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ISBN: 978-65-88856-00-0
CDD 600
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Organizadores
Comissão Organizadora
O interesse pela Gastronomia no campo teórico acadêmico, seja nos Cursos superiores de
Gastronomia e inclusive com a recente abertura do Mestrado em Gastronomia da Universidade
Federal do Ceará demonstra a importância que o tema vem ganhando força, seja na seara
produtiva/econômica, na expressão sociocultural onde tem crescido e se expandido de forma notória
e nas crescentes publicações nacionais ampliando as reflexões acerca desse saber que tem a
alimentação como um dos seus elementos centrais.
A sociedade brasileira atualmente observa o ato de comer não somente com o olhar de
cliente-consumidor, mas com o ímpeto de interpretar e compreender os múltiplos aspectos de suas
experiências gastronômicas. O acesso ao conhecimento científico configura-se como uma ponte
possível para uma melhor compreensão das questões suscitadas por esse ato cotidiano e nesse sentido
destacamos o papel dos espaços de divulgação científica e da Universidade pública brasileira. Esse
interesse também é percebido pelos diversos títulos publicados sobre o tema, programas jornalísticos
e de entretenimento dedicados à Gastronomia oferta de cursos de curta e longa duração que
demonstram o crescente interesse pelo universo gastronômico.
No plano acadêmico, o engajamento e o investimento são igualmente perceptíveis. Ressalta-
se a crescente disponibilidade de revistas científicas da área, bem como das áreas correlatas, em
trabalhos cada vez mais direcionados à produção no campo dos domínios da cozinha e da culinária,
que dialogam com diversas áreas das ciências sociais e humanas.
Por consequência desse interesse de intercâmbio acadêmico, novos eventos, livros e
publicações científicas direcionadas à Gastronomia têm sido lançadas, como, por exemplo, nos
periódicos internacionais Flavour, International Journal of Gastronomy and Food Science e o
International Journal Culinary, assim como as edições nacionais da Revista Brasileira de
Gastronomia e dos Arquivos Brasileiros de Alimentação. Tais publicações vêm se estabelecendo no
meio e tem como mérito unir grandes profissionais da Gastronomia aos estudiosos de outras áreas
como a Ciência de Alimentos mais aplicada aos processos da cozinha, Ciências Sociais e Humanas,
Turismo e Hospitalidade divulgando os diversos olhares da complexidade que a Ciência
Gastronômica apresenta.
Diante do exposto, o CBG segue na perspetiva de promover o diálogo qualificado entre as
reflexões teóricas que circulam nas pesquisas científicas e o ciclo produtivo consolidando o papel
social e a responsabilidade da Universidade pública, gratuita e de qualidade e seu papel democrático
na consolidação da Gastronomia como ciência.
Índice
ENTIDADES PROMOTORAS / PARTICIPANTES ....................................... IV
COORDENADOR DO EVENTO .........................................................................V
COMISSÃO ORGANIZADORA ..........................................................................V
COMISSÃO CIENTÍFICA....................................................................................V
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO .......................................................................... VI
COMISSÃO DE MINICURSOS ........................................................................ VII
LISTA DE AVALIADORES .............................................................................VIII
APRESENTAÇÃO ............................................................................................... IX
TEMAS
Empreendedorismo e gastronomia
13088 Dinâmicas de Operações Internas em Franquias de Restaurantes Fast
Food ..................................................................................................................... 2
13157 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Restaurante Fast Food ..... 3
13170 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Restaurante Self
Service ............................................................................................................. 4
13177 Elaboração de Cerveja Artesanal à Base de Água de Coco: Características
Sensoriais e sua Aceitabilidade ........................................................................... 5
13207 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Empreendimento
Gastronômico ...................................................................................................... 7
13250 Empreendedorismo e Gestão em Gastronomia......................................... 8
13358 Franquias: Estratégia de Negócio para Pequenas e Médias Empresas no
Setor Gastronômico ........................................................................................... 10
13359 Dinâmica de Operações Interna: Análise de um Restaurante Self Service
no Rio de Janeiro ............................................................................................... 12
13589 Gastronomia Social e Empreendedorismo: A Extensão Universitária na
Capacitação de Mulheres em Produção de Geleias e Doces Regionais ............ 13
16294 A Oferta de Opções Vegetarianas em Bares e Restaurantes de Porto
Alegre ............................................................................................................ 15
16478 A Reutilização do Mercado Novo de Belo Horizonte: Economia Criativa
a partir da Gastronomia ..................................................................................... 17
16614 O Crescimento da Alimentação Vegetariana na Última Década e a Sua
Influência no Mercado Alimentício ................................................................... 19
16669 Produto Sustentável Plant Based: Snack de Algas e Casca de Banana .. 21
16675 Gastronomia e Territorialidade LGBT: construção de ambientes de
sociabilidade em estabelecimentos gastronômicos na Avenida Manoel Borba
(Recife/PE) ........................................................................................................ 23
16687 Queijo e gastronomia: estudo de caso .................................................... 26
16710 Gestão De Talentos: Abordagem Estratégica No Setor Gastronômico .. 28
16717 Alimentação em tempos de pandemia: Extensão Remota no Programa de
Aceleração de Empreendimentos Gastronômicos (PAEG) ............................... 30
16730 Gastronomia e Sustentabilidade: o projeto Realimenta como colaborador
para o reaproveitamento de alimentos e para transformação social .................. 32
16759 De volta à cozinha: análise sobre o surgimento de novos cozinheiros de
pães artesanais durante a pandemia do Covid-19 .............................................. 34
16777 A percepção das Boleiras sobre a valorização do seu trabalho na cultura
gastronômica no Estado de Pernambuco, Brasil ............................................... 36
16808 Elaboração de sobremesa com ingredientes do Semiárido Nordestino-
mousse de Palma Forrageira .............................................................................. 38
16814 Utilização da macaxeira e seus subprodutos como adjunto na produção de
cerveja artesanal ................................................................................................ 40
16827 Amendojor: Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Confeito
Elaborado Com Banana, Amendoim e Chocolate ............................................. 42
16832 Feiras, Pandemia e Redes Sociais: O Comparativo entre uma Feira Livre
e uma Feira Agroecológica Universitária .......................................................... 44
Cardápios em aplicativos de entrega: Uma análise das percepções dos
consumidores ..................................................................................................... 46
Gastronomia Social no Jardim da Gente e os Objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável......................................................................................................... 50
História da gastronomia
13228 Partilha Alimentar e Canibalismo No Ritual Antropofágico Tupinambá... 434
13450 A Formiga Tanajura e Seu Valor Simbólico Na História e Cultura Da Serra
Da Ibiapaba .............................................................................................................. 436
13533 A simbologia oculta e permanente do Bolo do casamento ................... 437
13661 A Comida no Pós Cinema Novo Brasileiro - Gastropoética e
Simbologias .............................................................................................. 439
14122 Chá ou Tisana? Uma Dose de Conhecimento na sua Bebida ............... 441
16690 Impactos do açúcar no nordeste colonial .............................................. 443
16727 A Mulher, a Comida e a Rua: Provedoras de Alimentos e de Renda nas
Ruas de Fortaleza ............................................................................................ 445
16728 Cultura entomofágica no Oriente: uma revisão sobre o consumo de insetos
por indianos e tailandeses ................................................................................ 447
16747 Palha Italiana: Origens e Substituição De Leite Fresco E Açúcar (In
Natura) Por Leite Condensado Na Doçaria Tradicional Brasileira ................. 449
16751 Telúrico Doce: Um Olhar Acerca Do Açúcar E Do Legado Cultural Que
Ele Confere Ao Nordeste Brasileiro .............................................................. 451
16810 Mandioca como manifestação cultural cearense: um estudo sobre as casas
de farinha ......................................................................................................... 453
16824 Lu Yu: o Santo do Chá ......................................................................... 455
Cozinhas Regionais Brasileiras: aspectos históricos, geográficos, econômicos e
culturais ........................................................................................................... 457
Patrimônio e gastronomia
13222 O Queijo Artesanal Macururé Como Patrimônio Cultural Do Sertão
Alagoano ......................................................................................................... 467
13309 "Cai, Cai, Tanajura na Panela de Gordura" Tanajura como Iguaria
Culinária Tradicional do Bairro Monte Castelo, em Ubajara-Ce .................... 469
13621 Consumo de Alimentos Regionais Brasileiros: Distribuição e Evolução
2008-2018 ........................................................................................................ 471
13858 Cana Sacarina: Cultura e Saberes da Gastronomia Pernambucana ...... 473
13918 O Baião Para Além do Arroz com Feijão ............................................. 475
16579 Identidade gastronômica-cultural de Manaus e suas relações com o
turismo: primeiros passos ................................................................................ 477
16592 Mercado Municipal Adolpho Lisboa: Um Lugar de História e Tradição da
Alimentação Dos Manauaras ........................................................................... 479
16648 o Consumo de Carne de Caça como Hábito Alimentar da Comunidade
Indígena Potiguara ........................................................................................... 481
16679 O Milho na Gastronomia - Uma Revisão Bibliográfica de Seus Aspectos
Históricos E Preparos Populares...................................................................... 483
16680 Doce seco: uma iguaria do Seridó Norte Riograndense ....................... 485
16694 Comida típica - Monumento, Documento e Patrimônio ....................... 487
16729 Aquisição de Frutas Regionais do Nordeste Brasileiro 2008-2009 ...... 489
16758 O Patrimônio Alimentar e o Ofício das Baianas de Acarajé ................ 491
16767 Rapadura e sua história: a iguaria de tradição cearense........................ 493
16768 Confeitaria francesa e o surgimento da tarte tatin ................................ 495
16770 Cozinha das Américas: A Importância das Pimentas e dos Pimentões ...... 497
16807 O uso do velame como erva aromática na bahia .................................. 499
16809 As Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) Na Feira
Agroecológica Da UFBA ................................................................................ 501
16819 O Bolo Das Noivas De Santo Antonio De Barbalha-CE: Pioneirismo para
a Gastronomia Social no Cariri ....................................................................... 503
16821 Gastronomia, Saber, Sabor e Inovação: Estudo De Caso do Prato
Revirado ................................................................................................... 505
16826 Soja - Um Estudo de sua Cultura, Versatilidade e Consumo no Brasil ...... 507
Turismo e gastronomia
13233 Alface do Mar: Possibilidade de Uso na Culinária do Alagoano ......... 619
13554 Gastronomia Árabe na Cidade Turística de Caldas Novas (Go/Brasil):
Trânsitos Culturais e Mobilidades ................................................................... 621
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
julianadamaris_candido@hotmail.com
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
julianadamaris_candido@hotmail.com
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
cecisantiago@gastronomia.ufrj.br
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹ Graduada no Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia na Universidade Estadual de Goiás - Campus Pirenópolis
(e-mail: nathalia_medeiros_silva@outlook.com).
²
Professor Orientador em 2018 do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia na Universidade Estadual de Goiás –
Campus Pirenópolis (e-mail: vanderlei.alcantara@ueg.br)
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fonte: Pesquisa
cecisantiago@gastronomia.ufrj.br
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Senac/SP Penha
potyspin@gmail.com
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
O trabalho do gestor gastronômico é amplo e complexo, não podendo 7.MARCELINA, Concetta. Gestão de Empreendimento Gastronomico. ,
ser esmiuçado nos limites de um artigo. Por isso, foram feitas algumas Edição e Produção Virtual Diagrama, São Paulo, 2008.
escolhas e decidido apresentar a discussão sobre a complexidade do
trabalho de um gestor no ramo de alimentos e bebidas. 8. BRUZZI, Demerval G. Gerencia de Projetos. 2. Ed. Editora
Senac São Paulo, 2011
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
Fonte : Autora.
A metodologia empregada foi a análise da realidade
vivenciada pela autora na sua atividade como gestora de O armazenamento dos itens e dos produtos deverão ser feitos
empreendimentos no ramo gastronômico. Para aprofundar o com o máximo de rigor, pois se tratando de alimentos, existem variantes
conhecimento, buscou-se fundamentação teórica em referências importantes que podem deteriorar o produto.
bibliográficas e na legislação. A logística de entrega precisa ser definida pelo franqueador
que, dependendo do produto, pode optar por fazê-lo em caminhões
RESULTADOS E DISCUSSÃO simples, refrigerados ou mesmo em congelados, podendo ser carga
fracionada ou não.
Para que o pequeno e médio empreendedor amplie seu Para realizar controles financeiros (entrada/saídas de notas
mercado utilizando o sistema de franquia/franchising é importante que fiscais, fluxo de caixa), controle de estoques, com inventários
ele conheça a Lei nº 13.966/2019 pois a mesma : periódicos, confrontando com entradas de produtos, vendas e
“Disciplina o sistema de franquia empresarial, pelo qual um desperdícios, o sistema operacional devem ser os mesmos para
franqueador autoriza por meio de contrato um franqueado a franqueador e franqueados. Para que o negócio do franqueador
usar marcas e outros objetos de propriedade intelectual, realmente valha a pena, ele precisa ter mecanismos de controle das
sempre associados ao direito de produção ou distribuição atividades do franqueado.
exclusiva ou não exclusiva de produtos ou serviços e também Planejamento de quantitativo da equipe de cada loja e
ao direito de uso de métodos e sistemas de implantação e treinamento devem ser realizados antes da inauguração pelo
administração de negócio ou sistema operacional franqueador, evitando assim discrepâncias no preparo, manuseio
desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante indevido dos produtos e formas de atendimento dos clientes.
remuneração direta ou indireta, sem caracterizar relação de No treinamento da equipe cada colaborador/funcionário
consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado deve ter especificado sua função. Será treinamento direcionado para
ou a seus empregados, ainda que durante o período de cada área do negócio. Haverá a apresentação dos produtos que constam
treinamento.” no cardápio, mostrando em fichas técnicas, aulas participativas e
A diferença entre a franquia e microfranquia é, segundo a degustações, o modo de preparo de cada um dos produtos, seus tempos
Associação Brasileira de Franchising (ABF), o valor investido de cocção, temperaturas, forma de montagem para que a apresentação
inicialmente pelo franqueado, que é de no máximo três vezes o PIB fique igual, mantendo a qualidade definida pelo franqueador,
anual médio per capita (3) isto é, um investimento de até R$96mil (4). independente da loja que o cliente for consumir.
Mesmo possuindo um porte menor, é possível que uma microfranquia Com todos os itens definidos, conclui-se junto as assessorias
chegue a faturamento aproximado ao de uma franquia (5). jurídicas e contábeis elaborar o contrato com direitos e obrigações do
Para se tornar um franqueador no ramo da gastronomia, franqueador e franqueado, com definição de valores de taxa de franquia,
além dos trâmites legais (abertura de firma, CNPJ e demais como será feita a cobrança dos royalties e taxas de
documentações contratuais), a definição do cardápio é um elemento que divulgação/propaganda.
deve ser destacado no processo, pois é dele que são produzidas as fichas O franqueador precisa zelar pela imagem dos seus produtos
técnicas de cada produto da marca identificando: quantidades, itens na mídia, definindo sempre melhores meios de propaganda para sua
utilizados e modo de preparo. Busca-se desta forma a padronização na marca, e também precisa ter qualidade para se manter no mundo
produção dos alimentos e o controle de quantitativo e qualitativo dos competitivo.
itens utilizados (Figura 1) . Ainda em obra precisa de acompanhamentos periódicos de
A criação de uma identidade visual da marca e detalhamento profissional capacitado do franqueador, dando o aval para inauguração.
do projeto arquitetônico da estrutura física de todas as unidades Após abertura da loja visitas periódicas de auditores da marca deverão
(quiosque, loja de rua ou de shopping, etc.) também deve ser ser realizadas para que a padronização dos produtos, atendimentos,
estabelecida pelo franqueador. Para cada modelo é feito um estudo de controles e higiene estejam de acordo com o contrato assinado com o
viabilidade e é definido um valor a ser investido pelo franqueado. franqueador.
Equipamentos, utensílios, produtos de higiene deverão ser
homologados e especificados pelo franqueador, levando em
consideração a legislação vigente em cada Estado. CONCLUSÕES:
Os itens utilizados em cada produto devem seguir os padrões
de qualidade pré-estabelecidos. É possível transformar um pequeno e médio empresário em
franqueador desde que desenvolva o know-how para seus produtos. O
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS:
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Introdução
A vida contemporânea possui características,
onde o tempo é um grande aliado. A alimentação sofreu
modificações para atender a nova condição de vida da
sociedade. Sendo assim, houve um incremento do segmento
de alimentação rápida, denominado self service (1).
Dessa forma, o próprio cliente o cliente torna se
responsável por se servir, pela escolha de uma alimentação
saudável com qualidade e de rápido atendimento (2). Tal
serviço surgiu para atender às novas necessidades da
população pautadas em uma alimentação rápida, além de ser
uma alternativa para substituir o restaurante a la carte(3).
Este trabalho tem o objetivo de analisar as
operações internas de produção de alimentos em um
restaurante self-service localizado dentro de uma
universidade.
Material e Métodos
Para a execução do trabalho foi realizada uma
pesquisa de campo, com entrevistas, aplicação de
questionários, observação baseado em uma revisão
bibliográfica sobre o tema da pesquisa (4). O restaurante
analisado encontra se na Cidade Universitária do Rio de Fonte: Pesquisa
Janeiro/ Brasil. O estabelecimento se caracteriza como um
self-service, sem balança, e o cliente tem direito a um suco, Notou-se no estabelecimento visitado e no
uma porção de proteína e acesso liberado ao buffet de funcionamento do tipo de segmento self-service de modo
saladas e guarnições, sendo possível repetir a refeição. geral, a presença do conceito de workinprocess. Dessa
forma, as atividades prestadas no restaurante, durante o
Resultados e Discussões período de serviço diário, estão em constante trabalho, i.e,
O principal público alvo do estabelecimento é em progresso, já que há reposição dos alimentos e produção
composto por estudantes e funcionários, por conta disso em mesmo durante o momento no qual se serve as preparações
determinadas épocas do ano, como férias e final de período ao cliente.
letivo, o proprietário do restaurante implanta promoções
para atrair mais clientes. O cardápio é baseado em comida Conclusões
caseira, além das preparações fixas, o planejamento do A pesquisa permitiu compreender algumas características
cardápio do estabelecimento é feito a partir da demanda e marcantes do segmento self service, tais como: a fluidez das
sugestões dos clientes. O pagamento é feito logo após o filas e a rapidez da compra, flexibilidade em atender os
cliente se servir, e por ter preço fixo, ele é feito rapidamente clientes, o preço e o diálogo entre funcionário e cliente para
não ocasionando filas. a readequação do cardápio.
A movimentação das preparações dentro do Porém, como ponto de melhoria, observa se ainda a
estabelecimento é feita pela equipe de cozinha que é necessidade de informatização do negócio para um controle
composta pela dona do estabelecimento e uma ajudante e a mais preciso e exato dos custos e entrada e saída das
movimentação no local é feita do estoque para a cozinha e mercadorias.
da cozinha para o buffet. Além disso, há também várias Pode se constatar, que a organização dos serviços, a relação
reposições feitas durante o serviço das preparações que com os clientes e a dinâmica com os funcionários são de
acabam, dessa forma, a cozinha continua em constante suma importância para perpetuar e prosseguir o desempenho
produção para dispor para o cliente tais alimentos. do restaurante.
Observou-se que as relações entre a organização
do serviço, cliente e funcionários da linha de frente, i.e, Referências Bibliográficas
tríade do encontro de serviços, proporcionam diferentes (1) LIPPEL, I. L. Gestão de Custos em restaurantes –
resultados, sendo eles pautados em eficiência, satisfação, utilização do método ABC. Rev. Elet. Tes. Diss. 1, 2008.
controle e autonomia. (2) SEBRAE. Como montar um restaurante self-service.
Para apresentação dos resultados, na Figura 1 SEBRAE, 2019. Disponível em:
temos o fluxograma das operações internas, demonstrando o https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-
processo de preparação e de entrega dos pratos oferecidos montar-um-restaurante-self-service. Acesso em 21 dez.
pelo restaurante. 2019.
(3) REBELATO, M.G. Uma análise sobre a estratégia
competitiva e operacional dos restaurantes self- service.
Figura 1- Fluxograma do processo interno Rev. Gest. Prod. 4, 321-334, 1997.
(4) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.
ktonini.gastronomia@nutricao.ufrj.br
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
2. As atividades práticas ocorreram com o auxílio de fichas técnicas
Nos dias atuais, a presença de múltiplas iniciativas para a promoção do testadas e padronizadas, em que as participantes executavam as
empreendedorismo social, mediante partilha dos recursos e capacitação preparações de acordo com as fichas e posteriormente formava-se ao
coletiva, tem se expandido de forma gradativa desde os anos 1980 final de cada encontro uma roda de conversa para rever o processo, tirar
produzindo dessa forma o movimento social da economia solidária, que dúvidas, demonstrar satisfação ou insatisfação da vivência, além de
também já atinge as dimensões do campo da gastronomia (1). fortalecer o grupo produtivo a ser formado. (2)
3. Manter o acompanhamento na venda de produtos, utilizado com
O projeto de extensão doçura que agrega da Universidade Federal do prática integrativa dos conhecimentos do curso em que as mulheres
Ceará, juntamente com as atividades promovidas pelo programa de poderiam ter contato com a comercialização de seus produtos em um
extensão Gastronomia social (UFC), promoveram a capacitação de um shopping de Fortaleza. A articulação feita pelo MSMC do Bom Jardim
grupo produtivo composto de mulheres da comunidade do grande Bom e instituições particulares proporcionaram uma parceria ao qual o
Jardim, situado a sudoeste na cidade de Fortaleza. Este bairro Shopping cedeu um quiosque por 30 dias para a divulgação e
compreende uma aglomeração de outras cinco comunidades que de comercialização desses produtos.
acordo como IBGE possui um dos IDH’s mais baixos da capital, (3) o Todas as etapas tiveram acompanhamento e supervisão, do MSMC, do
que de certa forma é um chamariz para a promoção de políticas públicas Projeto Doçura que agrega e do Programa Gastronomia Social.
com intuito de modificar esse quadro. O projeto de extensão Doçura
que agrega da Universidade Federal do Ceará, promoveu atividades de RESULTADOS E DISCUSSÃO
capacitação na produção de geleias e doces artesanais, tendo como foco
o aproveitamento de frutas oriundas de doações recebidas dentro do Dados atuais apontam que o Ceará é o terceiro maior exportador de
movimento de saúde mental comunitária do Bom Jardim, o MSMC, e frutas do Brasil, o que faz do Porto do Pecém o terminal que mais
processadas dentro da Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA) exporta frutas do Brasil, concentrando quase a metade de toda fruta
desta instituição. exportada no País (6). E dentro dessa possibilidade a Gastronomia
A produção artesanal tem sido bastante valorizada nos últimos anos, Social UFC e o Doçura que agrega reúnem ferramentas para que
principalmente por serem produtos mais rústicos e sem acréscimo de produtos elaborados dentro da periferia sejam apreciados e consumidos
componentes artificiais, como conservantes ou estabilizantes. Ainda por todos, uma vez que possuem todos os critérios de controle de
neste sentido, tem o apelo que os produtos artesanais despertam, além manipulação no processo produtivo e ainda possui valor social,
do uso de embalagens autossustentáveis, artesanais e que se apresentam trazendo oportunidades de geração de renda e transformação social as
de forma criativa. O objetivo desse trabalho foi relatar as experiências mulheres contempladas.
vivenciadas por mulheres da comunidade do Grande Bom Jardim na
produção de geleias e doces artesanais, bem como a experiência de Os doces e conservas produzidas no grupo apresentam não apenas o
comercializar esses produtos com valor social, gerando renda e processamento de frutas e produção com qualidade comercial, mas
promovendo empreendedorismo comunitário. (2,7) também um produto gastronômico e artesanal, atrelado ao social
promovendo a capacitação de mulheres, cuja maioria são as
Tem-se como objetivo geral desse artigo, promover a divulgação e a mantenedoras e geradoras de renda dessa comunidade que é o grande
associação da gastronomia enquanto proposta social de integração, Bom Jardim.
promoção da cidadania, desenvolvimento cultural e capacitação
profissional dentro de ações sociais. Partindo para o contexto mais Durante o mês de abril de 2019, um grupo formado por 16 mulheres
específico, com esse artigo busca-se destacar o papel da gastronomia oriundas da comunidade foram capacitadas no período de 30 dias dentro
como ferramenta de capacitação e inclusão de mulheres do grupo produtivo, cujas atividades iniciaram com toda a teoria e
economicamente ativas e como estas se tornam protagonistas de sua orientação de boas práticas de manipulação de alimentos até a parte
história dentro de um grupo produtivo experimental desenvolvido na prática da produção e elaboração de geleias e doces como mostram as
parceria com a Universidade Federal do Ceará fotos. As frutas e insumos utilizados foram adquiridos ou recebidos de
doações e por meio de instituições parceiras do MSMC3.(5)
MATERIAL E MÉTODOS
Finalizado o grupo produtivo, os produtos elaborados com esse
trabalho, foram postos à venda e comercializados dentro de um grande
Foi utilizada pesquisa bibliográfica usando a comparação para
shopping de Fortaleza, em um evento permitiu que produtos com valor
adequação do material estudado e a experiência real do projeto, a fim
social pudessem ser adquiridos por frequentadores do shopping. As
de manter um diálogo compreensível com as participantes.
geleias e doces tiveram excelente aceitação do público, onde 98% da
produção foi vendida, fato que motivou ao grupo fazendo acreditar em
A seleção das mulheres aconteceu no MSMC, instituição que
seus potenciais.
administra e organiza todas as atividades ligadas ao movimento, sendo
mulheres da comunidade e que tivessem interesse em aprender sobre
geleias e doces para empreender e fortalecer um grupo produtivo.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
Figura 2 – Mulher participante do grupo produtivo, atuando no stand dentro do (4) Dutcosky, S.D. 1996. Análise sensorial de alimentos. Curitiba:
shopping, divulgando e atendendo clientes durante a compra dos doces. Champagnat, 123 p.
CONCLUSÕES
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1
É gastrônoma e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas e bolsista CAPES modalidade 1
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Conclusões
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sensoriais bastante satisfatórias. Verificamos que a massa possuía Concluímos que o snack possui grandes chances de tornar-
crocância e delicadeza oriundos do óleo de coco e dos óleos essenciais se um produto em potencial para o mercado, partindo dos resultados
da castanha de caju, ambos ricos em gordura vegetais saturadas e positivos baseados em análises sensoriais empíricas. Acreditamos que
insaturadas, respectivamente. A casca de banana cozida ofereceu o snack destina-se a um público diversificado enquadrando-se nas
propriedade de emulsionar, conferir umidade e influenciar no sabor novas tendências de consumo em especial das pessoas que buscam um
agradável. O resultado foi um snack verde amarronzado (característica estilo de vida mais saudável através da alimentação, além de
proveniente do uso de algas e das Reações de Maillard durante o praticidade em seu dia a dia. Por se tratar de um produto que não utiliza
assamento). Ao toque é bastante crocante e não se desfaz nem nenhum ingrediente de origem animal em sua fórmula, também tem
amolece com a umidade relativa do ar, possui um leve aroma de mar como público-alvo as pessoas que são adeptas às dietas vegetariana e
devido ao uso da alga, assim como um sabor sutil de coco e castanha vegana. Sendo também um produto sem glúten e sem lactose, tem
de caju. Além disso, observamos de forma empírica o tempo que o como foco não somente as pessoas com restrições alimentares, mas
produto permaneceu com características sensoriais positivas, como também aquelas que consideram este tipo de produto mais saudáveis.
crocância, textura e sabor, e verificamos que após quinze a vinte dias,
em temperatura entre 20 e 28O C, armazenado em local Referências Bibliográficas
hermeticamente fechado, o snack se manteve com propriedades 1.Fundação Calouste Gulbenkian. O Futuro da Alimentação:
semelhantes ao produto fresco, revelando possuir boa durabilidade e Ambiente, Saúde e Economia. Abril de 2013.p.5. Disponível em:
maior tempo de prateleira. https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/o-futuro-da-
Um dos pontos importantes para o sucesso de uma futura alimentacao-pdf.aspx. Acesso em: 23 de julho de 2020, 17h.
comercialização do produto é pautada em sua versatilidade, pois pode 2. ALEIXO,M;LEAL, R; et al. Redes Sociais Como Fontes De
ser consumido de diferentes maneiras, seja como snack, como base Informação Para Pesquisas De Mercado: Um Estudo Sobre
para canapés ou ainda como guarnição na composição de um prato. Veganismo e as Dietas “Plant-based” -Instituto Federal de
(FIGURA 1) Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, v. 1, n. 7.2020.
Disponível:https://revistascientificas.ifrj.edu.br/revista/index.php/ali
mentos/article/view/1376/766. Acesso em: 24 de julho de 2020, 20h.
3. Uday Bhan Singh & A. S. Ahluwalia. Microalgae: a promising tool
for carbon sequestration.Received: 6 February 2012.p.75.
Disponível:https://www.researchgate.net/publication/257622995_Mi
croalgae_A_promising_tool_for_carbon_sequestration. Acesso em:
24 de julho de 2020, 21h.
4. LEITE, Bruno Souza Moreira. Novas Alternativas para o Uso de
Macroalgas da Costa Portuguesa em Alimentação. Dissertação
Figura 1: Montagem do snack como canapé para entrada (direita); para obtenção do Grau de Mestre em Ciências Gastronómicas.
Ingredientes e snack já assado, pronto para o consumo (esquerda) Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Nova de Lisboa,
A partir das pesquisas realizadas pela INNOVA (2020) março, 2017.p.62 a p.67. Disponível em:
verificou-se que os consumidores também desejam produtos com https://docplayer.com.br/59297131-Novas-alternativas-para-o-uso-
texturas variadas as quais valorizam as características organolépticas de-macroalgas-da-costa-portuguesa-em-alimentacao.html. Acesso
dos alimentos e que relacionam-se ao prazer da degustação (6). Em em: 23 de setembro de 2020, 11h.
concordância com essa afirmação, decidimos adicionar cubos de casca 5. LION, A; YANAZE,R. Obtenção e Caracterização de Farinha
de banana à massa com o intuito de obter texturas distintas e ser mais de Cascas de Bananas Verdes e Maduras.Trabalho de Conclusão de
interessante ao paladar do comensal, sem tornar-se monótono ao Curso, Universidade Tecnológico do Paraná, Londrina, 2018. p.10
degustar um número maior de unidades. p.17.Disponível:http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/
Atualmente, há um número elevado de consumidores em 10562/1/LD_COALM_2018_2_01.pdf. Acesso: 05 de agosto de
busca de produtos biológicos associada à preferência pelo consumo de 2020, 14h.
produtos locais, sobretudo provenientes de pequenos produtores (7). 6 e 7.SILVA, L.M.et al. Inovação e Tecnologia na Formação
Nesse sentido, torna-se necessário encontrarmos pequenas Agrícola: Inovação e Criação de Novos Negócios. edição 1. Lisboa:
empresas/produtores locais, como fabricantes de doces de banana ou/e Editora Associação dos Jovens. Disponível
escolas e restaurantes que estejam dispostos a disponibilizarem em:https://foodindustryexecutive.com/2019/11/innova-announces-
resíduos da casca de banana biológica para torna-se nosso parceiro e top-10-food-trends-for-2020/.Acesso em: 27 de julho de 2020, 16h.
contribuir na construção do projeto. 8. AGROCLUSTER Tendências do Mercado Alimentar da União
Segundo o manual da agrocluster de 2019, Europeia Aspetos do consumo, produto, distribuição e
“tendencialmente os principais métodos de diferenciação dos comunicação.Ribatejo, 2017. 2015, p.62. Disponível em:
produtos são: a inclusão de histórias e receitas, e a aposta em https://docplayer.com.br/5576121-Tendencias-do-mercado-
embalagens novas e de qualidade premium. Os principais fatores que alimentar-do-brasil-aspetos-do-consumo-produto-distribuicao-e-
impulsionam o consumo são: a saúde, a facilidade no uso e o prazer. comunicacao.html . Acesso em: 27 de julho de 2020, 10h.
Concluindo, a inovação e lançamento de novas referências (novos
sabores, novas variedades, tamanhos, embalagens) são as tendências
chave para os mercados mundiais, onde os consumidores procuram
alimentos que os surpreendam e ofereçam valor acrescentado.
Alimentos étnicos, bonitos, “free of” (lactose, glúten, etc.)
convencionais e funcionais são os mais procurados” (8).
Por fim, pensamos em um tipo de embalagem que desse
continuidade ao viés sustentável do produto, a qual consiste em um
saco de papel com visor e fecho ziplock. Como pode ser visualizado
no exemplo abaixo, o material mescla papel kraft e plástico
biodegradável. Na embalagem também estaria destacada a logomarca
do snack, representada na figura 2.
Conclusão
22
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
perspectiva de que possibilitam os encontros, seja com amigos ou Fortaleza-CE para o Público LGBT. Conexões - Ciência e
Tecnologia, [S.l.], v. 11, n. 5, p. 32-43, dez. 2017.
paqueras, em um contexto de liberdade, sobretudo de expressão,
assim como de acolhimento (97%), onde indivíduos se identificam 5. DALPIAN, P. R. C.; SILVEIRA, T. Locais de mercado,
diversidade e exclusão interseccional. Cad. EBAPE.BR, Rio de
em grupo e sentem-se à vontade, ou se sentem seguros coletivamente
Janeiro , v. 18, n. 2, p. 377-390, jun. 2020 .
(93%). A corporeidade sexuada está intimamente relacionada com o
6. JESUS, D. S. V. À Margem da Margem: LGBTs e a economia
espaço, sobretudo na formação dos territórios urbanos, provocando
noturna do samba nas Zonas Norte e Oeste do Rio de
acolhimento, indiferença ou exclusão, onde em oposição à Janeiro . Revista Baru - Revista Brasileira de Assuntos Regionais
e Urbanos, Goiânia, v. 4, n. 1, p. 77-92, set. 2018.
heteronormatividade, as manifestações homoafetivas e homoeróticas
são interditadas, sendo permitidas nos espaços privados ou em locais 7. FREITAS, B.; PORTUGUEZ, A. P. Consumo, exclusão social e a
dinâmica de produção do território LGBT+ na área central de
claramente identificados como permissíveis ao afeto homossexual.
Uberlândia, MG. Brazilian Geographical Journal, Ituiutaba, n. 2,
Ainda, a violência contra homossexuais, pressiona a comunidade v. 4, p.539-560, jul./dez. 2013.
LGBT à escolha e à construção de espaços reservados, pois o espaço
8. BARRETO, R. C. V. Geografia da Diversidade: Breve Análise das
público torna-se um ambiente de grandes tensões (5,7,8,9). Territorialidades Homossexuais no Rio de Janeiro. Revista Latino-
americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1, p.14-20,
O lazer, diversão e entretenimento (98%), alimentos e
jan./jul. 2010.
bebidas (86%) oferecidos pelos empreendimentos gastronômicos,
9. FRANCH, M. Juventudes coloridas: sociabilidade, consumo e
assim como o seu uso como ponto de encontro entre amigos e
subjetividade entre jovens LGBT em João Pessoa. Latitude, vol. 6,
“iguais” (98%) são considerados pelos respondentes como elementos n°1, pp.71-82, 2012.
atrativos para as suas escolhas e ocupações desses espaços os quais
10. JESUS, D. S. V. Só para o moço do corpo dourado do sol de
possibilitam a sua interação enquanto grupo. Ipanema: distribuição espacial da economia noturna LGBT na cidade
do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais, Recife, v. 19, n. 2, p. 288-309, maio/ago. 2017.
Conclusões
11. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
Esta pesquisa revela que a Avenida Manoel Borba
apresenta uma conglomeração de espaços comerciais no segmento
gastronômico voltados ao público LGBT e, ademais de sua
potencialidade como segmento econômico, os restaurantes, bares,
boates e casas noturnas são capazes de estimular a socialização e
proporcionar prazer ao indivíduo, além de suprir as necessidades
fisiológicas de segurança, de status, de autoestima, de autorrealização
e necessidades sociais de seus frequentadores os quais se
apropriaram dos diferentes espaços e através de suas identidades
agregaram significados a eles, produzindo assim uma territorialidade
LGBT.
Vale ressaltar que, além do campo econômico e
simbólico, a ocupação e dominação desses estabelecimentos
gastronômicos como territórios confluem para a construção de
espaços de convivência, liberdade e refúgio, onde palavras como
proteção, medo, preconceito e rejeição, direcionam a comunidade
LGBT para esses espaços existentes na Avenida Manoel Borba para
que possam ser reconhecidos por seus semelhantes e exercer
livremente a sua identidade.
Referências
1. MELLO, G. Cidade-armário: o não-lugar e a violação do direito ao
lazer como expressão da cis-heteronormatividade. Sexualidade &
Política: Revista Brasileira de Políticas Públicas LGBTI+, São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 179-217, jan./jun. 2019.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cintia Cristina Ebertz Malinoski Beims (1), Denis Alcides Rezende (2)
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
crescimento de micro-organismo, sendo favorável para a segurança leite/busca-de-noticias/-/noticia/25562253>. Acesso em: 09 de
do queijo. Os queijos que passam pelo processo de pasteurização, setembro de 2019.
apresentam maior segurança para os consumidores. Muitos queijos (4) SEBRAE. Estudos de mercado: queijos nacionais, 2008.
ainda são feitos com leite cru, e destas formas os riscos de Disponível em: < www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus>. Acesso
contaminação do produto se torna maior, o que é negativo tanto para em 24 de outubro de 2019.
o consumidor quanto para o produtor do queijo.
A análise do queijo minas padrão apresentou um percentual de 24% (5) VICENTINI, N. M. et al. Custo da adequação de pequenos
de gordura. Ele apresenta um teor de gordura médio, razoável em produtores de queijos. Estado de Minas Gerais. Instituto de
comparação aos queijos com maiores porcentagem de gordura como Lacticínios Cândido Toste. 2013. Disponível em
é caso do queijo prato que contém 43% de gordura em sua <https://revistadoilct.com.br/rilct/article/view/45>. Acesso em: 14 de
composição. O ponto positivo nessas variações de teor de gordura é setembro 2019.
que pessoas com restrições alimentares em gorduras e ou dietas (6) REZENDE, D. A. Planejamento estratégico público ou
podem escolher o tipo de queijo mais magro de acordo com a privado com inteligência organizacional: guia para projetos em
classificação de gordura presente no rótulo do produto ou de acordo organizações de governo ou de negócios. Curitiba: Intersaberes,
com o fabricante/produtor. 2018.
A análise do queijo minas padrão apresentou um percentual de 48% (7) CIÊNCIA DO LEITE, 2013. A história da fabricação de
de umidade. Assim como o cottage que apresentou 80% de umidade queijos no mundo. Disponível em
em sua composição. Esses queijos com alto de teor de umidade, <https://cienciadoleite.com.br/noticia/228/a-historia-da-fabricacao-
apresentam fator negativo que é, um tempo menor de prateleira, de-queijos-no-mundo>. Acesso em: 08 de setembro de 2019.
como é o caso do queijo minas frescal que deve ser consumido em
até 9 dias sob refrigeração. (8) CHALITA, M. A. N. et al. Algumas considerações sobre a
Foram elaboradas outras análises, dentre elas dos queijos: minas fragilidade das concepções de qualidade no mercado de queijos no
curado; mussarela; prato; provolone; provolone curado; quark; ricota; Brasil. Informações Econômicas, SP, v. 39, n.6, p. 77-88, 2009.
roquefort; e camembert. (9) AZEVEDO, A. Nutrição pratica e saudável. 2018. Disponível
Quanto a análise comparativa de queijo e gastronomia, apresentou em: <http://www.nutricaopraticaesaudavel.com.br/nutricao-e-
adequada, uma vez que existem muita variedade de queijos tornando saude/como-se-faz-queijo>. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
ótimo para a gastronomia e várias maneiras de apreciá-los. A (10) PIMENTEL, C. Nutrição e saúde como se faz: queijos. 2019.
gastronomia por sua vez, também tem muitas variáveis dependendo Disponível em: <www.nutricaopraticaesaudavel.com.br/nutricao-e-
da região, da cultura, e dos chefs. A gastronomia vem crescendo saude/como-se-faz-queijo>. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
muito em cada região do nosso país. Muitos cursos na área de
gastronomia vão surgindo, o que resulta em uma demanda de novos (11) FREIXAS, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no
chefes. Cada região vai se adaptando para oferecer o que produz de mundo. São Paulo: Senac, 2017.
melhor aos seus visitantes e consumidores. Desta forma, também o (12) KOERICH, G H. et al. Culinária, sensorial idade e memória:
queijo, teve um aumento de sua produção, consumo e de uma revisão sobre marca gastronômica. Revista Turismo: estudos e
apreciadores, fazendo com que novas combinações e técnicas de práticas, v. 8, n. 1, 2019.
fabricação surjam conquistando os mais diversos paladares. (13) GIL, A. C. Estudo de caso. São Paulo: Atlas, 2009.
REFERÊNCIAS
(1) MENEZES, S. M. Queijo de coalho: tradição cultural e estratégia
de reprodução social na região Nordeste. Revista de Geografia
(Recife), v. 28, n. 1p. 40-56, 2011.
(2) PERRY, K. S. P. Queijos: aspectos químicos, bioquímicos e
microbiológicos. Química Nova, v. 27, n. 2, p. 293-300, 2004.
(3) EMBRAPA. Gado de leite: pesquisa para a caracterização do
queijo artesanal 2017. Disponível em: <www.embrapa.br/gado-de-
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
O projeto PAEG foi criado com o intuito de da interação dialógica, além da indissociabilidade entre
transmitir conhecimento teórico para ser aplicado na prática, ensino, pesquisa e extensão, o impacto na formação do
por meio de aulas presenciais, oficinas, palestras, entre estudante, do empreendedor e também o impacto na
outros. Ao longo deste período de pandemia da COVID -19, transformação social, sempre propondo uma via de mão
foram feitas adaptações ao projeto para forma de execução dupla ao definir o que apresentar e de que forma fazê-lo.
remota, com o objetivo de manter o projeto ativo e atender
as demandas dos alunos empreendedores. Referências Bibliográficas
Por meio do feedback dos participantes, (1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
observamos que a forma remota da execução do PAEG, não ESTATÍSTICA (IBGE). Painel de Indicadores. In <
comprometeu seu objetivo de auxiliar na capacitação de https://www.ibge.gov.br/indicadores#variacao-do-pib >.
pequenos empreendedores na área de alimentação, pois se Acesso em 14 de agosto de 2020.
estabeleceu uma canal dinâmico de comunicação entre o (2) FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS
projeto e os participantes para ajustes de dúvidas e INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
orientações. BRASILEIRAS (FORPROEX). Política Nacional de
Sendo assim, a forma remota de aplicação do Extensão Universitária. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS,
PAEG, atende as diretrizes da extensão universitária, através 2012. v. 7.
31
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
Como exemplo de teste sensorial, citamos analise de duas amostras
O presente estudo caracteriza-se por ser do tipo qualitativo e de geleias com a participação de 41 pessoas alcançando aceitação
descritivo e trata-se de um relato de experiência realizado durante o destas amostras e de outras. Antes da realização do teste sensorial, os
durante o Curso de Conservas Artesanais (40 h/a) promovido pelo participantes foram informados que se tratava de uma avaliação dos
32
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
produtos confeccionados pelas participantes do curso de Capacitação (6) NAÇÕES UNIDAS - ONU. Brasil. 17 Objetivos para
em Conservas Artesanais. Também foi planejada a venda dos transformar nosso mundo. 2020. Disponível em:
produtos com selo social, entretanto, não foi realizada devido a <https://nacoesunidas.org/pos2015/ >. Acesso em: 08 de set. 2020.
pandemia da Covid-19 estando, portanto, em fase de adequação para (7) MESA BRASIL SESC. Conheça o Mesa Brasil Sesc. 2020.
a realização. Pretende-se divulgar os produtos nas redes sociais das Disponível em:
instituições parceiras, bem como disponibilizá-los em <http://www.sesc.com.br/portal/site/mesabrasilsesc/entenda>.
estabelecimentos comerciais, feiras de produtos alimentícios Acesso: Acesso: 20 ago. 2020.
artesanais e na loja virtual do IPREDE. (8) PREX UFC. Agência UFC / Sociedade e Cultura. A reutilização
As mães e responsáveis que são atendidas pelo IPREDE são oriundas de alimentos como possibilidade de renda e de educação. 2019.
da periferia de Fortaleza-CE, precisamente de bairros com baixos Disponível em: <https://agencia.ufc.br/a-reutilizacao-de-alimentos-
IDH. Muitos enfrentam a escassez de alimentos nas suas residências. como-possibilidade-de-renda-e-de-educacao/>. Acesso: 20 ago.
O Projeto Realimenta junto com o Gastronomia Social buscou 2020.
oferecer aos participantes uma melhoria de vida através de temas (9) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A
transversais como a educação alimentar e nutricional, ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - FAO. Perdas e
conscientização sobre sustentabilidade, sobre reaproveitamento dos desperdícios de alimentos na América Latina e no Caribe.
alimentos e promoção do fortalecimento do “eu” feminino, ou seja, Disponível em:
despertando ou fortalecendo o empoderamento, conforme preconiza <http://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/239394/>.
um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (6). Para Acesso: 28 ago. 2020.
além desses temas, as ações parceiras proporcionaram a capacitação (10) BRASIL. Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de
das participantes, motivando-as para o empreendedorismo, pois Alimentação. 3 ed. Brasília: ANVISA, 2004. Disponível em:
sempre realizavam discussões sobre o mesmo durante as aulas <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas
práticas, uma vez que fazia parte do ementário. +Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7
De acordo com o SEBRAE (2019) as mulheres empreendedoras %C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0>. Acesso: 20
representam hoje 48% dos microempreendedores individuais (MEI), ago. 2020.
atuando principalmente em atividades de beleza, moda e (11) SEBRAE. Por que é fundamental estimular o
alimentação; e quanto ao local de funcionamento do negócio, citam empreendedorismo feminino? 2019. Disponível em:
que 55,4% das MEI estão sediadas em casa (11). <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/por-que-e-
Em um mundo que enfrenta mudanças climáticas e escassez de fundamental-estimular-o-empreendedorismo-
recursos naturais, e ainda convive com o flagelo da insegurança feminino,ca96df3476959610VgnVCM1000004c00210aRCRD>.
alimentar, a redução das perdas e do desperdício de alimento deve Acesso em: 08 de set. 2020.
ser uma prioridade global (1). Diante desses problemas sofridos por (12) Portal Embrapa. Perdas e desperdícios de alimentos.
grande parcela da população mundial faz-se necessário a Disponível em:<https://www.embrapa.br/tema-perdas-e-desperdicio-
conscientização e implantação de sistemas que possam reverter essa de-alimentos/sobre-o-tema>. Acesso: 28 ago. 2020.
situação. Nesse aspecto a gastronomia torna-se um poderoso
instrumento de transformação não só no âmbito alimentar, mas
econômico e social.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cassandra Santos1*
1
Doutora, Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
*e-mail para correspondência: cassandra7789@yahoo.com.br
MATERIAL E MÉTODOS
Para o levantamento dos dados dessa pesquisa foram
pesquisados as seguintes hashtags(#) no Instagram: levain,
massamadre, sourdough e fermentaçãonatural. Também utilizou-se a
ferramenta GoogleTrends para os termos: levain, massa madre,
fermentação natural, sourdough. Esta última limitada as categorias
„Brasil‟ e „Todo o mundo‟. Além disso foram realizadas pesquisas
em diferentes jornais e portais de notícias brasileiras sobre o assunto.
Os dados obtidos foram tabulados até o dia 30 de agosto de 2020.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao realizar o levantamento no Instagram pelas hashtags(#)
levain, massamadre, sourdough e fermentaçãonatural obtiveram-se
diferentes quantidades de postagens marcadas com essas hashtags
específicas, bem como foram encontrados termos derivados que
também foram considerados. A quantidade de menções para cada um
dos termos e suas variações pode ser visualizado na Tabela 1. Na
Figura 1 apresenta-se os resultados encontrados para os mesmo
termos utilizando-se a ferramenta GoogleTrends.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
avó, e as pessoas sabem disso, é uma forma de divulgar um método 4) BRENAND, Tonica, 1963- Sonhos de açúcar / Tonica Brenand-
antigo de confeitar bolos e que vinha sendo esquecido pelas novas Recife: Ed. Do Autor. 2007, 132p.
técnicas.
Ideia Central (B): Não valorização pelo desconhecimento 5) BARROS, C. B. M. Brazilian Journal of Development. Disponível
dos custos e técnicas de produção, e pela concorrência de mercado. em:
Não sou valorizada, não tanto quanto deveria... <http://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/download/
Infelizmente o trabalho de confeitaria ainda sofre desvalorização 5827/5235>. Acesso em: 10 ago. 2020.
financeira. As pessoas não valorizam a arte, só o preço. A maioria das
vezes os clientes querem baratear o preço, mesmo que para isso eu use 6) HEIDEMANN, Ivonete Terezinha Schülter Buss et al.
insumos de qualidade inferior... por vários momentos sinto que os REFLEXÕES SOBRE O ITINERÁRIO DE PESQUISA DE PAULO
clientes preferem preço a qualidade devido à concorrência desleal, o FREIRE: CONTRIBUIÇÕES PARA A SAÚDE. Texto & Contexto -
mercado está muito difícil com relação à comparação de valores de Enfermagem, [s.l.], v. 26, n. 4, p.1-8, 17 nov. 2017. Fap UNIFESP
venda. Lamentável a nossa desvalorização por inversão de valores, (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000680017.
colocando a gente apenas como um prestador de serviço. A começar
por nossa própria família. É triste, mas continuo insistindo em 7) LEFEVRE, F; LEFEVRE, A.M.C; Discurso do sujeito coletivo:
qualidade e sabores para os que gostam e apreciam um bom trabalho... representações sociais e intervenções comunicativas, Texto Contexto
as pessoas não têm a ideia ainda de como fazer um bolo de noiva Enferm, Florianópolis, 2014 Abr-Jun; 23(2): 502-7
pernambucano, leva muitos ingredientes, e não é só isso, também
envolve muitas técnicas. Sinto-me desvalorizada porque nem todos 8) PIUBELLE, LUCAS, Pernambuco, Rendas e Artes em açúcar,
mantêm aquela fidelidade... gostam, elogiam, mas nem sempre 2018. 176p.
encomendam comigo. Além disso, como tenho pouca idade (33 anos),
os clientes preferem valorizar as boleiras mais conhecidas e 9) MACEDO, A. M., O BOLO DE CASAMENTO: A permanência
experientes da região. simbólica e a imutabilidade formal do Bolo de Casamento,
Observa-se que a educação cultural exerce um papel de Dissertação (Mestrado em Ciências Gastronômicas) – Faculdade de
extrema importância para a continuidade da cultura e da tradição de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa,
um povo. Torna-se o alicerce na construção de um ser, de seu Portugal, 2018. 54p
desenvolvimento intelectual e sua aceitação junto à sociedade. Unido
às boleiras a educação cultural exerce a função de dar ênfase ao
fortalecimento de novas gerações de boleiras dando continuidade a
cultura e tradição local, contribuindo para o crescimento gastronômico
no Estado.
O bolo tem tanta importância para o povo pernambucano
que as chamadas boleiras replicam em seus bolos, as famosas rendas
de renascença, estas desenhadas e feitas pelas mãos das famosas
artesãs rendeiras. Estas rendas tornam-se tradição nos bolos de
casamentos, símbolo de intimidade e valores únicos.
Nos dias atuais existe uma gama de produtos e utensílios
que colaboram na valorização e reconhecimento do trabalho das
boleiras no desenvolvimento das técnicas de um bolo artístico. “após
um longo processo de modernização e industrialização dos meios para
a produção do açúcar, hoje existe uma grande variedade de produtos
com distintas cores, texturas e gramaturas; possibilitando e facilitando
diversos processos gastronômicos na produção de bolos e de doces”
[8].
A percepção das boleiras sobre os valores de seus trabalhos
e a representação para a gastronomia pernambucana edifica a
manutenção do bolo de noiva pernambucano no consumo, na
economia e no simbolismo da cultura alimentar com potencial para
torna-se patrimônio Cultural e Imaterial do Estado.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Adriele Oliveira1, Adryele Silva1, Iza Macedo2, Mônica Lima1, Paloma Lima1
adryeles86@gmail.com
2
Orientadora do Trabalho e Docente do Curso Bacharelado em Nutrição pela Faculdade da
Região Sisaleira, Conceição do Coité-BA.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO: Na economia brasileira, o setor cervejeiro é um dos que produz flores resinosas com utilidade na produção de cerveja, uma
mais relevantes, sendo o país o 3º maior produtor de cerveja no mundo, vez que possuem glândulas de lupulina que contém resinas rígidas e
movimentando cerca de R$ 74 bilhões de reais por ano, respondendo flexíveis (ácidos alfa e beta), óleos e polifenóis. São esses alfa-ácidos
por 1,6% do PIB e 14% da indústria de transformação (1). O consumo isomerizados as principais fontes de amargor da bebida e os óleos
de cerveja artesanal e a dispersão da cultura cervejeira no Brasil se conferem aroma e sabor. A fervura, que teve uma duração de 60
mostra crescente nos últimos anos e tem despertado o interesse das minutos, se faz necessária para esterilização do mosto e para volatilizar
cervejarias em produzir a bebida com ingredientes nativos e não alguns compostos indesejáveis a cerveja conhecida como off flavours,
convencionais, adaptando receitas, estilos e, imprimindo assim, uma conferindo um sabor agradável ao produto final. Além disso, é durante
identidade nacional. A utilização de adjuntos na produção de cervejas a fervura que há a caramelização do mosto, definindo cor e sabor
artesanais pode proporcionar extratos mais baratos se comparados ao devido a reações dos açúcares e aminoácidos. Segundo Morado (8),
malte (2) e a macaxeira (Manihot esculenta crantz) é um adjunto em sem essa etapa, o mosto seria física e biologicamente instável.
potencial devido ao elevado conteúdo de amido, que, em algumas Concluindo a etapa de fervura, deu-se início ao processo de
espécies este pode corresponder a até 97% do peso da raiz. A resfriamento do mosto cervejeiro. Para esse resfriamento foram
legislação brasileira define como adjuntos cervejeitos as matéria- utilizados uma serpentina de material inoxidável chamada de chiller.
primas que substituam, em até 45% em peso em relação ao extrato Essa serpentina é introduzida no mosto 15 minutos antes de finalizar a
primitivo, o malte ou o extrato de malte na elaboração do mosto etapa de fervura para esterilização do mesmo. Por ela, foi bombeada
cervejeiro, sendo os ingredientes de origem vegetal fontes de amido e água em baixa temperatura para resfriar a mistura até atingir
açúcares aptos para o consumo humano como alimento (3). Os temperatura ideal de fermentação, que neste caso, foi a de 18° C. Com
açúcares são imprescindíveis para a fermentação do mosto cervejeiro, a temperatura ideal, o mosto foi transferido para uma balde alimentício
gerando o etanol e o gás carbônico da bebida. Face ao exposto, o devidamente sanitizado e no momento de trasfega foi adicionada a
objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade do uso da macaxeira e levedura cervejeira US-05, da marca Fermentis. Em análise, esse
seus subprodutos para a produção de uma cerveja e avaliar a aceitação mosto apresentou, antes da fermentação, uma densidade original de
sensorial da mesma. 1,055 SG, pH de 5,5 e um volume final de 21 L. A fermentação, etapa
METODOLOGIA: Para a produção em escala laboratorial da cerveja que consiste basicamente na transformação, pela levedura, de açúcares
a base de macaxeira foi utilizado o método single vessel, termo em em gás carbônico (CO2) e etanol (C2H6O), foi feita com temperatura
inglês que designa equipamento e/ou metodologia para produção controlada em geladeira e auxílio de um termostato. Teve uma duração
cervejeira, por infusão, em um único bloco, ou seja, em uma única tina de 7 dias atingindo uma densidade final de 1,011 SG o que fez com
se faz da mosturação à fervura. Este equipamento, com capacidade que a cerveja apresentasse, aproximadamente, 5,78% de álcool por
para fazer 20 L de mosto, possui um cesto no interior do tanque no volume e uma atenuação aparente de 79%. Finalizada a fermentação a
qual se insere os insumos, facilitando a lavagem e a retirada dos temperatura da geladeira foi elevada gradualmente para 21° C,
mesmos após a mosturação (4). Foram utilizados na produção 50% em permanecendo assim por dois dias, para eliminação do diacetil,
peso de goma de tapioca úmida obtidos com pequenos produtores do substância formada pela levedura ao longo da fermentação que confere
município de Rio Tinto - PB e 50% em peso de malte pilsen moído em a cerveja um aroma que lembra manteiga rançosa. Posteriormente, a
moinho de dois rolos. Esses insumos foram misturados a um volume temperatura foi reduzida a 0° C para a etapa de maturação da cerveja,
de 20 litros de água com ph 4,8, proveniente da rede de fornecimento onde os sabores e aromas da cerveja se ajustam. Segundo Morado
de água do estado, passada por filtro de carvão e adicionados de 20 ml (2017), é nesta etapa que ocorre o “afinamento” da cerveja. Já pronta,
de ácido fosfórico (10%). A água foi previamente aquecida a uma a cerveja foi transferida para um barril inox esterilizado próprio para
temperatura de 67° C para a mosturação. Segundo Venturini Filho (5), cerveja e durante cinco dias foi carbonatada com CO2 com 2,5 BAR,
essa mistura acrescida na água a temperatura controlada, de acordo ideal para o estilo da cerveja produzida contribuindo com sensação de
com um programa previamente estabelecido, tem por objetivo frescor.
solubilizar as substâncias do malte, solúveis em água e ativação A cerveja de macaxeira foi submetida a teste sensorial afetivo de
enzimática. No processo sacarificação, os açúcares foram extraídos da aceitação sendo apresentada a provadores não-treinados maiores de 18
macaxeira e do malte de cevada assim como enzimas alfa amilase e anos e apreciadores de cerveja artesanal. Ela foi servida junto de uma
beta amilase, que ativas farão o processo de conversão dos cerveja de marca comercial do tipo lager. Foram servidas 50mL de
polissacarídeos em açúcares fermentáveis. A primeira enzima é cada amostra a 4º C juntamente com a ficha de avaliação e nesta ficha
responsável pela liquefação do amido em açúcares não fermentáveis, os provadores necessitavam avaliar as bebidas quanto aos atributos de
dando corpo a cerveja. Já a segunda enzima, é responsável pela cor, espuma, aroma e sabor utilizando escala hedônica de 5 pontos
conversão do amido em açúcares fermentáveis. Esse processo de onde 1- desgostei muitíssimo, 3- nem gostei/nem desgostei, 5- gostei
cocção durou 60 minutos com recirculação constante do mosto muitíssimo. Os resultados foram submetidos a teste de comparação de
cervejeiro, através de uma bomba. Após essa etapa, foi feito um médias t-student a 5% de significância utilizando o pacote estatístico
aquecimento lento, até 78º C, temperatura ideal para a etapa de mash SIGMASTAT 3.5. Para verificar a aceitabilidade das cervejas
out ou inativação enzimática, e permanecendo nela por um período de calculou-se o Índice de aceitabilidade (IA) seguindo a metodologia
10 minutos. Nessa etapa, as enzimas da mosturação se tornam inativas descrita por Dutcosky (9) conforme expressão abaixo:
e há uma diminuição da viscosidade do mosto facilitando a retirada IA (%) = (A/B) x 100 onde A é o valor médio obtido para cada atributo
dos açúcares, tornando mais eficiente a lavagem do bagaço (6). Em e B é o valor médio máximo para cada atributo.
seguida, os insumos depositados no cesto do equipamento sobre um
fundo falso, foram retirados e lavados com água previamente aquecida RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os resultados da avaliação estão
a temperatura de 80° C, até o volume de água atingir 25 litros. Foi feita expressos na Tabela 1. Houve diferença estatística significativa
análise do mosto que apresentou uma densidade de 1,050 SG e 5,45 de (p<0.05) para todos os atributos sensoriais avaliados. A cerveja
pH, concluindo assim a etapa da mosturação e lavagem dos grãos, e elaborada com o adjunto de macaxeira obtido escores maiores em
iniciando a fase de fervura. A temperatura do mosto foi lentamente todos os atributos. Para ser denominada “cerveja de macaxeira” a
elevada até atingir o ponto de ebulição, cerca de 100° C. No começo bebida deve conter no mínimo 50% e no máximo 80% do insumo em
da fervura, foram acrescentados 5 gramas de lúpulos (humulus relação a totalidade do extrato primitivo da cerveja de acordo com a
lupulus) da variedade Hallertau Magnum (14,00%), que irá conferir a legislação brasileira .Na avaliação da aceitabilidade das cervejas, a que
cerveja um IBU (International Bitter Units) de 8,3. Hieronymus (7) foi produzida com a macaxeira apresentou índice de aceitabilidade de
explica que esse gênero, pertencente à família Cannabaceae, é o único 83,4% em se tratando de sabor. Um produto para ser bem aceito
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Amostras CC** CM
Cor 3,67*±0,98 4,08±1,16
REFERÊNCIAS:
(1) CERVBRASIL. Associação Brasileira da Indústria da
Cerveja. 2016. Disponível em:
<http://www.cervbrasil.org.br/novo_site/anuarios/CervBrasil
Anuario2016_WEB.pdf> Acesso em: 17 Jan 2020.
(2)ALVES, W.S. et al. Caracterização físico química e avaliação e
sensorial de cerveja pilsen produzida a partir de mandioca (Manihot
esculenta Crantz., 1766) submetida a diferentes adubações de solo.
Brazilian Journal of Development. Curitiba, v.6, n.2, p. 7580-7599,
fev.2020.
(3) BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 65, DE 10 DE DEZEMBRO DE
2019. Estabelece os padrões de identidade e qualidade para os
produtos de cervejaria. Diário Oficial da União. Publicado
em: 11/12/2019 | Edição: 239 | Seção: 1 | Página: 31, 2019.
(4) HORNINK, G. G.; GALEMBECK, G. Glossário cervejeiro: da
cultura à ciência. Alfenas – MG: Editora Universidade Federal de
Alfenas, 2019.
(5) VENTURINI FILHO, W. G.; Tecnologia de bebidas: Matéria-
prima, processamento, BPF/APPCC, legislação, mercado. São Paulo,
Edgar Blucher, 2005.
(6) DINSLAKEN, D. Manual do cervejeiro caseiro. Disponível em:
https://concervej/a.com.br/mash-out/ . Acessado em 16/08/2020.
(7) HIERONONYMUS, S. Lúpulo: guia prático para aroma, amargor
e cultivo de lúpulos. Belo Horizonte: Editora Krater, 2020.
(8) MORADO, R. Larousse da cerveja. São Paulo: Alaúde editorial,
2017.
(9) DUTCOSKY, S. D. (1996). Análise sensorial de alimentos (p.
123). Curitiba: Champagnat.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cada semente contém 40-50% de gordura, e Quadro 1. Média e desvio padrão das categorias
polifenóis, que compõem cerca de 10% do peso seco do grão apresentadas nos testes de aceitação. São Paulo, SP.
inteiro. O ácido oleico, gordura monoinsaturada, constitui cerca
de 33% da composição da manteiga de cacau. Outros 33%,
compõem-se de ácido esteárico que possui um efeito neutro nos
42
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A porção de 25g das versões de chocolate ao leite e aceitas sensorialmente e bem avaliadas em relação a intenção de
amargo apresentaram 100 kcal e 105 kcal, respectivamente, compra, representando uma opção de produto frente às versões
quando comparado com o alfajores tradicionais do mercado o disponíveis no mercado varejista.
valor calórico das versões analisadas não há diferença
significativa. Em relação a composição de macro e REFERÊNCIAS:
micronutrientes, pelo produto possuir uma base de fruta e uma
versão composta por lipídios de boa qualidade, ele pode ser uma
alternativa nutricionalmente superior. 1- FAO. Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação. STATISTICS DIVISION, 2006.
Gráfico 1. Intenção de compra dos produtos expostos
2- BARROS, M.A.B.; LOPES, G.M.B.; WANDERLEY, M.B.
Cadeia Produtiva da Banana: consumo, comercialização e
produção no Estado de Pernambuco. Revista Econômica do
Nordeste, Fortaleza, v. 39, 2008.
Os dois produtos apresentaram intenção de compra 6- Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de
de 65%. Um estudo feito com moradores de Caxias do Sul Hipertensão Arterial. 2016;107(7):103.
analisou sensorialmente um alfajor sem glúten e sem lactose e
indicou que 100% dos participantes comprariam o produto (8).
As versões apresentadas nesse artigo se assemelham 7- Sociedade Brasileira de Cardiologia.Diretriz sobre o
visualmente ao alfajor convencional, porém os demais critérios Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular. 2013;100(1):49.
sensoriais não fazem jus a essa comparação, portanto o
percentual de intenção de compra reduzido pode estar 8- MICHAELSEN, L. K; ALVES, M. K. Desenvolvimento de
relacionado com esse fator. alfajor sem lactose e sem glúten e avaliação da sua aceitação em
dietas com limitações de ingredientes. Revista Brasileira de
CONCLUSÃO: Produtos Agroindustriais, Campina Grande, ano 73-78, v. 19, n.
1, 2017.
As versões do confeito de banana liofilizada com
recheio de pasta de amendoim, com cobertura de chocolate são
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Feiras, Pandemia e Redes Sociais: O Comparativo entre uma Feira Livre e uma
Feira Agroecológica Universitária
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
nove barracas estão com as redes sociais relativamente ativas, com 2.MASCARENHAS, Gilmar; DOLZANI, Miriam. C. S. Feira livre:
posts geralmente publicados mensalmente e se comunicando com os territorialidade popular e cultura na metrópole contemporânea. In:
clientes. Revista Eletrônica Ateliê Geográfico, v.2, n.4, p. 72-87, agosto/2008.
Destas nove bancas ativas apenas 33% fizeram postagens relacionadas 3.JUNQUEIRA, Antonio Helio; PEETZ, Marcia da Silva. 100 anos de
aos procedimentos de combate à COVID-19, como por exemplo: a feiras livres na cidade de São Paulo. São Paulo: Via Impressa Edições
barraca Pastel da Feira Foz, que publicou fotos do uso de álcool em gel de Arte, 2015.
e de barreira de contenção cumprindo o distanciamento de acordo com 4.FOZ DO IGUAÇU. Decreto nº 27.972, de 17 de março de 2020.
os atuais decretos da cidade; e a barraca Chinese Mix que anunciou a Adota medidas adicionais de controle, prevenção e fiscalização para
realização de adaptações para evitar a transmissão do novo vírus, sem enfrentamento da emergência em saúde pública de importância
entrar em detalhes de quais seriam essas adequações. Porém, foi internacional decorrente do Novo Coronavírus (COVID-19), em
observado que em nenhuma das barracas que foram consideradas ativas complemento ao Decreto nº 29.963, de 15 de março de 2020. Gabinete
digitalmente por este estudo, havia perguntas do público sobre as do Prefeito Municipal de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, em 17 de
precauções tomadas nesse momento de pandemia, notou-se apenas março de 2020.
poucos questionamentos sobre a entrega de produtos, elogios aos 5.FOZ DO IGUAÇU. Decreto Nº 28.093, de 30 de abril de 2020. Altera
produtos e curtidas nas publicações. e acresce dispositivos do Decreto nº 28.055, de 20 de abril de 2020, que
Dos perfis ativos 77% apresentam número para contato e somente 57% Consolida as medidas estabelecidas no Município de Foz do Iguaçu de
expressam explicitamente que realizam delivery. Verifica-se que houve controle e prevenção para o enfrentamento da emergência em saúde
um aumento de postagens em 77% dos perfis ativos das barracas e/ou pública de importância internacional decorrente da Pandemia do Novo
feirantes, sendo que dois deles, a banca Chinese Mix e a Acarajé da Coronavírus - COVID-19, e dá outras providências. Gabinete do
Ana, as postagens ou a criação do perfil foi iniciada no ano atual de Prefeito Municipal de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, em 30 de abril
2020. de 2020.
Da outra parte, na página oficial do facebook da UNILA foi anunciado 6.PARANÁ. Secretaria da Saúde. Coronavírus (COVID-19): Informe
no mês de março que a feira seria suspensa até o retorno das atividades Epidemiológico. Disponível em:
acadêmicas, porém que a página divulgaria constantemente produtos de <https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/doc
seus feirantes e assim tem ocorrido. umento/2020-09/informe_epidemiologico_08_09_2020_.pdf> Acesso:
A maioria dos feirantes da Feira Agroecológica UNILA são produtores 9 set. 2020.
rurais, que também comercializam seus produtos com o uso do 7.STANGHERLIN, Aline; JOÃO, Daniel de Moraes; OLIVEIRA,
whatsapp, podendo ser encomendado e retirado com o feirante ou Josele Nara Delazeri de. Os desafios enfrentados pelos pequenos
enviado por delivery. empreendedores durante a pandemia da COVID – 19. Observatório
Com o auxílio de um dos posts realizados pelo perfil da Feira foi Socioeconômico da COVID-19. Universidade Federal de Santa Maria,
possível pesquisar o nome de sete vendedores de alimentos da feira, p.1-8, 2020.
sendo que apenas três deles foram encontrados no facebook. Os dois 8.GALANAKIS, Charis M. The Food Systems in the Era of the
produtores de legumes apresentam algumas postagens sobre seus Coronavirus (COVID-19) Pandemic Crisis. In: Foods, 9, 523, p.1-10,
produtos em suas redes sociais pessoais. Não foi possível a localização 2020.
das redes sociais de outros feirantes já que nos posts estes eram 9.CNA. Confederação Nacional da Agricultura. SENAR. Serviço de
apresentados apenas com o primeiro nome seguido do contato para Nacional de Aprendizagem Rural. FAEG. Federação da Agricultura e
whatsapp. Pecuária – Goiás. Feira Segura: A feira de hortifruti, livre do
Como já dito anteriormente, a Feira também é formada por alunos da coronavírus. Brasília: DF, 2020. 36 p.
UNILA de toda a América Latina e pode-se verificar a rica presença 10.ESPÍRITO SANTO. Governo do Estado de Espírito Santo.
cultural destes estudantes através de algumas comidas prontas Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca. Feiras
comercializadas como empanadas, arepas, pastel de yuca, churros Livres: Orientações para prevenção do novo coronavírus. Vitória: ES,
colombianos, arroz chaufa peruano, sopa paraguaia e arroz chimba 2020. 13p.
colombiano. Estes produtos foram divulgados durante o período de 11.UNILA. Feira Agroecológica da UNILA terá edição especial nesta
pandemia, sinalizando que alguns estudantes não retornaram para seus quinta-feira. <https://portal.unila.edu.br/noticias/feira-agroecologica-
países, mas passaram este momento de isolamento social em Foz do da-unila-tera-edicao-especial-nesta-quinta-feira>. Acesso: 10 ago.
Iguaçu. 2020.
Nos posts da página da Feira sempre há menção aos cuidados com 12.STEFANUTTI, Paola. Das feiras às culturas alimentares (no
manipulação de alimentos, a importância do uso de máscaras e se plural) da tríplice fronteira. [tese]. Foz do Iguaçu: Universidade
possível da permanência em casa. Além de reforçar o serviço de Estadual do Oeste do Paraná; 2020.
delivery dos produtos.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS:
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A comida faz parte de nossa trajetória de vida como um hábitos alimentares de nossa sociedade. Segundo Rossetti e Morales
forte símbolo social e representa uma base forte que sustentou e até (3) a tecnologia da informação (TI), que é gerada e explicitada devido
hoje possibilita a existência de diferentes povos. É conhecida por ao conhecimento das pessoas, tem sido, ao longo do tempo, cada vez
manifestar-se representando a junção de necessidade e desejo no mais intensamente empregada como instrumento para os mais
mesmo indivíduo, resultando com que este satisfaça suas necessidades diversos fins”. Esta ferramenta tem sido considerada uma chave na
biológicas ao passo que também solidifica e acrescenta a cultura de gastronomia, sendo usada para gerar tendências e criar novos hábitos,
um local. Segundo Murrieta (1), seria difícil pensar em outro aspecto expandindo possibilidades e proporcionando transformações no ato de
básica e, ao mesmo tempo, com elementos social e simbolicamente Essas transformações têm sido constantes e cada vez mais
construídos do que a alimentação. Consequentemente, não há complexas de se acompanhar. Há não muito tempo, por exemplo
dimensão da vida social humana que incorpore melhor as contradições tínhamos em crescimento notável do hábito de comer fora de casa,
do processo cotidiano de tomada de decisão. onde muitas vezes em virtude de cotidianos cada vez mais corridos,
Cada indivíduo tem uma trajetória alimentar que começa era nítido a crescente aquisição ao hábito de se comer cada vez mais
com um alimento específico, o leite, e, ao longo do tempo, se expande rápido, onde muitos deixavam uma boa e mais calma alimentação em
rituais relacionados à alimentação. Os requerimentos nutricionais são Segundo Collaço (4), o modelo de fast-food encontrou uma
pequenos em relação à variedade de alimentos que podem satisfazê- forma de posicionar-se graças aos novos princípios de produção
los. Pode-se dizer que a alimentação evolui de uma fonte de nutrição e (poucos produtos, grandes quantidades, pouca elaboração, pouca mão-
prazer sensorial para um marcador social, uma experiência estética, de-obra), oferecendo e distribuindo o mesmo cardápio em vários
uma fonte de significação e metáfora, e frequentemente, uma entidade pontos de venda, com preparo e serviço rápidos.
Em meio ao campo da alimentação é possível nos vão mudando, bem como a grande maioria dos estabelecimentos no
depararmos com os mais diversos termos e significados. Dentre eles ramo da alimentação. Nos últimos dias, pode-se afirmar que o hábito
estão os “Hábitos Alimentares”, objeto de estudo muito utilizado no de comer em casa tem crescido notoriamente, seja por orientações
campo da pesquisa alimentar. Estes hábitos são construídos em todo e técnicas devido ao cenário de pandemia que nos obriga a cultivar este
qualquer indivíduo durante toda sua existência. Há muitos fatores que ato ou ao fato de que já há um tempo muitos têm optado por não sair
influenciam na construção e mudança desses hábitos ao longo do do conforto de seus lares quando surge a necessidade ou desejo de
tempo, eles podem ser sociais, religiosos, econômicos, entre muitos comer. Estes fatores resultam em um crescente significativo no uso
Atualmente, o uso dos cardápios através de aplicativos de Estes aplicativos têm como ponto em comum a
entrega e plataformas em mídias digitais tem crescido de forma possibilidade de oferecer ao consumidor os cardápios em suas
exponencial e resultando em mudanças tanto dos hábitos alimentares composições. As opções são apresentadas ao cliente das mais diversas
quanto no ato de comer. Este estudo tem como objetivo central formas e separadas em categorias que também podem diferenciar de
entender e analisar acerca das percepções dos consumidores com acordo com o conceito e proposta da empresa. É inegável que estes
relação ao cardápio presente nos aplicativos de entrega utilizados no “cardápios digitais” vêm sendo um facilitador na vida de milhares de
dia-a-dia pelos mesmos. consumidores, tomando o lugar dos cardápios físicos e resultando em
uma maior praticidade e menor perda de tempo, bastando apenas um
CARDÁPIOS DIGITAIS COMO FERRAMENTA DE clique ou uma busca para que encontre o que se deseja.
INOVAÇÃO
No século que vivemos, a tecnologia vem sendo uma METODOLOGIA
Neste estudo, será recorrido a dois diferentes tipos de
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
pesquisa. A primeira é definida como Pesquisa Bibliográfica que, com a idade e gênero de quem estivesse respondendo o formulário,
segundo Cervo (5), procura explicar um problema a partir de sendo apurados os seguintes dados acerca do perfil dos indivíduos
referências teóricas publicadas em documentos. Esta pode ser (Figura 1)).
realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou
experimental. Em ambos os casos, busca conhecer e analisar as Figura 1: Distribuição por gênero e faixa de idade dos participantes da
contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um pesquisa.
determinado assunto, tema ou problema.
Neste caso, o tipo de pesquisa bibliográfica aqui utilizado
será parte da pesquisa descritiva, o segundo tipo. Ainda segundo
Cervo (5), a pesquisa descritiva busca observar, registrar, analisar e
correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. A
pesquisa descritiva pode assumir diversas formas. Aqui, o formato de
pesquisa descritiva enquadra-se no modelo de pesquisa de opinião. A
pesquisa de opinião abrange uma faixa muito grande de investigações
que visam identificar falhas ou erros, descrever procedimentos,
descobrir tendências, reconhecer interesses e outros comportamentos.
A pesquisa será aplicada por meio de questionário online
estruturado através da plataforma Google Formulários®. Este tipo de
Formulário é aplicado, comumente, quando se pretende obter
respostas mais amplas, com maior número de informações (6). O As faixas etárias encontram-se quase que igualitariamente
público alvo serão os usuários de aplicativos de entrega de comida e bem distribuídas, mas ainda assim a maioria é de jovens com idades
deseja-se ter um mínimo de 100 respostas. As perguntas irão variar de entre 21 e 24 anos (36%). Quanto ao gênero, nota-se um público
objetivas e subjetivas, a depender do assunto a ser abordado nas majoritariamente feminino (60%).
sessões. O formulário será dividido nas seguintes sessões: A última pergunta desta sessão era relacionada às restrições
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): Nessa alimentares, em que foi pedido que marcassem a qual grupo
primeira sessão, será apresentado um pequeno texto informando sobre pertenciam ou se não apresentavam nenhuma restrição.
a pesquisa, onde quem estiver respondendo só poderá prosseguir para Segundo o portal GlobalCare (7), foi feito um estudo em
as demais sessões e continuar respondendo à pesquisa caso concorde 2016 pela associação de celíacos do Brasil (ACELBRA) em que é
com o Termo apresentado. apontado que existe um portador de doença celíaca no país para cada
Perguntas Globais: Em seguida, serão feitas perguntas gerais, ou 600 habitantes. No entanto, este número pode ser ainda maior já que o
seja, acerca do indivíduo, para que sejam coletadas informações como estudo só considerou indivíduos já diagnosticados. Uma matéria
sua idade, gênero, restrições alimentares e renda, com perguntas publicada no site RDnews (8) menciona que uma pesquisa do instituto
majoritariamente objetivas. Datafolha registrou que cerca de 53 milhões de brasileiros contaram
Uso de Aplicativos de Entrega: Nesta sessão, serão feitas perguntas, ter alguma dificuldade digestiva após consumo de derivado de leite, o
na maioria objetivas, relacionadas ao uso de plataformas de entrega número representava 35% da população, em 2016, quando foi
como frequência de uso, preferencias, o tempo que costuma demorar divulgada. Tendo estes dados em vista, viu-se a importância de
para escolher um pedido, etc. elaborar esta pergunta para que fosse levada em consideração o fato de
Cardápios Digitais: Na última sessão teremos perguntas em que os que dietas rígidas ocasionadas por qualquer tipo de restrição alimentar
consumidores poderão relatar suas percepções quanto ao cardápio que têm crescido de forma gradativa no Brasil.
esses aplicativos oferecem. Serão feitas perguntas como a praticidade
do cardápio, intuitividade, organização, estrutura e possíveis falhas ou Figura 2: Restrições alimentares entre os participantes da pesquisa.
defeitos que esses cardápios possam apresentar, bem como
ferramentas e sugestões que o consumidor acha que podem ser
acrescentadas a esses cardápios. Nesta última sessão também poderão
ser feitas perguntas subjetivas, para que seja possível uma análise mais
aprofundada das percepções relatadas por estes consumidores.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Termo de consentimento e perguntas globais
Todos os participantes da pesquisa, após concordarem com Apesar do fato de que o número de dietas com restrição
o termo de consentimento, foram direcionados à sessão seguinte com alimentar no País cresce, na presente pesquisa este tipo de público foi
perguntas globais. As duas primeiras perguntas pediam, minoria. 25 indivíduos relataram ter restrição a algum tipo de
respectivamente, para que fossem marcadas as opções condizentes alimento, onde a maioria afirmou ser lactose (12%), seguido de frutos
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
do mar (6%) e os demais dividiram-se em opções que apresentam questionamentos relacionados aos cardápios presentes nestas
apenas 1% cada, que variam em alimentos do tipo ovos, açúcar, plataformas. A primeira pergunta pedia ao participante que marcasse
amendoim, glúten, gelatina, mel de abelha, cafeína entre outros qual tipo de cardápio era de sua preferência por serem melhores de
(Figura 2). Apenas uma pessoa afirmou que sua restrição alimentar era manusear, mais fáceis e acessíveis ao consumidor. Entre os
relacionada ao hábito do veganismo. participantes da pesquisa, 80% preferem utilizar cardápios
digitais/online e apenas 20% tem preferência por cardápios físicos
Aplicativos de entrega (papel, plástico, etc
O fato da maior preferência por cardápios digitais reafirma
Para iniciar nesta sessão foi perguntado a frequência com
a importância da presença dos cardápios nas plataformas de delivery
que essas pessoas costumam pedir comida utilizando aplicativos de
online. A prioridade se dá quando é levado em consideração a
entrega. Para este questionamento foram obtidos os seguintes dados:
praticidade de analisar diversas opções apenas com um “click” ou
“deslizar” de dedos em um dispositivo móvel. No entanto, veremos a
Figura 3: Frequência do uso de aplicativos de entrega de refeições
seguir que ainda existem melhorias importantes a serem consideradas
entre os participantes da pesquisa.
neste tipo de ferramenta.
Apesar de o estudo ter como minoria a participação de
indivíduos com algum tipo de restrição alimentar, foi feita um
questionamento direcionado a este público a fim de entender melhor
acerca da presença ou ausência da variedade de produtos alimentícios
nestes cardápios digitais oferecidos por aplicativos de entrega. Dos
participantes que apresentavam algum tipo de dieta por restrição, a
maioria (60%) relatou que estes cardápios não lhes apresentam muitas
opções que estejam de acordo com o que se possa comer.
Aqui, apenas 1 indivíduo relatou que nunca pede comida Este é um dado preocupante porque, a medida em que
utilizando aplicativo de entrega, seguido de 6 pessoas que relataram cresce o número de pessoas com diferentes tipos de restrições
pedir quase todos os dias, 32 raramente e 60 pessoas pedem as vezes. alimentares no país, também é necessário que se atente ao empenho de
1 resposta dizia pedir todos os dias. oferecer um número maior de opções de refeições a este público.
Apesar da frequência de uso variar, é possível afirmar que Figura 4: Avaliação da importância de características de organização,
parte quase integral dos participantes utilizam este recurso na hora de intuitividade e praticidade em um cardápio
comer. Neste contexto, é notório um cenário em que o número de
adeptos aos serviços de delivery online só cresce no Brasil. Segundo
pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(ABRASEL) (9,o mercado de delivery de alimentos movimentou R$
15 bilhões em 201. Para 2020 a expectativa é registrar R$18 bilhões.
Desta forma, vê-se que este é um mercado com potencial para
expansão.
Em seguida, foram apresentadas aos participantes duas
frases e pedido para que fosse marcado a frase que mais contemplasse
a quem estivesse respondendo. As respostas para essa questão foram
bem equilibradas, em que 57% dos indivíduos, ao utilizarem o
aplicativo de delivery, já tinha em mente o que desejava consumir,
enquanto que 43% dos participantes, na maioria das vezes, ainda não
tinha em mente o que iria consumir, o que provavelmente o levasse a
passar mais tempo no aplicativo e fizesse um uso ainda maior do
cardápio ali presente até que decidisse sua refeiçãoAqui é possível
observar que um número expressivo do público que consome
aplicativos de delivery online costuma dedicar um tempo nos
cardápios oferecidos por estas plataformas até que finalmente decidam
o que irá ser a refeição. Os cardápios desenvolvidos mostram-se um
fator de crucial e decisivo nestas plataformas. A pergunta seguinte oferecia diversas características em
Cardápios digitais suas opções e pedia para que o participante marcasse as que fossem
julgadas como mais importantes para um cardápio digital. A
Na última sessão do formulário, foram desenvolvidos
característica mais marcada e consequentemente a mais levada em
48
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
consideração foi a de Organização (93%), seguido de Categorização levados em consideração e consequentemente melhorias sejam
(90%), Simplicidade (65%), Praticidade (57%) e Descrições de aplicadas, resultando em cardápios que tenham em suas estruturas
Preparo (56%). Em contrapartida, características como “Muitos características como praticidade, intuitividade, organização e
Aspectos Visuais para chamar atenção” ou “Intuitividade” foram simplicidade, resultando assim em ferramentas cada vez mais
pouco considerados. Na opção “Outros”, obteve-se respostas como a satisfatórias ofertadas ao consumidor.
necessidade de fotos dos produtos e a ausência do excesso de
informações. REFERÊNCIAS
Foi solicitado também que os participantes avaliassem de
acordo com suas opiniões, em uma escala de 1 a 5, características de (1) MURRIETA, R. S. S. Dialética do sabor: alimentação,
ecologia e vida cotidiana em comunidades ribeirinhas da Ilha
organização, intuitividade e praticidade de acordo com o quão
de Ituqui, Baixo Amazonas, Pará. Revista de Antropologia, v.
importante eram considerados estes critérios na elaboração de um 44, n. 2, 2001.
(2) ROZIN, P. Social and moral aspects of food and eating. In:
cardápio (Figura 4)
______. Towards a psychology of food choice. Bruxelas: Institut
Os dados acima apresentados nos mostram que os Danone, 1998. Cap. 8, p. 219-232.
(3) ROSSETTI, A. G.; MORALES, A. B. T. O papel da tecnologia
aplicativos de delivery ainda têm muito no que melhorar quando se
da informação na gestão do conhecimento. Ciência e
tratam de características tão requisitadas e necessárias como as Informação, Brasilia, v. 36, n. 01, p. 124-135, jan./abr. 2007.
(4) COLLAÇO, Janine Helfst Leicht. Restaurantes de comida
supracitadas. Vê-se que o nível de exigência do consumidor é
rápida, os fast-foods, em praças de alimentação de shopping
significativo e a maioria não se mostra muito satisfeita quanto ao centers: transformações no comer. Revista Estudos Históricos,
Rio de Janeiro, v. 1, n. 33, p. 116-135, jun. 2004. ISSN 2178-
cardápio que lhes é oferecido.
1494. Disponível em: <
Por fim, através de uma pergunta subjetiva, foi pedido para http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2
216>. Acesso em: 04 Ago. 2019.
que o participante citasse defeitos que geralmente são encontrados
(5) CERVO, Amado Luiz, Metodologia Científica. 4 ed. São
nestes cardápios digitais. As respostas foram diversas, mas foi Paulo: MAKRON Books, 1996.
(6) ANDRADE, Maria Margarida de, Introdução à metodologia do
possível observar críticas com frequências significativas, como é o
trabalho científico: elaboração de trabalho na graduação. 6
caso da falta de descrição e melhor detalhamento dos preparos, ed. São Paulo: Atlas, 2003.
(7) GLOBALCARE (São Paulo). Um em cada 600 brasileiros tem
ausência de imagens do preparo para que se tenha uma melhor
intolerância ao glúten. Saiba identificar a doença celíaca. [S.
referência do que se apresenta e, quando a imagem se faz presente, há l.], 8 ago. 2018. Disponível em:
https://www.globalcare.com.br/br/blog/um-em-cada-600-
casos em que esta não seja condizente com o preparo quando chega
brasileiros-tem-intolerancia-ao-gluten-saiba-identificar-a-
nas mãos do consumidor. Também foram citados, em menor doenca-
celiaca#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20Associa%C3%
frequência, defeitos relacionados a organização, variedade e
A7%C3%A3o,apenas%20os%20casos%20j%C3%A1%20diagn
precificação dos produtos presente nos cardápios. osticados. Acesso em: 5 jul. 2020.
(8) RDNEWS. Cresce o número de intolerantes a lactose
diagnosticados na fase adulta. Mato Grosso, 19 jan. 2020.
CONCLUSÃO Disponível em:
https://www.rdnews.com.br/cidades/conteudos/122975. Acesso
em: 5 jul. 2020.
O estudo mostra de forma clara a importância dos (9) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BARES E
RESTAURANTES - ABRASEL. Do celular à mesa: como os
cardápios digitais nessas plataformas de delivery que crescem mais a
apps de delivery transformam o mercado de bares e
cada dia. É inegável que, na mesma medida em que aumentam os restaurantes. Disponivel em:
https://abrasel.com.br/noticias/noticias/do-celular-a-mesa-como-
usuários nestas plataformas, também sobe o nível de exigência e a
os-apps-de-delivery-transformam-o-mercado-de-bares-e-
necessidade de atenção aos detalhes. O cuidado para com o cliente é restaurantes/ . Acesso em: 5 Julho de 2020.
primordial, pois, querendo ou não, é este quem movimenta os
números. Para isso, é de extrema importância que os feedbacks sejam
49
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Eveline Costa1, Robson Mota2, Alessandra Carneiro1, Rafael Amaral1, Regina Bastos3, Tereza Garcez4
50
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
jovens e adultos a inserir-se no mercado de trabalho ou carga horária entre 40h/a e 180h/a e o conteúdo são
despertar para o empreendedorismo gastronômico, sem disponibilizados em apostilas.
distanciar dos temas regulares e transversais comumente O Programa tem como parceiros permanentes as entidades:
abordados no universo da gastronomia (9). Também Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim (MSM),
favorece aos alunos do Bacharelado em Gastronomia da Escola de Gastronomia Autossustentável, Instituto da
UFC, que têm a oportunidade de vivenciar a docência em Primeira Infância (IPREDE), Biblioteca Pública Infantil
gastronomia. A fim de conferir apoio as propostas, foi Herbênia Gurgel (da Prefeitura de Fortaleza), Projeto
construída a Escola de Gastronomia Autossustentável Colcha de Retalho, Projeto Realimenta, Projeto Doçura que
(EGA) em parceria com o Movimento de Saúde Mental Agrega, Projeto Resgate e valorização da Araruta, Programa
Comunitária do Bom Jardim (MSM). Tal escola possui uma de Educação Tutorial das Agrárias e a Educação de Jovens e
área destinada ao cultivo sintrópico de plantas comestíveis e Adultos da Secretaria de Educação do Governo do Estado
medicinais, utilizadas nas aulas práticas dos cursos. do Ceará. Também possui outros parceiros pontuais (que são
Atualmente são desenvolvidas atividades de pesquisa dentro atendidos exporadicamente, uma ou duas vezes por ano),
do Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição são ele: o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), do Instituto
(BFN), por meio da oferta do Curso Gastronomia da Dragão do Mar; Associação Barraca da Amizade;
Biodiversidade Nordestina, que tem o propósito de resgatar Universidade Núcleo de Desenvolvimento da Criança
o consumo de vegetais esquecidos ou pouco consumidos (UNDC); IFCE de Camocim-CE; Escola de Vida Arte e
pela população nordestina. Sabor do Governo do Estado do Ceará e a Escola de Ballet
Diante do exposto o presente trabalho visa apresentar relato EDISCA.
de caso sobre as atividades do Programa Gastronomia Social A ação encontra-se no 10º ano consecutivo e tem demanda
UFC e o cumprimento dos Objetivos para o indefinida por depender do financiamento dos parceiros.
Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Mais de 5000 pessoas já foram atendidas. Portanto, espera-
Unidas (ONU). se expandir as ações deste programa a outras comunidades e
vincular outros projetos de extensão, por meio de novos
MATERIAL E MÉTODO cursos e oficinas de gastronomia ou replicando-as.
Atualmente são desenvolvidas atividades de pesquisa dentro
O estudo refere-se a um relato de caso sobre o Programa de do Projeto de Pesquisa Biodiversidade para Alimentação e
Extensão Gastronomia Social no Jardim da Gente da Nutrição (19) com o propósito de resgatar o consumo de
Universidade Federal do Ceará, também denominado vegetais esquecidos ou pouco consumidos pela população
Gastronomia Social UFC. O presente trabalho é do tipo nordestina, como por exemplo a Araruta.
qualitativo descritivo, pois visa apresentar a descrição da
referida ação e os ODS atingidos. Principais resultados alcançados pelo Programa
Serão apresentados os dados como base no período de sua
criação (2010) até os dias atuais. Para o estudo será utilizado Como resultados alcançados, citam-se os principais que
o documento que regulamenta o referido Programa na Pró- foram as transformações realizadas nas pessoas e na
reitoria de Extensão da UFC (9) e os ODS da ONU (17). comunidade conforme cita Cavalcante (2018) e Sousa
A ação desenvolve atividades na comunidade em geral de (2018) em divulgação na mídia (20, 21).
Fortaleza-Ce e, especialmente, no Grande Bom Jardim a fim Dentre outros alcançados incluimos a construção da EGA,
de promover o desenvolvimento sustentável. que pertence ao MSM e que teve o apoio do Gastronomia
Social, desde sua planta até o funcionamento. Portanto, é na
RESULTADOS E DISCUSSÃO EGA onde acontecem a maioria das atividades do
Gastronomia Social UFC. O planejamento, a instalação e o
Gastronomia Social UFC: relato panorâmico das ações funcionamento dessa escola repercurtiu na comunidade foco
e deu mais suporte as ações; pois a mesma é uma ação de
A fim de caracterizar o Programa Gastronomia Social UFC inclusão socioeconômica potencializadora da cultura
se faz necessário explicitar que o objetivo do mesmo é gastronômica regional, pois forma pessoas para o mercado
executar o desenvolvimento sustentável através de cursos de trabalho na área de alimentos e contribui ainda para a
temáticos de gastronomia que promovam a inserção ao sustentabilidade das ações socioterapêuticas do MSM (22).
empreendedorismo e a formação de Grupo Capacitado Outros resultados relevantes foram a formação de Grupos
Produtivo; trabalhando como tema básico dentro do Capacitados Produtivos (GCP’s) em Conservas Artesanais e
universo da gastronomia, seja na escolha dos alimentos ou em Bolos; a publicação do livro “Fortaleza da Gastronomia
nas práticas de produção. O programa tem ainda o propósito de Rua” (23); a Edição Gastronomia e Terapia (série de
de capacitar jovens e adultos em situação de vulnerablidade cursos aliada a terapia, onde psicólogos e terapeutas sociais
social. Nos cursos são priorizados aulas práticas e teóricas participam ativamente nas turmas); dentre outras.
com produção de alimentos agregando fatores como ciência, A economia local, precisamente do grande Bom Jardim,
arte, cultura, sustentabilidade, segurança e soberania. vem sendo movimentada devido o incentivo ao
As aulas são ministradas pelos alunos do Bacharelado em empreendedorismo gastronômico, principalmente no
Gastronomia da UFC os quais ganham a oportunidade de ter comércio da Gastronomia de Rua (cultura popular do povo
a experiência na docência em gastronomia, seja como cearense, que têm a calçada como o palco de tradições).
extensionista remunerado e ou voluntário que assumem Todas as ações desenvolvidas pelo Programa em estudo são
papel de professores na ação e realizam atividades reconhecidas pela sociedade como contraponto à violência,
complementares e ou estágios supervisionados conforme matéria em jornal de grande circulação no Ceará,
transversalizando a teoria e a prática e efetivando atividades por oferecer qualificação em gastronomia também promove
de pesquisa. Os cursos possuem temática diversas como melhoria nos serviços através da contratação daqueles
Panificação, Confeitaria, Chocolateria, Gastronomia formados pelo mesmo. (20, 24).
Cearense, Gastronomia de Rua, Lancheria, Tortas e Considerando outros resultados pela perspectiva
Sobremesas Geladas, Conservas Artesanais, Gastronomia de quantitativa, cita-se o número de matriculados nas turmas
Boteco, dentre outras. que são compostas necessariamente por 20 alunos a fim de
A metodologia empregada nas aulas promovidas pelo trabalhar a metodologia planejada (do tipo ofcina, onde o
Gastronomia Social UFC é o construtivismo, enfatizando o aluno aprende executando), bem como o número de
ato de criar e repassar ações propostas nas aulas. A maioria desistência que comumente fica abaixo de 10%.
das atividades são ministradas na Escola de Gastronomia Os resultados pela linha qualitativa são obtidos pela
Autossutentável – EGA, (como também em outras avaliação realizada ao final de cada curso e comumente
instituições com parcerias pontuais e ou exporádicas) e em refere-se a transformação na vida dos participantes, ligadas
ambiente externo (visitas técnicas), acompanhadas e ao social e a questões financeiras; por exemplo, muitas
orientadas individualmente e em grupos. Os cursos possuem mulheres alegam o aumento da auto-estima, o
51
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
empoderamento diante da sociedade e iniciativa para ODS 1 – Erradicação da Pobreza: a ação vai de encontro ao
mudanças pessoais. Alguns jovens relatam satisfação de combate da probreza que está inserida nas áreas
receberem conhecimentos específicos em gastronomia os marginalizadas como ocorre nas periferias da Cidade de
quais auxiliarão para a inserção no mercado de trabalho (6). Fortaleza, precisamente no Grande Bom Jardim, área foco
Estes fatores promovem consequências do bem, pois do trabalho desenvolvido.
combate o desemprego, a pobreza, a ociosidade e a OSD 2 – Fome zero e agricultura sustentável: o conteúdo
violência. técnico ensinado tem ação direta para o fim da fome e
Outro resultado qualitativo são obtidos pelo desempenho alcançar segurança alimentar, pois uma vez que o cidadão é
dos professores, pois expressam a satisfação em adentrar no qualificado para uma atividade profissional e,
universo da docência. consequentemente, é inserido no mercado de trabalho, ganha
a oportunidade de ter autonomia do seu sustento. Para além
disso, os conteúdos trabalhados na ação promovem
Participação dos beneficiários conscientização para segurança alimentar, levando os
indivíduos a escolherem alimentos saudáveis, vivenciarem a
A ação de extensão iniciou no ano de 2010 e, portanto, mais soberania alimentar por meio da valorização dos insumos da
de cinco mil pessoas foram beneficiadas diretamente e terra e das práticas gastronômicas sustentáveis (tanto para o
estima-se que 6 mil indiretamente, pois em todos os cursos consumo como para preparações dos alimentos).
são trabalhadas temáticas que proporcionam a multiplicação ODS 3 – Saúde e bem estar: este objetivo é contemplado
do que foi apreendido. No ano de 2019 foi identificado que através das temáticas sobre segurança e educação alimentar,
15% dos alunos da edição Gastronomia e Terapia estão pincipalmente, quando se aprofunda conhecimentos sobre
empreendendo no segmento, localizado no Grande Bom escolhas dos alimentos para o consumo, ou seja, motivando
Jardim; e cerca de 50% estão no mercado de trabalho. os participantes a executarem hábitos alimentares saudáveis
Citamos ainda, a participação de mais de 80 alunos do e, consequentemente, uma vida saudável. Também
Bacharelado em Gastronomia que atuam como professores contempla a saúde psíquica através da edição Gastronomia e
na ação, em sua maioria como voluntários. Terapia, onde psicólogos e terapeutas acompanham todos os
cursos dessa edição, oferecendo um cardápio terapêutico aos
Replicabilidade das ações e da metodologia participantes.
ODS 4 – Educação de qualidade: este objetivo é plenamente
A replicabilidade acontece diretamente pelos participantes cumprido pelo Gastronomia Social UFC através do perfil
dos cursos e pelos professores da ação. Como exemplo cita- dos participantes (jovens e adultos), uma vez que os
se os Grupos Capacitados Produtivos – GCP's, onde as conhecimentos repassados nos cursos não limitam
mulheres aprendem as técnicas de produção de alimentos e participação, sendo a mesma transmitida equitativamente.
multiplicam seus conhecimentos quando se inserem no Também se caracteriza por ser de qualidade, uma vez que é
mercado de trabalho, ou quando empreendem ou coordenado pelos professores do Bacharelado em
reproduzem para seus familiares. É válido destacar que esta Gastronomia da UFC e executada pelos alunos desta mesma
metodologia dos GCP's também foi replicada no Programa instituição. O referido Bacharelado tem nota máxima do
de Educação Tutorial das Agrárias (PET Agrárias) da UFC, MEC. Outra ação que contempla esse ODS é a parceria com
com mulheres do Assentamento Aragão (Massapé-CE) (25) a Educação de Jovens e Adultos (EJA com Qualificação), do
criando o Grupo Capacitado produtivo – GCP para Governo do Estado do Ceará, onde planejam-se aulas de
elaboração de produtos com os insumos plantados no local. EJA + Gastronomia.
Esta metodologia será replicada ainda no Projeto de ODS 5 – Igualdade de gênero: este objetivo também é
Extensão da UFC intitulado "Doçura que agrega", onde alcançado pelo programa Gastronomia Social UFC, uma vez
mulheres em situação de risco, da comunidade do grande que as questões de gênero são trabalhadas transversalmente
Bom Jardim (26), participam de aulas sobre produção de e ou diretamente como acontece, por exemplo, nos GCP de
conservas e produzem as mesmas para serem mulheres. Além disso, motivamos o empoderamento de
comercializadas e com lucro compartilhado, tendo o apoio mulheres e jovens, despertando a autoestima e a confiança
da ONG MSM e do Somos Um (parceiro externo que das mesmas.
incentiva a economia social). ODS 8 – Trabalho e crescimento econômico: a presente
O outro caminho da replicabilidade desenvolvidos pelos prática tem por finalidade motivar o empreendedorismo no
professores é o repasse das práticas metodológicas para segmento gastronômico e, portanto, trabalha diretamente o
outros colegas, definido-se como aprendizagem-cooperativa. crescimento econômico na comunidade atendida. Ressalta-
se que o desenvolvimento sustentável é tema base desta
Convergência da referida ação com as políticas públicas prática e, assim, os participantes são preparados para
vigentes empreender e/ou conquistar espaço no mercado de trabalho
com consciência sobre práticas sustentáveis ligadas ao
A prática descrita atende aos princípios da Política Nacional consumo e ou preparo de alimentos.
de Cultura através do Plano Nacional da Cultura, que ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: este é
trabalha a concepção da cultura articulada em três plenamente alcançado pelo Programa em estudo, pois a ação
dimensões: simbólica, cidadã e econômica. Todas estas são conscientiza e valoriza o consumo sustentável dos
admitidas pelo Programa Gastronomia Social UFC, pois se alimentos, bem como o uso nas práticas gastronômicas
trabalha gastronomia como arte-cultura, a qual pode ser um como, por exemplo, consumo de insumos locais e até
lugar de inovação e expressão da criatividade, favorecendo mesmo o aproveitamento integral dos alimentos, uso
para um cenário de desenvolvimento econômico, consciente da água e descarte correto de óleos de cozinha
socialmente justo e sustentável. Também vai de encontro (estes causam grandes prejuízos ao meio ambiente quando
com a Política Nacional de Alimentação e Nutrição descartados incorretamente). Contudo, são pequenas ações,
(PNAN); a Política Nacional de Segurança Alimentar e mas que juntas causam repercussões positivas e
Nutricional (PNSAN), principalmente no que diz respeito a sustentáveis. E quando realizadas rotineiramente fecham o
segurança e soberania alimentar - base da presente ação. ciclo da produção sustentável, no âmbito da gastronomia.
Deste modo, observa-se que o Programa Gastronomia Social
Gastronomia Social UFC e aderência aos Objetivos do no Jardim da Gente enquadra-se na proposta dos Objetivos
Desenvolvimento Sustentável da ONU de Desenvolvimento Sustentável no território brasileiro, pois
estimula o envolvimento das instituições: sociedade, ONG's
A seguir apresentam-se os Objetivos do Desenvolvimento e instituições públicas (Governo do Estado do Ceará e a
Sustentável – ODS da ONU que são alcançados pelo Universidade Federal do Ceará - UFC); e por ser uma ação
Programa Gastronomia Social UFC. Dos dezessete ODS o de extensão fomenta o ensino e a pesquisa, que juntas
programa atende a sete, são eles: contribuem para as dimensões sociais, econômicas e
52
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
53
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Caracterização do extrato das folhas de Amburana Cearensis A.C. Smith visando uso em
alimentos
Palavras chave: concentração bactericida mínima, concentração inibitória mínima, plantas nativas.
INTRODUÇÃO
Extratos de plantas podem apresentar uma variedade 1,25% e 0,625 % (m/v). Durante o ensaio, os sobrenadantes das
de compostos com diferentes propriedades. Antimicrobianos naturais culturas celulares, contendo ou não (controle negativo) a amostra
de origem vegetal têm sido utilizados pelas indústrias de alimentos e testada, foram removidos e as células foram mantidas em solução de
farmacêutica no controle de microrganismos patogênicos (1), cujas MTT (5 mg.mL-1) em meio de Krebs, a uma temperatura de 37°C/ 20
propriedades antimicrobianas das substâncias produzidas pelas plantas minutos e ao abrigo da luz. Os cristais de formazan formados após
são uma consequência do metabolismo secundário do vegetal (2). A este período, devido à redução do MTT, foram dissolvidos em solução
demanda por antioxidantes e antimicrobianos naturais vem de HCl 0,04 N em isopropanol. O valor da absorbância foi medido a
aumentando, tendo em vista que os consumidores cada vez mais um comprimento de onda de 570 nm. Os valores das absorbâncias
querem incluir em sua alimentação produtos saudáveis e com a menor obtidas de cada concentração do extrato foram comparados à
quantidade possível de aditivos sintéticos. absorbância do controle positivo (citotoxina A do Clostridium
Em muitos países têm sido relatado o estudo da difficile) e negativo (somente cultura celular em meio de cultura). Os
atividade antimicrobiana de plantas nativas, uma vez que possuem resultados obtidos foram submetidos ao teste de comparação múltipla
flora diversificada e tradição na utilização de plantas medicinais (3). de Bonferroni's e os resultados expressos em média e desvio padrão.
Dentre as plantas encontradas no Nordeste brasileiro, temos o cumaru
(Amburana cearensis A.C. Smith), cujos compostos extraídos podem
apresentar aplicações interessantes em diversas áreas (4,5). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estudos envolvendo a elaboração e caracterização de
extratos de plantas desenvolvidos utilizando as folhas de cumaru ainda Os resultados dos compostos fenólicos totais e
são considerados escassos. capacidade antioxidante do extrato hidroalcóolico 70:30 ( EHA 70:30)
Nesse contexto, objetivou-se avaliar o teor de de folha de cumaru estão apresentados na Tabela 1.
compostos fenólicos, a capacidade antioxidante, a atividade
antimicrobiana e a citotoxicidade do extrato hidroalcoólico obtido das Tabela 1. Conteúdo de compostos fenólicos totais e capacidade
folhas de Amburana cearensis A.C. Smith (cumaru), a fim de avaliar a antioxidante do extrato hidroalcóolico 70:30 da folha de Cumaru
possível aplicação do mesmo em alimentos. (Amburana cearensis).
Compostos Atividade
MATERIAIS E MÉTODOS fenólicos a antioxidante b
O extrato hidroalcoólico 70:30 foi obtido a partir das Extrato de 28,12 792,14
folhas de cumaru secas em estufa a 35°C/ 28h conforme metodologia
cumaru
de (6). O material vegetal foi macerado em solução hidroalcoólica
a
70% (álcool etílico:água) na proporção 1:10 (folhas:solução) a mg de equivalente de ácido gálico (EAG)/100 g de extrato seco de
b
temperatura ambiente por 24h, repetindo a extração por quatro vezes cumaru.; TEAC - Capacidade Antioxidante Equivalente ao Trolox
sob as mesmas condições. Em seguida, os extratos líquidos foram (ácido 2-carboxílico-6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano), em µM/g
liofilizados para posteriormente serem realizadas as análises. de amostra.
Os compostos fenólicos totais foram determinados pela
metodologia descrita por (7), que utiliza o Folin-Ciocalteu como É possível verificar que o extrato apresentou valor
reagente e o ácido gálico como padrão para elaboração da curva. satisfatório de compostos fenólicos. Estudos sobre extratos etanólicos
A capacidade antioxidante total dos extratos foi da folha e casca de cumaru encontraram conteúdo de compostos
determinada pelo método da captura do radical sal de amônio do ácido fenólicos igual a 0,131 g EAG/g e 0,119g EAG/g, respectivamente
2,2 azinobis (3-etilbenzeno-6-sulfônico) (ABTS), conforme (6), superiores ao obtido neste estudo. Deve-se levar em consideração
metodologia descrita por (8), com modificações. que os autores citados utilizaram a casca do cumaru para elaboração
Atividade antimicrobiana foi determinada através dos do extrato e nesta pesquisa foram utilizadas as folhas, o que pode ser
parâmetros de concentração inibitória mínima (CIM) e concentração responsável pela diferença nos teores desses compostos, tendo em
bactericida mínima (CBM), pelo método de microdiluição em placas vista que foram utilizadas partes diferentes da planta. A utilização das
(96 poços, 300 µl de capacidade/poço; MicrotestTM, Becton folhas para elaboração de extratos apresenta-se como uma alternativa
Dickinson and Co.) (9). As concentrações testadas variaram de 2 a viável, tendo em vista que a retirada das folhas da planta não resulta
100mg/mL frente à Sthaphylococcus aureus, Listeria monocytogenes, em degradação da mesma, desde que realizada de forma adequada.
Eschrerichia coli e Salmonella enteritidis. Com a relação a capacidade antioxidante, o alto valor
A citotoxicidade do extrato foi avaliada por meio de encontrado pode estar relacionado com os compostos fenólicos (11).
ensaios baseados na redução celular de MTT [Brometo (3-(4,5- Apesar do teor de compostos fenólicos não ter sido elevado,
dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil tetrazolium)]. O teste de MTT avalia a provavelmente os compostos presentes são os que apresentam elevada
viabilidade celular a partir de um método colorimétrico simples. A capacidade antioxidante. Existe uma crescente busca por substâncias
redução do MTT ocorre através de enzimas desidrogenases com capacidade antioxidante, provenientes de fontes naturais, que
mitocondriais. Como resultado da redução do MTT é formado cristais funcionem como alternativa para prevenir a deterioração oxidativa de
de formazan de cor azul, que ao serem dissolvidos absorvem na região alimentos e que limitem o uso de antioxidantes sintéticos,
do visível, podendo ser quantificados por espectofotometria (10). A responsáveis por efeitos nocivos à saúde (12, 13).
citotoxicidade foi medida através da exposição das células epiteliais
intestinais (aproximadamente 20.000 células - cultura IEC 6),
previamente cultivadas, nas concentrações de 20%, 10%, 5%, 2,5%,
55
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Os resultados referentes a atividade antimicrobiana do 4. BRAVO, J.A. et al. Bioactive phenolic glycosides from
extrato hidroalcóolico de folhas de cumaru estão apresentados da amburana cearensis. Phytochem., [S.l.], v.50, p.71-74,
Tabela 2. 1999.
5. PEIXOTO R. M. Mastite em pequenos ruminantes:
Tabela 2. Atividade antimicrobiana do extrato hidroalcóolico 70:30 da etiologia, fatores de risco, diagnóstico e sensibilidade aos
folha de cumaru. agentes antimicrobianos e extratos de plantas. 2009. 129 p.
Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)- Campus de
a
Parâmetros Ciências Agrárias, Universidade Federal do Vale do São
Francisco –UNIVASF, Petrolina, 2009.
6. SANTOS, L. O. et al. Avaliação da atividade antioxidante
Bactérias b
CIM (mg/mL) c
CBM (mg/mL) de compostos fenólicos presentes em Amburana cearensis.
S. aureus 10 25 Orbital: Electron. J. Chem, [S.l.], 8(1), 44-49, 2016.
7. LARRAURI, J. A.; RUPÉREZ, P.; SAURA-CALIXTO, F.
L. monocytogenes 15 25 Effect of drying temperature on the stabilitity of
S. enterititdis 25 30 polyphenols and antioxidant activity of red grape pomace
peels. Journal of Agricultural and Food Chem. [S.l.], 45,
E. coli 25 30
1390-1393, 1997.
a
Determinação da atividade antimicrobiana; b CIM: Concentração 8. RUFINO, M. S. M. et al.Bioactive compounds and
inibitória mínima; c CBM: Concentração bactericida mínima. antioxidant capacities of 18 non-traditional tropical fruits
from Brazil. Food Chem., [S.l.], 121, 996–1002, 2010.
O extrato hidroalcoólico obteve atividade antimicrobiana 9. BRANEN, J. K.; DAVIDSON, P. M. Enhancementofnisin,
frente aos microrganismos Gram positivos (Staphylococcus aureus e lysozyme, and monolaurin antimicrobial activities by
Listeria monocytogenes) e Gram negativos (Salmonella enteritidis e
ethylenediaminetetraacetic acid and lactoferrin.
Escherichia coli). Esses microrganismos são considerados de interesse
International Journal of Food Microb., 90, 63 – 74, 2004.
em alimentos, tendo em vista que estão associados a contaminação
e/ou Doenças transmitidas por alimentos (DTA’s). Para as bactérias 10. MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular
gram-positivas apresentou melhor efeito inibitório e bactericida, sendo growth and survival: application to proliferation and
necessárias menores concentrações para obtenção das atividades cytotoxicity assays. J. Immunol. Met., 65(1), 55–63, 1983.
antimicrobianas. Em outro estudo, o extrato clorofórmico da casca do 11. LIMA , A.R. et al. Avaliação in vitro da atividade
caule do cumaru não apresentou atividade antimicrobiana frente a S. antioxidante do extrato hidroalcoólico de folhas de
aureus, L.monocytogenes, E.coli e Samonella enterica Typhimurium bardana. Rev. Bras. Farmac., 16(1), 531-536, 2006.
(14).
12. OLIVEIRA, M.S. et al. Atividade antioxidante e
O resultado da atividade antimicrobiana deve estar
antifúngica de extratos vegetais. Alim. Nutr. , Araraquara,
relacionado com seu potencial antioxidante e constituição química
(15). Portanto, a aplicação desse extrato na área alimentícia, pode ser [S.l.], 18, 3, 267-275, 2007.
uma alternativa viável, pois o mesmo demonstrou ter potencial 13. RAMESHKUMAR, A.; SIVASUDHA, T. In Vitor
antioxidante e antimicrobiano frente a importantes patógenos e antioxidant and antibacterial activity of aqueous and
contaminantes de alimentos. methanolic extract of Mollugo nudicaulis Lam. Leaves.
Não foi encontrado potencial citotóxico para o extrato de Asian Pacific J. Trop. Biome., 2(2), 895-900, 2012.
cumaru frente às células epiteliais humanas, uma vez que a viabilidade 14. SÁ, M.B. et al. Phytochemistry and Preliminary
celular se manteve acima de 50% para todas as concentrações Assessment of the Antibacterial Activity of Chloroform
testadas. Dessa forma, o extrato pode ser considerado seguro para Extract of Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.
utilização. Verificou-se, ainda, um estímulo ao crescimento das against Klebsiella pneumoniae Carbapenemase-Producing
células epiteliais pelo extrato hidroalcoólico 70:30 em todas as Strains. Evidence-Based Complem. Alt. Medi,.1-7, 2014.
concentrações testadas. Provavelmente, os solventes utilizados nesta
15. VENÂNCIO, E.T. Estudo dos efeitos comportamentais e
extração, em suas dadas concentrações, extraíram algum composto
neuroquímicos do extrato padronizado de Justicia
diferente ou em maior quantidade em relação aos demais extratos, que
intensificou o crescimento celular. pectoralis (chambá) em camundongos. 2009. 127f.
Dissertação (Mestrado em Famacologia) – Faculdade de
Medicina, Universidade Federal do Ceará, 2009.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
56
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Composição de Lipídios Totais de Coco Verde e Seco in Natura e Coco Ralado Industrializado
Ana Araújo1 Renata Assis2, Ribanna Braga3, Ana Ferreira3, Thalyta Pacheco3, Carla Maia4
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, barbara.muniz@aluno.uece.br
2
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará
3
Graduada em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará
4
Doutora em Nutrição Humana Aplicada, Universidade Estadual do Ceará
57
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 1. Média e desvio padrão da composição de lipídios totais, umidade e cinzas em coco industrializado, coco seco e verde in natura em
amostra úmida (em mg/100g) realizada em triplicata
LIPÍDIOS UMIDADE CINZA
Coco
Coco Coco seco in Coco verde Coco Coco seco Coco verde in Coco seco Coco verde
industrializ
industrializado natura in natura industrializado in natura natura in natura in natura
ado
59,32 32,53 5,26 3,27 43,63 90,38 2,41 0,66 0,39
60,75 30,84 5,03 3,31 43,09 90,37 1,84 0,89 0,55
59,99 32,01 5,66 3,41 43,90 89,78 2,09 0,57 -
a a c a b c a b
60,02(0,72) 31,80(0,87) 5,31(0,32) 3,28(0,04) 43,54(0,41) 90,28(0,46) 2,11 (0,28) 0,71 (0,16) 0,47(0,12)c
Valores expressos em média e desvio padrão. ANOVA, com nível de significância de p<0,05.
Tabela 02: Valores médios de lipídios, umidade e cinza (mg/100g 12. Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para
amostra úmida) de coco e seus derivados, segundo tabelas e análise de alimentos. 1 ed. digital. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,
diferentes autores. 2008, p. 105-574.
Alimento Referência Lipídio Umidade Cinza 13.MANIVANNAN, A.; BHARDWAJ, R.; PADMANABHAN, S.;
Coco seco in TACO (23) 42,0 43,0 1,0 SUNEJA, P.; HEBBAR, K.B.; KANADE, S.R. Biochemical and
natura Aragão (25) 25,4 - - nutritional characterization of coconut (Cocos nucifera L.)
Oliveira (26) 15,33 76,15 0,53 haustorium. Food Chem. 1, 238, 153-159, 2018.
Coco verde in Aragão (25) 4,5 - - 14.LOPEZ-VILLALOBOS, A.; DODDS, P.F.; HORNUNG, R.J.
natura Santana (27) 0,39 92,70 0,75 Changes in the fatty acid composition during the development of
Leal (28) 1,16 82,73 0,77 tissues with the coconut (Cocos nucifera L.) embryos in the intact
Coco USDA (24) 6,0 - - nut and in vitro. J Exp Bot. 52, 358, 933-942, 2001.
industrializado 15.ARAGÃO, W.M.; CRUZ, E.M.O.; TAVARES, M.; RIBEIRO,
Leite de coco TACO (23) 18,4 78,0 0,4 F.E.; TUPINAMBÁ, E.A.; PIMENTEL, A.S. Teor de gordura e
USDA (24) 18,3 - - composição de ácidos graxos em polpa de frutas de coqueiro anão
Oleo de coco USDA (24) 100,0 - - em diferentes idades de maturação. Rev. do Inst. Adolfo Lutz. 63,
CONCLUSÃO 159-167, 2004
A quantidade de gordura no coco industrializado é maior 16.AZEEZ, S. Fatty acid profile of coconut oil in relation nut
que no coco in natura seco e verde. Trabalhos científicos recentes maturation and season in select cultivars/hybrids. Br Food J. 109,
com dados de gordura do fruto coco são escassos, seria necessário 272-279, 2007.
uma maior atualização para conhecimento das propriedades 17.NARESH, K.S.; BALAKRISHINA, A. Seasonal variations in
nutricionais deste fruto. fatty acid composition of oil in developing coconut. J Food Qual. 32,
REFERÊNCIA 158-176, 2009.
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Washington, DC : AOAC, 1995, v. 2.
58
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
59
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Onde, A = nota média obtida para o produto; B = nota máxima dada ao simbologia e valores culturais na vida do sertanejo e dos demais
produto; O critério de decisão para o índice ser de boa aceitação é de habitantes da região. A rapadura é famosa pelo seu alto valor calórico,
igual ou superior a 70% (5). sendo rica também em vitaminas, minerais e proteínas (7). O produto
está inserido na merenda escolar em alguns estados do Nordeste, como
RESULTADOS E DISCUSSÃO Ceará, Paraíba e Pernambuco, a qual é utilizada no controle nutricional
das crianças.
As etapas do processamento do muffin de rapadura com coco
apresentam técnicas simples e de fácil execução (3), porém, como em CONCLUSÕES
qualquer outro processo requer atenção e cuidado, a fim de se obter um
O Muffin de rapadura com coco apresentou 89% de índice de
produto de qualidade. A determinação da formulação foi feita a partir
aceitabilidade o que representa boa aceitação e 94% do índice de
de uma formulação caseira. A elaboração do muffin de rapadura com
intenção de compra demostrando um alto potencial de consumo e venda.
coco foi feita no propósito de ter um produto rico em nutrientes, com
O muffin de rapadura com coco se mostrou um ótimo produto para o
aproveitamento e valorização de insumos regionais que sejam
consumo, ressaltando-se a importancia do uso do melaço, de forma
reconhecidos pela gastronomia do Brasil (6), o melaço de cana e o coco,
promissora, em outras preparações em substituição ao açúcar refinado.
cujo o Estado do Ceará é um dos maiores produtores do Brasil.
Esse produto tem potencial apelo regional por utilizar a rapadura que pertence
Com relação a avaliação de aceitação, quanto aos provadores, 60% eram a nossa cultura alimentar e ainda melhora seu valor nutricional.
do sexo feminino e 40% do sexo masculino. A maioria dos provadores,
REFERÊNCIAS
34% apresentaram idade entre 21 e 30 anos, o que pode ser justificado
pelo fato da maioria dos provadores serem alunos da UFC onde a (1) Cavalcanti, P. 2007. A pátria das panelas: histórias e receitas da
análise foi conduzida, e essa ser a faixa etária predominante de alunos cozinha brasileira. São Paulo: Editora Senac São Paulo.
universitários; 14% dos provadores com idade entre 31 e 50 anos e,
apenas 4% dos provadores apresentaram idade entre 51 e 60 anos. (2) Cascudo, L. da C. 1898-1986. 2004. História da alimentação no
Brasil. 3.ed.- São Paulo: Global.
Os resultados da análise sensorial do muffin de rapadura com coco
podem ser visualizados na Figura 2. Com os resultados obtidos pela (3) KÖVESI, B; SIFFERT, C; CREMA, C; MARTINOLI, G. 400g:
análise sensorial pode-se verificar que 1% dos provadores atribuíram Técnicas de cozinha. São Paulo: Companhia editora Nacional, 2007.
nota 4 (nem gostei/ nem desgostei); 10% nota 6 (gostei ligeiramente); 568p.
24% nota 7 (gostei moderadamente); 45% nota 8 (gostei muito) e 20%
nota 9 (gostei muitíssimo). Assim sendo, pode-se considerar que o (4) Stone, H.; Sidel, J. L. 2004. Sensory evaluation practices. 3. ed.
muffin de rapadura com coco foi muito aceito pelos provadores. Afim San Diego: Elsevier, 377p.
de verificar matematicamente a aceitação foi calculado o Índice de
Aceitabilidade, e o resultado obtido para a amostra analisada foi igual a (5) Dutcosky, S.D. 1996. Análise sensorial de alimentos.
89%. Com esse valor obtido, pode-se afirmar que o muffin de rapadura Curitiba:Champagnat, 123 p.
com coco teve boa aceitação por parte dos provadores (5).
(6) Freixa, D; Chaves, G. 2015. Gastronomia no Brasil e no
mundo.3.ed.rev. e atual. Rio de Janeiro: Senac Editoras, 318 p.11. Inclui
bibliografia. Publicado em parceria com a Ed. Senac São Paulo.
60
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Andrynne Veras de Sousa 1 , Antonio Gilvan Rodrigues de Souza 1 , Layana Mary Frota Menezes 1 , Francisca
Joyce Elmiro Timbó Andrade 2
1.INTRO DUÇÃO com rolos e cortados com moldes circulares. Por fim,
A procura por uma vida saudável através de uma encaminhados para o forneamento a 160ºC por 10 minutos.
alimentação equilibrada vem crescendo entre a pop ulação com A análise de textura foi realizada na Embrapa/CE, com
aumento do interesse dos consumidores por alimentos, que além auxílio de texturômetro instrumental. As determinações de for ça
da função básica de nutrir, promovam efeitos benéficos à saúde de ruptura ou de quebra dos biscoitos foi realizada na E mbr a pa
[1,2]. Observa-se assim que cada vez mais o consumidor está Caprinos/CE pelo texturômetro TA-XT Plus T extur e Analyz e r
preocupado com a sua saúde, optando pelos alimentos diet, light , (Stable Micro Systems, Haslemere, UK), utilizando-se probe
orgânicos, naturais e funcionais [3]. Aliados a tais benefícios h á HDP/3PB e plataforma HDP/90, com velocidade de 2 mm. s- 1 e
a preocupação da elaboração de produtos atrativos e sabo r o sos distância de 9mm. Os resultados foram expressos em N (Newton)
que mesmo com a modificação da receita origin al m a nten ham e representados pela média aritmética de 8 repetições. O diâmetro
suas propriedades tecnológicas, diante disso a aveia apresenta e a espessura dos biscoitos foram medidos com auxílio de um
excelentes propriedades de absorção de umidade, p r otelando o paquímetro. E para a determinação da expansão foi calculado o
envelhecimento de pães, bolos e biscoitos [4]. Além disso, a peso dos biscoitos antes e após a cocção. O volume específico foi
produção das nozes e castanhas tem recebido destaque devido a o estabelecido pelo quociente entre o volume (cm3) e a m assa ( g)
aumento da produção e investimentos no setor. As nozes e de cada amostra forneada, com resultados expressos em cm 3 g– 1 .
castanhas possuem muitos nutrientes e são bastante consum idas O valor da massa foi obtido em balança analítica e o volume
de várias formas, seja integralmente ou na composição de específico pelo deslocamento de sementes de deslo cam ento de
diversos pratos e produtos [5]. O desenvolvimento de novas sementes [12]. O rendimento foi realizado A partir do peso pré e
opções de produtos de panificação com ingredientes alternativ os pós-cocção dos cookies foi calculado o rendimento do p ro duto
à farinha de trigo torna-se algo cada vez mais desejado por pronto (pós-cocção) [13].
consumidores. Atualmente, no mercado nacional e internacional, As medidas dos parâmetros colorimétricos foram feitas em
é possível encontrar biscoitos isentos de glúten, por ém, m uitos colorímetro portátil Delta Color, Rio Grande do Sul-BR, segundo
produtos disponíveis no mercado não apresentam boa aceitação padronização do sistema da Commission Internationale de
pelos consumidores [6]. Além disso, possuem pouco valor l’Eclairage (CIELAB). No sistema de cor CIELAB, L*
nutricional e custo elevado, tornando-se de difícil acesso a representa a luminosidade, onde os valores variam do 0 (preto) ao
populações menos favorecidas economicamente [7]. 100 (branco). Além disso, -a* (verde), a* (vermelho), -b* (azul)
A batata da espécie Solanum tuberosum L . , é f o nte e b* (amarelo) são as coordenadas de cor. Os parâmetros c* e h *
importante de fósforo e vitaminas do grupo B. Como é pobre em são derivados das coordenadas colorimétricas anteriormente
proteínas e gorduras, este tubérculo é um alimento de fácil citadas, onde c* é a cromaticidade ou saturação da cor
digestão [8]. Sua comercialização é feita principalmente na forma ("vivacidade") e h* indica a tonalidade da cor, cuja medida é
in natura, porém com a industrialização podem ser obtidos dada em graus. As amostras de biscoito foram lidas em triplicata.
produtos como a batata chips, palito pré-frito congelado, batata A análise físico-química de umidade foi realizada através do
palha, fécula, flocos, farinhas e outros [9]. A mandioca (Manihot método de Secagem por Radiação Infravermelha, com leitura da
esculenta) sua’ parte de maior valor econômico do v egetal é a balança [14]. Após a obtenção do valor da umidade foi calculado
raiz tuberosa, devido ao seu elevado teor de amido (fécula) [10 ]. conforme o manual do aparelho.
Sua produção tem grande importância socioeconômica no país e Os dados obtidos foram submetidos à análise de
no mundo sendo utilizada na alimentação humana e animal e variância (ANOVA) para obtenção da média e desvio padrão da s
como matéria-prima em inúmeros produtos industriais. Produt os amostras. As médias foram comparadas pelo teste de T ukey a 5%
que envolvem biscoito tipo cookie como enfoque p r incipal já de significância, pelo programa estatístico Statistic 7.0.
foram desenvolvidos como foco para o desenvolvimento de
novos produtos e estudos de produtos tecnológicos utilizando 3 RESULTADO S E DISCUSSÃO
diversas matérias primas e suas aplicações, como biscoitos Na tabela 1, estão apresentados os valores médios
elaborados com farinha da casca de beterraba [11], porém, (média ± desvio padrão) das amostras dos biscoitos tipo co ok ies
elaborar, produtos diferenciados e compará-los, além de divulgar com relação aos valores dos parâmetros físicos.
esses produtos é um desafio para a indústria alimentícia. T abela 1 - Parâmetros físicos dos biscoitos tipo
T endo em vista no que mencionado, o objetivo do cookies com diferentes fontes de amido.
trabalho foi elaborar e caracterizar biscoitos t ipo co okie, co m
diferentes fontes de amido.
Parâmetros físicos FTA FMA FBA
2.METO DO LOGIA Diâmetro 2,68 b ± 0,03 3,00 a±0,01 3,03 a± 0,06
Os biscoitos tipo cookie foram elaborados com 50% de Espessura 0,38 a±0,03 0,42 a±0,06 0,38 a±0,03
farinha de aveia (FA), variando nas concentrações de farin ha de Fator de Expansão 2,16 a±0,06 2,15 a± 0,06 2,13 a± 0,01
trigo (FT ), fécula de batata (FB) e fécula de mandioca (FM) . Os Volume Específico 4,48 b ±0,01 7,29 a± 1,25 6,82 a± 0,62
ingredientes foram adquiridos no comércio local de So br al/CE . Rendimento 87,71 b± 0,06 88,20 b± 0,52 100,96a± 0,97
A produção dos biscoitos tipo cookie foi realizada no laboratório T extura 4782,61 c± 14,62 5359,90 b± 27,37 8203,32 a± 4,67
a, b, c
de Panificação, no Instituto Federal de Ciência e T ecnologia – Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados
IFCE, campus Sobral. Após a pesagem e mistura dos ingredientes
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA
manualmente e descanso por 20 minutos, as massas foram abertas (Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de
batata e aveia).
61
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
A espessura e fator de expansão não apresentaram diferença [1] DURAN, A. C. L. et al. Food intake and physical activity
significativa entre as amostras (p > 0,05). Em relação ao diâmetro level correlation among individuals who practice exer cises in a
foi possível observar que o menor resultado obtido foi o biscoito gym. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 12, n. 3, p.
de farinha de trigo com aveia. Visto que, após abrir a massa co m 15–19, 2004.
o rolo, percebia-se que a mesma encolhia um pouco, o que n ão [2] JAEKEL, L. Z.; RODRIGUES, R. DA S.; SILVA, A. P. DA.
foi observado com as demais amostras. O que pode ser Physicochemical and sensorial evaluation of beverages with
justificado pela presença do glúten da farinha de trigo, que possui different proportions of soy and rice extracts. Ciência e
características de elasticidade e extensibilidade [15]. Qua n to ao Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 2, p. 342–348, 2010.
rendimento, de acordo com a tabela 2 observa-se que houve [3] GUT KOSKI, L.C.; IANISKI, F.; DAMO, T .V.; PEDÓ, I.
diferença apenas no biscoito que foi utilizado fécula de bat at a, Biscoito de aveia tipo cookies enriquecidos com concentr ado de
indicando maior rendimento entre as amostras. Dessa forma β-glicanas. Brazilian Journal of FoodTechnology, Cam p ina s,
pode-se concluir que a utilização de fécula de batata é um aspecto v.10, n.2,p.104-110, 2007.
positivo para ser utilizado pelas indústrias de alimentos, visto ao [4] ARAÚJO, M. O. D.; GUERRA, I. M. M. Alimentos pe r
seu maior rendimento. A interação entre os ingredientes das capita. Natal: Universitária, 1992. 181 p.
amostras FMA e FBA, ocasionaram maiores volumes específicos [5] MORAES, K.S.; ZAVAREZE, E.R.; MIRANDA, M.Z.;
nos biscotos, apresentando-se com diferença significativa entre a SALAS-MELLADO, M.M. Avaliação tecnológica de bisco it os
amostra FTA (p < 0,05). A alta capacidade de absorção de água é tipo cookie com variações nos teores de lipídio e de açúcar.
uma característica forte que as fibras possuem. O que pode Revista Ciência e Tecnologia de Alimento s. Camp inas, 3 0
justificar o menor volume encontrado no biscoito FT A. Em (Supl.1): p. 233-242, 2010.
relação a textura, o biscoito com fécula de batata obt ev e m a ior [6] PEREZ, P. M. P.; GERMANI, R. Elaboração de biscoitos tipo
firmeza isso se deve porque nessa formulação o teor de f ibr a é salgado, com alto teor de fibra alimentar, utilizando f arin ha de
maior aumentando assim o valor da força [16]. Desse modo berinjela (Solanum melongena, L.). Ciência e Te cno logia de
quanto maior o teor de fibra, maior foi a firmeza do bisco ito , o Alimentos, Campinas, v. 27, n. 1, p.186-192. 2007.
que é condizente com o resultado exposto na tabela 2. [7] EL-DASH, A. A.; CAMARGO, C. R. O. Fundamento s da
T abela 2 - Análise de cor instrumental dos bisco ito s tecnologia de panificação. São Paulo: Secretaria da I n dúst r ia,
tipo cookies com diferentes fontes de amido. Comércio e T ecnologia,. 400 p. 1982.
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b* 2,19 c±0,05 4,10 a±0,05 3,01 b ±0,02 [9] GARMUS, T . T .; BEZERRA, J. R. M. V.; RIGO, M.;
C* 4,22 a±0,06 2,32 c±0,05 3,18 b ±0,03 CÓRDOVA, K. R. V. GUPT A, M., BAWA, A. S. & ABU-
h* 76,05 a±0,35 70,85 b±0,18 71,12 b±0,19 GHANNAM, N. Effect of barley flour and freeze- thaw cycles on
a, b, c
Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam textural nutritional and fuctional proprieties of cookies. Food and
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados bioproducts processing, 8 (9), 520-527, 2011.
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA [10] SOUZA, Z. S. Melhorando da para processamento
(Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de industrial em condições subtropical e tempera da do Sul do
batata e aveia). Brasil. 2010. 153f. T ese (Doutorado em Agronomia).
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A luminosidade do FT A foi mais clara que as demais, [11] LADEIRA, T . M. S.; PENA, R. S. Propriedades físico-
podendo ser justificado pela coloração da aveia e farinha de trigo químicas e tecnológicas dos polvilhos azedos de três cultivares de
serem de cores claras, confirmados pelos parâmetros c* e h* mandioca. Alimentos e Nutrição, v. 22, n. 4, p. 631-640, 2012.
ligados a cromaticidade e a saturação. Para o parâmetro a* e b* ,
[12] AACC, Approved methods of American association of
pode-se observar que houve diferença apenas na formulação FBA
cereal chemists. St Paul, USA: American Association o f Cer e a l
com uma cor amarelada devido a cor marcante da fécula de
Chemists. International. Approved methods of analysis. St P a ul:
batata.
Approved Methods Committee, 2010, Available at:
Na tabela 3, estão apresentados os valores médios
http://methods.aaccnet.org/.
(média ± desvio padrão) de umidade das amostras dos bisco it o s
[13] T EIXEIRA, F.; SANT OS, M. M.; CANDIDO, J., C.;
tipo cookies com diferentes fontes de amido.
SANT OS, F., E.; NOVELLO, D. Cookies adicionados de farinha
FTA FBA FAM da casca de beterraba: análise físicoquímica e sensorial entre
ab b crianças. Revista da Universidade Vale do Rio Verde , T rê s
Umidade 10,9 ±0,880 8,5 ±1,00 12,44 a±1,00
a, b, c Corações, v. 15, n. 1, p. 472-488, jan./jul. 2017.
Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam
[14] ARAÚJO, M. O. D.; GUERRA, I. M. M . Alimento s pe r
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA capita. Natal: Universitária, 1992. 181 p.
(Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de [15] GISSLEN, W. Professional Cooking. Hoboken: John Wiley
batata e aveia). Fonte: Autores,2019. & Sons, 2011.
INST IT UTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Institut o
A amostra com fécula de mandioca e aveia apresentou- Adolfo Lutz. v. 1: Métodos químicos e físicos para análise de
se com maior percentual de umidade, sendo significativ am en te alimentos, 3. ed. São Paulo: IMESP,2008. p. 25-26.
diferente das demais amostras. Esse resultado possivelmente está [16] EST ELLER, M.S.; LANNES, S.C.S. Parâmetros
relacionado ao fato da fécula de mandioca possuir grande p o der complementares para fixação de identidade e qualidade de
de retenção de água. Menores percentuais de umidade são ideais produtos panificados. Ciência e Te cn ologia de Aliment os,
para um aumento da sua vida de prateleira [19], visto que baix o s Campinas, v.25, n.4, p. 802-806, 2005.
conteúdos de umidade são capazes de inibir o crescimento de [17] SILVA, Érika Aparecida Luiza. Análise de nutrientes e m
microrganismos, bem como, provocar modificações na textura do bolinhos de chuva assados adicionados de fibras. (monografia)
produto. Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto, 2019.
[18] FINCO, A. M. O., BEZERRA, J. R. M. V.; RIGO, M.,
4 CO NCLUSÃO CÓRDOVA, R. V. Elaboração de biscoitos com adição de farinha
Conclui-se que a elaboração de cookies com farinha de de berinjela. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial ,
aveia e fécula de mandioca e fécula de batata são alternativas São Paulo-SP, v. 03, n. 01, p. 49-59, 2009.
viáveis como fonte de amido, para produção de biscoitos sem [19] MADRONA, G. S.; ALMEIDA, A. M. Elaboração de
glúten. biscoitos tipo cookie à base de okara e aveia. Revista
Tecnológica, São Paulo-SP, v. 17, n. 2, p. 61-72, 2008.
62
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Termômetros laser infravermelho e haste espeto para medição de temperatura em salada crua de uma Unidade
de Alimentação e Nutrição
Gabrielly Monteiro1, Wilma Baroni2, Denise Sousa2, Thiago Queiroz3, Felipe Jatai3, Renata Assis4
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará (UECE)
2
Pós-Graduada em Gestão da Qualidade em Serviço de Alimentação, UECE, Empresa ISM Gomes de Matos Eireli
3
Pós-Graduado em Nutrição Clínica Funcional, UNICSUL, Empresa ISM Gomes de Matos Eireli
4
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará (UECE)
INTRODUÇÃO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
63
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
64
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
65
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
RESULTADOS E DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
66
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Carla Santos¹, Ana Morais², Márcia Medeiros2, Layane Sousa3, Giovanna Alves4, Edmilson Rodrigues4
nível de 5% de significância.
As amostras foram preparadas misturando inicialmente os
ingredientes secos, exceto o sal, em batedeira planetária (masseira).
Em seguida, a água e o sal foram adicionados lentamente. Os 4. Conclusões
ingredientes foram batidos durante 20 minutos com aumento gradual
da velocidade. Após essa etapa, a massa foi sovada em cilindro, onde A substituição de até 20% de farinha de trigo (FT) por farinha
cada amostra foi cilindrada 40 vezes obtendo uma massa de textura de banana verde (FBV) resulta em boa aceitação sensorial do pão. No
lisa. A massa foi dividida em pedaços de 125g, modeladas entanto, a substituição de 10% resulta em maior aceitação.
manualmente e enformadas em formas de papel forneáveis Recomendamos novos testes com maior substituição da FT pela FBV
retangulares. A fermentação ocorreu em armário à temperatura desde que haja o acréscimo de outros ingredientes que permitam ao
ambiente (26±2°C) durante 01h30. Os pães foram assados por 30
67
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
68
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
69
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
B Formulações
A1 A2 A3
0,0
a
-0,5
Adesividade (N)
b
-1,0
c
-1,5
-2,0
Figura 4 – Aparência visual dos alimentos cremosos (Formulações A1
e A2).
-2,5
Figura 2 – Comportamento dos alimentos cremosos 4 – Conclusão
(Formulações A1 a A3) dos parâmetros de textura obtidas em ensaios As formulações de alimentos cremosos salgados e
de compressão utilizando a geometria TTC Spreadability Rig. saborizados à base de castanha-do-Brasil demonstraram parâmetros de
qualidade tecnológicas interessantes para utilização como patê vegetal.
3.3. Propriedades ópticas A castanha-do-Brasil possui elevada qualidade nutricional, com
Na determinação da cor, o parâmetro luminosidade (L*) elevados teores de proteína, lipídios insaturados e selênio. Os resultados
refere-se à capacidade do objeto em refletir ou transmitir luz, variando de rendimento, mostraram vantagem para a produção industrial, com
numa escala de zero a 100. Quanto maior o valor de L*, mais claro o agregação de valor aos coprodutos de castanha.
objeto.
5 - Referências
A 70 1 - VIANNA, P. R. Estudo da castanha-do-Brasil. Brasília:
Ministério da Agricultura, Comissão de Financiamento da Produção,
68 1972.
2 - SIQUEIRA, F. M.; REGITANO D’ARCE, M. A. B.
Luminosidade
78
(Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos).
76
8 - BOURNE, M. C. Food Texture and Viscosity: Concept
74
a and Measurement. 2 ed. Elsevier Science & Technology Books, 2002.
72
b 423p.
70
c 9 - BURITI, F. C. A.; CARDARELLI, H. R.; SAAD, S. M.
68
I. Textura instrumental e avaliação sensorial de queijo fresco cremoso
66
A1 A2 A3 simbiótico: implicações da adição de Lactobacillus paracasei e inulina.
Formulações Rev. Bras. Cienc. Farm. 2008, vol.44, n.1, pp. 75-84.
10 - OLIVEIRA, M. B. Processamento e avaliação de
Figura 3 – Comportamento dos alimentos cremosos queijos ricota com diferentes concentrações de leite, e de queijos mistos
semissólidos (Formulações A1 a A3) para os parâmetros de cor. adicionados de proteínas de soja e cálcio. 2012. 105 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade
As Formulações A1 e A3 apresentaram L* em torno de 66, Federal de Goiás, Goiânia, 2012.
indicando uma tendência à coloração clara. As formulações A1 e A3
não apresentaram diferença de cor entre si, mas a formulação A2 foi a 6 - Agradecimentos
mais clara (p<0,05), conforme mostrado na Figura 3A. Todas Apoio financeiro pelo Conselho Nacional de
apresentaram baixa saturação da cor, sendo que, somente a formulação Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo:
A3 foi menor (p<0,05). No parâmetro Hue, todas as formulações 445648/2014-7 e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
apresentam diferença, sendo que a Formulação A2 foi a que apresentou Grosso (FAPEMAT) – Processo: 222927/2015.
maior tonalidade amarelada (próximo a 90º) e a Formulação A3
apresentou tonalidade amarelo-avermelhada (71º) (Figura 3C e 4).
70
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Lívia, Félix¹; Dayane, Fernandes¹; Erlane, Rodrigues¹; Francisca, Silva¹; Daniel, Campelo ²;
¹ Estudante do Curso de tecnologia de Alimentos do IFMA Campus Codó; E-mail: lyvya_danyelle@hotmail.com
² Professor do Curso de tecnologia de Alimentos do IFMA Campus Codó.
Palavras chave: Celíacos; Enriquecimento; Aceitabilidade. massas encontram-se na tabela 4. As médias encontradas nesta análise
não apresentaram diferença significava entre as amostras pelo teste de
INTRODUÇÃO Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 4- Médias das análises físico-químicas feitas nos 14
A pizza é um produto alimentício que apresenta um alto consumo, por ser
prático e nutritivo. A massa básica tradicional é composta por farinha de trigo, experimentos realizadas do planejamento experimental.
água, sal, açúcar e fermentada pelas leveduras do gênero Saccharomyces (1).O
glúten a principal proteína presente na farinha de trigo quando digerida Umidade Cinzas Lipídeos Proteínas Carboidratos
Experimento
parcialmente no aparelho gastrointestinal, pode causar complicações no (g/%) (g/%) (g/%) (g/%) (g/%)
organismo de alguns indivíduos, sendo estes designados como celíacos ou 1 13,8 a 1,96a 19,3a 8,2a 60,6a
intolerantes ao glúten. A proteína responsável é uma subunidade do glúten 2 11,26 a 2,2ª 17,6a 8,2a 58a
chamada de gliadinas. Esta proteína quando não digeridas pode atravessar a 3 15,56 a 2,83ª 15,6a 8,06a 58,1a
barreira epitelial intestinale desencadear reações imunomediadas em casos de 4 10a 2,1a 17,6a 9,13a 60ª
infecções intestinais, ou, quando a permeabilidade do intestino se encontra 5 16,8ª 1,9ª 18,6ª 8,7ª 56,9ª
aumentada, causando a famosa doença celíaca (2). Nesse contexto uma 6 14,83ª 2,2ª 16,6ª 8,73ª 62,26ª
alternativa interessante para substituição do glúten são as fontes de amido, 7 17,33ª 2,3ª 15,3ª 8,66ª 57,36ª
dentre estas temos a obtida a partir do mesocarpo do babaçu (Orbignya sp.), 8 11,13ª 2,56ª 19,3ª 8,46ª 57,76ª
pois é um produto de alto valor nutritivo. 9 16,30ª 2,06ª 18,6ª 9,56ª 57,1ª
O fruto é constituído por três camadas: a externa fibrosa, denominada epicarpo; 10 8,7ª 1,86ª 17,3ª 8,5ª 59,56ª
a intermediária, fibrosa-amilácea, mais conhecida como mesocarpo; e a interna, 11 10.6ª 2,1ª 15,6ª 8,76ª 61,76ª
lenhosa (endocarpo), na qual estão inseridas as amêndoas. O mesocarpo 12 14ª 2,5ª 18ª 8,96ª 56,23ª
representa 20% do fruto inteiro e é composto de até 60% de amido, que quando 13 13,6ª 2,23ª 15,6ª 8,23ª 62,43ª
fresco, apresenta cor creme clara, podendo ser facilmente reduzido a pó (3). 14 15.5ª 2,03ª 17,3ª 9,36ª 56,73ª
Por ser uma matéria prima pouco explorada para produção de produtos de
panificação para intolerantes ao glúten empregou-se o mesocarpo de coco Massa com
babaçu (MCB) e a farinha de arroz em formulações de massas pizzas, onde glúten* 25,8 1,5 2,8 8,4 61,5
o objetivo da pesquisa foi avaliar as características físico-químicas,
tecnológicas e sensoriais de massa para pizza sem glúten.
METODOLOGIA Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna indicam haver diferença
A fase inicial do processo foi a obtenção da massa de pizza sem glúten através significativa (p ≤ 0,01) pelo teste de Tukey (g/%),
de um planejamento experimental fatorial do tipo Box-Behnken, com 3 fatores utilizando o programa estatístico Action Stat.
e 3 níveis (-1, 0, 1) e 2 repetições no ponto central, totalizando 14 ensaios. Fonte: Autor
Os demais ingredientes da formulação foram mantidos em porcentagens fixas * Fonte: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (6)
de 2% (açúcar, sal e goma xantana) de 8% (ovo em pó), com 100% de farinha A legislação brasileira atual não dispõe de padrões de identidade e qualidade
de arroz e 70% de água. Valores obtidos após realização de testes específicos para produtos de panificação isentos de glúten (5). Os percentuais de
preliminares. umidade encontrado nas massas variaram entre 17,33% a 8,7%, percentual
Tabela 1 - Variáveis independentes utilizadas em cada nível do processo abaixo do estimado para massa tradicional (com trigo), que é de 25,8% de acordo
Fonte: Dados da pesquisa com a tabela de composição de alimentos (6).
Os percentuais de cinzas nas amostras variam de 1,86% a 2,83% sendo
Variável Código -1 0 +1
superiores ao estabelecido pela tabela de composição de alimentos (6), que
Tempo de Fermentação TF 25min 45min 60min é de 1,5%. Monteiro (7) encontrou resultados semelhantes 3,17% e 2,65%,
Quantidade de Fermento QF 1,5% 2% 2,4% utilizando mesclas de farinha de arroz, inhame e quinoa na elaboração de discos
Temperatura de Assamento TA 140°C 160°C 200°C de pizza pré-assado sem glúten e sem lactose.
No estudo de Buriol et al (8) o percentual de lipídeos foi de 17,17%, valores
Todos os ingredientes foram misturados e homogeneizados, e a massa obtida semelhantes ao teor de lipídeos encontrados no presente trabalho, com medias
descansou entre 20 a 60 minutos. Após o período de descanso, as massas foram entre 15,3% a 19,3%, no entanto esses valores se mostram superior aos
abertas em forma circular com o auxílio de um rolo, para em seguida serem encontrados na massa tradicional com glúten que é de 2,8%.
assadas em forno elétrico, pré-aquecido de 140 a 200°C durante 20 minutos. O teor de proteínas encontrado nas amostras variou de 8,2% a 9,56% sendo
As massas obtidas no planejamento experimental com as melhores igual ou superior a 8,4% que é o estabelecido para massa tradicional com
características sensoriais, foram escolhidas para a adição de 15% de mesocarpo glúten segundo a tabela de composição de alimentos TACO (6). Para Monteiro
de coco babaçu pré-gelatinizado, e submetidas a análise sensorial. (7) e Buriol et al (8) os resultados encontrados pelos mesmos foram de
As condições experimentais utilizadas para adição de mesocarpo de babaçu 8,22% e 8,91%, respectivamente, resultados próximos ao presente trabalho.
foram a dos experimentos 13; 2; 10 e 5. Sendo as massas obtidas das condições O percentual de carboidratos variou entre 56,23% a 62,43% semelhantes
experimentais do 13º ensaio considerado como padrão. As pizzas obtidas nas aos encontrados na literatura para produtos com glúten.
demais condições experimentais foram incorporadas 15% de mesocarpo O perfil de provadores participantes da análise sensorial foram 54 homens e 66
de coco babaçu (MCB) pré- gelatinizado. Sendo assim nomeadas de FP, F1, mulheres, com faixa etária entre 18 a 65 anos. A Frequência quanto ao consumo
F2, F3 respectivamente. de pizza entre os participantes foi de 99%, sendo assim classificados como
A adição da farinha de mesocarpo de coco babaçu (MCB) às massas de consumidores frequentes de pizzas. De acordo com a tabela 5, pode-se verificar
pizza foi através do produto pré- gelatinizado, o que garantiu uma melhora na que a amostra F3 apresentou os maiores percentuais para intenção de compra na
uniformidade das massas. A pré- gelatinização foi realizada adicionando-se opção “certamente compraria” e “talvez compraria”, de 20% a 35%,
mesocarpo de coco babaçu e água na proporção de 1:5 respectivamente e respectivamente. As formulações FP, F1 e F2 apresentaram maiores percentuais
aquecidos a 150 °C durante 5 minutos. para a opção “talvez compraria”, de 23,33%, 34,17% 31,66%, respectivamente.
Foram realizadas análises do teor de umidade, lipídeos, proteínas e
cinzas. Todas as análises seguiram as normas analíticas do Instituto Adolfo
Lutz (4).
A análise sensorial foi realizada com 120 julgadores não treinados, com o teste
afetivo de aceitabilidade, com uma escala hedônica estruturada de 9 pontos,
ancorada nos seus extremos, com os termos: "adorei" e "detestei", quanto à
aceitação global, e "certamente compraria" e "certamente não compraria", para
intenção de compra.
RESULTADOS
Foram utilizados as ferramentas de análise do Excel e Action
Stat versão 3. Os resultados das análises físico-químicas realizadas nas 71
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 5: Frequência de notas do teste de intenção de compra da massa para 3. ZUNIGA, A. D. G.; FRONZA, P.; SILVEIRA, M. R.; MOURA, J. S.;
pizza. ROJAS, E. E. G. Hidrólise ácida da farinha do mesocarpo do coco
Fonte: Autor babaçu, visando a obtenção de bioetanol. Enciclopédia Biosfera, Centro
Intenção de compra (%) Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; 2013.
1- 2- 3- 5- 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ (IAL). Métodos físico-químicos para
Certamen Provavelmen Talvez 4- Certament análise de alimentos- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008, p. 1020 -
versão eletrônica.
te não te não comprari Provavelmen e
5. PEREIRA, B. S. et al. Analise físico-química e sensorial do pão de batata
compraria compraria a te compraria compraria
isento de glúten enriquecido com farinha de chia. DEMETRA:
FP 20,83% 20,83% 23,33% 21,67% 13,34% alimentação, Nutrição & Saúde, v. 8, n. 2, p. 125-136, 2013.
F1 21,67% 24,17% 34,17% 15% 5% 6. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, NEPA – UNICAMP. -
F2 15,84% 20,84% 31,17% 15% 5% 4ª ed. Ver e ampl.. -- Campinas, SP 2011, p.28.
F3 11,67% 16,67% 35% 16,66% 20% 7. MONTEIRO.S.Z. Utilização de mesclas de farinhas de arroz, inhame
e quinoa na elaboração de disco de pizza pré-assada sem glúten e sem
Tabela 6- Médias de aceitação das amostras das massas para cada atributo lactose. 2013. Monografia ( Graduação em Engenharia de Alimentos) –
sensorial avaliado (1= desgostei extremamente, 9= gostei extremamente). Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
8. BURIOL, V; et al. Elaboração de massa de pizza sem glúten utilizando
Formulações Farinha de arroz. In: Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão.
Parâmetros Padrão F1 F2 F3 Anais da SIEPE - Centro-Oeste, outubro de 2009.
Ab
Cor 6.68ª 5.60abab 5.86ª 6.07
Aroma 5.72A 5.26A 5.3ª 5.28A
Sabor 5.61 A
5.24 a
5.62ª 6.03a
Textura 5.15a 4.88ab 5.97ab 6.22ab
Aspecto Global 5,81 5.12
a ab
5.81 6.03Ab
Ab
CONCLUSÃO
Constatou-se que é possível desenvolver massa para pizza sem glúten com
mesocarpo de coco babaçu, em substituição a fécula de batata/amido de milho nas
formulações de massas sem glúten, sendo uma alternativa viável para atender parte
das necessidades dos intolerantes à glúten, bem como à população de um modo em
geral.
As características nutricionais das massas produzidas não foram afetadas pelos
parâmetros de interesse no planejamento experimental, apresentando valores
dentro de uma faixa aceitável para massas sem glúten
Em contrapartida os mesmos fatores de estudo influenciaram os aspectos sensoriais
das massas sem ou com adição de mesocarpo de babaçu.
A formulação mais aceita foi a F3 com melhores características sensoriais
proporcionando um alimento com melhor qualidade tecnológica e nutricional,
voltado em especial para pacientes celíacos.
REFERÊNCIAS
72
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Pedro Tavares1, Renata Nascimento2, Roberta Andrade1, Aline Marques3, Janice Druzian1 and Carolina de Souza1
1
Graduate Program in Food Science, Faculty of Pharmacy, Federal University of Bahia (UFBA), Salvador, Bahia, Brazil.
2
Graduate Program in Biotechnology (Renorbio), Health Sciences Institute, Federal University of Bahia (UFBA),
Salvador, Bahia, Brazil.
3
Brazilian Agricultural Research Corporation, Semi-arid Tropical Embrapa, Petrolina, Pernambuco, Brazil.
pp.lordelo@gmail.com
The food industry produces large amounts of waste per year. Some of The grape residue presented a moisture of 10.28% in accordance with
these by-products are used to feed animals and as fertilizer, however, Table 1. Bampi et al. (2010) [16] found in Japanese grape flour a value
this material is composed of biodegradable and organic substances that of 19.08% of moisture, it is estimated that it may be due to several
can generate environmental problems, since most do not have an factors such as: crops, storage conditions and technological processing.
adequate treatment for decomposition or disposal [1, 2]. In this context,
the wineries stand out as one of the main producers of agro-industrial Table 1. The results found in the proximate composition of agro-
waste, due to its processing characteristics [3]. industrial residues of the ‘BRS Magna’ grape.
In 2011 grape production in Brazil was 1,463,481 tons, where only
52.13% was used for the preparation of wines, juices and other products, Analysis Results (%)
while the rest was discarded as waste [4]. The bagasse of the grape
represents 30% of the by-product, while peels represent 58%, stem 20% Moisture 10.28 ± 0.01
and seeds represent 22% [5, 6, 7]. The destination given to these agro- Ashes 3.27 ± 0.03
industrial wastes can cause economic losses in the productivity chain,
since they are rich in phenolics, tannins, flavonoids, among others. Total Proteins 7.67 ± 0.04
These compounds have a high commercial value and could be used in
different industries such as; pharmaceutical, chemical and food Carbohydrates 74.24 ± 0.02
primarily for the manufacture of more natural products, thus Lipids 4.54 ± 0.02
contributing to the replacement of some synthetic antioxidants, in
addition to the reduction in pollution caused to the environment [8, 9, _____________________________________________
10]. The water content of the grape by-product can vary from 55 to Triplicate analysis. Mean test and standard deviation.
72%, which is considered as highly perishable, therefore the drying
process is an alternative to reduce moisture, potentiating the shelf-life The amount of ashes found in “BRS Magna” grapes was 3.27%, higher
and integral use of these residues, creating great economic benefits [ 1, than that discovered by Mota et al. [17] that found values up to 2.17%. It
9]. is intuited that it may be due to the processing of the grape and
Another factor to be considered is that grape bagasse is a significant consequently to the origin of the residue. Araujo [18] emphasizes that
source of dietary fibers, some authors have investigated the use of these grape flour has a high fiber content, reaffirming the results found in the
in the production of flours and powders [11]. In the period from 2008 to present study.
2011, the production of grape juices in Brazil had an increase of 32%, According to Table 1, the 'BRS Magna' grape residue presented 7.67%
with the purpose of enhancing the competitiveness and sustainability of of total protein and 4.54% of lipids. According to Ishimoto et al. [19], in
the wine sector, with creation of grape crops through genetic a study with grape bagasse, even after pressing, 13.6% of protein and
improvements [12]. 8.9% of lipids were found, higher values than the residue analyzed. It is
The "BRS Magna" is a grape mainly used for juices, whose believed that the result obtained in both by-products could be due to the
characteristic is a broad climatic adaptation and harvest cycle in two presence of grape seeds, since these are constituted by high values of
seasons during the year in tropical regions, in addition to its specific these compounds.
color, sweetness and flavor [13]. While the values found in carbohydrates are 74.24% as expressed in
The objective of this work was to characterize the agro-industrial (Table 1), other authors [20] found lower values, not corroborating with
residue of the “BRS Magna” grape in order to evaluate its industrial those found in the present study. This could have happened because the
potential. 'BRS Magna' residue is made up of bagasse, stem, husks, and seeds.
The results presented in Table 2 show that the residues showed a fiber
Materials and Methods value of 9.52%, 13.34% of reducing sugars and 0.457 of water activity
for the. Rockenbach et al. [21] found for grapes seeds a value of 40% of
The samples of agro-industrial residues of the ´BRS Magna´ grapes were fibers and Ishimoto et al. [19] found 64.1% of fiber for grape bagasse.
donated by EMBRAPA (Brazilian Company of Agricultural Research).
These were pressed and dried in an oven at 40 ° C for 24 hours, then
ground, in a grain grinder, subsequently stored in an ultra-freezer at -80 °
C and then analyzed.
According to AOAC [14], physicochemical assays were performed such
as: Moisture, water activity, ashes, fibers and reducing sugars. A
conversion factor of 6.25 was used to determine the total protein for the
Kjeldahl method. Total lipid extraction was carried out according to
Bligh & Dyer [15].
All these assays were performed in triplicate and the results shown as
means with standard deviation.
73
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Table 2. Results obtained from the analysis of total phenolic 7 Dantas, F.R.; Araújo, G.G.L. De; Silva, D.S. Da; Pereira, L.G.R.;
compounds, fibers, reducing sugars and water activity. Gonzaga Neto, S.; Tosto, M. Da S.L. Composição química e
características fermentativas de silagens de maniçoba (Manihot sp.) com
Analysis Results % porcentuais de co-produto de vitivinícolas desidratado. Rev. Bras.
Saúde Prod. Anim., 9, p.247-257, 2008.
Fibers 9,502 ± 0,005 8. Balasundram, N.; Sundram, K.; Samman, S. Phenolic compounds in
plants and agri-industrial by-products: Antioxidant activity, occurrence,
Reducing Sugars 13,34 ± 0,023 and potential uses. Food Chem., 99, p. 191-203, 2006.
9. Garcia-Perez, J.V.; Garcia-Alvarado, M.A.; Carcel, J.A.; Mullet, A.
Water Activity (aW) 0,457 ± 0,01 Extraction kinetics modeling of antioxidants from grape stalk (Vitis
vinifera var. Bobal): influence of drying conditions. J Agr Eng, 101,
Triplicate analysis. Mean and standard deviation test. . p.49-58, 2010.
10. Selani, Míriam M. Extrato de bagaço de uva como antioxidante
The reducing sugars had a value of 13.34 g. 100g-1, similar to those natural em carne de frango processada e armazenada sob congelamento.
found for husks and grape pulps by Souza et al. [23]. The water activity 2010. 101f. Dissertação (Mestrado em ciência e tecnologia de
of the ‘BRS Magna´ grape showed low values, thus indicating that its alimentos). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
high stability potential could be due to the occurrence of the treatment 11. Sáyago-Ayerdi, S.G.; Brenes, A.; Goñi, I. Effect of grape
carried out in the by-product. antioxidant dietary fiber on the lipid oxidation of raw and cooked
chicken hamburgers. LWT – Food Sci Techn, 42, p.971-976, 2009
12. Camargo, UA, J.D.G. Maia, 2008 Cultivares de uvas rústicas para
Conclusion regiões tropicais e subtropicais. In: Boliani, AC., Fracaro, AA, Corrêa,
L. de S. (Ed.). Uvas rústicas de mesa: cultivo e processamento em
It can be concluded that the composition of the 'BRS Magna' grape regiões tropicais. Jales: [s.n.], p. 63-90.
residue compared to other studies showed significant results, with high 13. Ritschel, P.; Mais, J.D.G.; Camargo, U.A.; Zanus, M.C.; Souza,
protein, lipid, carbohydrates, water activity and reducing sugars content. R.T.; Fajardo, T.V.M. Nova cultivar de uva para suco com ampla
This shows that the use of agro-industrial wastes can be useful to adaptação climática. Comunicado Técnico 125. Embrapa, Bento
produce high quality products. It is important to highlight that certain Gonçalves, 2012.
parameters such as the origin and the technological processes applied 14. AOAC - Associação de Químicos Analíticos Oficiais. Métodos
for obtaining, interfere with the result of their chemical composition. oficiais de análise da AOAC International. 18. ed. Washington: AOAC,
Suggesting that new research could contribute positively to the use of 2005.
the different bioactive compounds present in this residue. 15. Bligh, Eg, Dyer, Wj, Um método rápido de extração e purificação
de lipídios totais. Pode. J. Biochem. Physiol, 37, p. 911-917, 1959.
References 16. Bampi, M et al. Composição centesimal do fruto, extrato
1. Makris, D.P. et al. Polyphenolic content and in vitro antioxidant concentrado e da farinha da uva-do-japão. Ciênc. Rural, 40, n.11, 2010.
characteristics of wine industry and other agri-food solid waste extracts. 17. Mota, R.V. et al., Caracterização físico-química e aminas bioativas
J. Food Compos. Anal., San Diego, 20, p.125-132, 2007. em vinhos da cv. Syrah de Minas Gerais. I - Efeito do ciclo de
2. Melo, L. M. R. Vitivinicultura brasileira: panorama 2010. Embrapa produção. F Sci Techn., 29, n. 2, p. 1-6, 2010.
Uva e Vinho, Artigos Técnicos, 2011. 18. Araújo, J. Como fazer farinha de uva. 2010. Avaiable at:
3. Rubilar, M. et al., Separation and HPLC-MS. Identification of <http://blog.jarioaraujo.com/2010/nutricao/143/como-fazer-farinha-de-
Phenolic Antioxidants from Agricultural Residues: Almond Hulls and uva/> . Accessed in: 17 novembro 2019.
Grape Pomace. J. Agric. Food Chem., 55, p. 10101-10109, 2007. 19. Ishimoto, E. Y. Efeito hipolipemiante e antioxidante de subprodutos
4. Mello, L.M.R. Viticultura brasileira: panorama 2011. Bento da uva em hamsters. 2008. 195p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) –
Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2012. (Embrapa Uva e Vinho. Universidade de São Paulo, São Paulo.
Comunicado técnico, 115). 20. Silva, A. et al. Valor nutricional de resíduos da agroindústria para
5. Llobera, A.; Cañellas, J. Dietary fibre content and antioxidant activity alimentação animal. Com Sci, 5, n. 4, p. 370-379, 2014.
of Mano Negro red grape (Vitis vinifera): pomace and stem. Food 21. Rockenbach, I. I., Jugfer, E., Ritter, C., Santiago-Schübel, B.,
Chem., 101, p. 659-666, 2007. Thiele, B., Fett, R., Galensa, R. Characterization of flavan-3-oils in
6. Ruberto, G. et al., Polyphenol constituents and antioxidant activity of seeds of grape pomace by CE, HPLC-DAD-DMS and LC-ESI-FTICR-
grape pomace extracts from five Sicilian red grape cultivars. Food MS. F Res Int.,48, p. 848-855, 2012.
Chem., Barking, 100, p.203-210, 2007. 22. Souza A.V., Lima G.P.P., Vieites R.L. Avaliação nutricional de
diferentes variedades de uva (Vitis sp). Naturalia, Rio Claro, 33, p. 100-
109, 2010.
74
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tereza Garcez1, Eliandra Spinosa2, Damiana Melo3, José Peixoto4, Liana Velho5, Regina Bastos6
INTRODUÇÃO
75
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
polpa in natura e da polpa processada na forma de doce B foi aceita, enquanto o iogurte A não foi nem aceita,
cremoso não impactou tão profundamente a composição. nem rejeitada. Quanto ao atributo impressão global
Para o parâmetro cinzas, foi observada diferença também foi verificada diferença significativa entre as
significativa, sendo que o Iogurte A exibiu maior teor. amostras, sendo iogurte A aceita e iogurte B indiferente,
Assim, pode se inferir que a adição de polpa in natura ou seja, nem aceita, nem rejeitada.
acarretou num valor maior de minerais no iogurte quando
comparado ao iogurte adicionado do doce de cremoso de CONCLUSÕES
polpa de jaca.
O valor de carboidratos foi superior no iogurte B Com relação à verificação de diferenças
em relação ao iogurte A, isso provavelmente se deve ao existentes entre as formulações propostas, observa-se que,
açúcar adicionado ao iogurte B na forma de doce para a maioria dos parâmetros físico-químicos e de
cremoso. composição centesimal, não se observam diferenças
significativas. Entretanto, com relação à análise sensorial
Tabela 1. Composição físico-química dos iogurtes com existem diferenças significantes, sendo que, a amostra de
polpa de jaca in natura e doce cremoso de jaca (média ± iogurte no qual foi acrescentado o doce cremoso,
desvio padrão) apresenta melhor aceitação pelos potenciais
Formulações consumidores. Logo, é indicado investir no melhoramento
Parâmetros Iogurte A Iogurte B e aprofundamento das análises destas formulações para
possivelmente gerar um produto viável comercialmente.
pH 4,55a ± 0,1 4,50a ± 0,23
Acidez 0,62a ± 0,59 0,65a ± 0,89 REFERÊNCIAS
Umidade 80,37 a
± 1,71 77,95 a
± 0,69
(1) ROCHA, C.R.; COBUCCI, M.A.; MAITAN, V.R.;
Cinzas 1,23 a
± 0,03 1,01 b
± 0,07
SILVA, O.C. Elaboração e avaliação de iogurte sabor
Proteínas 4,57a ± 0,21 4,23a ± 0,23 frutas do cerrado. Boletim do Ceppa, 26, 255-266, 2008.
Lipídios 2,45a ± 0,45 2,56a ± 0,20 (2) BRASIL. Leis, decretos, etc. Nova legislação de
produtos lácteos e alimentos especiais, diet e
Carboidratos 11,38 14,24 enriquecidos. São Paulo: Fonte, 1998. 212 p.
Médias na mesma linha acompanhadas com letras iguais (3) REDDY, B. M. C.; PATIL, P.; KUMAR, S. S.;
não diferem, significativamente, entre si, pelo teste de GOVINDARAJU, L. R. Studies on physico-chemical
Tuckey (p < 0,05). characteristics of jackfruit clones of South karnataka.
Journal of Agriculture Sciences, 17, 279-282, 2014.
A tabela 2 apresenta os valores das médias das (4) SOUZA, T. S.; CHAVES, M.A.; BONOMO, R.C.F.;
notas hedônicas atribuídas às amostras pelos julgadores SOARES, R.D.; PINTO, E.G.; COTA, I. R.; Desidratação
durante o teste de escala hedônica. Foi observado que o osmótica de frutículos de jaca (Artocarpus integrifólia
atributo cor não apresentou diferença significativa e a L.): aplicação de modelos matemáticos. Acta Scientiarum
percepção da cor foi positiva em ambas as amostras, Technology, 31, 2009.
sendo as duas formulações aceitas, segundo o resultado (5) PRAKASH, O.; KUMAR, R.; MISHRA, A.; GUPTA,
do teste. R. Artocarpus heterophyllus (Jackfruit): A overview.
Pharmacognosy Review. 3, 353-358, 2009.
Tabela 2. Médias hedônicas dos iogurtes com polpa de (6) MARTINS, A.C.A.; MARTINS, L.P.; SILVA, S.M.
jaca in natura e doce cremoso de jaca (média ± desvio Conservação de jaca minimamente processada sob
padrão) atmosfera modificada. Revista Brasileira de Fruticultura.
Formulações 26, 428-432, 2004.
Atributo Iogurte A Iogurte B (7) TEJPAL, A.; AMRITA, P. Jackfruit: Health Boon.
Internacional Journal of Reserch in Ayuveda Pharmacy.
Cor 6,28a ± 1,54 6,46a ± 1,57 7, 59-64, 2016.
Aroma 7,26a ± 1,32 5,90b ± 1,29 (8) MEDEIROS, T. C.; MOURA, A. S.; ARAÚJO, K. B.;
Sabor 5,78a ± 1,7 7,30b ± 1,27 AQUINO, L. C. L. Elaboração de iogurte de jaca:
avaliação físico-química, microbiológica e sensorial.
Impressão Global 5,03a ± 1,59 7,70b ± 0,97 Scientia plena. 7, 2011.
Médias na mesma linha acompanhadas com letras iguais (9) INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do
não diferem, significativamente, entre si, pelo teste de Instituto Adolfo Lutz: Métodos Químicos e Físicos para
Tuckey (p < 0,05). Alimentos e Bebidas. São Paulo, IMESP, v. 3, p. 21-27,
44-6, 1985.
Os atributos aroma e sabor apresentaram (10) MEILGAARD, M.; CIVILLE, G. V.; CARR, B. T.
diferença significativa. A formulação iogurte A obteve Sensory Evaluation Techniques. 2. ed. Florida: CRC
aceitação no atributo aroma enquanto iogurte B exibiu Press, 1991. 354.
média na zona de indiferença, não sendo nem aceita, nem
rejeitada. Quanto ao atributo sabor, a formulação iogurte
76
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Regina Bastos1 Háquila Silva2, Liana Flor3, Tereza Araújo4, Fernando Menezes5
1
Especialista. Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte - Universidade Federal do Ceará. reginabastos_ufc@yahoo.com.br
2
Mestre. Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará.
3
Mestre. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
4
Graduada. Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte - Universidade Federal do Ceará.
5
Doutorando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
77
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
exibiu maior média de doçura, com valores variando de Agropecuária Técnica, Paraíba, v. 16, n. 1, p.82-87,
52,27 a 53,11. 2015
Num estudo sobre desenvolvimento de bebida mista à 5. AMAGASE, A.; FARNSWORTH, N. R. A review of
base de água de coco, polpa de abacaxi e acerola, Pereira botanical characteristics, phytochemistry, clinical
et al. (2009) encontraram valores de ratio que variaram relevance in efficacy and safety of Lycium barbarum
de 22,45 a 47,43 (8). fruit (Goji), Food Research International, v. 44, n. 7,
Quanto à atividade de água, apenas a formulação com 2011.
10% de goji berry (F3) diferiu estatisticamente da 6. BRASIL Instituto Adolfo Lutz © (Org.). Método
formulação padrão (F1), cujos valores foram, fisico-quimico para análise de alimentos. 4. ed. São
respectivamente, o menor (0,97) e o maior (0,99). As Paulo: SES-CCD-IAL, 2008. 1020 p.
duas formulações adicionadas de goji berry (F2 e F3) 7. CARDOSO, W. S.; PINHEIRO, F. A.; PEREZ, R.;
apresentaram-se em conformidade com os padrões de PATELLI, T.; FARIA, E. R. Desenvolvimento de uma
identidade e qualidade para suco de abacaxi, definidos salada de frutas: da pesquisa de mercado à tecnologia de
pela legislação (2). alimentos. Ciência e Tecnologia Alimentos, [s.l.], v. 30,
Para todos os parâmetros de cor avaliados (L*, a* e b*) n. 2, p.454-462, jun. 2010.FapUNIFESP (SciELO).
houve diferença significativa entre todas as 8. PEREIRA, A. C. S.; SIQUEIRA, A. M. A.; FARIAS,
formulações. Os valores médios de L* se situaram entre J. M.; MAIA, G. A.; FIGUEIREDO, R. W.; SOUSA, P.
19,74 e 28,05 caracterizando as bebidas como escuras. H. M. Desenvolvimento de bebida mista à base de água
O açúcar de coco, por possuir uma coloração escura, de coco, polpa de abacaxi e acerola. Archivos
pode ter influenciado nesse resultado (9). Em um estudo Latinoamericanos de Nurición, Caracas, v. 59, n. 4,
com blend de abacaxi com acerola, Silva et al. (2016) 2009.
verificaram L* médio de 28,32, bem próximo ao 9. NURHADI, B.; SUKRI, N.; SUGANDI, W.K.;
verificado para a formulação 3 (10). Os valores de a* e WIDANTI, A.P.; RESTIANI, R.; NOFLIANRINI, Z.;
b* observados, demonstram que, com a adição de goji REZAHARSAMTO, B.; HERUDIYANTO, M.
berry, as bebidas tendem para uma coloração mais Comparison of crystallized coconut sugar produced by
laranja avermelhada. Tal resultado já era esperado, uma traditional method and amorphous coconut sugar
vez que, os frutos de goji berry possuem alto conteúdo formed by two drying methods: vacuum drying and
de carotenoides, o que lhes conferem uma coloração spray drying International Journal Of Food
vermelha (11). Properties, [s.l.], v. 21, n. 1, p.2339-2354, jan. 2018.
10. SILVA, M.; ROCHA, A.; SANTOS, D.; ARAÚJO,
CONCLUSÕES A.; OLIVEIRA, M. Caracterização físico-química de
As formulações de néctares de abacaxi adicionados de blend de abacaxi com acerola obtido pelo método de
goji berry (F2 e F3) apresentaram as características liofilização. Revista Verde de Agroecologia e
mínimas exigidas pela legislação vigente, mostrando-se Desenvolvimento Sustentável, Pombal, Pb, v. 11, n. 5,
uma opção viável para agregar valor a um néctar p.110-113, 2016.
tradicional e ampliar as opções de consumo do produto. 11. ZHANG, Q.; ZHANG, Q.; CHEN, W.; ZHAO, J.;
No entanto, para uma melhor caracterização do produto XI, W. Functional constituents and antioxidante
elaborado, sugere-se a adequação dos valores de pH, activities of eight Chinese native goji genotypes. Food
posteriores análises de compostos bioativos, bem como, Chemistry, [s.l.], v. 200, p.230-236, jun. 2016. Elsevier
análise sensorial a fim de avaliar a aceitação dos BV..
mesmos pelos consumidores.
REFERÊNCIAS
1. FARAONI, A. S.; RAMOS, A. M.; GUEDES, D. B.;
OLIVEIRA, A. N.; LIMA, T. H. S. F.; SOUSA, P. H. M.
Desenvolvimento de um suco misto de manga, goiaba e
acerola utilizando delineamento de mistura. Revista
Ciência Rural, 42, 5, p. 911-917, maio 2012.
2. BRASIL. MAPA. Instrução Normativa n. 12 de 04 de
setembro de 2003. Regulamento técnico para os padrões
de identidade e qualidade dos néctares de abacaxi,
acerola, cajá, caju, goiaba, graviola, mamão, manga,
maracujá, pêssego e pitanga. Anexo III. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 2003
3. RAMALLO, L.A.; MASCHERONI, R.H. Quality
evaluation of pineapple fruit during drying process.
Food And Bioproducts Processing,, 90, p.275-283,
2012.
4. MIRANDA, D. S. A.; PESSOA, T; FIGUÊREDO, M.
F.; GURJÃO, F. F.; PINHEIRO, R. M. M.; MARTINS,
A. G. L. Elaboração e caracterização de néctar de
abacaxi pérola adoçado com glucose de milho. Revista
78
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Elaboração e Avaliação Sensorial de Sorvete de Pinha (Annona squamosa L.) com Maracujá
(Passiflora edulis)
Jéssica Carmo¹, Denise Soares², Luís Moura Neto2, Alexsandro Tomé³, Gabriele Alves3, Misilene Silva3
1. Especialista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, jessicacarmo.ufc@gmail.com
2. Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3. Discente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
79
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
5-“ Certamente Compraria”, conforme descrito por Meilgaard et al. (3) MALANDRIN, R.; PAISANO, M.; COSTA, O. Sorvetes: um
(11). mercado sempre pronto para crescer com inovações. Food Ingr., v.3,
O presente trabalho foi aprovado com número CAAE n.15, p. 42-48, 2001.
09407119.8.0000.8128, parecer 3.251.337 no comitê de ética
credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), (4) ALVES, R. E.; FILGUIERAS, H. A. C.; MOURA, C. F. H. Org.
conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de Caracterização de frutas nativas da América Latina. Jaboticabal:
Saúde. UNESP/SBF, p. 66, 2000.
Os resultados da análise sensorial foram apresentados com
média ± desvio padrão. (5) CORDEIRO, M. C. R; PINTO, A. C. Q; RAMOS, V. H. V. O
cultivo da pinha, fruta-do-conde ou ata no Brasil. Planaltina: Embrapa
RESULTADOS E DISCUSSÃO Cerrados, Circular Técnica, n. 9, 2000, 52p.
Os resultados da análise sensorial demonstraram
satisfatória aceitação do sorvete em todos os parâmetros avaliados. (6) LIMA, E. D. P. A.; PASTORE, G. M.; LIMA, C. A. A.
Nos atributos sensoriais de cor, aroma, textura, sabor, doçura e Purificação da enzima polifenoloxidase (pfo) de polpa de pinha
impressão global, as notas atribuídas pelos provadores situaram-se (Annona squamosa L.) madura. Ciênc. Tecnol. Alim., v. 21, n. 1, p.
dentro da zona de aceitação (notas maiores que 6) (Tabela 2). 98-104, 2001.
Tabela 2. Resultados da análise sensorial do sorvete de pinha com (7) MONTEIRO, M.; AMARO, A. P.; BONILHA, P. R. M. Avaliação
maracujá. físico-química e microbiológica da polpa de maracujá processada e
Atributos Sensoriais Média ± Desvio Padrão armazenada sob refrigeração. Alim. Nutr., v. 16, n. 1, p. 71-76, 2005.
Cor 8,0 ± 0,8
Aroma 7,9 ± 1,2 (8) CARVALHO, A. V.; VASCONCELOS, M. A. M.; ALVES, S.
Textura 7,7 ± 1,8 M.; FIGUEIRÊDO, F. J. C. Aproveitamento do mesocarpo do
Sabor 8,1 ± 0,5 maracujá na fabricação de produtos flavorizados. Belém: Embrapa.
Doçura 8,0 ± 1,0 Comunicado Técnico, n. 147, 2005, 6p.
Impressão Global 8,2 ± 0,8
Atitude de compra 4,5 ± 0,7 (9) CHAN, H. T. Jr.; CHANG, T. S. K.; CHENCHIN, E. Nonvolatile
acids of passion fruit juice, Journ. Agric. Food Chem., v. 61, n. 2, p.
O atributo sabor apresentou maior média sensorial (8,1 ± 109–114, 1972.
0,5), mostrando que a polpa de pinha, em maior quantidade percentual
na formulação, e a polpa de maracujá formaram uma boa combinação, (10) Campos, L. G. S. Elaboração de sorvete de fruta-do-conde.
prevalecendo o sabor da pinha. Relatório final de estágio do curso Técnico em Agroindústria. Instituto
A característica de textura, apesar de ter se encontrado Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) -
dentro da zona de aceitação, foi a que obteve menor nota média Campus Afogados da Ingazeira, 2018. 22p.
sensorial, o que pode ser atribuído às condições e a temperatura, pois
constantemente o sorvete era retirado da geladeira e submetido à (11) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory
temperatura ambiente durante a análise sensorial. Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.
Os resultados observados na impressão global (8,2 ± 0,8) e
na atitude de compra (4,5 ± 0,7) dos provadores estão de acordo com (12) MORZELLE, M. C.; SOUZA, E. C.; ASSUMPÇÃO, C. F.;
notas atribuídas aos demais parâmetros, devido à boa aceitação FLORES, J. C. J.; OLIVEIRA, K. A. M. Agregação de valor a frutos
sensorial do sorvete. O valor médio deste atributo mostra que os de ata através do desenvolvimento de néctar misto de maracujá
provadores declararam que provavelmente comprariam este produto. (Passiflora edulis Sims) e ata (Annona squamosa L.). Alim. Nutr., v.
Este fato é muito importante, pois representa um produto 20, n. 3, p. 389-393, 2009.
comercialmente viável.
Morzelle et al. (12) elaboraram duas formulações de néctar (13) MACEDO, L. S. O.; ROCHA, T. S.; FERREIRA, A. R. P.;
misto de pinha e maracujá e obtiveram boa aceitação pelos BORGES, J. M.; PINTO, L. I. F.; JÚNIOR, A. S.; RAMOS, L. S. N.
consumidores, com média de intenção de compra entre as categorias Desenvolvimento e avaliação sensorial de sorvete à base de leite de
“provavelmente compraria” e “certamente compraria”, indicando que cabra com sabor de frutas tropicais. PUBVET, Londrina, v. 8, n. 21,
ambos os produtos poderiam ser incluídos no mercado com Ed. 270, Art. 1803, 2014.
perspectivas de sucesso, ressaltando a boa combinação entre os
sabores das duas frutas.
Em avaliação sensorial de sorvetes à base de leite de cabra,
saborizados com frutas tropicais (bacuri, cajá e maracujá), o sabor
preferido pelos provadores foi o maracujá, ressaltando a boa aceitação
do fruto quando utilizado como saborizante em produtos lácteos,
aumentando assim o valor nutricional do produto final e valorizando o
fruto (13).
Diante da boa aceitação pelos provadores e da pequena
quantidade de trabalhos científicos publicados que usam a polpa da
pinha nas formulações, vê-se a fruta como um sabor promissor para o
desenvolvimento de novos produtos.
CONCLUSÃO
O sorvete de pinha com maracujá apresenta-se como um
produto atraente em função de suas características sensoriais. O
produto tem boa aceitação pelos provadores, indicando que poderia
ser incluído no mercado com perspectivas de sucesso e potencial
tecnológico.
REFERÊNCIAS
(1) BRASIL. Resolução nº. 266 de 22 setembro de 2005. Regulamento
Técnico para Gelados Comestíveis e Preparados para Gelados
comestíveis. Diário Oficial União, Brasília, DF, 23 set. 2005. Seção 1,
n. 184, p. 370.
80
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAIS E MÉTODOS 2
Biplot (eixos F1 e F2: 73,89 %)
74 15
4 10 83 46
48
76
82
Elaboração dos estruturados de goiaba 1,5 7
LA75/HA25
94
1
31
21
22 29
73
97
69
20
77
84
90 5123
O processamento e análises dos estruturados foram realizados no 1 26
52
72 17
50
12
laboratório de Frutos e Hortaliças da Universidade Federal do 36
67
19
14
Ceará. A fabricação dos estruturados foi realizada com polpas de 0,5 24 16
96
goiaba, não pasteurizadas, cedidas pela empresa Pomar da Polpa, 13
43
F2 (30,12 %)
6
5 992
53
localizada na cidade de Fortaleza-CE. Os hidrocoloides empregados 33
58
61
18
0 60 32
25
foram goma gelana de baixa acilação-LA e de alta acilação-HA 2 28
30
78
37
64
(Kelcogel® F) e ágar da marca CP Kelco. Foram elaboradas quatro 80 LA50/HA50
98 49
34
57
11 LA100/HA0 56
formulações, com as seguintes proporções dos hidrocoloides: 100% -0,5 95
81
91
44
54 AGAR
55
88
agar; 100% gelano LA; 75% gelano LA e 25% gelano HA; 50% 38 85
45
-1 47
42
62
gelano LA e 50% gelano HA. todas com concentração de 0,75% 100
63 99
70
68
35
40
(p/v) em relação ao peso da polpa, isto é, 0,375 g de hidrocoloide 2741
86
3 71
8 39
-1,5 7565
por 50 mL de polpa. Pesaram-se os hidrocoloides ágar e gelano em 59
66
79
89
93 87
béqueres; logo após, foi adicionado 50 mL da polpa de goiaba e
F1 (43,78 %)
feita a homogeneização com auxílio de um bastão de vidro, o -2
preparado foi aquecido a aproximadamente 85 ± 2 °C durante 30 s -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
em processador de alimentos Termomix, modelo SPM-018 da Gráfico 1 – Mapa de Preferência Interno do atributo impressão global para os estruturados de
goiaba com hidrocoloides (Ágar, LA100/HA0, LA75/HA25 e LA50/HA50)
81
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
82
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Antonia Aguiar1, Jéssica Martins2, Paulo Sousa3, Marjory Araújo4, Elisabeth Silva3
1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
livania_linhares@yahoo.com.br;
2
Discente do Programa de Biotecnologia de Recursos Naturais, Universidade Federal do Ceará;
3
Docente do Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
4
Docente do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Universidade Federal do Ceará.
83
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
84
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Pudim estruturado adicionado de gelatina e goma gelana sem forneamento: uma avaliação
sensorial.
Analia Pinheiro1, Thallyne Alves2, Maria Jacqueline Mendonça3, Theresa Paula Meireles4, Rafael Gurgel5, Paulo
Henrique de Sousa6.
INTRODUÇÃO pelo método Spindle V3 40/20 que regou relatórios da análise para
cada amostra. Os gráficos dos dados foram feitos no Microsoft Excel
O pudim consiste de uma mistura à base de leite bovino, 2010.
açúcar ou edulcorante e espessante, com uma consistência firme
típica. Os produtos elaborados com sacarose geralmente se destacam Análise sensorial
em termos de aparência e sabor [1]; [2].
O gelano é um gelificante que se obtém a partir da Os pudins foram elaborados seguindo as Boas Práticas de
fermentação produzida pela bactéria Sphingomonas elodea. Está Fabricação, sendo preparados para consumo imediato por se tratar de
disponível em duas formas com diferentes características (low acyl- sobremesa. De acordo com o parecer do Comitê de Ética número
LA e high acyl-HA), com propriedades interessantes que são 1.829.642, para hidrocolóides, o trabalho fica isento de análises
aplicáveis a uma grande variedade de sistemas alimentares. Além de microbiológicas. A avaliação da análise sensorial dos pudins
ser um bom agente gelificante, é também usado como, espessante, consistiu em teste de aceitação por meio de escala hedônica
estabilizante, e na formação de filmes e revestimentos comestíveis estruturada de nove pontos, onde 9 representa a nota máxima (gostei
[3]. Este hidrocolóide apresenta uma capacidade para produzir uma muitíssimo) e 1 a nota mínima (desgostei extremamente) para os
ampla gama de estrutura de gel e uma boa libertação de aroma [4]; atributos de sabor, cor, impressão global e intenção de compra, onde
[5]. Além de os géis de gelano formados poderem apresentar uma 5 representa a nota máxima que corresponde a (certamente
excelente estabilidade térmica e uma boa capacidade de libertação do compraria) e 1 representa a nota mínima (certamente não compraria).
flavour. Estas características faz deste hidrocolóide um gelificante Participaram da avaliação sensorial 105 provadores não treinados,
muito apelativo para a indústria alimentar [6]. Ainda possui limpidez quanto ao consumo, 40% dos provadores relataram consumir
clara, ser um gel irreversível e possuir textura de gel firme e sobremesa à base de leite de 2 a 3 vezes por semana, 19% uma vez
quebradiça [7]. Visando elaborar um produto que agregasse as por semana e apenas 10% consomem sobremesa a base de leite
propriedades do gelano em comparação à gelatina, objetivou-se, mensalmente. Além do teste de aceitação, foi realizada a análise
neste trabalho, verificar a aceitação do pudim através de análises de sensorial CATA (Check-All-That-Apply). Os dados foram
reologia e sensorial. submetidos a análise estatística no programa XLSTAT
2019.4.2.63912.
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção do Pudim
Os pudins foram produzidos no Laboratório de Frutos- Reologia
Processamento (UFC). Os ingredientes foram homogeneizados por As amostras foram realizadas em triplicata e os resultados
agitação mecânica em um mixer; pesou-se o gelano de baixa acila, foram expressos em gráficos e gerados as linhas de tendência do tipo
separadamente, de acordo com as concentrações citadas na tabela 1 potencia e as equações, assim o melhor resultado obtido para
abaixo e em seguida, foi aquecido até a ebulição, agitando sempre, selecionar a concentração de goma gelana foi a concentração de
para dissolução completa do gelano. Estes preparados (pudim) foram 0,5%, verificado de acordo com a tabela 2 abaixo.
distribuídos em potes de polietileno e armazenados em refrigerador a
5 °C. Tabela 2: Equações geradas pelos resultados reológicos das amostras
de pudim estruturado com gelatina e gelano.
Tabela 1: Formulação dos pudins elaborados com gelatina e gelano. Equação de Ostwald deWaele
Formulaç Gelatina( T1 T2 T3 T4 T5 Concentração
(Lei da Potência)
ão %) (%) (%) (%) (%) (%) 0,2% Goma Gelana y = 197674x-0,053 R² = 0,0262
Leite 43,0 43,0 43,0 43,0 43,0 43,0 0,3% Goma Gelana y = 2E+06x-0,236 R² = 0,2373
conden 0,4% Goma Gelana y = 4E+07x-0,504 R² = 0,3623
sado 0,5% Goma Gelana y = 8,3986x0,8117 R² = 0,9552
Creme de 21,85 21,8 21,8 21,8 21,8 21,8 0,6% Goma Gelana y = 1E+08x-0,561 R² = 0,2985
leite 5 5 5 5 5 De acordo com os resultados obtidos através das equações
Leite em 7,65 7,65 7,65 7,65 7,65 7,65 das retas, a y = k x n, onde K = índice de consistência (Pa.sn), n =
pó índice de comportamento do fluido. Sendo (n<1) classifica o fluido
Água 26,3 27,3 27,2 27,1 27,0 29,9 em não-Newtoniano e dilatante, o K quanto mais elevado mais
Gelatina 1,2 - - - - - resistente é o fluido, segundo a lei da potencia a equação com melhor
Goma - 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 comportamento do fluido estudado e o valor de R2 foi para a
gelana concentração de goma gelana 0,5%, portanto foi a formulação
selecionada para ser submetida à análise sensorial juntamente com a
formulação do pudim contendo gelatina comercial.
Reologia Segundo [8], a goma gelana comercial (baixa acila) forma
As determinações reológicas das amostras dos pudins gel duro, não elástico e quebradiço, o que pode ser a explicação para
foram realizadas no equipamento Rheometer R/S Plus da Brookfield os resultados tão diferentes entre os tratamentos da tabela 2 acima.
85
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Análise Sensorial natureza simples e quase trivial, uma série de fatos físicos não-
triviais acontecem. A mais óbvia é o efeito sobre o próprio gosto.
Aceitação Uma vez que a viscosidade é aumentada, as propriedades de fluidez
Os resultados do teste de aceitação das duas formulações dos são reduzidas e o líquido permanece mais tempo sobre a língua. Isso
pudins (gelatina e gelano 0,5%) elaborados encontram-se na tabela 3 por si só tem efeitos. [13].
abaixo.
CONCLUSÃO
Tabela 3: Resultado do teste de aceitação dos pudins com gelatina e
gelano. De acordo com os resultados obtidos na análise sensorial
Impressão Intenção de o gelano se mostrou bem aceito em relação a amostra controle
Sabor Cor podendo ser utilizado na elaboração do pudim,
global consumo
Os resultados permitiram observar que, apesar dos
Gelatina 6,819a 7,238a 6,762a 3,248a provadores não serem treinados, conseguiu-se caracterizar e
Gelano 6,248b 6,552b 6,390a 3,029a discriminar todas as amostras com base nos atributos estudados.
As médias seguidas pelo mesmo expoente, na mesma coluna, não diferem REFERÊNCIAS
estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
Foram realizados vários ensaios modificando apenas a
concentração dos hidrocolóides utilizados, sendo que a concentração [1] ALONSO, S.; SETSER, C. Functional replacements for sugars in
de gelatina comercial foi de 1,2% permanecendo fixa, enquanto com foods. Trends in Food Science & Technology, Cambridge, v.5, n.1,
a goma gelana variaram de 0,2%, 0,3%, 0,4%, 0,5% e 0,6% (T1, T2, p.139-146, 1994.
T3, T4 e T5) respectivamente. Dentre as concentrações estudadas foi
utilizada para fazer os testes sensoriais 0,5 % de goma gelana e 1,2% [2] BAYARRI, S.; DURAN, L.; COSTELL, E. Influence of
de gelatina. As análises foram realizadas por 105 provadores não sweeteners on the viscoelasticity of hydrocolloids gelled systems.
treinados, onde as médias obtidas estão na tabela 3, para teste de Food Hydrocol., Cardiff, v.18, n.4, p.611-619, 2004.
aceitação. Percebe-se que para todos os atributos o pudim estruturado
com gelatina obteve melhores notas, no entanto não há diferença [3] CHANDRASEKARAN, R.; RADHA, A. Molecular
significativa ao nível de 5,0% nos atributos Impressão global e architectures and functional properties of gellan gum and related
intenção de consumo. polysaccharides. Food science & Technology, 6, 143-148, 1995.
86
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Neliane Nascimento1, Janevane Castro2, Luiz Bitu3, Sanyelle Sousa1, Paulo Sousa4, Elisabeth Silva5
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Química – Universidade Federal do Ceará
3
Especialista em Gestão Pública Municipal – Universidade Federal do Ceará
4
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Professor do Curso de Gastronomia e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará
5
Ph.D. em Food Science – Professora do Curso de Engenharia de Alimentos e do Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará
E-mail para correspondência: nelianepereira@hotmail.com
INTRODUÇÃO texturizada de soja (4%), farinha de trigo (1,5%), sal (1,5%), pasta de
alho (0,5%), pasta de cebola (0,5%) e antioxidante comercial (0,01%).
As diversas reações que ocorrem nos alimentos tendem a atuar Elaborou-se também 9 formulações de hambúrguer bovino
como percussores das alterações relacionadas à degradação. Nos adicionadas de diferentes percentuais de farinha das folhas de moringa
produtos cárneos essas alterações estão normalmente relacionadas a (0,03 a 1,17%), em substituição ao antioxidante comercial, e de
processos oxidativos, que podem ser de origem lipídica ou proteica. gordura suína (3,96 a 11,04%).
Fatores intrínsecos como o elevado teor lipídico naturalmente presente
nesses produtos e, fatores extrínsecos como calor, exposição à luz e a Composição centesimal
agentes pró-oxidantes, podem atuar como agentes limitantes da vida
útil, tanto da carne in natura quanto dos produtos derivados (1,2). A formulação padrão e as 9 formulações de hambúrguer bovino
Dentre a biodiversidade da flora brasileira, vem ganhando adicionadas de diferentes percentuais de farinha das folhas de moringa
destaque as plantas alimentícias não convencionais (PANCs) que (Moringa oleifera Lam.) e de gordura suína foram submetidas a
apresentam diversas características nutricionais, muitas vezes ainda análises de umidade, proteína, lipídios e cinzas segundo AOAC (5),
inexploradas (3). A moringa (Moringa oleifera Lam.) é uma planta de com a determinação de carboidratos por diferença. Os resultados
origem indiana que se adaptou ao solo e ao clima brasileiro, sendo obtidos foram tratados no software Statistica 9.0, realizando-se análise
explorada incialmente como coagulante na limpeza de água, mas que de variância (ANOVA), teste de Tukey para comparação de médias a
despertou investigações quanto ao uso alimentício, se caracterizando um nível de significância de 5%.
como uma PANC (4).
Na busca por alternativas que possam atuar na inibição ou RESULTADOS E DISCUSSÃO
retardamento de processos deteriorantes que acometem os produtos
cárneos, torna-se pertinente a exploração de alternativas naturais como Observou-se um percentual de umidade variando de 65,87 ±
as PANCs e a investigação de como sua adição interfere na 1,32 a 69,07 ± 0,59 %, em que as formulações F4 e F8 não
composição nutricional desses produtos. Este trabalho teve como apresentaram diferença significativa (p ≤ 0,05) em relação à
objetivo, quantificar a composição centesimal de formulações de formulação padrão (F0), verificando-se também que a formulação com
hambúrguer bovino adicionadas de farinha das folhas de moringa e de maior percentual de umidade, F7, foi a que se adicionou menor
gordura suína. percentual de gordura suína (TABELA 1).
Al-Juhaimi e colaboradores (6), elaboraram hambúrguer bovino
MATERIAL E MÉTODOS adicionado de moringa e observaram percentuais de umidade que
variaram de 68,57 a 70,50 %. O referido trabalho destacou a
Material característica de que uma maior adição de ingredientes sólidos
interfere no percentual de umidade, provocando sua redução, fato este
Utilizou-se na elaboração dos hamburgueres o corte bovino observado nesta pesquisa.
coxão duro e toucinho suíno, que foram adquiridos refrigerados a 4ºC,
em um supermercado localizado na cidade de Fortaleza-CE. As folhas Tabela 1 – Composição centesimal de formulações de hambúrguer
de moringa (Moringa oleifera Lam.) foram doadas pelo Núcleo de bovino padrão e adicionadas de farinha de moringa (Moringa oleifera
Ensino e Pesquisa de Agricultura Urbana (NEPAU). O antioxidante Lam.) e gordura suína.
eritorbato de sódio da marca Kraki ®, foi adquirido em loja Umidade Cinzas Proteína Lipídios Carboidratos
especializada em produtos para indústria alimentícia localizada em (%) (%) (%) (%) (%)
Fortaleza-CE. Os demais ingredientes (proteína texturizada de soja, F0 66,32±0,70b 2,23±0,03def 19,30±0,22ab 7,60±0,97abc 4,55±0,95ab
farinha de trigo, sal refinado, pasta de alho e cebola) foram adquiridos
no comércio varejista de Fortaleza-CE. F1 67,08±0,78ab 2,29±0,04abcd 19,38±0,28ab 5,58±1,44bc 5,67±1,24ab
Foi elaborada uma formulação padrão de hambúrguer contendo Fonte: elaborada pela autora
87
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Resultados expressos como média ± desvio padrão. / Médias seguidas de letras iguais na 5 - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS -
mesma coluna não apresentam diferença significativa entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância. AOAC. Official Methods of Analysis Manual. 18. ed. AOAC
F0 = 0,00% moringa e 10,00% gordura; F1 = 0,20% moringa e 5,00% gordura; F2 = 0,20% International, 2005.
moringa e 10,00% gordura; F3 = 1,00% moringa e 5,00% gordura; F4 = 1,00% moringa e
10,00% gordura; F5 = 0,03% moringa e 7,50% gordura; F6 = 1,17% moringa e 7,50% gordura;
F7 = 0,60% moringa e 3,96% gordura; F8 = 0,60% moringa e 11,04% gordura; F9 = 0,60% 6 - AL-JUHAIMI, F.; GHAFOOR, K.; HAWASHIN, M. D.;
moringa e 7,50% gordura. ALSAWMAHI, O. N.; BABIKER, E. E. Effects of diferente levels of
Moringa (Moringa oleifera) seed flour on quality atributes of beef
Os percentuais de cinzas (TABELA 1) apresentaram diferença burgers. Cyta – Journ. of Food, 14, 1, 1-9, 2016.
significativa no teste te Tukey a 5% de significância, em que a
formulação 7 apresentou um maior teor de cinzas. Os valores obtidos 7 - TEIXEIRA, E. M. B.; CARVALHO, M. R. B.; NEVES, V. A.;
neste trabalho foram maiores do que o teor de cinzas quantificado por LIMA, T. M. A.; PEREIRA, L. A. Hambúrguer elaborado com farinha
Teixeira et al. (7) em formulações de hambúrguer bovino adicionados de folhas de moringa. Nutrire, 38, 3, 220-232, 2013.
de farinha das folhas de moringa, em que o percentual máximo
observado de cinzas foi de 0,67%, podendo tal diferença está ligada ao 8 - BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO
percentual de moringa adicionado ou aos ingredientes usados nas ABASTECIMENTO E DE DEFESA AGROPECUÁRIA. Instrução
formulações. Normativa N° 20, de 31 de julho de 2000. Aprova os Regulamentos
Em relação aos valores proteicos, a formulação com maior teor Técnicos de Identidade e Qualidade de Almôndega, de Apresuntado,
proteico, F7, foi a que teve menor adição de gordura, sendo observada de Fiambre, de Hambúrguer, de Kibe, de Presunto Cozido e de
diferença significativa entre as formulações. Todas as formulações Presunto. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
atingiram o teor mínimo proteico estabelecido pelo Regulamento de DF, 03 ago. 2000, Seção 1, Página 7.
Identidade e Qualidade (RTIQ) de Hambúrguer (8), que preconiza um
percentual mínimo de 15% de proteína.
O Regulamento de Identidade e Qualidade (RTIQ) de
Hambúrguer (8) também estabelece um valor máximo para lipídios de
23%, encontrando-se todas as formulações de hambúrguer com
resultados bem inferiores ao estipulado pela legislação. Foi possível
observar que a formulação com maior teor de lipídios, F8, foi
exatamente a que se realizou uma maior adição de gordura suína.
Em hambúrgueres bovinos adicionados de farinha das sementes
de moringa (6), observou-se um teor proteico menor do que o
observado neste trabalho, variando de 17,14 a 18,14%, enquanto que
os teores de lipídios foram superiores, 10,06 a 11,46%, aos de Al-
Juhami et al. (6)
O teor de carboidratos apresentou diferença significativa entre
as formulações (p ≤ 0,05), com teores variando de 3,06 ± 0,47 a 7,54
± 2,55%. Quando se compara os teores de carboidratos das
formulações com adição de moringa e o teor da formulação padrão
(F0), se observa que apenas as formulações F1 e F2 não apresentaram
diferença significativa em relação à formulação padrão.
Em outro trabalho que utilizou farinha das folhas de moringa na
elaboração de hambúrguer, se observou teores de carboidratos
variando de 0,53 a 1,53%, sendo considerado pelos autores como um
produto com baixo teor de carboidratos (7). Ressalta-se que o teor dos
macronutrientes (proteína, lipídios e carboidratos) sofrem influência
direta dos ingredientes utilizados na formulação do produto cárneo.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
88
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação Microbiológica e Sensorial de Salame Tipo Italiano com adição de culturas starters
Adriana Oliveira¹, Magda Inô¹, Rafael Almeida¹, Ítalo Lima², Luiz Fernando Almeida³,
¹Discente do curso Engenharia de Alimentos – IFBA, Campus Barreiras, ²Profº Drº do curso Engenharia de Alimentos –
IFBA Campus Barreiras, ³Profº Me do curso Engenharia de Alimentos – IFBA Campus Barreiras.
E-mail: adrianamendes_oliveira@hotmail.com
89
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 2. Análises Microbiológicas de Bactérias Mesófilas, O Salame com adição de cultura starter (T2) apresentou
Psicotróficas, Lácticas e Fungos; Tratamento 2. maiores notas quando comparado ao tratamento 2, amostra controle (sem
adição de cultura) em todos os quesitos (cor, sabor, textura e impressão
Tempo de Fermentação (dias) Global) apesar das médias não diferirem significativamente de um
Análises Microbiológicas
tratamento para o outro.
0 21 Alguns estudos propõem que a análise sensorial tem
Mesófilos (UFC/g) 1x107 2,4x107 desempenhado um importante papel no controle de qualidade de produtos
Psicotróficos (UFC/g) 3,2x105 0 alimentícios, geralmente com foco na compreensão das ligações entre as
características físico químicas dos produtos e as respostas sensoriais.
Bactérias lácticas (UFC/g) 6,9x106 2,9x106 As propriedades sensoriais como cor e textura são
Fungos (UFC/g) ------ 6,5x104 importantes para a aceitação dos produtos alimentícios pelo
consumidor e por isso, muitos estudos estão sendo conduzidos para
Para as análises de bactérias psicotróficas foi detectado a otimizar e melhorar essas características nos alimentos (10).
presença da mesma apenas no tempo 0, ou seja, antes da fermentação,
provavelmente tal microrganismo estava presente na matéria-prima, nesse 4. CONCLUSÃO
caso na carne por ser um produto refrigerado. Apesar da legislação não
estabelecer um padrão máximo para bactérias psicotróficas em carnes A presença da cultura starter nos salames não foi
refrigeradas (matéria-prima para produção de salame) a International determinante para que houvesse diferença significativa entre os
Commission on Microbiological Specifications for Foods (7) permite- tratamentos, embora as maiores notas foram atribuídas ao tratamento 2,
se uma contagem máxima de 1,0x10 7 UFC/g de microrganismos com adição de cultura starter. Dessa forma, é viável desenvolver um
aeróbios totais para os alimentos em geral, logo se observa que de acordo salame tipo italiano adicionado de culturas starters com as mesmas
com os valores obtidos a presença de bactérias psicotróficas no tempo 0 características em relação tratamento controle atendendo a legislação
nos dois tratamentos estão abaixo do permitido pela ICMSF. Brasileira quanto aos parâmetros microbiológicos.
Após 21 dias de fermentação não se constatou a presença de
bactérias psicotróficas em nenhum dos tratamentos como mostra as
Tabelas 1 e 2. Muitas espécies de bactérias lácticas utilizadas na REFERÊNCIAS
produção de alimentos fermentados, têm apresentado antagonismo a 1.CAMPAGNOL, P. C. B. Cultura Starter Produzida em meio de
outras bactérias, incluindo as do mesmo gênero e/ou patógenos. Além Cultura de Plasma Suíno e Antioxidante Natural na Elaboração do
disso, o ácido láctico produto da fermentação contém outros compostos Salame. 2007. 74f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de
que ocasionam o fenômeno da antibiose, como as bacteriocinas (10). Alimentos) – Faculdade de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
No tratamento 1 houve um aumento de bactérias lácticas do Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2007.
durante a fermentação como mostra a Tabela 1. As bactérias ácido lácticas
são os microrganismos que dominam a flora microbiana de embutidos 2.TERRA, A. B. M.; FRIES, L. L. M.; TERRA, N. N. Particularidades
fermentados, devido às condições anaeróbicas do meio, presença de na fabricação de salame. 1. ed. São Paulo: Varela, 2004. 152p.
cloreto de sódio, nitrato e nitrito. Já o tratamento 2 teve uma redução na
quantidade de bactérias lácticas do tempo 0 para o tempo de fermentação 3.LIMA, I. L. Elaboração e caracterização de salame de cordeiro
(21 dias) isso pode ter ocorrido devido a ação bacteriocinas do ácido santa inês. 2009. 76f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
láctico produzido pela cultura já que as bacteriocinas exibem Alimentos). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Itapetinga,
propriedades antimicrobianas contra espécies intimamente relacionadas 2009.
com o organismo produtor (10).
4.LÜCKE, F. K. Utilization of microbes to process and preserve meat.
De acordo com os resultados obtidos (Tabela 1 e 2) após 21
Meat Science, 56, 105-115, 2000.
dias de fermentação, T1 apresentou uma maior quantidade de colônias de
fungos que T2. Os bolores têm um papel importante no desenvolvimento 5.CASARIL, K. B. P. B.; BENTO, C. B. P.; HENNING, K.; PEREIRA,
do aroma e do sabor desses produtos. Durante o processo de fabricação M.; DIAS, V. A. Qualidade Microbiológica de Salames e Queijos
de salame, a proliferação de fungos e leveduras na superfície é uma Coloniais Produzidos e Comercializados na Região Sudoeste do
consequência comum e até esperada, sendo os fungos de gêneros Paraná. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), 7,
Penicillium e Aspergillus os mais presentes (2). 2, 75-85, 2017.
A presença de bolores na superfície de salames pode conduzir
a efeitos desejáveis e indesejáveis. Os efeitos procurados são: o sabor 6.RITTER, R..; SANTOS, D.; AGOSTINI, F. S. Microbiologia
típico mediado por oxidação do lactato, proteólise, degradação de contaminante e patogênica de linguiça (salame) colonial, analisada em
aminoácidos, lipólise, proteção contra colonizações espontâneas de quatro períodos distintos. Higiene Alimentar, 17, 113, 60-66, 2003.
mofos não desejáveis e bactérias, o retardamento da rancificação e
estabilização da cor por atividade de catalases, consumo de oxigênio e 7.ICMSF. International Commission on Microbiological Specifications
proteção contra luz, reduzir o risco de desenvolvimento de uma for Foods. Microorganisms in Foods 2: Sampling for microbiological
extremidade seca, perda de água uniforme devido à evaporação de água analysis - Principles and specific applications. Ed. Blackwell
mais lenta e facilidade na retirada da tripa (10). Scientific Publications, 1986.
90
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Obtenção do perfil ideal para estruturados de goiaba (Psidium guajava L.) por meio da análise
de penalidades do questionário check-all-that-apply
Antonio Araujo-Filho¹, Juliana Costa2, Amanda Leal3, Carlos Alves4, Maria da Mata5, Paulo Sousa6
1
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, antonioaugusto.laf@gmail.com;
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
4
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
5
Professora Doutora Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Portugal;
6
Professor Doutor do Curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
91
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Gráfico 01. Representação das amostras de estruturado de goiaba (ágar, LA100/HA0, AGRADECIMENTOS
LA75/HA25 e LA50/HA50) e o produto ideal.
REFERÊNCIAS
92
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
93
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Com relação às características sensoriais que os Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de
consumidores buscam encontrar nesse tipo de produto, estes Campinas, Campinas, 2018.
disseram, de maneira geral, buscar um produto com sabor ácido e
levemente doce, pois de acordo com os participantes, são sabores que
combinam melhor com a salada, melhorando seu sabor.
Tabela 4. Sabores consumidos pelos participantes do grupo de foco.
Sabores consumidos* %
Azeite e limão 63,64
Balsâmico 9,1
Caesar 13,64
Caseiro 50
Ervas finas 22,73
Iogurte 13,64
Italiano 13,64
Mostarda e mel 31,82
Parmesão/queijos 27,27
Rosê 40,91
* Consumidores puderam marcar todos os sabores que eles
consumiam, portanto são observadas somas das frequências maiores
do que 100%.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
94
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Maria Isabela Ramos1, Denise Soares2, Luís Moura Neto2, Maria Graziele Ramos1, Zanelli Costa3, Vanessa Alves4
1
Discente do curso Técnico em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. E-
mail: mariaisabelabr2019@gmail.com
2
Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3
Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
4
Graduada, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
INTRODUÇÃO
A cor �um dos atributos mais impactantes na avaliação de Figura 1. Fluxograma de processamento do macarrão com beterraba.
um produto pelo consumidor, pois se espera que este possua uma cor
característica. Desta forma, a incorporação de cores à alguns alimentos Recepção dos insumos
podem torná-los mais atrativos para os consumidores.
Dentre os produtos onde é interessante à adição de vegetais
tem-se o macarrão. Macarrão é uma massa alimentícia seca, feita de
farinha de trigo e ovo, com variadas formas e espessuras como o penne Lavagem e sanitização
e ravióli, embora geralmente possua a forma de fio alongado, pronta
para o cozimento. O macarrão é amplamente consumido diariamente
pela população de todas as faixas etárias.
Diante da importância da condução de estudos no Brasil Cozimento e trituração da beterraba
sobre a adição de frutos e hortaliças em alimentos comuns no dia-a-
dia do brasileiro, essa pesquisa se propõe a elaborar e estudar a
aceitação sensorial de macarrão com a beterraba coberto com molho
de manga, que possui cor característica, agregando essa cor ao Pesagem e mistura dos ingredientes
macarrão e, assim, causando um aumento no consumo da beterraba.
MATERIAL E MÉTODOS
- Obtenção dos insumos Descanso da massa
Tanto os materiais para formulação do macarrão quanto os
materiais para o molho de manga foram obtidos no comércio local de
Afogados da Ingazeira/PE, sendo recepcionados na Unidade de
Processamento de Massas (UP) do Instituto Federal de Educação, Abertura da massa
Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Afogados da
Ingazeira, onde estes foram devidamente lavados com auxílio de uma
escova e higienizados a 200 ppm por 10 minutos seguido de enxague.
A etapa final foi a do processamento, onde a beterraba foi cozida em Corte da Massa
banho-maria e em seguida foi triturada em processador doméstico. A
manga foi descascada manualmente e sua polpa foi cortada em cubos.
95
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
- Avaliação Sensorial
O teste sensorial foi realizado no IFPE campus Afogados
Da Ingazeira. Para esse teste, utilizaram-se 60 provadores, com faixa
etária prevalente de menor de 18 anos de ambos os sexos, sendo 37
mulheres e 23 homens. Destes, 20 provadores afirmaram comer
beterraba mensalmente, enquanto outros 20 provadores afirmaram
nunca comer beterraba. Outros 14 provadores consomem aos menos
uma vez na semana e 6 diariamente.
Todos os provadores receberam uma amostra do macarrão
de beterraba com o molho de manga. Junto com a amostra recebida,
receberam também uma ficha sensorial para responderem o grau de
aceitação do produto através de uma escala hedônica estruturada de 9
pontos, variando de 1 – Desgostei Muitíssimo a 9 – Gostei Muitíssimo
quanto as características de sensórias de cor, sabor, textura e impressão
global e variando de 1 - Certamente não compraria à 5 - Certamente
compraria quanto à atitude de compra dos provadores, conforme
descrito por Meilgaard et al. (1). Os resultados da análise sensorial
foram apresentados com média ± desvio padrão.
O presente trabalho foi aprovado com número CAAE
09407119.8.0000.8128, parecer 3.251.337 no comitê de ética
credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP),
conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os atributos sensoriais avaliados no teste de
aceitação obtiveram notas médias entre 7,15 e 7,95, todas dentro da
zona de aceitação do produto, sendo a maior nota atribuída para a
textura (7,95 ± 1,22), estando mais próxima de “Gostei Muito”.
Rodrigues e Vilar (2), avaliando sensorialmente o macarrão
tipo massa fresca com farinha de berinjela, observou resultados
semelhantes ao presente estudo, tendo para o macarrão com farinha de
berinjela notas médias variando de 6,6 (cor) e 7,7 (textura).
Evidenciando, desta forma, que a massa do macarrão quando
adicionada de frutas ou hortaliças é bem aceita pelos provadores.
96
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
97
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
98
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Maria Graziele Ramos1, Denise Soares2, Luís Moura Neto2, Maria Isabela Ramos1, Zanelli Costa3, Vanessa Alves4
1
Discente do curso Técnico em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. E-
mail: mariagrazielem@gmail.com.
2
Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3
Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
4
Graduada, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
INTRODUÇÃO
O enriquecimento nutricional de alimentos através da Figura 1. Fluxograma do processamento do cupcake de cenoura.
adição de frutos e hortaliças tem grande importância não só́ para a
indústria de alimentos, como também para elevar a qualidade da
alimentação e nutrição da população, pois se pode criar novos Pesagem dos insumos
produtos ou melhorar os já́ existentes com composições balanceadas
em relação a alguns nutrientes, melhorando, dessa forma, o valor
nutritivo de diversos alimentos disponíveis no mercado (1).
Dentre os produtos onde é de suma importância o Homogeneização da farinha de trigo, ovos, óleo e açúcar cristal
enriquecimento nutricional, destacam-se os produtos de panificação.
Os produtos de panificação, tais como bolos, pães, biscoitos,
rocamboles, etc., são consumidos diariamente pela população de todas
Adição da cenoura e do fermento biológico
as faixas etárias.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo
elaborar e avaliar a aceitação sensorial de um cupcake de cenoura com
cobertura de limão, utilizando os pigmentos naturais da cenoura como
Enformagem
corante natural e os nutrientes dos dois frutos para enriquecer
nutricionalmente o cupcake elaborado.
99
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os atributos sensoriais avaliados no teste de
aceitação tiveram notas médias superiores a 8, caracterizando como
“Gostei muito” dos atributos sensoriais avaliados (Tabela 2).
CONCLUSÃO
O teste sensorial aponta uma boa aceitação do cupcake de
cenoura com cobertura de limão por parte dos provadores com todos
os atributos sensoriais dentro da zona de aceitação.
O produto elaborado possui componentes nutricionais que
podem beneficiar a saúde dos consumidores, desta forma, seu
consumo pode ser sugerido.
REFERÊNCIAS
(1) MOREIRA-ARAUJO, R. S. R.; ARA�JO, M. A. M.; AR�AS, J.
A. Fortifed food made by the extrusion of a mixture of chickpea corn
and bovine lung controls iron-de ciency anaemia in preschool children.
Food Chem. 107, 158-164, 2008.
100
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Introdução
Materiais e métodos
Análise das Amostras
10
O trabalho foi desenvolvido na Cozinha pedagógica, ambiente
Orgaolépticas
Caracteríticas
8
de aulas práticas dos cursos de gastronomia da Escola Senac de 6
Gastronomia e Hotelaria – ESGH, sediada em João Pessoa – PB, foram 4
selecionados os seguintes alimentos para o estudo: Clitória ternatea
2
0
(flor do feijão-borboleta) e o repolho-roxo (brassica oleracea). As Cor Aroma Sabor Global
flores foram obtidas da horta de uma produtora no mesmo bairro que a
escola, Cabo Branco.
A 8 6,5 6,8 7,4
A atividade mercadológica e utilização da cor azul em B 7,2 6,5 6,9 7,2
preparos culinários têm sido por um vasto período de tempo,
desconhecido o seu uso como agente pigmentador, de método natural, C 7 6,6 6,8 7
apenas utilizado os sintéticos, seja liquido, gel ou pó. A cada dia a
variedade de produtos, de recheios, de formas, é criada e isso leva o
consumidor a uma variedade enorme no momento de escolher o que Em análise paralela, observado pelos alunos que estavam
ele necessita. previamente treinados, perceberam que 55% dos avaliadores não
Para análise foi escolhida a ficha técnica do Gyoza, pastel treinados tiveram curiosidade em pegar primeiro a amostra A (de
oriental, contida em apostila da instituição, tem massa neutra, tanto coloração original, neutra) e 88% experimentaram primeiro também
de sabor quanto de cor, devido ao uso apenas farinha de trigo e água essa amostra, essa percepção não servindo de caráter avaliativo.
para a obtenção da massa, mantendo os sabores os mais básicos Levando em consideração que a ficha avaliativa, sugeria a ordem de A,
possíveis, desta forma, minimizando a tendência por derivação B e C, estando as três amostras apresentadas, não é um parâmetro de
gustativa. agravante comprovação.
Esses ao serem recheados, levava-se uma base de sauce Tendo como pergunta inicial “Antes de degustar e avaliar,
bechamel, molho clássico, caracterizado como “molho-mãe”, em sua usando apenas o sentido visual, qual a sua intenção de compra”?
composição a mistura, de assamento prévio de farinha de trigo e Sendo a escolha somente de uma amostra, entre A, B e C, foi possível
manteiga, a formação de roux amarelo, sem nenhum tipo de obter o resultado de 60% para a amostra A, 26% para a amostra B e
aromatização específica, apenas sal. consequentemente, 13% para a C. Sendo assim, obtemos a
Elaboraram-se três amostras, nas quais classificou-se como comprovação em que a coloração azul a base da infusão da Clitória
A, B e C. O experimento A, foi a massa tradicional, onde utilizamos (Flor do feijão-borboleta) maior aceitabilidade do que a extraído do
apenas agua morna e farinha em sua composição, sem nenhum tipo suco do repolho-roxo em adição de bicarbonato de sódio, reagindo
de coloração, conforme ao preparo original oriental, no B infusionou- com sua composição quimica natual.
se flores Clitória ternatea em água morna, para que dessa forma fosse
extraída a coloração azul de suas pétalas, tendo dessa maneira, a Conclusões
extração com nenhum auxilio químico para se obter o azul
característico da sua cor e a C foi utilizado suco de repolho roxo em Diante de uma análise geral, conforme as médias avaliadas
adição com bicarbonato de sódio (1%), que com o passar do tempo, em cada setor, podemos afirmar que a cor de um produto também tem
ganhou-se notas esverdeadas, devido a fermentação. forte influência na escolha do mesmo no momento de compra.
A análise sensorial por meio de degustação, sentidos Pelos pigmento serem extraídos de forma natural, os aromas e
olfativos, foi realizada através do teste de aceitação, utilizando uma sabores podem ser alterados ou mantidos em escalas muito próximas.
escala hedônica de nove pontos, que variou entre gostei muitíssimo e Percebendo nas etapas comparativas das amostras, no gráfico, a
desgostei muitíssimo (DUTCOSKY, 2011). O teste foi conduzido de amostra B adquiriu variância mínima entre a cor neutra e a cor
forma individual, cada avaliador não treinado, esse de sexo, idade e pigmentada a partir da outra fonte natural, afirmando a aceitação
conhecimento gastronômico diferentes, se alocava em bancadas mercadológica para produções azuis em prateleiras. Mas, ao analisar a
separadas, não havendo comunicação entre eles. Junto as amostras intenção de compra apenas por observação visual, não se aproxima da
devidamente identificadas, foi entregue o termo de consentimento escolha pela cor neutra.
com a ficha de avaliação.
101
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
102
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
Análise de solubilidade
O pequi, Caryocar coriaceum Wittm, é nativo na região Nordeste do Foi determinada conforme descrito por Cano-Chauca et al. (8), com
Brasil, onde desempenha relevante papel socioeconômico, sendo modificações. Assim, foram pesadas 0,25 g de micropartículas,
utilizado amplamente na culinária. Os óleos oriundos da polpa e da acondicionadas em béquer e adicionou-se 25 mL de água destilada. A
amêndoa, pelo seu sabor característico, fonte de lipídeos insaturados e solução foi agitada por um minuto em um agitador magnético e
vitaminas A e E (1), são utilizados na preparação de molhos e centrifugada (4276,4 x g por 5 min a 25 °C). Em seguida, uma
temperos, compondo pratos regionais e substituindo outras fontes de alíquota de 15 mL do sobrenadante foi colocada em uma placa de
lipídios (2). Os compostos funcionais do óleo de pequi podem ser petri, previamente pesada, e seca em estufa de circulação de ar a
facilmente oxidados (3), fazendo com que suas propriedades sejam 105°C por 5h. A solubilidade foi calculada pela diferença de massa do
reduzidas ou perdidas. Diante disso, a tecnologia de final da análise em relação ao início, expressa em percentual de
microencapsulação apresenta-se como uma alternativa viável, pois solubilidade.
preserva os compostos bioativos do óleo, além de minimizar sabores,
odores e evitar reações indesejadas com outras substâncias. Entre as Análise espectroscópica de Infravermelho
técnicas de microencapsulação, a coacervação complexa ganha As amostras das micropartículas foram analisadas por espectroscopia
destaque por ser simples, de baixo custo e alta eficiência, tendo como de infravermelho com transformada de Fourier utilizando um sensor
princípio a interação eletrostática entre macromoléculas, sendo de refletância total atenuada (FTLA 2000-102, ABB-BOMEN, EUA).
influenciada por pH, força iônica e temperatura (4). O processo de A varredura foi realizada na faixa de comprimento de onda de 400-
reticulação química dos coacervados provoca alterações nas suas 4000 cm-1, resolução de 4 cm-1.
características físico-químicas inclusive pode promover o aumento na
resistência térmica (5). A solubilidade é uma das características que Análise Estatística
pode sofrer influência do processo de reticulação das partículas. A Os dados foram submetidos a teste t- student para comparação de
avaliação da solubilidade é importante quando se pretende uma médias usando um nível de significância de 5%.
aplicação das partículas. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi
avaliar a solubilidade em meio aquoso das micropartículas de óleo de
pequi utilizando matrizes de biopolímeros (goma arábica e gelatina- RESULTADOS E DISCUSSÃO
goma de cajueiro e gelatina) reticuladas com ácido tânico.
A goma de Cajueiro (GC) é um polissacarídeo obtido a partir do
exsudado da árvore do Anacardium ocidentale, muito comum na
MATERIAL E MÉTODOS região nordeste e que apresenta estrutura química semelhante à goma
arábica (GA), sendo esta última constantemente utilizada na
Material e Métodos coacervação complexa em combinação com a gelatina (G) (4). O
A goma de cajueiro (GC) foi adquirida do Campo Experimental de interesse tecnológico pela GC é baseado em suas características
Pacajus pertencente a Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, reológicas, biodegradabilidade e por ser um polímero natural,
Brasil). Para o isolamento dos polissacarídeos do exsudato do cajueiro tornando-se um possível substituto da GA. A coacervação complexa
foi utilizada a metodologia descrita por Torquato et al. (6) com utilizando matrizes de polissacarídeos aniônicos e proteína (cargas
modificações. A goma arábica (GA) foi adquirida da JB Química positivas) pode ser utilizada para o encapsulamento de óleos vegetais
Indústria e Comercio Ltda e a gelatina bovina (G) 225H tipo B foi como o do pequi. No intuito de melhorar algumas das características
proveniente da Rousselout®, ácido tânico PA da marca Synth e o óleo das partículas resultantes, a reticulação química foi adotada, e neste
de pequi (OP) (Caryocar coriaceum Wittm.) foi comprado de trabalho a influência deste processo foi avaliada sobre a solubilidade
produtores da região de Barbalha- CE. das partículas.
A solubilidade é um parâmetro que permite avaliar a estabilidade da
Formação das micropartículas reticuladas de óleo de pequi micropartícula em meio líquido, uma vez que relaciona a quantidade
Para a metodologia de preparo dos coacervados em solução de 0,65% máxima que um soluto pode ser dissolvido em certa quantidade de
(m/v) de biopolímeros foi seguido o procedimento descrito por solvente a uma temperatura específica. A alta solubilidade em água
Nascimento et al. (7), sendo utilizada as seguintes proporções para os possibilita a ruptura do material de parede, favorecendo, assim, que
tratamentos, de 2:1:1 (m.m-¹) (GC:G:OP) e 1:3:2,5 (m.m-¹) material ativo (núcleo) seja liberado facilmente. A reticulação química
(GA:G:OP). Inicialmente foi feita a homogeneização dos das micropartículas pode ser especialmente vantajosa no sentido de
biopolímeros em ultraturrax de marca IKA® T25 a 10.000 rpm por 15 prolongar o tempo da dissolução do material no solvente, retardando a
minutos. O pH da mistura foi ajustado com HCl (2M) e NaOH (2M) liberação controlada do agente ativo encapsulado, por meio da
para 4,5 e a solução foi submetida a refrigeração overnight. Após a formação de uma rede tridimensional com o agente reticulante (5). O
formação dos coacervados, o material foi centrifugado a 10.000 rpm, que pode ser positivo em uma aplicação em alimentos, pois ocorrerá
por 10 minutos a 25ºC. O sobrenadante foi descartado e o precipitado maior estabilidade ao tempo de manutenção do agente ativo dentro da
foi reservado. Para a reticulação das micropartículas os coacervados matriz de encapsulamento.
precipitados foram submetidos à reação com ácido tânico (AT). A Os resultados de solubilidade das micropartículas de óleo de pequi em
reticulação química foi realizada dissolvendo AT (7%, m.m -1) em 100 matrizes de GA:G e GC:G, tanto nos tratamentos R e NR estão
mL de água destilada e aquecendo a 40 ºC, onde os coacervados foram dispostos na tabela 1.
acrescentados e submetidos à agitação por 30 minutos. Seguidamente,
foram realizadas três centrifugações consecutivas com água destilada
nas condições de 4.000 rpm por 3 min a 25°C, para retirada do
excesso de reagente. O produto final foi submetido ao processo de
liofilização. Após secas, as micropartículas reticuladas (R) e não
reticuladas (NR) foram submetidas às análises de solubilidade e
espectroscopia de infravermelho.
103
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 1. Avaliação da Solubilidade de micropartículas de óleo de encapsulado em possíveis aplicações alimentícias a qual tem a água
pequi utilizando matriz de polissacarídeos e gelatina. como solvente.
CONCLUSÃO
104
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Carlos Alves1*, Grace Nunes2, Ana Barros2,3, Lucicléia Torres1, Patricia Leão4, Aline Marques4
1
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
carturnalves@gmail.com
2
Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Campus Zona Rural, Petrolina, PE
3
Doutoranda em Biotecnologia, Rede Renorbio, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
4
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.
Palavras-chave: Submédio do Vale do São Francisco, maceração tradicional, criomaceração, extração de compostos.
105
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
respectivamente). O pH exerce influência direta na cor, sabor e onde o prolongamento da maceração não favoreceu a máxima extração
estabilidade da bebida (10). Esse parâmetro está correlacionado com a de cor e compostos fenólicos. As antocianinas, principais pigmentos
acidez total da bebida, expressa geralmente em ácido tartárico, que relacionados a coloração do vinho, são também responsáveis pela
também possui importância para o equilíbrio sensorial e químico do mudança de tonalidade ao longo do envelhecimento (15,16). Além
vinho. O pH dos vinhos analisados apresentou variação estatisticamente disso, a cor é um dos mais importantes atributos sensoriais para os
significativa entre o tratamento T1 e os demais, enquanto a acidez total vinhos, podendo influenciar também nas percepções olfativas e
apresentou diferença entre todas as amostras. O tratamento T1, que foi gustativas de consumidores (17).
submetido ao menor tempo de maceração tradicional, apresentou o
menor valor de pH e a maior acidez total. Isso pode ser confirmado CONCLUSÕES
segundo Jackson, que afirma que o pH e o tempo de maceração são
diretamente proporcionais (4). Em virtude dos resultados apresentados, o maior tempo de maceração
Os valores de acidez volátil dos vinhos variaram entre 0,26 e 0,27 gL-1, tradicional (10 dias) não aumentou a intensidade de cor do vinho tinto
o que equivale a 4,33 a 4,49 mEq L-1. A legislação brasileira recomenda tropical ‘Cabernet Sauvignon’, mas influenciou no seu conteúdo total
que a acidez volátil de vinhos tenha valor máximo de até 20 mEq L-1 de compostos fenólicos, visto que elevou o valor do Índice de polifenóis
(11), o que mostra que os vinhos do presente trabalho apresentaram totais. Em contrapartida, a maceração possuiu influência significativa
teores baixos de acidez volátil, sugerindo boas condições sanitárias da no pH e acidez total, e o menor tempo de duração de maceração (02
uva e do processo de vinificação. dias), foi aquele que proporcionou o menor valor de pH e a maior acidez
total para a bebida, fatores que podem ser importantes para a maior
Tabela 1: Caracterização da composição físico-química e colorimetria estabilidade do vinho tinto. Sendo assim, são necessários mais estudos
dos vinhos da cultivar Cabernet Sauvignon elaborados com 04 dias de com diferentes dias de maceração com a cultivar Cabernet Sauvignon
maceração a frio pré-fermentativa e diferentes tempos de duração de na região, com posteriores avaliações mais complexas, de modo a
maceração tradicional, concomitante a fermentação alcóolica (02, 06 e certificar a influência total do tempo de maceração nas características e
10 dias). tipicidade do vinho.
Tratamentos REFERÊNCIAS
Variáveis
T1 (2 dias) T2 (6 dias) T3 (10 dias)
pH 3,86 b 3,93 a 3,93 a 1 INTERNATIONAL ORGANISATION OF VINE AND WINE
Acidez Total gL-1 7,10 a 6,98 b 6,83 c (OIV). Distribution of the world’s grapevine varieties. Paris: Focus
OIV, 2017.
Acidez Volátil (g L-1) 0,26a 0,27a 0,27a
2 WURZ, D. A. et al. New wine-growing regions of Brazil and their
Açúcares redutores totais 2,22 c 2,35 b 2,44 a importance in the evolution of Brazilian wine. In: WORLD
Densidade 0,9966 a 0,9966 a 0,9964 a CONGRESS OF VINE AND WINE, 40, 2017, Sofia, Bulgária. BIO
Teor alcoólico (% v/v) 12,31 b 12,54 a 12,33 b Web of Conferences. Sofia: International Organisation of Vine and
Extrato seco (g L-1) 33,42 a 33,05 ab 32,5 b Wine, 2017.
SO2 livre (mg L-1) 30,89 c 34,05 a 32,17 b 3 EMBRAPA. Produção Nacional. 2017. Disponível em: <
SO2 total (mg L-1) 159,7 a 127,23 b 99,75 c https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
IPT 40,9 c 46,7 b 49,7 a /noticia/24428422/producao-nacional> Acesso em: 30 mar. 2019.
Intensidade de cor 8,6 b 8,9 a 8,7 ab 4 JACKSON, R. S. Wine Science: principles and applications. 4rd ed.
Tonalidade 0,6 b 0,7 a 0,7 a Toronto: Academic Press, 2014.
Médias seguidas por uma mesma letra na coluna, não diferem entre si 5 RIBÉREAU-GAYON et al. Handbook of Enology: The Chemistry of
pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Wine Stabilization and Treatments. Chichester, Inglaterra: John Wiley
and Sons Ltda, 2006.
A densidade está relacionada com o teor alcoólico e açúcares presentes 6 BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução Normativa nº 24, de 8
no vinho, e é utilizada como parâmetro de acompanhamento de de setembro de 2005. Dispõe sobre os métodos analíticos de bebidas e
fermentação alcoólica (5). A densidade dos vinhos analisados (Tabela vinagre. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
1) não apresentou diferença significativa, indicando a homogeneidade 2005.
do acompanhamento da fermentação alcoólica dos vinhos, do tempo de 7 RIBÉREAU-GAYON, J. et al. Ciências y Técnicas Del Vino, Tomo
duração da maceração tradicional. O teor alcoólico e o conteúdo de I, Editorial Hemisfério Sur, 1980.
açúcares redutores totais, em contrapartida, apesar de terem 8 RIZZON, L. A. Metodologia para análise de vinho. Brasília:
apresentado diferença significativa entre os tratamentos, não explicam Embrapa, 2010.
diferenças relacionadas ao tempo de maceração. Segundo legislação 9 HARBERTSON, J.; SPAYD, S.; Measuring phenolics in the winery.
brasileira (11), vinhos finos secos precisam possuir até 4 gL-1 de American Jour. Eno. and Vit, n. 57, p. 280-288, 2006.
açúcares e até 14% de teor alcoólico, o que permite avaliar que todos 10 MORENO-ARRIBAS, M. V.; POLO, M. C. Wine Chemistry and
os vinhos produzidos na presente pesquisa estão de acordo com a Biochemistry. New York: Springer Science + Business Media, 2009.
Legislação Brasileira. 11 BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E
O extrato seco do vinho corresponde as substâncias que não volatilizam ABASTECIMENTO – MAPA. Regulamenta a Lei nº 7.678, de 8 de
em determinadas condições físicas (8), influenciando a estrutura e novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e
corpo dos vinho (12). Os vinhos da presente pesquisa apresentaram comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho. DECRETO
variação do extrato seco de 32,5 a 33,42 gL -1, mostrando maior valor Nº8.198, DE 20 DE FEVEREIRO DE 2014.
no T1, submetido a 2 dias de maceração concomitante à FA. 12 BIASOTO, A. C. T. et al. Acceptability and preference drivers of
O dióxido de enxofre livre refere-se àquele encontrado na forma de SO2, red wines produced from Vitis lambrusca and hybrid grapes. Food
sendo adicionado com o objetivo de proteção antioxidante e International Research, v. 62, p. 456-466, 2014.
antimicrobiana em vinhos. Segundo Tabela 1, os vinhos apresentaram 13 GOMEZ-MIGUEZ, M., GONZALEZ-MIRET, M. L.; HEREDIA,
valores estatisticamente diferentes para ambos os tratamentos, variando F. J. Evolution of colour and anthocyanin composition of Syrah wines
de 30,89 a 34,05 mgL-1, embora o conservante tenha sido adicionado elaborated with pre-fermentative cold maceration. Journal of Food
igualmente para ambas as amostras. O teor de SO2 total dos vinhos Eng., 79, 271–278, 2007.
variou entre 99,75 e 159,7 mgL-1, sendo maior para o tratamento T3, 14 ALENCAR, N. M. M.; et al. Influence of maceration time on
submetido a 10 dias de maceração. phenolic compounds and antioxidant activity of the Syrah must and
Os resultados de Índice de Polifenóis Totais (IPT) apresentaram wine. Jour. of Food Bio., v. 42, p. 12471, 2018.
maiores valores para o tratamento T3 (Tabela 1), sendo este diretamente 15 SOUZA, J. F. et al. Evoluation of phenolic compounds profiles and
proporcional ao tempo de maceração. No que se refere a Intensidade de antioxidante activity of Syrah red and sparkling Moscatel wines stored
cor, o maior valor foi o da amostra T2, porém estatisticamente igual ao in bottles of diferente colors. Beverages, v. 4, p. 89, 2018.
T3. Isso pode sugerir que o prolongamento da maceração não aumenta, 16 MARQUEZ, A.; SERRATOSA, M. P.; MERIDA, J. Influence of
necessariamente, a extração de cor. A extração de cor e compostos bottle storage time on colour, phenolic composition and sensory
fenólicos aumenta nos primeiros dias de maceração (5,13); no entanto, properties of sweet red wines. Food Chem., v. 146, p. 507-514, 2014.
o vinho tinto pode apresentar declínio na intensidade de cor quando 17 WANG, Q. J; SPENCE, C. Drinking through rosé-coloured glasses:
submetido a longo tempo de maceração tradicional devido à redução no Influence of wine colour on the perception of aroma and flavour in wine
conteúdo de antocianinas monoméricas. Resultados semelhantes foram experts and novices. Food Res. Inter., v. 126, 2019.
apresentados para vinhos tintos tropicais da variedade ‘Syrah’ (14),
106
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Adayane V. Silva1, Apolinário F. Filho1, Poliana B. Sousa2, Luan Icaro F. Pinto3, Manoel de Jesus M. Silva4, Jurecir
Silva5
1
Discentes do Curso de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central, adayanne26@hotmail.com
2
Mestre em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus
Teresina Central.
3
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central.
4
Assistente de Laboratório, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
5
Mestre em Medicina Tropical, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
107
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
108
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
109
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Espalha-
bilidade 6,89ab ±1,80 7,48a ±1,31 7,41a ±1,51 6,33b ±1,97 7,49a ±1,41
Letras iguais na mesma linha não diferem significativamente ao nível de 5% de significância
(p>0,05).
110
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Antonia Samara Patricio Santos1*, Beatriz dos Santos Dantas1, Ídila Maria da Silva Araújo2, Selene Daiha Benevides3
1Graduanda de Engenharia de Alimentos/Universidade Federal do Ceará, 2Doutora em Ciências Biológicas/Embrapa Agroindústria
Tropical, 3Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos/Embrapa Agroindústria Tropical, *samarapatricios@gmail.com
Palavras-chave: queijo, análogo, vegano, intolerantes, lactose. análises físico-químicas do “queijo vegetal” cremoso. Os resultados
foram comparados com os dados nutricionais do produto requeijão
INTRODUÇÃO padrão, de origem animal, fornecidos pela Tabela Brasileira de
Saudabilidade e bem estar são tendências de consumo Composição de Alimentos – TACO (10) e com os de Taffarel (2) que
alimentar apresentadas pela Brasil Foods Trend 2020 que tem-se elaborou produtos tipo requeijão a base de vegetais.
destacado nos últimos tempos devido a crescente busca de um estilo de
vida saudável, no que diz respeito a alimentação e seu impacto na Tabela 1. Caracterização físico-química do “queijo vegetal" a base
saúde do indivíduo. Dentre os produtos relacionados a essa tendência, de amêndoas de castanha de caju.
tem-se análogos à carne, como é o caso de hambúrgueres vegetais, Valores encontrados
análogos ao leite como extratos hidrossolúveis de soja e de arroz. Determinação
(média ± desvio padrão)
Muitos destes produtos são destinados ao público vegano e aqueles que
Atividade de água 0,82 ± 0,03
possuem uma dieta específica, como alérgicos e intolerantes à lactose
(1). Calorias (kcal/100g) 330,40 ± 3,68
O “queijo vegetal” é um alimento similar ao queijo, mas que Carboidratos (g/100g) 11,07 ± 0,83
não leva em sua formulação, produtos de origem animal. No mercado
brasileiro, o “queijo vegetal” mais difundido é o tofu, sendo utilizado Umidade (g/100g) 45,72 ± 0,84
soja como matéria-prima (2). Outras matérias primas podem ser Proteínas (g/100g) 17,90 ± 0,18
utilizadas na produção desse tipo de queijo, como mandioca, batata,
soja, amendoim, amêndoa de castanha de caju e do Pará. Lipídios (g/100g) 24,41 ± 0,59
A amêndoa de castanha de caju é um dos principais produtos Cinzas (g/100g) 1,47 ± 0,02
oriundos da cajucultura e possui grande importância socioeconômica
Fibras (g/100g)* 20,1
na Região Nordeste, onde concentra os principais estados produtores e
exportadores do país, dentre eles o Ceará (3). Rica em proteína, *Valor determinado em base seca.
lipídios, principalmente ácidos graxos insaturados e carboidratos,
possui altos índices de minerais como o cálcio, ferro e fósforo (4). A formulação do “queijo vegetal” cremoso apresentou valores
A partir da amêndoa de castanha de caju, obtêm-se diversos para o teor de proteínas e fibras acima do encontrado por Taffarel (2),
produtos visando o seu total aproveitamento industrial, tendo em vista tanto para as amostras do tipo requeijão, com média de 1,42% de
que a comercialização concentra-se na venda da amêndoa in natura proteínas e 1,33% de fibras, quanto para o requeijão padrão (9,6% de
(5), especialmente as inteiras, por apresentarem valor comercial mais proteínas e não possui fibras). O conteúdo proteico é de suma
elevado que as demais (6). O subproduto granulado da amêndoa de importância, pois as proteínas desempenham diversas funções no
castanha de caju pode ser utilizado na elaboração de um “queijo organismo, desde a formação de tecidos, enzimas, hormônios e
vegetal” como forma de aproveitamento integral do processamento da anticorpos, até a regulação de processos metabólicos e fornecimento de
amêndoa. energia. Já as fibras, apresentam diversas funções benéficas para a
O objetivo do presente trabalho foi desenvolver um "queijo saúde, atuando na prevenção de diversas doenças, tais como câncer,
vegetal" cremoso a base de amêndoa de castanha de caju, avaliando diabetes, hipercolesterolemia, hipertensão arterial e melhoramento do
suas características físico-químicas, visando a obtenção de um produto sistema imunológico (11).O teor lipídico também apresentou
similar aos existentes no comércio local. resultado maior que o encontrado para as formulações do tipo
requeijão (0,79%), mas semelhante a do requeijão padrão (23,4%).
MATERIAL E MÉTODOS Segundo a TACO (10) a maior fração lipídica presente na amêndoa de
Para a produção do “queijo vegetal”, os granulados das castanha de caju é de ácidos graxos insaturados, considerada
amêndoas foram colocados de molho por 22 horas sob temperatura importante para a saúde, pois além de atuar como fonte energética,
refrigerada de 10 oC. Em seguida, a água foi descartada e as amêndoas contribui na redução do teor de colesterol sérico, prevenindo o
processadas com água potável em liquidificador doméstico na surgimento de doenças coronárias (12). Em relação ao teor de
proporção de 2:1 (amêndoas:água) durante 1 hora, com intervalos para carboidratos a formulação apresentou resultado acima do valor do
homogeneização manual da massa, uma vez que a mesma fica bem requeijão padrão, tendo em vista o percentual significativo existente na
consistente. Adicionou-se à massa, 0,1g de um mix de probióticos amêndoa de castanha de caju. Além disso, o percentual calórico se
liofilizados, da marca Simfort® (Lactobacillus acidophillus, comparado aos demais produtos, mostrou-se maior devido ao alto teor
Lactobacillus casei, Lactococcus lactis, Bifidobacterium lactis e de proteínas, carboidratos e
Bifidobacterium bifidum) onde segundo o fabricante, cada probiótico lipídeos, fazendo com que o alimento seja mais energético.
possui 1x109 UFC/g. A massa foi novamente homogeneizada no
liquidificador, e levada para BOD a 37 ºC por 16 horas para CONCLUSÃO
fermentação. Passado esse período, adicionou-se 2% de cloreto de
sódio à massa. Em seguida, a massa foi novamente homogeneizada. A amêndoa de castanha de caju apresenta grande potencial para
Foram realizadas análises físico-químicas de lipídios (7) elaboração de “queijo vegetal” em virtude da sua composição
utilizando o sistema de extração sob alta pressão e alta temperatura em centesimal, tornando-se uma opção de alimento de origem vegetal que
equipamento XT-15 Ankom, além de cinzas, umidade, acidez pode ser consumido tanto por consumidores veganos como aqueles que
titulável, fibras e proteínas (8). A atividade de água foi determinada por opção, apreciam esse tipo de alimento. O granulado de amêndoas de
por meio do Activity Meter (Pawkit – Decadon), e o pH pelo pHmetro. castanha de caju pode ser utilizado como matéria prima para obtenção
As determinações de pH e acidez foram realizadas antes e após a de um produto semelhante ao queijo, indicando a possibilidade de
fermentação da massa. aproveitamento integral da amêndoa.
112
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Ana Araújo1, Josefranci Farias2, Diogo Portela3, Jânio. Silva1, Matheus Pereira1, Geane Andrade1
Introdução
Figura 1 – Fluxograma procedimental
Atualmente, o Abelmoschus esculentus é cultivado em várias
regiões do mundo e seus frutos comestíveis são muito utilizados na
gastronomia nacional e internacional no preparo de vários pratos
como: caruru de camarão, frango com quiabo, trufa de quiabo e até
caviar de quiabo. Ele está presente em todas as épocas e suas folhas
e vagens podem ser consumidas, refogadas, cozidas, assadas ou em
saladas. Além disso, o quiabo apresenta grande relevância na
alimentação humana, pois contém minerais, proteínas, carboidratos
e é considerado fonte de compostos fenólicos com potencial
antioxidante (1).
O quiabo é uma hortaliça de grande valor nutritivo, cultivada
no Maciço de Baturité, contribuindo na renda dos agricultores e
comerciantes hortifrutigranjeiros da região. Contudo, praticamente
não há reaproveitamento das sementes do quiabo, sendo
desconhecida a existência de programas que desenvolvam o
beneficiamento dessas sementes a fim de servirem como uma
alternativa para o consumo humano.
De acordo com Dutcosky (2), a avaliação sensorial fornece
suporte técnico para pesquisa, industrialização, controle de
qualidade e marketing.
É de suma importância desenvolver tecnologias que viabilizem
um maior aproveitamento de alimentos na agricultura familiar,
especialmente, do quiabo, visto que a produção sobressalente do
quiabeiro pode ser empregada para a produção do pó da semente
uma vez que o fruto maduro do quiabo é pouco aceito para o
consumo humano devido ao seu alto teor de fibra.
Buscamos, desse modo, contribuir para o (re)aproveitamento
de alimentos excedentes, diminuindo o desperdício por meio da
produção de um pó comestível feito a partir da torra das sementes
do quiabo, e criando, assim, uma opção de alimento aceitável,
econômico e nutritivo, com propriedades medicinais, sendo também
um substituto que pode ser utilizado na ausência de outros produtos Após a retirada das sementes do mesocarpo (cavidade que
já encontrados no mercado, entre eles o café, para o qual o pó de acondiciona as sementes) estas foram levadas novamente ao sol,
quiabo se apresenta como excelente sucedâneo, sendo seu uso já com uma duração de 4 horas, a fim de garantir a sua total secagem,
validado por outros povos. eliminar toda a umidade existente e facilitar também no momento
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo principal da torragem levando menos tempo para concretizar a torra. Depois
desenvolver uma preparação de brigadeiro a partir do disso, foi feita a seleção das sementes, excluindo as que estavam
aproveitamento da semente torrada do quiabo, viabilizada através da deterioradas e oxidadas.
formulação de um fluxograma de processamento para obtenção do A torragem das sementes foi feita em uma panela de material
pó da semente de quiabo; da elaboração de uma ficha técnica para a inoxidável de fundo espesso em um fogareiro de barro a carvão. A
preparação do brigadeiro à base do pó de quiabo; e da avaliação panela foi pré-aquecida por 5 minutos, sendo as sementes sempre
sensorial do produto desenvolvido. mexidas com colher de pau para não queimarem, durante 10 a 15
minutos, em uma temperatura variando de 120ºC a 200ºC. Para a
Material e Métodos conclusão da torragem, a panela foi retirada do fogo antes das
sementes estalarem totalmente. Após esfriarem, foram moídas em
a) Beneficiamento das sementes: Para proceder ao beneficiamento um pilão de madeira. O pó granulado foi peneirado em uma peneira
das sementes, o quiabo foi recolhido no seu estado seco, na Serra do fina e, depois, em um tecido fino a fim de separar os grânulos
Vento, localizada no município de Redenção, com latitude de remanescentes.
4°17’07’’S e longitude 38°46’28’’W, altitude de 372 metros em O pó produzido após o beneficiamento, torra e pilagem foi
relação ao nível do mar. Em seguida, foi realizada a segunda guardado em um recipiente hermeticamente fechado, o qual servirá
secagem ao sol com uma duração de aproximadamente 4 horas a fim de base para a preparação de um brigadeiro que passará por análise
de facilitar a extração. Os procedimentos executados na etapa de sensorial
beneficiamento das sementes podem ser observados no fluxograma
abaixo (Figura 1). b) Formulação do brigadeiro: Para a elaboração de 100
brigadeiros, foram necessários os seguintes ingredientes: 02 caixas
de leite condensado (790g), 50g de manteiga sem sal e 20g de pó da
semente torrada do quiabo.
113
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Primeiramente, os ingredientes foram pesados a fim de se obter Quanto ao sabor, a maioria dos participantes (67%) afirmaram
a quantidade exata indicada na ficha técnica e, depois, adicionados que a amostra apresentava sabor ideal, dando a entender que o
a uma panela de fundo duplo na qual foram mexidos e incorporados produto avaliado possui sabor agradável. Apenas 24% apontou que
com uma colher de silicone até se obter um creme homogêneo o sabor estava “moderadamente mais forte que o ideal” e 9% que
(Figura 2A).Em seguida, a panela com o creme foi levada ao fogo estava “moderadamente menos forte que o ideal”. Provavelmente,
baixo para a cocção do brigadeiro por cerca de 15 a 20 minutos até esse dado positivo acerca do aroma e do sabor do produto avaliado
o ponto de desprender-se da panela. Depois, o brigadeiro (770g) foi se deva ao fato de que o pó do quiabo (Abelmoschus esculentus)
colocado em um refratário para esfriar e foi coberto com plástico torrado apresenta aroma e sabor similares ao café (Coffea arabica)
filme (Figura 2B). Após esfriar naturalmente, o brigadeiro foi (3).
moldado em pequenas porções (10g cada) com movimentos De acordo com Bazán (4), o quiabeiro pode ser utilizado de
circulares até ficarem no formato esférico. Depois, foram passados diversas formas, para indústria e produção de fibras; quase todas as
no confeito granulado sabor chocolate e colocados em forminhas de suas partes podem ser consumidas para variados usos e aplicações
papel (Figura 2C). na alimentação humana. De fato, quase tudo se aproveita do quiabo:
o fruto “in natura”, ainda tenro, em saladas, ou na forma cozida ou
Figura 2 –Preparação do brigadeiro à base do pó de quiabo. guisada, em carnes e sopas; as sementes, das quais podemos extrair
um óleo comestível ou produzir uma bebida similar ao café, se as
A B sementes forem torradas.
Para o aspecto da doçura, a maior parte dos provadores (83%)
indicou que a amostra encontra-se ideal e 31% afirmaram que o
brigadeiro está moderadamente mais forte que o ideal. Acreditamos
que esse dado positivo esteja relacionado ao fato de que o sabor do
pó de quiabo apresenta-se bem incorporado aos demais ingredientes
da receita tradicional do brigadeiro (leite condensado e manteiga),
não chegando a alterar de modo significativo a doçura esperada para
o produto apresentado como aponta a pesquisa realizada por Costa
e colaboradores (5) com brigadeiro funcional sem lactose com
alfarroba em pó que teve o sabor e a doçura alterados devido à troca
C do ingrediente leite condensado por biomassa de banana verde.
Na avaliação da textura, 83% dos provadores indicaram que a
amostra está ideal e 17% ficaram entre “muito mais consistente que
o ideal” e “moderadamente mais consistente que o ideal”.
Em relação à intenção de compra, 71% dos provadores
afirmaram que certamente comprariam se o brigadeiro estivesse à
venda, 21% “provavelmente comprariam”, 6% “talvez comprasse”
e apenas 2% “possivelmente não comprariam”. Isto revela que o
brigadeiro à base de pó de quiabo trata-se de um produto que pode
ser comercializado e inserido no mercado gastronômico.
Os brigadeiros produzidos foram armazenados sob refrigeração
e consumidos no dia seguinte durante os testes sensoriais.
Conclusão
c) Análise sensorial: Os testes sensoriais foram aplicados no
Através da aplicação de processos simples, como o
laboratório de Análise Sensorial do IFCE, Campus de Baturité, em
beneficiamento das sementes do quiabo e a formulação do
cabines individuais sob luz branca. As amostras foram servidas em
brigadeiro elaborado à base do pó da semente do quiabo torrado, foi
porções de 10g. Para determinar os principais atributos sensoriais, o
possível obter um produto com boa qualidade, podendo ser
foi aplicado com 100 provadores não treinados voluntários dos quais
produzido com poucos ingredientes e inserido na lista de
65% eram do sexo feminino e 35% do sexo masculino.
sobremesas da população. O brigadeiro apresentou bons resultados
Os testes de aceitação global da aprência e aroma, foram
em todas às análises realizadas, com destaque na aceitação global e
realizados com uma escala hedônica verbal de 9 pontos, sendo o
doçura, assim como, uma considerável possibilidade de intenção de
valor hedônico 1 para “desgostei muitíssimo” e o valor hedônico 9
compra pelo consumidor.
para “gostei muitíssimo” (2). Na mesma ficha, foi incluído um
Diagnóstico de Atributos, onde o julgador compara a amostra com
Referências
seu próprio padrão mental de qualidade para aquele produto. Os
atributo aparência (intensidade de cor) foi avaliado por uma escala
1 LISBOA, F. M. et al. Anál. sensorial de bebida alternativa
de intensidade de cinco pontos (1= muito fraco, 5= muito forte),
produzida através do saber local de comunidade tradicional na
enquanto que os atributos de sabor, doçura, e textura, foram
amazônia in Encicl. BIOSFERA, Centro Cient. Conhecer - Goiânia,
avaliados por meio da Escala do Ideal (“just right scale”). O teste de
v. 6, n.11, 2010.
intenção de compra foi realizado utilizando escala verbal de 5
2 DUTCOSKY, S. D. Anál. Sens. de Alim. 4.ed. Curitiba: Univ.
pontos, pré-definida em “certamente não compraria” = 1 a
Champagnat, 2013.
“certamente compraria” = 5 e, no ponto intermediário, “talvez
3 FELIPPE, Gil. Grãos e sementes: a vida encapsulada. São Paulo:
comprasse/talvez não comprasse” = 3 (região de indecisão)
Ed. Senac, 2007.
O grupo de provadores foi formado por docentes e discentes do
4 BAZÁN, U.R.A. Aval. de germoplasmas de quiabeiro
IFCE campus Baturité, que se dispuseram a participar da pesquisa.
(Abelmoschus esculentus) quanto à resistência ao Oídio
(Erysiphecichoracearum). Tese doutorado, UNESP, p.59, 2006.
Resultados e Discussão
5 COSTA, F. C. da et al. Aval. Sens. de brigadeiro funcional sem
lactose com alfarroba em pó (Ceratonia siliqua L.). Arq. Bras. em
Quanto à aceitação global, a maioria dos participantes (85%)
Alim. Recife, v. 3, n. 1, p. 42-50, jan./jun., 2018.
assinalaram as opções “gostei muitíssimo” e “gostei muito”
indicando que o produto foi bem aceito em seus aspectos gerais.
Apenas 13% afirmaram terem “gostado moderadamente e
ligeiramente” e apenas 2% marcaram “não gostei e nem desgostei”
ou “desgostei ligeiramente”.
Quanto à aparência do produto, a maioria dos participantes
assinalaram “forte” (43%) ou “médio” (52%) para a intensidade da
cor.
O aroma do brigadeiro também foi um fator bem avaliado: 42%
dos participantes assinalaram a opção “gostei muitíssimo” e 37%, a
opção “gostei muito”.
114
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Apolinário F. Filho1, Irismar S. C. Feitosa1, Poliana B. Sousa2, Luan Icaro F. Pinto3, Manoel de Jesus M. Silva4, Jurecir
Silva5
1
Discentes do Curso de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central, apolinarioalimentosoficial@hotmail.com
2
Mestre em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus
Teresina Central.
3
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central.
4
Assistente de Laboratório, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
5
Mestre em Medicina Tropical, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
116
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Nadla C. S. Sousa1, Josefranci M. de. Farias2, Francineudo A. da Silva3, Rafaella M. de Freitas4, Lucas J. V.
Silva1
1 Licenciatura em Química, Instituto Federal do Ceará – campus Iguatu, CE – Brasil.
2 Dra. em Biotecnologia Industrial, profa. do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFCE – campus
Baturité, CE - Brasil, e-mail: josefranci@ifce.edu.br
3 Dr em Fitotecnia, prof.do IFCE – campus Iguatu, CE – Brasil.
4 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, profa. do IFCE – campus Iguatu, CE – Brasil
117
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
solução foi usada imediatamente. Tomou-se 2 tubos de ensaio e em Altos valores de sacarose, que se constitui da combinação de dois
um deles colocou-se 2ml de solução de mel, 5ml de solução de para- açúcares, glicose e frutose, indicam que o mel foi colhido antes do
toluidina e 1ml de solução de ácido barbitúrico. No tubo branco período ideal, sendo que a sacarose não foi completamente
colocou-se 2ml de solução de mel, 5ml de solução de para-toluidina transformada em glicose e frutose pela ação da invertase (11).
e 1ml de água destilada. A sequência da colocação dos reagentes foi A cor da amostra de mel analisada foi a âmbar, ela se encontra
feita dentro de 2 minutos. Aguardou 4 minutos e fez-se a leitura em em conformidade com a legislação, que considera aceitáveis
espectrofotômetro a 550nm. A leitura foi feita no ponto de maior variações de branco d’água a âmbar escuro (8). Uma das
absorção, pois a coloração é instável e tem o ponto máximo de características do mel que mais influenciam na preferência do
absorção após 5 minutos, começando depois a descrever. consumidor é a cor, esta é uma caracterização qualitativa, onde a
Resultados e Discussão mesma é verificada de forma visual e comparada com uma tabela,
Os resultados das análises físico-químicas do mel Apis onde se verifica os padrões. Este parâmetro está relacionado com a
mellifera L estão representados na Tabela 1, com valores médios e sua origem floral, processamento, fatores climáticos, temperatura.
seus respectivos desvios padrões. Por fim, o valor encontrado para HMF foi de 50,3 mg/Kg
Tabela 1 – Caracterização Físico-química do mel de abelha Apis apresentando-se em conformidade com a norma vigente pela
mellifera L legislação que é de no máximo 60 mg/Kg (6). Valores de HMF
podem variar em função do tempo de armazenamento. Segundo
Barros et al. (12) ao analisar 13 amostras de méis de diferentes
municípios do estado do Rio de Janeiro encontraram uma média de
30,37mg/Kg.
Conclusão
Pode-se concluir que o mel de abelha analisado da espécie Apis
mellifera L produzido no IFCE – campus Iguatu possui boa
qualidade quanto a caracterização química, e os valores encontrados
estão dentro dos padrões técnicos de Identidade e Qualidade do
Verificou-se que a amostra de mel analisada obteve 25% de Ministério da Agricultura e Abastecimento estabelecidos para o mel,
umidade (Tabela 1), valor este que está acima dos limites com exceção da umidade e dos açúcares não redutores que
especificados pela legislação brasileira que estabelece que a apresentaram valores superiores aos exigidos pela legislação.
umidade não deve exceder 20% (8). Marchini et al. (9), afirma que Referências
a explicação para o elevado teor de água encontrada no experimento, 1 FINCO, F.D.B.A.; MOURA, L.L.; SILVA, I.G. Prop. físicas e
poderia ser a colheita do mel oriunda de favos não operculados ou o quím. do mel de Apis mellifera L. Ciênc. e Tecnol. de Alimentos.
período de armazenamento, podendo assim o mel ter absorvido 30, 3, 706-712, 2010.
umidade do ambiente. 2 SOUZA, D.A.; GRAMACHO, K. P.; CASTAGNINO, G. L. B.
Resultados semelhantes foram observados por outros autores, Produtividade de mel e comportamento defensivo como índices de
tais como, Marchini et al. (9), analisaram 121 amostras de mel Apis melhoramento genético de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.).
mellifera L de diferentes municípios do Estado de São Paulo, e Rev. bras. de Saúde Produção Animal. 13, 2, 550-557, 2012.
encontraram 44 amostras de méis com umidade superior a 20%, 3 MORAES, F.J. et al. Caract. físico-química de amostras de mel de
Alves et al. (5), observaram 20 amostras de mel da espécie M. abelha africanizada dos municípios de Santa Helena e Terra Roxa
mandacaia que apresentou uma média de (28,78%), Anacleto e (PR). Arq. Bras. de Medicina Veterinária e Zootecnia. 66, 4, 1269-
Marchine (10) analisaram 34 amostras de méis Apis mellifera L no 1275, 2014.
município de Pirassununga, Estado de São Paulo que apresentaram 4 BRAGHINI, F. et al. Qualidade dos méis de abelhas africanizadas
umidade dentro do limite de 20%. (Apis mellifera) e jataí (Tetragonisca angustula) comercializado na
O pH encontrado foi 3,58 ± 0,01. Os valores de pH não estão microrregião de Francisco Beltrão – PR. Rev. de Ciênc. Agrárias,
padronizados pela legislação, porém, autores como Welke et al. (11) 40, 1, 279-289, 2017.
e Barros et al. (12) referenciaram a média de 3,3 a 4,4 em suas 5 ALVES, R.M.O. et al. Carac. físico-químicas de amostras de mel
pesquisas. De acordo com Silva et al. (13), embora o pH não seja de Melipona mandacaia Smith (Hymenoptera: Apidae). Ciênc. e
indicado como análise obrigatória, mostra-se útil para a avaliação Tecnol. de Alimentos. 25, 4, 644-650, 2005.
da qualidade do mel, assim como pode influenciar na velocidade de 6 BRASIL. Ministerio da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento.
outros componentes. Laboratório Nacional de Referencia Animal - LANARA. Portaria n.
A acidez livre do mel expressa em termos de meq/kg foi de 001/81, de 07 de outubro de 1981. Métodos Analíticos Oficiais para
48,94 ± 0,61, estando em conformidade com as normas de legislação Controle de Produtos de Origem Animal e seus Ingredientes. Diário
nacional para o mel, onde o teor médio de acidez encontra-se bem Oficial da União, Brasília, DF, 13 out. 1981. seção 1, p. 19381.
próximo ao limite estabelecido pela legislação que é de no máximo 7 LANARA. Laboratório Nacional de Referência Animal. Métodos
50 meq/kg. Anacleto e Marchini (10) encontraram valores que analíticos oficiais para controle de produção, controle de produtos
variaram entre 6,0 a 46 meq/Kg. As variabilidades para acidez de origem animal e seus ingredientes. II-Métodos físicos e químicos.
obtida nos trabalhos podem ser explicadas pelo tipo de florada, uma Mel. Brasília: Ministério da Agricultura, 1981.
vez que a acidez do mel tem origem nos diversos ácidos orgânicos 8 BRASIL. Ministerio da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento.
contidos no néctar coletado pelas abelhas (13). Instrução normativa n° 11, de 20 de outubro de 2000. Disponível
O conteúdo de resíduos minerais (cinzas) na amostra analisada em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2012/08/IN-11-
foi de 0,58%, apresentando-se de acordo com a legislação brasileira de-2000.pdf. Acesso> em: 13 jan. 2020.
que determina o limite máximo de 0,6% para méis florais (8), e 9 MARCHINI, L.C.; MORETI, A.C.C.C.; OTSUK, I.P. Análise de
superior aos encontrados por Anacleto e Marchini (10) e Silva et al. agrupamento, com base na composição físico-química, de amostras
(13), com 0,29% e 0,10%, respectivamente. de méis produzidos por Apis melífera L. no estado de São Paulo.
Na determinação de açúcares redutores e não redutores os Ciênc. e Tecnol. de Alimentos, 25, 1, 8-17, 2005.
valores obtidos na amostra de mel estudada foram de 67,50% e 10 ANACLETO, D.A.; MARCHINI, L.C. Composição físico-
6,25% respectivamente. As normas nacionais estabelecem mínimo química de amostras de meis de Apis melífera L. provenientes do
de 65% para açúcares redutores e máximo de 6% para açúcares não- cerrado paulista. B. Indústr.anim. 61, 2, 161-172, 2004.
redutores (8). Esses valores estão próximos aos determinados por 11 WELKE, J.E. et al. Carac. físico-química de méis de Apis
Welke et al. (11) ao analisar em 18 amostras de méis Apis mellífera mellifera L. da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
provenientes dos municípios da região noroeste do Estado do Rio Ciênc. Rural. 38, 6, 1737-1741, 2008.
Grande do Sul, possui uma média de 67,8%, outros valores são 12 BARROS, L.B. et al. Carac. físico-química de mel produzido por
relatados por Finco, Moura e Silva (1), 68,9%, Barros et al. (12), Apis mellífera no estado do Rio de Janeiro. Rev. bras. de Ciênc.
71,6%, Anacleto e Marchini (10), 73,1%. No conteúdo de açúcares Veter. 17, 117-120, 2010.
não redutores, o valor encontrado foi um pouco superior ao que 13 SILVA, C.L.; QUEIROZ, A.J.; FIGUEIREDO, R.M.F. Carac.
estabelece a legislação, onde determina que o valor máximo é de 6% físico-química de méis produzidos no estado do Piauí para
sendo o obtido 6,25%, porém é um valor muito próximo do diferentes floradas. Rev. bras. de Eng. Agrícola e Ambiental. 8,
estabelecido pelas normas e não influencia que o mel esteja fora dos 260-265, 2004.
padrões de qualidade.
118
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
119
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
120
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Crislane, C. B. Silva. Pós-graduação lato sensu em Agropecuária sustentável. IFMA, Campus Codó.; Izaías, S.
Marques. Graduado em Química. IFMA, Campus Codó.; Eva, M. C. S. Nobre. Profa. Ma. em Química Analítica.
IFMA, Campus Codó.; Daniel, D. Campelo. Docente de Tecnologia em Alimentos. IFMA, Campus Codó. Email:
crislanebaima@gmail.com.
121
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Tabela 2. Média dos atributos aparência, aroma, sabor, textura e Nas duas cidades avaliadas os consumidores estão concentrados nas
impressão global no teste de aceitação dos brownies formulados, regiões: “tenho dúvidas se compraria ou não”, “provavelmente
realizado em Manaus-AM compraria” e “certamente compraria” para todos os brownies
desenvolvidos.
Quando comparada a atitude de compra entre as duas cidades, os
consumidores de Manaus se mostraram mais predispostos à compra
das formulações sem glúten, destacando-se as adoçadas com açúcar
demerara. Estes resultados podem estar relacionados à familiaridade e
ao consumo habitual dos ingredientes da formulação. Os resultados de
aceitação dos brownies desenvolvidos foram similares ao do estudo
que desenvolveu brownie de biomassa de fruta-pão verde (8).
CONCLUSÕES
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos/Universidade Federal do Ceará
2
Mestre em Ciências Gastronomicas, FCT/Universidade Nova de Lisboa
3
Professora Auxiliar com Agregação, *LEAF – Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food, Instituto Superior
de Agronomia, Universidade de Lisboa, Portugal
lflherculano@gmail.com
Nos últimos anos, diversos estudos apontam a Doença Celíaca (DC) • Análise de Cor do Miolo
como um problema de saúde mundial devido à sua elevada prevalência Verificou-se que os pães obtiveram valores elevado de L*
(1). A DC é uma doença autoimune caracterizada por uma inflamação (luminosidade), apresentando diferenças significativas (p≤0,05) nos
na mucosa intestinal que se desenvolve em indivíduos geneticamente pães com farinha de alfarroba, farinha de bolota e farinha de quinoa em
pré-dispostos, provocando lesões e atrofias das microvilosidades, comparação ao pão controle. Os pães com 100% de farinha de castanha
prejudicando a absorção de importantes nutrientes (2), ocasionada pela e o com 50% de farinha de grão-de-bico, não apresentaram diferenças
ingestão de glúten, termo utilizado para descrever frações proteicas significativas quando comparados ao pão controle. Os pães com as
encontradas nos cereais como o trigo, cevada, centeio e aveia (3). A DC farinhas de grão-de-bico e quinoa apresentaram os maiores valores de
não tem cura e a exclusão total do glúten da dieta por toda a vida é a luminosidade, uma caracteristica desejável e próxima aos pães
forma mais eficaz para tratar os portadores dessa patologia (4). No tradicionais com farinha de trigo (6). Os pães adicionados com farinha
entanto, ocorre uma dificuldade dos celíacos seguirem com a dieta, a de Alfarroba apresentaram menor luminosidade, principalmente o pão
monotonia alimentar decorrente da escassez de produtos sem glúten (5). com 100% de farinha de alfarroba, portanto apresentou o miolo com
Nesse sentido, propõe-se a valorização de farinhas pouco exploradas coloração mais escura. Esse resultado poderá resultar do facto de o teor
para obtenção de um produto de valor acrescentado, especialmente de açúcares e aminoácidos fornecidos pela farinha de Alfarroba que
direcionados para doentes celíacos. O objetivo desse trabalho foi o contribuiu para a reação de Maillard e caramelização. Os pães com
desenvolvimento de pães isentos de glúten, a partir de farinha de farinha de tremoço não apresentaram significância (p<0,05) ao nível de
alfarroba, farinha de bolota, farinha de castanha, farinha de grão de 5% de confiança dos dados, de acordo com ANOVA.
bico, farinha de quinoa e farinha de tremoço, e avaliar suas influências Em relação ao parâmetro de cromaticidade (a*), observaram-se
nas características físicas dos pães resultantes. diferenças significativas (p≤0,05) nos pães com farinhas de alfarroba,
bolota, castanha e tremoço quando comparados ao pão controle. Os
MATERIAIS E MÉTODOS pães com farinha de grão-de-bico e quinoa não apresentaram
significância (p<0,05) ao nível de 5% de confiança dos dados, de acordo
• Elaboração dos Pães com ANOVA para a coordenada a*. Verificou-se que as formulações
Foi preparada uma formulação controle (amido de milho, farinha de com farinha de alfarroba, bolota e castanha apresentaram-se na região
arroz, óleo, açúcar, fermento, Wellemce® glúten free, sal e água) e do vermelho, que corresponde a valores positivos para a coordenada a*.
formulações alternativas, com incorporação de farinha de quinoa, Relativamente à coordenada b*, todos os pães apresentaram diferenças
alfarroba, castanha, grão de bico, bolota e tremoço, substituindo em significativas (p≤0,05), comparados ao pão controle, embora os pães
50% ou 100% a farinha de arroz na da formulação controle. com farinha de bolota, castanha e quinoa não tenha apresentado
diferença entre os pães com substituição parcial (50%) e integral
• Avaliação das caracteristicas fisicas do pão (100%). Todos os pães produzidos ficaram situados na região do
Cor do miolo - A análise instrumental da cor foi efetuada no miolo dos amarelo, com destaque para os com farinha de alfarroba e tremoço
pães, com recurso a um colorímetro (Minolta®, CR400), seguindo o (valores positivos e maiores na coordenada b*). As diferenças
sistema de cor no espaço L* a* b* - CIELab. observadas nas tonalidades dos pães, pode estar relacionado com as
reações de Maillard e caramelização no final da cozedura.
Análise de Textura - A análise da textura da massa e do pão foi
realizada em triplicado, com recurso a um texturómetro TA.XT2i.plus • Análise de Textura
(Stable Micro Systems, UK). Nos testes efetuados ao pão, foi utilizada Verificou-se que os pães com farinha de bolota, grão-de-bico e quinoa
uma sonda de 25 mm de diâmetro (P/25). Realizaram-se pelo menos 4 apresentaram maior firmeza que o pão Controle. Quanto a coesividade
penetrações, com uma velocidade de 1 mm.s-1, em cada fatia de pão, todos os pães apresentaram valor inferior ao pão controle. Este fato
cortada com 2 cm de altura. Foram obtidos texturogramas de força podem estar relacionados com a firmeza do pão e maior quantidade de
versus tempo, a partir dos quais se determinaram os seguintes farinha adicionada. Os pães que apresentaram coesividade inferior
parâmetros: firmeza (N) e coesividade (adimensional) dos pães. foram de fato os pães que mais se esfarelavam, o que está associado a
um teor de água inferior ou a um teor de farinha superior,
Atividade de água - As medições da atividade da água do miolo do pão respetivamente, que proporcionaram massas sem consistência.
foram efetuadas após o arrefecimento das amostras de pão, através do
equipamento HygroPalm aw (Rotronic, UK), sendo realizadas à • Análise da atividade de água (aw) do miolo do pão
temperatura constante (20 °C). Verificou-se que a atividade da água (aw), ao fim de duas horas de
produção, no miolo dos pães foi de aproximadamente de 0,97, exceto
• Análise estatistica para os pães com farinha de bolota (0,93). Observou-se uma diminuição
A análise de variância (ANOVA) foi conduzida nos dados para verificar da disponibilidade de água em todos os pães após 24hs. Estes resultados
se existiam diferenças significativas entre os tratamentos (p <0,05), e foram corroborados por vários autores (7), que ao produzirem pão de
foi conduzido o teste de Tukey ao nível de 5% para identificar arroz, amido de milho e caseinato de sódio verificaram que após
diferenças entre as amostras. 24horas a disponibilidade de água também diminui em todos os pães.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
126
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A – D
Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais (sete e dez dias), percebe-se uma menor contagem de bolores
diferem estatisticamente para uma mesma variável ao longo do e leveduras para a amostra com Lpe 129, o que é desejável
tempo (p < 0,05). * Em uma linha, a presença de um asterisco quanto a vida de prateleira do produto, já que bolores são os
denota diferenças estatísticas (p < 0,05). principais deterioradores de pães.
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Antonio Silva1, Tiago Santos1, Gizele Cruz2, Sabrina Vieira1, Fernanda Dantas2, Juliane Carvalho3
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 3. Percentual das zonas de rejeição, indiferença e (2) FELTES, M. M. C.; OLIVEIRA, D. de; BLOCK, J. M.;
aceitação para o atributo de sabor de sorvete alcoólico com NINOW, J. L. The Production, Benefits, and Applications of
caramelo de cajá. Monoacylglycerols and Diacylglycerols of Nutritional Interest.
100 91 94 Food and Bioprocess Technology. v. 6. p-17-35. 2013.
80
60 (3) GONDIM, P. J. S. et al. Qualidade de frutos de acessos de
%
A B
A (25%) e B (50%)
Doçura
Sabor de Cachaça B
A
Sabor de Cajá
0 2 4 6 8
A (25%) e B (50%)
4. CONCLUSÕES
5. REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rafael de Sousa1, Celso Gonçalves1, Daniel Campelo2. 1 Graduando em Tecnologia de Alimentos. IFMA, Campus
Codó. 2 Docente de Tecnologia de Alimentos. IFMA, Campus Codó. Email: rcs_118@hotmail.com.
131
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Os baixos valores deste trabalho podem ser devido a ação seuqestrante melancia como a FMB se mostrou uma alternativa promissora para
da pectina sobre a água. este fim e podendo até ser utilizado em outras pesquisas envolvendo
O teor cinzas encontrado nas formulações do doce ficaram entre 1,19 doces.
e 1,94%. Lima (1) que encontrou 0,83% na entrecasca da melancia e
9,97% na farinha da entrecasca da melancia. Santana e Oliveira (2) REFERÊNCIAS
encontraram valores abaixo do atual trabalho na casca e polpa da 1. LIMA, J. P. Produção de farinha da entrecasca de melancia
melancia, sendo 0,58 e 0,22%, respectivamente. Esses valores destinada a formulações de biscoitos. 2013. 70 f. Dissertação
diferentes podem ser explicados de acordo com as condições de (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade
plantio e armazenamento do fruto. Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa.
Os altos valores de proteínas se devem a utilização de leite e FMB, 2. SANTANA, A. F.; OLIVEIRA, L. F. de. Aproveitamento da casca
podendo estes resultados serem corroborados por trabalhos como de de melancia (Curcubita citrullus, Shrad) na produção artesanal de
Torres et al (6), Moreira et al (7) e Couri e Giada (8). Já Guimarães e doces alternativos. Alimen. e Nutri., Araraquara, v. 16, n. 4, p. 363-
colaboradores (9) encontraram um teor menor de proteínas na farinha 368, out – dez, 2005.
da entrecasca da melancia (1,2%). 3. CARRAZZA, L. R.; ÁVILA, J. C. C. e; SILVA, M. L. da. Manual
O teor de lipídeo dessa pesquisa vai de 5,57 a 13,5%, o que pode ser tecnológico de aproveitamento integral do fruto do babaçu. 2. ed.
caracterizado devido a utilização de leite e coco ralado na sua Distrito Federal: ISPN, 2012.
elaboração. Silva et al (10) apresenta uma média da gordura de leite cru 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
congelado de 3,66%, já Macêdo (11) apresentou uma média de 3,05 análise de alimentos. 5. ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.
para leite UHT zero lactose. Chim et al (12) obteve valores menores de 1020 p.
lipídeos em seu doce em massa de morango (0,47 – 0,51%), já que o 5. BRASIL. Resolução RDC nº 360, 23 de dezembro de 2003.
mesmo não levava leite em sua composição. O coco ralado possui um Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
teor lipídico de 4,20%, de acordo com Fujita e Figueroa (13). Couri e Publicada em DOU nº 251, de 26 de dezembro de 2003. Disponível
Giada (8) relatam que FMB apresenta um teor de 0,27% de lipídeos. em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/inspecao/produtos-
Assim como o trabalho de Santana e Oliveira (2) que apresentou teor de vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
gordura na casca e na polpa da melancia valores de 0,30 e 0,06%, bebidas/resolucao-rdc-no-360-de-23-de-dezembro-de-2003.pdf/view>.
respectivamente. Portanto, tanto a FMB como a entrecasca não Acesso em 19 de julho de 2019.
poderiam influir de forma significativa na gordura do produto deste 6. TORRES, E. A. F. S. et al. Composição centesimal e valor calórico
trabalho. de alimentos de origem animal. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
Os altos valores de carboidratos podem ser devido ao teor de FMB v.20 n.2, maio/ago. 2000.
utilizado nas formulações, já que se trata de um produto amiláceo e o 7. MOREIRA, K. M. M. et al. Produção de doce de leite com teor
edulcorante empregado nas formulações possui baixo teor. A reduzido de lactose por β-galactosidase. Rev. Acad., Ciênc. Agrár.
formulação 3 apresentou valor próximo ao encontrado por Couri e Ambient., Curitiba, v. 7, n. 4, p. 375-382, out./dez. 2009.
Giada (8), sendo 62,66% na farinha do mesocarpo de babaçu. Já Pavlak 8. COURI, M. H. de S.; GIADA, M. de L. R.. Pão sem glúten
et al (14) apresenta valores entre 63,75 e 71,29% de amido no coco adicionado de farinha do mesocarpo de babaçu (Orbignya phalerata):
babaçu. Esses valores podem corroborar a influência da FMB utilizada avaliação física, química e sensorial. Rev. Ceres, Viçosa, v. 63, n. 3,
no doce, sendo que na F15 foi utilizada uma porcentagem menor da p. 297-304, maio – junho, 2016.
farinha, já na F3 foi a maior porcentagem, tanto de amido como de 9. GUIMARÃES, R. R. et al. Bolos simples elaborados com farinha
edulcorante. da entrecasca de melancia (Citrullus vulgaris, sobral): avaliação
Quanto ao valor calórico, a média geral das formulações foi de química, física e sensorial. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
433,756. Carraza e colaboradores (3) relata que o valor calórico da 30(2): 354-354 363, abr.-jun. 2010.
farinha de mesocarpo de babaçu (FMB) é de 315,57kcal/100g, tendo, 10. SILVA, M. A. P. da et al. Qualidade do leite na indústria de
portanto, influência siguinificativa no resultado final do doce obtido. laticínios. Rev Inst Adolfo Lutz. 2010; 69(1):23-28.
Santana e Oliveira (2) produziram diferentes tipos de doces com a 11. MACÊDO, M. A. B.. Avaliação físico-química de leite UHT
entrecasca de melancia e obtiveram uma boa aceitação sensorial, zero lactose comercializado na cidade de Natal/RN. 2018. 44 f.
constantando que o uso dessa matéria-prima culturalmente Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal
desperdiçada é viável economicamente. Assim como o trabalho das do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento
autoras, todas as características do presente trabalho se apresentam de Nutrição. Natal, RN, 2018.
viáveis e o produto final é ainda mais nutritivo, pois foi obtido de 12. CHIM, J. F. et al. Doces em massa light de morango:
aproveitamento de resíduo e teve um enriquecimento em sua caracterização físico-química e sensorial. Alim. Nutr., Araraquara
composição, além de ter o teor de açúcar reduzido. v.17, n.3, p.295-301, jul./set. 2006.
O doce de entrecasca de melancia com FMB se encaixa ainda dentro 13. FUJITA, A. H.; FIGUEROA, M. O. R. Composição centesimal e
da legislação preconizada na Resolução Normativa n.º 9, de 1978 (15), teor de β-glucanas em cereais e derivados. Ciênc. Tecnol. Aliment.,
tanto em relação à definição de doce em massa quanto à classificação Campinas, 23(2): 116-120, maio/ago, 2003.
em relação ao fruto utilizado e sua consistência. 14. PAVLAK, M. C. de M. et al. Aproveitamento da farinha do
mesocarpo do babaçu (Orbignya martiana) para obtenção de etanol.
CONCLUSÃO Evidência, Joaçaba, v. 7, n. 1, p. 7-24, jan./jun. 2007.
A produção de doce de entrecasca de melancia com adição de farinha 15. BRASIL. Resolução RDC n° 9, de 11 de dezembro de 1978.
de mesocarpo de babaçu mostrou-se viável, além de sua contribuição Resolução n° 52/77 da antiga CNNPA (Comissão Nacional de
para uma dieta saudável. Notadamente os ingredientes utilizados na Normas e Padrões para Alimentos). Órgão emissor ANVISA -
produção influíram na sua composição proximal. E essas adições Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:
contribuíram para uma qualidade nutricional do doce, especialmente a <http://www.anvisa.gov.br/anvisalegis/resol/09_78_doces.htm.>.
farinha do mesocarpo de babaçu que agiu não somente na textura Acesso em 20 de jul de 2019.
como no poder adoçante e valor calórico, assim tanto a entrecasca da
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
(1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
E-mail: sheylaamaral82@gmail.com
Segundo Gutkoski e Pedo (2001) (3), a origem da aveia não Óleo de girassol 7
é bem clara, acredita-se que teria surgido na Ásia e no Oriente Médio,
entre os anos 1000 e 1500. Era utilizada na alimentação de cavalos e * à gosto.
rotação de culturas. A espécie mais cultivada é a Avena sativa Fonte: Elaborado pelos autores.
(branca), contém aproximadamente 11% de fibra alimentar total, 15%
de proteína, entre 5 e 9% de lipídeos, 1,9% de minerais e carboidratos
variando de 60 a 71%. Realizou-se a mistura da farinha de aveia com o requeijão
cremoso para homogeneização do recheio. A massa foi modelada
Com a globalização, as mudanças no estilo de vida, o manualmente e envolta por requeijão e empanada em ovo batido e
aumento da concorrência, e a elevação dos níveis de exigências por farinha de rosca repetindo-se esse processo três vezes para conferir ao
parte dos consumidores por alimentos saudáveis, as empresas vem produto uma textura palatável e firme de modo que o recheio ficasse
dando atenção à inovação em produtos e processos de produção e o completamente envolto. O croquete foi submetido ao processo de
aperfeiçoamento dos já existentes tornando essas ações em fritura em fogo médio por cerca de 2 minutos e retirado para remoção
necessidades reais. O investimento em desenvolvimento de produtos e do excesso de óleo.
a implementação de inovações tecnológicas na indústria de alimentos
resultam não só no aumento da competitividade, mas também em
melhorias na eficiência, produtividade e lucratividade (FOODS, 2017)
(4). Resultados e discussão
Tendo em vista as características acima descritas, este
Após a finalização do croquete, observou-se que mesmo
trabalho teve por objetivo a elaboração de um croquete de camarão
não contendo ovos ou outro agente ligante ao camarão, obteve-se uma
utilizando a farinha de aveia como substituta da farinha de trigo.
mistura homogênea devido à farinha de aveia e ao requeijão utilizado.
Também pode-se observar que após a fritura o croquete não teve sua
estrutura rompida, não comprometendo a camada externa evitando
assim a exposição do recheio. Os croquetes antes e após a fritura
Materiais e métodos podem ser observados na Figura 1 (A e B).
A elaboração do croquete ocorreu na Planta Piloto de Figura 1. (A) Croquetes antes da fritura. (B) Croquetes fritos.
Carnes e Pescado do IFCE campus Limoeiro do Norte. Incialmente o
camarão foi descongelado (5 °C por 8 horas) em seguida foi
descabeçado e submetido a cocção por 15 minutos em fogão A B
comercial, posteriormente foi descascado e cortado em pedaços
pequenos de aproximadamente 2 cm. Em seguida foi refogado em óleo
de girassol juntamente com cebola, alho, pimenta e sal, após dourar
permaneceu por 5 minutos em repouso. A proporção utilizada dos
ingredientes está relacionada na Tabela 1.
133
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusões
Referências
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
e Lf 141 apresentaram os menores valores de pH observados. Figura 1 – Análise de Componentes principais na seleção de
Nesse mesmo período, com exceção da amostra Controle, cepas de Lactobacillus spp. para emprego em produtos
todas apresentaram queda significativa (p < 0,05) no pH. Após fermentados de panificação.
72 horas, observou-se que ambas as amostras apresentaram
valores estatisticamente iguais (p > 0,05).
Alfonzo et al., (10) ao avaliar a capacidade de
acidificação de cepas de BAL isoladas de farinha de trigo,
identificou após 6 horas de teste, valores de pH < 5,00 para 11
das cepas estudadas, o que também foi observado neste estudo
para as amostras inoculadas com as cepas Lpe 129, Lf 139 e
Lf 141 no mesmo período. Ainda no estudo de Alfonzo et al.,
(10) após 24 horas de acidificação, os autores observaram
valores de pH < 4,00. Comportamento semelhante foi
observado para as amostras inoculadas com Lactobacillus
spp., após 24 horas.
Na natureza, uma grande diversidade de BAL
através da fermentação e acidificação do fermento produzem
EPS, que influenciam diretamente na viscosidade,
gelatinização e nas propriedades reológicas da massa, bem
como, os baixos valores de pH exercem um impacto direto CONCLUSÃO
sobre os componentes responsáveis pelo desenvolvimento da De acordo com os testes realizados, sugerem-se
estrutura da massa, tais como o glúten, o amido, a as amostras Lf 139 e Lpe 129 para aplicação na elaboração de
hemicelulose, e consequentemente, sobre a estrutura do pão, produtos de panificação fermentados, já que seu destaque
atuando diretamente na maior vida de prateleira do produto. dentre as demais na produção de EPS irão contribuir com as
(11). A atividade proteolítica durante a fermentação libera características reológicas do produto, além do poder de
aminoácidos que contribuem nas características de aroma e acidificação que é crucial na determinação da microbiota do
sabor do pão, contudo, a degradação proteolítica pode afetar as fermento natural durante as etapas de propagação.
características reológicas da massa (12). A tabela 2 apresenta
os resultados obtidos para produção de EPS e atividade REFERÊNCIAS
proteolítica. 1. CAUVAIN, S. P. Bread: Breadmaking Processes.
Encyclopedia of Food and Health, Academic Press, p. 478-
Tabela 2 – Valores médios ± desvio-padrão de 483, 2016.
exopolissacarídeo (EPS) e avaliação qualitativa de atividade 2. WANG, H. et al. Quality of White Bread Made From
proteolítica de cepas de Lactobacillus spp. Lactic Acid Bacteria Enriched Dough. Journal of Food
Cepas EPS (mg/l) Proteólise* Processing and Preservation, v. 36 p. 553-559, 2012.
Lf 56 0,33±0,03a - 3. MINERVINI, F. et al. Robustness of Lactobacillus
Lpc 106 0,16±0,03b - plantarum starters during daily propagation of wheat flour
Lpe 129 0,20±0,01b - sourdough type I. Food Microbiology, v. 27, p. 897-908,
Lf 139 0,20±0,06b - 2010.
Lf 141 0,13±0,01b - 4. STEFANELLO, R. Produção de panetone utilizando
a – b Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais bactérias ácido láticas e leveduras isoladas de fermento
diferem estatisticamente (p < 0,05). * Atividade proteolítica natural liofilizado. Tese (doutorado) - Centro de Ciências
considerada (+) quando detectado halo ≥ 1mm. Lf 56: Rurais, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia
Lactobacillus fermentum 56; Lpc 106: Lactobacillus dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria - RS,
paracasei 106; Lpe 129: Lactobacillus pentosus 129; Lf 139: 2018.
Lactobacillus fermentum 139; Lf 141: Lactobacillus 5. HADAEGH. H. et al. The Impact of Different Lactic Acid
fermentum 141. Bacteria Sourdoughs on the Quality Characteristics of Toast
Bread. Journal of Food Quality, 2017.
As amostras apresentaram valores (p < 0,05) de 6. TODOROV, S. D. et al. Lactobacillus plantarum:
produção de EPS que variam de 0,13±0,01 a 0,33±0,03, sendo Characterization of the Species and Application in Food
a amostra Lf 56 a com maior valor 0,33±0,03 e a Lf 141 com Production. Food Reviews International, p. 205-229, 2010.
o menor valor 0,13±0,01, as amostras Lpc 106, Lpe 129, Lf 7. GARCIA, E. F. et al. Identification of Lactic Acid Bacteria
139 e Lf 141 apresentaram valores (p < 0,05) estaticamente in Fruit Pulp Processing Byproducts and Potential Probiotic
semelhantes. Properties of Selected Lactobacillus Strains. Frontiers in
A partir dos resultados obtidos nos testes, foi Microbiology, v. 7, p. 1-11, 2016.
realizada a análise de componentes principais apresentada na 8. VENTIMIGLIA; G. et al. Codominance of Lactobacillus
Figura 1. De acordo com a análise da figura 1, a amostra Lf 56 plantarum and obligate heterofermentative lactic acid bacteria
apresenta destaque na produção de EPS, como evidenciado during sourdough fermentation, Food Microbiology, v. 51, p.
anteriormente, enquanto que a amostra Lpc 106 apresentou-se 57-68, 2015.
como a que menos produziu EPS e com menor capacidade de 9. VERMELHO, A. B. et al. Detection of extracellular
acidificação dentre as demais. Já as amostras Lf 139, Lpe 129 proteases from microorganisms on agar plates. Mem. Inst.
apresentaram-se como as melhores cepas dentre as demais Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro , v. 91, n. 6, p. 755-760,
testadas já que apresentaram melhor desempenho na 1996.
capacidade de acidificação e de produção de EPS. Como todas 10. ALFONZO. A. et al. Diversity and technological
as cepas apresentaram atividade proteolítica negativa, não se potential of lactic acid bacteria of wheat flours, Food
considerou esse teste para análise. Microbiology, v. 36 p. 343-354, 2013.
11. VOGEL, R. F.; EHRMANN, M. A.; GÄNZLE. M. G.
Development and potential of starter lactobacilli resulting
from exploration of the sourdough ecosystem. Antonie van
Leeuwenhoek v. 81 p. 631–638, 2002
12. THIELE. C.; GÄNZLE. M. G.; VOGEL. R. F.
Contribution of Sourdough Lactobacilli, Yeast, and Cereal
Enzymes to the Generation of Amino Acids in Dough
Relevant for Bread Flavor. Cereal Chemistry, v. 79 p. 45-51,
2002.
136
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Isamara Carvalho 1, Marina Leal 2, Stella Medeiros 3, Rosângela Oliveira4, Marcia Medeiros 5, Beatriz Dantas 6
1
Graduada em Nutrição – UFPI / CSHNB
2
Graduada em Nutrição – UFPI / CSHNB
3
Docente do curso de Nutrição - UFPI / CSHNB
4
Especialista em Ciência dos Alimentos – UECE (rosangelaalimentos@gmail.com)
5
Mestre em Ciências e Tecnologia de Alimentos – IFCE
6
Graduanda em Engenharia de Alimentos - UFC
Atributos Chás
(200ml de chá) com adição de coentro desidratado (5g de pó de coentro) Amostra 1 Amostra 2
e a amostra 2, uma infusão de erva cidreira sem a adição do pó do
Cor 7,66a ±1,09 1,09ª ± 1,48
coentro, aproximadamente 80ºC. As bebidas foram deixadas em infusão
dentro de um bêquer tampado com vidro de relógio por 5 minutos e Sabor 7,53ª ± 1,57 7,06ª ± 1,62
depois transferidas para garrafa térmica. Aroma 7,55ª ± 1,21 7,66ª ± 1,11
textura 7,63ª ± 1,26 7,62ª ± 1,26
Análises Físico-químicas
Impressão 7,82ª ± 1,45 7,35ª ± 1,45
Para as análises físico-químicas utilizou-se aproximadamente 500 mL de
Resulatdos aprensentados em valores médios ± desvio padrão. Médias seguidas pelas mesma letra, na mesma
cada formulação para compor as amostras. Estas foram avaliadas em linha, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
triplicata para realizar o cálculo das médias e desvio padrão dos
resultados. A metodologia utilizada para as análises de umidade, cinzas,
pH e acidez foram descritas pelo Instituto Adolfo Lutz (7).
137
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
Diante do exposto, conclui-se que o chá de coentro desidratado
saborizado com erva cidreira apresenta características físico-químicas
de acordo com os parâmetros de padrão de identidade para chás. O
resultado da análise sensorial dos chás demonstra que não houve
diferença significativa na aceitação das amostras de chás de coentro
desidratado saborizado com erva cidreira.
REFERÊNCIAS
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11. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
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solúveis, constantes no anexo desta Portaria. Diário Oficial
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sensorial de uma bebida à base de chá verde, gengibre,
hortelã e abacaxi. ANAIS SIMPAC, v. 8, n. 1, 2017.
138
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A gastronomia molecular, examinada inicialmente e extensivamente Para a produção do mousse, foram utilizados 100g de chocolate meio
pelo químico francês Hervé This e pelo físico húngaro Nicholas Kurti, amargo, 40 mL de infusão de capim santo, 0,04 mL de óleo essencial
hoje, trata-se de uma disciplina científica que intenta analisar ou criar de capim santo comercializado na capital cearense, 40 ml de kombucha
mecanismos e fenômenos químicos e físicos que ocorrem durante o resultante da primeira fermentação com o pH 2.93. (9)
manuseio e o preparo de alimentos, utilizando essas técnicas e Inicialmente, o chocolate foi cortado até que cada pedaço ficasse com
mecanismos com o escopo de oferecer novas sensações e sentimentos aproximadamente 10 g. O mesmo foi derretido no fogo em uma panela
através da alimentação (1). inox e utilizado uma espátula de silicone para auxiliar no derretimento
Desse modo, é importante também exemplificar e conceituar duas do mesmo. Quando derretido, o chocolate foi colocado em um bowl
técnicas usadas para a produção do mousse, quais sejam, a formação de que, previamente, se encontrava sobreposto no bowl médio que
emulsões e espumas, a emulsão é uma mistura de gordura com água, a continha água e gelo para realizar o banho de gelo. A mistura foi agitada
partir da movimentação desses elementos, já a espuma, diz respeito a com o auxílio de um fouet de silicone para incorporar ar à mesma. Em
inserção de ar em uma substância sólida ou líquida, formando uma seguida, a infusão de capim santo foi adicionada juntamente com o óleo
estrutura aerada, geralmente com bolhas de ar em seu interior (1). essencial. A adição desses dois elementos -infusão de capim santo e o
Nesse sentido, é oportuno aludir acerca de uma preparação famosa óleo essencial- foi realizada prévio a inclusão da kombucha para que
criada pelo cientista Hervé This: o mousse de chocolate obtido a partir atuassem no auxílio ao resfriamento do chocolate até 28°C, temperatura
da emulsão do chocolate, mais precisamente da manteiga de cacau na qual se mostra, em literatura, mais adequada para a sobrevivência
presente no mesmo, com algum líquido, através do aquecimento inicial dos microrganismos que compõem a bebida. (6,3) Ao chegar à
do chocolate com o líquido, e o posterior resfriamento da mistura em temperatura indicada anteriormente, a kombucha foi acrescentada e a
um banho de gelo com batimento constante para a formação de uma mistura resultante foi mexida de modo manual com o auxílio do fouet
espuma, com a devida inserção de bolhas de ar através do movimento até que fosse obtido o produto desejado.
(1). Quanto à análise do produto foi realizado a aferição de pH, dos sólidos
Um produto que vem ganhando interesse é a Kombucha, que se trata de solúveis e da acidez titulável segundo os métodos físico-químicos para
uma bebida refrescante e agridoce obtida pela fermentação alcoólica e análises de alimentos do instituto Adolfo Lutz. Para o primeiro e para o
acética da infusão de folhas da Camellia sinensis adicionada de segundo foi diluído 1g da amostra em 10g de água destilada, para a
açúcares e uma película de bactéria acéticas e leveduras. Sua última análise citada foi utilizada 2g de amostra para 50g de água
fermentação é dividida em duas etapas, a primeira de natureza aeróbica destilada. (9)
e a segunda de natureza anaeróbica (2,3). Logo, é oportuno demonstrar As provas foram realizadas por oito pessoas que trabalhavam no
a principal causa do consumo milenar da bebida, em virtude de suas laboratório de frutos tropicais do departamento de engenharia de
propriedades benéficas à saúde humana, tendo em vista apresentar alimentos da Universidade Federal do Ceará, cuja participação se deu
bactérias, leveduras e fungos benéficos para o funcionamento do de forma voluntária.
sistema digestivo humano (4). Dentre as funcionalidades podemos
destacar as propriedades antioxidades, o auxílio no funcionamento da RESULTADOS E DISCUSSÃO
flora intestinal e no fortalecimento do sistema imune, como também
apresenta função antimicrobiana (5, 6). O produto obtido possuía um sabor de predominância doce, mas de
Outrossim, o capim santo também apresenta qualidades funcionais. pois cunho levemente amargo devido ao chocolate utilizado possuir o teor
possui ação sedativa, sendo usado para alívio de cólicas uterinas e de 50% de cacau. O sabor do capim santo pode ser notado de forma
intestinais (7) e, em seu óleo essencial, é, também, encontrado o mais intensa no retrogosto e notas herbais persistem no palato, se
composto mirceno, responsável pela sua ação analgésica (8). demonstrando presente logo após o gosto do chocolate.
Diante do exposto, o presente trabalho visa analisar a possibilidade de, Quanto à textura, ao colocar na boca sentia-se, inicialmente, uma
através da técnica utilizada por Hervé This para produzir o mousse, consistência aerada, características que se mantém do mousse original
criar um mousse de chocolate potencialmente probiótico e funcional, ao ao se utilizar água,(10) e logo em seguida densa. No que diz respeito à
utilizar como líquido base para emulsionar o preparo, a kombucha de aparência, ficou caracterizada por um marrom intenso e brilhante
primeira fermentação, a infusão e o óleo essencial do capim santo. (Figura 1).
O mousse apresentou pH de 4,88, configurando um produto ácido, que
é possível identificar, também, no palato mas de forma branda. Os
MATERIAL E MÉTODOS sólidos solúveis é de 4°Brix e a acidez titulável é de 0,6838%.
Além dos benefícios da kombucha, o mousse apresenta baixo valor
Para a realização da kombucha foi utilizado água mineral levada ao calórico, comparado aos mousses tradicionais, que levam creme de leite
fogo em panela inox até que levantasse fervura. Posteriormente, foi na sua base, tendo em vista o único insumo com valor calórico relevante
adicionado à água 1% g/L de chá verde na qual ficou em infusão por 3 dessa preparação é o chocolate, que é aproveitado ao máximo em seu
minutos. Findado o tempo necessário, o chá foi passado em peneira para sabor e valor nutricional. (1)
separar os componentes sólidos do líquido e foi adicionado 7,5%g/L de Desse modo, o preparo se apresenta como uma alternativa eficaz para
açúcar ao líquido enquanto que os sólidos foram descartados. Apenas dietas hipocalóricas, atendendo à demanda mercadológica atual, em que
quando chegou a temperatura entre 25-30°C - intervalo de temperatura muitas pessoas buscam um estilo de vida mais saudável e sem adição
ideal para a sobrevivência e reprodução da simbiose- que a colônia de produtos industrializados e de altíssimo índice calórico.
inicializadora foi inoculada na quantidade de 10%g/L. Findado este
processo, o produto da mistura foi adicionado a um recipiente de vidro
que foi tapado com material poroso que se manteve fixado à borda por
uma liga de elástico. O produto foi mantido em local escuro com
temperatura entre 25-30°C até que atingiu o pH de 2,93, cerca de 5 dias
de fermentação. (9)
Ademais, para a infusão da planta capim santo foi utilizado água filtrada
e 10%g/L de capim santo in natura adquirido no comércio local.
139
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fonte: Os autores.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
140
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Maria Pimentel1, Érica sousa1, Hellida Nascimento1, Jessica Rodrigues2, Ingrid Gonçalves3, Estefania
Fernandes Garcia3, Noádia Rodrigues3
noadia_priscila@hotmail.com.br
141
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
expandindo-se para todas as regiões do país. Devido a versatilidade de de origem vegetal, por si só, já apresentam uma redução de 14% neste
preparos que este ingrediente básico pode proporcionar, permitindo custo.
custos acessíveis a maioria da população.
Figura 2: Equação de predição do custo de tapiocas com base na
figura 1: Tapiocas comercializadas em João Pessoa-PB, classificadas pelos composição de macro nutrientes e colesterol
tipo de recheio, proporção do peso da porção, macro nutrientes e custo.
Custo = - 0,14 + 0,054 x [proteína (g)] + 0,015 x [lipídios (g)]
Carne de sol, queijo, presunto, ovo, frango, calabresa + 0,007 x [carboidratos (g)] - 0,001 x [colesterol(mg)]
Carne de charque, queijo, presunto, ovo, frango, calabresa
Queijo coalho
Ovo
Ovo, tomate e cebola CONCLUSÃO
Manteiga
Coco A partir destas informações pode-se concluir que as tapiocas
Banana consumidas na capital paraibana podem ter seu custo predito a partir de
Romeu e Julieta (goiabada e queijo) sua composição em macro nutrientes. Para minimizar os custos da
Queijo, presunto e ovo tapioca na elaboração de cardápios, é possível padronizar as proporções
Queijo, presunto e calabresa de ingredientes fontes de proteínas, sem contudo, alterar as
Queijo, banana e açúcar caramelado características e a aparência final deste prato. Isto é particularmente
Queijo coalho e ovo importante no planejamento de cardápios.
Queijo mussarela e ovo
Queijo e catupiry
Queijo catupiry e ovo REFERÊNCIAS
Queijo e calabresa
Prestígio 1. BEZERRA, C. Dos Passos de Gazela de Iracema ao Rastro do
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Italiana com ovo
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Frango catupiry
Frango e ovo 4. MARTINS, Uiara; COSTA, Carlos; BAPTISTA, Maria Manuel. A
Coco, queijo, calabresa, catupiry e ovo valorização da gastronomia tradicional no contexto turístico: o caso da
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Carne de sol e queijo coalho
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formação da sua culinária, também utiliza a tapioca como ingrediente Eletrônica Mutações. 8, 14, 355-361, 2017.
em alguns de seus acompanhamentos (12). Na Região Nordeste, a
tapioca ganhou título de patrimônio imaterial e cultural, desde o ano de 15. SANTOS, M. C. L.; SHINOHARA, N. K. S.; PIMENTEL, R. M.
2006 e pode ser encontrada nos mais diversos formatos e sabores, pela M.; PADILHA, M. R. F. Rotulagem da goma de tapioca. Journal of
variação dos ingredientes presentes no recheio (13, 15). Environmental Analysis and Progress. 3, 3, 330-338, 2018.
Tendo em vista a presença de muitos ingredientes de origem animal nas
composições das tapiocas comercializadas em João Pessoa-PB, o
colesterol apresentou um poder de influência de 14% na formação do
custo. Isto revela que tapiocas produzidas unicamente com ingredientes
142
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1 Graduanda em Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE – Brasil, e-mail:
geane.m.andrade@gmail.com
2 Dra. em Biotecnologia Industrial, professora do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFCE – campus
Baturité, CE – Brasil
3 Bacharel em Gastronomia, técnico de laboratório do Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE – Brasil.
Licenciatura em Química, Instituto Federal do Ceará – campus Iguatu, CE – Brasil
143
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
144
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Camyla Alexandre1, Fernando Menezes2, Francisco Santos1, Kamila Santos3, Liana Velho4, Lucicleia
Vasconcelos5
1
Graduando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
2
Doutorando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
3
Mestranda. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
4
Mestre. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
5
Professora Doutora. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
E-mail: cleiabarrosufc@gmail.com
O tamarindo (Tamarindus indica L.), pertencente à família As amostras de polpa de tamarindo nas formas in natura e
liofilizada diferiram estatisticamente em relação a todos os parâmetros
Fabaceae, é frequentemente encontrado em regiões de clima tropical e
subtropical no Brasil. Apesar de bem adaptado, ainda é pouco físico-químicos avaliados estando estes valores dispostos na Tabela 1.
explorado e boa parte de sua produção é destinada ao consumo interno
Tabela 1 - Parâmetros médios obtidos na caracterização físico-química
(1, 2). É um fruto disperso nas áreas tropicais e apreciado nas regiões
Norte e Nordeste do Brasil (3, 4), tendo facilidade para se adaptar a das polpas de tamarindo
regiões com o clima mais quente (5). É uma fruta rica em nutrientes e Análise Polpa in natura Polpa liofilizada
de alto valor energético. Contudo, os benefícios do seu consumo na Umidade 75,48±0,00a 4,53±0,07b
forma in natura são melhor assimilados, o que não acontece com Atividade de água 0,99±0,00a 0,25±0,04b
frequência, dado seu mais frequente consumo ocorrer em alimentos pH 2,92 ± 0,01a 2,62 ± 0,01b
processados (6, 7). Acidez 3,07 ± 0,04b 17,14 ± 0,12a
Uma das formas de conservar as propriedades naturais de um °Brix 14,33 ± 0,58b 73,33 ± 0,58a
alimento é a secagem, sendo a liofilização um desses processos. Ratio 4,67 ± 0,15a 4,28 ± 0,02b
Considerando o aspecto industrial, a desidratação de produtos é Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente
interessante por gerar economia energética (armazenagem sem a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
refrigeração), além de refinar e agregar valor comercial a um produto
comum (8, 9, 10). Na liofilização a água ou substância volátil é retirada A polpa de tamarindo na forma in natura apresentou 75,48%
na forma de vapor do produto congelado, passando da fase sólida de umidade, mas, após a liofilização, esse percentual passou a ser de
diretamente para a fase gasosa (11). Dentre as várias vantagens deste 4,53%. O processo, portanto, ocasionou uma redução de 94% da
processo estão o fato da estrutura do produto adquirir característica umidade em comparação à polpa in natura. Maia (15) e Leal (16), ao
esponjosa, permitindo a reconstituição rápida, e a conservação do sabor avaliarem polpa de tamarindo in natura, encontraram valores menores
e da aparência fiel do produto natural (12). e maiores do que os encontrados neste trabalho,71,14% e 89,81%,
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a polpa respectivamente. Já para a polpa liofilizada, Maia (15) reportou
de tamarindo na forma in natura e liofilizada, de modo a avaliar a umidade de 2,63%, inferior ao encontrado neste estudo.
influência do processo de liofilização nas propriedades físico-químicas Quanto à atividade de água, a polpa de tamarindo in natura
do produto. apresentou 0,99 sendo considerada um produto perecível (Aw > 0,85)
de acordo com a classificação dada por Azeredo (17). A amostra da
MATERIAL E MÉTODOS polpa liofilizada apresentou um valor de 0,25. Este parâmetro influencia
significativamente na conservação do produto, justificando assim a
A polpa de tamarindo foi adquirida no comércio local da aplicação do processo de liofilização para minimizar o crescimento
cidade de Fortaleza - Ceará e os experimentos foram realizados no microbiano e as alterações químicas e enzimáticas.
Laboratório de Frutos e Hortaliças do Departamento de Engenharia de Houve redução do pH após a liofilização da polpa, passando
Alimentos (DEAL) da Universidade Federal do Ceará. de 2,92 para 2,62, ou seja, a amostra liofilizada mostrou-se mais ácida,
O processo de liofilização foi realizado em liofilizador Martin um resultado importante, uma vez que alimentos ácidos apresentam
Christ, modelo Beta 1-8 LD Plus. Previamente, 30 g da polpa foram capacidade inibidora de crescimento de microrganismos (18).
colocados em placa de petri, congelados em ultrafreezer (-86°C) e em Com relação à acidez total titulável, a polpa de tamarindo in
seguidas colocados nas bandejas do liofilizador, permanecendo nelas
natura (3,07) apresentou valor abaixo dos reportados por Fonsêca (19)
até a completa secagem.
Para a caracterização da polpa de tamarindo nas formas in (3,76) para polpas de tamarindos congeladas e comercializadas no
natura e liofilizada, foram realizadas análises de umidade, atividade de Estado de Rio Grande do Norte. Para a polpa de tamarindo liofilizada,
água, pH, acidez total titulável, sólidos solúveis totais, ratio e análise foi obtido um maior valor de acidez (17,14). O processo de liofilização
colorimétrica. A umidade foi realizada em balança de umidade, modelo possibilita um aumento da concentração de ácidos na amostra, devido a
Marconi ID50. A atividade de água foi medida através de analisador retirada de água pelo processo.
higrômetro Aqua-Lab, modelo 4TE. O pH foi determinado utilizando A média de sólidos solúveis totais foi de 14,33 ºBrix para a
um potenciômetro, conforme método descrito por AOAC (13). A
polpa in natura e 73,33 ºBrix para polpa de tamarindo obtida pelo
acidez total titulável (ATT) foi obtida por titulação com solução de
NaOH 0,1 mol/L e expressa como percentagem de ácido tartárico. Os processo de liofilização. Sousa et al. (20) encontraram 13,5 ºBrix para
sólidos solúveis totais (SST) foram determinados por leitura em polpa de tamarindo integral. O teor de sólidos solúveis totais é um
refratômetro digital AR200, Reichert Ophthalmic Instruments, e os importante fator de qualidade quanto ao sabor dos produtos, sendo
resultados expressos em ºBrix, segundo metodologia do Instituto usado como medida indireta do teor de açúcares, pois à medida que os
Adolfo Lutz (14). O ratio foi obtido pela razão entre os valores de SST teores de açúcares vão se acumulando na fruta, os teores sólidos
e ATT. As leituras colorimétricas, L*, a* e b*, foram realizadas em solúveis totais aumentam (21). O valor de ratio também sofreu elevação
colorímetro Colorquest/XE Hunterlab, e os resultados expressos de
após a secagem da polpa, apresentando média de 4,28 ± 0,02.
acordo com as coordenadas CIELab.
Os dados foram analisados estatisticamente através de análise Conforme apresentado na Tabela 2, as amostras de polpa de
de variância (ANOVA) usando o programa Statistica, versão 10, e as tamarindo in natura e liofilizada apresentaram diferença significativa
médias comparadas por meio do teste de Tukey, a 5% de significância. para os parâmetros L*, a* e b*. A polpa liofilizada apresentou o valor
145
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
mais elevado para o parâmetro L*, indicando que não houve 11. BOSS, E. A. Modelagem e otimização do processo de liofilização:
escurecimento durante o processo de secagem (22). aplicação para leite desnatado e café solúvel. 2004.107f. Tese
(Doutorado em Engenharia Química) - Faculdade de Engenharia
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em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
CONCLUSÕES Fortaleza, 2019.
A secagem por liofilização modifica as características físico 16. LEAL, K. L. Avaliação comparativa de componentes nutricionais
químicas da polpa de tamarindo e pode aumentar a estabilidade do entre polpas in natura e industrializadas de tamarindo (Tamarindus
produto garantindo assim sua disponibilidade fora do período de safra indica L.), procedentes de feiras e supermercados de São Luís – MA.
do fruto. São Luís, 2016. 52 f. (Monografia) - Graduação em Química Industrial.
Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2016.
REFERÊNCIAS
17. AZEREDO, H. M. C. Fundamentos de estabilidade de alimentos.
1. HAMACEK, Fabiana R. et al. Tamarindo do cerrado mineiro: 2.ed. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2012. 326 p.
caracterização física, físico-química, carotenóides e vitaminas.
Nutrire, v. 36, n. Suplemento, p. 69-69, 2011. 18. ORDÓÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos. Artmed, 2005.
2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – 19. FONSÊCA, P. A. Q. Análise físico-química de polpas de frutas e
MAPA. Cadeia produtiva de frutas. Agronegócios, v.7, f.102, 2007. avaliação dos seus padrões de identidade e qualidade. 2012. 60f.
Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio
3. MESQUISTA, R. V. S. C.; NETO, A. F.; TEIXEIRA, F.; SILVA, V. Grande do Norte, Natal. 2012.
O. Elaboração, análise físico-química de aceitação de iogurte com
adição de tamarindo "doce" (Tamarindus indica L.). Revista Brasileira 20. SOUSA, Sonara de França et al. Liofilização da polpa de tamarindo
de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v. 14, n. 4, p.381- 387, (Tamarindus indica L.) para obtenção de sucos reconstituídos. 2018.
2012. 169f. Tese (Doutorado em Engenharia de Processos) - Universidade
Federal de Campina Grande, Paraíba, 2018.
4. VASCONCELLOS, B. M.; MENEZES, H. C. Caracterização do
tamarindo (Tamarindus indica L.) e estudo da extração e estabilidade 21. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós–colheita de frutas e
da polpa. In: XI Congresso Interno de Iniciação Científica, hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785 p.
Universidade Estadual de Campinas, Paraná, 2003.
22. CAVALCANTE, C. E. B.; RODRIGUES, S.; AFONSO, M. R. A.;
5. SUDJAROEN, Y. et al. Isolation and structure elucidation of COSTA, J. M. C. Comportamento higroscópico da polpa de graviola
phenolic antioxidants from Tamarind (Tamarindus indica L.) seeds and em pó obtida por secagem em spray drier. Brazilian Journal of Food
pericarp. Food and Chemical Toxicology, v. 43, n. 11, p. 1673-1682, Technology, v. 21, p. 1-8, 2018.
2005.
146
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tapiocas coloridas com açafrão (Curcuma longa L.): com releitura em formatos de tabletes
Nilka Oliveira1, Márcia Medeiros2, Dorasílvia Pontes3, Yago Oliveira4, Márcia Pinheiro5, Maria da Silva6
147
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
148
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Todas as cepas têm um tronco em comum: vitis vinífera onde seus nas festas de casamento não minimizam o destaque do bolo que
genes sofrem mutações produzindo uma gama de variedades de uva diferentemente dos outros estados, Pernambuco apresenta uma
[1]. O vinho é oriundo do mosto da uva apresenta sabor, acidez, valor receita de origem inglesa, de massa em cor escura, feito com base de
alcóolico, taninos e açúcares existentes. A fermentação é uma etapa vinho, frutas secas e coberto com uma pasta de amêndoas e glacê
importantíssima na elaboração de um vinho, ocorre em duas fases branco, enriquecido com decorações de flores. Tendências da
distintas: a alcóolica e a maloláctica estas, capazes de gerar um vinho herança dos casamentos da realeza inglesa o bolo de noiva
de boa qualidade ao paladar [2]. Os vinhos tintos e fortalecidos como pernambucano reveste o Estado em tradição e cultura.” [11] Desta
o vinho do Porto em seu processo fermentativo inicial são acrescidos forma ao perceber a tradição do bolo de noiva para a gastronomia
o álcool vínico ou conhaque, que retarda a fermentação deixando o local e seu potencial cultural, torna-se relevante buscar estudos
vinho com alto teor alcóolico, denso e extremamente doce [3]. No através de pesquisas para embasar a função do vinho a esta iguaria na
entanto os vinhos tintos que atingem a fermentação final, seu açúcar percepção do sabor e conservação. Diante deste cenário o objetivo do
se transforma em álcool, originando o vinho tinto seco [4]. Na estudo é compreender a função do vinho tinto na maturação das
gastronomia uma refeição guarnecida de um bom vinho, tem a ação frutas, na potencialização do sabor e conservação do bolo de noiva
de contribui para uma boa digestão. Fonte de oligoelementos e pernambucano, símbolo da gastronomia no Estado de Pernambuco.
vitaminas, tem o poder de reduzir o colesterol. Apresenta em sua
composição flavonoides e polifenóis que inibem a oxidação do MATERIAL E MÉTODOS
colesterol LDL [5]. O cultivo da cana sacarina fez surgir no Estado
de Pernambuco uma diversidade cultural, ligada há costumes e O estudo foi desenvolvido através de uma abordagem com caráter
tradições, enraizados pela herança de diversos povos entre eles, os descritivo, realizado através de pesquisas de cunho bibliográfico, em
indígenas, africanos e europeus, deixando marcas profundas ligadas livros, artigos publicados, dissertações e teses, obtendo assim
não apenas nas manifestações folclóricas e populares, como também embasamentos que nortearam o desenvolvimento da pesquisa. A
na riqueza da culinária local. [6] A tradição familiar remonta busca ocorreu no período de janeiro a setembro de 2020, em onze
memórias culinárias ligadas a lembranças que nos remetem as mais obras bibliográficas no idioma português, publicadas nos anos de
doces épocas de nossas vidas, nas cozinhas de nossas queridas avós, 2001 a 2020 disponíveis gratuitamente em plataformas digitais,
mães, madrinhas e tias, através das ricas receitas presente nos assim como em livros do acervo pessoal dos autores.
chamados cadernos de família, passando de geração em geração,
favorecendo o desenvolvimento de especialidades na confeitaria, RESULTADOS E DISCUSSÃO
entre eles o chamado bolo. [7]
Para o povo pernambucano, o bolo simboliza estado de alegria, Observa-se, a partir da busca bibliográfica, que o bolo de noiva
presente nas mesas e nas datas comemorativas, torna-se símbolo pernambucano trata-se de um tipo de bolo consumido em
gastronômico e cultural na tradição e perpetuação da arte de produzir festividades, confeccionado através de uma massa batida de estrutura
um bolo. [8] cremosa, acrescida de frutas secas tais como ameixas, uvas passas e
Em Pernambuco o vinho tinto é um dos ingredientes do bolo de frutas cristalizadas maturadas no vinho por dias, semanas ou meses.
noiva, junto às frutas secas, tradição nas famílias e símbolo da Após esta maturação, algumas frutas são inseridas inteiras ou
cultura gastronômica do Estado. “Se o bolo for de frutas secas processadas junto ao vinho e acrescidas à massa. Com técnicas
mergulhada no vinho do porto ou moscatel, com a estimada receita especiais que vão desde sua produção até seu processo final de
de bolo de noiva, uma releitura do bolo de frutas inglês, um bolo do cocção, se torna diferente dos demais bolos de casamento do país,
tipo bolo-presente para festas e celebração, Mostra-se o ritual do com sabor acentuado de vinho e frutas, permite uma maior
casamento, porque casamento sem bolo de noiva não é casamento” conservação em relação aos demais. Neste processo, quanto maior
[9]. maturação das frutas ao vinho, mais distinto e potente será o sabor do
O bolo tem um significado tão grande para a sociedade bolo e sua durabilidade.
pernambucana, alguns deles são considerados patrimônio cultural e Os achados descrevem que, no período colonial, o bolo de noiva
imaterial do Estado, tais como o bolo Souza Leão e o bolo de rolo, pernambucano sofreu uma releitura a partir do bolo inglês, com a
como afirma Lody (2019), “Há uma verdadeira civilização do bolo substituição do conhaque pelo vinho do porto, adicionado pelas
em Pernambuco e isto é provação nas nossas muitas e diversas senhoras portuguesas. Esta adequação tornou o vinho tinto como um
cozinhas tradicionais, nas padarias, nas vendas ambulantes, nas dos ingredientes essenciais do bolo, deixando ao mesmo um sabor
confeitarias, nas casas das boleiras, nas vendas ambulantes, nas pronunciado e garantindo a conservação do bolo por anos.
feiras, nos mercados, nos restaurantes, entre outros. Nessas cozinhas, As bibliografias estudadas também apontam uma diversidade das
vê-se uma quantidade de tipos, nomes receitas e representações dos receitas na atualidade. O vinho mais utilizado hoje para esta iguaria é
bolos no amplo imaginário da nossa doçaria”. o vinho tinto tipo moscatel, com o intuito de baratear o custo do
Nos casamentos da realeza inglesa esta iguaria é feita com frutas e mesmo, e tornar acessível seu consumo em todas as classes sociais.
conhaque, onde o primeiro bolo é reservado para consumo no O vinho tipo moscatel também proporciona a manutenção da tradição
batizado do primeiro filho e símbolo da maturidade do casal, esta nas famílias pernambucanas em congelar o bolo após o casamento,
tradição se deve ao fato de que, quanto mais antigo o bolo, maior onde o primeiro andar do bolo é sempre reservado para consumo do
será seu sabor [10]. Para Frazão(2011), a formação cultural e primeiro aniversário do matrimônio. Algumas bibliografias
histórica de Pernambuco deixa tradições enraizadas nas famílias comprovam que as noivas, atualmente, mantêm o bolo congelado por
ligadas a lembranças e sentimentos que marcam suas gerações com anos.
ricas experiências e valores trazidos nos chamados cadernos de Esta conservação se deve ao alto teor alcóolico e açúcares contidos
família. [7]. “As atuais mesas diversificadas de gêneros alimentícios no vinho, recebido também através dos açúcares presentes nas frutas,
149
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 03: massa batida do bolo, pronta para receber as frutas que
passaram pelo processo de maturação
Figura 01: mise en place das frutas secas antes da adição do vinho Figura 04: foto do bolo pronto para ser aplicado o glacê mármore
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
150
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cássia Amaral1, Jarbas Silva1, Francisco Neto1, Lucas Rodrigues1, Fernando De Marchi1, Paulo Sousa2
1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. cassiamaral@alu.ufc.br
2
Docente do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO
No mundo atual, a adoção de uma alimentação saudável tornou-se O preparo foi coado com um pano tipo perfex limpo, e adicionado
uma tendência entre a população, a qual, consequentemente, resultou 57g de açúcar demerara (marca Olho D’Água) no Laboratório de
na busca e desenvolvimento de produtos que atendam a essa demanda Processamento de Frutos, Departamento de Engenharia de Alimentos
estabelecida. Assim, é possível afirmar que esse estilo de vida da Universidade Federal do Ceará, seguindo experimentos de Katz (4)
assegurou o surgimento de diferentes segmentos de consumo, diluídos no extrato na proporção de 57g para cada 1L de chá de em um
dividindo o mercado atual com base nos tipos de alimentos recipiente de vidro com capacidade para 3 litros previamente
procurados por cada grupo de consumidores, como produtos esterelizado. A inoculação do SCOBY ocorreu em temperatura
funcionais e low carb. ambiente temperatura ambiente (28 a 30ºC) com 10% do seu líquido,
A kombucha é uma bebida fermentada preparada comumente com utilizando papel toalha para cobrir sua abertura a fim de possibilitar a
chá preto adoçado ao qual é adicionada a chamada “mãe da passagem de ar para viabilizar a fermentação e impedir qualquer tipo
kombucha”, celulose bacteriana contendo uma simbiose de bactérias de contaminação.
acéticas e leveduras, podendo ser produzida utilizando-se de outros A segunda fermentação foi efetuada em garrafas PET,
tipos de chá como base, sendo o chá verde um exemplo destes. Para hermeticamente fechadas contendo o suco de maracujá, na proporção
a sua produção,, essa base é preparada com uma proporção de 5 a 15% de 60% de suco para 40% de líquido da primeira fermentação, durante
de açúcar, a qual é distribuída em recipientes limpos após seu três dias em temperatura ambiente. Para o suco, foi utilizada polpa
esfriamento. Então, acrescenta-se o inóculo da “mãe da kombucha”, comprada em mercado (marca Pomar da Polpa), com diluição em
ou scoby, e uma porção de 10 a 20% de kombucha já fermentada, de água mineral em concentração indicada pelo fabricante. para cada litro
modo a reduzir o pH do meio para inibir que microorganismos de suco, foram adicionados 250g de açúcar demerara, já utilizado
indesejados venham a se desenvolver (1). anteriormente. Totalizados aproximadamente 5L de preparo,
Após isso, o recipiente deve ser coberto, de modo a prevenir distribuídos em quatro garrafas com capacidade para 1,5L, as quais
contaminações externas, mas desde que mantenha contato com o foram amassadas a fim de evitar acidentes relacionados à expansão
ambiente, para permitir a entrada de ar, sendo, geralmente, feito o por produção de gás durante a fermentação.
uso de gaze para este fim. Logo, tem-se o período de fermentação, A elaboração foi realizada duas vezes, sendo a primeira utilizada
processo no qual a levedura consome a glicose presente e libera como prévia para o grupo observar e testar a metodologia aplicada no
substâncias mais simples, como o álcool etílico. Nesse produto, o experimento, bem como a realização grupo focal interno com 10
processo fermentativo dura entre 7 e 10 dias, dependendo do pessoas para reunir os atributos assinalados para CATA e a segunda
resultado que deseja-se obter, sendo realizado a temperatura produção foi destinada ao teste com os provadores.
ambiente. A análise sensorial foi realizada no Instituto de Cultura e Arte (ICA),
Por fim, com a fermentação concluída e as características desejadas localizado no Campus do Pici, abrangeu 111 pessoas, sendo 41
atingidas, em relação a aroma e sabor; a bebida é filtrada para mulheres e 70 homens, com média de idade de 22,5 anos. Foi
remover o scoby, o qual é armazenado com 5 a 10% do líquido. Com elaborado teste de aceitação utilizando escala hedônica de 9 pontos.
isso, a kombucha estará pronta, porém, vale ressaltar que uma Kombucha saborizado foi submetido a uma baixa temperatura,
segunda fermentação pode ser realizada, no intuito de carbonatar e viabilizada por imersão das garrafas em cooler adicionado de gelo. As
saborizar o produto final. Nessa etapa, adiciona-se uma nova fonte amostras foram preparadas de forma cautelosa e padronizada, como
de açúcar, como sumo ou suco de alguma fruta; sendo o processo descreve Minim e Silva (5), em copos descartávris de 30mL a 111
feito em garrafas fechadas e na temperatura ambiente. julgadores não treinados, em copos descartáveis. O teste sensorial foi
Um caso de fruta utilizada para saborear é o maracujá, fruto os provadores foi orientado sobre o teste e solicitado que avaliassem a
originado de plantas do gênero Passiflora, o qual apresenta bebida e sua aceitação quanto ao sabor, aroma e aparência e impressão
potencial antioxidante, segundo Zeraik et al. (2). Vale ressaltar que global, utilizando uma escala de 9 pontos. A análise dos resultados foi
a autora indica que o fruto apresenta a presença de substâncias foi realizada por meio de cálculos de média via Microsoft Excel.
polifenólicas e ácidos graxos, entre outras, as quais fazem com que
este possa ser classificado como um alimento funcional, fato que
agrega vantagem na produção de kombucha com o uso do maracujá. RESULTADOS E DISCUSSÃO
É importante frisar também o desempenho da família
Foi perguntado primeiramente aos participantes quanto ao gosto pela
Passifloraceae em forma de ansiolítico e sedativo em auxílio a
bebida estudada e observou-se que a maioria (79,2%) não a
transtornos do sistema nervoso central, visto que há uma
conhecia, um ponto já previamente estipulado devido à pouquidade
recorrência desse tipo de tratamento dentro da medicina popular
em relação à divulgação do produto. 91,8% dos participantes nunca
brasileira, conforme certifica Leal et. Al (3).
ingerem kombucha, o que também pode estar relacionado à questão
O objetivo principal desta pesquisa foi de produzir a bebida,
acima e 54,9% consomem suco ou néctar de maracujá. Em relação ao
observar o seu processo de elaboração e avaliar a aceitação por
gosto de ambas as bebidas, 79,2% dos participantes não conhecem a
parte de provadores voluntários não treinados.
bebida fermentada do tipo kombucha e 68,4% gosta muitíssimo de
suco/ néctar de maracujá. As questões seguintes foram aplicadas de
MATERIAIS E MÉTODOS
forma mais específica acerca da bebida a ser analisada
Este trabalho foi realizado a partir da cultura de SCOBY (Symbiotic
Culture Of Bacteria and Yeasts), o conglomerado de bactérias e
fungo usado para a fermentação e, por conseguinte, a obtenção da
bebida como produto final. Foi utilizada apenas erva mate (Ilex
paraguariensis St. Hil.) não torrada da marca “Pampas”, que foi
adicionada a um recipiente contendo água mineral fervida, na
proporção de 10g/L durante 10 minutos de infusão.
151
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
152
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
PALAVRAS-CHAVE
PANC; Análise Sensorial; Alimento Funcional; Flores Comestíveis.
153
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
da intenção de consumo ou possível compra do produto por parte do [11] SANTOS, Grazielle Gebrim et al. Mangaba (Hancornia speciosa
público. Gomez) ice cream prepared with fat replacers and sugar substitutes.
Apesar do atributo sabor ter registrado apenas 48% das notas Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 32, n. 3, p. 621-628, 2012.
para o parâmetro ideal, quando comparados os números de forma geral,
levando em conta principalmente os critérios geral e atitude de consumo,
percebe-se o êxito alcançado com a ideia da elaboração.
É preciso considerar também o relativo exotismo do insumo
protagonista. De acordo com as respostas gerais de alguns provadores,
mais precisamente daqueles cujas notas não foram tão altas, deduz-se que
a fabricação não é considerada ruim ou de má qualidade, mas que apenas
deve ser modificada de maneira a conquistar mais efetivamente o paladar
julgador.
Tal fato é confirmado na medida em que se faz uma
comparação entre os resultados do presente trabalho e do de terceiros,
referente também à análise sensorial de sorvete com ingredientes
incomuns. Ao observar, por exemplo, o artigo “Sorvete de mangaba
(Hancornia speciosa Gomez) preparado com substitutos de gordura e
açúcar” [11] nota-se percentuais de aceitação sensorial de 60% e 52,5%.
CONCLUSÕES
Analisando a execução técnica do sorvete e sua aceitabilidade
sensorial pelo público, considera-se sua formulação final bem sucedida -
além de apresentar bons índices, ela cumpre também com o objetivo de
promover o consumo das PANC’s, aplicando-as de modo a preservar seus
nutrientes mas sob um sabor agradável.
Os dados computados serão considerados e empregados em
melhorias futuras na fabricação do sorvete e de outras sobremesas como
bolos, tortas, cremes e pudins; pois sobretudo o extrato de hibisco
mostrou-se muito versátil em sua aplicabilidade.
REFERÊNCIAS
[1] SILVA, Analú Barbosa da; WIEST, José Maria; CARVALHO,
Heloisa Helena Chaves. Compostos químicos e atividade antioxidante
analisados em Hibiscus rosa-sinensis L.(mimo-de-vênus) e Hibiscus
syriacus L.(hibisco-da-síria). Brazilian Journal of Food Technology, v.
19, 2016.
154
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1. Introdução gemas, 50g de açúcar, 10g de amido, 395 g de leite condensado, 265g
de polpa de manga, 30ml de suco de maracujá e 30ml de suco de
O universo dos alimentos apresenta uma grande variedade de limão. Por último, o merengue feito foi o merengue suíço com 170g
cores e pigmentos. Antocianinas, betalaínas, carotenóides e clorofilas de açúcar e 4 unidades de clara e junto a ele, a mistura do corante
são exemplos de pigmentações naturais presentes em insumos vegetais extraído. Para essa extração, foi feito um purê de mirtilo.
e que embelezam muitas preparações e empratamentos. As cores, além
de serem um fenômeno físico, representam uma poderosa ferramenta
para a difusão de emoções e ideias, pois essas se expressam de muitas
formas, seja sutil, direto ou progressiva.
155
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 3 - Massa
Por fim, foi feito o merengue suíço. Esse é feito com a clara
do ovo e açúcar aquecido em processo de banho-maria ao serem Figura 6 - Torta com creme de manga Figura 7 - Cores
batidos. Ao aquecer a mistura, o merengue adquire mais volume e complementares
estabilidade (2). Para colori-lo de roxo, foi utilizado corante natural
extraído de mirtilos. A segunda observação feita sobre a teoria das cores foi a do
efeito cromático em dois fundo, um branco e um preto.
Efeito cromático é o efeito que a cor tem na percepção visual,
3.3. Teoria das cores
sendo a realidade psicofisiológica da nossa percepção humana (1).
Para compreender as cores da preparação, foi utilizado o Uma mesma cor pode apresentar diversas variações ao ser
círculo cromático (figura 4). Foi esse que deu suporte a todas contrastada com outras cores, mudando, muitas vezes, a sua
observações levantadas. A primeira observação foi a harmonia e percepção. Ao colocar uma cor em um fundo preto, por exemplo, ela
concordância entre as cores complementares. se comporta de uma forma totalmente diferente se a mesma for
colocada em um fundo branco. Ao colocar o amarelo em um fundo
branco, ele parecerá mais escuro, já no preto, ele adquire um brilho
extremo.
Observou-se isso na torta com creme de manga e merengue.
No experimento, a torta foi colocado em dois fundo (figuras 8), um
branco e um preto, em um ambiente com a mesma incidência de luz.
No fundo branco, o amarelo do creme de manga aparenta ser mais
escuro que no fundo preto.
Fonte: Google
A harmonia cromática é a avaliação do efeito da justaposição Figura 8 - Torta em fundo branco e fundo preto
de duas ou mais cores. Essa tem como objetivo buscar a satisfação do
olho humano, evitando que este produza, ilusoriamente e
fiiologicamente, as cores que não estão na composição (1).
Referência
Figura 5 - Cor complementar
(1)BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo: Um estudo sobre
Fonte: Google Imagem a Bauhaus e a teoria de Goethe. 3. ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2009.
156
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Liana Velho1, Vanessa Abreu2, Ivila Costa2, Maria Gomes2, Sanvily Lima2, Maria
Rodrigues3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
157
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
extrato de soja e o leite condensado por gelatina em pó e açúcar, com Gráfico 4 - Histograma de distribuição de notas para o teste de Intenção
diferentes concentrações de gelatina em pó, não apresentaram diferença de Compra.
significativa, a nível de 5%, para o atributo aroma, o que vai ao encontro
do resultado obtido nesta pesquisa, mostrando a baixa influência da
gelatina na percepção do aroma de manga.
O sabor da sobremesa láctea de manga não apresentou
diferença significativa entre as duas formulações, apesar das médias
serem crescentes quando comparadas. O percentual das formulações A
e B na zona de aceitabilidade da Escala Hedônica foi, respectivamente,
90,3% e 98,4%. O sabor agradável pode ser ressaltado pela presença de
leite condensado em ambas as preparações, segundo Feitosa et al. (3),
a utilização de leite condensado agregada maior chance de aceitação do
produto elaborado, pois o produto lácteo supracitado é agradável ao
paladar, possuindo uma alta aceitabilidade sensorial.
Para a Escala do Ideal de sabor de manga não houve
diferença significativa, porém, a formulação B apresentou um
percentual de 77,4% na zona de idealidade, enquanto a formulação A
obteve 62,9% na mesma zona. Esta última teve suas avaliações
predominantemente na zona que agrega as expressões de menor
idealidade, como se pode observar no Gráfico 2.
CONCLUSÕES
Gráfico 2 - Histograma de distribuição de notas para o Teste Ideal -
Sabor de Manga. Levando em consideração o objetivo do trabalho, conclui-se
que, dentre as formulações elaboradas, a preparação A, com maior
percentual de aceitabilidade e idealidade do atributo consistência,
configura-se como a amostra com teor satisfatório de gelatina. A
elaboração da formulação A, que apresenta menor proporção de
gelatina, se converte em um ponto positivo para a sua reprodução em
grande escala, pois trará redução de gastos devido a menores
quantidades utilizadas. Contudo, as duas formulações foram bem
aceitas pelos provadores, uma vez que seus índices de aceitabilidade
foram superiores a 70% e entre todos os atributos estudados na Escala
Hedônica, apenas a consistência teve diferença significativa.
REFERÊNCIAS
158
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Indra N. Nunes¹, Elane I.N. Nunes², Cicero A. M. Simião³, Suziane A. J. Lima, Maria E. B. de Moura, João D. D. Furtado
1. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
2. Discente do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ/Estácio de Sá
3. Pesquisador do Instituto José Marrocos de Pesquisa e Estudos Sócio-Culturais – IPESC/URCA
4. Docente do Curso de Tecnologia em Gastonomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
5. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
6. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
Indra_nunes@hotmail.com
Material e Métodos:
159
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusão:
Em seguida separou-se o mise em place de cada preparação, 3. VIEIRA et al. Desenvolvimento de uma refeição nutricionalmente
com seus respectivos pesos e medidas. Foram dispostas duas panelas, completa para o vegano. Anais V Congresso de Pesquisa e Extensão da
cada uma recebeu os grãos de milho cozidos em um refolgado com o FSG, Caxias do Sul – RS, 2017.
alho, cebolas e pimentões. Em seguida acrescentou-se o feijão verde
500ml de água e deixou-se ferver por mais quinze minutos. Em seguida 4. AKUTSU, R. C.; BOTELHO, R. A.; CAMARGO, E. B Karin
incluiu-se cebolinha, vargem couve-flor, cheiro verde e pimenta de
Eleonora Oliveira SÁVIO, K. E. O.; ARAÚJO, W. C. (2005). The
cheiro, deixou-se cozinhar por mais cinco minutos, por fim em uma das
panelas (preparação) colocou-se os 200 ml de leite de côco e na outra o technical cards as quality instrument for good manufacturing process.
leite de castanha de caju. Rev. Nutr., Campinas, 18(2):277-279.
Algumas são as vantagens na utilização da FTP como: (i)· 5. FONSECA, M. T. (2011) Tecnologias gerenciais de restaurantes. São
registrar quantidades de matéria-prima utilizadas nas preparações; (i) Paulo: Editora Senac.
padronizar quantidades de matéria-prima nas preparações, a montagem
e apresentação dos pratos; (iv) registrar os processos da produção; (v)
manter um histórico das preparações do restaurante; (vi) permitir a
comparação das informações de consumo; (vii) facilitar as projeções de
compras e especificações de mercadorias, e (viii) controlar os volumes
de matéria-prima requisitados. (5)
Resultados e Discussão:
160
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Marcia Pinheiro1, Leiliane Herculano2, Cristiano Costa3, Márcia Medeiros4, Beatriz Dantas5, Idila Araujo6
1
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
3
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
4
Docente – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará/IFCE – Campus Baturité
5
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
6
Técnica do Laboratório de Análise de Alimentos – Embrapa Agroindústria Tropical/CE
marcia.nayara2011@gmail.com
161
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Leelavathi (10), que foi de 7,13 g.100 g-1 para glúten seco. Costa et al.
(8) apresentaram valores percentuais de glúten úmido igual ou superior
a 27,00 g.100 g-1 e por Moraes et al. (7) 26,69 g.100 g-1 para glúten
úmido e 10,13 g.100 g-1 para glúten seco.
O índice de queda ou análise de Falling Number mensura indiretamente
a atividade de enzima alfa-amilase presente nas farinhas de trigo. Uma
farinha de trigo com Falling Number de no mínimo 220 segundos, pode
ser destinada para uso doméstico, já uma farinha com Falling Number
de 250 seja é indicativo de trigo classificado como melhorador (6).
Dessa maneira, pôde-se verificar diferença entre os resultados, onde a
amostra F3 possui um maior teor de alfa-amilase e a F1 um menor teor
desta enzima, responsável pela quebra das ligações glicosídicas alfa 1-
4. Os valores são satisfatórios e apresentam semelhanças ao resultado
de Jacob e Leelavathi (10) que obtiveram Falling Number de 439
segundos.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
162
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
José Carlos Veloso Filho¹, Ellen Karina Dourado², Alessandra Santos dos Santos³, Janaína Sarmento Vilela4
163
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e (2) ROSTRO, Beverly Ramos. SALAZER, Baciliza Quintero.
Agricultura – FAO (4), ao lançar seu olhar para o problema da RAMOS-ELORDUY, Julieta. MORENO, José Manuel Pino.
miserabilidade da fome, enfatiza que o consumo de insetos na CAMPOS, Sergio C. Ángeles. PÉREZ, Águeda Garcia. GARCIA,
alimentação humana é uma alternativa para o combate desse problema Daniela Barrera. Análisis químico y nutricional de tres insectos
global, apontando argumentos importantes para a reflexão do tema, comestibles de interés comercial en la zona aequeológica del
quais sejam: “(a) a criação comercial de insetos teria um grande municipio de San Juan Teotihuacán y en otumba, en el estado de
impacto positivo não só no meio ambiente, como também México. In: Interciência, vol. 37, nº 12, dezembro de 2012.
no suprimento de proteínas para uma população cada vez mais (3) RAMOS-ELORDUY, Julieta. Acridofagia y otros Insectos: em
necessitada de fontes de alimentos; (b) insetos são ricos em donde se cuenta sobre la crianza, recolección, preparación y consumo
proteínas, gorduras e minerais, podendo ser consumidos inteiros, de chapulines, gusanos, hormigas y otros bichos para salvar al mundo.
moídos, em forma de pasta ou incorporados em outros alimentos; (c) Ciudad de México: Trilce Ediciones, 2015. p.10-11
embora o consumo de insetos seja desprezado pelos europeus e norte- (4) FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations.
americanos, os insetos suplementam a dieta de mais de dois milhões Edible Insects – Future prospects for food and security. 2013.
de pessoas na América Latina, África e Ásia; (d) com cerca de um Disponível em: <http://www.fao.org/3/i3253e/i3253e.pdf.>. Acesso
milhão de espécies, ao menos um mil e novecentos são utilizadas em: 18 abr. 2019.
regularmente como alimento, inúmeras outras espécies poderiam ser
incorporadas como resultado de estudos; (e) os insetos mais
consumidos são os besouros, larvas, abelhas, vespas, formigas,
gafanhotos e grilos; (f) a maioria dos insetos consumidos hoje em dia
provém de sua coleta na natureza, sendo que, se fossem implantadas
criações comerciais, a oferta de alimentos aumentaria
substancialmente; (g) com o constante aumento da população humana
na Terra, a criação de animais para consumo e mesmo como animais
de estimação vai aumentar significativamente a demanda por água e
solo cultivável, o que pode ameaçar áreas hoje ocupadas por florestas;
(h) criação de porcos, por exemplo, libera, por quilograma
de carne produzida, de 10 a 100 vezes mais gases de efeito estufa do
que a criação de insetos; (i) insetos podem ser alimentados com restos
orgânicos produzidos pelo homem, o que reduziria o impacto sobre
o meio ambiente; (j) comparada com a dos animais tradicionais,
a tecnologia para a criação de insetos é relativamente simples,
podendo ser adotada em zonas rurais e em locais com escassez de
alimentos.” (4)
CONCLUSÃO
REFERENCIAS
164
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fátima Costa1, João Freitas2, Maria Uchôa3, Sheyla Amaral4, Vitor Silva5, Maria Milhome6
1
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
2
Aluno do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
3
Aluna do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
4
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
5
Analista de Laboratório do NUTEC / UFC
6
Professora Orientadora Doutora / IFCE-Limoeiro do Norte
165
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
166
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Introdução sendo comercializada nas ruas de Boa Vista (8). A questão do abuso
de álcool pelos índios tem sido historicamente relatada e muitas tribos
As bebidas fermentadas têm sido produzidas por diversas consomem seus fermentados em momentos além daqueles ligados às
civilização há séculos, existindo registros de produção de cerveja pelos festividades e rituais. Fernandes (9), em um profundo estudo histórico
sumérios há pelo menos 5.000 anos (1). Pães, queijos e manteigas sobre a relação dos índios e portugueses com as bebidas fermentadas,
também eram produzidos na região da Mesopotâmia, assim como o conclui que os índios sempre as usaram em demasia, o que
vinho e vinagre nos Bálcãs (1). Tais produtos fermentados sempre incomodava os portugueses. Cauinagem era um termo utilizado para
tiveram importância como alimento, mas também foram largamente descrever as beberagens dos Tupinambás e Tupis-guaranis. Por serem
utilizados para fins medicinais, ritualísticos, de conservação e de corriqueiras, foram bem relatadas em termos de técnicas, utensílios e
assepsia durante as guerras, como é o caso do vinagre. papel social em manuscritos desde o século XVI. O relatos levantados
O processo de fermentação baseia-se na transformação da matéria também confirmam que os Tupinambás do litoral utilizavam do
orgânica estimulado por enzimas de microrganismos, tendo como mesmo modo a farinha para a produção de bebidas, fato que
resultado a produção de álcool, ácido lático e/ou ácido acético, assim desagradava os portugueses (9).
como CO2. As propriedades probióticas desses microrganismos são Desta forma percebe-se o amplo uso de bebidas fermentadas pelos
amplamente conhecidas e incluem a prevenção de doenças indígenas, com uma grande variação de nomes, substratos e métodos
gastrointestinais, protegem as funções do fígado, reduzem o colesterol de produção. Bebidas com o nome de chicha, cauim, caxiri, pajuarú e
e a pressão sanguínea, melhoram a imunidade, possuem efeitos caiçuma são comuns por todo o território indígena brasileiro, sendo
anticarcinogênicos, produzem nutrientes, entre outros (2). produzidas das mais diversas formas e com matérias primas que
Com a recente popularização no Ocidente de fermentados como o dependem da estação do ano. Entretanto, o tempo de fermentação e o
Kefir e Kombucha, principalmente pelo apelo probiótico que esses produto final podem variar consideravelmente dependendo do tipo de
alimentos apresentam, têm ocorrido um aumento no interesse por substrato e técnica utilizados.
pesquisas com fermentados tradicionais indígenas (3). Observa-se Os objetivos da presente pesquisa são discutir os métodos de
também um grande interesse no resgate e manutenção das culturas produção dos fermentados de mandioca indígenas e avaliar diferentes
ancestrais indígenas, que sempre utilizaram produtos fermentados para tipos de substrato para a produção destes fermentados.
diversos fins (4). Nas Américas, existem relatos que os Maias já
dominavam as técnicas de fermentação do cacau há pelo menos 3.000 MATERIAL E MÉTODOS
para produzirem uma bebida ritualística sagrada.
No Brasil, os registros arqueológicos não são abundantes, Para avaliar o potencial de fermentação de diversos substratos da
entretanto é amplamente documentado que quando os portugueses mandioca e métodos de processamento foi realizado um experimento
chegaram à costa brasileira, os índios já dominavam várias técnicas de no Laboratório de Análise Sensorial do Instituto Federal de Educação,
fermentação. Segundo o IBGE (5), o Brasil possui atualmente mais de Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Ubajara. Para o experimento,
305 povos indígenas que sofreram diversas influências devido a foi elaborado um desenho experimental com seis tratamentos que
vastidão do território nacional. Contudo, o consumo de fermentados é envolviam técnicas diferentes de produção de bebidas fermentadas a
amplamente difundido entre todas as etnias, sejam estes para fim de partir da mandioca, algumas delas utilizadas tradicionalmente por
nutrição, preservação do alimento, medicinal, ritualístico ou simples índios brasileiros. Todos os tratamentos foram feitos em triplicata,
lazer. De fato, é possível observar a produção de diversos fermentados totalizando 18 recipientes de fermentação. Para os quatro tratamentos
em uma mesma aldeia com funções sociais diferentes (6). Geralmente que utilizaram mandioca in nautra, dois quilos da mesma foram
essas receitas permanecem intactas em seu modo de preparo devido ao cozidos em água por 3 horas e deixados em repouso por 24 horas na
respeito e tradição com os “antigos”, seus entes que vieram antes das própria água de cozimento. Parte da mandioca foi então amassada com
gerações atuais5. garfo sem contato nenhum com as mãos para o tratamento 1 (MGF) e
Em vista da amplitude do território nacional, pode-se observar um foram colocadas 150g em garrafas esterilizadas de vidro transparente
grande número de bebidas e mingaus diferentes, muitas vezes com o de 500ml, sendo que e o volume total foi completado com água de
mesmo nome ou então o mesmo produto recebe nome diferente em cozimento das mandiocas. Este tratamento foi considerado controle,
variadas regiões(6). Pode-se ainda encontrar a mesma bebida em uma vez que não faz parte das técnicas tradicionais indígenas, porém
etnias diferentes, mas com significado social distinto. Porém, um fator é capaz de garantir maior inocuidade ao substrato de fermentação.
em comum que pode ser observado é que a maioria desses alimentos Para o tratamento 2, o mesmo volume de mandioca (150g) foi
amassado manualmente por seis pessoas e adicionado de água de
tem como matéria prima mandioca, milho, batata doce, arroz, mel e
cozimento (MMA). No tratamento 3, a mandioca foi mastigada por
frutas como abacaxi, buriti, banana, caju ou jenipapo.
seis pessoas diferentes antes de ser porcionada (150g), adicionada de
No baixo Xingu, o povo Juruna denomina de caxiri uma bebida água de cozimento e colocada em recipientes iguais (MMG). No
feita a partir de mandioca ou eventualmente de milho. Entretanto, faz tratamento 4 a mandioca sofreu o mesmo procedimento que no
distinção entre uma bebida refrescante não alcóolica tomada tratamento 1, amassada com garfo, entretanto foram adicionadas em
diariamente por toda a tribo, chamada também de yakupa e outra para cada recipiente 50g de casca de abacaxi previamente lavadas apenas
os rituais, esta alcóolica, chamada de caxiri ou cauim pawi (3). Além em água corrente (MAB). Os tratamentos 5 e 6 avaliaram outros
disso, é produzido o cauim dubia, um subproduto não alcóolico do substratos processados de mandioca. No tratamento 5 foram utilizadas
caxiri, com fins de preservação do alimento, que é consumido o ano 150g de farinha de mandioca comercial com água filtrada em cada
inteiro, além de outros fermentados. A maioria dessas bebidas é feita recipiente (FAR) e no tratamento 6 foram utilizadas 150g de fécula de
a partir da puba, ou seja, a mandioca in natura, fermentada em canoas mandioca (goma de tapioca), adicionadas de água filtrada até
(3). Já os Waiãpi do Amapá e Guiana produzem o caxiri a partir do completar o volume de 500ml das garrafas de fermentação (FEC).
beijú e seu consumo está fortemente ligado a rituais de passagem, que Amostras de todos os tratamentos foram separadas para medição de
os conectam com seus antepassados. A bebida é fortemente alcóolica, pH. Após a preparação dos substratos de fermentação, foi colocado um
mas utilizada com estrito intuito cultural para manter as tradições balão de látex na extremidade de cada garrafa, que foram presos
nativas (7). firmemente com fita isolante. Tais balões tinham como função medir
Por outro lado, os Wipachana de Roraima, utilizam o caxiri de o volume de gás produzido por cada tratamento. Após sete dias de
forma mais ampla, inclusive no dia a dia. Neste local, a bebida recebe fermentação, os balões foram retirados e o volume calculado por
também o nome de pajuarú, é produzida a partir da tapioca ou deslocamento de água em uma proveta. Com sete dias foi também
mandioca in natura e tem sido utilizada de forma rotineira, inclusive
167
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
realizada a medição do pH de cada tratamento e o mesmo facilitar o processo de hidrólise do amido aumentando assim a
procedimento foi realizado com 21 dias. quantidade de mono e dissacarídeos, que servem preferencialmente de
substrato para os microrganismos fermentadores. Bebidas indígenas
RESULTADOS E DISCUSSÃO tradicionais com a Chicha dos Andes e o caxiri de várias etnias ainda
utilizam essa técnica (3). Relatos históricos afirmam que os
As bebidas fermentadas, de um modo geral, são produtos portugueses, com aversão do processo de mastigação dos índios,
extremamente comuns entre os índios brasileiros, entretanto o modo tentaram produzir fermentados alcóolicos de mandioca sem a
de produção e o contexto de uso variam bastante entre as diversas mastigação, mas não obtiveram êxito (7).
etnias. Após 7 dias de experimento observou-se que ocorreu Também foi observada queda acentuada de pH na amostra na qual
fermentação em todos os tratamentos avaliados. Tal fermentação pode foram incorporados pedaços de cascas de abacaxi. Tal procedimento é
ser observada pela formação de gás preso nos balões de látex e pela comum entre os índios brasileiros (6). A adição de açúcares da fruta
redução de pH das amostras. favorecem o processo de fermentação por microrganismos uma vez
A fermentação caracteriza-se por ser um processo biológico que fornece açúcares simples como a frutose e sacarose.
preferencialmente anaeróbico, onde um microrganismo produz ATP O cozimento da mandioca durante várias horas parece ser uma
para sua sobrevivência, pela transformação de compostos orgânicos importante etapa para ajudar na degradação do amido e por isso
complexos para composto orgânicos simples. Neste processo utilizado por todas as etnias indígenas brasileiras, exceto quando se
metabólico não existe uma substância receptora de elétrons como produz fermentados a partir da puba ou da goma.
oxigênio e, normalmente, produz-se como resultado álcool, ácido
acético ou ácido lático, que reduzem o pH, além do gás carbônico (1). CONCLUSÕES
Observou-se que o primeiro tratamento a apresentar sinais de
fermentação foi o da fécula de mandioca (FEC), no qual os balões das Com a presente pesquisa pode-se concluir que o processo de
três repetições haviam sido inflados no período de 24 horas. A fermentação da mandioca ocorre com bastante facilidade, uma vez que
produção de gás carbônico é resultado obrigatório do processo de todos os tratamentos apresentaram evidências claras do processo nas
fermentação e a sua produção é proporcional à quantidade de açúcares primeiras 48 horas, independente do substrato utilizado. Tal fato
convertidos (1). Sendo assim, tomou-se como evidência da ocorrência justifica o porquê da fermentação ser um processo amplamente
utilizado por todas as etnias indígenas do Brasil, seja para produzir
de fermentação o aumento do volume dos balões. Todos os
mingaus nutritivos ou bebidas alcóolicas ritualísticas. O processo de
tratamentos apresentaram formação de gás no período de 48 horas. fermentação não somente é capaz de preservar os alimentos por
Entretanto, após certo volume observou-se que a pressão do gás períodos mais longos sem refrigeração, como também é capaz de
exercida em algumas amostras causava vazamento do gás, o que fornecer probióticos alimentares com importantes consequências na
comprometeu a análise estatística do volume de gás produzido. Apesar saúde de quem consome. A mastigação prévia dos carboidratos facilita
disso, pode-se observar uma sequência temporal na formação inicial o processo de fermentação e provavelmente por isso os índios ainda a
de gás, sendo que a ordem foi a fécula de mandioca, a farinha, a usem como método, apesar do princípio criar repulsa na perspectiva
mandioca mastigada, a mandioca com abacaxi, a mandioca amassada higiênico-sanitária do homem branco. A adição de frutas também
na mão e por último a mandioca amassada no garfo. Tais resultados facilita o processo de fermentação, o que justifica sua ampla utilização
são compatíveis com a hipótese de que os produtos processados e por várias etnias, incluindo abacaxi, buriti e banana. O resgate e
refinados apresentam maior quantidade de açúcares simples preservação das técnicas, costumes e rituais indígenas se faz
disponíveis para a fermentação, assim como a adição de frutas também necessário, uma vez que a cultura nativa tem sofrido forte influência
do meio socioeconômico dominante e corre o risco de se perder em
aumenta a quantidade desses açúcares (3). Além disso, o processo de
detrimento de tecnologias e processos modernos.
mastigação favorece a disponibilidade de açúcares fermentáveis
devido à prévia ação das enzimas salivares. Mesmo havendo REFERÊNCIAS
imprecisão no volume de gás produzido, todas as repetições de todos
os tratamentos foram capazes de inflar os balões com pelo menos 80 1 Oliveira, L. G.; Mantovani, S. M. Transformações biológicas:
ml de gás, deixando-os na posição vertical, o que demostra que ocorreu contribuições e perspectivas. Química Nova, Vol. 32, No. 3, 742-756,
fermentação em todos os casos. Tal resultado é corroborado pela 2009.
alteração de pH ocorrido também em todas as amostras. 2 Komatsu, T. R.; Buriti, F.C.; Saad, S. M. Inovação, persistência e
criatividade superando barreiras no desenvolvimento de alimentos
A tabela I mostra que todas as amostras sofreram redução probióticos Rev. Bras. Cienc. Farm. vol.44 no.3 São Paulo, 2008.
considerável de pH no dia 7 e a redução de pH continuo ocorrendo até 3 Santos, C.A. Identificação da microbiota e caracterização físico-
o dia 21. A acidificação é característica natural do processo de química da bebida fermentada caxiri produzida pelo povo Juruna,
fermentação, seja ela feita por bactérias ou por leveduras. A análise de Mato Grosso, Brasil. Dissretação de Mestrado. Univ. Fed. de lavras
variância (One-way ANOVA) calculada para pH não mostrou 2010.
diferença significativa no dia 7 entre as amostras considerando p < 4. Isaac, T. B. S.; Ivanise Maria Rizzatti, I. M.; Lima, R. C. P. Preparo
0.05 (F= 0,528, p-value = 0,715). do pajuaru como proposta para o Ensino de Química em uma escola
indígena no município de Bonfim, Roraima. XVIII Encontro Nacional
Tabela 1. Média do pH dos seis tratamentos e desvio padrão (DP) nos de Ensino de Química (XVIII ENEQ) Florianópolis, SC, Brasil – 25 a
28 de julho de 2016.
dias 7 e 21 do experimento. MGF = mandioca amassada com garfo;
5 IBGE. Censo de 2010. Disponível em:
MMA= mandioca amassada com a mão; MMG= mandioca mastigada;
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/defa
MAB= mandioca com abacaxi; FAR= farinha de mandioca; FEC= ult.shtm>. Acesso em: 22 jan. 2020.
fécula de mandioca) 6 Noelli, F. S.; Brochado, J. P. O cauim e as beberagens dos guarani
e tupinambá: equipamentos, técnicas de preparação e consumo. Rev.
pH dia 7 (média pH d 21(média do Museu de Arqueologia e Etnologia, Sao Paulo, 8: 117-128, 1998
Tratamento pH inicial
± DP) ± DP) 7 Fernandes, J. A. Um tesouro etílico: bebidas, identidades e
MGF 7,89 4,53±0,18 4,07±0,28 categorias sociais na Amazônia portuguesa do século XVIII.
MMA 7,82 4,47±0,53 3,97±0,23 Seaculum: Revista de história; João Pessoa, jul./dez. 2012.
7,75 3,59±0,10 3,33±0,08 8 Júnior, Amilcar. De bebida cultural dos índios, caxiri agora é produto
MMG
à venda 27/01/2017 disponível em http://www.folhabv.com.br.
MAB 7,32 3,70±0,44 3,24±0,07 acessado em 12/01/2020.
FAR 7,42 4,05±0,13 3,78±0,12 9 Fernandes, J. A. Sobriedade e embriaguez: a luta dos soldados de
FEC 7,37 4,20±0,11 3,84±0,03 Cristo contra as festas dos tupinambás. Tempo, vol. 11, n.
22, Niterói, 2007.
Apesar de não ter sido observada diferença significativa (p>0,05) de
pH entre as amostras no dia 7, a amostra que atingiu pH mais baixo foi
aquela mastigada antes de ser colocada para fermentar (MMG), que
alcançou pH de 3,59 em 7 dias e 3,33 em 21 dias. Tal resultado é
compatível com a teoria de que as enzimas da saliva são capazes de
168
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chaves:Multissensorial.Toque.Adoçante.
INTRODUÇÃO máximo (gostei extremamente) (5). Essa escala indicou o quanto os
A análise sensorial é uma área de grande importância para provadores gostaram ou desgostaram das amostras em relação aos
a Gastronomia, pois seu estudo permite a percepção de fatores atributos de cor, aroma, doçura, textura e impressão global.
necessários para analisar um alimento. O alimento pode ser analisado Um total de 60 provadores participou da análise
por meio dos cinco sentidos: olfato, paladar, visão, tato e audição e sensorial. 30 provadores receberam amostras obedecendo o
ambos tem papéis essenciais na avaliação sensorial (1). A delineamento A-B e 30 provadores receberam seguindo B-A. Todos
experiência de comer e beber é, no entanto, “multissensorial”, sendo os provadores e participantes foram pessoas voluntárias, não
o conjunto da percepção de todos os sentidos responsáveis pela treinadas, recrutadas aleatoriamente entre estudantes e servidores da
aceitação ou rejeição de um alimento (2). referida universidade, e que mostraram seu consentimento, através da
A importância do toque e da somatossensibilidade oral para assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
a experiência de degustação e percepção de sabor é surpreendente. Os provadores julgaram os atributos de cor, aroma,
Nenhum dos muitos livros que foram publicados ao longo dos anos textura, doçura e impressão global das amostras segundo escala
sobre o tópico da percepção tátil já mencionou o papel significativo hedônica de atributos, sendo: 1-Desgostei muitíssimo; 2-Desgostei
que esse sentido desempenha na nossa experiência de comida e muito; 3-Desgostei moderadamente; 4- Desgostei ligeiramente; 5-
bebida. Talvez ainda mais surpreendentemente, os profissionais que Não gostei nem desgostei; 6- Gostei ligeiramente; 7- Gostei
trabalham nos campos da ciência dos alimentos e da gastronomia não moderadamente; 8- Gostei muito; 9- Gostei muitíssimo (1).
parecem ter dado a esse tópico a ideia de que isso certamente merece
também (2). Figura 1: Amostras Figura 2: Vista superior das amostras
Partindo deste contexto, o objetivo do presente trabalho de brownie codificadas. encaminhadas para análise sensorial.
foi realizar a análise sensorial de dois produtos: um clássico brownie
de chocolate adoçado com açúcar mascavo e um brownie de
chocolate adoçado com rapadura, observando como a troca de
ingredientes, adicionados com a mesma função, pode impactar na
percepção sensorial do alimento como um todo. Dessa forma,
também discutir a somatossensilidade oral envolvida na percepção de
textura, aroma e sabor.
MATERIAIS E MÉTODOS
A análise sensorial foi realizada no Laboratório de Análise
Sensorial da Universidade Federal do Ceará no dia 01 de Outubro de
2018. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram feitas duas formulações de brownie, com
proporções iguais de ingredientes e obedecendo mesmos métodos de Cor
preparo e parâmetros de tempo e temperatura de forno. A única A cor da amostra adoçada com açúcar mascavo
alteração foi o tipo de ingrediente adicionado para adoçar. (amostra A) apresentou grande aceitação dos provadores.
Tabela 1. Proporção de ingredientes usados na formulação das Aproximadamente 92% dos julgadores deram nota 7, 8 e 9, que, na
amostras. Adaptado (3) escala hedônica pré-estabelecida, equivalem a “Gostei
Moderadamente”, “Gostei muito” e “Gostei muitíssimo”,
Quantidade Ingrediente respectivamente.
500g Chocolate meio amargo A análise da cor do brownie adoçado com rapadura
300g Manteiga sem sal (amostra B) mostrou que 43% dos provadores “Gostaram
6 unid Ovos inteiros moderadamente” ou “Gostaram muitíssimo”; 40% “Gostaram muito”
300g Açúcar mascavo ou rapadura triturada e 10% “Desgostaram muito”, “Desgostaram ligeiramente” ou “Não
300g Farinha de trigo sem fermento gostaram nem desgostaram”.
Qb* Sal
Qb* Amendoim Aroma
Os resultados do atributo aroma da amostra A mostraram
Legenda: *Qb: Abreviatura de quanto baste. Abreviatura muito usada em receitas culinárias
para indicar que a quantidade de determinado ingrediente deve ser aquela que cada um que 97% dos provadores gostaram da amostra, variando apenas a
considera suficiente ou necessária (4). intensidade do julgamento entre “Gostei Ligeiramente” e “Gostei
Muitíssimo”.
Inicialmente, o chocolate foi derretido em micro-ondas. 93% dos provadores gostaram do aroma da amostra B,
Depois foi acrescentada a manteiga. Em outro bowl, os ovos foram atribuindo notas 6,7,8 ou 9 que correspondem, na escala hedônica
adicionados ao açúcar mascavo ou à rapadura e misturados referida, a “Gostei Ligeiramente”, “Gostei Moderadamente”, “Gostei
levemente. À essa mistura, acrescentou-se chocolate e manteiga, Muito” e “Gostei Muitíssimo”, respectivamente.
mexendo suavemente com um fouet, para uma boa homogeneização.
Então, foi acrescentada a farinha de trigo peneirada e o sal. Por Textura
último, foi adicionado o amendoim picado. A massa foi posta em A análise dos resultados do atributo textura da amostra A,
uma assadeira de 30X20 cm e levada ao forno a 180°C por mostrou que 80% dos provadores “Gostaram Muito” ou
aproximadamente 40 minutos. “Muitíssimo” da textura desta amostra. 16% “Gostaram
As amostras foram entregues aos provadores codificadas, Ligeiramente” ou “Moderadamente” e 3 % “Desgostaram
sendo “A” o brownie adoçado com açúcar mascavo e “B” o brownie Ligeiramente”.
adoçado com rapadura. As amostras apresentavam tamanhos Um total de 2% dos provadores “Desgostaram Muito” ou
iguais, tendo 3 cm de comprimento, 3 cm de largura e 2 cm de altura “Muitíssimo” da textura da amostra B. 11% “Desgostaram
e foram servidas à temperatura ambiente, cerca de 25°C. Moderadamente” ou “Ligeiramente”. 37% atribuíram notas 6 e 7,
A aceitação sensorial foi avaliada através de uma ficha gostando “Ligeiramente” e “Moderadamente”. 40% dos provadores
com escala hedônica estruturada de nove pontos, onde 1 se referiu à “Gostaram Muito” ou “Muitíssimo” da textura da amostra de
nota de valor mínimo (desgostei muitíssimo) e 9 à nota de valor brownie adoçado com rapadura.
169
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
textura (2).
Doçura Claro que a composição nutricional e as características
sensoriais dos açúcares variam de acordo com alguns atributos
A análise dos resultados do atributo doçura da amostra A, inerentes ao sistema de produção tais como: condições de
mostrou que 88% dos provadores “Gostaram Moderadamente”, crescimento, estação do ano entre outros, mas essa variável também
“Muito” ou “Muitíssimo” da doçura dessa amostra e apenas 1% pode ser afetada pelo transporte, estocagem e preparação do
“Desgostou Moderadamente”. alimento(7).
Em relação à doçura da amostra B, 79% dos provadores Mas o fato da experiência tátil influenciar a percepção de
“Gostaram Muito” ou “Muitíssimo”, 16% “Gostaram Ligeiramente” alimentos e bebidas provavelmente tem várias explicações
ou “Moderadamente” e 2% “Desgostaram Ligeiramente” ou “Não diferentes: alguns dos efeitos são provavelmente de natureza
gostaram nem desgostaram”. perceptiva, provavelmente resultam das regras da integração
multissensorial. Outros, enquanto isso, provavelmente têm uma
Impressão global origem mais decisória. Será o trabalho / desafio para pesquisas
futuras tentar determinar a explicação mais apropriada para qualquer
O gráfico 5 apresenta os resultados obtidos da efeito do toque no momento da degustação(2).
IMPRESSÃO GLOBAL das amostras.
Gráfico 1: Notas atribuídas à IMPRESSÃO GLOBAL das amostras
em relação ao total de provadores. CONCLUSÕES
170
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Giovana Prado1, Keliane Santiago1, Lerrena Sousa1, Michelle Cavalcante1, Larissa Silva1, Raimundo
Figueiredo1
1
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará. vanaprado@yahoo.com.br
171
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
compra e avaliação global. Os resultados médios para os Apenas cor pálida e gosto ácido apresentaram uma
parâmetros avaliados estão na Tabela 2. percentagem significativa por estarem quase ausentes nas
Tabela 2 – Resultados médios dos parâmetros avaliados dos quatro formulações. Da mesma forma, os atributos mais
estruturados de manga e cajá com quatro formulações diferentes. relevantes que caracterizaram os estruturados foram cor
F Avaliação Aparência Sabor Intenção amarelada e brilhante. As outras atribuições mantiveram
global de compra seus valores aproximados.
1 6,0 7,2 5,7 2,6 Para os atributos avaliados, de acordo com o Gráfico 2,
2 6,9 7,4 6,9 3,3 apenas cor pálida e gosto ácido apresentaram uma
3 5,1 6,4 4,6 2,1 percentagem significativa por estarem quase ausentes nas
4 6,0 6,2 5,9 2,8 quatro formulações. Da mesma forma, os atributos mais
Ao analisar a Tabela 2, pode-se afirmar que a formulação de relevantes que caracterizaram os estruturados foram cor
75% manga/25% cajá e 5% açúcar foi a mais aceita pelos amarelada e brilhante. As outras atribuições mantiveram
provadores, apresentando valores de 6,9 para avaliação seus valores aproximados.
global; 7,4 para aparência; 6,9 para sabor e 3,3 para intenção Gráfico 2 - Percentual dos atributos avaliados Check-All-That-Apply
de consumo. (CATA).
Analisando-se os parâmetros de avaliação global, aparência,
sabor e intenção de consumo isoladamente, obtiveram-se os
resultados seguintes: (Gráfico 1).
De acordo com o gráfico 1, percebe-se que as amostras com
presença de açúcar obtiveram melhor nota quando feita a
avaliação global, assim como as amostras com maior teor de
manga (75% manga).
A formulação com 50% manga e 50% cajá sem açúcar
apresentaram-se com maior exsudação frente às outras
formulações, podendo explicar à interferência na avaliação
global do produto.
A formulação 75% manga e 25% cajá com 5% de açúcar foi
a melhor classificada pelos provadores em termos de Com a variação p<0,05, subentende-se que os provadores
aparência, mostrando média mais elevada. A formulação não notaram diferenças significativas nos outros atributos,
com 50% manga e 50% cajá sem açúcar foi a mais rejeitada exceto em presença de líquidos, brilhante, aroma doce,
pelos provadores quando analisado o sabor, com média aroma ácido, suculento, gosto doce, sabor de manga e sabor
inferior a 5,0. A formulação com 75% manga e 25% cajá cajá.
com açúcar, por sua vez, obteve média próxima a 7,0 Tal evento associado ao fato de que a amostra com 75%
Diferente dos parâmetros de avaliação global, aparência e manga e 25% cajá com 5% açúcar em sua formulação foi a
sabor, com pontuação de 1 a 9, a intenção de consumo foi mais aceita, permite identificar essa amostra como sendo a
avaliada de 1 a 5, variando, desta forma, entre: nunca ideal para prosseguir ao estudo.
comeria, comeria raramente, comeria ocasionalmente,
comeria frequentemente e comeria sempre. As médias para CONCLUSÃO
intenção de consumo estão representadas no gráfico 1. De acordo com avaliação dos atributos sensoriais das quatro
A formulação 50% manga e 50% cajá sem açúcar formulações em concentrações variadas de manga e cajá,
apresentou menor média para intenção de consumo, com um determinou-se a concentração de 75% manga e 25% cajá,
valor médio de 2,1, com intenção de consumo referente à com 5% de açúcar, pois apresentou maior preferência pelos
classificação, aproximadamente, de “comeria raramente” provadores.
A formulação 75%manga e 25%cajá com 5% de açúcar
obteve média superior às outras, apresentando média de 3,3 AGRADECIMENTO
para intenção de consumo, o que indica que a intenção de CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
consumo seria classificada como “comeria ocasionalmente”. Tecnológico - Brasil, pela concessão da bolsa de estudo.
8 A A
REFERÊNCIAS
7
A
B B
A
1. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. Cadeia produtiva
6
B B B B de frutas. Brasília: MAPA/SPA, 2007.
C
2. SILVA, P. A.; CARVALHO, A. V.; PINTO, C. A.
Valores Médios
5 C
4
Elaboração e Caracterização de Fruta Estruturada Mista de
A
B
B
Goiaba e Cajá. Rev. ciênc. agrár., 51, 99-113, 2009.
3. FREITAS, M. C. S. Estudo de desidratação osmótica
3
C
1
2009. 120 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de
0
Avaliação global Aparência Sabor Intenção de
Alimentos) - Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo
consumo Horizonte, 2009.
75% manga/25% cajá 5% açúcar 50% manga/50% cajá 5% açúcar 4. LORENZI, H. et al. Frutas brasileiras e exóticas
cultivadas (de consumo in natura). Nova Odessa: Instituto
75% manga/25% cajá sem açúcar 50% manga/50% cajá sem açúcar
Gráfico 1. Médias dos valores atribuídos em relação à avaliação Plantarum de Estudos da Flora, 2006.
global, aparência, sabor e intenção de consumo para cada 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Alimentos regionais
formulação. brasileiros. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
6. LEAL, A.R. Estruturados mistos de frutas tropicais:
Check-All-That-Apply (CATA) elaboração e avaliação de aspectos tecnológicos, funcionais
e sensoriais. Dissertação. Universidade Federal do Ceará,
Os provadores tiveram acesso a uma ficha de avaliação 2017.
chamada Check-All-That-Apply (CATA), apresentando 7. BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012.
aspectos qualitativos que caracterizaram, ou não, as Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de
amostras. Dos 19 atributos relacionados aos estruturados em pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da
diferentes formulações, somente presença de líquidos, União. Brasília, 13 jun. 2013.
brilhante, aroma doce, aroma ácido, suculento, gosto doce, 8. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices.
sabor de manga e sabor cajá, obtiveram variação 3rd ed. New York: Academic Press. 2004.
significativa (p<0,05), de acordo com o observado pelos 9. PLAEHN, D. CATA penalty/reward. Food Quality and
provadores. Preference, v. 24, p. 141–152, 2012.
172
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
método de secagem em estufa à 105ºC até peso constante, de acordo SA 1.45(± 0.070 b 1.23(±0.04)b* 2.49(±0.13)a*
com os parâmetros descritos no protocolo número nº 950.46 da Cinzas
CA 1 .3 7 (± 0. 10 ) b 1.11(±0.02) c 1.80(±0.22) a
Association of Official Analytical Chemists (6). A determinação de
cinzas foi feita pelo método gravimétrico de carbonização e incineração SA 22.31(±0.32) c 35.91(±5.72)b 51.68(±2.56)a
Proteína
em mufla a 550º C, de acordo com os parâmetros descritos no protocolo CA 19.55(±4.52) c 32.38(±1.09)b 52.66(±5.61)a
número nº 950.46 da AOAC (6). O método de análise de proteínas foi SA 3 . 7 0 ( ± 1. 0 0 ) c 3.60(±0.39)b 8.70(±0.70) a
feito por meio do método de Kjedahl, seguindo a metodologia nº 928.08 Lipídeos
CA 3 .0 5 (± 0. 48 ) b 5.65(±0.98)ab* 8.74(±3.51) a
da AOAC (6). Os lipídeos foram dosados conforme descrito por Folch,
Less e Stanley (7). A avaliação da oxidação lipídica foi determinada
através do índice de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico Os resultados para oxidação lipídica e proteica estão expressos na tabela
(TBARS) das amostras de carne caprina, realizada conforme método 2. Para oxidação lipídica, entre o tempo 0 e o tempo 60 (SA), os valores
proposto por Rosmini et al. (8) sendo o resultado expresso em mg de de TBARS nos cortes caprinos variaram de 0.03 a 0.10 mg/kg/amostra
TBARS / kg de carne caprina. Para oxidação proteica foi realizado caprina, não havendo diferença estatística significativa entre o 14º e 60º
através da avaliação do conteúdo de carbonilas com base na dia de armazenamento. Já na análise da peça CA, a variação foi de 0.16
absorbância por derivação com 2,4-dinitrofenilhidrazina (DNPH a 0.05 mg/kg/amostra caprina, demonstrando declínio e diferença
10mM em HCl 2N) (9). Todas as análises foram realizadas em estatística (p<0.05) no último tempo de armazenamento (60º. dia).
triplicata. Os resultados obtidos nas análises foram compilados em Comparando os tratamentos, a peça CA apresentou os maiores valores
planilhas eletrônicas e submetidos à análise da variância ANOVA em todos os tempos de armazenamento. A análise da oxidação lipídica
univariada, usando um delineamento inteiramente casualizado e os realizada apontou declínio nos valores de TBARS no pernil CA ao
tratamentos estatisticamente diferentes foram comparados através do longo dos tempos de armazenamento. O teor de lipídeos das amostras
teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para comparar os se relaciona com os valores de TBARS correspondentes, observando
tratamentos aplicou-se o teste T-student, utilizando-se o software um baixo teor de lipídeos e, consequentemente, baixos valores de
estatístico SigmaStat 4.0 TBARS, julgando assim baixa propensão à oxidação lipídica (17).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados para a composição Na análise de oxidação proteica houve aumento do teor de compostos
centesimal estão expressos na tabela 1. Para composição centesimal, carbonílicos ao longo dos tempos de armazenamento no pernil SA. Já
quando comparadas as médias entre os tratamentos sem ácido (SA) e na análise do pernil CA, houve aumento inicial seguido de decréscimo
com ácido (CA), houve diferença estatística significativa (p<0.05) para ao final do tempo de armazenamento. Entre os tratamentos, houve
os valores de umidade entre os três tempos de maturação, cinzas no 14º diferença estatística (p<0.05), tendo a carne SA apresentado valores
e 60º e lipídeos no 14º dia. Não houve diferença estatística (p>0.05) superiores. A oxidação proteica em carnes pode ser causada por
entre os tratamentos SA e CA para o percentual de proteínas. Entre os diversos processos que ocorrem durante a maturação a seco, dentre eles
tempos de tratamento, ao final do tempo de maturação, em 60 dias, a degradação das proteínas através de endopeptidases, o que resulta no
observou-se diferença estatística significativa para os parâmetros aumento do conteúdo de aminoácidos livres (18) que pode ser causada
avaliados de umidade, cinzas, e lipídeos dos dois tratamentos, CA e SA. por fatores internos referentes a processos metabólicos ou enzimáticos
O parâmetro umidade diminuiu a partir do dia 0 de maturação nos dois que resultam em mudanças tecnológicas, nutricionais e sensoriais. O
tratamentos e houve aumento dos valores de cinzas, proteínas e lipídeos mecanismo da oxidação proteica se dá por interação entre moléculas,
nos dois tratamentos ao longo do tempo de armazenamento. Os valores fragmentação proteica e modificação nas cadeias de aminoácidos (19).
encontrados para composição centesimal estão de acordo com os As mudanças estruturais ocorridas no tecido muscular durante a
173
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
maturação aumentam de acordo com o tempo estocagem (20; 21). O (10) NASSU, R. T.; BESERRA, F. J.; SOUSA, M. P.; FREITAS, A.
processo de envelhecimento da carne é responsável pelo aumento na N. M.; FREIRE, S. A. Comparação entre características químicas de
concentração de carbonilas (19). carne de caprinos do nordeste brasileiro abatidos em diferentes idades.
Embrapa. 64, 2, 1999.
Tabela 2 – Índices de oxidação proteica, oxidação lipídica e pH.
(12) MADRUGA, M. S.; NARAIN, N.; ARRUDA, S. G. B.; SOUZA,
J. G.; COSTA, R. G.; BESERRA, J. B.; Influência da Idade de Abate
Pernis caprinos
e da Castração nas Qualidades Físico-Químicas, Sensoriais e
Variável Aromáticas da Carne Caprina. R. Bras. Zootec., Viçosa, 31, 1562-
(%) Tempos de armazenamento (em dias) 1570, 2002
174
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Lidenes Oliveira1, Vandesônia Oliveira1, Bianca Reges2, Afonso Filho3, Virna de Farias4, Aparecida Milhome4.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, lidenesoliveira@outlook.com
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará
3
Graduando em Tecnologia em Agroindústria, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Ubajara
4
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
Já para a preparação de F1, a coalhada obtida após a O teor de proteínas também apresentou diferença
fermentação foi cuidadosamente cortada em cubos, esperando-se 5 significativa (p < 0,05) entre as formulações, onde nota-se que F2
minutos para separação parcial do soro e precipitação da massa para apresentou teor de proteína abaixo do exigido pela legislação, visto
então ser colocada em saco de tecido de algodão, previamente que o mínimo é de 6 % (9), embora tenha sido adicionada uma maior
esterilizado, para a drenagem do soro sob temperatura de refrigeração quantidade de proteína láctea a esta formulação. Esse resultado pode
175
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
ter ocorrido devido a F2 não ter passado pelo dessoramento, assim não 3- PRUDENCIO, I. D.; PRUDÊNCIO, E. S.; GRIS, E. F.;
houve concentração da coalhada e, portanto, maior diluição das TOMAZI, T.; BORDIGNON-LUIZ, M. T. Petit suisse
proteínas presentes no produto. Destaca-se ainda que mesmo com a manufactured with cheese whey retentate and application of
adição de concentrado de proteína e creme de leite não foi possível betalains and anthocyanins. LWT-Food Sci. Technol. 41, 905-
atingir o padrão deste parâmetro. 910, 2008.
O pH não diferiu significativamente (p ≥ 0,05) entre as 4- DEOLINDO, C. T. P.; MONTEIRO, P. I.; SANTOS, J. S.;
amostras estudadas, portanto, infere-se que durante o período de CRUZ, A. G.; DA SILVA, M. C.; GRANATO, D. Phenolic-rich
dessoramento não houve redução significativa do pH. Resultados Petit Suisse cheese manufactured with organic Bordeaux grape
semelhantes foram encontrados por Prudêncio et al. (3) para petit juice, skin, and seed extract: Technological, sensory, and
suisse com e sem soro, onde obtiveram 4,55 e 4,57, respectivamente. functional properties. LWT-Food Sci. Technol. 115, 108493,
Quanto ao perfil de textura, observa-se que as formulações 2019.
diferiram estatisticamente (p < 0,05), exceto para a mastigabilidade 5- DE SOUZA, V. R., CARNEIRO, J. D. D. S.; PINTO, S. M.; DE
(TABELA 3). SOUZA, A. B.; STEPHANI, R. Efeito da concentração de
gordura nas propriedades físicas, químicas e sensoriais do queijo
Tabela 3 – Perfil de textura (média ± DP)* de queijo petit suisse com e sem retenção de soro.
petit suisse elaborado com retenção de soro. Rev. Inst. Latic.
PARÂMETROS FORMULAÇÃO** (%)
“Cândido Tostes”. 67, 20-28, 2012.
F1 F2
6- BARCELOS, S. C. de. Desenvolvimento e caracterização de
Firmeza (N) 116,02b ± 2,20 154,67a ± 1,57 queijo tipo petit-suisse caprino potencialmente probiótico com
Adesividade -463,88b ± 14,85 -268,61a ± 4,18 polpa de acerola (Malpighia emarginata DC). 2017. 172 p.
Elasticidade (mm) 0,957a ± 0,00 0,844b ± 0,02 Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) – Instituto
Coesividade 0,646a ± 0,01 0,584b ± 0,02 Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará, Limoeiro
Gomosidade (N) 75,62b ± 0,05 91,75a ± 5,33 do Norte, 2017.
7- STATSOFT. Statistica for Windows-computer programe manual,
Mastigabilidade (N.mm) 72,34a ± 2,00 75,86a ± 2,36
versão 7.0. Tulsa: Statsoft Inc. 2004.
Fonte: elaborada pelas autoras.
*Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem significativamente pelo teste t de 8- MATIAS, N. S.; BEDANI, R.; CASTRO, I. A.; SAAD, S. M. I.
Student (p ≥ 0,05); **F1 – Formulação elaborada pelo método tradicional; F2 – Formulação A probiotic soy-based innovative product as an alternative to
com retenção de soro. petit-suisse cheese. LWT-Food Sci. Technol. 59, 411-417, 2014.
9- BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
A amostra F2, obtida por meio do método de retenção de Instrução Normativa nº 53, de 29 de dezembro de 2000.
soro, apresentou maior valor de firmeza, comportamento que pode ser Regulamento técnico de Identidade e Qualidade de Queijo “Petit-
explicado devido à presença da goma xantana, que é um estabilizante Suisse”. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
solúvel e altamente higroscópico (10). Dessa forma, a umidade mais Brasília, DF, 04 jan. 2001. Seção 1, p. 3.
elevada da amostra possibilitou uma boa interação entre a goma e a 10- KATZBAUER, B. Properties and applications of xanthan gum.
água presente no soro, aumentando a firmeza e promovendo um
Polym. Degrad. Stab. 59, 81-84, 1998.
aspecto gelatinoso ao produto.
11- MARUYAMA, L. Y.; CARDARELLI, H. R.; BURITI, F. C. A.;
O aspecto gelatinoso e bastante firme, conferido pela goma
SAAD, S. M. I. Textura instrumental de queijo petit-suisse
xantana, foi um critério que descaracterizou o queijo petit suisse
potencialmente probiótico: influência de diferentes combinações
elaborado, pois apresentou uma textura que normalmente não é
de gomas. Food Sci. Technol. 26, 386-393, 2006.
observada no produto comercial.
Maruyama et al. (11), estudando o perfil de textura 12- BURKERT, J. F. M. Perfil de textura. Disponível em: <
instrumental de queijo petit suisse elaborado com diferentes http://www.sabercom.furg.br/bitstream/1/1575/1/perfil_de_textur
combinações de goma, observaram que as formulações que possuíam a1.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2020.
menor quantidade ou ausência de goma xantana resultaram em uma
menor firmeza quando comparadas a formulação que apresentava
maior porcentagem desse espessante.
Os valores de adesividade e gomosidade encontrados em F1
demonstram que possivelmente o produto irá ser removido mais
facilmente da boca durante o processo natural de mastigação e que a
força necessária para o desintegrar até o ponto de deglutir será menor
(12).
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
176
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Utilização dos Edulcorantes Stévia e Xilitol em Biscoito Tipo Cookies Enriquecido com
Mesocarpo do Babaçu
Kelly Silva Pinheiro1, Eulane Rys Rufino Abreu2, Flávia Rayane Carvalho Sousa3, Maria Amélia Gomes Dias4,
Sthefanny Gonçalves Jansem5, Álvaro Itauna Schalcher Pereira6
MATERIAIS E MÉTODOS
D 6.70833 6.22500 5.29167 6.16667 cd
b bc d
O estudo foi realizado no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA Campus Codó. Para a
elaboração do biscoito tipo cookies, foi utilizado trigo, açúcar E 6.86667 6.41667 6.15000 6.67500 bc
b bc c
refinado, ovos, margarina e fermento, comprados no supermercado da
cidade de Codó – MA, e mesocarpo de babaçu, comprado numa casa
de produtos naturais em Codó – MA, também stévia e xilitol, F 7.59167 6.62500 5.29167 6.33333 bcd
a b d
comprados numa loja virtual de produtos naturais. Foi elaborado seis
amostras de biscoitos tipo cookies, a primeira amostra foi utilizada
como padrão. Com a mistura dos ingredientes de cada amostra foi As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente
entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
cortada a massa em 20g para formar o biscoito e levado ao forno numa Fonte: Autora (2019).
temperatura de 150°C por 25 min.
A amostra C tem diferença significativa entre as outras
Tabela 1. Lista e quantidade de ingredientes de cada amostra amostras com relação a cor e aroma, em 5,83333 e 5,88333,
Ingredient A B C D E F respectivamente, e com relação a sabor, as amostras A e B diferiram
significativamente das demais amostras e no item consistência, a
es amostra A diferiu em relação as outras, com 7,87500. Em relação a
Trigo 1000 1000 1000 1000 1000 1000 preferência, a amostra A foi a mais aceita sensorialmente recebendo
g g g g g g os valores das médias em cor, aroma, sabor e consistência acima das
Ovos 80g 80g 80g 80g 80g 80g outras médias. Sendo que a amostra A é a amostra padrão do teste,
Margarina 585g 585g 585g 585g 585g 585g podemos observar na Tabela 2 que a segunda amostra mais preferida
é a amostra B, que não recebeu substituição do açúcar, sendo assim,
Codó. 4 Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do Campus Codó. 5 Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do
Campus Codó. 6 Professor Doutor do Curso de Tecnologia de Alimentos do Campus Codó.
177
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
7% 1% Diariamente
1%
Semanalmente
12%
34%
Quinzenalmente
Mensalmente
Não consome
45%
Não respondeu
178
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rocha Filho, Luis1; Nogueira, Leonardo2; Marques, Beatriz3; Oliveira, John3; Damaceno, Marlene4; Gonsalves,
Hyngrid4.
1 Aluno do Curso de Mestrado em Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte.
2 Aluno do Curso de Bacharelado em Nutrição do IFCE campus Limoeiro do Norte
3 Aluno do Curso de Tecnologia em Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte
4 Docente da área de Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte
E-mail: kenedyalimentos@gmail.com
Palavras-Chaves: Empanado, Anseriformes, Farinha de Linhaça, Farinha de Arroz, Farinha de Soja.
Tabela 1 – Porcentagem de ingredientes e de empanamento das formulações dos nuggets de carne de pato
% no Final do Produto % no Final do Produto
INGREDIENTES EMPANAMENTO
F1 F2 F3 F1 F2 F3
Farinha de Linhaça 45 - -
Pato desossado (coxa,
50 50 50 Farinha de Arroz - 45 -
sobrecoxa, peito)
Farinha de Soja - - 45
Emulsão 45 45 45 Leite 09 09 09
Água gelada 2,36 2,36 2,36 Açúcar 01 01 01
Sal 1,7 1,7 1,7 Ovo 03 03 03
Alho 0,15 0,15 0,15 Sal 01 01 01
Salsa 0,15 0,15 0,15 Fermento 01 01 01
Pimenta 0,33 0,33 0,33 Farinha de Rosca 20 20 20
Cebola 0,31 0,31 0,31 Amido de Milho 10 10 10
Fécula de Mandioca 10 10 10
Total 100 100 100 Total 100 100 100
FONTE: Elaborado pelos Autores.
Tabela 2 - Composição centesimal da carne de pato e das formulações de nuggets com média e desvio padrão
BRASIL
TBCA 2019
PARÂMETROS 2001
Carne de Pato F1 F2 F3
(g/100 g) Carne de Nuggets de
Empanado
Frango Frango
Proteínas 20,43 ± 0,38 14,87 ± 0,18 a 22,97 ± 5,70 a 18,23 ± 5,28 a 21,11 7,34 Mín. 10%
Lipídios 1,70 ± 0,23 10,65 ± 4,37 a 12,74 ± 2,38 a 11,31 ± 3,49 a 17,01 17,00 -
Carboidratos 6,87 ± 2,74 49,78 ± 9,64 a 49,25 ± 20,00 ab 46,61 ± 9,43 a 0,81 35,53 Máx. 30%
Fibra Bruta 8,22 ± 2,60 13,23 ± 6,19 b 28,37 ± 3,63 a 19,94 ± 2,53 ab 0,00* 0,00* -
Cinzas 1,23 ± 0,14 2,70 ± 0,25 a 2,41 ± 0,01 a 2,66 ± 0,98 a 0,75 2,21 -
Umidade 66,81 ± 0,89 20,08 ± 0,90 a 13,61 ± 2,80 b 16,95 ± 0,57 ab 74,85 32,03 -
* Dado para fibra alimentar.
Letras iguais na coluna indicam que não houve diferença significativa pelo teste Tukey (p≥0,05).
FONTE: Elaborado pelos autores.
A carne de pato, comparada ao estabelecido pela TBCA (7) possuam necessidades específicas em sua nutrição, como patologias
para carne de frango, destacou-se quanto aos teores de umidade e relacionadas à obesidade entre outras. Além disso, tecnologicamente
lipídios baixos, indicando uma carne magra, ideal para pessoas que falando, as gorduras presentes nos produtos alimentícios causam a
179
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
oxidação – processo natural de deterioração de óleos e gorduras na com 2,8 g/100 g de fibra em hambúrgueres bovinos enriquecido com
presença de oxigênio, e acelerada pelo calor. 10% de fibra de farelo de aveia.
Do ponto de vista tecnológico, entende-se que a perecibilidade As farinhas utilizadas são naturalmente isentas de glúten,
dos alimentos está diretamente relacionada à sua atividade de água, que contudo não foi realizado testes laboratoriais para confirmação da
proporcionará meio ideal para desenvolvimento e proliferação isenção desse.
microbiana e para reações enzimáticas no alimento, degradando-o. Por
tanto, para maior estabilidade, é importante que se diminua esse CONCLUSÃO
parâmetro o quanto possível. Observa-se então uma vantagem na baixa
Os resultados indicam a carne de pato como proteica, e magra,
umidade da carne de pato para estabilidade do alimento.
e sendo também uma ótima fonte de energia e minerais, além de
Apresentou resultado próximo à carne de frango de acordo
apresentar menor teor de umidade, o que sugere melhor conservação.
com a TBCA (7), apresentando, também alternativa de consumo.
Os nuggets formulados apresentaram bons resultados, quanto
Quanto aos parâmetros de carboidratos, fibras e cinzas, foram
a serem possíveis fonte de proteínas e carboidratos, terem baixo teor de
superiores ao previsto pela TBCA (7) para carne de frango.
gordura e umidade, o que os tornam mais estáveis do ponto de vista
Apresentando-se, por tanto, carne de valor enérgico considerável, e com
tecnológico, e principalmente, por todos se enquadrarem como rico em
minerais e fibras, mesmo não havendo informações de referências para
fibra bruta, o que garante ao público consumidor uma alternativa de
fibras brutas.
alimento saudável e seguro, e também de rápido e fácil preparo.
Os nuggets formulados com carne de pato e diferentes
farinhas, como substituto integral da farinha de trigo, apresentaram
REFERÊNCIAS
valores para proteínas acima do previsto pela TBCA (7) para nuggets
de frango, e dentro do que estabelece a legislação para empanados (8), 1. FLORES, A. F. Desenvolvimento de nuggets enriquecidos com
de 10 a 30% de proteína. fibras e sem adição de glúten. Trabalho de Conclusão de Curso.
As formulações também indicaram ser ricas em carboidratos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2012.
estando os resultados acima tanto do previsto pela TBCA, quanto do 2. LIMA, S.C.V.C. et al. Avaliação da dieta habitual de crianças e
estabelecido pela legislação. Sendo também portanto um alimento adolescentes com sobrepeso e obesidade. Revista de Nutrição,
alternativo quanto ao seu potencial energético. v.17, n.4, p.469-477, 2004.
Quantos aos parâmetros de umidade, os resultados foram 3. PITEIRA, M.F. et al. Extensional flow behaviour of natural fibre-
inferiores aos encontrados por Silva e Diniz (9), por Bastiani (10) e por filled dough and its relationship with structure and properties.
Flores (1), já os carboidratos foram superiores. O teor de proteína Journal of Non-Newtonian Fluid Mechanics, v.137, n.1-3, p.72-
também se apresentou superior na Formulação 2, quanto ao encontrado 80, 2006.
por Bastiani (10). Os teores de lipídios foram superiores aos 4. AOAC., ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
encontrados por Flores (1). CHEMISTS. Official Methods of Analysis of the AOAC
O teor de cinzas está próximo ao estabelecido pela TBCA, International. 16a ed. Arlington, USA, 1998.
indicando que as farinhas utilizadas nas formulações podem também 5. INSTITUTO ADOLF LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolf
ser alternativas na substituição da farinha de trigo. Lutz: Métodos físicos- químicos para a análise de alimentos.
O Resíduo Mineral Fixo (RMF), conhecido também por cinzas 1020p. 4ª ed. 1ª ed. Digital. São Paulo, 2008.
minerais, é o resíduo inorgânico que fica após a queima da matéria 6. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
orgânica, que se transforma em dióxido de carbono, dióxido de STANDARDIZATION. ISO 936:1998: Meat and meat products –
nitrogênio e água. Os minerais apresentam-se comumente como óxidos, Determination of total ash. Genebra. 1998.
sulfatos, silicatos e cloretos, dependendo da condição de incineração e 7. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA).
também da composição do produto analisado. Em altas quantidades Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center
podem conter potássio, sódio, cálcio e magnésio. Em baixas (FoRC). Versão 7.0. São Paulo, 2019. [Acesso em: outubro de
quantidades alumínio, ferro, cobre, manganês e zinco. E conter traços 2019]. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tbca.
de iodo, flúor e outros. 8. BRASIL. Instrução normativa n. º 6, de 15 de fevereiro de 2001.
Alimentos ricos em proteínas têm grandes chances de Aprova os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de
apresentarem enxofre, e carnes apresentam ainda em sua composição paleta cozida, produtos cárneos salgados, empanados, presunto tipo
de RMF, fósforo. serrano e prato elaborado pronto ou semipronto contendo produtos
Pode-se entender por fibra alimentar a parte comestível de de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do
plantas (a parte fibrosa) ou carboidratos análogos que são resistentes à Brasil, 2001.
digestão e a absorção no intestino delgado dos seres humanos, com 9. SILVA, A. R.; DINIZ, K. M. Biomassa da banana verde como
fermentação completa ou parcial no intestino grosso. Inclui, nas fibras ingrediente na elaboração de empanado de frango. 2016.
alimentares, polissacarídeos vegetais, como celulose, hemicelulose, Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica
pectinas, gomas e mucilagens, oligossacarídeos, lignina e substâncias Federal do Paraná.
que são associadas às plantas. Foi firmada esta definição a partir da 10. BASTIANI, M. A. M. Aplicação de breading extrusado de
elaboração feita pela American Association of Cereal Chemist, em farelo de arroz e bagaço de mandioca na produção de nuggets
1999, posteriores a debates subsidiados com informações de indústrias, de frango. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade
academias e órgãos governamentais de vários países (12) Tecnológica Federal do Paraná.
As carnes são produtos fracos em fibras, sendo associadas 11. COLII, C.; SARDINHA, F.; FILISETTI, T.M. Alimentos
frequentemente à doenças no trato digestivo. Produtos enriquecidos são funcionais. In Cuppari L. Guia de nutrição, nutrição clínica no
aqueles que contêm substâncias benéficas ou de propriedades adulto. São Paulo: Unifesp. p. 55-70, 2002.
superiores que os diferenciam dos originais, e a busca por esse tipo de 12. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº. 27, de 13 de janeiro de
alimentos tem tido crescente nos últimos tempos. 1998. Regulamento Técnico referente à informação nutricional
Os teores fibra bruta encontrado em todas as formulações de complementar.
nuggets de pato sugere uma ótima alternativa de produto cárneo de fácil 13. FIAMETTI, D. L; et al; Nuggets de frango enriquecido com
e rápido preparo, e ainda assim, nutritivo e rico, trazendo benefícios em fibras de fécula de mandioca. Trabalho de conclusão de curso.
seu consumo. Medianeira 2003.
A associação da farinha de arroz e a carne de pato (F2) foi a 14. MARQUES. J de M. Elaboração de um produto de carne bovina
que melhor apresentou resultados para esse parâmetro, enquanto a “Tipo Hambúrguer” adicionado de farinha de aveia. 2007. p.
formulação de carne de pato com linhaça (F1), obteve menores 71. Mestrado (Mestre em Tecnologia de Alimentos). Setor de
resultados. Entretanto todas as formulações se enquadram no Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de
estabelecido pelo Ministério da Saúde (1998) (12) afirmando, para Alimentos. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.
alimentos sólidos, teor de “rico em fibras” a partir de 6 g/100 g. 15. BARTOLOMEU, D. A. F. S, Desenvolvimento e avaliação da
O teor de fibra bruta resultante foi superior ao encontrado por aceitação de embutido defumado “tipo mortadela” elaborado
Flores (1), que utilizou proteína texturizada de soja, linhaça e gergelim com CMS de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e fibra de
que foi de 4,57 g/100 g. Superior também aos estudos de Fiametti et al trigo. Curitiba, 2011.
(13), que utilizou fécula de mandioca e obteve resultado de 4,61 g/100 16. DANIEL, A. P. Emprego de Fibras e Amido de Aveia (Avena
g, Marques (14) com quantidades variáveis de farinha de aveia em sativa L.) Modificado em Produtos Cárneos. Santa Maria, RS,
hambúrguer bovino obteve de 2,38 a 7,58 g/100 g de fibra alimentar, 2006.
Bartolomeu (15) com 3,1 g/100 g de fibra alimentar em mortadela de
tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e fibra de trigo, Daniel (16)
180
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO aparente (g/100 g), sólidos insolúveis (g/100 g), sólidos solúveis (º
No Brasil as abelhas vêm ganhando espaço, visto sua Brix), razão sólidos solúveis e acidez titulável (SS/ATT), e umidade
racionalização em trazer retornos econômicos rápidos, com pouco (%)
investimento. Além dos seus produtos – mel, cera, própolis, geleia real,
apitoxina, pólen – as abelhas são um dos principais polinizadores da MATERIAL E MÉTODOS
área vegetal. A apicultura pode ser estruturada em pequena área com As amostras foram obtidas através de produtores localizados
exigências de mão de obra baixas, além de fácil manejo, que adequado na cidade de Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte no interior do
atende às condições necessárias do apiário (1). estado do Ceará.
A legislação define o mel para o consumo humano como sendo A análise de Cor foi realizado com espectrofotômetro
o produto produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar de utilizando-se como referência amostra de Glicerol pura e usando a
floradas ou das secreções procedentes de partes de plantas vivas ou das escala de Pfund para sua classificação (6); a análise de açúcares
exceções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre as partes redutores (g/100 g) e açúcares totais (g/100 g) foi realizado titulação da
vivas das plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam solução da amostra em solução de Fehling A e B em aquecimento, e os
por elementos específicos das próprias, armazenam e deixam madurar cálculos para análises de sacarose aparente (2); os sólidos solúveis
nos alvéolos das colmeias (2). (ºBrix) a umidade (%) foi determinada por refratometria de acordo com
As características físico-químicas do mel ainda são pouco metodologia da AOAC (7) com conversão da leitura refratométrica do
conhecidas, principalmente nas regiões tropicais, onde a flora apícola é índice de refração pela tabela de Chataway e conversão para
bastante diversificada, associada às taxas elevadas de umidade e temperatura de 20º C, realizou-se também os cálculos de razão entre
temperatura (3). Assim, a caracterização de méis é fundamental para o sólidos solúveis e acidez (SS/ATT); a análise de sólidos insolúveis
conhecimento de suas propriedades físicas e químicas levando-se em (g/100 g) utilizou-se uma solução da amostra filtrado em papel filtro
consideração os fatores edafoclimáticos e estabelecendo critérios previamente seco, e em seguida realizando-se sua secagem até peso
comparativos de análise entre diversas regiões (4). constante (2); a análise de cinzas (g/100 g) utilizou-se a amostra e foi
De maneira geral, o mel das espécies de meliponíneos tem seca em estufa, calcinadas e incineradas em forno mufla a 600ºC por 6h
como principal característica a diferenciação nos teores da sua (2); a análise de acidez livre (m.E.q/ Kg-1) foi realizada com diluição do
composição, destacando-se o teor de água (umidade), que o torna mel e posta em pHmetro de bancada com titulação de Hidróxido de
menos denso que o mel das abelhas africanizadas (A. mellifera). A cor Sódio 0,1N até pH 8,3 (8); o pH foi medido com pHmetro de bancada
varia do quase transparente ao âmbar escuro e o gosto e níveis de açúcar digital (6); análises de Hidroximetilfurfural (HMF)(mg/ kg) com
dependem do paladar, da espécie, da época, da região e, principalmente, cálculos da absorbância das amostras diluídas e filtradas, e acrescidas
da florada (5). de bissufito de sódio nos comprimentos de ondas de 284nm e 336nm
Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar amostras de (8).
mel de abelha europeia (Apis mellifera ligustica), abelha jataí
(Tetragonisca angustula), jandaíra (Melipona subnitida) e canudo RESULTADOS E DISCUSSÃO
(Scaptotrigona depilis) em relação à acidez livre (m.E.q./ Kg-1), Os resultados obtidos foram ajustados na tabela 1 para melhor
açúcares redutores (g/100 g), açúcares totais (g/100 g), cinzas (g/100 interpretação. A legislação indica como índice de maturidade açúcares
g), cor (Pfund), hidroximetilfurfural (HMF) (mg/ kg), pH, sacarose redutores com mínimo de 65g/100, umidade com máximo de 20% e
TABELA 1 - Parâmetros avaliados nas amostras de méis com médias e desvios padrões.
LIMITES
APIS CANUDO JANDAÍRA JATAÍ VILLAS-
PARÂMETRO Apis mellifera Scaptotrigona Melipona Tetragonisca LEGISLAÇÃO
BOAS,
ligustica depilis subnitida angustula BRASILEIRA
MALASPINA
(2000)
(2005)
Acidez (m.E.q./Kg-1) 12,57 ± 0,00 c 24,50 ± 0,00 b 8,70 ± 0,00 d 49,47 ± 0,00 a Máx. 85 Máx. 50
Açúcares Redutores
86,42 ± 3,78 b 87,35 ± 6,87 b 103,87 ± 8,99 a 76,75 ± 1,21 b Min. 50 Min. 65
(g/100 g)
Açúcares Totais (g/100 g) 107,28 ± 6,57 a 94,66 ± 5,85 a 117,16 ± 95,71 a 95,71 ± 18,40 a - -
Cinzas (g/100 g) 0,14 ± 0,03 ab 0,15 ± 0,03 ab 0,10 ± 0,04 b 0,20 ± 0,02 a Máx. 0,6 Máx. 0,6
Cor (Pfund) Âmbar Claro Âmbar Âmbar Âmbar Escuro - -
Hidroximetilfurfural
94,18 ± 0,00 a 70,45 ± 0,00 b 45,18 ± 0,00 c 13,95 ± 0,00 d Máx. 40 Máx. 60
(HMF) (mg/ kg.)
pH 3,68 ± 0,02 c 3,87 ± 0,02 b 4,11 ± 0,01 a 3,23 ± 0,01 d 3,3-4,6 -
Sacarose Aparente
19,81 ± 6,48 a 6,94 ± 0,97 a 12,62 ± 7,56 a 18,01 ± 16,49 a Máx. 6,0 Máx. 6,0
(g/100 g)
Sólidos Insolúveis
0,28 ± 0,00 a 0,09 ± 0,00 b 0,09 ± 0,00 b NR Máx. 0,4 Máx. 0,1
(g/100 g)
Sólidos Solúveis
77,26 ± 0,35 a 68,63 ± 4,71 b 72,13 ± 0,47 ab 76,30 ± 0,60 a - -
(º Brix)
SS/ATT 6,14 ± 0,02 b 2,80 ± 0,19 c 8,29 ± 0,05 a 1,54 ± 0,01 d - -
Umidade (%) 20,56 ± 0,37 b <25 a <25 a 21,40 ± 1,41 b Máx. 35 Máx. 20
NR – Não Realizada
Letras iguais na mesma linha indicam que não houve diferença significativa pelo teste Tukey (p≥0,05).
181
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
sacarose aparente com máximo de 6g/100 g (2). Para a amostra de mel 2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
de Apis, apenas o índice de açúcares redutores está dentro do exigido Defesa Animal. Legislação de Produtos Apícolas e Derivados.
por lei. Sua umidade e sacarose aparente estão acima do permitido. A Instrução Normativa n. 11, de 20 de outubro de 2000.
umidade é um dos parâmetros importantes na conservação de alimentos Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel.
no geral, visto que a quantidade de água presente pode propiciar Disponível em:
proliferação microbiana e, no mel, fermentar o produto. Méis que não http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/in_11_2000.htm.
estão maduros possuem alta umidade, o que pode ser evidência de uma 3. SODRE, G. S. et al. Caracterização físico-química de amostras de
colheita antecipada deste mel. méis de Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) do Estado do
Quanto às demais amostras, não há legislação específica para Ceara. Ciência Rural, v. 37, n. 4, 2007.
mel de abelhas nativas, e, entretanto, seus méis são de características 4. CRANE, E. O mel no passado e no presente, in: O livro do mel.
singulares e diferenciadas das abelhas do gênero Apis. Entretanto para Editora Nobel, São Paulo, Brasil, 1982.
Villas-Boas (9), indica o mínimo de 50 g/100 g de açúcares redutores, 5. MORETI, A. C. C. C et al., Características físico-químicas de
máximo de 6 g/100 g de sacarose e umidade até 35%. Para estes amostras de méis de Apis melífera do estado do Ceará, Brasil.
parâmetros, as amostras de mel de abelhas nativas deste estudo estão Ciência e agrotecnologia, Lavras, v. 33, n. 1, p. 191-199, 2009.
dentro do indicado quanto a açúcares redutores e umidade, entretanto 6. BRASIL. Ministério da Agricultura Nacional de Defesa
bem elevado em seu teor de sacarose aparente. Elevados teores de Agropecuária. Portaria n° 1 de 07 de outubro de 1981. Métodos
sacarose pode indicar adulteração por xarope de sacarose parcialmente analíticos oficias para controle de produtos de origem animal e
invertida e/ou indicar uma colheita prematura do mel, onde parte da seus ingredientes métodos físicos e químicos. Laboratório
sacarose presente no néctar não foi convertida, pela invertase, em Nacional de Referência Animal (LANARA): Brasília, DF, 1981.
glicose e frutose (10; 11; 4). v.11.
Os resultados de sacarose aparente de todas as amostras não 7. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS.
diferiram entre si, mas os resultados de umidade apresentaram os méis Official methods of analysis. 16. ed. Washington: Association of
de canudo e jandaíra como os mais úmidos e o mel de jandaíra também Official Analytical Chemists, 2000.
se destacou quanto ao valor de açúcares redutores. 8. AOAC., ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
Os valores de acidez deram dentro dos parâmetros indicados CHEMISTS. Official Methods of Analysis of the AOAC
pela legislação (2) para o mel de abelhas do gênero Apis, e também do International. 16a ed. Arlington, USA, 1998
Codex Alimentarius Commission (12) que determina 50 m.E.q/Kg, e 9. VILLAS-BÔAS, J. K.; MALASPINA, O. Parâmetros Físico-
dentro do sugerido por Villas-Boas e Malaspina (9) para mel de abelhas Químicos Propostos para o Controle De Qualidade do Mel de
sem ferrão, havendo diferença significativa entre todas as amostras para Abelhas Indígenas Sem Ferrão no Brasil. Mensagem Doce, São
esse parâmetro, indicando o mel de Jataí como o mais ácido dentre as Paulo, ed., ano, n.82, p.6-16, 20 de julho de 2005.
amostras. Informações do fornecedor deste mel, indicou este estar há 10. BORSATO, D. M. Avaliação de méis com indicação monofloral,
mais tempo em armazenamento. comercializados na região dos Campos Gerais – PR. 2008. 84f.
O tempo de armazenamento e acidez elevada, em méis de Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)
meliponíneos, pode sugerir fermentação do produto, como relatados por – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR.
alguns autores, devido a natural umidade elevada destes, favorecendo 11. VARGAS, T. (2006) Avaliação da Qualidade do Mel Produzido na
essa reação (13; 14). Região dos Campos Gerais do Paraná, Tese de Mestrado em
Os valores de Hidroximetilfurfural (HMF) indicam o mel de Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Ponta Grossa – Brasil.
Apis com maior conteúdo, e acima do previsto para este mel, enquanto 12. CODEX ALIMENTARIUS. Revised codex standard for honey
que o mel de Canudo também está acima do sugerido por Villas-Boas codex stan 12- 1981, Rev.2 [2001].24th session of the Codex
e Malaspina (9). Alimentarius in 2001. Disponível em:
Este parâmetro pode ter vários interferentes, como acidez, pH, htt://www.codexalimentarius.net/download/standards/310/CX12.
conteúdo de água e minerais, sendo considerado, portanto, um pdf. Acesso em 14 de Fevereiro de 2020.
indicativo do processo de deterioração de mel, já que em condições 13. OLIVEIRA, K. A. M.; RIBEIRO, L. S.; OLIVEIRA, G. V.
inadequadas de armazenamento, ou condições climáticas da região, e Caracterização microbiológica, físico-química e microscópica de
tratamento térmico excessivo podem aumentar o seu nível de mel de abelhas canudo (Scaptotrigona depilis) e Jataí
concentração. (15; 16; 17). (Tetragonisca angustula). Revista Brasileira de Produtos
Os resultados diferem do encontrado por Araújo (18), quando Agroindustriais. v. 15, n. 3, p. 239-247, 2013.
analisou méis de Meliponíneos no semiárido nordestino, que 14. VIT, P; MEDINA, M; ENRIQUEZ, M. E. Quality standards for
apresentaram resultados inferiores para HMF (12,0 ± 1,0 - 57,6 ± 13,2), medicinal uses of Meliponinae honey in Guatemala, Mexico and
açúcares redutores (51,1 ± 1,0 - 72,8 ± 5,9) e cinzas (0,23 ± 0,20 - 0,63 Venezuela. Bee World 85(1): 2-5, 2004.
± 0,04), e valores superiores para acidez (30,1 ± 12,7 - 114,2 ± 0,5), 15. FALLICO, B.; ZAPPALA, M.; ARENA, E.; VERZARA, A.
insolúveis (0,33 ± 0,01 - 0,67 ± 0,02) e sacarose (1,4 ± 0,5 - 6,5 ± 3,4), Effects of conditioning on HMF content in unifloral honeys. Food
e valores próximos para umidade (23,2 ± 0,1 - 26,4 ± 0,7). Chemistry, v. 85, n. 2, p. 305-313, 2004.
A amostra de mel de Apis diferiram nos resultados 16. CHAVES, A. F. A.; GOMES, J. E. H.; DA COSTA, A. J. S.
encontrados por De Araújo et al (19), quando avaliou amostras da Caracterização físico-química do mel de Melipona fulva
cidade do Crato/CE, apresentando-se inferior quantos à acidez (21,57 – Lepeletier, 1836 (Himenoptera: Apidae: Meliponinae) utilizada na
59,60), e superior quanto à açúcares totais (71,73 – 76,80), açúcares meliponicultura por comunidades tradicionais do entorno da cidade
redutores (59,38 – 76,45) e sacarose (0,30 – 14,84), e valores próximos de Macapá-AP. Biota Amazônia, v. 2, n. 1, p. 1-9, 2012.
de umidade (17 – 21), pH (3,48 – 3,70), cinzas (0,06 – 0,24), insolúveis 17. SOUSA, J. M. B.; DE SOUZA AQUINO, I.; MAGNANI, M.; DE
(0,03 – 0,24) e HMF (2,88 – 340,03). ALBUQUERQUE, J. R.; DOS SANTOS, G. G.; DE SOUZA, E.
De acordo com a escala de Pfund com classificação em L. Aspectos físico-químicos e perfil sensorial de méis de abelhas
fotômetro ou espectrofotômetro a 560 nm em célula de 1cm, usando sem ferrão da região do Seridó, Estado do Rio Grande do Norte,
como branco a glicerina pura, obteve-se cor de âmbar claro para o mel Brasil. Semina: Ciências Agrárias, v. 34, n. 4, p. 1765-1774,
de apis, sendo diferente dos méis de abelha sem ferrão, que variaram de 2013.
âmbar a âmbar escuro, no mel de Jataí. 18. ARAÚJO, F. G. Comparação das características físico-
químicas e antioxidantes de méis de diferentes espécies de
CONCLUSÃO abelhas. 2014. Tese de Doutorado. Dissertação de mestrado.
As características singulares bem como os parâmetros limites Orientadora: Edna MM Aroucha. Universidade Federal Rural do
estabelecidos na literatura e na legislação indicaram méis com teores de semiárido, Mossoró-RN, 2014, 65p.
sacarose aparente elevados, bem como apresentou índice de 19. DE ARAÚJO, D. R.; DA SILVA, R.H.D.; DOS SANTOS
Hidroximetilfurfural do mel de Apis e de Canudo acima do previsto, SOUSA, J. Avaliação da qualidade físico-química do mel
sendo por esse critério não recomendado seu consumo. comercializado na cidade de Crato, CE. Revista de Biologia e
Ciências da Terra, v. 6, n. 1, p. 51-55, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. APICULTURA. Instituto Centro de Ensino Tecnológico. 2 ed.
Fortaleza: Edição Demócrito Rocha; Ministério da Ciência e
Tecnologia, 2004.
182
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Vandesônia Oliveira1, Thays Guimarães2, Milca Lima3, Lidenes Oliveira1, Bianca Reges4, Virna de Farias5.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, vandesonia@hotmail.com
2
Cursando Especialização em Saúde e Segurança Alimentar, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
Campus Limoeiro do Norte
3
Graduanda em Tecnologia em Alimentos, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do
Norte
4
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos,
Universidade Federal do Ceará
5
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
183
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A polpa da pitaia tornou-se mais firme com o desenvolvimento Considerando a qualidade das frutas analisadas, o produtor
completo da coloração vermelha da epiderme. Menezes et al. (8) pode fazer a colheita antes do período usual que se costuma colher a
explicam que esse aumento pode estar associado à perda de água pelo pitaia, ou seja, ao atingir 75% da coloração rosa da casca a fruta já está
fruto e apontam um comportamento semelhante em seu estudo sobre a apta para colheita e consumo.
firmeza da polpa da pitaia a partir dos 41 dias após a antese.
As cascas se encontraram numa faixa de luminosidade média, AGRADECIMENTOS
indicando que estavam brilhosas. P100 apresentou coloração da casca
com mais saturação e com menor tonalidade, então sua cor era mais As autoras gostariam de agradecer a Coordenação para o
pura e estava mais próxima do vermelho, uma vez que o ângulo 0 indica Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Instituto
esta cor. Já para P75, o tom se aproximou mais de 90°, ou seja, cor Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que
amarela, e menor pureza de cor. Esse comportamento era esperado, tornaram este trabalho possível, e ainda a Empresa Frutacor (localizada
visto que P100 possuía toda a epiderme com a cor rosa, enquanto P75 no Vale do Jaguaribe – CE) pela doação das pitaias.
não havia atingido esse ponto. A polpa das pitaias analisadas obteve
baixos valores para a luminosidade e ângulo hue, o que pode ser REFERÊNCIAS
explicado por sua cor intensa.
Os diâmetros transversais (DT) e longitudinais (DL) 1. LI, X.; LI, M.; WANG, J.; WANG, L.; HAN, C.; JIN, P.;
observados nesse estudo encontraram-se próximos dos relatados na ZHENG, Y. Methyl jasmonate enhances wound-induced phenolic
literatura, pois Esquivel et al. e Moreira et al. (9, 10) apontam valores accumulation in pitaya fruit by regulating sugar content and
médios de 8,5 e 7,3 cm de DT e DL, respectivamente. Já Cordeiro et al. energy status. Postharvest Biol. Technol. 137, 106-112, 2018.
(11) obtiveram valores superiores, de 10,73 para o DT e de 8,07 para 2. FAN, HUBER, D. J.; SU, Z.; HU, M.; GAO, Z.; LI, M.; SHI, X.;
DL. Estas divergências podem ter sido ocasionadas por diferenças ZHANG, Z. Effect of postharvest spray of apple polyphenols on
climáticas (11). the quality of fresh-cut red pitaya fruit during shelf life. Food
Cordeiro et al. (11) também encontraram resultado superior Chem. 243, 19-25, 2018.
para a massa da polpa, porém inferior para a da casca. No entanto, 3. RAMÍREZ-TRUQUE, C.; ESQUIVEL, P.; CARLE, R. Neutral
Menezes et al (8) verificaram massa de 257,67 g em pitaias colhidas sugar profile of cell wall polysaccharides of pitaya (Hylocereus
após 31 dias da antese. Desta forma, nota-se que a depender da região sp.) fruits. Carbohyd. Polym. 83, 1134-1138, 2011.
de cultivo pode haver variação do tamanho e peso da pitaia. 4. NUNES, E. N.; de SOUSA, A. S. B.; de LUCENA, C. M.;
Após a realização das análises físicas (decorrido de 4 a 5 dias), SILVA, S. D. M.; de LUCENA, R. F. P.; ALVES, C. A. B.;
observou-se que a coloração da casca mudou, onde as frutas do grupo ALVES, R. E. Pitaia (Hylocereus sp.): Uma revisão para o Brasil.
P75 atingiram maior percentual de coloração na epiderme (FIGURA 1). Embrapa Agroindústria Tropical-Artigo em periódico indexado
Esse comportamento não era esperado, visto que não se trata de uma (ALICE), 2014.
fruta climatérica. Assim, as alterações ocorridas após a colheita devem 5. DIÁRIO DO NORDESTE. Estiagem impulsiona mudança de
ser atribuídas a outros processos que não os de amadurecimento. culturas no agronegócio cearense. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/negocios/es
Figura 1- Mudança de cor em pitaia colhida com 75% da casca rosa. tiagem-impulsiona-mudanca-de-culturas-no-agronegocio-
cearense-1.2144457. Acesso em: 27 fev. 2020.
6. INSTITUTO ADOLFO LUTZ – IAL. Normas Analíticas:
métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 3. ed. São
Paulo: IAL, 1985. v. 1, 533p.
7. ASSOCIATION OF OFFICAL ANALITICAL CHEMISTS –
AOAC. Offcial methods of analysis of the Association of Offcial
Analitical Chemists. 18th ed. Washington: AOAC, 2007. 1750p.
8. MENEZES, T.P.; RAMOS, J.D.; LIMA, L.C.O.; COSTA, A.C.;
NASSUR, R.C.M.R.; RUFINI, L.C.M. Características físicas e
físico-químicas de pitaia vermelha durante a maturação. Semina:
Ciênc. Agrár. 36, 631-644, 2015.
9. ESQUIVEL, P.; STINTZING, F. C.; CARLE, R. Comparison of
morphological and chemical fruit traits from different pitaya
genotypes (Hylocereus sp.) grown in Costa Rica. J. Appl. Bot.
Food Qual. 81, 7-14, 2007.
10. MOREIRA, R. A.; RAMOS, J. D.; ARAÚJO, A. D.; MARQUES,
V. B. Produção e qualidade de frutos de pitaia-vermelha com
adubação orgânica e granulado bioclástico. Rev. Bras. Frutic. 33,
762-766, 2011.
(A): Pitaias 75% da coloração rosa da casca decorrido 5 dias após a colheita; (B): 11. CORDEIRO, M.H. M.; SILVA, J. M.; MIZOBUTSI, G. P.;
Pitaia com 75 e 100% da coloração rosa da casca no dia da colheita. MIZOBUTSI, E. H.; MOTA, W. F. Caracterização física,
química e nutricional da pitaia-rosa de polpa vermelha. Rev. Bras.
Os sólidos solúveis determinados nessa pesquisa foram Frutic. 37, 20-26, 2015.
próximos aos observados por Abreu et al. (12), que alcançaram 11,00 12. ABREU, W. C. D.; LOPES, C. D. O.; PINTO, K. M.;
°Brix para pitaia vermelha. Já para o pH e acidez, estes autores OLIVEIRA, L. A.; CARVALHO, G. B. M. D.; BARCELO, M.
obtiveram valores mais altos para o primeiro e mais baixo para o D. F. P. Características físico-químicas e atividade antioxidante
segundo. Isto ratifica que o local de produção pode influenciar bastante total de pitaias vermelha e branca. Rev. Inst. Adolfo Lutz
nas características dessas frutas. Destaca-se ainda que a acidez e o pH (Impresso). 71, 656-661, 2012.
observados nesse estudo indicaram baixa acidez para as amostras. 13. CHIK, C. T.; BACHOK, S.; BABA, N. Quality characteristics
A acidez e os sólidos solúveis podem ser indicadores do and acceptability of three types of pitaya fruits in a consumer
estádio de maturação das frutas (13), assim com base nessas acceptance test. JTHCA. 3, 89-98, 2011.
características, infere-se que as pitaias apresentaram boa qualidade para 14. LIMA, C. A. de;. FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V.;
o consumo nestes pontos de colheita. Em relação à umidade, assim COHEN, K. D. O.; GUIMARÃES, T. G. Características físico-
como a maioria dos vegetais, verifica-se que a pitaia é uma fruta que químicas, polifenóis flavonóides amarelos em frutos de espécies
possui alto teor de água. de pitaias comerciais e nativas do cerrado. Rev. Bras. Frutic. 35,
565-570, 2013.
CONCLUSÃO
184
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cristiano Costa1, Márcia Medeiros2, Yago Silva³, Maria Silva4, Gabriela Azevedo4, Dorasilvia Pontes5
1
Mestre/doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
2
Mestre/doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE – Campus Baturité
3
Gastrônomo – Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – UNIFAMETRO
4
Graduanda de Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
5
Professora Doutora do Departamento de Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
cristianocostanutri@gmail.com
185
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
RESULTADOS E DISCUSSÃO aumento na maciez dos mesmos. A literatura relata que a substituição
de gordura em níveis acima de 20% oferece ao produto uma melhoria
Composição físico-química na textura (12).
O teor de umidade e cinzas das formulações mostrou-se similar ao Os biscoitos estão ilustrados na Figura 1.
encontrado em um estudo (3,37% e 1,65%, respectivamente), com
biscoitos que continham 50% de farinha de castanha de caju, em Figura 1 – Biscoitos com 20% e 30% de farinha de amêndoa de
substituição à farinha de trigo (8). castanha de caju (FACC).
O biscoito com adição de 30% de FACC apresentou uma quantidade
superior de lipídios, o que pode estar associado ao alto teor desse
nutriente presente na castanha de caju. Consequentemente, a
formulação teve sua umidade e valor energético aumentados, em
comparação à de 20%.
A amêndoa possui aproximadamente 45% de lipídios, dentre os quais
a maioria são ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados, com
F1 – formulação com 20% de FACC
destaque para os ácidos oleico (ômega 9), além do linoleico,
palmítico e esteárico (9, 10).
O biscoito com maior teor de FACC apresentou também uma
quantidade superior de açúcares redutores. Estes, por sua vez,
correspondem aos monossacarídeos (glicose, frutose e galactose),
que, por conter um grupo aldeído ou cetona livre em sua estrutura
química, tem capacidade de se oxidar na presença de agentes
antioxidantes, em soluções alcalinas (11) (Tabela 2). F2 – formulação com 30% de FACC
Ao avaliar as características físicas do produto, verificou-se que a 2. SANTOS, R. C. O valor energético dos alimentos: exemplo de
perda de peso foi atenuada com a adição de um maior teor de FACC. uma determinação experimental, usando calorimetria de combustão.
O diâmetro e o volume específico dos biscoitos F1 e F2 não diferiram Química Nova, v. 33, n. 1, p. 220-224, 2010.
estatisticamente entre si, sugerindo que as diferentes proporções de
3. GAZOLLA, J. et al. Castanha de caju e sua amêndoa: composição
FACC e a adição da semente de linhaça não influenciaram na
e importância dos ácidos graxos - produção e comércio mundiais. In:
configuração geométrica do produto e não provocaram deformações
SOARES, N. S.; MERELLES, A. E. de F. (Org.). Comércio
indesejadas (Tabela 3). internacional de produtos agrícolas da região Nordeste do Brasil.
Fortaleza: Edições BNB, 2018.
Tabela 3 – Composição física e instrumental dos biscoitos 4. BARROSO, A. K. M. et al. Linhaça marrom e dourada:
adicionados de farinha de amêndoa de castanha de caju (ACC) propriedades químicas e funcionais das sementes e dos óleos
Parâmetros F1 (20%) F2 (30%) prensados a frio. Ciência Rural, v. 44, n. 1, p. 181-187, 2014.
Perda de peso (g) 1,39b±0,07 1,16a±0,06 5. AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
Diâmetro (cm) 5,21a±0,06 5,36a±0,14 CHEMISTS. Official methods of analysis. 18. ed. Gaithersburg:
Volume específico a AOAC International, 2005.
3,12 ±2,53 1,96a±0,08
(mL/g) 6. ANKOM. Technology method 2: rapid determination of oil/fat
L* 64,29b±1,34 65,64a±1,38 utilizing high temperature solvent extraction. Macedon, 2009. p.2.
a* 7,41b±0,80 5,99a±1,19 7. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
b* 20,87a±0,86 21,24a±0,39 análise de alimentos. 4. ed./1 ed. digital. São Paulo: Instituto Adolfo
Dureza (g) 19486,07b±3981,31 11686,51a±2246,05 Lutz, 2008.
Letras distintas em uma mesma linha apresentaram diferenças 8. MELO, A. B. P. et al. Elaboração e caracterização de biscoitos
significativas ao nível de 5% de significância (p < 0,05). adicionados de farinha de castanha de caju com diferentes adoçantes.
REBAGRO, 7, 145-150, 2017.
O biscoito com maior porcentagem de farinha de amêndoa de 9. DAS, I.; SHAH, N. G.; UMAR, G. Cashew Nut Quality as
castanha de caju apresentou uma luminosidade (L*) superior, o que Influenced by microwave heating used for stored grain insect control.
pode estar associado à coloração amarelada que esta matéria-prima Int. J. Food Sci, 1-7, 2014.
confere ao produto. Em contrapartida, o parâmetro da cromaticidade 10. USLU, N; ÖZCAN, M.M. Effect of microwave heating on
a* (eixo verde/vermelho) intensificou-se na formulação com 20% de phenolic compounds and fatty acid composition of cashew
FACC. Os açúcares presentes, incluindo os redutores, podem ter (Anacardium occidentale) nut and oil, J. Saudi Soc. Agric. Sci., 18,
sofrido o processo de caramelização, ou ainda, a Reação de Maillard, 344-347, 2019.
em combinação com os aminoácidos disponíveis nas farinhas. Ambas 11. SANTOS, G. L.; GEMMER, R. E.; OLIVEIRA, E. C. Análise de
as reações influenciam na coloração das preparações, deixando-as açúcares totais, redutores e não-redutores em refrigerantes pelo
com tonalidades mais escuras. método títulométrico de Eynon-Lane. Rev. Destaques Acadêmicos, 8,
186-197, 2016.
A dureza, definida como a força necessária para romper o produto, 12. BERTOLINO, M. T.; BRAGA, A. Ciência e tecnologia para a
foi menor na formulação com 30% de FACC, quando comparada à fabricação de biscoitos: handbook do biscoiteiro. São Paulo: Livraria
F1, sugerindo que maiores níveis de FACC podem causar um Varela: Revista Higiene Alimentar, 2017. 287 p.
186
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fátima Nunes1*, Francisco de Assis2, Maria Oliviera3, Yana Silva4, Cristiano Lima5
1
Doutora em Química Orgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor do Departamento de Química
Orgânica e Inorgânica, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará. Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
E-mail: fatima.nunes@ufc.br
2
Aluno de graduação do curso de Engenharia Química, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Campus
do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
3
Doutora em Química Orgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor do Departamento de Química
Orgânica e Inorgânica, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará. Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
4
Aluno de graduação do curso de Licenciatura em Química, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Campus
do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
5
Doutor em Agronomia/Fitopatologia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) Professor do Departamento de
Fitotecnia, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará, Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60356-001,
Brazil.
Palavras-chave: Fusarium oxysporum, atividade enzimática, fungos fitopatogênicos.
187
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
188
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
189
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
190
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
191
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
Através da análise sensorial realizada foi possível identificar 1 Pedrosa, I. Da cor à cor inexistente, 3a. ed., Ed. Léo Christiano,
com clareza o impacto visual que corante e pigmentos causam nas Co-editora Univ. Brasília: Rio de Janeiro, 1982.
preferências dos consumidores, podendo alterar até mesmo a
percepção de sabores e aromas devido ao julgamento prévio 2 Kinoshita, S.: Structural Colors in the Realm of Nature (World
realizado pelo sentido da visão. Scientific Publishing, Singapore, 2008) p. 3-6.
Foi constatado também que cor azul, em alimentos, possui um 3 NETTO, R. C. M. Dossiê corantes. FOOD INGREDIENTS
aspecto inusitado e não natural para os consumidores, possivelmente BRASIL, n. 9, 2009.
devido sua escassez na natureza, gerando uma avaliação previa que o
assemelha a produtos industrializados. 4 MENDONÇA, J. N. Identificação e isolamento de corantes naturais
produzidos por actinobactérias. 2011. 121p. Dissertação (Mestrado
em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
FICHAS Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2011.
Ficha 1 – Ficha com presença do agente indutor na avaliação. 5 VOLP, A. C. P.; RENHE, I. R. T.; BARRA, K.; STRINGUETA, P.
C. Flavonoides antocianinas: características e propriedades na
nutrição e saúde. Rev Bras Nutr Clin, v. 23, n.2, p. 141-9, 2008.
11 Vidal, L., Tárrega, A., Antúnez, L., Ares, G., & Jaeger, S. R.
(2015). Comparison of Correspondence Analysis based on Hellinger
and chi-square distances to obtain sensory spaces from check-all-
that-apply (CATA) questions. Food Quality and Preference, 43, 106-
112.
192
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação Sensorial da “Cocada Cremosa sem Lactose”, Geleificada e Espessada com Kappa-
carragenana
Palavras Chave: Gastronomia. Análise. Produto. e de Intenção de compra, ambos de 5 pontos. Assim, no primeiro, o item
“Gostei Muito” passa a ter valor 5, o “Gostei” valor 4, o “Não
Inovação. Hidrocolóides. Gostei/Nem Desgostei” valor 3, o “Desgostei” valor 2 e o item
“Desgostei Muito”, valor 1. Já no segundo, o item “Compraria Sempre”
INTRODUÇÃO passa a ter valor 5, o “Compraria Frequentemente” valor 4, o
“Compraria Ocasionalmente” valor 3, o “Compraria Raramente” valor 2
A cocada cremosa é um dos doces mais tradicionais do e o “Nunca Compraria” passa a ter valor 1.
nordeste brasileiro, e não poderia ser diferente, ao passo que seu Percentualmente, o resultado apresentado pelo Teste de
ingrediente base, o coco, é um fruto típico da Região – embora Aceitação pode ser observado no gráfico abaixo:
originário da Índia (1) – com produção em larga escala durante todo o
ano por favorecimento das condições climáticas tropicais. No entanto, a 80
referida preparação utiliza quantidades expressivas de outros insumos,
como o açúcar e o leite condensado, que são fundamentais para o 70
atingimento de sua consistência e textura cristalizada por fora e 60
cremosa por dentro, com certa viscosidade obtida pelas propriedades
espessantes das proteínas do leite, a exemplo dos caseinatos, que têm 50
grande capacidade de absorção de água e apresentam característica 40
viscosa (2). Contudo, o leite tem, em sua composição, um carboidrato a
que determinado grupo de pessoas é intolerante: a Lactose. 30
Assim, o produto aqui analisado foi desenvolvido com a
20
proposta de possibilitar o consumo de um dos doces nordestinos mais
populares também pelo público que tem restrições alimentares impostas 10
pelo leite. A ideia é reformular a receita básica da cocada cremosa,
substituindo o leite de origem animal (que contém lactose) pelo extrato 0
5 4 3 2 1
de coco (que não contém lactose e os espessantes artificiais presentes no
leite condensado), reduzindo o teor de açúcar e acrescentando kappa- Imagem 01: Gráfico percentual do Teste de Aceitação da “Cocada
carragenana como agente geleificante e espessante A kappa-carragenana, Cremosa sem Lactose”
por sua vez, é um carboidrato da “família de galactanas sulfatadas de
cadeias lineares formadas por dissacarídeos com unidades de Beta-D- Pode-se constatar, portanto, uma forte tendência em definir a
galactopiranose e Alfa-D-galactopiranose ou 3,6-anidro-galactoripanose “Cocada Cremosa sem Lactose” como de boa aceitação, já que 55 dos
alternantes” (3). 56 julgadores declararam ter gostado (25% do total) ou gostado muito
A avaliação sensorial proposta por meio deste trabalho tem, (abrangendo 73,2% do total) do produto.
portanto, o objetivo de avaliar a aceitação/rejeição e a intenção de A partir desses dados, calculou-se o Índice de Aceitabilidade
compra do público em geral em relação à “Cocada Cremosa sem do produto. Para tanto, foi adotada a expressão: IA (%) = A x 100/B,
Lactose”, verificando, ainda, a eficácia da kappa-carragenana junto ao onde A = nota média obtida para o produto, e B = nota máxima dada ao
leite de coco como agente geleificante e espessante em substituição ao produto. Para que o Índice de Aceitabilidade tenha uma boa repercussão
leite condensado, bem como propondo um produto que atenda às deve ter resultado ≥ 70%. A Nota Média foi calculada multiplicando o
necessidades de um público com intolerância à lactose. valor atribuído em cada item ao número de julgadores que o marcaram.
Somado os produtos de cada item, o resultado é multiplicado pelo valor
MATERIAIS E MÉTODOS máximo atribuído aos itens e dividido pelo número de julgadores (4). A
tabela abaixo apresenta o cálculo da Nota Média:
O produto analisado foi preparado com 600g de açúcar
cristal, 600g de coco ralado, 1.200ml de leite de coco fresco e 7g de Cálculo da Nota Média
kappa-carragenana em pó, seguindo basicamente os mesmos passos de
preparo da receita original, destacando a necessidade de diluição prévia Valor Atribuído a Quantidade de Resultado para cada
da kappa-carragenana em água aquecida para sua devida ativação Os Cada Item Julgadores que Item
teste foram realizados no Laboratório de Análise Sensorial do Instituto Marcaram o Item
de Cultura e Arte (ICA), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e a 5 41 205
metodologia utilizada para a realização da análise sensorial do produto
foi classificada como um método de análise afetivo de aceitação e 4 14 56
intenção de compra, também chamado de teste de consumidor. Os testes
afetivos qualitativos analisam, portanto, as respostas subjetivas dos 3 1 3
possíveis consumidores sobre o produto (4). Isso auxilia a identificar os 2 0 0
hábitos de consumo que podem ser úteis na predição do comportamento
desses consumidores, e, nesse caso, a verificar a relação de aceitação ou 1 0 0
rejeição com um produto protótipo.
Total 56 264
As amostras foram apresentadas em guardanapos de papel,
em temperatura ambiente, com cortes retangulares de 15g para cada
julgador. Foi disponibilizado um copo com água para que os voluntários Nota Média 4,7
pudessem fazer a limpeza do paladar. Os participantes, de modo geral,
foram alunos, professores e servidores voluntários do ICA, entre homens Imagem 2: Tabela com os dados para o cálculo da Nota Média do
e mulheres de diversas idades e poderes aquisitivos distintos, em total de produto “Cocada Cremosa sem Lactose” no Teste de Aceitabilidade.
56.
Calculada a Nota Média, pode-se calcular o Índice de
RESULTADOS Aceitabilidade do produto.
Para se chegar a um denominador satisfatório a partir dos IA% = 4,7 x 100/5 => IA% = 94%
resultados contabilizados, foram atribuídos valores de 1 a 5 em ordem
decrescente aos itens em cada um dos dois testes aplicados, de Aceitação
193
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A partir dos resultados do Teste de Aceitabilidade da “Cocada compraria”, “compraria frequentemente” e “compraria raramente”) e
Cremosa sem Lactose” submetidos, identifica-se que o produto tem uma com ponto intermediário (5), pode-se concluir que os aspectos positivos
aceitação de 94%, número bem superior aos 70% limítrofes do índice, da análise envolvem 67,8% dos julgadores no que diz respeito à intenção
mostrando, assim, uma ampla aceitação do produto entre o público que o de compra, considerando que ainda está se desconsiderando os possíveis
julgou. compradores “ocasionais” (30,4%).
O segundo teste aplicado foi o de Intenção de Compra, para o
qual valores de 1 a 5 também foram atribuídos aos itens, como CONCLUSÃO
mencionado anteriormente.
Percentualmente, o resultado do Teste de Intenção de Compra Os Testes de Aceitação e de Intenção de Compra mostraram-
pode ser observado no gráfico abaixo: se úteis para mensurar o interesse de aquisição e consumo da “Cocada
Cremosa sem Lactose” com resultados satisfatórios e comentários
positivos dos julgadores sobre o produto analisado. O Índice de
Aceitabilidade de 94% chega a ser surpreendente, pois mostra a
capacidade que este produto tem para impactar as pessoas em aderir ao
consumo deste, dada sua aprovação. Os resultados referentes ao teste de
Intenção de Compra, ainda que mais variados, podem ser analisados de
forma a entender que a “Cocada Cremosa sem Lactose” poderia ser
posicionada de auspiciosa no mercado.
REFERÊNCIAS
194
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Moisés Assunção Neves (1), Dayanne Lopes Gomes de Oliveira (2), Evânia Maria da Silva Ferreira (3)
(1) Discente do curso de Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –
IFPI, E-mail: mosei1@hotmail.com, (2) Doutora - Professora de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí – IFPI, (3) Especialista – Professora de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí – IFPI.
195
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
196
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: Microencapsulação; gelificação iônica; Caryocar coriaceum Wittm; óleo vegetal; polissacarídeo.
197
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
(33,90 ± 3,43), em relação ao parâmetro b*. Visualmente, percebeu-se EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) pela
um amarelamento mais intenso das partículas secas em estufa frente a infraestrutura e suporte financeiro.
ambiente. A literatura mostra que a secagem em estufa quando
controlado o binômio tempo e temperatura pode promover baixas REFERÊNCIAS
modificações em relação as propriedades físico-químicas do material
(10). 1. ALVES, D. R. et al. Flavonoid Composition and Biological
Activities of Ethanol Extracts of Caryocar coriaceum Wittm., a Native
Tabela 3. Resultado dos parâmetros colorimétricos das partículas Plant from Caatinga Biome. Evidence-Based Complementary and
submetidas as duas formas de secagem.. Alternative Medicine, 2017.
2. FIGUEIREDO, P. R. L. de. et al. Caryocar coriaceum Wittm. (Pequi)
Secagem L* a* b* fixed oil presents hypolipemic and anti-inflammatory effects in vivo
Ambiente 70,40 ± 0,33 0,565 ± 27,46 ± 3,11 and in vitro. Journal of Ethnopharmacology, 2016.
0,20 3. BATISTA, J. S. et al., Avaliação da atividade cicatrizante do óleo de
Estufa 70,49 ± 0,73 0,525 ± 33,9 ± 3,43 pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) em feridas cutâneas produzidas
0,45 experimentalmente em ratos. Revista Arquivos Instituto Biológico, v.
77, n. 3, p. 441-447, 2010.
As partículas de alginato e óleo de pequi secas nas diferentes condições 4. NASCIMENTO, Marília Alves do. Obtenção e caracterização de
foram reidratadas após serem submetidas aos dois métodos de secagem. microcápsulas de óleo de pequi em matriz de goma de cajueiro e
Após as 24 horas de hidratação, foi possível observar que as amostras gelatina por coacervação complexa. 2016. 64 f. Dissertação
secas em estufa apresentaram um alto índice de hidratação, (Mestrado em Recursos Naturais) - Centro de Ciências e Tecnologias,
aproximadamente 100% (Tabelas 2 e 4), comportamento diferente das Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.
amostras secas a condição ambiente, que quase não se notou 5. GU, M. et al. Encapsulation of Bifidobacterium pseudocatenulatum
visualmente sua hidratação, como mostrado na Figura 1. G7 in gastroprotective microgels: Improvement of the bacterial
viability under simulated gastrointestinal conditions. Food
Figura 1. Esferas de Alginato e Óleo de pequi secas em estufa e Hydrocolloids, v. 91, n. July 2018, p. 283–289, 2019.
6. GARCIA, D.C. et al., Drying of seeds. Ciência Rural, v. 34 n.2, p.
condição ambiente e após reidratação. 603-608. 2004.
7. CHANG, Chih Pong; DOBASHI, Toshiaki. Preparation of alginate
complex capsules containing eucalyptus essential oil and its controlled
release. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v. 32, n. 3, p. 257-
262, 2003.
8. AOUADA, F. A.; MUNIZ, E. C.; VAZ, C. M. P.; MATTOSO, L. H.
C. Correlação entre parâmetros da cinética de intumescimento com
características estruturais e hidrofílicas de hidrogéis de poliacrilamida
e metilcelulose. Quím. Nova, v. 32, n. 6, p. 1482-1490, 2009.
9. JHA, S. N. Colour measurements and modeling. Nondestructive
evaluation of food quality, p. 17-40, 2010.
10. ROSADO, L. D. S. et al. Influência do processamento da folha e
tipo de secagem no teor e composição química do óleo essencial de
(a) amostra seca em condição ambiente (25ºC e UR de 50%; (b) amostra seca em manjericão cv. Maria Bonita. Ciência e agrotecnologia, v. 35, n. 2, p.
condição ambiente (25ºC e UR de 50%) e reidratada; (c) amostra seca em estufa 291-296, 2011.
(50ºC por 5h); (d) amostra seca em estufa (50ºC por 5 h) e reidratada; 11. GARCIA, D.C. et al., Drying of seeds. Ciência Rural, v. 34 n.2, p.
603-608. 2004.
Tabela 4. Tamanho das microesferas de óleo de pequi após processo
12. AZEREDO. H.M.C. Fundamentos de estabilidade de alimentos.
de reidratação.
Embrapa Agroindústria Tropical, 2012.
Bico Partículas secas em Partículas secas em
(µm) estufa após ambiente após
reidratação. reidratação.
120 2,71 ± 0,32 1,88 ± 0,19
300 3,83 ± 0,16 2,09 ± 0,22
450 3,62 ± 0,12 1,45 ± 0,13
750 3,72 ± 0,31 1,69 ± 0,11
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
198
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Daiane dos Santos Pinto 1, Daniele Maria Alves Teixeira Sá 2, Mirla Dayanny Pinto Farias 2
1
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Departamento de Engenharia de Alimentos (UFC)
2
Docente do Curso de Tecnologia de Alimentos, Eixo de Produção Alimentícia - IFCE Campus Sobral
E- mail:daianesp2013@gmail.com
199
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
200
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A massa de biscoito segue as regras e características de outras massas, Participaram da análise sensorial uma equipe não treinada de 36
como pâte sucrée, seca, crocante e amanteigada. Ainda nessa categoria provadores voluntários da comunidade acadêmica da UFC,
pode-se encontrar biscoitos de massas aeradas, como língua de gato e consumidores potenciais do produto e selecionados em função da sua
biscoito champanhe, as cremosas, como os cookies e as telhas que são disponibilidade e do interesse em participar do teste. O teste sensorial
muito usadas para finalização e decoração (6). foi aplicado no Instituto de Cultura e Arte (UFC) no mesmo dia em que
o cookie foi processado.
A análise sensorial objetiva estudar as percepções, sensações e reações
do consumidor sobre as características dos produtos, incluindo sua A aceitabilidade dos cookies foram analisados quanto aos seus atributos
aceitação ou rejeição, e tem-se mostrado como importante ferramenta visuais (cor, tamanho, forma, composição visual, aroma, textura, sabor
no processo industrial. Envolve um conjunto de técnicas diversas e e impressão global) através de uma escala hedônica estruturada de cinco
elaboradas com o intuito de avaliar um produto quanto à sua qualidade pontos, variando de 1-“desgostei muito” a 5-“gostei muito” e quanto a
sensorial (7). atitude de compra dos provadores foram questionados se comprariam ou
não esse produto, tendo-se um espaço para justificativas e observações
Fasoli et al. (8), explicam que os biscoitos tipo cookies apresentam (9).
grande consumo, longo tempo de comercialização e boa aceitação,
sobretudo entre as crianças e têm sido formulados com a intenção de Foi utilizado para o cálculo da estatística dos dados o programa Excel
torná-los fortificados, ou de torná-los fontes de fibras ou proteínas, 2016.
devido ao grande apelo existente nos dias atuais para a melhoria da
qualidade da dieta. Desta forma, o presente trabalho apresentou como RESULTADOS E DISCUSSÃO
objetivo, desenvolver e padronizar ficha técnica de cookies contendo
As etapas do processamento do cookie apresentam técnicas simples e
aveia, bem como avaliar sensorialmente a sua aceitação entre potenciais
de fácil execução (5), porém, como em qualquer outro processo requer
consumidores.
atenção e cuidado, a fim de se obter um produto de qualidade.
MATERIAL E MÉTODOS A padronização da ficha técnica seguiu rigorosamente as quantidades
em peso e o método de preparo, atentando para as temperaturas dos
A ficha técnica do cookie foi adquirida durante as aulas de confeitaria ingredientes e do forno para garantir o melhor desempenho. A primeira
do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do etapa foi executada seguindo a ficha inicial, anotando-se todos os
Ceará (UFC). Todos os ingredientes foram adquiridos em detalhes e alterações. Na segunda etapa, a execução se deu com as
201 adequações de alguns ingredientes e ajuste no método de preparo. Na
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
terceira etapa usou-se a ficha padronizada prosseguindo-se com a nem desgostar desses critérios.
avaliação sensorial do cookie. Sobre o método cremoso utilizado para
esta preparação, Bottini e Leme (10) explicam que antes de tudo O sabor apresentou 72% de gostei muito e 22% de gostei, apresentando
misturam-se a gordura e o açúcar, até ficarem relativamente lisos, 6% sem resposta, porém com relação ao sabor dois provadores
leves e cremosos. Depois, juntam-se os ovos gradualmente e, por fim, descreveram que poderiam alterar os ingredientes com passas, castanha
os ingredientes secos peneirados, em uma ou duas adições, de caju e do Pará ou mesmo amêndoas nativas.
dependendo da quantidade de farinha.
Quando perguntados se comprariam ou não o produto, todos os
Sobre a função dos ingredientes, que interfere no melhor provadores marcaram que sim, sendo justificado pela boa aceitação do
desenvolvimento da ficha técnica, a Farinha de Trigo e Aveia tem como produto.
objetivo estruturar a massa, pois é o elemento da preparação mais rico
em glúten. O fermento e bicarbonato de sódio objetivam introduzir gás CONCLUSÃO
carbônico na massa. O sal e o açúcar auxiliam na coloração e no sabor,
porém o sal ainda previne desenvolvimento excessivo do glúten e realça A padronização é uma etapa necessária no desenvolvimento de produtos
o sabor doce. Já a manteiga e os ovos reforçam a elasticidade do glúten garantido a repetibilidade. O Cookie apresentou boa aceitação, com
e confere sabor, maciez e umidade, além das claras possuírem a função destaque para cor, sabor e textura o que reflete os 100% de intensão de
de fermento físico. As nozes, chocolates e a essência de baunilha compra do produto. Apesar de conter sugestões de ajustes no aroma e
conferem sabor e textura a preparação (5). na impressão global, o cookie se mostra promissor para seu incremento
no mercado.
As percepções sensoriais dos alimentos são interações complexas que
envolvem os cinco sentidos: visão, olfato, paladar, tato e audição. A REFERÊNCIAS
avaliação sensorial tem por objetivo detectar diferenças nos produtos
(1) Mercado de Biscoitos, Massas e Grãos. M. Dias Branco. Disponível
avaliados, de acordo com as diferenças perceptíveis na intensidade de
em: h ttps://ri.mdiasbranco.com.br/servicos-aos-investidores/mercado- d
alguns atributos (11).
e-biscoitos-massas-e-graos/. Acesso em: 29/05/2020.
Os resultados da análise sensorial para o Cookies estão apresentados na
(2) MORAES, K. S.; ZAVAREZE, E. R.; MIRANDA, M. Z.; SALAS-
Figura 1.
MELLADO, M. I. M. Avaliação tecnológica de biscoitos tipo cookie
com variações nos teores de lipídio e de açúcar. Ciênc. Tecnol.
Aliment., Campinas, 30(Supl.1): 233-242, maio 2010.
Introdução
O brigadeiro é um doce típico da culinária brasileira, foi criado na Figura 1: Fluxograma do processo de produção da biomassa e do
década de 1940. Esse inocente preparo pode nos levar a sérias brigadeiro de figo.
complicações metabólicas, pois não agrega nenhum valor nutricional
para o nosso organismo. Possui Kcal vazias, seu consumo abusivo
pode resultar não só ao excesso de peso/obesidade, como também a
patologias mais sérias, pois seus ingredientes possuem apenas
açúcares e gorduras em sua composição (1).
Além disso, a intolerância à lactose, segundo Téo (2002), é uma
inabilidade para digerir completamente a lactose, causada pela
deficiência de fabricação da enzima lactase pelo corpo humano (2).
Como consequência, o intestino não consegue digerir a lactose que
passa pelo cólon, sendo fermentada por bactérias, havendo produção
de ácidos orgânicos de cadeia curta e gases. Freitas (2016) explica que
enquanto a intolerância é um problema digestivo, a alergia ao leite é
uma reação desencadeada pelo sistema imunológico a uma ou mais
proteínas do leite, como a caseína. Os principais sintomas da alergia à
proteína do leite se concentram nos sistemas digestório e respiratório,
além de alterações na pele e perda de peso (3).
O figo, fícus carica, é um fruto que contém vitaminas A, B1, B2,
cálcio, ferro, fósforo, magnésio, sódio, potássio, cloro e vários tipos de
anti-oxidantes. O Brasil possui excelentes condições de clima e solo
para o desenvolvimento e produção de figo, tendo a cultura maior
expressão econômica nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e
Minas Gerais (4).
Para desenvolver produtos com propriedades funcionais, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece que seja
necessário que o alimento que alegar propriedades funcionais deve
produzir efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à
saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica (5). Fonte: elaborada pela autora.
Desta forma, considerando os alimentos funcionais como promotores
de saúde por estarem associados à diminuição dos riscos de algumas
doenças crônicas, uma vez que são encontrados em alimentos naturais Resultados e Discussão
ou preparados, contendo uma ou mais substâncias funcionais, a Os resultados da determinação de umidade, atividade de água, sólidos
ingestão de alimentos funcionais contribui para um melhor solúveis totais, quantidade de cinzas, pH e lipídeos do produto, podem
desempenho do organismo do indivíduo que os ingere. ser observados na Tabela 1.
Assim, o presente trabalho pretende unir um doce característico do
Brasil com uma fruta que não possui muitas diversificações no seu uso
gastronômico, aliando as suas propriedades nutricionais sem o Tabela 1: Resultados das análises químicas.
acréscimo de leite em seu preparo, fazendo com que o produto possa
ser consumido por pessoas com dietas restritivas a lactose, além de Item analisado Resultado
poder ser consumido no período entre as refeições. Umidade 71,82%
203
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
extremamente baixo foi o teor de lipídeos, apenas 2,71%. Observou-se (3) FREITAS, Karina. Intolerância à lactose – causas e
que o produto apresenta 1,48% de matéria inorgânica, enquanto um consequências. Disponível em:
brigadeiro normalmente apresenta 1,04%, e pH praticamente neutro, http://vitalitecentromedico.com.br/intolerancia-lactose/
equivalendo-se ao pH do leite (8). (4) LEONEL, M. & LEONEL, S. Processamento do Figo .In:
Os resultados da pesquisa de mercado estão expressos através dos Leonel, S. & Sampaio, A.C. (Eds.) - A figueira – São Paulo, Ed.
gráficos da Figura 2, onde a maioria das pessoas consome figos, mas UNESP, p. 359-372, 2011.
não tem conhecimento das propriedades nutricionais dele. (5) BRASIL. Resolução nº 18, de 30 de abril de 1999. Aprova o
“Regulamento Técnico que estabelece as diretrizes básicas para
Figura 2: Pesquisa de mercado. análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde
alegadas em rotulagem de alimentos”. Órgão emissor: ANVISA -
Você tem conhecimento das Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:
Você consome Figos? propriedades nutricionais do figo?
Você compra brigadeiros?
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/815ada0047458a7293e
11% 3d73fbc4c6735/RESOLUCAO_18_1999.pdf?MOD=AJPERES>.
Sim
25%
Sim 43% Sim (6) AOAC. Association of Official Analytical Chemists. Official
Não Não 57%
Não Methods of Analysis of the AOAC International. 16th ed.
89% 75%
Washington: AOAC, 1995.
(7) Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA –
UNICAMP. - 4. ed. rev. e ampl.. -- Campinas: NEPAUNICAMP,
Em uma escala de 1 a 5. Com qual frequência voce experimenta
2011.
50
novos produtos que o mercado lhe oferece? (8) GAVA, A. J.; SILVA, C. A. B.; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de
40
alimentos: princípios e aplicações. São Paulo: Nobel, 2008.
30
20
10
0
1 2 3 4 5
Conclusões
Ao final do desenvolvimento da pesquisa obteve-se sucesso quanto à
elaboração do produto, uma vez que o brigadeiro de biomassa de figo
apresentou maiores vantagens nutricionais se comparado a um
brigadeiro convencional – menor valor energético, menor taxa de
carboidratos, gordura e de sódio e maior percentual de fibras. Um
doce com o sabor tradicional do brigadeiro e com um leve toque
aromático do figo, que pode ser consumido por pessoas que tenham
uma dieta com restrição a lactose. Como melhorias, sugere-se a adição
de algum tipo de proteína vegetal para manter o doce como produto
sem lactose porém aumentando o teor de proteína em sua composição.
Referências
(1) SOARES, L.E.G et al. Desenvolvimento de brigadeiro
elaborado com biomassa de banana verde, com efeito prebiótico e
antioxidante. UNINCOR, 2015.
(2) TÉO, Carla R. P. A. Intolerância à lactose: uma breve revisão
para o cuidado nutricional. Arquivos de Ciências da Saúde da
Unipar, Umuarama – PR, v. 6, n. 3, p. 135 – 140, set. – dez. 2002.
204
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
205
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 2: Mistura do xarope com o Tabela 3: Resultados médios das análises físico-químicas e
extrato alcoólico conforme formulação A e B. de colorimétria do licor de mutamba para a formulação A
(Xarope com extrato alcoólico de álcool de cereais)
Formulação Xarope Extrato Tempo de e formulação B (Xarope com extrato alcoólico de cachaça
(g/L) Alcoólico Maturação comercial).
(v/v)
A 200g/L Cereais 45 dias Parâmetros Formulação Formulação
A B
B 300g/L Cachaça 45 dias pH 4,37±0,07e 4,45±0,01e
Sólidos solúveis (°Brix) 26,20±0,15c 28,40±0,09c
Fonte: Próprio Autor (2020). Teor alcoólico% (v/v) 31,91±0,05b 33,73±0,06b
Após a maturação o licor foi submetido às análises Acidez total titulável 0,03±0,02i 0,03±0,03i
de controle de qualidade quanto aos parâmetros físico- (g/100ml)
químicos para às variáveis: pH; sólidos solúveis; densidade; Luminosidade (L*) 17,30±0,23d 18,22±0,07d
teor alcoólico; acidez total titulável. Todos os parâmetros Cromaticidade a* 0,65±0,04f 0,87±0,01h
analisados e citados foram determinados seguindo os Cromaticidade b* 2,44±0,12ef 2,05±0,08f
procedimentos descritos no livro de Métodos do Instituto
Adolfo Lutz. (8). E quanto aos parâmetros colorimétricos às Saturação (C*) 2,14±0,01 ef
1,65±0,05g
análises foram realizadas utilizando o Calorímetro Minolta, Tonalidade (H*) 74,25±0,16 a
64,92±0,04a
modelo Chroma Meter CR-400. As amostras foram avaliadas
Valores apresentados em Média e ± Desvio padrão:
no sistema L, a* e b* (9).
triplicata/amostra; médias seguidas da mesma letra na linha
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).
3.Resultados e Discussões
Fonte: Próprio Autor (2020).
206
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Análise Físico-Química e Sensorial de Uvas Thompson Seedleess (Vitis vinifera L.) Cristalizadas,
Provenientes de Desbastes do Vale do São Francisco
Yan Borges1, Alda Livera 2, Tania Stamford2, Edvaldo Vieira 1, Luana Olegário 1 e Kaio Arruda 3
1
Mestre, UFPE, 2 Doutora, UFPE, 3 Graduando, UFPE – yanwbb@hotmail.com
A viticultura ocorre em diversas regiões do mundo. No Brasil, As uvas foram cristalizadas pelo método lento e rápido, o
se destacam a pioneira Região Sul e o Nordeste. Nesta última, o primeiro consiste na imersão da uva em xaropes de baixa
Vale do São Francisco se consagrou como polo produtor e concentração (30, 50 e 70 ºBrix), progredindo gradualmente até
exportador de uvas de mesa de alta qualidade, a partir do cultivo da atingir o valor de 70 ºBrix. Para cada concentração do xarope, as
uva “Itália”, com elevado padrão tecnológico. A viticultura e a uvas foram levadas ao aquecimento até o ponto de fervura e
vinicultura vêm proporcionando um grande desenvolvimento posterior repouso por 24 horas, levando, então 96 horas para a
econômico para a região, desde o desenvolvimento da área completa cristalização. Para o método rápido, as uvas foram
comercial, alcançando o mercado interno quanto o externo (1). submetidas a um único xarope de 70 ºBrix e levadas ao aquecimento
até o ponto de fervura com posterior repouso de 24 horas. Os
Em uma região tipicamente semiárida, as condições xaropes de cada tratamento foram formulados com sacarose, com o
climáticas destoam completamente das encontradas nas regiões controle do ºBrix (6). A relação amostra/solução de sacarose foi de
tradicionais de cultivo de uva. Entretanto, essa peculiaridade, 1 g do fruto para cada 10 g da solução osmótica, para ambos os
somada à tecnologia de produção utilizada, fez com que este seja o processos (7).
único lugar conhecido em que pode se obter até duas safras e meia
de uva por ano (2). As uvas foram levadas para secagem em uma estufa com
circulação de ar a 65 ºC ± 5 ºC, no qual permaneceram
A videira (Vitis sp.), uma planta da família das Vitaceae, é aproximadamente por 20 horas (8). As uvas cristalizadas foram
uma trepadeira lenhosa, com gavinhas de fixação. O fruto, a uva, é acondicionadas em sacos de polietileno e armazenadas em
do tipo baga, de formato, tamanho, cor, consistência e aroma temperatura ambiente ao abrigo da luz. Deste modo, foram
variáveis. A polpa comestível, de sabor doce, ácido, amargo ou realizados quatro experimentos para obtenção de uvas cristalizadas.
adstringente, contém até quatro sementes. É uma fruta do tipo não- Pela cristalização rápida a 0 e 3,0 % de cloreto de calco (TR0 % e
climatérico, ou seja, não amadurece após a colheita, devendo ser TR3,0 %) e pela cristalização lenta a 0 e 3,0 % de cloreto de cálcio
colhida no ponto ideal de maturação. Atinge até 7 metros de (TL0 % e TL3,0 %).
comprimento e frutifica a partir do 3º ano após o plantio (3).
A umidade foi verificada na perda de massa por secagem em
O desbaste é principal técnica empregada para regular o estufa à temperatura de 105 °C. A determinação do pH foi realizada
equilíbrio vegetativo e produtivo da planta, afetando no crescimento pelo método potenciométrico. A acidez titulável foi determinada por
das bagas. Os espécimes que não sofreram o desbaste apresentam titulação com solução NaOH 0,1 N, utilizando-se uma solução de
um menor índice de biomassa e menor relação área foliar/peso dos fenolftaleína 1 % como indicador. Para a análise de açúcares totais,
frutos. Algumas espécies de uva apresentam cachos compactos, foi utilizado o método Lane-Eynon (9).
exigindo o desbaste de 50 % das bagas, esta operação representa 45 %
da mão-de-obra, sendo pois, a prática mais onerosa desta cultivar. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética Humana da
As técnicas de desbaste comumente usadas são tesoura (início da Universidade Federal de Pernambuco e aprovado sob parecer n°
frutificação), desbaste manual (prefloração) e a escova plástica 2.695.526. Essa análise foi realizada no tempo zero, por 112
(prefloração e queda natural dos frutos (4). provadores não treinados. As amostras foram ordenadas e avaliadas
os atributos da cor, sabor, textura e aspecto global com a utilização
Inúmeras são as tecnologias empregadas no processamento de escala hedônica estruturada de 5 pontos, onde 1 = Desgostei
de uvas e subprodutos como doces, geleias, passas, sucos, vinhos, muito e 5 = Gostei muito. Para intenção de compra foi utilizado
raspas, vinagres, cosméticos, dentre outros (5). Algumas mais escala hedônica estruturada de 5 pontos, onde 5= compraria
difundidas do que outras, dependendo da região produtora e certamente e 1 = nunca compraria. Os dados foram avaliados
variedade de uva. A cristalização ainda é um processo subutilizado através da frequência de notas recebidas em cada item avaliado (10).
para o processamento das uvas do Vale do São Francisco, sendo
uma alternativa de baixo custo para reduzir a umidade inicial do Os resultados das análises físico-químicas foram submetidos
fruto e, portanto, aumentar a vida útil. Pode ser aplicado para uvas à análise de variância (ANOVA). Mediante teste de Tukey em nível
que não atendam aos requisitos para consumo in natura, a exemplo de 5 % de significância e foi determinada a diferenças entre as
das bagas de desbaste. médias. Para a análise, o software estatístico SAS versão 9.1.3 foi
utilizado (SAS Institute).
O presente estudo teve como objetivo a Obtenção de uva
cristalizada, proveniente do desbaste final, com boa qualidade
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
fisico-química e sensorial.
Os resultados das análises físico-químicas podem ser
2. MATERIAL E MÉTODO observados na tabela 1. O pH que se obtém produtos cristalizados
de melhor qualidade é o que se encontra próximo ao pH 4. Isto
O material de pesquisa, bagas de uvas Thompson Seedleess porque, nesta faixa de pH, a sacarose sofre menos reação de
maduras, do último desbaste (momento de seleção da uva de mesa), inversão e promove maior taxa de trocas osmóticas no sistema, já
foi adquirido diretamente do produtor em Petrolina (Fazenda Terra que também provoca hidrólise de pectina da parede celular,
Nova), e transportado por correio aéreo para o Recife. O causando microfissuras nos vegetais e assim favorece a penetração
processamento foi realizado no Laboratório de Experimentação e do xarope no interior da mesma (11). Todas as amostras do presente
Análise de Alimentos (LEAAL) do Departamento de Nutrição da estudo ficaram próximo ao pH preconizado.
Universidade Federal de Pernambuco.
Tabela1: Caracterização físico-química das Uvas Thompson
As uvas foram selecionadas quanto presença de defeitos, Seedlees in natura e cristalizadas.
lavadas para retirada de sujidades e resíduos de pedúnculo, e na pH (%Ac.Tártarico) Umidade (%) Açúcares T.
sequência, sanitizadas por imersão em hipoclorito de sódio (200 Crimson in
4.34 ±0.06a 0.25 ±0.01a 81.28 ±0.28a 23.30 ±0.57a
ppm) por 20 min. Em seguida foram imersas em solução de cloreto natura
de cálcio (CaCl2) 0 % ou 3,0 % de concentração por 30 minutos e TR0% 4.34 ±0.02a 0.18 ±0.00b 13.59±0.41b 72.30 ±1.57c
drenadas. TR3,0% 4.40 ±0.01a 0.19 ±0.00b 13.09 ±0.12b 67.22 ±0.97b
207
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
TL0% 4.55 ±0.19a 0.07 ±0.00c 13.49±0.27b 75.56 ±3.45c associados a técnica (cristalização rápida) que menos utiliza
TL3,0% 4.48 ±0.01a 0.10 ±0.03c 12.82±0.45b 67.97 ±0.66b insumos (sacarose) para a cristalização.
OndeTRO % Uvas Thompson Seedleess tratamento rápido com 0 % de
cloreto de cálcio, TR3,0 % Uvas Thompson Seedleess tratamento rápido com A metodologia aplicada é de baixo custo e fácil manejo,
3 % de cloreto de cálcio, TL0 % Uvas Thompson Seedleess tratamento lento desta forma, permitindo a dissemineção desta técnica para as
com 0 % de cloreto de cálcio, TL3,0 % Uvas Thompson Seedleess famílias que vivem da cultura da uva no Vale do São Francisco,
tratamento lento com 3,0 % de cloreto de cálcio. Médias com letras diferentes
na mesma coluna são significativamente diferentes (p < 0,05). podendo ser um incremento de renda. Além do fato, das bagas
provinentes do desbaste final serem um produto subutilizado,
Em geral, as uvas brasileiras sem sementes apresentaram evitaria o disperdício do alimento, transformando-o em um produto
acidez titulável variando de 0,41 a 0,58 % (12). As uvas neste com valor agregado.
estudo apresentaram conteúdo baixo de acidez, por já estarem
maduras, sendo ainda mais reduzido devido imersões em soluções REFERÊNCIAS
de sacarose. Houve diferença significativa entre as amostas in
natura, as do tratamento lento e as do rápido, tendo as dos 1.GRANGEIRO, L.C.; LEÃO, P.C.S.; SOARES, J.M.
tratamento lento o menor teor de acidez (tabela 1). Fato este, que Caracterização fenológica e produtiva da variedade de uva Superior
pode ser atribuido a diluição e oxidação dos ácidos orgânicos, pois Seedless cultivada no Vale do São Francisco. Revista Brasileira de
as uvas que passaram pelo tratamento lento, passaram 96 horas (de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 552-554, 2002.
forma descontínua) imersas em solução de sacarose, enquanto as do
tratamento rápido apenas 24 horas. 2. DIAS, P. P.; VITAL, T. W. O Desenvolvimento do Enoturismo
no Vale do São Francisco: um segmento em expansão. Turismo em
De acordo com a RDC Nº. 272, DE 22 de setembro de 2005 Análise, São Paulo, v. 23, n. 3, p.643-662, 3 dez. 2002.
(13), que estabelece umidade máxima de 25 % para doces 3. LIMA, A. F.; BENTO, A.; PEREIRA, J. A.; BARALDI, I. J.;
cristalizados, a umidade das uvas cristalizadas encontra-se dentro MALHEIRO, R. Avaliação do teor em compostos fenólicos e
dos padrões estabelecidos. Em relação a quantidade de açúcares atividade antioxidante de folhas de videira com vista ao seu
totais nas amostras, foi observado uma relação entre a quantidade de aproveitamento para uso alimentar. Revista de Ciências Agrárias,
CaCl2 utilizado no tratamento prévio, com a impregnação de açúcar. v. 40, n. SPE, p. 171-180, 2017.
As amostras que tiveram tratamento prévio a 3,0 % de CaCl2
independente do tratamento sofrido (rápido ou lento), apresentaram 4. EMBRAPA, Uva e Vinho Sistema de Produção, 10 ISSN 1678-
impregnação de açúcar menor quando comparado as amostras 8761 Versão Eletrônica Dez./2005.
expostas a uma menor concentração de CaCl2. É tido na literatura
que CaCl2 atua no fortalecimento da parede celular a partir da 5. LOPEZ, L. D.; PINTO, E. P.; BÖRGER, B. R.; KAIPERS, K. F.
formação de ligações cruzadas entre ácidos pécticos e C. Interferência do sistema de cultivo, radiação UV-C e método de
polissacarídeos. Tal fortalecimento da membrana da célula vegetal secagem na qualidade da farinha de subprodutos de uva. Científica,
atua como uma barreira física, dificultando a impregnação de açúcar v. 45, n. 4, p. 347-354, 2017.
(14). 6. GONTERO, M.; BRANDELLI, A.; NOREÑA, C. Z. Production
of crystallized fruit from watermelon rind. Ciencia e Investigación
Em suma, todas as amostras se comportaram dentro do Agraria, v. 37, n. 2, p.55-60, 2010.
esperado, quando comparado os fatores físico-químicos das uvas in
natura com as uvas que sofreram tratamento. Diminuindo a acidez e 7. PORTO, M. A. L.; GUERRA, N. B.; VASCONCELOS, M. A.;
umidade, e o aumento do pH e dos açucares totais, tais fatos, OLIVEIRA, A.; ANDRADE, S. A. C. Otimização da desidratação
contribuem consideravelmente para a estabilidade microbiológica e osmótica de uva Crimson Seedless. Revista Ciência Agronômica,
aumento do tempo de prateleira do produto, o que é desejável. v. 45, n. 2, p. 249-256, 2014.
Para que um produto tenha boa repercussão no mercado e ser 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária.
considerado como aceito, em termos de suas propriedades sensoriais Resolução nº 08, de 06 de março de 2013.
o índice de aceitação pelos consumidores finais deve ser superior a 9. AOAC., Official methods of analysis of the Association of
70 % (15). No quesito aroma, todas as amostras tiveram a nota 4 e 5 Official Analytical Chemists. Caracterização, propagação e
com maior incidência (acima de 70 %), portanto nem o tipo de melhoramento genético de pitaya comercial e nativa do cerrado, v.
tratamento e nem a concentração de CaCl2 influenciaram em tal 26, n. 74, p. 62, 2013.
parâmetro. Com relação a cor, todas as amostras foram bem
pontuadas (prevalência de notas 4 e 5), entra em destaque a 10. DUTCOSKY, S. D. Análise Sensorial de Alimentos. 4. ed.
semelhança com as uvas passas vendidas comercialmente, o que Curitiba: Champagnat, 2013.
torna a experiência mais próxima da rotina dos provadores. A cor
um importante fator decisório, na determinação final de compra do 11. RIZZON, L.A. Metodologia para análise de mosto e suco de uva.
produto (16). Embrapa. Informação Tecnológica, 1ª edição, 2010.
Todas as amostras tiveram boa repercussão no quesito 12. MASCARENHAS, R. D. J.; SILVA, S. D. M.; LOPES, J. D.;
sabor, a amostra TR3,0 % obteve a maior preferência dos LIMA, M. A. C. D. Avaliação sensorial de uvas de mesa produzidas
provadores. A combinação de cloreto de cálcio com processamento no Vale do São Francisco e comercializadas em João Pessoa -
rápido, minimizou a perda de compostos de sabor típico da uva. O PB. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 32,
cloreto de cálcio atua fortalecendo a parede celular (14), a n. 4, 2010.
resistência criada na membrana proporcionou ao provador uma .
textura mais agradável ao degustar as amostras TR3,0 % e TL3,0 %,
tendo destaque para a amostra de processamento rápido (TR3,0 %). 13. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
Resolução RDC nº 272 de 22 de setembro de 2005.
No resultado da intenção de compra, a amostra TR3,0 % teve
14. MOTA, W.F.; SALOMÃO, L.C.C.; PEREIRA, M.C.T.;
superioridade sob as demais. Esse resultado é coerente com as notas
CECON, P.R. Influência do tratamento pós-colheita com cálcio na
obtidas nos parâmetros sensoriais avaliados e indica a viabilidade
conservação de jabuticabas. Revista Brasileira de Fruticultura,
comercial do produto.
v.24, n.1, p.049-052, 2002.
4. CONCLUSÃO 15. VIEIRA, A. F.; ROCHA, A. P. T.; SANTOS, D.; MORAIS, H.;
ALMEIDA, R. D.; SILVA, S. Aceitabilidade e caracterização física
Perante as análises dos requisitos testados, as amostras estão e físico-química de doce tipo doce de leite produzido com extrato
em consonância com os parâmetros regidos pela legislação vigente. hidrossolúvel de soja. Revista Principia, n. 42, p. 120-127, 2018.
Constatando assim, eficácia da metodologia desenvolvida no
16.JESUS, S. C. D.; MATSUURA, F. C. A. U.; CARDOSO, R. L.;
presente estudo. A técnica TR3,0 %, apresentou os melhores
FOLEGATTI, M. I. D. S Avaliação de banana-passa obtida de
resultados físico-químicos e os sensoriais mais satisfatórios, frutos de diferentes genótipos de bananeira. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v. 40, n. 6, p. 573-579, 2005.
208
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Lidenes Oliveira1, Laiana Lima2, Bianca Reges3, Vandesônia Oliveira1, Joyciane Gomes2, Marlene Damaceno4.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
2
Tecnóloga em Alimentos, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará
4
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
Todos os ingredientes utilizados para a elaboração do bolo SEXO: ( ) Masculino ( ) Feminino DATA: ____/____/____
de farinha de beterraba foram adquiridos na cidade de Limoeiro do Faixa etária: ( )18-20 ( ) 21-30 ( ) 31-40 ( ) 41-50 ( ) >50 anos
Norte, Ceará. Para a produção da farinha de beterraba, os tubérculos
foram lavados em água corrente com sanitização em solução clorada a Por favor, prove a amostra servida e marque a resposta que melhor
50 ppm por 20 minutos seguida do descasque, corte e trituração em corresponde ao seu julgamento (atitude).
liquidificador e secagem em estufa a 70 ºC por 48 horas. Após a ( ) - Comeria sempre que tivesse oportunidade
( ) - Comeria muito frequentemente
secagem foi realizada a moagem da beterraba desidratada em moinho
( ) - Comeria frequentemente
Fritsch, que apresentou rendimento de 3,2%. A farinha foi embalada
( ) - Gosto e comeria de vez em quando
em sacos de polietileno à temperatura ambiente até a fabricação do ( ) - Comeria se estivesse acessível, mas não me esforçaria para isto
bolo. ( ) - Não gosto, mas comeria ocasionalmente
Após a obtenção da farinha de beterraba procedeu-se a ( ) - Raramente comeria
elaboração do bolo no laboratório de Técnica Dietética do IFCE ( ) - Só comeria se não pudesse escolher outro alimento
Campus Limoeiro de Norte. Em uma batedeira elétrica foram ( ) - Só comeria se fosse forçado(a)
misturados ovos, margarina e açúcar até a obtenção de uma mistura
cremosa, adicionando-se aos poucos a farinha de trigo com fermento e Comentários:
o leite, e por último adicionou-se a farinha de beterraba até completa ________________________________________________________
homogeneização dos ingredientes. A massa resultante foi depositada _____________
em forma, previamente untada, levando-se ao forno convencional a
temperatura de 180 ºC por aproximadamente uma hora. Fonte: Minin, 2018.
Os ingredientes utilizados para a produção do bolo de
beterraba e suas respectivas quantidades são apresentados na Tabela 1.
A farinha de beterraba foi utilizada em substituição a farinha de trigo O teste foi realizado na área de convivência do IFCE
numa proporção de 25%. Campus Limoeiro de Norte, com 120 avaliadores não treinados, sendo
63 homens e 57 mulheres, englobando uma faixa etária entre 18 e
mais de 50 anos dentre alunos e funcionários do IFCE. Foi
apresentada ao avaliador, aproximadamente, 30 g da amostra a
temperatura ambiente, em pratos descartáveis.
A análise estatística consistiu na tabulação dos dados
obtidos que foram convertidos em valores numéricos e avaliados
209
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
10,00%
só comeria se não pudesse
escolher outro alimento
5,00% 1,67%1,67%
0,83% só comeria se fosse forçado
0,00%
210
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
O pequi é um fruto produzido pelo pequizeiro, uma espécie arbórea por separação física em meio aquoso, de acordo com Lima et al. (13).
nativa do Cerrado brasileiro, pertencente à família Caryocaraceae. No Para ajuste do pH foram utilizadas soluções aquosas de HCl (2M) e
Nordeste brasileiro, a espécie Caryocar coriaceum Wittm. é NaOH (2M).
encontrada em áreas características do bioma Cerrado, como na
Chapada do Araripe, localizada na região sul cearense, na intersecção Formação das micropartículas
com os estados do Pernambuco e Piauí. O óleo de pequi tem se As microcápsulas de GC/QT foram preparadas de acordo com a
destacado como matéria prima para as indústrias alimentícia, na metodologia descrita por Silva et al. (14). Inicialmente, as soluções de
produção de margarina (1) e queijos (2), e farmacêutica com estudos GC (11 g) e QT (0,5 g) foram preparadas em volume de 100 mL de
realizados para atividade anti-inflamatória (3,4) e cicatrizante (5), em água deionizada separadamente. Na solução de QT foi adicionado 2
função da excelente qualidade associada aos altos teores de ácidos mL de ácido acético para favorecer a solubilização. Para o processo de
graxos, predominantemente o oleico (60,6%) e palmítico (35,4%) (6), coacervação, a emulsão foi inicialmente preparada a partir da solução
e de carotenoides, como o betacaroteno, precursor da vitamina A (7). de 100 mL de QT com 2 g de óleo de pequi e em etapa seguinte
Em função dessa composição que apresenta como compostos a adição de 100 mL de solução de GC, com agitação em ultra turrax
majoritários ácidos graxos insaturados, que são mais propensos a por 3 min a 10.000 rpm em cada etapa. Em seguida, foram
oxidação lipídica devido à fatores externos, como temperatura, luz, adicionados 400 mL de água e homogeneizados em ultra turrax (3
presença de oxigênio e umidade. O uso de métodos tais como a min; 10.000 rpm). Após o ajuste do pH para 4,5, a solução foi
encapsulação podem promover uma melhor proteção ao óleo, refrigerada (5°C) por overnight (12h) para precipitação dos
retardando o processo de rancificação oxidativa. No mercado se coacervados. As microcápsulas de GC/GE foram obtidas pela
encontram disponíveis macrocápsulas gelatinosas de óleo de pequi metodologia descrita por Nascimento et al. (15). Os biopolímeros
com propriedades nutracêuticas. Microcápsulas de óleo de pequi, por foram preparados em soluções de 100 mL de água deionizada
sua vez, em razão do seu tamanho, podem ser adicionados a produtos contendo 4 g de GC e 2 g de GE separadamente. Foi preparado
diversos sem alterar significativamente suas características sensoriais inicialmente uma emulsão contendo a solução de GE e 2 g de óleo de
e ser mais facilmente absorvido pelo organismo. pequi e em etapa seguinte a adição da solução de GC, com agitação
A coacervação complexa é uma técnica de microencapsulamento que em ultra turrax por 3 min a 10.000 rpm em cada etapa. Em seguida,
consiste na interação entre dois polímeros de cargas opostas, foi adicionado 400 mL de água e homogeneizado novamente em ultra
formando um complexo entre esses polímeros ao redor do material turrax (3 min; 10.000 rpm). Por fim, foi realizado o ajuste do pH para
ativo, originando assim as micropartículas. O coacervado funcionará 4,5 e levado a refrigeração (5°C), overnight (12h) até a precipitação
impedindo que os compostos interajam fisicamente e/ou dos coacervados. Ao final, os coacervados foram congelados em
quimicamente com o ambiente externo, criando uma barreira ao redor ultrafreezer, liofilizados e triturados em moinho de impacto.
do material ativo (8). A coacervação complexa é uma técnica clássica
de microencapsulação com grandes vantagens, incluindo condições de Análise da estabilidade oxidativa acelerada por Rancimat
reação mais moderadas durante o processamento, menor custo em Para análise da estabilidade oxidativa do óleo de pequi
equipamentos e maior capacidade de carreamento (9). Essa técnica de microencapsulado e puro foi utilizado o equipamento Rancimat
microencapsulação tem sido particularmente bem-sucedida na (Metrohm Rancimat 743 modelo 873) e a metodologia foi de acordo
estabilização de lipídios insaturados e no fornecimento de um com Comunian et al. (16). A análise consistiu em passar um fluxo de
ingrediente com um prazo de validade sensorial consistente (10). ar constante pela amostra (10 L/h) a uma temperatura fixa (110 °C) até
Polissacarídeos são bastante utilizados como material de interface para que o equipamento acusasse o término quando a condutividade
microcápsulas. A goma arábica é um dos mais empregados na alcançasse 200 µS/cm. Foram utilizados 3 g de óleo de pequi e 1,5 g
indústria de alimentos, apesar do custo e problemas de de óleo microencapsulados nas matrizes de GC/QT e GC/GE. O
disponibilidade. Assim, a busca por substitutos totais ou parciais para término da análise foi detectado pelo súbito aumento da condutividade
a goma arábica tem sido incentivada (11). Dentre os substitutos da (tempo de indução), período em que ocorreu a formação de produtos
goma arábica está a goma de cajueiro, devido suas características voláteis do processo oxidativo. O tempo de indução é o tempo até o
físico-químicas e ainda por ser um co-produto da cadeia produtiva do ponto de interrupção da curva de condutividade x tempo registrado
caju, ainda de pouco valor agregado. Neste trabalho foram utilizadas com o Rancimat. A determinação automática do tempo de indução foi
duas matrizes encapsulantes: goma de cajueiro/quitosana (GC/QT) e obtida através do ponto de máximo da segunda derivada da curva
goma de cajueiro/gelatina (GC/GE). O objetivo desse trabalho foi experimental no eixo das abscissas.
analisar o índice de estabilidade oxidativa de óleo de pequi
microencapsulado por coacervação complexa em condição de RESULTADOS E DISCUSSÃO
oxidação acelerada utilizando o equipamento Rancimat.
A oxidação leva à formação de sabores e odores desagradáveis,
MATERIAL E MÉTODOS reduzindo o prazo de validade do produto e promovendo a geração de
radicais livres, que podem ter efeitos fisiológicos negativos no
Material organismo (17). Um dos objetivos da microencapsulação é retardar o
A goma de cajueiro foi obtida do exsudato de Anacardium occidentale início da oxidação. Em condição de oxidação acelerada em alta
L., coletada de cajueiros do Campo Experimental de Pacajus da temperatura, o tempo de indução do óleo de pequi e das microcápsulas
Embrapa Agroindústria Tropical. Para obtenção da goma isolada foi com e sem óleo podem ser visualizados na Figura 1. Para o óleo de
utilizada a metodologia de Torquato et al. (12). A quitosana (baixo pequi puro o tempo de indução foi de 4,78 h, para as microcápsulas
peso molecular) 75-85% desacetilada foi adquirida da Sigma-Aldrich GC/QT o tempo de indução foi de 11,92 h e das microcápsulas
e gelatina bovina (G) 225H tipo B foi proveniente da Rousselout®. A GC/GE foi de 11,90 h. A microencapsulação do óleo de pequi pelas
extração do óleo da polpa (Caryocar coriaceum Wittm.) foi realizada matrizes de GC/QT e GC/GE proporcionaram uma proteção de
211
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
aproximadamente 2,5 vezes comparado ao óleo puro, não havendo 7. PINTO, M. R. M. R. et al. Encapsulation of carotenoid extracts
diferença no tempo de indução se comparado apenas as duas matrizes from pequi (Caryocar brasiliense Camb.) by emulsification (O/W)
encapsulantes. Para melhor entendimento da estabilidade térmica das and foam-mat drying. Powder Tecnol, v. 339, p. 939-946, 2018.
matrizes para justificar esses resultados seria necessário associar essa 8. BRITO DE SOUZA, V. et al. Microencapsulation by complex
análise com ensaios de TGA (Análise Termogravimétrica) e DSC coacervation as a tool to protect bioactive compounds and to reduce
(Calorimetria Exploratória Diferencial). astringency and strong flavor of vegetable extracts. Food Hidrocoll,
Estudos de encapsulamento por coacervação complexa têm mostrado v. 98, e105244, 2020.
a proteção de óleos quando submetidos a condição de oxidação 9. COMUNIAN, T. A; FAVARO-TRINDADE, C. S.
acelerada. Oliveira et al. (18) microencapsularam o óleo de café verde Microencapsulation using biopolymers as an alternative to produce
em matriz de goma de cajueiro e gelatina, e verificaram uma proteção food enhanced with phytosterols and omega-3 fatty acids: A review.
de até 12 vezes mais do que óleo puro. Comunian et al. (16) Food Hidrocoll, v. 61, p. 442-457, 2016.
estudaram a estabilidade oxidativa do óleo de echium 10. BARROW, C. J; NOLAN, C; JIN, Y. Stabilization of highly
microencapsulado e obtiveram uma proteção de 2 vezes mais do que o unsaturated fatty acids and delivery into foods. Lipid Technol, v. 19,
óleo puro. p. 108-111, 2007.
11. AZEREDO, H. M. C. Encapsulação: aplicação à tecnologia de
Figura 1. Tempo de indução (h) das amostras de óleo de pequi puro e alimentos. Alim Nutr, v. 16, p. 89-97, 2005.
das microcápsulas de GC/QT e GC/GE com e sem o óleo de pequi. 12. TORQUARTO, D. S. et al. Evaluation of antimicrobial activity of
cashew tree gum. World J Microbiol Biotechnol, v. 20, p. 505-507,
2004.
200 13. BARROS, A. C. et al. Obtenção do Óleo da Polpa de Pequi por
Separação Física Utilizando-se Centrifugação. Fortaleza, Embrapa-
CNPAT, 2019. 6 p. (EMBRAPA-CNPAT. Comunicado Técnico 254).
14. CARVALHO DA SILVA, L. et al. Optimization of cashew gum
Condutividade (µS/cm)
150
11,92 h and chitosan for microencapsulation of pequi oil by complex
Óleo de Pequi
GC/QT com óleo coacervation. J Food Process Preserv, v. 42, p. 1-8, 2018.
100 GC/GE com óleo 15. NASCIMENTO, M. A. et al. Pequi oil microencapsulation by
4,78 h GC/QT sem óleo complex coacervation using gelatin-cashew gum. Int J Food Stud, v.
GC/GE sem óleo
11,90 h 9, p. 97-109, 2020.
50 16. COMUNIAN, T. A. et al. Development of functional yogurt
containing free and encapsulated echium oil, phytosterol and sinapic
acid. Food Chem, v. 237, p. 948-956, 2017.
0 17. ALCÂNTARA, M. A. et al. Influence of the emulsion
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
homogenization method on the stability of chia oil microencapsulated
Tempo (h)
by spray drying. Powder Tecnol, v. 354, p. 877-885, 2019.
18. OLIVEIRA, W. Q. et al. Complex coacervates of cashew gum and
gelatin as carriers of green coffee oil: The effect of microcapsule
CONCLUSÃO application on the rheological and sensorial quality of a fruit juice.
Food Res Int, v. 131, e109047, 2020.
Pode-se concluir que a técnica de coacervação complexa de óleo de
pequi usando matrizes de GC/QT e GC/GE foram eficazes para uma
melhor estabilidade térmica do óleo, retardando assim à degradação
em condições oxidativas aceleradas, podendo a técnica de
encapsulamento utilizada ser promissora na manutenção dos ácidos
graxos do óleo de pequi para aplicações em matrizes alimentícias
como forma de enriquecimento.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
212
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Antônio Sousa 1, Jânio Silva 2, Rosângela Marinho 3, Beatriz Dantas 4, Ana Morais 5
1
Tecnólogo em Gastronomia - Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE, (chavesmaicom@gmail.com);
2
Graduando em Tecnologia em Gastronomia - Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE;
3
Mestranda em Tecnologia de Alimentos – Instituto Federal do Ceará, Campus Limoeiro do Norte – CE;
4
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará, Campus Fortaleza – CE;
5
Drª em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Docente – Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE;
213
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
sabor de chocolate, sabor de ACC, aparência uniforme, aroma FIGURA 4. Resultados do teste sensorial de escala relativa ao ideal
adocicado, gosto doce, aroma de ACC, textura homogênea e aroma de para o atributo de sabor chocolate.
chocolate, sendo assim, as principais características da bebida, que
foram semelhantes as características encontradas para uma bebida sem
lactose com alfaborra (8) e bebidas lácteas pós-treino sabor cacau [4].
Observando a Figura 1, verificou-se que a amostra obteve boa
aceitação, tendo em vista que os maiores percentuais de respostas
foram entre 4 (gostei) e 5 (gostei muito), sendo 49,3% e 34,7%,
respectivamente.
CONCLUSÃO
A utilização do método descritivo CATA foi eficaz para melhor
avaliação sensorial da bebida comercial zero lactose de ACC e cacau,
a qual foi caracterizada como marrom, com sabores de chocolate e
ACC, aromas adocicado e de ACC e gosto doce.
A amostra obteve boa aceitação global, no entanto, apresentou
intensidade fraca para os atributos de doçura, sabor de ACC e
chocolate, o que indica a necessidade de modificar a formulação da
Fonte: Autores (2020) bebida para melhorar a intensidade dos atributos avaliados, através do
aumento da quantidade de ACC e cacau na formulação ou
No entanto, nos resultados do teste do ideal, apesar dos maiores incorporação de realçadores de sabor, bem como considerar a adição
percentuais obtidos em todos os atributos terem sido em 0 (ideal), de açúcar ou adoçantes ao produto.
nenhum dos atributos avaliados está com a intensidade ideal para o
produto avaliado, pois todos obtiveram percentuais inferiores a 70%. REFERÊNCIAS
Dessa forma, a intensidade de doçura, atributo que mais se (1) FIRMO, A. Q.; SOUSA, M. M. de; CAVALCANTI, M. S.
aproximou do ideal, foi avaliada como menos forte que o ideal, uma Desenvolvimento e caracterização de bebidas produzidas à base de
vez que 37,3% dos consumidores atribuíram valores entre -1 castanha de caju (Anacardium occidentale L.). Research, Society And
(ligeiramente menos forte que o ideal) e -3 (muito menos forte que o Development, v. 9, n. 1, p. 8491-1645, 2020.
ideal), resultado que está relacionado com a formulação da bebida, que
de acordo com as informações contidas no rótulo, não tem adição de (2) REBOUÇAS, M. C.; RODRIGUES, M. C. P.; AFONSO, M. R.
açúcar (Figura 2). A. Optimization of the acceptance of prebiotic beverage made from
cashew nut kernels and passion fruit juice. Journal of Food Science, v.
FIGURA 2. Resultados do teste sensorial de escala relativa ao ideal 79, n. 7, p. 1393- 1398, 2014.
para o atributo de doçura.
(3) VARELA, P; ARES, A. Sensory profiling, the blurred line
between sensory and consumer science. A review of novel methods
for product characterization. Food Research International, v. 48, 2012.
214
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
215
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
sabor não interferisse na amostra seguinte. O provador manifestou sua Os autores Guimarães, Freitas e Silva (10), produziram a farinha
opinião quanto aos atributos de aparência, cor, aroma sabor, textura e da entrecasca de melancia para elaboração de três bolos: um controle
aceitação global através da ficha sensorial. (sem farinha de entrecasca de melancia), um com uma proporção de 7%
Os resultados dos testes de aceitabilidade foram compilados no e outro com uma proporção de 30%. No que diz respeito para o “aroma”
programa Microsoft Excel, versão 2016, os valores obtidos foram do bolo, os provadores relataram um índice de 82% de aceitabilidade
avaliados pela análise de variância e aceito como grau de significância com 7% de farinha de entrecasca de melancia, sendo o mais bem aceito
5% (p<0,05), em seguida expressos em forma de tabelas e gráficos. entre as três formulações, assemelhando-se a este estudo.
Uma das características que foi fator determinante na
RESULTADOS E DISCUSSÃO aceitabilidade do bolo foi o “sabor”.
Dos participantes, 85% tinham idade entre 18 e 35 anos, dos quais,
81,7% eram do sexo feminino e 18,3% do sexo masculino. Em relação CONCLUSÃO
a escolaridade, 76,7% declararam estar cursando nível superior. É possível a produção da farinha a partir do fruto in natura e sua
Predominaram provadores do sexo feminino, 76,7 % cursando a aplicação em produtos alimentícios, como em bolos. Apesar de ser um
graduação e a faixa etária de compreendendo a maioria de 10 a 35 anos. fruto silvestre e pouco conhecido, com produção e comercialização
Foram realizados testes preliminares para produção do bolo usando escassa no estado de Ceará.
farinha de abricó, a fim de identificar as melhores proporções a serem Foi observado a necessidade de aprimoramento do processo de
usadas. Durante estes testes foi observado um leve sabor amargo na produção da farinha, otimizando extração da polpa, secagem e
farinha que permanecia no bolo depois do preparo. A solução trituração. Os dados da análise sensorial, para o atributo “sabor”
preliminar utilizada foi substituir o leite de coco pelo suco de laranja comprovaram uma baixa aceitação para o bolo que utilizou em seu
como tentativa de redução ou anulação do amargo. Esta mudança preparo 100% farinha de abricó, devido um leve sabor amargo presente
resultou em produto de bom sabor tanto nos bolos de 50% e 100% de na farinha. Sugere-se como continuidade do trabalho a identificação da
farinha. Este tipo de técnica de adição ou processamento adicional do causa do sabor amargo.
insumo para aumentar a qualidade do produto é muito utilizada, como A elaboração de alimentos que utilizem a farinha do abricó em seu
realizado no preparo de bolo com resíduo de casca de abacaxi que preparo irá proporcionar um produto com ingredientes de alto valor de
submeteu a cocção o suco da casca (8). sólidos totais, além de enriquecidos em provitamina A. O
A Figura 1 mostra a informação da média das notas para cada desenvolvimento desses alimentos poderá trazer melhoria nutricional
atributo, a linha escura contínua mostra as informações da farinha de de populações carentes em vitamina A.
50% e a linha clara tracejada mostra as informações da farinha de 100%.
A figura geométrica formada é um hexágono. Cada vértice contém a REFERÊNCIAS
informação da nota média de um atributo que determina a distância do (1) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
centro do hexágono até o vértice. Quanto menor a variação entre as Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros /
médias dos atributos de cada bolo mais regular será o hexágono Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
formado. Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
(2) BRAGA, Adriano César Calandrini; SILVA, Alessandra Eluan da;
Figura 1 – Média das notas por atributo dos bolos com 50% e 100% de PELAIS Ana Carla Alves; BICHARA, Carissa Michelle Goltara;
farinha de abricó. POMPEU, Darly Rodrigues. “Atividade Antioxidante e Quantificação
de Compostos Bioativos dos Frutos de Abricó”. Alim. Nutr.,
Araraquara, v.21, n.1, p. 31, jan. / mar. 2010.
(3) RAMALHO RA, FLORES H, SAUNDERS C. Hipovitaminose A
no Brasil: um problema de saúde pública. Rev PanamSaludPúbl/ Pan
Am J Public Health 2002; 12 (2):117-22.
(4) MACEDO, J. L.; SILVA, D. J. S.; DOS SANTOS, L. S.; RAMOS,
S. M. N.; OLIVEIRA, N. DOS S. L.; ASSUNÇÃO, M. DE J. S. M.
Consumo de antioxidantes por praticantes de atividade física. RBNE -
Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 13, n. 80, p. 550-556, 12
set. 2019.
(5) PORTELA, J. V. F. Estudo dos aspectos tecnológicos e de
qualidade envolvidos no aproveitamento da casca e da polpa da
melancia (Citrullus lanatus Schrad). 2009, 132 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) - Centro de
Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
(6) BRASIL. Ministério da Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE
DEZEMBRO DE 2012. Diário Oficial da República Federativa do
O hexágono da farinha de 50% formou um polígono quase regular, Brasil, Poder Executivo, de 13 de junho de 2016. Disponível em:
pois assemelhou-se aos polígonos regulares utilizados na escala do <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12
gráfico. Esta aproximação a um hexágono regular, mostra uma _12_2012.html>.
semelhança entre as médias das notas das avaliações de cada atributo (7) DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4ª
para o bolo de 50% de farinha de abricó. Na análise da variância, a edição. Curitiba: Champagnat, 2013.
média das notas dos atributos ficou igual a 8,21 com uma variância de (8) MARTIN, J. G. P., JÚNIOR, M. D. M, ALMEIDA, M. A.,
0,0036. Devido ao valor da variância ser pequeno, verificou-se pouca SANTOS, T., M. H. F., Revista Brasileira de Produtos
dispersão das médias dos atributos em relação à média. Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.3, p.281-287, 2012.
O hexágono da farinha de 100%, mostra uma irregularidade nos (9) PAULA, G. A., Caracterização Físico-Química e Estudo do
vértices do sabor e aceitação global, isto ocorreu pelo fato da média das Escurecimento Enzimático em Produtos Derivados de Açaí. Tese
notas destes atributos serem 5,87 e 6,62, respectivamente. Os demais (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007.
atributos: aparência, cor e aroma, obtiveram respectivamente as médias: (10) GUIMARÃES, Renata Rangel; FREITAS, Maria Cristina Jesus
7,37, 7,50 e 7,28. A média das médias das notas dos atributos ficou em de; SILVA, Vera Lucia Mathias da. Bolos simples elaborados com
6,95 com uma variância de 0,3771. farinha da entrecasca de melancia (Citrullus vulgaris, sobral): avaliação
Na análise do resultado dos dados, verificou-se diferença química, física e sensorial. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 30,
significativa nas médias das notas para cada atributo entre as duas n. 2: p. 354-363, abr./jun., 2010.
formulações, ou seja, valor-p > 0,05.
O estudo demostra uma boa aceitação do bolo que em seu preparo
da massa utilizou 50% de farinha de abricó e 50% de farinha de trigo.
Os dados indicaram pouca aceitação do bolo com 100% de farinha,
devido ao “sabor” muito intenso do abricó, implicando negativamente
na aceitação global. Este fato se assemelha ao açaí, que na região norte
é consumido praticamente in natura, sem adição de outros produtos para
aliviar o amargo. Nas outras regiões brasileiras ocorre o contrário, para
ser aceito adicionam-se outros ingredientes, como por exemplo: xarope
de guaraná, leite em pó etc. (9).
216
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
217
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
7 e 9 (gostei moderadamente), (gostei muitíssimo) 24% e 21% (17 res- Conforme mostra o presente estudo, melhorias no produto elaborado
pondentes), (15 respondentes) respectivamente apresentaram um valor necessitam ser realizadas. Acredita-se que a boa aceitação da formu-
em notas significativo. lação foi devido o fato do produto ter as características de aparência,
No estudo de Almada (13), buscou-se propor alternativas ao brigadeiro cor e textura parecidas com o brigadeiro tradicional disponível no mer-
convencional com uma abrangência maior. O objetivo estudo foi a ela- cado.
boração de substitutos do leite condensado tradicional, produzidos a
partir de extratos vegetais de aveia, arroz e amêndoa. REFERÊNCIAS
Entende-se que o fato de substituir o leite condensado da fórmula tra- (1) GASPARIN, Fabiana S. R.; TELES, Jéssica M.; ARAÚJO, Sa-
dicional, por outros ingredientes bem como farinha de arroz e leite de brina C. de. Alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à
coco, é válida nutricionalmente. Isso porque agrega minerais e amino- lactose: as diferenças e semelhanças. Revista Saúde e Pesquisa, Ma-
ácidos essenciais como leucina, lisina, metionina, valina, tirosina, tre- ringá, Paraná, v. 3, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2010.
onina e cistina, onde a quantidade de cistina do leite de coco supera a (2) CALDEIRA, Filipa; CUNHA; José da, FERREIRA; Maria Go-
quantidade que há no leite de vaca. Já a farinha de arroz, por sua vez, mes. Alergia a proteínas de leite de vaca: Um desafio diagnótico. Acta
tem se tornado um ingrediente atraente para a indústria a fim de for- MedPort 2011; 24: 505-510, 2011.
mulações com ausência de glúten, resultando em alimentos hipoa- (3) ZYCHAR, Bianca Cestari; OLIVEIRA, Beatriz Araújo, Fatores
lergênicos (14). Desencadeantes da intolerância á lactose: metabolismo enzimático, di-
Ao analisar o índice de aceitabilidade, 75,6% dos avaliadores apro- agnótico e tratamento. Atas de Ciências da Saúde, São Paulo, Vol.5,
varam o brigadeiro. A amostra elaborada apresentou maior quantidade N°.1, pág. 35-46, jan-mar, 2017.
de avaliações com média 7 (gostei moderadamente), dessa forma, me- (4) PEREIRA FILHO, D; FURLAN, S.A. Prevalência de intolerancia
lhorias nas formulações são necessárias para que os produtos atinjam à lactose em função da faixa etária e do sexo: experiência do laborató-
um IA adequado. A amostra apresentou aparência, cor e textura muito rio, dona Francisca Joinvile (SC). Revista Saúde e Ambiente/ Health
semelhantes ao produto tradicional, sendo bem aceita sensorialmente and Environment Journal, v.5, n.1 jun, 2004.
nesses quesitos. Observa-se que o desvio padrão em relação ao sabor (5) MATHÍUS et al. Aspectos atuais da intolerância à lactose. Revista
foi o mais alto, o que demonstra os avaliadores indecisos (Tabela 1). Odontológica de Araçatuba, v.37, n.1, p. 46-52, Janeiro/Abril, 2016.
(6) FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Brasil
Tabela 1 - Resultados das médias, desvio padrão e índice de acei- Food Trends 2020. São Paulo, 2010. Publicação digital. Disponível
tação referentes aos atributos aparência, cor, aroma, sabor e tex- em: <http://www.brasilfoodtrends.com.br/Brasil_Food_Trends/in-
tura avaliados na amostra de brigadeiro funcional produzido. dex.html>
Desvio Pa- Índice de Acei- (7) ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
Atributos Média
drão tação (%) CNNPA n. 12 de 30 de março de 1978. Define as normas técnicas
Aparência 7,55 1,30 83,9 especiais, do estado de São Paulo, revistas pela CNNPA relativas a
Cor 7,81 1,20 86,8 alimentos (e bebidas), para efeito em todo território brasileiro.
Aroma 7,82 1,14 86,9 (8) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sa-
Sabor 6,92 1,81 76,9 nitária. Resolução da Diretoria Colegiada, Resolução n. 54, de 12 de
Textura 7,11 1,67 79 novembro de 2012. Aprova Regulamento Técnico sobre Informa-
ção Nutricional. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/do-
Ao analisar a Figura 1, fica claro, que os julgadores afirmam que cments/%2033880/2568070/rdc0054_12_11_2012.pdf/c5ac23fd-
“Certamente Compraria” este produto mesmo demonstrando pre- 974e-4f2c-9fbc-48f7e0a31864>
ferência pelo brigadeiro convencional. Logo atrás, a maior fre- (9) DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4ª
quência identificada de respostas foi na escala “certamente com- edição. Curitiba: Champagnat, 2013.
praria”, com 34% dos votos (24 julgadores). Já para os demais ín- (10) DESSIMONI-PINTO, Nísia et al. Características físico-químicas
dices foram de 33%, 17%, 13% e 3%, “possivelmente compraria”, da amêndoa de macaúba e seu aproveitamento na elaboração de barras
“talvez comprasse, talvez não comprasse”, “possivelmente não de cereais. Alimentos e Nutrição, Araraquara, v. 21, n. 1, p. 77-84,
compraria” e “certamente não compraria” (23, 12, 9 e 2 respon- 2010.
dentes) respectivamente. (11) CLAUDY, Letícia et al. Brigadeiro adicionado de aveia e banana:
caracterização físico-química e sensorial entre crianças. Evidência,
Figura 1- Frequência das respostas ao questionamento referente a in- Joaçaba, v. 14, n. 1, p. 35-46, jan./jun. 2014.
tenção de compra das amostras analisadas. (12) BRASIL. Ministério da Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE
DEZEMBRO DE 2012. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Poder Executivo, de 13 de junho de 2016. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12
_12_2012.html>.
(13) ALMADA, Eid da Rosa. Substitutos de leite condensado a partir
de extratos vegetais. 2013. 39 f., il. Monografia (Bacharelado em Nu-
trição) - Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
(14) CARVALHO, Milla Rúbia Alves CG Paranhos; COELHO, Nás-
tia Rosa Almeida. Leite de Coco: aplicações funcionais e tecnológi-
cas. Revista EVS-Revista de Ciências Ambientais e Saúde, v. 36, n.
4, p. 851-865, 2009.
CONCLUSÃO
Conclui-se que é possível ter o desenvolvimento do brigadeiro sem
lactose e sem proteína do leite de vaca. Observando o mercado pode-
se evidenciar que o comportamento do consumidor está mudando, de-
monstrando que a necessidade e vontade do consumidor prevalence,
sendo necessário alinhar a tecnologia e alimentação afim de resolver a
necessidade desse público.
218
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Vitória Cruz1, Gabriel Castro1, Antonio Silva1, Gizele Cruz2, Juliane Carvalho3
Material e Métodos
Fonte: Próprio autor, 2020.
A pesquisa foi realizada por meio digital, utilizando a ferramenta
“Google Formulário” da plataforma Google. O questionário Mais da metade dos participantes da pesquisa (68%) consome ou
abordou questões como o nível de conhecimento, preferência de reside com quem consome leites fermentados (Figura 2). Os
sabores e consumo de leites fermentados. Foi compartilhado via laticínios são componentes comuns de muitas dietas e influenciam
redes sociais, onde participaram 155 pessoas residentes em 18 as funções fisiológicas do organismo de quem os consome. Os
cidades do estado do Ceará, de modo voluntário, no período de produtos lácteos, incluindo leite, iogurte e queijo, são geralmente
Maio a Junho de 2020. Foi realizada análise estatística para considerados alimentos ricos em nutrientes que contêm proteínas,
comparação dos dados qualitativos por teste Qui-quadrado cálcio e outros nutrientes essenciais, como magnésio, potássio,
(p<0,05) e histogramas de distribuição de frequência para análise fósforo, zinco e vitaminas B e sua ingestão está associada a
das respostas recebidas, utilizando o software Microsoft Excel qualidade da alimentação (6).
versão 2010.
Figura 2. Consumo de leites fermentados pelos participantes da
Resultados e Discussão pesquisa ou por pessoas com que residem.
219
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusões
Figura 4. Histograma de frequência de respostas sobre a BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
consistência de leites fermentados que os consumidores Secretaria de defesa agropecuária. Departamento de inspeção de
preferem. produtos de origem animal. Instrução Normativa n. 46, de 23 de
outubro de 2007. Regulamento Técnico de Identidade e
Qualidade (RTIQ) de Leites Fermentados. Diário Oficial da
União, 24 de out 2007, Seção 1.p. 5.
A maioria dos participantes expuseram que não possuem SILVA, M. A. A. et al. Leites fermentados comerciais: estudo
preferência de sabor (55%), apesar de ser o atributo mais com consumidores. Revista do Instituto de Laticínios Cândido
relevante no momento da aquisição dos leites fermentados, Tostes, [S.l.], 74 (4), 252-261, 2019.
segundo os dados levantados (Quadro 1).
DANTAS, F. B. Estudo do efeito da adição de farinha e
Quadro 1. Percentual de respostas dos sabores preferidos do mucilagem de linhaça marrom como espessante de bebida láctea
consumidor ao comprar leites fermentados. achocolatada. 2019. 101 f. Dissertação- Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará, 2019.
220
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
3- Doutorando pelo Programa de Pós Graduação em Ciência dos Alimentos da Faculdade de Engenharia de
Alimentos da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
4- Professora Orientadora e Coordenadora do Laboratório de Microbiologia de Alimentos - Departamento de Análises
Bromatológicas – Universidade Federal do Bahia, Faculdade de Farmácia– Salvador – BA – Brasil, e-mail:
microali@ufba.br
Palavras chave: gelados comestíveis; coliformes a 45°C; segurança alimentar.
INTRODUÇÃO devidamente acondicionadas em caixas isotérmicas contendo gelo seco
(dióxido de carbono sólido) e encaminhadas ao Laboratório de
Sorvetes e picolés estão incluídos na categoria genérica de Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade
“gelados comestíveis”, os quais são definidos como produtos Federal da Bahia, onde foram submetidas à determinação do Número Mais
alimentícios obtidos a partir de uma emulsão de gorduras e proteínas, Provável (NMP) de coliformes a 45°C, pesquisa de Salmonella spp para os
com ou sem adição de outros ingredientes, sendo posteriormente produtos de base não láctea, além da contagem de Estafilococos coagulase-
submetidos ao congelamento (1). Com textura macia e sabor doce, os positiva para os produtos de base láctea. As análises microbiológicas foram
sorvetes e picolés tornaram-se produtos de consumo dominante para realizadas de acordo com a metodologia preconizada pelo American Public
grandes seguimentos da população, principalmente em países tropicais Health Association – APHA (8), usando como referência os parâmetros de
durante o verão. A Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de qualidade sugeridos pela RDC n° 12, de 2001, do Ministério da Saúde (7).
Sorvetes (ABIS), reportou que no ano de 2019, o consumo brasileiro de
sorvetes e gelados foi de 1.107 milhões de litros, demonstrando a
importância desse seguimento na economia (2). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os sorvetes e picolés são considerados relativamente seguros,
devido ao armazenamento em temperatura de congelamento. A figura 1 demonstra os resultados das análises realizadas nas
Entretanto, as baixas temperaturas não são suficientes para garantir a 83 amostras de sorvetes e picolés comercializadas na cidade de
inocuidade desses alimentos após o processamento, principalmente Salvador - BA. A avaliação das condições higiênico-sanitária revelou
para àqueles preparados de base láctea, pois as características que, do total de amostras analisadas, 19 (22,9%) apresentaram-se
bioquímicas do leite irão favorecer a contaminação (3). Para os impróprias para o consumo humano por apresentarem NMP para
produtos de base láctea, a pasteurização é um método comumente coliformes a 45°C acima dos limites estabelecidos pela RDC n° 12, de
empregado para inativar os microrganismos presentes e manter a 2001, do Ministério da Saúde (7).
qualidade do produto. Entretanto, esse processo pode também não ser
completamente eficaz quando forem usadas matérias-primas com Figura 1 – Porcentual de amostras aprovadas e reprovadas, em relação
elevado índice de contaminação. Daí a importância fundamental da as 83 amostras de sorvetes e picolés analisadas, comercializadas na
aquisição de matérias-primas de qualidade assegurada, para garantir a cidade de Salvador - BA
promoção da saúde do consumidor (4).
O consumo crescente desse tipo de produto vem se tornando
uma preocupação para a saúde pública, visto que o risco de
contaminação microbiológica pode acarretar Doenças Veiculadas por
Alimentos (DVA). Segundo dados epidemiológicos do Ministério da
Saúde, os gelados comestíveis apresentaram 0,4% na distribuição dos
alimentos incriminados em surtos de DVA entre 2009 e 2018 (5).
Apesar do baixo índice, a ocorrência de doenças nesse grupo pode
representar um risco a saúde do consumidor, sendo necessária a adoção
de boas práticas de fabricação e manipulação por parte das empresas
produtoras, além da fiscalização pelos órgãos públicos.
Os estabelecimentos produtores e industrializadores de
alimentos, devem atender a Portaria nº 326, de 30 de julho de 1997 que
estabelece os requisitos gerais de higiene e de boas práticas de
fabricação, a fim de evitar a contaminação durante o processamento e, De acordo com a tabela 1, das amostras reprovadas, 14
assim assegurar a qualidade e a inocuidade dos alimentos produzidos (16,87%) pertenciam ao grupo de sorvetes e picolés de base láctea e 05
para o consumo direto (6). Entretanto, para a investigação da qualidade (6,03%) de base não láctea. Quanto em relação à contagem de
higiênico-sanitária, a Resolução RDC n° 12, de 02 de janeiro de
Estafilococos coagulase positiva e pesquisa de Salmonella spp, as
2001que estabelece os parâmetros microbiológicos vigentes para
amostras estavam de acordo com a legislação vigente.
alimentos, determina para as amostras de gelados comestíveis os limites
de tolerância de 5x10 UFC/g-1 para coliformes a 45ºC/g-1 e ausência de Tabela 1 – Quantitativo e percentual de amostras de sorvete e picolés
Salmonella spp em 25g. Para os produtos de base láctea, além desses é analisadas e reprovadas entre janeiro de a dezembro de 2019.
acrescido o limite de 5x102 UFC/g-1 para Estafilococos coagulase
positiva/g (7). O presente estudo objetivou avaliar a qualidade
microbiológica de sorvetes e picolés comercializados na cidade de
Salvador, BA.
MATERIAL E MÉTODOS
221
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Resultados encontrados nesta pesquisa assemelham-se aos Alimentos) - Universidade Federal Rural De
observados por Giacomini, Guerino e Nascimento (2015) (9), que utilizando Pernambuco, Pernambuco, 2019.
metodologia semelhante ao analisar 12 amostras de sorvetes produzidos em 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Foz do Iguaçu, Paraná, verificaram que três ( 25%) das amostras analisadas Dados Epidemiológicos – Surtos de Doenças Transmitidas por
apresentaram contaminação por coliformes a 45°C e uma (8,34%) Alimentos no Brasil período 2000 a junho 2018. Brasília:
apresentou contagens elevadas de S. aureus. O mesmo ocorreu em trabalho Ministério da Saúde, 2018.
realizado por Silva, Vidal & Rossi Júnior (2016) (10), que ao avaliarem 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 326 da Secretaria de
microrganismos indicadores em produtos derivados lácteos e sorvetes Vigilância Sanitária de 30 de julho de 1997. Aprova Regulamento
Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas
comercializados na região nordeste do Estado de São Paulo, observaram que
de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores
dos nove sorvetes analisados, três apresentaram contagens elevadas de
de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 ago. 1997.
coliformes a 45ºC acima do padrão permitido pela legislação vigente, 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 12 da Agência
indicando possíveis falhas no processamento ou utilização de matéria-prima Nacional de Vigilância Sanitária de 02 de janeiro de 2001.
de baixa qualidade. Dispõe sobre o Regulamento Técnico Sobre Padrões
Valores mais elevados de foram encontradas por Silva e Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial [da] República
Martins (2019) (11), em pesquisa realizada, na cidade de Frutal, Minas Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2001.
Gerais, que ao investigarem a qualidade microbiológica de 40 amostras 8. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALT
de sorvetes a base de leite, verificaram que 11 (27,5%) apresentaram ASSOCIATION.VANDERZANT. Compendium of Methods for the
coliformes a 45ºC, sete 17,5%) contagens elevadas para Estafilococos Microbiological Examination of foods. 4th ed. Washington: 2001.
coagulase positiva e uma (2,5%) apresentou Salmonella spp, o que 9. GIACOMINI, A.P.; GUERINO, A.C.; NASCIMENTO, I.A.
representa risco a saúde dos consumidores. Análise microbiológica de sorvetes produzidos em Foz do Iguaçu –
PR. SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.10, n. 3, p.3-8, 2015.
Veiga, Antonacio e Belmonte (2020) (12), avaliaram a
10. SILVA, H. O.; VIDAL, A. M. C.; ROSSI JUNIOR, O. D. Análise
qualidade microbiológica de 45 alimentos oriundos do comércio
de coliformes totais e termotolerantes em produtos derivados lácteos
ambulante de Alfenas, MG dos quais, 18 eram picolés (nove de base
e sorvetes. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA
láctea e 09 de base não láctea. No estudo, os autores observaram que as
AGROPECUÁRIA, AGRÍCOLA E AMBIENTAL, 1., 2016, Câmpus
amostras de picolé de base não láctea se mostraram adequadas para
de Jaboticabal. [Anais]. Câmpus de Jaboticabal, SP: Ciência &
consumo, segundo a legislação, enquanto que os picolés de base láctea
Tecnologia FATEC-JB, 2016.
apresentaram contagens elevadas para Estafilococos coagulase positiva,
mostrando-se impróprias para o consumo humano. 11. SILVA, M.F.O.; MARTINS, E.S. Qualidade microbiológica de
sorvetes comercializados em Frutal, Minas Gerais. Revista Verde, v
Pode-se inferir que contagens elevadas de coliformes a 45ºC,
14, n. 1, p. 128-133, 2019.
podem significar utilização de matéria prima contaminada ou
12. VEIGA, S.M.O.M; ANTONACIO, N.R; BELMONTE, M.G.
contaminação pós processamento, possivelmente devido à manipulação
Qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio
inadequada durante o preparo, deficiência na limpeza e higienização
ambulante e intervenção educativa. Braz. J. of Develop,
dos utensílios, possíveis falhas nas etapas de produção, ou abuso do
Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14979-14997, 2020.
tempo em temperaturas inadequados de conservação dessas
13. ORDÓÑEZ, J. A. et al. Tecnologia de alimentos: componentes dos
preparações, sendo portanto, parâmetro de avaliação de condições
alimentos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 13.
higiênico- sanitárias (12).
Além disso, a maior ocorrência de contaminação
microbiológica em alimentos de base láctea pode estar relacionada com
as características bioquímicas do leite, que apesar da composição ser
variável a depender da espécie, em âmbito geral, é um alimento com
alto teor de água, gordura, proteínas, carboidratos e vitaminas, o que o
torna um meio de cultura adequado para o desenvolvimento de
microrganismos (13).
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
222
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras chave: superfícies de contato, coliformes totais, coliformes termotolerantes, boas práticas de manipulação.
INTRODUÇÃO utensílios utilizados nas cozinhas e restaurantes de hotéis cinco estrelas,
localizados no Litoral Norte Baiano.
O setor de turismo no Brasil apresentou crescimento
significativo nas últimas décadas, tendo recebido, apenas no ano de MATERIAL E MÉTODOS
2019, 97,1 milhões de turistas, o que representa uma alta da Neste estudo foram avaliadas 36 amostras de superfície de
movimentação de 1,8%, quando comparada ao ano anterior (1). Com utensílios como tigelas, pratos, taça, copos, xícara, talheres, bandeja,
isto, percebe-se o consequente aumento das atividades na rede hoteleira, tábua, entre outros, de dois hotéis resorts localizados no litoral Norte
com destaque para o estado da Bahia, importante polo turístico do país, Baiano, das quais, 21 foram provenientes do hotel A e 15 amostras do
reconhecido por sua diversidade cultural e gastronômica (2). No hotel B, durante o período de janeiro de 2020 a fevereiro de 202. As
entanto, juntamente com a expansão da demanda por estes serviços, amostras foram colhidas por meio de esfregaço com swab estéril na
cresce a preocupação com a oferta de alimentação segura aos hóspedes, superfície dos utensílios após serem higienizados. Os swabs foram
a qual deve ser garantida através da adoção das Boas Práticas de acondicionados em caixas isotérmicas contendo gelo reciclável e
Fabricação dos alimentos, seguindo como referência as disposições transportados para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da
estabelecidas pela Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, onde foram
que institui o Regulamento Técnico de Boas Práticas para os Serviços submetidas as análises de coliformes totais, coliformes termotolerantes
de Alimentação (3). e Escherichia coli segundo metodologia preconizada pelo APHA (10).
Durante a hospedagem, o café da manhã frequentemente Os resultados foram impressos como positivos e negativos para
representa a única refeição ofertada nos hotéis, com exceção daqueles contaminação microbiológica.
classificados como resorts, que oferecem qualidade de lazer e
entretenimento que mantém o hóspedes durante todo o dia e, RESULTADOS E DISCUSSÃO
obrigatoriamente, necessitam disponibilizar outros serviços de
refeições, restaurante e bar e opções de dietas especiais. Para tanto, as Do montante de amostras analisadas, conforme demonstrado
cozinhas institucionais funcionam como um local destinado ao preparo, na figura 1, detectou-se crescimento microbiano em duas (5,55%), os
armazenamento e distribuição dos alimentos que, durante o quais foram utensílios provenientes do hotel A.
processamento destes devem utilizar técnicas de higienização
adequadas e eficientes dos equipamentos e utensílios, devido ao Figura 1 - Quantitativo e percentual das amostras analisadas e positivas
potencial dos mesmos de abrigar e veicular microrganismos, que podem para contaminação microbiológica nas superfícies dos utensílios
se organizar em biofilmes e apresentar resistência para eliminação (4, obtidos entre janeiro e fevereiro de 2020.
5).
Diversos fatores podem contribuir para a contaminação
microbiológica dos utensílios, como o armazenamento incorreto dos
mesmos, a má qualidade das matérias-primas utilizadas, a higienização
inadequada das mãos dos manipuladores, que contribuem com a
ocorrência de contaminação cruzada durante as etapas de preparo.
Estes, representam os principais fatores relacionados aos casos de
surtos por Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) (6,7,8). De
acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Vigilância em
Saúde, foram notificados 771 casos de surtos por DVA no Brasil,
apenas no ano de 2019, dos quais 52,66% ocorreram fora das
residências, o que incluem os restaurantes dos hotéis (9).
Para evitar problemas desta natureza, os utensílios utilizados
em cozinhas institucionais devem ser lisos, fáceis de higienizar e Destas, uma foi o copo para água obtido no setor de lavagem
produzidos com material que dificulte a contaminação (3). Além disso, de louças, que apresentou coliformes totais, enquanto a outra, a xícara
os parâmetros de qualidade higiênico-sanitário são fundamentais, uma utilizada no buffet, na qual identificou-se coliformes totais e
vez que a ineficiência e a negligência em relação às normas termotolerantes (Tabela 1). Em nenhuma das amostras consideradas foi
estabelecidas, contribuem para a ocorrência das contaminações de verificada a presença de Escherichia coli.
origem alimentar. Portanto, a realização periódica de avaliações Os resultados obtidos evidenciaram a predisposição do sistema
microbiológicas das superfícies dos utensílios, capacitações da equipe de higienização, armazenamento e distribuição dos utensílios do hotel
quanto à manipulação e higienização correta destes utensílios e A, a ocorrência de falhas, com consequente contaminação
equipamentos, são fundamentais para impedir a ocorrência destes microbiológica onde, para o primeiro caso, pode-se inferir que a falha
eventos (2,5) estaria relacionada ao processo de lavagem, já que a amostra foi colhida
Atualmente não existem legislações brasileiras que de forma asséptica do utensílio recém higienizado. Já para o segundo,
estabeleçam parâmetros de referência com os níveis de contaminação deve-se considerar além da higienização ineficaz, a possível inserção
aceitáveis para avaliação microbiológica de equipamentos e utensílios microbiana por manipulação inadequada uma vez que, o utensílio
utilizados na produção e consumo de alimentos. Além disso, as encontrava-se exposto no buffet para utilização dos hóspedes.
recomendações internacionais para superfícies são voltadas apenas para A presença de bactérias do grupo dos coliformes nos utensílios
a pesquisa de microrganismos mesofilos aeróbios com valores de pode promover a contaminação dos alimentos prontos para consumos,
referência entre 2 UFC/cm2(10) e 50 UFC/cm2(11). Desta forma, o dispostos no serviço de buffet e, consequentemente, ocasionar DVA. Os
presente estudo objetivou avaliar a qualidade microbiológica dos coliformes correspondem ao grupo de bactérias, pertencente à família
Enterobactereacea, mais comumente utilizados na indústria alimentícia
para monitoramento de condições higiênico-sanitárias, uma vez que
223
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
uma alta contagem em alimentos que sofreram processamentos Litoral Norte Baiano apresentou microrganismos indicadores do grupo
térmicos é indicativo de condições de processamento insatisfatórias coliformes. Apesar do baixo percentual, foram evidenciadas possíveis
(12). Ainda que não tenha ocorrido no presente estudo, os coliformes falhas nas técnicas de lavagens e/ou armazenamento dos mesmos, com
termotolerantes podem ser indicativos da presença Escherichia coli, potencial risco de contaminação cruzada para os alimentos. É
que é uma bactéria predominantemente entérica e apresenta importante salientar a necessidade de utilização das técnicas adequadas
determinados grupos patogênicos, responsáveis por sintomas mais de lavagem e higienização de utensílios nos serviços de alimentação da
brandos como diarreia e dor abdominal (13). rede hoteleira, de forma a garantir a qualidade microbiológica dos
utensílios utilizados no preparo e consumo dos alimentos, visando o
Tabela 1 – Relação de utensílios analisados no período entre janeiro a bem-estar e a segurança dos hóspedes. Estes resultados enfatizam a
fevereiro de 2020, de acordo com local/setor de obtenção e resultados necessidade de treinamentos periódicos, de modo a possibilitar a
das análises dos microrganismos pesquisados. consolidação e aplicação das técnicas de boas práticas de fabricação e
manipulação de alimentos.
REFERÊNCIAS
224
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Desenvolvimento de pão hambúrguer utilizando farinha mista de trigo e arroz enriquecida com
beterraba
André Souza1, Socorro Angelim1, Juliano Silva1, Amanda Leal2, Juliana Costa3, Luciana Marques4
1
Graduando (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
3
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, julianacosta31@gmail.com
4
Professora Doutora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
INTRODUÇÃO
225
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
RESULTADOS E DISCUSSÂO
1. FRANCO, V. A. Desenvolvimento de pão sem glúten com farinha
Participaram dos testes 80 provadores sendo 68,7% do sexo feminino e de arroz e de batata-doce. Dissertação apresentada à Coordenação do
31,3% do sexo masculino, sendo a maioria (85%) universitários com Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos
idades até 30 anos. Os provadores indicaram que consumiam pão da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás,
diariamente (56,7%), uma vez por semana (23,5%), quinzenalmente 2015,129f.
(15%) e uma vez por mês (4,8%). O resultado do teste de aceitação
sensorial dos pães de hambúrguer a base de farinha de trigo e arroz 2. OLIVEIRA, D. A. S. B.; MÜLLER, P. S.; FRANCO, T. S.;
enriquecido com beterraba podem ser observados na tabela 2. KOTOVICZ, V.; WASZCZYNSKYJ, N.. Avaliação da qualidade de
pão com adição de farinha e purê da banana verde. Ver. Bras. de
Tabela 2 – Resultado do teste de aceitação dos pães de hambúrguer a Frutic., 37(3), 699-707. 2015.
base de farinha de trigo e arroz enriquecido com beterraba
3. MAIA, J.D.; BARROS, M. O. ; CUNHA, V. C. M.; SANTOS, G.
Intenção R.; CONSTANT, P. B. L.. Estudo da aceitabilidade do pão de forma
Aceitação
Amostra Cor Sabor Textura Aroma de enriquecido com farinha de resíduo da polpa de coco. Rev. Bras.
global
compra Prod. Agroind. 17(1), 1-9, 2015.
A 7,04ª 6,62 ª 7,10 ª 6,30ª 6,94 ª 3,98 ª 4. GRAÇA, C. S.; BARBOSA, J. B.; SOUZA, M. Z.; MOREIRA, A.
b S., LUVIELMO, M. M.; MELLADO, M. D. M. S. Adição de
B 7,02ª 6,54 ª 6,46 6,28 ª 6,90 ª 3,80 ª
colágeno em pão sem glúten elaborado com farinha de arroz. Braz. J.
a, b
Médias seguidas por pelo menos uma letra igual na mesma coluna, Food Technol. 20, e2016105, 2017
não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey. 5. MORO, J. Composição Centesimal e Composição Antioxidante do
Farelo de Arroz e Seus Benefícios a Saúde. Trabalho final de
Os resultados mostraram que as amostras foram iguais estatisticamente graduação acadêmico do curso de nutrição UNIFRA, Santa Maria
(p˃0,05) para os atributos avaliados, exceto para a textura, em que a 2004.
amostra A obteve maior média de aceitação, diferenciando
significativamente (p≤0,05) da amostra B (Tabela2).Alguns provadores 6. PIRES, P. S.; QUADROS, G. S. L.; GADELHA, G. G. P.
comentaram que esta amostra apresentava-se mais úmida e fofa, em Desenvolvimento e caracterização de pão sem glúten à base de
comparação com a amostra B, esta foi caracterizada como crocante. farinha de vegetais. E-xacta, Belo Horizonte, 11 (1), 85-95, 2018.
Esse resultado deve-se a adição da beterraba in natura que
proporcionou uma textura um pouco mais úmida e macia favorecendo 7. CHHIKARA, N., KUSHWAHA, K., SHARMA, P., GAT, Y., &
sua aceitação. Este atributo de textura para produtos como o pão indica PANGHALA, A. Bioactive compounds of beetroot and utilization in
frescor e qualidade, tornando-se um fator indispensável para que o food processing industry: A critical review. Food Chem. 272, 192-
consumidor defina a aceitabilidade do produto no mercado [8]. Os 200, 2019.
demais atributos apresentaram médias que correspondem na escala
hedônica aos termos “gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”. 8. GAYARDO, M.; COLLING, S. S.; ENSINA, T. C.S.
O que pode inferir que mesmo com maior proporção de farinha de Desenvolvimento de pães bisnaguinhas com substituição de farinha
arroz, a amostra obteve as principais características do pão elaborado de trigo por farinha de beterraba, isento de gordura hidrogenada com
apenas com farinha de trigo. Em um trabalho publicado os autores [11] adição de estermid®. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso.
desenvolveram pão integral de beterraba enriquecido com a farinha dos Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
talos de beterraba e obtiveram médias de aceitação sensorial entre 7,94
e 8,78, portanto, com boa aceitação pelos provadores. Para os autores o 9. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
uso dessas farinhas em receitas padrões de pães proporciona o New York: Academic Press. 2004.
aproveitamento integral do alimento, diminuindo assim o desperdício.
Outros autores [4] avaliaram sensorialmente pães sem glúten, 10. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
elaborados com farinha de arroz e obtiveram aceitação sensorial ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010
superior a 75%, sendo o pão com adição de colágeno em fibra com
melhores características próximas do pão tradicional.
O resultado do teste de intenção de compra dos pães hambúrguer a base 11. SOUZA, M. M. P.; MATTANNA, P. Desenvolvimento de
de farinha de trigo e arroz enriquecido com beterraba mostrou que não produtos enriquecidos com farinha de talos de beterraba. Biociências,
houve diferença significativa (p˃0,05) entre as duas amostras, com Biotecnologia e Saúde, 20, 16-26, 2019.
médias correspondendo aos termos “comeria ocasionalmente” e
“comeria frequentemente”. Estes resultados corroboram com as médias
de aceitação para os demais atributos, demonstrando a aceitabilidade do
produto elaborado.
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
226
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Leirson Rodrigues da Silva1*, Ana Rosa de Figueiredo1, Milena Maria Tomaz de Oliveira2, Thayane Rabelo Braga
Farias3, Raul Castro Carriello Rosa4, Lilia Aparecida Salgado de Morais4
1
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará
4
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: rodriguesleirson@yahoo.com.br
Palavras-chave: Passiflora edulis Sims, Qualidade, Pós-colheita.
INTRODUÇÃO O rendimento das partes constituintes dos frutos de maracujá-roxo
O maracujá-roxo (Passiflora edulis Sims) é uma frutífera em cultivos convencional e orgânico é apresentada na Tabela 1.
pertencente à família Passifloraceae. Originária da América Tropical, a
espécie tem sido relatada como de grande expressão socioeconômica no Tabela 1. Rendimento das partes constituintes dos frutos de maracujá-
mundo. Aproximadamente 1,5 milhões de toneladas do fruto foram roxo em cultivos convencional e orgânico.
produzidos no mundo em 2017, destacando como países de maior Constituição percentual
produção o Brasil, Indonésia e Colômbia. Neste contexto, o Brasil tem Partes dos Frutos
se destacado como o maior produtor mundial, com produção de 1 Convencional Orgânico
milhão de toneladas em 2017 (1,2,3). A região Nordeste é responsável
pela maior produção dos frutos de maracujá no país (4). Polpa 39,52±2,64 36,20±2,54
Os frutos de maracujá-roxo são do tipo ovóides, apresentando
grandes variações no comprimento e largura. A cor da casca é Casca 50,96±2,80 54,06±3,71
totalmente arroxeada e a da polpa amarela escura. Entre as espécies de
maracujá cultivadas no Brasil, encontra-se o maracujá-roxo, com Semente 9,52±3,49 9,74±5,29
produção de frutos que podem ser aproveitados como alimento. A *Valores médios ± desvios-padrões determinados com base na
principal forma de comercialização do maracujá é como suco, sendo as média de 20 frutos.
cascas e sementes, resultantes de seu processamento, os principais
subprodutos. Pode-se observar que a produção de polpa não é muito alta, pois a
As características de alto rendimento em polpa, elevado teor de casca representa um valor acima de 50% dos frutos em ambos os
sólidos solúveis e de compostos bioativos presentes no fruto, são bem sistemas de cultivo. Trabalhos têm sido realizados quanto ao
importantes, principalmente pela contribuição dos efeitos benéficos que rendimento em polpa de frutos de maracujá (12,13). O valor médio
estes podem proporcionar a saúde humana e estarem relacionados à encontrado neste estudo para o rendimento em polpa foi considerado
redução do risco e desenvolvimento de doenças. adequado para o consumo in natura e indústria. O rendimento de polpa
Diversos estudos para determinação da composição nutricional e considerado como adequados tanto para o consumo in natura como
bioativa em espécies de maracujá cultivadas em diferentes sistemas de para agroindústria em frutos de maracujá deve ser superior a 50% (14).
cultivo têm sido relatados nos últimos anos (5,6,7). A composição físico-química da polpa dos frutos de maracujá-roxo
O estudo de maracujá-roxo torna-se interessante devido à em cultivos convencional e orgânico é apresentada na Tabela 2.
inexistência de informações literárias sobre os atributos de qualidade à Tabela 2. Características físico-químicas dos frutos de maracuja-roxo
comercialização e utilização da polpa deste fruto na elaboração de em cultivos convencional e orgânico.
produtos industrializados. Sendo assim, o presente trabalho teve por
objetivo determinar as características físico-químicas dos frutos de Características Físico-químicas
maracujá-roxo sob manejo convencional e orgânico. Frutos
AT2
SS1 (°Brix) SS/AT3 pH4 AA5
MATERIAL E MÉTODOS (%)
Foram utilizados frutos de maracujá-roxo provenientes de sistema 13,86 4,62 2,99 2,46 67,08
Convencional
de cultivo convencional e orgânico. Os frutos para estudo foram ±0,04a ±0,01a ±0,01a ±0,04b ±1,27a
coletados na Estação Experimental Fazendinha Agroecológica 12,93 4,43 2,94 2,66 61,85
localizada em Seropédica - RJ (Latitude: -22.7414, Longitude: - Orgânico
±0,04b ±0,02b ±0,03a ±0,04a ±2,46b
43.7053; 22°44’29’’ Sul, 43°42’19’’ Oeste) e altitude em torno de 26 m.
O clima, segundo Köppen, é do tipo Aw, com verões chuvosos e Médias ± desvios-padrões; 1SS = Sólidos solúveis; 2AT = Acidez
titulável; 3SS/AT; 4pH; 5AA = Ácido ascórbico. As médias seguidas da
invernos secos. As médias mensais da temperatura mais baixa e alta são
mesma letra nas colunas não diferem, de acordo com o teste de Tukey,
20º e 29ºC, respectivamente, com precipitação anual em torno de 1.250
mm (8). ao nível de 5% de probabilidade.
Os frutos foram colhidos em estádio de maturação comercial A caracterização físico-química dos frutos de maracujá-roxo
(maduro) nas primeiras horas do dia. Em seguida, selecionados, avaliados neste estudo permitiu verificar que os valores médios obtidos
embalados em sacos plásticos e encaminhados ao Laboratório de foram condizentes aos encontrados em pesquisas relacionadas a
Alimentos e Bebidas (LAAB) em Seropédica-RJ. Para as avaliações espécies de maracujazeiros em diferentes sistemas de cultivo
físicas foram tomados vinte frutos e realizadas mensurações individuais (14,15,16,17). O conhecimento das características físico-químicas dos
para cada fruto estudado. Em seguida, foi realizado o processamento da frutos é de suma importância, visando o potencial e o correto
polpa por meio de multiprocessador WALITA®, estabelecendo três direcionamento dos mesmos (18).
repetições para a caracterização dos frutos. Os frutos foram analisados A variabilidade de resultados encontrados em diversas pesquisas
quanto a: rendimento das partes constituintes dos frutos (%), sólidos realizadas com frutos de maracujás e em diferentes sistemas de cultivo
solúveis (°Brix) (9), acidez titulável (% de ácido cítrico) (9), SS/AT (9), podem ser explicadas por inúmeros fatores influenciáveis na sua
pH (9) e teor de ácido ascórbico (mg/100 g) (10). composição e qualidade, podendo citar a época de produção,
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e variabilidade genética da espécie, estádio de maturação na colheita,
as médias dos dados foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de dentre outros (19,20).
probabilidade. As análises foram realizadas pelo sistema de análise de
variância de programa computacional - SISVAR (11). CONCLUSÃO
Os frutos de maracujá-roxo possuem alto valor nutricional,
RESULTADOS E DISCUSSÃO provando ser um produto promissor, principalmente por conter
227
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
quantidades significativas de ácido ascórbico e sólidos solúveis em GENOVESE, M. I.; PINTO, M. S.; GONÇALVES, A. E. S. S.;
ambos os sistemas de cultivo realizados. LAJOLO, F. M. Bioactive compounds and antioxidant capacity of
exotic fruits and commercial frozen pulps from Brazil. Food Sci. Tech.
AGRADECIMENTOS Intern. 14, 3, 207-214, 2008.
Os autores agradecem à UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e CAPES
pelo apoio e suporte financeiro na execução do presente trabalho. GAMARRA, R.; MEDINA, V. M. Variações físico-químicas do
maracujá ácido em função da idade do fruto. Rev. Bras. Frut. 17, 3, 103-
REFERÊNCIAS 110, 1995.
OZAROWSKI, M.; THIEM, B. Progress in micropropagation of
AULAR, J.; RUGGIERO, C.; DURIGAN, J. F. Influência da idade na
Passiflora spp to produce medicinal plants: A mini-review. Rev. Bras.
colheita sobre as características dos frutos e do suco de maracujá-
Farm. 23, 6, 937-947, 2013.
amarelo. Rev. Bras. Frut. 22, 6-8, 2000.
PEREIRA, A. D.; CORREA, R. X.; OLIVEIRA, A. C. Molecular
genetic diversity and differentiation of populations of ‘somnus’ passion
fruit trees (Passiflora setacea DC): Implications for conservation and
pre-breeding. Bio. Syst. Ecol. 59, 12-21, 2015.
228
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Compostos Bioativos e Capacidade Antioxidante das Folhas de Louro (Laurus nobilis L.)
Leirson Rodrigues da Silva1*, Ana Rosa de Figueiredo1, Milena Maria Tomaz de Oliveira2, Thayane Rabelo Braga
Farias3, Raul Castro Carriello Rosa4, Lilia Aparecida Salgado de Morais4
1
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará
4
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: rodriguesleirson@yahoo.com.br
Palavras-chave: Qualidade, Ácido ascórbico, Pós-colheita.
INTRODUÇÃO
O louro (Laurus nobilis L.) é uma árvore perenifólia pertencente à Compostos Bioativos *Valores
família Lauraceae. Originária do mediterrâneo, a espécie apresenta
importância socioeconômica pela produção de folhas muito utilizadas
como aromatizantes na culinária em forma de tempero (1,2) e outros Ácido ascórbico (mg/100 g) 141,83±3,57
fins. Apesar do amplo uso, o cultivo desta espécie ainda se restringe a
Carotenoides totais (mg/100 g) 8,91±0,05
pequenos terrenos, não sendo por sua vez as plantas cultivadas em larga
escala (2). Clorofila total (mg/100 g) 140,09±0,03
As folhas de louro são simples e coriáceas, com coloração verde-
escuras e bem aromáticas. A espécie tem sido relatada como fonte Flavonoides amarelos (mg/100 g) 89,97±1,30
valiosa de inúmeros compostos bioativos com propriedades medicinais.
Além disto, os óleos essenciais extraídos das folhas apresentam Antocianinas totais (mg/100 g) 21,88±1,19
atividades biológicas diversas, como a atividade espasmódica (3).
A quantificação de compostos com propriedades funcionais a partir Polifenóis extraíveis totais (mg GAE/100 g) 129,88±0,04
das folhas de louro são importantes para o melhor conhecimento do seu *Valores médios ± desvios padrão da média de determinações em
valor nutricional e bioativo, e do ponto de vista comercial agregar valor triplicata.
e qualidade ao produto final. Pesquisas já realizadas em diferentes
espécies de louro elucidam que muitos destes compostos bioativos As folhas de louro apresentaram teores médios de ácido ascórbico
encontrados funcionam como agentes antioxidantes e têm recebido de 141,83 mg/100 g, carotenoides totais de 8,91 mg/100 g, clorofila
grande atenção, pois auxiliam na proteção do organismo humano contra total de 140,09 mg/100 g, flavonoides amarelos de 89,97 mg/100 g,
o estresse oxidativo, reduzindo por sua vez uma série de doenças. antocianinas totais de 21,88 mg/100 g e polifenóis extraíveis totais de
Considerando a relevância desta espécie e as poucas pesquisas no 129,88 mg/100 g, com destaque para os elevados teores de ácido
âmbito nacional, faz-se necessária a avaliação da composição bioativa ascórbico, clorofila total e polifenóis extraíveis totais, respectivamente.
das folhas de louro provenientes de Paty do Alferes - RJ, a fim de Alguns estudos têm sido realizados quanto a composição bioativa
quantificar particularidades a respeito da composição detalhada, das folhas em diferentes espécies de louro, alcançando resultados bem
assegurando seu potencial de utilização. satisfatórios (13,14). Os vegetais, apresentam em sua constituição
vários compostos com ação antioxidante, os quais incluem a vitamina
MATERIAL E MÉTODOS C, carotenoides e polifenóis. A quantidade e o perfil destes fitoquímicos
Foram utilizadas folhas de louro provenientes de sistema de cultivo variam em função do tipo, variedade e grau de maturação bem como
orgânico. As folhas de louro para estudo foram coletadas de das condições edafoclimáticas do cultivo (15,16).
propriedade familiar em Paty do Alferes - RJ (Latitude: -22.4144, A capacidade antioxidante das folhas de louro provenientes de
Longitude: -43.4226; 22°25’10’’ Sul, 43°25’21’’ Oeste) e altitude em Paty do Alferes - RJ é apresentada na Tabela 2.
torno de 624 m. O clima, segundo Köppen, é do tipo Cfa (clima Tabela 2. Capacidade antioxidante das folhas de louro provenientes de
subtropical úmido). A temperatura média é de 20ºC, com precipitação Paty do Alferes, RJ.
média anual em torno de 1.637 mm.
As folhas de louro foram colhidas diretamente na copa das plantas, Capacidade antioxidante *Valores
tomando-se como índice de colheita a coloração da folha (verde-escura)
e sem a presença de injúrias ou sinais de senescência. Em seguida, DPPH (μmol TE/100 g) 2282,04±0,02
selecionadas, embaladas em sacos plásticos e encaminhadas ao
Laboratório de Alimentos e Bebidas (LAAB) em Seropédica - RJ, onde
foram secas em estufa e transformadas em pó para posteriores análises. FRAP (μmol TE/100 g) 1270,54±0,04
Foram avaliados os seguintes compostos bioativos das folhas de *Valores médios ± desvios padrão da média de determinações
louro: ácido ascórbico (4) e os resultados expressos em mg/100 g; em triplicata.
carotenoides totais (5) e os resultados expressos em mg/100 g; clorofila
total (6,7) e os resultados expressos em mg/100 g; flavonoides amarelos Para a capacidade antioxidante a determinação pelo método
e antocianinas totais (8) e os resultados expressos em mg/100 g e DPPH obteve o maior valor médio que foi de 2282,04 μmol TE/100 g.
polifenóis extraíveis totais, com modificações (9) e os resultados Um estudo foi realizado por (15) avaliando a capacidade antioxidante
expressos em mg GAE/100 g. A capacidade antioxidante foi realizada das folhas de louro provenientes do Marrocos, utilizando os métodos
pelos métodos (10,11) e os resultados expressos em μmol TE/100 g. DPPH e FRAP. Esses resultados corroboram com os obtidos em outros
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) estudos. Segundo (11) a capacidade antioxidante pode ser devida ao
com obtenção dos valores médios e desvios-padrões das folhas de louro. teor de compostos fenólicos presentes em produtos vegetais, como as
As análises foram realizadas em triplicata. Utilizou-se o programa folhas.
computacional – SISVAR (12). Os dados comparativos da capacidade antioxidante pelo métodos
DPPH e FRAP, nesse estudo são de grande importância, pois é desejável
RESULTADOS E DISCUSSÃO não apenas a partir do ponto de vista acadêmico, mas também de
A composição bioativa das folhas de louro provenientes de Paty do interesse dos produtores e consumidores de produtos vegetais (17). Foi
Alferes - RJ é apresentada na Tabela 1. possível observar no referido estudo que a espécie pode ser considerada
fonte rica de compostos com propriedades nutricionais e funcionais,
Tabela 1. Composição bioativa das folhas de louro provenientes de mesmo assim mais estudos são necessários para ampliar o
Paty do Alferes, RJ. conhecimento cientifico da espécie e assim obter informações mais
detalhadas a respeito dos valores bioativos das folhas de louro, gerando
229
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
um incentivo ao consumo de um alimento de fonte natural e saudável, bay laurel (Laurus nobilis Linnaeus (Lauraceae) from Portugal. Nat.
de baixo custo e que possa garantir beneficios voltados à promoção da Prod. Res. 26, 6, 518-529, 2012.
saúde.
LEONG, L. P.; SHUI, G. An investigation of antioxidant capacity of
CONCLUSÃO fruits in Singapore markets. Food Chem. 76, 1, 69-75, 2002.
As folhas de louro demonstraram ser de boa qualidade para o
consumo in natura, principalmente porque contém quantidades MELO, E. A.; MACIEL, M. I. S.; LIMA, V. L. A. G. Capacidade
significativas de ácido ascórbico, clorofila total e polifenóis extraíveis antioxidante de hortaliças usualmente consumidas. Ciên. Tecn. Alim.
totais, o que é de grande importância para o setor agroindustrial e 26, 3, 639- 644, 2006.
quando voltados a promover benefícios à saúde humana.
BOMFIM, M. P.; LIMA, G. P. P.; VIANELO, F.; SÃO JOSÉ, A. R.
AGRADECIMENTOS Caracterização dos compostos bioativos em frutas e hortaliças
Os autores agradecem à UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e CAPES adquiridas no comércio de Padova - Itália. Rev. Iber. Tecn. Postc. 18, 2,
pelo apoio e suporte financeiro na execução do presente trabalho. 1-13, 2017.
REFERÊNCIAS
LORENZI, H.; SOUZA, H. M.; TORRES, M. A. V. Laurus nobilis L.
In:___. Árvores exóticas no Brasil: madeireiras, ornamentais e
aromáticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, p.153. 368p. 2003.
230
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação Sensorial de Frutas Estruturadas de Manga com Cajá Desenvolvidas com Diferentes
Hidrocoloides
Amanda Rodrigues Leal1, Juliana Nascimento da Costa2, Tereza Carlas da N. A. Garcez3, Paulo Henrique Machado de
Sousa4
1
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, amanda.lleal@hotmail.com;
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Economista Doméstica, Universidade Federal do Ceará;
4
Professor Doutor no Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
231
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
comeriam a formulação LA50/HA50. Costa et al. (13), em seu estudo com que resultou em produtos com propriedades similares, já que estes contêm os
fruta estruturada de goiaba, observaram que a amostra contendo proporções dois tipos de goma gelana, embora em proporções diferentes.
iguais de goma gelana LA e HA (LA50/HA50) abteve a maior taxa de Percebe-se que as formulações apresentaram uma preferência relativamente
intenção de consumo, seguida pela LA75/HA25. homogênea, com uma concentração maior de provadores próximos à
LA50/HA50 e LA75/HA25, e, menor ao redor de LA100/HA0, indicando
Figura 2 - Histograma de frequência do teste de intenção de consumo das que esta amostra foi preferida por menos julgadores. Pode-se perceber
formulações de fruta estruturada de manga com cajá também que sete provadores ficaram localizados no centro do gráfico,
indicando que para eles as amostras avaliadas eram muito semelhantes, e, por
Agar LA100/HA0 LA75/HA25 LA50/HA50 isso, não manifestaram preferência por nenhuma destas.
50
45 CONCLUSÃO
45 43 42
40
39 Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que os estruturados
34 mistos foram bem aceitos sensorialmente, e, através do cruzamento
35 dos dados sensoriais obtidos, observou-se que os provadores
CONSUMIDORES (%)
29
30 obtiveram uma maior aceitação pela amostra LA75/HA25.
24
25
21 21
20
15 15 REFERÊNCIAS
15 13 12 11
10
7 8 1. MISSAGIA, S. V.; REZENDE, D. C. A alimentação saudável
10
4 3 sob a ótica do consumidor: identificando segmentos de
5 2 mercado. In: ENCONTRO DA ANPAD, 35, 2011, Rio de
0 Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2011, p. 1-17.
Certamente Provavelmente Talvez comesse Provavelmente Certamente não 2. BOMFIM, M. A. D. et al. Abordagem multidisciplinar de PD&I
comeria comeria talvez não não comeria comeria para o desenvolvimento de produto lácteo caprino com alto teor
comesse
de CLA e alegação de propriedade funcional. Revista
INTENÇÃO DE CONSUMO (NOTA) Brasileira de Zootecnia, v. 40, p. 98-106, 2011.
3. SILVA, A. A.; BARBOSA JUNIOR, J. L.; BARBOSA, M. I.
Os resultados obtidos no MPI estão representados na Figura 3, onde cada M. J. Farinha de banana verde como ingrediente funcional em
ponto vermelho representa a correlação dos dados de aceitação de um produtos alimentícios. Ciência Rural, v. 45, n. 12, p.2252-
consumidor com os dois primeiros componentes principais (CP-1 e CP-2), ou 2258, 2015.
seja, cada ponto representa um consumidor. 4. VASCONCELOS, C. M. et al. Desenvolvimento e avaliação
sensorial de sobremesa láctea potencialmente simbiótica. Rev.
Figura 3 - Mapa de preferência interna dos dados de aceitação global das Inst. Laticínios Cândido Tostes, v.68, n. 391, p. 11-17, 2013.
formulações de fruta estruturada de manga com cajá 5. AMARAL, O. M. R. P. Pão com elevado teor em amido
resistente: desenvolvimento tecnológico e estudo in vivo. 2016.
Biplot (eixos F1 e F2: 70,58 %) 125 f. Tese (Doutorado em Doenças Metabólicas e
Comportamento Alimentar) - Faculdade de Medicina de Lisboa,
2 Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2016.
19 29 5368 6. CARVALHO, A. V. Otimização dos parâmetros tecnológicos
1,5 7593 104
14
96
7943 para a produção de estruturados de frutas funcionais a
8245
73
62 30
11
69
76
56
86
26
31
81
92
51 9
64
23
35
65 partir de polpa de açaí e mix de taperebá com mamão.
67
1
3
25
44
103
12
55
LA50/HA50 28
24 Documentos 306. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2007.
13
18 LA75/HA25 4
41
50
49
84
7. WUSTENBERG, T. Cellulose and cellulose derivatives in the
78
0,5 food industry: fundamentals and applications. Weinheim,
F2 (33,55 %)
105
48
83
99
32
54 Germany: Wiley-VCH, 2015.
0 63
66
58
60
90
5
10
17
39
61
80
87 21
47
100
2
15
98
8. MILANI, J.; MALEKI, G. Hydrocolloids in Food Industry. In:
59
52
34 22 VALDEZ, B. (Ed.). Food Industrial Processes: Methods and
-0,5 27
94AGAR
46 102 Equipment. Rijeka, Croatia: InTech, 2012.
8 101
77 9. IMESON, A. Food stabilisers, thickeners, and gelling agents.
-1 1
88
Oxford, England: Wiley Blackwell, 2010.
91 LA100/HA0
74 37
40
72
85
89
3320
10. CUI, S. W. (Ed.). Food carbohydrates: chemistry, physical
-1,5 16
7
70
38 97
95 36 6 42
71 57 properties, and applications. Boca Raton, United States: CRC
Press, 2005.
-2
11. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
-2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
New York: Academic Press. 2004.
F1 (37,02 %) 12. ADDAI, Z.R. et al. Evaluation of fruit leather made from two
cultivars of papaya. Ital. J. Food Sci., v.28, p.73-82, 2016.
Os mapas gerados (CP-1 e CP-2) explicaram juntos 70,58% da variação, 13. COSTA, J. N. et al. Texture, microstructure and volatile profile
onde o CP-1 explicou 37,02% e o CP-2 33,55%. Percebeu-se que houve a of structured guava using agar and gellan gum. International
formação de 3 grupos, o primeiro, formado pelas amostras LA50/HA50 e Journal Of Gastronomy And Food Science, v. 20, p. 100207,
LA75/HA25, o segundo pela LA100/HA0 e o terceiro composto pela amostra 2020.
ágar. Dessa forma, as amostras LA50/HA50 e LA75/HA25 obtiveram a 14. BRADBEER, J. F. et al. Self-structuring foods based on acid-
preferência dos mesmos consumidores, que não conseguiram diferenciá-las. sensitive low and high acyl mixed gellan systems to impact on
Bradbeer et al. (14), afirmaram que as misturas entre goma gelana LA e satiety. Food Hydrocolloids, v. 35, p. 522-530, 2014.
goma gelana HA resultam em géis com propriedades intermediárias. Isso
indica que o fato de as amostras LA50/HA50 e LA75/HA25 terem ficado em
um mesmo grupo tenha sido resultado da combinação desses hidrocoloides,
232
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
233
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
época de produção, variabilidade genética da espécie, estádio de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) quanto à
maturação na colheita, dentre outros (18,19). qualidade de frutos. Rev. Bras. Frut. 25, 1, 186-188, 2003.
234
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
235
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
FERREIRA, S. A. N.; GENTIL, D. F. O. Extração, embebição e VÁSQUEZ-OCMÍN, P. G.; ALVARADO, L. F.; SOLÍS, V. S.;
germinação de sementes de tucumã (Astrocaryum aculeatum). Rev. TORRES, R. P.; MANCINI-FILHO, J. Chemical characterizacion and
Acta Amaz. 36, 2, 141-146, 2006. oxidative stability of the oils from three morphotypes of Mauritia
TAN, K. T.; LEE, K. T.; MOHAMED, A. R.; BHATIA, S. Palm oil: flexuosa L.f, from the Peruvian Amazon. Gras. Aceit. 61, 4, 390-397,
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SANTOS, M. F. G.; ALVES, R. E.; ROCA, M. Carotenoid composition
in oils obtained from palm fruits from the Brazilian Amazon. Gras.
Aceit. 66, 3, e086, 2015.
236
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
237
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Nas análises sensoriais, foram totalizadas 74 participações voluntárias, sobressaído do gosto característico da fruta, ou o provável
em que a maioria (59,5%) era do sexo feminino. Quanto ao grau de desconhecimento dos provadores em relação ao sabor próprio do jambo
escolaridade, a maioria (77%) possuía nível superior incompleto. pode ter interferido negativamente na aceitação do produto.
Também foi perguntado aos julgadores sua faixa etária. Esta variou
entre 18 e 50 anos. Deste modo, 77% deles possuíam cerca de 18 a 26 CONCLUSÃO
anos de idade, seguido por aqueles com 26 a 34 anos representando Conclui-se que a geleia elaborada com o jambo, um fruto pouco
17,6%. valorizado e subutilizado, resultou em um produto
microbiologicamente satisfatório. Em relação as análises físico-
Tabela 2 - Resultados das médias e desvios padrão para os atributos químicas a geleia demonstrou teores dentro do esperado para geleia de
sensoriais da geleia de jambo. fruta. No entanto, observou-se baixo valor de °Brix.
Em relação aos resultados da análise sensorial, a ausência de critério de
Desvio exclusão de participantes, para segregar consumidores ou não
Atributo Média
Padrão consumidores de geleia, pode ter interferido no resultado da avaliação
Aparência 1,7 0,8 de aceitação, uma vez que as pessoas, na maioria das vezes, realizam
Aroma 2,6 1,1 comparações com produtos já conhecidos por eles.
Cor 1,5 0,8 A elaboração da geleia do tipo extra também pode ter influenciado no
Sabor 1,9 1,0 resultado da análise sensorial, pois no preparo foi utilizado uma elevada
Textura 2,0 0,9 quantidade de açúcar e toda a casca presente no jambo. Com isso o
Global 2,0 0,9 preparo pode ter comprometido o sabor e aparência original do fruto,
onde o jambo passou de um sabor adocicado e levemente ácido, para
Conforme apresentados na Tabela 2, os atributos aroma, textura e uma geleia excessivamente adocicada e de cor escurecida, causando
avaliação global apresentaram as maiores médias 2,6, 2,0 e 2,0 certa rejeição por parte dos participantes.
respectivamente. Essas médias estão próximas da nota 3 para gostei Assim, o presente estudo, apresentou o potencial do jambo no que diz
moderadamente e nota 2 para desgostei muito da escala de aceitação respeito a valorização do plantio, resgatar do uso de frutas da
utilizada na análise sensorial da geleia de jambo. A cor obteve a menor biodiversidade nordestina e sua aplicabilidade na gastronomia,
média 1,5, seguida da aparência 1,7 e 1,9 para sabor. Estas médias ficam incentivando sua produção e comercializar em diversas formas, dando-
próximas da nota 2, que corresponde a desgostei muito na escala lhe novas aplicações.
hedônica.
Analisando a intenção de compra da geleia de jambo 40,5% REFERÊNCIAS
responderam que certamente não comprariam a geleia de jambo, 36,5% 1. AZEVÊDO, J. C. S. Estratégias de obtenção do corante do jambo
“possivelmente não compraria” e 18,9% responderam “talvez vermelho (Syzygium malaccense) e avaliação de sua funcionalidade.
comprasse/ talvez não comprasse”. Apenas 1 pessoa indicou que 2010. 101f. Dissertação (Mestre em Pesquisa e Desenvolvimento de
“possivelmente compraria” (1,4%) e 2 pessoas que “certamente Tecnologia Regional) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
compraria” (2,7%). 2010.
Com vistas a entender quais atributos influenciaram e, 2. COSTA, R.S., OLIVEIRA, I.V. M., MÔRO, F. V., MARTINS, A.
consequentemente, contribuíram para a baixa aceitação da geleia de B. G. Aspectos morfológicos e influência do tamanho da semente na
jambo, foi realizado um estudo de correlações e seu resultado germinação do jambo-vermelho. Revista Brasileira de Fruticultura, v.
demonstrado na Figura 1. 28, n. 1, p. 117-120, Abr. 2006.
3. BATISTA, A. G. et al. Red-jambo (Syzygium malaccense):
Figura 1 - Análise de correlação entre os atributos sensoriais da geleia Bioactive compounds in fruits and leaves. Food Science and
de jambo. Technology, São Paulo, v. 1, n. 1, p.1-8, Maio 2016.
4. NUNES, P.C. et al. Physico-Chemical Characterization, Bioactive
Compounds and Antioxidant Activity of Malay Apple [Syzygium
malaccense (L.) Merr.&L.M. Perry]. Journal Plos, Pernambuco, p.1-
11, jun. 2016.
5. AUGUSTA, I. M. Extração e secagem da casca de jambo vermelho
(Syzygium malaccensis, (l.) merryl et perry) para obtenção de corante.
2011. 137 f. Tese (Doutorado em Tecnologia de Processos Químicos e
Bioquímicos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011.
6. ALMEIDA, J. B. O. et al. Uso de leveduras de vinhos de frutas
tropicais na alimentação humana. Brazilian Journal of Food
Technology, p. 65-69, 2005. 5ª SPIAL.
7. TAVARES, J.T.Q.; SILVA, C.L.; CARDOSO, R.L.; SILVA, M.A.;
CARVALHO, L.A.; SANTOS, C.M.G. Aplicação pós-colheita de
cloreto de cálcio em frutos de jambeiro vermelho (Eugenia malaccensis
L.). Magistra, v. 14, n. 2, jul./dez., 61-65, 2002.
8. CARDOSO, R. L., ONIGENO, A. E., COSTA, J. A., SANTIAGO,
S. M. Influência de diferentes temperaturas de estocagem no teor de
acidez total, sólidos solúveis totais e pH do jambo (Eugenia
Entende-se que os fatores que mais contribuíram para a impressão malaccensis, L.). Magistra, v. 12, n. 1 / 2, jan./dez. 2000.
global foram “aroma” e o “sabor”, seguidos pela textura. Contudo, 9. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 3ª
observou-se que a “cor” e “aparência” não apresentaram correlação Ed. Viçosa, MG: Editora UFV. 332p. 2013.
significativa com a impressão global. O que influenciou mais a 10. CHAVES, J. B. P.; SPROESSER, R. L. Práticas de Laboratório
intenção de compra foi a “textura” e o “sabor”, enquanto que o fator de Análise Sensorial de Alimentos e Bebidas. 3.ed. Viçosa: UFV.
que menos influenciou na decisão de compra foi a cor. A cor e a 2002.
aparência pouco contribuíram para a aceitação global e intenção de 11. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
compra por sua vez, a coloração interferiu diretamente no valor da London: Academic Press, 2004. 408p.
aparência. Já a textura influenciou moderadamente na aceitação global 12. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
e na intenção de compra da geleia. Sanitária. Resolução RDC No 12 de 2 de janeiro de 2001. Aprova o
A geleia apresentou uma coloração roxa brilhante, semelhante a um regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos.
jambo em seu máximo estágio de amadurecimento, com consistência Diário Oficial da União, Brasília, 10 de janeiro de 2001.
firme. De sabor adocicado, devido a grande adição de açúcar, reduzindo 13. TAVARES, J.T.Q.; SILVA, C.L.; CARDOSO, R.L.; SILVA, M.A.;
seu sabor ácido característico. A geleia exalava um aroma de flores CARVALHO, L.A.; TORREZAN, R. Manual para a produção de
marcante e suave ao mesmo tempo. Possivelmente, o preparo da geleia geleias de frutas em escala industrial. Rio de Janeiro: EMBRAPA -
com 50% polpa e 50% açúcar tenha influenciado, de forma negativa, a CTAA, 1998. 27 p.
aceitação da geleia de jambo extra. O sabor adocicado pode ter
238
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Maria Fernanda Santos (1), Ana Cristina Cabral (2), Nelson Roberto Furquim (3).
Contato: mariafernanda.esm@gmail.com
239
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
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LEITE, L.A.S.; PESSOA, P.F.A. Estatística de produção do caju. In:
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(2) ARAÚJO, J.P.P. de. Caju: inovar ou inovar. Agro Valor,
Fortaleza,15, 5, 5 -10, 2012.
(3) PIRES, T.P.R.S. et al. Parâmetros físico - químicos do fermentado
de caju (anacardium occidentale l.) Produzido na fazenda cajucoco.
Ciênc. e Técnol. Alim., Gramado, 5, 25, 51-56, 2016.
(4) BRASIL. Resolução nº RDC nº 273, de 22 de setembro de 2005.
Aprova o regulamento técnico para misturas para o preparo de
alimentos e alimentos prontos para o consumo. Brasília, DF:
Ministério da Saúde.
(5) BRASIL. Resolução nº RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002.
Regulamento Técnico Sobre Rotulagem de Alimentos Embalados.
Brasília, DF: Ministério da Saúde.
(6) ORDONEZ, Juan A. et al. Tecnologia dos Alimentos. 2. ed.
Porto Alegre: Atmed, 2005. v.1.
(7) TACO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. Campinas,
4. ed. In: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 2014.
Disponível em:
<
https://www.unicamp.br/nepa/taco/contar/taco_4_edicao_ampliada_e_
revisada>. Acesso em: 10 março 2017.
(8) CORREIA, L. F. M.; FARAONI, A.S.; SANT’ANA, H.P. Efeitos
do processamento industrial de alimentos sobre a estabilidade de
vitaminas, Araraquara, 19, 1, 85-95, 2008.
(9) LIMA, J. R. Pshysical chemical and sensory characterizationof
vegetal hambúrguer elaborated from cashew apple. Ciênc. Agrotec.,
Lavras, 32, 1, 191-195, 2008.
240
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras chave: bebidas vegetais proteicas; alimentos veganos; substituto lácteo, produto do caju.
Considerando a importância atual de conhecer a bebida vegetal de A Tabela 1 mostra que a bebida é rica em proteínas, lipídeos e
amêndoa de castanha de caju (ACC) para aplicação na produção de carboidratos. Além disso, os teores de nutrientes são variáveis entre
alimentos, este trabalho tem por objetivo mostrar a composição de as amostras apresentadas. Tais distinções podem ser devido a não
bebida vegetal de castanha de caju e apresentar os últimos existência de uma diluição padrão definida e ao fato de que os
desenvolvimentos em relação à sua utilização como ingrediente em diferentes estudos utilizaram diferentes proporções de diluição
outros produtos alimentícios referenciando trabalhos acadêmicos castanha:água, 1:6 (20) e 1:10 (22). Lima et al. (22) obtiveram
publicados. valores mais próximos às amostras comerciais (Tabela 1), com
exceção do teor de carboidratos, com valores superiores,
MATERIAL E MÉTODOS
possivelmente pela adição de açúcar na composição. O alto teor de
Os artigos selecionados foram coletados por meio de buscas nas cinzas, próximo a 1%, nos trabalhos obtidos por Tamuno e Monday
bases de dados: Google Acadêmico e Science Direct. Para isso, (20) e Manzoor et al. (21), se relacionam ao alto teor de minerais da
foram utilizadas as seguintes expressões: “castanha de caju”, “bebida castanha de caju, que contém elevados teores de cálcio, ferro e
vegetal”, “leite” e os correspondentes em inglês "cashew nut", fósforo, e ainda é fonte de manganês, cobre, arsênio e selênio que
"milk", “beverage”. A busca envolveu artigos publicados entre 2012 atuam como cofatores que regulam as funções fisiológicas e
e 2020. Foram escolhidos os artigos relacionados à composição da metabólicas do organismo (9,20). A bebida apresenta os minerais
bebida vegetal e produtos similares a laticínios e bebidas compostas, presentes na castanha, com destaque para o cálcio, com valor
significativamente superior ao teor de cálcio do “leite” de soja
241
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
(20,21). A quantidade expressiva de cálcio na bebida (4,7 mg/100g 1. CONCEIÇÃO, D.; PALLONE, J.; SILVA, J.; CARAMÊS, E. Potencial
(20)) pode ser relevante para dietas com restrição ao leite de origem bioativo de bebidas vegetais. Rev. Trab. Iniciação Científica da Unicamp.
27, 1-1, 2019.
animal, especialmente pelo cálcio presente no leite que é retirado da 2. TEIXEIRA, M.; ALTMAYER, T.; BRUXEL, F. et al. Rubus sellowii
dieta. Cham. & Schlitdl. (Rosaceae) fruit nutritional potential characterization.
Braz. J. Biol. 79, 510-515, 2019.
Utilização e oportunidades do uso de leite de castanha de caju 3. RIBEIRO, M.V.S.; LIMA, A.R.N.; OLIVEIRA, T.K.B. Physical and
chemical evaluation of the vegetable extract of the seed of Cucurbita
moschata. RSD. 9, e145942998-e145942998, 2020.
A bebida vegetal de ACC possui sabor mais agradável ao 4. PAUL, A.A.; KUMAR, S.; KUMAR, V.; SHARMA, R. Milk Analog,
consumidor em comparação ao leite de soja, e é mais cremosa e Plant based alternatives to conventional milk, production, potential and
doce, o que sugere que o consumidor dos “leites vegetais” pode se health concerns. Crit. Rev. Food. Sci. Nutr. 1-19, 2019.
dispor a pagar mais pela qualidade sensorial do produto, visto que 5. JESKE, S.; ZANNINI, E.; ARENDT, E.K. Past, present and future, The
essas matérias-primas são mais caras (2,3,22). Lima et al. (22) strength of plant-based dairy substitutes based on gluten-free raw materials.
Food. Res. Int. 110, 42-51, 2018.
avaliaram bebida do extrato de ACC obtida a partir de amêndoas de 6. HETHERINGTON, M.M.; SCHWARTZ, C.; MADRELLE J.; CRODEN,
castanha de caju quebradas com adição de açúcar e concluíram que F.; NEKITSING, C.; VEREIJKEN, C.M.J.L.; WEENEN, H. A step-by-step
esta apresenta estabilidade química, físico-química e microbiológica, introduction to vegetables at the beginning of complementary feeding. The
além de boa aceitação sensorial. effects of early and repeated exposure. Appetite. 84, 280-290, 2015.
7. ISMAIL, M.M. Which is better for humans, animal milk or vegetable milk?
J. Nutr. Health Food Eng. 2, 155-156, 2015.
Rebouças et al. (23) estudaram a aceitação de bebida vegetal de soja 8. SILVA, K.B.; SILVA JÚNIOR, M.J.; BATISTA, R.O.; SANTOS, D.B.;
e castanha de caju e observaram que informações sobre composição, BARBOSA FILHO, S. Performance of drippers operating with cashew nuts
características nutricionais e funcionais das bebidas tiveram impacto wastewater under different service pressures. Rev. Ceres. 60, 339-346,
positivo nos consumidores em relação ao valor nutricional e de 2013.
9. SOARES, D.J.; SABINO, L.B.S.; SOUSA, M.S.M.L.; MAGALHAES,
saudabilidade, sendo a bebida de castanha de caju percebida como C.E.C.; ALMEIDA, M.M.B.; SOUSA, P.H.M.; FIGUEIREDO, R.W.
mais vantajosa nutricionalmente e mais saudável que a de soja. Mineral content, based in the Recommended Daily Intake, in cashew nut
obtained from conventional and organic cultivation in different stages of
Bebidas vegetais obtidas a partir de misturas de diferentes processing. Semin. Cienc. Agrar. 33, 1869-1876, 2012.
proporções de extrato de amêndoa da castanha de caju, extrato de 10. KLUCZKOVSKI, A. M.; MARTINS, M. Cashew Nuts. In: Benjamin
Caballero; Paul M. Finglas; Fidel Toldrá (Org.). Encyclopedia of Food and
coco e de ‘tiger nut’ obtiveram boa aceitação, além de alto teor de Health. 1ed. Ed Elsevier, 2016, p. 683-686.
proteínas, gordura e minerais (24). Estes autores ressaltaram a 11. OSMARI, M.P.; MATOS, L.F.; SALAB, B.L.; DIAZ, T.G.; GIOTTO,
importância dessa alternativa de bebida para grupos econômicos mais F.M. Líquido da casca da castanha de caju, características e aplicabilidades
pobres em países que não têm suprimento suficiente de leite. na produção animal. Pub. Vet. 9, 101-157, 2015.
12. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.S.; ARAÚJO, I.M.S.; GARCIA, L.G.S. Case-
report, Characterization and acceptability of cashew nut candy and its
Em estudo da utilização de bebida de amêndoa de castanha de caju comparison with commercial products. Braz. J. Food Technol. 18, 332-336,
como matriz de iogurte em substituição ao leite verificou-se que o 2015.
produto foi bem aceito sensorialmente, com alto teor de proteínas 13. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.G.; BRUNO, L.M. Physicochemical,
(16,8% para iogurte de castanha de caju em comparação a 14,82% microbiological and sensory characteristics of cashew nut butter made from
different kernel grades-quality. LWT-Food Sci. Technol. 45, 180-185,
para iogurte comercial), e apresentando diferença significativa
2012.
sensorial em relação ao iogurte comercial somente no requisito 14. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.S.; BRUNO, L.M.; ARAÚJO, I.M.S.; NOBRE,
sensação na boca (25). A.C.O.; GARCIA, L.G.S. Replacement of Peanut by Residue from the
Cashew Nut Kernel Oil Extraction to Produce a Type Paçoca Candy. J.
Foram relatadas bebidas prebióticas feitas a partir de bebidas de Food Process Pres. 41, e12775, 2017.
15. TABANELLI, G.; PASINI, F.; RICIPUTI, Y. et al. Fermented Nut-Based
amêndoas de castanha-de-caju com suco de maracujá (26) e também
Vegan Food, Characterization of a Home made Product and Scale-Up to an
com suco de manga (27) com aceitabilidade satisfatória. Bruno et al Industrial Pilot-Scale Production. J. Food Sci. 83, 711-722, 2018.
(28) estudaram a viabilidade do uso da bebida vegetal de caju como 16. FREITAS, J.B.; FERNANDES, D.C.; CZEDER, L.P.; LIMA, J.C.R.;
matriz para incorporação de probiótico e observaram que este uso é SOUSA, A.G.O.; NAVES, M.M.V. Edible Seeds and Nuts Grown in Brazil
possível sem mudanças significativas na cor, com boa aceitação as Sources of Protein for Human Nutrition. Food Nutr. Sci. 3, 720-726,
2012.
sensorial e boa qualidade microbiológica. 17. GRIFFIN, L.; DEAN, L. Nutrient Composition of Raw, Dry-Roasted, and
Skin-On Cashew Nuts. J. Food Res. 6, 13, 2017.
Oyeyinka; Odukoya e Adebayo (29) produziram análogo de queijo 18. PIMENTEL, P.G.; REIS, R.B.; LEITE, L.A.; CAMPOS, W.E.; NEIVA,
utilizando misturas em diferentes proporções de leite de soja e leite J.N.M.; SATURNINO, H.M.; COELHO, S.G. Ruminal fermentative
de castanha de caju e obtiveram que a mistura foi bem aceita e se parameters and concentration of purine derivatives in lactating dairy cows
fed cashew nut. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 64, 959-966, 2012.
mostra como um produto promissor como alternativa vegetal de 19. NAIR, K.P.P. Cashew Nut (Anacardium occidentale L.). In: Nair, K.P.P.
fonte de proteína. (Ed.). The Agronomy and Economy of Important Tree Crops of the
Developing World. Ed Elsevier, 2010, p. 21-66.
Na gastronomia, a bebida de ACC se mostra um ingrediente 20. TAMUNO, E.N.J.; MONDAY, A.O. Physicochemical, Mineral and
importante em substituição ao leite para opção de uso em dietas com Sensory Characteristics of Cashew Nut Milk. Int. J. Food Sci. Biotechnol.
4, 1, 2019.
restrição ao leite de vaca por intolerância à lactose ou alergia à 21. MANZOOR, M.F.; MANZOOR, A.; SIDDIQUE, R.; AHMAD, N.
proteína do leite (2–4) e a ótima facilidade de preparo torna seu uso Nutritional and Sensory Properties of Cashew Seed (Anacardium
possível em diversas aplicações. Este produto se mostra como occidentale) Milk. Mod. Concep. Dev. Agrono. 1, 2017.
ingrediente potencial em diversas receitas, especialmente em pratos 22. LIMA, J.R.; SOUZA, A.C.R. DE; PINTO, C.O.; et al. Estabilidade durante
armazenamento em temperatura ambiente de extrato hidrossolúvel de
veganos, como na elaboração de queijos veganos (29,30). Ainda há amêndoa de castanha-de-caju. Bol. Pesqui. Desenvolv./Embrapa
desconhecimento do produto e preferência pelo leite de vaca, porém, Agroindústria Tropical. 175, 1-15, 2018.
verifica-se que a consciência de sustentabilidade ambiental e o não 23. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; FREITAS, S.M.; FERREIRA,
consumo exacerbado de produtos de origem animal se mostram B.B.A.; COSTA, V.S. Effect of nutritional information and health claims
como motivações a fim de desenvolver o hábito de consumo de related to cashew nut and soya milk beverages on consumers’ acceptance
and perception. Nutrition & Food Sci. 47, 721-730, 2017.
produtos (alimentos e bebidas) de origem vegetal. Portanto, estudos 24. OLAGUNJU, A.I.; OYEWUMI, D.M. Physicochemical properties and
científicos, trabalhos de marketing e aplicações como ingrediente antioxidant activity of novel plant milk beverage developed from extracts
culinário podem aumentar a utilização dessa bebida vegetal pelo of tiger nut, cashew nut and coconut. J. Trop. Agric. 24, 170-176, 2019.
consumidor. 25. OLAYINKA, J.; EUGENE, Y.; OLALEKAN, O.; RICHARD, I.; CHUKA,
M. Physicochemical, microbiological and sensory characteristics of cashew
milk formulated yoghurt. Afr. J. Food Sci. 12, 204-209, 2018.
CONCLUSÕES 26. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; AFONSO, M.R.A.
Optimization of the acceptance of prebiotic beverage made from cashew
A bebida vegetal de castanha de caju apresenta excelentes nut kernels and passion fruit juice. J. Food Sci. 79, S1393-1398, 2014.
características nutricionais e diversas possibilidades de uso na 27. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; DE FREITAS, S.M.;
elaboração de bebidas e produtos alimentícios análogos aos FERREIRA, B.B.A. The physicochemical optimization and acceptability of
a cashew nut-based beverage varying in mango juice and sugar, a pilot
laticínios. São necessários mais estudos em relação a usos da bebida study. Beverages 2, 23, 2016.
e o estabelecimento de padrões de qualidade no caso de produtos 28. BRUNO, L.M.; LIMA, J.R.; WURLITZER, N.J.; RODRIGUES, T.C. Non-
industrializados para garantir maior confiança e segurança para o dairy cashew nut milk as a matrix to deliver probiotic bacteria. Food Sci.
consumidor. Technol. Epub., 2019.
29. OYEYINKA, A.T.; ODUKOYA, J.O.; ADEBAYO, Y.S. Nutritional
composition and consumer acceptability of cheese analog from soy and
REFERÊNCIAS cashew nut milk. J. Food Process. Pres. 43, e14285, 2019.
242
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
30. CHEN, J.M.; AL, K.F.; CRAVEN, L.J.; et al. Nutritional, Microbial, and
Allergenic Changes during the Fermentation of Cashew ‘Cheese’ Product
Using a Quinoa-Based Rejuvelac Starter Culture. Nutrients 12, 648, 2020.
243
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Liziane Carlesso 1, Marcelo Kessler 2 , Willibaldo Carlotto Neto 2 , Elessandra Rosa 3, Marina Pizzi 4
INTRODUÇÃO:
O Brasil ocupa o 9º lugar no consumo per capita de massas em Tabela - Fator de Cocção (FC), rendimento e tempo de preparo
todo o mundo. Devido ao elevado consumo e consequentemente de massas, obtidos a partir da coleta realizada em uma UAN
grande produção desse prato, conhecer o rendimento dos localizada em município no Oeste de Santa Catarina - Brasil.
diferentes tipos de massas é essencial, principalmente quando
pretende-se servir um grande número de comensais (1).
O fator de cocção (FC) é um importante indicador culinário
usado nas Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN’s) para
mensurar o rendimento de um alimento após este ser submetido
ao processo de cocção. Além disso, o mesmo ajuda a definir o
número de preparações que deverão ser produzidas e quais os
utensílios e equipamentos adequados para o preparo do prato
(DIAS,2018).
A padronização do tempo de preparo também é importante, Fonte: O autor, 2020.
pois garante que o alimento não cozinhe de mais, ou seja
servido cru, garantindo assim uma boa palatabilidade e Avaliando-se o rendimento, a massa que obteve valor mais
aceitação do produto. O tipo de calor (úmido, seco ou misto) expressivo foi: espaguete com FC= 2,52 e 1,26Kg, seguido do
empregado na cocção, também é importante, pois pode alterar o penne com FC= 2,3 e 1,15Kg, furadinho com FC= 2,26 e
FC e o tempo de preparo dos alimentos (COSTA et al.,2017). 1,13Kg, talharim grosso com FC= 2,2 e 1,1Kg, e parafuso com
Conhecendo o tempo de preparo e o rendimento das massas, as FC= 2,18 e 1,09Kg.
UAN’s conseguem calcular a quantidade de insumo que deverá Com relação ao tempo de preparo, a massa de preparo mais
ser utilizado, evitando possíveis falta, ou sobra de alimento, demorado foi o talharim grosso com 13 min, seguido do
facilitando o serviço administrativo e diminuindo o desperdício espaguete 10 min, parafuso 10 min, penne 9 min e furadinho 7
(MENEZES et al.,2018). min.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, avaliar o Percebe-se que apesar das massas conter os mesmos
tempo de preparo e o rendimento das massas preparadas no ingredientes, houve diferença significativa no rendimento e no
estabelecimento, buscando assim padronizar a produção das tempo de preparo das mesmas. Isso pode ter-se dado pela
mesmas, garantindo assim boa aceitação do produto final, diferença nas espessuras das massas, ou por fatores extrínsecos
evitando desperdício de alimentos e garantindo assim maior como o tempo de cocção, ingredientes e utensílios utilizados e
lucratividade através da redução de custos. mão de obra (3). A temperatura ambiente também pode ter
influenciado, pois na semana da coleta de dados houve bastante
MATERIAIS E MÉTODOS: variação de temperatura.
Os dados foram coletados durante o estágio obrigatório do
curso de Nutrição, em uma UAN localizada em um município CONCLUSÕES:
no Oeste de Santa Catarina – Brasil. A experiência se deu A implantação de ferramentas que auxiliam no controle de
especificamente entre os dias 22 a 26 de junho de 2020. Esta produção em UAN’s é fundamental, pois padroniza a
atividade ocorreu mediante a ciência e concordância da quantidade de insumos que devem ser utilizados e o tempo que
responsável técnica e dos proprietários do local e consistiu na determinado prato demora para ficar pronto, isso garante que a
cocção dos diferentes tipos de massas que o local serv e para os preparação seja servida com as mesmas características
seus comensais. sensoriais e qualidade, independente de quem a tenha
Cada dia da semana foi preparado um tipo diferente de massa: preparado. Além disso, auxilia no momento da compra dos
parafuso, espaguete, talharim grosso, penne e furadinho, itens para que não ocorra falta de ingredientes no momento da
respectivamente. A coleta teve início com a pesagem das preparação do prato, no cálculo do custo da preparação e ajuda
massas para obter-se o peso de 500g (cru). Em seguida elas a controlar gastos. Garantindo assim um padrão de produção,
foram postas em água já em ebulição, temperada com uma controle de custos e preços de venda que gere lucro para a
colher de sopa “rasa” de sal (25g) e 5 colheres de óleo (50ml). empresa.
Pela experiência das cozinheiras, foi solicitado a colaboração
das mesmas para obter-se o ponto correto de cocção. Após o REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
cozimento, as massas foram drenadas para eliminar o excesso
de água e pesadas para obter-se o peso cozido, possibilitando 1.DIAS BRANCO, M. MDIC - Ministério do desenvolvimento,
assim calcular o rendimento do produto final. Além do indústria e comércio exterior. Secret. Comér. Ext. -
rendimento, foi cronometrado e anotado o tempo de preparo de ALICEWEB, 2018.
cada massa.
2.COSTA, R. G. F.; PASSO, T. S.; OLIVEIRA, E. P. S. F.;
RESULTADOS E DISCUSSÃO: MACIEL, B. L. L. Determinação de fatores de cocção em
Após a experiência, pode-se perceber que todas as massas preparações. Biblio. Virt. Monogr. p. 39, jun. 2017.
obtiveram aumento de peso após o cozimento, isso se deu
porque na cocção por calor úmido a água hidrata o alimento, 3.PEREIRA, T. L. Desenvolvimento de um Catálogo de Fator
abrandando suas fibras e com isso acaba elevando o seu peso de Cocção de Alimentos Comumente Consumidos na Região do
(3). Curimataú Paraibano. Trab. Conc. Curs. p.56, 2017.
244
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
245
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Antonia Aguiar1
1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
livania_linhares@yahoo.com.br.
246
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
altamente sensíveis à mistura e demonstram fracas propriedades 2- PAGNO, C. H.; COSTA, T. M. H.; DE MENEZES, E. W.;
separatórias de vapor d’água. Em contraste, filmes à base de lipídeos BENVENUTTI, E. V.; HERTZ, P. F.; MATTE, C. R.; TOSATI, J. V.;
(ceras, lipídeos e derivados) possuem uma boa propriedade separatória MONTEIRO, A. R.; RIOS, A. O.; FLÔRES, S. H. Development of
de vapor d’água, mas são normalmente opacos e relativamente active biofilms of quinoa (Chenopodium quinoa W.) starch containing
inflexíveis. Filmes de lipídeos podem ser também bem frágeis e gold nanoparticles and evaluation of antimicrobial activity. Food
instáveis (rancidez) (18). Chem. 173, 755-762, 2015.
3- BUSO, E. K. R. P.; CLEMENTE, E.; ESTRADA, K. R. F. S.;
Quitosana ZÁRATE, A. H; OLIVEIRA, J. S. B. Comportamento pós-colheita de
Quimicamente, a quitosana é um copolímero formando por unidades mandioquinha-salsa revestida com quitosana. Rev. Ciênc. Agron. 45,
de N-acetil-d-glucosamina e N-glucosamina ligada por uma ligação 850-855, 2014.
glicosídica β (1,4) e, derivado do processo de desacetilação da quitina, 4- SUSENO, N.; SAVITRI, E.; SAPEI, L.; PADMAWIJAYA, K. S.
segundo polímero mais abundante da natureza, depois da celulose, e Improving shelf-life of cavendish banana using chitosan edible
que pode está presente na composição de exoesqueleto de crustáceos coating. Procedia Chem. 9, 113-120, 2014.
como camarão, siri, caranguejo e lagosta, insetos assim como, na 5- FARAJZADEH, F.; MOTAMEDZADEGAN, A.; SHAHIDI, S. A.;
parede celular de fungos (19, 20). HAMZEH, S. The effect of chitosan-gelatin coating on the quality of
A quitosana apresenta diversas propriedades, tais como: atoxicidade, shrimp (Litopenaeus vannamei) under refrigerated condition. Food
biocompatibilidade e biodegradabilidade, atividade antimicrobiana e Control 67, 163-170, 2016.
propriedades físico-químicas que possibilita a formação de filmes. Por 6- GOMES, H. C. A.; FIGUEIREDO, E. A. T.; CARVALHO, J. D.
estas razões, ela tem apresentado grande potencial de aplicação em G.; DIAS, F. G. B.; TEIXEIRA, G. S. M.; DA SILVA, L. R.;
embalagens alimentícias, fatores estes importantes para conservação PEREIRA, E. C. Avaliação da atividade antimicrobiana da quitosana
de alimentos e prolongação da vida útil de diferentes produtos em sorvete inoculado com Listeria innocua. Blucher Food Sci. Proc.
alimentícios (21). A aplicação de filmes à base de quitosana em frutos 1, 81-82, 2014.
e outros alimentos têm sido utilizados com finalidade de conferir 7- MEI, J.; YUAN, Y.; WU, Y.; LI, Y. Characterization of edible
proteção contra patógenos, melhorar seu aspecto sensorial como starch–chitosan film and its application in the storage of Mongolian
aparência e coloração, fatores estes importantes na escolha do produto cheese. Int. J. Biol. Macromol. 57, 17-21, 2013.
pelo consumidor. Ainda, retardar o amadurecimento, assim como 8- CARDOSO, G. P.; DUTRA, M. P.; FONTES, P. R.; RAMOS, A.
evitar perda de massa e troca gasosa (22). Silva et al. (20) em estudo L. S.; GOMIDE, L. A. M.; RAMOS, E. M. Selection of a chitosan
sobre a utilização de quitosana em amendoim, verificaram que a gelatin-based edible coating for color preservation of beef in retail
quitosana foi capaz de inibir o crescimento de micélio e de provocar display. Meat Sci. 114, 85-94, 2016.
alterações morfológicas nos esporos de Aspergillus parasiticus in 9- PAPARELLA, A.; MAZZARRINO, G.; CHAVES-LÓPEZ, C.;
vitro. Ainda, a aplicação de quitosana pelo método de aspersão foi ROSSI, C.; SACCHETTI, G.; GUERRIERI, O.; SERIO, A. Chitosan
mais eficiente quando comparado ao método de imersão. boosts the antimicrobial activity of Origanum vulgare essential oil in
Suseno et al. (4) avaliaram a utilização de quitosana na elaboração de modified atmosphere packaged pork. Food Microbiol. 59, 23-31,
revestimento com aplicação em bananas, observaram que o método foi 2016.
eficaz para extensão a vida útil do fruto, assim como ocorreu redução 10- SUHAG, R.; KUMAR, N.; PETKOSKA, A. T.; UPADHYAY, A.
de perda de peso e vitamina C e, melhor aceitação sensorial. Film formation and deposition methods of edible coatingon food
Os filmes e revestimento à base de quitosana são elásticos, flexíveis, products: a review. Food Res. Int. 136, 109582, 2020.
de difícil rompimento e oferecem barreiras excelentes para o oxigênio, 11- KUMARI, M.; MAHAJAN, H.; JOSHI, R.; GUPTA, M.
porém não possuem alta permeabilidade ao vapor de água. Uma das Development and structural characterization of edible films for
maneiras mais eficazes de melhorar as propriedades da quitosana, improving fruit quality. Food Packag. Shelf Life 17, 42-50, 2017.
principalmente de barreira a água é misturar com outros 12- GALUS, S.; KADZINSKA, J. Food applications of emulsion-
polissacarídeos, proteínas ou lipídeos (23). based edible films and coatings. Trends Food Sci. Technol. 45, 273-
Farajzadeh et al. (5) realizaram uma ampla pesquisa sobre a aplicação 283-2015.
de revestimento de quitosana com gelatina em camarão (Litopenaeus 13- HASSAN, B.; CHATHA, S. A. S.; HUSSAIN, A. I.; ZIA, K M.;
vannamei), sob refrigeração. Neste estudo os autores verificaram que AKHTAR, N. Recent advances on polysaccharides, lipids and protein
o revestimento foi eficaz no aumento da vida útil do camarão, quando based edible films and coatings: A review. Int. J. Biol. Macromol.
comparado com a amostra controle, 14 e 8 dias, respectivamente. 109, 1095-1107, 2018.
Ainda, contribuiu com a melhoria da perda de peso e aspectos 14- SAHRAEE, S.; MILANI, J. M.; REGENSTEIN, J. M.; KAFIL, H.
sensoriais como textura e cor. Paparella et al. (9) avaliaram a S. Protection of foods against oxidative deterioration using edible
utilização de quitosana e óleo essencial de orégano (Origanum films and coatings: A review. Food Biosci. 32, 100451, 2019.
vulgare) em carne de porco sob atmosfera modificada, verificando sua 15- ASSIS, O. B. G.; BRITTO, D. Revisão: coberturas comestíveis
atividade antimicrobiana para bactérias de deterioração, tais como protetoras em frutas: fundamentos e aplicações. Braz J. Food Technol.
Brochothrix ssp., Pseudomonas spp. e Listeria monocytogenes. Os 17, 87-97, 2014.
autores concluíram que a combinação de quitosana com óleo essencial 16- OLIVEIRA, T. A.; LEITE, R. H. L.; AROUCHA, E. M. M.;
de orégano apresentou um ótimo potencial para aplicação em carne de FERREIRA, R. M. A. Efeito do revestimento de tomate com biofilme
porco sob atmosfera modificada, mostrando efeitos significativos na aparência e perda de massa durante o armazenamento. Rev. Verde
contra micro-organismos importantes na deterioração de carnes, fator 6, 230 – 234, 2011.
esse importante para prolongar a shelf life do produto. 17- NAIR, M. S.; TOMAR, M.; PUNIA, S.; KUKULA-KOCH, W.;
KUMAR, M. Enhancing the functionality of chitosan-and-alginate-
Considerações Finais based active edible coatings/films for the preservation of fruits and
O interesse na elaboração de filmes e revestimentos, comestíveis ou vegetables: A review. Int. J. Biol. Macromol. 164, 304-320, 2020.
degradáveis biologicamente, deve-se, principalmente a demanda por 18- GANIARI, S.; CHOULITOUDI, E.; OREOPOULOU, V. Edible
alimentos de alta qualidade associado à preocupação ambiental com and active films and coatings as carriers of natural antioxidants for
relação ao descarte de materiais não renováveis de embalagens de lipid food. Trends Food Sci. Technol. 68, 70-82, 2017.
alimentos. Ainda, visando garantir a qualidade e segurança dos 19- ALJAWISH, A.; MUNIGLIA, L.; KLOUJ, A.; JASNIEWSKI, J.;
produtos, como aumento da shelf life. O interesse em SCHER, J.; DESOBRY, S. Characterization of films based on
desenvolvimentos de novas pesquisas para aplicações da quitosana no enzymatically modified chitosan derivatives with phenol compounds.
setor alimentício deve-se as diversas propriedades presentes que lhe Food Hydrocoll. 60, 551–558, 2016.
confere uma grande perspectiva de aplicação em novas embalagens, 20- SILVA, J. F. M.; PRADO, G.; MADEIRA, J. E. G. C.;
além de apresentar a característica de ser biodegradável e oriundo de OLIVEIRA, M. S.; FARACO, A. A. G.; MALTA, C. M.; NICOLI, J.
fonte renovável. R.; PIMENTA, R. S. Utilização de filme de quitosana para o controle
de aflatoxinas em amendoim. Bragantia 74, 1-9, 2015.
Referências 21- KUMAR, S. MUKHERJEE, A.; DUTTA, J. Chitosan based
1- UMARAK, P.; MUNEKATA, P. E. S.; VERMA, A. K.; BARBA, nanocomposite films and coatings; Emerging antimicrobial food
F. J.; SINGH, V. P.; KUMAR, P.; LORENZO, J. M. Edible packaging alternatives. Trends Food Sci. Technol. 97, 196-209, 2020.
films/coating with tailored properties for active packaging of meat,
fish and derived products. Trends Food Sci. Technol. 98, 10-24,2018.
247
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
248
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Riclenya Alves1, Regina Costa2, Keyla Fonseca3, Diego Lemos4, Hilário Filho5, Thayza Stamford6
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco. 2Graduada em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. 3Mestre em Nutrição,
Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco. 4Mestrando em Desenvolvimento de
Processos Ambientais, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife, Pernambuco. 5Docente do curso de
Engenharia Química, UNICAP, Recife, Pernambuco. 6Docente do Programa de Pós-graduação em Nutrição (UFPE),
Recife, Pernambuco. Correspondência: riclenyapaulina@gmail.com.
249
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
250
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Potential of Syzygium Aromaticum Merr (L.) & L.M.Perry Essential Oil Microcapsules for
Food: Preparation, Characterization and Anti-acetylcholinesterase Activity
Silvana Farias1, Arcelina Pacheco2, Daniela Alves3, Nágila Ricardo4, Selene Morais5
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Universidade Estadual do Ceará, Ceará-Brasil
2
Doutora do Programa de Pós-Graduação em Química, Universidade Federal do Ceará, Ceará-Brasil
3
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciênciais Naturais, Universidade Estadual do Ceará, Ceará-Brasil
4
Doutora em Química de Polímeros, Universidade de Manchester, Inglaterra
5
Doutora em Química, Universidade de Londom, Inglaterra, selenemaiademorais@gmail.com
Key words: Microencapsulation, functional properties, Ellman method (16). Dilutions of samples and standards were made for
natural products. quantitative microplate evaluations, from a mother solution with a
concentration of 2.0 x 104 µg.mL- 1 , following a dilution of 200 µg.mL-
1
, 100 µg.mL-1, 50 µg.mL- 1, 25 µg.mL-1, 12.5 µg.mL-1, 6.25 µg.mL-1,
INTRODUTION
3.12 µg.mL-1, 1.56 µg.mL-1, and 0.78 µg.mL-1. The control used was
Spices such as cloves, oregano, mint, thyme and cinnamon, have been physostigmine with an IC50 inhibitory concentration value of 1.15 ±
used for centuries as food preservatives and as medicinal plants (1). 0.05 µg.mL-1.
Cloves are native to Indonesia and used in cooking all over the world, All samples were analyzed in triplicate. The samples showed their own
originating from the species Syzygium aromaticum L. belongs to the color absorbed by the reading wave spectrum, so the values for color
Myrtaceae family, is known to have antimicrobial, antioxidant, were deducted. After normalizing the data, a non-linear regression
antiviral, anticancer, anti-inflammatory and antinociceptive properties curve test was performed using the statistical program GraphPad Prism
(2, 3). v5.01.
Recent research suggests the use of clove essential oil (CEO) in
biofilms for food packaging, due to its action against fungi, bacteria RESULTS AND DISCUSSION
(4,5,6), and its recognized antioxidant activity in vitro e in vivo (7,8,9).
In the literature, the use of clove essential oil in Ayurvedic medicine is The infrared spectrum of the G polysaccharide used as the microcapsule
reported as a nervous stimulant and cognitive enhancer to combat the coating matrix showed a wide band at 3400 cm-1 due to the groups (O-
rate of reduction of cerebral acetylcholine during Alzheimer's disease H) present in the molecule, at approximately 2909 cm-1 there was
(10).
absorption related to the bonds (C-H). The absorption at 1152 cm-1 is
Essential oils (EOs) extracted from plants are volatile liquids and
related to the vibrational stretching of the (C-O) of the pyranose ring,
consist of up to 100 secondary metabolites, mainly terpenes and
terpenoids, consisting of 2-3 main elements and some trace elements the peak at 1025 cm-1 can be attributed to the axial deformation (C-OH)
(11). EOs are widely recognized for having functional potential as an of the C-4 of the pyranose ring, absorption bands in 814 and 877 cm-1
antimicrobial and antioxidant agent, however, they have high volatility, are related to anomeric connections (Figure 1). These spectral bands
hydrophobicity and propensity to oxidation (12), to improve activities characterize the polysaccharide G and are in line with others extracted
of EOs the food industry has made use of microencapsulation. from different plant species (17). The CEO also presented axial
Microencapsulation is a process in which individual particles are stretching (O-H) at 3520 cm-1, and aromatic ether at 1033 cm-1, in
covered by a polymeric film, to produce small capsules (13), in order addition to the aromatic ring band at 1520 cm-1 (Figure 1), these bands
to protect substances from the external environment, mask flavor, are also present in the study of eugenol major component of the CEO
promote prolonged release, among others (14). (18).
In view of the properties of CEO both as an adjuvant in food and herbal The microcapsules of the CEO did not show the characteristic signs of
medicine, the objective of this work was to produce microcapsules with the fingerprint of the essential oil, there is only a narrowing of the band
CEO and galactomannan (G) extracted from Delonix regia, using the
(O-H), there was no appearance of new absorption bands, this fact
microencapsulation technique by Spray drying.
As specific objectives, the microcapsules will be characterized by points out that there was no chemical interaction between G and the
Fourier Transform Infrared Spectroscopy (FTIR) and Scanning CEO, in fact occurring the microencapsulation of the EO, with the
Electron Microscopy (SEM), in addition to being evaluated for anti- formation of microcapsules capable of transporting the active
acetylcholinesterase (AChE) activity, in order to observe the potential ingredient, G has shown itself as a good carrier of bioactive, non-toxic
of these microcapsules for the food industry. and sustainable that can have wide purpose in the food industry.
In general, galactomannans have aroused research interest in various
MATERIAL AND METHODS industrial sectors, due to the ability to form gel in aqueous solution,
which makes them useful for several applications such as: water
Cloves were purchased at the São Sebastião Market in Fortaleza-Ceará retention, thickening, gelling, emulsifiers, film formation, among others
and the essential oil was extracted by hydrodistillation in a clevenger (19).
apparatus for 4 hours, the coating matrix polysaccharide for the
microcapsules was obtained from the seeds of D. regia following the Figure 1. Infrared spectrum of Galactomannan polysaccharide (G),
methodology proposed in literature with adaptations (15). Clove essential oil (CEO) and Clove essential oil microcapsules with
Microcapsules were prepared with a 0.2% aqueous solution of the galactomannan (GCEO).
polysaccharide and 1.0 g of the essential oil of the clove. The solution
was subjected to the Spray drying technique using the Mini Spray-
Dryer model Büchi B-290, with an inlet temperature of 140 ° C, an
outlet temperature of 90 ° C, a pump flow of 20% and an exhaust
efficiency of 100%.
The characterization by FTIR was performed in a spectrophotometer
model Shimadzu FTIR 8300, the microcapsules were ground with
potassium bromide (KBr) to obtain the tablets.
Scanning Electron Microscopy (SEM) was performed using a scanning
microscope model FEG Quanta 450 Ambiental with 2000x
magnification rate and acceleration voltage between 15Kv - 20Kv.
The acetylcholinesterase (AchE) activity assay was performed in a 96-
well plate, the inhibitory activity (AchE) was read in an Elisa BIOTEK
reader, model ELX 800, software “Gen5 V2.04.11”, based on the
251
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Through SEM (Figure 2) it was possible to observe that the (5) BUDRI, P. E.; SILVA, N. C.; BONSAGLIA, E. C.; JÚNIOR, A. F.;
microcapsules coated with G from D.regia had a spherical shape and JÚNIOR, J. A.; DOYAMA, J. T.; GONÇALVES, J .L.; SANTOS,
regular size, the surface and the interior of the microcapsules probably M.V.; FITZGERALD-HUGHES, D.; RALL, V. L. Effect of essential
presented circular deformations due to the physical interaction of the oils of Syzygium aromaticum and Cinnamomum zeylanicum and their
oil with the polymeric matrix. major components on biofilm production in Staphylococcus aureus
strains isolated from milk of cows with mastitis. J. Dairy. Sci. 98, 9,
In the microencapsulation of curcumin by Spray drying with modified 5899-5904, 2015.
corn starch, β-cyclodextrin and gelatin, a morphology similar to the (6) XU, Y.; CHU, Y.; FENG, X.; GAO, C.; WU, D.; CHENG, W.;
microcapsules produced in this work was observed (20). TANG, X. Effects of zein stabilized clove essential oil Pickering
emulsion on the structure and properties of chitosan-based edible films.
Figure 2. Micrograph of Clove essential oil microcapsules with Int. J. Biol. Macromol. 156, 111-119, 2020.
(7) RADÜNZ, M.; DA TRINDADE, M. L. M.; CAMARGO, T. M.;
galactomannan (GCEO).
RADÜNZ, A. L.; BORGES, C. D.; GANDRA, E. A.; HELBIG, E.
Antimicrobial and antioxidant activity of unencapsulated and
encapsulated clove (Syzygium aromaticum, L.) essential oil. Food.
Chem. 276, 180-186, 2019.
(8) IMANE, N. I.; FOUZIA, H.; AZZAHRA, L. F.; AHMED, E.;
ISMAIL, G.; IDRISSA, D.; NOUREDDINE, B. Chemical
composition, antibacterial and antioxidant activities of some essential
oils against multidrug resistant bacteria. Eur. J. Integr. Med. 35,
101074, 2020.
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aromaticum (L.) Merr. & Perry: impact upon bacteria, fungi and fatty
acid levels in ageing mice. Flavour and Fragrance Journal. 10, 5, 323-
328, 1995.
(10) Shekhar, S.; Yadav, Y.; Singh, A. P.; Pradhan, R.; Desai, G. R.;
Dey, A. B.; Dey, S. Neuroprotection by ethanolic extract of Syzygium
aromaticum in Alzheimer's disease like pathology via maintaining
The anti-acetylcholinesterase activity of the microcapsules showed an oxidative balance through SIRT1 pathway. Exp. Gerontol, 110, 277-
IC50 inhibitory concentration of 12.23 ± 0.48 µgmL-1, this value 283, 2018.
demonstrates that microcapsules made with natural products are (11) VÁZQUEZ-UCHA, J. C.; MARTÍNEZ-GUITIÁN, M.;
potential inhibitors of acetylcholine and can be used as nutraceuticals. LASARTE-MONTERRUBIO, C.; CONDE-PÉREZ, K.; ARCA-
Through the encapsulation of CEO in nanostructured lipids, there is a SUÁREZ, J., ÁLVAREZ-FRAGA, L., POZA, M. Syzygium
better performance against (AchE) of CEO encapsulated in aromaticum (clove) and Thymus zygis (thyme) essential oils increase
microcapsules than free CEO (21). susceptibility to colistin in the nosocomial pathogens Acinetobacter
baumannii and Klebsiella pneumoniae. Biomed. Pharmacother.
130,110606, 2020.
CONCLUSIONS (12) JUGREET, B. S.; SUROOWAN, S.; RENGASAMY, R. R.;
MAHOMOODALLY, M. F. Chemistry, bioactivities, mode of action
The production of microcapsules with CEO is promising as a functional and industrial applications of essential oils. Trends. Food. Sci.Technol.
101, 89-105, 2020.
food, since it combines the antioxidant properties of essential oil with
(13) TYAGI, V. V.; KAUSHIK, S. C.; TYAGI, S. K.; AKIYAMA, T.
the gelling and emulsifying properties of the polysaccharide (oil-
Development of phase change materials based microencapsulated
carrying matrix). The potential against (AchE) favors greater added technology for buildings: a review. Renew. Sust. Energ. Rev. 15, 2,
value to microcapsules as nutraceutical, capable of preventing oxidative 1373-1391, 2011.
stress in the body. Therefore, a promising alternative for the food (14) JYOTHI, N. V. N.; PRASANNA, P. M.; SAKARKAR, S. N.;
industry. PRABHA, K. S.; RAMAIAH, P. S.; SRAWAN, G. Y.
Microencapsulation techniques, factors influencing encapsulation
ACKNOWLEDGMENTS efficiency. J. Microencapsul, v. 27, n. 3, p. 187-197, 2010.
(15) VIEIRA, Í. G. P.; MENDES, F. N. P.; GALLÃO, M. I.; DE
The authors would like to thank the Central Analítica-UFC/CT- BRITO, E. S. NMR study of galactomannans from the seeds of
INFRA/MCTI-SISANO/Pró-Equipamentos CAPES for the support. mesquite tree (Prosopis juliflora (Sw) DC). Food. Chem. 101, 1, 70-73,
They also thank the Ceará Foundation of Support for Scientific and 2007.
Technological Development of Ceará-FUNCAP for financial support (16) ELLMAN, G. L.; COURTNEY, K. D.; ANDRES, V.;
through the Research for SUS Program: shared management in Health FEATHERSTONE, R. M. A new and rapid colorimetric determination
/ PPSUS - CEFUNCAP-SESA-Decit / SCTIE under n ° 3781047/2017, of acetylcholinesterase activity. Biochem. Pharmacol. 7, 2, p. 88-95,
Government of the State of Ceará and the Laboratory of Polymers and 1961.
Material Innovation at the Federal University of Ceará (17) CERQUEIRA, M. A.; SOUZA, B. W.; SIMÕES, J.; TEIXEIRA,
(CAPES/PNPD/UFC).
J. A.; DOMINGUES, M. R. M.; COIMBRA, M. A.; VICENTE, A. A.
Structural and thermal characterization of galactomannans from non-
REFERENCES conventional sources. Carbohydr. Polym. 83, 1, 179-185, 2011.
(18) AFFONSO, R. S.; LESSA, B.; SLANA, G. B.; BARBOZA, L. L.;
(1) CORTÉS-ROJAS, D. F.; DE SOUZA, C. R. F.; OLIVEIRA, W. P. DE ALMEIDA, F. V.; LIMA, A. L. S.; FRANCA, T. C. Quantificação
Clove (Syzygium aromaticum): a precious spice. Asian. Pac. J. Trop. e Caracterização dos Principais Componentes do Extrato Etanólico de
Biomed. 1, 2, 90-96, 2014. Cravo-da-Índia Syzygium aromaticum [l] Merr. et Perry. Rev. Virtual.
(2) CHAIEB, K.; HAJLAOUI, H.; ZMANTAR, T.; KAHLA‐NAKBI, Quím. 6, 5, 1316-1331, 2014.
A. B.; ROUABHIA, M.; MAHDOUANI, K.; BAKHROUF, A. The (19) SRIVASTAVA, M.; KAPOOR, V. P. Seed galactomannans: an
chemical composition and biological activity of clove essential oil, overview. Chem. Biodivers. 2, 3, 295-317, 2005.
Eugenia caryophyllata (Syzigium aromaticum L. Myrtaceae): a short (20) GUO, J.; LI, P.; KONG, L.; XU, B. Microencapsulation of
review. Phytother. Res. 21, 6, 501-506, 2007. curcumin by spray drying and freeze drying. Food Sci. Tecnhnol, p.
(3) HEMA, R.; KUMARAVEL, S.; SIVASUBRAMANIAN, C. GC- 109892, 2020.
MS study on the potentials of Syzygium aromaticum. Res. 2, 12, 1-4,
(21) DE MENESES, A. C.; MARQUES, E. B. P.; LEIMANN, F. V.;
2010.
GONÇALVES, O. H.; INEU, R. P.; DE ARAÚJO, P. H. H.; SAYER,
(4) KHAN, M. S. A.; AHMAD, I. Biofilm inhibition by Cymbopogon
citratus and Syzygium aromaticum essential oils in the strains of C. Encapsulation of clove oil in nanostructured lipid carriers from
Candida albicans. J. Ethnopharmacol. 140, 2, 416-423, 2012. natural waxes: Preparation, characterization and in vitro evaluation of
the cholinesterase enzymes. Colloids. Surf. A. 583, 123879, 2019.
252
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE – Brasil, e-mail:
diogohmp2@gmail.com.
²DSc., Pesquisador na Embrapa Agroindustria Tropical, Fortaleza, CE – Brasil.
Resultados e discussão
O processo de preparação da massa foi simples, sendo uma
receita de fácil execução. A trituração da massa no processador,
garante uma textura lisa e uniforme, auxiliando em uma boa
característica visual do produto final.
Como podemos ver na figura 2, a coloração da massa
apresentou-se escura, provavelmente devido a coloração da fibra de
caju junto a proteína texturizada de soja.
253
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusão
O produto final obtido foi satisfatório do ponto de vista de
suas características sensoriais, além da formulação apresentar
facilidade em sua execução. A fibra de caju utilizada não deixou sabor
residual no preparo, demonstrando versatilidade para aplicação em
diversas receitas. Um dos pontos a melhorar no produto final é a
coloração, pois pode ser fator de rejeição em um teste sensorial.
Ademais, novos testes devem ser realizados, com a
finalidade de criar outros produtos que possam agregar valor a esta
fibra alimentar, reduzindo desperdícios na indústria e consequente
impacto ao meio ambiente.
Referências
254
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Leidiana Xavier1,5; Bruno Feitosa2, Charlene Alcantara2, Andressa Santana1, Mônica Gonçalves3, João Feitoza4
Mestrandas em Sistemas Agroindustriais, Universidade Federal de Campina Grande; 2Graduandos em Engenharia de
1
Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande; 3Doutora e docente da Universidade Federal de Campina
Grande; 4Mestre e docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte; 5Discente
da Especialização em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte
Autor correspondente: joaovitorlg95@hotmail.com
255
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
de periódicos Science Direct (5.291). Ao decorrer de 15 anos, houve o México (2%), que podem ser reconhecidos por pesquisas na Ciência
um aumento gradativo das publicações referentes ao amido como e Tecnologia (C&T) referentes ao amido como matéria-prima de
matéria-prima de embalagens nas bases destacadas; passando de cerca embalagens biodegradáveis. Os países identificados também revelam
de 80 artigos em 2006 para cerca de 600 artigos em 2020, em média. a preocupação acerca das problemáticas ambientais, como a poluição.
A maior quantidade de artigos científicos registrada até então, durante Segundo Risyon et al. (17), tem se tornado crucial a poluição
o período avaliado, foi em 2019 (816) na base Science Direct. Nas ambiental decorrente do uso de materiais não degradáveis.
últimas décadas houve um crescente interesse mundial por novas Somente na base de periódicos SciELO, as pesquisas
técnicas, formas e procedimentos para o desenvolvimento de realizadas no Brasil, selecionadas pelo conjunto de palavras-chave em
biofilmes para alimentos (13). Bonilla et al. (14) observaram que o combinações (Tabela 1), apontam nos últimos 2 anos enfoque nos
amido tem sido amplamente empregado por pesquisadores, visando temas: desenvolvimento e caracterização de novos tipos de
aumentar a biodegradabilidade de vários produtos. Porém, Krishnan et embalagens biodegradáveis a base de amido; técnicas e métodos
al. (15) ressaltam que o amido requer a presença de agentes inovadores; e o efeito de compostos/ingredientes adicionados na
plastificantes para ser processado, como a água e o glicerol, gerando o formulação. Por exemplo, Othaman et al. (18) elaboraram filmes de
amido termoplástico. amido de tapioca reforçados com celulose microcristalina para
A demanda das indústrias pelo amido tem aumentado potencial aplicação em embalagens de alimentos. Enquanto isso, Silva
continuamente, devido ao baixo preço, abundância e versatilidade et al. (19) desenvolveram e caracterizam os bioplásticos de amido de
(16). Logo, o investimento das indústrias de alimentos em Pesquisa e milho contendo farinha de subproduto de broto.
Desenvolvimento (P&D) nesse segmento prenuncia uma expressiva
vantagem comercial. Entre os temas na literatura mais abordados nos CONCLUSÃO
últimos 2 anos, considerando a amplitude do conjunto de palavras-
chave em combinações (Tabela 1), observou-se o desenvolvimento de O mapeamento das palavras-chave nas bases de periódicos
novos tipos de embalagens biodegradáveis a base de amido, técnicas e foi efetivo, principalmente na língua inglesa, ocorrendo uma
métodos inovadores, avaliação das propriedades e estabilidade das concentração mais intensa na quantidade de publicações científicas a
embalagens, efeito de compostos bioativos adicionados na formulação partir de 2006. Infere-se que nos últimos anos foi evidenciado um
e da aplicação de tratamentos durante a produção das embalagens. aumento do interesse científico mais acentuado internacionalmente.
A evolução anual (2006-2020) dos resultados encontrados Os artigos têm despertado maior enfoque no estudo do efeito da
para as publicações de artigos científicos na base de periódicos adição de compostos/ingredientes sobre a formulação de novos tipos
SciELO sobre o amido como matéria-prima de embalagens de embalagens de amido, além de técnicas e métodos inovadores.
biodegradáveis encontra-se na Figura 2.
REFERÊNCIAS
Figura 2. Evolução anual das publicações de artigos científicos na
base SciELO referente a palavra-chave em inglês: amido AND 1. KUMAR, S.; MUKHERJEE, A.; DUTTA, J. Chitosan based nanocomposite films
embalagem AND biodegradável. and coatings: Emerging antimicrobial food packaging alternatives. Trends Food Sci.
Technol. 97, 196-209, 2020.
2. FONTOURA, D. R. S.; CALIL, R. M.; CALIL, E. M. B. A importância das
embalagens para alimentos aspectos socioeconômicos e ambientais. ASA 4, 138-160,
2016.
3. GRUMEZESCU, A. M.; HOLBAN, A. M. Preface for Volume 9: Food Packaging
and Preservation, xxv–xxviii, 2018.
4. KISS, M. R.; KÖLLING, G. A falsa metáfora dos plásticos biodegradáveis e verdes.
Senac 13, 2018.
5. MIRI, N. E.; ABDELOUAHDI, K.; BARAKAT, A.; ZAHOUILY, M.; FIHRI, A.;
SOLHY, A.; ACHABY, M. E. Bio-nanocomposite films reinforced with celulose
nanocrystals: Rheology of filmforming solutions, transparency, water vapor barrier
and tensile properties of films. Carbohydr. Polym. 129, 156-167, 2015.
6. FERREIRA, M. S. L.; FAI, A. E. C.; ANDRADE, C. T.; PICCIANI, P. H.;
AZERO, E. G.; GONÇALVES, É. C. B. A. Edible films and coatings based on
Observou-se na base de periódicos SciELO, que a evolução biodegradable residues applied to acerolas (Malpighia punicifolia L.). J Sci. Food
Agric. 96, 1634- 1642, 2016.
anual (2006-2020) apresentou uma proporção reduzida de artigos 7. SLAVUTSKY, A. M.; BERTUZZI, M. A. Water barrier properties of starch films
publicados, pois consistem exclusivamente em periódicos brasileiros reinforced with cellulose nanocrystals obtained from sugarcane bagasse. Carbohydr.
com o acesso aberto. A partir de 2006, os registros da palavra-chave Polym. 110, 53-61, 2014.
“amido AND embalagem AND biodegradável” demonstraram 8. COSTA, M. C. C.; AZEVEDO, C. R.; SOUSA, R. M. L.; SANTOS, A. F. S.;
BARROQUEIRO, A. T. S. Embalagens de alimentos à base de biofilmes comestíveis:
maiores picos nos anos de 2013, 2016 e principalmente 2018. Até o
uma revisão de literatura. Rev Ceuma Perspectivas 30, 88-100, 2017.
primeiro semestre de 2020, a quantidade de publicações manteve-se 9. LUCHESE, C. L,; PAVONI, J. M. F; SPADA, J. C.; TESSARO, I. C. Avaliação da
constante em relação ao ano de 2019, estando semelhante ao influência da incorporação de diferentes resíduos agroindustriais em filmes à base de
comportamento encontrado entre os períodos de 2006-2007 e 2009- amido de mandioca. BJAER 2, 802-812, 2019.
2010. 10. BERNARDO, C. O.; ASCHERI, J. L. R.; CARVALHO, C. W. P. Efeito do
ultrassom na extração e modificação de amidos. Cienc. Rural 46, 739-746, 2016.
Os resultados encontrados na base de periódicos SciELO 11. AZEVÊDO, L. C.; SÁ, A. S. C.; ROVANI, S.; FUNGARO, D. A. Propriedades do
para as publicações de artigos científicos por país de execução da amido e suas aplicações em biopolímeros. Cad. Prospecção 11, 351-358, 2018.
pesquisa estão apresentados na Figura 3. 12. TENÓRIO, L. X. S.; LIMA, L. A.; SILVA, M. L.; FERNANDES, T. L.; GHESTI,
G. F. Mapeamento do desenvolvimento nacional de tecnologias dentro do contexto de
inundações urbanas. Cad. Prospecção 10, 828, 2017.
Figura 3. Publicações de artigos científicos por país de execução da 13. OLUWASINA, O. O.; OLALEYE, F. K.; OLUSEGUN, S. J.; OLUWASINA, O.
pesquisa na base SciELO referente a palavra-chave em inglês: amido O.; MOHALLEM, N. D. S. Influence of oxidized starch on physico mechanical,
AND embalagem AND biodegradável. thermal properties, and atomic force micrographs of cassava starch bioplastic film. Int.
J Biol. Macromol. 135, 282-293, 2019.
14. VERSINO, F.; LOPEZ, O. V.; GARCIA, M. A.; ZARITZKY, N. E. Starch‐based
films and food coatings: An overview. Starke 68, 1026-1037, 2016.
15. KRISHNAN, S.; MOHANTY, S.; NAYAK, S. K. Renewable Resource based
blends of Polylactic acid (PLA) and Thermoplastic starch (TPS) using Novel Reactive
Compatibilization. J. Polym. Mater. 34, 525-538, 2017.
16. NAWAB, A.; ALAM, F.; HASNAIN, A. Mango kernel starch as a novel edible
coating for enhancing shelf- life of tomato (Solanum lycopersicum) fruit. Int. J Biol.
Macromol. 103, 581-586, 2017.
17. RISYON, N. P.; OTHMAN, S. H.; BASHA, R. K.; TALIB, R. A. Effect of
halloysite nanoclay concentration and addition of glycerol on mechanical properties of
bionanocomposite films. Polym. Polym. Compos. 24, 793-800, 2016.
18. OTHMAN, S. H.; MAJID, N. A.; TAWAKKAL, I. S. M. A.; BASHA, R. K.;
NORDIN, N.; SHAPI’I, R. A. Tapioca starch films reinforced with microcrystalline
cellulose for potential food packaging application. Food Sci. Technol. 39, 605-612,
Com um total de 30 publicações de artigos científicos 2019.
19. SILVA, M. L. T.; BRINQUES, G. B.; GURAK, P. D. Desenvolvimento e
registrados na base de periódicos SciELO, ao buscar a palavra-chave caracterização de bioplásticos de amido de milho contendo farinha de subproduto de
em inglês “amido AND embalagem AND biodegradável” (Tabela 1), broto. Braz. J. Food Technol. 23, 2020.
foram relacionados 6 países de execução das pesquisas. O Brasil
representou 73% das publicações (22), seguido pela Colômbia (3%) e
256
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
257
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
frutos há um consumo dos ácidos orgânicos e aumento dos sólidos (7) CENCI, S. A; SOARES, A. G.; FREIRE JUNIOR, M.Manual de
solúvies, o que acarreta no aumento do valor de ratio (21). perdas pós-colheita em frutos e hortaliças. Rio de Janeiro:
O índice de senescência diferiu estatisticamente entre as duas EMBRAPA-CTAA,1997. 29p
temperaturas no tempo 4 e 8, os frutos armazenados à 24ºC (8) SPRICIGO,P.C.; FERREIRA, M. D. Colorimetria – Princípios e
apresentaram escores 3 e 4 para 4 e 8 dias de armazenamento aplicações na agricultura. In: FERREIRA, Marcos David.
respectivamente, ou seja, de 26 à 75% de danos visuais em seus Instrumentação pós-colheita em frutas e hortaliças. Brasília: Embrapa,
tecidos. Houve diferença estatística entre os tempos para a
2017. p. 207-217.
temperatura à 7ºC, mas mesmo com o aumento os frutos não
(9) BELISÁRIO, C. M.; CONEGLIAN, R. C. C. Qualidade de frutos
apresentaram danos aparentes maiores que 25% até 12 dias. Na
de murici (Byrosonima crassifólia malpighiaceae) armazenados sob
literatura há relatos que frutos de Murici também obtiveram um índice
refrigeração. Rev. Gl Sci Technol., 06, 95 – 101, 2013.
avançado de senescência para frutos armazenados à 25ºC e uma maior
(10) SÁ, C. R. L.; SILVA, E. O.; TERAO, D.; OSTER, A. Efeito do
conservação para frutos armazenados à 7º (24). Resultados
KMnO4 e 1–MCP com atmosfera modificada na conservação pós-
satisfatórios também foram obtidos com o armazenamento de
colheita de melão Cantaloupe. Rev. Ciên. Agron., 39, 60-69, 2008.
pêssegos “Aurora-1” em embalagens de polietileno aliadas à uma
(11) ALMEIDA, R. R.; CAMPOS, A. J. Conservação pós-colheita e
temperatura de armazenamento à 3ºC (25).
avaliação da qualidade da Pinha tratado com radiação uv-c e
atmosfera modificada. In: III Congresso de ensino, pesquisa e
Tabela 1 Análise da qualidade pós-colheita de Butia capitata.
extensão da UEG: Inovação: Inclusão Social e Direitos. Pirenópolis.
Temp. Dia 0 4 dias 8 dias 12 dias 14 dias
2016.
Perda de massa fresca (%)
(12) CIA, P.; BENATO, E. A.; VALENTINI, S. R. T.; SANCHES, J.;
7°C - 0,2 Bd 0,4 Bc 0,7 b 0,9 a PONZO, F. S.; FLÔRES, D.; TERRA, M. M.. Atmosfera modificada
24°C - 1,0 Ab 7,42 Aa - - e refrigeração para conservação pós‑colheita de uva 'Niagara Rosada'.
Índice de escurecimento Rev. Pesq. agropec. Bras, 45,1058-1065, 2010.
(13) PRESTES, A. A. Avaliação do escurecimento enzimático em
7°C 13,1 Ac 13,5 Bc 15,6 Bc 24,0 b 29,8 a
maçãs híbridas: potencial tecnológico e atividade antioxidante. 2019.
24°C 13,1 Ac 20,0 Ab 26,5 Aa - - 111f. Dissertação. (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)
Chroma – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2019.
7°C 41,1 Ac 37,2 Bd 41,1 Bc 49,8b 53,1 a (14) SANTOS, I. R. C. Escurecimento enzimático em frutos:
24°C 41,1 Ab 52,6 Aa 46,8 Ab - - polifenoloxidase de atemóia (Annona cherimola Mill. X
ºHue Annonasquamosa L.). Dissertação (Mestrado em Alimentos e
7°C 104,4 Aa 101,8Aa 90,9 Ab 84,6 c 82,1 c Nutrição) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara,
24°C 104,4 Aa 81,3Bb 72,3Bc - - Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009.
pH (15) MEGGUER, C. A. Fisiologia e preservação da qualidade pós-
7°C 3,0 Ad 3,0 Bd 3,1 Bc 3,2 b 3,3a colheitade frutos de butiá [butiaeriospatha(martius) beccari]. 2006.60f.
24°C 3,0 Ac 3,4 Bb 3,8 Aa - - Dissertação (Mestrado em produção vegetal) - Centro de Ciências
Agroveterinárias – CAV, Universidade do Estado de Santa Catarina,
Ratio
Lages, 2006.
7°C 8,2 Ae 11,7 Bd 16, 2 Ac 20,9 b 23,5 a
(16) OLIVEIRA, T.A.; AROUCHA, E. M. M.; SOUZA, M. S. M.;
24°C 8,2 Ac 20,6 Aa 14,3Ab - -
LEITE, R. H. L.; SANTOS, F. K. G. Efeito do biofilme de gelatina e
Senescência
cloreto decálcio na coloração de quiabo armazenadosob refrigeração.
7°C 1,0 Ad 1,0 Bd 1,5 Bc 2,0 b 2,5 a Rev. ACSA, 8, 07-11, 2012.
24°C 1,0 Ac 3,0 Ab 4,0 Aa - - (17) SANTOS, L. F. Qualidade e conservação pós-colheita de frutos
Análise de variância e teste de médias Scott-Knott ao nível de 5%. da jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) sob atmosfera modificada
Letras maiúsculas diferentes na mesma coluna indicam diferença ativa. 2014. 61f. Monografia. (Agronomia). Universidade Federal da
significativa entre as temperaturas. Letras minúsculas diferentes na Paraíba,Areia, 2014.
mesma linha indicam diferença significativa entre os tempos. (18) SANTOS, M. A. Qualidade de manga minimamente processada
acondicionada em diferentes embalagens. 2017. 30f. Monografia
CONCLUSÃO (Tecnologia em Alimentos). Universidade Tecnológica Federal do
O uso da refrigeração foi mais eficaz na preservação dos atributos de Paraná, Ponta Grossa, 2017.
qualidade dos frutos de coquinho azedo avaliados neste estudo. (19) TEIXEIRA, G. H. A.; DURIGAN, J. F.; DONADIO, L. C.;
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Agradecemos à UFMG e o apoio financeiro do Conselho Nacional de 550, 2001.
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258
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
259
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
O conteúdo de sólidos solúveis está diretamente relacionado a (Mestrado Ciências Agrárias, concentração em Agroecologia) –
quantidade de açúcares presentes nos frutos (13), açúcares estes que se Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais.
elevam com o processo de maturação e opostamente são consumidos Montes Claros, 2008.
ao final do amadurecimento e posterior senescência do fruto, eventos (5) AMARANTE, C. V. T., MEGGUER, C. A., Qualidade pós-
estes que foram retardados pela aplicação de uma menor temperatura colheita de frutos de butiá em função do estádio de maturação na
aliada à atmosfera modificada. colheita e do manejo da temperatura. Rev. Ciência Rural. 1, 46-53,
Outro substrato degradado durante a senescência dos frutos são os
2008.
ácidos orgânicos e o comportamento esperado é de que o teor de
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acidez diminua ao longo do armazenamento (14). Comportamento de
acordo com essa observação foi obtido para os frutos armazenados à fruticultura. 1. ed. Santa Maria. ed. rede e-Tec Brasil. 2015. 130p.
24ºC, com um teor de 1,0% de acidez titulável no tempo inicial, tendo (7) MARCONCINI, J. M. Embalagens plásticas de alimentos. In:
seu teor reduzido à 0,6% aos 8 dias. Pela literatura (15), ao utilizar Marcos David Ferreira. Instrumentação pós-colheita em frutas e
embalagens plásticas para a conservação de mangas “Tommy Atkins” hortaliças. 1ed. Brasília: Embrapa, 2017. p. 247-268.
obteve o mesmo comportamento com embalagens PET obtendo um (8) CALBO, A.G.; NERY, A.A. Medida de firmeza em hortaliçaspela
menor valor de 0,181% ao final dos 10 dias. Já avaliando os frutos técnica de aplanação. Horticultura Brasileira. 1,14-18, 1995.
armazenados na temperatura de 7ºC, nota-se um aumento aos 4 dias (9) LAMEIRA, R.C.; SILVA, B. M. P.; VALENTINI, S. R. T.; CIA,
de armazenamento, seguido de queda até o final do período P.; BRON, I. U. Refrigeration and modified atmosphere to the
experimental. O mesmo comportamento foi registrado na conservação conservation of ‘Malasia’ Star fruit. Rev. Ciência Rural. 50, 1-10
de diferentes cultivares de banana sob atmosfera modificada e 2020.
refrigeração (16). O aumento do teor de acidez na temperatura 7ºC no (10) MEGGUER, C. A. Fisiologia e preservação da qualidade pós-
início do armazenamento pode estar relacionada ao processo de colheitade frutos de butiá (butiaeriospatha(martius) beccari).
maturação do fruto, visto que os frutos foram colhidos no estádio 2006.60f. Dissertação (Mestrado em produção vegetal) - Centro de
verde-maturo. A partir daí a queda ocorrida pode ser resultado do uso Ciências Agroveterinárias – CAV, Universidade do Estado de Santa
de ácidos orgânicos como substrato na respiração celular ou mesmo da Catarina, Lages, 2003.
sua conversão em açúcares (17). (11) ALMEIDA, R. R. Qualidade pós-colheita de pitombasin
Os frutos armazenados nas duas temperaturas diferiram entre si em
natura submetidas adiferentes temperaturas, embalagens e doses
relação a firmeza, com o tratamento à 7ºC apresentando frutos mais
firmes. Analisando o comportamento ao longo do tempo, frutos de radiação uv-c. 2019. 110f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
armazenados em simulação a temperatura ambiente obtiveram de Sistemas Agroindustriais) -Campus Anápolis de Ciências Exatas e
redução drástica de sua firmeza já com 4 dias e continuando com a Tecnológicas Henrique Santillo –CCET, Universidade Estadual de
queda até o final do armazenamento. Em contrapartida, os frutos Góias, Anápolis, 2019.
submetidos a refrigeração mantiveram a sua firmeza inicial até 8 dias, (12) SANTOS, I. R. C. Escurecimento enzimático em frutos:
com queda apenas aos 12 e 14 dias. Resultados similares foram polifenoloxidase de atemóia (Annona cherimola Mill. X
reportados na literatura, onde houve uma maior perda de firmeza em Annonasquamosa L.). 2009. 120f. Dissertação (Mestrado em
carambolas embaladas mantidas à 25ºC do que nos frutos Alimentos e Nutrição) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de
armazenados à 5ºC (9); e em Butiá (5) observaram um declínio maior Araraquara, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009.
nos valores de firmeza nos frutos armazenados à 20ºC em relação aos (13) FERRÃO, T. S. Compostos voláteis e parâmetros de qualidade
frutos armazenados à 0ºC. A perda da firmeza dos frutos está de diferentes genótipos de frutos de Butiá odorata. 2012. 92f.
relacionada a alteração dos componentes na parede celular durante o
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos),
amadurecimento, levando assim ao declínio na integridade do fruto,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012.
esse processo pode ser retardado com aplicação de baixas
temperaturas e atmosfera modificada. (14) WEICHMAN, J. The effect of controled atmosphere storage
Os teores de vitamina C diferiram estatisticamente entre os dois on the sensory na dnutritional qualities of fruits and vegetables.
tratamentos, onde a temperatura 7ºC manteve maiores teores ao longo Horticultural Review. 8, 101-108, 1986.
do armazenamento. No tratamento à 24ºC houve uma diminuição (15) NEVES, L. C.; SILVA, V. X.; FERRAZ, L. R.; PRILL, M. A. S.;
acentuada dos valores de vitamina C chegando ao valor mínimo de ROBERTO, SERGIO, R. Utilização de Diferentes Embalagens
30,1 mg/100g com 8 dias. Na temperatura de 7 ºC os teores de Plásticas para a Conservação de Produto Minimamente Processado de
vitamina C declinaram somente a partir do oitavo dia de Mangas ‘Tommy Atkins’. Rev. Bras. Futic. 3, 856-864, 2009.
armazenamento, chegando ao final do armazenamento com 60,2 (16) SIQUEIRA, C. L.; ALMEIDA, H. J.; SERPA, M. F. P.;
mg/100g, valor este superior à média encontrada na polpa fresca de BATISTA, P. S. C.; MIZOBUTSI, G. P. Modified atmosphere
coquinho azedo (53,0 mg/100g) (2) e em mangas armazenadas em together with refrigeration in the conservation of bananas resistant to
embalagens PET por 10 dias à 10ºC (21,14 mg/100g) (15). black Sigatoka. Rev. Ciencia Agr. 4, 614-624, 2017.
(17) CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Pós-colheita de frutas e
CONCLUSÃO
hortaliças: fisiologia e manuseio. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785p
O emprego de refrigeração aliada a atmosfera modificada mostrou-se
decisiva na conservação do coquinho-azedo, já que ocorreu uma
menor degradação em todos os atributos avaliados na qualidade pós-
colheita.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UFMG e o apoio financeiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
REFERÊNCIAS
(1) HENDERSON, A.; GALEANO, G.; BERNAL, R. Field guide to
the palms of the americas. Ed. Princeton University Press, 1995. 502
p.
(2) FARIA, J. P; ARELLANO, D.B.; GRIMALDI, R.; SILVA, L. C.
R.; VIEIRA, R. F.; SILVA, D. B.; AGOSTINI-COSTA, T. S.
Caracterização química da amêndoa de coquinho-azedo. Rev. Brasil.
Futic., 2, 549-552, 2008
(3) RIBEIRO, L. M..; NEVES, S. C., SILVA, P. O., ANDRADE, I.
G.Germinação de embriões zigóticos e desenvolvimento in vitro
decoquinho-azedo. Rev. Ceres. Viçosa,.2, 133-139, 2011.
(4) FERNANDES, R. C. Estudos Propagativos do Coquinho-Azedo
(Butiacapitata (mart.) becc) arecaceae. 2008. 95f. Dissertação
260
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Antônio Filho1, Carlos Alves1*, Lorena Sampaio1, Larissa Araújo1, Larissa Silva1, Neuma Pinheiro1
1
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE.
*carturnalves@gmail.com
261
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2018 - C 1,33 x 105 Aa* 1,08 x 105 Aa 6,96 ± 0,02 Aa 0,98 ± 0,00 Aa 43,15 ± 0,85 A
2018 - S 1,15 x 103 Ab 1,50 x 102 Ab 5,63 ± 0,005 Bb 0,22 ± 0,02 Bb -
2019 - C 2,61 x 10 5 Ba
3,45 x 10 3 Ba
6,29 ± 0,01 Ba
0,93 ± 0,00 Ba
42, 54 ± 0,92 A
2019 - S 0,50 x 102 Bb 0,50 x 102 Ab 6,29 ± 0,07 Aa 0,36 ± 0,00 Ab -
A RDC nº 12/2001 da ANVISA (BRASIL, 2001) estabelece padrões de enquanto seriam uma boa alternativa para enriquecimento de alimentos
bolores e leveduras apenas para purês e doces de origem vegetal em secos, como produtos para panificação e confeitaria.
pasta ou massa (incluindo geleias e doces em calda não comercialmente
estéreis) e para alimentos para imunossuprimidos ou REFERÊNCIAS
imunocomprometidos. Para o primeiro grupo, são admitidas
contaminações de até 10⁴ UFC/g e para o segundo apenas 5 x 10 UFC/g. BEAUCHAT, L. R. Microbial stability as affected by water activity.
Assim, a amostra mais antiga congelada, 2018-C, não estaria apta para Cereal Food World, n. 26, p. 345-349. 1981.
consumo em nenhum dos padrões estabelecidos. As amostras 2018-S e
2019-C estariam na margem para purês e doces de origem vegetal. A BENEDETTI, J. Análise microbiológica da farinha parcialmente
única amostra apta ao consumo de imunossuprimidos e/ou desengordurada de baru. Universidade Católica de Brasília, Brasília,
imunocomprometidos seria a amostra seca de 2019. 2013.
A presença de bolores e leveduras em alimentos é indicativa de má
qualidade no processamento, evidenciando práticas deficientes no BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA.
quesito de higiene (BENEDETTI, 2013). Devido à sua forma de Resolução RDC n. 12, de 12 de janeiro de 2001. Diário Oficial União,
reprodução através da esporulação, tais microrganismos, em especial os Brasília, 10 jan. 2001.
bolores, são facilmente transportados pela água e pelo vento, também
resistindo à variação de temperatura, agentes químicos e outras FAO. How to feed the world in 2050. Food and Agriculture
condições ambientais adversas. Os esporos fúngicos podem justificar a Organization of the United Nations Forestry Department. Roma, 2009.
permanência desses microrganismos nas amostras após secagem (2018-
S e 2019-S). FRANCO, B. D. G. de M.; LANDGRAF, M.. Microbiologia de
Ainda como particularidade, os fungos podem sobreviver em ambientes Alimentos. São Paulo: Editora Ateneu, 2008.
com baixa atividade de água (Aw), sendo registrados casos de fungos
osmofílicos que já se desenvolvem em Aw de 0,6 (BEAUCHAT, 1981). INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo
Essa característica é muito comum em produtos farináceos, cujos Lutz. Métodos físico-químicos para análises de alimentos. 4ª ed. (1ª
atributos físicos e sensoriais podem se aproximar das amostras 2018-S Edição digital), 2008.
e 2019-S trituradas. Lima (2007) ao processar farinha e goma de
mandioca, como também fubás de milho, encontrou resultados LEITÃO, M.F.F. et al. Tratado de microbiologia. Rio de Janeiro:
semelhantes à população de bolores e leveduras encontradas nas Manole, 1988. 185p.
amostras de tanajura, entre 10³ e 10⁵ UFC/g. Ao se analisar farinhas
parcialmente desengorduradas de baru, Benedetti et al (2013) LIMA, C. P. de S.; et al. Presença de microrganismos indicadores de
constataram presença de fungos na magnitude de 10³ UFC/g, também qualidade em farinha e goma de mandioca (Manihot esculenta, Crantz).
semelhante ao encontrado na matéria prima deste estudo. Revista Aps, Juiz de Fora, v. 10, n. 1, p.14-19, jun. 2007.
CONCLUSÕES MARTIN, D. Edible: An adventure into the world of eating insects and
the last great hope to save the planet. Houghton Mifflin Harcourt.
A partir dos dados apresentados e discussões geradas, é possível inferir Boston, 2014.
que o método de secagem aplicado às formigas tanajuras é uma boa
alternativa para a redução da carga microbiana de insetos comestíveis, ROMEIRO, E. T.; OLIVEIRA, I. D.; CARVALHO, E. F. Insetos como
tornando as amostras secas aceitáveis em um largo grupo alimentar. A alternativa alimentar: artigo de revisão. Contextos da Alimentação. São
análise estatística mostrou que não houve diferença significativa entre Paulo, v. 4, n. 1, 2015.
as cargas microbianas de acordo com o tempo de armazenamento.
Para mesófilos, os valores foram analisados como satisfatórios, devido SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A. Manual de
à ausência de regulamentação específica. No que se refere a bolores e métodos de análise microbiológica de alimentos. 4ª ed. Varela. São
leveduras, a amostra 2018 congelada foi a única que não se adequou em Paulo, 2010.
nenhum grupo previsto, enquanto a seca de 2019 enquadrou-se em mais
categorias. Logo, é possível inferir que formigas tanajuras comestíveis van-HUIS, A., et al.. Edible insects: Future prospects for food and feed
não seriam recomendadas para grupos infantis e imunossuprimidos, security. Food and Agriculture Organization of the United Nations.
Roma, 2013.
262
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
263
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
variação nos ingredientes não resultou em mudança de cor entre as sobremesa láctea produzida com subprodutos do maracujá é uma
amostras. De acordo com os resultados de a*, b* e °h, afirma-se que estratégia adequada para agregar valor aos subprodutos industriais.
as formulações apresentaram cor tendendo, majoritariamente, ao 4. CONCLUSÃO
marrom. A sobremesa láctea cremosa sabor chocolate com adição da
pectina do albedo do maracujá amarelo apresenta-se como um produto
Tabela 1. Caracterização físico-química e resultados do teste de Tukey atraente em função de suas características sensoriais, tendo boa
(contraste entre médias) das sobremesas lácteas sabor chocolate. aceitação pelos provadores, indicando que poderia ser incluído no
Resultado expresso em médias ± desvio padrão. mercado com perspectivas de potencial tecnológico. O aproveitamento
Análises F1 F2 F3 da casca do maracujá se apresenta como uma boa alternativa de
pH 6,40a ±0,01 6,44ab ±0,01 6,53b ±0,06 matéria prima para a extração de pectina, possibilitando reduzir
Acidez (%) 0,75a ±0,01 0,61b ±0,01 0,75a ±0,01 impactos ambientais gerados pela agroindústria.
Sólidos solúveis a a
22,02 ±0,06 22,02 ±0,06 22,01a ±0,01 5. REFERÊNCIAS
(°Brix)
Viscosidade 233.306 ab ± 175.123 a ± 350.803 b ± (1) COELHO, E. M.; AZÊVEDO, L. C., UMSZA-GUEZ, M. A. Fruto
(mPa.s) 10.761,4 47.205,7 44.079,6 do maracujá: importância econômica e industrial, produção,
F1 e F2 com 0,5% e 0,2% da pectina extraída, respectivamente, e F3 com 0,2% subprodutos e prospecção tecnológica. Cad. Prospec., v. 9, n. 3, 347-
da pectina extraída e 0,2% de goma guar. 361, 2016.
Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem significativamente (2) MELETTI, L. M. M. Avanços na cultura do maracujá no brasil.
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Rev. Bras. Frutic., v. E. 083-091, 2011.
(3) FERRARI, R. A.; COLUSSI, F.; AYUB, R. A. Caracterização de
Tabela 2. Parâmetros de cor das sobremesas lácteas sabor chocolate. subprodutos da industrialização do maracujá - aproveitamento das
Resultado expresso em médias ± desvio padrão. sementes. Rev. Bras. Frutic., v. 26, n. 1, 101-102, 2004.
Amostra (4) DO NASCIMENTO FILHO, W. B.; FRANCO, C. R. Avaliação do
L* a* b* C* h*
* potencial dos resíduos produzidos através do processamento
F1 35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a agroindustrial no Brasil. Rev. Virt. Quim., v. 7, n. 6, 1968-1987, 2015.
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 (5) NASCIMENTO, T. A.; CALADO, V.; CARVALHO, C. W. P.
35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a Development and characterization of flexible film based on starch and
F2
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 passion fruit mesocarp flour with nanoparticles. Food Resear. Inter., v.
35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a 49, 588-595, 2012.
F3
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 (6) OLIVEIRA, E. M. S. de; RESENDE, E. D. Yield of albedo flour
Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem and pectin content in the rind of yellow passion fruit. Ciênc. Tecnol.
significativamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Aliment., v. 32, n. 3, 492-498, 2012.
(7) MATSUURA, F. C. A. U. Estudo do albedo de maracujá e de seu
Em todas as amostras avaliadas houve ausência de aproveitamento em barra de cereais. 157f. Tese (Doutorado em
crescimento de Salmonella spp. e coliformes termotolerantes. Engenharia de Alimentos) - Faculdade de Engenharia de Alimentos,
Análise sensorial das sobremesas lácteas Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
Os resultados de aceitação foram submetidos à análise de (8) CANTERI, M. H. G.; MORENO, L.; WOSIACKI, G.; SCHEER,
variância. As médias obtidas para cada atributo estão representadas na A. P. Pectina: da matéria-prima ao produto final. Polím., v. 22, n. 2,
Tabela 3. 149-157, 2012.
(9) MUNHOZ, C. L.; SANJINEZ-ARGANDOÑA, E. J.; SOARES-
Tabela 3. Médias dos testes sensoriais das sobremesas lácteas sabor JÚNIOR, M. S. Extração de pectina de goiaba desidratada. Ciênc.
chocolate. Resultado expresso em médias ± desvio padrão. Tecnol. Aliment. v. 30, n. 1, 2010.
Atributos F1 F2 F3 (10) NIKAEDO, P. H. L.; AMARAL, F. F.; PENNA, A. L. B.
Cor 7,91a±1,069 7,34b±1,188 7,28b±1,301 Caracterização tecnológica de sobremesas lácteas achocolatadas
Aroma 7,61a±1,325 7,14b±1,524 7,36ab±1,418 cremosas elaboradas com concentrado protéico de soro e misturas de
Textura 7,70a±1,222 7,15b±1,580 7,46ab±1,560 gomas carragena e guar. Rev. Bras. Ciênc. Farmac., v. 40, n. 3, 397-
a b
Sabor 7,97 ±1,143 7,39 ±1,474 7,55b±1,424 404, 2004.
Impressão a b (11) VALENCIA, M. S. Desenvolvimento de sobremesa láctea
7,88 ±1,160 7,42 ±1,342 7,59ab±1,335
global cremosa de chocolate adicionada de fruto-oligossacarídeo e
Intenção Lactobacillus paracasei subsp. paracasei LBC 81. 69f. Dissertação
4,516a ±0,685 4,083b±0,931 4,016b±0,916
de compra (Mestrado em Nutrição) - Programa de Pós-Graduação em Nutrição,
Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem significativamente Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
(12) PINHEIRO, E. R. Pectina da casca do maracujá amarelo
(Passiflora edulis flavicarpa): otimização da extração com ácido
Os resultados demonstraram boa aceitação das sobremesas
cítrico e caracterização físico-química. 79 f. Dissertação (Mestrado em
lácteas com adição de pectina do albedo do maracujá amarelo,
Ciência dos Alimentos) – Programa de Pós-Graduação em Ciência dos
apresentando notas superiores a 7,0, situando-se dentro da zona de
Alimentos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
aceitação (“gostei moderadamente a “gostei muitíssimo).
2007.
Observa-se que a formulação produzida com adição de
(13) ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS
0,5% de pectina (F1) diferiu significativamente das formulações F2 e
(AOAC). 18 ed. Gaithersburg, MD, USA: Official methods of analysis
F3, apresentando médias ligeiramente superiores para todos os
of the Association of Analytical Chemists. 2005.
atributos.
(14) SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A.;
A F2 mostrou uma média ligeiramente menor para o
TANIWAKI, M. H.; GOMES, R. A. R.; OKAZAKI, M. M. Manual de
atributo textura, constatando-se assim que os provadores preferiram as
métodos de análise microbiológica de alimentos e água. 5. ed. São
sobremesas com viscosidade maior, comparando-se as três
Paulo: Blucher, 2017. 560p.
formulações.
(15) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 2 ed.
As médias das notas para intenção de compra
Curitiba: Champagnat, 2011.
(“provavelmente compraria”) estão de acordo com as notas atribuídas
(16) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory
aos demais atributos, considerando-se o produto comercialmente
Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.
viável.
(17) HENRIQUE, J. R.; HENRIQUE, J. R.; RODRIGUES, L. M. A.
Os resultados evidenciam a viabilidade de aproveitar a
PAIXÃO, M. G.; PINTO, S. A.; PACIULLI, S. O. D.
pectina extraída do resíduo do maracujá, demostrando que com a
Desenvolvimento, parâmetros físico-químicos e avaliação sensorial de
adição de apenas 0,2% de pectina já se obtém um produto de
sobremesas lácteas produzidas com diferentes variedades de maracujá
qualidade e bem aceito pelos provadores, dispensando a adição de
com e sem soro de leite. Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, v. 67, n.
goma guar.
389, 27-33, 2012.
Henrique et al (17) desenvolveram sobremesas lácteas
elaboradas com casca e sementes de diferentes variedades de maracujá
e também observaram boas notas de aceitação dos provadores
atribuídas aos produtos, evidenciando que o desenvolvimento de
264
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹ Esp. em Gestão da Qualidade em Serviços de Alimentação, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Ceará
(SENAC), pabreunt@gmail.com.
² Dra. em Ciências e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará,
anacmorais@ifce.edu.br.
³ Esp. em Segurança e Qualidade de Alimentos, fladiacarcos@gmail.com.
4
Bacharel em Nutrição, anaazevedonutricionista@gmail.com.
A extração hidrossolúvel do arroz ocorreu através de cocção. Foi Fonte: Autor (2016)
aquecido 1500 ml de água em uma panela e ao atingir o ponto de mijoté,
acrescentou-se o arroz e deixou o mesmo cozinhar até ficar al dent. Após
este processo, o arroz foi posto em um liquidificador com o restante da água
(1500 ml) e a essência de baunilha e foi batido até formar uma pasta líquida.
265
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Elaboração da massa pâte sablé Os resultados foram positivos (Tabela 4), considerando que a cor
ficou com média 7,68 (correspondente a ‘gostei muito’), sendo esta a maior
O preparo da massa paté sablé se deu com ingredientes que podem média dos atributos avaliados. A aparência do produto com 7,65, o odor com
ser visualizados na tabela 3. Os ingredientes e método de preparo foram 7,23 e o geral do produto ficou com média de 7,45.
adaptados do livro Le Cordon Bleu (8). As médias da aparência e da cor são equivalentes ao ponto 8 da
escala “gostei muito”, enquanto o geral e o odor são equivalentes ao ponto
Tabela 3 - Formulação da massa paté sablé. 7, “gostei moderadamente”.
INGREDIENTES
Tabela 4 – Médias e desvios padrão da avaliação da aceitação sensorial da
Óleo de girassol (g) 150 torta com creme pâtisserie sem lactose.
Açúcar mascavo (g) 90 Amostra
Atributos
Ovo (un) 1 TCP
Cor 7,68±1,27
Farinha de trigo (g) 250
Aparência 7,65±1,07
Fonte: Autor (2016)
Odor 7,23±1,32
Para o preparo da massa pâte sablé a farinha e o óleo foram Geral 7,45±1,25
misturados em um bowl. Escala Hedônica
Por último acrescentou-se o ovo e o açúcar que foi misturado com Escala: 1=desgostei muitíssimo; 5=nem gostei, nem desgostei; 9=gostei
as mãos por 4 minutos. Após ficar firme, a massa foi posta em uma bancada muitíssimo.
e passou por processo de sabláge por 9 minutos, ou seja, até que estivesse Fonte: Autor (2017).
firme.
A massa foi levada à geladeira coberta com filme plástico para um Considerando a utilização de ingredientes não convencionais no
descanso de 30 minutos. Em seguida, foi modelada e levada ao forno creme, pode-se definir que amostra teve excelente aceitação, por ter tido a
combinado pré-aquecido a 160°C, com controle da temperatura, e assado formulação bastante alterada em relação à original e ainda sim os avaliadores
por 12 minutos, quando apresentava textura firme e crocante. aceitaram produto.
A massa pâte sablé foi preparada no dia anterior à análise
sensorial, para que pudessem ser observadas suas características em relação CONCLUSÃO
ao produto original, pois o óleo fez substituição à manteiga, por conta do
leite presente neste último. A torta pâte sablé com creme pâtissière foi bem aceita em todos
atributos avaliados e de forma geral. Desta forma, a utilização de leite
Figura 3 – Mise in place da massa Paté Sablé (A); Tortinhas preparadas vegetal de arroz mostrou-se viável em substituição ao leite na elaboração
para a avaliação sensorial (B). da torta com creme pâtissière sem lactose e, portanto, apresenta-se como
B uma alternativa acessível e de baixo custo. Sugere-se novos estudos de
A aplicação do leite vegetal de arroz em outros tipos de preparações
culinárias.
AGRADECIMENTOS
A torta foi aceita por uma grande parte dos provadores por se 7. PEREIRA, G. G. Utilização de extrato hidrossolúvel de soja na produção
aproximar bastante da preparação original, não havendo grande diferença. de sorvete. 2010. 166p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos)
A soma dos pontos de 6-9, correspondentes a gostar, totalizou um – Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, Universidade
percentual de 93%. enquanto entre os pontos. Federal de Lavras, Lavras, 2010.
A aparência também teve uma boa aceitação dos pontos positivos
da escala, os pontos de 6-9, correspondentes a gostar, tiveram um total de 8. DUCHENE, Laurent; JONES, Bridget. Le Cordon Bleu - Sobremesas e
96% de escolhas dos provadores. Suas Técnicas. São Paulo: Marco Zero, 2012. v. 1. 224p.
O odor do produto obteve 88% de aceitação dos provadores dos
pontos de 6-9, correspondentes a gostar. 9. ZENEBON, Odair; et al. Métodos físico-químicos para análise de
No atributo geral, obtiveram porcentagens de: gostei ligeiramente alimentos. In Instituto Adolfo Lutz. 4. ed. São Paulo, 2008. p. 279-320
(13%), moderadamente (27%), muito (32%), muitíssimo (22%). A avaliação
geral obteve uma porcentagem de 94% dos votos dos provadores nos pontos
positivos da escala entre 6-9.
266
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO ácida. O sabor da frutinha amarela é bem ácido, então, se o molho fosse
feito com ela e com o azeite, por exemplo, o molho vinagrete de murici
Dentre as espécies frutíferas nativas do Nordeste destaca-se seria extraído.
o muricizeiro, pois apresenta potencialidades para consumo in natura, O molho consiste em 3 medidas de base gordurosa para uma
com sal (1) e para o processamento industrial da polpa na fabricação de de base ácida. Foi preparado o mise en place: 75 ml de azeite, 25ml de
suco, licor, geleias (2), vinho, doces, refrescos e sorvetes (3). polpa de murici, sal, pimenta-do-reino e noz-moscada a gosto.
O muricizeiro apresenta fruto de importância econômica Os ingredientes foram adicionados em um bowl e batidos
para pequenas comunidades do litoral que o colhem de forma com um fouet para que acontecesse a emulsão, que é a mistura de dois
extrativista para consumo e comercialização. O fruto é coletado líquidos incompatíveis, com gotículas de líquido disperso na fase
principalmente por mulheres e crianças, aproveitando a mão de obra contínua do outro (9). Assim, após um processo de 30 segundos
disponível, diversificando a dieta e aumentando a renda familiar no batendo-se a mistura, os líquidos se misturaram e formando um molho
período de safra da fruta (4). de cor amarela.
O fruto amassado em água desprende facilmente a sua massa Neste molho, essa mistura apresentou-se com um sabor de
carnosa, que, dissolvida, misturada com farinha, adoçada ou não, azeite bem presente, sendo assim ideal a substituição por outra base
constitui um dos recursos alimentares mais importantes para a pobreza gordurosa, como por exemplo, óleo de girassol.
dos tabuleiros costeiros (5). A emulsão do molho vinagrete é classificada como instável,
Os frutos, quando maduros, possuem a casca e a polpa e pouco tempo depois, a base gordurosa se separou da base ácida.
suculenta de um amarelo intenso, com sabor adocicado e cheiro Assim, foi batida novamente e a emulsão voltou a acontecer, porém,
característico (6,7). isto não sendo satisfatória, a intenção é deixar a emulsão estável, ou
O murici permaneceu por muito tempo sem despertar a seja, sem se separar.
atenção dos estudiosos, suas reduzidas dimensões e fácil perecibilidade, Na segunda tentativa de desenvolvimento de uma receita a
se constituíram nos principais entraves para o desenvolvimento de base de murici, foi-se pensado em como melhorar o molho anterior. Os
estudos relativos ao seu aproveitamento (8). problemas encontrados foram: excessivo gosto de azeite e a separação
O objetivo do trabalho é resgatar algum insumo regional que da dispersão devido ao vinagrete ser uma emulsão instável, ou seja, que
está um pouco esquecido pelos nativos da terra, optou-se por escolher se separa pouco tempo após a mistura.
um frutinho amarelo chamado murici, com gosto ácido e cheiro Como a receita do molho indicava 3 medidas de base
inconfundível, assim, desenvolvendo-se um molho de murici. gordurosa para uma de base ácida, foram separados 75 ml de óleo de
girassol, e novamente, 25ml de polpa de murici, sal, pimenta-do-reino
MATERIAL E MÉTODOS e noz-moscada a gosto.
Os ingredientes foram batidos com um fouet e logo após a
O artigo ancorou-se em pesquisas bibliográficas e emulsão estar pronta, percebeu-se um sabor bem mais suave e agradável
experimentais. A primeira buscou coletar dados em livros, artigos ao paladar. Porém, pouco tempo depois a emulsão já estava separada,
acadêmicos e sites. A segunda possibilitou a criação do ‘molho de necessitando, então de uma nova alternativa.
murici’, depois das análises feitas nos testes. Recordando as emulsões estáveis, a maionese surge como
O molho proposto e desenvolvido é constituído por um principal exemplo, e em sua receita clássica leva gemas, óleo e um
molho amarelo denso com cheiro e sabor característico do murici. pouco de limão (líquido aquoso). A lecitina contida na gema é um
Para a composição do molho foi desenvolvida uma ficha agente tensoativo que ajuda a associar intimamente esses dois líquidos
técnica. imiscíveis (água e óleo) e dar à mistura a maior estabilidade possível
Figura 1: Ficha técnica do molho de murici (fala-se em líquido metastável). Assim, para obter a textura da
PRATO: Molho de murici maionese, é preciso azeite (ou qualquer outra gordura líquida), água (ou
Categoria: Molhos Rendimeto: 300 ml qualquer outro líquido aquoso) e um tensoativo (10).
INGREDIENTE QUANTIDADE UNIDADE OBSERVAÇÕES
A gema então poderia ser a solução dos problemas, porém,
Polpa de murici 120 ml
uma das principais propriedades da clara é a formação de espuma –
Gema 5 und.
agregação de ar em uma rede composta por proteínas que se ligam
Água 5 Colheres (sopa)
quando submetidas a um estresse físico, como o batimento; é a
Manteiga clarificada 200 g
dispersão de bolhas de ar em um líquido/solução ou em um sólido (9).
½
As partes hidrófilas permanecem na água da clara, enquanto
Limão und.
3
as partes hidrófobas vêm à superfície das bolhas de ar. Por essa razão,
Sal g
os tensoativos são também chamados de “agentes de superfície”.
Pimenta-do-reino branca 1 g
Assim, embora a densidade do ar e a da água sejam muito diferentes, o
MODO DE PREPARO
1. Bata 5 gemas e 5 colheres (sopa) de água em fogo bem baixo no banho maria até emulsificar.
ar continua aprisionado no líquido, e essa mistura permanece estável o
2. Junte 200 g de manteiga clarificada aos poucos em fios. Bata vigorosamente a cada adição. suficiente para ser usada. No entanto, a maionese é estabilizada por
3. Após a emulsão estar firme, tempere com o suco de ¹/2 limão. Ponha sal e pimenta-branca a gosto. tensoativos. Em outras palavras, as proteínas tensoativas da clara
4. Reduza a polpa de murici, fervendo-a e deixando sobrar apenas 70 ml.
5. Misture 2 colheres (sopa) da redução ao molho já preparado, assim estará feito o molho de murici.
poderiam estabilizar uma maionese, a exemplo das lecitinas na gema.
Fonte: Elaboração própria, 2020
Como, do ponto de vista físico-químico, a maionese só pode ser descrita
como uma mistura água-óleo-tensoativos, clara de ovo (água e
Antes deste resultado final foram realizados alguns testes até tensoativo) e óleo também poderiam dar conta do recado (10).
chegar em um resultado satisfatório, o primeiro foi uma emulsão Mas a dúvida seria se esta preparação possuía algum valor
instável de murici, o segundo, uma emulsão estabilizada com gema de gustativo. As pesquisas possibilitam a melhor compreensão, e as
ovo e melhoria dos valores gustativos e o último, uma emulsão baseada aplicações destas pesquisas devem levar à melhoria da culinária. A
em um molho-mãe chamado Hollandaise com redução de murici. priori, a clara e o óleo (de semente de uva, girassol, canola etc.) são
praticamente insípidos, e o valor gustativo disso parece limitado (10).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Assim, com essas informações, poderia ou ser adicionada a
gema de ovo ao vinagrete ou fazer uma maionese de claras e misturar
Inicialmente, a ideia foi executar um molho vinagrete com o com uma redução de murici, obtendo uma emulsão estável. Resolveu-
murici, pelo fato deste ser feito com uma base gordurosa e uma base se, então, adicionar uma gema ao molho vinagrete de murici, pois era o
267
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
mais simples no momento, e o resultado foi de uma emulsão estável 2. SILVA, D. B da.; SILVA, J. A. da.; JUNQUEIRA, N. T. V.;
onde a dispersão dos líquidos misturados não se separava mais. ANDRADE, L. R. M. de. Frutas do cerrado. Brasília: Embrapa
Montou-se, então, um molho brilhante e amarelado, devido Informação Tecnológica, 2001. 179p.
a cor da gema e do próprio murici, um pouco ácido, em geral, com um
sabor muito bom. 3. ANDERSEN, O.; ANDERSEN, V. U. As frutas silvestres brasileiras.
Após pensar mais na maionese de claras com redução de 3. ed. São Paulo: Globo, 1989. 203p.
murici, esta hipótese foi descartada, pois a clara crua não traria muito
valor gustativo ao molho, além de trazer riscos à saúde. 4. LOURENÇO, I. P. Potencial de utilização de frutos de genótipos de
Logo, surgiu uma dúvida sobre o possível risco de trabalhar muricizeiros cultivados no litoral do Ceará. 2008. 100f. Dissertação
com gema crua, pois estima-se que 96% dos casos de Salmonella sejam (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
causados por uma ampla variedade de alimentos. Isso inclui carnes 2008.
cruas, produtos de frango crus ou malcozidos, ovos, produtos contendo
ovos crus e outros (11). Na próxima experiência teria que se pensar em 5. BRAGA, R. Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará. Escola
alguma forma de conseguir cozinhá-la ou substituí-la, ou se fosse o caso Superior de Agricultura de Mossoró. 3. ed. comemorativa ao II
teria de usar a mesmas pasteurizadas. Congresso Brasileiro de Florestas Tropicais. Mossoró. 1976. 540p.
Partindo da dificuldade de encontrar gemas pasteurizadas, a
alternativa adotada foi cozinhar as gemas, um aumento brando de 6. ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBIERO, J.
temperatura sem afetar a receita. F. Cerrados: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC,
Então, surgia a dúvida de como adicionar gemas cozidas ao 1998. 464 p.
molho? A lembrança do clássico molho-mãe chamado Hollandaise veio
à tona. Molho clássico da cozinha francesa à base de manteiga, gemas 7. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação de
e ácido, seu sabor é marcante e possui um alto teor de gordura. Um bom plantas arbóreas nativas do Brasil. 2. ed. São Paulo: Plantarum, 1998.
molho Hollandaise deve ter textura aveludada e levemente aerada,
coloração amarela pálida e sabor marcante de manteiga, levemente 8. SILVA, C. E. M. Estudo tecnológico, e algumas características
ácido (12). físicas e químicas do murici, byrsonima verbascifolia Rich. 1978. 63f.
A técnica aqui é muito simples. O truque é o primeiro passo: Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) - Universidade
bater as gemas com água até emulsificar. Depois, é só misturar, Federal do Ceará, Fortaleza, 1978.
batendo, a manteiga clarificada para obter uma emulsão grossa. (13).
E, assim, foi separado primeiro todo o mise en place no qual 9. ARAÚJO, W. M. C.; MONTEBELLO, N. di P.; BOTELHO, R. B.
continha 5 gemas, pimenta-do-reino branca e sal a gosto, meio limão A.; BORGO, L. A. Alquimia dos alimentos. 3. ed. Brasília: Editora
espremido, um pouco de água e a famosa manteiga clarificada. Senac, 2018. 310p.
Conhecida como manteiga puxada e como ghee na cozinha
indiana, a clarificação da manteiga é um método através do qual se 10. HAUMONT, R. Um químico na cozinha: a ciência da cozinha
separa os sólidos de leite, água e gordura existentes na manteiga. Esse molecular. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. 168p.
processo é feito com o intuito de se utilizar somente a gordura existente,
que terá um ponto de queima (ou ponto de fumaça) maior do que o da 11. FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança dos alimentos. 2. ed.
manteiga integral. É utilizada quando se quer obter o sabor da manteiga Porto Alegre: Artmed, 2013. 602p.
em processos nos quais se necessita de altas temperaturas (por exemplo,
batata rõsti). (12). 12. KÖVESI, B.; SIFFERT, C.; CREMA, C.; MARTINOLI, G. 400g:
Após separar todos os ingredientes, foi colocada uma panela Técnicas de cozinha. 4. ed. São Paulo: Nacional, 2007. 576p.
com água no fogo até levantar fervura. Logo após foram adicionadas as
5 gemas com um pouco de água para o banho-maria e batidas com um 13. WRIGHT, J.; TREUILLE, E. Le Cordon Bleu: Técnicas culinárias.
fouet até levantar espuma e cozinharem. Em seguida a manteiga São Paulo: Marco Zero, 2017. 352p.
clarificada foi adicionada em fios com o objetivo de emulsionar e
espessar o molho. Quando o mesmo atingiu a consistência desejada,
adicionou-se o suco de limão, sal e pimenta-do-reino branco,
finalizando o molho Hollandaise, base para o molho de murici.
Adicionando diferentes sabores ao sauce Hollandaise
básico, outros molhos clássicos podem ser criados. Misture 1 colher
(sopa) de mostarda Dijon para fazer molho moutarde. (13).
Partindo desse mesmo princípio, foi adicionado, também, 1
colher (sopa), porém, de redução de polpa de murici. Para obtê-la foi
colocada a sua polpa em uma panela e levada ao fogo brando para
reduzir. Após estar bem concentrada foi adicionada ao molho
Hollandaise, dando uma alternativa de molho com utilização desta
fruta.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Discentes do curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. Email:
lucasvascdeoliveira@gmail.com
2
Orientadoes. Docentes do curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
INTRODUÇÃO denominação também era utilizada para identificar um tipo de armário que
era utilizado nesse setor para estocar alimentos que necessitavam de
Kövesi et al. dizem que o Garde Manger é a parte fria da cozinha. (1), ambientes frescos, como carnes curadas, embutidos e outros. (4)
pois é nesta área que são preparados saladas, charcutaria, O profissional do Garde Manger é responsável pelo preparo de diversos
patés, galantines, hors-d'oeuvres, sanduíches frios e quentes, e também alimentos frios e processados, como queijos, linguiças, presuntos, patês,
decorações, assim como etapas do pré-preparo, como a higienização picles e terrines, bem como, sopas frias, saladas, hors-
e porcionamento dos alimentos. Para o autor, a concepção e uso dos d’oeuvre, sanduiches, molhos frios, entre outros (2). Além disso, o Garde
molhos é um exemplo de “expertise” dos chefs e cozinheiros. Isso porquê, Manger também é responsável pelas etapas de pré-preparo, como
nos tempos remotos da gastronomia, muitos molhos eram usados para a higienização dos insumos que serão utilizados, o devido corte
encobrir o sabor forte das carnes e de pratos sem temperos, geralmente e porcionamento destes, a estocagem correta dos alimentos utilizados
sendo bem gordurosos (1). antes, durante e depois do preparo, bem como a limpeza da sua praça de
Porém, hoje, sabe-se que os molhos são utilizados para valorizar as trabalho.
preparações, e não encobrir o sabor das mesmas. Para Instituto Americano Os molhos frios mais utilizados no Garde Manger são: as emulsões
de Culinária, os molhos e sopas estão entre os primeiros testes reais da frias, podemos citar a maionese e o vinagrete; os molhos à base de
habilidade de um chef. (2), ou seja, o gastrônomo não pode trabalhar com laticínios, sendo os mais famosos são molhos a base de queijos, iogurte,
“achismos” e /ou sem embasamentos, visto que no Garde Manger as sopas molhos enriquecidos com creme de leite e outros; a salsa, que é um molho
e molhos precisam ser muito mais atrativos e aromáticos que os molhos e típico mexicano; o coulis, que é produzido a partir de frutas ou legumes,
sopas preparados na cozinha quente, por exemplo (não que as preparações cozidos ou crus; e os molhos de cobertura (1).
desta cozinha não devam ter tais características), ou seja, a cozinha fria e As emulsões podem ser divididas em: emulsão temporária, como é o
o profissional que a compete tende a prezar bastante por técnicas, exemplo do do vinagrete, e emulsão permanente, como é o exemplo da
qualidade e frescor dos insumos, além do conhecimento dos alimentos e maionese, tendo, cada uma dessas preparações, uma proporção específica
equipamentos utilizados. para serem executadas corretamente. Para o vinagrete, existe
A pesquisa tem por objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os concordância entre os autores consultados, ambos concordam quanto a
molhos frios do Garde Manger, abordando suas técnicas de execução, proporção básica de um vinagrete: 3 (três) partes de óleo para 1 (uma) de
insumos base e proporções básicas de alguns deles, como a maionese e o ácido, podendo haver variações de acordo com o grau de acidez do ácido
vinagrete, por exemplo. utilizado. Quanto a maionese, os autores citam que a proporção básica de
uma maionese é de 180 ml a 240 ml de óleo para 1 gema (1,2).
MATERIAIS E MÉTODOS Kövesi et al. afirmam que os molhos à base de laticínios não seguem
regras ou técnicas específicas. (1) Ou seja, como os molhos de laticínios
O presente trabalho enquadra-se em uma pesquisa com natureza podem ser feitos com vários ingredientes, as texturas são as mais variadas
qualitativa, já que Appolinário quando citado por Mota explica que é a possíveis, podendo ir dos mais fluidos até os mais firmes (2). Kövesi et
mais adequada para o estudo dos fenômenos, onde os dados são obtidos al. Trazem que ss molhos à base de laticínios mais comumente usados
utilizando-se de interações interpessoais, não sendo possível mensurar os no garde manger são: creme azedo (sour cream), molhos à base de
resultados por meios numéricos e estatísticos. (3), isso porque, os dados queijos (com queijos cremosos em geral), molhos com iogurte, molhos
da mesma foram obtidos através de uma revisão bibliográfica, não sendo enriquecidos com creme de leite fresco, entre outros (1).
possíveis mensura-los por números ou estatísticas. Já quanto aos coullis, Kövesi et al. se referem a ele como um molho
Quanto aos objetivos, trata-se uma pesquisa exploratória, pois Mota cita produzido a partir do purê de legumes ou de frutas, cozidos ou crus. (1),
Dencker trazendo a seguinte informação: A pesquisa exploratória procura assim como Instituto Americano de Culinária, que diz que os coulis são
aprimorar idéias ou descobrir intuições. Caracteriza-se por possuir um feitos amassando-se frutas e vegetais cozidos até que adquiram uma
planejamento flexível envolvendo em geral levantamento bibliográfico, consistência próxima à de um molho. (2). O coullis pode sofrer alterações
entrevistas com pessoas experientes e análise de exemplos similares (3). na textura de acordo com a fruta ou legume utilizado, podendo ir dos mais
Logo, o estudo foi desenvolvido por meio do levantamento bibliográfico, leves aos mais ásperos.
que buscou contextualizar e conceituar o Garde Manger, além de Kövesi et al. definem o molhos de revestimento (aspic) como
apresentar os molhos frios desta cozinha. um consommé gelatinizado (1), e Instituto Americano de Culinária refere-
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, já que de acordo com Mota, se ao aspic como uma mistura clara, que se é obtida por meio do
entende-se como pesquisa bibliográfica o estudo realizado a partir de clareamento de caldos e sucos, por exemplo, em que se adiciona gelatina
informações obtidas em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas (3), até obter a consistência desejada (2). Já o chaud froid é uma combinação
a temática aplicada foi: Garde Manger e Molhos Frios de gelatina, creme e velouté ou béchamel (1), derivado do aspic. Instituto
do Garde Manger. Os dados foram coletados através de fichamento, pois Americano de Culinária complementa ainda que, além dessas
segundo Mota, pode-se considerar o fichamento com uma das técnicas, já combinações, pode-se adicionar ainda à gelatina o demi-glace ou a
que é possível realizar uma pesquisa exclusivamente bibliográfica, sendo maionese, sempre mornos (2).
assim, a forma mais completa para se analisar os dados relevantes, é esta Os molhos de cobertura são usados para várias finalidades, e a proporção
técnica (3). de gelatina muda para cada uma delas. Estes molhos podem ser utilizados:
em: porções de carne ou peixes; para revestir itens individuais; em
RESULTADOS E DISCUSSÃO revestimento de travessas para exibição e também na preparação de
mousses.
O garde manger é o termo usado para designar a cozinha fria, a palavra é
de origem francesa e possui o significado de “guardar comida”, pois essa
269
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERENCIAS
270
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Débora da Silva1, Maria Carolina de Lima2, Regina Costa1, Wenicios Chaves3, Pedro César do Nascimento3,
Viviane Xavier4.
1
Graduada em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2Graduanda em Nutrição, Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). 3Mestre em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 4Docente do Curso de
Graduação em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Autor para correspondência: carolina.cavalcantilima@ufpe.br.
271
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
272
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Utilização de cervejas especiais como ingredientes estrela para fichas técnicas de preparação
culinária
Palavras-chave: cervejas gourmet, teste afetivo, pontos, que variava entre as impressões “gostei muitíssimo” ao “desgostei
muitíssimo” (8, 9).
zitogastronomia
Resultados e Discussão
Introdução Os resultados referentes ao teste afetivo das preparações culinárias
A utilização de vinhos como ingredientes para a elaboração de com cervejas estão apresentados na tabela 1.
preparações culinárias, principalmente servindo como uma base para
reduções, vem sendo utilizada em vários pratos pesquisados nos anos Tabela 1. Notas médias do teste afetivo de aceitação de preparações
recentes (1, 2, 3), o que pode ser justificado pelo fato dos vinhos serem culinárias elaboradas com cervejas especiais como ingredientes estrela.
bebidas tradicionalmente muito correlacionadas à gastronomia e Preparação
Aparência Aroma Textura Sabor
enogastronomia. Por outro lado, o emprego de cervejas (que também são culinária
bebidas alcoólicas de ampla aceitação em muitas culturas) para essa Sopa de 7,5 7,0 7,5 6,5
finalidade não é observado com a mesma frequência, podendo ser mandioca
considerado uma iniciativa pouco usada no desenvolvimento de fichas com aipo
técnicas de preparação culinária, uma das atividades elementares para a Risoto de 8,5 7,5 9,0 9,0
gestão em operações de food service. alho poró e
Como exemplo da elaboração de preparações culinárias com bacon
cervejas, cita-se uma pesquisa (4) que avaliou a utilização dessas bebidas Brigadeiro de 9,0 8,0 8,0 7,5
como ingredientes para marinadas de carnes grelhadas. Em outro trabalho cacau a 50%
semelhante (5) os autores desenvolveram e avaliaram preparações como Bolo de 8,5 8,0 9,0 9,0
molho vinagrete, panqueca, mingau de centeio, sopa de cenoura, peixe banana com
cozido no vapor e costela com a adição de cervejas. canela
De acordo com a legislação brasileira (6), artigo 2º, conforme Fonte: As autoras.
definido no art. 36, do Decreto nº 6.871, de 2009, a
Cerveja é a bebida resultante da fermentação, a partir da Embora pareça inusitada a inserção da cerveja em uma ficha técnica
levedura cervejeira, do mosto de cevada malteada ou de de uma sopa, as médias do teste de aceitação evidenciaram resultados
extrato de malte, submetido previamente a um processo de razoáveis na avaliação de três dos quatro atributos sensoriais pesquisados
cocção adicionado de lúpulo ou extrato de lúpulo, hipótese em (aparência, aroma e textura) na sopa de mandioca com aipo, adicionada
que uma parte da cevada malteada ou do extrato de malte de uma cerveja Pilsen que também contém mandioca em sua composição.
poderá ser substituída parcialmente por adjunto cervejeiro. Com relação ao sabor, que apresentou a menor média, é relevante estudar
Essas bebidas apresentam características sensoriais apreciáveis, possíveis meios de aprimorar esse atributo, como, por exemplo, inserindo
como aromas e sabores resultantes da atividade microbiana durante os novos temperos. Em pesquisa de Paulsen, Rognsåa e Hersleth (7), que
processos fermentativos, fato que permite explorar as mesmas não apenas estudaram harmonizações de sopas com cervejas, os autores verificam
como elementos para harmonização com alimentos (na chamada resultados positivos para esse tipo de combinação, abrindo possibilidades
zitogastronomia), mas também como ingredientes para a elaboração de para usos variados das cervejas no que tange à zitogastronomia e à
fichas técnicas de preparação culinária diferenciadas. culinária.
O objetivo do presente trabalho foi desenvolver quatro preparações A análise sensorial do risoto de alho poró e bacon, uma receita
culinárias com a inserção de cervejas especiais como ingredientes estrela, inspirada na versão tradicional com inserção de vinho branco,
e avaliar sensorialmente esses produtos a partir de testes de aceitação e demonstrou médias consideráveis na avaliação de todos os atributos
intenção de compra. sensoriais pesquisados, com destaque para a textura e o sabor. Como esse
risoto apresentava bacon em sua composição, uma matéria-prima de
Materiais e Métodos sabor e aroma marcantes, pensou-se numa cerveja Belgian Strong Ale,
uma bebida de sabor também pronunciado, para a criação dessa ficha
Desenvolvimento dos produtos técnica. Segundo Debatin et al. (10), em uma pesquisa contemplando a
Para desenvolver essas preparações, foram usadas como bases as análise sensorial de cervejas do estilo blond ale, estas também receitas da
metodologias adaptadas de Ryapushkina et al. (5) e Paulsen, Rognsåa e escola cervejeira belga, atributos como aroma e sabor são importantes
Hersleth (7), sendo as cervejas adicionadas em temperatura ambiente às nesse tipo de cerveja.
preparações culinárias. Foram elaboradas as fichas técnica para quatro Para a elaboração do brigadeiro, houve uma etapa inicial de elevação
preparações culinárias tendo cervejas especiais como ingredientes estrela, do pH da cerveja Stout com adição de bicarbonato de sódio para evitar a
a saber: coagulação de proteínas do leite condensado também presente na
formulação, prevenindo a formação de uma textura flocada dessas
1. Sopa (tipo caldo) vegana de mandioca e aipo com adição de uma proteínas do leite coaguladas no produto pronto. A ideia de criação dessa
cerveja Pilsen proveniente de Ribeirão Preto, São Paulo; ficha técnica surgiu com a leitura do trabalho de Flores et al. (11), que
2. Risoto de alho poró e bacon com adição de uma cerveja Belgian Strong estudaram aspectos sensoriais de uma cerveja de chocolate e caramelo.
Ale, proveniente da Bélgica; Como a Stout apresenta notas intensas de cacau tanto no sabor quanto no
3. Brigadeiro de cacau a 50% (receita tradicional) com adição da uma aroma, sua inserção no brigadeiro foi considerada interessante, hipótese
cerveja Stout (Speciality Beer), proveniente de Campos do Jordão, São corroborada pelas altas médias alcançadas pelo doce da presente
Paulo; pesquisa.
4. Bolo de banana e canela com substituição do leite integral por uma Sobre os resultados da avaliação dos atributos sensoriais do bolo de
cerveja Weiss Beer, proveniente de Ribeirão Preto, São Paulo. banana com canela, foram observadas médias expressivas na avaliação de
todos os atributos pesquisados. Pesquisas pregressas já comentaram sobre
Análise sensorial a associação entre frutas e cervejas no desenvolvimento de novas
A análise sensorial foi efetuada no Laboratório de Alimentos e formulações dessas bebidas (12), fato que fomentou a ideia de usar a
Bebidas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com cerveja como ingrediente para uma ficha técnicas incluindo também uma
a participação de 50 julgadores não treinados no painel sensorial, fruta, neste caso, a banana prata.
selecionados de forma aleatória. Esses indivíduos avaliaram as
preparações culinárias em função de seus atributos sensoriais (aparência,
aroma sabor e textura), usando uma escala hedônica estruturada de nove
273
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fonte: As autoras.
Referências
1
Kekelidze, I. et al. Phenolic antioxidants in red dessert wine produced
with innovative technology. Annals of Agrarian Science, 2018, v.16,
p.34-38.
2
Rognsåa, G. H. et al. From wine to wine reduction: Sensory and
chemical aspects. International Journal of Gastronomy and Food
Science, 2017a, v.9, p.62–74.
Fonte: As autoras. 3
Rognsåa, G. H. et al. From wine to hollandaise sauce: Does the nature of
the wine or wine reduction influence sensory attributes? International
O risoto, mesmo com a substituição do vinho branco pela cerveja Journal of Gastronomy and Food Science, 2017b, v.9, p.75–87.
belga, apresentou alto percentual de intenção de compra, considerando 4
Vidal, N. P. et al. Novel unfiltered beer-based marinades to improve the
que as respostas dos julgadores perfizeram 86% do total das impressões nutritional quality, safety, and sensory perception of grilled ruminant
“compraria”. Um julgador mencionou que o produto “parece feito com meat. Food Chemistry, 2020, v.302, 125326
vinho e o sabor lembra queijo (brie ou camembert)”. 5
Ryapushkina, J. et al. Cooking with beer: How much alcohol is left?
International Journal of Gastronomy and Food Science, v.5, n.6,
Figura 3. Resultados referentes à intenção de compra do brigadeiro com p.17– 26, 2016.
cacau e cerveja Stout (Speciality Beer). 6
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução
Normativa nº 65, de 10 de dezembro de 2019. Padrões de identidade e
qualidade para os produtos de cervejaria. Diário Oficial da União, de 11
de dezembro de 2019.
7
Paulsen, M. T.; Rognsåa, G. H.; Hersleth, M. Consumer perception of
food–beverage pairings: The influence of unity in variety and balance.
International Journal of Gastronomy and Food Science, v.2, p.83–92,
2015.
8
Meilgaard, M.; Civille, B.; Carr, T. Sensory evaluation techiniques.
3a.ed. Boca Raton: CRC Press, 1999. 350p.
9
Sidel, J. L. Sensory evaluation practices. Orlando: Academic Press,
1985. 287p.
10
Debatin, A. H. et al. Produção de cerveja: análise sensorial das blond ale
produzidas. REAI – Revista de Estudos Acadêmicos Interdisciplinar,
Fonte: As autoras. v.1, n.1, p.1-11, 2017.
11
Flores, A. B. et al. Perfil sensorial e avaliações físico-químicas de
Percebeu-se que 94% do painel sensorial apontou alguma impressão cerveja artesanal de chocolate e caramelo. Revista Destaques
sobre o interesse de comprar o brigadeiro, este um resultado esperado Acadêmicos, v.7, n.4, p.158-166, 2015.
considerando a ampla aceitação dos consumidores em geral pelo produto
12
Pinto, L. I. F. et al. Desenvolvimento de cerveja artesanal com acerola
em sua versão convencional, bem como por suas variações, mais (Malpighia emarginata DC) e abacaxi (Ananas comosus L. Merril).
Revista Verde, v. 10., n.4, p.67 - 71, 2015.
274
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação química e sensorial de uma kombucha produzida artesanalmente com chá verde e
suco de graviola
Palavras-chave: alimentação viva, fermentação, 7) Quando o chá estiver em temperatura ambiente, colocá-lo em
um frasco de 500mL com o disco de SCOBY e metade do
probióticos, crudivorismo açúcar orgânico ou demerara;
8) Cobrir o frasco com vual ou “falso” tecido ou material
Introdução semelhante (não tampar);
Dentre os alimentos fermentados não lácteos cita-se a bebida 9) Reservar o chá por três dias;
kombucha, também denominado kombuchá, um tipo de produto 10) Depois desse período, separar o chá do SCOBY, colocando o
geralmente preparado com chás ricos em teína (uma substância análoga à chá em um frasco de 1L com tampa (com auxílio de um funil);
cafeína) como o chá verde e o chá preto, que vem se popularizando no 11) A esse chá adicionar 500 mL do suco de graviola e a outra
Brasil nos anos recentes. metade de açúcar orgânico ou demerara;
Por ser um produto cujo consumo é relativamente novo no país, até o 12) Reservar o conteúdo da garrafa por mais três dias e consumir.
ano passado não existiam parâmetros brasileiros legais definindo o As matérias-primas utilizadas no preparo da bebida, bem como suas
padrão de identidade e qualidade da bebida. Somente com a publicação respectivas quantidades, estão apresentadas no quadro 1.
da Instrução Normativa nº 41, de 17 de setembro de 2019 (1), passou-se a
definir kombucha como “a bebida fermentada obtida através da Quadro 1. Matérias-primas empregadas (e suas respectivas quantidades)
respiração aeróbia e fermentação anaeróbia do mosto obtido pela infusão na elaboração de uma kombucha com suco de graviola.
ou extrato de Camellia sinensis e açúcares por cultura simbiótica de
bactérias e leveduras microbiologicamente ativas (SCOBY)”.
O kombucha é uma bebida funcional consumida em todo o mundo,
destacando-se principalmente em função de suas propriedades
probióticas. Uma vez que há probióticos em sua composição, este produto
promove diversos benefícios à saúde, como a capacidade de estimular o
sistema imunológico, auxiliar na digestão, melhorar o trânsito intestinal,
reduzir o risco de alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares, além
de prevenir infecções (2).
A elaboração dessa bebida pode ocorrer de maneira artesanal ou
industrial, pela fermentação de chá açucarado com uma simbiose de
Fonte: As autoras.
espécies de levedura, fungos e bactérias de ácido acético à temperatura
ambiente por até 14 dias. Tempos maiores podem ser empregados, mas o
Depois de pronto, o produto foi armazenado em temperatura de
aroma e o sabor da bebida se assemelharão às do vinagre (3).
refrigeração até o momento das análises.
Os ingredientes básicos necessários para elaborar esse tipo de produto
são: chá verde ou preto, água filtrada e fervida, açúcar orgânico ou
Análise sensorial
demerara, disco de SCOBY (Symbiotic Culture of Bacteria and Yeasts),
A análise sensorial, assim como as análises químicas, foi realizada no
que é uma matriz formada por várias bactérias do ácido lático e do ácido
Laboratório de Alimentos e Bebidas da Universidade Federal Rural do
acético, bem como leveduras (1, 4).
Rio de Janeiro (UFRRJ), com 50 julgadores não treinados, que avaliaram
Com o objetivo de pesquisar um novo sabor para a kombucha, essa
a kombucha segundo atributos aparência, aroma, textura e sabor, usando
pesquisa desenvolveu e analisou uma kombucha de chá verde com
uma escala hedônica estruturada (nove pontos), variando entre as
graviola (Annona muricata L.) produzida artesanalmente, em escala
impressões “gostei muitíssimo” ao “desgostei muitíssimo” (7, 8).
laboratorial.
Análises químicas
Materiais e Métodos
Foram determinados °Brix, segundo método do Instituto Adolfo
Lutz (9), pH, acidez em ácido cítrico e acidez em ácido acético segundo a
Desenvolvimento do produto
Association of Official Analytical Chemistry (10).
A opção pela graviola para saborizar a kombucha ocorreu após uma
pesquisa on-line acerca de frutas brasileiras já utilizadas para a
Resultados e Discussão
elaboração de versões comerciais da bebida, quando foi possível perceber
Os resultados referentes ao teste afetivo da kombucha com suco de
que a graviola ainda não havia sido usada em nenhuma kombucha
graviola estão apresentados na tabela 1.
disponível à venda, ou estudada em pesquisas pregressas com esse tipo de
chá.
Tabela 1. Notas médias do teste afetivo de aceitação da kombucha com
Além disso, como a polpa desse fruto já foi usado na elaboração de
suco de graviola.
uma bebida probiótica (kefir) em um estudo de Contim, Oliveira e
Cardoso Neto (5), pensou-se em usar o mesmo ingrediente para criar
outra bebida fermentada, também com propriedades funcionais.
Optou-se pelo emprego do chá verde para a presente pesquisa em
função de sua maior atividade antioxidade, conferida pela presença de
substâncias fenólicas como as catequinas, e também pelo considerável
estímulo à sobrevivência de microrganismos probióticos (6). Para Fonte: As autoras.
elaborar a bebida em questão, foram executados os seguintes
procedimentos operacionais, todos em temperatura padronizada em Entre os atributos sensoriais avaliados, destaca-se a textura do
25º.C: kombucha de graviola, que apresentou nota média de 7,68. O kombucha,
1) Organizar o mise en place; também conhecida como bio-chá (11), é uma bebida levemente
2) Ferver 500 mL de água; gaseificada, sendo o gás carbônico formado naturalmente durante o
3) Retirar essa água do aquecimento quando a mesma ferver; processo de fermentação do produto. Essa característica agradável pode
4) Adicionar os sachês de chá verde; ter influenciado positivamente a avaliação da textura. Já a aparência foi o
5) Com auxílio de uma colher pressionar cuidadosamente os atributo que recebeu a menor nota média entre os atributos avaliados
saches para facilitar a extração do chá; (5,68), possivelmente porque o produto, embora contenha polpa da
6) Deixar o chá resfriar com os sachês; graviola em sua formulação, que possui cor clara, em tom esbranquiçado,
275
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
apresentou um tom castanho típico do chá verde comercial (vendido em Diferentes concentrações de açúcar adicionadas às kombuchas
sachês) quando submetido ao processo de fermentação com o SCOBY proporcionaram alterações em quase todos os parâmetros dessa bebida,
inerente ao preparo da kombucha. exceto no teor de álcool e nos valores de pH da bebida. Os valores de pH
Aroma e textura são importantes critérios em termos de avaliação diminuem com o passar das semanas, porém mostra-se mais estável nas
sensorial, pois influenciam o consumidor no que tange à intenção e à bebidas em frasco fechado e sob refrigeração (18), mesmas condições de
decisão de compra (12). A aparência, que envolve entre outras armazenamento empregadas para a kombucha com graviola.
características a luminosidade, é o primeiro atributo a despertar a atenção Em uma outra pesquisa, de Neffe-Skocińska et al. (19), que
do consumidor, e serve para que esse possa criar expectativas sobre a fermentaram um chá misto (verde e preto) em temperaturas de 20ºC, 25ºC
percepção sensorial do produto (13). e 30ºC por sete dias, apresentou valores de pH de 2,88, 2,79 e 2,71,
Embora a kombucha possa ser consumida sem quaisquer ingredientes respectivamente, também menores que aqueles observados na kombucha
além do chá contendo teína e do açúcar, a mistura do chá fermentado com suco de graviola.
associado a algum suco é comum (14), sendo esta uma estratégia que
pode favorecer a aceitação do produto, contribuindo também para Conclusão
diversificar as maneiras de consumir essa bebida. Com a análise sensorial dos julgadores foi possível concluir que o
kombucha de sabor graviola atingiu resultados consideráveis após a
Teste de intenção de compra análise dos atributos sensoriais (aroma, textura, sabor e aparência).
A figura 1 apresenta os resultados referentes à intenção de compra Considerando os resultados do teste de intenção de compra, foi possível
da kombucha desenvolvida na presente pesquisa. afirmar que o produto atingiu resultados satisfatórios, indicando então
uma potencial demanda pelo kombucha de graviola caso o produto seja
Figura 1. Resultados referentes à intenção de compra da kombucha com inserido em um cardápio de um estabelecimento de food service. Já com
suco de graviola. relação aos resultados das análises químicas, o pH da kombucha com
graviola apresenta-se dentro da faixa de normalidade definida pela
legislação brasileira, e possui um valor discreto de °Brix.
Referências
1
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Padrão de
identidade e qualidade da kombucha. Diário Oficial da União, de 18 de
setembro de 2019.
2
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bacteriocin made by Lactobacillus plantarum found in conventional
kombucha. Food Control, 2020, v.110, 106923.
3
Fu, C. et al. Antioxidant activity of kombucha prepared from three
different substrates and changes in content of probiotics during storage.
Food Science and Technology, 2014, v.34, n.1, p.123-126.
4
Kapp, J. M.; Sumner, W. Kombucha: a systematic review of the
empirical evidence of human health benefit. Annals of Epidemiology,
Fonte: As autoras. 2019, v.30, p.66-70.
5
Contim, L. S. R.; Oliveira, I. M. A.; Cardoso Neto, J. Avaliação
Ressalta-se que, aglutinando os resultados referentes aos microbiológica, físico-química e aceitação sensorial do kefir com polpa
posicionamentos “certamente compraria” (16%) e “provavelmente de graviola. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, 2018,
compraria” (42%), o produto alcançou 58% de intenção de compra nesses v.73, n.1, p.1-9.
dois pontos da escala. Embora não seja exatamente um produto novo, a 6
Lacey, A. M. L. et al. Survival and metabolic activity of probiotic
kombucha não é consumida como um produto comum na rotina de bacteria in green tea. LWT - Food Science and Technology, 2014, v.55,
muitos indivíduos, fato que pode ter influenciado esses resultados. p.314-322.
Destaca-se que, a partir da realização da revisão de literatura, foi possível 7
Meilgaard, M.; Civille, B.; Carr, T. Sensory evaluation techiniques.
verificar que são escassas as publicações envolvendo a análise sensorial 3a.ed. Boca Raton: CRC Press, 1999. 350p.
de kombuchas, fato que aponta o recente interesse da comunidade 8
Stone, H.; Sidel, J. L. Sensory evaluation practices. Orlando: Academic
acadêmica sobre esse produto. Apesar disso, verificou-se também que Press, 1985. 287p.
esse produto já teve suas propriedades probióticas (15) e antioxidantes 9
Instituto Adolfo Lutz (IAL). Métodos físico-químicos para análise de
(14) atestadas em estudos pregressos. alimentos. 4a.ed. São Paulo: IMESP, 2008. 1020 p.
10
Association of Official Analytical Chemistry (AOAC). Official
Análises químicas methods of analysis.18° ed. Gaithersburg, M. D. U.S.A., 2005.
Os resultados referentes às análises químicas estão na tabela 2. 11
Lobo, R. O.; Sagar, B. K. C.; Shenoy, C. K. Bio-tea prevents membrane
destabilization during isoproterenol-induce myocardial injury. Journal os
Tabela 2. Resultados referentes às análises químicas da kombucha com Microscopy and Ultrastructure, 2017, n.5, p.146 – 154.
suco de graviola. 12
Bosse, R. et al. Recent advances in cured raw ham manufacture.
Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 2018, v.58.
13
Quadros, D. A.; Rocha, I. F. O.; Ferreira, S. M. R.; Bolini, H. M. A.
Low-sodium fish burgers: Sensory profile and drivers of liking. LWT -
Food Science and Technology, 2015, v.63, v.236-242.
14
Sun, T. Y.; Li, J. S.; Chen, C. Effects of blending wheatgrass juice on
enhancing phenolic compounds and antioxidante activities of traditional
Fonte: As autoras. kombucha beverage. Jornal of Food and Drug Analysis, n.23, 2015,
p.709 – 718.
A composição final da kombucha pode variar de produção a
15
Wolfe, B. E.; Dutton, R. J. Fermented foods as experimentally tractable
produção, dependendo do tipo de SCOBY inoculado, chá utilizado, microbial ecossystems. Cell, 2015, n.162, p.49 – 55.
tempo de fermentação e temperatura durante o processo (16).
16
Jayabalan, R. et al. A review on kombucha tea: microbiology,
Santos et al. (17) encontraram valores de °Brix maiores que o da composition, fermentation, beneficial effects, toxicity, and tea fungus.
presente pesquisa para amostras de kombuchas elaboradas com chás preto Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, 2014, v.13,
e verde após três dias de fermentação a 28º.C, ou seja, 16,8 e 14,75, n.4, p.538-550.
respectivamente. Sobre o pH, os autores observaram valores inferiores
17
Santos, Y. M. A. et al. Avaliação da composição de kombucha a base de
aos da kombucha com suco de graviola desenvolvida na presente diferentes chás (verde e preto). Revista Brasileira de Gestão
pesquisa, iguais a 3,02 para a amostra com chá preto e 2,52 com chá Ambiental, 2019, v.12, n.03, p. 01-06.
verde. Esse pH maior da amostra desta pesquisa pode ter relação com o
18
Cintra, B.P.G. Desenvolvimento e avaliação de formulações de chá
fato desta bebida ter passado por duas etapas de fermentação, o que fermentado (kombucha). Revista Científica UMC, Edição Especial
permitiu uma maior produção de ácidos orgânicos. Segundo a Instrução PIBIC. Mogi das Cruzes, 2018.
Normativa nº 41/2019 (1), que determina o padrão de identidade da
19
Neffe-Skocińska, K. et al. Acid contents and the effect of fermentation
kombucha, o pH da bebida deve estar compreendido entre 2,5 e 4,2. condition of Kombucha tea beverages on physicochemical,
276
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
277
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Caroline Saidel¹*, Suéli de Lima¹, Gabriella Keber², Michele C. F. Garcia², Marcia L. Silveira², Mariana Duprat²
¹Academicas do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille
²Docentes do do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille
carolinesaidel0@gmail.com
Palavras chave: Análise descritiva quantitativa, CATA, Produto artesanal e Cana de açúcar
278
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
em:https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/indicacoes-
geograficas/pedidos-de-indicacao-geografica-no-brasil.
6 - Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina – Epagri, 18p.
2017-2018.
7 - Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para
análise de alimentos/coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco
Pascuet e Paulo Tiglea -- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008 p.
1020
8 - MEYNERS, M.; CASTURA, J. C. Check-All-That- Apply
Questions. In; P. Varela & G. Ares (Eds.). Novel Techniques in
Sensory Characterization and Consumer Profiling. Boca Raton: CRC
Press, Taylor & Francis Group, p. 272-305, 2014.
9 - BARRETO, Pedro PAFA Pereira et al. Avaliação físico-química e
sensorial de diferentes melados. BRAZILIAN JOURNAL OF
AGRICULTURE-Revista de Agricultura, v. 90, n. 3, p. 217-228,
2015.
10 - VARELA, P; ARES, A. Sensory profiling, the blurred line
between sensory and consumer science. A review of novel methods
for product characterization. Food Research International, 48 (2012)
893-908.
11 - RUPINI, R. V.; NANDAGOPAL, R. A Study on the Influence of
Senses and the Effectiveness of Sensory Branding. Journal of
Psychiatry, v. 18, n. 2, p. 236, 2015.
279
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
280
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
6% 66%
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freeganos. Ciências Sociais Unisinos, Porto Alegre, v. 49, n. 2,
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<http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/vie
Fonte: Dados da pesquisa. w/csu.2013.49.2.07/2589>. Acesso em: 14 dez. 2015.
2. ALMEIDA, L. S. “Nem Peixe”: Práticas a Relações Sociais aa
Quanto a impressão global do brigadeiro elaborado, 84% dos Culinária Vegana. 2015. 48 f. Monografia (Especialização) - Curso de
participantes citaram respostas dentro da zona de aceitação, Sociologia, Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília,
enquanto que 3% alegaram ser indiferentes ao mesmo. Contudo, Brasília, 2014. Cap. 1. Disponível em:
13% afirmaram não gostar do produto (Figura 4). <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/9542/1/2014_LuizaSimaoAl
meida.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2015.
Figura 4 – Impressão global do brigadeiro vegano 3. LOPES, A. S.; PEZOA-GARCÍA, N. H.; AMAYA-FARFÁN, J.
Qualidade nutricional das proteínas de cupuaçu e de
cacau. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, n. 2,
Impressão Global p.263-268, abr. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/cta/v28n2/a01v28n2.pdf>. Acesso em:
13%
15 dez. 2015.
3%
4. MENDONÇA, C. R.; RODRIGUES, R. da S.; ZAMBIAZI, R. C.
Açúcar mascavo em geleiadas de maçã. Ciência Rural, Santa Maria,
v. 30, n. 6, p.1053-1058, dez. 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84% 84782000000600022&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 14
dez. 2015.
5. BORGES, J. T. da S. et al. Utilização de farinha mista de aveia e
trigo na elaboração de bolos. Boletim do Centro de Pesquisa de
Gostei Indiferente Desgostei
Processamento de Alimentos, Curitiba, v. 24, n. 1, p.145-162, jan.
2006. Disponível
Fonte: Dados da pesquisa
em:<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/alimentos/article/view/
5286/3957>. Acesso em: 03 jan. 2015.
O produto elaborado apresentou boa aceitação entre os provadores em
6. BROWN, L. et al. Cholesterol-lowering effects of dietary fiber: a
todos os atributos avaliados. Pires e Maneira (8) elaboraram brigadeiro
meta-analysis. The American Journal Of Clinical Nutrition,
com leite condensado de soja e obteve índice de aceitação
Rockville, v. 69, n. 1, p.30-42, jan. 1999. Disponível em:
semelhante com 86% de aprovação pelos consumidores, conforme
<http://ajcn.nutrition.org/content/69/1/30.full.pdf+html>. Acesso em:
atributo global.
03 jan. 2014.
Em relação a intenção de compra, 41% dos participantes
7. DUTCOSKY, S. D. Analise Sensorial de alimentos. 2. ed.
assinalaram que comprariam o brigadeiro elaborado, ao passo que
Curitiba: Champagnat, 2007.
22% não comprariam. Porém, 37% dos provadores citaram
8. PIRES, L. S.; MANEIRA, A. A. M. Análise das propriedades
respostas equivalente ao item “talvez comprasse, talvez não
sensoriais de brigadeiro de soja. In: Jornada Científica da
comprasse” (Figura 5).
Faculdades Associadas de Uberaba, 7., 2009, Uberaba.
Disponível em:
Figura 5 – Intenção de compra
<http://www.fazu.br/hd2/jornada2009/pdf/engenharia.pdf#page=7
3>. Acesso em 14dez. 2015.
9. SILVA, G. S. et al. Avaliação sensorial de doce de chocolate
Intenção de Compra “brigadeiro” com potencial funcional. Caderno Verde de
Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, Campina Grande,
v. 4, n. 1, p.119-124, dez. 2014. Disponível em:
<http://gvaa.org.br/revista/index.php/CVADS/article/view/2868/2
Compraria 620>. Acesso em: 04 jan. 16.
22%
41%
Talvez comprasse, talvez não
37%
Não compraria
281
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
282
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
As plantas espontâneas, conforme aparece em (3), podem ser Agropecuária – EMBRAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e
entendidas como espécies que nascem e se reproduzem Abastecimento. Brasília, 20 abr. 2018. Disponível em:
espontaneamente e não são cultivadas pelo homem. Estas plantas https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/33580014/mais-
podem ser classificadas como ervas daninha ou “pragas”, mas do-que-matos-elas-saoas-plantas-alimenticias-nao-convencionais-
também adverte que elas protegem o solo e contribuem, ao deixar pancs Acesso em: Agosto 2020
seus restos mortais, para adubar o mesmo.
Existem várias espécies de bredos ou carurus, conhecidas 9.P. CLEMENTE J. STEFFEN, S.J. PLANTAS MEDICINAIS
principalmente pelos agricultores, porque são consideradas ervas USOS POPULARES TRADICIONAIS2010 Instituto Anchietano de
invasoras. Mas, como outras invasoras, os mesmos têm também Pesquisas/UNISINOS
outras propriedades, pois podem ser ornamentais, comestíveis e
medicinais. Entre os vários bredos ou carurus, um dos mais úteis e
comuns é Amaranthus de flexus, da família Amaranthaceae. (9)
Existem dados estatísticos no Brasil que pelo menos 3 mil espécies
conhecidas de PANCs, estudos indicam que são consideradas 10% da
flora sejam de plantas alimentícias (2).
As plantas que crescem e são típicas de regiões, geralmente são
cultivadas por agricultores, e na maioria das vezes o consumo ocorre
na própria família, sem intuito comercial. Podendo ser também
utilizadas na Fitoterapia e medicina popular (2).
Os carurus são ricos em ferro, potássio e cálcio. Suas propriedades
medicinais são reconhecidas desde a antigüidade quando ele era
considerado símbolo da imortalidade, porque suas flores não
murcham, mesmo quando a planta morre, e, como as flores de umas
espécies têm cor vermelha viva, era usado para estancar hemorragias
(9).
Algumas indicações de usos medicinais: a decocção das folhas se
toma em casos de problemas de fígado, tais como dores e digestões
difíceis e na retenção de urina. A salada e o suco são diuréticos. O
pigmento vermelho de algumas espécies serve como corante de
alimentos e remédios (9)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
283
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Thanise de Nigro1
Introdução
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑑𝑜 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑧𝑖𝑑𝑜 (𝑔)
Uma unidade de alimentação e nutrição (UAN) é 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑐𝑟𝑢 (𝑔)
denominada como uma unidade de trabalho que desempenha
atividades relacionadas à alimentação e nutrição e tem por objetivo
fornecer refeições com qualidade sensorial, nutricional e higiênico- Em seguida, elaborou-se a tabela com os dados obtidos no
sanitária de modo a satisfazer o cliente (1). cálculo do IC dos diferentes tipos de macarrão seco comum.
A UAN deve buscar a melhora constante do trabalho,
padronizando as preparações, controlando os custos e planejando as Resultados e discussão
atividades visando evitar o desperdício de alimentos (1, 2).
O controle do desperdício depende, dentre outras questões, Os resultados obtidos, bem como os tempos de cocção
do conhecimento dos indicadores de preparo de alimentos, como o utilizados são apresentados na tabela abaixo:
indicador de conversão (IC), também conhecido como fator de
cocção (FCc) ou fator térmico (FT) que pode ser calculado pela Tabela 1 – Resultados da média obtida no indicador de conversão
relação entre o peso do alimento processado (após a cocção) e o peso de diferentes formatos de macarrão seco
do alimento no estado inicial (cru e limpo a ser utilizado na Formato do macarrão Indicador de Tempo de
preparação) (3). Segundo Domene (4) os indicadores são usados para conversão cocção
dimensionar a compra, o custo e o rendimento e auxiliam no Espaguete (número 8) 2,60 9 minutos
conhecimento do ganho ou perda de peso do alimento preparado. Pena 2,30 8 minutos
O IC reflete a perda de água ou a retração das fibras do Ave Maria 2,35 6 minutos
alimento, como por exemplo a carne, ou ainda, a hidratação durante a Parafuso 2,20 9 minutos
absorção de água em alimentos submetidos ao calor úmido, como a Fettuccine 2,50 10 minutos
cocção de alimentos fonte de amido (3). O conhecimento deste
indicador definirá o rendimento das preparações, a determinação da Por meio dos dados obtidos é possível identificar o
quantidade a ser preparada e a capacidade dos utensílios e/ou rendimento diferente nos formatos de macarrão que foram avaliados,
equipamentos que deverão ser utilizados (5). demonstrando que o conhecimento desses dados é essencial para
A partir destas considerações, fica evidente a importância de evitar que a produção de alimentos fique sub ou superestimada. Esse
se manter em perfeito funcionamento o uso do IC para estimativa indicador desempenha função importante dentro das UANs por
correta no preparo de alimentos e devido à escassez de dados na determinar a porção da preparação pronta a partir da quantidade de
literatura, o presente trabalho teve por objetivo calcular os alimento cru e limpo a ser destinado à preparação (6).
indicadores de conversão de diferentes formatos de massa alimentícia Na literatura, os indicadores apresentados são generalistas
tipo macarrão seco. para macarrão, na maior parte das vezes sem especificar seu formato,
como é o caso de Philipi (6) e Rodrigues (7) que descrevem o IC do
Metodologia macarrão como 2,5 e Ornellas (3) que descreve um IC = 3,0 para
“massa (espaguete, talharim)”. Na pesquisa realizada por Chaves e
A pesquisa foi conduzida no município de Londrina- Paraná, Silva et al. (8) o resultado foi específico para o formato espaguete,
mesmo local onde os alimentos foram adquiridos do comércio com IC = 2,48. Enquanto Menegassi e Leonel (2006) descreve um
varejista. Foram selecionados cinco diferentes formatos de massa aumento no peso após cozimento de massas de 295% na massa
alimentícia do tipo macarrão seco, sendo: espaguete (número 8), fresca, 319% em massa seca com ovos e 271% em massa seca
fettuccine, ave maria, parafuso e pena, sendo todos produzidos pelo integral (9).
mesmo fabricante, amplamente distribuído no comércio brasileiro. A Em preparações envolvendo macarrão, foi descrito na
composição de todos os produtos avaliados consistiu em sêmola de literatura IC = 1,36 para salada de macarrão, IC = 2,15 para macarrão
trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, corantes naturais: urucum à bolonhesa e IC = 1,05 para lasanha à bolonhesa (10). O
e cúrcuma. comportamento das massas alimentícias após o cozimento é um
Inicialmente, 200 gramas de cada produto foi pesado em parâmetro de qualidade para os consumidores, sendo citado por
balança digital da marca Ferimte® capacidade máxima 10 Kg e Hummel (11) que o parâmetro indicado é um IC entre 2,0 e 3,0.
graduação de 1 g e todas as amostras foram feitas em duplicada, com A diferença entre a quantidade de água absorvida irá
resultados apresentados na média dos valores obtidos. Para cocção depender dos tipos de farinha em sua composição, já que quanto
utilizou-se fogão doméstico de quatro bocas, com a chama mantida maior a porcentagem de farinhas que não seja de trigo, menor tende a
igualmente a fim de evitar diferença de temperatura entre as ser o aumento de volume, bem como o tempo de cozimento e o
amostras. Inicialmente, a água na proporção 10:1 indicada pelo formato da massa. Sendo que o conteúdo e qualidade de proteínas
fabricante foi fervida e, após a água atingir 100ºC, controlada por que ao se hidratarem e absorverem água também podem participar do
meio de termômetro de infravermelho, o alimento foi colocado em aumento de volume (12).
cocção, o tempo foi cronometrado e seguiu o tempo máximo Por isso, é indicado que cada empresa padronize uma tabela
recomendado pelo fabricante nas embalagens para cada um dos de indicadores, já que, além dos fatores citados, também podem
formatos de macarrão para obtenção da textura al dente. variar de acordo com a marca do produto adquirido, mão de obra do
Após o tempo recomendado, a água foi escorrida, o alimento serviço, utensílios, intensidade do calor, uso de pressão, entre outras
foi pesado para obtenção do peso do alimento processado e foi questões (3).
calculado o indicador de conversão (IC) por meio da seguinte
fórmula:
284
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusões
Referências
285
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
286
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
2. SILVA, T. S. G.; FURLANETTO, T. W. Diagnóstico de doença
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v. 56, n. 1, p. 122-126, 2010.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
287
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras chaves: análise sensorial, CATA (check all that apply), percepção, consumidores.
gabriela.yamamoto@univille.br
MATERIAS E MÉTODOS
CONCLUSÃO
288
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
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289
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação de tempo ideal de contato para metodologias de absorção de água ou óleo ao avaliar
fibra de pedúnculo de caju (Anacardium Occidentale L.) desidratada
¹Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE – Brasil, e-mail:
diogohmp2@gmail.com.
²DSc., Pesquisador na Embrapa Agroindustria Tropical, Fortaleza, CE – Brasil.
290
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
291
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Ingrediente proporção em %
Entrecasca de mandioca (g) 100
Água (L) 200
Sal (g) 6
Ácido cítrico (g) 1
Fonte: Autores (2019). Fonte: Autores (2019).
O desenvolvimento da conserva seguiu as seguintes etapas de Os itens que foram analisados como “não gostei”, ainda que
processamento: seleção, lavagem, despeliculagem, sanitização, índices baixos foram aroma (7,8%), cor (3,9%) e consistência
branqueamento, fervura de 20 minutos, envase com adição de (3,9%), contudo alcançaram a média de aceitação necessária. Vale
salmoura, pasteurização, resfriamento e armazenamento. ressaltar que nenhum dos participantes declarou “desgostei muito”
Para avaliar a aceitação do produto foi realizado um teste de e/ou “certamente não compraria” para os itens questionados. Isto
análise sensorial de aceitação no dia 29 de outubro de 2019, na demonstra que o produto obteve uma aceitabilidade bastante
cozinha experimental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na promissora ainda que contenha aspectos que podem ser melhorados.
cidade de São Paulo, com a participação de 51 provadores adultos
(maiores de 18 anos), ambos os gêneros, consumidores de palmito, CONCLUSÕES:
não treinados, formado por alunos da universidade. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade com o número de Constatou-se que a conserva elaborada foi muito bem aceita pelos
CAAE - 48483015.7.0000.0084. participantes da análise sensorial realizada ainda que haja
Cada indivíduo experimentou uma pequena porção do produto. Foi necessidade de melhorias no produto. De modo geral todos os
solicitado que o provador avaliasse o produto Palmanito em relação a indivíduos que experimentaram a conserva se surpreenderam
quatro critérios (aparência, sabor, aroma e textura) e nota global do positivamente com seu sabor e consistência e demonstraram apoio a
produto, de uma escala hedônica, com pontuação variando entre proposta do produto, uma vez que objetiva substituir o palmito de
gostei muitíssimo (nota 5,0) e desgostei muitíssimo (nota 1,0).
292
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS:
293
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Adriellen F. Mendes1, Sumaya F. Guedes2, Sumária S. Silva3, José W. P. Carvalho4, Claudinéia A. Q. Geraldi5, Raquel
A. Loss6
1
Engenheira de Alimentos, Licenciada em Química/Doutora em Ciências, 3Licenciada em Química/Doutora em
2
294
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 2: Parâmetros físico-químicos das polpas de graviola. É válido ressaltar que altas concentrações de etanol podem
Parâmetros analisados Composição (g 100g-1) intoxicar as leveduras e inibir a atividade metabólica, não consumindo
todos os açúcares disponíveis no mosto (12).
Umidade (%) 89,11±0,08 Com o teor de sólidos solúveis apresentou efeito
Cinzas (%) 0,37±0,01 estatisticamente significativo na fermentação alcoólica para o mosto
pH 3,54±0,03 de graviola, foi possível a obtenção de um modelo empírico para a
Sólidos solúveis totais (ºBrix) 11,38±0,17 produção de etanol, sendo que este modelo foi validado
Acidez em ácido cítrico (%) 0,91±0,01 estatisticamente (p<0,05) pela análise de variância (ANOVA). O
Os valores correspondem a média de triplicatas ± desvio padrão. valor de coeficiente de determinação (R 2) obtido na ANOVA foi de
Fonte: construção do Autor. 0,9476, de maneira que é possível sugerir que modelo pode explicar
aproximadamente 95% da variação total dos resultados. O valor de F
A análise de cinzas é importante para a detecção de resíduos calculado foi de 18,08, sendo superior ao F tabelado que foi 5,05,
inorgânicos (minerais) presentes nos alimentos e apesar do PIQ não condição essencial para a validação estatística do modelo empírico.
determinar valores máximos e mínimos para análises de cinzas em
polpas de frutas, os resultados obtidos estão próximos aos encontrados CONCLUSÃO
por Lima et al. (2015) que obtiveram resultados variando de 0,19 a
0,60 % para polpas de acerola e graviola. (10) As polpas apresentaram bons resultados na caracterização
De acordo com as diretrizes de padrões de identidade e físico-química corroborando com os parâmetros exigidos pelo (PIQ).
qualidade (PIQ), os valores de pH para polpas industrializada de Na fermentação alcoólica da polpa de graviola apenas o teor de
graviola deve ser de 3,50, acidez titulavel de 0,60% e o teor de sólidos sólidos solúveis interferiu de forma significativa na produção de
solúveis totais de 9,0 ºBrix. Dessa forma, observa-se que a polpa etanol, sendo as melhores condições experimentais estabelecidas em
avaliada se encontra dentro dos parâmetros legislados para 25°Brix e 18 horas.
comercialização (4).
295
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A busca por agregar valor às produções gastronômicas, Objetivou-se a criação de uma sobremesa onde foi
através das experiências sensoriais, favorece o uso de diferentes excluído o uso de insumos de origem animal, bem como se procurou
aditivos, os quais atuam na sua estruturação, mas que podem ser manter os aspectos sensoriais que tornam uma sobremesa interessante
multifuncionais, adicionando diferentes texturas, formas de libertação e atrativa. Para tanto foram utilizados diversos matizes de sabor, além
de sabores e permitindo ainda despoletar diferentes sensações. Dentro de diferentes texturas. Cabe ressaltar, que por ser livre de insumos de
deste contexto, destaca-se o uso dos hidrocoloides. origem animal e de lactose, este torna-se um produto que atende a
Os hidrocoloides são substâncias que apresentam diferentes dietas alimentares, atingindo assim, um público variado.
afinidade com a água e que quando em contato com a mesma se ligam A inspiração para a criação do prato partiu de um preparo
a ela alterando a textura dos meios em que são aplicados, resultando bastante tradicional da gastronomia Italiana, a Panna Cotta. Um doce
em preparos líquidos com uma vasta gama de viscosidades ou delicado, com textura suave e com sabor onde prevalecem as notas
formando géis. De acordo com as características de cada hidrocolóide, lácteas. A versão aqui apresentada, é uma sobremesa empratada, onde
do meio, bem como a concentração utilizada, é possível alcançar foram substituídos os insumos de origem animal por insumos vegetais,
diferentes resultados como gelificar, espessar ou somente estabilizar além da substituição de gelificantes tradicionais, como a gelatina, por
um produto. Neste contexto, é notável a sua utilização na indústria outros menos convencionais nas cozinhas.
alimentícia, uma vez que são aplicados como gelificantes em A componente base da panna cotta, foi substituída por um
compotas, marmeladas, geleias e pudins; como espessantes em sopas, gel suave preparado com creme de leite vegetal e leite de coco. Este é
molhos e cremes; e estabilizantes em sorvetes, produtos lácteos e servido com um gel fluido de manga, um crocante de pistache e esferas
molhos (1). de flor de laranjeira. Para sua construção foram utilizados os seguintes
No que tange a sua origem, muitos hidrocoloides são hidrocoloides: (i) iota carragenana - “panna cotta”; (ii) gelano (de
extraídos de plantas, como é o caso do amido de milho, da pectina baixa acilação - LA) - gel fluido de manga; (iii) maltodextrina de
presente nas frutas e da goma de semente de alfarroba. Ainda se têm tapioca - crocante de pistache; (iv) alginato de sódio - esfera de flor de
os extraídos de algas marinhas, como os alginatos e as carregenanas, laranjeira. Estes hidrocoloides foram todos fornecidos pela empresa
e os produtos de origem animal e microbiana, a exemplo do gelano. Sosa (Barcelona, Espanha).
Estudos apontam os benefícios destes aditivos alimentares para a A metodologia da pesquisa se baseou em um estudo
saúde, sendo muito deles utilizados em dietas especiais, como as teórico-empírico com o intuito de a partir do embasamento teórico
veganas, alimentos para pessoas com alergias e intolerâncias aliado aos testes práticos, se otimizar a escolha de hidrocoloides e suas
alimentares, e também por serem fonte de fibras e possuírem baixo concentrações, de forma a alcançar os aspectos sensoriais desejáveis
índice calórico (1). para a sobremesa.
Dentro do contexto gastronômico, o uso de Desta forma, primeiramente foi realizada uma pesquisa
hidrocoloides possibilita aos cozinheiros concretizar suas criações, bibliográfica sobre os hidrocoloides, em que se consideraram as suas
visto que viabilizam a elaboração de novas texturas, aparências e origens, principais características e formas de aplicação. As fontes de
formas de transmitir os sabores. Desta maneira pode-se afirmar, que pesquisa utilizadas foram sobretudo, dissertações, livros e artigos
os hidrocoloides atuam diretamente nas propriedades organolépticas científicos relacionados ao tema. Em uma segunda etapa, foram
dos alimentos e que se tornaram um grande aporte, sobretudo na pesquisadas diversas receitas, retiradas dos preparos realizados
cozinha moderna. (2) durante as aulas práticas da disciplina, de sites ou da literatura tal
Somado a isto, Aleixo (3) afirma que a utilização de novos como, do livro “Texture – a hydrocolloid recipe collection” (4), do site
ingredientes caracteriza a cozinha modernista e permite desenvolver Chef Steps e do site da empresa Sosa ®. Estas receitas serviram de
um conjunto de novas fórmulas alimentares, tanto em um âmbito de referência para a aplicação de cada hidrocolóide, bem como das
restauração como pela indústria alimentar. Neste sentido, estes novos técnicas a serem empregadas. Por fim, em terceira etapa, houve a
ingredientes podem corroborar com o desenvolvimento de produtos e realização de ensaios para testar as concentrações e procedimentos, e
receitas para diferentes tipos de dietas alimentares bastante praticadas assim, alcançar as características organolépticas pretendidas.
atualmente, a exemplo da plant based, que consiste em um padrão
alimentar que prioriza o consumo de alimentos vegetais e cereais 1. Gel suave de creme e leite vegetal
integrais, associada frequentemente, mas não exclusivamente, ao
estilo de vida vegano . A receita tradicional de Panna Coota tem como
Diante do que foi exposto, o presente projeto, inserido na ingredientes leite integral, creme de leite, açúcar, aromatizante e,
unidade curricular - Hidrocolóides na Alimentação - do programa de como agente estruturante, a gelatina. Nesta versão os produtos lácteos
Mestrado em Ciências Gastronómicas, a qual foi ministrada em 2020 foram substituídos por leite de coco e creme de castanha de caju, e a
na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de gelatina pela iota carragenana. Para o preparo a concentração utilizada
Lisboa, teve como objetivo desenvolver um prato recorrendo à foi de 0,8% de iota carragenana, em proporção aos elementos líquidos.
utilização de diferentes tipos de hidrocoloides. Para tanto, foi criada Seguiu-se o procedimento habitual para a utilização de diversos
uma sobremesa onde a intenção é oferecer a um público variado, hidrocolóides, o qual consiste primeiramente na dispersão em líquido,
incluindo veganos e pessoas com restrições alimentares, uma seguido da hidratação através da aplicação de aquecimento (até a
sobremesa agradável e atraente, que se assemelhe às sobremesas temperatura atingir aproximadamente 95૦C), descanso e
tradicionais servidas em um restaurante. arrefecimento em moldes.
296
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2. Gel fluido de manga perca a crocância, o mesmo deve ser mantido em local hermeticamente
fechado até o momento da utilização.
A ideia para a utilização do gel fluido de manga partiu das No que tange às esferas de flor de laranjeira, estas tiveram
técnicas utilizadas pelo chef Heston Blumenthal. Um gel fluído feito como umas das inspirações o conceito de encapsulamento de sabor
a partir de gelano é formado quando uma solução é agitada difundida pelo chef Heston Blumenthal. Este consiste na adição de
vigorosamente, após a gelificação ou à medida que é arrefecida, elementos, normalmente de sabor intenso e de menores dimensões,
quebrando a estrutura do gel e obtendo-se pequenas partículas deste que não libertam simultaneamente todas as suas nuances, mas
(5). permitem desenvolver explosões de sabores durante a degustação (5).
Para este preparo a concentração de gelano LA utilizada foi Neste sentido, a técnica de esferificação inversa mostrou-se adequada
de 1% em relação aos líquidos. O processo de aplicação foi ao objetivo pretendido, onde além de contribuir com a componente
semelhante ao utilizado no preparo de gel de leite vegetal - dispersão- estética do prato, ainda trouxe mais uma nuance de sabor e uma
hidratação e arrefecimento - entretanto, após a formação completa do experiência diferente ao comensal, pois quando mastigadas, liberam o
gel, este foi vigorosamente agitado para assim, se obter a textura líquido e o sabor contido em seu interior.
fluida. Cabe ressaltar, que além da manga, o gel contém maracujá em
sua composição, o qual foi acrescentado como forma de trazer mais Imagem1: Resultado sobremesa.
acidez e quebrar o sabor doce da manga, além de conferir mais frescor
ao prato. Por seu teor ácido, e não interferir com a capacidade de
gelificação ao provocar a hidrólise das cadeias de gelano, o mesmo foi
acrescentado ao preparo somente depois que o gelano já se encontrava
hidratado.
3. Crocante de pistache
297
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Atividades Biológicas do Óleo Essencial e do Extrato da Casca de Cebola (Allium cepa L.):
Uma Breve Revisão
Elder Pacheco da Cruz1, Gabriel Lucas Pail2, Laura Martins Fonseca3, Elessandra da Rosa Zavareze4, Alvaro Renato
Guerra Dias5
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
2
Discente de Bacharelado em Química de Alimentos do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos
(CCQFA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
3
Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
4
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustrial (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
5
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustrial (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Autor correspondente: elderpachecodacruz@hotmail.com
PALAVRA CHAVE: fitoquímico, antioxidante, antimicrobiano
INTRODUÇÃO: A cebola (Allium cepa L.) era considerada membro RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com o atual estudo realizou-se um
da família Liliaceae, mas recentemente, esquemas taxonômicos breve levantamento das diferentes propriedades biológicas da cebola,
descrevem que o gênero Allium pertence à família Amaryllidaceae, as quais já foram estudadas. De modo geral, indiferentemente da parte
subfamília Allioideae (1, 2). É uma planta bienal, no qual, o bulbo é da cebola, sua composição química é composta por vitaminas, minerais
feito de bases de folhas ampliadas e concêntricas. De modo geral, as e metabólitos secundários, os quais conferem as propriedades
cebolas são classificadas com base no sabor, sendo, doces e não doces, biológicas (1, 4, 6), como por exemplo, a atividade antioxidante que
e de acordo com a cor, tais como, branca, roxa, vermelha, amarela e atua na inibição de diferentes radicais livre e é amplamente estudada na
outras, sendo essas características que representam as variedades mais literatura (7, 9, 10). Lee et al. (9) relataram que o extrato de casca de
conhecidas da espécie (3, 4). Na agricultura, é considerada uma das cebola produzido pelo método de extração subcrítica, utilizando água
hortaliças mais importantes e consumidas em quase todo mundo (3). Se destilada como solvente, apresentou efeitos antioxidantes frente aos
destaca por ser utilizada em diversas preparações alimentícias radicais 2,2-difenil-1-picril-hidrazil (DPPH•), ácido tiobarbitúrico
domésticas, como alimento e tempero, podendo ser processada em (TBA) e tiocianato férrico (FTC). Os autores relataram que a atividade
diferentes produtos, como em forma de pó desidratado, usado para antioxidante variou frente aos diferentes radicais, alcançando até 4
temperar e dar sabor aos alimentos (1). Ainda, é amplamente utilizada vezes maior atividade que o hidroxitolueno butilado (BHT), um
como recurso nutricional primário por várias indústrias de alimentos composto sintético utilizado pelas indústrias para prevenir a oxidação
para o desenvolvimento de alimentos funcionais, devido a suas nos alimentos. Os autores atribuem, que a atividade antioxidante refere-
importantes propriedades (5). Na literatura, é conhecida por apresentar se aos efeitos sinérgicos dos vários polifenóis, incluindo flavonóides,
diversos fitonutrientes que são reconhecidos como elementos que estão presentes nas cascas de cebola. Em outro estudo, os mesmos
importantes (1, 4, 6). Além, de apresentar uma grande variedade de pesquisadores avaliaram a atividade antioxidante de diferentes extratos
metabólitos secundários, como flavonóides, fitoesteróis e saponinas, de cebola isolados por extração com etanol, água quente e água. Ao
apresentando diversas propriedades biológicas, a qual, estão associadas avaliar os extratos pelos métodos DPPH•, TBA e FTC, esses autores
à promoção da saúde e à redução do risco de uma série de doenças (1, relataram que o extrato obtido com etanol apresentou maiores
3, 4, 5). Esses compostos podem ser encontrados no óleo essencial da atividades frente ao radical DPPH• alcançando 71,25% de inibição e
cebola, sendo uma fonte rica de fitoquímicos que se destaca, por TBA alcançando 13,40% de inibição de peroxidação lipídica. No
apresentar, diversas propriedades, tais como, atividades antioxidantes, entanto, a atividade antioxidante pelo método FTC, não apresentou
antibacterianas, antifúngicas, entre outras (7, 8). A casca da cebola é diferença significativa entre os extratos (10). Além dos extratos da
outra alternativa de fonte desses compostos, em especial os fenólicos, casca, o óleo essencial de cebola também apresenta atividade
os quais estão associados a diversas propriedades biológicas (1, 3). No antioxidante. Como em um estudo realizado por Ye, Dai e Hu (11), que
entanto, a casca da cebola normalmente é descartada, somando a uma avaliaram a atividade do óleo essencial de cebola em diferentes
grande quantidade de resíduos sólidos desperdiçados no planeta. Este concentrações (0,2-1,0 mg/mL), frente aos radicais DPPH•, ABTS•+
resíduo gerado é considerado um possível recurso útil para a produção (ácido 3-etilbenzotiazolina-6-sulfônico), ensaio de quelação de metal e
de subprodutos de valor agregado e compostos fenólicos bioativos (3). poder redutor. Os pesquisadores relataram que o óleo essencial
Frente ao exposto, o objetivo do estudo foi realizar um breve apresentou atividades antioxidantes moderadas nos ensaios frente a
levantamento bibliográfico, elucidando algumas propriedades ABTS (IC50= 0,67 mg/mL), DPPH (IC50 = 0,63 mg/mL) e ensaio
biológicas do extrato da casca e do óleo essencial de cebola, destacando quelante de metal (IC50= 0,51 mg/mL). Além disso, o poder de redução
suas atividades antioxidante e antibacterianas. do óleo essencial frente aos radicais mostrou-se dependente da dose, e
inferior ao BHT (antioxidante sintético), conhecido por ser um forte
MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo é exploratório- agente redutor. Os diferentes métodos de avaliação da atividade
descritivo, realizado por meio de pesquisas bibliográficas oriundas de antioxidante mencionados são muito estudados, pois de modo geral,
publicações específicas sobre a temática: propriedades biológicas do essa atividade assegura benefícios para a melhoria da qualidade de vida,
óleo essencial e do extrato da casca de cebola. Para realização dessa visto que, possuem a capacidade de proteger um organismo dos danos
breve revisão, foram analisados artigos na íntegra, com publicação a causados pelos radicais livres, prevenindo ou adiando o início de várias
partir do ano de 2010, nas bases de dados: Science Direct, Scielo, doenças. Além que essas substâncias antioxidantes são capazes de
PubMed e Lilac, no qual foram selecionados 15 artigos. atrasar ou inibir a oxidação nos alimentos, aumentando sua a vida útil
(10, 11, 12). Essa hortaliça também possui ações antifúngicas e
antibacterianas. Como um estudo investigando a ação do óleo essencial
298
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
de cebola frente a diferentes espécies de Aspergillus, Fusarium e approach. Food Chem. v. 335, 2021.
Penicillium isoladas de bolos, produtos à base de carne e saladas <doi:10.1016/j.foodchem.2020.127650>.
frescas. O estudo demonstrou que o óleo essencial de cebola na
(4) ABOUZED, T. K.; CONTRERAS, M. M.; SADEK, K. M.;
concentração de 28,0 μL/100 mL possui efeito fungicida. Além de
SHUKRY, M.; ABDELHADY, D. H.; GOUDA, W. M.; ABDO, W.;
efeito inibitório frente a Aspergillus niger e Penicillium NASR, E. N.; MEKKY, R. H.; SEGURA-CARRETERO, A.;
aurantiogriseum. Ainda, os autores relataram que esse óleo essencial
KAHILO, K. A. A.; ABDEL-SATTAR, E. Red onion scales
pode ser utilizado para proteção de alimentos contra o crescimento de
ameliorated streptozotocin-induced diabetes and diabetic nephropathy
fungos, como em salsichas e saladas (8). Lee et al. (9) estudaram o in Wistar rats in relation to their metabolite fingerprint. Diabetes Res
extrato casca de cebola extraída por água subcrítica e avaliaram frente
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quercetina como um padrão, uma vez que, esta foi identificada como (5) NILE, A.; NILE, S. H.; KIM, D. H.; KEUM, Y. S.; SEOK, P. G.;
um dos principais flavonoides em cascas de cebola. Os pesquisadores, SHARMA, K. Valorization of onion solid waste and their flavonols for
relataram que o efeito antimicrobiano do extrato é maior do que o da assessment of cytotoxicity, enzyme inhibitory and antioxidant
quercetina na mesma concentração. Outro estudo, avaliando a atividade activities. Food Chem Toxicol. v. 119, p. 281-289, 2018.
antimicrobiana do óleo essencial de cebola relatou um potente efeito (6) BYSTRICKÁ, J.; MUSILOVÁ, J.; VOLLMANNOVÁ, A.;
inibitório contra as bactérias (Escherichia coli, Bacillus subtilis e TIMORACKÁ, M.; KAVALCOVÁ, P. Bioactive components of onion
Staphylococcus aureus), leveduras (Rhodotorula glutinis, (Allium cepa L.) - A Review. Acta Aliment. v. 42, p. 11-22, 2013.
Saccharomyces cerevisiae e Candida tropicalis) e bolores avaliados
(Aspergillus niger, Monascus purpureus e Aspergillus terreus) com (7) CHU, L. L.; KANG, X. J.; WANG, Y. Extraction of onion (Allium
diâmetro de zonas de inibição variando de 4,1 a 19,3 mm. Ainda, o óleo cepa) essential oil by polystyrene nanofibrous membranes. J Food
essencial apresentou alto efeito antimicrobiano frente a B. subtilis, C. Process Eng. v. 40, p. 1-11, 2017.
tropicalis e M. purpureus com diâmetros de zonas de inibição de 19,3, (8) KOCIĆ-TANACKOV, S.; DIMIĆ, G.; MOJOVIĆ, L.;
15,1 e 13,2 mm, respectivamente (11). As atividades antimicrobianas e GVOZDANOVIC-VARGA, J.; DJUKIC-VUKOVIC, A.; TOMOVIC,
antifúngicas de compostos são determinações importantes a serem V.; SOJIC, B.; PEJIN, J. Antifungal activity of the onion (Allium cepa
realizadas, pois conferem a inibição e/ou redução de agentes L.) essential oil against aspergillus, fusarium and penicillium species
deteriorantes e patogênicos em alimentos, resultando em uma maior isolated from. Food. J Food Process Preserv. v. 41, 2017.
vida útil e em uma maior segurança alimentar (8, 9). Também são <doi:10.1111/jfpp.13050>.
relatados que os produtos oriundos da cebola apresentam efeitos
citotóxicos. Como o estudo realizado por Kim, Kim e Park (13), que (9) LEE K, A.; KIM K, T.; NAH S, Y.; CHUNG M. S.; CHO S. W.;
relataram a atividade citotóxica do extrato etanólico de casca de cebola PAIK, H. D. Antimicrobial and antioxidative effects of onion peel
em células HT-29 de carcinoma de cólon humano por ensaios de extracted by the subcritical water. Food Sci Biotechnol. v. 20, p. 543-
liberação de MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5- 548, 2011.
difeniltetrazólio) e LDH (lactato desidrogenase). Além disso, os (10) LEE, K. A.; KIM, K. T.; KIM, H. J.; CHUNG, M.; CHANG, P.;
pesquisadores reportaram que o extrato da casca de cebola modula a PARK, H. PAIK, H. Antioxidant activities of onion (Allium cepa L.)
expressão de genes antioxidantes, inflamatórios e de desintoxicação em peel extracts produced by ethanol, hot water, and subcritical water
células HT-29 estimuladas por lipopolissacarídeo (LPS). A avaliação extraction. Food Sci Biotechnol. V. 23, p. 615-621, 2014.
da citotoxicidade é de extrema relevância, pois está ligada com a
(11) YE, C. L.; DAI, D. H.; HU, W. L. Antimicrobial and antioxidant
aptidão que um composto ou substância possui de inibir a proliferação
activities of the essential oil from onion (Allium cepa L.). Food Cont.
celular ou causar danos e lesões às células, que as levam a morte celular.
v. 30, p. 48-53, 2013.
Nile et al. (5) investigaram a citotoxicidade (liberação de MTT e em
diferentes linhas celulares de carcinoma), inibição enzimática (inibição (12) SIDDIQ, M.; ROIDOUN, S.; SOGI, D. S.; DOLAN, K. D. Total
de α-amilase e α-glucosidase in vitro) e a atividade antioxidante (DPPH, phenolics, antioxidant properties and quality of fresh-cut onions
ABTS e poder redutor férrico) do extrato metanólico e etanólico de (Allium cepa L.) treated with mild-heat. Food Chem. v. 136, p. 803-
resíduos sólidos da cebola. De modo geral, os resultados foram 806, 2013.
positivos e promissores. Sobressaindo, que o extrato metanólico (13) KIM, J.; KIM, J. S.; PARK, E. Cytotoxic and anti-inflammatory
mostrou-se mais eficaz na eliminação de radicais livres e na inibição effects of onion peel extract on lipopolysaccharide stimulated human
das enzimas. Estudos envolvendo as propriedades funcionais da cebola colon carcinoma cells. Food Chem Toxicol. v. 62, p. 199-204, 2013.
são bastantes importantes e relevantes, visto que, essa hortaliça é
extremamente utilizada na culinária, estando presente em pratos e (14) YANG, C.; LI, L.; YANG, L.; LU, H.; WANG, S.; SUN G. Anti-
refeições de quase todo mundo. Muitas pesquisas atribuem outras obesity and Hypolipidemic effects of garlic oil and onion oil in rats fed
propriedades biológicas oriundas da cebola, tais como, efeito a high-fat diet. Nutr Metab. v. 15, p. 4-11, 2018.
antiobesidade e hipolipemiantes (tratamento de dislipidemias e controle (15) CHOI, E. Y.; LEE, H. WOO, J. S. JANG, H. H.; HWANG, S. J.;
dos níveis de colesterol) (14), função endotelial (prevenção de eventos KIM, H. S.; KIM, W. S.; KIM, Y. S.; CHOUE, R.; CHA, Y. J.; YIM,
cardiovasculares) (15) e anti-inflamatória (13). No entanto, um estudo J. E.; KIM, WEON. Effect of onion peel extract on endothelial function
mais aprofundado deve ser realizado procurando elucidar and endothelial progenitor cells in overweight and obese individuals.
detalhadamente e particularmente cada uma das propriedades atribuídas Nutrition. v. 31, p. 1131-1135. 2015.
a cebola e suas diferentes partes.
REFERÊNCIAS:
299
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras chaves: desenvolvimento de produto, alimentação infantil, doenças crônicas não transmissíveis
300
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
3g de fibras em 100g, dessa forma, podemos considerar que o biscoito Os biscoitos recheados desenvolvidos em um estudo de 2010
tipo cookie é fonte de fibras. (8) obtiveram 100% de aceitação entre crianças de 7 a 10 anos, na
Quanto às quantidades de ferro, a Portaria no. 54, da Secretaria formulação dos biscoitos conteve farinha de trigo, farinha de trigo
de Vigilância Sanitária do ministério da Saúde (5), afirma que para um integral, amido de milho, achocolatado em pó, cacau em pó, linhaça
produto ser considerado fonte é necessário atingir o mínimo de 15% da triturada, açúcar, margarina light e ovo. Tais valores de aceitação não
IDR de referência por 100 g, os valores de referência de ferro são 14 estão tão distantes dos desta pesquisa se avaliarmos que os
mg, sendo assim o biscoito tipo cookie é fonte de ferro, visto que atinge componentes da formulação dos biscoitos tipo cookie fonte de ferro e
18% das necessidades diárias. fibras são mais sugestivos à rejeição das crianças.
Na tabela 4 são apresentados os valores médios, desvio padrão
e moda para os atributos aparência, aroma, sabor, textura e impressão CONCLUSÕES
global avaliados no teste de análise sensorial de 9 pontos.
Concluímos que os objetivos da pesquisa foram alcançados,
Tabela 3 - Média, desvio padrão e moda segundo atributos sensoriais com o desenvolvimento de uma massa para biscoitos tipo cookie com
para biscoito tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e melhor qualidade nutricional quando comparada a versão original. O
fibras alimentares. São Paulo, 2019. presente produto atende as alegações de fonte de ferro e fibras, bem
como apresenta redução dos valores de gordura total, saturada e
Teste energia.
Atributos sensoriais Média (desvio padrão) Moda O produto foi aceito sensorialmente com destaque para o
Aparência 7,2 (1,5) 9,0 aroma e sabor.
Aroma 8,1 (1,0) 9,0 Pelo exposto, o cookie apresenta-se como excelente opção
Sabor 7,8 (1,3) 9,0 tanto para a manufatura industrial, doméstica ou institucional.
Textura 7,6 (1,4) 8,0
Impressão geral 7,7 (1,2) 8,0 REFERÊNCIAS
Fonte: Os autores.
(1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
O biscoito tipo cookie do presente estudo apresentou boa (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009.
aceitação, sendo que todos os atributos receberam nota maior que 7, e Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos
moda entre oito e nove. Destaque para os atributos de sabor e aroma no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
com notas 8,1 e 7,8, respectivamente. Estatística; 2010.
Em uma pesquisa de 2019 (6), foram desenvolvidas
formulações de cookies a partir da farinha de caroço do abacate, os (2) SPARRENBERGER, K. et al. Consumo de alimentos
atributos aparência, cor, e textura para todas as formulações foram bem ultraprocessados entre crianças de uma Unidade Básica de Saúde. J.
aceitas pelos provadores, apresentando médias hedônicas entre 6 e 7,8. Pediatr, Porto Alegre, v. 91, n. 6, p. 535-542, 2015.
Outro fator semelhante entre as pesquisas é em relação a
coloração dos cookies, os quais ficaram mais escuro à medida que a (3) HENRIQUES, P. et al. Políticas de Saúde e de Segurança Alimentar
concentração de farinha do caroço de abacate aumentava, tal e Nutricional: desafios para o controle da obesidade infantil. Ciênc.
característica pode ser justificada pela elevada quantidade de saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 12, p. 4143-4152, 2018.
carboidratos presentes nas formulações, as quais, quando submetidas ao
aquecimento no forno, podem ter sofrido o processo de caramelização (4) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 4. ed. Curitiba:
ou o de reação de Maillard, o que causou uma coloração mais escura Champagnat, 2013. p. 531.
dos produtos (6). Nesta pesquisa, a coloração escura pode ser explicada
pelo uso do açúcar mascavo e pelo processo de caramelização. (5) ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012. Regulamento Técnico
Figura 2 – Distribuição em porcentagem da aceitação do Mercosul Sobre Informação Nutricional Complementar (Declarações
biscoito tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e fibras De Propriedades Nutricionais).
alimentares dentre crianças de 5 a 6 anos em uma escola do município
de São Paulo (n=80). São Paulo, 2019 (6) SILVA, I. G. da et al. Elaboração e análise sensorial de biscoito tipo
cookie feito a partir da farinha do caroço de abacate. Braz. J. Food
Technol., Campinas, v. 22, 2019.
5%
(7) ISSA, R. C. et al. Alimentação escolar: planejamento, produção,
GOSTOU distribuição e adequação. Revista Panamericana de Salud Publica, v.
16% 35, n. 2, p. 96-103, 2014.
INDIFERENTE
(8) SAYDELLES, M. et al. Elaboração e análise sensorial de biscoito
recheado enriquecido com fibras e com menor teor de gordura. Ciência
79% NÃO GOSTOU Rural, Santa Maria, v. 40, n. 3, p. 644-647, 2010.
Fonte: Os autores.
301
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 1 - Avaliação dos parâmetros físico-químico de laranja Lima in natura em cultivo convencional e orgânico.
302
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Os frutos produzidos em ambos os cultivos(Tabela 1) (12) ARRUDA, M. C.; FISCHER, I. H.; ZANETTE, M. M.; SILVA,
apresentaram massa semelhantes ao observado no estudo B. L.; SANTOS, C. A. J. P. Qualidade físico química de frutos de
desenvolvidopor Schwarz (13), cujo os resultados obtidos foram de laranja ‘Valência’ provenientes de cultivos orgânicos e convencional.
204,0g para os frutos em sistema convencional e 195g para as Pesquisa e tecnologia de citrus, v 32, n. 2, p. 103-108, 2011.
laranjas do sistema orgânico.
O rendimento de suco observado foi de 75,0 e 83,0% para (13) FERREIRA, P.V. Estatística experimental aplicada a
orgânicos e convencionais, respectivamente. Segundo o Agronomia. 3.ed. Maceió: EDUFAL, 2000. 422 p.
CodexAlimentarius (14), os frutos para consumo in natura devem
apresentar rendimento acima de 35%, o que foi plenamente atendido (14) SCHWARZ, S. F. Melhoramento genético e variedades. In:
em ambos os sistemas de cultivo (Tabela 1). KOLLER, O. C. (Org.). Citricultura: 1. Laranja: Tecnologia de
Quantoa espessura da casca, foi verificado que os frutos produção, pós-colheita, industrialização e comercialização. Porto
apresentaram média de 43,3 e 70,0 mm, e que a quantidade de Alegre: CincoContinentes, 2006. p. 41-54.
sementes encontradas foi de 19 e 27 unidades para cultivo orgânico e
convencional, respectivamente (Tabela 1). Enquanto os teores de (15) CODEX ALIMENTARIUS. Standard for oranges: Codex
sólidos solúveis, independentemente do sistema de produção, foram Stan 245-2004. 1º Amendment. Rome: FAO e WHO, 2005. 6 p.
acima de 10,5° Brix, que é o valor mínimo para a comercialização de (16) BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
sucos de laranja no Brasil de acordo com o regulamento técnico geral Coordenação de Inspeção Vegetal. Serviço de Inspeção Vegetal.
para fixação dos padrões de identidade e qualidade para polpa de Instrução Normativa n. 1, de 7 de janeiro de 2000. Aprova o
fruta (15). regulamento técnico geral para fixação dos padrões de
A acidez titulável mostrou os maiores valores para os identidade e qualidade para polpa de fruta. DiárioOficial da
frutos cultivados na produção convencional. Esses valores República
encontrados foram superiores aos relatados por Machado (16), que
(17) MACHADO, T. V. Avaliação sensorial e físico-química do
atesta um valor médio de 0,95 g ácido cítrico.mL-1.
suco de laranja proveniente das etapas do processamento do suco
concentrado e congelado. 2010. 117 f. Dissertação (Mestrado em
Conclusões
Alimentos e Nutrição), Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Os resultados obtidos neste estudo mostram que laranja
Mesquita Filho”, São Paulo, 2010.
Lima (Citrus limettioidesTanaka) produzida em sistema orgânico e
convencional não apresentam diferenças significativas quantoaos
atributos físicos e físico-químicos de qualidade.Portanto, este estudo
destaca o potencial de expansão nosetor hortifrutigranjeiro da laranja
Lima oriundas de cultivo orgânicos.
Referências
(1) OLIVEIRA, R. P. et al. Produção Orgânica de Citros no Rio
Grande do Sul. Pelotas- RS: EMBRAPA clima temperado. 2010.
296p.
303
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
304
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
305
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
Cor leitosa Cor amarelada A utilização do grupo focal serviu de base para completarmos as
fichas de análise a partir do mesmo, onde nelas estaria um cabeçalho
Aroma de derivados do leite Aroma ácido a ser preenchido com as informações gerais dos participantes e
também a partir deste mesmo grupo focal foi decidido os atributos
306
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
sensoriais que seriam avaliados, a partir disso, os participantes Tabela 04 - Intenção de compra do requeijão
qualificaram as características do produto, portanto, aroma, textura,
sabor, cor, viscosidade, aparência e avaliação global. A tabela
seguinte mostra os resultados obtidos pelo grupo focal (CATA) e a
Intenção De Com Certeza Talvez Não
frequência que cada um apareceu na avaliação total.
Compra Comprariam Comprariam Comprariam
Tabela 02 - Avaliação grupo focal (CATA)
CASEIRA 36 14 2
Termo Frequência
INDUSTRIAL 39 10 3
Sabor intenso 0
Fonte: criação do autor
Sabor leve 4
Em relação à intenção de compra dos produtos, o requeijão caseiro
Acidez 2
foi muito bem aceito com 36 pessoas que com certeza o comprariam
se este estivesse disponível no mercado. Apenas 2 dos 52 avaliadores
Rançoso 0 disseram que não comprariam o produto, tornando esse número
irrisório diante de todo o contexto.
Textura granulosa 3
CONCLUSÃO
Textura lisa 1
Dentro das condições em que os testes sensoriais são conduzidos,
concluem que o resultado obtido na análise foi bastante satisfatório,
Viscosidade 4
tendo em vista que a amostra caseira teve notas estatisticamente
muito semelhantes com as da industrial, demonstrando que, a
Oleosidade 1 percepção dos provadores não foi afetada pelo tipo de matéria prima
ou de processamento aplicado. Sendo assim, o requeijão
Cor leitosa 4 desenvolvido pela equipe apresenta características sensoriais
consideráveis, como sabor levemente ácido, textura lisa e cremosa,
Cor amarelada 0 aroma encontrado em derivados lácteos e aparência razoável, sendo
bem aceito pelos avaliadores.
Aroma de derivados do leite 4 Em suma, os requeijões estudados não apresentam diferença
significativa entre si em relação aos atributos avaliados (aroma, cor,
aparência, sabor, textura, viscosidade e avaliação global), com
Aroma ácido 0
exceção da cor, todos obtêm notas que indicam boa aceitação dos
Fonte: criação do autor provadores. Entende-se assim, que o requeijão caseiro é bastante
vantajoso e que o que foi desenvolvido nessa pesquisa tem grande
A apreciação partira da estrutura de 9 pontos, variando de 9 a 1, onde potencial para ser introduzido no mercado.
9 representava gostei extremamente e 1 desgostei extremamente. E
ao final da degustação, os participantes escolheriam entre as 3 REFERÊNCIAS
alternativas de compras, as quais variam por meio da certeza da
(1) TRINTIM, Lorena Tobias. et al. Desenvolvimento e aceitação
compra e a afirmação da não compra.
sensorial de requeijão cremoso com adição de óleo essencial de
As médias das notas atribuídas pelos provadores a cada propriedade
orégano. 2017. Disponível em:
pedida (sabor, cor, aroma, viscosidade, textura, aparência e avaliação
<https://www.mastereditora.com.br/periodico/20171204_114215.pdf
global), para cada uma das amostras avaliadas sensorialmente, são
> Acesso em: 20 de maio de 2019.
apresentadas na tabela abaixo.
(2) FERREIRA, V. L. P. et al. Análise sensorial: testes
Tabela 03 - Média dos valores atribuídos pelos provadores em cada
discriminativos e afetivos. Manual: série qualidade. Campinas,
atributo para as amostras caseira e industrial
SBCTA, 2000. 127p.
Resumo
Viscosida Avaliação (3) TEIXEIRA, E.; MEINERT, E. M.; BARBETTA, P. A. Análise
(Médias Ls) - Sabor Cor Aroma Textura Aparência
de Global sensorial de alimentos. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1987. 180 p.
Amostra:
CASEIRA 7.13 a 8.07 a 7.63 a 6.86 a 7.61 a 7.81 a 7.52 a (4) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
INDUSTRIA Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas,
L 7.61 a 7.52 b 7.42 a 7.35 a 7.44 a 7.40 a 7.69 a 2010.
Pr >
F(Modelo) 0.10 0.03 0.47 0.13 0.57 0.14 0.50 (5) DOOLEY, L.; LEE, Y. S.; MEULLENET, J. F. The application
Significativo Não Sim Não Não Não Não Não of check-all-that-apply (CATA) consumer profiling to preference
mapping of vanilla ice cream and its comparison to classical
external preference mapping. Food Qual Prefer, v. 21, p. 394-401,
A partir desses números, pode-se observar que as amostras caseiras e 2010.
industriais obtiveram médias muito próximas nos atributos de sabor,
viscosidade, aroma, textura e aparência, sendo representadas pela (6) VIEIRA, S. Análise de Variância: (Anova). São Paulo: Atlas,
mesma letra (a) e não diferenciando significativamente entre si. Já no 2006. 204 p.
quesito cor, o requeijão caseiro obteve média relativamente maior do
que o industrial, apresentando um valor de p<0,05, logo, identificou- (7) SOUSA, Paulo Henrique M. Análise Sensorial na Gastronomia.
se a representação com letras diferentes e uma distinção relevante Universidade Federal do Ceará. Ceará, 2019.
entre as amostras.
Em relação à intenção de compra dos produtos, o requeijão caseiro
foi muito bem aceito com 36 pessoas que com certeza o comprariam
se este estivesse disponível no mercado. Apenas 2 dos 52 avaliadores
disseram que não comprariam o produto, tornando esse número
irrisório diante de todo o contexto. Abaixo está a tabela com os
demais posicionamentos dos potenciais consumidores ou não do
requeijão caseiro e industrial.
307
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Amanda Marques, Isaías Filho, Matheus Lima, Eliecê Neto, Rafael Gaspar
matheuseartur49@gmail.com
Palavras-chave: Nutrição, gastronomia, alimentação
308
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
309
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 1 – Caracterização do extrato aquoso de amendoim quanto aos parâmetros físicos e químicos nas proporções 1:6 e 1:8 (grão: água, p/v) com
pele, sem pele.
310
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
De acordo com os resultados obtidos é possível observar microbiano nos extratos, assim quanto menor a atividade de agua for
que os componentes dos extratos a base de amendoim variaram de encontrada nas formulações menor também as chances de
acordo com a proporção grão:água, para as duas condições, com e crescimento microbiano no produto.
sem pele, sendo os menores teores de cromaticidade obtidos com a
proporção 1:6 com pele. Os produtos com maiores teores de proteína A amostra na proporção de 1:8 sem pele teve um teor de
foram os obtidos com o extrato de amendoim com pele (1:6 e 1:8) e a água superior ás demais amostras com um teor de água de 93,4
porcentagem de lipídeos diminuiu com o aumento da proporção de fazendo com que a amostra na proporção de 1:6 com pele tenha o
água para os dois tipos de extratos vegetais. menor teor com 81,9 percebe-se que houve um aumento gradativo do
teor de água à medida que se aumentou a concentração de água nas
De acordo com a Tabela 1, foi verificado que os valores formulações e também a retirada da película.
médios da luminosidade diferiram estatisticamente entre si.
Observando-se que todas as amostras apresentaram claros com Foi verificada diferença significativa mutuamente para a
luminosidade maior que 65. A proporção 1:8 sem pele apresentou maioria dos parâmetros físico-químicos analisados para o extrato
maior valor em relação ás demais e somente ela obteve valor superior aquoso de amendoim, exceto para os valores de proteínas que foi
a 80, mantendo um valor parecido com ALBUQUERQUE (7). superior ao encontrado por (PRETTI, 2010).
As medias da cromaticidade teve uma variância de Variação nas quantidades de lipídeos no extrato aquoso de
10,0567 a 18,7200 nas amostras 1:8 sem pele e 1:6 com pele, amendoim também é bastante semelhante entre os mesmos, porém
respectivamente. Nos resultados de ângulo de tonalidade podemos foram obtidos valores maiores que (PRETTI, 2010). Em função das
observar que as amostras nas proporções 1:6 e 1:8 com pele possuem proporções grão:água utilizadas na elaboração do extrato. Ressalta-se
diferença significativa, diferente das amostras 1: 6 e 1:8 com pele. ainda que os extratos aquosos de amendoim elaborados a partir de
amendoins com casca apresentaram teor de lipídios superior àqueles
Foi verificado o valor de atividade de água em torno de elaborados sem casca evidenciando que a película pode conter
0,95 que é superior ao encontrado por ALBUQUERQUE (7). Vale quantidades de gordura que foram incorporadas ao produto através de
ressaltar que a atividade de agua tem ligação com o crescimento sua desintegração segundo ALBUQUERQUE (7).
311
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Vanderléia Fernandes1; Cícero Silva1; Maria da Conceição1; Luciana Marques2; Amanda Leal 3; Juliana Costa4;
1
Discente do curso Superior Tecnologia em Alimentos, IF Sertão Pernambucano, campus Salgueiro;
2
Docente do curso Superior Tecnologia em Alimentos, IF Sertão Pernambucano, campus Salgueiro;
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, amanda.lleal@hotmail.com;
4
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
INTRODUÇÃO
O pão é definido como o produto gerado pela cocção em condições As matérias-primas utilizadas (farinha de trigo, batata doce, ovos, leite,
tecnologicamente adequadas, de uma massa fermentada ou não, fermento biológico seco instantâneo, açúcar e sal) foram adquiridas no
preparada com farinha de trigo ou mesmo outras farinhas que contenham mercado da cidade de Salgueiro-PE.
proteínas formadoras de glúten, ou adicionada destas, e água, podendo Foram feitas duas formulações de pão de batata doce, cujo preparo
conter outros ingredientes. O pão pode ser classificado tomando como consistiu, primeiramente, no cozimento, descascamento e amassamento
base os ingredientes e ou processo de fabricação ou então o formato. da batata doce. Logo após, pesou-se todos os ingredientes na balança
Existem as classificações do pão em: de forma, integral, ázimo, analítica, em seguida misturou-se o sal, o fermento biológico e o leite.
panetone, porém tradicionalmente é o pão francês o mais presente na Em recipiente separado uniu-se a farinha de trigo, a batata doce, o
mesa dos brasileiros, sendo definido como: o produto fermentado e açúcar, margarina e ovos e adicionou-se o leite, o fermento e sal unidos
fabricado, obrigatoriamente, com farinha de trigo, sal e água, o qual anteriormente. Na segunda formulação foi acrescentado o creme de leite
caracteriza-se pela casca crocante de cor uniforme castanho- dourada e na última etapa de mistura dos ingredientes. A massa foi amassada de
miolo de cor branco-creme tendo textura e granulação fina não uniforme forma a garantir a homogeneidade dos ingredientes.
[1]. Com a massa já sovada, as duas formulações foram modeladas em
O pão é um alimento que está presente na dieta da população visto ser formato desejado e postas nas formas para o descanso de
um bem acessível, quer em termos de preço quer de disponibilidade no aproximadamente 1 hora. Passado o tempo da fermentação (descanso)
mercado. No entanto, a sua composição nutricional caracteriza-se por pincelou-se o ovo na superfície das massas. Os pães foram levados ao
elevados valores de carboidratos e deficiências em proteína e minerais forno à temperatura de 180 °C por 40 minutos.
[2]. Após a elaboração dos pães, foram realizados testes sensoriais de
Como forma de enriquecer nutricionalmente esse produto e deixá-lo aceitação utilizando uma escala hedônica de 9 pontos, em que 1 significa
mais saudável, novos ingredientes podem ser adicionados, como por desgostei extremamente e 9 gostei extremamente [5]. Os atributos
exemplo, a batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam), a qual representa avaliados foram: cor, sabor, textura, aroma e aceitação global. Foi
importante fonte de energia, minerais e vitaminas [3]. Também tem aplicado também o teste de intenção de compra com escala variando de
relevante número de compostos bioativos como carotenoides, minerais 1 a 5 (1 - certamente não compraria e 5 - certamente compraria) [6]. Os
como potássio, cálcio, ferro e vitaminas do complexo B [4]. Além disso, testes foram feitos com 50 provadores não treinados, de ambos os sexos,
é fonte de fibra e de carboidratos complexos que prolongam a saciedade, alunos do curso de Tecnologia em Alimentos.
regulam a gordura sérica, normalizam os níveis de glicemia e é O estudo foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado
considerado uma boa fonte de minerais. Em termos sensoriais pode (DIC) e os dados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) e
também adicionar um sabor doce natural, cor e aroma ao pão [2]. Sendo, Teste de Tukey para verificar diferença significativa ao nível de 5%
portanto, um ótimo ingrediente para enriquecimento de produtos de entre as amostras. Os dados gerados foram analisados no programa
panificação. estatístico SASM-AGRI.
Com base nisso, o presente trabalho objetivou elaborar e avaliar
sensorialmente duas formulações de pães de batata doce.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Os resultados do teste de aceitação do pão de batata doce podem ser
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Processamento de observados através da Tabela 1.
Cereais do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sertão
Pernambucano- Campus Salgueiro. Tabela 1- Resultado do Teste de aceitação do Pão de batata doce
Tabela 1. Formulação das amostras de pão de batata doce Tratamento cor sabor textura aroma Aceitação
global
Ingredientes Amostras BTD 7,62 a 7,20 a 7,34 a 7,20 a 7,42 a
BTD BTDC BTDC 7,60 a 7,58 a 7,42 a 7,36 a 7,54 a
Batata doce (g) 180 180 BTD= Pão de batata doce (1ª Formulação)
Margarina (g) 38 38 BTDC= Pão de batata doce com creme de leite (2ª Formulação)
Farinha de trigo (g) 250 250
Fermento biológico (g) 6 6 Ao observar os dados obtidos pôde-se notar que as amostras obtiveram
Manteiga (g) 30 60 uma boa aceitação pelos provadores, com médias de cor, sabor, textura,
Sal (g) 6 6 aroma e aceitação global variando de 7,20 a 7,62, situando-se entre os
Açúcar 28 28 termos gostei moderadamente e gostei muito. Em estudo com pão de
Leite (g) 40 40 batata doce, Scortegagna et al. [7] relataram que o produto obteve uma
Creme de leite (ml) - 100 boa intenção de consumo e aceitação acima da média 6 (gostei
ligeiramente), nota inferior a encontrada na presente pesquisa
312
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
313
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Discentes do Curso de Bacharelado em Gastronomia, da Universidade Federal do Ceará. E-mail: gustavoburger@alu.ufc.br,
hadassamendes13@gmail.com e viniuslavor@gmail.com.
2
Orientadores. Docentes do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: rafaelgurgel.amaral@gmail.com e
motarobson@gmail.com.
314
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
foi selecionado o quiabo, os pimentões e a couve manteiga como reprodução e geralmente não se adequam ao paladar do comensal
guarnição. Também escolhemos o peixe pargo como protagonista da cearense. Assim, a execução da reinterpretação com produtos regionais
preparação por ser um peixe da costa local (11) facilmente encontrado é de suma importância para o resultado.
nos mercados e feiras, além de fornecer leveza e sabor desejados. Sobre a releitura da terrine, o sabor ficou bem agradável,
Dentre as técnicas menos usuais, a principal foi a farce fine com o peixe sendo o protagonista com o quiabo e os pimentões
ou mousseline que consiste em peneirar uma proteína para deixá-la complementando bem ao fornecerem acidez e dulçor à preparação.
super lisa e agradável ao paladar. Também utilizamos a técnica de Além disso, a couve manteiga também agrega ao ser levemente doce e
habiller, que numa tradução direta do francês, significa vestir, ou seja, amarga concomitantemente. Já sobre o visual da preparação, o mosaico
a terrine foi envolta com a couve para agregar mais textura, sabor, cor foi muito bem realizado agregando simetria, coloração, formas e beleza.
e regionalismo. Já dentre as técnicas mais convencionais foram feitos o Entretanto, como o plástico filme não ficou tão bem esticado, a couve
branqueamento, a emulsão, o banho-maria e o banho-maria invertido. que se moldou nele também ficou levemente enrugada.
Seguem a ficha-técnica e a foto do experimento (12). Ademais, a textura ficou bem suave ao paladar, parecendo
um patê ou uma mousse. O quiabo e a couve também somaram nesse
Quadro 1 - Ficha-técnica da releitura da terrine sentido fornecendo um pouco de crocância e maciez. Porém, por causa
TERRINE REGIONAL DE PARGO de um excesso de claras, ao assar a textura da mousseline ficou
Ingredientes: levemente granulada. Isso ocorreu pois, quando a água presente nas
- 600g de filé de pargo sem pele claras evaporou durante a cocção, ela ficou encapsulada formando
- 200g de creme de leite fresco microbolhas de vapor. Todavia, a ficha-técnica presente no tópico seis
- 80g de clara de ovo já está corrigida para evitar esse erro.
- 10 folhas de couve manteiga (com o mínimo de imperfeições Por fim, devido a situação atual da pandemia do COVID-19,
possível) não foi possível fazer o teste de análise sensorial em larga escala, pois
- 4 unidades de quiabo isso, consequentemente, geraria uma aglomeração não essencial. Logo,
- 120g de pimentão (vermelho, amarelo e verde) as considerações sobre o sabor, visual e textura da terrine foi feita com
- 10ml de vinagre branco base apenas na avaliação dos alunos que a prepararam.
- Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo: REFERÊNCIAS
1- Em uma panela média, colocar água para ferver com o vinagre;
2- Enquanto isso, tirar o talo e a ponta do quiabo; 1 - ESTEVÃO, William. GARDE MANGER TÉCNICAS DA
3- Tirar o talo da couve e fazer lâminas retangulares, quanto COZINHA FRIA: turismo, hospitalidade e lazer. Elaborada por
maiores as lâminas, melhor; Centro de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão - Cetec
4- Fazer tiras de pimentão com a espessura aproximada a 3mm.; Capacitações Responsável.
5- Branquear o quiabo por 3min. e a couve por 1min. na água que
está fervendo; 2 - SACKETT, Lou; PESTKA, Jaclyn; GISSLEN, Wayne.
6- Deixar os a couve e o quiabo escorrendo o excesso de água; Professional Garde Manger: a comprehensive guide to cold food
7- Em um processador, colocar o pargo e 40g de clara e processar preparation. New Jersey, Eua: John Wiley & Sons, 2010. 780 p.
por 3min.;
8- Peneirar o peixe em duas peneiras: uma mais grossa e outra 3 - CULINARY INSTITUTE OF AMERICA. Garde manger: the art
mais fina; and craft of the cold kitchen. 4th ed. Hoboken, NJ: John Wiley &
9- Adicionar o restante das claras e processar novamente por mais Sons, c2012. xiii, 706 p. ISBN 9780470587805.
1min;
10- Em banho maria invertido, dispor o peixe e, aos poucos, ir 4 - APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia da ciência: filosofia e
adicionando o creme de leite até que, quando suspender a espátula prática da pesquisa. Thomson, 2006.
a massa caia em blocos;
11- Em uma forma retangular alta (20x8x5cm), cobrir com papel 5 - GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social.
filme próprio para forno e trançar as lâminas de couve, deixando editora Atlas. São Paulo–SP, 1999.
metade do seu comprimento para fora da forma;
12- Fazer camadas de farce, pimentões, farce, quiabos, farce, 6 - ANGELO, Elis Regina Barbosa. Métodos e técnicas de pesquisa
pimentões e farce; em turismo. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
13- Fechar a parte superior com a couve que ficou para fora da
forma, tirando os excessos, caso necessário; 7 - BRITO, Otávio Henrique M. de. Cozinha fria e clássica. Curitiba:
14- Tampar a forma ou envolver com papel alumínio e levar ao Universidade Positivo, c2018. 154 p. ISBN 9788584863440
forno, em banho-maria, pré-aquecido a 150ºC por 1h;
15- Esperar esfriar antes de desenformar e cortar. 8 - MONTAGNÉ, Prosper. Nouveau Larousse gastronomique.
Paris, France: Librairie Larousse, 1967. 1064 p.
Figura 1 - Resultado do experimento
9 - FERREIRA LIMA, Anna Erika et al. Alimentos tradicionais
enquanto estratégia de soberania alimentar: o caso do município de
Baturité – Ceará – Brasil. Geosul, Florianópolis, v. 34, n. 71, p. 809-
835, maio 2019. ISSN 2177-5230
CONCLUSÕES
315
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
O rótulo é o meio de comunicação entre a indústria e o consumidor orientações sobre o consumo do produto. Em alegações
(1). Os alimentos embalados não devem apresentar informações, nutricionais foram encontrados “e você me quer só porque sou rica
figuras, desenhos ou qualquer outra forma de comunicação que em ômega 3, fibras e antioxidantes”, “prazer, sou a farinha de coco
induza o cliente ao erro ou engano, tornando a informação falsa ou e sou fonte de fibras, proteínas e muito gostosa”, “substitui a
insuficiente (2). O objetivo desse estudo foi avaliar as informações farinha de trigo integral”, “sem açúcar”, “fonte de fibras* como
presentes nas embalagens dos produtos com denominação de
toda farinha de coco”, “Fonte de fibras”, “ômega 3* como todo
farinha e se estavam compatíveis com a legislação geral de
alimento semelhante”, “fonte de fibras, selênio e magnésio* como
rotulagem brasileira vigente.
todo fubá integral”, “100% integral”, “100% natural”, “sem
glúten”, “sem lactose”, “vegan”, “100% integral preserva as partes
MATERIAIS E MÉTODOS nutritivas”, “rica em fibras, fonte de vitaminas e minerais”. Os
apelos comerciais e orientações sobre o consumo do produto
Estudo transversal descritivo, onde foram visitados 3 encontrados foram “alimentos sinceros”, “gourmet”, “produto
supermercados, na cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas orgânico”, “para uso in natura e culinário”, “ideal para frutas,
Gerais, no período de junho a julho de 2020. Foram fotografados saladas e pães”, “seu corpo sua casa”, “moída em moinho
os lados da embalagem frente e verso e quando necessário os 4
artesanal”,” “Papo reto: sabia que muitos produtos chamados
lados da embalagem, dos produtos com denominação Farinha no
“integrais” são feitos com farinhas reconstituídas só para durarem
rótulo. Os dados coletados foram lançados em uma planilha de
Excel e comparadas com a legislação RDC 360/03, RDC 359/03 e mais na despensa e não preservam todas as propriedades dos grãos
RDC 259/02. integrais? (Marca) é diferente”, “Nós, (marca), acreditamos que a
mudança começa pelo nosso prato. Por isso, temos paixão em
RESULTADOS produzir alimentos naturais e orgânicos, que nutrem o corpo, a
alma e a nossa mãe terra”, “paixão por cozinhar”, “O que a nossa
Foram encontradas 20 marcas de produtos com denominação de farinha tem de bom”, “orgânica, livre de agrotóxicos”, “1º
venda farinha, totalizando 40 rótulos, divididas em farinha de maca pacotinhos feitos 100% de papel”, “cada saquinho conta”, “não
(1), amêndoas (2), arroz (4), aveia (3), amaranto (1), banana verde polua, evolua”, “após aberto, armazene na geladeira ou em local
(1), castanha de caju (1), chia (2), coco (4), fubá (1), linhaça fresco”, “valorizando a biodiversidade brasileira”, “7 princípios
marrom (1), mandioca (1), Psyllium (1), (3) sem glúten (mistura de dos produtos (marca) 1-integrais de verdade menos processados; 2-
farinha de arroz, fécula de batata, fécula de batata e estabilizante orgânicos sempre que possível; 3-ingredientes da biodiversidade
INS 415), rosca (1), trigo (7), trigo com fermento (2) e trigo brasileira; 4-privilegiando pequenos agricultores; 5-livres de
integral (4). As farinhas foram disponibilizadas em quantidades de pozinhos artificiais; 6-livres de transgênicos; 7-feitos com sabor e
100g (maca, coco, amêndoas), 130g (castanha de caju), 150g afeto”, “produtos naturais”, “Mais orgânicos e amor, por favor!
(chia), 200g (banana verde, coco e Psyllium), 250g (chia), 300g Acreditamos que a mudança começa pelo nosso prato. Por isso,
(coco e rosca), 400g (arroz), 500g (sem glúten, trigo integral, apresentamos os tradicionais ingredientes da cultura brasileira
mandioca, fubá, aveia e arroz) e 1kg (arroz, trigo, trigo integral, cultivados de forma orgânica, livres de agrotóxicos”, “Bolo de
trigo com fermento e sêmola/ semolina). A porção para as farinhas fubá com erva doce, tão gostoso quanto abraço de vó”, “aqui tem
de coco, Psyllium e amêndoas foi indicada em 10g e a conversão orgânico e afeto”, “voltamos, tradição que você reconhece”,
para medida caseira variou em 1 colher de sopa para coco, “enriquecida com ferro e ácido fólico”, “tradicional”, “aquele
Psyllium e amêndoas. Em uma marca informou 1 colher de chá toque de sabor que faz a diferença”, “O enriquecimento de farinhas
para a farinha de amêndoas como conversão de consumo para com ferro e ácido fólico é uma estratégia para combate a má
medida caseira; Em 3 marcas a porção da farinha de coco foi formação de bebes durante a gestação e da anemia”, “puríssima”,
informada em 12 g e a conversão da medida caseira variou em 2 “matéria prima selecionada”, “moída carinho”, “praticidade para o
colheres de chá e 2 colheres de sopa. A porção para as farinhas de seu dia a dia”, “quantidade ideal de fermento”, “Ideal para todas as
castanha de caju, aveia e rosca foi em 30g, variando a orientação receitas”, “padaria sem glúten – farinha de arroz”, ”solução
de medida caseira em 2 colheres (castanha de caju e aveia) e 3 completa”, “sem glúten”, “sem conservantes”, “nova receita!’,
colheres de sopa (rosca). A porção de 50g foi indicada para as “absorve menos gordura”, “sem sódio”. A Informação Nutricional
farinhas de trigo, arroz, fubá, aveia, mandioca e sêmola/ semolina e de 1 embalagem estava em inglês, sem tradução para o português
variou a orientação na medida caseira, por causa do peso e do (3) e em 2.5% (1) rótulo de farinha de trigo, estava no idioma
tamanho da espessura do alimento, que seriam em 1 xícara para Italiano, sem tradução para o português (3). Em 5% (2) rótulos não
farinha sem glúten; ½ xicara (farinha de trigo integral, trigo constavam a medida caseira para consumo (4). Em relação a
comum, arroz, sem glúten, arroz e sêmola/ semolina); 1/3 de xícara comunicação de alérgenos, em 1 embalagem orienta que pode
(fubá e arroz), ¼ de xícara mandioca, ¾ de xícara aveia. Foram conter traços de amendoim e amêndoas, a informação sobre traços
encontradas informações nos rótulos que serão divididas em está incorreta (5). Em 11 rótulos é informado somente xícara na
alegações nutricionais; alegações do marketing sobre o produto e conversão da porção para medida caseira porem, temos xícara de
316
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
317
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
Dois cortes de pernil caprino (de animais sem padrão racial definido-
SPRD) foram obtidos em frigorífico do município de João Pessoa-
PB. Os pernis foram acondicionados sob refrigeração, após a toalete
(11), com monitoramento da umidade relativa do ar e temperatura
(3°C) para envelhecer à seco, envoltos em tecido de algodão cru
higienizado e codificados como SA (sem ácido) e CA (com ácido). O
corte SA não recebeu intervenção e no corte CA foi aspergido a
solução de ácido acético a 2% (v/v) na superfície, uma vez ao dia.
Cada tratamento foi submetido a 5 tempos de armazenamento (T0 –
0 dias, T1 – 7 dias, T2 - 14 dias, T3 – 30 dias, T4 – 45 dias, T5 – 60
dias). A caracterização físico-química foi realizada em triplicata:
determinação da cor instrumental (12), capacidade de retenção de
água [CRA] (13), determinação do teor lipídeos (14) e proteínas, justificada por mais absorção da luz do que reflexão, diminuição de
composição centesimal, atividade de água [Aw], pH (15), água no tecido muscular e maior deposição de gordura (24,25) e
determinação das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico aumento ao final. O aumento de L* no final da maturação pode ser
[TBARS] (16) e teor de carbonilas totais [DNPH] (17)). As análises justificado pela superfície áspera e irregular da carne devido à perda
de oxidação foram realizadas somente no T0, T2 e T5. Os dados de umidade (26). Na variável a* foram observadas diminuição ao
foram submetidos à análise da variância (ANOVA), com longo dos dias (CA), e aumento no final (SA). Em relação ao
delineamento experimental casualizado e os tratamentos parâmetro b* (SA), houve diminuição e aumento no final, no pernil
estatisticamente diferentes foram comparados por meio do teste de CA a diminuição foi notada a partir do T3. A maturação por mais
Tukey ao nível de 5%, através do software estatístico SigmaStat 4.0. tempo afetou mais as amostras maturadas à seco e diminuiu os
valores de L* e aumentou os valores a* e b* de maneira maior (27).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores de cinzas (SA) apresentaram diferença a partir do T3,
Os resultados das análises estão nas Tabelas 1 e 2. Observou-se sendo observada aumento ao longo dos dias, já no pernil CA, houve
diminuição no parâmetro Aw ao longo do tempo, com maior Aw no diferença quando comparados T2 e T3, com aumento a partir do T3,
pernil CA pela provável pulverização da solução. Menores valores de valor este semelhante à literatura (28). Para os valores de proteínas,
Aw são encontrados quando comparadas as carnes maturadas úmidas houve diferença quando comparados o T3 e T4 (SA). Para o pernil
(18). Houve diferença no pH a partir do T3 e após o T4 (SA), com CA foi encontrada diferença na comparação entre T2 e T3, com
elevação ao longo do tempo. Houve diferença na comparação de T0 aumentos em ambos (SA e CA). Os valores iniciais (T0) são
com T2, T3 e T4 (CA), diminuição ao longo dos dias e aumento no coerentes com a literatura (29). Nas análises de lipídeos (SA), houve
final. A variação pode ter sido causada pela pulverização. O pH é diferença a partir do T4 e na comparação de T3 e T5 (CA), com
influenciado pela raça o animal e maturação, influenciadas por aumento ao longo dos tempos. Segundo a literatura, os teores diferem
fatores ante mortem (19,20,21). Os valores de umidade apresentaram entre as raças, pela alimentação e criação (30, 31). Nota-se que a
diferença a partir do T2 (SA) e diminuição ao longo do tempo, variação da composição centesimal está diretamente relacionada com
inclusive no perfil CA. Foi observada diminuição da CRA ao longo a diminuição de umidade observada, visto que está perda tende a
do período para o pernil SA. Houve diferença estatística entre T2 até concentrar os componentes da carne (32). Os valores de TBARS e
T4 (CA) e aumento no final do armazenamento. O valor DNPH (Tabela 2) variaram entre o T0 e T5 (SA). O pernil SA
demonstrou aumentou em ambas as análises. O pernil CA apresentou
aumento inicial em ambas as análises, com queda ao final. Entre os
tratamentos, a carne SA apresentou valores superiores na oxidação
proteica. Alguns autores informam que bactérias láticas podem inibir
a oxidação lipídica, cuja liberação de derivados de proteínas possui
318
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
capacidade de proteção contra o processo oxidativo (33, 34). (10) FREIBERGER, R. C. P.; Utilização de ácidos orgânicos como
Relacionando o teor de lipídeos com os valores de TBARS, se conservantes em linguiças curadas cozidas embaladas à vácuo. 2016.
observa um baixo teor de lipídeos e de TBARS, portando baixa 77p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) -
propensão à oxidação lipídica. A análise de oxidação proteica Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
revelou um aumento e constância do teor de carbonila para o pernil
SA. Autores relatam teores inferiores para lipídeos, relacionado ao (11) GONTIJO, R. P.; Características de qualidade da carne bovina
processo de maturação e relatam êxito para inibir à oxidação lipídica, maturada proveniente do músculo semispinalis thoracis. 2017. 44p.
porém pouco eficazes frente a oxidação proteica (35). Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2017.
ONCLUSÃO
O processo de maturação à seco provoca mudanças físico-químicas (12) ABULARACH, M. L. S.; ROCHA, C. E.; FELÍCIO, P. E.
na carne. A carne SA apresenta aumento em sua CRA, com impacto Características de qualidade do contrafilé de touros jovens da raça
na maciez, textura e suculência, devido a maior capacidade das Nelore. Ciênc. e Tecnol. Aliment., 18, 2, 205-210, 1998.
proteínas reterem água em seu interior. As amostras apresentam
redução na umidade, Aw, (SA/CA) e aumento na composição (13) ALFRANCA, I. S.; Aportación al estudio del cruce Blanco
centesimal. A carne maturada SA sofre maturação de forma mais Belga x Landrace: Caracteres productivos, calidad de la canal y de la
carne. Instituto de Economía y Producciones Ganaderas del Ebro,
intensa. Recomenda-se que estudos posteriores determinem as
1973.
semelhanças e diferenças de flavor através de análises sensoriais. Os
níveis de oxidação lipídica estão de encontro com as características (14) FOLCH, J.; LESS, M.; STANLEY, S.A Simple method for the
da carne caprina, sem evidências de oxidação, assim como a análise isolation and purification of total lipids from animal tissues. Journal
de oxidação proteica, que indica baixos teores de compostos of Biological Chemistry, 226, 497-509, 1957.
carbonílicos. Não é possível afirmar que a solução de ácido acético
(15) AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
CHEMISTS. Official Methods of Analysis. Washington: AOAC,
2010. 1018p.
(2) IBGE. Pesquisa da pecuária Municipal 2017. Disponível em: (20) VILELLA, G. F. Efeito dos processos de maturação úmido e
https://biblioteca.ibge.gov.br. seco e suas combinações nos atributos físicos, químicos e sensoriais
em filé de costela bovino. Campinas, SP: [s.n.], 2016.
(3, 23, 28, 29, 31) DIAS, R. P.; DUARTE, T. F.; GARRUTI, D.
ZAPATA, J. F. F.; MADRUGA, M. S.; VASCONCELOS, P. M.; (24) SABADINI, E.; HUBINGER, M. D.; SOBRAL, P.J. do A.;
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caprinocultura e da ovinocultura brasileiras, 5, MS. 2006. Tecnol. Aliment., Campinas, 21,1, 14-19, 2001.
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Setorial, RJ, 31, 281-320, 2010. retenção de água e maciez da carne de cordeiro maturada e injetada
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(8) LEYGONIE, C.; BRITZ, T. J.; HOFFMAN, L. C. Impact of 2016.
freezing and thawing on quality of meat. Meat sci, 91, 2, 93-98, (34) CHEN, Q.; KONG, B.; HAN, Q.; XIA, X.; XU, L. The role
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2019, p. 261-269. review. Meat sci, 89, 3, 259-279, 2011.
319
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
As plantas fornecem diversas matérias primas para a produção RESULTADOS E DISCUSSÕES
de remédios para os seres humanos, sejam elas flores, folhas, raiz, ou
até cascas. A escolha das ervas é uma parte importante para a produção Com base na análise linguística das palavras o estudo busca
de remédios naturais. diferenciar a conceituação do termos “Chá/ Tea/ Té/ Tee/ Té” e
No Brasil, existe um equívoco no emprego da palavra “Chá”, “Tisana/Tisane/ Tisane/ Kräutertee/ Tisana”, por meio de diferentes
pois ela só pode ser empregada nas bebidas em que são utilizadas as referências bibliográficas, principalmente em dicionários de Português
folhas da árvore Camellia sinensis (figura 01). Segundo Gaylard (2016) (4), Inglês (5), Francês (6), Alemão (7) e Espanhol (8) respectivamente.
(1), os únicos que podem ser chamados de chás são: o branco, o verde, Após o estudo, buscou-se referências bibliográfica que dessem mais
o oolong, o pu erh e o preto. Eles são diferenciados apenas pelo informações sobre o assunto. Além disso, o estudo deve abordar
processo de preparação das folhas da Camellia sinensis. diferentes formas de preparos para análise das diferenças entre chás e
Para tratar das demais ervas será utilizado o termo Tisana. Tisanas, para essa etapa entrevistei uma moradora de Pelotas-RS
O objetivo é apresentar argumentos que demonstrem que na fazendo a seguinte pergunta: “Sem pesquisar prévia, você saberia o que
preparação das Tisanas os métodos de preparo são mais amplos do que é Tisana? Obtive como resposta:
o chá.
“Geralmente para nós aqui, Tisana é quando deixamos ferver
Figura 01 – Árvore da Camellia sinensis
cascas, ou folhas ou flores para fins medicinais. Não se usa
muito este termo agora, mas antigamente usava direto. Se
tomava Tisana, era para remédio. Se chá, para acompanhar
algo para comer. Mas Tisana somente quando a gente fervia
a erva junto com a água (AMARAL,2020). (9)”
320
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 04- Infusão para uma Tisana. Esse processo também pode ser Observa-se que, por ser pouco utilizada a palavra Tisana, são
utilizado no chá. confundidas com o termo “infusão”. Este termo não é mais adequado,
uma vez que este é apenas o método de preparo das diversas ervas.
Sendo assim, muitas das bebidas que consumimos chamando
de chá ou infusão são na verdade: Tisanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fonte: Autoras
Fonte: Da autora.
CONCLUSÕES
No Brasil, usa-se o termo chá para toda bebida quente feita
com folhas, ervas, cascas e frutas, flores e etc. Quando passamos a
conhecer realmente o chá, entendemos que ele é produzido
exclusivamente pela infusão das folhas da Camellia sinensis (chá
branco, verde, oolong, pu-erh e preto) (13). No Nordeste do Brasil esse
equívoco pode ter sido decorrente da influência indígena que já
preparava bebidas quentes principalmente para fins medicinais.
321
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Elder Pacheco da Cruz1, Gabriel Lucas Pail2, Laura Martins Fonseca3, Elessandra da Rosa Zavareze4, Alvaro Renato
Guerra Dias5
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
2
Discente de Bacharelado em Química de Alimentos do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos
(CCQFA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
3
Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
4
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustral (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
5
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustral (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Autor correspondente: elder-pdc@hotmail.com
PALAVRAS CHAVE: eletrospinning, encapsulação, nanotecnologia
INTRODUÇÃO: A nanotecnologia consiste na produção e exploração MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo foi realizado do tipo
de materiais em nanoescala, e nas últimas décadas, vem ganhando exploratório-descritivo por meio de pesquisas bibliográficas oriundas
espaço na ciência e na engenharia. Os nanomateriais são utilizados, de publicações e resultados de pesquisas específicas sobre a temática
praticamente, em todas as indústrias, incluindo as indústrias de proposta: amidos eletrofiados. As bases de dados utilizadas foram
alimentos e embalagens (1). Esses nanomateriais, em especial as Science Direct, Springer, Wiley, Scielo, PubMed e Lilacs utilizando os
nanofibras, apresentam algumas vantagens, como por exemplo, seguintes descritores: “starch electrospinning”, “starch nanofibers by
aumento da biodisponibilidade e versatilidade, e quando aplicados para electrospinning”, “nanotechnology” e “electrofiled nanofibers”. Ao
encapsulamento de compostos bioativos ocorre um aumento na final da busca foram selecionados 15 artigos dos últimos 10 anos, no
eficiência de encapsulamento e controle do comportamento de qual, apresentaram maior relevância sobre o tema abordado.
liberação dos compostos (2). A utilização da técnica de eletrofiação se
destaca na fabricação de nanofibras, devido, a sua simplicidade, e RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na literatura, em meios de pesquisas
principalmente, por ser um processo não térmico (3). Somado a isso, as e patentes, foram relatadas tentativas de produção de fibras de amido
nanofibras produzidas a partir do processo de eletrofiação desenvolvem (4). Primeiramente, ocorreram tentativas de produção com alta amilose,
algumas vantagens, tais como, alta área superficial, flexibilidade para porque essa macromolécula é linear e, portanto, presumiram-se que se
uma grande variedade de formas e tamanhos e a capacidade de controlar associava prontamente lado a lado em condições favoráveis. No
a composição das nanofibras para alcançar os resultados desejados a entanto, o alto custo da purificação da amilose se torna um obstáculo
partir de suas propriedades e funcionalidades. No processo de para a produção em alta escala, uma vez que a amilose é o componente
eletrofiação, são necessários quatro componentes: uma fonte de alta secundário da maioria dos amidos (4, 9). Comumente, são encontrados
tensão (para geração do campo elétrico); um tubo capilar (normalmente estudos que usam eletrofiação de amido nativo incorporando com
uma agulha de pequeno diâmetro); uma bomba de infusão (para outros polímeros sintéticos, como por exemplo, poli (óxido de etileno)
alimentação da solução polimérica no sistema) e uma placa coletora. O (PEO), na solução formadora de fibras (10). Jaiturong et al. (11)
processamento, se dá com a fixação de um eletrodo a uma agulha que produziram nanofibras eletrofiadas de amido de arroz glutinoso
se conecta ao tubo capilar (seringa) contendo o polímero, enquanto combinado com álcool polivinílico (PVA) e as nanofibras apresentaram
outro eletrodo conecta-se ao coletor. O campo elétrico é gerado por alta diâmetro média de 191 ± 25 nm. Komur et al. (12) produziram
tensão pela diferença de potencial aplicada no coletor e na extremidade nanofibras de amido de milho e policaprolactona (PCL) e relataram que
do tubo capilar contendo o fluido que induz uma carga elétrica na o diâmetro médio das nanofibras foi de aproximdamente 150 nm. Por
superfície do líquido. À medida que a intensidade do campo eléctrico é mais que seja mais comum, nesses casos, o amido não é o principal
aumentado, a superfície do fluido na ponta do tubo capilar se alonga polímero na fibra resultante. Então, para tornar a produção das
para formar uma forma cónica, chamada Cone de Taylor. No processo nanofibras a partir de amido como polímero único na solução como uma
do jato da agulha para o coletor, o solvente evapora e as fibras secas são estratégia eficaz e economicamente viável, alguns estudos têm sido
depositadas na placa coletora como uma rede interligada (4, 5, 6). As realizados (3, 4, 8, 13, 14, 15). Recentemente, pesquisadores
nanofibras eletrofiadas são produzidas com soluções poliméricas, e alcançaram a produção de fibras de amido puro por eletrofiação,
embora, seja mais fácil obter nanofibras a partir de polímeros sintéticos, envolvendo o uso do solvente dimetilsulfóxido (DMSO), para amido
em razão das suas estruturas químicas complexas, baixa solubilidade e nativo de alta amilose (teor de amilose de cerca de 80%) e a fiação com
alta tensão superficial, os polímeros naturais são desejados devido à sua uma configuração de eletrofiação modificada. Além disso, um
biocompatibilidade e biodegradabilidade (7). Em destaque, o amido é tratamento térmico pós-fiação e reticulação foram empregados para
um polímero que tem sido alvo de interesse e curiosidade na melhoramento das propriedades da fibra de amido, incluindo
eletrofiação, devido a suas características, tais como, versatilidade, estabilidade à água. Eles concluíram, que as fibras de amido puro
biodegradabilidade, fácil acesso e baixo custo (3). Embora o amido, não foram, pela primeira vez, fabricadas pela técnica de eletrofiação
possa ser facilmente eletrofiado, alguns estudos já relatam a utilização modificada, ou seja, “eletrofiação úmida, do inglês “electro-wet-
desse polímero, e ainda, para encapsulação de compostos bioativos, spinning”, e, observaram que quando aplicada uma alta tensão jatos
produzindo nanofibras com propriedades antioxidantes e contínuos foram obtidos, ocorrendo, a fabricação fibras de amido de
antimicrobianas (2, 3, 8). Deste modo, objetivou-se realizar um breve alta amilose lisas e uniformes (4). Em outro estudo, pesquisadores
levantamento de dados, sobre estudos que alcançaram a eletrofiação de produziram fibras de amido de milho com alto teor de amilose (Hylon
nanofibras amido. VII), usando ácido fórmico em diferentes concentrações como solvente
e submetendo cada solução polimérica a diferentes tempos de descanso
após sua produção, ou seja, 2, 6, 24 e 72 h antes da eletrofiação (obtendo
variação de diâmetro das fibras de 80-300 nm). Os autores relataram
322
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
que o tempo de descanso altera as propriedades reológicas da solução, amido, está relacionado, ao alto teor de amilopectina, que é um aspecto
ou seja, sua viscosidade, e isso, junto com as variações na concentração desafiador. No entanto, vêm sendo estudadas nanofibras produzidas
do solvente, resulta em fibras com morfologias distintas (14). Além dos com amido de normal teor de amilose e ainda com aplicações voltadas
estudos supracitados que utilizam amidos com alto teor de amilose a indústria alimentícia como agentes antioxidantes e antimicrobianos.
ainda foram encontrados estudos relatando a produção de nanofibras de Vale ressaltar, que esse tema requer mais exploração e investigação
amido com normal teor de amilose. Um estudo foi realizado por usando abordagens predefinidas e diferentes.
Fonseca et al. (8), que produziram fibras ultrafinas de amido de batata
solúvel (com teor normal de amilose de 32,54 ± 3,65%) por eletrofiação REFERÊNCIAS:
e fizeram a avaliação das características das fibras partir de soluções
formadoras de fibras submetidas a diferentes tempos de descanso (0, (1) AMETA, S. K.; RAI, A. K.; HIRAN, D.; AMETA, R.; AMETA S.
24, 48 e 72 h antes da eletrofiação). Os autores relataram que as fibras C. Use of nanomaterials in food science. Biog Nano-Particles their
ultrafinas apresentaram morfologia cilíndrica e homogênea, com Use Agro-ecosystems. p. 457-488, 2020.
diâmetro médio na faixa de 128–143 nm, e ainda, que o tempo de
descanso da solução influenciou a viscosidade das soluções poliméricas (2) ZHANG, C.; LI, Y.; WANG, P.; ZHANG, H. Electrospinning of
formadoras de fibras. Em outro estudo, foram produzidas e investigadas nanofibers: Potentials and perspectives for active food packaging.
fibras de amido de milho nativo e aniônico com diferentes teores de Compr Rev Food Sci Food Saf. v. 19, p. 479-502, 2020.
amilose por eletrofiação. O amido aniônico foi produzido por meio da
(3) FONSECA L. M.; DE OLIVEIRA, J. P.; CRIZEL, R. L.; DA
fosfatação utilizando tripolifosfato de sódio. Os autores ainda
SILVA, F. T.; ZAVAREZ, E. R.; BORGES, C. D. Electrospun starch
investigaram diferentes tempos de descanso das soluções poliméricas
fibers loaded with pinhão (Araucaria angustifolia) coat extract rich in
(24, 48 e 72 h) que foram dissolvidas em ácido fórmico aquoso 75%.
phenolic compounds. Food Biophys. 2020. doi:10.1007/s11483-020-
Eles concluíram que as fibras de amido apresentaram diâmetros médios
09629-9
variando de 70 a 264 nm, e, as fibras produzidas com amido aniônico
Hylon V (50% de amilose) apresentaram-se mais homogêneas e (4) KONG, L.; ZIEGLE, G. R. Fabrication of pure starch fibers by
maiores em diâmetro do que aquelas submetidas a eletrofiação a base electrospinning. Food Hydrocoll. v. 36, p. 20-25, 2014.
de amido nativo Hylon V (sem modificação). Ainda, relataram que o
tempo de descanso das soluções afetou suas propriedades reológicas, (5) BHARDWAJ, N.; KUNDU, S. C. Electrospinning: A fascinating
resultando em maior heterogeneidade das fibras (13). Estudos sobre a fiber fabrication technique. Biotechnol Adv. v. 2010, p. 325-347, 2010.
eletrofiação se tornam mais interessantes quando utilizados para
encapsulação de compostos bioativos, aumentando sua aplicabilidade (6) KULKARNI, A.; BAMBOLE, V. A.; MAHANWAR, P. A.
devido às atividades antioxidantes e antimicrobianas, por exemplo. Electrospinning of polymers, their modeling and applications. Polym -
Assim, tornando viável sua aplicação na indústria de alimentos tanto na Plast Technol Eng. v.49, p. 427-441, 2010.
matriz alimentar quanto na embalagem alimentícia. No entanto, são
escassos estudos que utilizem fibras de amido com essa finalidade. (7) ASHRAF, R.; SOFI, H. S.; MALIK, A.; BEIGH, M. A.; HAMID,
Como pioneiro na encapsulação de compostos, no estudo realizado por R.; SHEIK, F. A. Recent Trends in the fabrication of starch nanofibers:
Fonseca et al., (15), foi proposto um método para encapsular carvacrol Electrospinning and non-electrospinning routes and their applications
em nanofibras eletrofiadas de amido de batata solúvel (com teor de in biotechnology. Appl Biochem Biotechnol. v. 187, p. 47-74, 2019.
amilose de 32,5 ± 3,6%). Os autores realizaram a caracterização quanto
as propriedades físicas, térmicas e mecânicas, bem como as atividades (8) FONSECA, L. M.; SILVA, F. T.; ANTUNES, M. D.; HALAL, S.
antimicrobiana e antioxidante das nanofibras. Os pesquisadores L. M.; LIM, L. T.; DIAS, A. R. G. Aging time of soluble potato starch
constataram que as nanofibras foram eletrofiadas com sucesso, e que, solutions for ultrafine fibers formation by electrospinning.
as nanofibras de amido de batata puro apresentaram morfologia Starch/Staerke. v. 71, 2019. doi:10.1002/star.201800089
fundida. Entretanto, aquelas carregadas com carvacrol apresentaram
morfologia homogênea com diâmetros médios variando de 73 a 95 nm. (9) KONG, L.; ZIEGLER, G. R. Role of molecular entanglements in
Além disso, as nanofibras de amido carregadas com carvacrol exibiram starch fiber formation by electrospinning. Biomacromolecules. v. 8, p.
alta atividade antioxidante e antimicrobiana, ressaltando, que essas 2247-2253, 2012.
atividades são promissoras em aplicações como sistemas de embalagem
ativas de alimentos para estender a vida útil e garantir a segurança dos (10) SUNTHORNVARABHAS, J.; THUMANU.; LIMPIRAT, W.;
KIM, H. J.; PIYACHOMKWAN, K.; SRIROTH, K. Assessment of
produtos alimentícios. Recentemente, em um estudo foi realizada a
material blending distribution for electrospun nanofiber membrane by
encapsulação de extrato da casca de pinhão (Araucaria angustifolia) em
fibras de amido de batata solúvel produzidas por eletrofiação e foram Fourier transform infrared (FT-IR) microspectroscopy and image
avaliadas sua atividade antioxidante e liberação de compostos fenólicos cluster analysis. Infrared Phys Technol. v. 66, p. 141-145, 2016.
in vitro. Esse estudo encapsulou com sucesso o extrato da casca de
(11) JAITURONG, P.; SIRITHUNYALUG, B.; EITSAYEAM, S.;
pinhão rico em compostos fenólicos, e ainda, as fibras produzidas
ASAWAHAME, C.; TIPDUANGTA, P.; SIRITHUNYALUG, J.
apresentaram morfologia homogênea e diâmetros médios variando de Preparation of glutinous rice starch/polyvinyl alcohol copolymer
96 a 124 nm e atividade antioxidante. Além disso, a estabilidade térmica
electrospun fibers for using as a drug delivery carrier. Asian J Pharm
do extrato foi aumentada quando incorporado nas fibras de amido e as
Sci. v. 14, p. 239-247, 2018.
fibras apresentaram rápida, mas baixa liberação de compostos fenólicos
in vitro em meios hidrofílicos e hidrofóbicos. Os autores justificam que (12) KOMUR, B.; BAYRAK, F.; EKREN, N.; EKREN, N.; EROGLU,
a rápida liberação dos fenólicos pode ser desejável para a atividade M. S.; OKTAR, F. N.; SINIRLIOGLU, Z. A.; YUCEL, S.; GULER,
antioxidante, dependendo das condições de uso final da preservação de O.; GUNDUZ, O. Starch/PCL composite nanofibers by co-axial
alimentos, e que, a liberação deve ser baixa se o objetivo da electrospinning technique for biomedical applications. Biomed Eng
encapsulação for a proteção dos fenólicos para prevenir sua degradação, Online. v. 16, p. 1-14, 2016
a fim de proporcionar uma liberação controlada e específica para
manter sua biodisponibilidade. (3). Apesar de extremamente escassos, (13) FONSECA, L. M.; DE OLIVEIRA, J. P.; DE OLIVEIRA P. D.;
a utilização de amido como encapsulante de compostos por eletrofiação ZAVAREZE, E. R.; DIAS, A. R. G.; LIM, L. T. Electrospinning of
se torna muito uma alternativa interessante, pois essa técnica não native and anionic corn starch fibers with different amylose contents.
envolve altas temperaturas ou pressões na produção de nanomateriais. Food Res Int. v. 116, p. 1318-1326, 2019.
Assim, possibilita a proteção dos compostos para não se degradarem
quando em contato com o ambiente externo. Além de propiciar uma (14) LANCUŠKI, A.; VASILYEV, G.; PUTAUX, J. L.; ZUSSMAN,
liberação controlada e específica (3). Ainda, o amido é o polímero E. Rheological properties and electrospinnability of high-amylose
natural mais abundante na natureza e extremamente barato, sendo ideal starch in formic acid. Biomacromolecules. v. 16, p. 2529-2536, 2015.
para tais aplicações (4). No entanto, ainda são escassos os estudos
elucidando a produção de materiais de amido por eletrofiação. (15) FONSECA L. M.; CRUXEN, C. E. S.; BRUNI, G. P.; Fiorentini,
Â. M.; ZAVAREZE, E. R.; Lim, L. T.; DIAS, A. R. G. Development
CONCLUSÃO: Com esse breve levantamento de dados, foi possível of antimicrobial and antioxidant electrospun soluble potato starch
concluir que embora escassos, são relatados estudos na literatura que nanofibers loaded with carvacrol. Int J Biol Macromol. v. 139, p. 1182-
alcançaram a eletrofiação de nanofibras de amido. Mais comumente, 1190, 2019.
são encontrados estudos que relatam a eletrofiação com amidos com
alto teor de amilose. Estabelecendo, que o problema da eletrofiação de
323
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Soares, Elisângela.1; Silva, Marília2; Fonsêca, Sebastiana.2; Sousa, Poliana4; Silva, Jurandy5; Reis, Dilson.6
1
Autor Apresentador (Pôster), Especialista em gastronomia em panificação e confeitaria, Técnica do Laboratório de
Cozinha, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus Teresina Zona Sul;
2
Graduandos em Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus
Teresina Zona Sul;
4
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Técnica do Laboratório de Laticínios, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus Teresina Central;
5
Doutor em Biotecnologia, Técnico do Laboratório de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Piauí - Campus Teresina Zona Sul;
6
Mestre em Ciência dos Materiais, Técnico do Laboratório de Panificação, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí, Campus Teresina Zona Sul, Teresina-PI, Brasil.
elisangela.soares@ifpi.edu.br
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
324
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES
REFERENCIAS
325
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Luana Souza1, Raiane Silva2, Luis Gustavo Nascimento1, Camila Teixeira1, Evandro Martins3, Antônio de
Carvalho3
1
Doutorando(a) em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
2
Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
3
Professor Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
Autor correspondente: luana.virginia@ufv.br
INTRODUÇÃO umidade foi removido por sua exposição ao ambiente por 1 hora
(temperatura 25 ℃).
O queijo Minas Frescal é um produto obtido por coagulação enzimática
do leite. Esse queijo é um dos produtos não curados mais populares e Elaboração do Queijo Minas Frescal
produzidos no Brasil, apresentando um expressivo valor
socioeconômico e cultural. É considerado um alimento de fácil Os queijos foram elaborados em escala laboratorial. O leite destinado
produção, elevado consumo, porém, de consumo imediato e curta vida à elaboração dos queijos foi submetido à Pasteurização (65°C/ 30
de prateleira (1,2). De acordo com Câmara et al. (2002), o queijo Minas min), resfriado a 34°C e adicionado de Cloreto de Cálcio (Macalé,
Frescal, apresenta elevado teor de umidade, é altamente perecível e Juiz de Fora, Brasil) 0,02% (v/v) e coagulante Quimosina (18 g/L)
muito manipulado em seu processo de produção, sendo susceptível a (Prozyn, São Paulo, Brasil). Em seguida, o leite foi levemente
contaminação e multiplicação de microrganismos patogênicos e agitado e deixado em repouso por aproximadamente 45 minutos para
deterioradores (4). A contaminação microbiana em queijos merece a coagulação do leite. Ao final da coagulação, foi realizado o corte da
destacada atenção sobre bactérias patogênicas dos gêneros Salmonella, massa com um auxílio de uma lira. Em seguida, realizou-se uma leve
Staphylococcus aureus e Listeria monocytogenes que podem ser agitação da massa e posterior retirada de soro. Para dar aos queijos a
encontradas em derivados lácteos. Entre esses microrganismos, forma característica, prosseguiu-se com a etapa de enformagem, onde
podemos destacar a L. monocytogenes que é um agente causador de as massas foram inseridas em formas com capacidade para 250
enfermidades graves em homens e animais, é amplamente distribuída gramas de queijo. Posteriormente, foram realizadas duas viragens e
na natureza, tendo como principal característica a capacidade de uma salga a seco (1,2% m/m). Os queijos foram armazenados a 10°C
multiplicação em temperaturas de refrigeração e relativa resistência para as análises posteriores.
térmica (5). Do ponto de vista industrial, a adição de bacteriocinas e
outros agentes antimicrobianos naturais é uma alternativa para o Preparo da cultura
controle microbiológico em alimentos. As bacteriocinas possuem a
capacidade de interferir, por efeito bactericida ou bacteriostático, no Culturas de Listeria monocytogenes ATCC 7644 pertencentes à
crescimento de outras bactérias de espécies relacionadas. Entre as coleção de culturas do laboratório de Leite e Derivados
bacteriocinas conhecidas pode-se destacar a nisina, que possui um (INOVALEITE) foram previamente ativadas. Para isso, adicionou-se
amplo espectro de ação contra a maioria das bactérias Gram-positivas e 1 % da cultura em tubos Falcon contendo 10 mL de caldo Brain
seu principal mecanismo de ação está relacionado à formação de poros Heart Infusion - BHI (Oxoid, Hampshire, Reino Unido). Em seguida,
na membrana citoplasmática, resultando no extravasamento de material o tubo foi incubado a 37 °C por 24 horas. Após o período de
celular e consequentemente morte celular (6). Devido às características incubação, o tubo foi centrifugado (Thermo Scientific,
antimicrobianas da nisina e por sua adição ser permitida em queijos no Langenselbold, Alemanha) a 4500 rpm por 10 minutos e o
Brasil, estudos relacionam um alto potencial da sua aplicação com sobrenadante foi descartado. Foram realizadas duas lavagens
intuito de verificar a sua capacidade antagonista sobre diversos sucessivas com solução salina 0,85% e entre as lavagens ocorreram
microrganismos e em diferentes queijos. Pinto et al. (2011) verificaram centrifugações. Após a segunda lavagem e centrifugação, o pelete foi
o efeito antagonista de nisina sobre S. aureus em queijo Minas ressuspendido em 10 mL de caldo BHI para a posterior inoculação
artesanal do Serro (7). Márquez e Rojas (2017) avaliaram o efeito nos queijos.
inibitório da nisina sobre a Listeria monocytogenes em queijo tipo
“telita” (8). Tendo em vista os aspectos apresentados, o objetivo deste Análise microbiológica
estudo foi avaliar o efeito inibitório da nisina em solução e encapsulada
sobre L. monocytogenes em queijo Minas Frescal.
Para avaliação do efeito antimicrobiano das cápsulas de Nisina
aplicadas ao queijo Minas Frescal foram realizados três tratamentos
MATERIAIS E MÉTODOS em duplicata (T1,T2 e T3), sendo o T1 – Tratamento controle
(Listeria); T2 – Listeria + Solução de Nisina; T3 – Listeria + Cápsula
Elaboração das Cápsulas de Nisina de Nisina. O inóculo da cultura a ser adicionado aos tratamentos foi
padronizado para 1,8x106 UFC·mL-1 e a concentração de Nisina (T2
As cápsulas foram elaboradas através do método de gelificação direta
e T3) foi de 12,5 mg/Kg que é a concentração máxima permitida pela
conforme descrito por Narsaiah et al. com modificações (9).
legislação brasileira para uso em alimentos (10). Os tratamentos
Inicialmente, foi disperso em água deionizada alginato de sódio
foram realizados nos queijos na produção antes da etapa de
(Dinâmica, Indaiatuba, Brasil) a uma concentração de 20 g/L. Após a
enformagem e prosseguidos de incubação a 10°C. Foram avaliados
reidratação do alginato , foi adicionada nisina (Globalfood, Lubeque,
os tempos 0, 0,5, 1, 2, 8, 24 e 72 h. Em cada tempo a ser avaliado
Alemanha) na concentração de 1,2 g/L. A dispersão da nisina foi
foram pesadas 25 g do queijo de cada tratamento em sacos estéreis e
realizada usando agitador magnético (SpLabor, São Paulo, Brasil) a
diluídos em 225 ml de solução citrato de sódio (2% m/v) (Sigma
700 rpm até completa reidratação, que ocorreu em aproximadamente 15
Aldrich, Darmstadt, Alemanha) e homogeneizadas em stomacher
minutos. Para o processo de gelificação a suspensão foi gotejada a uma
BagMixer (Interscience, França). Posteriormente, prosseguiu-se com
distância de 6 cm em um banho de cloreto de cálcio (Macalé, Juiz de
a realização de diluições seriadas e o plaqueamento foi realizado em
Fora, Brasil) à 20 g/L sob agitação constante. As cápsulas foram
ágar seletivo Oxford (HIMEDIA, Mumbai, Índia). A incubação foi
formadas e permaneceram em contato com o banho por 5 minutos.
realizada a 37°C por 72 horas. Após incubação foi realizada a
Posteriormente, foram retiradas cuidadosamente e o excesso de
326
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 1. Resultado das contagens (T1, T2 e T3) em log UFC·mL-1 nos 4.McAULIFFE, O.; RYAN, M. P.; ROSS, R. P.; HILL, C.;
tempos (0, 0,5, 1, 2, 8, 24 e 72h ). BREEUWER, P.; ABEE, T. Lacticin3147,a broadspectrum
bacteriocin which selectively dissipates the membrane potential.
Em todos os tratamentos os resultados mostraram que não houve Applied and Environmental Microbiology, V.64, p.439, 1998.
diferença estatística significativa entre eles (p˃0,05). Isso indica que
independente do tratamento realizado com a Nisina, seja encapsulada 5.INTERNATIONAL COMISSION ON MICROBIOLOGICAL
ou em solução, não ocorreu o efeito inibitório sobre Listeria SPECIFICATION FOR FOODS. I – Their significance and methods
monocytogenes nos queijos. Além disso, após o período de 2h de of enumeration. 2.ed. Toronto: Toronto University Press, 2000.
incubação, em todos os tratamentos ocorreu um aumento gradativo na 439p.
população de L. monocytogenes. Estudos demonstram que algumas
estirpes de Listeria monocytogenes tem capacidade de se adaptar em 5.PINTO, F. G. S. et al. Qualidade microbiológica de queijo Minas
ambientes mais ácidos, como por exemplo, em alguns tipos de queijos Frescal comercializado no município de Santa Helena, PR, Brasil.
(11). Essa adaptação pode ocorrer devido à ativação do mecanismo de Arquivos do Instituto Biológico, v. 78, n. 2, p. 191-198, 2011.
resposta ao estresse. Assim, podem modificar sua membrana celular,
alterando os sítios de ligação em que a Nisina se adere (11,12). Além 6.MÁRQUEZ, J. G.; ROJAS, C. E. G. Efecto de la nisina sobre la
da acidez, outro fator importante pode influenciar na atividade de microflora patógena del queso blanco artesanal tipo “telita’ elaborado
Nisina sobre Listeria monocytogenes, como a concentração de sal em uma quesera de Upata, Estado Bolívar, Venezuela. Revista de la
presente no substrato. Algumas concentrações de Nacl podem fornecer Sociedad Venezolana de MIcrobiología, V 27, n 2, p.108-111, 2007,
um efeito protetivo sobre Listeria, impedindo a eficiência na ação da
Nisina (13). Há relatos de estirpes também resistentes a várias 9.NARSAIAH, K.; JHA, S. N.; WILSON, R. A.; MANDGE, H. M.;
concentrações de sal. Alguns autores atribuíram esse fenômeno à MANIKANTAN, M. R. Optimizing microencapsulation of nisin with
interferência do sal no metabolismo microbiano que interfere no fator sodium alginate and guar gum. Journal of food science and
de produção que liga o indutor ao receptor (14). Em contrapartida, technology, 51, 4054-4059, 2014.
estudos apontam que a Nisina pode até não apresentar eficácia para
controlar Listeria em queijos frescos, mas apresentam um potencial 10. BRASIL. Portaria nº. 146, de 7 de Março de 1996. Regulamento
sinérgico forte quando combinada com outras substâncias e/ou métodos técnico de identidade e qualidade de queijos. Diário Oficial da
de conservação de alimentos (15). Ibarra Sánchez et al. (2018) República Federativa do Brasil, Brasília, DF.
aplicaram nisina em queijo fresco e durante o armazenamento sobre
refrigeração não foi capaz de inibir a multiplicação de L. 11.CATALDO,G.; CONTE, M. P.;CHIARINI, F.; SEGANTI, L.;
monocytogenes nesse queijo. Já a combinação dessa nisina com uma AMMENDOLIA, M. G.; SUPERTI, F.; LONGHI, C. Acid
endolisina demonstrou uma forte sinergia com inibição total de L. adaptation and survival of Listeria monocytogenes in Italian-style
monocytogenes no queijo após 4 semanas de armazenamento (15). A soft cheeses. Journal of Applied Microbiology, v. 103, n. 1, p. 185-
eficiência da atividade inibitória de nisina também pode estar 193, 2007.
relacionada com o nível de contaminação do microrganismo, sendo
que, neste estudo o inóculo inicial aplicado aos queijos já estava na 12.OKEREKE, A.; THOMPSON, S. S. Induced acid-tolerance
concentração de 1,8x106 UFC·mL-1. Uma vez que a contaminação response confers limited nisin resistance on Listeria monocytogenes
inicial é alta, a eficiência da bacteriocina pode ser reduzida sendo Scott A. Journal of food protection, v. 59, n. 9, p. 1003-1006, 1996.
incapaz de prevenir a multiplicação do contaminante (13).
13.HUGAS, M.; GARRIGA, M.; PASCUAL, M.; AYMERICH, M.
CONCLUSÃO T.; MONFORT, J. M. Enhancement of sakacin K activity against
Listeria monocytogenes in fermented sausages with pepper or
A nisina em solução e encapsulada não foi capaz de inibir o manganese as ingredients. Food Microbiology, v. 19, n. 5, p. 519-
crescimento de L. monocytogenes em queijo minas frescal neste estudo. 528, 2002.
Além disso, o inóculo inicial utilizado de 1,8x106 UFC·mL-1 de Listeria
pode ter influenciado na eficiência da nisina. Além do inóculo, as 14.NILSEN, T., NES, I. F.; Holo, H. An exported inducer peptide
condições do ambiente do queijo, tais como, pH e concentração de sal regulates bacteriocin production in Enterococcus faecium
podem também ter influenciado na eficiência inibitória. Dessa forma, CTC492. Journal of Bacteriology, 180, 1848-1854, 1998.
mais estudos com a aplicação de Nisina em diferentes concentrações do
inóculo, aplicação em diferentes matrizes lácteas e uma avaliação por 15.IBARRA-SÁNCHEZ, L. A.; VAN TASSEL, M. L.; Miller, M. J.
um tempo maior pode ser uma alternativa para uma verificação de um Antimicrobial behavior of phage endolysin PlyP100 and its synergy
aumento na eficiência da Nisina. with nisin to control Listeria monocytogenes in Queso Fresco. Food
microbiology, 72, 128-134, 2018.
327
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Raissa Q. Andrade¹, Gabriel S. L. Pereira¹, Melissa A. R. Silva ², Thalita C. Santos3, Camila A. Jesus4, Juliana P. Lima5
¹Estudante de Graduação em Engenharia de Alimentos no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de
Minas Gerais, Campus Regional de Montes Claros - MG; ²Estudante de Graduação em Engenharia Agrícola e
Ambiental na no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Regional de Montes
Claros- MG;³Mestranda em Alimentos e Saúde no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas
Gerais, Campus Regional de Montes Claros -MG; 4Doutoranda em Engenharia e Ciências de Alimentos na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BA; 5Doutora em Ciência dos Alimentos, Professora Ajunto do Instituto
de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Regional de Montes Claros– MG.
raissaq66@gmail.com
Palavras Chave: cagaita, coquinho-azedo, pitomba, análises físico-química
328
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
de frutos (14). Observando os resultados percebemos que para ratio os Agradecemos a Universidade Federal de Minas Gerais e o apoio
três frutos apresentaram diferença entre si, com maior razão para o financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
coquinho-azedo, seguido pela pitomba e depois a cagaita. Para o Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
coquinho azedo o valor obtido foi de 8,22, resultado bem superior de Minas Gerais (FAPEMIG).
quando comparado com a literatura (4,75 e 6) (11). A pitomba deste
estudo apresentou o ratio 6,74 bem inferior ao obtido em outro estudo Referências bibliográficas
com pitombas(16,53) (12) o que caracteriza uma grande diferença no
ponto de maturação dos frutos estudados nos dois estudos. A cagaita (1)SILVA, M. R.; LACERDA, D. B. C. L.; SANTOS, G. G.;
mostrou o resultado de 4,51 para ratio, resultado bem semelhante MARTINS, D. M. O. Caracterização química de frutos nativos do
(4,85) ao obtido para cagaitas da safra de 2011, resultado calculado a cerrado. Cienc. Rural v.38, n.6, p. 1790-1793, 2008.
partir dos dados expostos no estudo (13). (2) MARCATO, A. C.; PIRANI, J. R. Flora de Grão-Mogol, Minas
No quesito firmeza, coquinho-azedo e pitomba não apresentaram Gerais: Palmae (Arecaceae). Bol. Bot. Univ. de São Paulo, v.24, p.1-
diferença entre si, mas foram diferentes da cagaita, sendo esta obtendo 8, 2006.
um valor menor que as demais frutas. (3) MARTINS, E. R. Projeto Conservação de recursos genéticos de
Para coquinho- azedo o resultado encontrado foi de 24,38 N/cm², já espécies frutíferas nativas do Norte Mineiro: coleta, ecogeografia e
para pitomba a firmeza obtida foi de 28,38 N/cm². Para a cagaita a etnobotânica. Montes Claros: UFMG, 2003. 76p. (Relatório
firmeza encontrada foi de 10,15 N, resultado inferior ao de 13 N Institucional).
encontrado na literatura para fruta matura (15). Frutos com baixa (4) MERCADANTE-SIMÕES, M. O.; FONSECA, R. S.; RIBEIRO,
firmeza, como é o caso da cagaita são menos resistentes ao manuseio L. M.; NUNES, Y. R. F. Biologia reprodutiva de Butia capitata
pós-colheita, ao transporte e armazenamento, o que dificulta sua (Mart.) Beccari (Arecaceae) em uma área de cerrado no norte de
comercialização. Todos os frutos estudados neste trabalho Minas Gerais. RUC, v. 8, n. 2, p. 143-149, 2006.
apresentaram teores elevados de vitamina C, apresentando a pitomba o (5) GUARIM NETO, G.; SANTANA, S.R.; SILVA, J.V.B.
maior teor (178,57 mg/100g), seguida pela cagaita (75,7 mg/100g) e Repertório botânico da pitombeira (Talisia esculenta (St.–Hil.) Radlk.
por fim o coquinho-azedo (57,58 mg/100g). Tais resultados foram - Sapindaceae). Acta Amazonica, Manaus, v.33, n.2, p.237-242, 2003.
ligeiramente semelhantes com os encontrados na literatura, 200,68 (6) PEREIRA, C. R. Formação Gastronômica do Cerrado – Estado do
mg/100g para pitomba (16), 34,11 mg/100g para cagaita (7) e 53 Goiás. 2007. 52f. Dissertação (Especialista em Gastronomia e Saúde)
mg/100g para o coquinho-azedo (17). – Centro de Excelência em Turismo e Pós-graduação Lato Sensu,
Se compararmos com outros frutos conhecidos como fonte de Universidade de Brasília, Brasília -DF, 2007.
vitamina C, como a laranja baía, laranja pêra e tangerina Poncã que de (7) CARDOSO, L. M.; MARTINO, H. S. D.; MOREIRA, A. V. B.;
acordo com a tabela Taco (18) possuem 56,9 mg/100g, 53,7 e 48,8 RIBEIRO, S. M. R.; Pinheiro-Sant'Ana, H. M. Cagaita (Eugenia
mg/100g respectivamente, podemos reafirmar os altos teores de dysenterica DC.) of the Cerrado of Minas Gerais, Brazil: Physical and
vitamina C dos frutos deste estudo. Em relação aos dados chemica characterization, carotenoids and vitamins. Food Res. Int. v.
colorimétricos, ressalta-se que o parâmetro Chroma define a saturação 44, n 7, p. 2151–2154, 2011.
da coloração dos frutos, sendo que quanto maior os valores desta (8) SILVA, R. S. M.; CHAVES, L. J.; NAVES, R. V. Caracterização
variável, maior a intensidade da coloração. Já o ângulo Hue (ºh), de frutos e árvores de cagaita (Eugenia dysenterica DC.) no sudeste
determina graficamente os ângulos de 0º, 90º, 180º e 270º como sendo do Estado de Goiás, Brasil. ver. Bras. de Frut. v. 23, n. 2, p. 330-334,
referente as cores vermelha, amarela, verde e azul respectivamente. E 2001.
finalmente o valor da coordenada L* indica a luminosidade do fruto, (9) SANTOS, P. R. G.; CARDOSO, L. D. M., BEDETTI, S. D. F.,
podendo variar numa escala de 0 (preto) a 100 (branco) (19). HAMACEK, F. R., MOREIRA, A. V. B., MARTINO, H. S.
Observando os dados de colorimetria percebe-se que para o valor L* a D.;PINHEIRO-SANT'ANA, H. M. Geleia de cagaita (Eugenia
pitomba e cagaita não tiveram diferença entre si, mas foram diferentes dysenterica DC.): desenvolvimento, caracterização microbiológica,
do coquinho-azedo que apresentou-se mais claro. Para Chroma, os sensorial, química e estudo da estabilidade. Rev. Inst. Adolfo Lutz
frutos não possuíram diferenciação entre si, apresentando uma (Impr.), v. 71, n. 2, p. 281-290, 2012.
intensidade de cor moderada. Já o ºHue dos três frutos apresentaram (10) CALBO, A. G.; NERY, A. A. Medida de firmeza em hortaliças
diferenças, indicando que a cagaita tem cor tendendo ao amarelo, o pela técnica de aplanação. Hortic. Bras. v.13, n.1, p.14-18, 1995.
coquinho-azedo apresenta coloração amarelo-esverdeada e a pitomba (11) SCHWARTZ, E.; FACHINELLO, J. C.; BARBIERI, R. L.;
apresenta um tom ligeiramente avermelhado. Já comparando-se os SILVA, J. B. Avaliação de populações de Butia capitata de Santa
resultados, a cagaita apresentou valores de L* (55,48) superior ao Vitória do Palmar. Rev. Bras. Frutic. Jaboticabal, v. 32, n. 3, set.
relatado na literatura de 49,65 (13), indicando frutos mais claros do 2010.
que o trabalho comparativo. O coquinho-azedo do nosso estudo (12) ALMEIDA, R. R. Qualidade pós-colheita de pitombas in natura
apresentou resultado semelhante de L* (63,71) e valor superior de submetidas a diferentes temperaturas, embalagens e doses de radiação
ºHue (104,41) quando comparado ao descrito na literatura (65,78 de uv-c. 2019. 110f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Sistemas
luminosidade e 70,21 de ºHue), o que indica que nosso fruto estava Agroindustriais) – Campus Anápolis de Ciências Exatas e
com uma tonalidade mais esverdeada do que os frutos do trabalho Tecnológicas Henrique Santillo, Universidade Estadual do Goiás,
comparativo (11). Para a pitomba o valor de L* encontrado foi de Anápolis-GO, 2019.
53,69, Chroma de 37,18 e ºHue de 68,51 que ao ser comparados com (13) CAMILO, Y. M. V., SOUZA, E. R. B., VERA, R.; NAVES, R.
outro estudo sobre pitombas onde a luminosidade foi 52,95, Chorma V. Caracterização de frutos e seleção de progênies de cagaiteiras
24,38 e ºHue 84,12, percebe-ce que os valores de L* foram (Eugenia dysenterica DC.). Científica, v. 42, n.1, p. 1-10, 2014.
semelhantes, sendo o valor de Chroma superior e o de ºHue inferior ao (14) CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas
estudo em comparação (12) o que mostra que os frutos de nossa e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras UFLA, 2005. 785 p.
pesquisa eram mais avermelhados e com maior intensidade de (15) SILVA, M. M. M. Estudo do desenvolvimento fisiológico da
coloração. Por fim, ressalta-se que as variações existentes nos cagaita (Eugenia dysenterica). 2016. 121f. Dissertação (Mestrado em
resultados dos componentes avaliados deste trabalho e dos Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Escola de Agronomia,
mencionados na literatura para os mesmos frutos, podem ser Universidade Federal do Goiás, Goiânia, 2016.
explicadas pelas diferenças de cultivar, pelo período de safra, pelas (16) FRAGA, L. N. Compostos bioativos, capacidade antioxidante e
condições edafoclimáticas ou mesmo do grau de maturação dos frutos citotoxicidade da casca e polpa da pitomba (Talisia esculenta (st. Hil.)
utilizados pela análise. Raldk). 2018. 132f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Nutrição) –
Conclusão Universidade Federal do Sergipe, São Cristovão-SE, 2018.
Podemos concluir que os frutos analisados apresentaram diferenças e (17) FARIA, J. P.; ALMEIDA, F.; SILVA, L. C. R.; VIEIRA, F. R.;
similaridades entre os parâmetros avaliados, o que era de se esperar, AGOSTINI-COSTA, T. S. Caracterização da polpa do coquinho-
por se tratarem de frutos distintos. De modo geral, ressalta-se que azedo (Butia capitata var capitata). Rev. Bras. Frutic. v.30, n.3, p.
coquinho-azedo, pitomba e cagaita possuem características 827-829, 2008.
interessantes que fortalecem o consumo do fruto in natura, bem como (18) Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO. 4ª
na elaboração de subprodutos de elevado valor agregado. Além do edição revisada e ampliada– UNICAMP. Campinas 2011. Disponível
que, ratifica-se que o conhecimento destas propriedades físico- em:<https://www.cfn.org.br/wpcontent/uploads/2017/03/taco_4_edica
químicas facilitará o desenvolvimento de técnicas tanto de o_ampliada_e_revisada.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2020.
aproveitamento quanto para processamento destes frutos. (19) PATHARE, P. B.; OPARA, U. L.; AL-SAID, F. A. Colour
measurement and analysis in fresh and processed foods: a review.
Agradecimentos Food Bioproc. Tech. 6, 36-60, 2013.
329
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Material e Métodos
330
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
cultivares estudadas, sendo que aos 8 dias de armazenamento a observado na nossa experiência (14). Em experimento realizado com
cultivar BRS-228 apresentou notas próximas a 2 (1 a 25% de danos) e Butiá, após seis dias de armazenamento em temperatura ambiente
a cultivar BRS-227 notas próximas a 3 (26 a 50% de danos) (11). observou-se redução de 50% da acidez titulável como notamos nos
Notas essas melhores do que o coquinho-azedo de nosso estudo, frutos sem embalagem da pesquisa que realizamos (15).
independente da embalagem empregada.
Os Gráficos 3 e 4 referem-se aos parâmetros de cor dos frutos.
A saturação ou cromaticidade é definida por Chroma, determinará a
diferença de tom comparada a cor cinza, quanto mais altos os valores
maior será a saturação da cor ao olho humano (12). Houve aumento
do dia 0 até o dia 4 de experimento e em seguida declínio dos valores
de saturação, os dados apresentados no oitavo dia para frutos
embalados obtiveram pouca variação com relação ao tempo zero,
sendo PP com menor diferença, apresentando 5,21% de acréscimo, em
seguida PET, PVC e controle com a maior porcentagem de aumento Gráfico 6. Acidez titulável em frutos de Butia capitata submetido ao
de Chroma (11,37% ), logo, não houve evolução da cor indicando que armazenamento em diferentes embalagens.
o armazenamento refrigerado em associação com atmosfera
modificada pode ser benéfica no atraso do amadurecimento. Conclusões
Agradecimentos
Gráfico 3. Valores de Chroma em frutos de Butia capitata submetido À Universidade Federal de Minas Gerais, à Fundação de Amparo à
ao armazenamento em diferentes embalagens. Pesquisa do Estado de Minas Gerais e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
O ângulo de tonalidade Hue (ºh) ou matiz é um atributo qualitativo de
colorimetria, graficamente se considera os ângulos de 0º, 90º e 180º Referências
vermelho, amarelo e verde respectivamente (12). No dia 0 de
experimento os frutos apresentaram valores de 104,41 ºHue, próximo (1) LORENZI, H.; SOUZA, H.M.; COSTA J.T.M.; CERQUEIRA,
ao encontrado em frutos de Butia eriospatha (Martius) Beccari, esse L.S.C. & FERREIRA, E. Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas.
valor representa o estádio maturo, entre verde e amarelo (13). Ao 1. ed. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2004.
longo do tempo observou-se queda desse valor para os quatro 432 p.
tratamentos indicando maior proximidade do amarelo a partir do (2) LIMA, V. V. F. de; SILVA, P. A. D. da; SCARIOT, A. Boas
quarto dia de armazenamento (Gráfico 5), evidenciando a completa práticas de manejo para o extrativismo sustentável do coquinho azedo.
maturidade dos frutos, ou seja, independente do tipo de embalagem os 1. ed. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2010.
frutos completaram seu amadurecimento. v.1. 60 p.
(3) NEUWALD, D.; GIEHL, R.; PINTO, J.; SESTARI, I.
Caracterização das curvas de respiração e síntese de etileno de frutos
de PsidiumcattleianumSabine. e de Butiacapitata (Mart.) Becc.
Simpósio Nacional do Morango2, 2004.
(4) CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B.Pós-colheita de frutas e
hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785 p.
(5) WYRWA, J., BARSKA, A. Innovations in the food packaging
market: active packaging. Eur Food Res Technol 243, 1681–1692,
2017.
Gráfico 4. Valores de °Hue em frutos de Butia capitata submetido ao (6) ZAGORY, D.; KADER, A. A. Modified Atmosphere Packaging
armazenamento em diferentes embalagens. Of Fresh Produce. Food Technol, 9, 70-77, 1988.
(7) AOAC. Association of Official Analytical Chemists.Official
O Gráfico 5 apresenta que independente da embalagem, houve Method of Analysis. 15.ed.,Washington DC, 1998. v. 1.
aumento do pH no decorrer dos dias, sendo as embalagens Controle e (8) SILVA, J. de S.; AFONSO, A. D. L.; LACERDA FILHO, A. F.
PVC com aumento mais notável. de. Secagem e armazenagem de produtos agrícolas. 2. ed. Viçosa:
AprendaFácil, 2008. p. 560.
(9) OLIVEIRA, J., SILVA, I.G., SILVA, P. P. M., SPOTO, M. H. F.
Atmosfera modificada para conservação pós-colheita de camu-camu.
Ciência Rural. 44, 1126-1133, 2014.
(10) MIZOBUTSI, G. P., SILVA, J. M., MIZOBUTSI, E. H.,
RODRIGUES, M. L. M., LOPES, R. S., FERNANDES, M. B.,
OLIVEIRA, F. S. Conservação de pinha com uso de atmosfera
modificada e refrigeração. Ver. Ceres. 59, 751-757, 2012.
Gráfico 5. Valores de pH em frutos de Butia capitata submetido ao (11) MORAIS, P. L. D., LIMA, L. C. O., ALVES, R. E.,
armazenamento em diferentes embalagens. FIGUEIRAS, H. A. C., ALMEIDA, A. S. Alterações físicas,
fisiológicas e químicas durante o armazenamento de duas cultivares
Durante o armazenamento observou-se que contrário do pH, como de sapoti. Pesq. Agropec. Bras. 41, 549-554, 2006.
esperado devido a associação existente entre essas variáveis, a Acidez (12) FERREIRA, M. D.; SPRICIGO, P. C. Instrumentação pós-
Titulável (Gráfico 6) decaiu independente da embalagem, iniciando colheita em frutos e hortaliças. 1. ed. Brasília: Embrapa, 2017. 284p.
com valores de 0,97%. As embalagens Controle e PET foram as que (13) PATHARE, P. B.; OPARA, U. L.; AL-SAID, F. A. Colour
concluíram com menor e maior acidez (0,49 e 0,64%) measurement and analysis in fresh and processed foods: a review.
respectivamente, esse aumento do pH e queda da acidez titulável é Food and bioprocess technology, 6, 36-60, 2013.
devido a utilização de ácidos orgânicos na manutenção do (14) OLIVEIRA, L. F. G., SANTOS, P. N., CANA, E., JUNIOR, J.
metabolismo dos frutos e por consequência no processo respiratório L., RODRIGUES, S. Utilização da atmosfera modificada na
(4), sendo assim a embalagem PET foi a que manteve os maiores conservação pós-colheita de carambola. Global Science and
teores de acidez, controlando o intenso processo respiratório. A technology. 03, 49-59, 2010.
tendência da perda da acidez também foi observada em carambolas, (15) AMARANTE, C. V. T. do; MEGGUER, C. A. Qualidade pós-
com maior decréscimo em frutos sem embalagem, em contrapartida as colheita de frutos de butiá em função do estádio de maturação na
embalagens PET e PP obtiveram maiores teores de acidez como colheita e do manejo da temperatura. Ciência Rural. 38, 46-53, 2008.
331
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cícero Santos1, Milena Sousa 1, Maria Santos1, Amanda Leal2, Juliana Costa3, Luciana Marques4
1
Graduando (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
3
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, julianacosta31@gmail.com
4
Professora Doutora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
INTRODUÇÃO
Tabela 1. Formulação das amostras de bolinho de abóbora elaboradas
A abóbora (Cucurbita moschada D.) pertence a famílias das por dois métodos de cocção
cucurbitáceas, tendo uma participação relevante na alimentação de
muitos países [1]. No Brasil, especificamente na região Nordeste, Ingredientes Formulação
concentram-se os maiores produtores desta cultura, agrupando também Farinha de trigo 48,06%
os maiores estados consumidores, como Pernambuco, Piauí, Maranhão Abóbora cozida 37,53%
e Bahia [2]. A abóbora se destaca por sua riqueza em provitamina A, Manteiga 11,08%
vitaminas do complexo B (B1, B2 e B5), vitamina C e outros nutrientes Fermento 2,13%
como proteína, hidratos de carbono, gorduras, fibra alimentares e
minerais tais como, fósforo, potássio, cálcio, sódio, silício, magnésio,
ferro e cloro [3]. Uma característica importante da abóbora e pouco Em seguida despejou-se a mistura em uma tigela e misturaram-se
explorada comercialmente é a presença de compostos benéficos ao delicadamente ao purê os demais ingredientes: a farinha, manteiga, o
organismo, em especial os carotenoides, pigmentos de propriedades fermento e uma pitada de sal de acordo com cada proporção (Tabela 1)
antioxidantes responsáveis por conferir a coloração amarelo-laranja e A massa foi misturada até torna-se homogênea e desprender totalmente
vermelha de muitos alimentos. Os carotenoides se destacam entre os das mãos. Posteriormente, a mistura foi aberta na bancada com o
compostos alimentícios de maior importância para saúde, mesmo sendo auxílio de um rolo para massa, deixando-a com ½ cm de espessura
encontrados em níveis muito baixos (micrograma por grama) [4]. As aproximadamente e em seguida foram cortadas em moldes cilíndricos e
abóboras destacam-se pelo seu amplo uso tradicional, em pratos estes foram fechados em forma de mini pastéis. Esta preparação foi
típicos, e pelo seu teor nutricional, sendo fonte de vitaminas, minerais e realizada para as duas formulações, entretanto, o método de cozimento
fibras. Devido o aumento dos produtos de panificação, várias foram distintos. Os bolinhos da formulação A foram adicionados em
preparações com compostos nutricionais e antioxidantes têm sido panela com óleo quente para a fritura até que as amostras
desenvolvidas, como por exemplo, bolos, pães, biscoitos, muffins, apresentassem douradas por inteiras, em seguida retiraram-se as
cupcakes, apresentando inúmeros benefícios para a saúde [5]. Bolo é o amostras com auxílio de uma escumadeira e escorrido o excesso de
termo utilizado para se referir a produtos que são caracterizados por óleo com ajuda de um papel-toalha. A formulação B foi acondicionada
formulações à base de farinha de trigo, açúcar, ovos inteiros e gordura, em assadeiras e levada ao forno a 180ºC por 30 minutos para o
onde cada ingrediente tem um importante papel na estrutura e cozimento, em seguida as amostras foram armazenadas até o momento
qualidade [2]. Portanto, o uso da abóbora pode ser uma opção para a das análises. Foram realizados os teste de grupo focal com provadores
elaboração de diversas preparações culinárias, na área de panificação, do curso de tecnologia em alimentos com o objetivo de aperfeiçoar os
em destaque para os bolinhos estilo panqueca que são processados aspectos sensoriais do produto. A sessão realizou-se com os 12
fritos ou assados no forno, e podem ser consumidos como lanches provadores e um moderador que presidiu a sessão, na qual os
rápidos em pequenas porções. Diante do exposto, o objetivo deste provadores foram orientados a analisar as amostras e caracterizar de
trabalho foi elaborar um bolinho de abóbora através de dois métodos de acordo com a sua percepção sensorial para os atributos sabor, textura,
cocção e avaliar a sua aceitação sensorial. cor e aparência e citar todas as características observadas nas amostras.
A reunião foi gravada e todas as informações registradas. Também
MATERIAIS E MÉTODOS foram realizados testes aceitação sensorial com 50 provadores, não
treinados de ambos os sexos, com idade de 18 a 65 anos, para a
As matérias-primas utilizadas na elaboração das amostras foram avaliação dos atributos de cor, sabor textura, aroma e aceitação global
adquiridas no mercado local da cidade de Salgueiro-PE e levadas para utilizando a escala hedônica estruturada de 9 pontos no qual 1 indica
o laboratório de processamento de cereais do curso Tecnologia em “desgostei extremamente” e 9 “gostei extremamente” [6]. Além disso,
Alimentos do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, campus foi realizado o teste de intenção de compra, através da escala variando
Salgueiro-PE. A preparação dos bolinhos de abóbora foi adaptada de de 1 a 5 sendo: 1 indicando “certamente não compraria” e 5
formulações publicadas em artigos científicos e receitas de alimentos “certamente compraria”[7]. A avaliação estatística foi realizada pelo
elaborados no Chile. O bolinho de abóbora é conhecido como programa computacional SASM-AGRI, utilizou-se uma análise de
Sopaipilla (pão chileno) muito apreciado na culinária chilena, porém variância (ANOVA) com delineamento inteiramente casualisado e teste
pouco conhecido no Brasil. Para a elaboração das formulações iniciou- de Tukey.
se com a sanitização da abóbora, através da lavagem com água potável
da rede de abastecimento, detergente neutro e sanificadas em solução
de hipoclorito de sódio a 200 ppm. Na sequência foram cortadas ao RESULTADOS E DISCUSSÂO
meio para a retirada das sementes e cascas, posteriormente as abóboras
foram cortadas em cubos e pesadas de acordo com a proporção da Participaram dos testes 50 provadores sendo 56% do sexo feminino e
Tabela 1. As abóboras foram levadas ao cozimento em panelas com 44% do sexo masculino. A maioria dos provadores era universitários
água a 100 ºC por 30 minutos. Após esta etapa elaborou-se um purê da (75%) com idade entre 18 a 30 anos. Os demais participantes eram
abóbora cozida através do seu amassamento, formando uma mistura servidores do IF com idade acima de 30 anos. Os resultados do grupo
bem homogênea. em foco mostraram que os provadores caracterizaram a formulação
“A” com os atributos “sabor de fritura”, porém com aroma agradável,
cor marrom e dourado, informaram que o sabor apresentava-se gostoso
332
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Médias seguidas por pelo menos uma letra igual na mesma coluna,
a, b REFERÊNCIAS
não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey. 1. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura. Viçosa:
UFV. 412 p. 2003.
Os resultados apontaram que as formulações foram iguais
estatisticamente (p˃0,05), exceto para a textura que apresentou 2. RAMOS; N. C,; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G.
diferença estatística entre as amostras. Essa diferença pode ser Elaboração de prémistura para bolo sem glúten. Alimentos e
justificada devido à presença de óleo na amostra A, que pode ter Nutrição, Araraquara v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012.
tornado a formulação mais macia. Além disso, muitos provadores
podem ter associado à formulação com outros produtos como pasteis, 3. Rocha, et al. Elaboração e aceitação de massa alimentícia
por exemplo, e assim apreciando mais a textura da amostra. Foi utilizando pasta de abóbora. III Jornada Nacional da Agroindústria.
possível verificar no teste de aceitação que os atributos apresentaram Bananeiras. 2008.
médias que variaram de 6,48 a 7,30, correspondendo na escala
hedônica aos termos “gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”. 4. RODRIGUEZ-AMAYA, D. B; KIMURA, M; AMAYA-
Dessa forma as amostras foram bem aceitas pelos provadores
FARFAN, J. Fontes brasileiras de carotenoides. Brasília: Ministério
independente do tipo de cozimento. Apesar de não apresentar diferença
estatística para a cor, os provadores identificaram durante as análises do Meio Ambiente, 2008. 99 p.
que a amostra B apresentava-se mais escura em comparação com a
amostra A. Possivelmente devido o processo de cozimento ao forno 5. CHIARELI CA, et al. Desenvolvimento de um bolo rico em fibras
que tornou a amostra mais escura. Os autores [8] avaliaram pão com solúveis enriquecido com chia. Revista Ciências Nutricionais Online,
farinha de semente de abóbora obtiveram menor aceitação pelos 2017; 1(1): 46-52.
provadores, devido o escurecimento da massa, porém não influenciou
negativamente a aceitação sensorial do pão. 6. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
Os resultados para o sabor, cor e aroma obtiveram medias satisfatórios,
New York: Academic Press. 2004.
acima de 6 “gostei ligeiramente”. Estes atributos são de extrema
importância, uma vez que são responsáveis em grande maioria pela
aceitação do produto. Para a impressão global, ambas as formulações 7. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
obtiveram elevadas médias, caracterizando que as duas foram bem ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010
aceitas.
8. ALVES, A. S., CAMARGO, E. R., CORREIA, M.H.S.,
BECKER, F.S., DAMIANI, C. Pães elaborados com polpa efarinha
Gráfico 1 – Resultado do teste de intenção de compra de bolinho de
de semente de abóbora kabutiá (curcubita máxima x curcubita
abóbora elaboradas por dois métodos de cocção
moschata). Revista Stona, v.18,n.3, 2012.
20 18 18 18
17
15
11
9
10
5 2 2 2
1
0
certamente provalmente talvez provalmente certamente
não compraria não compraria compraria\ compraria compraria
talvez não
compraria
B A
333
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Giovana Prado1, Margarida Moldão-Martins2, Vitor Alves2, Paulina Mata3, Paulo Sousa1,4* Florina
Danalache2,3
1
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará. vanaprado@yahoo.com.br,
2
REQUIMTE/CQFB, Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
Nova de Lisboa
3
CEER e Centro de Engenharia dos Biossistemas, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de
Lisboa,
4
Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
334
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Sabor Estranho
Gosto doce
Aceitação
0
-1 -0.5 0 0.5 1
Macia
F2
Mole
-0.5
Aroma de caju
Sabor de caju
-1
F1
Gelatinosa
0 Aroma frutado first-order carry-over effects in hall tests. J. Sens. Stud, 4,
129-148, 1989.
Aroma de caju Macia Sabor de caju
-0.1
LA/HA 50/50 Sabor de fruta
LA/HA 75/25
9. PERYAM, D. R.; PILGRIM, P. J. Hedonic scale method
Firme
for measuring food preferences. Food Technol, Chicago, v.
-0.2 11, n. 9, p. 9-14, 1957.
-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 10. MEILGAARD, M.; CIVILLE, G. V.; CARR, B. T.
F1 (61,50 %) Sensory evaluantion tecniques. Boca Raton: CRC Press,
1987.
Atributos Produtos
11. DOOLEY, L.; LEE, Y. S.; MEULLENET, J. F. The
Os provadores acreditam que as barras de caju com maior application of check all-that-apply (CATA) consumer
aceitação sensorial devem apresentar as seguintes profiling to preference mapping of vanilla ice cream and its
características: macia, firme, gosto doce, aroma e sabor de comparison to classical external preference mapping. Food
caju, aroma e sabor de fruta. Não devem ser moles, Qual. Prefer, v. 21, p. 394–401, 2010.
gelatinosas e nem apresentar sabor estranho (Figura 2). 12. DANALACHE, F.; MATA, P.; MOLDÃO-MARTINS;
Figura 3. Análise de Componentes Principais (ACP) ALVES, V. D. Novel mango bars using gellan gum as
gelling agent: Rheological and microstructural studies. LWT
- Food Sci. Technol, n. 62, p. 576-583, 2015.
335
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Luis Nascimento1, Camila Teixeira1, Sidney Silva2, Raiane Silva2, Evandro Martins3, Antônio de Carvalho3
1
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
2
Graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
3
Professor Doutor do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
MATERIAIS E MÉTODOS
336
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
AGRADECIMENTOS
B REFERÊNCIAS
337
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo com o Ministério da agricultura o Brasil é um dos
maiores produtores de cana de açúcar do mundo, chegando a Estudo experimental com ingredientes adquiridos no
produzir na safra de 2017/2018 cerca de 647,6 milhões de comércio varejista local. A farinha do bagaço da cana-de-
toneladas e sendo responsável por 20% da produção mundial de açúcar foi doada pela empresa Dilumix.
açúcar (1, 2).
Obteve-se os flocos de milho com farinha de bagaço de
Atualmente a preocupação com questões ambientais, tem cana-de-açúcar pela substituição de 3% da farinha de milho
resultado em busca por alternativas que possuam menor impacto pela farinha do bagaço.
ambiental possível e auxiliem no combate à intensificação do
Os ingredientes foram homogeneizados em liquidificador,
efeito estufa (3).
abertos com rolo e plástico filme, cortados e assados em
Além da matéria-prima para a produção de açúcar e álcool, os forno combinado com calor seco à 250°C por 7 minutos.
subprodutos e resíduos da cana de açúcar podem ser utilizados
Para fins de cálculo nutricional foi utilizada a Tabela
para a co-geração de energia elétrica, fabricação de ração
Brasileira de Composição dos Alimentos (11), sendo que
animal e fertilizantes para as lavouras. Dentre os subprodutos
para os valores nutricionais de farinha do bagaço
da cana-de-açúcar destaca-se o bagaço, que é a maior
considerou-se dados do estudo de Bernardino (12).
porcentagem de resíduos da agroindústria brasileira, representando
15 milhões de toneladas anualmente (4). De cada tonelada de cana
moída na indústria obtêm- se 700 litros de caldo de cana e 300 RESULTADOS E DISCUSSÃO
kg de bagaço (5) e cerca de 95% do bagaço produzido são
queimados em caldeiras para geração de vapor, produzindo
Obteve-se um produto com características sensoriais
como resíduo a cinza do bagaço gerando um sério problema
ambiental devido a sua disposição no meio ambiente (6,7). semelhantes aos cereais matinais a base de milho, apesar de não
ter sido utilizada a técnica industrial de manufatura desta classe
No entanto, este resíduo agroindustrial por seu caráter de produtos. Obteve-se u produto crocante de sabor suave,
lignocelulóstico contém grande quantidade de fibras levemente doce (Figura 1).
alimentares, o que poderia resultar em outras aplicações de
finalidade alimentícia. O resíduo da produção agroindustrial de
Figura 1: Cereal matinal com farinha de bagaço de cana de
cana de açúcar apresenta potencial probiótico, devido à
açúcar.
presença de xilooligosacarídeos (3)
O interesse nos alimentos que contenham substâncias
funcionais, podendo ser naturalmente dos alimentos ou
acrescidos à produtos industrializados, desempenhando e
propiciando melhor saúde física e mental, está em crescimento,
ligando-se diretamente à saúde e tendo papel essencial na
manutenção do bem-estar e tratamento de doenças (8). Na
definição de alimentos funcionais, os probióticos e prebióticos
são alimentos que se aglomeram de maneira acentuada,
executando efeito positivo sobre a formação da microbiota
intestinal (9).
Ao ser implementado de maneira correta na dieta, ajudam a
preservar a estabilidade adequada da microbiota que influi
significativamente sobre várias reações bioquímicas e quando
estável, impossibilita que os micro-organismos patogênicos
resultem em uma infecção bacteriana (10) Tabela 1 – Comparação da Informação nutricional do cereal
matinal com de farinha de bagaço da cana-de-açúcar com cereal
O objetivo principal deste trabalho é o desenvolvimento de um
cereal matinal a base de farinha do bagaço da cana-de-açúcar.
338
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
matinal top of mind (porção de 30 g). 4. CANDIDO, M.J. D. et al. Avaliação do valor nutritivo do bagaço de
cana-de-açúcar amonizado com uréia. R. Bras. Zootec, vol.28, n.5,
Flocos de milho Flocos de milho p.928-935.1999
- farinha de comercial
cana de açúcar 5. TEXEIRA, F.A; PIRES, A.V; NUNES, P.V. Bagaço de cana-de-açúcar
VALOR ENERGÉTICO 135 Kcal 109 Kcal
na alimentação de bovinos, Rev. Revista electrónica de Veterinária, v.
VIII, n.6, 2007.
CARBOIDRATOS 31 g 26 g
PROTEÍNAS 2,4 g 1,2 g 6. CORDEIRO, G.C; FILHO. R.D.T; FAIRBAIRN, E.M.R.
FIBRA ALIMENTAR 3,5 g 0g Caracterização de cinza do bagaço de cana-de-açúcar para emprego
SÓDIO 66 mg 176 mg como pozolana em materiais cimentícios, Rev. Quimica nova, v. 32, n.1,
p. 82-86, Rio de janeiro, 2009.
339
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Materiais e Métodos
340
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusão
Referências
341
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
342
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Pêra em cubos Kg 0,03 5. Em seguida leve a massa para geladeira para iniciar a
longa fermentação em baixa temperatura (5 a 7o C)
Mel de abelha Kg 0,02 6. Após 18 horas a massa havia crescido três vezes seu
tamanho inicial. Pré aqueça o forno por 45 minutos a 220 oC
Modo de Preparo (utilizar a temperatura máxima do forno doméstico)
7. Retire o pão do cesto, faça as incisões, passe para uma
folha de silicone ou papel manteiga e leve para uma panela
de ferro com tampa ou recipiente fechado, acomode o pão
1.Em uma vasilha de vidro adicione a água, o mel e os dentro da forma, tampe e leve ao forno.
pedaços de pêra e cubra com um pano, deixe descansar por 5 9.Retire a tampa da panela aos 25 min de forno, diminua a
dias em temperatura ambiente (no experimento a temperatura e deixe o pão dourar por mais 15 a 20 minutos.
temperatura estava em torno de 12 a 15o C) 8.Após isso, deixe o pão sobre uma grelha para esfriar.
2. Após isso, retire a pêra e penere se for necessário. Obs: o objetivo da tampa é impedir que o vapor de água
3. Adicione as farinhas e misture bem. criado pela umidade da massa do pão evacue e impeça de
4. Deixe repousar por 24 horas em temperatura ambiente formar a crosta crocante nas extremidades do pão.
5.Quando a massa atingir volume e houver bastante
atividade microbiana estará pronta para fazer o levain.
Obs: o crescimento dos microrganismos varia em detrimento Resultados e Discussões
da temperatura (temperatura ideal é entre 27 a 28o C).
No que tange às características sensoriais, observou-se
que ao cortar o pão apresentava-se uma crosta estaladiça e crocante, a
2.Após a fabricação da massa mãe, realizou-se um teste empírico ponto de até ouvir. Possuía aparência dourada e apetitosa e via-se um
para verificar a atividade microbiana. Uma porção de massa mãe foi salto, o que mostra um bom desempenho da fermentação durante a
adicionada a um copo com água, a massa precisa flutuar cocção. Os alvéolos se desenvolveram bem, resultado do processo de
comprovando que os microrganismos estão vivos e libertando gases dobras, onde alguns gases ficam retidos e formaram bolhas. Verifica-
(Figura 1). Após essa confirmação, é necessário refrescar ou se o Pão esfriando na grelha (Figura 2) - esquerda; Alvéolos (direita).
alimentá-la para que renove a flora microbiana e tenha mais Ao experimentar, sentia-se um leve toque ácido.
nutrientes para que se fortaleça, assim descarta uma parte e adiciona
novamente farinha e água em proporções iguais. Com o descarte faz-
se o levain, como também pode desidratá-lo. Figura 1: teste da massa
mãe (esquerdo); Massa mãe após o processo de secagem (direita).
343
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe
1
Graduanda de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu
2
Mestranda em Tecnologia dos Alimentos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Medianeira
3
Doutora em Sociedade, Cultura e Fronteiras. Docente de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu
4
Doutora em Ciência de Alimentos. Docente de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu. email:
gislaine.simoes@ifpr.edu.br
Introdução
Observa-se atualmente uma forte tendência no desenvolvimento de Tabela 1. Formulação do biscoito tipo cookie sem glúten e sem
produtos alimentícios isentos de glúten e lactose, e ainda verifica-se a lactose enriquecido com farinha de peixe
importância do incremento nutricional destes alimentos com proteínas
de alto valor biológico (1, 2). Diante deste cenário, pesquisadores vem Ingrediente Quantidade (kg)
estudando a produção de farinha de peixe e a adição desta em
produtos alimentícios, com finalidade de enriquecimento nutricional. Farinha de arroz 0,110
Alguns autores elaboraram caldos e canjas a base de farinha de
carcaça de peixe com o objetivo de inserção na merenda escolar, Fécula de batata 0,110
sendo que foi verificado através de análise sensorial, com provadores
Farinha de oleaginosas 0,110
não treinados, que os caldos e as canjas elaborados a partir das
farinhas aromatizadas tiveram boa aceitabilidade, independente da Farinha de peixe 0,110
espécie de peixe utilizada (3). Quanto a utilização de resíduos do
beneficiamento de peixe, destacamos que a carne mecanicamente Chocolate meio amargo 0,110
separada (CMS) é um subproduto obtido após a filetagem de peixes, Açúcar demerara 0,220
portanto, buscar alternativas de utilização desse subproduto é uma
forma de reduzir os impactos negativos do beneficiamento de peixe ao Açúcar mascavo 0,165
meio ambiente, e ao mesmo tempo, pode ser uma solução para
Manteiga clarificada 0,035
problemas de má nutrição atribuída à carência ou deficiência de
proteínas de elevado valor nutricional na dieta alimentar. Neste Essência de baunilha 0,015
sentido, em outro estudo realizado por nosso grupo de pesquisa,
verificou-se que a adição de farinha de carne mecanicamente separada Fermento químico 0,015
(CMS) de peixe em formulações de pão, macarrão e farofa de pinhão
promoveu o enriquecimento nutricional destes alimentos, pelo
aumento nos teores de proteína e de sais minerais (4). Diante das Determinação da composição nutricional da farinha de peixe e dos
evidências da qualidade nutricional da farinha de peixe, objetivou-se biscoitos tipo cookie
neste trabalho o desenvolvimento de um biscoito tipo cookie sem
glúten e sem lactose enriquecido nutricionalmente com farinha de A farinha de peixe e os biscoitos tipo cookie foram analisados quanto
peixe. ao teor de umidade, proteína, lipídeos e resíduo mineral por métodos
oficiais (5) e carboidratos por diferença. As análises foram realizadas
Material e Métodos no Laboratório de Química do Instituto Federal do Paraná, campus
Foz do Iguaçu, sendo executadas em triplicata, para os resultados
Produção da farinha de peixe finais foi calculado a média dos valores com uso do software Excel
2013.
Utilizou-se carne mecanicamente separada (CMS) de tilápia, obtida de
um frigorífico comercial da região oeste do Paraná. A CMS foi Avaliação sensorial dos biscoitos tipo cookie sem glúten e sem
descongelada em geladeira a (4±2ºC) por período de 12 horas e então lactose enriquecido com farinha de peixe
submetida ao processo de prensagem pelo uso de uma prensa de rosca.
Após a prensagem, a CMS foi distribuída em formas de alumínio Realizou-se a avaliação sensorial dos cookies pelo teste de escala
perfuradas e realizou-se a secagem em estufa com circulação de ar na hedônica de 9 pontos (sendo 1 desgostei muitíssimo e 9 gostei
temperatura de 70ºC por 10 horas, sendo que esta temperatura foi muitíssimo) com 50 provadores não treinados. Os provadores
definida em estudos realizados previamente. Após a completa analisaram os atributos de sabor, cor, aroma, textura e impressão
secagem, a CMS foi triturada em processador de alimentos para global dos cookies. O projeto foi aprovado em Comitê de Ética da
obtenção da farinha de peixe. Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), número CAAE
68250117.8.0000.0107 e número do Parecer 2.087.157.
Elaboração do biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose
enriquecido com farinha de peixe RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os experimentos foram realizados no Laboratório Didático de Observou-se que a farinha de peixe apresentou alto teor protéico,
Gastronomia do Instituto Federal do Paraná, campus Foz do Iguaçu. 75,09 +0,18 g de proteína em 100g de farinha (Tabela 2), por isso
Realizou-se testes iniciais com receitas de cookie elaboradas com destaca-se a sua importância como uma opção de ingrediente no
farinhas sem glúten como a farinha de arroz e a fécula de batata. desenvolvimento de novos produtos alimentícios. Em outro estudo
Posteriormente, testou-se formulações com adições de farinha de realizado por nosso grupo de pesquisa, verificou-se que a farinha de
peixe, até se obter uma receita em que o produto final fosse peixe produzida com a CMS de tilápia apresentou todos os
sensorialmente aceito pelas pesquisadoras. Sendo assim, a formulação aminoácidos essenciais a alimentação humana (6), por isso,
final do biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com reforçamos que a adição de farinha de peixe em produtos alimentícios
farinha de peixe está apresentado na Tabela 1. promove o enriquecimento nutricional dos mesmos. Além do alto
valor protéico, a farinha de peixe apresentou alto valor de minerais,
Para o preparo, misturou-se todos os ingredientes em um bowl, 9,40 +0,31 g de minerais em 100 de farinha (Tabela 2). A presença de
deixou-se repousar por 30 minutos em geladeira. Em seguida os minerais deve-se ao fato de que, para a obtenção da CMS de peixe
biscoitos foram modelados em formato esférico e assados em forno a utiliza-se a carcaça com as espinhas, sendo assim, a maior parte deste
gás em 180ºC por 15 minutos. minerais é o cálcio que compõem as espinhas dos peixes.
344
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Quanto a composição nutricional dos biscoitos tipo cookie, observou- A Figura 1 mostra como ficou a aparência dos biscoitos tipo cookies
se um alto teor de proteínas (Tabela 3), este valor deve-se a adição da sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe.
farinha de peixe. Destacamos que o biscoito tipo cookie foi
desenvolvido com ingredientes isentos de glúten e lactose, podendo Figura 1. Biscoitos tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido
ser indicado para dietas com restrição ao glúten e a lactose, atendendo com farinha de peixe
as necessidades deste público por produtos diversificados, além de
promover um ganho nutricional devido ao alto teor de proteínas.
Valor Calórico 384,54 Kcal** Neste trabalho obteve-se uma farinha de peixe rica em proteínas e
*Média e desvio padrão das análises realizadas em triplicata. minerais, e a adição desta farinha de peixe na elaboração de biscoitos
** Valor calórico em 100 g de produto. tipo cookie possibilitou a obtenção de um produto com elevado teor de
proteínas e com boa aceitação sensorial. Sendo um produto sem glúten
Destacando o teor de proteínas dos biscoitos tipo cookies elaborados e sem lactose, os cookies desenvolvidos apresentam-se como uma
neste estudo, 15,25+0,05 g de proteína em 100 g de produto (Tabela alternativa de alimento destinado tanto para indivíduos com
3), observamos que este valor encontra-se acima do teor de proteína intolerância ao glúten e/ou à lactose, quanto para os que buscam
verificado nas rotulagens de alguns cookies sem glúten de marcas produtos diferenciados e saudáveis no mercado.
comerciais, os quais apresentam teores médios de 3,0 a 7,0 g em 100 g
de produto. Diversos autores tem estudado formulações de cookies REFERÊNCIAS
sem glúten com o uso de farinhas alternativas, como o farelo de arroz,
farinha de arroz, farinha de soja, farinha de coco, farinha de abóbora, 1. QUEIROZ, A. M.; ROCHA, R. F. J. da; GARRUTI, D. S.; SILVA,
farinha de banana verde, entre outras. Porém observa-se poucos A. P. V. da; ARAUJO, I. M. S. Elaboração e caracterização de
estudos com o uso de farinhas de origem animal, como é o caso da cookies sem glúten enriquecidos com farinha de coco: uma alternativa
farinha utilizada nesse estudo, a qual foi produzida com um resíduo do para celíacos. Braz. Journal of Food Tech., Campinas, v.20,
beneficiamento de peixes, a CMS. Portanto, destaca-se aqui o caráter e2016097, 2017.
inovador deste trabalho e a possibilidade de enriquecimento 2. MICHAELSEN, L. K.; ALVEZ, M. K. DESENVOLVIMENTO
nutricional de alimentos com proteínas de alto valor biológico, visto DE ALFAJOR SEM LACTOSE E SEM GLÚTEN E AVALIAÇÃO
que a farinha de peixe possui aminoácidos essenciais a alimentação DA SUA ACEITAÇÃO EM DIETAS COM LIMITAÇÕES DE
humana (6). INGREDIENTES. Revista Bras. de Produtos Agroind., Campina
Grande, v.19, n.1, p.73-78, 2017
Avaliação sensorial dos biscoitos tipo cookie sem glúten e sem 3. GODOY, L. C. de; FRANCO, M. L. R. de S.; FRANCO, N. do P.;
lactose enriquecido com farinha de peixe SILVA, A. F.; ASSIS, M. F.; SOUZA, N.,E.; MATSUSHITA, M.;
VISENTAINER, J. V. Análise sensorial de caldos e canjas elaborados
Analisando as médias das notas obtidas na avaliação sensorial dos comfarinha de carcaças de peixe defumadas: aplicação na merenda
biscoitos tipo cookies (Tabela 4), observou-se que a cor, o sabor e a escolar. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 30(Supl.1):
textura foram bem avaliados, pois obtiveram notas entre 7 e 8, o que 86-89, maio 2010.
corresponde na escala hedônica a “gostei” e “gostei muito”. Sendo 4. OLIVEIRA, E. C. R.; MORAIS, G. R.; AMORIM, G. M. V.;
assim, podemos afirmar que os biscoitos tipo cookie sem glúten e sem ARANDA JUNIOR, R. J.; STEFANUTTI, P.; SIMÕES, G. S.
lactose enriquecido com farinha de peixe apresentaram cor, sabor e Enriquecimento nutricional de alimentos com farinha de CMS de
textura agradáveis e bem aceitos pelos provadores. A nota Tilápia. ANAIS. III Mostra científica de alimentos. Medianeira:
correspondente a impressão global (7,90 +1,18) também confirma a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017. v. 1. p. 108-114.
boa aceitação sensorial do produto desenvolvido nesse estudo. Quanto 5. AOAC. Official Methods of Analysis of Association of Official
ao aroma, a nota atribuída foi menor (6,60 +1,70) do que as notas dos Analytical Chemists. 18ed. Association of Official Analytical
demais parâmetros, ou seja, o aroma dos biscoitos tipo cookie sem Chemists, Maryland, United States, 2006.
glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe não foi bem 6. ARANDA JUNIOR, R.; SIGNOR, A. A.; SIMÕES, G. S. Valor
aceito pelos provadores. Este fato deve-se ao uso da farinha de peixe, nutricional de farinha de carne mecanicamente separada de tilápia.
a qual apresenta um leve aroma característico de peixe, sendo assim, Caderno de Resumos. III Mostra de Inovação, Pesquisa, Ensino,
observou-se que é preciso melhorar o aroma dos biscoitos tipo cookies Extensão e Cultura do IFPR, Campus Foz do Iguaçu. vol. 1, n.3, 03 de
enriquecidos com farinha de peixe, para que o produto seja melhor setembro de 2019, Foz do Iguaçu, Paraná.
apreciado pelos consumidores. Para a melhora do aroma dos biscoitos 7. KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não
desenvolvidos, pretende-se testar o uso de essência chocolate e convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos
também a adição de essência de cumaru. O extrato de cumaru tem sido nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de
Estudos da Flora, 2014.
345
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
346
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
animal, pois dos 18,17 g total de gorduras no sanduíche temos 10,08g Os micronutrientes fontes mais encontrados foram nas
de lipídeos no queijo mussarela. Um estudo buscou estabelecer os preparações dos pratos principais e acompanhamentos, com destaque
valores de carboidratos, lipídeos, proteínas, fibras e sódio em 100 g para os alimentos a base de fígado, ricos em vitamina A e bacalhau,
de “sanduíches naturais” utilizando métodos laboratoriais diretos e ricos em cálcio, além do magnésio no feijão carioca. O uso de
indiretos Os ingredientes de origem animal presente nas preparações embutidos e temperos prontos também devem ter bastante atenção,
contribuíram para um maior percentual de gorduras contido nos como visto na dobradinha e feijão preto, pois estes alimentos
sanduíches, similarmente observado neste trabalho (7). utilizados nestas preparações são ricos em sódio e devem ser
Em relação aos micronutrientes o suco de polpa de caju se utilizados com moderação.
destacou como a bebida mais rica em vitamina C com 78,75 mg Contudo, podemos concluir que estas preparações devem
superando as outras bebidas, porém um estudo comparando o teor de ser inseridas na alimentação diária em combinação com outras
ácido ascórbico (vitamina C) presente no fruto do caju, o pendúculo, preparações de forma equilibrada em quantidade e qualidade
no suco da polpa e na polpa desidratada de duas marcas, observou nutricional para atender as recomendações gerais respeitando a
que o suco natural tem maior quantidade de ácido ascórbico em cultura dos comensais desta região.
relação aos seus derivados industrializados. Logo, sucos naturais são
ricos em vitamina C mais do que produtos processados como a polpa REFERÊNCIAS
de caju aqui descrita (8). SILVA, S. M. C. S.; MARTINEZ, S. Cardápio: Guia prático para
As preparações isca de fígado (7,84 mg), isca de fígado a elaboração. 3.ed. São Paulo: Roca, 2014.
acebolado (6,96 mg) e fígado refogado (6,89 mg) foram às
preparações mais ricas em vitamina A. A predominância dessa SILVA, M. R.; SILVA, M. S.; SILVA, P. R. M.; OLIVEIRA, A. G.;
vitamina nas preparações acima se justifica pela presença de fígado AMADOR, A. C. C.; NAVES, M. M. V. Composição em nutrientes
como ingrediente principal. e valor energético de pratos tradicionais de Goiás, Brasil. Ciência e
O bacalhau cremoso e bacalhau “zé do pipo” que em 100 g Tecnologia de Alimentos, V. 23, suppl., p.140-145, 2003.
da preparação apresentaram 119,03 mg e 98,26 mg de cálcio,
respectivamente. Esse micronutriente responsável para a formação e Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA-
manutenção de ossos e dentes, sendo suas fontes alimentares UNICAMP - 4. ed. rev. e ampl. Campinas: NEPA-UNICAMP,
laticíneos, carnes, aves e peixes e na preparação acima analisada o 2006. 164p.
cálcio se destacou em maiores quantidades no bacalhau e leite,
utilizados como ingredientes da preparação (9).
Das preparações analisadas o feijão carioca se destacou ALMADA, E. D. R. Substitutos de leite condensado a partir de
como a preparação mais rica em magnésio com 162,71 mg do extratos vegetais. 2013. 39 f. Monografia (Graduação em Nutrição)
micronutriente. A mistura feijão com arroz aparece em quase todos – Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
os almoços da população brasileira, sendo deste modo uma boa fonte
deste mineral para ser consumido diariamente (10). SANIBAL E.A.A., MANCINI-FILHO J. Perfil de ácidos graxos
Tabela 5: Composição dos micronutrientes dos acompanhamentos trans de óleo e gordura hidrogenada de soja no processo de
Cálcio Magnésio Sódio fritura. Ciência e tecnologia dos alimentos. 24(1). 27-31, 2004
(mg) (mg) (mg)
Dobradinha 21,82 29,52 1.319,14 CUPARI, L. Nutrição nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
Feijão carioca 101,82 162,71 853,61 1.ed. Barueri, SP: Manole, 2009.
Feijão macassar 27,36 41,51 468,00
Feijão preto 89,88 150,4 907,45 DAROS, T. L. Análise da composição centesimal do sanduíche
Feijão tropeiro 76,25 103,50 90,69 natural e adequação do rótulo conforme a legislação da ANVISA.
Rubacão 56,90 28,04 338,45 Monografia (Curso de Bacharelado em Farmácia) - Universidade do
Arroz à grega 13,95 20,50 247,96 Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2010.
Arroz de Braga 14,31 21,56 288,78
Arroz integral 7,98 109,78 48,76 ELER, J. F. de C.; QUINTÃO, A. L.; FIGUEIREDO, E. A;
Arroz refogado 12,33 26,97 270,84 ANDRADE, N. A.; NASCIMENTO, R. A.; OLIVEIRA, T. P. de.
Arroz simples 3,95 29,64 290,18 Avaliação do teor de ácido ascórbico presentes nos sucos de caju
Bolinhos de peixe 18,69 27,26 128,42 natural, na polpa industrializada e na polpa desidratada.
Espaguete refogado 16,28 26,34 42,53 Disponível em:
Farofa simples 50,88 29,06 48,02 http://co.unicaen.com.br:89/periodicos/index.php/UNICA/article/vie
Lasanha de carne 211,70 15,00 430,46 w/26. Acesso em: 18 ago. 2020.
Lasanha de frango 183,16 20,23 384,10
Macaxeira frita 14,12 40,57 1,83 GALLAGHER, L.M. Os nutrientes e seu metabolismo. In: Mahan,
L.K., Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12
Fonte: Própria do autor ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
Já o feijão preto (feijão preto, carne de charque, calabresa
e caldo de carne) e dobradinha (feijão branco, carne de charque, BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a população
tripa, bucho de boi e temperos) demonstrados na tabela acima se brasileira. 2.ed., 1.reimp. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
apresentaram ricos em sódio pela presença da carne de charque,
calabresa e caldo de carne que são ingredientes ricos em sal. De Sociedade Brasileira de Cardiologia. VII Diretriz Brasileira de
acordo com a OMS, a quantidade de sódio a ser consumida por dia é Hipertensão Arterial. v. 107, n°3, Supl.3, 2016.
de 2.000 mg e também é recomendada pela VII Diretriz Brasileira de
Hipertensão Arterial (11), logo estes alimentos devem ser
consumidos em porções menores e de forma mais equilibrada.
CONCLUSÃO
A composição nutricional dos pratos analisados nos
mostraram que em relação aos macronutrientes os pratos de entrada
podem ser utilizados nas refeições como alimentos saudáveis pela
presença de fibras e baixa caloria. Dando ênfase também as frutas
utilizadas como sobremesa nas refeições as quais possuem grandes
quantidades de fibras. Já em relação aos acompanhamentos, estes se
destacaram por serem ricos em carboidratos e lipídeos, podendo os
mesmos serem inseridos na alimentação com moderação. Devemos
ter bastante atenção na adição de alguns ingredientes que podem
alterar o valor nutricional da preparação de forma negativa, como por
exemplo, o óleo utilizado nas frituras, como visto no bolinho de
peixe.
347
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
INTRODUÇÃO
Na administração de uma Unidade de Alimentação e Ingrediente Quantidade
Nutrição (UAN) o desperdício é um fator de grande relevância, tendo
este na cadeia alimentar causas econômicas, políticas, culturais e Melancia 1Kg
tecnológicas, que abrangem as principais etapas da cadeia Coentro 0,100 kg
produtiva: colheita, transporte, manipulação, comercialização,
sistema de embalagem e armazenamento (1). Pimentão 2 unidades
Há uma grande preocupação no sentido de se aproveitar ao Cebola 1 unidade
máximo os alimentos. Estudos mostram a importância do controle do
processo de produção como técnicas corretas de pré-preparo, Amido de milho 2 colheres de sopa
métodos para se evitar o desperdício no momento da aquisição dos Água ½ copo
alimentos, treinamentos, bem como, a valorização da mão-de-obra
(2). Sal pitadas
O homem pode obter uma alimentação sadia com partes de Azeite 1 colher de chá
alimentos que normalmente são desprezadas. Sendo assim, é
importante a utilização de cascas, talos e folhas, pois o Folha de louro 1 unidade
aproveitamento integral dos alimentos, além de diminuir os gastos Participaram da análise sensorial do “Refrigerante Caseiro”
com alimentação e melhorar a qualidade nutricional do cardápio, oitenta e dois alunos das séries Infantil I e II manhã e tarde, pelo
reduz o desperdício de alimentos e torna possível a criação de novas Método afetivo com escala hedônica facial para escolares (4). Já para
receitas, como, por exemplo, sucos, doces, geleias e farinhas (3). sensorial da “Panqueca verde” e do “Molho de melancia” a amostra
Diante do exposto, o presente estudo objetivou avaliar a foi de 111 funcionários, realizando testes hedônicos para os atributos:
composição nutricional e aceitabilidade de preparações elaboradas a cor, textura, sabor, aparência e avaliação global com escala hedônica
partir do aproveitamento integral dos alimentos no restaurante de verbal de 9 pontos, variando de gostei muitíssimo (9 pontos) até
uma escola privada do município de João Pessoa. desgostei muitíssimo (1 ponto) , utilizando-se a metodologia
recomendada pelo Instituto Adolfo Lutz – IAL (5).
MATERIAIS E MÉTODOS Os dados sobre a aceitação foram colocados em planilhas e
Trata-se de um estudo do tipo exploratório quantitativo. gráficos do programa Microsoft Excel. A escala de aceitação usada
Foram desenvolvidas três receitas de aproveitamento integral dos para avaliar o nível de aceitação do refrigerante caseiro por parte das
alimentos na cozinha do restaurante: refrigerante caseiro, panqueca crianças dos infantis I e II manhã e tarde, originalmente possuía
verde e molho de melancia. As fichas técnicas foram desenvolvidas índices de 1 à 5, os quais eram atribuídas as expressões péssima,
para que pudessem ser padronizadas. ruim, bom, muito bom e ótimo respectivamente. Entretanto,
Tabela 1- Formulação do refrigerante caseiro para 5L para fins de análise estatística, esta escala foi reformulada, sem
Ingrediente Quantidade alteração nos resultados finais, para índices 1 e 2, representando
Laranja 15 unidades respectivamente Ótimo/Muito Bom e Ruim/Péssimo, pois em
alguns índices as escalas possuíam valores menores que 5,
Limão 5 unidades inviabilizando a análise estatística. Lembrando que a categoria
Cenoura 4 unidades “Bom” foi retirada das análises, visto que nenhum dos alunos
escolheu a mesma. Assim, adotamos o teste exato de Fisher com
Casca de laranja 1 unidade valor de significância menor que 0,05.
Açúcar 0,4 Kg Para a determinação da composição nutricional das receitas
desenvolvidas utilizou-se Tabela de Composição dos Alimentos –
Água com gás 2,5 L TACO/UNICAMP (6). Foram calculados através da planilha do
Microsoft Excel o valor energético, macronutrientes, e teor de fibras.
Tabela 2- Formulação da panqueca verde para 40 panquecas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ingrediente Quantidade Observando a ficha de análise sensorial do refrigerante
Couve 3 molhos caseiro, foi possível verificar que, em ambos os turnos, os alunos
apresentaram uma aceitação superior a 80%, conforme demonstrado
Ovos 4 unidades na Tabela 4.
Farinha de trigo 1Kg Tabela 4 – Análise sensorial do refrigerante caseiro
Manteiga 2 colheres
Leite 2L
Sal 1 colher de sopa
Queijo mussarela 0,632 Kg
Cenoura 0,306 Kg
Em uma análise sensorial de sucos elaborados com
Tabela 3- Formulação do Molho de melancia para 1,2 L de aproveitamento integral de alimentos, encontraram uma aceitação de
molho 35,82% para o suco de casca de maçã, 57,49% para o suco de limão
com couve e 81,65% para o refrigerante caseiro. (6)
348
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
A panqueca verde apresentou uma aceitação superior a possuem boa fonte de fibras e baixas calorias. Já a porção da
70%, não levando em consideração quem não respondeu a essa preparação refrigerante caseiro apresenta mais de 10g de açúcar,
pergunta, como demonstrado na figura 1. portanto não são indicadas pelo guia para população brasileira. A
Organização Mundial de Saúde – OMS recomenda essas
Figura 1 – Aceitação sensorial da panqueca verde preparações, pois elas possuem menos de 30% de lipídeos por
porção. (11)
Em pesquisa com elaboração de bolo feito com casca de
banana mostraram menores valores energéticos e maiores
quantidades de fibras quando comparado com a preparação utilizado
apenas a banana. Em relação a elaboração de suco de acerola em 300
ml apresentou valores menores de energia, proteínas, lipídeos, fibras
e maiores para carboidratos, quando comparados com o suco de
acerola, cenoura e couve. (12)
CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos concluímos que uma revisão
na receita do molho de melancia deve ser feita a fim de melhorar suas
características sensoriais para uma maior aceitação. Já refrigerante
caseiro e a panqueca verde tiveram níveis de aceitação consideráveis,
sendo altamente viável a incorporação no cardápio da escola.
A implantação do uso integral de alimentos em preparações
Comparando-se com o estudo sobre análise do perfil é uma alternativa que deve ser incentivada, pois como mostram os
sensorial do pão de forma integral é possível verificar que a maioria resultados possuem baixas calorias e uma boa fonte de fibras, além
das respostas dadas pelos provadores foram superiores a nota 5 de aumentar a qualidade nutricional e diminuir o desperdício dos
quanto à aparência, aroma, sabor, textura e impressão global no teste alimentos.
de aceitação, indicando boa aceitação pelos consumidores (7).
Os principais critérios para aceitação de alimentos REFERÊNCIAS
enriquecidos com fibras alimentares são: bom comportamento no CASTRO, M.H.C.A. Fatores determinantes de desperdício de
processamento, boa estabilidade e aparência, e satisfação no aroma, alimentos no Brasil: Diagnóstico da situação. 2002. 93p.
na cor, na textura e na sensação deixada pelo alimento na boca (8). Monografia (Especialização em Gestão de Qualidade em Serviços de
Certamente, de uma maneira geral, a maioria desses requisitos foram Alimentação) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2002.
alcançados pelas panquecas.
O molho de melancia apresentou uma aceitação em torno KIMURA, A. Y. Planejamento e administração de custos em
de 60%, não sendo levado em consideração os que não responderam, restaurantes industriais. 1. ed. São Paulo: Fazendo Arte, 1998.
conforme demonstrado na figura 2.
GONDIM, J. A. M.; MOURA, M.F.V.; DANTAS, A.S.;
Figura 2 – Aceitação sensorial do molho de melancia MEDEIROS, R.L.S.; SANTOS, K.M. Composição centesimal e de
minerais em cascas de
frutas. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 4, n. 25, p. 825-827,
2005.
349
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Heloisa, Portela-de-Sá1; Ingrid, Souza2; Nayara, Costa2; André, Costa3; Júlia, Sá4; Paula, Freitas5; Keciany, Oliveira6
1 Faculdades Integradas de Cacoal (Mestre, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
(heloportelasa@gmail.com)
2 Faculdades Integradas de Cacoal (Discente, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
3 Faculdades Integradas de Cacoal (Especialista, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
4 Centro Universitário UniFacid Wyden (Discente, Curso de Bacharelado em Medicina, Teresina, Piauí, Brasil)
5 Universidade Estadual do Ceará (Mestre, Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde, Fortaleza, Ceará,
Brasil).
6 Universidade Estadual do Ceará (Doutora em Ciências Fisiológicas – Universidade Estadual do Ceará – UECE).
350
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
351
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Heloisa Portela-de-Sá1 , Larissa Silva2, Lila Matos3, André Costa4, Júlia Sá5, Paula Freitas6, Keciany Oliveira7
1
Mestre em Nutrição e Saúde – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC, heloportelasa@gmail.com
2
Bacharel em Nutrição – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
3
Mestre em Educação – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
4
Especialista em Docência do Ensino Superior – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
5
Docente do Curso em Bacharelado em Medicina – Faculdade Integral Diferencial – FACID
6
Mestre em Nutrição e Saúde – Universidade Estadual do Ceará - UECE
7
Doutora em Ciências Fisiológicas – Universidade Estadual do Ceará - UECE
352
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 2 – Determinação de Polifenóis da Pupunha (Bactris gasipaes alcançando maior realce na polpa do fruto. Tendo em vista que os
kunth) polifenóis são micronutrientes e estão presentes na alimentação
diária, funcionam assim, como antioxidantes trazendo ações
mg média DP %CV benéficas ao organismo.
EAG/100g
Amostra REFERÊNCIAS
Casca 230,70
219,80 224,87 5,49 0,024 1. FERNANDES AR, et al. Ativação e significância da
224,10 H + -ATPase vacuolar na adaptação de
Polpa 185,70 Saccharomyces cerevisiae e resistência ao herbicida
192,60 186,83 5,29 0,028 ácido 2,4- diclorofenoxiacético. Biochem Biophys Res
182,20 Commun 312 (4): 1317-24.
Valores expressos em mg EAG 100 g-1 de fruta in natura. Análises 2. ESPINOSA-PARDO, F. A.; MARTINEZ, J.; MARTINEZ-
CORREA, H. A. Extraction of bioactive compounds from
realizadas em triplicata.
peach palm pulp (Bactris gasipaes) using supercritical CO2.
Outro estudo, obtiveram os seguintes resultados, 124,40 Journal of Supercritical Fluids 93, 2–6, 2014.
± 1,17e µmol EAA 100 g-1, 93,35 ± 6,42ªmg GAE 100 g-1 de 3. HERTOG MGL, HOLLMAN, PCH, KATAN MB. Content
atividade antioxidante e polifenóis respectivamente10. of potentially anticarcinogenic flavonoids of 28
Uma pesquisa sobre as propriedades antioxidantes e teor vegetables and 9 fruits commonly consumed in the
total de polifenóis em doces em massa do fruto da pupunha apresenta Netherlands. J Agric Food Chem. 1992;40(12):2379-83.
maiores resultados: 338,22 μmol trolox g-1 de atividade antioxidante 4. HUANG D, OU B, PRIOR RL. The chemistry behind
e 60,61 - 65,7 mg GAE 100 g-1 de polifenóis11. Pode-se observar que antioxidant capacity assays. J Agric Food Chem.
os resultados obtidos através das análises realizadas para este estudo 2005;53(6):1841-56.
foram de relevância, embora tenha encontrado resultados maiores, a 5. SOARES, E. R.; MONTEIRO, E. B.; SILVA R. C.;
quantidade de antioxidantes da polpa foi 274,071 μM/100g-1, mais BATISTA, A.; SOBREIRA, F., MATTOS, T.; COSTA, C.
da metade do segundo autor citado. A.; DALEPRANE J. B. Compostos bioativos em
alimentos, estresse oxidativo e inflamação: uma visão
Tabela 3 – Determinação de Antocianinas Monomérica presen molecular da nutrição. revista.hupe.uerj.br. v. 14, n. 3, jul-
tes na casca e polpa da pupunha (Bactris gasipaes kunth). set/2015.
6. BRAND-WILLIAMS, Wendy; CUVELIER, Marie-
Elisabeth; BERSET, C. L. W. T. Use of a free radical
Amostra média DP %CV
method to evaluate antioxidant activity. LWT-Food science
Casca and Technology, v. 28, n. 1, p. 25-30, 1995.
7. RUFINO, M. S. M.; ALVES, R. E.; BRITO, E. S.;
0,404 0,337 0,836 MORAIS, S. M.; SAMPAIO, C. G.; PÉREZ- JIMÉNEZ, J.;
SAURA-CALIXTO, F. D. Metodologia científica:
Polpa determinação da atividade antioxidante total em frutas
pela captura do radical livre DPPH. Comunicado técnico
1,759 0,329 0,187
online 127. 2007.
8. SINGLETON, V. L.; ROSSI, J. A. Colorimetry of total
Valores expressos em AM mg.L-1. Análises realizadas phenolics with phosphomolybdicphos- photungstic acid
em triplicata. reagents. Am. J. Enol. Vitic., v. 20, p. 144-158, 1965.
A concentração inicial das antocianinas totais, calculada 9. GIUSTI, M. M.; WROLSTAD, R. E. Anthocyanins:
através do método de pH diferencial, foi de 0,404mg/1g de casca e characterization and measurement with uv-visible
1,759mg/1g de polpa, liofilizada e o comprimento de onda de spectroscopy. In: WROLSTAD, R.E. Current protocols in
absorção máxima encontrado foi de 650nm. A quantidade de food analytical chemistry. New York: John Wiley & Sons,
antocianinas totais na polpa da pupunha foi maior do que na casca 2001. Unit. F1.2.1- 13.
como mostra na tabela 3. 10. SERAGLIO,S. K. T.; GONZAGA, L. V.; HELM,
Não há estudos feitos sobre a antocianina no fruto da C. V.; NEHRING, P.; OLIVO I. S.; FETT, R.
pupunheira. Como observado na tabela 3, os resultados das análises Avaliação da capacidade antioxidante in vitro
foram de baixa concentração de antocianina na pupunha, isso se edeterminação de compostos fenólicos em
justifica pelo fato de que as antocianinas têm pigmentos que se diferentes sistemas de extração em frutos de
encontram usualmente na forma de uma mistura de diferentes pupunha. Revista do Congresso Sul Brasileiro de
estruturas químicas em equilíbrio: cátion flavilium (vermelho), base Engenharia de Alimentos, Pinhalzinho, Santa
anidra quinoidal (azul), pseudo-base carbitol (incolor), e chalcona Catarina, Brasil, 2015.
(incolor ou levemente amarela)12. 11. BELLETTINI, M. B. Análise preditiva de
Estes antioxidantes agem nos organismos vivos por meios características físicoquímicas da pupunha em
diferentes de mecanismos, tais como: complexação com íons função do clima e aproveitamento de seus frutos
metálicos, captura de radicais livres, disposição de peróxidos, e bainha foliar. Universidade Federal Do Paraná,
inibição de enzimas responsáveis pela geração ROS (espécie reativa Curitiba, 2017.
de oxigênio) e modulação de vias sinalizadoras celulares13. Os 12. HEREDIA. F.J.; FRANCIA-ARICHA, E.M.; RIVAS-
antioxidantes podem neutralizar os radicais livres produzidos GONZALO, J.C., et al. Chromatic chaterization of
durante o processo de envelhecimento e têm uma função potencial anthocyanins from red grapes-I. PH effect, Food
de agir de forma preventiva à algumas doenças crônicas como Chemistry, v.63, n.4, p.491-498, 1998
doenças cardiovasculares, desordens neurológicas e processos e 13. VESKOUKIS, Aristidis S.; TSATSAKIS, Aristidis M.;
processos inflamatórios14 KOURETAS, Dimitrios. Dietary oxidative stress and
Silva e colaboradores(2009)15 ressaltam que o sistema de defesa antioxidant defense with an emphasis on plant extract
antioxidante no organismo humano é composto por substâncias que administration. Cell Stress and Chaperones, v. 17, n. 1, p.
podem ter origem endógena, como as enzimas produzidas pelo 11-21, 2012.
própria corpo exposto, o ácido úrico, entre outros, ou de origem
exógena, sendo obtidas através da dieta. 14. ARRANZ, A. M. et al., Functional glutamate
transport in rodent optic nerve axons and glia. Glia
56. p. 1353-1367, 2008.
CONCLUSÃO 15. SILVA, M. das G. C. P. C.; BARRETTO, W. de S.;
SERÔDIO, M. H. Caracterização química da polpa dos
A partir dos dados obtidos, é possível concluir que os frutos de juçara e de açaí. In: CONGRESSO BRASILEIRO
frutos da pupunheira contem elevados teores de compostos DE FRUTICULTURA, 18., 2004, Florianópolis, S. Anais...
polifenóis e consideráveis propriedades antioxidantes, Florianópolis, SC, 2009.
353
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
354
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
APARÊNCIA 1. DIAS, João Castanho. Uma longa e deliciosa viagem: O primeiro
7
6 5 5
livro da história do queijo no Brasil. São Paulo: Editora Berleus,
5 4 2010.
4 2. DIAS, João Castanho. Duas unhas de queijo. São Paulo: Editora
3 Berleus, 2016.
2 1 3. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO E
1
BIODIVERSIDADE. Área de Proteção Ambiental da Serra da
0
Branco com tonalidades amarelas Mantiqueira. 2019. Disponível em:
Seco <http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-
Brilhante brasileiros/mata-atlantica/unidades-de-conservacao-mata-
Amarelo pálido atlantica/2177-apa-da-serra-da-mantiqueira->. Acesso em: 11 dez.
2019.
Fonte: Acadêmico, 2019. 4. MINIM, Valéria Paula Rodrigues; SILVA, Rita de Cássia dos
Tratando-se do queijo Porão (528), sua composição conta Santos Navarro da. Análise Sensorial Descritiva. 1.ed. Viçosa:
como leite desnatado tipo A, 3% de gordura e é proveniente de vacas Editora UFV, 2016.
holandesas. Ainda, suas transformações físico-químicas são causadas 5. DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4.ed.
por culturas propiônicas naturais do ambiente e do leite. Sua Curitiba: Editora PUCPRESS, 2013.
maturação leva de quatro a cinco meses nas câmaras naturais de
madeira e tijolo denominada tulhas. Observou-se que a coloração
branca teve predominância, acompanhada do aspecto seco. Ainda, a
maioria dos avaliadores consideraram a característica brilhante.
Nesse âmbito, tais atribuições da aparência refletem nos
apontamentos realizados na textura, como pouco untuoso, quebradiço
e duro. Tratando-se do aroma, apresentou frutas voláteis, notas
fermentadas e amendoadas, ou seja, maior variedade de descritores
em relação ao sabor, o qual apresentou com maior frequência
descritores associados a notas salgadas e ácidas.
Já o Figueira (906) é composto por leite integral tipo A,
com 3,5% de gordura. Assim como a amostra anterior, a matéria
prima é oriunda de vacas holandesas. Vale salientar que são
adicionadas culturas propiônicas e aromáticas, bem como o corante
natural de urucum. Sua maturação leva 15 dias em câmaras frias
industriais de 8 a 10 °C e 40 dias na tulha. A partir de tais
informações, notou-se a predominância da coloração alaranjada, com
aspecto brilhante. A observação do brilho está diretamente ligada
com a sua textura, a qual oportunizou variadas interpretações, como
compacta, untuosa, macia, lisa e elástica. O aroma expressou
complexidade média comparada ao sabor, visto que permaneceu com
notas suaves de giz e de terra. Já no sabor foi identificada a presença
de notas amendoadas, adocicadas, ácidas e também amargas.
O queijo Mantiqueira (293) é elaborado com leite integral
tipo A, com 3,5% de gordura e leva aproximadamente 35 dias de
maturação em câmaras industriais. Levando em conta suas
características, estacou-se a coloração branca, compacta e opaca. Da
mesma forma, sua textura refletiu nas observações, apresentando
textura quebradiça e seca, fato que coincide com a baixa
coesividadee opacidade da aparência. Todavia, tanto no aroma
quanto no sabor, trouxe complexidade nas notas frutadas,
fermentadas e de pelego, descritor este que remete a notas animais.
Por último, mas não menos importante, o Tulha (175),
composto por leite desnatado tipo A, com 3% de gordura e no
mínimo um ano e meio de maturação nas tulhas, apresentou distintas
características em todos os detalhes. Ressalta-se na aparência a
característica marmorizada, amarela, seca e também degradê. A
textura coincide com tais observações típicas de queijos maturados,
como o fato de ser quebradiço, granuloso, duro e cristalizado.
Ademais, tanto no aroma quanto no sabor existe ampla descrição de
caramelizado, frutas, fermentados de frutas, umami, doce, salgado,
ácido e amargo. Tais fatores demonstram a sua complexidade
sensorial, tamanha a sua diversidade de descritores.
CONCLUSÃO
Pelo exposto, os reflexos desses esforços servem para
elucidar o pensamento crítico em relação às leis em vigor a respeito
dos queijos artesanais, ao consumo sustentável e também para
evidenciar que existem produtos com características inigualáveis
sendo produzidos no Brasil, que devem ser identificados e protegidos
das ameaças industriais que monopolizam os grandes mercados. Com
base nos resultados desse estudo, sugerem-se novas pesquisas onde
haja aprofundamento da análise sensorial quanto ao perfil das
amostras. Ainda, recomenda-se a construção de trabalhos que
também busquem a relação do terroir com as características
sensoriais dos produtos, os quais têm potencial para contribuir com a
criação de pratos, com diferentes alternativas de harmonização,
oportunizando a melhoria da economia local, além do potencial de se
tornarem um atrativo turístico e, consequentemente, uma vitrine para
a gastronomia brasileira no cenário internacional.
355
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
357
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
358
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Materiais e Métodos
Resultados e Discussões
359
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 3 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de Figura 5 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFPB (N = 17) Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFRPE (N = 40)
Referências
360
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Diana Carvalho1, Adriana Siqueira1, Robson Mota1, Fernando Mayorga2, Gustavo Sirqueira3, Elizangela
Oliveira3, João Tavares3
¹Prof. Bacharelado Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. ²Prof. Ciências Econômicas, Universidade Federal do
Ceará, Campus Sobral. 3Estudante Bacharelado Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
Email: dianacarvalho@ufc.br
361
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 1 – Caracterização geral dos participantes do curso de EAN Tabela 2 – Dados antropométricos de participantes com objetivo de
(n=17), 2019. emagrecimento (n=10), 2019.
Características % n Media DP Variáveis Média (±) Média (±) P-valor
Gênero Idade 46,7 ± 7,95 46,7 ± 7,95 -
Masculino 23,5 4 - Estatura (m) Desvio
1,63 ± 0,12 Desvio
1,63 ±Padrão
0,12 -
Feminino 76,5 13 - Peso (kg) Padrão
76,15 ± 25,62 75,78 ± 25,32 0,09
Idade (anos) - - 47,05 ± 9,6 IMC (kg/m2) 27,88 ± 4,59 Final
27,76 ± 4,55 0,10
Início
Estatura (m) - - 1,61 ± 0,1 Circunferência 98,2 ± 16,30 96,72 ± 15,50 0,07
IMC (kg/m2) - - 26,11 ± 5,3 abdominal
Classificação nutricional dos participantes Fonte: Dados da pesquisa.
Baixo peso 12 2 -
CONCLUSÃO
Eutrofia 29 5 -
Sobrepeso 35 6 - Pode-se concluir que as modificações observadas com uso de
Obesidade 24 4 - oficinas de gastronomia como estratégia metodológica obteve
Abdominal(cm)
Grau do Risco de complicações metabólicas (n=15) resultados satisfatórios nos relatos dos participantes sobre as
mudanças de comportamento, observando-se relatos de consciência,
Elevado 40 6 -
autonomia, reconhecimento de atitudes e inclusão de hábitos mais
Muito elevado 40 6 - saudáveis. No entanto, não se observaram modificações
Baixo 20 3 - significativas de medidas antropométricas. Sugere-se que mais
Fonte: Dados da pesquisa. estudos, com maior número de participante e maior tempo de
acompanhamento, sejam realizados para avaliar os impactos das
Os dados antropométricos dos participantes com objetivo de oficinas de gastronomia na promoção da saúde.
emagrecimento estão apresentados na tabela 2. Pode-se observar que
houve leve redução do peso corporal e IMC, mas não foi REFERÊNCIAS
estatisticamente significante. A circunferência abdominal foi a
medida antropométrica que mais reduziu, no entanto, apresentou 1. Lindemann IL, Oliveira RR, Mendoza-Sassi RA. Dificuldades
p<0,10. Isto pode ter ocorrido pelo curto espaço de tempo (8 para alimentação saudável entre usuários da atenção básica em
semanas) e pelo pequeno número da amostra (n=10). Embora os saúde e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva.
resultados antropométricos não tenham sido expressivos naqueles 2016;21:599–610.
que desejavam emagrecimento, considera-se resultados importantes,
pois se trabalhou com um plano alimentar mais flexível, com 2. Souza A de M, Pereira RA, Yokoo EM, Levy RB, Sichieri R.
objetivo de reeducação e modificações de hábitos e estilo de vida Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito nacional de
mais saudáveis. Para o sucesso do tratamento dietético, devem-se alimentação 2008-2009. Revista de Saúde Pública.
manter mudanças na alimentação por toda a vida. Um planejamento 2013;47:190s–199s.
alimentar mais flexível, que objetive reeducação, geralmente obtém
mais sucesso, devendo considerar, além da quantidade de calorias, as 3. Santos RP, Horta P, Souza CS, Dos Santos CA, De Oliveira
preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de HBS, De Almeida LMR, et al. Aconselhamento sobre
vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde. Em alimentação e atividade física: prática e adesão de usuários da
longo prazo, o método, a velocidade de perda de peso, o ajuste atenção primária. Revista Gaúcha de Enfermagem.
fisiológico e a habilidade de manter as mudanças comportamentais 2012;33(4):14–21.
de dieta e atividade física é que determinarão o sucesso de qualquer
programa de emagrecimento(7).
Os demais participantes (n=7) objetivavam ganho ou manutenção do 4. Bezerra, J.A.B. Educação Alimentar e Nutricional: Articulação
peso, desempenho esportivo e aprendizado sobre alimentos saudáveis de Saberes. Fortaleza: Edições UFC; 2018. 120 p.
e suas preparações, o que foi contemplado em todas as atividades
propostas no curso. 5. Diez-Garcia RW, de Castro IRR. A culinária como objeto de
As oficinas de gastronomia se destacaram como ferramenta estudo e de intervenção no campo da Alimentação e Nutrição
metodológica durante todo o curso. As palestras e as oficinas Culinary as an object of study and intervention in the field of
deixaram o plano alimentar mais atrativo e mais fácil de ser Food and Nutrition. 2011;16(1):91–8.
realizado, estimulou o uso de novos ingredientes, a criatividade, as
habilidades culinárias e a autonomia dos participantes. Quando se 6. Augusto VG, Aquino CF de, Machado NC, Cardoso VA,
perguntou: “A respeito das oficinas de gastronomia oferecidas, quais Ribeiro S. Promoção de saúde em unidades básicas: análise das
você colocou em prática em casa”? As respostas foram: “iogurte, representações sociais dos usuários sobre a atuação da
kombucha, brownie de batata-doce, salada de quinoa, molho fisioterapia. Ciência & Saúde Coletiva. 2011;16:957–963.
vinagrete, panqueca de banana”. Alguns relatos foram observados
como “desenvolvi a receita em casa e ficou ótima”, “fiz a receita em
7. ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
casa e meu filho adorou”, “fiz a substituição do ingrediente para
adequar a minha dieta vegetariana”. Quando se perguntou: “Quais da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade
foram as mudanças que o curso EAN proporcionou em sua vida?” As 2016 / ABESO. 4a edição. São Paulo; 2016.
respostas foram: “melhora da disposição”, “melhora da qualidade
de vida”, “aumento do consumo de água”, “diminuição da fraqueza 8. de Figueiredo SM, de Freitas MCD, da Silva JMT, Vieira Filho
durante o exercício físico”, “maior consumo de frutas”, “parar de SA, Caligiorne RB. Oficinas de culinária: método educativo de
comer pizza”, “diminuição do consumo de açúcar”, “buscar alimentação saudável. 2014;40(1):45–50.
processo de emagrecimento devagar e contínuo”, “mais diversidade
na alimentação”, “respeitar as atitudes em relação a mim mesmo”,
“consciência de alimentação saudável”, “cuidado na compra de
alimentos saudáveis”, “cuidado na higienização dos alimentos”,
“diminuição do sal, açúcar e gordura”.
Embora não tenha se observado mudanças importantes nas medidas
antropométricas, as oficinas de gastronomia juntamente com o
aconselhamento nutricional promoveram relatos de consciência,
autonomia, reconhecimento de atitudes e inclusão de hábitos mais
saudáveis. A literatura ressalta que oficinas de culinária bem
conduzidas são capazes de olhar o ser humano enquanto único,
contextualizando-o à sua orientação dietética e respeitando suas
práticas cotidianas para que o atendimento em saúde seja eficaz (8).
362
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
direcionamento seletivo do lixo, em função da defesa da para a formação cidadã, possibilitando a promoção e reprodução de
biodiversidade e das culturas a ela ligadas pelas unidades de serviço ações sustentáveis, por meio da aproximação academia –
de alimentação; sensibilizar brigadas de cozinha a reduzir o comunidade (sociedade) e mercado gastronômico na atividade
desperdício de alimentos e da geração desnecessária de resíduos turística.
orgânicos, incentivando o aproveitamento integral dos alimentos e
inserção destes nos cardápios e apontar as Boas Práticas de
Manipulação de Alimentos para a qualidade e segurança na produção CONCLUSÕES
dos alimentos; incentivar o resgate e valorização a produção de
pratos baseados na gastronomia local ou regional nos restaurantes; O Projeto Gastronomia Consciente possibilita participação de
contribuir para formação plena e cidadã do discente do Curso de públicos diversos de restaurantes, aprendizagem de novas técnicas,
Hotelaria e de Turismo, a partir das ações voltadas para uma prática práticas e a compreensão sobre os benefícios relacionado à aplicação
gastronômica sustentável junto à comunidade. dos aspectos econômicos, ambientais e socioculturais, o
As atividades envolveram: Práticas Sustentáveis em A& B, posicionamento dos sujeitos durante as oficinas demonstra que
Aproveitamento Integral dos Alimentos, Boas Práticas de aplicação prática da sustentabilidade se estende ao contexto familiar
Manipulação. Assim, os resultados foram considerados satisfatórios, ou doméstico. A troca de conhecimento entre academia e
porém, notou-se a intimidação dos funcionários por parte dos comunidade ultrapassando os muros da universidade impacta
gestores dos estabelecimentos que eventualmente os conduziam a positivamente na sociedade. A aceitação do público alvo à ação do
omitirem suas opiniões em relação às práticas cotidianas em não Projeto de Extensão Gastronomia Consciente implica em
conformidade aos princípios de sustentabilidade (identificado ao minimização dos impactos gerado pelo segmento de alimentação,
decorrer das palestras). Durante as oficinas os participantes contribuindo para o desenvolvimento local e da atividade turística. A
contribuíram com experiências vivenciadas, sanando dúvidas, sustentabilidade na produção de refeições envolve um conjunto de
conhecendo melhor sobre a temática abordada pelo projeto e medidas durante todo o processo produtivo, desde o planejamento do
demonstrando práticas que podem gerar impactos relacionados às cardápio, até a reciclagem e gerenciamento dos resíduos alimentares
dimensões econômicas, ambientais e socioculturais do município. da unidade. E que a extensão universitária contribui para o compasso
Direcionou-se a atividade para a aplicabilidade de práticas entre a gastronomia e o desenvolvimento sustentável ao passo que se
sustentáveis aos serviços dos restaurantes, tendo como principais apresenta como instrumento de transformação dos sujeitos
medidas sugeridas a aproximação do ser humano à origem dos envolvidos e conservação da biodiversidade, e, sobretudo imprimi
alimentos reduzindo os circuitos da cadeia produtiva dos alimentos, múltiplos olhares na formação cidadã dos acadêmicos.
ao uso de alimentos orgânicos no cardápio, a preocupação da
empresa com o bem-estar dos funcionários, evitar o uso de espécies REFERÊNCIAS
ameaçadas de extinção no cardápio, dar aos clientes a opção de pedir
porções menores por preços mais baixos caso necessário, aquisição 1. MANUAL DO SLOW-FOOD. (2008). Disponível em:
de produtos de fornecedores locais e incentivo aos pequenos <http://www.slowfood.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2019.
produtores, valorização de produtos locais, regionais e/ou orgânicos, 2. MONTANARI, M. (2008) Comida como cultura. São Paulo:
realizar a coleta seletiva do lixo e separar os resíduos orgânicos para
Editora Senac São Paulo.
compostagem, utilizar materiais de limpeza biodegradáveis na
higienização, uso racional de água e energia, apelo sustentável na 3. REIS, L. F. S. S. D.; QUEIROZ, S. M. P. (2002). Gestão
decoração/ambientação dos estabelecimentos, aproveitamento ambiental em pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro:
integral dos alimentos e aplicação de boas práticas de manipulação Qualitymark.
evitando desperdício e geração de resíduos. Observou-se durante as 4. SAVITZ, A. W.; WEBER, K. (2007). A empresa sustentável: o
discussões entre bolsistas e sujeitos das ações a compreensão sobre a verdadeiro sucesso é o lucro com responsabilidade social e
importância de um restaurante sustentável. Trabalhou-se ainda ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
conhecimentos sobre aproveitamento de alimento, descartes dos
5. NERY, C. H. C.; CONTO, S. M.; ZARO, M.; PISTORELLO, J.;
resíduos, hábitos alimentares e alimentos típicos de cada região.
Percebeu-se um posicionamento de empoderamento ao final dos PEREIRA, G. S. (2013). Geração de resíduos sólidos em eventos
trabalhos, e mostraram-se assertivos aos requisitos de gastronômicos: o Festiqueijo de Carlos Barbosa, RS. Rev. R. dos Ven.,
sustentabilidade que implicariam em mudanças nos hábitos e práticas Caxias do Sul, v. 5, n. 2, abr./jun.
diárias nos restaurantes. 6. CORAL, E. (2002). Modelo de planejamento estratégico para a
A contribuição dos/das participantes com suas experiências no sustentabilidade empresarial. 2002. 282 p. Tese (Doutorado em Engenharia de
reaproveitamento de alimentos, de reutilizar o que seria descartado, Produção) - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção,
revelou a importância de pequenas atitudes para influenciar a
minimização dos impactos. Houve adesão a proposta de Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
personalização dos cardápios, tanto no material de sua confecção 7. THESRAThe Sustainable Restaurant Association. About us. What
(que por sua vez pôde ser feito com material reciclado) e confecção are sustainable restaurants, (2014). Disponível em: . Acesso em: 12
de alguns em braile para atendimento aos portadores de necessidade jan. 2020.
(mostrando de forma criativa que a sustentabilidade não se limita 8. NUNES, R. (2012). Gastronomia Sustentável. Interação - Revista
apenas em ter um espaço adaptado), quanto aos produtos oferecidos, Científica da Faculdade das Américas, São Paulo, ano III, n. 1, jan./jul.
a introdução de alimentos orgânicos, a distribuição de pequenas
9. HENNINGTON, E. A. (2004) Acolhimento como prática interdisciplinar
porções evitando o desperdício. Essas ações relacionadas a extensão
universitária, transcenderam as expectativas esperadas quanto ao num programa de extensão universitária. Caderno de Saúde Pública, [S.L],
tema abordado nas oficinas e possibilitou aos participantes refletirem jan./ago. Disponível em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-
sobre novas formas de conduzir esse conhecimento para inserção de 311X2005000100028&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 29 jan 2020.
gestão sustentável, respeitando o conhecimento e práticas já adotadas
pela comunidade, além de poder expandir também para outras
localidades. As atividades do projeto foram satisfatórias, pois os
participantes dos restaurantes supramencionados participaram de
forma efetiva, demonstrado interesse e em alguns momentos o
desconhecimento, possibilitando novas atitudes na rotina dos
restaurantes do município. Nesta perspectiva, vale ressaltar a
relevante contribuição das ações extensionistas para a formação
plena e profissional dos discentes envolvidos no projeto, por meio da
troca de conhecimento (fundamentos interdisciplinares) entre a
academia e a comunidade, associação prática e teorias discutidas no
âmbito acadêmico.
As ações geraram reflexão e estimulou a mudança de
atitude na rotina dos estabelecimentos de alimentação dos
municípios. Nesse sentido, a extensão universitária contribuiu ao
passo que se apresentou como instrumento de transformação dos
sujeitos envolvidos e na conservação da biodiversidade, sobretudo,
366
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Sorvete de abacaxi com biomassa de banana verde: uma alternativa funcional, livre em adição de
açucares e lactose: uma aula prática no CTUR/UFRRJ
Maria do Socorro Guedes Freitas Durigon¹, Suzete Maria Micas Jardim Albieri², Ana Beatriz Freitas Durigon ³, Maria Eduarda
Lopes de Oliveira4, Aline Daniel Moreira de Moraes5
367
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368
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
369
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS
CRUZ, Tadeu. Sistemas, Organização & Métodos. São Paulo:
Figura 1: Valores percentuais da percepção do discente com relação
Editora Atlas S.A., 2013.
à contribuição do Panorama no desenvolvimento do professor
Fonte: produzido pelos autores. DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na
sociedade pós-industrial. 2a. ed., Rio de janeiro: José Olympio:
Ainda é possível observar na fala do D02, o seguinte: “o Panorama Brasília, DF: Ed. da UnB, 1999.
auxilia na programação antecipada das aulas, na correção de LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Metodologia científica. 2a Ed.
possíveis erros nas PAP’s, ajuda na diminuição do desperdício de São Paulo: Atlas, 1991.
insumos e otimiza o tempo”. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em
Outro aspecto analisado no questionário teve como finalidade aferir a administração. São Paulo: Atlas, 1997.
percepção de como o Panorama poderia colaborar com o seu BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70,
(discente) próprio desenvolvimento. Conforme a tabela 2, explicitada 1997.
na figura 2, para o discente, o Panorama contribuiu para seu ARAÚJO, J.C.S. Disposição da aula: os sujeitos entre a técnica e a
desenvolvimento tanto no planejamento como no aprendizado. polis. In: VEIGA, I. P.A. (Org.) Aula: gênese, dimensões, princípios
e práticas (pp. 45-72). Campinas: Papirus, 2008.
Tabela 2 GRÖNROONS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços –
Percepção do discente com relação à contribuição do Panorama a competição por serviços na hora da verdade. Rio de Janeiro:
no seu próprio desenvolvimento Campus, 1995.
Palavras chave Quantitativo de respostas SHIBA, S.; GRAHAM, A.; WALDEN, D. TQM: Quatro
Planejamento 11 Revoluções Na Gestão da Qualidade. Porto Alegre: Artes Médicas,
Aprendizado 11 1997.
Não se aplica 1
Planejamento e Aprendizado 5
Fonte: produzido pelos autores.
370
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Robson Lustosa5
371
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 01: foto dos docentes e discentes na visita à Boleira Evandir 2. CUNHA, Nininha Carneiro, comida e tradição: receitas de família,
Galindo, na cidade de Vitória de Santo Antão, Pernambuco . Fonte: editora Cepe 2018. P.10 . Prefácio LODY, Raul.
acervo da autora (Recife/2019). 3.LODY, RAUL. Doce Pernambuco, Editora, p.68- Cepe-2019
4. LODY, RAUL. Brasil, Bom de Boca: Tema da antropologia da
Alimentação editora SENAC, São Paulo, 2008
5. REGO, ANTONIO JOSÉ DE SOUZA, Dicionário do doceiro
Brasileiro, organizador Raul Lody, Editora SENAC, 2010.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
372
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
373
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
próprias mãos baseados na bagagem acumulada, conhecimento 10. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para
aplicável, plausível e contextualizado com sua realidade. a mudança e a incerteza. Coleção Questões da nossa época, v.77.5a.
Paulo Freire criticava um diálogo singular e vertical entre ed. São Paulo: Cortez; 2005.
educador e educando. A principal vertente de uma educação inclusiva 11. PEDROSO, M. R. O.; VENZKE, J. G. Graduação em nutrição:
é a horizontalidade dos moldes educacionais, onde ambas partes, experiência da monitoria em técnica e dietética II, Salão de
dialogam e problematizam na construção do conhecimento, e não um Graduação: Salão de Educação a Distância, Porto Alegre, 2008
monólogo opressivo do educador sobre o educando. Tais
questionamentos fazem com que o educando aprenda a aprender. (8)
Já é um conceito totalmente difundido, que não pode
priorizar à teoria ou à prática, e sim torná-las recíprocas, dando face
a uma totalidade produzindo um contexto, satisfatório no ensino dos
futuros profissionais. Nesta perspectiva, a associação dos tipos de
aulas é fundamental para formação completa na construção de um
banco de dados teóricos e uma memória de desenvoltura no âmbito
pratico da função (9).
Dentro de todo esse contexto crítico os professores não
são apenas técnicos, mas possuem papel crítico e mediador na
formação dos futuros profissionais. A postura do professor frente ao
planejamento, é uma ordem de maneira decisiva, através da postura
ser muito mais que uma simples transmissão de conteúdo, devendo
se apresentar como facilitador da articulação entre a teoria e a
situação prática, capaz de provocar a participação e discussão de
conhecimentos entre os alunos" (10).
Diante disso, a conjugação das aulas teóricas e práticas na
cozinha experimental permite também a ampliação das habilidades,
associadas as reflexões críticas e humanizadas. Dentre as habilidades
de conhecer as características dos alimentos, visualizar pesos,
proporções entre medidas caseiras e padronizações dos diversos tipos
de alimentos; conhecer os rendimentos das preparações, valor
nutritivo e custos, possibilitando a elaboração de fichas técnicas,
sendo essenciais no planejamento de cardápios e dietas (11).
4. CONCLUSÃO
É notório para formação de qualidade de futuros
profissionais uma construção adequada do projeto político
pedagógico dos currículos profissionais. A adequada formação
depende do equilíbrio, do número, da estrutura e do conteúdo entre
as aulas práticas e teóricas das bases profissionais.
REFERÊNCIAS
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OBJETIVOS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹ Esp. em Gestão da Qualidade em Serviços de Alimentação, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Ceará
(SENAC), pabreunt@gmail.com.
² Dra. em Ciências e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará,
anacmorais@ifce.edu.br.
³ Esp. em Segurança e Qualidade de Alimentos, fladiacarcos@gmail.com.
4
Bacharel em Nutrição, anaazevedonutricionista@gmail.com.
De início foi realizada uma reunião com a coordenadora da O questionário foi aplicado com dezenove alunos sendo
instituição de ensino profissionalizante no bairro Jangurussu, na entrevistados dois homens e doze mulheres com idade variante entre
cidade de Fortaleza (CE) onde seria realizada a pesquisa a fim de 18 e 57 anos, enquanto cinco participantes não responderam as
apresentar a proposta de trabalho. O projeto foi submetido ao Comitê informações de sexo e idade.
de Ética em Pesquisa (CEP) com seres humanos da Universidade Treze dos entrevistados afirmaram ter naturalidade de
Estadual do Ceará (UECE), sendo aprovada no dia 09 de janeiro de Fortaleza, um de Quixadá (CE), um de Ibicuitinga (CE), um de
2019, sob o CAAE 01551618.7.0000.5534. Itapipoca (CE), um de Cariré (CE) e duas do Estado no Maranhão, da
Visitas à instituição foram feitas para observar os processos cidade de Santa Inês. Destes alunos, apenas um afirmou possuir
organizacionais antes do início da pesquisa para a familiarização com ensino superior, sendo na área da Pedagogia.
a unidade.
A pesquisa deu-se início com a aplicação de questionário Dados obtidos da pesquisa
para verificar o conhecimento dos estudantes a respeito das boas
práticas por meio de entrevistas, os indivíduos participaram após Segundo a figura 1, é possível verificar que a maior parte dos
participantes deste curso são adultos acima de 30 anos.
378
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 1 - Comparativo de idades entre alunos preocupação que as instituições que de ensino neste segmento, tem a
57 57
zelar pela saúde dos seus alunos, mantendo-os informados em relação
60
52 52 52
as suas obrigações como manipuladores de alimentos.
48
50 50
Quando questionados em relação a instituição em que estava
50
44 45 estudando atualmente, 16 (84%) afirmaram estudar Boas Práticas na
37 38 instituição, enquanto 3 (16%) disseram que este estudo foi moderado.
Faixa Etaria
40 35
É possível ver que projetos como os desenvolvidos nesta instituição,
30 ensinam não apenas a cozinhar, mas a gastronomia como um todo.
25
21
23 Estes dados podem ser melhor visualizados na figura 3.
18 18 18
20
Figura 3 – Se os entrevistados conheciam a BP (A); Se estudaram BP
10 em outras instituições (B); Se estudaram na instituição atual (C)
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
379
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Foi solicitado aos entrevistados escrevessem quais Os que obtiveram maior número de respostas foram: Boas
procedimentos eles exerciam antes de preparar algum alimento. As Práticas, Habilidades e Técnicas Culinárias, e todas as opções
respostas se assemelharam, pois, a maioria afirmou lavar as mãos apresentadas. O item avaliado como menos importante foi enologia,
como algo importante para manter higiene. Os resultados estão em que houve apenas uma escolha de resposta.
contemplados na Tabela 2. É importante observar que dentre as opções marcadas
estavam o mercado de trabalho na gastronomia e administração e
Tabela 2 – Resposta dos entrevistados sobre os procedimentos que empreendedorismo, ambos escolhidos como opções por 5
aplicam antes de iniciar o preparo de algum alimento entrevistados, o que demonstra um interesse por parte dos alunos em
ENTREVISTADO RESPOSTA conhecer mais o mercado antes de ir para a prática de fato, e além
“Lavar bem as mãos, fazer a organização dos disso, é possível verificar um interesse de alguns em atuar como
1 empreendedores na área, o que pode alavancar mais o mercado de
materiais”.
2 “Limpar o lugar onde vou fazer o alimento”. empreendimentos no ramo da gastronomia, oferecendo mais
“Lavar bem as mãos, usar touca, lavar oportunidades financeiras às pessoas de baixa renda.
bancadas e tabuas, tirar anéis, pulseiras e
3
colares, cortar carnes e verduras em suas
respectivas tabuas”. CONCLUSÃO
“Lavar as mãos, retirar objetos do corpo (anel,
4 Os alunos possuem conhecimento mediano, porém
cordão, relógio e etc.)”.
“Higiene pessoal, organização e um pouco de conseguem compreender as Boas Práticas e estão aptos a aplicá-las. A
5 instituição oferece treinamento durante as aulas práticas, o que
pratica”.
“Usar toucas, lavar as mãos sempre e usar fortalece o processo de aprendizagem.
6 O projeto oferece a pessoas de todas as idades e de condição
luvas”.
social baixa oportunidades enriquecedoras com a oferta de cursos na
“Higienização dos alimentos. Colocar Avental,
7 área da culinária. Sugere-se uma revitalização das instalações da
touca”.
cozinha pedagógica, como uma forma de melhorar os projetos
8 “Lavar as mãos, usar uma touca, etc”.
oferecidos para comunidade, para que evite acidentes, ou
“Lava as mãos, toca. Manter a organização
9 contaminações.
usar luva”.
“Lavagem dos alimentos e depois levo para
10
cozinha”. REFERÊNCIAS
11 “Higienizar os alimentos e mãos”.
12 “Lavar os alimentos”. 1. ROCHA, Keli de Araujo. A Evolução do Curso de Gastronomia no
“Lavas as mãos, colocar tocas e higienização Brasil. Contextos da Alimentação. Revista de Comportamento,
13
do local de trabalho”. Cultura e Sociedade. São Paulo, v. 4. n. 2. 2016.
“Colocar a toca, avental, lavar mãos, colocar
14
organizar todos os ingredientes”.
“Colocar a touca, avental, lavar mãos ter
2. ANJOS, Francisco Antônio dos; CABRAL, Sílvia Regina;
15 HOSTINS, Regina Celia Linhares. O cenário da formação superior em
bastante higiene”.
gastronomia no Brasil: uma reflexão da oferta. Revista
“Proteção de higiene pessoal, touca para
Hospitalidade, São Paulo, v. 14, n. 1, p.1-21, ago. 2017. Disponível
cabelos, avental, luvas, lavar as mãos antes da
16 em: <https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/download
preparação, álcool em gel, verificar bem a data
/714/750>. Acesso em: 16 de out. 2018.
de fabricação”.
“Lava as mãos, toca. Manter a organização.
17 3. ARRETO, Yana Araújo. Formação do profissional de
Usa Luvas”.
gastronomia no Brasil: analise das estruturas curriculares a partir da
18 “Uso as boas práticas de fabricação”. espiral do conhecimento de Takeuchi e Nonaka [manuscrito].
Fonte: Elaborado pelo autor. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biblioteconomia) –
Faculdade de Informação e Comunicação, Universidade Federal de
Por último, foi realizado uma pergunta voltada para o âmbito Goiás, Goiânia, 2016.
da gastronomia, em que buscava compreender quais disciplinas e
módulos os estudantes mais achavam importantes para o processo de 4. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL.
aprendizagem na área (Figura 4). Guia de elaboração do plano APPCC. Rio de Janeiro: Senac, 2002.
Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAewp4AI
Figura 4 – Frequência de respostas das áreas mais importantes a /28748137-guia-elaboracao-plano-appcc-1>. Acesso em: 26 dez.
serem estudadas em um curso de gastronomia, segundo os 2018.
entrevistados
5. SILVA, Amanda Marques da et al. Contaminação Em Embalagens
De Alimentos Industrializados. Rev. Saúde em Foco, Teresina, v. 2,
n. 2, p.107-114, ago. 2015.
380
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Andrea Paula Menezes de Almeida1, Ana de Souza Lima¹, Marluce Silva dos Santos¹, Nailson Celso Da Silva Nina2,
Rosana Antunes Palheta,2,3
O Centro de referência em Agroecologia (CRA), conta com uma área Após levantamento foram encontradas no IFAM-CMZL apresenta
de produção de diversas espécies vegetais, dentre elas as plantas cerca de 30 espécies.
alimentícias não convencionais (PANC). Algumas espécies fazem
parte de um agroecossistema com histórico de mais de 20 anos, onde Nome Cientifico: Xanthosoma taioba E G.Gonç.; Xanthosoma
foi iniciado como componente do Instituto de Permacultura da violaceum Schott; Celosia argentea L.; Acmella
Amazônia (IPA) em parceria com a antiga Escola Técnica oleracea(L.)R.K.Jansen, Basella alba L., Fridericia chica
Agrotécnica Federal de Manaus (EAFM), entre outras instituições, (Bonpl.)L.G.Lohmann; Mansoa alliacea (Lam.)A.H.Gentry;
que deram início á implantação da Unidade Demonstrativa de Bixa orellana L, Ananas ananassoides (Baker)L.B.Sm.
Permacultura (UDP-Manaus, “Projeto Sítio Urbano”). Atualmente Pareskia bleo (Kunth)DC.
seu uso principal é como instrumento de educação para formação Nopalea cochenillifera (L.)Salm-Dyck
técnica e profissional de estudantes de ensino técnico integrado, Tradescantia zebrina Heynh, ex Bosse
técnico na modalidade subsequente e de ensino superior tecnológico Coccinia grandis (L.) Voigt
em agroecologia. As PANC podem ser entendidas como todas as Ocimum selloi Benth
plantas que não são produzidas em sistemas agrícolas convencionais, Hibiscus mutabilis L.
mas que contribuem na alimentação e /ou tem potencial de Eugenia stipitata McVaugh
contribuição com a alimentação e nutrição humana. Segundo Moringa oleifera Lam.
Kinupp; Lorenzi (1), PANC são aquelas espécies que serviram para o Sauropus androgynus(L)Merr.
sustento do homem desde a idade da pedra, mas que a maioria das Peperomia pellucida(L.)Kunth
pessoas não conhece mais, não usa e não chegam aos pratos porque Piper peltatum L.
não são produzidas e não há comércio. Uma definição semelhante, Antigonon leptopus Hook. & Arn.
determinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Alibertia patinoi (Cuatrec.)Delprete &C.H.Perss.
Abastecimento (2), considera-as como hortaliças não-convencionais, Morinda citrifolia L.
“com distribuição limitada, restrita a determinadas localidades ou Triphasia trifolia (Burm.f.)P.Wilson
regiões, exercendo grande influência na alimentação e na cultura de Solanum sessiliflorum Dunal
populações tradicionais além disso, são espécies que não estão Tanilum trianguiare (Jacq)Willd.
organizadas enquanto cadeia produtiva propriamente dita, Turnera subulata Sm.
diferentemente das hortaliças convencionais (batata, tomate, repolho, Laportea aestuans (L.) Chew
alface, etc...), não despertando o interesse comercial por parte de Etlengera elatior (jack) R.M. Sm
empresas de sementes, fertilizantes ou agroquímicos. A utilização
dessas hortaliças não convencionais, muitas vezes, está ligada ao A maioria das espécies são propagadas por raízes, estaquia e
modo de vida e à identidade cultural de populações tradicionais, sementes
desde o seu preparo e consumo sendo feitos de modo característico As trinta espécies estão distribuídas em 24 famílias, e sendo as 5
nas mais diversas preparações, entre elas estão: saladas crua e cozida, famílias de maior frequência; Araceae (taioba verde e a taioba
molhos, refogados, cremes, sopa, patês, recheio, pastas, massas, roxa), Bignoniaceae (cipó alho e crajiru), Cactácea (palma forrageira,
doces, sucos, chás, bolos, biscoitos, geleias, omeletes, farofa, pães, ora-pro-nóbis), piperácea (erva de jabuti e caapeba) e Rubiaceae
bebidas fermentadas, sorvete, bombom entre outros. Assim, o (moringa e borojô) (Figura 01).
objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência e o potencial
gastronômico de plantas alimentícias não convencionais no Centro de
Referência em Agroecologia no IFAM-CMZL em Manaus-AM. 2,5
2 2 2 2 2
MATERIAL E MÉTODOS 2
Frequência %
1,5
O estudo foi realizado no município de Manaus, no Centro de 1 11 1111111 1 111111
Referência em Agroecologia (CRA), localizado nas coordenadas (59º 1
381
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
boi e hibisco, bolo de araçá boi, bolo de capim santo com geleia de pela população por falta do conhecimento das mesmas, que possui
araçá boi e flores de amor agarradinho, chá de hibisco gelado, creme um grande valor nutricional que trariam mais sabor, vitaminas e um
de araçá boi; creme de jaca, farofa de ora-pro-nóbis, molho de araçá colorido de encher os olhos e a boca, sendo as folhas as partes mais
boi, molho de cubiu, pão de ora-pro-nóbis; patê da flor da ora-pro- utilizadas na criação de pratos culinários, algumas plantas
nóbis com cenoura, patê de ora-o- nóbis feitos na base dos feijões de alimentícias não convencionais apresentam mais de uma parte
praia, e o feijão manteiguinha, refogado de jaca verde com pirarucu comestível utilizada na elaboração dos pratos culinários, foram
seco, suco de araçá boi com malvarisco; suco do araçá boi, vinagrete realizadas duas oficinas uma na Escola Agrícola Rainha dos
panc: erva de jabuti, palma forrageira bem novinha, jambu, alfavaca, Apóstolo na BR-174 com participação de duas turmas de 20 alunos
ora-pro-nóbis, cipó alho folhas novas, pepino doce e limão. por receitas, e na 9º semana de Agroecologia no IFAM-CMZl com
participação de 20 entre eles alunos e pessoas que moram próximo ao
IFAM, e a nossa participação no evento de recepção aos Diretores da
Faculdade SOKA, onde na ocasião fizemos a ornamentação da sala
vip e algumas amostras da culinária panc's. Os valores de custo de
cada receita elaboradas com as plantas alimentícias não
convencionais ficaram entre R$ 3,82 o menor valor de receita e R$
15,57, a de maior valor se elaboram 22 receitas. Foram processados
os seguintes produtos patê, pão e farofa, refogado de Ora-pro-nóbis,
creme, suco, bebida fermentada, vitaminada, geleia e bolo de araçá
boi, creme, pudim e molho de cubiu, refogado de jaca verde com
pirarucu seco, patê da flor da ora-pro-nóbis, bolo de capim santo,
arroz com caapeba, bebida fermentada de hibisco, molho do reimoso
Figura 2- Darlan Cruz-novembro 2019, encerramento da 9º Semana
de Agroecologia e a degustação de pratos culinários feitos com as a base de PANC'S.
plantas alimentícias não convencionais (PANCs). A realização dessa pesquisa mostrou que e possível usar as plantas
alimentícias não convencionais (PANCs), nas elaborações de pratos
culinários simples ao mais sofisticado, tem uma valiosa
biodiversidade brasileira e importância vital na nossa alimentação,
tem um baixo custo de produção, pois muitas são espontâneas e as
mesmas trazem uma nutrição completa com proteínas, vitaminas,
cálcio e minerais.
REFERÊNCIAS:
382
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Autores: Alisson Alcantara1, Marília Buonavita2, Rayza da Rocha3, Alessandra Carneiro4, Ana Mendes5
383
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
ANEXOS
384
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Autores: Alisson Alcantara1, Matusaila Macedo2; Alessandra Carneiro3; Luís Holanda4, Samuel Gomes5
Introdução
Material e Métodos
385
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Resultados e Discussão
Conclusões
Referências
1
Joye, C. R., Moreira, M. M., & Rocha, S. S. D. (2020).
Distance Education or Emergency Remote Educational
Activity: in search of the missing link of school education
in times of COVID-19. Research, Society and
Development, 9(7), e521974299.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4299
386
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
387
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
O estudo de Travia e Spessatto (20) integrou as aulas de 11 DUFFEK, A. P. L.; ROCHA, S. H. Cozinhando e calculando: uma
uma turma da Educação de Jovens e Adultos a oficinas e grupos estratégia para ensinar matemática com o uso de receitas culinárias.
terapêuticos com o serviço de saúde mental. As atividades foram Cadernos PDE, Curitiba, v. 1, p. 1-14, 2014.
mediadas com uso de música, objetivando a reflexão de forma lúdica,
e as receitas foram definidas pela própria turma. Foi feita elaboração 12 BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.666, 2018: Inclusão
de receita; estimativa de preços; compra, avaliação de preços, data de do tema transversal da educação alimentar e nutricional no
vencimento e medidas dos ingredientes. Logo após, os alunos foram currículo escolar. Brasília: Ministério da Educação, 2018
divididos em dois grupos e cada grupo preparou diferentes receitas,
sempre estimulados a refletir sobre a racionalização de recursos, 13 BRASIL. Ministério da Educação. Educação alimentar e
trabalhando a educação financeira. Para uma maior efetividade da nutricional: articulação de saberes. Brasília: Ministério da
educação financeira na vida dos alunos é necessário exercitar a crítica Educação, 2018.
e reflexão de situações que afetam a organização financeira dos
mesmos, deixando de se limitar apenas a fórmulas e cálculos, indo 14 BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação
além para associar a matemática à vida real (21). e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
Fazer com que o aluno associe sua realidade com as
discussões em sala é uma forma de remover o professor do centro da 15 BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população
aula e tornar o aluno como agente principal do seu processo de brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
construção do próprio conhecimento, trazendo autonomia (22). Dessa
forma, o discente passa a notar que consegue aprender mais 16 HUPPES, J. C.; GUTERRES, N. B. Prática social da culinária na
facilmente quando tem de buscar respostas e maneiras de solução para
perspectiva do programa etnomatemática. In: III EIEMAT, 2012,
responder às suas próprias dúvidas e resolver seus problemas (21).
Santa Maria. Anais da 3ª Escola de Inverno de Educação Matemática.
Santa Maria: III EIEMAT, v. 1, n. 1, 2012.
Conclusões:
O estudo demonstra que o uso de oficinas culinárias é 17 PAIVA, T. V. S et al. A matemática na culinária regional. In: III
efetivo no processo ensino-aprendizagem de matemática, visto que ao
EIEMAT, 2012, Santa Maria. Anais da 3ª Escola de Inverno de
perceber os conhecimentos matemáticos da vida dos educandos e
Educação Matemática. Santa Maria: III EIEMAT, v. 1, n. 1, 2012.
aplica-los utilizando de metodologias ativas de ensino, o processo
possibilita a amplitude do conhecimento que estes já carregam e faz
18 SILVA, H. L et al. Etnomatemática: a relação da matemática, da
com que percebam a aplicabilidade da disciplina no dia a dia. Além
cultura e dos saberes. In: XII ENEM, 2016, São Paulo. Anais do XII
disso, a realização das oficinas valoriza a cultura alimentar dos
Encontro Nacional de Educação Matemática. São Paulo: XII ENEM, ,
discentes e promove a Educação Alimentar e Nutricional, de forma
v. 1, n. 1, 2016.
que os alunos sejam capazes de ver o ato de escolher, preparar e
consumir o alimento de forma autônoma e saudável.
19 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Referencias Fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional
para as políticas públicas. Brasília: Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, 2012.
1 KREMER, K. A. Dificuldades na Aprendizagem de Matemática.
2007. 43 f. Monografia (Pós Graduação em Psicopedagogia) -
20 TRAVIA, R. H.; SPESSATTO, M. B. Oficina de integração
Instituto A Vez do Mestre, Universidade Cândido Mendes, Rio de
mexendo a cuca: saúde mental, gastronomia, matemática e cidadania.
Janeiro, 2010.
Cad. Bras. de Saúde Mental, Florianópolis, v. 9, n. 23, p.105-125,
2017.
2 BRASIL. Ministério da Educação. Relatório Brasil no PISA 2018.
Brasília: Ministério da Educação, 2019.
21 CUNHA, C. L.; LAUDARES, J. B. Resolução de Problemas na
Matemática Financeira para Tratamento de Questões da Educação
3 BRIGHENTI, J.; BIAVATTI, V. T.; SOUZA, T. R. Metodologias
Financeira no Ensino Médio. Bolema, Rio Claro, v. 31, n. 58, p. 659-
de ensino-aprendizagem: uma abordagem sob a percepção dos alunos.
678, 2017.
Rev GUAL, Florianópolis, v. 8, n. 3, p. 281-304, 2015.
22 BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. Educação Matemática:
4 VAILLANT, D.; MARCELO, C. Ensinando a ensinar. As quatro
pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2012.
etapas de uma aprendizagem. Curitiba: Editora da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, 2012.
388
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
389
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS:
(1) PIRES, Carmen. Importância das abelhas na polinização de
plantas cultivadas e em áreas naturais. Embrapa Brasília/DF, 2018.
(4) ROSA, Joatan Machado et. Al. Polinizadores em perigo: Por que
nossas abelhas estão desaparecendo? IV Simpósio Internacional
Ciência Saúde e Território. 2017.
390
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cassandra Santos1*, Daniela Minuzzo2, Claudia Porto3, Isis Coutinho4, Lourence Alves5
1
Doutora, Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
2
Doutoranda, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Professora, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
3
Mestra, Univeritas BH e Faculdade Patos de Minas (FPM)
4
Doutoranda, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Professora, Universidade Estadual de Goiás (UEG)
5
Doutora, Universidade Estácio de Sá/ RJ
*e-mail para correspondência: cassandra7789@yahoo.com.br
391
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
metodologias ativas. Todavia, uma adequação metodológica da urgentes no tocante às possibilidades, especificidades e limites do
proporção das necessidades do momento, demanda tempo e estudos ensino remoto em Gastronomia. O que se confronta com o recente
mais aprofundado. O que não aconteceu na maioria das realidades. crescimento de cadeiras e até cursos inteiros na modalidade EaD.
Além disso, a maioria das metodologias ativas comumente utilizadas Olhando para esses relatos, podemos entender a necessidade de
no ensino presencial, ainda não dão conta das especificidades estudos mais aprofundados sobre formatos não presenciais de ensino
sensoriais e particulares do ensino em Gastronomia. e formação na Gastronomia que levem em consideração as
Um exemplo da dificuldade está no formato de interação experiências docente e discente e não apenas as demandas de
remota que não proporciona o mesmo engajamento que no barateamento de custos.
presencial. Em um dos relatos professores trabalharam com Por fim, precisamos destacar que, no tocante às experiências
atividades baseados em projetos (7). Apesar da metodologia docentes, em todos os casos relatados percebemos que o excesso de
apresentar possibilidades de aplicação bem definidas, quando essas demandas novas, as sobrecargas de serviço foram elementos de
foram implementadas na realidade remota, relacionando com dilemas desgaste e exaustão física e mental para muitos profissionais. Que
típicos de empreendimentos gastronômicos, os relatos mostram que o tiveram que lidar ainda, principalmente em instituições privadas, com
engajamento não foi o mesmo. Algumas metodologias como a sala a incerteza em relação aos seus honorários e de seu próprio cargo.
de aula invertida (8), onde os alunos leem previamente textos ou
material bibliográfico disponibilizados pelo professor e fazem a REFERÊNCIAS
discussão em posterior em sala de aula, obtiveram maior sucesso na 1. BRASIL. Portaria MEC nº. 343, de 17 de março de 2020. Brasília,
adaptação para o ensino remoto. Um dos pontos levantados pelos DF. DOU nº 54-D, 19.03.2020, Seção 1, p.1.
entrevistados foi o engajamento dos alunos em sala de aula, o fato de 2. ALVES, Lucineia. Educação a Distância: Conceitos e História no
não ligarem as câmeras ou os microfones e muitas vezes não falarem Brasil e no Mundo. In: Anais do CIEAD. Volume 10, Curitiba/PR:
pelo chat. Além dos problemas de conexão individual e sobrecarga ABED, 2011.
do sistema também foram relatadas experiências de dificuldades de 3. hooks, bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da
mexer com a tecnologia, vergonha de aparecer na câmera ou no liberdade. Ed. São Paulo, 2013.
áudio, timidez, ou estar vestindo roupas inadequadas, ou dividirem o 4. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo:
ambiente com outras pessoas e não quererem mostrar suas casa. Paz e Terra, 2016.
É importante pontuar que os desafios não estão restritos a 5. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4.ed. São Paulo:
disciplinas com carga horária de atividades práticas, muitas Saraiva, 2003.
disciplinas teóricas, que tinham como recurso trabalhos e atividades 6. CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo,
que demandam o deslocamento dos alunos até os empreendimentos quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed Bookman, 2007.
passaram a ter a limitação do isolamento social, tendo que ser 7. MASSON, T.J.; MIRANDA, L.F; MUNHOZ JR, A.H.;
adaptadas para exercícios de investigação em aplicativos e redes CASTANHEIRA, A.M.P. Metodologia de Ensino: Aprendizagem
sociais, ou ainda entrevistas via aplicativos de conversa instantânea. baseada em Projetos (ABL). Anais do XI Congresso Brasileiro de
Ensino de Engenharia, 2012.
CONCLUSÕES 8. PEREIRA, F. A. Invertendo a educação: uma reflexão sobre a
Os relatos observados nos permitiram aferir algumas perspectivas metodologia sala de aula invertida. In: Gercimar Martins (Org.).
pontuais, mas de grande relevância para o entendimento dos desafios Metodologias Ativas, métodos e práticas para o século XXI. 1ed.
enfrentados durante esse período de isolamento social. Apesar de ser Quirinópolis: Ed IGM, 2020, v. 1, p. 287-294.
um momento atípico, esse grande infortúnio trouxe a tona reflexões
392
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Robson Luis Trindade Lustosa¹; Cristianne Boulitreau de Menezes Barros²; Luciana Sultanum Lins
Calazans³
Introdução
vinhos espumantes com bolos de noiva e promover a degustação
O novo paradigma da educação profissional direciona e orienta os junto a um público externo. A fim de promover a integralização com
currículos escolares dos cursos superiores de tecnologia no o mundo do trabalho, os estudantes foram mobilizados a abordar
desenvolvimento de competências profissionais. O ensino por profissionais sommeliers da Região Metropolitana do Recife (PE) a
competência envolve a iniciativa e a capacidade do aprendiz de fim de gerar uma interação com estes profissionais no planejamento
realizar análises para identificar, planejar e propor soluções a das harmonizações. As cozinhas didático-pedagógicas foram
problemas, bem como a capacidade do trabalho individualizado e em utilizadas ao longo do semestre para o desenvolvimento e a produção
equipe para a realização de atividades, onde o indivíduo tende a do bolo de noiva, assim como a abordagem sobre a harmonização de
aplicar na prática os conhecimento e saberes vivenciados em vinhos em confeitaria. Para o acompanhamento da aprendizagem, foi
diferentes situações de aprendizagem (1,2). definido um tipo de portfólio, onde os estudantes relatavam as
Os cursos tecnológicos de Gastronomia encontram-se no eixo de atividades desenvolvidas e expressavam os conhecimentos
hospitalidade e lazer e objetivam desenvolver habilidades referentes apreendidos, considerando seu domínio técnico-científico e sua visão
à produção de alimentos, integrando a formação científica, crítica. Ao final, os estudantes expunham as suas percepções das
empreendedora e profissionalizante. Seu currículo está estruturado na atividades realizadas, as facilidades e dificuldades de aprendizagens,
formação por competências, tanto por estarem configuradas e bem como os saberes construídos.
estabelecidas pelos perfis profissionais definidos a partir dos Os workshops, com duração de 120 minutos, envolveram a
processos laborais, quanto pelas exigências de competitividade, degustação técnica das bebidas e a avaliação sensorial das
produtividade e de inovação do mundo do trabalho (3,4,5). harmonizações propostas pelos estudantes assim como palestras e
A enogastronomia, a partir da análise exploratória das características debates sobre harmonização com os sommeliers convidados pelos
organolépticas e sensorias promovidas pelo vinho, apresenta-se como estudantes. As percepções dos participantes foram preenchidas em
atividade de caráter técnico-cientifico que almeja a correlação ficha de avaliação entregue no início dos workshops. No final,
harmoniosa entre o vinho e a comida, referendando-se nas gerava-se o debate com o público participante para verificar suas
percepções e sensações promovidas por ambos no palato, percepções quanto à combinação do vinho espumante proposto e
consistindo, portanto, em combinar da melhor forma os sabores dos com o bolo de noiva produzido e servido pelos alunos.
alimentos com as características dos vinhos, evocando uma
experiência que agrade os sentidos (6,7,8,9). Resultados e discussão
A realização de atividades educativas interdisciplinares, na
perspectiva de um processo de ensino diferenciado e de uma De modo geral, o público apresentou resposta positiva quanto às
aprendizagem significativa, visa propiciar um diálogo entre a sala de harmonizações propostas (2016 – 99%; 2017 – 98%, 2018 – 99%),
aula e a realidade do mundo do trabalho onde diversos assim como para os bolos de noiva elaborados (2016 – 100%; 2017 –
conhecimentos são acessados. Na educação, é relevante promover 97%, 2018 – 99%). Este feedback do público coloca o estudante em
formas diferenciadas e motivadoras de ensino com o propósito de uma posição de reflexão e análise crítica do saber empregado nas
gerar um incremento na aprendizagem através da reconfiguração de práticas para a organização do evento. Observa-se que a realização de
uma metodologia e estratégia pedagógica que propicie a articulação uma atividade como esta coloca o estudante em um momento de
das diferentes competências e saberes (10, 11). reflexão sobre sua prática e conteúdos conceituais, procedimentais e
Portanto, este trabalho, elaborado em formato de relato de atitudinais, na medida em que o aluno reflete sobre a problemática
experiência, tem como objetivo principal apresentar a atividade apresentada e, em um clima de acolhimento, colaborativamente
multidisciplinar realizada entre estudantes, professores e constrói estratégias e indicadores de ações possíveis (10, 12).
profissionais do mercado gastronômico local para a realização de Nos debates, os estudantes expuseram as suas facilidades de
workshops com propósito de harmonização com bolos de noiva e aprendizagem, considerando a integração das diferentes disciplinas e
vinhos espumantes. Ainda, contempla como objetivos específicos a a fluidez percebida conforme “as informações e os conhecimentos
exposição da integração de diferentes saberes das disciplinas de eram apresentados no decorrer das atividades” (fala de estudante do
Confeitaria, Cozinha Internacional e Enogastronomia para à turno da manhã semestre letivo 2017.1) e, ademais: “a participação
investigação e proposição de atividade acadêmica para harmonização dos sommeliers foi muito boa pra gente aprender mais com quem
de vinho e comida; provocar a reflexão quanto à realização de está lá no mercado, trabalhando” (fala de estudantes do turno da noite
atividades interdisciplinares com vistas à construção de uma semestre letivo 2018.1); “as degustações com os vinhos durante as
aprendizagem significativa. aulas facilitaram o entendimento do assunto teórico de
enogastronomia” (fala de estudantes do turno da noite semestre letivo
Material e métodos 2018.1).
No entanto, houveram desafios que, conforme as expressões dos
Os sujeitos da atividade descrita foram os professores das disciplinas estudantes, dificultavam a continuidade dos trabalhos, sendo
de Enogastronomia, Confeitaria e Cozinha Internacional, assim como inclusive apresentados como desmotivadores (a falta de integração e
os estudantes do 3º e 4º período, turnos manhã e noite, do curso colaboração inicial dos grupos de estudantes): “sempre há alguém
superior de tecnologia em Gastronomia da Faculdade Senac que não faz os trabalhos porque tem dificuldades de relacionamento
Pernambuco. Os professores desenvolveram estas atividades com os ou de entendimento do trabalho” (fala de estudante turno manhã
objetivos pedagógicos e educacionais nos semestres letivos de 2016 a semestre letivo 2018.1) e, ainda, “tem pessoas que não buscam
2018, conforme a oferta das disciplinas. Na formalização dos estudar o conteúdo, mas são boas na hora de praticar” (fala de
contratos didáticos fora apresentada a proposta de atividade estudante turno noite semestre letivo 2016.2). Muitos ainda
interdisciplinar para organização de workshop de harmonização de apontavam a dificuldade de compreensão da proposta da atividade:
“foi difícil entender o que os professores queriam que a gente
393
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
fizesse” (fala de estudante semestre letivo 2016.2). O professor deve 12. LIMA, V. M. R.; RAMOS, M. G. Percepções de
ser reflexivo e capaz de provocar em si mesmo a autoavaliação e interdisciplinaridade de professores de Ciências e Matemática: Um
questionamentos sobre sua prática, pensar sobre a maneira que ensina Exercício de Análise Textual Discursiva. Revista Lusófona de
e de aprender, ação que acontece durante sua atuação docente e na Educação, 36, p. 163-177, 2017.
interação com os estudantes (10)
As atividades interdisciplinares devem atuar de forma integral não
apenas no contexto de unir as disciplinas em uma atividade
pedagógica, mas integrá-las na construção e produção do
conhecimento através das atividades de ensino, pesquisa e extensão
(12). Verifica-se que esta atividade possibilitou aos estudantes
aplicar de forma interdisciplinar diversas competências relacionadas
não apenas com a organização e o planejamento de um evento
gastronômico, mas com enfoque acadêmico e, ainda, no que
concerne às disciplinas citadas, oportunizando a aplicação prática de
saberes construídos em classe a partir de uma visão crítica e holística,
o que é esperado pelo profissional de Gastronomia (5, 12).
Conclusões
Referências
394
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Temas de Pesquisa em Gastronomia – Uma Análise das Pesquisas Desenvolvidas por Docentes
de Universidades Brasileiras
Ítalo Casemiro1, Cláudia Soares2
1
Mestre em Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), 2Mestre
em Desenvolvimento Regional e Urbano (Universidade Federal do Rio de Janeiro). E-mail: italopc12@gmail.com
Palavras-chave: alimentos, ciência, projeto.
Introdução
Resultados e Discussões
395
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusões
Referências
396
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
398
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
todas as suas manifestações, com a intenção de colaborar Secretaria de Turismo. Desde sua inauguração, em junho de
para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. 2019, até dezembro de 2019, sua visitação foi formada
Pretende-se, ainda, que os processos educativos devem majoritariamente por brasileiros, dentre os quais mais de
destacar-se pela construção coletiva e democrática do 50% do Estado do Maranhão.
conhecimento, por meio da participação efetiva das O museu possui uma exposição de longa
comunidades detentoras e produtoras das referências duração, organizada de acordo com pesquisa histórica e
culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio etnográfica realizada por equipe multidisciplinar, constituída
cultural. por historiadores, turismólogos, antropólogos e geógrafos,
Entendemos como relevante também a onde se apurou a herança deixada pelos ancestrais. O foco
abordagem do patrimônio cultural ligada à gastronomia. A central do MGM é a gastronomia ligada aos festejos típicos
Constituição Federal de 1988 ampliou a noção de do Estado. Os aspectos patrimoniais da alimentação estão
patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens em um setor específico do museu sobre as tradições
culturais de natureza material e imaterial. São considerados alimentares dos maranhenses, apontando questões sociais,
bens culturais de natureza imaterial: práticas e domínios da históricas e culturais formadoras dos sistemas alimentares
vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos locais. Essa área conta a história da culinária no estado por
de fazer; e nos lugares como mercados e feiras que abrigam meio de objetos e utensílios que são usados na preparação
práticas culturais coletivas. dos pratos típicos incluindo as tradicionais panelas de barro.
O Museu da Gastronomia Baiana – MGBA e o O manguezal, ecossistema que contribui com ingredientes
Museu da Gastronomia Maranhense - MGM que fazem parte da culinária local, como o caranguejo, o
Constituído através da iniciativa do Senac-Bahia, sururu e o sarnambi, também está presente.
o MGBA está localizado no Largo do Pelourinho, sítio Embora o MGM não possua um site específico
histórico reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da na Internet, pudemos observar através das fotos postadas em
Humanidade. Sua equipe de planejamento de atividades e rede social na página da Secretaria Municipal de Turismo de
atendimento ao público conta com um antropólogo e São Luís que a exposição não coloca em destaque as formas
curador do museu e duas turismólogas. O museu possui uma de saber fazer, assim como observado no MGBA.
exposição de longa duração, exposições temporárias e faz Conclusão
parte do complexo do Senac que conta com Restaurante- Este trabalho traz uma breve discussão sobre a
escola; bar-museu; loja-museu e Galeria Nelson Daiha, apropriação da gastronomia pelo espaço museal. Pudemos
espaço dedicado à art-food. Sua visitação é formada por observar que tanto o MGBA quanto o MGM têm em seus
aproximadamente 65% de turistas nacionais, 20% de turistas princípios a formação de memórias, a afirmação e
internacionais e 15 % de visitantes locais. Esse público de valorização da identidade local e de suas representações
15% corresponde ao público que agenda sua visitação, por culturais. A memória é pensada enquanto componente ativo
telefone ou através do site do SENAC, e é constituído por dos processos de transformação social e de produção de um
grupos de escolas, faculdades, agências de viagens, ONG’s e futuro. Isso se dá através da apresentação das comidas,
grupos participantes de projetos governamentais (Sales, história e utensílios ligados a religiosidade e as tradições das
2016). matrizes étnicas presentes na Bahia e no MGM com as
Organizada de forma temática, a exposição de festas populares. Cumprem, assim, a função social
longa duração aponta para questões sociais, históricas e fundamental de contribuir para o fortalecimento das
culturais formadoras dos sistemas alimentares locais. O “comunidades de sentimentos”, assegurando e estimulando a
dendê trazido de Angola aparece com destaque, assim como identidade local, além de buscar conquistar a compreensão e
a mandioca exportada do Brasil para Angola. Desta forma, o o respeito de outras comunidades.
foco central da exposição é a Bahia e sua variedade de Entendemos o MGBA e o MGM como um
ingredientes, biomas e culturas, orientando para aspectos espaço de educação patrimonial não somente por ser
patrimoniais da alimentação da população não só da capital utilizado por universidades e cursos técnicos locais em aulas
como também do Sertão e do Recôncavo. de campo. As exposições permanentes também chamam o
Tendo como missão a promoção de ações que visitante a uma reflexão sócio-histórica das referências
valorizem os sistemas alimentares da Bahia, o MGBA se culturais, colaborando para seu reconhecimento, sua
propõe a estabelecer mecanismos para dar visibilidade aos valorização e preservação. Dessa forma, entendemos que
muitos segmentos sociais que fazem parte das cadeias uma pesquisa mais profunda é necessária para verificar se os
produtivas de alimentos. No blog do museu o curador Raul próprios baianos e maranhenses, em toda a sua extensão
Lody chama os visitantes pra “comerem o Museu”, fazendo territorial e não somente os da capital, veem sua
assim a ligação com o Restaurante-escola que está dentro do gastronomia representada pelas exposições.
circuito de visitação. Referências
Pudemos observar através das fotos do site do DUARTE CÂNDIDO, MANUELINA MARIA.
MGBA que a exposição não coloca em destaque as pessoas, Diagnóstico museológico: estudos para uma metodologia.
as formas de saber fazer. São os bens materiais que têm Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos
maior visibilidade. Dentre os bens expostos estão quartinhas Países de Língua Portuguesa e Espanhola, vol. 3,
(uma espécie de jarro com tampa, feito em barro ou pp.124/132, 2009
porcelana), utensílios de madeira, panelas de barro, talheres GONDAR, JÔ. Cinco proposições sobre memória social.
entre outros. Além disso, estão presentes através de painéis Morpheus: revista de estudos interdisciplinares em memória
as “comidas de santo”, que são as comidas sagradas do social, Rio de Janeiro, v. 9, n. 15, 2016. p. 19-40.
Candomblé, e as especiarias largamente utilizadas na HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo:
cozinha baiana. Assim a parte do patrimônio cultural Centaura, 2006.
imaterial fica de lado, a não ser por um vídeo de 15 minutos, LE GOFF, JACQUES. Memória. In: LE GOFF, J. História e
produzido pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Memória. Campinas, Editora da UNICAMP, 1996.
Bahia (IPAC) e da Fundação Cultural Palmares, sobre o MINTZ, SIDNEY. Comida e Antropologia: uma breve
Acarajé. revisão. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Brasília,
O MGM foi constituído através de uma parceria nº 47, 2001.
entre Ministério do Turismo, Instituto do Patrimônio Histórico e POLLAK, MICHAEL. Memória e Identidade Social,
Artístico (Iphan) e Prefeitura de São Luís, e está localizado no Centro Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. , n. 10, 1992, p.
Histórico da cidade. O Museu é subordinado à Secretaria 200-212.
Municipal de Turismo e possui equipe técnica específica, SALES, FABIANA DE LIMA. Museus, patrimônio e
composta pelo curador e coordenador do museu e monitores, turismo: o caso do Museu da gastronomia baiana no
além de possuir parceria com universidades para estágios Pelourinho, Salvador – BA. 30ª Reunião Brasileira de
curriculares. A parte administrativa e de planejamento do Antropologia, agosto de 2016, João Pessoa/PB.
equipamento é feita através da estrutura técnica da
399
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Liziane Lacerda1, Deise Schell2, Maurício Roloff3, Gustavo Pinto4, Flávia Silva5 e Sarah de Almeida6
1
Doutora em Ciência dos Materiais – Unisinos, São Leopoldo, RS, 2Doutora em História – Unisinos, São Leopoldo, RS,
3
Mestre em Edição – Unisinos, São Leopoldo, RS, 4,5 e 6Mestre em Nutrição e Alimentos– Unisinos, São Leopoldo, RS.
lizianedl@unisinos.br
Figura 1: Formulário de Memória Afetiva. Tabela 1: Resultados obtidos após preenchimento do atributo referente
à comida que lhe traz uma boa lembrança.
Comida que traz boa lembrança Respostas Comida que traz boa lembrança Respostas
Lasanha 46 Pudim 11
Macarronada 31 Bolo de cenoura 10
Cuca 21 Sagu 10
Churrasco 19 Strogonoff 9
Pizza 19 Moranga 8
Bolinho de chuva 16 Pure com molho 8
Bolo de chocolate 15 Carreteiro 8
Galinhada 15 Frango com molho 7
Pão caseiro 15 Cueca virada 7
Arroz doce 12 Bolo 7
Sopa 12 Pastel 7
Torta de bolacha 11 Doce em calda 6
A coleta dos dados ocorreu nos corredores dos prédios da Instituição Feijão 11 Ambrosia 6
do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, nos campus de São Leopoldo Polenta 11 Arroz e feijão 6
e de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, durante o intervalo das aulas
dos períodos da manhã e da noite. Os ambientes, embora fechados,
permitiram a circulação de pessoas com diferentes idades e funções
400
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
E posteriormente verificado se essas memórias envolviam ou não o (5) ZANETI, Tainá Bacelar. A Cozinha Gaúcha: um resgate dos
seu grupo familiar, Figura 2. Como esperado, majoritariamente a sabores e saberes da Gastronomia do Rio Grande do Sul. Ágora,
figura feminina foi associada ao preparo das refeições que traziam Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 1, p. 28-42, jan./jun. 2016.
uma boa lembrança ao participante, representando 84% das respostas (6) GIARD, Luce. Artes de nutrir. In: DE CERTEAU, Michel;
obtidas. GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2. morar,
Tais dados podem permitir avaliar os hábitos de consumo do grupo cozinhar. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1996.
participante da pesquisa. Também é possível perceber diferenças da (7) LUNKES, Luciano. Os sons da cozinha: Evocação de memórias
relevância do prato revelado como uma boa lembrança em diferentes através dos sons produzidos no ato de cozinhar. Caxias do Sul, RS:
localidades, possibilitando categorizar as respostas a partir de Educs, 2015.
características geográficas e culturais.
30%
10%
5% 3% 2% 2% 2% 1% 1%
Conclusões
A pesquisa elaborada demonstrou-se capaz de identificar os aspectos
afetivos ligados, sobretudo, à infância dos participantes. Essas
memórias, por sua vez, se constituíram como importantes conexões
com o ambiente familiar e com os próprios familiares.
As idades, por ter sua mais elevada representatividade na faixa entre
20 e 30 anos e o fato de que a maior parte dos participantes possuem
memórias ligadas ao ambiente familiar, ou membros da família (mães,
tias, avós, entre outros) permite inferir que, portanto, a produção
caseira do alimento e a refeição em família é um hábito que permeava
os momentos passados dos participantes, e a presença de alimentos
industrializados ou a compra da alimentação produzida por terceiros
(restaurantes, carrocinhas, refeições prontas, e outros) é um cenário
mais recente. Este fato indica que a mudança nos hábitos de
comensalidade das famílias do Rio Grande do Sul - a individualização
e terceirização da alimentação – ocorre de forma menos expressiva, e
contrasta com as estatísticas mundiais, cuja tendência é passar menos
tempo cozinhando e compartilhando o alimento em família (3,4).
As comidas indicadas pelos participantes como aquelas que lhes
trouxeram memórias gustativas remetem, em sua maior parte, a pratos
tradicionais do estado onde a pesquisa foi aplicada (5). O fato de a
maior parte dos pratos lembrados serem gaúchos ou uma mescla
daqueles pertencentes a grupos imigrantes do sul do Brasil, indica que
alguns elementos culinários se mantém, e que a infância do
participante foi preenchida com comidas da região, com função,
muitas vezes, agregadora e mediadora da sociabilidade dentro da
estrutura familiar.
Além disso, ao analisar as pessoas responsáveis pelo preparo, verifica-
se que, quase em sua totalidade, eram figuras femininas ligadas ao
ambiente familiar. Isso se deve, sobretudo, à cultura que ainda resiste
em alguns grupos de manter a mulher como responsável pela
alimentação das famílias e pela manutenção das tradições culinárias
(6, 7).
Destaca-se, por derradeiro, a importância que o estudo e a
compreensão das memórias afetivas podem ter para a gastronomia.
Sem dúvida, o aprofundamento desse conhecimento pode trazer uma
série de contribuições para o desenvolvimento do setor.
Referências
(1) PETRINI, Carlo. Slow Food: Princípios de uma nova gastronomia.
São Paulo: Editora Senac, 2009.
(2) MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
(3) POLLAN, Michael. Cozinhar: uma história natural da
transformação. São Paulo: Intrínseca, 2014.
(4) WILSON, Bee. The Way We Eat Now: how the food revolution
has transformed our lives, our bodies, and our world. Londres:
Hachette UK, 2019.
401
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um
membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais
A alimentação desde a antiguidade sempre foi primordial destes” (9). Logo com o decorrer do trabalho de campo há a
para sobrevivência do ser humano, a mesma envolve relações sociais e oportunidade de presenciar vários comportamentos, formas de
culturais, pois além do bem-estar do corpo incorpora as relações do socialização, além da integração ao grupo.
bem-estar do ser, deste ser que se relaciona com o ambiente em que
vive. Assim, o modo de alimentação da sociedade não está relacionado RESULTADOS E DISCUSSÃO
somente como meio de saciar a fome, ela vai além, tendo como
influência o local onde o indivíduo vive, a geografia, a cultura alimentar As práticas alimentares de um grupo estão relacionadas as
e as crenças religiosas (1). formas como acessam os alimentos e os transformam em comida. Logo,
A relação entre hábitos alimentares e religião faz parte da as práticas alimentares dos moradores de Picos e o trabalho do roçado
vida do homem, pode-se pegar como referência a Ceia de Jesus Cristo tem grande relação, uma vez que as famílias são agricultoras familiares,
com seus discípulos, que foi um momento muito importante na vida de pois produzem para o núcleo familiar. Para tanto “a agricultura familiar
Jesus e uma grande referência para o cristianismo, onde o pão é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho,
representa o seu corpo e o vinho representa o seu sangue derramado vem de indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou de
naquela cruz, assim como está descrita na Bíblia Sagrada. As práticas casamento” (10). Contudo, alguns membros da família exercem outras
alimentares estão ligadas a muitos rituais religiosos, pois desde a funções geradoras de renda, como pedreiros, professores, secretárias do
antiguidade pode-se observar que há muita religião na comida e muita lar, além de programas governamentais como bolsa família e
comida na religião (2). aposentadoria, que cumprem a função de complementar a renda
Como referência a Ceia, “na sexta-feira Santa não se come familiar. Na terra de trabalho de cada família, coordenado pelo
carne vermelha. Em casa de judeu o porco não faz parte do cardápio. Já patriarca, cultivam alimentos do roçado, como, milho, feijão, abóbora,
na dieta Hare Krishna, somente o leite e o vegetal têm espaço. Em pepino, melancia e maxixe, além disso, criam gado, caprinos, ovinos,
período de Ebó, limpeza espiritual, o que é para o santo não se come. galinhas e porcos.
Quando se trata de fé, a comida deixa de ser apenas um alimento para O alimento pode significar, além da mera ingestão de
o corpo e assume um papel espiritual. Dogmas nas diversas religiões nutrientes, despertar de sentimentos, vivências ou memórias (11).
trazem proibições, permissões e atribuem funções que vão além do Quando se trata das refeições diárias vemos presentes os elementos do
caráter nutricional e prazeroso a refeição”. (3) Ou seja, ao alimentar-se, trabalho desses agricultores.
o indivíduo está satisfazendo tanto o espírito quanto o corpo, mas No café da manhã, o cuscuz é a principal preparação
através da fé, que quase sempre conduziu as práticas alimentares, consumida, geralmente acompanhada com ovo, fígado ou carne dos
muitas vezes o indivíduo prefere abster-se de certos alimentos como animais abatidos. O beiju também é outra preparação muito apreciada.
forma de respeitar a crença, em vez de sentir prazer ao consumir o Tem-se ainda o bolo, a rosca de queijo, por muitas vezes a coalhada e
alimento. umbuzada, o café e o leite são os elementos indispensáveis. No almoço,
Desse modo, ao adentrar nas crenças tem-se as festas o arroz e o feijão é a comida base que nunca pode faltar, o macarrão na
religiosas, onde se ressalta a Semana Santa, uma vez que a comida maioria das vezes encontra-se presente. Algumas pessoas tem o hábito
preparada durante esse período passa a ter um sentido sagrado para os de cozinhar a batata doce. Em época de safra do maxixe, a maxixada
cristãos católicos, não servindo apenas para nutrir o corpo, mas para ganha um grande espaço na mesa dos inocentinos, a abóbora por sua
preparar o espírito para um rito cristão (4). Assim, as festas populares vez tem um nível muito elevado em seu consumo, sendo preparada
piauienses tem grande conexão com a comida, pois “de todos os rituais, tanto em talhada como em quibebe, a farofa também é muito apreciada.
o da comida é o mais comum, já que se pratica em todos os lugares e é A carne na maioria das vezes é provinda da própria criação, entretanto
um fator de diferenciação social e cultural com base na forma de o frango ganha destaque nas compras, já que as galinhas só são mortas
preparar e ingerir a comida, naquilo que se come, com quem e nos ciclos para consumo geralmente em momentos de confraternizações
da alimentação diária” (5). familiares. No jantar é costume comer sempre a mesma comida do
Portanto, esse trabalho tem por objetivo apresentar um almoço e algumas vezes cuscuz ou beiju também.
estudo acerca da relação entre a religião católica e as práticas É tradição em Picos as pessoas fazerem almoços e jantares
alimentares da Semana Santa na comunidade Picos, que fica situado no como forma de reunir as famílias, como por exemplo, na Semana Santa,
Município de Dom Inocêncio, no estado do Piauí. Tal comunidade assim, pode-se classificar esses eventos de encontros e reencontros com
encontra-se a uma distância de 32 km do centro do município. a família como momentos afetivos, tornando a comida como um centro
Vale salientar que os alicerces de fundação do município de ligações e sentimentos marcantes. De forma que “(...) o
foram ditados pelo Padre Lira e suas doutrinas cristãs que chegou em comportamento alimentar pode ser nutrido com esses momentos de
1963 (6). Em virtude dessa conjuntura percebe-se porque afetividade e marcado por sentimentos construindo assim um material
aproximadamente 91% da população de Dom Inocêncio é católica (7). cultural na formação alimentar, tornando também alimentar-se um ato
sentimental” (11).
MATERIAL E MÉTODOS Quanto ao âmbito das proibições relacionadas à comida,
observa-se um tabu alimentar praticado pelos moradores de Picos que
Para alcançar os objetivos da pesquisa, esse trabalho partiu é o de não poder comer a carne vermelha na Sexta-feira Santa. Segundo
de uma perspectiva etnográfica utilizando métodos no trabalho de relatos dos mais velhos quem come a carne vira “bicho”. Por outro lado,
campo para contribuir com a investigação. Logo a Etnografia tornou-se nessa época o frango é a carne mais consumida pelo grupo. A carne
fundamental para compreender o indivíduo e suas diversidades dentro vermelha não é consumida porque é oriunda de animais mamíferos, ou
de um coletivo (8). seja, provinda de animais que mamam e por isso é proibido, pois a carne
Assim, o trabalho de campo fez uso da observação e seu sangue representam a morte de Jesus Cristo. Entretanto, o peixe e
participante para buscar entender as práticas alimentares no período da o frango por não serem considerados mamíferos e terem carne branca,
Semana Santa na comunidade Picos. Esse método de pesquisa tornou- tais moradores os consideram como “batata”. Assim, para eles é
se instrumento chave dessa investigação, onde a mesma “consiste na permitido comer. Alguns acham que isso é consequência das regras
participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se impostas pela Igreja Católica, já outros, ou mais jovens, desconhecem
402
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
o motivo, só dizem que é “busão” dos mais velhos e que eles continuam é feita e o que ela representa para o indivíduo que está consumindo-a.
seguindo. Logo, é ritual das famílias de Picos unir-se durante a Semana Santa,
Dessa forma, nesse contexto pode-se compreender tabu tornando-se um momento de troca e afeto.
alimentar a partir do momento que o mesmo é tido com uma proibição
que distingui a evitação deliberada de um alimento por inúmeros REFERENCIAS
motivos que não seja somente a antipatia pelas preferências
alimentares, além do mais ele pode ser imposto por membros do grupo (1) FERRARI, Evandro Sérgio. Religiões e Hábitos Alimentares: uma
familiar ou mesmo por pessoas de fora (12). construção histórica, 2016. Revista Eletrônica de Teologia e Ciências
A maioria das preparações feitas antigamente continuam até das Religiões, Vitória – ES, v. 4, n. 2, jul – dez., 2016. Disponível em:
hoje, no entanto, mesmo não identificando mudanças significativas, os file:///C:/Users/usuario/Downloads/416-1423-2-PB%20(1).pdf.
modos de prepará-las sofreram alterações entre as diversas gerações, Acesso em: 07 de maio de 2019.
pois ocorreram mudanças nos equipamentos e utensílios utilizados para (2) SOUZA, Patricia Rodrigues de. Religião e Comida: como as
produção. Mas ainda podemos encontrar práticas antigas com usos de práticas alimentares no contexto religioso auxiliam na construção
alguns utensílios e equipamentos, como o fogão à lenha, o giral, a banca do Homem. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –
de pote e cisternas. Pontifícia Faculdade Católica de São Paulo, 2014.
A comida da Semana Santa tem grande influência da (3) ALVEZ, Christiane; OLIVERIRA, Gabriella; CURY, Leandro;
comida do dia-a-dia, já que na sua maioria são as mesmas preparações, MENDES, Mariana. A comida e o Sagrado: O alimento que satisfaz o
porém mais incrementadas. Além do acréscimo de preparações corpo e o espirito. Portal PUC-Rio Digital, 2006 2. Disponível em:
características de comemorações, como é o caso do doce de leite e o http://puc-riodigital.com.puc-
requeijão, o peixe é outro exemplo, mesmo sendo uma carne consumida rio.br/media/2%20%20a%20comida%20e%20%o%20sagrado.pdf.
em menor quantidade comparada as outras proteínas animais, é Acesso em: 25 de junho de2019.
preparado também no dia-a-dia dos moradores e não só apenas no (4) MATOS, M.A. O. Pelas Quebradas, Várzeas e Chapadas- uma
período Quaresmal. viagem gastronômica pelo Piauí. 2. ed. Teresina: Alínea Publicações
O jejum é um ato pouco praticado pelos moradores de Picos, Editora, 2007.
já que uma minoria diz ainda jejuar. Alguns relatam que nunca jejuaram (5) SCHLÜTER, Regina G. Gastronomia e Turismo. São Paulo:
e a maioria diz que praticavam o jejum, porém hoje em dia já não Editora Aleph, 2003.
praticam mais tal ato. Segundo eles alguns aspectos contribuem para (6) DAMASCENO, Marcos Oliveira. Padre Lira: monumental
isso, como o fato de alguns serem protestantes e outro fator é a idade, homem de Deus. Dom Inocêncio: Produtora Sertão, 2014.
onde dizem ser tradição a partir dos 60 anos não poder mais jejuar. (7) IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dom
Grande parte dos costumes que eram praticados antigamente Inocêncio. 2010. Disponível em:
na comunidade não prevalece hoje em dia, como o fato de não poder https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/dom-inocencio/historico. Acesso
andar amontado, trabalhar, tomar banho e varrer a casa. O não consumo em 22 de junho de 2019.
da carne vermelha na Semana Santa é uma cultura seguida e praticada (8) PEIRANO, Mariza. Rituais ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge
pela maioria dos moradores da localidade de Picos. Entretanto, parece Zahar, 2003.SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. A comida como
que a religião não é mais o fator preponderante para tal proibição da lugar de história: as dimensões do gosto. História: Questões &
carne vermelha, e sim por ser tradição e os mais jovens seguem os Debates, Curitiba, n. 54, p. 103-124, jan-jun, 2011. Disponível em:
saberes dos mais velhos. https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/25760. Acesso em 03 de
Diante dessa conjuntura verifica-se que os moradores da maio de 2019.
localidade praticam ações vinculadas ao período da Semana Santa como (9) MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 6.
uma tradição local, e não por uma obrigação da igreja, pois Ed. São Paulo: Editora ATLAS S.A., 2007. Disponível em:
ressignificaram suas necessidades. Mesmo aqueles que se afirmam http://www.labev.uerj.br\textos\tecnicas-pesquisa_documentacao-
como católicos não praticam com a mesma veemência dos tempos direta-intensiva.pdf. Acesso em: 13 de outubro de 2019.
antigos. Por isso ao definir “a cultura como dinâmica e flexível, ela é (10) ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário
modificada na prática pelas ações individuais e coletivas e apresenta em questão. São Paulo. Anpocs, Unicamp, Hucitec, 1992. “Uma nova
sistema de significados atribuídos aos acontecimentos” (13). Diante do extensão para a agricultura familiar”. In: Seminário Nacional de
contexto apresentado, pode-se compreender que a religião Católica tem Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília, DF, Anais, 1997.
influência sobre as práticas alimentares da comunidade de Picos, pois (11) SANTANA, W. C. Comida e afeto: Um reencontro da infância a
seus princípios ainda se encontram presentes no cotidiano e nas partir da memória. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnólogo
festividades religiosas, apesar de alguns não serem mais praticantes da em Gastronomia) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
religião participam das reuniões em famílias desse período. do Piauí– IFPI.
(12) MEYER-ROCHOW, Victor Benno. Tabus alimentares: suas
CONCLUSÕES origens e propósitos. Revista de Etnobiologia e Etnomedicina, Escola
de Engenharia e Ciências, Jacobs University, Bremen, Alemanha,
Uma vez que as práticas alimentares se caracterizam como dezembro 2009. Disponível em:
o modo em que as pessoas ou um grupo de pessoas utilizam um certo file:///C:/Users/LARISSA/Downloads/Tabus%20alimentares_%20sua
alimento, as mesmas são definidas de acordo com inúmeros fatores que s%20origens%20e%20propo%CC%81sitos%20_%20SpringerLink.pd
cercam o ser humano, como por exemplo, a religião. Dessa forma, visto f. Acesso em: 08 de setembro de 2019.
que a Semana Santa tem grande importância para a Igreja Católica, as (13) SILVA, G. D. Do fogo da terra à cozinha: uma etnografia sobre
tradições alimentares da mesma foram em muitos casos ressignificados o campesinato quilombola. Dissertação, Mestrado em Antropologia.
pelos moradores de Picos, mas ainda são seguidas dentro do atual Universidade Federal do Piauí, 2018.
contexto. Além disso, a comensalidade é caracterizada pelas relações
sociais de reciprocidade e trocas presente nessa festa popular,
relacionados ao ato de comer, quando envolve a forma que a preparação
403
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
404
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rapadura Como Comida Afetiva Na Alimentação Da Comunidade de Lagoa da
Moitinga, Ubajara- Ceará
INTRODUÇÃO
A influência afetiva, pela inserção da rapadura em
A rapadura, de origem artesanal, é considerada um preparações culinárias feitas tradicionalmente por seus pais,
alimento, também utilizado como ingrediente principal para durante a infância, é perpetuada até os dias atuais.
muitas preparações culinárias por todo mundo(1). De acordo com Essa dimensão afetiva está presente especialmente
Figueiredo(2), a rapadura é “o verdadeiro alimento de poupança em pratos considerados marcantes na vida de um indivíduo(5). A
do nordestino” uma vez que, em tempos passados, ele a utilizava essas preparações, dá o nome de pratos-totem - aqueles que
tanto para a própria alimentação como para a dos animais de carregam grande valor simbólico para um determinado grupo(6).
carga.
A comida afetiva é baseada em memórias, é o ato Grafico1 - Preparações culinárias feitas com
de degustar um alimento que seja associado à hospitalidade rapadura
capaz de gerar a boa lembrança da vida, ao prazer, ao gosto de
infância, regados sempre de doação, despertando sentimentos,
memórias, segurança e prosperando em suas gerações (3).
No Ceará duas regiões se destacam pela existência
da pequena produção de rapadura: a do Cariri e a da Serra do
Ibiapaba(4).
Ubajara é um município localizado a microrregião
da Ibiapaba, na Mesorregião do Noroeste Cearense,
no estado do Ceará, Brasil. A rapadura se destaca no cenário
ubajarense, por ser um produto acessível e que vem alimentando
o nordestino em tempos de seca e fome.
Neste município, boa parte dos engenhos de
rapadura estão instalados na localidade de sítio de Moitinga,
comunidade da Lagoa da Moitinga. A produção de rapadura e
seus derivados vem sendo feita de maneira artesanal pelas
famílias que lá habitam, e esta tradição é passada de pais para
filhos. Os engenhos de rapadura são responsáveis por
movimentar parte da economia da localidade.
Desta forma este estudo busca analisar a
importância da rapadura e suas preparações culinárias na Fonte: Autora
alimentação da comunidade da Lagoa da Moitinga Ubajara, CE,
para a cultura gastronômica e memória afetiva da comunidade
estudada Para a comunidade de Lagoa da Moitinga, a
gastronomia dos engenhos de rapadura não está relacionada
MATERIAL E MÉTODOS apenas à alimentação, mas também às lembranças afetivas desta
comunidade sendo importante tanto como alimento, como
A presente pesquisa caracterizou-se por ser um memória, segundo o entrevistado (PE2):
estudo exploratório e qualitativo aprovado pelo comitê de ética e “Era um marco na cultura, pois quando era
pesquisa com seres humanos (CEP) do Instituto Federal de criança a diversão era o engenho, tomando a
Educação Ciência e Tecnologia do Ceará, em agosto de 2018, garapa, comendo puxo com nata de leite”.
com Número do Parecer: 2.945.255.
Foi utilizando como ferramenta um questionário Algumas preparações à base de rapadura
semiestruturado aplicado a sete homens com idade entre 32 anos permanecem na alimentação da comunidade, como doce de
e 68 anos, e cinco mulheres com idade entre 32 e 62 anos mamão com rapadura ou melaço, doce de leite com rapadura,
moradores da comunidade que consomem rapadura na sua doce de banana, café torrado com rapadura, cocada com
alimentação, para identificar a afetividade gastronômica da rapadura, bala de café com rapadura, caldo de cana com suco de
rapadura e de seus produtos para a região estudada. limão, feijão com rapadura, doce de jaca com rapadura dentre
As perguntas aplicadas estavam relacionadas ao outras. Preparações essas que pertencem às memórias e à
uso da rapadura na alimentação local, buscando verificar quais alimentação dessa comunidade. Como relata o entrevistado
preparações são de conhecimento dos entrevistados, se são (PE3):
preparadas com rapadura, melaço ou outro derivado da cana-de- “O doce de leite já vem lá da minha vó, ela fazia
açúcar, a fim de fazer um levantamento dessas receitas perante de tachada, o doce de mamão e de jaca e todos
as famílias e sua importância para o cotidiano dos mesmos. levavam rapadura como ingrediente que fazemos
até hoje”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A afetividade pela rapadura como comida está Todas essas preparações, pratos-totem, citadas
presente como elo de identificação da comunidade que tenta pelos entrevistados estão ligadas em algum momento da sua
preservar nas lembranças estes sabores e sentimentos. vida, fazendo parte da sua vivência e de suas lembranças
Como podemos observar no gráfico 1, a rapadura está afetivas em períodos importantes do seu cotidiano, sendo
mais presente a preparações doces do que nas salgadas. São repassadas através gerações.
utilizados ingredientes locais para simbolizar sua identidade e O doce de leite com rapadura, doce de jaca com
afetividade na alimentação. rapadura e doce de mamão verde com rapadura, foram lembradas
como receitas preparadas em comemorações familiares, sendo
405
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
considerada uma comida afetiva que remete às lembranças 3 TAVARES, A. P. COMIDA AFETIVA: UMA
importantes para os pesquisados. EXPRESÃO DE GOSTO, HOSPITALIDADE E
O ato de comer não emerge, então, como um gesto MEMÓRIA. 2018. Universidade de Brasilia, 2018.
qualquer, mas sim assume um valor muito mais profundo, é um Disponível em:
ritual simbólico real que contribui para a identificação pessoal, <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/32829/1/2018_
individual e social(7). AdrianoPereiraTavares.pdf>.
O consumo de algumas dessas preparações como
farofa de rapadura e feijão com rapadura estão relacionadas à 4 LIMA, J. P. R; CAVALCANTI, C. M. L. Do engenho
sabedoria popular, cujo conhecimento das propriedades para o mundo? A produção de rapadura no Nordeste:
nutricionais da rapadura já eram empiricamente conhecidas, características, perspectivas e indicação de políticas. Revista
como descreve um dos entrevistados, mesmo antes de estudos Econômica do Nordeste. Fortaleza 2001
que comprovam sua eficiência nutricional (PE2):
“Além da rapadura ser um alimento forte a nossa 5 CALVO, Manuel. “Migration et alimentation”. Social
sobrevivência veio da rapadura raspada com science information, v. 21, 1982 383–446. Crossref, ,
feijão.” doi:10.1177/053901882021003003. (Consulta em:
15.06.2018)
A rapadura representa, para muitas populações, um
dos principais ingredientes culinários para diversas receitas 6 CONTRERAS, Jesús. Alimentación y religión. Humanitas
utilizadas no Brasil, principalmente no Nordeste. A rapadura está humanidades médicas, n. 16, p. 1-22, 2007
ligada a cana de açúcar, não só como um doce, mas sim como
um alimento, um remédio (8). 7 FRANZONI, E. A gastronomia como elemento cultural,
O nível de glicose na rapadura é recomendado para símbolo de identidade e meio de integração. 2016.
impedir: fraqueza, tremores, cansaço mental, desmaios ou universidade Nova de Lisboa, 2016. Disponível em:
hipoglicemia. Além disso, é eficaz no tratamento de sintomas de <https://run.unl.pt/bitstream/10362/19832/1/_ELISA
gripes e resfriados usado topicamente na cura de feridas e FRANZONI - A gastronomia como elemento cultural_%2C
arranhões (9). Como relata PE2, entrevistado: símbolo de identidade e meio-.pdf>.
CONCLUSÕES
Pode-se identificar que o consumo da rapadura na
comunidade da Lagoa da Moitinga, Ubajara, Ceará é de extrema
importância não só apenas pelo valor nutricional, mais também
como comida afetiva, demostrando assim a importância desse
alimento para a cultura da comunidade.
Contudo, sendo a comida um elo de identificação de
um determinado grupo social e antes que se deem por totalmente
perdidas as receitas tradicionais, estas devem ser preservadas
para que a identidade gastronômica dessa comunidade perdure e
seja cada vez mais fixada na memória do povo ubajarense.
REFERENCIAS
406
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Evanir de Araujo Santos¹, Gustavo Miguel Pereira Dias². Karolayne Ribeiro Soares²
407
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
408
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A cultura alimentar diz respeito aos princípios e práticas de um Dentre os estudantes internacionais da UNILAB que haviam
determinado grupo social abrangendo as especificações sobre os tipos chegado há seis meses ao Brasil, 92,3% (n=72) responderam à pesquisa.
de alimentos, as formas de armazenamento, preparo e a transmissão dos Os entrevistados eram provenientes de Angola (n=26; 36,1%), Guiné
saberes (1). As habilidades culinárias podem ser discutidas a partir Bissau (n=45; 62,5%) e Moçambique (n=1; 1,4%), apresentaram idade
desse aspecto da propagação da cultura, mas também há preocupação média de 24 anos (± 3,1 anos), eram negros, majoritariamente solteiros
acerca das práticas alimentares consideradas inadequadas do ponto de e em sua grande maioria homens (82%). A maioria dos estudantes
vista da saúde no contexto de diversos países, principalmente entre internacionais (68%) relatou não conhecer previamente a alimentação
adultos jovens (2), visto que a baixa autoeficácia e a percepção de ter brasileira. Após a imigração, a maioria dos indivíduos (85,8%)
habilidades alimentares inadequadas representam barreiras ao preparo elegeram o restaurante universitário (RU) para realização das refeições
das refeições e escolhas alimentares saudáveis, resultando em uma de almoço e jantar.
tendência crescente de escolher alimentos de conveniência (3). Quando perguntados se tinham habilidades culinárias anterior
A migração de estudantes africanos para o Brasil tem sido à imigração, 62,5% responderam positivamente, referindo cozinhar em
recorrente. Essa mobilidade é influenciada por questões globais e seu país de origem. Tais habilidades diferiram de acordo com o sexo,
facilitada devido à existência de convênios e iniciativas, tanto por como mostra a figura 1. Acerca da percepção da evolução de suas
órgãos públicos quanto por órgãos privados, mas há também por habilidades culinárias após seis meses de imigração para o Brasil, a
financiamento próprio (4,5). maioria dos estudantes afirmou que suas habilidades melhoraram
A adaptação alimentar dos migrantes tem sido estudada, pois (61,1%), enquanto 34,7% responderam não terem percebido nenhuma
produtos encontrados no local de origem e as formas de manipulação alteração. Houve destaque para a melhoria de habilidade culinária
desses alimentos são diferentes dos encontrados no país de destino, dentre indivíduos do sexo masculino, como mostra a figura 2.
onde pode haver escassez ou indisponibilidade dos produtos. Fica na
memória das pessoas os sabores vivenciados na sua casa, na Figura 1. Presença de habilidades culinárias auto-relatadas dentre
comunidade, e com a mudança de ambiente buscam preservar esses estudantes universitários africanos lusófonos anterior à imigração para
sabores e se sentirem mais próximos do local de origem (6). o Brasil, por sexo. Fortaleza, 2020.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou identificar os
hábitos culinários de estudantes africanos lusófonos vivendo há seis
meses no Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
409
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
genéricas à base de arroz, frango, peixe, carne de gado, massas, saladas. original (11). Logo, a culinária pode ter papel importante contribuindo
Pratos com características específicas são apresentadas na tabela 1. para esse aspecto de manutenção de saúde.
Quanto às preparações típicas elencadas, foi observado que
Tabela 1. Preparações típicas confecionadas por estudantes africanos apesar de a nomenclatura ser diferente, os ingredientes principais são
lusófonos no Brasil, por nacionalidade. Fortaleza, 2020. encontrados localmente o que possibilitou a sua reprodução no Brasil.
País Categoria Preparações n % Chama a atenção ainda que não são preparações secas, mas com a
Angola Prato Bitoque(a,b) 1 3,8 presença de molhos e caldos. Dada a aproximação das culinárias
principal Mufete(c) 2 7,7 brasileira e africana, bem como a presença destes imigrantes desde a
Caldeirada(d) 2 7,7 colonização, existem iniciativas para conhecer melhor essas receitas
Carne seca 1 3,8 para reprodução no Brasil, além de contribuir para a divulgação desta
Frango rija 1 3,8
cultura alimentar no país, como as oficinas de culinária africanas e
Catchupa(e) 1 3,8
produção de fichas técnicas de preparação (12).
Chouriço(e) 1 3,8
Feijoada angolana 3 11,5
Lanche Magoga(f,g) 1 3,8 CONCLUSÃO
Guarnição Funge de bombô(h); funge de 11 42,3
milho. Os estudantes internacionais africanos apresentavam
Feijão de óleo de palma(i) 4 15,4 habilidades culinárias (destaque para mulheres) que melhoraram depois
Guiné Prato Cafriela(g) 5 11,1 de seis meses no Brasil (destaque para os homens). Houve a reprodução
Bissau principal Caldo branco(c) 7 15,6 de preparações típicas africanas após a imigração, apesar de
Caldo chabéu(j) 5 11,1 confeccionadas em baixa frequência semanal pelos estudantes. O
Caldo citi(c,i) 6 13,3 incentivo às práticas culinárias de estudantes africanos no Brasil pode
Caldo de mancarra(g,l) 19 42,2 contribuir para seu bem-estar e saúde física e mental, bem como ajudar
Caldo de óleo de palma(i) 4 8,9 na ampliação dos conhecimentos sobre a cultura alimentar africana no
Chep tchen(a) 1 2,2 território anfitrião, salientando os pontos de aproximação entre Brasil e
Feijoada guineense 1 2,2 África.
Futi(i,m) 1 2,2
Siga(n) 5 11,1
REFERÊNCIAS
Moçambique Prato Frango ao molho de mancarra(b,f) 1 100
principal Xiguinha(h,o,p) 1 100 1. ROCHA, C.P.V. Comida em uma Cidade Global: Práticas
São ingredientes principais das preparações: (a) carne vermelha; (b) ovo; (c) peixe; (d) carne
de cabrito ou frango; (e) embutidos; (f) pão; (g) frango; (h) mandioca; (i) azeite de dendê; (j) Alimentares de Imigrantes Transnacionais em Amsterdã. 2017. 258f.
fruta do dendê; (l) amendoim; (m) arroz e legumes; (n) quiabo; (o) feijão; (p) coco. Tese (Programa de Pós- Graduação Interdisciplinar em Ciências
Humanas) – Centro de filosofias e ciências humanas, Universidade
Foi possível perceber que o sexo feminino se destaca nas Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.
habilidades culinárias, dados corroborados por estudo com 2. JOMORI, M.M. Adaptação transcultural e validação de um
universitários canadenses onde as mulheres universitárias também se instrumento de identificação das habilidades culinárias e alimentação
classificaram como capazes de preparar refeições com ingredientes saudável em estudantes ingressantes de uma universidade brasileira.
básicos mais frequentemente do que os homens universitários (64,8% e 2017. 343f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Nutrição) - Centro
58,9%; p <0,001) (3). de ciências da saúde, Universidade Federal de Santa Catarina,
Houve desenvolvimento das habilidades culinárias após seis Florianópolis, 2017.
meses de imigração e início da vida universitária, com destaque para o 3. WILSON, C.K. et al. Self-reported food skills of university students.
sexo masculino. Essa percepção de melhora em ambos os sexos foi Appetite, 108, 270-276, 2017.
também identificada em estudo no Canadá, onde estudantes 4. MÜLLER, M.L.R.; SILVA, A.G.S. A experiência de estudantes
universitários do primeiro ano relataram notas de habilidades africanos no brasil. Revista da FAEEBA – Educação e
alimentares percebidas significativamente mais baixas do que todos os Contemporaneidade, 25, 45, 55-70, 2016.
outros estudantes. Enquanto estudantes que moram fora de casa por um 5. OJIMA, R.; AGUIRRE, M.A.C.; SILVA,B.L.; LIMA, W.M.
ano ou menos relataram menores pontuações em habilidades Migrações internacionais motivadas por estudo: uma análise
alimentares do que os estudantes que moravam fora de casa por mais sociodemográfica dos estudantes estrangeiros radicados no Brasil.
de um ano (3). PerCursos, 15, 28, 166-189, 2014.
Apesar de os estudantes africanos não conhecerem 6. SILVA, A.F.; PASQUALI, D. Migração e hábitos alimentares em
previamente a culinária do Brasil, quando uma população que emigra ambientes educacionais: o caso da tríplice-fronteira. Educere et
traz consigo um conjunto de práticas ligadas a sua alimentação, Educare, 11, 23, 2016.
mesclando ou acrescentando possibilidades e práticas alimentares no 7. BRASIL. Resolução nº. 466, de 12 de dezembro de 2012.
novo lugar, não apenas se adequa ao sistema alimentar local, mas 8. GOULAO, B; SANTOS, O; CARMO, I. The impact of migration
também interfere nele (8,9). on body weight: a review. Cad. Saúde Pública 31, 229-245, 2015.
O acesso dos estudantes ao RU a baixo custo para refeições de 9. FRIEDRICH, F. H; SOARES, A. R. L. Alimentação: o trabalho de
almoço e de jantar pode também ter influenciado na baixa frequência preservar e elaborar a identidade e a memória dos imigrantes alemães
de consumo semanal de pratos típicos após a mudança para o Brasil. na Colônia de Santo Ângelo/RS (1850- 1900). Oficina do Historiador,
Contudo, pode-se perceber que mesmo com a mudança de país foi Porto Alegre, 641-654, 2014.
possível reproduzir, possivelmente com adaptações, pratos da cultura 10. MARIESSE, L.E.K.; OLIVEIRA, A.M.B. O conceito comfort
alimentar original dos indivíduos. Alguns alimentos ao serem food entre dois tipos de estabelecimentos de alimentação na cidade de
consumidos trazem lembranças e conforto. O termo comfort food Porto Alegre. 2015. 17f. TCC (Especialização em Gestão e
significa “comida que conforta’’ que aborda a relação do homem com Gastronomia em Serviços de Alimentação) - Universidade do Vale do
o alimento, do conforto que a comida traz, aliviando tristezas, Rio dos Sinos, Porto Alegre, 2015.
relembrando a infância, a comida da mãe, da avó que tendem a 11. MÉJEAN, C.; TRAISSAC, P.; EYMARD-DUVERNAY, S.;
transmitir segurança (10). Esse comportamento pode ser usado por DELPEUCH, F.; MAIRE, B. Influence of acculturation among
estudantes imigrantes como forma de aliviar a saudade de casa, no qual Tunisian migrants in France and their past/present exposure
o ato de comer, pode ser prazeroso e reconfortante quando realizada por to the home country on diet and physical activity. Public Health
pessoas afetivamente ligadas, reunidas. Nutrition, 12, 6, 832-841, 2009.
Ademais, é importante ressaltar que no contexto de imigração, 12. ÂNGELO, S.L.S. O sabor da cultura: memórias da culinária
a exposição anterior e presente às normas socioculturais do país de africana de estudantes imigrantes vivendo no Brasil. 2019. 71f. TCC
origem permite a manutenção de alguns aspectos positivos da dieta (Gradução em Nutrição) – Centro de ciências da saúde, Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019.
410
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. lucasbraga712@gmail.com
2
Docente do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, o ato de alimentar-se e o tempo andam A breve pesquisa foi aplicada entre os meses de julho e agosto de
fortemente relacionados e interferem diretamente, diversas vezes de 2019, através de um formulário estruturado elaborado na plataforma
forma negativa, nas escolhas do consumidor. Em virtude de Google Formulários, com um total de 3 perguntas com o objetivo de
cotidianos cada vez mais corridos, é perceptível a crescente aquisição entender melhor acerca dos hábitos alimentares dos indivíduos e suas
ao hábito de se comer cada vez mais rápido, onde muitos deixam uma vivencias para com o movimento slowfood, também buscando-se, ao
boa e mais calma alimentação em segundo plano. A união destes mesmo tempo, ter um melhor entendimento acerca do tempo e
fatores resulta, devido aos curtos intervalos do dia-a-dia, em uma alimento para esses indivíduos e suas relações com redes de fast-
alimentação que muitas vezes se baseia em refeições provenientes de food. Os gráficos com os dados relacionados aos resultados da
estabelecimentos onde as opções disponíveis podem ser preparadas e pesquisa foram gerados automaticamente pela mesma plataforma em
servidas em um intervalo pequeno de tempo, também conhecidos que o formulário foi elaborado. Foram coletadas um total de 103
como fast-foods. O advento deste tipo de estabelecimento tem gerado respostas nas três regiões do Nordeste nas quais foi destinada a
constantes transformações no ato de comer. pesquisa (Pernambuco, Ceará e Bahia)
O modelo de fast-food encontrou uma forma de posicionarse graças RESULTADOS E DISCUSSÃO
aos novos princípios de produção (poucos produtos, grandes
quantidades, pouca elaboração, pouca mão-de-obra), oferecendo e
distribuindo o mesmo cardápio em vários pontos de venda, com A primeira pergunta tratava-se de uma questão global, com o intuito
preparo e serviço rápidos. (1) de analisar a porcentagem dos indivíduos pertencentes a cada estado
Em contraponto, o movimento slow food surge nesse contexto de participante da pesquisa. A maioria das respostas veio do estado do
desaceleração. Esse movimento originou-se na Itália, em 1986, Ceará (53,4%), totalizando 55 respostas. Em seguida vem Bahia
reagindo aos fast-foods estadunidenses, símbolo da comida rápida (32%) com um total de 33 respostas e por último se tem o estado de
pela vida corrida. O movimento propaga a ideia de que aquilo que se Pernambuco (14,6%) onde foram colhidas um número de 15
ingere deve ser cultivado, cozido e consumido em ritmo de respostas.
tranquilidade, com prazer do ato de alimentar-se e utilizando-se
preferencialmente produtos artesanais. (2) Em seguida, foram feitas as seguintes perguntas aos participantes:
A cozinha expressa as relações homem versus ambiente, o
aproveitamento de produtos, meios e técnicas naturais. Reflete
aspectos significantes da cultura traduzidos em música, pintura, GRÁFICO 01: Porcentagem de frequência de consumo em fast-foods
desenho, literatura, cinema (...). É improvável precisar quando o
alimento se transformou em prazer à mesa. A refeição-ritual
originouse de preparar carnes de caça para logo consumi-las com a
família e os grupos próximos, vez que sem técnicas de conservação
os alimentos estragavam brevemente (...). Come-se conforme as
normas da sociedade. Hábitos interiorizam costumes. Todos preferem
os sabores que suas mães lhes fizeram apreciar (...). No entendimento
científico, os efeitos socializantes de alimentar-se em grupo
harmonizam, fortalecem vínculos, estabilizam estruturas de convívio.
Extinguir refeições regulares desestrutura o contato assíduo,
indisciplina apetites, induz à solidão, como se o espírito fosse o
estômago e a alimentação individual gerasse a não-comunhão ao não
se socializar o alimento. (3)
Partindo destas explanações iniciais, este estudo tem como principal GRÁFICO 02: Porcentagem de identificação com cada frase modelo
objetivo abordar os conceitos e a importância do movimento slow
food nos dias atuais, com enfoque em estado do Nordeste Brasileiro
e, mesmo que de forma breve, a importância da valorização da
gastronomia local.
MATERIAIS E MÉTODOS
411
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
transformação devido ao desenvolvimento industrial. Dentre as alimentarse de uma refeição mais regional, com mais tranquilidade e
mudanças, destacamse o padrão de consumo alimentar e os novos com apreciação daquilo que come, e recorrem às redes de fast-foods
hábitos sociais. (6) em que nem sempre as opções de cardápio são as mais indicadas para
a garantia de uma alimentação saudável, tranquila e, ainda assim,
O hábito de fazer refeições fora de casa, embora não seja tão recente, prazerosa.
fortaleceu-se ao longo do século XX, sobretudo ao ser assimilado
Torna-se preocupante o fato de que tem sido cada vez mais crescente
entre várias camadas sociais, e passou a contribuir para uma difusão
o número de pessoas que optam por deixar em segundo plano uma
gastronômica sem precedentes. (1)
refeição mais tranquila e apreciativa, seja devido à uma rotina cada
Nota-se que mais da metade dos participantes dividiram-se entre um vez mais corrida ou por simplesmente escolherem aderir às refeições
público que relata não ser possível se alimentar com a calma e mais rápidas e, muitas vezes, a depender do tipo e da frequência com
tranquilidade que gostariam devido às ocupações do dia a dia (26,2%) que são consumidas, contraindicadas à saúde.
e resposta que afirmam que, mesmo que não tenham uma rotina
É então possível notar a importância da abordagem dessas temáticas
muito corrida, ainda assim, sempre que possível, alimentam-se de
voltadas para a alimentação, através da aplicação, por meio de
refeições provenientes de fast-foods (24,3%).
estratégia, de programas e projetos relacionados à educação alimentar
Um consumo prolongado de alimentos ingeridos inadequadamente e nutricional, para que seja então garantido o conhecimento acerca de
acaba por provocar diversas enfermidades, e associada ao baixo importantes movimentos como o Slow-food que, talvez, se unidos à
índice de escolaridade, diminui a capacidade de memória, valorização de refeições típicas regionais, tornam-se uma ótima
aprendizagem e baixa resistência a infecções. Observa-se também, opção para quem quer equilibrar as relações do homem tanto com o
que as pessoas estão consumindo mais alimentos de grande densidade ambiente em que está inserido, quanto com o tempo. Deve-se
energética com teores de açúcar e gorduras saturadas ou também considerar a importância de uma alimentação de qualidade e
excessivamente salgados. (7) assim fazendo com que os “prazeres à mesa” não sejam situações tão
esporádicas como nos tempos atuais.
Os dados apresentados nessas questões chegam são preocupantes,
visto que é nítido que uma parcela significativa dos participantes
relata situações que muitas vezes são consequências diretas de
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
cotidianos corridos ou, que mesmo com tempo para comerem algo
com mais tranquilidade e calma, optam por fast-foods sempre que (1) COLLAÇO, J. H. L.. Restaurantes de comida rápida, os fast-
possível, podendo este último, a depender da frequência, vir a ser foods, em praças de alimentação de shopping centers: transformações
uma escolha prejudicial à saúde. no comer. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n. 33, p.
116-135, jun. 2004. ISSN 2178-1494. Disponível em: <
Por último, os participante foram indagados quanto ao conhecimento
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2 216>.
acerca do movimento slow food pantes, sendo obtidos os seguintes
Acesso em: 04 Ago. 2019.
resultados:
(2): MARTINS, U. M. O. Experiências Com A Gastronomia
Local: um estudo de caso sobre movimento Slow Food e o
GRÁFICO 03: Porcentagem de conhecimento ou não acerca do turismo gastronômico na cidade de Recife - Brasil. Espanha:
movimento Slow Food Pasos, 2016.
(3): ARAÚJO, W. M. C. (et al). Da alimentação à gastronomia. 1. ed.
Brasília: Editora UnB, 2005. v. 1. 102p.
(4):MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: Teoria, Método e
Criatividade 21. Ed. Petrópolis. Editora Vozes. 2002.
(5): GARCIA, R.W.D. Reflexos da globalização na cultura alimentar:
considerações sobre as mudanças na alimentação urbana. Rev. Nutr.
V.16 n.4, Campinas Oct./Dec. 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415- 527320
03000400011&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 15 abr. 2009.
Ao observar o gráfico, observa-se que mais da metade dos (6): MENDONÇA, C.P., ANJOS, L.A. Aspectos das práticas
participantes da pesquisa, distribuidos nos três estados estudados, alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento
infelizmente não têm conhecimento do movimento slow food. do sobrepeso/obesidade no Brasil). Cad. Saúde Pública V.20, n.3,
Este é um movimento que é de grande importância para o May/June 2004. Disponível em:
desenvolvimento do pensar crítico de todo e qualquer indivíduo com http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_
relação ao universo da gastronomia, uma vez que, ao se estudar acerca arttext&pid=S0102311X2004000300006. Acesso em: 17 jul. 2009.
da temática, toma-se conhecimento de que o movimento aconselha o
reconhecimento da importância do prazer aliado à alimentação. (7) GARCIA, M. M. A., Revolução Alimentar: Da Cozinha Aos Fast
O movimento slow é rico em sua organização, propondo modos Foods XIV Encontro Latino Americano De Iniciação Científica E X
originais de agrupar pessoas, saberes e fazeres em torno do que talvez Encontro Latino Americano De Pósgraduação, 2010, Universidade do
pudéssemos chamar de uma ecologia da alimentação. (8) Vale do Paraíba. Paraíba: Inicepg, 2010. 5 p.
A maioria das ações do Slow poderia ser considerada educativa, vide (8): MOURA C. I. C. Slow Food E A Educação Do Gosto: Um
a catalogação e o resgate das culturas alimentares, o aprendizado de Movimento Social Sem Pressa Revista Prâksis, vol. 1, enero-junio,
novas formas organizativas, a formação de redes identitárias em torno 2008, pp. 101-107 Centro Universitário Feevale Novo Hamburgo,
do alimento, ou ainda a tradução do alimento em cultura, ecologia e Brasil
transformação social. (8)
CONCLUSÃO
Levando em consideração as análises supracitadas, é nítido que a
comida também é um símbolo de prazer, indo muito além de apenas
um fator que supre as necessidades nutricionais do indivíduo.
Todavia, torna-se válido questionar se, na atualidade, este ato de
prazer não está ultrapassando a linha tênue entre comer bem e o
descuido para com a saúde
Devido às constantes mudanças nos hábitos alimentares, nota-se que
uma parcela significativa tem deixado de lado o costume de
412
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Gastronomia e Filosofia
Antônio Beethoven Gondim1, Maria Mozarina Almeida2, Paulo Henrique Machado de Sousa2
1
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Email: abcgondim@yahoo.com.br
2
Professor do Curso de Bacharelado em Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte da UFC. Email: phmachado@ufc.br
INTRODUÇÃO que nos ensinaram a usar o fogo, e foi utilizando o fogo que o
homem dominou a natureza. Numa visão panorâmica do assunto,
Cônscio de que a Filosofia é o inexaurível desejo de buscar saber a podemos reconhecer até três espécies de culinária: A primeira, que se
significação do quer que seja, e não apenas de palavras, mediante ocupa do preparo dos alimentos, conservou o nome primitivo; A
argumentação justificada, alcançando-se uma visão de mundo segunda se ocupa em analisa-los e em verificar seus elementos:
(Παγκόσμια άποψη ou Weltanschauung) como resposta aos convencionou-se chama-la de química; E a terceira, que pode ser
problemas da raça humana, partindo-se, portanto, da linguagem, chamada de culinária de reparação, é mais conhecida pelo nome de
conforme o terceiro paradigma da pesquisa filosófica: o da Semiótica farmácia. Se elas diferem quanto ao objetivo, têm em comum o
Transcendental ou Pragmática Linguística (1), de que Ciência é toda emprego do fogo, de fornos e dos mesmos recipientes” (10). Aqui há
forma de conhecimento obtida a partir da observação algumas considerações a serem feitas: primeiramente, pelo que se lê,
intencionalizada, seguida pela problematização, formulação de a Gastronomia é mais abrangente que a Culinária, por esta se voltar
hipóteses, realização de experiências, constatação da consequência principalmente ao uso do fogo no preparo de Alimentos. Ou seja,
verificável das hipóteses, obtenção dos resultados, interpretação e todo prato culinário é gastronômico, mas nem todo gastronômico é
conclusão, tudo submetido à tentativa de refutar a teoria que culinário; segundo, muito embora a conceituação da Gastronomia
fundamenta os experimentos, permitindo, assim, o estabelecimento seja de condição epistemológica, não se pode esquecer que, quando a
de um saber e a possibilidade de seu desenvolvimento (2), e, por fim, elaborou, Brillat-Savarin (1755-1826) o fez movido por uma das
de que Arte é todo e qualquer fazer humano, com ou sem produto, nove grandes teorias filosóficas da Arte: a do Gosto, cujo maior
exercitado em seu mais alto grau, que comunica sentimento ao quer expoente fora Montesquieu (1689-1755) (11); terceiro, tanto a
que seja, tornando o inacreditável em indispensável (3), dessarte é Gastronomia quanto a Culinária podem produzir obras em estado da
possível comprovar que a Gastronomia deve ser considerada, sim, Arte e, ipso facto, podem apresentar aspectos estéticos, e não apenas
uma Ciência que resulta em obras que atingem o Estado da Arte (4), a Culinária, até porque esta está contida na Gastronomia; quarto,
ensejando uma forma de vida, a fundamentar, conseguintemente, óbvio que a Química e a Farmácia (ou Farmacologia) não são
uma visão de mundo. espécies de Culinária, por apresentarem objeto, método e leis
Os objetivos deste trabalho são: Defender a Gastronomia tanto como distintas, conquanto possam apresentar uma aplicação comum.
uma área científica, quanto como uma Arte multissensorial, com Ainda no que tange à Teoria do Gosto, que fundamenta a visão de
reflexões sobre o bem-estar e, desse modo, contribuições à qualidade mundo estética de Brillat-Savarin sobre Gastronomia, importa não se
de vida; Desenvolver argumentações científicas, estéticas e esquecer de que “gosto [...] nada mais é senão a vantagem de
filosóficas; Analisar as implicações desses dados para a Gastronomia. descobrir com sutileza e presteza a medida do prazer que cada coisa
deve dar às pessoas [...] É bom conhecer a fonte dos prazeres dos
MATERIAL E MÉTODOS quais o gosto é a medida: o conhecimento dos prazeres naturais e
adquiridos poderá servir para retificar nosso gosto natural e nosso
Esta é uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório (5), gosto adquirido. É preciso partir do ponto em que se encontra nosso
mediante o diálogo com livros e textos em geral, tendo por alvo ser e saber quais são seus prazeres para poder avaliar esses prazeres e,
colimado uma síntese valorativa de informações. mesmo, por vezes sentir esses prazeres [...] como a perfeição das
artes consiste em nos apresentar as coisas de modo a nos
RESULTADOS E DISCUSSÃO proporcionar o maior prazer possível, seria preciso que as artes
mudassem, uma vez que seria outra a maneira de nos darem prazer
Ciente de que “a linguagem é conjuntamente (zumal) a casa do Ser e [...] o gosto natural não é um conhecimento teórico; é uma aplicação
a habitação da Essência do homem” (6), ou seja, daquele que se direta e requintada de regras que não conhecemos bem [...] o gosto
humaniza por meio da Educação. Em virtude disso é que a adquirido afeta, muda, aumenta e diminui o gosto natural, tanto
linguagem é o lugar intranscendível de toda fundamentação e, ipso quanto o gosto natural afeta, muda, aumenta e diminui o gosto
facto, “Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu adquirido [...] gosto é aquilo que nos liga a uma coisa por meio do
mundo” (7), “Pois na linguagem é assim: a essência linguística das sentimento, o que não impede que ele possa aplicar-se às coisas do
coisas é sua linguagem [...] esse elemento comunicável é a intelecto, cujo conhecimento dá tanto prazer à alma que essa é
linguagem mesma sem mediações [...] toda língua se comunica a si mesmo a única felicidade que certos filósofos conseguem
mesma. Ou melhor: toda língua se comunica em si mesma; ela é, no compreender. A alma conhece por meio das ideias e dos sentimentos;
sentido mais puro, o meio [Medium] da comunicação [...] ela sente prazer por meio das ideias e dos sentimentos, pois, embora
‘Linguagem, a mãe da razão e da revelação, seu alfa e ômega’, diz possamos estabelecer uma oposição entre ideia e sentimento, quando
Hamann” (8), importa esclarecer o âmbito do que se deve entender a alma vê uma coisa ela sente, e não há coisas tão intelectuais que ela
por Gastronomia e Culinária, a fim de se evidenciarem suas não possa ver ou que acredite não ver e, por conseguinte, que não
similitudes e dessemelhanças, destacando seus aspectos científicos, sinta [...] Ter espírito consiste em ter as faculdades bem constituídas,
estéticos e filosóficos. relativamente às coisas às quais se aplica [...] se está mais ligada a
Não é preciso ser um Saussure (1857-1913) ou um Chomsky (1928-) um certo prazer delicado das pessoas comuns, seu nome é gosto [...]
para saber que inexiste sinonímia perfeita entre Culinária e A arte vem em nossa ajuda e nos revela a natureza que se oculta em
Gastronomia, de maneira que esta “é o conhecimento fundamentado nós [...] pode-se dizer que a arte fornece as regras e o gosto, as
de tudo o que se refere ao homem, na medida em que ele se alimenta. exceções; o gosto nos diz quando a arte deve governar e quando deve
Seu objetivo é zelar pela conservação dos homens, por meio da ser governada” (12).
melhor alimentação possível. Ela atinge esse objetivo dirigindo, De fato, desde a Antiguidade, a Gastronomia e, por conseguinte, a
mediante princípios seguros, todos os que pesquisam, fornecem ou Culinária são consideradas filosoficamente, haja vista terem sido
preparam as coisas que podem se converter em alimentos [...] O objeto de discussão em Platão, mais especificamente nos diálogos O
assunto material da gastronomia é tudo o que pode ser comido; seu Banquete, Górgias, A República, Crítias e as Leis (13). Não apenas
objetivo direto, a conservação dos indivíduos; e seus meios de porque “qualquer assunto de importância é tratado à mesa” (14),
execução, a cultura que produz, o comércio que troca, a indústria que senão porque na Gastronomia reside uma visão de mundo como
prepara e a experiência que inventa os meios de dispor tudo para o resposta a um dos problemas da raça humana: não apenas a
melhor uso” (9), enquanto que a Culinária é “a mais antiga das artes alimentação, mas, sobretudo, o prazer da mesa, visto que “O prazer
[...] É também de todas as artes a que nos prestou o serviço mais da mesa é próprio da espécie humana; supõe cuidados preliminares
importante para a vida civil; pois foram as necessidades da culinária com o preparo da refeição, com a escolha do local e a reunião dos
413
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
convidados. O prazer de comer exige, se não a fome, ao menos o (18) ADRIÀ, Ferran; JAQUES, Jèssica. For an Applied Philosophy
apetite; o prazer da mesa, na maioria das vezes, independe de ambos” of Gastronomy. Cosmo – Comparative Studies in Modernism
(15). n. 6 (Spring), 2015.
REFERÊNCIAS
414
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
Foi observado que a instalação do parque eólico na área trouxe
A alimentação é fundamental para a sobrevivência humana, impactos negativos tanto no meio ambiente quanto na reprodução
alimentar-se é a forma mais básica do ser humano. Porém, grande sócio cultural da comunidade, comprometendo sua fonte de renda e
parte da população mundial realiza de forma inadequada, autoconsumo. Seu Zé Correia, artesão de 73 anos comenta que o
principalmente por não ter acesso a alimentas de suficientes coco e o sururu são produtos bem representativos na comunidade, o
quantidades e qualidades1. coco está presente na maioria dos pratos de pescados e até no pirão
Durante a segunda guerra, devido à escassez de alimentos, surgem os feito com caldo de galinha caipira. Já o sururu faz parte de músicas
primeiros conceitos de segurança alimentar. Em 1996 a Organização tradicionais como o “Baião do Aracati”. Ele também alega que os
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) trazem a proprietários do parque vetaram o acesso de moradores a locais que
definição: “A segurança alimentar existe quando toda pessoa, em eram considerados de lazer, como lagoas interdunares e o próprio
todo momento, tem acesso físico e econômico suficientes, inócuos e mar, onde se produzia comidas tradicionais de festejo. Com isso
nutritivos para satisfazer suas necessidades alimentares e preferências algumas tradições foram prejudicadas. Uma dessas tradições o
quantos aos alimentos, a fim de levar uma vida saudável e ativa. ”2 pescador Ronaldo de 38 anos chama de “comer no mato”, que
Em consequência dos debates de segurança alimentar, surgiu o consiste em pegar o resultado da pescaria do dia e preparar nas
conceito de soberania alimentar. Ela pode ser definida como o ato de dunas, na beira do rio ou nas praias, acompanhado de bebidas. Ele
comer de maneira sã e consciente o que acarreta a interrogar-se sobre também comenta que o sururu passou cinco anos sem aparecer nos
de onde vem o que consumimos, como se elaborou, em que rios e menciona que a causa mais provável sejam os tanques de
condições, porque pagamos um determinado preço. Ser soberano é carcinicultura que despejam produtos nos rios. Ele ainda fala que o
produzir e comercializar cada povo, reduzindo a dependência de búzio foi usado para substituir o sururu nesses períodos. O pescador
agentes externos. É poder decidir sem influência de outros sobre a também reclama da quantidade de peixes que diminuiu e algumas
alimentação.3 espécies como a “pescada” não se encontra mais. No entanto a
Em povos e comunidades tradicionais, as práticas e costumes “tainha” ainda é bastante abundante, muito consumida assada no
alimentares foram construídos ao longo do tempo, principalmente braseiro. Um produto do mangue muito comum é o caranguejo, mas
respeitando os recursos alimentares disponíveis em seu território. ele comenta que o tamanho do crustáceo diminuiu. Lidiane,
Entretanto, a instalação de grandes empreendimentos tem marisqueira de 33 anos, fala que nas dunas existia uma fruta muito
desencadeado a insegurança alimentar, comprometendo locais de consumida chamada de “ubaia”, era comum ser colhida para fazer
pesca e cultivos de alimentos nessa localidade4. suco, mas depois da chegada do parque eólico ficou muito difícil de
Especificamente, na comunidade quilombola do Cumbe, esse efeito é encontrar. Muitos moradores ainda hoje buscam manter os mesmos
bem notório. Os alimentos que construíram a história da comunidade, hábitos mesmo após a instalação do parque eólico, mas foi relatado
em muitos casos, não existem mais. A pesca artesanal, os quintais diversas vezes que os seguranças do parque solicitavam a retirada
produtivos, assim como as frutas nativas foram gravemente afetadas dos moradores. Os entrevistados comentam que não possuem mais
pelos grandes empreendimentos. Os principais fatores que geraram satisfação em caminhar pelos campos de dunas em função das
esses impactos socioambientais foram as instalações de parques de limitações impostas diariamente pelo parque eólico.
energia eólica e a carcinicultura5.
No Cumbe, resiste-se à expansão de grandes empreendimentos e à CONCLUSÃO
extinção de seus saberes e ações tradicionais. Os dois insumos mais citados como tradicionais da comunidade
O objetivo desse trabalho é analisar as condições ambientais de foram o sururu e o coco, principais ingredientes da preparação
forma produtiva, prática alimentares, hábitos e costumes locais dos conhecida como “sururu no leite de coco” ou “moqueca de sururu”.
moradores da comunidade do Cumbe, com propósito de analisar a Apesar do coco se manter abundante na comunidade, o sururu foi o
influência de agentes externos na segurança e soberania alimentar da insumo mais afetado, já que todos mencionaram a falta dele por 5
Comunidade Tradicional do Cumbe. anos, tendo que ser substituído muitas vezes pelo búzio. As conexões
emocionais e materiais com o local foram comprometidas pelo
MATERIAL E MÉTODOS parque eólico. A análise mostra as relações afetivas entre a
comunidade e as dunas, lagoas interdunares e o mar e como o parque
A pesquisa de campo concentra-se na comunidade do Cumbe, eólico veta o acesso da comunidade, causando mudança em hábitos
município de Aracati, litoral leste do Ceará. A comunidade possuiu tradicionais nessa comunidade, como o de “comer no mato”.
168 famílias (702 residentes), que sobrevivem da pesca no mar e no
rio, coleta de mariscos, cultivo de alimentos, produção de artesanato, REFERÊNCIAS
criação de animais e dos pequenos comércios. O trabalho foi 1. RODRIGUES, L. P. F; ZANETTI, I. C. B. B; LARANJEIRA, N.
realizado primeiramente com levantamento bibliográfico, buscando P. Sustentabilidade, segurança alimentar e gestão ambiental para a
entender a estrutura e alimentação de comunidades e povos promoção da Saúde e qualidade de vida. ParticipAção, nº 19, p. 22-
tradicionais. Depois foi realizado uma coleta de dados. Para a coleta 22, 2011.
de dados foi feita uma reunião com lideranças da Associação 2. BELIK, W. SILIPRANDI, E. Hábitos Alimentares, Segurança e
Quilombola do Cumbe, intercalando com momentos de observação, Soberania Alimentar. In: VILARTA, Roberto; GUTIERREZ,
anotações em diários de campo e depois uma conversa com cinco Gustavo L. & MONTEIRO, Maria I. (org.). Qualidade de vida:
moradores locais. As entrevistas tiveram caráter semi-estruturado, Evolução dos conceitos e práticas no século XXI. – Campinas: Ipes
focando em perguntas como “Quais insumos você considera Editorial, 2010
característicos da região? ”, “Quais preparações são mais comuns na 3. VIVAS, E. Os mitos do sistema alimentar. Esquerda.net, 20 out.
região? ”, “Quais insumos você notou que a quantidade diminuiu 2014. Disponível em: https://www.esquerda.net/opiniao/os-mitos-do-
depois da presença dos empreendimentos? “ e “Quais preparações e sistema-alimentar/34479. Acesso em: 2 jun. 2018
pratos foram alterados com as implantações dos empreendimentos? 4. FÁVARO, T; RIBAS, D. L. B; ZORTZATTO, J. R; SERGALL-
”. Em seguida houve a organização, interpretação e análise dos dados CORRÊA, A. M; PANIGASSI, G. Segurança alimentar em famílias
e das informações ao longo da pesquisa. indígenas Teréna, Mato Grosso do Sul, Brasil. Cadernos Saúde
Pública, Rio de Janeiro, n23 v. 4, p 785-793, 2007
RESULTADOS E DISCUSSÃO
415
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
416
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
E-mail: sheylaamaral82@gmail.com
A farinha, de acordo com a RDC n° 263 de 22 de setembro Torração das sementes de gergelim
de 2005 que dispõe sobre o Regulamento Técnico para produtos de
cereais, amidos, farinhas e farelos, é definida como “o produto obtido
de partes comestíveis de uma ou mais espécies de cereais, Mistura dos ingredientes (semente torrada e farinha branca)
leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e ou
outros processos tecnológicos considerados seguros para produção de Primeira trituração (pilão)
alimentos” (1).
417
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
De acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Essas variações nas concentrações de cinzas e de gordura
Alimentos (6), a semente de gergelim possui 3,9% de umidade, 2,9% podem estar relacionadas às condições de cultivo, à variedade do grão,
de cinzas e 50,4% de lipídeos. Como esperado, o teor de cinzas do fubá pois foram cultivados em regiões distintas, e ao processo de extração
de gergelim é o que mais se aproxima. Apenas como informação de óleo, já que nesse estudo, não houve nenhum processamento na
observa-se ainda que o fubá de milho cru possui 11,5% de umidade, semente além da torração, visto ser uma produção artesanal.
0,6% de cinzas e 1,9% de lipídeos, destacando-se que o gergelim
possui maiores teores de minerais e gordura que o milho. Quanto ao teor de umidade, conforme a legislação, as
farinhas podem ter até 15%, portanto, a farinha desse estudo também
Estudos evidenciam que uma das formas de beneficiamento se encontra dentro do parâmetro estabelecido.
da semente de gergelim é a elaboração de farinhas para incorporação
em diversos produtos, como bolos, massas, biscoitos, bebidas, dentre
outros (7). Para esse procedimento as sementes podem ser moídas ou
torradas, como é o caso do fubá preparado no estudo em questão Conclusão
(Figura 2).
Os parâmetros estudados indicam a possibilidade de
Figura 2. (A) Preparo do Fubá. (B) Fubá de gergelim. utilização da semente de gergelim na elaboração de produtos
convencionais, como no caso do fubá produzido artesanalmente,
A contribuindo para sua incorporação na alimentação das pessoas que
não possuem o hábito de consumo desse grão. Constata-se que mesmo
sendo um produto obtido de forma artesanal, atende ao parâmetro
especificado pela legislação vigente. Sugere-se para realização de
estudos futuros a aplicação de uma análise microbiológica para
verificação da qualidade higiênico-sanitária do processo de elaboração
e da determinação de macro e micro nutrientes do fubá.
Referências
418
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Carolinne dos Santos1, Anna Erika Ferreira Lima2, Francisco Romário de Sousa Holanda3, Rildelene dos Santos Silva4,
Jair dos Santos Júnior 5
1
Graduanda em Turismo, IFCE campus Fortaleza ,carolinnemelo@yahoo.com.br
2
Professora do Curso de Bacharelado em Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE.
3
Graduado em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE.
Mestranda em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis na Universidade da Integração da Lusofonia
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde a chegada dos invasores europeus que registra-se a fabricação de
bebidas fermentadas por indígenas brasileiros. O mocororó, objeto desta
pesquisa, foi descrito por alguns autores como sendo elaborado por
etnias no Norte e Nordeste do país, contudo outros povos originários
produzem outras bebidas que seguem processos de produção
semelhantes, contudo com insumos distintos.
O caju é um fruto tipicamente brasileiro com maior abundância na
região Nordeste. Cultivado por indígenas antes da chegada dos
portugueses, é um alimento versátil e característico do cenário tropical
brasileiro. “O cajueiro é uma árvore celebrada e está no variado
imaginário tradicional e popular brasileiro. Além do consumo da fruta
in natura e de muitos outros aproveitamentos da culinária enquanto
doce, vinho, castanha assada (...)” (LODY, 2008, p. 186).
O caju sempre esteve presente na alimentação dos indígenas no Ceará,
tendo o mocororó como elemento mais característico da cultura
indígena relacionada ao fruto. A bebida fermentada a partir do caju é
servida nos rituais e acompanhado da dança típica toré.
O processo de fabricação do mocororó compreende-se em espremer o
caju azedo, este, especificamente, utilizado pelos povos do litoral, já
que as demais costumam utilizar o caju doce. Engarrafar após coar o
sumo e esperar que a fermentação aconteça em um período mínimo de
aproximadamente uma semana; contudo ocorrem algumas pequenas
Destacamos então as etnias cearenses que produzem e/ou consomem o mudanças neste processo de acordo com o artesão e/ou povo que produz
mocororó: na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) temos as etnias a bebida. Dependendo do estágio de fermentação há mudanças quanto
Jenipapo Kanindé, Anacé, Tapeba e Pitaguary; na região litorânea ao teor alcoólico da bebida que pode ser comparado ao da cerveja
(Itapipoca, Acaraú e Itarema) temos os Tremembé; e no município de segundo os autores Silva & Morais (2018): “Foi verificada a presença
Monsenhor Tabosa encontra-se o Movimento Potiguartapuia de álcool na bebida mais jovem,e na mais velha, indicando que o
(contemplado pelas etnias Tabajara, Potyguara, Tubiba Tapuya e 419 mocororó é uma bebida alcoólica com teor de álcool similar ao de
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
algumas cervejas.”(p. 14) Além disso, em degustações durante as visitas registraram que os Kanindé e Pitaguary tiveram o primeiro contato com
a campo e conversas informais em festas indígenas percebe-se que o o mocororó na Assembléia dos Povos Indígenas do Estado do Ceará em
mocororó mais velho, aquele com fermentação superior a 12 meses, 1993. Podemos destacar sobre o fabrico do mocororó pelos Kanindé
avinagra semelhante a um vinho estragado. que: “Para fazer o mocororó precisa ser com o caju azedo e caído da
O povo Jenipapo Kanindé, em Aquiraz, à 32 Km de Fortaleza, realiza planta. O sumo é extraído espremendo o pendúculo com as mãos. Em
desde 2017 nos dias 4 de novembro de cada ano a Festa do Mocororó seguida, o líquido é coado e envasado em cabaças ou potes de barro
onde ocorrem competições de quem bebe e quem fabrica mais onde permanecem fermentando por um período de até um ano ou por
mocororó, além de venderem a bebida e artesanatos da comunidade tempo indeterminado pode ser enterrado para que ocorra uma
(Figura 1). Contudo, para este povo a festa vai além da bebida, pois a fermentação mais rápida. Durante este processo é recomendado tomar
data serve para comemorar a demarcação da sua terra indígena. após 6 meses”. (SILVA; MORAIS, 2018, p. 2 )
Os tremembé, similarmente aos Kanindé, ingerem o mocororó
Figura 1 - Mocororó em diferentes estágios de fermentação e acompanhado de ritualística sagrada através da dança tradicional dessa
artesanatos na III Festa do Mocororó. Fonte: Acervo do NEABI - etnia: o torém. Oliveira (2014) observou que no ritual do qual era
Campus Fortaleza . Fotógrafa :Sabrina Moura, 2019. praticado o torém possui saberes intrínsecos a técnica de fabricação do
mocororó e durante a ingestão deste à compreensão do universo
espiritual concentrando-se na figura dos encantados.
Em conversas informais, lideranças do Movimento Potigatapuia , que
contempla os povos Tabajara, Potyguara , Gavião e Tubiba Tapuia do
município de Monsenhor Tabosa, confidenciaram que consomem
mocororó em cerimônias de casamento.
CONCLUSÕES
Desde o Relatório Provincial de 1863 até o levantar do Movimento
Indígena em 1970 com os povos Tapeba e Tremembé, negava-se a
existência de indígenas no Ceará, contudo trata-se de um equívoco que
fez com que os povos esconderem sua identidade para sua própria
sobrevivência. Atualmente, resistem mais de 35 mil indígenas, 15
povos, esses preservam sua cultura: danças típicas, alimentação,
artesanato, medicina, culto aos encantados e vestimentas. Destes povos,
identificamos cerca de 10 que produzem e/ou consomem o mocororó;
esse saber fazer que envolve não somente os ensinamentos acerca da
O povo Tremembé foi um dos primeiros povos a serem reconhecidos fermentação como também os rituais de toré e torém (esse
pela FUNAI no Ceará, onde em 2003, a Terra Indígena Tremembé especificamente do povo Tremembé), o uso da bebida em casamentos e
Córrego do João Pereira foi a primeira a ser homologada no estado do rituais mais íntimos aos povos que os aproximam de seus ancestrais.
Ceará. Essa etnia encontra-se nos municípios de Itarema, Acaraú e O mocororó é uma bebida que aproxima, pois as famílias tendem a se
Itapipoca. Em Itarema, vivem tanto perto da costa, sobretudo no distrito reunir para a colheita do caju, e no processo de retirada do suco e
de Almofala, como no interior, em área já regularizada pela Funai, engarrafamento , contudo quando o consumo fora dos rituais dar-se em
conhecida por Córrego do João Pereira, que compreende o Capim-açu, rodas de conversas. O conhecimento é elemento básico para a
São José e Telhas. A região da “Grande Almofala” (CHAVES, 1973) preservação das tradições, ademais os registros acadêmicos são
compreende a vila homônima e um grande número de localidades onde importantes para a disseminação dessa cultura, para que se perca os
vivem tanto os Tremembé como regionais e proprietários de terra. O estereótipos relacionados à figura mitológica do indígena. A
Cacique João Venâncio, em entrevista ao Diário do Nordeste em 2003, gastronomia de um povo diz muito sobre sua história, como ele se
afirmara que após a colheita do caju, os tremembé se reúnem para tomar relaciona com a terra, o poder econômico da região, como se dá a
a tradicional mocororó, feito do suco do caju azedo e fermentado. organização familiar e a divisão do trabalho.
João Anacé1, atualmente um dos representantes do Cacicado Anacé,
em entrevista realizada dia 24/05/2019, relata a existência de um
REFERÊNCIAS
mocororó adicionado de ingredientes cujo o conhecimento é restrito ao CASCUDO, Luís Câmara. Antologia da Alimentação no Brasil. 2. ed.
seu povo e também é um elo com mundo espiritual: “O nosso mocororó São Paulo: Global, 2008. 320 p.
preparado para rituais fechados, nossos, é um momento de inserção ao CHAVES, Luiz G. M. Trabalho e subsistência, Almofala : aspectos
mundo espiritual. Ele não seria alucinógeno, mas abre alguns portais". da tecnologia e das relações de produção. Rio de Janeiro : Museu
O mesmo declarante explica que a bebida é utilizada no ritual chamado Nacional, 1973. (Dissertação de Mestrado).
ouricuri, momento religioso e exclusivo da comunidade para reconectar DIÁRIO DO NORDESTE. Comunidade Mantém costumes. 20 de
com o sagrado onde são realizadas as “encantarias”. Abril de 2003. Disponível em
Felipe Tapeba¹, em entrevista realizada em 10/06/2019, destaca que o <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/comunid
mocororó é um costume tradicional muito importante para os povos ade-mantem-costumes-1.95492>.Acesso em 12 de Jan.de2020.
indígenas e seu povo o produz há várias gerações e inclusive tem um LODY, Raul. Brasil Bom de Boca: Temas da antropologia da
toré que fala da bebida e mostra essa conexão com os ancestrais : “ O alimentação. São Paulo: Senac, 2008. 424 p.
mocororó é uma ciência divina, mocororó é uma ciência encantada. No MONTANARI, Massimo. Comida como Cultura. São Paulo: Senac,
toré venha beber, venha beber com os meus encantados.” 2013. 207 p.
As preparações a partir do caju estão nas raízes da tradição cearense e a SILVA, Rildelene dos Santos; MORAIS, Ana Cristina da Silva.
gastronomia como elemento cultural deve ser registrada para que são se BEBIDA INDÍGENA MOCORORÓ: DESVENDANDO UM
perca, pois atualmente com o advento da globalização muitas POUCO DA COMPOSIÇÃO E ACEITAÇÃO POR NÃO
modificações estão sendo feitas para que as preparações fiquem mais INDÍGENAS. 2018. 16 f. TCC (Graduação) - Curso de Tecnologia em
modernas o que muitos chamam de “gourmetização” chama atenção Gastronomia, Instituto Federal do Ceará, Baturité, 2018.
para a importância da língua falada e do sistema alimentar, pois estes OLIVEIRA, Renata Lopes de. O Torém Enquanto Espaço de
transportam a cultura de quem a pratica como um depositário das Formação na Educação Diferenciada Indígena Tremembé.
tradições e da identidade de um grupo (MONTANARI, 2013). Comunicação. XVII ENDIPE, 2014.
Observa-se, atualmente, que as preparações das cozinhas típicas vêm
perdendo certas características histórico-culturais, uma vez que a
memória coletiva e conhecimento oriundo do processo de elaboração
destas preparações tradicionais estão desaparecendo, por conta da
mundialização dos mercados, da homogeneização das cozinhas, pela
facilidade de aquisição de novas mercadorias estranhas a cultura de
origem.
O mocororó é produzido também pela etnia Kanindé, esta comunidade
relaciona a bebida a rituais sagrados no quais realizam a dança típica
toré durante reuniões ou encontros especiais. Silva & Morais (2018)
1
Nomes Fictícios 420
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Introdução nos dias de hoje, que nos parece “natural”. Todavia, somente a partir
do século XIX é que este tipo de cozinha surge no cenário
A alimentação humana, diferente da de outros seres vivos, vai além gastronômico europeu e bem mais tardar no nordeste brasileiro.
dos aspectos nutricionais e biológicos. Comer, para nós, é também Montanari (2008) ressalta que tudo que é óbvio e universal em
um ato sociocultural, marcado por diversas transformações ligadas a relação à alimentação foi aprendido culturalmente. Rachel, por meio
práticas alimentares, costumes e protocolos regidos pelas dinâmicas de sua obra, busca resgatar e documentar, através de relatos e
sociais. O escritor folclorista Luís da Câmara Cascudo (1) cita que receitas, os costumes alimentares da população sertaneja cearense,
“comer é um ato orgânico que a inteligência tornou social”. trazendo assim, a valorização de sua terra natal.
Conscientes ou não, o ato de comer não é neutro e carrega diversos Segundo a autora, a dieta diária se constituía de feijão temperado
significados e simbologias culturais. Portanto, cabe dizer que a com um pedaço de carne ou toucinho, ou o feijão cozido com apenas
comida é culturalizada, pois comemos comidas, comemos cultura, água e sal. Comia-se carne moqueada i na brasa misturada com
comemos momentos, comemos memórias (2). Os gostos e as farinha de mandioca, tubérculos, favas entre outros produtos da terra.
predileções variam no tempo e no espaço, e ajudam a desenvolver os Essa dieta simples, porém, torna-se mais variada em ocasiões
valores da sociedade. Nesse âmbito, a gastronomia sai da cozinha festivas, como casamentos, aniversários e bodas. Os pratos feitos ali
para virar objeto de estudo. Com foco nos símbolos e representações receberam o nome de cozinha festiva, que apresenta pratos
que se agregam e combinam com o passar dos anos e transformam a tradicionais adaptados aos recursos e ambientes locais.
cultura dos povos. A miscigenação cultural é refletida com forte impacto na cultura
A memória gustativa de um indivíduo representa o valor dos alimentar brasileira. Rachel ressalta que a cozinha sertaneja cearense
vestígios alimentares de seu passado. A importância dessa memória é se aproxima da simplicidade dos hábitos alimentares indígenas e seus
justificada por aquilo que ela representa individualmente, sem a pratos representam uma adaptação dessa cozinha com traços da
necessidade de ser legitimada socialmente (2). A documentação abundância da cozinha portuguesa.
dessas memórias, porém, representam práticas e hábitos alimentares Em O Não Me Deixes (4), Rachel apresenta a influência indígena no
desse indivíduo e daqueles que estão inseridos no mesmo tempo e Ceará ao citar a farinha de mandioca como amplamente consumida e
espaço geográfico em questão. De acordo com Montanari (3), “assim concluir que a alimentação do caboclo nordestino e amazônico não
como a língua falada, o sistema alimentar contém e transporta a mudou muito dos tempos da colonização para os dias atuais.
cultura de quem a pratica, é depositário das tradições e da identidade A culinária portuguesa trouxe seus elementos já incorporados aos da
de um grupo”. O amor da autora Rachel de Queiroz pela sua fazenda África e Ásia e os aliou a carne e peixe assados no moquém
no interior do Ceará, construiu o livro “O Não Me Deixes: suas (parafernália doméstica com quatro forquilhas de pau enfiadas no
histórias e sua cozinha” (4), repleto de relatos dos costumes chão e varas assentadas em cima, formando uma grelha de madeira)
alimentares do sertanejo cearense e ao mesmo tempo mistura a (1) daqui.
história e lembranças ligadas à cozinha de seu próprio lar. 1. Representação Ilustrativa do Moquém (6)
O presente estudo busca, a partir dos escritos de Rachel, uma
sertaneja cearense. ressaltar o valor sociocultural das memórias
gustativas escritas ou faladas no sertão do Ceará, de cultura alimentar
rica, mas ainda pouco discutida, estudada e valorizada em detrimento
de outras culturas.
Material e Métodos
Esse estudo utilizou como base a obra literária "O Não Me Deixes:
suas histórias e sua cozinha" (4) - da escritora cearense Rachel de
Queiroz - para um apanhamento das memórias gustativas da autora.
A partir deste método, empreendeu-se revisão de livros e periódicos
que abordavam sobre cultura e memória alimentar.
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Conclusões
Referências
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seu sucesso e presença é garantido nos cardápios dos empreendimentos e fizeram parte deles. De certo modo, tecendo uma rede de memórias e
gastronômicos nordestinos, onde normalmente, ao menos um item significados através da exposição de suas lembranças.
possuirá o queijo. Essa presença é evidenciada para nós através do Mesmo que a subjetividade inerente a individualidade de cada sujeito
relato de um entrevistado “-A maioria dos restaurantes se você chegar esteja presente nessa relação, ainda assim é possível afirmar que uma
com uma carne de sol, elas vem com uma fatia de queijo em cima”, e mesma lembrança, captada individualmente de um sujeito, seja
continua sobre sua presença durante as resenhas nos bares “-Você vai e compartilhada com outros, ao passo que as memórias coletivas
come muito assim esse furadinho(o queijo) no caso para tira gosto [...] manifestam-se nas lembranças individuais.
final de semana o pessoal fica nos bares aí”.
Alcançando as relações sociais no convívio familiar, este produto Conclusões:
funcionária muitas vezes como um mediador, um facilitador das Através deste estudo é possível visualizar e caracterizar diversos
relações desenvolvidas durantes esses encontros. Assume de certo saberes vinculados à tradição e comensalidade do queijo coalho
modo as características que a própria comida têm, quando encarada nordestino. Por um vínculo secular com o território, desenvolveu ao
como algo que nutre tanto o corpo quanto a alma. Dentre os trechos longo dos anos diversos modos-de-fazer ligados aos diferentes estados
retirados das entrevistas, e que evidenciem essa presença ao âmbito e regiões. Mediante a isso, seus usos culinários são variados, sendo
familiar e celebrações, temos: “-[...] tem variedade de pratos, tem empregado no preparo de pratos tradicionais, releituras de clássicos, ou
pessoa que sempre vai fazer um prato que vai levar o queijo[...] no final sustento na refeição do trabalhador. Presente em diferentes contextos
de ano sempre vai ter um”; outro diz: “-[...]a gente faz a carne de sol, sociais, como a rua e a casa, funciona como um mediador das relações
bota o queijo em cima para derreter na carne de sol, aí você dá um interpessoais de sociabilidade entre os sujeitos, reforçando o ato de
toquezinho com mel de engenho[...]”. O simples encontro despojado criação e manutenção de memórias compartilhadas.
para um churrasco familiar pede sua presença, segundo relatado “- está Por meio das memórias registradas através da oralidade dos
presente porque quando se faz um churrasco a turma sempre gosta de entrevistados, podemos indicar sua presença em diferentes grupos
um queijinho coalho”. O alimento, independente de sua posição, sociais ao longo de suas vidas. Assim, por meios desses relatos,
carrega importância acentuada na sociabilidade de um grupo, seja nas dialogamos com aqueles integrantes que compõe esses coletivos, que
organizações que giram em torno dele, seja naquelas onde é encarado compartilham dessas memórias, construindo conexões entre dezenas de
como expressão tangível dos atos e intenções (10). novos sujeitos inseridos nesse mesmo contexto alimentar tradicional.
Através de suas lembranças com o coalho, muitas delas que remetem
aos primeiros anos de vida, que começamos a teorizar suas memórias. Referências:
Todos os entrevistados apresentam esse primeiro contato aos anos (1) CAVALCANTE, J. F. M.; BASTOS, M.S.R.; FONTENELE,
iniciais de suas vidas, um deles nos diz: “- Comia, do leite de vaca, meu M.A. Queijo Coalho artesanal no estado do Ceará. In: José Fernando
pai criava, agora ele não fazia queijo de coalho, mas eu comia o queijo Mourão Cavalcante (org.). O queijo coalho artesanal no nordeste do
de coalho desde aqui (aquela época)”; um outro conta, com certa Brasil. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil S.A, 2017, p. 35 -78.
nostalgia suas experiências: ”- [...]como meus avós eles tinham um (2) MENEZES, S.S.M. A força dos laços de proximidade na tradição
armazém, eles também produziam queijo, né. Eles vendiam. Então a e inovação no/do território sergipano das fabriquetas de queijo. Tese
gente chegava lá e cortava e pegava os pedaços de queijo e comia com (Doutorado em Geografia), Universidade Federal de Sergipe, 359
a farinha, era gostoso que só. O Queijo bom!”. Passagens deste tipo, f, São Cristóvão/SE, 2009.
sem dúvidas, estão presente nas memórias de diversos outros (3) Ibidem.(4) MINTZ, S.W. COMIDA E ANTROPOLOGIA: Uma
nordestinos que nasceram e cresceram nesta região. E é através dessas breve revisão. RBCS Vol. 16, nº 47, outubro, 2001
perspectivas individuais que tentamos entender como o coalho se (5) POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos,
caracteriza perante os grupos sociais. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
Essas memórias quando encaradas em um caráter individual, são lidas (6) MELCHIOR, M. Introdução. In: Myriam Melchior (Org.).
como um conjunto de impressões do mundo, assistidas como uma Gastronomia, Cultura e Memória: Cerâmicas, potes e vasilhames. Rio
reconstrução pessoal dos eventos vividos. Um “eu” singular que lembra de Janeiro: Folio Digital, 2018, p. 7-18.
e narra de forma idiossincrática os eventos que marcaram sua vida, (7) ALBERTI, V. Manual de História Oral. 2.ed. Rev e atual. Rio de
sejam voluntários ou involuntários (11). No âmbito coletivo, nossas Janeiro: Editora FGV, 2004, 236p.
memórias nunca são absolutamente nossas, já que estamos a todo (8) BAUER, M, W; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com texto,
momento sobre efeito de grupo sociais. Até mesmos quando “sós”, imagem e som: Um manual prático. 11.ed. Petrópolis/RJ: VOZES,
utilizamo-nos de signos, símbolos e definições identitárias construídas 2013, 516p.
socialmente (12). Nesse contexto, a memória individual é como um (9) PORTO, C. O pastoreio na formação do nordeste. Departamento
ponto de vista dentro da memória coletiva, que se altera dependendo do de Imprensa Nacional: Rio de Janeiro/RJ, 1959, 68p.
lugar que eu ocupo neste grupo e das relações que mantenho com o (10) ULISSES, I.B. História do queijo coalho do nordeste do Brasil.
mundo. In: José Fernando Mourão Cavalcante (org.). O queijo coalho
O indivíduo seria tido como um “armazém” vivo, detentor de artesanal no nordeste do Brasil. Fortaleza: Banco do Nordeste do
recordações, mas que somente poderia acessá-las ao assumir o ponto de Brasil S.A, 2017, p. 9-33.
vista do grupo, utilizando-se para isso dos chamados quadros sociais da (11) CÂNDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o
memória. Estes são, de maneira simplificada, recordações estáveis que caipira paulista e as transformações dos seus meios de vida. 6ª ed.
permitem aos indivíduos uma forma clara de recuperar o passado, onde Rio de Janeiro: Duas Cidades; 1982. 284p.
as memórias dos outros vem em ajuda das nossas servindo como (12) CANDAU, J. Mémoire collective et mémoire individuelle
suporte (13). “Podemos perfeitamente afirmar que o indivíduo recorda fonctionnent-elles selon le même modèle? Archives, Paris, n. 25,
quando assume o ponto de vista do grupo e que a memória deste se Abril, 2008.
manifesta e se realiza nas memórias individuais”. A linguagem seria o (13) HALBWACHS, M. A memória coletiva. Traduzido por Laurent
quadro mais estável e elementar de uma memória coletiva (14). Léon Schaffter, 2.ed. São Paulo: Editora revista dos tribunais LTDA,
Um indivíduo deverá flutuar simultaneamente entre diferentes quadros 1990, 189 p.
sociais em sua vida, visto que fará parte de diferentes comunidades ao (14) COLACRAI, P. Releyendo a Maurice Halbwachs. Una revisión
longo dela. Os quadros são próprios de cada grupo social (consolidados del concepto de memoria colectiva. La Trama De La Comun. 14, 63-
ou quase), cada um com seus próprios conjuntos de recordações; 73, 2010.
transitar entre esses grupos implica necessariamente transitar entre (15) HALBWACHS, M. Los marcos sociales de la memoria.
diferentes recordações. Traduzido por Manuel Antonio Baeza; Michel Mujica, Barcelona:
Nessa perspectiva, extrapolando os dados apresentados, arriscando Anthropos editorial, 2004, 431 p.
definições e pensamentos, proponho: O queijo coalho, encarado como
um bem de consumo ligado diretamente a tradicionalidade alimentar
nordestina, está potencialmente presente em grande parte das memórias
individuais das populações locais. Através de relatos orais, vistos
como o quadro mais estável e elementar de uma memória coletiva,
pudemos vislumbrar as lembranças de seis sujeitos, nordestinos, que ao
longo de suas vidas fizeram e fazem parte de diversos grupos sociais.
Desta forma, ao recordarem suas experiências para transmiti-las
oralmente, acessaram seus quadros memoriais, provavelmente vários
deles, ligando suas lembranças a dezenas de outras pessoas que fazem
426
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Introdução: “A tartaruga é nossa vaca”, afirmou certa vez o cacique da altura). Diferentemente do que acontece com a carne, os ovos de tracajá
aldeia Buridina, Raul Hãwakati. Ele fazia essa comparação pois, assim são apreciados tanto quanto o das tartarugas. De volta à aldeia, os
como os não-indígenas aproveitam praticamente tudo de um bovino animais são armazenados vivos no terreiro e são abatidos apenas no
abatido, até mesmo o miolo dos ossos da canela (mocotó), o bucho, o momento do preparo. Os espécimes pequenos e médios (até
rabo e o couro, o uso alimentar que os Karajá fazem das tartarugas aproximadamente 40cm) são assados para consumo, colocados inteiros
descreve muito bem o que se chama de “aproveitamento integral dos sobre o fogo. Depois de pronto, o casco é aberto e carne, gordura e
alimentos”: apenas a cabeça, os poucos e pequenos ossos do animal e o vísceras são consumidas. Pode parecer curioso, mas a cerne não
conteúdo de seu trato digestivo é descartado. Os Karajá são um povo necessariamente é a parte mais apreciada do animal. Algumas pessoas
indígena centro-brasileiro, falante de uma língua pertencente ao tronco preferem as vísceras, e a capa de gordura que se forma ao redor da base
Macro-Jê. Distribuídos em mais de 20 aldeias, sua população total é de da musculatura das patas é uma unanimidade. Dentre as vísceras, o
pouco mais de três mil pessoas. Habitantes imemoriais da calha do rio fígado é sem dúvida o mais valorizado. Algumas pessoas consomem
Araguaia, são exímios pescadores, e é do rio que vem parte considerável inclusive a vesícula bilear que se aloja em seu centro, cujo conteúdo
de sua dieta. Dentre uma diversidade de pescado consumido, a tartaruga líquido extremamente amargo (o fel) é dito ter efeito medicinal.
se destaca: ela é o alimento karajá por excelência. Os índios valorizam Pulmão, coração e pescoço também são consumidos. Nos animais
enormemente seu consumo e se ressentem quando passam algum tempo maiores, o trata digestivo é aberto, lavado cuidadosamente e consumido
sem quelônios para comer – a pesca do animal é sazonal. Esse hábito (o estômago tanto quanto o intestino). A carne, que se restringe à
alimentar se vincula muito fortemente à memória, em dois sentidos: estrutura das patas, é igualmente consumida. Trata-se de uma carne
primeiro, pois a tartaruga é um alimento consumido imemorialmente, branca de textura fibrosa. O aroma e o sabor conferidos por essa forma
que já figura, por exemplo, em muitas das histórias sobre os tempos de preparo, o assado na brasa, é inconfundível. Por isso, mesmo que os
antigos que os não-indígenas chamam comumente de “mitos”; segundo, Karajá tenham hoje acesso a fogões, eles nunca assam tartarugas no
pois sua pesca, preparação e consumo é movida pela memória recíproca forno.
entre os parentes, assim como alimenta essa memória. Nesse sentido, o Nutricionalmente, em análise feita da composição da carne de
consumo do quelônio é uma imagem forte da comensalidade entre o tartarugas-da-Amazônia fêmeas criadas em cativeiro, sua carne pode
grupo, proporcionando grandes refeições coletivas. A comensalidade, ser considerada magra pelo seu baixo valor calórico: cada 100g de carne
com efeito, é o que define a família (1): parentes, em um sentido, são fornece em média 89 kcal. Apresenta baixo teor de colesterol, em média
aqueles que comem juntos. 50 mg/100g de colesterol, o que corresponde a 17% do teor máximo
recomendo para ingesta diária (2,3). O tipo de alimentação da tartaruga-
Objetivos: O objetivo desse trabalho é, por meio de um diálogo entre da-Amazônia pode explicar esse teor baixo de colesterol (2). Quanto as
nutrição e antropologia, descrever o consumo da tartaruga entre os proteínas, 100g da carne de tartaruga pode suprir aproximadamente
índios Karajá em termos de sua pesca, espécies e partes consumidas, 34% das necessidades diárias desse macronutriente em uma dieta de
modos de preparo e propriedades nutricionais, relacionando tal hábito 2.000 kcal (2,3). É uma carne rica em lipídeos e, embora seja abundante
alimentar à memória e a comensalidade por meio das refeições coletivas em ácidos graxos saturados, também apresenta ácidos graxos
que propicia. monoinsaturados e poli-insaturados - em especial o ômega 9; desse
grupo o mais encontrado é o ácido graxo oleico, muito conhecido como
Material e métodos: Esse trabalho se baseia em uma pesquisa empírica uma gordura “boa” por ajudar a diminuir os níveis no organismo da
entre os índios Karajá realizada entre os anos de 2008 e 2016. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) ou “colesterol ruim”, que é a
metodologia utilizada foi a etnografia, se valendo de anotações em proteína que transporta o colesterol para o fígado (2). O que chama
caderno de campo e registro fotográfico. O diálogo interdisciplinar mais a atenção na composição nutricional da carne da tartaruga-da-
entre nutrição e antropologia foi elaborado a partir do cruzamento de Amazônia é a diversidade de minerais (manganês, potássio, sódio,
referências teóricas das duas áreas. zinco, cobre, cobalto, fero, magnésio, cálcio, fosforo e sódio) e seus
teores, principalmente quando comparados com valores encontrados
Resultados e discussão: A pesca da tartaruga é atividade em outras carnes (carne bovina, de frango e avestruz), podendo ser
eminentemente masculina. Os homens saem em expedições que podem considerada um excelente fonte de minerais. Isso se deve ao fato de os
demorar dias e retornam com dezenas de quelônios de tamanhos minerais serem absorvidos tanto pela dieta quanto pela água
variados em suas canoas. As principais iscas utilizadas são a mandioca circundante (2). O potássio é o mineral encontrado com teor mais
e o palmito de tucum (uma espécie de palmácea). Enquanto o palmito é elevado: uma porção de 100g de carne tem 1.189 mg desse mineral,
extraído dos tucunzais à margem do rio, a mandioca provém das roças correspondendo a 25% da ingesta diária requerida (2, 3). O fósforo foi
familiares. Hoje, os Karajá não têm mais um hábito tão forte de plantar o segundo mineral mais encontrado, com teor médio de 530 mg em
como no passado. Mas em todas as aldeias há sempre roças de 100g da carne da tartaruga-da-Amazônia, fornecendo ao organismo
mandioca, pequenas ou grandes, e a pesca da tartaruga é um motivo 75% da ingesta diária requerida (2,3). O terceiro mineral mais
importante para isso. Além da isca, o tubérculo é também utilizado para encontrado foi o cálcio. Em uma porção de 100g são encontrados 189
fazer a “puba” (resultado da fermentação da mandioca submersa em mg de cálcio, para 7 mg na carne bovina, 12 mg na carne de frango e 8
água por alguns dias) que, despejada na água, atrai os quelônios. Nos mg na carne de avestruz. Uma porção de 100g de carne de tartaruga-da-
mesmos locais de pesca, captura-se duas espécies: o tracajá Amazônia supre em até 24% da ingesta diária de cálcio requerida (2,3).
(podocnemis unifilis), cujo consumo não é tão apreciado, e a tartaruga Mesmo sendo uma carne branca, foi encontrado um teor elevado de
(podocnemis expansa, conhecida também como tartaruga-da- ferro, 6 mg de ferro em uma porção de 100 g, suprindo 43% da ingestão
Amazônia). Também é possível capturar espécimes de tamanhos diária requerida. O teor de zinco encontrado (5,7 mg/100g) corresponde
variados, desde animais pequenos com dois ou três anos de idade até as a 37% da ingestão diária recomendada. O valor de cobre encontrado
gigantescas as fêmeas velhas de tartaruga que podem atingir 90 cm de (0,56 mg/100g) supre cerca de 15% da necessidade diária desse
comprimento e chegar a pesar 75kg – que os Karajá chamam de mineral. Os valores encontrados de magnésio, podem suprir até 22%
“viração”. Para ambas as espécies, os machos são pouco apreciados das necessidades diárias. O sódio apresentou teores mais elevados
para consumo. Além da carne do animal, seus ovos também são quando comparado a carne bovina, de frango e avestruz (370mg/100g),
consumidos, cozidos ou como “omelete” (os ovos são batidos em um equivalendo a 15% da ingestão diária (2).
recipiente e levados à uma frigideira ou panela sem adição de nenhum O fígado que é uma parte muito apreciada. Em análise feita da sua
outro ingrediente, resultando em preparo aerado com cerca de 3 cm de composição centesimal em tartarugas-da-Amazônia fêmeas criadas em
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
cativeiro, o fígado pode ser considerado uma boa fonte de proteínas dedica a estudar os povos indígenas tem apontado ao longo de décadas
(com bons teores de aminoácidos essenciais e não essenciais), lipídios de estudo, o parentesco indígena não se define por um vínculo biológico
e, assim como a carne, também possui um teor baixo de colesterol e dado, mas pela construção continuada de relações apropriadas entre
também ser considerada uma boa fonte de minerais (manganês, cálcio, pessoas por meio da convivência cotidiana, no seio da qual a partilha
magnésio, fósforo, cobre, ferro, zinco, sódio e potássio). Porém, de alimentos e a memória são elementos fundamentais (5, 6). Entre os
energeticamente o fígado é mais calórico, uma porção de 100g tem 152 Karajá, o trabalho não é pensado como algo individual. Pessoas
kcal (4) solteiras não tem obrigação de trabalhar, pois o trabalho é algo que um
A tartaruga assada é a forma mais comum de consumo. Mas os cônjuge faz para o outro. É essa memória recíproca que movimenta as
pratos mais apreciados são aqueles feitos com as “virações”, as imensas ações cotidianas. Os homens saem para pescar porque se lembram de
fêmeas. O animal é aberto e descarnado, e o casco é utilizado para a suas esposas, filhos e netos, que desejam comer tartaruga. E as grandes
preparação de dois pratos, o brèti e o bòròrò. O brèti (palavra que na refeições coletivas restarão depois como memória daquelas pessoas
língua karajá significa “peito”) é feito na parte de baixo do casco, a com as quais se come junto como seus parentes. Mais ainda, a pesca da
porção reta que protege o “peito” do animal. O caso é colocado sobre a tartaruga está intimamente ligada à memória do parentesco enraizada
brasa, e sobre ele se coloca pedaços de carne e de gordura. Adiciona-se no território. Um homem aprende a pescar acompanhando seu pai ou
farinha de mandioca aos poucos, mexe-se de tempos em tempos. O caso avô: é assim que ele desenvolve a técnica de captura, mas também que
é rico em óleo (4) que, liberado pelo calor, ocasiona um processo de conhece os bons pontos de pescaria, que aprende a visualizar os animais
fritura. O resultado é uma espécie de farofa liguenta. O bòròrò (termo na água (que boiam apenas com a cabeça para fora), a identificar seu
que deriva da palavra para “costas”, brò) é um pirão feito na parte tamanho e a escolher onde posicionar sua canoa para a pescaria. A pesca
côncava do casco, as “costas” do animal. O prepara é igualmente feito da tartaruga, assim, produz e mantém relações entre pessoas por meio
na brasa. No casco as vísceras picadas (também se coloca pedaços de de sua movimentação pelo rio, resultando em uma memória enraizada
carne, mas em menor quantidade) são cozidas no sangue do animal na terra (7). Onde fica tal lugar? Logo depois de onde eu e meu pai
diluído em água. A mandioca que antes servira de isca, retorna agora costumamos pescar. Onde você foi pescar? No mesmo lugar onde
para o preparo do prato. Ao longo do cozimento, adiciona-se aos poucos fulano deixou escapar aquela tartaruga enorme. O território que se
massa de mandioca cozida (ou farinha de mandioca puba, conhecida em conhece e se vive é marcado pela memória de pessoas e eventos; o
algumas regiões como “farinha d’água”) e mexe-se constantemente. O território, com efeito, é produzido por essas pessoas, eventos e
resultado é um pirão espesso de coloração cinza-esverdeado, altamente memória. Tudo isso está condensado nas refeições coletivas de
energético. Assim como no caso da tartaruga assada inteira e do brèti, tartaruga. Em torno dos cascos, dos animais ainda vivos colocados no
o aroma e o sabor do bòròrò é único – é muito difícil aproximá-lo a chão, sendo preparados ou já com os pratos servidos, os homens contam
outro prato, como medida de comparação. Uma única tartaruga grande como foi a pescaria, e as pessoas relembram histórias de outras
pode gerar aproximadamente 10 kg de carne (lembrando que essa se pescarias, de animais de tamanho excepcional, de coisas curiosas que
concentra nas patas). Assim, além de um brèti e um bòròrò, a carne de aconteceram no caminho, e de outros momentos em que estavam como
um animal de grande corte é consumida separadamente, cozida. ali, reunidos e comendo direto do casco.
Algumas pessoas, sobretudo não-indígenas ribeirinhos ou moradores de
cidades interioranas próximas às aldeias (nos estados de Goiás, Mato Conclusões: O consumo da tartaruga é um hábito alimentar karajá que
Grosso e Tocantins e Pará, que circundam o território karajá, essas data de tempos imemoriais. Muito além do próprio ato de comer,
pessoas também tem o hábito de consumir tartaruga), afirmam que a entretanto, seu consumo é inundado pela memória que os parentes
carne da tartaruga se aproxima em sabor à da galinha. No entanto, isso guardam uns dos outros: desde o aprendizado de como e onde pescar
se deve principalmente à suas formas de preparo, nas quais utilizam os até o convívio coletivo que uma refeição propicia, passando pelas
mesmos condimentos que quando fazem uma galinhada, por exemplo. memórias sobre lugares, pessoas e outras ocasiões em que se reuniram
Os Karajá cozinham a carne da tartaruga em água e adicionam apenas para comer direto do casco, o consumo da tartaruga envolve uma série
sal. Nesse preparo, a particularidade do sabor não é tão marcante quanto de elementos que constituem seu modo de vida particular, à beira do rio
naqueles feitos no casco, mas a textura fibrosa da carne é inconfundível. Araguaia, e trabalha no sentido de produzir e manter as relações de
Hoje, depois de o animal consumido, os cascos podem ser limpos e parentesco entre as pessoas. Os Karajá costumam se definir como
utilizados para a produção de artesanato, aplicando-se padrões gráficos “comedores de tartaruga”, e esperamos que o texto tenha conseguido
karajá com tinta sobre a superfície óssea. Antigamente, entretanto, até mostrar que essa é uma afirmação profunda. Nada do que dissemos aqui
mesmo o casco era redirecionado para um uso alimentar. A pesca da deve ser tomado como um estímulo ao consumo do animal, cuja pesca
tartaruga é sazonal. Durante a seca (aproximadamente de abril a é proibida. Nosso intuito foi o de registar um hábito alimentar
outubro), os animais ficam preferencialmente no leito principal do rio, tradicional de um povo indígena, mostrando como ele é muito mais que
no pé dos brancos de areia que caracterizam a paisagem do Araguaia. E uma simples opção alimentar, mas se conecta a um modo de vida
aí é possível pesca-los. Na cheia (aproximadamente de novembro a particular em um território ancestral. Os Karajá têm tido muitos
março), por outro lado, as tartarugas “somem”, como dizem os Karajá, problemas com a fiscalização ambiental ao longo dos anos em função
entrando para os lagos e baixios alagados onde há fartura de alimento, da pesca da tartaruga. Mas enquanto o trabalho de proteção dessa
e não se consegue captura-las. Durante o período de fartura de espécie ameaçada deve continuar, é preciso respeitar a particularidade
quelônios, os casos eram amontados em algum lugar do quintal. dos povos indígenas e seus modos de viver em suas terras; e, para os
Quando a cheia do rio trazia escassez de tartarugas, costumava-se Karajá, comer tartaruga é uma parte importante disso.
quebrar os cascos acumulados e levá-los ao fogo para extrair o óleo que
contém (4). Esse óleo era então misturado à massa de mandioca para a Referências
preparação do que se chama de “grolado”, armazenado em formato de 1. MOREIRA, S. A. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos
bolas. O grolado era consumido geralmente como acompanhamento e antropológicos. Cienc. e Cult. 62(4), 23-26, 2010.
para peixes assados ou cozidos, retirando-se manualmente porções do 2. GASPAR, A.; SILVA, T. J. P. Composição nutricional da carne da
bolo. tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em cativeiro em
O dia seguinte a uma pescaria gira em torno do consumo do animal. idade de abate. Rev. Inst. Adolfo Lutz. 68(3), 419-425, 2009.
Começa-se ainda cedo descarnando uma fêmea grande. Próximo da 3. PADOVANI, Renata Maria et al, Dietary reference intakes:
hora do almoço, pequenas tartarugas são assadas e é preparado o brèti, Aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr. 19(6),
que é mais rápido de fazer. Enquanto isso, o bòròrò começa a ser 741-760, 2006.
preparado, ficando pronto uma ou duas horas depois. Toda essa fartura 4. SCARLATO, R. C. Composição centesimal do casco e fígado da
de alimento convida as pessoas a um cochilo depois da refeição. À Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em cativeiro e
noite, a carne é cozida para o jantar. Todas essas ocasiões propiciam em idade de abate. 92f. Dissertação (mestrado em Ciência e Tecnologia
refeições coletivas. Assim como o brèti e o bòròrò, as tartarugas de Alimentos) – Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do
assadas inteiras são abertas e servidas no próprio casco do animal. E é Rio de Janeiro, Seropédica, 2006.
assim, direto do casco, que as tartarugas são comidas. Os Karajá se 5. COELHO DE SOUZA, M. S. Parentes de Sangue: Incesto,
juntam ao redor do casco e comem juntos, com a mão (no caso da substância e relação no pensamento Timbira. Mana. (10)1, 25-60, 2004.
tartaruga assada), com garfo (para o brèti) ou colher (para o bòròrò), 6. OVERING, J. O elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida
alternando-se para pegar uma porção. O consumo da tartaruga, assim, é social em uma comunidade amazônica. Mana. 5(1), 81-106, 1999. pp.
uma imagem forte da comensalidade entre os Karajá. É uma ocasião 81-106.
que reúne as pessoas em torno do alimento e propicia momentos de 7. GOW, P. Land, people, and paper in Western Amazonia. In. Erick
convívio íntimo e descontraído. A comida que se come junto, e os dias Hirsch; Michael O’Hanlon (Org.). The anthropology of landscape.
inteiros que se dispensam em torno disso, formam parte das memórias Perspectives on place and space. Oxford: Claredon Press, 1997. pp. 43-
que as pessoas nutrem de seus parentes. Como a antropologia que se 46
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Mestrado em Ciências Sociais e Humanas, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, libia_amaral@yahoo.com
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rachel de Queiroz no livro O quinze narra sobre o cotidiano dos e caatinga. Esse amor vem da esperança, da possibilidade de se colher
Campos. A protagonista Conceição ajuda os grupos de senhoras da melancias suculentas em um novembro, deliciar-se com elas, vem dos
sociedade que prestam socorros aos flagelados da seca, ela sente o milagres (12). Em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa disse:
cheiro dos Campos, que a acompanha, mesmo quando sai de lá (8). “Quem mói no aspro, não fantaseia”, o sertanejo é assim, sem
Em 1932, Fortaleza pretendia-se uma cidade do futuro, moderna, fantasias, lidando na aspereza do cotidiano (15).
inaugurou seu primeiro arranha-céu. Fortaleza está apostando nos
negócios turísticos e no progresso. Os intelectuais de um movimento
fortalezense conhecido por Padaria Espiritual denunciavam que por CONCLUSÃO
trás do orgulho de suas ruas de arquitetura perfeita, do crescimento
econômico e demográfico, a cidade queria mesmo era uma Entendemos que um olhar sobre os campos de concentração das secas,
higienização, varrer de suas ruas os indesejáveis, os sujos, os no Ceará serve para nos lembrar das atrocidades que podem ser
alienados (9). Nova grande seca nesse ano, e novamente, a pé, cometidas, não do outro lado dos oceanos, mas, em nossos quintais,
seguindo as estradas de ferro, milhares de retirantes rumam à capital. por pessoas de nossa própria comunidade. Quando a pobreza e a
Os Campos de Concentração, nesse ano são implantados de forma miséria incomodam e os que estão no poder não querem ter sua visão
mais violenta, contendo os retirantes o mais longe possível da capital, turvada pela fealdade da realidade, os genocídios acontecem.
totalizando sete campos ao todo, em seis cidades diferentes. Em Em nome de uma saúde coletiva, ou de falso assistencialismo milhares
Fortaleza, são dois Campos, um no Alagadiço e outro no Urubu, atual de pessoas sofreram sede, fome e morte nos sete Campos instalados
bairro do Pirambu. No Relatório apresentado ao Presidente da durante a seca de 1932.
República pelo Interventor Federal, Cap. Carneiro de Mendonça, O sertanejo, acostumado com a escassez, com a pouca comida, com o
sobre o período de 22/09/1931 a 05/09/1934, lê-se que foram criadas, enfrentamento da falta d’água e do eterno pedir aos céus, viu-se em
sob a fiscalização do Departamento das Secas, sete concentrações: condições ainda mais degradantes, preso compulsoriamente, pelo
Burity, no Município do Crato; Quixeramobim, no Município do único motivo de ir em busca de sobrevivência.
mesmo nome; Patu, no Município de Senador Pompeu; Cariús, no A partir dessas memórias, tentou-se encontrar sentido para
Município de São Matheus; Ipú, no município de mesmo nome; compreender a alimentação sertaneja e a relação do homem nordestino
Urubu e Otávio Bonfim, no Município de Fortaleza (7) . atual com a comida, percebeu-se que a comida cearense tem a marca
São muitos os registros dessa época, fotos, matérias de jornal, da frugalidade e da fome em contraponto com sua riqueza, diversidade
menções em obras, todavia, percebe-se que há uma tentativa de de sabores e criatividade, qualidade, essa última, capaz de transformar
esquecimento, de não- pertencimento à memória coletiva cearense. No e mostrar riqueza cultural, desafiando um preconceito com a falsa
Crato, onde o Campo de Concentração recebeu por volta de 16 mil falta de uma comida originalmente cearense.
retirantes e em Cariús quase 29 mil, dados de um relatório da
Universidade Regional do Cariri, não se fala sobre o assunto, as REFERÊNCIAS
cidades não querem acreditar que seus antepassados foram coniventes
com tamanha atrocidade. Há a disputa de memórias, e memórias 1. NEVES, F. C. Curral dos Bárbaros: campos de concentração no
oficiais e memórias subterrâneas, que a memória oficial quer esquecer Ceará(1915-1932). Rev. Bras. de Hist. v.15, nº 29, p 93-122, São
(10). No município de Senador Pompeu, entretanto, a memória do Paulo, 1995
Campo do Patu, encontra-se viva. Há um conjunto arquitetônico, 2. TEÓFILO, R. A seca de 1915.Fortaleza: Imprensa Universitária
formado por casario de uma Vila Operária, 12 casarões e 3 casas de UFC, 1980.
pólvora. Essas ruínas resistem até os dias de hoje e passam por 3. GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de
processo de tombamento. Além disso, é que se formou um culto às um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das
“almas penadas da barragem”, dos milhares de mortos que eram Letras, 1987.p.13
sepultados em valas comuns, próximo à barragem. Todos os anos, há 4. SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG,
uma festividade religiosa e uma procissão ao cemitério construído 2010
simbolicamente sobre o local que se costumava enterrar os mortos e 5. BRITO, L. A fome, retrato dos horrores das secas e migrações
pagamento de promessas. cearenses no final do século XIX. Rev. Estação Literária,vol. 10B, p.
O artista plástico Cândido Portinari pintou diversos quadros de 111-125, Londrina, 2013.
Retirantes, sua obra foi marcada pela denúncia da fome, 6. TEÓFILO, R. A seca de 1915.Fortaleza: Imprensa Universitária
pictoricamente, ele fala sobre o oprimido, o outro, para usar o conceito UFC, 1980.
de Boaventura de Sousa Santos, o outro, ou aquele que está do outro 7. RIOS, K. S. Isolamento e poder- Fortaleza e os campos de
lado da linha, o não-existente (11). Note-se que, mesmo ocorrendo o concentração na seca de 1932. Fortaleza: Imprensa Universitária UFC,
fenômeno da seca em vários locais do Nordeste brasileiro, apenas no 2014
Ceará ocorreu a instituição dos Campos de Concentração. 8. QUEIROZ, R. O quinze.93ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
Sobre o que se comia nos Campos de Concentração, a historiadora 2012.
Kênia Rios apresenta as memórias do sr. Francisco, que aos 11 anos 9. CARDOSO, G. P. Padaria Espiritual- Biscoito fino e travoso. 2ªed.
de idade, viveu no Campo de Ipu e relatou que a cozinha parecia um Fortaleza: Museu do Ceará, 2006
inferno: “A cozinha parecia o inferno. Pra acabar de esculhambar os 10. POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Hist.,
homens tinham um avental de couro vermelho. Aqueles homens tudo Rio de Janeiro, vol.2, n.3, 1989, p.3-15.
mexendo os tachos, as comidas...Era um fogo danado, aqueles homens 11. SANTOS, B.S.S; MENESES, M.P.(Org.) Epistemologias do sul.
brigavam com os pobres que chegavam e tinha uma cerca para evitar a Coimbra: Ed. Almedina, 2009.
invasão” (7). 12. QUEIROZ, R. O não me deixes: suas histórias e sua cozinha. 3.ed.
O sertanejo é acostumado à frugalidade, o comer no sertão nordestino Rio de janeiro: José Olympio, 2010.
é um binômio constante com a fome e com a falta. Rachel de Queiroz, 13. CASCUDO, L.C. Os santos da alimentação brasileira.
dizia que “o nordestino é um sóbrio” fazendo alusão à frase de In:CASCUDO, L.C. Antologia da alimentação no Brasil. 4ªed. São
Euclides da Cunha “o sertanejo é um forte”. A sobriedade da Paulo: Global, 2011.
alimentação sertaneja se refere às parcas porções de proteína diária, a 14. MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: Senac,
base alimentar de feijão e farinha de mandioca, algum café e rapadura 2008.
(12). 15. ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. 21ª ed. Rio de Janeiro: Nova
A fome era combatida com rezas, em cada casa sertaneja se encontra Fronteira, 2015
um Santo Onofre em meio à farinha para garantir abundância ou um
São Sebastião, colado à soleira da cozinha para evitar que a “Fome”
entrasse, ou a “Velha do Chapéu”, ou o “Bernardo”, nomes dados à
personificação da fome (13). Mesmo com a escassez, há festejos e
alegrias, uma carne de criação e galinhas cheias para dias de festa,
castanhas confitadas no açúcar e aluá para beber, não se compara ao
inferno das cozinhas dos campos de concentração. Montanari diz que,
através da fome o homem consegue criar prazer na falta e valorizar a
abundância, aprende a regrar e racionalizar a alimentação (14).
E, por que tanto carinho a essas terras tão ásperas? Que não há
encantos, nem jardins, além de zínias e manjericões, que as ovelhas
têm um pelo curto vermelho como os de cachorro? Onde só há sertão
430
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
431
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS:
(1,6) COUTINHO, Andrea L. D. Farinhada e identidade sertaneja:
estudo de caso da produção de farinha de mandioca na comunidade
de Lagoa do Saco -Monte Santo/BA. 2014.
432
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
E-mail: rafaelrochafarias@gmail.com
434
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
435
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO CONCLUSÕES
A formiga tanajura ou içá, como era assim conhecida Podemos afirmar que a formiga Tanajura e seu valor
pelas tribos indígenas, trazem um valor simbólico de história e simbólico na história e cultura da serra da Ibiapaba traz um grande
cultura aos habitantes da Serra da Ibiapaba no interior do Ceará. significado e importância às ações relacionadas ao comércio,
Diante das atitudes de preservação com a formiga tanajura, esse consumo, e extração. Logo, concluímos que o encontro do festival
trabalho apresenta uma abordagem com (2), sobre a história e da Tanajura realizado na cidade de Tianguá, apresenta valorização e
manifestações culturais ocorridas na serra da Ibiapaba na cidade de conhecimento da formiga Tanajura e preservação da cultura local.
Tianguá, zona norte do estado do Ceará, conhecido como “O
festival da tanajura”. Esse trabalho apresenta como objetivo abordar REFERÊNCIAS
as práticas e cultura da população serrana com a formiga tanajura e
seu valor simbólico para região, dando visibilidade a cadeia (1) CONTRERAS, Jesús. Alimentação, sociedade e cultura. /
produtiva da tanajura. Partindo desse pressuposto, foi possível Jesús Contreras e Mabel Gracia; tradução de Mayra Fonseca e
dialogar com os autores (1 e 2). Barbara Atie Guidalli. – Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011, p.
147- 157.
MATERIAL E MÉTODOS
(2) MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo Ed.
O método de pesquisa que orientou o desenvolvimento SENAC, 2008. 15 p.
deste trabalho, trata- se de uma pesquisa exploratória e
bibliográfica, realizada através de depoimentos abertos com
moradores da região, objetivando- se compreender o sentimento
cultural das práticas de alimentação da formiga tanajura. Visto que o
estudo focal se deteve sobre a formiga Tanajura na Serra da
Ibiapaba, um garimpar em meio a vulnerabilidade das práticas
existentes pelos índios desde o período colonial até o tempo
presente, se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua
vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas
crenças e diversas formas de vida social (1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
436
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
437
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
FIGURA 4
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
438
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Alessandra Santos dos Santos 1Marlus Regis Alvarenga 2 Pedro Henrique Gomes 3
1
Centro Universitário de Brasília - UniCEUB
2
Mestrando em Literatura e outras Artes na Universidade de Brasília. Gastrólogo pela instituição
UniCeub – Centro Universitário de Brasília.
3
Gastrólogo pela instituição UniCeub – Centro Universitário de Brasília.
INTRODUÇÃO
Essa pesquisa parte da revisão imagética extraída sociais, inclusivas e de gênero, acompanhando as artes
do Cinema Novo brasileiro, período marcado pela forte contemporâneas, analisando as relações
crítica à desigualdade social, se contrapondo aos movimentos gastrocinematográficas dentro das traduções coletivas (4),
classistas e o racismo proeminente nos anos 1960 e 1970. visando os processos conjuntos de adaptação ao cinema e na
Esse movimento tem início em 1950, destaca o diretor relação do fílmico com o gustativo.
Glauber Rocha (1939 – 1981) no ramo cinematográfico
internacionalmente. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A forma com que as montagens cinematográficas
influenciam no percurso e visão cultural à frente da sétima O cinema é quase sempre associado ao
arte, feita de forma coletiva e imagética, visando encontrar e entretenimento, salvo documentários e séries jornalísticas,
resgatar na sensibilidade da imagem na tela inspiração para a que possuem um grande enfoque específico. Quando a
cozinha artística nacional, torneiam uma política de arte discussão no cinema é reflexiva, filosófica ou de marcante
escassa no Brasil, qual atualmente tem buscado novas fontes alcunha social, a própria divulgação da obra se torna
de observação, inclusive observando a função política, complicada, como vemos a exemplo dos recentes Berenice
cultural e expansiva das obras. (1) Procura e Paraíso Perdido com temáticas de diversidade e
Assim, ao assistirmos os filmes sob essa luz, violência.
notamos que o processo de biologizar o ato de comer, em A cozinha, arcaica, ancestral, que nos conecta a
uma geração líquida (2) traduz a solidez das questões família em Lavoura Arcaica e sua escassez, mirada em
humanas em gestos de troca e solidão, sem permear apego ao Central do Brasil, por exemplo, traduz um elo não só com o
outro off-line. passado familiar, mas também com nosso eu primitivo. Sendo
A delimitação do tema comida no cinema assim, os mais gastroimagéticos Estômago e Nina ganham o
brasileiro se deu pelo enfrentamento que as relações entre o mesmo espaço do cinema de cabeceira: a reflexão de dentro
cinema cultural nacional e a forma com que os personagens e das periferias do país. Ver um filme confortável para a mente
situações confrontam seus espaços sociais. Na obra Comida e ao mesmo tempo militante como Hoje eu quero voltar
como Cultura, as escolhas do que se vai comer não se dão sozinho que lembra a infância, ou que traz o choro ansiado é
apenas pela fome e pela demanda alimentar. Há, de fato, tão importante quanto relembrar o sabor do último jantar em
questões culturais enraizadas nesse eixo que tange desde o família, ou do vinho pós-sexo. É essa relação de desejo táctil
querer comer até o escolher comer. (3) que Aquarius conecta as duas formas de arte como forma de
A pesquisa pauta sobre a forma com que os coito, interligado pelo elo cultural e a necessidade humana de
alimentos, na tela foram retratados, sensibilizados, existir.
mencionados e objetificados, Buscando experienciar a visão gastrosocial dentro
das obras propostas, é urgente que há grande importância na
MATERIAL E MÉTODOS ciência dos signos, dos símbolos e códigos por trás da
imagem. (5)
A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica
em obras teóricas de autores pré cinema e de técnicas
gastronômicas, e análise dos filmes selecionados dentro do CONCLUSÃO
recorte pós Cinema Novo Nacional, que possibilitará a
conexão entre obra e a comida. A técnica de entrevistas e Assim, chegamos a seguinte conclusão: é
dados jornalísticos também serviram para o arcabouço necessário elucidar a relação mais aproximada do contexto
teórico, realizando a análise de imagens por meio da social dos filmes, sua paleta de cores, o espectro de formas
semiótica. geométricas e a sensorialidade que as imagens transmutam,
Revisando a cinematografia nacional no recorte na tela, da tela, para o espectador coletivo. Assim, clareando
escolhido e focando na discursão do elo gastronômico, a proposta de discutir os traços da cozinha nacional no
ampliamos o que antes era somente imagem de cinema e cinema brasileiro, notamos que é recorrente o tema da
traduzimos na possibilidade de se reconstruir como um menu comida como foco da construção da poética e da narrativa ao
essas referências, analisando a poética da comida em cena, redor da imagem.
feita para ser encenada. Comida como poesia. Cinema como Assim, é possível perceber que é urgente utilizar a
gastropoética. relação imagem-sociedade-alimento na construção do menu-
Os filmes escolhidos dentro dessa amostra são experiência; referir ao campo de cores e formas que os filmes
adaptação cinematográfica da Central do Brasil, de Walter perpassam por meio das montagens; usar técnicas de alta
Salles, 1998, até Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, 2016, gastronomia para executar o menu, visando a interação
Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, 2001; Nina, cinêmica do agente produtor da comida em cena, como um
Heitor Dhalia, 2004; Estômago, de Marcos Jorge, 2008 e grande menu montado em tela.
Hoje eu quero voltar sozinho, Daniel Ribeiro, 2014. E para transpor o fílmico aliado ao sabor após a
A visão fílmico-gastronômica em cenários análise realizada, eaborou-se um menu de seis etapas para
nacionais diferentes refletirá sobre as formações culturais, fundamentar a leitura das obras cinêmicas, de forma estética.
O primeiro foi uma entrada com pão e manteiga amarga de
439
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERENCIAS
440
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fonte: Autoras.
Fonte: Autoras. No Brasil pouco se conhece sobre chá e tisana. Há um erro
conceitual comum pelo desconhecimento da segunda palavra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o dicionário Houaiss de língua portuguesa
o termo “tisana” é um substantivo feminino que significa: “Bebida,
Segundo Cristiane Sato (2), o ideograma abaixo (Figura geralmente usada como medicamento, obtida por maceração, infusão
02) é lido em mandarim e japonês como “tchá” e no dialeto amoy, ou decocção (3).”
falado na região de Fujian na China - uma das principais regiões As tisanas podem ser de folhas (boldo, hortelã, erva-
produtoras de chá do mundo – como “tê”. Ele representa o chá, isto é, cidreira, erva-doce), flores (hibisco, laranjeira), cascas (canela.
a bebida resultante da infusão das folhas da Camellia sinensis. rooibos) ou de frutos (maçã, limão). Para cada uma delas convém
identificar o processo a ser utilizado:
Figura 02 – Ideograma que representa a palavra chá.
• Infusão – utilizado quando imergimos posteriormente as
folhas ou flores em um líquido fervente ou aquecido durante
um tempo determinado;
• Maceração – consiste em extrair a essência da erva por
meio de ação mecânica, geralmente com o uso de um pilão.
Fonte: Cristiane Sato (2). Pode ser utilizado um pouco de líquido para facilitar no
processo de extração;
Por meio de carregamentos de navios vindos da Ásia, o chá
chegou à Europa ocidental. Dependendo do dialeto falado nos portos
441
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
• Decocção – utilizado quando líquido entra em ebulição era primitivamente de ferro. Demolida, em seu lugar foi
com os caules ou frutos. construído o atual Viaduto do Chá, referência central da
cidade.”
Para o caso do chá (Camellia sinensis), o único processo
utilizado é a infusão que varia o tempo de acordo com o tratamento Em 1935 a história do chá com o Brasil se intensificou com
dado às folhas para se tornarem branco, verde, preto, oolong ou pu- Torazo Okamoto, imigrante japonês que foi ao Sri Lanka (antigo
erh. Ceilão), importar sementes de chá. Como na época havia fiscalização
O Chá é uma bebida consumida na China desde 2750a.C. nos navios e o transporte de sementes era proibido, Torazo escondeu
Diz uma antiga lenda chinesa que imperador Shennong, o “lavrador diversas sementes de chá dentro de miolos de pães. Surgem assim as
divino”, estava certa vez sentado à sombra de uma árvore nativa fazendas de chá na cidade de Registro, interior de São Paulo..
fervendo água para beber, quando o vento fez cair algumas folhas da
árvore dentro do seu pote, conferindo à água um sabor agradável e CONCLUSÕES:
revigorante, surge então o chá. Posteriormente, viria a descobrir as
propriedades medicinais do chá e estimular a bebida para toda O termo chá deveria ser utilizado apenas para a infusão de
população. folhas da Camellia sinensis, sendo também inadequado chamar as
É nesse contexto que Lu Yu, órfão adotado por um monge demais bebidas de infusão, uma vez que esse é apenas um processo de
budista, passa a estudar cada detalhe da planta e se especializa no preparação da bebida, que serve tanto para chás, quanto para tisanas.
preparo do chá ideal. Depois de anos de estudo, escreve o livro que Embora seja constantemente associado ao uso medicinal, o
seria um marco para a história do chá: o “Cha jing” (5), conhecido chá também tem sua importância no contexto social, sendo motivo de
também como “O clássico do chá”. encontro entre as pessoas, desde o período Vitoriano.
Anos depois monges budistas japoneses que estudavam em No Brasil existem relatos de consumo do chá pela corte D.
num templo na China, logo perceberam que a bebida lhes trazia um João VI e das tentativas, algumas delas frustradas, de plantação da
estado de vigília durante a meditação e aprenderam rápido o cultivo da Camellia sinensis no Rio de Janeiro e em São Paulo.
árvore do chá, levando para o Japão a prática de beber chá (6)(7). A vinda de japoneses para o interior de São Paulo fez com
As folhas da Camellia sinensis se tornaram populares, que fosse retomada a plantação e a manufatura do chá para consumo
como especiarias, durante as grandes navegações. Por meio de navios, interno e externo até os dias atuais.
segue de Macau, na Ásia, até Portugal, no antigo continente (8).
Não demorou muito até que descobrissem outras
variedades da mesma árvore (Tabela 02) em lugares como a Índia e o
Camboja. REFERÊNCIAS:
Tabela 02 – Detalhes de algumas Camellia sinensis existentes.
(1) DATTNER, C. Chá: Rituais e Benefícios. Ed. Senac. São Paulo,
Árvore de Chá 2011.
(2) SATO, Cristiana. Chá. Disponível em:
Nome científico Localização Altura <www.culturajaponesa.com.br>. Acesso em: 27 de fev. 2020.
(3) HOUASS, ANTÔNIO. Minidicionário Houass. 4 ed. Rio de
Camellia sinensis sinensis Sul e Leste da China 1-3m Janeiro: Objetiva, 2010.
(4) Entrevista com Milton Amaya, da Amaya Chá, em Registro-SP em
Camellia sinensis assamica Assam-Índia 10-12m 18 de março de 2016.
(5) YU, Lu. Cha jing. EBook #23949. Disponível em <
Camellia sinensis cambodi Camboja 15-18m http://www.gutenberg.org/cache/epub/23949/pg23949-images.html>
Acesso em: 07/07/2020.
Fonte: Autoras. (6) GRACINDO, I. Viagem ao mundo do Chá: Tao te cha. Ed. Casa
da Palavra. Rio de Janeiro, 2013.
De acordo com Abreu e Melo (9), foi no século XVII com (7) KAKUZO, Okakura. The book of the. 2 ed. Canada: Benjamin
o casamento da infanta portuguesa Catarina de Bragança com o rei da Press, 2013.
Grã-Bretanha Carlos II, que o chá chegou em terras inglesas. (8) SMITH, Krisi. World atlas of tea: from the leaf to the cup, the
Agregando também no dote real as terras referentes a Bombaim world’s tea explored and enjoyed. Londres: Mitchell Beazley, 2016.
(Índia). Posteriormente esse dote seria de grande importância para os (9) ABREU E MELO, Ana Paula Costa de. A Influência Portuguesa
ingleses na produção de chá. na Introdução do Chá na Inglaterra no Século XVII. Anais do I
Já no reinado da rainha Vitória, além do consumo como Congresso de Internacional de Gastronomia e Ciência de Alimentos.
bebida medicinal, o hábito de beber o chá se tornou popular tanto nos Fortaleza. 2013
encontros da elite como para classe trabalhadora. Acompanhado de (10) FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil. 3ed. Rio de Janeiro:
um pequeno lanche vespertino, o evento passou a ser conhecido como Topbooks, 1948.
“Chá da Tarde”. (11) TOLEDO, Benedito Lima de. Largo Do Arouche: Algumas
Introduzido no Brasil no reinado de D. João VI o chá era Considerações. Disponível em
inicialmente importado. Gilberto Freyre relata esse fato ao pesquisar <www.academiapaulistadeletras.org.br/ memoria.asp?materia=1352 >
em periódicos do Rio de Janeiro (10): Acesso em: 27 de fev. de 2020.
442
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Impactos do açúcar no nordeste colonial: uma revisão baseada nas obras de
Gilberto Freyre
José Mateus Rodrigues¹, Amanda Marques¹.
¹Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
443
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
444
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras chave: comércio informal, comida de rua, Foram entrevistadas quatro mulheres de bairros distintos de Fortaleza,
com idades entre 30 e 57 anos. Todas as entrevistas foram feitas nos
trabalho feminino.
locais de trabalho dessas mulheres e foram gravadas com autorização
INTRODUÇÃO delas, com uso de aparelho smartphone para as gravações e caderneta
para as anotações das observações feitas em campo. Os nomes das
O ato de comer, além de essencial para a sobrevivência é uma ação entrevistadas foram retirados para manter sigilo de suas identidades.
cultural, por isso sempre acompanhou as evoluções dos povos e é um Todas as entrevistas foram transcritas e as observações reescritas e
reflexo da cultura e dos costumes locais. O fenômeno da comida de rua organizadas logo após os encontros com as mulheres, para não se perder
no Brasil pode ser compreendido como uma metáfora (alegoria) da detalhes importantes. Após terem sido feitas várias leituras do material
atual sociedade: a dos empregos marginalizados e da falta de tempo coletado em campo iniciou-se o processo de análise do material,
para a alimentação (1). agrupando as semelhanças nos discursos e destacando as diferenças das
A comida de rua vem acompanhando o ritmo de trabalhadores e falas das mulheres.
estudantes que desafiam diariamente as longas distâncias entre seus
destinos, principalmente entre a moradia e o local de trabalho, RESULTADOS E DISCUSSÃO
tornando-se um elemento praticamente fundamental para enfrentar tal
jornada. Aliando o baixo custo, a rapidez e a facilidade de acesso com Todas as mulheres entrevistadas já venderam ou ainda vendem o
a falta de tempo para realizar refeições, essa forma de alimentação faz pratinho, com as preparações mais comuns: arroz branco, creme de
parte do cotidiano de milhares de brasileiros por tais fatores (2). galinha, vatapá de frango e paçoca. O fato de as cozinheiras
Compreendido como uma forma de manifestação cultural, o comércio prepararem o mesmo prato em diferentes bairros da cidade reforça
de alimentos nas ruas traduz as preferências e os hábitos alimentares da como a cultura da venda de comidas típicas é presente em Fortaleza e,
sociedade em que está inserido, unindo ingredientes ou receitas pelas observações referentes a quantidade de procura e venda, esta é
tradicionais às novas maneiras de preparar ou servir as preparações (3). claramente uma manifestação do gosto popular da capital cearense
Nas ruas de Fortaleza, é possível encontrar com facilidade banquinhas Esse fato concorda com a pesquisa de Fonseca et al (7) na qual o autor
e carrinhos, onde são comercializados os mais variados tipos de destaca que os alimentos oferecidos pela comida de rua devem ser
comidas de rua, que vão desde as mais comuns, como salada de frutas, aceitos social e culturalmente por quem está exposto a esse mercado.
milho verde cozido e pastel, até preparações tipicamente cearenses, Fruto dessa aceitação, esses alimentos possuem caráter identificador
como a chegadinha, a tapioca e o pratinho – prato de comida servido no para produtores e consumidores, gerando sensações de pertencimento.
pratinho fundo de plástico composto de arroz branco, vatapá de frango, Outra característica absoluta entre as vendedoras é a necessidade de
creme de galinha e paçoca. É notável a presença feminina nesses criar uma relação de carinho e amizade com seus clientes. Por vezes,
comércios. esse elo é estabelecido de forma natural pela frequência das compras,
A investigação justifica-se pela ausência de trabalhos sobre comida de porém se destacou nos relatos o quanto essa relação movimenta os
rua com foco nesses atores sociais, responsáveis por essa forma de negócios e possui relevância afetiva significativa para as mulheres. O
manifestação gastronômica-cultural da cidade e de provisão de renda. relacionamento com os clientes foi frisado como um dos aspectos que
Apesar do grande número de mulheres envolvidas no comércio de mais lhes agradavam por estarem envolvida com comércio.
comida de rua e da grande presença delas por toda capital cearense, não Dentre as escolhas que as levaram a adentrar em tal nicho de trabalho,
foram localizados trabalhos similares sobre o assunto. a predileção pela cozinha foi um fator determinante para essas
A presente pesquisa teve como objetivo principal documentar a vida de mulheres, que enxergaram nesse meio uma forma de ganhar dinheiro
mulheres que trabalham com a venda de comida nas ruas de Fortaleza. para completar a renda familiar com algo que gostam de praticar. Com
E mais especificamente, a pesquisa buscou identificar os motivos que exceção da entrevistada número 4, todas elas afirmaram que esse
levam o ingresso de 4 mulheres nesse mercado de trabalho, os papéis trabalho lhes proporciona realização profissional.
que a comida de rua assume em suas vidas e o quanto a venda dessas Sobre o financiamento inicial para o começar o próprio negócio, todas
comidas contribui para o orçamento familiar em seus lares. destacaram que o investimento não é necessariamente alto,
principalmente por utilizarem equipamentos domésticos, e que o
MATERIAL E MÉTODOS retorno é rápido. Todas as mulheres começaram apenas com o próprio
dinheiro, com exceção da entrevistada número 2, que teve ajuda do
O início da pesquisa se deu pela revisão bibliográfica do tema comida filho para a compra de alguns equipamentos. Tal observação condiz
de rua e alimentação fora do lar, em plataformas digitais de publicações com a afirmação de Dutra (8) de que o ingresso neste mercado
de periódicos e artigos científicos, como o Scielo, anais de congressos informal de trabalho é facilitado pelo pequeno aporte necessário e pelo
e seminários e portais de publicações de universidades. O trabalho de uso de equipamentos domésticos, operando em pequena escala.
campo teve a entrevista como principal técnica de coleta de dados. Na Foi unânime entre as vendedoras de pratinho a declaração de que as
entrevista, a relação que se cria é de interação, de troca mútua entre preparações produzidas para a venda não são feitas com frequência
entrevistado e entrevistador. A escolha pelo uso de entrevistas se deu para consumo próprio, sendo preparadas em casa exclusivamente para
pelo entendimento de que as entrevistas são essenciais quando se deseja os pratinhos, reforçando que, mesmo sendo consideradas comidas
investigar relações e práticas de um universo social específico (4). típicas da cultura alimentar cearense, a comida para venda não é do
O tipo de entrevista utilizada foi a não-estruturada, em que o cotidiano domiciliar alimentar das famílias. Apesar desta diferença
entrevistado possui maior liberdade para discorrer sobre o assunto entre comida de casa e comida de venda, todas as mulheres
abordado. Esse tipo de entrevista procura obter descrições e declararam ter o mesmo cuidado no preparo das comidas para venda
informações detalhadas sobre determinado problema sob o ponto de como se fosse “a comida de casa”. Tal afirmação reflete o pensamento
vista do entrevistado. Através de uma conversação guiada, o de Pertile (9) que destaca que a comida feita em casa remete a maior
entrevistado usa de suas próprias palavras para considerar os aspectos segurança alimentar e evoca um universo sensorial conhecido pelos
que considera mais relevante do assunto em questão (5, 6) sujeitos, mesmo que para cada um o termo “comida caseira” possua
A outra forma de coleta de dados foi a observação, que é a melhor forma diferentes representações.
de se aproximar da perspectiva do sujeito, um aspecto de grande Em relação a contribuição financeira, apenas a entrevistada número 4
importância em pesquisas qualitativas. A forma de observação não contribui com o orçamento familiar, dado que o dinheiro da venda
escolhida para a pesquisa foi a da observação não participativa, onde o dos pratinhos é apenas de uso pessoal. As outras três mulheres alegaram
pesquisador assume papel apenas de espectador do meio e objeto de que a renda oriunda das vendas é uma contribuição para orçamento da
estudo (5, 6). casa: as entrevistadas número 2 e 3 contam com proventos de outros
445
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
membros da família, enquanto a entrevistada número 1 possui outro 3. (ELOY, Antonia Lucia de Souza; REIS, Renata Ramos Vieira dos.
trabalho de meio período. A comida de rua como ferramenta na preservação dos alimentos
As últimas perguntas da entrevista eram relativas aos valores subjetivos tradicionais. In: Seminário Sobre Alimentos e Manifestações Culturais
que a comida e a venda de comida de rua possuíam nas vidas dessas Tradicionais, 1, 2012, São Cristóvão. Anais. Disponível em <
mulheres, o quanto e o que lhes foi agregado por estarem inseridas nesse https://drive.google.com/file/d/1FZIQJQ-
meio. A primeira entrevistada afirmou que o trabalho lhe proporciona DGA7iuQvLjiczz9RP41jPYX3I/view> Acesso em 10 mar 2019.
realização pessoal e profissional e que a satisfação dos clientes é o que 4. DUARTE, Rosélia. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar,
lhe motiva a se dedicar sempre mais. Já a entrevistada número 2, disse Curitiba, v. 20, n. 24, p.213-225, dez. 2004. Semestral. Disponível em:
que todas as etapas que envolvem seu trabalho lhe dão prazer, e que . Acesso em: 20 mar. 2019.
adora o movimento que a casa atrai nas noites de venda. A terceira 5. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação:
mulher entrevistada também destaca o carinho pelas amizades que o abordagens qualitativas. São Paulo: Epu, 1986.
comércio de comida de rua trouxe para sua vida e acrescenta que sente 6. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas.
muito orgulho em ser responsável pelo próprio sustento. Apenas a São Paulo: Atlas, 2011.
última entrevistada exprime certo descontentamento com o atual 7. FONSECA, Marcelo Traldi et al. Comida de Rua na Cidade de São
trabalho, declarando que o desgaste na profissão é muito grande e Paulo, SP: Uma Breve Descrição. Rosa dos Ventos: Turismo e
alegando que o pratica por falta de opções. hospitalidade, Caxias do Sul, v. 5, n. 2, p.311-318, jun. 2013.
É possível identificar muita simplicidade nas falas de todas as mulheres, Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2018.
que relatam seu trabalho com modéstia e naturalidade. A satisfação com 8. DUTRA, Rogéria Campos de Almeida. Comida de rua: estilo
o emprego não é unânime, porém é no mínimo é viável reconhecer o alimentar, temporalidade e sociabilidade nas ruas da cidade. In:
quanto a comida foi, e ainda é, transformadora nas vidas das mesmas, Encontro Anual da Anpocs, 36, 2012, Águas de Lindóia. Tópico
sendo por meio dela possível contornar situações de desemprego ou de temático. Disponível em < https://www.anpocs.com/index.php/papers-
descontentamento profissional. 36- encontro/gt-2/gt07-2/7917-comida-de-rua-estilo-alimentar-
Para essas mulheres, a comida de rua é provedora não apenas da renda, temporalidade-e-sociabilidade-nasruas-da-cidade/file>. Acesso em 27
mas também é responsável pelo contexto social em que estão inseridas, set. 2018.
aspecto avaliado positivamente entre todas as participantes da pesquisa. 9. PERTILE, Krisciê. Comida de rua: relações históricas e conceituais.
Além dos acréscimos pessoais, o trabalho dessas entrevistadas é Rosa dos Ventos: Dossiê Turismo e Gastronomia, S.i., v. 5, n. 2, p.301-
promotor da manifestação cultural-gastronômica da capital cearense. O 310, jun. 2013. Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2018.
trabalho de cozinheira possui uma jornada exaustiva, mas é
fundamental para essas mulheres alcançarem sua estabilidade e
independência financeira.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
446
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Cultura entomofágica no Oriente: uma revisão sobre o consumo de insetos por indianos e
tailandeses
Antonio Araujo-Filho¹, Carlos Alves2, Larissa Araujo2, Rafael do Amaral3, Paulo Sousa4
1
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, antonioaugusto.laf@gmail.com;
2
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Professor do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará;
4
Professor Doutor do Curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
447
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
do bambu” (Omphisa fuscidentalis) e a “broca da cana de açúcar” 14. HANBOONSONG, Y. Edible insects and associated food habits
(Chilo tumidicostalis). in Thailand. Food and agriculture organization of the united nations:
Hanboonsong et al. [17] conduziu uma série de regional office for asia and the pacific. Bangkok, 2010.
questionários entre tailandeses para entender melhor os motivos pelos 15. GOLDIN, Stacie. Eating Insects in Thailand. 2016. Disponível
quais eles consumiam insetos. Os resultados mostram diversas em: <http://entomofarms.com/eating-insects-in-thailand/>. Acesso
justificativas positivas, sugerindo ótima aceitação entre os comensais. em: 01 dez. 2018.
Entre 75% dos participantes, insetos como sendo “saborosos” foi a 16. SIRIMUNGKARARAT, S.; SAKSIRIRAT, W.; NOPPARAT,
resposta mais obtida, seguida de “petiscos”, “ingredientes em refeições T.; NATONGKHAM, A. Edible products from eri and mulberry
cozidas”, “remédio tradicional” e “tempero para comida”. silkworms in Thailand. Food and agriculture organization of the
A homepage oficial da cidade de Phuket, localizada na united nations: regional office for asia and the pacific. Bangkok,
província homônima na costa oeste da Tailândia, designa uma área 2010.
especial apenas para a divulgação de pratos clássicos com insetos que 17. HANBOONSONG, Y., Rattanapan, A., Utsunomiya, Y. &
podem ser encontrados pela cidade, especialmente como comida de rua Masumoto, K. Edible insects and insect-eating habits in northeastern
nas feiras livres. Para citar alguns: kai mod daeng (ovos de formigas Thailand. Food and agriculture organization of the united nations:
vermelhas, servidos como uma salada, tem sabor levemente azedo), rod regional office for asia and the pacific. Bangkok, 2000.
duan (larvas do bambu, muito comum entre a população local, é servida 18. PHUKET. Eating Insects in Phuket: Phuket's edible bugs. 2018.
frita e tem sabor residual de queijo), tua duang (larva do escaravelho Disponível em: <http://www.phuket.com/magazine/eating-
vermelho, servida assada ou crua, tem consistência de carne e sabor insects.htm>. Acesso em: 01 dez. 2018.
semelhante ao bacon) [18].
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
448
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palha Italiana: Origens E Substituição De Leite Fresco E Açúcar (In Natura) Por Leite
Condensado Na Doçaria Tradicional Brasileira.
Bruno Decker1, Cristianne Barros2
Palavras Chave: Doces, Salame de chocolate, Cultura alimentar, Doces italianos e portugueses.
A doçaria tradicional brasileira, dos tachos repletos de frutas e açúcar Observa-se que, atualmente, em livros e revistas de culinária, sites de
— que por influência da colonização portuguesa, tem sua base nos receitas, aulas on-line ou cursos livres, o doce feito de brigadeiro,
doces conventuais europeus (2) — antecede o advento do leite biscoito doce e açúcar popularizou-se com o nome de palha italiana.
condensado. Eram as grandes quantidades de ovos, açúcar e oleaginosas Mas segundo registro no livro “O grande livro da cozinha maravilhosa
que conferiam valor e complexidade a doçaria brasileira da época. (1) de Ofélia” (9) o nome designado para este doce, há praticamente três
décadas atrás, era “Palha à italiana”. Este “detalhe” ortográfico “à” (a
Inicialmente, o leite condensado não era visto como matéria-prima para letra ‘a’ craseada) amplia o entendimento e a investigação acerca da
a preparação de doces. Ele era uma alternativa, para conservar o leite origem desse doce.
— importante alimento, principalmente, para as crianças — por um
tempo maior, em uma época em que ainda não existia geladeira no OBJETIVOS
Brasil. (3)
O objetivo do trabalho é compreender as origens do doce comumente
Aderindo a recomendação governamental, devido à escassez de alguns chamado de palha italiana, relacionando o seu surgimento ao advento
produtos alimentícios no Brasil — sobretudo do leite fresco — em do leite condensado em território brasileiro e a cultura alimentar
meados do século XX, no período que entende-se como pós-guerra, o europeia.
leite condensado — na carência do leite fresco — passa a ser
introduzido no cotidiano alimentar dos brasileiros, fomentando a MATERIAL E MÉTODOS
diversificação do seu uso. (1)
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, com abordagem
Com o passar do tempo, o leite condensado — que anteriormente era descritiva. Utilizando fontes de pesquisas primárias e secundárias, tais
utilizado para complementar a alimentação infantil — deixa de ser, como artigos científicos, monografias, projetos de pesquisa, manuais
apenas, uma opção para a falta do leite (in natura) e passa a ser técnicos e livros de gastronomia, buscou-se, na produção literária,
reconhecido, e utilizado, como matéria-prima para a confecção de reunir materiais que atendessem aos questionamentos principais citados
doces. (1) nos objetivos do presente artigo.
Mas a palha italiana não é fruto apenas do brigadeiro e da popularização Quanto ao termo “italiana” parece uma contração natural da língua,
do leite condensado na confeitaria. A palha italiana, constituída aonde, com o passar dos anos, o “à” (a craseado) foi suprimido na
tradicionalmente de brigadeiro, biscoito doce e açúcar, parece ter sua linguagem falada e posteriormente, possivelmente, tenha caído em
origem em um doce europeu, presente tanto na cultura alimentar desuso, também, na escrita. O “à” que anteriormente denominava “à
portuguesa quanto na italiana. Chamado, respectivamente, de “salame moda” (à moda italiana), caiu em desuso, abrindo caminho para a
de chocolate3” (5), em Portugal e de “Salame ao cioccolato” (6), na “Palha à italiana” (8) tornar-se “Palha italiana”. E é essa pequena
Itália. mudança na grafia do nome desse doce que parece acarretar no
entendimento, equivocado, de que ele é originário da Itália.
1
“Palha Italiana (cul): doce brasileiro feito com leite condensado,
chocolate em pó, biscoito doce triturado e manteiga. ” (4) 3
“Ingredientes para o salame de chocolate - 2 Chávenas de chocolate
2
“Ingredientes – 2 latas de leite condensado – 2 colheres (sopa) bem em pó - 2 Chávenas de açúcar - 4 Ovos - Meio pacote de manteiga - 3
cheias de chocolate em pó – chocolate granulado ou confeitos Pacotes de bolachas.” (3)
coloridos.” (1)
449
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A colonização, e cultura portuguesa, com sua doçaria carregada de 3. PERRELA, Ângelo Sabatino; PERRELA, Miryan Castanheira.
açúcar e ovos, imprimiu no paladar do brasileiro o gosto pelo doce. Receitas Históricas da Confeitaria Mundial. São Paulo: Editora
SENAC, 2016. 318p.
A imigração italiana para o Brasil, no século XX, especialmente para
as regiões sul e sudeste, trazendo na bagagem uma cultura gastronômica 4. PALHA. Dicionário online do Michaelis, 31 ago. 2020. Disponível
riquíssima, parece ter encontrado nos insumos disponíveis para o em < https://michaelis.uol.com.br >. Acesso em 31 ago. 2020.
consumo, no Brasil da época, dificuldades e possibilidades que
convergiram para a criação de doces brasileiros “à italiana” (à moda 5. PIMENTA, Bárbara Raquel Gomes. Relatório de estágio de
italiana). mestrado. 2012. 200 f. - Dissertação (Mestrado em Educação Pré-
Escolar e Ensino do 1° Ciclo do Ensino Básico) - Universidade da
As imagens, a seguir, mostram o salame de chocolate (europeu) e a Madeira, Funchal, 2012. Disponível em:
https://repositorio.uma.pt/bitstream/10400.13/1601/1/MestradoB%c3
palha italiana (brasileira), evidenciando a semelhança entre eles. Os
%a1rbaraPimenta.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020.
formatos se distinguem, quando observada apenas a parte externa.
Observando a palha italiana e o salame de chocolate externamente, eles 6. SILVA, Greice Mara Marques da; CONFORTIN, Helena.
pouco se parecem. Mas é na parte interna, quando se cortam, ambos os CULTURA ITALIANA: estudo comparativo - descritivo da culinária
doces, que as semelhanças se revelam. italiana da itália e da culinária italiana do Brasil. Perspectiva, Erechim,
v. 39, n. 148, p. 33-45, dez. 2015. Trimestral. Disponível em:
Figura 01: Salame de chocolate4 (aspecto externo e interno) http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/148_531.pdf. Acesso
Fonte: Acervo pessoal do autor em: 30 ago. 2020.
4
Ingredientes: Biscoito doce, Chocolate em pó, Manteiga, açúcar e 5
Ingredientes: Leite condensado, biscoito doce, chocolate em pó,
ovos. manteiga e açúcar (apenas para envolver).
450
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Telúrico Doce: Um Olhar Acerca do Açúcar e do Legado Cultural que Ele Confere ao
Nordeste Brasileiro.
Palavras Chave: Sociologia do alimento; Doçaria nordestina; Cana sacarina; Identidade cultural
451
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
São Bartolomeu”, “Bolo de São João”, “Bolo Paraibano”, “Bolos Freyre, a doçaria nordestina é emblemática e representativa. Uma
Fritos do Piauí”, “Bolo de Rolo Pernambucano” e muitos outros. É bandeira que se estende sob o céu aos olhos de todos — sobre as
interessante observar que bolos como o “Sousa Leão” e o “Bolo de mesas. A bandeira da nossa história: A história do doce genuinamente
Rolo” (e ainda outros) permanecem até hoje “vivos” na cultura e nas brasileiro.
mesas dos pernambucanos, enquanto que muitos dos bolos ali citados
caíram no esquecimento. CONCLUSÕES
Como sugerido no início deste texto, são amplas as direções que Constatou-se, através do presente trabalho de pesquisa, a importância
tangem a cultura da cana-de-açúcar. Desde a doçaria em si; a do açúcar na construção histórica, econômica e social do Brasil.
soberania das mulheres na doçaria nordestina, da época colonial até o Sobretudo na região Nordeste do país — onde predominava a
século XIX quando, então, começou a aparecer a figura do “homem abundância, tanto de engenhos de cana-de-açúcar, quanto do teor de
doceiro” (1); a diminuição da procura por doces regionais em virtude açúcar presente nos doces. O açúcar conferiu um legado indenitário ao
do aumento da oferta de doces de toda a espécie; a substituição, por povo do Nordeste e a sua doçaria, visto que, ainda hoje, a doçaria
parte da população, dos doces “caseiros” (feitos em casa) pelos doces nordestina conserva, na sua identidade, a inclinação pelos doces de
industrializados, seja pelo barateamento desses doces ou, também, elevado dulçor.
pelo aumento da oferta de doces produzidos para consumo fora do
domicílio, por exemplo: Em confeitarias, cafés, padarias, praças de REFERÊNCIAS
alimentação, etc. — resultando até em uma mudança na própria
relação do indivíduo com o açúcar, que no passado destinava 1. LODY, Raul (Org.). Dicionário do Doceiro Brasileiro. São Paulo:
determinada quantia do seu ganho mensal para compra de açúcar e Senac São Paulo, 2010. 325 p.
hoje migrou “do consumo de açúcar in natura para o açúcar contido
em produtos industrializados” (8), o que, por consequência, reflete na 2. LODY, Raul (org.). Seminários Comida & Identidade: 2010,
indústria do doce, com o surgimento de uma imensa gama de produtos 2011, 2012, 2013. Recife: Senac Pernambuco, 2016. 105 p.
“food service” — que transbordam das prateleiras do supermercado e
das lojas especializadas — disponíveis para serem usados na 3. FREYRE, Gilberto. Açúcar: Uma Sociologia Do Doce, Com
confecção dos “novos” doces. Receitas De Bolos E Doces Do Brasil. São Paulo: Global, 2007. 271
Outro aspecto de grande importância, e que não deve cair no p.
esquecimento, é a hierarquia do doce: A economia açucareira e o seu
“modus operandi”, tão significativo para o surgimento do doce com 4. LODY, Raul. Doce Pernambuco: uma viagem pela memória
identidade nacional (regional e local) quanto para a sociologia do doce histórica e cultural da doçaria pernambucana. Recife: Cepe, 2019. 255
brasileiro1 — “Condicionada pela realidade da escravidão” (1) — p.
baseado, sobretudo, na exploração da mão de obra do escravo africano
— uma ferida ainda aberta na história do Brasil. Sem o escravo negro 5. Frazão, Ana Claudia. Comedoria Popular: receitas, engenhos e
africano não existe mão de obra para o ciclo do açúcar; por fazendas de Pernambuco. Recife: A. C. Frazão, 2011. 164p.
conseguinte, não existe cultura de cana-de-açúcar, não existe engenho,
não existe açúcar e não existe doce genuinamente brasileiro. 6. QUINTAS, Fátima (org.). A civilização do açúcar. Recife:
É hediondo conceber que existisse tal realidade, injusta e ingrata, Civilização do Açúcar, 2007. P. 155.
como esta relatada a seguir: “Os negros que empurram a cana entre os
rolos metem as mãos demasiadamente nos cilindros, e se uma ou 7. LODY, Raul. Vocabulário do açúcar: histórias, cultura e
ambas são presas, antes que qualquer auxílio seja dado, os membros, gastronomia da cana sacarina no brasil. São Paulo: Editora Senac São
ou mesmo o corpo inteiro, fica esmagado, (...) Nalguns lugares vi, Paulo, 2011. 200 p.
junto da barra e do martelo, um facão afiadíssimo, para separar a parte
do corpo julgada necessária. Nessa desesperada situação os gritos do 8. SOUZA, Mauricio Jorge Pinto de; OLIVEIRA, Pedro Rodrigues
negro assustam os cavalos que movem o engenho, acelerando-lhes a de; BURNQUIST, Heloisa Lee. Lar "Doce" Lar: uma análise do
velocidade” (9). consumo de açúcar e de produtos relacionados no Brasil. Rev. Econ.
Além do dulçor, o açúcar tem, também, em seu “DNA” um passado Sociol. Rural, Brasília, v. 51, n. 4, p.785-796, 2013. Trimestral.
perverso, obscuro. É fato que o cultivo da cana de açúcar, através de Disponível em:
cinco séculos, deixa — nas mesas do Nordeste — um legado cultural <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
que inclui preparações de riquíssimo dulçor. Mas não se pode deixar 20032013000400009&lang=pt>. Acesso em: 16 dez. 2019.
de observar, também, que “os engenhos criaram uma injusta divisão
de classes. Casa grande e senzala se tornaram a síntese de um modelo 9. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO (Recife) (Org.). Cultura do
econômico e social mantido amargamente mesmo após o ciclo do açúcar. Recife: Massangana, 2010. 180 p.
açúcar” (9). O açúcar é a “alma do doce” (1). E no Nordeste foi ele
quem moldou o gosto, o gosto doce — até exageradamente doce, para
quem é de fora — do doce do Nordeste.
No Nordeste o açúcar traz “sentimento de pertença” (1) e “o doce
nasce em contextos ritualizados por gênero, religiosidade e indicações
para o seu consumo” (1). Como do costume antigo, de ter a roupa para
usar no dia a dia, a roupa de festa e a roupa de ir à missa (igreja),
existem, também, os “doces do dia a dia, doces das festas, doces para
comer na rua, na feira, no mercado. Doces para serem comidos em
casa. Em todos esses lugares estão marcados os sentidos [...] de dar ao
gosto doce as diferentes dimensões simbólicas” (1). Tamanho é o
número de preparações doces no Nordeste — e que dão a doçaria
identidade de autoria regional — que lhe cabe, muito bem, ser
chamado de “civilização do açúcar” (1).
O açúcar foi — e continua sendo — protagonista na formação do
paladar do Nordeste do Brasil. O ciclo do açúcar deixou marcas
socioculturais profundas no dia a dia e na história do povo. Não há
como negar a importância do açúcar para o Nordeste. Não há como
negar a importância histórica do doce da cana-de-açúcar. A doçaria
nordestina não é apenas pioneira, como tão bem observou Gilberto
1
“Surpreendentemente, uma sub-região desligada do complexo
açucareiro se apresenta rival do Nordeste — e do Rio De Janeiro
também açucareiro — na tradição daqueles doces finos: a rio-
grandense-do-sul dominada por Pelotas. [...] Há, assim, no Brasil, uma
geografia do doce” (3).
452
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
453
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
incorporar diversos pratos, é elemento marcante no prato do em Mato Grosso do Sul. Dourados: Embrapa Agropecuária
dia-a-dia do cearense. O costume das casas de farinha Oeste/UNIDERP, 2002. p. 77-108.
artesanais ainda tenta sobreviver ao processo de
(5) CEREDA, M. P.; VILPOUX, O. F. Farinhas e derivados. In:
industrialização, que vem crescendo cada vez mais e tomando o
CEREDA, M. P; VILPOUX, O. F. Série Culturas de
espaço da manifestação cultural. Tuberosas Amiláceas Latino Americanas, v. 3, p. 577-620,
Na região do Cariri, na casa de farinha do senhor Silva e da 2003. Fundação Cargill. São Paulo.
família Da Hora, mantém o costume da feitura da farinha,
aliando a agricultura familiar, o trabalho comunitário, a (6) LIMA, U. de A. Manual técnico de beneficiamento e
sociabilidade, o modo do saber-fazer que é transmitido por industrialização da mandioca. São Paulo: Secretaria de
gerações. A manifestação da cultura se dá desde o plantio, Ciência e Tecnologia, 1982. 56 p. (Série Tecnologia
Agroindustrial – Programa Adequação, 2).
passando pela colheita, onde a parte aérea é separada dos
tubérculos, que são transportados até a casa de farinha. Lá são (7) BEZERRA, J. A. B. Alimentos tradicionais do Nordeste:
raspadas até a retirada total da casca, atividade realizada Ceará e Piauí. 1. ed. Fortaleza: Edições UFC, 2014. v. 1. 119p
geralmente por mulheres, uma herança indígena em que o
homem colhia e a mulher processava. Em seguida, a mandioca
é triturada para obtenção da massa, que é posta de molho.
Quando a massa assenta no fundo do refratário é feito a coação
em peneiras ou sacos de nylon para retirada do excesso de água.
A massa é passada por uma prensa, para ficar mais seca
possível, sendo essa prensa confeccionada artesanalmente de
madeira. A massa seca é levada para o cocho de quebra, onde
os blocos de goma são quebrados com marreta de madeira para
formação de pequenos grãos. A última etapa consiste na torra
da massa nos fornos de cimento para retirada total da umidade e
redução dos grãos. Esse processo exige movimentos contínuos
de vaivém da massa com um rodo de madeira por cerca de 90
minutos. Depois de pronta a farinha é dividida entre a família e
os ajudantes da farinhada e também armazenadas em sacos de
nylon para o comércio local (7).
CONCLUSÃO
Sendo assim, tem-se que nossos hábitos culturais estão
arraigados com diferentes culturas, a indígena é uma delas. É
evidente a importância do conhecimento indígena sobre técnicas
de plantio, colheita e feitura de produtos, pois estes compõem
nossa tradição cultural, perdurando até os dias atuais a presença
da farinha nos pratos, para dar corpo, estrutura, engrossar caldos
e complementar a nossa alimentação. Vale salientar também a
relevância da resistência dos costumes alimentares, que
valorizam o que é nosso e o que nos compõe. As tradições das
casas de farinha e farinhadas mantém um elo com nossa
identidade cultural que vem sendo sobreposta por outras
culturas, além de ter um papel social, estruturante, massivo,
como base econômica de muitas famílias que ainda resistem e
acalentam a manifestação cultural. Vale ressaltar a importância
da preservação cultural e da valorização da mesma, o trabalho
servirá como embasamento de pesquisas futuras além do seu
registro cultural.
REFERÊNCIAS
(1) CASCUDO, L. C. Hist�ria da alimenta�
�o no Brasil. São
Paulo: Global, 2004.
454
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455
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
grupos de mestiços, que partem para o interior do país Partindo-se da compreensão que a gastronomia regional
seguindo a rota dos rios. Estes se estabelecem primeiro no sofre a influência dos aspectos históricos, geográficos,
Agrete, e posteriormente, ocupam o Sertão econômicos, sociais e culturais passamos a discorrer de
(3)(4)(5)(6)(12)(13)(14)(15). cada um dos estados que compõem a região Nordeste.
A origem da palavra “Sertão” é uma referência ao clima Atualmente, o Ceará destaca-se na produção de feijão,
quente e seco do interior do Nordeste que passou a ser milho, arroz, algodão, castanha de caju, cana-de-açúcar,
chamado de “desertão” e depois virou “sertão” (4). Nesse mandioca, mamona, tomate, banana, laranja, coco e, mais
primeiro momento o Agreste, região de transição entre a recentemente, a uva. Na pecuária os rebanhos de maior
Zona da Mata e o Sertão, se especializa na produção de representatividade são os bovinos, suínos, caprinos,
grãos, como o arroz, o feijão e o milho, além de mandioca e equinos, aves, asininos, carcinicultura e ovinos. Com a
de carne. Posteriormente, esses produtos também passam a expansão do turismo, o Estado ficou conhecido
ser produzidos no Sertão, que iniciou sua ocupação com o nacionalmente pela beleza de seu litoral, pela religiosidade
estabelecimento de fazendas especializadas na criação de popular e como berço de humorísticos, sendo chamado de
gado e produção de grãos e mandioca para o consumo local. "Terra da Luz", numa referência à grande quantidade de
Segundo Dantas (2010) esta região foi por muito tempo
dias ensolarados, mas também ao fato de o Estado ter sido o
vista pelos portugueses como região semiárida, sendo
primeiro da federação a abolir a escravidão, em 1884,
colonizada lentamente, a partir de seus vales úmidos com
quatro anos antes da Lei Áurea. A religião é muito
quantidade reduzida de gado, acompanhada por um
vaqueiro, empregado do grande proprietário de terras. O importante. O estado é o terceiro mais católico do país, com
autor explica que estes sistemas de produção de alimentos muitas festas religiosas populares. Na cultura local
criaram quadros históricos diferentes de relações de destacam-se o jangadeiro, o vaqueiro, a rendeira como
trabalhos específicas em cada uma dessas sub regiões do principais símbolos (4)(5)(17)(18). Como em toda região
Nordeste, como o Senhor de Engenho e seus escravos na Nordeste, a base da culinária do Ceará tem sua origem nos
Zona da Mata, o Coronel e seus vaqueiros no Sertão, e povos indígenas, nos africanos, que chegaram para trabalhar
ainda os pequenos produtores no Agreste. Até o século nos engenhos de cana-de-açúcar e nos portugueses
XVIII predomina o Nordeste da cana-de-açúcar, após o colonizadores. Os hábitos alimentares baseavam-se na
século XIX, surge o Nordeste do algodão. No século XX, a pesca, na pecuária e em algumas culturas agrícolas (4)(5)
imagem do Nordeste semiárido se impõe em relação à da Da pesca temos os peixes, as lagostas, os camarões e os
Zona da Mata e a seca é usada pelo poder econômico e caranguejos. Entre os produtos cultivados para o consumo
político das oligarquias algodoeiras como estratégia visando local, destacam-se a macaxeira, a batata-doce, o milho, o
captar a atenção nacional. A imagem nostálgica do feijão, o arroz e a cana de açúcar. A carne seca foi a
Nordeste propagada por Gilberto Freyre do rico Nordeste principal herança do ciclo do couro, juntamente com a
açucareiro, é substituída lentamente pela imagem do criação de caprinos. Esses produtos deram origem aos
latifúndio dos coronéis do Sertão, do Nordeste pobre e da pratos mais famosos da culinária cearense: a peixada
seca (6)(12)(13)(14)(15)(16). Segundo Castro (1997), cearense, a lagosta grelhada, o pargo no sal grosso, a
citado por Dantas (2010) “um território condenado ao panelada. a buchada, o baião de dois, a carne de sol, o
sofrimento e à pobreza por uma natureza difícil de sarrabulho. No litoral prevalecem as receitas à base de
domesticar”. Nasce o discurso da seca, da semiaridez, peixe e frutos do mar, embora sejam consumidos também
criado por uma elite regional, fundada em imagem negativa outras preparações, como por exemplo, a carne de sol e a
do Nordeste. Assim, a seca do Nordeste passa a ser a galinha. Entre os peixes há preferência pelo pargo, que
principal causa dos problemas da região e essencial na normalmente é preparado assado com sal grosso na brasa. O
obtenção de recursos do governo federal (16). Nesse serigado, conhecido no resto do país como badejo, é o
contexto, de discurso político regionalista se estabelece na preferido no preparo da peixada, servida com pirão de
região uma política de modernização que se inicia com a farinha de mandioca, feito com caldo da cabeça do peixe.
construção de vias capazes de promover a integração do Também podem ser usados na peixada cearense, a garoupa, a
Sertão com outros mercados, como as vias férreas, as
cavala, o robalo, a guaiuba, e o bijupirá. Além da peixada
rodovias estaduais (Ce’s), as rodovias federais (as Br’s); e
os peixes podem ser consumidos fritos ou com molho de
ainda, a criação de organismos públicos federais de
camarão. A Lagosta, ícone da cozinha cearense é
gerenciamento e de financiamento, como o Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a geralmente preparada de maneira simples, cozida em água e
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste sal ou gralhada com manteiga. Já o camarão é comumente
(SUDENE), e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) (16). preparado frito no alho e óleo ou cozido no leite de coco.
Assim, foram criados o “Polígono das Secas”, administrado Outros pescados muito consumidos são o caranguejo, o siri,
pela SUDENE, cujos limites são superiores aos do a arraia e a ostra. Na cozinha do Sertão no interior cearense
Nordeste, incluindo a parte setentrional de Minas Gerais, os pratos que se destacam são a carne de sol, a paçoca, o
Estado da região Sudeste do Brasil, e os Polos de baião de dois, a galinha de cabidela, o capote, o sarrabulho
Desenvolvimento Integrados PDIs, com financiamentos do de porco, a carneirada ou guisado de carneiro/bode, a
Banco do Nordeste do Brasil, BNB (16). Segundo Dantas buchada e a panelada. Os pratos são acompanhados com
(2010) um total de dez polos foram criados na região: três arroz, pirão de ossobuco e feijão de corda. Na região do
de produção exclusiva de grãos (Pólos Sul do Maranhão, Cariri o pequi entra no preparo de arroz e carne. Entre os
Uruçui-Gurguéia do Piuaí e Oeste Baiano, na Bahia); cinco doces e outras preparações típicas destacam-se ainda a
de irrigação de natureza mista, com uma importante rapadura, bolo de milho, pé de moleque, mugunzá, canjica,
produção de frutas (Pólo Cariri Cearense e Baixo Jaguaribe tapioca, bolo de batata, bolo de mandioca, cuscuz, além dos
no Ceará, Assú-Mossoró, no Rio Grande do Norte, Alto doces em calda (caju, jaca, mamão etc.), doce de leite, doce
Piranhas na Paraíba e Alto Piranhas em Pernambuco); um de batata doce com leite de coco, doce de jerimum, cocada
de cítricos (Pólo Sul de Sergipe) e um de produção leiteira com rapadura. As frutas tropicais mais apreciadas são o caju
(Pólo da Bacia Leiteira de Alagoas). Com a implantação (castanha de caju), coco, mamão, jaca, manga, murici, cajá,
dos PDI’s no Nordeste e os investimentos científicos e sapoti, seriguela, graviola, pitomba, cajarana, maracujá,
tecnológicos dos quais se beneficiou, a região conseguiu se goiaba, abacaxi. Com elas faz-se sucos, licores, batidas,
inserir no mercado internacional como produtor de grãos e doces, sorvetes(4)(5)(17)(18). Recentemente, muitas dessas
frutas tropicais, sem, no entanto, solucionar a questão da frutas passaram a ser usadas pelos chefes de cozinha da
fome (16). região em diversas preparações, tanto doces como salgadas,
como forma de resgate da biodiversidade local.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Em Pernambuco, destacam-se a produção de frutas irrigadas pernambucano, que sofreu adaptações. Originado do doce
no Vale do Rio São Francisco, voltadas para a exportação. português colchão de noiva, onde as amêndoas do recheio
Abastecidas pelas águas desse rio vinícolas investem na foram substituídas pela goiaba. O beijo de freira, do
qualidade do vinho e promovem o enoturismo no Sertão. Da Convento de Vila do Conde. Em todo o Estado encontram-
pesca no rio São Francisco, destacam-se o peixe cari, é se pratos como a galinha cabidela, baião de dois, buchada
chamado a “lagosta do São Francisco”, e o pitu, camarão de de bode, beijus e tapiocas. No litoral, destacam-se a lagosta,
água doce (4)(5)(19)(20). Os principais produtos agrícolas camarão, marisco, caranguejo, guaiamum, siri, sururu,
cultivados no Estado de Pernambuco são: cana-de-açúcar, aratu, polvo, ostra, além dos peixes: robalo, tainha,
algodão, banana, feijão, cebola, mandioca, milho, tomate, beijupirá, cavala, cioba, agulha. As peixadas são preparadas
graviola, caju, goiaba, melão, melancia, acerola, manga com peixe temperado com azeite, limão e temperos verdes e
e uva (4). Outros destaques são a criação de gado de corte e cozido com leite de coco, cebola, alho e legumes. Com
de leite e a avicultura, além da criação de suínos e caprinos frutos do mar faz-se a aratuzada, caranguejada,
(4)(5)(19)(20). guaiamunzada, camarãozada e pituzada. Já as caldeiradas
Na religião assim como no Ceará, também predomina os são feitas com dois ou mais tipos de pescados. Nas
católicos, propiciando o grande número de festas de cunho moquecas, estes frutos do mar são temperados com leite de
religioso. Do litoral ao sertão, as cidades pernambucanas coco, azeite, cebola, tomate, pimentão, azeite de dendê e
realizam grandes e animadas festas populares. São romarias, coentro. As fritadas também são comuns nas praias
procissões e outras celebrações religiosas; vaquejadas e pernambucanas, estas são feitas com frutos do mar
corridas de animais; festas de rua; exposições e festivais misturados a ovos batidos. Na cozinha do Sertão em
agropecuários; carnaval; festejos de final de ano e tantas Petrolina foi criado o complexo gastronômico
outras festividades. (4)(5). Nas festas populares não pode “Bodódromo”, com todos os bares especializados em servir
faltar, além das celebrações religiosas, shows musicais e bode. Já na Zona da Mata da herança dos engenhos de cana-
barracas de comidas típicas e de artesanato. Outro símbolo de-açúcar é produzido um típico doce português, a alféloa,
cultural são as feiras, que misturam gastronomia, festivais com que se faz em Pernambuco, uma bala chamada puxa-
musicais e danças. A mais famosa é a Feira de Caruaru, que puxa. Segundo Gilberto Freyre, em Pernambuco era comum
é realizada toda semana, onde pode ser visto: barraca de homenagear as famílias tradicionais batizando bolos com
comida, artesanato, literatura de cordel, e apresentações de seus nomes, assim o bolo mais conhecido é o Souza Leão,
artistas como violeiros, cantadores, bandas de pífanos etc. feito com a massa de mandioca puba, ou seja, fermentada,
(4)(5). A Feira de Caruaru é tão importante para a cultura conhecida como carimã, e acrescida de ingredientes como
local que em 2006 ganhou o título de Patrimônio Cultural e gema e leite de coco. Hoje o bolo é considerado patrimônio
Imaterial Brasileiro, concedido pelo Ministério da Cultura, cultural imaterial pelo Iphan (Instituto do Patrimônio
através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Histórico e Artístico Nacional)
Nacional (Iphan). Já as festas juninas, mais um símbolo da (3)(4)(5)(13)(14)(19)(20)(21).
cultura da região, mesclam gastronomia, folclore e religião. Sabemos que as divisas entre os Estados são rompidas
Rezas em homenagem aos santos católicos, São Pedro, quando se trata de gastronomia e muito da culinária de um
Santo Antônio e São João, comidas típicas, danças, como a Estado sofre e influência na culinária de outros. Assim,
quadrilha, e o forró são obrigatórios nas festas juninas. ocorre com o Estado da Bahia. A Bahia faz divisa com 8
Segundo as autoras Dolores Freixa e Guta Chaves (2008) a estados, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Piauí ao norte,
palavra forró tem duas versões. Na primeira, as autoras Minas Gerais e Espírito Santo ao sul, Goiás e Tocantins a
explicam que vem da expressão inglesa for all, “para Oeste. Ao Leste com o Oceano Atlântico. É o maior Estado
todos”, usada na porta dos bailes ingleses em Pernambuco, do Nordeste, com maior litoral do Brasil (22). A economia é
no início do Século XX, quando várias ferrovias estavam diversificada. Na agricultura destacam-se a produção de
em construção e os bailes eram promovidos para alegrar os cana-de-açúcar, cacau, mandioca, coco, café, algodão,
trabalhadores. Outra versão seria que a palavra “forró” vem dendê, feijão, milho e banana. Na região do Vale do Rio
de “forrobodó”, como eram chamados os bailes de São Francisco destaca-se como maior produtora de frutas
arrastapé. Foi o músico Luiz Gonzaga, quem difundiu o tropicais do país. Na pecuária os rebanhos bovinos, ovinos e
ritmo pelo Brasil, a partir dos anos 40. As cidades de caprinos destacam-se, sendo este último, o maior do país. A
Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) disputam o título de religião é muito importante para a cultura do povo baiano,
melhor festa junina do Nordeste (4)(5). marcado pelo sincretismo religioso, catolicismo (de origem
Segundo Xico Sá: “Se toda existência humana decorre do europeia) e candomblé (de origem africana)
binômio estômago e sexo, como registra Câmara Cascudo (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). Segundo Freixa e Chaves (2008)
em A História da Alimentação no Brasil, a gastronomia de o carnaval de Salvador é a maior festa popular do planeta.
Pernambuco e arredores sacia, com requinte e fartura, todas Durante o ano todo há manifestações folclóricas como a
as fomes de um homem. Basta um caldinho de sururu ou de capoeira, espécie de luta e dança bem brasileira; o maculelê,
aratu e uma fritada de caranguejo para que a satisfação luta e dança de origem africana e indígena; o samba de roda,
gastronômica nos leve a buscar outros desejos” (19). patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico
A culinária pernambucana recebeu influência dos elementos e Artístico Nacional (Iphan). Nas Festas Juninas não pode
formadores da população: do africano, que veio trabalhar faltar o quentão (bebida feita de cachaça e gengibre) e os
nos engenhos, o gosto pela pimenta, o uso do azeite de pratos típicos: bolo de carimã, de milho e de aipim, canjica,
dendê e do coco. Dos indígenas nativos, o uso do milho e de mungunzá. Todas as festas populares, religiosas ou profanas
raízes, como a mandioca. Do colonizador português, herdou têm barracas de comidas típicas (4)(5).
as técnicas de preparo de cozidos, caldos e doces. Dos A Bahia é o Estado onde vive maior número de afro
holandeses ficou apenas um tipo de biscoito conhecida descendentes do Brasil, representando 80,4% da população
como brote (brood, em holandês = pão). A cozinha regional do Estado, seguida pela europeia, com 10,8% e a indígena,
tem pratos criados nas casas grandes e nas senzalas, nas com 8,8%. A figura da baiana é símbolo cultural, guardiã da
aldeias e nos mosteiros. Nos Conventos e Mosteiros foram memória das receitas e do modo de preparo. Das heranças
preservadas as receitas dos doces portugueses: o pão de ló à do indígena vem o hábito de utilizar o milho e a mandioca.
moda do Convento dos Amarantes, o manjar branco criado A forma de preparar o peixe na folha da bananeira. Dos
no Convento Santa Maria das Celas (na cidade de Portugueses o modo de preparar e conservar os alimentos.
Guimarães, em Portugal). O biscoito Nicolau trazido pelas O uso de especiarias, do azeite de oliva, os doces de ovos
freiras alemãs nos anos de 1940. E o famoso bolo de rolo (quindins, manjares). As técnicas de conservação de carnes
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
através da salga e secagem. No entanto a “grande receitas, e criou seus pratos típicos: arroz de toucinho, arroz
contribuição” lusitana para a culinária baiana foi ter trazido de caranguejo, arroz de carneiro, arroz de galinha e o arroz
da costa da África produtos como o azeite-de-dendê, o coco, de cuxá, o mais famoso de todos. O cuxá é o prato típico do
o gengibre, a pimenta malagueta e principalmente as Maranhão. Herança dos povos africanos, a receita tem como
cozinheiras, que chegavam como escravas. Entre todas as ingrediente principal a vinagreira, erva de sabor azedo
cozinhas típicas do Brasil a baiana é a que tem mais raízes comum nas preparações típicas. O cuxá leva também
africana. (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). O azeite-de-dendê é um camarão, pimenta de cheiro, farinha seca, entre outros
óleo extraído da polpa do coco da palmeira Elaeis ingredientes (4, 5, 20,25).
guineensis, de origem africana. Dendê é o nome da palmeira Entre as bebidas típicas do Maranhão destaca-se a Catuaba,
no idioma quimbundo. Os escravos usavam para passar no um destilado produzido a partir das frutas amarelas de uma
cabelo e no corpo. As escravas que cozinhavam para as árvore local. Os “poderes” energéticos e afrodisíacos da
senhoras brancas começaram a substituir o azeite de oliva planta que serve de base à bebida são conhecidos há séculos
(que os baianos chamam “azeite doce”) pelo dendê (20). A pelos índios nativos. Muito antes da colonização, os índios
pimenta malagueta, de origem africana, está presente em já a utilizavam como um tipo de tônico. Hoje, a planta pode
quase todos os pratos baianos. No Brasil já existia uma ser consumida ao natural ou também misturada à cachaça.
espécie nativa muito semelhante, do gênero Capsicum, que Outra bebida típica é a Tiquira, destilado de mandioca,
foi levada para África e lá passou a ser chamada também de também de origem indígena, aguardente típica do
malagueta. Dos negros iorubas e bantos veio o uso da Maranhão, leva açúcar e cascas de tangerina em sua
bananeira e do dendezeiro, do feijão-guando, do leite de produção, tendo como característica sua cor azulada e alto
coco, da galinha d’angola. O acaçá veio da Nigéria e do teor alcoólico. Mas a bebida mais famosa é o Guaraná
Daomé (atual Benin). Acaçá é um bolo de arroz ou milho Jesus, apelidado de “sonho cor-de-rosa”, por causa de sua
ralado cozido em banho-maria e envolvido em folha de cor rosa, com sabor doce de tutti-frutti é um dos símbolos
bananeira. O coco, dendê e a pimenta malagueta formam o do Maranhão. Foi inventado por acaso em 1920, quando o
trio de temperos básicos da cozinha baiana e o diferencial farmacêutico Jesus Norberto Gomes errou a fórmula de um
entre as outras cozinhas nordestinas. A moqueca baiana é o medicamento. Outros pratos típicos do Maranhão, pode-se
exemplo clássico da união dos três ingredientes citar: a caldeirada maranhense, o creme de bacuri, o doce de
(3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). A palavra “MOQUECA” tem espécie e a torta de camarão (4,5, 20,21,25). Já os
origem tupi, e não africana. “MOQUECA” vem de ingredientes típicos do Maranhão, destacam-se, o bacuri,
“POKEKA”, como afirma Câmara Cascudo, em História da fruta da região amazônica, de polpa branca, muito doce, e
Alimentação no Brasil (3)(4)(5). Segundo Trevisani et al. sabor singular, pode ser consumido ao natural, mas também
(2004), no fim do século XVIII os negros começaram a costuma entrar na composição de cremes, compotas, sucos,
organizar-se em comunidades religiosas formando os sorvetes, refrescos, licores, geleias, tortas, bolos, bombons;
candomblés em torno de uma família de santos (deuses). o babaçu, grande palmeira nativa, com mais de 20 metros
Além do canto e da dança ofereciam comidas – “comida de de altura e intensa produção de cocos, muito importante
santo” ou “comida dos deuses”. Oxalá, pai de todos os para a comunidade local, o babaçu é aproveitado por
orixás, sua comida predileta é o acaçá insosso. Iemanjá, a completo: do coco, extrai-se um óleo comestível; das
rainha do mar e a mãe de todos os orixás, gosta de arroz amêndoas verdes raladas e espremidas com água, forma-se
com mel, manjar branco, peixe, camarão, cabra, pato, um leite muito nutritivo utilizado no preparo de cuscuz de
carneiro e galinha d’angola. Xangô, guardião dos raios e milho e para temperar carnes e peixes; e, das folhas, ainda
trovões, gosta de carneiro e galo. Iansã, deusa dos ventos, se produzem cestos e peneiras; o gergelim, natural da Índia
das tempestades e das almas, gosta de cabra, galinha e peru e conhecida desde a Antiguidade, esta planta também se
(4)(5). Um cardápio clássico baiano não pode faltar acarajé, tornou comum no Maranhão. As sementes torradas
moqueca baiana e quindim. A qualquer hora, o acarajé pode compõem pratos salgados e doces e servem de base ao cuxá,
ser consumido. Pelo menos duas vezes por semana o baiano já citado anteriormente; a juçara, palmeira nativa da região
come pratos típicos, como: caruru, vatapá, sarapatel. Os amazônica, entra no preparo de pratos doces e salgados. A
ingredientes da cozinha baiana são: amendoim, araticum, cozinha do Maranhão é uma das mais saudáveis do
dendê, cacau, camarão, castanha de caju, coentro, coco, Nordeste. Pouca gordura e muito peixe fresco com
farinha de mandioca, feijão fradinho, lambreta, mangaba, moderado tempero à base de tomate, cebola, pimentão,
maturi, palma, pimenta malagueta, quiabo, sapoti, siri pouco alho e cebolinha verde caracterizam sua culinária. Ao
catado, siri mole, xerém (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24) . contrário dos baianos, usam pimenta de forma moderada
A expressão popular “O que é que a baiana tem?” originaria (4,5, 20, 26).
da música de Carmen Miranda, mostra a riqueza do Na cozinha tradicional piauiense a farinha de mandioca é
tabuleiro da baiana, que tem comida de rua espalhada por muito consumida para complementação dos pratos. Presente
todos os cantos de Salvador e não pode faltar o acarajé. O nas farofas, no pirão e na paçoca é indispensável na mesa
acarajé e os trajes das baianas foram tombados como dos piauienses. O uso de carne com caldo é outra
patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Artístico e característica bem típica do costume alimentar dos
Histórico Nacional (Iphan). Além do acarajé, o abará, o piauienses. O arroz é consumido como carne seca de gado,
acaçá, o caruru, o efó, o mugunzá, o vatapá, xinxim de com carne de criação, de galinha, de capote (galinha
galinha, o bobó de camarão, arroz-de-hauçá, bolinho de d'Angola) ou pato (4,5, 20, 26).
estudante, a cocada, frigideira de maturi, são pratos que Apesar da predominância das comidas sertanejas à base de
compõem a culinária baiana. No litoral peixes e frutos do carne, a cozinha piauiense dispõe também de pratos à base
mar: agulha frita, frigideiras (bacalhau, camarão, siri) de peixes e de frutos do mar. As frigideiras e as caldeiradas
aratuzada, moquecas. No interior o baião de dois, conhecido de camarão, as casquinhas de caranguejos, os mexidos de
como rubacão, a carne de sol, o pirão de leite, o aipim, o ostras e as peixadas ao leite de coco babaçu são apreciados
jerimum, o bode, o feijão de corda, o angu, a buchada, a na região. Entre as bebidas a cajuína se destaca, sendo o
galinha (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). Piauí o maior produtor do país (4,5, 20, 26, 27).
No Maranhão o maior destaque da gastronomia é o Arroz A culinária paraibana é outro referencial da gastronomia
trazido da Ásia pelos colonizadores portugueses no século nordestina, com uma combinação de sabores e cores,
XVIII, o ingrediente se tornou, no fim do período colonial, contribuindo com o desenvolvimento do turismo local. No
produto de exportação do Maranhão para a Europa. Com o litoral podem ser encontrados pratos como a agulhinha frita,
excedente o maranhense aprendeu a preparar diferentes pratos à base de camarão, a peixada e os famosos caldinhos
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
de caranguejo com leite de coco (20)(26)(28)(29). O angu é processada com a ajuda de um instrumento chamado tipiti,
um prato popular, de influência africana (28) (29). Outro uma espécie de prensa de palha usada para espremer a raiz e
prato muito consumido na região é o arroz doce, feito com o extrair o tucupi, caldo de cor amarela, que deve ser fervido
leite de coco e o de vaca. Em 1720, na região compreendida para que possa ser consumido. Outro ingrediente muito
entre o centro norte paraibano e as cidades do Seridó Norte- apreciado na região amazônica é o jambu, ou agrião do
Rio-Grandense surgiu a carne de sol, a qual é, sem dúvida, Pará, planta que causa dormência e faz os lábios tremerem
um dos pratos mais característicos do estado como também levemente. Outro prato que se destaca na região é a
de toda a região Nordeste, como citado anteriormente. maniçoba, um tipo de cozido, que lembra uma feijoada, mas
Vários restaurantes se especializaram na preparação, que é é feito com a folha da mandioca no lugar do feijão. Tanto o
servida acompanhada pela macaxeira, feijão verde e pato no tucupi como a maniçoba são preparações voltadas
manteiga da terra (28) (29). De influência indígena a para dias festivos, como o Círio de Nossa Senhora de
gastronomia paraibana herdou pratos feitos a partir de raízes Nazaré, que acontece no mês de outubro. O pato no tucupi é
e de milho, que nas festas juninas se destacam, como as assado e depois cozido no tucupi, o pato ainda leva jambu,
pamonhas, canjicas, mungunzás entre outros. Tem-se pimenta-de-cheiro, chicória e alfavaca. Leva um dia para
também a sopa de cabeça de galo, o chouriço, a maxixada e ficar pronto e é servido com arroz branco, farinha d’água e
sarapatel de porco e o baião de dois, que além do queijo de molho de pimenta. Já a maniçoba, um dos poucos pratos
coalho, leva creme de leite ou nata, e pode ter carne se sol com alguma influência portuguesa, leva muitos cortes do
desfiada (28) (29). Na Paraíba ele é chamado de rubacão. porco, como língua, orelhas, lombo, toucinho e também
Pela sua privilegiada localização geográfica, às margens do charque, além do ingrediente principal, a maniva, folha da
oceano Atlântico, o Rio Grande do Norte tem uma cozinha mandioca, considerada venenosa. As folhas precisam ser
típica que se divide entre os produtos da terra e os frutos do moídas e são fervidas por praticamente quatro dias
mar. Entre as mais variadas preparações no interior do seguidos. No total, a maniçoba leva uma semana para ser
Estado destacam-se aquelas que derivam da atividade preparada. E por demorar tanto para ficar pronta,
pecuária: a carne-de-sol, a paçoca, o queijo de manteiga e geralmente é preparada em grandes quantidades. Ainda se
de coalho, a coalhada etc. Também é comum as comidas destacam no cardápio da região amazônica peixes como o
preparadas com produtos da terra como a mandioca, milho filhote, o pirarucu e o tambaqui. Pratos como o pirarucu de
verde e coco, entre outros (28) (29. casaca, preparado com azeitonas, ovos e cheiro-verde, e a
costela de tambaqui (espinhas do peixe), assada em brasa e
A Cozinha Regional do Norte ainda o filhote, como o nome sugere, é um peixe novo, de
até 20 kg, consumido enquanto sua carne é macia, são
Formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, muito apreciados na região. Outras iguarias do Norte: o
Rondônia, Roraima, Tocantins. Localizados na região caldo de turu, as sopas de tartaruga, o aviú, o picadinho de
geoeconômica da Amazônia (22). A culinária do norte jacaré e a farinha de peixe, chamada de piracuí, feita do
celebra as origens brasileiras. Diversos pratos de sabores peixe acari-bodó, que é assado em forno a lenha ou seco ao
únicos, sofreram pouca influência de europeus e africanos. sol antes de ser transformado em farinha com a maceração
Destaque para a valorização da culinária indígena em pilão de madeira. Com essa farinha são feitos bolinhos e
(4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32). A Amazônia possui farofa (4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32).
grande diversidade: 250 variedades de mandioca; 30.000 A região Norte tem uma grande diversidade de frutos como
espécies da flora (10% de todo o planeta); 1300 espécies de o açaí, bacuri, pipriá, mangaba, murici, piquiá e cupuaçu.
peixes; 10% das abelhas do mundo estão na Amazônia; 176 Usado para fazer doces, sucos, sorvetes, licores, geleias e o
tipos diferentes de frutos. Essa exuberância em cupulate, o cupuaçu substitui outro fruto da região o cacau,
biodiversidade faz dessa cozinha uma das mais autênticas mostrou-excelente para o “chocolate”. Os bombons de
do Brasil, sendo considerada exótica para o resto do país e cupuaçu são apreciados em todo o país. Para obter o
do mundo, porém cheia de personalidade. Assim é a cupulate, as sementes do cupuaçu precisam ser despolpadas,
cozinha da Região Norte do Brasil, a cozinha da Amazônia fermentadas, secas ao sol, torradas, descascadas, prensadas
(4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32). Formada por técnicas de e moídas. A massa obtida mistura-se açúcar, leite e
preparo indígenas e por frutos, peixes e vegetais exclusivos manteiga extraída da prensagem das sementes. A partir daí
da região, consequentemente, produtos únicos do Brasil. são feitos os produtos de cupulate. Em Belém, o mercado
Seu produto mais popular é, sem dúvida, a mandioca, do Ver-o-peso é uma instituição amazônica com mais de
chamada por Câmara Cascudo de “A Rainha do Brasil”, 380 anos, o complexo teve origem no período colonial com
que juntamente com suas farinhas, e outros subprodutos, a Casa do Haver-o-peso, onde as mercadorias eram pesadas
produzidos pelos índios que já habitavam o Brasil antes da antes de serem tributadas pela coroa portuguesa e, depois,
chegada do colonizador, está presente em diversas pela Câmara de Belém, representa um símbolo da
preparações típicas e na maioria das refeições do povo que gastronomia local (4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32).
habita essa região (3). Também muito divulgado como
outra riqueza da Amazônia é o açaí, costuma ser servido A Cozinha Regional do Centro-Oeste
com granola e banana nos estados do Sudeste e Sul, mas na O Centro-Oeste é formado por dois grandes principais
Amazônia, o açaí pode ser consumido como doce ou biomas: O Pantanal e o Cerrado. Assim, também é sua
acompanhado de um peixe e de farinha de mandioca. cozinha regional pantaneira (MT e MS) e goiana (do
Excluindo a mandioca e o açaí, pouco se vê da cozinha do Cerrado). Apesar dos biomas predominantes a região possui
Norte em outros Estados do Brasil. Os ingredientes são áreas de Floresta Amazônica e até Caatinga. Apresenta
difíceis de encontrar fora da região. Alguns pratos clima tropical semiúmido e úmido, com duas estações bem
principais, doces e outras iguarias típicas da cozinha do definidas, uma chuvosa e uma seca. Ocupa uma área de 1
norte brasileiro que podemos destacar são o tacacá, caldo de 606 403,506 km², sendo a segunda maior região do Brasil.
tucupi fervido com goma, camarões, jambu e molho de Possui mais de 16 milhões de habitantes. A Pecuária
pimenta. Servido sempre em cuias, é conhecido como o extensiva é a atividade mais importante. Na agricultura de
“chá do Pará”, sendo consumidos pelos paraenses no fim de exportação destaca-se o arroz, algodão, café, milho,
tarde, por volta das 17h. O tucupi, um caldo extraído da amendoim, trigo e soja e na agricultura familiar, destinada
mandioca brava, é usado em várias preparações, como no ao consumo local, destaca-se o cultivo de milho, mandioca,
famoso pato no tucupi. Para retirar o tucupi a mandioca abóbora, feijão e arroz. A área mais industrializada e
brava, que é venenosa (contém ácido cianídrico), precisa ser desenvolvida socioeconomicamente é o eixo Goiânia-
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Anápolis-Brasília. (1)(2)(9)(10)(22). Índios, portugueses, A região Sudeste é a região mais populosa do país, possui
espanhóis, afrodescendentes, além de paulistas, mineiros, e uma população de 88.371.433 habitantes, que representa
sulistas, compõem a formação étnica da região, com 44% do total nacional. Ela é formada pelos estados de São
múltiplas heranças. (5). Os indígenas foram os primeiros Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo e
habitantes. Depois chegaram os bandeirantes. Em busca possui uma extensão territorial de 924.511,3 quilômetros
de minas de ouro fundaram as primeiras vilas: Vila Real do quadrados, sendo a segunda menor região do Brasil, maior
Bom Jesus de Cuiabá, atual Cuiabá, capital do Estado apenas que a região Sul. É a região que tem a maior
de Mato Grosso, fundada em 1719. Em 1729, o Bandeirante densidade demográfica (92 habitantes por quilômetro
Bartolomeu Bueno da Silva fundaria, o Arraial de quadrado) e o mais alto índice de urbanização, 92,1%, com
Sant'Anna. Em 1736 passa a ser chamada de Vila Boa, atual 1.668 municípios (2)(9)(10)(22). A agricultura é bem
cidade de Goiás. Em 1748, foi criada a Capitania de Goiás. diversificada, destaca-se o cultivo de cana de açúcar, café,
Os mineiros e paulistas também povoaram a região laranja, algodão e soja. O principal porto do Brasil localiza-
instalando grandes fazendas de criação de gado. Para se na cidade de Santos em São Paulo, onde chegam e são
defender as fronteiras do Brasil com os outros países, foram escoados diversos produtos, inclusive alimentos. Os
portugueses influenciaram bastante a comida dos Estados
criados fortes militares e em volta desses fortes surgiram
do Sudeste, como o apreço pela carne de porco e os doces
povoados. Destaca-se o Forte de Coimbra, hoje o município
em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, o uso do bacalhau e a
de Corumbá. A construção de Brasília, também contribuiu
feijoada são heranças dos lusitanos
para o povoamento e o desenvolvimento socioeconômico da (5).(20)(26)(30)(35)(36)(37). Pratos com peixes e frutos do
Região Centro-Oeste. O povoamento aumentou com a mar, como a moqueca capixaba, carro-chefe da culinária do
construção de estradas de ferro e, mais tarde, com o Espírito Santo, carrega vários traços da alimentação
aparecimento das rodovias e das hidrovias indígena (5)(20)(26)(30)(38).
(4)(5)(6)(20)(26)(30). O Mato Grosso do Sul lutou várias A cultura de cafezais do interior paulista influenciou no
vezes para se tornar independente do Mato Grosso, tendo hábito do café preto após as refeições. A imigração italiana
sua independência oficializada em 1° de janeiro de 1979. disseminou o apreço pelas massas e pizzas nas mesas
Na cultura da região Centro-Oeste destaque para a figura da paulistas. Não menos importante para a cultura local, a
doceira poetisa Cora Coralina (4) e no Pantanal a figura do cozinha japonesa se tornou mania, principalmente na capital
boiadeiro (4)(5). Em Goiás, uma tradição cultural são as paulista. Mas na cozinha do dia-a-dia, o paulistano prefere o
Cavalhadas, que ocorre na Festa do Divino (5). Entre as arroz com feijão e uma carne, chamada de “mistura” Graças
principais preparações da gastronomia e as comidas típicas aos ciclos do ouro e do café a região tornou-se a mais rica
da região Centro-Oeste, destacam-se: a grande variedade de do país, e com maior diversidade gastronômica (5)(35). A
peixes e carnes exóticas; a mojica de pintado; o caldo de tradicional cozinha paulistana com raízes que se originam
piranha; o matrinxã com farofa de banana da terra; o dos bandeirantes e tropeiros, preserva pratos como o
caribéu; o churrasco; o bolo de arroz cuiabano; a sopa e a ensopado de galinha caipira, o feijão tropeiro, o virado à
chipa paraguaias; o furrundu; o arroz e a saltenha paulista e o cuscuz paulista. Na doçaria, os doces feitos em
(bolivianos), o soba japonês; o tererê; a galinhada com tachos de cobre, como a goiabada cascão e o doce de
pequi; o arroz com pequi; a maria Izabel; o empadão laranja-da-terra são bem típicos da região. A partir do final
goiano; a pamonha salgada e a doçaria única, com seus do século XIX, com a chegada dos imigrantes italianos,
doces em caldas feitos com os frutos do cerrado árabes, japoneses, entre outros, são incorporados diversos
(4)(5)(20)(26)(30)(33)(34). No Mato Grosso e Mato Grosso pratos como pizzas, massas, esfihas, charutos, sushi,
do Sul, o que melhor caracteriza a culinária presente nos sashimi etc. No início do século XX, com a
dois Estados são os peixes encontrados nos rios que cortam industrialização, assim como ocorreu na Europa, ocorreram
o Pantanal. Pacus, pintados, dourados, tucunaré, curimbatás, grandes mudanças à cultura da região, com forte influência
piraputangas, cacharas, jaús, matrinxãs e piranhas, da herança francesa na culinária. Nomes afrancesados se
destacam-se entre as mais de 200 espécies que habitam a incorporam ao vocabulário: toalete (toillete), à la carte,
região. As formas de preparo são bem variadas, com maître, menu, patê (pâté), musse (mousse) são alguns
destaque para o peixe frito, assado, ensopado, refogado ou exemplos. Ainda com a influência dos imigrantes, o pastel,
assado na brasa envolvidos em folhas de bananeira, já os de de origem chinesa, chegou ao Brasil através dos japoneses
grande porte como dourado e o pacu, costumam ser em 1908, tornando-se uma iguaria dos paulistanos, que tem
preparados inteiros. Também se destacam as carnes exóticas por hábito comê-lo nas feiras acompanhados de caldo-de-
como jacaré, capivara, javali, paca e avestruz cana (5)(20)(26)(30)(35)(39). São Paulo é hoje considerada
(4)(5)(20)(26)(30). Na cozinha goiana muitos pratos têm a capital brasileira da gastronomia. O símbolo da
influência dos mineiros e paulistas. Como os pratos à base gastronomia paulistana é Mercado Municipal, conhecido
de carne seca, carne de porco e galinha. Os alimentos popularmente como Mercadão. Ele abriga a riqueza cultural
indígenas incorporados ao cardápio goiano eram à base de gastronômica da cidade representada por ingredientes e
milho e mandioca. O aproveitamento dos produtos típicos insumos de diversos povos. O Mercadão oferece os famosos
do Cerrado, como a guariroba e o pequi nas receitas trazidas sanduíches de mortadela e pernil e o bolinho de bacalhau
pelos colonizadores é um dos diferenciais dessa cozinha. ((5).
Galinhada com pequi, arroz com pequi e Maria Izabel, Por mais de dois séculos a cidade do Rio de Janeiro foi a
empadão goiano, a pamonha salgada, que pode ser recheada capital da Colônia, do Império e da República do Brasil,
com queijo, carne moída, frango etc. doces cristalizados. entre 1763- 1960. (5)(6). Esse fato explica a forte influência
Na doçaria, o cajuzinho do cerrado, mané pelado, alfenim, da culinária portuguesa nos hábitos alimentares carioca.
pastelinho, que lembra o pastel de Belém, mas é recheado Pratos à base de bacalhau, o caldo verde, iscas de fígado, o
com o doce de leite da região (4)(5)(20)(26)(30)(34). Já os cozido carioca e a tradicional feijoada carioca são exemplos
Frutos do Cerrado, destacam-se: araçá, araticum, baru, dessa influência (4)(5)(36). A cultura Caiçara, nome de
buriti, cagaita, caju do cerrado, coquinho-azedo, guabiroba, origem tupi dado ao homem que vive do mar, ainda é
gueroba ou guariroba. Além do jatobá do cerrado, jenipapo, presente no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo. As
jurubeba, macaúba, mangaba, maracujá do cerrado, murici, comunidades de pescadores mantêm os hábitos alimentares
pequi e pera do cerrado (4)(5)(33). de seus ancestrais indígenas. Além do peixe, utilizam o
milho, a mandioca, o feijão, o inhame, a cana, abóbora, e a
A Cozinha Regional do Sudeste banana. Um prato típico do litoral da região é o “azul
marinho”, uma peixada preparada com banana nanica
462
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
verde, que libera tanino na hora do cozimento, conferindo religiosos Jesuítas espanhóis, que catequisaram os índios e
cor azulada ao prato (5). ensinaram a estes a agricultura e criação de rebanhos. Com
A culinária mineira tem muitos pratos semelhantes a as guerras por posse da terra muitos indígenas foram
paulista, principalmente quando falamos de cozinha mortos, os Jesuítas fugiram e o gado foi deixado solto nas
regional, tradicional. pastagens. No século XVIII a coroa Portuguesa já com a
O arroz com suã, a rabada, o leitão à pururuca, o lombo retomada das terras e com medo de novas invasões cede
assado, a pamonha, e diversos doces. A carne de porco é o terras para brasileiros e portugueses ocuparem a região,
“carro chefe” na cozinha mineira: o leitão à pururuca, o tutu dando início as vaquejadas, onde os vaqueiros capturavam o
à mineira (mexido de feijão com farinha, servido com gado solto, que se multiplicou, e comercializavam a carne
torresmo, que lembra o virado à paulista, herança dos salgada, o charque, principal atividade econômica da época.
tropeiros), a canjiquinha com costelinha de porco, o arroz Entretanto, somente no século XIX, com a chegada dos
com suã de porco. Também não podem faltar no cardápio o imigrantes europeus açorianos, italianos, alemães e eslavos,
frango com quiabo, a vaca atolada e a galinha acompanhada a região começa a se desenvolver economicamente com a
de ora-pro-nóbis. A expressão ora-pro-nóbis vem do latim agricultura. Essa é a região do país que possui maior
e quer dizer “orai por nós”. Esse vegetal é um ingrediente influência europeia na sua cultura. Segundo o IBGE, 79%
típico da culinária mineira, mas nos outros Estados do da população se declara branca (2,6,9,10, 22).
Brasil é conhecida atualmente como uma PANC (Planta Os principais produtos agrícolas produzidos na região são:
alimentícia não convencional), muito usado em Minas no soja, trigo, arroz, algodão, cana-de açúcar, laranja, uva, café
preparo da galinha caipira, servida com angu. Com suas e erva-mate. A economia é bem diversificada. O turismo
folhas pode-se fazer saladas e sopas, além de ser utilizado nas cidades litorâneas, principalmente, de Santa Catarina e
como ingrediente em vários pratos, principalmente de na Serra Gaúcha também ajudam a economia local. Grande
frango e carne moída. É rico em vitamina A, B, C, cálcio, parte das cidades da região sul apresenta ótimos índices
fósforo, ferro e proteína (4)(5)(20)(26)(30)(37). Mas é nos sociais e de qualidade de vida. As cidades litorâneas
doces e quitandas que a arte da cozinha mineira se destaca, possuem uma excelente infraestrutura turística (aeroportos,
herança dos portugueses, os suspiros, as brevidades, o bolo pousadas, hotéis, parques etc.). As praias se destacam pelas
de fubá, as compotas de frutas, ou os doces em pasta, como belezas naturais, principalmente no litoral catarinense. Há
o de leite, sempre acompanhados do queijo de minas, o também o turismo histórico-cultural, com cidades de
biscoito de povilho, a broa de fuba com erva doce, o curau, arquitetura do período da colonização italiana e alemã (final
a pamonha, a canjica, e o pão de queijo, sempre servidos do século XIX e início do XX) (4)(5)(20)(26)(30). Muitas
com café, fazem essa cozinha uma das mais destacadas do cidades do sul do país foram fundadas por colonos alemães
país (4)(5)(20)(26)(30)(37). e italianos. Portanto, a cultura desta região é fortemente
Capixaba, em tupi, significa pequena roça. A maior marcada pela influência cultural destes povos europeus.
influência da cozinha do ES é indígena. A tradição Festas típicas, danças, músicas e a culinária são marcadas
pesqueira vai determinar a culinária local, com fartura de por traços alemães e italianos. Estão presentes também na
pescados (peixes e frutos do mar). A preparação mais culinária da região as influências indígenas, dos
conhecida é a moqueca capixaba feita na panela de barro. Bandeirantes e Tropeiros, onde podemos destacar o arroz
Diferente da baiana a moqueca capixaba não vai azeite de carreteiro, chimarrão e churrasco, típicos do Rio Grande do
dendê nem leite de coco. Os ingredientes utilizados são: Sul. Em Santa Catarina destacam-se os pratos à base de
peixe, e/ou frutos do mar, muito coentro, cebola, alho, camarão, o marreco com repolho roxo e a bijajica, um
tomate, pimenta malagueta, limão, azeite de oliva, sal e bolinho frito em banha, cujos ingredientes são polvilho,
urucum. Os peixes mais apreciados são o badejo, o robalo, ovos e açúcar. Este prato típico só existe na Serra
o namorado, a garoupa e o cação. Entre os frutos do mar Catarinense, especialmente em Lages. No Paraná, os pratos
destacam-se o camarão, a lagosta, o siri, o caranguejo. As mais típicos são arroz com pinhão, o barreado e o carneiro
moquecas e cozidos são sempre acompanhadas com pirão no buraco. Como herança dos Tropeiros no Estado podemos
de cabeça de peixe. Outro prato típico é a torta capixaba, citar o feijão tropeiro e a quirera (cozido feito com costela
um prato da Semana Santa. A torta é feita com vários frutos de porco, linguiça e quirera de milho) e o arroz carreteiro
do mar, palmito, bacalhau e azeite de oliva, em seguida é (4)(5)(20)(26)(30)(40)(41)(42). Os paranaenses adoram
coberta com ovos batidos e cebola. É preparada em preparações com pinhão, fruto da araucária (árvore símbolo
frigideira de barro, e depois vai ao forno para dourar. As do Paraná). É tradicional nas festas juninas o consumo do
sobremesas valorizam os ingredientes locais, como a pinhão cru, cozido, ou assado na brasa. Um prato típico
banana-da-terra servida com açúcar e canela, o muxá feito com pinhão é o entrevero de pinhão, cozido de carnes,
preparado com milho verde e coco ralado e a machota, feita linguiça, quiabo, pinhão e vinho, feito na panela de ferro.
com rapadura, gengibre e mandioca (4)(5)(20)(26)(30)(38). A contribuição dos imigrantes alemães são os salsichões, a
Além da influência portuguesa a cozinha do ES teve linguiça de porco, as carnes defumadas, o chucrute (repolho
influência de outros europeus. Destaca-se a influência azedo) e os picles, além do strudel de requeijão, e o stolen
alemã e italiana. Na região de Venda Nova do Imigrante e (bolo de farinha de trigo, semelhante ao panetone, com
Santa Tereza os italianos trouxeram o hábito do risoto, da passas brancas e pretas, castanha, frutas cristalizadas e
polenta, massas e vinhos. Na cidade de Domingos rum). Já os poloneses contribuíram com o pierogi (pastel
Martins, além de italianos, os alemães trouxeram a cozido, feito de massa de farinha de trigo levedada,
produção de linguiças defumadas, chucrute (repolho recheada com batata cozida e requeijão) e os ucranianos
fermentado) (4)(5)(38). com o borscht (tradicional sopa de beterraba, feita com
creme de leite fresco). Os italianos estão presentes na
A Cozinha Regional do Sul cozinha paraense no bairro gastronômico na capital, o Santa
Felicidade com o frango caipira com polenta e radicchio.
Geograficamente a Região Sul pode ser caracterizada por Radicchio, é uma iguaria de origem italiana, que para ter o
um relevo constituído de Planaltos e Planícies e por um seu status de verdura original, deve ser produzida nas
clima subtropical com 4 estações bem definidas, sendo cercanias de Treviso, na Itália. Com sabor suavemente
formada pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio amargo e consistência crocante, a verdura de folhas
Grande do Sul, representa a menor Região do país, com vermelhas e nervuras brancas é indicada para o preparo de
apenas 6,76 % do território nacional (1)(2)(22). Seu saladas, risotos, massas ou guarnições.
povoamento foi iniciado com as chamadas Missões dos
463
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Em todo o estado do Paraná há muitas outras receitas: o incentivo à cultura, que forneçam subsídios para a
leitão desossado e recheado, o porco no rolete, o carneiro ao produção, o consumo e a preservação dos alimentos
molho de vinho, o carneiro no buraco (típico da cidade de tradicionais regionais, fortalecendo ainda o turismo e às
Campo Mourão). Mas a receita símbolo do estado é o economias locais e valorizando a gastronomia brasileira.
barreado, cozido do dianteiro do boi, temperado com sal,
cebola, alho, louro e cominho, feito em panela de barro REFERÊNCIAS
vedada (barreada) com goma feita de farinha de mandioca, 1. BRASIL. Ministério do meio ambiente. Disponível em:
sua origem é atribuída aos açorianos portugueses. https://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-
Geralmente é servido sobre pirão de farinha de mandioca brasileira. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
feito com o caldo do próprio barreado, acompanhado de 2. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
laranja e banana-da-terra cozida. A cidade de Morretes é a IBGE. Área da unidade territorial: Área territorial
grande divulgadora do barreado (4)(5)(20)(26)(30)(40). brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
A história da culinária catarinense também está ligada à 3. CASCUDO, L.C. História da alimentação no Brasil. 3.
colonização. Os açorianos trouxeram a tradição pesqueira ed. São Paulo: Global, 2004. 954 p.
para a região de Florianópolis. Os frutos do mar da região 4. CHAVES, G., FREIXA, D. Larousse da Cozinha
são de ótima qualidade, e um dos pratos típicos é a Brasileira. São Paulo: Larousse, 2007. 200p.
“sequência de camarão”. A região é hoje a maior 5. CHAVES, G., FREIXA, D. Gastronomia no Brasil e
produtora de ostras do país. Todos os anos a produção de no mundo. Rio de Janeiro. SENAC, 2008.304p.
ostras é comemorada na Fenaostra, festa da nacional da 6. KOSHIBA, L., PEREIRA, D. M.F. História do Brasil.
ostra. Também é comemorada a pesca da tainha com a Atual Editora. 7ª. edição. São PAulo, 1996, 388p.
Festa da Tainha. Além da tainha a região é rica em 7. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed.
linguado, badejo, corvina, garoupas, melros, namorado, São Paulo: Atlas, 2010.
pescada, robalos e anchovas. Pode-se também encontrar 8. PÁDUA, E. M. M. Metodologia da pesquisa:
pratos feitos com a lagosta, mariscos e lulas. Já no Vale do abordagem teórico-prática. Campinas, SP: Papirus,
Itajaí, colonizado pelos alemães, pratos com repolho 1997.
(chucrute), e carne suína, além do marreco, encontrado na 9. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
Rota do Marreco, juntamente com presuntos, e a maçã , Estatística - IBGE. Censo demográfico. 2010.
presente na apelstrudel, torta folhada de maçã, além da 10. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
batata, entre outros ingredientes, como a cerveja, a bebida Estatística - IBGE. Estimativas da população residente
símbolo dessa região festejada na Oktoberfest em no Brasil e unidades da federação com data de
Blumenau. Os italianos também deixaram suas influências, referência em 1º de julho de 2019.
no cultivo da uva e na produção de vinho e em pratos 11. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
típicos como sopa de capeletti, a lasanha, a polenta, o IBGE. Agência IBGE Notícias, Disponível em:
galeto, os embutidos, e os queijos. E ainda temos a presença https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
de outros temperos trazidos pelos russos, ucranianos, noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/23299-
poloneses, húngaros, holandeses e austríacos, que também pobreza-aumenta-e-atinge-54-8-milhoes-de-pessoas-em-
deram sua contribuição na cozinha catarinense. O Goulash 2017. Acesso em: 25 de jul. de 2020.
é um ensopado típico do leste europeu (cozido de carne de 12. MATTA, R. DA. O que é o Brasil. Rio de Janeiro:
músculo bovino com verduras, servido com spätzle Rocco, 2004.
(pequenos pedaços de massas à base de farinha de trigo, 13. CASCUDO, L.C. História da alimentação no Brasil.
ovos e leite). Na cidade de Lages a cozinha dos tropeiros e Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1983.
dos gaúchos deixaram sua influência na culinária. Pratos 14. FREYRE, G. Açúcar: uma sociologia do doce, São
como o arroz de carreteiro, o churrasco, e o chimarrão estão Paulo: Companhia das Letras, 1997.
presentes. Receitas com pinhão também aparecem nessa 15. SCAVONE, N. Discursos da gastronomia brasileira:
região de Santa Catarina (4)(5)(20)(26)(30)(41). gêneros e identidade nacional postos à mesa. Tese de
Na cozinha Gaúcha as autoras Freixa e Chaves (2008) Mestrado. UFRGS, 2007.
destacam que “O nosso churrasco nasceu pelas mãos dos 16. DANTAS, E.W.C. Mutações no Nordeste brasileiro:
gaúchos no extremo sul do país, na divisa com os pampas reflexão sobre a produção de alimentos e a fome na
uruguaios e argentinos” (5). Os acompanhamentos são contemporaneidade. Revista franco-brasileira de
farinha de mandioca, mandioca cozida, arroz de carreteiro, geografia. v.10, n.10, 2010. 1-16p.
feijão campeiro e vinagrete. A bebida típica do Rio Grande 17. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
do Sul é o chimarrão, feita com erva-mate e água quente Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.9, 2009.
(80°C), colocada em cuia e mexida com uma bomba, cujo 18. GALENO, A.S. A cozinha dos cabeças-chatas: uma
preparo e compartilhamento obedecem a um verdadeiro excursão pelo campo da culinária, da história e do
ritual (4)(5)(20)(26)(30)(42)(43). folclore dos cearenses. Fortaleza: RBS, 2003.
Como em toda a região Sul a Serra gaúcha também foi 19. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
marcada pela culinária italiana e alemã. De origem italiana Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.6, 2009.
destaca-se o galeto na brasa servido com radiccio no bacon, 20. TREVISANI, B., MATTOS, N., RAMOS, R.H.P.,
a sopa de capelete e a polenta frita. De origem alemã, o café BARBOSA, T.M. Sabores da cozinha brasileira,
colonial é destaque, consumido no café da manhã ou no Melhoramentos, São Paulo, 2004.
lanche da tarde, com variedade de pães caseiros, queijos, 21. LODY, R. Brasil bom de boca: temas da antropologia
geleias, embutidos, tortas, como o apfelstrudel e as cucas de da alimentação. 1.ed. SENAC São Paulo, 2008.
maçã, banana e uva, servido com café, sucos, chás, 22. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
chocolate quente, e vinho (4)(5)(20)(26)(30)(42)(43). Estatística -IBGE. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ms.html.
CONCLUSÃO Acesso em 5 abr. de 2020.
23. SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS
Diante do exposto, fica evidente a riqueza cultural das ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA Disponível
cozinhas regionais brasileiras e a necessidade de preservar em: https//www.sei.ba.gov.br. Acesso em: 23 de jun.
essa cultura por meio de políticas públicas ambientais, de de 2020.
preservação dos seus biomas, bem como, de políticas de
464
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
465
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Especialista em Docência para o Ensino Superior, Professor de Gastronomia da Uninassau e Faculdade Pitágoras,
Maceió/AL.
2
Gastrônomo, Mestrando no PPG em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP.
3
Gastrônoma, formada pela Uninassau Maceió, AL.
Email: profesor.mvieira@gmail.com
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
Para a produção do Macururé, os ingredientes necessários são o leite,
creme ou manteiga (que se forma na superfície do leite durante sua A alimentação como fenômeno cultural, define territorialidades
fermentação), sal e um pouco de água, se necessário. gastronômicas, e se constituem na própria imagem de um povo, nesse
É elaborado com o leite cru, integral (com sua gordura e não sentido, o queijo macururé é a imagem dessa família, pois existe prazer
pasteurizado), o sabor adocicado, que é característica essencial deste com a produção da iguaria.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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2 MATERIAL E MÉTODOS:
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fácil e rápida, entretanto, ainda hoje há quem prefira utilizar o pilão. com pouca gordura, servindo de acompanhamento em todas as
Utilizam-se como ingredientes o abdômen da tanajura, farinha de refeições, desde o café da manhã até as principais refeições.
mandioca branca, banha de porco, alho, pimenta do reino, pimenta
dedo de moça, sal e corante. É consumida geralmente durante as Quadro2-Ficha técnica da paçoca de cabeça de tanajura/
refeições. Produzida tradicionalmente no mês de revoada, como pilão
também no decorrer do ano.
Farofa de tanajura simples: é feita com o abdômen da
tanajura, óleo, farinha de mandioca branca, banha de porco, alho,
pimenta do reino, sal, água, cheiro verde ou coentro, sendo
consumida nas refeições e como tira-gosto acompanhando diversas
bebidas como cerveja, cachaça, vinho e licor. É produzida
tradicionalmente no mês de revoada; também no decorrer do ano
serve para agregar os amigos e familiares para sua degustação.
470
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A alimentação adequada e saudável é um direito humano que envolve Na primeira fase desse estudo, foi realizado uma revisão literária sobre
a prática alimentar apropriada aos aspectos biológicos e socioculturais o consumo de alimentos no Brasil, identificando padrões alimentares
dos indivíduos, bem como ao uso sustentável do meio ambiente. Ou nos últimos anos dos brasileiros, sendo esse o principal foco desse
seja, deve estar em acordo com as necessidades de cada fase do curso trabalho. Já na segunda fase, será feita uma análise dos dados da
da vida e com as necessidades alimentares especiais ,referenciada pela Pesquisa de Orçamento Familiar, onde explicaremos como funciona a
cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível fonte de dados, amostragem e como será a classificação dos alimentos.
do ponto de vista físico e financeiro, harmônica em quantidade e
qualidade, baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis Fonte de dados e amostragem
com quantidades mínimas de contaminantes físicos, químicos e Os dados utilizados para este estudo são provenientes de pesquisas
biológicos (1). realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em dois períodos: maio de 2008 a maio de 2009 e junho de 2017 a maio
A promoção da alimentação adequada e saudável é uma das vertentes de 2018. As POFs 2008-2009 e 2017-2018 utilizaram plano amostral
da promoção à saúde, e se fundamenta em dimensões de incentivo, complexo por conglomerados, com sorteio dos setores censitários em
apoio e proteção da saúde, combinando iniciativas focadas em políticas primeiro estágio e de domicílios, em segundo. Os 12.800 setores do
públicas saudáveis, na criação de ambientes saudáveis, no conjunto de setores censitários na POF 2008-2009 e 5.504 na POF
desenvolvimento de habilidades pessoais e na reorientação dos serviços 2017-2018 (Amostra Mestra de Inquéritos Domiciliares ou Amostra
de saúde. Suas ações são um compromisso do SUS que está expresso Comum) foram agrupados previamente para obter estratos de
na Política Nacional de Alimentação e Nutrição e na Política Nacional domicílios com alta homogeneidade geográfica e socioeconômica.
de Promoção da Saúde (1,2). Foram considerados a localização dos setores (região, unidade da
federação, capital ou interior, área urbana ou rural) e a amostra total de
No escopo dessas ações, o Ministério da Saúde brasileiro publicou, em domicílios nesses domínios foi de 15.399 em 2008-2009 e 17.500 em
novembro de 2014, a segunda edição do Guia Alimentar para a 2017-2018. As informações básicas das POFs que serão analisadas
População Brasileira. O Guia consiste em um documento oficial que compreendem as aquisições de alimentos e bebidas para consumo
aborda os princípios e as recomendações de uma alimentação saudável domiciliar feitas pela unidade de consumo durante um período de sete
para a população brasileira, configurando-se como um instrumento de dias consecutivos e registradas diariamente pelo morador do domicílio
apoio às ações de educação alimentar e nutricional e norteador das ou pelo entrevistador do IBGE numa caderneta. No registro incluem-se
ações no Sistema Único de Saúde e também em outros setores. Em a descrição detalhada do produto, a quantidade adquirida e a unidade
primeiro lugar, ele considera que a alimentação é mais que a ingestão de medida, além do valor da despesa em Reais, local de compra e forma
de nutrientes e traz recomendações sobre alimentos e refeições de aquisição - monetária ou não (5).
saudáveis, modos de comer adequados e sustentáveis. Há também uma
perspectiva realista e factível. Grande parte das recomendações se Classificação dos alimentos regionais
baseou na análise da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, Os alimentos regionais serão identificados a partir da classificação do
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e que livro Alimentos Regionais Brasileiros (2014) do Ministério da Saúde.
avaliou o consumo alimentar de 2 dias de mais de 30 mil brasileiros. Este livro tem o objetivo resgatar e despertar o interesse para a vasta
Nessas análises, observou-se que uma boa parcela da população quantidade de alimentos regionais presentes em todas as regiões
brasileira tem uma alimentação que corrobora o que o Guia preconiza e brasileiras e típicos da nossa flora e fauna, de forma a contribuir para a
essa parcela foi usada como exemplo para aproximar todos os outros melhoria da alimentação da população (5). Ele apresenta alimentos
brasileiros do que é recomendado. Com isso, o Guia traz uma grande típicos de cada uma das cinco macrorregiões do País e receitas de
valorização da experiência cultural, enaltecendo as variações que preparações culinárias que utilizam esses alimentos, ressaltando a
demarcam as diferentes regiões do país (3). riqueza da diversidade da alimentação brasileira.
O alimento e a culinária regionais representam valores que conformam No livro, os alimentos foram classificados por região (Norte, Nordeste,
a habitualidade dos tipos de alimentos, o horário das refeições, o modo Centro-Oeste, Sudeste e Sul) como: Frutas; hortaliças; leguminosas;
que se misturam às recordações e outras referências necessárias à Tubérculos, raízes e cereais e; ervas, condimentos e temperos. Apenas
identidade social dos indivíduos em seus grupos ou camadas sociais nas regiões Norte e Nordeste tiveram classificações a mais
específicas. Como exemplo, podem-se citar alguns pratos que fazem denominadas “Farinhas derivadas da mandioca” no Nordeste e
parte da identidade dos brasileiros: chouriço do seridó, no Rio Grande “Farinhas e preparações” no Norte. Para a análise da pesquisa essas
do Norte; feijoada, no Rio de Janeiro; beiju de tapioca, em várias classificações serão agrupadas em “Tubérculos, raízes e cereais” para
províncias do Nordeste; acarajé, na Bahia; arroz de cuxá, no Maranhão; melhor entendimento nas suas respectivas regiões. A região Centro-
galinhada em lagarto, em Sergipe; pão de queijo, em Minas; baião de Oeste foi a única que não apresentou nenhum legume no seu grupo. A
dois (queijo de coalho, feijão e arroz), no Ceará; pamonha e pequi, em tabela 1 a seguir apresenta a quantidade de alimentos em seu grupo para
Goiás; pato no tucupi e tacacá, no Pará; pirarucu, no Amazonas; cada região.
churrasco, no Rio Grande do Sul; barreado, no Paraná; moqueca de
peixe capixaba; cuscuz de milho, no Nordeste; e o açaí, no Norte (4). Tabela 1: Quantidade dos alimentos segundo tipo de alimento e suas
Diante do que foi citado, e por possuir poucos estudos que avaliam o regiões de origem
consumo dos alimentos regionais do Brasil com uma amostragem Frutas Hortali Legumes Túberculos, Ervas,
populacional representativa, o principal objetivo desse estudo é revisar ças reizes e condimentos
cereais e temperos
a literatura a cerca do consumo dos alimentos regionais no Brasil (fase
1) e analisar a distribuição sociodemográfica e a tendência temporal do Norte 32 5 1 8 2
consumo dos alimentos regionais brasileiros entre os anos de 2008 e
2018 por meio de análise dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar Nordeste 19 8 5 7 2
(fase 2).
471
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Centro- 24 8 0 3 3 CONCLUSÃO
Oeste
Apesar de possuir literaturas que falem e apresentem os alimentos
Sudeste 13 18 3 4 2 regionais Brasileiros entre os dados, ainda não possui estudos que
avaliaram esse grupo de alimentos especificamente. Concluímos que
Sul 11 12 1 3 3
apesar das literaturas apresentadas, tendo como foco o consumo geral
dos alimentos, que á uma carência de dados que demonstrem o consumo
Fonte: Alimentos Regionais Brasileiros, 2014
dos alimentos regionais do Brasil como um todo.
REFERÊNCIAS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1.Brasil. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde.
Na sociedade brasileira, há distintos modos de conceber a alimentação
Departamento de atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e
e a comida. Para uma melhor compreensão desses aspectos, é preciso
Nutrição. Brasília, 2012.
considerar diferentes elementos, tais como o acesso, a produção, o
abastecimento/comercialização e o consumo de alimentos, que
2.Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde.
permitem refletir sobre o ser humano-natureza, no processo de escolha
Brasília: MS; 2006.
alimentar. Diferentemente dos outros animais, o ser humano confronta
diversos fatores culturais, sociais, econômicos, religiosos, psíquicos e
históricos, para conceber sua comida (6). O incentivo ao consumo de 3.BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população
alimentos regionais permite o resgate de aspectos fundamentais da brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
relação entre o ser humano e o meio ambiente. A regionalidade,
segundo o geógrafo brasileiro Milton Santos (7), é um conceito que
4.Brasil. ministério da saúde. secretaria de atenção à saúde.
extrapola o espaço geográfico e revela o lócus entre teias de relações
departamento de atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2.
sociais, econômicas e culturais.
ed. Brasília, 2015.
Apesar da ampla diversidade de espécies vegetais existentes na
natureza, uma parcela muito pequena dessa diversidade é utilizada pelo 5.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de
ser humano, para os diversos fins, e isso se reflete, por exemplo, na orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimento e
baixa diversificação dos alimentos. Estudos apontam que a humanidade condições de vida. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
já teria utilizado, ao longo da história, entre 3 mil e 10 mil espécies de Estatística; 2010.
plantas para atendimento de suas necessidades alimentícias. Entretanto,
a produção mundial de alimentos hoje depende de um número muito
reduzido de espécies, talvez 150 e, mesmo assim, o fato é que apenas 6.TEUTEBERG, H. O nascimento da era de consumo moderna. In:
cerca de 15 espécies fornecem 80% de toda a energia necessária ao ser FREEDMAN, P. A hist�
ria do sabor. São Paulo. São Paulo: Senac,
humano: duas açucareiras (beterraba e cana-de-açúcar), quatro 2009. p. 234-261.
produtoras de amido (batata, batata-doce, feijão e mandioca), cinco
cerealíferas (arroz, centeio, milho, sorgo e trigo), duas frutíferas 7.SANTOS, M. Por uma outra globaliza� �o: do pensamento �nico
(banana e coco) e duas oleaginosas (amendoim e soja), sendo que só �consci�
ncia universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.
duas espécies brasileiras, a mandioca e o amendoim, estariam entre as
consideradas mais importantes em âmbito mundial. Tal dependência é 8.SOUZA, A. M. et. al. Alimentos mais consumidos no Brasil:
ainda maior, uma vez que somente quatro espécies (arroz, batata, milho Inquérito Nacional de alimentação 2008-2009. Rev. Saúde Pública vol
e trigo) são responsáveis por mais da metade dessa energia. Não 47. Sulp.1 São Paulo Feb. 2013 BRASIL.
obstante, cultivos com espécies e variedades locais formam a base
alimentar para centenas de milhões de pessoas e apresentam potencial
de nutrição para um número incontável de outras. Muitas dessas 9.SILVA, L. E. S; CLARO, R M. Consumo de frutas e hortaliças em
espécies são de extrema importância para as comunidades locais, e a adultos no município de São Paulo: a influência dos locais de
exploração do potencial dessas espécies é crucial para o alcance da aquisição e consumo de alimentos. 2015. Tese de Doutorado.
segurança alimentar (5). Universidade de São Paulo.
472
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Maria Cristina Barbosa,1 Cristianne Barros2, Maria de Fátima Costa3 Maria Arraes4, Cláudio Queiroz5, Robson Lustosa6
1. Pós graduanda em Gastronomia Nacional e Internacional pela Faculdade de Boa Viagem E-mail:
mcrisbrandao1982@gmail.com
2. Mestranda em Ciência da Educação, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC
3. Graduada em Gastronomia pela Faculdade SENAC
4. Pós Graduanda em cozinha Internacional pela Faculdade SENAC
5. Graduado em Gastronomia, pela Faculdade SENAC
6. Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC
QUINTAS (2007) já afirmava que “A influência do açúcar se fez Açúcar Produto regional abundante nos lares, indústrias e comércios,
sentir-nos mais variados aspectos: na organização familiar, na utilizado em grande escala na produção de sucos, doces, compotas,
arquitetura, na alimentação, na religião e na cultura”(3). geleias, bolos, sobremesas, bolos e tortas. Oriundo da cana sacarina
torna-se um produto valioso quando se trata de elaborar
FREYRE (1937) “Esse Nordeste de terra gorda e de ar oleoso é o especialidades na confeitaria, puro, cristalizado, refinado ou
nordeste da cana de açúcar. Dos sobrados de azulejo, Dos mocambos pulverizado tem seu valor nas tradições e mesas pernambucanas, no
de palha de coqueiro ou de cobertura de capim-açu. O nordeste da valor afetivo na hora de produzir e receber alguém com doçuras que
primeira fábrica brasileira de açúcar.”(4). vai além do sabor doce, do calmante, da maciez, da coloração,
conservação, aeração, tornando-se símbolo de afeto, carinho e
Do melado a rapadura, dos infinitos tipos de bolos, das frutas ao preciosidade.
doce, Pernambuco tem em sua raiz a doçaria mais doce do País,
representa a alma do seu povo e simboliza a emotividade e tradição
das suas famílias no ato de receber e desenvolver receitas regionais Os doces geralmente são elaborados com frutas regionais
garantindo e perpetuando a cultura da cana sacarina. “O doce de selecionadas e mergulhadas de açúcar assim como as geleias,
Pernambuco é o mais doce” Lody (2019)(5). compotas, alguns pedem técnicas especiais como é o caso do alfinin,
da rapadura, as passas de caju embebecidas por dias no sumo da fruta
OBJETIVOS e do açúcar, os preciosos bolos recobertos de glacês, caldas ou leite
condensado, outros são feitos com base calda como o bolo Souza
O objetivo do trabalho é compreender como a cultura do açúcar leão e o pé de moleque, a riquíssima cartola com cobertura de queijo
marca a sociedade pernambucana, enriquecendo as tradições regional e uma vasta cobertura de açúcar com canela, o bolo de noiva
deixadas em famílias através dos hábitos alimentares e de sua vasta pernambucano, feito com doce de frutas e coberto com glacê
utilização na doçaria, enriquecendo assim nossa cultura e a mármore, os bolos recheados com duas vastas camadas de recheios, e
gastronomia no Estado. o bolo de rolo com finíssimas camadas revestidas de doce de goiaba,
entre outros.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo desenvolvido através de uma abordagem com O açúcar corre nas veias do povo pernambucano, nas mesas de doces
caráter descritivo, realizado através de pesquisas de cunho nas famílias, no ato de presentear e receber. Símbolo do grande finale
de uma refeição, torna-se tradição após uma refeição saborear uma
473
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
474
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
475
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Com efeito, o modo como a receita se difundiu para além do sertão, Desse modo, só através do conhecimento e do pertencimento da
especialmente em estabelecimentos de restauração, reflete na comunidade, para além do consumo em si, podemos pensar o baião
desconstrução da identidade gastronômica dessa iguaria, não só pelo como um patrimônio gastronômico do povo Cearense.
acréscimo de ingredientes, mas pelas variadas formas de preparar, a
ponto de não sabermos se quando pedimos um baião de dois em
Fortaleza, iremos comer um prato com ou sem nata (ou creme de REFERÊNCIAS
leite), com feijão branco, verde ou de corda, com toucinho ou linguiça
calabresa, etc. Na ótica de Julião et al (2017, p.76) “com o tempo as GALENO, Alberto S. A cozinha dos cabeças-chatas: Uma excurso
receitas foram sendo ampliadas e diversificadas, de modo que cada pelo campo da culinária, da história e do folclore dos cearenses. -
cearense tem a sua própria receita” Fortaleza: RBS, 2003 60p.
Diante desse cenário, é contraditório a realidade do baião de dois, CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Ediouro, Rio
por um lado um prato presente no cotidiano alimentar do Estado, por de Janeiro, 10ª ed., 1998 (ISBN 85-00-80007-0) COUTO FILHO, C.
outro, uma iguaria que muitas vezes é oferta sem refletir ou retratar a Tempero do Sol: culinária cearense. Fortaleza (CE): CCF Ltda.,
relação com a identidade sertaneja, fruto de inovações 2004, 80p
gastronômicas, muitas vezes desenvolvidas para agradar o paladar CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil. 4. ed., São
de clientes.A Gastronomia como um elemento capaz de revelar a Paulo (SP): Global Editora, 2011, 976p. MACIEL, M. E. Uma
identidade de um povo, quer através do que comemos ou de como o cozinha à brasileira. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 33, jan/jun
produzimos, rituais, etc, para tornar-se um patrimônio imaterial, de 2004, p. 25-39.
necessita passar por processos de fortalecimento e sobretudo de BARROSO, Gustavo. Liceu do Ceará: 2º Volume de Memórias. Rio
conhecimento e pertencimento, para que assim possa ser valorizada, de Janeiro: Getúlio Costa, 1940, 220p.
resguardada e refletida no quotidiano alimentar também dos São Paulo (SP), Jornal FOLHA DE S. PAULO Ilustrada, Baião faz
estabelecimentos de alimentos e bebidas. história, disponível em 10 de maio de 2005
Segundo o IPHAN “Os bens culturais de natureza imaterial dizem ROCHA, Delfina. Sabores e Saberes do Ceará: Arte Culinária e
respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se Fotografia. Fortaleza: editora D. M. Rocha, 2003. 1° Edição.
manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; MARTINS, UIARA. A Gastronomia Portuguesa no Brasil: Um
formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos roteiro de turismo cultural. (Dissertação de Mestrado).
lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas Universidade de Aveiro, Aveiro – Portugal, 2009.
culturais coletivas). A Constituição Federal de 1988, em seus
artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao
reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e
imaterial.Nesses artigos da Constituição, reconhece-se a inclusão, no
patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a
sociedade, dos bens culturais que sejam referências dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira. O patrimônio imaterial é
transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação
com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de
identidade e continuidade, 800 processos culinários, 300 horas de
entrevistas, 48 mil fotografias e 1.500 objetos relacionados ao
mundo da cozinha, tendo percorrido 63 municípios e mais de 30 mil
quilômetros. contribuindo para promover o respeito à diversidade
cultural e à criatividade humana.”
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) define como patrimônio imaterial "as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os
indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural."
Nesse sentido, é necessário refletir as intercessões que encontramos
na história e cultura da construção do baião-de-dois como um
patrimônio imaterial que pode revelar muito do povo cearense, do
seu passado sertanejo, em consonância com o presente em que ele
continua como parte do cotidiano, mas que pelas suas variadas
formas e composições, não permite identificar claramente a sua
representação na cultura gastronômica cearense. Qual a matriz do
prato na qual a população se identifica? Que baião revela as
memórias, as histórias do Ceará?
CONCLUSÃO
476
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Jully Leslly Craveiro de Farias - Acadêmica do 5º. Período do Curso de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da
Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: jlcf.tur18@uea.edu.br
INTRODUÇÃO: O turismo é uma atividade econômica que vem Produtiva - Cultura – Gestão do Turismo. O que se identificou em uma
ganhando espaço na mídia obtendo maior visibilidade nos últimos pesquisa bibliográfica preliminar, foram diversos artigos científicos
anos gerando uma mobilização por parte dos profissionais visando que abordam o turismo e a gastronomia de forma segmentada e temos
incrementar a atividade e seus segmentos. A gastronomia é dos várias denominações como: “turismo culinário”, “turismo
propulsores do turismo possuindo uma cadeia econômica sustentável gastronômico”, “gastroturismo”, “turismo do vinho” e “turismo
e a proposta é buscar o fomento da identidade gastronômica-cultural gourmet”, Enoturismo, Turismo Cultural e por isso, uma pesquisa não
do estado do Amazonas, iniciando pela capital Manaus, por meio da pode ser realizada, desconsiderando um ou outro segmento, tendo em
identificação e valorização dos ingredientes típicos, produções vista que cada um deles irá enfatizar a motivação que o turista teve
culinárias tradicionais e procuando resgatar, na população, o orgulho para chegar até aquele destino. Assim é possível identificar pesquisa
de falar, comer, cozinhar e comercializar produtos até por vezes com trabalhos intercambiáveis tendo como temas comida, alimento,
desvalorizados, mas que fazem parte da cultura gastronômica do povo gastronomia, culinária, cultura alimentar, tradição, cultura, crença são
e que estão presentes no seu dia a dia. alguns dos termos utilizados por pesquisadores que estudam a
A alimentação é um dos componentes da vida de diária de todo ser gastronomia (10, 11, 12, 13, 14, 15, 16).
humano. É necessidade básica que precisa ser saciada diariamente para OBJETIVOS: Assim para este projeto de iniciação cientifica foram
que se possa ter energia e força para as demais atividades cotidianas. propostos os seguintes objetivos: 1. Levantar sobre identidade cultural
Quando se fala de gastronomia, há um valor agregado ao alimento, da comida da cidade de Manaus; 2. Pesquisar os insumos identitários
pois junto com ele, vem também componentes como cultura, tradição, da culinária oferecida em Manaus e suas origens; 3. Relacionar as
satisfação e experiência, fazendo com que um prato simples de preparações culinárias reconhecidas como identitárias de Manaus; 4.
comida, seja uma experiencia cultural e que remete ao significado da Conhecer como a gastronomia manauara/amazonense está sendo
palavra gastronomia que é a fusão das palavras gregas “gaster” difundida nos cursos de Gastronomia ofertados nas Instituições de
(estômago) e “nomas” (lei). Ensino de Manaus e 5. Propor estratégias para o fomento do turismo
Em uma visão mais ampla a gastronomia possui uma cadeia produtiva valorizando a gastronomia amazonense.
que envolve desde o seu mais longínquo e humilde produtor rural MATERIAL E MÉTODOS: Para que se possa desenvolver uma
fornecedor de insumos até a mesa do comensal, agregando também a investigação científica, se faz necessário conectar vários
história de um lugar, os usos e costumes para o preparo da comida. procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objetivos sejam
Sendo a gastronomia uma atividade complexa por envolver uma atingidos: os métodos científicos, que são os processos ou operações
compreensão e apreciação da química, literatura, biologia, geologia, mentais que vamos utilizar na pesquisa e se faz necessário buscar uma
história, agronomia, antropologia, música, filosofia, psicologia e linha de raciocínio para o processo de pesquisa. Com o início dos
sociologia (1), para a atividade turística, vem sendo pesquisada como trabalhos de pesquisa, buscaremos inicialmente atingir a etapa 1 que
umas das motivações para a escolha de um destino turístico, visto a trata a respeito da pesquisa bibliográfica através do levantamento
quantidade de livros, artigos, competições e programas de televisão bibliográfico e documental sobre a cultura, identidade e memória da
ligados ao tema (2,3,4). comida da cidade de Manaus e o levantamento dos locais onde são
Para tanto, se faz necessária uma reflexão sobre a importância da comercializados produtos alimentícios típicos.
gastronomia local para a atividade, tendo em vista a sua importância Para tanto caracterizando os objetivos do estudo, elencou-se como
para o setor econômico e os recursos gerados reforçam o seu metodologia uma pesquisa de natureza aplicada, com um estudo
crescimento longitudinal e faz com que os produtores locais se exploratório, que é aquele que visa proporcionar uma maior
conectem com os seus compradores e com a população em geral, os familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou construindo
comensais. À medida que as necessidades das pessoas aumentam, hipóteses sobre ele (17), descritivo para que se possa expor as
amplia a obrigação de produção e oferta de bens e serviços, características de uma determinada população ou fenômeno,
necessitando expandir a produção, o investimento e a renda em demandando técnicas padronizadas de coleta de dados e explicativa
sociedades (5). O turismo afeta pessoas e nações estabelecendo (17), procurando identificar os fatores que causam um determinado
relações entre si e integra também os fenômenos da cultura, fenômeno, aprofundando o conhecimento da realidade (17), Como
patrimônio, economia e meio ambiente; portanto, orientando seu técnica, será utilizada a Pesquisa Bibliográfica a partir dos materiais já
desenvolvimento, e sua coordenação e controle são questões altamente publicados e documental, que utiliza materiais que não receberam
cruciais (6). tratamento analítico.
Quando se inicia a pesquisa sobre gastronomia tendo uma relação com Será utilizada uma abordagem qualitativa tendo em vista o ambiente
o turismo, a identidade de um lugar e a experiencia vivenciada nele, natural é fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos
várias são as possibilidades dos caminhos a serem percorridos, pois há e atribuição de significados, utilizando como recursos técnicos a
aspectos sobre a qualidade dos serviços de gastronomia, sobre a pesquisa de campo utilizando observação in loco e uso de questionário.
atratividade que pode exercer para um destino (7,8), bem como qual a O projeto será dividido em três etapas: levantamento bibliográfico e
interferência que a oferta turística de uma localidade exerce em relação de campo; Catalogação dos insumos e pratos regionais; Pesquisa nas
aos insumos e como movimentam a atividade turística como um todo. faculdades que ofertam o curso de gastronomia e como a cultura
A comida é um elemento de identificação de um lugar, onde se pode alimentar local está sendo difundida; Divulgação dos resultados na
saber quem foram e são os habitantes, os imigrantes e migrantes que cidade e em periódicos científicos da área e organização de um
ocuparam aquela terra e o que o agregaram de suas bagagens compendio sobre o projeto e os resultados.
originárias e que hoje fazem parte da oferta turística e que combina Etapa 1: Pesquisa bibliográfica: Levantamento bibliográfico e
aromas e sabores para tornar a experiencia gastronômica em algo documental sobre a cultura, identidade e memória da comida da cidade
inesquecível para o turista que quer conhecer a culinária local, de Manaus; Levantamento dos locais onde são comercializados
degustar doces e bebidas e poder desfrutar de forma mais autentica da produtos alimentícios típicos;
vida do lugar (9). Etapa 2: Pesquisa nas faculdades que ofertam o curso de gastronomia
Há de se abordar também que o tema é complexo tendo em vista ser e como a cultura alimentar local está sendo difundida; Registro dos
interdisciplinar, conectando-se com várias áreas do conhecimento. insumos identitários de Manaus; Compilação dos resultados visando a
Quando se relaciona com o turismo poucas são as pesquisas existentes construção de uma linha do tempo em relação aos insumos, registros
quando se busca a relação Gastronomia - Sustentabilidade - Cadeia
477
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
e pratos identitários da comida manauara; Realização de encontros (2012), A Cozinha Amazonense de Mário Ypiranga Monteiro de 1972,
abordando a temática Cultura Alimentar local nas IES. que foi uma solicitação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e
Etapa 3: Análise e compilação dos resultados utilizando o método reeditado em 2014 e Dieta Amazônica – Saúde e Longevidade de Euler
não-probabilístico, conhecido como análise de conteúdo, que permite Ribeiro e Ivana Cruz (2012) que em nada faz a relação da comida, da
descrever as percepções dos referidos atores sobre a formação culinária, da gastronomia de Manaus com a atividade turística que a
identitária da gastronomia local e seus principais pratos identitários mesma tem relação direta.
regionais; Divulgação dos resultados na cidade e em periódicos CONCLUSÕES: Como o projeto está na fase inicial, ainda não há
científicos da área e organização de um compendio sobre o projeto e considerações efetivas a serem feitas.
os resultados. REFERÊNCIAS:
Ressalte-se que para este trabalho inicial, desenvolveu-se a etapa 1. (1) KIVELA, Jakša; CROTTS, John C.. Tourism and Gastronomy:
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para alcançar a etapa 1 Gastronomy's Influence on How Tourists Experience a
estabelecida, realizou-se o levantamento bibliográfico com os termos Destination. Journal Of Hospitality & Tourism Research, [s.l.], v. 30, n. 3,
cultura e identidade, resultando no quadro 01: p.354-377, ago. 2006.
Quadro 01 – Total de artigos pesquisados conforme busca na base (2) OLIVEIRA MARTINS, U. M.; IBIAPINA GURGEL, L.; CLERTON
DE OLIVEIRA MARTINS, J. Experiências com a gastronomia local: um
de dados EBSCO.
estudo de caso sobre movimento Slow Food e o turismo gastronômico na
Aplicar assuntos equivalentes Identidade Cultura cidade de Recife - Brasil. Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural,
jan. 2016. v. 14, n. 1, p. 229–241. Disponível em:
Texto completo 58 308 <http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=hjh&AN=1143
35706&lang=pt-br&site=ehost-live>. Acesso em: 20 out. 2018.
Revistas acadêmicas
(3) RINALDI,C.Food and Gastronomy for Sustainable Place
(analisadas por 40 275 Development: A Multidisciplinary Analysis of Different Theoretical
especialistas) Approaches. Sustainability 2017, 9, 1748. Disponivel em:
Limitadores Periódicos www.mdpi.com/journal/sustainability
33 193
Científicos (4) HENRIQUES, Cláudia; CUSTODIO, Maria João. Turismo e
2000- 2010- Gastronomia: a valorização do património gastronómico na região do
Período
2019 2019 Algarve. Encontros Científicos, Faro, n. 6, p. 69-81, 2010 . Disponível
em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-
Período 2010-2020 38 158 24082010000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 27 jan. 2020
Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). (5) AKGOZ, E.. Turizm İsletmelerindeki Turk Gecelerinin Turk Kulturunu
Tanıtmaya Katkıları, Selcuk University, Institute of Social Sciences,
Devido a pandemia de COVID-19, não foi iniciada a etapa de pesquisa Department of Public Relations and Publicity, MA Thesis, Konya,2003.
documental que será desenvolvida na Biblioteca Central do Estado do (6) CAGLI, I.B..Turkiye'de Yerel Kulturun Turizm Odaklı Kalkınmadaki
Amazonas, que guarda o acervo dos jornais e periódicos que serão alvo Rolu: Gastronomi Turizmi Ornegi, İstanbul Technical University, Institute
desta pesquisa. of Science and Technology, Department of Urban and Region Planning,
Sobre os locais que comercializam os insumos regionais que compõem Region Planning, MA Thesis, İstanbul.2012
a alimentação da cidade, foi realizado no site da prefeitura municipal (7) KRAUSE, R. W.Aspectos determinantes na percepção da qualidade dos
de Manaus, que através da Secretaria Municipal de Abastecimento, serviços na experiência gastronômica turística. Caderno Virtual de
Turismo. Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p.19-33.2014
Mercado e Feira - SMAMF assim como no Google Earth para elaborar
(8) GÁLVEZ, Jesús Claudio Pérez; GRANDA, Marlene Jaramillo;
o quadro 02. GUZMÁN, Tomás López;, CORONEL, Jose Reinoso. Local gastronomy,
Quadro 02 - Levantamento de Feiras e Mercados Municipais de culture and tourism sustainable cities: The behavior of the American
Manaus tourist. Sustainable Cities and Society 32 (2017) 604–612
No. Local (9) MASOUD, H.; MORTAZAVI, M.; TORABI FARSANI, N. A study
1. Mercado Municipal Senador Cunha Melo on tourists’ tendency towards intangible cultural heritage as an attraction
2. Mercado Municipal Walter Rayol (case study: Isfahan, Iran). City, Culture and Society, [s. l.], 2018.
3. Mercado Adolpho Lisboa Disponível em:
4. Mercado Dorval Porto <https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&AuthType=ip,sso
5. Mercado Municipal Da Glória &db=edselp&AN=S1877916617302278&lang=pt-br&site=eds-live>.
6. Mercado Municipal Maximino Corrêa Acesso em: 9 set. 2019.
7. Mercado Municipal Dr. Jorge de Moraes (10) SANTA-CRUZ, Francisco González, LÓPEZ-GUZMÁN, Tomás.
8. Mercado Municipal do Morro da Liberdade
Culture, tourism and World Heritage Sites. Tourism Management
9. Feira Municipal Jardim dos Barés
Perspectives 24 (2017) 111–116,2017.
10. Feira Municipal do São Francisco
(11) PÉREZ GÁLVEZ, J.C.; GRANDA, M.J.; LÓPEZ-GUZMÁN, T.;
11. Feira Municipal Do Parque Dez
CORONEL, J.R.. Gastronomia, cultura local e turismo em cidades
12. Feira Moderna da Banana
sustentáveis: O comportamento do turista americano. Sustainable Cities
13. Feira da SEPROR
and Society, 32, 604–612. doi: 10.1016/ 2017
14. Feira Coberta da Japiinlândia
(12) XAVIER MEDINA, F. Reflexiones sobre el patrimonio y la
15. Feira do produtor
alimentación desde las perspectivas cultural y turística Reflections on food
16. Feira Do Zumbi
and heritage from a cultural and tourism perspective.Universidad Nacional
17. Feira Regional do Millennium
Autónoma de México, Instituto de Investigaciones Antropológicas.2017
18. Feira Livre Do Nova Cidade
(13) HUSSAIN, Z.; LEMA, J.; AGRUSA, J. Enhancing the Cultural
19. Feira Modelo da Compensa
Tourism Experience through Gastronomy in the Maldives. Journal of
20. Feira Vale Do Amanhecer
Tourism Challenges and Trends, Vol. V, No. 2, 2012, p. 71-84. 2012
21. Feira de Produtos Regionais
(14) TSAI, Chen-Tsang (Simon), WANGB, Yao-Chin (2017). Experiential
22. Feira Municipal da Panair
value in branding food tourism. Journal of Destination Marketing &
23. Feira da FAS
Management 6 (2017) 56–65.
24. Feira do Bairro de São Jorge
<http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=hjh&AN=9911
25. Feira Municipal da Maués
0795&lang=pt-br&site=ehost-live>. Acesso em: 30 out. 2018.
26. Feira de produtos regionais da ADS
27. Feira Da Barcelos
(15) HILLEL, David, BELHASSEN, Yaniv, SHANI, Amir (2013). What
28. Feira do Santo Antônio
makes a gastronomic destination attractive? Evidence from the Israeli
29. Feira De Produtos Orgânicos
Negev. Tourism Management 36,200 e 209.2013
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados dos sites da Secretaria Municipal de (16) SINHA, Nilanjana, CHAUDHURY, Himadri Roy,
Abastecimento, Mercado e Feira - SMAMF assim como no Google Earth, 2020. MAZUMDAR,Sitanath. Understanding Gastronomic Taste of
Cosmopolitan Consumers: Study on Bengali Themed Restaurants in
Os resultados iniciais irão embasar o levantamento para posterior Kolkata. Vilakshan, XIMB Journal of Management, Vol.13 (I),
catalogação dos insumos e produtos alimentícios locais. Para March.2016
posteriormente organizar um material que irá subsidiar as 4 palestras (17) PRODANOV, C. C. Metodologia do trabalho científico [recurso
que serão ministradas nas Escolas Estaduais, visando a difusão e eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. /
valorização dos resultados alcançados. Ressalte-se o registro da Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo
gastronomia da cidade de Manaus, que tem poucos livros publicados Hamburgo: Feevale.2013
sendo eles: A Cozinha Amazônica de Bruna Trevisani (2002),
Gastronomia Amazônica das autoras Lauriene Faraco e Geni Cauper
478
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
Carne Carne 20
Frontal Empórios 18
479
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Localização Quantidade
Setor de Peixe 09
Setor de Carne 09
Parte Externa 02
Prédio principal 01
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Leandro Restrepo1, Ana Larissa,2, Adryane Gorayeb3, Eveline de Alencar Costa4, Rafael Q. G. Amaral5
1
Aluno do curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará leandroflaviorestrepo@hotmail.com
2
Geógrafa pela Universidade Federal do Ceará
3
Professora do Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará
4
Professora do Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
5
Professor do Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
METODOLOGIA
481
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
Diante do estudo realizado conclui-se que os alimentos provenientes
da caça são culturalmente consumidos pelos indígenas da
comunidade dos “Mendonça” do Amarelão, e compõem suas
tradições alimentares. Portanto, a pesquisa conseguiu identificar
elementos importantes da cultura alimentar desse povo como os
animais comumente caçados (tatu, peba e pássaros), formas de
preparo (cozido, torrado e temperado com várias ervas e especiarias
como louro, alho, pimenta do reino e alho poró) e as preferências de
consumo.
AGRADECIMENTOS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. lucasbraga712@gmail.com
2
Docente do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
ASPECTOS HISTÓRICOS
INTRODUÇÃO
Há mais de meio milênio, desde a invasão das Américas que se tenta
O ato de comer é um dos mais indispensáveis em nossa sociedade e se saber de onde essa planta se originou, já se acreditou que nasceu no
faz presente nas relações sociais desde os primórdios. A gastronomia é México e de lá seguiu para os Estados Unidos e Antilhas. Nasceu a leste
um campo que nos proporciona uma imensa variabilidade de insumos, e a nordeste da Bolívia e Paraguai e sudoeste do Brasil. Nasceu na
preparos e possibilidades que, ao longo da história, foram responsáveis Colômbia. Inúmeros são os debates de onde o milho se originou (6).
por construir e desenvolver inúmeros costumes e tradições em nossa
sociedade. O milho, insumo proveniente da América Central, é um Segundo Freitas (7), em seu estudo genético-evolutivo usando amostras
exemplo que irá ser utilizado como objeto central deste estudo. arqueológicas de milho, nos mostra que este insumo, consumido desde
as civilizações mais antigas tem sua origem na américa central, sendo o
Também chamado de abati, auati e avati, o milho (Zea mays) é México considerado o berço de sua produção.
milenarmente utilizado na alimentação de humanos e animais. Foi
amplamente cultivado por povos nativos das américas, como os astecas, O milho é uma gramínea pertencente à família Poacese e à espécie Zea
maias e incas. Ele é um dos cereais mais cultivados e consumidos no mays L., sendo que todos os milhos existentes pertencem a essa única
Brasil e sua versatilidade permite que dele sejam feitas diversas espécie. É uma das plantas com maior variabilidade genética, o que
preparações, como canjica, cuscuz, pamonha, pipoca e mugunzá (1) permitiu vários trabalhos de sucesso no melhoramento genético, com
início por volta de 1930, resultando no que hoje é conhecido como milho
Magalhães (2017), identificou que o cultivo de milho no Brasil é feito híbrido. Essa espécie é obtida de linhagens mais promissoras para
em grande parte por agricultura familiar, sem muita utilização de novas capacidade de combinação e o cruzamento entre elas (8)
tecnologias. Essa agricultura utiliza das plantações para subsistência e
para maior variedade na alimentação, criam novas formas e usos Consumido em larga escala, tanto na forma de grãos secos como verde,
culinários para o mesmo produto. Ainda de acordo com Magalhães o milho utilizado no Brasil, antes da era do híbrido, era o milho cateto e
(2017), o milho tem sua importância além da sua variedade de os provenientes do seu cruzamento com milhos americanos sentados.
derivados, pois na sua composição química existem diversas substâncias Como grãos verdes para consumo in natura, o milho é conhecido
importantes para uma boa alimentação. Um exemplo é o amido, que popularmente como milho verde, e, como tal, pode ser consumido
rapidamente pode ser convertido em açúcar no organismo. (2) cozido ou assado, processado para fazer curau, pamonha e suco e, ainda,
como ingrediente para a fabricação de bolos, biscoitos, sorvetes, entre
Este estudo tem como principal objetivo investigar o milho e, mesmo outros (8)
que de forma breve, expor um pouco de sua história e origem, bem como
explorar sua usabilidade e versatilidade na gastronomia, abordando É perceptível que os estudos arqueológicos e científicos acerca da
preparos populares que o tenham como principal ingrediente. A escrita origem e história do milho são inúmeros e de grande importância para
desta revisão bibliográfica tem também a finalidade de expandir ainda um aprofundamento ainda maior deste insumo. No entanto, não se deve
mais o número de fontes para estudos e pesquisas acerca deste insumo desconsiderar as histórias, mitos e lendas contadas em versões de
tão importante e evidenciar sua contribuição para a nossa cultura diferentes povos ao longo da história, como os TupiGuarani e outros
alimentar brasileira. indígenas.
MATERIAIS E MÉTODOS É de muita importância que essas e outras narrativas sejam levadas em
consideração uma vez que se deseja investigar um insumo tão antigo
A pesquisa se caracteriza como qualitativa, pois busca a compreensão quanto o milho. Cada uma delas traz consigo a cultura, história e
do objeto estudado, o milho. O estudo foi mais aprofundado nos quesitos costumes de um povo, nos revelando também o valor que era dado ao
históricos e culturais e de forma menos numérica ou estatística (3). Os alimento na época. Retratando a origem de insumos (como é o exemplo
objetivos são qualificados como exploratórios (4) pois têm como da mandioca ou do milho) considerados tão essenciais em grande parte
finalidade promover uma visão geral acerca do milho e da sua das vezes como símbolos de renascimento e esperança.
aplicabilidade na gastronomia por meio de levantamento bibliográfico
sobre o cereal, sua história e aplicações gastronômicas, a efeito de O MILHO NA GASTRONOMIA
proporcionar maior clareza a respeito do milho, cereal tão presente na
gastronomia brasileira. Segundo Ornellas (9), O milho é exemplo de hortaliças, que são muito
importantes por fornecer vitaminas, minerais e aumentarem o resíduo
Segundo Ângelo (5), a pesquisa pode ser definida como bibliográfica e alimentar no trato digestivo.
documental. Bibliográfica pois foram utilizados materiais já publicados
para reunir informações acerca do objeto estudado. Documental por No entanto, limitar este insumo apenas a suas funções nutricionais ou
utilizar de documentos variados a fim de ter conhecimento sobre o suprimento das necessidades biológicas seria uma análise importante,
assunto. Ainda conforme Ângelo (5), foi utilizado o método porém incompleta. O milho é um insumo conhecido por sua
exploratório, pois foi feito um levantamento bibliográfico sobre o milho versatilidade e, por este motivo, se faz muito presente na gastronomia
e foram analisados exemplos de preparações que levam esse insumo em de muitas regiões. Cascudo (6) também cita a popularização deste
sua constituição, também por meio de levantamento bibliográfico insumo até os dias de hoje devido a sua simplicidade e variabilidade de
consumo. O milho, de fato, se faz muito presente no gosto popular
através de preparos muito conhecidos como é o caso do cuscuz e da
pamonha. A seguir será explorado de forma breve acerca destes
preparos típicos brasileiros em que o milho é o protagonista.
483
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
PAMONHA
CONCLUSÃO
A Pamonha pode ser considerada um dos preparos mais populares onde
o milho está presente como protagonista. Em suas escritas acerca da
São inúmeros os aspectos que podem ser usados para definir os desejos
história da alimentação, Cascudo (6) nos afirma que a pamonha está
e necessidades do ser humano. Muitos são construídas através de
entre os preparos herdados dos indígenas. Hoje esse preparo é tido como
fatores como crenças, tradições e comportamentos que surgem no meio
uma das receitas regionais brasileiras, marcando presença frequente na
social como atos, em sua grande maioria, culturalmente desenvolvidos.
gastronomia de rua de inúmeras regiões.
A história e exemplos de usabilidade do milho neste estudo mostram
que o ato de comer é um exemplo dentre estes aspectos e evidencia sua
Quando se fala em pamonha, espera-se com especificidades de receitas importância através de uma construção histórica e cultural,
de acordo com cada região brasileira. Foi adorada então a especificação desenvolvida através destes fatores já supracitados.
de produção do Centro-oeste, mais precisamente de Goiás, onde o
produto pamonha pode ser encontrado em pamonharias nas cidades,
É inegável a importância deste insumo não só para a indústria
mercados e até rodovias (10).
alimentícia, mas também sua contribuição para a gastronomia e cultura
alimentar de inúmeras regiões do nosso país, como é o caso do Centro-
Não se deve deixar aqui de citar a importância da Pamonhada. Costume Oeste, por exemplo. Tradições como a Pamonhada, por mais que
muito comum em locais da região Centro-Oeste que, segundo Péclat venham desaparecendo com o tempo, reafirmam que a comida também
(2005), foi um dos marcos para a entrada dos homens na cozinha para é símbolo de memória afetiva e seu valor vai muito além da satisfação
que fossem realizadas tarefas como cortar, selecionar e ralar o milho. das necessidades biológicas do indivíduo. Também contribui para a
Com o papel de agregar famílias, a Pamonhada tem sido esquecida, construção e desenvolvimento de costumes e tradições, onde a
ficando apenas na lembrança e que alguns estabelecimentos comerciais versatilidade do milho nos presenteia com os mais diversos preparos.
tentam resgatar. Porém, é possível que quem come uma pamonha
consiga resgatar as lembranças "da cozinha da vovó e dos tempos de
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quintais" (11)
1 - MACHADO, D. D; Becker, E. L. S. (2016) Milho: a versatilidade
Observa-se que a pamonha é um preparo de gerações e de extrema de um alimento saboroso e os retratos de uma história. in Produtos
importância quando se trata de gerar memórias gastronômicas e agroalimentares e desenvolvimento regional / Organização: Marquetto,
lembranças do passado. Mais do que um alimento nutricionalmente R. M; Silveira, J. S. T. da. (orgs.) Santo Ângelo: FuRI. p. 187.
importante e de sabor agradável para muitos, a pamonha também é um 2 - MAGALHÃES, C. F.. Análise dos processos logísticos de uma
verdadeiro símbolo de afetividade e torna o ato de comer uma empresa brasileira produtora de pamonhas: um estudo de caso. 2017. 73
experiência ainda mais prazerosa. f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Empreendedorismo e
Internacionalização, Instituto Superior de Contabilidade e
Administração do Porto Instutito Politécnico do Porto, Porto, 2017.
CUSCUZ
Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.22/11245. Acesso em: 31
ago. 2020
Na mesma perspectiva, a farinha de milho se encontra presente na 3 - APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da
culinária brasileira. Tendo uma riqueza de formas devido seu sabor bem pesquisa. Thomson, 2006.
aceito, assim como seu custo reduzido e ampla disposição no mercado 4 - GIL, A. C.. Métodos e Técnicas de pesquisa social. editora Atlas.
(12). São Paulo–SP, 1999.
5 - ANGELO, E. R. B.. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo.
O cuscuz é um prato originário do Maghreb, região do norte da África, Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
consiste em um preparo de sêmola de cereais, principalmente trigo,
como também de farinha, polvilho, milho ou mandioca. Pode ser
incrementado com muitos ingredientes. No Brasil, corresponde a uma 6 - CASCUDO, L. C.. História da alimentação no Brasil. 3. ed. São
massa de milho, pilada, temperada com sal, cozida ao vapor d’água e Paulo: Global Editora, 2004.
depois umedecida com leite de coco, com ou sem açúcar. (6)
7 - FREITAS, F. O. Estudo genético-evolutivo de amostras modernas
Sendo comum usos como leite de coco ou, em alguns casos, até mesmo e arqueológicas de milho (Zea mays, L.) e feijão (Phaseolus vulgaris,
açúcar. No início a moagem era feita artesanalmente com a moagem L.). Piracicaba, 2001.
caseira do milho em casa, sendo nos tempos atuais produzida em escala 8 - UDRY, C. V.; DUARTE, W (orgs). Uma história brasileira do
industrial e vendo nacionalmente para consumo em diversas refeições. milho: O valor dos recursos genéticos. Brasília: Paralelo 15,
Sendo comumente consumido em cafés da manhã com manteiga e 2000.
algumas vezes dissolvido no leite da vaca, cuscuz com leite, ou na sopa
(6). 9 - ORNELLAS, L. H. Técnica Dietética. Seleção e preparo de
alimentos 7.ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2001
No entanto, é valido mencionar que este preparo pode diferir de modo 10 - ARAÚJO, W. M. C. Da alimentação à gastronomia. Brasília:
significativo de acordo com a região em que é preparado. No estado de Editora Universidade de Brasília, 2005
São Paulo, por exemplo, temos a popularização do cuscuz paulista,
onde o preparo comumente é cozido em uma forma redonda com furo 11 - PÉCLAT, G. T.S. C. Hábitos alimentares e a noção
no meio e em sua estrutura, antes da cocção, são incrementados simbólica do comer em Goiás GUANICUNS: Revista da
ingredientes como o ovo e a sardinha, por exemplo. Faculdade de Educação e Ciências Humanas de Anicuns.
FECHA/FEA - Goiás, 02, 211-223, 2005
Embora muito apreciado, pelo motivo de cada região ter sua 12 - GUERREIRO, L. Dossiê técnico: farinhas não tradicionais. 2006.
peculiaridade para com a preparação do prato, demonstrou-se notável Instituição responsável: REDETEC - Rede de Tecnologia do Rio de
desapreço por versões de outras regiões, como cita: Janeiro. Disponível em: <http://respostatecnica.org.br/dossie-
tecnico/downloadsDT/MjM=>. Acesso em: 02 SET. 2020.
“A Gastronomia do Ceará caracteriza-se por sabores https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/download/188/177/
marcantes de diversas regiões. Os de alimentos típicos da 13 - MARQUES, M. T. P. A Gastronomia do Ceará como atrativo
fauna e da flora, do azedo ao doce, do salgado ao insosso,
turístico. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão de Negócios
todos têm sua história na culinária do local. Litoral, sertão
Turísticos) — Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2014.
e serra, mistura de alimentos, hábitos, costumes e cultura é
que fazem a gastronomia do Cearense. Alimentos exóticos
de gosto forte como buchada, panelada ou cuscuz não são
apreciados pelos visitantes, são mais atrativos para
residentes habituados a pratos exóticos” (13).
484
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A ideia dessa pesquisa iniciou após conversar com a doceira Maria de QUESTIONÁRIO
1. Nome completo e idade.
Fátima, conhecida como Betinha Cafumbó, que faz o doce seco em 2. Com quem você aprendeu a fazer o Doce Seco?
Caicó. No início de 2018, estando com ela, tive curiosidade em saber 3. Quem fez o doce pela primeira vez na família?
mais sobre suas tias que eram exímias doceiras. Dentre tantos doces, 4. Por que tem o nome de Doce Seco?
conheci o doce seco e tive curiosidade em saber mais sobre ele, pois 5. Hoje mais alguém na família faz o Doce Seco? Quem? (Nome e idade)
6. O que representa o doce para você? E para sua família?
segundo Betinha, poucas doceiras da região do Seridó detém a arte do 7. Você tem prazer em fazer o Doce Seco? Te traz alguma recordação?
saber-fazer do doce seco, além de ser trabalhoso. Foi então, que deu 8. Esse doce tem alguma história? Alguma curiosidade?
início a uma pesquisa de campo qualitativa, a fim de obter mais 9. Quais os ingredientes usados para fazer o doce de espécie? São moídos?
Ralados? E como ele é feito?
informações sobre o doce seco. 10. Quais os ingredientes da capa? E como é feita?
Inicialmente, como parte da pesquisa era identificar as doceiras que
praticam essa arte do saber-fazer do doce seco, as doceiras foram
A partir das informações obtidas com as doceiras, foi possível fazer
identificadas nos municípios de Caicó, São João do Sabugi, Jardim do
uma comparação entre as receitas para identificar a existência ou não
Seridó e Jardim de Piranhas. Em Caicó apenas uma doceira, Maria de
do uso de diferentes técnicas e ingredientes no preparo dos doces
Fátima (Betinha Cafumbó), em São João do Sabugi duas doceiras, Zélia
produzidos na região do Seridó.
Fernandes e Birosa, porém esta última, pela idade avançada, não faz
mais doce seco e não passou adiante o saber-fazer, em Jardim do Seridó
duas doceiras, Vandilza e Maria das Dores (Dorinha) e em Jardim de RESULTADOS E DISCUSSÃO
Piranhas mais duas doceiras Maria Leonor e Mônica Maria (Nuta),
porém já falecidas e não repassaram o saber-fazer do doce seco. Atualmente, foi identificado apenas quatro doceiras produzindo o doce
Para encontrá-las entrei em contato, através das redes sociais, com seco na região do Seridó, através delas foi possível obter mais
seridoenses que conheci durante a graduação em gastronomia. O informações sobre o doce, sobre o seu preparo e sobre as próprias
primeiro contato foi através do Chef Walter Dantas, que me apresentou doceiras. Das quatro entrevistas planejadas, apenas uma foi presencial,
Josenice Garcia de Morais Medeiros, moradora de São João do Sabugi a da doceira Betinha Cafumbó de Caicó, as outras três doceiras, Zélia
Fernandes de São João do Sabugi, Vandilza e Dorinha de Jardim do
Seridó, tiveram que ser remotas, devido a pandemia causada pelo novo
coronavírus Covid-19, prejudicando o processo de obtenção de
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
informações mais detalhadas e acompanhamento do preparo do doce durante duas semanas, foi obtido 296 respostas, das quais 61 pessoas
seco. (21%) responderam que conheciam o doce seco, 12 pessoas (4%)
De acordo com as informações passadas pelas doceiras, o recheio do responderam que conheciam pelo nome de beira seca e 75% não o
doce seco, o doce de espécie (figura 2), é feito igualmente por todas conheciam. Sendo que o percentual de pessoas que responderam que
elas, usando os mesmos ingredientes, rapadura escura, farinha de conheciam o doce seco estão na faixa etária de 50 a 59 anos.
mandioca, leite de coco, castanha de caju, cravo, canela, erva-doce e
gengibre. Porém, no preparo da capa que o envolve, há diferenças tanto Figura 4 – Doce seco de Jardim do Seridó – Dorinha
nos ingredientes quanto no preparo. O doce feito em Caicó (figura 3)
tem a capa feita com farinha de mandioca, goma seca e água indo ao
fogo para se transformar numa massa que posteriormente é sovada para
ser recheada. Os doces de São João do Sabugi (figura 4) e de Jardim do
Seridó (figura 5) usam farinha de trigo e água para a confecção da capa,
sendo que uma das doceiras não leva essa mistura ao fogo para dar o
ponto da massa, o ponto é dado sem que haja cocção, depois das massas
atingirem o ponto desejado, são sovadas para serem recheadas com o
doce de espécie. Após finalizado esse processo os doces ficam
aproximadamente dois dias em temperatura ambiente para secarem e o
doce seco de Caicó passa por mais um processo, o de ser pintado com
corante comestível.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
Por saber das doceiras que o doce vive um processo de extinção, foi
feito uma enquete online através de formulário para saber o quanto é
conhecido dentro e fora do estado do Rio Grande do Norte, onde
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Se, a comida é um monumento involuntário, diferente de uma (3,4) Montanari, Massimo. A fome e a abundância: história da
estátua ou um memorial, que são intencionais, podemos, enquanto alimentação na Europa; tradução Andréa Doré. Bauru: Edusc,
observadores do passado, explorar seu caráter de documento. Se, 2003.
como disse Le Goff, o documento é uma escolha do observador, (5) Holanda, Sérgio Buarque. Caminhos e fronteiras. 89. Rio de
escolhemos usar a comida monumento como tal. As comidas janeiro: Livraria José Olympio, 1957.
típicas, nos trazem informações documentais. O Arroz de (6) Le Goff, Jacques. Documento/monumento, 1990.
Carreteiro, por exemplo, é o retrato de um Brasil nômade, dos (7) Di Giovanni, Roberto e Alves Filho, Ivan. Cozinha brasileira
mercadores pioneiros que levavam produtos para os cantos mais com recheio de história. Rio de Janeiro: Revan, 2000.
remotos deste país continental, ao assobio das rodas dos carros de Marinho, Cláudia, Org.; Caetano, Patricia, Org.; Ribeiro, Walderi,
boi. Os carreteiros. O nome do prato já é documental, nos diz de (8)http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes
quem e pra quem. Um prato que traz carne seca e arroz, insumos /85/patrimonio-imaterial
não perecíveis, transportáveis e práticos, ideais para o nomadismo.
No livro Cozinha brasileira ( com recheio de história) de Ivan
Alves Filho & Roberto Di Giovanni essa ideia é confirmada:”A
culinária, por exemplo, nos fornece uma uma prova suplementar da
frequência com que ocorre o nomadismo no Brasil. ‘O verbo da
vida é andar’, sentenciou uma vez o escritor Álvaro Moreyra. E aí
estão o arroz de carreteiro, feijão tropeiro e a comida de
camboeiro ( uma espécie de paçoca - do tupi paçoc, esmigalhar -
de carne com farinha) que não nos deixam mentir. Pratos nômades
por excelência, preparados em meio aos solavancos das carroças e
tropas de muares…”(7). Dessa forma a comida se torna documento
de um lugar no tempo e seu contexto natural, cultural e
socioeconômico.
Se nós, quando olhamos para esse monumento enquanto
observadores distanciados, o transformamos em documento, pra
quem está inserido no contexto que ele representa, esse
monumento ganha um significado muito mais profundo. Ele se
torna patrimônio cultural. Segundo o IPHAN, patrimônio cultural
traz “referências simbólicas dos processos e dinâmicas
socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de
tradições fundamentais para as identidades de grupos, segmentos
sociais, comunidades, povos e nações.[...] remete � riqueza
simbólica, cosmológica e tecnológica desenvolvida pelas
sociedades, e que é transmitida como herança ou legado. Diz
respeito aos conjuntos de conhecimentos e realizações de uma
sociedade ou comunidade que são acumulados ao longo de sua
história e lhe conferem os traços de sua identidade em relação às
outras sociedades ou comunidade”.(8). É esse caráter identitário
que transforma o monumento em patrimônio cultural. E nesse
ponto ele vai além de um mero documento, ele está relacionado ao
pertencimento, auto estima, auto conhecimento, memória afetiva,
memória sensorial, conforto, acolhimento. Deixa de ser um
narrativa fria e se torna quente, viva e ativa. Se como dito acima,
nem toda comida regional é típica, toda comida típica é tão
regional quanto a cultura de que é fruto, e como sabemos, os
espaços e a cultura modificam e moldam um ao outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Dória, Carlos alberto. Formação da culinária brasileira. São
Paulo: Publifolha, 2009.
(2) Org. Das artes e seus percursos sensíveis. São Paulo:
Intermeios; Brasília: capes; CNPq, 2016. P 201 à 206.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS Figura 1: Porcentagem (%) da aquisição de frutas regionais por Unidade
de Federação segundo a diversidade.
Fonte de dados e amostragem
Foram utilizados dados secundários provenientes da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) realizada entre maio de 2008 e maio de
2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF
2008/2009 utilizou plano amostral complexo, por conglomerados com
sorteio dos setores censitários em um primeiro estágio e de domicílios
em um segundo, de modo que, ao final, 55.970 domicílios foram
pesquisados. A informação analisada no presente estudo se refere às
aquisições de alimentos e bebidas para consumo domiciliar feitas pelas
famílias, durante um período de sete dias consecutivos, e registradas
diariamente por um dos moradores do domicílio ou por entrevistador
do IBGE. O procedimento amostral e as condutas empregadas para
coleta de dados são descritos detalhadamente em publicação específica
(3, 4).
Classificação das frutas regionais Já a figura 2 mostra a aquisição segundo áreas urbanas e rurais de cada
O grupo de frutas regionais foi identificado a partir da classificação da UF. Os domicílios da área urbana foram o que mais apresentaram
segunda edição do livro Alimentos Regionais Brasileiros (2015) do aquisição de frutas regionais (85,76%) e a rural a menor (14.24%) sendo
Ministério da Saúde (5). Ele apresenta alimentos típicos de cada uma 2.422 e 402 domicílios, respectivamente. Tanto na área urbana
das cinco macrorregiões do País e receitas de preparações culinárias que (17.96%) e rural (36.82%), Bahia foi a UF com maior participação na
utilizam esses alimentos. O Nordeste possui dezenove frutas regionais aquisição. Já a menor participação na área urbana foi de Maranhão
no total, sendo elas: Acerola, banana-nanica, banana-da-terra, cacau, (6.65%) e na rural Alagoas (1%). A aquisição das frutas da Bahia na
cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê, fruta-pão, graviola, juá, área Rural e do Maranhão na área urbana são equivalentes. As outras
mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo, umbu (5). UFs que não foram citadas tem um consumo similar com elas mesmas
nas áreas urbanas e rurais, mas em dimensões diferentes, como
Foram considerados apenas aquisição de alimentos in natura que mostrado na figura 2.
segundo a Classificação NOVA, onde classifica os alimentos segundo
seu grau de processamento (6), “são aqueles alimentos obtidos Com base nos resultados, vimos que uma pequena parcela dos
diretamente de plantas ou de animais (como folhas e frutos ou ovos e domicílios estudados (15.5%), cerca de 2.824, apresentaram a aquisição
leite) e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer de frutas regionais, isso se deve ao desconhecimento do potencial das
alteração após deixarem a natureza”(6), assim respeitando a espécies alimentícias nativa, limita significativos ganhos nutricionais,
recomendação da segunda edição do Guia Alimentar Para a População ecológicos, sociais e econômicos potenciais, advindos do seu cultivo,
Brasileira (7) onde recomenda os alimentos in natura e minimamente consumo e comercialização (2).
processados como a base da alimentação.
489
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Disponível em:
Figura 2: Porcentagem (%) da aquisição de frutas regionais segundo <http://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade/category/142-
área urbana e rural serie-biodiversidade.html>, Acesso em: 15 de agosto de 2020.
Vale ressaltar que os dados que foram analisados nesse estudo são de
uma década atrás. O IBGE liberou alguns resultados preliminares da
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018 de aquisições de
alimentos e bebidas para consumo domiciliar, e analisou a Aquisição
alimentar domiciliar per capita anual (Kg) por grupos de produtos e viu
que o consumo de frutas diminuiu comparado a 2008-2009 (9). Uma
limitação do estudo foi não conseguir identificar as frutas consumidas,
apenas quantas vezes ela apareceu nos domicílios por conta do método
estatístico utilizado.
CONCLUSÃO
Concluímos que o consumo de frutas regionais ainda representa uma
pequena parcela da aquisição dos domicílios do Nordeste Brasileiro,
apresentando pouca diversidade e uma maior aquisição na área urbana
do Nordeste.
REFERÊNCIAS
1. SILVA, L. E. S; CLARO, R M. Consumo de frutas e hortaliças
em adultos no município de São Paulo: a influência dos locais de
aquisição e consumo de alimentos. 2015. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.
490
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: Alimentos Tradicionais, Patrimônio Este estudo se baseia no método da revisão de literatura, a partir de
pesquisa descritiva, bibliográfica, documental e de campo. utilizando
Imaterial, Gastronomia Baiana. entrevistas com roteiros semiestruturados. Estudos publicados entre
1993 e 2019, envolvendo livros e artigos foram consultados. Além
disso, foram consultados também documentos legais nacionais
INTRODUÇÃO relacionados. Entrevistas e pesquisa documental foram feitas no
Memorial das Baianas, na Associação das Baianas de Acarajé,
Na cidade de Salvador na Bahia, o fim de tarde é perfumado pelo Mingau, Receptivo e Similares (ABAM) e na sede do IPHAN, em
aroma intenso do azeite de dendê (Elaesis guineensis L) que ferve Salvador, no período de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020.
nos tachos onde são fritos os acarajés – bolinhos de feijão fradinho
(Phaseolus angulares Wild) temperados com sal e cebola. O preparo RESULTADOS E DISCUSSÃO
do acarajé demanda técnica na manipulação do feijão fradinho para
preparação da massa, pois o feijão deve ser colocado de molho para A UNESCO (2019) concebe como sendo manifestações de
retirar a casca, em seguida moído e batido com cebola ralada e sal Patrimônio Cultural Imaterial a serem preservadas as tradições
(QUERINO, 1957). culturais em diversos níveis, gerando um sentimento de identidade,
O acarajé tem origem africana e foi introduzido Brasil por continuidade, respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
escravizados nagôs do Daomé (BORGES, 2008). A palavra acarajé No Brasil, o órgão responsável por preservar o patrimônio histórico e
tem sua origem etimológica do Iorubá Acará (fogo) e ajeum (comer) artístico é o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
que, segundo o IPHAN (2007, p. 15) se originou a partir do ato de IPHAN, (BRASIL, 2019), atualmente uma autarquia federal
mercar a iguaria pelas ruas, onde se anunciava: “acará, acará ajé, vinculada ao Ministério da Cultura, criado pela Lei nº378, de 13 de
acarajé”. Acará é, portanto, a bola de fogo, referência aos tons janeiro de 1937.
alaranjados que assume a superfície dos bolinhos após serem fritos O Decreto nº 3.551 do IPHAN estabelece que o Registro de Bens
no azeite de dendê. Culturais de Natureza Material e Imaterial seja organizado em quatro
A bola de fogo é também a comida dos Orixás, alimento predileto de livros específicos de documentação. Um dele é o Livro de Registro
Xangô e sua mulher Oiá. Muitas são as histórias da relação destes dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer
Orixás com o ato de comer o fogo (acará ajé), sendo, portanto, um enraizados no cotidiano das comunidades. Neste inventário consta o
elemento importante no rol de alimentos votivos, preparados com Ofício das Baianas de Acarajé de Salvador, Bahia. Este consiste em
cuidado para o Orixá seguindo suas preferências. O formato do uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiros, nas ruas,
acarajé pode variar a partir dos rituais aos quais estão inseridos, bem das chamadas comidas de baiana ou comidas de azeite, no qual se
como a nação de origem do terreiro, mas se prevalece os ingredientes destaca o acarajé, um clássico do setor informal de alimentos da
e os modos de fazer (IPHAN, 2007). cidade. (IPHAN, 2007).
Roger Bastide (2001) aponta que a cozinha baiana recebeu influência De origem sagrada, esta comida popularizou-se e passou a marcar a
da cozinha ritual dos terreiros de candomblé, sendo as cozinheiras sociedade baiana e a culinária regional. E se estabelece como
dos senhores e sobrados herdeiras da ancestralidade africana, patrimônio alimentar brasileiro, valorizando e promovendo a comida
inserindo no cardápio da cozinha europeia na Bahia os pratos e os de rua ao rol das tradições alimentares singulares nacionais (IPHAN,
ingredientes de origem na cozinha africana. 2007).
Ao mote de cozinheiras que somaram na construção da cultura Assim, entre os elementos essenciais e identitários do Ofício das
alimentar na Bahia, estão as quituteiras que, na Bahia colonial, Baianas do Acarajé, citam-se:
vendiam o acarajé, o acaçá, o abarém e o mingau, entre outros, • os rituais envolvidos na produção do acarajé, na arrumação do
alimentos mercados por mulheres, promovendo ganhos que no tabuleiro e na preparação do lugar onde as baianas se instalam;
contexto da sociedade escravista contribuíram para a consolidação • os modos de fazer as comidas de baiana;
das estratégias de conquista e de manutenção da liberdade de • o uso do tabuleiro para venda das comidas;
mulheres escravizadas, alforriadas e livres. • a comercialização informal em logradouros, feiras e festas de
A venda dos quitutes pelas ruas no Brasil Colonial pode ser inclusa largo;
no que Negro e Gomes (2006) apontam como comércio de • o uso da indumentária própria das baianas, como marca
abastecimento, com a presença cotidiana de escravizadas distintiva de sua condição social e religiosa, presente
mercadejando com a autorização dos seus senhores iguarias das mais especialmente nos panos das costas, nos turbantes, nos fios de
diversas. As quituteiras cativas entregavam as rendas oriundas do contas e outras insígnias. (IPHAN, 2007).
seu trabalho aos seus senhores, ficando apenas com uma pequena A Figura 1 apresenta os aspectos constituintes do tabuleiro de vendas
parte que era destinada à sua alimentação e, por vezes estes pequenos e da indumentária ligados ao Ofício das Baianas de Acarajé.
recursos possibilitavam o acúmulo de pecúlio necessário à conquista
da alforria (ALMEIDA, 2006). Figura 1 – Ofício da baiana de acarajé de Salvador e seu
Inicialmente, apregoar acarajé pelas ruas da cidade pode ser tabuleiro de vendas
considerada uma estratégia de garantia da sobrevivência. Tal prática,
perpetuada ao decorrer de séculos, se tornou um símbolo da cultura
alimentar do Brasil, recebendo a insígnia de Patrimônio Imaterial
brasileiro. O presente trabalho, tem objetivo compreender o
significado da inscrição do Ofício das Baianas de Acarajé no livro de
registro de saberes do Iphan, seus aspectos regulatórios e os
elementos que compõem o ofício.
MATERIAL E MÉTODOS
491
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
492
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODU�O
A gastronomia é um elemento bastante significativo na a partir da fervura do caldo de cana, e, em seguida, é moldada e
interpretação da identidade de um povo, e, consequentemente, seca (5).
participa da formação cultural de uma sociedade. A partir dela, No decorrer dos anos de colonização, esse produto foi se
então, desenvolvem-se as tradições culinárias de uma localidade, popularizando, sobretudo no Nordeste, que era a região onde se
tendo por base as vivências de receitas caseiras e das memórias encontrava a maior parte dos engenhos do Brasil. Apesar de
afetivas. Devido a enorme territorialidade do Brasil, essa existir uma certa concorrência com o açúcar e outros adoçantes,
culinária regional se manifesta de diferentes maneiras, o consumo da rapadura firmou-se de forma efetiva na culinária
dependendo dos ingredientes disponíveis, técnicas e formas de local de zonas interioranas, principalmente nos locais semi áridos,
preparo apresentando, assim, características particulares de onde localizam-se os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba,
acordo com cada região do país (1). Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí (5, 7).
O estado do Ceará destaca-se no cenário nacional pela quantidade A rapadura não era tão valorizada comercialmente, estando
de insumos regionais marcantes e pela sua gastronomia presente nas mesas das famílias com menor poder aquisitivo. Isso
tradicional rica em temperos e personalidade. Não é à toa que a pode ser explicado pelo fato desse insumo apresentar um preço
culinária cearense é motivo de grande atração turística à chamada bastante acessível e possuir um elevado teor energético em
"Terra da Luz" (2). termos nutricionais. Além disso, pela praticidade dos transportes,
Em virtude disso, o presente trabalho utiliza como tema a sabor doce e agradável, tornou-se parte da dieta alimentar do
gastronomia do Ceará e tem como objetivo valorizar os alimentos sertanejo e dos escravos, para que estes suportassem jornadas
tradicionais desse estado, dando foco à rapadura. Tal preparação exaustivas de trabalho. Ainda hoje o produto é considerado
apresenta formas e sabores variados e é para muitos cearenses a “comida de pobre” (5).
sobremesa preferida após o almoço. Sua produção é marcada pelo A região Nordeste é responsável por 67% da produção de
tradicionalismo e é uma atividade que estimula a economia local, rapadura, tendo o Ceará como principal produtor, segundo o
sendo fonte de empregos, mesmo que informais, nos grandes Censo Agropecuária da Indústria Canavieira, realizado em
engenhos produtores. 1995/1996 (8). Esse sistema produtivo é mantido pela tradição de
consumo, pelo baixo custo de produção, como também devido ao
valor energético e nutritivo da rapadura. Seu emprego regular na
MATERIAIS E MÉTODOS dieta humana combate à desnutrição.
A pesquisa desenvolvida é de origem qualitativa, que pode ser O processamento de rapadura é caracterizado pelo baixo nível
definida como o estudo de um experimento por meio da análise tecnológico, condicionado ao saber tradicional, que é transmitido
de material bibliográfico e documental. Foi realizada então uma entre as gerações e subordina o processo às habilidades dos
pesquisa a partir de material já publicado, como livros, artigos operadores. Sendo assim, a maioria das rapaduras ainda não
científicos e publicações em periódicos que abordam sobre a apresenta padronização, sendo comercializada no mercado
rapadura e as suas especificidades, e, de acordo com Marconi e informal, sem garantias de qualidade, dificultando a estruturação
Lakatos (3), “sua finalidade é colocar o pesquisador em contato e a organização dos canais de comercialização (9).
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre A integração com o mercado é baixa, a produção é comercializada
determinado assunto[…]”, logo, terá uma maior fundamentação no âmbito local, ou seja, na região interiorana, com forte presença
sobre a temática. de atravessadores, e na maioria das vezes o setor não alcança os
grandes canais de distribuição. Recentemente, algumas unidades
de produção de rapadura estão implementando melhorias no
RESULTADOS E DISCUSSÕES processo produtivo e na apresentação do produto. As primeiras
A legislação brasileira define a rapadura como: iniciativas de modernização do setor, ainda que poucas, vêm
repercutindo na qualidade da rapadura e também no seu valor
“O produto sólido obtido agregado (6, 7).
pela concentração do caldo O mercado da rapadura também sofre com a invasão de produtos
de cana-de-açúcar falsificados, como a rapadura produzida a partir do açúcar
(Saccharum officinarum L.), refinado, que é muito semelhante à rapadura processada do caldo
podendo ser adicionado de da cana-de-açúcar. Essa rapadura falsificada é difícil de ser
outro(s) ingrediente(s) desde identificada pelo consumidor, que, aliás, provavelmente
que não descaracterize(m) o desconhece essa prática ilícita (6).
produto” (4). Os fraudadores têm vantagens competitivas em relação aos
pequenos produtores, que são lesados com o que chamam de
No entanto, para surpresa de algumas pessoas, essa iguaria não
“concorrência desleal”. Como o processo da rapadura falsificada
foi criada no Brasil. A rapadura surgiu nas ilhas Canárias, em um
tem baixo custo de produção, especialmente quanto à mão-de-
arquipélago da Espanha, no século XVI, e apenas no século XVII
obra e à matéria-prima, e seu processo produtivo pode ser
foi exportada para as Américas (PAIXÃO e SOUSA, 2014).
desenvolvido em qualquer período, independente da época da
Os colonizadores portugueses foram os responsáveis em trazer
safra de cana, já que, o açúcar usado nessas falsas rapaduras pode
em 1532 a rapadura ao Brasil, que tinha, inicialmente, toda sua
ser estocado (6).
produção voltada para exportação. Essa produção em terras
O tradicionalismo e o conservadorismo dos produtores
brasileiras acontecia nos engenhos de cana-de-açúcar, alguns bem
descapitalizados e, portanto, limitados em seu potencial inovador,
simples, com moendas de madeira movidas a água ou por cavalos
repercutem em baixos níveis de inversões em melhorias
e bois. Nessa época, a rapadura era um produto sólido originado
tecnológicas. Perante esse cenário, é importante afirmar que os
das raspagens da camada espessa de açúcar que ficavam grudadas
programas de qualidade para o setor rapadureiro estão difundindo
nos tachos de fabricação do produto, e depois eram moldadas em
práticas adequadas à produção de rapadura com uma boa
formas semelhantes às de tijolos. Nos dias atuais, ela é fabricada
493
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
qualidade e buscando também envolver instituições financeiras (7) LUNA, A. Estudo sobre a crise que atualmente atinge a
para abertura de crédito aos produtores. Apesar disso, o setor agricultura canavieira no Vale do Cariri - Barbalha. Barbalha,
ainda carece de evoluções técnicas e estruturas que ajudem a 1997. 27 p.
criação de novas oportunidades no negócio e modifiquem o
sistema produtivo, melhorando o setor rapadureiro de uma forma (8) OLIVEIRA, J. C.; NASCIMENTO, R. J.; BRITTO, W. S. F.
geral (6). Demonstra� �o dos custos da cadeia produtiva da rapadura:
estudo realizado no Vale do S�o Francisco. 2007. Disponível
em:<https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Cadeia
CONCLUSÃO _produtiva_rapadura_000fjd72njv02wyiv809gkz51cga46rg.pdf
É perceptível a grande importância que a identidade de um povo > Acesso em: 11 de junho de 2019.
tem em participar da formação da cultura alimentar de uma
região. Os hábitos alimentares podem revelar os costumes (9) BORRAY, G. A R., La Panela en Colombia: un analisis de
enraizados no cotidiano de uma sociedade. Com o estado do la Cadena Agroindustrial. In: CURSO INTERNACIONAL DE
Ceará não seria diferente. A culinária cearense é derivada da CAÑA PANELERA Y SU AGROINDUSTRIA, 2., 1997,
miscigenação da tríade índio, português e africano, que Barbosa. Trabalhos apresentados. Barbosa:
participaram da formação do Brasil. A partir dessa mistura de CORPOICA/CIMPA, nov. 1997. 12p.
culturas formou-se uma cozinha tão rica em sabores, aromas e
características que mantêm a marca gastronômica do Ceará no
panorama nacional. A rapadura, então, se destaca como um dos
produtos tradicionais mais benquisto do estado e presente na
mesa dos nordestinos.
O processo de produção da rapadura carrega consigo uma grande
herança do período colonial que perdura até os dias atuais. Sua
elaboração acontece de forma artesanal, desde o cultivo da sua
matéria prima, a cana-de-açúcar, até o processamento final. Toda
essa cadeia produtiva movimenta a economia do estado e
promove o crescimento dos produtores locais.
Nota-se que apesar do valor simbólico e de toda a história que a
rapadura apresenta por ser fabricada artesanalmente, esse sistema
de produção, em muitos casos, ainda é muito rudimentar, o que
traz alguns problemas para sua comercialização. A falta de
cooperativas ou associações dos produtores provoca uma
desvalorização do produto final, sendo vendido sem uma
padronização definida e por preços muito baixos.
Diante de tudo o que foi exposto, conclui-se que a rapadura é um
produto de grande importância para a perpetuação da cultura
gastronômica do Ceará. É importante haja a introdução de
programas de incentivo à produção e a inserção de mudanças do
processo produtivo pelos produtores locais com o objetivo de
assegurar a qualidade da rapadura.
Por fim, o presente trabalho também poderá servir de fonte de
exploração e argumentação sobre esse produto tão emblemático
para os cearenses, de modo que fomente a sua valorização no
mercado nacional, além de servir de referência para futuras
análises.
REFERÊNCIAS
(1) CASCUDO, L. C. Hist�ria da alimenta�
�o no Brasil. São
Paulo: Global, 2004.
494
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODU�O
A doçaria, pastelaria ou confeitaria é a especialidade da cozinha Entre os séculos XVI e XVII foi uma época de grande afeição
que se destina a produzir os alimentos doces. Possivelmente o pela confeitaria. As cortes reais contratavam os melhores artistas
primórdio da pastelaria deve remeter a uma simples pasta, do açúcar e os incentivaram a preparar as mais variadas receitas
semelhante a um mingau feito à base de algum cereal, água, leite doces, de forma que o resultado final apresentasse um sabor e
e mel que eram assados sobre uma pedra quente, sem nenhuma uma beleza notável. Surgem, dentre muitas preparações, os
técnica ou forma elaborada de preparo. Contudo, para de fato ser merengues, o chantilly, os macarons, o crème fouettée, os
chamada de doçaria, era necessário o homem conhecer o processo numerosos biscoitos e as tartes (7).
de misturar os ovos, a manteiga e o açúcar (1, 2). Com o final da Revolução Francesa em 1799, os confeiteiros que
Tendo isso em vista, o tema foi escolhido pela grande relevância trabalhavam para nobreza resolveram abrir o seu negócio e as
que a confeitaria apresenta na cozinha francesa, e, suas criações doces de alto nível, que antes era restrita aos mais
consequentemente, na cozinha mundial, pois além de ser um ricos, podia neste momento serem acessíveis ao público geral.
campo bem antigo, que remonta desde o período medieval, leva Nos anos de 1830, inicia-se a “Era Dourada” da pâtisserie
consigo muitos processos específicos e que necessitam de francesa, inaugurada por Marie-Antoine Carême. Ele foi um dos
precisão e sutileza. grandes chefs que estimulou a mudança e a evolução da
O principal objetivo dessa pesquisa é produzir uma análise mais gastronomia e, consequentemente, da confeitaria para
aprofundada sobre a confeitaria francesa, de forma que seja transformá-la no que é hoje (6).
explanada como se originou a doçaria na França e em que Uma das receitas que se destaca nessa área são as tartes,
circunstância essa área passou a ser respeitada e tida como um conhecidas por serem a base de tortas européias. Apesar de não
modelo clássico a ser seguido. Além disso, o estudo propõe serem apenas uma torta sem a massa de cima, embora possam
apresentar a história e as particularidades da tarte tatin, a fim de parecer com as tortas por sua aparência semelhante, as tartes na
proporcionar um maior conhecimento sobre o assunto. verdade estão mais relacionadas a outras sobremesas de estilo
europeu. Elas são leves, em geral têm menos de 2,5 cm de altura
e costumam ser muito coloridas. Sua aparência elaborada
MATERIAIS E MÉTODOS costuma exibir frutas cuidadosamente dispostas (4).
A pesquisa desenvolvida apresenta caráter qualitativo, que pode Como as tartes possuem menos recheio que as tortas, o sabor da
ser definido como a investigação de um caso por meio da análise massa é fundamental. Embora seja possível usar a massa de uma
e do estudo a partir de materiais bibliográficos e documentais. Foi torta comum, em geral são elaboradas com massas amanteigadas
e enriquecidas, como a pâte brisée e a massa seca. Com
utilizado então para a pesquisa material já publicado, como livros,
frequência, as bases pré-assadas são recheadas com creme de
artigos científicos, revistas e publicações em periódicos, que tem confeiteiro, cobertas com frutas e servidas sem irem ao forno (4).
como intuito conduzir o pesquisador a ter um contato direto com As tartes que vão ao forno após serem recheadas são apenas
tudo o que foi escrito, dito ou desenvolvido sobre determinado massas de torta crua coberta com uma camada de frutas frescas e
assunto, logo, terá uma maior fundamentação sobre a temática. um pouco de açúcar, muitas frutas podem ser utilizadas, as mais
Neste estudo, utilizou-se como amostra a tarte tatin, devido a populares são maçãs, peras, pêssegos, ameixas, damascos e
mesma se destacar na área de confeitaria francesa. Essa redução cerejas, no geral, frutas que trazem uma textura macia para a torta
do universo se deu, pois nem sempre é viável a exploração de após a cocção (4).
todas as amostras do grupo, já que pode haver a escassez de A tarte tatin, um segmento das tartes, é uma das sobremesas mais
conteúdo e precisão de dados (3). conhecidas da França, por seu sabor, ousadia e versatilidade. No
final do século XIX, Stéphanie Tatin e Caroline Tatin herdaram
o hotel e restaurante Tatin do falecido pai Jean Tatin que se
RESULTADOS E DISCUSSÕES situava na cidade de Lamotte-Beuvron, no Loir-et-Cher, no
O pâtissier na França foi, durante muito tempo, o responsável em centro da França. Caroline era conhecida por ser uma excelente
fazer os patês de carne, de peixe, de carne de caça ou de frutas. administradora, já Stéphanie, uma cozinheira talentosa. As duas
Com o passar do tempo, as funções foram mudando e se formaram uma equipe para continuar gerindo o estabelecimento
reorganizando e, como resultado, tem-se o desenvolvimento de familiar, que era um lugar famoso entre os caçadores da região
uma área na cozinha francesa destinada aos doces (1, 2). (8, 9).
Essa doçaria manifesta-se ainda no período medieval na Europa. Uma das especialidades da cozinheira da casa, Stéphanie, era a
No entanto, a profissão de confeiteiro esteve sempre muito torta de maçãs, que era servida morna, caramelizada e bem macia.
associada à de padeiro, que também fazia bolos de massas Tal iguaria era tão famosa que chamava a atenção de pessoas de
contendo mel e outros ingredientes doces, como as frutas secas e longe. No entanto, Stéphanie também era conhecida pelo seu jeito
as amêndoas. Foi somente no século XV que os confeiteiros meio distraído e tagarela. Assim, num dia que a casa estava muito
franceses começaram a formar suas próprias confrarias para movimentada, após muita conversa com alguns clientes,
proteger ainda mais o seu ofício e se desassociaram dos padeiros. observou que a sobremesa não estava pronta, então, ela apressou-
A partir desse momento, vários novos tipos de receitas foram se para preparar a famosa torta, pôs no forno e só depois percebeu
criadas e a confeitaria de fato foi iniciada (4, 5). que tinha esquecido de colocar a massa no fundo da forma. Vendo
Outro acontecimento importante foi a descoberta das Américas que as maçãs estavam caramelizadas, a cozinheira teve a ideia de
em 1492, que provocou uma inovação na confeitaria com a pôr a massa por cima e de virar a torta quando ela saísse do forno,
introdução do açúcar e, posteriormente, do cacau, trazidos do o que deixou os clientes maravilhados quando viram a nova
“Novo Mundo” para a Europa. Esses novos insumos receita (8, 9).
transformaram a pâtisserie em mais sofistificada e apreciada Essa nova iguaria fez tanto sucesso que até um dos mais célebres
pelas pessoas, e receitas base da doçaria clássica como a pâte críticos culinários da época, o nobre Maurice-Edmond Sailland,
sucrée e a pâte feuilletée foram desenvolvidas (6). mais conhecido como Curnonsky veio experimentá-la.
495
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Completamente encantado pela originalidade da receita e pela (8) FERREIRA, Luciana. Tarte Tatin: uma sobremesa cheia de
agradável mistura de texturas e sabores, ele acaba promovendo-a história. 2013. Disponível em:
em Paris, sob o nome de “tarte des demoiselles Tatin” (torta das <http://www.avidafrancesa.com/tarte-tatin-uma-sobremesa-
senhoritas Tatin). E, desse modo, a tarte tatin acabou-se cheia-de-historia/> Acesso em: 09 dezembro 2018.
transformando numa celebridade nacional, ao ponto de ser
servida no restaurante Maxim’s (símbolo internacional da alta (9) NOCI, Patricia. A história de La Tarte Tatin. 2012.
gastronomia francesa). A torta foi elevada a um nível tão alto que Disponível em: <https://tabledhotes.com.br/2013/03/18/la-tarte-
foi criada uma confraria para defender o respeito da receita tatin-historia/> Acesso em: 09 dezembro 2018.
tradicional da torta, chamada “Confrérie des Lichonneux de Tarte
Tatin de Lamotte-Beuvron” (8, 9).
CONCLUSÃO
Quando se fala em gastronomia é comum a associação com a
França, país que tem o reconhecimento em ser o pioneiro da
cozinha profissional. Dessa maneira, a confeitaria francesa é
certamente uma das mais se destaca no mundo e carrega consigo
uma variedade de doces, cada um com a sua particularidade.
Foi possível perceber a partir dessa pesquisa o quanto a doçaria é
uma arte antiga, sendo a França referência mundial no assunto,
apresentando receitas que são tidas como verdadeiros
patrimônios culturais. O processo histórico do país foi
determinante para a criação da sua identidade gastronômica e,
consequentemente, a pâtisserie foi formada com as suas
características tão únicas. Ela se destaca na gastronomia mundial
pelas suas preparações clássicas, que utilizam diversificados
ingredientes, sofisticação na aplicação de técnicas e sabores,
cores e texturas surpreendentes.
Notou-se também que um desses doces clássicos, a tarte tatin,
mesmo sendo criado de forma despretensiosa e ocasional, ainda
é uma receita muito desenvolvida na França. É notável que com
o passar do tempo, esse doce sofreu algumas alterações, podendo
ser encontrado no mercado com outros tipos de recheios e
sabores, como a pêra, e outros tipos de massa, como a massa
folhada.
Concluiu-se, então, que essa iguaria é de grande relevância para
a confeitaria francesa e o quanto a área é ampla e repleta de
especificidades. Sendo assim, identifica-se a necessidade de
haver um maior número de estudos mais aprofundados acerca
dessa cozinha e das suas técnicas, pois ainda são muito reduzidas
as bibliografias sobre o tema. O trabalho, então, servirá de fonte
de exploração e argumentação sobre a doçaria da França,
podendo servir de referência para futuras análises.
REFERÊNCIAS
(1) NOCI, Patricia. Histoire de la pâtisserie (história da
doçaria na França) – Parte 1. 2013. Disponível em:
<https://tabledhotes.com.br/2013/02/01/histoire-de-la-patisserie-
historia-da-docaria-na-franca/> Acesso em: 09 dezembro 2018.
496
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
497
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
UTILIZAÇÃO NA GASTRONOMIA
Desde muito tempo que as especiarias são produtos valorizados e que (2) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
dão um toque notável na comida, logo, a presença das pimentas na Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
gastronomia se tornou um processo fundamental. Além de trazer um
sabor diferenciado as preparações, esse insumo de sabor forte e (3) GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São
inconfundível, tem função anti-inflamatória e efeito termogênico, ou Paulo: Atlas, 2010.
seja, tem a capacidade de acelerar o metabolismo, facilitando a
digestão. Não é surpresa, então, que ela já ocupa em diversos pratos,
(4) CAMPOS, Tharcizio de; FILHO, Vicente Canéchio. Principais
como carnes, molhos ou até mesmo coquetéis, o papel de protagonista,
Culturas. São Paulo: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1987.
sendo, portanto, um dos condimentos mais utilizados no mundo (7).
Levando isso como base, percebe-se que as pimentas são também
sinalizadoras das comidas regionais, premeditando ou até revelando os (5) OSCAR, Aquino Jesus. História das Sociedades Americanas. Rio de
aromas e sabores típicos de cada região. Primeiramente, tomando como Janeiro: Record. 2008.
exemplo o Brasil, o pimentão, a pimenta dedo-de-moça, a aroeira
vermelha e a pimenta cambuci são as mais consumidas nas regiões sul e (6) NETO, Nelusko Linguanotto. Dicionário Gastronômico Pimentas.
sudeste (8). São Paulo: Gourmet Brasil, 2004.
A pimenta-de-cheiro também se espalha pelo país com características
particulares em cada lugar: amarelas, vermelhas, alaranjadas, verdes,
(7) REIFSCHEIDER, Francisco José Becker. A história da pimenta.
quase pretas, alongadas, arredondadas, triangulares, campanuladas,
retangulares. A pimenta bode e a pimenta malagueta são as mais Brasília, 2000. Disponível em: <https://pimentadojamal.com.br/a-
comuns no nordeste. Na Bahia, as malaguetas verdes e vermelhas historia-da-pimenta/> Acesso em: 10 novembro 2018.
frescas temperadas em uma espécie de molho vinagrete acompanham os
vatapás, as moquecas, os caranguejos, etc. Os baianos também (8) DALBY, Andrew. Sabores Perigosos, a História das Especiarias.
apreciam a pimenta curtida (tanto a malagueta quanto a de cheiro) e no São Paulo: Senac. 2010.
preparo de molhos específicos, como o do acarajé, conhecido como
molho Nagô. No Centro-Oeste e no sertão nordestino e de Minas Gerais (9) SAMPAIO, Joanice. Pimenta: conheça as famosas cozinhas
a pimenta-de-cheiro é bastante usada, inclusive fresca, na finalização de picantes e como usar a especiaria. Disponível em:
alguns pratos, como, a galinhada ou o capote com arroz (9). <http://www.papocult.com.br/2016/07/07/pimenta-conheca-as-
De acordo com Sampaio (10), muitas culturas, agora se tratando das
famosas-cozinhas-picantes-e-como-usar-a-especiaria/> Acesso em: 19
cozinhas internacionais, utilizam as pimentas em suas preparações e,
consequentemente, acabam se destacando e se tornando referência na novembro 2018.
gastronomia mundial pelos seus sabores picantes. Possivelmente, a
ligação mais conhecida entre pimenta e comida acontece com a cozinha (10) SILVA, S.; TASSARA, H. Frutas no Brasil. São Paulo: Empresa
mexicana, um exemplo disso é o fato do povo mexicano ser bem das artes, 1996.
habituado com a ardência das pimentas, colocando-as em praticamente
todas as suas refeições e em doses elevadas, fato esse que causa
(11) ORRICO, O. Molhos, picantes e pimentas. Jangada Brasil. Pará,
estranhamento e repulsa em muitas pessoas que não estão acostumados
com essa cultura. 2004.
No entanto, outros países também empregam esse produto em vários
pratos da sua culinária, como acontece na Índia, na Coréia, na
Indonésia, no Nepal, na Tailândia, no Peru, no Japão, na China, entre
outros. É notável que esse produto representa muito mais do que um
simples tempero ou especiaria, ele está presente em boa parte das
comidas, e, em alguns casos, apresentam combinações exóticas, como
sobremesas, doces, bebidas e frutas bastante apimentadas (11).
CONCLUSÃO
A partir da presente pesquisa foi possível perceber o quanto as pimentas
e os pimentões são de suma importância para a gastronomia atual,
levando em conta todas as suas formas de preparo ,uso na culinária e
valores culturais e históricos. É essencial o estudo das suas formas de
cultivo e conservação com a finalidade de ter um melhor
aproveitamento desses insumos. Além disso, como foi exposto, há
vários tipos e espécies, e cada uma delas apresenta um aspecto bem
particular, logo, saber qual delas é mais adequada para determinada
preparação é relevante para se obter um prato final que respeite as
características sensoriais almejadas.
O processo histórico de cada país foi determinante para a construção da
identidade gastronômica de cada um deles. A partir desse fato,
compreende-se que cada região possui seus insumos tradicionais, já que
o clima, o tipo de solo, o tipo de colheita e também os hábitos
alimentares da população são fatores que influenciam bastante em qual
produto terá mais relevância.
Conclui-se, então, que esse trabalho servirá de fonte de exploração e
argumentação para futuras análises, engrandecendo, assim, as fontes
literárias, e, consequentemente, poderá despertar o interesse dos alunos
e profissionais de Gastronomia.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
(1) CHESNAIS, P.A. A culinária das Américas. 1.ed. [S.I.]. [2014?].
Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/120112732/A-Culinaria-das-
Americas> Acesso em: 10 novembro 2018.
498
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Curso Superior de Graduação Tecnológica em Gastronomia, Faculdade Batista Brasileira.
2
Chef de Cozinha, autor do blog Sossego da Flora.
3
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Biologia / Museu de História Natural.
E-mail correspondente: uerisleda@gmail.com
INTRODUÇÃO
as comunidades tradicionais preservam o seu uso medicinal e seu
Muitos são os sabores da Bahia, uns possuem grande visibilidade e consumo em forma de chá (4).
outros fazem parte da memória gustativa das comunidades
tradicionais do Estado. Alguns destes sabores, estão relacionados Figura 2 – Senhor Zezinho fala sobre suas memórias
aos biomas e as plantas nativas ou adaptadas que as comunidades acerca do Velame.
tradicionais domesticaram e desenvolveram as mais diversas técnicas
para a sua aplicação. Muitas destas plantas, possuem o seu uso
tradicional em determinados lugares, mas são completamente
desconhecidas em outros, mesmo quando estão disponíveis no
ambiente. O termo Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)
para se referir a estas plantas, que não possuem cadeia produtiva e/ou
não são consumidas (1).
As Panc podem possuir um significativo potencial para a nutrição
humana, além disso, podem fortalecer a agricultura familiar, pois
parte dessas variedades vegetais são guardadas pelas comunidades e
pelos pequenos agricultores, são de fácil manejo ou mesmo
consideradas ervas daninhas (1). Uma destas plantas alimentícias não
convencionais é o Velame (Croton heliotropiifolius, Kunth), uma
planta nativa do Brasil, distribuída em regiões com predominância Fonte: https://www.mangaba-producoes.com/episodio-07
dos biomas Caatinga e Cerrado, incluindo áreas de brejos de altitude
e de restingas (2), conforme pode ser observado na Figura 1. Com sabor silvestre, o velame pode ser utilizado como erva
aromática, como aparece na série documental Comida Aqui é Mato
(5). No episódio 07, intitulado “Sertão”, o senhor Zezinho, um
Figura 1 – Distribuição geográfica do Velame no Brasil. açougueiro aposentado, confere ao Velame o lugar de uma erva
aromática especial, e muito importante na construção de sua memória
gustativa (Figura 2).
O senhor Zezinho partilha suas memórias com o que há de mais belo
na tradição culinária, que permitem entrever a construção da
identidade fortemente atrelada à região. A região é o espaço
geográfico em que a questão natural se sobrepõe à ação humana e a
determina (6). Assim, no sertão baiano, o açougueiro Zezinho possui
sua história de vida atrelada ao Velame, um elemento da
biodiversidade local e regional e ao Bode, animal emblemático do
cotidiano sertanejo.
No referido documentário, o sr. Zezinho partilha uma de suas
receitas, o “Bode no Velame”. O Velame, então aparece como um
ingrediente culinário, uma erva aromática que acrescenta ao preparo
do bode seu sabor e aroma.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fonte: Fotografia digital dos autores, 2020.
O Velame (Croton heliotropiifolius, Kunth) é uma planta arbustiva
da família das euphorbiaceae, e pode ser observada durante todo o A relação entre o Velame e o bode também no sertão baiano é
ano com flores e/ou frutos. O Velame possui ação antioxidante (3) e cotidiana, pois a planta é muito presente na caatinga e, ao mesmo
tempo em que é um tempero para a preparação da carne do bode, é
499
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
500
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: Hortaliças tradicionais, dialogar acerca das PANC, apresentando-as ao público consumidor
que frequenta a feira, oferecendo degustações, mudas e sementes,
biodiversidade, feira livre.
informações sobre plantio, ciclos produtivos, valores nutricionais e
muitos outros aspectos que dizem respeito as PANC.
INTRODUÇÃO
Figura 1 – Ação educativa no Stand da Rede Panc Bahia na
Na Bahia há uma rica biodiversidade em termos de flora alimentícia
que está disponível nos meios urbanos e rurais e por vezes não se Feira Agroecológica da Ufba.
fazem presentes na mesa cotidiana da população e/ou não possuem
cadeia produtiva. Kinupp e Lorenzi (2014) utilizam o termo Plantas
Alimentícias Não Convencionais (PANC) para se referir a esta
biodiversidade, composta por frutos, folhas, flores, rizomas,
sementes e outras estruturas ou partes das plantas que são
alimentícias e podem ser consumidas in natura ou após algum tipo
de preparo culinário.
Muitas destas plantas são consideradas matos, ou mesmo ervas
daninhas, e não estão inseridas na cadeia produtiva, apesar de serem
uma excelente fonte de nutrientes (KINUPP; LORENZI, 2014). A
inserção da biodiversidade local e regional podem contribuir com a
soberania alimentar e com a construção de uma gastronomia
sustentável (KRAUSE; BAHLS, 2013).
A EMBRAPA hortaliças tem desenvolvido projetos para a
sistematização do cultivo de PANC para que estas plantas possam ser
cultivas e inseridas em cadeias de produção e consumo (BRASIL,
2010). Por compreender o papel da pesquisa para a produção e Fonte: Rede Panc Bahia, 2019.
divulgação do conhecimento, o presente trabalho buscou identificar
quais plantas alimentícias não convencionais podem ser adquiridas Na visita a feira agroecológica da UFBA, foram observados nas
em Salvador – BA. bancas dos feirantes as seguintes PANC: Bredo (Amaranthus
deflexus L.), Língua de vaca Talinum triangulares (Jacq.) Willd.),
MATERIAL E MÉTODOS Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill.) Chaya (Cnidoscolus
aconitifolius (Mill.) I.M. Jonhnst.), Pepininho do mato (Coccinia
Trata-se de uma pesquisa exploratória com observação in locus grandis (L) Voigt), Moringa (Moringa Oleífera Lam.), Taioba
através de visita à feira agroecológica da UFBA. Foram observadas (Xanthosoma taioba E.G. Gonç.) e Quiabo de metro (Trichosanthes
as bancas dos feirantes e identificadoa quais plantas alimentícias não cucumerina L.).
convencionais estavam disponíveis aos consumidores da feira e, o
fluxo do comércio desses alimentos através da observação da venda Figura 2 Barraca na Feira Agroecológica da Ufba com Chaya
dos mesmos e a redução do quantitativo de alimentos disponíveis e outros hortifrútis.
para a aquisição durante o período de duração da feira. Os dados
coletados foram analisados em diálogo com a literatura pertinente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
501
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
502
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Indra N. Nunes¹
Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
Indra_nunes@hotmail.com
503
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
504
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1
Mestrado Profissional em Tecnologia e Gestão da Inovação pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó, Brasil e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó. E-mail: liziane-
cc@unochapeco.edu.br
2
Especialista em Gestão e Operação de Bares, Restaurantes e Similares pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
2
Mestre pelo Programa de Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais na Unochapecó. Especialista em Docência no Ensino
Superior pela Unochapecó e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
3
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC. Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó
505
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
506
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
507
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Deste modo, constatou-se que a Glycine max L. apresenta Surpreendentemente, o leite de soja foi apontado por 25,8%,
um leque de possibilidades em questões de uso, dando origem a ou seja, 8 pessoas. No entanto, apenas 2 pessoas afirmaram não
diferentes subprodutos, os quais, muitos, já são conhecidos e consumir nenhum subproduto da soja em seu dia a dia, o que confirma
frequentemente encontrados, ou ainda estão em fase de adquirir seu a importância desse insumo e seu papel latente na alimentação da
espaço no mercado, ou seja, aceitação do público. sociedade.
Nessa vertente, em geral, a pesquisa realizada obteve um
total de 31 respostas, as quais cumpriram o objetivo de analisar a 6. CONCLUSÃO
frequência e modo de uso da soja pelos consumidores brasileiros. Vale É indiscutível que a soja é um insumo de importância para
ressaltar que, por serem questões objetivas e concisas, teve-se o economia e tem ganhado espaço na gastronomia brasileira e mundial.
aproveitamento de 100% dos resultados. Seu plantio e uso nos meios de produção tem crescido de forma
gradativa e tornando-se uma opção versátil para ser somada ao cardápio
5.1 FREQUÊNCIA DE CONSUMO DO GRÃO DA SOJA de diversos brasileiros nos dias atuais. Entretanto, é necessário avaliar
A primeira pergunta da pesquisa serviu para avaliar como se questionar sua origem, tanto em relação à qualidade dos grãos quanto
dava o consumo da soja pelas pessoas, no caráter temporal, ou seja, aos seus subprodutos, além de buscar produtos provenientes de uma
identificar a presença do grão de soja na rotina do público em geral. colheita menos agressiva ao meio ambiente que se encontra. Tomando
Assim, conclui-se que esse insumo é raramente ou nunca utilizado, como base a breve pesquisa aplicada, nota-se que muitos ainda não têm
tendo em vista que essas categorias, juntas, compõem 74,2% das conhecimento do conteúdo e versatilidade dessa leguminosa, devido ao
respostas adquiridas. agronegócio ser voltado à exportação. É importante o incentivo para
Gráfico 1 - Consumo do grão da soja estudos e pesquisas acadêmicas nesse âmbito, bem como o incentivo a
criação e produção de novos produtos alimentícios tendo como base a
soja.
REFERÊNCIAS
(1) CÂMARA G.S.; HEIFFIG L.S. Agronegócio de plantas
oleaginosas: matérias-primas para biodiesel. Piracicaba:
ESALQ/USP/LPV, p. 256, 2006
Deste modo, nota-se que a presença desses produtos no (8) MONTOYA, M. A. et al. Uma Nota Sobre Consumo Energético,
mercado é bem mais expressiva do que o grão em si, já que apenas 2 Emissões, Renda e Emprego na Cadeia de Soja no Brasil. Rev. Bras.
pessoas revelaram que nunca consomem algo proveniente da Glycine Econ., Rio de Janeiro, v. 73, n. 3, p. 345-369.
max L., mesmo que condiga com a mesma porcentagem do público que
faça o consumo diário. (9) SHURTLEFF, W; AOYAGI, A. History of Soymilk and Other
Non-Dairy Milks (1226-2013): Including Infant Formulas, Calf Milk
5.3 PRINCIPAIS SUBPRODUTOS DA SOJA UTILIZADOS. Replacers, Soy Creamers, Soy Shakes, Soy Smoothies, Almond Milk,
Por fim, averiguou-se quais são os produtos derivados da Coconut Milk, Peanut Milk, Rice Milk, Sesame Milk, etc. Lafayette,
soja que mais são consumidos pela população brasileira. Logo, entende- CA: Soyinfo Center. 2013.
se que o óleo de soja é o principal subproduto presente na rotina das
pessoas, tendo em vista que 71% delas o indicaram na pesquisa. Neste (10) BENASSI, V. de T.; FELBERG, I.; ALVARENGA, A. L. B.;
sentido, a carne de soja também recebeu um grande índice de consumo, MANDARINO, J. M. G. Tofu. Brasília, DF: Embrapa Informação
já que 12 pessoas afirmaram consumi-la. Tecnológica; Londrina: Embrapa Soja, 2007. 39 p
Gráfico 3 – Subprodutos da soja (11) SHURTLEFF, W; AOYAGI, A. History of Tofu and Tofu
Products (965 CE to 2013). Lafayette, CA: Soyinfo Center. 2013
508
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Mestre em Gestão de Negócios Turísticos – Universidade Estadual do Ceará. Docente na Universidade Federal do
Maranhão. elaine_csfernandes@hotmail.com,
²Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas – Universidade Federal do Maranhão. Docente na Universidade Federal
do Maranhão/UFMA. marilene_sabino@yahoo.com.br,
³Graduando em Hotelaria – Universidade Federal do Maranhão. oscarachneto@hotmail.com,
4
Graduando em Hotelaria – Universidade Federal do Maranhão,
5
Graduando em Turism – Universidade Federal do Maranhão. widissmartins@live.com.
510
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
“Rota das Emoções” (rota turística), atendendo a critérios de lugar. Em relação ao buriti (Mauritia flexuosa), considerado uma das
qualidade do “Roteiro Gastronômico” proposto pela “rota”. Os palmeiras mais abundantes na região, o que possibilitaria a produção
restaurantes inseridos na atividade turística apresentaram de diversas iguarias por meio desse produto, observou-se que os
especialidades, da região, cozinha variada com ingredientes das cardápios dos restaurantes não apresentam o aproveitamento desse
comunidades do município. Observou-se que a rota gastronômica do produto/nativo, a exemplo de: sobremesas ou até mesmo os doces já
Polo Turístico - Lençóis Maranhenses está sustentada em frutos do comercializados no município. Ressalta-se que o buriti é uma
mar, a exemplo têm-se a caldeirada de camarão (caranguejo e espécie-símbolo fundamental no equilíbrio dos ecossistemas,
camarão do município de Tutóia e do povoado de Caburé), moqueca auxiliando na manutenção dos corpos hídricos e umidade do solo nas
de peixe, peixada maranhense (pescada amarela, também encontrada épocas secas desse território. Verificou-se ainda que o açaí (Euterpe
nesse litoral), o baião de dois (feijão verde-produção local), o arroz oleracea) não aparece nos cardápios em suas diferentes formas de
de cuxá preparado com a vinagreira (Hibiscus sabdariffa), uma aproveitamento, como: puro com acompanhamentos ou na
planta bastante cultivada e utilizada pelos maranhenses, e o camarão composição de pratos, porém possui produção registrada no
seco (produção local). Além desses, os pratos à base dos peixes: município. Esse ingrediente poderia ser mais aproveitado na
robalo, peixe serra, peixe tambaqui e tilápia, preparados -frito no leite composição de pratos dos cardápios dos restaurantes. O uso desse
de coco babaçu, peixe cozido, ou com ova de camurupim. Destaca-se produto nativo permite o preparo de sobremesas, molhos, recheios,
ainda, preparações à base de mariscos, leitoa ao molho pardo e a sucos, sorvetes dentre outras, sobretudo o uso criativo na
galinha caipira ao molho pardo (com sangue) ou sem o “molho”. Os gastronomia contemporânea, a exemplo de composição de pratos
peixes e frutos do mar recebem destaque nos cardápios, revelando a salgados, com pescados ou até mesmo com suínos. Recorrendo a (6),
possibilidade de facilidade no acesso a esses insumos, pelo fato do a autora apresenta que dentre os produtos que são extraídos pelo
município ser banhado por diversos rios e por localizar-se no litoral modelo agroextrativista tradicional no município de Barreirinhas, o
maranhense, mesmo com ocasionais dificuldades na aquisição dos açaí e a fibra de buriti, se destacam na produção. Essa construção de
produtos locais, conforme percebido na fala de alguns entrevistados: uma territorialidade cultural contribuiu, e continua a contribuir, para
[...] Peixes e frutos do mar a gente compra aqui dos pescadores a atração de fluxos, o aproveitamento dos recursos locais, a
mesmo, na peixaria local, macaxeira se compra de um senhor que mobilização dos atores para valorização do patrimônio na construção
traz duas vezes por semana da localidade do Tapuio, é um povoado de identidade local ou regional.
de população tradicional. Outras coisas a gente compra ou dos
agricultores locais ou em supermercado, mas daqui de Barreirinhas CONCLUSÕES
mesmo (E - A). Conclui-se que o turismo gastronômico pode ser elemento estratégico
[...] o cliente sempre procura em nossos cardápios pratos regionais a para a disseminação, sistematização e valorização das manifestações
base de peixes e frutos do mar, como; camarão que vem de Tutóia gastronômicas, promovendo a diversidade geográfica e cultural. A
também, pescada amarela, robalo, peixe serra, o turista sempre quer predominância das atividades agrícolas, pecuárias e extrativistas, a
conhecer, e aqui não temos dificuldades em encontrar esses produtos atividade pesqueira artesanal no litoral, a ocupação e uso do solo para
pela biodiversidade, somente em época de reprodução que fica mais fins agrícolas e pecuários de forma extensiva, possibilita o
difícil o acesso, e compramos a macaxeira e vinagreira e outros dos aproveitamento de ingredientes de origem/local pelo segmento
pequenos agricultores, mas em falta compramos em outros (E- B). gastronômico na atividade turística. A diversidade natural do
E a gente quando está em período de proibição da pesca, nós território contribui para preparações culinárias diversas, porém, ainda
compramos os de cativeiro. E na época de caju fazemos preparações é tímida a participação da produção local no processo de
e bebidas com caju, que tem em abundância na região (E - C). desenvolvimento proposto pelo turismo na comunidade, necessitando
Nós compramos sempre peixe, caranguejo e camarão de Tutóia e do de incentivo, políticas públicas e articulação dos atores envolvidos na
povoado de Caburé, por que no cardápio temos sempre que ter pratos cadeia produtiva, sobretudo atuação efetiva das associações locais. A
regionais, por que quando o turista chega quer saber quais são os da identidade enquanto construtora de novas territorialidades ancora-se
região. Os outros insumos, as vezes compramos dos produtores na articulação de potencialidades locais, Políticas públicas fortalecem
locais e outras vem de fora. Nós aproveitávamos o buriti que tem e interligam a cadeia produtiva local com o segmento gastronômico
muito na região (E - D). na atividade turística. A concessão de indicações de procedência ou
Grande parte dos nossos insumos são produção daqui de Barreirinhas de denominação de origem, ainda precisa ser difundida e aproveitada
[...] mas os de grande escala, compramos em outro lugar, é o caso do no contexto turístico. Os ingredientes utilizados na culinária
feijão, arroz. Mas a farinha, a galinha caipira, temperos e frutas, caracterizam a identidade territorial do município.
compramos aqui mesmo[...], só não algumas carnes como a de porco,
pela questão de higiene que não é muito bom.(E - E). REFERÊNCIAS
Os cardápios analisados durante a pesquisa evidenciaram 1. CAVALHEIRO, L; VENDRUSCOLO, R; FROEHLICH, J. M. F;
ingredientes de origem, apontando para o aproveitamento parcial da DULLIUS, P. R. Imprimindo sabores – gastronomia e identidade
produção local, conforme a narrativa dos sujeitos da pesquisa, territorial na Quarta Colônia –RS. XLVI Congresso da Sociedade
revelando o modus vivendi das comunidades da região dos lençóis Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Rio
maranhenses, onde ocorre o cultivo da mandioca, do arroz, a Branco – Acre, 20 a 23 de julho de 2008.
confecção da farinha, a pesca no rio e no mar e a criação de pequenos 2. GIMENES-MINASSE, Maria Henriqueta Sperandio Garcia.
animais, principalmente cabras e galinhas. Assim, a lavoura, a pesca, Notas sobre políticas públicas a respeito da gastronomia no
o extrativismo, a pecuária e a olaria se misturam. O principal traço contexto turístico brasileiro. 2012. Disponível em;
das comunidades dos Lençóis Maranhenses é a combinação e https://www.researchgate.net/publication/314288938_Notas_sobre_p
predomínio destas atividades, o que diferencia os grupos de pessoas. oliticas_publicas_a_respeito_da_gastronomia_no_contexto_turistico
Entre as populações tradicionais (moradores do interior e das _brasileiroCidade: Acesso: dez, 2019.
proximidades do Parque Nacional dos Lençóis) ocorre de forma 3. MARTINS, Leonardo Koury. MUITO ALÉM DE COMIDA: a
esporádica a caça (comunidades de Baixa Grande, Queimada dos gastronomia e o desenvolvimento agrário na garantia da
Britos e Travosa). Nos povoados de Baixa Grande e Queimada dos cidadania. Perspectivas em Políticas Públicas | Belo Horizonte | Vol.
Britos, a população residente sobrevive do cultivo de arroz, de murici X | Nº 20 | P. 271-277 | nov/dez 2019.
e da criação de bovinos, caprinos e suínos. E em Travosa, a 4. ZANETI, Tainá Bacellar; Caio Bonamigo, DORIGON. Os
comunidade vive basicamente da pesca artesanal, utilizando vários produtos tradicionais nas cozinhas dos chefs: uma discussão sobre
instrumentos de pesca como zangaria, caçoeira e malhão. Tudo se a valorização das relações entre chefs e produtores na gastronomia
insere na lógica, do fluxo dos Lençóis Maranhenses, colaborando contemporânea a partir da observação do congresso Mesa
para a afirmação de que é incorreto pensar nas comunidades sem Tendências. In: XVII Congresso Brasileiro de Sociologia, 2015,
pensar conexões espaciais-temporais. O modo de vida nas ilhas Porto Alegre.
depende de múltiplas conexões externas, compatíveis com os hábitos 5. D’ANTONA, A. O lugar do parque nacional na lógica dos
e movimentações de seus moradores (5). para o autor a produção Lençóis Maranhenses. In: XXII Reunião Brasileira de
social do espaço se constitui por meio da interação dialética entre a Antropologia, 2000, Brasília. Anais da 22.a Reunião Brasileira de
tríade espacial (o vivido, o percebido e o concebido). Desta forma, há Antropologia. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Antropologia.
um predomínio do biológico-ecológico sobre o sociológico 6. SILVA, Thirzá Augusta Azevedo. A gastronomia sustentável e o
antropológico. agroextrativismo em barreirinhas – ma como atividades de base
Neste sentido, observou-se que nos cardápios dos restaurantes para o turismo e o desenvolvimento socioeconômico regional.
pesquisados não há oferta de preparações culinárias à base de Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas)
espécies em extinção o que corrobora para a sustentabilidade do Universidade Federal do Maranhão. São Luís 2014.
511
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Ilana das Neves Barbosa¹, Eveline de Alencar Costa2, Leandro Pinto Xavier³, Lucas Braga Rodrigues4
MATERIAIS E MÉTODOS
A fim de compreender o perfil socioeconômico dos participantes do
Programa, realizou-se uma compilação dos dados cadastrais dos
alunos participantes do programa ao segundo semestre de 2017 e No que concerne ao gênero dos inscritos (Figura 3), como
primeiro semestre de 2018. Tais informações foram coletadas em previamente observado in loco durante os cursos, a maioria dos
banco de dados fornecido, construído e autorizado pelo Centro inscritos no programa são do gênero feminino (83,6%), enquanto que
512
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
16% são do gênero masculino. Muitas dessas participantes já acordo com seus demais objetivos, em atender a população que se
trabalhavam com a alimentação de formato informal, com propõe, reafirmando assim seu compromisso e importância no meio
encomendas, comercializavam domesticamente como uma forma de onde é realizado.
complementar a renda familiar ou usá-la como fonte principal.
.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
Figura 3 – Gênero
CONCLUSÃO
513
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
GASTRONOMIA SOCIAL E A PARCERIA
COM A ESCOLA DE VIDA ARTE E SABOR
Antônio Augusto Nunes Lobo¹, Eveline de Alencar Costa²,
Marcos Daniel S. Clemente, Simone Veras Medeiros, Regina M. Silva Bastos, Celso M. dos Santos³.
Autor Principal¹, Orientadora², Co-Autores³
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
514
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
A elaboração de novos saberes, bem como a divulgação de extensão, prevalece a produção de conhecimentos práticos e
práticas extensionistas, é uma necessidade constante para que teóricos que podem colaborar com o desenvolvimento
se possa discutir o caráter transformador da extensão, com o acadêmico, além de proporcionarem benefícios à sociedade.
intuito de ser parte integrante da formação acadêmica e Pode-se dizer que a extensão não é mais vista como uma
profissional dos alunos de graduação. A extensão, como um atividade acadêmica, mas uma forma de caracterizar a
dos pilares desta formação, demonstra sua importância no universidade como cidadã, que visa solucionar os problemas
processo de interação social junto à comunidade. Segundo o da sociedade, transmitindo conhecimento (5).
Plano Nacional de Extensão Universitária, no processo de Contudo este artigo tem como objetivo analisar ações
formação profissional é imprescindível [ao aluno] sua efetiva exitosas do projeto Doçura que agrega, bem como pontuar
interação com a sociedade, seja para se situar historicamente, fragilidades que foram percebidas em sua atuação. Isso se
para se identificar culturalmente e/ou para referenciar sua justifica devido a extensão universitária ser uma poderosa
formação técnica com os problemas que um dia terá de ferramenta de transformação e capacitação social, papel esse
enfrentar(1). A extensão universitária é compreendida como de grande importância no que diz respeito às contribuições
uma atividade acadêmica que pressupõe a integração entre a que pode trazer frente à sociedade.
comunidade universitária e a sociedade, sob formas de
programas, projetos, cursos, eventos, publicações entre MATERIAIS E MÉTODOS
outras. Enquanto uma função acadêmica da universidade, a
extensão objetiva integrar ensino-pesquisa voltado para a Esta pesquisa se caracteriza como documental e qualitativa.
prestação de serviços junto à comunidade. A extensão Para tanto dividiu-se a pesquisa em três momentos: Pesquisa
identifica as demandas sociais, promovendo o intercâmbio bibliográfica; Coleta de dados de ações executadas; Relato de
entre universidade e sociedade, gerando, benefícios para os experiências dos participantes dos projetos.
dois lados (2). Foi utilizada a pesquisa bibliográfica para construir
O projeto de extensão “Doçura que agrega” criado definições, acessar dados de outros projetos, dentre outros
institucionalmente como projeto de extensão na UFC a partir pontos. Foram elencadas todas as atuações do projeto Doçura
de 2018, contudo já desenvolvia atividades em comunidades que agrega nas comunidades e, dentre todas, foram escolhidas
de forma descontínua desde 2016. Este projeto surgiu em aquelas que haviam relatos espontâneos ou através das
parceria com o Programa Gastronomia Social devido a avaliações direcionadas ao final de cada curso, para a
percepção que esses produtos detinham como potencial de abordagem nesta pesquisa, a fim de construir e manter uma
venda e da manutenção de um grupo produtivo nas percepção das ações reais e tangíveis do projeto. Através
comunidades. As ações do projeto tiveram início no bairro dessa proposta, espera-se formatar um diálogo compreensível
Bom Jardim dentro da Escola de Gastronomia para qualquer um que deseje conhecer e se aprofundar no
Autossustentável (EGA) do Movimento de Saúde Mental e conhecimento de projetos de extensão em comunidades.
Comunitária do Bom Jardim (MSMC) depois se expandindo
para outras comunidades e dentro na própria Universidade RESULTADOS E DISCUSSÃO
Federal do Ceará. Este projeto, em todos os âmbitos de sua
atuação trabalha a inclusão e capacitação profissional por A gastronomia como ciência tem sido contemplada nos
meio da gastronomia, levando cursos que trabalham a últimos anos com as ações da extensão universitária. Por ser
cooperação, condições higiênico-sanitárias e um curso na modalidade Bacharelado com oferta nas
empreendedorismo, dentre outros temas transversais que universidades Federais do Brasil, essas ações extensionistas
perpassam a vivência dos cursos. tem colaborado de forma significativa para o campo de
A conservação de alimentos, através do uso de vários pesquisa enquanto ciência e dos profissionais que estão sendo
métodos e técnicas modernas ou tradicionais, que detêm ou formados. Perpassando por esse caminho, ao longo da
estacionam a ação das enzimas e de microrganismos, formação, estudantes vivenciam por meio da extensão
transforma matérias-primas alimentares em produtos universitária a prática e o serviço da profissão, agregando
adequados ao consumo humano e de longa vida de prateleira, uma experiencia que certamente vai diferenciar o estudante
reduzindo a perda e aumentando a disponibilidade dos participante dos demais profissionais.
alimentos (3). O gastronomia social, que é um programa extensionista bem
A garantia de qualidade dos produtos artesanais é atualmente sucedido do curso de Bacharelado em gastronomia da
exigência e anseio dos consumidores do mundo inteiro. Em Universidade Federal do Ceará, é um exemplo de retorno
relação à produção de alimentos, a qualidade pode ser positivo como devolutiva do que se é produzido em forma de
avaliada considerando-se, qualidade sensorial, higiênico- saber dentro da academia. Ao longo
sanitária e nutricional (4). de seus 10 anos de atuação, tempo de existência paralela a
A formação de empreendedores baseia-se em encorajar o concepção do curso, o projeto já proporcionou por meio de
estudante a buscar e experimentar a inovação, ter ideias, criar ações pontuais ao longo dos anos a capacitação, formação e
novidades, persistir, planejar, e fazer com que as orientação para serviços gastronômicos e ainda se apresenta
oportunidades se concretizem (5). Já na relação pesquisa- como ferramenta de transformação social, uma vez que suas
515
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
ações também atingem transformação econômica e social por aulas teóricas, quando era repassado desde os conceitos de
meio do empreendedorismo. E quanto a discussão da boas práticas de higiene e manipulação de alimentos até as
integração com o social, Vannucchi (5) assinala a importância aulas práticas propriamente ditas onde ocorriam na cozinha,
da abertura da universidade para a sociedade, permitindo no preparo das conservas. Essa troca é identificada como a
também a entrada dos saberes do senso comum no campo da característica central da extensão, pois nessa dinâmica a
vida acadêmica. As ações extensionistas geram interferências comunidade deixa de ser passiva no recebimento das
significativas tanto no campo acadêmico quanto na informações/conhecimentos transmitidos pela universidade e
sociedade. A extensão proporciona na academia a geração de passa a ser, participativa, crítica e replica o que lhe foi
novos conhecimentos, a criação de novas modalidades de repassado.
pesquisa, além da integração entre teoria e prática. Já na Dentre as atividades do Projeto Doçura que agrega, o
sociedade permite uma melhor percepção dos problemas Quadro 1 cita aqueles de grande impacto social com enfoque
sociais, econômicos e políticos (5). nas instituições parceiras e as pessoas contempladas com
cada modalidade.
Na fala de uma participante do grupo produtivo, “a
oportunidade de aprender novas coisas sobre o preparo de
doces e geleias é algo maravilhoso e que a enche de alegria
por ter essa chance” - declarou a participante se referindo as
Grupo Produtivo de Doces e Geleias artesanais para stand produzida. Para além da ação, hoje há participantes desse
social no shopping Rio Mar Fortaleza grupo produtivo empreendendo no segmento, produzindo e
comercializando, usando do conhecimento adquirido.
Uma das ações de grande porte do projeto, essa iniciativa se
deu em parceria com o Movimento de Saúde Mental Oficinas interativas no Mercado Público São Sebastião
Comunitária do Grande Bom Jardim, instituição essa que
viabilizou a exposição dos produtos elaborados serem
comercializados e difundidos dentro de um grande shopping
de Fortaleza. Durante o mês de maio/2019, um grupo
formado por 14 participantes da comunidade do Bom Jardim
e adjacências participaram da capacitação e produção em
doces, geleias e conservas artesanais (Figura 1). As aulas
foram ministradas pelos alunos do bacharelado em
gastronomia, bolsistas extensionistas e voluntários. A ação se
deu em três etapas: Capacitação para produção artesanal de
doces e geleias, Produção de doces e geleias artesanais e
exposição e vendas dos produtos elaborados. Ao final de 30
dias, foram produzidas e comercializadas cerca de 382
unidades de conservas e doces artesanais. Aos participantes
do grupo produtivo, coube a participação nas vendas, onde
cada integrante recebeu percentual por vidro de conserva
516
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
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Ashley Valentim1, Renata Assis2, Thayane Sousa1, Camila Abdala1, Sabrina Silva1, Carla Maia3
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, ashley.valentim@aluno.uece.br
2
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará, renata.carmo@uece.br
3
Doutora em Nutrição Humana, Universidade de São Paulo, carla.maia@uece.br
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
consultados, quantidade considerável, visto que há outros compostos Alimentos) - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa
fosfatos presentes (14). Catarina, Florianópolis, 2013.
Silva et al. (2008) afirma que mesclar dois ou mais 4 PINHEIRO, R. S. B.; SOBRINHO, A. G. S.; SOUZA, H. B. A.;
estabilizantes têm se tornado uma alternativa para conseguir melhor YAMAMOTO, S. M. Informações nutricionais de carnes ovinas em
combinação de propriedades para desenvolver um determinado rótulos comerciais, comparativamente às obtidas em análises
produto, sem ultrapassar os valores permitidos (15). laboratoriais. Ciênc. Tecnol. Aliment. 27, 376-381, 2007.
A RDC nº 2 de 15 de janeiro de 2007 que aprova o 5 BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Regulamento Técnico da Anvisa sobre Aditivos Aromatizantes, os Instrução normativa nº 22, de 24 de novembro de 2005. Aprova o
definindo como substâncias ou misturas capazes de conferir ou Regulamento Técnico para Rotulagem de Produto de Origem Animal
intensificar o aroma e/ou sabor dos alimentos (16). Durante a coleta, embalado. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 2005. Seção
foram encontrados dois aromatizantes: o Aroma Natural de Fumaça 1, p. 15.
conferindo a sensação de defumado e o Aroma de Pimenta conferindo 6 CARDOSO, M. F. M. Adequação da rotulagem e das condições de
a sensação de apimentado, ambos os aromas possuem frequência armazenamento de linguiças de diferentes marcas comercializadas em
moderada dentre os aditivos. estabelecimentos varejistas de Uberlândia-MG, Brasil. 2018, 36f.
Quanto aos corantes de alimentos, constituem uma classe de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária)
aditivos alimentares que podem ser classificados em naturais e - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de
artificiais/sintéticos e têm a finalidade de conferir, intensificar ou Uberlândia, Uberlândia-MG, 2018.
padronizar a coloração dos produtos alimentícios, proporcionando as
7 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução - RDC nº 360, de 23 de
mesmas características de um produto natural (17). dezembro de 2003. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem
O corante mais utilizado foi o Natural de Carmim de Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a rotulagem
Cochonilha estando ele presente em 57% dos embutidos. Expressivos
nutricional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 dez. 2006. Seção
75% dos produtos congelados possuem esse corante, seguindo de 58%
1, p. 33.
dos congelados e 55% dos sem refrigeração. Tal corante é considerado
8 BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 540, de 27 de outubro de
bastante estável ao calor e à luz, resistente à oxidação e não sofre
1997. Aprova o Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares -
alterações significativas pela ação do dióxido de enxofre. Em razão de
definições, classificação e emprego. Diário Oficial da União, Brasília,
sua estabilidade, o carmim é considerado sob o ponto de vista
DF, 28 out. 1997.
tecnológico um excelente corante (18) e sua utilização tem o intuito de
atrair cada vez mais o consumidor, por passar a imagem de um produto 9 SILVA, L.C.. Estratégias de pré e pós-colheita na prevenção de
saboroso e chamativo. micotoxinas. In: Adésio Ferreira; Andreia Barcelos Passos Lima;
O espessante identificado está presente em 22% dos Frederico de Pina Matta; José Augusto Teixeira do Amaral; José Carlos
embutidos, estando em 50% dos refrigerados foi o Carragena, categoria Lopes; José Eduardo Macedo Pezzopane; Marcia Flores da Silva
de hidrocolóides extraídos de algas vermelhas da classe das Ferreira; Ricardo Antônio Polanezky; Tais Cristina Bastos Soares.
Rhodophyceae. Ele possui a propriedade de formar gel, reter água e (Org.). Tópicos Especiais em Produção Vegetal I. 1ed. Alegre: UFES,
fornecer a textura desejada. Vem sendo utilizado devido a sua 2009, v. 528, p. 246-257.
capacidade de gelatinização térmica. A funcionalidade da carragena em 10 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 272, de 14 de
produtos cárneos revela-se devido a sua propriedade de gelatinização março de 2019. Dispõe sobre os aditivos alimentares autorizados para
térmica reversível. A carragena se dissolve totalmente no produto uso em carnes e produtos cárneos. Diário Oficial da União, Brasília,
cárneo e se gelatiniza quando resfriada, o que aumenta a retenção de DF, 18 mar. 2019.
água, textura e consistência dos produtos cárneos (19). 11 CARTAXO, J.L.S. Riscos associados aos níveis de nitritos em
Os aditivos alimentares dos embutidos coletados, estavam alimentos: uma revisão. 2015. 30 f. TCC (Graduação) - Curso de
determinados pela legislação e variaram entre aromatizantes, corantes, Farmácia, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade
acidulantes, espessantes, antioxidantes, reguladores de acidez e Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
estabilizantes. 12 IAMARINO, Luciana Zancheta et al. Nitritos e nitratos em produtos
cárneos enlatados e/ou embutidos. Gest. em Foc., v. 7, p. 246-51, 2015..
CONCLUSÃO 13 GONZÀLES, J.A.O.; CASTRO, E.F.P. Estudio técnico para la
elaboración de salchichas a partir de carne de toyo blanco
Pode-se concluir que os embutidos são um grupo diverso no (Carcharhinus Falciformis) y almidón modificado (Maltodextrina).
mercado e por isso apresentam processamentos diferentes, aromas 2012. 134p. Proyecto de grado para optar al título de Ingenieros
atribuídos variados e outras características distintas entre si. Ainda Agroindustriales - Facultad de Ingeniería, Universidad de San
assim, todo o grupo possui uma grande diversidade de aditivos por Buenaventura Cali, Santiago de Cali, 2012.
tratar-se de produtos elaborados a partir de carnes ou outros tecidos 14 RAPELO, A.LT. Evaluación del efecto almidón obtenido a partir de
animais, muito sensíveis à contaminação microbiológica. malanga (colocasia esculenta) en las propiedades de un producto
De forma geral, o nitrito de sódio foi o aditivo alimentar com cárnico. 2012. 80p. Trabajo de grado (Magister Scientiarum en Ciencia
maior ocorrência nos embutidos, seguido por eritorbato monossódico, y Tecnología de Alimentos) - Facultad de Ingenieria División de Pos
glutamato monossódico e tripolifosfato de sódio. grado. Universidad del Zulia, Maracaibo, 2012.
Dentre os embutidos sem refrigeração, o nitrito de sódio 15 SILVA, L. P; LOPES, M, M; MANO, S; MÁRSICO, E. T;
destaca-se por aparecer com maior frequência, além do eritorbato de CONTEJÚNIOR, C. A; TEODORO, A. J; GUEDES, W. S. Influência
sódio, predominante apenas nessa categoria. O nitrito de sódio aparece da adição de polifosfato em lingüiça de frango. Rev. bras. ciênc. vet, p.
novamente com maior ocorrência entre os embutidos com refrigeração, 50–55, 2008.
juntamente com o glutamato monossódico, o qual é encontrado também 16 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 2, de 15 janeiro
em todos os embutidos congelados, assim como o nitrito de sódio. O de 2007. Aprovar o Regulamento Técnico sobre Aditivos
tripolifosfato também pode ser observado frequentemente entre os Aromatizantes. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jan. 2007.
congelados.
17 MESSIAS, C.M.B.O; SOUZA, H.M.S; REIS, I.R.M.S. Consumo de
Entretanto, após o estudo, nota-se que ainda carecem
alimentos ultraprocessados e corantes alimentares por adolescentes de
estudos disponíveis nos bancos de dados acerca aditivos que podem ser
uma escola pública. Rev. Adolesc. e Saú. v. 13, n.4, Rio de janeiro,
adicionados à dieta.
out/dez, 2016.
REFERÊNCIAS 18 VOLP, A.C. P; RENHE, I. R.T; STRINGUETA, P.C. Pigmentos
naturais bioativos. Rev. Alim. e Nutr., v.20, n.1, p. 157-166, jan./mar.
2009.
1 SÃO PAULO. Decreto n. 52.504, de 28 de julho de 1970. Aprova
Normas Técnicas Especiais Relativas a Alimentos e Bebidas. São 19 PEDROSO, R.A; DEMIATE, I.M. Avaliação da influência de amido
Paulo, São Paulo, 28 jul. 1970. e carragena nas características físico – químicas e sensoriais de presunto
cozido de peru. Ciênc. Tecnol. Aliment. v. 28 n. 1 Campinas Jan/Mar.
2 MADRUGA, M.S.; SOUZA, W.H.; MENDES, E.M..S.; BRITO,
2008.
E.A. Carnes caprina e ovina - processamento e fabricação de produtos
derivados. Tecnol. & Ciên. Agropec., v.1, n.2, p.61-67, 2007.
3 SILVA, C. N. Estudo da vida útil de linguiça frescal de frango e
modelagem do crescimento de bactérias ácido láticas em condições
isotérmicas. 2013. 92f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A classificação dos food trucks nos seus grupos
correspondentes em relação a porcentagem de conformidades
segundo a lista de verificação aplicada, onde, dois food trucks (40%)
ficam no Grupo 1, com mais de 76% das conformidades e os outros
três estabelecimentos (60%) se encontram no Grupo 2, com mais de
51% de conformidade.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
5. REFERÊNCIAS
Quanto à estrutura do food truck, observou-se que todos (1) DE LIMA SILVA, Gabriela; LIMA, Luana Filgueira;
os que foram avaliados não possuíam autonomia de energia, como LOURENÇO, Nelson Serra. Food truck na cidade de São Paulo e a
também a dificuldade de alguns quanto à ventilação adequada que, influência do perfil do consumidor em sua longevidade: aspectos
segundo a RDC nº 216/2004 (4) , esta deve propiciar a renovação do socioculturais. Refas-Revista Fatec Zona Sul, v. 2, n. 1, p. 1-23,
ar, sem que incida nos alimentos. 2015
Sobre os equipamentos e utensílios observou-se que
somente um food truck possuía termômetro para a aferição da (2) FORTALEZA. Prefeitura Municipal de Fortaleza. Lei municipal
temperatura dos alimentos expostos ou em manipulação, no entanto N° 10474 de 2016 que Regulamenta o Exercício das Atividades de
todos os estabelecimentos possuíam equipamentos e utensílios "Food Truck", "Food Bike" e "Food Cart" no Município de
adequados quanto ao seu material e sua higienização, como relata a Fortaleza.
ABERC (2015) (8) acerca da importância deste ponto. Nos food
trucks avaliados, todos tiveram porcentagem maior ou igual a 60% (3) SANTOS, Newton Carlos et al. AVALIAÇÃO
de conformidade, já em comparação com o estudo feito no MICROBIOLÓGICA DE CACHORROS-QUENTES
Recôncavo da Bahia este apresentou um percentual de 80% de COMERCIALIZADOS POR FOOD TRUCKS
conformidade nesse quesito. (9)
Em relação a higiene das instalações percebeu-se uma
adequada frequência da higienização dos equipamentos, móveis e (4) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução Agência Nacional de
utensílios, no entanto foi observado materiais destinados a limpeza e Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de
higienização, em contato com as bancadas de manipulação e de 2004. In. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. 16 de setembro de 2004
higienização dos utensílios. Fazendo a comparação do presente
estudo e o de COSTA, et al (9), as porcentagens foram um pouco (5) FREITAS, A. M.; BARBOSA, N. P.; JARDIM, F. B. B.
divergentes. O estudo feito em Fortaleza obteve em média 72% de Avaliação das Condições Higiênico-Sanitárias dos Alimentos
conformidade em higiene, já o realizado no Recôncavo da Bahia Servidos nos Food Trucks na Cidade de Urbelândia/MG. IFTM.
obteve somente 32% de conformidade. Quanto à existência de Minas Gerais, 2018.
vetores e pragas é possível perceber a eficácia no controle na grande
maioria dos estabelecimentos, porém, no que diz respeito aos (6) RIBEIRO, Soraya Antônio de Bastos. Avaliação das boas
registros, dentre os estabelecimentos visitados apenas dois possuíam práticas de manipulação: um estudo de caso sobre um food truck
os mesmos. de Jaraguá-GO, 2017. 42 f. Monografia (Especialização - Curso de
Em relação ao armazenamento dos insumos percebeu-se Especialização em Gestão da Produção de Refeições Saudáveis) -
que estes em alguns food trucks não estavam acondicionados em Universidade de Brasília, 2017.
local limpo ou sem contato com o chão, como também os
equipamentos que armazenam alimentos em refrigeração não possuía (7) FORTALEZA, Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza.
controle das temperaturas, estando em não conformidade de acordo Portaria N° 31/2005 – Lista de Verificação das Boas Práticas em
com a RDC nº 216/2004 (4). Serviços de Alimentação conforme Resolução N° 216 de 15 de
Setembro de 2004.
4. CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados, foi possível (8) ABERC, Associação Brasileira das Empresas de Refeições
perceber que as condições higiênico-sanitárias de uma forma geral Coletivas. Manual ABERC de Práticas de Elaboração e Serviço
foram satisfatórias. Além disso, as não conformidades encontradas de Refeições Coletivas – 11° Ed. São Paulo, 2015.
são pontos fáceis de implantar ações corretivas, não demandando
períodos prolongados de não funcionamento do estabelecimento. (9) COSTA, Milena da Cruz et al. Condições higiênico-sanitárias de
food trucks em uma cidade do Recôncavo da Bahia. Magistral, Cruz
das Almas - Bahia, p. 328- 334, 22 nov. 2018. Disponível em:
https://magistraonline.ufrb.edu.br/index.php/magistra/article/view/52
4/336. Acesso em: 12 maio 2019
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Priscila Pereira Pessoa1, Bruno Victor Pereira da Costa2, Jeferson Vidal do Nascimento Meneses2, Carla
Soraya Costa Maia3.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
foi de sete. Por outro lado, duas amostras apresentaram baixo número, nº 26/2015 (6); RDC nº 259/2002 (7) e RDC nº 360/2003 (8).
apresentando apenas um aditivo alimentar cada uma. No presente Desta forma, a disponibilidade de informações claras e legíveis nos
trabalho, contabilizou-se 25 tipos de aditivos diferentes presentes nas rótulos, se torna de suma importância para garantir a saúde e a
listas de ingredientes dos rótulos das amostras. Os aditivos foram segurança alimentar dos consumidores. Para isso, sugere-se que o
agrupados conforme sua classificação na tabela 1. acesso à educação nutricional no tocante à rotulagem de alimentos seja
ampliado. Salienta-se, ainda, a melhor fiscalização para que as
indústrias alimentícias possam disponibilizar informações corretas e
Tabela 1 – Tabela 1 – Aditivos alimentares encontrados em rótulos acessíveis nos rótulos dos produtos.
de barras de castanhas adquiridas no comércio de Fortaleza – CE,
2019.
COMPONENTE N % REFERÊNCIAS:
Antioxidante
Tocoferol (vitamina E) 8 13,7 % 1 SKLIUTAS, A.R. Estudo do desenvolvimento de barra dietética de
Lecitina de soja 6 10,3 % cereais e goiaba desidratada pelo processo de osmose a vácuo com
Edulcorantes (adoçantes) utilização de frutooligossacarideo. 2002. 116p. Dissertação (mestrado)
- Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia de
Edulcorante stevia 1 1,7 %
Alimentos, Campinas, SP, 2002.
Edulcorante sucralose 1 1,7 %
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Sorbitol 1 1,7 % Sanitária - ANVISA. Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997.
Xarope de glicose 1 1,7 % Aprova o Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares - definições,
Maltitol 1 1,7 % classificação e emprego. Diário Oficial [da] República Federativa do
Glicosídeo steviol 2 3,4 % Brasil, Brasília, DF, 28 out. 1997.
Polidextrose 1 1,7 % 3. HONORATO, T.C., et al. Aditivos alimentares: aplicações e
toxicologia. Revista Verde, 8, 1-11, 2013.
Espessantes/emulsificantes/estabilizantes
4 Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Guia sobre
Espessante maltitol 1 1,7 % Programa de Controle de Alergênicos. Alimentos - Guia nº 5, versão 2,
Espessante goma acácia 2 3,4 % 2018. 23 p.
Emulsificante lecitina de soja 8 13,7 % 5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Perguntas e
Respostas: Rotulagem de alimentos alergênicos. 5. ed. Brasília, 2017.
Emulsificante lecitina de girassol 2 3,4 % 40 p.
Emulsificante poliglicerol 1 1,7 % 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Estabilizante lecitina de soja 3 5,1 % Sanitária. Resolução RDC nº 26, de 02 de julho de 2015. Dispõe sobre
Estabilizante polidextrose 1 1,7 % os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que
causam alergias alimentares. Diário Oficial [da] República Federativa
Acidulantes
do Brasil, Brasília, DF, 27 ago. 2015.
Ácido cítrico 2 3,4 % 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Ácido ascórbico 2 3,4 % Sanitária. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Aprova o
Umectantes Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Diário
Umectante sorbitol 2 3,4 % Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 set. 2002.
Umectante glicerina 2 3,4 % 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Glicerina 2 3,4 % Sanitária. Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova
Corantes Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos
Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional. Diário
Corante caramelo IV 4 6,8 %
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 dez. 2003
Urucum 2 3,4 %
9. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Corante natural de clorofila 1 1,7 % Sanitária. Resolução RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012.
Carmin de cochonilha 1 1,7 % Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar.
Legenda: n=número de aditivos presente nas barras de castanhas. Diário Oficial [da] União da República Federativa do Brasil, Brasília,
Fonte: Elaborada pelos próprios autores. DF, 21 ago. 2006.
10. PEREIRA, J.R.P. et al. Análise de conformidade das informações
apresentadas nos rótulos de barras de cereais e pães light. Linkania, 1,
No presente estudo, observou-se que o antioxidante tocoferol (vitamina 137-155, 2014.
E) e o emulsificante lecitina de soja foram os dois aditivos alimentares 11. MIRANDA, L.L.S. et al. Análise da rotulagem nutricional de pães
mais frequentes na composição na lista de ingredientes dos rótulos de forma com informação nutricional complementar comercializados
analisados, presentes em oito barras cada, das 24 totais. A vitamina E no município de Belo Horizonte–MG. HU Revista, 43, 211-217, 2017.
pode ser adicionada para prevenir a oxidação dos alimentos (14). Já os 12. BARROS et al. Análise da rotulagem de alimentos diet e light
emulsificantes, são substâncias que tem como principal função comercializados em Teresina-PI. Ens. Ciênc, 16, 51-60, 2012.
proporcionar a formação ou manutenção de uma mistura uniforme de 13. MEDEIROS, L.A. et al. Avaliação da Rotulagem Nutricional e
duas ou mais fases que se misturariam no alimento (15). Em um estudo Teor de Fibras Alimentares de Barras de Cereais. R. Saúde Públ. Santa
realizado por Pereira et al. os resultados indicaram que os Cat, 8, 7-14, 2015.
aromatizantes, corantes e estabilizantes, foram os aditivos mais 14. BATISTA, E.S.; COSTA, A.G.V.; PINHEIRO-SANT’ANA,
presentes em todas as categorias de alimentos avaliados por estes H.M. Adição da vitamina E aos alimentos: implicações para os
autores (biscoitos salgados, biscoitos doces, sopas instantâneas e alimentos e para a saúde humana. Rev. Nutr., 20, 525-535, 2007.
salgadinhos). Dos 217 alimentos analisados foram encontrados um total 15. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
de 57 aditivos que foram divididos em 15 classes de acordo com a sua análises de alimentos. 4. ed. (1ª Edição digital), 2008. 1020 p.
função (16). No presente estudo o corante caramelo IV foi o mais 16. PEREIRA, L. F. et al. Prevalência de Aditivos em Alimentos
frequente nos rótulos analisados (presente em quatro amostras). Os Industrializados Comercializados em uma Cidade do Sul de Minas
corantes caramelos se caracterizam como misturas complexas de Gerais. Ciências em Saúde, 5, 1-7, 2015.
componentes, elaborados a partir do aquecimento de carboidratos 17. ANVISA. Informe Técnico n. 68, de 3 de setembro de 2015.
(como glicose ou frutose), com ou sem adição de ácidos, substâncias Assunto: Classificação dos corantes caramelos II, III e IV e dos demais
alcalinas ou sais. O corante caramelo IV é classificado como corante corantes autorizados para uso em alimentos.
orgânico sintético idêntico ao natural (17). Alerta-se que inúmeros ABREU, I.S.; BUSSINGUER, E.C.A. O racismo ambiental no Brasil e
estudos discutem os riscos à saúde que advêm da utilização excessiva seus reflexos na saúde: uma análise do uso do corante caramelo IV.
dos corantes (18). CONCLUSÃO: Conclui-se que o tocoferol e o Opin. Jurid., 16, 229-243, 2017
emulsificante lecitina de soja foram os aditivos com maior frequência
nas listas de ingredientes e que todas as amostras apresentavam pelo
menos um aditivo alimentar nos rótulos. Através da realização do
presente trabalho foi possível identificar algumas não conformidades
nos rótulos de barras de castanha comercializadas na cidade de
Fortaleza - CE em relação à algumas resoluções da ANVISA/MS: RDC
526
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rafaela Soares1, Priscila Pessoa 2, Renata Assis3, Ana Araújo4, Silvia Cozzolino5, Carla Maia 6
1. MSc Uninta College of Itapipoca, 2. MSc Fametro University Center, 3. MSc State University of Ceará, 4. State
University of Ceará, 5. PhD University of São Paulo, 6. PhD State University of Ceará.
* Corresponding Author: rafaelasoaresprofa@gmail.com
INTRODUTION The foods were properly crushed with food cutter CUT.8 MAX
Metvisa® with 8 liters capacity. They were then homogenized
The geochemical distribution of selenium (Se) varies throughout the according to the Adolfo Lutz Institute [7]. The material was spread
world. In general, it occurs at a concentration of 50 to 200 μg/kg in with a spatula on a large sheet of filter paper and separated into four
soils [1]. Many soils are unable to provide growing plants the parts in a cross. Two opposite segments were removed and returned to
necessary amount of Se for animals which consume them. Animals the pack and the two remaining parts were mixed. The four segments
with low intake of the mineral Se will have a deficiency and even a separation process was repeated to obtain enough sample for analysis
risk of dying. However, plants that grow in soil that is very rich in this in triplicate. After that, the material was dried in an oven at 105 °C
element can accumulate 13-15 mg/kg of Se [2]. until the dried mass reached the constant weight prior to their analysis
Se in the form of selenoproteins containing selenocysteine exerts of Se.
multiple physiological functions [3]. Some of these functions include All reagents used in the analysis were of P.A. analytical grade purity.
a defense against oxidative stress, regulation of the thyroid hormone The water used for the preparation of solutions, calibration curve and
actions, and regulating the redox state of vitamin C and other sample dilution was deionized.
molecules [4].
In an attempt to recognize the distribution of Se in Brazil, one study Se Dosage:
examined the concentration of beans from 12 Brazilian states. The
study concluded that the states of the north (Amazonas, Pará) and Digestion: Sub samples were placed in quartz tubes and 6 mL of nitric
northeast (Ceará, Pernambuco and Alagoas) have a higher acid and 1 mL of hydrochloric acid were added. They were subjected
concentration of the mineral compared to the midwest, southeast and to digestion at 150 °C for 40 minutes in a closed system using an Anton
south. However, states of the southern region of the country, Paraná, Paar model Wave 3000 microwave digestion oven.
Santa Catarina and Rio Grande do Sul stand out by having a lower
concentration of Se [5]. Reduction: The Se content was then reduced to ensure that it was
The study of Se is especially important because of its essentiality and present in the Se (IV) state in solution by addition of 5 mL of 1.2 N
toxicity. However, information about the element in tropical coastal HCl to each digested sample.
regions such as Brazil remain scarce and more studies of these area
should be undertaken [6]. Thus, Brazil as a continental country Dilution: The contents of the reduced solutions were quantitatively
presents different geochemical conditions with respect to selenium and transferred to a 50 mL volumetric flasks with careful (three times)
the study of food in the state of Ceará (Northeast region) is important washing of the quartz tube and funnel with MilliQ water. The volume
to support the hypothesis that this region produces foods rich in Se. of the flask was made up to the mark using MilliQ water.
Determination of Se concentration:
METHODS
The determination of Se concentration was conducted by atomic
Three foods from the daily basic Brazilian diet were selected: rice absorption spectrophotometry based on hydride generation coupled
(Orysa sativa), cassava flour (Manihot esculenta) and beans (Vigna with a model Z-5000 model quartz cell (Hitachi), following the
unguiculata). In addition, one other food typical of the Northeast, the methodology proposed by Foster and Sumar [8], and adapted to the
cashew nut (Anacardium occidentale) was also included. These foods standards followed by the mineral laboratory at the University of São
were purchased directly from local producers in the municipalities Paulo (USP). Results were expressed in μg / 100g of the food in natura
participating in the study. The cultivated soils had not been enriched (wet weight).
with the mineral by application of fertilizers. The collected foods
comprised the crops of 2010, 2011 and 2012, which corresponded to Control of the methodology for the analysis of Se:
years of drought in the state of Ceará. Three kg of each food sample
+from each municipality were collected and labeled with the crop and Quality control of the methodology relied on analysis of Se in certified
region origin. The foods were homogenized and packaged for further Wheat Flour® material from the National Institute of Standards and
analysis. Technology (NIST).
In an attempt to map the distribution of the samples, the food RESULT AND DISCUSSION
collected in the different municipalities of these macro-regions are
shown in Table 1. Results for the determination of the Se concentration in the food
samples distributed according to their macro-regions of origin (of
Table 1. Macro-regions of Ceará with their respective samples Ceará) are shown in Figure 1.
selected for study, 2013.
Macro-region (Ceará, Brasil) Samples Figure 1 shows the average concentration of selenium in food sourced
Fortaleza Metropolitan Area cashew nut and beans from the various macro-regions the state of Ceará. It is evident that the
West Coast Beans metropolitan area of Fortaleza is characterized by high selenium
Sobral/Ibiapaba rice and beans concentrations in beans.
Inhamuns Backlands Beans
Central Backlands Beans A study by Ferreira et al. [9] of the Se concentrations in food samples
Baturité cassava flour from retail stores in various Brazilian states reported that the Se
East Coast/Jaguaribe cassava flour and beans concentration in beans was 1 μg/100g, rice was 0.8 μg/100g and
rice, cassava flour and cassava flour was 1.6 μg/100g of raw food. These results are lower
Cariri/South Central than values for the foods analyzed in the present study, as summarized
beans
in Table 2.
527
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figure 1. Se concentration in the food samples distributed supply of Se in the diet of this population and consequently account
according to their macro-regions of Ceará for its good nutritional status with respect to this micronutrient.
REFERENCES
Table 2. Concentration of selenium in rice, cashew nuts, cassava 5. SHALTOUT, A.; CASTILHO, I. N. B.; WELZ, B. Determinação de
flour and beans produced in Ceará (Brazil) – 2013. selênio em feijão com espectrometria de absorção atômica
Selenium (μg/100g of raw foodc) eletrotérmica por geração de hidretos, 34a Reunião Anual da
Food Average Rangea CVb ±SDd Sociedade Brasileira de Química, Florianópolis, 2011. Available in:
(number of Content http://sec.sbq.org.br/cdrom/34ra/resumos/T1176-2.pdf. Accessed 9
samples) apr. 2015.
Rice (2) 18.5 10.1 and 9.77 27,1
26.9 6. SEIXAS, T.G.; KEHRIG, H.Á. O selênio no meio ambiente. Oecol.
Cashew Nut 49.2 – – – Bras. 11, 264-276, 2007.
(1)
Cassava 11.4 0.22 – 3.79 4,2 7.INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
Flour (5) 31.9 análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,2008. Available
Beans (10) 23.7 5.70 – 4.99 10,3 in:http://www.crq4.org.br/sms/files/file/analisedealimentosial_2008.p
56.4 df. Acessed 27 apr. 2015.
a
Range of variation among the analyzed samples of each product.
b
Average variation coefficient among the analyzed samples. 8. FOSTER, L.H.; SUMAR, S. Hydride generation atomic absorption
c
Wet wheight spectrometric (HGAAS) determination of selenium in term and
d
Standard Deviation preterm infant formulae available in the United Kingdom. Food Chem.
55, 293-298, 1996.
It is important to take into consideration that Ferreira et al. [10] did
not report the origin of most of the foods examined, a fact that 9. FERREIRA, K. S. J.C.; GOMES, J. C.; BELLATO C.R.; JORDÃO
undermines the interpretation of the results of the study since Se C. P. Concentração de selênio em alimentos consumidos no Brasil. Rev.
concentrations are directly linked with the soil on which the crops are Panam. Salud. Públ. 11, 172-177, 2002.
cultivated. However, regardless of the origin of these foods, it is clear
that the Se concentration in rice and beans from Ceará is elevated in 10. HINTZE, K.J.; LARDY, G. P.; MARCHELLO, M.J.; FINLEY,
our study. Hintze et al. [11] suggest that the greatest source of variation J.W. Areas with High Concentrations of Selenium in the Soil and
in Se content of bovine skeletal muscle was the geographic region Forage Produce Beef with Enhanced Concentrations of Selenium. J.
from which the beef originated and not production or management Agric. Food Chem. 49, 1062-1067, 2001.
practices.
11. HINTZE, K J.; LARDY, G.P.; MARCHELLO, M.J.; FINLEY, J.W.
The soils derived from sedimentary rocks have a higher content of Areas with High Concentrations of Selenium in the Soil and Forage
selenium [12]. In the state of Ceará, the sedimentary plateaus present Produce Beef with Enhanced Concentrations of Selenium. J. Agric.
themselves as more representative units of the Ibiapaba mountains and Food Chem. 49,1062-1067, 2001.
the Apodi and Araripe plateaus [13]. An example of a sedimentary
rock rich in selenium is limestone [14] which is found in the 12.FAQUIN, V. Nutrição Mineral de Plantas. 2005. 186f. Trabalho de
sedimentary basin of Araripe, in the municipalities of Nova Olinda and conclusão de especialização (Especialização em Solos e Meio
Santana do Cariri in the state of Ceará [13]. Ambiente), Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2005.
528
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
529
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Na (mg) - 49,8 0,53 5,34 Proceedings of the First International Food Data Base Conference, pp.
Zn (mg) 4,40 - 4,04 4,40 175–182. Arlington, VA, USA, AOAC International. 1995.
Cu (mg) 2,30 - 3,28 2,3
Se (mcg) - 0,03 - 34,8 9 CHAVES, M. H.; BARBOSA, A. S.; MOITA NETO, J. M.; AUED-
S (mg) - - - - PIMENTEL, S.; LAGO, J. H. G. Caracterizaçao química do óleo da
Mn (mg) 4,80 9,10 8,07 4,8 amêndoa de Sterculia striata St Hill et Nauda. Química Nova, São
Paulo, v. 27, n. 3, p. 404-408, 2004.
Ni (mcg) 0,5 - - -
Vitamina B1 (mg) - 0,31 - -
10 VALLILO, M. I.; TAVARES, M.; PIMENTEL, S. A.;
Vitamina B2 (mg) - 0,27 - - BADOLATO, E. S. G.; INOMATA, E. I. Caracterização química
Vitamina C (mg) - 17,10 - - parcial das sementes de Lecythis pisonis Camb. (SAPUCAIA). Acta
*AGS: ácidos graxos saturados; **AGM: ácidos graxos Amazônica, Manaus, v. 28, n. 2, p. 131-140, 1998.
monoinsaturados; ***AGP: ácidos graxos poli-insaturados.
- sem análise; amêndoa da sapucaia. I14.II15. III16. IV17. 11 VALLILO, M. I.; TAVARES, M.; PIMENTEL, S. A.; CAMPOS,
N. C.; MOITA NETO, J. M. Lecythis pisonis Camb. nuts: oil
O valor calórico médio das amêndoas de sapucaia foi de characterization, fatty acids and minerals. Food Chemstry, Barking, v.
620,89 kcal. Quanto às fibras apresentou média de 8,66 g (Tabela 66, p. 197-200, 1999.
1). Estes resultados mostram que a sapucaia é rica em fibras e
calorias conforma estabelece a legislação brasileira16, podendo ser 12 SOUZA, V. A. B.; CARVALHO, M. G.; SANTOS, K. S.;
utilizado para fins dietéticos específicos. FERREIRA, C. S. Características físicas de frutos e amêndoas e
A as amêndoas de sapucaia apresentaram as seguintes características químico-nutricionais de amêndoas de acessos de
umidade 12,2; 4,92; 5,04; e 4,15; I, II, III, e IV, respectivamente. sapucaia. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 30, n. 4, p.
Quanto aos carboidratos, estes apresentaram 5,01 g; 8,28 g; 4,42 g; 946-952, 2008.
4,90 g; I, II, III, e IV, respectivamente. Os valores de proteína foram
26,82 g; 19,86 g; 20,47 g; e 15,80g, I, II, III, e IV, respectivamente. 13 DENADAI, S. M. S.; HIANE, P.A.; MARANGONI, S.;
Quanto ao teor de lipídeos apresentou 54,80 g; 63,03 g; 60,61 g; e BALDASSO, P. A.; MIGUEL, A.M.R.O.; MACEDO, M.L.R. In vitro
47,90g; I, II, III, e IV, respectivamente, com média de 56,58 g. digestibility of globulins from sapucaia (Lecythis pisonis Camb.) nuts
Sendo consideradas com alto valor de proteínas e lipídeos18. Ainda by mammalian digestive proteinases. Ciência e Tecnologia de
são pouco os trabalhos que caracterizam a composição química da Alimentos, Campinas, v. 27, n. 3, p. 535-543, 2007.
amêndoa da sapucaia.
Quanto aos valores de cálcio e magnésio (Tabela 1), as 14 CARVALHO, I. M. M. et al. Caracterização química da castanha
amêndoas da sapucaia apresentaram elevados valores destes de sapucaia (lecythis pisonis cambess.) da região da zona da mata
nutrientes, sendo consideradas como alimento fonte18. mineira. Biosci. J., Uberlândia, v. 28, n. 6, p. 971-977, Nov./Dec.
2012.
CONCLUSÃO
Foi possível fazer a compilação e construir uma base de 15 VALLILO, M.I. TAVARES, M.; PIMENTEL, S.A.; BADOLATO,
dados da composição desta amêndoa. Com estas informações, E. S. G.; INOMATA, E.I. Caracterização química parcial das
consegue-se notar a potencialidade nutricional que da amêndoa da sementes de lecythis pisonis camb. (Sapucaia). Acta Amazônica,
sapucaia e fomentar o consumo dela, favorecendo a segurança 28(2): 131-140, 1998.
alimentar da população.
16 DENADAI, S.M.S.; HIANE, P.A.; MARANGONI, S.;
REFERÊNCIAS BALDASSO, P.A.; MIGUEL, A.M.R.O.; MACEDO, M.L.R. In vitro
digestibility of globulins from sapucaia (Lecythis pisonis Camb.) nuts
1 ARAÚJO, E. C. E. Chichá (Steculia striata St. Hil. et Naud.): uma by mammalian digestive proteinases. Ciênc. Tecnol. Aliment.,
nova opção para os mercados nacional e internacional de nozes. Campinas, 27(3): 535-543, jul.-set. 2007.
Informativo SBF, v. 16, n. 04, p. 13-14, 1997.
17 DEMOLINERA, F. et al. Sapucaia nut (Lecythis pisonis Cambess)
2 GREENFIELD, H.; SOUTHGATE, D. A. T. Food Composition and its by-products: A promising and underutilized source of bioactive
Data: production, management and use. 2ª ed. Roma: Food and compounds. Part I: Nutritional composition and lipid profileFood
Agriculture Organization of the United Nations (FAO); 2006. 288 p. Research International 108:) 27–34, 2018.
3 CAVALCANTE, P. B. Frutas comestíveis da Amazônia. 6. ed.
Belém: CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi, 1996. 18 BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA - RDC Nº
54. Dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre Informação
4 GRANDE, F. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos Nutricional Complementar. Diário Oficial da República Federativa do
(TBCA-USP): atualização e inclusão de dados de vitaminas Brasil, Brasília (DF), 12 de novembro de 2012.
[Mestrado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2013.
19 DONADIO, L.C. Frutíferas nativas da América Tropical. In:
5 RAND, W. M.; PENNINGTON, J. A. T.; MURPHY, S. P. Y; SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE
KLENSIN, J. C. 1991. Compiling data for food composition data FRUTEIRAS NATIVAS, 1993, Cruz das Almas-BA. Anais ... Cruz
bases. Tokyo, United Nations University Press. Disponível em: das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1993. p.9-12.
http://www.unu.edu/unupress/unupbooks/80772e/80772E00.htm.
Acesso em 01 Fev 2020. 20 CAVALCANTE, P.B. Frutas comestíveis da Amazônia. 6.ed.
Belém: CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi, 1996. 282p.
6 BURLINGAME, B. A. Development of food composition data base
management systems: the New Zealand experience. Food Chem., 21 TEIXEIRA, E. Frutas do Brasil: sapucaia. Disponível
57(1): 127–131. 1996. em:<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/
7 USDA. National nutrient database for standard reference. Release especiais/frutasnobrasil/sapucaia.htm>. Acesso em: 17 set. 2020.
16. Nutrient Data Laboratory. Servicio de Investigacion Agricola. 22 BENJAMIN, T.B. Nutrição humana. São Paulo, SP: McGraw-Hill
Departamento de Agricultura de los Estados Unidos. 2003.Disponível do Brasil, 1979. 200p.
em: http://www.nal.usda.gov/fnic/foodcomp/Data/SR16/sr16.html.
Acesso em 01 Fev 2020. 23 VALLILO, M.I.; TAVARES, M; AUED-PIMENTEL, S.;
CAMPOS, N.C.; MOITA NETO, J.M. Lecythis pisonis Camb. nuts:
8 BURLINGAME, B. A.; COOK, F. M.; DUXFIELD, G.M.; oil characterization, fatty acids and minerals. Food Chemistry,
MILLIGAN, G. C. Food data: numbers, words and images. In: H. Kidlington, v.66, n.2, p.197-200, 1998.
Greenfield, ed. Quality and accessibility of foodrelated data.
530
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
532
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Professora do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. ²Estudante de Graduação do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
adriana.nutrii@gmail.com
533
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
534
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Com base nessas alterações comportamentais que vêm Os dados obtidos referentes ao consumo alimentar e
transcendendo os anos, a avaliação antropométrica de adolescentes e avaliação antropométrica foram tabulados utilizando o programa
adultos se torna uma técnica extremamente prática porque não é Microsoft Office Excel® e agrupados em subdivisões, sendo os
invasiva e não requer alterações cotidianas nos dias que antecedem o resultados expressos em porcentagens.
exame, o que a torna uma excelente alternativa para estudos a respeito
do estado nutricional de coletividades, sendo inclusive a principal RESULTADOS E DISCUSSÃO
ferramenta para detecção do risco de DCNTs pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) (5). A amostra foi constituída por 62 alunos com idade média de
16,3 anos, sendo 51,8% do sexo feminino, em que 82,3% dos alunos
Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o estado afirmaram realizar as refeições mexendo no celular ou em frente à TV
nutricional de estudantes do ensino médio da rede pública de Fortaleza ou computador.
– Ceará, e promover atividades de educação alimentar como ferramenta
para melhoria das escolhas alimentares deste grupo estudado. Se alimentar é um ato importante e que não deve ser feito de
qualquer maneira, exatamente como afirma o Guia Alimentar para a
MATERIAL E MÉTODOS População Brasileira (10) quando diz que a falta de atenção durante as
refeições favorece o consumo de alimentos ultraprocessados e prejudica
Trata-se de um estudo de campo em carácter transversal, o controle do quanto se come, uma vez que o hábito afeta negativamente
quantitativo e descritivo que foi realizado em três escolas estaduais de a capacidade do organismo perceber as calorias ingeridas. Em estudo
ensino médio em tempo integral (EEMTI), situadas na cidade de que avaliou a eficácia na promoção de hábitos alimentares saudáveis
Fortaleza – Ceará, durante o segundo semestre de 2019. A amostra foi entre escolares, Duarte e Moreira (11), constataram que 83% das
constituída por alunos regularmente matriculados na disciplina eletiva crianças realizavam suas refeições em frente à TV ou celular, fato que
“Segurança Alimentar e Nutricional” e que aceitaram participar do corrobora com os achados do presente estudo.
estudo mediante a assinatura do termo de consentimento. Foram
excluídos os alunos que faltaram ao dia de coleta de dados; os que não A adolescência se caracteriza por ser uma fase de contínuo
aceitaram participar do estudo; os que não informaram os dados crescimento e desenvolvimento de órgãos e sistemas, além do próprio
535
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
crescimento físico. Sendo assim, uma alimentação saudável contribui (7) LEAN, M.E.J; HAN, T.S.; MORRISON ,C. E. Waist circumference
para que esses processos ocorram de maneira ordenada e progressiva. as a measure for indicating need for weight management. BMJ. 1995;
Sigilião e colaboradores (2) em estudo que avaliou as atividades diárias, 311: 158-61
hábitos alimentares e perfil antropométrico de adolescentes de uma
escola pública mineira, verificaram que 15,8% dos alunos tinham (8) Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
excesso de peso, resultado semelhante ao encontrado neste estudo, já Metabólica . Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 . [ Internet
que segundo o índice IMC/idade, 20,9% dos alunos apresentam algum ]. 3ª ed. Itapevi : AC Farmacêutica ; 2009 . 85 p.
grau de sobrepeso, sendo que 4,84% dos mesmos estão obesos segundo
a classificação da OMS. Observou-se ainda que 14,5% da amostra (9) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
integrou a faixa da magreza, ou seja, um peso abaixo do ideal para a Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de
idade e altura. marcadores de consumo alimentar na atenção básica. Brasília, 2015.
Uma alimentação de baixa qualidade, em que combina-se (10) BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar Para a População
grande ingestão de alimentos nutricionalmente pobres e consumo Brasileira. Brasília, 2019. Disponível em:
escasso de alimentos de maior valor nutritivo, também pode ocasionar <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populaca
excesso de peso. Logo, adolescentes que se mantém acima do peso o_brasileira_2ed.pdf>
dificilmente conseguem reverter esse quadro na fase adulta, sendo então
mais predispostos a sofrerem com as DCNT. (11) DUARTE, L. Á.; MOREIRA, D. C. F.. Educação Alimentar
Nutricional como Promotora de Hábitos Alimentares Saudáveis Entre
Dentre os participantes, apenas 46 aceitaram realizar a Crianças de uma Escola de Três Pontas. 2018. Trabalho de Conclusão
medida da circunferência abdominal, sendo que 87% destes não de Curso Graduaçao em Nutrição - Centro Universitário do Sul de
apresentaram risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Minas, Varginha, 2018.
Quando comparados os sexos, a presença do risco foi maior entre as
meninas (14,8%) do que entre os meninos (10,5%). Estes resultados (12) FONTANA, P. V.; GIANNINI, D. T.. Associação de indicadores
estão em desacordo com os encontrados por Fontana e Giannini (12), antropométricos com fatores de risco cardiovascular em adolescentes
quando verificou-se que adolescentes do sexo masculino apresentavam com excesso de peso. Ver. Adolesc. Saude, v. 11, n. 4, p. 68-78, 2014.
maior risco cardiovascular com base nestas medidas. Oliveira e
(13) OLIVEIRA, R. P. et al. Índice de adiposidade visceral como
colaboradores (13) constataram em seu trabalho que a medida que a
preditor de risco cardiometabólico em crianças e adolescentes. Rev.
circunferência abdominal aumenta, independentemente do sexo,
iBras. Med. Esporte, v. 23, n. 3, p. 222-226, 2017.
também aumentam as chances do desenvolvimento de fatores de risco
cardiometabólicos. (14) PRIORE, S. E; SPERANDIO, N. Prevalência de insegurança
alimentar domiciliar e fatores associados em famílias com pré-
No presente estudo, em relação ao consumo alimentar,
escolares, beneciárias do Programa Bolsa Família em Viçosa, Minas
verificou-se que 61,3% dos participantes tinham o hábito de ingerirem,
Gerais, Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde. 2015; 24(4): 739-748
predominantemente, alimentos de baixo valor nutricional e densidade
calórica elevada e apenas 17,7% dos alunos tinham como base da
alimentação, ou ao menos consumiam com certa frequência, frutas e
verduras. Resultado semelhante foi encontrado em um estudo que
verificou a prevalência de insegurança alimentar e fatores associados
em famílias com escolares em que 72,8% das mesmas estavam sob
condições de insegurança alimentar (14).
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
536
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Andrena Gomes¹, Cláudia Monteiro², Eduardo Barros3, Karla Silva4, Lucas Pessoa5, Josyanne Neves6
Introdução
Do ponto de vista da defesa do consumidor, a rotulagem dos alimentos Informação Marca Marca Marca Marca
visa disponibilizar informações sobre o produto corretas, claras, Nutricionais A B C D
precisas, e ostensivas, escritas em língua portuguesa, apresentando Obrigatórias
suas características, quantidade, composição, garantia, prazos de Porção 100,0 g 90,0 g 130,0 g 90,0 g
validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
possam apresentar à saúde e segurança dos consumidores. (1)
Valor 138 kcal 84 kcal 137 kcal 84 kcal
Segundo a Instrução Normativa n° 22, do ministério da Agricultura,
energético
Pecuária e Abastecimento rotulagem é toda inscrição, legenda,
imagem ou toda matéria descritiva ou gráfica que seja escrita, Carboidratos 20,0 g 11,0 g 22 ,0g 13,0 g
impressa, estampa, gravada, gravada em relevo ou litografada, ou
colada sobre a embalagem. Esse regulamento técnico é aplicado a todo
Proteínas 4,7 g 3,0 g 4,5 g 2,5 g
produto de origem animal (POA) destinado ao comércio interestadual
e internacional, qualquer que seja sua origem, embalado na ausência
do cliente e pronto para oferta ao consumidor. (2) Gorduras totais 4,2 g 3,1 g 3,6 g 2,4 g
Os leites fermentados são definidos como produtos resultantes da
fermentação do leite pasteurizado ou esterilizados, por fermentos Gorduras 2,3 g 2,0 g 2,1 g 1,3 g
láticos próprios, de acordo com a Resolução 05/2000 do Ministério da saturadas
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (3). A mesma legislação
descreve como iogurte o produto incluído na definição de leites Gorduras trans 0,0 g - 0,0 g 0,0 g
fermentados cuja fermentação se realiza com cultivos
protosimbióticos de streptococcus salivarius ssp. Thermophilus e Fibra alimentar 0,0 g - 0,0 g 0,0 g
Lactobacillus delbrueckii spp. bulgaricus, aos quais podem-se
acompanhar, de forma complementar, outras bactérias ácido-lácticas
que por sua atividade contribuem para a determinação das Sódio 72,0 mg 48,0 mg 88,0 mg 42,0 mg
características do produto final. (4)
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a rotulagem de iogurtes de Cálcio 177,0 mg 103,0 199,0 mg 188,0
diferentes marcas comercializados em supermercados da cidade de mg mg
Codo-Ma.
Foi observado que todas as marcas continham as informações
Metodologia obrigatórias, exceto a marca B que não que não apresentava o valor
As amostras de iogurte foram adquiridas em quatro supermercados, nutricional de gorduras trans e fibra alimentar. Analisou-se que os
totalizando quatro amostras de marcas diferentes, coletadas dados presentes no rótulo estavam de acordo com a RDC 360.
aleatoriamente uma por cada supermercado da cidade Codó-Ma, no Ainda constavam -se outras informações não obrigatórias na marca A
mês de dezembro de 2019. e C apresentavam açúcares (17,0 g e 16,0 g), na marca D apresentava
Foram utilizadas tabelas para obtenção de dados referentes às RDC zinco (2,4 mg), vitamina A (113,0 μg) e vitamina D (0,94 μg).
n° 259 de 20 de setembro de 2002, RDC n°359 de 23 de dezembro de Segundo o estudo sobre Avaliação dos Rótulos de Diferentes Marcas
2003, RDC n°360 de 23 de dezembro de 2003 onde constam as de Iogurtes Comercializados na Cidade de Pau dos Ferros-RS (8)
normas e informações nutricionais que devem ser apresentadas nos obteve resultado similar na fibra alimentar e gordura trans da marca B
rótulos para alimentos e bebidas embalados. que os rótulos não constavam essas informações.
Tabela 1: Informações Nutricionais Obrigatórias sobre Porção, Informações Marca Marca Marca Marca
Valor Energético, Carboidratos, Proteínas, Gorduras totais, Obrigatórias A B C D
Gorduras Saturadas, Gorduras Trans, Fibra Alimentar, Sódio e Denominação de CT CT CT CT
Cálcio de acordo com a RDC n°360. venda
Lista de CT CT CT CT
ingredientes
Medida caseira CT CT CT CT
537
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Identificação de NCT CT CT CT
origem (8) FEITOSA et al. Avaliação dos Rótulos de Diferentes
Identificação do CT CT CT CT Marcas de Iogurte Comercializados na Cidade de Pau
lote dos Ferros – RN.
Prazo de validade CT CT CT CT
Data de fabricação CT CT CT CT
Conclusão
A parti dos resultados obtidos, conclui-se que: todas as indústrias
produtoras das rotulagens dos iogurtes analisados neste trabalho
apresentam informações nutricionais com clareza e objetividade
proporcionando ao consumidor conhecimento necessário do produto.
Referências
(1) MACHADO.R.L.P. Manual de Rotulagem de Alimentos.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;
Embrapa Agroindústria de Alimentos; Ministério da
Agricultura, Pecuária de Alimentos. ISSN 1516-8242
maio, 2015.
538
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
539
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Quando se fala em alimentação aponta inicialmente nas Foi realizado um levantamento bibliográfico para maior
pessoas a termos como nutrientes, saciar a fome, trazer energia ao compreensão e diálogo com o tema proposto. Logo o acervo
corpo, ou seja, em sua maioria remete a termos orgânicos que teórico teve como base referências que tratam de temas como
tratam da regulação do nosso organismo, consequentemente do alimentação escolar, políticas públicas de alimentação escolar,
nosso corpo. Todavia, a ingestão de alimentos vai além das agricultura familiar e agroecológica, segurança alimentar e outros
questões de manutenção do corpo, pois diz muito das pessoas que temas correlatos que surgiram no decorrer do trabalho.
circundam esses alimentos uma vez que questões culturais, sociais,
políticas e econômicas estão diretamente ligadas à alimentação. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentro desse quadro, a agricultura familiar ganha maior espaço por
valorizar as práticas e os sujeitos do campo. A agricultura familiar no Brasil vem destacando os
Contudo na literatura considera-se que a agricultura atores sociais do meio rural, mulheres e homens, que são
familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do responsáveis pelo trabalho no campo e pela produção da maior
trabalho, vem de indivíduos que mantém entre si laços de sangue parte dos alimentos que chega a mesa do brasileiro. Ela valoriza o
ou de casamento (1). Também é definida como uma unidade meio rural, além de demostrar “a possibilidade de unir o
familiar, pois é autossuficiente, depende da terra para viver, porém rendimento econômico e social colaborando para uma melhoria nas
nem sempre a possui. Assim, essa denominação refere-se aos que condições de vida tanto dos agricultores familiares, quanto das
vivem no campo trabalhando com a família em pequenos espaços populações urbanas” (5). Desta forma a agricultura familiar se faz
de terra ou não e devem produzir, sobretudo para a reprodução da de grande importância para a geração de renda de uma ampla parte
força de trabalho familiar (2). da população.
Entretanto na agricultura familiar há várias formas de A Constituição de 1988 garanti a alimentação como um
trabalho no campo, a partir de uma perspectiva convencional, com direito social para toda população brasileira. Dessa forma, baseada
o uso de agroquímicos, ou com princípios de base ecológica. na constituição, a Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006,
Todavia, esse trabalho busca uma valorização da agricultura determina que a alimentação adequada de qualidade é um direito
familiar com diretrizes sustentáveis como o de produtos orgânicos de todo ser humano (6).
e agroecológicos. Logo, “a vivência dessas práticas orienta para Contudo uma alimentação saudável deve ser baseada em
uma lógica do desenvolvimento rural, considerando o equilíbrio práticas alimentares assumindo a significação social e cultural dos
dos agroecossistemas e a permanência das famílias no campo, alimentos como fundamental básico conceitual. A alimentação se
valorizando seus saberes, de modo que os indivíduos envolvidos dá em função do consumo de alimentos (e não de nutrientes). Os
sejam livres para produzirem seus produtos e obterem retorno alimentos têm gosto, cor, forma, aroma e textura e todos estes
econômico, possibilitando assim o sustento de suas famílias” (3). componentes precisam ser considerados na abordagem nutricional.
Diante disso o Guia alimentar para a População Brasileira, Os nutrientes são importantes todavia, os alimentos não podem ser
em sua edição de 2014, afirma que “alimentos de origem vegetal resumidos a veículos destes. Os alimentos trazem significações
ou animal oriundos de sistemas que promovem o uso sustentável culturais, comportamentais e afetivas singulares que jamais podem
dos recursos naturais, que produzem alimentos livres de ser desprezadas. O alimento como fonte de prazer também é uma
contaminantes, que protegem a biodiversidade, que contribuem abordagem necessária para promoção da saúde (7).
para a desconcentração das terras produtivas e para a criação de Com isso o Guia Alimentar para a População Brasileira
trabalho e que, ao mesmo tempo, respeitam e aperfeiçoam saberes afirma ainda que, “(...) alimentos específicos, preparações
e formas de produção tradicionais são chamados de alimentos culinárias que resultam da combinação e preparo desses alimentos
orgânicos e de base agroecológica (4). e modos de comer particulares constituem parte importante da
O Guia Alimentar ainda aponta que “quanto mais cultura de uma sociedade e, como tal, estão fortemente
pessoas buscarem por alimentos orgânicos e de base agroecológica, relacionados com a identidade e o sentimento de pertencimento
maior será o apoio que os produtores da agroecologia familiar social das pessoas, com a sensação de autonomia, com o prazer
receberão e mais próximos estaremos de um sistema alimentar propiciado pela alimentação” (4).
socialmente e ambientalmente sustentável” (4). Logo, a agricultura familiar está inserida na alimentação
A educação está inserida nesse diálogo, onde os espaços escolar através de políticas públicas como o PNAE objetivando a
de ensino desenvolvem estratégias de educação alimentar com base melhoria no rendimento escolar através da alimentação. Assim, a
nas indicações do atual Guia Alimentar para População Brasileira. agricultura familiar tem se constituído em uma proposta de grande
À vista disso, pode-se pensar a alimentação escolar e como as relevância para a economia bem como no estímulo à produção de
instituições de ensino veem introduzindo discussões e ao alimentos seguros. Com o novo espaço que se abre no mercado de
proporcionar uma alimentação saudável, adequada e sustentável produtos para a alimentação escolar, ela tem mais uma
para seu alunado. Políticas públicas, como a Política Nacional de oportunidade importante de comercialização de forma segura e
Alimentação Escolar (PNAE), reavivam esse discurso e inseri mais rentável. Para promover conexão entre agricultura familiar e
fortemente o alimento do campo produzidos por agricultores alimentação escolar (...) (8).
familiares dentro do ambiente escolar. Dessa forma, esse trabalho “Adquirir gêneros alimentícios para programas como
visa à alimentação escolar, logo se propõe a entender como a alimentação escolar de agricultores familiares viabilizaria novas
agricultura familiar é inserida no ambiente de ensino. relações de mercado e uma maior equidade no meio rural.
Paralelamente, este acesso ao mercado institucional, geraria renda
para o agricultor garantir a sua própria segurança alimentar. Em
540
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
relação ao consumo, a aquisição de alimentos mais naturais, da alimentação. Com isso a inserção da agricultura familiar nesse
sazonais, tradicionais e ecológicos promoveria qualidade alimentar programa faz com que se cumpra o direito a uma alimentação de
e saúde pública, garantindo o direito ao ato pedagógico. qualidade.
Institucionalizando o processo, o Estado ainda teria a oportunidade Logo, a agricultura familiar tem cumprido o papel de
por meio da alimentação escolar de educar gostos para alimentos produzir alimentos ao promover o uso de práticas sustentáveis sem
locais, contrapondo-se ao marketing e a cultura do consumo agredir o meio ambiente e sem uso de qualquer produto químico.
massificado de produtos industrializados” (9).
Então, a Lei n. 11 947 que dispõe sobre o atendimento da REFERÊNCIAS
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos
alunos da educação básica, à vista disso, determina que os 1. ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo
alimentos oriundos da agricultura familiar estejam inseridos na Agrário em questão. São Paulo. Anpocs, Unicamp,
alimentação escolar, com isso assegura que no mínimo 30% dos Hucitec, 1992. “Uma nova extensão para a agricultura
recursos destinados para alimentação escolar venha da compra de
familiar”. In: Seminário Nacional de Assistência Técnica
produtos provenientes desse setor através do PNAE (10).
O PNAE, por sua vez, “tem por objetivo contribuir para o e Extensão Rural. Brasília, DF, Anais, 1997.
crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, 2. LIMA, J. R. T.; FIGUEIREDO, M. A.B. Agricultura
o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares familiar e desenvolvimento sustentável. In: LIMA, J. R.
saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e T.; FIGUEIREDO, M. A.B. (org.). Extensão rural,
nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas desafios de novos tempos: agroecologia e
necessidades nutricionais durante o período letivo” (10). sustentabilidade. Recife: Bagaço, 2006.
Dessa forma, o Programa foi criado com o objetivo de
3. SANTOS, C. F; SIQUEIRA, E. S.; ARAÚJO, I. T;
promover o desenvolvimento e melhoramento no rendimento
escolar dos alunos da rede pública, também com a finalidade de se MAIA, Z. M. G. A agroecologia como perspectiva de
criar hábitos alimentares saudáveis. Sendo assim, a inserção de sustentabilidade na Agricultura Familiar. Revista Nepan,
produtos sem uso de agroquímicos, oriundos da agricultura São Paulo, vol. XVII, n. 2, p. 33-52, abr-jun, 2014.
familiar, na alimentação escolar pelo PNAE, atesta em um dos seus 4. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
objetivos a promoção e a melhoria das condições nutricionais, para Saúde Departamento de Atenção Básica. Guia
a melhoria da aprendizagem dos estudantes (11). Por consequência alimentar para a população Brasileira. 2° ed.
visa estabelecer um elo de conhecimento e incentivo a valorização Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
dos alimentos resultantes da agricultura familiar, de maneira a 5. SILVA, C. H. Produtos da agricultura familiar na
aproximar estudantes e agricultores (10). alimentação escolar do município de Arroio dos
Portanto verifica-se que a estruturação desse programa Ratos –RS. Monografia, Graduação em Tecnologia em
implicou na reorganização de práticas sociais, dentro das unidades Desenvolvimento Rural. Faculdade de Ciências
escolares tiveram mudanças na forma do preparo dos alimentos. Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do
Com a redução (ou extinção) dos produtos industrializados, pré- Sul, 2013.
prontos ou instantâneos, a entrada de alimentos da agricultura 6. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006.
familiar no preparo da comida dos alunos demandou um diálogo Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
maior e mais próximo entre o conhecimento técnicos das Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito
nutricionistas e os saberes das cozinheiras. A elaboração de humano à alimentação adequada e dá outras
cardápio mais diversificado e que valorize os alimentos regionais providências. Diário Oficial [da] República
são novas demandas que surgiram para as instituições de ensino Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 set. 2006.
(12). 7. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde.
“No que tange especificamente à saudabilidade, uma Departamento de Atenção Básica. O que é uma
das discussões atuais mais relevantes com relação ao arranjo alimentação saudável?: considerações sobre o
regulatório das compras públicas é a possibilidade de exclusão dos
conceito, princípios, características: uma abordagem
cardápios daqueles alimentos que o Gui Alimentar Brasileiro,
publicado pelo Ministério da Saúde, define como ampliada. Brasília, DF, 2005. Disponível em:
“ultraprocessados”” (12). http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/oQueEAlime
Portanto, o Programa Nacional de Alimentação Escolar ntacaoSaudavel.pdf. Acesso em 27/06/2019.
se torna um ponto chave para fundamentar a agricultura familiar 8. COSTA, C, N. Alimentação Escolar e a inserção da
dentro da escola, com isso profissionais da área podem fortalecer o agricultura Familiar no âmbito do Programa
diálogo da alimentação saudável, adequada e sustentável na Nacional de Alimentação Escolar de Codó -MA.
perspectiva do Guia Alimentar de 2014. Em visto disso, “o PNAE, Dissertação, Mestrado em saúde pública e Meio
com as novas diretrizes, tornou-se um relevante segmento ambiente, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
institucional para a compra de alimentos da agricultura familiar. Auroca, Rio de janeiro, 2016.
Essa tarefa exige articulação entre quem compra e quem vende 9. TRICHES, R. M. Repensando o mercado da
(...)” (8). Dessa forma o papel das políticas públicas, como o alimentação escolar: novas institucionalidades para
PNAE, são mecanismos importantes para o fortalecimento da
o desenvolvimento rural. In. GRISA, C.;
agricultura familiar nos ambientes pedagógicos.
SCHNEIDER, S. (org.). Políticas públicas de
CONCLUSÃO desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2015.
. Em virtude do tema abordado verifica-se a importância 10. BRASIL. Lei Nº 11.947, de 16 de junho de 2009.
que a agricultura familiar exerce nos ambientes institucionais Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do
colaborando assim com o fortalecimento de sistemas alimentares programa Dinheiro Direto na escola. Dário Oficial [da]
sustentáveis, dessa forma contribuindo com a segurança alimentar
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de
e nutricional do corpo discente que frequentam os refeitórios das
escolas. junho de 2009.
Com isso cabe ressaltar a importância das políticas 11. BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional
públicas envolvidas no contexto da alimentação escolar, pois se da Alimentação Escolar (PNAE). Disponível em:
tornaram instrumentos de extrema relevância para que as <https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/pnae/p
instituições possam trabalhar com esse segmento uma vez que nae-sobre-o programa/pnae-histor>ico. Acesso em
facilita o acesso a compra de produtos da agricultura familiar. 19/12/2019.
Destaca-se, assim, o Programa de Alimentação Escolar (PNAE) 12. NIEDERLE, Paulo André; WESZ JUNIOR, Valdemar
que está dentro da Política Nacional de Assistência Estudantil. João. As novas ordens alimentares. Porto Alegre:
Essa política possibilita a garantia do direito presente na Editora da UFRGS, 2018.
constituição, cujo seu objetivo é o desenvolvimento escolar através
541
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
frutíferas. A primeira colheita foi principalmente de jerimum, com que uma plantação em SAF (mesmo em pequena escala e com pouco
produção superior a 200 kg. Os outros gêneros não se saíram tão tempo de desenvolvimento) contribui para a diminuição do lixo
bem, pois as podas utilizadas para iniciar a plantação em produzido. Mais que a não geração, típica dessa produção de
Agrofloresta eram ricas em carbono, por serem provenientes de alimentos, a visão permacultural muda a percepção sobre o que é lixo
árvores, no entanto o solo não tinha nenhuma fonte de nitrogênio, e um melhor aproveitamento dos resíduos.
que compromete o desenvolvimento dessas culturas.
Por fim, quanto à determinação da capacidade da Permacultura
Atualmente, com relação à dependência de recursos externos, Mário aliada às agroflorestas garantirem a Segurança Alimentar dos
conta que até pouco tempo atrás ainda utilizava um pouco de esterco moradores, constatamos que podem sim ser uma forma
de frango comprado fora. No entanto, a maioria vem contaminada, verdadeiramente sustentável de garanti-la, permitindo que sejam
devido aos antibióticos que são dados às galinhas e que acabam produzidos alimentos de qualidade, seguros e biodiversos,
sendo transferidos aos alimentos. Portanto, parou de comprar esse fundamentais para uma cultura alimentar equilibrada. Assim, os
esterco e passou a utilizar apenas o que é produzido em seu próprio resultados confirmam que a Permacultura e as agroflorestas
galinheiro de manejo mais natural, às vezes complementado com conseguem aumentar a sustentabilidade de seus praticantes. Estudos
milho comprado. Outras necessidades, como esterco para produção complementares poderão analisar outras práticas permaculturais
de adubo, coleta-se o esterco de cavalo produzido em fazendas aliadas a SAFs, com diferentes escalas de aplicação, além de poder
vizinhas, de manejo conhecido. avaliar estas práticas com um número maior de participantes. Outra
possibilidade é a pesquisa focada apenas em um dos aspectos
Produção de lixo Com relação ao lixo produzido, antes de se tornar abordados neste estudo, sejam eles, a dependência de recursos
Permacultor, Mário fazia como qualquer outra pessoa, descartando o externos, a produção de lixo ou a Segurança Alimentar.
lixo através dos sistemas tradicionais de coleta, no entanto ele já
realizava o reaproveitamento do lixo orgânico para alimentar seus Esta pesquisa ilumina um tema relevante para a Gastronomia,
animais. No entanto, após conhecer as dinâmicas do solo e os permitindo uma análise mais integrada sobre a cultura alimentar e os
princípios da Permacultura, atualmente todo o lixo orgânico que ele cuidados relacionados ao que comemos.
produz é reutilizado para a alimentação de outros organismos, dando
mais vida ao solo.
REFERÊNCIAS
Outra mudança na produção de lixo é a diminuição do plástico, pois
(1) WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. WMO statement on the status
os alimentos que antes eram comprados em embalagens, como frutas, of the global climate in 2014. Suíça, 2015.
ovos, verduras, passaram a ser em parte produzidos no sítio, sem (2) UN ENVIRONMENT. Global Environment Outlook: GEO. 6. ed. Nova York:
gerar resíduos inorgânicos. Porém, o lixo inorgânico que ainda é Cambridge University Press, 2019.
(3) BRUNDTLAND, G. H. World Commission on Environment and Development. Our
gerado através da compra de insumos alimentícios é destinado para Common Future. United Kingdom: Oxford University Press, 1987.
reciclagem. Atualmente, os moradores estão tentando substituir os (4) PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
produtos de plástico, como colheres, espátulas, recipientes para 2013.
(5) CARVALHO, R; GOEDERT, WJ.; ARMANDO, MS.Atributos físicos da
guardar alimentos e copos. Mário e sua esposa, Eugênia, estão se qualidade de um solo sob sistema agroflorestal.Pesq. agropec. bras.[online].
planejando para comprar todos os utensílios de materiais que não 2004, vol.39, n.11, pp.1153-1155.
possuem impacto ambiental tão grande, como madeira, vidro e metal. (6) SANTOS, J C; CAMPOS, R T. Análise da rentabilidade, sob condições de risco, de
um sistema agroflorestal adotado por pequenos produtores de cacau na região da
Transamazônica, Pará. In: SOBER. XXXIV Congresso Brasileiro de Economia e
Segurança alimentar Com relação aos hábitos alimentares, Mário Sociologia Rural. Aracaju: Embrapa, 1996. p. 1452-1472.
diz perceber uma grande mudança após começar as suas práticas de (7) IPC. Quem Somos. Instituto de Permacultura do Ceará, 2019. Disponível em:
<http://permaculturaceara.org.br/quem-somos/>. Acesso em: 05/10/2019.
Permacultura e agrofloresta. A primeira mudança percebida é a (8) RODRIGUES, L.; ZANETI, I.; LARANJEIRA, N. Sustentabilidade, Segurança
grande alteração do consumo de carne, especialmente o consumo de Alimentar e Gestão Ambiental para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida.
carne vermelha. Ele conta que raramente a consome, somente quando Participação, n. 19, 29 jun. 2012.
(9) PEREZ-CASSARINO, J. Agrofloresta, autonomia e projeto de vida: uma leitura a
está fora de casa, em algum evento social ou algo assim, mas é raro. partir da construção social de mercados. In: STEENBOCK, W; COSTA E SILVA, L;
Dentro de casa, na alimentação diária, come principalmente frango e SILVA, R, O; PEREZ-CASSARINO, J; RODRIGUES, A; FONINI, R. (Org.).
ovo. Ele diz perceber um grande aumento no consumo de ovos, que Agrofloresta, Ecologia e Sociedade. Curitiba: Kairós, 2013, p. 233-272.
(10) YOUNG, Anthony. Agroforestry for Soil Conservation. Nairobi: Icraf, 1990.
come quase todo dia, produzidos por suas próprias galinhas. Além do (11) MASCHIO, L A et al. A agrofloresta na ótica da teoria de sistemas. In: Congresso
consumo da carne vermelha, também diminuiu o seu consumo de Brasileiro Sobre Sistemas Agroflorestais (Comp.). Anais do Congresso Brasileiro
leite e derivados. Não toma mais leite em natura e apenas uma ou Sobre Sistemas Agroflorestais. Porto Velho: Embrapa, 1994.
(12) JARAMILLO-BOTERO, Catalina et al. Produção de serapilheira e aporte de
duas vezes no mês, iogurte. Come ainda alguns queijos. Outra nutrientes de espécies arbóreas nativas em um sistema agroflorestal na Zona da Mata
mudança é o aumento no consumo de frutas e verduras. Ele diz de Minas Gerais. Rev. Árvore, Viçosa, v. 32, n. 5, p. 869-877, Oct. 20 2008.
perceber a mudança na quantidade de frutas, especialmente bananas, (13) MENEZES, José Maria Thomaz et al. Comparação entre solos sob uso agroflorestal
e em florestas remanescentes adjacentes, no norte de Rondônia. Rev. Bras. Ciênc.
que considera ser o seu combustível. Conta que sempre que está com Solo, Viçosa, v. 32, n. 2, p. 893-898, Apr. 2008.
um pouco de fome ou vontade de comer alguma coisa, consome uma. (14) FRAGA DA SILVA. Home. Sítio Janaguba, 2019. Disponível em: <
Ele relata que há dias em que consome dez bananas ou mais. https://www.sitio dajanaguba.com.br>. Acesso em: 20/10/2019.
5. CONCLUSÃO
Analisamos a dependência de recursos externos para a manutenção
de uma agrofloresta e verificamos que apesar do aporte inicial de
recursos necessários, com o tempo, estes sistemas começam a
produzir e criam ciclos de retroalimentação, diminuindo ou até
zerando a necessidade de aportes externos de recursos.
543
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Fátima Costa1, João Freitas2, Maria Uchôa3, Sheyla Amaral4, Vitor Silva5, Maria Milhome6
1
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
2
Aluno do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
3
Aluna do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
4
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
5
Analista de Laboratório do NUTEC / UFC
6
Professora Orientadora Doutora / IFCE-Limoeiro do Norte
544
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
545
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio de uma Escola de Tempo Integral do
Município de Ubajara – CE
Afonso Filho1, Josilane Mendes1, Roney Magalhães1, Lidenes Oliveira2, Valeria Nogueira3, Patrícia Mesquita3.
1. Graduando, Curso de Tecnologia em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), afonso.filho70@hotmail.com
2. Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE),
3. Professor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
546
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A presença de doces representou 60% das ocorrências, sendo oferecidos 3. VEIROS MB. Análise das condições de trabalho do nutricionista na
em dias alternados durante a semana. O cardápio apresentou um atuação como promotor de saúde em uma unidade de alimentação e
percentual calórico altíssimo, a sobremesa oferecida é sempre um doce nutrição: um estudo de caso [dissertação]. Florianópolis: Universidade
cristalizado alterando os sabores entre banana ou goiaba. Este cardápio Federal de Santa Catarina; 2002.
também mostrou um percentual bastante alto na oferta de doces como
sobremesa no mesmo dia que uma fritura (40%). 4.GINANI, V. C. Avaliação da qualidade nutricional, sensorial e cultural
É importante durante o planejamento do cardápio se atentar para os de cardápios populares. 2011, 131 f., tese (Pós-graduação em Nutrição
métodos de cocção, devendo haver uma diversificação destes em cada Humana) - Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília,
refeição, a fim de melhorar a aparência e ajudar na aceitação dos Brasília, 2011.
comensais e evitar possíveis desperdícios(9).
Quadro 1 – Percentual de adequação e inadequação do cardápio, 5. Issa RC, Moraes LF, Francisco RRJ, Santos LC, Anjos AFV, Pereira
segundo os critérios da Avaliação da Qualidade das Preparações do SCL. Alimentacao escolar: planejamento, producao, distribuicao e
Cardápio, 2018. adequacao. Rev Panam Salude Publica. 2014; 35(2):96-103.
ADEQUADO NÃO ADEQUADO
CRITÉRIO
Número % Número % 6. VEIROS, M.B.; PROENÇA, R.P.C. Avaliação qualitativa das
Fruta 0 0 20 100 preparações do cardápio de uma Unidade de Alimentação de Nutrição –
Folhosos 13 65 7 35 Método AQPC. Nutrição em Pauta, São Paulo, v.12, n.62, set/out, p. 36-
42, 2003.
Cores iguais 6 30 14 70
Ricos em
0 0 20 100 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
enxofre
Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia
Doce 8 40 12 60 alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação
Fritura 6 30 14 70 saudável. Brasília, 2014. 31p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Fritura +
12 60 8 40
Doce 8. PHILIPPI, S. T. Nutrição e técnica dietética. Barueri, SP: Manole,
Técnicas de 2003. 390p.
7 35 13 65
Preparo
9. TEICHMANN, I. T. M. Cardápios: técnicas e criatividade. 7.ed.
Usando a recomendação de Ginani (2011)(4) os dados do cardápio foram Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2009. 151p.
tabulados em duas colunas sendo elas de “adequado” e “não adequado”
os dados foram calculados e feito à porcentagem, para verificar os níveis 10. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à
de adequação e inadequação do cardápio escolar estudado. O item fruta Saúde. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia
no cardápio não apareceu em nenhum dia, deixando o item com 100% alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação
de inadequação. A pirâmide alimentar brasileira determina que haja a saudável. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
ingestão de, no mínimo três porções de frutas por dia com o objetivo de
reduzir as doenças cardiovasculares e até mesmo alguns tipos de câncer
(10)
. O item “Ricos em enxofre” apresentou 100% de inadequação, pois 11. SUAREZ FL, SPRINGFIELD J, LEVITT MD. Identification of
no cardápio estudado, a oferta de alimentos com essa característica foi gasesresponsible for the odour of human flatus and evaluation of a
feita em todos os dias, uma ou mais vezes por dia. O consumo de device purported to reduce this odour. Gut. 1988; 43:100-04.
alimentos com alto teor de enxofre pode causar desconfortos
gastrointestinal devido causar uma produção de gases pela fermentação 12. TEICHMAN, I. M. Cardápios - técnicas e criatividade. Caxias do
bacteriana no colon (11). Sul: EDUCS, Coleção Hotelaria, 2000.
Como podemos observar no Quadro 1, o item técnicas de preparo
apresentou um nível bem alto de inadequação, Durante o preparo das
refeições é importante que os sabores devam estar em equilíbrio sendo
eles o ácido, salgado, apimentado, amargo, doce, picante, suave, azedo,
sempre tomando cuidado para que não se repitam. Diversificar os
métodos de alguns componentes do prato deixam a refeição variada em
sua aparência e no sabor (12). Apenas dois itens apresentaram um nível
satisfatório apresentando 60% e 65% sendo a oferta de doces associado
a fritura e a de folhosos.
CONCLUSÕES
O cardápio possui várias inadequações, como a exclusão da oferta de
frutas, as repetições de técnicas de cocção, o excesso na oferta de
alimentos ricos em enxofre, dentre eles, ovos, cebola, repolho, batata
doce, couve-flor e alho. Além disso, a repetição de grupos alimentares,
que deixa a alimentação dos estudantes monótona. Os itens mais
preocupantes desse cardápio foram a ausência de oferta de frutas e o
excesso de doces, pois sempre era ofertado um doce como opção de
sobremesa. Uma alternativa a isso seria revezar a oferta de sobremesa
entre frutas e doces, proporcionando assim uma redução no consumo de
doce e aumento na ingestão de frutas.
REFERENCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Quanto a ocorrência de Bacillus cereus, pesquisa realizada na 9. EFSA - The European Union Summary Report on
China, analisando 860 produtos alimentícios prontos para o consumo, Trends and Sources of Zoonoses, Zoonotic Agentes and
no período de seis anos (2011 a 2016), detectou este microrganismo em Food-borne Outbreaks in 2016. Available at, 2017.
656 (35%) amostras (16). Já na Colômbia, outro grupo de pesquisa ao 10. Centers for Disease Control and Prevention. – CDC.
analisar 479 alimentos desta natureza, encontrou 17% de contaminação Estimates of Foodborne Illness in the United States,
por Bacillus cereus, detectando a toxina diarreica em 91% destes (17). 2013.
11. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Este microrganismo trata-se de um patógeno, causador de surtos
Saúde. Dados Epidemiológicos – Surtos de Doenças
alimentares, com sua patogênese baseada na lise das células do trato
Transmitidas por Alimentos no Brasil período 2000 a
digestivo com subsequente liberação da toxinas e fatores de virulência, junho 2018. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
podendo ocasionar quadros de diarreia e vômitos, a depender da 12. OLIVEIRA, M.; RODRIGUES, C.; TEIXEIRA, P.
síndrome desenvolvida. Além da intoxicação alimentar, esta Microbiological quality of raw berries and their products:
bactéria pode estar associada a infecções graves, como pneumonia, A focus on foodborne pathogens. Heliyon, v. 5, n. 12, p.
bacteremia, endoftalmite, fasceíte necrosante, osteomielite e 2992, 2019.
endocardite (18). 13. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 12 da
Os clostridios sulfito redutores também são de grande Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 02 de
relevância nesse contexto, pois podem estar presentes principalmente Janeiro de 2001. Dispõe sobre o regulamento técnico
nos alimentos proteicos, podendo causar graves complicações a saúde sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário
do consumidor com sintomas que variam de gastroenterites leves a Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
moderadas até lesões no intestino delgado. Na realização dessa análise, 10 jan.2001.
14. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
a detecção do Clostridium perfringens é considerada como um dos
Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de
alvos bacterianos principais, pois em caso de intoxicações alimentares, setembro de 2004. Regulamentos Técnicos sobre de Boas
seus sintomas aparecem rapidamente, entre 6-24 horas após a ingestão Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da
do produto contaminado (19). Estudo realizado na Turquia, União, Brasília, DF, 15 set.2004a.
considerando 306 amostras de alimentos prontos para o consumo, 15. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALT
identificou Clostridium perfringens em 56 (17%) análises (20). ASSOCIATION.VANDERZANT. Compendium of
Vale ressaltar que a falta de manutenção adequada das Methods for the Microbiological Examination of foods.
condições ambientais, principalmente no local de preparo da cozinha, 4th ed. Wahington: 2001.
bem como situação higiênico sanitária insatisfatória dos manipuladores 16. Yu, S. et al. Um estudo sobre prevalência e caracterização
e superfícies dos utensílios e equipamentos envolvidos nas preparações, de Bacillus cereus em alimentos prontos para consumo na
podem atuar como coadjuvantes no processo de contaminação e China. Fronteiras em Microbiologia, v. 10, p. 3043,
deterioração dos alimentos. Além disso, a utilização de matérias-primas 2020.
17. FORERO, A.; GALINDO, M.; MORALES, G.
com boas procedências e utilização adequada do binômio tempo-
Aislamiento de Bacillus cereus en restaurantes escolares de
temperatura, representam fatores que colaboram para a inocuidade dos
Colombia. Biomédica, v. 38, n. 3, p. 338-344, 2018.
alimentos de consumo imediato (21). 18. IKEDA, M.; YAGIHARA, Y.; TATSUNO, K.;
OKAZAKI, M.; OKUGAWA, S; MORIYA, K.
CONCLUSÕES Características clínicas e suscetibilidade antimicrobiana de
infecções da corrente sanguínea de Bacillus
Ao confrontar os resultados obtidos nas análises cereus . Ann. Clin. Microbiol. Antimicrob. 14:43. doi:
microbiológicas de alimentos prontos para o consumo, provenientes de 10.1186 / s12941-015-0104-2, 2015.
diferentes estabelecimentos produtores ou distribuidores de alimentos, 19. MASSOLI, M. Prevalência de Clostrídios Sulfito
localizados nas mesorregiões do Estado da Bahia, constatou-se que Redutores e Clostridium perfringens na mucos intestinal de
estes produtos são susceptíveis a contaminações desta natureza, frangos de corte. São Paulo, 2014.
apresentando contaminação pelos microrganismos patogênicos 20. YIBAR, A. et al. Clostridium perfringens Contamination
Bacillus cereus e clostrídios sulfito redutores, sugerindo condições in Retail Meat and Meat-Based Products in Bursa,
insatisfatórias de preparo e acondicionamento destes produtos, que Turkey. Foodborne pathogens and disease, v. 15, n. 4, p.
podem tornar-se veículos para transmissão de doenças e, desta forma, 239-245, 2018.
representar um grande problema em nível de saúde pública. 21. MELLO, A.G.; GAMA, M. P.; MARIN, V. A.;
COLARES, L. Conhecimento dos manipuladores de
REFERÊNCIAS
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549
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
550
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
espaço, uma grade diversidade de gêneros alimentícios, bem como 3 TOLEDO, A., BURLINGAME, B. Biodiversity and nutrition: A
outros produtos9.
common path toward global food security and sustainable
Esse estudo teve por objetivo fazer um levantamento development. Journal of Food and Analysis, 2006 19, 477-483.
de espécies vegetais (frutífera, olerículas e tubérculos e raízes)
comercializadas na Feira de Batista Campos, Belém-PA.
4 BURLINGAME B., DERNINI, S. Sustainable diets: the
MATERIAL E MÉTODOS mediterranean diet as an example. Public Health Nutrition, 2011:
Esta feira funciona apenas nos dias de sexta, sábado e 14(12A), 2285-2287.
domingo. As informações foram obtidas no período de janeiro a
dezembro de 2019, através da observação dos vegetais expostos 5 BRASIL. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
para comercialização em 16 barracas dos feirantes.
Nutricional (Consea). II Conferência Nacional de Segurança
RESULTADOS E DISCUSSÃO Alimentar e Nutricional, 17-20 março, 2004. Brasília: Consea;
2004.
Foram inventariadas 38 famílias e 83 espécies assim
distribuídas: pertencentes a, sendo Curcubitaceae (7); Solanaceae
(7); Fabaceae (4); Myrtaceae (4); Moraceae (2); Musaceae (4); 6 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Biodiversidade
Rutaceae (4); Asteraceae (3), Cactaceae (3); Anacardiaceae (3) na nutrição. Brasília, 2013. Disponível em
Clusiacea (3); Liliaceae (3); Malvaceae (3); Sapotaceae (3);
Annonaceae (2); Apiaceae (2); Arecaceae (2); Brassicaceae (2); http://wwwmma.gov.br/informa/item/9094-biodiversidade-na-
Bromeliaceae (2); Malpighiaceae (2); Amaranthaceae (1); alimenta%C3%A7%C3%A3%. Acesso em 10 fev 2020.
Apocynaceae (1); Caricaceae (1); Caryocaraceae (1);
Convolvulaceae (1); Chrysobalanus (1); Dioscoreaceae (1);
Ebenaceae (1); Euphorbiaceae (1); Lamiaceae (1); Lecythidaceae 7 FAO. Elementos del ADB: Elementos para facilitar la aplicación
(1); Oxalidaceae (1); Passifloraceae (1); Poaceae (1); Rubiaceae (1); nacional del acceso y distribución de beneficios en diferentes
Sapindaceae (1); Talinaceae (1); Vitaceae (1). Da biodiversidade
encontrada na feira, as frutíferas representaram o maior número, subsectores de los recursos genéticos para la alimentación y la
com 63,8% das espécies, enquanto que as olerículas e tubérculos e agricultura – con notas explicativas. Roma.2019.
raízes, representaram 28,9% e 7,3%, respectivamente. Apesar de ser
uma feira-livre pequena, verifica-se uma grande biodiversidade
vegetal disponível para comércio, fortalecendo a segurança 8 JESUS, GM. O lugar da feira-livre na cidade capitalista. Ver Bras
alimentar e nutricional da população.
Os recursos fitogenéticos encontrados apresentavam as Geografia, Rio de Janeiro, 54(1):95–121, 1992.
seguintes denominações populares locais: foram: beterraba, manga,
taperebá, ciriguela, graviola, beribá, cheiro-verde, cenoura, 9 COUTINHO, E. P.et al.Condições de higiene das feiras livres dos
mangaba, coco, pupunha, alface americana, alface crespa, jambu,
couve, repolho, abacaxi – pérola, pitaia -vermelha por dentro com municípios de Bananeira, Solânea e Guarabira. In:XEncontro de
pele rosa, pitaia - branca por dentro com pele amarela, pitaia - Extensão da UFPB – PRAC, 2006.
branca por dentro com pele rosa, mamão papaia, pequiá, bacuripari,
bacuri, mangostão, batata – doce, ajuru, maxixe, melancia, melão,
10 FAO. Secretaría de la Comisión de Recursos Genéticos para la
jerimum, melão, pepino, chuchu, cará-roxo, caqui chocolate,
Alimentación y la Agricultura. Disponível em:
macaxeira, feijão de corda, ingá-cipó, tamarindo, jatobá, alfavaca,
Web: http://www.fao.org/nr/cgrfa/cgrfa-home/es/. Acesso em 10.fev
castanha-do Pará, cebola, cebolinha, alho, quiabo, cupuaçu, cupuí,
2020.
murici, acerola, camu-camu, fruta-pão, jaca, banana da terra, banana
maçã, banana nanica, banana prata, araçá – boi, jambo, goiaba,
maracujá – azedo, milho, jenipapo, laranja – lima, limão – galego,
limão – tahiti, rambutão, sapoti, camitiê, batata inglesa, camapum,
pimentão, pimenta – de – cheiro, pimenta – doce, tomate – azedo,
berinjela, cariru.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
551
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Os resultados apresentados na Tabela 01 mostram que não houve As farinhas de linhaça comercializadas na cidade de Fortaleza/CE
contaminação de CT significativa. Mesmo sem existir uma legislação não apresentaram coliformes em quantidades superiores à
para tal é utilizada como indicador na contagem de CTE. A análise estabelecida na legislação, que possam rejeitar ou impedir o seu
de CT mostrou que os valores foram inferiores a 3,6 para amostra A consumo. Contudo a contagem de bolores mostrou um elevado
e D, inferiores a 3,0 para amostra B e E. A amostra C foi a que crescimento em comparação a outros estudos. Havendo necessidade
apresentou a maior variação dentre os ensaios, com máximo de 29 de controlar o ambiente e condições de armazenamento destas
NMP/g. farinhas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece limites para A microbiologia dos alimentos é uma importante área da ciência e
contagem de coliformes a 45 ºC, o qual inclui os de denominação tecnologia dos alimentos, uma vez que muitos microrganismos
fecal, termorresistente e termotolerante (10), inaceitável quando podem causar doenças transmitidas por alimentos (DTA), decorrente
superior a 10² UFC/g. O metodologia do número mais provável das condições de processamento e armazenamento em locais de
(NMP) é adotada para estimar o número de colônias em cada amostra comercialização. Além de reduzir a estabilidade dos alimentos e
analisada. A determinação de CTE para farinha de linhaça não consequentemente sua vida de prateleira.
constatou contaminação, apresentando valores inferiores a 3,0
NMP/g em cada uma amostra, isto é, dentro do padrão exigido e AGRADECIMENTOS
considerado muito baixo.
De modo geral pesquisas envolvendo a avaliação de coliformes em O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
linhaça e suas farinhas apresentam valores considerados como Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
ausência para coliformes a 45 ºC, provavelmente por tratar-se de um Código de Financiamento 001.
552
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
554
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
século 20 e com isso, foram incluídos nos regulamentos de qualidade experimento de degustação às cegas. Ciência do ambiente total, v.
da água em países de todo o mundo. Trata-se de um grupo microbiano 643, p. 1400-1410, 2018.
heterogêneo, definido por características fenotípicas que permitem sua 8. CHIDYA, R. C. G.; SINGANO, L. CHITEDZE, I.; MOURAD, K.
detecção e quantificação seletiva. Fazem parte dele os coliformes totais Standards Compliance and Health Implications of Bottled Water in
e termotolerantes (também conhecidos como fecais), a Escherichia Malawi. International Journal of Environmental Research and
coli, os enterococos e os esporos de clostrídios sulfito redutores (24). Public Health, v. 16, n. 6, p. 951, 2019.
Esses grupos podem não refletir necessariamente uma ameaça à saúde 9. DELPLA, I.; et al. Perception of tap water quality: Assessment of
humana no entanto, indicam a possível presença de outros the factors modifying the links between satisfaction and water
microrganismos com maior patogenicidade (25). Em um sistema de consumption behavior. Science of The Total Environment, p.
distribuição, essas bactérias atuam como sinalizadores operacionais. 137786, 2020.
Sua presença indica o dano na qualidade da água, possivelmente por 10. GEERTS, R.; et al. Bottle or tap? Toward an integrated approach
problemas de reprodução bacteriana ou contaminação pós-extração to water type consumption. Water Research, v. 173, p. 115578, 2020.
(26). 11. KOŃCZYK, Joanna et al. Major inorganic anions and cations in
selected European bottled waters. Journal of Geochemical
Tabela I-Proporção das amostras de água mineral aprovadas e Exploration, v. 197, p. 27-36, 2019.
reprovadas segundo a legislação vigente. 12. LESAULNIER, C.; et al. Bottled aqua incognita: microbiota
Amostras assembly and dissolved organic matter diversity in natural mineral
waters. Microbiome, v. 5, p. 126, 2017.
Poço Produto final
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Aprovadas 7 (77,8%) 31 (93,9%) Studies of a Groundwater with a View to its Classification as Mineral
Análise Water for a New Medical Spa in Portugal. In IOP Conference
Reprovadas Series: Earth and Environmental Science, v. 221, 2019.
2 (22,2%) 2 (6,1%)
14. ABINAM, 2018. Disponível em:
Total 9 (100%) 33 (100%) <http://www.abinam.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=71>
Acesso em: 14 fev. 2020.
p = 0,143; Qui-quadrado de Pearson 15. NOVELLO, J.; SILLANKORVA, S.; PIRES, P.; AZEREDO, J.;
WANKE, C.; TONDO, E.; BIANCHI, O. Inactivation of
Como por tradição o conteúdo microbiológico da água é Pseudomonas aeruginosa in mineral water by DP1 bacteriophage
determinado através da utilização de métodos dependentes da cultura immobilized on ethylene‐vinyl acetate copolymer used as seal caps of
que, na maioria das vezes, são incapazes de detectar todos os plastic bottles. Journal of Applied Polymer Science, p. 49009, 2019.
microrganismos, especialmente aqueles que não são cultiváveis, 16. SALA-COMORERA, L.; et al. Traceability of different brands of
estudos com metodologia independente de cultura devem ser utilizados bottled mineral water during shelf life, using PCR-DGGE and next
para uma compreensão mais abrangente do microbioma da água generation sequencing techniques. Food Microbiology, v. 82, p. 1-10,
mineral, considerando desde a sua captação nas fontes naturais, até o 2019.
seu processo industrial com obtenção de produtos acondicionados em 17. APHA. American Public Health Association. Standard methods
embalagens de diversos tipos (27). for the examination of water and wastewater. Washington. 10ed.
2012.
18. BRASIL. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC nº. 275, de 22
CONCLUSÕES de setembro de 2005. Dispõe sobre o regulamento técnico de
Ao confrontar os resultados obtidos nas análises características microbiológicas para água mineral natural e água
microbiológicas das amostras de água mineral, foi possível constatar a natural.
predisposição deste produto a contaminantes microbianos indicadores 19. REIS, L. R.; BEVILACQUA, P. D.; CARMO, R. F. Água
da possível presença de outros patógenos, que podem não estar sendo envasada: qualidade microbiológica e percepção dos consumidores no
detectados devido a utilização de métodos dependentes de cultivo. A município de Viçosa (MG). Caderno de Saúde Coletiva, v. 22, p.
inserção da contaminação na água pode ser proveniente de práticas 224-232, 2014.
inadequadas de fabricação nas indústrias, métodos de higienização 20. GOMES, T. P.; DA SILVA SANTANA, J.; DE CARVALHO, L.
ineficientes, formação de biofilmes ao longo das plantas de R. Avaliação microbiológica de água mineral comercializada no
processamento ou estrutura comprometida das tubulações. Com isso, município de Itabuna-Bahia. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 12,
torna-se imprescindível a adoção de medidas de controle mais rigorosas n. 4, 2015.
para que a incidência das doenças de veiculação hídrica possa ser 21. ALBANO, R. C.; SILVA, L. L.; CASTRO, F. B. G. Análise de
reduzida e desta forma, colaborar para promoção da saúde pública. indicadores microbiológicos em amostras de água mineral natural.
Além disso, os dados analisados apontam para necessidade de novos Cadernos da Escola de Saúde, v. 1, n. 9, 2017.
estudos que objetivem elucidar o microbioma das águas minerais. 22. MARTINS, H. L.; DE LIMA MACHADO, G.C.; DA SILVA
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555
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
556
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
No Brasil, o cultivo das PANC é feito predominantemente por 8. VIANA, M. M. S. Potencial nutricional, antioxidante e atividade
agricultores familiares e a maioria da produção ainda está estabelecida Biológica de hortaliças não convencionais, Sete Lagoas/MG. 2013.
somente nos quintais, para o consumo próprio, sem nenhum apelo 77p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade
comercial (1). Portanto, o estímulo e o apoio à agricultura familiar têm Federal de São João del Rei, Programa de Pós-Graduação em Ciências
se mostrado relevantes para a formulação e a implementação de ações Agrárias, Sete Lagoas, 2013.
de Segurança Alimentar e Nutricional e de desenvolvimento local, que 9. KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. Teores de proteínas e minerais de
visem promover o Direito Humano à Alimentação Adequada (20). espécies nativas, potenciais hortaliças e frutas. Ciênc. Tecnol.
A produção de alimentos, especialmente da agricultura familiar, tem se Alimentos. Campinas, v. 28, n. 4, p. 846-857, out./dez. 2008.
fortalecido com iniciativas de articulação de políticas públicas, a 10. PAULA FILHO, G. X. Frutas alimentícias não convencionais da
exemplo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (20, zona rural de Viçosa, Minas Gerais: levantamento etnobotânico e
21). A alimentação escolar pode agregar os produtos da valor nutricional, Viçosa/MG. 2013. 324p. Dissertação (Mestrado em
sociobiodiversidade (inter-relação entre a diversidade biológica e a Agroecologia) - Universidade Federal de Viçosa. Programa de Pós-
diversidade de sistemas socioculturais), valorizando a produção local, Graduação em Agroecologia, Viçosa, 2013.
de forma a resgatar culturas alimentares e promover a diversificação da 11. ALMEIDA, M. E. F.; JUNQUEIRA, A. M. B.; SIMÃO, A. A.;
alimentação nas escolas, na perspectiva da Segurança Alimentar e CORRÊA, A. D. Caracterização química das hortaliças não-
Nutricional. Como exemplos de espécies nativas de uso alimentício da convencionais conhecidas como ora-pro-nobis. Biosci. J. Uberlandia,
sociobiodiversidade, registram-se: guabiroba, pinhão, pitanga, v. 30, supplement 1, p. 431-439, Jun. 2014.
jaboticaba, cagaita, jatobá, mangaba, pequi, babaçu, jenipapo, umbu, 12. BEZERRA, A. S.; STANKIEVICZ, S. A.; KAUFMANN, A. I.;
murici, baru, buriti, dentre outras (22). MACHADO, A. A. R.; UCZAY, J. Composição nutricional e atividade
Alguns estudos apontam que há viabilidade na utilização de algumas antioxidante de plantas alimentícias não convencionais da região sul do
PANC na alimentação escolar. Monego et al. (23), por exemplo, Brasil. Arq. Bras. de Aliment., v. 1, n. 1, p. 182-188, 2017.
caracterizaram a produção e o potencial produtivo de frutos nativos do 13. TRICHES, R. M.; SCHNEIDER, Sergio. Alimentação escolar e
Cerrado (baru, buriti, cagaita, jatobá, mangaba e pequi) com vistas à agricultura familiar: reconectando o consumo à produção. Saúde Soc.
sua inserção na alimentação escolar e concluíram que apesar desses São Paulo, v. 19, n. 4, p. 933-945, 2010.
frutos apresentam grande potencial produtivo, valor nutricional e 14. DUTRA, L. V. Insegurança alimentar e nutricional e produção
comercial para utilização na alimentação escolar, são alimentos para o autoconsumo na zona rural de São Miguel do Anta, Minas
subaproveitados, sendo sua produção pouco explorada. Já Soares et al. Gerais, Viçosa/MG. 2013. 118p. Dissertação (Mestrado em
(24) e Ortolan et al. (25), desenvolveram, respectivamente, cookies Agroecologia) - Universidade Federal de Viçosa. Programa de Pós-
adicionados de farinha de jatobá e cupcakes adicionados de farinha de Graduação em Agroecologia, Viçosa, 2013.
baru, com o objetivo de avaliar a aceitabilidade desses entre crianças 15. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Área,
em idade escolar. Os produtos foram bem aceitos pelas crianças. Produção e Rendimento Médio – Confronto das safras de 2017 e
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às iniciativas para utilização das PANC na alimentação. Essas Estudos da Flora, 2014. 768p.
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Estudos apontam que a valorização das Plantas Alimentícias Não gênero Pereskia na alimentação humana em um município de Minas
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4. MONTEIRO, C. A.; CANNON, G.; MOUBARAC, J-C.; LEVY, R. caatinga?start=15>. Acesso em: 03 de outubro de 2019.
B.; LOUZADA, M. L. C.; JAIME, P. C. The UN Decade of Nutrition, 23. MONEGO, E. T.; ALEXANDRE, V. P; SOUSA, L. M.;
the NOVA food classification and the trouble with ultra-processing. MARTINS, K. A.; ROSA, J. Q. S.; SOUZA, P. L. C; ASSIS, J. N.
Public Health Nutrition., v. 21, n. 1, p. 5-17, 2017. Produção e potencial agrícolas de alimentos destinados à alimentação
5. CRUZ, M. P.; PERONI, N.; ALBUQUERQUE, U. P. Knowledge, escolar em Goiás e no Distrito Federal, na Região Centro-Oeste do
use and management of native wild edible plants from a seasonal dry Brasil. Rev. de Nut.. Campinas, v. 26, n. 2, p. 233-241, mar./abr., 2013.
forest (NE, Brazil). Jour. of Ethnob. and Ethnomed., v. 9, n. 79, 2013. 24. SOARES, J. M.; SANTOS, M. M. R; CANDIDO, C. J.; SANTOS,
6. MELDRUM, G.; PADULOSI, S.; LOCHETTI, G.; ROBITAILLE, E. F.; NOVELLO, D. Cookies adicionados de farinha de jatobá:
R.; DIULGHEROFF, S. Issues and prospects for the sustainable use composição química e análise sensorial entre crianças. Brazilian
and conservation of cultivated vegetable diversity for more nutrition- Journal of Health Research, v. 18, n. 3, p. 74-82, 2016.
sensitive agriculture. Agriculture, v. 8, n. 7, p. 112, 2018. 25. ORTOLAN, A. V.; EING, K. K. C.; SANTOS, M. M. R.;
7. KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não-convencionais da região CANDIDO, C. J.; SANTOS, E. F.; NOVELLO, D. Adição de farinha
metropolitana de Porto Alegre, RS, Porto Alegre/RS. 2007. 560p. de baru em cupcakes: caracterização físico-química e sensorial entre
Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Universidade Federal do Rio Grande crianças. Mundo saúde (Impr.), v. 40, n. 2, p. 213-220, 2016.
do Sul. Faculdade de Agronomia, Porto Alegre, 2007.
557
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em um restaurante comercial localizado em
área turística do município de Fortaleza, Ceará. Trata-se de um estudo Dentro da população estudada encontrou-se um número bastante
transversal e quantitativo. O presente estudo apresentou a participação expressivo de indivíduos que têm uma qualidade de sono ruim
de 13 colaboradores da UAN, dentre eles chefes de cozinhas, segundo a escala definida pelo questionário de Pitsburgh, onde apenas
auxiliares de cozinhas, almoxarifes, caixa, pieiro, gerentes um dos indivíduos avaliados obteve pontuação que indica uma boa
operacionais, consultores, barmens, porcionador, de ambos os sexos. qualidade do sono.
O critério de inclusão se embasava em todos os colaboradores de Associado ao questionário de Pitsburgh pode-se avaliar uma
qualquer idade que estivessem presentes no restaurante, aceitassem o correlação de uma maior pontuação, que indica uma baixa qualidade
convite e que tivessem seguido o protocolo de fidedignidade de de sono, com um maior % de gordura na maioria dos indivíduos
resultados da bioimpedância, com no mínimo duas horas sem comer e avaliados sendo possível correlacionar possíveis disfunções em
uma hora sem beber água ou qualquer outro tipo de líquidos, dessa mecanismos metabólicos, como por exemplo a disfunção da sensação
forma deixando o resultado mais confiável. O critério de exclusão se de saciedade relatada por Patel (8).
deu através do não cumprimento do protocolo de fidedignidade de Logo, esse estudo deve estimular a necessidade da realização de
resultado da bioimpedância, em prol de deixar o resultado o mais outros trabalhos científicos que ressaltem a importância de uma boa
fidedigno possível ou colaboradores que se negassem a participar. qualidade do sono e sua relação com a saúde para que colaboradores
Para avaliação de % de gordura por pregas cutâneas, foi utilizado o de restaurante ou outros segmentos que tenham a qualidade do seu
método de Durnin e Womersley (7) que avalia prega bíciptal, triciptal, sono prejudicada por motivos profissionais, possam entender os
suprailíaca e subescapular, tais pregas foram avaliadas com o motivos de diversos efeitos deletérios dessa baixa qualidade do sono e
558
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
busquem uma melhor qualidade de vida, adequando seus horários de e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília:
trabalho da melhor forma junto ao empregador. Ministério da saúde, 2018.
(3) HRUBY, Adela et al. Determinants and Consequences of
CONCLUSÃO Obesity. AJPH American Journal of Public Health. Washington,
O presente trabalho elenca a grande importância de poder avaliar a Dc, p. 1656-1662. 2016.
qualidade do sono em trabalhadores de restaurantes e trabalhadores (4) DINIZ, Ana Paula Rodrigues; CARRIERI, Alexandre de Pádua;
que usem parte da noite para prestação de serviços, pois essa privação BARROS, Amon Narciso de. Invisibilidade social e trabalho noturno:
de sono de forma crônica pode acarretar alguns malefícios a saúde dos reflex�es a partir de representaç�es sociais de garçons. Gestão e
trabalhadores, como por exemplo a obesidade. Planejamento, Salvador, v. 1, n. 14, p.18-38, abr. 2013
Porém se faz necessário a realização de mais estudos que associem a (5) OGILVIE, Rachel P.; PATEL, Sanjay R.. The epidemiology of
baixa qualidade do sono com o % de gordura em prol de enriquecer as sleep and obesity. Sleep Health, v. 3, n. 5, p.383-388, 2017. Elsevier
evidências científicas, pois não foi possível correlacionar indivíduos BV.
com má qualidade do sono com indivíduos que tenham uma boa (6) PURIM, Kátia Sheylla Malta et al. Sleep deprivation and
qualidade do sono, pois além do número de amostra do estudo ser drowsiness of medical residents and medical students. Revista do
pequeno, quase toda a amostra apresentou baixa qualidade do sono. Colégio Brasileiro de Cirurgiões, [s.l.], v. 43, n. 6, p.438-444, dez.
2016. FapUNIFESP (SciELO).
REFERÊNCIAS (7) DURNIN J.V., WOMERSLEY J. Body fat assessed from total
(1) ENGIN, Atilla. The Definition and Prevalence of Obesity and body density and its estimation from skinfold thickness:
Metabolic Syndrome. Obesity And Lipotoxicity, p.1-17, 2017. Measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br.
Springer International Publishing. J. Nutr. 1974;32:77–97. doi: 10.1079/BJN19740060.
(2) BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de vigilância em saúde. (8) PATEL, Sanjay R.; HU, Frank B.. Short Sleep Duration and
Departamento de vigilância de doenças e agravos não transmissíveis e Weight Gain: A Systematic Review. Obesity, [s.l.], v. 16, n. 3, p.643-
promoção da saúde. Vigitel. Brasil 2018: vigilância de fatores de risco 653, 17 jan. 2008.
559
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Karina P. de Oliveira1, Silvana Mara Prado Cysne Maia2, Aryelle Santos Aguiar3, João Lucas Ferreira Andrade3.
560
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
mercadorias, e por isso não possuía balança do tipo plataforma lixo ao ser recolhido nas áreas determinadas, será levado até a casa do
(possuindo apenas balança digital) para verificar de forma correta o lixo por fora da UAN, onde foram estabelecidas duas saídas visando
peso de insumos que tinham seu valor final quantificado a partir do peso minimizar o seu fluxo por dentro da unidade. As áreas de pré-preparo
total do pedido (3). Com isso foi proposto um novo layout para o local, foram acrescentadas perto da cocção, com o intuito de minimizar
visando adequar de acordo com a legislação notadamente a RDC qualquer tipo de contaminação. Os setores de armazenamento foram
216/2004 (6). redistribuídos de forma adequada, apresentando um fluxo minimizando
acidentes e contaminações, sendo essas o estoque seco, e as câmaras de
Figura 2 – Proposta de adequação de layout de uma Unidade da congelamento e resfriamento (acrescentando uma antecâmara). Para os
Alimentação e Nutrição do tipo comercial no município de Fortaleza – funcionários, foi proposto uma entrada exclusiva, gerando acesso direto
CE. aos setores como vestuários, área de descanso e refeitório exclusivo.
Com intuito de garantir um fluxo adequado de funcionários no desde
sua entrada no estabelecimento, perpassando pelos vestiários, área de
descanso e refeitório, até seu respectivo setor de trabalho, aumentando
assim a prevenção contra contaminações cruzadas e acidentes de
trabalho, proporcionando assim um fluxo mais adequado e seguro (6).
CONCLUSÃO
Foi possível demonstrar quanto ao planejamento adequado de um
layout aplicado a uma UAN, auxilia na minimização de riscos
relacionados a contaminações cruzadas e acidentes de trabalhos, além
de diminuir custos para o estabelecimento. No que diz respeito a
aplicação do checklist, foi concluído que a empresa obteve pontuação
de 68% ficando adequada, classificando-se no segundo grupo do
Legenda: W.C (banheiro), C. fria (câmara fria), c. congelada (câmara checklist da RDC 216/2004.
congelada), C.G (Casa do Gás), D.M Limpeza (Dispensa de Materiais Assim, foi sugerida uma nova planta com as devidas adequações. Para
de limpeza), D.D ( Deposito de descartáveis ), H.U.CO (Higiene de tanto recomenda-se um trabalho conjunto de profissionais da área de
Utensílios da cozinha) H.U.CL (Higiene de utensílios de clientes), P.P engenharia e nutricionistas comtemplando as normatizações de cada
(Produção de Pães) D.Pães (Distribuição dos Pães) , S.Nutri (Sala da área, planejando todo o fluxo do local com intuito de minimizar os
nutricionista), P.ve (Pré- preparo de vegetais), V.F.F (Vestiário riscos de contaminações cruzadas, garantindo a qualidade dos
feminino de funcionários) V.M.F (Vestiário masculino de alimentos e a saúde dos consumidores.
funcionários), D.F (Área de Descanso dos funcionários) linha verde
(fluxo do lixo), linha amarela (fluxo de produto), linha laranja (fluxo de REFERÊNCIAS
produto). (1) ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de
unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 3. ed. São Paulo:
Para assegurar a excelência dos serviços, as UANs, devem se preocupar Metha, 2009.
com todas as etapas do processo, não apenas com a qualidade do (2) TEIXEIRA, S. M. F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.
alimento já pronto, mas com todos os fatores que podem interferir na Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São
qualidade da preparação durantes o fornecimento da matéria-prima, no Paulo: Atheneu, 2006.
armazenamento e na sua produção (10). O acesso às informações faz (3) BELPHMAN, C. LEITE, D. B. G. Readequação do layout de uma
com que os consumidores fiquem mais atentos e procurem Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar na cidade de Ponta
estabelecimentos que ofereçam maior segurança e atendam às suas Grossa-Parará. Revista Nutrir, ISSN 2358-2669, v. 1, n. 5, 2017.
expectativas (11, 12). Com isso foi proposto um novo layout, (4) SANT’ANA, H. M. P.; CAMPOS, F. M. Dimensionamento dos
acrescentando novas áreas que segundo literatura são cruciais para que setores da Unidade de Alimentação e Nutrição. In: Sant’Ana HMP,
se tenha uma produção adequada e um alimento seguro. Com essa nova editor. Planejamento físico-funcional de unidades de alimentação e
proposta, será possível melhorar a unidade, tornando-a mais organizada nutrição. Rio de Janeiro: Rubio; 2012. p.85-109.
e aconchegante para os colaboradores, contendo todos as áreas (5) GUIMARÃES, I. A. A análise da estrutura física e funcional de uma
necessárias para um bom funcionamento segundo RDC 216/2004 (6). UAN é de fundamental importância para que se possam determinar as
Tomando como ponto de partida a correção de fluxos foram ações a serem tomadas e assim evitar eventuais desperdícios e
acrescentadas áreas no novo layout, área de recepção e pesagem de problemas operacionais. Dissertação (Mestrado) Universidade de
alimentos, dispensa de materiais de limpeza (os materiais ficavam no Brasília, Centro de Excelência em Turismo, Brasília, 2006.
estoque seco, junto com alimentos), áreas de pré-preparo de carnes e (6) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC n° 216, de 15 de
pré-preparo de vegetais (antes estavam localizados em conjunto com setembro de 2004. Aprova o regulamento técnico de boas práticas para
toda a área de cocção o que é propício a contaminações cruzadas), uma serviços de alimentação. Diário Oficial da União, Brasília, 2004.
nova área de higienização, para separar a higiene dos utensílios da (7) SANTOS, A. P. C.; SANTOS, V. F. N. Adequação de estrutura
cozinha e os utensílios dos clientes (antes higienizados juntos no física de unidades de alimentação e nutrição na cidade de São Paulo –
mesmo local que ficava dentro da cozinha, dividido apenas por SP. UEPG Ci. Biol. Saúde, Ponta Grossa, v.22, n.1, p. 14-20, jan/jun.
estantes) (6). 2016.
Foi planejado uma sala específica para o profissional nutricionista (8) CARNEIRO, P.; VENANTE, B.; LEITE, D. Avaliação de Layout
dispondo de visão direta para a área de cocção. Além disso, foi de uma Unidade de Alimentação e Nutrição em um hotel na cidade de
adicionado ao layout proposto um refeitório para os funcionários e uma Piraí do Sul. Revista Nutrir, Ponta Grossa, v. 2, n. 1, p.1-16, jan. 2015.
área de descanso (6). Um estudo visou a verificação do checklist da (9) STOFELL, F.; BARRETO, L. T. P. Avaliação de boas práticas em
RDC 216/2004 em um supermercado na cidade de Patos no estado da restaurante especializado em culinária oriental. Revista Higiene
Paraíba. Foi encontrado inadequações relacionadas a higienização de Alimentar - V. 32 – p. 276/277 – Janeiro - Fevereiro. 2018.
instalações, equipamentos e móveis, além de documentações (10) BASTOS, M. S. R. Leite longa vida UHT: Aspectos do
irregulares e manejo inadequado de resíduos. Ao final aplicou-se o processamento e identificação dos pontos críticos de controle. Revista
manual de boas práticas no local, melhorando significativamente todos Higiene Alimentar, São Paulo, v. 13, n. 66/67, p. 32-36, 1999.
os itens irregulares no local antes inadequados segundo a legislação (11) TEIXEIRA, S. M. F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.
(13). Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São
Em relação ao fluxo, o novo layout além de propor a adição de novas Paulo: Atheneu, 2003.
áreas, todas foram posicionadas em locais estratégicos, para que não (12) ANDRADE, N. J.; SILVA, R. M. M.; BRABES, K. C. S.
haja contra fluxos nem contaminações cruzadas. No atual layout da Avaliação das condições microbiológicas em unidade de alimentação e
empresa a área de produção dos pães se encontra bem distante de onde nutrição. Ciênc. Agrotec., 2003, v. 27, n. 3, 590-596.
ocorre a distribuição, acarretando um transporte de forma inadequada (13) VIEIRA, F. J. A.; PEREIRA, S. M.; SANTOS, E. N.; SOUSA, C.
(do local de produção a distribuição), no layout proposto a área de P.; DINIZ, K. M. A importância da implantação das boas práticas de
produção fica ao lado da área de distribuição minimizando qualquer manipulação em um supermercado no Município de Patos-PB.
tipo de contaminação, assim como a confeitaria (6). Rev.Bras.de Gestão Ambiental, v. 14, p. 49-53 – janeiro/março. 2020.
Nesse novo layout a proposta do fluxo do lixo é ser recolhido em
horários programados, para que não tenha contaminações cruzadas. O
561
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
562
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
FONTE: Elaborada pelas autoras. químicas de peixes. Atenção deve ser dada para a forma de
conservação e logística dos serviços prestados pelos fornecedores
A matéria-prima deve ser conservada, sem sinais de hematomas, sem dos mesmos visando à efetiva monitoração da qualidade do pescado.
incisões no corpo, rupturas das partes externas ou de qualquer outro Reforça-se ainda, a importância da presença de profissionais
estado que evidencie decomposição. Este estado de conservação qualificados que atuem na fiscalização do processo de recebimento
implica na qualidade da carne do pescado (10). Das 100 amostras desta matéria-prima.
analisadas no presente estudo, somente 12 tinham manchas por
hematomas possivelmente causadas na captura ou durante transporte 6 REFERÊNCIAS
dos peixes (11). Outras quatro amostras apresentaram rupturas
(nadadeiras quebradas, rompimento da composição óssea da cabeça e 1. SILVA-JÚNIOR, A. C. S.; SILVA, A. S. S.; BRITO, T. P.;
dentes). Com base nos resultados, verificou-se também que o pH FERREIRA, L. R. Ocorrência de Staphylococcus coagulase positiva
apresentou valor médio de 6,8, classificando-os dentro do padrão e coliformes termotolerantes em Jaraqui, Semaprochilodus brama
definido (6,6 a 6,8 segundo a Portaria nº 185 de 1997) (5). Como (Valenciennes, 1850) comercializado na Feira do Pescado, Macapá-
pode ser visto na tabela 2. AP. Biota Amazôn. 5, 32-36, 2015.
2. AMARAL, G. V.; FREIAS, D. G. C. Método do índice de
Tabela 2 – Caracterização dos resultados físico-químicos de PH e qualidade na determinação do frescor de peixes. Ciênc. Rural. 43,
temperatura durante o recebimento de peixes em uma indústria. 2093-2100, 2013.
Fortaleza, 2019. 3. FERNANDEZ-SALGUERO, J.; MACKIE, I.M. Preliminary
survey of the content of histamine and other higher amines in some
samples of Spanish canned fish. Int. J. Food Sci. Technol. 22, 409-
pH Temperatura (oC) 412, 1987.
Espécie 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
(M±DP) (M±DP) análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. 1020 p.
5. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Cynoscionacoupa Portaria n. 185, de 13 de maio de 1997: Regulamento Técnico de
6,8±0,2 -2±1,7
(“Pescada amarela”) Identidade e Qualidade de Peixe Fresco (Inteiro e Eviscerado).
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 15
Pagruspagrus mai. 1997. Seção 1, n. 158. p. 102-8.
6,8±0,3 -1±2,4
(“Pargo vermelho”) 6. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Decreto-Lei n. 30.691, de 29 de março de 1952. Regulamento da
Ariusproops inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário
6,8±0,2 -2±1,0
(“Uritinga”) Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 29 mar.
1952.
Scomberomorus 7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
brasiliensis 6,6±0,1 2±4,4 Manual de Inspeção para Identificação de Espécies de Peixes e
(“Serra”) Valores Indicativos de Substituições em Produtos da Pesca e
Aquicultura. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília, DF,2016a.
Total 6,8±0,2 -0,75±3,2 188 p.
8. NÓBREGA, F. M.; LESSA, R. P. T. Idade, crescimento e
LEGENDA: M = média; DP = desvio padrão. avaliação de estoque da serra Scomberomorus brasiliensis
FONTE: Elaborada pelas autoras. (Teleostei: Scombridae), na plataforma continental do Nordeste do
Brasil. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Universidade
O pH de 55% (n = 55) das amostras estava dentro dos parâmetros Federal de Pernambuco, Recife, 2002.
ideais. Entretanto, as espécies Pagrus pagrus e Scomberomorus 9. SÃO PAULO (Estado). Secretaria Municipal de Saúde. Boas
brasiliensis estavam com a minoria das suas amostras adequadas práticas de manipulação de alimentos. São Paulo, 2006. Disponível
(36% e 48%, sucessivamente), diferente dos resultados encontrados em:
nas demais (Cynoscion acoupa e Arius proops) que estavam com <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/manual_
grande parte das suas amostras com pH adequados (64% e 72%). boas_praticas_alimentos_2019.pdf>. Acesso em: 13 set. 2018.
Erkan (12) observou em um estudo na Turquia que com o aumento 10. NUNES, M. L.; BATISTA, I. Aplicação do índice de qualidade
do pH do peixe Pagrus pagrus analisado por ele, consequentemente (QIM) na avaliação da frescura do pescado. Lisboa, 2004.
alteraram os parâmetros sensoriais ao longo do tempo de 11. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e
armazenamento em gelo. Sousa (13) observou que as espécies Vigilância Sanitária de Alimentos. 5. ed. Barueri: Manole, 2015.
analisadas comercializadas no sul de Portugal (Faro) e/ou em Angola 1112 p.
(Luanda) apresentavam elevados níveis de frescura e de qualidade, 12. ERKAN, N. Sensory, Chemical, and Microbiological Attributes
onde o pH e os demais meios de deterioração estudados mostraram of Sea Bream (Sparus Aurata): Effect of Washing and Ice Storage.
boa correlação com a avaliação sensorial. Sobre a reação de Éber, a Int. J. Food Prop. 10, 421-434, 2007.
qual constata deterioração, somente a amostra de Cynoscion acoupa, 13. SOUSA, M. I. Estudo comparativo das características físico-
no presente estudo, apresentou-se com resultado inadequado. Um químicas e sensoriais de polvo, pescada, cachucho e barracuda
elevado percentual de não conformidade na prova de Éber foi comercializados em Faro e em Luanda. Departamento de Engenharia
determinado em amostras de filé de pescado congelado Alimentar. Faro, 2015.
comercializado em Belo Horizonte – MG (3). No presente estudo 14. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA.
constatou-se que nas amostras analisadas, apenas 40% (n = 40) Cartilha Orientativa: Cartilha Semana do Peixe. Ministério da Saúde.
tinham temperatura de refrigeração dentro do exigido ao serem Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 2016.
recebidas (-2° à 0°) (14). A refrigeração não apresenta ação 15. CORDEIRO, D. et al. Qualidade do mexilhão Perna perna
esterilizante, somente retarda as atividades microbianas já existentes submetido ao processo combinado de cocção, congelamento e
e impede o surgimento de novos agentes deteriorantes. Com isso, a armazenamento. B. CEPPA, Curitiba, 25, 165-179, 2007.
inadequação da temperatura na conservação dos peixes pode implicar
em aumento de microrganismos decompositores (15).
5 CONCLUSÕES
563
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa realizada foi do tipo transversal, com caráter descritivo e
abordagem quantitativa, sendo realizada em uma escola de ensino
fundamental da rede pública de ensino, com crianças que estavam
regularmente matriculadas, na cidade de Pacatuba, Ceará. A amostra
foi composta por crianças de ambos os gêneros, com faixa etária
entre 6 a 10 anos; que abrange do 1° ao 5° ano do ensino
fundamental.
Para amostra aleatória simples o cálculo amostral foi baseado em um
erro amostral tolerável de 5%, calculado em uma população de 126
crianças, que estão regularmente matriculadas nesta escola (6).
A primeira etapa realizada foi uma conversa com a direção e os
professores dos alunos, que participaram da pesquisa, onde foi O dia que representa menor aceitação foi no 5°dia, onde a preparação
informado o processo de aplicação dos testes de escala hedônica servida foi mingau com sabor de arroz, com 53% na nota detestei,
facial com as crianças, onde foi explicado como os alunos deveriam onde as crianças relataram que não gostaram do sabor do mingau por
fazer no momento da aplicação dos testes. A segunda etapa foi ter pouco leite.
realizada em uma reunião com os pais das crianças, onde foi Os resultados obtidos na figura 2, abrangem do sexto ao décimo dia
apresentado o teste de aceitabilidade e como seria realizada a da pesquisa e mostra também que, na maioria dos dias, as
pesquisa com as crianças. A terceira etapa constituiu na apresentação preparações foram bem aceitas pelas crianças. No 10° dia (canja)
da escala hedônica facial para as crianças (1 – detestei, 2 – não apresentou aceitação com 64% (adorei), no 6° dia (achocolatado com
gostei, 3 – indiferente, 4 – gostei, 5 – adorei). O teste de leite e biscoito salgado) com 60% (adorei) e no 9° dia (achocolatado
aceitabilidade foi apresentado de forma simples e explicativa para com leite e biscoito doce) com 59% (adorei).
que cada um compreendesse a forma que deveria ser realizada a
564
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
Foi possível observar que no 7° dia, o resultado para a preparação por Silva (12), também foi encontrada uma baixa aceitação do
“mingau de milho” ficou semelhante entre os pontos da escala mingau com 59%, devido à temperatura do alimento que era servido
“adorei” e “detestei”. Os alunos relataram que não gostaram porque a com temperatura quente, podendo ser também um possível motivo da
preparação não ficou com o sabor agradável devido à pouca baixa aceitação.
utilização de leite no mingau, justificando o percentual elevado de
detestei. CONCLUSÃO
Os resultados encontrados não alcançam o que é preconizado no
Figura 2. Preparações do sexto ao décimo dia dos cardápios manual do teste de aceitabilidade da merenda escolar, demonstrando
avaliados. que não se tem uma adesão satisfatória por partes dos alunos,
devendo ter uma maior investigação sobre o motivo pelo qual a
merenda não tem uma aceitação adequada pelo o que é estabelecido.
Ao observar qualitativamente as preparações que são oferecidas na
escola, foi possível observar que não é oferecida uma alimentação
com muitas variedades. Em alguns dias é repetitiva e não são
fornecidas às crianças frutas e verduras em pequenas quantidades na
sopa. O ideal seria a necessidade de uma variedade maior para
fornecer um aporte melhor de nutrientes, necessária ao
desenvolvimento e para a saúde dos alunos.
É necessário que sejam realizados mais estudos para que seja
verificado o real motivo da baixa aceitação e quais os fatores que
podem serem vistos para esse resultado. Além disso, melhorar a
qualidade da merenda com a inclusão de mais frutas e verduras,
como também oferecer a essas crianças variedade no cardápio da
escola. Como sugestão, pode-se trabalhar a educação alimentar e
nutricional, informando e mostrando a importância da alimentação
saudável para a saúde de forma lúdica para a compreensão deles.
565
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem
quantitativa. Participaram do estudo, três estabelecimentos (dois
especializados e um não especializado na produção de sushi e
sashimi). Todos os locais avaliados ofereciam serviços à la carte e
sushi bar. A técnica de coleta de dados ocorreu em duas fases: 1ª
Fase (avaliação do cumprimento das boas práticas através do Legenda:azul - restaurante não especializado, vermelho -
checklist adaptado da resolução RDC nº 275/02 (6) e 2ª Fase restaurante especializado.
(verificação da presença de possíveis microrganismos nas mãos dos
manipuladores através do swab de mãos). Os resultados obtidos no presente estudo classificaram os
A primeira fase, referente à aplicação do checklist realizada por meio estabelecimentos X e Y no grupo 2, ou seja, eles atenderam 52,6% e
da observação do local, foi utilizada apenas uma única vez em cada 55,3%, de conformidades, respectivamente. Com 89,5%, o
estabelecimento. Esse instrumento continha 38 itens divididos em estabelecimento Z foi classificado como grupo 1. Vale ressaltar que o
cinco blocos: edificações e instalações; equipamentos móveis e estabelecimento “Z” era o único que possuía a presença de um
utensílios; manipuladores; fluxo de produção; produto final. Na profissional (nutricionista) como gestor da qualidade, periodicamente
segunda fase, realizou-se swabs das mãos de dois manipuladores de executando atividades relacionadas à segurança alimentar.
cada estabelecimento, para a contagem de coliformes termotolerantes Por meio da divisão por blocos, os resultados do checklist foram
e Staphylococcus aureus (7). demonstrados de acordo com a lista de verificação das boas práticas
Os resultados foram expressos em percentuais de conformidade com aplicada, divididos em 5 blocos (Tabela 1). Em relação ao item
os itens atendidos pela RDC nº 216 de 2004 (8), sendo classificados edificações e instalações, os principais pontos encontrados em não
nos seguintes grupos: Grupo 1 (76-100% de atendimento dos itens), conformidade foram em relação à porta, pois estas não possuíam
Grupo 2 (51-75% de atendimento dos itens) e Grupo 3 (0-50% de fechamento automático, superfície limpa e de fácil higienização,
atendimento dos itens). Foram então pontuadas as não conformidades além de não possuírem barreira para o impedimento da entrada de
apresentadas em estabelecimentos especializados ou não na pragas e animais. As janelas não possuíam telas milimétricas para a
comercialização de sushi. proteção contra insetos e roedores.
Os swabs colhidos foram acondicionados sob manutenção de Um item não conforme em dois estabelecimentos avaliados foi a
temperatura de no máximo 10 ºC através de gelo químico, e levados inexistência de lavatórios exclusivos para a higienização das mãos e,
imediatamente ao laboratório para a realização das análises. As que consequentemente, não havia a presença de material necessário
análises foram realizadas no laboratório de Microbiologia dos para a higienização correta das mãos.
Alimentos, situado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Em relação aos equipamentos, móveis e utensílios, em dois dos
locais avaliados, “X” e “Y” os materiais que entravam em contato
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
com os alimentos não eram de materiais resistentes, impermeáveis, e práticas inadequadas de processamento e higiene realizadas por
não estavam em adequado estado de conservação e nem permitiam pessoas inabilitadas podem provocar a contaminação dos alimentos.
fácil higienização. Apesar da Resolução nº 12 (11), estabelecer padrões microbiológicos
O item relacionado aos equipamentos de conservação dos alimentos para alimentos, presente no item 22, isso não quer dizer que a
demonstrou-se inadequado em todos os restaurantes analisados, pois pesquisa por microrganismos nas mãos não possua relevância no
eles não possuíam medidores de temperatura. Entretanto, em um meio científico, um vez que, subentende-se que, se há a presença de
deles, o estabelecimento “Z”, realizava o controle da temperatura microrganismos indicadores de interesse para o sushi nas mãos de
duas vezes ao dia, por meio de termômetro, e era registrado em manipuladores, possivelmente o alimento poderá conter níveis
planilha específica. Segundo a Resolução RDC nº 216, no item aceitáveis ou não destes microrganismos indicadores
4.10.3, os equipamentos utilizados para exposição ou distribuição (Staphylococcus aureus e coliformes termotolerantes) no alimento
dos alimentos preparados, sob temperaturas controladas, devem ser pronto para o consumo humano.
regularmente controlados, além de estarem em adequado estado de
conservação e higiene. CONCLUSÃO
Em relação ao vestuário dos manipuladores, um dos locais não havia Conclui-se que em relação ao checklist, houve alguns pontos
a utilização completa de uniformes, já no outro, era utilizado deficientes nos locais estudados e bastante variação nos pontos em
uniforme, entretanto, não eram de cor clara e não eram adequados conformidade. Os pontos não conformes que se destacaram por sua
para a área de produção. O uso de uniformes é um elemento simples deficiência e que poderiam estar sendo potencializados nos
e de fundamental importância para que sejam mantidos os requisitos estabelecimentos seriam os itens: edificações e instalações;
de higiene (10). equipamentos, móveis e utensílios. Sendo necessária atenção para a
No que diz respeito ao controle da circulação de pessoal na área de manutenção diária das condições higiênico-sanitárias como garantia
manipulação, o estabelecimento “Y”, não estava adequado, pois de segurança alimentar.
outros funcionários e visitantes possuíam acesso a esta área sem os Os resultados dos swabs de mãos dos manipuladores apresentaram
mínimos cuidados, como por exemplo, o uso de touca para proteção. resultados insatisfatórios, pressupondo falha no processo de
E relacionado ao quesito fluxo ordenado, linear e sem cruzamento, higienização das mãos e consequentemente contaminação no produto
um dos estabelecimentos não possuía esse cuidado com a final. Portanto, fazem-se necessárias medidas de controle mais
organização dos processos, não existia separação das atividades, o eficazes, até mesmo por parte dos órgãos sanitários, no que tange o
sujo do limpo, com o intuito de se evitar uma contaminação cruzada. controle de qualidade dos alimentos, principalmente quando se trata
Em relação ao produto final, no registro de temperatura de ambientes de alimentos crus.
com controle térmico, presentes nos estabelecimentos, apenas o
estabelecimento “Z” possuía planilha específica para o registro da REFERÊNCIAS
temperatura. (1) VALLANDRO, M. J. Avaliação da qualidade de
De acordo com o que foi demostrado na tabela 2, apenas o microbiológica de sashimis à base de salmão preparados em
estabelecimento “Z” ficou com 100% de adequação nos quesitos restaurantes especializados em culinária japonesa. 2010. 69F.
manipuladores, fluxo de produção e armazenamento do produto final. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sendo estes pontos os de maior porcentagem também nos demais Sul, Porto Alegre.
estabelecimentos, entretanto não chegaram a atingir o valor máximo. (2) MOURA FILHO L. G. M. et al. Enumeração e pesquisa de
Na tabela 1, encontra-se uma demonstração dos percentuais de Vibrio spp. e coliformes totais e termotolerantes em sashimis de
conformidade dividida por blocos avaliados, resumindo os atum e vegetais comercializados na região metropolitana do Recife,
percentuais de cada estabelecimento por blocos. Estado de Pernambuco. Acta Sci. Technol. v. 29, n. 1, p. 85-90,
2007.
Tabela 1- Percentual de conformidades por etapas do checklist. (3) CEPENE. Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade
Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Marinha do Nordeste. Salmonella e Staphylococcus coagulase
X Y Z positiva em sushi e sashimi preparados em dois restaurantes da
cidade de Fortaleza, Ceará. Boletim técnico (Tamandaré). Vieira et
Edificações e 58,82% 41,1% 82,3% al. v. 15, n. 1, p. 9-14, 2007.
instalações
(4) MELO, M. V. C et al. Ocorrência de helmintos em sushis e
Equipamentos, móveis 50% 70% 90% sashimis comercializados em supermercados de Fortaleza, Ceará.
e utensílios Nutrivisa. Fortaleza, v.1, n. 3, p. 11-14, 2014.
Manipuladores 66,6% 25% 100%
(5) MARTINS, F. O. Avaliação da qualidade higiênico-sanitária
de preparações (sushi e sashimi) a base de pescado cru servidos
Fluxo de produção 25% 75% 100% em bufês na cidade de São Paulo. 2006. 146f. Dissertação
Armazenamento do 50% 75% 100% (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Paulo.
produto final (6) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 275, de 21 de
outubro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico de
Os resultados obtidos da análise de swabs de mãos de manipuladores procedimentos operacionais padronizados aplicados aos
de sushi e sashimi foram demonstrados como “ausência” ou estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista
“presença”, por conta da impossibilidade de contagem do número de de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos
colônias evidenciadas nas amostras, pois apresentaram incontáveis produtores/industrializadores de alimentos. Diário Oficial da União,
números de colônias. Brasília, 2002.
(7) SILVA, N, et al. Manual de métodos de análise microbiológica
Tabela 2- Resultado dos swabs de manipuladores de alimentos e água. 4ª edição, São Paulo, 2010.
Amostras X1 X2 Y1 Y2 Z1 Z2 (8) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC no 216, de 15 de
setembro de 2004. Aprova o regulamento técnico de boas práticas
Coliformes
Termotolerantes
Presença Presença Presença Presença Presença Presença para serviços de alimentação. Diário Oficial da União, Brasília,
2004.
Staphylococcus (9) BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde.
Ausência Ausência Presença Presença Ausência Ausência
Aureus
Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
Por meio dos resultados expressos na tabela 2, pode-se inferir que em Brasília, Diário Oficial da União, 12 dez. 2012.
todos os restaurantes estudados houve a presença de coliformes (10) PONATH, F. S et al. Avaliação da higienização das mãos de
termotolerantes. Em relação à presença de Sthaphylococcus aureus, o manipuladores de alimentos do Município de Ji-Paraná, Estado de
estabelecimento “Y” foi o único em que esses microrganismos Rondônia, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude. v. 7, n.1, p. 63-69, 2016.
estavam presentes. A presença destes microrganismos (11) BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução -
(Sthaphylococcus aureus e coliformes termotolerantes) somado a RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o regulamento técnico
sobre padrões microbiológicos para alimentos. Brasília, 2001.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
jheimy.benavidesna@amigo.edu.co
CONCLUSÃO
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
569
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
570
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
¹Antonia Carvalho, ¹Débora Silva, ¹Heitor Carvalho, ¹Maria Alves, ¹Raíla Silva, ²Valéria Nogueira.
1. Acadêmicos do curso de Gastronomia do Instituto Federal do Ceará, Campus Ubajara-CE, Brasil.
2. Docente do Curso de Graduação em Ciência da Nutrição.
Profheitor.carvalho@gmail.com
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: reaproveitamento, resíduos agroindustriais, Piracicaba - SP, Brasil) a 40 °C por 30 minutos, resfriados e lidos em
sustentabilidade, uva preta, antocianinas espectrofotômetro UV-VIS a 765 nm (UV-VIS 5100, Labnova, Santo
André, Brasil). Os resultados foram calculados com o auxílio de uma
INTRODUÇÃO curva padrão de ácido gálico e os resultados expressos em mg EAG.g-
1
da amostra. Para os flavonoides amarelos (FA) e as antocianinas
As frutas possuem nutrientes que estão associados a totais (AT) (17), cerca de 1 g do extrato foi diluído em 5 mL de
diversos efeitos benéficos ao organismo humano, por meio das suas Etanol:HCl (1,5 N) na proporção 85:15, em ambiente escuro, e
propriedades funcionais, antioxidantes e antimicrobianas (1, 2, 3). deixados em repouso por 24 horas sob refrigeração (4 ºC). As
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2017, a amostras foram filtradas em papel de filtro qualitativo (80 g.m-2) e as
uva foi a segunda frutícola mais importante em termos de volume de leituras. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
produção total, correspondendo a 14%, atrás apenas da banana, com
27% (4). As indústrias que utilizam uvas para produção de vinhos e RESULTADOS E DISCUSSÃO
sucos geram bagaços - cascas, polpa e sementes - e a quantidade
gerada é tão elevada que pode chegar a até 20% do peso total desses A caracterização do BU é um requisito essencial para se ter
frutos (5). conhecimento sobre a composição química, os componentes bioativos
O bagaço é rico em água e nutrientes e essa composição e o conteúdo mineralógico (18). O BU deste estudo apresentou
exige que seja processado rapidamente. Uma das alternativas para umidade 69,02% (±1,57). Na literatura, foram reportados valores de
prolongar a vida de prateleira é a secagem, por reduzir umidade nas cascas e sementes de uva Isabel (Vitis labrusca) de
consideravelmente o teor de água, concentrando os nutrientes e 86,33% e 9,31%, respectivamente (19). Este alto teor de água permite
facilitando também a transformação em farinha (6, 7). A secagem por uma aceleração das reações químicas, físicas e bioquímicas, que estão
convecção em estufa é o método mais utilizado devido ao baixo custo diretamente associadas a rápida deterioração (20). O teor de cinzas
e elevada eficiência (8, 9), porém a secagem elimina boa parte dos encontrado neste estudo (1,08% ±0,38) foi inferior ao reportado por
compostos fenólicos em bagaço de uva (BU) (10). Atualmente, os Sánchez-Alonso et al., de 2,4 a 3,5% (21). Santos et al. encontraram
consumidores anseiam não apenas por alimentos seguros e nutritivos, valores nas cascas de 0,86% e nas sementes de 1,48% (19). Becker et
mas também que sejam naturais e saudáveis. Portanto, resíduos de al. e Gomes et al. encontraram nas uvas minerais como K, Mg, Ca, Fe
frutas podem ser usados como matérias-primas para agregar valor ao e Zn (22) e (23). A presença desses elementos comprova a riqueza de
mercado de alimentos, sendo esta uma das principais tendências da minerais presentes no BU (23). Para lipídeos (0,94 ± 0,11), (19)
indústria (11). Diante disso, investigou-se a composição físico- encontraram valores nas cascas de 0,31% e nas sementes de 10,84%.
química e bioativa da farinha do BU, com o intuito de complementar e Os principais ácidos graxos da casca da uva são o ácido
validar os estudos científicos acerca das suas propriedades benéficas linoleico (18:2n-6), o ácido palmítico (16:0) e o ácido oleico (18:1n-
como ingredientes alimentícios. 9). Nas sementes esses valores são ainda maiores, o que indica que a
semente da uva é uma boa fonte de óleo que pode ser extraído para a
METODOLOGIA alimentação humana (19). As proteínas compuseram
aproximadamente 2,68% (±0,44) do BU deste estudo. Santos et al.
Foram obtidos 100 Kg de uvas (Vitis labrusca cv Isabel), encontraram valores nas cascas de 0,85% e nas sementes de 6,87%
provenientes de um mesmo lote da Zona Rural do município de São (19). Os resíduos de frutas não apresentam teores elevados de
Vicente Ferrer, Pernambuco – PE, safra de 2018/2019. Com pequenas proteínas, mas em forma de farinhas são ótimas fontes deste nutriente
modificações (12), os frutos saudáveis (92,64 Kg) foram lavados em e podem ser adicionadas em produtos alimentícios com a finalidade de
água corrente, sanitizados com solução de cloro ativo (200 ppm/15 melhorar o teor proteico (24).
minutos), enxaguados e despolpados em despolpadeira (Hauber – Os SST encontrados (14,13 ºBrix ± 0,06) foram superiores
DM-JI-05, Macanuda, Joinville – SC, Brasil) com malha de 0,8 mm ao relatado por Gomes et al., de 11,9 ºBrix para uvas da variedade
de diâmetro. O bagaço obtido foi armazenado em embalagem flexível Bordô (23), mas inferior ao relatado por Padilha et al., para uva Isabel,
de polietileno de alta densidade, a vácuo, protegido da luz, em com valores próximos a 20 ºBrix (25). O presente estudo revelou valor
ultracongelamento a -80 ºC até o momento da realização das análises. acima de 10 ºBrix, o que demonstra a riqueza de açúcares presentes no
Foram determinados os teores de umidade, cinzas, BU. Valores elevados de SST são preferidos para o consumo in
proteínas - N x 6,25 - (13) e lipídeos (14). Os sólidos solúveis totais natura e para a industrialização, pois oferecem a vantagem de
(SST) foram determinados em refratômetro digital (MA871, proporcionar maior rendimento no processamento (26). Os valores da
Milwaukee, Romania) (13). A acidez total titulável (ATT) foi ATT (1,33 % ácido tartárico ±0,05) e Ratio (10,60 ± 0,43) deste
determinada através da titulação das amostras com solução de estudo foram semelhantes aos de Meneghelli et al. ao estudarem a
hidróxido de sódio a 0,1 M, sendo o resultado expresso em % de ácido polpa de uva Isabel, onde obtiveram valores que variam de 0,87 a 1,36
tartárico. O índice de maturação (Ratio) foi determinado através da g de ácido tartárico por 100 mL e Ratio de 11,24 (27),. Para (28), a
razão entre o teor de SST e da ATT (13). O pH foi determinado com ATT superior a 1% é considerada de maior interesse para a indústria,
pHmetro (PHS – 3E, Ionlab, Araucária – PR, Brasil) previamente uma vez que minimizam a necessidade de adição de ácido na inibição
calibrado com tampão de pH 4,0 e 7,0. A atividade de água (Aa) foi do desenvolvimento de microrganismos. No que se refere a relação
quantificada utilizando aparelho Aqualab 4TE (Decagon Devices, Inc. SST/ATT, é notável a alta concentração de açúcar e a baixa acidez.
São Paulo, Brasil). A vitamina C foi determinada pelo método de Essa relação é uma das melhores formas de avaliação do sabor, a qual
Tillmans (15). Com adaptações (10), para obtenção dos extratos, 10 g ocorre, de forma majoritária, devido ao balanço de ácidos e açúcares,
de cada amostra foi homogeneizada em vortex por uma hora com a tendo mais representação do que a mensuração isoladamente (19).
solução extratora (30 mL de metanol PA acidificado com HCl 0,1 M Os valores de pH (3,64 ± 0,05) na faixa ácida foram
até pH 2), sob refrigeração (4 ºC) e penumbra, sendo filtrados em semelhantes aos relatados por Gomes et al. e Padilha et al., (23) e
papel filtro qualitativo (80 g.m-2) e armazenados em tubos Falcon, sob (25). O pH é uma característica importante, uma vez que pode
refrigeração (4 ºC), até o momento das análises. influenciar no tempo de conservação, ao evitar o desenvolvimento de
Os compostos fenólicos totais (FT) foram determinados microrganismos e influenciar a atividade enzimática, não alterando de
com adaptações (16). Alíquotas de 50 µL dos extratos obtidos foram forma negativa as características sensoriais dos produtos (30). Valores
homogeneizados com 1.950 µL de água destilada e 150 µL do mais altos de pH e baixa acidez são preferidos para o consumo,
reagente Folin-Ciocalteau, submetidos a agitação e repouso por 5 porém, um pH mais elevado favorece o desenvolvimento da atividade
minutos, protegidos da luz. Em seguida, foram adicionados 350 µL de enzimática e o desenvolvimento bacteriano (26). Os valores de Aa
carbonato de sódio a 20% e a mistura foi submetida à agitação. Os encontrados foram 0,97 (±0,01). Por apresentarem elevada Aa as
tubos foram incubados em banho-maria (SL-154/10-4, Solab, frutas são importantes habitats para uma imensidão de
1
572
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
microrganismos e, portanto, são suscetíveis a uma rápida deterioração, 12. SOUSA, K. S.; FIGUERÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.;
principalmente sob conservação inadequada (31, 32). Os teores de FERNANDES, T. K. S. Produção e caracterização da polpa de atemoia em pó. Rev.
Bras. Frutic. 37, 718-728, 2015.
vitamina C encontrados (23,52 mg.100 g -1 ±0,52) foram semelhantes
ao observado por Nayak et al. (18). A contribuição desta vitamina 13. AOAC. Association of Official Analytical Chemist. Official methods of
analysis. 20. ed. Washington, D.C., 2016.
para o valor antioxidante de frutas varia muito de fruta para fruta (33). 14. FOLCH, J.; LEES, M.; STANLEY, G. H. S. A simple method for the
O teor de vitamina C das uvas Vitis foi de 4,6 a 17,92 mg.100 g-1 em isolation and purification of total lipides from animal tissues. Journal of Biological
suco de uva integral (34). Chemistry, J. Biol. Chem. 226, 497-509, 1957.
Os valores de FT encontrados no extrato metanólico deste 15. STROHECKER, R.; HENNING, H. M. Análises de vitaminas: métodos
estudo (31,88 mg de EAG.g-1 ± 1,60) foi semelhante ao reportado por comprovados. Madrid: Paz Montalvo, 1967. 428p.
Rockenbach et al., que encontraram valor de 32,62 mg de EAG.100 g- 16. WATERHOUSE, A. L. 2002. Determination of total phenolics. In:
Current Protocols in Food Analytical Chemistry. Wiley, Hoboken, New Jersey, p.
1
(35). Os FA apresentaram teores de 0,70 mg.100 g-1 (±0,13). Os FA I1.1.1– I1.1.8.
apresentam efeitos benéficos para a saúde, atuando como 17. FRANCIS, F. J. Analysis of anthocyanins. In: MARKAKIS, P. (Ed).
nutracêuticos e antioxidantes (36). Os teores de AT deste estudo Anthocyanins as food colors. New York: Academic Press, 1982. p. 181-207.
foram inferiores (2,17 mg.100 g-1 ±0,01) aos de Rockenbach et al. e 18. NAYAK, A.; BHUSHAN, B; ROSALES, A.; TURIENZO, L. R.;
Gomes et al., que encontraram valores de 1,84 mg.g-1 equivalentes de CORTINA, J. L. Valorisation potencial of Cabernet grape pomace for the recovery of
malvidina-3-glicosídeo e 324,75 mg.g-1 equivalentes de malvidina- polyphenols: Process intensification, optimisation and study of kinetics. Food Bioprod.
Process. 109, 74-85, 2018.
3,5-gdilicosídeo, respectivamente (35) e (23). Para Nayak et al.,
19. SANTOS, L. P.; MORAIS, D. R.; SOUZA, N. E.; COTTICA, S. M.;
Rockenbach et al., Nowshehri et al. e Gomes et al., a alta BOROSKI, M.; VISENTAINER, J. V. Phenolic compounds and fatty acids in
concentração de polifenois é proveniente das sementes e do conteúdo different parts of Vitis labrusca and V. vinifera grapes. Food Res. Int. 44, 1414–1418,
de antocianinas das cascas (18), (35), (37) e (23). A malvidina (3-O- 2011.
monoglucosídeo) e a cianidina (3,5-diglicosídeo) são antocianinas 20. NORTHOLT, M. D.; VAN EGMOND, H. P.; PAULSCH, W. E. Patulin
altamente abundantes nas cascas de uvas vermelhas (38, 23). production by some fungal species in relation to water activity and temperature. J.
Food Prot. 41, 885-890, 1978.
Rockenbach et al. ao analisarem o perfil fenólico do BU da variedade
21. SÁNCHEZ-ALONSO, I.; JIMÉNEZ-ESCRIG, A.; SAURA-CALIXTO,
Isabel encontraram como principais componentes as antocianinas F.; BORDERÍAS, A. J. Antioxidant protection of white grape pomace on restructured
(496,61 mg.100 g-1 equivalentes de malvidina-3-glicosídeo) e os fish products during fronzen storage. LWT - Food Sci. Technol. 41, 42-50, 2008.
flavonoides quercetina (25,72 mg.100 g-1), kaempferol (11,41 mg.100 22. BECKER, M. M.; MENDES, T. M. F. F.; JUNIOR, C. A. S. Teores de
g-1), rutina (26,39 mg.100 g-1), catequina (94,28 mg.100 g-1), Elementos Minerais e Caracterização Física da Uva Isabel (Vitis labrusca L.)
epicatequina (44,36 mg.100 g-1), t-resveratrol (1,18 mg.100 g-1) e Produzida em Boa Vista/RR. Orbital: Electron. J. Chem. 6, 82-86, 2014.
ácido gálico (17,49 mg.100 g-1) (35). O mesmo foi relatado por Storck 23. GOMES, T. M.; TOALDO, I. M.; HAAS, I. C. S.; BURIN, V. M.;
CALIARI, V.; LUNA, A. S.; GOIS, J. S.; BORDIGNON-LUIS, M. T. Differential
et al., com algumas poucas diferenças, que segundo Doshi et al. são contribution of grape peel, pulp, and seed to bioaccessibility of micronutrients and
normais, já que a concentração fenólica nas uvas depende do tipo de major polyphenolic compounds of red and white grapes through simulated human
processo de vinificação, bem como das características genéticas, digestion. J. Funct.Foods. 52: 699-708, 2019.
ambientais e culturais (24) e (39). 24. STORCK, C. R.; BASSO, C.; FAVARIN, F. R.; RODRIGUES, A. C.
Qualidade microbiológica e composição de farinhas de resíduos da produção de suco
de frutas em diferentes granulometrias. Braz. J. Food Technol. 18, 277-284, 2015.
CONCLUSÃO 25. PADILHA, C. V. S.; LIMA, M. S.; TOALDO, I. M; PEREIRA, G. E.;
BORDIGNON-LUIZA, M. T. Effects of successive harvesting in the same year on
Torna-se evidente que o BU é uma rica fonte de nutrientes, quality and bioactive compounds of grapes and juices in semi-arid tropical viticulture.
Food Chem. 301, 125170, 2019.
principalmente quando se observa os teores de SST, vitamina C e
compostos bioativos como os fenólicos totais e as antocianinas. Este 26. SANTOS, M. B.; CARDOSO, R. L.; FONSECA, A. A. O.;
CONCEIÇÃO, M. N. Caracterização e qualidade de frutos de umbu-cajá (Spondias
estudo evidencia a grande possibilidade de poder utilizar o BU como tuberosa X S. mombin) provenientes do Recôncavo Sul da Bahia. Rev. Bras. Frutic.
ingrediente em produtos alimentícios. Contudo, mais estudos são 32, 1089-1097, 2010.
necessários para investigar a melhor forma de inserção desse bagaço 27. MENEGHELLI, C. M.; LIMA, J. S. S.; BERNARDES, A. L.;
nos alimentos, bem como a concentração, a influência sobre os COELHO, J. M.; SILVA, S. A.; MENEGHELLI, L. A. M. ‘Niágara Rosada’ and
‘Isabel’ grapes quality cultivated in different altitudes in the state of Espírito Santo,
nutrientes da matriz receptora e sua biodisponibilidade no organismo Brazil. Emir. J. Food Agric. 30, 1014-1018, 2018.
humano. 28. LIMA, E. D. P. A.; LIMA, C. A. A.; ALDRIGUE, M. L.; GONDIM; P.
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cinco estádios de maturação, da polpa congelada e néctar. Rev. Bras. Frutic. 24, 338-
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LEBLANC, A. M.; SAAD, S. M. I.; LEBLANC, J. G. Tropical fruit by-products water 29. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e
extracts as sources of soluble fibres and phenolic compounds with potential hortaliças: fisiologia e manuseio. 2ª ed. Universidade Federal de Lavras, 2005, Lavras.
antioxidant, anti-inflammatory, and functional properties. Journal of Funct. Foods. 52, 785 p.
724-733, 2019. 30. LIMA, C. A.; FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V.; COHEN, K. O.;
2. SCHNEIDER, V. S.; BARK, J. M.; WINNISCHOFER, S. M. B.; GUIMARÃES, T. Características físico-químicas, polifenóis e flavonoides amarelos
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2
573
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 1: Precauções com o cliente na entrada do estabelecimento Fonte: Elaboração própria, 2020.
NÃO é recomendada até o A figura 3 mostra os cuidados que devem ser tomados a
momento a utilização de Uma vez que não foram encontradas partir do momento que o cliente adentra as dependências internas do
estruturas para desinfecção de evidências científicas de que o uso dessas estabelecimento.
pessoas na entrada de estruturas para desinfecção sejam eficazes
Figura 3: Cautelas nas dependências internas
estabelecimentos, como câmaras, no combate ao SARS-CoV-2. Além disso, a
cabines ou túneis, com o uso de borrifação de saneantes sobre seres humanos Higienizar as mesas e cadeiras
Sempre após o término de cada atendimento
produtos químicos (como tem potencial para causar lesões dérmicas, com sanitizante (por exemplo,
ou refeição (e podem ser cobertas com
hipoclorito de sódio, dióxido de respiratórias, oculares e alérgicas, podendo álcool a 70° ou água sanitária
plástico para facilitar essa higienização).
cloro, peróxido de hidrogênio, o responsável da ação responder penal, civil diluída)
quaternários de amônio, ozônio, e administrativamente. Ter vigilância constante do fluxo
entre outros). Para isso, podem ser designados
de clientes e orientá-los para
funcionários para verificar e intervir sempre
Devem ser utilizados equipamentos facilitar a circulação interna,
Os estabelecimentos podem que for verificada aglomeração de pessoas,
devidamente certificados para esse fim e evitando a aglomeração e
implementar medidas adicionais ou colocar avisos sonoros chamando a
que não entrem em contato direto com a mantendo o distanciamento,
para controlar a entrada de atenção dos clientes para isso ou mesmo
pele. Além disso, deve-se ter em mente que inclusive nos locais que tendem à
clientes, como medição de avisos impressos, a serem dispostos em
muitas pessoas infectadas pelo novo concentração de pessoas, como
temperatura antes da entrada nos forma de cartazes, evitando-se distribuição
coronavírus são assintomáticas e, portanto, banheiros e nos balcões de
serviços de alimentação. de panfletos.
não desenvolvem sintomas como a febre. exposição de alimentos.
De forma que não haja aglomeração e E, quando obrigatório por normas locais,
Controlar o fluxo de entrada de O uso de máscaras faciais pelos
impossibilidade de manutenção da distância deve ser reforçado na entrada dos
pessoas no local. clientes deve ser estimulado.
mínima recomendada. estabelecimentos.
Fonte: Elaboração própria, 2020.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avisos e orientações em locais Ajudar a conscientização do público. Os produtos prontos para o consumo,
visíveis do estabelecimento sobre Lembrando que é importante preservar a vendidos sem embalagens, como refeições
a necessidade de manter o distância segura mínima de 1 metro, tanto prontas e produtos de panificação e
Os alimentos também precisam
distanciamento e obedecer às entre os clientes, quanto entre esses e os confeitaria, devem ser expostos,
estar protegidos por meio de
demarcações. funcionários. preferencialmente, embalados. Não sendo
barreiras físicas
possível, devem estar totalmente protegidos
Reforçar o procedimento de por meio de balcões expositores (com
higienização dos utensílios usados Ajustando os materiais e equipamentos de fechamento frontal e lateral).
ou compartilhados pelos clientes limpeza necessários para o processo de
(por exemplo, bandejas, copos, higienização. A entrega de alimentos (delivery)
pratos e garfos). por meio de serviços específicos
Nesse tipo de serviço, também devem ser
de aplicativos ou disponibilizados
observadas as boas práticas de manipulação
Aumentar a frequência de pela própria empresa, incluindo
de alimentos, de forma que sejam adotados
higienização das superfícies em para retirada local (take-out),
cuidados básicos visando garantir a
que os empregados e clientes além de oferecer uma comodidade
segurança sanitária do produto.
tocam usualmente, como ao cliente, pode ajudar auxiliando
Ajudar a conscientização do público. no combate a COVID-19.
maçanetas das portas, alças dos
equipamentos, balcões, carrinhos
e cestas de compras, máquinas de • No caso de retirada pelo próprio cliente
(take-out), zonas de coleta específicas
cartão de crédito.
devem ser estabelecidas, visando ajudar a
Dar preferência ao uso de manter o distanciamento físico de 1 metro,
temperos, molhos, condimentos e Quando não for possível essa opção, dar pelo menos.
especiarias em embalagens mais atenção à desinfecção das embalagens. • Ao entregar o alimento, utilizar meios que
individualizadas (sachês). reduzam o contato com os clientes,
oferecendo entregas "sem contato" e
Preferir o uso de cardápios Quando não for possível essa opção, usar Outras dicas a serem seguidas
enviando alertas de texto ou ligando quando
descartáveis, eletrônicos, lousas cardápios plastificados, de maneira a são:
as entregas chegarem ao destino, por
ou outros painéis. possibilitar a sua higienização. exemplo.
Fonte: Elaboração própria, 2020. • Quando o contato for necessário, os
entregadores devem ser orientados a manter
A figura 4 é bem específica sobre a hora do pagamento, onde o distanciamento dos clientes; e
os clientes terão contato um pouco mais direto com equipamentos e • Embalagem, bolsas e caixas usadas para o
pessoas. transporte de alimentos devem ser
Figura 4: Precauções ao efetuar os pagamentos higienizadas frequente e adequadamente.
Isto também pode colaborar para manter o Fonte: Elaboração própria, 2020.
distanciamento entre os funcionários e os
uso de barreiras, como faixas, Desta forma, os estabelecimentos que adotarem as medidas
clientes, as demarcações visam facilitar o
entre o caixa e o cliente com citadas nas figuras atingirão condições satisfatórias para combater o
cumprimento do distanciamento em filas
demarcações no chão. COVID-19, além de estabelecer um cenário seguro para os
para atendimento. Para garantir a separação
consumidores.
entre as pessoas que aguardam atendimento.
O uso de cartão ao invés de cédulas, se CONCLUSÕES
possivel envelopar a máquina com plástico
Deve-se estimular os clientes a
filme para facilitar a higienização. O Diante de todos esses procedimentos de segurança conclui-
usar meios de pagamento que
manuseio pode ser feito pelos próprios se que é de extrema importância os cuidados com o cliente em época de
demandem menos toque e
clientes para inserção e retirada da máquina, pandemia do COVID-19, tanto pela magnitude de procedimentos
manuseio, quando disponível.
assim auxiliando na diminuição do risco de quanto pela importância dos consumidores para a área de alimento e
contato com objetos contaminados. bebidas, assim, os mesmos merecem todos os cuidados necessário para
Além disso, é recomendando desfrutarem do ambiente, dos produtos e da receptividade do
disponibilizar ao cliente álcool gel estabelecimento de uma forma altamente segura.
-
ou pias próximas, para estimular a
higienização das mãos. REFERÊNCIAS
Fonte: Elaboração própria, 2020.
Já a figura 5 traz dicas de cuidados nos serviços de 1. World Health Organization. Q&A on coronaviruses (COVID-19).
autoatendimento e entregas. Disponível em: https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-
Figura 5: Cuidados nos serviços de bufê, delivery e take out coronaviruses. Acessado em 06/04/2020. Acessado em: 5 de jun. 2020
Evitar, sempre que possível, a Visando minimizar o risco de contaminação 2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
oferta em serviços de auto devido ao compartilhamento de utensílios, TÉCNICA Nº Nº 49/2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA.
atendimento (self-service), como assim como a contaminação do próprio Ementa: Orientações para os serviços de alimentação com atendimento
bufê e estações de bebida. alimento. direto ao cliente durante a pandemia de Covid-19. Disponível em:
http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
Tais como: cobrir o expositor de alimentos ICA_N__49.2020.GIALI__orientacoes_atendimento_ao_cliente.pdf/e
com protetores salivares elaborados com 3cb8332-e236-482f-b446-cb2a39dc4589. Acessado em 1° de jun.
material de fácil limpeza, como vidro, com
2020.
fechamento frontal e lateral; conduzir os
Os serviços de alimentação que clientes para higienização das mãos antes e
3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
permanecerem com o serviço de depois de se servir; e avaliar a
bufê deverão implementar possibilidade de dispor um colaborador
TÉCNICA Nº 47 /2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA. Ementa:
melhorias que minimizem a para servir a refeição aos clientes, visando
Uso de luvas e máscaras em estabelecimentos da área de alimentos no
disseminação do vírus. diminuir a manipulação de utensílios, como contexto do enfrentamento ao COVID-19. Disponível em:
pegadores, por diversas pessoas. http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
Adicionalmente, os utensílios utilizados na ICA_N__47.2020.SEI.GIALI_0_uso_de_EPIs.pdf/41979d87-50b8-
manipulação de alimentos deverão ser 4191-9ca8-aa416d7fdf6e. Acessado em 1° de jun. 2020.
higienizados frequentemente.
Orientações claras e visíveis aos 4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
clientes sobre boas práticas TÉCNICA Nº Nº 48/2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA.
respiratórias, incluindo a Ementa: Documento orientativo para produção segura de alimentos
recomendação de não falar - durante a pandemia de Covid-19. Disponível em:
enquanto se serve, podem ajudar http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
na proteção do alimento e das ICA_N__48___Boas_Praticas_e_Covid_19__Revisao_final.pdf/ba26f
superfícies do estabelecimento. be0-a79c-45d7-b8bd-fbd2bfdb2437. Acessado em 1° de jun. 2020.
575
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação do excesso de peso e consumo alimentar de crianças em idade escolar de uma escola
em Pernambuco
Maria Carolina de Lima1, Regina Costa2, Ana Paula da Silva3, Maria Raiane de Goes3, Wenicios Chaves4, Gicely
Monteiro5, Franciely da Silva6.
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco. 2Graduada em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. 3Graduada em Nutrição,
Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, Rio Grande do Norte.
4
Mestre em Nutrição, Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco. 5Mestre em
Enfermagem, Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade de Pernambuco (UPE), Recife,
Pernambuco. 6Mestre em Nutrição, Alimentos e Metabolismo, Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), Cuiabá, Mato Grosso. Correspondência: carolina.cavalcantilima@ufpe.br.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
câncer, e a falta de correlação positiva entre o conhecimento 10 FRANCISCHI, Rachel Pamfilio Prado de et al. Obesidade:
nutricional e hábitos que resultem em manutenção do peso. atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev. Nutr.,
Autores como Datillo et al (12) observaram pouca influência do nível Campinas, v. 13, n. 1, p. 17-28, Apr. 2000;
de conhecimento nutricional sob a composição corporal. Sua 11 MIRANDA et al. Avaliação antropométrica e análise do consumo
pesquisa apresenta uma baixa correlação positiva entre o IMC e QNC alimentar de universitários da Faculdade de Ciências Aplicadas –
(r=0,16). O autor cita que mesmo indivíduos com bom conhecimento UNICAMP. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 21(2):
nutricional não necessariamente modificam positivamente seus 461-468, 2014;
hábitos alimentares. As práticas alimentares são determinadas por 12 DATTILO, M.; KURODA, A. P.; FURLANETTO, P.;
aspectos de cunho cultural educacional e econômico, sendo o NICASTRO, H.; COIMBRA, P. C. F. C.; SIMONY, R. F.
conhecimento nutricional importante, mas não um fator isolado para Conhecimento nutricional e sua associação com o índice de massa
mudar o comportamento alimentar (13). corporal. Nutrire Rev. Soc. Bras. Aliment. Nutr. v. 34, n.1, p. 75-84,
Diferentemente do consumo alimentar, estudos disponíveis que 2009;
associam o conhecimento alimentar ao estado nutricional da 17 O’Brien G, Davies M. Nutrition knowledge and body mass index.
população universitária ainda se encontram extremamente limitados, Health Educ Res. 2007;22(4):571-5.
em sua maioria avaliando alunos atletas ou da área da saúde. A
maioria dos estudos, porém, apresentam falha na associação entre o
IMC e o conhecimento nutricional. Isso significa que melhorar o
conhecimento não implica necessariamente na mudança de hábitos
alimentares.
Conclusões
Referências
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Géssica Martins1, Priscila Neta1, Ana Santos1, Tamires Veras1, Priscila Pessoa2.
1 - Graduandas do curso de Nutrição pelo Centro Universitário Fametro – Unifametro.
2 – Professora Mestre do Centro Universitário Fametro – Unifametro
E-mail para correspondência: s.gessica@hotmail.com
Palavras-chave: Rotulagem de alimentos. Composição dos Alimentos. Nutrientes.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
366,71 mg. Os ingredientes mais prevalentes nas amostras foram deletério à maioria dos microrganismos e por isso, é considerado um
água e sal estando ambos presentes em oito das nove amostras de agente conservador de alimentos (8). Notou-se que uma das amostras
milho, e em seis das sete amostras de ervilha. Somente uma amostra com menor teor de sódio apresentava-se como embalagem à vácuo.
de ervilha e uma mostra de milho não continha sal na lista de Em estudo realizado com feijões mostrou que a embalagem selada a
ingredientes. E o açúcar estava presente em uma amostra de milho (G vácuo foi mais eficiente em diminuir a atividade das enzimas
– tabela 2) e o estabilizante cloreto de cálcio em uma ervilha (G – Peroxidase (PER) e Polifenoloxidase (PFO), retardando ainda mais o
tabela 3). escurecimento e endurecimento dos feijões durante o armazenamento
por oito meses em condição ambiente (9). A solução para a ingestão
Tabela 2 – Sódio, fibra e ingredientes em rótulos de milhos em demasia de sódio no Brasil requer tanto a diminuição no teor de
industrializados. Fortaleza (2020) sódio adicionado pela indústria a alimentos processados ou
Código da Sódio Fibra Descrição da lista de ultraprocessados quanto a diminuição na adição de sal a preparações
amostra de (em mg) (em g) ingredientes culinárias (10). Verificou-se nos rótulos do presente estudo que o
milho na na teor de sódio chegou a 20 de percentual de valores diários (%VD) em
porção porção três amostras de ervilhas (A, B e E) que apresentaram uma
de de quantidade de 489 mg de sódio em suas porções e uma amostra de
130 g 130 g milho que chegou à 19 em relação ao %VD (amostra C). Apesar
(1 xícara (1 xícara destes valores, ressalta-se que o %VD para fibras chegou a 25% em
de chá) de chá) uma amostra de milho (amostra G) a qual possuía 6,3 g de fibras na
A 386 3,8 Milho (geneticamente porção e 28% em uma amostra de ervilha (amostra F) a qual possuía
modificado a partir de 7,1 g de fibras na porção. No entanto, cabe salientar que a amostra F
Bacillusthuringiensise/ou de ervilha possuía em sua lista de ingredientes um estabilizante como
Agrobacteriumtumefaciens aditivo alimentar. No caso dos alimentos fonte de carboidratos, o
e Zeamays), água e sal. efeito na saciedade está diretamente relacionado ao teor de fibras
B 0 2,6 Milho verde em grão e presentes na refeição. Elas retardam o esvaziamento gástrico e
água. controlam a velocidade do peristaltismo intestinal, refletindo na
C 447 5,1 Milho verde e salmoura saciedade. Dessa forma, alimentos com grandes quantidades de fibras
(água e sal) contribuem para que o indivíduo coma menos, auxiliando no controle
D 260 3,8 Milho em grãos, água e sal. da ingestão total de alimentos (11). Em relação à rotulagem, uma
E 386 3,8 Milho (geneticamente pesquisa constatou que 70% das pessoas não conseguem interpretar
modificado a partir de as informações expostas nos rótulos, o que pode contribuir para um
Bacillusthuringiensis e/ou consumo inadequado e, como consequência, o risco de algumas
Agrobacteriumtumefaciens doenças ligadas à má alimentação (3).
e Zeamays), água e sal.
F 386 3,8 Milho (geneticamente CONCLUSÃO
modificado a partir
deBacillusthuringiensis Conclui-se que, nas amostras de milho, identificamos uma média de
e/ou 300,67mg de sódio e 4,38g de fibra. A média de sódio das amostras
Agrobacteriumtumefaciens de ervilha foi de 366,71 mg e a média de fibras foi de 3,89g. Os
e Zeamays), água e sal. ingredientes mais prevalentes nas amostras foram água e sal, sendo
G 225 6,3 Milho, água, sal e açúcar. que uma amostra de milho e uma amostra de ervilha não apresentava
H 378 5,0 Milho e salmoura (água e sal na lista de ingredientes. Diante disso, incentiva-se ações de
sal) educação nutricional afim de possibilitar um maior acesso a
I 238 5,2 Milho verde, água e sal. informações sobre rotulagem de alimentos, proporcionando assim,
MÉDIA 300,67 4,38 - uma melhor seleção dos alimentos para o consumo.
Fonte: Dados da própria pesquisa
REFERÊNCIAS:
Tabela 3 – Sódio, fibras e ingredientes na rotulagem nutricional de 1. SILVA, E. R. et al. Tecnologia de Conservação dos Alimentos
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Código da Sódio Fibra Ingredientes Agrotecnologia, [S. L.], v. 4, n. 1, p. 10-14, 2014.
amostra de (em mg) (em g) 2. BRASIL. Resolução-RDC Nº 259, de 20 de setembro de 2002.
ervilha na na Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Diário
porção porção Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 2002.
de130 g de 3. BRASIL. Rotulagem Nutricional Obrigatória: manual de
(1 xícara 130 g orientações às indústrias de alimentos. 2. ed. Brasília: Ministério da
de chá) (1 xícara Saúde, 2005.
de chá) 4. CAVADA, G. S. et al. Rotulagem nutricional: você sabe o que
A 489 3,6 Ervilha, água e sal está comendo? Brazilian Journal Of Food Technology, [S.L.], v.
B 489 3,6 Ervilha, água e sal 15, n. 1, p. 84-88, 30 2012.
C 317 3,5 Ervilha, água e sal 5. BRASIL. Resolução - RDC Nº 54, de 12 de novembro de 2012.
D 325 3,5 Ervilha reidratada, água e Regulamento técnico de porções de alimentos embalados para fins de
sal rotulagem nutricional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov
E 489 3,6 Ervilha, água e sal 2012.
F 407 7,1 Ervilha reidratada, 6. WHO. Guideline: Sodium intake for adults and children. 1 ed.
salmoura Geneva: World Health Organization, 2012.
(água e sal), Estabilizante 7. SARNO, F. et al. Estimativa de consumo de sódio pela população
cloreto de cálcio brasileira, 2008-2009. Revista de Saúde Pública, [S.L.], v. 47, n. 3,
G 51 2,3 Ervilha e água p. 571-578, 2013.
MÉDIA 366,71 3,89 - 8. GAVA A. J; SILVA, C. A. B; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de
Alimentos: Princípios e Aplicações. 1 ed. São Paulo: Nobel, 2008.
Fonte: Dados da própria pesquisa
9. LIMA, R. A. Z.; TOMÉ, L. M.; ABREU, C. M. P. Embalagem a
vácuo: efeito no escurecimento e endurecimento do feijão durante o
A recomendação limite para o consumo de sódio pela Organização armazenamento. Ciência Rural, [S.L.], v. 44, n. 9, p. 1664-1670,
Mundial de Saúde (OMS) é de 2g/dia ou 5g de sal (6). No entanto, 2014.
estima-se que na maior parte dos países o consumo médio de sódio 10. LOUZADA, M. L. C. et al. Ultra-processed foods and the
seja de 2,3g/dia, enquanto que no Brasil, estipula-se que a quantidade nutritional dietary profile in Brazil. Revista de Saúde Pública,
de sódio consumida por pessoa é de 4,7g/dia ou 12g de sal, [S.L.], v. 49, p. 1-11, 2015.
excedendo em mais de duas vezes o recomendado pela OMS (7). O
sal, dependendo de sua concentração, pode proporcionar um efeito
583
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
584
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
traduzidos. De acordo com a RDC Nº 81 (4), é proibida a (5)BNDES,2014. O setor de bebidas no Brasil. Disponível em:
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rotulagem em língua estrangeira. 0O%20setor%20de%20bebidas%20no%20Brasil_P.pdf> Acesso em 15
de maio de 2020.
Os ingredientes principais descritos nos rótulos avaliados são
água, maltes; estes podem ser de diversas variações como
(6)PAES, Ricardo. A construção da qualidade: estudo sobre a
cevada e trigo, lúpulo e levedura. Diante deste item, 93% das legitimação do standard da lei de pureza alemã no mercado catarinense de
marcas obedeceram a legislação. Todas as marcas nacionais cervejas. Disponível em:<
apresentaram essa descrição de maneira legível no rótulo e as https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/130417/TCC%20
marcas importadas apresentaram rótulos com a descrição de Ricardo%20Paes.pdf?sequence=1> . Acesso em 07 de fev de 2020.
ingredientes traduzidas pelas empresas importadoras, seguindo a
legislação, com exceção dos dois rótulos em idioma estrangeiro, (7)MAPA,2017. A Cerveja no Brasil. Disponível em:
sem rótulos traduzidos para a língua portuguesa. Almeida <http://www.agricultura.gov.br/assuntosinspecao/produtos-vegetal/a-
(2018), relatou em sua análise de 10 rótulos em cervejas do tipo cerveja-no-brasil> Acesso em 15 de maio de 2020.
Pilsen, que 100% das marcas obedeceram às normas quanto a
descrição dos ingredientes. (8)BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Decreto Nº 2.314 de 4 de setembro de 1997. Diário Oficial da União:
Silva e Silva (2018)(14) analisaram 148 marcas de cervejas Brasília, 07 de setembro de 1997..
especiais e demonstraram que 23% dos rótulos avaliados
listaram as matérias primas não convencionais empregadas no (9)BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
processamento. Nenhum dos rótulos analisados neste estudo, Instrução Normativa nº 68, de 06 de novembro de 2018. Diário Oficial da
apresentou essa descrição. Segundo a IN nº 68 (10), os rótulos União: Brasília, 16 de novembro de 2018.
de cervejas deverão apresentar na lista de ingredientes todos os
produtos não convencionais. Apesar dos rótulos analisados não (10)ALMEIDA, Regina Amanda França. Avaliação da adequação de
apresentarem essa descrição, a IN promulga a adequação em até rotulagem de cervejas tipo pilsen produzidas no Brasil e
365 dias, portanto as marcas de cerveja ainda estão em tempo comercializadas no Ceará. Disponível em:
hábil para a adequação. <http://www.revistanutrivisa.com.br/wp-
content//uploads/2015/08/nutrivisa-vol-2-num-2-g.pdf> Acesso em 10 de
Em relação a Portaria do Inmetro nº 157/2002, os rótulos
maio de 2020.
devem apresentar conteúdo líquido expressos em ml e com
altura maior ou igual a 3mm. Todos os rótulos analisados estão (11)BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
em conformidade com este item, com exceção de dois rótulos, Sanitária. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Define a
cuja descrição está em língua estrangeira, e por consequência, as rotulagem de todo alimento que seja comercializado, qualquer que seja
unidades de volume estavam indicadas em unidades de medida sua origem, embalado na ausência do cliente, e pronto para oferta ao
não expressas no Sistema Internacional de Medidas. consumidor. Diário Oficial da União: Brasília, 23 de setembro de 2002.
Bebidas alcoólicas são isentas de obrigatoriedade de rotulagem
nutricional, conforme a RDC nº 360/03. Todos os rótulos da (12)BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
amostra não apresentaram tabela nutricional, utilizando assim Sanitária. Resolução RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003. Aprova
essa possibilidade da legislação. Regulamento Técnico de Porção de Alimentos Embalados para fins de
Rotulagem Nutricional. Diário Oficial da União: Brasília, 23 de
As marcas apresentaram conformidade nos itens obrigatórios, dezembro de 2003.
com exceção de dois rótulos em língua estrangeira, as
informações estão legíveis, demonstrando uma preocupação dos (13)BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e
fabricantes em seguir a legislação. Qualidade Industrial - INMETRO. Portaria INMETRO nº 157, de 19 de
agosto de 2002. Diário Oficial da União: Brasília, 20 de agosto de 2002.
CONCLUSÃO
Diante da análise de rotulagem quanto a legislação vigente, foi (14)SILVA, Elga Batista; SILVA, Andrea dos Anjos. Perfil das
observado que 93% da amostra estava em conformidade com a informações complementares na rotulagem de cervejas especiais
lei. A responsabilidade de demonstrar um conteúdo claro ao comercializadas no município do Rio de Janeiro. Brazilian Journal of
Food Research. Campo Mourão. v. 9, n. 1, p. 1-11, jan/mar.2018.
consumidor foi seguida pelos fabricantes de cerveja especial,
apesar de grande parte das cervejarias serem de pequeno porte.
Foi diagnosticado que além dos itens exigidos pela legislação, as
marcas de cervejas especiais apresentam na rotulagem itens que
incentivam a compra como dicas de harmonização e rótulos com
designs atrativos, em detrimento das informações obrigatórias.
O rótulo é a identidade visual do produto, diante de uma vasta
legislação vigente acerca de rotulagem, os resultados mostram
que ainda é preciso fazer ajustes quanto a circulação de rótulos
estrangeiros.
REFERÊNCIAS
(1)SILVA, Hiury Araujo; LEITE, Maria Alvim; PAULA, Arlete
Rodrigues Vieira de. Cerveja e Sociedade. Contextos da Alimentação –
Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade Vol. 4 no 2 – Março de
2016, São Paulo: Centro Universitário Senac.
(2)SANTOS, S. P. Os Primórdios da Cerveja no Brasil. Ateliê Editorial. 1
ed, Cotia, 2003.
586
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Riclenya Alves1, Regina Costa2, Allifer Pereira3, Renata Santos4, Wenicios Chaves2, Fernanda Tavares5, Mayanne
Moraes2.
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco.
2
Graduado (a) em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco.
3
Mestrando em Atividade Física e Plasticidade Fenotípica, Programa de Pós-graduação em Nutrição (UFPE/CAV).
4
Doutoranda em Nutrição do Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco.
5
Docente do curso de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. Correspondência: riclenyapaulina@gmail.com.
Introdução
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), através da Tabela 1. Prevalência do estado nutricional e (in)segurança alimentar
Lei Orgânica e Nutricional (LOSAN), pode ser definida como o dos escolares da comunidade de Ayrton Senna, Recife.
direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentação,
adequada em quantidade e qualidade, sem que haja prejuízo à outras Estado nutricional %
necessidades essenciais (1). No Brasil, programas como o Programa Desnutrição 2,5 (n=1)
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Nacional de Eutrofia 67,5 (n=27)
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) compõem Excesso de peso 30 (n=12)
estratégias de enfrentamento às carências nutricionais, como a Escala EBIA
desnutrição infantil, através da SAN (1). Segurança 12,5 (n=5)
A infância é uma fase dinâmica em relação ao processo de IA leve 37,5 (n=15)
crescimento, sendo vulnerável aos agravos sociais, econômicos e IA moderada 27,5 (n=11)
ambientais, bem como à insegurança alimentar (IA) (2,3). Nesse Ia grave 22,5 (n=9)
sentido, o baixo peso foi considerado um indicador indireto da IA, IA: (In)segurança alimentar
embora recentes estudos indiquem que esse parâmetro pode não
expressar carências nutricionais ou alterações físico-biológicas em Possivelmente, as variáveis investigadas não mostraram
crianças (1). Portanto, são recomendadas as escalas de medida direta e associação com a (in)segurança alimentar devido a homogeneidade
validadas para população, como a Escala Brasileira de Insegurança das características da população estudada e ao pequeno tamanho da
Alimentar (EBIA) (3,4). amostra. Ademais, na área onde o estudo foi realizado, há o
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a segurança predomínio de tráfico de drogas/violência, além de falta de assistência
alimentar domiciliar e o estado nutricional de crianças que residem em a muitas famílias.
uma comunidade de alta vulnerabilidade social no município de
Recife. Tabela 2. Associação entre (In)segurança alimentar domiciliar e
estado nutricional ou características socioeconômicas de escolares da
Material e Métodos comunidade de Ayrton Senna, Recife.
O estudo transversal foi realizado entre agosto e novembro
de 2016. A amostra foi composta por crianças de 7 a <10 anos (n=40) Variáveis SAN INSAN
e seus familiares, residentes na comunidade de Ayrton Senna, Recife- % %
PE. Foram coletados o peso corporal, mensurado em balança IMC/Idadea
mecânica (capacidade:150kg; precisão: 100g), e altura, aferida em Desnutrido/Adequado 53,6 (n=15) 46,4 (n=13)
estadiômetro (amplitude: 200cm; precisão: 1cm). O estado nutricional Excesso de Peso 41,7 (n=5) 58,3 (n=7)
foi classificado conforme escore z, estabelecido pela OMS, e Anos de estudo do (a) chefe da
utilizando IMC/Idade. A (in)segurança alimentar foi avaliada pela casaa
aplicação da EBIA, contendo perguntas relativas à percepção do <4 anos 56,2 (n=9) 43,8 (n=7)
entrevistado nos últimos 3 meses (4). Foi atribuído (1) em respostas >4 anos 45,8 (n=11) 54,2 (n=13)
positivas e (0) para as negativas, o somatório resultante foi Status de trabalho do (a) chefe
classificado em quatro níveis: 0, segurança alimentar; 1-5, IA leve; 6- da casaa
10, IA moderada; e 11-15, IA grave. Desempregado/Não trabalha 38,5 (n=5) 61,5 (n=8)
Foram aplicados os testes de Qui-quadrado com correção Empregado/ 55,6 (n=15) 44,4 (n=12)
de Yates ou F de Fisher para associação de variáveis qualitativas. Foi Autônomo/Esporádico
utilizado o software SPSS versão 13.0. Tratamento da água de bebera
(CAAE55654616.0.0000.5208). Sem tratamento 42,9 (n=6) 57,1 (n=8)
Filtrada/Mineral 53,8 (n=14) 46,2 (n=12)
Resultados e Discussão Destino do lixob
Coletado 51,4 (n=18) 48,6 (n=17)
No presente estudo, a prevalência de excesso de peso foi de 30% e a Não coletado 40 (n=2) 60 (n=3)
eutrofia 67,5% (Tabela 1). Esses resultados se aproximam dos Número de pessoas/domicílioa
observados em escolares de São Leopoldo, município do Rio Grande 1-4 54,5 (n=12) 45,5 (n=10)
do Sul, sendo 38% com excesso de peso e cerca de 76% de eutrofia >5 44,4 (n=8) 55,6 (n=10)
(2,3). Em relação à EBIA, cerca de 87,5% da população apresentava a= Teste Qui-Quadrado de Pearson, com correção de Yates; b= Teste
algum grau de insegurança alimentar, valores próximos aos de São Exato de Fisher.
Leopoldo-RS e do semiárido de Pernambuco, com cerca de 74% e
87%, respectivamente (Tabela 1) (2,5). Não houve associação entre as Conclusão
variáveis socioeconômicas ou estado nutricional com a IA, divergindo No presente estudo foi observado que as crianças se
da associação inversa observada em escolares de São Leopoldo-RS (2) encontram num ambiente de insegurança alimentar, apesar disso
(Tabela 2). houve a alta prevalência de excesso de peso e não se correlaciona com
variáveis socioeconômicas.
587
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Referências
1.VASCONCELOS, ABPA; MOURA, LBA. Segurança alimentar e
nutricional: uma análise da situação da descentralização de sua
política pública nacional. Cad. Saúde Pública. 34(2)1-13, 2018.
2.VICENZI, K.; HENN, RL.; WEBER, AP.; BACKES, V.; PANIZ,
VMV; DONATTI, T.; OLINTO, MTA. Insegurança alimentar e
excesso de peso em escolares do primeiro ano do Ensino Fundamental
da rede municipal de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad.
Saúde Pública. 31(5)1-11, 2015.
3.PEDRAZA, DF.; SILVA, FA.; MELO, NLS; ARAUJO, EMN;
SOUSA, CPC. Estado nutricional e hábitos alimentares de escolares
de Campina Grande, Paraíba, Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva. 22(2),
469-477, 2017.
4.TRIVELLATO, PT.; MORAIS, DC.; LOPES, SO.; MIGUEL, ES.;
FRANCESCHINI, SCC.; PRIORE, SE. Insegurança alimentar e
nutricional em famílias do meio rural brasileiro: revisão sistemática.
Ciênc. Saúde Coletiva. 24(3), 865-874, 2019.
5.OLIVEIRA, J. S.; LIRA, P. I. C.; ANDRADE, S. L. L. S.; SALES,
A. C.; MAIA, S. R.; FILHO, M. B. Insegurança Alimentar e estado
nutricional de crianças de São João do Tigre, no semi-árido do
Nordeste. Rev. Bras. Epidemio. 12(3), 413-423, 2009.
588
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Ezequias N. S. Berto1, Eduarda G. da Silva2, Kethelin C. L. de Oliveira 3, Raquel A. Loss4, Claudinéia A. Q. Geraldi5,
Sumaya F. Guedes6
1
Agronomia/Discente de graduação, Agronomia/Discente de graduação, 3Bacharel em Agronomia/Mestre em Ciências,
2
4
Engenheira de Alimentos/Doutora em Engenharia de Alimentos, 5Engenheira Química/Doutora em Engenharia Química,
6
Licenciada em Química/Doutora em Ciências. 1-6Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail:
sumayaguedes@unemat.br.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O experimento foi conduzido na área experimental da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), no Campus de A cobertura com milheto proporcionou maior massa e diâmetro
Nova Mutum - MT, localizada na latitude: 13º48'18,5" sul, longitude: às cenouras com uma média de 22,20 g e 18,5 mm respectivamente,
56º04'59,8" oeste, altitude: 487 m, clima tropical, do tipo Aw, segundo enquanto a testemunha apresentou uma média de 14,1 g e 13,8 mm.
a classificação de Köppen-Geiger; caracterizado por uma estação Em comparação ao comprimento, a testemunha teve um maior valor
chuvosa, de outubro a abril, e uma estação seca, de maio a setembro, com 12,23 cm enquanto o milheto apresentou 11,49 cm.
sendo a temperatura média anual de 24°C e a precipitação média anual
entre 1850 e 2400 mm.
589
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Como a cenoura é comercializada pelo seu peso, o incremento 12- NETTO, D. A. M.; DURÃES, F. O. M. (ed). Milheto: tecnologias
em sua massa é buscado pelos produtores, podendo assim com os de produção e agronegócio. Embrapa Informação
mesmos tratos culturais e na mesma área aumentar sua produção e Tecnológica/Milho e Sorgo, Brasília: 2005. 451p.
consequentemente seu lucro. Em relação as folhas, foi observado o
mesmo comportamento, com maiores massas e crescimento das folhas 13- SALGADO, J.A.A.; ALMEIDA, D.L.; GUERRA, J.G.M.;
das cenouras cultivadas com a cobertura do milheto (9,30 g e 19,58 RIBEIRO, R.L.D. Balanço de nutrientes em cultivos de hortaliças sob
cm, respectivamente) em comparação com a testemunha (5,34 g e manejo orgânico. EMBRAPA-CNPAB, Seropédica: 1998. 9p.
17,36 cm, respectivamente). 14- SANTOS CAB; ZANDONÁ SR; ESPINDOLA JAA; GUERRA
Confirmando a hipótese que as plantas de cenoura demonstram JGM; RIBEIRO RLD. Efeito de coberturas mortas vegetais sobre o
menor desenvolvimento, principalmente de raiz, quando colocada desempenho da cenoura em cultivo orgânico. Hort. Bras. v. 29: p.
exposta a ambiente de competição, pois as plantas de cenoura se 103-107, 2011.
apresentam menores tanto para parte aérea quanto no comprimento e
diâmetro das raízes. (12)
Segundo Salgado et al. (1998), a disponibilidade de composto
orgânico próximo ao sistema radicular das plantas é um aspecto
desejável para a cultura, a qual resulta em uma maior penetração e
distribuição radicular, aumento os índices de desenvolvimento da
cultura. (13)
Para Santos et al. (2011), o aumento na produtividade está
relacionado quanto a disponibilização de nutrientes pela acelerada
decomposição da cobertura morta e pelo controle eficiente da
população de plantas daninhas. (14)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
590
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
591
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
592
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam Tabela 1. Parametrização da Severidade do Problema
grande dificuldade manter uma dieta apropriada e frequentemente
apresentam alterações do estado nutricional, devido à alta ÍNDICE SEVERIDADE CRITÉRIO
seletividade e recusa. Também reconhecemos várias desordens
gastrointestinais que podem acometer os autistas, em geral 1
relacionadas à deficiência de enzimas digestivas, inflamações da
Dificuldade resolvida apenas com
parede intestinal, e a permeabilidade intestinal alterada, a soma MÍNIMA
aumento do esforço do cuidador.
destes fatores tornam o aspecto nutricional um fator marcante no
desenvolvimento destes pacientes (1, 2).
Tais desordens podem apresentar respostas excessivamente vigorosas
a estímulos prejudiciais ao organismo, denominados de disfunção de 2 Dificuldade resolvida apenas com
modulação sensorial, tornando bastante sofrida a oferta de nutrientes aumento do esforço do cuidador.
3 PEQUENA
que consideramos importantes (3, 4). Ligeira ou moderada mudança
A fim de reduzir estes problemas e proporcionar qualidade de vida custo mensal.
aos autistas por meio da alimentação, foi realizado um projeto
multidisciplinar, reunindo esforços da nutrição, da nutrologia e da 4 Dificuldade nem sempre
gastronomia para atender os requisitos e necessidades destas crianças resolvida com aumento
e seus cuidadores. Cumprindo a premissa de “fazer com eles e não 5 importante do esforço do
MODERADA
por eles”. O grupo tem o propósito não de tomar e determinar cuidador.
6 Importante mudança custo
condutas a estes pacientes e cuidadores, e sim colaborar para
viabilizar suas próprias soluções, utilizando técnicas e expertises mensal.
destes profissionais que agora se envolvem neste projeto. A ação do
projeto visa evitar ao máximo os estímulos não tolerados, que se 7 Levando a comprometimento do
tornam, portanto, deletérios. Além disso, se propõe aperfeiçoar ALTA estado nutricional
8 Leve ou moderado.
preparações que causam estímulos confortáveis e benéficos para
estes seres humanos, pouco compreendidos.
9 Levando a comprometimento
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar um modelo
grave do estado nutricional com
sistematizado da interação desse processo envolvendo nutrologia e 10 MUITO ALTA
quadro estabilizado ou ainda
gastronomia para atendimento dos requerimentos, necessidades e
deteriorando.
preferências de autistas atendidos.
593
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
A seguir serão apresentados resultados preliminares das etapas comportamento do autista, inclusive avanços na comunicação e na
citadas. cognição quando realizavam substituições de alimentos (como por
As entrevistas e coleta de informações sobre os problemas foram exemplo, a troca do leite de vaca por leite de camelo).
realizadas em consultório de Nutrologia localizado em Fortaleza - Ao contrário da identificação das crianças com desnutrição nesse
CE, com atendimento aos pacientes (crianças) com autismo. A projeto, Caetano e Gurgel (2018) (8) constataram elevados índices de
classificação e análise dos problemas de maneira parametrizada, foi sobrepeso, obesidade e inadequação na ingestão de vitaminas e
obtida em reuniões com todo o grupo na dependência da clínica minerais em crianças autistas após avaliarem seu estado nutricional.
médica, conforme as Tabelas 1, 2 e 3. A Tabela 3 proporcionou a tomada de decisão (conduta) conforme a
Tais tabelas possibilitaram a formação de uma percepção unificada situação de cada paciente autista por meio da intervenção na
dos pacientes com autismo. Apesar das diferentes expertises dos alimentação, como por exemplo, através da elaboração de
profissionais do grupo as tabelas permitiram a estruturação de um preparações a fim auxiliar na resolução dos diferentes problemas.
fluxo de conceitos e análises a fim de favorecer para a determinação As preparações elaboradas como bolos, pães, sucos, farofas e várias
do nível de prioridade (Tabela 1 e 2), entendimento da efetividade receitas fortificadas, ainda não foram suficientes para formulação de
um manual ou livro. Contudo, é objetivo do grupo de trabalho a
das soluções (Tabela 3) e dos produtos propostos (preparações
publicação deste tipo de material.
desenvolvidas).
A gastronomia tem papel importante nesse projeto, pois confere
soluções para os diferentes problemas encontrados em relação a
Tabela 3. Índice do tipo de resolução x conduta. alimentação dos autistas, os quais são sensorialmente seletivos. Essa
ÍNDICE RESOLUÇÃO CONDUTA parceria vem engrandecer esta ciência principalmente pela
interdisciplinaridade da ação.
Simples mudança de um item
1 MUITO ALTA CONCLUSÃO
do cardápio.
594
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
595
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
não terem uma estatura relativamente alta. Quando comparados os índices O estudo mostrou que os participantes do programa
dos não participantes com os dos participantes do PBF, verifica-se que o apresentam resultados antropométricos, de consumo alimentar e
primeiro grupo supera nos quesitos ‘peso/estatura’, ‘estatura/idade’, escolaridade negativos ou inferiores quando comparados aos não
‘IMC/idade’ e ‘peso/estatura’ os valores apresentados por aqueles que são participantes e que muito provavelmente essa diferença seria ainda maior
beneficiários, indicando que neste caso, o programa vem cumprindo o se estas mesmas famílias não fizessem parte do programa.
objetivo de contemplar as famílias, e consequentemente as crianças, mais
carentes e que estão em maior risco nutricional. Contudo, ainda assim é necessário que sejam feitas melhorias
no processo de fiscalização e funcionamento do PBF, pois tudo aquilo que
Em relação a classificação do estado nutricional das crianças não se renova se torna obsoleto, para que desta forma o programa consiga
avaliadas foi possível verificar que a amostra geral, independentemente focar realmente naquelas famílias que estão em maior insegurança
de ser beneficiário do PBF ou não, teve mais da metade dos participantes alimentar e nutricional.
na classificação ‘adequada/eutrofia’, embora também seja possível
observar algumas classificações que realçam o excesso de peso nas REFERÊNCIAS
crianças. Esta condição foi mais prevalente naqueles alunos que não eram
participantes do PBF. Em contrapartida, as classificações que indicam o (1) Bezerra TA, Olinda RA, Pedraza DF. Insegurança alimentar no
‘baixo peso’ e ‘baixa estatura’ foram observadas exclusivamente nos Brasil segundo diferentes cenários sociodemográficos. Cienc Saude
alunos que eram cadastradas no PBF. Coletiva. 2017; 22(2): 637-5.
Quando se analisou a relação da renda familiar com o estado (2) Priore SE, Sperandio N. Prevalência de insegurança alimentar
nutricional das crianças, percebeu-se que as famílias que tinham renda domiciliar e fatores associados em famílias com pré-escolares,
inferior a 1 salário mínimo apresentaram maior prevalência nas beneciárias do Programa Bolsa Família em Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
classificações ‘magreza/baixo peso’ e ‘baixa estatura’. Além disso, as Epidemiol. Serv. Saúde. 2015; 24(4): 739-748
famílias com renda superior a 1 salário mínimo tinham maior
representatividade percentual nos parâmetros que indicam o excesso de (3) Kepple AW, Segall-Correa AM. Conceituando e medindo segurança
peso, em que é possível supor que a renda familiar parece ter relação direta alimentar e nutricional. Ciênc Saude Coletiva. 2011; 16(1): 187-199.
com peso dessas crianças.
(4) Ribeiro AA, Pessoa MTG, Azevedo SMU, Oliveira VTL, Meireles
Em relação ao consumo alimentar dos escolares, constatou-se AL. Caracterização socioeconômica, estado nutricional e prevalência de
que os alunos que tinham práticas alimentares positivas são ampla minoria
insegurança alimentar em idosos usuários do restaurante popular de um
nos três grupos (amostra geral, participantes do PBF e não participantes).
município do nordeste brasileiro. Rev Cienc Plural. 2016; 2(3): 59-71.
Nota-se ainda que os participantes do PBF também são minoria dentre
aqueles que tem um consumo alimentar positivo e são maioria dentre
(5) Ruschel LF, Henn RL, Backes V, De Melo P, Marques LAS, Olinto
aqueles que tem o consumo alimentar negativo. Observou-se que 74,56%
das famílias cadastradas no programa tinham renda igual ou inferior a 1 MTA. Insegurança alimentar e consumo alimentar inadequado em
salário mínimo, portanto, tendiam a adquirir alimentos de alta densidade escolares da rede municipal de São Leopoldo, RS, Brasil. Cienc Saude
calórica e que eram mais acessíveis financeiramente, tais como Coletiva. 2016; 21(7): 2275-85.
embutidos, sucos artificiais, doces e balas, sendo o consumo de
marcadores alimentares positivos mais frequente nas famílias com renda (6) Ferreira HS, Souza MECA, Moura FA, Horta BL. Prevalência e
superior a 1 salário mínimo, embora a prevalência maior, em ambos os fatores associados à insegurança alimentar e Nutricional em famílias dos
grupos, seja de marcadores alimentares negativos. municípios do norte de Alagoas, Brasil, 2010. Ciênc & Saude Coletiva,
2014; 19(5): 1533-1542.
Outros pontos também foram observados e merecem destaque:
escolaridade em relação a participação no PBF; e escolaridade e consumo (7) Victora C, Aquino EML, Leal MC, Monteiro CA, Barros FC,
alimentar. No primeiro, notou-se que dentre aqueles responsáveis que Szwarcwald CL. Saúde de mães e crianças no Brasil: progressos e
tinham uma escolaridade inferior a 11 anos, os participantes do PBF desafios. Lancet 2011;377(9780):1863-76.
tinham maior representatividade percentual do que quando comparado a
amostra geral e aos não participantes. Já no grupo dos responsáveis que (8) Pedraza DF, Rocha ACD, Sousa CPC. Crescimento e deficiências de
tinham 11 anos de estudos ou mais, verificou-se o contrário, os não micronutrientes: perfil das crianças assistidas no núcleo de creches do
participantes detinham o maior percentual e os participantes eram governo da Paraíba, Brasil. Cienc Saude Coletiva. 2013; 18(11):3379-
minoria, ou seja, o programa abrange em sua maioria, aqueles 3390
responsáveis com escolaridade inferior e que são menos favorecidos no
âmbito social, e a medida que a escolaridade aumenta diminui-se a chance (9) Ferreira AA. Avaliação do crescimento e crianças: a trajetória das
de ser beneficiário. curvas de crescimento. Demetra. 2013; 7(3): 191-202.
No que diz respeito a escolaridade e consumo alimentar,
(10) Blössner M, Borghi E, De Onis M. Prevalence and trends of
observou-se que à medida que se aumentava a escolaridade do
stunting among pre-school children, 1990–2020. Public health
responsável, diminuía a prevalência do consumo de alimentos marcadores
negativos. No entanto, a maior escolaridade não influenciava ou não se nutrition. 2017; 5(1) :142-48.
convertia em melhores hábitos alimentares, já que independentemente da
escolaridade, o consumo alimentar negativo foi amplamente superior ao (11) Coelho PL, Melo ASSA. Impacto do Programa “Bolsa Família”
consumo alimentar positivo. sobre a qualidade da dieta das famílias de Pernambuco no Brasil. Cienc
Saude Coletiva. 2017; 22(2): 393-02.
CONCLUSÕES
(12) BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A partir de um dos principais objetivos do PBF, que é o de Dados estatísticos provenientes do censo demográfico de 2010. Rio de
promover o aumento da escolaridade, saúde e segurança alimentar Janeiro: IBGE; 2010. Disponível em: Acesso em: 24 de abril de 2017.
daquelas famílias que se encontram as margens da sociedade e que
englobam a parcela da população brasileira que vive dentro ou próximo (13) WHO EXPERT COMMITTEE et al. Physical status: the use and
da linha de pobreza, foi possível concluir com este estudo que o programa interpretation of anthropometry. Report of a WHO Expert
vem tendo êxito, uma vez que boa parte das famílias que estavam em risco Committee. World Health Organ Tech Rep Ser, v. 854, p. 1-452,
nutricional eram contempladas com o recebimento do benefício. 1995.
Na medida em que o programa exige que sejam cumpridas (14) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
contrapartidas para a continuidade do recebimento do benefício, outras
Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de
variáveis tendem apresentar resultados mais positivos, sendo esse um
marcadores de consumo alimentar na atenção básica. Brasília, 2015.
processo que ocorre em médio a longo prazo, portanto, não se justifica
cobrar resultados imediatos para que se comprove a importância que o
programa tem para o desenvolvimento do país e no combate à pobreza e
desnutrição dessas famílias.
596
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
E-mail: barbarantos@gmail.com
Introdução: Os restaurantes universitários são um tipo de unidade de palma, quiabo, vinagreira, algaroba; leguminosas - feijão, feijão-de-
alimentação e nutrição (UAN), inseridos nas ações de auxílio a corda, feijão-verde, guandu; tubérculos, raízes e cereais - araruta,
alimentação do Plano Nacional de Assistência Estudantil, o qual gergelim, inhame, junca, mandioca, sorgo, farinha de tapioca; ervas,
viabiliza a igualdade de oportunidades e contribui com a melhoria de condimentos e temperos - cebolinha e coentro (6). A tabulação dos
desempenho dos estudantes universitários (1). Esses locais têm um dados foi realizada por meio do software Excel® 2017.
público bem definido, os universitários e comunidade acadêmica,
devido a necessidade de realizar a refeição no espaço de estudo e/ou Resultados e Discussão: Promover uma educação alimentar com o
trabalho. Além disso, otimiza o tempo dos usuários de deslocamento consumo de alimentos saudáveis permeia também o campo da escolha
para a refeição e o retorno as atividades pertinentes. Outro ponto de produtos alimentícios relacionados a cultura e produção local,
relevante é que o restaurante universitário se torna um dos únicos estimulando o fortalecimento da agricultura familiar e sustentabilidade
lugares de fornecimento de alimentação de baixo custo, adequada e (3, 7, 8). A Tabela 1 mostra a frequência encontrada da presença de
saudável dentro das instituições de ensino. Nesse sentido, conduz a alimentos regionais nos cardápios da UAN. Os itens de frutas e
discussão dos aspectos socioculturais da alimentação quanto ao prisma leguminosas apresentaram frequência superior a 50%. A análise dos
cultural e de desigualdades sociais arraigados no conceito Política cardápios da UAN universitária deste estudo revelou um aparecimento
Nacional de Alimentação e Nutrição (2,3). O estilo de vida e os continuado de alimentos regionais estabelecidos pelo Ministério da
padrões de alimentação estão correlacionadas com o aumento na Saúde para a região Nordeste brasileira (6). A presença no cardápio do
incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como as feijão, quiabo, abóbora e coco revela os alimentos típicos da
doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus, entre outras. localidade. Porém, outros alimentos regionais bem como preparações
No Brasil, essas doenças correspondem a 72% das causas de morte (4). elaboradas tendo como matéria-prima esses poderiam ser mais
Além disso, dados da Pesquisa Nacional de Saúde em 2013, mostram frequentes e variados nos cardápios avaliados. No estudo feito por
que mais de 45% da população adulta relata pelo menos uma Benvindo, Pinto e Bandoni (9), no qual avaliaram os cardápios de
comorbidade (4,5). Nesse âmbito, enfatiza-se a necessidade do diversos restaurantes universitários do Brasil, evidenciaram que, ao
nutricionista avaliar os cardápios com o propósito de ofertar refeições analisar o consumo de frutas regionais na região Nordeste, observaram
equilibradas, variadas, culturalmente aceitas e promover hábitos a presença apenas de banana-nanica e mamão. Já o trabalho de Abreu
alimentares mais saudáveis. Assim, esse trabalho tem como objetivo et al. (10) assemelha-se ao presente trabalho, afinal observaram nos
avaliar a oferta regional dos alimentos fornecidos no Refeitório cardápios estudados a inclusão de acerola, banana da terra, cajá, caju,
Universitário do Campus Professor Antônio Garcia Filho da coco, dendê, mamão, maracujá e umbu. Apesar da diversidade de
Universidade Federal de Sergipe, Lagarto (RefLag). frutas como a acerola, umbu/cajá, caju, coco e maracujá nos cardápios
avaliados, esses alimentos encontram-se em preparações e não in
Material e Métodos: Trata-se de um estudo transversal de caráter natura. Os alimentos regionais e as principais preparações que foram
qualitativo no RefLag. A coleta dos dados foi realizada durante os utilizados encontram-se na Tabela 2. Dentre as frutas regionais que
meses de julho a dezembro de 2019 totalizando 23 cardápios em 107 apareceram em 56,07% nos cardápios, a que foi mais presente nas
dias da UAN estudada. A execução da pesquisa ocorreu em três etapas. refeições foi a acerola, sendo oferecido na forma de suco. Em relação
Na primeira etapa foram avaliadas as preparações diariamente, na as hortaliças presentes em 40,19% dos dias estudados o quiabo foi o
segunda etapa, semanalmente, e por último e terceira etapa, foi principal alimento regional ofertado em preparações como o feijão e a
avaliada mensalmente, no qual os dados semanais foram agrupados e carne. Quanto as leguminosas, a única ofertada foi o feijão (97,2%)
tabulados em percentuais em relação ao número total de dias dos carioca e preto nos cardápios. A mandioca foi o único tubérculo
cardápios estudados. Seguindo a publicação “Alimentos Regionais regional presente no cardápio (25,23%), sendo ofertado como farofas
Brasileiros”, Ministério da saúde (6), foram avaliados a presença de e macaxeiras fritas e no grupo de ervas e temperos, apenas o coentro
alimentos da região nordeste. Assim, foram analisados o aparecimento (6,54%) esteve presente no cardápio.
dos alimentos nas preparações: frutas – acerola, banana-nanica,
banana-da-terra, cacau, cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê,
fruta-pão, graviola, juá, mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo,
umbu; hortaliças - abóbora, agrião, jurubeba, major-gomes, maxixe,
Tabela 1. Análise da presença de alimentos regionais da UAN estudada, Lagarto (SE), Brasil.
597
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Tabela 2. Alimentos regionais e suas principais preparações contidos nos cardápios da UAN estudada, Lagarto (SE), Brasil.
Leguminosas Feijão Feijão em caldo, feijão em caldo com abóbora ou quiabo ou repolho ou couve
Tubérculos, Raízes e Mandioca Farofa com soja, farofa com cenoura, macaxeira de forno
Cereais
598
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: bacteriocinas, concentração inibitória plaqueamento de todos os tempos, as placas foram incubadas a 37 °C
mínima, inibição; por 24 horas e então feito a contagem do número de colônias (4).
A nisina é uma bacteriocina pertencente ao grupo dos O efeito da nisina sobre Listeria pode ser observado na
lantibióticos da sub classe Ia, sendo assim, é um peptídeo catiônico e figura 1.
hidrofóbico produzido comumente por bactérias comuns do leite e seu
mecanismo de atuação é baseado na formação de poros na membrana,
ocasionando o efluxo do material (1). Seu espectro de ação ainda é 9,00
bastante limitado, com isso a nisina tem maior efeito sob as bactérias 8,00
Gram + pois estas têm maior proximidade taxonômica com as bactérias
produtoras deste composto. Os gêneros Lactococcus, Streptococcus, 7,00
Staphylococcus, Micrococcus, Pediococcus, Lactobacillus, Listeria e Log UFC/mL 6,00
Mycobacterium são exemplos de microrganismos inibidos pela nisina.
As bactérias Gram – por terem uma membrana extracelular são menos 5,00
afetadas pela nisina, sendo assim para ter melhor atuação é necessário
4,00
causar o um estresse nestes microrganismos (2). Com isso, o objetivo
deste trabalho foi investigar o potencial inibitório da nisina sobre os 3,00
microrganismos Listeria monocytogenes ATCC 7644 e Staphylococcus
2,00
aureus ATCC 700696.
1,00
MATERIAIS E MÉTODOS 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (minutos)
1. Preparo das culturas 1,25 1 0,75 0,50 0,25
599
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
9,00
8,00
7. P., M.; C., A.; P. A. C.; S. A; S., P. H.; S. D.; P. J.; S. A. The effects of
7,00 nisin on Staphylococcus aureus count and the physicochemical
properties of Traditional Minas Serro cheese. International Dairy
Log UFC/mL
6,00
Journal. 21. 90-96. 2011. Disponível em:
5,00 10.1016/j.idairyj.2010.08.001.
4,00
8. 8. T., V. A. M. Efeito da nisina na multiplicação de Staphylococcus
3,00
aureus e nas características físico-quimicas, reológicas e
2,00 microbiológicas do queijo minas artesanal da Serra da Canastra – MG.
Dissestação (Doutorado em Ciências e Tecnologia de Alimentos) –
1,00
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2018.
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (minutos)
1,25 1,0 0,75 0,50 0,25
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
2. B., S,; M., M.; C., J.; T., C.; C, G.; S., C. Inhibiting Gram-negative
bacteria growth in microdilution by Nisin and EDTA treatment. Journal
of biotechnology and biodiversity. vol.3. 127-133. 2012. Disponível
em: 10.20873/jbb.uft.cemaf.v3n 4.bordignon. Acesso em: 07 de
setembro de 2020.
6. V., H. R. S.; G., E. A.; F., A. P. G; D., G. S.; M., A. S. Efeito de nisina
e pediocina sobre culturas de Staphylococcus aureus isoladas de
carcaças de frango. Revista Brasileira de Biociências, v. 16, p. 21-27,
2018.
600
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Camila Teixeira1, Raiane Silva2, Luis Gustavo Nascimento1, Luana Souza1, Evandro Martins3, Antônio de Carvalho3
1
Doutorando(a) em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
2
Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
3
Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
Autor correspondente: camila.g.goncalves@ufv.br
foram ativas em caldo BHI (Oxoid) a 37 °C por 24 h. Em seguida, os
tubos foram centrifugados a 4500 rpm por 10 minutos (Thermo
Palavras-chave: Preservação de alimento, bacteriocina, Scientific, Langenselbold, Alemanha), o sobrenadante descartado e o
precipitado foi lavado com solução salina 0,85%. Esse procedimento
liberação controlada foi realizado duas vezes consecutivas. Por fim, houve a ressuspensão
do precipitado em caldo BHI (Oxoid).
INTRODUÇÃO
Análise microbiológica
As bacteriocinas constituem um grupo heterogêneo de
peptídeos antimicrobianos ou proteínas, sintetizados A atividade antimicrobiana das cápsulas de nisina contra o
ribossomicamente, que exibem atividade antimicrobiana contra patógeno L. monocytogenes ATCC 7644 em leite foi realizado de
bactérias sensíveis por diferentes mecanismos de ação (1, 2). A nisina acordo com Perin et al. (2013), com modificações (11). As culturas de
se trata de uma bacteriocina que possui status GRAS ("Generally L. monocytogenes foram inoculadas em 3 frascos contendo leite
Recognized As Safe") devido a sua baixa toxicidade e alta eficiência desnatado reconstituído (LDR, 10%, p / v, 100 mL por frasco, Molico,
como conservante (3). Esta bacteriocina atua contra micro-organismos Nestlé Brasil Ltda., São Paulo, Brazil). Cada tratamento foi preparado
Gram-positivos devido a sua atuação na membrana celular gerando da seguinte forma: Tratamento 1, leite inoculado apenas com L.
poros e liberação de componentes essenciais como íons K+, monocytogenes a uma concentração de 1,8x106 UFC·mL-1; Tratamento
aminoácidos e ATP, levando, por fim, à lise celular (4). Alguns dos 2, leite adicionado de nisina (12,5 mg·kg-1) e 1,8x106 UFC·mL-1 de L.
micro-organismos que estão dentro do espectro de atuação da nisina são monocytogenes; Tratamento 3, leite adicionado de cápsulas de nisina a
Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes e Enterococcus uma concentração final no leite de 12,5 mg·kg-1 de nisina e 1,8x106
faecalis, comumente encontrados em leite e produtos oriundos de leite UFC·mL-1 de L. monocytogenes. Os tratamentos foram mantidos a 10
cru como queijos artesanais (5). A inibição dos patógenos persiste °C por 72 h e realizou-se plaqueamento “spread plate” em duplicata
enquanto houver nisina ativa presente no meio, uma vez que as nos tempos 0h, 0,5h, 1h, 2h, 8h, 24h e 72h. O experimento foi realizado
moléculas de nisina que atuam contra os patógenos perdem sua com duas repetições.
funcionalidade após o processo (4). A adição de nisina ao alimento
ocorre mais comumente de forma direta, o que implica em uma inibição RESULTADOS E DISCUSSÃO
imediata de parte dos micro-organismos presentes no alimento
perdendo sua eficácia em um curto espaço de tempo (6). Além disso Os resultados obtidos ao longo do tempo de incubação estão
pode resultar em aquisição de resistência à bacteriocina pelas bactérias apresentados na figura 1.
remanescentes (7). O processo de encapsulamento de compostos
bioativos é uma alternativa para controlar a liberação desses compostos Figura 1. Curva de crescimento de L. monocytogenes ATCC 7644 nos diferentes
para o alimento estendendo seu tempo de atuação, além de proteger e tratamentos.
isolar, evitando interferência da matriz alimentar sobre os mesmos (8). 8,4
Nisina já foi encapsulada em lipossoma, porém apesar de eficiente se 8,2
trata de uma tecnologia bastante cara (9). Com base nisso, o objetivo do 8,0
trabalho foi verificar a atuação de nisina encapsulada frente ao patógeno
Log UFC/mL
7,8
L. monocytogenes em leite.
7,6
MATERIAIS E MÉTODOS 7,4
7,2
Produção das cápsulas de nisina 7,0
6,8
As cápsulas foram elaboradas através do método de 6,6
gelificação direta como descrito por Narsaiah et. al. (2014) com 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
modificações (10). Inicialmente, alginato de sódio (Dinâmica, São Tempo (horas)
Paulo, Brasil) foi disperso em água deionizada em 3 concentrações
distintas 15, 20 e 25 g·L-1. Após completa reidratação do alginato Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3
(Dinâmica), nisina (Globalfood, Lubeque, Alemanha) foi adicionada
em todos os sistemas na concentração de 1,2 g·L-1. A nisina foi dispersa
usando agitador magnético (SPlabor, São Paulo, Brasil) a 700 rpm, até Comparando-se as curvas de crescimento obtidas nota-se
completa reidratação, que ocorreu em aproximadamente 15 minutos. que o leite adicionado diretamente de nisina (tratamento 2) apresentou
Para o início do processo de gelificação, a suspenção resultante foi uma rápida diminuição das contagens até as duas primeiras horas de
gotejada a uma distância de 6 cm em banho de cloreto de cálcio incubação aproximadamente. Após este período, as estirpes de L.
(Macalé, Minas Gerais, Brasil) à 20 g·L-1 sob agitação constante. As monocytogenes voltaram a se multiplicar uma vez que, provavelmente,
cápsulas formadas permaneceram em contato com o banho por 5 não houve mais disponibilidade de nisina ativa no meio (4, 6). Já o leite
minutos, quando foram cuidadosamente retiradas e o excesso de adicionado de nisina encapsulada (tratamento 3), apresentou uma baixa
umidade foi removido pela exposição das capsulas ao ambiente por 1 redução da contagem do micro-organismo nas primeiras horas de
hora (temperatura 25 ). incubação em comparação com o tratamento 2. Porém, ao longo do
tempo as contagens de L. monocytogenes foram reduzindo até o tempo
Preparo da cultura 8 horas de incubação quando as estirpes voltaram a se multiplicar. Os
resultados mostram que as cápsulas liberaram as moléculas de nisina de
As culturas de Listeria monocytogenes ATCC 7644 foram forma controlada e mais lentamente ao meio havendo, portanto, um
oriundas da coleção de culturas do laboratório de leite e derivados controle da multiplicação do patógeno e sua inibição por um maior
(INOVALEITE) do departamento de ciência e tecnologia de alimentos período de tempo (8). Brasileiro (2010) avaliou a utilização de nisina
da Universidade Federal de Viçosa. As culturas estavam armazenadas encapsulada em mortadela contra o patógeno Listeria monocytogenes e
sob congelamento ( -60 °C) em solução de caldo Brain Heart Infusion seus resultados corroboram com os obtidos nesse trabalho uma vez que
(BHI, Oxoid, Hampshire, Reino Unido) mais glicerol (Synth, São houve uma inibição do patógeno durante um período maior de tempo
Paulo, Brasil) a uma concentração final de 30% de glicerol. As culturas provando a eficácia da técnica de encapsulamento (12). Já Malheiros et.
601
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
(3) C., J.; M., T.J.; N., I.F.; C., L.M. Bacteriocins: Safe, natural
antimicrobials for food preservation. International Journal of Food
Microbiology, 71:1-20, 2001.
(4) M., I.; L., A.L.S.; B., V.L.S. Efeito e modo de ação das
bacteriocinas produzidas por Lactococcus lactis subsp. lactis ITAL 383,
ATCC 11454 e CNRZ 150 contra Listeria innocua LIN 11. Ciência
Tecnologia Alimentos, 19(1):23-8,1999.
(7) K. G.; S., T. P.; M., R. K.; B. A.; Antibacterial efficacy of nisin,
pediocin 34 and enterocin FH99 against L. monocytogenes, E. faecium
and E. faecalis and bacteriocin cross resistance and antibiotic
susceptibility of their bacteriocin resistant variants. J Food Sci Technol.
2011. Disponível em: doi:10.1007/s13197-011-0500-3. Acesso em: 6
de setembro de 2020.
(11) P., L. M.; M., R. O.; C., A. C.; C., M.; C., A. F.; N., L. A.
Antimicrobial activity of the Nisin Z producer Lactococcus lactis
subsp. lactis Lc08 against Listeria monocytogenes in skim milk.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 65, n. 5, p.
1554-1560, 2013.
(13) M., P. S.; D., D. J.; S., N. P.; B., A. Effect of nanovesicle-
encapsulated nisin on growth of Listeria monocytogenes in milk. v.
27, n. 1, p. 175-178, 2010.
602
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Bruna Palácio1, Géssica Martins2, Cícero Amaral3, Mariana Cordeiro3, Matheus Firmino3, Camila Pereira4.
INTRODUÇÃO Além disso, também foi feito o registro das temperaturas dos
equipamentos de manutenção “Pass Through” do tipo vertical,
O hábito de se alimentar fora do lar tem sido progressivamente aquecido de aço inoxidável AISI304. Os equipamentos de manutenção
incorporado na rotina da população, ocasionado, principalmente, pelas são responsáveis por acomodar cubas contendo alimentos prontos para
modificações no estilo de vida (1). Nesse contexto, tornou-se o consumo, que irão posteriormente para o balcão de distribuição.
frequente as escolhas por realizar refeições em ambientes compatíveis Os critérios de temperatura empregados para avaliação das refeições
com atividades diárias e considerando aspectos como tempo e foram os da RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004, devendo os
deslocamento da população (2). Diante desse crescimento de refeições alimentos quentes apresentarem temperatura superior a 60ºC por, no
em ambientes extradomiciliares, destaca-se a necessidade de controle máximo, seis horas (8).
da qualidade dos alimentos produzidos (3). Os dados coletados foram analisados estatisticamente no software R
Diante do exposto, as unidades fornecedoras de alimentação devem ter versão 3.2.2. Os dados foram expressos como percentuais medidas de
um monitoramento satisfatório sobre os alimentos produzidos, tendência central e dispersão.
considerando aspectos sensoriais, nutricionais e higiênico-sanitários
(4), caso ocorra falhas sobre o processo de manutenção da integridade RESULTADOS E DISCUSSÃO
do alimento, tem-se margem para o surgimento das Doenças
Transmitidas por Alimentos (DTAs), que ocorrem devido a ingestão Foram realizadas 180 aferições de temperatura, correspondendo a 15
de alimentos que abriguem agentes contaminantes em frações dias úteis. Na tabela 1 é apresentada a média das temperaturas das
suficientes para causar malefícios à saúde das pessoas que os preparações analisadas, com exceção da guarnição e proteína
consomem (5). vegetariana, todas as outras médias apresentaram-se dentro da
Tais riscos a saúde dos comensais vão desde simples sintomas como recomendação (8). Porém, mesmo com as médias dentro da
dores de cabeça, desconforto intestinal, vômitos, até situações mais recomendação, as proteínas animais apresentaram valores altos de
preocupantes, como infecções intestinais (3). Um dos fatores de risco desvio padrão.
para a multiplicação de microrganismos patogênicos causadores de
DTAs é período prolongado de exposição dos alimentos que corrobora Tabela 1 – Médias das temperaturas das preparações aferidas durante
para temperaturas inadequadas de conservação (6). a distribuição de alimentos no período do almoço.
Nessa perspectiva, a temperatura dos alimentos tem-se apresentado
como um forte indicador de qualidade e segurança das refeições Amostra Temperatura ºC
servidas, tanto no acondicionamento como na distribuição (7). Diante Arroz Branco 75,7 ± 8,2
disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a temperatura de Feijão 78,0 ± 7,8
distribuição de alimentos uma Unidade de Alimentação e Nutrição Guarnição 46,3 ± 17,1
(UAN) Institucional de Fortaleza-CE, de acordo com os parâmetros da Proteína Animal 1 67,8 ± 12,5
legislação vigente. Proteína Animal 2 71,4 ± 13,2
Proteína Vegetariana 56,2 ± 10,0
MATERIAIS E MÉTODOS Legenda: Média ± desvio padrão
O estudo foi realizado em uma UAN localizada em Fortaleza - Ceará, No que concerne à porcentagem de adequação das temperaturas
que produzia, em média, 2.000 refeições/dia. A UAN institucional aferidas, uma amostra apresentou 100% de adequação (feijão), duas
avaliada foi de uma Universidade Pública e a distribuição era amostras com mais de 80% (arroz branco e a segunda opção de
realizada seguindo o modelo “self-service” com bandejões. proteína animal), uma amostra com mais de 70% (primeira opção de
Neste trabalho, foram avaliadas as refeições quentes do almoço de 15 proteína animal) e duas com 30% de adequação (guarnição e proteína
dias úteis do mês de fevereiro e março de 2020. O horário da vegetariana) (Tabela 2).
distribuição era de 10:30 as 13:00. As preparações quentes
apresentadas no cardápio eram 2 opções proteicas onívoras, 1 Tabela 2 - Porcentagem de Adequação das temperaturas aferidas
vegetariana, 1 guarnição e 2 acompanhamentos (arroz e feijão) segundo a RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004.
As preparações eram distribuídas em cubas gastronômicas de inox
tipo GN dispostas em um módulo distribuidor aquecido de aço Amostra % de adequação das temperaturas
inoxidável AISI304, que possui banho maria com resistências elétricas Arroz Branco 88,46 %
de contato. A unidade possui dois balcões ou módulos de distribuição Feijão 100 %
com as mesmas preparações para conseguir suprir a demanda rápida e Guarnição 30 %
concentrada de comensais no horário de almoço. Proteína Animal 1 73,3 %
As temperaturas foram aferidas, em média, às 11h00min, dos dois Proteína Animal 2 83,3 %
balcões de distribuições e, para isso, foi utilizado o termômetro laser Proteína Vegetariana 30 %
digital TC0380 da marca FERIMTE ®, com variação de – 50°C a + Legenda: Média ± desvio padrão
380°C, do tipo infravermelho. Todos os termômetros utilizados
passaram por calibração prévia e periódica pela administração As temperaturas aferidas no arroz e no feijão apresentaram elevados
superior da unidade. As temperaturas foram aferidas por nutricionistas índices de adequação. Alguns artigos também relatam facilidade em
ou estagiários de nutrição previamente treinados, que fizeram os alcançar a temperatura correta nesses alimentos, seja na cocção, na
registros em planilha própria elaborada para tal finalidade. expedição, ou na distribuição (6, 9, 10, 11).
e-xacta, Belo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/
603
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
O feijão apresenta boa manutenção de temperatura, pois a elevada 4. MENESES, N. V.; RIBEIRO, R. C.; MONTEIRO, M. R. P. Análise
quantidade de água da preparação e o modo de preparo, cocção e das temperaturas dos alimentos na distribuição em um restaurante
fervura do alimento dificulta a perda de temperatura durante comercial no município de Belo Horizonte/MG. Nutrição Brasil,
exposição (9). [S.L.], v. 1, n. 16, p.37-42, 2017.
As temperaturas das guarnições foram as que apresentaram os
menores valores, resultando na menor média das preparações 5. GNOATTO, E. S.; MACHADO, A. D. Binômio tempo e
avaliadas. Dessa forma, pode-se identificar que as guarnições temperatura na produção do almoço em um restaurante da rodovia PR
responsáveis por diminuir tanto essa média, foram o macarrão e a 182 no sudoeste paranaense. Nutrição Brasil, [S.L.] v. 17, n. 1, p.27-
farofa. Outros autores também identificaram grande variação entre as 33, 2018.
temperaturas das guarnições nas etapas supracitadas, e descreveram
como possível causa o reduzido teor de água dessas preparações (9, 6. BORGES, N. R. et al. Avaliação do Binômio Tempo-Temperatura
10, 11). das refeições de um restaurante na cidade de Palmas-TO. Desafios -
Entretanto, no caso do macarrão, é provável que o principal motivo Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins,
para as baixas temperaturas encontradas seja o processo de [S.L.], v. 3, n. 2, p. 90-98, 2016.
resfriamento com água gelada, que serve para interromper o seu
processo de cocção. 7. Associação Brasileira de Empresas de Refeições Coletivas
Em relação às proteínas animais, o alto valor de desvio padrão (ABERC). Manual ABERC de Práticas de Elaboração e Serviço de
observado pode ser explicado por uma possível perda de calor que Refeições para Coletividades. 11 ed. São Paulo: ABERC, 2015.
algumas preparações possuem devido à sua grande superfície de
contato e baixa quantidade de água (6, 9). Com relação às proteínas
8. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária Dispõe sobre
vegetarianas, os valores de percentual de adequação ainda foram mais
Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.
baixos que os das proteínas animais.
Resolução Rdc Nº 216, de 16 de Setembro de 2004
Uma das possíveis causas da dificuldade observada em alcançar
valores recomendados de temperatura pode ser devido ao mau
9. MARINHO, C. B.; SOUZA, C. S.; RAMOS, S. A. Avaliação do
funcionamento dos equipamentos “Pass Trough” desta unidade. A
binômio tempo-temperatura de refeições transportadas. E-scientia,
falta de manutenção dos equipamentos é apontada como uma das
Belo Horizonte, v. 2, n. 1, p. 1-11, 2009.
causas das baixas temperaturas registradas nos equipamentos (Tabela
3).
10. SOUSA, A. V. R.; PEREIRA, D. M.; PEREIRA, C. T. M.
Avaliação da temperatura de preparações servidas em uma unidade de
Tabela 3 – Médias das temperaturas dos equipamentos de
alimentação e nutrição. Research, Society and Development, [S.L.],
manutenção modelo “Pass Through” aferidas durante a distribuição
v. 8, n. 5, p. 1-12, 2019.
dos alimentos.
11. SILVA, B. B.; BONI, B. R.; SCHLINDWEIN, A. D. Tempo de
Equipamento Temperatura ºC
exposição e temperatura de distribuição da refeição quente dos
Pass Trough 1 49,4 ± 5,5 funcionários de uma unidade de alimentação e nutrição hospitalar de
Florianópolis-SC. Revista UNINGÁ, Maringás, v. 56, n. 3, p. 132–
Pass Trough 2 41,8 ± 4,6 140, 2019.
Legenda: Média ± desvio padrão
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
604
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
O estudo foi realizado em uma UAN, localizada no ambiente interno Doce + Fritura 1 10%
de um Centro Universitário, administrada em sistema de terceirização
que produzia, em média, 150 almoços/dia na modalidade self-service Legenda: (1): número de dias.
de distribuição.
O cardápio dessa unidade era composto por preparações de média As frutas e os folhosos estavam presentes em 80% e 60%,
complexidade, a qual fornecia refeições de segunda a sexta, com uma respectivamente, dos dias avaliados. O aparecimento destes itens é
opção de entrada (salada), duas opções protéicas de origem animal, considerado importantes para uma alimentação nutricionalmente
dois acompanhamentos (arroz, feijão ou baião), uma opção de adequada pela oferta de vitaminas, minerais e fibra, além de contribuir
guarnição e uma sobremesa (fruta ou doce). com o colorido do cardápio e auxiliar na prevenção de doenças (6,11).
Neste trabalho, foram avaliados os cardápios fornecidos no almoço O resultado do presente estudo foi melhor do que o de Fonseca e
durante 10 dias úteis, durante o mês de outubro de 2019, a avaliação Souza (2017), que obtiveram 70% na oferta de frutas e 53% na de
foi realizada pelo método AQPC desenvolvido por Vieiros e Proença folhosos, em análise de AQPC de cardápios de restaurante
(2003), o qual considera na composição do cardápio as técnicas de universitário em Vitória da Conquista-BA (9).
preparo, as cores, as repetições e combinações, as oferta de No que diz respeito à presença de cores iguais no cardápio, observou-
determinados alimentos como folhosos, frutas ou tipo de carnes, além se monotonia de cores em 50% dos dias analisados. Resultado inferior
do teor de enxofre dos alimento (6). ao encontrado por Florintino e Manzur (2015), que observaram
Para avaliar a presença de preparações ricas em enxofre, foram monotonia em 100% dos dias no cardápio de um restaurante
considerados os cardápios diários que continham duas ou mais universitário do município de Guarapuava-PR (10). No planejamento
preparações contendo alimentos sulfurados (alho, batata-doce, cebola, de cardápio, a variedade de cores deve ser considerada, pois além de
ervilha, feijão branco, maçã, melancia, melão, milho, nabo, ovo, tornar a preparação mais atrativa visualmente também promove
rabanete e repolho). O feijão que era servido diariamente não foi
605
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
variação na oferta de vitaminas e minerais, contribuindo para a saúde Santo. Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, [S.L.], v. 9, n. 4, p.
dos comensais (11). 975-984, 2014.
Com relação à presença de alimentos ricos em enxofre foi identificada
uma frequência de 50% nos dias analisados. O trabalho de Leonhardt, 9. FONSECA, N. T.; SOUZA, L. T. Avaliação qualitativa das
Kerber e Fassina (2014), que avaliou UANs do Vale do Taquari-RS, preparações do cardápio de um restaurante universitário de Vitória da
encontrou na Unidade A a presença de alimentos ricos em enxofre em Conquista–BA. Journal of Applied Pharmaceutical Sciences, [S.L.]
17 dias (74%) e 6 dias (26%) na Unidade B (11). Segundo Vieiros e v. 4, n. 1, p. 28-36, 2017.
Proença (2003), a presença de alimentos ricos em enxofre devem ser
limitados na oferta diária, para não causar sensação de mal estar pelo 10. FLORINTINO, C.; MAZUR, C. E. QUALITATIVE
desconforto gástrico gerados nos comensais por conta da presença de ASSESSMENT OF MENUS OF PREPARATIONS IN A
compostos sulfurados que produzem gases (6). O feijão não foi UNIVERSITY RESTAURANT. Visão Acadêmica, [S.L.], v. 16, n. 1,
considerado na avaliação devido a sua frequência diária no hábito p. 111-118, 2015.
alimentar brasileiro, porém ele possui oligossacarídeos não digeríveis
que contribuem para o desconforto gástrico (10). 11. LEONHARDT, M. B.; KERBER, M.; FASSINA, P. Análise
No presente trabalho, foi identificado a presença de doces e frituras qualitativa das preparações do cardápio de duas unidades de
em 20 e 40% dos dias, respectivamente. A associação de doce com alimentação e nutrição. Arquivos de Ciências da Saúde, [S.L], v.
fritura e o aparecimento de carne gordurosa foram observados em 26, n. 3, p. 153-157, 2019.
10% dos dias. O aparecimento de frituras, de maneira isolada e
associada aos doces, pode significar maior ingestão de gordura e
também a combinação de excesso lipídico com ingestão elevada de
carboidratos simples (6). As avaliações do grupo vermelho (doces,
frituras, carne gordurosa e doce + fritura) proposto pelo método
AQPC de Vieiros e Proença (2003) apontam aspectos que devem ser
cuidadosamente monitorados, uma vez que podem trazer
conseqüências prejudiciais à saúde, a médio e longo prazo (6).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Conclusão
A inserção de alimentos da
agrobiodiversidade são importantes e
positivos, visto que estimulam o consumo
mais saudável e sustentável. Além disso,
destaca-se a valorização de alimentos locais,
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
INTRODUÇÃO
iogurte, manteiga, achocolatado, requeijão, leite UHT, leite em pó,
A alimentação das pessoas se modificou ao longo do tempo, ao
leite condensado, creme de leite.
mesmo tempo, a tecnologia e a medicina evoluíram, assim, passaram a
O leite UHT, leite em pó e os iogurtes, foram os produtos encontrados
serem observados alguns problemas de saúde de origem alimentar,
com maior frequência em todos os supermercados visitados. Contudo,
como por exemplo, as intolerâncias alimentares, que requer mudanças
o leite condensado, foi encontrado em apenas um dos supermercados
consideráveis no estilo de vida e alimentação dos indivíduos, o que
visitados, assim como o requeijão e os demais produtos. Com isso, vê-
levou as indústrias a transformarem o modo como produzem para
se a precariedade dos mercados do município em oferecer produtos
atender as necessidades destes consumidores. [1]
lácteos zero lactose, aos consumidores. Segundo pesquisas, estima-se
Ressalta-se que intolerância a lactose está hoje presente em 75% da
que no cenário atual 40% a 60% da população brasileira seja
população mundial, e 40% dos brasileiros, o autor define que, a
intolerante ao carboidrato lactose[5], por conta disso é importante
intolerância à lactose ou má absorção de lactose consiste na redução
estimular o consumo de leite e derivados, considerando os benefícios
da capacidade de hidrolisar a lactose (açúcar do leite), o que resultada
nutricionais proporcionados por este alimento além do que, o mercado
hipolactasia (redução da atividade de enzima lactase a qual é
deve adequar-se à esses consumidores.
responsável pela diluição da lactose, na mucosa do intestino delgado,
Quanto aos questionários, alguns dos resultados são apresentados nas
chamada ainda de “lactase não persistente”. [2]
figuras 01 e 02. Na Figura 01, observa-se a frequência quanto o
Portanto, sem dúvidas, esse mercado se apresenta como uma grande
conhecimento de produtos zero lactose.
oportunidade. Além disso, mesmo pessoas que não têm o diagnóstico
de intolerância à lactose estão aderindo a esse tipo de produto, muitas
vezes na tentativa de minimizar sintomas gastrointestinais similares
Figura 01. Conhecimento dos produtos zero lactose.
aos da intolerância, ou mesmo por escolha individual, contando com
certa percepção de maior saudabilidade desse tipo de produto.
O presente trabalho avaliou a disponibilidade dos produtos zero
lactose ofertada nas prateleiras e frios dos supermercados do 12%
município de Codó/MA.
12%
MATERIAL E MÉTODOS 52%
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Figura 02. Local onde podem ser encontrados produtos zero lactose.
20%
28% 68%
Supermercados Farmácias
Lojas especializadas
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Palavras-chave: Alimentos Tradicionais, Boas Práticas As orientações de Boas Práticas de Produção de Alimentos se fazem
de Produção, Produção Rural, Agricultura Familiar. presentes e necessárias em todas as fases do processo de produção de
alimentos. A partir dos levantamentos feitos nos documentos legais e
manuais técnicos consultados, podem ser apresentadas as seguintes
INTRODUÇÃO orientações de Boas Práticas de Produção, de acordo com as etapas
gerais do processo produtivo de alimentos (1,2):
As Boas Práticas de Produção (BPP) são procedimentos que precisam 1) Recebimento: grande necessidade de limpeza, proteção e boa
ser adotados nos serviços de alimentação de qualquer natureza, para iluminação no ambiente do recebimento, para deixa-lo livre de
assegurar a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade destes com vetores e pragas. Quando à entrega dos insumos, o prestador
a legislação sanitária vigentes, garantindo a segurança do produto e a de serviços de está devidamente uniformizado e limpo. A
saúde coletiva (1). No contexto da produção dos alimentos temperatura manipulação dos insumos e alimentos deve estar
tradicionais, estas representam um desafio, uma vez que tal produção, de acordo com o os requisitos legais. Alimentos vencidos ou
artesanal e em pequena escala, pode encontrar nesta questão sua maior danificados devem ser rejeitados nessa etapa.
fragilidade sanitária e mercadológica. Mesmo no caso de micro e 2) Armazenamento: os principais cuidados nesta etapa são a
pequenos produtores, sendo estes registrados e formalizados, suas garantia da adequada circulação do ar, o evitamento de
autorizações de trabalho envolvem a observância de critérios superlotação no estoque, mantendo a distância correta entre os
específicos, previstos na legislação sanitária atual. produtos, a regulagem e controle adequados da temperatura
Especialmente na Cozinha Baiana, as Boas Práticas de Produção para dos equipamentos de acordo com os alimentos e a adoção de
alimentos tradicionais se tornam um dos temas mais relevantes de um fluxo de trabalho que previna a contaminação cruzada
hoje, haja vista a participação destes produtos no mapa regional do entre os alimentos.
consumo alimentar diário. 3) Pré-preparo: nesta etapa, são essencialmente necessários os
Dessa forma, este estudo objetiva analisar os aspectos fundamentais e cuidados com a higienização do ambiente, insumos e materiais
práticos das Boas Práticas de Produção de Alimentos em geral e os envolvidos, bem como dos utensílios e equipamentos. E as
relacionados à produção de alimentos tradicionais e identificar preparações produzidas devem ser estar alinhadas com as
oportunidades alinhamentos destas à produção de alimentos demandas do cardápio e as fichas técnicas, evitando excessos e
tradicionais da Cozinha Baiana. exposição desnecessários dos alimentos, que poderiam levar à
sua deterioração.
4) Preparo: no ambiente desta etapa não devem existir
MATERIAL E MÉTODO equipamentos de refrigeração, para que o calor dos seus
motores não exponha o alimento a temperaturas adversas.
Os aspectos metodológicos deste estudo caracterizam-se como Também é imprescindível observar com cuidado a normativa
pesquisa descritiva, qualitativa e indutiva, bibliográfica e documental, de preparo de cada alimento. No caso de alimentos cozidos,
segundo os métodos de revisão de literatura e estudo de deve-se atentar para o fato de que o cozimento é essencial para
contextualização. A revisão de literatura usou como palavras-chave o controle microbiológico e garantia de qualidade.
Segurança de Alimentos, Boas Práticas de Produção, Alimentos 5) Resfriamento: durante o resfriamento de alimentos cozidos,
Tradicionais e Cozinha Baiana Tradicional, no contexto da estes devem ser colocados ainda quentes em um recipiente
valorização de produtos alimentares tradicionais como patrimônio raso, à temperatura ambiente, por 30 minutos. Depois, devem
alimentar. Documentos legais e orientações técnicas da Agência ser colocados para resfriar, em geladeira ou freezer, sempre
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde e cobertos ou tampados.
Organização Mundial da Saúde (OMS) também foram consultados. A 6) Distribuição: a diminuição ao máximo do intervalo de tempo
partir destes, se realizam análises dos seus pontos em comum e entre o preparo e a distribuição é o principal aspecto de BPP
relações com os aspectos de BPP relacionados aos alimentos nesta etapa. Alimentos quentes devem ser transportados
tradicionais da Cozinha Baiana. sempre quentes. Alimentos servidos frios devem ser cobertos e
refrigerados adequadamente. E o alimento não servido
imediatamente deve ser mantido em temperatura controlada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os estudos também demonstraram que a padronização de processos é
um diferencial para qualquer produção de alimentos que visa um
A revisão de literatura também evidenciou que as Boas Práticas de maior aproveitamento de suas matérias primas, com redução de
Produção de Alimentos (BPP) caracterizam-se como conjunto de perdas, custos, aumento da lucratividade e da produtividade. Ter um
práticas de organização e higiene necessárias para garantir a produção controle rigoroso dos alimentos abertos é outro fator muito
de alimentos seguros, em todas as suas etapas. Os seus aspectos importante neste contexto. Armazenamento inadequado é muito
fundamentais envolvem a observância criteriosa dos hábitos de comum nos serviços de alimentação, bem como o uso de
higiene pessoal, boas condições de saúde e trabalho do ser humano e equipamentos muito antigos e depreciados. Treinar os manipuladores
capacitação técnica profissional contínua. Além disso, o ambiente sobre as formas corretas de manipulação e armazenamento dos
laboral deve ser arejado, limpo, sem umidade ou calor excessivo, alimentos é essencial para reduzir desperdício. (1, 2)
evitando a proliferação de bolores e outros vetores e livre de materiais Dessa forma, as Boas Práticas de Produção devem ser seguidas em
contaminantes. (2) todas as etapas do processo produtivo de alimentos, conforme a
Neste sentido, destacaram-se também a necessidade de higienização, regulamentação e critérios higiênicos sanitários apresentados. Neste
sanitização, seleção, fracionamento e adição de insumos no preparo de sentido, por abrangência e com adequação, aplicam-se também à
alimentos com segurança, além da manutenção dos padrões adequados produção dos alimentos tradicionais da Gastronomia Baiana.
de refrigeração e aquecimento de alimentos cozidos, grelhados, Neste trabalho, para efeitos conceituais, o alimento tradicional se
assados ou fritos. E os cuidados com o tipo de recipientes de caracteriza pela sua autencidade, pelo seu modo de preparo e por sua
armazenamento, etiquetagem e acondicionamento utilizados; origem cultural e histórica singulares. Produzidos com matérias
manutenção da cadeia de frio ou calor e tempo de entrega e consumo primas locais, em manufatura de pequena escala, com método
final. (1, 2) artesanal, são o resultado de um saber-fazer regional, historicamente
construído, passado de geração em geração, apresentando forte
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
do Ceará; 4Economista Doméstica, Universidade Federal do Ceará; 5Doutora, Universidade Federal do Ceará.
E-mail: amanda.lleal@ufc.br
Palavras-chave: biossegurança, SARS-COV-2, aulas práticas.
1. Introdução contemplando diluição de sanitizantes, procedimentos de higienização
Até o momento, não existem evidências de que o novo coronavírus seja de instalações, móveis, equipamentos, utensílios, alimentos frescos,
uma doença que possa ser veiculada por alimentos, isto é, uma DTA embalagens, corpo e mãos, além de regras para uso, manuseio e
(Doença Transmitida por Alimentos). Esse entendimento é uma desfinfecção de uniformes e máscaras de tecido. Passaram pelo mesmo
unanimidade entre órgãos como a Agência Nacional de Vigilância procedimento de revisão, atualização ou criação as Listas de
Sanitária (Anvisa), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Verificação, totalizado 15 listas de checagem.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Vale ressaltar que o protocolo destina-se a todos os docentes, técnicos,
(FAO) e de outras autoridades estrangeiras relacionados ao controle alunos, funcionários terceirizados e demais usuários desses espaços,
sanitário de alimentos. Sabe-se também que a transmissão desse vírus podendo ser atualizado a qualquer momento no caso de alteração das
ocorre de pessoa a pessoa, por contaminação direta com um indivíduo condições epidemiológicas.
infectado ou por contaminação indireta, através de superfícies e objetos
contaminados pela tosse e/ou pelo espirro de infectados (1, 2, 3). 3. Adaptação dos espaços dos Laboratórios de Gastronomia
No Brasil, em breve, as instituições de ensino serão autorizadas a 3.1 Hall de entrada aos laboratórios
retomar o ensino presencial com regime, no mínimo, híbrido. Nesse O hall de entrada no piso superior dos Laboratórios de Gastronomia é
sentido, a Equipe de Técnicos do Bacharelado em Gastronomia da um espaço amplo, de fácil acesso, com janelas que favorecem boa
Universidade Federal do Ceará (UFC) viu a importância de elaborar um iluminação e ventilação natural. Nesse espaço, são disponibilizados
documento a fim de que medidas de controle, monitoramento e ações bebedouro e armários para a guarda de materiais pessoais dos alunos.
preventivas fossem implementadas, tanto para garantir as boas práticas Ele será utilizado para a realização de treinamentos de todos os
de manipulação dos alimentos quanto para evitar a transmissão do vírus envolvidos nas atividades práticas, como alunos, bolsistas, servidores e
dentro dos Laboratórios (4). funcionários terceirizados. Serão contemplados nesses treinamentos
Assim, o presente trabalho visa apresentar o protocolo dos laboratórios apresentações de vídeos informativos com orientações sobre normas e
do curso de gastronomia em tempos de pandemia da covid-19, o qual foi regras dos laboratórios para a retomada de atividades presenciais em
elaborado pela equipe de técnicos do referido curso a fim de contribuir tempos de pandemia. Essa ação tem por finalidade sensibilizar sobre a
para a construção de uma cultura de seguridade nos espaços de aulas importância da adoção das boas práticas a fim de minimizar os riscos de
práticas através da introdução de normas de biossegurança relativas à contágio da Covid-19 e maximizar o desempenho profissional durante as
eliminação ou, pelo menos, à redução dos riscos de contaminação pelo atividades práticas.
novo coronavírus. As referidas capacitações serão realizadas mediante as seguintes ações:
- Projeção de vídeo que deverá acontecer na parede adjacente ao
2. Metodologia bebedouro;
O protocolo foi elaborado durante os meses de junho e julho de 2020. A - Utilização de carteiras para que os usuários se sentem em assentos
equipe que o idealizou é composta por uma Técnica em Nutrição e alternados, os quais serão demarcados com as indicações de “sentar” ou
Dietética, uma Técnica de Laboratório, uma Economista Doméstica, “não sentar”, de forma a garantir o distanciamento mínimo de 1,5m entre
uma Nutricionista e uma Professora do Magistério Superior; todas cada pessoa (Figura 1).
vinculadas ao Bacharelado em Gastronomia da UFC. Foram
estebelecidas normas para os quatro laboratórios ativos do curso: Figura 1 - Modelo da disposição das cadeiras no Hall de Entrada
Cozinha Quente 01, Cozinha Quente 02, Panificação e Confeitaria. Foi
elaborada a seguinte questão no intuito de suscitar a reflexão: Quais são
os saberes e práticas dos estudantes e servidores do curso de
Gastronomia sobre a manipulação de alimentos, o novo Coronavírus e o
controle de sua transmissão durante as aulas práticas? O estudo partiu do
princípio das boas práticas de manipulação de alimentos, enquanto
abordagem sanitária, o que proporcionou construir um espaço
importante na formulação de novas soluções, controles de qualidade e
condutas pessoais, com os alimentos e com a estrutura física das
cozinhas. Nesse sentido, a experiência se deu inicialmente pela
montagem de um grupo de estudos com encontros semanais e para os
quais foram definidos temáticas e bibliografia para aprofundamento.
Após análise de todos os documentos discutidos e, sem perder o foco da
questão reflexiva, organizou-se todas as informações e entendimentos do
grupo em um documento que serviria como base para capacitações,
nortear condutas e implementar medidas de controle que garantissem Fonte: Adaptado Plano de Retomada às Atividades Presenciais (4).
segurança a todos os envolvidos nas aulas práticas do curso de
gastronomia, quando estas forem liberadas pelas autoridades sanitárias. 3.2 Corredores de acesso aos laboratórios
O protocolo foi estruturado a partir das revisões de condutas, normas A fim de manter a organização, o distanciamento mínimo entre as
laboratoriais, procedimentos, instruções de trabalho, adaptação pessoas e tendo em vista que os laboratórios possuem acesso por dois
de espaços para garantir o distanciamento entre os indivíduos e medidas corredores distintos, propôs-se a utilização de sentidos diferentes para o
de comportamento para evitar contaminação por gotículas de saliva e trajeto de pessoas, em que um corredor será destinado exclusivamente
secreção respiratória, sem perder de vista a segurança dos alimentos, para a entrada e outro apenas para a saída dos laboratórios. Desse modo,
reforçando o compromisso do Curso de Gastronomia com a saúde, a cria-se um fluxo único que minimiza o cruzamento entre os indivíduos.
educação e com as medidas de enfrentamento à pandemia. Diante do exposto, o corredor do lado direito ao hall de entrada será
Para padronizar a execução de tarefas e técnicas específicas foram utilizado para a entrada de usuários, visto a proximidade das pias de
revisadas, atualizadas ou criadas 22 Instruções de Trabalho, lavagem de mãos instaladas nos laboratórios Cozinha Quente 01 e
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
proteção), de cor clara e limpo para ter acesso e permanecer nos c. O trabalho em laboratórios exige concentração e bom desempenho.
laboratórios; Para tanto, o aluno precisa seguir as recomendações e instruções
d. Deve usar touca ou gorro que proteja completamente os cabelos, fornecidas;
sapatos e máscaras de proteção. Preferencialmente, a touca deve ter d. Deve ser mantido o mínimo ruído possível (silêncio), ou seja, evitar
cor branca. Os sapatos precisam ser fechados, laváveis e escutar músicas durante as atividades, entretanto o som permitido
antiderrapantes. As máscaras podem ser reutilizáveis ou dentro dos laboratórios será o tipo ambiente a fim de evitar fadiga
descartáveis; mental;
e. O aluno deve vestir o uniforme ao chegar ao Laboratório, ou seja, e. Não deixar materiais estranhos ao trabalho sobre as bancadas
não é permitido que o mesmo venha trajado com a vestimenta. O (cadernos, bolsas e afins. Estes devem ficar nos armários na entrada
dólman e a máscara deverão ser usados durante toda a aula, dos laboratórios);
inclusive durante as atividades de higienização; f. Os utensílios e equipamentos devem ser devolvidos, após o uso, ao
f. O uniforme e as máscaras de proteção devem ser transportados local de origem, devidamente limpos e sanitizados;
separadamente dos demais materiais, dentro de sacos plásticos ou g. As bancadas, pias e mesas, devem ser mantidas sempre limpas
similares, devidamente higienizados; durante o transcorrer da aula;
g. Sugere-se que cada indivíduo leve consigo, no mínimo, 2 máscaras, h. Os resíduos devem ser colocados em reservatórios específicos
em sacos plásticos limpos e uma outra embalagem para colocar as (lixeiras);
máscaras já utilizadas; i. Não jogar ou acumular lixo ou resíduos dentro das pias, utilizando
h. Cada aluno deve portar seu próprio kit de utensílios de cozinha, sempre as lixeiras;
conforme a disciplina, para evitar o compartilhamento de objetos na j. Evitar uso de utensílios de forma compartilhada, mas se o
execução das atividades práticas; compartilhamento for estritamente necessário, os manipuladores
i. Obrigatório estar com as unhas curtas e sem esmalte, inclusive base; devem higienizar as mãos e o material utilizado antes e após o uso,
j. Os homens devem apresentar-se barbeados (sem barba, bigode ou conforme Instruções de Trabalho correspondentes;
costeletas); k. Não fazer trocas de função entre os componentes das duplas, no
k. Evitar o uso de perfumes/desodorantes fortes; intuito de facilitar o trabalho e respeitar o afastamento entre os
l. Obedecer ao distanciamento mínimo de 1,5 a 2 metros entre os indivíduos;
colegas; l. Excepcionalmente nesse período, será permitido que o
m. Deixar todo material de uso pessoal nos armários localizados no hall procedimento de higienização de mãos seja realizado nas pias
de entrada dos laboratórios ou nas estantes do laboratório de pertencentes às praças. Deve-se atentar para não provocar
panificação (canetas, lápis, celular, borrachas, entre outros); contaminação química dos insumos e para o procedimento correto.
n. Atentar às demarcações nas cadeiras que estabelecem onde é Ao FINALIZAR a aula prática:
possível sentar e o novo fluxo de entrada e saída dos laboratórios; a. Lavar e secar todos os utensílios e equipamentos utilizados (fogão,
o. No interior das praças, deve-se respeitar as marcações e manter o liquidificador, micro-ondas, batedeira, balança, etc) e organizá-los
distanciamento de pelo menos 1,5 a 2 metros do parceiro de em seus devidos locais;
trabalho; b. Higienizar e secar as bancadas, cubas, pias e mesa (deixá-las sem
p. Antes de executar qualquer tarefa no laboratório, realizar o resíduos de alimentos e água);
procedimento de higienização das mãos conforme o cartaz c. Lavar a esponja e o perfex, deixando-os sem nenhum resíduo de
informativo que se encontra próximo à pia exclusiva para a alimentos;
higienização das mãos; d. Desligar a válvula do gás;
q. Higienizar as mãos sempre a cada 30 minutos ou quando e. Manter as geladeiras e balanças sempre ligadas;
necessário; f. Remover os sacos de lixos das lixeiras e descartá-los na lixeira
r. Realizar troca da máscara a cada 2 horas, mas esta deve ser maior de inox que ficam próximas a porta de saída dos laboratórios.
substituída antes caso fique com excesso de umidade; Vale ressaltar que cada laboratório possui uma lixeira grande de
s. Evitar sair do laboratório. Caso seja inevitável, retirar a dólman e o inox para descarte de lixo.
avental ou o jaleco (deixando-os no laboratório), podendo sair de
touca e máscara. Ao retornar, higienizar as mãos e, em seguida, 6. Controles no recebimento das matérias-primas
vestir novamente o uniforme; 6.1 Fornecedor e transporte de matérias-primas
t. Não fumar dentro do laboratório, nem nas áreas adjacentes; Anteriormente ao recebimento, entrar-se-á em contato com o fornecedor
u. Não coçar partes do corpo, tossir ou espirrar, evitar conversar, tocar para especificar todos os critérios envolvidos no processo de forma a
em dinheiro ou fazer uso de celular durante as atividades de minimizar a transmissão da Covid-19, incluindo condições das matérias-
manipulação de alimentos e de higienização; primas, higiene, conduta pessoal e condições de saúde dos entregadores
v. Ao provar os alimentos, reservar um talher para essa finalidade, e motoristas; condições higiênico-sanitárias do transporte de alimentos e
higienizando-o sempre após sua utilização. Não compartilhar procedimentos que devem ser seguidos durante o recebimento.
utensílios! O transporte de alimentos deverá obedecer às Boas Práticas.
Recomenda-se que os processos de higienização do veículo bem como
5.3 Condutas durante as atividades no laboratório de caixotes, pallets e outros equipamentos e utensílios envolvidos no
ANTES de iniciar a aula prática: processo de transporte sejam reforçadas. Atenção maior deve ser dada às
a. Higienizar as mãos; rotinas de higienização das superfícies em que há maior contato dos
b. Higienizar todas as superfícies de trabalho (bancadas, pias, cubas e trabalhadores, como pegadores em carrinhos de transporte manual de
mesa) antes de começar as atividades; carga, volante, maçanetas, câmbio e caixas usadas para o transporte, os
c. Ler atentamente as instruções contidas nas fichas técnicas, as quais quais devem passar por desinfecção com álcool 70% sempre após
serão disponibilizadas impressas para cada indivíduo; qualquer contato manual.
d. Planejar o trabalho com o colega, dividindo as atividades e Reforça-se a obrigatoriedade de responder o “Questionário de Avaliação
garantindo o distanciamento de 1,5 a 2 metros do começo ao fim da das Condições de Saúde em Tempos de Pandemia” no dia que antecede
aula; a data prevista para a entrega das matérias-primas.
e. Fazer a mise en place antes de iniciar a execução, reunir todo o
material necessário para o desenvolvimento do trabalho 6.2 Manipuladores envolvidos com o recebimento dos alimentos
(equipamentos, utensílios e ingredientes); Os carregadores, motoristas, técnicos e bolsistas devem estar
f. Higienizar todos os utensílios e equipamentos antes de os utilizar. paramentados com uniformes, sapatos fechados, ambos limpos e em
DURANTE a aula prática: bom estado de conservação. Técnicos e bolsistas devem usar jaleco. É
a. Trabalhar com seriedade evitando brincadeiras; necessário que estes usem máscara e obedeçam às regras de utilização,
b. Jamais esquecer que os laboratórios são ambientes de trabalho, manuseio e troca. Além disso, todos precisam higienizar as mãos
submetidos a riscos de acidentes, na maioria das vezes, causados obedecendo a frequência e o procedimento adequados.
por atos inseguros;
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
6.3 Área para recepção de mercadorias Antes da aula prática o monitor deve realizar a higienização dos insumos
Para a realização dessa atividade serão utilizadas três bancadas de aço in natura, separá-los por turma e acondicioná-los dentro dos balcões
inox, previamente higienizadas, sendo a primeira para o apoio aos refrigerados de cada praça.
insumos que estiverem sendo recebidos, configurando uma área suja, e Durante todas essas etapas, o monitor ou qualquer outro bolsista e os
dotada de balança para aferição das quantidades recebidas. A segunda servidores devem atentar para sua higiene pessoal, para a frequente
bancada será utilizada como suporte para os alimentos durante a higiene das mãos, para o correto uso e manuseio das máscaras de
desinfecção e/ou troca de embalagens e a última servirá como apoio aos proteção como forma de prevenir a recontaminação dos alimentos.
alimentos prontos para serem armazenados (área limpa). O fluxograma das etapas de recebimento e armazenamento de insumos
O espaço reservado para o recebimento será demarcado no piso pode ser visualizado na Figura 5.
indicando distanciamento de 1,5m entre cada manipulador. Deve-se
higienizar piso, parede, bancadas, utensílios e equipamentos antes e Figura 5 - Fluxograma de recebimento e armazenamento de insumos
após o término do recebimento dos insumos.
Destaca-se que este espaço dispõe de pia exclusiva para higiene das
mãos completa, bem como borrifadores contendo solução de álcool
70% líquido para desinfecção de superfícies e embalagens de alimentos.
AUTORES: LISBOA, Viviane1 MENEZES, Rita2 PEDROSA, Linda3 PURCELL, Cristiana4, ACIOLI, Maria de
Fátima5
1-3
Graduandas do Curso Superior em Gastronomia pela Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT - E-mail:
vivialbuquerque_al@hotmail.com
4
Profª Orientadora Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT.
5
Profª Drª Co Orientadora Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT.
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Inovação e Tecnologia na Gastronomia
produto recebeu nota ≥ 7 em 44 casos (78,2%). 2 a maioria dos entrevistados (71,9%) não ter
pessoas não responderam a este item, que obteve nota identificado o sabor como algo conhecido.
zero em 5 casos (9,1%) e 12 pessoas (21,9%) deram Cerca de 78% dos entrevistados deram uma nota global
nota 10 ao produto. igual ou superior a sete ao produto. A escolha da faixa
Os aspectos aroma, sabor e visual foram avaliados etária de adolescentes e adultos foi uma decisão dos
separadamente, resultados em gráfico 1. pesquisadores, pela necessidade de autorização parental
de consumo por parte das crianças e para que
pudéssemos avaliar uma população que
tivesseautonomia na compra do insumo.
A avaliação separada dos itens aroma, sabor e visual
permitiu identificar uma pequena diferença entre a
aceitação de sabor, aroma (68,4%) e visual (80,7%),
mas o pequeno tamanho da amostra não nos permitiu
inferir significância estatística ao resultado obtido.
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