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IMAGEM

PESSOAL

Sabine Heumann
Aprendizagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir aprendizagem humana, enfatizando sua natureza


multiparadigmática. 
„„ Descrever as teorias cognitivas de aprendizagem. 
„„ Explicar a aprendizagem social sob a lente da teoria cognitiva social
de Albert Bandura.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de aprendizagem. Há diversas
abordagens para se compreender esse conceito, o que dá a ele uma
natureza multiparadigmática. A compreensão dos processos de apren-
dizagem favorece o entendimento do ser humano de uma maneira mais
aprofundada, por isso, estudar tal conceito é fundamental e desperta o
interesse de diferentes áreas.
Neste texto, você aprenderá a definir aprendizagem humana, dando
ênfase à natureza multiparadigmática do conceito, a descrever as teorias
cognitivas de aprendizagem e a explicar a aprendizagem social, de acordo
com a lente da teoria cognitiva social de Albert Bandura.

Aprendizagem humana: um conceito


multiparadigmático
O conceito de aprendizagem é discutido por diversas perspectivas teóricas.
Desde o século XIX muitas teorias foram propostas para explicar esse fe-
nômeno. Algumas foram superadas, atualizadas e transformadas em novas
perspectivas, entretanto, observa-se que atualmente muitas coexistem, dando
uma característica multiparadigmática ao conceito. Ou seja, há diferentes
abordagens para tratar desse mesmo fenômeno, sob diferentes aspectos
(ILLERIS, 2013).
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Rotta, Bridi Filho e Bridi (2016) destacam que a aprendizagem é objeto


de estudo de diferentes ciências, tais como a psicologia, a pedagogia e a
neurologia. Isso ocorre devido à sua importância para a cultura, visto que
todos os seres humanos precisam aprender formal ou informalmente. Na
atualidade, a escolarização e a apropriação do conhecimento sistematizado é
uma obrigatoriedade na nossa sociedade e essa característica tem trazido um
olhar mais atento a esses processos.

De acordo com Rotta, Bridi Filho e Bridi (2016), a obrigatoriedade da aprendizagem


para todos os seres humanos amplia a percepção desse conceito. A aprendizagem
é considerada um fenômeno presente da infância até a velhice. Ou seja, entende-se
que uma pessoa aprende durante todo o ciclo vital.

De acordo com Feldman (2015), Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018),


a aprendizagem pode ser entendida, de uma maneira ampliada, como uma
mudança relativamente permanente no comportamento humano em decorrência
de uma experiência. Na mesma linha de compreensão, Illeris (2007) define
aprendizagem como um processo que leva a uma mudança permanente na
capacidade de um organismo vivo qualquer, que não seja decorrente unicamente
do amadurecimento biológico ou do envelhecimento.
Vale destacar ainda, de acordo com Gazzaniga, Heatherton e Halpern
(2018), que a aprendizagem ocorre quando a experiência torna o sujeito mais
bem preparado ou adaptado para lidar com o meio em situações futuras. Ou
seja, nem toda a mudança pode ser considerada aprendizagem, ela precisa
resultar em uma melhor adaptação ou preparação para lidar com algo ou com
alguma situação, isto é, a aprendizagem requer uma melhoria. Nesse sentido,
a capacidade de aprender é essencial para o ser humano, determinando desde
o desenvolvimento de habilidades básicas, como andar e falar, até habilida-
des complexas, como se relacionar com outras pessoas ou realizar cirurgias
cardíacas.
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A aprendizagem é definida como uma mudança relativamente permanente no


comportamento do ser humano, fruto de uma experiência. Entretanto, é importante
destacar que nem sempre é fácil identificar mudanças no comportamento decorrentes
da aprendizagem. Além disso, há casos em que o comportamento muda, porém essa
mudança não pode ser considerada como aprendizagem. Algumas mudanças são fruto
da maturação do organismo, por exemplo, quando um indivíduo se torna maior ou
mais forte e, por isso, consegue desempenhar melhor uma atividade. Ou então fruto
de uma situação momentânea, como o que ocorre com o comportamento de alguém
que está cansado devido à fadiga ou falta de interesse. Em ambos os casos, está se
falando de mudanças comportamentais, mas não de aprendizagem (FELDMAN, 2015).

Desde o nascimento o ser humano já está preparado para aprender. En-


tretanto, os bebês apresentam um processo de aprendizagem mais simples
chamado de habituação. Consiste na adaptação a um estímulo, como o que
ocorre quando um bebê vê um brinquedo colorido pela primeira vez. Naquele
momento o estímulo (brinquedo) chama muito a sua atenção, porém, com o
passar do tempo, aquele estímulo já não surte o mesmo efeito, ou seja, o bebê
se adapta ou se habitua àquela informação. Os adultos continuam apresentando
o processo de habituação, contudo, a aprendizagem também passa a ocorrer
de maneiras mais complexas (FELDMAN, 2015).
Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) destacam três tipos principais
de aprendizagem:

„„ Não associativa: quando alguém aprende sobre um estímulo, como


uma imagem ou um som, e emite uma resposta em decorrência daquele
estímulo. Um exemplo é o que ocorre quando você ouve um som e vai
em busca de onde ele está vindo. Fazem parte desse tipo a já mencio-
nada habituação e também a sensibilização – quando a resposta a um
estímulo aumenta com o passar do tempo.
„„ Associativa: quando a pessoa aprende a relacionar/associar um evento
com outro. Nesse tipo de aprendizagem a pessoa aprende que os estímulos
do ambiente, as respostas comportamentais que ela emite e as consequ-
ências dessas respostas estão relacionadas. Um exemplo é o que ocorre
quando você relaciona ter dor dente ao comportamento de ir ao dentista,
essa relação é considerada uma aprendizagem do tipo associativa.
„„ Por observação: quando alguém adquire ou muda um comportamento
a partir da observação de como outras pessoas se comportam. Por
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exemplo, quando você assiste a um tutorial de como preparar um prato e


passa a implementar esse novo repertório de comportamento na sua vida.

Complementando esse raciocínio, Illeris (2013), na obra Teorias contempo-


râneas da aprendizagem, destaca três dimensões ou esferas da aprendizagem:

1. Conteúdo: diz respeito ao que é aprendido, engloba conhecimentos,


habilidades, insigths, significados, valores, postura, modo de agir, entre
outras coisas que contribuem para a compreensão e para a capacidade
de quem aprende.
2. Incentivo: esfera relacionada à energia necessária para promover a
aprendizagem. Engloba sentimentos, motivação, emoções. Sua função
é garantir o equilíbrio mental.
3. Interação: diz respeito aos impulsos que dão início ao processo de
aprendizagem, tais como: percepção, ação, experiência, imitação, par-
ticipação, entre outros.

Na Figura 1, a seguir, você poderá ver de forma esquemática como as


dimensões se organizam:

Figura 1. As três dimensões da aprendizagem.


Fonte: Illeris (2013, p. 19).
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Note que o triângulo evidencia o campo de tensão em que a aprendizagem


ocorre, entre as três dimensões/esferas, ou seja, para que a aprendizagem
ocorra é necessário que as três dimensões estejam em interação. Sendo assim,
de acordo com o autor, no processo de aprendizagem as três esferas precisam
estar presentes e se relacionar (ILLERIS, 2013).
Dando continuidade a essa compreensão, Illeris (2013) ainda destaca dois
processos essenciais na aprendizagem:

„„ Processo externo: remete à interação do indivíduo com o meio no


qual está inserido.
„„ Processo psicológico/interno: remete à aquisição e à elaboração das
informações disponíveis no meio.

Para Illeris (2013), esses processos ocorrem em toda forma de aprendiza-


gem, contudo, algumas teorias se dedicam mais à compreensão e explicação
de um ou de outro processo. Por exemplo, teorias cognitivistas costumam se
dedicar mais aos processos internos, enfatizando os aspectos mentais. Já as
teorias de aprendizagem social tendem a destacar mais os processos externos,
de interação do indivíduo com o meio. Destaca-se, nesse sentido, que ambas
as teorias contribuem para o desenvolvimento da compreensão do conceito
através de uma abordagem diversificada, demonstrando a característica mul-
tiparadigmática da aprendizagem.
Na sequência você vai estudar as teorias cognitivas de aprendizagem e,
posteriormente, verá a teoria de aprendizagem social, também conhecida
como sociocognitiva.

As teorias cognitivas de aprendizagem


Conforme discutido até aqui, há diversas abordagens ou formas de se estudar
a aprendizagem, o que evidencia a característica multiparadigmática desse
conceito. Entre as diversas possibilidades, destacam-se neste capítulo as teorias
ou abordagens cognitivas de aprendizagem. Essas teorias partem do entendi-
mento de que o ato de aprender está relacionado aos processos de pensamento
ou cognição, ou seja, essas teorias enfatizam os processos mentais (invisíveis)
que ocorrem quando alguém aprende (FELDMAN, 2015).
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As abordagens cognitivas da aprendizagem surgem como um contraponto às abor-


dagens behavioristas. Nas behavioristas, entende-se que a aprendizagem ocorre a
partir da interação entre:
„„ estímulo (situação presente ou antecessora);
„„ resposta (ação do indivíduo);
„„ consequência (alteração no ambiente consequente àquela resposta).
De acordo com essas abordagens, a aprendizagem de um novo comportamento
ocorre em função das consequências que determinada ação têm no meio, limitando-se
ao que é possível ser observado.
Dessa forma, a aprendizagem é fruto da associação entre estímulo-resposta-con-
sequência, sendo que, quando uma resposta provoca uma consequência favorável
(um reforço), há maiores chances de que aquela resposta comportamental ocorra
novamente no futuro. Já quando uma resposta provoca uma consequência desfavorável
(como uma punição), há menores chances de que aquele comportamento ocorra
novamente no futuro. De acordo com as abordagens behavioristas de aprendizagem,
é a partir dessa relação que a pessoa aprende, ou condiciona seus comportamentos
para ações futuras.
Nas abordagens cognitivistas da aprendizagem, diferentemente, há um viés menta-
lista, ou seja, há um enfoque nos processos mentais que não são observáveis (tais como
a expectativa de uma consequência decorrente de uma resposta comportamental).
Vale destacar ainda que as teorias cognitivas não negam a relação entre estímulo-
-resposta-consequência, mas ampliam essa visão, incluindo aspectos visíveis ao
processo de aprendizagem (FELDMAN, 2015).

De acordo com os estudiosos dessa abordagem, um exemplo desse tipo de


aprendizagem, que enfatiza os processos mentais não visíveis, é a chamada
aprendizagem latente (ou encoberta). Entende-se que um novo comportamento
pode ser aprendido, mas não demonstrado, até que haja uma oportunidade ou
incentivo para que ele seja expresso. Ou seja, a aprendizagem pode ocorrer de
uma forma não visível, sem que haja a relação estímulo-resposta-consequência,
como descreviam os behavioristas. Sendo assim, entende-se que é possível
aprender um conteúdo novo, mas não emitir uma resposta expressa, isto é, é
possível que haja aprendizado sem que novos comportamentos sejam exibidos,
apenas a partir da mudança mental. Assim, existe diferença entre a aquisição
de um comportamento — o saber fazer — e o desempenho de tal comporta-
mento — a ação em si (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; HEATHERTON;
HALPERN, 2018).
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A aprendizagem latente pressupõe a existência de conteúdos latentes ou


não aparentes, que foram chamados de mapas cognitivos. Esses mapas são
representações mentais ou abstratas da realidade que permitem a obtenção,
o armazenamento e o processamento de informações do ambiente em nível
neural ou mental. Assim, a compreensão de mapas mentais permite pressupor
que há uma elaboração interna anterior à emissão de um comportamento.
Isto é, de acordo com a compreensão de mapas cognitivos, entende-se que
a aprendizagem pode ocorrer através dos fenômenos mentais, a partir do
armazenamento de informações do ambiente (mapa cognitivo), que abarca até
mesmo informações que não foram utilizadas pelo sujeito até aquele momento
(FURTADO, 2018; TOLMAN; HONZIK, 1930).

A aprendizagem latente ocorre quando uma pessoa aprende um comportamento


sem necessariamente realizá-lo. Tendo esse entendimento como base, imagine que
um adolescente, que sempre andou de carro com seus pais, vai aprender a dirigir.
Já no seu primeiro contato com a direção do veículo, não é necessário falar para ele
que girar o volante faz com que o carro vire para a direita ou para a esquerda. Mesmo
sem nunca ter emitido um comportamento como esse, quando o adolescente vai
dirigir, já tem esse conhecimento armazenado simplesmente por ter observado outras
pessoas fazerem.

Complementando essa compreensão, Gazzaniga, Heatherton e Halpern


(2018) destacam um outro tipo de aprendizagem que funciona de maneira se-
melhante à aprendizagem latente, a aprendizagem por insight. Na aprendizagem
por insight o processo também ocorre de maneira encoberta, sem necessidade
de expressão de um comportamento, e é identificado quando alguém está
refletindo sobre um problema, fica um tempo indeterminado debruçado na
questão e, de repente, chega à resposta (ou tem um insight). Note que, da
mesma forma como ocorre na aprendizagem latente, na aprendizagem por
insight não é possível que outra pessoa visualize o processo de aprendizagem,
ele ocorre de maneira interna.
Com essa compreensão, retoma-se o conceito ampliado de aprendizagem,
entendida como uma mudança, derivada da experiência, relativamente per-
manente no comportamento ou nas capacidades de um indivíduo, resultando
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em uma melhor adaptação ou preparação, por parte desse indivíduo, para


lidar com algo ou alguma situação. A partir desse entendimento, destaca-se
que a aprendizagem, de acordo com o que propõem as abordagens cognitivas,
pode ocorrer internamente, em nível neural ou mental, não necessariamente
podendo ser observada por outras pessoas (GAZZANIGA; HEATHERTON;
HALPERN, 2018; ILLERIS, 2007).

As abordagens cognitivas da aprendizagem enfatizam os aspectos não visíveis do


processo de aprendizagem. De acordo com essa concepção, a aprendizagem pode
ocorrer apenas em nível neural ou mental, sem, necessariamente, expressar uma
mudança comportamental.
Nas abordagens cognitivas, a mudança resultante da aprendizagem pode ser apenas
interna, cognitiva, e, quando houver a necessidade ou a vontade do sujeito, poderá
ser expressa como um comportamento novo, visto que, quando há aprendizagem,
há uma nova informação armazenada (GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018).

Nessa perspectiva, enfatizou-se a concepção de aprendizagem latente e de


aprendizagem por insight e, seguindo a mesma linha de raciocínio, destaca-se
a aprendizagem observacional. A aprendizagem observacional pode ser en-
tendida como um aspecto ou uma forma de desenvolvimento da aprendizagem
em uma abordagem cognitiva, como fica claro no exemplo anterior (quando
o adolescente pega o volante para dirigir pela primeira vez e sabe alguns
movimentos que precisam ser feitos devido à observação que fez anterior-
mente). Assim, destaca-se que a aprendizagem latente, comumente tem como
estratégia a observação (GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018).
A aprendizagem observacional foi foco de estudos do psicólogo Albert
Bandura, que afirmou que uma grande parcela da aprendizagem humana se
dá através da observação de outras pessoas se comportando, ou seja, a partir
da relação de quem aprende com outra pessoa (um modelo). Desse modo, a
aprendizagem ganha uma conotação social, sendo vista como um fenômeno
social e a perspectiva de aprendizagem observacional ganha uma conotação
sociocognitiva. Devido à sua importância, na sequência você estudará sobre
a aprendizagem com essa conotação social, sob a ótica da teoria conhecida
como teoria cognitiva social de Bandura (GAZZANIGA; HEATHERTON;
HALPERN, 2018).
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Aprendizagem social na perspectiva da teoria


cognitiva social
Como visto até aqui, de maneira ampliada, pode-se entender que a aprendiza-
gem é um processo de mudança no comportamento ou na capacidade de um
sujeito, resultante da experiência, e tem como produto uma melhoria na sua
adaptação ou na sua capacidade para lidar com uma situação ou com algo no
futuro (GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018; ILLERIS, 2007).
Tendo esse entendimento como pano de fundo, nesse trecho do capítulo você
estudará a forma ou estratégia de aprendizagem descrita por Albert Bandura,
conhecida como aprendizagem social, baseada na teoria cognitiva social,
também chamada de teoria sociocognitiva (GAZZANIGA; HEATHERTON;
HALPERN, 2018).
Albert Bandura, nascido em 1925, é um importante psicólogo canadense
que desenvolveu sua carreira na Califórnia (Estados Unidos), como profes-
sor e diretor do departamento de psicologia da universidade de Stanford
e presidente da APA (American Psychological Association — Associação
Americana de Psicologia). Bandura foi autor de diversas obras, tendo como
um de seus principais legados o desenvolvimento da teoria da aprendizagem
social (GHEDIN, 2012).
Na teoria da aprendizagem social, Bandura (1977) também enfoca os
aspectos mentais envolvidos na aprendizagem, assim como ocorre nas abor-
dagens cognitivas. Entretanto, o autor enfatiza também os aspectos sociais
envolvidos no processo, descrevendo o desenvolvimento da aprendizagem a
partir da observação de outras pessoas (que servem como modelos), por isso
sua teoria também ficou conhecida como teoria da aprendizagem observacional
(FURTADO, 2018; GHEDIN, 2012).

Na teoria da aprendizagem social, desenvolvida por Bandura, também há um enfoque


nos processos mentais, assim como acontece nas teorias cognitivas da aprendizagem.
Em específico, Bandura se dedica à compreensão do papel da observação, por parte do
aprendiz, do comportamento de terceiros (modelos) na aprendizagem. Dessa forma,
portanto, pode-se afirmar que a aprendizagem sob a ótica da teoria de Bandura ocorre
a partir da interação social (FURTADO, 2018).
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Nesse sentido, destaca-se que a aprendizagem observacional é especial-


mente importante para casos em que não é possível aprender por tentativa e
erro, ou seja, quando é necessária uma compreensão prévia, em nível mental,
de um comportamento a ser emitido. Nesse sentido, para a teoria sociognitiva,
assim como para a teoria cognitiva, a aprendizagem de um comportamento é
diferente de emissão desse comportamento. Uma pessoa pode saber fazer algo
sem nunca, de fato, ter feito aquilo, apenas armazenando aquela informação
em nível mental e, quando houver a oportunidade ou o desejo, ela poderá
emitir aquele novo comportamento (FURTADO, 2018; GAZZANIGA; HE-
ATHERTON; HALPERN, 2018; GHEDIN, 2012).
Para Bandura (1977), a aprendizagem observacional é regida por quatro
fatores principais:

„„ Atenção: é necessário que a pessoa foque sua atenção a determinada


ação, isto é, perceba o que está ao seu redor. A atenção é influenciada
tanto pelas características da ação observada, quanto pelo próprio obser-
vador (suas tendências cognitivas, como suas preferências e afinidades).
„„ Retenção: é necessário que as informações captadas sejam armaze-
nadas em nível mental. Para que a retenção das informações ocorra,
é preciso o desenvolvimento de imagens mentais ou representações
verbais relacionadas àquela informação (armazenamento cognitivo).
„„ Produção: uma etapa importante do processo de aprendizagem é a
ação propriamente dita do aprendiz, decorrente da atenção e da re-
tenção de determinada informação. Esse fator diz respeito à produção
propriamente dita do comportamento, ou seja, a passagem da esfera
cognitiva para a ação em si.
„„ Motivação: para que uma pessoa reproduza um comportamento ob-
servado, é necessário que ela acredite que aquela ação trará resultados
positivos para ela (será recompensada). Sendo assim, entende-se que o
fator motivação está relacionado à expectativa do aprendiz em relação
à prática daquele conteúdo.
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De acordo com a teoria da aprendizagem social, a aprendizagem ocorre por meio da


observação do comportamento de outra pessoa.
Nesse sentido, todo comportamento observado é aprendido?
Não necessariamente. Um fator determinante para essa ocorrência é se o modelo foi
ou não recompensado pela ação. Quando uma pessoa observa um colega de trabalho
se dedicando para o atendimento a um cliente e sendo recompensado por isso, há
maiores chances de que imite aquele comportamento no futuro. Ou seja, observar o
comportamento de um modelo sendo recompensado aumenta as chances de que
a pessoa realize o mesmo comportamento no futuro.
Sendo assim, apenas comportamentos recompensados serão aprendidos?
Não, pois quando o comportamento do modelo não é recompensado (ou é punido),
também pode haver aprendizado (a pessoa pode ser capaz de descrever aquele
comportamento, por exemplo), entretanto, há menores chances de que aquele com-
portamento seja imitado pelo observador no futuro (GAZZANIGA; HEATHERTON;
HALPERN, 2018).

Um dos principais experimentos de Bandura acerca da aprendizagem social


ou observacional foi o experimento realizado na década de 1960 com um
boneco inflável chamado Bobo. Nesse experimento, Bandura dividiu crianças
em idade pré-escolar em dois grupos. Para um dos grupos, Bandura apresentou
um vídeo em que um adulto interagia com o Bobo de maneira bem tranquila,
brincando com ele. Já no segundo grupo, Bandura apresentou um vídeo em
que o adulto interagia com o Bobo de uma maneira bastante agressiva, batendo
no boneco com um martelo, chutando-o, etc. Depois de assistirem ao vídeo,
as crianças dos dois grupos foram colocadas em uma sala para brincar com
diversos brinquedos, incluindo o boneco Bobo. O resultado do experimento
mostrou que as crianças que assistiram o adulto agindo de maneira agressiva
com o Bobo tinham duas vezes mais chances de agir de forma semelhante
(também agressiva) quando interagiram com o boneco. Ou seja, os resultados
desse experimento sugerem que a exposição de crianças à violência pode gerar
comportamentos agressivos e, além disso, que a observação do comportamento
de outras pessoas impacta no comportamento futuro de quem está observando
(GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018).
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No link a seguir, confira um vídeo que descreve como


o experimento de Bandura foi desenvolvido e seus
principais resultados.

https://goo.gl/U5ADVn

Como você pôde observar ao longo do capítulo, pode-se definir apren-


dizagem como uma mudança relativamente permanente nas capacidades de
um organismo vivo, decorrente da experiência. Aprendizagem é um tema
estudado a partir de diversos enfoques, o que caracteriza sua natureza multi-
paradigmática. Entre esses enfoques, destacam-se as abordagens cognitivas,
que enfatizam os aspectos mentais envolvidos no processo de aprendizagem,
tendo como exemplo a aprendizagem latente (ou encoberta), em que se entende
que, para que ocorra aprendizagem não necessariamente precisa ocorrer um
novo comportamento. Ou seja, de acordo com essas abordagens, é possível
que a aprendizagem ocorra em nível mental, através da construção de mapas
cognitivos, e seja apresentada como uma ação apenas posteriormente, quando
houver oportunidade ou desejo. No mesmo sentido, destaca-se a abordagem
sociocognitiva da aprendizagem, que tem como seu principal autor Albert
Bandura. A teoria de Bandura se assemelha às teorias cognitivas, enfocando,
em específico, a aprendizagem a partir da observação do comportamento de
outras pessoas, ou seja, a aprendizagem a partir da interação social (FUR-
TADO, 2018; GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018; GHEDIN,
2012; ILLERIS, 2013).
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BANDURA, A. Social learning theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1977.


FELDMAN, R. S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
FURTADO, R. N. Do comportamento à cognição: transformações epistêmicas no pen-
samento behaviorista do século XX. Revista Contemplação, n. 17, p. 172-183, 2018.
Disponível em: <http://fajopa.com/contemplacao/index.php/contemplacao/article/
view/179/197>. Acesso em: 13 nov. 2018.
GAZZANIGA, M.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto Alegre: Art-
med, 2018.
GHEDIN, E. (Org.). Teorias psicopedagógicas do ensino-aprendizagem. Boa Vista: Ed.
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-psicopedagogicasevandroghedin>. Acesso em: 13 nov. 2018.
ILLERIS, K. How we learn: learning and non-learning in school and beyond. New York,
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ILLERIS, K. (Org.). Teorias contemporâneas da aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2013.
ROTTA, N. T.; BRIDI FILHO, C. A.; BRIDI, F. S. (Orgs.). Neurologia e aprendizagem: abordagem
multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.
TOLMAN, E.; HONZIK, C. "Insight" in rats. Publications in Psychology, v. 4, p. 215-232, 1930.

Leitura recomendada
CAMPOS, V. Experimentos de Albert Bandura sobre a aprendizagem social da violên-
cia (narrados por Bandura). 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=3nh58Hwnl0E>. Acesso em: 13 nov. 2018.
Conteúdo:

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