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Andressa da Costa Farias

ESPECIALIZAÇÃO
Mídias na
Educação

MATERIAL
IMPRESSO
E GÊNEROS
TEXTUAIS

2014
F224m Farias, Andressa da Costa
Material impresso e gêneros textuais / Andressa da
Costa Farias. – 2. ed. rev. – Florianópolis : IFSC, 2013.
50 p. : il. ; 28 cm

Inclui Bibliografia.
ISBN: 978-85-64426-53-5

1. História da escrita. 2. Gêneros textuais. I. Título.

CDD: 411

Catalogado por: Laura da Rosa Bourscheid CRB14/983

2014, Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC.

2ª Edição adaptada ao novo projeto gráfico e instrucional do


Departamento de Educação a Distância - EaD - IFSC.

Esta obra está licenciada nos termos da Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual
4.0 Brasil, podendo a OBRA ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins
não comerciais, que seja atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
Créditos do Livro
EDIÇÃO 2014
[ Conteúdo ]
Andressa da Costa Farias

[ Design Gráfico ]
Rafael Martins Alves
Departamento de Educação a Distância
[ Design Instrucional ]
FICHA TÉCNICA E INSTITUCIONAL Daiana Silva

[ Reitoria ] [ Capa e Editoração Eletrônica ]


Maria Clara Kaschny Schneider Rafael Martins Alves

[ Pró-Reitoria ] [ Revisão Gramatical ]


Daniela de Carvalho Carrelas Sandra Beatriz Koelling

[ Chefia do Departamento de Educação a Distância - EaD/IFSC ] [ Infográficos ]


Paulo Roberto Weigmann Luciano Adorno

[ Coordenação do Curso de Especialização em Mídias na Educação ] [ Tratamento de imagens ]


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[ Coordenação - Produção de Materiais Didáticos - EaD/IFSC ] [ Imagens ]


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Prezado estudante,
Seja bem-vindo!
O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), preocupado em
transpor distâncias físicas e geográficas, percebe e trata a
Educação a Distância como uma possibilidade de inclusão. No
IFSC são oferecidos diferentes cursos na modalidade a distância,
ampliando o acesso de estudantes catarinenses, como de
outros estados brasileiros, à educação em todos os seus níveis,
possibilitando a disseminação do conhecimento por meio de seus
campus e polos de apoio presencial conveniados.

Os materiais didáticos desenvolvidos para a EaD foram pensados


para que você, caro aluno, consiga acompanhar seu curso
contando com recursos de apoio a seus estudos, tais como
videoaulas, ambiente virtual de ensino aprendizagem e livro
didático. A intenção dos projetos gráfico e instrucional é manter
uma identidade única, inovadora, em consonância com os avanços
tecnológicos atuais, integrando os vários meios disponibilizados e
revelando a intencionalidade da instituição.

Bom estudo e sucesso!

Equipe de Produção dos Projetos Gráfico e Instrucional


Departamento EaD/IFSC
Material Impresso e
Gêneros Textuais

Sumário

1 Histórico da escrita e sua relação com a civilização 07


2 Gêneros textuais - orais, impressos e digitais 17
3 Gêneros textuais da mídia impressa e da mídia digital 39
4 Leitura e produção de textos a partir do gênero textual 47
Considerações Finais 63
Sobre a autora 64
Referências 65
A unidade curricular de
Material impresso e gêneros
textuais a requer um talento especial de quem a
Prezado(a) estudante,

É uma grande satisfação dar início a este estudo sobre Material Impresso e
Gêneros Textuais.

Nesta unidade curricular você verá temas que se referem ao texto em


si, discutindo e analisando os diferentes gêneros em que ele pode ser
apresentado. O material que você lê agora, por exemplo, trata-se de um
gênero textual chamado livro didático. Toda publicação impressa ou digital tem
um propósito (conteúdo) e um público-alvo (leitores). Não é difícil você supor
que o propósito deste livro remeta a objetivos como: formação acadêmica,
informação, instrumentalização etc. E é fácil identificar também o público,
não é mesmo? O único motivo de existência deste material é o fato de ele
possuir leitores que são os alunos do Curso de Pós-Graduação em Mídias na
Educação, como você!

Notou a importância de identificar as funções e fundamentos que toda


publicação possui? Para tanto, o seu estudo iniciará com a abordagem da
noção e histórico da escrita e seus desdobramentos até a atualidade.

Posteriormente, você conhecerá os gêneros textuais e seus diversos meios


de publicação, seja impresso ou digital. Para finalizar, a proposta é que você
identifique de que maneira pode envolver ou aplicar tais conceitos e noções ao
seu próprio trabalho pedagógico/docente.

Aproveite bem os conteúdos!

Andressa da Costa Farias


MATERIAL IMPRESSO E GÊNEROS TEXTUAIS UNIDADE 1
Andressa da Costa Farias

Histórico da
escrita e sua
relação com
a civilização
A escrita é uma tecnologia muito importante. Se não houvesse a
escrita, imagine como seriam difíceis a comunicação e a orientação
na sociedade. É através da escrita que recebemos formação, instrução
e orientação. A leitura do que está escrito nas placas das cidades, na
bula do remédio, na apostila, nos jornais (sejam impressos ou digitais),
nos livros, torna a vida das pessoas mais fácil e organizada. Mas você
já parou para pensar como surgiu a escrita? Esse será o assunto desta
unidade. Boa leitura!
Histórico da escrita e sua relação
com a civilização
Aspectos históricos da escrita
Historicamente, a escrita nasceu da necessidade de fixar a
linguagem articulada, ou seja, fixar o que foi dito ou falado para
que seja lembrado posteriormente. Ou seja, a escrita nasceu da
necessidade do homem de registrar os contos orais, os mitos, as
histórias, as descobertas, as conquistas de território e as conquistas
materiais. Nesse sentido, a história da escrita está intimamente
ligada aos avanços da humanidade.

Há quem afirme que a história da humanidade se divide em antes e


a partir da escrita.

Na pré-história, o homem sinalizava a sua comunicação através


de desenhos feitos nas cavernas. Segundo Higounet (2003), esse
tipo de representação se chamava pintura rupestre. Através dela
era possível trocar mensagens, expressar ideias e desejos. Mas
a escrita propriamente dita surgiu na Mesopotâmia, por volta de
4000 a.C., através dos sumérios, que desenvolveram a escrita
cuneiforme. Para fixar o que estava escrito, usavam-se placas de
argila como suporte.
Histórico da escrita e sua relação com a civilização 9

Na mesma época, os egípcios antigos também desenvolveram a


escrita. Esta podia ser expressa de duas formas: a demótica e a
hieroglífica.

A primeira era mais simples e a outra, mais elaborada, formada por


desenhos e símbolos.

Desde o princípio da nossa era, o papiro, o pergaminho e o papel


são os registros materiais mais comuns da escrita. Em relação ao
tempo histórico, o papiro foi utilizado na Antiguidade; o pergaminho,
na Idade Média. O papel tem origem chinesa e foi introduzido no
ocidente através do mundo árabe, a partir do século XI.

Além desses, historicamente, foram diversos os instrumentos


usados para fixar a escrita. Podemos citar a pedra, o tijolo, cacos
de cerâmica, o ferro, o osso, o vidro, o bronze, uma variedade de
outros metais, madeira, cascas de árvores, folhas de palmeira, tela,
seda, peles de animais, tecido e, mais recentemente, os editores
de textos digitais, que podem ser impressos através do papel ou
visualizados por meio de uma tela digital.

Foi a partir do desenvolvimento do alfabeto que a escrita começou


a ser melhor sistematizada. Saiba mais, a seguir.
As origens
do alfabeto
A escrita surgiu da necessidade de registrar a fala humana.
A busca por códigos específicos de fixação oral determinou
a origem do alfabeto, que pode ser definido como um
sistema de sinais que exprimem os sons da linguagem
humana, e apareceu por volta de 2000 a.C.
Alfabe
Na região do Oriente Médio, surgiu o primeiro alfabeto a to uga
ser usado em grande escala: o alfabeto fenício.
rítico

É possível citar diversos tipos de alfabeto, desde o seu


surgimento.

Alfab
eto h
ebrai
co
Alfabe
to fen
ício

Alfab
eto á
rabe

A origem da palavra alfabeto vem do


latim alphabetum, formado com os
nomes das duas primeiras letras do
alfabeto grego, alpha e beta.
Há outros tipos de alfabetos que foram
Alfabe inventados e utilizados pela humanidade.
to gre Posteriormente você saberá mais sobre a
go origem e utilização do alfabeto latino.
Além dos alfabetos há povos que
utilizaram sistemas silábicos.

Entre as escritas sul-arábicas, etíopes e


indianas aparecem os sistemas silábicos
etíopes, sistema silábico brahmi, sistema
silábico nagari. Tais sistemas possuem em
comum a representação gráfica de letras
através de notações especiais.

Fonte dos dados desta infografia:


Histórico da escrita e sua relação com a civilização 11

A escrita latina
Você sabia que o português brasileiro deriva da escrita latina? Isso
mesmo! Conforme Higounet (2003), acredita-se que esta escrita
chegou até nós no fim do século VI ou início do século VII a.C. São
inscrições da pedra negra do antigo fórum romano, descobertas
em 1899. Posteriormente, houve outros textos gravados e mais
longos, encontrados em Roma e no Lácio, datados do século IV ao
século VI a.C. Nessa escrita prevalece a orientação para a direita.
Os caracteres dos primeiros documentos latinos não deixam dúvida
sobre a derivação de um alfabeto grego ocidental.

O progresso do alfabeto latino


Antes de apresentar e discorrer sobre o alfabeto latino é preciso
deixar claro que, em relação à forma, o alfabeto grego tem origem
oriental, enquanto o alfabeto latino tem origem ocidental.

O alfabeto latino foi completamente constituído no século I a.C.,


com suas 23 letras.

Segundo Higounet (2003), é importante destacar que a questão


política está intimamente relacionada com a difusão do alfabeto
latino, pois seu uso e expansão se devem ao fato de se tornar o
alfabeto do povo vencedor, que o impôs inicialmente à Península
Itálica, depois a todo o Ocidente antigo, sua língua e sua escrita. É
um alfabeto grego ocidental transformado, por uma forte influência
etrusca, em um dos alfabetos itálicos.

O surgimento do alfabeto latino no século I tende a marcar o final


da primeira e longuíssima fase da história da escrita em relação
a sua gênese e constituição. A utilização desse alfabeto alcança
uma grande variedade de línguas, sendo a Europa Ocidental o seu
centro histórico. O uso do alfabeto latino se estende às Américas,
ao mundo oceânico e a todo o hemisfério austral e, na África do
Norte, disputa com a escrita árabe. Estima-se que a população e
os países que o utilizam somem um total de cerca de dois bilhões
de indivíduos.

Conforme Medeiros (2006), em 1500, o tupi (tupinambá) era a


língua falada no litoral brasileiro. Com a colonização do Brasil pelos
portugueses, a partir de 1757, uma Provisão Real proibiu o uso do
tupi na colônia. A Carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei
[ De certo modo, a língua Dom Manuel de Portugal, em 21 de abril de 1500, ao se dar conta
portuguesa no Brasil também foi da “terra nova”, é considerada um dos primeiros documentos
uma imposição do povo colonizador oficiais do Brasil.
ao povo colonizado, ou seja, dos
portugueses aos brasileiros. Essa Os índios que aqui estavam não dominavam a tecnologia da escrita
imposição se revela no fato de ser e tudo o que foi registrado é contado na Carta sob o ponto de vista
a língua portuguesa a oficial no de um europeu. E é o que se sabe desse encontro entre dois povos
país. Nesse sentido, a língua adquire tão distintos. Você percebeu a importância e a dimensão histórica
a dimensão de poder quando, que o registro escrito pode alcançar? Veja, a seguir, alguns trechos
por motivos históricos e sociais, é interessantes da Carta de Pero Vaz de Caminha para sua reflexão.
difundida e adotada. ]
A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e
bons narizes.

Em geral são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma.


Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas,
e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. [...]
(CASTRO, 2007, p. 91).

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos


a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não
tem nem entendem crença alguma, segundo as aparências.

[...]

Eles não lavram e nem criam. Nem há aqui boi ou vaca,


cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que
esteja acostumado ao convívio com o homem. E não comem
nada senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas
sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E
com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos
nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos. (CASTRO,
2007, p.111).

As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa


que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das
águas que tem.
[ SAIBA MAIS ]
Para ler na íntegra a carta de Pero Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que
será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente
Vaz de Caminha, acesse o site da
que Vossa Alteza nela deve lançar. (CASTRO, 2007, p.116).
culturabrasil.org e boa pesquisa!

Conforme Castro (2007), com a chegada de imigrantes da


metrópole (Portugal) para a colônia, a partir de 1759 o português
já era o idioma oficial das terras que se chamariam Brasil. Porém,
é importante destacar que o português de Portugal é diferente do
português brasileiro. Esse último recebeu muitas influências da
linguagem indígena e africana. Dessa forma, o português brasileiro
“herdou” palavras como mandioca, caju, abacaxi, tatu etc. (de
Histórico da escrita e sua relação com a civilização 13

origem indígena) e outras como moleque, samba, caçula (origem [ SAIBA MAIS ]
africana), entre tantas outras. Para compreender melhor a
influência do tupi na língua
A escrita mecânica portuguesa brasileira, que tal buscar
na Internet o vídeo: Idioma brasileiro
A invenção da imprensa fez nascer a grafia mecânica, que permitiu - Constituição do idioma brasileiro,
influência do tupi, imposição
a reprodução quase ilimitada de letras sempre idênticas e, assim,
portuguesa, palavras indígenas?
fixou os caracteres em categorias de base que não mudaram Amplie seus conhecimentos!
desde então. Conforme Higounet (2003), no ocidente, as primeiras
tentativas de impressão tipográfica datam do ano de 1440 na
Holanda e depois em Estrasburgo. Sua invenção foi levada a cabo
por Johannes Gutenberg, por volta de 1450 em Mainz. [ SAIBA MAIS ]
Para saber mais sobre a história da
escrita e das técnicas de impressão,
acesse o site da Casa do Manuscrito.
A invenção da imprensa é o maior acontecimento da
Boa leitura!
história. É a revolução mãe... é o pensamento humano que
larga uma forma e veste outra... é a completa e definitiva
mudança de pele dessa serpente diabólica que, desde
Adão, representa a inteligência.

Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris, 1831. (CECCHINI,


2013).

Assim sendo, além da escrita manuscrita, houveram diversas


máquinas que auxiliaram na reprodução da escrita: tipografia,
máquina de escrever e, mais recentemente, o computador e todos
os aparelhos tecnológicos em que esse recurso está acoplado.
Logo, a escrita na atualidade se difundiu a partir de uma ampla
possibilidade de instrumentos que permitiram sua materialização.

A escrita hoje
Atualmente, muito se discute sobre o uso de equipamentos de
publicação da escrita virtual, ou seja, sobre a possibilidade dessa
escrita vir a substituir a escrita de publicação impressa. Indaga-se
sobre o fim dos livros, jornais e revistas impressas em decorrência
do crescimento dos portais de notícias, e-books e revistas virtuais,
[ LEITURA COMPLEMENTAR ] haja vista a disseminação da internet. Apesar de muito se pensar
Que tal ampliar seus conhecimentos na possibilidade da substituição do impresso pelo digital, não
sobre a história da Internet? Acesse o se tem comprovação do fato, uma vez que uma tecnologia não
site da A.I.S.A – História da Internet. substitui a outra.
Para saber mais sobre livros e e-books,
você também pode assistir ao vídeo: O que é fato é que a escrita tem um grande valor social. Os gêneros
Livros versus E-book. Boa pesquisa! da escrita se sobrepõem aos demais modos de comunicação.
O indivíduo detentor da habilidade de leitura e escrita possui
valorizações específicas na sociedade que se traduzem através de
diplomas dentro do percurso escolar e, posteriormente, profissional.

É por esse motivo que a instituição escola adquire tamanha


importância.

E é por isso também que, sobretudo a partir do século XVI, se


universalizou como norma obrigatória a tarefa de primeiro fazer
com que os estudantes aprendam a ler e a escrever.
Histórico da escrita e sua relação com a civilização 15

Já é consenso também que a habilidade de decodificação da


escrita é de suma importância para o acesso aos mais variados
conhecimentos científicos e compreensão desses conhecimentos.
Por isso, não deve ser tarefa de uma disciplina como a de Português
ou Comunicação a ênfase na escrita e na leitura. Todas as áreas do
conhecimento devem primar por essa habilidade.

Ela deve ser interdisciplinar. Assim, surgiram as discussões sobre


os Novos Estudos de Letramento.

A contribuição dos Novos Estudos


de Letramento
Diversos teóricos embasam discussões sobre os novos estudos de
letramento, tais como: Heath (1982), Street (2003), Gee (1994), Soares
(2003), Kleiman (2005), entre outros. Esses estudos, conhecidos
com uma abordagem sociocultural, procuram mostrar que as
habilidades letradas podem ser adquiridas independentemente do
contexto social no qual as pessoas vivem.

No Brasil, há diversos estudiosos, como Soares (2003),


Kleiman (2005), entre muitos outros, que se debruçam sobre a
linguagem e mostram-se sensíveis ao que os Novos Estudos de
Letramento (NLS) têm descoberto. Esses autores desenvolvem ou
desenvolveram suas pesquisas nessa perspectiva. Entre os vários
temas de discussão dos NLS está o próprio termo letramento e o
seu significado.

Segundo Kleiman (2005), letramento é um conceito que vai além do


usado na escola. Está presente no cotidiano, já que as paisagens
estão permeadas pela escrita através de anúncios, cartazes,
legendas de transporte urbano e evidenciam, desse modo, os
múltiplos espaços que a escrita ocupa na sociedade. Logo, segundo
a mesma autora, o conceito de letramento surge como uma forma
de explicar o impacto da escrita em todas as esferas de atividades
[ SAIBA MAIS ]
e não somente nas atividades escolares. Esse conceito já entrou
Para saber mais sobre os PCNs, acesse
no discurso escolar através de documentos como os Parâmetros o site do Ministério da Educação (MEC).
Curriculares Nacionais (PCNs), que discutem os currículos no país. Boa leitura!

A partir desse conceito surgem a análise e a discussão da presença


dos diversos gêneros textuais que são utilizados na sociedade.
Esse é o tema que você conhecerá na próxima unidade.
[ ATIVIDADE ] Nesta primeira unidade você estudou uma retrospectiva histórica
Antes de seguir para o estudo da da importância e do surgimento da escrita. Também foi possível
próxima unidade, reflita e responda o conhecer os mais variados tipos de alfabetos existentes no
que lhe vem à mente em relação ao mundo, com destaque para o alfabeto latino, já que foi a partir
conceito de gênero textual. A carta dele a derivação do português brasileiro. Também discutiu-
de Pero Vaz de Caminha pode ser
se a possibilidade da publicação digital superar a impressa e o
classificada como um gênero textual?
Já ouviu ou leu sobre tal conceito quanto a habilidade de escrita e leitura é importante para definir
antes? Se não, escreva o que lhe o posicionamento social dos indivíduos. Por fim, foi abordada a
sugere a pergunta (sem pesquisa emergência do que se discute nos Novos Estudos de Letramento e
prévia) e discuta a sua resposta com os que culminará na investigação sobre os gêneros textuais, tema da
outros colegas quando estiver no polo próxima unidade.
presencial, através das redes sociais ou
ainda via fórum no AVEA.
MATERIAL IMPRESSO E GÊNEROS TEXTUAIS UNIDADE 2

Andressa da Costa Farias

Gêneros
textuais
- orais,
impressos e
digitais
Nesta unidade você estudará o texto a partir do enquadramento
teórico de gêneros textuais; conhecerá a sistematização do conceito
de gêneros textuais, exemplos do uso no cotidiano social e possíveis
aplicações no ambiente didático e escolar.
Gêneros textuais - orais,
impressos e digitais
O texto dentro da noção de
gêneros textuais
A recente formação de um novo paradigma para o ensino da
língua materna fez com que se reconhecessem os gêneros textuais
dentro da instituição escola. Houve um acolhimento do texto como
representando gêneros. E tal realidade fez com que o ensino
escolar englobasse, além dos textos literários e dos textos de
gêneros exclusivamente escolares, também aqueles outros textos
pertencentes a outros domínios discursivos, gêneros que circulam
nas práticas sociais, fora das paredes da escola.

Contribuíram significativamente para esse fato os estudos da


sociolinguística e a teoria dos gêneros. Estes estudos enfatizam
que a linguagem é um sistema mediador de todos os discursos.
Isso faz com que haja a necessidade e relevância de práticas
educacionais que façam uso dos diferentes gêneros sociais para
um letramento adequado ao contexto na atualidade. Você deve
estar se perguntando: como o conceito de gênero textual surgiu?

Para essa resposta, buscamos Meurer & Motta-Roth (2002) para


enfatizar que a linguagem é, sobretudo, uma situação comunicativa
que segue três aspectos básicos: sobre o que se fala, com quem se
fala e como se fala, que são definidores do contexto e que dependem
de uma determinada atividade. A consciência desses três aspectos
do uso articulado da linguagem para alcançar determinados
objetivos expande o repertório de gêneros discursivos disponíveis
culturalmente. Uma definição mais detalhada pode ser considerada
como:

Ao servir de materialidade textual a uma determinada


interação humana recorrente em um dado tempo e espaço,
a linguagem se constitui como gênero. A partir de Bakhtin
(1986), gênero é pensado como um evento recorrente de
comunicação em que uma determinada atividade humana,
envolvendo papéis e relações sociais, é mediada pela
linguagem. É responsabilidade central do ensino formal o
desenvolvimento da consciência sobre como a linguagem se
articula em ação humana sobre o mundo através do discurso
ou, como preferimos chamar, em gêneros textuais. (MEURER;
MOTTA-ROTH, 2002, p. 12).

Os gêneros textuais permeiam o mundo contemporâneo e, para [ SAIBA MAIS ]


sermos cidadãos críticos e conscientes de nosso papel, é preciso
Confira as dicas de leitura, a seguir,
saber fazer uso das diversas possibilidades existentes por meio para ampliar seus conhecimentos sobre
da comunicação mediada por textos. São diversos os exemplos sociolinguística.
práticos disso. Uma reclamação formal da linha telefônica pode BAGNO, Marcos. O preconceito
exigir do usuário que ele redija uma carta de reclamação. linguístico: como é, como se faz. São
Paulo: Ed. Loyola, 1999.
Um evento marcante na cidade pode gerar um artigo de opinião BAGNO, Marcos. A língua de Eulália.
que deve ser encaminhado à caixa de correio ou ao e-mail do São Paulo: Ed. Contexto, 2004.
jornal de maior circulação na cidade. A devolução de valores pagos Pesquise também pelo termo
indevidamente é solicitada através da comprovação de um atestado sociolinguística, no site do E-dicionário
de valores gastos. O anúncio de um produto ou serviço num de termos literários, de Carlos Ceia.
panfleto impresso ou de um banner digital pode ser um instrumento
de barganha para compra quando o consumidor vai à loja. Enfim,
muitos são os exemplos da comunicação mediada por texto. No
meio acadêmico, há muitos gêneros textuais importantes para
que o estudante consiga seu tão almejado diploma. Em um curso
de graduação, geralmente só é possível se formar depois de ter
desenvolvido uma monografia ou trabalho de conclusão de curso
(TCC). No mestrado, o texto final do curso chama-se dissertação.
E, para conseguir o grau de doutor, só com uma tese.
Geralmente todos os gêneros textuais possuem uma estrutura
específica com número mínimo e máximo de páginas, configuração
de margens, fontes etc. O próprio desenvolvimento deste livro
representa um gênero textual específico dentro do contexto do
Ensino a Distância. Ele constitui os chamados materiais didáticos
de apoio, neste caso impresso e, posteriormente, digital, através
do Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem (AVEA), no Moodle.

Características básicas dos


gêneros textuais
Para esclarecer algumas características básicas dos gêneros
textuais, no Dicionário de Gêneros Textuais, Costa (2009) apresenta
os gêneros primários da oralidade humana, como a conversação,
o diálogo, as negociações orais, as piadas contadas, os “causos”,
as palestras proferidas e tudo que é enunciado por meio da voz.
“Bakhtin chama de enunciado de gênero primário”. (COSTA, 2009,
p.16). Mas como pode ser compreendido o gênero primário? No
enfoque enunciativo-discursivo, um enunciado de gênero primário
é compreendido na relação com o contexto imediato, onde ocorre
a ação comunicativa.

Já os diálogos escritos presentes em romance, conto, novela,


peça de teatro, entrevista publicada em jornal, revista, são atos
de conversação “tomados emprestados” da esfera do cotidiano
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 21

para a esfera púbica. A interlocução não é mais imediata, logo, as


condições de produção do discurso se tornam secundárias e mais
complexas. Temos o que Bakhtin chamou de enunciado de gênero
secundário.

Há outros exemplos de gêneros secundários emergentes e


muito atuais encontrados na internet. Constituem-se pelas novas
finalidades discursivas que remetem a novas práticas sociais.
Nessa classificação, é possível citar o bate-papo virtual (chat),
blog, endereço eletrônico (e-mail) etc. São formas estáveis de
enunciado em relação ao conteúdo temático-figurativo, ao estilo
e à estrutura textual. Não podem ser comparados nem ao simples
bate-papo, como no contexto face a face, nem a um diário ou
agenda. São usados de maneira análoga, mas com características
bem diferenciadas.

A seguir, conheça com mais ênfase as categorizações e


características dos diversos gêneros textuais existentes. Observe
os exemplos dos gêneros já comentados e exercícios que podem
ser aplicados a partir de alguns gêneros textuais citados.

Os gêneros textuais orais


Há uma infinidade de gêneros orais, citados anteriormente. É a partir
do discurso articulado que surgiram os gêneros textuais escritos.
Também foram reconhecidos os gêneros textuais orais. Aqui o foco
do estudo serão as características de alguns gêneros orais que são
mais frequentes e que podem ser utilizados no trabalho didático
pedagógico. Os que você verá suas definições serão: comunicação
oral, conferência, debate, depoimento, entrevista, exposição oral,
palestra, relato de experiência. Observe!

[ LEMBRE-SE ]
A utilização da fala deve ser cuidadosa
e não se pode expor oralmente um
assunto usando palavrão, palavras
chulas e informalidade. O discurso
Comunicação oral - consiste na apresentação oral de tema
oral deve, se possível, ser treinado
específico, por um indivíduo ou mais pessoas, para uma plateia anteriormente a fim de o comunicador
definida. A temática pode ter teor científico, administrativo, praticar a correta concordância de
político, jornalístico, religioso etc. A apresentação pressupõe um verbos e plural de palavras, por
encontro específico, uma aula temática, um seminário, colóquio ou exemplo , o que vai conferir autoridade
congresso. a quem fala.
Conferência - possui características parecidas com a comunicação
oral. Refere-se a uma preleção em público, através de uma exposição
oral a um auditório sobre um tema de especialidade do orador.
Geralmente, o orador é contratado ou convidado da instituição
(escolar, científica, artística) para expor sobre um assunto científico,
literário, polêmico, autoajuda, orientação profissional, entre outros.

Debate - o debate pode ser um gênero textual oral bastante


utilizado na prática didático pedagógica. Depois de várias aulas
sobre um determinado tema, o professor pode sugerir para a turma
a prática de um debate sobre o assunto abordado. O importante é
ficar atento à organização do debate para que não vire um “bate-
boca” descontrolado. Para o debate ocorrer de maneira proveitosa
é preciso deixar claro a ordem das falas.

[ No âmbito didático, uma pesquisa Depoimento - o depoimento é mais utilizado no âmbito jurídico e
sobre o entorno escolar pode buscar policial. É um relato oral de testemunha ou parte sobre determinado
pessoas para dar seu testemunho ou fato cujo conteúdo esteja relacionado com os interesses de quem
depoimento na comunidade escolar profere ou serve como prova testemunhal. Em juízo, o depoimento
sobre o surgimento do bairro, de é aquilo que uma ou mais testemunhas afirmam verbalmente. Em
algum aspecto da cultural local, da delegacias de polícia, os depoimentos orais são registrados pelo
luta para conseguirem a escola para a escrivão policial para encaminhar para autoridade competente.
comunidade ou outro fato marcante,
por exemplo. ]
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 23

Entrevista - pode ser também sinônimo de bate-papo, colóquio,


conversa, discussão, diálogo etc. Há diversos contextos do uso de
uma entrevista. A técnica é necessária para selecionar candidatos
a uma vaga de emprego. Em jornais e revistas, é comum convidar
pessoas para serem entrevistadas a respeito de um assunto sobre o
qual são especialistas. A entrevista pressupõe do entrevistador certo
conhecimento sobre quais informações são importantes abordar,
e, assim, geralmente o entrevistador tem um roteiro de perguntas
para fazer ao entrevistado, mas não é uma regra. A entrevista pode
acontecer informalmente, e o registro ser feito depois. Também é
possível pedir autorização ao entrevistado para gravar a entrevista
em vídeo ou áudio. Segundo Costa (2009, p. 103), “trata-se de um
discurso assimétrico em que os interlocutores têm papel diverso. O
entrevistado tem o conhecimento do assunto ou tema e o poder da
palavra”. A entrevista pode e é usada no meio escolar. No próprio
contexto de cursos na modalidade a distância, o professor pode ser
entrevistado para esclarecer sobre determinado tópico ou conteúdo,
e a entrevista pode ser gravada e disponibilizada posteriormente no
AVEA. Também é possível sugerir que os alunos façam roteiros
de entrevista com profissionais cuja carreira queiram seguir. Ou
ainda, algum assunto abordado na escola pode requerer que seja
entrevistado alguém da área. A entrevista pode ser publicada no
jornal ou blog escolar. São muitas possibilidades!
Exposição oral - tem características análogas às da comunicação
oral.

Palestra - é um gênero análogo à aula, conferência, exposição


oral etc. Consiste na exposição oral sobre determinado assunto
ou área de conhecimento do orador, que pode ser um professor,
um especialista ou qualquer pessoa que tenha autoridade no
assunto. Geralmente, a palestra é dirigida a um público específico
que está interessado no que será abordado e tem um período de
tempo estipulado. A palestra pode e deve ter uma interação entre
o palestrante e os ouvintes. Muitas vezes essa interação fica para
o final e é iniciada por meio de perguntas da plateia para o orador.
No contexto escolar, pode-se convidar palestrante para abordar
assuntos que estejam em pauta em alguma aula ou na sociedade.
São diversos temas importantes como: direitos autorais,
sexualidade, mobilidade urbana, trânsito, entre outros. Sempre
há pessoas que são autoridades no assunto e que, quando
convidadas, se dispõem a palestrar em instituições escolares.

[ LEIMBRE-SE ] Relato de experiência - é sempre uma narração que utiliza verbos


É interessante ouvir os alunos, no no pretérito perfeito ou o presente histórico. O nome do gênero
contexto escolar, quando eles têm já contribui para a sua definição. O relato de uma pessoa sobre o
relatos de experiência para compartilhar que viveu ou vivenciou, ou seja, de experiência de algum fato ou
com os demais colegas ou mesmo com situação, pode ter ouvintes interessados no assunto abordado.
a escola. Temas relacionados a viagens
realizadas, estágios e outros assuntos
podem ser abordados.
Depois de conhecer os gêneros textuais orais, chegou a vez dos
gêneros textuais impressos. Prossiga para saber mais!
Os gêneros
textuais impressos Monografia

São inúmeros os gêneros textuais impressos. Paper Dissertação


Estão presentes nos mais variados tipos de discurso:
religioso, jornalístico, acadêmico, literário, publicitário,
cotidiano, escolar etc. Conforme é mostrado a seguir:
Acadêmico
Artigo
Tese
científico
Bíblia

Resenha Resumo
Panfleto
Religioso
de missa
Editorial

Carta
Notícia
Jornal da de leitor Anúncio
paróquia

Jornalístico
Legenda Charge Reportagem Pubicitário Cartaz

Discurso

Tirinha Crônica Panfleto


Gênero

Bilhete

Conto
Diário
Livro
Convite
Romance
Cotidiano

Autobiografia
Anotação
Poema Lista de
compras
Literário Prova
escrita
Biografia
Crônica
Dicionário, Escolar
Resumo
glossário ou
enciclopédia
Lenda Polígrafo
Diário
Fábula ou
apostila

Textos e Fontes dos dados desta infografia: COSTA (2009).


*Tirinha - está presente em quase todos
os jornais impressos e em algumas revistas
e HQs. Geralmente possui três ou quatro
quadros, texto sincrético, que alia o verbal e o
visual no mesmo enunciado e enunciação. Há
diversos autores que ficaram famosos através
da publicação de suas tirinhas.

A seguir você conhecerá algumas características básicas de


gêneros textuais impressos, sobretudo aqueles que circulam com
mais frequência na sociedade e no contexto didático-pedagógico.
Observe!

Discurso Jornalístico
Editorial - o editorial é um gênero em que se discute um assunto
ou questão a partir do ponto de vista do jornal, do redator-chefe ou
da empresa jornalística. Não é assinado e geralmente é o primeiro
texto da contracapa do jornal.

Notícia - é o relato ou narrativa de fatos, acontecimentos,


informações recentes e atuais, do cotidiano, ocorridos no campo,
na cidade, no país ou no mundo, os quais têm grande importância
para a comunidade ou público leitor. Há diversos tipos de notícias e
são selecionadas e editadas conforme as especificidades do jornal.
Os jornais podem ser classificados como populares, de grande
circulação ou restritos, isto é, aqueles que possuem um público
leitor mais selecionado e, por esse motivo, variam de preço e de
tamanho (número de páginas). É interessante notar que o layout do
jornal muda conforme sua classificação, o tamanho das notícias,
o tipo e quantidade de fotos, imagens etc. Segundo Costa (2009),
privilegia-se o discurso referencial, o modo indicativo, tempo verbal
presente e predomínio da terceira pessoa. Em termos éticos, o
jornal deve transmitir a notícia de maneira mais neutra possível e
com grande fidedignidade.

Reportagem - ver notícia.

Crônica - consiste em uma reflexão crítica a partir de um fundo


cronológico, ou seja, de algum acontecimento do cotidiano social.
Quase todos os veículos jornalísticos possuem um cronista.
Há escritores que ficam conhecidos e consagrados a partir da
qualidade das crônicas que publicam. É o caso de Moacyr Scliar,
Luís Fernando Veríssimo, Martha Medeiros e Fernando Sabino. Leia
um exemplo de crônica, de Fernando Sabino.
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 27

Fernando Sabino - A última crônica


A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o
momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do
irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano,
fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição
do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-
me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café,
enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou
sem assunto.

Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. Ao fundo do botequim
um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A
compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de
seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar
as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à
mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar
a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-
se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel,
vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e
depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua
presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo
com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente.
Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe
remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera.

A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve
a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo
no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,
cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe
recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se
a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo
que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da
celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila,
ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. (Sabino, 1965).
[ ATIVIDADE ] Charge - palavra de origem francesa que significa carga, ou seja,
Busque na internet o vídeo A última algo que exagera traços do caráter de alguém ou de algo para
crônica, de Fernando Sabino e o torná-lo burlesco ou ridículo. Trata-se de ilustração ou desenho
assista. Em seguida, reflita sobre o que humorístico com ou sem legenda. Tem por finalidade satirizar e
mais lhe chamou a atenção na crônica. criticar algum acontecimento do momento. A charge como texto
de opinião é temida por governantes. Em contextos de censura,
a charge é o primeiro alvo. Você pode conferir a publicação de
diversas charges no site chargeonline.

Carta de leitor - geralmente é um texto argumentativo em que o leitor


manifesta a opinião crítica a respeito de uma matéria ou notícia que
leu ou assunto sobre o qual quer expressar opinião. Há diferenças
de espaço para publicação da carta do leitor, dependendo do tipo
de jornal. Encontram-se exemplos de carta do leitor em diversos
jornais. Alguns jornais on-line disponibilizam a visualização do
jornal impresso. Pesquise se nos jornais de sua região se isso é
possível. Alguns exemplos podem ser encontrados nos sites dos
jornais Diário de Santa Maria, Diário Catarinense e A Razão.

Discurso Publicitário
Anúncio - tem objetivo comercial. Em jornais impressos, há uma
seção chamada Classificados, na qual se divulgam os mais variados
anúncios, como: compra e venda de carros, motos, terrenos,
apartamentos e serviços em geral. Há tanto anúncios impressos
(jornais, revistas etc.) quanto anúncios digitais, presentes nos
mais variados sites. No entanto, há anúncios com o objetivo de
propaganda que também pode ser institucional, educacional, sem
relação comercial. É o caso dos anúncios encontrados nas páginas
educacionais para chamada de inscrições em cursos com vagas
disponíveis. Observe um exemplo.

Cartaz - está presente em diversas situações. Pode ser fixado


em murais, muros, postes e paredes. Possui dimensão variada
e, muitas vezes, é ilustrado com desenhos, fotografias e letras
grandes e chamativas. Depende de um contexto específico e tem
como foco o público leitor. Há cartazes divulgando eventos, cursos,
avisos importantes etc.

Panfleto - geralmente impresso em folha avulsa. Possui texto


publicitário curto e chamativo e é distribuído corpo a corpo ou
deixado em locais de grande circulação para que o público-alvo
leve e leia.
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 29

Discurso Acadêmico [ LEITURA COMPLEMENTAR ]


Acesse os portais a seguir e leia os
Monografia - é um texto mais longo e muito importante para a artigos disponíveis:
finalização de um curso acadêmico. Em contextos de especialização, Portal de Periódicos da Capes
também é requisitado, inclusive para a certificação deste curso na Portal de Periódicos do IFSC
modalidade a distância. A instituição a que o aluno é vinculado Sistema de Bibliotecas da UFSC
determina o número máximo e mínimo de páginas, margens, Um exemplo de resenha científica,
tipo de letra, ilustrações e anexos. É um trabalho acadêmico de do livro Letramentos Múltiplos, escola
caráter não muito profundo. A monografia também é muito utilizada e inclusão, poderá ser lida em:
como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que se caracteriza DELTA: Documentação de Estudos
em Linguística Teórica e Aplicada,
pela abordagem de um só tema, estudado de forma delimitada.
resenhado por Acir Mario Karwoski.
Monografias prontas são geralmente catalogadas e colocadas à
disposição da comunidade acadêmica através da biblioteca.

Resumo - um dos gêneros textuais mais utilizados em contextos


pedagógicos. É um texto breve que versa sobre as partes mais
relevantes de um livro, filme ou outro material. O conteúdo deve ser
apresentado de maneira concisa e coerente.

Resenha - é um texto curto (no máximo duas páginas) que faz um


comentário crítico sobre um bem cultural, indicando ou não a leitura
ou apreciação da obra. Pode ser livro, filme, teatro, biografia etc. Há
diversos cursos de graduação e de pós-graduação que possuem
revistas de área que contêm espaço para publicação de resenhas.

Artigo científico - é um dos textos mais utilizados de divulgação


científica no meio acadêmico. Possui uma estrutura específica,
com partes fundamentais como introdução, resumo, palavras-
chaves, corpo ou texto principal, conclusões e referências. Podem
ser publicados em revistas de área, anais de congressos ou revistas
digitais. Há diversos endereços eletrônicos de divulgação científica.

Discurso Literário
Conto - é uma das narrativas mais comuns na literatura. Nasceu
do discurso oral. Possui características específicas como tempo,
espaço, personagens, clímax e desfecho. Há diversos tipos de conto:
de ficção, de terror, de fadas, imaginário, entre tantos outros. Um
dos contos mais famosos é o “Mil e Uma Noites”, hoje considerado
um clássico da literatura mundial. As histórias se originam do Médio
Oriente e no Sul da Ásia. Foi traduzido para diversos idiomas,
sobretudo a partir de 1704. Os contos são narrados por Xerazade,
esposa do rei Xariar. Estão organizados em cadeia e cada um
representa uma noite de vida para Xerazade, já que o rei, ao ser
traído pela primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas
as noites, mandando-as matar A cigarra e a formiga - A formiga boa
na manhã seguinte. Xerazade
consegue a façanha de mudar
esse triste destino ao se valer de Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de
boa oralidade. Ao amanhecer, chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando
interrompe cada conto para cansadinha; e seu divertimento então era observar
continuá-lo na noite seguinte. as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mantém-se viva por mil e uma Mas o bom tempo afinal passou e vieram as
noites, no fim das quais o rei se chuvas. Os animais todos arrepiados, passavam
arrepende do que vinha fazendo o dia cochilando nas tocas. A pobre cigarra,
e desiste de executá-la. sem abrigo em seu galhinho seco e metida em
grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Fábula - teve sua origem com Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se
Esopo (séc. VI a.C) e Fedro dirigiu para o formigueiro. Bateu-tique, tique,
(séc. I d.C) e foi retomada tique. Aparece uma formiga friorenta, embrulhada
no Classicismo francês, por num xalinho de paina. - Que quer? - perguntou,
La Fontaine. É uma narrativa examinando a triste mendiga suja de lama e a
breve, em prosa ou em verso, tossir. - Venho em busca de agasalho. O mau
cujos personagens geralmente tempo não cessa e eu... A formiga olhou-a de alto
são animais que possuem a baixo. - E que fez durante o bom tempo, que
características humanas. No não construiu sua casa? A pobre cigarra, toda
final sempre há uma conclusão tremendo, respondeu, depois de um acesso de
ético-moral. tosse: - Eu cantava, bem sabe... - Ah!... Exclamou
a formiga recordando-se. Era você então quem
São muitos os títulos de fábulas
cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos
e vários conhecidos: A cigarra e
para encher as tulhas? - Isso mesmo, era eu...
a formiga, O cabrito e o lobo, A
- Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos
corça e o leão, O gato e os ratos,
esquecer as boas horas que sua cantoria nos
O cão e a lebre, O cavalo e o
proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava
asno etc.
o trabalho. Dizíamos sempre: “que felicidade ter
Conheça uma releitura da fábula como vizinha tão gentil cantora!” Entre, amiga,
A cigarra e a formiga. que aqui terá cama e mesa durante todo o mau
tempo. A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a
ser a alegre cantora dos dias de sol.

Monteiro Lobato (1922)

[ ATIVIDADE ]
Faina - acúmulo de serviços
Que tal refletir sobre a fábula que você
acaba de ler? Tulhas - celeiros
Qual seria a “moral” dessa fábula? Paina - fibra sedosa
Que ideia introduz que se diferencia da
versão original?
Como é a fábula na versão original?
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 31

Poema - Trata-se de uma composição poética em versos, de


tamanho variado. Ao conjunto de versos dá-se o nome de estrofes.
O poema ou poesia possui geralmente uma sonoridade conferida
através das rimas, porém nem todo poema possui rimas. Um
poema extremamente famoso (sobretudo a primeira estrofe) é o de
Camões. Observe!

Amor é fogo que arde sem se ver


Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? (Camões, 1595).

Biografia - é o registro escrito da narração oral, visual dos fatos


particulares das várias fases da vida de uma pessoa ou personagem
(gênero literário ou não) em livro ou revista ou em qualquer outra
publicação impressa. Pode ser organizada a partir de uma ordem
cronológica ou em forma de narrativa.

Há vários exemplos de biografia. Pense em alguma personalidade.


Muitas possuem biografias organizadas por jornalistas ou escritores
pela relevância em algum setor na sociedade (arte, música, literatura,
ciência, direitos humanos). Como exemplos, podem ser citados:
Diana Frances Spencer, Princesa de Gales, Nelson Mandela, Steve
Jobs, Machado de Assis, Tarsila do Amaral, Madre Tereza de
Calcutá, Zilda Arns Neumann, entre outros.
Discurso do Cotidiano
Lista de compras - geralmente escrita em papel avulso, agenda etc.
É uma sequência de nomes em ordem alfabética ou não daquilo que
se necessita comprar. Útil no planejamento do orçamento familiar.

Observe o exemplo, a seguir.

Lista de supermercado (itens a comprar)


arroz ovos
açúcar iogurte
achocolatado sabonete
café detergente
leite pasta dental [...]
carne
Bilhete - escrito de maneira simples e breve, mensagem reduzida
ao essencial, na forma e no conteúdo. Geralmente também é escrito
em linguagem coloquial. É comum que os bilhetes sejam entregues
ou deixados diretamente ao seu leitor final. Pode ser afixado na
geladeira, no computador, deixado em cima da mesa, no quarto
etc.

Exemplo:

Mãe, não se preocupe.

Estou no Zeca, fui jogar futebol.

Vou chegar tarde! Beijo, Juliano.

Carta - existe uma infinidade de tipos de cartas. Há cartas


comerciais, de solicitação, cartas de amor, carta de habilitação
etc. Possui uma estrutura comum que contempla cidade, data,
saudação inicial para o destinatário, corpo (conteúdo), despedida,
assinatura do remetente. A carta pressupõe uso de envelope e,
geralmente, é enviada pelo correio. No Brasil, há cartas que ficaram
famosas como a Carta Testamento de Getúlio Vargas ao povo
brasileiro antes de se suicidar.

A carta como gênero normalmente se apresenta com a seguinte


estrutura:
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 33

Data, cidade

Saudação pessoal,

Assunto, assunto, assunto,


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Despedida,

Assinatura

A carta também foi tema de poesia. Veja o exemplo!

Cartas de Amor
Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor


são ridículas.
Não seriam cartas de amor
se não fossem ridículas.
Também escrevi, no meu tempo,
cartas de amor como as outras,
ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
têm de ser ridículas
Quem me dera o tempo,
em que eu escrevia
sem dar por isso, cartas de amor,
ridículas.
Afinal, só as criaturas
que nunca escreveram Cartas de amor
É que são ridículas. (Pessoa, 1972, p. 399).
Convite - é um impresso que solicita a presença ou participação
de alguém em algum evento social, esportivo, literário, artístico,
entre outros. Possui as mais variadas formas e pode ser impresso
nos mais variados tipos de papel, com variação de tamanho e cor.
Há empresas especializadas em confecção de convites, sobretudo
de formaturas, casamentos e aniversários. No meio pedagógico, é
possível montar convites para a apresentação cultural da turma ou
grupo de alunos, recital de poesias, gincana, competição esportiva
etc.

Discurso Escolar
Prova escrita - também pode ser chamada de teste. É um impresso
que possui geralmente de uma a quatro páginas em que se
publicam perguntas abertas ou fechadas, objetivas ou de múltipla
escolha com o propósito de avaliar o conhecimento do estudante.
Muitos estabelecimentos escolares estabelecem que o professor
deve aplicar ao menos uma prova escrita por semestre letivo.

Polígrafo ou apostila - muito utilizado em cursinhos pré-vestibular


e colégios em geral. É uma espécie de caderno com a seleção de
material didático específico a partir de uma disciplina ou programa
de curso. É geralmente encadernado e distribuído aos estudantes
no momento da matrícula escolar ou durante o ano letivo.

Livro didático - está presente (ou deveria estar) em todas as escolas


públicas brasileiras (ao menos) e ao alcance de todo estudante.
Também é encontrado para consulta nas bibliotecas escolares. Os
livros didáticos geralmente são publicados a partir das disciplinas
ou séries escolares. Encontram-se livros didáticos de Português,
Geografia, Matemática, História, 4º ano escolar, Alfabetização etc.

O livro didático-pedagógico teve um papel


fundamental a partir das décadas 60 e 70 com
a chamada democratização do ensino. Muitas
camadas da população que não tinham acesso
às práticas escolares começaram a frequentar
os bancos escolares. Logo, o aumento da
necessidade de professores e a diminuição
do grau de exigência na seleção desses
profissionais fizeram com que o livro didático se
tornasse fundamental.
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 35

A seleção de textos, exercícios e atividades deixa de ser tarefa do


professor e passa a ser tarefa do autor do livro didático utilizado em
sala de aula. Hoje, espera-se que o professor utilize o livro didático
de forma crítica e que ele tenha autonomia para fazer desse recurso
mais um apoio para o desenvolvimento das aulas e não um recurso
exclusivo.

Dicionário, glossário ou enciclopédia - são publicações que


apresentam uma compilação, em ordem alfabética ou temática,
de opiniões, ideias, utilizadas na mesma época por um indivíduo
(escritor ou filósofo, por exemplo) ou por um grupo de indivíduos,
termos históricos ou ainda compilação de termos de determinada
profissão. Há muitos dicionários e/ou glossários que têm
informações importantes sobre determinadas áreas do saber ou [ ATIVIDADE ]
fazer humano: informática, zoologia, hotelaria, carpintaria etc. A escola em que você trabalha utiliza
como suporte o livro didático? Se sim,
É possível, em contexto escolar, organizar com os alunos um qual a editora, ano de publicação, título,
pequeno dicionário de termos que serão constantemente utilizados autor(es) do livro? Se não, pense nos
em algum tópico de aula: termos de geometria, termos de geografia possíveis motivos. Busque as possíveis
(cartografia), termos de determinada época. soluções.

Os gêneros textuais digitais (hipertextos)


Segundo Marcuschi (2004), há um conjunto de gêneros textuais
emergindo do contexto da tecnologia digital em ambientes virtuais.
São relativamente variados, e a maioria tem similaridades com
gêneros da oralidade ou da escrita. Nesse sentido, o autor coloca
em destaque um quadro comparativo entre os gêneros já existentes
com os emergentes. Assim, estabelece um paralelo, por exemplo,
entre:
[ SAIBA MAIS ]
Carta pessoal, bilhete, correio >>>> E-mail Para ampliar seus conhecimentos sobre
o uso do livro didático, pesquise na
Chat(s) >>>> Conversações (em grupo ou não) internet e leia o artigo: “Importância do
E-mail educativo >>> Aulas por correspondência livro didático: eficiência e/ou ineficiência
deste instrumento no processo de
Blog >>>>>>> Diário pessoal ensino-aprendizagem”. Você verá que
foram abordados apontamentos bem
Vídeo-conferência >>>>> Conferência, debate [...]
relevantes a respeito do tema. Vale a
O próprio contexto de ensino a distância faz com que utilizemos muito pena ler!
os gêneros digitais. Este curso é um exemplo disso. Certamente,
no seu desenrolar, todos os cursistas estarão bem familiarizados
com os recursos dos ambientes virtuais de ensino-aprendizagem
(AVEA) que englobam chat, e-mail e outras ferramentas. Conheça
as características básicas de alguns recursos.
Chat - conversa ou conversação informal realizada através do
computador em tempo real e possibilitada pelo uso da internet. A
escrita no chat pode ter abreviações para que os usuários consigam
teclar mais rápido e até mesmo com mais de uma pessoa ao mesmo
tempo. Há diversos programas que possibilitam o chat como MSN,
Skype, ChatBrowser, entre outros. Dentro dos chamados “portais
da internet” como Terra, UOL e Yahoo, existem links que oferecem
a realização de chat.

O ensino na modalidade a distância pressupõe um AVEA que tem


recurso de chat. Recentemente redes sociais também oferecem
esse serviço. É o caso do Facebook. É um recurso muito importante,
pois permite a interação, através da internet, de um grupo de
pessoas que compartilham interesses comuns.

[ ATIVIDADE ] Blog - surgiu da vontade de algumas pessoas de publicar seus


Você, enquanto professor(a), já pensou diários íntimos na internet. Essa “onda” começou a partir de 1994.
em ter um blog com publicações Logo após, surgiram os weblogs (web - rede de computadores -
profissionais? Você já possui um blog? mais log - tipo de diário de bordo de navegadores). Atualmente,
Como vislumbra a utilização de um blog
é muito fácil criar um blog. Muitos sites oferecem esse recurso,
em uma disciplina escolar?
bastando para isso fazer um cadastro que inclui dados como e-mail
e perfil do usuário. Uma das páginas que possuem tal serviço é
blogspot.com. Pedagogicamente, um blog da turma ou sobre um
interesse comum dos alunos é muito interessante e pode ser um
excelente recurso didático. Algumas turmas do Instituto Federal de
Santa Catarina têm blog. É o caso de: cozinhaifsc.blogspot.com e
proejacozinha.blogspot.com.

E-mail - no meio físico, toda pessoa tem (ou deveria ter) um endereço
com o nome da rua, número, bairro, cidade etc. No meio virtual, o
e-mail é o endereço virtual de uma pessoa ou empresa através de
cadastro em algum site que ofereça esse serviço. A marca de e-mail
é o símbolo “@”, ou seja, todo endereço de e-mail possui o seguinte
formato: nome_ou_apelido_pessoal@provedor.com.br. A extensão
“br” nem sempre aparece. Há alguns provedores internacionais,
logo a extensão fica assim login@provedor.com. É possível editar
a mensagem de e-mail com diferentes fontes (tamanhos, cores),
anexar fotos, vídeos etc. Muitos provedores oferecem esse serviço,
como Yahoo, Terra, Uol, Gmail, Hotmail, por exemplo.
Gêneros Textuais - orais, impressos e digitais 37

Videoaula - como o próprio nome diz, consiste em uma aula [ ATIVIDADE ]


acessada por meio de vídeo, ou seja, uma aula previamente gravada Reflita sobre quais gêneros textuais
em estúdio com o professor para ser disponibilizada posteriormente perpassam com mais frequência em
em Ambiente Virtual de Ensino-aprendizagem ou em programa sua prática docente. Gêneros textuais
televisivo. É muito utilizada no ensino na modalidade a distância. orais, impressos ou digitais? Quais são
eles?
Videoconferência - uma das características básicas é a ênfase Resenhas? Charges? Artigos científicos?
na interação de pessoas que se reúnem através das redes Livros didáticos? Cartazes? Panfletos?
computacionais. É uma conferência, ou seja, debate, discussão, Palestras? Relatórios? Listas?
fórum de discussão realizado através da conexão de redes. Seminários?
Pressupõe a existência de telas onde os usuários possam se ver
e compartilhar falas em tempo real. No ensino na modalidade a
distância, é comum marcar, ao menos, uma videoconferência
por período para que professor e alunos possam discutir tópicos
importantes daquilo que estão aprendendo.

Webpagina digital (jornais e revistas on-line) - muitos jornais,


revistas e livros impressos atualmente estão em formatos digitais.
É o caso de jornais locais como Diário Catarinense, Hora, A Notícia;
e nacionais, como Folha de São Paulo, O Globo etc. Muitas revistas
também têm formato digital. É o caso da revista Época, Veja,
Caros Amigos. Portanto, é possível ler e selecionar material para
atividades didáticas por meio das publicações digitais.
Nesta unidade, você acompanhou a descrição e exemplificação
dos mais variados tipos de gêneros textuais. Percebeu as
diversas classificações possíveis, bem como a noção de texto
dentro dessa categoria e as características básicas dos gêneros
textuais, os gêneros textuais orais, os gêneros textuais impressos
e, mais recentemente, os gêneros textuais digitais. A partir desse
conhecimento será mais fácil realizar a análise crítica dos textos que
MATERIAL IMPRESSO E GÊNEROS TEXTUAIS UNIDADE 3

Andressa da Costa Farias

Gêneros
textuais
da mídia
impressa
e da mídia
digital
Com o estudo desta unidade, você terá uma visão crítica do material a ser
utilizado nas aulas; conhecerá os gêneros textuais impressos e digitais que
podem permear o trabalho do professor.
Gêneros textuais da mídia impressa
e da mídia digital
Análise dos diversos gêneros textuais
impressos e digitais disponíveis
ou acessíveis aos professores no
trabalho pedagógico
Para iniciar o estudo, acompanhe alguns fragmentos de texto de
autores renomados na área de linguística e literatura para você
refletir e se manifestar a respeito.

A escola deve dar “prioridade absoluta para a leitura, para a escrita,


Gêneros textuais da mídia impressa e da mídia digital 41

a narrativa oral, o debate e todas as formas de interpretação [ ATIVIDADE]


(resumo, paráfrase etc.)” (POSSENTI, 1996, p. 84). Depois da leitura dos fragmentos,
comente e reflita: é dever apenas
A sociedade complexa precisa de gente cada vez mais
qualificada em termos de cultura escrita, em formação da disciplina de Língua Portuguesa
científica. [...] a instrumentação da prática de
leitura e escrita no contexto didático-
Quer dizer, escrever um conto é diferente de escrever um pedagógico?
poema; fazer um sermão é diferente de narrar um jogo de
futebol. Há um processo todo que nós fazemos na adequação
Em sala de aula é dever somente do
da linguagem. As duas coisas são importantes: língua na aluno ler os textos que estão ao seu
dinâmica interacional, social, e a estrutura da língua. “A dispor? Justifique. Exemplifique.
possibilidade de você rastrear no vocabulário palavras mais Pense na sua prática docente. Escreva
precisas para aquilo que você quer dizer, essa reflexão é
seu nome e escola ou instituição onde
fundamental.
trabalha.
Fonte: FARACO, Carlos Alberto. Entrevista: Olhai a beleza da
diversidade linguística. In: Na Ponta do Lápis. Ano VII, n. 12,
dez. 2011.

Refletindo sobre o papel do professor


Rubem Alves

“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos


fragmentos de futuro em que a alegria é servida como RUBEM ALVES

sacramento, para que as crianças aprendam que o [ QUEM ]


Saiba mais sobre a vida e a obra do
mundo pode ser diferente. Que a escola, escritor e educador mineiro Rubem
ela mesma, seja um fragmento do Alves. Acesse o site do pedagogo na
internet e boa leitura! Você também
futuro...” pode assistir sua entrevista: Rubem
Alves – O papel do professor. Divirta-se
com bons exemplos!

Reflexões sobre o uso dos gêneros [ ATIVIDADE ]


É errado o professor MANDAR
textuais em práticas didático- ler. É preciso PRATICAR a leitura
conjuntamente.
pedagógicas Como ensinar a pensar, a ter
curiosidade em descobrir as coisas, a
ter o gosto pela leitura (relacionando
Apesar de a mídia abarcar diversos suportes como televisão, o fato aos gêneros textuais)? Como
internet, rádio, jornal, revistas, neste módulo serão utilizados é possível o professor provocar a
dois gêneros textuais da mídia impressa: os jornais e as revistas. inteligência, o espanto, a curiosidade de
seus alunos?
SENSIBILIZAÇÃO AOS Atualmente, quase toda a publicação impressa tem versão digital
GÊNEROS disponível em links na internet. O trabalho didático-pedagógico
[ ATIVIDADE ] deve ser pautado pelo acesso aos gêneros já citados. Certamente
Para registrar no diário de bordo você já sabe que o livro didático não deve ser o único instrumento
(ou diário virtual), escolha um dia da de leitura e análise de material, certo? É preciso lançar mão
semana e preste atenção em todos os também da infinidade de informação constantemente publicada
gêneros textuais que você encontra.
em jornais e revistas para ilustrar, fomentar a discussão e a análise
Não ignore nenhum. Registre todos no
crítica dos alunos a respeito de um determinado assunto, tema ou
diário de bordo: as placas de trânsito
(especifique ao menos algumas), os notícia, preferencialmente se estiver relacionada aos tópicos que
cartazes publicitários (especifique), se serão abordados em sala de aula, independentemente da disciplina
leu alguma receita para fazer culinária didática (seja ela matemática, história, geografia, educação física,
(qual?), bula de remédio (qual?), livros etc.).
(quais?), sites da internet (quais?),
revistas (quais?), jornais (quais?), livros
didáticos (quais?), outras publicações
não citadas.

[ Este é um bom exercício para


fazer com os alunos também.
Posteriormente, cada um pode expor
oralmente, em forma de seminário, o
que encontrou durante o dia para ler.
Também se pode abrir um debate
sobre a importância da escrita na
sociedade. Registrar tudo e publicar
num blog da escola ou da turma.
Que tal? ]

É importante que o professor esteja consciente de que toda


publicação, seja ela impressa ou digital, tem estratégia de
publicação para atingir o público-alvo (que pode se segmentar
através da classificação em gêneros, faixa etária, classe social). Há
diversos jornais e revistas no país que são elaborados considerando
o público-alvo a ser atingido e com temáticas bem variadas. É
importante destacar que apesar de o discurso jornalístico estar
pautado na neutralidade e na ética, nem todos os meios de
divulgação respeitam essa condição. Assim, você poderá perceber
que uma mesma notícia pode ser veiculada de maneira diferente,
dependendo da empresa midiática de publicação.

Agora, a sugestão é você fazer mais uma atividade importante:


registre no seu diário de bordo os materiais da mídia impressa
disponíveis na sua escola (livro didático, revista, jornal, internet).
Cite o nome da escola, o endereço, a cidade e informe se nela
há laboratórios de informática com acesso à internet. Verifique se
esses materiais estão disponíveis a todos, ou só aos professores,
Gêneros textuais da mídia impressa e da mídia digital 43

se aos professores e alunos, se apenas à direção. Escreva os títulos [ ATIVIDADE ]


de ao menos três mídias impressas disponíveis. Se não há nenhum Navegue por esses impressos da mídia
material impresso ou digital disponível à comunidade escolar, digital (também pode ser do jornal
procure esboçar os motivos. Compartilhe e discuta a situação da impresso) e comente uma reportagem
ou notícia que tenha chamado a
sua escola e região com os demais colegas do curso. Você também
sua atenção. Explicite os motivos da
pode acessar na internet o guiademidia, que apresenta jornais de escolha. A notícia é local ou nacional?
todos os estados do país. Além disso, pode navegar nos sites de Qual o nome do jornal, o dia do acesso,
jornais como Diário Catarinense, Folha de Blumenau, Jornal de o título da reportagem, o conteúdo
Santa Catarina, Jornal Alternativo, O Atlântico, Jornal Metropolitano, (de forma breve), o público-alvo da
Oi São José, entre outros. publicação, sua visão crítica a respeito
do que foi publicado (informações
Mídia Revista foram ocultadas ou exageradas, o jornal
tomou partido?).
Muitas revistas têm um público-alvo bem específico, assim como
assuntos bem delimitados aos leitores que querem atingir. Que tal
fazer um exercício: escolha duas revistas digitais para identificar o
público leitor e a temática de assuntos que predomina na revista
(política, beleza, cotidiano, saúde e educação). Se você tiver acesso
a alguma edição impressa de alguma revista pode fazer por essa
edição também. As revistas sugeridas são: Revista Época, Caros
amigos, Revista Veja, Revista Nova Escola, Capricho, Quatro Rodas
e Revista Trip. Note que apenas pelas capas de algumas edições
você já consegue ter uma ideia de leitor e dos assuntos. Vamos lá?

Toda área de conhecimento aposta em publicações impressas


e digitais e geralmente tem a mídia revista como suporte. Você
costuma ler e/ou acessar revistas referentes à sua área de
conhecimento? Se sim, quais os títulos? Se não, apresente
motivos.

Esse exercício de sensibilização tem como principal propósito


permitir que você observe e se dê conta de que a publicação de
um texto segue sempre um propósito de interação com o leitor.
É quem lê que vai atribuir sentidos para o texto publicado. Logo,
todo projeto de publicação textual deve, em princípio, estabelecer
parâmetros para que se defina um público-alvo. Assim, todo projeto
pedagógico que considera um gênero textual deve levar em conta
alguns itens como:

• intenção do texto (propósito);

• receptor do texto (definição dos leitores);


• meio ou suporte (como será impresso, em papel ou digital);

• tema;

• conteúdo;

• tempo e lugar;

• forma de divulgação.

Desse modo, não adianta nada fazer um projeto de cartazes


com os alunos e afixar em lugares onde o público-alvo (leitores
específicos para informações contidas nos cartazes) não circule.
Assim como não há sentido fazer uma coletânea de poesias ou criar
coletivamente regras para um novo jogo entre os alunos e depois
não reunir em forma de pequeno livreto ou encarte tais produções.
A obra pode ser doada para a biblioteca escolar (para que outros
alunos também tenham acesso a ela). Outro exemplo é fazer com
que os alunos façam entrevistas com diversos profissionais e
divulguem os resultados dessas falas em forma de seminário ou
palestra ou em um blog para que os demais interessados fiquem a
par do que foi falado e discutido.

Todo gênero textual, seja ele oral ou escrito, deve fazer sentido, deve ter
um propósito, deve ser divulgado por algum meio e, principalmente, deve
atingir o público-alvo (os leitores). Somente dessa maneira é coerente
trabalhar com a sensibilização do discurso que é constantemente
produzido na sociedade. É importante que os educandos e educadores
percebam isso.

Suporte de impressão midiática –


digital e impresso
É preciso considerar que algumas características de impressão
mudam quando o meio de divulgação é impresso em papel ou
quando é digital. Assim, cabe ressaltar que o texto impresso
carrega características intrínsecas que podem ser definidas como
a permanência material do que está publicado, ou seja, uma vez
impresso ele pode ser atualizado através de outras edições ou
impressões, mas cada publicação será única e imutável, esteja no
Gêneros textuais da mídia impressa e da mídia digital 45

formato de livro, revista, panfleto, jornal, artigo, entre outros . HIPERTEXTO


[ GLOSSÁRIO ]
Já o texto digital possui outras características específicas que,
Segundo Xavier (2004, p.171),
conforme evidencia Soares (2003), já se diferenciam do texto “[...] hipertexto é uma forma híbrida,
impresso desde o processo de apresentação, uma vez que a dinâmica e flexível de linguagem
publicação se dá através da tela de um computador, por exemplo. que dialoga com outras interfaces
O texto eletrônico não é estável, os leitores de hipertexto podem semióticas, adiciona e acondiciona em
interferir no conteúdo publicado digitalmente. Assim, as publicações sua superfície formas de outras de
textualidade”.
digitais são textos mutáveis e/ou que podem ser constantemente
atualizados.

Um exemplo bem claro disso é o módulo desta disciplina. Existe um


livro da disciplina que pode ser impresso em papel (é o que você
está lendo agora!) e o mesmo conteúdo acessado digitalmente por
meio do AVEA do Moodle. Quando o suporte muda, as estratégias
de apresentação do texto também mudam. No ambiente virtual são
acrescentados links, animações, fotos e espaços para comentários
(fóruns, chats e outros recursos) que são próprios desse tipo de
publicação. O conteúdo ali poderá ser atualizado. Aqui o conteúdo
serve como parâmetro e guia do que vai ser exposto. Ficou mais
claro agora?
Esta foi uma unidade de sensibilização. O maior objetivo é que
você perceba o quanto são importantes e relevantes a leitura e
a escrita na sociedade moderna. E, nesse sentido, o trabalho
do professor é primordial na sensibilização dos alunos para que
estes sejam capazes de fazer a análise crítica de tudo o que é
impresso e divulgado socialmente. Todo o conhecimento humano
está armazenado em unidades escritas, sejam elas impressas
(enciclopédias, livros, revistas, jornais) ou, mais recentemente,
em unidades virtuais (enciclopédias eletrônicas, sites eletrônicos,
portais da internet etc.). Assim, foi feito um recorte de análise de duas
mídias: jornais e revistas (digital ou impresso) para que, primeiro,
você, enquanto cursista, fizesse uma análise crítica desse material.
E, por fim, foram dadas diversas sugestões de como trabalhar os
gêneros textuais de maneira consciente com os alunos.

A próxima unidade também apresentará alguns pontos de vista a


respeito de publicações no trabalho pedagógico e muitas sugestões
de como sistematizar alguns gêneros da mídia impressa e digital.
Aproveite bem os conteúdos!
MATERIAL IMPRESSO E GÊNEROS TEXTUAIS UNIDADE 4

Andressa da Costa Farias

Leitura e
produção
de textos
a partir
do gênero
textual
O conceito de letramento e gêneros textuais deve estar presente no meio
didático-pedagógico da sua atividade docente. Para isso, é importante
o incentivo e a prática da leitura e da escrita em todas as unidades
curriculares que compõem um currículo escolar. Podem ser utilizados
como suporte os textos que circulam na mídia impressa e na mídia digital
levando-se em conta a noção de gênero textual. Com o estudo desta
unidade, você será capaz de reconhecer a importância da inclusão dos
conceitos de letramento e gêneros textuais na prática pedagógica, bem
como apresentar um relato de experiência ou projeto para aplicar em
contexto didático.
Leitura e produção de textos
a partir do gênero textual

Letramento, gêneros textuais e


docência
O conceito de letramento já foi apresentado nos primeiros tópicos.
No entanto, cabe ressaltar a sua importância e essência. Conforme
Soares (1999, p. 3 apud Bagno, 2002, p.52, grifos da autora),
letramento é:

estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, MAS


exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam
na sociedade em que vive, conjugando-as com as práticas
sociais de interação oral.

Além disso, ainda conforme Soares (1998, p. 17 apud Bagno, 2002,


p.52), nesse conceito está implícita:
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 49

a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais,


políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o
grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo
que aprenda a usá-la.

Diante do exposto, é primordial que o docente tenha, como objetivo


pedagógico, o compromisso de incentivar e formar um aluno
com um grau de letramento cada vez mais elevado. Para isso, é
necessário o compromisso para desenvolver capacidades técnicas
de leitura e de escrita, habilidades que devem estar presentes em
atividades pedagógicas de maneira constante.

[ LEMBRE-SE ]
Não basta apenas ensinar a ler e
escrever, é preciso desenvolver
condições para o uso intenso e extenso
das habilidades de escrita e leitura.
Os alunos devem ver suas práticas
significadas e não como processos
isolados e mecanizados de codificação
e decodificação de palavras, letras,
sons, frases ou parágrafos.

E, nesse aspecto, concordamos com Possenti (1996), para quem,


ao invés da “decoreba”, devem ser intensificadas práticas de leitura
de material variado e, nessa prática, sejam incluídas, também, as
mídias impressas, jornal, revista, literatura., em grande escala. Os
impressos de toda ordem e de todo tipo devem “povoar” a sala de
aula, assim como a escrita constante em forma de cartas, narrativas,
contos, poesias, regras de instrução (jogos), receita culinária,
bula de remédio, cartazes, panfletos etc. A leitura constante deve
perpassar todas as disciplinas escolares através, por exemplo, da
leitura de um mapa, um enunciado de problema, regras do jogo,
tabela e gráficos, linguagem corporal.

A produção textual escrita nas escolas brasileiras não deve se


restringir apenas à prática da “redação” e nas aulas de Português
ou Linguagens. É dever de todas as disciplinas didáticas o
incentivo e a prática da leitura e da escrita bem como é função
de todo professor saber ler e escrever corretamente para orientar
os alunos. A redação é um gênero escolar importante, mas que
raramente possui uma função sociocomunicativa relevante para
a vida presente e futura do estudante. É uma produção para o
professor apenas. O ideal é que sejam dadas condições para a
produção de um texto escrito: quem escreve, o que escreve, para
quem escreve, para que escreve, quando e onde escreve. Isso
tornará o trabalho de escrita mais significativo e desafiador para o
aluno. É nesse ponto que está a importância do conhecimento de
gênero textual pelo docente.

O conceito e exemplos dos diversos gêneros textuais já foram


abordados em tópicos anteriores, porém convém relembrá-los.
Então vamos recorrer a Marcuschi (2001, p. 42-43 apud Bagno,
2002, p.54) que entende gênero como:

Uma forma textual concretamente realizada e encarada


como texto empírico, materializado. O gênero tem existência
concreta expressa em designações diversas, constituindo,
em princípio, conjuntos abertos.

Podem ser exemplificados em textos orais ou escritos tais


como: telefonema, sermão, cantiga de ninar, lista de compras,
publicidade, cardápio, bilhete, reportagem jornalística, aula
expositiva, debate, notícia jornalística, horóscopo, receita
culinária, bula de remédio, fofoca, confissão, entrevista
televisiva, inquirição policial, e-mail, artigo científico, tirinha
de jornal, piada, instruções de uso, outdoor etc.

É importante ressaltar também que, com o desenvolvimento


constante e rápido da tecnologia, há a emergência dos gêneros
digitais ou, ainda, a necessidade de um letramento digital. A tela
do computador se torna um novo suporte que é portador de textos
e hipertextos dos mais variados gêneros.

Sugestões de atividades
pedagógicas aliando gêneros
textuais através da mídia impressa
e digital
Os exemplos expostos aqui servem como parâmetros e guias de
reflexão para atividades docentes que podem ser desenvolvidas
levando em conta a leitura e escrita, bem como os gêneros textuais e
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 51

a possibilidade de suporte da mídia impressa e digital. No entanto, os


docentes são livres para adaptá-las ou até sugerirem outras, desde
que o foco seja o mesmo. Acreditamos que o ambiente didático
pedagógico oferece um sem limite de possibilidades que podem
e devem ser compartilhadas com os demais colegas professores.
Antes, é interessante expor algumas orientações relevantes, de
forma sintetizada, a partir do que expôs Soares (1999, p. 4-5 apud
Bagno, 2002, p. 56). Observe!

• Propiciar aos alunos a percepção e identificação das


relações entre oralidade e escrita, sendo preciso, para
isso, promover práticas integradas.

• Promover situações discursivas diversificadas de modo


que haja motivação e objetivo para que os alunos leiam
textos de diferentes gêneros e com diferentes funções.

• Desenvolver as habilidades de produzir e ouvir textos


orais de diferentes gêneros e com diferentes funções
(identificando interlocutores, objetivos, assunto, contexto
etc.).

• Criar situações e tempo para que os alunos tenham


oportunidades de refletir sobre os textos que leem,
escrevem, falam ou ouvem.

• Levar em consideração o grau de letramento que o aluno


traz de seu grupo familiar e cultural, incentivando-o a
melhorar cada vez mais sua habilidade de leitura e escrita.
Em todo o seu estudo nesta unidade curricular foram apresentadas,
de maneira sutil, algumas sugestões didáticas que podem ser
aplicadas em qualquer disciplina ou área de conhecimento. Que
tal relembrar algumas e fazer referência aos gêneros textuais que
podem ser envolvidos?

Primeiramente é necessária a ressalva de que se deve,


preferencialmente, fazer uma articulação do conhecimento cotidiano
com o dito mais “científico”. Além disso, é notória a presença dos
[ A vida cotidiana está repleta dos gêneros textuais através da mídia. Estão nas imagens publicitárias
recursos audiovisuais e eles devem
lidas nas ruas, nos textos jornalísticos que estão expostos em
também ser considerados na hora de
pensar em um projeto didático, já que a bancas de jornais e revistas, no texto que aparece na tela do
escola faz parte desse “sistema mundo computador ou celular, no discurso do apresentador na televisão
midiático”. ] entre inúmeros outros.

A mídia é produtora de cultura de massa, de cultura do cotidiano.


Está “bombardeando de informações”, a todo o momento, a casa
das pessoas através do rádio, da televisão, da internet e, mais
recentemente, do celular.

Uma sugestão interessante no trabalho didático é a promoção da


leitura crítica, pelos alunos, do que é divulgado através de textos,
imagens, áudio e audiovisual pela mídia. O papel do professor
será o de mediar e orientar essa reflexão coletiva. Assim, algo
que foi publicado em revista, jornal, folder, portais da internet e
televisão, por exemplo, pode ser utilizado para debates em sala de
aula. Antes, porém, é preciso estar atento a alguns apontamentos:
separar o tipo de publicação textual midiática que será analisada
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 53

em sala de aula; dar tempo para que a leitura seja feita por todos
os alunos; identificar o gênero textual da publicação (carta do leitor,
artigo de opinião, reportagem, depoimento, entrevista, foto, imagem
digital). Além disso, é importante conhecer as características
básicas do gênero em questão, o público-alvo a que se destina a
informação e estabelecer as estratégias para atingir este público-
alvo. Preferencialmente, deve-se apresentar vários pontos de vista
a respeito de um mesmo assunto. Então, por exemplo, identifique
como o assunto foi abordado por diferentes meios de publicação
(mais de uma revista, mais de um jornal, mais de um portal na
internet). Jamais fique com a visão apenas de uma publicação.

A seguir, serão apresentadas algumas sugestões de trabalho


didático que podem ser aplicadas em diversas disciplinas a partir
do conhecimento dos gêneros textuais. Confira!

a) Relatório de visita impresso para turma e/ou publicação digital


em blog

Sair dos “muros” da escola. Aproveitar um passeio a um parque


da cidade, uma reserva ambiental, um museu, um teatro, para
estabelecer relações entre o lugar conhecido e a cidade, o bairro e
a escola. No lugar visitado, propor observação atenta de tudo para
fazer um relatório coletivo, no qual cada grupo de alunos fique
responsável pela descrição de um item. Por exemplo, se fosse
uma reserva ambiental: fauna, flora, localização, pontos turísticos,
dificuldades encontradas no lugar, roupa apropriada, entrada,
temperatura predominante etc. Em sala de aula, o professor poderá
mediar a organização desse relatório de modo que fique um texto
único da turma. Também é possível fazer um levantamento das
fotos e imagens coletadas durante a visita para expor no mural da
turma ou em um mural da Escola, com legendas, de modo que
toda a comunidade escolar desfrute dos conhecimentos adquiridos
no passeio. Ou ainda, é possível divulgar a visita, os relatos, as
fotos e o conhecimento adquirido num blog criado num laboratório
de informática da Escola, em conjunto com toda a turma. Outra
possibilidade é divulgar o endereço do blog nos murais de toda a
escola, para que todos tenham acesso ao que foi divulgado, a fim
de fazerem comentários pertinentes.

b) Produção de poesias e contos – aula expositiva

Outra sugestão importante, sobretudo nas aulas que envolvem


linguagem, é a pesquisa sobre a vida dos mais diversos poetas
ou autores: Pedro Bandeira, Cecília Meireles, Machado de
Assis, Olavo Bilac, Fernando Pessoa, Castro Alves, entre outros
nomes. É possível dividir os alunos em grupos, e cada grupo ficar
responsável pela pesquisa da vida de um autor e, posteriormente,
pela construção da biografia do que foi pesquisado de forma
sintetizada. A estrutura da biografia pode ser a mesma para todos
os grupos, o texto é que vai variar. Cada grupo de alunos pode
apresentar oralmente a biografia do seu autor para a turma ante
a organização de slides. Na sequência, todos os grupos podem
digitar o material pesquisado e reunir, em forma de livro, para que a
turma tenha um material a consultar durante o estudo de poesia (o
gênero, estrutura, características, tipos, produção).

Após solicitar aos alunos a produção de poesias, é possível reuni-


las em um mural de poesias na escola, depois de devidamente
revisadas, com ou sem ilustração. O professor pode marcar um dia
para realizar um evento cultural para que os alunos que quiserem
recitar sua poesia tenham espaço e público para isso.

[ Como sugestões de contos Para trabalhar com contos, vamos sugerir o que foi publicado
para iniciar o trabalho, você pode na Revista Na Ponta do Lápis, de dezembro de 2011, referente
pesquisar na internet o conto: A à Olimpíada da Língua Portuguesa. É interessante começar
moça tecelã, de Maria Colasanti, e conversando com a turma sobre contos que talvez eles já tenham
Presépio, de Carlos Drummond de lido, indagar quais foram os preferidos, quais autores conhecem
Andrade. ] e identificar outras versões de um mesmo conto. Em seguida,
entregar fragmentos de contos de renomados escritores brasileiros,
organizar uma roda de leitura dos trechos dos contos para verificar
se tiveram vontade de ler integralmente algum e, finalmente, pedir
para exporem os argumentos para a realização (ou não) da leitura
de determinado conto.

Como atividade, os alunos podem estabelecer o diálogo entre os


textos (Colasanti e Drummond), verificar se há semelhanças em
relação à estrutura, enredo, linguagem e situação narrada. Para a
produção textual, é interessante pedir aos alunos que transformem
o conto Presépio, de Drummond, tragam os personagens para o
[ NOTA DO AUTOR ] cenário atual e criem um novo final. Se a turma for muito numerosa,
A atividade com contos que foi a sugestão é que os alunos realizem a atividade em duplas. Na
apresentada é apenas ilustrativa. O continuidade da atividade, os alunos podem trocar os textos
professor (a) pode e deve escolher
produzidos entre eles para fazer a revisão textual com a mediação do
outros contos e outras formas de
trabalho didático para adequar a professor; verificar pontuação, ortografia, adequação da linguagem,
faixa etária ao conteúdo que objetiva criatividade entre outros aspectos; para, enfim, digitarem todos
trabalhar. No entanto, devemos observar os contos. A turma pode escolher o mais surpreendente para ser
sempre qual gênero textual está sendo publicado no jornal da escola.
estudado e também os propósitos da
publicação e o leitor-alvo.
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 55

c) Manual de regras para jogo inédito [ NOTA DO AUTOR ]


A atividade é apenas uma sugestão e
As atividades físicas na escola são uma constante. Uma sugestão pode ser adaptada conforme a turma
interessante é a criação de um jogo inventado pela turma. Pode e o nível de desenvolvimento didático,
ter um motivo específico: jogar quando está chovendo, jogo para bem como conforme o que o professor
“entrosar” os tímidos, entre outros. Vai ser muito divertido propor julgar mais adequado.
uma atividade desse tipo. É interessante que os alunos registrem
todas as sugestões, a turma entre em consenso e o professor ajude
a organizar um manual das regras do jogo. Posteriormente, esse
manual pode ser transportado para um cartaz que será afixado na
sala da aula da turma que inventou o jogo.

Para isso, é interessante o professor retomar a estrutura e


organização dos gêneros manual de instrução e cartaz para orientar
corretamente os alunos.

d) Criação de glossários ou dicionários de um determinado


assunto

Em diversas áreas do conhecimento humano há alguns termos


que são frequentemente utilizados. Uma sugestão prática para
fomentar a pesquisa e o maior interesse dos alunos pelo que estão
estudando em sala de aula é a criação conjunta de um dicionário
ou glossário que seja posteriormente impresso ou digitalizado e
fique acessível à turma. Os exemplos de desenvolvimento podem
perpassar diversas disciplinas: termos históricos de determinada
época, termos usados em algum item da ciência, palavras da
geografia, cartografia, expressões corriqueiras da matemática
como a sistematização dos termos de geometria.

Como exemplo, temos os termos da geometria a serem


pesquisados e sistematizados: espaço, formas, linha, horizontal,
vertical, geometria, figuras geométricas, quadrado, cubo, retângulo,
triângulo, losango, trapézio.

O dicionário pode (e deve ser ilustrado). Nessa atividade, pode ser


feito também um trabalho interdisciplinar com o professor de Artes [ Aqui você conheceu uma série de
Plásticas. Ele deve ser impresso e distribuído, posteriormente, possibilidades. Dependendo da área
para o uso de todos aqueles que o fizeram. É muito provável que o de conhecimento, os termos e as
aprendizado de determinado tópico se torne ainda mais significativo sugestões de ilustração podem ser
se todos se envolverem no desenvolvimento desse gênero textual. alteradas. ]

e) Conferência ou debate a partir da apresentação de imagens


temáticas

Muitas disciplinas podem sugerir um tema, como, por exemplo, a


guerra (a partir de determinado período histórico) e fomentar um
trabalho de pesquisa de imagens ou quadros (Artes) que retratem
esse período. Cada aluno ou grupo de alunos pesquisará uma.
No que tange a representações de guerra, há vários quadros que
foram ilustrativos para tal: Carga dos Fanáticos (1956), O Monge
José Maria (1981), Maria Rosa- Alegoria (1982), Guernica (1937),
Esboços de Guernica (1937) entre vários outros.

Se não houver na escola a possibilidade de usar recursos


tecnológicos, é possível apresentar cartazes com as imagens
solicitadas ou banners. Mas, se há laboratório de informática ou
recursos digitais disponíveis, deve-se compilar tudo através de
programas de apresentação de slides e, logo depois, organizar a
realização de uma conferência em sala de aula ou em sala específica
para a projeção de tais imagens. A cada imagem projetada (ou
[ Essa também é apenas uma
mostrada, no caso dos cartazes,) para a turma, solicite uma leitura
sugestão didática de aplicação
crítica e visual e tenha um roteiro de questionamentos a fim de
de gênero textual que pode ser
adaptada às mais diversas áreas de fomentar a participação discursiva, que deve ter uma conferência
ensino e situações didáticas. ] (ou seja, é preciso revisar o gênero textual).
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 57

f) Publicação de livro ou blog da turma

A publicação de um livro poderá ser um grande incentivo para


que os alunos produzam textos seguindo um propósito pré-
determinado. O objetivo do livro vai contribuir significativamente
para que se empenhem em trabalhar o tema do livro, aspectos
abordados, imagens que serão publicadas (ou não), destino, público
leitor. Assim, não é necessário que a produção de um livro ocorra
unicamente nas aulas de Linguagem ou Língua Portuguesa. O tema
pode vir das mais diversas disciplinas, como História, Geografia,
Ciências, Artes, Educação Física.

É importante o apoio da direção da escola


nesse projeto e talvez de entidades no
entorno da escola, família ou comunidade
escolar, pois a publicação de livro exigirá
arrecadação de dinheiro para impressão,
capa e alguns exemplares (ao menos). O
lançamento do livro poderá ser realizado
em algum evento na Escola e irá fazer com
que todos os alunos ocupem os lugares de
autores para, inclusive, fazerem dedicatória
aos familiares e amigos que irão prestigiar
o evento. Essa atividade pode fomentar
também a criação de um convite para o
lançamento do livro.
[ DICA ] Caso não seja viável a publicação de um livro, a turma pode
É importante salientar que a criação de lançar um blog (publicação digital) temático. Há diversas páginas
um blog para postar as publicações na internet que possibilitam a hospedagem de um blog de forma
textuais dos alunos só terá sentido se gratuita. Uma delas é o blogspot. É claro que, para esse projeto,
todos puderem acessar para ler o tanto o professor quanto os alunos devem ter um conhecimento
conteúdo e fazer comentários. O texto mínimo de internet e editores de texto simples e possuírem e-mail
publicado deve atingir esse público leitor (endereço eletrônico virtual).
de alguma forma, porém é sempre
muito instigante e estimulante para os Existem muitos portais na internet que oferecem a possibilidade de
alunos a publicação digital. fazer um blog quase que automaticamente a partir de um cadastro
prévio: criarumblog ou wordpress. Aqui você verá um passo a
passo para a criação de um blog a partir do site blogspot, que
disponibiliza espaço para hospedagem do blog de maneira gratuita
na internet. Acompanhe e veja como é simples.

1º passo: acesse o endereço: <www.blogspot.com>.


2º passo: irá aparecer na tela uma imagem onde você deve clicar
em INICIAR.
3º passo: aparecerá uma tela na qual você deverá preencher
com e-mail, senha etc. É importante que seja fornecido um e-mail
coletivo, como, por exemplo, um e-mail da turma. Caso a turma não
disponha de e-mail, basta fazer o cadastro em sites como Yahoo,
Hotmail ou Gmail. Posteriormente, retorne ao endereço do blog.
Sugere-se que o e-mail da turma e a senha tenham relação com o
assunto abordado.
4º passo: você passará para a segunda parte do cadastro que
consiste em fornecer um nome ao blog. Pode ser relacionado ao
assunto que a página abordará, ao livro publicado ou à turma que
irá postar os textos desenvolvidos em aula.
5º passo: por fim, chegará a hora de escolher um modelo visual
para o blog (fundo da tela, cor da letra, por exemplo ). É importante
que todos que usarem o espaço de publicação digital estejam de
acordo com o modelo escolhido.
[ Se você escolher fazer um roteiro Há muitos projetos de publicação dos gêneros textuais
ou se escolher fazer um relatório,
desenvolvidos em sala de aula através do blog. Confira alguns
ambos devem ser enviados
exemplos:
anexados pelo AVEA através da
ferramenta ENVIO DE TAREFA. Assim <http://turma123ifsc.blogspot.com/>.
você já vai se habituando para o
<http://setebello2011.blogspot.com/>.
momento da elaboração do Plano
de Ação Integradora (PAI). ]

Para finalizar esta unidade, você pode mostrar o que aprendeu


Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 59

apresentando um projeto ou relatório em que tenha utilizado em


suas aulas os gêneros textuais de maneira significativa. Você deverá
optar por fazer um roteiro do projeto didático (para aplicar nas
próximas aulas durante o ano letivo) ou, se já desenvolveu projetos
didáticos que levaram em consideração os gêneros textuais e as
mídias impressas ou digitais, você vai escolher fazer um relatório
da experiência. Certo? Vamos lá?

Roteiro do projeto didático


A partir de agora você conhecerá um roteiro para apresentar o
projeto. Acompanhe com atenção!

A CAPA deve conter informações tais como: nome do polo, nome


do curso, nome do aluno, tutores presenciais, professor, cidade,
mês e ano.

Desenvolvimento (até 3 páginas digitadas em fonte Times New


Roman ou Arial, tamanho 12, espaço simples).
Nome da escola:
Série:
Unidade curricular:
Gênero escolhido:
Motivos da escolha deste gênero textual:
Características do gênero:
Autores e/ou materiais que serão utilizados:
Conteúdo:
Público leitor:
Como aplicar em sala de aula (sistematização das aulas, roteiro)
1º aula -
2º aula -
3º aula -
4º aula -
[....]

Meio de divulgação (impressa ou digital)? Motivos.


Considerações finais (explicite a importância do projeto para o
desenvolvimento do conhecimento da turma).

Se você optar por fazer um relatório de experiência, tenha a


consciência de já ter vivenciado uma experiência didática em que
os gêneros textuais foram relevantes e que houve alguma forma de
impressão digital ou física. Então, deve contar essa experiência,
situando o lugar (escola), o período de realização, os meios e
materiais utilizados, o envolvimento dos alunos, o que foi abordado,
o contexto de interação, as maiores dificuldades, os acertos, o
que foi mais relevante etc. Também deve inserir fotos ou links (se
houver). O ideal é que também tenha uma CAPA (nome do polo,
nome do curso, nome do aluno, tutores presenciais, professor,
cidade, mês e ano).

O desenvolvimento é o próprio texto contanto a experiência


(atente para o gênero relatório) e para a reflexão sobre se houve
o predomínio de algum gênero textual nessa experiência. No final,
poderão ser anexadas fotos e links. Lembre-se da referência básica
(autores, sites e livros que foram relevantes). O ideal é que tenha até
3 páginas digitadas em fonte Times ou Arial, tamanho 12, espaço
simples.
Leitura e Produção de Textos a partir do Gênero Textual 61

Nessa unidade final você teve a oportunidade de revisar os conceitos


de letramento, gêneros textuais e docência. Ainda objetivou realçar
a importância do professor enquanto mediador de gêneros textuais
e discursivos constantemente presentes nas atividades didáticas,
sejam elas das mais diversas disciplinas ou áreas do conhecimento.
Logo, esta unidade procurou deixar claro que a responsabilidade
pela prática da leitura e da escrita constante não é e não deve
jamais ser responsabilidade apenas do professor de Linguagens
ou Português.

Na sequência, você conheceu uma gama de possíveis atividades


que envolvam gêneros textuais e a mídia impressa ou digital tais
como: relatório de visita impresso para turma e/ou publicação digital
em blog, produção de poesias e contos – aula expositiva, manual
de regras para jogo inédito, criação de glossários ou dicionários
de um determinado assunto, conferência ou debate a partir da
apresentação de imagens temáticas, publicação de livro ou blog.
Tais sugestões serviram de parâmetro para que o docente cursista
refletisse sobre o quanto os gêneros textuais discursivos estão
presentes no contexto escolar. Sendo assim, para finalizar a
unidade, solicitamos que os alunos postem, posteriormente, no
Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem, um Projeto Didático
que considere a relevância dos gêneros textuais e das mídias
(impressa e digital), que deverá ser aplicado futuramente no Projeto
de Ação Integradora. Quem já aplicou alguma atividade relacionada
pode contar a experiência didática por meio de um relatório que
também deve ser postado via AVEA. Depois de todo esse processo,
esperamos que esta unidade temática no Curso de Mídias tenha
sido significativa para você!
Considerações
Finais
Esta unidade curricular do Curso de Mídias iniciou com a abordagem do
propósito da própria publicação deste livro didático, que faz parte do suporte
acadêmico do curso. Há, então, uma ênfase na sensibilização de que toda
publicação, seja ela impressa ou digital, possui um conteúdo que pretende
atingir determinado público leitor. Porém, antes de tudo, foi necessário fazer
uma pequena “viagem histórica” rumo ao conhecimento do Histórico da Escrita.
Afinal, as publicações só são possíveis via um código onde os sujeitos, ao
compartilharem o mesmo código, entendam as mensagens. Senão, nada teria
sentido.

O código foi materializado por meio do registro escrito. Mas a formalização


da escrita como conhecemos hoje percorreu um longo caminho. Passou
pelos registros de desenhos em cavernas, pela sistematização dos alfabetos,
pela descoberta do papiro, do papel, até, finalmente, pelo estabelecimento
das línguas e dos meios mecânicos de impressão e divulgação de textos. O
registro escrito, através dos mais variados tipos textuais, fez com que todo
o conhecimento humano pudesse ser guardado e sistematizado para que se
produzissem novos conhecimentos.

O formato textual varia conforme o propósito da publicação, e a escrita está


presente nos mais diversos ambientes sociais. Os indivíduos se utilizam dela
para as mais diversas ações na sociedade e surge, então, o conceito de
letramento e a sistematização dos gêneros textuais.

Você conheceu a gama de gêneros textuais existentes, sejam orais, impressos


e digitais, com alguns exemplos de circulação na sociedade. Foi assim a
explicação de contexto de uso de, por exemplo, uma receita, um discurso
acadêmico, um debate, uma palestra, um jornal, revista, blog, e-mail, chat,
bilhete, conto, editorial, resenha, resumo, charge, tirinha, todos devidamente
classificados conforme o discurso predominante: do cotidiano, acadêmico ou
literário.

Posteriormente, o foco do estudo foi nos gêneros textuais presentes na


mídia impressa e na mídia digital, a partir dos exemplos de publicação de
jornal e revista (impressos e digitais). Foi considerada também a necessária e
importante mediação do professor para a apresentação dos gêneros textuais
e para o desenvolvimento do gosto dos alunos pela leitura e pela escrita,
independentemente da área de conhecimento de que faz parte.

Depois de todo esse percurso, é provável que você tenha se dado conta de
quanto já trabalha com gêneros textuais no contexto didático. Mesmo assim,
foram apresentadas algumas sugestões de atividades que levam em conta a
leitura e a produção de textos, relacionando-os com a mídia impressa e a mídia
digital. Aproveite os conhecimentos aqui adquiridos e coloque em prática o
desenvolvimento dos projetos didáticos e relatórios de experiência com gêneros
textuais.

Tenha muito sucesso!


Sobre a autora

[ Andressa da Costa Farias ]


É mestre em Estudos da Tradução pela Universidade de Santa Catarina (UFSC), especialista em Educação pela
Faculdade Dom Bosco (2009), graduada em Letras - Português e respectivas Literaturas (2008) e em Ciências
Sociais (2004) pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente é professora no Ensino Básico
na cidade de Florianópolis, no Curso de Pós-Graduação em Mídias na Educação e no Curso de Graduação
em Gestão Pública, ambos através da Universidade Aberta do Brasil, pelo Instituto Federal de Santa Catarina.
Já atuou também como professora no Ensino Médio, técnico profissionalizante, EJA e PROEJA. Maiores
informações sobre atuação profissional e acadêmica da autora podem ser acessadas pela internet através da
Plataforma Lattes.
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