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EQUIPE

MULTIDISCIPLINAR

EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES 2021


ÉTNICO-RACIAIS:
DIÁLOGOS E REFLEXÕES
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MULTIDISCIPLINAR
EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS:

DIÁLOGOS E REFLEXÕES

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A inserção desse pequeno trecho no documento que normatiza


a primeira BNCC organizada no Brasil não se deu ao acaso, Gersem

MÓDULO II Baniwa, indígena atuante no cenário das publicações em Língua


Portuguesa, conta, em seu artigo, que foi a atuação do grupo de
trabalho de professores indígenas, no Conselho Nacional de Educação
SABERES INDÍGENAS NA SALA DE AULA que conquistou, na revisão final do documento, algumas garantias
que considera importantíssimas no marco histórico das políticas
educacionais, como é a publicação da Base Nacional Comum
Temporalidade
Curricular:
Mude o olhar, troque as lentes,
Para ver a mim e meu parente,
É preciso olhar… A conquista mais importante é a que reconhece a diversidade
epistêmica na sociedade brasileira e, portanto, dentro das
Mas olhar pelo meu tempo
escolas e entre os sujeitos alunos da Educação Básica. Trata-
Pelo tempo de fazer tudo
se do primeiro documento oficial normativo que reconhece
Pelo tempo de olhar o tempo de maneira explícita e categórica a coexistência de distintas
Pelo tempo de olhar o mundo epistemologias nas escolas e na sociedade brasileiras. Ao
Pelo tempo de ver o outro reconhecer as diversas epistemologias, a BNCC reconhece, por
Por que é a partir deste tempo consequência, as várias línguas, identidades, cosmovisões e
Que você começará a ver, modos de vida que as fundamentam, as sustentam e lhes dão
vida.) (BANIWA, Gersem, 2019, p.51)
Outras visões e cosmovisões
Sobre o mundo
Luene Karipuna e Elis Barros (2021) Esse artigo de Gersem Baniwa é bastante interessante aos
educadores para refletir sobre o contexto da aprovação da Base
Nacional Comum Curricular – BNCC e a importância de considerar
Os diversos saberes e o currículo escolar os conhecimentos indígenas nos currículos escolares. Na leitura
do texto, é possível perceber parte dos vários debates e reflexões
A Resolução CNE/CP n.º 2, de 22 de dezembro de 2017, que
envolvidas na publicação desse documento normativo, demonstrando
instituiu a implantação da Base Nacional Comum Curricular, é o
explicitamente a preocupação de intelectuais e educadores indígenas
primeiro marco legal que traz a diversidade de epistemologias como
com os conhecimentos que são disseminados nos currículos das escolas
conteúdo curricular para as escolas. No artigo 8.º, § 1º, orienta que os
brasileiras. Recomendamos a leitura na íntegra, mas reproduzimos
currículos devem adequar as proposições da BNCC à sua realidade,
aqui outro trecho em que o autor explicita a preocupação com a
levando em conta, dentre outros fatores, que:
garantia dos saberes indígenas no documento orientador do currículo,
§1º Os currículos devem incluir a abordagem, de forma evidenciando a necessidade que a sociedade brasileira reconheça o
transversal e integradora, de temas exigidos por legislação e valor desses saberes:
normas específicas, e temas contemporâneos relevantes para o
desenvolvimento da cidadania, que afetam a vida humana [...]
bem como o tratamento adequado da temática da diversidade Buscou-se, assim, em primeiro lugar, que os saberes indígenas,
cultural, étnica, linguística e epistêmica, na perspectiva quilombolas e de outras populações de culturas diferenciadas
do desenvolvimento de práticas educativas ancoradas tivessem o mesmo valor que os de uma matriz epistêmica
no interculturalismo e no respeito ao caráter pluriétnico e eurocêntrica. Nessa direção, procurou-se que tais saberes
plurilíngue da sociedade brasileira.(BRASIL, 2017) fizessem parte de espaços representativos da matriz curricular

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para o ensino-aprendizagem e não fossem fundamentalmente


desvalorizados e silenciados. Tratou-se de ação essencial
para uma pedagogia voltada para a justiça social e para uma PARA REFLETIR
conduta ética diante da diferença, elemento central de nossa
constituição como Nação e sujeitos. A dicotomia entre matriz Você identifica a presença dos diversos saberes e
comum e secundária apenas ratifica a colonialidade do saber,
como já mencionado. A primeira medida nessa direção foi epistemologias no currículo escolar? Estão contemplados no
buscar uma definição de BNCC tecida em novas possibilidades seu planejamento?
de pensar e construir propostas de Educação fundamentadas
nos princípios da interculturalidade, da transdisciplinaridade
e da intercientificidade. É preciso aplaudir essa ideia não por
força de lei, mas do respeito de uns para com os outros. Nesse
sentido, não basta articular saberes e abrir as fronteiras entre Essas reflexões sobre os conhecimentos até então priorizados
as disciplinas. É necessário transformar aquilo que gera essas no currículo, feitas por um intelectual indígena, reafirmam o propósito
fronteiras – os princípios organizadores do conhecimento –, ou
seja, urge desenvolver um pensamento apto para perceber as deste curso e do próprio trabalho da Equipe Multidisciplinar dentro
ligações, as interações e as implicações mútuas e, ao mesmo
tempo, as diferenças e a complexidade da diversidade cultural
das escolas: ouvir os indígenas, a partir de sua própria voz, da sua
e linguística brasileira.(BANIWA, Gersem, 2019, p. 50, 51) própria escrita e do seu próprio pensamento.
Para serem lidos e ouvidos, os autores indígenas transpuseram
Conduzidos pela perspectiva de Gersem Baniwa, ainda nesse as suas fronteiras culturais e passaram a compreender a língua do
artigo, somos provocados, enquanto educadores, a interrogar-nos sobre outro, dominar seus instrumentos, disponibilizando seus alertas, seus
como os conhecimentos que compõem as disciplinas e os currículos conhecimentos, seus saberes aos falantes da Língua Portuguesa, que
escolares e acadêmicos têm reforçado apenas a visão ocidental de tenham olhos dispostos a ler e ouvidos para escutar.
mundo e de conhecimento, mostrando que revisar o currículo, em um Ao contrário do que muitos afirmam, ao fazer essa transposição,
contexto como o da publicação da BNCC, permite introduzir outras tais autores não perderam o ponto de referência de sua cultura. E
matrizes de pensamento que superem a hierarquização e inferiorização é desse ponto de vista que oferecem seus conhecimentos, escritos
de tudo o que não é europeu ou ocidental: na Língua Portuguesa, para que sejam acessíveis também aos não
indígenas.
A BNCC tem de ajudar a evitar a continuidade da reprodução A coletânea de textos (escritos, animados, documentados), a
da matriz epistêmica ocidental que se coloca acima de
outras, como se o conhecimento se resumisse a ela. As seguir, são obras escolhidas pelo valor epistêmico e pelas possibilidades
outras epistemologias não podem aparecer somente como
secundárias e folclóricas. Desse modo, segue-se inferiorizando
de serem transpostas didaticamente para a sala de aula.
as culturas indígenas e quilombolas, matrizes centrais da
noção de País, o que traz impactos para as comunidades e
também desperdiça a possibilidade de uma formação voltada, Expressões do Pensamento Indígena
de fato, para a diversidade. É necessária uma clara afirmação
da contemporaneidade dos saberes e da existência dos povos
e de suas culturas. A diversidade precisa ser tratada como Os Textos Filosóficos
um elemento epistêmico e político ou como possibilidade
de transformação social. Ela continua sendo vista como Se a Antropologia é um campo de estudo que se constituiu no
um caráter pontual e, assim, não contém a possibilidade de
transformação. É necessário problematizar, inclusive, a noção olhar para o outro como objeto de pesquisa, também é por meio dela
de violência interétnica, base de formação do País e dinâmica que, mais recentemente, podemos propor olhar o outro como um
contemporânea de exclusão de diversos grupos. (BANIWA,
Gersem, 2019. p. 48). sujeito, como faz lindamente o etnólogo Bruce Albert, ao trazer ao
público, em forma de livro de dupla autoria, o pensamento de Davi
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Kopenawa Yanomami, por meio do livro: A Queda do Céu. acontecimento político e espiritual muito mais amplo, e de
muito grave significação, que ele representa. Chegou a hora,
O prefácio do livro, escrito por Eduardo Viveiros de Castro, e em suma; temos a obrigação de levar absolutamente a sério
o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa — os índios
o primeiro capítulo da obra são nossa proposição de leitura, neste e todos os demais povos ‘menores’ do planeta, as minorias
momento, pois possibilita ao leitor dimensionar o trabalho realizado no extra-nacionais que ainda resistem à total dissolução pelo
liquidificador modernizante do Ocidente (CASTRO, Viveiros,
fabrico do livro e a grandeza das suas contribuições para a ampliação 2015, p.15 )
do conhecimento ocidental.
(...)
O livro A Queda do Céu tem sido intensamente lido e discutido
Mas A Queda do Céu é um ‘objeto’ inédito, compósito e
em círculos acadêmicos, extrapolando as fronteiras brasileiras. complexo, quase único em seu gênero. Pois ele é, ao mesmo
tempo: uma biografia singular de um indivíduo excepcional,
Viveiros de Castro, na apresentação que faz no prefácio de A Queda
um sobrevivente indígena que viveu vários anos em contato
do Céu, compara-a com o texto canônico Tristes Trópicos, de Claude com os Brancos até reincorporar-se a seu povo e decidir
tornar-se xamã; uma descrição detalhada dos fundamentos
Lévi Strauss. Para ele, a obra representa uma ruptura no pensamento poético-metafísicos de uma visão do mundo da qual só agora
etnográfico “que desloca, inverte e renova o discurso da antropologia começamos a reconhecer a sabedoria; uma defesa apaixonada
do direito à existência de um povo nativo, que vai sendo
sobre os povos ameríndios, redefinindo suas condições metodológicas engolido por uma máquina civilizacional incomensuravelmente
e pragmáticas de enunciação” (CASTRO, 2015, p.12 ). mais poderosa; e, finalmente, uma contra-antropologia arguta
e sarcástica dos Brancos, o “povo da mercadoria”, e de sua
Dentre os destaques à magnitude do trabalho, feitos no prefácio relação doentia com a Terra — conformando um discurso que
Albert (1993) caracterizou, lapidarmente, como uma “crítica
da obra, recortamos o seguinte trecho que mostra o contexto que xamânica da economia política da natureza”. (CASTRO,
possibilitou a realização dessa produção: Viveiros, 2015, p. 27)

Tardou, alguns dirão, a publicação de A queda do céu em Propomos aqui a leitura de partes do livro: A Queda do Céu.
nosso país, onde nasceu o autor principal, onde o livro foi
quase inteiramente elaborado, e ao qual ele privilegiadamente
Palavras de um xamã yanomami, que são disponibilizadas em formado
se refere. Mas para uma obra de mais de 700 páginas, que pdf pela editora: Palavras Dadas, Prólogo e Capítulo 1
levou vinte anos sendo gestada, que tem atrás de si trinta de
convivência entre os signatários de um “pacto etnográfico” (em
cujas entrelinhas se firma um pacto xamânico) sem precedentes
na história da antropologia, e cerca de quarenta de contato do
etnólogo-escritor com o povo do xamã-narrador, cinco anos
não chega a ser muito tempo. E a hora é boa. (CASTRO, 2015,
p.12).

Os elogios à obra são convidativos e o mergulho nessa


densidade de páginas confirma cada palavra elogiosa e pode provocar Disponível em:
transformações no olhar docente, para a cultura dos nossos povos
<https://www.companhiadasletras.com.
originários: br/trechos/12959.pdf>

A Queda do Céu é um acontecimento científico incontestável,


que levará, suspeito, alguns anos para ser devidamente
assimilado pela comunidade antropológica. Mas espero
que todos os seus leitores saibam identificar de imediato o

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A leitura desses trechos do livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert,


nos provoca reflexões profundas, não sendo por acaso que ele tem
sido muito discutido nos meios acadêmicos e por aqueles que desejam
conhecer o pensamento indígena. Muitos livros já foram publicados Cadernos Selvagens
por escritores indígenas e, para além deles, mais recentemente, o meio
http://selvagemciclo.com.br/cadernos/
virtual tem sido espaço importante de visibilidade das produções
intelectuais indígenas, que viabilizam algo que lhes é essencial: a
oralidade. Desejamos um bom mergulho!
Conversas Selvagem, um canal do YouTube que apresenta
conversas abertas ao público entre Ailton Krenak e convidados
é um bom exemplo disso. O canal se originou do Ciclo de Estudos
Em uma das rodas de conversas do ciclo de estudos sobre a vida,
Selvagem, que teve início em 2018, e incluiu eventos, rodas de
com o tema Céu, no Teatro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
conversas e publicação de livros com pesquisadores de culturas
Carlos Papá, líder e cineasta Guarani, falou sobre o Desabrochar da
distintas, e que se valem de mecanismos próprios de estudo. Nelas,
Noite (Pytun Jera, em Guarani Mbya). Uma reflexão dialógica sobre a
são apresentadas suas perspectivas e conhecimentos sobre a vida.
forma de pensar Guarani, a respeito do escuro, do vazio e do silêncio.
Com a mediação de Ailton Krenak, são criadas, em torno de eixos
Sua escuta ou leitura nos provoca reflexões sobre a forma de vermos o
temáticos, as correspondências entre saberes científicos, indígenas,
mundo. Convidamos à escuta de Carlos Papá, nesta roda de conversa.
artísticos, acadêmicos e ancestrais. Representa um bom subsídio para
instrumentalizar professores e professoras ao abordar os saberes,
cosmologias e culturas indígenas em suas aulas. Recomendamos
um mergulho na página que possui muitos materiais disponíveis, em PYTUN JERA - DESABROCHAR DA NOITE
formato pdf, para baixar gratuitamente.
Autor: Carlos Papá
Acesso ao material:
Vídeo: Carlos Papá no Selvagem 2019: Céu
https://www.youtube.com/watch?v=o8LYj9mqr4o

Fala apresentada na roda de conversas Céu, durante o Selvagem, ciclo


de estudos sobre a vida, no Teatro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
A página do Ciclo
em 14 de novembro de 2019 e postada na Página do Youtube Selvagem
de Estudos Selvagem em 10 de fev. de 2020.
pode ser conhecida na
Texto: PYTUN JERA - DESABROCHAR DA NOITE, relato escrito
íntegra, em:
da fala de Carlos Papá
http://selvagemciclo.com.br/ http://selvagemciclo.com.br/wp-content/uploads/2021/04/CADERNO18_
PAPA-1.pdf

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PARA REFLETIR
Convidamos a assistir ao
Que pensamentos nasceram em você ao ouvir ou ler o Carlos vídeo de Geni Nunez:
Papá? Que outras concepções sobre o escuro, o vazio e o
silêncio você conhece? Como você vivencia esses elementos? Fala pública - Residências
Que significados esses elementos têm para você? Essa visão MAM, com Geni Núñez
do dia e da noite traz alguma reflexão sobre seu cotidiano e
modo de viver?
Disponível em:
https://www.facebook.com/watch/live/?v=184407193540650&ref=watch_
permalink

Considerada como uma importante ativista no movimento Geni Nuñez também publica textos autorais nas redes sociais, que
indígena, Geni Nuñez, indígena de etnia Guarani, psicóloga, mestre visam desconstruir, ressignificar e expressar diferentes perspectivas
em Psicologia Social, doutoranda em Ciências Humanas pela de mundo e de viver o mundo.
UFSC e autora do livro infantil Jaxy Jatere: Um Saci Guarani, tem
desenvolvido estudos com enfoque teórico anticolonial e decolonial,
Vestida estou de minha alegria
com pesquisas sobre branquitude e outras colonialidades. Suas falas
têm problematizado, com muita densidade teórica, a monocultura do Vestida estou de minha alegria.
pensamento colonial, que impera sobre os aspectos da vida e que
invisibiliza a manifestação da concomitância, da diversidade. Tenho em mim todas as idades do mundo.
Em uma fala pública para o Programa de Residências do Museu
Se a maior parte do meu corpo é água,
de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM, Geni aborda vários
aspectos da vida contemporânea, que são tecidos pela Temporalidade. também sou rio.
No desdobramento da sua apresentação, ela aponta os efeitos da
Se só existo se respiro, também sou vento.
crononormatividade sobre a forma com que a sociedade ocidental vê
os modos de vida dos povos indígenas, refletindo sobre a circularidade Os trilhões de micro-organismos que convivem em mim, em nós, não
versus a linearidade do tempo. me deixam reivindicar a autoria individual do ser que somos.

Com quantos milhões de seres se faz nosso sorriso, lágrimas, gozo?

A cada vez que vejo o pôr do sol, a chuva, festejo a lembrança de


saber que também sou (parte do) sol, da chuva, da terra.

Toda vez que machucamos a terra é uma autodestruição.

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Reconstruo minha autoestima amando meus parentes: “puxou a Você observou paralelos entre a fala de Carlos Papá e Geni Nunez
cara do rio, é o mar escrito, é igualzinha uma árvore”. e a necessidade de afirmação da contemporaneidade dos saberes
e da existência dos povos e de suas culturas, apontada por Gersem
Isso que quero ouvir e lembrar, com lágrimas nos olhos, as mesmas
Baniwa ao discorrer sobre a BNCC?
que orvalham as folhas, recupero e retomo meu direito de estar
aqui,

com-vivendo e me (des)envolvendo nos fios que fazem nosso A Poesia


planeta-casa continuar circulando, sendo mais um entre muitos,
pequeno e imenso ao mesmo tempo. Márcia Wayna Kambeba, geógrafa e poeta, é indígena do povo
Omágua/Kambeba e bisneta de boto. “É o que ela conta ter ouvido
Abraço o que sou e sigo, sorrindo com os trilhões que me habitam.
do bisavô Daniel, todas as tardes de sua infância em São Paulo de
Nem a grama mais verde, nem a mais amarelada ou marrom, Olivença (AM):
nenhuma é propriedade de vizinho algum.
“Avó Assunta [que Márcia chama de mãe] me mandava, todo
dia, às três da tarde, ouvir o bisavô Daniel contar histórias.(...)
Não invejo quem lida com vidas como quem possui objetos, pois Eu tinha então meus 10, 12 anos, e o bisavô Daniel contava que
nem mesmo minha eu sou. ele era filho de boto. Que o pai dele era boto.” Se o bisavô era
filho de boto, a mãe da menina era a avó. Sim, avó-mãe Assunta,
pororoca de pajé e freira, a que a criou e guiou os caminhos
Celebro a certeza de quem um dia me tornarei minhoca, formiga, do seu destino-rio, desde o nascimento na aldeia Ticuna, em
terra, sempre. Belém dos Solimões (AM). (DI GIACOMO, 2021)

Em toda forma e cor que fui sou e serei, sou apenas parte e ser Em seus poemas Márcia apresenta a relação do seu povo com a
parte é infinito. floresta e com as cidades. Sua forma particular de poetizar e cantar
expressa os elementos culturais e as visões de mundo do seu povo
(NUÑEZ, Geni, 2021) enquanto olha criticamente para a cultura colonial e seus efeitos sobre
as populações indígenas.

PARA REFLETIR Poesia:


Como este texto poderia ser explorado em sua aula? Que A Árvore me pintou,
Acesso ao material:
aspectos abordados por Geni, em seu texto, expressam diferentes Marcia Kambeba.
<https://www.youtube.com/watch?v=lySdMFrOoio&ab_channel=M%C3%A1rciaWaynaKambeba>.
concepções que podem ser discutidas com os estudantes? É Acesso em: 21 de agosto de 2021.

possível estabelecer relações entre os conteúdos de sua disciplina Acesso ao material:


________________________________________________________________________________
de formação e as reflexões da autora?
<https://www.youtube.com/watch?v=lySdM-
Território ancestral
Você observa a crononormatividade mencionada pela autora na FrOoio&ab_channel=M%C3%A1rciaWaynaKam-
Maá munhã ira apigá upé rikué
abordagem da história e cultura indígena na sala de aula? beba>. Acesso em: 21 de agosto de 2021.
Waá perewa, waá yuká

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Território ancestral Mesmo vivendo na cidade


Nos unimos em um único ideal
Maá munhã ira apigá upé rikué
Waá perewa, waá yuká Na busca pelo direito

Waá munhã maá putari. De ter nosso território ancestral.


(tradução) O que fazer com homem na vida
O que fazer com o homem da vida Que fere, que mata
Que fere, que mata Que faz o que quer?
Que faz o que quer?
Do encontro entre o “índio” e o “branco” (KAMBEBA, Marcia, 2017)
Uma coisa que não se pode esquecer
Das lutas e grandes batalhas
Para o direito a terra defender. Para mais poesias indígenas, recomendamos o acesso ao dossiê
A arma de fogo superou minha flecha
Poesia Indigena Hoje, livro recentemente publicado com textos de
Minha nudez se tornou escândalo
27 poetas indígenas e que pode ser acessado gratuitamente pelo
Minha língua foi mantida no anonimato
portal: http://www.p-o-e-s-i-a.org/dossies/.
Mudaram minha vida, destruíram meu chão.
Antes todos viviam unidos Eliane Potiguara, indígena autora do livro Metade Cara, Metade
Hoje, se vive separado. Máscara, é a homenagenada nesse dossiê, e faz um convite ao público
Antes se fazia o Ajuri para um mergulho no conteúdo da página (@p_o_e_s_i_a_.o_r_g). Essa
Hoje, é cada um para o seu lado. página é interessante, pois, além das publicações escritas tem interface
Antes a terra era nossa casa voltada para a divulgação da poesia no meio virtual. Os vídeos curtos,
Hoje, se vive oprimido. com a participação dos poetas e das poetas indígenas, são um rico
Antes era só chegar e morar material para ser utilizado em sala de aula, pois valorizam a figura dos/
Hoje, o território está dividido. as autores/as indígenas, juntamente com a sua obra.
Antes para celebrar uma graça
Fazia-se um grande ritual.
Hoje, expulso da minha aldeia Vídeo:
Não consigo entender tanto mal. POTIGUARA, Eliane.
Como estratégia de sobrevivência
Metade Cara, Metade Máscara.
Em silêncio decidimos ficar.
São Paulo. 29/09/2020.
Hoje nos vem a força
Instagram.
De nosso direito reclamar.
Perfil @p_o_e_s_i_a_.o_r_g.
Assegurando aos tanu tyura
A herança do conhecimento milenar. Disponível em:
Mesmo vivendo na cidade https://www.instagram.com/p/CFuZkPcDGuC/. Acesso em: 11/08/2021.

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No vídeo, @elianepotiguara apresenta um trecho de seu livro "Metade lado já tinha caminho aberto, e assim Kahnrú desenvolveu
mais o pensamento e a subjetividade. Esta história presente
Cara, Metade Máscara”, atualmente já na 3ª edição pela GRUMIN no imaginário Kaingang organiza este povo em duas metades
Edições (2018). complementares: a força e a espiritualidade. Assim são
escolhidos os casamentos, entendidas a fauna e a flora e
delineadas as pinturas corporais.” (LABCULTURA VIVA, 2013)

As Narrativas Mitológicas Observa-se que a mitologia Kaingang se apoia sobre uma


distinção e uma assimetria (a dualidade kamé/kanhru) e a partir deles:
Conforme abordado no módulo I, foram as narrativas míticas
indígenas que circularam com maior abrangência entre os meios a organização social kaingang se caracteriza pela existência de
metades concebidas idealmente como exogâmicas, existindo
escolares e sociais. Essa disseminação foi historicamente marcada entre elas uma relação assimétrica e complementar, a metade
kamé sendo considerada primeira porque possui “mais força”
pelo olhar folclórico, de estranhamento e preconceito. Entretanto, é
que a metade kairu. Cada metade comporta uma subdivisão
principalmente através das narrativas mitológicas contadas oralmente ou seção: os veineky e os votôro, associados respectivamente
aos kamé e aos kairu. Uma criança pertence automaticamente
que os conhecimentos e ensinamentos são transmitidos nas sociedades à metade de seu pai e deve em princípio casar-se na outra
indígenas. metade. O dualismo kaingang se exprime ainda em muitos
outros aspectos da vida, particularmente nas nomenclaturas
Atualmente, indígenas e não indígenas têm o privilégio animais, sendo muitas espécies consideradas pertencentes a
uma ou a outra metade (NIMUENDAJU, 1993 Apud. CREPEAU,
de conhecê-las por meio das publicações escritas e produções 1997, p.176)
audiovisuais, amplamente divulgadas nas redes sociais.
Eliane Potiguara, uma das primeiras mulheres indígenas a Recomendamos dois vídeos que contam o mito de origem do
despontar no universo da publicação de livros, foi incisiva na sua fala povo Kaingang:
sobre a conquista desse território por indígenas, escrevendo para
poder contar sua própria versão das histórias de seu povo. Seguindo
seu exemplo, muitos indígenas passaram a publicar em Língua Vídeo:
Portuguesa e nas suas línguas maternas, processo que se intensificou Kame + Kanhru
ainda mais com a promulgação da Lei n.º 11645/2008 e seus efeitos
sobre as políticas de aquisição de livros infanto-juvenis, destinados
às bibliotecas escolares. Isso tornou possível o acesso aos textos Produzido sob direção de José Boita Jr.,
mitológicos indígenas aos leitores da Língua Portuguesa. como parte do Projeto Lab Cultura Viva,
originado pelo Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, Instituição: Instituto
Dentre as inúmeras possibilidades de narrativas indígenas
Kaingang da Cidade: Ronda Alta/RS. Apresenta uma parte em
disponíveis, apresentamos, nesta unidade, três narrativas mitológicas Kaingang, com legenda em português e uma parte narrada em Língua
de etnias que coabitam o território paranaense: um mito Kaingang, Portuguesa. Mostra pinturas corporais e sua importância na designação
um mito Guarani, um mito Xetá. das metades Kamé e Kanhru. Também apresenta cânticos.
Duração de 8 minutos.
No mito Kaingang afirma-se que:
Acessar o conteúdo em:
“Dois irmãos Kaingang desceram da montanha onde moravam, Para representar a mitologia Guarani, utilizaremos a narrativa
cada qual por um lado diferente. Um lado era mais íngreme, e <https://www.youtube.com/watch?v=XAeha2RmlXI>
Kamé desenvolveu-se mais forte e tornou-se guerreiro. Outro

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Vídeo:
Mito da Criação
Formação do universo, do
planeta Terra.
Conto do Povo Kaingang –
Vozes Ancestrais
A animação foi produzida como parte integrante do Documentário "
(Narração Daniel Munduruku): O Povo Dourado somos todos nós" A animação foi idealizada, dirigida,
Vídeo produzido por Sandro Pauli produzida e editada por David Vidad. Os desenhos foram feitos por
com desenhos em tempo real. Beto Silva mesclando técnicas de óleo e spray em algodão cru. O texto
Duração de 6 minutos. e narração foram elaborados por Kaká Werá - presentes no livro "O mito
tupi-guarani da criação" A trilha sonora foi composta pela Orquestra
Acessar o conteúdo em:
Sinfo Picollo Alemanha.” Para acesso ao documentário completo “O
<https://www.youtube.com/watch?v=rtO8o6bKPew>
Povo Dourado somos todos nós"

(01:10:00 Duração), acessar: <https://vimeo.com/120694484>

Para representar a mitologia Guarani, utilizaremos a narrativa


da criação do mundo, segundo esse povo, através da leitura do texto
escrito por Kaká Werá “A Voz do Trovão” e da animação de David Vidad
e Beto Silva, “Mito da Criação”. Essa produção, que anima o texto de
Kaká Werá, trata de uma origem comum a diversos povos, que nos faz
refletir sobre a relação entre indígenas e não indígenas e seus conflitos Acesso à animação extraída do documentário (Duração de 13 min.) em:

e que nos provoca àquilo que é próprio das narrativas mitológicas: <https://www.youtube.com/watch?v=cwvZ8dXYx5g>

trazer a reflexão sobre o estar no mundo, a partir do pensamento, das


Narração feita por Kaká Werá - presente no livro “O mito tupi-guarani da
formas de entender de um povo, de uma comunidade, de uma cultura. criação.
Nesse caso, do contato entre diferentes culturas.

A memória coletiva dos Xetá, registrada na década de 1960 pelo


Texto: A VOZ DO TROVÃO (A criação do mundo segundo os guaranis)
professor Aryon Dall’Igna Rodrigues, em seus trabalhos de campo
Autor: Kaká Werá
junto a este povo, trata das narrativas de origem A Água Grande e A
Acesso ao material em: História do Fogo. Transcrevemos a versão apresentada no livro Jané
A animação foi produzida como parte integrante do Documentário “ O Povo
<https://pindorama.art.br/file/MitoGuarani-VerCompl.pdf> Recó Paranuhá: Narrativas Xetá, organizado por Rosângela Faustino,
Dourado somos todos nós” A animação foi idealizada, dirigida, produzida e
Marta Chaves e os professores de Língua Xetá: Claudemir e Júlio Cézar
da Silva.

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A Água Grande da Terra, deixando eles sem o seu calor para preparar alimentos.
Assim, ele falou: - Oh, minha irmã! Vou trazer fogo para nós. Ela lhe
Em um tempo distante, caiu uma chuva muito forte que destruiu perguntou: - De que jeito você conseguirá isso? Ele respondeu: - Virá
quase toda a Terra. As águas foram se juntando: das pequenas do céu. Eu vou virar uma carniça e o urubu-de-cabeça-vermelha vai
às maiores, até que ela ficou muito alta, grande e forte. As águas nos trazer o fogo.
derrubaram e arrastaram matos, árvores e aldeias. Enfim, tudo o que
tinha na Terra foi coberto pelas águas. Todos morreram afogados,
exceto um casal de irmãos. Eles viram uma palmeira muito alta tombada A História do Fogo
em sua direção na correnteza, se jogaram em suas folhas e agarram-se
nelas. Antes de roubar o fogo do urubu, os Xetá assavam a caça no
Naquele momento Deus os ajudou e aquela palmeira se fixou ali calor do sol. Depois da grande chuva o céu se separou da terra e o
e não foi arrastada pela correnteza. A palmeira era muito alta e seu casal de irmãos que sobreviveu não pode mais assar a caça porque
tronco muito forte. Os dois ficaram agarrados nela, lá no alto. A água não tinham o calor do sol que assava tudo, e nem o fogo.
subiu, subiu, subiu, mas não chegou até os dois irmãos. Ali só tinha Naquele tempo o fogo pertencia ao urubu-de-cabeça-vermelha.
água, nada mais. Só sobreviveram eles. Ele tinha os paus de fazer fogo e guardava-os dentro de um estojo.
Passou algum tempo, a palmeira produziu frutos. O irmão disse Então, o menino resolveu roubar o fogo do urubu. Para isso decidiu se
para a irmã: - Acredito que as frutas estejam maduras. A partir de fingir de morto, pois o mau cheiro atrairia o urubu.
então, os irmãos passaram a se alimentar daqueles coquinhos de jerivá. O menino deixou o arco e a flecha em casa e foi para o mato com
À proporção que acabava um cacho, nascia outro, não lhes faltando sua irmã. Lá construiu um abrigo de folhas para se protegerem dos
o que comer. Até que um dia não nasceram mais frutas e o tempo animais, enquanto ele se fingia de morto. Deixou a irmã no abrigo e
continuava escuro. O casal de irmãos gritou tão alto que as saracuras foi para o local que ficaria deitado. Fez um encosto de madeira para a
e outras aves aquáticas, que estavam muito longe deles, os ouviram cabeça e se deitou, ficando imóvel, de olhos fechados, fingindo estar
e seguiram em direção aos gritos, trazendo terra em seus bicos. Aos morto. As moscas varejeiras vieram e puseram ovos no couro cabeludo,
poucos o chão foi aterrando e secando. Algumas aves foram jogando nos olhos, em todo o corpo. Ele virou uma carniça. Dos ovos saíram
terra, outras pisando para firmá-la e outras fincando pequenos paus varejeiras, que ficaram se mexendo nele, mas o menino não se movia,
que formam as árvores que temos hoje. estava morto.
As árvores e os matos se formaram outra vez. Os bichos Então, veio um urubu. Sobrevoou o lugar, foi baixando aos poucos
chegaram onde estavam os dois irmãos, que desceram e conversaram e pousou numa árvore próxima. Vendo que o menino não se mexia,
com os bichos: o passarinho, a saracura, o tuiuiú e outros animais. desceu e foi espiar de perto. Como ele não se mexia, voou e chamou
Eram pássaros grandes e falavam o nosso idioma, pois antigamente os os outros urubus.
bichos falavam a nossa língua. Pouco depois chegaram os corvos e todas as espécies de urubus.
O menino fez um arco e flecha para caçar animais e deles se O urubu-de-cabeça-vermelha queria assar o menino, por isso ele
alimentarem, mas agora eles não tinham mais calor do sol para assar a trouxe o estojo em que guardava o pau de fazer fogo. Enquanto ele
caça, porque quando as águas baixaram o sol não estava mais próximo fazia o fogo e arrumava a fogueira, o menino abriu um olho para poder

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ver como o urubu-de-cabeça-vermelha fazia o fogo. Mas o urubu viu Valendo-se das narrativas mitológicas de diferentes culturas
o menino abrir o olho e voou para cima de uma árvore, avisando aos indígenas, Ailton Krenak e o Grupo de Estudos Selvagem produziram
outros que o menino não estava morto, porque ele tinha aberto um (o que denominaram como) uma compostagem de imagens, saberes
olho. indígenas e narrativas sobre a origem da vida, dialogando com as
O urubu-de-cabeça-vermelha aproximou-se do menino para vê- hipóteses da ciência ocidental: A Serpente e a Canoa. A animação
lo de pertinho. Viu que ele estava cheio de bichos, e disse: - Ele está mostra uma viagem por teorias científicas contemporâneas e memórias
morto mesmo! Em seguida, todos os outros urubus aproximaram-se das culturas ancestrais.
do menino para carregá-lo até o fogo, mas não conseguiram, pois o
menino pegou o seu encosto de madeira e com pauladas espantou os O fio condutor deste episódio costura duas narrativas: a
urubus, que voaram assustados. O menino gritou para a irmã sair do da canoa cobra, memória originária de povos rio negrinos
e a serpente cósmica, presente em mitos de origem de
esconderijo e pegar um pedaço de lenha acesa. Ela foi rapidamente
diferentes culturas, vista como a dupla hélice do DNA,
até o fogo, pegou e correu para dentro do abrigo. código de memória presente em tudo que é vivo. A
O menino jogou o encosto de madeira no urubu-de-cabeça- viagem percorre uma sequência que entrelaça saberes
indígenas e hipóteses científicas sobre o surgimento da
vermelha que estava com o estojo de fazer fogo, que fugiu, deixando-o
Vida. (DANTES, Anna, 2021).
com o ancestral dos Xetá.
O menino se escondeu no mato e depois os dois foram ao rio
para o menino se lavar e tirar os bichos do corpo. E começou a tirar os
bichinhos e jogá-los no chão, na margem do rio.
Vídeo:
FLECHA 1 -
A SERPENTE E A CANOA

Direção artística, roteiro e


pesquisa: Anna Dantes
Orientação e narração: Ailton Krenak
Produção: Madeleine Deschamps

Acessar o material em:


<https://www.youtube.com/watch?v=Cfroy5JTcy4&ab_channel=SELVA-
GEMciclodeestudossobreavidaSELVAGEMciclodeestudossobreavida>

(FAUSTINO, et al, 2013)

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A Serpente e a Canoa é uma narrativa baseada nos livros: A Essa flecha selvagem, ela vai ser acompanhada das irmãs
dela, ela é a flecha um. Ela vai acompanhar uma sucessão
Serpente cósmica, o DNA e a origem do saber de Jeremy Narby; Antes de lançamentos de flechas que querem trazer uma narrativa
o mundo não existia de Umusï Pãrõkumu e Tõrãmü Këhíri e O mundo sobre esse mundo que nós compartilhamos e que integra o
pensamento contemporâneo de cientistas, de biólogos, de
Tukano antes dos brancos de Álvaro Tukano. filósofos, de gente que estuda astronomia e que atualiza as
narrativas que eram chamadas até agora de narrativas míticas
Se há uma emergência em ressignificar a vida e os modos de e que constitui uma obra importante de alguém como Lévi
vida, o caminho para que isso aconteça, segundo esses autores, passa Strauss por exemplo. Nas suas Mitológicas, e em toda a
grande obra dele, onde ele traz para conhecimento do mundo,
por mobilizar a diversidade, pelo reconhecimento da concomitância principalmente acadêmico, os mitos, as narrativas de povos
de explicações, significados e sentidos, resistindo às hierarquizações e originários que não eram escritas e que estavam na memória.
Nós queremos convocar essas narrativas nas vozes desses
generalizações, bem como às visões hegemônicas e supremacias. Um povos que estão presentes no concerto do mundo hoje. Para
que elas dialoguem com a ciência. Nós queremos que seja
mundo que expressa tamanha diversidade, em todos seus aspectos, aberta uma possibilidade do diálogo da ciência hoje pra ter
não pode ser limitado por um pensamento homogeneizante. É preciso sentido a expressão de que o futuro é ancestral e como a
gente acha que o futuro é agora: é o presente, nós estamos
“mais uma narrativa sobre o mundo” como afirma Ailton Krenak ao dizendo que o presente é ancestral. É quando converge o mais
falar do objetivo do vídeo A Serpente e a Canoa: recente pensamento científico, a interpretação científica com
as narrativas ancestrais. Então não é só uma frase dizer que
o futuro é ancestral. É uma observação sobre esse possível
[...]“Eu queria que todo mundo pudesse assistir essas imagens diálogo entre os cientistas e os pajés, os narradores.
que mostram como a vida chega ao nosso planeta, a esse
nosso mundo, trazendo uma outra possibilidade das crianças O selvagem, esses encontros presenciais que a gente começou
imaginarem mundos que não seja só aquela narrativa que lá no Jardim Botânico, eles já guardavam esse desejo, essa
já é muito consolidada, que é colonial e que é uma ideia intenção. As flechas é uma maneira dessa intenção agora
eurocêntrica. Aquela criação de mundo que a Europa entendia alcançar muito mais ouvintes, em vários lugares do mundo,
que era a maneira de contar sobre esse mundo e que acabou é o alvo da flecha. Talvez seria bacana a gente imaginar que
sendo a única, porque é ela que está nos livros didáticos, é ela o alvo dessa flecha são os corações que estão abertos para
que está nos materiais escolares e em toda a informação que outras histórias, outras histórias sobre nós, sobre os humanos.
chega para as crianças. Então, eu achei muito bacana poder E que ajude a responder aquela pergunta: O que somos? Não
oferecer mais uma narrativa sobre o mundo. Ela não precisa quem somos! Mas o quê somos. Esse Homo sapiens é o que.
ser única e nem deve ser a única, porque como a Chimamanda Ele veio da avó do mundo? Ele veio da jiboia, Ele veio do
disse: - um mundo com uma única história é muito pobre! cristal primordial, um cristal maravilhoso que reflete luz? Ele
Então é maravilhoso a gente ter um mundo com muitas vem da gotinha de água? Ele veio do cosmos viajando numa
narrativas porque eles podem também ser plurais, muitos mensagem de DNA para dar nisto que somos nós, que a gente
mundos, pluriverso. Eu fiquei super animado com a resposta da fala: Somos os humanos. KRENAK, Ailton & Dantes, Anna.
pesquisa de imagens, com tantas imagens bonitas, de tantas 14/05/2021, 1:18:44 até 1:22:43 h, transcrição livre)
culturas. Mais uma vez a diversidade de visões de mundo que
as imagens trazem e, dialogar as narrativas não ilustradas de
criação do mundo com essas imagens é uma liberdade também A flecha 2, O sol e a flor, associa diferentes visões sobre a relação
que a gente se propõe: a liberdade de convocar tantas vozes
para contar uma história plural, uma orquestra.[...] (KRENAK, do SOL com a vida na Terra.
Ailton & Dantes, Anna. 14/05/2021, 19:25 a 21:29m, transcrição
livre)
Com base no livro Biosfera, de Vladimir Verndasky, Ailton Krenak
narra sobre a interação dos raios cósmicos com a matéria verde,
Esse projeto de Ailton Krenak e colaboradores, denominado transformando a Terra em um “supraorganismo vivo”:
Flecha Selvagem, que se iniciou com a flecha 1: A Serpente e a Canoa,
Uma visão da vida onde tudo está absolutamente relacionado,
segue com outras produções. das cianobactérias ao ozônio. A fotossíntese se apresenta
como chave de manutenção do equilíbrio dinâmico e para
a regulação da Biosfera. A Teoria de Gaia flui em diálogo

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com a suspensão do céu na compreensão yanomami. Para Afirmada a busca dos autores indígenas de escreverem suas
além da narrativa científica, é uma flecha propulsionada,
em sua essência, pela narrativa Guarani sobre Nhanderu, o próprias teorias em termos também específicos, adequados à sua
desdobramento do escuro em sol e do sol em flor. forma de pensar e agir no mundo, retomamos à obra abordada no
início deste texto, A Queda do Céu, mais especificamente à história
(Disponível em: contada por Viveiros de Castro no prefácio. Entendemos que é uma
https://www.youtube.com/watch?v=_jVxOs70hpQ&ab_
ótima provocação aos educadores que assumem a responsabilidade
channel=SELVAGEMciclodeestudossobreavida)
de contribuir na formação humana e ampliação de conhecimentos dos
adolescentes e jovens estudantes da escola pública. Ela nos convida
a ler mais sobre os povos indígenas, mas, sobretudo, a ler autores
indígenas, entendendo-os como embaixadores de seus povos na
Vídeo: disseminação dos seu próprio pensamento e perspectiva de futuro:
FLECHA 2 -
Começamos este prefácio, evocando a relação complexa da
O SOL E A FLOR obra A queda do céu, com a obra Tristes Trópicos. Voltemos
então a este último, recordando um episódio célebre onde
Lévi-Strauss conta seu diálogo com Luís de Sousa Dantas,
o embaixador brasileiro em Paris, às vésperas de embarcar
Acesso ao material em: para São Paulo, nos idos de 1934. No decorrer de um jantar
https://www.youtube.com/watch?v=_jVxOs70hpQ&ab_channel=SELVA- de cerimônia, o jovem futuro professor da USP indaga do
embaixador do país para onde se dirigia sobre os índios do
GEMciclodeestudossobreavida
Brasil. É então que ouve, perplexo e consternado, da boca do
diplomata:

Índios? Hélas, meu caro senhor, há muitos lustros que eles


desapareceram, todos. Esta é uma página muito triste, muito
vergonhosa da história de meu país. [...] Como sociólogo, o
senhor irá descobrir coisas apaixonantes no Brasil, mas índios,
nem pense nisso, o senhor não encontrará um só… (Lévi-
PARA REFLETIR Strauss 1955: 51)

Estou convencido de que o Sr. Luis de Sousa Dantas realmente


Que reflexões os vídeos: a Serpente e a Canoa e O Sol e a Flor não sabia que ainda havia índios no país que representava
— uma ignorância tão vergonhosa quanto a história dos
provocaram em você? Como elas impactam suas concepções? massacres evocada pelo pobre embaixador. E naturalmente
Quais abordagens podem ser pensadas envolvendo os mitos que Lévi-Strauss, como se sabe, encontrou índios no Brasil. Se
chegasse hoje, encontraria muitos mais; pois eis que agora,
indígenas e os vídeos, de modo a promover diálogo e reflexão oitenta anos mais tarde, não só há cada vez mais índios no
Brasil, como estes constituíram seus próprios embaixadores,
a respeito da pluralidade de narrativas, de conhecimentos e
nas figuras de Raoni, Mário Juruna, Ailton Krenak, Alvaro
expressões? Tukano, Marçal de Sousa, Angelo Kretã e tantos outros —
entre os quais, il va sans dire, brilha Davi Kopenawa. (CASTRO,
Viveiros. 2015, p. 38 e 39).

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Assim, como o embaixador que desconhecia a presença Autores indígenas citados


indígena no Brasil, pensamos que muitos estudantes e até professores
reconhecem a contribuição indígena como algo situado no passado,
fato mencionado por Geni Nunez como uma nova forma de
preconceito, de normatividade: a crononormatitivade. Reconhecer Gersem Baniwa
que há concomitância de diferentes povos, diferentes formas de ser
e de viver, diferentes pensamentos e olhares sobre a realidade, que Disponível em:
podem gerar futuros também diferentes, pode ser tarefa da Escola e <https://revistapesquisa.fapesp.br/como-pes-
quisadores-precisamos-ter-a-humildade-de-as-
de nós professores/as. Esperamos que a leitura, a escuta, o contato sumir-que-nos-deparamos-com-os-limites-da-
com a produção de autoria indígena incite a isso, e finalizamos este -tecnica-e-da-ciencia> Acesso em 02/08/21.
texto desejando que os planos de trabalho docentes sejam cada vez
mais repletos de referências indígenas. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas, mestre
em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Foi secretário
municipal de educação de São Gabriel da Cachoeira, co-fundador
da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
(COIAB) e da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
(FOIRN), diretor-presidente do Centro Indígena de Estudos e Pesquisa
(CINEP) e professor do curso de Licenciatura Específica Formação de
Professores Indígenas da UFAM.
Disponível em:
<http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoag/gersem-baniwa>

Carlos Papá
Mirim Poty

Da etnia Guarani Mbya, morador da aldeia


do Rio Silveira. Trabalha há mais de 20 anos
com audiovisual, focando-se em documentários, filmes e oficinas
culturais para os jovens. Também atua como líder espiritual em sua
comunidade. É presidente do Instituto Guarani da Mata Atlântica
(Iguama) e fundador e conselheiro do Instituto Maracá.

Disponível em:
http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoac/carlos-papa

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REFERÊNCIAS

Kaká Werá Jecupé BANIWA, Gersem, BNCC e a diversidade indígena: desafios e possibilidades,
pp. 38-55. In: CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, SIQUEIRA, Ivan
Cláudio Pereira (org) BNCC : educação infantil e ensino fundamental.
Processos e demandas no CNE (Conselho Nacional de Educação). São
Paulo : Fundação Santillana, 2019. Disponível em: https://pt.calameo.com/
Imagem disponível em: read/002899327e51e5d1a9430, Consultado em: 13/07/21.

https://www.abcdoabc.com.br/ BOITA JR, José (diretor). Kame + Kanhrú, Página LAB Cultura Viva, Rio
santo-andre/noticia/santo-andre-fortalece-ensino-culturas-afro-brasileira- de janeiro, 11 de dez. de 2013. Duração : 00:08:20 h, Disponível em: https://
indigena-16044 www.youtube.com/watch?v=XAeha2RmlXI, Acesso em: 11/08/2021.
Indígena de origem Tapuia, escritor, ambientalista, conferencista; BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CP Nº 2,
fundador do Instituto Arapoty, organização voltada para a difusão dos de 22 de dezembro de 2017.
valores sagrados e éticos da cultura indígena. É empreendedor social CASTRO, Viveiros. Prefácio. O recado da Mata. In: KOPENAWA, Davi.
da rede Ashoka de Empreendedores Sociais e conselheiro da Bovespa ALBERT, Bruce, A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami. São
Social&Ambiental. Paulo, Companhia das Letras, 2015, p.11- 41.

Texto retirado de: CREPEAU, Robert R. Crépeau. Mito e ritual entre os índios Kaingang
<https://feiradolivrodaunesp.com.br/kaka-wera-jecupe-e-a-sabedoria- do Brasil meridional. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 3,
i n d i g e n a - a n c e s t r a l / # : ~ : t e x t = K a k % C 3 % A 1 % 2 0 We r % C 3 % A 1 % 2 0 n. 6, p. 173-186, out. 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/
Jecup%C3%A9%20%C3%A9%20%C3%ADndio,e%20conselheiro%20da%20 Mzs7KTYfykVHkvmXgJ4HJ9b/?lang=pt
Bovespa%20Social%26Ambiental>
DANTES, Anna (Direção) Flecha 1 - A Serpente e a Canoa, Plataforma
Youtube. Página Selvagem: Ciclos de Estudos sobre a vida. 2021, 00:16:17h,
Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=Cfroy5JTcy4&ab_
channel=SELVAGEMciclodeestudossobreavida

ENGELS, Cecilia, PERENTE, Daniela, KURC. (direção). O Povo Dourado


Geni Nunez Somos Todos Nós (The Golden People are All of Us). Vímeo. Página do
Plano Astral Filmes. 01:10:00 Duração, 26/02/2015. Disponível em: https://
vimeo.com/120694484
Indígena da etnia Guarani.
FAUSTINO, Rosângela Célia, CHAVES, Marta, SILVA (XETÁ), Claudemir da,
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação SILVA (XETÁ), Júlio Cézar da. Jané Recó Paranuhá: Narrativas Xetá, Editora
Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC), na linha "Gênero e suas Eduem. Maringá, 2013.
interrelações com geração, etnia e classe". Mestre no Programa de
GIACOMO, FRED DI, Neta de boto, Márcia Kambeba é a primeira indígena
Pós-Graduação em Psicologia Social (UFSC), na linha "Processos de na prefeitura de Belém. Página ECOAUOL. Por um mundo melhor.
subjetivação, gênero e diversidades". Graduada no curso de Psicologia 26/01/2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/arte-fora-
da UFSC. Ativista no movimento indígena, feminista e LGBT. dos-centros/2021/01/26/marcia-kambeba.htm?cmpid=copiaecola
Link para a imagem: http://www.sermulherarte.com/2020/09/universo-de- KAMBEBA, Márcia Weina. Márcia Kambeba recita o poema A árvore me
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Link para o texto: https://www.escavador.com/sobre/8849838/geni-danie- Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lySdMFrOoio&ab_
la-nunez-longhini channel=M%C3%A1rciaWaynaKambeba

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de Márcia Wayna Kambeba. 15/07/2020. Página Livro & Café. Disponível texto de Kaka Werá) Duração de 13 min recorte do filme: O Povo Dourado
em: https://duckduckgo.com/?q=onde+mora+marcia+kambeba eia=web somos todos nós. Youtube. Página de David Alves, 07/08/2014. Disponível
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museudeartemodernarj/videos/184407193540650. Acesso em: 11/08/2021.

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PAPA, Carlos. Pytun Jera Desabrochar da Noite, relato da fala de Carlos


Papá. Cadernos SELVAGEM, publicação digital da Dantes Editora Biosfera,
2021, 4 p. Disponível em: http://selvagemciclo.com.br/wp-content/
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PAULI, Sandro, Conto do Povo Kaingang – Vozes Ancestrais (Daniel


Munduruku). 27/03/2019, Youtube, Página Sandro Pauli. Duração de 00:06:06
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POTIGUARA, Eliane. Vídeo Metade Cara, Metade Máscara. São Paulo.


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www.instagram.com/p/CFuZkPcDGuC/. Acesso em: 11/08/2021.

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Produção de textos:
- Ionara Blotz
- Melissa Colbert Bello
- Jefferson de Oliveira Salles
- Maria Daise Tasquetto Rech

Revisão:
- Lucélio Helder Cherubim

Projeto Gráfico e Diagramação:


Educaplay

Departamento de Diversidade e Direitos Humanos


- Angela Regina Mercer de Mello Nasser

Equipe de Educação Escolar Indígena:


- Ionara Blotz
- Jefferson de Oliveira Salles
- Maria Daise Tasquetto Rech
- Melissa Colbert Bello

Contato:
E-mail: educacaoindigena@escola.pr.gov.br
Telefone: (41) 3340-5791

Curitiba, 10 de outubro de 2021.

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