Conceituar a ciência da semântica, inicialmente, parece simples: estudo do
significado. Entretanto, o grande desafio, na verdade, está em delimitar o que seria o conceito pré-teórico de “significado”, tão plural. É exatamente nesse contexto que surgem várias correntes diferentes da semântica, em que cada uma irá eleger sua noção particular de “significado”. Ao analisar a publicação em destaque no enunciado da questão 1, percebe-se a iniciativa de diferenciar os conceitos de denotação e conotação. Ao abordar a denotação como “sentido literal/exato”, há nitidamente uma associação direta entre o léxico e o mundo físico. A frase 1, que é fornecida como exemplo, confirma a ideia da palavra “mar” como denotativa pela associação direta com o espaço físico de vasta extensão de água. Já na abordagem do que é conotação, a frase 2 utilizada pela publicação associa a palavra “mar” a “uma implicação de natureza emotiva”, ou seja, que não representa uma relação direta entre o léxico e o mundo físico, já que “mar”, nesse exemplo, não estaria associado ao espaço físico de vasta extensão de água. Na publicação, portanto, a corrente teórica da semântica utilizada como base para construção dos conceitos de denotação/conotação é a referencial. Em relação à apresentação desses conceitos em si, é possível perceber algumas inconsistências. A publicação é limitada na abordagem, pois desconsidera a situação comunicativa e todas as nuances que podem surgir a partir dela, além de todas as possiblidades de construção de “significado” que existem. A corrente representacional da semântica, nesse caso, é interessante como forma de questionar essa referência direta das palavras ao mundo físico. Nessa vertente, a mente é vista como representação da realidade, distanciando-se da semântica lexical (ligação entre uma estrutura sintática e uma estrutura semântica) e da formal (baseada em inferências e condições de verdade).
2.
Em relação à citação do livro “O Pequeno Príncipe”, presente no enunciado da
questão 2, se levarmos em consideração a corrente argumentativa da semântica (ou semântica da enunciação), podemos perceber que há alguns marcadores argumentativos fundamentais na construção da mensagem. Antes dessa análise, vale lembrar que essa corrente avalia a ideia de referência como uma ilusão criada pela linguagem, uma vez que o significado é sempre construído pelo enunciador na intenção de convencer um interlocutor de sua verdade criada. Trata-se, portanto, de um significado descrito nas relações de argumentatividade. O conectivo “mas”, na citação, funciona, por exemplo, como um operador argumentativo a potencializar o segundo período em relação ao primeiro, reforçando a relação pessoal com a raposa e sua caracterização como “amigo”, o que a distancia de todas as outras “cem mil”. Nessa mesma intenção argumentativa, o advérbio “agora” (em contraposição implícita ao tempo passado) consolida a nova postura da raposa no mundo segundo o protagonista da narrativa, tornando-a única. Sob o viés da corrente cognitiva, a significação linguística está relacionada à experiência que temos com o meio que nos circunda, ou seja, às nossas significações corpóreas/sensoriais. O significado, portanto, não está na linguagem em si; a linguagem é apenas um método que permite identificarmos uma estrutura cognitiva subjacente – com esquemas e imagens mentais. A raposa, na citação em destaque, extrapola o significado advindo da relação direta entre a palavra “raposa” e a sua referência no mundo físico como um simples animal. Isso acontece justamente por conta da significação que emerge de “dentro pra fora”, ou seja, da experiência subjetiva que O Pequeno Príncipe desenvolveu com o ser raposa, capaz de trazer a significação de “amigo” a ele.