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CURSO: Engenharia Mecânica

DISCIPLINA: Ergonomia

PROF.: Rosana Reis

ALUNO: José Lyndemberg do Nascimento

Matrícula: 20181D51CR0414

Riscos Ergonômicos – Documentário Carne e Osso

Ao longo do documentário, uma série de graves riscos ergonômicos


podem ser observados nos ambientes de trabalho retratados, de empresas do
tipo frigorífico. Esses riscos são provenientes, em sua maioria, do modelo
produtivo adotado por esses frigoríficos investigados, e também por muitos
outros espalhados pelo Brasil; bastante baseado nas ideias da Administração
Cientifica de Frederick Taylor (ou Taylorismo), que possui forte ênfase nas
tarefas e na eficiência, com um rígido controle dos movimentos realizados e do
tempo de execução da tarefa.
O taylorismo é um modelo produtivo que sofreu duras críticas ao longo
dos anos devido à sua produtividade acelerada, com jornadas de trabalho
intensas e prolongadas, um dos aspectos que levou o modelo a cair em desuso.
Uma das críticas mais relevantes está presente no clássico filme “Tempos
Modernos” de Charlie Chaplin. Em uma cena icônica o ator parece travar, sem
sucesso, uma briga com a esteira transportadora (um dos marcos da produção
em massa) e, como sequela, começa a realizar movimentos de maneira
involuntária mesmo depois de acabar a atividade.
É exatamente por causa dessas características tão presentes no
taylorismo que surgem os riscos ergonômicos mostrados no documentário. Fica
claro, durante as imagens e os relatos dos trabalhadores, riscos enfrentados no
ambiente de trabalho dos frigoríficos, como: metas rígidas, baixa remuneração,
intenso e repetitivo ritmo de trabalho ditado por esteiras com velocidade elevada,
membros inferiores na mesma posição (sentado ou em pé) durante longos
períodos, exposição a baixas temperaturas, poucas e curtas pausas para
descanso e necessidades fisiológicas, quantidade insuficiente de funcionários
para uma alta produção, cobrança e pressão excessiva por parte da gerência, e
sobrecarga de trabalho. Outro risco ergonômico constatado foi a força excessiva
aplicada pelos trabalhadores para deslocar as carcaças de boi.
Além disso, observamos que as plataformas de corte são altas para os
funcionários, obrigando-os a curvar o troco para realizar a tarefa. Elas também
não possuem guarda corpo, aumentando o risco de acidente dos funcionários,
que por estarem operando uma serra elétrica, tem o perigo de ferimentos graves.
O acúmulo de sangue e resíduos no piso também são potenciais riscos de
queda. Notamos que o espaço reduzido entre os funcionários, que estão
manuseando objetos cortantes, configura-se também como um risco de
acidente.
Um retrato da exigência e repetitividade a qual esses trabalhadores de
frigoríficos são submetidos é observado quando relatam que para desossar uma
peça de coxa com sobrecoxa são necessários 12 cortes precisos distribuídos em
18 movimentos e que em 1 minuto eles precisam desossar, em média, 7 peças
para atingir a meta. Ou seja, em 1 minuto são executados 126 movimentos,
enquanto que estudos médicos recomendam não ultrapassar a quantidade de
35 por minuto para manter a integridade do trabalhador. Em uma jornada de 8
horas/dia, são realizados mais de 60 mil movimentos, apenas com os membros
superiores.
Todas as situações levantadas acima já são, separadamente, graves
riscos ergonômicos que podem afetar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
Porém, quando eles são combinados, como é o caso nesses postos de trabalho;
seus efeitos são mais severos e podem ser percebidos em intervalos de tempo
menores. Um ambiente de trabalho como esse pode proporcionar aos
funcionários sequelas, como aquela do personagem de Chaplin no filme citado.
Dentre essas sequelas, podemos destacar: esgotamento físico devido ao ritmo
intenso de trabalho; problemas osteomusculares nos membros superiores, como
atrofias, tendinites e ler/dort, decorrentes dos movimentos repetitivos;
nervosismo e insatisfação com o trabalho em virtude da cobrança e baixa
remuneração; depressão e transtornos mentais causados pelo alto nível de
estresse mental, podendo até evoluir para um quadro de síndrome de Burnout.
Além disso, condições de trabalho como essas observadas são propicias à
ocorrência de acidentes do trabalho, como cortes, queimaduras e até
amputações.
A influência dessas condições na saúde e qualidade de vida do
trabalhador fica evidente com alguns dados apresentados no documentário. Por
exemplo, trabalhadores do setor de abate de aves e suínos possuem quase 7,5
vezes mais risco de desenvolver plexos nervosos no punho e aproximadamente
3,5 vezes mais risco de adquirir transtornos mentais se comparados com as
demais atividades. Já no setor de abate de bovinos, os funcionários estão
sujeitos a um risco de sofrer queimaduras 6 vezes maior do que em outras
atividades.
Enquanto que as empresas de frigorífico fecham os olhos e parecem não
se importar com os altos índices de problemas de saúde de seus trabalhadores,
que quando adoecem são tratados como objetos descartáveis e rapidamente
são substituídos; deixando-os à mercê da sorte e aumentando as filas do INSS.
Medidas urgentes devem ser tomadas pelos órgãos competentes (tal como o
ministério do trabalho, sindicatos e previdência social) para mudar as
características desse processo produtivo e melhorar as condições do ambiente
de trabalho. Como medidas importantes destacamos: atuação mais efetiva dos
órgãos mencionados; aumento da fiscalização; multas e punições mais rígidas
para diminuir a sensação de impunidade das empresas; criação de leis que
determinem limites para a carga e o ritmo de trabalho e que estabeleça pausas
para descanso e alongamento a cada hora trabalhada.
Já por parte das empresas, algumas medidas corretivas com foco no
funcionário podem ser adotadas de forma espontânea para aumentar a
qualidade do ambiente de trabalho, são elas: contratação de mais funcionários
para diminuir a quantidade de peças por pessoa e, consequentemente, a
sobrecarga de trabalho; delimitar e aumentar o espaço do posto de trabalho de
cada funcionário, promovendo um distanciamento seguro para o manuseio de
utensílios cortantes; adequar as plataformas de corte de acordo com a altura dos
trabalhadores e inserir dispositivo de segurança (como guarda corpo); instalar
sistema de drenagem eficiente, impedindo o acúmulo de sangue e outros
líquidos no piso do posto de trabalho; realizar a automatização do sistema de
transporte das carcaças de boi, evitando a aplicação de força excessiva pelos
trabalhadores.

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