Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
POLÊMICOS
COLOCAM
EM XEQUE O
PROTETOR SOLAR
TECNOLOGIAS DE
ÚLTIMA GERAÇÃO
MUDAM A VIDA DE
BRASILEIROS COM
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO ED. 359 FEVEREIRO DE 2022 DEFICIÊNCIA
A TRAGÉDIA
DA FOME
NO BRASIL, QUASE 120 MILHÕES DE
PESSOAS VIVEM EM INSEGURANÇA
ALIMENTAR E 19 MILHÕES NÃO TÊM O QUE
COMER. COMO CHEGAMOS A ESSE PONTO?
COMPOSIÇÃO
FEVEREIRO DE 2022
03
CAPA
POR QUE O BRASIL
VOLTOU AO MAPA
DA FOME
(Foto de capa: Anadolu
Agency/ Getty Images)
38
SAÚDE 50
O QUE A CIÊNCIA TECNOLOGIA
A TRAGÉDIA DA FOME
QUASE 120 MILHÕES DE BRASILEIROS CONVIVEM COM A
INSEGURANÇA ALIMENTAR E MAIS DE 19 MILHÕES NÃO
TÊM O QUE COMER. NO PAÍS QUE É CONSIDERADO
O CELEIRO DO MUNDO, COMO CHEGAMOS A ESSE PONTO?
“
4
80% 77,1%
69,6%
70%
63,3%
60%
64,8%
50%
44,8%
40%
34,7%
30%
20,7%
20% 13,8% 15,8%
12,6%
12% 8% 10,1% 11,5%
10% 6,1%
9,5% 9%
6,6% 4,2% 5,8%
2004 2009 2013 2018 2020
PNAD PNAD PNAD PNAD INQUÉRITO
VIGISAN
ESCASSEZ NO
CELEIRO DO MUNDO
Afinal, como um país tão grande e fértil quanto o Brasil, considerado
o celeiro do mundo, deixa seus cidadãos passarem fome? A respos-
ta está no modelo de produção agrária, que privilegia commodities
voltadas para a exportação em detrimento de alimentos para con-
sumo interno. “A gente segue reproduzindo exatamente a mesma
coisa, com uma concentração fundiária e agrícola produtiva muito
pesada em cima de soja e milho. E disso decorre todo o problema”,
resume Silvio Porto, professor do curso de Educação do Campo na
12
UM PROBLEMA DE TODOS
A esse caldo de fatores econômicos, produtivos e políticos que
formam uma superestrutura de desigualdade social e fome no
Brasil, acrescentou-se a crise sanitária. “A pandemia trouxe au-
mento de insegurança alimentar no mundo todo além do que era
‘natural’ ou previsível”, afirma Elisabetta Recine. Segundo o rela-
tório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo,
divulgado em julho de 2021 pela FAO, os estragos causados pela
pandemia contribuíram para que quase 10% da população global
tenha sido afetada pela fome em 2020, um total de 811 milhões
de pessoas. Em 2019, o índice registrado foi de 8,4%. Ainda se-
gundo o levantamento, mais da metade das pessoas que sofrem
com a fome vivem na Ásia (418 milhões), acima de um terço estão
na África (282 milhões) e uma proporção menor mora na América
Latina e no Caribe (60 milhões).
FUTURO INCERTO
Com o avanço da vacinação e a diminuição do número de mortes por
Covid-19, começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel da pande-
mia. Para a fome, porém, as perspectivas não são otimistas se tudo
continuar como está. Na melhor das hipóteses, opina o coordenador
de pesquisa da Rede PENSSAN, as pessoas vão se manifestar em
relação a isso por meio de protestos pacíficos e eleições. “Olhando
para o outro extremo, pode ter uma onda de barbárie. E aí, sai de
baixo, porque vai ter uma população reagindo ao estado em que es-
tamos dizendo ‘pera aí, eu preciso comer’. E a violência passa a ser a
expressão desse tipo de desdobramento”, ilustra Nilson Maciel.
17
Os índices de famílias em
insegurança alimentar grave vêm
crescendo desde 2013 no Brasil
(Foto: Vincent Bosson / Fotoarena)
DESPERTAR DA POLÍTICA
Por meio do Ministério da Cidadania, o Governo Federal afirmou,
em nota a GALILEU, que vem “trabalhando sistematicamente para
ampliar o alcance das políticas socioassistenciais, superar a pobre-
za e minimizar os efeitos da desigualdade socioeconômica”. Segun-
do a pasta, mais de 45 milhões de pessoas tiveram atendimento
direto a partir de políticas públicas ao longo da pandemia.
ESTRATÉGIASDECOMBATE
OS PRINCIPAIS PROGRAMAS DE ENFRENTAMENTO À FOME NO PAÍS
ENTREVISTA
“Ações de como
lidar com uma
epidemia foram
propostas no
século 15”
O
O fim do século 15 foi um período de transforma-
ções significativas em Portugal. Sob o reinado de
D. João II, o país viveu um período de paz com o
Reino de Castela, investiu no financiamento e incentivo à
expansão marítima e na retirada de privilégios da nobre-
za de terras, que detinha territórios. Mas, acima de tudo,
representou um ponto de virada no modo de se pensar
e fazer medicina, com a construção de dois grandes hos-
pitais — o Hospital das Caldas da Rainha e o Hospital de
Todos os Santos —, além da centralização estatal da as-
sistência aos enfermos.
UMA DESSAS IDEIAS FOI A CRIAÇÃO DAS SANTAS CASAS, QUE FOI
UMA OBRA DE DONA LEONOR. E ATÉ HOJE AS SANTAS CASAS SÃO
MUITO IMPORTANTES PARA O SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA BRA-
SILEIRO. COMO VOCÊ AVALIA ESSA RELAÇÃO ENTRE MEDICINA,
RELIGIÃO E POLÍTICA DE ESTADO?
Sim,
use
filtro
solar!
PESQUISAS INDICAM RISCO DE TOXICIDADE DE SUBSTÂNCIAS
ENCONTRADAS NOS PROTETORES, MAS ESPECIALISTAS ALERTAM PARA
PERIGO MAIOR: DEIXAR DE USÁ-LOS
(Fotos: Getty Images)
H
Há milênios a humanidade busca formas de se proteger dos raios
solares. No Egito, os principais produtos eram a mamona, o jas-
mim e o óleo de amêndoas. Na Grécia Antiga, os atletas olímpicos
besuntavam seus corpos nus em misturas com óleo de oliva. E
na era moderna, quando frequentar a praia virou um hábito de
lazer, a proteção passou a ser física — basta olhar fotos antigas
e ver as pessoas com roupas do dia a dia ou trajes de banho que
iam da cabeça aos pés.
SEGURANÇA EM XEQUE
Atualmente, existem dois métodos principais de proteção solar. Os
filtros físicos contêm nanopartículas que funcionam como barreira
41
• Proteja-se na sombra no
horário de pico (das 10h às 16h);
• Aplique o protetor 30 minutos
antes de sair de casa;
• Use FPS mínimo de 30 (e maior
que 50 para peles claras);
• Ao aplicar, meça a referência
de 1 colher de chá para rosto
e pescoço, cada braço, tórax,
dorso; e 2 colheres de chá para
cada perna. Não esqueça de
áreas como nariz, pés e perto
do cabelo;
• Mesmo com filtro, vista roupas
e chapéu.
MÉTODO ARRISCADO
Estudos como esses causaram reações de governos e órgãos regu-
ladores mundo afora. Quando as primeiras pesquisas começaram a
surgir, agências regulatórias de países da Europa e dos Estados Uni-
dos passaram a limitar a presença da oxibenzona em 6% (no Brasil,
o limite permanece 10%). Nos EUA, a limitação veio em 2013 e, na
União Europeia, em 2008. Legislações ambientais, com o intuito de
proteger os corais, proibiram o uso de produtos com a substância
44
A principal diferença entre os números do FPS está no tempo de proteção, e não na qualidade
do protetor. Além de conhecer a própria pele para determinar qual FPS é ideal para seu
fototipo, é importante levar em conta localização e época do ano (a incidência dos raios é maior
no verão), o tempo que pretende ficar no sol e a resistência do filtro à água.
REGULAMENTAÇÃO RIGOROSA
Com tantas contestações, muitos dos elementos “polêmicos” pre-
sentes nos filtros já estão entrando em desuso. “Se falar de pro-
tetor solar hoje em relação há cinco ou 10 anos, eles estão bem
melhores. Muitos nem usam mais as substâncias ‘duvidosas’”, afir-
ma Schalka. E isso ocorre por iniciativa da própria indústria. “Por
exemplo, hoje, para crianças e bebês, só são produzidos os pro-
tetores físicos com óxido de zinco. E estão desenvolvendo outros
componentes menos tóxicos, obtidos a partir de extratos naturais,
como a bixina, do urucum”, aponta Tonolli.
BRASILEIROS
EXTRAORDINÁRIOS
VÍTIMAS DE DOENÇAS OU ACIDENTES, ADULTOS E
CRIANÇAS DO PAÍS GANHAM VIDA NOVA COM APARELHOS
FEITOS EM IMPRESSORAS 3D OU FIBRA DE CARBONO
T
Todas as manhãs, o pianista João Car-
los Martins, de 81 anos, ensaia de três
a quatro horas em seu apartamento em
São Paulo. No dia 19 de novembro de
2022, ele volta a se apresentar no Carne-
gie Hall, em Nova York. Além de reger a
orquestra, vai executar três peças: duas
dos alemães Johann Sebastian Bach
(1685-1750) e Robert Schumann (1810-1856)
CADA UM,
e um tributo ao argentino Alberto Ginastera CADA UM
(1916-1983). “Será a primeira vez, depois de 22 Órtese e prótese
não são a mesma
anos, que volto a tocar com os dez dedos”, conta coisa. Entenda as
diferenças entre
Martins a GALILEU. “Meu último concerto com os aparelhos
as duas mãos foi em 1998, quando toquei com a
Royal Philharmonic Orchestra, em Londres”. ÓRTESE
São acessórios que
auxiliam na função
ou correção de uma
O músico chegou a anunciar publicamente sua parte do corpo —
como uma luva
despedida do piano. Foi no programa Fantásti- que mantenha os
dedos abertos ou
co, da TV Globo, em 17 de fevereiro de 2019. Uma até mesmo óculos e
aparelho dentário.
série de infortúnios o obrigaram a tocar apenas
com os polegares. Em 1958, foi diagnosticado PRÓTESE
A ideia é substituir
com distonia focal, um distúrbio neurológico as funções de um
membro ou órgão,
que provoca contrações involuntárias nas mãos por exemplo, que foi
amputado ou não
e, no caso de músicos, impossibilita a execução tenha o desempenho
adequado. Pode
de seus instrumentos. Já em 1965, durante uma fazer o papel de
mãos, pernas ou
partida de futebol no Central Park, uma queda do ouvido.
A MENINA “BIÔNICA”
Se o pianista João Carlos Martins pediu que suas luvas fossem pre-
tas, Maria Beattriz Santana da Costa, de 4 anos, escolheu a cor
rosa. Apaixonada por princesas e unicórnios, ela tinha apenas 2
anos quando contraiu uma infecção bacteriana e chegou a passar
40 dias na UTI de um hospital em Brasília. Sobreviveu ao choque
séptico, mas, por causa da necrose, os médicos tiveram que am-
putar suas mãos e três dedos do pé esquerdo. Em outubro do ano
passado, ganhou um par de próteses fabricadas em impressora 3D
por alunos do Centro Universitário IESB, no Distrito Federal.
Paola Antonini, de 27
anos, quer aprender algo
novo todos os dias. (Foto:
Reprodução Instagram)
58
estilo de vida: “Live like you’ll never live it twice” (“Viva como se você
nunca fosse viver outra vez”, em livre tradução). “Sempre gostei de
me desafiar e ir além dos meus limites”, afirma a mineira que, em
2020, fundou um instituto que leva seu nome e se propõe a ajudar
pessoas com deficiência física por meio da doação de próteses, ór-
teses e outros acessórios.
CIBORGUES ESPORTIVOS
Não há registros oficiais de quantos usuários de próteses e órte-
ses existem hoje no Brasil. Três dos mais famosos são o cantor Ro-
berto Carlos, que teve parte da perna direita amputada depois de
um acidente na linha do trem em 29 de junho de 1947; o ex-goleiro
da Chapecoense Jakson Follmann, um dos sobreviventes da queda
de um avião na madrugada de 29 de novembro de 2016; e o atleta
paralímpico Alan Fonteles, medalha de ouro em Londres 2012 e
de prata em Pequim 2008 e Rio 2016. O universo paralímpico, a
propósito, é o tema de Biônicos, o primeiro filme brasileiro de sci-fi
da Netflix. “O que aconteceria se, no futuro, atletas paralímpicos
saltassem mais alto, corressem mais rápido ou batessem mais for-
te do que os atletas olímpicos?”, provoca o diretor Afonso Poyart.
ÓRGÃOS ARTIFICIAIS
Na década de 1970, uma série de TV fez muito sucesso no Brasil:
O homem de seis milhões de dólares (1974-1978). Baseada no livro
Cyborg (1972), escrito por Martin Caidin, contava a história do pi-
loto Steve Austin (Lee Majors), que sofre um acidente de avião e
recebe três próteses biônicas: duas pernas, o braço direito e o olho
esquerdo. Era capaz, entre outras proezas sobre-humanas, de cor-
rer a uma velocidade estimada em 90 km/h.
COMO O CASAL DE
CIENTISTAS MARIE E PIERRE
CURIE CONTRIBUIU PARA
UM PRESENTE DE NATAL
REVOLUCIONÁRIO EM 1898
TEXTO Camila Mazzotto
66