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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

UNIRIO – ESCOLA DE LETRAS

SEMÂNTICA 2020/1

DIOGO D’IPPOLITO OLIO BARTOLOMEU DA SILVA

Respostas da Avaliação 1

1.

Conceituar a ciência da semântica, inicialmente, parece simples: estudo do


significado. Entretanto, o grande desafio, na verdade, está em delimitar o que seria o
conceito pré-teórico de “significado”, tão plural. É exatamente nesse contexto que
surgem várias correntes diferentes da semântica, em que cada uma irá eleger sua noção
particular de “significado”.
Ao analisar a publicação em destaque no enunciado da questão 1, percebe-se a
iniciativa de diferenciar os conceitos de denotação e conotação. Ao abordar a denotação
como “sentido literal/exato”, há nitidamente uma associação direta entre o léxico e o
mundo físico. A frase 1, que é fornecida como exemplo, confirma a ideia da palavra
“mar” como denotativa pela associação direta com o espaço físico de vasta extensão de
água. Já na abordagem do que é conotação, a frase 2 utilizada pela publicação associa a
palavra “mar” a “uma implicação de natureza emotiva”, ou seja, que não representa
uma relação direta entre o léxico e o mundo físico, já que “mar”, nesse exemplo, não
estaria associado ao espaço físico de vasta extensão de água. Na publicação, portanto,
a corrente teórica da semântica utilizada como base para construção dos conceitos de
denotação/conotação é a referencial.
Em relação à apresentação desses conceitos em si, é possível perceber algumas
inconsistências. A publicação é limitada na abordagem, pois desconsidera a situação
comunicativa e todas as nuances que podem surgir a partir dela, além de todas as
possiblidades de construção de “significado” que existem. A corrente representacional
da semântica, nesse caso, é interessante como forma de questionar essa referência
direta das palavras ao mundo físico. Nessa vertente, a mente é vista como
representação da realidade, distanciando-se da semântica lexical (ligação entre uma
estrutura sintática e uma estrutura semântica) e da formal (baseada em inferências e
condições de verdade).

2.

Em relação à citação do livro “O Pequeno Príncipe”, presente no enunciado da


questão 2, se levarmos em consideração a corrente argumentativa da semântica (ou
semântica da enunciação), podemos perceber que há alguns marcadores
argumentativos fundamentais na construção da mensagem. Antes dessa análise, vale
lembrar que essa corrente avalia a ideia de referência como uma ilusão criada pela
linguagem, uma vez que o significado é sempre construído pelo enunciador na intenção
de convencer um interlocutor de sua verdade criada. Trata-se, portanto, de um
significado descrito nas relações de argumentatividade. O conectivo “mas”, na citação,
funciona, por exemplo, como um operador argumentativo a potencializar o segundo
período em relação ao primeiro, reforçando a relação pessoal com a raposa e sua
caracterização como “amigo”, o que a distancia de todas as outras “cem mil”. Nessa
mesma intenção argumentativa, o advérbio “agora” (em contraposição implícita ao
tempo passado) consolida a nova postura da raposa no mundo segundo o protagonista
da narrativa, tornando-a única.
Sob o viés da corrente cognitiva, a significação linguística está relacionada à
experiência que temos com o meio que nos circunda, ou seja, às nossas significações
corpóreas/sensoriais. O significado, portanto, não está na linguagem em si; a linguagem
é apenas um método que permite identificarmos uma estrutura cognitiva subjacente –
com esquemas e imagens mentais. A raposa, na citação em destaque, extrapola o
significado advindo da relação direta entre a palavra “raposa” e a sua referência no
mundo físico como um simples animal. Isso acontece justamente por conta da
significação que emerge de “dentro pra fora”, ou seja, da experiência subjetiva que O
Pequeno Príncipe desenvolveu com o ser raposa, capaz de trazer a significação de
“amigo” a ele.

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