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Instituto de Ciências Sociais

Departamento de Sociologia
Disciplina: Sociologia do Conhecimento
Docente: Maria Francisca Pinheiro Coelho
Gustavo Willian Alves Rodrigues - 16/0123844

Fichamento 3: BERGER, Peter. LUCKMANN, Thomas. A construção social da


realidade. Petrópolis. Vozes, 1985 (III, A sociedade como realidade subjetiva. p. 173 -
241).

O capítulo seguinte da construção trata da sociedade como realidade subjetiva e


está dividida em quatro grandes tópicos: i) interiorização da realidade, ii) interiorização
e a estrutura social, iii) teorias sobre a identidade e iv) organismo e identidade. O
primeiro tópico é, sem dúvida, o mais importante, já que aborda a questão da
socialização primária e secundária, tão necessárias para que o indivíduo se torne um ser
socialmente hábil para viver em sociedade. Primeiramente, os autores enfatizam que o
indivíduo não nasce membro da sociedade, e sim torna-se membro dela; ou seja, a partir
da interiorização de acontecimentos e manifestações externas (de nossos semelhantes)
é que se constrói sentido, se atribui significado à realidade social. Dito de outra forma, a
materialização desse processo se dá pela socialização, que segundo os autores é:

“[...] definida como a ampla e consistente introdução de um indivíduo


no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela. A
socialização primária é a primeira socialização que o indivíduo
experimenta na infância, e em virtude da qual torna-se membro da
sociedade. A socialização secundária é qualquer processo subsequente
que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo
objetivo de sua sociedade”. (BERGER e LUCKMANN, 1966, p. 175)

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A experiência da infância é marcada por um alto grau de emoção, na qual a
criança se identifica com os outros significativos, em um processo contínuo de absorção
de papéis e atitudes – o que dá sentido à própria existência. Em tal processo de tornar-se
membro da sociedade, “na socialização primária não há problema de identificação. Não
há escolha dos outros significativos” (BERGER e LUCKMANN, 1966, p. 180). Isso
significa dizer que só resta ao indivíduo aceitar as condições que lhe são impostas, em
um jogo já pronto e definido. Por outro lado, a socialização secundária, com base no
desprendimento da família e pelo ingresso em outras instituições, como a escola ou a
faculdade, por exemplo, se dá pela interiorização de “submundos” existentes
paralelamente ao mundo geral/básico. Essa outra realidade que não a da família é
composta por um conjunto amplo de conhecimentos e funções específicas,
interiorizadas pelo indivíduo ao longo de sua biografia – e que, vale dizer, entrará em
confronto com a realidade anteriormente interiorizada.

Considerando que a socialização está sempre em processo e jamais termina, as


diferentes realidades subjetivas estão em constate conflito, considerando a grande
quantidade de instituições sociais que estão presentes na socialização secundária – o que
faz com que o mundo anteriormente entendido como “o mundo” passe a ser
questionado. Considerando a relação entre os indivíduos dentro dos mais submundos
existentes, é pela linguagem (conversa) que acontece a força geradora de realidade e que
funciona como elemento de conservação da realidade, em graus menores ou maiores de
significação. Todo esse processo ocorre, segundo Berger e Luckmann (1966), dentro de
uma estrutura social específica, condicionada à estigmatizações e estratificações sociais,
que vai direcionar os indivíduos à uma socialização mais bem-sucedida ou mal-
sucedida; além disso, as identidades que são escolhidas variam de realidade para
realidade, ao passo que podem sem reprimidas ou estigmatizadas.

Por fim, vale mencionar a dialética existente entre o substrato biológico e a


identidade social em que o indivíduo se encontra, quando o “eu social” se impõe sobre o
“eu biológico/animal/pré-social”, mas que está em constante movimento em um jogo de
forças, no contexto em que o ser humano “produz a realidade e com isso se produz a si
mesmo”. (BERGER e LUCKMANN, 1966, p. 241)

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