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Equipe Multi - Texto II - Indígenas - Espelhadas
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MULTIDISCIPLINAR
EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR
EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS:
DIÁLOGOS E REFLEXÕES
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Kopenawa Yanomami, por meio do livro: A Queda do Céu. acontecimento político e espiritual muito mais amplo, e de
muito grave significação, que ele representa. Chegou a hora,
O prefácio do livro, escrito por Eduardo Viveiros de Castro, e em suma; temos a obrigação de levar absolutamente a sério
o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa — os índios
o primeiro capítulo da obra são nossa proposição de leitura, neste e todos os demais povos ‘menores’ do planeta, as minorias
momento, pois possibilita ao leitor dimensionar o trabalho realizado no extra-nacionais que ainda resistem à total dissolução pelo
liquidificador modernizante do Ocidente (CASTRO, Viveiros,
fabrico do livro e a grandeza das suas contribuições para a ampliação 2015, p.15 )
do conhecimento ocidental.
(...)
O livro A Queda do Céu tem sido intensamente lido e discutido
Mas A Queda do Céu é um ‘objeto’ inédito, compósito e
em círculos acadêmicos, extrapolando as fronteiras brasileiras. complexo, quase único em seu gênero. Pois ele é, ao mesmo
tempo: uma biografia singular de um indivíduo excepcional,
Viveiros de Castro, na apresentação que faz no prefácio de A Queda
um sobrevivente indígena que viveu vários anos em contato
do Céu, compara-a com o texto canônico Tristes Trópicos, de Claude com os Brancos até reincorporar-se a seu povo e decidir
tornar-se xamã; uma descrição detalhada dos fundamentos
Lévi Strauss. Para ele, a obra representa uma ruptura no pensamento poético-metafísicos de uma visão do mundo da qual só agora
etnográfico “que desloca, inverte e renova o discurso da antropologia começamos a reconhecer a sabedoria; uma defesa apaixonada
do direito à existência de um povo nativo, que vai sendo
sobre os povos ameríndios, redefinindo suas condições metodológicas engolido por uma máquina civilizacional incomensuravelmente
e pragmáticas de enunciação” (CASTRO, 2015, p.12 ). mais poderosa; e, finalmente, uma contra-antropologia arguta
e sarcástica dos Brancos, o “povo da mercadoria”, e de sua
Dentre os destaques à magnitude do trabalho, feitos no prefácio relação doentia com a Terra — conformando um discurso que
Albert (1993) caracterizou, lapidarmente, como uma “crítica
da obra, recortamos o seguinte trecho que mostra o contexto que xamânica da economia política da natureza”. (CASTRO,
possibilitou a realização dessa produção: Viveiros, 2015, p. 27)
Tardou, alguns dirão, a publicação de A queda do céu em Propomos aqui a leitura de partes do livro: A Queda do Céu.
nosso país, onde nasceu o autor principal, onde o livro foi
quase inteiramente elaborado, e ao qual ele privilegiadamente
Palavras de um xamã yanomami, que são disponibilizadas em formado
se refere. Mas para uma obra de mais de 700 páginas, que pdf pela editora: Palavras Dadas, Prólogo e Capítulo 1
levou vinte anos sendo gestada, que tem atrás de si trinta de
convivência entre os signatários de um “pacto etnográfico” (em
cujas entrelinhas se firma um pacto xamânico) sem precedentes
na história da antropologia, e cerca de quarenta de contato do
etnólogo-escritor com o povo do xamã-narrador, cinco anos
não chega a ser muito tempo. E a hora é boa. (CASTRO, 2015,
p.12).
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PARA REFLETIR
Convidamos a assistir ao
Que pensamentos nasceram em você ao ouvir ou ler o Carlos vídeo de Geni Nunez:
Papá? Que outras concepções sobre o escuro, o vazio e o
silêncio você conhece? Como você vivencia esses elementos? Fala pública - Residências
Que significados esses elementos têm para você? Essa visão MAM, com Geni Núñez
do dia e da noite traz alguma reflexão sobre seu cotidiano e
modo de viver?
Disponível em:
https://www.facebook.com/watch/live/?v=184407193540650&ref=watch_
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Considerada como uma importante ativista no movimento Geni Nuñez também publica textos autorais nas redes sociais, que
indígena, Geni Nuñez, indígena de etnia Guarani, psicóloga, mestre visam desconstruir, ressignificar e expressar diferentes perspectivas
em Psicologia Social, doutoranda em Ciências Humanas pela de mundo e de viver o mundo.
UFSC e autora do livro infantil Jaxy Jatere: Um Saci Guarani, tem
desenvolvido estudos com enfoque teórico anticolonial e decolonial,
Vestida estou de minha alegria
com pesquisas sobre branquitude e outras colonialidades. Suas falas
têm problematizado, com muita densidade teórica, a monocultura do Vestida estou de minha alegria.
pensamento colonial, que impera sobre os aspectos da vida e que
invisibiliza a manifestação da concomitância, da diversidade. Tenho em mim todas as idades do mundo.
Em uma fala pública para o Programa de Residências do Museu
Se a maior parte do meu corpo é água,
de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM, Geni aborda vários
aspectos da vida contemporânea, que são tecidos pela Temporalidade. também sou rio.
No desdobramento da sua apresentação, ela aponta os efeitos da
Se só existo se respiro, também sou vento.
crononormatividade sobre a forma com que a sociedade ocidental vê
os modos de vida dos povos indígenas, refletindo sobre a circularidade Os trilhões de micro-organismos que convivem em mim, em nós, não
versus a linearidade do tempo. me deixam reivindicar a autoria individual do ser que somos.
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Reconstruo minha autoestima amando meus parentes: “puxou a Você observou paralelos entre a fala de Carlos Papá e Geni Nunez
cara do rio, é o mar escrito, é igualzinha uma árvore”. e a necessidade de afirmação da contemporaneidade dos saberes
e da existência dos povos e de suas culturas, apontada por Gersem
Isso que quero ouvir e lembrar, com lágrimas nos olhos, as mesmas
Baniwa ao discorrer sobre a BNCC?
que orvalham as folhas, recupero e retomo meu direito de estar
aqui,
Em toda forma e cor que fui sou e serei, sou apenas parte e ser Em seus poemas Márcia apresenta a relação do seu povo com a
parte é infinito. floresta e com as cidades. Sua forma particular de poetizar e cantar
expressa os elementos culturais e as visões de mundo do seu povo
(NUÑEZ, Geni, 2021) enquanto olha criticamente para a cultura colonial e seus efeitos sobre
as populações indígenas.
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No vídeo, @elianepotiguara apresenta um trecho de seu livro "Metade lado já tinha caminho aberto, e assim Kahnrú desenvolveu
mais o pensamento e a subjetividade. Esta história presente
Cara, Metade Máscara”, atualmente já na 3ª edição pela GRUMIN no imaginário Kaingang organiza este povo em duas metades
Edições (2018). complementares: a força e a espiritualidade. Assim são
escolhidos os casamentos, entendidas a fauna e a flora e
delineadas as pinturas corporais.” (LABCULTURA VIVA, 2013)
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Vídeo:
Mito da Criação
Formação do universo, do
planeta Terra.
Conto do Povo Kaingang –
Vozes Ancestrais
A animação foi produzida como parte integrante do Documentário "
(Narração Daniel Munduruku): O Povo Dourado somos todos nós" A animação foi idealizada, dirigida,
Vídeo produzido por Sandro Pauli produzida e editada por David Vidad. Os desenhos foram feitos por
com desenhos em tempo real. Beto Silva mesclando técnicas de óleo e spray em algodão cru. O texto
Duração de 6 minutos. e narração foram elaborados por Kaká Werá - presentes no livro "O mito
tupi-guarani da criação" A trilha sonora foi composta pela Orquestra
Acessar o conteúdo em:
Sinfo Picollo Alemanha.” Para acesso ao documentário completo “O
<https://www.youtube.com/watch?v=rtO8o6bKPew>
Povo Dourado somos todos nós"
e que nos provoca àquilo que é próprio das narrativas mitológicas: <https://www.youtube.com/watch?v=cwvZ8dXYx5g>
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A Água Grande da Terra, deixando eles sem o seu calor para preparar alimentos.
Assim, ele falou: - Oh, minha irmã! Vou trazer fogo para nós. Ela lhe
Em um tempo distante, caiu uma chuva muito forte que destruiu perguntou: - De que jeito você conseguirá isso? Ele respondeu: - Virá
quase toda a Terra. As águas foram se juntando: das pequenas do céu. Eu vou virar uma carniça e o urubu-de-cabeça-vermelha vai
às maiores, até que ela ficou muito alta, grande e forte. As águas nos trazer o fogo.
derrubaram e arrastaram matos, árvores e aldeias. Enfim, tudo o que
tinha na Terra foi coberto pelas águas. Todos morreram afogados,
exceto um casal de irmãos. Eles viram uma palmeira muito alta tombada A História do Fogo
em sua direção na correnteza, se jogaram em suas folhas e agarram-se
nelas. Antes de roubar o fogo do urubu, os Xetá assavam a caça no
Naquele momento Deus os ajudou e aquela palmeira se fixou ali calor do sol. Depois da grande chuva o céu se separou da terra e o
e não foi arrastada pela correnteza. A palmeira era muito alta e seu casal de irmãos que sobreviveu não pode mais assar a caça porque
tronco muito forte. Os dois ficaram agarrados nela, lá no alto. A água não tinham o calor do sol que assava tudo, e nem o fogo.
subiu, subiu, subiu, mas não chegou até os dois irmãos. Ali só tinha Naquele tempo o fogo pertencia ao urubu-de-cabeça-vermelha.
água, nada mais. Só sobreviveram eles. Ele tinha os paus de fazer fogo e guardava-os dentro de um estojo.
Passou algum tempo, a palmeira produziu frutos. O irmão disse Então, o menino resolveu roubar o fogo do urubu. Para isso decidiu se
para a irmã: - Acredito que as frutas estejam maduras. A partir de fingir de morto, pois o mau cheiro atrairia o urubu.
então, os irmãos passaram a se alimentar daqueles coquinhos de jerivá. O menino deixou o arco e a flecha em casa e foi para o mato com
À proporção que acabava um cacho, nascia outro, não lhes faltando sua irmã. Lá construiu um abrigo de folhas para se protegerem dos
o que comer. Até que um dia não nasceram mais frutas e o tempo animais, enquanto ele se fingia de morto. Deixou a irmã no abrigo e
continuava escuro. O casal de irmãos gritou tão alto que as saracuras foi para o local que ficaria deitado. Fez um encosto de madeira para a
e outras aves aquáticas, que estavam muito longe deles, os ouviram cabeça e se deitou, ficando imóvel, de olhos fechados, fingindo estar
e seguiram em direção aos gritos, trazendo terra em seus bicos. Aos morto. As moscas varejeiras vieram e puseram ovos no couro cabeludo,
poucos o chão foi aterrando e secando. Algumas aves foram jogando nos olhos, em todo o corpo. Ele virou uma carniça. Dos ovos saíram
terra, outras pisando para firmá-la e outras fincando pequenos paus varejeiras, que ficaram se mexendo nele, mas o menino não se movia,
que formam as árvores que temos hoje. estava morto.
As árvores e os matos se formaram outra vez. Os bichos Então, veio um urubu. Sobrevoou o lugar, foi baixando aos poucos
chegaram onde estavam os dois irmãos, que desceram e conversaram e pousou numa árvore próxima. Vendo que o menino não se mexia,
com os bichos: o passarinho, a saracura, o tuiuiú e outros animais. desceu e foi espiar de perto. Como ele não se mexia, voou e chamou
Eram pássaros grandes e falavam o nosso idioma, pois antigamente os os outros urubus.
bichos falavam a nossa língua. Pouco depois chegaram os corvos e todas as espécies de urubus.
O menino fez um arco e flecha para caçar animais e deles se O urubu-de-cabeça-vermelha queria assar o menino, por isso ele
alimentarem, mas agora eles não tinham mais calor do sol para assar a trouxe o estojo em que guardava o pau de fazer fogo. Enquanto ele
caça, porque quando as águas baixaram o sol não estava mais próximo fazia o fogo e arrumava a fogueira, o menino abriu um olho para poder
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ver como o urubu-de-cabeça-vermelha fazia o fogo. Mas o urubu viu Valendo-se das narrativas mitológicas de diferentes culturas
o menino abrir o olho e voou para cima de uma árvore, avisando aos indígenas, Ailton Krenak e o Grupo de Estudos Selvagem produziram
outros que o menino não estava morto, porque ele tinha aberto um (o que denominaram como) uma compostagem de imagens, saberes
olho. indígenas e narrativas sobre a origem da vida, dialogando com as
O urubu-de-cabeça-vermelha aproximou-se do menino para vê- hipóteses da ciência ocidental: A Serpente e a Canoa. A animação
lo de pertinho. Viu que ele estava cheio de bichos, e disse: - Ele está mostra uma viagem por teorias científicas contemporâneas e memórias
morto mesmo! Em seguida, todos os outros urubus aproximaram-se das culturas ancestrais.
do menino para carregá-lo até o fogo, mas não conseguiram, pois o
menino pegou o seu encosto de madeira e com pauladas espantou os O fio condutor deste episódio costura duas narrativas: a
urubus, que voaram assustados. O menino gritou para a irmã sair do da canoa cobra, memória originária de povos rio negrinos
e a serpente cósmica, presente em mitos de origem de
esconderijo e pegar um pedaço de lenha acesa. Ela foi rapidamente
diferentes culturas, vista como a dupla hélice do DNA,
até o fogo, pegou e correu para dentro do abrigo. código de memória presente em tudo que é vivo. A
O menino jogou o encosto de madeira no urubu-de-cabeça- viagem percorre uma sequência que entrelaça saberes
indígenas e hipóteses científicas sobre o surgimento da
vermelha que estava com o estojo de fazer fogo, que fugiu, deixando-o
Vida. (DANTES, Anna, 2021).
com o ancestral dos Xetá.
O menino se escondeu no mato e depois os dois foram ao rio
para o menino se lavar e tirar os bichos do corpo. E começou a tirar os
bichinhos e jogá-los no chão, na margem do rio.
Vídeo:
FLECHA 1 -
A SERPENTE E A CANOA
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A Serpente e a Canoa é uma narrativa baseada nos livros: A Essa flecha selvagem, ela vai ser acompanhada das irmãs
dela, ela é a flecha um. Ela vai acompanhar uma sucessão
Serpente cósmica, o DNA e a origem do saber de Jeremy Narby; Antes de lançamentos de flechas que querem trazer uma narrativa
o mundo não existia de Umusï Pãrõkumu e Tõrãmü Këhíri e O mundo sobre esse mundo que nós compartilhamos e que integra o
pensamento contemporâneo de cientistas, de biólogos, de
Tukano antes dos brancos de Álvaro Tukano. filósofos, de gente que estuda astronomia e que atualiza as
narrativas que eram chamadas até agora de narrativas míticas
Se há uma emergência em ressignificar a vida e os modos de e que constitui uma obra importante de alguém como Lévi
vida, o caminho para que isso aconteça, segundo esses autores, passa Strauss por exemplo. Nas suas Mitológicas, e em toda a
grande obra dele, onde ele traz para conhecimento do mundo,
por mobilizar a diversidade, pelo reconhecimento da concomitância principalmente acadêmico, os mitos, as narrativas de povos
de explicações, significados e sentidos, resistindo às hierarquizações e originários que não eram escritas e que estavam na memória.
Nós queremos convocar essas narrativas nas vozes desses
generalizações, bem como às visões hegemônicas e supremacias. Um povos que estão presentes no concerto do mundo hoje. Para
que elas dialoguem com a ciência. Nós queremos que seja
mundo que expressa tamanha diversidade, em todos seus aspectos, aberta uma possibilidade do diálogo da ciência hoje pra ter
não pode ser limitado por um pensamento homogeneizante. É preciso sentido a expressão de que o futuro é ancestral e como a
gente acha que o futuro é agora: é o presente, nós estamos
“mais uma narrativa sobre o mundo” como afirma Ailton Krenak ao dizendo que o presente é ancestral. É quando converge o mais
falar do objetivo do vídeo A Serpente e a Canoa: recente pensamento científico, a interpretação científica com
as narrativas ancestrais. Então não é só uma frase dizer que
o futuro é ancestral. É uma observação sobre esse possível
[...]“Eu queria que todo mundo pudesse assistir essas imagens diálogo entre os cientistas e os pajés, os narradores.
que mostram como a vida chega ao nosso planeta, a esse
nosso mundo, trazendo uma outra possibilidade das crianças O selvagem, esses encontros presenciais que a gente começou
imaginarem mundos que não seja só aquela narrativa que lá no Jardim Botânico, eles já guardavam esse desejo, essa
já é muito consolidada, que é colonial e que é uma ideia intenção. As flechas é uma maneira dessa intenção agora
eurocêntrica. Aquela criação de mundo que a Europa entendia alcançar muito mais ouvintes, em vários lugares do mundo,
que era a maneira de contar sobre esse mundo e que acabou é o alvo da flecha. Talvez seria bacana a gente imaginar que
sendo a única, porque é ela que está nos livros didáticos, é ela o alvo dessa flecha são os corações que estão abertos para
que está nos materiais escolares e em toda a informação que outras histórias, outras histórias sobre nós, sobre os humanos.
chega para as crianças. Então, eu achei muito bacana poder E que ajude a responder aquela pergunta: O que somos? Não
oferecer mais uma narrativa sobre o mundo. Ela não precisa quem somos! Mas o quê somos. Esse Homo sapiens é o que.
ser única e nem deve ser a única, porque como a Chimamanda Ele veio da avó do mundo? Ele veio da jiboia, Ele veio do
disse: - um mundo com uma única história é muito pobre! cristal primordial, um cristal maravilhoso que reflete luz? Ele
Então é maravilhoso a gente ter um mundo com muitas vem da gotinha de água? Ele veio do cosmos viajando numa
narrativas porque eles podem também ser plurais, muitos mensagem de DNA para dar nisto que somos nós, que a gente
mundos, pluriverso. Eu fiquei super animado com a resposta da fala: Somos os humanos. KRENAK, Ailton & Dantes, Anna.
pesquisa de imagens, com tantas imagens bonitas, de tantas 14/05/2021, 1:18:44 até 1:22:43 h, transcrição livre)
culturas. Mais uma vez a diversidade de visões de mundo que
as imagens trazem e, dialogar as narrativas não ilustradas de
criação do mundo com essas imagens é uma liberdade também A flecha 2, O sol e a flor, associa diferentes visões sobre a relação
que a gente se propõe: a liberdade de convocar tantas vozes
para contar uma história plural, uma orquestra.[...] (KRENAK, do SOL com a vida na Terra.
Ailton & Dantes, Anna. 14/05/2021, 19:25 a 21:29m, transcrição
livre)
Com base no livro Biosfera, de Vladimir Verndasky, Ailton Krenak
narra sobre a interação dos raios cósmicos com a matéria verde,
Esse projeto de Ailton Krenak e colaboradores, denominado transformando a Terra em um “supraorganismo vivo”:
Flecha Selvagem, que se iniciou com a flecha 1: A Serpente e a Canoa,
Uma visão da vida onde tudo está absolutamente relacionado,
segue com outras produções. das cianobactérias ao ozônio. A fotossíntese se apresenta
como chave de manutenção do equilíbrio dinâmico e para
a regulação da Biosfera. A Teoria de Gaia flui em diálogo
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com a suspensão do céu na compreensão yanomami. Para Afirmada a busca dos autores indígenas de escreverem suas
além da narrativa científica, é uma flecha propulsionada,
em sua essência, pela narrativa Guarani sobre Nhanderu, o próprias teorias em termos também específicos, adequados à sua
desdobramento do escuro em sol e do sol em flor. forma de pensar e agir no mundo, retomamos à obra abordada no
início deste texto, A Queda do Céu, mais especificamente à história
(Disponível em: contada por Viveiros de Castro no prefácio. Entendemos que é uma
https://www.youtube.com/watch?v=_jVxOs70hpQ&ab_
ótima provocação aos educadores que assumem a responsabilidade
channel=SELVAGEMciclodeestudossobreavida)
de contribuir na formação humana e ampliação de conhecimentos dos
adolescentes e jovens estudantes da escola pública. Ela nos convida
a ler mais sobre os povos indígenas, mas, sobretudo, a ler autores
indígenas, entendendo-os como embaixadores de seus povos na
Vídeo: disseminação dos seu próprio pensamento e perspectiva de futuro:
FLECHA 2 -
Começamos este prefácio, evocando a relação complexa da
O SOL E A FLOR obra A queda do céu, com a obra Tristes Trópicos. Voltemos
então a este último, recordando um episódio célebre onde
Lévi-Strauss conta seu diálogo com Luís de Sousa Dantas,
o embaixador brasileiro em Paris, às vésperas de embarcar
Acesso ao material em: para São Paulo, nos idos de 1934. No decorrer de um jantar
https://www.youtube.com/watch?v=_jVxOs70hpQ&ab_channel=SELVA- de cerimônia, o jovem futuro professor da USP indaga do
embaixador do país para onde se dirigia sobre os índios do
GEMciclodeestudossobreavida
Brasil. É então que ouve, perplexo e consternado, da boca do
diplomata:
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Carlos Papá
Mirim Poty
Disponível em:
http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoac/carlos-papa
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REFERÊNCIAS
Kaká Werá Jecupé BANIWA, Gersem, BNCC e a diversidade indígena: desafios e possibilidades,
pp. 38-55. In: CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, SIQUEIRA, Ivan
Cláudio Pereira (org) BNCC : educação infantil e ensino fundamental.
Processos e demandas no CNE (Conselho Nacional de Educação). São
Paulo : Fundação Santillana, 2019. Disponível em: https://pt.calameo.com/
Imagem disponível em: read/002899327e51e5d1a9430, Consultado em: 13/07/21.
https://www.abcdoabc.com.br/ BOITA JR, José (diretor). Kame + Kanhrú, Página LAB Cultura Viva, Rio
santo-andre/noticia/santo-andre-fortalece-ensino-culturas-afro-brasileira- de janeiro, 11 de dez. de 2013. Duração : 00:08:20 h, Disponível em: https://
indigena-16044 www.youtube.com/watch?v=XAeha2RmlXI, Acesso em: 11/08/2021.
Indígena de origem Tapuia, escritor, ambientalista, conferencista; BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CP Nº 2,
fundador do Instituto Arapoty, organização voltada para a difusão dos de 22 de dezembro de 2017.
valores sagrados e éticos da cultura indígena. É empreendedor social CASTRO, Viveiros. Prefácio. O recado da Mata. In: KOPENAWA, Davi.
da rede Ashoka de Empreendedores Sociais e conselheiro da Bovespa ALBERT, Bruce, A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami. São
Social&Ambiental. Paulo, Companhia das Letras, 2015, p.11- 41.
Texto retirado de: CREPEAU, Robert R. Crépeau. Mito e ritual entre os índios Kaingang
<https://feiradolivrodaunesp.com.br/kaka-wera-jecupe-e-a-sabedoria- do Brasil meridional. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 3,
i n d i g e n a - a n c e s t r a l / # : ~ : t e x t = K a k % C 3 % A 1 % 2 0 We r % C 3 % A 1 % 2 0 n. 6, p. 173-186, out. 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/
Jecup%C3%A9%20%C3%A9%20%C3%ADndio,e%20conselheiro%20da%20 Mzs7KTYfykVHkvmXgJ4HJ9b/?lang=pt
Bovespa%20Social%26Ambiental>
DANTES, Anna (Direção) Flecha 1 - A Serpente e a Canoa, Plataforma
Youtube. Página Selvagem: Ciclos de Estudos sobre a vida. 2021, 00:16:17h,
Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=Cfroy5JTcy4&ab_
channel=SELVAGEMciclodeestudossobreavida
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__________________ Território ancestral. In: BENGOZI, Bruna. 5 poemas VIDAD, David e SILVA, Beto. Animação "O Mito da Criação" (narração e
de Márcia Wayna Kambeba. 15/07/2020. Página Livro & Café. Disponível texto de Kaka Werá) Duração de 13 min recorte do filme: O Povo Dourado
em: https://duckduckgo.com/?q=onde+mora+marcia+kambeba eia=web somos todos nós. Youtube. Página de David Alves, 07/08/2014. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=cwvZ8dXYx5g
KARIPUNA, Luene & BARROS, Elis. Temporalidade. Pará, 11/08/2021,
Instagram, Página @PETINDIGENA CLII. Disponível em: https://www. WERÁ, Kaká. A Voz do Trovão. (A criação do mundo segundo os guaranis).
instagram.com/p/CSb_5TTnCBv/?utm_medium=copy_link Associação Monte Azul, Instituto Arapoty. (Editora Antroposófica ?) (2013).
Disponível em: https://pindorama.art.br/file/MitoGuarani-VerCompl.pdf
KRENAK, Ailton & Dantes, Anna. Conversa Selvagem - Primeira Flecha: A
Serpente e a Canoa. Plataforma Youtube. Página Selvagem: Ciclos de estudos
sobre a vida. Transmitido ao vivo em 14 de maio de 2021, duração 1:31;39 h.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AMmrj8e9OUo, Acesso
em 21/07/2021
NUNEZ, Geni. Fala pública - Residências MAM com Geni Núñez. Rio de
Janeiro, 15/05/2021. Facebook, Perfil MAM (Museu de Arte Moderna)
do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.facebook.com/
museudeartemodernarj/videos/184407193540650. Acesso em: 11/08/2021.
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Produção de textos:
- Ionara Blotz
- Melissa Colbert Bello
- Jefferson de Oliveira Salles
- Maria Daise Tasquetto Rech
Revisão:
- Lucélio Helder Cherubim
Contato:
E-mail: educacaoindigena@escola.pr.gov.br
Telefone: (41) 3340-5791
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