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Chega a sexta-feira.
Eric ajusta a gravata na frente do
espelho do quarto, enquanto eu protesto
da cama: — Eric, por favor. Ano passado
não fui à Feira de Jerez.
Ele me observa pelo espelho com o
rosto sério.
— Porque você não quis, pequena…
Tá, ele tem razão. Eric tinha uma
viagem à República Tcheca e preferi
acompanhá-lo.
Ele continua ajustando o nó da gravata
enquanto acrescenta: — Querida, vá à
feira e dê esse gosto ao seu pai. Estou
muito ocupado. Sabe que estou atolado
de trabalho e…
— Por que você não delega parte das
tarefas a algum dos diretores?
— Jud, não começa.
— Antes você delegava grande parte
do trabalho, e podíamos ficar mais tempo
juntos. De que serve o dinheiro se não
podemos aproveitar? — protesto, me
levantando.
Ele não reage. Estou dizendo algo que
o incomoda.
— Olha, Jud, a empresa é minha e eu
tenho que cuidar dela. Não posso perder
tempo em festinha de Jerez, você precisa
entender!
Isso me irrita. Claro que Eric me
encoraja a ir à Feira de Jerez, mas eu
quero que ele me acompanhe. Poder
caminhar de braço dado com meu marido
espetacular, passar tempo com ele e
contar ao mundo todo como sou feliz. Se
eu for sozinha, vai começar o falatório e
eu não quero que encham a cabeça do
meu pai de preocupação.
Mas já ficou claro que Eric não está
disposto a ir. Como não quero discutir, eu
me aproximo quando começa a tocar no
aparelho de som “Me muero”, de La
Quinta Estación.
— Vamos, dança comigo.
Eric me encara, mas continua com a
testa franzida.
— Jud, estou com pressa.
Não desisto. Cantarolando
mentalmente a letra, “me muero por
besarte, dormirme em tu boca”, insisto:
— Vamos, Iceman, dança comigo.
Que nada! Parece que hoje não é o
dia. Eric me fulmina com o olhar.
— Jud, já disse que estou com pressa
e que não estou para bobagens.
Ouvir isso me chateia. Por que ele é
incapaz de apreciar meu gesto? Por que
não morre de vontade de dançar comigo?
— Está bem — murmuro, ao me sentar
de novo na cama. — Quem perde é você.
Durante alguns segundos,
permanecemos os dois calados, enquanto
o observo vestir o paletó. Ele fica
incrível de terno.
Ao ver que me observa pelo espelho
para conferir se estou zangada pelo que
acaba de aprontar, eu me preparo para
retomar o assunto de Jerez.
— Escuta, Eric, eu acompanho você
todos os anos, sem exceção, à
Oktoberfest…
— Jud, não é a mesma coisa!
Isso me faz soltar uma risada
debochada.
— Como não é a mesma coisa? —
rosno, estreitando os olhos.
— Querida, a Oktoberfest acontece
em Munique, e eu não tenho que deixar
nada de lado. Para ir a Jerez, preciso
cancelar compromissos e viajar para
outro país. Você não entende o que estou
dizendo?
Sim. Entendo o que ele está dizendo.
O que me dá raiva é que ele seja incapaz
de se colocar no meu lugar.
— Só quero que entenda que para mim
é importante ir à feira da minha terra
natal, de braço dado com você, para que
a fofoca não deixe meu pai louco. Só
isso.
Eric não responde. Sua cara fechada
diz tudo. Decido ficar quieta, ou vamos
ter uma briga das boas. Estou sendo
muito boazinha, principalmente depois da
história da dança.
Dez minutos depois, como eu não digo
mais nada, meu alemão se aproxima de
mim na cozinha, sabendo que deu
mancada, e me abraça.
— Vou tentar conseguir uns dias livres
para ir a Jerez, mas não prometo nada,
está bem, pequena?
Que ele faça isso, ou que ao menos
pense em fazer, já é uma vitória.
— Sim.
Eric me beija e, assim que separa os
lábios dos meus com um sorriso
malicioso, fala baixinho para que
ninguém nos ouça: — É verdade que
minha fantasia para esta noite é de
policial?
Confirmo. Esqueço nosso
desentendimento e murmuro, com um
sorriso: — Espero que você me prenda.
Ele também sorri, balançando a
cabeça.
— E a sua, do que é?
Olho para ele do jeito que sei que
gosta e que o enlouquece.
— Isso é surpresa — sussurro com os
olhos cravados nos dele.
Eric sai para o trabalho e fico
observando, pela janela, seu carro se
afastar. Sei que ele me ama e que daria a
vida por mim, mas, entre os filhos e a
empresa, falta tempo para ficarmos
juntos. Eu me sinto abandonada. Que
merda!
Passo o dia do jeito que posso, mas é
um tédio. Amo meus filhos, mas preciso
fazer algo além de cuidar deles. A cada
dia isso fica mais claro.
À noite, Mel passa em casa para
deixar Sami. Nós nos despedimos das
crianças, que ficam em casa com Simona,
Norbert e Pipa, e vamos para a casa de
Mel, onde Björn e Eric nos esperam já
vestidos, o primeiro de bombeiro e o
segundo de policial. Assim que vemos os
dois, não conseguimos segurar as risadas.
Vestimos nossas fantasias de anjo e
demônio, que são um escândalo. Quando
aparecemos com elas, os homens
assobiam para nós. Adoram o que veem.
— Você é o anjinho mais tentador e
lindo que já vi na vida — sussurra Eric,
me olhando.
Sorrio. É mais forte que eu.
Vestimos sobretudos, para não
escandalizar ninguém no caminho,
entramos no carro de Björn e vamos para
o Sensations.
Como era de se esperar, a festa é
divertida. As fantasias me fazem sorrir.
— Oi. — Ouço alguém dizer, de
repente.
Ao me virar, vejo Félix vestido de
mosqueteiro. Achamos graça e o
cumprimentamos. Eric o apresenta para
Björn e Mel.
— E Ginebra? — pergunto, por fim.
Félix sorri e pede ao garçom uma
garrafa de champanhe.
— Deixei Ginebra entretida no
reservado número cinco, enquanto eu
vinha buscar um champanhe. — Ele se
aproxima mais e murmura: — Pedi a ela
para deixar três amigos meus bem
satisfeitos.
Balanço a cabeça. Eric também
assente.
— Vejo que continuam do mesmo jeito
— resmunga ele, logo que Félix se afasta.
Seu comentário me surpreende. Se
existe alguém permissivo no sexo, é o
meu homem.
— Por que diz isso?
Eric me encara, passa o dedo pelo
meu queixo, chega mais perto e diz
baixinho: — Porque valorizo você e
nunca a usaria como moeda de troca, nem
a deixaria sozinha com outros homens e
suas exigências. Em nossa relação, quem
manda somos nós, e vamos juntos para
todos os lugares.
Ele me beija. Eu o beijo. Adoro seus
beijos carregados de amor.
Cinco minutos depois, Eric vai
conversar com Björn, e Mel se aproxima
de mim. Ela aponta alguém e pergunta,
disfarçadamente: — E aquele caubói
bonitão com cabelo cacheado, que dança
como Ricky Martin? Quem é?
Disfarço e olho para onde Mel está
apontando, bem na hora que ele me olha.
Abro um sorriso. O homem retribui e se
aproxima de nós.
— Oi — cumprimento. — Mel, esse é
o Dênis.
Em décimos de segundo, Eric e Björn
estão ao nosso lado. Belo par! Dênis os
cumprimenta educadamente e beija a mão
de Mel.
— Muito prazer — diz ele, em
português.
— Não me diga que ele é brasileiro…
— Ouço Mel dizer em alemão.
O rapaz faz que sim e, sem saber por
quê, eu disparo: — Bossa nova, samba,
capoeira…
Então me contenho. Por que estou
fazendo a mesma coisa que as pessoas
fazem comigo, com “olé, toureiro,
paella”? Por acaso sou imbecil?
Eric me encara, divertido. Vê na
minha cara o que estou pensando, por
isso sussurra no meu ouvido: — Querida,
faltou dizer caipirinha.
Nós cinco conversamos e rimos.
Dênis, além de estar lindo de morrer —
vejo que muitas estão de olho nele —,
parece uma boa pessoa. Pouco depois,
ele se afasta de mãos dadas com uma
mulher loira.
— Quer beber alguma coisa? —
pergunta Eric, me dando um beijo na
testa.
— Uma coca-cola.
— Pura ou com vodca?
Paro para pensar. A noite é uma
criança.
— Melhor pura.
Quando ele e Björn se afastam para
buscar as bebidas, Mel, que está olhando
para a direita, cochicha: — Caramba… o
marido da Ginebra está meio passado.
— É trinta anos mais velho —
explico. — Deve ter uns setenta.
Então eu me levanto da banqueta.
— Vem comigo — digo. Ao ver que
Eric e Björn nos olham, faço um sinal e
explico: — Vamos ao banheiro.
Eles assentem. Desaparecemos atrás
das cortinas, mas não estou indo ao
toalete.
— Aonde vamos? — pergunta Mel.
— Quero ver uma coisa — afirmo,
sem soltar sua mão enquanto seguimos
Félix.
Assim que chego ao reservado número
cinco e faço menção de abrir a cortina,
Mel me detém.
— O que você está fazendo?
— Só quero ver. Eles não colocaram
“stop”. Está liberado.
Mel sorri, concordando. Abrimos a
cortina tranquilamente para observar,
curiosas.
No quarto, Ginebra está amarrada a
uma cadeira de um jeito que me deixa
sem palavras.
Está com as costas no assento, a
cabeça pendurada em direção ao chão e
as pernas presas ao encosto. Agarrado à
cadeira, um homem a penetra sem parar
enquanto ela geme e grita de prazer.
Mel e eu observamos quando, de
repente, o cara solta um último gemido e
sai de dentro dela. Instantes depois, outro
homem se ajoelha na frente de Ginebra e,
com uma facilidade que me deixa sem
palavras, introduz a mão em sua vagina e
a faz dar gritos de loucura.
— Está gostando, meu amor? — Ouço
Félix perguntar.
— Estou… estou… — responde
Ginebra.
Sem descanso, o homem tira e coloca
a mão dentro dela.
— Caramba, não curto fisting nem um
pouco — murmura Mel.
— Nem eu — sussurro sem respirar.
Nesse instante, Félix se agacha e dá a
Ginebra um gole de sua taça de
champanhe.
— Gosto assim, putinha. Esses amigos
querem o que prometi a eles.
Ela sorri, e Félix a beija. Outro
homem prende pinças nos mamilos de
Ginebra, o que a faz gritar, mas sei que é
de prazer.
Eles riem ao ouvi-la. Félix se levanta,
se aproxima do pênis de outro homem, o
percorre com a língua e derrama sobre
ele o resto do champanhe da taça.
— Enfia na boca dela até o fundo —
instrui ele.
O homem faz isso, segurando a cabeça
de Ginebra. Fico incomodada, mesmo
vendo que ela está gostando. Esse tipo de
sexo não é a minha. Ver o sujeito
obrigando Ginebra a fazer coisas
enquanto outro enfia a mão na vagina
dela me deixa sem palavras.
A voz de Mel me desperta: — Vamos
procurar os homens.
Concordo. O que vi é suficiente.
Ginebra estava certa quando disse que
Eric não gostava daquilo. Não gosta
mesmo. Nem eu.
Sem dizer mais nada, voltamos, e Eric
e Björn nos entregam as bebidas. Eu me
sento na banqueta.
Então Diana e Olaf se aproximam de
nós. Conversamos até que percebo que
Dênis está com a loira no fundo da sala.
Ele nos observa, e Eric, que também
percebe sua presença, encosta a boca no
meu ouvido e diz, se erguendo do banco:
— Anjinho, abre as pernas pro caubói.
Extasiada pelo tesão que isso sempre
me provoca, faço como ele pede. É algo
que me excita. Vejo que Dênis continua
nos observando. É desse tipo de coisa
que eu e meu homem gostamos.
Sem dúvida, minhas pernas abertas
oferecem a Dênis uma visão bastante
interessante. Eric, que sabe disso, que me
conhece e que, como eu, está
aproveitando o momento, molha um dedo
no uísque e depois, com cumplicidade,
excitação e malícia, passa pela minha
boca e pelos meus lábios. Sem desviar os
olhos dos meus, sinto seu dedo descer
pelo meu queixo, pelo meu pescoço,
pelos meus seios, pelo meu umbigo. Ele
me beija e seu dedo vai descendo…
descendo… descendo até que o sinto
chegar ao centro do meu desejo úmido e
latente.
Ai, que calor!
Eric está com os olhos fixos nos meus.
Quando seu dedo toca meu clitóris já
inchado, prendo a respiração, fecho os
olhos de puro prazer e o ouço dizer: —
Olha pra mim, querida… olha pra mim.
Obedeço. Sei como Eric fica excitado
quando olho para ele nesses momentos.
Com um olhar excitado, solto outro
gemido. Ele sorri, beija meu pescoço e
murmura: — Sei pelo seu olhar que você
está preparada para jogar.
Concordo. É o tipo de sexo que me
agrada. Sem fechar as pernas, beijo meu
amor. Eu o desejo. Desejo jogar
loucamente. Ficamos assim alguns
instantes até que nossas bocas se separam
e Dênis, que já se livrou da loira, como
um bom jogador, em poucos segundos
está ao nosso lado. Eric olha para ele.
Palavras são desnecessárias. Segundos
depois, a mão de Dênis está na parte
interna das minhas coxas.
— Adoro você sem calcinha —
sussurra ele.
Eric sorri, eu também.
Então Diana, que viu a jogada e está
vestida de mulher das cavernas, comenta:
— Judith, reserva a primeira dança pra
mim.
Isso me faz sorrir. Ela está pedindo
para ser a primeira a tomar meu corpo.
Então Björn, que está com Mel e Olaf,
pergunta em tom sexy: — Quem vem à
sala dos fundos?
Todos o acompanhamos. Estamos a
fim de nos divertir.
A sala é grande, e há mais gente lá
dentro além de nós. Várias camas estão
ocupadas por homens e mulheres fazendo
sexo. Logo que entra, Björn leva Mel a
uma cama livre e ali começam seu jogo
com Olaf. Todos observamos, até que
Diana, que é uma loba com desejo de
sexo, se aproxima de Eric.
— O que acha de eu começar com o
anjinho?
Ele me olha, sorrindo. Depois de ver
meu olhar de aprovação, concorda.
— É toda sua.
Diana me dá a mão e me leva para
outra cama livre. Sem dizer nada, sei o
que ela quer, o que a excita e o que eu
desejo. Por isso, me deito no colchão.
Meu vestido curto de anjinho sobe
sozinho, revelando minha falta de
calcinha e meu púbis completamente
depilado.
Eric, Diana e Dênis me observam.
Vejo seus olhares. Todos querem me
comer, desfrutar do meu corpo, me
saborear. Eric então se aproxima de mim,
pega minhas mãos e as coloca nas barras
da cabeceira da cama.
— Fique agarrada aí e não solte por
nada.
É o que faço. Eric me beija, passeia
as mãos possessivamente pelo meu
corpo.
— Está excitada, meu amor?
Estremeço e balanço a cabeça.
— Você sabe que sim.
Meu marido acaricia minhas pernas.
Tremo. Com firmeza, abre minhas coxas
e deixa exposto meu sexo molhado,
passando um dedo por ele e o abrindo.
— Adoro você molhadinha.
Instantes depois, a boca de Diana
chupa com deleite o que Eric lhe oferece.
Sua ansiedade não lhe permite esperar
nem um segundo mais. Sinto o movimento
de sua língua no meu clitóris. Observo
que Eric e Dênis se sentam cada um de
um lado da cama.
— Isso, assim, meu amor, abre as
pernas pra Diana.
É o que faço, sem pensar duas vezes.
Deus, que prazer mais indescritível!
Adorando a sensação que ela me
provoca, arquejo e me contorço agarrada
às barras da cabeceira, com Eric e Dênis
nos observando intensamente.
Quando o prazer e a luxúria tomam
meu corpo, sou um brinquedo nas mãos
de quem quer que seja. Diana sabe muito
bem como me manipular segundo seus
caprichos, desde a primeira vez que me
possuiu.
Sem descanso, ela chupa, lambe, enfia
os dedos em mim, me masturba e brinca
com meu clitóris, ao mesmo tempo em
que Eric e Dênis baixam meu vestido
para expor meus seios. Cada homem se
concentra em um e o saboreia à sua
maneira. Perco a noção do tempo e me
entrego, dócil, aos três.
Não sei quanto tempo passamos
assim; só sei que, quando retomo a
consciência, estou de joelhos na cama,
totalmente nua. Diana segura meus
quadris com uma das mãos e, com a
outra, me masturba de forma rítmica.
Ouço o som dos dedos deslizando na
umidade da minha vagina.
Eric e Dênis nos observam com o
pênis ereto e preparado para mim. Diana
se aproxima da minha boca e murmura:
— Isso, anjinho, mexe… Isso… isso…
Louca… Louca de desejo, faço o que
ela me pede.
Vou me mexendo em seus dedos e
sinto meu corpo todo arder a ponto de
explodir. Ouço os gemidos de prazer de
todos os presentes. Diana, como mulher
experiente em dar prazer, me faz gritar,
remexer, cavalgar sobre sua mão úmida
de mim, enquanto observo Eric.
Sua expressão. Seu olhar me deixa
ainda mais ensandecida, e eu arqueio o
corpo, conforme o prazer vai me tomando
inteira. Com um último gemido, faço
todos saberem que cheguei ao clímax.
Mas Eric e Dênis também querem
sexo. Assim que Diana sai de dentro de
mim, Dênis a agarra, a põe de quatro e a
penetra. Diana grita de prazer no
momento em que Eric me levanta, me
vira de quatro, me agarra pelos cabelos e
sussurra no meu ouvido: — Você me
deixa louco, moreninha… louco.
Com desejo, ele mete até o fundo e me
faz sua, como um selvagem. Arquejo e
peço mais e mais. Deixo-me levar pela
paixão. Como um animal, meu amor, meu
marido, meu tudo, me possui e eu me
encaixo nele e o faço meu. Essa é a nossa
dança. É nossa maneira de ver o sexo. É
nosso delírio.
Sem descanso, nós quatro gememos,
enquanto o ruído seco dos nossos corpos
se chocando uns contra os outros ecoa
forte por toda a sala. Uma, duas, três,
vinte vezes meu alemão entra e sai de
mim. Quando sabe que já não aguento
nem mais um segundo, ele se liberta
também. Juntos, vivenciamos aquele
momento mágico e ardente.
Ao fim dessa rodada, Diana, que é
incansável, volta a abrir minhas pernas,
depois que Dênis a deixa. Eric se senta
na cama, e ela sussurra: — Me dá mais…
me dá mais.
Os dois nos observam. Diana, a
insaciável, não se cansa de me saborear e
eu permito. Eric se aproxima e me beija.
— Tudo bem, pequena?
Faço que sim… Faço que sim mais
uma vez e gemo ofegante, entregue ao
prazer, como sei que ele gosta.
Nenhuma mulher me saboreia como
Diana. Outras já desfrutaram do meu
corpo, mas ela é a que verdadeiramente
me fez gozar de puro prazer.
Entregue à sua boca exigente, fecho os
olhos e curto o momento. Quando os abro
de novo, vejo Ginebra nua diante de nós,
com outra mulher. Ambas nos observam.
Quando ela percebe que estou olhando,
sorri.
Extasiada pelas sensações que Diana
me provoca, estendo a mão sem nem
saber por quê. Ginebra a pega, e eu a
aperto, me contorcendo de prazer. Eric
nos observa. Vejo lascívia em seu olhar
e, com a mão livre, pego um dos
preservativos que há sobre a cama.
Entrego para ele.
Meu amor desvia os olhos de mim.
Tenta ler meus lábios. Quando entende,
abre o preservativo, coloca, puxa
Ginebra de lado, agarra a outra mulher, a
coloca sentada em seu colo e a come com
ferocidade.
De repente, tomo consciência do que
acabei de propor, mas Eric não aceitou, e
a felicidade disso supera em mim o
prazer que Diana causa. Fico me
contorcendo.
Quando Diana se dá por satisfeita e
me solta, recupero o fôlego por alguns
segundos antes de me ajoelhar na cama.
Abraço as costas do meu amor e começo
a beijar seu pescoço, enquanto seus olhos
se cravam na outra mulher.
Eric estremece ao me sentir. Meu
contato o agrada tanto quanto o que
propus.
Ouço sua respiração entrecortada e a
de Ginebra, que está ao lado com outro
homem. Entrelaço as mãos no cabelo do
meu marido e observo Eric penetrar a
desconhecida com força.
Deliciada com a visão, beijo o
pescoço largo do meu amor. Então, sinto
que Dênis, atrás de mim, entra no jogo.
Ele percebe que não o rejeito, por isso
murmura no meu ouvido, fazendo com
que eu me arrepie toda: — Seu corpo é
samba.
Sua voz melodiosa me excita e me
esquenta. Dênis é muito sexy.
Em seguida, ele me lava com uma
toalha limpa umedecida. O frescor é uma
delícia. Dênis beija minhas costelas,
minha bunda, passeia as mãos grandes e
suaves pelo meu corpo nu, enquanto
observo o que Eric está fazendo; o que
meu amor está fazendo.
Ficamos assim vários minutos, até que
meu loiro deita a cabeça para trás e
procura minha boca. Eu o beijo e devoro,
consciente de que Ginebra nos observa.
— Te amo — murmuro entre um beijo
e outro.
Eric estremece. Estremeço com ele.
Não poderia amá-lo mais.
Dênis, ao me sentir vibrar e notar
como minha vagina está molhada, me
agarra pela cintura, veste um
preservativo e, sem me afastar do meu
amor, vai se introduzindo em mim.
Remexo os quadris, e ele diz baixinho em
português: — Gosto do seu corpo.
Ouvi-lo falar em sua língua me excita
ainda mais. Entendo o que quer dizer e
mexo mais os quadris. Sinto Dênis tremer
de luxúria.
Prazer por prazer.
O que sinto, o que todos os presentes
sentem, me faz fechar os olhos e ofegar
como se estivesse possuída. Dênis
manipula meu corpo, e eu deixo. Meus
seios estão colados às costas de Eric, o
que lhe mostra que eu também gosto do
que está fazendo.
Abro os olhos. Da minha posição,
vejo que Ginebra, mesmo com outro
homem, toca o ombro de Eric com a mão
livre. Sua boca está próxima, próxima
demais, da boca dele. Isso me deixa
alerta.
Durante vários minutos, o prazer se
apodera de todos nós naquele quarto
cheio de luxúria. Ouço gemidos intensos
de todo mundo e, claro, os de Dênis e os
meus, que vão ficando cada vez mais
altos, mas minha concentração está em
outra coisa. Eric.
Todos estamos aqui porque queremos.
Todos estamos aqui porque
desejamos. Mais uma vez, vejo que
Ginebra chega perto demais da boca
dele. Tenho consciência de como ela toca
seu queixo. Em resposta, estendo a mão e
a separo dele.
— A boca é só minha — sussurro.
— É só sua, pequena… só sua —
ofega Eric, para que eu ouça.
Sua voz em um momento desses me
deixa louca. Dênis se funde totalmente
em mim e, segundos depois, chegamos
juntos ao clímax. Eric e Ginebra, cada
um com seu par, convulsionam e se
contraem de prazer.
Essa noite, depois de chegar em casa
e tomar banho, deitamos na cama.
— Você teria beijado a Ginebra se eu
não tivesse proibido? — pergunto,
olhando para Eric.
— Não — responde ele, balançando a
cabeça, olhos nos meus.
Não me contento com a resposta, por
isso insisto: — Você teria gostado de
fazer sexo com ela?
— Jud…
— Responde.
Eric crava seus grandes olhos azuis
em mim.
— Você me ofereceu e eu recusei. Por
que essa pergunta agora?
Balanço a cabeça. Não posso
reprovar algo que fui eu quem provocou,
embora ele não tenha aceitado.
— Eric, só queria mostrar que confio
em você. Se mentir pra mim…
Rapidamente meu amor se mexe e se
senta na cama, segurando meu rosto.
— Nem sei do que você está falando.
Não tenho por que mentir para você,
querida. Recusei o que você mesma me
ofereceu. O que foi agora?
Sem saber ainda por que fiz o que fiz,
pergunto: — Por que você recusou?
Eric solta um palavrão com os olhos
fixos em mim.
— Eu disse que não quero nada com
ela, Jud. Nada!
— Então por que você não a afastou
da sua boca?
— Não sei, Jud. Talvez porque eu
estava no limite. Você mesma viu que
depois do que me disse cheguei ao
clímax com aquela mulher. Mas, querida,
minha boca é só sua, como a sua é só
minha. Não duvide de mim, por favor.
Sem vontade de continuar falando,
concordo. Beijo seus lábios e me
aconchego em seu corpo. Segundos
depois, Eric apaga a luz. Não brincamos
sobre o que aconteceu, como costumamos
fazer. Embora Eric negue, isso me dá o
que pensar.
7
dD
***
***
Rapidamente respondo:
Sim.
Nããããããããããããããoooooooo!
É um balde de água fria. Eu estava
esperando por ele. O Eric pelo qual me
apaixonei daria um jeito de estar comigo.
Olho para a droga da mensagem
enquanto me convenço de que, se ele não
vem, é porque não pode, não porque não
quer. Por fim, respondo:
Tá. Não tem problema.
***
Logo respondo:
Passeando com Susto e Calamar.
Ginebra e Félix?!
Como Ginebra e Félix?!
Por que eles sabem que Flyn e Eric
estão bravos comigo?
A cada instante mais nervosa, pego o
bilhetinho e me dirijo ao elevador. Eric
vai me ouvir. Com o passo firme e
seguro, chego até seu andar e, antes que a
secretária me veja, abro a porta da sala e
fico paralisada ao vê-lo com as pessoas
que me enviaram a planta.
— Aí está você — comemora
Ginebra. — Eu ia descer agora mesmo
pra te ver. Queria saber como estava e se
tinha recebido nossa planta.
Quero que ela vá para o inferno! E,
como diria meu pai, toda a sua família
também!
A expressão de Eric me indica que,
além da minha língua, devo segurar meus
pensamentos. Então fabrico rapidamente
um sorriso e respondo: — Muitíssimo
obrigada. Foi uma grande delicadeza.
Félix sorri e, aproximando-se de mim,
murmura enquanto toco meu dedo sem o
anel: — Fico feliz em saber que gostou.
Ginebra teve a ideia depois de Eric nos
contar no café da manhã que vocês
tinham passado um fim de semana
agitado.
Fim de semana agitado? Por que eles
precisam saber de alguma coisa?
Tentando não deixar o babaca do meu
marido em uma situação difícil, ainda
que ele mereça levar um chute, digo
apenas: — Um presente lindo!
Estou parada ali no meio, sem saber o
que fazer, e então Eric pergunta: —
Queria alguma coisa, Jud?
Olho para ele. Claro que queria
alguma coisa, mas agora quero arrancar
seus olhos. Reagindo rapidamente à
pergunta, digo: — Não. Só saber se você
tinha chegado bem.
Ele sabe perfeitamente que é mentira.
— Mas vejo que você não podia estar
melhor, então vou trabalhar —
acrescento. Olhando para os dois
convidados, digo: — Foi um prazer ver
vocês novamente e obrigada pela planta.
Sem dizer mais nada, dou meia-volta e
caminho para a porta. Assim que saio da
sala, como se flutuasse em uma bolha,
vou até o elevador. Alguém segura meu
cotovelo. Ao me virar para ver quem é,
encontro Eric.
— Jud…
— Eu te odeio — sussurro sem que
ninguém nos ouça.
Ele sabe muito bem por que digo isso
e, pegando minha mão, puxa-me com
elegância e me leva a uma salinha. Assim
que fecha a porta, diz: — Escuta,
querida. Foi um simples comentário. Eu
não disse que…
— Não me interessa — insisto,
furiosa. — Você contou a eles que
tínhamos discutido e não me disse que ia
encontrar os dois. Por quê?
Percebo em seu olhar que minha
pergunta o incomoda, mas ele diz: —
Porque não era importante, Jud. Foi por
isso que não comentei.
Não acredito. Pela primeira vez em
muito tempo, não acredito no que ele me
diz. Com raiva, pensando nas
advertências de Frida, sussurro: — O
que os dois estão fazendo na sua sala?
Eric não me diz nada. Dá um passo
para a frente para se aproximar de mim,
mas não estou disposta a cair no jogo
dele e dou um passo para trás, vendo que
não vai responder minha pergunta.
— Preciso voltar — digo. — Tenho
muito trabalho.
Sem mais, caminho até a porta e vou
embora.
Eric não vem atrás de mim.
Depois de uma manhã caótica, eu me
pergunto: o que mais poderia dar errado
hoje? Saio da Müller e sinto um grande
alívio quando o telefone toca. É Marta,
minha cunhada.
Quer encontrar comigo. Estar com
Marta é sempre um sopro de ar fresco.
Nem parece irmã de Eric. Ela é toda
positividade, e ele é o contrário disso.
Falamos de sua gravidez e do quanto
está feliz, até que, olhando para mim com
aquela cara que tanto me faz rir, ela diz:
— Ai, meu Deus… ai, meu Deuuuus, vou
fazer xixi nas calças de novo!
Solto uma gargalhada ao vê-la sair
correndo para o banheiro. Ainda me
lembro de quando eu estava grávida e ia
ao banheiro o tempo todo. Estou rindo
disso quando ouço: — Não me diga que
hoje também vou ser obrigado a prender
você…
Eu me viro e encontro Olaf.
— Senhor policial, pedi uma porção
dupla de salsicha. Pode me prender! —
respondo.
Ele sorri, acomoda-se ao meu lado e,
depois de pedir uma cerveja ao garçom,
diz: — Ei, sinto muito sobre seu anel e
sobre Flyn.
Ai, ai… Lá vem… Sem mudar a cara
para que Olaf não perceba que eu não
sabia de nada, murmuro: — Coisa de
moleque. Quanta confusão!
Olaf faz que sim. O garçom serve a
cerveja e ele dá um gole. Vou ter um
infarto se Olaf não disser mais nada,
então ele acrescenta: — Quando Eric me
contou, enviei a foto do seu anel para
casas de penhores em Munique. Quando
me enviaram a confirmação de que estava
em uma delas, só tive que ver a fita do
circuito de segurança para comprovar
que Flyn o tinha levado, embora a venda
tenha sido assinada por um amigo dele,
maior de idade.
Ai, minha mãe… ai, minha mãe…
Flyn roubou meu anel e o levou a uma
casa de penhores?
Que calor! Que falta de ar!
Balanço a cabeça como se fosse meio
boba, mas finalmente consigo murmurar:
— Por sorte, conseguimos recuperar o
anel.
— Sim — afirma Olaf. — Mas você
não imagina o desgosto de Eric quando
viu a gravação.
Como se eu estivesse a par de tudo,
balanço a cabeça de novo como uma
idiota. O celular de Olaf toca e ele
atende. Depois que desliga, ele se vira, e
eu vejo duas moças sorrindo para ele.
Então Olaf diz, deixando umas moedas
sobre a mesa: — Preciso ir. As pessoas
que eu estava esperando chegaram.
Mande lembranças pro Eric.
Sorrio, tentando disfarçar, mas xingo o
maldito Jackie Chan Zimmerman e meu
marido mentalmente. Dois mentirosos!
Depois de passar um tempo com
Marta sem lhe contar o que descobri, vou
diretamente para casa.
Que dia cheio de desgostos!
Ali, tento esquecer a notícia
desagradável e passo uma tarde
maravilhosa com meus pequenos na
piscina, até que Flyn entra e pergunta
olhando para mim: — Posso trazer um
amigo em casa?
Por mim, não. Ele deveria ficar de
castigo até completar cem anos.
— Liga pro seu pai e pergunta pra ele
— respondo, muito séria.
— Já liguei e ele me disse pra
perguntar pra você.
Merda, merda, merda… Detesto
quando Eric faz isso.
Não era ele o responsável pela droga
do filho?
Como não estou a fim de confusão, ou
melhor, para não sair da piscina e
arrancar a cabeça de Flyn de tão furiosa
que estou, respondo: — Faça o que você
quiser. No fim das contas, é sempre
assim.
À noite, quando Eric chega em casa,
não digo nada sobre o anel, esperando
para ver como as coisas se desenrolam.
Meu marido nem abre a boca.
No dia seguinte, depois de uma manhã
espinhosa no trabalho e de passar a tarde
com as crianças, vou dar um passeio com
Susto e Calamar assim que Pipa as leva
para a cama. Os dois adoram esses
passeios.
Na volta, Calamar se deita na
garagem, esgotado, mas Susto, que nunca
quer se separar de mim, entra comigo na
casa. Achando graça, continuo brincando
com ele. Ao chegar à cozinha, observo
que Simona está descascando batatas
para fazer uma salada alemã.
Vejo os ingredientes que ela vai usar
sobre a mesa: salsichas, picles,
cebolinha, maionese, salsinha, sal e
mostarda dijon. Sabendo que vai sair
uma delícia, murmuro: — Que vontade,
Simona!
Ela sorri e balança a cabeça. Estou
lhe ensinando muitas coisas da Espanha,
e a principal é que os espanhóis adoram
comer! Sorrindo, vou até a geladeira e
pego uma lata de coca-cola. Quando vou
abrir, Simona me diz: — Cuidado!
Eu paro, olho para ela e pergunto: —
Por quê?
Simona tira a lata das minhas mãos e
coloca um pano em cima para abri-la.
— Norbert deixou cair algumas latas
no chão outro dia antes de colocar na
geladeira. Pode explodir na sua cara.
Merdaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Merdaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
E merdaaaaaaaaaaaaaaaa!
De repente me dou conta de que
acusei Flyn sem motivo.
De repente me sinto a maior bruxa de
todo o universo.
De repente, compreendo que estraguei
tudo, porque ele não tinha feito nada.
Sentindo calor e cheia de remorsos
pelo escândalo que fiz, pego a coca-cola
que Simona me oferece. Não paro de
olhar o relógio até que Flyn chega.
Preciso lhe dizer que me enganei. Sou
assim idiota, embora ele não mereça.
Estou angustiada olhando pela janela
quando vejo que ele entra pelo portão.
Decido esquecer a história do anel.
Vamos resolver esse assunto em outro
momento, mas tenho consciência de que
tenho que lhe pedir desculpas pelo que
aprontei.
Sem pensar duas vezes, ponho um
casaco e vou em direção a Flyn. Calamar
e Susto já estão com ele, que me vê e faz
cara feia. Antes que ele diga qualquer
coisa, eu me adianto: — Desculpa, Flyn.
Pela história da coca-cola. Simona
comentou que Norbert deixou cair
algumas latas antes de colocar na
geladeira e…
— Eu disse que não tinha feito nada
— Flyn afirma com o semblante sério,
sem olhar para mim.
Confirmo com a cabeça. Ele tem razão
e insisto com todo o carinho que posso:
— Eu sei, meu bem, eu sei, e por isso
peço desculpas. Posso estar chateada ou
irritada com você por outras coisas, mas
fui injusta quanto a isso e precisava que
soubesse e me perdoasse.
Seus olhos se cravam nos meus e sinto
uma vontade terrível de abraçá-lo.
Pularia nele e o encheria de beijos, mas
sei que não devo. Ele não quer. Então me
limito a escutá-lo.
— Que bom que você sabe que não fui
eu.
Dito isso, ele se vira. Fico
observando Flyn desconsolada. Quando
acho que ele não vai falar mais nada, ele
solta a mochila, olha para mim e diz entre
os dentes: — Por que você teve que falar
com Elke?
Olho para ele, perplexa.
Que história é essa? Falei com ela só
uma vez e já faz muito tempo.
— Por que você teve que se meter na
minha vida?
— Do que você está falando? —
consigo murmurar.
Flyn se mexe com nervosismo. Olha
para os lados e, aproximando-se de mim,
sussurra com irritação: — Jud, não se
faça de boba. Você sabe muito bem do
que estou falando.
Aturdida pelo que ouço, eu o pego
pelo cotovelo.
— Não sei, não. Se está se referindo
ao dia em que a encontrei na saída da
escola beijando outro garoto, só disse
que você era um bom menino e que não
sabia das coisas que ela andava fazendo.
Flyn, sou sua mãe e…
Ele aperta os dentes. Sua mandíbula
se contrai e, aproximando o rosto do
meu, ele me interrompe: — Você não é
minha mãe. Minha mãe morreu quando eu
era pequeno. Você só é a mulher do meu
pai, minha madrasta. Cai na real!
Ai, Deus… O meu coração vai sair
pela boca!
O que eu fiz para ele ficar tão
agressivo comigo?
Sem querer continuar e com expressão
furiosa, Flyn me olha e aponta para minha
cara, rosnando: — Por culpa sua, Elke
terminou comigo. O que mais você vai
fazer para atrapalhar minha vida? E se
prepara, porque eu vou fazer o mesmo
com a sua.
Fico piscando. Sinto uma dor na alma
por ele não me considerar sua mãe, com
o tanto que o amo. Depois que assimilo
tudo, olho para ele e murmuro: — Tá
bom, Flyn. Não sou sua mãe. Mas você
está me dizendo que está zangado comigo
porque Elke não quer mais ficar com
você? — Ele não responde. Então, com o
coração apertado, pergunto: — É por
isso que você está fazendo Eric e eu
discutirmos tanto?
Sem responder, ele pega a mochila do
chão, dá meia-volta e vai embora,
deixando-me sem saber no que pensar.
Horas depois, quando vejo o carro de
Eric chegar, espero por ele na garagem.
Assim que desce, vou a seu encontro.
Ele me vê e logo anuncia a notícia
maravilhosa: — Olha só o que eu trouxe.
Curiosa, olho em sua mão e encontro o
anel. Pego e pergunto, fazendo-me de
boba: — Onde estava?
Eric sorri, dá uma piscadinha e diz:
— Encontrei no porta-malas do carro
quando fui guardar uns papéis.
Olho para ele boquiaberta. No porta-
malas do carro? Mas esse sujeito acha
que nasci ontem? Antes que eu diga
qualquer coisa, ele acrescenta: — Você
deve ter deixado cair ali e nem percebeu.
Balanço a cabeça. Melhor fechar o
bico, porque não quero piorar as coisas.
Ainda assim, não compreendo por que
está mentindo para mim sobre um assunto
tão importante.
É evidente que deixamos o menino
fazer gato e sapato de nós dois, o que é
péssimo. Ele nos manipula como quer.
Conto até dez. Depois, até vinte.
Preciso deixar esse assunto para outro
momento. Coloco o anel no dedo e conto
a Eric tudo o que realmente aconteceu
com a coca-cola e por que acho que Flyn
me odeia tanto. Omito o que ele me diz
em relação a não ser sua mãe. Isso faria
Eric sofrer.
A cara do meu marido se contrai ao
ouvir minhas palavras e, quando acabo,
ele pergunta: — Flyn está assim com
você porque Elke o deixou?
— Foi isso que ele falou — murmuro,
de saco cheio.
Eric solta um palavrão, anda pela
garagem como um leão furioso e,
cravando seus olhos azuis em mim, diz
entre os dentes: — Jud, por que você
nunca me falou sobre esse encontro com
a menina?
Filho da mãe!
Ele está mentindo para mim sobre o
anel e tem a pouca vergonha de me
repreender por não ter mencionado o
episódio.
Se não fiz isso foi para não botar mais
lenha na fogueira. Aproximo-me com
toda a fúria do mundo e digo entre os
dentes: — Olha aqui, Eric, deixando de
lado eu não ter contado que peguei a
namorada de Flyn se agarrando com
outro e disse umas poucas e boas pra ela,
acho que devemos falar com Flyn.
Desconcertado, ele me olha. Chegar
em casa e ser recebido por más notícias
não é nada agradável. Apesar disso,
disposta a solucionar de uma vez por
todas o que atormenta Flyn, estendo a
mão para meu marido e digo: — Vamos.
Eric pega minha mão, aperta e, com
um puxão, aproxima-me dele para me dar
um beijo. Assim que faz isso, ele me olha
com segurança e confirma: — Vamos.
De mãos dadas, subimos até o quarto
de Flyn.
Eric bate na porta e, quando ouvimos
a voz do menino, entramos. Como
sempre, está na frente do computador. Ao
nos ver, fecha o chat, sem me deixar ver
com quem falava. Eric começa a falar e a
falar…
Comenta tudo o que lhe contei, e Flyn
responde na defensiva. Era só o que
faltava!
Um bom tempo depois, quando vejo
que Eric já está perdendo sua pouca
paciência, ele sentencia: — Flyn, talvez
sua mãe não tivesse que dizer nada pra
essa menina, mas garanto que, se eu
tivesse visto a cena, teria reagido como
ela.
— Você é mais discreto que ela.
— Obrigada pela parte que me toca,
Flyn! — exclamo, ofendida,
comprovando mais uma vez que na frente
de Eric ele não diz que não sou sua mãe.
O menino não responde. Eric me olha
com cara de “boca fechada!”, e eu decido
seguir seu conselho. Então Flyn se
pronuncia: — Papai, eu…
— Não — Eric interrompe furioso. —
Estou bravo, muito bravo com você! Só
vou pedir uma coisa: me dê um pouco de
tranquilidade e comece a se comportar
como o menino que eu criei e a quem dei
educação. Se você não fizer isso, eu juro,
Flyn, você vai se arrepender. Vai direto
para um colégio militar.
Flyn não abre a boca. Essa história de
colégio militar mostra que tudo ficou
muito sério. Eric prossegue enquanto eu
me mantenho caladinha durante todo o
tempo: — Você e eu já tínhamos assuntos
pendentes. Estou farto e não vou aceitar
mais nenhuma das suas.
Flyn não diz nada. De repente, vejo
que presta atenção no anel, que já está no
meu dedo, então desvia o olhar. Sem
acrescentar nada, Eric pega minha mão e
saímos do quarto. Vamos para o nosso e,
quando Eric fecha a porta, solta minha
mão e vai para o chuveiro.
Não o sigo, dando-lhe alguns minutos.
Entendo que chegar em casa e ser
recebido por mim com uma serenata de
chateações todos os dias é irritante. Flyn
e seus problemas estão matando nossa
relação conjugal.
Disposta a fazê-lo esquecer, eu me
aproximo do equipamento de som,
procuro um CD e, quando começa a soar
nossa música, planto-me na frente do
banheiro. Em poucos segundos, Eric sai
e, com o melhor dos meus sorrisos, passo
as mãos por seus ombros e murmuro: —
Agora você vai relaxar.
Como sempre dizia minha mãe, a
música amansa as feras, e eu quero
amansar a fera loira que tenho na minha
frente. Sorrio. Então, sem se importar
com meus sentimentos, Eric tira minha
mão de seus ombros ao som de “Te
regalo mi amor, te regalo mi vida” e diz:
— Sei que faço mil coisas erradas,
Judith, que piso muito na bola com você,
mas, por favor, me deixe respirar, me dê
espaço. Vocês dois estão me deixando
louco com essa história.
Devo mandá-lo à merda por ser tão
babaca?
Ouvir isso é doloroso, parte meu
coração. Eu me afasto dele, desligo a
música e murmuro, sem vontade de
discutir: — Tá bom, Eric, vou te dar
espaço.
Sem um pingo de compaixão, ele abre
a porta e sai do quarto. Não vou atrás.
Eric não merece. Deito na cama, apago a
luz e passo horas olhando para o teto
enquanto toco meu anel recuperado.
Já de madrugada, a porta se abre, Eric
entra, tira a roupa, deita do meu lado e
adormece.
Recuperei meu anel, mas estou
perdendo meu amor.
50
dD
Título original
Pídeme lo que quieras y yo te lo daré
Design de capa
Departamento de Arte y Diseño, Àrea
Editorial Grupo Planeta (España)
Foto de capa
Silver Spira/ Arts/ Shutterstock
Preparação
Roberta Pantoja
Copidesque
Ligia Azevedo
Revisão
Renata Lopes Del Nero e Luciane Gomide
ISBN 978-85-438-0635-8
Capa
Rosto
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Epílogo
Sobre a autora
Créditos