Voltando ao relato da úl- [...] somente os que concre-
base e se trata aqui de analisar as tima ceia, ao final do texto, tizam os ensinamentos do
bases dos nossos pensamentos, destaca-se a recomendação de Senhor podem ser bem-aven-
daquilo que fundamenta nosso Jesus: “Se sabeis estas coisas, turados. Aí reside, no campo
modo de ser e de agir no mun- bem-aventurados sois se as do serviço cristão, a diferença
do. Se essas bases estão conta- ­fizerdes” (João, 13:17). entre a cultura e a prática, entre
minadas pela ilusão imediatista Está muito claro que o co- saber e fazer.
da transitoriedade da experiên- nhecimento não resolve o pro-
cia encarnatória neste mun- blema da criatura humana, não REFERÊNCIAS:
do de provas e expiações, não basta a teoria, é importante que 1
XAVIER, Francisco C. Caminho, ver-
conseguimos absorver com a nos apliquemos ao que for ne- dade e vida. Pelo Espírito Emmanuel.
1. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2016. cap.
necessária lisura as proposições cessário para nos tornarmos 33 – Recapitulações.
sublimes do Evangelho, para peças ajustadas na engrenagem 2
FRANCO, Divaldo P. Quando voltar
construir a nova mentalidade sublime da construção efetiva a primavera. Pelo Espírito Amélia
que edificará a era da fraterni- e perene idealizada por Jesus, ­Rodrigues. 8. ed. Salvador: LEAL. cap. 16.

dade entre os homens. Pelos para não nos arriscarmos a 3


XAVIER, Francisco C. Caminho, ver-
dade e vida. Pelo Espírito Emmanuel.
ensinos de Jesus, revividos em edificar num dia, para recons- 1. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2016. cap.
nossos tempos pelo Espiritis- truir no outro. Não s­eremos 49 – Saber e fazer.

Maio de 2020 | Reformador 35 289


Em Dia com o Espiritismo

O Evangelho, os
rituais religiosos e as
ideias materialistas
///////////////////////////////////////////

Marta Antunes Moura


martaantunes@febnet.org.br

O
s conflitos provocados ambas as organizações, há um servado em diversos grupos de
pelo Evangelho de Jesus comprometimento, maior ou animais, mas é sobretudo no
estão basicamente rela- menor, da liberdade de pensar e ser humano que o gregarismo é
cionados às práticas religiosas agir, inerente à natureza huma- mais evidente. A espécie huma-
de cultos externos e às ideolo- na. Tanto os rituais, teologias na é favorecida pela conquista
gias materialistas. Os rituais e e dogmas religiosos como as da ­razão, em que a inteligência
cerimoniais religiosos têm o ideologias materialistas agem é manifestada pelo pensamen-
poder de distanciar o discípulo na contramão do progresso es- to contínuo (não-fragmentado
da verdadeira compreensão dos piritual que, por serem imposi- como nos animais), vontade
ensinamentos evangélicos que, tivas, em geral delineadas por e livre-arbítrio. São condições
por permanecerem ocultos sob um líder ou um grupo, contra- elementares definidas pelos
o véu dos símbolos ou serem riam o maior de todos os direi- processos de humanização. En-
transmitidos de forma literal, tos naturais: a Lei de Liberdade. tretanto, se de um lado o grega-
não promovem a devida trans- Outro ponto que deve ser rismo favorece o agrupamento
formação moral do indivíduo. considerado é que, por defini- de populações mais ou menos
As ideologias materialistas, filo- ção, a espécie humana é gregária. estruturadas, permanentes ou
sóficas e políticas contrariam os O poder impositivo, religioso ou temporárias, a troca de expe-
princípios básicos da evolução não, é obstáculo ao gregarismo, riências, é necessário que a li-
humana que preconizam o pro- mecanismo natural, protetor e berdade de pensar e agir sejam
gresso moral e intelectual. Em garantidor da evolução. É ob- comuns. Todavia, os obstáculos

290 36 Reformador | Maio de 2020


impostos pelos cultos externos e devotamento, abnegação, tole- da mensagem ensinada e exem-
por ideologias materialistas ca- rância, benevolência, indulgên- plificada pelo Cristo. Assim,
minham em sentido inverso, ao cia. [...] O oposto do egoísmo. para que a Humanidade alcance
imporem empecilhos à livre ca- A fraternidade diz: “Um por o estágio do reinado do bem, as
pacidade de pensar, deduzir, in- todos e todos por um.” O egoís- concepções religiosas voltadas
terpretar e agir. Nessa situação, mo diz: “Cada um por si.” [...] para os cultos externos, presen-
indivíduo ou grupos populacio- Ora, sendo o egoísmo a chaga tes nos cerimoniais das igrejas
nais não agem por vontade pró- dominante da sociedade, en- cristãs, e as ideias materialistas,
pria, mas seguem as diretrizes quanto ele reinar soberanamen- divulgadas por pseudossábios
definidas por um líder ou pela te, impossível será o reinado da ou intelectuais, devem caducar e
voz institucional. ­fraternidade verdadeira. [...] desaparecer da face da Terra. So-
O ser humano só progri- Considerada do ponto de vis- mente assim cessarão os confli-
de em conjunto com os seus ta da sua importância para a tos com as lições do Evangelho,
semelhantes, é fato conferido realização da felicidade social, assevera Allan Kardec: “Para
pelos processos de humaniza- a fraternidade está na primei- que os homens sejam felizes na
ção. Mas a ocorrência do pro- ra linha: é a base. Sem ela, não Terra, é preciso que somente a
gresso é percebida e mensurada poderiam existir a igualdade, povoem Espíritos bons, encar-
quando ocorrem os princípios nem a liberdade séria. A igual- nados e desencarnados, que só
de igualdade e liberdade, os dade decorre da fraternidade e se dediquem ao bem [...]”.2 Por
quais, para serem atuantes pre- a liberdade é consequência das último, é útil destacar que, tan-
conizam a existência de algum duas outras.1 to os rituais religiosos como as
nível de solidariedade humana ideologias materialistas apresen-
(ou, no mínimo, troca de expe- Com base nessas argumenta- tam uma visão muito estreita do
riências). Neste sentido, Allan ções, vemos que, se a mensagem ser humano, por inserirem-no
Kardec esclarece, ao recordar do Evangelho visa a formação nos limites do berço-túmulo. Ig-
os ideais iluministas difundidos do homem de bem, meta al- noram que o Espírito é imortal,
no planeta no século XVIII: cançável pela prática da Lei de preexistente, existente e sobrevi-
Amor, Justiça e Caridade, que é vente à morte do corpo físico.
Liberdade, igualdade e fraterni- síntese da doutrina transmitida Em termos de conflitos his-
dade. Estas três palavras cons- por Jesus, surgem, então, muitos tóricos, percebemos que o jul-
tituem, por si sós, o programa conflitos, alguns de difícil reso- gamento e crucificação de Jesus
de toda a ordem social que lução, com práticas ritualísticas revelam que Ele foi alvo de per-
realizaria o mais absoluto pro- e ideias materialistas, que exi- seguição atroz, sobretudo por
gresso da Humanidade, se os gem do adepto apenas manifes- parte das autoridades religiosas
princípios que elas imprimem tações de fé ou de crença cegas. (clero judaico), administrativas
pudessem receber integral Em outro sentido, constata-se (Herodes e representantes) e
aplicação. [...] que no estágio evolutivo atual da políticas (romanos, representa-
A fraternidade, na rigorosa humanidade terrestre predomi- do pela figura de Pilatos, inter-
acepção do termo, resume to- nam o egoísmo e a vaidade, in- ventor de César na Palestina).
dos os deveres dos homens, uns dividual e de grupos, condições Até mesmo um dos membros
para com os outros. Significa: diametralmente opostas ao teor do colégio apostolar traiu Jesus,

Maio de 2020 | Reformador 37 291


iludido pelas ideias transitórias tas do Antigo Testamento, ini- d.C., e alguns ainda o cha-
da vida material. Jesus, porém, ciou-se um sórdido movimento mavam de sumo sacerdote.
tinha plena consciência de que de perseguição. Tal movimento [...] Cerca de dois anos após a
seria traído por alguém muito foi planejado e executado por crucificação de Jesus, Caifás e
próximo (“Ao cair da tarde, ele autoridades religiosas, em con- Pilatos foram ambos depostos
pôs-se a mesa com os Doze; e, luio com os herodianos e com por Vitélio, então governa-
enquanto comiam, disse-lhes: a tolerância dos romanos. Por dor da Síria, que, mais tarde,
Em verdade vos digo que um de meio de hábeis manipulações e tornou-se imperador. Caifás,
vós me entregará.” Mateus, 26:20 jogos políticos, Jesus foi condu- incapaz de suportar essa des-
e 21) e de que seria condenado à zido à suprema corte religiosa graça, e provavelmente por
morte, anunciando-a por quatro do Judaísmo, o Sinédrio, que o motivo de sua má consciência,
vezes, publicamente, mas a últi- julgou e o condenou à morte; por ter tido parte na crucifica-
ma previsão foi esta, segundo o em seguida, foi enviado ao go- ção de Jesus, suicidou-se, em
relato de Mateus, 26:2: “Sabeis vernador ou tetrarca, H ­ erodes, cerca de 35 d.C. [...]3
que daqui a dois dias será a Pás- que manteve o julgamento e
coa, e o Filho do Homem será a sentença de condenação à No Judaísmo, o sumo
entregue para ser crucificado”. morte; por último, o Mestre ­sacerdote é considerado a auto-
Todavia, Jesus viera ao mun- ­Nazareno foi encaminhado ao ridade máxima, o “sumo pon-
do como o Messias de Deus, o representante de César, Pilatos, tífice supremo e representante
enviado celestial que propôs à que, em razão das atribuições da nação judia perante Jeová
grande família humana o co- que o c­argo lhe conferia, era [Deus] [...]”.4 Logo, qualquer
nhecimento e vivência da Lei de a única pessoa que detinha o manifestação do sumo sacer-
Amor. Trata-se de uma contra- poder de suspender ou revogar dote era acatada imediatamen-
dição provocadora de conflitos, julgamentos e/ou sentenças de- te pelos seus pares. Quanto ao
que permanece atualmente. finidos pelas autoridades judias, Sinédrio, é “nome que os escri-
O caráter do homem de bem religiosas ou administrativas. tores da história e das antigui-
apregoado no Evangelho de No entanto, de forma covarde, dades judias davam ao tribunal
­Jesus estabelecia, e ainda esta- Pilatos preferiu “lavar as mãos”. supremo que deliberava sobre a
belece, sérios conflitos com prá- Dois líderes religiosos, Anás vida e os costumes dos hebreus
ticas religiosas que enfatizam e Caifás, iniciaram e alimenta- no tempo de Cristo. O Sinédrio
cultos ou rituais, já abundantes ram o processo de conspiração, compunha-se de 71 membros,
no Judaísmo, mas que se ampli- julgamento e condenação de que no período do Novo Tes-
ficariam de forma extraordiná- Jesus à morte, junto aos demais tamento era constituído de três
ria na constituição das igrejas membros do clero judaico, aos classes: Os escribas, que ge-
cristãs. Desde o momento em membros do sinédrio e aos ralmente eram fariseus; os an-
que Jesus começou a pregar o ­partidários de Herodes. ciãos, que eram os mais velhos
seu Evangelho, que reflete na dos chefes de famílias e dos
maior pureza a Lei de Deus, de Caifás foi sumo sacerdote e clãs; e os ex-sumos sacerdotes
Justiça, Amor e Caridade, atua- presidente do sinédrio, de 18 com os anciãos das quatros fa-
lizando, portanto, a Lei Antiga, a.C. a 36 d.C. Seu sogro, Anás, mílias sumo-sacerdotais. Por
estabelecida por Moisés e profe- foi sumo sacerdote de 6 a 15 ser um tribunal supremo da

292 38 Reformador | Maio de 2020


nação judia, tinha caráter tanto tidários de Herodes Antipas, sinamentos do Mestre atingiam
religioso quanto secular, podia usando-as como recurso políti- diretamente a consciência cul-
prender e coagir, mas não ti- co de poder e domínio: pada dos seus algozes, concla-
nha poder para exercer penas mando-os à observância da Lei
capitais, estas deveriam ser “A religião era usada [pelas de Deus, manifestada nos có-
confirmadas pelo g­overnador autoridades romanas] como dices do Judaísmo e na palavra
­romano [...].5 ferramenta do governo [...], dos profetas, ou nos princípios
Naquela época, o poder po- enquanto a adoração ao impe- filosóficos do Direito Romano.
lítico dos judeus estava dividido rador, que começou como um Jesus ofereceu-lhes um reina-
entre as autoridades religiosas, o movimento espontâneo, foi do de paz e alegria ao apontar-
sinédrio e Herodes, governador promovida como meio de criar -lhes o caminho do Reino dos
da Galileia. Durante a invasão um sentimento de lealdade ao Céus, por meio da vivência do
romana, a Palestina foi gover- império [romano] tanto quan- amor, da justiça e da carida-
nada pela dinastia herodiana, to ao imperador [...].6 de. Infelizes, optaram por uma
que começa com o governo de vida de provações nas futuras
­Herodes, o Grande (47–37 a.C.). Os motivos que justificavam ­reencarnações.
À época de Jesus, a G ­ alileia era essa relação espúria entre os po- Não há, porém, razão para
governada por ­Herodes Antipas deres governantes estavam no perdermos a esperança em
(4 a.C.–39 d.C.), um dos filhos apego a uma existência de pri- dias melhores. Cedo ou tarde a
de Herodes, o Grande. Antipas vilégios, prestígios, luxos e de Humanidade irá despertar do
­
foi um governante cruel, que prazeres materiais que os seus estado de hipnose em que se
cometeu vários crimes, entre representantes desfrutavam. E encontra e trilhará o caminho
eles a matança dos inocentes ninguém estava disposto a abrir do Evangelho de Jesus, que é a
(fato que promoveu a fuga de mão das condições de vida em plena manifestação da Lei de
Jesus e seus pais para o Egito), que se encontravam, mesmo Amor, cujos princípios apelam
prisão e morte por decapitação que se odiassem mutuamente para a vivência de comporta-
de João ­Batista. Foi sob ordens e vivessem sobressaltados pela mentos morais e éticos, comuns
de ­Antipas que Jesus recebeu intriga, maledicência, ganância, a todas as tradições religiosas e
as zombarias da coroa de espi- vaidade, egoísmo e orgulho. O filosofias espiritualistas. Eis al-
nhos, o manto e o bastão que conchavo político estabelecido guns e­ xemplos, como ilustração:
conferiam ao Cristo o título de entre eles, referente à conde-
falso rei dos judeus. nação e crucificação do Cristo, • Amor a Deus e ao próxi-
Entretanto, quem, efeti- foi de fácil realização. Jesus, mo: Amarás, pois, ao Senhor
vamente detinha o poder de nessas circunstâncias, passou teu Deus de todo o teu coração,
mando, acima das autoridades a ser visto como uma afronta e de toda a tua alma, e de todo
religiosas e de Herodes, eram aos poderes constituídos, que o teu entendimento, e de todas
os romanos. Eles tinham au- deveria ser eliminada imedia- as tuas forças; este é o primeiro
toridade sob qualquer aspec- tamente. Havia algo mais, po- mandamento. E o segundo, se-
to, ainda que demonstrassem rém, que transformaria para melhante a este, é: Amarás o teu
complacência com as deman- sempre a vida dos envolvidos, próximo como a ti mesmo [...]
das do clero judaico e dos par- do presente e do futuro: os en- (Marcos, 12:30 e 31).

Maio de 2020 | Reformador 39 293


• A regra de ouro: Tudo quan- Porque com o juízo com que condições nos desviam da rota
to, pois, quereis que os homens vos julgardes sereis julgados, e com a de luz que o Evangelho aponta.
façam, assim fazei-o vós também medida com que tiverdes medi- Agir com acerto é, hoje e sem-
a eles [...] (Mateus, 7:12). do vos hão de medir a vós. E por pre, desafio existencial. Ensina
• O amor como regra de que reparas tu no argueiro que Emmanuel, a propósito:
conduta: Eu, porém, vos digo: está no olho do teu irmão, e não
Amai a vossos inimigos, bendizei vês a trave que está no teu olho? Se não tens contigo as marcas
os que vos maldizem, fazei bem (Mateus, 7:1 a 3). do testemunho pela responsa-
aos que vos odeiam, e orai pelos bilidade, pelo trabalho e pelo
que vos maltratam e vos perse- Em síntese: as práticas re- sacrifício ou pelo aprimora-
guem; para que sejais filhos do ligiosas ritualísticas embo- mento íntimo, é possível que
vosso Pai que está nos céus; por- tam a mente do discípulo que ames profundamente o Mestre,
que faz que o seu sol se levante deve, apenas, obedecer, sem mas é quase certo que ainda
sobre maus e bons, e a chuva des- contestações, os seus superio- não te colocaste, junto d’Ele,
ça sobre justos e injustos. Pois, se res, definidos pela hierarquia na jornada redentora.7
amardes os que vos amam, que religiosa à qual se encontra
galardão tereis? Não fazem os filiado. As ideologias materia-
publicanos também o mesmo? listas, amplamente difundidas REFERÊNCIAS:
(Mateus, 5:44 a 46). na sociedade, agem de forma 1
KARDEC, Allan. Obras póstumas.
• Combate ao preconcei- semelhante, condicionando o Trad. Guillon Ribeiro. 1. ed. 1. reimp.
(Edição Histórica). Brasília: FEB, 2011.
to: E aconteceu que, estando adepto à obediência cega. Em 1a pt., cap. Liberdade, Igualdade e
sentado à mesa em casa deste, ambas, o indivíduo deve re- Fraternidade.
também estavam sentados à nunciar ao que lhe é mais pre- 2
______. A gênese. [1a edição – 1868].
mesa com Jesus e seus discípu- cioso: o dom de pensar. Em Trad Evandro Noleto Bezerra. 1. ed.
1. imp. (Edição Histórica Bilíngue).
los muitos publicanos e peca- consequência, deve abstrair-se ­Brasília: FEB, 2018. cap. 18, it. 27.
dores; porque eram muitos, e o da capacidade de aprender e de 3
CHAMPLIN, Russel N. O novo tes-
tinham seguido. fazer escolhas. A ausência do tamento interpretado versículo por
E os escribas e fariseus, ven- aprendizado embrutece a in- versículo. v. 1. (Mateus/Marcos). Nova
edição revisada. São Paulo: Hagnos,
do-o comer com os publicanos e teligência e o indivíduo passa 2014. cap. 13, it. 26.3, p. 672.
pecadores, disseram aos seus dis- a viver sob o império dos ins- 4
DAVIS, John. Novo dicionário da bí-
cípulos: Por que come e bebe ele tintos e das emoções; a incapa- blia. (Ampliado e atualizado). Trad. J.
com os publicanos e pecadores? cidade do uso do livre-arbítrio R. Carvalho Braga. São Paulo: Hagnos,
2005, p. 1.175.
E Jesus, tendo ouvido isto, dis- oblitera à vontade, mantendo o
5
______. ______. p. 1.163.
se-lhes: Os sãos não necessitam homem estacionário nos seus
de médico, mas, sim, os que estão processos evolutivos. 6
BRUCE, F. F. Comentário bíblico NVI
– Antigo e Novo testamentos. Trad.
doentes; eu não vim chamar os jus- O processo de ascensão es- ­Valdemar Kroker. 2. ed. São Paulo: Edito-
tos, mas, sim, os pecadores ao ar- piritual exige esforço perse- ra Vida, 2012. it. O pano de fundo religio-
rependimento (Marcos, 2:15 a 17). verante, a fim de que não nos so no novo testamento (pagão), p. 1003.

• Não julgar as ações do ­precipitemos nas armadilhas do 7


XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo
Espírito Emmanuel. 1. ed. 13. imp.
próximo: Não julgueis, para que ego nem sejamos influenciados ­Brasília: FEB, 2018. cap. 140 – Após
não sejais julgados. por ações atávicas. Ambas as Jesus.

294 40 Reformador | Maio de 2020


Os deficientes e a
realidade espiritual
///////////////////////////////////////////

Orlando Ayrton de Toledo


ayrtontoledo@gmail.com

E
ntende-se por deficien- provisória, das manifestações minada “Nosso Ninho”, com
te todo indivíduo, adul- físicas ou mentais do Espírito, crianças acometidas de duas
to ou criança, que se e que cessam com a libertação modalidades de deficiência não
desvia, física, intelectual ou do vaso corpóreo por meio da necessariamente simultâneas:
emocionalmente, daquele que desencarnação. Essa limitação, surdez e deficiência mental
é considerado normal quan- ensina-nos a Doutrina Espí- leve. Em ambas, independen-
do comparado aos padrões de rita, faz parte dos meios que a temente da idade cronológi-
crescimento e desenvolvimento Justiça Divina oferece para re- ca, observava-se nas crianças
e que, por isso, pode necessitar paração de faltas cometidas e uma vontade muito grande de
educação adequada, requeren- para a evolução gradativa dos ­vencer as barreiras da comu-
do ainda cuidados especiais Espíritos. nicação, com o objetivo de se
durante toda a existência.1 En- Durante nossa residência ­relacionarem com os orienta-
tretanto, sob o ponto de vista da na cidade de Araraquara, os dores e com seus companhei-
realidade espiritual da vida, de- amigos espirituais forneceram ros de Instituição. A própria
vem ser considerados normais. para a nossa atual jornada ter- natureza parecia contribuir
A deficiência se evidencia rena a feliz oportunidade de com esse esforço, amplian-
como uma limitação, apenas conviver, na Instituição deno- do recursos não t­otalmente

Maio de 2020 | Reformador 41 295


e­ xplorados pela estrutura A Doutrina Espírita, objeti- VERSOS
constituída de períspirito e vo certo para aquele que busca
corpo material. Assim é que, a verdade e consegue encontrá- Vivi na mansão das sombras,
da mesma forma que crianças -la nas lições de Jesus, será tam- Desterrado;
desprovidas, total ou parcial- bém, para aqueles identificados Na noite das trevas densas,
mente, da visão, desenvolviam como deficientes, o bálsamo Sepultado.
extraordinária capacidade au- tranquilizante para suas dores,
ditiva; aquelas atingidas pela o esclarecimento convincente Entrei no sepulcro escuro,
surdez podiam ser estimuladas para o seu equilíbrio emocio- Nascendo;
à percepção de ondas vibrató- nal, o estímulo seguro para os E dele fugi feliz,
rias que substituíam, em parte, seus anseios de progresso e a Morrendo.
as ondas sonoras. Observemos paz serena para o seu coração.
que já existe, há algum tempo, Um exemplo convincen- É que a vida material
aparelhagem eletrônica capaz te de apoio doutrinário do É a prisão,
de auxiliá-las nesse objetivo. Espiritismo e, muito pro-
­ Onde a alma é encarcerada
Um mesmo estímulo pode vavelmente, dos mensa- Na aflição;
ser extraordinariamente re- geiros ­ e spirituais, pode ser
forçado quando o deficiente ­encontrado na trajetória de E a vida da alma é a nossa
se compenetra da imortali- ­C asimiro Cunha, poeta que Liberdade,
dade do Espírito, bem como viveu no Brasil entre 1880 e Onde as luzes recebemos
de sua supremacia sobre o 1914. Espírita confesso, per- Da Verdade.
corpo material perecível. Este deu uma das vistas aos 14
fato contribui para explicar o anos, e a outra aos 16. Órfão Aqueles a quem chama-
sucesso alcançado por escri- de pai desde os 7 anos, fre- mos de deficientes merecem
tores, músicos e atletas que quentou a escola apenas no sempre o nosso apoio e a nos-
enfrentaram as provas da de- ensino elementar, mas con- sa compreensão, solidários
ficiência física e da deficiência seguiu projetar-se no cená- como devemos ser com todos
mental, como aliás pudemos culo literário do seu tempo, quantos transitam conosco
observar nas Paraolimpía- merecendo ainda algumas
­ por este mundo de expiação e
das realizadas recentemen- páginas na obra Parnaso de provas, em busca do progresso
te. Naquela o­ portunidade, a além-túmulo, pela psico- ­comum.
força de vontade exibida pe- grafia de Francisco Cândi-
los competidores comoveu do Xavier. 2 Nessas páginas,
o nosso planeta, não apenas destacamos estes Versos que,
pelas lições do esforço para com toda a sua simplicida-
conseguir a autossuperação, de, confirmam a certeza de REFERÊNCIAS:
mas também pela comoven- que o Espiritismo pode con- 1
GRUNSPUN, Haim. Distúrbios neu-
te alegria demonstrada com tribuir para a superação das rológicos da criança. 2. ed. Rio de
­Janeiro: Atheneu, 1966.
a chance de competir, ven- deficiências reveladas pelo 2
XAVIER, Francisco C. Parnaso de
cendo ou sendo vencidos, na organismo físico durante a além-túmulo. (Poesias mediúnicas).
­g lorificação da vida. ­encarnação: 19. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016.

296 42 Reformador | Maio de 2020


Os romances históricos
de Emmanuel
///////////////////////////////////////////

Wesley Caldeira
weslleyscaldeira@gmail.com

D
erivado da poesia épica, O romance de aventura co- preferem perscrutar a alma,
aquela que na Antigui- loca um herói sob o desenrolar em profundas sondagens, des-
dade cantava grandes de acontecimentos inespera- velando tendências, conflitos,
feitos, o gênero literário roman- dos, em espaços hostis ou exó- desejos, temores. Ligações pe-
ce apareceu na Grécia, no sécu- ticos, cujos perigos desafiam rigosas (1782), de Choderlos
lo anterior a Jesus, escrito em suas qualidades e capacidades. de Laclos, é um exemplo clás-
prosa e, por isso, destinado à Esse subgênero leva o leitor à sico. Stendhal, em O vermelho
­leitura e não à recitação. fuga da realidade, pelo distan- e o negro (1830), e D­ ostoiévski,
O romance é um gênero nar- ciamento do que lhe é familiar, em Crime e castigo (1866),
rativo que apresenta uma his- e assim gera entretenimento. elevaram esse subgênero a ní-
tória completa, composta por Entre os pioneiros estão A ilha vel talvez insuperável. Dom
enredo, temporalidade, ambien- do tesouro (1883), de Robert ­Casmurro (1900), de Machado
tação e personagens variados, Louis Stevenson e As minas do de Assis, fez a magnífica estreia
centralizada numa trama, com rei Salomão (1885), de Rider do romance psicológico na
outras que lhe são paralelas. Haggard. ­literatura brasileira.
A teoria literária classifica-o No extremo oposto estão Outro subgênero que nos
em subgêneros. os romances psicológicos, que interessa aqui é o romance

Maio de 2020 | Reformador 43 297


h­ istórico, em que a narrativa so- lhor dos romances históricos; o pensamento europeu com a
bre os indivíduos interage com o evento que faz a mediação ânsia de objetividade na Ciên-
fatos históricos relevantes. entre os personagens e o tem- cia e na Filosofia, a fim de
Vários especialistas con- po do mundo público é a in- produzir progresso. Em rea-
sideram Waverley o primeiro vasão da Rússia por Napoleão ção, um grande movimento
romance histórico. Escrito em Bonaparte. Guerra e paz foi, artístico e filosófico opôs-se
1814 pelo escocês Walter Scott, sem dúvida, incomparável, a essa percepção reducionis-
esse livro e, também, O cora- pelo menos até 1941, quando, ta nas duas últimas décadas
ção de Midlothian, de 1818, do na humilde Pedro Leopoldo, o do século XVIII e por gran-
mesmo autor, definiram as ca- Espírito Emmanuel psicogra- de parte do século XIX. Foi
racterísticas desse subgênero. fou Paulo e Estêvão, por inter- o advento do Romantismo,
Waverley está associado à his- médio do médium Francisco centrado no indivíduo, na
tória da Escócia, cuja sociedade Cândido Xavier, cujos estudos subjetividade como funda-
retratou. Seu protagonista, que se restringiram à 4a série do mento da condição humana,
lhe dá nome, viaja das terras curso primário. O livro apre- propondo atenção ao “Eu”
“civilizadas” da Inglaterra para senta a vida do Apóstolo Paulo por meio do exame dos vícios
as regiões “semicivilizadas” da entre episódios históricos do e virtudes, dos sonhos e me-
Escócia, para entrar em contato Cristianismo Primitivo que ti- dos, do sagrado e profano, do
com os povos “selvagens” das veram curso do ano 34 ao 64, bem e mal, porque, no fundo,
Terras Altas. A obra se tornou quando provavelmente o mes- há algo de belo e sublime no
um sucesso popular e global. tre tarsense foi martirizado. sentimento humano. Logo, a
Sua influência no Brasil mo- Desde Paulo e Estêvão, ­cremos, dualidade humana se notabi-
veu a pena de José de Alencar não é mais possível susten- lizou como um dos temas fun-
em As minas de prata (1865); tar facilmente o p­rimado do damentais do século XIX, seja
em Portugal, fez Alexandro ­romance de Tolstói. para os adeptos dessa escola,
Herculano escrever Eurico, o Há dois mil anos (1939), seja para escritores e artistas
­Presbítero (1844). Cinquenta anos depois (1940), de outras vertentes. G ­ oethe,
O romance histórico re- que estão completando 80 anos Robert Louis Stevenson,
­
constrói – com fidelidade ao de publicação, Paulo e Estêvão ­Oscar Wilde e H. G. Wells, em
real, empregando o recurso (1941), Renúncia (1944) e Ave, suas obras Fausto (1808), O
chamado “autenticidade de cor Cristo! (1953) foram os roman- médico e o monstro (1886), O
local” – ambientes, costumes, ces históricos psicografados retrato de Dorian Gray (1890)
vestuários, falas e instituições pelo Espírito Emmanuel, por e A máquina do tempo (1895),
do passado, servindo-se de meio de Chico Xavier. Além respectivamente, pareciam
personalidades referenciais ao da excelência da reconstrução imbuídos da missão de devas-
lado de personagens que po- da “cor local”, esses romances sar o interior do homem, em
dem ser ficcionais, de modo dedicam acentuada atenção à preparação à Psicologia, que
que o enredo interatua com a psicologia de seus personagens, ainda não havia nascido como
história coletiva. que são reais. ciência independente.
Guerra e paz (1869), de No século XVIII, o Racio- Em Fausto, o protago-
Tolstói, é considerado o me- nalismo iluminista dominou nista aposta sua alma com

298 44 Reformador | Maio de 2020


­ efistófeles em troca de co-
M [...] Foi, portanto, a natureza pela sociedade, e libertando,
nhecimento, juventude e pra- de minhas aspirações, mais do quando queira, a reprimida
zer, numa figuração do novo que qualquer defeito particu- contraparte íntima, hedonis-
homem, o moderno, e sua lar, que contribuiu para me fa- ta, violenta e cruel, que ele
ruptura com o homem medie- zer assim, com um fosso mais chama de Mr. Hyde, de hide,
val, temente a Deus. Goethe, profundo do que tem a maio- “oculto” em inglês. Mas a in-
o sábio mestre da cidade de ria dos homens, separando as venção subjuga seu criador,
­Weimar, um dos mais impor- zonas do bem e do mal que que se torna dependente dela
tantes romanticistas, descreveu dividem e compõem a dupla e não consegue controlar seus
a d­ ualidade no personagem: natureza humana. (Tradução
­ efeitos. Nesse livro, Stevenson
de Lígia Cademartori para a profetiza o fracasso da Ciên-
No meu corpo há duas al- FTD, em 1989). cia na solução do problema da
mas em competição, / Anseia dualidade.
cada qual da outra se apar- Foi pelo lado moral, e em Mas uma nova ciência já
tar. / Uma, rude, me arrasta minha própria pessoa, que iluminava os horizontes ter-
aos prazeres da terra, / E se aprendi a conhecer a profun- renos, o Espiritismo, cuja
apega a este mundo, anseios da e primitiva dualidade do doutrina revelou as principais
redobrados; / Outra ascende homem. Percebi que, das duas causas da dualidade, que, ex-
nos ares; nos espaços erra, / naturezas que se debatiam em cetuados os casos clínicos,
Aspira à vida eterna e a seus minha consciência, mesmo são: a) As naturezas espiritual
antepassados. / Oh, se existem que eu pudesse me identificar e corporal do homem reque-
espíritos no alto firmamento com uma ou com outra, isso rendo definição: qual é o su-
[...] / Que desçam dessa névoa só era possível porque, radi- jeito e qual é o objeto? b) A
áurea, num momento, / E me calmente, eu era dois [...]. Era reação da consciência – repo-
levem a essa nova e brilhan- uma maldição para a humani- sitório das Leis Morais divinas
te existência! (Tradução de dade ter presos um ao outro – às ideias, aos sentimentos e
Alberto Maximiliano para a
­ fardos tão irreconciliáveis, às condutas que ela reprova;
Nova C ­ ultural, em 2003). opostos em luta contínua no c) O afloramento de reflexos
doloroso limbo da consciên- incondicionados na persona-
Robert Louis Stevenson cia. Como, então, eles pode- lidade atual, oriundos dos há-
criou uma parábola psicológica riam ser separados? (­Tradução bitos inferiores estratificados
profunda em O médico e o mons- de Lígia ­Cademartori para a na personalidade de existên-
tro, representação fascinante do FTD, em 1989). cia anterior, num confronto
fenômeno da dualidade: de velhas tendências e novas
Doutor Henry Jekyll cria aspirações; d) A lei de causa-
[...] quando cheguei à idade uma fórmula química que lidade, que aproxima pessoas
da reflexão e me olhei para permite aos seus dois “Eu” se e provas com as quais deve-
avaliar minha posição e meu dissociarem, psíquica e moral- mos nos harmonizar, fazen-
progresso no mundo, me des- mente, mantendo a já conhe- do dos outros e dos desafios
cobri comprometido com uma cida personalidade de emérito existenciais espelhos de nos-
profunda duplicidade de vida. médico e filantropo, admirado sas imperfeições a corrigir;

Maio de 2020 | Reformador 45 299


e) A obsessão espiritual, em flexos das ligações passionais de maneiras de viver que V­ arro
que um indivíduo busca o ilícitas cultivadas no passado. e Lívia deixaram para trás e es-
­governo mental de outro. Estêvão é o chamado exterior tão próximos de vencer em si
Isso e mais podemos encon- para que Paulo nasça em Saulo mesmos para sempre. ­Varro,
trar na leitura dos romances (Paulo e Estêvão), aprendendo em tempos recuados, fora
históricos de Emmanuel para com ­Estêvão a edificar a man- partidário do poder político e
explicar a manifestação desse suetude e a afetividade supe- inescrupuloso usuário da for-
“ser” desconhecido, ou repri- rior e conservando de Saulo a ça em favor dos objetivos da
mido, em nós, que, em certas vontade viril e a racionalida- vaidade e do orgulho pessoais.
situações, predomina sobre o de. Alcíone vem das estrelas Depois de longa redenção,
“Eu” que queremos ser. ­visitar as sombras do egoísmo agora no século III, é paladino
André de Gioras, adver- reinante nas emergentes socie- da causa cristã, e expurga os
sário do senador romano dades burguesas europeias, e se últimos resquícios de velhos
­Publius Lentulus (Há dois mil converte tanto num centro de ­sentimentos e ­propósitos.
anos), vive de certa forma em afeições, como em fonte de luz Os romances de E­ mmanuel
Publius, pois ambos são almas viva para o lado interior sadio não deveriam ser lidos como
orgulhosas, de severidade vai- dos indivíduos que a cercam se fossem romances de aven-
dosa e impiedosa. A atração e (Renúncia). Opílio Vetúrio e tura, com ansiedade de se ex-
perseguição de Lólio ­ Úrbico ­Helena embaraçam a felicida- perimentar emoções fortes
a Alba Lucínia e de Cláudia de familiar de Quinto Varro e e de se chegar a desfechos.
­Sabina a Helvídio Lucius (Cin- ­Lívia (Ave, Cristo!), e ao mes- São romances em que épo-
quenta anos depois) são re- mo tempo são a representação cas e dramas reaparecem com

300 46 Reformador | Maio de 2020


p­ ujança nunca vista, resgata- motivação e da conduta, em da vera fraternidade. Da sín-
dos da memória multimilenar ilustrações atraentes e escla- tese de Estêvão e Saulo, ­Paulo
do autor, que é grande escritor, recedoras, tendo por objeto descobriu o Cristo vivendo
acompanhados de p­rofundas principal o estudo da moral, em sua intimidade, como uma
investigações psicológicas de por meio de homens e mulhe- fonte ignorada de amor que
personalidades que viveram ao res que têm a alma esquadri- antes se retraía em abismais
longo de mais de vinte ­séculos, nhada pelo autor. O olhar do profundezas, deixando-lhe a
se tomamos em consideração leitor é educado para se voltar alma ressecada. A psicologia
os registros da reencarnação para dentro, para seus deveres de Alcíone – como salientou
da personagem F­ lávia L
­ entulus de consciência, suas possibili- Emmanuel na abertura da
(Há dois mil anos) na G ­ récia dades e seus limites, bem como narrativa – é bem mais com-
clássica e as lutas da perso- para identificar os ascendentes plexa do que se possa imagi-
nagem ­Alcíone (Renúncia) na espirituais que organizam o nar ao primeiro exame, pois,
França e E ­ spanha do fi­ nal do destino momentâneo. na grandeza de sua dedicação,
século XVII. O contexto his- O que os gênios da literatu- vemos o amor renunciando à
tórico é extremamente bem ra questionaram no século XIX glória da luz no Infinito para
reconstruído, reavivando fa- quanto à superação da duali- se mergulhar num mundo
ses e eventos determinantes dade, Allan Kardec esclareceu destinado ao exílio e à expia-
da marcha da civilização ter- com a Doutrina Espírita, no ção, e, não obstante, esse gesto
restre, que se encontram al- mesmo período, e Emmanuel revela que a Terra é também
gumas vezes r­egistrados com ilustrou com seus romances no uma escola sublime, digna de
datas e denominações, descri- século XX. ser visitada pelos gênios celes-
ções e apontamentos confusos André de Gioras e Publius tes. Alcíone deixou atrás de si
e obscuros pela mão viciada Lentulus, num derradeiro en- um rastro de luz para que as
dos narradores humanos, con- contro, puderam selar com almas de seu amor que não
forme observa Emmanuel na o perdão o fim do ódio, li- puderam segui-la de imediato
Carta ao leitor em Cinquenta bertando neles a contraparte possam alcançá-la no futuro.
anos depois. O estudo psico- íntima sadia; ainda assim, e Quinto Varro e Lívia, espolia-
lógico das decisões e indeci- apesar de cristão no fim da dos na Terra de seus direitos
sões dos personagens, ante as existência, o senador não ad- de família, conquistaram ci-
convocações éticas do Evan- quiriu méritos reparadores dadania perene junto à famí-
gelho, sugere leitura cuidado- de seus grandes erros. ­Lólio lia do Reino dos Céus, sendo
sa e meditativa: ensina a amar Úrbico e Helvídio Lucius,
­ exitosos na mudança de rumo
o trabalho e as penas de cada Cláudia Sabina e Alba Lucínia, espiritual do ente por eles
dia, a guardar-se na vigilân- de retorno à Vida Espiritual, ­especialmente amado.
cia e na ­oração, oferecendo, inspirados pelos exemplos de São histórias oferecidas por
ainda, conforto íntimo e re- Célia, intermediados pelo de- um coração sábio e sensível, em
novação das esperanças. Não votamento de Cneio Lucius e nome da Vida, para que haja mais
são obras de entretenimento, estimulados igualmente pelo vida em nosso coração; são teste-
mas impressionantes cursos perdão, aceitaram nova incur- munhos de que o nosso verda-
de história e de psicologia da são reencarnatória em busca deiro lar brilha mais além.

Maio de 2020 | Reformador 47 301


Mea-culpa
///////////////////////////////////////////

Patrícia Carvalho Saraiva Mendes


patrícia@adpeople.com.br

E
m sua mensagem de Ano- cumprimento da promessa fei- O erro é atávico e nele já
-Novo, no principiar de ta por Ele mesmo, na condição nos inserimos outras vezes: re-
2020, o insigne arauto de Doutrina trazida a nós pelas trocedendo em alguns séculos
Divaldo Pereira Franco sur-
­ abençoadas mãos do Codifica- ­ver-nos-emos, em outras rou-
preendentemente nos brinda a dor, apesar de termos essa bús- pagens físicas, enclausurando as
todos, os espíritas, com o signi- sola infalível a nos guiar, temos verdades do Evangelho de J­ esus
ficativo alerta de “que nunca o estado, em muitas lides, por nos cenários frios dos mostei-
Movimento Espírita necessitou muitas vezes, l­amentavelmente, ros, assim agindo porque não
tanto de Espiritismo...”, para desnorteados. conseguíamos vivê-las efetiva-
emudecer-nos ainda mais, de- Em vez de vivermos as be- mente, nas relações de alteri-
clarando que “penetramos nas lezas excelsas do Espiritismo, dade. Caminhemos em sentido
linhas do Movimento [Espíri- portas adentro de nossas casas contrário, na esteira do tempo,
ta], e nem sempre a Doutrina espíritas, vimos cotidianamen- um tanto mais, e lá estamos nós
penetra em nosso coração”.1 te criando complicadores a mesmos novamente, com aque-
Tão grave quão surpreenden- essa vivência, o mais das vezes loutras vestimentas encarnató-
te, no entanto, a assertiva é real. desnecessários, oriundos tão rias, apondo as sublimes belezas
Nas searas espíritas, con- somente do nosso humano e da Boa-Nova na ponta da lança
quanto estejamos permanente- falível proceder, do nosso mo- ou na lâmina da espada, porque
mente abraçados pela p­ ulcritude dus operandi, plenamente des- não nos era possível, naquele
renovada do Evangelho de Nos- vinculado das esferas de ação instante, atender ao chamado
so Senhor, que ora nos volta, em luminosas do Cristo. do Cristo na condição de seres

302 48 Reformador | Maio de 2020


humanos pacíficos, que dirá ção, ainda assim estamos arris- verdadeiramente não preci-
pacificadores; um tanto mais cando perder-nos novamente, samos, na Seara do Cristo, de
retrogrademos, e eis que lá no- na escuridão de nós mesmos, títulos que se adiram ao nos-
vamente estamos, travestindo a entregando-nos, em nosso la- so nome, nem de cargos que
verdade libertadora de Jesus em bor espírita, a atitudes que nos nos definam. Não carecemos
pretensos dogmas ultramonta- atam a paixões ­inferiores e a de nada disso, para vivenciar-
nos de posse de alguns poucos posturas autocentradas, com- mos verdadeiramente o amor,
apenas, quais fossem, esses, os pletamente desvencilhadas da para vivermos o amor, para
“escolhidos”, diante da mas- simplicidade da m ­ensagem sermos consoante o Amor,
sa popular tida, por nós, como ­nazarena. porque “fora da caridade
rude e ignara... Assim é que, dando vazão não há salvação”2 a que nos-
Assumindo a mea-culpa às viciações de alma que ain- sas a­ lmas aspiram, e, não por
de quem se reconhece como da trazemos, ficamos tentados acaso, em sua origem, o vo-
alma equivocada desde pris- a impor pontos de vista, sem cábulo caridade leciona-nos,
cas eras, porquanto erramos, sequer buscar compreender o ­etimologicamente, de amor.
sim, em todos esses momen- alheio proceder; queremos di- Sem querer tergiversar com
tos históricos passados, forço- tar condutas, arvorando-nos a verdade: se cedemos às ciladas
so é admitir que hoje, à frente em juízes que não apõem, na do ego, afastamo-nos da pureza
do Movimento Espírita, locus balança das medidas, o peso do Cristo!
de reabilitação moral a nós indissoluto da amorosidade; Neste momento, a m­ ea-culpa,
concedido por misericórdia propomo-nos como divulga- a assunção da responsabilidade
divina, desafortunadamente dores da imaculada Doutrina, diante de posturas equivocadas
­também aí estamos i­ ncorrendo mas somente querendo expô- assumidas ao longo do caminho
no ­risco de errar de novo. -la, como loquazes oradores, como trabalhadores espíritas é
Lamentavelmente estamos, sem coragem para o sacrifício nossa, e a nós nos pertence, a
de maneira lúgubre, trazendo, de buscar viver o que se prega. todos que, hesitantes, percebe-
para dentro dos centros e das Quem assim age, em ver- mo-nos ainda na condição de
sociedades espíritas, as estru- dade, presta grave desserviço à quem pretende melhorar sem
turas rijas e hierárquicas de Doutrina que diz amar. antes melhorar-se a si mesmo.
outrora, colocando-nos, con-
­ Consultemos a própria cons- A pergunta que ora se faz é:
forme já o fizemos em vidas ciência e retomemos a marcha o quanto temos contribuído, de
que se foram, como sequazes ascensional, enquanto é tempo. verdade, para a consolidação
em torno de expressões pes- ...Espíritas, a nós, coragem! do Consolador Prometido por
soais, e alocando-nos ao largo Primeiro, vamos à transfor- Jesus, na Terra?!
de adjuntâncias que apenas ali- mação operosa de nós mesmos! Não se trata aqui de conta-
mentam o egotismo que ainda Essa, a tarefa-mor: a nossa bilizar quantas preleções temos
jaz em nosso ser. própria modificação moral, no- feito, ou de arrolar em quantos
Sobejamente presenteados minada de reforma íntima, que postos formais de trabalho es-
com a Doutrina dos Espíritos, ora se faz impostergável. tamos colocados, tampouco
derramada das mais Altas Esfe- Crescendo em nós a hu- averiguar quantos títulos pre-
­
ras às nascentes do nosso cora- mildade, perceberemos que tensamente honrosos p­ ortamos,

Maio de 2020 | Reformador 49 303


nos cenários do mundo. Não, porque, quando sinceramente ver (Mateus, 13:13), a que Jesus
não se trata disso, mas do quan- sentido, nas fímbrias aman- nos conclama, para que pos-
to temos conseguido vivenciar o tíssimas do nosso coração, o samos ser verdadeiramente, se
que pregamos; do quanto temos amor dói. não hoje, certamente amanhã,
conseguido efetivamente amar, Se ainda não vivenciamos as vozes vivas do Evangelho
e do quanto temos buscado ver- nada disso, se a dor de outrem que é d’Ele, porque é isso que
dadeiramente nos apagar, para ainda não nos alcança sincera- Ele espera que sejamos, desde
que Ele brilhe. mente, então, seriamente con- sempre.
Espiritualmente, não con- fessando, temos sido apenas Em nome do Cristo de
tam a nosso favor as horas de pálido esboço de trabalhadores Deus, saibamos viver, segun-
trabalho, se não verdadeira- verdadeiros da Messe cristã. do as palavras do benfeitor
mente sentidas; não advogam A satisfação egóica, con- Emmanuel, “[...] À luz da fra-
a nosso favor os portentosos quanto disfarçada de preten- ternidade pura [...]”,3 em favor
títulos, porque concedidos so interesse pela causa, será de nós mesmos.
por pessoas tão falíveis quan- sempre a expressão do caráter
to nós mesmos; tampouco hão voluntarioso, a vontade per- REFERÊNCIAS:
de nos favorecer os lugares a niciosa de aparecer, de sentir- 1
FRANCO, Divaldo P. Reflexões para
que galgarmos graças às cáte- -se superior aos demais, que um novo ano. Produzido por FEBTV.
dras terrenas: somente dirão emerge dos porões da nossa Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=3fVECTzrtqM. Acesso
de nós o pranto sinceramente inconsciência, fruto de vícios em: 8 jan. 2020.
derramado; o perdão verda- atávicos que, se não ainda su- 2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
deiramente oferecido, como perados, não hão de ser trazi- o espiritismo. Trad. Guillon ­Ribeiro.
flâmula de libertação de nós dos, por nossa própria falha, ao 131. ed. 8. imp. (Edição Histórica).
­Brasília: FEB, 2017. cap. 15.
mesmos, não do ouro; tan- seio do Movimento E ­ spírita.
3
XAVIER, Francisco C. O consolador.
to quanto o amor concedido, Espíritas, tenhamos, a nos- Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 8. imp.
cedido, vivido, doído em nós, so próprio respeito, os olhos de Brasília: FEB, 2018. q. 366.

istockphoto.com/scyther5

Espíritas! amai-vos, este


o primeiro ensinamento;
instruí-vos, este o segundo.

304 50 Reformador | Maio de 2020


P ág i n a s E s co l h i da s
Allan Kardec

Considerações
sobre a fé1
///////////////////////////////////////////

Léon Denis

A
fé é a confiança da cria- Foi neste sentido que se disse É cega a fé religiosa que
tura em seus destinos, é que a fé transporta montanhas, anula a razão e se submete ao
o sentimento que a eleva pois, como tais, podem ser con- juízo dos outros, que aceita
à infinita Potestade, é a certeza sideradas as dificuldades que os um corpo de doutrina verda-
de estar no caminho que vai inovadores encontram no seu deiro ou falso, e dele se torna
ter à verdade. A fé cega é como caminho, ou seja, as paixões, a totalmente cativa. Na sua im-
farol cujo vermelho clarão não ignorância, os preconceitos e o paciência e nos seus excessos,
pode traspassar o nevoeiro; a fé interesse material. a fé cega recorre facilmente à
esclarecida é foco elétrico que Geralmente se considera a perfídia, à subjugação, condu-
ilumina com brilhante luz a fé como mera crença em certos zindo ao fanatismo. Ainda sob
­estrada a percorrer. dogmas religiosos, aceitos sem este aspecto, é a fé um podero-
Ninguém adquire essa fé exame. Mas a verdadeira fé está so incentivo, pois tem ensinado
sem ter passado pelas tribula- na convicção que nos anima e os homens a se humilharem e
ções da dúvida, sem ter padeci- nos arrebata para os ideais ele- a sofrerem. Pervertida pelo es-
do as angústias que embaraçam vados. Há a fé em si próprio, em pírito de domínio, tem sido a
o caminho dos investigadores. uma obra material qualquer, a causa de muitos crimes, mas,
Muitos param em esmorecida fé política, a fé na pátria. Para em suas consequências funes-
indecisão e flutuam longo tem- o artista, para o pensador, a fé tas, também deixa transparecer
po entre opostas correntezas. é o sentimento do ideal, é a vi- suas grandes vantagens.
Feliz quem crê, sabe, vê e ca- são do sublime fanal aceso pela Ora, se a fé cega pôde pro-
minha firme. A fé então é pro- mão divina nos alcantis eternos, duzir tais efeitos, que não rea-
funda, inabalável, e habilita-o a a fim de guiar a ­Humanidade ao lizará a fé esclarecida pela
superar os maiores obstáculos. bem e à verdade. ­razão, a fé que julga, discerne

Maio de 2020 | Reformador 51 305


e ­ compreende? Certos teólo- i­nstigando-o à luta, encorajan- O espírita conhece e com-
gos exortam-nos a desprezar a do-o nos momentos perigosos. preende a causa de seus males;
razão, a renegá-la, a rebatê-la. Para produzir tais resulta- sabe que todo sofrimento é legí-
Deveremos por isso repudiá-la, dos, necessita a fé repousar na timo e aceita-o sem murmurar;
mesmo quando ela nos mostra base sólida que lhe oferecem sabe que a morte nada aniquila,
o bem e o belo? Esses teólogos o livre-exame e a liberdade de que os nossos sentimentos per-
alegam os erros em que a razão pensamento. Em vez de dogmas duram na vida de Além-Túmulo
caiu e parecem, lamentavel- e mistérios, cumpre-lhe reco- e que todos os que se amaram na
mente, esquecer que foi a ra- nhecer tão somente princípios Terra tornam a encontrar-se, li-
zão que descobriu esses erros e decorrentes da observação dire- bertos de todas as misérias, longe
­ajudou-nos a corrigi-lo. ta, do estudo das Leis Naturais. desta lutuosa morada; conhece
A razão é uma faculdade Tal é o caráter da fé espírita. que só há separação para os maus.
superior, destinada a esclare- A filosofia dos Espíritos vem Dessas crenças resultam-lhe con-
cer-nos sobre todas as coisas. oferecer-nos uma fé racional solações que os indiferentes e
Como todas as outras faculda- e, por isso mesmo, robusta. O os céticos ignoram. Se, de uma
des, desenvolve-se e engran- conhecimento do mundo in- extremidade a outra do mundo,
dece pelo exercício. A razão visível, a confiança numa lei todas as almas comungassem
humana é um reflexo da razão superior de justiça e progres- nessa fé poderosa, assistiríamos à
eterna. É Deus em nós, disse so imprime a essa fé um duplo maior transformação moral que a
São Paulo. Desconhecer-lhe o ­caráter de calma e segurança. História jamais registrou.
valor e a utilidade é menospre- Efetivamente, que podere- Mas essa fé, poucos ainda
zar a natureza humana, é ultra- mos temer quando sabemos que a possuem. O Espírito de Ver-
jar a própria Divindade. Querer a alma é imortal e quando, após dade tem falado à Terra, mas
substituir a razão pela fé é ig- os cuidados e consumições da insignificante número o tem
norar que ambas são solidárias vida, além da noite sombria em ouvido atentamente. Entre os
e inseparáveis, que se consoli- que tudo parece afundar-se, ve- filhos dos homens, não são os
dam e vivificam uma à outra. A mos despontar a suave c­ laridade poderosos os que o escutam,
união de ambas abre ao pensa- dos dias infindáveis? e, sim, os humildes, os peque-
mento um campo mais vasto: Essencializados da ideia de nos, os deserdados, todos os
harmoniza as nossas faculdades que esta vida não é mais que um que têm sede de esperança. Os
e traz-nos a paz interna. instante no conjunto da existên- grandes e os afortunados têm
A fé é mãe dos nobres senti- cia integral, suportaremos, com rejeitado os seus ensinos, como
mentos e dos grandes feitos. O paciência, os males inevitáveis há dezenove séculos repeliram
homem profundamente firme e que ela engendra. A perspectiva o próprio ­Cristo. Os membros
convicto é imperturbável dian- dos tempos que se nos abrem do clero e as associações sábias
te do perigo, do mesmo modo dar-nos-á o poder de dominar ­coligaram-se contra esse “des-
que nas tribulações. Superior às as mesquinharias presentes e mancha-prazeres”, que vinha
lisonjas, às seduções, às amea- de nos colocarmos acima dos comprometer os interesses, o
ças, ao bramir das paixões, ele vaivéns da fortuna. Assim, sen- repouso e derruir-lhes as afir-
ouve uma voz ressoar nas pro- tir-nos-emos mais livres e mais mações. Poucos homens têm a
fundezas da sua consciência, bem armados para a luta. coragem de se desdizerem e de

306 52 Reformador | Maio de 2020


confessarem que se enganaram. Mediunidade atormentada1
O orgulho escraviza-os total-
mente! Preferem combater toda /////////////////////////////////////
a vida esta verdade ameaçadora
que vai arrasar suas obras efê- Emmanuel (Espírito)
meras. Outros, muito secreta-

D
mente, reconhecem a beleza, a iante das explosões de agressividade sentimental, é preciso
magnitude desta doutrina, mas considerar não apenas o quadro visível dos companheiros
se atemorizam ante suas exi- transfigurados de cólera ou desespero.
gências morais. Agarrados aos Se estudas mediunidade e percebes que ela se baseia, acima de
prazeres, almejando viver a seu tudo, em princípios de sintonia, pondera nas forças desequilibra-
gosto, indiferentes à existência das que atuam, frequentemente, nessas ocasiões, por trás da pessoa
futura, afastam de seus pensa- ­aparentemente sadia.
mentos tudo quanto poderia in- Na Terra, sempre nos comovemos perante a chapa radiográfica
duzi-los a repudiar hábitos que, que acusa a presença de moléstia insidiosa em determinado órgão,
embora reconheçam como per- predispondo-nos à simpatia pelo doente, e quase nunca refletimos
niciosos, não deixam de ser afa- na gravidade do processo obsessivo, por enquanto inauscultável
gados. Que amargas decepções pela perquirição humana, a destruir as melhores possibilidades da
irão colher por causa d­essas criatura.
loucas evasivas! Muito mais do que podemos supor, somos defrontados, no pla-
A nossa sociedade, absorvida no físico, pelos irmãos dominados por elementos vampirizadores,
completamente pelas especu- seja por um minuto, uma hora, um dia ou longo tempo.
lações, pouco se preocupa com Muitos crimes se cometem e muitos desastres se verificam,
o ensino moral. Inúmeras opi- unicamente por falta de alguém, com bastante capacidade de en-
niões contraditórias chocam-se; tendimento, para levantar o dique do amparo fraterno, ante as
no meio desse confuso turbilhão ­arrasadoras projeções do mal.
da vida, o homem poucas vezes Pensa em torno disso e ajuda, onde raros irmãos, até agora, con-
se detém para refletir. seguem suficiente visão íntima para a prestação de socorro que se
Mas todo ânimo sincero, que faz necessário.
procura a fé e a verdade, há de Se já compreendes o poder da hipnose sobre as criaturas que
encontrá-la na revelação nova. ainda não se ajustaram às leis da vida mental, ergue a muralha de-
Um influxo celeste estender-se- fensiva da bondade e da compreensão, do silêncio ou da prece, à
-á sobre ele a fim de guiá-lo para frente dos companheiros que a ira ou a inconformação colocam em
esse sol nascente, que um dia ilu- desgoverno sentimental!... Ninguém consegue calcular os estragos
minará a Humanidade inteira. do incêndio, causado por mera faísca atiçada pelo descuido, tanto
quanto ninguém consegue avaliar a colheita de bênçãos que fluirá
/ / / // / / / / / / / / / / / // de um simples gesto de auxílio, revestido de amor.
1
N.R. DENIS, Léon. Depois da morte.
28. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016. 5a
pt. – O Caminho Reto, cap. 44 – Fé, //////////////////
esperança, consolações. (Título sim- 1
N.R.: XAVIER, Francisco C. Encontro marcado. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. 2.
plificado pelo editor de Reformador.) imp. Brasília: FEB, 2018. cap. 27 – Mediunidade atormentada. (Transcrição parcial.)

Maio de 2020 | Reformador 53 307


O Centro Espírita e as
novas demandas da
era pós-moderna
///////////////////////////////////////////

Xerxes Luna
xerxescgafs@gmail.com

I – Considerações iniciais nas utilizem seus resultados para namentos espíritas podem e de-
Cada Era da História Uni- satisfazerem seus próprios inte- vem, por meio de suas institui-
versal traz consigo característi- resses em detrimento do provei- ções, apresentar-se como o­ pções
cas e necessidades próprias. O to coletivo, o que tem ­concorrido determinantes para o aflora-
período atual tem se destacado para aumentar o fosso que as mento dos valores humanos
pelo avanço tecnológico, pelo ­separa do seu semelhante. mais sublimes que ­dormitam no
livre direito da manifestação de É primordial que resgatemos interior das criaturas.
pensamentos, ideias e opiniões, a natureza superior dos senti- Urge, portanto, que a Casa
sem receio de represália, e pela mentos que orientam as relações Espírita direcione, cada vez mais,
existência dos mais sofisticados interpessoais do ser humano, seu foco de ação no aperfeiçoa-
fluxos informacionais instru- seus gestos naturais de frater- mento espiritual dos seus fre-
mentalizados pela internet e nidade, de solidariedade e de quentadores. Que interaja junto
pela informática. respeito ao próximo, a fim de a cada um deles, em suas reali-
Tais demandas, no entanto, que suas ações e produções não dades cotidianas, inspirando-os
assentam-se em bases e finalida- visem, unicamente, à satisfação e motivando-os a enfrentarem as
des predominantemente mate- dos seus interesses egoísticos, novas demandas, sejam elas pro-
rialistas, fazendo com que parte principalmente os de ordem cedentes ou não, sempre em con-
significativa das criaturas huma- material. Nesse sentido, os ensi- formidade com os ensinamentos

308 54 Reformador | Maio de 2020


ministrados por Jesus e interpre- não, que buscam as orientações convivência familiar tem levado
tados à luz da Revelação Espírita. da Doutrina Espírita acerca da seus integrantes a se isolarem
prática indiscriminada da se- em torno de instrumentos ele-
II – O Centro Espírita ante xualidade, seus efeitos e sequelas trônicos (computadores e te-
as novas demandas espirituais decorrentes do uso lefones celulares), criando um
sociais indevido das energias genésicas; novo modelo de comunicação
Apesar de ter granjeado con- • Explanações públicas dou- e interação social, as chamadas
siderável avanço no campo dos trinárias, realizadas com mais redes sociais, em que as pes-
direitos individuais e de ter a frequência, sobre aspectos rela- soas se comunicam, umas com
seu dispor um sofisticado apa- cionados ao respeito aos direitos as outras, via internet, sem a
rato tecnológico e uma intrinca- individuais da criatura humana. necessidade de se fazerem pre-
da malha de comunicação, o ser sentes, abdicando da riqueza do
humano não encontrou sua har- III – Fortalecimento da contato direto com seus seme-
monia e seu equilíbrio interior base familiar lhantes, ocasião em que teriam
e muitas vezes se vê solitário e Um dos grandes desafios a a oportunidade de trocarem
sem direção na vida, haja vista o ser enfrentado no atual momen- afetos, sentimentos e energias,
número crescente de separações to deste século é o de manter a ­alimentos indispensáveis ao for-
conjugais, de desavenças fami- família unida, haja vista o cres- talecimento espiritual da criatu-
liares, a banalização do sexo, o cente número de separações ra humana. Como consequência
desrespeito à diversidade e a fal- conjugais, lamentavelmente per- imediata dessa situação, temos
ta de perspectiva que atinge boa cebidas pela sociedade como um nos deparado, entre outras coi-
parte da coletividade humana. fato comum e natural. Diversos sas, com o enfraquecimento dos
Dentro desse contexto, o são os motivos que vêm contri- laços de afetividade conjugal e
Centro Espírita pode contribuir buindo para o enfraquecimento familiar, gerando, com isso, as
bastante para a restauração do dos laços familiares, a maioria separações de casais, com con-
equilíbrio e da harmonia espiri- deles ligados às mais recentes sequências psicológicas graves
tual das pessoas, promovendo, necessidades de natureza mate- para boa parte dos filhos.
por exemplo: rialista, criadas pela nova ordem Diante desses fatos, nossas
social. Como exemplo, desta- instituições não podem deixar
• Atividades, principalmen- caremos a busca desenfreada e de empregar esforços continua-
te de natureza doutrinária, vol- excessiva pelo consumo, pela dos no sentido de colaborar com
tadas para a harmonia conjugal realização profissional e pela se- a estabilidade da instituição fa-
e familiar dos seus frequenta- gurança material da família. miliar e com a educação dos seus
dores, ocasião em que serão da- Não é raro, diante dessas no- membros para uma convivência
dos esclarecimentos a respeito vas demandas, nos depararmos harmoniosa e sustentável, não
dos compromissos assumidos com casais dispensando pouco só sob o ponto de vista material,
pelos seus membros antes de tempo do seu dia para uma con- mas, acima de tudo, espiritual.
reencarnarem e suas implica- vivência presencial mais estrei- Para isso, como fonte inspirado-
ções nas futuras reencarnações; ta com os demais membros da ra, dispõem elas de rico e confiá-
• Encontros destinados aos família (pais, filhos, outros en- vel acervo literário constante de
jovens e adultos, espíritas ou tes queridos). A escassez dessa suas bibliotecas espíritas.

Maio de 2020 | Reformador 55 309


IV – O Espiritismo amor, no respeito aos semelhan- abordados com maior objetivi-
como contraponto ao tes, na paz e na retidão de caráter, dade, mas, ainda, para que ele,
materialismo no mundo por exemplo, têm se apresentado o público-alvo, aumente seu
pós-moderno mais determinantes na preserva- ­interesse em deles participar.
Ensina-nos a Doutrina Espí- ção de um estado de consciência
rita que nos encontramos num feliz, apesar de, em sua essência, V – Considerações finais
mundo de expiações e provas, os fundamentos que as susten- Diante de uma realidade que
para corrigirmos posturas ina- tam serem decorrentes de for- a cada instante se reinventa, por
propriadas de comportamentos e mas abstratas de pensar e agir. meio de mudanças processadas
concepções equivocadas de pen- No entanto, a sensação íntima em ritmo vertiginoso, a Insti-
samentos vivenciados nas mais de bem-estar, prazer e satisfação tuição Espírita não pode nem
diversas realidades em que nos sentidos por seus agentes tem ul- deve desconsiderar essas mu-
situamos em passadas e sucessi- trapassado, inquestionavelmen- danças, fechando-se em si mes-
vas reencarnações, ainda atadas te, em abrangência e intensidade, ma, em seus trabalhos internos,
à nossa consciência. No seu con- aquelas experimentadas pelos sem se permitir adaptações e
junto ou isoladamente, elas são a que têm como padrão de felici- flexibilizações em sua organi-
causa dos nossos sofrimentos e dade a posse, o uso e o acúmulo zação e na execução dos seus
infelicidades e, portanto, preci- egoístico de bens materiais. trabalhos, desde, naturalmente,
sam ser revisitadas, repensadas, Assim, urge que a criatu- que seja observada a fideliza-
reparadas e adequadas aos pre- ra humana visite com mais ção aos princípios doutrinários.
ceitos constantes na Lei de Amor, assiduidade sua consciência, Abrir-se para a modernidade
­
ou até mesmo descartadas. objetivando identificar e des- não significa, jamais, aderir ao
Uma dessas percepções, tal- construir aquelas convicções modismo, que, via de regra,
vez a mais preocupante, por- equivocadas resistentes, atitude quase sempre afeta, de modo
que envolve grande parcela das sem a qual não alcançará a ver- prejudicial, sua identidade es-
criaturas humanas, é a de que a dadeira felicidade. Para ajudar pírita e sua credibilidade. Sem
felicidade está essencialmente
­ seus frequentadores nesse pro- isso, a expansão dos ensina-
enraizada no consumo e na pos- pósito, por exemplo, o Centro mentos espíritas na sociedade
se excessiva de bens materiais. Espírita deve realizar, com mais pode ser seriamente afetada.
Não que o consumo e a posse frequência, ciclos de palestras Finalizamos com a seguinte
desses bens não contribuam para ou reflexões em grupo de estu- assertiva feita pelo Codificador
a nossa felicidade e tampouco do, sobre temas que lhes sirvam Allan Kardec acerca da nature-
não sejam úteis à realidade, es- de subsídios ao processo de za dinâmica da Doutrina Espí-
truturalmente material, em que identificação e desconstrução rita: “[...] Caminhando de par
vivemos. O cotidiano, no entan- dessas convicções equivocadas. com o progresso, o Espiritismo
to, tem-nos mostrado que a sua Para que esses eventos al- jamais será ultrapassado [...]”.1
posse, mesmo em excesso, não cancem suas finalidades, é fun-
tem sido, por si só, fator prepon- damental que o público ao qual REFERÊNCIA:
derante para o sustento duradou- se destinam seja ouvido, não só 1
KARDEC, Allan. A gênese. [1a edição –
1868]. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
ro da felicidade do ser humano. para que os temas e subtemas 1. ed. 1. imp. (Edição Histórica Bilín-
Outras atitudes embasadas no a serem definidos possam ser gue). Brasília: FEB, 2018. cap. 1, it. 55.

310 56 Reformador | Maio de 2020


AEE – I Encontro de
Educadores Espíritas do
Estado do Pará
///////////////////////////////////////////

UEP-DECOM
decom@paraespirita.com.br

P
romovido pela União Es- Explicando o tema, I­racema zando outros estados brasileiros
pírita Paraense (UEP), o Fernandes, coordenadora regional para a implementação da AEE
evento debateu o tema da Área do Estudo do Espiritismo nas casas espíritas espalhadas por
“Novos desafios da Área de Es- para a região Norte, ­ esclareceu todo o Brasil. As atividades reali-
tudo do Espiritismo – O labor que a AEE é a área de trabalho zadas têm por objetivo unificar,
produtivo de ensinar a viver”, do Conselho Federativo Espíri- em todo o Movimento Espírita,
com a participação de 17 dos 19 ta/União Espírita Paraense, que, o trabalho da AEE com base nas
Conselhos Regionais Espíritas dentro do trabalho de unificação, diretrizes aprovadas pelo Conse-
do Pará, além de três dos seis desenvolve ações voltadas para lho Federativo Nacional (CFN).
CREs embriões,1 e teve como implementação e s­ olidificação do Para isso, atividades foram de-
objetivo a criação de estratégias estudo do Espiritismo. senvolvidas para o conhecimen-
para implementar a Área de Es- O Encontro contou com to do documento “Orientação à
tudo do Espiritismo (AEE) nas palestras, mesas-redondas, de- Área de Estudo do Espiritismo”
casas espíritas do Estado. bates e diferentes dinâmicas e os demais documentos da Área
O I Encontro de Educadores e promoveu trabalho coletivo editados pela FEB.
Espíritas do Estudo do Espiritis- para a definição de ações e pra- Na abertura do I Encontro de
mo do Estado do Pará, aconte- zos para a implementação da Educadores Espíritas do Estudo
ceu nos dias 6, 7 e 8 de s­ etembro AEE em todas as casas espíritas do Espiritismo houve uma bela
de 2019, na União Espírita Pa- do Estado do Pará. apresentação musical do grupo
raense, localizada na avenida A intenção foi a de integração espírita Sol da Vida e uma co-
Castelo Branco, em Belém (PA). do Pará no esforço que vêm reali- reografia de balé da Mocidade

Maio de 2020 | Reformador 57 311


Espírita Legião do Bem (MELB), a proposta do Cristo, precisamos A abordagem do evento se-
representando os esforços dos nos imbuir deste propósito efeti- guiu as propostas das diretrizes
trabalhadores voluntários, pro- vo de, em vez de simplesmente presentes no Plano de Trabalho
venientes de diferentes luga- entrar para o Espiritismo, come- para o Movimento Espírita do
res, vindos por água, terra e ar. çar a fazer com que a Doutrina Conselho Federativo Nacional
Também houve a divulgação de saia de nós, na convivência com da Federação Espírita Brasileira.
uma canção inédita composta os nossos irmãos, dentro do nos- Todas as dinâmicas foram pensa-
para ser tema do encontro, cujo so lar, com os nossos vizinhos, das com o intuito de demonstrar
título é Hora de Educar, do au- com os companheiros de traba- a importância de se conhecer o
tor ­Elckson Paes, participante do lho, na relação dentro da Casa Espiritismo para melhor com-
grupo Sol da Vida. Espírita e com todos os nossos preendê-lo, mais coerentemente
“A presença de Jesus no labor irmãos de outras religiões. Que aplicar esse conhecimento na vi-
do estudo do Espiritismo”, foi o Jesus seja sempre para todos nós vência diária e, assim, divulgá-lo
tema da palestra inicial, proferida o Guia e Modelo”. com autoridade moral.
pelo diretor da Federação Espíri- Durante o encontro, que Bruno Simões, participante
ta Brasileira (FEB) e coordenador aconteceu durante todo o dia do encontro, destacou o que fi-
da Área de Estudo do Espiritis- 7 de setembro e na manhã do cou de aprendizado sobre esses
mo, Carlos Campetti. Durante dia 8, os participantes tiveram a dias de estudo: “O encontro foi
a explanação, Campetti utilizou oportunidade de participar de montado de um modo muito
diversos momentos da vida de alguns seminários, mesas-re- reflexivo, com o intuito de nos
Jesus para exemplificar o tema. dondas e dinâmicas de integra- fazer pensar bastante e debater
Foram utilizadas passagens como ção. Buscou-se primeiro que os sobre o trabalho que já é feito em
o momento em que Jesus pesca- participantes apresentassem o nossas casas, dentro dos CRE’s,
va com os discípulos, quando o que já está sendo feito em todo o e como podemos atuar efetiva-
Mestre falou sobre o Consolador Estado, tanto na capital como no mente para mudar a realidade
Prometido, o Sermão da Monta- interior, como forma de compar- das coisas que nos incomodam e
nha e o ritual do lava-pés. tilhar experiências. Ao final, após das dificuldades que enxergamos
Para finalizar, Carlos todo o debate, os participantes e podemos melhorar”.
­Campetti utilizou a passagem de puderam definir estratégias para
//////////////////
Jesus: Eu sou o Caminho, a Ver- a implementação da AEE nas 1
N.A.: Conselhos Regionais Espíritas
dade e a Vida. “Então, seguindo ­casas espíritas de todo o Estado. em formação.

312 58 Reformador | Maio de 2020


Importância da resiliência
no atendimento
fraterno
///////////////////////////////////////////

Silvana Honorato
sil.honorato@yahoo.com.br

A
palavra “resiliência” ori- ele é considerado resiliente” multidisciplinar. Contudo, até o
gina-se da língua latina, (AMARAL, 2002). presente, há poucos trabalhos
“resiliens”, e significa As primeiras publicações na área da teologia (ROCCA,
saltar para trás, ser impelido, sobre o assunto aparecem no fi- 2013).
recuar, retornar a um estado nal dos anos 1980, nos Estados Desde há algum tempo a
anterior, ou ainda a capacida- Unidos e na Europa. No Brasil, psicologia começou a utilizar-
de de se adaptar a mudanças. os estudos começaram no final -se desta ideia de resiliência
A Engenharia e a Física costu- dos anos 1990. A temática foi para especificar a habilidade
mam utilizar-se deste termo ganhando progressivo destaque que os seres humanos têm em
para especificar a elasticidade internacional, no campo da ob- vencer seus sofrimentos, infor-
e a capacidade de resistência de servação e da pesquisa, sendo túnios e grandes angústias.
alguns materiais,1 como explica cada vez mais investigada no A temática da resiliência,
o autor a seguir. “Quando um âmbito das ciências da saúde como realidade conceitual, é
material resiste a um impacto, e das ciências humanas, entre relativamente nova. Contu-
deformando-se pouco ou nada, outras, o que favorece um olhar do, como realidade humana

Maio de 2020 | Reformador 59 313


é ­possível que seja tão antiga Um bom exemplo de resi- te agindo de forma resiliente
quanto a própria Humanida- liência podemos encontrar no conseguimos perceber o valor
de. É provável que o fenôme- psicólogo Viktor Frankl que dos outros em nossas vidas,
no da resiliência exista desde conseguiu sobreviver num passamos a agir de forma po-
os primórdios da existência do campo de concentração por sitiva a favor da coletividade e
homem, ainda que não tives- longos anos e entendeu que “A nos adaptamos mais facilmente
se sido denominada nos mol- pessoa, mesmo que nada mais às mudanças que acontecem de
des como hoje a conhecemos lhe reste neste mundo, pode modo constante.
(­VANISTENDAEL, 1999, p. 5). tornar-se bem-aventurada [...]” Conclui-se, pois, que a resi-
O autor do texto acima nos (FRANKL, 2008). Não pode- liência no atendimento frater-
mostra que o referido conceito, mos nos esquecer de Jó, perso- no contribuirá positivamente
apesar de estar sendo usado há nagem de um livro bíblico, que para implantar uma atitude de
pouco tempo, já é utilizado pelo conta sua história como um superação e enfrentamento em
ser humano desde os primór- homem íntegro e reto, e mesmo circunstancias adversas, consi-
dios da Humanidade. Os pro- envolto por muitos infortúnios derando a fé e a religiosidade
blemas das criaturas humanas manteve-se reverente a Deus, como dínamos poderosos no
nos dias atuais são numerosos, com uma postura religiosa o processo resiliente, promoven-
a começar pelas necessidades ajudou a enfrentar as diversida- do a capacitação do ser humano
básicas materiais até as mais des e a manter-se moralmente e desenvolvendo seu potencial
profundas angústias espirituais. inabalável, deixando-nos clara para uma perspectiva positiva,
O alcance do atendimento fra- a manifestação da sua fé, como social, psicológica e espiritual.
terno engloba as diversas nuan- componente essencial para ob-
ças do sofrimento humano e ter resiliência. Muitos textos bí-
neste momento entra a atitude blicos demonstram a resiliência
//////////////////
solidária, utilizando-se da resi- espiritual. Em Filipenses, capí- 1
N.A.: Disponível em: https://www.
liência para nortear as pessoas tulo 4, versículo 12, o Apóstolo ibccoaching.com.br/portal/arti-
gos/o-que-e-resiliencia/
diante das suas dificuldades. Paulo escreve: “Aprendi o segre-
O atendimento fraterno do de viver contente em toda e REFERÊNCIAS:
por meio da resiliência con- qualquer situação, seja bem ali- AMARAL, Otávio C. Curso básico de re-
segue levar o individuo a ter mentado, seja com fome, tendo sistência dos materiais. Belo ­Horizonte:
consciência lúcida para que muito, ou passando necessida- Artes Gráficas Formato, 2002.

possa superar suas amarguras, de” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1. ed. São
­Paulo: Paullus, 2002.
entendendo e aprendendo a li- 2002).
FRANKL, Viktor E. Em busca de sen-
dar com suas dificuldades por O atendente fraterno, por
tido. Um psicólogo no campo de
meio da experiência de fé, que meio do amor ao próximo, ­concentração. Petrópolis: Vozes, 2008.
é capaz de amenizar tormentos, utiliza-se da religiosidade e fé ROCCA, Susana M. Resiliência, espiri-
trazendo confiança, descobrin- para despertar atitudes efica- tualidade e juventude. São Leopoldo:
do trajetos alternativos. Motiva zes que trarão uma nova visão Sinodal, 2013.

o ser humano a portar-se de para situações de transtorno, VANISTENDAEL, Stefan. Resiliência:


como crescer superando os percalços.
modo a suplantar a aflição e não criando a resiliência com mais São Paulo: Escritório Internacional
se render a ela. dura realidade de vida. Somen- Católico da Infância, 1999.

314 60 Reformador | Maio de 2020


B r as il Esp í r i ta Federação Espírita Brasileira | Conselho Federativo Nacional | Brasília

AGENDE-SE do Congresso é uma promoção do Conselho Federa-


tivo Nacional da FEB em conjunto com a União Es-
pírita Mineira (UEM) e demais federativas da região.
V Congresso Espírita Informações: https://www.febnet.org.br/5congresso
Brasileiro – Edição Centro
Encontro Nacional de Arte Espírita

O III Encontro Nacional de Arte Espírita


“O Evangelho e o Apocalipse de João” é o tema do (ENARTE), promovido pela Associação Brasilei-
V Congresso Espírita Brasileiro – Edição Centro que ra de Artistas Espíritas (ABRARTE), será realiza-
ocorre de 1 a 3 de maio, em Belo ­Horizonte (MG). Com do no período de 11 a 13 de junho, em Brasília
quatro edições regionais e uma nacional, a 5a edição (DF), com o tema central “A Arte na Trajetória

316 62 B r as i l E s p í r i ta | Maio de 2020


Evolutiva”. Tem como objetivo a reunião em Galves, das 17h às 18h30. A FEB Seccional
clima fraternal de artistas espíritas de diferen- Núcleo Espírita de São Paulo está localizada
tes atuações nas diversas regiões do país, com na rua ­Guaricanga, 357 – Lapa. São Paulo.
o intuito de promover a troca de experiências, Informações: museuespirita.org
reflexões, estudo doutrinário e busca pelo aper-
feiçoamento do fazer artístico espírita. Durante a Somos todos iguais
programação do III ENARTE será realizado o 17o
Fórum Nacional de Arte Espírita. Informações:
https://www.abrarte.org.br/enarte

A iluminação do Ser através da Arte


Ocorre no dia 2 de maio, das 8h30 às 18h, o IV
Intercâmbio de Trabalhadores da Arte no Movi-
mento Espírita do Rio Grande do Sul, no Colégio
Estadual Júlio Castilhos, em Porto Alegre (RS).
Maurício Keller desenvolverá o tema “A ilumina-
ção do Ser através da Arte”. Saiba mais no site da
Federação Espírita do Rio Grande do Sul: www.
fergs.org.br

Evolução do Ser: Consciência


e Livre-arbítrio
Nos dias 26 a 28 de junho será realizado no
Tauá Hotel e Convention o 18o Congresso Esta-
dual de Espiritismo em Atibaia (SP). “Evolução A Federação Espírita Pernambucana (FEP)
do Ser: Consciência e Livre-arbítrio” será a te- promoverá o Acampamento de Juventude Espí-
mática desenvolvida pelos palestrantes Alberto rita de Pernambuco (AJE-PE), com o apoio da
Almeida, André Luiz Peixinho, Artur Valadares, Comissão Estadual de Espiritismo, nos dias 5 a
Eulália Bueno, Haroldo Dutra, Rossandro ­Klinjey, 7 de setembro. O evento será no Acampamento
Sandra Della Póla e Simão Pedro. Informações: Maré Mansa, na Aldeia (PE). Informações: www.
http://www.congressousesp.org ajepe.com.br

Palestras Públicas no Núcleo Jornada 2020 da AME-SP


Espírita de São Paulo Agendem os dias 12 e 13 de setembro de
Todo mês são realizadas palestras públi- 2020 para mais uma Jornada da Associação
cas gratuitas na Federação Espírita Brasilei- Médico-Espírita de São Paulo, que ocorre-
ra – Seccional Núcleo Espírita de São Paulo. rá no Auditório do IAMSPE, em São Paulo.
No dia 4 de maio o tema será “Nossas vidas Informações: www.facebook.com/associacao
com Chico ­Xavier”, desenvolvido por Nena medicoespiritadesaopaulo

Maio de 2020 | Brasil Espírita 63 317


Congresso Espírita do Ceará dor (BA), com a abordagem do tema central “O
Evangelho segundo Mateus e as Epístolas de Tiago,
A 20a edição do Congresso Espírita do Ceará será
realizada de 10 a 12 de outubro, em torno do tema ­Pedro, João e Judas”. Informações: www.feeb.org.br
“Amai-vos e Instruí-vos”. Promovida pela Federação
Espírita do Estado, ocorrerá no Centro de Eventos Confraternização de Juventudes
do Ceará, com a presença dos conferencistas ­Alberto Espíritas de Mato Grosso do Sul
Almeida, Cézar Said, Décio Iandoli, Eugênia Canto, A 17a edição da Confraternização de Juventu-
Francisco Cajazeiras, Haroldo Dutra, Irvênia Pra- des Espíritas de Mato Grosso do Sul (CONJEMS)
da, Luciano Klein Filho, Rossandro ­Klinjey, Wesley ocorreu de 10 a 12 de abril, com o tema cen-
­Caldeira, com participação especial de Raul Teixeira. tral “Com Jesus”. Uma realização da Federação
Informações: https://bit.ly/38uJfET ­Espírita do Mato Grosso do Sul. Informações:
www.fems.org.br
Semana Espírita de Vitória da Conquista
“O significado da vida” será o tema central da 67a Semana Espírita em Brumado
edição da Semana Espírita de Vitória da Conquista,
que ocorrerá de 5 a 13 de setembro, no Centro de
Convenções Divaldo Franco, em Alto ­Maron. Os
palestrantes serão Alberto Almeida, Ana Tereza
Camasmie, André Luiz Peixinho, ­Carlos Campetti,
Divaldo Franco, Eden Lemos, Haroldo Dutra, ­Jorge
Elarrat, Jorge Godinho, Miriam Dusi, Paulo de
­Tarso, Raul Teixeira e Wesley Caldeira. Saiba mais
no site: https://www.uevc.org.br/

MEDNESP 2021
Vitória (ES) será sede do MEDNESP 2021, o
Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita
do Brasil, promovido pela Associação Médico-Es-
pírita do Brasil (AME-Brasil). O evento ocorrerá de
2 a 5 de junho de 2021, no Centro de Convenções
­local. Informações: http://www.amebrasil.org.br/

ACONTECEU
V Congresso Espírita Brasileiro Ocorreu de 7 a 14 de abril, na Câmara dos
Vereadores de Brumado (BA), a 8a Semana Es-
– Edição Nordeste pírita com o tema “Amor, imbatível amor”. En-
O V Congresso Espírita Brasileiro, edição nor- tre palestras e seminários estiveram presentes os
deste, foi realizado de 18 a 21 de abril, em Salva- oradores Marcel Mariano, Patrick Pires, ­Cleber

318 64 B r as i l E s p í r i ta | Maio de 2020


Flores, ­
Rogério Luiz, Lusiane Bahia, Arilson Estado do Rio de Janeiro (CEERJ). Informações:
Ferraz, Abigail Guimarães e Claudio Medeiros. www.ceerj.org.br ou (21) 2224-1244/ 2224-1553.
Informações: centroespiritaviveirodeluz@gmail.com
Área de Atendimento Espiritual
Encontro de Jovens Espíritas Nos dias 28 e 29 de março ocorreu a Capaci-
da Região Tocantina tação da Área de Atendimento Espiritual, na Fra-
A 17a edição do Encontro de Jovens Espíri- ternidade Espírita de Laranjeiras, em Serra (ES),
tas da Região Tocantina (EJERT) ocorreu de 10 com a participação do coordenador nacional da
a 12 de abril, em Imperatriz (MA), com o tema Área de Atendimento Espiritual da FEB, Hélio
“Ninguém está sozinho”. Foi uma realização Blume. Informações: www.feees.org.br
das casas espíritas com apoio da Federação Es-
pírita do Maranhão (FEMAR). Informações: Sarau da Infância Espírita do Ceará
www.femar.org.br No dia 28 de março ocorreu o 1o Sarau da
­Infância Espírita do Ceará, no Centro Espírita
Nossos filhos são Espíritos Francisco de Assis, em Benfica, Fortaleza. Com
De 1 a 31 de março ocorreu a 7a Jornada da entrada gratuita, o evento teve música, teatro,
Mulher Espírita, em torno do tema “Nossos filhos dança, e poesia. Informações: www.feec.org.br
são Espíritos”, em diversas casas espíritas da re-
gião de São Paulo, com a participação de expo- Encontro Regional de
sitoras e estudiosas da Doutrina Espírita. Uma Trabalhadores Espíritas
iniciativa da Sociedade Espírita Allan ­Kardec, A Federação Espírita Catarinense (FEC) pro-
de Jales, em parceria com a USE Regional de moveu no dia 7 de março no Centro Espírita
­Araçatuba. Informações: (17) 99714-0253. Allan Kardec, em Agronômica, Florianópolis, o
Encontro Regional de Trabalhadores Espíritas
O homem, a consciência e Deus (ERTE), com o desenvolvimento de oficinas com
A Federação Espírita do Paraná realizou temas variados. Informações: www.fec.org.br
de 13 a 15 de março, a XXII Conferência Es-
tadual Espírita em torno de “O homem, a Encontro de Mocidades
consciência e Deus”. A conferência ocorreu no
Expotrade Pinhais, no Paraná. Informações: Espíritas do Espírito Santo
www.feparana.com.br O 40o Encontro de Mocidades Espíritas do
Espírito Santo (EMEES) foi promovido com
o tema “Coragem! Reviva o Cristianismo nas
Encontro de coordenadores do Arenas da Atualidade”. Entre os dias 22 e 25
Conselho Espírita de Unificação de fevereiro, Santa Tereza (ES) contou com
“Movimento Espírita. Por quê? Como? uma programação que envolveu estudos à luz
Quem?” Este foi o tema da 5a edição do Encontro da Doutrina Espírita, atividades artístico-dou-
de Coordenadores do Conselho Espírita de Uni- trinárias como dança, música e teatro, de in-
ficação (CEU) que ocorreu no dia 15 de março, tegração, oficinas e muito mais. Informações:
das 9h às 13h, na sede do Conselho Espírita do http://feees.org.br/emees/

Maio de 2020 | Brasil Espírita 65 319


Floresça o Evangelho: EFEMÉRIDES DE MAIO
seja você quem ama!
Nos dias 22 a 26 de fevereiro ocorreram a 41a
• 1 de maio de 1880 – Nascimento de Eurípedes
edição da Confraternização de Mocidades Espí-
ritas do Estado do Rio de Janeiro (COMEERJ) Barsanulfo.
e o 26a Encontro Estadual da Família Espíri- • 2 de maio de 1827 – Nascimento de Pierre-Gaëtan
ta (­ENEFE) em torno da temática “Floresça o Leymarie.
Evangelho: seja você quem ama!”. Informações: • 2 de maio de 1980 – Desencarnação de Silvino
https://www.comeerj.com.br/ e https://www.
Canuto de Abreu.
ceerj.org.br/portal/enefe
• 3 de maio de 1912 – Inaugura-se na FEB o curso
EIMEP 2020 de Esperanto.
Ocorreu nos dias 22 a 25 de fevereiro o En- • 5 de maio de 1910 – Desencarnação de Ernesto
contro Intensivo do Movimento Espírita Pa- dos Santos Silva.
raense (EIMEP), com atividades de unificação e
• 5 de maio de 1927 – Nascimento de Divaldo
conhecimento como: palestras, debates, grupos
de estudo, oficinas, atrações culturais, apresen- Franco.
tações artísticas e o Papo Cabeça. Este ano o en- • 20 de maio de 1837 – Nascimento de Albert de
contro abordou a “Saúde Mental: ter para viver”. Rochas.
Informações: https://www.eimep.com.br/ • 20 de maio de 1906 – Fundação da União
Espírita Paraense (UEP).
A conexão entre as três Revelações • 22 de maio de 1859 – Nascimento de Arthur
A 40a edição da Confraternização Espírita do
Maranhão (CONESMA) ocorreu nos dias 23 a 25 Conan Doyle.
de fevereiro sobre “A conexão entre as três Reve- • 22 de maio de 1885 – Desencarnação de Victor
lações”. Participaram como facilitadores Denise Hugo.
Lino, Jorge Elarrat e Heloísa Pires. Informações: • 23 de maio de 1889 – Inicia-se na FEB o estudo
secretaria@femar.org.br
de O livro dos espíritos.
• 24 de maio de 1957 – Desencarnação de
O problema do ser, do destino e da dor
De 22 a 25 de fevereiro ocorreu a 43a edição Francisco Valdomiro Lorenz (František Lorenz).
da Confraternização dos Espíritas do Rio ­Grande • 26 de maio de 1861 – Nascimento de Amélia
do Norte (CONFERN), na Casa de Retiro Flor Augusta do Sacramento Rodrigues.
do Campo, em Macaíba. O facilitador André • 27 de maio de 1832 – Nascimento de Alexandre
Siqueira, diretor da FEB, desenvolveu a temá-
Aksakof.
tica “O problema do ser, do destino e da dor”.
Informações: www.fern.org.br • 28 de maio de 1874 – Nascimento de Manuel
Justiniano de Freitas Quintão.

320 66 B r as i l E s p í r i ta | Maio de 2020


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