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Anotações sobre Números Complexos.

Rodrigo Carlos Silva de Lima ‡

rodrigo.uff.math@gmail.com

2
Sumário

1 Números complexos 5
1.1 Números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Forma algébrica de um número complexo . . . . . . . . . . . 7
1.2 Conjugado e valor absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2.1 Condições para que w z
seja real ou imaginário puro . . . . . . 19
1.2.2 Conjugado de um número complexo . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2.3 Condição de raízes conjugadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2.4 Valor absoluto-módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2.5 Uso de conjugado na divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.6 Conjugado e valor absoluto da divisão . . . . . . . . . . . . . 28
1.2.7 Desigualdade de Cauchy Schwarz . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.2.8 Distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.3 Plano de Argand-Gauss e forma polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.3.1 fórmula de De Moivre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.4 Raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3
4 SUMÁRIO
Capítulo 1

Números complexos

1.1 Números complexos


m Definição 1 (Conjunto dos números complexos) Definimos a estrutura dos nú-
a
meros complexos, como o conjunto

C = {(x, y) x, y ∈ R}

munido de duas operações, uma adição definida como

z + w = (x1 , y1 ) + (x2 , y2 ) := (x1 + x2 , y1 + y2 )


| {z } | {z }
z w

e uma multiplicação, definida como

z.w = (x1 .x2 − y1 .y2 , x1 .y2 + y1 .x2 ).

Denotamos (1, 0) = 1 e (0, 0) = 0. Para z = (x1 , y1 ) definimos

−z = (−x1 , −y1 )

5
6 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS
 
1 x1 −y1
z −1 = = , .
z x21 + y21 x21 + y21
Denotamos tal estrutura como (C, +×) ou apenas C.
a Perceba que é feita associação de C com o plano R2 .

m Definição 2 (Igualdade) Dois números complexos (x, y) e (z, w) são iguais quando
x = z e w = y.

b Propriedade 1 (C, +, ×) é um corpo, chamado de corpo dos números complexos.

ê Demonstração. A adição é comutativa, associativa , possui elemento neutro e


inverso aditivo. (Provado para o Rn no texto sobre espaços vetoriais) então, em relação
a adição temos uma estrutura de grupo abeliano (C, +).
Temos que mostrar agora que a multiplicação também é um grupo abeliano .

• O elemento neutro da multiplicação é (1, 0), pois

(1, 0)(x, y) = (1.x − 0.y, 0.x + 1.y) = (x, y).

• A multiplicação é comutativa, pois

(x1 , y1 )(x2 , y2 ) = (x1 x2 − y1 y2 , y1 x2 + x1 y2 )

(x2 , y2 )(x1 , y1 ) = (x2 .x1 − y2 .y1 , y2 .x1 + x2 .y1 )


são iguais.
Perceba também que
(x1 , 0)(x2 , 0) = (x1 x2 , 0).

• A multiplicação é associativa, pois

[(x1 , y1 )(x2 , y2 )](x3 , y3 ) = (x1 x2 − y1 y2 , y1 x2 + x1 y2 )(x3 , y3 ) =


A2 A4 B2 B4
z }| { z }| { z }| { z }| {
= (x1 x2 x3 − y1 y2 x3 − y1 x2 y3 − x1 y2 y3 , y1 x2 x3 + x1 y2 x3 + x1 x2 y3 − y1 y2 y3 )
| {z } | {z } | {z } | {z }
A1 A3 B1 B3

e
1.1. NÚMEROS COMPLEXOS 7

(x1 , y1 )[(x2 , y2 )(x3 , y3 )] = (x1 , y1 )(x2 x3 − y2 y3 , y2 x3 + x2 y3 ) =


A4 A3 B1 B2
z }| { z }| { z }| { z }| {
= (x1 x2 x3 − x1 y2 y3 − y1 y2 x3 − y1 x2 y3 , y1 x2 x3 − y1 y2 y3 + x1 y2 x3 + x1 x2 y3 )
| {z } | {z } | {z } | {z }
A1 A2 B4 B3

são iguais.
• Para cada elemento não nulo z = (x1 , y1 ) existe um inverso z−1 , tal que z.z−1 =
1, pois
   2 
x1 −y1 x1 + y21 y1 x1 y 1 x1
(x1 , y1 ) 2 , = , − = ( 1 , 0 ) = 1.
x1 + y21 x21 + y21 x21 + y21 x21 + y21 x21 + y21

• Falta mostrar apenas a propriedade distributiva. Sendo z = (x1 , y1 ), w =


(x2 , y2 ) e v = (x3 , y3 ) temos w + v = (x2 + x3 , y2 + y3 ) e

z(w + v) = (x1 x2 + x1 x3 − y1 y2 − y1 y3 , y1 x2 + y1 x3 + x1 y2 + x1 y3 )

porém temos também zw = (x1 x2 − y1 y2 , y1 x2 + x1 y2 ) e

zv = (x1 .x3 − y1 y3 , y1 x3 + x1 y3 )

então

zw + zv = (x1 x2 + x1 .x3 − y1 y3 − y1 y2 , y1 x3 + x1 y3 + y1 x2 + x1 y2 ) = z(w + v)

então vale a distributividade.


Tem-se então que (C, +, ×) é um corpo, chamado de corpo dos números com-
plexos.

m Definição 3 (Subtração) Definimos a subtração z1 − z2 como z1 + (−z2 ).

1.1.1 Forma algébrica de um número complexo


O corpo dos números complexos pode ser visto como uma extensão do corpo dos nú-
mero reais.

b Propriedade 2 R e o conjunto A = {(a, 0) ∈ C} são isomorfos como espaços veto-


riais.
ê Demonstração. Definimos σ : R → A tal que σ(a) = (a, 0). Tal aplicação é
injetora e sobrejetora, além disso é linear

σ(a) + σ(b) = (a, 0) + (b, 0) = (a + b, 0) = σ(a + b)

σ(ca) = (ca, 0) = c(a, 0) = cσ(a), c ∈ R.


8 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

b Propriedade 3 R e o conjunto A = {(a, 0) ∈ C} são isomorfos como corpos.

ê Demonstração. Já vimos que a adição é respeitada pela função σ, agora vejamos


o produto
σ(a)σ(b) = (a, 0)(b, 0) = (ab, 0) = σ(a)σ(b).
Além disso envia unidade de R em unidade de C

σ(1) = (1, 0)

e neutro da adição de R em neutro da adição em C

σ(0) = (0, 0).

Então temos uma aplicação bijetora entre R e um subcorpo de C que preserva adi-
ção e multiplicação. Então temos uma imersão natural de R em C.

m Definição 4 Associamos a cada número real x o número complexo (x, 0),

(x, 0) = x.

b Propriedade 4 A soma e produto de números complexos é compatível com a soma e


produto de números reais.

ê Demonstração. Sejam números reais x = (x, 0) e y = (y, 0), então a soma

x + y = (x, 0) + (y, 0) = (x + y, 0) = x + y,

logo é compatível.
O produto x.y = (x, 0)(y, 0) = (xy − 0, 0.y + x.0) = (xy, 0) = xy.

m Definição 5 Definimos i = (0, 1).

$ Corolário 1 Tem-se que

(0, 1)(0, 1) = (0 − 1, 1.0 + 0.1) = (−1, 0) da i2 = −1.


1.1. NÚMEROS COMPLEXOS 9

$ Corolário 2 (Forma algébrica) Um número complexo z = (x, y) pode ser es-


crito como
(x, y) = (x, 0) + (0, y) = x + yi.

Esse modo de escrever pode ser considerado mais prático em se denotar um número
complexo e facilitar as operações.

Nos reais não existe x tal que x2 = −1 nos complexos temos solução dessa equação.

$ Corolário 3 Vejamos como ficam as operações usando a forma algébrica. A fór-


mula da multiplicação de dois números complexos pode ser escrita como

(x1 + y1 i)(x2 + y2 i) = x1 x2 − y1 y2 + (x1 y2 + x2 y1 )i

podemos efetuar as contas com as propriedades conhecidas de binômios reais e subs-


tituir i2 = −1.
A adição pode ser feita como

a + bi + c + di = a + c + (b + d)i

e a igualdade
a + bi = c + di ⇔ a = c e b = d.

Z Exemplo 1
Seja n um número natural para calcular in , tomamos a divisão de n por 4, isto é, n =
4m + r, temos in = i4m+r = i4m .ir = (i4 )m .ir , como i2 = −1 segue que (i4 ) =
(i2 )2 = (−1)2 = 1, daí in = ir . Temos as seguintes possibilidades para r :

• r = 0 , in = i0 = 1;

• r = 1, in = i1 = i;

• r = 2, in = i 2 = − 1;

• r = 3, in = i3 = i2 .i = (−1)i = −i;
10 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

O valor de in é 1 i -1 -i
Se o resto da divisão de n por 4 é 0 1 2 3

Z Exemplo 2 Vale i p+ 4 1
= (i2 )2p i = (−1)2p .i = i. Seja

in+1 − 1
n
X
ik =
i−1
k=0

por divisão Euclidiana de n por 4 tem-se n = 4p + r daí

i4p+r+1 − 1 ir+1 − 1 ir+1 − 1


n
X
ik = = = (i + 1).
i−1 i−1 (−2)
k=0

P
n
• se r = 0 então 4|n e i k = 1,
k=0

P
n
• se r = 1 tem-se ik = i + 1,
k=0

P
n
(i3 −1)(i+1) (−i−1)(i+1) (−1)(i+1)(i+1)
• se r = 2, ik = i = (−2) = (−2) = −2 =
k=0
2
i +i+i+1 2i
2
= 2
= i,
P
n
• se r = 3 tem-se i k = 0.
k=0

O valor da soma 1 + i + . . . + in é 1 1+i i 0

Se o resto da divisão de n por 4 é 0 1 2 3

Por meio da tabela acima, subtraindo o valor 1 podemos obter a outra soma.

O valor da soma i + . . . + in é 0 i i−1 −1


Se o resto da divisão de n por 4 é 0 1 2 3

Z Exemplo 3
50
P
Calcule ik , temos que o resto da divisão de 50 por 4 é 2 pois 50 = 48 + 2 = 4.12 + 2,
k=1
logo o resultado da soma é i − 1.
1.1. NÚMEROS COMPLEXOS 11

b Propriedade 5

Q
n
O valor de ik é 1 i -i -1 -1 -i i 1
k=1

se o resto da divisão de n por 8 é 0 1 2 3 4 5 6 7

ê Demonstração.

Temos que
n P
n
Y k n(n+1)
k
i = ik=1 = i 2 .
k=1
1)
Se descobrimos o resto da divisão de n(n+2
por 4 conseguimos obter o resultado da
conta. É possível analisar a congruência módulo 8 para obter resultados. Abaixo ana-
lisamos a congruência módulo 4, todo termo múltiplo de 4 é considerado 0.
• Com n = 8k
n(n + 1) 8k(8k + 1)
= = 4k(8k + 1) = 0 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 1
n(n + 1) (8k + 1)(8k + 2)
= = (8k + 1)(4k + 1) = 1 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 2
n(n + 1) (8k + 2)(8k + 3)
= = (4k + 1)(8k + 3) = 3 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 3
n(n + 1) (8k + 3)(8k + 4)
= = (8k + 3)(4k + 2) = 2 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 4
n(n + 1) (8k + 4)(8k + 5)
= = (4k + 2)(8k + 5) = 2 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 5
n(n + 1) (8k + 5)(8k + 6)
= = (8k + 5)(4k + 3) = 3 mod 4.
2 2

• Com n = 8k + 6
n(n + 1) (8k + 6)(8k + 7)
= = (4k + 3)(8k + 7) = 1 mod 4.
2 2
12 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

• Com n = 8k + 7
n(n + 1) (8k + 7)(8k + 8)
= = (8k + 7)(4k + 4) = 3 mod 4.
2 2

b Propriedade 6 Sejam a e b complexos se a + b e a.b são reais com a + b < 0 e


a.b < 0 então a e b são reais.

ê Demonstração. Tomando a = x1 + y1 i e b = x2 + y2 i tem-se a + b = x1 + x2 +


i(y1 + y2 ) como é real devemos ter y1 + y2 = 0 e x1 + x2 < 0 pela segunda condição.
Com o produto temos a.b = (x1 x2 − y1 y2 ) + i(x2 y1 + x1 y2 ) logo x2 y1 + x1 y2 = 0 e
x 1 x 2 − y 1 y 2 < 0.
• (2) x1 x2 < y1 y2 , (1) x1 + x2 < 0.
• (3) x2 y1 + x1 y2 = 0 e (4) y1 + y2 = 0.
Da relação (1) temos que x1 ou x2 , devem ser negativos, suponha que seja x1 . Se x2 = 0
concluímos por (2) que 0 < y1 y2 , daí ambos são não nulos e de (3) tem-se x1 y2 = 0 o
que é absurdo. Se x2 < 0 então 0 < x1 x2 < y1 y2 implicando que y1 e y2 tem o mesmo
sinal e então não pode valer y1 + y2 = 0. Como não vale x2 6 0 então vale x2 > 0 e
x1 < 0, logo x1 e x2 são distintos. Do sistema (3) , (4) concluímos que ( xx21 − 1)y2 = 0,
daí y2 = 0 pois se não x1 = x2 , de y2 = 0 segue de (4) que y1 = 0, logo ambos
números são reais.

b Propriedade 7 Seja
 
a b
A = {  a, b ∈ R}
−b a

então (A, +, ×) onde + e × são adição e multiplicação de matrizes é um corpo isomorfo ao


corpo dos complexos (C, + ×).

ê Demonstração. Por propriedade de matrizes (A, +, ×) é um anel comutativo


com unidade. Todo elemento não nulo é invertível pois Det(A) = a2 + b2 6= 0 se a
ou b é zero, então todo elemento não nulo é invertível logo (A, +, ×) é um corpo.
Definimos a função f : Ca Atalqueparaqualquerz=a+bi ∈ C associamos
 
a b
f(z) =
−b a

tal função é um isomorfismo de corpos, pois dados z1 = a1 + b1 i e z2 = a2 + b2 i,


tem-se
     
a1 + a2 b 1 + b 2 a1 b 1 a2 b 2
f(z1 +z2 ) = = + = f(z1 )+f(z2 )
−b1 − b2 a1 + a2 −b1 a1 −b2 a2
1.1. NÚMEROS COMPLEXOS 13

logo preserva a adição.


     
a1 a 2 − b 1 b 2 a1 b 2 + b 1 a 2 a1 b1 a2 b2
f(z1 z2 ) = = . = f(z1 )f(z2 )
−a1 b2 − b1 a2 a1 a2 − b 1 b 2 −b1 a1 −b2 a2

logo o produto é preservado, seguindo então que temos um isomorfismo.

Z Exemplo 4 Seja
 
cos(a) −sen(a)
A= 
sen(a) cos(a)

pelo resultado anterior é isomorfo ao elemento z = cos(a) − isen(a) = cos(−a) +


isen(−a) = e−ia , por isso elevando tal número à k, dá o mesmo resultado que elevar a
matriz, sendo
zk = e−ika = cos(−ka) + isen(−ka),

que por sua vez dá o resultado de Ak ,

 
cos(ka) −sen(ka)
Ak =  .
sen(ka) cos(ka)

Z Exemplo 5 O inverso de um número complexo não nulo z = x + iy, x, y ∈ R é


x iy
− 2 = z −1 .
x2 +y 2 x + y2

Z Exemplo 6 Calcule (a + bi) . Temos (a + bi)


2 2
= a2 + 2abi + (bi)2 = a2 +
2abi − b2 .

Z Exemplo 7 Qual a condição para que o produto de dois números complexos (a + bi)
e (c + di) seja real?
Multiplicando temos

(a + bi)(c + di) = ac − bd + i(ad + bc)


14 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

a parte complexa deve ser nula então ad + bc = 0.

Z Exemplo 8 Qual deve ser a condição para que o número (a + bi) 4


seja estritamente
negativo, sendo a e b reais.
Expandimos por binômio de Newton

(a + bi)4 = b4 − 4ab3 i − 6a2 b2 + 4a3 bi + a4

perceba que a nem b podem ser nulos, caso b seja nulo a4 é não negativo o mesmo para
a = 0 implica (bi)4 = b4 . Temos que ter a parte complexa nula, logo 4a3 b = 4ab3 ⇒
a2 = b2 ⇒ a = ±b. Agora a parte real deve ser negativa, mas ela é realmente negativa
pois
a 4 + a 4 − 6a 2 a 2 < 0 ⇔ 2 a 4 < 6 a 4

que vale, onde acima substituímos a = ±b.


Então os valores são a ± b, a 6= 0.

Z Exemplo 9 Quais os possíveis valores o número complexo


1+i n
( )
1−i
pode assumir? ( n inteiro) .
Se n é par ele é da forma 2t, temos (1 +i)2 = 1 + 2i− 1 = 2i e (1 −i)2 = 1 − 2i− 1 =
−2i, portanto o número é da forma

1 + i 2t (2i)t
( ) = = (−1)t .
1−i (−1)t (2i)t
Se n é ímpar ele é da forma 2t + 1, substituindo tem-se

1 + i 2t+1 1+i
( ) = (−1)t
1−i 1−i
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 15

simplificando
1+i 1+i1+i 2i
= = =i
1−i 1−i1+i 2
então
1 + i 2t+1
( ) = (−1)t i
1−i
os valores que ( 11+i
−i ) assumem são i, −i, 1 e −1 .
n

1.2 Conjugado e valor absoluto


Seja um número complexo z = a + bi. Quando escrevermos dessa forma, geralmente
( a não ser que citado explicitamente o contrário), estaremos considerando a, b ∈
R.

m Definição 6 (Parte real) Definimos a parte real de z como

Re(z) := a.

m Definição 7 (Parte complexa) Definimos a parte imaginária de z por

Im(z) := b.

Também podemos chamar de parte complexa.

Z Exemplo 10 Calcule a parte real e a parte imaginária de z , onde z = x + iy.


1

1 iy
Sabemos que z = x
x2 +y2
− x2 +y2
, logo

1 x
Re( ) = 2
z x + y2
1 y
Im( ) = − 2 .
z x + y2

Z Exemplo 11 Calcular a parte real e imaginária de z+a


z−a
, onde a ∈ R e z = x + iy.
Escrevemos
 
z−a 2a x+a iy
=1− = 1 − 2a − =
z+a z+a (x + a)2 + y2 (x + a)2 + y2
16 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

(x + a)(−2a) 2ay
1+ 2 2
+ i
(x + a) + y (x + a)2 + y2
logo
z−a (x + a)(−2a)
Re( )=1+
z+a (x + a)2 + y2
z−a 2ay
Im( )= .
z+a (x + a)2 + y2

Z Exemplo 12 Dado z = x + yi Calcular Re(zn) e Im(zn).


n  
X
n n
(x + yi) = (yi)k xn−k
k
k=0

separamos os índices em pares e ímpares


n 
X  n 
X 
n n
= (yi)2k+1 xn−2k−1 + (yi)2k xn−2k =
2k + 1 2k
k=0 k=0

n 
X  n 
X 
n n
=i (y)2k+1 (i)2k xn−2k−1 + (y)2k (i)2k xn−2k =
2k + 1 2k
k=0 k=0
n 
X   n 
X
n n
=i (y)2k+1 (−1)k xn−2k−1 + (y)2k (−1)k xn−2k = a+bi
2k + 1 2k
k=0 k=0
| {z } | {z }
b∈R a∈R

logo
n 
X 
n
n
Re(z ) = (y)2k (−1)k xn−2k
2k
k=0
n 
X 
n
Im(zn ) = (y)2k+1 (−1)k xn−2k−1 .
2k + 1
k=0

Como exemplo, para n = 3 temos

n  
3
X 3
Re(z ) = (y)2k (−1)k x3−2k = x3 − 3(y)2 x
2k
k=0
n  
3
X 3
Im(z ) = (y)2k+1 (−1)k x3−2k−1 = 3yx2 − (y)3 .
2k + 1
k=0
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 17

b Propriedade 8 (Linearidade de Re e Im) Sejam zk = xk + iyk números com-


plexos, então valem
X
n  n
X
Re zk = Re(zk )
k=1 k=1
X
n  n
X
Im zk = Im(zk ).
k=1 k=1
Pn
ê Demonstração. Tomando z = k=1 zk tem-se
n
X n
X n
X n
X
z= zk = (xk + iyk ) = (xk ) +i (yk ) = a + bi
k=1 k=1 k=1 k=1
| {z } | {z }
a b

daí Re(z) = a, Im(z) = b tem-se também Re(zk ) = xk e Im(zk ) = yk logo


n
X n
X
Re(zk ) = xk = a
k=1 k=1

n
X n
X
Im(zk ) = yk = b
k=1 k=1

logo valem
X
n  n
X
Re zk = Re(zk )
k=1 k=1
X
n  n
X
Im zk = Im(zk )
k=1 k=1

isto é Re e Im comutam com o somatório.

Z Exemplo 13 Calcule a parte real e imaginária de



−1 + 3 i 3
( ) .
2

Escrevemos o número na forma polar



−1 + 3i π π
= (−1)(cos(− ) + isen(− ))
2 3 3

elevando ao cubo e usando a fórmula de Moivre tem-se

−(cos(−π) + isen(−π)) = (−1)(−1) = 1.


18 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

De maneira similar podemos calcular


√ √
−1 − 3i 6 1 + 3i 6
( ) =( ) = cos(2π) + isen(2π)) = 1.
2 2

Z Exemplo 14 Calcule a parte real e imaginária de in para n natural. Tomamos a


divisão euclidiana de n por 4, n = 4q + r e daí

in = i4q+r = ir

onde r = 0, 1, 2, 3. Temos como exemplos

i0 = 1, i1 = i, i2 = −1, i3 = −i

i4 = 1, i5 = i, i6 = −1, i7 = −i

i 8 = 1, ∙ ∙ ∙

Z Exemplo 15 Calcular a parte real e complexa de ( √ 1


2
+ √i )n
2

Escrevemos
1 i nπ nπ
( √ + √ )n = cos( ) + isen( )
2 2 4 4
logo a parte real é cos( nπ
4
) e a parte complexa é sen( nπ
4
).

m Definição 8 (Imaginário puro) z é imaginário puro ⇔ Re(z) = 0, nesse caso te-


mos z = bi.

Z Exemplo 16 O número 0 é um imaginário puro, pois Re(0) = 0. Alguns autores


tomam o número 0 como não sendo imaginário puro, tomando os imaginários puros da
forma bi, b 6= 0.

m Definição 9 (Real ) z é real ⇔ Im(z) = 0, nesse caso temos z = a, nesse caso


podemos dizer também que z é real puro .
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 19

Z Exemplo 17 0 é o único número que é imaginário puro e real puro. Se z = a + bi é


imaginário puro então a = 0 se é real puro então b = 0, daí z = 0.

Z Exemplo 18 Não vale em geral que Re(a.b) = Re(a)Re(b) o mesmo em geral


também não vale para parte imaginária, pois

Re(i2 ) = Re(−1) = −1 6= Re(i)Re(i) = 0.

Im(i2 ) = Im(−1) = 0 6= Im(i)Im(i) = 1.

1.2.1 Condições para que w


z
seja real ou imaginário puro
Z Exemplo 19 Calcule a parte real e imaginária de a+bi
x+yi .

Escrevemos

a + bi x yi
= (a + bi)( 2 − )=
x + yi x + y 2 x2 + y2

ax + by (bx − ay)
= + 2 i.
x2 + y 2 x + y2
Logo temos

a + bi ax + by a + bi (bx − ay)
Re( )= 2 , Im( )= .
x + yi x + y2 x + yi x2 + y 2
3 +5i
Como exemplo numérico considere z = 1 + 7i

38 −16
Re(z) = , Im(z) = .
50 50

Para que a+bi


x+yi seja real temos que terbx − ay = 0 e para ser imaginário puro ax +
by = 0.
Para o produto, temos

(a + bi)(c + di) = ac − bd + i(ad + bc)

a parte imaginária é ad+bc e a parte real ac−bd para ser imaginário puro ac−bd = 0
e para ser real ad + bc = 0.
20 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

Z Exemplo 20 Quais as condições para que z + z seja real ou imaginário puro , res-
1

pectivamente?
Seja z = x + iy então

1 (x2 + y2 + 1)x + iy(x2 + y2 − 1)


z+ =
z x2 + y 2
para que seja real é necessário que x2 + y2 = 1 então o número complexo possui módulo 1.
Para que fosse imaginário puro seria necessário ter x2 + y2 = −1 o que não é possível com
x, y ∈ R então devemos ter x = 0

1.2.2 Conjugado de um número complexo


m Definição 10 (Conjugado) Definimos o conjugado de z = a + bi como

z = a − bi.

Z Exemplo 21 Se z , z1 2 ∈ C e z1 + z2 , z1 .z2 são reais então z1 = z2 ou z1 , z2 ∈ R.


Sendo z1 = x + iy e z2 = a + bi então z1 + z2 = a + x + i(y + b), o produto é

z1 z2 = ax − by + i(ax + by)

para que ambos sejam reais é necessário que y + b = 0 e ay + bx = 0, substituindo a


primeira na segunda tem-se b(x − a) = 0, temos duas possibilidades b = 0 daí y = 0
que implicam z2 , z1 ∈ R ou x = a ainda com y+b = 0 nesse caso z1 e z2 são conjugados.

Z Exemplo 22 Resolver a equação

z = tzi.

z = a + bi, então a equação fica como

a − bi = ati − bt
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 21

por isso temos o sistema −bt = a e at = −b, substituindo a primeira na segunda,


supondo b 6= 0 tem-se t2 = 1, por isso t = 1 ou t = −1. Se t = 1, −b = a. Se t = −1,
b = a . Caso b = 0 então a = 0 e caso a = 0 , b = 0 então temos todas soluções.

b Propriedade 9 (Idempotência)

z = z.
ê Demonstração. Vale que z = a − bi = v daí v = a + bi = z, então
z = z.

b Propriedade 10 z + z = 2Re(z).

ê Demonstração. z + z = a + bi + a − bi = 2a = 2Re(z).

b Propriedade 11 z − z = 2i Im(z).

ê Demonstração. a + bi − (a − bi) = a + bi − a + bi = 2bi = 2i Im(z).

b Propriedade 12 Sejam zk = ak + bk i, números complexos, então


X
n  X
n 
zk = zk
k=1 k=1

ê Demonstração.

X
n  X
n  X
n  X
n  X
n  n
X X
n 
zk = ak + bk i = ak − bk i = (ak −bk i) = zk .
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1 k=1 k=1

b Propriedade 13
z.w = z.w.
ê Demonstração. Sejam z = (a + bi) e w = (c + di) então z.w = (ac − bd) +
(bc + ad)i , daí
z.w = (ac − bd) − (bc + ad)i
, z = (a − bi), w = (c − di),
z.w = (ac − bd) − (bc + ad)i
então vale a igualdade.
22 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

b Propriedade 14 Vale
n
Y n
Y
zk = zk .
k=1 k=1

ê Demonstração. Por indução sobre n, para n = 1 vale. Supondo a validade para


n
n
Y n
Y
zk = zk
k=1 k=1

vamos provar para n + 1


Y1
n+ Y1
n+
zk = zk .
k=1 k=1
Temos que

Y1
n+ Y
n  n
Y n
Y Y1
n+
zk = zk .zn+1 = zk .zn+1 = zk zn+1 = zk .
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1

$ Corolário 4 Sendo n ∈ N , vale zn = zn , pois


n
Y n
Y
zn = z= z = zn .
k=1 k=1

b Propriedade 15 z ∈ R ⇔ z = z.

ê Demonstração.
⇒). Se z ∈ R então z = a + 0i logo z = a − 0i = a.
⇐). Se z = z então z − z = 0 = 2iImz daí Imz = 0 implicando que z ∈ R.

1.2.3 Condição de raízes conjugadas


Pn
b Propriedade 16 (Raízes conjugadas) Se um polinômio p(z) = k=0 ck zk tem
coeficientes reais ck e z ∈ C é uma raiz, então z também é uma raiz de p(z). Se um po-
linômio de coeficientes reais, possui raiz compleza z, então o conjugado de z também é raiz.
P
ê Demonstração. Se p(z) = n k=0 ck z = 0 , podemos tomar o conjugado de
k

0=0
n
X n
X n
X n
X n
X
ck zk = ck z k = ck zk = ck z k = ck z k = 0.
k=0 k=0 k=0 k=0 k=0
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 23

b Propriedade 17 Vale que ( z1 ) = 1


z

ê Demonstração.

1 x y 1 x y
= 2 − i⇒( )= 2 + i
z x + y 2 x2 + y 2 z x + y 2 x2 + y 2
1 x y
= 2 + i
z x + y2 x2 + y 2
logo temos a igualdade.

b Propriedade 18 Se P(z) é uma função racional com coeficientes em R, então vale


P(z) = P(z).

ê Demonstração.
P
n
ak z k
k=0
P(z) =
Pm
bk z k
k=0

aplicando o conjugado

P
n P
n
ak z k ak z k
k=0 k=0
P(z) = = = P(z).
Pm Pm
k
bk zk bk z
k=0 k=0

b Propriedade 19 z é imaginário puro ⇔ z = −z.

ê Demonstração. Se z é imaginário puro então z = bi, logo z = −bi = −z. Se


z = −z então z + z = 0, logo 2Rez = 0 implicando que Rez = 0 e z imaginário puro.

1.2.4 Valor absoluto-módulo


m Definição 11 (Valor absoluto-módulo) Definimos o valor absoluto ou módulo de
um número complexo z = x + yi como
p
|z| = x2 + y 2 .
24 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

$ Corolário 5 O módulo de números complexos abrange o de números reais, pois se


√ √
z = a + 0.i então |z| = a2 + 02 = a2 = |a| = |z|.

$ Corolário 6 Sendo z = a + bi então |iz| = |z| pois |i.z| = |ia − b| =


p p
a2 + (−b)2 = a2 + (b)2 = |z|. Vale também que | − iz| = |z| pois | − i.z| =
p p
| − ia + b| = (−a)2 + (b)2 = a2 + (b)2 = |z|. Em especial |i| = | − i| = 1.

$ Corolário 7 Vale também | − z| = |z| pois z = a + bi, −z = −a − bi e daí


p √
| − z| = (−a)2 + (−b)2 = a2 + b 2 .

b Propriedade 20 (Idempotência)

||z|| = |z|.

ê Demonstração. p
|z| = a2 + b 2
√ √ √
e como a2 + b2 é positivo real, então | a2 + b2 | = a2 + b2
p qp p
| a + b | = ( a 2 + b 2 ) 2 = a2 + b 2 .
2 2

b Propriedade 21 Valem as propriedades

Rez 6 |Rez| 6 |z| e Imz 6 |Imz| 6 |z|.

Seja z = a + bi, valem as desigualdades a2 < b2 + a2 e b2 < a2 + b2 , tomando a raiz


√ √
de ambos lados segue |a| < b2 + a2 e |b| < b2 + a2 , então

Rez 6 |Rez| 6 |z| e Imz 6 |Imz| 6 |z|

pois Rez = a Imz = b e as desigualdades Rez 6 |Rez| e Imz 6 |Imz| são igualdade
conhecidas de módulo de um número real.

1.2.5 Uso de conjugado na divisão


1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 25

b Propriedade 22
|z|2 = z.z.

$ Corolário 8 Se z 6= 0 então z1 = z
|z|2
.
Então para calcular a divisão de w
z basta calcular

wz
.
|z|2

ê Demonstração. |z|2 = a2 + b2 e z.z = (a + bi)(a − bi) = a2 + b2 , então vale


a igualdade.

b Propriedade 23
|z| = |z|.

êpDemonstração.√z = a + bi então |z| = a2 + b2 e z = a − bi implica
|z| = a2 + (−b)2 = a2 + b2 .

b Propriedade 24 |z.w| = |z| |w|

ê Demonstração. p Sendo z = a + bi, w = xp+ yi então z.w = (ax − by) + (ay +


bx)i
p daí |zw| = (ax − by) 2 + (ay + bx)2 = a2 x2 − 2axby + b2 y2 + a2 y2 + 2aybx + b2 x2 =
a 2 x 2 + b 2 y 2 + a2 y 2 + b 2 x 2 e
p p q p
|z||w| = a + b x + y = (a2 + b2 )(x2 + y2 ) = a2 x2 + a2 y2 + b2 x2 + b2 y2
2 2 2 2

logo |z||w| = |zw|.

$ Corolário 9 Se z 6= 0 então |1| = 1 = | zz | = |z|.| z1 | daí | z1 | = 1


|z| . O mesmo
valendo para z, essas propriedades implicam que

|w| w
=| |
|z| z

w w
= .
z z

b Propriedade 25 n n
Y Y
|zk | = | zk |.
k=1 k=1

ê Demonstração. Por indução sobre n. Para n = 1 vale, supondo para n, vamos


provar para n + 1.
26 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

n
Y n
Y n
Y n
Y Y1
n+
| zk | = | ( zk )zn+1 | = | zk ||zn+1 | = |zk |.|zn+1 | = | zk |.
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1

$ Corolário 10 wz = wz pois wz = w z = wz.

$ Corolário 11 2Re z.w = z.w + z.w = z.w + wz.

$ Corolário 12 |z + w|2 = |z|2 + 2Re z.w + |w|2 pois

|z + w|2 = (z + w)(z + w) = (z + w)(z + w) = z.z + z.w + zw + w.w =

= |z|2 + 2Re z.w + |w|2 .

$ Corolário 13 |z − w|2 = |z|2 − 2Re z.w + |w|2 e

|z + w|2 + |z − w|2 = 2(|z|2 |w|2 ).

$ Corolário 14 (Desigualdade triangular) Como Re z.w 6 |z.w| então

|z|2 + 2Re z.w+|w|2 6 |z|2 + 2|z.w|+|w|2 = |z|2 + 2|z|.|w|+|w|2 = (|z|+|w|)2 .

Então tem-se
|z + w|2 6 (|z| + |w|)2

implicando |z + w| 6 |z| + |w|.

$ Corolário 15 |z − w| 6 |z| + |w| pois | − w| = |w| daí aplicamos a desigualdade


triangular.

b Propriedade 26 Se z = x + yi e w = a + bi então

z ax + by ay − bx
= 2 +i 2 .
w a + b2 a + b2
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 27

ê Demonstração.
z 1 z.w ax + by ay − bx
=z = = 2 +i 2 .
w w |w|2 a + b2 a + b2

b Propriedade 27 |z| = 0 ⇔ z = 0.

ê Demonstração. Se z = 0 então |z| = 0 = 0, se |z| = 0 então |z|2 = 0 e daí
a2 + b2 = 0, que só acontece quando a = b = 0.

b Propriedade 28 Se z = cosx + isenx para algum x então |z| = 1.

ê Demonstração. |z| = cos2 x + sen2 x = 1.

b Propriedade 29 Vale a desigualdade

||zn | − |z|| 6 |zn − z|.

ê Demonstração. Por desigualdade triangular valem as desigualdades


|zn | − |z| 6 |zn − z| e − |zn | + |z| 6 |zn − z|
então
||zn | − |z|| 6 |zn − z|.

Z Exemplo 23 Se z = reiθ então |eiz| = e−rsen(θ). Vale


iz = ir(cos(θ) + isen(θ)) = ircos(θ) − rsen(θ)

então
eiz = eircos(θ) e−rsen(θ)

tomando o módulo

|eiz | = |eircos(θ) | | |e−rsen(θ)


{z } | = e
−rsen(θ)
.
| {z }
=1 >0

Z Exemplo 24 Calcule o valor absoluto e conjugado dos números −2 + i , −3, (2 +


i)(4 + 3i).

−2 + i = − 2 − i
28 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

−3 = − 3.

(2 + i)(4 + 3i) = 5 + 10i = 5 − 10i.


| − 2 + i| = 4+1=5

| − 3| = 9 = 3.

|(2 + i)(4 + 3i)| = |5 + 10i| = 5. 5

Z Exemplo 25 (ITA -questão 5- 1990- Solução) Suponha z ∈ C com 1 + |z| = |z +


1|, z = a + bi, então

p q
1+ a2 + b2 = (a + 1)2 + b2

elevando ao quadrado implica


p
1+2 a2 + b2 + a2 + b2 = (a + 1)2 + b2 = a2 + 2a + 1 + b2 ⇒
p
a2 + b 2 = a

logo a > 0, elevando ao quadrado novamente a2 + b2 = a2 , portanto b = 0.


Disso temos que Im(z) = 0 e Re(z) > 0.

1.2.6 Conjugado e valor absoluto da divisão


Z Exemplo 26 Se z = x + yi e w = a + bi então
z ax + by ay − bx
= 2 2
+i 2 .
w a +b a + b2

Com isso, podemos calcular o conjugado e o valor absoluto

z ax + by ay − bx
( )= 2 −i 2
w a + b2 a + b2
1.2. CONJUGADO E VALOR ABSOLUTO 29

r q
z ax + by 2 ay − bx 2 1
| |= ( ) +( 2 ) = 2 (ax + by)2 + (ay − bx)2 .
w a2 + b 2 a + b2 a + b2

Como exemplo numérico vamos calcular o valor absoluto e o conjugado dos números
√3−i e i+3 .
i
2 + 3i

No primeiro caso √ √
z 3( 2 − 1) ( 9 + 2)
= +i .
w 11 11
q √
z 1 √
| |= (3( 2 − 1))2 + (9 + 2)2 .
w 11
No segundo caso
z 1 3
= −i .
w 10 10
z 1 √
| |= 10.
w 10

Z Exemplo 27 Se Pm−
k= x a 0
1
k m− −k = z 6= 0 e xm − am = t calcule x − a.
1

Pm−1
Temos que k=0 xk am−1−k = z, usamos a identidade

X1
m−
(xm − am ) = (x − a) xk am−1−k
k=0

logo
t
x−a= .
z

Z Exemplo 28 Calcule a parte real e imaginária de (1 + i)n, temos


1+i nπ nπ
( √ )n = cos( ) + isen(( ))
2 4 4

logo
√ nπn √ n nπ
(1 + i)n = 2 cos(
) + 2 isen(( )
4 4
√ n √ n
portanto a parte real é 2 cos( nπ
4
) e a parte imaginária é 2 sen(( nπ 4
). o con-
√ n √ n √ n
jugado do número é 2 cos( nπ 4
) − 2 sen(( nπ 4
)i. O módulo do número é 2 .
30 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

Z Exemplo 29 Calcule o módulo e valor absoluto de in para n ∈ N.


Temos que in = ir onde r é o resto da divisão de n por 4, então temos as possibilidades

1, i, −1, −i

conforme o resto seja 0, 1, 2 ou 3 respectivamente que implica conjugado 1, −i, −1, i.


Agora o valor absoluto é 1.
Como um exemplo numérico consideramos i17 , 17 deixa resto 1 na divisão por 4 então
o número é i e seu conjugado é −i.

1.2.7 Desigualdade de Cauchy Schwarz


b Propriedade 30 Vale a desigualdade

v v
n u n u n
X uX uX
| xk y k | 6 t |yk | t
2 |xk |2
k=1 k=1 k=1

para elementos xk , yk ∈ C.
ê Demonstração. Seja
n
X n
X n
X n
X
f(t) = (|xk | + t|yk |)2 = (|xk |2 + t2 |xk ||yk | + t2 |yk |)2
k=1 k=1 k=1 k=1

vale f(t) > 0, sendo uma equação do segundo grau o discriminante é sempre nega-
tivo, logo podemos chegar em
n
X n
X n
X
2 2
( |xk ||yk |) 6 |xk | |yk |2
k=1 k=1 k=1

que implica v v
n u n u n
X uX uX
|xk ||yk | 6 t |yk |2 t |xk |2
k=1 k=1 k=1

como vale
n
X n
X
| xk y k | 6 |xk | |yk |
|{z}
k=1 k=1
=|yk |

então segue a desigualdade


v v
n u n u n
X uX uX
| xk y k | 6 t |yk | t
2 |xk |2 .
k=1 k=1 k=1
1.3. PLANO DE ARGAND-GAUSS E FORMA POLAR 31

1.2.8 Distância
m Definição 12 (Distância) Definimos a distância entre dois números complexos z1 e
z2 por
d(z1 , z2 ) = |z1 − z2 |.

b Propriedade 31 A distância define uma métrica em C pois temos as seguintes pro-


priedades:

• Simetria
d(z1 , z2 ) = d(z2 , z1 ).

• Desigualdade triangular

d(z1 , z2 ) 6 d(z1 , z3 ) + d(z3 , z2 )

• Positividade
d(z1 , z2 ) > 0, d(z1 , z2 ) = 0 ⇔ z1 = z2 .

Tais propriedades seguem das propriedades de R2 .

1.3 Plano de Argand-Gauss e forma polar


m Definição 13 (Forma polar e argumento de um número complexo)
Como podemos representar um número complexo z = a + bi pelo ponto P = (a, b)
no plano cartesiano, a parte real a representada sobre o eixo x e a parte imaginária b
representada sobre o eixo y. A distância da origem até o ponto P é
p
|z| = r = a2 + b 2 .

a + bi, pode ser representado por r(cos(θ) + isen(θ) onde sen(θ) = √ b


a2 +b2
e
1
cos(θ) = √ a logo tg(θ) =
a2 +b2
o ângulo θ se chama argumento do número com-
a ..
b

plexo a+bi e essa representaθosechamaformatrigonomtricaoupolar.Lembrandodarelaθocosθ+


isenθ = eiθ
z = a + bi = r(cosθ + isenθ) = r.eiθ
1 estamos considerando um único argumento em [0, 2π).
32 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

Figura 1.1: Plano de Argand-Gauss

se elevarmos a n temos

zn = (a + bi)n = rn (cosθ + isenθ)n = rn einθ

como temos einθ = cos(nθ) + isen(nθ) temos assim

$ Corolário 16 O argumento de um número real é nulo,

z = a + bi = a + 0i, tg(θ) = 0, θ = 0.

b Propriedade 32 O conjunto dos pontos z tais que |z − z0 | = r > 0 é uma circunfe-


rência de raio r e centro em z0 .

ê Demonstração. Denotando z0 = (x0 , y0 ) e z = (zx , zy )

|z − z0 | = r ⇔ (zx − x0 )2 + (zy − y0 )2 = r2

que são exatamente os pontos da circunferência de raio r e centro em z0 = (x0 , y0 ).

b Propriedade 33 arg(z1 .z2 ) = arg(z1 ) + arg(z2 ).

ê Demonstração. z1 = r1 eiθ1 , z2 = r2 eiθ2 , multiplicando tem-se

z1 .z2 = r1 .r2 ei(θ1 +θ2 )

logo arg(z1 .z2 ) = θ1 + θ2 = arg(z1 ) + arg(z2 ).


1.3. PLANO DE ARGAND-GAUSS E FORMA POLAR 33

$ Corolário 17 A soma de do argumento de um número complexo não nulo com seu


inverso é zero

1
arg(z ) = arg(1) = 0 = arg(z) + arg(z−1 ).
z

b Propriedade 34 arg( zz21 ) = arg(z1 ) − arg(z2 ).

ê Demonstração.
z1 = r1 eiθ1 , z2 = r2 eiθ2 , dividindo tem-se
z1 r1
= ei(θ1 −θ2 )
z2 r2
daí arg( zz21 ) = arg(z1 ) − arg(z2 ).

Z Exemplo 30 Determine z ∈ C tal que arg(z + i) = π e |z| = 2. 4



Seja z = a + bi, então |z| = a2 + b2 = 2 implicando a2 + b2 = 4. z + i =
a + (b + 1)i o argumento nos dá

a2 1 (b + 1)2 (b + 1)2
= = 2 =
a2 + (b + 1) 2 2 a + (b + 1) 2 5 + 2b

pois a2 + b2 = 4 , segue que a2 = (b + 1)2 e daí (b + 1)2 + b2 = 4, de onde


√ √
− 1+ 7 1+ 7
tiramos as soluções b = 2
e por conseguinte a = 2
como uma das soluções
√ √
1+ 7 −1+ 7
z= 2
+ 2
i.

1.3.1 fórmula de De Moivre


b Propriedade 35 (Primeira fórmula de De Moivre) Sendo z = (cos(θ)+isen(θ))
então
zn = rn [(cos(nθ) + isen(nθ)]

porém vamos provar esse resultado por induθo.


ê Demonstração.
Para n = 0 temos

(a + bi)0 = 1 = r0 [(cos(0θ) + isen(0θ)] = [1 + i0] = 1

tomando agora o resultado válido para n

zn = rn [(cos(nθ) + isen(nθ)]
34 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

vamos provar para n + 1

zn+1 = rn+1 [(cos((n + 1)θ) + isen((n + 1)θ)]

como zn+1 = zn .z temos

zn+1 = rn [(cos(nθ) + isen(nθ)] r [(cos(θ) + isen(θ)] =

rn+1 [cosnθ.cosθ − sennθ.senθ + i(senθcosnθ + sennθ.cosθ)]


lembrando que cos(n + 1)θ = cos(nθ + θ) = cosnθ.cosθ − sennθ.senθ e sen(n +
1)θ = sen(nθ + θ) = sennθcosθ + senθ.cosnθ substituindo temos

= rn+1 [cos(n + 1)θ + isen(n + 1)θ].

$ Corolário 18 Em geral em
n
Y
zk
k=1

com zk = rk eiθk , tem-se


n n n n P
n
Y Y Y Y i( θk )
zk = ( rk )( eiθk ) = ( rk )(e k=1 ).
k=1 k=1 k=1 k=1
Qn Pn
Isso implica que arg( k=1 zk ) = k=1 arg(zk ). Em especial
n
Y n
X
arg( z) = arg(zn ) = arg(z) = narg(z).
k=1 k=1

Tomando z = reiθ , temos


n n P
n
Y Y i( θ)
n
z=z =( r)(e k=1 ) = rn (ei(nθ) ) = rn (cos(nθ) + isen(nθ))
k=1 k=1

provando a fórmula de De Moivre.

$ Corolário 19
p √
|cos(x) + isen(x)| = cos2 x + sen2 x = 1 = 1.

Z Exemplo 31 z = 1+i, tem-se cos(θ) = √



1 2
2
= 2
= sen(θ), logo arg(z) = π
4
.
1.4. RAÍZES 35

Z Exemplo 32 (ITA 2009- Questão 4- Solução) Se a = cos( π5 ) e b = sen( π5 )


então calcule [cos( π5 ) + sen( π5 )]54 .
Pela fórmula de de Moivre, temos

π π 54π 54π
[cos( ) + sen( )]54 = [cos( ) + sen( )] =
5 5 5 5
55π π 55π π
= [cos(
− ) + sen( − )] =
5 5 5 5
π π π π
= cos(11π) cos( ) + sen(11π) sen( )+i sen(11π) cos( )−icos(11π) sen( ) = −a+bi.
| {z } | {z 5 } | {z } 5 | {z } 5 | {z 5 }
−1 0 0
a b

b Propriedade 36 O ponto z é a reflexão do ponto z em torno do ponto x. (fazer figura).

ê Demonstração.

1.4 Raízes
b Propriedade 37 (Raízes complexas n-ésimas) Todo número complexo

z = r(cos(θ) + isen(θ)) 6= 0

possui exatamente n raízes complexas n-ésimas w, que satisfazem wn = z para cada


número natural n > 1, dadas por

1 θ + 2kπ θ + 2kπ
zk = r n [cos( ) + isen( )]
n n

k ∈ [ 0 , n − 1] N .

ê Demonstração. Queremos determinar os valores de w = p(cos(ϕ)+isen(ϕ))


tais que z = wn . Tem-se
wn = pn (cos(nϕ) + isen(nϕ)) = z = r(cos(θ) + isen(θ))
1
daí pn = r, p = r n , cos(nϕ) = cos(θ) , sen(nϕ) = sen(θ), ⇔ nϕ = θ + 2kπ,
ϕ = θ+n2kπ , k ∈ Z. De k = 0 até n − 1 temos argumentos distintos e números
complexos distintos , pois os argumentos estão entre [ n , n + 2π), para outros valores
θ θ

de k se recaímos nestes já citados pois k = nq + r onde 0 6 r < n pela divisão


euclidiana
θ + 2kπ θ + 2rπ
= + 2qπ.
n n
36 CAPÍTULO 1. NÚMEROS COMPLEXOS

Z Exemplo 33 Em especial temos as raízes da unidade , que são raízes da equação


zn = 1, dadas por

2kπ 2kπ
cos( ) + isen( ), k ∈ [0, n − 1]N .
n n

Z Exemplo 34 Calcule as raízes da equação z 4


− p = 0 onde p > 0.

As raízes serão dadas por zk = 4 p(cos (2kπ)
4
+ isen (2kπ)
4
).


4
z0 = p


4
(2π) (2π) √
z1 = p(cos + isen )=i4p
4 4
√ (4π) (4π) √
z2 = 4 p(cos + isen )=−4p
4 4
√ (2.3π) (2.3π) √
z3 = 4 p(cos + isen ) = −i 4 p.
4 4

Z Exemplo 35 Calcule as raízes da equação z 4


− 3 = 0.
√ (2kπ)
As raízes serão dadas por zk = 4
3(cos 4
+ isen (2kπ)
4
).


4
z0 = 3


4
z1 = i 3

4
z2 = − 3

4
z3 = −i 3.

Z Exemplo 36 Calcule as raízes da equação z 8


− 14z4 + 48 = 0. Tomamos w = z4
e daí a equação fica w2 − 14w + 48 = 0 cujas raízes são w1 = 8 e w2 = 6. As raízes
são


4
z0 = 8

4
z1 = i 8
1.4. RAÍZES 37

4
z2 = − 8

4
z3 = −i 8

4
z4 = 6

4
z5 = i 6

4
z6 = − 6

4
z7 = −i 6.

Z Exemplo 37 Calcule as raízes da equação


z2 + (1 − 2i)z + (1 + 5i) = 0.

Temos Δ = (1 − 2i)2 − 4(1 − 5i) = −3 − 4i − 4 + 20i = −7 + 16i logo os valores


são dados por √
−(1 − 2i) ± −7 + 16i
z= .
2

b Propriedade 38 Se ez 6= 0 e α ∈ C tal que ez+α = ez então α = 2kπi, ∀ k ∈ Z.

ê Demonstração. α = a + bi, daí

ez+α = ez eα = ez ⇒ eα = 1

pois ez 6= 0 é invertível. Então segue

ea ebi = 1

como a função de lei ex é injetora, segue que a = 0, daí

ebi = cos(b) + isen(b) = 1


implicando que cos(b) = 1 e sen(b) = 0 que implica b = 2kπ, então α = 2kπ.i.

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