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Anais...

: Congresso Brasileiro de Inovação e Tecnologia na


Gastronomia e Ciência de Alimentos - 1 ed. - Ceará: Fortaleza, 2020
E-book

Organizadores: Paulo Henrique Machado de Sousa,


Amanda Rodrigues Leal, Juliana Nascimento da Costa,
Rafael Queiroz Gurgel do Amaral, Cláudia Mesquita Pinto Soares

ISBN: 978-65-88856-00-0

1. Ciência e Alimento. 2. Cultura Alimentar. 3. Educação e


Formatação

CDD 600
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Organizadores

Paulo Henrique Machado de Sousa


Amanda Rodrigues Leal
Juliana Nascimento da Costa
Rafael Queiroz Gurgel do Amaral
Cláudia Mesquita Pinto Soares
Entidades promotoras / Participantes

- Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará –


UFC
(Instituição Promotora)
- Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Ceará – UFC
(Instituição Co-participante)
- Mestrado Acadêmico em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará – UFC
- Embrapa Agroindústria Tropical, Centro Nacional de Pesquisa Agroindústria Tropical –
CNPAT/EMBRAPA
(Instituição Co-participante)
- REDE - Rede Nacional de Ensino, pesquisa e extensão dos bacharelados públicos em
Gastronomia.
- Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
(Instituição Co-participante)
- Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE (Instituição Co-participante)
- Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal da Bahia – UFBA
(Instituição Co-participante)
- Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB
(Instituição Co-participante)
- Curso de Gastronomia da Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre -
UFCSPA. (Instituição Co-participante)
- Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco;
Coordenador do Evento

Prof. Dr. Paulo Henrique Machado de Sousa


Professor do Curso de Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará –
UFC
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq

Comissão Organizadora

- Cláudia Soares, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;


- Diana Valesca Carvalho, Universidade Federal do Ceará;
- Eveline de Alencar Costa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Maria do Socorro Rocha Bastos, Embrapa Agroindústria Tropical;
- Paulo Henrique Machado de Sousa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Rafael Queiroz Gurgel do Amaral, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Sandro Thomaz Gouveia, Universidade Federal do Ceará – UFC.

Comissão Científica (Temas e Palestras)

- Adriana Camurça Pontes Siqueira, Universidade Federal do Ceará – UFC;


- Ana Erbênia Pereira Mendes, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Diana Valesca Carvalho, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Eveline de Alencar Costa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Geraldo Arraes Maia, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- José Arimatéa Barros Bezerra, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Neide Kazue Sakugawa Shinohara, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE;
- Paulina Mata, Universidade Nova de Lisboa - UNL;
- Paulo Henrique Machado de Sousa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Raimundo Wilane de Figueiredo, Universidade Federal do Ceará – UFC.
Comissão de avaliação e apresentação de trabalhos científicos

- Adriana Camurça Pontes Siqueira, Universidade Federal do Ceará – UFC;


- Alessandra Pinheiro Góes Carneiro, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Ana Erbênia Pereira Mendes, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Amanda Rodrigues Leal, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Ceci Santiago, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Diana Valesca Carvalho, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Eveline de Alencar Costa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Hermano José Maia, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Ingrid Conceição Dantas Guerra – UFPB;
- Ivan Burztyn, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Juliana Damaris Candido de Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Juliana Nascimento da Costa, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Karla Tonini, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Luís Davi Alves Lima, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Mara Cnop, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Márcia Filgueiras Rebelo de Matos, Universidade Federal da Bahia – UFBA;
- Marcia Pimentel, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Márcio Marques, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Monica Chaves Abdala (INHIS - UFU)(PPGH - UFU);
- Nina Pinheiro Bittar, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Paula Albuquerque Pena Franca, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Polianny Gusmão, Faculdade Anísio Teixeira, FAT;
- Rafael Queiroz Gurgel do Amaral, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Robson Mota, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Sandro Thomaz Gouveia, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Selene Daiha Benevides, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);
- Thaina Shawan, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;
- Vanessa Moreira dos Santos; Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco.
Comissão de Minicursos

- Luís Davi Alves Lima, Universidade Federal do Ceará – UFC;


- Leopoldo Gondin Neto, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Renata Matoso, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFC;
- Matusaíla Aragão Macedo, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Regina Maria Silva Bastos, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Renato Brasil, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Tereza Carlas Nóbrega Araújo Garcez, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Walison Fábio Rogério – UFBA.

Comissão de Apoio e divulgação

- Alessandra Pinheiro Góes Carneiro, Universidade Federal do Ceará – UFC;


- Ana Erbênia Pereira Mendes, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Matusaíla Aragão Macedo, Universidade Federal do Ceará – UFC;
- Tina Purcell, Faculdade Anísio Teixeira, FAT.
Lista de Avaliadores

Adriana Camurça Lucas Rabelo


Alessandra Pinheiro Luis Gustavo Lima Nascimento
Alessandra Ribeiro Luiza Helena Feitosa
Amanda Rodrigues Leal Mara Cnop
Ana Erbenia Pereira Mendes Marcio Marques
Antonio Augusto Lima Araujo Filho Maria De Fátima Lopes Fernandes
Beatriz Brandão Maria Thaís Firmino Da Silva
Carla Soraya Costa Maia Matu Macêdo
Carlos Artur Nascimento Alves Mônica Chaves Abdala
Ceci Santiago Mozarina Almeida
Claisa Freitas Myrian Melchior
Claudia Soares Nádia Maria dos Santos Matos Sá
Cristiano Silva da Costa Natália Viviane Santos de Menezes
Cristina Dias Nédio Jair
Daniela Minuzzo Patrícia Holanda
Daniela Vasconcelos De Azevedo Paula Albuquerque Pena Franca
Diana Valesca Carvalho Paulo Henrique Machado de Sousa
Evandro Martins Polianny Gusmão
Eveline Alencar Priscila Ximenes
Gabriel Barbosa Câmara Rafael Queiroz Gurgel do Amaral
Háquila Andréa Martins da Silva Aguiar Rafael Souza Cruz
Hermano José Maia Rafaela Maria Temoteo Lima
Ingrid Dantas Regina Bastos
Isabella Maria Fernandes Botelho Moreira Renata Matoso
Jéssica Silva do Carmo Renato Brasil
Jorgiane da Silva Severino Lima Roberto José de Araújo
Josefranci Moraes de Farias Fonteles Robson Mota
Juliana Damaris Candido de Lima Sandra Machado Lira
Juliana Nascimento da Costa Sandro Gouveia
Karla Tonini Sansão Lopes De Moraes Neto
Kellen Miranda Selene Benevides
Laise Trindade Paes Stephany Emmanuely Bandeira dos Santos
Larissa morais Ribeiro da Silva Tereza Carlas da Nóbrega Araújo Garcez
Leandro Pinto Xavier Tereza Oliveira
Leo Gondin Thaila Pimentel
Liana Flor Valdeni Terezinha Zani
Lívia Xerez Vanderson da Silva Costa
Luana Maria Medeiros Virlane Kelly Hunaldo
Luana Virgínia Souza
APRESENTAÇÃO

O interesse pela Gastronomia no campo teórico acadêmico, seja nos Cursos superiores de
Gastronomia e inclusive com a recente abertura do Mestrado em Gastronomia da Universidade
Federal do Ceará demonstra a importância que o tema vem ganhando força, seja na seara
produtiva/econômica, na expressão sociocultural onde tem crescido e se expandido de forma notória
e nas crescentes publicações nacionais ampliando as reflexões acerca desse saber que tem a
alimentação como um dos seus elementos centrais.
A sociedade brasileira atualmente observa o ato de comer não somente com o olhar de
cliente-consumidor, mas com o ímpeto de interpretar e compreender os múltiplos aspectos de suas
experiências gastronômicas. O acesso ao conhecimento científico configura-se como uma ponte
possível para uma melhor compreensão das questões suscitadas por esse ato cotidiano e nesse sentido
destacamos o papel dos espaços de divulgação científica e da Universidade pública brasileira. Esse
interesse também é percebido pelos diversos títulos publicados sobre o tema, programas jornalísticos
e de entretenimento dedicados à Gastronomia oferta de cursos de curta e longa duração que
demonstram o crescente interesse pelo universo gastronômico.
No plano acadêmico, o engajamento e o investimento são igualmente perceptíveis. Ressalta-
se a crescente disponibilidade de revistas científicas da área, bem como das áreas correlatas, em
trabalhos cada vez mais direcionados à produção no campo dos domínios da cozinha e da culinária,
que dialogam com diversas áreas das ciências sociais e humanas.
Por consequência desse interesse de intercâmbio acadêmico, novos eventos, livros e
publicações científicas direcionadas à Gastronomia têm sido lançadas, como, por exemplo, nos
periódicos internacionais Flavour, International Journal of Gastronomy and Food Science e o
International Journal Culinary, assim como as edições nacionais da Revista Brasileira de
Gastronomia e dos Arquivos Brasileiros de Alimentação. Tais publicações vêm se estabelecendo no
meio e tem como mérito unir grandes profissionais da Gastronomia aos estudiosos de outras áreas
como a Ciência de Alimentos mais aplicada aos processos da cozinha, Ciências Sociais e Humanas,
Turismo e Hospitalidade divulgando os diversos olhares da complexidade que a Ciência
Gastronômica apresenta.
Diante do exposto, o CBG segue na perspetiva de promover o diálogo qualificado entre as
reflexões teóricas que circulam nas pesquisas científicas e o ciclo produtivo consolidando o papel
social e a responsabilidade da Universidade pública, gratuita e de qualidade e seu papel democrático
na consolidação da Gastronomia como ciência.
Índice
ENTIDADES PROMOTORAS / PARTICIPANTES ....................................... IV
COORDENADOR DO EVENTO .........................................................................V
COMISSÃO ORGANIZADORA ..........................................................................V
COMISSÃO CIENTÍFICA....................................................................................V
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO .......................................................................... VI
COMISSÃO DE MINICURSOS ........................................................................ VII
LISTA DE AVALIADORES .............................................................................VIII
APRESENTAÇÃO ............................................................................................... IX

TEMAS
Empreendedorismo e gastronomia
13088 Dinâmicas de Operações Internas em Franquias de Restaurantes Fast
Food ..................................................................................................................... 2
13157 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Restaurante Fast Food ..... 3
13170 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Restaurante Self
Service ............................................................................................................. 4
13177 Elaboração de Cerveja Artesanal à Base de Água de Coco: Características
Sensoriais e sua Aceitabilidade ........................................................................... 5
13207 Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Empreendimento
Gastronômico ...................................................................................................... 7
13250 Empreendedorismo e Gestão em Gastronomia......................................... 8
13358 Franquias: Estratégia de Negócio para Pequenas e Médias Empresas no
Setor Gastronômico ........................................................................................... 10
13359 Dinâmica de Operações Interna: Análise de um Restaurante Self Service
no Rio de Janeiro ............................................................................................... 12
13589 Gastronomia Social e Empreendedorismo: A Extensão Universitária na
Capacitação de Mulheres em Produção de Geleias e Doces Regionais ............ 13
16294 A Oferta de Opções Vegetarianas em Bares e Restaurantes de Porto
Alegre ............................................................................................................ 15
16478 A Reutilização do Mercado Novo de Belo Horizonte: Economia Criativa
a partir da Gastronomia ..................................................................................... 17
16614 O Crescimento da Alimentação Vegetariana na Última Década e a Sua
Influência no Mercado Alimentício ................................................................... 19
16669 Produto Sustentável Plant Based: Snack de Algas e Casca de Banana .. 21
16675 Gastronomia e Territorialidade LGBT: construção de ambientes de
sociabilidade em estabelecimentos gastronômicos na Avenida Manoel Borba
(Recife/PE) ........................................................................................................ 23
16687 Queijo e gastronomia: estudo de caso .................................................... 26
16710 Gestão De Talentos: Abordagem Estratégica No Setor Gastronômico .. 28
16717 Alimentação em tempos de pandemia: Extensão Remota no Programa de
Aceleração de Empreendimentos Gastronômicos (PAEG) ............................... 30
16730 Gastronomia e Sustentabilidade: o projeto Realimenta como colaborador
para o reaproveitamento de alimentos e para transformação social .................. 32
16759 De volta à cozinha: análise sobre o surgimento de novos cozinheiros de
pães artesanais durante a pandemia do Covid-19 .............................................. 34
16777 A percepção das Boleiras sobre a valorização do seu trabalho na cultura
gastronômica no Estado de Pernambuco, Brasil ............................................... 36
16808 Elaboração de sobremesa com ingredientes do Semiárido Nordestino-
mousse de Palma Forrageira .............................................................................. 38
16814 Utilização da macaxeira e seus subprodutos como adjunto na produção de
cerveja artesanal ................................................................................................ 40
16827 Amendojor: Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Confeito
Elaborado Com Banana, Amendoim e Chocolate ............................................. 42
16832 Feiras, Pandemia e Redes Sociais: O Comparativo entre uma Feira Livre
e uma Feira Agroecológica Universitária .......................................................... 44
Cardápios em aplicativos de entrega: Uma análise das percepções dos
consumidores ..................................................................................................... 46
Gastronomia Social no Jardim da Gente e os Objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável......................................................................................................... 50

Gastronomia e ciência dos alimentos


13167 Caracterização do extrato das folhas de Amburana Cearensis A.C. Smith
visando uso em alimentos .................................................................................. 55
13175 Composição de Lipídios Totais de Coco Verde e Seco in Natura e Coco
Ralado Industrializado ....................................................................................... 57
13183 O processamento e utilização do melaço de rapadura na elaboração de bolo
americano tipo muffin ....................................................................................... 59
13221 Desenvolvimento e Caracterização Física de Biscoitos Tipo Cookie com
Diferentes Fontes de Amido .............................................................................. 61
13226 Termômetros laser infravermelho e haste espeto para medição de
temperatura em salada crua de uma Unidade de Alimentação e Nutrição ........ 63
13239 Chlorella: o alimento do futuro .............................................................. 65
13243 Elaboração e aceitação sensorial de pães veganos com farinha de banana
verde .................................................................................................................. 67
13245 Alimento cremoso salgado a base de castanha-do-Brasil ....................... 69
13281 Viabilidade do uso do Mesocarpo de Babaçu na Produção de Massa de
Pizza sem Glúten ............................................................................................... 71
13315 Physicochemical characterization of agro-industrial waste from 'BRS
Magna' grape cultivar ........................................................................................ 73
13324 Elaboração de Iogurte de Polpa de Jaca (Artocarpus heterophyllus Lam.)
in natura e processada ........................................................................................ 75
13325 Elaboração e Caracterização Físico-Química de Néctar de Abacaxi
(Ananas comosus) Adicionada de Goji Berry (Lycium barbarum) ............... 77
13349 Elaboração e Avaliação Sensorial de Sorvete de Pinha (Annona squamosa
L.) com Maracujá (Passiflora edulis) ................................................................ 79
13372 Mapa de Preferência Interno De Estruturados De Goiaba (Psidium guajava
L.) Elaborados Com Gomas Ágar e Gelana ...................................................... 81
13382 Macroalgas como Fonte de Pigmentos para Uso na Indústria Alimentar..... 83
13429 Pudim estruturado adicionado de gelatina e goma gelana sem forneamento:
uma avaliação sensorial ............................................................................................. 85
13430 Composição Centesimal De Hambúrguer Bovino Adicionado De Moringa
(Moringa Oleifera Lam.) E Gordura Suína ....................................................... 87
13449 Avaliação Microbiológica e Sensorial de Salame Tipo Italiano com adição
de culturas starters ............................................................................................. 89
13486 Obtenção Do Perfil Ideal Para Estruturados De Goiaba (Psidium Guajava L.)
Por Meio Da Análise De Penalidades Do Questionário Check-All-That-Apply .... 91
13490 Opiniões de consumidores em relação às características sensoriais e de
consumo de molhos para salada ........................................................................ 93
13491 Desenvolvimento e aceitação sensorial de macarrão adicionado de
beterraba e molho de manga .............................................................................. 95
13509 Emprego de Feijão Guandu (Gajanus Cajan (L.) Millsp.) na Elaboração de
Bolos em Substituição Parcial à Farinha De Trigo ............................................ 97
13514 Enriquecimento nutricional e melhoria da aceitação sensorial de produtos
de panificação através da adição de frutas e hortaliças ..................................... 99
13549 Aceitabilidade da Coloração Natural Azul em Produtos Alimentícios 101
13558 Avaliação da Solubilidade de Micropartículas de Óleo de Pequi
Reticuladas com Ácido Tânico ........................................................................ 103
13561 Influência da maceração sobre a coloração e composição físico-química
de vinhos tintos tropicais ‘Cabernet Sauvignon’ ............................................. 105
13567 Elaboração e Avaliação Sensorial de Biscoitos Tipo Cookies Enriquecidos
com Farinha da Entrecasca de Melancia ......................................................... 107
13577 Elaboração e Avaliação da Aceitabilidade e Idealidade de Geleia Mista de
Açaí e Cupuaçu................................................................................................ 109
13581 Elaboração e Caracterização Físico-Química de "Queijo Vegetal" à Base
de Amêndoas de Castanha de Caju.................................................................. 111
13587 Desenvolvimento de Brigadeiro a partir do pó da semente de quiabo
(Abelmoschus esculentus) .............................................................................. 113
13590 Avaliação das Características Físico-Químicas e Teor de Licopeno de
Suco de Melancia e Frozen Iogurte Sabor Melancia ....................................... 115
13592 Avaliação da Qualidade do Mel Apis melífera L produzido no IFCE
Campus Iguatu, CE .......................................................................................... 117
13594 Inativação Microbiana em Diferentes Tempos e Temperaturas de Cocção
em Hambúrguer Gourmet de Carne Bovina .................................................... 119
13599 Caracterização da Pectina do Maracujá Amarelo (Passiflora edulis
flavicarpa) ........................................................................................................ 121
13601 Análise Sensorial no Desenvolvimento de Produtos Alimentícios: estudo
de brownies sem glúten e sem lácteos com ingredientes amazônicos ............. 123
13605 Desenvolvimento de Pães Sem Glúten a Partir de Farinha Pouco
Exploradas ....................................................................................................... 125
13612 Desenvolvimento de Fermento Natural Gluten Free Inoculado com
Lactobacillus pentosus 129.............................................................................. 127
13614 Gelado Comestível Alcoólico com Caramelo de Cajá: Aspectos
Sensoriais ................................................................................................. 129
13616 Elaboração de Doce em Massa da Entrecasca da Melancia (Citrullus
lanatus) com Açúcar Light Enriquecido com Mesocarpo de Babaçu .............. 131
13624 Elaboração de croquete de camarão com farinha de aveia ................... 133
13627 Seleção de cepas de Lactobacillus spp. para aplicação em produtos
fermentados de panificação ............................................................................. 135
13631 Avaliação sensorial e físico-química de chá de coentro (Coriandrum
sativum L.) desidratado saborizado com erva cidreira (Melissa officinalis) ... 137
13642 Elaboração de mousse de chocolate a base de kombucha .................... 139
13647 Predição De Preço Para Tapiocas A Partir Da Composição de
Nutrientes ................................................................................................. 141
Teor de umidade e potencial hidrogeniônico do mel Apis mellifera L
produzido no Maciço de Baturité, Ceará” ................................................. 143
13689 Caracterização Físico-Química De Polpa De Tamarindo (Tamarindus
Indica L.) In Natura E Liofilizada ................................................................... 145
13723 Tapiocas coloridas com açafrão (Curcuma longa L.): com releitura em
formatos de tabletes ......................................................................................... 147
13803 “Vinho Tinto: Maturação, Sabor, Conservação e Tradição ao Bolo de
Noiva Pernambucano”. .................................................................................... 149
13836 Elaboração, Processo de Produção de Bebida Tipo Kombucha Sabor
Maracujá e Análise Sensorial de Aceitação .................................................... 151
13869 Elaboração de Sorvete de Hibisco com Hortelã ................................... 153
13981 Cor e Gastronomia: Utilização da Teoria das Cores em Preparação da
Confeitaria ....................................................................................................... 155
13985 Influência da Gelatina nas Características Sensoriais de Sobremesa Láctea
de Manga ......................................................................................................... 157
13999 Releituras Veganas do Mungunzá Salgado Caririense: Opções de
Incremento ao Cardápio para Adeptos a Prática Alimentar ............................ 159
14003 Avaliação Tecnológica de Farinhas de Trigo Comercializadas em
Fortaleza-Ce .................................................................................................... 161
14012 Antropoentomofagia e Cozinha de Insetos: O Futuro da Gastronomia ...... 163
Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Tomate (Lycopersicon esculentum) e
Extrato de Tomate.................................................................................................... 165
14021 Estudo das bebidas fermentadas de mandioca dos índios brasileiros e seus
diferentes substratos ........................................................................................ 167
14031 A somatossenbilização oral na experiência de degustação e percepção de
sabor em análise sensorial de brownie de chocolate ....................................... 169
14036 Avaliação Sensorial de Estruturados Mistos de Cajá e Manga ............ 171
14047 Desenvolvimento e caracterização físico-química de carne caprina “dry-
aged” ............................................................................................................... 173
14126 Elaboração De Queijo Petit Suisse Com E Sem Retenção De Soro ..... 174
14136 Utilização dos Edulcorantes Stévia e Xilitol em Biscoito Tipo Cookies
Enriquecido com Mesocarpo do Babaçu ......................................................... 177
14158 Desenvolvimento e Caracterização de Reestruturados Cárneos Tipo
Nuggets de Pato (Cairina moschata) Enriquecido com Fibra ......................... 179
14174 Caracterização Físico-Química De Amostras De Méis De Diferentes
Espécies De Abelhas Localizados No Vale Do Jaguaribe............................... 181
14180 Caracterização Física E Físico-química De Pitaia (Hylocereus polyrhizus)
Do Vale Do Jaguaribe Em Dois Estádios De Maturação ................................ 183
14183 Caracterização Físico-Química e Instrumental de Biscoitos Adicionados
de Farinha de Amêndoa de Castanha de Caju (Anacardium occidentale L.) e
Linhaça (Linum usitatissimum L.) .................................................................. 185
14199 Obtenção de lipase a partir de fungos para a hidrólise de óleos vegetais ... 187
14201 Eficácia Do Tratamento Térmico No Preparo De Doces E Compotas
Artesanais ........................................................................................................ 189
14202 infusão da flor da clitoria ternatea: teste de aceitação da tonalidade azul
em produtos naturais comestiveis .................................................................... 191
14207 Avaliação Sensorial da “Cocada Cremosa sem Lactose”, Geleificada e
Espessada com Kappacarragenana .................................................................. 193
14215 Enriquecimento De Massas De Macarrão A Partir Da Farinha Do Bagaço
Da Uva: Produção E Análises Físico-Químicas .............................................. 195
15731 Influência De Métodos De Secagem Sobre As Propriedades Físico-
Químicas Das Esferas De Alginato E Óleo De Pequi ..................................... 197
15792 Aplicação do Amido de Amêndoa da Manga Tommy Atkins como
Emulsionante em Patês .................................................................................... 199
15857 Padronização Do Método E Análise Sensorial De Biscoitos Tipo
Cookies ..................................................................................................... 201
15860 Brigadeiro De Biomassa De Figo (Fícus carica) .................................. 203
16470 Potencial Tecnológico do Licor de Mutamba (Guazuma ulmifolia Lam)
em Álcool de Cereais e em Cachaça Comercial .............................................. 205
16476 Análise Físico-Química e Sensorial de Uvas Thompson Seedleess
(Vitis vinifera L.) Cristalizadas, Provenientes de Desbastes do Vale do São
Francisco .................................................................................................. 207
16477 Bolo de Farinha de Beterraba (Beta vulgaris L.): Elaboração e Avaliação
Sensorial .......................................................................................................... 209
16483 Estabilidade de óleo de pequi microencapsulado por coacervação
complexa em condição oxidativa acelerada .................................................... 211
Caracterização sensorial de bebida comercial zero lactose de amêndoas da
castanha de caju e cacau pelo método CATA ................................................. 213
16492 Desenvolvimento de Farinha de Abricó (Mammea Americana L) e sua
Utilização em Produtos Alimentícios .............................................................. 215
16495 Análise Sensorial De Brigadeiro Funcional para Intolerantes à Lactose e
Alérgicos àProteína do Leite de Vaca ............................................................. 217
16523 Perfil do Consumo de Leites Fermentados em Cidades Do Estado Do
Ceará ................................................................................................................ 219
16541 Qualidade Microbiológica de Sorvetes e Picolés Comercializados na
Cidade de Salvador-BA ................................................................................... 221
16542 Avaliação Microbiológica dos Utensílios Utilizados em Cozinhas e
Restaurantes de Resorts localizados no Litoral Norte Baiano ......................... 223
16578 Desenvolvimento De Pão Hambúrguer Utilizando Farinha Mista De Trigo
E Arroz Enriquecida Com Beterraba ............................................................... 225
16581 Características Físico-químicas dos Frutos de Maracujá-roxo Cultivados
em Sistema Convencional e Orgânico ............................................................. 227
16582 Compostos Bioativos e Capacidade Antioxidante das Folhas de Louro
(Laurus nobilis L.) ........................................................................................... 229
16611 Avaliação Sensorial de Frutas Estruturadas de Manga com Cajá
Desenvolvidas com Diferentes Hidrocoloides ................................................ 231
16635 Composição Físico-química dos Híbridos de Maracujás ..................... 233
16636 Potencial de utilização do óleo fixo da polpa de tucumã-açú ............... 235
16647 Geleia de Jambo (Syzygium malaccensis): Elaboração, Propriedades
Físico-Químicas e Aceitação Sensorial ........................................................... 237
16660 Produto Alternativo para o Mercado Brasileiro: Sanduíche de Hambúrguer
de Caju e Emulsão de Castanha de Caju Congelado ....................................... 239
16661 Bebida Vegetal de Castanha De Caju: Composição, Utilização e
Oportunidades na Substituição aos Laticínios ................................................. 241
16665 Avaliação do Fator de Cocção e tempo de Preparo de Massas em uma
Unidade de Alimentação e Nutrição ................................................................ 244
16673 Filmes e revestimentos: Potencial de aplicação da quitosana em
embalagens de alimentos ............................................................................... 2446
16674 Caracterização de cerveja artesanal adicionada de extratos do hibisco
(Hibiscus sabdariffa L.) obtidos em diferentes condições ............................... 249
16678 Potential of Syzygium Aromaticum Merr (L.) & L.M.Perry Essential Oil
Microcapsules for Food: Preparation, Characterization and Anti-
acetylcholinesterase Activity ........................................................................... 251
16692 Desenvolvimento de Produto plant-based do Tipo nuggets Utilizando fibra
de Caju (Anacard occidentale L.) Como Ingrediente ...................................... 253
16693 Prospecção Científica Aplicada ao Amido como Matéria-Prima de
Embalagens Biodegradáveis ............................................................................ 255
16695 Avaliação da qualidade pós-colheita do Butia capitata submetido a
diferentes temperaturas .................................................................................... 257
16697 Influência da temperatura na qualidade do Butia capitata embalado ... 259
16698 Análise microbiológica de formiga Tanajura comestível comercializada na
Serra da Ibiapaba no Ceará .............................................................................. 261
16702 Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Sobremesa Láctea Cremosa
Sabor Chocolate Utilizando Pectina do Albedo de Maracujá Amarelo Como
Estabilizante .................................................................................................... 263
16703 Aceitação sensorial de torta Pâté Sablé com Creme Pâtisserie a Base de
Extrato Hidrossolúvel de Arroz ....................................................................... 265
16707 Molho de murici como instrumento de valorização dos ingredientes
regionais .......................................................................................................... 267
Garde Manger: Molhos Frios .......................................................................... 269
16713 Avaliação sensorial de salgadinhos acebolados sem glúten elaborados a
partir da farinha de ervilha (Pisum sativum) obtida por diferentes métodos ... 271
16718 Utilização de cervejas especiais como ingredientes estrela para fichas
técnicas de preparação culinária ...................................................................... 273
16719 Avaliação química e sensorial de uma kombucha produzida
artesanalmente com chá verde e suco de graviola ........................................... 275
16720 Análise Sensorial do Melado Batido de Joinville SC ........................... 277
16726 Elaboração e Análise Sensorial de Brigadeiro Vegano ........................ 280
PANC’s e sua Aplicabilidade com (Ipomoea batatas) e (Amaranthus viridis) na
Sugestão para a Elaboração em Preparações e suas Funcionalidades ............. 282
16735 Determinação do Indicador de Cocção de Diferentes Massas Alimentícias
do Tipo Macarrão Seco Comum ...................................................................... 284
16738 Elaboração, Aceitação e Intenção de Compra de um Brownie Funcional
Produzido com Farinha de Amêndoas e de Aveia ........................................... 286
16740 Influência de variáveis sociodemográficas na percepção sensorial de mel
de flores silvestres da espécie Apis melífera ................................................... 288
Avaliação de tempo ideal de contato para metodologias de absorção de água ou
óleo ao avaliar fibra de pedúnculo de caju (Anacardium Occidentale L.)
desidratada ....................................................................................................... 290
16744 Aproveitamento da entrecasca da mandioca (Manihot esculenta Crantz):
processo de desenvolvimento de uma conserva .............................................. 292
16748 Estudo da otimização de produção do fermentado de graviola ............ 294
16756 O uso de hidrocoloides em uma sobremesa plant based ...................... 296
16760 Atividades Biológicas do Óleo Essencial e do Extrato da Casca de Cebola
(Allium cepa L.): Uma Breve Revisão ............................................................ 298
Desenvolvimento E Avaliação Sensorial De Biscoito Tipo Cookie Com Vistas A
Aumentar O Conteúdo De Ferro E Fibras Alimentares................................... 300
16763 Comparação físico-química de Laranja Lima produzida em cultivo
orgânico e convencional .................................................................................. 302
Garde Manger: Óleos Aromatizados ............................................................... 304
16769 Desempenho Sensorial do Requeijão Caseiro ...................................... 306
16771 Vitaminas Lipossolúveis: Suas Propriedades Gerais e seus benefícios ao
metabolismo .................................................................................................... 308
16775 Produção de Bebida Fermentada Tipo Iogurte a Partir de Extratos Vegetais
de Amendoim .................................................................................................. 310
16780 Avaliação Sensorial de Pão de Batata Doce (Ipomoea batatas L.) ....... 312
16782 Garde Manger: Uma Releitura Regional Acerca da Terrine ................ 314
16789 Avaliação das Alegações nos Rótulos de Produtos com Denominação
Farinha ............................................................................................................. 316
16791 Avaliação das Características Físico-Químicas de Pernis Caprinos
Submetidos Ao Método “Dry-Aging” ............................................................. 318
16792 Chá, Tisana ou infusão: o que você está bebendo? .............................. 320
16794 Eletrofiação de Amido na Formação de Nanofibras: Uma Breve Revisão ....322
16795 Avaliação Microbiológica e Sensorial de Iogurte de Seriguela .................. 324
16796 Queijo Minas Frescal adicionado de Nisina e avaliação do seu efeito
inibitório sobre Listeria monocytogenes ATCC 7644 ..................................... 326
16798 Qualidade pós-colheita de frutos oriundos do cerrado norte-mineiro .. 328
16799 Comportamento pós-colheita de frutos de Butia capitata armazenados em
diferentes embalagens ..................................................................................... 330
16801 Avaliação Sensorial de Bolinho de Abóbora (Cucurbita moschata D.)
Submetido a Diferentes Métodos de Cocção ................................................... 332
16803 Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Estruturados de Caju ....... 334
16804 Encapsulamento e Liberação Controlada de Nisina: Influência da
concentração de alginato e pH ......................................................................... 336
Desenvolvimento De Cereal Matinal Com Subproduto Agrícola de Cana-de-
Açúcar Com Potencial Prebiótico.................................................................... 338
16820 Bebida Ancestral Russa: Preparo De Bread Kvass em Casa ................ 340
16829 Produção Artesanal de Sourdough bread: benefícios no consumo e
aspectos da produção ....................................................................................... 342
16831 Biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de
peixe ................................................................................................................ 344
16833 Análise da Composição Nutricional de Preparações Gastronômicas a partir
de Fichas Técnicas de um Restaurante do Município de João Pessoa ............. 346
16834 Aproveitamento Integral: Avaliação da Aceitabilidade e da Qualidade
Nutricional de Preparações de uma Escola Privada no Município de João
Pesso ......................................................................................................... 348
16835 Determinação de Polifenóis Totais Presentes na Polpa e Semente do Fruto
do Cacaueiro (Theobroma cacao) .................................................................... 350
16836 Determinação de Polifenois Totais, Antocianinas e Atividade
Antioxidante Presentes no Fruto da Pupunheira (Bactris Gasipaes Kunth) .... 352
16841 Queijos artesanais da Serra da Mantiqueira.......................................... 354
Gastronomia e educação
13169 Análise do desperdício de alimentos em uma escola de tempo integral da
rede pública estadual do ceará ......................................................................... 357
13242 A Gastronomia e seu Caráter Extensionista - Ações Praticadas por
Docentes de Cursos de Graduação no Brasil ................................................... 359
13354 Oficinas de Gastronomia na Promoção da Saúde: Modificações
Antropométricas e Relatos De Modificações Comportamentais ..................... 361
13356 O Design Thinking na Gastronomia como Metodologia na Conceituação
de Restaurantes e Cardápios para Alunos em Conclusão de Curso................. 363
13482 Projeto de Extensão Gastronomia Consciente: medidas de sustentabilidade
em restaurantes ................................................................................................ 365
13565 Sorvete de abacaxi com biomassa de banana verde: uma alternativa
funcional, livre em adição de açucares e lactose: uma aula prática no
CTUR/UFRRJ ................................................................................................. 367
13630 Análise de uma Ferramenta de Gestão para o desenvolvimento discente:
estudo de caso em Instituição de Ensino Superior em Maceió/Alagoas.......... 369
13775 Raiz e Afetividade: O Uso do Glacê Mármore ..................................... 371
16475 Aulas Práticas Como Ferramenta na Formação de Profissionais de
Alimentação, Saúde e Nutrição ....................................................................... 373
16494 Gastronomia Social: Atividades no Curso Tortas doces e Sobremesas
Geladas ............................................................................................................ 375
16644 o papel da educação ambiental nos cursos de gastronomia no distrito
federal .............................................................................................................. 377
16704 Sondagem da adequação de um centro de gastronomia social às boas
práticas pela visão dos alunos.......................................................................... 379
16715 PANC com Potencial Gastronômico: Experiência do Centro de Referência
em Agroecologia do IFAM-CMZL ................................................................. 381
16722 Gastronomia e interdisciplinaridade: montagem de saladas por crianças da
educação infantil inspiradas nas obras do arquiteto Burle Marx ..................... 383
16723 Educação na pandemia do Covid-19: Ensinos gastronômicos por meios
digitais ............................................................................................................. 385
16752 Oficinas culinárias como estratégia para o ensino-aprendizagem de
matemática: uma revisão da literatura ............................................................. 387
16786 A Importância das Abelhas na Cadeia Produtiva de Alimentos ........... 389
16787 Desafios do ensino remoto para docentes em Gastronomia durante a
pandemia de Covid-19 ..................................................................................... 391
16806 Harmonização de Bolos de Noiva e Vinhos Espumantes – Uma
Abordagem Interdisciplinar no Ensino da Gastronomia para Construção de
Competências .................................................................................................. 393
16818Temas de Pesquisa em Gastronomia – Uma Análise das Pesquisas
Desenvolvidas por Docentes de Universidades Brasileiras ............................. 395
Gastronomia e memória
13212 A memória nos museus de gastronomia no Brasil ................................ 398
13235 Os Sentidos E A Comida Trazem Lembranças .................................... 400
13458 Um Estudo das Práticas Alimentares na Comunidade Picos em Dom
Inocêncio – PI .................................................................................................. 402
13493 Gastronomia e a Memória Afetiva ....................................................... 404
13570 Rapadura Como Comida Afetiva Na Alimentação Da Comunidade de
Lagoa da Moitinga, Ubajara- Ceará ................................................................ 405
13588 Panelada E Buchada: Comida Da Alma Em São Raimundo ................ 407
13785 Hábitos culinários de estudantes africanos no Brasil ........................... 409
13842 Slow Food - Um estudo da relação entre tempo e alimento em estados da
Região Nordeste .............................................................................................. 411
14037 Gastronomia e Filosofia........................................................................ 413
14223 Práticas, hábitos e costumes alimentares da Comunidade Quilombola do
Cumbe, Aracati - CE: resistências e conflitos ................................................. 415
15859 Fubá de Gergelim Artesanal: Elaboração e Avaliação Físico-Química ..... 417
16466 Mocororó como expressão de resistência dos povos indígenas do
Ceará ..................................................................................................... 419
16491 Denominação de Origem e Identidade ................................................. 421
16721 A Importância da Memória Gustativa Sertaneja Cearense ................... 423
16745 Gastronomia e Memória: Uma Visão Sobre os Aspectos Socioculturais do
Queijo Coalho do Nordeste Brasileiro............................................................. 425
16750 Direto do Casco: Comensalidade e Memória no Consumo da Tartaruga
entre os Índios Karajá ...................................................................................... 427
16754 O comer nos Campos de Concentração do Ceará, dimensões de seca e
fome ................................................................................................................. 429
16783 Farinhada: Um Evento Formador De Identidade.................................. 431

História da gastronomia
13228 Partilha Alimentar e Canibalismo No Ritual Antropofágico Tupinambá... 434
13450 A Formiga Tanajura e Seu Valor Simbólico Na História e Cultura Da Serra
Da Ibiapaba .............................................................................................................. 436
13533 A simbologia oculta e permanente do Bolo do casamento ................... 437
13661 A Comida no Pós Cinema Novo Brasileiro - Gastropoética e
Simbologias .............................................................................................. 439
14122 Chá ou Tisana? Uma Dose de Conhecimento na sua Bebida ............... 441
16690 Impactos do açúcar no nordeste colonial .............................................. 443
16727 A Mulher, a Comida e a Rua: Provedoras de Alimentos e de Renda nas
Ruas de Fortaleza ............................................................................................ 445
16728 Cultura entomofágica no Oriente: uma revisão sobre o consumo de insetos
por indianos e tailandeses ................................................................................ 447
16747 Palha Italiana: Origens e Substituição De Leite Fresco E Açúcar (In
Natura) Por Leite Condensado Na Doçaria Tradicional Brasileira ................. 449
16751 Telúrico Doce: Um Olhar Acerca Do Açúcar E Do Legado Cultural Que
Ele Confere Ao Nordeste Brasileiro .............................................................. 451
16810 Mandioca como manifestação cultural cearense: um estudo sobre as casas
de farinha ......................................................................................................... 453
16824 Lu Yu: o Santo do Chá ......................................................................... 455
Cozinhas Regionais Brasileiras: aspectos históricos, geográficos, econômicos e
culturais ........................................................................................................... 457

Patrimônio e gastronomia
13222 O Queijo Artesanal Macururé Como Patrimônio Cultural Do Sertão
Alagoano ......................................................................................................... 467
13309 "Cai, Cai, Tanajura na Panela de Gordura" Tanajura como Iguaria
Culinária Tradicional do Bairro Monte Castelo, em Ubajara-Ce .................... 469
13621 Consumo de Alimentos Regionais Brasileiros: Distribuição e Evolução
2008-2018 ........................................................................................................ 471
13858 Cana Sacarina: Cultura e Saberes da Gastronomia Pernambucana ...... 473
13918 O Baião Para Além do Arroz com Feijão ............................................. 475
16579 Identidade gastronômica-cultural de Manaus e suas relações com o
turismo: primeiros passos ................................................................................ 477
16592 Mercado Municipal Adolpho Lisboa: Um Lugar de História e Tradição da
Alimentação Dos Manauaras ........................................................................... 479
16648 o Consumo de Carne de Caça como Hábito Alimentar da Comunidade
Indígena Potiguara ........................................................................................... 481
16679 O Milho na Gastronomia - Uma Revisão Bibliográfica de Seus Aspectos
Históricos E Preparos Populares...................................................................... 483
16680 Doce seco: uma iguaria do Seridó Norte Riograndense ....................... 485
16694 Comida típica - Monumento, Documento e Patrimônio ....................... 487
16729 Aquisição de Frutas Regionais do Nordeste Brasileiro 2008-2009 ...... 489
16758 O Patrimônio Alimentar e o Ofício das Baianas de Acarajé ................ 491
16767 Rapadura e sua história: a iguaria de tradição cearense........................ 493
16768 Confeitaria francesa e o surgimento da tarte tatin ................................ 495
16770 Cozinha das Américas: A Importância das Pimentas e dos Pimentões ...... 497
16807 O uso do velame como erva aromática na bahia .................................. 499
16809 As Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) Na Feira
Agroecológica Da UFBA ................................................................................ 501
16819 O Bolo Das Noivas De Santo Antonio De Barbalha-CE: Pioneirismo para
a Gastronomia Social no Cariri ....................................................................... 503
16821 Gastronomia, Saber, Sabor e Inovação: Estudo De Caso do Prato
Revirado ................................................................................................... 505
16826 Soja - Um Estudo de sua Cultura, Versatilidade e Consumo no Brasil ...... 507

Políticas públicas e gastronomia


13504 Políticas Públicas e Identidade Gastronômica no Município Barreirinhas-
MA................................................................................................................... 510
13983 O Programa Gastronomia Social No Jardim Da Gente (CE): Perfil
Socioeconômico Dos Alunos Que Passaram Pelo Programa (2017-2018) ..... 512
16493 Gastronomia Social E A Parceria Com A Escola De Vida Arte E Sabor... 514
16677 Resinificando A Extensão Universitária: As Ações eo Projeto Doçura Que
Agrega Na Capacitação Para Produção de Conservas Artesanais Na Periferia Da
Cidade De Fortaleza ........................................................................................ 516
16825 Gastronomia Social X Terapia: ação extensionista como ferramenta para
a transformação social em uma comunidade da periferia de Fortaleza-CE ..... 518

Segurança alimentar e nutricional


13174 Aditivos em Embutidos Comercializados em Supermercados de
Fortaleza ................................................................................................... 521
13236 Análise Das Condições Higiênico - Sanitárias De Food Trucks Na Cidade
De Fortaleza..................................................................................................... 523
13244 Quantidade de Aditivos Alimentares e Declarações Obrigatórias em
Rótulos de Barras de Castanhas....................................................................... 525
13247 Concentration of Selenium in Food from the State of Ceará – Brazil .. 527
13316 Composição Nutricional de Amêndoas de Sapucaia (Lecythis pisonis
Cambess) ......................................................................................................... 529
13371 Avaliação Qualitativa do Cardápio dos Restaurantes Universitários da
Universidade Federal do Ceará........................................................................ 531
13447 Diagnóstico Alimentar e Nutricional de Alunos de Uma Escola Pública de
Tempo Integral ................................................................................................ 533
13452 Estado Nutricional e Hábito Alimentar de Adolescentes Estudantes da
Rede Pública de Fortaleza, Ceará .................................................................... 535
13568 Avaliação da Rotulagem de Iogurtes Comercializados em Supermercados
da Cidade De Codó –MA ................................................................................ 537
13593 Fazendo Política Com O Garfo: Politização Do Consumo Alimentar Em
Um Espaço De Gastronomia E Hospedagem No Rio De Janeiro ................... 539
13596 Agricultura Familiar na Alimentação Escolar ...................................... 540
13644 Agroflorestas, Sustentabilidade e Segurança Alimentar no Município de
Eusébio-CE ...................................................................................................... 542
14015 Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Tomate (Lycopersicon
Esculentum) e Extrato de Tomate ................................................................... 544
14173 Avaliação qualitativa das preparações do cardápio de uma escola de tempo
integral do município de Ubajara - CE (segurança alimentar e nutricional) ... 546
15890 Ocorrência de Microrganismos Patogênicos em Alimentos Prontos para o
Consumo .......................................................................................................... 548
15959 Recursos Fitogenéticos Comercializados em uma Feira-livre de Belém-
PA............................................................................................................. 550
16036 Avaliação microbiológica de farinha de linhaça (Linun usitatissimun L.)
comercializada na cidade de Fortaleza/CE ...................................................... 552
16479 Ecologia Microbiana da Água Mineral em Poço de Extração e como
Produto Final ................................................................................................... 554
16480 Plantas Alimentícias Não Convencionais na promoção da Segurança
Alimentar e Nutricional ................................................................................... 556
16528 Avaliação Da Qualidade Do Sono E Percentual De Gordura Em
Funcionários De Um Restaurante Comercial Em Fortaleza, CE ..................... 558
16531 Estudo da adequação da estrutura física em uma unidade de alimentação e
nutrição do tipo comercial no município de Fortaleza – CE ........................... 560
16553 Avaliação das Características Sensoriais e Físico-Químicas de Peixes
Durante a Recepção em uma Indústria de Fortaleza – CE .............................. 562
16608 Análise da Aceitabilidade da Merenda Escolar de Alunos do Ensino
Fundamental em uma Escola Municipal de Pacatuba – CE ............................ 564
16610 Condições higiênico-sanitárias na produção de sushi e sashimi na cidade
de Fortaleza, Ceará .......................................................................................... 566
16632 Mudanças Nos Hábitos Alimentares No Ensino Superior .................... 568
16652 Quantificação do Teor de Gordura e Sódio Em Lanches Industrializados
À Base de Trigo e milho .................................................................................. 569
16676 O Controle de Vetores e Pragas Urbanas Nos Restaurantes Comerciais
Localizados Na Região Da Serra Da Ibiapaba ................................................ 571
16706 Caracterização Físico-Química e Bioativa do Bagaço de Uva (Vitis
labrusca cv Isabel) ........................................................................................... 572
16708 Cuidados Com Os Clientes dos Serviços de Alimentação em Tempos de
Pandemia da COVID-19.................................................................................. 574
16712 Avaliação do excesso de peso e consumo alimentar de crianças em idade
escolar de uma escola em Pernambuco ........................................................... 576
16716 Percepções e Práticas Alimentares de Discentes de Gastronomia ........ 578
16734 Boas práticas de manipulação de alimentos e a abordagem instrucional em
vídeos no YouTube.......................................................................................... 580
16736 Análise de Rótulos de Milho e Ervilha em Conserva em Relação ao Teor
de Sódio, Fibras e Ingredientes de Acordo com a Legislação Vigente ........... 582
16737 Análise de Rótulos de Cervejas Especiais Comercializadas Em Fortaleza,
Ceará ................................................................................................................ 585
16746 Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças residentes em
uma comunidade de alta vulnerabilidade social do recife ......................... 587
16749 Características físicas da cenoura cultivada com a cobertura de milheto,
um sistema agroecológico e sustentável .......................................................... 589
16753 Plantas Alimentícias Não Convencionais: Uma Alternativa Viável para o
Fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia ............. 591
16757 Interação entre a Nutrologia e a Gastronomia para Atendimento dos
Requerimentos, Necessidades e Preferências Alimentares de Autistas ........... 593
16765 Influência do Programa Bolsa Família no Perfil Nutricional de Alunos de
uma Escola Pública.......................................................................................... 595
16766 Presença de Alimentos Regionais das Preparações Oferecidas em um
Refeitório Universitário no Nordeste do Brasil ............................................... 597
16773 Avaliação do Potencial Antimicrobiano de Nisina sobre Listeria
monocytogenes e Staphylococcus aureus ........................................................ 599
16774 Influência do encapsulamento de nisina sobre a multiplicação de Listeria
monocytogenes ATCC em leite ...................................................................... 601
16785“Avaliação da Temperatura de Distribuição de Alimentos de uma Unidade
de Alimentação e Nutrição Institucional de Fortaleza-CE ............................. 603
16788 Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio em uma Unidade de
Alimentação e Nutrição de um Centro Universitário de Fortaleza – CE......... 605
16805 A inserção de produtos da agrobiodiversidade na alimentação ............ 607
16823 Estudo da Disponibilidade de Produtos Lácteos Zero Lactose no
Município de Codó- MA ................................................................................. 609
16886 Um Estudo de Contextualização sobre os Aspectos de Boas Práticas de
Produção de Alimentos Tradicionais da Gastronomia Baiana ........................ 611
Condutas e Controles dos Laboratórios do Curso de Gastronomia da
Universidade Federal do Ceará em Tempos de Pandemia da Covid-19.......... 613

Turismo e gastronomia
13233 Alface do Mar: Possibilidade de Uso na Culinária do Alagoano ......... 619
13554 Gastronomia Árabe na Cidade Turística de Caldas Novas (Go/Brasil):
Trânsitos Culturais e Mobilidades ................................................................... 621
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Dinâmicas de Operações Internas: Um estudo de caso em um restaurante fast food


Juliana de Lima1, Karla Tonini2, Annah dos Santos3, Juliana Castelo4, Isabela Alves5, Paula França6
Palavras-Chave: Gastronomia; Gestão em Serviços; Empreendedorismo; Gestão de Processos
1
Mestre em Engenharia de Produção-UFRJ
2
Doutoranda em Educação e Ciências e Saúde/ NUTES- UFRJ
3, 4, 5
Graduanda em Gastronomia- UFRJ
6
Doutoranda em Nutrição Humana/INJC-UFRJ

Introdução Figura 1- Fluxograma do processo interno


O termo restaurante tem origem na França do
século XVIII, com o significado de alimento ou remédio que
tinha a virtude de reparar as forças perdidas de uma pessoa
doente ou fatigada (1). Com o passar dos anos o termo
“restaurante” passou a ser o termo que dá nome a
estabelecimentos que servem comida (2). Já na década de 40,
os pedidos passaram a ser pegos pelos próprios clientes no
balcão, e as operações de serviço, produção e montagem
foram padronizadas (3).
Com o crescimento do sucesso dessa nova forma
de produção alimentícia, os irmãos McDonald's viram na
estratégia de franchising a oportunidade de se expandir.
Franchising, do inglês, pode ser definido como um
procedimento empresarial em que um empreendedor na
posição de franqueador, que possui uma marca de sucesso no
mercado, cede a outros empreendedores, denominados
franqueados o direito de usá-la (4).
Para que a atividade empreendedora venha a Fonte: Elaborado pelos autores.
ocorrer de forma promissora, é necessário que existam
oportunidades e infraestruturas para apoiar e estimular essa Conclusões
prática (5). Desta forma, este trabalho visa analisar operações A elaboração do fluxograma interno permite
internas de produção de alimentos em unidades de fast food, alcançar a velocidade na entrega do produto oferecido e
especificamente o McDonald's. Como objetivos específicos: adequar a rapidez de acordo com opções de pratos que
i) Elaboração de fluxograma de processo interno; ii) possuem mudanças pontuais ou mínimas.
Sugestões de melhorias na execução dos serviços. Algumas melhorias na execução dos serviços
Material e Métodos podem ser realizadas em relação as dimensões de
Para a execução do trabalho foi utilizado o método tangibilidade, confiabilidade, responsividade, segurança e
da pesquisa de campo, com entrevistas, aplicação de empatia. Dentre as dimensões que são sugeridas, a mais
questionários e observação (6). Foi realizada uma entrevista crítica é referente a empatia, relacionada ao controle
com o gerente de uma das franquias da rede McDonald’s percebido do pessoal da linha de frente na prestação de
localizada em Icaraí/ Niterói/ Rio de Janeiro/ Brasil e uma serviço.
pesquisa na literatura e no site oficial da empresa.
Referências
Resultados e Discussões (1) FURETIÈRE, A. Restaurant. Paris: Dictionnaire
A Figura 1 apresenta o fluxograma das operações Universeil contenant généralement tous les mots en françois,
internas, nele é demonstrado o processo de preparação e de tant vieux que modernes, les termes des sciences et des arts,
entrega dos pratos oferecidos pela rede. 1727. v.4.
Ao começar o expediente os insumos já são (2) SPANG, R. L. A Invenção do Restaurante: Paris e a
processados, sendo produzida a MeP (mise en place) de cada Moderna Cultura Gastronômica. 1. ed. Rio de Janeiro:
estação. Posteriormente, inicia-se o serviço: após a chegada Record, 2003.v.1. 392p.
do cliente e a escolha pelo prato desejado, é feita a elaboração (3) MONTEIRO, C.A.S. Fast Food: As competências
do produto/promoção (combo de itens do cardápio que são necessárias para o trabalhador da McDonald’s. Revista
vendidos de forma conjunta com a aplicação de um desconto Elaborar, 1, 24 - 33, 2014.
no preço final). (4) MARICATO, P. Franquias, bares, restaurantes,
Como pode ser verificado no fluxograma, a lanchonetes, fast food e similares.1. ed. São Paulo: Senac São
produção da MeP permite que o processo seja muito mais Paulo. v.1. 288p.
rápido, visto que as etapas já foram iniciadas anteriormente, (5) GRECO, S. M. S. S. (COORD.). Empreendedorismo no
o que permite uma otimização no tempo da entrega. De uma Brasil. 1. ed. Curitiba: IBQP, 2010. v.1. 286p.
maneira específica na área gastronômica a MeP é um ótimo (6) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
exemplo da otimização dos processos, utilizando-se o administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.
conceito de work in process, uma vez que ilustra o processo
já inicializado e pausado para a sua conclusão posterior.

julianadamaris_candido@hotmail.com

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gestão de Processos: Um estudo de caso em um restaurante fast food


Juliana de Lima1, Karla Tonini2, Annah dos Santos3, Juliana Castelo4, Isabela Alves5, Paula França6
Mestre em Engenharia de Produção-UFRJ
1

Doutoranda em Educação e Ciências e Saúde/ NUTES- UFRJ


2
3, 4, 5
Graduanda em Gastronomia- UFRJ
6
Doutoranda em Nutrição Humana/INJC-UFRJ

Palavras-Chave: Gastronomia; Gestão em Serviços; Empreendedorismo; Gestão de Processos


Introdução Figura 1- Fluxograma do processo interno
O termo restaurante tem origem na França do século
XVIII, com o significado de alimento ou remédio que tinha a virtude
de reparar as forças perdidas de uma pessoa doente ou fatigada (1).
Com o passar dos anos o termo “restaurante” passou a ser o termo
que dá nome a estabelecimentos que servem comida (2). Já na década
de 40, em função do aumento da alimentação fora do lar, alguns
restaurantes passaram a oferecer um serviço mais rápido, onde os
clientes passaram a participar da operação do restaurante, sendo
responsáveis pela retirada do seu pedido junto ao balcão. Para isso,
os estabelecimentos passaram a padronizar as operações de serviço,
produção e montagem dos restaurantes para atendimento da sua
demanda e do conceito de fast-food (3).
As redes de fast food enfrentam o desafio de oferecer
qualidades ao cliente, a custos competitivos, para que seus lucros
sejam preservados. Isso significa oferecer segurança alimentar (4),
diversidade de menus (5), práticas sustentáveis (6), e serviço
amigável (4), a preços de mercado (7).
Para que a atividade empreendedora venha a ocorrer de Fonte: Pesquisa
forma promissora, é necessário que existam oportunidades e
infraestruturas para apoiar e estimular essa prática (8). Conclusões
Este trabalho visa analisar as operações internas de A elaboração do fluxograma interno permite alcançar a
produção de alimentos em uma unidade de fast food, no município de velocidade na entrega do produto oferecido,de acordo com as opções
Niterói/RJ, com objetivo de analisar e elaborar um fluxograma do de pratos que possuem mudanças pontuais ou mínimas.
processo interno dos serviços do estabelecimento. Como pode ser verificado no fluxograma, a produção da
MeP permite que o processo seja muito mais rápido, visto que as
Material e Métodos etapas já foram iniciadas anteriormente, o que permite uma
Para a execução do trabalho, foi realizada uma pesquisa otimização no tempo da entrega. Dessa forma, em restaurantes do
de campo exploratória, a partir da observação e entrevista com o tipo fast food, a MeP é um ótimo exemplo da otimização dos
gestor do estabelecimento. Foi elaborado um roteiro de entrevista, processos, uma vez que ilustra o processo já inicializado e pausado
com base em estudos prévios sobre o tipo de serviço, suas para a sua conclusão posterior.
particularidades e sobre gestão de processos, para que a entrevista
fosse bem conduzida. Referências
(1) FURETIÈRE, A. Restaurant. Paris: Dictionnaire Universeil
Resultados e Discussões contenant general ementtous les mots en françois, tant vieux que
Para apresentação dos resultados, na Figura 1 temos o modernes, lestermesdes sciences et desarts, 1727. v.4.
fluxograma das operações internas, demonstrando o processo de (2) SPANG, R. L. A Invenção do Restaurante: Paris e a Moderna
preparação e de entrega dos pratos oferecidos pela rede. Cultura Gastronômica. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.v.1. 392p.
Ao começar o expediente os insumos já são separados e (3) MONTEIRO, C.A.S. Fast Food: As competências necessárias
colocados no processo de produção para a realização do mise en para o trabalhador da McDonald’s. Revista Elaborar, 1, 24 - 33,
place (MeP) de cada estação. Posteriormente, inicia-se o serviço, 2014.
onde após a chegada do cliente e a escolha do cardápio desejado, (4) CHOW, C. C; LUK, P. A strategic service quality approach
inicia se a linha de produção do alimento desejado, ou seja, preparo e using Analytic Hierarchy Process. Manag. Serv. Qual., 3., 278-289,
finalização do produto para entrega ao cliente. 2005.
(5) MIN, H; MIN H. Cross-cultural competitive benchmarking of
fast-food restaurant services. Benchmarking: An Inter. Journ., 2.,
212-232, 2011
(6) FREITAS, A. L. P.; BARROS, M. D. Service quality and gender
differences in Brazilian self-service restaurants. Inter.Journ. of Serv.,
Econom.andManag., 7., 198-221, 2016
(7) RYU, K.; HAN, H. Influence of theQuality of Food, Service, and
Physical Environmenton Customer Satisfaction and Behavioral
Intention in Quick Casual Restaurants: Moderating Role of
PerceivedPrice. Journ. of Hospit.& Tour.Resea., 34, 310-329., 2010.
(8) GRECO, S. M. S. S. (COORD.). Empreendedorismo no Brasil.1.
ed. Curitiba: IBQP, 2010. v.1. 286p.
(9) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.

julianadamaris_candido@hotmail.com

3
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Restaurante Self Service


Ceci Santiago1, Juliana de Lima2, Tatiane Ribeiro3, Maria Moura4, Larissa Ignácio5, Paula França6
Palavras-Chave: Gastronomia; Gestão em Serviços; Empreendedorismo; Gestão de Processos
1
Doutoranda em Educação- Universidade Lusófona- Portugal
2
Mestre em Engenharia de Produção-UFRJ
3, 4, 5
Graduanda em Gastronomia- UFRJ
6
Doutoranda em Nutrição Humana-UFRJ

Introdução estoque, é feita por qualquer funcionário da cozinha que


Os processos são inerentes a qualquer necessitar.
organização, independente do seu tipo, tamanho ou O estabelecimento não trabalha com controle de
faturamento (1). As compras envolvem a aquisição de requisição de retirada de materiais do estoque. Mesmo sem
matérias-primas, suprimentos e componentes para o o controle do que sai do estoque, é utilizado a regra do first
conjunto da organização (2). Com o desígnio de diminuir o in- first out (FIFO). No tipo à la carte o produto é preparado
percentual de erro dentro de um estabelecimento é e entregue imediatamente ao cliente. Já no buffet os
necessária uma análise de todo o processo de produção até o produtos são preparados e ficam expostos para escolha do
cliente (3). cliente.
A movimentação de materiais é a combinação de Sugere-se a implementação de um sistema
métodos e processos, capazes de movimentar toda a matéria- computadorizado para a aquisição de insumos, padronização
prima e produto, para o lugar certo, com a quantidade dos processos, controle da mercadoria que entra e sai do
específica em tempo correto, numa sequência definida, até estoque, realização de um histórico de compras e de vendas
ser feita a entrega de produtos ao cliente (4). e treinamento da equipe.
Este trabalho visa descrever os macroprocessos
de um restaurante self-service. Como objetivos específicos: Conclusões
i) Descrição dos processos de aquisição, armazenamento, A descrição dos processos possibilita a visualizar
movimentação e entrega de produtos; ii) Sugestões de algumas melhorias que podem ser implementadas no
melhorias na execução dos serviços. restaurante, para que torne o dia a dia do restaurante mais
eficaz, evite desperdícios e consequentemente aumente os
Material e Métodos lucros da empresa.
Para a execução do trabalho foi utilizado o A implementação do sistema possibiliza maior
método da pesquisa de campo, com entrevistas, aplicação de praticidade, evita que algumas compras sejam realizadas
questionários e observação (5). Foi realizada uma entrevista mais de uma vez na semana e que o processo de compra
com o gerente do restaurante self service localizado em dependa exclusivamente do gerente. O controle de estoques
Jacarepaguá/ Rio de Janeiro/ Brasil e uma pesquisa na evita desperdícios ou eventuais furtos. A realização do
literatura. histórico de compras e vendas, possibilita previsões mais
robustas. O treinamento da equipe possibilita uma maior
Resultados e Discussões eficácia na gestão de pessoas e de processos.
A aquisição de matérias-primas é feita através de
um planejamento semanal. O planejamento é feito de forma Referências
manual, não é utilizado nenhum sistema de controle. Este (1) CBOK. Guia para o Gerenciamento de Processos de
processo envolve a vistoria do estoque, para verificar a Negócio Corpo Comum deConhecimento. 3. Ed. Brasil:
necessidade de novos pedidos de matéria prima, de forma BPM, 2009. v. 2. 453p.
antecipada para atender a demanda, e a cotação de (2) BALLOU, R. H. Gerenciamento de cadeia de
fornecedores. suprimentos/Logística Empresarial. 5.ed. Porto Alegre:
A mercadoria é recebida, conferida se a Bookman, 2006. v. 1. 616p.
quantidade e o preço estão de acordo com o solicitado, e (3) BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B.
conduzida ao respectivo local de armazenamento. Em Supplychainlogistics management. 4. ed. New York:
virtude de o restaurante trabalhar com buffet e a lá carte, Mcgraw-Hill, 2002. 656p.
produtos acabados não são armazenados. No entanto, alguns (4) MEYERS, F. E.; STEPHENS, M. L.Manufacturing
produtos que sofreram algum pré-preparo são armazenados Facilities Design and Material Handling. 2 ed. New Jersey:
como insumos. Prentice-Hall, Inc. 2000. v. 1. 415p.
O restaurante dispõe de funcionários (5) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
responsáveis pelo recebimento até o estoque seco e o administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.
frigorífico, localizados dentro do próprio restaurante.
Entretanto, amovimentação da retirada da matéria prima do

cecisantiago@gastronomia.ufrj.br

4
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de cerveja artesanal à base de água de coco: características sensoriais e sua


aceitabilidade
Nathalia Silva ¹, Vanderlei Sobrinho ²
Palavras-Chave: experimento; inovação; análise sensorial; dry stout.
Introdução comparar os resultados entre as duas. Nas duas mosturas foram
Quando falamos sobre cerveja artesanal lembramos de submetidos trezentos gramas de malte Pilsen em um litro de cada água,
quatro ingredientes fundamentais para a sua produção, em que a simples a uma temperatura de 72°C, permanecendo em repouso durante setenta
junção de grãos, água, lúpulo e levedura resulta em diferentes sabores, e cinco minutos, para ver se ocorreria a conversão do amido do malte
texturas e cores quando adicionados em quantidades diferentes. em açúcar. Com o teste de iodo, o qual nos mostra o resultado desta
Existem muitas decisões a serem tomadas e cada uma conversão, observou-se que em apenas vinte e cinco minutos o amido
pode mudar radicalmente o sabor e a personalidade de um produto final. foi convertido nas duas mosturas.
O tipo e a quantidade de grãos utilizados no mosto cervejeiro, o Na segunda etapa, definiu-se as receitas das cervejas,
momento de adição do lúpulo durante a fervura e a temperatura da dentro do estilo Dry Stout, com uma produção final de quinze litros. As
fermentação são as principais decisões a se tomar. produções das cervejas foram realizadas no Núcleo de Estudos da
Atualmente, vários cervejeiros caseiros e indústrias Cerveja da UEG – Campus Pirenópolis, na qual consta um laboratório
cervejeiras veem adicionando diversos ingredientes no processo de com equipamentos e utensílios necessários para o desenvolvimento das
produção de cerveja a fim de dar um toque especial, seja com uma fruta referidas receitas.
regional, especiarias, flores, madeiras, ervas ou vegetais. Pouco se Produzir cerveja artesanal requer oito processos básicos:
discute sobre matérias-primas que possam substituir um ingrediente moagem do malte, brassagem, clarificação do mosto, fervura,
base utilizado no processo de fabricação de uma cerveja como, por resfriamento, fermentação, maturação e envase. Durante a produção das
exemplo, a água. cervejas foi observado a influência de todos os ingredientes em cada
Assim como a água potável, a água de coco traz muitos fase, inclusive da água de coco. Ao longo do processo foi feito o
benefícios à saúde pelas diversas propriedades em sua composição. É controle de todas as etapas a partir de fichas e tabelas que demonstraram
uma solução natural que contém sais minerais, açúcares, aminoácidos, dados essenciais do produto final. As duas receitas respeitaram uma
além de apresentar baixo valor calórico (1). mostura com três rampas de aquecimento com temperaturas a 50°C,
O consumo da água de coco não se dá, somente, pelo fato 65°C e 78°C, e repousos de trinta, sessenta e cinco minutos,
de ser uma bebida doce e refrescante, mas devido as suas qualidades respectivamente. O tempo de fervura de ambas receitas foram de setenta
terapêuticas tão importantes para o nosso organismo. minutos com adição dos lúpulos nos primeiros cinco minutos (amargor)
Sendo assim, seria possível desenvolver uma receita de e nos últimos dez minutos (aroma). A densidade final das cervejas foi
cerveja com outra fonte de água? Qual seria a qualidade da bebida? definida em setenta e duas horas com temperatura de fermentação entre
Seria um produto inédito ou inovador? 18°C a 22°C, em que ambas permaneceram em fermentação até a
O prazer de se criar uma nova receita de algum produto e atenuação da levedura. A maturação ocorreu em quatro dias com
acompanhar sua produção desde o início até o fim traz um sentimento temperatura igual a 1°C. O envase das cervejas foi realizado em
único e individual, além de ser uma grande satisfação. Tigre (2) ambiente com temperatura equivalente a 22°C, onde as mesmas
comenta que a invenção se refere à criação de um processo, técnica ou chegaram na pressão ideal no interior da garrafa em nove dias.
produto inédito, sem necessariamente ter aplicação comercial. Já a A primeira receita executada foi a cerveja com água de
inovação é a efetivação de uma invenção utilizada comercialmente. coco, em que se utilizou cerca de sessenta e quatro cocos para extrair a
Desta forma, a curiosidade de elaborar uma cerveja com quantidade de água necessária. A receita foi produzida no dia 16 de abril
água de coco, que partiu de um gosto pessoal, é o principal objetivo de 2018 e teve sua finalização no dia 02 de maio de 2018. A segunda
desta pesquisa, que em resposta resultará na criação de um novo receita executada foi a cerveja com água cervejeira, onde a mesma foi
produto. Após a definição do estilo da cerveja, será elaborada a mesma produzida no dia 24 de setembro de 2018 e teve sua finalização no dia
receita com água cervejeira para fins comparativos de seus efeitos 11 de outubro de 2018.
sensoriais em relação à qualidade da bebida, a fim de se obter melhores A análise sensorial da cerveja Dry Stout com água de coco
resultados. foi realizada nos meses de maio e junho de 2018. As degustações
Ao término da produção, este artigo busca, ainda, discutir o custo- aconteceram na Universidade Estadual de Goiás - Campus Pirenópolis,
benefício da bebida, além de realizar uma análise sensorial com profissionais da área durante o I Congresso Técnico de Sommeliers realizado pela
cervejeira e apreciadores de cerveja artesanal para verificação da sua Associação Brasileira de Cerveja Artesanal – ABRACERVA - e
aceitabilidade pelo público. durante o Festival de Cervejas Artesanais “Piri Bier”. Os dois eventos
contaram com a presença de profissionais renomados da área cervejeira
Material e Métodos e de apreciadores de cerveja artesanal, público este escolhido para
A respeito da linha metodológica aplicada, como matriz participar do teste de aceitabilidade da referida cerveja. Além desta
do conhecimento, optou-se por trabalhar com a pesquisa qualitativa, análise sensorial, a cerveja Dry Stout com água de coco participou da
apoiando-se em técnicas de coleta de dados, a fim de obter dados 2° Copa Piri Bier de Cerveja Caseira que teve, como regra, a exigência
descritivos que expressam os sentidos dos fenômenos. O estudo foi em utilizar pelo menos um dos insumos nativamente brasileiros de três
desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica com propósito subcategorias: Cerveja Brasileira com frutas; Cerveja Brasileira com
experimental, em que o próprio objeto de estudo se tornou fonte e foi madeira e; Cerveja Brasileira com ervas, vegetais e especiarias. Esta
colocado em condições técnicas de observação e manipulação análise aconteceu na UEG, Campus Pirenópolis entre os jurados, os
experimental, e foram criadas condições adequadas para o seu quais foram selecionados pela organização da Copa, onde os mesmos
tratamento. O pesquisador selecionou determinadas variáveis a fim de avaliaram parâmetros como aroma, aparência, sabor, sensação na boca
testar suas relações funcionais utilizando formas de controle (3). e impressão geral da cerveja.
A partir disso, foram produzidas duas cervejas do mesmo A análise sensorial da cerveja Dry Stout com água
estilo e receita: uma teve, em sua composição, cem por cento de água cervejeira aconteceu na UEG – Campus Pirenópolis durante o evento
de coco no seu processo de produção e, a outra, cem por cento de água CEPE – Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão o qual foi realizado
cervejeira, para comparação de seus efeitos sensoriais em relação à no mês de outubro de 2018. Foi selecionado um grupo de apreciadores
qualidade da bebida. de cerveja artesanal que participaram do Congresso, assim como
Sendo assim, a primeira etapa foi realizar alguns testes profissionais da área que trabalham na Cervejaria Santa Dica de
primordiais para a produção da bebida. O primeiro teste realizado foi Pirenópolis, professores que atuam na área e comerciantes locais que
medir o pH das águas (amostras-teste) com fita de pH de 0 a 14. Ambos trabalham com o produto.
resultados constataram um pH abaixo do que seria ideal para o estilo Os avaliadores receberam uma ficha de avaliação
das cervejas. O segundo teste foi a verificação da atuação da levedura sensorial, contendo nove questões e, ao final, uma escala hedônica de
na água de coco. O terceiro teste foi realizar uma mostura com um malte nove pontos, referente à avaliação geral do produto.
base (Pilsen) em água de coco e outra em água cervejeira a fim de

¹ Graduada no Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia na Universidade Estadual de Goiás - Campus Pirenópolis
(e-mail: nathalia_medeiros_silva@outlook.com).
²
Professor Orientador em 2018 do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia na Universidade Estadual de Goiás –
Campus Pirenópolis (e-mail: vanderlei.alcantara@ueg.br)
5
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A escala hedônica é uma escala de intervalo que expressa Conclusão


o grau de gostar ou desgostar de uma amostra pelo consumidor. A pesquisa demonstrou que é possível desenvolver uma
Consiste basicamente em apresentar a amostra do produto aos cerveja com outra fonte de água, sendo esta, a água de coco.
provadores, e perguntar-lhes sobre o quanto ele gostou da amostra, O custo dos insumos é quase cinco vezes maior que a
segundo uma escala estabelecida (4). receita com água cervejeira, justamente pelo preço da água de coco ser
Os dados obtidos a partir das análises resultaram as mais acentuado na região.
características sensoriais das cervejas e a influência das águas na Durante o processo de produção, observou-se que água de
qualidade da mesma. coco influenciou em alguns parâmetros no produto final, como a
potencialização do teor alcóolico, teores de sal, acidez e açúcar no sabor
Resultados e Discussões da cerveja, devido às características químicas da água de coco.
O resultado da análise sensorial da cerveja Dry Stout com A bebida que teve em seu processo de produção a água de
água de coco e com água cervejeira, realizada a partir das fichas de coco causou muita surpresa entre os degustadores, o que faz da mesma
avaliação foram divididos entre degustadores profissionais da área e uma inovação, já que o público participante nunca havia experimentado
apreciadores. ou até mesmo visto uma cerveja com esta composição.
Na análise da cerveja Dry Stout com água de coco, os Foi bem aceita pelos degustadores em geral, porém, o
degustadores totalizaram quarenta e três pessoas, sendo dezesseis público profissional da área a classificou em cem por cento com as
profissionais da área e vinte e sete apreciadores. Em ambas categorias maiores notas que dizem gostar do produto. Já os degustadores
demonstrou que a maioria dos degustadores foram do sexo masculino. apreciadores aprovaram em cem por cento a cerveja que foi produzida
Sobre a classificação dos avaliadores em relação ao tipo de cerveja que com água cervejeira.
mais consomem, a grande maioria dos profissionais da área Desta forma, conclui-se que apesar das cervejas
confirmaram apenas consumir cervejas artesanais, assim como os apresentarem um grau de aceitação muito alto, o valor da água de coco
apreciadores. Quanto ao aroma percebido nas cervejas, ambos os na região entra como um obstáculo para a produção da bebida.
degustadores perceberam, em sua maioria, o aroma de café. Em relação
com o sabor da cerveja, a maioria dos degustadores profissionais e
.
Referências
apreciadores perceberam o sabor salgado. Quanto ao amargor, ambas
(1) CARVALHO, J.M.; MAIA, G.A.; SOUSA, P.H.M.; JR. MAIA,
categorias classificaram como ideal. Sobre a carbonatação da cerveja as
G.A. Água-de-coco: Propriedades nutricionais, funcionais e
duas categorias de degustadores a classificaram como média. A textura
processamento. Ciências agrárias, Londrina, v. 27, n. 3, jul. / set. 2006,
da cerveja foi percebida como cremosa tanto pelos degustadores
p. 437 – 452.
profissionais quanto os apreciadores. No quesito retrogosto teve a
primeira discordância entre os dois públicos, onde a maioria dos
(2) TIGRE, P. B. Gestão da Inovação: e economia da tecnologia do
profissionais perceberam um retrogosto adstringente, enquanto os
Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2006, p. 252.
apreciadores perceberam um retrogosto amargo. Por fim, a última
questão da ficha de análise sensorial pediu aos avaliadores que, de
(3) SEVERINO, Antonio Joaquim, 1941 – Metodologia do trabalho
acordo com escala hedônica, de um a nove, fizessem a avaliação do
científico – 23.ed. ver. e atual. – São Paulo: Cortez, 2007, p. 122 – 123.
conjunto geral da cerveja, ponto em que, também, houve diferença entre
um público e o outro. A maioria dos profissionais da área classificaram (4) BENINCA, Cleoci et al. Análise sensorial e caracterização físico-
a cerveja com a nota oito (“gostei muito”), e grande parte dos química de Iogurte Prebiótico com polpa de Physalis sp. 4º
apreciadores deram a nota sete (“gostei regularmente”). Logo, de Seminário de Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC. Santa Catarina,
acordo com os dados acima, percebe-se que a cerveja Dry Stout, que 2014, pg 2.
teve em sua produção cem por cento de água de coco, foi bem aceita
pelo público, uma vez que cem por cento dos degustadores profissionais
da área cervejeira assinalaram as opções de seis a nove, ou seja, de
“gostei ligeiramente” a “gostei muitíssimo”, sendo que a grande parcela
afirmou “gostar muito”. E os avaliadores não profissionais da área
tiveram uma parcela de noventa e três por cento, em que os mesmos
assinalaram as notas de seis a nove (“gostei ligeiramente” a “gostei
muitíssimo”), e somente sete por cento classificaram a cerveja como
indiferente.
Na análise da cerveja Dry Stout com água cervejeira, os
degustadores totalizaram cinquenta e cinco pessoas, sendo quatorze
profissionais da área e quarenta e um apreciadores. Em relação com o
gênero, ambas categorias demonstraram que o maior público que
degustou foi do sexo masculino. Quanto ao tipo de cerveja que mais
consomem, a grande maioria dos degustadores profissionais afirmaram
consumir somente cervejas artesanais, enquanto que a maioria dos
apreciadores afirmaram consumir cervejas do tipo premium. O aroma
mais percebido na cerveja, tanto dos profissionais quanto dos
apreciadores, foi o aroma de café. Quanto ao sabor, a maioria dos
profissionais assim como os apreciadores, perceberam o sabor amargo.
Em relação quanto ao amargor da cerveja, ambas categorias
classificaram o amargor como ideal. Em relação à carbonatação, houve
divergência entre os degustadores na opção com mais voto, onde os
profissionais a classificaram como leve, enquanto os apreciadores
classificaram como média. A maioria dos degustadores profissionais
classificaram a textura da cerveja como aguada, enquanto os
apreciadores classificaram como cremosa. Quanto ao retrogosto ambas
categorias classificaram como amargo. Em relação com a nota geral da
cerveja, a maioria dos degustadores profissionais classificou com a nota
sete (“gostei regularmente”), enquanto os apreciadores classificaram
com a nota oito (“gostei muito”). A partir dos gráficos gerados
percebeu-se que a cerveja Dry Stout que foi produzida com água
cervejeira também obteve resultados positivos a partir da degustação.
O público profissional da área cervejeira assinalou as
opções de seis a nove, ou seja, de “gostei ligeiramente” a “gostei
muitíssimo”, totalizando em oitenta e seis por cento. Enquanto somente
quatorze por cento afirmou que a cerveja é indiferente.
E os avaliadores não profissionais da área aprovaram em
cem por cento a cerveja, e os mesmos assinalaram as notas de seis a
nove (“gostei ligeiramente” a “gostei muitíssimo”).

6
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gestão de Processos: Um Estudo de Caso em um Empreendimento Gastronômico


Ceci Santiago 1, Juliana de Lima 2, Ariadne Oliveira3, Ivana Machado4, Raquel Kampf5, Taciana Shikata6
Palavras-Chave: Gastronomia; Gestão em Serviços; Empreendedorismo; Gestão de Processos
1
Doutoranda em Educação- Universidade Lusófona- Portugal
2
Mestre em Engenharia de Produção-UFRJ
3, 4, 5,6
Graduando em Gastronomia- UFRJ

Introdução alocados nos freezers, tais equipamentos têm temperatura


A gestão por processos refere-se a um conjunto diariamente aferida mantendo-se dentro dos padrões
de funções de planejamento, direção e avaliação das higiênico-sanitários definidos.
atividades sequenciais, com a finalidade de minimizar os Antes do início do preparo das refeições, os
conflitos interpessoais e atender as necessidades e funcionários responsáveis retiram do estoque os insumos
expectativas dos clientes externos e internos das empresas necessários, caso sejam em pouca quantidade são levamos
(1). manualmente até a cozinha, já em grande volume, são
Este paradigma tem origem na Toyota, mas movimentados pelo elevador monta carga.
outras teorias, princípios e técnicas surgiram para corroborar Todos os pedidos ocorrem pelo sistema
sua eficácia e ampliar suas fronteiras nos anos 80 e 90 (2). operacional do restaurante. Além do sistema, a gestão das
A gestão por processos busca entender a informações é feita por planilhas. Os fornecedores são
organização como o conjunto integrado de seus processos antigos e a escolha é baseada na qualidade dos insumos,
(3) de modo a satisfazer as necessidades dos consumidores e prazo de pagamento e preço do produto ofertado. O cardápio
que, geralmente, cruzam os limites organizacionais da semana é elaborado na semana anterior pela nutricionista
convencionais (4).Para que a atividade empreendedora e revisto pelo proprietário-administrador, i.e, os insumos
venha a ocorrer de forma promissora, é necessário que adquiridos podem variar amplamente no decorrer das
existam oportunidades e infraestruturas para apoiar e semanas.
estimular essa prática (5). Diariamente o que é preciso para se fazer as
Este trabalho tem o objetivo de descrever os preparações é solicitado ao setor de estoque, que separa e
macroprocessos de um empreendimento gastronômico. entrega desses insumos para a cozinha, que são retirados
pelos próprios cozinheiros ou via monta carga.
Metodologia O elevador monta carga é utilizado tanto no
Para a execução do trabalho foi utilizado o processo de transporte das preparações já prontas como no
método da pesquisa de campo, com entrevistas, aplicação de momento do transporte diário de louças, lixos e pratos,
questionários e observação (6). Foi realizada uma entrevista quando são realizados os devidos processos de limpeza e
com o gerente de um restaurante localizado em Niterói/ Rio higienização para cada tipo de processo.
de Janeiro/ Brasil e uma pesquisa na literatura.
Conclusões
Resultados e Discussões A descrição dos macroprocessos possibilita a
A aquisição é separada em duas partes, nas quais visualização de possíveis gargalos a serem detectados com
os hortifrutigranjeiros são realizados, pela auxiliar de maior precisão no fluxograma das operações internas. O
escritório da nutricionista, e recebidos diariamente, e os sistema integrado viabiliza o maior controle das operações e
demais são recebidos em média duas vezes por semana pelo informações necessárias para a otimização do processo.
setor de estoque, o restaurante dá preferência para empresas A separação dos tipos de estoques contribui para
que anulam frete quando a compra excede o valor requerido, não haver contaminação cruzada e a adequação dos padrões
diminuindo custos e fidelizando fornecedores. higiênico-sanitários definidos. A utilização do elevador
Quando os insumos chegam, parte é pesado e monta carga auxilia na otimização da movimentação interna
conferido no primeiro andar, outra parte no segundo andar. no restaurante.
A Figura 1 apresenta uma descrição dos macroprocessos e
suas respectivas instalações envolvidas no restaurante Referências Bibliográficas
estudado. (1) OLIVEIRA, D.P.R. Sistemas, organizações e métodos:
uma abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
Figura 1- Fluxograma de Movimentação 520p.
(2) PAIM, R.; CARDOSO, V.; CAULLIRAUX, H.;
CLEMENTE, R. Gestão de Processos: Pensar, agir e
aprender.1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. 328p.
(3) GONÇALVES, J.E.L. As empresas são grandes
coleções de processos. Rev. Adm. Emp. 1, 6-19, 2000.
(4) SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R.
Administração da Produção. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2002.
720p.
(5) GRECO, S. M. S. S. (COORD.). Empreendedorismo no
Brasil.1. ed. Curitiba: IBQP, 2010. v.1. 286p.
(6) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.

Fonte: Pesquisa

Depois de verificados, cada um vai para o seu


estoque específico, os secos para o interno onde ficam
também os produtos de maior preço de custo, os hortifrutis
ficam no estoque externo e os produtos refrigerados são

cecisantiago@gastronomia.ufrj.br

7
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Empreendedorismo e Gestão em Gastronomia


Potiguara Spíndola Alcantara¹

¹Senac/SP Penha

potyspin@gmail.com

Palavra chave: gastronomia, negócios, alimentos e bebidas.

INTRODUÇÃO para restaurantes. A grande diferença é que os restaurantes trabalham


não só com os produtos que estão à venda, mas também com os serviços
O aumento da competitividade no ramo de alimentos e bebidas, aliado agregados, isso implica a hospitalidade – que é o ato do bem servir –,
ao contínuo avanço da tecnologia e à escassez de pessoal qualificado, trabalho fortemente orientado no contato direto com os clientes, ou seja,
exige de proprietários e gestores uma gestão eficiente, que busque a para as pessoas. Nesse sentido, trabalhar gestão de negócios em
lucratividade e o oferecimento de bons serviços. Neste processo, uma restaurantes implica desenvolver estratégias não apenas pensando nos
boa gestão tem um papel importante para o sucesso do custos, no lucro e na qualidade dos produtos vendidos, mas também
empreendimento. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e estratégias voltadas para a boa qualidade dos serviços, o que inclui um
Pequenas Empresas (SEBRAE) indicam que boa parte das empresas bom atendimento.
encerram suas atividades em menos de dois anos de vida (1). As Qualquer que seja o tamanho do estabelecimento, se não houver uma
empresas do ramo alimentício são muito importantes para a sociedade, administração correta e um conhecimento das tecnologias, o negócio
contudo, não existem profissionais qualificados suficientes em termos estará destinado ao insucesso. Uma boa administração e manutenção é
de gestão gastronômica, bem como é rara a bibliografia neste setor. uma forma de aumentar a qualidade do serviço e reduzir custos,
Mais do que nunca, sente-se a necessidade de estudá-la e melhor resultando em economia significativa para o empreendedor (4). Portanto,
entendê-la em seus problemas cotidianos, principalmente no que tange garantir o máximo de qualidade dos serviços prestados, com tratamento
à administração de custos. Estes aspectos abalam a estrutura das diferenciado ao cliente, em um mercado altamente competitivo como o
empresas e levam muitas à falência. O objetivo deste trabalho é setor de Alimentos e Bebidas, requer esforço, planejamento e a
compreender em que consiste uma boa gestão de negócio de alimentos administração da manutenção de instalações, equipamentos, materiais e
e bebidas e quais fatores contribuem para o desempenho e peças que compõem a estrutura da empresa, o que o autor abaixo
sobrevivência de uma organização do ramo. confirma:
Um dos principais fatores que contribuem para o desempenho e a
MATERIAIS E MÉTODOS sobrevivência de uma organização é a qualidade dos serviços prestados e
dos produtos oferecidos aos seus clientes. Existe uma tendência mundial
A pesquisa utilizou como metodologia a revisão bibliográfica no sentido de atender plenamente e até superar às expectativas dos
abrangendo a leitura, análise e interpretação de livros e periódicos. consumidores e clientes em relação à qualidade (5).
Todo material recolhido foi submetido a uma triagem, a partir da qual Os profissionais do segmento de serviços de alimentação devem
se estabeleceu um planejamento baseado na leitura atenta e sistemática gerenciar a produção ao mesmo tempo em que gerenciam a distribuição
que se fez acompanhada de anotações e fichamentos que, e as vendas. Há uma exigência superior em relação ao profissional da
eventualmente serviriam para fundamentação teórica. área de serviços de alimentação relativamente ao que acontece noutras
áreas. De facto, quando se atua em restaurantes, buffets, clubes e outros
locais em que os alimentos são servidos diretamente ao cliente, os
RESULTADOS E DISCUSSÃO
consumidores reagem imediatamente à qualidade do produto e do
serviço e a todos os outros fatores que afetam a sua experiência.
Gestão de negócio no ramo de gastronomia não é uma tarefa fácil,
Antigamente gerenciar um empreendimento gastronômico (restaurante,
existem tantos outros negócios, porque investir no ramo de Alimentos
bar, cafeteria, buffet, etc) era tarefa mais simples, pois se tratava
e Bebidas? As razões são diversas, muitas vezes motivadas pelo
simplesmente de gerenciar uma caixa de madeira em que diariamente o
retorno financeiro ou pelo próprio glamour associado a este tipo de
proprietário colocava o dinheiro recebido dos clientes. O dinheiro das
empreendimento.
compras saía da mesma caixa. No final do dia, todo o dinheiro era
Alguns empreendem para obter satisfação pessoal, como o orgulho de
guardado no bolso do proprietário e levado para casa. Com o passar do
ser proprietário de um estabelecimento. Muitos colocam em seu
tempo, a caixa registradora foi instalada. O dinheiro das vendas era
empreendimento suas próprias experiências, vividas enquanto turistas
registrado e o dinheiro ia para a gaveta. Era acoplada uma fita que
e clientes, importando para seu empreendimento conceitos não
registrava os movimentos e que podia ser retirada no final do dia.
necessariamente aplicáveis à realidade de seu negócio (2). O
Eventualmente, o proprietário percebia que precisava de mais dados para
empreendedorismo no setor de alimentos e de gastronomia, além de
ajudar seu negócio. Buscava então os conceitos de contabilidade para
cumprir um importante papel no dia a dia de milhões de pessoas que
registrar os movimentos e preparar um demonstrativo de entradas e
fazem refeições fora de casa, constitui um importante elemento dos
saídas podendo apresentar os resultados do negócio (7).
serviços ligados ao turismo. O sucesso nesse tipo de negócio, deve
A maior parte das empresas está procurando por uma fórmula do
levar em conta uma série de fatores complexos, como o correto
sucesso, ou seja, a fórmula que garanta a solução de todos os problemas.
dimensionamento das instalações, estabelecimento de menus e pleno
O sucesso, porém, não está em seguir cegamente as modernas técnicas e
conhecimento dos custos implicados em cada operação (3).
teorias administrativas, é preciso que haja habilidade para gerenciar o
O ramo de Alimentos e Bebidas é um misto de indústria, de prestação de
que se conhece muito, o que se conhece pouco e o que é desconhecido.
serviços e, de certa maneira, uma atividade comercial. Como indústria,
A gestão em gastronomia está relacionada com planejamento e controle
caracteriza-a pela transformação de matérias primas em produtos
das atividades do referido projeto para atingir os seus objetivos. Todo
vendidos, exemplo: os pratos que são preparados pelos cozinheiros
projeto necessita inter-relacionar fatores relativos à qualidade, custo e
modificando as propriedades organolépticas dos alimentos nos diversos
tempo (8). Com base nisso percebe-se a extrema relevância, na
pontos-de-venda (restaurantes, bares, banquetes). Como prestação de
contemporaneidade, da figura do gestor gastronômico.
serviços caracteriza-se pela venda de mercadoria sem qualquer tipo de
transformação no próprio restaurante, entendendo-se como atividade
comercial, por exemplo, a venda de refrigerante e cerveja (2).
A maior parte do material disponível sobre gestão de Alimentos e
Bebidas foi desenvolvido voltado para a indústria de alimentos e não

8
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O trabalho do gestor gastronômico é amplo e complexo, não podendo 7.MARCELINA, Concetta. Gestão de Empreendimento Gastronomico. ,
ser esmiuçado nos limites de um artigo. Por isso, foram feitas algumas Edição e Produção Virtual Diagrama, São Paulo, 2008.
escolhas e decidido apresentar a discussão sobre a complexidade do
trabalho de um gestor no ramo de alimentos e bebidas. 8. BRUZZI, Demerval G. Gerencia de Projetos. 2. Ed. Editora
Senac São Paulo, 2011

CONCLUSÃO

A pesquisa levou a concluir que o aumento da competitividade, aliado


ao contínuo e acelerado avanço da tecnologia na contemporaneidade,
fazem com que as empresas passem a se preocupar com o frequente
aperfeiçoamento de seus funcionários visando o sucesso do
empreendimento. Essa situação não é diferente em relação aos
restaurantes.
As empresas do ramo alimentício são muito importantes para a
sociedade, contudo, hoje em dia não existem profissionais qualificados
suficientes em relação a gestão, bem como é rara a bibliografia neste
setor. Mais do que nunca, em uma época de transição, ruptura e crise,
sente-se a necessidade de estudar estas empresas e melhor entendê-las
em seus problemas cotidianos, principalmente no que tange à
administração de custos. Finaliza-se, reiterando que uma boa gestão, é
aquela que desenvolve não apenas o empreendimento no caso, os
restaurantes, mas as pessoas enquanto profissionais. Que as nossas
vozes possam se unir a outras vozes e que tragam inspirações para
novas pesquisas na área.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora professora Paulina Mata, da


Universidade Nova de Lisboa e ao Co-orientador Professor Paulo
Henrique, da Universidade Federal do Ceará, pelo incentivo. Agradeço
também à minha Coordenadora de área Mariana Aguiar Lima Vieira,
por me incentivar a participar desse Congresso.

REFERÊNCIAS

1. SEBRAE, 10 Anos de Monitoramento da Sobrevivência e


Mortalidade de Empresas. São Paulo: Editora Sebrae, 2008. Disponível
em: www.sebrae.com.br, acesso em Janeiro/2020

2. ASSAD, M. B. & YAMASHITA, Ana Paula. Gestão


Financeira para Meios de Hospedagem. 2. Ed. Editora Atlas . São
Paulo, 2005.

3. BRAGA, R. M. M. Gestão da Gastronomia: Custo, Formação


de Preços Gerenciamento e Planejamento de Lucros. 1. Ed. Editora
Senac, São Paulo, 2008.

4. FONSECA, M. T. Tecnologia gerenciais de Restaurantes.


1.Ed. Editora Senac, São Paulo 2014

5.LINZMAYER, E. Guia Básico para Administração da Manutenção


Hoteleira. 5. Ed. Editora Senac, São Paulo, 2010

6. CHESSER, J. W. & CULLEN, N. C. Gestão em Serviços de


Alimentação: Liderença e Desenvolvimento de Recursos Humanos
para a Gastronomia. 5. Ed. Editora Manole, São Paulo, 2016

9
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Franquias: Estratégia de Negócio Para Pequenas e Médias Empresas no Setor Gastronômico

Bianca Costa de Abreu


Bacharel em Ciências Contábeis (UNICAP) e Gastróloga (Universo-Recife)
biancacalvitor@gmail.com

Palavras-chave: Empreendedorismo; alimentos; gestão.

INTRODUÇÃO Figura 1 – Esquema do Sistema de Franquia.

A alimentação sempre teve um papel importante na vida do


homem e na formação da sociedade.
De acordo com Paulo Sousa (1) os indivíduos estão cada vez
mais versáteis com relação à alimentação, mas que não adianta investir
somente em antigos costumes, é preciso entender que o mercado está
aberto para o que é novo.
Diante do atual panorama do mercado gastronômico
brasileiro a proposta de transformar o pequeno e médio negócio em
marca para franquia é um desafio possível para o empreendedor que
acredita no seu produto.
O objetivo do trabalho é identificar elementos importantes
para transformar pequenas e médias empresas de alimentos em marcas
para franquias.

MATERIAL E MÉTODOS
Fonte : Autora.
A metodologia empregada foi a análise da realidade
vivenciada pela autora na sua atividade como gestora de O armazenamento dos itens e dos produtos deverão ser feitos
empreendimentos no ramo gastronômico. Para aprofundar o com o máximo de rigor, pois se tratando de alimentos, existem variantes
conhecimento, buscou-se fundamentação teórica em referências importantes que podem deteriorar o produto.
bibliográficas e na legislação. A logística de entrega precisa ser definida pelo franqueador
que, dependendo do produto, pode optar por fazê-lo em caminhões
RESULTADOS E DISCUSSÃO simples, refrigerados ou mesmo em congelados, podendo ser carga
fracionada ou não.
Para que o pequeno e médio empreendedor amplie seu Para realizar controles financeiros (entrada/saídas de notas
mercado utilizando o sistema de franquia/franchising é importante que fiscais, fluxo de caixa), controle de estoques, com inventários
ele conheça a Lei nº 13.966/2019 pois a mesma : periódicos, confrontando com entradas de produtos, vendas e
“Disciplina o sistema de franquia empresarial, pelo qual um desperdícios, o sistema operacional devem ser os mesmos para
franqueador autoriza por meio de contrato um franqueado a franqueador e franqueados. Para que o negócio do franqueador
usar marcas e outros objetos de propriedade intelectual, realmente valha a pena, ele precisa ter mecanismos de controle das
sempre associados ao direito de produção ou distribuição atividades do franqueado.
exclusiva ou não exclusiva de produtos ou serviços e também Planejamento de quantitativo da equipe de cada loja e
ao direito de uso de métodos e sistemas de implantação e treinamento devem ser realizados antes da inauguração pelo
administração de negócio ou sistema operacional franqueador, evitando assim discrepâncias no preparo, manuseio
desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante indevido dos produtos e formas de atendimento dos clientes.
remuneração direta ou indireta, sem caracterizar relação de No treinamento da equipe cada colaborador/funcionário
consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado deve ter especificado sua função. Será treinamento direcionado para
ou a seus empregados, ainda que durante o período de cada área do negócio. Haverá a apresentação dos produtos que constam
treinamento.” no cardápio, mostrando em fichas técnicas, aulas participativas e
A diferença entre a franquia e microfranquia é, segundo a degustações, o modo de preparo de cada um dos produtos, seus tempos
Associação Brasileira de Franchising (ABF), o valor investido de cocção, temperaturas, forma de montagem para que a apresentação
inicialmente pelo franqueado, que é de no máximo três vezes o PIB fique igual, mantendo a qualidade definida pelo franqueador,
anual médio per capita (3) isto é, um investimento de até R$96mil (4). independente da loja que o cliente for consumir.
Mesmo possuindo um porte menor, é possível que uma microfranquia Com todos os itens definidos, conclui-se junto as assessorias
chegue a faturamento aproximado ao de uma franquia (5). jurídicas e contábeis elaborar o contrato com direitos e obrigações do
Para se tornar um franqueador no ramo da gastronomia, franqueador e franqueado, com definição de valores de taxa de franquia,
além dos trâmites legais (abertura de firma, CNPJ e demais como será feita a cobrança dos royalties e taxas de
documentações contratuais), a definição do cardápio é um elemento que divulgação/propaganda.
deve ser destacado no processo, pois é dele que são produzidas as fichas O franqueador precisa zelar pela imagem dos seus produtos
técnicas de cada produto da marca identificando: quantidades, itens na mídia, definindo sempre melhores meios de propaganda para sua
utilizados e modo de preparo. Busca-se desta forma a padronização na marca, e também precisa ter qualidade para se manter no mundo
produção dos alimentos e o controle de quantitativo e qualitativo dos competitivo.
itens utilizados (Figura 1) . Ainda em obra precisa de acompanhamentos periódicos de
A criação de uma identidade visual da marca e detalhamento profissional capacitado do franqueador, dando o aval para inauguração.
do projeto arquitetônico da estrutura física de todas as unidades Após abertura da loja visitas periódicas de auditores da marca deverão
(quiosque, loja de rua ou de shopping, etc.) também deve ser ser realizadas para que a padronização dos produtos, atendimentos,
estabelecida pelo franqueador. Para cada modelo é feito um estudo de controles e higiene estejam de acordo com o contrato assinado com o
viabilidade e é definido um valor a ser investido pelo franqueado. franqueador.
Equipamentos, utensílios, produtos de higiene deverão ser
homologados e especificados pelo franqueador, levando em
consideração a legislação vigente em cada Estado. CONCLUSÕES:
Os itens utilizados em cada produto devem seguir os padrões
de qualidade pré-estabelecidos. É possível transformar um pequeno e médio empresário em
franqueador desde que desenvolva o know-how para seus produtos. O

10
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

termo em inglês muito usado no meio coorporativo pode ser definido


como a “essência do negócio”, pois engloba todos os elementos
estruturadores de planejamento, execução e controle da marca.
A ampliação da visão de mercado utilizando o sistema de
franquia exige do empresário uma atualização constante, engana-se
quem acredita que não há mudanças na padronização, pois cabe ao
franqueador criar novos produtos para o mercado.

REFERÊNCIAS:

(1) SOUSA, Paulo. Contextualização, inovação e competitividade para


negócios em alimentação. São Paulo: Senac, 2020.
(2) BRASIL. Lei nº 13.966 de 26 de dezembro de 2019. Dispõe sobre
o sistema de franquia empresarial e revoga a Lei nº 8.955, de 15 de
dezembro de 1994 (Lei de Franquia). Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Ato2019-
2022/2019/Lei/L13966.htm#art9. Acesso em: 29 jan. 2020.
(3) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRANCHISING – ABF.
Disponível em: www.abf.com.br. Acesso em: 29 jan. 2020.
(4) IBGE. Disponível em: www.ibge.gov.br/indicadores. Acesso em:
29 jan. 2020.
(5) TELLES Renato; MELO, Pedro Lucas de Resende; SILVA, Telmo
José Magalhães da. Valor da Relação com Redes de Franquias: análise
comparada entre franquias convencionais e micro franquias. Revista da
Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.8, n.3, p. 2 -17,
2014.

11
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Dinâmica de Operações Interna: Análise de Um Restaurante Self Service no Rio de


Janeiro
Karla Tonini1, Juliana de Lima2, Ariadne Cassaro3, Ivana Machado4, Maria Moura5, Raquel Kampf6
Palavras-Chave: Gastronomia; Gestão em Serviços; Empreendedorismo;Gestão de Processos
1
Doutoranda em Educação e Ciências e Saúde/NUTES- UFRJ
2
Mestre em Engenharia de Produção-UFRJ
3, 4, 5,6
Graduanda em Gastronomia- UFRJ

Introdução
A vida contemporânea possui características,
onde o tempo é um grande aliado. A alimentação sofreu
modificações para atender a nova condição de vida da
sociedade. Sendo assim, houve um incremento do segmento
de alimentação rápida, denominado self service (1).
Dessa forma, o próprio cliente o cliente torna se
responsável por se servir, pela escolha de uma alimentação
saudável com qualidade e de rápido atendimento (2). Tal
serviço surgiu para atender às novas necessidades da
população pautadas em uma alimentação rápida, além de ser
uma alternativa para substituir o restaurante a la carte(3).
Este trabalho tem o objetivo de analisar as
operações internas de produção de alimentos em um
restaurante self-service localizado dentro de uma
universidade.

Material e Métodos
Para a execução do trabalho foi realizada uma
pesquisa de campo, com entrevistas, aplicação de
questionários, observação baseado em uma revisão
bibliográfica sobre o tema da pesquisa (4). O restaurante
analisado encontra se na Cidade Universitária do Rio de Fonte: Pesquisa
Janeiro/ Brasil. O estabelecimento se caracteriza como um
self-service, sem balança, e o cliente tem direito a um suco, Notou-se no estabelecimento visitado e no
uma porção de proteína e acesso liberado ao buffet de funcionamento do tipo de segmento self-service de modo
saladas e guarnições, sendo possível repetir a refeição. geral, a presença do conceito de workinprocess. Dessa
forma, as atividades prestadas no restaurante, durante o
Resultados e Discussões período de serviço diário, estão em constante trabalho, i.e,
O principal público alvo do estabelecimento é em progresso, já que há reposição dos alimentos e produção
composto por estudantes e funcionários, por conta disso em mesmo durante o momento no qual se serve as preparações
determinadas épocas do ano, como férias e final de período ao cliente.
letivo, o proprietário do restaurante implanta promoções
para atrair mais clientes. O cardápio é baseado em comida Conclusões
caseira, além das preparações fixas, o planejamento do A pesquisa permitiu compreender algumas características
cardápio do estabelecimento é feito a partir da demanda e marcantes do segmento self service, tais como: a fluidez das
sugestões dos clientes. O pagamento é feito logo após o filas e a rapidez da compra, flexibilidade em atender os
cliente se servir, e por ter preço fixo, ele é feito rapidamente clientes, o preço e o diálogo entre funcionário e cliente para
não ocasionando filas. a readequação do cardápio.
A movimentação das preparações dentro do Porém, como ponto de melhoria, observa se ainda a
estabelecimento é feita pela equipe de cozinha que é necessidade de informatização do negócio para um controle
composta pela dona do estabelecimento e uma ajudante e a mais preciso e exato dos custos e entrada e saída das
movimentação no local é feita do estoque para a cozinha e mercadorias.
da cozinha para o buffet. Além disso, há também várias Pode se constatar, que a organização dos serviços, a relação
reposições feitas durante o serviço das preparações que com os clientes e a dinâmica com os funcionários são de
acabam, dessa forma, a cozinha continua em constante suma importância para perpetuar e prosseguir o desempenho
produção para dispor para o cliente tais alimentos. do restaurante.
Observou-se que as relações entre a organização
do serviço, cliente e funcionários da linha de frente, i.e, Referências Bibliográficas
tríade do encontro de serviços, proporcionam diferentes (1) LIPPEL, I. L. Gestão de Custos em restaurantes –
resultados, sendo eles pautados em eficiência, satisfação, utilização do método ABC. Rev. Elet. Tes. Diss. 1, 2008.
controle e autonomia. (2) SEBRAE. Como montar um restaurante self-service.
Para apresentação dos resultados, na Figura 1 SEBRAE, 2019. Disponível em:
temos o fluxograma das operações internas, demonstrando o https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-
processo de preparação e de entrega dos pratos oferecidos montar-um-restaurante-self-service. Acesso em 21 dez.
pelo restaurante. 2019.
(3) REBELATO, M.G. Uma análise sobre a estratégia
competitiva e operacional dos restaurantes self- service.
Figura 1- Fluxograma do processo interno Rev. Gest. Prod. 4, 321-334, 1997.
(4) VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1. 104p.

ktonini.gastronomia@nutricao.ufrj.br

12
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia Social e Empreendedorismo: A Extensão Universitária na Capacitação


de Mulheres em Produção de Geleias e Doces Regionais
Geórgia Goiana2; Giovanna Nunes2; Alessandra Carneiro¹; Matusaíla Macêdo¹, Eveline Alencar¹
¹Professora do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará; 2Graduanda Bacharel
em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. georgiagoiana@hotmail.com
Palavras chave: Gastronomia, Autossustentável, Frutas, Grupo produtivo.

INTRODUÇÃO
2. As atividades práticas ocorreram com o auxílio de fichas técnicas
Nos dias atuais, a presença de múltiplas iniciativas para a promoção do testadas e padronizadas, em que as participantes executavam as
empreendedorismo social, mediante partilha dos recursos e capacitação preparações de acordo com as fichas e posteriormente formava-se ao
coletiva, tem se expandido de forma gradativa desde os anos 1980 final de cada encontro uma roda de conversa para rever o processo, tirar
produzindo dessa forma o movimento social da economia solidária, que dúvidas, demonstrar satisfação ou insatisfação da vivência, além de
também já atinge as dimensões do campo da gastronomia (1). fortalecer o grupo produtivo a ser formado. (2)
3. Manter o acompanhamento na venda de produtos, utilizado com
O projeto de extensão doçura que agrega da Universidade Federal do prática integrativa dos conhecimentos do curso em que as mulheres
Ceará, juntamente com as atividades promovidas pelo programa de poderiam ter contato com a comercialização de seus produtos em um
extensão Gastronomia social (UFC), promoveram a capacitação de um shopping de Fortaleza. A articulação feita pelo MSMC do Bom Jardim
grupo produtivo composto de mulheres da comunidade do grande Bom e instituições particulares proporcionaram uma parceria ao qual o
Jardim, situado a sudoeste na cidade de Fortaleza. Este bairro Shopping cedeu um quiosque por 30 dias para a divulgação e
compreende uma aglomeração de outras cinco comunidades que de comercialização desses produtos.
acordo como IBGE possui um dos IDH’s mais baixos da capital, (3) o Todas as etapas tiveram acompanhamento e supervisão, do MSMC, do
que de certa forma é um chamariz para a promoção de políticas públicas Projeto Doçura que agrega e do Programa Gastronomia Social.
com intuito de modificar esse quadro. O projeto de extensão Doçura
que agrega da Universidade Federal do Ceará, promoveu atividades de RESULTADOS E DISCUSSÃO
capacitação na produção de geleias e doces artesanais, tendo como foco
o aproveitamento de frutas oriundas de doações recebidas dentro do Dados atuais apontam que o Ceará é o terceiro maior exportador de
movimento de saúde mental comunitária do Bom Jardim, o MSMC, e frutas do Brasil, o que faz do Porto do Pecém o terminal que mais
processadas dentro da Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA) exporta frutas do Brasil, concentrando quase a metade de toda fruta
desta instituição. exportada no País (6). E dentro dessa possibilidade a Gastronomia
A produção artesanal tem sido bastante valorizada nos últimos anos, Social UFC e o Doçura que agrega reúnem ferramentas para que
principalmente por serem produtos mais rústicos e sem acréscimo de produtos elaborados dentro da periferia sejam apreciados e consumidos
componentes artificiais, como conservantes ou estabilizantes. Ainda por todos, uma vez que possuem todos os critérios de controle de
neste sentido, tem o apelo que os produtos artesanais despertam, além manipulação no processo produtivo e ainda possui valor social,
do uso de embalagens autossustentáveis, artesanais e que se apresentam trazendo oportunidades de geração de renda e transformação social as
de forma criativa. O objetivo desse trabalho foi relatar as experiências mulheres contempladas.
vivenciadas por mulheres da comunidade do Grande Bom Jardim na
produção de geleias e doces artesanais, bem como a experiência de Os doces e conservas produzidas no grupo apresentam não apenas o
comercializar esses produtos com valor social, gerando renda e processamento de frutas e produção com qualidade comercial, mas
promovendo empreendedorismo comunitário. (2,7) também um produto gastronômico e artesanal, atrelado ao social
promovendo a capacitação de mulheres, cuja maioria são as
Tem-se como objetivo geral desse artigo, promover a divulgação e a mantenedoras e geradoras de renda dessa comunidade que é o grande
associação da gastronomia enquanto proposta social de integração, Bom Jardim.
promoção da cidadania, desenvolvimento cultural e capacitação
profissional dentro de ações sociais. Partindo para o contexto mais Durante o mês de abril de 2019, um grupo formado por 16 mulheres
específico, com esse artigo busca-se destacar o papel da gastronomia oriundas da comunidade foram capacitadas no período de 30 dias dentro
como ferramenta de capacitação e inclusão de mulheres do grupo produtivo, cujas atividades iniciaram com toda a teoria e
economicamente ativas e como estas se tornam protagonistas de sua orientação de boas práticas de manipulação de alimentos até a parte
história dentro de um grupo produtivo experimental desenvolvido na prática da produção e elaboração de geleias e doces como mostram as
parceria com a Universidade Federal do Ceará fotos. As frutas e insumos utilizados foram adquiridos ou recebidos de
doações e por meio de instituições parceiras do MSMC3.(5)
MATERIAL E MÉTODOS
Finalizado o grupo produtivo, os produtos elaborados com esse
trabalho, foram postos à venda e comercializados dentro de um grande
Foi utilizada pesquisa bibliográfica usando a comparação para
shopping de Fortaleza, em um evento permitiu que produtos com valor
adequação do material estudado e a experiência real do projeto, a fim
social pudessem ser adquiridos por frequentadores do shopping. As
de manter um diálogo compreensível com as participantes.
geleias e doces tiveram excelente aceitação do público, onde 98% da
produção foi vendida, fato que motivou ao grupo fazendo acreditar em
A seleção das mulheres aconteceu no MSMC, instituição que
seus potenciais.
administra e organiza todas as atividades ligadas ao movimento, sendo
mulheres da comunidade e que tivessem interesse em aprender sobre
geleias e doces para empreender e fortalecer um grupo produtivo.

Durante a execução do curso a metodologia utilizada se divide em três


momentos: 1. Conhecimentos teóricos iniciais que trataram de
procedimentos, desde a recepção das frutas até a embalagem e
armazenamento das geleias e doces, assim como higiene dos
manipuladores e do ambiente de trabalho, obedecendo as normas de
Boas Práticas (Boas Práticas de Fabricação - BPF, conforme as
Portarias nº.326/97 do Ministério da Saúde; Boas Práticas de Produção
- BPP, descritas também na Portaria n. 1.428/93; e Boas Práticas de
Higiene -BPH, presentes no Código de Práticas de Higiene do Codex
Alimentarius, buscando níveis adequados de segurança alimentar. (4,5)
______________________________________ Figura 1 – Stand expositor no shopping Rio Mar Fortaleza com a produção das
3
MSMC - Movimento de Saúde Mental Comunitária geleias e doces do grupo produtivo.

13
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

REFERÊNCIAS

(1) Cavalcanti, P. 2007. A pátria das panelas: histórias e receitas da


cozinha brasileira. São Paulo: Editora Senac São Paulo.

(2) KÖVESI, B; SIFFERT, C; CREMA, C; MARTINOLI, G. 400g:


Técnicas de cozinha. São Paulo: Companhia editora Nacional, 2007.
568p.

(3) Ceará (Fortaleza). Desenvolvimento Humano Por Bairro em


Fortaleza. Prefeitura de Fortaleza. Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico. Disponível em:
https://pt.calameo.com/read/0032553521353dc27b3d9 . Acesso em: 04
fev. 2020.

Figura 2 – Mulher participante do grupo produtivo, atuando no stand dentro do (4) Dutcosky, S.D. 1996. Análise sensorial de alimentos. Curitiba:
shopping, divulgando e atendendo clientes durante a compra dos doces. Champagnat, 123 p.

(5) Montebello, N. de P; Araújo, W. M. C.; Botelho, R. B. A. Alquimia


dos Alimentos – Série Alimentos e Bebidas – 3ª Ed. 2014. – Senac São
Paulo.

(6) Brasília (Distrito Federal). Perfil de exportação de frutas.


Disponível em https://abrafrutas.org/2020/01/28/8825/. Acesso em 04
fev. 2020

(7) CATTANI, Antônio David; DÍAZ, Laura Mota. Desigualdades na


América Latina: novas perspectivas analíticas. Editora da UFRGS,
2005, pp. 207-233.

(8) Limeira, Tania M. Vidigal. Empreendedorismo social no brasil:


estado da arte e desafios. Disponível em: http://ice.org.br/wp-
Figura 3 – Foto de vitrine expositora com as geleias do grupo produtivo content/uploads/pdfs/Empreendedorismo_Social_no_Brasil_ICE_FG
V.pdf . Acesso em 04 fev. 2020
Dentro dessa proposta e de todo o trabalho realizado, o que se observou
para além da produção final de geleias e doces artesanais, foi a
possibilidade de tornar essas mulheres economicamente ativas por este
processo; elas passaram a ser protagonistas, onde todo o aprendizado
adquirido dentro do grupo produtivo trouxe conhecimento para que elas
a partir dali iniciassem sua transformação pessoal e empreendedora,
gerando renda familiar a partir da produção de doces. (8)

Sob a ótica dessa prerrogativa, observa-se as compreensões sobre o


empreendedorismo social. O Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhamad
Yunus, em seu discurso de premiação, afirmou que os negócios sociais
devem gerar riquezas que sejam reinvestidas no próprio negócio e em
que os ganhos sejam coletivos (7,8).

Portanto, não basta a assistência econômica por parte do Estado; deve-


se promover o desenvolvimento de capacidades que permitam às
pessoas gerar rendas por conta própria e, desta forma, sair por si
mesmas da pobreza. Deve-se fortalecer os mecanismos para a
transformação de capacidades em rendimentos, que por sua vez
possibilitam o desenvolvimento de funcionamentos valiosos e novas
capacidades (8).

CONCLUSÕES

Dentro dessa perspectiva, concluímos o quão válidas são as ações da


gastronomia e o social com o intuito de capacitar e tornar pessoas
protagonistas e empreendedoras. A construção do grupo produtivo que
atendeu uma demanda pontual com um grande shopping de Fortaleza
revelou o quanto essa proposta pode trazer de resultados, valores e
empoderamento de mulheres por meio da gastronomia que as torna
economicamente ativas e envolvidas num propósito. Com o sucesso das
vendas de quase toda a produção, surgiu um encorajamento e
determinação por parte dessas mulheres que viram a possibilidade de
serem protagonistas de uma história de sucesso. Hoje tem-se mulheres
dentro da comunidade empreendendo, produzindo e gerando economia
solidária dentro da comunidade, uma vez que estas não encerraram o
ciclo, mas que deram continuidade vivenciando tudo que adquiriram
dentro do grupo produtivo e do projeto de extensão universitária. Por
meio desse grupo experimental tem surgido possibilidades de capacitar
ainda mais mulheres, de captar por meio de parceiros e instituições
privadas que possuam ênfase no social, a parceria de fazer esse trabalho
expandir e alcançar números cada vez maiores.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Oferta de Opções Vegetarianas em Bares e Restaurantes de Porto Alegre/RS

Filipe Arnoni1, Mauro Mastella2


1 Graduado em Tecnologia em Gastronomia na UFCSPA, Acadêmico do curso de Especialização em Gestão de
Negócios em Serviços de Alimentação SENACSP, filipearnoni@gmail.com
2Doutor em Administração, Professor Adjunto da UFCPA, mauro@ufcspa.edu.br
Palavras-chave: Vegetarianismo; Serviços de Alimentação; Gestão e Hospitalidade.
sobre a oferta de opções vegetarianas estereotipar esse segmento de
INTRODUÇÃO consumidores como aqueles que só comem saladas e
O crescimento da adesão a dietas vegetarianas e diminuição acompanhamentos.
do consumo de carne é um fenômeno social e cultural que já apresenta Ao averiguar-se a existência ou não da indicação das opções
impactos relevantes no mercado do setor de alimentação (1,2). vegetarianas, através de palavras ou imagens nos cardápios, apenas 08
No entanto, os consumidores vegetarianos não buscam (13%) apresentaram algum tipo de indicação em todas as opções
apenas lugares especializados em cozinha vegetariana quando desejam relacionadas, 18 (30%) com sinalização parcial e 34 (57%) não
consumir alimentos (1); dessa forma, alimentar-se fora de casa pode se possuíam qualquer tipo de indicativo.
configurar como um grande desafio (3, 4). Outro fator importante na experiência é também a variedade
Cardápios inamistosos, serviço desinformado e opções de ofertas de pratos principais que atendam suas necessidades (6, 8).
decepcionantes, ou até mesmo a ausência de pratos vegetarianos, são Assim, optou-se por dividi-los em 4 grupos: aqueles que não
dificuldades encontradas constantemente por vegetarianos ao apresentam pratos principais vegetarianos – 4 (7%); com 1 ou 2 opções
frequentarem bares e restaurantes não especializados (3, 4, 5). A fim – 21 (35%), 3 a 5 opções – 22 (37%), 6 a 9 opções – 5 (8%); 10 ou
de auxiliar na compreensão das opções oferecidas a esse segmento de mais opções – 8 (13%). Quanto a análise de valores, os pratos
mercado, o estudo tem objetivo examinar a oferta de opções vegetarianos variam entre 74%-83% dos valores dos pratos não
vegetarianas em bares e restaurantes não especializados em Porto vegetarianos. Entre os pratos principais a variação é menor ficando
Alegre. entre 80%-88% do valor dos pratos vegetarianos, enquanto nas entradas
a variação é de 66%-91% dos valores dos pratos não vegetarianos.
Os número analisados, de modo geral, confirmam os
obstáculos mais comuns enfrentados por vegetarianos ao comer em
METODOLOGIA restaurantes convencionais apresentados pela literatura (6, 8, 4): opções
Foi realizada uma pesquisa descritiva e documental limitadas e sem criatividade (p.e. saladas), falta de conhecimento sobre
exploratória em cardápios de 60 bares e restaurantes que operam na ingredientes compatíveis com o vegetarianismo, falta de indicação no
cidade de Porto Alegre, através de uma amostragem por conveniência. menu de opções vegetarianas, traços de carne ou produtos animais em
Como critério de inclusão foi definida a disponibilização online dos pratos vegetarianos.
cardápios por parte dos estabelecimentos, em sites próprios ou através
de suas redes sociais. Excluiu-se lancherias, fast foods, padarias e CONCLUSÕES
cafeterias, restaurantes sem serviço à la carte, rodízios em geral, bem Verifica-se, através de uma análise crítica dos dados
como aqueles que atendam unicamente ao público vegetariano em apresentados, que ainda há uma dificuldade de alimentação em locais
todo seu espectro. não especializados por consumidores vegetarianos em Porto Alegre.
Essa amostra foi explorada para demonstrar a quantidade Seja pelo reduzido número de opções, pela falta de indicação e
de opções vegetarianas e não vegetarianas; identificar a presença de informação nos cardápios, pela maior presença de opções entre
informação de opção vegetariana; analisar os preços e verificar a entradas e itens de cozinha fria, esse nicho de mercado crescente ainda
distribuição das opções vegetarianas em restaurantes não demanda.
especializados entre cozinha quente ou cozinha fria, bem como dentre Assim, pode-se sugerir uma melhor indicação e descrição
os tipos de pratos no menu (entradas e pratos principais). das opções vegetarianas nos cardápios, a ampliação das opções de
cozinha quente bem como de pratos principais, como forma de atrair
DISCUSSÃO E RESULTADOS esse nicho de mercado crescente. As principais limitações do estudo
Mesmo com o aumento expressivo do número de adeptos em recaem sobre a concentração dos estabelecimentos de alimentação em
outros países e no Brasil, muitas pesquisas apontam a dificuldade uma região da cidade, como também a insuficiência de informações na
encontrada pelos vegetarianos ao alimentar-se estando fora de casa (6, maioria dos cardápios verificados, tais como valores e descrições dos
3, 7) Em Porto Alegre, essas dificuldades podem ser ainda maiores, pratos. Para pesquisas futuras, sugere-se a comparação dos resultados
devido aos hábitos sociais e culturais estritamente ligados ao consumo desta pesquisa com aqueles que seriam obtidos em uma amostra de
de carne e à cultura do churrasco (8). restaurantes especializados.
Os cardápios de bares e restaurantes representam a principal
ferramenta de comunicação com os clientes (9, 10) bem como são REFERÊNCIAS
1. GINSBERG, C. The market for vegetarian foods. Vegetarian Journal,
instrumentos de marketing direto muito importante para despertar o
2017. Disponivel em: <http://kingsvegetarianfood.ca/wp-
desejo no consumidor pela experiência gastronômica (10). Para os content/uploads/2017/02/The-Market-for-Vegetarian-Foods.pdf>. Acesso
consumidores vegetarianos é ponto crítico para seleção de opções em: 16 abr. 2019.
conforme a dieta seguida e a ausência de informação ou identificação
nos menus é uma dificuldade comum enfrentada por eles (4, 5). 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE VEGETARIANISMO. Mercado
Com objeto de verificação nos itens constantes nos Vegetariano. 2018a. Disponível em: <
cardápios, foram analisadas 2.594 opções referentes aos 60 https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/mercado-vegetariano>. Acesso
em: 20 abr. 2019.
estabelecimentos. Destas 810 (31%) restaram configuradas como
entradas e 1.784 (69%) como pratos principais. No mesmo sentido, 3. SHANI, A.; DI PIETRO, R. B. (2007). Vegetarians: a typology for
527 (20%) foram identificadas como opções de cozinha fria e 2.067 foodservice menu development. Hospitality Review, v. 25, n. 2, pp. 66-
(80%) como opções de cozinha quente. Levando-se em consideração 73, 2007.
os números totais, 2.062 (80%) itens foram classificados como não 4. RIVERA, M.; SHANI, A. Attitudes and orientation toward vegetarian
vegetarianos, enquanto 532 (20%) como vegetarianos. food in the restaurant industry: An operator's perspective. International
Nas opções de entradas, 539 (67%) eram não vegetarianas Journal of Contemporary Hospitality Management, v. 25, n. 7, p.
e 271 (33%) vegetarianas, e nas opções de pratos principais 1.523 1049-1065, 2013.
(85%) foram catalogadas como não vegetarianas e 261 (15%) como
vegetarianas. De acordo com o tipo de cozinha, na cozinha fria foram 5. FRANCO, E. de S.; REGO, R. A. Marketing estratégico para
identificados 378 (72%) itens não vegetarianos e 149 (28%) itens subculturas: um estudo sobre hospitalidade e gastronomia vegetariana em
restaurantes da cidade de São Paulo. Turismo, Visão e Ação. v. 7, n. 3.
vegetarianos e na cozinha quente 1.684 (81%) como não vegetarianos Balneário Camboriú. 2005. Disponível em:
e 383 (19%) como vegetarianos. Proporcionalmente, são oferecidas <https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/510>. Acesso
mais opções vegetarianas de cozinha fria. Esses números reforçam (3)

15
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

em: 22 abr. 2019.


6. SHANI, A. “Vegetarianism”, in Pizam, A., International
Encyclopedia of Hospitality Management, Butterworth-Heinemann,
Oxford, 2012, pp. 674-676.
7. RODRIGUES, R. et al. O Vegetarianismo como Estilo de Vida e
Postura de Consumo: uma análise dos fatores influentes na adoção de
uma dieta vegetariana. Vida Sustentável: práticas cotidianas de
consumo. Rio de Janeiro. 2012.
8. FERREIRA, P. G.; MIRAGLIA, F. Os desafios de ser vegetariano na
“terra do churrasco”. Hígia -Revista De Ciências Da Saúde Do Oeste
Baiano, v. 2, n. 1, 2017.
9. BURROW, A; ROSENFELD, D. The unified model of vegetarian
identity: A conceptual framework for understanding plant-based food
choices. Appetite, v. 112, p. 78-95, 2017.
10. SILVA FILHO, Jose Neves da. Restaurante como lugar de
hospitalidade e prestação de serviços: o Eat... Empório Restaurante.
2015. 102 f.: il. Dissertação (Programa de Pós-Graduação Mestrado em
Hospitalidade) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Reutilização do Mercado Novo de Belo Horizonte: Economia Criativa a partir da Gastronomia


Luiza Adelaide Lafetá1
Palavras-chave: cidade criativa, reocupação, alimentação, cultura

Introdução carrega o título de “capital dos bares”, segundo dados da Abrasel


(Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) existem cerca de 12 mil
A partir da observação da experiência de reutilização do Mercado bares e restaurantes em Belo Horizonte (5).
Novo de Belo Horizonte apresentamos uma análise da gastronomia
brasileira no contexto da economia criativa na cidade de Belo Horizonte. Material e Métodos
Repleta de influencias, a cozinha brasileira iniciou-se com a mistura das
culturas indígenas, europeias e africana e se converteu em um dos principais A pesquisa realizada nesse artigo parte da seguinte pergunta: como a
elementos da cultura nacional. Para Dolores Freixa e Guta Chaves a gastronomia se insere no contexto da economia criativa para contribuir para
gastronomia nunca esteve tão em alta como nos dias de hoje. Consequência uma estratégia de desenvolvimento das cidades? Para tanto, foram
do processo histórico de globalização, tendências e ideias se espalham em necessários procedimentos que possibilitaram uma análise em dois níveis: o
décimos de segundos, a alta tecnologia da indústria alimentícia coloca no levantamento teórico dos conceitos norteadores e segundo nível o
mercado mundial uma infinidade de produtos cada vez mais padronizados, aprofundamento a acerca do objeto em si. Para o primeiro nível foi necessário
com gostos e sabores artificiais que seduzem várias camadas da população um levantamento bibliográfico dos conceitos de gastronomia, economia
(1). Como contraponto à padronização de comportamento tem aumentado o criativa e cidade criativa.
interesse de turistas, pesquisadores, gestores e empresários pela degustação
de especialidades da culinária regional. Além do levantamento teórico, foi necessária uma análise documental
dos dados produzidos por órgãos voltados para o estudo da economia criativa.
A socióloga Lilian Moritz Schwarcz aponta que “em um nível mais O principal instrumento, foram os dados levantados pela Agência de
concreto simplesmente comemos – temos fome e saciamos – mas de Desenvolvimento da Economia Criativa de Minas Gerais (P7 Criativo).
maneira abstrata produzimos valores e sentidos, quando pensamos estar Trata-se de uma organização independente, que visa o desenvolvimento e o
lidando apenas com a nossa sobrevivência” (2). Os hábitos alimentares de fortalecimento da economia criativa de Minas Gerais criada em 2016,
um povo contam muito sobre a sua história, que é renovada cada vez que se resultado de uma articulação institucional entre agentes públicos e privados,
repete esse costume de ingerir um alimento, nesse sentido o artigo busca tendo entre seus fundadores o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
aprofundar, no aspecto econômico e social das experiências que tem elevado Empresas de Minas Gerais (SEBRAE), a Federação das Indústrias do Estado
a gastronomia a instrumento de desenvolvimento de uma ampla cadeia de Minas Gerais (FIEMG), a Companhia de Desenvolvimento de Minas
produtiva regional que envolve a alimentação e deliberadamente Gerais (CODEMIG), a Fundação João Pinheiro e a Secretaria de Estado de
potencializam uma estratégia de desenvolvimento criativo das cidades. Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Tem
Tendo como eixo a reutilização do Mercado Novo, buscamos identificar por objetivo transformar o estado de Minas Gerais em polo da indústria
como a gastronomia se tornou o fio condutor de um projeto que repensou criativa nacional (4).
um espaço da cidade e proporcionou a articulação de vários setores da
economia criativa em Belo Horizonte. Os principais instrumentos para o segundo nível da pesquisa foram
entrevistas com gestores, proprietários, empreendedores e pequenos
A análise foi feita a luz da compreensão de que as economias fornecedores que atuam no Mercado. A técnica de entrevista possibilitou
mundiais, tem buscado a chave do seu sucesso econômico na genialidade e colher dados e informações de um processo que ainda está sendo gestado,
nas habilidades dos indivíduos e do coletivo. Segundo John Howkins a permitindo a captação imediata e corrente de informações desejadas,
economia criativa surge do desejo de criar coisas que vão além da dimensão mantendo a preocupação permanente com o problema da generalização dos
pragmática, ela é construída por pessoas com a imaginação e os talentos resultados (6).
necessários para consegui-lo (3). O levantamento nacional realizado pela
Agencia de Desenvolvimento da Industria Criativa de Minas Gerais, o P7 Resultados e Discussão
Criativo (2018) observou que a economia criativa emprega mais de 4,6
A gastronomia passou a ocupar lugar importante na nossa sociedade.
milhões de pessoas no Brasil, o que equivale a 10,1% dos empregos formais
Saiu da cozinha e passou a ser objeto de interesse de várias áreas do
registrados no país em dezembro de 2016. Os grupos “Cultura” e “Criações
conhecimento. Trata-se de um fenômeno que possui interfaces variadas,
Funcionais” são os que mais empregam, representando 51,3% e 28,4% do
extrapolando a mera satisfação fisiológica e cumprindo uma série de funções
total de empregos criativos formais (4).
e expressões que transcendem a fome biológica e se traduzem em costumes,
Embora esses setores comercializem efetivamente valores rituais e demais comportamentos (7). A gastronomia passou a ser reconhecida
intangíveis, eles também produzem uma proporção substancial de como atividade econômica de relevância econômica fundamental, nas
produtos manufaturados que são altamente tangíveis. Empresas e pessoas cidades de diferentes escalas e perfis socioeconômicos. A percepção da
que imprimem livros e constroem cenários para teatros tem tanta gastronomia como indústria criativa se desenrola como uma cadeia de vasto
participação na economia criativa quanto aquelas que escrevem os livros espectro e capacidade de inclusão, da quituteira ao sommelier dos grandes
e encenam as peças de teatros. Portanto, a economia criativa consiste nas restaurantes, envolvendo diversos fornecedores de produtos e serviços. Trata-
transações contidas nesses produtos criativos (3). O campo da economia se da valorização do potencial criativo, da produção local e regional, e de
criativa gastronômica envolve a fabricação de cervejas e chopes, transformar a realidade de uma comunidade a partir do seu conhecimento
fabricação de conservas de frutas, fabricação de produtos à base de café, intelectual.
lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares e restaurantes.
A reutilização do Mercado Novo de Belo Horizonte se insere nesse
Desse modo, a experiência de reutilização do Mercado Novo de Belo contexto, inaugurado em 1963, foi estruturado na ocupação de um terreno
Horizonte tem proporcionado a valorização do patrimônio cultural da cidade onde originalmente havia uma oficina de trólebus e bondes. A proposta
ao mesmo tempo que favorece o desenvolvimento da economia criativa. A inicial da Prefeitura era de realocar os feirantes e comerciantes do vizinho, o
escolha do objeto se deu pela compreensão de que Belo Horizonte é uma Mercado Central, que já funcionava no centro da cidade desde 1929. O
cidade com vocação para o setor de serviços, detentora de uma pequena área espaço em questão tem características típicas de um mercado de
industrial. Afeita às indústrias leves de bens de consumo, a cidade não abastecimento, mas também é um lugar onde ocorrem atividades diversas,
dispõe de equipamentos para um grande projeto industrial. A cidade também

1
É gastrônoma e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas e bolsista CAPES modalidade 1

17
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

que ocupam um prédio envelhecido e deteriorado em um processo de Referências


ressignificação (8).
(1) FREIXA, Dolores; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no Mundo.
No andar térreo estão instalados, principalmente, bares, restaurantes Ed. SENAC. São Paulo, 2017 p.105.
populares, lojas de laticínios, açougues e hortifrutigranjeiros. Nessa parte do (2) SILVA, Paula Pinto e. Farinha, feijão e carne-seca: um tripé culinário no
nível da rua é onde circulam pessoas de menor renda, que vão almoçar nos Brasil colonial. São Paulo: Editora SENAC, 2005. p. 10.
vários restaurantes populares que comercializam “pratos feitos” e se servem (3) HOWKINS, John. The creative economy. How people make money from
nos balcões em torno da área central das lojas onde ficam as cozinhas (8). Ao ideas. London: Penguin Press, 2001 p.12 e p. 17
longo da última década houve várias tentativas de setores culturais de dar (4) P7 CRIATIVO, Agência de Desenvolvimento da Industria Criativa de
novo sentido aos espaços ociosos nos andares superiores. Em 2018, uma nova Minas Gerias. RADAR economia criativa em Minas Gerais. Volume 1 -
tentativa de reocupação foi iniciada, dessa vez usando o espaço do segundo Belo Horizonte, 2018 p.32 e p. 4
andar do mercado, com abertura de dois empreendimentos ligados a (5) ABRASEL. Associação Brasileira de bares e Restaurantes. Matéria
gastronomia: a Cervejaria Viela e a Cozinha Tupis. A primeira se trata de intitulada: Belo Horizonte pode receber título de Cidade Criativa por sua
cervejas artesanais e o segundo de um restaurante que produz um cardápio gastronomia. Publicado em 02/02/2019. Disponível em:
diário a partir de ingredientes disponíveis no andar térreo do próprio mercado https://abrasel.com.br/noticias/noticias/belo-horizonte-pode-levar-titulo-
e possui um formato que parece com os restaurantes do andar térreo, mas com de-cidade-criativa-da-unesco-por-sua-gastronomia/
cardápio e técnicas mais sofisticado, elaborado pelo arrojado chef Henrique (6) LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação:
Gilberto. abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986 p. 16
(7) SANTOS, Carlos R. A. Alimentos e seu lugar na história: os tempos da
Novas instalações foram aparecendo a partir de 2018, praticamente memória gustativa. História: Questões e Debates, Curitiba, n. 42. 2005
todos ligados a gastronomia, como a destilaria Yvy, uma charcutaria, uma p.12
doceria, uma cafeteria que fornece café torrado em grão e em pó cultivado por (8) MAFRA, Nicia Beatriz e SOUZA, Candice Vidal e. O Mercado Novo:
agricultores do interior de Minas Gerais. As características do espaço não são transformações e composições no espaço urbano de Belo Horizonte,
convencionais, assim como o público atual que circula motivado pelo Minas Gerais. Pontourb - Revista do núcleo de antropologia urbana USP.
entretenimento e consumo cultural. Os bares e restaurantes não possuem Revista eletrônica. São Paulo - SP, 2019 p.3, p. 6, p.8 e p.13
mesas; caixotes são improvisados ou alguns bancos altos estão distribuídos (9) UNESCO. A UNESCO e as cidades: uma parceria. Setor de Relações
próximos às lojas. A decoração segue a releitura daquela usada em mercados, Externas e Cooperação. Edição 2018 p.12
com aproveitamento de balcões e engradados de madeira antigos, placas,
utensílios de cozinha aparentes, iluminação usada em espaços industriais (8).
Com uma proposta nova, despojada que usa e abusa da valorização dos
produtos regionais e orgânicos as lojas voltadas a essa vocação se
multiplicaram em um ano, de acordo com Nicolas Bollini, gerente geral do
Mercado o segundo andar possui 200 boxes e 70 empreendimentos ocupam
esses locais. Lojas de vinho, empórios, sorveteria, lanches, queijos, açaí, pães
artesanais e restaurantes de alta gastronomia com assinatura de renomados
chefs se fixaram ali e colocaram o Mercado Novo como principal equipamento
gastronômico e de lazer da cidade, atraindo um significativo público jovem,
de classe alta e turistas.

Conclusões

Os mercados públicos carregam forte significado histórico e cultural,


são foco do discurso e da prática da preservação do patrimônio, da
revitalização urbana e do fortalecimento do turismo. Em Belo Horizonte os
mercados públicos retratam bem as características culturais da cidade e
reforçam a identidade da gastronomia do estado. O Mercado Novo que era
coadjuvante em relação ao famoso Mercado Central, ganhou visibilidade a
partir da metamorfose que a sua reutilização tem promovido, tendo como eixo
central os empreendimentos gastronômicos. Essa analise verificou que a
experiência favoreceu desenvolvimento da economia criativa na capital
mineira e em conjunto com outras inciativas, possibilitou a inserção da capital
na rede de Cidades Criativas da UNESCO. Trata-se da valorização do
património cultural da cidade, que possibilita a atração de pessoas que se
relacionem com a identidade do lugar (9). No caso da capital mineira, trata-se
da valorização dos ingredientes regionais, que podem ser experimentados nos
tradicionais botecos e restaurantes especializados da cidade.

As notícias sobre as novas atrações do Mercado Novo se espalharam,


ganharam os noticiários e os turistas que visitam a cidade, trata-se bem mais
da constatação de descoberta de espaços subutilizados no centro. Trata-se da
redescoberta da gastronomia local. Os donos de negócios recentemente
abertos são descritos como “desbravadores”, expressão tão significativa para
indicar os sujeitos que abrem fronteiras. Os rumos trazidos por esses
“desbravamentos” comerciais trazem novas possibilidades nesse arranjo total
de redes de negócios, produtos e relações sociais. (8). Estamos diante de um
lugar que aponta para a potência criativa valorizando o património cultural da
cidade, que envolve o trabalho em rede de produtores locais que transformam
seus produtos em algo único e de qualidade diferenciada.

A base socioeconómica do Mercado Novo tem sido rejuvenescida


devido à combinação estratégica entre a gastronomia e a criatividade. Talvez o
maior impacto promovido pelo novo uso desse espaço esteja na habilidade de
apresentar um novo modelo de negócio que promove a economia, valoriza os
produtos regionais e coloca no capital intelectual a chave do sucesso.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O crescimento da alimentação vegetariana na última década e a sua influência no mercado


alimentício
Celio Roberto de Oliveira Filho¹, Deivison Augusto dos Santos Domingues², Andrea Cristina Shima da Motta3
¹ Graduando do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da UniCesumar e bolsista do PIBIC8/ICETI-
UniCesumar (celio_nano@live.com), ² Mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela Unicesumar, 3
Mestra em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela Unicesumar.

Palavras chave: Vegetarianismo, consumidor, hábitos alimentares.

Introdução base de carne – podem provocar câncer colorretal, enquanto carnes


A alimentação é algo inerente ao ser humano. Ao longo da vermelhas – como carne de porco e cordeiro – são “provavelmente
história, passou-se a pensar a alimentação de modo diferente. Por cancerígeno para humanos” (9).
muito tempo, a alimentação era tratada com foco na parte fisiológico, Por outro lado, o aumento no número de pessoas que optam por
como se o ser humano fosse só um corpo biológico. No entanto, as não consumirem carnes e derivados, ou reduzir esse consumo, é
pessoas estão inseridas em um contexto social e cultural em que a alavancado pela preocupação latente da população com os impactos
comida tem múltiplos significados, sendo um meio de construção e causados por seus hábitos de consumo. Dentre essas, estão às
afirmação de identidade, além de possuir ligações com a preocupações com o negativo impacto ambiental da pecuária e a
comensalidade. Dessa forma, ela é considerada uma das responsáveis insatisfação com as condições de vida impostas aos animais usados
pela inserção dos indivíduos em diferentes grupos sociais (1). nos processos de produção (10).
Em adição a cozinha caseira, surgem os restaurantes, bares e Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em janeiro de 2017
lanchonetes como aliados na busca por atender a demanda por apontou que 63% dos brasileiros querem reduzir o consumo de carne.
diversidade alimentar. O conceito de restaurante, segundo Castelli (2) A pesquisa também destaca que 73% dos brasileiros se sentem mal
“é o estabelecimento que fornece ao público alimentação mediante informados sobre como a carne é produzida, e 35% tem preocupação
pagamento”. Com uma população cada vez mais globalizada e em de saúde quanto ao seu consumo de carne (11).
busca do suprimento de suas demandas, os restaurantes se espalham Seguindo tais tendências, em todo o mundo há empresas e
pelo mundo apresentando diferentes tipos de culinárias. investidores começando a diversificar sua visão de mercado, com
Dentro elas, pode-se destacar os restaurantes que trabalham com investimentos crescentes no setor de proteínas vegetais e de
alimentação vegetariana. De acordo com a Sociedade Vegetariana substitutos às carnes, leite e ovos. Nomes famosos, como Bill Gates,
Brasileira (SVB), vegetarianismo é o regime alimentar que exclui da Richard Branson (fundador do grupo Virgin) e Sergey Brin (co-
alimentação o consumo dos produtos de origem animal (3). No Brasil, fundador da Google) apostam no crescimento do setor. As estimativas
segundo dados da SVB, existem mais de 240 restaurantes apresentadas na pesquisa do IBOPE revelam que as oportunidades de
exclusivamente vegetarianos além de muitos lançamentos de pratos e negócios são também enormes para as empresas e investidores
lanches vegetarianos oferecidos em restaurantes e lanchonetes não- brasileiros atentos a estes dados (12).
vegetarianas. A SVB ainda conta com um programa de certificações Informações do site Baum & Whiteman International Food
em que estão cadastrados mais de 480 produtos que vão desde Consultants revelam que, desde 2018 a alimentação a base de vegetais
alimentos a cosméticos (4). já figura entre as tendências para alimentos e bebidas (13). De acordo
Desse modo, o principal objetivo deste trabalho consiste na com a consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
análise de como a adesão a alimentação vegetariana vem crescendo na Empresas (SEBRAE), Juliana Berbert, a alimentação vegetariana é
última década no Brasil, e como esse crescimento influência no uma tendência desta década “que veio para ficar” (14).
mercado alimentício. Ricardo Laurino, presidente da SVB, destaca que “o
vegetarianismo está deixando de ser uma escolha de uma parcela
Material e métodos restrita da população, para rapidamente ocupar posição central na
O presente trabalho buscou como caminho metodológico a mesa dos brasileiros” (15).
pesquisa documental, buscando fontes mais diversificadas e dispersas, Embora não haja no Brasil um cálculo específico do tamanho do
sem tratamento analítico (5). Para tanto, recorreu-se à consulta de sites mercado de produtos veganos, a Associação Brasileira de
institucionais, documentos oficiais, portais eletrônicos de notícia, etc. Supermercado (ABRAS) afirma que a demanda por produtos
Desse modo, a pesquisa qualitativa, aqui proposta, é uma linha de vegetarianos é maior do que a oferta no país, com dados da
investigação que não procura seguir um plano elaborado com rigidez. Associação Franquia Sustentável indicando um faturamento de 55
Tal método é concebido, “[...] principalmente, numa perspectiva bilhões de reais em 2015 no mercado de produtos naturais. Para
compreensiva” (6). Guilherme Carvalho, secretário executivo da SVB, a carência por
produtos que não tenham origem animal - e que englobam não apenas
Resultados e discussão o segmento de alimentação - pode sugerir oportunidades para a
No Brasil, em 2018, 14% da população se declarava vegetariana, realização de negócios. "Ao abrir uma empresa com essa filosofia, o
segundo pesquisa do IBOPE Inteligência (7). Isso representa quase 30 empresário vai encontrar demanda imediatamente", afirma (16).
milhões de brasileiros que se declaram adeptos ao vegetarianismo. Em Nos últimos dois anos, acompanhamos uma grande quantidade de
2012, esse percentual era de 8%, o que representa um aumento de produtos de origem vegetal sendo disponibilizados no mercado. A
75% em um período de seis anos. A pesquisa supracitada abordou empresa norte-americana Beyond Meat, que produz “carnes” vegetais
ainda o interesse por produtos veganos (ou seja, livres de qualquer já possui um valor de mercado maior que US$ 7 bilhões, colocando-a
ingrediente de origem animal) na população em geral: mais da metade no clube das empresas de alimentos já estabelecidas, com bilhões de
dos entrevistados, cerca de 55%, declarou que consumiria mais dólares em vendas (17).
produtos veganos se estivessem mais bem indicados na embalagem.
Ainda, 60% declararam que optariam por produtos veganos se Conclusão
tivessem o mesmo preço que os produtos que estão acostumados a A partir das informações apresentadas conclui-se que a
consumir. Nas capitais, esta porcentagem sobe para 65%. alimentação vegetariana está em uma curva de crescimento
O crescimento do mercado brasileiro reflete tendências mundiais: exponencial para os próximos anos. Fatores como preocupações com
no Reino Unido, houve crescimento de 360% no número de veganos o meio ambiente, doenças provenientes de animais e empatia pela
no país no período entre 2005 e 2015. Nos Estados Unidos, o número causa animal, tendem a colaborar para que esses números tornem-se
de veganos dobrou em seis anos, entre os anos de 2009 e 2015 (8). cada vez maiores. Portanto, observa-se que, empresas que pretendem
Essas pessoas tem buscado uma alimentação mais saudável, estar em acordo com as novas tendências alimentares precisam levar
sustentável e ética. Essa preocupação se torna válida quando órgãos em consideração, ao menos em parte, investir em produtos
como a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgam estudos que vegetarianos para que não fiquem em desvantagem, desta forma,
apontam que o consumo de carne processada e carne vermelha poderão se manter competitivas no mercado.
aumentam o risco de câncer. De acordo com a Agência Internacional
para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o consumo de carnes Referências
processadas – como linguiça, bacon, presunto, salsichas e molhos à

19
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

(1) SABATINI, F. Os efeitos de uma intervenção interdisciplinar,


não prescritiva e pautada na abordagem “Health at Every Size” nas
percepções de mulheres gordas acerca do prazer alimentar. São Paulo,
2017. 118 p.

(2) CASTELLI, G. Gestão Hoteleira. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.


p. 297.

(3) Sociedade Vegetariana Brasileira. Vegetarianismo. Disponível


em: https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e. Acesso em: 21
mar. 2020.

(4) SARMENTO, L. C. M. Comportamento do consumidor às


decisões de consumo por alimentação vegana e vegetariana. João
Pessoa, 2018.

(5) FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica.


Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. p. 32.

(6) MATOS, P. F. de; PESSÔA, V. L. S.. Observação e entrevista:


construção de dados para pesquisa qualitativa em geografia agrária.
In: RAMIRES, J. C. de L.; PESSÔA, V. L. S. Geografia e pesquisa
qualitativa: nas trilhas da investigação. Uberlândia: Assis, 2009.

(7,10,12,15) IBOPE Inteligência. 14% da população se declara


vegetariana. 2018. Disponível em:
https://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/14-da-
populacao-se-declara-vegetariana/. Acesso em: 29 mar. 2020.

(8,11) Sociedade Vegetariana Brasileira. Mercado Vegetariano.


Disponível em: https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/mercado-
vegetariano. Acesso em: 25 mar. 2020.

(9) Nações Unidas Brasil. ONU: Consumo humano de carne


processada e carne vermelha aumentam risco de câncer. 2015.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-consumo-humano-de-
carne-processada-e-carne-vermelha-aumentam-risco-de-cancer/.
Acesso em: 27 mar. 2020.

(13) Baum & Whiteman International Food Consultants. Trend


Reports. Disponível em: https://www.baumwhiteman.com/trend-
reports. Acesso em: 25 mar. 2020.

(14) Folha de São Paulo. Pequenas empresas de produtos


vegetarianos crescem 40% ao ano. 2016. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1787773-pequenas-
empresas-de-produtos-vegetarianos-crescem-40-ao-ano.shtml. Acesso
em: 22 mar. 2020.

(16) ABRAS Brasil. Demanda por produtos vegetarianos ainda é


maior do que a oferta no brasil. 2015. Disponível em:
https://www.abras.com.br/clipping.php?area=1&clipping=51257.
Acesso em: 23 mar. 2020.

(17) Money Times. Por que as ações da Beyond Meat estão


disparando nos EUA? 2020. Disponível em:
https://www.moneytimes.com.br/por-que-as-acoes-da-beyond-meat-
estao-disparando-nos-eua/. Acesso em: 30 mar. 2020.

20
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Produto Sustentável Plant Based: Snack de Algas e Casca de Banana

SANTOS, Stéfanie 1; ARAÚJO, Márcio 2; FUTATA, Renata 3; RAYMUNDO, Anabela 4


1
Autor(a) Principal: Estudante de Mestrado do curso de Ciências Gastronómicas na FCT/ISA/ULisboa - Portugal (e-
mail:chefstefaniesampaio@gmail.com)
2,3
Co-autores: Estudantes de Mestrado do curso de Ciências Gastronómicas na FCT/ISA/ULisboa - Portugal
4
Orientador (a) Prof. Doutora Anabela Raymundo, Centro de Investigação em Agronomia, Alimentos, Ambiente e
Paisagem - ISA/Universidade de Lisboa (anabraymundo@isa.ulisboa.pt)

Palavras chave: vegetal; vegano; sustentabilidade; conveniência.

Introdução Sendo assim, a utilização do snack para a mitigação dos impactos


Estudos mostram que no ano de 2050 a população mundial ambientais causados pelo acúmulo de resíduos orgânicos descartados
irá alcançar entre nove e dez bilhões de habitantes. Atualmente, nossos diariamente, concomitantemente contribui para o enriquecimento
hábitos alimentares estão intervindo de forma agressiva sob os nutricional do snack.
recursos naturais do globo, em um futuro próximo o meio ambiente Sob o que foi descrito, o presente projeto teve como
não suportará os impactos negativos causados pelo agronegócio e pela objetivo desenvolver um produto que venha ao encontro das
pecuária que contribuem para o elevado consumo de água e poluição tendências alimentares as quais estão pautadas em preceitos de
das mesmas, como também excesso de libertação de gases do efeito sustentabilidade, acessibilidade (snaking), dieta plant based e
estufa, compactação o solo, aumento de resíduos orgânicos e nutrição, aliado a bons resultados no que tange os aspectos
inorgânicos, queimadas, extinção de espécies da flora e fauna, multissensoriais (sabor principalmente). Dessa forma, excluímos o uso
desequilíbrio de ecossistemas e o uso exacerbado de agrotóxico de insumos de origem animal e priorizamos a utilização de micro e
intervindo na saúde dos consumidores. Dessa forma, mudanças serão macroalgas, casca de banana, e matérias primas livres de glúten e
necessárias, como a redução do consumo de proteína animal a fim de lactose, tornando o produto democraticamente apto para atender
minimizar os impactos no meio (1). diferentes dietas alimentares, e consequentemente atingir um público
Segundo pesquisas, a utilização de novos ingredientes variado.
caracteriza a cozinha modernista e permite desenvolver um conjunto
de novas fórmulas alimentares, tanto em um âmbito da restauração Materiais e Métodos
como pela indústria alimentar. Dentro deste contexto, tem-se a dieta A metodologia da pesquisa se baseou em um estudo
plant based, que consiste em um padrão alimentar que prioriza o teórico-empírico com o intuito de se obter a comprovação prática do
consumo de alimentos vegetais e cereais integrais, associada também aspectos sensoriais do snack por meio de experimentos e análises
ao estilo de vida vegano (2). Seguindo esta linha encontram-se as acerca aspectos multisensoriais. Primeiramente, houve a realização de
micro e macroalgas, utilizadas no âmbito alimentar sobretudo como diversos ensaios a fim de alcançar as características sensoriais
fonte alternativa de proteína. pretendidas. Neste sentido, foram testados diferentes tipos de farinha
As microalgas são microorganismos que realizam alto sem glúten distintas, variedades de banana, o tempo de cocção das
grau de fotossíntese e tem a capacidade de capturar dióxido de cascas para se obter textura ideal, o tipo e a quantidade de gordura
carbono, produzir matéria orgânica e libertar oxigénio para a utilizada para trazer sabor e crocância à massa. Também foram
atmosfera, ou seja, são nossos aliados na mitigação do CO 2. Mais de analisados aspectos como a durabilidade, ou seja, quanto tempo/dias a
50% do oxigênio atmosférico do planeta é produzido por microalgas. tosta permaneceria com suas características organolépticas intactas.
Além disso acumulam uma quantidade elevadíssima de proteínas, Etapas do processo de execução do snack:
podendo alcançar os 70%. Aliado a riqueza proteica, produzem alguns 1. O produto partiu dos seguintes princípios: (i) sustentabilidade, (ii)
compostos bioativos os quais têm um efeito benéfico no organismo produto plant based, (iii) movimento vegano, (iv) algas como fonte de
humano, como os ácidos graxos insaturados, antioxidantes e as proteína de origem vegetal, (v) produto prático e versátil.
substâncias antiinflamatórias, todos estes elementos têm benefício 2.Sugestão de nome para o produto: A ideia principal foi trazer nomes
direto à saúde (3). que remetem às seguintes palavras chave: alga, mar, sustentabilidade,
Acerca da inclusão de macroalgas nos hábitos alimentares snack, crocância. Um nome pequeno, sonoro e de fácil memorização.
é perceptível a sua incorporação crescente no mercado atual. Bruno Desta forma, o nome escolhido foi o VeaBite - V(de vegan) ea (sea -
Leite em sua tese afirma que, “Nas últimas décadas, houve um S + V) Bite (do inglês - mordida).
crescente interesse no seu uso em formulações alimentares devido aos 3. A análise descritiva do produto realizada pela equipe consistiu na
benefícios nutricionais do consumo de algas; preocupações fabricação em um snack fina e crocante, a qual levou em sua
relacionadas com o meio ambiente e o crescimento da população composição um mix de farinha sem glúten, mix de micro e macroalgas
mundial também impulsionaram uma tendência de mercado.” em pó, castanha de caju crua triturada, óleo de coco e casca de banana,
Somando-se a isso,“As macroalgas marinhas são únicas, sendo esta em forma de purê e também incluída em pequenos pedaços
acrescentando cor, textura e sabor diferenciados à comida, na massa. Elaborou-se uma ficha técnica com formato preciso para
características que as tornam candidatas para uso em inovações fabricação em média ou grande escala de produção.
culinárias”. Também acrescenta que “A assimilação dessas matérias
primas teria que ser feita de maneira lenta e gradual. Uma estratégia Resultados e Discussões
bastante adotada foi a de incorporar as algas sob a forma de farinha, O trabalho de criação do snack ocorreu durante a unidade
que poderia ser empregada de diversas maneiras: fina em produtos curricular de Reologia e Textura dos Alimentos do programa de
de panificação ou massas, granulada, como substituta do sal ou Mestrado em Ciências Gastronómicas (2019) no Instituto Superior de
condimento, em aplicações diversas” (4). Agronomia da Universidade de Lisboa. O projeto, que resultou de um
No que tange a diminuição de resíduos orgânicos através desafio apresentado pelas empresas Alga+ e Allmicroalgae, consistiu
da reutilização integral de alimentos, uma alternativa seria a utilização na criação de um produto comercial com uma mistura de micro e
de cascas de frutas, como por exemplo, da banana, as quais macroalgas (Algaessence®:https://www.algaplus.pt/algaessence/)
representam 47 a 50% em peso da fruta madura. Esta é uma fruta para a preparação de um snack saudável, recorrendo-se à aplicação de
altamente consumida no Brasil, não somente devido às suas técnicas relacionadas com o escopo da disciplina. Por fim, o melhor
características sensoriais e nutricionais, como também devido ao preço produto seria levado a uma feira de inovação em produtos alimentícios
acessível, fato que se justifica pelo país ser um dos principais na Suíça (https://www.vitafoods.eu.com/en/welcome.html). Haveria
produtores da fruta, com a marca de seis milhões de toneladas por ano. demonstração/degustação do snack oferecido durante a feira para
As cascas de bananas possuem teores significativos de fibras e divulgação, verificação da aprovação do produto pelos comensais,
minerais, porém são pouco exploradas pelas indústria.Nesse sentido, provável captação de clientes, distribuidores, parceiros e etc.
seguem alguns teores de fibras da casca de banana: “a quantidade de Futuramente, o produto seria lançado no mercado em uma feira na
fibras totais em 100g de farinha oriunda da casca da banana é de Alemanha (https://www.figlobal.com/hieurope/en/home.html).
22,64 %, sendo 12,76% insolúveis e 9,88% de fibras solúveis” (5). Após a fabricação dos snacks identificamos propriedades

21
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sensoriais bastante satisfatórias. Verificamos que a massa possuía Concluímos que o snack possui grandes chances de tornar-
crocância e delicadeza oriundos do óleo de coco e dos óleos essenciais se um produto em potencial para o mercado, partindo dos resultados
da castanha de caju, ambos ricos em gordura vegetais saturadas e positivos baseados em análises sensoriais empíricas. Acreditamos que
insaturadas, respectivamente. A casca de banana cozida ofereceu o snack destina-se a um público diversificado enquadrando-se nas
propriedade de emulsionar, conferir umidade e influenciar no sabor novas tendências de consumo em especial das pessoas que buscam um
agradável. O resultado foi um snack verde amarronzado (característica estilo de vida mais saudável através da alimentação, além de
proveniente do uso de algas e das Reações de Maillard durante o praticidade em seu dia a dia. Por se tratar de um produto que não utiliza
assamento). Ao toque é bastante crocante e não se desfaz nem nenhum ingrediente de origem animal em sua fórmula, também tem
amolece com a umidade relativa do ar, possui um leve aroma de mar como público-alvo as pessoas que são adeptas às dietas vegetariana e
devido ao uso da alga, assim como um sabor sutil de coco e castanha vegana. Sendo também um produto sem glúten e sem lactose, tem
de caju. Além disso, observamos de forma empírica o tempo que o como foco não somente as pessoas com restrições alimentares, mas
produto permaneceu com características sensoriais positivas, como também aquelas que consideram este tipo de produto mais saudáveis.
crocância, textura e sabor, e verificamos que após quinze a vinte dias,
em temperatura entre 20 e 28O C, armazenado em local Referências Bibliográficas
hermeticamente fechado, o snack se manteve com propriedades 1.Fundação Calouste Gulbenkian. O Futuro da Alimentação:
semelhantes ao produto fresco, revelando possuir boa durabilidade e Ambiente, Saúde e Economia. Abril de 2013.p.5. Disponível em:
maior tempo de prateleira. https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/o-futuro-da-
Um dos pontos importantes para o sucesso de uma futura alimentacao-pdf.aspx. Acesso em: 23 de julho de 2020, 17h.
comercialização do produto é pautada em sua versatilidade, pois pode 2. ALEIXO,M;LEAL, R; et al. Redes Sociais Como Fontes De
ser consumido de diferentes maneiras, seja como snack, como base Informação Para Pesquisas De Mercado: Um Estudo Sobre
para canapés ou ainda como guarnição na composição de um prato. Veganismo e as Dietas “Plant-based” -Instituto Federal de
(FIGURA 1) Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, v. 1, n. 7.2020.
Disponível:https://revistascientificas.ifrj.edu.br/revista/index.php/ali
mentos/article/view/1376/766. Acesso em: 24 de julho de 2020, 20h.
3. Uday Bhan Singh & A. S. Ahluwalia. Microalgae: a promising tool
for carbon sequestration.Received: 6 February 2012.p.75.
Disponível:https://www.researchgate.net/publication/257622995_Mi
croalgae_A_promising_tool_for_carbon_sequestration. Acesso em:
24 de julho de 2020, 21h.
4. LEITE, Bruno Souza Moreira. Novas Alternativas para o Uso de
Macroalgas da Costa Portuguesa em Alimentação. Dissertação
Figura 1: Montagem do snack como canapé para entrada (direita); para obtenção do Grau de Mestre em Ciências Gastronómicas.
Ingredientes e snack já assado, pronto para o consumo (esquerda) Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Nova de Lisboa,
A partir das pesquisas realizadas pela INNOVA (2020) março, 2017.p.62 a p.67. Disponível em:
verificou-se que os consumidores também desejam produtos com https://docplayer.com.br/59297131-Novas-alternativas-para-o-uso-
texturas variadas as quais valorizam as características organolépticas de-macroalgas-da-costa-portuguesa-em-alimentacao.html. Acesso
dos alimentos e que relacionam-se ao prazer da degustação (6). Em em: 23 de setembro de 2020, 11h.
concordância com essa afirmação, decidimos adicionar cubos de casca 5. LION, A; YANAZE,R. Obtenção e Caracterização de Farinha
de banana à massa com o intuito de obter texturas distintas e ser mais de Cascas de Bananas Verdes e Maduras.Trabalho de Conclusão de
interessante ao paladar do comensal, sem tornar-se monótono ao Curso, Universidade Tecnológico do Paraná, Londrina, 2018. p.10
degustar um número maior de unidades. p.17.Disponível:http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/
Atualmente, há um número elevado de consumidores em 10562/1/LD_COALM_2018_2_01.pdf. Acesso: 05 de agosto de
busca de produtos biológicos associada à preferência pelo consumo de 2020, 14h.
produtos locais, sobretudo provenientes de pequenos produtores (7). 6 e 7.SILVA, L.M.et al. Inovação e Tecnologia na Formação
Nesse sentido, torna-se necessário encontrarmos pequenas Agrícola: Inovação e Criação de Novos Negócios. edição 1. Lisboa:
empresas/produtores locais, como fabricantes de doces de banana ou/e Editora Associação dos Jovens. Disponível
escolas e restaurantes que estejam dispostos a disponibilizarem em:https://foodindustryexecutive.com/2019/11/innova-announces-
resíduos da casca de banana biológica para torna-se nosso parceiro e top-10-food-trends-for-2020/.Acesso em: 27 de julho de 2020, 16h.
contribuir na construção do projeto. 8. AGROCLUSTER Tendências do Mercado Alimentar da União
Segundo o manual da agrocluster de 2019, Europeia Aspetos do consumo, produto, distribuição e
“tendencialmente os principais métodos de diferenciação dos comunicação.Ribatejo, 2017. 2015, p.62. Disponível em:
produtos são: a inclusão de histórias e receitas, e a aposta em https://docplayer.com.br/5576121-Tendencias-do-mercado-
embalagens novas e de qualidade premium. Os principais fatores que alimentar-do-brasil-aspetos-do-consumo-produto-distribuicao-e-
impulsionam o consumo são: a saúde, a facilidade no uso e o prazer. comunicacao.html . Acesso em: 27 de julho de 2020, 10h.
Concluindo, a inovação e lançamento de novas referências (novos
sabores, novas variedades, tamanhos, embalagens) são as tendências
chave para os mercados mundiais, onde os consumidores procuram
alimentos que os surpreendam e ofereçam valor acrescentado.
Alimentos étnicos, bonitos, “free of” (lactose, glúten, etc.)
convencionais e funcionais são os mais procurados” (8).
Por fim, pensamos em um tipo de embalagem que desse
continuidade ao viés sustentável do produto, a qual consiste em um
saco de papel com visor e fecho ziplock. Como pode ser visualizado
no exemplo abaixo, o material mescla papel kraft e plástico
biodegradável. Na embalagem também estaria destacada a logomarca
do snack, representada na figura 2.

Figura 2: Sugestão de embalagem biodegradável (direita) e logomarca


(esquerda).

Conclusão

22
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e Territorialidade LGBT: Construção de Ambientes de Sociabilidade em


Estabelecimentos Gastronômicos na Avenida Manoel Borba (Recife/PE)

Robson Luis Trindade Lustosa¹; Eduardo Augusto Silva²


¹Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Faculdade Senac Pernambuco.
²Licenciado em Geografia, UFPE. robsonllustosa@fac.pe.senac.br.

Palavras chave: pertencimento, economia noturna, pink money, nicho mercadológico.


Introdução destes territórios comerciais em funcionamento. Neste sentido, o
A marginalização dos indivíduos LGBT perdurou durante capitalismo contemporâneo cria mecanismos que atendam os mais
décadas, no entanto, a quebra de estereótipos e o avanço variados segmentos sociais, dentre eles os grupos marginalizados
sociocultural da população, em geral, a organização e luta de grupos (5,6,7).
ativistas e os movimentos de reivindicação de inclusão, respeito à A gênese da territorialidade LGBT está ligada a fatores de
diversidade e igualdade de direitos possibilitaram uma ampliação do consumo, vida noturna e exclusão social. Neste contexto, o consumo,
público LGBT em diferentes esferas e segmentos econômicos. O em geral, utiliza-se de símbolos que constituem elementos de
próprio Movimento LGBT, aliado à sua ascensão, visibilidade e pertencimento e que sinalizam uma identidade LGBT. O uso dos
representatividade, despertou interesses econômicos mundo a fora e estabelecimentos comerciais por parte dos frequentadores se dá,
passou a ser “explorado” por diversos segmentos do mercado, dentre portanto, de forma simbólica e afetiva, pois os indivíduos se sentem a
eles os relacionados ao setor de Turismo e Hospitalidade, incluindo vontade para expressar-se de acordo com suas personalidades,
aí a Gastronomia (1,2,3,4). relacionadas à própria sexualidade, para socialização e convívio
Neste contexto, surge o “capitalismo rosa” atrelado ao conforme seus interesses. A expressão da identidade homossexual
consumismo do público LGBT, onde, em sua maioria, ainda são leva em consideração fatores como o preconceito, a exclusão social e
denominados de DINKS (casais profissionais e sem filhos), com a vida em uma sociedade heteronormativa, que faz com que muitos
potencial de gastar com artigos de luxo e vestuário, turismo, lazer e indivíduos LGBT não exerçam de forma plena a sua identidade
entretenimento que se aproximam dos novos padrões de consumo, na (6,7,9,10).
chamada economia noturna, onde se destacam atividades ligadas ao A comunidade LGBT estabelece relações com seu meio,
entretenimento e ao setor gastronômico (4,5). Assim, nos transformando-o conforme a sua compreensão e realidade. O bairro
empreendimentos que ofertam produtos e serviços para a da Boa Vista, localizado na região Político-Administrativa/RPA1 da
comunidade LGBT circula o chamado pink money, termo que cidade do Recife (PE) reúne a maioria dos espaços comerciais da
expressa o poder de compra da comunidade LGBT e que passou a ser cidade destinados ao público LGBT, como bares, restaurantes,
utilizado diante da constatação de que o consumo deste grupo era boates, além de outros estabelecimentos e serviços que tornam este
responsável por uma expressiva movimentação econômica nos bairro o epicentro das mais diversas expressões de sexualidade
serviços de turismo e lazer, gastando ainda mais que os principalmente na Avenida Manoel Borba.
heterossexuais (1,4). O estudo da territorialidade traz consigo aspectos
Aponta-se que este grupo social, por sentir-se relevantes à compreensão das dinâmicas sociais onde determinados
marcadamente excluído pela sociedade, encontra no consumo grupos se tornam agentes da realidade socioterritorial. Uma vez que o
noturno, sua estratégia mais importante de formação de identidade de “capitalismo rosa”, o pink money e seus consumidores DINKS
grupo e autorreconhecimento. Dessa forma, a constituição de apresentam a grande capacidade de consumo por parte do público
territórios pelo grupo LGBT se dá sobremaneira por meio da LGBT e estabelece uma nova configuração mercadológica em um
apropriação econômica de estabelecimentos comerciais no espaço, novo sistema de consumo, voltado para a economia noturna, é
cujos frequentadores buscam estes serviços por questões relacionadas relevante a investigação sobre a relação e acepção do público LGBT
à identificação e pertencimento no que se refere à sexualidade, o que com os empreendimentos gastronômicos localizados em uma das
acarreta em territorializações fechadas em espaços privados de lazer principais metrópoles da região Nordeste com vistas à construção de
onde se sentem “incluídos” socialmente (6,7,8,9). uma territoriabilidade social e identitária.
Alguns estabelecimentos gastronômicos se territorializam Assim, o principal objetivo desta pesquisa é verificar a
como segmento de lazer LGBT, por meio de mecanismos do grande construção de territorialidade pelo público LGBT nos
capital, e se utiliza da busca de consumidores socialmente empreendimentos gastronômicos localizados à Avenida Manoel
marginalizados com consumo potencial, vendo aí uma possibilidade Borba, possuindo como objetivos específicos: analisar os conceitos
de geração de lucros. Isto se afirma em diferentes estudos os quais de território e territorialidade em relação à comunidade LGBT, com
apontam que não são os indivíduos que territorializam os enfoque nas perspectivas de uso e de apropriação e identificar os
empreendimentos comerciais, mas sim utilizam-se de serviços fatores que levam a população LGBT a buscarem determinados
destinados ao grupo LGBT e que contribuem para a permanência estabelecimentos gastronômicos como espaços de convivência.

23
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Material e métodos Verificou-se, ainda, que na Avenida Manoel Borba,


No tocante aos procedimentos metodológicos, realizaram- existem espaços com ocupações e funções distintas na transição do
se a observação in loco na Avenida Manoel Borba, Boa Vista, Recife diurno ao noturno, onde a maior parte do comércio está fechada ao
(PE) e a aplicação de questionário online, através de recurso início da noite e a partir daí surgem novos espaços como bares,
tecnológico Google Forms através de smartphone, junto aos sujeitos restaurantes e boates, trazendo relações de uso do espaço urbano
desta pesquisa: pessoas LGBT que frequentam o local. diferenciadas daquelas que ocorrem durante a manhã e à tarde, onde
A pesquisa no local fora realizada tanto para verificação a noite se destina ao entretenimento e ao lazer LGBT. Essa
das características dos serviços noturnos voltados ao público LGBT, característica de territorialização se dá significativamente nos
no segmento gastronômico, bem como elementos identitários da grandes centros urbanos onde há fluidez nas relações de uso do
cultura gay, ocorrendo em novembro de 2019, bem como para espaço urbano nos períodos diurno e noturno, com alternância do que
entrevistar frequentadores e proprietários dos estabelecimentos. Não é dedicado ao comércio e ao lazer, respectivamente. Neste contexto,
foi possível o contato com os empreendedores dos estabelecimentos o primeiro cenário se desfaz e configura-se um novo ambiente que se
gastronômicos, devido a indisponibilidades destes, sendo esta uma “refuncionaliza” com a abertura de espaços destinados
das limitações da pesquisa. exclusivamente ao grupo LGBT, como bares, restaurantes e boates,
Optou-se por amostragem não-probabilística por assim como a presença de pessoas que buscam esses serviços de
conveniência e a seleção dos indivíduos pesquisados foi do tipo bola lazer noturno. É notório o crescimento da economia noturna LGBT e
de neve (snowball), onde pessoas identificadas primordialmente LGBT-friendly como espaços cotidianos de encontro e sociabilidade
pertencentes à comunidade LGBT e que fazem uso frequente dos (6,7,8).
espaços da Avenida Manoel Borba foram indicando novos O uso da Avenida Manoel Borba pelo público LGBT é
participantes para a realização da pesquisa e coleta de dados via verificado nos horários noturnos (93% dos respondentes), o que
questionário, alcançando o total de 47 participantes. O questionário ocorre concomitantemente com a abertura de alguns espaços e
foi do tipo Survey e as perguntas foram desenvolvidas segundo os estabelecimentos comerciais (restaurantes, bares e boates),
conceitos de território e territorialidade, identidade e pertencimento demonstrando essa transição entre frequentadores héteros e
as quais foram tomadas como dimensões analíticas deste trabalho. homossexuais. Este caráter cíclico se organiza e segue na dinâmica
Os resultados foram categorizados em planilha eletrônica territorial onde os usos dos espaços urbanos se alternam conforme os
para categorização a posteriori e as falas transcritas dos respondentes serviços oferecidos e interesses dos frequentadores e de acordo o
foram analisadas de forma temático-categorial segundo o método de horário, seja diurno e/ou noturno, constituindo, assim, espaços
Análise de Discurso (11). territoriais fluidos, onde um único espaço dá origem às mais diversas
apropriações no mesmo dia (2,5,6). A territorialidade LGBT na
Resultados e discussão Avenida Manoel Borba se dá no espaço público e privado,
A caracterização sociodemográfica aponta 93% principalmente no período noturno, e a apropriação efetiva e a
identificam-se como homens cis e 7% se autodeclarou como conscientização por parte dos diferentes atores com relação ao uso
mulheres cis. As idades dos entrevistados variaram entre 20 e 49 deste espaço dá origem à territorialidade LGBT na área.
anos, havendo maior concentração de respondentes na faixa etária Nos estabelecimentos visitados, foram percebidos
que vai de 20 a 29 anos (52%), seguido da faixa de 30 a 39 anos elementos identitários da cultura LGBT, destacadamente nos bares,
(44%). Ambas são faixas etárias consideradas economicamente como a bandeira do arco-íris, imagens e figuras de artistas
ativas, destacando-se a faixa de 30 a 39 anos. Esta informação leva à homossexuais ou da cultura Pop e ícones LGBT, como Madona e
inferência de que os indivíduos entrevistados enquadram-se na faixa Cher. Os territórios de convivência homossexual se caracterizam
etária a qual possui renda e acesso financeiro aos serviços prestados pelos símbolos ligados a ele e nos ambientes que materializam a
pelos empreendimentos LGBT na Avenida Manoel Borba. afirmação dessa identidade. Muitos espaços de consumo e de
Na Avenida Manoel Borba e no seu entorno, foi possível sociabilidade voltados para a comunidade LGBT incorporam, em
identificar um grande volume de empreendimentos voltados à certa medida, elementos do discurso ativista do “orgulho” e da
comunidade LGBT, tanto no segmento gastronômico e de lazer, “visibilidade”, explicitando o seu direcionamento a um público de
como bares (n=7), restaurantes (n=2), boates e casas noturnas (n=3), orientação sexual determinada e compartilhando símbolos
quanto de outros espaços de uso comum por estes indivíduos, como relacionados com o movimento, como é o caso da bandeira do arco-
saunas (n=2) e cinemas homoeróticos (n=1). Muitos negócios íris, largamente empregada em espaços políticos e de lazer LGBT
destinados ao público LGBT estão no setor de serviços, sobretudo (6,8,10). Destaca-se a rejeição a espaços que não se expressam de
voltados para o lazer e entretenimento. São identificadas boates, acordo com sua sexualidade ou que apresentam a falsa ideia de
bares, restaurantes, saunas, agências de viagem, festas em ambientes ausência de preconceitos de maneira maquiada e com objetivos
privados, entre outros, porém observa-se que a maior parte dos puramente mercadológicos (pinkwashing). sem constituir um espaço
serviços direcionados ao público gay fica restrita aos grandes centros exclusivo ou preferencial para as sociabilidades homoafetivas.
urbanos (6,7,8,9). Quanto ao uso desses estabelecimentos gastronômicos,
majoritariamente, as respostas às entrevistas (98%) confluem com a

24
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

perspectiva de que possibilitam os encontros, seja com amigos ou Fortaleza-CE para o Público LGBT. Conexões - Ciência e
Tecnologia, [S.l.], v. 11, n. 5, p. 32-43, dez. 2017.
paqueras, em um contexto de liberdade, sobretudo de expressão,
assim como de acolhimento (97%), onde indivíduos se identificam 5. DALPIAN, P. R. C.; SILVEIRA, T. Locais de mercado,
diversidade e exclusão interseccional. Cad. EBAPE.BR, Rio de
em grupo e sentem-se à vontade, ou se sentem seguros coletivamente
Janeiro , v. 18, n. 2, p. 377-390, jun. 2020 .
(93%). A corporeidade sexuada está intimamente relacionada com o
6. JESUS, D. S. V. À Margem da Margem: LGBTs e a economia
espaço, sobretudo na formação dos territórios urbanos, provocando
noturna do samba nas Zonas Norte e Oeste do Rio de
acolhimento, indiferença ou exclusão, onde em oposição à Janeiro . Revista Baru - Revista Brasileira de Assuntos Regionais
e Urbanos, Goiânia, v. 4, n. 1, p. 77-92, set. 2018.
heteronormatividade, as manifestações homoafetivas e homoeróticas
são interditadas, sendo permitidas nos espaços privados ou em locais 7. FREITAS, B.; PORTUGUEZ, A. P. Consumo, exclusão social e a
dinâmica de produção do território LGBT+ na área central de
claramente identificados como permissíveis ao afeto homossexual.
Uberlândia, MG. Brazilian Geographical Journal, Ituiutaba, n. 2,
Ainda, a violência contra homossexuais, pressiona a comunidade v. 4, p.539-560, jul./dez. 2013.
LGBT à escolha e à construção de espaços reservados, pois o espaço
8. BARRETO, R. C. V. Geografia da Diversidade: Breve Análise das
público torna-se um ambiente de grandes tensões (5,7,8,9). Territorialidades Homossexuais no Rio de Janeiro. Revista Latino-
americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1, p.14-20,
O lazer, diversão e entretenimento (98%), alimentos e
jan./jul. 2010.
bebidas (86%) oferecidos pelos empreendimentos gastronômicos,
9. FRANCH, M. Juventudes coloridas: sociabilidade, consumo e
assim como o seu uso como ponto de encontro entre amigos e
subjetividade entre jovens LGBT em João Pessoa. Latitude, vol. 6,
“iguais” (98%) são considerados pelos respondentes como elementos n°1, pp.71-82, 2012.
atrativos para as suas escolhas e ocupações desses espaços os quais
10. JESUS, D. S. V. Só para o moço do corpo dourado do sol de
possibilitam a sua interação enquanto grupo. Ipanema: distribuição espacial da economia noturna LGBT na cidade
do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais, Recife, v. 19, n. 2, p. 288-309, maio/ago. 2017.
Conclusões
11. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
Esta pesquisa revela que a Avenida Manoel Borba
apresenta uma conglomeração de espaços comerciais no segmento
gastronômico voltados ao público LGBT e, ademais de sua
potencialidade como segmento econômico, os restaurantes, bares,
boates e casas noturnas são capazes de estimular a socialização e
proporcionar prazer ao indivíduo, além de suprir as necessidades
fisiológicas de segurança, de status, de autoestima, de autorrealização
e necessidades sociais de seus frequentadores os quais se
apropriaram dos diferentes espaços e através de suas identidades
agregaram significados a eles, produzindo assim uma territorialidade
LGBT.
Vale ressaltar que, além do campo econômico e
simbólico, a ocupação e dominação desses estabelecimentos
gastronômicos como territórios confluem para a construção de
espaços de convivência, liberdade e refúgio, onde palavras como
proteção, medo, preconceito e rejeição, direcionam a comunidade
LGBT para esses espaços existentes na Avenida Manoel Borba para
que possam ser reconhecidos por seus semelhantes e exercer
livremente a sua identidade.

Referências
1. MELLO, G. Cidade-armário: o não-lugar e a violação do direito ao
lazer como expressão da cis-heteronormatividade. Sexualidade &
Política: Revista Brasileira de Políticas Públicas LGBTI+, São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 179-217, jan./jun. 2019.

2. CARVALHO, C. O.; MACEDO JÚNIOR, G. S. ‘Isto é um lugar


de respeito! ’: A construção heteronormativa da cidade-armário
através da invisibilidade e violência no cotidiano urbano. Revista de
Direito da Cidade, v. 09, n. 1, p. 103-116, 2017.

3. FERREIRA, G. G.; AGUINSKY, B. G. Movimentos sociais de


sexualidade e gênero: análise do acesso às políticas públicas. Rev.
katálysis, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 223-232, dez. 2013.

4. FERREIRA MENDONÇA, D.; FERREIRA LIMA, J. C. O


Panorama da Rede Hoteleira Midscale da Praia de Iracema em

25
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Queijo e gastronomia: estudo de caso.

Cintia Cristina Ebertz Malinoski Beims (1), Denis Alcides Rezende (2)

(1) Aluna de Graduação em Gastronomia, Faculdade Senac Paraná.


(2) Professor, Administrador, Pós-Doutor, Faculdade Senac Paraná.
E-mail: denis.alcides.rezende@gmail.com

Palavras-chave: Alimento. Produção artesanal. Gastronomia.

1. INTRODUÇÃO preparar dados; coletar dados; analisar dados; e documentar dados. A


A produção de queijo artesanal é considerada uma estratégia de unidade observação da pesquisa foram gastrônomos e nutricionistas.
reprodução social e econômica sob a responsabilidade dos O protocolo de pesquisa determinou 35 variáveis de queijo e 5 de
agricultores familiares e essa prática frequentemente está inserida gastronomia (14).
predominantemente no mercado informal com implicações O período da pesquisa foi de agosto de 2019 a maio de 2020.
econômicas, culturais e sociais. Apesar disso, as políticas públicas
pouco valorizam e interessam por tais atividades mais tradicionais, 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
que não se encontrem inseridas no mercado formal (1). A análise mostrou um percentual de gordura baixa de 4%, sendo
Quanto aos problemas de pesquisa, o queijo onde o leite está positivo comparando com outros queijos é considerado um queijo
contaminado torna-se um desafio para a indústria laticínista, por ser magro, o queijo cottage é uma a boa escolha para uma alimentação
mais ácido e perecível (2). O Brasil produz um milhão de toneladas saudável e equilibrada, comparada a outros queijos, como por
de queijo por ano. Um quinto desse total é feito artesanalmente, com exemplo, o queijo prato que contém cerca de 43% de gordura em sua
leite cru (que não passou pelo processo de pasteurização). Boa parte composição, é classificado como um queijo gordo.
do queijo artesanal brasileiro é vendido informalmente, pois falta ao A análise do percentual de umidade do queijo cottage é de 80%. Ou
produto o registro nos serviços de inspeção sanitária, seja municipal, seja, é suficiente pois é um queijo que apresenta muita umidade, uma
estadual ou federal (3). Considerando que o mercado informal vez que sofre lavagem diversas vezes durante sua produção. É um
equivale a 40% do total da produção de queijos no Brasil, pode-se queijo fresco e deve ser consumido rápido, diferentemente de outros
estimar que a produção informal tenha sido da ordem de 380 mil queijos que podem ser armazenados por mais tempo. Assim como o
toneladas em 2006, o que significa um mercado total da ordem de queijo cottage, o queijo minas padrão também apresentou um teor
952 mil toneladas (4). alto de 48% de umidade em sua composição.
Quanto as justificativas da pesquisa, observa-se que para a produção A análise do queijo cottage apresentou textura cremosa granular,
de um adequado queijo, a qualidade microbiológica do leite, seja ele adequado porque é ideal para ser usada em pães, torradas, saladas,
pasteurizado ou cru, é fundamental para a preparação de queijos. Ela tortas, pratos doces e salgados e ainda, como elemento para
pressupõe um gado saudável, boas práticas de higiene na ordenha e incorporar pratos mais sofisticados. Por ser um queijo magro, é
no manuseio do leite, higienização eficiente dos equipamentos e muito consumido por pessoas que estão cuidando de sua saúde e bem
utensílios utilizados e, finalmente, o resfriamento do leite a estar.
temperaturas entre 0-4 °C, no máximo 2 h após a ordenha. Essas A análise é adequada quanto a classificação do queijo cottage, o
práticas permitem que o leite mantenha a qualidade microbiológica definiu como um queijo fresco, ou seja, deve ser consumido rápido,
por até 72 horas, mas não significam ausência de bactérias. Inclusive para manter o aroma, a textura, e a cremosidade característica deste
porque o leite é um ótimo meio para crescimento destes micro- queijo.
organismos (2). A produção de queijo tem importância econômica, A análise de maturação do queijo gruyere é suficiente, pois é de
particularmente para os pequenos produtores que enfrentam quatro meses, o que é bastante tempo comparado ao queijo minas
dificuldades para cumprir a legislação estadual (5). As relações entre frescal cuja maturação se dá em torno de 20 dias. Porém existem
alimentos, bebidas e gastronomia carecem de aplicação da gestão outros queijos que levam maior tempo de maturação como é o caso
com base na ciência da administração (6). do queijo parmesão que pode levar de 6 meses a 2 anos.
O objetivo é analisar o queijo e suas relações com a gastronomia. A análise quanto ao formato do queijo gruyere apresentou forma
cilíndrica, assim como gruyere o queijo gorgonzola também
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA apresentou forma cilíndrica em seu formato. É adequada porque Boa
O queijo é um dos mais antigos alimentos preparados que a história parte dos queijos conhecidos nacionalmente tem esse formato.
da humanidade registra. A arte da fabricação de queijos tem seu A análise do queijo gruyere identificou a cor como amarelo pardo.
início perdido num passado remotíssimo, milhares de anos antes de Tornando–se bom para sua apresentação, os queijos apresentam uma
Cristo (7). É um concentrado lácteo constituído de proteínas, lipídios, variação de branco ao creme, como amarelo ouro e amarelo pardo. O
carboidratos, sais minerais, cálcio, fósforo e vitaminas, entre elas A e queijo amarela possuem um teor de gordura maior, comparado aos
B. É um dos alimentos mais nutritivos que se conhece (2). Produto queijos brancos.
derivado do leite (de vaca, ovelha, cabra, búfalo ou outros), A análise do queijo minas frescal, demonstrou que ele é um queijo
resultante de um processo de produção cujas fases são a coagulação, brasileiro, muito apreciado e atende o gosto do brasileiro. E a análise
a retirada do soro, a moldagem, a prensagem, a salmoura e a quantitativa mostrou que sua durabilidade é pequena em torno de 9
maturação (8). O processo de elaboração de queijo é formado a partir dias, ruim em comparação com outros queijos. Também temos outros
da coagulação do leite, em que ocorre a formação de uma massa queijos artesanais brasileiros como o minas padrão, diferentes do
sólida e a separação da parte líquida do leite. São quatro etapas: queijo frescal sofre maturação de 20 dias.
matéria prima; coalhada; drenagem; enformagem e prensagem (9, A análise da textura do queijo minas frescal o identificou como um
10). queijo macio e têm pouca durabilidade em comparação aos demais
A gastronomia é o conhecimento fundamentado de tudo o que se queijos. A análise quantitativa demonstrou que o queijo minas frescal
refere ao homem na medida em que se alimenta e governa a sua (11). dura em torno de 9 dias sob refrigeração tornando ruim quanto ao seu
Os produtos culinário-gastronômicos são percebidos por diferentes tempo de durabilidade. O queijo ricota também tem pouca
sinais, como as cores, texturas, gostos e sons, que identificam e durabilidade deve ser consumido em torno de 3 dias.
distinguem um produto alimentício-gastronômico dos outros. Estes A análise do queijo minas frescal apresentou cor esbranquiçada.
aspectos sensoriais podem ser percebidos pelos sentidos do corpo, e Geralmente os queijos classificados como frescos possuem uma
lembrados em associação com reações emocionais e psicológicas coloração mais clara que os demais queijos, sendo positivo pois
(12). queijos frescos tem uma coloração mais claras.
A análise mostrou que o queijo minas frescal apresentou forma
3. METODOLOGIA DA PESQUISA cilíndrica sendo favorável para este queijo mesmo sendo esta foi à
Elaborou um estudo de caso em Curitiba (amostra) com uso de forma da maioria dos queijos neste estudo.
técnicas qualitativas e quantitativas (13). Contemplou as fases: A análise demonstrou que o leite do queijo minas padrão é
pasteurizado. O que apresenta mais segurança para inibir o

26
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

2
crescimento de micro-organismo, sendo favorável para a segurança leite/busca-de-noticias/-/noticia/25562253>. Acesso em: 09 de
do queijo. Os queijos que passam pelo processo de pasteurização, setembro de 2019.
apresentam maior segurança para os consumidores. Muitos queijos (4) SEBRAE. Estudos de mercado: queijos nacionais, 2008.
ainda são feitos com leite cru, e destas formas os riscos de Disponível em: < www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus>. Acesso
contaminação do produto se torna maior, o que é negativo tanto para em 24 de outubro de 2019.
o consumidor quanto para o produtor do queijo.
A análise do queijo minas padrão apresentou um percentual de 24% (5) VICENTINI, N. M. et al. Custo da adequação de pequenos
de gordura. Ele apresenta um teor de gordura médio, razoável em produtores de queijos. Estado de Minas Gerais. Instituto de
comparação aos queijos com maiores porcentagem de gordura como Lacticínios Cândido Toste. 2013. Disponível em
é caso do queijo prato que contém 43% de gordura em sua <https://revistadoilct.com.br/rilct/article/view/45>. Acesso em: 14 de
composição. O ponto positivo nessas variações de teor de gordura é setembro 2019.
que pessoas com restrições alimentares em gorduras e ou dietas (6) REZENDE, D. A. Planejamento estratégico público ou
podem escolher o tipo de queijo mais magro de acordo com a privado com inteligência organizacional: guia para projetos em
classificação de gordura presente no rótulo do produto ou de acordo organizações de governo ou de negócios. Curitiba: Intersaberes,
com o fabricante/produtor. 2018.
A análise do queijo minas padrão apresentou um percentual de 48% (7) CIÊNCIA DO LEITE, 2013. A história da fabricação de
de umidade. Assim como o cottage que apresentou 80% de umidade queijos no mundo. Disponível em
em sua composição. Esses queijos com alto de teor de umidade, <https://cienciadoleite.com.br/noticia/228/a-historia-da-fabricacao-
apresentam fator negativo que é, um tempo menor de prateleira, de-queijos-no-mundo>. Acesso em: 08 de setembro de 2019.
como é o caso do queijo minas frescal que deve ser consumido em
até 9 dias sob refrigeração. (8) CHALITA, M. A. N. et al. Algumas considerações sobre a
Foram elaboradas outras análises, dentre elas dos queijos: minas fragilidade das concepções de qualidade no mercado de queijos no
curado; mussarela; prato; provolone; provolone curado; quark; ricota; Brasil. Informações Econômicas, SP, v. 39, n.6, p. 77-88, 2009.
roquefort; e camembert. (9) AZEVEDO, A. Nutrição pratica e saudável. 2018. Disponível
Quanto a análise comparativa de queijo e gastronomia, apresentou em: <http://www.nutricaopraticaesaudavel.com.br/nutricao-e-
adequada, uma vez que existem muita variedade de queijos tornando saude/como-se-faz-queijo>. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
ótimo para a gastronomia e várias maneiras de apreciá-los. A (10) PIMENTEL, C. Nutrição e saúde como se faz: queijos. 2019.
gastronomia por sua vez, também tem muitas variáveis dependendo Disponível em: <www.nutricaopraticaesaudavel.com.br/nutricao-e-
da região, da cultura, e dos chefs. A gastronomia vem crescendo saude/como-se-faz-queijo>. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
muito em cada região do nosso país. Muitos cursos na área de
gastronomia vão surgindo, o que resulta em uma demanda de novos (11) FREIXAS, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no
chefes. Cada região vai se adaptando para oferecer o que produz de mundo. São Paulo: Senac, 2017.
melhor aos seus visitantes e consumidores. Desta forma, também o (12) KOERICH, G H. et al. Culinária, sensorial idade e memória:
queijo, teve um aumento de sua produção, consumo e de uma revisão sobre marca gastronômica. Revista Turismo: estudos e
apreciadores, fazendo com que novas combinações e técnicas de práticas, v. 8, n. 1, 2019.
fabricação surjam conquistando os mais diversos paladares. (13) GIL, A. C. Estudo de caso. São Paulo: Atlas, 2009.

5. CONCLUSÃO (14) LAKATOS, E. M. Fundamentos da metodologia científica. 6


O objetivo proposto foi alcançado ao analisar queijo e sua relação ed. São Paulo: Atlas, 2010.
com a gastronomia, sendo avaliados diferentes tipos de queijos,
características e particularidades gastronômicas.
Quanto aos resultados auferidos, a pesquisa identificou os diferentes
tipos de queijos e diferentes tipos de leites para a produção de
queijos. As tradições quanto a fabricação de queijos é antiga e
atualmente apresenta grande variedade de sabores, texturas e aromas.
Cada queijo tem particularidades de acordo com as regiões e ou
países em que são produzidos. Houve crescimento na produção e
consumo de queijo em todo o mundo, desta forma, estão presente em
preparações simples e ou mais sofisticadas de vários chefs.
A pesquisa contribuiu para a área da gastronomia, para evidenciar
variáveis do queijo, desta forma, demonstrar os diferentes tipos de
queijos e sua utilização na gastronomia. Está presente, ganhando
mais espaço em pratos simples e ou mais elaborado, feito por
grandes chefs ou cidadãos. Também contribuiu para que as pessoas
saibam diferenciar alguns tipos de queijos, e a maneira de armazenar,
prazo de consumo, teor de gorduras, entre outros, deste alimento, e
assim, melhorar o poder de escolha dos consumidores. Ainda,
contribuiu para a cidade de Curitiba, que recebe turistas de diversas
partes do país e do mundo, mostrando que há vários lugares que se
tem queijo a venda, de vários preços e qualidades, podendo ser
inserido em vários pratos desde um simples sanduíche a um prato
mais elaborado.
Este trabalho também contribui como material metodológico para
pesquisas científicas e consultas futuras.
A pesquisa está limitada a um estudo de caso e não pode ser
generalizada.

REFERÊNCIAS
(1) MENEZES, S. M. Queijo de coalho: tradição cultural e estratégia
de reprodução social na região Nordeste. Revista de Geografia
(Recife), v. 28, n. 1p. 40-56, 2011.
(2) PERRY, K. S. P. Queijos: aspectos químicos, bioquímicos e
microbiológicos. Química Nova, v. 27, n. 2, p. 293-300, 2004.
(3) EMBRAPA. Gado de leite: pesquisa para a caracterização do
queijo artesanal 2017. Disponível em: <www.embrapa.br/gado-de-

27
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gestão De Talentos: Abordagem Estratégica No Setor Gastronômico

Fernando Paes1, Rafael Campos2, Fabíola Potzik3


1
Pós Graduando, Faculdade Galileu, 2Professor de Pós-graduação Lato Sensu, Me. Saúde Coletiva - Faculdade Galileu,
3
Docente de Alimentação e Nutrição, Ma. Gestão em Alimentos e Bebidas - Senac São Paulo
feortiz3@hotmail.com

Palavras-chave: Restaurantes, fast-food, recursos humanos, serviços de alimentação

Introdução Boas Práticas para Serviços de Alimentação da Agência Nacional de


Vigilância Sanitária. Visar para além do lucro, aperfeiçoar-se em ações de
A área da gastronomia vem reconhecendo a importância de ter controle sanitário na área de alimentos para proteger à saúde da
uma equipe qualificada, motivada e que esteja conectada com as população. Desenvolver profissionalmente seus funcionários, através de
expectativas e cultura da empresa, embora ainda sejam poucas as treinamentos, palestras, cursos profissionalizantes, entre outros (4, 5).
organizações que invistam em qualificação de seus funcionários (1).
O segmento de restaurantes comerciais, necessita qualificar a 3) Plano de Carreira: estruturado que atenda às necessidades
gestão de pessoas nas organizações, para que possa oferecer condições de organizações, seus funcionários podem traçar metas e objetivos
segurança alimentar à população consumidora (1). individuais, resultando num melhor desempenho do trabalho em grupo e
O diferencial competitivo das organizações deste segmento, é aumento da qualidade nos processos, procedimentos, produtividade e
o seu capital humano, pois, suas operações são de maneira artesanal, qualidade do produto e/ou serviço final.
envolvendo diversas responsabilidades de extrema importância, tais
como: manipulação de alimentos, higiene do ambiente e dos funcionários, 4) Remuneração: a remuneração financeira é importante, mas
controle de qualidade de produtos, eliminação do risco de contaminação sozinha não mantém a motivação, comprometimento, satisfação pelo
e normas técnicas especificas para o seguimento com objetivo, trabalho, aumento da produtividade e lealdade dos funcionários. A partir
compreender e listar as ações realizadas para gestão dos talentos em dessa realidade, as organizações vêm desenvolvendo novas formas de
serviços de alimentação (2). remunerações (6, 7).

Objetivo 5) Avaliação de Desempenho: ferramenta de avaliação e


Este estudo teve como objetivo, compreender e listar as ações desempenho juntamente com o feedback tem como objetivo principal
realizadas para gestão dos talentos em serviços de alimentação. melhorar a performance e desemprenho do indivíduo e da empresa, sendo
necessário efetuar de maneira ambilateral levando em conta o ponto de
vista do gestor, funcionário e da equipe.
Material e Métodos

Trata-se de uma pesquisa qualitativa na qual buscou-se Conclusões


compreender os fenômenos abordados principalmente à base de narrativas
e experiências dos gestores. Os dados foram coletados através de um Recomenda-se, a valoração assertiva do capital humano nos
questionário semiestruturado e interpretados pela análise de discurso de restaurantes comerciais pesquisados como apoio ao gestor. Uma
Vergara (3). elaboração estruturada e orientada no processo de recrutamento e seleção
de novos funcionários, acrescendo no processo, testes e/ou dinâmicas que
Para análise dos resultados foi utilizada a técnica de análise de identifique o perfil comportamental dos candidatos, para ampliar esses
discurso que, de acordo com Vergara (1997), é um método que visa não conhecimentos sobre o indivíduo entrevistado, com isso alinhando a
só compreender como uma mensagem é transmitida, como também função e perfil.
explorar o seu sentido. Portanto, a análise do discurso inclui o contexto
no qual ele está inserido e não considera somente o que se fala, mas como O desenvolvimento de método de integração à novos membros
se fala. da equipe na rotina e cultura organizacional, possibilitando a redução no
impacto da rotatividade de funcionários. A busca de diferentes, e
Participaram desta pesquisa, cinco gestores de restaurantes
inovadoras, formas de desenvolvimento profissional dos recursos
comerciais do município de Botucatu - SP, classificados por linhas de
humanos, com apoio de ferramentas de desenvolvimento educacional
atuação: à la carte e fast-food.
como cursos e treinamentos.

Divulgação clara e objetiva do plano de carreira dentro da


Resultados e Discussão empresa, apresentando novos meios de remuneração e benefícios, além
de implementar práticas de feedback para tornar à relação entre empresa
Os resultados sugerem cinco categorias significativas para e funcionários mais estreita e alinhadas as expectativas de ambas as
compreender como vem sendo realizadas as ações para gestão de talentos: partes.
Sugere-se a realização de estudos futuros com consequente
ampliação do número de respondentes e uma amplitude geográfica
1) Recrutamento e Seleção: desenvolvendo um processo significativa, que represente todo o território nacional, e obtendo mais
estruturado de recrutamento e seleção, com divulgação da vaga em locais informações sobre a gestão de talentos. Um possível estudo com os
estratégicos, aumenta a possibilidade de atrair profissionais talentos que funcionários também poderia ser aplicado buscando as percepções do
são mais qualificados e aptos para preencher o posto de trabalho vago. ponto de vista do recurso humano.
Realizar entrevista de emprego estruturada e individualizada, minimiza a
margem de erro na escolha do candidato que melhor atende as Mesmo com essas limitações, acredita-se que este estudo possa
expectativas da empresa e para tornar-se efetiva a ambientação do recém contribuir para novas indicações de estudos no setor de alimentos e
contrato, a integração é fundamental. bebidas, em especial o segmento à la carte e fast-food, bem como
estimular a discussão em relação ao entendimento dos processos
2) Treinamento e Desenvolvimento: As empresas precisam decisórios, e no campo gerencial, espera-se que contribua para que as
operacionalizar-se embasadas nas diretrizes do Regulamento Técnico de empresas do setor possam ter uma melhor perspectiva dos fenômenos em

28
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

torno da gestão de talentos, que possam estudar e possibilitar em suas


estratégias empresariais

Referências

1-CAVALLI, Suzi Barletto; SALAY, Elisabete. Gestão de pessoas em


unidades produtoras de refeições comerciais e a segurança alimentar, Rev.
Nutr., Campinas, 20(6):657-667, nov./dez., 2007.

2-Centro de Vigilância Sanitária. Portaria CVS-5, de 09 de abril de 2013.


Regulamento técnico de boas práticas para estabelecimentos comerciais
de alimentos e para serviços de alimentação. DOE de 19/04/2013 - nº. 73
- Poder Executivo – Seção I – pág. 32 - 35.

3-VERGARA, S. M. Projetos e relatórios de pesquisa em administração.


São Paulo: Atlas, 1997.

4-BHOGANADAM, Syamala Devi; RAO, Dr. Dasaraju Srinivasa. A


Study On Recruitment And Selection Process Of Sai Global Yarntex
(India) Private Limited, IJMRR/ October 2014/ Volume 4/Issue
10/Article No-5/996-1006 Syamala Devi Bhoganadam et. al./ Inter. Jour.
Man. Res. Rev., India.

5-BROWN, J., 2007. Employee Orientation: Keeping New Employees on


Board. Inter. Pub. Man. Ass. Hum. Res. Disponível em:
<http://cdn2.hubspot.net/hub/59176/file-15741175-
pdf/docs/employee_orientation.pdf>. Acesso em: 07 set 2020.

6-GHENO, R.; BERLITZ, J. Remuneração estratégica e pacote de


benefícios: um estudo de caso aplicado ao nível operacional de uma
multinacional. Rev. Adm. UFSM, Santa Maria, v. 4, n.1, p. 268-287
mai./ago. 2011. Disponível em:
<https://periodicos.ufsm.br/reaufsm/article/view/709/2087>. Acesso em
28 ago 2020.

7-MUDOR, H.; TOOKSOON, P. Conceptual framework on the


relationship between human resource management practices, job
satisfaction, and turnover. Jour. Eco. Beh. Stu. Vol. 2, No. 2, pp.41-49,
Feb. Thailand 2011.

29
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Alimentação em tempos de pandemia: Extensão Remota no Programa de


Aceleração de Empreendimentos Gastronômicos (PAEG)
Karla Tonini1, Juliana de Lima2, Ceci Santiago3, Vinicius Rangel4, Emilli de Souza5

Palavras-Chave: Gastronomia; Empreendedorismo; COVID-19.


1
Doutoranda em Educação e Ciências e Saúde/ NUTES- UFRJ- Docente em Gestão de Serviços
Gastronomia/INJC/UFRJ – ktonini.gastronomia@nutricao.ufrj.br
2
Mestre em Engenharia de Produção UENF- Docente em Gestão de Serviços Gastronomia/INJC/UFRJ
3
Doutoranda em Educação Universidade Lusófona Portugal- Coordenadora Acadêmica e Docente em
Gestão de Serviços Gastronomia/INJC/UFRJ
4,5
Graduando em Gastronomia INJC/UFRJ

Introdução demanda e sistemática da condução remota do projeto, com


O mercado de foodservice nacional vem o objetivo de manter a interatividade entre os participantes e
enfrentando desafios, tanto na área econômica, com a alta do o projeto.
desemprego e a queda do PIB (-4,7%) em 2020 no setor de Para isso, o material didático era enviado aos
serviços, quanto na área da saúde, em função da pandemia alunos com uma semana de antecedência, para aproximação
de COVID-19. Esses fatores aumentaram a escassez de com o tema e levantamento de dúvidas prévias ao docente.
clientes, a preocupação com a higiene sanitária dos Dessa forma, as lives, i. eram planejadas com foco nas
estabelecimentos e dos trabalhadores do setor de demandas apresentadas pelos participantes, com o objetivo
alimentação fora do lar (1). de dinamizar a apresentação dos conteúdos.
O Programa para Aceleração de Ainda como forma de interação do projeto com
Empreendimentos Gastronômicos (PAEG) faz parte das os participantes, semanalmente são divulgados posts com
ações de extensão do Curso de Gastronomia da UFRJ, com informações e matérias ligadas ao tema dos módulos a
o objetivo de capacitar, estimular e apoiar a formação serem apresentados no projeto. Também são realizadas,
profissional de empreendedores na área de alimentação, por quinzenalmente, e intercalado com as aulas, encontros
meio de atividades tais como: cursos, projetos e eventos, remotos com outros profissionais ligados à área de
voltados para a discussão, planejamento, implementação e alimentação, com foco nas suas atividades e projetos, por
avaliação dos negócios de empreendedores que atuam na meio de entrevistas e discussões também na plataforma
área de alimentação. Instagram.
O PAEG possui parcerias com o Projeto Social As temáticas selecionadas para os convidados do
Diamantes na Cozinha e o Projeto Social Gastromotiva, com projeto, foram bem estar dos idosos, empreendedores
intuito de selecionar empreendedores participantes dos dois relatando suas estratégias de adaptação logística através de
projetos, que tenham interesse em aumentar a capacitação deliverys em tempo de pandemia, o diálogo com a atuação
dos gestores e consequentemente à gestão do negócio. Dessa do terceiro setor, a apresentação de outros projetos de
forma, o projeto busca complementar experiências para extensão do curso de Gastronomia da UFRJ e dos Projetos
esses profissionais que estão sendo formados em ambos os Sociais parceiros, Diamantes na Cozinha e Gastromotiva.
projetos, utilizando a gastronomia como uma ferramenta de
mudança. Resultados e Discussões
Com a chegada da pandemia de COVID-19, as Os módulos já apresentados foram de
estratégias do PAEG, precisaram ser adaptadas à realidade Empreendedorismo em Negócios Gastronômicos,
atual, focando principalmente na manutenção do princípio Atendimento a clientes, Identificação de Público Alvo,
constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e Higiene e Legislação Sanitária, Gestão Operacional de
extensão (2). Assim, foi feita uma adaptação a sua forma de Serviços, Empreendedorismo com foco na Semiótica,
atuação, para o formato de ensino remoto, por meio da Comportamento do Consumidor e Custos em Negócios
realização de lives quinzenais, sob a responsabilidade de um Gastronômicos. Até o final de setembro serão apresentados
docente e um aluno voluntário do curso de Gastronomia da os módulos: Planejamento de Negócios e Técnicas
UFRJ. Culinárias.
Observa-se que através dessa nova sistemática de
Objetivo atuação e dos diálogos interativos, que os alunos voluntários
O objetivo do presente trabalho é contextualizar do projeto PAEG aprenderam a atuar de forma
as alterações feitas nas diretrizes do PAEG à modalidade contingencial, além de transferir os conhecimentos
remota, de acordo com a conjuntura atual relacionada à adquiridos em sala de aula para os empreendedores
pandemia do COVID-19. selecionados. Os empreendedores participantes, por sua vez,
interagem de forma intensa e utilizam o conhecimento
Metodologia adquirido para traçar estratégias, otimizar o processo
Para atendimento a nova demanda do PAEG foi produtivo, atingindo assim as expectativas dos clientes
feita uma remodelação do uso do Instagram do projeto, que atendidos.
precisou elaborar conteúdos semanais sobre A avaliação da nova sistemática do PAEG até o
empreendedorismo, gestão operacional, financeira e aos momento está relacionada ao aprendizado obtido por meio
demais temas relacionados a negócios em alimentação. dos materiais e métodos utilizados pelos professores do
Além disso, foi elaborado um cronograma projeto. Os empreendedores reportam a adoção do conteúdo
quinzenal de lives, i.e, um fórum online abordando temáticas apresentado nas lives e no material didático dando feedback
específicas do projeto. A distribuição dos módulos e recorrem aos docentes e alunos voluntários buscando
temáticos, o dia e horário levou em consideração as ajuda quando dúvidas surgem.
particularidades dos empreendedores, no enfrentamento da
pandemia. Dessa forma, para execução das atividades do Considerações Finais
projeto, foram necessárias adaptações para atender a nova

30
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O projeto PAEG foi criado com o intuito de da interação dialógica, além da indissociabilidade entre
transmitir conhecimento teórico para ser aplicado na prática, ensino, pesquisa e extensão, o impacto na formação do
por meio de aulas presenciais, oficinas, palestras, entre estudante, do empreendedor e também o impacto na
outros. Ao longo deste período de pandemia da COVID -19, transformação social, sempre propondo uma via de mão
foram feitas adaptações ao projeto para forma de execução dupla ao definir o que apresentar e de que forma fazê-lo.
remota, com o objetivo de manter o projeto ativo e atender
as demandas dos alunos empreendedores. Referências Bibliográficas
Por meio do feedback dos participantes, (1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
observamos que a forma remota da execução do PAEG, não ESTATÍSTICA (IBGE). Painel de Indicadores. In <
comprometeu seu objetivo de auxiliar na capacitação de https://www.ibge.gov.br/indicadores#variacao-do-pib >.
pequenos empreendedores na área de alimentação, pois se Acesso em 14 de agosto de 2020.
estabeleceu uma canal dinâmico de comunicação entre o (2) FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS
projeto e os participantes para ajustes de dúvidas e INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
orientações. BRASILEIRAS (FORPROEX). Política Nacional de
Sendo assim, a forma remota de aplicação do Extensão Universitária. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS,
PAEG, atende as diretrizes da extensão universitária, através 2012. v. 7.

31
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e Sustentabilidade: o projeto Realimenta como colaborador para o


reaproveitamento de alimentos e para transformação social
Eveline Braga1, Eveline Costa2, Andréa Aquino3, Giovana Barros4, Geórgia Goiana4, Leonardo Lima4.
1
Gastrônoma do Instituto da Primeira Infância - IPREDE. 2 Docente do Bacharelado em Gastronomia da Universidade
Federal do Ceará - UFC; 3Docente do Curso de Engenharia de Alimentos, 4Discentes do Bacharelado em Gastronomia
da UFC. eveline.sales@hotmail.com

Palavras-chave: Inclusão, Conservas, Capacitação, Empreendedorismo.

INTRODUÇÃO Programa Gastronomia Social da UFC e o projeto Realimenta,


ambos são ações extensionistas realizadas pelos Cursos de
Bacharelado em Gastronomia e Engenharia de Alimentos da UFC.
O poder que a gastronomia possui em manter vivo o patrimônio
Foi uma experiência interdisciplinar que ocorreu no período de
cultural é um dos aspectos de sua sustentabilidade e as técnicas
outubro a dezembro de 2019, no IPREDE, que tiveram como
culinárias tomam outras proporções, que evoluem do simples com
participantes as mães e ou responsáveis pelas crianças atendidas
objetivos diferenciados, seja buscando a nutrição ou a arte, por
nessa instituição. Para a seleção das mesmas foi ponderado o perfil
exemplo (1, 2). Nos últimos anos tem se fortalecido o entendimento
daquelas com maior vulnerabilidade social. Assim, serão
da cultura enquanto um recurso ou capital social. Para Marta Porto
apresentados os resultados alcançados com o Curso que teve por
(2007) a cultura é percebida como esse capital e por isso torna-se
finalidade reaproveitar alimentos, promover sustentabilidade e
fator primordial para as políticas de desenvolvimento social, pois
inclusão social.
pode servir de fundamentação teórica para compreender a
emergência de projetos de formação como ferramenta de combate à
pobreza, uma vez que a promoção da cultura pode ser também um RESULTADOS E DISCUSSÃO
caminho para a inclusão econômica e social (3). A partir do Fórum
Econômico Mundial em Davos, na Suíça, ficou selado o acordo que O curso de conservação dos alimentos teve carga horária igual a
considera que administrar o desperdício tornou-se prioritário para a 40h/a e foi realizado com o objetivo de reaproveitar os alimentos
humanidade e, portanto, o excedente gerado na cozinha pode ser uma doados por uma Rede de Supermercados de Fortaleza (Mercadinhos
preciosa ferramenta de transformação social. Assim, a gastronomia São Luís). As perdas e desperdícios têm grande impacto na
torna-se muito mais do que um prato, uma técnica ou uma moda. É sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduzem a disponibilidade
reconhecida como um agente de transformação social (4). Fome, local e mundial de alimentos, geram menores recursos para os
desperdício, falta de oportunidades e má nutrição são desafios produtores e aumentam os preços para os consumidores. Além disso,
globais que demandam ações conjuntas. O Gastronomia Social no tem um efeito negativo sobre o meio ambiente devido à utilização
Jardim da Gente (“Gastronomia Social UFC”) tem a proposta de não sustentável dos recursos naturais. Na etapa de venda, o país
trabalhar em conjunto com outras ações, tendo vários parceiros, desperdiça 22 bilhões de calorias, o que seria suficiente para
sendo um deles o Instituto da Primeira Infância e o Projeto satisfazer as necessidades nutricionais de 11 milhões de pessoas e
Realimenta; todos são ações extensionistas da Universidade Federal permitiria reduzir a fome em níveis inferiores de 5%. Estima-se que
do Ceará (UFC) (5). Nesta parceria ofertam capacitação gratuita à no Brasil a fome afeta a 14 milhões de pessoas (9).
comunidade que visam o aproveitamento dos alimentos que são Os cursos eram ministrados com conteúdo teórico e prático. Nas
doados por uma rede de supermercado da cidade Fortaleza/Ceará e, aulas teóricas foram abordados assuntos que envolviam higiene dos
além disso, contribuem para a transformação de vidas, alinhando as alimentos, recepção dos hortifrutis até as técnicas de tratamento
ações em cooperação com os Objetivos do Desenvolvimento térmico e envase, embalagem e armazenamento das compotas e
Sustentável da ONU (6). Um dos cursos ofertados é o de Conservas doces, assim como a higiene dos manipuladores e do ambiente de
Artesanais, sem aditivos químicos, a partir do reaproveitamento dos trabalho, obedecendo as normas de Boas Práticas segundo a RDC nº
alimentos oriundos da doação de supermercados. Doces, geleias e 216/2004 (10). Durante as aulas práticas eram seguidas fichas
farinha são algumas das várias possibilidades de produção que o técnicas para execução de doces, geleias, compotas doces, caponatas
projeto oferece. Os alimentos doados são aqueles considerados fora e outras conservas (Figura 1). Essas fichas técnicas eram testadas e
dos padrões de comercialização, mas em condições seguras para o padronizadas com o monitoramento dos bolsistas do Programa de
consumo. O projeto Realimenta foi idealizado pelo Dr. Sulivan Extensão Gastronomia Social UFC e da gastrônoma do IPREDE.
Mota, presidente do IPREDE, com o intuito de promover a redução Após a elaboração das preparações realizava-se análise sensorial das
no impacto ambiental, através do reaproveitamento de alimentos mesmas a fim de avaliar o sabor, textura, aparência e outros aspectos
(doados por uma rede de supermercado de Fortaleza/Ceará) e conforme os produtos. As análises eram realizadas no refeitório do
promover aos participantes, mudança social e econômica através da IPREDE, onde os funcionários eram convidados a degustar os
inserção no mercado de trabalho ou para o empreendedorismo. produtos, após consentimento da participação.
Essa ação teve o projeto Mesa Brasil SESC como exemplo, o qual é
uma rede nacional de bancos de alimentos que atua contra a fome e o Figura 1 - Turma do curso de Conservas Artesanais e os produtos
desperdício. (7) elaborados.
O IPREDE é uma organização não governamental (OSC) dedicada a
promover a nutrição e o desenvolvimento na primeira infância,
articulando esses dois escopos, com programas, projetos e ações que
visam o fortalecimento das competências familiares, principalmente
das mulheres/mães de crianças atendidas e da inclusão social dessas
famílias, ainda identificadas em situação de extrema vulnerabilidade
social e pobreza (8).
O presente trabalho tem por objetivo realizar relato de experiência no
Programa Gastronomia Social da UFC e no projeto Realimenta do
IPREDE a fim de evidenciar a importância da gastronomia como
agente de inclusão e de transformação socioeconômica.

MATERIAL E MÉTODOS
Como exemplo de teste sensorial, citamos analise de duas amostras
O presente estudo caracteriza-se por ser do tipo qualitativo e de geleias com a participação de 41 pessoas alcançando aceitação
descritivo e trata-se de um relato de experiência realizado durante o destas amostras e de outras. Antes da realização do teste sensorial, os
durante o Curso de Conservas Artesanais (40 h/a) promovido pelo participantes foram informados que se tratava de uma avaliação dos

32
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

produtos confeccionados pelas participantes do curso de Capacitação (6) NAÇÕES UNIDAS - ONU. Brasil. 17 Objetivos para
em Conservas Artesanais. Também foi planejada a venda dos transformar nosso mundo. 2020. Disponível em:
produtos com selo social, entretanto, não foi realizada devido a <https://nacoesunidas.org/pos2015/ >. Acesso em: 08 de set. 2020.
pandemia da Covid-19 estando, portanto, em fase de adequação para (7) MESA BRASIL SESC. Conheça o Mesa Brasil Sesc. 2020.
a realização. Pretende-se divulgar os produtos nas redes sociais das Disponível em:
instituições parceiras, bem como disponibilizá-los em <http://www.sesc.com.br/portal/site/mesabrasilsesc/entenda>.
estabelecimentos comerciais, feiras de produtos alimentícios Acesso: Acesso: 20 ago. 2020.
artesanais e na loja virtual do IPREDE. (8) PREX UFC. Agência UFC / Sociedade e Cultura. A reutilização
As mães e responsáveis que são atendidas pelo IPREDE são oriundas de alimentos como possibilidade de renda e de educação. 2019.
da periferia de Fortaleza-CE, precisamente de bairros com baixos Disponível em: <https://agencia.ufc.br/a-reutilizacao-de-alimentos-
IDH. Muitos enfrentam a escassez de alimentos nas suas residências. como-possibilidade-de-renda-e-de-educacao/>. Acesso: 20 ago.
O Projeto Realimenta junto com o Gastronomia Social buscou 2020.
oferecer aos participantes uma melhoria de vida através de temas (9) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A
transversais como a educação alimentar e nutricional, ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - FAO. Perdas e
conscientização sobre sustentabilidade, sobre reaproveitamento dos desperdícios de alimentos na América Latina e no Caribe.
alimentos e promoção do fortalecimento do “eu” feminino, ou seja, Disponível em:
despertando ou fortalecendo o empoderamento, conforme preconiza <http://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/239394/>.
um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (6). Para Acesso: 28 ago. 2020.
além desses temas, as ações parceiras proporcionaram a capacitação (10) BRASIL. Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de
das participantes, motivando-as para o empreendedorismo, pois Alimentação. 3 ed. Brasília: ANVISA, 2004. Disponível em:
sempre realizavam discussões sobre o mesmo durante as aulas <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas
práticas, uma vez que fazia parte do ementário. +Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7
De acordo com o SEBRAE (2019) as mulheres empreendedoras %C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0>. Acesso: 20
representam hoje 48% dos microempreendedores individuais (MEI), ago. 2020.
atuando principalmente em atividades de beleza, moda e (11) SEBRAE. Por que é fundamental estimular o
alimentação; e quanto ao local de funcionamento do negócio, citam empreendedorismo feminino? 2019. Disponível em:
que 55,4% das MEI estão sediadas em casa (11). <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/por-que-e-
Em um mundo que enfrenta mudanças climáticas e escassez de fundamental-estimular-o-empreendedorismo-
recursos naturais, e ainda convive com o flagelo da insegurança feminino,ca96df3476959610VgnVCM1000004c00210aRCRD>.
alimentar, a redução das perdas e do desperdício de alimento deve Acesso em: 08 de set. 2020.
ser uma prioridade global (1). Diante desses problemas sofridos por (12) Portal Embrapa. Perdas e desperdícios de alimentos.
grande parcela da população mundial faz-se necessário a Disponível em:<https://www.embrapa.br/tema-perdas-e-desperdicio-
conscientização e implantação de sistemas que possam reverter essa de-alimentos/sobre-o-tema>. Acesso: 28 ago. 2020.
situação. Nesse aspecto a gastronomia torna-se um poderoso
instrumento de transformação não só no âmbito alimentar, mas
econômico e social.

CONCLUSÕES

O Curso de Conservas Artesanais, promovido pelo Gastronomia


Social da UFC em interdisciplinaridade com o projeto Realimenta,
mostrou que o reaproveitamento de alimentos doados por
estabelecimentos comerciais (que os desclassificam para a venda)
pode ser transformado em soluções sustentáveis como forma de
diminuir o desperdício. Além disso, os produtos elaborados ganham
a oportunidade de voltar ao patamar de venda. Portanto, foi possível
vivenciar a gastronomia pelo seu viés sustentável, onde o
reaproveitamento foi utilizado em relação ao desperdício e,
proporcionou ainda a motivação para a inclusão socioeconômica e
despertou para o empreendedorismo.

REFERÊNCIAS

(1) SANTOS, C. R. A. dos. A comida como lugar de história: as


dimensões do gosto. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54,
p.103-124, jan/jun. 2011. Editora UFPR. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/25760>. Acesso: 26 abr.
2020
(2) KRAUSE, R. W.; BAHLS, A. A. D. S. M. Orientações Gerais
para uma Gastronomia Sustentável. Turismo - Visão e Ação, v.
15, n. 3, set./dez., 2013, p. 434-450. Disponível em:
<https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/5119/0>.
Acesso: 28 ago. 2020.
(3) HONÓRIO, Raquel Santos. Política cultural e combate à
pobreza: breve estudo sobre a experiência do Projeto Jardim da
Gente, em Fortaleza, Ceará. Conhecer: debate entre o público e o
privado. v 4. n. 14. 2015. Disponível em:
<https://revistas.uece.br/index.php/revistaconhecer/article/download/
1357/1207>. Acesso: 28 ago. 2020
(4) MURARO, Marília. Gastronomia social um agente de
transformação. 2017. Disponível em:
<https://www.portalvilamariana.com/artigos/gastronomia-social-um-
agente-de-transformacao.asp>. Acesso: 28 ago. 2020.
(5) COSTA, E. A. Programa de Extensão Gastronomia Social no
Jardim da Gente. Fortaleza: Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade Federal do Ceará, 2020.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

De volta à cozinha: análise sobre o surgimento de novos cozinheiros de pães artesanais


durante a pandemia do Covid-19

Cassandra Santos1*
1
Doutora, Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
*e-mail para correspondência: cassandra7789@yahoo.com.br

Palavras-chave: gastronomia, levain, fermentação natural, sourdough

INTRODUÇÃO Figura 1 – Resultados para a busca na ferramenta


O objetivo deste trabalho é que a partir dos relatos aqui GoogleTrends (ago/2019 a ago/2020) para os termos: a) levain, b)
apresentados possamos realizar uma troca de experiências de forma a fermentação natural c) massa madre e d) sourdough na categoria
auxiliar os professores da área em estratégias para situações futuras, „Brasil‟ (BR); e e) levain, f) fermentação natural g) massa madre e h)
bem como desafios atuais que ainda se fazem presentes. O pão é um sourdough na categoria „Todo o mundo‟ (global).
dos alimentos mais antigos consumidos pela humanidade. Este
alimento como o conhecemos hoje, levedado por microorganismos,
provavelmente teve origens no Egito Antigo, onde a massa feita de
cevada era assada em moldes dentro de câmaras aquecidas (1).
Passando pela Grécia, o Império Romano e avançando pela Idade
Média o uso da fermentação no ato de fazer o pão entrou em nossa
alimentação de diferentes maneiras, influenciando as nossas
identidades alimentares, ligado a nossos rituais religiosos e
construindo os nossos hábitos alimentares (2). A pandemia de
Coronavírus que chegou ao Brasil em março, transformou as nossas
rotinas e os nossos hábitos alimentares e nos empurrou para uma
nova relação com as panelas e com a comida. Neste contexto, este
trabalho tem por objetivo analisar o surgimento da tendência de fazer
pães artesanais em casa durante a pandemia de covid-19.

MATERIAL E MÉTODOS
Para o levantamento dos dados dessa pesquisa foram
pesquisados as seguintes hashtags(#) no Instagram: levain,
massamadre, sourdough e fermentaçãonatural. Também utilizou-se a
ferramenta GoogleTrends para os termos: levain, massa madre,
fermentação natural, sourdough. Esta última limitada as categorias
„Brasil‟ e „Todo o mundo‟. Além disso foram realizadas pesquisas
em diferentes jornais e portais de notícias brasileiras sobre o assunto.
Os dados obtidos foram tabulados até o dia 30 de agosto de 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao realizar o levantamento no Instagram pelas hashtags(#)
levain, massamadre, sourdough e fermentaçãonatural obtiveram-se
diferentes quantidades de postagens marcadas com essas hashtags
específicas, bem como foram encontrados termos derivados que
também foram considerados. A quantidade de menções para cada um
dos termos e suas variações pode ser visualizado na Tabela 1. Na
Figura 1 apresenta-se os resultados encontrados para os mesmo
termos utilizando-se a ferramenta GoogleTrends.

Tabela 1 – Termos utilizados no Instagram e as respectivas


quantidades mencionadas para cada termo.
Termo Quantidade mencionada
#levain 883 mil
#levainbread 75 mil
#levainbakery 93 mil
#fermentaçãonatural 89 mil
#fermentacaonatural 261 mil Na análise das reportagens selecionadas (3-8), olhando
#massamadre 85 mil principalmente para as falas dos indivíduos citados pode-se encontrar
#sourdough 3 milhões e 716 mil diversas razões para que esta tendência esteja ocorrendo. O motivo
#sourdoughstarter 396 mil mais recorrente está relacionado a afeto: às memórias afetivas de
#sourdoughbread 1 milhão e 235 mil infância, a ligação com a casa da mãe ou dos avós, ao resgate das
#sourdoughbaking 213 mil receitas da família. Nesse momento, a religação com o ato de comer
#sourdoughclub 211 mil e do fazer, e esses saberes tão ancestrais, podem ser um alívio para o
isolamento social.
A partir dos dados apresentados na Tabela 1 e na Figura 1, Outro argumento apresentado de forma recorrente é que o ato
percebe-se que ocorre um aumento mundial no interesse pela de amassar o pão, esperá-lo fermentar, e todas as etapas envolvidas
fermentação natural na produção de pães tanto em nivel nacional são um convite a paciência e uma forma de terapia. No mundo
quanto global. A Figura 1 também demonstra claramente um acelerado em que vivíamos antes da pandemia, passou a haver mais
aumento pela procura dos termos em quase todos os gráficos a partir tempo livre para aqueles que puderam trabalhar em casa, e em
do mês de março. Dessa forma, as notícias jornalísticas encontradas combinação com essa desacelaração dedicar-se a uma arte que
corroboram estes dados (3-8). Várias delas trazem em suas demanda o esperar ajuda a aliviar o stress da situação de incertezas.
manchetes o termo “pãodemia” para nomear esse fenômeno que se Também foram citados outros argumentos como: o pão ser uma
tornou tendência global (3,4,5). Inclusive encontram-se relatos de comida barata (farinha, fermento e água), aspectos de saúde e
países onde haveria faltado farinha e fermento nos supermercados nutricionais do consumo de produtos de fermentação natural e
(6,7).

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

participação em diferentes grupos de redes sociais que se formaram que-todo-mundo-esta-fazendo-pao-na-quarentena-1.2356209.


com a troca de receitas e experiências sobre o ofício. Acesso em: 30 ago. 2020.
4. PEREIRA, R. C. Pãodemia: a atividade do momento. VejaSaúde,
CONCLUSÕES Alimentação. Brasil, 18/06/2020. Disponível em
A partir da análise dos dados e das reportagens percebe-se que https://saude.abril.com.br/alimentacao/paodemia-a-atividade-do-
há uma nova tendência de fazer pães artesanais em casa durante a momento/. Acesso em: 30 ago. 2020.
pandemia. Os motivos encontrados para esse fenômeno foram: 5. STELZER, M. #Pãodemia. Gama, Comida e Bebida. Brasil,
ingredientes baratos, alívio do stress, religação com a cozinha, 27/05/2020. Disponível em https://gamarevista.com.br/comida-
resgates de memórias afetivas, fazer parte de uma comunidade nas bebida/paodemia/. Acesso em: 30 ago. 2020.
redes sociais o das receitas nas redes sociais e preocupação com a 6. CAESAR, G. 'Meu primeiro pão': brasileiros contam experiência
saúde física e mental. na cozinha durante a quarentena. G1, Vida em casa. Rio de Janeiro,
26/04/2020. Disponível em: https://g1.globo.com/fique-em-
REFERÊNCIAS: casa/noticia/2020/04/26/meu-primeiro-pao-brasileiros-contam-
experiencia-na-cozinha-durante-a-quarentena.ghtml. Acesso em: 30
1. GISSLEN, W. Panificação e Confeitaria Profissionais. 1° ed. ago. 2020.
Barueri: Manole, 2011. 7. NOVAES, M. Todo mundo em busca de receitas de pão caseiro
2. CAPPELLE, S.; GUYLAINE, L.; GANZLE, M.; GOBBETTI, M. para amenizar a quarentena. El País, Estilo. Madri, 10/04/2020.
History and Social Aspects of sourdough, In: GOBBETTI, M., Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-04-09/todo-
ANZLE, M. (Ed.) Handbook on Sourdough Biotechnology. New mundo-em-busca-de-receitas-de-pao-caseiro-para-amenizar-a-
York: Springer, 2013. quarentena.html. Acesso em: 30 ago. 2020.
3. FONTES, L. 'Pãodemia': Por que todo mundo está fazendo pão na 8. BACOCCINA, D. Como o pão caseiro se tornou o símbolo da
quarentena? O Tempo, Gastrô. Belo Horizonte, 06/07/2020. quarentena. Huffpost, Comida. Brasil, 14/05/2020. Disponível em
Disponível em: https://www.otempo.com.br/gastro/paodemia-por- https://www.huffpostbrasil.com/entry/pao-caseiro-como-
fazer_br_5eb7ec7dc5b6de62dd3f55f7. Acesso em: 30 ago. 2020.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A percepção das Boleiras sobre a valorização do seu trabalho na cultura gastronômica no


Estado de Pernambuco, Brasil
Cristianne Barros,1 Bruno Decker 2, Frederico Barros3, Robson Lustosa4

1. Mestranda em Ciência da Educação, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC


2. Pós-graduando em Confeitaria pela Faculdade SENAC
3. Graduado em Gastronomia pela Faculdade SENAC, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC
4. Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC
E-mail: cristiannebbarros@fac.pe.senac.br

Palavras-Chave: Confeitaria, estudo qualitativo, empreendedorismo, representação social, bolo, preço

INTRODUÇÃO norteadora: Você considera que seu trabalho é valorizado? De que


forma? No período de novembro de 2011 a novembro de 2019.
Valorizar a cultura regional e as ações populares contribui As narrativas foram analisadas pelo Discurso do Sujeito Coletivo
para a construção indenitária de um povo, fortalecendo o patrimônio (DSC) de Lefevre e Lefevre [7], essa técnica faz o resgate das
histórico e social. representações sociais de pesquisas, e agrupa opiniões semelhantes em
Assim, torna-se necessário observar os fenômenos culturais uma mesma fala, dividindo os conteúdos por categorias temáticas,
ligados a todos os grupos sociais e étnicos, para compreender fazendo com que a ideia seja falada na pessoa do singular, porém
condutas e as manifestações de seus valores. expressando a fala coletiva. Os dados obtidos da pesquisa nas
Com um grande crescimento na área, nas últimas décadas, questões abertas foram processados com o aporte do software
a gastronomia proporciona o crescimento da cultura local e formação DSCsoft.
de um povo. Solidifica a tradição com a criação, a partir da exploração
dos produtos da região em uma perspectiva de renovação às RESULTADOS E DISCUSSÃO
experimentações [1].
A cultura da cana sacarina pernambucana traz raízes que Participou do estudo um total de 75 confeiteiras do bolo de
perpetuam a tradição diante da modernidade na área da confeitaria, noiva pernambucano, com uma amplitude de idade variando de 25 a
destacando a cultura gastronômica do Estado Pernambucano no 78 anos, o que demonstra a intergeracionalidade no exercício desta
consumo e elaboração de doces, entre estes, o tradicional bolo de profissão. A maioria, 84% (63) dos entrevistados eram do sexo
noiva pernambucano. feminino, 89,33% (67) residem em Recife ou região metropolitana.
“Fazer a boca doce a alguém, “repita-se que é a velha A partir da questão norteadora, foram identificadas duas
expressão, na língua portuguesa, que se associa ao significado sensual Ideias Centrais: a) A valorização e reconhecimento do trabalho das
do doce como alimento ou regalo do paladar; pois significa ameigar boleiras: a educação cultural pela história de vida, amor e
ou acariciar esse alguém” [2]”. tradicionalismo; b) Não valorização pelo desconhecimento dos custos
Para [3], na gastronomia pernambucana o chamado bolo e técnicas de produção, e pela concorrência de mercado.
implementou significativo sentido social, no decorrer da trajetória de
sua sociedade, através de bolos feitos de forma coletiva, individuais Pergunta norteadora: PARA VOCÊ, O TRABALHO DE
ou autorais, feitos por conhecedoras da arte de produzir estas iguarias, UMA BOLEIRA É VALORIZADO? DE QUE FORMA?
através de suas ricas receitas, sempre buscando a arte no
desenvolvimento da estética, beleza, formatos, e cores. Ideia Central (A): Valorização e reconhecimento do
“A construção de um bolo é, para ela, a concretização de horas de trabalho das boleiras: a educação cultural pela história de vida, amor e
antecipação que são recompensadas pelo olhar de admiração dos tradicionalismo.
comensais, pela felicidade que assume uma forma palpável e pode ser Sim. Devo ser a primeira a valorizar nossa arte. Meu
repartida, fatia a fatia, migalha a migalha. E momentos como estes trabalho é muito valorizado através da minha história, do amor, garra
sempre serão a melhor parte da festa” [4]. e dedicação que coloco em meu trabalho... e como maior recompensa
“As atuais mesas diversificadas de gêneros alimentícios nas festas de a satisfação dos meus clientes, elogios tanto pela beleza quanto pelo
casamento não minimizam o destaque do bolo de noiva pernambucano sabor, pelas recomendações, pelo reconhecimento, por interações nas
que diferentemente dos outros estados, Pernambuco apresenta uma redes sociais, por muitas vezes virem de outra cidade para pegar o
receita de origem inglesa, de massa em cor escura, feito à base de bolo, além da fidelidade dos clientes que pagam um preço justo pelos
vinho, frutas secas e coberto com uma pasta de amêndoas e glacê produtos que fabrico e, apesar de existir preços menores no mercado,
branco, enriquecido com decorações de flores. Tendências da herança não abrem mão de fazer suas encomendas comigo. As pessoas sabem
dos casamentos da realeza inglesa, o bolo de noiva pernambucano que pra fazer um bom bolo de noiva, além de uma boa receita, são
reveste o estado em tradição e cultura.” [5] necessários ingredientes de qualidade. Isso tem um preço... Não tenho
O objetivo do trabalho é compreender a percepção das boleiras sobre a problema em aplicar o preço justo, e nem os clientes reclamam... na
valorização do seu trabalho na cultura pernambucana. verdade sempre voltam a pedir, tudo depende, também, do público
que você trabalha...Particularmente, meus clientes compram meu
MATERIAL E MÉTODOS produto por ser diferenciado e por terem benefícios com valores
agregados como: qualidade, sabor, excelente atendimento, etc.
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem Quando se tem um diferencial, fideliza seus clientes, vendendo por
qualitativa, que desvelará um referencial metodológico que expressa à valor e não por preço. Porém para adquirir essa valorização, você
realidade social, que visibiliza o contexto em que as pessoas vivem. precisa seguir uma longa estrada, são anos de esforços, e provar com
[6]. Esta perspectiva versará na lógica indutiva para a compreensão ações que o que você faz, vai trazer algum benefício e aprendizagem
das boleiras pernambucanas na construção da perpetuação do para as pessoas. Inicialmente entrar no ramo da confeitaria não é fácil,
consumo e valorização do bolo de noiva pernambucano, consumido pensei em desistir, foram muitos os obstáculos, e a concorrência
em grande parte dos eventos sociais no Estado. favorecia as antigas boleiras, mas com o tempo e empenho, seu
A coleta de dados deu-se por entrevistas semiestruturadas trabalho é valorizado no sorriso estampado de agradecimento em cada
com 75 boleiras de bairro escolhidas de forma não aleatória por cliente que vem pegar o bolo, trabalhando com qualidade, sabor e
critério de intencionalidade, visto que a escolha de trabalhar com uma perfeição. Eu considero que, no ramo da confeitaria, o encanto toma
amostra intencional não probabilística, é baseada na proposta de conta do profissional, e é neste encanto que colocamos nossa arte, e é
participação livre e espontânea das boleiras na composição final da nesta arte que recebemos a valorização. Também me sinto valorizada
amostra. por meus alunos e colegas, sempre presentes, com palavras gentis de
As boleiras, maiores de 18 anos e que elaboram a arte da estímulo e de parabenização. O trabalho das boleiras pernambucanas
confeitaria em todo o Estado de Pernambuco, responderam a pergunta nunca vai deixar de ser valorizado porque o bolo de noiva
pernambucano tem tradição, mantenho a receita tradicional de minha

36
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

avó, e as pessoas sabem disso, é uma forma de divulgar um método 4) BRENAND, Tonica, 1963- Sonhos de açúcar / Tonica Brenand-
antigo de confeitar bolos e que vinha sendo esquecido pelas novas Recife: Ed. Do Autor. 2007, 132p.
técnicas.
Ideia Central (B): Não valorização pelo desconhecimento 5) BARROS, C. B. M. Brazilian Journal of Development. Disponível
dos custos e técnicas de produção, e pela concorrência de mercado. em:
Não sou valorizada, não tanto quanto deveria... <http://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/download/
Infelizmente o trabalho de confeitaria ainda sofre desvalorização 5827/5235>. Acesso em: 10 ago. 2020.
financeira. As pessoas não valorizam a arte, só o preço. A maioria das
vezes os clientes querem baratear o preço, mesmo que para isso eu use 6) HEIDEMANN, Ivonete Terezinha Schülter Buss et al.
insumos de qualidade inferior... por vários momentos sinto que os REFLEXÕES SOBRE O ITINERÁRIO DE PESQUISA DE PAULO
clientes preferem preço a qualidade devido à concorrência desleal, o FREIRE: CONTRIBUIÇÕES PARA A SAÚDE. Texto & Contexto -
mercado está muito difícil com relação à comparação de valores de Enfermagem, [s.l.], v. 26, n. 4, p.1-8, 17 nov. 2017. Fap UNIFESP
venda. Lamentável a nossa desvalorização por inversão de valores, (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000680017.
colocando a gente apenas como um prestador de serviço. A começar
por nossa própria família. É triste, mas continuo insistindo em 7) LEFEVRE, F; LEFEVRE, A.M.C; Discurso do sujeito coletivo:
qualidade e sabores para os que gostam e apreciam um bom trabalho... representações sociais e intervenções comunicativas, Texto Contexto
as pessoas não têm a ideia ainda de como fazer um bolo de noiva Enferm, Florianópolis, 2014 Abr-Jun; 23(2): 502-7
pernambucano, leva muitos ingredientes, e não é só isso, também
envolve muitas técnicas. Sinto-me desvalorizada porque nem todos 8) PIUBELLE, LUCAS, Pernambuco, Rendas e Artes em açúcar,
mantêm aquela fidelidade... gostam, elogiam, mas nem sempre 2018. 176p.
encomendam comigo. Além disso, como tenho pouca idade (33 anos),
os clientes preferem valorizar as boleiras mais conhecidas e 9) MACEDO, A. M., O BOLO DE CASAMENTO: A permanência
experientes da região. simbólica e a imutabilidade formal do Bolo de Casamento,
Observa-se que a educação cultural exerce um papel de Dissertação (Mestrado em Ciências Gastronômicas) – Faculdade de
extrema importância para a continuidade da cultura e da tradição de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa,
um povo. Torna-se o alicerce na construção de um ser, de seu Portugal, 2018. 54p
desenvolvimento intelectual e sua aceitação junto à sociedade. Unido
às boleiras a educação cultural exerce a função de dar ênfase ao
fortalecimento de novas gerações de boleiras dando continuidade a
cultura e tradição local, contribuindo para o crescimento gastronômico
no Estado.
O bolo tem tanta importância para o povo pernambucano
que as chamadas boleiras replicam em seus bolos, as famosas rendas
de renascença, estas desenhadas e feitas pelas mãos das famosas
artesãs rendeiras. Estas rendas tornam-se tradição nos bolos de
casamentos, símbolo de intimidade e valores únicos.
Nos dias atuais existe uma gama de produtos e utensílios
que colaboram na valorização e reconhecimento do trabalho das
boleiras no desenvolvimento das técnicas de um bolo artístico. “após
um longo processo de modernização e industrialização dos meios para
a produção do açúcar, hoje existe uma grande variedade de produtos
com distintas cores, texturas e gramaturas; possibilitando e facilitando
diversos processos gastronômicos na produção de bolos e de doces”
[8].
A percepção das boleiras sobre os valores de seus trabalhos
e a representação para a gastronomia pernambucana edifica a
manutenção do bolo de noiva pernambucano no consumo, na
economia e no simbolismo da cultura alimentar com potencial para
torna-se patrimônio Cultural e Imaterial do Estado.

CONCLUSÃO

Observa-se a percepção e entendimento das


potencialidades e contribuições do trabalho das boleiras para a cultura
gastronômica do Estado de Pernambuco, junto ao bolo de noiva
pernambucano, seja pelo resgate das coberturas de açúcar, ou pela
valorização de uma tradição que perpetua no consumo deste bolo nos
eventos sociais onde as noivas não abrem mão de ter um bolo
tradicional em suas festas de casamento, mesmo que uma parte dele
seja cenográfico [9]. No entanto, a modernização traz o aumento da
produção que, mesmo pela baixa qualidade, ocupa seu espaço no
sistema capitalista quando a economia de escala interfere ou não no
reconhecimento das técnicas e produções artesanais tradicionais.

REFERÊNCIAS

1) LEAL, MARIA LEONOR M. SOARES, A história da


gastronomia, Senac- 2004.

2) FREYRE, GILBERTO, Açúcar: Uma Sociologia do doce, 5ª,


edição. Editora Global: São Paulo, 2007, p. 58

3) LODY, Raul, Doce Pernambuco, Uma viagem pela memória


Histórica e cultural da doçaria Pernambucana, Editora CEPE, 2019.
243p.

37
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de sobremesa com ingredientes do Semiárido Nordestino: mousse de Palma


Forrageira

Adriele Oliveira1, Adryele Silva1, Iza Macedo2, Mônica Lima1, Paloma Lima1

Bacharelanda em Nutrição pela Faculdade da Região Sisaleira. E-mail:


1

adryeles86@gmail.com
2
Orientadora do Trabalho e Docente do Curso Bacharelado em Nutrição pela Faculdade da
Região Sisaleira, Conceição do Coité-BA.

Palavras-chave: Opuntia fícus-indica. Nordeste. Gastronomia. Mousse


Figura 1- Palma Cortada Figura 2- Tamarindo
INTRODUÇÃO
em cubos. descascado.
A Palma Forrageira é uma angiosperma que possui diversas
espécies dos gêneros Opuntia e Nopalea, ambas pertence à família
Cactácea. A cactácea é de origem Mexicana, porém se adaptou bem
na região semiárida do Brasil (1). O clima da região nordestina é
predominante pelo bioma da Caatinga, com baixo registro de
precipitação de chuva, com longo período de estiagem, caracterizando
um clima quente e seco (2).
Segundo Costa (3) a cactácea é uma planta que possui morfologia
xerófila, sobrevivendo a longos períodos de seca, devido ao processo
de fotossíntese que durante o dia a perda de água é diminuída,
enquanto à noite é realizada a atividade de absorção de CO2, Fonte: Acervo Pessoal. Fonte: Acervo Pessoal.
consequentemente, há boa adaptação no semiárido nordestino.
De acordo com Silva et. al (4) a Opuntia ficus-indica apresenta RESULTADOS E DISCUSSÃO
boa fonte de fibras, vitaminas C, A, complexo B, minerais (cálcio,
ferro, magnésio e potássio) e compostos bioativos como: polifenóis, Esta pesquisa tem como resultado uma receita com o
betalaínas, carotenoides, além de conter 17 tipos de aminoácidos. ingrediente da região nordestina, de preparação simples e baixo
Partindo desse pressuposto, a palma torna-se um produto que custo (R$ 0,44 por porção), a ser servido fria o que combina com o
deve ser mais explorado, principalmente, para a população nordestina, clima local. A palma deu mais consistência ao mousse e ainda
podendo desempenhar domínio ocioeconômico. Portanto, esse cacto apresentou-se mascarável com os demais ingredientes, em textura,
foi escolhido como ingrediente para esse trabalho que teve o objetivo cor e sabor, sendo possível, portanto, aproveitar o seu valor
de desenvolver uma receita com alimentos do semiárido nordestino nutricional e evitar o preconceito cultural do consumo humano
como atividade da disciplina de Gastronomia no curso de Nutrição da entre alguns comensais.
Faculdade da Região Sisaleira (FARESI). O sabor do tamarindo, associado aos demais ingredientes
ganhou suavidade e dulçor, com boa palatabilidade. A preparação
MATERIAS E METODOS foi adicionada em recipientes de 20g (figura 3) e servida na
amostra de Gastronomia do Curso de Nutrição.
Utilizou-se a receita popular de preparação de mousse,
denominando Mouse Nordestino. Os equipamentos e utensílios Figura 3-Mousse Nordestino em recipientes com 20g.
utilizados foram: balança, colher, faca, liquidificador, pano de prato,
peneira, tábua de cortar alimentos e vasilha. E os ingredientes foram:
Creme de leite, leite condensado, palma e tamarindo.
Os frutos utilizados foram colhidos na zona rural do município de
Conceição do Coité-Ba. Foi realizada a seleção de palmas forrageiras
sadias e higienizadas. Para obter a consistência desejada, foram
realizados alguns procedimentos básicos de culinária para a
preparação do produto. A elaboração do mousse nordestino deu-se da
seguinte forma:
1° Passo: Higienizou as Palmas e retirou os espinhos em seguida
cortou a Palma em cubos (figura 1);
Fonte: Acervo Pessoal.
2° Passo: Levou ao fogo (para retirar o excesso de “baba”) em
seguida escorreu e lavou em água corrente e em um recipiente foram
reservadas na geladeira. CONCLUSÃO
Para a polpa do tamarindo: Retirou a casca da fruta (figura 2),
em seguida deixou de molho em recipiente com água durante 60 A palma Forrageira, Opuntia ficus-indica, é um alimento rico
minutos. em nutrientes, que apresentou boa resposta à técnica culinária
Depois da palma gelada e a polpa pronta, foi acrescentado todos utilizada, indicando viabilidade de uso gastronômico. Pretende-se
os ingredientes (polpa do tamarindo, os cubos da palma, creme de desenvolver a partir dessa experiência uma adaptação da
leite e leite condensado) no liquidificador, em seguida adicionados a formulação substituindo outros ingredientes para torná-la mais
um recipiente e levado à geladeira por aproximadamente 40 minutos saudável, nesse momento, então, realizar uma analise sensorial
até obter a consistência. comparativa das amostras.
Não foi realizada análise sensorial, em virtude da pandemia
provocada pelo novo Coronavírus da Covid-19. REFERENCIAS

1. SILVA, A. P. G.; SOUZA, C. C. E.; RIBEIRO, J. E. S.;


SANTOS, M. C. G.; PONTES, A. L. S.; MADRUGA, M. S.
Características físicas, químicas e bromatológicas de Palma
Gigante (Opuntia fícus-indica) e miúda (Nopalea
cochenillifera) oriundas do estado da Paraíba. Revista
Brasileira de Tecnologia Agroindustrial. Paraíba, v. 9, n. 2,
p.1810-1820, 2015.

38
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

https://www.researchgate.net/publication/308131009_CARAC Semiárido Brasileiro. Tese (Mestrado Zootécnica) -


TERISTICAS_FISICAS_QUIMICAS_E_BROMATOLOGIC Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e
AS_D E_PALMA_GIGANTE_Opuntia_ficus- Tecnologia Rural. Patos. 2018. Disponivel em:
indica_E_MIUDA_Nopalea_cochenillifera_ORIUNDAS_DO_E http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/8
S TADO_DA_PARAIBA. Acesso em: 22. Ago. 2020. 08/PATR%c3%8dCIA%20DA%20SILVA%20COSTA%20-
%20DISSERTA%c3%87%c3%83O%20ZOOTECNIA%202018.
2. NOVA, S. R. M. V.; TONHOLO, J. Usos e Potencial pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 29. Ago. 2020.
Transformador da Palma Forrageira. Simpósio internacional
sobre inovação tecnológica. Aracaju, v. 8, n.1, p. 74-85, set. 4. SILVA, R. R.; SAMPAIO, E. V. S. B. Palmas forrageiras
2017. Disponível em: Opuntia fícus-indica e Nopalea cochenillifera: sistemas de
http://www.api.org.br/conferences/index.php/ISTI2017/ISTI2017 produção e usos. Revista Geama. Recife, v. 1, n. 2, set. 2015.
/ paper/viewFile/237/144. Acesso em: 29. Ago. 2020. Disponivel em:
http://www.journals.ufrpe.br/index.php/geama/article/view/504
3. COSTA, P. S. Composição Bromatologica de Variedade de Acesso em: 23. Ago. 2020.
Palma Forrageira Fertirrigadas com Nitrogênio no em

39
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Utilização da macaxeira e seus subprodutos como adjunto na produção de cerveja artesanal


Dan Oliveira de Melo¹, Kristerson Reinaldo de Luna Freire², Ingrid Conceição Dantas Guerra³
1.Especialista em Gastronomia – Faculdade Internacional da Paraíba
2.Doutor. Centro de Biotecnologia – CBiotec - Universidade Federal da Paraíba
3. Doutora. Departamento de Gastronomia – Universidade Federal da Paraíba

Palavras chave: adjunto, macaxeira, cerveja.

INTRODUÇÃO: Na economia brasileira, o setor cervejeiro é um dos que produz flores resinosas com utilidade na produção de cerveja, uma
mais relevantes, sendo o país o 3º maior produtor de cerveja no mundo, vez que possuem glândulas de lupulina que contém resinas rígidas e
movimentando cerca de R$ 74 bilhões de reais por ano, respondendo flexíveis (ácidos alfa e beta), óleos e polifenóis. São esses alfa-ácidos
por 1,6% do PIB e 14% da indústria de transformação (1). O consumo isomerizados as principais fontes de amargor da bebida e os óleos
de cerveja artesanal e a dispersão da cultura cervejeira no Brasil se conferem aroma e sabor. A fervura, que teve uma duração de 60
mostra crescente nos últimos anos e tem despertado o interesse das minutos, se faz necessária para esterilização do mosto e para volatilizar
cervejarias em produzir a bebida com ingredientes nativos e não alguns compostos indesejáveis a cerveja conhecida como off flavours,
convencionais, adaptando receitas, estilos e, imprimindo assim, uma conferindo um sabor agradável ao produto final. Além disso, é durante
identidade nacional. A utilização de adjuntos na produção de cervejas a fervura que há a caramelização do mosto, definindo cor e sabor
artesanais pode proporcionar extratos mais baratos se comparados ao devido a reações dos açúcares e aminoácidos. Segundo Morado (8),
malte (2) e a macaxeira (Manihot esculenta crantz) é um adjunto em sem essa etapa, o mosto seria física e biologicamente instável.
potencial devido ao elevado conteúdo de amido, que, em algumas Concluindo a etapa de fervura, deu-se início ao processo de
espécies este pode corresponder a até 97% do peso da raiz. A resfriamento do mosto cervejeiro. Para esse resfriamento foram
legislação brasileira define como adjuntos cervejeitos as matéria- utilizados uma serpentina de material inoxidável chamada de chiller.
primas que substituam, em até 45% em peso em relação ao extrato Essa serpentina é introduzida no mosto 15 minutos antes de finalizar a
primitivo, o malte ou o extrato de malte na elaboração do mosto etapa de fervura para esterilização do mesmo. Por ela, foi bombeada
cervejeiro, sendo os ingredientes de origem vegetal fontes de amido e água em baixa temperatura para resfriar a mistura até atingir
açúcares aptos para o consumo humano como alimento (3). Os temperatura ideal de fermentação, que neste caso, foi a de 18° C. Com
açúcares são imprescindíveis para a fermentação do mosto cervejeiro, a temperatura ideal, o mosto foi transferido para uma balde alimentício
gerando o etanol e o gás carbônico da bebida. Face ao exposto, o devidamente sanitizado e no momento de trasfega foi adicionada a
objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade do uso da macaxeira e levedura cervejeira US-05, da marca Fermentis. Em análise, esse
seus subprodutos para a produção de uma cerveja e avaliar a aceitação mosto apresentou, antes da fermentação, uma densidade original de
sensorial da mesma. 1,055 SG, pH de 5,5 e um volume final de 21 L. A fermentação, etapa
METODOLOGIA: Para a produção em escala laboratorial da cerveja que consiste basicamente na transformação, pela levedura, de açúcares
a base de macaxeira foi utilizado o método single vessel, termo em em gás carbônico (CO2) e etanol (C2H6O), foi feita com temperatura
inglês que designa equipamento e/ou metodologia para produção controlada em geladeira e auxílio de um termostato. Teve uma duração
cervejeira, por infusão, em um único bloco, ou seja, em uma única tina de 7 dias atingindo uma densidade final de 1,011 SG o que fez com
se faz da mosturação à fervura. Este equipamento, com capacidade que a cerveja apresentasse, aproximadamente, 5,78% de álcool por
para fazer 20 L de mosto, possui um cesto no interior do tanque no volume e uma atenuação aparente de 79%. Finalizada a fermentação a
qual se insere os insumos, facilitando a lavagem e a retirada dos temperatura da geladeira foi elevada gradualmente para 21° C,
mesmos após a mosturação (4). Foram utilizados na produção 50% em permanecendo assim por dois dias, para eliminação do diacetil,
peso de goma de tapioca úmida obtidos com pequenos produtores do substância formada pela levedura ao longo da fermentação que confere
município de Rio Tinto - PB e 50% em peso de malte pilsen moído em a cerveja um aroma que lembra manteiga rançosa. Posteriormente, a
moinho de dois rolos. Esses insumos foram misturados a um volume temperatura foi reduzida a 0° C para a etapa de maturação da cerveja,
de 20 litros de água com ph 4,8, proveniente da rede de fornecimento onde os sabores e aromas da cerveja se ajustam. Segundo Morado
de água do estado, passada por filtro de carvão e adicionados de 20 ml (2017), é nesta etapa que ocorre o “afinamento” da cerveja. Já pronta,
de ácido fosfórico (10%). A água foi previamente aquecida a uma a cerveja foi transferida para um barril inox esterilizado próprio para
temperatura de 67° C para a mosturação. Segundo Venturini Filho (5), cerveja e durante cinco dias foi carbonatada com CO2 com 2,5 BAR,
essa mistura acrescida na água a temperatura controlada, de acordo ideal para o estilo da cerveja produzida contribuindo com sensação de
com um programa previamente estabelecido, tem por objetivo frescor.
solubilizar as substâncias do malte, solúveis em água e ativação A cerveja de macaxeira foi submetida a teste sensorial afetivo de
enzimática. No processo sacarificação, os açúcares foram extraídos da aceitação sendo apresentada a provadores não-treinados maiores de 18
macaxeira e do malte de cevada assim como enzimas alfa amilase e anos e apreciadores de cerveja artesanal. Ela foi servida junto de uma
beta amilase, que ativas farão o processo de conversão dos cerveja de marca comercial do tipo lager. Foram servidas 50mL de
polissacarídeos em açúcares fermentáveis. A primeira enzima é cada amostra a 4º C juntamente com a ficha de avaliação e nesta ficha
responsável pela liquefação do amido em açúcares não fermentáveis, os provadores necessitavam avaliar as bebidas quanto aos atributos de
dando corpo a cerveja. Já a segunda enzima, é responsável pela cor, espuma, aroma e sabor utilizando escala hedônica de 5 pontos
conversão do amido em açúcares fermentáveis. Esse processo de onde 1- desgostei muitíssimo, 3- nem gostei/nem desgostei, 5- gostei
cocção durou 60 minutos com recirculação constante do mosto muitíssimo. Os resultados foram submetidos a teste de comparação de
cervejeiro, através de uma bomba. Após essa etapa, foi feito um médias t-student a 5% de significância utilizando o pacote estatístico
aquecimento lento, até 78º C, temperatura ideal para a etapa de mash SIGMASTAT 3.5. Para verificar a aceitabilidade das cervejas
out ou inativação enzimática, e permanecendo nela por um período de calculou-se o Índice de aceitabilidade (IA) seguindo a metodologia
10 minutos. Nessa etapa, as enzimas da mosturação se tornam inativas descrita por Dutcosky (9) conforme expressão abaixo:
e há uma diminuição da viscosidade do mosto facilitando a retirada IA (%) = (A/B) x 100 onde A é o valor médio obtido para cada atributo
dos açúcares, tornando mais eficiente a lavagem do bagaço (6). Em e B é o valor médio máximo para cada atributo.
seguida, os insumos depositados no cesto do equipamento sobre um
fundo falso, foram retirados e lavados com água previamente aquecida RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os resultados da avaliação estão
a temperatura de 80° C, até o volume de água atingir 25 litros. Foi feita expressos na Tabela 1. Houve diferença estatística significativa
análise do mosto que apresentou uma densidade de 1,050 SG e 5,45 de (p<0.05) para todos os atributos sensoriais avaliados. A cerveja
pH, concluindo assim a etapa da mosturação e lavagem dos grãos, e elaborada com o adjunto de macaxeira obtido escores maiores em
iniciando a fase de fervura. A temperatura do mosto foi lentamente todos os atributos. Para ser denominada “cerveja de macaxeira” a
elevada até atingir o ponto de ebulição, cerca de 100° C. No começo bebida deve conter no mínimo 50% e no máximo 80% do insumo em
da fervura, foram acrescentados 5 gramas de lúpulos (humulus relação a totalidade do extrato primitivo da cerveja de acordo com a
lupulus) da variedade Hallertau Magnum (14,00%), que irá conferir a legislação brasileira .Na avaliação da aceitabilidade das cervejas, a que
cerveja um IBU (International Bitter Units) de 8,3. Hieronymus (7) foi produzida com a macaxeira apresentou índice de aceitabilidade de
explica que esse gênero, pertencente à família Cannabaceae, é o único 83,4% em se tratando de sabor. Um produto para ser bem aceito

40
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

precisa ter AF> 70%.(7,8) Nas observações colocadas nas fichas de


avaliação, nenhum dos degustadores soube identificar o adjunto
utilizado na formulação da receita, mas identificaram um aroma e
sabor que remetia a infância. A adição da macaxeira como adjunto em
cerveja resultou em um produto bem aceito e que remeteu os
provadores a um produto que traz conforto (confort food) já que remete
a “sabores da infância”. Essa sensação é extremamente positiva em se
tratando de um novo produto.
Tabela 1 – Notas médias de aceitação sensorial e índice de
aceitabilidade da formulação da cerveja elaborada e amostra comercial

Amostras CC** CM
Cor 3,67*±0,98 4,08±1,16

Espuma 2,92*±1,00 4,66±0,85

Aroma 3,17*±1,27 4,00±0,95

Sabor 3,08*±1,31 4,17±0,94

Índice de 61% 83,4%


Aceitabilidade
(SABOR)
**CC – CERVEJA COMERCIAL/ CM- CERVEJA DE
MACAXEIRA
Fonte: autores

Outros autores produziram cervejas artesanais utilizando a mandioca.


Alves et al (10), fizeram um estudo cinético com cerveja artesanal
utilizando mandioca como adjunto cervejeiro e mencionaram que a
utilização da mesma resultou em um produto diferenciado e bem
aceito.

CONCLUSÃO: A cerveja de macaxeira foi aceita sensorialmente para


todos os atributos avaliados tendo apresentado índice de aceitabilidade
de 83,% e despertou nos provadores conforto e memórias afetivas da
infância. Outros estudos serão conduzidos tanto na caracterização
físico-química e aromática do produto como em relação a intenção de
compra para respaldar a inserção comercial do produto.

REFERÊNCIAS:
(1) CERVBRASIL. Associação Brasileira da Indústria da
Cerveja. 2016. Disponível em:
<http://www.cervbrasil.org.br/novo_site/anuarios/CervBrasil
Anuario2016_WEB.pdf> Acesso em: 17 Jan 2020.
(2)ALVES, W.S. et al. Caracterização físico química e avaliação e
sensorial de cerveja pilsen produzida a partir de mandioca (Manihot
esculenta Crantz., 1766) submetida a diferentes adubações de solo.
Brazilian Journal of Development. Curitiba, v.6, n.2, p. 7580-7599,
fev.2020.
(3) BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 65, DE 10 DE DEZEMBRO DE
2019. Estabelece os padrões de identidade e qualidade para os
produtos de cervejaria. Diário Oficial da União. Publicado
em: 11/12/2019 | Edição: 239 | Seção: 1 | Página: 31, 2019.
(4) HORNINK, G. G.; GALEMBECK, G. Glossário cervejeiro: da
cultura à ciência. Alfenas – MG: Editora Universidade Federal de
Alfenas, 2019.
(5) VENTURINI FILHO, W. G.; Tecnologia de bebidas: Matéria-
prima, processamento, BPF/APPCC, legislação, mercado. São Paulo,
Edgar Blucher, 2005.
(6) DINSLAKEN, D. Manual do cervejeiro caseiro. Disponível em:
https://concervej/a.com.br/mash-out/ . Acessado em 16/08/2020.
(7) HIERONONYMUS, S. Lúpulo: guia prático para aroma, amargor
e cultivo de lúpulos. Belo Horizonte: Editora Krater, 2020.
(8) MORADO, R. Larousse da cerveja. São Paulo: Alaúde editorial,
2017.
(9) DUTCOSKY, S. D. (1996). Análise sensorial de alimentos (p.
123). Curitiba: Champagnat.

41
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

AMENDOJOR: DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE


CONFEITO ELABORADO COM BANANA, AMENDOIM E CHOCOLATE.
Bianca Lopes1, Mariana Maia1, Enzo Alba1, Marcella Mendonça1, Andrea Matias2
1- Aluno do Curso de Nutrição - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde- Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
2- Docente do Curso de Nutrição - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde- Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
Rua da Consolação, 930 – São Paulo – SP- Brasil
Bianca Barrak Lopes - e-mail: biancabarrak@gmail.com
Palavras chaves: nutrição, liofilização, alfajor.
níveis de colesterol sérico. Em contrapartida, o chocolate possui,
INTRODUÇÃO
ainda, uma proporção de gordura saturada sob a forma de ácido
palmítico (5).
O produto desenvolvido chama-se “Amendojor”, ele
foi inspirado no Alfajor. O doce é composto de duas ou três
Esse produto foi desenvolvido pensando em
camadas de massa, recheio de doce de leite, coberto com
ingredientes provindos da América ou que possuem um grande
chocolate derretido ou polvilhado com açúcar de confeiteiro. Os
ingredientes utilizados no Amendojor são: banana liofilizada, consumo nessa região. Além de ser um doce, sem adição de
açúcar na preparação, é rico em gorduras monoinsaturadas
pasta de amendoim e chocolate 70% cacau ou ao leite. A banana
proporciona efeitos favoraveis sobre a HDL (6). Essas gorduras
liofilizada tem uma característica mais crocante, então substitui
a massa tradicional, o recheio é composto pela pasta de influenciam na absorção de algumas vitaminas lipossolúveis (D,
E, K, A). Os polifenóis são antioxidantes que influenciam na
amendoim e por fim é coberto por chocolate. O consumidor
prevenção de algumas doenças como arterial coronariana, por
poderá escolher entre as duas versões, cobertura com chocolate
70% ou chocolate ao leite, de acordo com seu paladar. promover discreta redução da pressão arterial (7).
A banana é uma fruta tropical que foi descoberta no
sudeste do continente asiático. O Brasil, Índia e Equador são os O trabalho teve como finalidade desenvolver e
maiores produtores mundiais desse fruto, segundo dados da avaliar sensorialmente um confeito inspirado no tradicional
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura alfajor com substituição da bolacha a base de farinha de trigo e
(1), além disso a banana é uma das frutas mais consumidas do gordura por banana liofilizada, e a substituição do recheio de
mundo, ficando atrás apenas da laranja, e está presente em doce de leite por pasta de amendoim nas versões de cobertura
diversas camadas sociais devido ao seu preço acessível, com chocolate ao leite e amargo (70%).
características nutricionais e principalmente pelo sabor
agradável. No Brasil, o consumo fica em torno de 34,5 kg por MATERIAL E MÉTODOS:
ano para cada habitante (2). No geral, a banana madura
apresenta 19% de açúcares e 1% de amido. O fruto é
Foi elaborado um confeito com duas fatias de
basicamente composto de: umidade (71,1%); proteína (1,2%);
bananas liofilizadas recheados com pasta de amendoim. Não
carboidrato (26,7%), apresentando regular teor de cálcio, ferro,
foram acrescidos outros ingredientes à banana ou pasta de
vitamina A e vitamina C e rica em potássio (3).
amendoim. As bananas recheadas com pasta de amendoim
O amendoim é a semente de uma leguminosa que
foram envolvidas em chocolate ao leite e 70%, e temperados a
possui sua origem na América do Sul, suas propriedades
28ºC e 35ºC, respectivamente.
nutricionais, como a alta quantidade de gordura monoinsaturada,
As duas versões foram submetidas a um teste de
vitaminas e minerais são atrativos adicionais às suas qualidades
análise sensorial afetivo de aceitação. Os indivíduos que
organolépticas. O grão do amendoim contém aproximadamente
aceitaram fazer parte da análise receberam ambos os produtos
46,3% de lipídios, 25,4% de proteína, 20,7% de carboidrato,
juntamente com um questionário de avaliação.
5,5% de umidade, 6,2 % de fibra, e 2,0% de cinzas, que
Foi orientado que a degustação dos produtos fosse
corresponde ao conteúdo de minerais. A pele apresenta maior 5
realizada de maneira separada para não haver interferência de
percentuais de carboidrato (49%) e de fibra (19%), das quais,
sabores entre os produtos. Foi oferecido também água entre as
25% são constituídas de fibras solúveis, bem como taninos e
degustações para ajudar a limpar o paladar.
pigmentos (3).
Aplicou-se o teste de aceitação por escala hedônica
O chocolate é um produto de origem americana,
de 9 pontos, ancorados em “desgostei muitíssimo” e “gostei
oriundo do processamento das sementes do cacau. Considerado
muitíssimo” para avaliação dos atributos aparência, odor, sabor,
atualmente uma das grandes fontes alimentares de polifenóis,
textura e aceitação global. O painel de degustadores foi
contribuindo significativamente na dieta para a ingestão destes
composto por sessenta indivíduos maiores de 18 anos, não
potentes compostos antioxidantes. De acordo com um estudo de
treinados.
Leite, 2018 (4), o chocolate é um dos produtos mais consumidos
no Brasil, a produção brasileira em 2017 foi de quinhentas mil
toneladas, tornando-se um dos maiores mercados do mundo. RESULTADO E DISCUSSÃO:
Além disso o Brasil é um grande produtor de cacau, leite em pó
e açúcar, principais matérias-primas para a fabricação do A versão chocolate ao leite teve melhor aceitação em
chocolate. relação à versão chocolate amargo.

Cada semente contém 40-50% de gordura, e Quadro 1. Média e desvio padrão das categorias
polifenóis, que compõem cerca de 10% do peso seco do grão apresentadas nos testes de aceitação. São Paulo, SP.
inteiro. O ácido oleico, gordura monoinsaturada, constitui cerca
de 33% da composição da manteiga de cacau. Outros 33%,
compõem-se de ácido esteárico que possui um efeito neutro nos

42
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A porção de 25g das versões de chocolate ao leite e aceitas sensorialmente e bem avaliadas em relação a intenção de
amargo apresentaram 100 kcal e 105 kcal, respectivamente, compra, representando uma opção de produto frente às versões
quando comparado com o alfajores tradicionais do mercado o disponíveis no mercado varejista.
valor calórico das versões analisadas não há diferença
significativa. Em relação a composição de macro e REFERÊNCIAS:
micronutrientes, pelo produto possuir uma base de fruta e uma
versão composta por lipídios de boa qualidade, ele pode ser uma
alternativa nutricionalmente superior. 1- FAO. Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação. STATISTICS DIVISION, 2006.
Gráfico 1. Intenção de compra dos produtos expostos
2- BARROS, M.A.B.; LOPES, G.M.B.; WANDERLEY, M.B.
Cadeia Produtiva da Banana: consumo, comercialização e
produção no Estado de Pernambuco. Revista Econômica do
Nordeste, Fortaleza, v. 39, 2008.

3- Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA).


Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center
(FoRC). Versão 7.1. São Paulo, 2020.

4- LEITE, L.R.C. Estudo de Competitividade do Cacau e


Chocolate no Brasil: Desafios na Produção e Comércio Global.
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais. Brasília,
dezembro de 2018.
à análise sensorial. São Paulo, 2020.
5-REI, J; MEDEIROS,F. Chocolate e os benefícios
cardiovasculares. Revista Hospital Universitário Pedro
Ernesto, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, ago. 2011.

Os dois produtos apresentaram intenção de compra 6- Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de
de 65%. Um estudo feito com moradores de Caxias do Sul Hipertensão Arterial. 2016;107(7):103.
analisou sensorialmente um alfajor sem glúten e sem lactose e
indicou que 100% dos participantes comprariam o produto (8).
As versões apresentadas nesse artigo se assemelham 7- Sociedade Brasileira de Cardiologia.Diretriz sobre o
visualmente ao alfajor convencional, porém os demais critérios Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular. 2013;100(1):49.
sensoriais não fazem jus a essa comparação, portanto o
percentual de intenção de compra reduzido pode estar 8- MICHAELSEN, L. K; ALVES, M. K. Desenvolvimento de
relacionado com esse fator. alfajor sem lactose e sem glúten e avaliação da sua aceitação em
dietas com limitações de ingredientes. Revista Brasileira de
CONCLUSÃO: Produtos Agroindustriais, Campina Grande, ano 73-78, v. 19, n.
1, 2017.
As versões do confeito de banana liofilizada com
recheio de pasta de amendoim, com cobertura de chocolate são

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Feiras, Pandemia e Redes Sociais: O Comparativo entre uma Feira Livre e uma
Feira Agroecológica Universitária

Hanna Schu1, Karen Mafra2, Gislaine Simões3, Paola Stefanutti3


1
Graduanda do Instituto Federal do Paraná – IFPR e bolsista PIBIC - IFPR/ FA
2
Graduanda do Instituto Federal do Paraná – IFPR
3
Doutora no Instituto Federal do Paraná – IFPR – paola.stefanutti@ifpr.edu.br

PALAVRAS-CHAVE: venda direta, COVID-19, produtos alimentícios;


INTRODUÇÃO mundo digital aparenta ser uma realidade homogênea imposta e
absorvida por toda a sociedade, mas será que é assim?
O ano de 2020 começou diferente para todos, desta vez temos Toma-se como recorte de pesquisa duas feiras da cidade de Foz do
permissão para generalizar: por meio de um organismo minúsculo e Iguaçu – PR: a Feirinha da JK e a Feira Agroecológica UNILA e
invisível o mundo assistiu um marco na história da humanidade: a realiza-se um comparativo das redes sociais em tempos de pandemia
COVID-19. Com medidas necessárias de isolamento em todo o mundo das feiras e dos seus feirantes de alimentos.
a pandemia atingiu não somente a saúde, mas teve efeito cascata em A primeira é gerida pela Fundação Cultural do município cuja
todos os aspectos da vida humana – sociais, culturais, políticos, responsabilidade é compartilhada com a Prefeitura de Foz do Iguaçu e
econômicos – abarcando os setores primários, secundários e terciários. ocorre uma vez na semana, porém muitos de seus feirantes participam
Focando no setor de abastecimento de alimentos, supermercados e de outras feiras do município, sendo este os seus ofícios. Há
hipermercados tiveram um aumento de 9,9% em julho de 2020 frente aproximadamente cem bancas de alimentos que comercializam
ao mesmo mês de 2019 sendo a sexta taxa positiva consecutiva do produtos in natura, manufaturados e prontos para o consumo, isto é
período (1), já os locais de venda direta entre produtor e consumidor comidas e bebidas de feiras. A maior parte destas barracas são de
final como as feiras livres e feiras agroecológicas foram duramente produtos prontos para o consumo sendo mínima a participação de
afetados. produtores da agricultura familiar.
O histórico das feiras livres no Brasil, baseado nos relatos das cidades A segunda feira é uma proposta do projeto de extensão Núcleo de Apoio
de São Paulo e Rio de Janeiro já demonstra o quanto estes espaços são aos Povos da Terra que ocorre todas as quintas-feiras das 16h às 22h na
fiscalizados, sofrem preconceito e enfrentam diversas tentativas de Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) -
enfraquecimento. Entretanto, têm persistido ao processo pronunciado Jardim Universitário. A Feira Agroecológica UNILA conta com a
de negação da rua, do espaço público que marca o desenvolvimento da comercialização de produtos orgânicos certificados pela Rede Ecovida,
urbanização brasileira (2, 3). Mas no atual momento, além de todas as de trinta famílias de assentamentos de reforma agrária dos municípios
dificuldades anteriormente enfrentadas para a sua permanência e de Missal, Ramilândia e São Miguel do Iguaçu. Também são
resistência, há a COVID-19. comercializados produtos hortigranjeiros, alimentos vegetarianos e
Em Foz do Iguaçu, nosso município de estudo, um dia antes do primeiro veganos por parte de moradores da Vila C e São Sebastião (11).
caso ser confirmado, a prefeitura publicou o Decreto Nº 27.972 de 17 Também se integram à feira estudantes de toda América Latina que
de março de 2020 (4), com ações de enfrentamento da COVID-19, vendem seus produtos gastronômicos típicos.
suspendendo entre outras atividades comerciais, as feiras livres. Após Espera-se refletir sobre os desdobramentos da pandemia na
um período de quase 45 dias, foi publicado o Decreto Nº 28.093 de 30 comunicação entre feirante de alimentos e clientes, ocorridas por meio
de abril de 2020 (5) que permitia a partir do dia 3 de maio de 2020 a das redes sociais, levantando possíveis ações que a academia poderia
retomada das atividades das feiras livres, com inúmeras restrições propor para auxiliar neste novo cenário imposto.
como: horário de funcionamento restrito (manhã: 07h às 11h; tarde:16h
às 20h); distanciamento de três metros entre barracas com alternância OBJETIVOS
para não ficarem posicionadas frontalmente; permissão de apenas dois
feirantes por barraca e um por trailers e foodtrucks; proibição de Objetiva-se realizar um comparativo das redes sociais em tempos de
consumo no local e afastamento de dois metros entre os clientes nas pandemia – das feiras e de seus feirantes – entre a Feirinha da JK e a
filas; aplicação de métodos de limpeza e higienização por parte dos Feira Agroecológica UNILA.
feirantes, entre outras restrições. MATERIAL E MÉTODOS
Apesar das feiras terem retornado às atividades no dia 3 de maio, muitos Foi realizada pesquisa bibliográfica sobre feiras e a pandemia; e
frequentadores ainda não se sentem à vontade para voltarem ao espaço efetuada pesquisa nas redes sociais oficiais (facebook) das duas feiras e
de convivência e convivialidade, pois até o momento desta escrita a nas redes sociais (facebook) dos feirantes e/ou das bancas. Houve o
presente cidade encontra-se com um elevado coeficiente de incidência levantamento de quais feirantes tinham rede social e como e o que eles
por regional de saúde, isto é, apresentam um número de casos estavam comunicando em tempos de distanciamento social. A rede
confirmados para cada 100 mil habitantes de 1.816, sendo maior que a social instagram foi descartada por ser quase nula a utilização da
média apresentada pelo estado do Paraná, que é de 1.253, de acordo mesma por parte dos feirantes.
com a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (6).
Junqueira & Peetz (2015) (3) relatam que um dos pontos-chave para a RESULTADOS E DISCUSSÃO
resistência da feira é a proximidade, o contato e a fidelidade
estabelecida entre feirante e sua clientela. Tido isso questiona-se como As páginas oficiais do facebook de ambas as feiras são bem distintas. A
foi / está sendo essa comunicação, esse contato entre feirante e clientes página da Feirinha da JK, apesar de apresentar um total de 4.072
em tempos de pandemia? Será que diferentes tipos de feiras teriam curtidas e 7.692 check-ins, não está atualizada, sendo sua última
estabelecido relações diversas entre seus pares? postagem no começo de 2019. Já a página da Feira Agroecológica
Neste momento de pandemia as redes sociais tornaram-se grandes UNILA possui 558 curtidas e 92 check-ins mas está atualizada e
aliadas para comerciantes, produtores e empresários, uma vez que o apresenta vários posts ligados ao momento da pandemia, preocupações
contato direto com o cliente foi interrompido. Essas plataformas com a manipulação dos produtos, assim como estimula o e-commerce
passaram a ser a principal forma de comunicação entre vendedor e por meio da divulgação do whatsapp dos feirantes e dos seus produtos.
consumidor (7). Tomando como base os dados de Stefanutti (2020) (12) sobre os
Como estratégia para passar por esse momento de pandemia, a feirantes de produtos alimentícios da Feirinha da JK, realizou-se uma
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura pesquisa nas redes sociais pelos feirantes e/ou barracas. Deve-se
(FAO) sugere aos pequenos produtores agrícolas a implantação de e- ressaltar que a maioria das barracas não possuía placa de identificação
commerce (comércio virtual) para auxiliar o escoamento da pequena e são conhecidas por seus produtos ou seus produtores, a banca do Seu
produção (8). As cartilhas com orientações para prevenção do novo Joaquim, a banca da castanha do Pará, a banca do caldo de cana, a banca
coronavírus em feiras livres elaboradas pela Confederação Nacional da do pastel, banca da água de coco, banca do açaí...e por aí vai.
Agricultura (9) e pelo estado do Espírito Santo (10) recomendam o e- Foram identificadas 12 barracas que possuem rede social, destas 25%
commerce aos feirantes de um modo geral. O comércio virtual e o não atualizava a página desde 2019. O restante, sendo este o total de

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

nove barracas estão com as redes sociais relativamente ativas, com 2.MASCARENHAS, Gilmar; DOLZANI, Miriam. C. S. Feira livre:
posts geralmente publicados mensalmente e se comunicando com os territorialidade popular e cultura na metrópole contemporânea. In:
clientes. Revista Eletrônica Ateliê Geográfico, v.2, n.4, p. 72-87, agosto/2008.
Destas nove bancas ativas apenas 33% fizeram postagens relacionadas 3.JUNQUEIRA, Antonio Helio; PEETZ, Marcia da Silva. 100 anos de
aos procedimentos de combate à COVID-19, como por exemplo: a feiras livres na cidade de São Paulo. São Paulo: Via Impressa Edições
barraca Pastel da Feira Foz, que publicou fotos do uso de álcool em gel de Arte, 2015.
e de barreira de contenção cumprindo o distanciamento de acordo com 4.FOZ DO IGUAÇU. Decreto nº 27.972, de 17 de março de 2020.
os atuais decretos da cidade; e a barraca Chinese Mix que anunciou a Adota medidas adicionais de controle, prevenção e fiscalização para
realização de adaptações para evitar a transmissão do novo vírus, sem enfrentamento da emergência em saúde pública de importância
entrar em detalhes de quais seriam essas adequações. Porém, foi internacional decorrente do Novo Coronavírus (COVID-19), em
observado que em nenhuma das barracas que foram consideradas ativas complemento ao Decreto nº 29.963, de 15 de março de 2020. Gabinete
digitalmente por este estudo, havia perguntas do público sobre as do Prefeito Municipal de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, em 17 de
precauções tomadas nesse momento de pandemia, notou-se apenas março de 2020.
poucos questionamentos sobre a entrega de produtos, elogios aos 5.FOZ DO IGUAÇU. Decreto Nº 28.093, de 30 de abril de 2020. Altera
produtos e curtidas nas publicações. e acresce dispositivos do Decreto nº 28.055, de 20 de abril de 2020, que
Dos perfis ativos 77% apresentam número para contato e somente 57% Consolida as medidas estabelecidas no Município de Foz do Iguaçu de
expressam explicitamente que realizam delivery. Verifica-se que houve controle e prevenção para o enfrentamento da emergência em saúde
um aumento de postagens em 77% dos perfis ativos das barracas e/ou pública de importância internacional decorrente da Pandemia do Novo
feirantes, sendo que dois deles, a banca Chinese Mix e a Acarajé da Coronavírus - COVID-19, e dá outras providências. Gabinete do
Ana, as postagens ou a criação do perfil foi iniciada no ano atual de Prefeito Municipal de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, em 30 de abril
2020. de 2020.
Da outra parte, na página oficial do facebook da UNILA foi anunciado 6.PARANÁ. Secretaria da Saúde. Coronavírus (COVID-19): Informe
no mês de março que a feira seria suspensa até o retorno das atividades Epidemiológico. Disponível em:
acadêmicas, porém que a página divulgaria constantemente produtos de <https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/doc
seus feirantes e assim tem ocorrido. umento/2020-09/informe_epidemiologico_08_09_2020_.pdf> Acesso:
A maioria dos feirantes da Feira Agroecológica UNILA são produtores 9 set. 2020.
rurais, que também comercializam seus produtos com o uso do 7.STANGHERLIN, Aline; JOÃO, Daniel de Moraes; OLIVEIRA,
whatsapp, podendo ser encomendado e retirado com o feirante ou Josele Nara Delazeri de. Os desafios enfrentados pelos pequenos
enviado por delivery. empreendedores durante a pandemia da COVID – 19. Observatório
Com o auxílio de um dos posts realizados pelo perfil da Feira foi Socioeconômico da COVID-19. Universidade Federal de Santa Maria,
possível pesquisar o nome de sete vendedores de alimentos da feira, p.1-8, 2020.
sendo que apenas três deles foram encontrados no facebook. Os dois 8.GALANAKIS, Charis M. The Food Systems in the Era of the
produtores de legumes apresentam algumas postagens sobre seus Coronavirus (COVID-19) Pandemic Crisis. In: Foods, 9, 523, p.1-10,
produtos em suas redes sociais pessoais. Não foi possível a localização 2020.
das redes sociais de outros feirantes já que nos posts estes eram 9.CNA. Confederação Nacional da Agricultura. SENAR. Serviço de
apresentados apenas com o primeiro nome seguido do contato para Nacional de Aprendizagem Rural. FAEG. Federação da Agricultura e
whatsapp. Pecuária – Goiás. Feira Segura: A feira de hortifruti, livre do
Como já dito anteriormente, a Feira também é formada por alunos da coronavírus. Brasília: DF, 2020. 36 p.
UNILA de toda a América Latina e pode-se verificar a rica presença 10.ESPÍRITO SANTO. Governo do Estado de Espírito Santo.
cultural destes estudantes através de algumas comidas prontas Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca. Feiras
comercializadas como empanadas, arepas, pastel de yuca, churros Livres: Orientações para prevenção do novo coronavírus. Vitória: ES,
colombianos, arroz chaufa peruano, sopa paraguaia e arroz chimba 2020. 13p.
colombiano. Estes produtos foram divulgados durante o período de 11.UNILA. Feira Agroecológica da UNILA terá edição especial nesta
pandemia, sinalizando que alguns estudantes não retornaram para seus quinta-feira. <https://portal.unila.edu.br/noticias/feira-agroecologica-
países, mas passaram este momento de isolamento social em Foz do da-unila-tera-edicao-especial-nesta-quinta-feira>. Acesso: 10 ago.
Iguaçu. 2020.
Nos posts da página da Feira sempre há menção aos cuidados com 12.STEFANUTTI, Paola. Das feiras às culturas alimentares (no
manipulação de alimentos, a importância do uso de máscaras e se plural) da tríplice fronteira. [tese]. Foz do Iguaçu: Universidade
possível da permanência em casa. Além de reforçar o serviço de Estadual do Oeste do Paraná; 2020.
delivery dos produtos.

CONCLUSÕES

Verificou-se que apesar das recomendações da FAO e de cartilhas


elaboradas por instituições públicas, o número de feirantes/barracas que
divulgam o e-commerce pelas redes sociais é muito baixo. Levanta-se
algumas hipóteses como falta de acessibilidade digital, seja por
dificuldade com a utilização/criação de uma rede social ou por não
possuir acesso à internet; ausência de tempo para alimentar e dialogar
com os clientes nas plataformas e também falta de interesse.
Apesar da Feirinha da JK ter um maior número de feirantes as
interações nas redes sociais com a promoção do e-commerce são muito
mais tímidas se comparada a Feira Agroecológica UNILA, que consta
com publicações atuais e constantes.
Após este levantamento inicial, uma das propostas enquanto academia
é produzir um material didático em linguagem adequada para a criação
e manutenção de perfis para as bancas e para as feiras com o objetivo
de promover e aumentar o interesse da população em consumir
alimentos de produtores locais. Poderia também ser proposto uma
capacitação para os feirantes que tenham interesse em utilizar as redes
sociais.

REFERÊNCIAS:

1.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.


Em julho, vendas no varejo crescem 5,2%. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28838-em-julho-vendas-
no-varejo-crescem-5-2>. Acesso em 10 ago. 2020.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cardápios em aplicativos de entrega: Uma análise das percepções dos


consumidores
Lucas Braga Rodrigues1; Ana Erbênia Pereira Mendes2
1
Graduando (a) em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
2
Professora Dra do Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
Autor Correspondente: erbenia@ufc.br

Palavras-Chave: Alimentação, mídias digitais; aplicativos de entrega

INTRODUÇÃO grande ferramenta de constantes transformações no ato de comer e nos

A comida faz parte de nossa trajetória de vida como um hábitos alimentares de nossa sociedade. Segundo Rossetti e Morales

forte símbolo social e representa uma base forte que sustentou e até (3) a tecnologia da informação (TI), que é gerada e explicitada devido

hoje possibilita a existência de diferentes povos. É conhecida por ao conhecimento das pessoas, tem sido, ao longo do tempo, cada vez

manifestar-se representando a junção de necessidade e desejo no mais intensamente empregada como instrumento para os mais

mesmo indivíduo, resultando com que este satisfaça suas necessidades diversos fins”. Esta ferramenta tem sido considerada uma chave na

biológicas ao passo que também solidifica e acrescenta a cultura de gastronomia, sendo usada para gerar tendências e criar novos hábitos,

um local. Segundo Murrieta (1), seria difícil pensar em outro aspecto expandindo possibilidades e proporcionando transformações no ato de

da vida humana mais profundamente conectado com a sobrevivência comer.

básica e, ao mesmo tempo, com elementos social e simbolicamente Essas transformações têm sido constantes e cada vez mais

construídos do que a alimentação. Consequentemente, não há complexas de se acompanhar. Há não muito tempo, por exemplo

dimensão da vida social humana que incorpore melhor as contradições tínhamos em crescimento notável do hábito de comer fora de casa,

do processo cotidiano de tomada de decisão. onde muitas vezes em virtude de cotidianos cada vez mais corridos,

Cada indivíduo tem uma trajetória alimentar que começa era nítido a crescente aquisição ao hábito de se comer cada vez mais

com um alimento específico, o leite, e, ao longo do tempo, se expande rápido, onde muitos deixavam uma boa e mais calma alimentação em

para um número muito grande de alimentos e preparações, atitudes e segundo plano.

rituais relacionados à alimentação. Os requerimentos nutricionais são Segundo Collaço (4), o modelo de fast-food encontrou uma

pequenos em relação à variedade de alimentos que podem satisfazê- forma de posicionar-se graças aos novos princípios de produção

los. Pode-se dizer que a alimentação evolui de uma fonte de nutrição e (poucos produtos, grandes quantidades, pouca elaboração, pouca mão-

prazer sensorial para um marcador social, uma experiência estética, de-obra), oferecendo e distribuindo o mesmo cardápio em vários

uma fonte de significação e metáfora, e frequentemente, uma entidade pontos de venda, com preparo e serviço rápidos.

moral (2). Este mesmo modelo vem se adaptando conforme os hábitos

Em meio ao campo da alimentação é possível nos vão mudando, bem como a grande maioria dos estabelecimentos no

depararmos com os mais diversos termos e significados. Dentre eles ramo da alimentação. Nos últimos dias, pode-se afirmar que o hábito

estão os “Hábitos Alimentares”, objeto de estudo muito utilizado no de comer em casa tem crescido notoriamente, seja por orientações

campo da pesquisa alimentar. Estes hábitos são construídos em todo e técnicas devido ao cenário de pandemia que nos obriga a cultivar este

qualquer indivíduo durante toda sua existência. Há muitos fatores que ato ou ao fato de que já há um tempo muitos têm optado por não sair

influenciam na construção e mudança desses hábitos ao longo do do conforto de seus lares quando surge a necessidade ou desejo de

tempo, eles podem ser sociais, religiosos, econômicos, entre muitos comer. Estes fatores resultam em um crescente significativo no uso

outros. dos aplicativos de entrega.

Atualmente, o uso dos cardápios através de aplicativos de Estes aplicativos têm como ponto em comum a

entrega e plataformas em mídias digitais tem crescido de forma possibilidade de oferecer ao consumidor os cardápios em suas

exponencial e resultando em mudanças tanto dos hábitos alimentares composições. As opções são apresentadas ao cliente das mais diversas

quanto no ato de comer. Este estudo tem como objetivo central formas e separadas em categorias que também podem diferenciar de

entender e analisar acerca das percepções dos consumidores com acordo com o conceito e proposta da empresa. É inegável que estes

relação ao cardápio presente nos aplicativos de entrega utilizados no “cardápios digitais” vêm sendo um facilitador na vida de milhares de

dia-a-dia pelos mesmos. consumidores, tomando o lugar dos cardápios físicos e resultando em
uma maior praticidade e menor perda de tempo, bastando apenas um

CARDÁPIOS DIGITAIS COMO FERRAMENTA DE clique ou uma busca para que encontre o que se deseja.

INOVAÇÃO
No século que vivemos, a tecnologia vem sendo uma METODOLOGIA
Neste estudo, será recorrido a dois diferentes tipos de

46
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

pesquisa. A primeira é definida como Pesquisa Bibliográfica que, com a idade e gênero de quem estivesse respondendo o formulário,
segundo Cervo (5), procura explicar um problema a partir de sendo apurados os seguintes dados acerca do perfil dos indivíduos
referências teóricas publicadas em documentos. Esta pode ser (Figura 1)).
realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou
experimental. Em ambos os casos, busca conhecer e analisar as Figura 1: Distribuição por gênero e faixa de idade dos participantes da
contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um pesquisa.
determinado assunto, tema ou problema.
Neste caso, o tipo de pesquisa bibliográfica aqui utilizado
será parte da pesquisa descritiva, o segundo tipo. Ainda segundo
Cervo (5), a pesquisa descritiva busca observar, registrar, analisar e
correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. A
pesquisa descritiva pode assumir diversas formas. Aqui, o formato de
pesquisa descritiva enquadra-se no modelo de pesquisa de opinião. A
pesquisa de opinião abrange uma faixa muito grande de investigações
que visam identificar falhas ou erros, descrever procedimentos,
descobrir tendências, reconhecer interesses e outros comportamentos.
A pesquisa será aplicada por meio de questionário online
estruturado através da plataforma Google Formulários®. Este tipo de
Formulário é aplicado, comumente, quando se pretende obter
respostas mais amplas, com maior número de informações (6). O As faixas etárias encontram-se quase que igualitariamente
público alvo serão os usuários de aplicativos de entrega de comida e bem distribuídas, mas ainda assim a maioria é de jovens com idades
deseja-se ter um mínimo de 100 respostas. As perguntas irão variar de entre 21 e 24 anos (36%). Quanto ao gênero, nota-se um público
objetivas e subjetivas, a depender do assunto a ser abordado nas majoritariamente feminino (60%).
sessões. O formulário será dividido nas seguintes sessões: A última pergunta desta sessão era relacionada às restrições
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): Nessa alimentares, em que foi pedido que marcassem a qual grupo
primeira sessão, será apresentado um pequeno texto informando sobre pertenciam ou se não apresentavam nenhuma restrição.
a pesquisa, onde quem estiver respondendo só poderá prosseguir para Segundo o portal GlobalCare (7), foi feito um estudo em
as demais sessões e continuar respondendo à pesquisa caso concorde 2016 pela associação de celíacos do Brasil (ACELBRA) em que é
com o Termo apresentado. apontado que existe um portador de doença celíaca no país para cada
Perguntas Globais: Em seguida, serão feitas perguntas gerais, ou 600 habitantes. No entanto, este número pode ser ainda maior já que o
seja, acerca do indivíduo, para que sejam coletadas informações como estudo só considerou indivíduos já diagnosticados. Uma matéria
sua idade, gênero, restrições alimentares e renda, com perguntas publicada no site RDnews (8) menciona que uma pesquisa do instituto
majoritariamente objetivas. Datafolha registrou que cerca de 53 milhões de brasileiros contaram
Uso de Aplicativos de Entrega: Nesta sessão, serão feitas perguntas, ter alguma dificuldade digestiva após consumo de derivado de leite, o
na maioria objetivas, relacionadas ao uso de plataformas de entrega número representava 35% da população, em 2016, quando foi
como frequência de uso, preferencias, o tempo que costuma demorar divulgada. Tendo estes dados em vista, viu-se a importância de
para escolher um pedido, etc. elaborar esta pergunta para que fosse levada em consideração o fato de
Cardápios Digitais: Na última sessão teremos perguntas em que os que dietas rígidas ocasionadas por qualquer tipo de restrição alimentar
consumidores poderão relatar suas percepções quanto ao cardápio que têm crescido de forma gradativa no Brasil.
esses aplicativos oferecem. Serão feitas perguntas como a praticidade
do cardápio, intuitividade, organização, estrutura e possíveis falhas ou Figura 2: Restrições alimentares entre os participantes da pesquisa.
defeitos que esses cardápios possam apresentar, bem como
ferramentas e sugestões que o consumidor acha que podem ser
acrescentadas a esses cardápios. Nesta última sessão também poderão
ser feitas perguntas subjetivas, para que seja possível uma análise mais
aprofundada das percepções relatadas por estes consumidores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Termo de consentimento e perguntas globais
Todos os participantes da pesquisa, após concordarem com Apesar do fato de que o número de dietas com restrição
o termo de consentimento, foram direcionados à sessão seguinte com alimentar no País cresce, na presente pesquisa este tipo de público foi
perguntas globais. As duas primeiras perguntas pediam, minoria. 25 indivíduos relataram ter restrição a algum tipo de
respectivamente, para que fossem marcadas as opções condizentes alimento, onde a maioria afirmou ser lactose (12%), seguido de frutos

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

do mar (6%) e os demais dividiram-se em opções que apresentam questionamentos relacionados aos cardápios presentes nestas
apenas 1% cada, que variam em alimentos do tipo ovos, açúcar, plataformas. A primeira pergunta pedia ao participante que marcasse
amendoim, glúten, gelatina, mel de abelha, cafeína entre outros qual tipo de cardápio era de sua preferência por serem melhores de
(Figura 2). Apenas uma pessoa afirmou que sua restrição alimentar era manusear, mais fáceis e acessíveis ao consumidor. Entre os
relacionada ao hábito do veganismo. participantes da pesquisa, 80% preferem utilizar cardápios
digitais/online e apenas 20% tem preferência por cardápios físicos
Aplicativos de entrega (papel, plástico, etc
O fato da maior preferência por cardápios digitais reafirma
Para iniciar nesta sessão foi perguntado a frequência com
a importância da presença dos cardápios nas plataformas de delivery
que essas pessoas costumam pedir comida utilizando aplicativos de
online. A prioridade se dá quando é levado em consideração a
entrega. Para este questionamento foram obtidos os seguintes dados:
praticidade de analisar diversas opções apenas com um “click” ou
“deslizar” de dedos em um dispositivo móvel. No entanto, veremos a
Figura 3: Frequência do uso de aplicativos de entrega de refeições
seguir que ainda existem melhorias importantes a serem consideradas
entre os participantes da pesquisa.
neste tipo de ferramenta.
Apesar de o estudo ter como minoria a participação de
indivíduos com algum tipo de restrição alimentar, foi feita um
questionamento direcionado a este público a fim de entender melhor
acerca da presença ou ausência da variedade de produtos alimentícios
nestes cardápios digitais oferecidos por aplicativos de entrega. Dos
participantes que apresentavam algum tipo de dieta por restrição, a
maioria (60%) relatou que estes cardápios não lhes apresentam muitas
opções que estejam de acordo com o que se possa comer.

Aqui, apenas 1 indivíduo relatou que nunca pede comida Este é um dado preocupante porque, a medida em que

utilizando aplicativo de entrega, seguido de 6 pessoas que relataram cresce o número de pessoas com diferentes tipos de restrições

pedir quase todos os dias, 32 raramente e 60 pessoas pedem as vezes. alimentares no país, também é necessário que se atente ao empenho de

1 resposta dizia pedir todos os dias. oferecer um número maior de opções de refeições a este público.

Apesar da frequência de uso variar, é possível afirmar que Figura 4: Avaliação da importância de características de organização,
parte quase integral dos participantes utilizam este recurso na hora de intuitividade e praticidade em um cardápio
comer. Neste contexto, é notório um cenário em que o número de
adeptos aos serviços de delivery online só cresce no Brasil. Segundo
pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(ABRASEL) (9,o mercado de delivery de alimentos movimentou R$
15 bilhões em 201. Para 2020 a expectativa é registrar R$18 bilhões.
Desta forma, vê-se que este é um mercado com potencial para
expansão.
Em seguida, foram apresentadas aos participantes duas
frases e pedido para que fosse marcado a frase que mais contemplasse
a quem estivesse respondendo. As respostas para essa questão foram
bem equilibradas, em que 57% dos indivíduos, ao utilizarem o
aplicativo de delivery, já tinha em mente o que desejava consumir,
enquanto que 43% dos participantes, na maioria das vezes, ainda não
tinha em mente o que iria consumir, o que provavelmente o levasse a
passar mais tempo no aplicativo e fizesse um uso ainda maior do
cardápio ali presente até que decidisse sua refeiçãoAqui é possível
observar que um número expressivo do público que consome
aplicativos de delivery online costuma dedicar um tempo nos
cardápios oferecidos por estas plataformas até que finalmente decidam
o que irá ser a refeição. Os cardápios desenvolvidos mostram-se um
fator de crucial e decisivo nestas plataformas. A pergunta seguinte oferecia diversas características em

Cardápios digitais suas opções e pedia para que o participante marcasse as que fossem
julgadas como mais importantes para um cardápio digital. A
Na última sessão do formulário, foram desenvolvidos
característica mais marcada e consequentemente a mais levada em

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

consideração foi a de Organização (93%), seguido de Categorização levados em consideração e consequentemente melhorias sejam
(90%), Simplicidade (65%), Praticidade (57%) e Descrições de aplicadas, resultando em cardápios que tenham em suas estruturas
Preparo (56%). Em contrapartida, características como “Muitos características como praticidade, intuitividade, organização e
Aspectos Visuais para chamar atenção” ou “Intuitividade” foram simplicidade, resultando assim em ferramentas cada vez mais
pouco considerados. Na opção “Outros”, obteve-se respostas como a satisfatórias ofertadas ao consumidor.
necessidade de fotos dos produtos e a ausência do excesso de
informações. REFERÊNCIAS
Foi solicitado também que os participantes avaliassem de
acordo com suas opiniões, em uma escala de 1 a 5, características de (1) MURRIETA, R. S. S. Dialética do sabor: alimentação,
ecologia e vida cotidiana em comunidades ribeirinhas da Ilha
organização, intuitividade e praticidade de acordo com o quão
de Ituqui, Baixo Amazonas, Pará. Revista de Antropologia, v.
importante eram considerados estes critérios na elaboração de um 44, n. 2, 2001.
(2) ROZIN, P. Social and moral aspects of food and eating. In:
cardápio (Figura 4)
______. Towards a psychology of food choice. Bruxelas: Institut
Os dados acima apresentados nos mostram que os Danone, 1998. Cap. 8, p. 219-232.
(3) ROSSETTI, A. G.; MORALES, A. B. T. O papel da tecnologia
aplicativos de delivery ainda têm muito no que melhorar quando se
da informação na gestão do conhecimento. Ciência e
tratam de características tão requisitadas e necessárias como as Informação, Brasilia, v. 36, n. 01, p. 124-135, jan./abr. 2007.
(4) COLLAÇO, Janine Helfst Leicht. Restaurantes de comida
supracitadas. Vê-se que o nível de exigência do consumidor é
rápida, os fast-foods, em praças de alimentação de shopping
significativo e a maioria não se mostra muito satisfeita quanto ao centers: transformações no comer. Revista Estudos Históricos,
Rio de Janeiro, v. 1, n. 33, p. 116-135, jun. 2004. ISSN 2178-
cardápio que lhes é oferecido.
1494. Disponível em: <
Por fim, através de uma pergunta subjetiva, foi pedido para http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2
216>. Acesso em: 04 Ago. 2019.
que o participante citasse defeitos que geralmente são encontrados
(5) CERVO, Amado Luiz, Metodologia Científica. 4 ed. São
nestes cardápios digitais. As respostas foram diversas, mas foi Paulo: MAKRON Books, 1996.
(6) ANDRADE, Maria Margarida de, Introdução à metodologia do
possível observar críticas com frequências significativas, como é o
trabalho científico: elaboração de trabalho na graduação. 6
caso da falta de descrição e melhor detalhamento dos preparos, ed. São Paulo: Atlas, 2003.
(7) GLOBALCARE (São Paulo). Um em cada 600 brasileiros tem
ausência de imagens do preparo para que se tenha uma melhor
intolerância ao glúten. Saiba identificar a doença celíaca. [S.
referência do que se apresenta e, quando a imagem se faz presente, há l.], 8 ago. 2018. Disponível em:
https://www.globalcare.com.br/br/blog/um-em-cada-600-
casos em que esta não seja condizente com o preparo quando chega
brasileiros-tem-intolerancia-ao-gluten-saiba-identificar-a-
nas mãos do consumidor. Também foram citados, em menor doenca-
celiaca#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20Associa%C3%
frequência, defeitos relacionados a organização, variedade e
A7%C3%A3o,apenas%20os%20casos%20j%C3%A1%20diagn
precificação dos produtos presente nos cardápios. osticados. Acesso em: 5 jul. 2020.
(8) RDNEWS. Cresce o número de intolerantes a lactose
diagnosticados na fase adulta. Mato Grosso, 19 jan. 2020.
CONCLUSÃO Disponível em:
https://www.rdnews.com.br/cidades/conteudos/122975. Acesso
em: 5 jul. 2020.
O estudo mostra de forma clara a importância dos (9) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BARES E
RESTAURANTES - ABRASEL. Do celular à mesa: como os
cardápios digitais nessas plataformas de delivery que crescem mais a
apps de delivery transformam o mercado de bares e
cada dia. É inegável que, na mesma medida em que aumentam os restaurantes. Disponivel em:
https://abrasel.com.br/noticias/noticias/do-celular-a-mesa-como-
usuários nestas plataformas, também sobe o nível de exigência e a
os-apps-de-delivery-transformam-o-mercado-de-bares-e-
necessidade de atenção aos detalhes. O cuidado para com o cliente é restaurantes/ . Acesso em: 5 Julho de 2020.
primordial, pois, querendo ou não, é este quem movimenta os
números. Para isso, é de extrema importância que os feedbacks sejam

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia Social no Jardim da Gente e os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável

Eveline Costa1, Robson Mota2, Alessandra Carneiro1, Rafael Amaral1, Regina Bastos3, Tereza Garcez4

Docente do Mestrado em Gastronomia e do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará; 2 Docente


1

do Bacharelado em Gastronomia da UFC; 3Economista Doméstica da UFC; 4Técnica em Alimentos e Nutrição do


Bacharelado em Gastronomia da UFC.
e-mail: evelinedealencarcosta@gmail.com

Palavras chave: inclusão social, ODS, empoderamento, desenvolvimento social, sustentabilidade.

INTRODUÇÃO de Estado e de Governo e altos representantes, realizada na


sede da ONU, em Nova York (17, 18). A pauta dessa
A gastronomia ainda é associada, por muitos, como algo reunião culminou na criação da Agenda 2030, que teve os
restrito ao requinte e a classes sociais mais elevadas, mas Objetivos de Desenvolvimento do Milênio como ponto de
podemos citar que é uma ciência democratica, pois ela partida. A referida Agenda teve como alvo o fim da pobreza
revela a identidade alimentar de um povo. Por ser composta e da fome em todos os lugares; o combate as desigualdades
por outras ciências, (como a nutrição, história, antropologia, dentro e entre os países; a construção de sociedades
química, microbiologia, psicologia, economia, geografia e pacíficas, justas e inclusivas; a proteção dos direitos
outras), permite enxergar ou entender os alimentos e as humanos e promoção da igualdade de gênero e o
preparações por diferentes viés analíticos. empoderamento das mulheres e meninas; favorecer para a
A alimentação de um povo, comunidade ou nação pode ser proteção duradoura do planeta e seus recursos naturais.
percebida pela gastronomia, que por ser interdiciplinar Também houve uma preocupação em criar condições para
perpassa e conecta as ciências, para compreender que os um crescimento sustentável, que fosse inclusivo e
alimentos e preparações podem ser analisados como uma economicamente sustentado. Além disso, almejaram que
expressão cultural, artística, histórica, memórial e fosse construída uma prosperidade compartilhada e trabalho
patrimonial, por exemplo (1, 2, 3). Deste modo, a para todos. Assim, foram propostos 17 ODS para serem
gastronomia está ligada a origem de um povo e cumpridas por todas as nações (17), são eles:
geograficamente relacionada a tudo que é alimento oriundo Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas,
de um território, bem como o que a envolve (4). Na em todos os lugares;
gastronomia clássica ou pela gastronomia francesa, este Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança
aspecto é chamado como “terroir” para se referir que sempre alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura
está atrelada aquilo que vem de um território, com suas sustentável;
valorizações e expressões (5). Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o
A gastronomia social se apropria dessa conscientização em bem-estar para todas e todos, em todas as idades;
relação a valorização daquilo que é “nosso” (ou seja, do Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de
território) para repassar os conhecimentos perminentes a qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
mesma, ou seja, considerando todas as ciências que a longo da vida para todas e todos;
compõe. Ela também está focada em unir essas prerrogativas Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar
aos objetivos sociais, como ação de transformação de uma todas as mulheres e meninas;
condição social que pode ser por meio da capacitação para o Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável
mercado de trabalho, incentivo ao empreendedorismo. Ela da água e saneamento para todas e todos;
tem ação em cadeia e, consequentemente, gera o Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável,
desenvolvimento social e sustentável. Além disso, a moderno e a preço acessível à energia para todas e todos;
gastronomia social é comprometida com o despertar do Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado,
empoderamento ou mesmo com o seu aprimoramento, ou inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e
seja incluindo auto-estima e confiança, diante do trabalho decente para todas e todos;
reconhecimento dos seus direitos e deveres de cidadãos (6, Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a
7, 8). industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a
O Programa Gastronomia Social no Jardim da Gente é uma inovação;
ação de extensão da Universidade Federal do Ceará - UFC, Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e
(também conhecido como Gastronomia Social UFC), entre eles;
iniciada em 2010, que visa formar pessoas da comunidade, Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos
da periferia de Fortaleza-CE, e em especial a do Grande inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
Bom Jardim (área composta por cinco bairros: Canidezinho, Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo
Bom Jardim, Granja Lisboa, Granja Portugal e Siqueira), sustentáveis;
por meio de cursos temáticos em gastronomia para o Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a
desenvolvimento sustentável (9). Dados apontam que estes mudança climática e seus impactos;
bairros são caracterizados pelo baixo Índice de Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos,
Desenvolvimento Humano - IDH (10) e marcados pela dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento
criminalidade e violência (11). De acordo com o Centro de sustentável;
Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) do Ceará, o Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso
Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará (FPSP) e a sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca mais de 700 sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e
jovens, entre 12 e 24 anos, foram assassinados em Fortaleza reverter a degradação da terra e deter a perda de
entre janeiro e maio de 2020 (12); diante desses dados o biodiversidade;
Grande Bom Jardim destaca-se das demais áreas da capital Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas
(13, 14, 15). para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à
Ressalta-se ainda que comunidades carentes que convivem justiça para todos e construir instituições eficazes,
com dificuldades de acesso à educação, arte e cultura estão responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
frequentemente vulneráveis ao crescimento da violência Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e
entre jovens (16). revitalizar a parceria global para o desenvolvimento
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) sustentável.
propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) Diante disso, o Programa Gastronomia Social UFC visa
foram determinados em 2015, durante a reunião dos Chefes colaborar para a mudança desses dados, oportunizando

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

jovens e adultos a inserir-se no mercado de trabalho ou carga horária entre 40h/a e 180h/a e o conteúdo são
despertar para o empreendedorismo gastronômico, sem disponibilizados em apostilas.
distanciar dos temas regulares e transversais comumente O Programa tem como parceiros permanentes as entidades:
abordados no universo da gastronomia (9). Também Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim (MSM),
favorece aos alunos do Bacharelado em Gastronomia da Escola de Gastronomia Autossustentável, Instituto da
UFC, que têm a oportunidade de vivenciar a docência em Primeira Infância (IPREDE), Biblioteca Pública Infantil
gastronomia. A fim de conferir apoio as propostas, foi Herbênia Gurgel (da Prefeitura de Fortaleza), Projeto
construída a Escola de Gastronomia Autossustentável Colcha de Retalho, Projeto Realimenta, Projeto Doçura que
(EGA) em parceria com o Movimento de Saúde Mental Agrega, Projeto Resgate e valorização da Araruta, Programa
Comunitária do Bom Jardim (MSM). Tal escola possui uma de Educação Tutorial das Agrárias e a Educação de Jovens e
área destinada ao cultivo sintrópico de plantas comestíveis e Adultos da Secretaria de Educação do Governo do Estado
medicinais, utilizadas nas aulas práticas dos cursos. do Ceará. Também possui outros parceiros pontuais (que são
Atualmente são desenvolvidas atividades de pesquisa dentro atendidos exporadicamente, uma ou duas vezes por ano),
do Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição são ele: o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), do Instituto
(BFN), por meio da oferta do Curso Gastronomia da Dragão do Mar; Associação Barraca da Amizade;
Biodiversidade Nordestina, que tem o propósito de resgatar Universidade Núcleo de Desenvolvimento da Criança
o consumo de vegetais esquecidos ou pouco consumidos (UNDC); IFCE de Camocim-CE; Escola de Vida Arte e
pela população nordestina. Sabor do Governo do Estado do Ceará e a Escola de Ballet
Diante do exposto o presente trabalho visa apresentar relato EDISCA.
de caso sobre as atividades do Programa Gastronomia Social A ação encontra-se no 10º ano consecutivo e tem demanda
UFC e o cumprimento dos Objetivos para o indefinida por depender do financiamento dos parceiros.
Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Mais de 5000 pessoas já foram atendidas. Portanto, espera-
Unidas (ONU). se expandir as ações deste programa a outras comunidades e
vincular outros projetos de extensão, por meio de novos
MATERIAL E MÉTODO cursos e oficinas de gastronomia ou replicando-as.
Atualmente são desenvolvidas atividades de pesquisa dentro
O estudo refere-se a um relato de caso sobre o Programa de do Projeto de Pesquisa Biodiversidade para Alimentação e
Extensão Gastronomia Social no Jardim da Gente da Nutrição (19) com o propósito de resgatar o consumo de
Universidade Federal do Ceará, também denominado vegetais esquecidos ou pouco consumidos pela população
Gastronomia Social UFC. O presente trabalho é do tipo nordestina, como por exemplo a Araruta.
qualitativo descritivo, pois visa apresentar a descrição da
referida ação e os ODS atingidos. Principais resultados alcançados pelo Programa
Serão apresentados os dados como base no período de sua
criação (2010) até os dias atuais. Para o estudo será utilizado Como resultados alcançados, citam-se os principais que
o documento que regulamenta o referido Programa na Pró- foram as transformações realizadas nas pessoas e na
reitoria de Extensão da UFC (9) e os ODS da ONU (17). comunidade conforme cita Cavalcante (2018) e Sousa
A ação desenvolve atividades na comunidade em geral de (2018) em divulgação na mídia (20, 21).
Fortaleza-Ce e, especialmente, no Grande Bom Jardim a fim Dentre outros alcançados incluimos a construção da EGA,
de promover o desenvolvimento sustentável. que pertence ao MSM e que teve o apoio do Gastronomia
Social, desde sua planta até o funcionamento. Portanto, é na
RESULTADOS E DISCUSSÃO EGA onde acontecem a maioria das atividades do
Gastronomia Social UFC. O planejamento, a instalação e o
Gastronomia Social UFC: relato panorâmico das ações funcionamento dessa escola repercurtiu na comunidade foco
e deu mais suporte as ações; pois a mesma é uma ação de
A fim de caracterizar o Programa Gastronomia Social UFC inclusão socioeconômica potencializadora da cultura
se faz necessário explicitar que o objetivo do mesmo é gastronômica regional, pois forma pessoas para o mercado
executar o desenvolvimento sustentável através de cursos de trabalho na área de alimentos e contribui ainda para a
temáticos de gastronomia que promovam a inserção ao sustentabilidade das ações socioterapêuticas do MSM (22).
empreendedorismo e a formação de Grupo Capacitado Outros resultados relevantes foram a formação de Grupos
Produtivo; trabalhando como tema básico dentro do Capacitados Produtivos (GCP’s) em Conservas Artesanais e
universo da gastronomia, seja na escolha dos alimentos ou em Bolos; a publicação do livro “Fortaleza da Gastronomia
nas práticas de produção. O programa tem ainda o propósito de Rua” (23); a Edição Gastronomia e Terapia (série de
de capacitar jovens e adultos em situação de vulnerablidade cursos aliada a terapia, onde psicólogos e terapeutas sociais
social. Nos cursos são priorizados aulas práticas e teóricas participam ativamente nas turmas); dentre outras.
com produção de alimentos agregando fatores como ciência, A economia local, precisamente do grande Bom Jardim,
arte, cultura, sustentabilidade, segurança e soberania. vem sendo movimentada devido o incentivo ao
As aulas são ministradas pelos alunos do Bacharelado em empreendedorismo gastronômico, principalmente no
Gastronomia da UFC os quais ganham a oportunidade de ter comércio da Gastronomia de Rua (cultura popular do povo
a experiência na docência em gastronomia, seja como cearense, que têm a calçada como o palco de tradições).
extensionista remunerado e ou voluntário que assumem Todas as ações desenvolvidas pelo Programa em estudo são
papel de professores na ação e realizam atividades reconhecidas pela sociedade como contraponto à violência,
complementares e ou estágios supervisionados conforme matéria em jornal de grande circulação no Ceará,
transversalizando a teoria e a prática e efetivando atividades por oferecer qualificação em gastronomia também promove
de pesquisa. Os cursos possuem temática diversas como melhoria nos serviços através da contratação daqueles
Panificação, Confeitaria, Chocolateria, Gastronomia formados pelo mesmo. (20, 24).
Cearense, Gastronomia de Rua, Lancheria, Tortas e Considerando outros resultados pela perspectiva
Sobremesas Geladas, Conservas Artesanais, Gastronomia de quantitativa, cita-se o número de matriculados nas turmas
Boteco, dentre outras. que são compostas necessariamente por 20 alunos a fim de
A metodologia empregada nas aulas promovidas pelo trabalhar a metodologia planejada (do tipo ofcina, onde o
Gastronomia Social UFC é o construtivismo, enfatizando o aluno aprende executando), bem como o número de
ato de criar e repassar ações propostas nas aulas. A maioria desistência que comumente fica abaixo de 10%.
das atividades são ministradas na Escola de Gastronomia Os resultados pela linha qualitativa são obtidos pela
Autossutentável – EGA, (como também em outras avaliação realizada ao final de cada curso e comumente
instituições com parcerias pontuais e ou exporádicas) e em refere-se a transformação na vida dos participantes, ligadas
ambiente externo (visitas técnicas), acompanhadas e ao social e a questões financeiras; por exemplo, muitas
orientadas individualmente e em grupos. Os cursos possuem mulheres alegam o aumento da auto-estima, o

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

empoderamento diante da sociedade e iniciativa para ODS 1 – Erradicação da Pobreza: a ação vai de encontro ao
mudanças pessoais. Alguns jovens relatam satisfação de combate da probreza que está inserida nas áreas
receberem conhecimentos específicos em gastronomia os marginalizadas como ocorre nas periferias da Cidade de
quais auxiliarão para a inserção no mercado de trabalho (6). Fortaleza, precisamente no Grande Bom Jardim, área foco
Estes fatores promovem consequências do bem, pois do trabalho desenvolvido.
combate o desemprego, a pobreza, a ociosidade e a OSD 2 – Fome zero e agricultura sustentável: o conteúdo
violência. técnico ensinado tem ação direta para o fim da fome e
Outro resultado qualitativo são obtidos pelo desempenho alcançar segurança alimentar, pois uma vez que o cidadão é
dos professores, pois expressam a satisfação em adentrar no qualificado para uma atividade profissional e,
universo da docência. consequentemente, é inserido no mercado de trabalho, ganha
a oportunidade de ter autonomia do seu sustento. Para além
disso, os conteúdos trabalhados na ação promovem
Participação dos beneficiários conscientização para segurança alimentar, levando os
indivíduos a escolherem alimentos saudáveis, vivenciarem a
A ação de extensão iniciou no ano de 2010 e, portanto, mais soberania alimentar por meio da valorização dos insumos da
de cinco mil pessoas foram beneficiadas diretamente e terra e das práticas gastronômicas sustentáveis (tanto para o
estima-se que 6 mil indiretamente, pois em todos os cursos consumo como para preparações dos alimentos).
são trabalhadas temáticas que proporcionam a multiplicação ODS 3 – Saúde e bem estar: este objetivo é contemplado
do que foi apreendido. No ano de 2019 foi identificado que através das temáticas sobre segurança e educação alimentar,
15% dos alunos da edição Gastronomia e Terapia estão pincipalmente, quando se aprofunda conhecimentos sobre
empreendendo no segmento, localizado no Grande Bom escolhas dos alimentos para o consumo, ou seja, motivando
Jardim; e cerca de 50% estão no mercado de trabalho. os participantes a executarem hábitos alimentares saudáveis
Citamos ainda, a participação de mais de 80 alunos do e, consequentemente, uma vida saudável. Também
Bacharelado em Gastronomia que atuam como professores contempla a saúde psíquica através da edição Gastronomia e
na ação, em sua maioria como voluntários. Terapia, onde psicólogos e terapeutas acompanham todos os
cursos dessa edição, oferecendo um cardápio terapêutico aos
Replicabilidade das ações e da metodologia participantes.
ODS 4 – Educação de qualidade: este objetivo é plenamente
A replicabilidade acontece diretamente pelos participantes cumprido pelo Gastronomia Social UFC através do perfil
dos cursos e pelos professores da ação. Como exemplo cita- dos participantes (jovens e adultos), uma vez que os
se os Grupos Capacitados Produtivos – GCP's, onde as conhecimentos repassados nos cursos não limitam
mulheres aprendem as técnicas de produção de alimentos e participação, sendo a mesma transmitida equitativamente.
multiplicam seus conhecimentos quando se inserem no Também se caracteriza por ser de qualidade, uma vez que é
mercado de trabalho, ou quando empreendem ou coordenado pelos professores do Bacharelado em
reproduzem para seus familiares. É válido destacar que esta Gastronomia da UFC e executada pelos alunos desta mesma
metodologia dos GCP's também foi replicada no Programa instituição. O referido Bacharelado tem nota máxima do
de Educação Tutorial das Agrárias (PET Agrárias) da UFC, MEC. Outra ação que contempla esse ODS é a parceria com
com mulheres do Assentamento Aragão (Massapé-CE) (25) a Educação de Jovens e Adultos (EJA com Qualificação), do
criando o Grupo Capacitado produtivo – GCP para Governo do Estado do Ceará, onde planejam-se aulas de
elaboração de produtos com os insumos plantados no local. EJA + Gastronomia.
Esta metodologia será replicada ainda no Projeto de ODS 5 – Igualdade de gênero: este objetivo também é
Extensão da UFC intitulado "Doçura que agrega", onde alcançado pelo programa Gastronomia Social UFC, uma vez
mulheres em situação de risco, da comunidade do grande que as questões de gênero são trabalhadas transversalmente
Bom Jardim (26), participam de aulas sobre produção de e ou diretamente como acontece, por exemplo, nos GCP de
conservas e produzem as mesmas para serem mulheres. Além disso, motivamos o empoderamento de
comercializadas e com lucro compartilhado, tendo o apoio mulheres e jovens, despertando a autoestima e a confiança
da ONG MSM e do Somos Um (parceiro externo que das mesmas.
incentiva a economia social). ODS 8 – Trabalho e crescimento econômico: a presente
O outro caminho da replicabilidade desenvolvidos pelos prática tem por finalidade motivar o empreendedorismo no
professores é o repasse das práticas metodológicas para segmento gastronômico e, portanto, trabalha diretamente o
outros colegas, definido-se como aprendizagem-cooperativa. crescimento econômico na comunidade atendida. Ressalta-
se que o desenvolvimento sustentável é tema base desta
Convergência da referida ação com as políticas públicas prática e, assim, os participantes são preparados para
vigentes empreender e/ou conquistar espaço no mercado de trabalho
com consciência sobre práticas sustentáveis ligadas ao
A prática descrita atende aos princípios da Política Nacional consumo e ou preparo de alimentos.
de Cultura através do Plano Nacional da Cultura, que ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: este é
trabalha a concepção da cultura articulada em três plenamente alcançado pelo Programa em estudo, pois a ação
dimensões: simbólica, cidadã e econômica. Todas estas são conscientiza e valoriza o consumo sustentável dos
admitidas pelo Programa Gastronomia Social UFC, pois se alimentos, bem como o uso nas práticas gastronômicas
trabalha gastronomia como arte-cultura, a qual pode ser um como, por exemplo, consumo de insumos locais e até
lugar de inovação e expressão da criatividade, favorecendo mesmo o aproveitamento integral dos alimentos, uso
para um cenário de desenvolvimento econômico, consciente da água e descarte correto de óleos de cozinha
socialmente justo e sustentável. Também vai de encontro (estes causam grandes prejuízos ao meio ambiente quando
com a Política Nacional de Alimentação e Nutrição descartados incorretamente). Contudo, são pequenas ações,
(PNAN); a Política Nacional de Segurança Alimentar e mas que juntas causam repercussões positivas e
Nutricional (PNSAN), principalmente no que diz respeito a sustentáveis. E quando realizadas rotineiramente fecham o
segurança e soberania alimentar - base da presente ação. ciclo da produção sustentável, no âmbito da gastronomia.
Deste modo, observa-se que o Programa Gastronomia Social
Gastronomia Social UFC e aderência aos Objetivos do no Jardim da Gente enquadra-se na proposta dos Objetivos
Desenvolvimento Sustentável da ONU de Desenvolvimento Sustentável no território brasileiro, pois
estimula o envolvimento das instituições: sociedade, ONG's
A seguir apresentam-se os Objetivos do Desenvolvimento e instituições públicas (Governo do Estado do Ceará e a
Sustentável – ODS da ONU que são alcançados pelo Universidade Federal do Ceará - UFC); e por ser uma ação
Programa Gastronomia Social UFC. Dos dezessete ODS o de extensão fomenta o ensino e a pesquisa, que juntas
programa atende a sete, são eles: contribuem para as dimensões sociais, econômicas e

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

institucionais preconizadas pela Agenda 2030 (17), ortaleza,2986750/violencia-ceara-teve-mais-3-5-mil-


principalmente no combate a pobreza e violência instaladas homicidios-dolosos-em-2012.shtml >. Acesso em: 22 fev.
na periferia de Fortaleza (especialmente na área do Grande 2020.
Bom Jardim – Bairros Canidezinho, Granja, Lisboa, Granja (12) RODRIGUES, R. Ceará teve 798 jovens de 12 a 24
Portugal, Bom Jardim e Siqueira) e, assim, promove uma anos assassinados em cinco meses de 2020, afirmam
vida próspera e com realização pessoal. Também acredita-se entidades. Fortaleza: OPovo, 2020.
que as ações desenvolvidas estão de encontro com o https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/2020/06/22/ceara-
progresso econômico e social da comunidade foco, que vem teve-798-jovens-de-12-a-24-anos-assassinados-em-cinco-
acontecendo e/ou podem acontecer, de forma harmoniosa meses-de-2020--afirmam-entidades.html
com o meio ambiente. (13) G1-CEARÁ. Bom Jardim e Jangurussu são os bairros
de Fortaleza onde mais jovens são assassinados. 2018.
CONCLUSÃO Disponível em: <https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/bom-
jardim-e-jangurussu-sao-os-bairros-de-fortaleza-onde-mais-
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53
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização do extrato das folhas de Amburana Cearensis A.C. Smith visando uso em
alimentos

Larissa Silva1, Thays Guimarães 2, Carolline Lima3, Evânia Figueredo4


1
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do
Ceará, larissamrs@yahoo.com.br
2
Mestra em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do
Ceará.
3
Mestra em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do
Ceará.
4
Doutora em Ciências Biologicas. Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará

Palavras chave: concentração bactericida mínima, concentração inibitória mínima, plantas nativas.
INTRODUÇÃO
Extratos de plantas podem apresentar uma variedade 1,25% e 0,625 % (m/v). Durante o ensaio, os sobrenadantes das
de compostos com diferentes propriedades. Antimicrobianos naturais culturas celulares, contendo ou não (controle negativo) a amostra
de origem vegetal têm sido utilizados pelas indústrias de alimentos e testada, foram removidos e as células foram mantidas em solução de
farmacêutica no controle de microrganismos patogênicos (1), cujas MTT (5 mg.mL-1) em meio de Krebs, a uma temperatura de 37°C/ 20
propriedades antimicrobianas das substâncias produzidas pelas plantas minutos e ao abrigo da luz. Os cristais de formazan formados após
são uma consequência do metabolismo secundário do vegetal (2). A este período, devido à redução do MTT, foram dissolvidos em solução
demanda por antioxidantes e antimicrobianos naturais vem de HCl 0,04 N em isopropanol. O valor da absorbância foi medido a
aumentando, tendo em vista que os consumidores cada vez mais um comprimento de onda de 570 nm. Os valores das absorbâncias
querem incluir em sua alimentação produtos saudáveis e com a menor obtidas de cada concentração do extrato foram comparados à
quantidade possível de aditivos sintéticos. absorbância do controle positivo (citotoxina A do Clostridium
Em muitos países têm sido relatado o estudo da difficile) e negativo (somente cultura celular em meio de cultura). Os
atividade antimicrobiana de plantas nativas, uma vez que possuem resultados obtidos foram submetidos ao teste de comparação múltipla
flora diversificada e tradição na utilização de plantas medicinais (3). de Bonferroni's e os resultados expressos em média e desvio padrão.
Dentre as plantas encontradas no Nordeste brasileiro, temos o cumaru
(Amburana cearensis A.C. Smith), cujos compostos extraídos podem
apresentar aplicações interessantes em diversas áreas (4,5). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estudos envolvendo a elaboração e caracterização de
extratos de plantas desenvolvidos utilizando as folhas de cumaru ainda Os resultados dos compostos fenólicos totais e
são considerados escassos. capacidade antioxidante do extrato hidroalcóolico 70:30 ( EHA 70:30)
Nesse contexto, objetivou-se avaliar o teor de de folha de cumaru estão apresentados na Tabela 1.
compostos fenólicos, a capacidade antioxidante, a atividade
antimicrobiana e a citotoxicidade do extrato hidroalcoólico obtido das Tabela 1. Conteúdo de compostos fenólicos totais e capacidade
folhas de Amburana cearensis A.C. Smith (cumaru), a fim de avaliar a antioxidante do extrato hidroalcóolico 70:30 da folha de Cumaru
possível aplicação do mesmo em alimentos. (Amburana cearensis).

Compostos Atividade
MATERIAIS E MÉTODOS fenólicos a antioxidante b
O extrato hidroalcoólico 70:30 foi obtido a partir das Extrato de 28,12 792,14
folhas de cumaru secas em estufa a 35°C/ 28h conforme metodologia
cumaru
de (6). O material vegetal foi macerado em solução hidroalcoólica
a
70% (álcool etílico:água) na proporção 1:10 (folhas:solução) a mg de equivalente de ácido gálico (EAG)/100 g de extrato seco de
b
temperatura ambiente por 24h, repetindo a extração por quatro vezes cumaru.; TEAC - Capacidade Antioxidante Equivalente ao Trolox
sob as mesmas condições. Em seguida, os extratos líquidos foram (ácido 2-carboxílico-6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano), em µM/g
liofilizados para posteriormente serem realizadas as análises. de amostra.
Os compostos fenólicos totais foram determinados pela
metodologia descrita por (7), que utiliza o Folin-Ciocalteu como É possível verificar que o extrato apresentou valor
reagente e o ácido gálico como padrão para elaboração da curva. satisfatório de compostos fenólicos. Estudos sobre extratos etanólicos
A capacidade antioxidante total dos extratos foi da folha e casca de cumaru encontraram conteúdo de compostos
determinada pelo método da captura do radical sal de amônio do ácido fenólicos igual a 0,131 g EAG/g e 0,119g EAG/g, respectivamente
2,2 azinobis (3-etilbenzeno-6-sulfônico) (ABTS), conforme (6), superiores ao obtido neste estudo. Deve-se levar em consideração
metodologia descrita por (8), com modificações. que os autores citados utilizaram a casca do cumaru para elaboração
Atividade antimicrobiana foi determinada através dos do extrato e nesta pesquisa foram utilizadas as folhas, o que pode ser
parâmetros de concentração inibitória mínima (CIM) e concentração responsável pela diferença nos teores desses compostos, tendo em
bactericida mínima (CBM), pelo método de microdiluição em placas vista que foram utilizadas partes diferentes da planta. A utilização das
(96 poços, 300 µl de capacidade/poço; MicrotestTM, Becton folhas para elaboração de extratos apresenta-se como uma alternativa
Dickinson and Co.) (9). As concentrações testadas variaram de 2 a viável, tendo em vista que a retirada das folhas da planta não resulta
100mg/mL frente à Sthaphylococcus aureus, Listeria monocytogenes, em degradação da mesma, desde que realizada de forma adequada.
Eschrerichia coli e Salmonella enteritidis. Com a relação a capacidade antioxidante, o alto valor
A citotoxicidade do extrato foi avaliada por meio de encontrado pode estar relacionado com os compostos fenólicos (11).
ensaios baseados na redução celular de MTT [Brometo (3-(4,5- Apesar do teor de compostos fenólicos não ter sido elevado,
dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil tetrazolium)]. O teste de MTT avalia a provavelmente os compostos presentes são os que apresentam elevada
viabilidade celular a partir de um método colorimétrico simples. A capacidade antioxidante. Existe uma crescente busca por substâncias
redução do MTT ocorre através de enzimas desidrogenases com capacidade antioxidante, provenientes de fontes naturais, que
mitocondriais. Como resultado da redução do MTT é formado cristais funcionem como alternativa para prevenir a deterioração oxidativa de
de formazan de cor azul, que ao serem dissolvidos absorvem na região alimentos e que limitem o uso de antioxidantes sintéticos,
do visível, podendo ser quantificados por espectofotometria (10). A responsáveis por efeitos nocivos à saúde (12, 13).
citotoxicidade foi medida através da exposição das células epiteliais
intestinais (aproximadamente 20.000 células - cultura IEC 6),
previamente cultivadas, nas concentrações de 20%, 10%, 5%, 2,5%,

55
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Os resultados referentes a atividade antimicrobiana do 4. BRAVO, J.A. et al. Bioactive phenolic glycosides from
extrato hidroalcóolico de folhas de cumaru estão apresentados da amburana cearensis. Phytochem., [S.l.], v.50, p.71-74,
Tabela 2. 1999.
5. PEIXOTO R. M. Mastite em pequenos ruminantes:
Tabela 2. Atividade antimicrobiana do extrato hidroalcóolico 70:30 da etiologia, fatores de risco, diagnóstico e sensibilidade aos
folha de cumaru. agentes antimicrobianos e extratos de plantas. 2009. 129 p.
Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)- Campus de
a
Parâmetros Ciências Agrárias, Universidade Federal do Vale do São
Francisco –UNIVASF, Petrolina, 2009.
6. SANTOS, L. O. et al. Avaliação da atividade antioxidante
Bactérias b
CIM (mg/mL) c
CBM (mg/mL) de compostos fenólicos presentes em Amburana cearensis.
S. aureus 10 25 Orbital: Electron. J. Chem, [S.l.], 8(1), 44-49, 2016.
7. LARRAURI, J. A.; RUPÉREZ, P.; SAURA-CALIXTO, F.
L. monocytogenes 15 25 Effect of drying temperature on the stabilitity of
S. enterititdis 25 30 polyphenols and antioxidant activity of red grape pomace
peels. Journal of Agricultural and Food Chem. [S.l.], 45,
E. coli 25 30
1390-1393, 1997.
a
Determinação da atividade antimicrobiana; b CIM: Concentração 8. RUFINO, M. S. M. et al.Bioactive compounds and
inibitória mínima; c CBM: Concentração bactericida mínima. antioxidant capacities of 18 non-traditional tropical fruits
from Brazil. Food Chem., [S.l.], 121, 996–1002, 2010.
O extrato hidroalcoólico obteve atividade antimicrobiana 9. BRANEN, J. K.; DAVIDSON, P. M. Enhancementofnisin,
frente aos microrganismos Gram positivos (Staphylococcus aureus e lysozyme, and monolaurin antimicrobial activities by
Listeria monocytogenes) e Gram negativos (Salmonella enteritidis e
ethylenediaminetetraacetic acid and lactoferrin.
Escherichia coli). Esses microrganismos são considerados de interesse
International Journal of Food Microb., 90, 63 – 74, 2004.
em alimentos, tendo em vista que estão associados a contaminação
e/ou Doenças transmitidas por alimentos (DTA’s). Para as bactérias 10. MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular
gram-positivas apresentou melhor efeito inibitório e bactericida, sendo growth and survival: application to proliferation and
necessárias menores concentrações para obtenção das atividades cytotoxicity assays. J. Immunol. Met., 65(1), 55–63, 1983.
antimicrobianas. Em outro estudo, o extrato clorofórmico da casca do 11. LIMA , A.R. et al. Avaliação in vitro da atividade
caule do cumaru não apresentou atividade antimicrobiana frente a S. antioxidante do extrato hidroalcoólico de folhas de
aureus, L.monocytogenes, E.coli e Samonella enterica Typhimurium bardana. Rev. Bras. Farmac., 16(1), 531-536, 2006.
(14).
12. OLIVEIRA, M.S. et al. Atividade antioxidante e
O resultado da atividade antimicrobiana deve estar
antifúngica de extratos vegetais. Alim. Nutr. , Araraquara,
relacionado com seu potencial antioxidante e constituição química
(15). Portanto, a aplicação desse extrato na área alimentícia, pode ser [S.l.], 18, 3, 267-275, 2007.
uma alternativa viável, pois o mesmo demonstrou ter potencial 13. RAMESHKUMAR, A.; SIVASUDHA, T. In Vitor
antioxidante e antimicrobiano frente a importantes patógenos e antioxidant and antibacterial activity of aqueous and
contaminantes de alimentos. methanolic extract of Mollugo nudicaulis Lam. Leaves.
Não foi encontrado potencial citotóxico para o extrato de Asian Pacific J. Trop. Biome., 2(2), 895-900, 2012.
cumaru frente às células epiteliais humanas, uma vez que a viabilidade 14. SÁ, M.B. et al. Phytochemistry and Preliminary
celular se manteve acima de 50% para todas as concentrações Assessment of the Antibacterial Activity of Chloroform
testadas. Dessa forma, o extrato pode ser considerado seguro para Extract of Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.
utilização. Verificou-se, ainda, um estímulo ao crescimento das against Klebsiella pneumoniae Carbapenemase-Producing
células epiteliais pelo extrato hidroalcoólico 70:30 em todas as Strains. Evidence-Based Complem. Alt. Medi,.1-7, 2014.
concentrações testadas. Provavelmente, os solventes utilizados nesta
15. VENÂNCIO, E.T. Estudo dos efeitos comportamentais e
extração, em suas dadas concentrações, extraíram algum composto
neuroquímicos do extrato padronizado de Justicia
diferente ou em maior quantidade em relação aos demais extratos, que
intensificou o crescimento celular. pectoralis (chambá) em camundongos. 2009. 127f.
Dissertação (Mestrado em Famacologia) – Faculdade de
Medicina, Universidade Federal do Ceará, 2009.

CONCLUSÃO

O extrato hidroalcoólico 70:30 das folhas de cumaru


demonstrou alta capacidade antioxidante e atividade antimicrobiana
sobre Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes, Eschrerichia
coli e Salmonella enteritidis, além de não ter sido encontrado
potencial citotóxico. Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam que
o extrato apresenta viabilidade para aplicação em alimentos como
conservante e/ou antioxidante natural.

REFERÊNCIAS

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Bioativos: Estudo da Ação Antimicrobiana frente à
Patógenos de Importância em Alimentos. 2010. 85 p.
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia
Agroindustrial) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas,
2010.
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2020.

56
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Composição de Lipídios Totais de Coco Verde e Seco in Natura e Coco Ralado Industrializado
Ana Araújo1 Renata Assis2, Ribanna Braga3, Ana Ferreira3, Thalyta Pacheco3, Carla Maia4
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, barbara.muniz@aluno.uece.br
2
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará
3
Graduada em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará
4
Doutora em Nutrição Humana Aplicada, Universidade Estadual do Ceará

Palavras-chave: Fruto, Gordura, Análise.


INTRODUÇÃO endosperma interno coloidal oleoso denominado como "mucilagem".
Originado do sudeste asiático, região de clima tropical e A quantidade de oleosa da porção externa amarela variou de 26,9 a
subtropical, o coqueiro veio para o Brasil com a colonização no 45,8g por 100g de amostra seca, sendo constituída por mucilagem
século XVI (1). Em um levantamento realizado pela Empresa oleosa, que continha óleo hidrolizado e ácidos graxos livres, a análise
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Brasil destaca- verificou que o endosperma possui 28,7% de lipídeos, o perfil de
se como o quarto maior produtor mundial de coco. As maiores ácidos graxos (em%) demonstrou que o ácido láurico foi encontrado
plantações se concentram na faixa litorânea do Nordeste, no máximo (43,2 ± 2,5), seguido pelo mirístico ácido (18,8 ± 0,7) e
representando 80,73% do total da área colhida de coco e 68,91% do ácido palmático (12,6 ± 1,0)(13).O estudo sobre mudanças na
valor total do coco produzido do Brasil (2). composição de ácidos graxos durante o desenvolvimento do
O coco verde é destinado ao mercado de água de coco, já haustório descobriu que a composição dos níveis de ácidos graxos de
o seco é destinado em sua maioria para a indústria. Embora não haja cadeia média e longa aumentou nos tecidos (14).
oficialmente uma distinção de área e produção entre coco seco e coco Pode-se observar que há variações significativas da
verde, estima-se que 70% da área plantada sejam com coco seco, o composição centesimal do fruto coco durante a maturação. O teor de
que correspondendo 50% da produção total de coco do Brasil (3). gordura aumenta durante o amadurecimento do fruto, passando a ser
O coco seco é fonte de produtos como o coco ralado. Para um dos constituintes mais importantes do fruto maduro. Diferentes
a obtenção do coco ralado, exige-se que o mesmo passe por estudos observaram aumento nos teores de gordura (15, 16, 17)
procedimentos de retirada do casquilho e da película marrom da Um acréscimo de 5,4% no teor de gordura e um
polpa, em seguida é passado por ralador contínuo para extração da decréscimo de 7,9% no teor de umidade a cada mês foi observado
polpa, posteriormente o produto da extração é prensado. Com a (18), isso por que a umidade decresce com o desenvolvimento do
obtenção deste subproduto, o mesmo é analisado e verificado se está fruto. Foi observado um aumento superior a sete vezes no teor de
dentro dos parâmetros de qualidade (4). matéria seca durante a maturação do fruto. De 7,50% na polpa coco
Quando dentro dessas condições, passa pelo processo de verde, alcançou 54,29% na polpa madura (19).
secagem em estufas com temperatura de 70°C, até apresentar Com o processo de secagem para a obtenção do coco
umidade máxima inferior a 4%, acidez titulável máxima de 4,5 % e ralado, há redução da umidade e aumento da concentração, em
lipídeos entre 40 e 60%. Em alguns casos ocorre a adição de percentual, do conteúdo lipídico (20). O coco ralado pode ser
conservantes para aumentar a duração do produto. O envase deverá classificado em: coco ralado puro, de baixo teor de gordura - o coco
ser feito quando o produto estiver devidamente seco, sendo ralado sem qualquer adição e que conserva parte dos componentes do
acondicionado em sacos de polietileno aluminizado por meio de endosperma do fruto, contém de 35 a 60% de lipídios; coco ralado
máquina enchedeira automática (4). puro, de alto teor de gorduras - o coco ralado sem qualquer adição e
Sendo um produto com elevado teor de lipídeos (40 e que conserva parte dos componentes do endosperma do fruto;
60%), seu consumo merece atenção, uma vez que, o óleo resultante contém acima de 60% de lipídios; coco ralado açucarado - o coco
do coco é composto predominantemente por gordura saturada (90%) ralado adicionado de açúcar e que conserva parte dos componentes
e contém em menor quantidade ácidos graxos insaturados (5). do endosperma poderá conter, no máximo, 30% de sacarose (21).
Conhecer a composição do alimento é imprescindível para Com isso, o coco ralado utilizado na pesquisa foi
a elaboração de planos alimentares. E esses dados de composição classificado como de alto teor de gordura, pois tanto no rótulo do
nutricional são encontrados através de rápido acesso em tabelas (6). produto (65%) quanto no resultado da pesquisa (60,02%) o conteúdo
Podem ainda servir de apoio para o desenvolvimento de trabalho de lipídio foi superior a 60%. A composição de ácido láurico pode
para outros profissionais da área de alimentos (7). variar de acordo com o meio de obtenção do óleo de coco, se esse foi
Estudo mostra que é relevante fornecer dados consistentes retirado a partir do coco verde ou maduro. Isso se deve a diversos
de análise de composição real dos alimentos (8). E alguns estudos fatores como tempo de maturação, variedades de coco, estações do
brasileiros de consumo e padrão alimentar utilizaram as informações ano e local de plantio (15, 16, 17, 18, 22).
da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) associada Na tabela 02 são demonstrados alguns dados em tabelas
a outras tabelas para estimar da ingestão de energia (9,10). de composição de alimentos e em estudos publicados em artigos/
Diante disto o objetivo do trabalho foi comparar a anais. Os dados com a amostra de coco industrializado são escassos,
composição de lipídios totais de Coco Verde e Seco In Natura e no entanto existem trabalhos e dados com coco seco e verde.
Coco Ralado industrializado e da literatura para que desta forma Embora estudos com seus derivados (leite e óleo de coco)
tenha-se conhecimento da quantidade de lipídio que é consumida ou não abordem a composição centesimal, apresentam informações
que poderá ser prescrita em um plano alimentar. relevantes de composição de ácidos graxos e sua utilização na
MATERIAIS E MÉTODOS indústria de alimentos (18).
Foram utilizadas 3 amostras de coco, adquiridas em um De forma geral a umidade e a cinza do coco seco e verde,
supermercado, na cidade de Fortaleza, sendo respectivamente o coco quando comparados ao presente estudo apresentam similaridades.
seco industrializado e coco seco e verde in natura. Para a retirada da Dados de umidade e cinza de coco industrializado são escassos,
polpa, as amostras do fruto in natura passaram por processo manual embora a umidade da amostra do estudo tenha apresentado valores
de raspagem. As análises foram realizadas em triplicata. aceitáveis pela indústria de alimentos (21, 22).
A extração de lipídios foi realizada pelo método de Diante da abordagem, o ideal seria a elaboração de uma
Soxhlet (11). Para realização das análises de umidade e cinza foi tabela de composição de alimentos brasileira e regional, cujas
utilizado o método segundo Instituto Adolf Lutz (12). análises fossem realizadas baseadas em um delineamento para a
Foi realizada análise estatística com variância ANOVA, amostragem representativa dos alimentos e em um protocolo
através do programa estatístico R, versão 3.3.1., com significância analítico conhecido. Sendo possível assim avaliar com maior
estatística Valor P (P<0,05). precisão o quê e quanto é consumido, além de fornecer dados para o
RESULTADOS E DISCUSSÃO desenvolvimento de programas que melhorem a qualidade de vida da
Os resultados de lipídios, umidade e cinzas são população (6). Tendo em vista que o coco e suas variações são
apresentados na Tabela 01. amplamente consumidos pela população brasileira
Estudos observaram que na composição estrutural a
superfície externa do haustório é totalmente coberta com um
.

57
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 1. Média e desvio padrão da composição de lipídios totais, umidade e cinzas em coco industrializado, coco seco e verde in natura em
amostra úmida (em mg/100g) realizada em triplicata
LIPÍDIOS UMIDADE CINZA
Coco
Coco Coco seco in Coco verde Coco Coco seco Coco verde in Coco seco Coco verde
industrializ
industrializado natura in natura industrializado in natura natura in natura in natura
ado
59,32 32,53 5,26 3,27 43,63 90,38 2,41 0,66 0,39
60,75 30,84 5,03 3,31 43,09 90,37 1,84 0,89 0,55
59,99 32,01 5,66 3,41 43,90 89,78 2,09 0,57 -
a a c a b c a b
60,02(0,72) 31,80(0,87) 5,31(0,32) 3,28(0,04) 43,54(0,41) 90,28(0,46) 2,11 (0,28) 0,71 (0,16) 0,47(0,12)c
Valores expressos em média e desvio padrão. ANOVA, com nível de significância de p<0,05.
Tabela 02: Valores médios de lipídios, umidade e cinza (mg/100g 12. Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para
amostra úmida) de coco e seus derivados, segundo tabelas e análise de alimentos. 1 ed. digital. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,
diferentes autores. 2008, p. 105-574.
Alimento Referência Lipídio Umidade Cinza 13.MANIVANNAN, A.; BHARDWAJ, R.; PADMANABHAN, S.;
Coco seco in TACO (23) 42,0 43,0 1,0 SUNEJA, P.; HEBBAR, K.B.; KANADE, S.R. Biochemical and
natura Aragão (25) 25,4 - - nutritional characterization of coconut (Cocos nucifera L.)
Oliveira (26) 15,33 76,15 0,53 haustorium. Food Chem. 1, 238, 153-159, 2018.
Coco verde in Aragão (25) 4,5 - - 14.LOPEZ-VILLALOBOS, A.; DODDS, P.F.; HORNUNG, R.J.
natura Santana (27) 0,39 92,70 0,75 Changes in the fatty acid composition during the development of
Leal (28) 1,16 82,73 0,77 tissues with the coconut (Cocos nucifera L.) embryos in the intact
Coco USDA (24) 6,0 - - nut and in vitro. J Exp Bot. 52, 358, 933-942, 2001.
industrializado 15.ARAGÃO, W.M.; CRUZ, E.M.O.; TAVARES, M.; RIBEIRO,
Leite de coco TACO (23) 18,4 78,0 0,4 F.E.; TUPINAMBÁ, E.A.; PIMENTEL, A.S. Teor de gordura e
USDA (24) 18,3 - - composição de ácidos graxos em polpa de frutas de coqueiro anão
Oleo de coco USDA (24) 100,0 - - em diferentes idades de maturação. Rev. do Inst. Adolfo Lutz. 63,
CONCLUSÃO 159-167, 2004
A quantidade de gordura no coco industrializado é maior 16.AZEEZ, S. Fatty acid profile of coconut oil in relation nut
que no coco in natura seco e verde. Trabalhos científicos recentes maturation and season in select cultivars/hybrids. Br Food J. 109,
com dados de gordura do fruto coco são escassos, seria necessário 272-279, 2007.
uma maior atualização para conhecimento das propriedades 17.NARESH, K.S.; BALAKRISHINA, A. Seasonal variations in
nutricionais deste fruto. fatty acid composition of oil in developing coconut. J Food Qual. 32,
REFERÊNCIA 158-176, 2009.
1.ARAGÃO, W.M.; RIBEIRO, M.F.V. Cultivares de Coqueiros para 18. AROUCHA, E.M.M.; MAGALHÃES, J.A.D.E.; AROUCHA,
a produção de coco seco: coqueiro Gigante vs Híbridros In: Cintra M.C.M.; VIANA, A.P.; VIANNI, R. Composição lipídica do
FLD, Fontes HR, Passos EEM, Ferreira JMS. Fundamentos albúmen do coco anão verde e anão vermelho em diferentes estádios
tecnológicos para a revitalização das áreas cultivadas com coqueiro de maturação. Rev. Caatinga, 18, 143-147, 2005.
gigante do nordeste do Brasil. Aracaju: Embrapa Tabuleiros 19. SANTOSO, U.; KUBO, K.; OTA, T.; TADOKORO, T.;
Costeiros, 2009, p. 37-60. MAEKKAWA, A. Nutrients composition of kopyor coconuts (Coco
2.MARTINS, C.; JESUS, R. Produção e comercialização de coco no nucifera L.). Food Chem. 57, 299-304, 1996.
Brasil frente ao comércio internacional: panorama. Aracaju: 20.LIMA, F.E.L.; MENEZES, T.N.; TAVARES, M.P.; SZARFARC,
Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2014, p. 11-21. S.C.; FISBERG, R.M. Ácidos graxos e doenças cardiovasculares:
3. WANDERLEY, M.; LOPES, G.M. Importância sócio-econômica uma revisão. Rev de Nutr. 13, 73-80, 2000.
da produção de coco seco no Brasil. In: Cintra FLD, Fontes HR, 21. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
Passos EEM, Ferreira JMS. Fundamentos tecnológicos para a nº 12, 30 de março de 1978. Comissão Nacional de Normas e
revitalização das áreas cultivadas com coqueiro gigante no nordeste Padrões para alimentos – CNNPA. Diário Oficial da União 24 jul
do Brasil. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2009, p. 37-60. 1978.
4. CARVALHO, R.F. Industrialização do coco – Beneficiamento 22. AKAPAN, E.J.; ETIM, O.E.; AKAPAN, H.D.; USOH, I.P. Fatty
(produção de côco ralado e leite de côco). Bahia: RETEC/BA, 2007, acid profile and oil yield in six diferent varieties of fresh na dry
p. 1-11. samples of coconuts (Coco nucifera L.). Pak J of Nutr. 5, 106-109,
5. DEBMANDAL, M.; MANDAL, S. Coconut (Cocos nucifera L.: 2006.
Arecaceae): in health promotion and disease prevention. Asian Pac J 23. TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos). 4ed.
Trop Med. 4, 241-247, 2011. Revisada e ampliada. Campinas, SP: UNICAMP, 2011.
6. RIBEIRO, P.; MORAISA, T.B.; COLUGNATI, F.A.B.; 24.USDA. (United States Depertment of Agriculture). National
SIGULEM, D.M. Tabelas de composição química de alimentos: Nutrient Database for Standard Reference.
análise comparativa com resultados laboratoriais. Rev Saúde Pública. 25.ARAGÃO, W.M.; CRUZ, E.M.O.; RIBEIRO, F.E.;
37, 216-25, 2003. TUPINAMBÁ, E.A.; TAVARES, M.; PIMENTEL, S.A.;
7. MARLES, R.J.Mineral nutrient composition of vegetables, fruits TAKEMOTO, E. Teor de gordura e composição de ácidos graxos em
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8. LOPES, T.V.C.; GIUNTINI, E.B.; LAJOLO, F.M.; DAN, M.C.T.; 26.OLIVEIRA, E.A.; JUNQUEIRA, S.F.; SORAES, F.O.;
MENEZES, E.W. Compilation of mineral data: Feasibility of AZEVEDO, L.C.; MACARENHAS, R.J. Caracterização físico-
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39, 87–93, 2015. híbrida. IF- Sertão Pernanbuco, 2010.
9. BRITO, A.P.; ARAUJO, M.C.; GUIMARAES, C.P.; PEREIRA, 27. SANTANA, I.A.; RIBEIRO, E.P.; IGUTI, A.M. Evaluation of
R.A. Relative validity of a food frequency questionnaire supported green coconut (Cocos nucifera L.) pulp for use as milk, fat and
by images/Validade relativa de questionario de frequencia alimentar emulsifier replacer in ice cream. Procedia Food Sci. 1, 1447-1453,
com suporte de imagens. Cien Saude Colet, 22(2): 457-468, 2017. 2011.
10. RODRIGUES, E.C.; BARBOSA, T.G.; SÁ, O.M.S.; 28.LEAL, R.C.; BARROS, L.R.; MOUCHREK FILHO, V.E.;
CARVALHO, L.M.F.; SILVA, F.F.F. Ingesta alimentar e condições MENDES FILHO, N.E.; EVERTON, P.C.; LUZ, D.A. Estudo
socioeconômicas da seleção masculina de judô do Piauí. RBNE. 11, Fisico-Quimico da Polpa de Côco Verde (Cocos Nucifera L.) In
689-694, 2017. natura, Comercializado em Praias de São Luís-Ma. In:53º Congresso
11.CUNNIFF, P. Official methods of analysis. 16 ed. Brasileiro de Quimica, 2013.
Washington, DC : AOAC, 1995, v. 2.

58
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O processamento e utilização do melaço de rapadura na elaboração de bolo


americano tipo muffin
Alessandra Carneiro¹; Geórgia Goiana2; Giovanna Nunes2; Maria da Conceição Carvalho2; Matusaíla
Macêdo¹
¹Professora do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará; 2Graduanda em
Bacharel de Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. alessandrapgc@hotmail.com
Palavras chave: Gastronomia, Açúcar, Regional, Aceitação.

INTRODUÇÃO Ovos inteiros 3 unidades = 153 gramas aproximadamente


Manteiga sem sal 3 colheres de sopa = 150 gramas
O açúcar, insumo fundamental na economia brasileira, como riqueza Amido de milho 1 xicara = 240 gramas
nacional só comparável nos tempos coloniais ao ouro e às pedrarias, Coco ralado 70 gramas
alicerce da nacionalidade, forçando a vinda dos negros para o trabalho Fermento 5 gramas = 1 colher de sobremesa
químico
dos canaviais, deu a culinária nordestina e brasileira sua marca
inconfundível. Sua utilização gerou, numa expressão que não é nova,
uma verdadeira civilização do açúcar. Civilização que se expressa na Na metodologia de preparo foram separadas claras das gemas dos ovos,
língua, nos costumes e em combinações das mais variadas (1). as quais foram posteriormente homogeneizadas em batedeira planetária
(modelo Oster Peform 600w) até a obtenção do ponto de neve.
Reservaram-se as claras. Na mesma batedeira, as gemas, o melaço de
Segundo Cavalcanti (1), a ênfase no açúcar foi apenas uma parte da
rapadura e a margarina foram misturados por 2 minutos em velocidade
contribuição portuguesa. Sua tarefa maior foi a de recombinar os
média. Em seguida, a farinha de trigo e o amido de milho foram
ingredientes da Europa com os produtos da nova terra. Da Europa
adicionados e misturados por mais 1 minuto em velocidade baixa sendo
vinham os ovos, o leite e a farinha de trigo. O Brasil oferecia o milho,
alternado com o leite; a massa foi homogeneizada por mais 2 minutos.
a farinha, a mandioca, a profusão de frutas de suas matas e o próprio
A batedeira foi desligada e o fermento químico acrescentado à massa
açúcar de seus canaviais. Muita coisa foi logo se abrasileirando nos
manualmente (3). Após finalizada a mistura do fermento químico à
ingredientes e no nome. Gulodices à base de mel, como a alféola, que
massa, claras em neve foram acrescentadas e misturadas a massa com
os portugueses haviam tomado dos árabes, foram batizados no Brasil
delicadeza. A massa foi disposta em formas de alumínio com o tamanho
com melado ou mesmo caldo de açúcar branco.
de 5 centímetros de diâmetro, previamente untadas e enfarinhadas. O
bolo foi assado, em forno a gás semi-industrial, pré-aquecido, por 45
No Brasil havia a emulação da grande aparelhagem dos engenhos, a
paisagem verde dos canaviais e o abuso do açúcar, de vários tipos, com minutos a 180ºC. Após sair do forno, o bolo foi resfriado por 3 horas
a universalidade da rapadura, gostosa e portátil (2). em temperatura ambiente, acondicionado em potes hermeticamente
fechados até o momento da análise sensorial.
A rapadura é um ingrediente indispensável do passadio no sertão, com
a qual se fabricam doces de banana, de goiaba, de araçá, de caju, de Participou da análise sensorial uma equipe não treinada de 30
provadores constituídos da comunidade acadêmica da UFC,
abacaxi, de buriti. E, copiando o próprio nordeste açucareiro, no sertão
consumidores potenciais do produto e selecionados em função da sua
também se saboreia inhame ou macaxeira com o mel de rapadura, ou
seja, rapadura derretida no fogo. Também companheira indispensável disponibilidade e do interesse em participar do teste.
de comidas de sal. Por sua excelente conservação e seu alto valor
Para a avaliação do produto, utilizou-se a escala hedônica de nove
nutritivo, está sempre presente no farnel das viagens longas, dando mais
pontos (4). Na escala hedônica, o valor um (1) representou desgostei
gosto e ``sustança´´ à carne-de-sol, à farofa, ao jerimum, à umbuzada, à
extremamente, dois (2) desgostei muito, três (3) desgostei
paçoca, de uma maneira ou de outra, sempre presente no café, no
moderadamente, quatro (4) desgostei ligeiramente, cinco (5) não gostei,
almoço e no jantar (1).
nem desgostei, seis (6) gostei ligeiramente, sete (7) gostei
moderadamente, oito (8) gostei muito, nove (9) gostei extremamente
Muffins são típicos bolinhos americano, com origem na Inglaterra,
apresentando referências em receitas a partir de 1703. Seu nome deriva (Figura 2). O teste de aceitação foi realizado no mesmo dia em que o
bolo foi processado. A amostra do muffin de rapadura com coco foi
da palavra original moffin, cuja origem deve-se a uma adaptação da
oferecida aos provadores e foi pedido aos mesmos que avaliassem a
palavra francesa moufflet (pão suave). Em 1950 começou a ser
comercializado nos Estados Unidos. Os dois principais tipos de muffins amostra e atribuísse a nota em ficha estruturada. Investigou-se, também,
a intenção de compra do produto pelos provadores.
são o inglês e o americano. Eles variam em estilo, bem como o sabor e
a história. Buscando fazer uma inserção da culinária regional brasileira
com a culinária americana, o presente trabalho apresentou como
objetivo a criação e o teste de aceitação do muffin, tradicional bolo
americano, utilizando como insumo o melaço de rapadura em
substituição ao açúcar refinado, ingrediente original da receita. O
propósito do trabalho é apresentar um novo muffin com a mesma
qualidade, sabor e maior composição nutricional que o bolo tradicional
original.

MATERIAL E MÉTODOS

O melaço de rapadura foi adquirido no mercado São Sebastião,


Fortaleza – Ceará. Os demais ingredientes em supermercado local da
cidade de Fortaleza. O processamento do bolo foi realizado no
laboratórios da confeitaria e panificação, do curso de gastronomia da
UFC. A proporção utilizada de cada ingrediente na formulação do
muffin de rapadura com coco está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Quantidade em gramas dos ingredientes utilizados no preparo


do muffin. Os testes de aceitabilidade foram para verificar a aceitabilidade da
INGREDIENTES FORMULAÇÃO (g) amostra, calculou-se também, o Índice de Aceitabilidade (IA). Para o
Melaço de 247.5 gramas = 1 ¹/² xicaras padrão de 240ml cálculo adotou-se a seguinte expressão matemática:
rapadura IA = A x 100
Farinha de trigo 360 gramas = 2 xicaras padrão de 240ml B
Leite integral 240 m de leite = 1 xicara padrão

59
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Onde, A = nota média obtida para o produto; B = nota máxima dada ao simbologia e valores culturais na vida do sertanejo e dos demais
produto; O critério de decisão para o índice ser de boa aceitação é de habitantes da região. A rapadura é famosa pelo seu alto valor calórico,
igual ou superior a 70% (5). sendo rica também em vitaminas, minerais e proteínas (7). O produto
está inserido na merenda escolar em alguns estados do Nordeste, como
RESULTADOS E DISCUSSÃO Ceará, Paraíba e Pernambuco, a qual é utilizada no controle nutricional
das crianças.
As etapas do processamento do muffin de rapadura com coco
apresentam técnicas simples e de fácil execução (3), porém, como em CONCLUSÕES
qualquer outro processo requer atenção e cuidado, a fim de se obter um
O Muffin de rapadura com coco apresentou 89% de índice de
produto de qualidade. A determinação da formulação foi feita a partir
aceitabilidade o que representa boa aceitação e 94% do índice de
de uma formulação caseira. A elaboração do muffin de rapadura com
intenção de compra demostrando um alto potencial de consumo e venda.
coco foi feita no propósito de ter um produto rico em nutrientes, com
O muffin de rapadura com coco se mostrou um ótimo produto para o
aproveitamento e valorização de insumos regionais que sejam
consumo, ressaltando-se a importancia do uso do melaço, de forma
reconhecidos pela gastronomia do Brasil (6), o melaço de cana e o coco,
promissora, em outras preparações em substituição ao açúcar refinado.
cujo o Estado do Ceará é um dos maiores produtores do Brasil.
Esse produto tem potencial apelo regional por utilizar a rapadura que pertence
Com relação a avaliação de aceitação, quanto aos provadores, 60% eram a nossa cultura alimentar e ainda melhora seu valor nutricional.
do sexo feminino e 40% do sexo masculino. A maioria dos provadores,
REFERÊNCIAS
34% apresentaram idade entre 21 e 30 anos, o que pode ser justificado
pelo fato da maioria dos provadores serem alunos da UFC onde a (1) Cavalcanti, P. 2007. A pátria das panelas: histórias e receitas da
análise foi conduzida, e essa ser a faixa etária predominante de alunos cozinha brasileira. São Paulo: Editora Senac São Paulo.
universitários; 14% dos provadores com idade entre 31 e 50 anos e,
apenas 4% dos provadores apresentaram idade entre 51 e 60 anos. (2) Cascudo, L. da C. 1898-1986. 2004. História da alimentação no
Brasil. 3.ed.- São Paulo: Global.
Os resultados da análise sensorial do muffin de rapadura com coco
podem ser visualizados na Figura 2. Com os resultados obtidos pela (3) KÖVESI, B; SIFFERT, C; CREMA, C; MARTINOLI, G. 400g:
análise sensorial pode-se verificar que 1% dos provadores atribuíram Técnicas de cozinha. São Paulo: Companhia editora Nacional, 2007.
nota 4 (nem gostei/ nem desgostei); 10% nota 6 (gostei ligeiramente); 568p.
24% nota 7 (gostei moderadamente); 45% nota 8 (gostei muito) e 20%
nota 9 (gostei muitíssimo). Assim sendo, pode-se considerar que o (4) Stone, H.; Sidel, J. L. 2004. Sensory evaluation practices. 3. ed.
muffin de rapadura com coco foi muito aceito pelos provadores. Afim San Diego: Elsevier, 377p.
de verificar matematicamente a aceitação foi calculado o Índice de
Aceitabilidade, e o resultado obtido para a amostra analisada foi igual a (5) Dutcosky, S.D. 1996. Análise sensorial de alimentos.
89%. Com esse valor obtido, pode-se afirmar que o muffin de rapadura Curitiba:Champagnat, 123 p.
com coco teve boa aceitação por parte dos provadores (5).
(6) Freixa, D; Chaves, G. 2015. Gastronomia no Brasil e no
mundo.3.ed.rev. e atual. Rio de Janeiro: Senac Editoras, 318 p.11. Inclui
bibliografia. Publicado em parceria com a Ed. Senac São Paulo.

(7) Montebello, N. de P; Araújo, W. M. C.; Botelho, R. B. A. Alquimia


dos Alimentos – Série Alimentos e Bebidas – 3ª Ed. 2014. – Senac São
Paulo.

Para a intenção de compra, 94% dos provadores disseram que


comprariam o produto, 4% talvez o comprasse e, apenas, 2% disseram
que não comprariam o muffin (Figura 3). Os resultados positivos de
intenção de compra podem ser justificados pelo fato da grande maioria
dos provadores terem aprovado o sabor e aparência do produto. Alguns
dos provadores sugeriram que o sabor da rapadura no muffin não é
percebido com certo pronunciamento, ou seja, em demasia, o que nos
leva a concluir que a substituição do açúcar refinado comum não causa
estranheza de sabor, um ponto positivo para o produto.

A rapadura tem um incrível potencial dentro da gastronomia e por se


dizer também na confeitaria, não apenas na elaboração de pratos
tradicionais, como também na releitura e até criação de produtos
inovadores. É um insumo tipicamente nordestino, carregado de

60
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento e Caracterização Física de Biscoitos Tipo Cookie com Diferentes


Fontes de Amido

Andrynne Veras de Sousa 1 , Antonio Gilvan Rodrigues de Souza 1 , Layana Mary Frota Menezes 1 , Francisca
Joyce Elmiro Timbó Andrade 2

1 Graduandosdo curso Superior em Tecnologia em Alimentos – IFCE – Sobral


2 Doutora - Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Sobral
email: layanaamary@gmail.com
PALAVRAS-CHAVES: FÉCULA, AVEIA, SAUDÁVEL

1.INTRO DUÇÃO com rolos e cortados com moldes circulares. Por fim,
A procura por uma vida saudável através de uma encaminhados para o forneamento a 160ºC por 10 minutos.
alimentação equilibrada vem crescendo entre a pop ulação com A análise de textura foi realizada na Embrapa/CE, com
aumento do interesse dos consumidores por alimentos, que além auxílio de texturômetro instrumental. As determinações de for ça
da função básica de nutrir, promovam efeitos benéficos à saúde de ruptura ou de quebra dos biscoitos foi realizada na E mbr a pa
[1,2]. Observa-se assim que cada vez mais o consumidor está Caprinos/CE pelo texturômetro TA-XT Plus T extur e Analyz e r
preocupado com a sua saúde, optando pelos alimentos diet, light , (Stable Micro Systems, Haslemere, UK), utilizando-se probe
orgânicos, naturais e funcionais [3]. Aliados a tais benefícios h á HDP/3PB e plataforma HDP/90, com velocidade de 2 mm. s- 1 e
a preocupação da elaboração de produtos atrativos e sabo r o sos distância de 9mm. Os resultados foram expressos em N (Newton)
que mesmo com a modificação da receita origin al m a nten ham e representados pela média aritmética de 8 repetições. O diâmetro
suas propriedades tecnológicas, diante disso a aveia apresenta e a espessura dos biscoitos foram medidos com auxílio de um
excelentes propriedades de absorção de umidade, p r otelando o paquímetro. E para a determinação da expansão foi calculado o
envelhecimento de pães, bolos e biscoitos [4]. Além disso, a peso dos biscoitos antes e após a cocção. O volume específico foi
produção das nozes e castanhas tem recebido destaque devido a o estabelecido pelo quociente entre o volume (cm3) e a m assa ( g)
aumento da produção e investimentos no setor. As nozes e de cada amostra forneada, com resultados expressos em cm 3 g– 1 .
castanhas possuem muitos nutrientes e são bastante consum idas O valor da massa foi obtido em balança analítica e o volume
de várias formas, seja integralmente ou na composição de específico pelo deslocamento de sementes de deslo cam ento de
diversos pratos e produtos [5]. O desenvolvimento de novas sementes [12]. O rendimento foi realizado A partir do peso pré e
opções de produtos de panificação com ingredientes alternativ os pós-cocção dos cookies foi calculado o rendimento do p ro duto
à farinha de trigo torna-se algo cada vez mais desejado por pronto (pós-cocção) [13].
consumidores. Atualmente, no mercado nacional e internacional, As medidas dos parâmetros colorimétricos foram feitas em
é possível encontrar biscoitos isentos de glúten, por ém, m uitos colorímetro portátil Delta Color, Rio Grande do Sul-BR, segundo
produtos disponíveis no mercado não apresentam boa aceitação padronização do sistema da Commission Internationale de
pelos consumidores [6]. Além disso, possuem pouco valor l’Eclairage (CIELAB). No sistema de cor CIELAB, L*
nutricional e custo elevado, tornando-se de difícil acesso a representa a luminosidade, onde os valores variam do 0 (preto) ao
populações menos favorecidas economicamente [7]. 100 (branco). Além disso, -a* (verde), a* (vermelho), -b* (azul)
A batata da espécie Solanum tuberosum L . , é f o nte e b* (amarelo) são as coordenadas de cor. Os parâmetros c* e h *
importante de fósforo e vitaminas do grupo B. Como é pobre em são derivados das coordenadas colorimétricas anteriormente
proteínas e gorduras, este tubérculo é um alimento de fácil citadas, onde c* é a cromaticidade ou saturação da cor
digestão [8]. Sua comercialização é feita principalmente na forma ("vivacidade") e h* indica a tonalidade da cor, cuja medida é
in natura, porém com a industrialização podem ser obtidos dada em graus. As amostras de biscoito foram lidas em triplicata.
produtos como a batata chips, palito pré-frito congelado, batata A análise físico-química de umidade foi realizada através do
palha, fécula, flocos, farinhas e outros [9]. A mandioca (Manihot método de Secagem por Radiação Infravermelha, com leitura da
esculenta) sua’ parte de maior valor econômico do v egetal é a balança [14]. Após a obtenção do valor da umidade foi calculado
raiz tuberosa, devido ao seu elevado teor de amido (fécula) [10 ]. conforme o manual do aparelho.
Sua produção tem grande importância socioeconômica no país e Os dados obtidos foram submetidos à análise de
no mundo sendo utilizada na alimentação humana e animal e variância (ANOVA) para obtenção da média e desvio padrão da s
como matéria-prima em inúmeros produtos industriais. Produt os amostras. As médias foram comparadas pelo teste de T ukey a 5%
que envolvem biscoito tipo cookie como enfoque p r incipal já de significância, pelo programa estatístico Statistic 7.0.
foram desenvolvidos como foco para o desenvolvimento de
novos produtos e estudos de produtos tecnológicos utilizando 3 RESULTADO S E DISCUSSÃO
diversas matérias primas e suas aplicações, como biscoitos Na tabela 1, estão apresentados os valores médios
elaborados com farinha da casca de beterraba [11], porém, (média ± desvio padrão) das amostras dos biscoitos tipo co ok ies
elaborar, produtos diferenciados e compará-los, além de divulgar com relação aos valores dos parâmetros físicos.
esses produtos é um desafio para a indústria alimentícia. T abela 1 - Parâmetros físicos dos biscoitos tipo
T endo em vista no que mencionado, o objetivo do cookies com diferentes fontes de amido.
trabalho foi elaborar e caracterizar biscoitos t ipo co okie, co m
diferentes fontes de amido.
Parâmetros físicos FTA FMA FBA
2.METO DO LOGIA Diâmetro 2,68 b ± 0,03 3,00 a±0,01 3,03 a± 0,06
Os biscoitos tipo cookie foram elaborados com 50% de Espessura 0,38 a±0,03 0,42 a±0,06 0,38 a±0,03
farinha de aveia (FA), variando nas concentrações de farin ha de Fator de Expansão 2,16 a±0,06 2,15 a± 0,06 2,13 a± 0,01
trigo (FT ), fécula de batata (FB) e fécula de mandioca (FM) . Os Volume Específico 4,48 b ±0,01 7,29 a± 1,25 6,82 a± 0,62
ingredientes foram adquiridos no comércio local de So br al/CE . Rendimento 87,71 b± 0,06 88,20 b± 0,52 100,96a± 0,97
A produção dos biscoitos tipo cookie foi realizada no laboratório T extura 4782,61 c± 14,62 5359,90 b± 27,37 8203,32 a± 4,67
a, b, c
de Panificação, no Instituto Federal de Ciência e T ecnologia – Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados
IFCE, campus Sobral. Após a pesagem e mistura dos ingredientes
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA
manualmente e descanso por 20 minutos, as massas foram abertas (Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de
batata e aveia).

61
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

REFERÊNCIAS
A espessura e fator de expansão não apresentaram diferença [1] DURAN, A. C. L. et al. Food intake and physical activity
significativa entre as amostras (p > 0,05). Em relação ao diâmetro level correlation among individuals who practice exer cises in a
foi possível observar que o menor resultado obtido foi o biscoito gym. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 12, n. 3, p.
de farinha de trigo com aveia. Visto que, após abrir a massa co m 15–19, 2004.
o rolo, percebia-se que a mesma encolhia um pouco, o que n ão [2] JAEKEL, L. Z.; RODRIGUES, R. DA S.; SILVA, A. P. DA.
foi observado com as demais amostras. O que pode ser Physicochemical and sensorial evaluation of beverages with
justificado pela presença do glúten da farinha de trigo, que possui different proportions of soy and rice extracts. Ciência e
características de elasticidade e extensibilidade [15]. Qua n to ao Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 2, p. 342–348, 2010.
rendimento, de acordo com a tabela 2 observa-se que houve [3] GUT KOSKI, L.C.; IANISKI, F.; DAMO, T .V.; PEDÓ, I.
diferença apenas no biscoito que foi utilizado fécula de bat at a, Biscoito de aveia tipo cookies enriquecidos com concentr ado de
indicando maior rendimento entre as amostras. Dessa forma β-glicanas. Brazilian Journal of FoodTechnology, Cam p ina s,
pode-se concluir que a utilização de fécula de batata é um aspecto v.10, n.2,p.104-110, 2007.
positivo para ser utilizado pelas indústrias de alimentos, visto ao [4] ARAÚJO, M. O. D.; GUERRA, I. M. M. Alimentos pe r
seu maior rendimento. A interação entre os ingredientes das capita. Natal: Universitária, 1992. 181 p.
amostras FMA e FBA, ocasionaram maiores volumes específicos [5] MORAES, K.S.; ZAVAREZE, E.R.; MIRANDA, M.Z.;
nos biscotos, apresentando-se com diferença significativa entre a SALAS-MELLADO, M.M. Avaliação tecnológica de bisco it os
amostra FTA (p < 0,05). A alta capacidade de absorção de água é tipo cookie com variações nos teores de lipídio e de açúcar.
uma característica forte que as fibras possuem. O que pode Revista Ciência e Tecnologia de Alimento s. Camp inas, 3 0
justificar o menor volume encontrado no biscoito FT A. Em (Supl.1): p. 233-242, 2010.
relação a textura, o biscoito com fécula de batata obt ev e m a ior [6] PEREZ, P. M. P.; GERMANI, R. Elaboração de biscoitos tipo
firmeza isso se deve porque nessa formulação o teor de f ibr a é salgado, com alto teor de fibra alimentar, utilizando f arin ha de
maior aumentando assim o valor da força [16]. Desse modo berinjela (Solanum melongena, L.). Ciência e Te cno logia de
quanto maior o teor de fibra, maior foi a firmeza do bisco ito , o Alimentos, Campinas, v. 27, n. 1, p.186-192. 2007.
que é condizente com o resultado exposto na tabela 2. [7] EL-DASH, A. A.; CAMARGO, C. R. O. Fundamento s da
T abela 2 - Análise de cor instrumental dos bisco ito s tecnologia de panificação. São Paulo: Secretaria da I n dúst r ia,
tipo cookies com diferentes fontes de amido. Comércio e T ecnologia,. 400 p. 1982.
[8] RODRIGUES, F.S. M.; LUPARELLI, P. C.;
COR FTA FBA FMA SCHIEFERDECKER, M. E.; VILELA, R. M. Cookies sem glúten
L* 34,95 a±0,10 32,22 c±0,05 33,88 b±0,04 a partir da farinha de sorgo. Archivos Latinoamericanos de
a* 1,02 a±0,03 0,76 b ±0,05 1,03 a±0,02 Nutrición, Caracas, v. 59, n. 4, p. 433-440, 2009.
b* 2,19 c±0,05 4,10 a±0,05 3,01 b ±0,02 [9] GARMUS, T . T .; BEZERRA, J. R. M. V.; RIGO, M.;
C* 4,22 a±0,06 2,32 c±0,05 3,18 b ±0,03 CÓRDOVA, K. R. V. GUPT A, M., BAWA, A. S. & ABU-
h* 76,05 a±0,35 70,85 b±0,18 71,12 b±0,19 GHANNAM, N. Effect of barley flour and freeze- thaw cycles on
a, b, c
Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam textural nutritional and fuctional proprieties of cookies. Food and
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados bioproducts processing, 8 (9), 520-527, 2011.
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA [10] SOUZA, Z. S. Melhorando da para processamento
(Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de industrial em condições subtropical e tempera da do Sul do
batata e aveia). Brasil. 2010. 153f. T ese (Doutorado em Agronomia).
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
A luminosidade do FT A foi mais clara que as demais, [11] LADEIRA, T . M. S.; PENA, R. S. Propriedades físico-
podendo ser justificado pela coloração da aveia e farinha de trigo químicas e tecnológicas dos polvilhos azedos de três cultivares de
serem de cores claras, confirmados pelos parâmetros c* e h* mandioca. Alimentos e Nutrição, v. 22, n. 4, p. 631-640, 2012.
ligados a cromaticidade e a saturação. Para o parâmetro a* e b* ,
[12] AACC, Approved methods of American association of
pode-se observar que houve diferença apenas na formulação FBA
cereal chemists. St Paul, USA: American Association o f Cer e a l
com uma cor amarelada devido a cor marcante da fécula de
Chemists. International. Approved methods of analysis. St P a ul:
batata.
Approved Methods Committee, 2010, Available at:
Na tabela 3, estão apresentados os valores médios
http://methods.aaccnet.org/.
(média ± desvio padrão) de umidade das amostras dos bisco it o s
[13] T EIXEIRA, F.; SANT OS, M. M.; CANDIDO, J., C.;
tipo cookies com diferentes fontes de amido.
SANT OS, F., E.; NOVELLO, D. Cookies adicionados de farinha
FTA FBA FAM da casca de beterraba: análise físicoquímica e sensorial entre
ab b crianças. Revista da Universidade Vale do Rio Verde , T rê s
Umidade 10,9 ±0,880 8,5 ±1,00 12,44 a±1,00
a, b, c Corações, v. 15, n. 1, p. 472-488, jan./jul. 2017.
Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma linha indicam
[14] ARAÚJO, M. O. D.; GUERRA, I. M. M . Alimento s pe r
diferença significativa a 5% (p < 0,05) entre os biscoitos. Resultados
expressos em %, FTA (Biscoito com farinha de trigo e aveia), FMA capita. Natal: Universitária, 1992. 181 p.
(Biscoito com fécula de mandioca e aveia) e FBA (Biscoito de Fécula de [15] GISSLEN, W. Professional Cooking. Hoboken: John Wiley
batata e aveia). Fonte: Autores,2019. & Sons, 2011.
INST IT UTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Institut o
A amostra com fécula de mandioca e aveia apresentou- Adolfo Lutz. v. 1: Métodos químicos e físicos para análise de
se com maior percentual de umidade, sendo significativ am en te alimentos, 3. ed. São Paulo: IMESP,2008. p. 25-26.
diferente das demais amostras. Esse resultado possivelmente está [16] EST ELLER, M.S.; LANNES, S.C.S. Parâmetros
relacionado ao fato da fécula de mandioca possuir grande p o der complementares para fixação de identidade e qualidade de
de retenção de água. Menores percentuais de umidade são ideais produtos panificados. Ciência e Te cn ologia de Aliment os,
para um aumento da sua vida de prateleira [19], visto que baix o s Campinas, v.25, n.4, p. 802-806, 2005.
conteúdos de umidade são capazes de inibir o crescimento de [17] SILVA, Érika Aparecida Luiza. Análise de nutrientes e m
microrganismos, bem como, provocar modificações na textura do bolinhos de chuva assados adicionados de fibras. (monografia)
produto. Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto, 2019.
[18] FINCO, A. M. O., BEZERRA, J. R. M. V.; RIGO, M.,
4 CO NCLUSÃO CÓRDOVA, R. V. Elaboração de biscoitos com adição de farinha
Conclui-se que a elaboração de cookies com farinha de de berinjela. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial ,
aveia e fécula de mandioca e fécula de batata são alternativas São Paulo-SP, v. 03, n. 01, p. 49-59, 2009.
viáveis como fonte de amido, para produção de biscoitos sem [19] MADRONA, G. S.; ALMEIDA, A. M. Elaboração de
glúten. biscoitos tipo cookie à base de okara e aveia. Revista
Tecnológica, São Paulo-SP, v. 17, n. 2, p. 61-72, 2008.

62
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Termômetros laser infravermelho e haste espeto para medição de temperatura em salada crua de uma Unidade
de Alimentação e Nutrição

Gabrielly Monteiro1, Wilma Baroni2, Denise Sousa2, Thiago Queiroz3, Felipe Jatai3, Renata Assis4
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará (UECE)
2
Pós-Graduada em Gestão da Qualidade em Serviço de Alimentação, UECE, Empresa ISM Gomes de Matos Eireli
3
Pós-Graduado em Nutrição Clínica Funcional, UNICSUL, Empresa ISM Gomes de Matos Eireli
4
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Palavras-chave: Salada Crua, Temperatura de Expedição, Termômetros, Refeição Transportada.

INTRODUÇÃO
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os cardápios podem ser compostos por pratos proteicos,


guarnições, acompanhamentos, saladas, sobremesas e bebidas. As Os resultados estão apresentados na tabela 1. Percebe-se
saladas cruas são alimentos que apresentam um alto risco de que as medições usando o termômetro à laser infravermelho
contaminação microbiológica, iniciando-se desde a produção da apresentaram-se 2ºC inferiores quando comparados com o haste
matéria-prima até o armazenamento do alimento pronto para espeto.
consumo, tornando-os causadores de Doenças Transmitidas por
Alimentos(DTA’s). Desta forma, o risco de proliferação Tabela 1. Temperatura de Expedição de Salada Crua de uma
microbiológica em saladas cruas é favorecida pelo seu elevado teor Unidade de Alimentação e Nutrição Hospitalar Retiradas em
de umidade, ph ácido, bem como manipulação e condições Termômetro à Laser e Espeto
inadequadas de temperatura durante o preparo, armazenamento e Coleta Laser Espeto
transporte. (1) 1 19,33 (0,35) 24,57 (0,01)
As refeições podem ser servidas no local da produção ou 2 17,23 (1,65) 17,60 (0,98)
transportadas para um local conveniado, devendo ser realizada 3 19,73 (0,61) 22,47 (1,95)
atendendo aos critérios que garantam a qualidade nutricional, 4 12,63 (2,49) 13,03 (2,41)
sensorial e higiênico-sanitária das preparações. As normas de 5 21,77 (0,65) 21,07 (3,21)
controle das técnicas de higiene e do binômio tempo e temperatura 6 13,43 (0,29) 20,07 (0,61)
devem ser seguidas rigorosamente, a fim de minimizar a 7 20,40 (0,26) 20,27 (0,45)
multiplicação de microrganismos causadores de doenças. (2) 8 16,20 (2,18) 20,90 (0,26)
Com isso, o monitoramento das temperaturas é uma 9 15,10 (7,62) 18,23 (6,05)
conduta indispensável para que se garanta a inocuidade do alimento, 10 12,77 (5,85) 15,53 (2,21)
durante todo o ciclo de produção até o transporte e distribuição, desta 11 20,13 (0,01) 22,53 (0,01)
forma não ocorrerá multiplicação de agentes patogênicos, esse 12 20,23 (0,29) 18,77 (10,45)
controle necessita ser constantemente executado. (3) 13 16,20 (0,26) 17,57 (1,61)
A medição da temperatura é realizada por dois tipos de 14 16,83 (0,81) 19,03 (0,01)
termômetros, devendo seguir técnicas de utilização para obtenção de 15 23,77 (1,41) 23,87 (0,89)
um resultado fidedigno. O primeiro seria o do tipo haste espeto, 16 22,80 (0,06) 22,23 (0,09)
recomendado para aferir temperaturas no centro geométrico dos 17 13,57 (1,73) 14,60 (0,08)
alimentos, medindo valores de temperaturas entre -50°C a 300°C, 18 13,37 (1,73) 19,83 (0,81)
que variam de acordo com a marca e modelo do equipamento. Deve 19 16,90 (0,42) 19,30 (0,08)
ser higienizados logo após o uso para não ocorrer contaminação 20 18,80 (0,72) 21,53 (0,19)
cruzada nos alimentos que são averiguados a temperatura.(4) Média 17,6 19,7
O outro tipo de termômetro é da forma a laser *Dados apresentados em forma de Média (Desvio Padrão)
infravermelho que realiza a aferição da temperatura sem entrar em
contato direto com o alimento, medindo entre valores de -60°C a
Segundo a portaria CVS/5, recomenda-se temperaturas de
500°C, aferindo temperaturas em alimentos quentes ou frios. (5)
até 10°C para expedição e distribuição de alimentos da cadeia fria.(6)
As temperaturas devem ser averiguadas constantemente,
Apesar das médias do estudo não estarem condizentes com a
como forma de prevenir contaminações microbiológicas nos
legislação vigente, ressalta-se que a preparação de saladas foram
produtos alimentícios. Diante disso, o objetivo do trabalho foi
realizadas em áreas refrigeradas, e quando prontas foram
investigar a variação da medição de temperatura aferida com
armazenadas de forma prévia a 5°C e, no momento da expedição,
termômetros tipo laser infravermelho e haste espeto de saladas cruas
eram encaminhadas para uma área à temperatura ambiente,
em uma Unidade de Alimentação Hospitalar Transportada.
favorecendo, assim, o aumento da temperatura, conforme preconiza a
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) N° 216/2004, da Agência
de Vigilância Sanitária (ANVISA). (7)
MATERIAIS E MÉTODOS Em estudo realizado em Florianópolis, em que se aferiu a
temperatura de distribuição de refeições quentes, com termômetros a
laser infravermelho e haste espeto, constatou-se que das preparações
Trata-se de um estudo de caráter transversal e
analisadas, aquelas que a medição foi realizada com o termômetro de
quantitativo. As saladas cruas eram compostas por aproximadamente
haste espeto, metade dos alimentos quentes estavam com temperatura
4 ingredientes, no qual eram dispostos separadamente em cubas GN
inadequada, quando a análise ocorreu com o do tipo a laser
de inox. As temperaturas foram aferidas durante 20 dias não-
infravermelho, todas as refeições quentes se encontravam com a
consecutivos, entre o período de dezembro 2019 e janeiro 2020. Os
temperatura inadequada, podendo favorecer a multiplicação de
dados foram coletados por profissional treinado e habilitado, por
microrganismos e o desenvolvimento de Doenças Transmitidas por
volta das 9h da manhã, momento da expedição do caminhão para o
Alimentos.(8)
local de distribuição. Utilizou-se termômetro digital a laser
Analisando-se o binômio tempo-temperatura em períodos
infravermelho da marca INCOTERM ST-620 com data de calibração
distintos do processo de produção de refeições transportadas com
16/04/2019 e posteriormente o termômetro tipo haste espeto da
termômetros de haste espeto e a laser infravermelho, concluiu-se que
marca EOS, com data de calibração 10/12/2019. As temperaturas
nos alimentos os quais foram realizadas as aferições de temperatura,
foram coletadas em triplicata e registradas em planilha específica.
encontravam-se inconformidades com relação a esse quesito em todo
Os dados foram tratados em programa Microsoft Excel, sendo
o ciclo produtivo, com ênfase na salada que após a medição se
realizado a média aritmética, desvio padrão e coeficiente de variação
constatou inadequações de temperatura desde o processo de
dos dados coletados.

63
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

produção até o momento da recepção na unidade distribuidora,


mostrando o quanto é necessário que aconteça o monitoramento da 7 BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução – RDC n.° 216, de 15
temperatura dessas refeições transportadas, pois demonstra as de setembro de 2004. Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
situações de risco de tal modalidade de refeições. (9) Brasília, set. 2004.
Esse monitoramento da temperatura é feito como forma
de prevenir a proliferação de microrganismos causadores de doenças, 8 SILVA, B.B.; BONI, B.R.; SCHLINDWEIN, A.D. Tempo de
não podendo ser constatado nessas preparações a bactéria do tipo exposição e Temperatura de Distribuição da Refeição Quente dos
Salmonella sp e as bactérias do tipo Coliformes só podem estar funcionários de uma unidade de alimentação e nutrição hospitalar de
presentes até o valor de 102 NMP/g amostra a 45º C , de acordo com Florianópolis-SC. Rev. Uningá, v. 56, n. 3, p. 132-140, 2019.
a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) N°12/2001, da ANVISA,
que estabelece os padrões microbiológicos sanitários para 9 LIRA, C.R.N.; CASTRO, L.N..; FONSECA, M.C.P. Tempo e
alimentos.(10) Temperatura em refeições transportadas. Rev. Desafios,, v. 6, n. 3, p.
Com relação a medição com termômetro de haste do tipo 129-141, 2019.
espeto, a literatura relata que a aferição ocorre por meio do contato
direto com o alimento, mais especificamente no seu centro 10 BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução - RDC n° 12, de 02 de
geométrico, não alcançando o fundo da preparação. A partir disso, janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões
um estudo com o objetivo de avaliar a adequação da temperatura do microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União, jan.
arroz em dietas transportadas com termômetros de haste do tipo 2001.
espeto, realizado por Amorim et al. (11) verificou inadequações de
temperatura nas refeições transportadas em que se mediram o arroz, 11 AMORIM, M.M.A.; SILVA, P.F.; AMARAL, D.A.; COELHO,
estando abaixo do que é dito como seguro, que seria acima ou igual a A.K. Adequação das temperaturas do arroz de dietas transportadas.
60°C, como preconiza a RDC 216/2004.(7) Nutrição Brasil, v. 16, n. 5, p. 335-343, 2017.
O termômetro infravermelho a laser opera não entrando
em contato com o alimento, aferindo a temperatura das refeições de 12 MENDES, T.I.L.; MONTEIRO, M.L.S.; CARVALHO, L.M.F.;
forma superficial perto das preparações, segundo uma pesquisa feita BEZERRA, K.C.B. Condições higiênicas e sanitárias de unidades de
por Mendes et al, em que se avaliou as condições higiênico-sanitárias alimentação e nutrição de escolas em tempo integral. Revista
quanto à produção de refeições em unidade de alimentação de uma Eletrônica Acervo Saúde, n. 31, p. e1150-e1150, 2019.
escola de tempo integral, incluindo a temperatura dessa preparações,
notou-se que as aferições realizadas com o termômetro a laser nas
preparações apresentavam a temperatura adequada na distribuição.
Contudo, as refeições que ficavam em temperatura ambiente
obtiveram variação em suas temperaturas, estando com valores
abaixo do recomendado, facilitando a multiplicação de agentes
patogênicos, colocando em risco a saúde dos alunos. (12)

CONCLUSÃO

Conclui-se que houve uma pequena variação nas médias


dos dados coletados com os termômetros de laser infravermelho e
haste espeto, podendo, assim, a Unidade de Alimentação e Nutrição
fazer uso dos dois tipos de termômetros nas aferições de temperatura
em alimentos durante todo o processo produtivo. Sentiu-se
dificuldade na aquisição de artigos publicados com dados
comparando os resultados usando os diferentes tipos de
equipamentos para medição.

REFERÊNCIAS

1 MALLET, A.C.T.; ROCHA, K.S.; OLIVEIRA, C.F.; SARON,


M.L.G.; SOUZA, E.B. Avaliação microbiológica de saladas cruas
servidas em restaurantes do tipo self-service do município de Volta
Redonda (RJ). Cadernos UniFOA, v. 12, n. 34, p. 86-96, 2017.

2 SOUSA, F.S.; PONTES, C.R.; NASCIMENTO, L.A. Temperatura


de saladas transportadas servidas em um restaurante universitário.
Rev. Nutrivisa, v. 4, n.1, p. 13-20, mar/jun 2017.

3 BORGES, N.R; MOURA, B.A.; VIEIRA, C.F.S.; SANTOS,


D.D.M.; ALMEIDA, L.J.; ZUNIGA, A.D.G. Avaliação do Binômio
Tempo-Temperatura das refeições de um restaurante na cidade de
Palmas-TO. Rev. Desafios, v. 3, n. 2, p. 90-98, 2016.

4 ARAÚJO, B.P.; SANTOS, N.R.; BUCCIOLI, P.T. Análise da


Influência dos termômetros no controle da temperatura dos alimentos
em restaurantes comerciais de Pitangueiras SP. Rev. FAFIBE On-
line, v. 11, n. 1, p. 92-107, 2019.

5 BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


Orientações sobre o uso de termômetros para a aferição da
temperatura de alimentos, 2016.

6 BRASIL, ANVISA. Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013.


Regulamento técnico sobre boas práticas para estabelecimentos
comerciais de alimentos e para serviços de alimentação. Brasília -
DF, 2013.

64
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Chlorella: o alimento do futuro

Gabrielle Ferreira1, José Silva2, Mayara Ávila3, Mônica Paiva4

1 Mestranda em Ciências Gastronômicas - Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa


2 Mestrando em Ciências Gastronômicas - Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa
3 Mestranda em Ciências Gastronômicas - Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa
4 Mestranda em Ciências Gastronômicas - Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa - monica.vale.25f@gmail.com

PALAVRAS CHAVE: novos produtos alimentares; microalgas; pão; polvilho; hambúrguer.


sanduíche de pão de mandioca com Chlorella recheado de hambúrguer
INTRODUÇÃO.
de porco, emulsão de leite e alho, picles de cenoura, rúcula e queijo
cheddar. Para servir de acompanhamento, foram criados também
Segundo o IPMA, I.P. - Instituto português do Mar e da Atmosfera, I.P. biscoitos de polvilho no formato de bastonetes, remetendo às batatas
- a expressão microalga caracteriza, de uma forma mais ampla, um largo fritas.
espectro de organismos unicelulares fotossintéticos, grande parte O primeiro dos elementos, sendo ele um dos objetos de estudo, foi o
aquáticos, compostos de procariontes a eucariontes, com grande pão de mandioca - considerado uma espuma alimentar porque
pluralidade morfológica e fisiológica. (1) São encontradas em todo o identifica-se como um sistema coloidal que aprisiona bolhas de gás
planeta, tendo as condições ideais: água e luz. Elas podem ser dentro de um sistema fluido ou sólido (6). O produto foi preparado a
encontradas em água doce, salgada ou no solo. O projeto de pesquisa partir da mistura pelo método direto dos ingredientes: farinha de trigo,
norueguês Algae to Future (A2F), defende a melhor utilização das mandioca cozida sem sal, fermento biológico seco instantâneo, sal,
microalgas pelo seu rico valor nutricional e podem ser usadas na manteiga, açúcar cristal, ovo e leite em suas devidas proporções
indústria alimentar, farmacêutica e de cosméticos, bem como para a dispostas em receita (tabela 1), além da Chlorella, em pó, da marca
produção de biocombustíveis. (2) (3) O uso das microalgas na ISWARI, a 1%.
alimentação humana e de animais está ganhando notoriedade por serem
uma forte fonte de “proteínas, ácidos graxos insaturados, vitaminas, sais
Tabela 1 - Formulação do pão de mandioca com Chlorella
minerais, pigmentos, enzimas, antibióticos e outros metabólitos
biologicamente ativos”. (4)
Desta forma, na busca de associar estes benefícios nutricionais que as
microalgas podem agregar na alimentação humana com o sabor e a
importância da criação de novos produtos alimentares, o presente
trabalho se desenvolve sobre a significação de uma microalga
específica, a Chlorella Vulgaris, pois, além de ter todos os benefícios
associados às microalgas, se destaca pela sua grande quantidade de
proteínas e sais minerais - fósforo, ferro, manganês, cobre, zinco,
magnésio e cálcio.(4)
Seguindo por esse panorama, o objetivo geral deste trabalho baseia-se
na inserção da microalga Chlorella Vulgaris na alimentação da
população brasileira. Como objetivos específicos citamos: a) a criação Após sova de, pelo menos, 10 minutos para desenvolvimento do glúten,
de preparações gastronômicas com adição da microalga citada; b) a foi necessário descanso da massa em uma superfície untada com óleo
divulgação das ciências culinárias do dia a dia ao abordar o uso de por 15 minutos. Após o boleamento e fermentação de 30 a 40 minutos,
espumas e emulsões na cozinha e c) a conscientização da presença desta os pães foram assados em calor seco à temperatura de 170ºC por,
microalga dentro do mercado alimentício do Brasil. O produto criado aproximadamente, 20 minutos.
representa uma releitura de um combo de cheeseburger com batatas- O outro elemento de ênfase para a pesquisa foi o biscoito feito com
fritas, tão comum nas redes de fast-food aliado à introdução da polvilho azedo, matéria-prima derivada da fécula de mandioca
Chlorella. Consiste em um sanduíche de pão de mandioca com modificada por processo de fermentação, atingindo uma acidez de
Chlorella e em biscoitos de polvilho (biscoito de vento, biscoito voador, aproximadamente 5% e secagem solar (7). Sinteticamente, o produto
biscoito globo ou peta) com Chlorella. Juntos, estes elementos formam foi preparado a partir da mistura de polvilho azedo, Chlorella e sal com
um belo, saboroso e nutritivo menu verde. o acréscimo de 50% de água a 100ºC, leite e óleo. Todos os ingredientes
foram bem homogeneizados até estarem unidos como flocos. Após este
processo, foi acrescentado os outros 50% dos líquidos à massa até
MATERIAL E MÉTODOS
formar um creme pastoso. Com o auxílio de um saco de confeiteiro
foram dispostas, em papel vegetal, tiras de massa de aproximadamente
Para o desenvolvimento do trabalho, o tipo de pesquisa dividiu-se em 10 centímetros e levadas ao forno, pré-aquecido por 20 minutos. Na
quatro etapas. A primeira, focada em pesquisas bibliográficas sobre a cocção, que dura cerca de 20 minutos, a água da massa evapora, os
Chlorella. A segunda, na criação de um produto alimentar com o gases se expandem e as paredes do biscoito enrijecem, não permitindo
conceito citado acima. A terceira, voltada para a parte técnica com que o ar saia, deixando o biscoito aerado. As proporções dos
aplicação de testes de receitas palatáveis - fase importante para ingredientes estão dispostas na tabela 2.
descrever os fatos observados, analisados e correlacionados, mediante
um estudo realizado em determinado espaço-tempo (5). E a quarta e
Tabela 2 - Formulação do biscoito de polvilho com Chlorella
última etapa, que consistiu na apresentação do produto, juntamente com
uma breve análise sensorial com provadores não treinados na intenção
de analisar o nível de aceitabilidade do deste.
Em síntese, foi produzido um menu semelhante aos do fast-food
mundialmente conhecidos, mas com características regionais
brasileiras nomeadamente “A Chlorella do Brasil”. No nosso menu de
hambúrguer com biscoitos, procuramos desenvolver um produto
comum e de aceitação de diferentes públicos, mas que tivesse um
diferencial e apelo.
Para o desenvolvimento da receita foram realizados quatro testes
experimentais em cozinhas domésticas, os quais resultaram em um No dia 04 de janeiro de 2019 foi realizada uma sessão de apresentação
do produto alimentar para a turma do primeiro ano do mestrado em
Ciências Gastronômicas da Universidade de Lisboa (UL) em parceria

65
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

com a Universidade Nova de Lisboa (UNL), na sede da CookingLab -


um laboratório criado para o desenvolvimento de pesquisas na área da
alimentação dentro do campus do Instituto Superior de Agronomia Figura 3 - Biscoitos de polvilho com Chlorella
(ISA) da UL.
Na referida sessão, foram explicados os caminhos para a elaboração das
receitas, assim como as estruturas químicas e físicas envolvidas no
processo. Na altura, também houve uma breve análise sensorial do
produto com provadores não treinados, objetivando a análise da
aceitabilidade do produto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antecedente à apresentação para análise sensorial com os provadores


não treinados, foram realizadas degustações isoladas com possíveis
consumidores de um público geral. Nosso objetivo foi obter uma
opinião qualitativa de cada provador sobre o menu “A Chlorella do
Brasil”. Foram escolhidas cinco pessoas com perfis sociais,
profissionais e culturais diferentes e seus comentários (Figura 1) nos
CONCLUSÕES
ajudaram no aperfeiçoamento dos produtos e encaminhamento do
trabalho.
Conclui-se que a utilização da Chlorella, um alimento rico
nutricionalmente, tem um grande potencial culinário dentro do mercado
Figura 1 - Comentários sobre o menu “A Chlorella do Brasil”
brasileiro e que o conceito apresentado traz inovações em preparações
gastronômicas capazes de garantir a aceitação de um público que irá
consumir pela primeira vez a microalga.
Foi visto, neste trabalho, a importância do conhecimento e da
correlação profissional de diferentes áreas para o desenvolvimento de
pesquisas na área da alimentação, sendo necessário um trabalho em
conjunto de cientistas gastronômicos, chefs de cozinha, engenheiros
alimentares e experts do marketing.

REFERÊNCIAS

(1) IPMA, I. P. Instituto português do mar e da atmosfera.


Microalgas. In:
https://www.ipma.pt/pt/pescas/eppo/microalgas/index.jsp
(2) A2F. Algae to future. O que são microalgas? 2019. In:
Obtidas estas breves, mas essenciais, informações, levamos nossos
https://www.algae2future.no/articles/hva-er-mikroalger
produtos para a análise. Nosso combo formado pelo hambúrguer e
(3) RUSSO, D. A. M. T. Estudo do crescimento da microalga
biscoito de polvilho (figuras 2 e 3) teve uma aceitação majoritária de,
Chlorella vulgaris numa água residual tratada, sob diferentes
aproximadamente, 80% dos 23 alunos provadores, além da aprovação
condições de fotoperíodo e temperatura. 2011. 111f. Dissertação
das três professoras examinadoras presentes: Anabela Raymundo,
(Mestrado em Energia e Bioenergia) – Universidade Nova de
Catarina Prista e Cristiane Nunes, todas docentes do ISA.
Lisboa, Lisboa, 2011.
De maneira geral, a avaliação de nossos produtos pelos provadores
(4) BERTOLDI, F. C.; SANT’ANNA, E.; OLIVEIRA, J. L. B. Teor
resultou na a) identificação de boa formação dos alvéolos do pão, que é
de clorofila e perfil de sais minerais de Chlorella vulgaris
garantia de uma boa estruturação do glúten proveniente da sova da
cultivada em solução hidropônica residual. Ciência Rural, Santa
massa, b) harmonia entre os sabores de microalga da massa juntamente
Maria, v. 38, 1, 54-58, 2008.
aos recheios escolhidos para o hambúrguer c) aceitação dos biscoitos
(5) LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de
como itens que agregam sabor e textura no menu e d) intenção de
metodologia científica. 5ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
compra pela parte dos provadores.
(6) ABRANTES, G.; MATA, P. Cozinha Modernista: história,
ingredientes e receitas da cozinha do século XXI. 1 ed. Rio de
Figura 2 - Pão e hambúrguer com Chlorella Janeiro: Senac Rio, 2019. 208p.
(7) São Paulo (Estado). O Polvilho azedo. Revista Aditivos e
Ingredientes. n. 72. Editora Insumos. p 44-50. 2010. Disponível
em: https://aditivosingredientes.com.br/artigos/ingredientes-
funcionais/o-polvilho-azedo

66
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Aceitação Sensorial de Pães Veganos com Farinha de Banana Verde

Carla Santos¹, Ana Morais², Márcia Medeiros2, Layane Sousa3, Giovanna Alves4, Edmilson Rodrigues4

¹Bolsista PIBITI/CNPq, discente do curso de Tecnologia em Processos Químicos, Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Campus Fortaleza, e-mail:
c.limaoliveiradossanto@gmail.com
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Docente do IFCE,
3
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, IFCE
4
Discente do curso Técnico integrado em Química
Palavras-chave: panificação, farinha funcional, amido resistente, análise sensorial.

1. Introdução minutos em forno elétrico pré-aquecido à temperatura de 200°C e


avaliados sensorialmente no dia seguinte.
A banana verde apresenta alto teor de amido As amostras foram servidas à temperatura ambiente, de forma
correspondendo de 55 a 93% do teor de sólidos totais. A polpa da monádica sequencial, sob guardanapos brancos codificados com
banana verde tem aspecto claro e sabor neutro não comprometendo a números de três dígitos aleatorizados (Figura 1). Água à temperatura
cor do produto ao qual é adicionada (1). A farinha originária da ambiente foi fornecida para limpeza do palato (7).
banana verde não possui glúten, apresenta preço acessível e permite
aumentar o valor nutricional dos produtos alimentícios (2). Figura 1 – Apresentação das amostras.
Estudos como o de Szeremeta et al. (3) e Oliveira et al. (4)
viabilizam a produção de farinhas com propriedades funcionais
mostrando a importância de farinhas alternativas para a substituição da
farinha de trigo e na composição de farinhas mistas na elaboração de
produtos (5). Entre estas, a farinha de banana verde, que além de ter
baixo custo de produção, possui na composição amido resistente. Este
amido pode ser caracterizado como junção do amido e produtos da sua
decomposição não absorvidos pelo intestino delgado de sistemas
saudáveis produzindo no organismo efeitos similares aos de fibras
alimentares (1).
Por conta disso, a FBV apresenta uma aplicabilidade
variada para a indústria de alimentos, principalmente na elaboração de
produtos de panificação, dietéticos e alimentos infantis, devido sua
elevada qualidade nutricional (6).
A escala hedônica de nove pontos foi utilizada para avaliação
Desta forma, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a
da aceitação global e dos atributos aparência, textura e sabor por 100
aceitação sensorial da substituição parcial da farinha de trigo pela
provadores não treinado (7,8,9,10). Os dados foram expressos em
farinha de banana verde em pão vegano de forma a gerar aplicação
médias, desvios padrão e submetidos à análise de variância
para esta farinha regional e com propriedade funcional.
(ANOVA).
2. Materiais e métodos
3. Resultados e discussão
O projeto foi submetido e previamente aprovado pelo Comitê
As duas amostras avaliadas foram aceitas, pois apresentaram
de Ética em Pesquisa com seres humanos do IFCE (Protocolo
médias entre 5 - ‘nem gostei, nem desgostei’ e 8 - ‘gostei muito’
141736/2019).
(Tabela 2). No entanto, a amostra PFBV10 foi mais aceita de forma
Para a elaboração dos pães com FBV foram utilizados os
global e nos atributos aparência e textura. Somente no sabor não
ingredientes listados na Tabela 1.
houve diferença de aceitação (p>0,05). O resultado é coerente com o
esperado, tendo em vista as características da farinha de banana verde
Tabela 1 – Ingredientes e suas quantidades na formulação das e sua aplicabilidade, pois possui sabor neutro com isso não alterando
amostras de pão com farinha de banana verde (PFBV10: 10% e
de forma perceptível o sabor das amostras. No entanto, conforme
PFBV20: 20% de farinha de banana verde).
observado por Andrade et al. (11) contribui para o escurecimento dos
Formulações pães no quesito miolo e crosta quando submetidos à cocção.
Ingredientes
PFBV10 PFBV20
Farinha de trigo 112,5g 100g Tabela 2 – Médias e desvios padrão das amostras de pão com
farinha de banana verde (PFBV10: 10% e PFBV20: 20% de
Farinha de banana verde 12,5g 25g farinha de banana verde).
Fermento biológico seco 2,5g 2,5g Atributos
Amostra
Açúcar cristal branco 5,0g 5,0g Global Aparência Textura Sabor
Sal refinado 2,5g 2,5g PFBV10 7,35a ± 1,07 6,36a ± 1,70 7,05a ± 1,53 7,43a ± 1,34
Óleo de girassol 17,5 mL 17,5 mL PFBV20 7,00b ± 1,36 5,75b ± 1,80 6,46b ± 1,77 7,10a ± 1,49
Água 80,0 mL 80,0 mL Médias com letras iguais em mesma coluna, não diferem entre si ao
a,b

nível de 5% de significância.
As amostras foram preparadas misturando inicialmente os
ingredientes secos, exceto o sal, em batedeira planetária (masseira).
Em seguida, a água e o sal foram adicionados lentamente. Os 4. Conclusões
ingredientes foram batidos durante 20 minutos com aumento gradual
da velocidade. Após essa etapa, a massa foi sovada em cilindro, onde A substituição de até 20% de farinha de trigo (FT) por farinha
cada amostra foi cilindrada 40 vezes obtendo uma massa de textura de banana verde (FBV) resulta em boa aceitação sensorial do pão. No
lisa. A massa foi dividida em pedaços de 125g, modeladas entanto, a substituição de 10% resulta em maior aceitação.
manualmente e enformadas em formas de papel forneáveis Recomendamos novos testes com maior substituição da FT pela FBV
retangulares. A fermentação ocorreu em armário à temperatura desde que haja o acréscimo de outros ingredientes que permitam ao
ambiente (26±2°C) durante 01h30. Os pães foram assados por 30

67
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

produto melhorar a aceitação com esse maior acréscimo.

Referências

(1) RAMOS, P. D.; LEONEL, M.; LEONEL, S.; Amido resistente em


farinha de banana verde. Alim. Nutr. v, 20, n. 3, p. 479-483, 2009.

(2) CADERNETTE, G. H. L.; Produtos derivados de banana verde


(Musa spp.) e sua influência na tolerância à glicose e na
fermentação colônica. 2006. 180f. Tese (Doutorado em nutrição
experimental). Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de
São Paulo, 2006.

(3) SZEREMETA, J. S.; SIGUEL, G.; AMARAL, J. G.;


NASCIMENTO, R. F. DO; CANTERI, M. H. G. Farinhas de banana:
desenvolvimento do produto e sua caracterização físico-química e
funcional. R. Tecnol., v. 27, n. 1, p. 1-10, 2019

(4) OLIVEIRA, I. M. de .; MELO, F. dos S. N. de .; SOUSA, M. M.


de .; MENEZES, M. de S. .; PAZ, E. de O. .; CAVALCANTI, M. da
S. Use of alternative flours in bakery products: a literary review. Res.,
Soc. Dev. [S. l.], v. 9, n. 9, p. e441996228, 2020.

(5) SANTANA, G. S.; OLIVEIRA FILHO, J. G.; EGEA, M. B.;


Características tecnológicas de farinhas vegetais comerciais. R. Agric.
Neotrop., v. 4, n. 2, p. 88-95, 2017.

(6) BORGES, M. A..; PEREIRA,J. B.; LUCENA,E. M. P.


Caracterização da farinha de banana verde. Ciênc. Tecn. Alim., v, 2,
n. 29, p. 333-339, 2009.

(7) STONE, H.; SIDEL, J. Sensory evaluation practices. 3nd ed.


London: Academic Press, 2004. 374 p.

(8) LAWLESS, H. T.; HEYMANN, H. Sensory evaluation of food:


Principles and practices. 2nd ed. London: Springer, 2010. 596 p

(9) INSTITUTO ADOLFO LUTZ (IAL). Capítulo VI - Análise


Sensorial: Testes afetivos. In: Métodos físico-químicos para análise
de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. p. 314-318.

(10) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS


(ABNT). NBR ISO 11136: Guia geral para condução de testes
hedônicos com consumidores em ambientes controlados. Rio de
Janeiro, 2016.

(11) ANDRADE, B. A.; PERIUS, D. B.; MATTOS, N. V. DO.;


LUVIELMO M. M.; Produção de farinha de banana verde (Musa ssp.)
para aplicação em pão de trigo integral. Braz. J. Food. Technol, v.
21, e2016055, 2018.

68
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Alimento cremoso salgado a base de castanha-do-Brasil


Barbarah G. E. Sousa1; Daniel Daron2; Thais Hernandes3; Katiuchia P. Takeuchi3,*.
1 - Cientista de Alimentos – UFMT/Cuiabá.
2 – Graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos – UFMT/Cuiabá.
3 – Docente do curso de graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Faculdade de Nutrição, Departamento de
Alimentos e Nutrição, UFMT/Cuiabá-MT
* katiuchia.takeuchi@gmail.com
Palavras-chave: Inovação, patê, agregação de valor, nutrição, alimento semissólido.
2.2. Análise das propriedades tecnológicas do alimento
1 – Introdução cremoso à base de castanha-do-Brasil
A castanha-do-Brasil, semente da Bertholletia excelsa 2.2.1. Rendimento do alimento cremoso: O rendimento do
Bonpl., da família das Lecitidáceas, é cultivada em toda a Amazônia e alimento semissólido (em kg) por kg de castanha-do-Brasil (kg kg-1)
considerada uma das maiores riquezas nas regiões dos castanhais (1). utilizado na produção dos patês.
Devido ao agradável sabor e elevado valor nutritivo, a castanha pode 2.2.2. Análises reológicas em alta deformação: Foram
ser incorporada à dieta da população brasileira. Para tanto, seria realizadas análises de textura do alimento semissólido por meio de
necessário ampliar o seu aproveitamento industrial (2, 3) e promover texturômetro (Stable Microsystems, Texture Analyser TA-XT Plus,
maior divulgação de seu valor nutricional, bastante elevado quando Surrey, Reino Unido). O texturômetro foi calibrado com uma célula de
comparado ao de frutas e outras nozes. A castanha-do-Brasil apresenta carga de 5 kg. O ensaio foi realizado em compressão utilizando
alto conteúdo lipídico (60-70 %) e proteico (15-20 %), além de elevado velocidades de pré-teste, teste e pós-teste de 2, 1 e 10 mm s-1, sendo que
teor de metionina (4). as amostras foram analisadas com o auxílio da geometria TTC
Camargo (5) enfoca que “tendo em vista aminoácidos Spreadability Rig (HDP/SR*) conforme Figura 1. Os parâmetros de
presentes na castanha e, principalmente, ao fato de conter aqueles textura analisados foram firmeza, trabalho de cisalhamento,
considerados essenciais, inclusive o triptofano, pode-se afirmar a sua adesividade e trabalho de coesão.
excelência entre os alimentos vegetais”. Neste contexto e corroborando
com o referido autor, Souza e Menezes (4) sugeriram que a amêndoa,
torta e derivados de castanha-do-Brasil podem servir como ótima base
proteica na alimentação humana, devendo suprir deficiências deste
nutriente na alimentação. Contudo, para que a castanha-do-Brasil e
outros produtos florestais não madeireiros gerem renda efetiva, o seu
aproveitamento deve ser completo e dar origem a produtos de alto valor
agregado, para isso conta-se com o desenvolvimento de alimentos de
alto valor nutricional e com apelo funcional. Visto que, tal como foi
referido anteriormente, a procura de alimentos funcionais quer pela
indústria quer por consumidores é uma realidade. Este fato prende-se a
vários aspectos que incluem uma tendência cada vez maior dos Figura 1 – Análise de textura em altas deformação
consumidores em consumir produtos inovadores e potencialmente utilizando a geometria de espalhabilidade.
promotores de saúde.
O objetivo deste projeto é desenvolver um alimento 2.2.3. Propriedades ópticas
semissólido cremoso a base de castanha-do-Brasil, de alto valor As propriedades ópticas (cor) das amostras do produto
agregado visando contribuir para a integração vertical da cadeia semissólido de castanha foram medidas em colorímetro de bancada
produtiva da castanha-do-Brasil, buscando por meio do aprimoramento (Konica Minolta, CR-400, Osaka, Japão) e os parâmetros de cor,
tecnológico com segurança alimentar e nutricional, além da luminosidade (L*), Croma (C*) e ângulo Hue (hº) foram determinados
manutenção da qualidade funcional. segundo Wadhwani e McMahon (6).
2.2.4. Análises estatísticas
2 – Material e métodos As análises físicas foram realizadas em quintuplicatas cada
Os materiais usados nesse projeto foram: Castanha-do- análise (n≥15). As médias dos valores obtidos das análises físicas foram
Brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.) ready-to-eat, proveniente de submetidos a análise de variância (ANOVA) e, para comparação
Cooperativa Mista de Guariba (COMIGUA); farinha de castanha-do- múltipla entre os tratamentos, será aplicado o teste de Tukey ao nível
Brasil desengordurada orgânica obtida da Cooperativa dos Agricultores de significância de 5%.
do Vale do Amanhecer (COOPAVAM) produzida no Núcleo do
Assentamento do Vale do Amanhecer em Juruena-MT (CNPJ: 3 – Resultados e Discussão
10.757.281/0001-85); ingredientes alimentícios: azeite de oliva extra 3.1. Rendimento dos alimentos cremosos
virgem (Gallo, Portugal), limão Taiti, sal light com menos 50% de sódio A análise de rendimento dos alimentos cremosos de
(Cisne®, Cabo Frio-RJ), molho para saladas balsâmico e molho de castanha-do-Brasil mostrou que as Formulações A1, A2 e A3
ervas finas (Masterfoods®), tempero de cebola, alho e salsa apresentaram rendimento de 1,40; 1,32 e 1,03 kg.kg-1, respectivamente.
desidratados (Kitano); reagentes analíticos para as análises de 3.2. Análises reológicas em alta deformação
composição química. A textura pode ser definida como o conjunto de sensações
Foram elaboradas três formulações de um produto percebidas durante a manipulação e mastigação do alimento (7). O
semissólido, semelhante a um patê, a base de castanha-do-Brasil, trabalho de cisalhamento, refere-se a força necessária para provocar o
utilizando-se ingredientes diferentes para saborização: deslocamento de um corpo e, está relacionada com a firmeza. A firmeza
Formulação A1 - Castanha-do-Brasil ready-to-eat, água destilada, (N), definida sensorialmente, como a força requerida para compressão
suco de limão, molho ervas finas MASTERFOODS® e sal light (menos entre a língua e o palato (para semissólidos) (8).
50% de sódio); Todos os parâmetros medidos na determinação de textura do
Formulação A2 - Castanha-do-Brasil ready-to-eat, água destilada, produto apresentaram diferença entre as formulações (p<0,05). Sendo
azeite de oliva, suco de limão e sal light (menos 50% de sódio); que, a Formulação A3 foi a que apresentou maior firmeza,
Formulação A3 - Castanha-do-Brasil ready-to-eat, água destilada, consequentemente, um maior trabalho de cisalhamento (Figura 2). As
molho balsâmico MASTERFOODS® e sal light menos 50% de sódio. três formulações podem ser caracterizadas como cremosas, pois
apresentaram uma firmeza relativamente baixa. Os produtos
2.1. Desenvolvimento do alimento cremoso salgado e semissólidos cremosos são caracterizados por apresentar uma menor
saborizado a base de castanha-do-Brasil firmeza. Buriti et. al. (9), em estudo de “Textura instrumental e
As castanhas foram retiradas da casca, higienizadas e avaliação sensorial de queijo fresco cremoso simbiótico: implicações
homogeneizadas com os demais ingredientes em liquidificador de da adição de Lactobacillus paracasei e inulina”, obteve valores de
alimentos (Britânia Eletronic Filter, 600 W, Brasil) até a obtenção de firmeza inferiores a 10 N em queijo fresco cremoso.
uma pasta cremosa. Foram filtradas em organza para retirada do extrato
hidrossolúvel, posteriormente, armazenados em potes cilíndricos de
acrílico sobre refrigeração.

69
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A 4,0 Oliveira (10) em um estudo de “Avaliação de queijos ricota


3,5 comercializados em Goiânia-GO e queijos processados com diferentes
3,0 concentrações de leite e adicionados de proteínas de soja e cálcio”
Firmeza (N)
2,5 encontrou valores de ângulo Hue (º) bem próximos a 90 para ricotas
2,0 c comerciais, indicando a cor amarelada e obteve valores acima de 59
1,5 b para Luminosidade. A cor amarelada clara é uma característica desejada
1,0 nas variedades de queijo.
a
0,5
0,0 A1 A2
A1 A2 A3
Formulações

B Formulações
A1 A2 A3
0,0

a
-0,5
Adesividade (N)

b
-1,0
c

-1,5

-2,0
Figura 4 – Aparência visual dos alimentos cremosos (Formulações A1
e A2).
-2,5
Figura 2 – Comportamento dos alimentos cremosos 4 – Conclusão
(Formulações A1 a A3) dos parâmetros de textura obtidas em ensaios As formulações de alimentos cremosos salgados e
de compressão utilizando a geometria TTC Spreadability Rig. saborizados à base de castanha-do-Brasil demonstraram parâmetros de
qualidade tecnológicas interessantes para utilização como patê vegetal.
3.3. Propriedades ópticas A castanha-do-Brasil possui elevada qualidade nutricional, com
Na determinação da cor, o parâmetro luminosidade (L*) elevados teores de proteína, lipídios insaturados e selênio. Os resultados
refere-se à capacidade do objeto em refletir ou transmitir luz, variando de rendimento, mostraram vantagem para a produção industrial, com
numa escala de zero a 100. Quanto maior o valor de L*, mais claro o agregação de valor aos coprodutos de castanha.
objeto.
5 - Referências
A 70 1 - VIANNA, P. R. Estudo da castanha-do-Brasil. Brasília:
Ministério da Agricultura, Comissão de Financiamento da Produção,
68 1972.
2 - SIQUEIRA, F. M.; REGITANO D’ARCE, M. A. B.
Luminosidade

66 Obtenção de produtos da castanha-do-pará (leite e farinha) com vistas


b à popularização do seu consumo. Piracicaba: Depto. de Ciência e
64 a a Tecnologia Agroindustrial, 1993. 15 p. (Relatório FAPESP).
3 - SOUZA, M. L.; HOLANDA, L. F. F.; MAIA, G. A.;
62 GASPAR JUNIOR, J. C.; FIGUEIREDO, R. W. Processamento e
A1 A2 A3 estabilidade do leite de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa
Formulações H.B.K.). Ciência Agronômica, v.18, p. 137-146, 1987.
B 12
4 - SOUZA, M. L.; MENEZES, H. C. Processamento de
amêndoa e torta de amêndoa de castanha-do-Brasil e farinha de
10
Saturação (Chroma)

mandioca: parâmetros de qualidade. Ciência e Tecnologia de


8 Alimentos, Campinas, 24(1): 120-128, jan.-mar. 2004.
6 5 - CAMARGO, L. A. A. Estudo químico–bromatológico
a a das castanhas da Bertholletia excelsa, H. B. K., 1968. 43 p. Tese de
4 b
Doutorado — Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara,
2 Universidade Estadual de São Paulo, Araraquara, 1968.
0 6 - WADHWANI, R.; MCMAHON, D. J. Color of low-fat
A1 A2 A3 cheese influences flavor perception and consumer liking. Journal of
Formulações Dairy Science, Champaign, v. 95, n. 5, p. 2336-2346, 2012.
7 - RAMOS, A. M. Caracterizacion Reológica y
C 82
Transmision de Calor em Derivados de Frutas em el Interior de Tanques
80
Agitados. Lleida, Espanha: Universitat de Lleida. 304f, 1997. Tese
Tonalidade (Hue)

78
(Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos).
76
8 - BOURNE, M. C. Food Texture and Viscosity: Concept
74
a and Measurement. 2 ed. Elsevier Science & Technology Books, 2002.
72
b 423p.
70
c 9 - BURITI, F. C. A.; CARDARELLI, H. R.; SAAD, S. M.
68
I. Textura instrumental e avaliação sensorial de queijo fresco cremoso
66
A1 A2 A3 simbiótico: implicações da adição de Lactobacillus paracasei e inulina.
Formulações Rev. Bras. Cienc. Farm. 2008, vol.44, n.1, pp. 75-84.
10 - OLIVEIRA, M. B. Processamento e avaliação de
Figura 3 – Comportamento dos alimentos cremosos queijos ricota com diferentes concentrações de leite, e de queijos mistos
semissólidos (Formulações A1 a A3) para os parâmetros de cor. adicionados de proteínas de soja e cálcio. 2012. 105 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade
As Formulações A1 e A3 apresentaram L* em torno de 66, Federal de Goiás, Goiânia, 2012.
indicando uma tendência à coloração clara. As formulações A1 e A3
não apresentaram diferença de cor entre si, mas a formulação A2 foi a 6 - Agradecimentos
mais clara (p<0,05), conforme mostrado na Figura 3A. Todas Apoio financeiro pelo Conselho Nacional de
apresentaram baixa saturação da cor, sendo que, somente a formulação Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo:
A3 foi menor (p<0,05). No parâmetro Hue, todas as formulações 445648/2014-7 e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
apresentam diferença, sendo que a Formulação A2 foi a que apresentou Grosso (FAPEMAT) – Processo: 222927/2015.
maior tonalidade amarelada (próximo a 90º) e a Formulação A3
apresentou tonalidade amarelo-avermelhada (71º) (Figura 3C e 4).

70
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Viabilidade do uso do Mesocarpo de Babaçu na Produção de Massa de Pizza sem Glúten

Lívia, Félix¹; Dayane, Fernandes¹; Erlane, Rodrigues¹; Francisca, Silva¹; Daniel, Campelo ²;
¹ Estudante do Curso de tecnologia de Alimentos do IFMA Campus Codó; E-mail: lyvya_danyelle@hotmail.com
² Professor do Curso de tecnologia de Alimentos do IFMA Campus Codó.

Palavras chave: Celíacos; Enriquecimento; Aceitabilidade. massas encontram-se na tabela 4. As médias encontradas nesta análise
não apresentaram diferença significava entre as amostras pelo teste de
INTRODUÇÃO Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 4- Médias das análises físico-químicas feitas nos 14
A pizza é um produto alimentício que apresenta um alto consumo, por ser
prático e nutritivo. A massa básica tradicional é composta por farinha de trigo, experimentos realizadas do planejamento experimental.
água, sal, açúcar e fermentada pelas leveduras do gênero Saccharomyces (1).O
glúten a principal proteína presente na farinha de trigo quando digerida Umidade Cinzas Lipídeos Proteínas Carboidratos
Experimento
parcialmente no aparelho gastrointestinal, pode causar complicações no (g/%) (g/%) (g/%) (g/%) (g/%)
organismo de alguns indivíduos, sendo estes designados como celíacos ou 1 13,8 a 1,96a 19,3a 8,2a 60,6a
intolerantes ao glúten. A proteína responsável é uma subunidade do glúten 2 11,26 a 2,2ª 17,6a 8,2a 58a
chamada de gliadinas. Esta proteína quando não digeridas pode atravessar a 3 15,56 a 2,83ª 15,6a 8,06a 58,1a
barreira epitelial intestinale desencadear reações imunomediadas em casos de 4 10a 2,1a 17,6a 9,13a 60ª
infecções intestinais, ou, quando a permeabilidade do intestino se encontra 5 16,8ª 1,9ª 18,6ª 8,7ª 56,9ª
aumentada, causando a famosa doença celíaca (2). Nesse contexto uma 6 14,83ª 2,2ª 16,6ª 8,73ª 62,26ª
alternativa interessante para substituição do glúten são as fontes de amido, 7 17,33ª 2,3ª 15,3ª 8,66ª 57,36ª
dentre estas temos a obtida a partir do mesocarpo do babaçu (Orbignya sp.), 8 11,13ª 2,56ª 19,3ª 8,46ª 57,76ª
pois é um produto de alto valor nutritivo. 9 16,30ª 2,06ª 18,6ª 9,56ª 57,1ª
O fruto é constituído por três camadas: a externa fibrosa, denominada epicarpo; 10 8,7ª 1,86ª 17,3ª 8,5ª 59,56ª
a intermediária, fibrosa-amilácea, mais conhecida como mesocarpo; e a interna, 11 10.6ª 2,1ª 15,6ª 8,76ª 61,76ª
lenhosa (endocarpo), na qual estão inseridas as amêndoas. O mesocarpo 12 14ª 2,5ª 18ª 8,96ª 56,23ª
representa 20% do fruto inteiro e é composto de até 60% de amido, que quando 13 13,6ª 2,23ª 15,6ª 8,23ª 62,43ª
fresco, apresenta cor creme clara, podendo ser facilmente reduzido a pó (3). 14 15.5ª 2,03ª 17,3ª 9,36ª 56,73ª
Por ser uma matéria prima pouco explorada para produção de produtos de
panificação para intolerantes ao glúten empregou-se o mesocarpo de coco Massa com
babaçu (MCB) e a farinha de arroz em formulações de massas pizzas, onde glúten* 25,8 1,5 2,8 8,4 61,5
o objetivo da pesquisa foi avaliar as características físico-químicas,
tecnológicas e sensoriais de massa para pizza sem glúten.

METODOLOGIA Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna indicam haver diferença
A fase inicial do processo foi a obtenção da massa de pizza sem glúten através significativa (p ≤ 0,01) pelo teste de Tukey (g/%),
de um planejamento experimental fatorial do tipo Box-Behnken, com 3 fatores utilizando o programa estatístico Action Stat.
e 3 níveis (-1, 0, 1) e 2 repetições no ponto central, totalizando 14 ensaios. Fonte: Autor
Os demais ingredientes da formulação foram mantidos em porcentagens fixas * Fonte: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (6)
de 2% (açúcar, sal e goma xantana) de 8% (ovo em pó), com 100% de farinha A legislação brasileira atual não dispõe de padrões de identidade e qualidade
de arroz e 70% de água. Valores obtidos após realização de testes específicos para produtos de panificação isentos de glúten (5). Os percentuais de
preliminares. umidade encontrado nas massas variaram entre 17,33% a 8,7%, percentual
Tabela 1 - Variáveis independentes utilizadas em cada nível do processo abaixo do estimado para massa tradicional (com trigo), que é de 25,8% de acordo
Fonte: Dados da pesquisa com a tabela de composição de alimentos (6).
Os percentuais de cinzas nas amostras variam de 1,86% a 2,83% sendo
Variável Código -1 0 +1
superiores ao estabelecido pela tabela de composição de alimentos (6), que
Tempo de Fermentação TF 25min 45min 60min é de 1,5%. Monteiro (7) encontrou resultados semelhantes 3,17% e 2,65%,
Quantidade de Fermento QF 1,5% 2% 2,4% utilizando mesclas de farinha de arroz, inhame e quinoa na elaboração de discos
Temperatura de Assamento TA 140°C 160°C 200°C de pizza pré-assado sem glúten e sem lactose.
No estudo de Buriol et al (8) o percentual de lipídeos foi de 17,17%, valores
Todos os ingredientes foram misturados e homogeneizados, e a massa obtida semelhantes ao teor de lipídeos encontrados no presente trabalho, com medias
descansou entre 20 a 60 minutos. Após o período de descanso, as massas foram entre 15,3% a 19,3%, no entanto esses valores se mostram superior aos
abertas em forma circular com o auxílio de um rolo, para em seguida serem encontrados na massa tradicional com glúten que é de 2,8%.
assadas em forno elétrico, pré-aquecido de 140 a 200°C durante 20 minutos. O teor de proteínas encontrado nas amostras variou de 8,2% a 9,56% sendo
As massas obtidas no planejamento experimental com as melhores igual ou superior a 8,4% que é o estabelecido para massa tradicional com
características sensoriais, foram escolhidas para a adição de 15% de mesocarpo glúten segundo a tabela de composição de alimentos TACO (6). Para Monteiro
de coco babaçu pré-gelatinizado, e submetidas a análise sensorial. (7) e Buriol et al (8) os resultados encontrados pelos mesmos foram de
As condições experimentais utilizadas para adição de mesocarpo de babaçu 8,22% e 8,91%, respectivamente, resultados próximos ao presente trabalho.
foram a dos experimentos 13; 2; 10 e 5. Sendo as massas obtidas das condições O percentual de carboidratos variou entre 56,23% a 62,43% semelhantes
experimentais do 13º ensaio considerado como padrão. As pizzas obtidas nas aos encontrados na literatura para produtos com glúten.
demais condições experimentais foram incorporadas 15% de mesocarpo O perfil de provadores participantes da análise sensorial foram 54 homens e 66
de coco babaçu (MCB) pré- gelatinizado. Sendo assim nomeadas de FP, F1, mulheres, com faixa etária entre 18 a 65 anos. A Frequência quanto ao consumo
F2, F3 respectivamente. de pizza entre os participantes foi de 99%, sendo assim classificados como
A adição da farinha de mesocarpo de coco babaçu (MCB) às massas de consumidores frequentes de pizzas. De acordo com a tabela 5, pode-se verificar
pizza foi através do produto pré- gelatinizado, o que garantiu uma melhora na que a amostra F3 apresentou os maiores percentuais para intenção de compra na
uniformidade das massas. A pré- gelatinização foi realizada adicionando-se opção “certamente compraria” e “talvez compraria”, de 20% a 35%,
mesocarpo de coco babaçu e água na proporção de 1:5 respectivamente e respectivamente. As formulações FP, F1 e F2 apresentaram maiores percentuais
aquecidos a 150 °C durante 5 minutos. para a opção “talvez compraria”, de 23,33%, 34,17% 31,66%, respectivamente.
Foram realizadas análises do teor de umidade, lipídeos, proteínas e
cinzas. Todas as análises seguiram as normas analíticas do Instituto Adolfo
Lutz (4).
A análise sensorial foi realizada com 120 julgadores não treinados, com o teste
afetivo de aceitabilidade, com uma escala hedônica estruturada de 9 pontos,
ancorada nos seus extremos, com os termos: "adorei" e "detestei", quanto à
aceitação global, e "certamente compraria" e "certamente não compraria", para
intenção de compra.

RESULTADOS
Foram utilizados as ferramentas de análise do Excel e Action
Stat versão 3. Os resultados das análises físico-químicas realizadas nas 71
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 5: Frequência de notas do teste de intenção de compra da massa para 3. ZUNIGA, A. D. G.; FRONZA, P.; SILVEIRA, M. R.; MOURA, J. S.;
pizza. ROJAS, E. E. G. Hidrólise ácida da farinha do mesocarpo do coco
Fonte: Autor babaçu, visando a obtenção de bioetanol. Enciclopédia Biosfera, Centro
Intenção de compra (%) Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; 2013.
1- 2- 3- 5- 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ (IAL). Métodos físico-químicos para
Certamen Provavelmen Talvez 4- Certament análise de alimentos- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008, p. 1020 -
versão eletrônica.
te não te não comprari Provavelmen e
5. PEREIRA, B. S. et al. Analise físico-química e sensorial do pão de batata
compraria compraria a te compraria compraria
isento de glúten enriquecido com farinha de chia. DEMETRA:
FP 20,83% 20,83% 23,33% 21,67% 13,34% alimentação, Nutrição & Saúde, v. 8, n. 2, p. 125-136, 2013.
F1 21,67% 24,17% 34,17% 15% 5% 6. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, NEPA – UNICAMP. -
F2 15,84% 20,84% 31,17% 15% 5% 4ª ed. Ver e ampl.. -- Campinas, SP 2011, p.28.
F3 11,67% 16,67% 35% 16,66% 20% 7. MONTEIRO.S.Z. Utilização de mesclas de farinhas de arroz, inhame
e quinoa na elaboração de disco de pizza pré-assada sem glúten e sem
Tabela 6- Médias de aceitação das amostras das massas para cada atributo lactose. 2013. Monografia ( Graduação em Engenharia de Alimentos) –
sensorial avaliado (1= desgostei extremamente, 9= gostei extremamente). Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
8. BURIOL, V; et al. Elaboração de massa de pizza sem glúten utilizando
Formulações Farinha de arroz. In: Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão.
Parâmetros Padrão F1 F2 F3 Anais da SIEPE - Centro-Oeste, outubro de 2009.
Ab
Cor 6.68ª 5.60abab 5.86ª 6.07
Aroma 5.72A 5.26A 5.3ª 5.28A
Sabor 5.61 A
5.24 a
5.62ª 6.03a
Textura 5.15a 4.88ab 5.97ab 6.22ab
Aspecto Global 5,81 5.12
a ab
5.81 6.03Ab
Ab

*Legenda: Médias seguidas pela mesma letra minúscula entre colunas e


maiúscula entre linhas não diferem significamente entre si, a 5% de
probabilidade segundo o teste de Friedman, utilizando o programa
estatístico Action Stat.

As médias encontradas na tabela 6 variam entre 4,88% e 6,68%, o que


corresponde a um nível de preferência entre “não gostei nem desgostei” e
“gosteiligeiramente”. O parâmetro “cor” obteve médias acima de 5 mostrando
a sua aceitação entre os provadores, a amostra Padrão se destacou das demais
obtendo a maior nota, tendo em vista que não foi adicionado a essa amostra o
mesocarpo de coco babaçu (MCB), não obtendo a coloração acentuado que o
mesocarpo de coco babaçu (MCB) confere ao alimento. Segundo Teixeira
(2009), o primeiro contato do indivíduo com o alimento ocorre através da
visão e a partir dele é possível perceber características como a cor, o formato e o
brilho, responsáveis por compor a aparência, que influencia na aceitação, escolha e
aquisição dos alimentos. No entanto nas demais amostras notou-se que a coloração
se mostrou mais intensa, devido as reações de Mailard.
Em relação ao “aroma” as médias foram próximas nas amostras F1, F2, F3 sendo
5,26%, 5,3% e 5,28% respectivamente. A amostra Padrão se destacou, porém
não há diferença significativa entre as amostras.
Nos parâmetros “sabor” e “Textura” a amostra F3 se destaca das demais. A
quantidade de fermento, tempo de fermentação, e a temperatura de assamento
moderados ou abaixo da média contribuíram para que essa amostra se destacasse
das demais nesses parâmetros.
A amostra com menor aceitabilidade foi amostra F1 obtendo as menores notas em
todos os atributos, em função de ser a amostra com a menor quantidade de
fermento, maior tempo de fermentação e temperatura de assamento.

CONCLUSÃO
Constatou-se que é possível desenvolver massa para pizza sem glúten com
mesocarpo de coco babaçu, em substituição a fécula de batata/amido de milho nas
formulações de massas sem glúten, sendo uma alternativa viável para atender parte
das necessidades dos intolerantes à glúten, bem como à população de um modo em
geral.
As características nutricionais das massas produzidas não foram afetadas pelos
parâmetros de interesse no planejamento experimental, apresentando valores
dentro de uma faixa aceitável para massas sem glúten
Em contrapartida os mesmos fatores de estudo influenciaram os aspectos sensoriais
das massas sem ou com adição de mesocarpo de babaçu.
A formulação mais aceita foi a F3 com melhores características sensoriais
proporcionando um alimento com melhor qualidade tecnológica e nutricional,
voltado em especial para pacientes celíacos.

REFERÊNCIAS

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fÌsico-químicas das massas de pizza semiprontas e sua relação com o
desenvolvimento de bolores e leveduras. Revista do Instituto Adolfo Lutz, São
Paulo, v.60, n.1, p. 35-41,2001.
2. PIMENTA, Ana et al. Sem Glúten, com saúde. Portugal, 2013. Disponível em:
<http://riosemgluten.com/Sem_Gluten_Com_Saude_Portugal.pdf>. Acesso em:
02/03/2018.

72
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Physicochemical characterization of agro-industrial waste from 'BRS Magna' grape cultivar

Pedro Tavares1, Renata Nascimento2, Roberta Andrade1, Aline Marques3, Janice Druzian1 and Carolina de Souza1
1
Graduate Program in Food Science, Faculty of Pharmacy, Federal University of Bahia (UFBA), Salvador, Bahia, Brazil.
2
Graduate Program in Biotechnology (Renorbio), Health Sciences Institute, Federal University of Bahia (UFBA),
Salvador, Bahia, Brazil.
3
Brazilian Agricultural Research Corporation, Semi-arid Tropical Embrapa, Petrolina, Pernambuco, Brazil.
pp.lordelo@gmail.com

Keywords: Grape, Proximate Composition, Residue.

1. Introduction Results and Discussion

The food industry produces large amounts of waste per year. Some of The grape residue presented a moisture of 10.28% in accordance with
these by-products are used to feed animals and as fertilizer, however, Table 1. Bampi et al. (2010) [16] found in Japanese grape flour a value
this material is composed of biodegradable and organic substances that of 19.08% of moisture, it is estimated that it may be due to several
can generate environmental problems, since most do not have an factors such as: crops, storage conditions and technological processing.
adequate treatment for decomposition or disposal [1, 2]. In this context,
the wineries stand out as one of the main producers of agro-industrial Table 1. The results found in the proximate composition of agro-
waste, due to its processing characteristics [3]. industrial residues of the ‘BRS Magna’ grape.
In 2011 grape production in Brazil was 1,463,481 tons, where only
52.13% was used for the preparation of wines, juices and other products, Analysis Results (%)
while the rest was discarded as waste [4]. The bagasse of the grape
represents 30% of the by-product, while peels represent 58%, stem 20% Moisture 10.28 ± 0.01
and seeds represent 22% [5, 6, 7]. The destination given to these agro- Ashes 3.27 ± 0.03
industrial wastes can cause economic losses in the productivity chain,
since they are rich in phenolics, tannins, flavonoids, among others. Total Proteins 7.67 ± 0.04
These compounds have a high commercial value and could be used in
different industries such as; pharmaceutical, chemical and food Carbohydrates 74.24 ± 0.02
primarily for the manufacture of more natural products, thus Lipids 4.54 ± 0.02
contributing to the replacement of some synthetic antioxidants, in
addition to the reduction in pollution caused to the environment [8, 9, _____________________________________________
10]. The water content of the grape by-product can vary from 55 to Triplicate analysis. Mean test and standard deviation.
72%, which is considered as highly perishable, therefore the drying
process is an alternative to reduce moisture, potentiating the shelf-life The amount of ashes found in “BRS Magna” grapes was 3.27%, higher
and integral use of these residues, creating great economic benefits [ 1, than that discovered by Mota et al. [17] that found values up to 2.17%. It
9]. is intuited that it may be due to the processing of the grape and
Another factor to be considered is that grape bagasse is a significant consequently to the origin of the residue. Araujo [18] emphasizes that
source of dietary fibers, some authors have investigated the use of these grape flour has a high fiber content, reaffirming the results found in the
in the production of flours and powders [11]. In the period from 2008 to present study.
2011, the production of grape juices in Brazil had an increase of 32%, According to Table 1, the 'BRS Magna' grape residue presented 7.67%
with the purpose of enhancing the competitiveness and sustainability of of total protein and 4.54% of lipids. According to Ishimoto et al. [19], in
the wine sector, with creation of grape crops through genetic a study with grape bagasse, even after pressing, 13.6% of protein and
improvements [12]. 8.9% of lipids were found, higher values than the residue analyzed. It is
The "BRS Magna" is a grape mainly used for juices, whose believed that the result obtained in both by-products could be due to the
characteristic is a broad climatic adaptation and harvest cycle in two presence of grape seeds, since these are constituted by high values of
seasons during the year in tropical regions, in addition to its specific these compounds.
color, sweetness and flavor [13]. While the values found in carbohydrates are 74.24% as expressed in
The objective of this work was to characterize the agro-industrial (Table 1), other authors [20] found lower values, not corroborating with
residue of the “BRS Magna” grape in order to evaluate its industrial those found in the present study. This could have happened because the
potential. 'BRS Magna' residue is made up of bagasse, stem, husks, and seeds.
The results presented in Table 2 show that the residues showed a fiber
Materials and Methods value of 9.52%, 13.34% of reducing sugars and 0.457 of water activity
for the. Rockenbach et al. [21] found for grapes seeds a value of 40% of
The samples of agro-industrial residues of the ´BRS Magna´ grapes were fibers and Ishimoto et al. [19] found 64.1% of fiber for grape bagasse.
donated by EMBRAPA (Brazilian Company of Agricultural Research).
These were pressed and dried in an oven at 40 ° C for 24 hours, then
ground, in a grain grinder, subsequently stored in an ultra-freezer at -80 °
C and then analyzed.
According to AOAC [14], physicochemical assays were performed such
as: Moisture, water activity, ashes, fibers and reducing sugars. A
conversion factor of 6.25 was used to determine the total protein for the
Kjeldahl method. Total lipid extraction was carried out according to
Bligh & Dyer [15].
All these assays were performed in triplicate and the results shown as
means with standard deviation.

73
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Table 2. Results obtained from the analysis of total phenolic 7 Dantas, F.R.; Araújo, G.G.L. De; Silva, D.S. Da; Pereira, L.G.R.;
compounds, fibers, reducing sugars and water activity. Gonzaga Neto, S.; Tosto, M. Da S.L. Composição química e
características fermentativas de silagens de maniçoba (Manihot sp.) com
Analysis Results % porcentuais de co-produto de vitivinícolas desidratado. Rev. Bras.
Saúde Prod. Anim., 9, p.247-257, 2008.
Fibers 9,502 ± 0,005 8. Balasundram, N.; Sundram, K.; Samman, S. Phenolic compounds in
plants and agri-industrial by-products: Antioxidant activity, occurrence,
Reducing Sugars 13,34 ± 0,023 and potential uses. Food Chem., 99, p. 191-203, 2006.
9. Garcia-Perez, J.V.; Garcia-Alvarado, M.A.; Carcel, J.A.; Mullet, A.
Water Activity (aW) 0,457 ± 0,01 Extraction kinetics modeling of antioxidants from grape stalk (Vitis
vinifera var. Bobal): influence of drying conditions. J Agr Eng, 101,
Triplicate analysis. Mean and standard deviation test. . p.49-58, 2010.
10. Selani, Míriam M. Extrato de bagaço de uva como antioxidante
The reducing sugars had a value of 13.34 g. 100g-1, similar to those natural em carne de frango processada e armazenada sob congelamento.
found for husks and grape pulps by Souza et al. [23]. The water activity 2010. 101f. Dissertação (Mestrado em ciência e tecnologia de
of the ‘BRS Magna´ grape showed low values, thus indicating that its alimentos). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
high stability potential could be due to the occurrence of the treatment 11. Sáyago-Ayerdi, S.G.; Brenes, A.; Goñi, I. Effect of grape
carried out in the by-product. antioxidant dietary fiber on the lipid oxidation of raw and cooked
chicken hamburgers. LWT – Food Sci Techn, 42, p.971-976, 2009
12. Camargo, UA, J.D.G. Maia, 2008 Cultivares de uvas rústicas para
Conclusion regiões tropicais e subtropicais. In: Boliani, AC., Fracaro, AA, Corrêa,
L. de S. (Ed.). Uvas rústicas de mesa: cultivo e processamento em
It can be concluded that the composition of the 'BRS Magna' grape regiões tropicais. Jales: [s.n.], p. 63-90.
residue compared to other studies showed significant results, with high 13. Ritschel, P.; Mais, J.D.G.; Camargo, U.A.; Zanus, M.C.; Souza,
protein, lipid, carbohydrates, water activity and reducing sugars content. R.T.; Fajardo, T.V.M. Nova cultivar de uva para suco com ampla
This shows that the use of agro-industrial wastes can be useful to adaptação climática. Comunicado Técnico 125. Embrapa, Bento
produce high quality products. It is important to highlight that certain Gonçalves, 2012.
parameters such as the origin and the technological processes applied 14. AOAC - Associação de Químicos Analíticos Oficiais. Métodos
for obtaining, interfere with the result of their chemical composition. oficiais de análise da AOAC International. 18. ed. Washington: AOAC,
Suggesting that new research could contribute positively to the use of 2005.
the different bioactive compounds present in this residue. 15. Bligh, Eg, Dyer, Wj, Um método rápido de extração e purificação
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3. Rubilar, M. et al., Separation and HPLC-MS. Identification of <http://blog.jarioaraujo.com/2010/nutricao/143/como-fazer-farinha-de-
Phenolic Antioxidants from Agricultural Residues: Almond Hulls and uva/> . Accessed in: 17 novembro 2019.
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Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2012. (Embrapa Uva e Vinho. Universidade de São Paulo, São Paulo.
Comunicado técnico, 115). 20. Silva, A. et al. Valor nutricional de resíduos da agroindústria para
5. Llobera, A.; Cañellas, J. Dietary fibre content and antioxidant activity alimentação animal. Com Sci, 5, n. 4, p. 370-379, 2014.
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Chem., 101, p. 659-666, 2007. Thiele, B., Fett, R., Galensa, R. Characterization of flavan-3-oils in
6. Ruberto, G. et al., Polyphenol constituents and antioxidant activity of seeds of grape pomace by CE, HPLC-DAD-DMS and LC-ESI-FTICR-
grape pomace extracts from five Sicilian red grape cultivars. Food MS. F Res Int.,48, p. 848-855, 2012.
Chem., Barking, 100, p.203-210, 2007. 22. Souza A.V., Lima G.P.P., Vieites R.L. Avaliação nutricional de
diferentes variedades de uva (Vitis sp). Naturalia, Rio Claro, 33, p. 100-
109, 2010.

74
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de Iogurte de Polpa de Jaca (Artocarpus heterophyllus Lam.) in natura e


processada

Tereza Garcez1, Eliandra Spinosa2, Damiana Melo3, José Peixoto4, Liana Velho5, Regina Bastos6

Palavras-chave: Alimento fermentado, Fruta tropical, Doce cremoso.

INTRODUÇÃO

O iogurte é um produto com características a polpa da jaca in natura e a formulação Iogurte B,


probióticas e aspectos sensoriais e nutricionais desejáveis, utilizando um doce cremoso de jaca. O doce cremoso de
sendo rico em proteínas, cálcio e fósforo, e fonte de jaca foi obtido pelo aquecimento da polpa, água e açúcar
minerais como zinco e magnésio. Apresenta alto conteúdo na proporção 1:2:2. Para a produção do iogurte foi feita a
de vitaminas do complexo B (1). Segundo a legislação, o mistura de 6 litros de leite UHT a 45°C e 400 ml de
iogurte é um produto fermentado obtido a partir do leite, iogurte natural. Em seguida, para obtenção da formulação
com coagulação e diminuição do pH por meio de Iogurte A, a 3L dessa mistura foi adicionado 1 kg de
fermentação láctica mediante ação de cultivos de polpa in natura de jaca. Para obtenção do Iogurte B, a 3L
protosimbióticos de Streptococcus salivarius subsp. dessa mistura foi adicionado 1 kg de doce cremoso de
thermophilus e Lactobacillus delbrueckii subsp.
jaca. Ambas as formulações foram incubadas à
Bulgaricus, aos quais se podem acompanhar, de forma
temperatura de 45°C durante 5 horas. Após este período
complementar, outras bactérias ácido-lácticas que
contribuem para a determinação das características do foram resfriadas e armazenadas à temperatura de 4°C.
produto final (2). As formulações de iogurte A e B foram
A jaca (Artocarpus heterophyllus Lam.) provem submetidas às análises:
de uma árvore de grande porte, acima de 10 metros de - Análises físico-químicas segundo as normas analíticas
altura, cuja origem é a Ásia, presente, bem adaptada ao do Instituto Adolfo Lutz (9): composição centesimal,
clima brasileiro (3). Encontra-se em uma ampla extensão acidez (% ácido láctico), pH, sólidos solúveis (°Brix);
territorial, sendo observada desde a região Norte até a - Análise sensorial: teste de aceitação com escala
região Sudeste. A colheita do fruto ocorre de dezembro a hedônica (10) e intenção de compra com 60 julgadores
abril (4). O fruto sazonal é carnoso e aromático, podendo voluntários e não treinados. No teste de aceitação
ser consumido in natura e também ser destinado ao utilizou-se a escala de nove pontos ancorada nos extremos
processamento (5). Sua polpa é rica em carboidratos, “1-desgostei muitíssimo” e “9-gostei muitíssimo”, onde
minerais, vitaminas A e C e vitaminas do complexo B, foram avaliados a cor, o sabor, o aroma e a aceitação
além de ser doce, com aroma e sabor atrativo, podendo global. O teste de intenção de compra foi realizado
ser consumida in natura, ou no preparo de compotas, segundo escala de atitude, ancorada nos extremos de “1 =
passas e doces (6). Estudos apontam que há compostos
certamente não compraria e 5 = certamente compraria.”
com atividades potencialmente funcionais para utilização
Para análise de variância utilizou-se o programa Statistica
em indústrias cosméticas, farmacêuticas e alimentícias
(7). e o teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
Existe, no mercado nacional, uma ampla
variedade de iogurtes adicionados de frutas, por exemplo, RESULTADOS E DISCUSSÃO
pêssego, morango, maracujá, banana e ameixa, sejam em A Tabela 1 apresenta os valores de parâmetros
pedaços ou suas polpas (8). A jaca (Artocarpus físico-químicos e da composição centesimal das duas
heterophyllus Lam.) sendo um fruto versátil e saboroso formulações de iogurte. Para o parâmetro pH, foi
possui potencial para ser utilizado. verificado que não houve diferença significativa entre as
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi duas formulações, onde os valores observados foram
verificar se há diferença nos parâmetros físico-químicos, semelhantes ao verificado por outros autores (8).
na composição e aceitação do consumidor em relação a Os valores de acidez também não apresentaram
duas formulações de iogurte feito a partir da polpa de jaca diferenças significativas, e ambas estão dentro dos valores
madura. apontados na legislação que variam de 0,6 e 1,5g/100g de
ácido lácteo (2). Quanto à composição centesimal, não
MATERIAL E MÉTODOS foram observadas diferenças significativas para os
As jacas foram adquiridas na feira livre da cidade parâmetros umidade, proteínas e lipídios. Os teores de
de Pau dos Ferros-RN. O iogurte natural integral, o leite umidade, proteína e lipídios são semelhantes aos
esterilizado integral (UHT) e demais ingredientes foram encontrados em iogurtes comerciais e naturais (8).
adquiridos no mercado local. Foram elaboradas duas Como não houve diferenças para estes
parâmetros pode se inferir que provavelmente a adição da
formulações de iogurte: formulação Iogurte A, utilizando
1 Graduada. Curso de Gastronomia. Universidade Federal do Ceará. E-mail: terezacarla@hotmail.com
2 Doutoranda. Curso de Engenharia de Alimentos. Universidade Federal do Ceará.
3 Técnico em alimentos. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Pau dos Ferros.
4 Técnico em alimentos. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Pau dos Ferros.
5 Mestre. Curso de Engenharia de Alimentos. Universidade Federal do Ceará.
6 Especialista. Curso de Gastronomia. Universidade Federal do Ceará.

75
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

polpa in natura e da polpa processada na forma de doce B foi aceita, enquanto o iogurte A não foi nem aceita,
cremoso não impactou tão profundamente a composição. nem rejeitada. Quanto ao atributo impressão global
Para o parâmetro cinzas, foi observada diferença também foi verificada diferença significativa entre as
significativa, sendo que o Iogurte A exibiu maior teor. amostras, sendo iogurte A aceita e iogurte B indiferente,
Assim, pode se inferir que a adição de polpa in natura ou seja, nem aceita, nem rejeitada.
acarretou num valor maior de minerais no iogurte quando
comparado ao iogurte adicionado do doce de cremoso de CONCLUSÕES
polpa de jaca.
O valor de carboidratos foi superior no iogurte B Com relação à verificação de diferenças
em relação ao iogurte A, isso provavelmente se deve ao existentes entre as formulações propostas, observa-se que,
açúcar adicionado ao iogurte B na forma de doce para a maioria dos parâmetros físico-químicos e de
cremoso. composição centesimal, não se observam diferenças
significativas. Entretanto, com relação à análise sensorial
Tabela 1. Composição físico-química dos iogurtes com existem diferenças significantes, sendo que, a amostra de
polpa de jaca in natura e doce cremoso de jaca (média ± iogurte no qual foi acrescentado o doce cremoso,
desvio padrão) apresenta melhor aceitação pelos potenciais
Formulações consumidores. Logo, é indicado investir no melhoramento
Parâmetros Iogurte A Iogurte B e aprofundamento das análises destas formulações para
possivelmente gerar um produto viável comercialmente.
pH 4,55a ± 0,1 4,50a ± 0,23
Acidez 0,62a ± 0,59 0,65a ± 0,89 REFERÊNCIAS
Umidade 80,37 a
± 1,71 77,95 a
± 0,69
(1) ROCHA, C.R.; COBUCCI, M.A.; MAITAN, V.R.;
Cinzas 1,23 a
± 0,03 1,01 b
± 0,07
SILVA, O.C. Elaboração e avaliação de iogurte sabor
Proteínas 4,57a ± 0,21 4,23a ± 0,23 frutas do cerrado. Boletim do Ceppa, 26, 255-266, 2008.
Lipídios 2,45a ± 0,45 2,56a ± 0,20 (2) BRASIL. Leis, decretos, etc. Nova legislação de
produtos lácteos e alimentos especiais, diet e
Carboidratos 11,38 14,24 enriquecidos. São Paulo: Fonte, 1998. 212 p.
Médias na mesma linha acompanhadas com letras iguais (3) REDDY, B. M. C.; PATIL, P.; KUMAR, S. S.;
não diferem, significativamente, entre si, pelo teste de GOVINDARAJU, L. R. Studies on physico-chemical
Tuckey (p < 0,05). characteristics of jackfruit clones of South karnataka.
Journal of Agriculture Sciences, 17, 279-282, 2014.
A tabela 2 apresenta os valores das médias das (4) SOUZA, T. S.; CHAVES, M.A.; BONOMO, R.C.F.;
notas hedônicas atribuídas às amostras pelos julgadores SOARES, R.D.; PINTO, E.G.; COTA, I. R.; Desidratação
durante o teste de escala hedônica. Foi observado que o osmótica de frutículos de jaca (Artocarpus integrifólia
atributo cor não apresentou diferença significativa e a L.): aplicação de modelos matemáticos. Acta Scientiarum
percepção da cor foi positiva em ambas as amostras, Technology, 31, 2009.
sendo as duas formulações aceitas, segundo o resultado (5) PRAKASH, O.; KUMAR, R.; MISHRA, A.; GUPTA,
do teste. R. Artocarpus heterophyllus (Jackfruit): A overview.
Pharmacognosy Review. 3, 353-358, 2009.
Tabela 2. Médias hedônicas dos iogurtes com polpa de (6) MARTINS, A.C.A.; MARTINS, L.P.; SILVA, S.M.
jaca in natura e doce cremoso de jaca (média ± desvio Conservação de jaca minimamente processada sob
padrão) atmosfera modificada. Revista Brasileira de Fruticultura.
Formulações 26, 428-432, 2004.
Atributo Iogurte A Iogurte B (7) TEJPAL, A.; AMRITA, P. Jackfruit: Health Boon.
Internacional Journal of Reserch in Ayuveda Pharmacy.
Cor 6,28a ± 1,54 6,46a ± 1,57 7, 59-64, 2016.
Aroma 7,26a ± 1,32 5,90b ± 1,29 (8) MEDEIROS, T. C.; MOURA, A. S.; ARAÚJO, K. B.;
Sabor 5,78a ± 1,7 7,30b ± 1,27 AQUINO, L. C. L. Elaboração de iogurte de jaca:
avaliação físico-química, microbiológica e sensorial.
Impressão Global 5,03a ± 1,59 7,70b ± 0,97 Scientia plena. 7, 2011.
Médias na mesma linha acompanhadas com letras iguais (9) INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do
não diferem, significativamente, entre si, pelo teste de Instituto Adolfo Lutz: Métodos Químicos e Físicos para
Tuckey (p < 0,05). Alimentos e Bebidas. São Paulo, IMESP, v. 3, p. 21-27,
44-6, 1985.
Os atributos aroma e sabor apresentaram (10) MEILGAARD, M.; CIVILLE, G. V.; CARR, B. T.
diferença significativa. A formulação iogurte A obteve Sensory Evaluation Techniques. 2. ed. Florida: CRC
aceitação no atributo aroma enquanto iogurte B exibiu Press, 1991. 354.
média na zona de indiferença, não sendo nem aceita, nem
rejeitada. Quanto ao atributo sabor, a formulação iogurte

76
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Caracterização Físico-Química de Néctar de Abacaxi (Ananas comosus)


Adicionada de Goji Berry (Lycium barbarum)

Regina Bastos1 Háquila Silva2, Liana Flor3, Tereza Araújo4, Fernando Menezes5

Palavras chave: Néctar, Nutricional, Funcional, Legislação.

INTRODUÇÃO (F3). A todas as formulações foram adicionadas 40% de


É crescente a busca por alimentos mais saudáveis, que polpa de abacaxi e 5% de açúcar de coco. A
agregam benefícios nutricionais e funcionais, atuando caracterização físico-química dos néctares se deu pelas
na prevenção de doenças, sem abrir mão da praticidade. análises em triplicata de: pH, sólidos solúveis totais
Nesse sentido, a produção de bebidas mistas, vem (SST) e acidez total titulável (ATT), segundo
ganhando destaque no mercado de bebidas, pois amplia metodologias do Instituto Adolfo Lutz (6); ratio, pela
o conteúdo nutricional, permite a obtenção de novos relação dos SST com a ATT; atividade de água (Aw), em
sabores e a oferta dos benefícios funcionais provenientes analisador de Aw AquaLab; e análise de cor, em
da combinação das frutas e de outros alimentos colorímetro de bancada HunterLab. Os dados foram
adicionados nas formulações (1). analisados estatisticamente através de análise de
De acordo com a Instrução Normativa n° 12 do variância (ANOVA) usando o programa Statistica,
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, versão 10, e as médias comparadas, por meio do teste de
néctar é uma bebida não fermentada, obtida da diluição Tukey, a 5% de significância.
em água potável da parte comestível do vegetal ou de
seu extrato. O néctar diferentemente da polpa não tem a RESULTADOS E DISCUSSÃO
obrigatoriedade de conservar todas as características Na tabela 1, estão apresentados os valores médios dos
originais de um suco natural de fruta, sendo permitido parâmetros físico-químicos das três formulações da
apenas a adição de açúcar, e não permitindo a adição de bebida.
corantes e de aromatizantes (2).
O abacaxi é uma fruta tropical que contém ácido Tabela 1 - Parâmetros médios obtidos na caracterização
ascórbico, minerais, fibras e antioxidantes. Por sua alta físico-química dos néctares de abacaxi adicionados de
perecibilidade e suscetibilidade a perdas pós-colheitas, a goji berry.
indústria tem investido na produção de sucos e néctares Parâmetros Formulação1
(3,4). avaliados Padrão (F1) 5% (F2) 10% (F3)
Já o Lycium barbarum L., também conhecido como goji pH 4,52 ± 0,00a 4,58 ± 0,00b 4,62 ± 0,00c
SST (°Brix) 10,03 ±0,06a 13,57 ± 0,12b 18,37± 0,06c
berry, é rico em polissacarídeos, vitaminas C, B1 e B2, ATT (%) 0,19±0,00a 0,36 ± 0,04b 0,57 ± 0,00c
zinco, magnésio, selênio, carotenoides e compostos Ratio 52,62±0,44a 37,94 ± 4,05b 32,07 ± 0,21b
fenólicos. Em razão dos seus componentes, Aw 0,99 ± 0,00a 0,98 ± 0,04ab 0,97 ± 0,00b
especialmente carotenóides e compostos fenólicos, L* 19,74 ± 0,53 a
24,51 ± 0,18b 28,05 ± 0,23c
a* 4,61 ± 0,11a 20,13 ± 0,61b 25,63 ± 0,43c
estudos têm demonstrado alta capacidade antioxidante b* 14,61 ± 0,22 a 27,42 ± 1,61b 32,46 ± 1,59c
desse fruto (5). 1
Médias na linha seguidas de letras iguais não diferem
Assim, objetivou-se elaborar néctares de abacaxi significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).
(Ananas comosus) adicionado de diferentes proporções
de goji berry (Lycium barbarum) e avaliá-los físico- As três formulações diferiram estatisticamente quanto
quimicamente. aos parâmetros de pH, °Brix e ATT. Para esses
parâmetros, observou-se elevação nos valores à medida
que as concentrações de goji berry aumentaram.
MATERIAL E MÉTODOS
Salienta-se que os teores de pH das bebidas foram
O experimento foi conduzido no Laboratório de Frutos
Tropicais da Universidade Federal do Ceará e os superiores a 4,5, o que pode favorecer o crescimento de
ingredientes adquiridos no comércio local da cidade de bactérias deterioradoras e patogênicas, como o
Fortaleza – Ceará. Os néctares foram obtidos por meio Clostridium botulinum (3). Para correção dessa
da mistura de polpa de abacaxi, água, goji berry limitação, recomenda-se o processo de esterilização,
desidratada e açúcar de coco. A goji berry foi reidratada para fins de industrialização e comercialização do
produto.
em 50% da água destinada a cada formulação e
colocada, juntamente com os demais ingredientes, em Quanto à razão SST/AT, observou-se que a formulação
liquidificador até estarem completamente padrão (F1) apresentou diferença estatisticamente
homogeneizados. Foram preparadas três formulações: significante em relação às demais. Esse parâmetro avalia
formulação padrão (F1), sem adição de goji berry; a doçura em que, quanto maior o teor de SST e menor a
acidez, mais doce é a bebida (7). Assim, a amostra F1
formulação com 5% de goji berry + 50% de água (F2);
e formulação com 10% de goji berry + 45% de água

1
Especialista. Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte - Universidade Federal do Ceará. reginabastos_ufc@yahoo.com.br
2
Mestre. Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará.
3
Mestre. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
4
Graduada. Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte - Universidade Federal do Ceará.
5
Doutorando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.

77
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

exibiu maior média de doçura, com valores variando de Agropecuária Técnica, Paraíba, v. 16, n. 1, p.82-87,
52,27 a 53,11. 2015
Num estudo sobre desenvolvimento de bebida mista à 5. AMAGASE, A.; FARNSWORTH, N. R. A review of
base de água de coco, polpa de abacaxi e acerola, Pereira botanical characteristics, phytochemistry, clinical
et al. (2009) encontraram valores de ratio que variaram relevance in efficacy and safety of Lycium barbarum
de 22,45 a 47,43 (8). fruit (Goji), Food Research International, v. 44, n. 7,
Quanto à atividade de água, apenas a formulação com 2011.
10% de goji berry (F3) diferiu estatisticamente da 6. BRASIL Instituto Adolfo Lutz © (Org.). Método
formulação padrão (F1), cujos valores foram, fisico-quimico para análise de alimentos. 4. ed. São
respectivamente, o menor (0,97) e o maior (0,99). As Paulo: SES-CCD-IAL, 2008. 1020 p.
duas formulações adicionadas de goji berry (F2 e F3) 7. CARDOSO, W. S.; PINHEIRO, F. A.; PEREZ, R.;
apresentaram-se em conformidade com os padrões de PATELLI, T.; FARIA, E. R. Desenvolvimento de uma
identidade e qualidade para suco de abacaxi, definidos salada de frutas: da pesquisa de mercado à tecnologia de
pela legislação (2). alimentos. Ciência e Tecnologia Alimentos, [s.l.], v. 30,
Para todos os parâmetros de cor avaliados (L*, a* e b*) n. 2, p.454-462, jun. 2010.FapUNIFESP (SciELO).
houve diferença significativa entre todas as 8. PEREIRA, A. C. S.; SIQUEIRA, A. M. A.; FARIAS,
formulações. Os valores médios de L* se situaram entre J. M.; MAIA, G. A.; FIGUEIREDO, R. W.; SOUSA, P.
19,74 e 28,05 caracterizando as bebidas como escuras. H. M. Desenvolvimento de bebida mista à base de água
O açúcar de coco, por possuir uma coloração escura, de coco, polpa de abacaxi e acerola. Archivos
pode ter influenciado nesse resultado (9). Em um estudo Latinoamericanos de Nurición, Caracas, v. 59, n. 4,
com blend de abacaxi com acerola, Silva et al. (2016) 2009.
verificaram L* médio de 28,32, bem próximo ao 9. NURHADI, B.; SUKRI, N.; SUGANDI, W.K.;
verificado para a formulação 3 (10). Os valores de a* e WIDANTI, A.P.; RESTIANI, R.; NOFLIANRINI, Z.;
b* observados, demonstram que, com a adição de goji REZAHARSAMTO, B.; HERUDIYANTO, M.
berry, as bebidas tendem para uma coloração mais Comparison of crystallized coconut sugar produced by
laranja avermelhada. Tal resultado já era esperado, uma traditional method and amorphous coconut sugar
vez que, os frutos de goji berry possuem alto conteúdo formed by two drying methods: vacuum drying and
de carotenoides, o que lhes conferem uma coloração spray drying International Journal Of Food
vermelha (11). Properties, [s.l.], v. 21, n. 1, p.2339-2354, jan. 2018.
10. SILVA, M.; ROCHA, A.; SANTOS, D.; ARAÚJO,
CONCLUSÕES A.; OLIVEIRA, M. Caracterização físico-química de
As formulações de néctares de abacaxi adicionados de blend de abacaxi com acerola obtido pelo método de
goji berry (F2 e F3) apresentaram as características liofilização. Revista Verde de Agroecologia e
mínimas exigidas pela legislação vigente, mostrando-se Desenvolvimento Sustentável, Pombal, Pb, v. 11, n. 5,
uma opção viável para agregar valor a um néctar p.110-113, 2016.
tradicional e ampliar as opções de consumo do produto. 11. ZHANG, Q.; ZHANG, Q.; CHEN, W.; ZHAO, J.;
No entanto, para uma melhor caracterização do produto XI, W. Functional constituents and antioxidante
elaborado, sugere-se a adequação dos valores de pH, activities of eight Chinese native goji genotypes. Food
posteriores análises de compostos bioativos, bem como, Chemistry, [s.l.], v. 200, p.230-236, jun. 2016. Elsevier
análise sensorial a fim de avaliar a aceitação dos BV..
mesmos pelos consumidores.

REFERÊNCIAS
1. FARAONI, A. S.; RAMOS, A. M.; GUEDES, D. B.;
OLIVEIRA, A. N.; LIMA, T. H. S. F.; SOUSA, P. H. M.
Desenvolvimento de um suco misto de manga, goiaba e
acerola utilizando delineamento de mistura. Revista
Ciência Rural, 42, 5, p. 911-917, maio 2012.
2. BRASIL. MAPA. Instrução Normativa n. 12 de 04 de
setembro de 2003. Regulamento técnico para os padrões
de identidade e qualidade dos néctares de abacaxi,
acerola, cajá, caju, goiaba, graviola, mamão, manga,
maracujá, pêssego e pitanga. Anexo III. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 2003
3. RAMALLO, L.A.; MASCHERONI, R.H. Quality
evaluation of pineapple fruit during drying process.
Food And Bioproducts Processing,, 90, p.275-283,
2012.
4. MIRANDA, D. S. A.; PESSOA, T; FIGUÊREDO, M.
F.; GURJÃO, F. F.; PINHEIRO, R. M. M.; MARTINS,
A. G. L. Elaboração e caracterização de néctar de
abacaxi pérola adoçado com glucose de milho. Revista

78
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Avaliação Sensorial de Sorvete de Pinha (Annona squamosa L.) com Maracujá
(Passiflora edulis)

Jéssica Carmo¹, Denise Soares², Luís Moura Neto2, Alexsandro Tomé³, Gabriele Alves3, Misilene Silva3
1. Especialista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, jessicacarmo.ufc@gmail.com
2. Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3. Discente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.

Palavras-chave: gelado comestível, frutas tropicais, escala hedônica.


INTRODUÇÃO O fluxograma de produção do sorvete de pinha com
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, maracujá está descrito na Figura 1.
gelados comestíveis ou sorvetes “são os produtos congelados obtidos
a partir de uma emulsão de gorduras e proteínas, ou de uma mistura de Figura 1. Fluxograma da produção de sorvete (10).
água e açúcares. Podem ser adicionados de outros ingredientes desde
que não descaracterizem o produto” (1). Recepção/Seleção dos frutos
Apesar de muitas formulações serem ricas em açúcar e
gordura, o sorvete é geralmente considerado um alimento nutritivo,
principalmente os formulados à base de leite e mesclados com frutas Lavagem/Sanitização
(2).
A indústria de sorvetes exige renovação e oferta constante
de novas opções aos consumidores. Além de combinar com o clima Despolpamento
tropical do Brasil, o mercado disponibiliza atualmente de diversas
matérias-primas e produtos, como frutas convencionais e não
convencionais, as quais podem ser utilizadas para engrandecer e Formulação
diversificar ainda mais os produtos (3). O desenvolvimento de novos
produtos se torna cada vez mais desafiador, pois precisa atender à
expectativa do consumidor por produtos ao mesmo tempo saborosos e Mistura da massa base
saudáveis (2).
A pinha, fruta-do-conde ou ata, de nome científico Annona
squamosa L., é uma fruta da pinheira originária das Antilhas e Congelamento prévio da massa base
cultivada em todo o Brasil. O mercado tem sido favorável para
algumas frutas menos convencionais, como a pinha que está na lista
Homogeneização da massa com a polpa
de frutas de alto valor nos mercados nacional e internacional (4). A
polpa é rica em vitaminas e sais minerais, constituindo um bom
complemento alimentar para a dieta humana. Possui aroma suave e
Aeração
perfumado, baixa acidez, cor branca e sabor bem adocicado, o que a
torna importante para o consumo da fruta fresca e para a
industrialização, sendo bem aceita para elaboração de bebidas e Armazenamento
sorvetes (5, 6).
O maracujá (Passiflora edulis) é uma fruta tropical cujo
aroma e sabor são muito apreciados pelo consumidor brasileiro, sendo Primeiramente, para a obtenção das polpas de maracujá e
o Brasil o maior produtor. Dos frutos, extrai-se o suco que apresenta pinha, as frutas foram lavadas e higienizadas com água clorada a 50
cor amarelo alaranjado, altamente aromático, saboroso e muito ácido, ppm, em seguida enxaguadas com água corrente para retirada do cloro
característica importante no processamento e formulação de produtos residual. Após o enxague foi realizada a obtenção da polpa destes
que contenham essa fruta. Apresenta considerável valor comercial frutos separadamente. Este processo foi realizado da mesma forma
para processamento como néctar, refresco, sorvete, entre outros. É para os dois frutos. Os frutos foram colocados em recipiente plástico
relatado como uma excelente fonte de provitamina A, niacina, onde foi feito a separação da casca da polpa. As sementes foram
riboflavina e ácido ascórbico (7, 8, 9). retiradas com auxílio de um liquidificador, no caso do maracujá, e
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo com o auxílio de facas, para a pinha, e as polpas foram então
elaborar e avaliar a qualidade sensorial de um sorvete de pinha com acondicionadas e armazenadas em freezer (à – 20°C).
maracujá, visando uma boa aceitação das características A formulação para elaboração do sorvete foi feita
organolépticas no mercado. conforme a Tabela 1 e dividiu-se em duas etapas. Para a primeira
etapa da mistura, conhecida como massa base, foram adicionados em
MATERIAL E MÉTODOS uma batedeira: leite integral, creme de leite, liga neutra e açúcar.
O sorvete foi elaborado nas Unidades de Processamento de Agitou-se por 5 minutos. Em seguida a mistura foi acondicionada em
Frutas e Hortaliças e Panificação do Instituto Federal de Educação, um recipiente retangular de plástico e armazenada em geladeira a
Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) no Campus Afogados da temperatura de 8ºC, onde ficou maturando por 24 horas. No dia
Ingazeira. seguinte, realizou-se a segunda etapa da mistura. Com o auxílio de
Os insumos utilizados na produção foram: polpa de pinha, uma faca e uma tábua, previamente sanitizadas, a massa base foi
polpa de maracujá, leite integral UHT, creme de leite, liga neutra, cortada em pequenos cubos e homogeneizada mecanicamente com o
emulsificante e açúcar. Dentre esses somente a pinha foi adquirida na auxílio de uma batedeira, sendo adicionado o emulsificante para
zona rural do município. A formulação está descrita na Tabela 1. aeração da massa e as polpas de maracujá e pinha previamente
preparadas. A mistura foi batida por 15 minutos para a obtenção da
Tabela 1. Formulação em percentual do sorvete de pinha com textura final do sorvete. E por último o produto foi armazenado em
maracujá. freezer a -20º C.
Ingredientes Quantidades O teste sensorial foi realizado no laboratório de Análise
Polpa de pinha 38,09% Sensorial da mesma instituição, com 50 provadores não treinados,
Polpa de maracujá 4,76% sendo 30 mulheres e 20 homens. A maioria dos provadores possuíam
Leite integral UHT 28,54% idade menor de 18 anos (44%). Cada provador recebeu um copo
Creme de leite 19,04% descartável codificado contendo a amostra do sorvete. O sorvete foi
Liga neutra 0,47% avaliado por meio de uma escala hedônica estruturada de nove pontos,
Emulsificante 0,47% variando de 1-“Desgostei Muitíssimo” a 9 - “Gostei Muitíssimo’’,
Açúcar 8,57% quanto as suas características de cor, aroma, textura, sabor, doçura e
impressão global. A atitude de compra foi avaliada por meio de uma
escala de cinco pontos, variando de 1- “Certamente Não Compraria” a

79
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

5-“ Certamente Compraria”, conforme descrito por Meilgaard et al. (3) MALANDRIN, R.; PAISANO, M.; COSTA, O. Sorvetes: um
(11). mercado sempre pronto para crescer com inovações. Food Ingr., v.3,
O presente trabalho foi aprovado com número CAAE n.15, p. 42-48, 2001.
09407119.8.0000.8128, parecer 3.251.337 no comitê de ética
credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), (4) ALVES, R. E.; FILGUIERAS, H. A. C.; MOURA, C. F. H. Org.
conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de Caracterização de frutas nativas da América Latina. Jaboticabal:
Saúde. UNESP/SBF, p. 66, 2000.
Os resultados da análise sensorial foram apresentados com
média ± desvio padrão. (5) CORDEIRO, M. C. R; PINTO, A. C. Q; RAMOS, V. H. V. O
cultivo da pinha, fruta-do-conde ou ata no Brasil. Planaltina: Embrapa
RESULTADOS E DISCUSSÃO Cerrados, Circular Técnica, n. 9, 2000, 52p.
Os resultados da análise sensorial demonstraram
satisfatória aceitação do sorvete em todos os parâmetros avaliados. (6) LIMA, E. D. P. A.; PASTORE, G. M.; LIMA, C. A. A.
Nos atributos sensoriais de cor, aroma, textura, sabor, doçura e Purificação da enzima polifenoloxidase (pfo) de polpa de pinha
impressão global, as notas atribuídas pelos provadores situaram-se (Annona squamosa L.) madura. Ciênc. Tecnol. Alim., v. 21, n. 1, p.
dentro da zona de aceitação (notas maiores que 6) (Tabela 2). 98-104, 2001.

Tabela 2. Resultados da análise sensorial do sorvete de pinha com (7) MONTEIRO, M.; AMARO, A. P.; BONILHA, P. R. M. Avaliação
maracujá. físico-química e microbiológica da polpa de maracujá processada e
Atributos Sensoriais Média ± Desvio Padrão armazenada sob refrigeração. Alim. Nutr., v. 16, n. 1, p. 71-76, 2005.
Cor 8,0 ± 0,8
Aroma 7,9 ± 1,2 (8) CARVALHO, A. V.; VASCONCELOS, M. A. M.; ALVES, S.
Textura 7,7 ± 1,8 M.; FIGUEIRÊDO, F. J. C. Aproveitamento do mesocarpo do
Sabor 8,1 ± 0,5 maracujá na fabricação de produtos flavorizados. Belém: Embrapa.
Doçura 8,0 ± 1,0 Comunicado Técnico, n. 147, 2005, 6p.
Impressão Global 8,2 ± 0,8
Atitude de compra 4,5 ± 0,7 (9) CHAN, H. T. Jr.; CHANG, T. S. K.; CHENCHIN, E. Nonvolatile
acids of passion fruit juice, Journ. Agric. Food Chem., v. 61, n. 2, p.
O atributo sabor apresentou maior média sensorial (8,1 ± 109–114, 1972.
0,5), mostrando que a polpa de pinha, em maior quantidade percentual
na formulação, e a polpa de maracujá formaram uma boa combinação, (10) Campos, L. G. S. Elaboração de sorvete de fruta-do-conde.
prevalecendo o sabor da pinha. Relatório final de estágio do curso Técnico em Agroindústria. Instituto
A característica de textura, apesar de ter se encontrado Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) -
dentro da zona de aceitação, foi a que obteve menor nota média Campus Afogados da Ingazeira, 2018. 22p.
sensorial, o que pode ser atribuído às condições e a temperatura, pois
constantemente o sorvete era retirado da geladeira e submetido à (11) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory
temperatura ambiente durante a análise sensorial. Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.
Os resultados observados na impressão global (8,2 ± 0,8) e
na atitude de compra (4,5 ± 0,7) dos provadores estão de acordo com (12) MORZELLE, M. C.; SOUZA, E. C.; ASSUMPÇÃO, C. F.;
notas atribuídas aos demais parâmetros, devido à boa aceitação FLORES, J. C. J.; OLIVEIRA, K. A. M. Agregação de valor a frutos
sensorial do sorvete. O valor médio deste atributo mostra que os de ata através do desenvolvimento de néctar misto de maracujá
provadores declararam que provavelmente comprariam este produto. (Passiflora edulis Sims) e ata (Annona squamosa L.). Alim. Nutr., v.
Este fato é muito importante, pois representa um produto 20, n. 3, p. 389-393, 2009.
comercialmente viável.
Morzelle et al. (12) elaboraram duas formulações de néctar (13) MACEDO, L. S. O.; ROCHA, T. S.; FERREIRA, A. R. P.;
misto de pinha e maracujá e obtiveram boa aceitação pelos BORGES, J. M.; PINTO, L. I. F.; JÚNIOR, A. S.; RAMOS, L. S. N.
consumidores, com média de intenção de compra entre as categorias Desenvolvimento e avaliação sensorial de sorvete à base de leite de
“provavelmente compraria” e “certamente compraria”, indicando que cabra com sabor de frutas tropicais. PUBVET, Londrina, v. 8, n. 21,
ambos os produtos poderiam ser incluídos no mercado com Ed. 270, Art. 1803, 2014.
perspectivas de sucesso, ressaltando a boa combinação entre os
sabores das duas frutas.
Em avaliação sensorial de sorvetes à base de leite de cabra,
saborizados com frutas tropicais (bacuri, cajá e maracujá), o sabor
preferido pelos provadores foi o maracujá, ressaltando a boa aceitação
do fruto quando utilizado como saborizante em produtos lácteos,
aumentando assim o valor nutricional do produto final e valorizando o
fruto (13).
Diante da boa aceitação pelos provadores e da pequena
quantidade de trabalhos científicos publicados que usam a polpa da
pinha nas formulações, vê-se a fruta como um sabor promissor para o
desenvolvimento de novos produtos.

CONCLUSÃO
O sorvete de pinha com maracujá apresenta-se como um
produto atraente em função de suas características sensoriais. O
produto tem boa aceitação pelos provadores, indicando que poderia
ser incluído no mercado com perspectivas de sucesso e potencial
tecnológico.

REFERÊNCIAS
(1) BRASIL. Resolução nº. 266 de 22 setembro de 2005. Regulamento
Técnico para Gelados Comestíveis e Preparados para Gelados
comestíveis. Diário Oficial União, Brasília, DF, 23 set. 2005. Seção 1,
n. 184, p. 370.

(2) CRUZ, A. G.; ANTUNES, A. E. C.; SOUSA, A. L. O. P.; FARIA,


J. A. F.; SAAD, S. M. I. Ice-cream as a probiotic food carrier. Food
Resear. Internat., v. 42, n. 9, p. 1233-1239, 2009.

80
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Mapa de Preferência Interno De Estruturados De Goiaba (Psidium guajava L.) Elaborados


Com Gomas Ágar e Gelana
Juliana Costa1, Amanda Leal2, Michele Cavalcante3, Luís Gustavo Lima4, Jéssica Carmo5, Paulo Sousa6
1
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, julianacosta31@gmail.com
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
3
Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
4
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
5
Especialista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
6
Professor Doutor do Curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: hidrocoloides; análise sensorial; gel de fruta


marca Yammi, para a dissolução completa do hidrocoloide segundo
INTRODUÇÃO metodologia descrita por Danalache et al. [8]. A mistura obtida foi
colocada em moldes de silicone retangulares (largura x altura x
A produção de estruturado com elevados teores de polpa de frutas comprimento= 27 x 10 x 50 mm) onde permaneceu à temperatura
utilizando hidrocoloides como agentes de ligação é uma nova ambiente durante 30 minutos; após este intervalo, foi armazenada
alternativa de mercado para as frutas, resultando em maior valor em refrigerador a temperatura entre 5 °C e 10 °C, por 12 horas para
agregado e em produtos que podem ser utilizados em muitas a completa maturação do gel. Depois desse tempo, as formulações
formulações alimentares, tais como em produtos lácteos e panificação foram armazenadas em recipientes fechados e cobertos com
[1]. plástico-filme. As amostras foram elaboradas em triplicata,
A goiaba (Psidium guajava L.) é uma fruta rica em fibras, licopeno, permanecendo armazenadas em refrigeração até o momento das
vitamina C e compostos fenólicos, possui o sabor agradável e intenso, análises. As quatro amostras (Ágar, LA100/HA0, LA75/HA25 e
proporcionando notáveis propriedades nutricionais, funcionais e LA50/HA50) foram avaliadas por 100 provadores não treinados, de
sensoriais [2]. Portanto, o desenvolvimento de um estruturado de ambos os sexos, recrutados de forma aleatória com predominância
goiaba é outro modo de agregar valor à fruta, possibilitando a criação do sexo feminino (63 mulheres e 37 homens), com idade entre 18 e
um novo produto com as características sensoriais da polpa fresca, 65 anos. Para avaliação da aceitação das amostras de estruturado de
com a preservação da cor e composição química, sem o uso de goiaba testaram-se os atributos aparência, cor, aroma, sabor, textura
aditivos ou açúcar, e, além disso, com a praticidade e a possibilidade e impressão global executado segundo Stone e Sidel [9].Com a
de um maior tempo de armazenamento. finalidade de analisar os dados afetivos, levando-se em consideração
A preparação de estruturados de frutas geralmente envolve o uso de a resposta individual de cada consumidor, e não somente a média do
hidrocoloides para a estabilidade e textura do produto. Estes são grupo de consumidores que testaram os produtos, foi utilizada
polissacarídeos de alto peso molecular, solúveis em água, sendo análise multivariada intitulada Mapa de Preferência Interno (MPI)
utilizados para espessamento por sua capacidade de ligação à água. [3; [10,11], o qual identifica a preferência individual de cada um dos
4]. O ágar é frequentemente utilizado como agente espessante e consumidores por meio das Componentes Principais (CP-1, CP-2),
gelificante em várias formulações alimentares, principalmente devido aliando-se ao teste de médias, pode explicar as preferências dos
à rentabilidade, disponibilidade e à capacidade de formar gel com consumidores de forma mais abrangente e com informações mais
outros alimentos líquidos quando resfriados [5]. A goma gelana ou detalhadas [12], com os dados do teste de aceitação foi gerado pelos
gelano é obtida a partir da fermentação realizada pela bactéria o Mapa de Preferência Interno – MPI para o atributo impressão
Sphingomonas elodea. Está disponível em duas formas com diferentes global, o qual representa a junção de todos os atributos sensoriais
características: baixo acilo e alto acilo, com propriedades interessantes avaliados.
que são aplicáveis a uma grande variedade de sistemas alimentares
[6]. O Mapa de Preferência Interno é um procedimento estatístico Análise dos dados estatísticos
multivariado que considera a individualidade dos consumidores, e não
somente a média do grupo. Essa técnica possibilita obtenção de uma Para analisar os dados hedônicos da impressão global, foi empregada
representação gráfica das diferenças de aceitação entre as amostras em a técnica multivariada Mapa de Preferência Interno (MPI) realizado
uma escala bidimensional, o qual permite a identificação de cada por XLSTAT (2019) software para Windows versão 0.7 (Adinsoft,
consumidor e suas preferências em relação aos alimentos avaliados Paris, França).
[7].
Diante do exposto, objetivou-se neste trabalho analisar o Mapa de RESULTADOS E DISCUSSÃO
preferência interno para a impressão global de estruturados de goiaba
(Psidium guajava L.) elaborados com os hidrocoloides ágar e goma Os resultados do teste de aceitação gerados no MPI para o atributo
gelana. impressão global estão expostos no Gráfico 1.

MATERIAIS E MÉTODOS 2
Biplot (eixos F1 e F2: 73,89 %)
74 15
4 10 83 46
48
76
82
Elaboração dos estruturados de goiaba 1,5 7
LA75/HA25
94
1
31
21
22 29
73
97
69
20
77
84
90 5123
O processamento e análises dos estruturados foram realizados no 1 26
52
72 17
50
12
laboratório de Frutos e Hortaliças da Universidade Federal do 36
67
19
14
Ceará. A fabricação dos estruturados foi realizada com polpas de 0,5 24 16
96
goiaba, não pasteurizadas, cedidas pela empresa Pomar da Polpa, 13
43
F2 (30,12 %)

6
5 992
53
localizada na cidade de Fortaleza-CE. Os hidrocoloides empregados 33
58
61
18
0 60 32
25
foram goma gelana de baixa acilação-LA e de alta acilação-HA 2 28
30
78
37
64
(Kelcogel® F) e ágar da marca CP Kelco. Foram elaboradas quatro 80 LA50/HA50
98 49
34
57
11 LA100/HA0 56
formulações, com as seguintes proporções dos hidrocoloides: 100% -0,5 95
81
91
44
54 AGAR
55
88
agar; 100% gelano LA; 75% gelano LA e 25% gelano HA; 50% 38 85
45
-1 47
42
62
gelano LA e 50% gelano HA. todas com concentração de 0,75% 100
63 99
70
68
35
40
(p/v) em relação ao peso da polpa, isto é, 0,375 g de hidrocoloide 2741
86
3 71
8 39
-1,5 7565
por 50 mL de polpa. Pesaram-se os hidrocoloides ágar e gelano em 59
66
79
89
93 87
béqueres; logo após, foi adicionado 50 mL da polpa de goiaba e
F1 (43,78 %)
feita a homogeneização com auxílio de um bastão de vidro, o -2
preparado foi aquecido a aproximadamente 85 ± 2 °C durante 30 s -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
em processador de alimentos Termomix, modelo SPM-018 da Gráfico 1 – Mapa de Preferência Interno do atributo impressão global para os estruturados de
goiaba com hidrocoloides (Ágar, LA100/HA0, LA75/HA25 e LA50/HA50)

81
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

guava (Psidium guajava) fruits. Food Chemistry, v. 170, 1, p. 327-


O mapa gerado explicou 73,89% da variação para o atributo 335, 2015.
impressão global, no qual F-1 apresentou 43,78% e o F-2 30,12%. 3. FUNAMI, T.; ISHIHARA, S.; NAKAUMA, M.; KOHYAMA,
Para todos os atributos avaliados, os dois primeiros componentes K; NISHINARI, K. Texture design for products using food
principais foram superiores a 70%, sendo suficientes para representar hydrocolloids. Food Hydrocolloid, 26, 412-420, 2012.
a dispersão das formulações. Cada ponto em vermelho representa as 4. HAYAKAWA, F.; KASAMI, Y.; ISHIHARA, S.; NAKAO, S;
correlações entre os dados de aceitação de um provador e os dois NAKAUMA, M.; FUNAMI, T; NISHINARI, K.; KOHYAMA, K.
primeiros componentes principais. Assim, cada ponto vermelho está Characterization of eating difficulty by sensory evaluation of
associado a um provador. hydrocol- loid gels. Food Hydrocolloid. 38, 95-103, 2014.
Um consumidor ficou posicionado na região central do gráfico 5.YARNPAKDEE, S.; BENJAKUL, S.;
(provador 60), o que significa que não houve correlações KINGWASCHARAPONG, P. Physico-chemical and gel properties
significativas (p>0,05) com os dois componentes principais. Logo, tal of agar from Gracilaria tenuistipitata from the lake of Songkhla.
consumidor não diferenciou as quatro amostras em relação ao atributo Food Hydrocolloid. 51, 217-226, 2015.
avaliado. Consumidores que tiveram opinião semelhante sobre os 6. MORRIS, E. R.; NISHINARI, K.; RINAUDO, M. Gelation of
produtos estão próximos entre si, e uma maior concentração de gellan e A review. Food Hydrocolloid. 28, 373-411. 2012.
consumidores na região da amostra indica maior aceitação. 7. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
Verificou-se uma separação espacial das amostras, sugerindo a ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010.
existência de três grupos de acordo com a aceitação destas, sendo um 8.DANALACHE F. A, MATA P.; MOLDÃO-MARTINS, M.;
grupo formado pelas formulações ágar e LA100/HA0 e os outros dois ALVES V.D. Novel mango bars using gellan gum as gelling agent:
pelas amostras LA75/HA25 e LA50/HA50, separadamente. Assim, Rheological and microstructural studies. Food Sci Technol., 62,
foi observado grande quantidade de provadores alocados à direita no 576-583, 2015.
lado superior do gráfico, onde se encontra a amostra do grupo 1 9. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
(LA75/HA25). Já na parte inferior direita do gráfico, percebe-se outra New York: Academic Press. 2004.
grande parte dos provadores que preferiram as amostras do grupo 2 10. MARKETO, C. G. et al. The Reliability of MDPREF to Show
formado pelo ágar e a LA100/HA0. Na parte inferior esquerda, houve Individual Preference. Journal of Sensory Studies, v. 9, n. 3, p. 337-
uma menor concentração em torno da formulação do grupo 3 ( 350, 1994.
amostra LA50/HA50). 11. FERNANDES, A.G., SOUSA, P.H.M., MAIA, G.A., SILVA,
Nos resultados obtidos em estudo anterior, [13] nas médias do teste de D.S., SANTOS, S.M.L. Avaliação sensorial de bebidas de goiaba
aceitação, a amostra LA75/HA25 não havia apresentado diferença adoçadas com diferentes agentes adoçantes. Ciência e Tecnologia de
significativa das amostras ágar e LA100/HA0, enquanto que no Mapa Alimentos, v. 29, n.2, p. 358-364, 2009.
de Preferência essas amostras se apresentaram em dois grupos 12. RODRIGUES, J. S. Q., RODRIGUES, N.G., COSTA, A. M.
separados (grupo LA75/HA25 e grupo ágar e LA100/HA0), isto é, foi JUNQUEIRA, N.T.V., PINELI, L.L.O., LIMA, H., SILVA,
possível identificar diferença entre as amostras através do MPI. C.H.O.,CHIARELLO, M. Qualidade sensorial de néctares de
As amostras ágar e LA100/HA0 ficaram próximas entre si e maracujás brs ouro vermelho produzidos em diferentes sistemas de
aglomeradas por 23 provadores em volta, e estes não fizeram distinção cultivo. Revista Ceres, Viçosa, v. 60, n. 5, p. 595-602, 2013.
entre estas duas formulações, indicando que estas foram semelhantes, 13. COSTA, J. N. Desenvolvimento e caracterização de estruturados
sendo igualmente aceitas pelos mesmos julgadores. Segundo Poinot de goiaba (Psidium guajava L.) Utilizando hidrocoloides ágar e
et al. [14], a combinação de cor, aroma, sabor e textura pode goma gelana. 2018. (Tese de doutorado) Pós-graduação em Ciências
influenciar a percepção dos provadores durante o consumo de um e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará. 197f.
produto, pois esta é influenciada pela somatória de atributos que 14. POINOT, P., ARVISENET, G., TEXIE, F., LETHUAUT, L.,
levam a discriminar as diferenças nos testes aplicados. Observa-se que MEHINAGIC, E., VIGNEAU, E., PROST, C. Use of sense
alguns julgadores estavam situados próximos à região da formulação masking to study sensory modalities singly: interest for the
LA75/HA25, outros próximos às formulações ágar e LA100/HA0, e, understanding of apple in-mouth perception. Food Quality and
assim, não ocorreu uma clara diferenciação por parte dos provadores. Preference, v. 22, n. 6, p. 573-580, 2011.
Por outro lado, um número de 20 julgadores não demonstrou
preferência por nenhuma das amostras avaliadas, apresentando-se X
distante dos três grupos formados, alocados na parte esquerda superior X
do gráfico. X
X
CONCLUSÃO X
X
Através da análise do Mapa de Preferência Interno para o atributo X
impressão global das amostras de estruturados de goiaba, houve uma X
aceitação homogênea pelos provadores para as quatro amostras X
analisadas, pois não houve definição de preferência dos consumidores X
em relação a uma amostra específica, portanto, a presença dos X
hidrocoloides ágar e goma gelana não modificaram os atributos X
sensoriais das frutas estruturadas a fim de torna-las estatisticamente X
diferentes. X
X
AGRADECIMENTOS X
X
Agradecimentos a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de X
Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento e à Pomar da Polpa X
pelo fornecimento da matéria-prima. X
X
REFERÊNCIAS X
X
1. AZOUBEL, P. M., ARAÚJO, A. J. B., OLIVEIRA, S.B., X
AMORIM, M. R. Restructuring Passiflora cincinnata fruit pulp: X
influence of hydrocolloids. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. X
31, n. 1, p. 160-166, 2011. X
2. FLORES, G., WU, S.B.,NEGRIN, A., KENNELLY, E. J. X
Chemical composition and antioxidant activity of seven cultivars of X
X

82
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Macroalgas como fonte de pigmentos para uso na indústria alimentar

Antonia Aguiar1, Jéssica Martins2, Paulo Sousa3, Marjory Araújo4, Elisabeth Silva3
1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
livania_linhares@yahoo.com.br;
2
Discente do Programa de Biotecnologia de Recursos Naturais, Universidade Federal do Ceará;
3
Docente do Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
4
Docente do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: Algas marinhas. Alimentos. Propriedades.

Introdução As potencialidades, seja a nível econômico ou biotecnológico, do


O termo ‘alga’ corresponde a um grupo extremamente diversificado emprego de algas como matéria-prima para diversos fins, incluem a
de espécies que há poucas características em comum, ou seja, não sua elevada taxa de crescimento durante todo o ano, diversidade de
possuem uma categoria taxonômica bem definida. São organismos oferta, elevado valor nutricional, biomassa não tóxico, recurso
fotossintetizantes, apesar de não possuírem folhas, caules, raízes ou altamente biodegradável, de fonte sustentável, renovável, eficaz e
tecidos vasculares típico das plantas, porém exercem funções favorável ao meio ambiente e com capacidade de atender a demanda
biológicas e ecológicas semelhantes e vão desde organismos por um longo prazo, além de geração de novos empregos e renda (7,
unicelulares (fitoplânctons, com 0,2-2,0 μm de diâmetro) a kelps 11).
(conjunto de algas pardas de ordem Laminaria, com até 60 m de - Rhodophytas
comprimento). As algas são importantes para o ecossistema, onde O filo Rhodophyta, conhecida também como rodófitas ou algas
são produtores primários nos oceanos (base da cadeia alimentar), vermelhas, possue 700 gêneros de algas vermelhas, e estima-se cerca
responsáveis pela captura de CO2 atmosférico, produção de O2 (1, 2). de 6900 espécies subdivididos em seis classes Bangiophyceae,
As algas, maioria aquáticas, encontradas em oceanos, rios e lagos, Compsopogonophyceae, Florideophyceae, Porphyridiophyceae,
mas também podem ser subaeriais, quando são expostas à atmosfera Rhodellophyceae, e Stylonematophyceae, sendo que o
(encontradas em solos úmidos, rochas e troncos de árvores), em vez Florideophyceae tem a maior classe de macroalgas vermelhas com
de serem submersas na água. As algas podem se fixar em pedra 6700 espécies. As algas marinhas são quase todas marinhas,
(epilíticas), na lama ou na areia (epipélica), em outras algas ou conhece-se apenas 20 gêneros de água doce (cerca de 150 espécies)
plantas (epífitas) ou em animais (epizóicas) (3). Podem ainda, ser (12).
planctônicas, como a maioria das espécies unicelulares, vivendo As algas vermelhas são multicelulares e fotoautotróficas, não
suspensas em todas as regiões iluminadas de todos os corpos de água, possuem flagelos e centríolos e sim anéis polares e presença de
inclusive sob o gelo, em áreas polares, ou bentônicas, presas ao ficobilissomos. Como polissacarídeo de reserva, essas algas
fundo ou vivendo dentro de sedimentos com limitada fonte de luz (4, apresentam como polissacarídeo de reserva o amido, constituído por
5). unidades de α-D-glucose com ligações do tipo (1→4) e pontos de
As algas marinhas, reconhecidas como fonte de compostos naturais, ramificação no C-6 similar à amilopectina. Ainda, são fontes de
principalmente bioativos, e apresentam na sua constituição proteínas polissacarídeos sulfatados como carragenanas, gêneros como
ricas em aminoácidos essenciais, baixos conteúdos em lipídeos, Chondrus, Kappaphycus e Mastocarpus, ou ágares, gêneros como
elevado teor de carboidratos, principalmente fibras (celulose e Gelidium ou Gracilaria (13).
galactanas) e uma ampla gama de pigmentos, entre eles estão às - Chlorophytas
clorofilas, carotenoides e ficobiliproteínas. Esses organismos Grupo principal de eucariotos fotossintéticos, as algas verdes contêm
aquáticos fotossintéticos, na forma unicelular ou multicelular, podem cerca de 500 gêneros e cerca de 15.000 espécies existentes, variando
ser classificados com base em seu tamanho em macroalgas e de espécies unicelulares a organismos grandes e complexos
microalgas. Há três principais grupos de algas, classificadas com (multicelulares). Todas as algas verdes, com algumas exceções, são
base na sua pigmentação morfológica: Rhodophyta (algas autotróficas, com células contendo um a muitos cloroplastos. A
vermelhas), Chlorophyta (algas verdes), e Ochrophyta (algas pardas) presença de cloroplastos conm uma dupla membrana e tilacóides
(6, 7). empilhados contêm os pigmentos fotossintéticos clorofila a e b.
Ainda, esses pigmentos têm atraído atenção de indústrias de Geralmente, esse pigmento não é mascarado pela presença de
alimentos e bebidas, alimentação animal, produtos farmacêuticos, pigmentos acessórios de cores diferentes, por isso a cor verde
nutracêuticos, e cosméticos devido à ausência de efeitos tóxicos predomina. Porém, algumas espécies, como por exemplo
associados aos derivados sintéticos, o que impulsiona a escolha dos Haematococcus, Chlamydomonas e Trentepohlia, de algas acumulam
consumidores por produtos que apresentam essas substâncias carotenóide fotoprotetor, camuflando a cor verde e destacando a cor
naturais. São incorporados com diferentes finalidades bioativas laranja ou vermelha (14).
(antioxidante, antimicrobiano, antidiabético, antiangiogênico, anti- - Ochrophytas
inflamatório) e atuam como corante em produtos alimentícios (6, 8). As algas marrons pertecem ao filo de organismos unicelulares e
Diante disso, a revisão tem como objetivo fazer um levantamento dos multicelulares com cerca de 280 gêneros e 1800 espécies e, possuem
principais pigmentos obtidos a partir de macroalgas com viabilidade alginato, celulose, galactomanano, hemicelulose, pectina e
de aplicação na indústria de alimentos. xiloglucano como polissacarídeos de armazenamento e estrutural. O
Metodologia elevado teor de carboidratos em algas marrons, superior as algas
O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados Web vermelhas e verdes, as torna matérias-primas adequadas para
of Science, LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em produção de bioetanol após extração de alginato, produto com alto
Ciências da Saúde), Portal de periódicos CAPES (Coordenação de valor comercial e muito empregado na indústria alimentícia,
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e farmacêutica e comésticos (15).
MEDLINE/PubMed (via Natinal Library of Medicine). Para a Além dos polissacarídeos, as algas marrons são fontes de pigmentos
obtenção dos artigos foram utilizadas palavras relacionadas ao título como, por exemplo, a presença de fucoxantina, um carotenóide
da revisão e termos correlatos. dominante típico dessas algas, além de outras xantofilas, β-caroteno
Macroalgas marinhas e, clorofila a e c (16).
As macroalgas possuem grande importância ecológica e contribuir Pigmentos em macroalgas marinhas
para aumentar a biodiversidade dos ecossistemas. Nas últimas As algas são promissoras fontes de pigmentos naturais tais como
décadas, a descoberta de metabólicos secundários (polissacarídeos, clorofilas, ficobiliproteínas e carotenoides (Tabela 1). A clorofila é o
pigmentos, compostos fenólicos, entre outros) com atividades pigmento que absorve a luz e os demais pigmentos atuam como
biológicas de algas aumentou significativamente seu interesse, pois acessórios envolvidos na fotossíntese são responsáveis pelas cores
possuem diversas propriedades bioativas que os tornam ingrediente distintas encontradas em algas. Ainda, enquanto as clorofilas e
potencial para muitas aplicações industriais, tais como alimentos carotenoides não são solúveis em água, as ficobiliproteínas é um
(hidrocoloides), têxteis, produtos farmacêuticos, cosméticos (xampu, grupo de proteínas que se dissolve facilmente em água (3, 16).
sabonetes, cremes, entre outros), aquicultura e outros setores Tabela 1 – Principais pigmentos presentes em macroalgas marinhas
biotecnológicos (9, 10). Filo Rhodophyta Chlorophyt Ochrophyt

83
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

a a 5- JAGER, C. G.; BORCHARDT, D. Longitudinal patterns and


Clorofilas a a, b a, c1, c2, c3 response lengths of algae in riverine ecosystems: A model analysis
emphasising benthic-pelagic interactions. J Theor. Biol. 442, 66-78,
Ficobiliproteína B-ficoeritrina Ausente Ausente 2018.
s R-ficoeritrina 6- ARIEDE, M. B.; CANDIDO, T. M.; JACOME, A. L. M.;
R-ficocianina VELASCO, M. V. R.; CARVALHO, J. C. M.; BABY, A. R.
Aloficocianin Cosmetic attributes of algae - A review. Algal Res. 25, 483-487,
a 2017.
7- CHIA, S. R.; ONG, H. C.; CHEW, K. W.; SHOW, P. L.; PHANG,
Carotenóides α- e α-, β-, e γ- α-, β-, e ε-
S. M.; LING, T. C.; NAGARAJAN, D.; LEE, D. J.; CHANG, J. S.
β-caroteno caroteno caroteno
Sustainable approaches for algae utilisation in bioenergy production.
Fonte: Barsanti e Gualtieri (3). Renew. Energ. 1, 1-15, 2018.
Esses pigmentos têm atraído atenção de indústrias de alimentos e 8- HU, J.; NAGARAJAN, D.; ZHAND, Q.; CHANG, J. S.; LEE, D.
bebidas, alimentação animal, produtos farmacêuticos e nutracêuticos, J. Heterotrophic cultivation of microalgae for pigment production: A
e cosméticos devido à ausência de efeitos tóxicas associados aos review. Biotecnolog. Adv. 36, 54-67, 2018.
derivados sintéticos, o que impulsiona a escolha dos consumidores 9- LEE, W. K.; ADAM, Y. Y.; LEOW, A. T. C.; NAMASIVAYAM,
por produtos que apresentam essas substâncias naturais. São P.; ABDULLAH, J. O.; HO, C. L. Biosynthesis of agar in red
incorporados com diferentes finalidades bioativas (antioxidante, seaweeds: A review. Carbohydr. Polym. 164, 23-30, 2017.
antimicrobiano, antidiabético, antiangiogênico, anti-inflamatório) e 10- HASSELSTRÖM, L. VISCH, W.; GRÖNDAHL, W.; NYLUND,
atuam como corante em produtos alimentícios (8). G. M.; PAVIA, H. The impact of seaweed cultivation on ecosystem
- Clorofilas services-a case study from the west coast of Sweden. Mar. Pollut.
A clorofila é pigmento majoritário na maioria dos organismos e, com Bull. 133, 53-64, 2018.
base em sua estrutura, a clorofila está presente em diferentes formas: 11- DOSHI, A.; PASCOE, S.; COGLAN, L.; RAINEY, T. J.
clorofila a, clorofila b, clorofila c, e clorofila d. Vários estudos Economic and policy issues in the production of algae-based
demostram os benefícios dos pigmentos naturais e, em especial, na biofuels: A review. Renew. Sustain. Energy Rer 64, 329-337, 2016.
indústria de alimentos. Isso leva a um incremento na demanda por 12- SANTOS, S. A. O.; VILELA, C.; FREIRE, C. S. R.; ABREU,
exploração de fontes de pigmentos com viabilidade de substituição M. H.; ROCHA, S. M.; SILVESTRE, A. J. D. Chlorophyta and
aos sintéticos (17). Rhodophyta macroalgae: A source of health promoting
-Ficobiliproteínas phytochemicals. Food Chem. 183, 122-128, 2015.
As ficobiliproteínas são proteínas pigmentadas, solúveis em água, 13- FRANCESCHINI, I. M.; BURLIGA, A. L.; REVIERS, B.;
que dão a cor azulada a cianobactérias, como, por exemplo, PRADO, J. F.; REZIG, S. H. Algas: Uma abordagem filogenética,
Arthospira spp. e Spirulina spp. e, cor avermelhada as Rhodophytas taxonômica e ecológica. Porto Alegre: Artmed, 2010.
como Gracilaria spp. e Porphyridium spp. Elas capturam a energia 14- LELIAERT, F. Green Algae: Chlorophyta and Streptophyta.
da luz durante o processo fotossintético da clorofila. As Encyclopedia of Microbiology, 4th ed., 457-468, 2019.
ficobiliproteínas purificadas são altamente fluorescentes, pois as 15- PANAHI, H. K. S.; DEHHAGHI, M.; AGHBASHLO, M.;
moléculas não têm mais nenhum receptor próximo ao qual transferir KARIMI, K.; TABATABAEI, M. Shifting fuel feedstock from oil
a energia absorvida (18, 19). wells to sea: Iran outlook and potential for biofuel production from
Além de desempenharem papel importante no metabolismo brown macroalgae (ochrophyta; phaeophyceae). Renew. Sustain.
fotossintético de microalgas e macroalgas, as ficobiliproteínas Energy Rer. 112, 626-642, 2019.
desempenham funções biológicas importantes devido as propriedades 16- INDRAWATI, R.; SUKOWIJOYO, H.; Indriatmokoa;
antioxidantes, anticarcinogênicas, anti-inflamatórios, antiobesidade e Wijayanti, r. d. e.; LIMANTARA, L. Encapsulation of Brown
antiviral. A excelente solubilidade em água permite fácil Seaweed Pigment by Freeze Drying: Characterization and its
manipulação com potencial aplicação em diversos segmentos da Stability during Storage. Procedia Chem. 15, 353-360, 2015.
indústria, tais como alimentos (doces e laticínios), comésticos 17- PANGESTUTI, R.; KIM, S. W. Biological activities and health
(cremes e maquiagens) e indústria farmacêutica (20, 21). benefit effects of natural pigments derived from marine algae. J.
-Carotenoides Funct. Foods 3, 255-266, 2011.
Os carotenoides são pigmentos intracelulares orgânicos pertencentes 18- HARYATFREHNI, R.; DEWI, S. C.; MEILIANDA, A.;
à classe dos tetraterpenos produzidos por plantas, algas e RAHMAWATIIHDA, S.; SARI, I. Z. R. Preliminary Study the
microoganismos fotossintéticos. Eles são divididos em carotenos e Potency of Macroalgae in Yogyakarta: Extraction and Analysis of
xantofilas com base na estrutura e, é um dos componentes cruciais de Algal Pigments from Common Gunungkidul Seaweeds, Procedia
desempenho importante na fotossíntese, especificamente na coleta de Chem. 14, 373-380, 2015.
luz e proteção do sistema fotossintético da fotoxidação. Por outro 19- BRELJE, T. C.; WESSENDORF, M. W.; SORENSON, R. L.
lado, esses compostos trazem diversos benefícios à saúde devido a Multicolor laser Scanning confocal immunofluorescence
presente de componentes com propriedades bioativas com efeitos microscopy: practical application and limitations. Methodos Cell
antioxidantes, antimicrobianos, antivirais, antitumorais, anti- Biol. 70, 165-244, 2002.
inflamatórios e antialérgicos (22, 23). 20- GILLESBEDOUX, G.; HARDOUIN, K.; BURLOT, A. S.;
A aplicação de carotenoides é limitada à nível industrial devido a não BOUGOUGNON, N. Bioactive components from seaweeds:
obtenção por processos sustentáveis, economicamente viáveis, de Cosmetic applications and future development. Adv. Bot. Res. 71,
baixo custo e eficientes, tanto na extração quanto na purificação (24). 345-378, 2014.
Considerações finais 21- KRAAN, S. Pigments and minor compounds in algae. Functional
A demanda por produtos naturais está incentivando a exploração por Ingredients from Algae for Foods and Nutraceuticals, 205-251, 2013.
novas fontes de pigmentos e a utilização de macroalgas é uma 22- KARPAGAM, R.; JAWAHARRA, K.; ASHOKKUMAR, B.;
alternativa viável, visto que são fontes de pigmentos que, além do SRIDHAR, J.; VARALAKSHMI, P. Unraveling the lipid and
bom desempenho como corante alimentar, a nível sensorial e pigment biosynthesis in Coelastrella sp. M-60: Genomics-enabled
extensão da shelf life, apresentam propriedades benéficas à saúde. transcript profiling. Algal Res. 29, 277-289, 2018.
Agradecimentos 23- TERAMUKAI, K.; KAKUI, S.; BEPPU, F.; HOSOKAWA, M.;
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e MIYASHITA, K. Effective extraction of carotenoids from brown
Tecnológico) pelo apoio financeiro concedido. seaweeds and vegetable leaves with edible oils. Innov. Food Sci.
Referências Emerg. Technol. 60, 102302, 2020.
1- GARRISON, T.; ELLIS, R. Oceanography: An Invitation to 24- VIEIRA, F. A.; GUILHERME., R. J. R.; NEVES, M. C.; REGO,
Marine Science. 9 ed. Boston: Cengage Learning, 2016. A; ABREU, M. H.; COUTINHO, J. A. P.; VENTURA, S. P. M.
2- SPEIGHT, M. HENDERSON, P. Marine Ecology: concepts and Recovery of carotenoids from brown seaweeds using aqueous
applications. 1 ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010. solutions of surface-active ionic liquids and anionic surfactants. Sep.
3- BARSANTI, L.; GUALTIERI, P. Algae: Anatomy, Biochemistry, Purif. Technol. 196, 300-308, 2017.
and Biotechnology, 2 ed. Pisa: CRC Press, 2014.
4- PIAZZI, L.; ATZORI, F.; CADONI, S.; CINTI, M. F.; FRAU, F.;
CECCHERELLI, G. Benthic mucilage blooms threaten coralligenous
reefs. Mar. Environ. Res. 140, 145-151, 2018.

84
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Pudim estruturado adicionado de gelatina e goma gelana sem forneamento: uma avaliação
sensorial.

Analia Pinheiro1, Thallyne Alves2, Maria Jacqueline Mendonça3, Theresa Paula Meireles4, Rafael Gurgel5, Paulo
Henrique de Sousa6.

1 Doutoranda em Biotecnologia, Renorbio/UFC;


2 Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – UFC;
3 Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – UFC;
4 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos - UFC;
5 Professor do Curso de Gastronomia - UFC;
6 Professor do Curso de Gastronomia e Professor do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos da UFC.
analiaalimentos@gmail.com

Palavras chave: hidrocolóides, gelano, sobremesa láctea.

INTRODUÇÃO pelo método Spindle V3 40/20 que regou relatórios da análise para
cada amostra. Os gráficos dos dados foram feitos no Microsoft Excel
O pudim consiste de uma mistura à base de leite bovino, 2010.
açúcar ou edulcorante e espessante, com uma consistência firme
típica. Os produtos elaborados com sacarose geralmente se destacam Análise sensorial
em termos de aparência e sabor [1]; [2].
O gelano é um gelificante que se obtém a partir da Os pudins foram elaborados seguindo as Boas Práticas de
fermentação produzida pela bactéria Sphingomonas elodea. Está Fabricação, sendo preparados para consumo imediato por se tratar de
disponível em duas formas com diferentes características (low acyl- sobremesa. De acordo com o parecer do Comitê de Ética número
LA e high acyl-HA), com propriedades interessantes que são 1.829.642, para hidrocolóides, o trabalho fica isento de análises
aplicáveis a uma grande variedade de sistemas alimentares. Além de microbiológicas. A avaliação da análise sensorial dos pudins
ser um bom agente gelificante, é também usado como, espessante, consistiu em teste de aceitação por meio de escala hedônica
estabilizante, e na formação de filmes e revestimentos comestíveis estruturada de nove pontos, onde 9 representa a nota máxima (gostei
[3]. Este hidrocolóide apresenta uma capacidade para produzir uma muitíssimo) e 1 a nota mínima (desgostei extremamente) para os
ampla gama de estrutura de gel e uma boa libertação de aroma [4]; atributos de sabor, cor, impressão global e intenção de compra, onde
[5]. Além de os géis de gelano formados poderem apresentar uma 5 representa a nota máxima que corresponde a (certamente
excelente estabilidade térmica e uma boa capacidade de libertação do compraria) e 1 representa a nota mínima (certamente não compraria).
flavour. Estas características faz deste hidrocolóide um gelificante Participaram da avaliação sensorial 105 provadores não treinados,
muito apelativo para a indústria alimentar [6]. Ainda possui limpidez quanto ao consumo, 40% dos provadores relataram consumir
clara, ser um gel irreversível e possuir textura de gel firme e sobremesa à base de leite de 2 a 3 vezes por semana, 19% uma vez
quebradiça [7]. Visando elaborar um produto que agregasse as por semana e apenas 10% consomem sobremesa a base de leite
propriedades do gelano em comparação à gelatina, objetivou-se, mensalmente. Além do teste de aceitação, foi realizada a análise
neste trabalho, verificar a aceitação do pudim através de análises de sensorial CATA (Check-All-That-Apply). Os dados foram
reologia e sensorial. submetidos a análise estatística no programa XLSTAT
2019.4.2.63912.
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção do Pudim
Os pudins foram produzidos no Laboratório de Frutos- Reologia
Processamento (UFC). Os ingredientes foram homogeneizados por As amostras foram realizadas em triplicata e os resultados
agitação mecânica em um mixer; pesou-se o gelano de baixa acila, foram expressos em gráficos e gerados as linhas de tendência do tipo
separadamente, de acordo com as concentrações citadas na tabela 1 potencia e as equações, assim o melhor resultado obtido para
abaixo e em seguida, foi aquecido até a ebulição, agitando sempre, selecionar a concentração de goma gelana foi a concentração de
para dissolução completa do gelano. Estes preparados (pudim) foram 0,5%, verificado de acordo com a tabela 2 abaixo.
distribuídos em potes de polietileno e armazenados em refrigerador a
5 °C. Tabela 2: Equações geradas pelos resultados reológicos das amostras
de pudim estruturado com gelatina e gelano.
Tabela 1: Formulação dos pudins elaborados com gelatina e gelano. Equação de Ostwald deWaele
Formulaç Gelatina( T1 T2 T3 T4 T5 Concentração
(Lei da Potência)
ão %) (%) (%) (%) (%) (%) 0,2% Goma Gelana y = 197674x-0,053 R² = 0,0262
Leite 43,0 43,0 43,0 43,0 43,0 43,0 0,3% Goma Gelana y = 2E+06x-0,236 R² = 0,2373
conden 0,4% Goma Gelana y = 4E+07x-0,504 R² = 0,3623
sado 0,5% Goma Gelana y = 8,3986x0,8117 R² = 0,9552
Creme de 21,85 21,8 21,8 21,8 21,8 21,8 0,6% Goma Gelana y = 1E+08x-0,561 R² = 0,2985
leite 5 5 5 5 5 De acordo com os resultados obtidos através das equações
Leite em 7,65 7,65 7,65 7,65 7,65 7,65 das retas, a y = k x n, onde K = índice de consistência (Pa.sn), n =
pó índice de comportamento do fluido. Sendo (n<1) classifica o fluido
Água 26,3 27,3 27,2 27,1 27,0 29,9 em não-Newtoniano e dilatante, o K quanto mais elevado mais
Gelatina 1,2 - - - - - resistente é o fluido, segundo a lei da potencia a equação com melhor
Goma - 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 comportamento do fluido estudado e o valor de R2 foi para a
gelana concentração de goma gelana 0,5%, portanto foi a formulação
selecionada para ser submetida à análise sensorial juntamente com a
formulação do pudim contendo gelatina comercial.
Reologia Segundo [8], a goma gelana comercial (baixa acila) forma
As determinações reológicas das amostras dos pudins gel duro, não elástico e quebradiço, o que pode ser a explicação para
foram realizadas no equipamento Rheometer R/S Plus da Brookfield os resultados tão diferentes entre os tratamentos da tabela 2 acima.

85
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise Sensorial natureza simples e quase trivial, uma série de fatos físicos não-
triviais acontecem. A mais óbvia é o efeito sobre o próprio gosto.
Aceitação Uma vez que a viscosidade é aumentada, as propriedades de fluidez
Os resultados do teste de aceitação das duas formulações dos são reduzidas e o líquido permanece mais tempo sobre a língua. Isso
pudins (gelatina e gelano 0,5%) elaborados encontram-se na tabela 3 por si só tem efeitos. [13].
abaixo.
CONCLUSÃO
Tabela 3: Resultado do teste de aceitação dos pudins com gelatina e
gelano. De acordo com os resultados obtidos na análise sensorial
Impressão Intenção de o gelano se mostrou bem aceito em relação a amostra controle
Sabor Cor podendo ser utilizado na elaboração do pudim,
global consumo
Os resultados permitiram observar que, apesar dos
Gelatina 6,819a 7,238a 6,762a 3,248a provadores não serem treinados, conseguiu-se caracterizar e
Gelano 6,248b 6,552b 6,390a 3,029a discriminar todas as amostras com base nos atributos estudados.

As médias seguidas pelo mesmo expoente, na mesma coluna, não diferem REFERÊNCIAS
estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
Foram realizados vários ensaios modificando apenas a
concentração dos hidrocolóides utilizados, sendo que a concentração [1] ALONSO, S.; SETSER, C. Functional replacements for sugars in
de gelatina comercial foi de 1,2% permanecendo fixa, enquanto com foods. Trends in Food Science & Technology, Cambridge, v.5, n.1,
a goma gelana variaram de 0,2%, 0,3%, 0,4%, 0,5% e 0,6% (T1, T2, p.139-146, 1994.
T3, T4 e T5) respectivamente. Dentre as concentrações estudadas foi
utilizada para fazer os testes sensoriais 0,5 % de goma gelana e 1,2% [2] BAYARRI, S.; DURAN, L.; COSTELL, E. Influence of
de gelatina. As análises foram realizadas por 105 provadores não sweeteners on the viscoelasticity of hydrocolloids gelled systems.
treinados, onde as médias obtidas estão na tabela 3, para teste de Food Hydrocol., Cardiff, v.18, n.4, p.611-619, 2004.
aceitação. Percebe-se que para todos os atributos o pudim estruturado
com gelatina obteve melhores notas, no entanto não há diferença [3] CHANDRASEKARAN, R.; RADHA, A. Molecular
significativa ao nível de 5,0% nos atributos Impressão global e architectures and functional properties of gellan gum and related
intenção de consumo. polysaccharides. Food science & Technology, 6, 143-148, 1995.

[4] BAYARRI, S.; RIVAS, I.; IZQUIERDO, L.; COSTELL, E..


CATA (Check-All-That-Apply)
Influence of texture on the temporal perception of sweetness of
O resultado do teste CATA das duas formulações dos
gelled systems. Food Research Intern., 40, 900 – 908, 2007.
pudins (gelatina e gelano 0,5%) elaborados encontram-se na tabela 4
abaixo.
[5] DANALACHE, F. A. Novel Ready-to-eat Mango Product
using Gellan Gum as Gelling Agent: Physico-chemical, Microbial
Tabela 4: Resultado do teste CATA dos pudins com gelatina e
and Sensory Characteristics. 2014. 155f. Dissertação (Mestrado em
gelano.
Química Sustentável) – Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Gelatina Gelano Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2014.
Firmeza no corte 2,010b 3,410a
Firmeza na boca 1,981b 2,810a [6] VALLI, R.; CLARK, R. Gellan Gum. In: Imeson, A. (ed), Food
Brilhante 3,019a 2,210b Stabilisers, Thickeners and Gelling Agents. Singapore, Blackwell
Geleificado 2,676a 2,229a Publishing Ltd, p.145-165, 2010.
Consistente 2,371a 2,705a
Aroma doce 3,171a 2,562b [7] CARVALHO, C. Y. D. Texturizado de manga: Impacto do
Gosto doce 3,486a 2,943b processamento na componente de aroma. 2014. 96p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Alimentar - Processamento de Alimentos)
Sabor leite condensado 2,914a 2,314b
– Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, 2014.
Sabor de caramelo 2,467a 1,924b
Sabor de açúcar 2,571a 1,933b [8] CORONATO, R. M. e S. Efeito da goma gelana em sistemas
As médias seguidas pelo mesmo expoente, na mesma linha, não
diferem estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de
amido água e amido-leite. 2010. 79f. Dissertação (Mestrado em
Tukey. Ciência de Alimentos) - Universidade Estadual de Londrina,
De acordo com a tabela 4 os termos de consistente e Londrina, 2010.
Geleificado não diferiram significativamente ao nível de 95% de
confiança. Enquanto os outros termos tiveram diferença. [9] ALCANTARA, M.; FREITAS-SÁ, D. G. C. BRAZ.
Segundo [9] a metodologia Check-All-That-Apply Metodologias sensoriais descritivas mais rápidas e versáteis – uma
(CATA) é a técnica que mais vem sendo utilizada para coletar atualidade na ciência sensorial J. Food Technol., Campinas, v. 21,
informações sobre a percepção dos consumidores sobre as e2016179, 2018.
características sensoriais dos produtos, onde o formato da questão
permite aos consumidores escolher todos os atributos possíveis para [10] BRUZZONE, F.; ARES, G.; GIMÉNEZ, A. Consumers’ texture
descrever o produto. Estudos que comparam sua eficiência em perception of milk desserts. II – comparison with trained assessors’
relação ao uso de avaliadores treinados relatam altas correlações data. Journ. of Texture Studies, v. 43, n. 3, p. 214-226, 2012.
detectadas entre as avaliações, evidenciando que os consumidores http://dx.doi.org/10.1111/j.1745-4603.2011.00332.x
são capazes de avaliar os atributos sensoriais de uma forma
semelhante [10]. [11] ARES, G.et al. Hedonic product optimisation: CATA questions
[11] utilizaram o questionário CATA para identificar as alternatives to JAR scales. Food Quality and Prefer., v. 55, p.
como os produtos diferem do produto ideal esperado pelos 67-78, 2017.
consumidores, incluindo termos no questionário CATA com
conotações de intensidade hedônica (por exemplo, não [12] JAEGER, S. R. et al. Influence of evoked contexts on hedonic
suficientemente doce, doce demais) e aplicando o questionário product discrimination and sensory characterizations using CATA
CATA para caraterização dos produtos experimentados e dos questions. Food Quality and Preference, v. 56, p. 138-148, 2017.
produtos ideais (ou idealizados). Part A.
[12] investigaram se contextos evocados influenciam na
discriminação hedônica e na caracterização sensorial de produtos, [13] VILGIS, T. A. Hydrocolloids between soft matter and taste:
usando o questionário CATA Culinary polymer physics. International Journ. of Gastronomy
Os hidrocolóides alteram o comportamento físico do and Food Science. V.1, p. 46-53, 2012.
líquido de uma forma bem definida e sistemática, que permite ainda a
liberação do gosto incomum diferente de líquidos de baixa
viscosidade, cujo gosto não fica muito tempo na boca. Apesar de sua

86
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Composição centesimal de hambúrguer bovino adicionado de moringa (Moringa oleifera Lam.)


e gordura suína

Neliane Nascimento1, Janevane Castro2, Luiz Bitu3, Sanyelle Sousa1, Paulo Sousa4, Elisabeth Silva5
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Química – Universidade Federal do Ceará
3
Especialista em Gestão Pública Municipal – Universidade Federal do Ceará
4
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Professor do Curso de Gastronomia e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará
5
Ph.D. em Food Science – Professora do Curso de Engenharia de Alimentos e do Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará
E-mail para correspondência: nelianepereira@hotmail.com

Palavras-chaves: nutrientes, PANC, produto cárneo.

INTRODUÇÃO texturizada de soja (4%), farinha de trigo (1,5%), sal (1,5%), pasta de
alho (0,5%), pasta de cebola (0,5%) e antioxidante comercial (0,01%).
As diversas reações que ocorrem nos alimentos tendem a atuar Elaborou-se também 9 formulações de hambúrguer bovino
como percussores das alterações relacionadas à degradação. Nos adicionadas de diferentes percentuais de farinha das folhas de moringa
produtos cárneos essas alterações estão normalmente relacionadas a (0,03 a 1,17%), em substituição ao antioxidante comercial, e de
processos oxidativos, que podem ser de origem lipídica ou proteica. gordura suína (3,96 a 11,04%).
Fatores intrínsecos como o elevado teor lipídico naturalmente presente
nesses produtos e, fatores extrínsecos como calor, exposição à luz e a Composição centesimal
agentes pró-oxidantes, podem atuar como agentes limitantes da vida
útil, tanto da carne in natura quanto dos produtos derivados (1,2). A formulação padrão e as 9 formulações de hambúrguer bovino
Dentre a biodiversidade da flora brasileira, vem ganhando adicionadas de diferentes percentuais de farinha das folhas de moringa
destaque as plantas alimentícias não convencionais (PANCs) que (Moringa oleifera Lam.) e de gordura suína foram submetidas a
apresentam diversas características nutricionais, muitas vezes ainda análises de umidade, proteína, lipídios e cinzas segundo AOAC (5),
inexploradas (3). A moringa (Moringa oleifera Lam.) é uma planta de com a determinação de carboidratos por diferença. Os resultados
origem indiana que se adaptou ao solo e ao clima brasileiro, sendo obtidos foram tratados no software Statistica 9.0, realizando-se análise
explorada incialmente como coagulante na limpeza de água, mas que de variância (ANOVA), teste de Tukey para comparação de médias a
despertou investigações quanto ao uso alimentício, se caracterizando um nível de significância de 5%.
como uma PANC (4).
Na busca por alternativas que possam atuar na inibição ou RESULTADOS E DISCUSSÃO
retardamento de processos deteriorantes que acometem os produtos
cárneos, torna-se pertinente a exploração de alternativas naturais como Observou-se um percentual de umidade variando de 65,87 ±
as PANCs e a investigação de como sua adição interfere na 1,32 a 69,07 ± 0,59 %, em que as formulações F4 e F8 não
composição nutricional desses produtos. Este trabalho teve como apresentaram diferença significativa (p ≤ 0,05) em relação à
objetivo, quantificar a composição centesimal de formulações de formulação padrão (F0), verificando-se também que a formulação com
hambúrguer bovino adicionadas de farinha das folhas de moringa e de maior percentual de umidade, F7, foi a que se adicionou menor
gordura suína. percentual de gordura suína (TABELA 1).
Al-Juhaimi e colaboradores (6), elaboraram hambúrguer bovino
MATERIAL E MÉTODOS adicionado de moringa e observaram percentuais de umidade que
variaram de 68,57 a 70,50 %. O referido trabalho destacou a
Material característica de que uma maior adição de ingredientes sólidos
interfere no percentual de umidade, provocando sua redução, fato este
Utilizou-se na elaboração dos hamburgueres o corte bovino observado nesta pesquisa.
coxão duro e toucinho suíno, que foram adquiridos refrigerados a 4ºC,
em um supermercado localizado na cidade de Fortaleza-CE. As folhas Tabela 1 – Composição centesimal de formulações de hambúrguer
de moringa (Moringa oleifera Lam.) foram doadas pelo Núcleo de bovino padrão e adicionadas de farinha de moringa (Moringa oleifera
Ensino e Pesquisa de Agricultura Urbana (NEPAU). O antioxidante Lam.) e gordura suína.
eritorbato de sódio da marca Kraki ®, foi adquirido em loja Umidade Cinzas Proteína Lipídios Carboidratos
especializada em produtos para indústria alimentícia localizada em (%) (%) (%) (%) (%)
Fortaleza-CE. Os demais ingredientes (proteína texturizada de soja, F0 66,32±0,70b 2,23±0,03def 19,30±0,22ab 7,60±0,97abc 4,55±0,95ab
farinha de trigo, sal refinado, pasta de alho e cebola) foram adquiridos
no comércio varejista de Fortaleza-CE. F1 67,08±0,78ab 2,29±0,04abcd 19,38±0,28ab 5,58±1,44bc 5,67±1,24ab

F2 65,87±1,32b 2,16±0,04f 18,64±0,33b 7,33±1,21abc 5,99±1,79ab


Obtenção da farinha das folhas de moringa
F3 67,83±0,50ab 2,32±0,01ab 19,66±0,42ab 6,66±0,58abc 3,53±0,36b
As folhas de moringa (Moringa oleifera Lam.) foram
desidratadas em estufa com circulação de ar Tecnal TE-394/2®, a 60 ± F4 66,03±0,94b 2,24±0,01cde 19,43±0,65ab 4,76±1,96c 7,54±2,55a
2ºC, e em seguida foram trituradas em liquidificador marca Mondial®,
F5 67,05±0,29ab 2,16±0,01f 18,90±0,25b 8,79±0,25a 3,10±0,32b
fazendo uso do filtro integrante no próprio equipamento. A farinha
obtida apresentava granulometria de 80 mesh. A preparação dos F6 68,01±0,05ab 2,30±0,02abc 19,34±0,46ab 7,23±0,28abc 3,12±0,42 b
hambúrgueres foi composta pelas seguintes etapas: pesagem dos
ingredientes, moagem da carne e do toucinho, adição e mistura dos F7 69,07±0,59ª 2,35±0,04a 20,19±0,45a 5,33±0,28bc 3,06±0,47 b
ingredientes, moldagem, embalagem e armazenamento.
F8 66,14±0,93b 2,21±0,01ef 19,09±0,34ab 9,20±0,81a 3,35±0,03 b
Elaboração dos hambúrgueres F9 67,72±0,82ab 2,28±0,02bcde 19,39±0,17ab 7,63±0,47ab 2,98±0,49 b

Foi elaborada uma formulação padrão de hambúrguer contendo Fonte: elaborada pela autora

carne bovina (100%), gordura suína (10%), água (10%), proteína

87
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Resultados expressos como média ± desvio padrão. / Médias seguidas de letras iguais na 5 - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS -
mesma coluna não apresentam diferença significativa entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância. AOAC. Official Methods of Analysis Manual. 18. ed. AOAC
F0 = 0,00% moringa e 10,00% gordura; F1 = 0,20% moringa e 5,00% gordura; F2 = 0,20% International, 2005.
moringa e 10,00% gordura; F3 = 1,00% moringa e 5,00% gordura; F4 = 1,00% moringa e
10,00% gordura; F5 = 0,03% moringa e 7,50% gordura; F6 = 1,17% moringa e 7,50% gordura;
F7 = 0,60% moringa e 3,96% gordura; F8 = 0,60% moringa e 11,04% gordura; F9 = 0,60% 6 - AL-JUHAIMI, F.; GHAFOOR, K.; HAWASHIN, M. D.;
moringa e 7,50% gordura. ALSAWMAHI, O. N.; BABIKER, E. E. Effects of diferente levels of
Moringa (Moringa oleifera) seed flour on quality atributes of beef
Os percentuais de cinzas (TABELA 1) apresentaram diferença burgers. Cyta – Journ. of Food, 14, 1, 1-9, 2016.
significativa no teste te Tukey a 5% de significância, em que a
formulação 7 apresentou um maior teor de cinzas. Os valores obtidos 7 - TEIXEIRA, E. M. B.; CARVALHO, M. R. B.; NEVES, V. A.;
neste trabalho foram maiores do que o teor de cinzas quantificado por LIMA, T. M. A.; PEREIRA, L. A. Hambúrguer elaborado com farinha
Teixeira et al. (7) em formulações de hambúrguer bovino adicionados de folhas de moringa. Nutrire, 38, 3, 220-232, 2013.
de farinha das folhas de moringa, em que o percentual máximo
observado de cinzas foi de 0,67%, podendo tal diferença está ligada ao 8 - BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO
percentual de moringa adicionado ou aos ingredientes usados nas ABASTECIMENTO E DE DEFESA AGROPECUÁRIA. Instrução
formulações. Normativa N° 20, de 31 de julho de 2000. Aprova os Regulamentos
Em relação aos valores proteicos, a formulação com maior teor Técnicos de Identidade e Qualidade de Almôndega, de Apresuntado,
proteico, F7, foi a que teve menor adição de gordura, sendo observada de Fiambre, de Hambúrguer, de Kibe, de Presunto Cozido e de
diferença significativa entre as formulações. Todas as formulações Presunto. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
atingiram o teor mínimo proteico estabelecido pelo Regulamento de DF, 03 ago. 2000, Seção 1, Página 7.
Identidade e Qualidade (RTIQ) de Hambúrguer (8), que preconiza um
percentual mínimo de 15% de proteína.
O Regulamento de Identidade e Qualidade (RTIQ) de
Hambúrguer (8) também estabelece um valor máximo para lipídios de
23%, encontrando-se todas as formulações de hambúrguer com
resultados bem inferiores ao estipulado pela legislação. Foi possível
observar que a formulação com maior teor de lipídios, F8, foi
exatamente a que se realizou uma maior adição de gordura suína.
Em hambúrgueres bovinos adicionados de farinha das sementes
de moringa (6), observou-se um teor proteico menor do que o
observado neste trabalho, variando de 17,14 a 18,14%, enquanto que
os teores de lipídios foram superiores, 10,06 a 11,46%, aos de Al-
Juhami et al. (6)
O teor de carboidratos apresentou diferença significativa entre
as formulações (p ≤ 0,05), com teores variando de 3,06 ± 0,47 a 7,54
± 2,55%. Quando se compara os teores de carboidratos das
formulações com adição de moringa e o teor da formulação padrão
(F0), se observa que apenas as formulações F1 e F2 não apresentaram
diferença significativa em relação à formulação padrão.
Em outro trabalho que utilizou farinha das folhas de moringa na
elaboração de hambúrguer, se observou teores de carboidratos
variando de 0,53 a 1,53%, sendo considerado pelos autores como um
produto com baixo teor de carboidratos (7). Ressalta-se que o teor dos
macronutrientes (proteína, lipídios e carboidratos) sofrem influência
direta dos ingredientes utilizados na formulação do produto cárneo.

CONCLUSÕES

Foi possível observar que a adição de farinha das folhas de


moringa e de gordura suína interferiram na composição centesimal das
formulações de hambúrguer bovino, sendo que os teores de lipídios e
carboidratos foram os que mais sofreram variações. Em observância à
legislação vigente, somente a formulação 9 apresentou o teor máximo
de carboidratos permitido (3%), sendo necessário que se realizem
ajustes para que as outras amostras se adequem às exigências para
comercialização.

REFERÊNCIAS

1 - ROSA, C. S.; KUBOTA, E.; STEIN, M.; NOGARA, G. P.;


VIZZOTO, M. Avaliação do efeito de extrato de farinha de alfarroba
(Ceratonia siliqua L.) na estabilidade oxidativa e cor de hambúrgueres
congelados. Ciênc. Agrárias, 34, 5, 93-98, 2013.

2 - WARRISS, P. D. Meat Science: an introductory text. 2 ed.


Massachusetts: CABI North American Office. 2010. 234p.

3 - PASCHOAL, V.; SOUZA, N. S. Plantas alimentícias não


convencionais – PANC. In.: SEIXAS, C. D. F. Compostos bioativos
dos alimentos. São Paulo: Valéria Paschoal Editora LTDA, 2015. p.
302-323.

4 - BATISTA, J. A. N. Potencial antioxidante dos extratos de Moringa


oleífera Lamark em sistemas lipídicos de baixa estabilidade oxidativa.
2013. 95f. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) –
Centro de Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2013.

88
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Microbiológica e Sensorial de Salame Tipo Italiano com adição de culturas starters

Adriana Oliveira¹, Magda Inô¹, Rafael Almeida¹, Ítalo Lima², Luiz Fernando Almeida³,
¹Discente do curso Engenharia de Alimentos – IFBA, Campus Barreiras, ²Profº Drº do curso Engenharia de Alimentos –
IFBA Campus Barreiras, ³Profº Me do curso Engenharia de Alimentos – IFBA Campus Barreiras.
E-mail: adrianamendes_oliveira@hotmail.com

Palavras-chave: Fermentação, Produto cárneo, Qualidade.

1. INTRODUÇÃO embaladora Selovac, modelo 200B e armazenados em câmara de


resfriamento a 10 ºC.
A fermentação é uma das mais antigas técnicas utilizadas
para conservação dos alimentos. Esta tecnologia com suas múltiplas ▪ Análises microbiológicas
variações originou os diferentes tipos de salames, produtos nobres da
Para a realização das análises microbiológicas, 25 g das
indústria cárnea. Salame é um embutido cru, curado, fermentado e
amostras trituradas foram acondicionados em sacos plásticos,
dessecado que pode ou não ser submetido à defumação. Dentre os
adicionou-se 225 mL de água peptonada (0,1%), em seguida a solução
salames fabricado no Brasil destaca-se o salame tipo Italiano (1).
foi homogeneizada em Stomacher (Metroterm, Brasil; 490 golpes/min),
Visando a uniformidade, redução do tempo de fermentação
por 3 minutos. Diluições decimais sucessivas foram preparadas em
e uma alta conservação dos produtos fermentados, no ano de 1957
tubos contendo 9 mL de água peptonada (0,1%). As análises foram
houve a introdução comercial de culturas puras de microrganismos,
realizadas assim que terminou o processamento do salame (tempo 0) e
chamadas culturas starter. Cultura starters são culturas puras de
foram repetidas após 21 dias de fermentação.
microrganismos que assegura a qualidade de produtos fermentados,
A quantificação de microrganismos aeróbios mesófilos foi
além de produzirem propriedades que visam a inocuidade do produto
realizada empregando-se o meio Plate Count Agar (PCA), com
final, tais como não produzirem toxinas, não serem patogênicos, serem
incubação a 37 ºC/24 horas. A quantificação dos microrganismos
competitivos frente a microrganismos indesejáveis e possuírem
aeróbios psicotróficos foi realizado plaqueando-se 0,1 mL das diluições
atividade enzimática condizente com o produto final (1,2).
adequadas em PCA e incubação a 7 ºC/10 dias. A contagem total de
Várias indústrias adicionam culturas starter selecionadas,
fungos filamentos e leveduras foi realizada (DRBC) em incubação, a
isso diminui o tempo de produção e possibilita obter produtos mais
25 ºC, por sete dias. Para a quantificação de bactérias lácticas foi
seguros ao consumidor, com características e qualidade constantes (5).
utilizado o meio Ágar de Man Rogosa & Sharpe (MRS) com incubação
Com isso, A aplicação de culturas starters torna-se essencial para o
a 32+1 ºC/48h.
controle de microrganismos deteriorantes e patogênicos. As culturas
▪ Analise Sensorial
também auxiliam na formação das propriedades organolépticas do
produto, tais como cor, textura, além assegurar a qualidade do embutido Foi aplicado um teste de aceitação global com 50 julgadores
(2). não-treinados, com escala hedônica estruturada de sete pontos, variando
Objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica e sensorial de desgostei muitíssimo a gostei muitíssimo para os atributos de
de salames tipo Italiano fabricado com e sem adição de culturas starters. impressão global, cor, aroma, sabor e textura.
As análises sensoriais foram realizadas após aprovação do
2. MATERIAL E MÉTODOS Comitê de Ética em Pesquisa do IFBA, sob o protocolo CAAE
06754919.7.0000.5031, conforme Resolução número 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), sendo que os
As análises foram realizadas nos laboratórios de participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Microbiologia de Alimentos e de Tecnologia de Carnes do IFBA Esclarecido (TCLE).
Campus Barreiras. O processamento do produto foi feito de acordo com
metodologia disposta na literatura, com algumas adaptações (5). A ▪ Analise Estatística
carne e o toucinho suíno foram adquiridos no comércio local.
Todas as determinações foram realizadas em duplicata e os
Como cultura starter foi utilizado a mistura de Pediococcus
resultados obtidos foram expressos em média, analisadas no programa
pentosaceus e Staphylococcus xylosus (Lyocarni RHM-33) adquirido
Microsoft Office Excel 2010®. Quando necessário foram feitas análises
na forma liofilizada, sendo doada pela empresa SACCO. Os
de variância no programa Microsoft Office Excel 2010 ® e o teste de
ingredientes utilizados na formulação dos embutidos fermentados
Tukey com significância ao nível de 5% (p>0,05), utilizando o software
foram doados pela empresa IBRAC (Empresa Brasileira de Aditivos e
sisvar versão 5.6
Condimentos Ltda.®).
As peças cárneas foram limpas, o que constituiu na
separação de pedaços cárneos sem tamanho determinado, com 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
consequente remoção do excesso de gorduras, nervos, aponeuroses e
hematomas presentes. Em seguida, foram moídas em moedor de carne ▪ Análises Microbiológicas
semi-industrial (marca: BERMAR; modelo: moinho boca 20), em disco Os resultados médios das análises microbiológicas de
de 8 mm de diâmetro. bactérias mesófilas, psicotróficas, lácticas e fungos dos tratamentos (T1
Após a moagem, a massa obtida foi dividida em 2 (duas) e T2) estão dispostos nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.
porções iguais, originando as formulações: Tratamento 1 (sem adição Observou-se que com 21 dias de fermentação houve um
de cultura starter) e Tratamento 2 (com adição de cultura starter). aumento significativo de bactérias mesófilas nos dois tratamentos em
As formulações foram então adicionadas dos ingredientes, relação ao tempo zero. Altas quantidades de mesófilos em alimentos
seguindo uma ordem estabelecida, sendo primeiro o ascorbato 0,25% podem indicar que os mesmos foram preparados com matéria-prima
(polifosfato), depois uma mistura contendo sais de cura 0,3% (nitrito de contaminada, que o processo foi insatisfatório do ponto de vista sanitário
sódio e nitrato de sódio), condimento salame 0,3%, glicose 0,5% e ou que os alimentos foram estocados em condições
sacarose 0,5%. Em seguida a cultura starter (quantidade indicada pelo
fabricante) foi adicionada apenas no tratamento 2. A massa foi
embutida em tripa natural, calibre 45 mm e cortadas formando bisnagas Tabela 1. Análises Microbiológicas de Bactérias Mesófilas,
de aproximadamente 20 cm de comprimento. Psicotróficas, Lácticas e Fungos; Tratamento 1.
Os salames foram armazenados em câmara climática tipo
BOD modelo EL202 (EletroLab, São Paulo, Brasil) e mantidos a Tempo de Fermentação (dias)
Análises Microbiológicas
temperatura média de 25°C nos dois primeiros dias, com umidade
0 21
relativa controlada e a 15°C nos 26 dias restantes de maturação, até
atingirem 0,9 de Aw (atividade de água), e com a umidade relativa do Mesófilos (UFC/g) 7x105 1,1x107
ambiente em torno de 73%. Após o final do processo de Psicotróficos (UFC/g) 1,5x105 0
maturação/secagem, os salames foram embalados a vácuo, numa Bactérias lácticas (UFC/g) 1,7x104 7,7x104
Fungos (UFC/g) ------ 1,1x105

89
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2. Análises Microbiológicas de Bactérias Mesófilas, O Salame com adição de cultura starter (T2) apresentou
Psicotróficas, Lácticas e Fungos; Tratamento 2. maiores notas quando comparado ao tratamento 2, amostra controle (sem
adição de cultura) em todos os quesitos (cor, sabor, textura e impressão
Tempo de Fermentação (dias) Global) apesar das médias não diferirem significativamente de um
Análises Microbiológicas
tratamento para o outro.
0 21 Alguns estudos propõem que a análise sensorial tem
Mesófilos (UFC/g) 1x107 2,4x107 desempenhado um importante papel no controle de qualidade de produtos
Psicotróficos (UFC/g) 3,2x105 0 alimentícios, geralmente com foco na compreensão das ligações entre as
características físico químicas dos produtos e as respostas sensoriais.
Bactérias lácticas (UFC/g) 6,9x106 2,9x106 As propriedades sensoriais como cor e textura são
Fungos (UFC/g) ------ 6,5x104 importantes para a aceitação dos produtos alimentícios pelo
consumidor e por isso, muitos estudos estão sendo conduzidos para
Para as análises de bactérias psicotróficas foi detectado a otimizar e melhorar essas características nos alimentos (10).
presença da mesma apenas no tempo 0, ou seja, antes da fermentação,
provavelmente tal microrganismo estava presente na matéria-prima, nesse 4. CONCLUSÃO
caso na carne por ser um produto refrigerado. Apesar da legislação não
estabelecer um padrão máximo para bactérias psicotróficas em carnes A presença da cultura starter nos salames não foi
refrigeradas (matéria-prima para produção de salame) a International determinante para que houvesse diferença significativa entre os
Commission on Microbiological Specifications for Foods (7) permite- tratamentos, embora as maiores notas foram atribuídas ao tratamento 2,
se uma contagem máxima de 1,0x10 7 UFC/g de microrganismos com adição de cultura starter. Dessa forma, é viável desenvolver um
aeróbios totais para os alimentos em geral, logo se observa que de acordo salame tipo italiano adicionado de culturas starters com as mesmas
com os valores obtidos a presença de bactérias psicotróficas no tempo 0 características em relação tratamento controle atendendo a legislação
nos dois tratamentos estão abaixo do permitido pela ICMSF. Brasileira quanto aos parâmetros microbiológicos.
Após 21 dias de fermentação não se constatou a presença de
bactérias psicotróficas em nenhum dos tratamentos como mostra as
Tabelas 1 e 2. Muitas espécies de bactérias lácticas utilizadas na REFERÊNCIAS
produção de alimentos fermentados, têm apresentado antagonismo a 1.CAMPAGNOL, P. C. B. Cultura Starter Produzida em meio de
outras bactérias, incluindo as do mesmo gênero e/ou patógenos. Além Cultura de Plasma Suíno e Antioxidante Natural na Elaboração do
disso, o ácido láctico produto da fermentação contém outros compostos Salame. 2007. 74f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de
que ocasionam o fenômeno da antibiose, como as bacteriocinas (10). Alimentos) – Faculdade de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
No tratamento 1 houve um aumento de bactérias lácticas do Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2007.
durante a fermentação como mostra a Tabela 1. As bactérias ácido lácticas
são os microrganismos que dominam a flora microbiana de embutidos 2.TERRA, A. B. M.; FRIES, L. L. M.; TERRA, N. N. Particularidades
fermentados, devido às condições anaeróbicas do meio, presença de na fabricação de salame. 1. ed. São Paulo: Varela, 2004. 152p.
cloreto de sódio, nitrato e nitrito. Já o tratamento 2 teve uma redução na
quantidade de bactérias lácticas do tempo 0 para o tempo de fermentação 3.LIMA, I. L. Elaboração e caracterização de salame de cordeiro
(21 dias) isso pode ter ocorrido devido a ação bacteriocinas do ácido santa inês. 2009. 76f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
láctico produzido pela cultura já que as bacteriocinas exibem Alimentos). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Itapetinga,
propriedades antimicrobianas contra espécies intimamente relacionadas 2009.
com o organismo produtor (10).
4.LÜCKE, F. K. Utilization of microbes to process and preserve meat.
De acordo com os resultados obtidos (Tabela 1 e 2) após 21
Meat Science, 56, 105-115, 2000.
dias de fermentação, T1 apresentou uma maior quantidade de colônias de
fungos que T2. Os bolores têm um papel importante no desenvolvimento 5.CASARIL, K. B. P. B.; BENTO, C. B. P.; HENNING, K.; PEREIRA,
do aroma e do sabor desses produtos. Durante o processo de fabricação M.; DIAS, V. A. Qualidade Microbiológica de Salames e Queijos
de salame, a proliferação de fungos e leveduras na superfície é uma Coloniais Produzidos e Comercializados na Região Sudoeste do
consequência comum e até esperada, sendo os fungos de gêneros Paraná. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), 7,
Penicillium e Aspergillus os mais presentes (2). 2, 75-85, 2017.
A presença de bolores na superfície de salames pode conduzir
a efeitos desejáveis e indesejáveis. Os efeitos procurados são: o sabor 6.RITTER, R..; SANTOS, D.; AGOSTINI, F. S. Microbiologia
típico mediado por oxidação do lactato, proteólise, degradação de contaminante e patogênica de linguiça (salame) colonial, analisada em
aminoácidos, lipólise, proteção contra colonizações espontâneas de quatro períodos distintos. Higiene Alimentar, 17, 113, 60-66, 2003.
mofos não desejáveis e bactérias, o retardamento da rancificação e
estabilização da cor por atividade de catalases, consumo de oxigênio e 7.ICMSF. International Commission on Microbiological Specifications
proteção contra luz, reduzir o risco de desenvolvimento de uma for Foods. Microorganisms in Foods 2: Sampling for microbiological
extremidade seca, perda de água uniforme devido à evaporação de água analysis - Principles and specific applications. Ed. Blackwell
mais lenta e facilidade na retirada da tripa (10). Scientific Publications, 1986.

8.ROSA, C. M. Purificação e Mecanismo de Ação de uma


▪ Análise Sensorial
Bacteriocina produzida por Lactobacillus sake 2a Isolado de
A avaliação da qualidade do salame, baseada na satisfação e Linguiça Frescal. 2001. 114f. Tese (Doutorado em Tecnologia de
preferência do consumidor deriva do consumo de salame e depende de Alimentos) - FacuIdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São
um conjunto de respostas psicológicas e sensoriais únicas de cada Paulo. São Paulo, 2001.
indivíduo (5). Os resultados estão expressos na Tabela 3.
9.RANTSIOU, K.; COCOLIN, L. New developments in the study of the
Tabela 3. Valores médios das notas para impressão global, Cor, Aroma, microbiota of naturally fermented sausages as determined by molecular
Sabor e Textura. methods: A review. International Journal of Food Microbiology, 108,
2, 255-267, 2006.
Tratamentos
Parâmetros Sensoriais 10.BRUSTOLIN, J. C. Uso de Natamicina no Controle do
T1 T2 Desenvolvimento de fungos em salame tipo italiano. 2009. 53f.
Cor 7,52a ± 1,34 7,78a ± 1,36 Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) –
Sabor 7,46a ± 1,62 7,68a ± 1,39 Faculdade de Ciência e Tecnoloigia dos Alimentos, Universidade Federal
de Santa Maria. Santa Maria, 2000.
Textura 6,88a ± 1,67 7,14a ± 1,63
Impressão Global 7,54a ± 1,23 7,6a ± 1,43

90
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Obtenção do perfil ideal para estruturados de goiaba (Psidium guajava L.) por meio da análise
de penalidades do questionário check-all-that-apply
Antonio Araujo-Filho¹, Juliana Costa2, Amanda Leal3, Carlos Alves4, Maria da Mata5, Paulo Sousa6
1
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, antonioaugusto.laf@gmail.com;
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
4
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
5
Professora Doutora Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Portugal;
6
Professor Doutor do Curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: acilação; CATA; gelificação; hidrocoloides.


silicone retangulares (largura x altura x comprimento = 27 x 10 x 50
INTRODUÇÃO mm), reservados em temperatura ambiente durante 30 minutos e então
refrigerados entre 5 °C e 10 °C por 12 horas. As amostras foram
O consumidor moderno está aumentando a sua elaboradas em triplicata, permanecendo armazenadas em refrigeração
conscientização acerca da necessidade de uma dieta saudável bem como até o momento das análises.
dos benefícios e do processamento daquilo que consome, buscando, As quatro amostras (Ágar, LA100/HA0, LA75/HA25 e
assim, alimentos sempre mais frescos [1]. Essa demanda induz as LA50/HA50) foram avaliadas por 100 provadores não treinados, de
empresas do ramo a desenvolverem produtos que mantenham o máximo ambos os sexos, recrutados de forma aleatória e voluntária, com idade
de características da matéria prima in natura, sem aditivos, e ainda entre 18 e 65 anos. Aos comensais foi entregue o questionário CATA
facilitando o transporte, preparo e consumo destes [2]. com 28 termos descritivos previamente selecionados com possíveis
Os estruturados de frutas, produto resultante da junção entre provadores (Tabela 01). Durante o teste, os recrutados foram orientados
polpas de frutas e hidrocoloides, tem alto potencial para atender à nova a assinalar os termos que acreditavam melhor descrever as
demanda do consumidor. Estes podem agregar valor à frutas mais características dos estruturados [16]. Também foi entregue uma ficha
baratas, corrigir sabores fortes (como acidez, adstringência e amargor), com os mesmos descritivos do CATA mas para que, desta vez, o
reduzir perdas pós-colheitas e melhorar cor, textura, aroma, valor consumidor assinalasse quais seriam as características apropriadas para
nutricional e até vida útil [3, 4, 5]. uma amostra ideal. A análise de penalidade foi executada nas respostas
A goiaba (Psidium guajava L.), fruta nativa da América do dessa última ficha, visando identificar quais atributos teriam menor,
Sul, é rica em fibras, licopeno, vitamina C e compostos fenólicos [6, 7]. maior ou nenhum efeito sobre a preferência do produto [12, 14].
Dessa maneira, a goiaba apresenta-se como uma potencial fonte para a
fabricação de estruturados de frutas, corrigindo problemas como a vida Tabela 01. Lista de atributos gerados para a aplicação do teste CATA.
útil pós-colheita e entregando um produto de alto valor nutricional.
Lista de atributos gerados para o CATA
Os hidrocoloides utilizados na formação dos estruturados
são polissacarídeos de alto peso molecular, solúveis em água e com Homogênea Suculenta
Brilhante Aroma frutado
capacidade de ligação à água, espessando ou gelificando líquidos. [8, Cor pálida Aroma ácido (azedo)
9]. O ágar, extraído de algas, é mais comumente encontrado na Cor vermelho-rosado Aroma doce
formulação de vários alimentos principalmente devido ao seu menor Cor vermelho-amarelada Aroma de goiaba
Presença de líquido (exudado) Aroma de goiaba cozida
preço e maior disponibilidade [10]. Já a goma gelana, ou gelano, é um Firme Gosto ácido (azedo)
produto do metabolismo da bactéria Sphingomonas elodea, que traz Mole Gosto doce
características de gelificação diferentes da do ágar, mas tem menor Macia Sabor de fruta
Gelatinosa Sabor de goiaba
disponibilidade no mercado [11]. Pegajosa Sabor de goiaba verde
O método check-all-that-apply (CATA) está sendo muito Adstringente Sabor de goiaba cozida
utilizado para caracterização sensorial com consumidores [12]. Nesta Arenosa Sabor de goiaba fresca
Quebradiça Sabor estranho
metodologia, são apresentados ao avaliador uma lista de descritivos
(palavras ou expressões), com vocabulário acessível, para que este
possa caracterizar o produto por meio de múltipla escolha [12, 13]. O teste de Cochran Q foi realizado para identificar
Ainda pode-se executar uma análise de perfil ideal e de penalidades, diferenças significativas de cada atributo do método CATA [17].
identificando, dentro dos descritivos, quais características estariam
mais presentes na amostra ideal e quais atributos influenciariam a RESULTADOS E DISCUSSÃO
aceitação do produto de maneira negativa ou positiva [14].
Diante do exposto, este trabalho buscou aplicar o O Gráfico 01, gerado a partir dos descritivos mais
questionário CATA para analisar a penalidade dos descritivos e associados à cada amostra, traz dois eixos que explicam 92,28% dos
encontrar o perfil ideal de estruturados de goiaba (Psidium guajava L.) resultados, concentrando 63,70% no eixo horizontal (F1). O gráfico
elaborados com os hidrocoloides ágar e gelano. aponta que a amostra ideal seria melhor descrita com os termos
“macia”, “aroma de goiaba fresca”, “homogênea”, “firme” e
MATERIAIS E MÉTODOS “brilhante”. Enquanto isso, os termos “presença de líquido”,
“pegajosa”, “aroma frutado”, “mole” e “arenosa” são os que mais se
O processamento e demais análises dos estruturados foram distanciam da situação ideal, pondo-se de maneira negativa à aceitação
realizados no Laboratório de Frutos e Hortaliças da Universidade do produto.
Federal do Ceará. Todas as amostras foram fabricadas com polpas de As amostras de ágar e LA100/HA0 foram as que mais se
goiaba não pasteurizadas cedidas pela empresa Pomar da Polpa aproximaram da situação ideal, trazendo maior frequência dos
(Fortaleza, Ceará). Foram utilizados gelano (Kelcogel® F) e ágar (CP descritivos considerados interessantes, enquanto as amostras
Kelco) em quatro formulações de produtos, todos com concentração LA75/HA25 e LA50/HA50 foram as menos semelhantes do ideal,
total de 0,75% de hidrocoloide. Uma formulação foi composta 100% de possivelmente devido à presença de líquido exudado e textura mole,
ágar e outra 100% gelano de baixo acilo. As duas outras formulações pegajosa ou arenosa. Os autores Worch et al. [18] citaram em seus
foram uma mistura de gelano de alto (HA) e baixo (LA) acilo: a estudos que a descrição do produto ideal fornecida pelos consumidores
primeira foi composta de 75% LA e 25% HA e a outra recebeu 50% de foi semelhante ao das amostras com as pontuações de mais alta
cada. preferência, o que indica a validade das informações fornecidas pelos
Os hidrocoloides foram pesados em béckeres, adicionados consumidores, ao descrever seu produto ideal usando o teste CATA.
de 50 mL de polpa de goiaba e homogeneizados com bastão de vidro.
A solução foi aquecida a aproximadamente 85 ± 2 °C durante 30
segundos em processador de alimentos tipo “Thermomix” (Yammi
SPM-018), para a dissolução completa do hidrocoloide segundo
metodologia descrita por [15]. O resultante foi disposto em moldes de

91
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gráfico 01. Representação das amostras de estruturado de goiaba (ágar, LA100/HA0, AGRADECIMENTOS
LA75/HA25 e LA50/HA50) e o produto ideal.

Agradecimentos à Capes (Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento e
à Pomar da Polpa pelo fornecimento da matéria-prima.

REFERÊNCIAS

1. O'SHEA, N.; ARENDT, E. K.; GALLAGHER, E. Dietary fibre


and phytochemical characteristics of fruit and vegetables by-products
and their recent applications as novel ingredients in food products.
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2. SANTOS, J. P. Avaliação do teor e análise qualitativa do ágar das
espécies Gelidiella acerosa (forsskål) feldmann and g. hamel
(Relidiales, Rhodophyta) e Gracilaria domingensis (kützing) sonder
ex dickie em costões rochosos dos municípios de ilhéus e uruçuca.
2011. 94f. (Dissertação de mestrado) Universidade Estadual de Feira
de Santana –Bahia, 2011.
3. AZOUBEL, P. M., ARAÚJO, A. J. B., OLIVEIRA, S.B.,
Os gráficos 02 e 03 exibem as análises de penalização com base nas AMORIM, M. R. Restructuring Passiflora cincinnata fruit pulp:
questões CATA, mostrando as incongruências dos atributos, sendo o influence of hydrocolloids. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 31,
Gráfico 02 relacionado aos atributos que faltaram no produto real e o n. 1, p. 160-166, 2011.
Gráfico 03 relacionado aos que não deveriam ter no produto real. 4. BATES, R.P.; MORRIS, J.R.; CRANDALL, P. G. Principles and
practices of small-and medium-scale fruit juice processing. FAO
Gráfico 02. Resultados do pênalti das questões CATA em que o atributo foi selecionado para o Agricultural Services Bulletin, 146. Journal of Human Nutrition,
produto ideal mas não consta no produto real. University of Florida, 2001.
5. FARAONI, A. S. Desenvolvimento de sucos mistos de frutas
tropicais adicionados de luteína e epigalocatequina galato. 2009. 134
f. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) –
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Universidade Federal de Viçosa. 2009.
6. OSÓRIO, C.; FORERO, D. P.; CARRIAZO, J. G. Characterisation
and performance assessment of guava (Psidium guajava L)
microencapsulates obtained by spray-drying. Food Research
International, v.44, p.1174-1181, 2011.
7. FLORES, G., WU, S.B.,NEGRIN, A., KENNELLY, E. J.
Chemical composition and antioxidant activity of seven cultivars of
guava (Psidium guajava) fruits. Food Chemistry, v. 170, 1, p. 327-
335, 2015.
8. FUNAMI, T.; ISHIHARA, S.; NAKAUMA, M.; KOHYAMA, K;
NISHINARI, K. Texture design for products using food
hydrocolloids. Food Hydrocolloid, 26, 412-420, 2012.
Gráfico 03. Resultados do pênalti das questões CATA em que o atributo não foi selecionado 9. HAYAKAWA, F.; KASAMI, Y.; ISHIHARA, S.; NAKAO, S;
para o produto ideal mas consta no produto real. NAKAUMA, M.; FUNAMI, T; NISHINARI, K.; KOHYAMA, K.
Characterization of eating difficulty by sensory evaluation of
hydrocol- loid gels. Food Hydrocolloid. 38, 95-103, 2014.
10.YARNPAKDEE, S.; BENJAKUL, S.;
KINGWASCHARAPONG, P. Physico-chemical and gel properties
of agar from Gracilaria tenuistipitata from the lake of Songkhla. Food
Hydrocolloid. 51, 217-226, 2015.
11. MORRIS, E. R.; NISHINARI, K.; RINAUDO, M. Gelation of
gellan e A review. Food Hydrocolloid. 28, 373-411. 2012.
12. MEYNERS, M.; CASTURA, J.C. Check-all-that-apply questions
P. Varela, G. Ares (Eds.), Novel Techniques in Sensory
Characterization and Consumer Profiling, CRC Press, Boca Raton, p.
271-305, 2014.
13. VALENTIN, D. et al. Quick and dirty but still pretty good: a
review of new descriptive methods in food science. International
Journal of Food Science and Technology, v.47, p.1563-1578, 2012.
14. VAN TRIJP, H. C. M. et al. The quest for the ideal product:
Comparing different methods and approaches. Food Quality and
Preference, v.18, p.729-740, 2007.
O Gráfico 02 informa que 45% dos avaliadores concluíram 15. DANALACHE F. A, MATA P.; MOLDÃO-MARTINS, M.;
que os atributos “firme” e “macia” foram os mais incongruentes diante ALVES V.D. Novel mango bars using gellan gum as gelling agent:
de uma amostra ideal, ou seja, deveriam estar mais acentuados para Rheological and microstructural studies. Food Sci Technol., 62,
melhorar a aceitação. Já o Gráfico 03 indica que 35% dos avaliadores 576-583, 2015.
perceberam os estruturados mais moles que o ideal e 30% os 16. VIDAL, L. et al. Comparison of Correspondence Analysis based
perceberam mais gelatinosos que o ideal, reduzindo sua aceitação. on Hellinger and chi-square distances to obtain sensory spaces from
check-all-that-apply (CATA) questions. Food Quality and
CONCLUSÃO Preference, v. 43, p. 106-112, 2015.
17. MANOUKIAN, E. B. Mathematica ln on parametric statistics.
As amostras de ágar e LA100/HA0 melhor se aproximaram New York: NY: Gordon and Breach. 1986.
de um perfil ideal segundo os consumidores, principalmente por terem 18. WORCH, T. et al. Extension of the consistency of the data
sido mais frequentemente percebidas com as características positivas obtained by the Ideal Profile Method: Would the ideal products be
sumarizadas nas análises de penalidades. Assim, nos próximos more liked than the test ed products? Food Quality and Preference, v.
estruturados de goiaba, serão mais levados em consideração os termos: 26, p. 74-80, 2012.
homogênea, brilhante, macia, firme e aroma de goiaba fresca. X
X
X
X

92
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Opiniões de consumidores em relação às características sensoriais e de consumo de molhos


para salada

Marina, Rebouças1; Maria, Alves2; Alice, Mineiro3


1
Professora Doutora, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará campus Crateús, E-mail:
marina.reboucas@ifce.edu.br
2
Aluna de Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará campus Crateús
3
Aluna de Curso Técnico em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará campus Crateús

PALAVRAS CHAVE: Emulsão; Estudo com consumidores; Grupo de Foco.

INTRODUÇÃO Em seguida, foram apresentados três tipos de molhos


comerciais aos consumidores, que foram avaliados individualmente
Os molhos para salada são produtos apetitosos, que por cada um, para melhor visualização das características sensoriais
tornam estimulante o consumo de legumes e vegetais, pois, deste tipo de produto e também para estimular os participantes a
melhoram a aparência e o aroma das saladas tornando-as agradáveis expressarem suas opiniões com relação às características sensoriais
ao paladar do consumidor (1). dos mesmos.
É fácil identificar o aumento da demanda desse produto e
outros alimentos minimamente processados e prontos para consumo, RESULTADOS E DISCUSSÃO
ao se observar o número crescente de variedades oferecidas nas
prateleiras de supermercados (2). O perfil sócio demográfico (Tabela 1) dos participantes
As características sensoriais podem influenciar a intenção foi de maioria feminina (63,64%) na faixa etária entre 19 e 51 anos,
de compra e otimização de um produto, podendo exercer grande com prevalência de idade entre 19 a 28 anos (59,1%),e estudantes de
impacto sobre a aceitação dos alimentos (3). Desta forma, é graduação (40,91%).
importante avaliar quais características sensoriais são importantes
para os consumidores, afim de melhor delinear o desenvolvimento de Tabela 1. Dados demográficos dos participantes do grupo de foco (n
um produto. = 22).
Com isso, uma ferramenta de pesquisa, que pode ser Variáveis
utilizada para se obter as opiniões e atitudes dos consumidores com demográficas Classes %
relação a um produto, é a técnica de grupo de foco (4), a qual
consiste em uma discussão em grupo, coordenada por um mediador,
que apresenta o assunto de interesse e permite aos participantes se Sexo Feminino 63,64
expressarem livremente acerca do assunto seguindo um roteiro de Masculino 36,36
perguntas previamente estabelecido (5). Faixa etária 19-28 59,1
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi obter opiniões de
29-38 22,73
consumidores acerca das características sensoriais e de consumo de
molhos para saladas. 39-48 13,64
Acima de 50 4,55
MATERIAL E MÉTODOS Grau de instrução Curso técnico 36,36
Graduação 40,91
Este estudo trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa de
Pós-graduação 22,73
caráter exploratório, na qual utilizou-se a metodologia de grupos de
foco com 22 participantes entre alunos e servidores do IFCE Campus
Crateús, sendo realizada em 5 sessões, onde a primeira contou com a Por meio do questionário aplicado, em relação aos tipos
presença de 3 participantes, a segunda e terceira com 5, a quarta com de molhos consumidos, a maior parte dos consumidores (50%)
4 e a última com 3 indivíduos. declarou consumir tanto molhos industrializados quanto caseiros
As sessões foram conduzidas por um moderador, que (Tabela 2).
contou com o auxílio de um assistente responsável pelas anotações
das opiniões. Todos os encontros foram gravados em áudio para Tabela 2. Tipos de molhos para salada consumidos pelos
análise posterior. Os participantes foram recrutados com base no participantes do grupo de foco.
hábito de consumo de molhos para tempero de saladas. Tipos %
Antes de ser iniciada a discussão, foi aplicada uma ficha Caseiro 18,18
para avaliação do perfil sócio demográfico e características de
consumo relacionadas a molhos para saladas, com perguntas Industrializado 31,82
relacionadas ao sexo, idade e escolaridade. Também foi aplicado um Ambos os tipos 50
questionário sobre os tipos de molhos utilizados, frequência de
consumo e os sabores mais consumidos. Estes dados foram
submetidos à análise por meio de estatística descritiva, em tabela de A Tabela 3 mostra que a maior frequência de consumo
frequência relativa. desse produto foi de 2 a 3 vezes por semana (45,45%).
As sessões foram iniciadas com questões relacionadas às Os resultados de preferência e frequência de consumo
características de consumo de molhos, seguindo um roteiro de estão em desacordo com Baracat (2018) (6) que verificou maior
perguntas previamente elaborado (Figura 01). preferência dos consumidores por molhos caseiros e uma maior
frequência de consumo desse produto quinzenalmente.
Figura 1. Roteiro de perguntas utilizado nas sessões de grupo de
foco. Tabela 3. Frequência de consumo dos participantes do grupo de
1) Que tipo de emulsões para temperar saladas você consome? foco.
2) Com que frequência você consome? Frequência de consumo %
3) Quais são os sabores que você consome? 1 vez por semana 22,73
4) Quais características sensoriais você busca encontrar neste 2 a 3 vezes por semana 45,45
tipo de produto? A cada 15 dias 18,18
5) Quais características sensoriais você utilizaria para descrever 1 vez mensalmente 13,64
este produto?
Os sabores mais consumidos de molhos para salada foram
azeite e limão (63,64%) e rosê (40,91%) como mostra a Tabela 4.

93
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Com relação às características sensoriais que os Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de
consumidores buscam encontrar nesse tipo de produto, estes Campinas, Campinas, 2018.
disseram, de maneira geral, buscar um produto com sabor ácido e
levemente doce, pois de acordo com os participantes, são sabores que
combinam melhor com a salada, melhorando seu sabor.
Tabela 4. Sabores consumidos pelos participantes do grupo de foco.
Sabores consumidos* %
Azeite e limão 63,64
Balsâmico 9,1
Caesar 13,64
Caseiro 50
Ervas finas 22,73
Iogurte 13,64
Italiano 13,64
Mostarda e mel 31,82
Parmesão/queijos 27,27
Rosê 40,91
* Consumidores puderam marcar todos os sabores que eles
consumiam, portanto são observadas somas das frequências maiores
do que 100%.

A maioria dos participantes disse que o produto deve


apresentar textura pouco viscosa, pois essa característica permite que
o produto misture melhor na salada. Os consumidores relataram que
se o molho apresentar textura muito líquida ele não irá se misturar
adequadamente a salada, depositando-se no fundo do prato. Por outro
lado, se o molho for muito viscoso, ele não irá se misturar de forma
adequada ao alimento.
A presença de temperos é outra característica considerada
relevante, visto que confere um aspecto mais natural ao produto,
fazendo com que este se torne mais atrativo. Os participantes
relataram ainda que a presença de temperos em suspensão faz com
que eles tenham a certeza de que o produto realmente contém esses
ingredientes.
Bacarat (2018) relatou que a presença de temperos foi
uma das características sensoriais que os consumidores disseram
buscam encontrar em molhos de tomate, bem como uma textura com
maior consistência (6).
No tocante às características sensoriais que os
consumidores utilizariam para descrever esse produto, eles
declararam como sendo um produto de sabor e aroma ácido e
agridoce. Estes ainda descreveram o produto como tendo uma textura
de baixa viscosidade a cremoso (alta viscosidade).

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que os participantes deste estudo


consideram os molhos para salada como sendo um produto viscoso,
de sabor ácido ou agridoce, com a presença de temperos, sendo estas
as características que eles esperam encontrar neste tipo de produto.

REFERÊNCIAS

1. COSTA. E. S. Desenvolvimento de molho de iogurte para salada


com óleo essencial de manjericão (Ocimum basilicum l.). 2015. 22f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia de
alimentos) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Mato Grosso, Cuiabá, 2015.

2. GALLO, J. M. A. S. Avaliação do comportamento reológico e das


propriedades sensoriais de molhos comerciais para salada tratados
por irradiação. 2013. 99 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) -
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

3. TORRES-MORENO, M.; TARREGA, A.; TORRESCASANA,


E.; BLANCH, C. Influence of label information on dark chocolate
acceptability. Appetite 58, 2, 665–671, 2012.

4. CARNEIRO, J. D. S.; MINIM, V. P. R.; CHAVES, J. B. P.;


SILVA, C. H. O.; REGAZZI, A. J. Opiniões e atitudes dos
consumidores em relação a embalagens e rótulos de cachaça. Ciênc.
Tecnol. Aliment. 30, 3, 669-673, 2010.

5. DUTCOSKY, S. D. Métodos Afetivos ou Subjetivos. In:, Sílvia


Dutcosky (Ed.). Análise sensorial de alimentos. 4. ed. Curitiba:
Champagnat, 2013, v. 4, p. 295-355.

6. BARACAT, C. A. Percepção do consumidor a respeito da cor do


molho de tomate industrializado. 2018. 83f. Dissertação (Mestrado) –

94
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento e aceitação sensorial de macarrão adicionado de beterraba e molho de


manga

Maria Isabela Ramos1, Denise Soares2, Luís Moura Neto2, Maria Graziele Ramos1, Zanelli Costa3, Vanessa Alves4

1
Discente do curso Técnico em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. E-
mail: mariaisabelabr2019@gmail.com
2
Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3
Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
4
Graduada, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.

PALAVRAS-CHAVES: atributos sensoriais, desenvolvimento de novos produtos, talharim.

INTRODUÇÃO
A cor �um dos atributos mais impactantes na avaliação de Figura 1. Fluxograma de processamento do macarrão com beterraba.
um produto pelo consumidor, pois se espera que este possua uma cor
característica. Desta forma, a incorporação de cores à alguns alimentos Recepção dos insumos
podem torná-los mais atrativos para os consumidores.
Dentre os produtos onde é interessante à adição de vegetais
tem-se o macarrão. Macarrão é uma massa alimentícia seca, feita de
farinha de trigo e ovo, com variadas formas e espessuras como o penne Lavagem e sanitização
e ravióli, embora geralmente possua a forma de fio alongado, pronta
para o cozimento. O macarrão é amplamente consumido diariamente
pela população de todas as faixas etárias.
Diante da importância da condução de estudos no Brasil Cozimento e trituração da beterraba
sobre a adição de frutos e hortaliças em alimentos comuns no dia-a-
dia do brasileiro, essa pesquisa se propõe a elaborar e estudar a
aceitação sensorial de macarrão com a beterraba coberto com molho
de manga, que possui cor característica, agregando essa cor ao Pesagem e mistura dos ingredientes
macarrão e, assim, causando um aumento no consumo da beterraba.

MATERIAL E MÉTODOS
- Obtenção dos insumos Descanso da massa
Tanto os materiais para formulação do macarrão quanto os
materiais para o molho de manga foram obtidos no comércio local de
Afogados da Ingazeira/PE, sendo recepcionados na Unidade de
Processamento de Massas (UP) do Instituto Federal de Educação, Abertura da massa
Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Afogados da
Ingazeira, onde estes foram devidamente lavados com auxílio de uma
escova e higienizados a 200 ppm por 10 minutos seguido de enxague.
A etapa final foi a do processamento, onde a beterraba foi cozida em Corte da Massa
banho-maria e em seguida foi triturada em processador doméstico. A
manga foi descascada manualmente e sua polpa foi cortada em cubos.

- Elaboração do macarrão com beterraba Formato do macarrão


Os insumos utilizados para a elaboração do macarrão com
beterraba encontram-se descritos na Tabela 1.
Após o termino desse tempo faz-se a abertura da massa
Tabela 1. Insumos utilizados no macarrão com beterraba. com o auxílio de uma máquina de macarrão em seguinte com o uso de
uma faca, cortou-se 30 centímetros da massa para dar o formato do
Insumos Quantidade (%) macarrão. Sendo feitos o tipo talharim (Figura 2).
Ovo 9,75
Azeite 3,30 Figura 2. Macarrão com beterraba em secador.
Beterraba 21,73
Farinha de trigo 65,22

Após os insumos serem pesados com o auxílio de uma


balança eletrônica foram misturados em um processador o ovo, o
azeite e a beterraba até obtenção de um líquido uniforme para então
ser adicionada a farinha de trigo até que se forme uma massa lisa e
homogênea sendo, em seguida, a massa retirada do processador e
colocada em um recipiente onde foi envolta com plástico filme durante
30 minutos para que a mesma assimile a cor da beterraba (Figura 1).

- Elaboração do molho de manga


O molho de manga foi elaborado com os insumos descritos
na Tabela 2.

95
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 3. Resultado do teste sensorial do macarrão elaborado com


Tabela 2. Insumos utilizados no preparo do molho de manga. beterraba, coberto com molho de manga.
Atributos sensoriais Média ± Desvio Padrão
Insumos Quantidade (%)
Cor 7,15 ± 1,63
Manteiga 3,11 Sabor 7,78 ± 1,27
Manga 35,55 Textura 7,95 ± 1,22
Caldo de galinha 10,13 Impressão Global 7,55 ± 1,46
Ervilha 26,67 Atitude de Compra 4,15 ± 0,90
Cebola 4,44
Alho 0,53 As boas notas atribuídas pelos provadores estão coerentes
Presunto 17,78 com a atitude de compra, onde a nota média foi de 4,15 ± 0,90,
Mel 1,78 mostrando que os mesmos declararam que “Provavelmente
comprariam” o macarrão com beterraba e molho de manga,
Após higienização e preparo da manga (conforme descrito evidenciando que mesmo possui um bom potencial para
no item 2.1), os insumos a serem utilizados no molho de manga foram comercialização.
pesados e em seguida foram levados ao fogo para o preparo do molho.
Em uma panela foi colocado a cebola, o alho, a manteiga e o mel, após CONCLUSÃO
o tempo de refogue (aproximadamente 90 segundos), adicionou-se a O macarrão elaborado com beterraba e coberto com molho
polpa da manga sem casca cortada em cubos e o caldo de galinha até de manga é bem aceito por parte dos provadores e possui boa atitude
que a manga começasse a virar uma pasta. Tudo isto foi realizado sob de compra. Este produto traz como benefício o consumo de beterraba,
cozimento e mistura da massa com o auxílio de uma colher de forma visto que adicionada no macarrão deixa uma coloração atrativa ao
constante. Em seguida foi adicionado o presunto em cubos e, por fim, consumidor.
retirou-se do cozimento e adicionou-se a ervilha. O molho elaborado
foi adicionado ao macarrão previamente cozido na água e sal (até o REFERÊNCIAS
ponto al dente) (Figura 3).
(1) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory
Figura 3. Macarrão elaborado com beterraba e molho de manga Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.

(2) RODRIGUES, C. C. de A.; VILAR, J. dos S. Avaliação sensorial


do macarrão tipo massa fresca com farinha de berinjela. Vis. Acad. 14,
62-70, 2013.

- Avaliação Sensorial
O teste sensorial foi realizado no IFPE campus Afogados
Da Ingazeira. Para esse teste, utilizaram-se 60 provadores, com faixa
etária prevalente de menor de 18 anos de ambos os sexos, sendo 37
mulheres e 23 homens. Destes, 20 provadores afirmaram comer
beterraba mensalmente, enquanto outros 20 provadores afirmaram
nunca comer beterraba. Outros 14 provadores consomem aos menos
uma vez na semana e 6 diariamente.
Todos os provadores receberam uma amostra do macarrão
de beterraba com o molho de manga. Junto com a amostra recebida,
receberam também uma ficha sensorial para responderem o grau de
aceitação do produto através de uma escala hedônica estruturada de 9
pontos, variando de 1 – Desgostei Muitíssimo a 9 – Gostei Muitíssimo
quanto as características de sensórias de cor, sabor, textura e impressão
global e variando de 1 - Certamente não compraria à 5 - Certamente
compraria quanto à atitude de compra dos provadores, conforme
descrito por Meilgaard et al. (1). Os resultados da análise sensorial
foram apresentados com média ± desvio padrão.
O presente trabalho foi aprovado com número CAAE
09407119.8.0000.8128, parecer 3.251.337 no comitê de ética
credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP),
conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os atributos sensoriais avaliados no teste de
aceitação obtiveram notas médias entre 7,15 e 7,95, todas dentro da
zona de aceitação do produto, sendo a maior nota atribuída para a
textura (7,95 ± 1,22), estando mais próxima de “Gostei Muito”.
Rodrigues e Vilar (2), avaliando sensorialmente o macarrão
tipo massa fresca com farinha de berinjela, observou resultados
semelhantes ao presente estudo, tendo para o macarrão com farinha de
berinjela notas médias variando de 6,6 (cor) e 7,7 (textura).
Evidenciando, desta forma, que a massa do macarrão quando
adicionada de frutas ou hortaliças é bem aceita pelos provadores.

96
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Emprego De Feijão Guandu (Gajanus Cajan (L.) Millsp.) Na Elaboração De Bolos Em


Substuição Parcial À Farinha De Trigo
Cinthia Rebouças1, Yvilla Loura2, Patrícia Vieira2, Luis Henrique Silva3, Francisco José Lima4, Lívia Pinho4
Palavras-chave: Leguminosa, Aceitação, Valor nutricional.

INTRODUÇÃO comeria) e 5 a menor pontuação (nunca


comeria). As amostras foram avaliadas por 100
O bolo é um produto de fácil produção, sua provadores não treinados, os dados foram
produção industrial no Brasil aumentou de 33 submetidos à análise de variância e teste de
mil toneladas em 2017 para 34 mil toneladas Tukey em nível de 5% de significância. Para a
em 2018, com um consumo de 0,16 determinação da composição dos bolos foram
kg/hab/ano. Dentre esse aumento considerado analisados os teores de umidade, cinzas,
destaca-se a procura por versões mais proteínas, lipídios e carboidratos mediante IAL
saudáveis (1). Os grãos do feijão guandu (4).
apresentam alta concentração de proteínas tais Tabela 1. Formulações dos bolos com e sem
como a lisina, isso permite seu uso em adição de feijão guandu.
complementação a proteínas de cereais, com
resultados biológicos próximos aos das Formulação (g)
proteínas de origem animal (2). A substituição Ingredientes P F.G. F.G. F.G.
da farinha de trigo por outras matérias primas 10% 20% 30%
alternativa proporciona ao consumidor Açúcar 289 289 289 289
produtos com características tecnológicas Demerara
inovadoras e agrega valor ao produto do ponto Feijão 0 100 200 300
de vista nutricional (3). O objetivo desse Guandu
trabalho foi desenvolver e avaliar a Farinha de 93 93 93 93
composição e aceitabilidade de bolos contendo Rosca
feijão guandu em sua formulação. Farinha de 434 334 234 134
Trigo
MATERIAL E MÉTODOS Óleo de soja 103 103 103 103
Fermento 10 10 10 10
Esse trabalho foi realizado no Laboratório de
Água 72 72 72 72
Tecnologia de Alimentos do IFMA, Campus
Ovo 4 un. 4 un. 4 un. 4 un.
Bacabal. Foram elaboradas quatro formulações
P – Padrão; F.G. – Feijão Guandu.
de bolos com substituição parcial da farinha de
trigo por feijão guandu cozido e processado em RESULTADOS E DISCUSSÃO
liquidificador. Em que P era a amostra padrão
Os resultados da análise de Escala Hedônica
(isento de feijão guandu); FG10% (com 100 g
de feijão guandu); FG20% (com 200 g de das quatro formulações estão apresentados na
feijão guandu); FG30% (com 300 g de feijão tabela 2.
Observou-se que as notas sensoriais para o
guandu). A tabela 1 contém as formulações dos
quesito sabor não apresentaram diferença
bolos.
significativa entre as amostras. Quanto à
Foi realizado teste sensorial de escala hedônica
textura os valores atribuídos aumentaram de
estruturada verbal de nove pontos, variando de
acordo com a quantidade de feijão acrescido
desgostei extremamente a gostei
durante o processamento, com melhor
extremamente para avaliação da aceitação do
resultados para a amostra F.G.30%.
sabor, textura e impressão global das amostras.
Para o teste de intenção de consumo, a amostra
Para a intenção de consumo foi adotada uma
com 30% de feijão também apresentou o
escala estruturada de 5 pontos, em que 1
melhor resultado, com média de 2,78, esse
representou a pontuação máxima (sempre
1 Professor Me. Da Unifametro, Centro Universitário Fametro , Fortaleza.
2 Estudantes do curso superior em Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia
do Maranhão - IFMA/Campus Bacabal, Brasil.
3 Técnico de laboratório do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA.
4 Professor Dr. do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA.

97
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

resultado fica nas faixas entre ocasionalmente


consumiria e frequentemente consumiria o
produto. CONCLUSÃO
Tabela 2. Resultados da análise de escala A adição do feijão Guandu em bolos gerou
hedônica para as características de sabor, produtos com uma boa qualidade sensorial,
textura e impressão global. uma vez que o bolo mais bem aceito foi o que
Parâmetros P F.G. F.G. F.G. continha quantidade máxima de feijão guandu
10% 20% 30% (30%) na sua composição. Apresentou ainda
Sabor 6,15a 6,7a 6,56a 6,59a bons teores de lipídeos, proteínas e cinzas e
Textura 5,85a 6,62 1* 6,791b 7,72b2
b valor reduzido em carboidratos. Pontuando
Impressão 6,22a 6,77a 6,77a 6,88a como mais uma alternativa de uso desse feijão,
Global principalmente pelo potencial e capacidades
F.G. - feijão guandu. Letras diferentes na mesma linha funcionais tecnológicas, além de dar maiores
diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). aplicações a uma matéria prima que é
*Comparação apenas entre amostras contendo F.G. - desconhecida pela maioria da população.
números diferentes diferem entre si pelo teste de Tukey
(p<0,05). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os resultados referentes à Composição 1-ABIMAPI. Associação Brasileira das
centesimal dos bolos estão apresentados na Indústrias de Massas Alimentícias, Pão & Bolo
tabela 3. Industrializado. Estatísticas. Mercado nacional
Tabela 3. Resultados de composição de pães. 2018. Disponível em:
centesimal dos bolos. https://www.abimapi.com.br/index.php.
Acesso em: 20 mai. 2019.
Parâmetros P F.G. F.G. F.G.
(%) 10% 20% 30% 2-JOSPH, E.; SWANSON, B.G. Growth and
Umidade 16,0 19,8
26,1 29,1 Nitrogen Retention of Rats fed Bean
± 0,9 ± 0,1
± 0,7 ± 0,8 (Phaseolus vulgaris) and Bean and Rice Diets.
Cinzas 0,95 1,07
1,12 1,19 Food Res. Int., v.26, p.273-8,1987.
± 0,03 ± 0,02
± 0,03 ± 0,05
Proteínas 6,95 5,92
7,01 4,60 3-BITENCOURT, C.; DUTRA, F.L.G.;
± 0,27 ± 0,52
± ± 0,33 PINTO, V.Z.; HELBIG, E.; BORGES, L.R.
0,008 Elaboração de bolos enriquecidos com
semente de abóbora: avaliação química, física
Lipídeos 10,12 10,91 11,91 11,29
e sensorial. B.CEPPA, v. 32, n. 1, p. 19-32,
± 0,06 ± 0,07 ± 0,24 ± 0,25
2014.
Carboidratos 65,98 62,30 53,86 53,82
Média ± DP 4-INSTITUTO ADOLFO LUTZ, IAL.
Foi possível constatar que as médias Métodos físico-químicos para análise de
relacionadas à umidade, cinzas e lipídeos alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo
cresceram conforme o aumentou-se do Lutz,1020 p. 4. ed. Brasília, 2008.
percentual de feijão na formulação e que a 5-TABELA BRASILEIRA DE
umidade pode ser um dos principais fatores de COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS.
melhoria da textura dessas formulações, em UNICAMP. 4. ed. --Campinas: NEPA-
relação às cinzas era, de fato, esperado que o UNICAMP, p. 26 – 70, 2011.
feijão guandu contivesse cerca de 4 vezes mais
cinzas que a farinha de trigo (5). A quantidade 6-MIZUBUTI, I.Y.; JUNIOR, O.B.; SOUZA,
média das proteínas ficou entre 4,6 e 6,95% L.W.O.; SILVA, R.S.S.F.; IDA, E.I.
entre as amostras, o que indicou um perfil Propriedades funcionais da farinha e
parecido entre elas. O teor de proteínas concentrado proteico de feijão guandu
presente em farinhas tem relação com a (Cajanus cajan (I.) Millsp). Archivos
capacidade de formação de emulsões, o que é latinoamericanos de Nutricion, v.50, n.3, 2000.
fundamental na produção de bolos (6).

98
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Enriquecimento nutricional e melhoria da aceitação sensorial de produtos de panificação


através da adição de frutas e hortaliças

Maria Graziele Ramos1, Denise Soares2, Luís Moura Neto2, Maria Isabela Ramos1, Zanelli Costa3, Vanessa Alves4

1
Discente do curso Técnico em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. E-
mail: mariagrazielem@gmail.com.
2
Doutor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
3
Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
4
Graduada, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.

PALAVRAS-CHAVES: atributos sensoriais, desenvolvimento de novos produtos, cupcake.

INTRODUÇÃO
O enriquecimento nutricional de alimentos através da Figura 1. Fluxograma do processamento do cupcake de cenoura.
adição de frutos e hortaliças tem grande importância não só́ para a
indústria de alimentos, como também para elevar a qualidade da
alimentação e nutrição da população, pois se pode criar novos Pesagem dos insumos
produtos ou melhorar os já́ existentes com composições balanceadas
em relação a alguns nutrientes, melhorando, dessa forma, o valor
nutritivo de diversos alimentos disponíveis no mercado (1).
Dentre os produtos onde é de suma importância o Homogeneização da farinha de trigo, ovos, óleo e açúcar cristal
enriquecimento nutricional, destacam-se os produtos de panificação.
Os produtos de panificação, tais como bolos, pães, biscoitos,
rocamboles, etc., são consumidos diariamente pela população de todas
Adição da cenoura e do fermento biológico
as faixas etárias.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo
elaborar e avaliar a aceitação sensorial de um cupcake de cenoura com
cobertura de limão, utilizando os pigmentos naturais da cenoura como
Enformagem
corante natural e os nutrientes dos dois frutos para enriquecer
nutricionalmente o cupcake elaborado.

MATERIAL E MÉTODOS Assamento a 180ºC por 25 minutos


- Obtenção dos insumos
Os insumos utilizados foram obtidos no comércio local de
Afogados da Ingazeira-PE. Estes foram levados para a Unidade de
Processamento de Massas (UP) do Instituto Federal de Educação, Para a cobertura dos cupcakes, foram utilizados: leite
Ciência e Tecnologia de Pernambuco, campus Afogados da Ingazeira. condensado, limão e emulsificante. Todos os insumos foram
Logo após serem recepcionados, a cenoura e o limão foram processados no liquidificador doméstico e batidos por três minutos.
devidamente lavados com auxílio de uma escova e higienizados a 200 A etapa final foi a colocação da cobertura em saco de
ppm por 10 minutos seguido de enxague. A etapa final foi a do confeiteiro e posterior decoração dos cupcakes (Figura 2).
processamento, onde a cenoura foi triturada em liquidificador
doméstico e o suco do limão foi removido em espremedor manual. Figura 2. Cupcake de cenoura antes e após a adição da cobertura de
limão com raspas de beterraba.
- Elaboração do cupcakes
Os insumos que foram utilizados na elaboração do cupcake
de cenoura com cobertura de limão encontram-se descritos na Tabela
1.

Tabela 1. Insumos utilizados na elaboração do cupcake com cobertura


de limão.
Cupcake de cenoura
Insumos Quantidade (%)
Farinha de trigo 29,45
Óleo 12,33
Ovos 13,70
Fermento biológico 0,68
Açúcar cristal 29,45 - Teste sensorial
Cenoura 14,39 O teste sensorial foi realizado no IFPE campus Afogados
Cobertura de limão Da Ingazeira. Para esse teste, utilizaram-se 60 provadores, com faixa
Insumos Quantidade (%) etária prevalente de menor de 18 anos de ambos os sexos. Todos os
Limão 10,99 provadores receberam uma amostra de cupcake e aproximadamente
Leite Condensado 86,81 100 mL de água. Após degustarem a amostra, receberam uma ficha
Emulsificante 2,20 sensorial para responderem seu grau de aceitação ao produto através
de uma escala hedônica estruturada de 9 pontos, variando de 1 –
A etapa inicial do preparo do cupcake foi a Desgostei muitíssimo a 9 – Gostei muitíssimo quanto as características
homogeneização da farinha de trigo com os ovos, o óleo e o açúcar sensoriais de cor, sabor, doçura e impressão global. Ainda, avaliou-se
cristal utilizando um liquidificador doméstico. Logo em seguida, foi sua atitude de compra, com uma escala que ia de 1 a 5, sendo 5:
adicionada a cenoura triturada e procedeu-se uma nova Certamente compraria e 1: Certamente não compraria, conforme
homegeneização até a obtenção de uma massa uniforme. Por último, descrito por Meilgaard et al. (2).
lentamente misturado à massa, foi adicionado o fermento em pó. A O presente trabalho foi aprovado com número CAAE
massa foi fracionada em formas para cupcake e, em seguida, foi assada 09407119.8.0000.8128, parecer 3.251.337 no comitê de ética
em forno industrial a 180ºC por 25 minutos (Figura 1). credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP),

99
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de


Saúde.
Os resultados da análise sensorial foram apresentados com
média ± desvio padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os atributos sensoriais avaliados no teste de
aceitação tiveram notas médias superiores a 8, caracterizando como
“Gostei muito” dos atributos sensoriais avaliados (Tabela 2).

Tabela 2. Resultados do teste de aceitação sensorial do cupcake de


cenoura com cobertura de limão.
Atributos sensoriais Resultado
Cor 8,29 ± 0,81
Sabor 8,60 ± 0,64
Textura 8,31 ± 0,82
Doçura 8,24 ± 0,82
Impressão Global 8,31 ± 0,65
Atitude de Compra 4,87 ± 0,85
*Resultados expressos em média ± desvio padrão.

Apesar de alguns provadores relataram não terem o hábito


de consumo de cenoura e de limão por não gostarem destes produtos,
as notas obtidas nos testes sensoriais foram bastante elevadas
sugerindo que a utilização destes frutos em produtos alimentícios pode
ser uma excelente maneira de aumentar o consumo destes alimentos e
de melhorar os aspectos nutricionais dos produtos elaborados.
Maurício et al. (3), estudando a aceitação sensorial de
diferentes formulações de bolo de cenoura relataram que as
formulações elaboradas sem glúten e com óleo de palma tiveram notas
sensoriais próximas à formulação padrão, fornecendo, portanto,
produtos com características que atendem às exigências do mercado
consumidor. As notas observadas no referido estudo foram inferiores
aos encontrados no presente estudo. Esta diferença pode ter ocorrido
devido a faixa etária prevalente no estudo de Mauricio et al. (3) ser de
um público adulto com maiores exigências quanto a qualidade dos
alimentos que consomem.
O teste de intenção de compra do cupcake revelou que há
uma boa atitude de compra. Onde obteve uma média de (4,87), estando
entre “Provavelmente compraria” e “Certamente compraria”. A
avaliação sensorial realizada demonstrou que o cupcake, apresenta um
bom potencial mercadológico.

CONCLUSÃO
O teste sensorial aponta uma boa aceitação do cupcake de
cenoura com cobertura de limão por parte dos provadores com todos
os atributos sensoriais dentro da zona de aceitação.
O produto elaborado possui componentes nutricionais que
podem beneficiar a saúde dos consumidores, desta forma, seu
consumo pode ser sugerido.

REFERÊNCIAS
(1) MOREIRA-ARAUJO, R. S. R.; ARA�JO, M. A. M.; AR�AS, J.
A. Fortifed food made by the extrusion of a mixture of chickpea corn
and bovine lung controls iron-de ciency anaemia in preschool children.
Food Chem. 107, 158-164, 2008.

(2) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory


Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.

(3) MAURICIO, A. A.; BUCHARLES, P. B.; BOLINI, H. M. A.;


SOUSA, V. M. C. de. Bolo de cenoura com e sem glúten:
desenvolvimento da formulação e aceitação do produto. Rev.
Agroamb. 6, 250-257, 2012.

100
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aceitabilidade da Coloração Natural Azul em Produtos Alimentícios


Iago Araújo¹, Jorge Jeronymo, Severino Nascimento.
¹ Pós-graduado em Gestão de Restaurantes, Professor Senac-PB, iago-lellis@hotmail.com.

Palavras-chave: flor, clitória, cor, análise, sensorial.

Introdução

Diante da exigência do mercado e dos clientes do setor


gastronômico, busca-se corriqueiramente a inovação a fim de atrair Os participantes julgaram a intenção de compra, antes da
cada vez mais o público. Formas, aromas, cores, texturas, tudo de degustação, apenas com avaliação visual comparativa conforme as
alguma maneira influencia o poder de escolha do cliente e sobre o cores, o sabor, se existiria alguma influência na decisão. Após a
produto ao qual está sendo analisado. primeira fase, foi sugerido a comparação das amostras A e B (neutra e
Segundo Martin (1) “a cor não tem existência material: é azul da clitória), pois a extração da cor não provocou ou intensificou
apenas sensação produzida por certas organizações nervosas sob a ação nenhum aroma ou odor residual para a elabração do preparo analisado,
da luz”. Desta forma pode-se entender que tais impressões estão depois B e C (azul da clitória e verde do repolho), já que a colocarção
ligadas aos fatores emocionais, físicos e mentais que cada indivíduo extraída do repolho, adquire odor e não se iguala ao azul extraído da
possa estar passando no momento. Os seres humanos são naturalmente flor.
influenciados pelo ambiente das cores, pegando como exemplo Os resultados da análise sensorial foram analisados quanto a
aleatório, se virmos a cor vermelha remetemos a paixão, amor, sangue, média e desvio-padrão. Calculado com a somatória das notas e extraído
a cor cinza, preto, a tristeza, solidão. Antonioni (2) diz que “a cor é a média global.
uma relação entre o objeto e o estado psicológico do observador, no
sentido em que ambos se sugestionam reciprocamente” Resultados e discussão
O objetivo nesse estudo é a aplicação da cor azul, extraída das
antocianinas presente nos alimentos e inseridas nos produtos Os resultados apresentados em gráfico comparativos,
comestíveis, podendo influenciar o poder de decisão na escolha do primeiramente entre as amostras (A, B e C) são relatadas no gráfico
produto e se tal cor poderia sofrer resistência para entrada no mercado. abaixo. Referente a sensorial, as notas atribuídas para a cor variou de
Outro fator pertinente da escolha na coloração azul é a grande sendo a maioria delas muito similar entre si.
diversidade que a mesma apresenta na mixologia e diante da
descoberta do uso de pigmentações extraídas de alguns vegetais e Gráfico 1
flores, sendo possível o tingimento dos alimentos analisando as
características organolépticas comparando as de origem sintética.

Materiais e métodos
Análise das Amostras
10
O trabalho foi desenvolvido na Cozinha pedagógica, ambiente
Orgaolépticas
Caracteríticas

8
de aulas práticas dos cursos de gastronomia da Escola Senac de 6
Gastronomia e Hotelaria – ESGH, sediada em João Pessoa – PB, foram 4
selecionados os seguintes alimentos para o estudo: Clitória ternatea
2
0
(flor do feijão-borboleta) e o repolho-roxo (brassica oleracea). As Cor Aroma Sabor Global
flores foram obtidas da horta de uma produtora no mesmo bairro que a
escola, Cabo Branco.
A 8 6,5 6,8 7,4
A atividade mercadológica e utilização da cor azul em B 7,2 6,5 6,9 7,2
preparos culinários têm sido por um vasto período de tempo,
desconhecido o seu uso como agente pigmentador, de método natural, C 7 6,6 6,8 7
apenas utilizado os sintéticos, seja liquido, gel ou pó. A cada dia a
variedade de produtos, de recheios, de formas, é criada e isso leva o
consumidor a uma variedade enorme no momento de escolher o que Em análise paralela, observado pelos alunos que estavam
ele necessita. previamente treinados, perceberam que 55% dos avaliadores não
Para análise foi escolhida a ficha técnica do Gyoza, pastel treinados tiveram curiosidade em pegar primeiro a amostra A (de
oriental, contida em apostila da instituição, tem massa neutra, tanto coloração original, neutra) e 88% experimentaram primeiro também
de sabor quanto de cor, devido ao uso apenas farinha de trigo e água essa amostra, essa percepção não servindo de caráter avaliativo.
para a obtenção da massa, mantendo os sabores os mais básicos Levando em consideração que a ficha avaliativa, sugeria a ordem de A,
possíveis, desta forma, minimizando a tendência por derivação B e C, estando as três amostras apresentadas, não é um parâmetro de
gustativa. agravante comprovação.
Esses ao serem recheados, levava-se uma base de sauce Tendo como pergunta inicial “Antes de degustar e avaliar,
bechamel, molho clássico, caracterizado como “molho-mãe”, em sua usando apenas o sentido visual, qual a sua intenção de compra”?
composição a mistura, de assamento prévio de farinha de trigo e Sendo a escolha somente de uma amostra, entre A, B e C, foi possível
manteiga, a formação de roux amarelo, sem nenhum tipo de obter o resultado de 60% para a amostra A, 26% para a amostra B e
aromatização específica, apenas sal. consequentemente, 13% para a C. Sendo assim, obtemos a
Elaboraram-se três amostras, nas quais classificou-se como comprovação em que a coloração azul a base da infusão da Clitória
A, B e C. O experimento A, foi a massa tradicional, onde utilizamos (Flor do feijão-borboleta) maior aceitabilidade do que a extraído do
apenas agua morna e farinha em sua composição, sem nenhum tipo suco do repolho-roxo em adição de bicarbonato de sódio, reagindo
de coloração, conforme ao preparo original oriental, no B infusionou- com sua composição quimica natual.
se flores Clitória ternatea em água morna, para que dessa forma fosse
extraída a coloração azul de suas pétalas, tendo dessa maneira, a Conclusões
extração com nenhum auxilio químico para se obter o azul
característico da sua cor e a C foi utilizado suco de repolho roxo em Diante de uma análise geral, conforme as médias avaliadas
adição com bicarbonato de sódio (1%), que com o passar do tempo, em cada setor, podemos afirmar que a cor de um produto também tem
ganhou-se notas esverdeadas, devido a fermentação. forte influência na escolha do mesmo no momento de compra.
A análise sensorial por meio de degustação, sentidos Pelos pigmento serem extraídos de forma natural, os aromas e
olfativos, foi realizada através do teste de aceitação, utilizando uma sabores podem ser alterados ou mantidos em escalas muito próximas.
escala hedônica de nove pontos, que variou entre gostei muitíssimo e Percebendo nas etapas comparativas das amostras, no gráfico, a
desgostei muitíssimo (DUTCOSKY, 2011). O teste foi conduzido de amostra B adquiriu variância mínima entre a cor neutra e a cor
forma individual, cada avaliador não treinado, esse de sexo, idade e pigmentada a partir da outra fonte natural, afirmando a aceitação
conhecimento gastronômico diferentes, se alocava em bancadas mercadológica para produções azuis em prateleiras. Mas, ao analisar a
separadas, não havendo comunicação entre eles. Junto as amostras intenção de compra apenas por observação visual, não se aproxima da
devidamente identificadas, foi entregue o termo de consentimento escolha pela cor neutra.
com a ficha de avaliação.
101
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Até mesmo quando o agente pigmentante possui aroma


pronunciado, como o caso do repolho-roxo, não provocou estranheza
dos avaliadores, por motivo de degustação.

Referências

PEDROSA, Israel. O Universo da Cor. Rio de Janeiro: Senac


Nacional, 2008. (1)

MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. 2 ed. Lisboa:


Dinalivro, 2005.
333 p. (2)
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. 9.ed. Rio de Janeiro:
Léo Christiano Editorial, 2003.
SPENCE, Charles. Gastrophysics: the new science of eating. 1. Ed.
New York: Viking, 2017.
KOPPMANN, Mariana. Nuevo manual de gastronomia molecular:
El encuentro entre la ciência y la cocina. 1. Ed. Buenos Aires:
Siglo Veintiuno Editores, 2014.

102
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da Solubilidade de Micropartículas de Óleo de Pequi Reticuladas com Ácido


Tânico
Tiago Barroso¹*, Joana Alexandre², Antônio Araújo1, Luana Silva³, Roselayne Furtado4

¹Graduando do curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Ceará (UFC), tiagohogas@gmail.com*.


²Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará (UECE).
³Doutoranda da Rede Nordeste de Biotecnologia, RENORBIO (UECE).
4
Pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical – CNPAT.

Palavras-chave: Microencapsulação; Caryocar coriaceum; Coacervação Complexa; Reticulação.

INTRODUÇÃO
Análise de solubilidade
O pequi, Caryocar coriaceum Wittm, é nativo na região Nordeste do Foi determinada conforme descrito por Cano-Chauca et al. (8), com
Brasil, onde desempenha relevante papel socioeconômico, sendo modificações. Assim, foram pesadas 0,25 g de micropartículas,
utilizado amplamente na culinária. Os óleos oriundos da polpa e da acondicionadas em béquer e adicionou-se 25 mL de água destilada. A
amêndoa, pelo seu sabor característico, fonte de lipídeos insaturados e solução foi agitada por um minuto em um agitador magnético e
vitaminas A e E (1), são utilizados na preparação de molhos e centrifugada (4276,4 x g por 5 min a 25 °C). Em seguida, uma
temperos, compondo pratos regionais e substituindo outras fontes de alíquota de 15 mL do sobrenadante foi colocada em uma placa de
lipídios (2). Os compostos funcionais do óleo de pequi podem ser petri, previamente pesada, e seca em estufa de circulação de ar a
facilmente oxidados (3), fazendo com que suas propriedades sejam 105°C por 5h. A solubilidade foi calculada pela diferença de massa do
reduzidas ou perdidas. Diante disso, a tecnologia de final da análise em relação ao início, expressa em percentual de
microencapsulação apresenta-se como uma alternativa viável, pois solubilidade.
preserva os compostos bioativos do óleo, além de minimizar sabores,
odores e evitar reações indesejadas com outras substâncias. Entre as Análise espectroscópica de Infravermelho
técnicas de microencapsulação, a coacervação complexa ganha As amostras das micropartículas foram analisadas por espectroscopia
destaque por ser simples, de baixo custo e alta eficiência, tendo como de infravermelho com transformada de Fourier utilizando um sensor
princípio a interação eletrostática entre macromoléculas, sendo de refletância total atenuada (FTLA 2000-102, ABB-BOMEN, EUA).
influenciada por pH, força iônica e temperatura (4). O processo de A varredura foi realizada na faixa de comprimento de onda de 400-
reticulação química dos coacervados provoca alterações nas suas 4000 cm-1, resolução de 4 cm-1.
características físico-químicas inclusive pode promover o aumento na
resistência térmica (5). A solubilidade é uma das características que Análise Estatística
pode sofrer influência do processo de reticulação das partículas. A Os dados foram submetidos a teste t- student para comparação de
avaliação da solubilidade é importante quando se pretende uma médias usando um nível de significância de 5%.
aplicação das partículas. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi
avaliar a solubilidade em meio aquoso das micropartículas de óleo de
pequi utilizando matrizes de biopolímeros (goma arábica e gelatina- RESULTADOS E DISCUSSÃO
goma de cajueiro e gelatina) reticuladas com ácido tânico.
A goma de Cajueiro (GC) é um polissacarídeo obtido a partir do
exsudado da árvore do Anacardium ocidentale, muito comum na
MATERIAL E MÉTODOS região nordeste e que apresenta estrutura química semelhante à goma
arábica (GA), sendo esta última constantemente utilizada na
Material e Métodos coacervação complexa em combinação com a gelatina (G) (4). O
A goma de cajueiro (GC) foi adquirida do Campo Experimental de interesse tecnológico pela GC é baseado em suas características
Pacajus pertencente a Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, reológicas, biodegradabilidade e por ser um polímero natural,
Brasil). Para o isolamento dos polissacarídeos do exsudato do cajueiro tornando-se um possível substituto da GA. A coacervação complexa
foi utilizada a metodologia descrita por Torquato et al. (6) com utilizando matrizes de polissacarídeos aniônicos e proteína (cargas
modificações. A goma arábica (GA) foi adquirida da JB Química positivas) pode ser utilizada para o encapsulamento de óleos vegetais
Indústria e Comercio Ltda e a gelatina bovina (G) 225H tipo B foi como o do pequi. No intuito de melhorar algumas das características
proveniente da Rousselout®, ácido tânico PA da marca Synth e o óleo das partículas resultantes, a reticulação química foi adotada, e neste
de pequi (OP) (Caryocar coriaceum Wittm.) foi comprado de trabalho a influência deste processo foi avaliada sobre a solubilidade
produtores da região de Barbalha- CE. das partículas.
A solubilidade é um parâmetro que permite avaliar a estabilidade da
Formação das micropartículas reticuladas de óleo de pequi micropartícula em meio líquido, uma vez que relaciona a quantidade
Para a metodologia de preparo dos coacervados em solução de 0,65% máxima que um soluto pode ser dissolvido em certa quantidade de
(m/v) de biopolímeros foi seguido o procedimento descrito por solvente a uma temperatura específica. A alta solubilidade em água
Nascimento et al. (7), sendo utilizada as seguintes proporções para os possibilita a ruptura do material de parede, favorecendo, assim, que
tratamentos, de 2:1:1 (m.m-¹) (GC:G:OP) e 1:3:2,5 (m.m-¹) material ativo (núcleo) seja liberado facilmente. A reticulação química
(GA:G:OP). Inicialmente foi feita a homogeneização dos das micropartículas pode ser especialmente vantajosa no sentido de
biopolímeros em ultraturrax de marca IKA® T25 a 10.000 rpm por 15 prolongar o tempo da dissolução do material no solvente, retardando a
minutos. O pH da mistura foi ajustado com HCl (2M) e NaOH (2M) liberação controlada do agente ativo encapsulado, por meio da
para 4,5 e a solução foi submetida a refrigeração overnight. Após a formação de uma rede tridimensional com o agente reticulante (5). O
formação dos coacervados, o material foi centrifugado a 10.000 rpm, que pode ser positivo em uma aplicação em alimentos, pois ocorrerá
por 10 minutos a 25ºC. O sobrenadante foi descartado e o precipitado maior estabilidade ao tempo de manutenção do agente ativo dentro da
foi reservado. Para a reticulação das micropartículas os coacervados matriz de encapsulamento.
precipitados foram submetidos à reação com ácido tânico (AT). A Os resultados de solubilidade das micropartículas de óleo de pequi em
reticulação química foi realizada dissolvendo AT (7%, m.m -1) em 100 matrizes de GA:G e GC:G, tanto nos tratamentos R e NR estão
mL de água destilada e aquecendo a 40 ºC, onde os coacervados foram dispostos na tabela 1.
acrescentados e submetidos à agitação por 30 minutos. Seguidamente,
foram realizadas três centrifugações consecutivas com água destilada
nas condições de 4.000 rpm por 3 min a 25°C, para retirada do
excesso de reagente. O produto final foi submetido ao processo de
liofilização. Após secas, as micropartículas reticuladas (R) e não
reticuladas (NR) foram submetidas às análises de solubilidade e
espectroscopia de infravermelho.

103
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 1. Avaliação da Solubilidade de micropartículas de óleo de encapsulado em possíveis aplicações alimentícias a qual tem a água
pequi utilizando matriz de polissacarídeos e gelatina. como solvente.

RETICULADO NÃO RETICULADO


AGRADECIMENTOS
GC:G:OP 1,16 ± 0,23 aA 3,24 ± 1,13 aB
GA:G:OP 1,24 ± 0,55 bA 2,80 ± 1,47 bB À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
*Letras minúsculas iguais em uma mesma linha não apresentam Científico e Tecnológico) pelas bolsas concedidas aos alunos, à
diferenças significativas entre si (p>0.05) EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) pela
*Letras maiúsculas iguais em uma mesma coluna não apresentam infraestrutura e suporte financeiro e a Rousselot pela concessão da
diferenças significativas entre si (p>0.05) gelatina bovina.
Os resultados indicaram que não houve diferença significativa nos
tratamentos antes e após a reação de reticulação, fazendo-se necessária REFERÊNCIAS
a realização de outras análises que confirmem a eficácia da
reticulação. Isto indica que o grau de reticulação utilizado não
1. SERRA, D. S. et al. Effects of fixed oil of Caryocar coriaceum
influenciou a solubilidade das partículas, embora tenha influenciado
Wittm. Seeds on the respiratory system of rats in a short-term
outros parâmetros, como a eficiência de encapsulamento, a capacidade
secondhand-smoke exposure model. Journal of
de carreamento e o rendimento, que foram primordiais na
Ethnopharmacology, v. 55, 112633, 2020.
determinação das melhores condições de estudo (5). Observando o
2. FIGUEIREDO, P. R. L. et al. Caryocar coriaceum Wittm. (Pequi)
espectro de infravermelho, verifica-se que a banda larga localizada em
fixed oil presents hypolipemic and anti-inflammatory effects in vivo
aproximadamente 3000 cm-1 é reduzida pós-processo de reticulação
and in vitro. Journal of Ethnopharmacology, v. 191, p. 87-94, 2016.
em ambos os tratamentos de GC:G e GA:G (Figura 1 e 2). Essa região
3. COMUNIAN, T. A. et al. Reducing carotenoid loss during storage
de banda corresponde aos grupos OH livres responsáveis pelo
by co-encapsulation of pequi and buriti oils in oil-in-water emulsions
processo de solubilidade das micropartículas em meio aquoso, que
followed by freeze drying: Use of heated and unheated whey protein
foram reduzidos possivelmente em virtude da reestruturação nas
isolates as emulsifiers. Food Research International, v. 130, 108901,
ligações quando o ácido tânico se liga a matriz de encapsulamento. É
2020.
possível perceber ainda que as bandas em torno de 1000 cm-1 podem
4. COMUNIAN, T.A. et al. Effect of different polysaccharides and
resultar da interação entre a deformação angular de O-H e a
crosslinkers on echium oil microcapsules. Carbohydrate Polymers,
deformação axial de C-O e, em ambos os tratamentos. Essas bandas
v. 150, p. 319-329, 2016.
também apresentaram redução na intensidade após a reação de
5. ALEXANDRE, J. B. et al. Cross-linked coacervates of cashew gum
reticulação, ocorrendo devido à formação da interação de ligações de
and gelatina in the encapsulation of pequi oil. Ciência Rural, v. 49, n.
hidrogênio entre os grupos carbonila da gelatina e os grupos hidroxila
12, e20190079, 2019.
do ácido tânico (9). O ácido tânico é um agente reticulante natural de
6. TORQUARTO, D. S et al. Evaluation of antimicrobial activity of
grau alimentício, presente em muitas plantas, e particularmente eficaz
cashew tree gum. Worls J Microbiol Biotechnol. 20, 505-507, 2004.
devido a seus múltiplos grupos fenólicos e alto peso molecular (10).
7. NASCIMENTO, M. A. et al.Uso de goma de cajueiro e gelatina
Apresenta propriedades antioxidantes, antimicrobianas, antialérgica,
para a formação de microcápsulas de óleo de pequi por coacervação
antidiabética, anticancerígena e anti-inflamatória, justamente devido à
complexa. In: Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de
presença dos grupamentos fenólicos (11).
Alimentos, 2016, Gramado. Anais do XXV Congresso Brasileiro de
Ciência e Tecnologia de Alimentos. Gramado, Brasil, 2016.
8. CANO-CHAUCA, M. et al. Effect of the carriers on the
Figura 1. Espectro Infravermelho GC:G reticulado e não reticulado.
microstructure of mango powder obtained by spray drying and its
functional characterization. Innovative Food Science and Emerging
Technologies, v.6, p. 420-428, 2005.
9. HU, S. et al. Development of tannic acid cross-linked hallow zein
nanoparticles as potencial oral delivery vehicles for curcumin. Food
Hydrocolloids, v. 61, p. 821-831, 2016.
10. SANTOS, T.M. et al. Enhancing storage stability of guava
with tannic acid-crosslinked zein coatings. Food Chemistry, v. 257,
p. 252-258, 2018.
11. SAHINER, N.; SENGEL, S. B. Tannic acid decorated poly
(methacrylic acid) micro and nanoparticles with controllable tannic
acid release and antioxidant properties. Colloids and Surfaces A:
Physicochemical and Engineering Aspects, v. 508, p. 30-38, 2016.

Figura 2. Espectro Infravermelho GA:G reticulado e não reticulado.

CONCLUSÃO

A solubilidade das micropartículas reticuladas com ácido tânico não


apresentou diferença significativa dos tratamentos não reticulados,
fato que poderá ser vantajoso para a retenção do agente ativo

104
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência da maceração sobre a coloração e composição físico-química de vinhos tintos


tropicais ‘Cabernet Sauvignon’

Carlos Alves1*, Grace Nunes2, Ana Barros2,3, Lucicléia Torres1, Patricia Leão4, Aline Marques4
1
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
carturnalves@gmail.com
2
Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Campus Zona Rural, Petrolina, PE
3
Doutoranda em Biotecnologia, Rede Renorbio, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
4
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.

Palavras-chave: Submédio do Vale do São Francisco, maceração tradicional, criomaceração, extração de compostos.

INTRODUÇÃO Inicialmente, as uvas foram recepcionadas, desengaçadas e receberam


tratamento de sulfitação e enzimação para iniciar a maceração a frio
A cultivar Cabernet Sauvignon (Vitis vinífera L.) é a segunda variedade pré-fermentativa a 8 ºC, durante 4 dias. Logo, foram inoculadas as
de uva mais cultivada no planeta, com significativa importância para leveduras para iniciar a fermentação alcoólica (FA) sob temperatura
diversos países do Novo e Velho mundo do vinho (1). No Brasil, possui controlada de 22 ± 2 ºC, adicionando o ativador de fermentação ao
pouca relevância para a produção de vinhos tintos no Submédio do Vale segundo dia após inoculação da levedura. A maceração tradicional
do São Francisco, região que se destacou devido sua produção de continuou sendo executada concomitante a FA, com três diferentes
vinhos de qualidade, mesmo com condições edafoclimáticas tempos de duração: 2, 6 e 10 dias (T1, T2 e T3, respectivamente)
diferenciadas e clima tropical semiárido (2). O Submédio do Vale do finalizados com prensagem em prensa vertical. Cada tratamento (T1,
São Francisco apresenta como principais características insolação o ano T2 e T3) foi elaborado em duplicata. A finalização da FA (duração de
inteiro, temperatura média de 26 ºC, baixo índice pluviométrico e baixa aproximadamente 13 dias) foi determinada através da densidade
amplitude térmica, permitindo o escalonamento de produção durante constante dos vinhos, com posterior confirmação através de análise de
todo o ano e a colheita de até três safras em uma mesma área (3). teor alcoólico e açúcares redutores totais (abaixo de 2 g/L). Na
O processo de maceração na produção de vinhos consiste no contato do sequência, foi iniciada fermentação maloláctica espontânea, a
mosto com as cascas e sementes das uvas, sob temperatura controlada. temperatura controlada de 18 ± 1 ºC. A finalização da fermentação
Esse procedimento pode ser realizado antes, durante (tradicional) e após maloláctica foi verificada através de cromatografia de papel do ácido
a fermentação alcoólica. A maceração pré-fermentativa pode ser málico, utilizando papel Whatman nº 1 e solução reveladora (8). A
realizada em temperaturas mais altas (60 - 75 ºC) e mais baixas (± 5 estabilização dos vinhos foi realizada a 4 ºC por 10 dias, com posterior
ºC), denominadas termovinificação e criomaceração, respectivamente; dosagem de 0,4 gL-1de estabilizante a base de goma arábica e ácido
sendo o objetivo em ambas tipologias maximizar os resultados da metatartárico (Stabigum, AEB Group). Foi realizada a correção do
maceração tradicional. Essa exposição do líquido à película da uva tem conteúdo de SO2 livre dos vinhos para 50 mgL-1, com a adição de
como fundamento a extração de diversas substâncias, como metabissulfito de potássio; em seguida os vinhos foram engarrafados
antocianinas (pigmentos responsáveis pela coloração do vinho tinto), em garrafas de 750 mL e armazenados em adega a 18 ºC em orientação
minerais, compostos nitrogenados, polissacarídeos, compostos voláteis horizontal, até a realização das análises, após 30 dias.
aromáticos (e precursores), taninos e demais compostos fenólicos de
interesse na qualidade final do vinho. Além disso, o tempo de Avaliação físico-química e colorimétrica
maceração também possui influência direta em outros parâmetros,
como pH e acidez, determinantes para o equilíbrio sensorial e químico A determinação dos parâmetros físico-químicos foi realizada através
do vinho (4,5). O objetivo do presente trabalho foi avaliar a qualidade das análises de: pH (leitura direta); acidez total titulável, com auxílio de
do vinho tinto ‘Cabernet Sauvignon’ elaborado no Submédio do Vale pHmetro (Hanna PAT. CPNQ Edge, Romênia) até pH 8,2; densidade
do São Francisco com diferentes tipos e tempos de duração da em balança hidrostática (Super Alcomat, Gibertini, Milão, Itália); teor
maceração, a fim de avaliar como essa etapa influencia nos parâmetros alcoólico e extrato seco, em balança hidrostática, após destilação
físico-químicos e colorimétricos do vinho dessa variedade, a fim de simples do vinho em destilador enológico (Super Dee – Gibertini,
propor melhorias para a elaboração do produto na região, visto a Milão, Itália); dióxido de enxofre livre e total, pelo método de Ripper;
importância mundial da cultivar. acidez volátil, após destilação do vinho por arraste a vapor em
destilador enológico (6); e teor de açúcares redutores totais, através do
MATERIAIS E MÉTODOS método de Lane Eynon,(7). Também foi determinado o Índice de
Polifenóis Totais (IPT) (9).
Matéria-prima A análise colorimétrica foi realizada a partir da leitura das absorbâncias
das amostras em espectrofotômetro (Multiskan GO, Thermo Scientific,
Foram utilizadas para a produção dos vinhos, uvas da variedade Waltham, MA, USA), nos comprimentos de 420, 520 e 620nm,
Cabernet Sauvignon, de videiras em sistema espaldeira e irrigadas por determinando a intensidade de cor (somatória das absorbâncias) e
gotejamento plantadas em 2013 no campo experimental Bebedouro da tonalidade (razão ente as leituras das absorbâncias a 420 e 520nm) (8).
Embrapa Semiárido, Petrolina, PE (latitude: 9º 8’ 8.9’’ S, longitude 40º
18’ 33.6’’ O, altitude 373m). Foram colhidas, ao todo, 82, 25 kg da uva Análise estatística
em 13 de setembro de 2018. O mosto das uvas, logo após desengace e
homogeneização, foi caracterizado com análises de pH, acidez total, Os resultados das análises foram expressos em médias, após Análise de
densidade, sólidos solúveis (6), açúcares redutores totais (7) e índice de Variância (ANOVA) e Testes de média de Tukey (p < 0,05). Os dados
polifenóis totais (5), realizadas em triplicata. foram tratados no software SAS® (Statistical Analysis System, v. 9.3,
SAS Institute, Cary, NC, USA).
Vinificações
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os vinhos foram vinificados no Laboratório de Enologia da Embrapa
Semiárido, Petrolina/PE em garrafões de vidro de 20 L, tampados com O mosto das uva, após sulfitação e enzimação, apresentou pH de 3,83
válvulas de vidro de Müller tipo airlock. Como insumos enológicos, ± 0,01, acidez total de 6,53 ± 0,19 g L-1, 1,1041 ± 0,001 g /cm3 de
foram utilizados metabissulfito de potássio (0,12 gL-1, Synth, São densidade, 24,3 ± 0,1 ºBrix, açúcares redutores totais de 250,00 ± 3,71
Paulo, Brasil), enzima pectinolítica (0,02 gL-1 Endozym rouge, AEB – g L-1 e IPT igual a 14,55 ± 0,05.
Bréscia, Itália), leveduras secas (0,2 gL-1, Saccharomyces cerevisiae A Tabela 1 contém os resultados da composição físico-química e
bayannus – Mauvirim PDM, Amazon Group, Monte Belo do Sul, RS, colorimetria dos vinhos de Cabernet Sauvignon elaborados com
Brasil) e ativador de fermentação (0,2 gL-1, Gesferm plus, Amazon maceração a frio de quatro dias e diferentes tempos de maceração
Group). tradicional durante a FA (02, 06 e 10 dias, T1, T2 e T3,

105
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

respectivamente). O pH exerce influência direta na cor, sabor e onde o prolongamento da maceração não favoreceu a máxima extração
estabilidade da bebida (10). Esse parâmetro está correlacionado com a de cor e compostos fenólicos. As antocianinas, principais pigmentos
acidez total da bebida, expressa geralmente em ácido tartárico, que relacionados a coloração do vinho, são também responsáveis pela
também possui importância para o equilíbrio sensorial e químico do mudança de tonalidade ao longo do envelhecimento (15,16). Além
vinho. O pH dos vinhos analisados apresentou variação estatisticamente disso, a cor é um dos mais importantes atributos sensoriais para os
significativa entre o tratamento T1 e os demais, enquanto a acidez total vinhos, podendo influenciar também nas percepções olfativas e
apresentou diferença entre todas as amostras. O tratamento T1, que foi gustativas de consumidores (17).
submetido ao menor tempo de maceração tradicional, apresentou o
menor valor de pH e a maior acidez total. Isso pode ser confirmado CONCLUSÕES
segundo Jackson, que afirma que o pH e o tempo de maceração são
diretamente proporcionais (4). Em virtude dos resultados apresentados, o maior tempo de maceração
Os valores de acidez volátil dos vinhos variaram entre 0,26 e 0,27 gL-1, tradicional (10 dias) não aumentou a intensidade de cor do vinho tinto
o que equivale a 4,33 a 4,49 mEq L-1. A legislação brasileira recomenda tropical ‘Cabernet Sauvignon’, mas influenciou no seu conteúdo total
que a acidez volátil de vinhos tenha valor máximo de até 20 mEq L-1 de compostos fenólicos, visto que elevou o valor do Índice de polifenóis
(11), o que mostra que os vinhos do presente trabalho apresentaram totais. Em contrapartida, a maceração possuiu influência significativa
teores baixos de acidez volátil, sugerindo boas condições sanitárias da no pH e acidez total, e o menor tempo de duração de maceração (02
uva e do processo de vinificação. dias), foi aquele que proporcionou o menor valor de pH e a maior acidez
total para a bebida, fatores que podem ser importantes para a maior
Tabela 1: Caracterização da composição físico-química e colorimetria estabilidade do vinho tinto. Sendo assim, são necessários mais estudos
dos vinhos da cultivar Cabernet Sauvignon elaborados com 04 dias de com diferentes dias de maceração com a cultivar Cabernet Sauvignon
maceração a frio pré-fermentativa e diferentes tempos de duração de na região, com posteriores avaliações mais complexas, de modo a
maceração tradicional, concomitante a fermentação alcóolica (02, 06 e certificar a influência total do tempo de maceração nas características e
10 dias). tipicidade do vinho.

Tratamentos REFERÊNCIAS
Variáveis
T1 (2 dias) T2 (6 dias) T3 (10 dias)
pH 3,86 b 3,93 a 3,93 a 1 INTERNATIONAL ORGANISATION OF VINE AND WINE
Acidez Total gL-1 7,10 a 6,98 b 6,83 c (OIV). Distribution of the world’s grapevine varieties. Paris: Focus
OIV, 2017.
Acidez Volátil (g L-1) 0,26a 0,27a 0,27a
2 WURZ, D. A. et al. New wine-growing regions of Brazil and their
Açúcares redutores totais 2,22 c 2,35 b 2,44 a importance in the evolution of Brazilian wine. In: WORLD
Densidade 0,9966 a 0,9966 a 0,9964 a CONGRESS OF VINE AND WINE, 40, 2017, Sofia, Bulgária. BIO
Teor alcoólico (% v/v) 12,31 b 12,54 a 12,33 b Web of Conferences. Sofia: International Organisation of Vine and
Extrato seco (g L-1) 33,42 a 33,05 ab 32,5 b Wine, 2017.
SO2 livre (mg L-1) 30,89 c 34,05 a 32,17 b 3 EMBRAPA. Produção Nacional. 2017. Disponível em: <
SO2 total (mg L-1) 159,7 a 127,23 b 99,75 c https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
IPT 40,9 c 46,7 b 49,7 a /noticia/24428422/producao-nacional> Acesso em: 30 mar. 2019.
Intensidade de cor 8,6 b 8,9 a 8,7 ab 4 JACKSON, R. S. Wine Science: principles and applications. 4rd ed.
Tonalidade 0,6 b 0,7 a 0,7 a Toronto: Academic Press, 2014.
Médias seguidas por uma mesma letra na coluna, não diferem entre si 5 RIBÉREAU-GAYON et al. Handbook of Enology: The Chemistry of
pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Wine Stabilization and Treatments. Chichester, Inglaterra: John Wiley
and Sons Ltda, 2006.
A densidade está relacionada com o teor alcoólico e açúcares presentes 6 BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução Normativa nº 24, de 8
no vinho, e é utilizada como parâmetro de acompanhamento de de setembro de 2005. Dispõe sobre os métodos analíticos de bebidas e
fermentação alcoólica (5). A densidade dos vinhos analisados (Tabela vinagre. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
1) não apresentou diferença significativa, indicando a homogeneidade 2005.
do acompanhamento da fermentação alcoólica dos vinhos, do tempo de 7 RIBÉREAU-GAYON, J. et al. Ciências y Técnicas Del Vino, Tomo
duração da maceração tradicional. O teor alcoólico e o conteúdo de I, Editorial Hemisfério Sur, 1980.
açúcares redutores totais, em contrapartida, apesar de terem 8 RIZZON, L. A. Metodologia para análise de vinho. Brasília:
apresentado diferença significativa entre os tratamentos, não explicam Embrapa, 2010.
diferenças relacionadas ao tempo de maceração. Segundo legislação 9 HARBERTSON, J.; SPAYD, S.; Measuring phenolics in the winery.
brasileira (11), vinhos finos secos precisam possuir até 4 gL-1 de American Jour. Eno. and Vit, n. 57, p. 280-288, 2006.
açúcares e até 14% de teor alcoólico, o que permite avaliar que todos 10 MORENO-ARRIBAS, M. V.; POLO, M. C. Wine Chemistry and
os vinhos produzidos na presente pesquisa estão de acordo com a Biochemistry. New York: Springer Science + Business Media, 2009.
Legislação Brasileira. 11 BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E
O extrato seco do vinho corresponde as substâncias que não volatilizam ABASTECIMENTO – MAPA. Regulamenta a Lei nº 7.678, de 8 de
em determinadas condições físicas (8), influenciando a estrutura e novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e
corpo dos vinho (12). Os vinhos da presente pesquisa apresentaram comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho. DECRETO
variação do extrato seco de 32,5 a 33,42 gL -1, mostrando maior valor Nº8.198, DE 20 DE FEVEREIRO DE 2014.
no T1, submetido a 2 dias de maceração concomitante à FA. 12 BIASOTO, A. C. T. et al. Acceptability and preference drivers of
O dióxido de enxofre livre refere-se àquele encontrado na forma de SO2, red wines produced from Vitis lambrusca and hybrid grapes. Food
sendo adicionado com o objetivo de proteção antioxidante e International Research, v. 62, p. 456-466, 2014.
antimicrobiana em vinhos. Segundo Tabela 1, os vinhos apresentaram 13 GOMEZ-MIGUEZ, M., GONZALEZ-MIRET, M. L.; HEREDIA,
valores estatisticamente diferentes para ambos os tratamentos, variando F. J. Evolution of colour and anthocyanin composition of Syrah wines
de 30,89 a 34,05 mgL-1, embora o conservante tenha sido adicionado elaborated with pre-fermentative cold maceration. Journal of Food
igualmente para ambas as amostras. O teor de SO2 total dos vinhos Eng., 79, 271–278, 2007.
variou entre 99,75 e 159,7 mgL-1, sendo maior para o tratamento T3, 14 ALENCAR, N. M. M.; et al. Influence of maceration time on
submetido a 10 dias de maceração. phenolic compounds and antioxidant activity of the Syrah must and
Os resultados de Índice de Polifenóis Totais (IPT) apresentaram wine. Jour. of Food Bio., v. 42, p. 12471, 2018.
maiores valores para o tratamento T3 (Tabela 1), sendo este diretamente 15 SOUZA, J. F. et al. Evoluation of phenolic compounds profiles and
proporcional ao tempo de maceração. No que se refere a Intensidade de antioxidante activity of Syrah red and sparkling Moscatel wines stored
cor, o maior valor foi o da amostra T2, porém estatisticamente igual ao in bottles of diferente colors. Beverages, v. 4, p. 89, 2018.
T3. Isso pode sugerir que o prolongamento da maceração não aumenta, 16 MARQUEZ, A.; SERRATOSA, M. P.; MERIDA, J. Influence of
necessariamente, a extração de cor. A extração de cor e compostos bottle storage time on colour, phenolic composition and sensory
fenólicos aumenta nos primeiros dias de maceração (5,13); no entanto, properties of sweet red wines. Food Chem., v. 146, p. 507-514, 2014.
o vinho tinto pode apresentar declínio na intensidade de cor quando 17 WANG, Q. J; SPENCE, C. Drinking through rosé-coloured glasses:
submetido a longo tempo de maceração tradicional devido à redução no Influence of wine colour on the perception of aroma and flavour in wine
conteúdo de antocianinas monoméricas. Resultados semelhantes foram experts and novices. Food Res. Inter., v. 126, 2019.
apresentados para vinhos tintos tropicais da variedade ‘Syrah’ (14),

106
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Avaliação Sensorial de Biscoitos Tipo Cookies Enriquecidos com Farinha da


Entrecasca de Melancia

Adayane V. Silva1, Apolinário F. Filho1, Poliana B. Sousa2, Luan Icaro F. Pinto3, Manoel de Jesus M. Silva4, Jurecir
Silva5
1
Discentes do Curso de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central, adayanne26@hotmail.com
2
Mestre em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus
Teresina Central.
3
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central.
4
Assistente de Laboratório, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
5
Mestre em Medicina Tropical, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.

Palavras-Chaves: Farinha de resíduo de frutas, Citrullus lanatus, biscoito nutritivo.

INTRODUÇÃO Tecnologia do Piauí, Teresina-Central, de onde foram encaminhados


em condições adequadas para o laboratório de Tecnologia de Produtos
Anualmente o mundo todo descarta a incrível cifra de 1,3 bilhões de de Origem Vegetal - TPOV do Instituto Federal do Piauí – IFPI.
toneladas em perdas e/ou desperdício de alimentos, o que equivale a
um terço de toda a produção mundial de alimentos, e em alguns países Preparação da Farinha da Entrecasca de Melancia
o desperdício pode ser bem maior. O desperdício de alimentos pode Para o preparo da Farinha da Entrecasca de Melancia, inicialmente os
ocorrer em vários pontos da produção, podendo ser desde a etapa da frutos foram higienizados em água corrente potável e sanitizados
colheita de modo inapropriado ou entre outras causas que podem ser (mergulhadas em solução de hipoclorito de sódio a 100 ppm por 15
ataque de pragas, doenças ou sofrer com eventos climáticos (1). minutos). Em seguida, as cascas foram separadas da polpa e das
Uma forma de atuação, no que diz respeito ao aproveitamento de sementes, cortadas em pedaços quadrados com tamanho aproximado
resíduos é a de buscar utilizações viáveis e econômicas para os de 3 cm, trituradas em multiprocessador e submetidas à secagem em
inevitáveis resíduos agroindustriais gerados (2). estufa a 70 °C por 10 horas. Posteriormente as cascas desidratadas
Dentre as frutas que produzem grande quantidade de resíduos, foram trituradas, em moinhos de faca e passadas em tamis de 35 mesh
encontra-se a melancia, originária da Índia, porém introduzida no para obtenção de pó uniforme denominado respectivamente, farinha
Brasil, onde se aclimatou muito bem, pelos escravos, da África da entrecasca de melancia (FEM), que foram acondicionadas em sacos
tropical na época da colonização (3; 4). de polietileno, envasadas e mantidas a temperatura ambiente até o
As cascas de melancia contribuem com 30% do peso total (5) e desenvolvimento das análises.
apresenta pigmentação verde (externamente) e branca (internamente)
e não é aproveitada habitualmente pelos consumidores, no entanto, ela Processo de fabricação dos biscoitos
é uma fonte de fibra alimentar que atua na prevenção de doenças Elaboraram-se três formulações variando o conteúdo de farinha da
como diabetes, obesidade, diversos tipos de câncer (6). entrecasca de melancia e farinha de arroz (F0 = 0% e 31%; F1= 5% e
A entrecasca da melancia é um subproduto rico em fibra alimentar 26%; F2=10% e 21%), respectivamente, totalizando três tratamentos.
insolúvel. Logo, o seu aproveitamento na elaboração de produtos Os demais ingredientes adicionados foram padronizados: açúcar
alimentícios pode contribuir para o aumento dos teores de fibra mascavo=8,5%; açúcar cristal=8,5%; Inulina=5%; ovo liquido=15%;
insolúvel na dieta, além de reduzir os desperdícios industriais (7; 3). aveia=2% e margarina=30%.
A utilização de resíduos do processamento de frutas e vegetais como Inicialmente, os ingredientes foram pesados e misturados
fonte de ingredientes funcionais é um campo promissor (8). Logo, o manualmente até obtenção de uma massa homogênea. Os biscoitos
aproveitamento dos subprodutos da agroindústria de alimentos foram moldados em formato cilíndrico (4 cm de diâmetro), sendo
diminui os custos da produção, aumenta o aproveitamento total do dispostos em formas retangulares (46 x 33,6 cm). Em seguida, foram
alimento e reduz o impacto que esses subprodutos poderiam causar ao assados em forno pré-aquecido a 180 ºC, por 10 minutos.
serem descartados no ambiente (9). Posteriormente, foram resfriadas (22 ºC) e acondicionados em
Uma das formas de minimizar a perda de alimentos perecíveis é embalagens de polipropileno metalizado e armazenadas à temperatura
através da secagem do alimento, que consiste num processo de ambiente.
retirada do máximo de água contida no produto visando preservar a
sua qualidade (10; 11). Neste sentido, a produção da farinha de Análise sensorial
vegetais, através da secagem, pode ser uma alternativa para o Análise sensorial foi realizada conforme metodologia recomendada
reaproveitamento do vegetal não conforme e para a agregação de valor por Dutcosky (13). As amostras foram fracionadas em pedaços de 25
comercial ao produto (11). gramas e estes foram servidos aos provadores em copos descartáveis,
Um produto com potencial para adição de novos produtos é o previamente codificados com números de três dígitos. Este teste foi
“cookies”. Um tipo de biscoito que vem conquistando vários realizado em cabines individuais em uma única sessão. A equipe foi
consumidores e a sua comercialização vem aumentando muito no país constituída por 120 pessoas não treinadas, de ambos os sexos e idade.
devido sua fácil preparação por ser leve e prático, entretanto as Para cada provador foi fornecido 3 amostras de cookies e solicitou-se
indústrias estão tendo a preocupação de desenvolver formulações que que fossem avaliados os atributos cor, aroma, sabor, textura,
agradem o paladar e ainda tenha propriedades funcionais, já que a impressão global e intenção de compra. O projeto de pesquisa foi
população está mais exigente e preocupado com a saúde (12). Desta aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - CEP com Número de
forma, objetivou-se com esta pesquisa elaborar e avaliar as Aprovação de 1.978.091.
características sensoriais de biscoitos tipo cookies enriquecido com
farinha da entrecasca de melancia. Análises estatísticas
Os dados foram submetidos a analise de variância (ANOVA) e teste
MATERIAL E MÉTODOS de comparação de medias tukey através do programa Minitab versão
18.1.
Matéria-prima
As cascas dos frutos de melancia (Citrullus lanatus) in natura foram
adquiridas no Refeitório do Instituto Federal de Educação, Ciência e

107
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

RESULTADOS E DISCUSSÃO enriquecimento de produtos da área de panificação por facilmente


atingir uma diversidade de público consumidor.
Os resultados obtidos da análise sensorial das formulações de
biscoitos com farinha da entrecasca de melancia (FEM) estão AGRADECIMENTOS
dispostos na Tabela 1.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão da análise sensorial das IFPI pela concessão de bolsa de pesquisa (EDITAL Nº 160 DE
formulações de biscoitos com farinha da entrecasca de melancia 29/10/2019 - PROAGRUPAR-INFRA – APL).
(FEM).
Médias ± Desvio Padrão* REFERÊNCIAS
Parâmetros
F0 F1 F2
Cor 6,88±1,39 a 6,64±1,42 a 6,89±1,44 a (1) MACEDO, E. F. S.; JÚNIOR, N. N.; A importância do
Aroma 7,10±1,36 a 6,66±1,48 a 6,71±1,62 a planejamento logístico com foco no crescimento da demanda da
Sabor 7,56±1,40 a 6,4±1,86 b 5,99±2,07 b cadeia produtiva de alimentos até 2050. Revista FATEC Zona Sul,
Textura 7,30±1,66 a 5,77±1,90 b 5,75±2,06 b v.3, n.3, p.31-45, 2017.
Impressão (2) FERNANDES, A. F.; PEREIRA, J.; GERMANI, R.; OIANO-
7,52±6,20 a 6,20±1,80 b 5,94±2,02 b NETO, J. Efeito da substituição parcial da farinha de trigo por farinha
Global
Intenção de de casca de batata (Solanum Tuberosum Lineu). Ciênc. Tecnol.
4,35±1,03 a 3,31±1,13 b 3,15±1,30 b Aliment., Campinas, 28(Supl.): 56-65, dez. 2008.
compra
(3) BUZINARO, A.C.; ALVES, A. B.; CREPALDI, V. B.; COSTA,
*Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem
D. L. M. G. Elaboração de doce de mesocarpo de melancia
estatisticamente entre si (p>0,05) pelo teste de Tukey. F0=Formulação
cristalizado colorido e saborizado artificialmente. In: XXV
controle sem adição de farinha da entrecasca de melancia.
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE
F1=Formulação com adição de 5% de farinha da entrecasca de
ALIMENTOS, 25., 2016, Gramado. Anais... Gramado: FAURGS,
melancia e F2=Formulação com adição de 10% de farinha da
2016. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/sbctars-
entrecasca de melancia.
eventos/xxvcbcta/anais/files/90.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2019.
(4) SANTANA, A. F.; OLIVEIRA, L. F. Aproveitamento da casca de
A formulação controle (F0) apresentou diferença estatística (p<0,05)
melancia (Curcubita citrullus, Shrad) na produção artesanal de doces
das demais formulações (F1 e F2) na aceitação (sabor, textura e
alternativos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 16, n.4, p. 363-368, out./dez.
impressão global) e na intenção de compra. A cor e o aroma não
2005.
apresentaram diferença significativa (p>0,05) entre as formulações
(5) HOQUE, M. M.; IQBAL, A. Drying of watermelon rind and
avaliadas. Apesar da F0 ter apresentado as melhores notas de
development of cakes from rind powder. International Journal of
aceitação (acima de 7) e intenção de compra (acima de 4), a F1 e F2
Novel Research in Life Sciences, v. 2, n. 1, p. 14-21, fev. 2015.
mostraram-se como uma excelente opção para consumo, visto que, os
(6) SOUSA, E. P.; MORI, E.; LEMOS, D. M.; SOUSA, F. C.;
consumidores deram notas acima de 5 nos atributos avaliados do teste
SILVA, L. M. M. Análise química da formulação de hambúrguer
de aceitação e acima de 3 para o teste de intenção de compra. A
enriquecido com fibras da casca de melancia desidratadas. Revista
elaboração dos produtos permitiu demonstrar que um nível de adição
Verde, v.7, n.1, p. 96 – 101, jan./mar. 2012.
de até 10% de FEM em “cookies” foi bem aceito pelos julgadores,
(7) GUIMARÃES, R. R.; FREITAS, M. C. J.; SILVA, V. L. M. Bolos
obtendo-se aceitação sensorial próxima do produto padrão e com boas
simples elaborados com farinha da entrecasca de melancia (Citrullus
expectativas de comercialização.
vulgaris, sobral): avaliação química, física e sensorial. Ciênc. Tecnol.
Serbai et al., (14) avaliando as características sensoriais de biscoitos
Aliment., Campinas, 30(2): 354-363, abr.-jun. 2010.
enriquecidos com farinha da entrecasca de melancia observaram que
(8) EL-BADRY, N.; EL-WASEIF, M. A., BADR, S.A.; ALI, H. E.
não houve diferença significativa entre as formulações para os
Effect of Addition Watermelon Rind Powder on the Rheological,
atributos avaliados: aparência, aroma, sabor, textura e cor, bem como
Physiochemical and Sensory Quality Attributes of Pan Bread. Middle
aceitação global e intenção de compra. As notas dos atributos
East Journal of Applied Sciences, 4(4): 1051-1046, 2014.
encontraram-se acima de 5 para o teste de aceitação e superior a 4
(9) RORIZ, R. F. C. Aproveitamento dos resíduos alimentícios
para o teste de intenção de compra. Os autores ainda ressaltaram que
obtidos das centrais de abastecimento do estado de Goiás s/a para
um nível de adição de até 12,4% de FEM em “cookies” foi bem aceito
alimentação humana. 2012. 162f. Dissertação (Mestre em Ciência e
pelos provadores.
Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
Olaikan; Eke e Agudu (15) avaliando as características sensoriais de
2012.
biscoitos tipo cookies suplementado com farinha da casca de melancia
(10) PALACIN, J. J. F.; FILHO, A. F. L.; CECON, P. R.; MONTES,
verificaram que houve uma diminuição na aparência e aceitação geral
E. J. M. Determinações das curvas de secagem de milho nas espigas
dos biscoitos com o aumento gradual da farinha de casca de melancia
(Zea mays L.). Engenharia na Agricultura, Viçosa, n. 4, v. 13, p. 300-
(máximo de 7,5%). Os autores concluíram que a formulação com
313, out./dez.2005.
2,5% de farinha da casca de melancia foi a mais aceitável entre as
(11) ENGEL, B.; BACCAR, N. M.; MARQUARDT, L.; OLIVEIRA,
misturas de biscoitos de farinha de trigo e casca de melancia.
M. S. R.; ROHLFES, A. L. B. Tecnologias de atomização e
Lima et al. (16) avaliando as características sensoriais de biscoitos
desidratação: alternativas para a produção de farinhas a partir de
sem glúten com adição de farinha da entrecasca de melancia
vegetais. Revista Jovens Pesquisadores, Santa Cruz do Sul, v. 6, n. 1,
observaram que a formulação padrão apresentou aceitação para todos
p. 31-44, jun. 2016.
os atributos avaliados, enquanto que a F1(2,5% da FEM) apresentou
(12) GOES, T. S.; DIONÍSIO, A. P.; MODESTO, A. L. G.;
baixo índice para o atributo sabor e a F2 (5% da FEM) foi
ARAÚJO, I. M. S.; PONTES, D. F.; OLIVEIRA, R. P.;
caracterizada como aceita somente com relação à cor. A aceitação
CRISÓSTOMO, C.C. Elaboração de biscoitos tipo cookie com farinha
decaiu em virtude do incremento de farinha de entrecasca de melancia
de resíduos do processamento de extrato de yacon. 2014. In: XX
à formulação de biscoito, sendo que o sabor foi o atributo que
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUIMICA.
apresentou maiores interferências negativas quanto ao índice de
Anais... 19 a 22 de outubro de 2014. Florianopólis – SC, 2014.
aceitação. Os autores ressaltaram que essa resposta pode ser em
(13) DUTCOSKY, S. Análise sensorial de alimentos. Ed.
função do gosto meio amargo característico desta farinha. O seu
Champagnat, 4 ed. rev. e ampl., 2013.
acréscimo também promoveu redução nas respostas para o atributo
(14) SERBAI, D.; SANTOS, K. A.; SANTOS, E. F.; CANDIDO, C.
textura, enquanto que todas as formulações apresentaram índices
J.; NOVELLO, D. Adição de farinha de entrecasca de melancia em
aceitáveis para a cor.
“cookies”: análise físico-química e sensorial entre crianças. Revista
UNIABEU Belford Roxo, v.8, Número 18, p. 223-237, janeiro-abril
CONCLUSÃO
de 2015.
(15)OLAIKAN, N. I.; EKE, M. O.; AGUDU, S.S. Effect of
A elaboração dos produtos permitiu demonstrar que um nível de
Watermelon (Citrullus lantus) Rind Flour Supplementation on the
adição de até 10% de FEM em “cookies” foi bem aceito pelos
Quality of Wheat Based Cookies. The International Journal of
julgadores. A utilização da farinha da entrecasca de melancia em
Engineering and Science, Volume 6, Issue 12, pp 38-44, 2017.
biscoitos tipo cookies apresenta alto potencial nutricional, sendo uma
(16) LIMA, J. P.; PORTELA, J. V. F.; MARQUES, L. R.;
relevante alternativa para a indústria de alimentos, principalmente no
ALCANTARA, M. A.; EL-AOUAR, A. A. Farinha de entrecasca de
melancia em biscoitos sem glúten. Ciência Rural, v.45, n.9, set, 2015.

108
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Avaliação da Aceitabilidade e Idealidade de Geleia Mista de Açaí e Cupuaçu


Jacqueline Mendonça1, Ana Lídia2, Julynara Frota3, Micheline Lopes1, Tatiana Lemos4, Maria do Carmo Rodrigues5.
1
Docente do IFCE e Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos,Universidade de Campinas.
3
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
4
Professora Doutora do Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Maranhão.
5
Professora Doutora do Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
jnjaque@yahoo.com.br

Palavras-chave: novos produtos, frutas, aceitação.

INTRODUÇÃO momento da análise sensorial, que foi realizada no dia seguinte ao da


produção.
O grande desafio da indústria alimentícia é elaborar produtos que
promovam a saúde e mantenham suas propriedades naturais ou
nutricionais, visto que a tendência ao consumo produtos mais
nutritivos ou saudáveis é uma realidade. Dentre os produtos
considerados nutritivos, estão as frutas (1). As frutas em geral são
muito perecíveis, e deterioram-se em poucos dias. Esse fato dificulta
sua comercialização, na forma in natura, a grandes distâncias (2).
Para tanto, produtos elaborados com frutas podem preencher essa
lacuna, dentre eles a geleia de frutas. As geleias podem ser Figura 1. Formulações de geleia mista de açaí e cupuaçu
consideradas como o segundo produto em importância comercial
para a indústria de conservas de frutas brasileiras (3). Geleia de fruta 90 provadores não treinados participaram dos testes no Restaurante
é o produto preparado com polpa de frutas, sucos ou extratos aquosos Universitário da Universidade Federal do Ceará. Foram avaliados os
das mesmas, podendo apresentar frutas inteiras ou pedaços, atributos sensoriais de impressão global, cor, aroma, sabor, doçura e
adicionadas de açúcares, com ou sem acréscimo de água e pectina até espalhabilidade das cinco amostras através da aplicação da escala
atingir consistência de gel (4). hedônica (9-gostei extremamente à 1-desgostei extremamente) (8).
O consumo de açaí no Brasil está em uma crescente, fazendo com As amostras foram codificadas com números aleatórios de três
que haja aumento do cultivo, que cresceu 291% entre os anos de dígitos, apresentadas monadicamente, e dispostas em copos
2012 e 2017, conforme informações do Instituto Brasileiro de descartáveis (50 mL), acompanhados de espátulas e biscoito de água
Geografia e Estatística (IBGE) (5). Além disso, o açaí é um alimento e sal (com função de veículo), e água mineral, visando limpar o
com alto valor nutricional e a produção e comercialização da polpa é palato entre as amostras. Foi reservado um espaço no formulário para
uma atividade em ampla expansão. Dentre os valores funcionais que os provadores respondessem por qual motivo consumiriam o
estão o elevado valor energético por conter alto teor de lipídeos como produto. Os resultados sensoriais foram tratados estatisticamente
ômega 6 e ômega 9, além de carboidratos, fibras, vitamina E, através da Análise de Variância (ANOVA) utilizando Programa
proteínas, minerais (Mn, Fe, Zn, Cu, Cr) e grande quantidade de Statistica versão 10. Para comparação de médias aplicou-se o teste de
antioxidantes. Antocianinas, proantocianidina e outros flavonoides Tukey ao nível de 5% de significância.
são os fitoquímicos predominantes, mas as antocianinas são os
compostos que contribuem com a maior capacidade antioxidante da RESULTADOS E DISCUSSÃO
polpa do açaí. (6).
O cupuaçu é uma fruta ácida, de sabor exótico e agradável, rico em Perfil dos Provadores
compostos voláteis e sais minerais. Apresenta boas quantidades de
potássio, importante no controle do balanço de sais nos tecidos 57% dos provadores encontram-se na faixa etária entre18 e 25 anos,
humanos, e fósforo. Além disso, o cupuaçu apresenta alto teor de 60% do sexo masculino e 48 %universitários. Em relação à
pectina, comparável ao da maçã, fibra dietética solúvel que, tem frequência de consumo de geleia de frutas, 72% dos consumidores
demonstrado redução dos níveis séricos de colesterol e triglicerídeos declarou que consumia mensalmente, 15% mensalmente, e ainda
em ratos e humanos (7) . Diante do exposto, este trabalho teve como 43% gostavam muito do produto. Em relação ao motivo pelo qual
objetivo desenvolver e avaliar a aceitabilidade dos consumidores de consumiria o produto, os participantes elencaram diversas respostas
geleia mista de açaí e cupuaçu. sendo as mais frequentes: “por ser um produto novo”, “ter um sabor
diferente” e “por ser gostoso”.
METODOLOGIA
Teste Escala Hedônica
As geléias foram produzidas a partir da polpa congelada das frutas:
açaí e cupuaçu. As polpas pasteurizadas e congeladas foram De acordo com a Tabela 1, observou-se que não houve diferença
adquiridas em supermercados locais da cidade de Fortaleza e em significativa entre as amostras (p>0,05) em relação aos atributos
seguida, transportadas para o Laboratório de Análise Sensorial da avaliados de impressão global, aroma e sabor, em que as notas estão
Universidade Federal do Ceará, onde foram acondicionadas em entre os pontos 6 e 7, que correspondem a “gostei ligeiramente” e
temperatura de congelamento. Após a realização de alguns testes “gostei moderadamente” da escala hedônica, respectivamente.
preliminares, misturando as duas polpas em diversas proporções Já os atributos cor, doçura e espalhabilidade diferiram entre si
(açaí:cupuaçu), escolheu-se cinco formulações identificadas como F1 (p≤0,05). A amostra F5 apresentou menor média de aceitação para o
(80:20), F2 (20:80), F3 (50:50), F4 (92:8) e F5 (8:92) para serem atributo cor (amostra que continha menor quantidade de açaí) e as
testadas com os consumidores na análise sensorial. amostras F1, F3 e F4 não diferiram entre si. Amostra F2 não diferiu a
Para a elaboração das geleias mistas, utilizou-se pectina de alta F4, mas diferiu das demais amostras. Para o atributo doçura, a
metoxilação (1%), açúcar demerara (882g), polpa de açaí, polpa de amostra F5 diferiu da amostra F4, mas as amostras F1, F2 e F3 não
cupuaçu e ácido cítrico (caso fosse necessário, dependendo do pH da diferiram entre elas e nem em relação às amostras F4 e F5. Verifica-
polpa de açaí) Com o auxílio do termômetro digital tipo espeto se que os provadores gostaram mais da amostra F5 em relação à
(marca AKSO), refratômetro digital (marca AKSO, modelo MA886) doçura, embora a amostra tivesse maior quantidade de cupuaçu, e
e do teste do copo, em que uma gota de geleia é colocada em um portanto maior acidez. Pode-se perceber que a acidez do cupuaçu e a
copo com água e a gota deve permanecer íntegra até chegar ao fundo neutralidade do açaí não foram cruciais para a aceitabilidade dos
do copo, determinou-se o ponto correto da geleia. Nesse momento, provadores, visto que à medida que tivesse necessidade, ácido cítrico
desligou-se a fonte de calor e a geleia acondicionada em recipientes foi adicionado na formulação para que alcançasse o pH final de ponto
higienizados e após resfriadas, armazenadas em refrigerador até o de geleia (entre 3,0 e 3,5).

109
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 1. Médias dos atributos sensoriais do teste de aceitabilidade. Teste do Ideal


Amostras Na avaliação da cor e espalhabilidade através da escala relativa ao
F1 F2 F3 F4 F5
ideal, nenhuma das amostras apresentou os atributos na intensidade
Atributos considerada ideal pelos provadores (Gráfico 2) pelo fato de não
Impressão
Global 7,06a ±1,52 7,02a ±1,55 7,28a ±1,55 6,77a ±1,79 7,02a ±1,98
terem alcançado um mínimo de 70% de respostas zero (“ideal”). A
cor da amostra F3 alcançou 63% de respostas no ponto ideal (zero) e
Cor 7,83a ±1,31 6,93b ±1,75 7,84a ±1,35 7,50ab±1,62 6,24c ±2,01 para espalhabilidade a amostra F2 alcançou 54% de respostas no
a a a a
ponto ideal (zero) da escala. A tendência da amostra F3 foi para mais
Aroma 6,80 ±1,63 6,32 ±1,82 6,63 ±1,62 6,47 ±1,74 6,46a ±1,91
forte que o ideal e da amostra F2 tendência para espalhabilidade
Sabor 6,76a ±1,83 6,79a ±1,95 7,17a ±1,74 6,43a ±1,84 7,04a ±2,02 menor que o ideal. Portanto, essas amostras poderiam ser otimizadas
ab ab ab
para que fosse possível alcançar a idealidade desejada.
Doçura 6,72 ±1,78 6,66 ±1,78 6,77 ±1,80 6,12 ±1,91 6,96a ±1,94
b

Espalha-
bilidade 6,89ab ±1,80 7,48a ±1,31 7,41a ±1,51 6,33b ±1,97 7,49a ±1,41
Letras iguais na mesma linha não diferem significativamente ao nível de 5% de significância
(p>0,05).

Para o atributo espalhabilidade, as amostras F2, F3 e F5


apresentaram melhores médias dos provadores, diferindo-se da
amostra F4, que recebeu menores valores médios para este atributo.
Pode-se justificar essas notas por conta da característica do açaí, que,
por ser mais denso, transferiu essa propriedade para o produto final,
deixando-o mais espesso.
Em relação aos percentuais hedônicos, as amostras apresentaram
Gráfico 2. Histogramas de Frequência da Escala do Ideal
percentuais de aceitação superior a 64% em todos os atributos. Para a
impressão global, a amostra F4 (92:8) apresentou 90% de percentual
na zona de aceitação. Para o atributo cor, a amostra F3 (50:50)
CONCLUSÃO
apresentou 94% de percentual na zona de aceitação e a amostra F5
(8:92) apresentou 67% de percentual na zona de aceitação, o menor
Conclui-se que todas as amostras de geleia mista de açaí e cupuaçu
verificado na análise de cor. A amostra F5 tem maior quantidade de
demonstraram ser bem aceitas. A amostra F3 se destacou nos
cupuaçu, interferindo na cor da amostra, visto que o cupuaçu tem
atributos cor e sabor, além de ter sido considerada com maior atitude
coloração amarelo claro. Para o atributo aroma, os percentuais
positiva de compra pelos provadores. E ainda obteve resultado
seguiram entre 67% e 73%, indicando boa aceitação, mas menores
próximo à idealidade dos atributos cor, mostrando-se produto com
percentuais se comparados aos atributos de cor e sabor. Para o
potencial de consumo e inovação para a indústria alimentícia.
atributo sabor, a amostra F3 (50:50) apresentou 86% dos pontos na
zona de aceitação, mostrando que o equilíbrio entre os sabores das
REFERÊNCIAS
duas amostras, agradou aos provadores.
1. EUROMONITOR INTERNATIONAL. Tendências globais de
consumo 2019. Disponível em: <encurtador.com.br/eoQZ7>. Acesso
em 18 de fev 2019.
2. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-Colheita de Frutos
e Hortaliças – Fisiologia e Manuseio. 2. ed. Lavras: ESAL/ FAEPE,
2005. 785 p.
3.SOLER, M. P. Industrialização de Geléias: Processamento
Industrial. Campinas: Instituto de Tecnologia de Alimentos: ITAL,
1991. (Manual Técnico, n. 7).
4. SILVA, J. A. Tópicos da tecnologia dos alimentos. São Paulo:
Varela, 2000. 227p.
5. EMBRAPA ACRE. Extrativistas participam de capacitação sobre
boas práticas no manejo de açaí. Disponível em:
< encurtador.com.br/ikms5 >. Acesso em 11 de fev. 2020.
6. PORTINHO, J. A.; ZIMMERMANN, L. M.; BRUCK, M. R.
Efeitos benéficos do açaí. International Journal of Nutrology, v. 5, n.
1, p. 15-20, jan./abr. 2012.
7. ROGEZ, H.; BUXANT, R.; MIGNOLET, E.; SOUZA, J.N. S.;
SILVA, E.; LARONDELLE, Y. Chemical composition of the pulp of
three typical Amazonian fruits: araça-boi (Eugenia stipitata), bacuri
(Platonia insignis) and cupuaçu (Theobroma grandiflorum).
European Food Research Technology, v. 218, p. 380%u2013384,
2004.
8. DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. Curitiba:
Champagnat, 2013. 531p.

Gráfico 1. Histogramas de frequencia da Escala Hedônica.

A análise de atitude de compra demonstrou maior percentual para


atitude positiva em relação à amostra F3 (50:50) totalizando 73% das
respostas. A amostra F4 (92:8), por sua vez, totalizou 49% na zona
positiva e maior percentual na atitude negativa (24%). Verifica-se
novamente a tendência positiva para o produto com formulação
equilibrada de polpa de açaí e polpa de cupuaçu. Por se tratar de
novo produto, não foi possível realizar estudo comparativo por falta
de referências na literatura sobre análise sensorial de geleia mista de
açaí e cupuaçu.

110
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Caracterização Físico-Química de “Queijo Vegetal” à Base de Amêndoas de


Castanha de Caju

Antonia Samara Patricio Santos1*, Beatriz dos Santos Dantas1, Ídila Maria da Silva Araújo2, Selene Daiha Benevides3
1Graduanda de Engenharia de Alimentos/Universidade Federal do Ceará, 2Doutora em Ciências Biológicas/Embrapa Agroindústria
Tropical, 3Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos/Embrapa Agroindústria Tropical, *samarapatricios@gmail.com

Palavras-chave: queijo, análogo, vegano, intolerantes, lactose. análises físico-químicas do “queijo vegetal” cremoso. Os resultados
foram comparados com os dados nutricionais do produto requeijão
INTRODUÇÃO padrão, de origem animal, fornecidos pela Tabela Brasileira de
Saudabilidade e bem estar são tendências de consumo Composição de Alimentos – TACO (10) e com os de Taffarel (2) que
alimentar apresentadas pela Brasil Foods Trend 2020 que tem-se elaborou produtos tipo requeijão a base de vegetais.
destacado nos últimos tempos devido a crescente busca de um estilo de
vida saudável, no que diz respeito a alimentação e seu impacto na Tabela 1. Caracterização físico-química do “queijo vegetal" a base
saúde do indivíduo. Dentre os produtos relacionados a essa tendência, de amêndoas de castanha de caju.
tem-se análogos à carne, como é o caso de hambúrgueres vegetais, Valores encontrados
análogos ao leite como extratos hidrossolúveis de soja e de arroz. Determinação
(média ± desvio padrão)
Muitos destes produtos são destinados ao público vegano e aqueles que
Atividade de água 0,82 ± 0,03
possuem uma dieta específica, como alérgicos e intolerantes à lactose
(1). Calorias (kcal/100g) 330,40 ± 3,68
O “queijo vegetal” é um alimento similar ao queijo, mas que Carboidratos (g/100g) 11,07 ± 0,83
não leva em sua formulação, produtos de origem animal. No mercado
brasileiro, o “queijo vegetal” mais difundido é o tofu, sendo utilizado Umidade (g/100g) 45,72 ± 0,84
soja como matéria-prima (2). Outras matérias primas podem ser Proteínas (g/100g) 17,90 ± 0,18
utilizadas na produção desse tipo de queijo, como mandioca, batata,
soja, amendoim, amêndoa de castanha de caju e do Pará. Lipídios (g/100g) 24,41 ± 0,59
A amêndoa de castanha de caju é um dos principais produtos Cinzas (g/100g) 1,47 ± 0,02
oriundos da cajucultura e possui grande importância socioeconômica
Fibras (g/100g)* 20,1
na Região Nordeste, onde concentra os principais estados produtores e
exportadores do país, dentre eles o Ceará (3). Rica em proteína, *Valor determinado em base seca.
lipídios, principalmente ácidos graxos insaturados e carboidratos,
possui altos índices de minerais como o cálcio, ferro e fósforo (4). A formulação do “queijo vegetal” cremoso apresentou valores
A partir da amêndoa de castanha de caju, obtêm-se diversos para o teor de proteínas e fibras acima do encontrado por Taffarel (2),
produtos visando o seu total aproveitamento industrial, tendo em vista tanto para as amostras do tipo requeijão, com média de 1,42% de
que a comercialização concentra-se na venda da amêndoa in natura proteínas e 1,33% de fibras, quanto para o requeijão padrão (9,6% de
(5), especialmente as inteiras, por apresentarem valor comercial mais proteínas e não possui fibras). O conteúdo proteico é de suma
elevado que as demais (6). O subproduto granulado da amêndoa de importância, pois as proteínas desempenham diversas funções no
castanha de caju pode ser utilizado na elaboração de um “queijo organismo, desde a formação de tecidos, enzimas, hormônios e
vegetal” como forma de aproveitamento integral do processamento da anticorpos, até a regulação de processos metabólicos e fornecimento de
amêndoa. energia. Já as fibras, apresentam diversas funções benéficas para a
O objetivo do presente trabalho foi desenvolver um "queijo saúde, atuando na prevenção de diversas doenças, tais como câncer,
vegetal" cremoso a base de amêndoa de castanha de caju, avaliando diabetes, hipercolesterolemia, hipertensão arterial e melhoramento do
suas características físico-químicas, visando a obtenção de um produto sistema imunológico (11).O teor lipídico também apresentou
similar aos existentes no comércio local. resultado maior que o encontrado para as formulações do tipo
requeijão (0,79%), mas semelhante a do requeijão padrão (23,4%).
MATERIAL E MÉTODOS Segundo a TACO (10) a maior fração lipídica presente na amêndoa de
Para a produção do “queijo vegetal”, os granulados das castanha de caju é de ácidos graxos insaturados, considerada
amêndoas foram colocados de molho por 22 horas sob temperatura importante para a saúde, pois além de atuar como fonte energética,
refrigerada de 10 oC. Em seguida, a água foi descartada e as amêndoas contribui na redução do teor de colesterol sérico, prevenindo o
processadas com água potável em liquidificador doméstico na surgimento de doenças coronárias (12). Em relação ao teor de
proporção de 2:1 (amêndoas:água) durante 1 hora, com intervalos para carboidratos a formulação apresentou resultado acima do valor do
homogeneização manual da massa, uma vez que a mesma fica bem requeijão padrão, tendo em vista o percentual significativo existente na
consistente. Adicionou-se à massa, 0,1g de um mix de probióticos amêndoa de castanha de caju. Além disso, o percentual calórico se
liofilizados, da marca Simfort® (Lactobacillus acidophillus, comparado aos demais produtos, mostrou-se maior devido ao alto teor
Lactobacillus casei, Lactococcus lactis, Bifidobacterium lactis e de proteínas, carboidratos e
Bifidobacterium bifidum) onde segundo o fabricante, cada probiótico lipídeos, fazendo com que o alimento seja mais energético.
possui 1x109 UFC/g. A massa foi novamente homogeneizada no
liquidificador, e levada para BOD a 37 ºC por 16 horas para CONCLUSÃO
fermentação. Passado esse período, adicionou-se 2% de cloreto de
sódio à massa. Em seguida, a massa foi novamente homogeneizada. A amêndoa de castanha de caju apresenta grande potencial para
Foram realizadas análises físico-químicas de lipídios (7) elaboração de “queijo vegetal” em virtude da sua composição
utilizando o sistema de extração sob alta pressão e alta temperatura em centesimal, tornando-se uma opção de alimento de origem vegetal que
equipamento XT-15 Ankom, além de cinzas, umidade, acidez pode ser consumido tanto por consumidores veganos como aqueles que
titulável, fibras e proteínas (8). A atividade de água foi determinada por opção, apreciam esse tipo de alimento. O granulado de amêndoas de
por meio do Activity Meter (Pawkit – Decadon), e o pH pelo pHmetro. castanha de caju pode ser utilizado como matéria prima para obtenção
As determinações de pH e acidez foram realizadas antes e após a de um produto semelhante ao queijo, indicando a possibilidade de
fermentação da massa. aproveitamento integral da amêndoa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO REFERÊNCIAS


Os resultados (média ± desvio padrão) obtidos para pH e
acidez antes da fermentação foram 6,64 ± 0,02 e 0,29% ± 0,03, 1. FIESP; IBOPE. Brasil Foods Trend 2020. 2010. Disponível em:
respectivamente. Após a fermentação os valores obtidos foram 6,44 ± http://www.brasilfoodtrends.com.br/. Acesso em: 26 jan. 2020.
0,03 e 0,38% ± 0,02 para pH e acidez, respectivamente, não
apresentando diferença significativa. Carvalho et al. (9) encontraram 2. TAFFAREL, J. A. S. Desenvolvimento de alimentos veganos tipo
para leites fermentados valores de pH de 3,49 e 4,07 e acidez de 0,99 "queijo" e tipo "requeijão". 59p. Monografia (Curso de Engenharia de
e 1,55%. Alguns fatores podem ter contribuído para ter ocorrido leve Alimentos). Instituto de Ciências e Tecnologia de Alimentos,
fermentação, como a quantidade de probiótico adicionada à massa e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012.
temperatura da mesma que torna-se elevada devido ao tempo de
homogeneização no liquidificador, devido a sua consistência. 3. COSTA, J. M.; GUEDES, M. J. L.; MELO, A. S. Um estudo das
A Tabela 1 apresenta os valores médios encontrados para as 111 relações entre taxa de câmbio, quantidade exportada de castanha de caju
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

e preço recebido pelos produtores no estado do Rio Grande do Norte.


Contextus: Rev. Contemporânea de Economia e Gestão, Fortaleza, v.
15, n. 2, p.120-137, 2017.

4. PAIVA, F. F. de A.; GARRUTTI, D. dos S; SILVA NETO,


R. M. Aproveitamento industrial do caju. Fortaleza: Embrapa:
SEBRAE/CE, 2000a. 88 p. (Embrapa Agroindústria Tropical.
Documentos, 38).

5. MARTINS, G. de C. C.; MAIA, H. A. de O.; HORTA, P.


M. do V. Manteiga de caju: o sabor doce do Brasil. Rev. da
Gastronomia, Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p.1-13, 2018.

6. PAIVA, F. F. de A.; SILVA NETO, R. M. da. Processo


industrial da castanha de caju. CEINFO (Centro de Informações
Tecnológicas e comerciais para Fruticultura Tropical. Artigo, 4157).
Disponível em:
www.ceinfo.cnpat.embrapa.br/arquivos/artigo_4157.pdf. Acesso em:
29 jan. 2020.

7. AOCS. American Oil Chemists’ Society. Official Method


Am 5-04, Rapid determination of oil/fat utilizing high temperature
solvent extraction. Urbana: Official Methods and Recommended
Practices of the American Oil Chemists’ Society, 2005.

8. AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL


CHEMIST. Official Methods of Analysis. 18 ed. Gaithersburg,
Maryland, 2005.

9. CARVALHO, P. T.; PIRES, C. V.; SILVA, A. M.; SILVA,


L. S. Análises de bactérias ácidos láticas, de pH e acidez em amostras
de leites fermentados comercializados no município de Sete Lagoas-
MG. Braz. J. of Food Res., Campo Mourão, v. 8, n. 3, p. 12-21, jul./set.
2017. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rebrapa. Acesso
em: 17 fev. 2020.

10. UNICAMP. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos


(TACO). 4ª Ed. Campinas, São Paulo: 2011. Disponível em:
https://www.cfn.org.br/wpcontent/uploads/2017/03/taco_4_edicao_a
mpliada_e_revisada.pdf. Acesso em: 29 jan. 2020.

11. MAIHARA, V.A.; SILVA, M.G.; BALDINI, V.L.S.; MIGUEL,


A.M.R.; FÁVARO, D.I.T. Avaliação nutricional de dietas de
trabalhadores em relação a proteínas, lipídeos, carboidratos,
fibrasalimentares e vitaminas. Ciência e Tec. de Alim., [s.l.], v. 26, n.
3, p.672-677, set. 2006.

12. NOBRE, A. C. de O.; MAGALHAES, H. C. R.; LIMA, J. R.


Características físico-químicas e aceitação sensorial do óleo de
amêndoa de castanha de caju (Anacardium occidentale): comparação
com óleos comerciais. J. of Fruits and Veg., Rio de Janeiro, v. 1, n. 1,
p. 1-4, 2015.

112
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de Brigadeiro a Partir do Pó da Semente de Quiabo


(Abelmoschus esculentus)

Ana Araújo1, Josefranci Farias2, Diogo Portela3, Jânio. Silva1, Matheus Pereira1, Geane Andrade1

1 Graduanda em Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE – Brasil, e-


mail: aanalourdes2@gmail.com
2 Dra. em Biotecnologia Industrial, professora do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFCE –
campus Baturité, CE – Brasil.
3 Bacharel em Gastronomia, técnico de laboratório do Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE –
Brasil.

PALAVRAS CHAVE: Produto, Aproveitamento, Formulação.

Introdução
Figura 1 – Fluxograma procedimental
Atualmente, o Abelmoschus esculentus é cultivado em várias
regiões do mundo e seus frutos comestíveis são muito utilizados na
gastronomia nacional e internacional no preparo de vários pratos
como: caruru de camarão, frango com quiabo, trufa de quiabo e até
caviar de quiabo. Ele está presente em todas as épocas e suas folhas
e vagens podem ser consumidas, refogadas, cozidas, assadas ou em
saladas. Além disso, o quiabo apresenta grande relevância na
alimentação humana, pois contém minerais, proteínas, carboidratos
e é considerado fonte de compostos fenólicos com potencial
antioxidante (1).
O quiabo é uma hortaliça de grande valor nutritivo, cultivada
no Maciço de Baturité, contribuindo na renda dos agricultores e
comerciantes hortifrutigranjeiros da região. Contudo, praticamente
não há reaproveitamento das sementes do quiabo, sendo
desconhecida a existência de programas que desenvolvam o
beneficiamento dessas sementes a fim de servirem como uma
alternativa para o consumo humano.
De acordo com Dutcosky (2), a avaliação sensorial fornece
suporte técnico para pesquisa, industrialização, controle de
qualidade e marketing.
É de suma importância desenvolver tecnologias que viabilizem
um maior aproveitamento de alimentos na agricultura familiar,
especialmente, do quiabo, visto que a produção sobressalente do
quiabeiro pode ser empregada para a produção do pó da semente
uma vez que o fruto maduro do quiabo é pouco aceito para o
consumo humano devido ao seu alto teor de fibra.
Buscamos, desse modo, contribuir para o (re)aproveitamento
de alimentos excedentes, diminuindo o desperdício por meio da
produção de um pó comestível feito a partir da torra das sementes
do quiabo, e criando, assim, uma opção de alimento aceitável,
econômico e nutritivo, com propriedades medicinais, sendo também
um substituto que pode ser utilizado na ausência de outros produtos Após a retirada das sementes do mesocarpo (cavidade que
já encontrados no mercado, entre eles o café, para o qual o pó de acondiciona as sementes) estas foram levadas novamente ao sol,
quiabo se apresenta como excelente sucedâneo, sendo seu uso já com uma duração de 4 horas, a fim de garantir a sua total secagem,
validado por outros povos. eliminar toda a umidade existente e facilitar também no momento
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo principal da torragem levando menos tempo para concretizar a torra. Depois
desenvolver uma preparação de brigadeiro a partir do disso, foi feita a seleção das sementes, excluindo as que estavam
aproveitamento da semente torrada do quiabo, viabilizada através da deterioradas e oxidadas.
formulação de um fluxograma de processamento para obtenção do A torragem das sementes foi feita em uma panela de material
pó da semente de quiabo; da elaboração de uma ficha técnica para a inoxidável de fundo espesso em um fogareiro de barro a carvão. A
preparação do brigadeiro à base do pó de quiabo; e da avaliação panela foi pré-aquecida por 5 minutos, sendo as sementes sempre
sensorial do produto desenvolvido. mexidas com colher de pau para não queimarem, durante 10 a 15
minutos, em uma temperatura variando de 120ºC a 200ºC. Para a
Material e Métodos conclusão da torragem, a panela foi retirada do fogo antes das
sementes estalarem totalmente. Após esfriarem, foram moídas em
a) Beneficiamento das sementes: Para proceder ao beneficiamento um pilão de madeira. O pó granulado foi peneirado em uma peneira
das sementes, o quiabo foi recolhido no seu estado seco, na Serra do fina e, depois, em um tecido fino a fim de separar os grânulos
Vento, localizada no município de Redenção, com latitude de remanescentes.
4°17’07’’S e longitude 38°46’28’’W, altitude de 372 metros em O pó produzido após o beneficiamento, torra e pilagem foi
relação ao nível do mar. Em seguida, foi realizada a segunda guardado em um recipiente hermeticamente fechado, o qual servirá
secagem ao sol com uma duração de aproximadamente 4 horas a fim de base para a preparação de um brigadeiro que passará por análise
de facilitar a extração. Os procedimentos executados na etapa de sensorial
beneficiamento das sementes podem ser observados no fluxograma
abaixo (Figura 1). b) Formulação do brigadeiro: Para a elaboração de 100
brigadeiros, foram necessários os seguintes ingredientes: 02 caixas
de leite condensado (790g), 50g de manteiga sem sal e 20g de pó da
semente torrada do quiabo.

113
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Primeiramente, os ingredientes foram pesados a fim de se obter Quanto ao sabor, a maioria dos participantes (67%) afirmaram
a quantidade exata indicada na ficha técnica e, depois, adicionados que a amostra apresentava sabor ideal, dando a entender que o
a uma panela de fundo duplo na qual foram mexidos e incorporados produto avaliado possui sabor agradável. Apenas 24% apontou que
com uma colher de silicone até se obter um creme homogêneo o sabor estava “moderadamente mais forte que o ideal” e 9% que
(Figura 2A).Em seguida, a panela com o creme foi levada ao fogo estava “moderadamente menos forte que o ideal”. Provavelmente,
baixo para a cocção do brigadeiro por cerca de 15 a 20 minutos até esse dado positivo acerca do aroma e do sabor do produto avaliado
o ponto de desprender-se da panela. Depois, o brigadeiro (770g) foi se deva ao fato de que o pó do quiabo (Abelmoschus esculentus)
colocado em um refratário para esfriar e foi coberto com plástico torrado apresenta aroma e sabor similares ao café (Coffea arabica)
filme (Figura 2B). Após esfriar naturalmente, o brigadeiro foi (3).
moldado em pequenas porções (10g cada) com movimentos De acordo com Bazán (4), o quiabeiro pode ser utilizado de
circulares até ficarem no formato esférico. Depois, foram passados diversas formas, para indústria e produção de fibras; quase todas as
no confeito granulado sabor chocolate e colocados em forminhas de suas partes podem ser consumidas para variados usos e aplicações
papel (Figura 2C). na alimentação humana. De fato, quase tudo se aproveita do quiabo:
o fruto “in natura”, ainda tenro, em saladas, ou na forma cozida ou
Figura 2 –Preparação do brigadeiro à base do pó de quiabo. guisada, em carnes e sopas; as sementes, das quais podemos extrair
um óleo comestível ou produzir uma bebida similar ao café, se as
A B sementes forem torradas.
Para o aspecto da doçura, a maior parte dos provadores (83%)
indicou que a amostra encontra-se ideal e 31% afirmaram que o
brigadeiro está moderadamente mais forte que o ideal. Acreditamos
que esse dado positivo esteja relacionado ao fato de que o sabor do
pó de quiabo apresenta-se bem incorporado aos demais ingredientes
da receita tradicional do brigadeiro (leite condensado e manteiga),
não chegando a alterar de modo significativo a doçura esperada para
o produto apresentado como aponta a pesquisa realizada por Costa
e colaboradores (5) com brigadeiro funcional sem lactose com
alfarroba em pó que teve o sabor e a doçura alterados devido à troca
C do ingrediente leite condensado por biomassa de banana verde.
Na avaliação da textura, 83% dos provadores indicaram que a
amostra está ideal e 17% ficaram entre “muito mais consistente que
o ideal” e “moderadamente mais consistente que o ideal”.
Em relação à intenção de compra, 71% dos provadores
afirmaram que certamente comprariam se o brigadeiro estivesse à
venda, 21% “provavelmente comprariam”, 6% “talvez comprasse”
e apenas 2% “possivelmente não comprariam”. Isto revela que o
brigadeiro à base de pó de quiabo trata-se de um produto que pode
ser comercializado e inserido no mercado gastronômico.
Os brigadeiros produzidos foram armazenados sob refrigeração
e consumidos no dia seguinte durante os testes sensoriais.
Conclusão
c) Análise sensorial: Os testes sensoriais foram aplicados no
Através da aplicação de processos simples, como o
laboratório de Análise Sensorial do IFCE, Campus de Baturité, em
beneficiamento das sementes do quiabo e a formulação do
cabines individuais sob luz branca. As amostras foram servidas em
brigadeiro elaborado à base do pó da semente do quiabo torrado, foi
porções de 10g. Para determinar os principais atributos sensoriais, o
possível obter um produto com boa qualidade, podendo ser
foi aplicado com 100 provadores não treinados voluntários dos quais
produzido com poucos ingredientes e inserido na lista de
65% eram do sexo feminino e 35% do sexo masculino.
sobremesas da população. O brigadeiro apresentou bons resultados
Os testes de aceitação global da aprência e aroma, foram
em todas às análises realizadas, com destaque na aceitação global e
realizados com uma escala hedônica verbal de 9 pontos, sendo o
doçura, assim como, uma considerável possibilidade de intenção de
valor hedônico 1 para “desgostei muitíssimo” e o valor hedônico 9
compra pelo consumidor.
para “gostei muitíssimo” (2). Na mesma ficha, foi incluído um
Diagnóstico de Atributos, onde o julgador compara a amostra com
Referências
seu próprio padrão mental de qualidade para aquele produto. Os
atributo aparência (intensidade de cor) foi avaliado por uma escala
1 LISBOA, F. M. et al. Anál. sensorial de bebida alternativa
de intensidade de cinco pontos (1= muito fraco, 5= muito forte),
produzida através do saber local de comunidade tradicional na
enquanto que os atributos de sabor, doçura, e textura, foram
amazônia in Encicl. BIOSFERA, Centro Cient. Conhecer - Goiânia,
avaliados por meio da Escala do Ideal (“just right scale”). O teste de
v. 6, n.11, 2010.
intenção de compra foi realizado utilizando escala verbal de 5
2 DUTCOSKY, S. D. Anál. Sens. de Alim. 4.ed. Curitiba: Univ.
pontos, pré-definida em “certamente não compraria” = 1 a
Champagnat, 2013.
“certamente compraria” = 5 e, no ponto intermediário, “talvez
3 FELIPPE, Gil. Grãos e sementes: a vida encapsulada. São Paulo:
comprasse/talvez não comprasse” = 3 (região de indecisão)
Ed. Senac, 2007.
O grupo de provadores foi formado por docentes e discentes do
4 BAZÁN, U.R.A. Aval. de germoplasmas de quiabeiro
IFCE campus Baturité, que se dispuseram a participar da pesquisa.
(Abelmoschus esculentus) quanto à resistência ao Oídio
(Erysiphecichoracearum). Tese doutorado, UNESP, p.59, 2006.
Resultados e Discussão
5 COSTA, F. C. da et al. Aval. Sens. de brigadeiro funcional sem
lactose com alfarroba em pó (Ceratonia siliqua L.). Arq. Bras. em
Quanto à aceitação global, a maioria dos participantes (85%)
Alim. Recife, v. 3, n. 1, p. 42-50, jan./jun., 2018.
assinalaram as opções “gostei muitíssimo” e “gostei muito”
indicando que o produto foi bem aceito em seus aspectos gerais.
Apenas 13% afirmaram terem “gostado moderadamente e
ligeiramente” e apenas 2% marcaram “não gostei e nem desgostei”
ou “desgostei ligeiramente”.
Quanto à aparência do produto, a maioria dos participantes
assinalaram “forte” (43%) ou “médio” (52%) para a intensidade da
cor.
O aroma do brigadeiro também foi um fator bem avaliado: 42%
dos participantes assinalaram a opção “gostei muitíssimo” e 37%, a
opção “gostei muito”.

114
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação das Características Físico-Químicas e Teor de Licopeno de Suco de Melancia e


Frozen Iogurte Sabor Melancia

Apolinário F. Filho1, Irismar S. C. Feitosa1, Poliana B. Sousa2, Luan Icaro F. Pinto3, Manoel de Jesus M. Silva4, Jurecir
Silva5
1
Discentes do Curso de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central, apolinarioalimentosoficial@hotmail.com
2
Mestre em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus
Teresina Central.
3
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI,
Campus Teresina Central.
4
Assistente de Laboratório, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.
5
Mestre em Medicina Tropical, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, Campus Teresina
Central.

Palavras-Chaves: Citrullus lanatus, frozen yogurt, carotenoide.

INTRODUÇÃO Vegetal do Instituto Federal do Piauí – IFPI, Campus Teresina


Central. Os demais ingredientes utilizados foram adquiridos no
A melancia (Citrullus lanatus) pertence à família Cucurbitaceae e comércio local de Teresina – Piauí. Para a elaboração do frozen
pode ser considerada terceira fruta mais popular do mundo (1). É iogurte sabor melancia foi utilizado leite pasteurizado, leite em pó
produzida em áreas livres de longos períodos de gelo e sua utilização é desnatado, açúcar refinado, suco de melancia, estabilizante e
variada, podendo ser na produção de suco, néctar, coquetéis, entre emulsificante.
outros (2).
Por conter um elevado teor de água, a melancia é considerada ideal Preparo do iogurte
para ser consumida no período de calor intenso, porém quase não é Para o preparo de iogurte, inicialmente o leite foi submetido ao
utilizada na combinação com outros alimentos no Brasil, sendo aquecimento (83°C durante 30 minutos) em iogurteira. Em seguida
utilizada isoladamente como sobremesa (3). foram adicionados sucessivamente, 3% de leite em pó desnatado e
O suco de melancia representa uma pequena parcela dos sucos 10% de açúcar, submetendo a mistura à agitação e resfriamento até
vendidos comercialmente, porém contém propriedades que o tornam 42ºC. Após resfriamento, a mistura foi adicionada de 3% de fermento
atrativos para consumo. Ele é fonte de vitamina A e C, de água e de láctico. Posteriormente, a mistura foi submetida a um processo de
citrulina, aminoácido que participa no sistema de óxido nítrico no incubação por 4h com temperatura controlada de 42ºC até coagulação.
corpo humano e apresenta propriedades vaso dilatadoras e Após coagulação, o iogurte foi resfriado até 8ºC e posteriormente foi
antioxidantes, e de licopeno um carotenoide de grande poder armazenado a 4 ºC.
antioxidante (4).
O licopeno é o componente químico da polpa da melancia que vem Obtenção do suco de melancia
sendo foco de pesquisas. É um carotenoide que tem como principal Para a obtenção do suco de melancia, as melancias em estádio maduro
mecanismo de ação a capacidade de atuar como antioxidante, foram selecionadas, descartando-se as injuriadas. Foram sanitizadas
combatendo os radicais livres que podem alterar o DNA das células e (mergulhadas em solução de hipoclorito de sódio a 100 ppm por 15
desencadear o processo cancerígeno (5). minutos). Em seguida, as polpas foram separadas das cascas e
O frozen iogurte (sorvete de iogurte) é um produto desenvolvido pela entrecascas manualmente com o auxilio de uma faca. Em sequência,
indústria de laticínios que vem se destacando. Ele pode ser definido as polpas foram trituradas, em liquidificador doméstico e passadas em
como um produto obtido basicamente com leite, submetido à peneira com abertura de 1,18 mm até a obtenção do suco da melancia.
fermentação láctica através da ação do Streptococcus thermophilus e O suco de melancia foi pasteurizado a 85 ºC/5 minutos, em seguida foi
Lactobacilus bulgaricus, ou a partir de iogurte com ou sem a adição resfriado a 4 ºC para posterior utilização no processamento.
de outras substâncias alimentícias, sendo posteriormente aerado e
congelado (6). Elaboração de frozen iogurte sabor melancia
O frozen yogurt pode ser considerado uma alternativa saudável ao Para a elaboração do frozen iogurte sabor melancia foram realizados
sorvete para as pessoas que sofrem com obesidade, doenças ensaios preliminares para adequação e ajuste dos ingredientes nas
cardiovasculares e intolerância à lactose, em decorrência do seu baixo formulações.
conteúdo de gordura (o percentual de gordura em um sorvete de O Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de
iogurte padrão varia de 3,5 a 6 %) e reduzido teor de lactose, o qual Gelados Comestíveis, Preparados, Pós para o Preparo e Bases para
depende estritamente do tipo e duração da fermentação (7). Além Gelados Comestíveis estabelece que o yoghurt, iogurte, yogur ou leite
disso, o frozen yogurt apresenta maior vida de prateleira quando fermentado deve estar presente no produto na proporção mínima de
comparado ao iogurte (8). 70% (g/100g) do produto (6).
A inclusão de frutos para saborizar o frozen iogurte tem sido uma Na formulação de frozen iogurte sabor melancia foi utilizada a
alternativa industrial para o aproveitamento desses produtos, tanto concentração de iogurte-70%, açúcar-11%, emulsificante - 1%; liga
pelo aspecto de incorporar sabor, como pelo fato dos frutos serem neutra - 1%; e suco de melancia - 17%.
mais saudáveis em relação à utilização de produtos artificiais como Para a formulação do frozen iogurte sabor melancia, primeiramente,
saborizantes. Assim sendo, a melancia sobressai-se por seu aroma e os ingredientes foram pesados e misturados (iogurte, liga neutra,
sabor marcantes, além de poder conferir cor, a esta sobremesa láctea. emulsificante, açúcar e suco de melancia). A homogeneização dos
Desta forma, objetivou-se com esta pesquisa elaborar o suco de ingredientes foi realizada em liquidificador doméstico, durante 5
melancia e frozen iogurte sabor melancia e avaliar as características minutos. A massa foi colocada em recipientes de polietileno e
físico-químicas e teor de licopeno dos produtos pronto para consumo. encaminhada para o congelador de geladeira doméstica (-18ºC) para a
etapa de maturação (primeira etapa de congelamento) que durou em
MATERIAL E MÉTODOS torno de 4 horas. Uma vez maturada, a mistura foi acrescida de
emulsificante e foi batida em batedeira para incorporação de ar por 10
Matéria-prima minutos, sendo então acondicionada novamente em recipientes
Os frutos da melancia foram provenientes da Central de plásticos e submetida ao congelamento final (-18ºC).
Abastecimento do Piauí – CEAPI e encaminhados em condições
adequadas para o laboratório de Tecnologia de Produtos de Origem Análises físico-químicas e teor de licopeno

115
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

As análises físico-químicas (pH, acidez, cinzas e umidade) foram CONCLUSÃO


realizadas no laboratório de Bromatologia do IFPI, Campus Teresina
Central e seguiram as recomendações do Instituto Adolfo Lutz (9). O suco de melancia apresentou pH e umidade elevado, acidez e cinzas
A concentração de licopeno foi obtida por análise espectrofotométrica baixo. Apesar disso, apresentou teor apreciável de licopeno, tornando-
seguindo a metodologia de Rodriguez – Amaya (5). A leitura no se uma alternativa viável para os que buscam uma alimentação
espectrofotômetro (Marca Benfer – Spectrum 211) do teor de licopeno saudável e prática.
foi realizada no comprimento de onda de 470 nm. Para o licopeno em O frozen iogurte sabor melancia exibiu características físico-químicas
éter de petróleo, o valor do coeficiente de extinção foi de 3450. próximos da literatura relatada e quantidade considerável de licopeno,
tornando-se um produto diferenciado e com maior valor agregado para
Análises estatísticas a indústria de gelados comestíveis.
As análises foram realizadas em triplicatas e os resultados submetidos
à análise estatística descritiva dispostas em média e desvio padrão AGRADECIMENTOS
através do programa Excel 2010.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –
RESULTADOS E DISCUSSÃO IFPI pela concessão de bolsa de Pesquisa (EDITAL Nº 162/2017-
IFPI/PROPI/PROAGRUPAR-INFRA).
Na Tabela 1 são apresentados os resultados referentes às análises
físico-químicas e teor de licopeno do suco de melancia e do frozen REFERÊNCIAS
iogurte sabor melancia.
(1) LV, P.; LI, N.; LIU, H.;GU, H.; ZHAO, W.; Changes in carotenoid
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão das análises físico-químicas profiles and in the expression pattern of the genes in carotenoid
e teor de licopeno de suco de melancia e frozen iogurte sabor metabolisms during fruit development and ripening in four
melancia. watermelon cultivars. Food Chemistry, v. 174, p. 52-59, 2014.
Médias ± Desvio Padrão* (2) NABAVI-PELESARAEI A.; ABDI R.; RAFIEE S.; BAGHERI I.;
Parâmetros Frozen iogurte sabor Determination of efficient and inefficient units for watermelon
Suco de melancia production-a case study: Guilan province of Iran, Journal of the Saudi
melancia
pH 5,35 ± 0,10 4,94±0,03 Society of Agricultural Sciences, v.15, 162-170, 2016.
Acidez (%) 0,09± 0,003 0,69±0,01 (3) SANTANA, A. F.; OLIVEIRA, L. F. Aproveitamento da casca de
Cinzas (%) 0,28± 0,04 0,77±0,08 melancia (Curcubita citrullus, Shrad) na produção artesanal de doces
Umidade (%) 93,50± 0,19 71,49±0,23 alternativos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 16, n.4, p. 363-368, 2005.
Licopeno (µg/g) 26,32± 2,17 20,26±1,46 (4) EDWARDS, A. J.; VINYARD B. T.; WILEY, E. R.; BROWN, E.
D.; COLLINS, J. K.; PERKINSVEAZIE, P. Consumption of
O pH do suco da melancia ficou em torno de 5,35 estando dentro da watermelon juice increases plasma concentrations of lycopene and β-
faixa observada por Arriola (10) que encontrou valor de pH na faixa carotene in humans. J Nutr., v. 133, p. 1043–1050, 2003.
de 5,06 a 5,64 em suco de melancia obtido por nanofiltração. (5) RODRIGUEZ-AMAYA, D. B. A guide to carotenoids analysis in
O valor de pH do frozen iogurte foi de 4,94. A faixa de pH foods.Washington: International Life Sciences Institute Press, 64 p.,
comumente encontrada em “iogurtes” convencionais para a 2001.
preparação de frozen yogurts comercializados nos Estados Unidos (6) BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
varia de 4,37 a 5,70 (7). Consulta pública n° 28, de 01 de junho de 2000. Regulamento Técnico
O suco de melancia apresentou acidez na faixa de 0,09%. Valor para Fixação de Identidade e Qualidade de Gelados Comestíveis,
superior ao desta pesquisa foram observados por Almeida et al., (11) Preparados, Pós para o Preparo e Bases para Gelados Comestíveis,
com valor de 0,12%. 2000.
Com relação a acidez do frozen iogurte foi observado teor na faixa de (7) TAMIME, A. Y.; ROBINSON, R. K. Yoghurt: Science and
0,69%. Quanto maior a acidez titulável encontrada em um produto technology. 3.ed. Cambridge: CRC, 2007.
lácteo fermentado, menor será o valor de pH, em decorrência da (8) SALVADOR, A.; FISZMAN, S. M.; CURIA, A.; HOUGH, G.
produção de ácido láctico por ação de bactérias fermentativas (12). Survival analysis applied to sensory shelf life of yogurts – II: Spanish
Pereira et al., (12) verificaram teores de acidez titulável da mistura formulations. Journal of Food Science, Chicago, v. 70, n. 7, p. 446-
base de frozen yogurt variando de 0,51 a 0,78%. 449, 2005.
Para o teor de cinzas do suco de melancia foi verificado valor na faixa (9) INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto
de 0,28%. Este valor está próximo aos encontrados por Silva et al. Adolfo Lutz. Métodos Físico-Químicos para Análise de alimentos.
(13) que observaram valor de cinzas de 0,21% em suco misto de São Paulo. 4ª edição. 2008.
melancia-pepino. (10) ARRIOLA, N. D. A. Potencial do processo de nanofiltração na
Em relação ao frozen iogurte foi verificado valor de cinzas de 0,77%. concentração de compostos bioativos do suco de melancia (Citrullus
Os teores de cinzas em mistura base de frozen yogurt está diretamente lanatus). 2013. 95f. Dissertação (Mestre em Ciência dos Alimentos).
relacionada à fração de sólidos desengordurados do leite presente na Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
formulação (12). Gonçalves e Eberle (14) encontraram valores (11) ALMEIDA, M. L. B.; SILVA, G. G.; ROCHA, R. H. C.;
próximos de cinzas (0,79%) em frozen yogurt com bactérias MORAIS, P. L. D.; SARMENTO, J. D. A. Caracterização físico-
probióticas. química de melancia 'Quetzali' durante o desenvolvimento. Revista
Para o teor de umidade foi verificado valor na faixa de 93,50 para o Caatinga, Mossoró, v. 23, n. 4, p. 28-31, 2010.
suco de melancia e 71,49% para o frozen iogurte elaborado. Observa- (12) PEREIRA, G. G.; RAFAEL, L. M.; GAJO, A. A.; RAMOS, T.
se alto percentual de água no suco de melancia e no frozen iogurte. M.; PINTO, S. M.; ABREU, L .R.; RESENDE, J. V. Influência do pH
Percentual elevado de água foram observados por Silva et al., (13) em nas características físico-químicas e sensoriais de frozen yogurt de
suco misto de melancia-pepino com um valor de 91,77% de umidade. morango. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 33, n. 2, p. 675-
Valores próximos foram verificados por Gonçalves e Eberle (14) com 686, abr. 2012.
valores de umidade de 73,81% em frozen yogurt com bactérias (13) SILVA, R. M.; FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.;
probióticas. FEITOSA, R. M. Processamento e caracterização físico-química do
O teor de licopeno encontrado para o suco de melancia foi de 26,32 suco misto melancia com pepino. Revista Verde (Pombal - PB), v. 11,
µg/g. Para o frozen iogurte sabor melancia foi observado valor de n.3, p.65-68, 2016.
20,26 µg/g. Leão; Peixoto e Vieira (15) observaram valores de (14) GONÇALVES, A. A.; EBERLE, I. R. Frozen yogurt com
licopeno variando de 22,28 a 30,14 µg/g em oito cultivares de bactérias probioticas. Alim. Nutr., Araraquara, v.19, n.3, p. 291-297,
melancia cultivadas na Fazenda Água Limpa. jul./set. 2008.
O conteúdo de licopeno da melancia pode variar entre diferentes (15) LEÃO, D. S.; PEIXOTO, J. R.; VIEIRA, J. V. Teor de licopeno e
cultivares, como também de acordo com as diferentes fontes de de sólidos solúveis totais em oito cultivares de melancia. Biosci. J.,
produção, ambientes de cultivo e época do ano (10). Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 7-15, 2006.

116
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da Qualidade do Mel Apis melífera L produzido no IFCE Campus Iguatu, CE

Nadla C. S. Sousa1, Josefranci M. de. Farias2, Francineudo A. da Silva3, Rafaella M. de Freitas4, Lucas J. V.
Silva1
1 Licenciatura em Química, Instituto Federal do Ceará – campus Iguatu, CE – Brasil.
2 Dra. em Biotecnologia Industrial, profa. do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFCE – campus
Baturité, CE - Brasil, e-mail: josefranci@ifce.edu.br
3 Dr em Fitotecnia, prof.do IFCE – campus Iguatu, CE – Brasil.
4 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, profa. do IFCE – campus Iguatu, CE – Brasil

PALAVRAS CHAVE: Legislação, Caracterização, Umidade.

Introdução Após decantado, são envasadas em garrafas plásticas de 100ml.


Uma atividade que tem ganhado cada vez mais espaço e As análises físico químicas foram realizadas no laboratório de
visibilidade no mercado brasileiro em decorrência da sua bromatologia do IFCE- campus Iguatu e no Laboratório de Química
lucratividade e responsabilidade social é a produção do mel de de Alimentos do IFCE - campus Limoeiro do Norte. Todas as
abelha – principal atividade da apicultura, situando o país como um análises foram realizadas em triplicata. As análises de dados foram
grande exportador mundial do produto. Atrelada a essa expansão, calculadas através de média e desvio padrão, e comparadas com a
surge a necessidade de maiores investimentos para o melhoramento legislação brasileira vigente. Os ensaios realizados foram:
da qualidade desse alimento, o que também tem elevado o a) Umidade: determinada através de um refratômetro portátil (Hand
crescimento de pesquisas nessa área (1,2,3,4), especialmente com Refractometer) de marca ATAGO N3-E (luz natural, temperatura
ênfase na qualidade e caracterização do produto a fim de elencar ambiente) com escala de 58 a 90 ºBrix; b) pH: Pesou-se 2g de mel e
parâmetros para garantir sua qualidade e segurança alimentar. dilui-se em 20mL de água destilada. Aferiu-se o pHmetro com
Embora tanto vespas como abelhas produzam mel, a via de solução tampão pH 4, 7 e 9, fez-se a leitura da amostra. O pHmetro
domesticação das abelhas possibilitou que esta, atrelada ao contexto utilizado foi de marca SMART SENSOR, AS218. A análise foi feita
geográfico dos principais países consumidores desse produto, em triplicata; c) Acidez: pesou-se 10g de mel e dilui-se em 75mL de
viabilizasse a abelha africanizada (Apis mellifera L.) como principal água destilada. Titulação com NaOH, fundamentada na
produtora de mel destinado ao consumo humano (5). neutralização de ácidos por solução de NaOH até pH 8,3 (7).
Assim como qualquer produto, seja ele alimentício ou não, sua Utilizou-se a mesma solução de mel preparada para a determinação
qualidade está alicerçada principalmente em sua origem que, no do pH; d) Resíduo mineral fixo: determinado por meio da
caso do mel de abelha, envolve o tipo de planta que o néctar foi incineração de matéria orgânica a 600ºC, sem apreciável
colhido pelo inseto, a espécie da abelha, os fatores ambientais dos decomposição dos constituintes do resíduo mineral ou por sua
quais contribuem ou não para o bom desenvolvimento da produção volatização. Pesou-se 2 g de amostra de mel e transferiu-se para
do mel, além da dinâmica pré e pós-colheita do produto (3). cadinho previamente aquecido em forno mufla por meia hora, e em
Nesse contexto, o Instituto Federal de Educação, Ciência e seguida esfriado em dessecador e pesado. Levou-se novamente ao
Tecnologia do Ceará (IFCE) – campus Iguatu, situado no interior do forno mufla a 600°C e calcinou-se até cinzas brancas. Repetiu- se a
estado, por se consolidar como pioneira na região Centro-Sul do operação até encontrarem-se pesos constantes (7). e) Açúcares
estado no ensino agrícola, possui uma cooperativa escolar de redutores: determinado pelo método de Fehling: 2 mL de solução de
comercialização dos produtos oriundos do seu espaço a partir das mel a 20% (0,4 g) foram misturados a 100 mL de água destilada. Em
práticas desenvolvidas pelos seus alunos, professores e demais seguida realizou-se filtração em filtro seco para frasco seco,
servidores à toda a comunidade, dentre os quais está o mel Apis transferindo-se o filtrado para bureta de 25 mL. Pipetou- se
mellifera L produzido pela própria instituição. volumetricamente 10 mL de cada uma das soluções de Fehling (A e
A partir desse enredo, o presente estudo tem por objetivo a B) para Erlenmeyer de 250 mL e adicionou-se 40 mL de água
verificação da qualidade do mel de abelha Apis mellifera L. destilada. Em seguida, aqueceu-se até a ebulição e gotejou-se a
produzido pelo IFCE – campus Iguatu, através da avaliação de suas solução da amostra até que o líquido sobrenadante ficasse levemente
características físico-químicas, averiguando sua adequação a azulado. Mantendo-se a ebulição, adicionou- se uma gota de solução
legislação vigente e avaliando os indicadores de deterioração de azul de metileno a 1%, gotejando até descoloração do indicador
hidroximetilfurfural (HMF). para realização do cálculo através da fórmula abaixo:
Material e Métodos
A coleta do mel de abelha Apis mellifera L foi realizada no
IFCE – campus Iguatu, por alunos do curso técnico integrado em Onde: T = título da solução de Fehling; V = mL de amostra gastas
agropecuária com o auxílio do professor responsável, em julho de na titulação e P = peso da amostra em gramas na solução; f)
2018, seguindo-se os métodos descritos na Portaria no 1 de 1981 do Açúcares não redutores: Pesou-se 10g de amostra homogeneizada
MAPA (6) referente aos métodos analíticos para controle de em um béquer de 100ml. Adicionou-se 50ml de água destilada e 1ml
produtos de origem animal. O processamento para obtenção do mel de ácido clorídrico concentrado e levou-se ao banho-maria a 60 0C
pode ser observado no fluxograma abaixo (Figura 1). por 1 hora. Esfriou-se e neutralizou-se com a solução de hidróxido
Figura 1 – Fluxograma de processo do mel de abelha Apis de sódio a 10%, usando papel de tornassol como indicador e
mellifera L completou-se o volume a 100ml com água destilada. Anotou-se o
valor para calcular a porcentagem, pela equação descrita a seguir
(7).

Onde: % sacarose = (glicídios totais - glicídios redutores) x 0,95; T


= título da solução de Fehling; V = mL de solução de amostra gastos
e P = peso em gramas da amostra na solução;
g) Cor: foi avaliada de acordo com a escala Pfund em que a cor dos
méis varia de branco-água a âmbar escuro. Para a análise foi
utilizado o equipamento espectrofotômetro de marca Biospectro SP-
As melgueiras foram trazidas do campo quando encontravam- 220. h) Hidroximetilfurfural (HMF): O teor de HMF foi
se 70% operculadas, tomando o cuidado de levar o mínimo possível determinado pela reação de Winkler, cujo princípio é que em meio
de abelhas. O processamento começa com a recepção dos quadros ácido o ácido barbitúrico condensa-se com o hidroximetilfurfural
na mesa desoperculadora onde é feita a desoperculação e formando um composto de coloração vermelha (7). Pesou-se 5g de
acondicionamento na centrífuga. O mel centrifugado passa pela mel (sem que tivesse sofrido nenhum aquecimento), passou-se para
peneira para filtragem de partículas mais grosseiras, em seguida é o balão volumétrico de 25ml e completou-se com água destilada. A
acondicionado em decantador por no mínimo 48h antes do envase.

117
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

solução foi usada imediatamente. Tomou-se 2 tubos de ensaio e em Altos valores de sacarose, que se constitui da combinação de dois
um deles colocou-se 2ml de solução de mel, 5ml de solução de para- açúcares, glicose e frutose, indicam que o mel foi colhido antes do
toluidina e 1ml de solução de ácido barbitúrico. No tubo branco período ideal, sendo que a sacarose não foi completamente
colocou-se 2ml de solução de mel, 5ml de solução de para-toluidina transformada em glicose e frutose pela ação da invertase (11).
e 1ml de água destilada. A sequência da colocação dos reagentes foi A cor da amostra de mel analisada foi a âmbar, ela se encontra
feita dentro de 2 minutos. Aguardou 4 minutos e fez-se a leitura em em conformidade com a legislação, que considera aceitáveis
espectrofotômetro a 550nm. A leitura foi feita no ponto de maior variações de branco d’água a âmbar escuro (8). Uma das
absorção, pois a coloração é instável e tem o ponto máximo de características do mel que mais influenciam na preferência do
absorção após 5 minutos, começando depois a descrever. consumidor é a cor, esta é uma caracterização qualitativa, onde a
Resultados e Discussão mesma é verificada de forma visual e comparada com uma tabela,
Os resultados das análises físico-químicas do mel Apis onde se verifica os padrões. Este parâmetro está relacionado com a
mellifera L estão representados na Tabela 1, com valores médios e sua origem floral, processamento, fatores climáticos, temperatura.
seus respectivos desvios padrões. Por fim, o valor encontrado para HMF foi de 50,3 mg/Kg
Tabela 1 – Caracterização Físico-química do mel de abelha Apis apresentando-se em conformidade com a norma vigente pela
mellifera L legislação que é de no máximo 60 mg/Kg (6). Valores de HMF
podem variar em função do tempo de armazenamento. Segundo
Barros et al. (12) ao analisar 13 amostras de méis de diferentes
municípios do estado do Rio de Janeiro encontraram uma média de
30,37mg/Kg.
Conclusão
Pode-se concluir que o mel de abelha analisado da espécie Apis
mellifera L produzido no IFCE – campus Iguatu possui boa
qualidade quanto a caracterização química, e os valores encontrados
estão dentro dos padrões técnicos de Identidade e Qualidade do
Verificou-se que a amostra de mel analisada obteve 25% de Ministério da Agricultura e Abastecimento estabelecidos para o mel,
umidade (Tabela 1), valor este que está acima dos limites com exceção da umidade e dos açúcares não redutores que
especificados pela legislação brasileira que estabelece que a apresentaram valores superiores aos exigidos pela legislação.
umidade não deve exceder 20% (8). Marchini et al. (9), afirma que Referências
a explicação para o elevado teor de água encontrada no experimento, 1 FINCO, F.D.B.A.; MOURA, L.L.; SILVA, I.G. Prop. físicas e
poderia ser a colheita do mel oriunda de favos não operculados ou o quím. do mel de Apis mellifera L. Ciênc. e Tecnol. de Alimentos.
período de armazenamento, podendo assim o mel ter absorvido 30, 3, 706-712, 2010.
umidade do ambiente. 2 SOUZA, D.A.; GRAMACHO, K. P.; CASTAGNINO, G. L. B.
Resultados semelhantes foram observados por outros autores, Produtividade de mel e comportamento defensivo como índices de
tais como, Marchini et al. (9), analisaram 121 amostras de mel Apis melhoramento genético de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.).
mellifera L de diferentes municípios do Estado de São Paulo, e Rev. bras. de Saúde Produção Animal. 13, 2, 550-557, 2012.
encontraram 44 amostras de méis com umidade superior a 20%, 3 MORAES, F.J. et al. Caract. físico-química de amostras de mel de
Alves et al. (5), observaram 20 amostras de mel da espécie M. abelha africanizada dos municípios de Santa Helena e Terra Roxa
mandacaia que apresentou uma média de (28,78%), Anacleto e (PR). Arq. Bras. de Medicina Veterinária e Zootecnia. 66, 4, 1269-
Marchine (10) analisaram 34 amostras de méis Apis mellifera L no 1275, 2014.
município de Pirassununga, Estado de São Paulo que apresentaram 4 BRAGHINI, F. et al. Qualidade dos méis de abelhas africanizadas
umidade dentro do limite de 20%. (Apis mellifera) e jataí (Tetragonisca angustula) comercializado na
O pH encontrado foi 3,58 ± 0,01. Os valores de pH não estão microrregião de Francisco Beltrão – PR. Rev. de Ciênc. Agrárias,
padronizados pela legislação, porém, autores como Welke et al. (11) 40, 1, 279-289, 2017.
e Barros et al. (12) referenciaram a média de 3,3 a 4,4 em suas 5 ALVES, R.M.O. et al. Carac. físico-químicas de amostras de mel
pesquisas. De acordo com Silva et al. (13), embora o pH não seja de Melipona mandacaia Smith (Hymenoptera: Apidae). Ciênc. e
indicado como análise obrigatória, mostra-se útil para a avaliação Tecnol. de Alimentos. 25, 4, 644-650, 2005.
da qualidade do mel, assim como pode influenciar na velocidade de 6 BRASIL. Ministerio da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento.
outros componentes. Laboratório Nacional de Referencia Animal - LANARA. Portaria n.
A acidez livre do mel expressa em termos de meq/kg foi de 001/81, de 07 de outubro de 1981. Métodos Analíticos Oficiais para
48,94 ± 0,61, estando em conformidade com as normas de legislação Controle de Produtos de Origem Animal e seus Ingredientes. Diário
nacional para o mel, onde o teor médio de acidez encontra-se bem Oficial da União, Brasília, DF, 13 out. 1981. seção 1, p. 19381.
próximo ao limite estabelecido pela legislação que é de no máximo 7 LANARA. Laboratório Nacional de Referência Animal. Métodos
50 meq/kg. Anacleto e Marchini (10) encontraram valores que analíticos oficiais para controle de produção, controle de produtos
variaram entre 6,0 a 46 meq/Kg. As variabilidades para acidez de origem animal e seus ingredientes. II-Métodos físicos e químicos.
obtida nos trabalhos podem ser explicadas pelo tipo de florada, uma Mel. Brasília: Ministério da Agricultura, 1981.
vez que a acidez do mel tem origem nos diversos ácidos orgânicos 8 BRASIL. Ministerio da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento.
contidos no néctar coletado pelas abelhas (13). Instrução normativa n° 11, de 20 de outubro de 2000. Disponível
O conteúdo de resíduos minerais (cinzas) na amostra analisada em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2012/08/IN-11-
foi de 0,58%, apresentando-se de acordo com a legislação brasileira de-2000.pdf. Acesso> em: 13 jan. 2020.
que determina o limite máximo de 0,6% para méis florais (8), e 9 MARCHINI, L.C.; MORETI, A.C.C.C.; OTSUK, I.P. Análise de
superior aos encontrados por Anacleto e Marchini (10) e Silva et al. agrupamento, com base na composição físico-química, de amostras
(13), com 0,29% e 0,10%, respectivamente. de méis produzidos por Apis melífera L. no estado de São Paulo.
Na determinação de açúcares redutores e não redutores os Ciênc. e Tecnol. de Alimentos, 25, 1, 8-17, 2005.
valores obtidos na amostra de mel estudada foram de 67,50% e 10 ANACLETO, D.A.; MARCHINI, L.C. Composição físico-
6,25% respectivamente. As normas nacionais estabelecem mínimo química de amostras de meis de Apis melífera L. provenientes do
de 65% para açúcares redutores e máximo de 6% para açúcares não- cerrado paulista. B. Indústr.anim. 61, 2, 161-172, 2004.
redutores (8). Esses valores estão próximos aos determinados por 11 WELKE, J.E. et al. Carac. físico-química de méis de Apis
Welke et al. (11) ao analisar em 18 amostras de méis Apis mellífera mellifera L. da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
provenientes dos municípios da região noroeste do Estado do Rio Ciênc. Rural. 38, 6, 1737-1741, 2008.
Grande do Sul, possui uma média de 67,8%, outros valores são 12 BARROS, L.B. et al. Carac. físico-química de mel produzido por
relatados por Finco, Moura e Silva (1), 68,9%, Barros et al. (12), Apis mellífera no estado do Rio de Janeiro. Rev. bras. de Ciênc.
71,6%, Anacleto e Marchini (10), 73,1%. No conteúdo de açúcares Veter. 17, 117-120, 2010.
não redutores, o valor encontrado foi um pouco superior ao que 13 SILVA, C.L.; QUEIROZ, A.J.; FIGUEIREDO, R.M.F. Carac.
estabelece a legislação, onde determina que o valor máximo é de 6% físico-química de méis produzidos no estado do Piauí para
sendo o obtido 6,25%, porém é um valor muito próximo do diferentes floradas. Rev. bras. de Eng. Agrícola e Ambiental. 8,
estabelecido pelas normas e não influencia que o mel esteja fora dos 260-265, 2004.
padrões de qualidade.

118
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Inativação Microbiana em Diferentes Tempos e Temperaturas de Cocção em


Hambúrguer Gourmet de Carne Bovina

Rochele Rodrigues1, Marjo Bessa1, Paula Zimmermann2, Larissa Quintana2


1
Doutora, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. rochele.rodrigues@pucrs.br
2
Bacharel em Nutrição, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Segurança dos Alimentos, Qualidade Microbiológica, Gastronomia
1 INTRODUÇÃO
A qualidade higiênico-sanitária de alimentos de origem animal sempre 2.4 ANÁLISE DOS DADOS
foi alvo de preocupação pela possibilidade de veiculação de Os dados de inativação térmica foram analisados por interpretações
microrganismos patogênicos (1,2,3). A maior preocupação está estatísticas dos diferentes tempos e temperaturas e foram analisados
relacionada ao consumo de alimentos crus desta origem (4). Neste pelo Teste t de Student (5% de nível de confiança). As diferenças foram
interim, existe um crescente consumo de hambúrguer gourmet, que consideradas significativas quando o p foi inferior a 0,05.
apresentam diversos pontos de cocção, sendo o ponto malpassado uma
grande preocupação quanto a segurança dos alimentos (5). Com isto, o 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
objetivo deste estudo foi avaliar a inativação microbiana em A tabela 2 apresenta os resultados de inativação de E. coli após o
hambúrguer gourmet de carne bovina em diferentes tempos e tratamento térmico realizado nas temperaturas de 55°C, 65°C e 75°C.
temperaturas de cocção. Na temperatura de 55°C (malpassado) e na temperatura de 65°C (ao
ponto) não houve redução microbiana significativa, demonstrando
2 MATERIAL E MÉTODOS maior risco de contaminação. Resultado semelhante foi encontrado por
2.1 PREPARO DO HAMBURGUER Rossvoll et al. (7), que na temperatura de 55°C também não apresentou
A carne bovina moída foi adquirida em um açougue da Região redução microbiana significativa (p > 0,05). Estudos apontam o
metropolitana de Porto Alegre/RS. As amostras foram acondicionadas consumo de hambúrguer malcozido como um dos principais fatores de
sob refrigeração até o momento do pré-preparo do hambúrguer. Para o risco de infecções esporádicas e surtos causados por E. coli (8, 9,
preparo do hambúrguer, foi misturado sal iodado e contaminado 10,11). Por isso, a síndrome provocada por E. coli tem recebido a
artificialmente com uma cepa de Escherichia coli ATCC 25922, denominação de doença do hambúrguer (12).
procedente da Coleção de Microrganismos do Laboratório de
Microbiologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Tabela 2: Resultado de Inativação de E. coli após o tratamento térmico.
Sul (PUCRS). A cepa bacteriana foi cultivada em 160 mL de caldo BHI, E. coli (log10)
distribuídos em 16 tubos de 10 mL e incubados a 37ºC por
aproximadamente 18 horas. Após a incubação, estes tubos com a Média (± desvio padrão)
cultura foram centrifugados por 10 minutos a 5000g, o pellet de cada Hambúrguer cru 8,58 ± 0,10ª
tubo foi lavado com 10 mL de solução salina estéril (0,85%). Um total Hambúrguer a 55°C 8,56 ± 0,04ª
de 160 mL da salina com as células de E. coli, numa concentração de
aproximadamente 109UFC/ml, foram adicionadas em 1,6 Kg de carne Hambúrguer a 65°C 8,40 ± 0,02ª
moída. Após esse procedimento, preparou-se os hambúrgueres em Hambúrguer a 75°C 0,00 ± 0,00b
triplicata para cada temperatura estipulada e para o controle (sem Os resultados são de valores de duplicata de experimentos
processamento térmico). Os hambúrgueres foram imediatamente independentes (média e desvio padrão); Letras diferentes correspondem
refrigerados até o momento do preparo. diferença significativa entre a amostra controle e a amostra tratada (p >
0.05).
2.2 INATIVAÇÃO MICROBIANA
Os hambúrgueres artificialmente contaminados foram tratados Na temperatura de 75°C (Tabela 2) observa-se uma redução
termicamente com diferentes temperaturas: 55°C, 65°C e 75°C, microbiana significativa (8 log UFC/g) após o tratamento térmico,
referentes aos pontos de cocção de malpassado, ao ponto e bem demonstrando que esta temperatura foi eficiente para inativação
passado, respectivamente, conforme detalhado na tabela 1. (6) . Os microbiana, contribuindo para a segurança do alimento. Resultados
hambúrgueres tratados termicamente e a amostra controle (crua) foram semelhantes foram encontrados nos estudos de Rossvoll et al. (7), que
mantidos sob refrigeração até o momento da análise microbiológica. na temperatura de 73°C obteve uma redução média de 5,9 log UFC/g e
no estudo de Liu (13), que na temperatura de 71°C observou uma
Tabela 1 - Tempo e temperatura de amostragem redução média de 6 log UFC/g em carne bovina grelhada. Embora,
grande parte dos consumidores tenham a preferência pelo ponto de
55°C 65°C 75°C cocção malpassado, a legislação Brasileira (14), determina que a
Tempo Malpassado Ao ponto Bem passado temperatura de cocção dos alimentos, a fim de garantir a segurança do
consumidor, deve ser superior a 70°C.
4 min* 6 min* 12 min* 4 CONCLUSÃO
Após avaliar a inativação térmica de E.coli nas temperaturas de 55, 65
*2, 3 e 6 min. de tratamento térmico, respectivamente, de cada lado do e 75°C observou-se que apenas na temperatura de 75°C houve maior
hambúrguer. inativação microbiana. Nosso estudo aponta que o consumo de
hambúrguer malpassado e ao ponto pode apresentar risco a saúde do
2.3 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA consumidor.
Imediatamente após os tratamentos de inativação microbiológica, uma
alíquota de 25 g de cada hambúrguer foi pesada em sacos estéreis com REFERÊNCIAS
225 mL de água peptonada a 0,1% e homogeneizada por 60 segundos. 1 ARCANJO, V. F. P. S., & OLIVEIRA, G. F. M. Qualidade
A partir desta diluição (10-1), diluições decimais seriadas foram microbiológica de hambúrgueres industrializados comercializados em
efetuadas em água peptonada 0,1%. Para a quantificação de E. coli, volta redonda/RJ. Epi. Transv., 10, 3, 2019.
alíquotas de 1mL de cada diluição foram depositadas em placas vazias
esterilizadas e o meio Violet Red Bile Agar (VRBA, Sigma-Aldrich), 2 COSTA, L. C. Avaliação higiênico-sanitária e físico-química de carne
previamente fundido e mantido a 45-48°C em banho-maria, foi vertido in natura comercializada em Campo Mourão–PR. Ver. Unin. Rev. 33,
em cada placa. Após a solidificação do meio, as placas foram incubadas 55-65, 2018.
a 44,5º C por cerca de 24 - 48 horas. Todas as contagens bacterianas
foram realizadas em duplicata. 3 MELO, L. F.; VILELA, N. A.; CARVALHO, P. L. N.; VEIGA, S.
M. O. M .; NASCIMENTO, L. C.. Qualidade higiênico -sanitária da

119
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

carne de hambúrguer Industrializada. Rev. Univ. Val. Ri Ver. 10, 370


-375, 2012.

4 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual integrado de
vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos.
DF. Ed. do Ministério da Saúde, 2010.

5 GONÇALVES, R. C. et al. Micro-organismos emergentes de


importância em alimentos: uma revisão da literatura. SaBios-Rev. Sau.
e Bio. 11, 71-83, 2017.

6 ORNELAS, L.H. Técnica dietética, seleção e preparo de alimentos. 8.


ed. São Paulo: Atheneu, 2007.

7 RØSSVOLL, Elin et al. Consumer preferences, internal color and


reduction of shigatoxigenic Escherichia coli in cooked
hamburgers. Meatscience. 96. 2. 695-703. 2014.

8 RILEY, Lee W. et al. Hemorrhagic colitis associated with a rare


Escherichia coli serotype. New Eng. Jour. of Med. 308. 12. 681-685.
1983.

9 CDC. Centers for disease control and prevention. Update: multistate


outbreak of Escherichia coli O157: H7 infections from hamburgers--
western United States, 1992-1993. MMWR. Morbidity and mortality
weekly report. 42. 14, 258. 1993.

10 TAVARES, T. M.; SERAFINI, Á. B. Carnes de hambúrgueres


prontas para consumo aspectos legais e riscos bacteriano. 2006.

11 LAHOU, E., et al. "Effectiveness of inactivation of foodborne


pathogens during simulated home pan frying of steak, hamburger or
meat strips." Int. Jou. Foo. Micr. 206. 118-129. 2015.

12 GONÇALVES, R. C et al. Micro-organismos emergentes de


importância em alimentos: uma revisão da literatura. SaBios-Rev.
Saúd. Bio. 11. 2, 71-83. 2017.

13 LIU, Y. Heat and Pressure Resistance of Escherichia coli and Its


Inactivation in the Presence of Antimicrobial Compounds. 2014. PhD
Thesis. University of Alberta. 2014.

14 RESOLUÇÃO. R.D.C. n°216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe


sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de
alimentação. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 16 de
setembro de 2004.

120
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização da Pectina do Maracujá Amarelo (Passiflora edulis


flavicarpa)

Crislane, C. B. Silva. Pós-graduação lato sensu em Agropecuária sustentável. IFMA, Campus Codó.; Izaías, S.
Marques. Graduado em Química. IFMA, Campus Codó.; Eva, M. C. S. Nobre. Profa. Ma. em Química Analítica.
IFMA, Campus Codó.; Daniel, D. Campelo. Docente de Tecnologia em Alimentos. IFMA, Campus Codó. Email:
crislanebaima@gmail.com.

Palavras-chaves: Aproveitamento de resíduo. Pectinas naturais. Pectato de cálcio. Esterificação.

INTRODUÇÃO Munhoz, Sanjinez-Argandoña e Soares-Júnior (11) determinaram o teor


de pectina em gramas de pectato de cálcio em farinhas de polpa de
A pectina é largamente utilizada na indústria alimentícia devido ao seu goiaba e polpa de goiaba mais casca, e obtiveram nos dois tratamentos
poder de gelatinização, sendo aplicada na fabricação de doces e um valor de 1,02 g.100 g-1. Valor também inferior ao encontrado neste
geleias (1). Por isso, a sua produção comercial requer uma grande estudo.
demanda, o que acarreta em pesquisas para buscar novas fontes e O grau de esterificação caracteriza o teor de grupos metoxil da
métodos de extração desse polissacarídeo tão importante. molécula de ácido poligalacturônico (pectina), o número de grupos
A indústria de sucos gera bastante resíduo, quando se trata de metoxil tem relação direta com a solubilidade da pectina em água, seu
maracujá esta quantidade se torna expressiva, uma vez que a casca poder geleificante e sua propriedade de absorção a metais pesados (10).
representa em torno de 60% do peso do fruto. Por isso, agregar valor a A esterificação da pectina do mesocarpo do maracujá foi realizada em
estes resíduos é de interesse econômico e tecnológico, em virtude de triplicata e obteve uma média de esterificação de 93,12% (m/v), sendo
poderem ser utilizados como matéria-prima na elaboração de outros considerado de acordo com a literatura, uma pectina de alto teor de
produtos alimentícios com importante valor nutricional (2). A casca do metoxilação (ATM). Este resultado, no que diz respeito à aplicação
maracujá é rica em aminoácidos, proteínas e carboidratos, contendo desta pectina em produtos como doces e geleias, correspondem a uma
ainda 10 a 20% de pectina de qualidade semelhante a da laranja (3). boa formação de gel, respeitando as características esperadas para tal
Trabalhos com o mesocarpo do maracujá amarelo vêm sendo utilização.
desenvolvidos, extraindo-se a pectina e fazendo-se uso na elaboração Kliemann (10) determinou o grau de esterificação de pectina da casca
de produtos alimentícios. Assim, o objetivo desta pesquisa foi do maracujá extraída com diferentes tipos de ácidos, para os ácidos
caracterizar a pectina da casca do maracujá amarelo quanto à sua nítrico e clorídrico, encontrou altos níveis de esterificação, sendo
eficiência no processo de gelificação, através da determinação do seu respectivamente, 75,68% e 70,38%. A amostra de pectina extraída
teor de pectato de cálcio e seu grau de esterificação. com ácido cítrico apresentou baixo grau de esterificação (45,94 %),
isto ocorreu porque o ácido cítrico deteriora a estrutura química da
MATERIAIS E MÉTODOS pectina.
Araújo (7) utilizou a pectina do maracujá amarelo para elaboração de
Para a obtenção da massa do mesocarpo seguiu-se a metodologia de produto alimentício e obteve 60,37% de esterificação da pectina
Dias et al. (4) com adaptações. Os maracujás selecionados para a extraída com ácido cítrico. Valor abaixo do encontrado neste trabalho,
extração da massa péctica estavam com superfície lisa, sendo os mais mas como verificou Kliemann (10) o uso de ácido cítrico afeta o grau
adequados. Após a recepção, os maracujás foram sanitizados em água de esterificação.
clorada por 15 min, posteriormente lavados, despolpados e De acordo com Ribeiro e Seravalli (1) as pectinas naturais podem
descascados manualmente. O mesocarpo obtido foi ao molho por 24 apresentar um teor de metoxilas (esterificação) de até 80% em relação
horas em água corrente e temperatura ambiente, decorrido o tempo, a ao total de grupos. Neste estudo, a esterificação foi realizada após o
água foi escorrida e o mesocarpo novamente lavado, em seguida pré-tratamento com álcool etílico e EDTA, o que pode explicar o grau
foram cortados em cubos pequenos e levados para a cocção em tachos de esterificação acima dos 90%, ou seja, a estrutura da pectina não
em temperaturas superiores à 100 °C com fervura. O cozimento foi sofreu alterações causadas por ácido.
finalizado quando o mesocarpo apresentou aspecto mole e Conforme tais evidências o uso de métodos ácidos degradam a
transparente. A massa cozida foi escorrida, resfriada em temperatura estrutura das pectinas deixando-as com um grau de esterificação mais
ambiente e triturada em liquidificador industrial. A massa obtida foi baixo, assim métodos mais brandos precisam ser aplicados para que a
peneirada para retirada de resíduos remanescentes. qualidade das pectinas seja mantida.
A extração da pectina foi realizada segundo os métodos de Oliveira, Pinheiro (3) ao otimizar a extração da pectina da casca do maracujá
realizando-se um tratamento com álcool e EDTA (5) para posterior amarelo com ácido cítrico, constatou que nas extrações realizadas com
determinação do grau de esterificação (6). E determinação de pectina menores concentrações de ácido cítrico (0,086 %) e tempos de
na forma de pectato de cálcio (7). extração (60 min) foram obtidas pectinas com alto grau de
esterificação (78,59 %).
RESULTADOS E DISCUSSÃO As pectinas obtidas por Munhoz, Sanjinez-Argandoña e Soares-Júnior
(11)
, apresentaram grau de esterificação inferior a 50%, sendo
O método de determinação de pectinas por pectato de cálcio detecta caracterizadas como pectinas de baixo teor de esterificação.
pectinas de baixo teor de metoxilação. As pectinas de baixo teor de Resultados semelhantes encontrou Fertonanih (12) quando realizou
metoxilação (BTM) possuem entre 40 a 50% dos seus ácidos testes para otimização de extração ácida em bagaço de maçã.
galacturônicos, na forma de ácidos carboxílicos livres, estes ao Resultados opostos quando comparados ao presente estudo.
reagirem com o excesso de íons cálcio, se precipitam na forma de
pectato de cálcio (8). CONCLUSÕES
O teor de pectina do mesocarpo do maracujá amarelo em base seca na
forma de pectato de cálcio foi de 30,94 %(m/m), este percentual A pectina do mesocarpo do maracujá apresentou altos valores quanto
corresponde à parte de grupos carboxílicos livres, dentro do total que ao seu teor de pectato de cálcio (30,94 % (m/m)) em relação ao araçá
formam a pectina, que reagiram com íons cálcio. Os restantes dos amarelo e farinha de polpa de goiaba com e sem casca e alto grau de
grupos carboxílicos dessa estrutura estão metoxilados e a outra esterificação (93,12%). Assim observa-se uma manutenção da
porcentagem corresponde a sais. Este conteúdo varia de acordo com qualidade da pectina sem o uso de extração ácida, tornando-a
sua origem e os processos utilizados durante sua preparação (9). adequada para a utilização em produtos alimentícios que demandam
Os métodos atualmente empregados para determinação de pectinas em essa matéria prima em seu processamento, como doces, geleias e
mesocarpo de maracujá amarelo são o enzimático e a extração ácida (3, produtos de panificação.
4, 7, 10)
. Contudo, não foram encontrados trabalhos com determinação
de pectina na forma de pectato de cálcio para mesocarpo de maracujá. REFERÊNCIAS
Sebastião (8) fez uso da mesma metodologia para extração de pectina
na polpa do araçá amarelo e encontrou 0,64% (m/m), valor inferior se 1. RIBEIRO, E. P.; SERAVELLI, E. A. Química de Alimentos. 2. ed.
comparado com o mesocarpo do maracujá encontrado neste estudo. São Paulo: Blucher, 2007.

121
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

2. CARDOSO, J.R. et al. Avaliação da aceitação de doce elaborado


com aproveitamento de albedo de maracujá amarelo (Passiflora
edulis). Rev. Bras. Prod. Agroind. Campina Grande, Paraíba, v.15,
n.2, p.123-128, 2013.

3. PINHEIRO, E. R. Pectina da casca do maracujá amarelo (Passiflora


edulisflavicarpa): Otimização da extração com ácido cítrico e
caracterização físico-química. 2007. Dissertação (Mestrado em
ciências do alimento) – Programa de pós-graduação em Ciências dos
alimentos, Universidade federal de Santa Catarina, Florianópolis.

4. DIAS, M. V. et al. Estudo de variáveis de processamento para


produção de doce em massa da casca do maracujá (Passiflora edulis f.
flavicarpa). Ciênc. Tec. Alim. Campinas, v.31, n.1, p.65-71, jan./mar.
2011.

5. OLIVEIRA, L. A. Manual de laboratório: análises físico-químicas


de frutas e mandioca. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e
Fruticultura. 2010.

6. ARAÚJO, B. S. Processamento e caracterização física e química de


hambúrgueres formulados com pectina do maracujá amarelo. 2017.
59f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB). 2017.

7. CARVALHO, G. G. P.; FERNANDES, F. E. P.; PIRES, A. J. V.


Métodos de determinação dos teores de amido e pectina em alimentos
para animais (Determination methods of starch and pectin levels in
animal feeds). Rev. Eletr.Vet. v.7, n. 1. 2006.

8. SEBASTIÃO, S. H. A. Extração e determinação de pectina na


forma de pectato de cálcio da polpa do araçá amarelo. 2015. 52f.
Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Municipal de Ensino
Superior de Assis. 2015.

9. ORDÓÑEZ, J. A. P. et al. Tecnologia de Alimentos: Componentes


dos alimentos e processos. v.1. Porto Alegre: Artamed, 2005.

10. KLIEMANN, E. Extração e caracterização da pectina da casca do


maracujá amarelo (Passiflora edulis flavicarpa). 2006. 75 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) – Universidade
Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006.

11. MUNHOZ, C. L.; SANJINEZ-ARGANDOÑA, L. J.; SOARES-


JÚNIOR, M. S. Extração de pectina de goiaba desidratada. Ciênc.
Tec. Alim. v.30, n.1. 2008.

12. FERTONANI, H. C. R. Estabelecimento de um modelo de


extração ácida de pectina de bagaço de maçã. Ponta Grossa, 2006. 82
p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) -
Universidade Estadual de Ponta Grossa - UGPG.

122
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise Sensorial no Desenvolvimento de Produtos Alimentícios: estudo de brownies sem


glúten e sem lácteos com ingredientes amazônicos

Geina Santos1, Helena Bolini2


1
Doutorado em Alimentos e Nutrição (UNICAMP); Professora Adjunta da Universidade Federal do Amazonas –
UFAM; Instituto de Saúde e Biotecnologia – ISB Coari; Curso de Nutrição; geinafaria@gmail.com.
2
Doutorado em Engenharia de Alimentos (UNICAMP); Professora Titular da Universidade Estadual de Campinas –
UNICAMP; Faculdade de Engenharia de Alimentos – FEA; Departamento de Alimentos e Nutrição – DEPAN.

PALAVRAS CHAVE: açaí, castanha da Amazônia, cumaru, aceitação, consumidores

INTRODUÇÃO As seis formulações de brownies foram submetidas à avaliação pelos


consumidores na cidade de Campinas – SP (Laboratório de Análise
A maior exigência do mercado e a qualidade sensorial do alimento Sensorial do DEPAN/UNICAMP) e também foram avaliadas na
estão fortemente relacionadas à fidelização do consumidor a um cidade de Manaus – AM (Sala de aula com as devidas adaptações para
produto específico. Assim, o desenvolvimento de novos produtos deve o teste, localizada na Faculdade de Educação Física e Fisioterapia –
levar em conta todos os parâmetros de boas práticas de fabricação, FEFF da Universidade Federal do Amazonas – UFAM) a fim de
como também, necessita-se realizar análise sensorial do produto, visto comparar e identificar possíveis diferenças entre os consumidores e
que os consumidores avaliam aspectos sensoriais como aparência, regiões brasileiras.
aroma, sabor e textura agradáveis (1). A análise sensorial é uma As formulações foram apresentadas aos provadores de forma
ferramenta importantíssima, onde as características de interesse monádica. Utilizou-se escala hedônica não estruturada de 9 cm (5),
relacionadas à qualidade sensorial do alimento são levantadas e tendo como limites os termos “desgostei muitíssimo” à esquerda e
adequadamente estudadas (2). “gostei muitíssimo” à direita, para os atributos aparência, aroma,
Nos produtos de panificação e confeitaria, a ausência do glúten resulta sabor, textura (6). Avaliou-se também atitude de compras dos
em massas com parâmetros sensoriais diferentes das massas com consumidores por meio de escala de 5 pontos, variando entre
glúten. Elaborar preparações sem glúten com características similares certamente compraria e certamente não compraria.
é um grande desafio e envolve a utilização de muitas técnicas (3). Os dados gerados pelos testes de aceitação foram analisados por meio
Além disso, o perfil nutricional dos produtos alimentícios isentos de de Análise de Variância (ANOVA) e Teste de Tukey no programa
glúten também parece desafiador, visto que muitas formulações são estatístico SAS (9.4). Para análise da impressão global gerou-se mapa
baseadas em amidos puros ou farinhas com baixo teor proteico (4). de preferência.
Assim, este trabalho objetivou desenvolver e avaliar sensorialmente
brownies sem glúten, sem lácteos, sem conservantes a partir de RESULTADOS E DISCUSSÃO
ingredientes amazônicos.
Foi realizado um teste de aceitação na cidade de Campinas-SP com
MATERIAL E MÉTODOS 126 consumidores. As médias das notas obtidas pelos indivíduos que
avaliaram as seis formulações dos brownies encontram-se na Tabela
Para o processamento dos brownies, foram utilizados ingredientes 1.
adquiridos em distribuidores e casas de produtos naturais de
Campinas-SP: Polpa de açaí congelada, tipo C; Açúcar refinado Tabela 1. Média dos atributos aparência, aroma, sabor, textura e
especial; Açúcar impressão global no teste de aceitação dos brownies formulados,
demerara orgânico; Farinha de trigo tradicional, tipo 1; Mix Básico de realizado em Campinas – SP
Farinhas sem glúten; Mix Especial de Farinhas sem glúten; Ovos
brancos, tipo C (pequeno); Cacau em pó 100%; Amêndoas de
Castanha da Amazônia secas; Extrato de cumaru.
No Laboratório de Análise Sensorial do Departamento de Alimentos e
Nutrição (DEPAN – FEA – UNICAMP, os ingredientes foram
devidamente pesados em balança semi-analítica (Quanta®, variação
de 1g e capacidade de 5kg) e misturados em bowl de inox com auxílio
de espátula de silicone na seguinte ordem: ingredientes secos (exceto
a castanha), polpa de açaí descongelada e homogeneizada, ovos e
extrato de cumaru. Após incorporação dos ingredientes anteriores,
acrescentou-se a castanha picada para mistura na massa. Em seguida,
despejou-se em fôrma retangular alta de alumínio:
29cm(C)x5cm(A)x20cm(L), previamente untada com óleo vegetal de
girassol e cacau em pó 100%. Os brownies foram assados em forno
combinado (Rational® ClimaPlus Combi - CPC) pré-aquecido por 10 Almeida e colaboradores (8), desenvolveram um brownie de biomassa
minutos, utilizando calor seco, a 195°C e posteriormente assados por de fruta-pão verde sem glúten e sem lactose, e a impressão global
15 minutos. Após esfriarem, os brownies foram porcionados com (6,82) foi similar às dos brownies sem glúten desenvolvidos na
auxílio de cortador quadrado (2,5x2,5cm), com peso de 25 gramas e presente pesquisa, destacando os formulados com açúcar demerara na
embalados individualmente (Figura 1). Cada tipo de brownie (4 sem cidade de Campinas-SP (formulações 3, 5 e 6).
glúten e 2 com glúten) foi codificado utilizando 3 dígitos diferentes Em adição, foi realizado o mesmo teste cidade de Manaus-AM a fim
para a análise sensorial. Para todos os testes sensoriais, as formulações de avaliar as 6 formulações desenvolvidas e as possíveis diferenças
foram produzidas com um dia de antecedência, a fim de manter a entre as cidades. Participaram do estudo 119 consumidores e os
padronização. resultados podem ser observados na Tabela 2.

Figura 1 – Brownies porcionados, embalados e codificados

123
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2. Média dos atributos aparência, aroma, sabor, textura e Nas duas cidades avaliadas os consumidores estão concentrados nas
impressão global no teste de aceitação dos brownies formulados, regiões: “tenho dúvidas se compraria ou não”, “provavelmente
realizado em Manaus-AM compraria” e “certamente compraria” para todos os brownies
desenvolvidos.
Quando comparada a atitude de compra entre as duas cidades, os
consumidores de Manaus se mostraram mais predispostos à compra
das formulações sem glúten, destacando-se as adoçadas com açúcar
demerara. Estes resultados podem estar relacionados à familiaridade e
ao consumo habitual dos ingredientes da formulação. Os resultados de
aceitação dos brownies desenvolvidos foram similares ao do estudo
que desenvolveu brownie de biomassa de fruta-pão verde (8).

CONCLUSÕES

Os resultados do estudo demonstraram que a substituição da farinha


Quando comparada a impressão global dos brownies sem glúten de trigo por ambos os mix de farinhas sem glúten com composição
desenvolvidos, os resultados foram similares ao do brownie de mais atrativa do ponto de vista nutricional e, que a troca do açúcar
biomassa de fruta-pão verde sem glúten e sem lactose (6,82) para todas refinado pelo demerara, são perfeitamente possíveis e viáveis no
formulações sem glúten formuladas quando aplicado o teste de preparo dos brownies, tendo em vista a boa aceitação pelo grupo de
consumidores na cidade de Manaus-AM (8). consumidores participantes da pesquisa.
Na comparação entre as cidades avaliadas, não houve diferença Cabe ressaltar que as regiões estudadas apresentam hábitos
significativa em relação à aparência das formulações. Entretanto, no alimentares diferentes e esses fatores devem ser considerados e
aroma, a cidade de Campinas não apresentou diferenças significativas devidamente avaliados ao formular um produto alimentício para que
entre os brownies e em Manaus, a formulação 6 diferiu seja sensorialmente aceito em todo o país.
estatisticamente do ensaio 2. Campinas apresentou maior pontuação Salienta-se que os testes foram aplicados com consumidores comuns,
nos atributos aparência e aroma. Em relação ao sabor, a formulação 4 que não relataram intolerâncias ao glúten e alergias ao trigo. Ressalta-
contendo farinha de trigo e demerara (Manaus) diferiu estatisticamente se a importância da pesquisa ao proporcionar aos intolerantes e
dos ensaios 2 (mix básico de farinhas sem glúten com açúcar refinado) alérgicos ao glúten/trigo um produto viável, acessível, prazeroso e
nas duas cidades, demonstrando que o tipo de farinha e o açúcar mais nutritivo que as opções existentes no mercado para esse público.
utilizado interfere diretamente nesse atributo. Em Manaus a maior Além disso, intolerantes à lactose e alérgicos às proteínas do leite de
pontuação para sabor foi para a formulação 4 (farinha de trigo e açúcar vaca também podem consumir os brownies desenvolvidos, desde que
demerara), enquanto que em Campinas quem se destacou foi o ensaio haja controle na produção dos mesmos. Assim, seriam apropriados
5 (mix básico de farinhas sem glúten e açúcar demerara), que continha estudos futuros abrangendo esse público, desde que se controle a
a maior concentração de açúcar a sua composição, constatando que o produção com a finalidade de evitar contaminação cruzada e prejuízos
açúcar demerara age de maneira positiva no sabor dos brownies à saúde desses consumidores.
desenvolvidos. Na avaliação de textura, a formulação 3 (Manaus), Dessa forma, a presente pesquisa demonstrou viabilidade para
contendo mix especial de farinhas sem glúten e açúcar refinado, diferiu produção e comercialização dos brownies sem glúten e sem lácteos
estatisticamente do ensaio 2 (mix básico de farinhas sem glúten e desenvolvidos, pela facilidade de confecção e composição nutricional,
açúcar refinado) em ambas cidades e também da formulação 4 (farinha contribuindo para uma alimentação mais variada, saudável e com
de trigo e açúcar demerara avaliada na cidade de Campinas, apontando qualidade de vida.
que o tipo de matriz das farinhas e açúcares podem trazer diferenças
na textura e, mesmo aquelas contendo mais fibras, destacaram-se REFERÊNCIAS:
positivamente, mostrando dessa maneira, que os consumidores estão
aptos ao consumo de brownies com esse tipo de matriz. Na impressão 1. TEIXEIRA, L.V. Análise Sensorial na Indústria de Alimentos. Rev.
global, houve diferença significativa entre as formulações 1 (Manaus) Inst. Latic. “Cândido Tostes”, v. 64, n. 366, p. 12-21, 2009.
e 2 (Campinas), apontando que a variação da farinha com o mesmo 2. MINIM, V.P.R. Análise sensorial: estudos com consumidores.
tipo de açúcar apresentou diferenças na percepção dos consumidores. Viçosa: Ed. UFV, 2006. 225p.
Os resultados da atitude de compras da cidade de Campinas estão 3. BOARIM, D.S.F.; BREPOHL, D.; NIZER, C.S. Não contém glúten
expressos na Figura 2 e da cidade de Manaus na Figura 3. nem lactose: Lapinha SPA – suas receitas, seus segredos. Rio de
Janeiro: Ed. Senac Rio de Janeiro, 2014. 192p.
Figura 2 - Atitude de compra dos brownies desenvolvidos 4. RAMOS, N.C; BARRETO, P.T.L.; SANDRI, G.I. Elaboração de
avaliados na cidade de Campinas – SP. pré-mistura para bolo sem glúten. Alimentos e Nutrição. v. 23, n.1, p.
33-38, 2012.
5. BAYARRI, S.I; CARBONELL, E.X; BARRIOS, COSTELL.
Impact of sensory differences on consumer acceptability of yoghurt
and yoghurt-like products. Int. Dairy J, v.21, p.111–118, 2011.
6. STONE, H.; SIDEL, J.L. Sensory evaluation: practices. 2nd ed.
London: AcademicPress, 1993.
7. SOSA, M.; HOUGH, G. Sensory expectations of children from
different household incomes for a branded confectionary product.
Journal of Sensory Studies, v.21, n.2, p.155-164, 2006.
8. ALMEIDA, I.L.G.T; FEIJÓ, M.B.S; MARCELLINI, P.S.
Desenvolvimento, Caracterização e Aceitação de Brownie de
Biomassa de Fruta-Pão Verde. J Health Sci, v. 18, n. 2, 144- 149, 2016.
Figura 3 - Atitude de compra dos brownies desenvolvidos
avaliados na cidade de Manaus-AM.

124
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de Pães Sem Glúten a Partir de Farinhas Pouco Exploradas

Leiliane Herculano1, Andrea Pontes2, Anabela Raymundo3

1
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos/Universidade Federal do Ceará
2
Mestre em Ciências Gastronomicas, FCT/Universidade Nova de Lisboa
3
Professora Auxiliar com Agregação, *LEAF – Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food, Instituto Superior
de Agronomia, Universidade de Lisboa, Portugal

lflherculano@gmail.com

Palavras-Chaves: doença celíaca, cor, textura.

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos últimos anos, diversos estudos apontam a Doença Celíaca (DC) • Análise de Cor do Miolo
como um problema de saúde mundial devido à sua elevada prevalência Verificou-se que os pães obtiveram valores elevado de L*
(1). A DC é uma doença autoimune caracterizada por uma inflamação (luminosidade), apresentando diferenças significativas (p≤0,05) nos
na mucosa intestinal que se desenvolve em indivíduos geneticamente pães com farinha de alfarroba, farinha de bolota e farinha de quinoa em
pré-dispostos, provocando lesões e atrofias das microvilosidades, comparação ao pão controle. Os pães com 100% de farinha de castanha
prejudicando a absorção de importantes nutrientes (2), ocasionada pela e o com 50% de farinha de grão-de-bico, não apresentaram diferenças
ingestão de glúten, termo utilizado para descrever frações proteicas significativas quando comparados ao pão controle. Os pães com as
encontradas nos cereais como o trigo, cevada, centeio e aveia (3). A DC farinhas de grão-de-bico e quinoa apresentaram os maiores valores de
não tem cura e a exclusão total do glúten da dieta por toda a vida é a luminosidade, uma caracteristica desejável e próxima aos pães
forma mais eficaz para tratar os portadores dessa patologia (4). No tradicionais com farinha de trigo (6). Os pães adicionados com farinha
entanto, ocorre uma dificuldade dos celíacos seguirem com a dieta, a de Alfarroba apresentaram menor luminosidade, principalmente o pão
monotonia alimentar decorrente da escassez de produtos sem glúten (5). com 100% de farinha de alfarroba, portanto apresentou o miolo com
Nesse sentido, propõe-se a valorização de farinhas pouco exploradas coloração mais escura. Esse resultado poderá resultar do facto de o teor
para obtenção de um produto de valor acrescentado, especialmente de açúcares e aminoácidos fornecidos pela farinha de Alfarroba que
direcionados para doentes celíacos. O objetivo desse trabalho foi o contribuiu para a reação de Maillard e caramelização. Os pães com
desenvolvimento de pães isentos de glúten, a partir de farinha de farinha de tremoço não apresentaram significância (p<0,05) ao nível de
alfarroba, farinha de bolota, farinha de castanha, farinha de grão de 5% de confiança dos dados, de acordo com ANOVA.
bico, farinha de quinoa e farinha de tremoço, e avaliar suas influências Em relação ao parâmetro de cromaticidade (a*), observaram-se
nas características físicas dos pães resultantes. diferenças significativas (p≤0,05) nos pães com farinhas de alfarroba,
bolota, castanha e tremoço quando comparados ao pão controle. Os
MATERIAIS E MÉTODOS pães com farinha de grão-de-bico e quinoa não apresentaram
significância (p<0,05) ao nível de 5% de confiança dos dados, de acordo
• Elaboração dos Pães com ANOVA para a coordenada a*. Verificou-se que as formulações
Foi preparada uma formulação controle (amido de milho, farinha de com farinha de alfarroba, bolota e castanha apresentaram-se na região
arroz, óleo, açúcar, fermento, Wellemce® glúten free, sal e água) e do vermelho, que corresponde a valores positivos para a coordenada a*.
formulações alternativas, com incorporação de farinha de quinoa, Relativamente à coordenada b*, todos os pães apresentaram diferenças
alfarroba, castanha, grão de bico, bolota e tremoço, substituindo em significativas (p≤0,05), comparados ao pão controle, embora os pães
50% ou 100% a farinha de arroz na da formulação controle. com farinha de bolota, castanha e quinoa não tenha apresentado
diferença entre os pães com substituição parcial (50%) e integral
• Avaliação das caracteristicas fisicas do pão (100%). Todos os pães produzidos ficaram situados na região do
Cor do miolo - A análise instrumental da cor foi efetuada no miolo dos amarelo, com destaque para os com farinha de alfarroba e tremoço
pães, com recurso a um colorímetro (Minolta®, CR400), seguindo o (valores positivos e maiores na coordenada b*). As diferenças
sistema de cor no espaço L* a* b* - CIELab. observadas nas tonalidades dos pães, pode estar relacionado com as
reações de Maillard e caramelização no final da cozedura.
Análise de Textura - A análise da textura da massa e do pão foi
realizada em triplicado, com recurso a um texturómetro TA.XT2i.plus • Análise de Textura
(Stable Micro Systems, UK). Nos testes efetuados ao pão, foi utilizada Verificou-se que os pães com farinha de bolota, grão-de-bico e quinoa
uma sonda de 25 mm de diâmetro (P/25). Realizaram-se pelo menos 4 apresentaram maior firmeza que o pão Controle. Quanto a coesividade
penetrações, com uma velocidade de 1 mm.s-1, em cada fatia de pão, todos os pães apresentaram valor inferior ao pão controle. Este fato
cortada com 2 cm de altura. Foram obtidos texturogramas de força podem estar relacionados com a firmeza do pão e maior quantidade de
versus tempo, a partir dos quais se determinaram os seguintes farinha adicionada. Os pães que apresentaram coesividade inferior
parâmetros: firmeza (N) e coesividade (adimensional) dos pães. foram de fato os pães que mais se esfarelavam, o que está associado a
um teor de água inferior ou a um teor de farinha superior,
Atividade de água - As medições da atividade da água do miolo do pão respetivamente, que proporcionaram massas sem consistência.
foram efetuadas após o arrefecimento das amostras de pão, através do
equipamento HygroPalm aw (Rotronic, UK), sendo realizadas à • Análise da atividade de água (aw) do miolo do pão
temperatura constante (20 °C). Verificou-se que a atividade da água (aw), ao fim de duas horas de
produção, no miolo dos pães foi de aproximadamente de 0,97, exceto
• Análise estatistica para os pães com farinha de bolota (0,93). Observou-se uma diminuição
A análise de variância (ANOVA) foi conduzida nos dados para verificar da disponibilidade de água em todos os pães após 24hs. Estes resultados
se existiam diferenças significativas entre os tratamentos (p <0,05), e foram corroborados por vários autores (7), que ao produzirem pão de
foi conduzido o teste de Tukey ao nível de 5% para identificar arroz, amido de milho e caseinato de sódio verificaram que após
diferenças entre as amostras. 24horas a disponibilidade de água também diminui em todos os pães.

125
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Mais especificamente, valores de aw ˃ 0,75 são determinantes no


crescimento de leveduras e bactérias (5).

CONCLUSÃO

O mercado de produtos direcionado a pessoas com restrições


alimentares está crescendo consideravelmente. Porém ainda existe uma
carência de produtos que sejam livres de glúten. Apesar da qualidade
melhorada de alguns alimentos sem glúten, nos últimos anos, a maioria
dos produtos no mercado ainda são descritos como produto de baixa
qualidade. Assim, o processo de desenvolvimento dos produtos desta
dissertação baseou-se também nesta carência. Excluir as proteínas do
trigo do preparo de receitas é, sem dúvidas, desafiador, uma vez que
estas contribuem diretamente para a obtenção das características
sensoriais mais conhecidas e aceites pelo público em geral.
Pães com farinhas pouco exploradas mostraram características de
textura e cor adequados, indicando que esses ingredientes poderiam ser
uma alternativa promissora à produção de pães sem glúten.
Verificou-se no estudo realizado que a farinha de grão de bico foi a que
permitiu obter pães com as características sensoriais mais interessantes,
tendo por isso um elevado potencial de exploração em termos de
mercado. O grão de bico é uma leguminosa rica em proteína, mas de
baixo valor energético, que poderá constituir uma excelente alternativa
para pães sem glúten ricos em proteína.

REFERÊNCIAS

1. APC – Associação Portuguesa de Celíacos. Doença Celíaca:


Prevalência na Europa e Portugal, 2018. Disponível em
https://www.celiacos.org.pt/doenca-celiaca/prevalencia.html.
Acesso em 15 junho 2018.
2. CAPRILES, V. D., ARÊAS, J. A. G. Novel approaches in gluten-
free breadmaking: Interface between Food Science, Nutrition and
Health. Compr Rev Food Sc F, 13:871-890, 2014.
3. PEDRO, N., LOPES, S., SZANTHO, A., COSTA, A., MOURA,
J. J. Doença celíaca: revisão de conceitos e novos
desenvolvimentos. Med Intern.16(1):62-68, 2009.
4. KOTZE, S. L. M. Doença celíaca. Rev Bras Gastroenterol. Rio de
Janeiro, v. 6, n. 1, p. 23-34, 2006.
5. ARAÚJO, H. M. C., ARAÚJO, W. M. C., BOTELHO, R. B. A.,
ZANDONADI, R. P. Doença celíaca, hábitos e práticas
alimentares e qualidade de vida. Rev Nutr, 23(3), 467-474, 2010.
6. GALLAGHER, E.; GORMLEY, T. R.; ARENDT, E. K. Recent
advances in the formulation of gluten-free cereal-based products.
Trends Food Sci Technol, v.15, n. 3-4, p.143-152, 2004.
7. LAZARIDOU, A.; DUTA, D.; PAPAGEORGIOU, M.; BELC,
N.; BILIADERIS, C. G. Effects of hydrocolloids on dough
rheology and bread quality parameters in gluten-free
formulations. J Food-Free Br Mak Food Nutr Sci. 4: 496-502,
2007.

126
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de Fermento Natural Gluten Free Inoculado com Lactobacillus


pentosus 129.
Gabrielle dos Santos Rodrigues1; Joanderson Gama Santos1; Patrícia Pinheiro Fernandes Vieira2; Ingrid
Conceição Dantas Gonçalves2; Evandro Leite Souza3; Estefânia Fernandes Garcia2
1
Graduando(a) do Curso de Gastronomia/CTDR/UFPB; 2Professora Doutora do Curso de
Gastronomia/CTDR/UFPB; Professor Doutor do Curso de Nutrição/CCS/UFPB.
estefâniafgarcia@yahoo.com.br
Palavras-chave: Panificação. Bactérias ácido láticas. Celíacos. Fermentação

em fermento natural glúten free (FN Lpe 129). O fermento foi


INTRODUÇÃO preparado numa proporção de 1:1 (m/v) e em seguida
A doença celíaca é uma enteropatia autoimune inoculado com a cepa teste. Um fermento controle (FN C) foi
que afeta cerca de 1% da população mundial. A ingestão de preparado sob as mesmas condições, porém sem inoculação de
glúten, por indivíduos geneticamente suscetíveis à essa bactéria. Logo após o preparo dos fermentos (Tempo 0), as
condição, provoca alterações em células epiteliais e amostras foram incubadas em B.O.D. (30 °C / 24h) e após esse
inflamação da mucosa do intestino delgado, que, com o tempo, período foi realizada a primeira etapa da propagação que
leva à perda da capacidade de absorção de nutrientes e consistiu na tomada de uma alíquota de fermento do dia
aumenta o risco de certos tipos de câncer, como o anterior (Tempo 1) a ser misturado com uma alíquota de água
adenocarcinoma do intestino delgado e o linfoma não- e uma alíquota da mistura de farinhas. O processo de
Hodgkin (1, 2). Uma dieta sem glúten é ainda a única forma de propagação foi realizado nas mesmas condições para as
tratamento realmente efetiva, mas há pesquisas aplicadas na amostras (FN C, FN Lpe 129). Logo após a primeira
redução dessa intolerância, seja através de outros (1). propagação as amostras foram novamente incubadas (30
O glúten é uma rede proteica formada pela gliadina e glutenina °C/24h). Após a incubação realizada depois da primeira
presentes em farinhas de cereais como trigo e centeio na propagação (Tempo 2), o processo de propagação e incubação
presença de água. Essa estrutura é responsável por conferir as se repetiu a cada 24 horas durante 10 dias, com tomada de
características viscoelásticas (textura, consistência, alíquotas dos fermentos para análises físico-químicas e
elasticidade, capacidade de retenção de gás e água) da massa microbiológicas depois de 0; 1; 4; 7 e 10 dias, onde avaliaram-
de pão. As proteínas dos cereais naturalmente sem glúten têm se o pH, a acidez titulável e contagem total de bactérias láticas,
baixa capacidade de formar estrutura, reter água e conferir as bolores e leveduras. Todos os ensaios foram realizados em
características sensoriais adequadas à produtos de confeitaria triplicata em três experimentos independentes e os resultados
e panificação. Sendo assim, aditivos como amidos, foram expressos como uma média dos ensaios. A análise
suplementação protéica, hidrocolóides e gomas, são bastante estatística foi realizada para determinar diferenças
usados para suprir essas deficiências e aumentar a vida de significativas (p <0,05) utilizando ANOVA seguido pelo teste
prateleira e aceitabilidade desses produtos (3, 2). de Tukey para avaliar os resultados para uma mesma amostra
Uma alternativa ao uso de aditivos é o fermento natural ao longo do tempo e o teste t de Student para avaliar diferenças
(mistura de água e farinha que fermenta devido a presença de entre amostras num mesmo tempo.
leveduras e bactérias ácido-láticas ou BAL). Esses
microrganismos vão proporcionar a retardação do RESULTADOS E DISCUSSÃO
envelhecimento, consequentemente aumentando a vida de Durante as etapas de propagação do fermento,
prateleira, e melhorando as características reológicas e foram observadas algumas características físico-químicas
sensoriais em produtos de panificação através da síntese de como pH e acidez, apresentados na Tabela 1, as quais estão
exopolissacarídeos, compostos de aroma e flavor e proteólise relacionadas à ativação do fermento e consequentemente ao
(4, 3, 5). desenvolvimento da microbiota ali presente.
Os fermentos naturais foram usados com sucesso para
melhorar a qualidade de pães sem glúten (6, 7). Os Tabela 1 – Valores médios ± desvio padrão para determinação
microrganismos envolvidos na fermentação podem ter um de pH e acidez em fermentos naturais glúten-free inoculados
papel importante na qualidade dos pães sem glúten (8). Dessa ou não com Lactobacillus pentosus 129 (Lpe 129), durante 10
forma, o objetivo deste estudo foi desenvolver fermento dias.
natural gluten free inoculado com Lactobacillus pentosus 129 Variável Tempo Amostras
isolado de resíduo de manga e avaliar sua qualidade físico- (dias)
química e microbiológica. pH Lpe 129 Controle
0 5,89±0,06A 5,83±0,044A
MATERIAL E MÉTODOS 1 3,65±0,012C 4,21±0,02*B
Foram utilizados como ingredientes para
elaboração dos fermentos naturais: farinha de arroz, farinha de 4 3,79±0,05*B 3,60±0,01C
grão de bico e polvilho azedo na proporção 1:1:1 (m/m), 7 3,76±0,03B 3,71±0,02D
adquiridas em supermercado local da cidade de João Pessoa-
PB e água de torneira. Foi testada como cultura starter uma 10 3,69±0,04 BC 3,79±0,05* D
cepa Lactobacillus pentosus 129 (Lpe 129), previamente
isolada de resíduo de manga e estudada quanto às suas Acidez 0 1,81±0,10D 2,16±0,06*D
propriedades funcionais e tecnológicas (9), pertencente ao (g/100g)
banco de cepas do Laboratório de Bioquímica e Microbiologia 1 14,99±0,11A 8,86±0,25*B
de Alimentos/CCS/UFPB. A cepa Lpe 129 foi mantida em 4 10,80±0,34 B 13,53±0,17*A
caldo MRS sob refrigeração, sendo renovada mensalmente e 7 9,05±0,91C 8,04±0,56B
antes da inoculação foi preparado um inoculo com
concentração de 5 log.UFC/mL, o qual foi lavado duas vezes 10 8,23±0,11*C 6,70±0,43C
e ressuspendido em água destilada estéril antes da inoculação

127
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A – D
Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais (sete e dez dias), percebe-se uma menor contagem de bolores
diferem estatisticamente para uma mesma variável ao longo do e leveduras para a amostra com Lpe 129, o que é desejável
tempo (p < 0,05). * Em uma linha, a presença de um asterisco quanto a vida de prateleira do produto, já que bolores são os
denota diferenças estatísticas (p < 0,05). principais deterioradores de pães.

Observando os dados da tabela 1, percebe-se que de CONCLUSÃO


maneira geral, após um dia de fermentação houve uma maior A realização do estudo permitiu o
queda de pH e maior aumento de acidez para o fermento desenvolvimento de um protocolo de produção de um
natural inoculado com Lpe 129 em relação à amostra controle, fermento natural gluten-free inoculado com uma cepa
o que denota um maior potencial de acidificação dessa cepa no potencialmente probiótica de Lactobacillus pentosus 129,
fermento, porém, após dez dias de propagação os valores de sendo a cepa capaz de acidificar rapidamente o fermento, além
pH não apresentam diferença estatística, enquanto que a acidez de permitir menores contagens de bolores e leveduras após o
é maior para o fermento natural inoculado com a cepa teste. período final de propagação, em relação a amostra controle.
O principal objetivo em inocular uma cepa de BAL No entanto, mais testes são necessários para avaliação do
em fermento natural é tentar padronizar e controlar de alguma potencial de formação de gás e da relevância desse tipo de
forma o processo fermentativo, já que no processo de fermento na qualidade de pães gluten free com fermentação
fermentação natural apenas com a microbiota selvagem torna- natural.
se mais difícil prever as condições de acidificação e de
formação de gás desse fermento.
REFERÊNCIAS
É importante também, avaliar as características
microbiológicas desse fermento ao longo das etapas de 1. DI CAGNO, R. et al. Sourdough bread made from wheat
propagação. A literatura (1, 4) recomenda cerca de 10 a 15 and nontoxic flours and started with selected lactobacilli is
dias de propagação para fermentos naturais eliminarem a tolerated in celiac sprue patients. Appl. Environ. Microbiol.,
microbiota indesejável e para o “amadurecimento do v. 70, n. 2, p. 1088-1096, 2004.
fermento” e seleção apenas das cepas de interesse para o
processo. Dessa forma, a tabela 2 apresenta as características 2. LYNCH, K. M.; COFFEY, A.; ARENDT, E. K.
microbiológicas dos fermentos testados. Exopolysaccharide producing lactic acid bacteria: Their
techno-functional role and potential application in gluten-free
bread products. Food research international, v. 110, p. 52-
Tabela 2 – Valores médios ± desvio padrão para determinação
61, 2018.
de contagem total de bactérias ácido-láticas e bolores e
leveduras em fermentos naturais glúten-free inoculados ou não 3. ZANNINI, E. et al. Functional replacements for gluten.
com Lactobacillus pentosus 129 (Lpe 129), durante 10 dias.
Annual Review of Food Science and Technology, v. 3, p.
Viabilidade Tempo Amostras
227-245, 2012.
(log.UFC/ml) (dias)
BAL Lpe 129 Controle 4. DI CAGNO, R. et al. Use of selected sourdough strains of
0 5,10±0,10C <2*C Lactobacillus for removing gluten and enhancing the
1 5,33±0,24C 8,71±0,02*B
nutritional properties of gluten-free bread. Journal of Food
4 8,65±0,02B 8,12±0,01*B
7 9,451±0,09AB 9,70±0,06A Protection, v. 71, n. 7, p. 1491-1495, 2008.
10 10,28±0,71 A
10,23±0,71A
5. MARTI, A. et al. From wheat sourdough to gluten free
sourdough: a non conventional process for producing gluten
Bolores e 0 3,00±0,00B 3,72±0,03C
leveduras free bread. International Journal of Food Science &
1 <2C 5,31±0,29*B Technology, v. 50, n. 5, p. 1268-1274, 2015.
4 3,15±0,04B 5,50±0,55* B
7 4,09±0,12A 9,33±0,05*A 6. RAKKAR, P. S. Development of a Gluten-free
10 4,40±0,14A 9,56±0,28*A Commercial Bread. Master thesis submitted to Food Science
A – D
Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais Department, Auckland University of Technology,
diferem estatisticamente para uma mesma variável ao longo do Auckland, 2007.
tempo (p < 0,05). * Em uma linha, a presença de um asterisco
denota diferenças estatísticas (p < 0,05). 7. ARENDT, E. K. et al.Medical nutrition therapy: use of
sourdough lactic acid bacteria as a cell factory for delivering
Ao observar os dados da tabela 2 verifica-se que functional biomolecules and food ingredients in gluten free.
inicialmente, assim que o fermento é produzido, só se bread Microbial Cell Factories, v. 10, p. 15-20, 2011.
verificam contagens de células viáveis de BAL no fermento
inoculado, como já esperado, e que a contagem de bolores e
8. GOLSHAN T. A. et al. Biochemical characterization and
leveduras se apresenta por volta de 3 log.UFC/g,
provavelmente provenientes das farinhas utilizadas na technological properties of predominant Lactobacilli isolated
produção. Após um dia de fermentação verifica-se estabilidade from East-Azarbaijan sourdoughs (Iran). International Food
na contagem de BAL para o fermento inoculado com Lpe 129, Research Journal, v. 20, p. 3293-3298, 2013.
enquanto que para a amostra controle ocorre uma
multiplicação significativa desses microrganismos. Na 9. GARCIA, E. F. et al. Identification of lactic acid bacteria
amostra Lpe 129, a grande capacidade de acidificação dessa in fruit pulp processing by products and potential probiotic
cepa promoveu brusca queda de pH (observado na tabela 1), o properties of selected Lactobacillus strains. Front
que pode ter contribuído para a manutenção do crescimento Microbiol., v. 7, p. 1–11, 2016.
dessas cepas de BAL. Já na amostra controle, a microbiota
selvagem de BAL multiplicou-se aleatoriamente e sem
controle, mas não necessariamente acidificou muito a amostra
pois provavelmente tratam-se de diferentes espécies ali
presentes com diferentes potenciais de acidificação.
Após sete dias, tanto no fermento inoculado com
Lpe 129, quanto no fermento controle as contagens para BAL
e bolores e leveduras não apresentam diferença estatística, no
entanto, ao se comparar as diferentes amostras em cada tempo

128
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gelado Comestível Alcoólico com Caramelo de Cajá: Aspectos Sensoriais

Antonio Silva1, Tiago Santos1, Gizele Cruz2, Sabrina Vieira1, Fernanda Dantas2, Juliane Carvalho3

1 Graduando em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará


2 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará
3 Doutora em Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará
E-mail do autor correspondente: antoniosilvaqxl@gmail.com

Palavras-Chave: Cachaça; Sorvete, Sabores; Regionais; Análise Sensorial.

1. INTRODUÇÃO (ANOVA), e teste de Tukey para comparação das médias ao


nível de 5% de significância por meio do software Past 3 (5) . O
O sorvete é um alimento popular, encontrado em diversas teste de diagnóstico de de atributos foi realizado baseado em
formas, o qual possui como características comuns a presença de escala não estruturada de 9 cm, ancorada nos termos extremos (0
cristais de gelo, a saborização e o consumo à baixas = pouco e 9 = muito), referentes à intensidade de doçura, sabor
temperaturas (1). A demanda por inovação é percebida entre os de cachaça e sabor de cajá.
grandes produtores, devido às crescentes solicitações dos
consumidores por formulações que agreguem valor sensorial, 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
nutricional e/ou funcional ao produto (2). As variedades de
espécies frutíferas encontradas no Brasil podem ser utilizadas No teste de aceitação pela escala Hedônica, as amostras A e B
para saborização natural de produtos alimentícios, como o apresentaram médias na zona de aceitação (6-9), sem diferença
sorvete. Como exemplo, os frutos da cajazeira (Spondias significativa para os atributos de cor, sabor e aparência global
mombin) são amplamente consumidos, frescos ou processados, (p > 0,05). Os consumidores conferiram maior média ao aroma
em decorrência de suas características sensoriais, apresentando- da amostra B, exibindo diferença significativa quando
se com boas perspectivas de cultivo e comercialização, sendo comparado à amostra A. Resultados semelhantes relataram (6)
viável sua adição em alimentos (3). Bebidas alcoólicas também que a aceitação de fermentado alcoólico de cajá-umbu mostrou
podem ser adicionadas aos gelados comestíveis, tornando-os médias maiores que sete (gostei muito) para os atributos:
sobremesas para adultos. A cachaça é uma bebida amplamente aparência, cor, aroma e aceitação global. Portanto, a combinação
produzida e apreciada no Brasil. Possui graduação alcoólica que de frutos, como o cajá, e bebidas alcoólicas se mostram uma boa
varia entre 38 e 54% em volume, a 20 ºC, podendo ser obtida opção para o desenvolvimento de novos produtos.
pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar (4).
Diante do exposto, este trabalho objetivou avaliar os aspectos Figura 1. Percentual das zonas de rejeição, indiferença e
sensoriais de sorvete adicionado de caramelo de cajá e cachaça. aceitação para o atributo de aroma de sorvete alcoólico com
caramelo de cajá.
2. MATERIAL E MÉTODOS 100 78 86
80
Para elaboração das amostras de sorvete foram utilizados: leite 60
%

UHT, leite em pó integral, creme de leite, açúcar cristal, 40 17 14


emulsificante Portogel®, super liga neutra Selecta®, polpa de 20 5 0
cajá e cachaça. Todos os ingredientes foram obtidos em 0
comércio local na cidade de Fortaleza-CE. Foram elaboradas
duas formulações de sorvete alcoólico: com 25 % (A) e 50 % Rejeição Indiferença Aceitação
(B) de caramelo de cajá. Os demais ingredientes foram
utilizados com as mesmas proporções em ambas as amostras. O
caramelo de cajá foi elaborado da seguinte forma: o açúcar
A B
cristal, a água e a cachaça foram submetidos a aquecimento em
tacho aberto até atingir o ponto final. Em seguida, adicionou-se A (25%) e B (50%)
o sal, o creme de leite e a polpa de cajá, sob agitação constante
até obtenção do ponto desejado. A calda do sorvete foi Figura 2. Percentual das zonas de rejeição, indiferença e
elaborada misturando-se o leite UHT, o leite em pó, o creme de aceitação para o atributo de cor de sorvete alcoólico com
leite, a super liga neutra e o emulsificante, em liquidificador até caramelo de cajá.
completa homogeneização. 100 83 86
80
Análise Sensorial
60
%

Após a aprovação no Comitê de Ética da Universidade Federal 40


20 8 8 9 6
do Ceará (n°17980919.0.0000.5054), foram realizados testes
sensoriais no Laboratório de Análise Sensorial do Departamento 0
de Engenharia de Alimentos (UFC). Participaram da pesquisa Rejeição Indiferença Aceitação
87 julgadores não treinados, todos maiores de 18 anos, que
receberam a ficha dos testes sensoriais e o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE). Um delineamento A B
inteiramente casualizado foi aplicado para as duas amostras de
sorvete, as quais foram codificadas com três números aleatórios. A (25%) e B (50%)
A aceitação sensorial foi avaliada por meio de escala hedônica
estruturada de nove pontos (9-gostei muitíssimo a 1-desgostei
muitíssimo), para os atributos de sabor, cor, aroma e aparência
global. Posteriormente, foram realizadas análise de variância

129
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 3. Percentual das zonas de rejeição, indiferença e (2) FELTES, M. M. C.; OLIVEIRA, D. de; BLOCK, J. M.;
aceitação para o atributo de sabor de sorvete alcoólico com NINOW, J. L. The Production, Benefits, and Applications of
caramelo de cajá. Monoacylglycerols and Diacylglycerols of Nutritional Interest.
100 91 94 Food and Bioprocess Technology. v. 6. p-17-35. 2013.
80
60 (3) GONDIM, P. J. S. et al. Qualidade de frutos de acessos de
%

40 umbu-cajazeira (Spondias sp.). Rev. bras. eng. agríc. ambient.,


20 5 3 5 2 v.17, n.11, p.1217-1221, 2013.
0
Rejeição Indiferença Aceitação (4) HAMMER, Ø. Paleontological Statistics Version 3.15.
PAST. Reference manual. Natural History Museum. University
A B of Oslo, 253p. 2017

A (25%) e B (50%) (5) JÚNIOR, L. S. S.; FARIA, J. B.; BOLINI, H. M. A.


Avaliação sensorial de “cachaça” envelhecida em tonel de
carvalho (Quercus sp.) irradiado. Evidência - Ciência E
Figura 4. Percentual das zonas de rejeição, indiferença e Biotecnologia, v. 17, n. 2, p. 87-104, 2017.
aceitação para o atributo de aparência global de sorvete
alcoólico com caramelo de cajá.
100 90 93 (6) DANTAS, C. E. A. Elaboração e Análise Físico-química e
80 Sensorial de Fermentado Alcoólico de Umbu. 2015. 63 f.
60 Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Alimentos) -
%

40 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio


20 5 2 6 5 Grande do Norte, Currais Novos, 2016.
0
Rejeição Indiferença Aceitação

A B
A (25%) e B (50%)

O teste de diagnóstico mostrou que a amostra B, com 50 % de


caramelo de cajá, obteve maior intensidade para doçura, sabor
de cachaça e sabor de cajá. Essa avaliação comprovou que a
quantidade de caramelo de cajá influenciou na percepção dos
atributos analisados, pois a amostra B continha maior
quantidade de todos os ingredientes.

Figura 5. Teste de diagnóstico de atributos para as amostras A e


B

Doçura

Sabor de Cachaça B
A
Sabor de Cajá

0 2 4 6 8

A (25%) e B (50%)

4. CONCLUSÕES

Os dados avaliados mostraram que o sorvete com base alcoólica


e caramelo de cajá apresenta boa aceitação pelos consumidores,
sendo uma alternativa viável e atrativa para produção e
comercialização de gelado comestível para adultos.

5. REFERÊNCIAS

(1) CRUZ, A.G.; ZACARCHENCO, P.B.; OLIVEIRA, C. A.


F.; CORASSIM, C. H. Processamento de Produtos Lácteos:
Queijos, leites fermentados, bebidas lácteas, sorvete,
manteiga, creme de leite, doce de leite, soro em pó e lácteos
funcionais. 1 ed. v. 3. Rio de Janeiro, ELSEVIER, 2017.

130
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de Doce em Massa da Entrecasca da Melancia (Citrullus lanatus) com Açúcar


Light Enriquecido com Mesocarpo de Babaçu

Rafael de Sousa1, Celso Gonçalves1, Daniel Campelo2. 1 Graduando em Tecnologia de Alimentos. IFMA, Campus
Codó. 2 Docente de Tecnologia de Alimentos. IFMA, Campus Codó. Email: rcs_118@hotmail.com.

Palavras-chave: Reaproveitamento de resíduo. Farinha. Enriquecimento nutricional.

INTRODUÇÃO minutos foram adicionados o edulcorante juntamente com o


A melancia (Citrullus lanatus) é uma hortaliça-fruto pertencente à mesocarpo de babaçu (FMB) e a pectina, de acordo com cada
família das cucurbitáceas e originou-se na África tropical, se formulação. Assim que houve a perca de água, foi adicionado 100mL
disseminou pela Ásia e chegou ao Brasil na época da escravatura de leite em mistura constante. Por último adicionou-se 50g de coco
trazida pelos escravos (1). ralado. As análises de umidade, cinzas, lipídeos e proteínas foram
A melancia está entre os alimentos que mais produzem resíduos a realizadas de acordo com a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (4), já
serem descartados, podendo ser reaproveitado integralmente e carboidratos foi determinado por diferença de acordo com a RDC nº
oferecendo um aumento no seu valor nutricional (2). 360 (5).
Outro fruto bem aproveitado é o coco babaçu (Orbignya martiana),
que tem toda sua composição transformada em subprodutos. O RESULTADOS E DISCUSSÃO
mesocarpo do babaçu representa 20,4% da composição do fruto e é Os resultados das análises físico-químicas dos doces formulados com
rico em amido, proteínas, vitaminas (B1 e B2) e sais minerais como 10, 30 e 50% de farinha de mesocarpo de babaçu (FMB) encontram-se
Cálcio, Ferro, Sódio, Fósforo, Magnésio, entre outros (3). na Tabela 2.
Tendo em vista o reaproveitamento de resíduos orgânicos e a Tabela 2 – Resultados obtidos nas análises físico-químicas das
produção de um alimento saudável, este trabalho teve como objetivo formulações de doces com 10, 30 e 50% de farinha de mesocarpo de
produzir doces com a entrecasca da melancia com adição de diferentes babaçu (FMB).
percentuais de Farinha do Mesocarpo de Babaçu (FMB) e baixo teor Formulaç Umida Cinza Proteín Lipíde Carboidrat
de açúcar, além de determinar sua composição proximal. ão de s as os os **V.C
427,16
MATERIAL E MÉTODOS 1 1.81A* 1.38a 31.83A 5.62a 62.31a 0
Antes do preparo dos doces, foi realizado um planejamento 466,38
experimental, com auxílio do software Action Stat. Foram obtidos 15 2 0.78A 1.5b 35.19b 12.58b 53.09b 3
ensaios relacionando-se três fatores: teor de açúcar, teor de mesocarpo 427,70
de babaçu e pectina. A tabela 1, expressa os valores vetoriais, 3 0.79A 1.19c 28.55bc 6.97a 62.68A 6
percentuais e reais dos fatores a serem avaliados. 10.57a 451,54
Tabela 1 – Planejamento experimental (estilo Box-Behnken) 4 0.95A 1.4d 35.08c d 54.01ad 6
Box-Behnken Fatores (%) Fatores (g) 418,68
Corr A B C Açu Mesoc Pect Açu Mesoc Pect 5 0.88A 1.61c 30.42A 5.57de 61.71A 0
idas car arpo ina car arpo ina 1.81a 433,75
de de 6 1.2A d 41.5A 9.32a 45.97f 6
Babaç Babaç 1.67 433,47
u u 7 1.09A A 46.15A 7.88b 44.47dg 3
1 0 0 0 70 30 0,5 175 75 0,87 439,34
5 8 1.33A 1.93b 52.38A 8.41h 38.53A 3
2 0 0 0 70 30 0,5 175 75 0,87 431,19
5 9 1.03A 1.63c 39.8A 8.15b 49.64i 6
3 - 1 0 50 50 0,5 125 125 0,87 431,32
1 5 10 0.75A 1.94b 45.95A 9.08a 41.44A 6
4 0 1 1 70 50 1 175 125 1,75 461,51
5 0 0 0 70 30 0,5 175 75 0,87 11 0.97A 1.58c 36.05A 13.5j 48.95A 6
5 10.26a 442,54
6 0 - - 70 10 0 175 25 0 12 1.38A 1.6c 32.04A ej 55.5f 6
1 1 1.56 461,03
7 - - 0 50 10 0,5 125 25 0,62 13 0.93A A 41.21A 13.3h 44.12d 3
1 1 5 1.74 431,54
8 1 - 0 90 10 0,5 225 25 1,12 14 1.03A A 50.27A 6.77n 42.37bi 6
1 5 1.58 449,75
9 - 0 1 50 30 1 125 75 1,25 15 1.58A A 51.41A 11.07n 36.1dg 6
1 433,75
10 0 1 - 70 50 0 175 125 0 Média 1,03 1,6 39,8 9,08 48,95 6
1 Todos os valores são expressos em percentual em base seca.
11 0 - 1 70 10 1 175 25 1,75 *As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente
1 entre si pelo teste de Tukey a 5% de confiança. ** Valor Calórico
12 - 0 - 50 30 0 125 75 0 expresso em Kcal.
1 1 De acordo com os dados da tabela 2, todas as amostras apresentaram
13 1 0 1 90 30 1 225 75 2,25 valores aceitáveis para um doce, considerando também os ingredientes
14 1 1 0 90 50 0,5 225 125 1,12 da composição que enriqueceram o produto. As médias obtidas
5 mostram que as amostras diferiram entre os fatores, tanto nas colunas
15 1 0 - 90 30 0 225 75 0 como nas linhas. Valores como os de proteínas, lipídeos e carboidratos
1 já eram esperados nessa faixa devido a utilização da FMB e leite na
Fonte: elaborada pelo autor produção do doce, além da própria composição proximal característica
O fruto foi sanitizado e higienizado com cloro a 5ppm, em seguida da entrecasca da melancia.
houve o corte para retirada do epicarpo (parte verde) e da polpa. Para Os valores de umidade encontrado nesta pesquisa são baixos
a trituração, as entrecascas (parte branca) foram cortadas em pedaços considerando o alto teor de água do fruto, porém essa característica é
menores e colocadas em liquidificador industrial. O material triturado desejável no produto, pois trata-se de um doce. Santana e Oliveira (2)
foi coado e levado para cocção em tachos à 180ºC. Pra todas as encontraram um teor de umidade do epicarpo da melancia de 93,07%.
formulações, foram utilizadas 250g de entrecasca de melancia. Após 5

131
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Os baixos valores deste trabalho podem ser devido a ação seuqestrante melancia como a FMB se mostrou uma alternativa promissora para
da pectina sobre a água. este fim e podendo até ser utilizado em outras pesquisas envolvendo
O teor cinzas encontrado nas formulações do doce ficaram entre 1,19 doces.
e 1,94%. Lima (1) que encontrou 0,83% na entrecasca da melancia e
9,97% na farinha da entrecasca da melancia. Santana e Oliveira (2) REFERÊNCIAS
encontraram valores abaixo do atual trabalho na casca e polpa da 1. LIMA, J. P. Produção de farinha da entrecasca de melancia
melancia, sendo 0,58 e 0,22%, respectivamente. Esses valores destinada a formulações de biscoitos. 2013. 70 f. Dissertação
diferentes podem ser explicados de acordo com as condições de (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade
plantio e armazenamento do fruto. Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa.
Os altos valores de proteínas se devem a utilização de leite e FMB, 2. SANTANA, A. F.; OLIVEIRA, L. F. de. Aproveitamento da casca
podendo estes resultados serem corroborados por trabalhos como de de melancia (Curcubita citrullus, Shrad) na produção artesanal de
Torres et al (6), Moreira et al (7) e Couri e Giada (8). Já Guimarães e doces alternativos. Alimen. e Nutri., Araraquara, v. 16, n. 4, p. 363-
colaboradores (9) encontraram um teor menor de proteínas na farinha 368, out – dez, 2005.
da entrecasca da melancia (1,2%). 3. CARRAZZA, L. R.; ÁVILA, J. C. C. e; SILVA, M. L. da. Manual
O teor de lipídeo dessa pesquisa vai de 5,57 a 13,5%, o que pode ser tecnológico de aproveitamento integral do fruto do babaçu. 2. ed.
caracterizado devido a utilização de leite e coco ralado na sua Distrito Federal: ISPN, 2012.
elaboração. Silva et al (10) apresenta uma média da gordura de leite cru 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
congelado de 3,66%, já Macêdo (11) apresentou uma média de 3,05 análise de alimentos. 5. ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.
para leite UHT zero lactose. Chim et al (12) obteve valores menores de 1020 p.
lipídeos em seu doce em massa de morango (0,47 – 0,51%), já que o 5. BRASIL. Resolução RDC nº 360, 23 de dezembro de 2003.
mesmo não levava leite em sua composição. O coco ralado possui um Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
teor lipídico de 4,20%, de acordo com Fujita e Figueroa (13). Couri e Publicada em DOU nº 251, de 26 de dezembro de 2003. Disponível
Giada (8) relatam que FMB apresenta um teor de 0,27% de lipídeos. em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/inspecao/produtos-
Assim como o trabalho de Santana e Oliveira (2) que apresentou teor de vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
gordura na casca e na polpa da melancia valores de 0,30 e 0,06%, bebidas/resolucao-rdc-no-360-de-23-de-dezembro-de-2003.pdf/view>.
respectivamente. Portanto, tanto a FMB como a entrecasca não Acesso em 19 de julho de 2019.
poderiam influir de forma significativa na gordura do produto deste 6. TORRES, E. A. F. S. et al. Composição centesimal e valor calórico
trabalho. de alimentos de origem animal. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
Os altos valores de carboidratos podem ser devido ao teor de FMB v.20 n.2, maio/ago. 2000.
utilizado nas formulações, já que se trata de um produto amiláceo e o 7. MOREIRA, K. M. M. et al. Produção de doce de leite com teor
edulcorante empregado nas formulações possui baixo teor. A reduzido de lactose por β-galactosidase. Rev. Acad., Ciênc. Agrár.
formulação 3 apresentou valor próximo ao encontrado por Couri e Ambient., Curitiba, v. 7, n. 4, p. 375-382, out./dez. 2009.
Giada (8), sendo 62,66% na farinha do mesocarpo de babaçu. Já Pavlak 8. COURI, M. H. de S.; GIADA, M. de L. R.. Pão sem glúten
et al (14) apresenta valores entre 63,75 e 71,29% de amido no coco adicionado de farinha do mesocarpo de babaçu (Orbignya phalerata):
babaçu. Esses valores podem corroborar a influência da FMB utilizada avaliação física, química e sensorial. Rev. Ceres, Viçosa, v. 63, n. 3,
no doce, sendo que na F15 foi utilizada uma porcentagem menor da p. 297-304, maio – junho, 2016.
farinha, já na F3 foi a maior porcentagem, tanto de amido como de 9. GUIMARÃES, R. R. et al. Bolos simples elaborados com farinha
edulcorante. da entrecasca de melancia (Citrullus vulgaris, sobral): avaliação
Quanto ao valor calórico, a média geral das formulações foi de química, física e sensorial. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
433,756. Carraza e colaboradores (3) relata que o valor calórico da 30(2): 354-354 363, abr.-jun. 2010.
farinha de mesocarpo de babaçu (FMB) é de 315,57kcal/100g, tendo, 10. SILVA, M. A. P. da et al. Qualidade do leite na indústria de
portanto, influência siguinificativa no resultado final do doce obtido. laticínios. Rev Inst Adolfo Lutz. 2010; 69(1):23-28.
Santana e Oliveira (2) produziram diferentes tipos de doces com a 11. MACÊDO, M. A. B.. Avaliação físico-química de leite UHT
entrecasca de melancia e obtiveram uma boa aceitação sensorial, zero lactose comercializado na cidade de Natal/RN. 2018. 44 f.
constantando que o uso dessa matéria-prima culturalmente Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal
desperdiçada é viável economicamente. Assim como o trabalho das do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento
autoras, todas as características do presente trabalho se apresentam de Nutrição. Natal, RN, 2018.
viáveis e o produto final é ainda mais nutritivo, pois foi obtido de 12. CHIM, J. F. et al. Doces em massa light de morango:
aproveitamento de resíduo e teve um enriquecimento em sua caracterização físico-química e sensorial. Alim. Nutr., Araraquara
composição, além de ter o teor de açúcar reduzido. v.17, n.3, p.295-301, jul./set. 2006.
O doce de entrecasca de melancia com FMB se encaixa ainda dentro 13. FUJITA, A. H.; FIGUEROA, M. O. R. Composição centesimal e
da legislação preconizada na Resolução Normativa n.º 9, de 1978 (15), teor de β-glucanas em cereais e derivados. Ciênc. Tecnol. Aliment.,
tanto em relação à definição de doce em massa quanto à classificação Campinas, 23(2): 116-120, maio/ago, 2003.
em relação ao fruto utilizado e sua consistência. 14. PAVLAK, M. C. de M. et al. Aproveitamento da farinha do
mesocarpo do babaçu (Orbignya martiana) para obtenção de etanol.
CONCLUSÃO Evidência, Joaçaba, v. 7, n. 1, p. 7-24, jan./jun. 2007.
A produção de doce de entrecasca de melancia com adição de farinha 15. BRASIL. Resolução RDC n° 9, de 11 de dezembro de 1978.
de mesocarpo de babaçu mostrou-se viável, além de sua contribuição Resolução n° 52/77 da antiga CNNPA (Comissão Nacional de
para uma dieta saudável. Notadamente os ingredientes utilizados na Normas e Padrões para Alimentos). Órgão emissor ANVISA -
produção influíram na sua composição proximal. E essas adições Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:
contribuíram para uma qualidade nutricional do doce, especialmente a <http://www.anvisa.gov.br/anvisalegis/resol/09_78_doces.htm.>.
farinha do mesocarpo de babaçu que agiu não somente na textura Acesso em 20 de jul de 2019.
como no poder adoçante e valor calórico, assim tanto a entrecasca da

132
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração De Croquete De Camarão Com Farinha De Aveia


Sheyla Amaral1, Danielle de Sousa1, Luana Oliveira1, Márcio Ribeiro1, Maria Vaneuza Costa1, Marlene Damaceno1

(1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte

E-mail: sheylaamaral82@gmail.com

Palavras chave: Litopenaeus vannamei, Fibra alimentar, Massas alimentícias.

Introdução Tabela 1. Ingredientes utilizados na elaboração de croquete de


camarão.
De acordo com a Resolução RDC nº 273 de 2005 da INGREDIENTE QUANTIDADE (%)
ANVISA (BRASIL, 2005) (1), Misturas para o Preparo de Alimentos:
são os produtos obtidos pela mistura de ingredientes, destinados ao Camarão 43,3
preparo de alimentos pelo consumidor com a adição de outro(s)
ingrediente(s). Podem requerer aquecimento ou cozimento. O produto Farinha de aveia 14
resultante após o preparo, de acordo com as instruções do fabricante,
deve ser aquele mencionado na designação da Mistura. Um deles é o Ovos 1 un
croquete, produto preparado à base de carne cozida, moída,
condimentada, ovos e farinha de trigo, envolto em ovos batidos e
Cebola 7
farinha de rosca.

O camarão (Litopenaeus vannamei), vem sendo Alho 0,7


considerado atualmente um pescado de grande importância na
alimentação dos brasileiros, bem como para exportação, sendo o Brasil Sal* -
um grande produtor e exportador mundial. Segundo o Anuário Peixe
BR da Piscicultura (Associação Brasileira da Piscicultura, 2019) (2), Pimenta* -
foram exportadas 214 toneladas de camarão congelado em 2017 e 167
t em 2018. Requeijão 28

Segundo Gutkoski e Pedo (2001) (3), a origem da aveia não Óleo de girassol 7
é bem clara, acredita-se que teria surgido na Ásia e no Oriente Médio,
entre os anos 1000 e 1500. Era utilizada na alimentação de cavalos e * à gosto.
rotação de culturas. A espécie mais cultivada é a Avena sativa Fonte: Elaborado pelos autores.
(branca), contém aproximadamente 11% de fibra alimentar total, 15%
de proteína, entre 5 e 9% de lipídeos, 1,9% de minerais e carboidratos
variando de 60 a 71%. Realizou-se a mistura da farinha de aveia com o requeijão
cremoso para homogeneização do recheio. A massa foi modelada
Com a globalização, as mudanças no estilo de vida, o manualmente e envolta por requeijão e empanada em ovo batido e
aumento da concorrência, e a elevação dos níveis de exigências por farinha de rosca repetindo-se esse processo três vezes para conferir ao
parte dos consumidores por alimentos saudáveis, as empresas vem produto uma textura palatável e firme de modo que o recheio ficasse
dando atenção à inovação em produtos e processos de produção e o completamente envolto. O croquete foi submetido ao processo de
aperfeiçoamento dos já existentes tornando essas ações em fritura em fogo médio por cerca de 2 minutos e retirado para remoção
necessidades reais. O investimento em desenvolvimento de produtos e do excesso de óleo.
a implementação de inovações tecnológicas na indústria de alimentos
resultam não só no aumento da competitividade, mas também em
melhorias na eficiência, produtividade e lucratividade (FOODS, 2017)
(4). Resultados e discussão
Tendo em vista as características acima descritas, este
Após a finalização do croquete, observou-se que mesmo
trabalho teve por objetivo a elaboração de um croquete de camarão
não contendo ovos ou outro agente ligante ao camarão, obteve-se uma
utilizando a farinha de aveia como substituta da farinha de trigo.
mistura homogênea devido à farinha de aveia e ao requeijão utilizado.
Também pode-se observar que após a fritura o croquete não teve sua
estrutura rompida, não comprometendo a camada externa evitando
assim a exposição do recheio. Os croquetes antes e após a fritura
Materiais e métodos podem ser observados na Figura 1 (A e B).

A elaboração do croquete ocorreu na Planta Piloto de Figura 1. (A) Croquetes antes da fritura. (B) Croquetes fritos.
Carnes e Pescado do IFCE campus Limoeiro do Norte. Incialmente o
camarão foi descongelado (5 °C por 8 horas) em seguida foi
descabeçado e submetido a cocção por 15 minutos em fogão A B
comercial, posteriormente foi descascado e cortado em pedaços
pequenos de aproximadamente 2 cm. Em seguida foi refogado em óleo
de girassol juntamente com cebola, alho, pimenta e sal, após dourar
permaneceu por 5 minutos em repouso. A proporção utilizada dos
ingredientes está relacionada na Tabela 1.

Fonte: Elaborado pelos autores.

133
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O croquete de camarão foi preparado com a substituição da


farinha de trigo pela de aveia, visando o consumo do produto por
celíacos, bem como a utilização de óleo de girassol que é considerado
mais saudável.

Ribeiro et al. (2017) (5) também utilizaram farinha de aveia


na elaboração de bolinho de peixe, destacando que seu produto é mais
saudável e nutritivo que os comerciais. Noleto et al. (2017) (6)
elaboraram nuggets com a polpa de camarão e acrescentaram farinha
de aveia em sua receita, concluindo que o alimento possui contribuição
para o aumento no consumo do pescado.

Optou-se por não realizar avaliação sensorial visto que o


índice de alergia ao camarão ou ao conservante (metabissulfito de
sódio) é alto.

Conclusões

Após a elaboração do croquete de camarão, observou-se a


aparência agradável do produto após a fritura, bem como a alternativa
que o produto tem para alérgicos ou intolerantes ao glúten, mas que
são apreciadores de camarão. Uma forma de comercializar o produto
seria realizar a pré-fritura e em seguida o congelamento, o que deixaria
o produto semi pronto, facilitando o preparo e consumo. Recomenda-
se para estudos futuros a realização da composição centesimal do
produto e sua avaliação microbiológica e sensorial.

Referências

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância


Sanitária. Resolução RDC N° 273, de 22 de setembro de 2005.
Regulamento técnico para misturas para o preparo de alimentos e
alimentos prontos para o consumo. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 de setembro de 2005.

2. DELLOVA, D.; FRANÇA, D.; DONATI, G.; CEZÁRIO, G.;


MARINI, H.; REAL, J. V.; LINO, J.; PRIEBSCH, K.;
ALBUQUERQUE, L.; OLIVEIRA, M.; VIEIRA, R. Anuário Peixe
BR da Piscicultura 2019. Associação Brasileira da Piscicultura,
2019. 148 p.

3. GUTKOSKI, L. C.; PEDO, I. Aveia: composição química, valor


nutricional e processamento. São Paulo: Livraria Varela, 2000

4. FOODS. Invista. A importância da inovação na indústria de


alimentos. 2017. Disponível em:
<https://www.invistafoods.com.br/importancia-da-inovacao-na-
industria-de-alimentos/>. Acesso em: 20 fev. 2020.

5. RIBEIRO, F. P. C.; BARTELI, G. G.; CASTANON, G. T. L.;


DUARTE, J. M. A. Desenvolvimento de bolinho de peixe à base
de aveia. I Mostra de Trabalhos do Curso de Nutrição da Univag. 5
de jul. de 2017. p. 142-146.

6. NOLETO, K. S.; SOARES, J. A. L. S.; SOUSA, J. T. C;


BARROS, P. C. A.; NUNES, L. R.; SANTOS, E. C. B. Elaboração
de nuggets com a polpa do camarão Litopenaeus vannamei e seus
compostos nutricionais. Rev. Bras. Eng. Pesca. v. 10 n.2 p.85-93,
2017.

134
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Seleção de cepas de Lactobacillus spp. para aplicação em produtos fermentados de


panificação
Joanderson Gama Santos1; Saionara Soares1; Gabrielle dos Santos Rodrigues1; Ingrid Conceição Dantas
Gonçalves2; Noádia Priscilla Rodrigues2 ; Estefânia Fernandes Garcia2
1
Graduando(a) do Curso de Gastronomia/CTDR/UFPB; 2Professora Doutora do Curso de
Gastronomia/CTDR/UFPB.
estefâniafgarcia@yahoo.com.br
Palavras-chave: Bactérias ácido láticas. Fermentação. Acidificação. Exopolissacarídeo

O teste de acidificação consiste em inocular a cepa teste em


INTRODUÇÃO um caldo de farinha estéril (uma mistura de farinha de trigo e
O processo de fabricação do pão foi por muitos água que funcionará como substrato para fermentação) no qual
anos baseado na fermentação espontânea sofrida pela mistura a acidez foi monitorada durante 72 horas. A avaliação da
da farinha, naturalmente contaminada com bactérias e proteólise consiste em inocular a cepa teste em meio de cultura
leveduras selvagens e algum liquido. Geralmente, esse com gelatina e albumina bovina para avaliar se as cepas
processo sofre variações de acordo com a microbiota, apresentam tal atividade e a produção de EPS foi avaliada com
condições de fermentação e tipo de matéria prima empregada base no isolamento e quantificação desse composto em um
(1). O pão é o principal produto obtido através da mistura de meio após 24 horas de cultivo da cepa teste. Todas essas
farinha, água, sal e levedura, sendo um dos alimentos mais características são importantes para avaliação da qualidade da
consumidos em todo o mundo (2). A utilização cada vez maior atividade tecnológica de uma cepa que poderá ser utilizada
de fermento natural, também conhecido por sourdough ou como cultura starter para um fermento natural.
levain, na produção de pães vem sendo motivada pelas Todos os ensaios foram realizados em triplicata em
características sensoriais produzidas pelo uso desse tipo de três experimentos independentes e os resultados foram
fermento e que o diferenciam de um pão tradicional, expressos como uma média dos ensaios. A análise estatística
comumente elaborado a partir de Saccaromyces cerevisae. (3, foi realizada para determinar diferenças significativas (p
4). <0,05) utilizando ANOVA seguido pelo teste Tukey. Também
Os microrganismos presentes no processo de foi realizada a análise de componentes principais para
fermentação natural são geralmente leveduras e bactérias ácido identificação das melhores cepas quanto às características
láticas (BAL) que conferem ao produto características avaliadas.
peculiares de sabor, aroma e flavor, bem como participam
ativamente no processo de produção de ácidos orgânicos, RESULTADOS E DISCUSSÃO
contribuem na textura e volume do produto, ajudam na Microrganismos selecionados para utilização em
formação da rede tridimensional de glúten, além de promover fermentação natural requerem apresentar algumas
acidificação durante o processo responsável pelo controle características específicas para que possam adaptar-se bem à
microbiano e prolongamento da vida de prateleira (3). matriz inserida e às condições de fermentação. A escolha
Diversos estudos corroboram em mencionar que correta do microrganismo é caracterizada pela importância que
o uso de culturas iniciadoras para produtos fermentados, ele trará ao fermento natural, principalmente no estágio inicial
principalmente a partir das BAL, promovem melhorias nas do seu desenvolvimento. A capacidade de produzir ácidos
características de qualidade de produtos de panificação (5). orgânicos e resistir a essas variações de pH ao longo do
Cepas de Lactobacillus são comumente utilizadas como processo fermentativo são essenciais para a seleção dessas
cultivo iniciador nesses produtos, sendo capazes de produzir cepas. (10). A tabela 1 apresenta os resultados do teste de
compostos que atuam na conservação e diminuem as chances acidificação das cepas avaliadas.
de contaminação por microrganismos deteriorantes e/ou
patogênicos, além de contribuírem com características Tabela 1 – Valores médios ± desvio padrão para determinação
reológicas e de sabor (6). de acidificação (g/100g) em caldo de farinha estéril (CFE)
A proposta do estudo foi selecionar cepas de durante 72 horas (30 ± 1 ºC) de cepas de Lactobacillus spp. e
Lactobacillus spp. para serem utilizadas como cultivos controle.
iniciadores em fermentação natural, de modo a produzir T* Cepas
Controle Lf 56 Lpc 106 Lpe 129 Lf 139 Lf 141
fermentos controlados e eficazes na panificação. 0 5,6±0,1
Ba
6,4±0,0
Aa
6,7±0,0
Aa
5,6±0,1
Ba
5,8±0,0
Ba
5,8±0,1
Ba
Ba Aa Aa Ba Ba Ba
2 5,7±0,1 6,5±0,1 6,6±0,1 5,6±0,1 5,8±0,1 5,9±0,1
Ba Aa Aa Cb BCb Ba
4 5,8±0,1 6,6±0,1 6,6±0,1 5,1±0,1 5,3±0,1 5,6±0,1
MATERIAL E MÉTODOS 6 5,8±0,1
Ba
Ba
6,5±0,1
Aa
Aa
6,6±0,1
Aa
Bb
4,6±0,0
Cc
Cc
4,7±0,1
Cc
Cc
4,8±0,1
Cb
Cb
8 5,8±0,1 6,6±0,1 5,9±0,0 4,5±0,1 4,5±0,1 4,5±0,1
Inicialmente, foram testadas cinco cepas de 24 5,4±0,1
Aa
4,1±0,0
Bb
3,7±0,1
Cc
3,6±0,0
Cd
3,6±0,1
Cd
3,8±0,1
Cc

Lactobacillus spp. do banco de cepas do Laboratório de 48 4,4±0,1


Ab
4,0±0,1
Bb
3,5±0,0
Cc
3,6±0,1
Cd
3,6±0,0
Cd
3,7±0,0
Cc

Bioquímica e Microbiologia de Alimentos/CCS/UFPB: 72 3,6±0,0


Ac
3,5±0,0
Ac
3,4±0,1
Ad
3,5±0,0
Ad
3,5±0,0
Ad
3,6±0,0
Ac

Lactobacillus fermentum 56 (Lf 56); Lactobacillus paracasei * Tempo em horas


a – d Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais diferem estatisticamente
106 (Lpc 106); Lactobacillus pentosus 129 (Lpe 129); (p < 0,05). A - D Em uma linha, médias seguidas de letras desiguais diferem
Lactobacillus fermentum 139 (Lf 139); Lactobacillus estatisticamente (p < 0,05). Controle: CFE não inoculado; Lf 56: Lactobacillus
fermentum 141 (Lf 141). As cepas foram isoladas de resíduos fermentum 56; Lpc 106: Lactobacillus paracasei 106; Lpe 129: Lactobacillus
pentosus 129; Lf 139: Lactobacillus fermentum 139; Lf 141: Lactobacillus
de acerola (Lf 56), graviola (Lpc 106) e manga (Lpe 129, Lf fermentum 141.
139 e Lf 141), (7).
As cepas foram mantidas em caldo MRS Observa-se que até 4 horas do teste, as amostras não
suplementado, em solução de glicerol sob congelamento (-18 apresentaram redução de pH, com exceção da amostra
°C). Conforme a necessidade, uma alíquota era tomada dos inoculada com a cepa Lpe 129. Até 8 horas de avaliação, as
criotubos e inoculada em caldo MRS e incubada à 37°C/24h amostras Controle e Lf 56 não apresentaram variação (p >
ou até formação de biomassa visível. 0,05) do pH ao longo do tempo, sendo as amostras com
Foram realizados testes de acidificação (8), maiores valores de pH observados, enquanto que até 24 horas
proteólise (9) e produção de EPS, (9) para seleção das cepas. de teste as amostras inoculadas com as cepas Lpe 129, Lf 139

135
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

e Lf 141 apresentaram os menores valores de pH observados. Figura 1 – Análise de Componentes principais na seleção de
Nesse mesmo período, com exceção da amostra Controle, cepas de Lactobacillus spp. para emprego em produtos
todas apresentaram queda significativa (p < 0,05) no pH. Após fermentados de panificação.
72 horas, observou-se que ambas as amostras apresentaram
valores estatisticamente iguais (p > 0,05).
Alfonzo et al., (10) ao avaliar a capacidade de
acidificação de cepas de BAL isoladas de farinha de trigo,
identificou após 6 horas de teste, valores de pH < 5,00 para 11
das cepas estudadas, o que também foi observado neste estudo
para as amostras inoculadas com as cepas Lpe 129, Lf 139 e
Lf 141 no mesmo período. Ainda no estudo de Alfonzo et al.,
(10) após 24 horas de acidificação, os autores observaram
valores de pH < 4,00. Comportamento semelhante foi
observado para as amostras inoculadas com Lactobacillus
spp., após 24 horas.
Na natureza, uma grande diversidade de BAL
através da fermentação e acidificação do fermento produzem
EPS, que influenciam diretamente na viscosidade,
gelatinização e nas propriedades reológicas da massa, bem
como, os baixos valores de pH exercem um impacto direto CONCLUSÃO
sobre os componentes responsáveis pelo desenvolvimento da De acordo com os testes realizados, sugerem-se
estrutura da massa, tais como o glúten, o amido, a as amostras Lf 139 e Lpe 129 para aplicação na elaboração de
hemicelulose, e consequentemente, sobre a estrutura do pão, produtos de panificação fermentados, já que seu destaque
atuando diretamente na maior vida de prateleira do produto. dentre as demais na produção de EPS irão contribuir com as
(11). A atividade proteolítica durante a fermentação libera características reológicas do produto, além do poder de
aminoácidos que contribuem nas características de aroma e acidificação que é crucial na determinação da microbiota do
sabor do pão, contudo, a degradação proteolítica pode afetar as fermento natural durante as etapas de propagação.
características reológicas da massa (12). A tabela 2 apresenta
os resultados obtidos para produção de EPS e atividade REFERÊNCIAS
proteolítica. 1. CAUVAIN, S. P. Bread: Breadmaking Processes.
Encyclopedia of Food and Health, Academic Press, p. 478-
Tabela 2 – Valores médios ± desvio-padrão de 483, 2016.
exopolissacarídeo (EPS) e avaliação qualitativa de atividade 2. WANG, H. et al. Quality of White Bread Made From
proteolítica de cepas de Lactobacillus spp. Lactic Acid Bacteria Enriched Dough. Journal of Food
Cepas EPS (mg/l) Proteólise* Processing and Preservation, v. 36 p. 553-559, 2012.
Lf 56 0,33±0,03a - 3. MINERVINI, F. et al. Robustness of Lactobacillus
Lpc 106 0,16±0,03b - plantarum starters during daily propagation of wheat flour
Lpe 129 0,20±0,01b - sourdough type I. Food Microbiology, v. 27, p. 897-908,
Lf 139 0,20±0,06b - 2010.
Lf 141 0,13±0,01b - 4. STEFANELLO, R. Produção de panetone utilizando
a – b Em uma coluna, médias seguidas de letras desiguais bactérias ácido láticas e leveduras isoladas de fermento
diferem estatisticamente (p < 0,05). * Atividade proteolítica natural liofilizado. Tese (doutorado) - Centro de Ciências
considerada (+) quando detectado halo ≥ 1mm. Lf 56: Rurais, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia
Lactobacillus fermentum 56; Lpc 106: Lactobacillus dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria - RS,
paracasei 106; Lpe 129: Lactobacillus pentosus 129; Lf 139: 2018.
Lactobacillus fermentum 139; Lf 141: Lactobacillus 5. HADAEGH. H. et al. The Impact of Different Lactic Acid
fermentum 141. Bacteria Sourdoughs on the Quality Characteristics of Toast
Bread. Journal of Food Quality, 2017.
As amostras apresentaram valores (p < 0,05) de 6. TODOROV, S. D. et al. Lactobacillus plantarum:
produção de EPS que variam de 0,13±0,01 a 0,33±0,03, sendo Characterization of the Species and Application in Food
a amostra Lf 56 a com maior valor 0,33±0,03 e a Lf 141 com Production. Food Reviews International, p. 205-229, 2010.
o menor valor 0,13±0,01, as amostras Lpc 106, Lpe 129, Lf 7. GARCIA, E. F. et al. Identification of Lactic Acid Bacteria
139 e Lf 141 apresentaram valores (p < 0,05) estaticamente in Fruit Pulp Processing Byproducts and Potential Probiotic
semelhantes. Properties of Selected Lactobacillus Strains. Frontiers in
A partir dos resultados obtidos nos testes, foi Microbiology, v. 7, p. 1-11, 2016.
realizada a análise de componentes principais apresentada na 8. VENTIMIGLIA; G. et al. Codominance of Lactobacillus
Figura 1. De acordo com a análise da figura 1, a amostra Lf 56 plantarum and obligate heterofermentative lactic acid bacteria
apresenta destaque na produção de EPS, como evidenciado during sourdough fermentation, Food Microbiology, v. 51, p.
anteriormente, enquanto que a amostra Lpc 106 apresentou-se 57-68, 2015.
como a que menos produziu EPS e com menor capacidade de 9. VERMELHO, A. B. et al. Detection of extracellular
acidificação dentre as demais. Já as amostras Lf 139, Lpe 129 proteases from microorganisms on agar plates. Mem. Inst.
apresentaram-se como as melhores cepas dentre as demais Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro , v. 91, n. 6, p. 755-760,
testadas já que apresentaram melhor desempenho na 1996.
capacidade de acidificação e de produção de EPS. Como todas 10. ALFONZO. A. et al. Diversity and technological
as cepas apresentaram atividade proteolítica negativa, não se potential of lactic acid bacteria of wheat flours, Food
considerou esse teste para análise. Microbiology, v. 36 p. 343-354, 2013.
11. VOGEL, R. F.; EHRMANN, M. A.; GÄNZLE. M. G.
Development and potential of starter lactobacilli resulting
from exploration of the sourdough ecosystem. Antonie van
Leeuwenhoek v. 81 p. 631–638, 2002
12. THIELE. C.; GÄNZLE. M. G.; VOGEL. R. F.
Contribution of Sourdough Lactobacilli, Yeast, and Cereal
Enzymes to the Generation of Amino Acids in Dough
Relevant for Bread Flavor. Cereal Chemistry, v. 79 p. 45-51,
2002.

136
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial e Físico-Química de Chá de Coentro (Coriandrum Sativum L.)


Desidratado Saborizado com Erva Cidreira (Melissa Officinalis).

Isamara Carvalho 1, Marina Leal 2, Stella Medeiros 3, Rosângela Oliveira4, Marcia Medeiros 5, Beatriz Dantas 6
1
Graduada em Nutrição – UFPI / CSHNB
2
Graduada em Nutrição – UFPI / CSHNB
3
Docente do curso de Nutrição - UFPI / CSHNB
4
Especialista em Ciência dos Alimentos – UECE (rosangelaalimentos@gmail.com)
5
Mestre em Ciências e Tecnologia de Alimentos – IFCE
6
Graduanda em Engenharia de Alimentos - UFC

Palavras-Chave: Especiarias, Compostos bioativos, Fitoterapia, Plantas medicinais.

INTRODUÇÃO Avaliação Sensorial


O Coriandrum sativum L., conhecido popularmente como coentro, é Para avaliação sensorial dos chás foram recrutados 100 provadores,
uma planta herbácea, pertencente à família Apiceae. Ervas e especiarias não treinados, de ambos os sexos e com idade entre 18 e 44 anos,
são utilizadas como tempero desde a antiguidade, para aumentar a vida dentre estudantes da Universidade Federal do Piauí (8). Estes
de prateleira e agregar propriedades funcionais nos produtos concordaram em participar da pesquisa e assinaram um Termo de
alimentícios (1). O coentro possui excelentes fontes de fibras, proteínas, Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
óleos essenciais, vitaminas, minerais e fitoquímicos. Estudos apontam Antes da análise dos chás, os julgadores tiveram que responder uma
que os fitoquímicos podem ser os principais responsáveis pelos ficha contendo um questionário com perguntas necessárias para
benefícios presentes nas ervas aromáticas, em especial os compostos caracterização do consumidor acerca do produto em estudo. As
fenólicos (2,3,4). Além disso, esta erva ajuda na melhora de algumas análises foram realizadas mediante escala hedônica estruturada de
patologias por possuir propriedades funcionais e farmacológicas, sendo nove pontos (9).
uma fonte rica de antioxidantes, antidiabéticos, antimutagênicos,
antilipidêmicos, antiespasmódicos, podendo ainda ser utilizada no Análises Estatística
tratamento dos distúrbios digestivos, do trato respiratório e infecções do Os dados coletados nas análises de físico-química e sensorial foram
trato urinário (5). submetidos ao cálculo de média, desvio padrão, análise de variância
O coentro é consumido principalmente na sua forma natural e vem (ANOVA) e teste de Tukey a 5% de significância para comparação
ganhando notoriedade na sua forma processada, a fim de facilitar a entre as amostras, utilizando o pragrama STATISTICA software
comercialização. versão 7.0.
O chá é uma das bebidas mais consumidas e mais antigas do mundo,
sendo na literatura, referido como uma das melhores fontes de RESULTADOS E DISCUSSÃO
compostos fenólicos. Os chás têm atraído muita atenção nos últimos Em relação ao teor de cinzas, um menor percentual foi apresentado
anos devido a sua capacidade antioxidante e sua abundância na dieta de pela amostra 1 e a amostra 2 apresentou resultado semelhante ao chá
milhares de pessoas em todo o mundo. São ricos em catequinas, cáscara sagrada (10).
flavonoides que apresentam propriedades biológicas como atividade O pH observado nesse experimento variou de 6,22 a 6,36, o que está
antioxidante e sequestradoras de radicais livres (6). dentro da faixa de pH exigido na legislação para chás que é de 4,0 a
Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo o preparo e 6,0 (11). Os resultados foram registrados na Tabela 1.
avaliações físico-química e sensorial de chá de coentro (Coriandrum
sativum L.) desidratado saborizado com a erva cidreira (Melissa Tabela 1. Respostas da caracterização físico-química do chá.
officinalis).
Amostra Umidade (%) Cinzas (%) Acidez (%) pH
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho constituiu-se de um estudo de cunho experimental Amostra 1 99,92±0,00 0,02±0,01 0,02± 0,1 6,36±0,09
quantitativo e qualitativo, realizado na Universidade Federal do Piauí Amostra 2 99,81±0,04 0,08±0,03 0,02±0,01 6,22±0,03
(UFPI), Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos. O
desenvolvimento da desidratação do coentro e a produção do chá,
seguido das análises físico-químicas e sensoriais, foram realizadas nos Quanto a análise sensorial, foram selecionados 100 provadores
laboratórios de Tecnologia de Alimentos, Bioquímica de Alimentos e aleatoriamente de ambos os sexos, sendo 31% masculino e 69%
Analises Sensoriais respectivamente. feminino com idade entre 18 e 45 anos.
Matéria-prima e Obtenção dos chás Quando questionados sobre a frenquência de consumo de chá, 56%
O coentro, bem como os demais ingredientes, foram adquiridos no disseram não possuir o hábito de consumir nenhum tipo de chá, 23%
comercio local. No laboratório de Tecnologia de Alimentos foram diz consumir mensalmente, 4% quinzenalmente e 12% duas a três
selecionadas as partes comestíveis do coentro e da erva cidreira e pesados vezes por semana. Em relação ao consumo de coentro, 95% diz
100g que foram higienizados e sanitizados. Em seguida foram consumir com frequência e apenas 5% não consome. Por fim, 69%
transferidos para telas forradas com papel absorvente para secagem por diz ter preocupação em consumir alimentos funcionais e 31% não
aproximadamente 15 minutos. Na sequência, o coentro foi desidratado apresentam essa mesma preocupação.
na potência máxima de forno micro-ondas em dois ciclos de cinco A disposição das notas obtidas do teste de aceitação dos chás está
minutos. Após a desidratação foram triturados em processador e situada na região indicativa de aceitação, onde todos os atributos,
passados em tamis para obtenção da granulometria uniforme do coentro apresentaram notas em torno de “gostei moderadamente” (Tabela 2).
e da erva cidreira e acondicionadas em embalagens metalizadas e Tabela 2. Média de desvio padrão das notas obtidas no teste de
mantidas a temperatura ambiente até utilização em ensaios posteriores. aceitação dos chás.
Preparou-se duas amostras, sendo amostra 1 a infusão de erva cidreira
kkkkk

Atributos Chás
(200ml de chá) com adição de coentro desidratado (5g de pó de coentro) Amostra 1 Amostra 2
e a amostra 2, uma infusão de erva cidreira sem a adição do pó do
Cor 7,66a ±1,09 1,09ª ± 1,48
coentro, aproximadamente 80ºC. As bebidas foram deixadas em infusão
dentro de um bêquer tampado com vidro de relógio por 5 minutos e Sabor 7,53ª ± 1,57 7,06ª ± 1,62
depois transferidas para garrafa térmica. Aroma 7,55ª ± 1,21 7,66ª ± 1,11
textura 7,63ª ± 1,26 7,62ª ± 1,26
Análises Físico-químicas
Impressão 7,82ª ± 1,45 7,35ª ± 1,45
Para as análises físico-químicas utilizou-se aproximadamente 500 mL de
Resulatdos aprensentados em valores médios ± desvio padrão. Médias seguidas pelas mesma letra, na mesma
cada formulação para compor as amostras. Estas foram avaliadas em linha, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
triplicata para realizar o cálculo das médias e desvio padrão dos
resultados. A metodologia utilizada para as análises de umidade, cinzas,
pH e acidez foram descritas pelo Instituto Adolfo Lutz (7).
137
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

As formulações de chás não diferiram estatisticamente entre si nos


atributos avaliados (p > 0,05). Estes resultados são próximos ao da
bebida de chá verde, gengibre, hortelã e abacaxi que apresentou
escores que situavam entre “gostei” e “gostei muitissímo” (12).

Os resultados obtidos para a intenção de compra (Tabela 3)


apresentaram-se positivos, pois a maioria dos provadores certamente
compraria o produto oferecido “Chá de coentro saborizado com erva
cidreira”, ou seja, um resultado muito semelhante ao obtido para o chá
de erva cidreira.

Tabela 3. Intenção de compra dos chás.


Intensão de compra Amostra 1 Amostra 2
Certamente não compraria 13% 8%
Tenho dúvidas 39% 26%
Certamente compraria 48% 66%

CONCLUSÃO
Diante do exposto, conclui-se que o chá de coentro desidratado
saborizado com erva cidreira apresenta características físico-químicas
de acordo com os parâmetros de padrão de identidade para chás. O
resultado da análise sensorial dos chás demonstra que não houve
diferença significativa na aceitação das amostras de chás de coentro
desidratado saborizado com erva cidreira.

REFERÊNCIAS
1. MORAIS, S. M. et al. Ação antioxidante de chás e
condimentos de grande consumo no Brasil. Brazilian
Journal of Pharmacognosy, João Pessoa, v. 19, n. 1B, p.
315-320, 2009.
2. CUNHA, A.P.; RIBEIRO, J.A.; ROQUE, O.R. Plantas
aromáticas em Portugal: caracterização e utilizações. 4. ed.
Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
3. EMBUSCADO, M.E. Spices and herbs: natural sources of
antioxidants-a mini review. Journal of Functional Foods,
Netherlands,v. 18, p. 811-819, 2015.
4. ROSSI, L. et al. Benefits from dietary polyphenols for
brain aging and Alzheimer’s disease. Neurochemical
research, Estados Unidos v. 33, n. 12, p. 2390-2400, 2008.
5. SAHIB, N.G. et al. Coentro (Coriandrum sativum L.): Uma
fonte potencial de componentes de alto valor para
alimentos funcionais e nutracêuticos - Uma revisão.
Phytotherapy Research, Londres, v. 27, n. 10, p. 1439-
1456, 2013.
6. LIRA, C. R. G. et al. Nutracêuticos: Aspectos sobre
segurança, controle de qualidade e legislação. Revista
Brasileira de Farmácia, Rio de Janeiro, v. 90, n. 1, p. 45-49.
2009.
7. BRASIL. Instituto Adolfo Lutz. Ministério da Saúde.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Métodos
Físico-Químicos para Análise de Alimentos. IV ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
8. MEILGAARD, M.; CIVILLE, G.V.; CARR, B.T. Sensory
evaluation techniques. 4.ed. Boca Raton: CRC Press, 2006.
448 p.
9. DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de Alimentos,
Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 1996.
10. FONTELLA, D.Z.; GINDRI, A. L. Avaliação da qualidade
de amostras comerciais de chás de Sene (Senna
alexandrina Mill) e Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana
D.C.). Revista Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa,
2013.
11. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n.
277, de 22 de setembro de 2005. Aprova o regulamento
técnico para café, cevada, chá, erva-mate e produtos
solúveis, constantes no anexo desta Portaria. Diário Oficial
[da] União da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
23 set. 2005a.
12. AMORIM, Amanda Martins et al. Elaboração e análise
sensorial de uma bebida à base de chá verde, gengibre,
hortelã e abacaxi. ANAIS SIMPAC, v. 8, n. 1, 2017.

138
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de mousse de chocolate a base de kombucha


Aryelle Almeida1, Roberto Amaral², Daciane Ingá³, Paulo Sousa 4
1
Graduanda em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. aryellealmeida0@gmail.com
2
Graduando em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. rwagner97@hotmail.com
³ Graduanda em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará.
4
Professor Doutor do curso de Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará.

Palavras chave: Gastronomia molecular, capim santo, emulsão.


INTRODUÇÃO

A gastronomia molecular, examinada inicialmente e extensivamente Para a produção do mousse, foram utilizados 100g de chocolate meio
pelo químico francês Hervé This e pelo físico húngaro Nicholas Kurti, amargo, 40 mL de infusão de capim santo, 0,04 mL de óleo essencial
hoje, trata-se de uma disciplina científica que intenta analisar ou criar de capim santo comercializado na capital cearense, 40 ml de kombucha
mecanismos e fenômenos químicos e físicos que ocorrem durante o resultante da primeira fermentação com o pH 2.93. (9)
manuseio e o preparo de alimentos, utilizando essas técnicas e Inicialmente, o chocolate foi cortado até que cada pedaço ficasse com
mecanismos com o escopo de oferecer novas sensações e sentimentos aproximadamente 10 g. O mesmo foi derretido no fogo em uma panela
através da alimentação (1). inox e utilizado uma espátula de silicone para auxiliar no derretimento
Desse modo, é importante também exemplificar e conceituar duas do mesmo. Quando derretido, o chocolate foi colocado em um bowl
técnicas usadas para a produção do mousse, quais sejam, a formação de que, previamente, se encontrava sobreposto no bowl médio que
emulsões e espumas, a emulsão é uma mistura de gordura com água, a continha água e gelo para realizar o banho de gelo. A mistura foi agitada
partir da movimentação desses elementos, já a espuma, diz respeito a com o auxílio de um fouet de silicone para incorporar ar à mesma. Em
inserção de ar em uma substância sólida ou líquida, formando uma seguida, a infusão de capim santo foi adicionada juntamente com o óleo
estrutura aerada, geralmente com bolhas de ar em seu interior (1). essencial. A adição desses dois elementos -infusão de capim santo e o
Nesse sentido, é oportuno aludir acerca de uma preparação famosa óleo essencial- foi realizada prévio a inclusão da kombucha para que
criada pelo cientista Hervé This: o mousse de chocolate obtido a partir atuassem no auxílio ao resfriamento do chocolate até 28°C, temperatura
da emulsão do chocolate, mais precisamente da manteiga de cacau na qual se mostra, em literatura, mais adequada para a sobrevivência
presente no mesmo, com algum líquido, através do aquecimento inicial dos microrganismos que compõem a bebida. (6,3) Ao chegar à
do chocolate com o líquido, e o posterior resfriamento da mistura em temperatura indicada anteriormente, a kombucha foi acrescentada e a
um banho de gelo com batimento constante para a formação de uma mistura resultante foi mexida de modo manual com o auxílio do fouet
espuma, com a devida inserção de bolhas de ar através do movimento até que fosse obtido o produto desejado.
(1). Quanto à análise do produto foi realizado a aferição de pH, dos sólidos
Um produto que vem ganhando interesse é a Kombucha, que se trata de solúveis e da acidez titulável segundo os métodos físico-químicos para
uma bebida refrescante e agridoce obtida pela fermentação alcoólica e análises de alimentos do instituto Adolfo Lutz. Para o primeiro e para o
acética da infusão de folhas da Camellia sinensis adicionada de segundo foi diluído 1g da amostra em 10g de água destilada, para a
açúcares e uma película de bactéria acéticas e leveduras. Sua última análise citada foi utilizada 2g de amostra para 50g de água
fermentação é dividida em duas etapas, a primeira de natureza aeróbica destilada. (9)
e a segunda de natureza anaeróbica (2,3). Logo, é oportuno demonstrar As provas foram realizadas por oito pessoas que trabalhavam no
a principal causa do consumo milenar da bebida, em virtude de suas laboratório de frutos tropicais do departamento de engenharia de
propriedades benéficas à saúde humana, tendo em vista apresentar alimentos da Universidade Federal do Ceará, cuja participação se deu
bactérias, leveduras e fungos benéficos para o funcionamento do de forma voluntária.
sistema digestivo humano (4). Dentre as funcionalidades podemos
destacar as propriedades antioxidades, o auxílio no funcionamento da RESULTADOS E DISCUSSÃO
flora intestinal e no fortalecimento do sistema imune, como também
apresenta função antimicrobiana (5, 6). O produto obtido possuía um sabor de predominância doce, mas de
Outrossim, o capim santo também apresenta qualidades funcionais. pois cunho levemente amargo devido ao chocolate utilizado possuir o teor
possui ação sedativa, sendo usado para alívio de cólicas uterinas e de 50% de cacau. O sabor do capim santo pode ser notado de forma
intestinais (7) e, em seu óleo essencial, é, também, encontrado o mais intensa no retrogosto e notas herbais persistem no palato, se
composto mirceno, responsável pela sua ação analgésica (8). demonstrando presente logo após o gosto do chocolate.
Diante do exposto, o presente trabalho visa analisar a possibilidade de, Quanto à textura, ao colocar na boca sentia-se, inicialmente, uma
através da técnica utilizada por Hervé This para produzir o mousse, consistência aerada, características que se mantém do mousse original
criar um mousse de chocolate potencialmente probiótico e funcional, ao ao se utilizar água,(10) e logo em seguida densa. No que diz respeito à
utilizar como líquido base para emulsionar o preparo, a kombucha de aparência, ficou caracterizada por um marrom intenso e brilhante
primeira fermentação, a infusão e o óleo essencial do capim santo. (Figura 1).
O mousse apresentou pH de 4,88, configurando um produto ácido, que
é possível identificar, também, no palato mas de forma branda. Os
MATERIAL E MÉTODOS sólidos solúveis é de 4°Brix e a acidez titulável é de 0,6838%.
Além dos benefícios da kombucha, o mousse apresenta baixo valor
Para a realização da kombucha foi utilizado água mineral levada ao calórico, comparado aos mousses tradicionais, que levam creme de leite
fogo em panela inox até que levantasse fervura. Posteriormente, foi na sua base, tendo em vista o único insumo com valor calórico relevante
adicionado à água 1% g/L de chá verde na qual ficou em infusão por 3 dessa preparação é o chocolate, que é aproveitado ao máximo em seu
minutos. Findado o tempo necessário, o chá foi passado em peneira para sabor e valor nutricional. (1)
separar os componentes sólidos do líquido e foi adicionado 7,5%g/L de Desse modo, o preparo se apresenta como uma alternativa eficaz para
açúcar ao líquido enquanto que os sólidos foram descartados. Apenas dietas hipocalóricas, atendendo à demanda mercadológica atual, em que
quando chegou a temperatura entre 25-30°C - intervalo de temperatura muitas pessoas buscam um estilo de vida mais saudável e sem adição
ideal para a sobrevivência e reprodução da simbiose- que a colônia de produtos industrializados e de altíssimo índice calórico.
inicializadora foi inoculada na quantidade de 10%g/L. Findado este
processo, o produto da mistura foi adicionado a um recipiente de vidro
que foi tapado com material poroso que se manteve fixado à borda por
uma liga de elástico. O produto foi mantido em local escuro com
temperatura entre 25-30°C até que atingiu o pH de 2,93, cerca de 5 dias
de fermentação. (9)
Ademais, para a infusão da planta capim santo foi utilizado água filtrada
e 10%g/L de capim santo in natura adquirido no comércio local.

139
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 1: Mousse de chocolate à base de kombucha, infusão e óleo de


capim santo.

Fonte: Os autores.

CONCLUSÃO

Portanto, constatou-se a possibilidade de utilizar Kombucha de


primeira fermentação, infusão e óleo de capim santo como base líquida
para a reprodução do mousse de Hervé This a fim de saborizar o produto
e usufruir das propriedades funcionais e sensoriais desses insumos.
Dessa forma, espera-se que as propriedades funcionais dos três novos
elementos que foram adicionados se mantenham e resultem em um
produto potencialmente probiótico. Ademais, ao kombucha foi
apresentado uma proposta de aplicabilidade inovadora.

REFERÊNCIAS

1. Macini, Florencia Milagros. Mousse de chocolate realizado con una


técnica de Herve This de Gastronomia Molecular. [Monografia].
Facultad de Ciencias Medicas. Universidad FASTA. Buenos Aires,
2015.
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de 21 de junho de 2018. Diário Oficial da União. 21 jun 2018. Seção
1:3.
3. Santos, Mafalda Jorge dos. Kombucha: caracterização da
microbiota e desenvolvimento de novos produtos alimentares para uso
em restauração. [Dissertação de Mestrado]. Faculdade de Ciências e
Tecnologia. Universidade Nova de Lisboa, 2016.
4. Bruschi, Jefferson dos Santos. et al. O Ressurgimento do Chá de
Kombucha. Revista de iniciação científica e extensão -
REIcEn.1(Esp): 162-8. 2018.
5. YAMAZAKI, Sakura. Kombucha for beginners: How to brew
kombucha at home. S.i,
2015.
6. PALUDO, Natália. Desenvolvimento e caracterização de kombucha
obtida a partir de chá verde e extrato de erva-mate: processo artesanal
e escala laboratorial. 2017. 46f. TCC (Graduação) - Curso de
Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2017.
7. BARACUHY, JGV et al. Plantas medicinais de uso comum no
Nordeste do Brasil. Campina Grande: EDUFCG, 2016.
8. Lorenzetti BB, Souza GEP, Sarti SJ, Santos Filho D, Ferreira SH
1991. Myrcene mimics the peripheral analgesic activity of lemongrass
tea. J Ethnopharmacol 34: 43- 48.
9. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
análises de alimentos. 4. ed. 2008. 1020 p.
10. GUERREIRO, Margarida; MATA, Paulina. A Cozinha é um
Laboratório. Lisboa: Fonte da Palavra, 2009.

140
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Predição De Preço Para Tapiocas A Partir Da Composição De Nutrientes

Maria Pimentel1, Érica sousa1, Hellida Nascimento1, Jessica Rodrigues2, Ingrid Gonçalves3, Estefania
Fernandes Garcia3, Noádia Rodrigues3

1Graduação no curso de Gastronomia-UFPB


2Professor da Faculdade Mauricio de Nassau-FMN/JP
3Professor do Departamento de Gastronomia-UFPB

noadia_priscila@hotmail.com.br

Palavras Chave: Regressão linear, Ficha técnica, cozinha paraibana

INTRODUÇÃO composição nutricional foi calculada utilizando a Tabela Brasileira de


Composição de Alimentos (TACO) (7).
Nos dias de hoje, pode ser visto nos principais pontos turísticos de A equação para predição do custo das tapiocas foi determinada por
várias capitais do Brasil, a comercialização de tapiocas, bem como em regressão linear múltipla, utilizando a composição de macro nutrientes
restaurantes, serviços de alimentação e similares. Esta preparação e colesterol. A equação foi avaliada em relação ao coeficiente de
culinária também está universalmente presente na mesa do brasileiro, determinação (R²) e ao erro-padrão estimado (8). Foram testadas as
apesar de ser considerado um prato típico para os nordestinos. São variáveis de controle que apresentaram correlação com a variável
preparadas de forma simples e podem agradar os mais diversos resposta ou consideradas relevantes no contexto do estudo e mantidas
paladares (1, 2, 3). estas que juntas modificaram em mais de 80% o coeficiente de
Sua popularização deve-se ao baixo custo do seu ingrediente regressão. Adotou-se nível de significância igual a 0,05 em todos os
principal, a goma. Um produto derivado da mandioca, que é uma raiz testes estatísticos. O software R foi utilizado para as análises (11).
considerada fonte de carboidratos, de vitaminas do complexo B, e de
minerais, tais como fósforo e potássio. É apreciada pelo fato de poder
compor cardápios saudáveis, e seu consumo tem se expandido no RESULTADOS E DISCUSSÃO
Brasil, nos últimos anos, como uma alternativa ao pão para aqueles que
optam por uma alimentação isenta de glúten (1, 4). Um dos fatores que tem contribuído para a tendência no aumento
A mandioca foi considerada base alimentar dos povos nativos do do consumo de tapiocas é pela ausência de glúten em sua composição
Brasil e sua herança gastronômica-cultural estende-se até os dias atuais. (3,4). Sua versatilidade na composição de pratos e gostos também é
Pois compõem pratos típicos e está presente nos hábitos alimentares de motivo do aumento considerável do consumo deste produto. Em João
todas as regiões do país (5). Pessoa-PB, a tapioca pode ser consumida com recheios doces e
Na preparação da tapioca, a goma é hidratada, temperada com sal salgados. E pode conter de um a sete diferentes ingredientes na
e quando submetida, em chapas, a altas temperaturas, após terem sido composição dos seus recheios. Os diferentes tipos de composições de
peneiradas, seus grãos de amido gelatinizam, ligando-se, o que dá a recheios encontrados nesta pesquisa estão descritos na figura 1.
característica do produto, geralmente são produzidas em formatos Foram elaboradas fichas técnicas para determinação da
redondos e enroladas ou dobradas após serem adicionados os recheios composição nutricional destas 50 diferentes composições de tapiocas.
(1, 5). Cujo valor energético médio foi de 532g±143kcal. Uma porção de
Porém, a versatilidade nos recheios, que podem ser doces ou tapioca consumida nestes pontos de venda pesava em média 159g±51g.
salgados, e respeitar diversas tendências gastronômicas e filosofias O teor proteico médio deste prato típico foi de 17g±10g. Enquanto a
alimentares, tem justificado um aumento no consumo de tapioca em composição média de lipídeos, carboidratos e colesterol foi de
todas as regiões do país nos últimos anos. Isso se dá em decorrência da 30g±12g, 51g±13g e 155g±131g respectivamente. O que demonstrou
sua similaridade energética com outras fontes de carboidratos que são que as tapiocas consumidas nos principais pontos de venda da capital
a base de cereais, como pães, biscoitos, pasteis, sanduíches. Por este paraibana podem substituir refeições principais, devido ao seu alto
motivo, a tapioca pode substituí-los em cardápios, sem que haja valor energético e proteico.
prejuízo nutricional. Foi construído um modelo com base na regressão linear múltipla
Em João Pessoa-PB, observa-se uma grande diversidade no para descrever de maneira razoável, com nível de significância de 5%,
consumo de tapiocas pela variedade de recheios por parte da população. a relação entre a concentração de proteínas (54% e p<0,001),
Cujo custo tem variado consideravelmente, sendo justificado pelo carboidratos (7% e p<0,01), lipídios (14% e p<0,01) e colesterol (8% e
aumento da cesta básica de alimentos que é o item de maior peso para p<0,001) para predizer o custo das tapiocas produzidas e
o impulsionamento da inflação que foi de 4,31% em média, no último comercializadas na orla de João Pessoa-PB com poder de influência de
ano (6). 80% (Figura 2).
O objetivo do presente trabalho foi determinar uma equação de O custo das preparações, ou seja, a variável desfecho, apresentou
predição dos custos das tapiocas comercializadas em João Pessoa-PB, distribuição normal e a análise dos resíduos do modelo de regressão
com base na sua composição em macro nutrientes. linear indicaram que o modelo está bem ajustado.
A relação entre o custo e composição de macro nutrientes,
sobretudo a composição proteica, que influencia em 54% no custo dos
METODOLOGIA pratos, pode ser explicada pelo fato de que estas tapiocas são produzidas
com ingredientes básicos para o padrão alimentar brasileiro,
Trata-se de um estudo do tipo transversal que avaliou as tapiocas principalmente, no que diz respeito a culinária paraibana.
produzidas e comercializadas na cidade de João Pessoa- PB por meio E, dentre os insumos alimentícios considerados básicos, os itens da
de observação direta e com utilização de uma balança de cozinha digital sua composição de ingredientes que possuem maior teor proteico são
eletrônica de até 15 kg, com precisão de 1g, marca Eletronic®. Para aqueles que apresentaram maior custo. São eles, produtos cárneos, ovos
avaliar cada preparação culinária que se diferenciou pelo tipo de e laticínios. O segundo nutriente com maior poder de influência no
recheio, foi elaborada uma ficha técnica (com as respectivas custo das tapiocas foram os lipídeos, responsáveis por 14% da formação
quantidades per capita) por meio da qual foi realizada a análise da do custo. Também pode ser justificado pela sua presença nos alimentos
composição nutricional em relação a energia, macro nutrientes e de origem animal de custo mais elevado na cesta básica de alimentos.
colesterol. Durante o período de coleta, os dados para as fichas técnicas O Carboidrato, cuja fonte está na goma, ingrediente essencial para
das tapiocas foram coletados em triplicata. Após a coleta de dados a preparação de tapiocas tem influência de apenas 7% na formação do
custo. Por este motivo tem se socializado o consumo da tapioca e

141
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

expandindo-se para todas as regiões do país. Devido a versatilidade de de origem vegetal, por si só, já apresentam uma redução de 14% neste
preparos que este ingrediente básico pode proporcionar, permitindo custo.
custos acessíveis a maioria da população.
Figura 2: Equação de predição do custo de tapiocas com base na
figura 1: Tapiocas comercializadas em João Pessoa-PB, classificadas pelos composição de macro nutrientes e colesterol
tipo de recheio, proporção do peso da porção, macro nutrientes e custo.
Custo = - 0,14 + 0,054 x [proteína (g)] + 0,015 x [lipídios (g)]
Carne de sol, queijo, presunto, ovo, frango, calabresa + 0,007 x [carboidratos (g)] - 0,001 x [colesterol(mg)]
Carne de charque, queijo, presunto, ovo, frango, calabresa
Queijo coalho
Ovo
Ovo, tomate e cebola CONCLUSÃO
Manteiga
Coco A partir destas informações pode-se concluir que as tapiocas
Banana consumidas na capital paraibana podem ter seu custo predito a partir de
Romeu e Julieta (goiabada e queijo) sua composição em macro nutrientes. Para minimizar os custos da
Queijo, presunto e ovo tapioca na elaboração de cardápios, é possível padronizar as proporções
Queijo, presunto e calabresa de ingredientes fontes de proteínas, sem contudo, alterar as
Queijo, banana e açúcar caramelado características e a aparência final deste prato. Isto é particularmente
Queijo coalho e ovo importante no planejamento de cardápios.
Queijo mussarela e ovo
Queijo e catupiry
Queijo catupiry e ovo REFERÊNCIAS
Queijo e calabresa
Prestígio 1. BEZERRA, C. Dos Passos de Gazela de Iracema ao Rastro do
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Mista (Queijo e presunto)
Italiana com ovo
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Frango, calabresa, ovo, queijo, presunto, tomate Tapioca como um Produto Turístico Cultural do Destino Fortaleza-
Frango e queijo Brasil. Revista Turismo e Desenvolvimento, 1, 191-204, 2014.
Frango catupiry
Frango e ovo 4. MARTINS, Uiara; COSTA, Carlos; BAPTISTA, Maria Manuel. A
Coco, queijo, calabresa, catupiry e ovo valorização da gastronomia tradicional no contexto turístico: o caso da
Coco, queijo, bacon e salaminho tapioca em fortaleza. Revista Turismo: estudos e práticas, 6, 2017.
Coco, queijo e peperone 5. CUNHA, B. E OLIVEIRA, V. A Gastronomia Enquanto Atrativo
Coco, queijo e presunto Turístico-Cultural. Artigo realizado como Trabalho de Conclusão do
Coco, queijo e catupiry
Curso de Pós-Graduação em Geografia, Meio Ambiente e Turismo da
Coco, queijo e calabresa
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Coco e ovo
Coco e calabresa 8. MACNEIL, M. D. Escolha de uma equação preditiva e o uso da
Cartola (banana, canela, queijo coalho) equação selecionada em experimentação subsequente. Journal of
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Carne de sol, queijo e catupiry
9. SANTOS, Maria Clara Leopoldino et al. Rotulagem da goma de
Carne de sol, calabresa, ovo, queijo, presunto, tomate
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Carne de sol e queijo mussarela
338, 2018.
Carne de sol e queijo coalho
Carne de sol e queijo manteiga 10. VIVEIROS, C. M. Valorização da gastronomia açoriana: um
Calabresa e catupiry estudo de caso sobre a oferta e a procura gastronómica no centro
histórico de Ponta Delgada. 125f. Dissertação de Mestrado.2018.
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11. AUSTRIA. R: A language and environment for statistical
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Disponível em: https://www.R-project.org/. 2019. Acesso em: 1 fev.
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oeste, pelas influências históricas dos indígenas, portugueses e Disponível em: http://www.projetosapoti.com.br/?p=558. Acesso em:
espanhóis e geográficas dos bolivianos, paraguaios e gaúchos possuem, 20 fev. 2020.
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agricultura familiar e do terroir que tem sido resgatado nos grandes 14. DIAS, N.; BARBOSA, R. M. S. P.; RODRIGUES, R. A. Rupturas
centros (12, 13, 14). No Sul, que teve influência alemã̃ e italiana na e permanências na produção da tapioca em Parintins/AM. Revista
formação da sua culinária, também utiliza a tapioca como ingrediente Eletrônica Mutações. 8, 14, 355-361, 2017.
em alguns de seus acompanhamentos (12). Na Região Nordeste, a
tapioca ganhou título de patrimônio imaterial e cultural, desde o ano de 15. SANTOS, M. C. L.; SHINOHARA, N. K. S.; PIMENTEL, R. M.
2006 e pode ser encontrada nos mais diversos formatos e sabores, pela M.; PADILHA, M. R. F. Rotulagem da goma de tapioca. Journal of
variação dos ingredientes presentes no recheio (13, 15). Environmental Analysis and Progress. 3, 3, 330-338, 2018.
Tendo em vista a presença de muitos ingredientes de origem animal nas
composições das tapiocas comercializadas em João Pessoa-PB, o
colesterol apresentou um poder de influência de 14% na formação do
custo. Isto revela que tapiocas produzidas unicamente com ingredientes

142
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Teor de umidade e potencial hidrogeniônico do mel Apis mellifera L produzido no Maciço de


Baturité, Ceará

Geane M. de Andrade1, Josefranci M. de. Farias2, Diogo H. M. Portela3, Nadla C. S. Sousa4

1 Graduanda em Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE – Brasil, e-mail:
geane.m.andrade@gmail.com
2 Dra. em Biotecnologia Industrial, professora do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFCE – campus
Baturité, CE – Brasil
3 Bacharel em Gastronomia, técnico de laboratório do Instituto Federal do Ceará – campus Baturité, CE – Brasil.
Licenciatura em Química, Instituto Federal do Ceará – campus Iguatu, CE – Brasil

Introdução rio do Maciço de Baturité, Ceará.


O mel é um dos alimentos mais antigos ligados à história Desta forma, estudos que caracterizem os méis de abelha
humana e sempre atraiu a atenção do homem, especialmente pelas comercializados das mais distintas localidades de produção são
características adoçantes, e sua utilização vai além do uso como importantes para a formação de um banco de dados que possibilite
alimento, também como medicamento, devido às suas propriedades estabelecer padrões físico-químicos e microbiológicos que sirvam
antissépticas (1, 2). de referências para se inferir padrões de qualidade a tais produtos e
Conforme definição do Ministério da Agricultura e desse modo, subsidiar a melhoria de sua qualidade, proteger o
Abastecimento, através da instrução normativa n° 11, de 20 de consumidor contra produtos contaminados, adulterados e
outubro de 2000, entende-se por mel: é uma solução concentrada de impróprios para o consumo (5).
açúcares com predominância de glicose e frutose. Contém ainda
uma mistura complexa de outros hidratos de carbono, enzimas, Material e Métodos
aminoácidos, ácidos orgânicos, minerais, substâncias aromáticas, As amostras de meis foram coletadas em diferentes regiões,
pigmentos e grãos de pólen, podendo conter cera de abelhas sendo todas classificadas como poliflorais, designados pela flora
procedente do processo de extração. predominante, sendo assim nomeados: do município de Aratuba: T1
O mel de abelhas apresenta alto teor nutritivo, disponibilizando - mel de abelha Apis mellifera, florada predominante silvestre; T2 -
ao consumidor vitaminas, sais minerais, proteínas, enzimas, mel de abelha Apis mellifera, florada predominante vassourinha;
aminoácidos, podendo ser considerado como um alimento município de Capistrano: T3 - mel de abelha Apis mellifera florada
biologicamente rico e até funcional, além disso, ele tem uma ação predominante silvestre; e do município de Ocara: T4 e T5: mel de
terapêutica que faz parte da alimentação humana há centenas de abelha Apis mellifera, provenientes da florada silvestre e
anos, composto principalmente por açúcares do tipo glicose e vassourinha, respectivamente. Todos estes já são comercializados
frutose, representando uma solução supersaturada, sendo na região e atendem os parâmetros definidos pela portaria normativa
supervalorizado em todo o mundo em virtude dos seus benefícios do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
para a saúde humana. (3). que classifica o mel apto para consumo humano.
O território do Maciço de Baturité, ocupa uma área de 4.820 Foram coletadas 10 amostras contendo 100mL de mel,
Km2 e do ponto de vista do planejamento macrorregional abrange colocou-se as mesmas em embalagens individuais, acondicionadas
treze municípios: Acarape, Aracoiaba, Aratuba, Barreira, Baturité, em caixa térmica e encaminhadas para o Laboratório de
Capistrano, Itapiúna, Guaramiranga, Mulungu, Ocara, Pacoti, Bromatologia do IFCE campus Iguatu, Ceará. Todas as análises
Palmácia e Redenção. A região possui, ainda, vários distritos e vilas foram realizadas em triplicata. As análises de dados foram
originários da época de colonização da região e que guardam calculadas através de média e desvio padrão, e comparadas com a
referências de grande importância para as tradições e para o legislação brasileira vigente. Os ensaios realizados foram:
patrimônio histórico do Ceará. a) Umidade: determinada através de um refratômetro portátil
Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e (Hand Refractometer) de marca ATAGO N3-E (luz natural,
Estatística (IBGE) fornecidas no Caderno Regional Maciço de temperatura ambiente) com escala de 58 a 90 ºBrix;
Baturité (2019), a quantidade produzida de mel de abelha em 2017 b) pH: Pesou-se 2g de mel e dilui-se em 20mL de água
foi de 40.053kg, representando 2,25% sobre a produção de todo o destilada. Aferiu-se o pHmetro com solução tampão pH 4, 7 e 9, fez-
estado do Ceará, com valor de produção de 460 mil reais. se a leitura da amostra. O pHmetro utilizado foi de marca SMART
As características físicas e químicas do mel apresentam SENSOR, AS218. A análise foi feita em triplicata.
variações diversas principalmente nas regiões tropicais onde existe
uma flora apícola bastante diversificada além de taxas elevadas de Resultados e Discussão
umidade e temperatura. Em face disso, a caracterização de méis é Os resultados do teor de umidade (%) e pH do mel Apis
fundamental para o conhecimento de suas propriedades físicas e mellifera L estão representados na Tabela 1, com valores médios e
químicas levando-se em consideração os fatores edafoclimáticos e seus respectivos desvios padrões.
estabelecendo critérios comparativos de análise entre diversas
regiões (4). Tabela 1 – Percentual de umidade (%) e o Potencial
As características físico-químicas são utilizadas no sentido de Hidrogeniônico de méis poliflorais da abelha Apis mellifera L
fornecer informações que possam contribuir para o conhecimento produzidos nos municípios de Aratuba, Capistrano e Ocara,
do produto devido à preocupação dos consumidores em adquirir território do Maciço de Baturité, Ceará.
produtos de qualidade. Torna-se necessário que o mel se enquadre
nos requisitos exigidos pelo mercado e, para isso, deve-se obter um
amplo estudo da sua composição físico-química (5). Face a isso, a
avaliação físico-química é de grande importância para verificação
do atendimento aos padrões de qualidade exigidos pela legislação e,
consequente, garantia de segurança alimentar (6). Os resultados
obtidos na avaliação físico-quimica são comparados com os padrões
ditados por órgãos oficiais internacionais ou com os estabelecidos
pelo próprio país (7). Verificou-se que as amostras de mel analisadas obteveram 25%
A avaliação de parâmetros como teor de umidade (%) e pH, de umidade (Tabela 1), valor este que está acima dos limites
identifica a qualidade do mel e o torna um alimento mais seguro especificados pela legislação brasileira que estabelece que a
possibilitando maior e melhor comercialização. Assim, o objetivo umidade não deve exceder 20% (8). Marchini et al. (9), afirma que
desse trabalho foi avaliar o percentual de umidade (%) e o potencial a explicação para o elevado teor de água encontrada no experimento,
hidrogeniônico de méis poliflorais da abelha Apis mellifera L poderia ser a colheita do mel oriunda de favos não operculados ou
produzidos nos municípios de Aratuba, Capistrano e Ocara, territó- período de armazenamento, podendo assim, o mel ter absorvido

143
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

umidade do ambiente. -sileira vigente.


Na composição do mel a água constitui o segundo componente
em quantidade, geralmente variando de 15 a 21%, dependendo do Referências
clima, origem floral e colheita antes da completa desidratação. O 1 PIRES, R. M. C. Qualidade do mel de abelhas Apis mellifera
teor de água no mel é uma das características mais importantes, pois Linnaeus, 1758 produzido no Piauí. 2011. 90f. 2011. Tese de
influencia na sua viscosidade, peso específico, maturidade, Doutorado. Dissertação (Mestrado)-Centro de Ciências da Saúde
cristalização, sabor, conservação e palatabilidade (10). Amostras de Programa de Pós-Graduação em Alimentos em Nutrição,
méis do estado do Ceará pesquisados por Moreti et al. (11) Universidade Federal do Piauí, Teresina.
apresentaram o valor médio de umidade de 17,4% com um intervalo 2 BERA, A; ALMEIDA-MURADIAN, L. B. Propriedades físico-
de variação de 15,0 a 20,3. químicas de amostras comerciais de mel com própolis do estado de
Resultados semelhantes foram observados por outros São Paulo. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.27, n. 1, 2007.
autores,tais como, Marchini et al. (9), analisaram 121 amostras de
mel Apis mellifera L de diferentes municípios do Estado de São
3 JUST, S.; NESPOLO, C. O mel e suas propriedades. SB Rural,
Chapecó, ed. 47, p. 1, set. 2010.
Paulo, e encontraram 44 amostras de méis com umidade superior a 4 SODRÉ, G.S. Características Físico-Químicas, Microbiológicas e
20%, Alves et al. (12), observaram 20 amostras de mel da espécie Polínicas de Amostras de Méis de Apis mellifera L., 1758
M. mandacaia que apresentou uma média de (28,78%), Anacleto e (Hymenoptera: Apidae) dos Estados do Ceará e Piauí, 2005. 127f.
Marchine (13) analisaram 34 amostras de méis Apis mellifera L no Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de
município de Pirassununga, Estado de São Paulo que apresentaram Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. 2005.
umidade dentro do limite de 20%. 5 WANDERLEY, R. de O. S. Diagnóstico da qualidade físico –
A umidade é um dos principais parâmetros de análise da química e microbiólogica de mel de abelha (Apis mellifera)
qualidade de mel, não sendo tolerados valores maiores que 20% para produzidos no Sertão paraíbano. 2017. 59 f. Dissertação (Mestrado
o mel puro devido à facilidade de desenvolvimento de certos Profissional em Sistemas Agroindustriais) - Programa de Pós-
microrganismos responsáveis pela fermentação. A fermentação Graduação em Sistemas Agroindustriais, Centro de Ciências e
pode ocorrer facilmente em méis chamados "verdes", ou seja, Tecnologia Agroalimentar, Universidade Federal de Campina
colhidos de favos antes de terem seus alvéolos devidamente Grande, Pombal, Paraíba, Brasil, 2017.
operculados pelas abelhas. Nessa situação, o mel ainda apresenta 6 GOMES, E. C.; NEGRELLE, R. R. B.; ELPO, E. R. S.,
teor elevado de água, segundo Merabet (14). O mel, por ser Determinação da qualidade microbiológica e físico-química de chás
resultado de uma composição de açúcares (65 a 70%), apresenta alta de Cymbopogon citratus (D.C) Stapf (capimlimão). Acta Sci. Health
higroscopicidade, isto é, pode absorver água, como também Sci., v. 30, n. 1, p. 47-54, 2008.
eliminar água. Assim, o apicultor deve evitar sua colheita em dias 7 MARCHINI, L. C. Caracterização de amostras de méis de Apis
chuvosos ou com umidade elevada, além de apenas colher os mellifera L., 1758 (Hymenoptera: Apidae) do Estado de São Paulo,
quadros onde ele esteja operculado, sinal de sua maturação em baseada em aspectos físicoquímicos e biológicos. 2001. 111f. Tese
relação à quantidade de água presente (5). Quantidades elevadas de (Livre Docência) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de
água no mel favorecem a proliferação de leveduras, provocando, Queiroz”/USP, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001.
assim, sua fermentação e, consequentemente, inutilizando-o para o 8 BRASIL. Ministerio da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento.
consumo humano (14). De acordo com Chaves (15), um mel com Instrução normativa n° 11, de 20 de outubro de 2000. Disponível
umidade superior a 21% fermenta em 3 ou 4 meses. em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2012/08/IN-11-
Para Park e Antônio (16), o teor de umidade de um alimento de-2000.pdf. Acesso> em: 13 jan. 2020.
está relacionado com sua estabilidade, qualidade e composição, e 9 MARCHINI, L.C.; MORETI, A.C.C.C.; OTSUK, I.P. Análise de
pode afetar diretamente as características do produto como agrupamento, com base na composição físico-química, de amostras
estocagem, embalagem, processamento, sendo também o principal de méis produzidos por Apis melífera L. no estado de São Paulo.
fator para os processos microbiológicos, como o desenvolvimento Ciênc. e Tecnol. de Alimentos, 25, 1, 8-17, 2005.
de fungos, leveduras, bactérias. Assim, para manter um baixo teor 10 MENDES, C. de G.; SILVA, J. B; MESQUITA, L. X;
de umidade, devem-se adotar boas práticas de produção, do apiário MARACAJÁ, P. B. As análises de mel: revisão. Revista Caatinga
até o processamento (extração, decantação, homogeneização e (Mossoró, Brasil), v. 22, n. 2, p. 07-14, abril/junho de 2009.
envase) (5). 11 MORETI, A. C. C. C.; SODRÉ, G. S.; MARCHINI, L. C.;
O pH encontrado em todas as amostras variou entre foi 3,84 e OTSUK, I. P. Características físico-químicas de amostras de méis
4,13, não havendo diferença significativa entre as regiões de Apis mellifera L. do estado do Ceará, Brasil. Ciencia
produtoras. Valores estes indicam um mel em bom estado de Agrotécnica, v. 33, n. 1, p. 191-199, jan/fev, 2009.
conservação, classificados como naturalmente ácidos, pois o 12 ALVES, R.M.O. et al. Carac. físico-químicas de amostras de mel
potencial de hidrogênio do mel de abelhas pode indicar o estado de de Melipona mandacaia Smith (Hymenoptera: Apidae). Ciênc. e
conservação deste produto, que é naturalmente ácido, com valores Tecnol. de Alimentos. 25, 4, 644-650, 2005.
normais entre 3,3 a 4,6 (5). Quando esses valores estão alterados, 13 ANACLETO, D.A.; MARCHINI, L.C. Composição físico-
pode-se sugerir que o mel passou pelo processo de fermentação ou química de amostras de meis de Apis melífera L. provenientes do
que foi adulterado. E ainda que valores muito baixos de pH possam cerrado paulista. B. Indústr.anim. 61, 2, 161-172, 2004.
indicar adulteração por xarope de sacarose ou amido invertido por 14 MERABET, L. P. Determinação da atividade de água, teor de
hidrólise ácida, enquanto valores muito altos evidenciam caldas de umidade e parâmetros microbiológicos em compostos de mel.
sacarose sem adição de ácido. Portanto, para confirmação da Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 22,
adulteração, devem ser avaliados outros parâmetros (5, 17). Embora n.2, p. 213-232, 2011
a instrução normativa n° 11/2000 não estabeleça um padrão nem 15 CHAVES, M. de B. Método subjetivo de avaliação do teor de
obrigatoriedade de análise do potencial hidrogeniônico (pH) deste umidade do mel na colméia. (Comunicação pessoal). 2004.
produto, seu resultado torna-se pertinente por indicar possibilidade 16 PARK, K.J.; ALVES, G.C. 2006. Análises de materiais
de multiplicação microbiana em alimentos com pH baixo (1), assim biológicos. Campinas: Universidade Estadual de Campinas,
como pode influenciar na velocidade de outros componentes (17). Faculdade de Engenharia Agrícola, 2006. 21 f.
Autores como Welke et al. (18) e Barros et al. (19) 17 SILVA, C.L.; QUEIROZ, A.J.; FIGUEIREDO, R.M.F. Carac.
referenciaram a média de 3,3 a 4,4 em suas pesquisas. físico-química de méis produzidos no estado do Piauí para
O valor de pH vem ainda a ser importante por ter efeito protetor diferentes floradas. Rev. bras. de Eng. Agrícola e Ambiental. 8,
no mel contra microrganismos deteriorantes, além de influenciar na 260-265, 2004.
velocidade de formação de HMF (5). O limite estabelecido para 18 WELKE, J.E. et al. Carac. físico-química de méis de Apis
alimentos ácidos como o mel é um pH abaixo de 4,5. O mais mellifera L. da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
recomendável é um pH inferior a 4, variando de 3,3 a 4,6 (20). Ciênc. Rural. 38, 6, 1737-1741, 2008.
19 BARROS, L.B. et al. Carac. físico-química de mel produzido por
Conclusão Apis mellífera no estado do Rio de Janeiro. Rev. bras. de Ciênc.
Pode-se concluir que todas as amostras de mel de abelha Apis Veter. 17, 117-120, 2010.
melífera L produzidas nos municípios de Aratuba, Capistrano e 20 SCHLABITZ, C.; SILVA, S. A. F.; SOUZA, C. F. V. Avaliação
Ocara, território do Maciço de Baturité, mostraram-se teores de De Parâmetros FísicoQuímicos e Microbiológicos em Mel. Revista
umidade acima dos limites especificados pela legislação, e valores Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 4, n. 1, p. 80-90, 2010.
de pH conforme segundo os padrões estipulados pela legislação bra-

144
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPA DE TAMARINDO


(Tamarindus indica L.) IN NATURA E LIOFILIZADA

Camyla Alexandre1, Fernando Menezes2, Francisco Santos1, Kamila Santos3, Liana Velho4, Lucicleia
Vasconcelos5
1
Graduando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
2
Doutorando. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
3
Mestranda. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
4
Mestre. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
5
Professora Doutora. Curso de Engenharia de Alimentos, Depto de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará.
E-mail: cleiabarrosufc@gmail.com

Palavras-Chave: Liofilização, tamarindo, parâmetros físico-químicos.

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tamarindo (Tamarindus indica L.), pertencente à família As amostras de polpa de tamarindo nas formas in natura e
liofilizada diferiram estatisticamente em relação a todos os parâmetros
Fabaceae, é frequentemente encontrado em regiões de clima tropical e
subtropical no Brasil. Apesar de bem adaptado, ainda é pouco físico-químicos avaliados estando estes valores dispostos na Tabela 1.
explorado e boa parte de sua produção é destinada ao consumo interno
Tabela 1 - Parâmetros médios obtidos na caracterização físico-química
(1, 2). É um fruto disperso nas áreas tropicais e apreciado nas regiões
Norte e Nordeste do Brasil (3, 4), tendo facilidade para se adaptar a das polpas de tamarindo
regiões com o clima mais quente (5). É uma fruta rica em nutrientes e Análise Polpa in natura Polpa liofilizada
de alto valor energético. Contudo, os benefícios do seu consumo na Umidade 75,48±0,00a 4,53±0,07b
forma in natura são melhor assimilados, o que não acontece com Atividade de água 0,99±0,00a 0,25±0,04b
frequência, dado seu mais frequente consumo ocorrer em alimentos pH 2,92 ± 0,01a 2,62 ± 0,01b
processados (6, 7). Acidez 3,07 ± 0,04b 17,14 ± 0,12a
Uma das formas de conservar as propriedades naturais de um °Brix 14,33 ± 0,58b 73,33 ± 0,58a
alimento é a secagem, sendo a liofilização um desses processos. Ratio 4,67 ± 0,15a 4,28 ± 0,02b
Considerando o aspecto industrial, a desidratação de produtos é Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente
interessante por gerar economia energética (armazenagem sem a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
refrigeração), além de refinar e agregar valor comercial a um produto
comum (8, 9, 10). Na liofilização a água ou substância volátil é retirada A polpa de tamarindo na forma in natura apresentou 75,48%
na forma de vapor do produto congelado, passando da fase sólida de umidade, mas, após a liofilização, esse percentual passou a ser de
diretamente para a fase gasosa (11). Dentre as várias vantagens deste 4,53%. O processo, portanto, ocasionou uma redução de 94% da
processo estão o fato da estrutura do produto adquirir característica umidade em comparação à polpa in natura. Maia (15) e Leal (16), ao
esponjosa, permitindo a reconstituição rápida, e a conservação do sabor avaliarem polpa de tamarindo in natura, encontraram valores menores
e da aparência fiel do produto natural (12). e maiores do que os encontrados neste trabalho,71,14% e 89,81%,
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a polpa respectivamente. Já para a polpa liofilizada, Maia (15) reportou
de tamarindo na forma in natura e liofilizada, de modo a avaliar a umidade de 2,63%, inferior ao encontrado neste estudo.
influência do processo de liofilização nas propriedades físico-químicas Quanto à atividade de água, a polpa de tamarindo in natura
do produto. apresentou 0,99 sendo considerada um produto perecível (Aw > 0,85)
de acordo com a classificação dada por Azeredo (17). A amostra da
MATERIAL E MÉTODOS polpa liofilizada apresentou um valor de 0,25. Este parâmetro influencia
significativamente na conservação do produto, justificando assim a
A polpa de tamarindo foi adquirida no comércio local da aplicação do processo de liofilização para minimizar o crescimento
cidade de Fortaleza - Ceará e os experimentos foram realizados no microbiano e as alterações químicas e enzimáticas.
Laboratório de Frutos e Hortaliças do Departamento de Engenharia de Houve redução do pH após a liofilização da polpa, passando
Alimentos (DEAL) da Universidade Federal do Ceará. de 2,92 para 2,62, ou seja, a amostra liofilizada mostrou-se mais ácida,
O processo de liofilização foi realizado em liofilizador Martin um resultado importante, uma vez que alimentos ácidos apresentam
Christ, modelo Beta 1-8 LD Plus. Previamente, 30 g da polpa foram capacidade inibidora de crescimento de microrganismos (18).
colocados em placa de petri, congelados em ultrafreezer (-86°C) e em Com relação à acidez total titulável, a polpa de tamarindo in
seguidas colocados nas bandejas do liofilizador, permanecendo nelas
natura (3,07) apresentou valor abaixo dos reportados por Fonsêca (19)
até a completa secagem.
Para a caracterização da polpa de tamarindo nas formas in (3,76) para polpas de tamarindos congeladas e comercializadas no
natura e liofilizada, foram realizadas análises de umidade, atividade de Estado de Rio Grande do Norte. Para a polpa de tamarindo liofilizada,
água, pH, acidez total titulável, sólidos solúveis totais, ratio e análise foi obtido um maior valor de acidez (17,14). O processo de liofilização
colorimétrica. A umidade foi realizada em balança de umidade, modelo possibilita um aumento da concentração de ácidos na amostra, devido a
Marconi ID50. A atividade de água foi medida através de analisador retirada de água pelo processo.
higrômetro Aqua-Lab, modelo 4TE. O pH foi determinado utilizando A média de sólidos solúveis totais foi de 14,33 ºBrix para a
um potenciômetro, conforme método descrito por AOAC (13). A
polpa in natura e 73,33 ºBrix para polpa de tamarindo obtida pelo
acidez total titulável (ATT) foi obtida por titulação com solução de
NaOH 0,1 mol/L e expressa como percentagem de ácido tartárico. Os processo de liofilização. Sousa et al. (20) encontraram 13,5 ºBrix para
sólidos solúveis totais (SST) foram determinados por leitura em polpa de tamarindo integral. O teor de sólidos solúveis totais é um
refratômetro digital AR200, Reichert Ophthalmic Instruments, e os importante fator de qualidade quanto ao sabor dos produtos, sendo
resultados expressos em ºBrix, segundo metodologia do Instituto usado como medida indireta do teor de açúcares, pois à medida que os
Adolfo Lutz (14). O ratio foi obtido pela razão entre os valores de SST teores de açúcares vão se acumulando na fruta, os teores sólidos
e ATT. As leituras colorimétricas, L*, a* e b*, foram realizadas em solúveis totais aumentam (21). O valor de ratio também sofreu elevação
colorímetro Colorquest/XE Hunterlab, e os resultados expressos de
após a secagem da polpa, apresentando média de 4,28 ± 0,02.
acordo com as coordenadas CIELab.
Os dados foram analisados estatisticamente através de análise Conforme apresentado na Tabela 2, as amostras de polpa de
de variância (ANOVA) usando o programa Statistica, versão 10, e as tamarindo in natura e liofilizada apresentaram diferença significativa
médias comparadas por meio do teste de Tukey, a 5% de significância. para os parâmetros L*, a* e b*. A polpa liofilizada apresentou o valor

145
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

mais elevado para o parâmetro L*, indicando que não houve 11. BOSS, E. A. Modelagem e otimização do processo de liofilização:
escurecimento durante o processo de secagem (22). aplicação para leite desnatado e café solúvel. 2004.107f. Tese
(Doutorado em Engenharia Química) - Faculdade de Engenharia
Tabela 2 - Parâmetros médios de cor obtidos na caracterização físico- Química, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
química das polpas de tamarindo
Análise Parâmetro Polpa in natura Polpa liofilizada 12. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. 2ed. São Paulo:
L* 38,49 ± 0,89b 52,81 ± 1,03a Atheneu, 2005. 652p.
Cor a* 11,67 ± 0,28 a
11,57 ± 0,17a
b* 23,28 ± 0,90b 27,97 ± 0,26a 13. AOAC. Association of Offcial Analytical Chemists. Offcial
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente methods of analysis of the Association of the Analytical Chemists. 16
a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. ed. Washington, 1995.

Tanto a amostra in natura como a liofilizada, apresentaram 14. BRASIL. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos
coloração vermelha, uma vez que apresentaram valores de a* positivos. químicos e físicos para análise de alimentos. 4. ed. São Paulo: Instituto
As duas amostras apresentaram valores significativamente diferentes Adolfo Lutz, 2005. 1018 p.
em relação ao parâmetro b*, onde ambas apresentaram valores
positivos indicando coloração mais voltada para a cor amarela. 15. MAIA, M. O. Tamarindo (Tamarindus indica L.) desidratado:
Maia (15), também estudou polpa de tamarindo liofilizada e efeito de redução da acidez e do teor de sólidos da polpa no processo
constatou para L*, a* e b* os valores de 61,28, 7,63 e 29,48, de liofilização, na composição de metabólitos e estabilidade na
respectivamente, resultados próximos aos obtidos neste trabalho. estocagem. 2019. 110f. Tese (Doutorado) - Programa de pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
CONCLUSÕES Fortaleza, 2019.

A secagem por liofilização modifica as características físico 16. LEAL, K. L. Avaliação comparativa de componentes nutricionais
químicas da polpa de tamarindo e pode aumentar a estabilidade do entre polpas in natura e industrializadas de tamarindo (Tamarindus
produto garantindo assim sua disponibilidade fora do período de safra indica L.), procedentes de feiras e supermercados de São Luís – MA.
do fruto. São Luís, 2016. 52 f. (Monografia) - Graduação em Química Industrial.
Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2016.
REFERÊNCIAS
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Nutrire, v. 36, n. Suplemento, p. 69-69, 2011. 18. ORDÓÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos. Artmed, 2005.

2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – 19. FONSÊCA, P. A. Q. Análise físico-química de polpas de frutas e
MAPA. Cadeia produtiva de frutas. Agronegócios, v.7, f.102, 2007. avaliação dos seus padrões de identidade e qualidade. 2012. 60f.
Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio
3. MESQUISTA, R. V. S. C.; NETO, A. F.; TEIXEIRA, F.; SILVA, V. Grande do Norte, Natal. 2012.
O. Elaboração, análise físico-química de aceitação de iogurte com
adição de tamarindo "doce" (Tamarindus indica L.). Revista Brasileira 20. SOUSA, Sonara de França et al. Liofilização da polpa de tamarindo
de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v. 14, n. 4, p.381- 387, (Tamarindus indica L.) para obtenção de sucos reconstituídos. 2018.
2012. 169f. Tese (Doutorado em Engenharia de Processos) - Universidade
Federal de Campina Grande, Paraíba, 2018.
4. VASCONCELLOS, B. M.; MENEZES, H. C. Caracterização do
tamarindo (Tamarindus indica L.) e estudo da extração e estabilidade 21. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós–colheita de frutas e
da polpa. In: XI Congresso Interno de Iniciação Científica, hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785 p.
Universidade Estadual de Campinas, Paraná, 2003.
22. CAVALCANTE, C. E. B.; RODRIGUES, S.; AFONSO, M. R. A.;
5. SUDJAROEN, Y. et al. Isolation and structure elucidation of COSTA, J. M. C. Comportamento higroscópico da polpa de graviola
phenolic antioxidants from Tamarind (Tamarindus indica L.) seeds and em pó obtida por secagem em spray drier. Brazilian Journal of Food
pericarp. Food and Chemical Toxicology, v. 43, n. 11, p. 1673-1682, Technology, v. 21, p. 1-8, 2018.
2005.

6. LIM, Chor Yin et al. In vivo biochemical and gene expression


analyses of the antioxidant activities and hypocholesterolaemic
properties of Tamarindus indica fruit pulp extract. Plos one, California,
v. 8, n. 7, p. e70058, 2013.

7. FAVET, R.; FRIKART, M.-J.; POTIN, J. La valorisation du tamarin.


Richesses et potentialités des agroressources dans les PED UE 9 –
IAAS 3. Montpellier SupAgro - Institut des Régions Chaudes,
Montpellier, 28 p., 2011.

8. PARK, K. J.; ANTONIO, G.C.; OLIVEIRA, R. A.; PARK, K. J. B.


Conceitos de processos e equipamentos de secagem. Campinas, São
Paulo. UNICAMP, 2007.

9. ROMERO, J. T.; GABAS, A. L.; YAMASHITA, F.; TELIS, V. R.


N.; MENEGALLI, F. C. Secagem de produtos alimentícios. São José
do Rio Preto, São Paulo: UNESP, 1997.

10. GAVA, A. J. Tecnologia em Alimentos: princípios e aplicações.


São Paulo: Nobel, 2009.

146
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tapiocas coloridas com açafrão (Curcuma longa L.): com releitura em formatos de tabletes
Nilka Oliveira1, Márcia Medeiros2, Dorasílvia Pontes3, Yago Oliveira4, Márcia Pinheiro5, Maria da Silva6

1 Doutora em Bioquímica – Universidade Federal do Ceará – UFC – nilka@ufc.br


2 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE/ Campus Baturité -
mmlealmed@gmail.com
3 Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
4 Gastrônomo – Faculdade Metropolitana de Fortaleza - UNIFAMETRO
5, 6 Graduandas de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal do Ceará - UFC

Palavras chave: Fécula de mandioca; Especiaria; Polvilho.

Introdução antiaderente, moldados (cortador de aço liso, 4 x 4 cm) e, aquecidos


em fogo brando (≈70 °C/2 minutos). Depois de prontos, foram
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é importante na mesa e na resfriados à temperatura ambiente, embalados em filme plástico
indústria alimentícia brasileira, devido às características particulares (polietileno) e armazenados (25 °C) para análises posteriores.
do seu amido (ou fécula), e também pelas preferências nutricionais
modernas, relacionadas à restrição alimentar como o não consumo de Tabela 1 - Formulações das massas dos tabletes de tapioca
glúten pela população celíaca. Ingredientes F. P (%) F1 (%) F2 (%) F3 (%)
A tapioca é um tipo de crepe seco (com recheio salgado ou doce) Fécula 100,0 100,0 100,0 100,0
elaborado a partir da fécula hidratada de mandioca, a qual é extraída Açafrão 0 2,0 3,0 6,0
da raiz da mandioca (1). Essa fécula é constituída de amido, com Sal 1,3 1,3 1,3 1,3
18% de amilose e 82% de amilopectina, em média (2,3,4). Conhecida Fonte: elaborada pelos autores
como goma, amido ou polvilho doce, apresenta-se como pó fino,
branco, inodoro e insípido, com mais de 800 usos. É usada também Resultados e Discussão
na indústria, petrolífera, de embalagens biodegradáveis,
farmacêuticas, de papel, química e alimentícia (5, 6). Na tabela 2 estão apresentados os dados das análises de umidade,
Os principais compradores da fécula brasileira são os Estados Unidos cinzas e cor de quatro marcas comerciais distintas de féculas de
(US$ 105.870), Bolívia (US$ 62.428), Espanha (US$ 48.954), mandioca frescas (Fec1, Fec2, Fec3 e Fce4).
Portugal (US$ 46.718) e Itália (US$ 13.257). Juntos, foram
responsáveis por 98,70% das importações do mês de abril/2019 (7). Tabela 2 – Caracterização das féculas de mandioca de marcas
As especiarias agregam valor à tapioca, conferindo sabor, aroma e comercializadas em Fortaleza-CE
cor. Seu sabor, provavelmente deve-se aos compostos bioativos Análises Fec1 Fec2 Fec3 Fec4
primários (carboidratos, lipídeos e proteínas) e secundários a a a a
Umidade (%) 43,55 ±0,25 41,76 ±0,05 46,36 ±5,48 41,43 ±0,56
(alcaloides, terpenos, saponinas, polifenóis, taninos e óleos
a a a a
essenciais) (8,9). O açafrão (Curcuma longa L.) é usado nas Cinzas (%) 0,031 ±0,02 0,03 ±0,03 0,031 ±0,02 0,028 ±0,30
Indústrias, de alimentos, farmacêutica, de inseticidas (10). Conhecido L* c
93,88 ±0,20
a
95,97 ±0,11
c
93,48 ±0,08 95,12b±0,34
como curcuma, açafroeira, açafrão-da-terra, gengibre dourado ou a a b b
Cor

a* -0,46 ±0,05 -0,41 ±0,05 -0,71 ±0,04 -0,63 ±0,03


mangarataia, sua parte mais utilizada é o rizoma seco de cor
c b a d
vermelha a laranja (11). A variedade vermelha é a mais estudada b* 2,33 ±0,25 2,99 ±0,07 5,62 ±0,08 1,83 ±0,18
(12). O açafrão possui os pigmentos curcumina, desmetoxicurcumina Fonte: elaborada pelos autores
e bisdesmetoxicurcumina (13), óleos essenciais ricos em α- Fec1; Fec2; Fec3 e Fec4 – marcas de fécula diferentes. Letras distintas na mesma linha
apresentaram diferenças significativas ao nível de 5% de significância (p < 0,05).
felandreno, ρ-cinemo, terpinoleno, entre outros (14), com
propriedades anti-inflamatórias, imunoestimulante, antioxidante, A legislação brasileira delimita a umidade máxima de 15% para
anticarcinogênicas e antimicrobianas (15,16, 17, 18). farinhas, e de 18% para amido ou fécula de mandioca (23).
Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo elaborar Entretanto, as féculas utilizadas no estudo eram hidratadas. A fécula
tapiocas coloridas com açafrão (Curcuma longa) em formato de escolhida para elaboração das tapiocas com açafrão foi a Fec3, pois
minitabletes. A releitura do formato em tabletes está relacionada ao apresentou maior umidade, levando em conta a adição de açafrão
consumo em pequenas quantidades, visando o seu uso em dietas desidratado.
restritivas ao glúten e à redução de carboidratos. Os resultados de umidade apresentados são característicos de gomas
hidratadas, e as amostras não diferiram significativamente entre si,
MATERIAL E MÉTODOS estando abaixo do encontrado por Luna (24) et al (2013) de
54,7±4,13 e próximo ao encontrado por Lemos (25) de 42,59%, que
Os ingredientes açafrão desidratado (pó) e quatro marcas comerciais
também encontrou cinzas de 0,030%, teor próximo aos das quatro
distintas de féculas (F1, F2, F3 E F4) foram obtidos no comercio
marcas de féculas desse estudo, as quais não diferiram
local de Fortaleza/CE – Brasil.
estatisticamente (p< 0,05) entre si. Enquanto que, teores de cinzas
Análises de umidade, cinzas, cor e volume específico encontrados em fécula de mandioca na literatura (26, 27, 28) são 0,2
g (100 g)-1, 0,07 g (100 g)-1 e 0,11 g (100 g)-1, respectivamente, são
Determinou-se a umidade segundo protocolo no. 934.06 AOAC (19, menores aos encontrados neste estudo.
20) e cinzas pela metodologia no. 923.03 AOAC (20). A cor A cor é uma questão de percepção e subjetividade da interpretação e
instrumental foi obtida pela leitura direta em colorímetro digital da influencia na escolha do alimento. Em relação aos parâmetros L* da
marca Konica-Minolta, modelo CR 410, conforme método no. 14-22 cor das féculas, Fec1 não diferiu de Fec3, mas diferiu de Fec2 e Fec4
AACC (21) - sistema de cor CIELAB. As análises foram realizadas que diferiram entre si. Quanto ao parâmetro b*, todas as amostras
em triplicada. O volume específico (VE=cm3/g) dos tabletes de diferiram entre si. Quanto à cromacidade a*, não houve diferença
tapioca com açafrão foi determinado por deslocamento de sementes significativa entre as féculas Fec1 e Fec2 e, entre Fec3 e Fec4, mas
de painço, conforme método no. 10-11 AACC (21). Os resultados houve entre esses dois grupos. As féculas Fec1 e Fec3 são mais
foram avaliados estatisticamente pela análise de variância (ANOVA) claras e menos amarelas do que Fec2 e Fec4. Quanto mais clara a cor
e as médias pelo teste de Tukey, através do software Statistical com do amido de mandioca, melhor é a sua qualidade, porque a cor indica
nível de significância de 5% (P<0,05). se a mandioca está velha ou nova, e se estava mais ou menos limpa
(29).
Elaboração dos tabletes de tapioca Os tabletes de tapioca prontos apresentaram cor amarela (Figura1)
Os tabletes de tapiocas foram elaborados com açafrão em três devido ao açafrão. Os tabletes com teores de 3 e 6% de açafrão
percentuais (Tabela 1), observando as Boas Práticas de Fabricação apresentaram sabor residual acentuado, ao contrário daqueles com
(22). Os ingredientes foram pesados e colocados em uma tigela e, 2%, com sabor agradável. Na tabela 3 encontram-se as resultados do
misturados formando a massa. Depois foram dispostos em frigideiras volume especifico e cor dos tabletes das tapiocas com açafrão.

147
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

140f. Doutorado (RENORBIO) – Universidade federal do Ceará,


Figura 1 - Tabletes de tapioca com açafrão Fortaleza, 2018.
10 FREIRE-GONZÁLEZ, R. A.; VISTEL-VIGO, M.
Caracterización fitoquímica de laCurcuma longa L. Revista Cubana
de Química, 27, 1, 9-18, 2015.
11 FREIRE-GONZÁLEZ, R. A.; VISTEL-VIGO, M.
Caracterización fitoquímica de la Curcuma longa L. Revista Cubana
de Química, 27, 1, 9-18, 2015.
12 MATOS, T. A. M. Estudo fitoquímico e avaliação farmacológica
de Curcuma longa (Zingiberaceae). 2015. 80 f. Dissertação
(Mestrado em Química) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2015.
13 SUETH-SANTIAGO, V.; MENDES-SILVA, G.P.; DECOTÉ-
Fonte: elaborada pelos autores RICARDO, D.; LIMA, M.E.F. Curcumina, o pó dourado do açafrão-
da-terra: introspecções sobre química e atividades biológicas.
Tabela 3 – Caracterização de tapioca adicionada de açafrão em pó Química Nova, 38, 4, 538-552, 2015.
14 CHATTOPADHYAY, I.; BISWAS, K.; BANDYOPADHYAY,
Parâmetros F1 F2 F3 F.P. U.; BANERJEE, R. K. Tumeric and curcumin: Biological actions
Cor L* b
77,08 ±1,73
b
75,30 ±1,40
b
75,58 ±1,55
a
87,01 ±1,11
and medicinal applications. Current Science, 87, 1, 44-53, 2004.
a* bc
-0,96 ±0,33
a
0,09 ±1,24
ab
-0,17 ±0,82
c
-1,16 ±0,20
15 NONOSE, N.; PEREIRA, J.A.; MACHADO, P.R.M.;
b* a
26,07 ±2,12
b
27,45 ±4,12
b
29,30 ±2,21
a
4,14 ±0,13 RODRIGUES, P.R.; SATO, D.T.; MARTINEZ, C.A.R. Oral
VE* a
1,44 ±0,04
a
1,27 ±0,19
a
1,35 ± 0,07
a
1,39 ±0,02
administration of curcumin (Curcuma longa) can attenuate the
(cm3.g-1) neutrophil inflammatory response in zymosan-induced arthritis in
Peso b
13,84 ±0,11
b
13,91 ±0,17
a
14,88 ±0,60
b
13,80 ±0,30 rats. Acta Cirurgica Brasileira, 29, 11, 727-734. 2014.
*V.E. - volume específico dos tabletes de tapioca. Letras distintas em uma mesma linha 16 RAMADAN, G.; AL-KAHTANI, M. A.; EL-SAYED, W. M.
apresentaram diferenças significativas ao nível de 5% de significância (p < 0,05). F1= 2% de Anti-inflammatory and antioxidant properties of Curcuma longa
açafrão; F2 = 3% de açafrão; F3 = 6% de açafrão; FP = formulação padrão, sem adição de
açafrão.Fonte: elaborada pelos autores. (Turmeric) versus zingiber officinale (Ginger) rhizomes in rat
adjuvant-induced arthritis. Inflammation, 34, 4, 2011.
Quanto à luminosidade (L*) as amostras F1, F2 e F3 (são menos 17 GAIKWAD, A.; BODHANKAR, M.; ITTADWAR, A.;
claras) não diferiram entre si, mas diferiram do padrão, em função da WAIKAR, S. Antibacterial activity of isoflavone extracted from
adição do açafrão. Quanto à cromacidade a*, F1, F3 e FP tendem Curcuma longa linn. Zingeberaceae. The Journal of Microbiology,
para o verde mais claro, enquanto F2 tende para o vermelho mais Biotechnology and Food Sciences, 1, 1, 06-09, 2014.
escuro. Em relação à b*, não há diferença estatística entre F2 e F3, 18 LIU, M.; JOHNSTON, M. B.; SNAITH, H. J. Efficient planar
nem entre F1 e FP, sugerindo cor amarela para todas as formulações. heterojunction perovskite solar cells by vapour deposition. Nature,
Em relação ao volume especifico dos tabletes de tapioca, não houve 501, 395–398, 2013.
diferença estatística entre as formulações. Quanto ao peso, apenas F3 19 INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do i
diferiu estatisticamente (p<0,05) das demais formulações. Estes Instituto Adolfo Lutz. v. 1: métodos químicos e físicos para análise
resultados estão de acordo com Lemos (25). Ele usou açafrão? de alimentos, 5. ed. São Paulo: imesp, 2008.
20 AOAC, G. W. Official methods of analysis of AOAC
Conclusões International. 20th ed., Rockville, MD: AOAC International, 2016.
A fécula utilizada na elaboração dos tabletes foi à marca F1devido 21 AMERICAN ASSOCIATION OF CEREAL CHEMISTS -
sua maior umidade. A formulação com 2% de açafrão foi a que AACC. Approved Methods of Analysis. 11th ed. St. Paul: AACC
apresentou melhor sabor e cor. Os tabletes de tapioca apresentaram International, 2010.
formato atrativo, sendo uma ótima opção à venda e consumo em 22 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
dietas restritivas de carboidratos e a glúten. Sanitária. Resolução n° 216, de 15 de Setembro de 2004.
Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de
Referências Alimentação. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 16 de set. 2004.
1 Tapioca. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2020. 23 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/tapioca>. Acesso Instrução Normativa n° 23, de 14 de dezembro de 2005.
em: 05 fev. 2020. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade dos Produtos
2 LEONEL, M.; JACKEY, S.; CEREDA, M.P. Processamento Amiláceos derivados da raiz da mandioca. Diário Oficial [da]
industrial de fécula de mandioca e batata doce - um estudo de caso. República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2005. Seção 1
Ciênc. Tecnol. Aliment., 18, 3, 343-345, 1998. 24 LUNA, A.T; RODRIGUES, F.F.G.; COSTA, J.G.M; PEREIRA,
3 SILVA, P.A.; CUNHA, R.L.; LOPES, A.S.; PENA, R.S. A.O.B. Estudo físico-químico, bromatológico e microbiológico de
Caracterização de farinhas de tapioca produzidas no estado do Pará. Manihot esculenta Crantz (mandioca) physical-chemical study,
Ciência Rural, 43, 1, 185-191, 2013. microbial and bromatological of manihot esculenta crantz
4 CEREDA, M. P. Propriedades gerais do amido. São Paulo: (mandioca). Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano
Fundação Cargill. (Série: Culturas de tuberosas amiláceas Latino- 1, 1, 3, 2013.
americanas, v. 1) 2001. 25 LEMOS, F.B.C.de. Produção e avaliação de parâmetros físico-
5 ALMEIDA, C.O. de; CARDOSO, C.E.L.; SOUZA, L.D.; PORTO, químicos de fécula de mandioca colorida. 2016. 65f. TCC
M.C.M. Estudo prospectivo produção de mandioca no Brasil: o (Bacharelado em Nutrição) – Universidade Federal de Pernambuco,
desafio do incremento de produtividade com preservação de solos. Vitória de Santo Antão, 2016.
Cruz das Almas, BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2018. 26 CAMARGO, K.F.; LEONEL, M.; MISCHAN M.M. Produção de
6 GARRIDO, T. Implantação de controles estatísticos no processo de biscoitos extrusados de polvilho azedo com fibras: efeito de
produção de fécula de mandioca. 2017. 85f. TCC (Engenharia de parâmetros operacionais sobre as propriedades físicas. Ciência e
Produção) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Paraná, Tecnologia de Alimentos, Campinas, 28, 3, 586-591, 2008.
2017. 27 TROMBINI, F.R.M. Caracterização de produtos extrusados de
7 COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. misturas de farinha de soja, fécula e farelo de mandioca. 2010. 100 f.
Mandioca. 2019. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info- Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências
agro. Acesso em: 05 fev. 2019. Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2010.
8 CHAGAS, A.C.S. Controle de parasitas utilizando extratos 28 VIEIRA, J.C.; MONTENEGRO, F.M.; LOPEZ, A.S.; PENA, R.
vegetais. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 13, 156- S. Influência da adição de fécula de mandioca nas características do
160, 2004. pão tipo chá. Boletim Ceppa, Curitiba, 28, 1, 37-48, 2010.
9 NORMAN, J. Ervas e especiarias. São Paulo: PubliFolha, 2012. 29 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA –
336 p. EMBRAPA. Processamento da mandioca I. Embrapa Mandioca e
10 BARBOSA, C. de O. Caracterização química e atividades Fruticultura. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica. 2003.
biológicas dos óleos essenciais e extratos alcoólicos das espécies (Série agronegócios).
Ocimum spp. (Manjericão) e Curcuma longa (açafrão da terra). 2018.

148
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

“Vinho Tinto: Maturação, Sabor, Conservação e Tradição ao Bolo de Noiva Pernambucano”.


1 2 3 4 5 6
Maria Alencar , Cristianne Barros , Artur Bibiano , Claúdio Queiroz , Frederico Barros , Ana Claúdia Lima

1.Pós Graduanda em cozinha Internacional pela Faculdade SENAC


2.Mestranda em Educação, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC
3.Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC
4.Graduado em Gastronomia pela Faculdade SENAC
5.Graduado em Gastronomia pela Faculdade SENAC, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC
6.Graduada em Gastronomia pela Faculdade
SENAC E-mail: mariaaalencar@fac.pe.senac.br

Palavras-Chave: Fermentação, Bolo de casamento, frutas secas


INTRODUÇÃO

Todas as cepas têm um tronco em comum: vitis vinífera onde seus nas festas de casamento não minimizam o destaque do bolo que
genes sofrem mutações produzindo uma gama de variedades de uva diferentemente dos outros estados, Pernambuco apresenta uma
[1]. O vinho é oriundo do mosto da uva apresenta sabor, acidez, valor receita de origem inglesa, de massa em cor escura, feito com base de
alcóolico, taninos e açúcares existentes. A fermentação é uma etapa vinho, frutas secas e coberto com uma pasta de amêndoas e glacê
importantíssima na elaboração de um vinho, ocorre em duas fases branco, enriquecido com decorações de flores. Tendências da
distintas: a alcóolica e a maloláctica estas, capazes de gerar um vinho herança dos casamentos da realeza inglesa o bolo de noiva
de boa qualidade ao paladar [2]. Os vinhos tintos e fortalecidos como pernambucano reveste o Estado em tradição e cultura.” [11] Desta
o vinho do Porto em seu processo fermentativo inicial são acrescidos forma ao perceber a tradição do bolo de noiva para a gastronomia
o álcool vínico ou conhaque, que retarda a fermentação deixando o local e seu potencial cultural, torna-se relevante buscar estudos
vinho com alto teor alcóolico, denso e extremamente doce [3]. No através de pesquisas para embasar a função do vinho a esta iguaria na
entanto os vinhos tintos que atingem a fermentação final, seu açúcar percepção do sabor e conservação. Diante deste cenário o objetivo do
se transforma em álcool, originando o vinho tinto seco [4]. Na estudo é compreender a função do vinho tinto na maturação das
gastronomia uma refeição guarnecida de um bom vinho, tem a ação frutas, na potencialização do sabor e conservação do bolo de noiva
de contribui para uma boa digestão. Fonte de oligoelementos e pernambucano, símbolo da gastronomia no Estado de Pernambuco.
vitaminas, tem o poder de reduzir o colesterol. Apresenta em sua
composição flavonoides e polifenóis que inibem a oxidação do MATERIAL E MÉTODOS
colesterol LDL [5]. O cultivo da cana sacarina fez surgir no Estado
de Pernambuco uma diversidade cultural, ligada há costumes e O estudo foi desenvolvido através de uma abordagem com caráter
tradições, enraizados pela herança de diversos povos entre eles, os descritivo, realizado através de pesquisas de cunho bibliográfico, em
indígenas, africanos e europeus, deixando marcas profundas ligadas livros, artigos publicados, dissertações e teses, obtendo assim
não apenas nas manifestações folclóricas e populares, como também embasamentos que nortearam o desenvolvimento da pesquisa. A
na riqueza da culinária local. [6] A tradição familiar remonta busca ocorreu no período de janeiro a setembro de 2020, em onze
memórias culinárias ligadas a lembranças que nos remetem as mais obras bibliográficas no idioma português, publicadas nos anos de
doces épocas de nossas vidas, nas cozinhas de nossas queridas avós, 2001 a 2020 disponíveis gratuitamente em plataformas digitais,
mães, madrinhas e tias, através das ricas receitas presente nos assim como em livros do acervo pessoal dos autores.
chamados cadernos de família, passando de geração em geração,
favorecendo o desenvolvimento de especialidades na confeitaria, RESULTADOS E DISCUSSÃO
entre eles o chamado bolo. [7]
Para o povo pernambucano, o bolo simboliza estado de alegria, Observa-se, a partir da busca bibliográfica, que o bolo de noiva
presente nas mesas e nas datas comemorativas, torna-se símbolo pernambucano trata-se de um tipo de bolo consumido em
gastronômico e cultural na tradição e perpetuação da arte de produzir festividades, confeccionado através de uma massa batida de estrutura
um bolo. [8] cremosa, acrescida de frutas secas tais como ameixas, uvas passas e
Em Pernambuco o vinho tinto é um dos ingredientes do bolo de frutas cristalizadas maturadas no vinho por dias, semanas ou meses.
noiva, junto às frutas secas, tradição nas famílias e símbolo da Após esta maturação, algumas frutas são inseridas inteiras ou
cultura gastronômica do Estado. “Se o bolo for de frutas secas processadas junto ao vinho e acrescidas à massa. Com técnicas
mergulhada no vinho do porto ou moscatel, com a estimada receita especiais que vão desde sua produção até seu processo final de
de bolo de noiva, uma releitura do bolo de frutas inglês, um bolo do cocção, se torna diferente dos demais bolos de casamento do país,
tipo bolo-presente para festas e celebração, Mostra-se o ritual do com sabor acentuado de vinho e frutas, permite uma maior
casamento, porque casamento sem bolo de noiva não é casamento” conservação em relação aos demais. Neste processo, quanto maior
[9]. maturação das frutas ao vinho, mais distinto e potente será o sabor do
O bolo tem um significado tão grande para a sociedade bolo e sua durabilidade.
pernambucana, alguns deles são considerados patrimônio cultural e Os achados descrevem que, no período colonial, o bolo de noiva
imaterial do Estado, tais como o bolo Souza Leão e o bolo de rolo, pernambucano sofreu uma releitura a partir do bolo inglês, com a
como afirma Lody (2019), “Há uma verdadeira civilização do bolo substituição do conhaque pelo vinho do porto, adicionado pelas
em Pernambuco e isto é provação nas nossas muitas e diversas senhoras portuguesas. Esta adequação tornou o vinho tinto como um
cozinhas tradicionais, nas padarias, nas vendas ambulantes, nas dos ingredientes essenciais do bolo, deixando ao mesmo um sabor
confeitarias, nas casas das boleiras, nas vendas ambulantes, nas pronunciado e garantindo a conservação do bolo por anos.
feiras, nos mercados, nos restaurantes, entre outros. Nessas cozinhas, As bibliografias estudadas também apontam uma diversidade das
vê-se uma quantidade de tipos, nomes receitas e representações dos receitas na atualidade. O vinho mais utilizado hoje para esta iguaria é
bolos no amplo imaginário da nossa doçaria”. o vinho tinto tipo moscatel, com o intuito de baratear o custo do
Nos casamentos da realeza inglesa esta iguaria é feita com frutas e mesmo, e tornar acessível seu consumo em todas as classes sociais.
conhaque, onde o primeiro bolo é reservado para consumo no O vinho tipo moscatel também proporciona a manutenção da tradição
batizado do primeiro filho e símbolo da maturidade do casal, esta nas famílias pernambucanas em congelar o bolo após o casamento,
tradição se deve ao fato de que, quanto mais antigo o bolo, maior onde o primeiro andar do bolo é sempre reservado para consumo do
será seu sabor [10]. Para Frazão(2011), a formação cultural e primeiro aniversário do matrimônio. Algumas bibliografias
histórica de Pernambuco deixa tradições enraizadas nas famílias comprovam que as noivas, atualmente, mantêm o bolo congelado por
ligadas a lembranças e sentimentos que marcam suas gerações com anos.
ricas experiências e valores trazidos nos chamados cadernos de Esta conservação se deve ao alto teor alcóolico e açúcares contidos
família. [7]. “As atuais mesas diversificadas de gêneros alimentícios no vinho, recebido também através dos açúcares presentes nas frutas,

149
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

esta ação ocorre devido ao teor de taninos, e ácidos nele contido,


junto aos compostos fenólicos, agindo junto com o álcool e outras
substâncias antioxidantes.
No entanto, os autores percebem que o vinho tinto tipo moscatel,
utilizado hoje em grande escala para a elaboração do bolo de noiva,
por conter um baixo teor alcóolico que varia em torno de 9% a 15%,
permite uma pequena durabilidade e sabor levemente atenuado,
enquanto que, o vinho do porto apresenta um teor alcóolico igual ou
acima de 20%, e por se tratar de ser um vinho mais doce do que os
demais, permite maior conservação, um sabor pronunciado se
comparado aos demais vinhos tintos.
A sequência de fotos a seguir ( figuras 01 a 04), mostram algumas
etapas do processo de preparação do bolo, iniciando pelas frutas
secas e terminando com o bolo pronto, antes de ser aplicado o glacê
mármore.

Figura 03: massa batida do bolo, pronta para receber as frutas que
passaram pelo processo de maturação

Figura 01: mise en place das frutas secas antes da adição do vinho Figura 04: foto do bolo pronto para ser aplicado o glacê mármore

CONCLUSÕES

Os estudos permitiram concluir que o vinho tinto tipo moscatel


(nacional) ou vinho tinto do Porto (Portugal) tem função primordial
na elaboração do bolo de noiva Pernambucano, agregando sabor ao
mesmo e permitindo uma maior ou menor durabilidade de
conservação, dependendo do seu teor alcóolico e dos açúcares
presentes no vinho.

REFERÊNCIAS

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2. RAY, J. O Vinho Tinto, Editora Folio, 2001, 61p.
3. MAGALHÃES, C., MANSO, A., Vinhos 2, Editora Moderna,
2007, 58p.
4.CROFT, N. Degustação de Vinhos, Editora Folio, 2002, 61p.
5. Bolo Simples com Vinho Tinto
/http://www.leea.ufv.br/docs/11%20BOLO%20SIMPLES%20COM
Figura 02: frutas secas de molho no vinho do Porto na etapa de %20VINHO%20TINTO.pdf
maturação que pode durar dois meses, antes delas serem adicionadas 6. PERRELLA, SABATINO ÂNGELO, PERRELLA MYRIAM
à massa do bolo CASTANHEIRA, Receitas Históricas da Confeitaria Mundial,
editora Senac São Paulo, 2016, p.70, 76
7.FRAZÃO, ANA CLAÚDIA, Comedoria popular, Receitas,
Engenhos, Fazendas de Pernambuco, 2011, p. 15,17.18.
8. BOCCATO, ANDRÉ, Bolo de Avó, EDITORA Senac, 2013 p. 4
9.LODY, R. Doce Pernambuco, Editora- Cepe-2019, 246p.
10.MACÊDO, M. Bolo de Casamento: A permanência Simbólica e a
multabilidade formal do bolo de casamento- 2018.
https://run.unl.pt/handle/10362/60967>Acesso em: 26 fev.2020.
, 2011, p. 17.
11. BARROS, C.; COSTA, S., COUTINHO, D. Desenvolvimento da
cultura gastronômica: o bolo de noiva pernambucano. Brazilian
Journal Of Development, [s.l.], v. 6, n. 1, p.71-90, 2020

150
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração, Processo de Produção de Bebida Tipo Kombucha Sabor Maracujá e


Análise Sensorial de Aceitação

Cássia Amaral1, Jarbas Silva1, Francisco Neto1, Lucas Rodrigues1, Fernando De Marchi1, Paulo Sousa2
1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. cassiamaral@alu.ufc.br
2
Docente do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará

PALAVRAS CHAVE: Gastronomia; Fermentação; Artesanal

INTRODUÇÃO

No mundo atual, a adoção de uma alimentação saudável tornou-se O preparo foi coado com um pano tipo perfex limpo, e adicionado
uma tendência entre a população, a qual, consequentemente, resultou 57g de açúcar demerara (marca Olho D’Água) no Laboratório de
na busca e desenvolvimento de produtos que atendam a essa demanda Processamento de Frutos, Departamento de Engenharia de Alimentos
estabelecida. Assim, é possível afirmar que esse estilo de vida da Universidade Federal do Ceará, seguindo experimentos de Katz (4)
assegurou o surgimento de diferentes segmentos de consumo, diluídos no extrato na proporção de 57g para cada 1L de chá de em um
dividindo o mercado atual com base nos tipos de alimentos recipiente de vidro com capacidade para 3 litros previamente
procurados por cada grupo de consumidores, como produtos esterelizado. A inoculação do SCOBY ocorreu em temperatura
funcionais e low carb. ambiente temperatura ambiente (28 a 30ºC) com 10% do seu líquido,
A kombucha é uma bebida fermentada preparada comumente com utilizando papel toalha para cobrir sua abertura a fim de possibilitar a
chá preto adoçado ao qual é adicionada a chamada “mãe da passagem de ar para viabilizar a fermentação e impedir qualquer tipo
kombucha”, celulose bacteriana contendo uma simbiose de bactérias de contaminação.
acéticas e leveduras, podendo ser produzida utilizando-se de outros A segunda fermentação foi efetuada em garrafas PET,
tipos de chá como base, sendo o chá verde um exemplo destes. Para hermeticamente fechadas contendo o suco de maracujá, na proporção
a sua produção,, essa base é preparada com uma proporção de 5 a 15% de 60% de suco para 40% de líquido da primeira fermentação, durante
de açúcar, a qual é distribuída em recipientes limpos após seu três dias em temperatura ambiente. Para o suco, foi utilizada polpa
esfriamento. Então, acrescenta-se o inóculo da “mãe da kombucha”, comprada em mercado (marca Pomar da Polpa), com diluição em
ou scoby, e uma porção de 10 a 20% de kombucha já fermentada, de água mineral em concentração indicada pelo fabricante. para cada litro
modo a reduzir o pH do meio para inibir que microorganismos de suco, foram adicionados 250g de açúcar demerara, já utilizado
indesejados venham a se desenvolver (1). anteriormente. Totalizados aproximadamente 5L de preparo,
Após isso, o recipiente deve ser coberto, de modo a prevenir distribuídos em quatro garrafas com capacidade para 1,5L, as quais
contaminações externas, mas desde que mantenha contato com o foram amassadas a fim de evitar acidentes relacionados à expansão
ambiente, para permitir a entrada de ar, sendo, geralmente, feito o por produção de gás durante a fermentação.
uso de gaze para este fim. Logo, tem-se o período de fermentação, A elaboração foi realizada duas vezes, sendo a primeira utilizada
processo no qual a levedura consome a glicose presente e libera como prévia para o grupo observar e testar a metodologia aplicada no
substâncias mais simples, como o álcool etílico. Nesse produto, o experimento, bem como a realização grupo focal interno com 10
processo fermentativo dura entre 7 e 10 dias, dependendo do pessoas para reunir os atributos assinalados para CATA e a segunda
resultado que deseja-se obter, sendo realizado a temperatura produção foi destinada ao teste com os provadores.
ambiente. A análise sensorial foi realizada no Instituto de Cultura e Arte (ICA),
Por fim, com a fermentação concluída e as características desejadas localizado no Campus do Pici, abrangeu 111 pessoas, sendo 41
atingidas, em relação a aroma e sabor; a bebida é filtrada para mulheres e 70 homens, com média de idade de 22,5 anos. Foi
remover o scoby, o qual é armazenado com 5 a 10% do líquido. Com elaborado teste de aceitação utilizando escala hedônica de 9 pontos.
isso, a kombucha estará pronta, porém, vale ressaltar que uma Kombucha saborizado foi submetido a uma baixa temperatura,
segunda fermentação pode ser realizada, no intuito de carbonatar e viabilizada por imersão das garrafas em cooler adicionado de gelo. As
saborizar o produto final. Nessa etapa, adiciona-se uma nova fonte amostras foram preparadas de forma cautelosa e padronizada, como
de açúcar, como sumo ou suco de alguma fruta; sendo o processo descreve Minim e Silva (5), em copos descartávris de 30mL a 111
feito em garrafas fechadas e na temperatura ambiente. julgadores não treinados, em copos descartáveis. O teste sensorial foi
Um caso de fruta utilizada para saborear é o maracujá, fruto os provadores foi orientado sobre o teste e solicitado que avaliassem a
originado de plantas do gênero Passiflora, o qual apresenta bebida e sua aceitação quanto ao sabor, aroma e aparência e impressão
potencial antioxidante, segundo Zeraik et al. (2). Vale ressaltar que global, utilizando uma escala de 9 pontos. A análise dos resultados foi
a autora indica que o fruto apresenta a presença de substâncias foi realizada por meio de cálculos de média via Microsoft Excel.
polifenólicas e ácidos graxos, entre outras, as quais fazem com que
este possa ser classificado como um alimento funcional, fato que
agrega vantagem na produção de kombucha com o uso do maracujá. RESULTADOS E DISCUSSÃO
É importante frisar também o desempenho da família
Foi perguntado primeiramente aos participantes quanto ao gosto pela
Passifloraceae em forma de ansiolítico e sedativo em auxílio a
bebida estudada e observou-se que a maioria (79,2%) não a
transtornos do sistema nervoso central, visto que há uma
conhecia, um ponto já previamente estipulado devido à pouquidade
recorrência desse tipo de tratamento dentro da medicina popular
em relação à divulgação do produto. 91,8% dos participantes nunca
brasileira, conforme certifica Leal et. Al (3).
ingerem kombucha, o que também pode estar relacionado à questão
O objetivo principal desta pesquisa foi de produzir a bebida,
acima e 54,9% consomem suco ou néctar de maracujá. Em relação ao
observar o seu processo de elaboração e avaliar a aceitação por
gosto de ambas as bebidas, 79,2% dos participantes não conhecem a
parte de provadores voluntários não treinados.
bebida fermentada do tipo kombucha e 68,4% gosta muitíssimo de
suco/ néctar de maracujá. As questões seguintes foram aplicadas de
MATERIAIS E MÉTODOS
forma mais específica acerca da bebida a ser analisada
Este trabalho foi realizado a partir da cultura de SCOBY (Symbiotic
Culture Of Bacteria and Yeasts), o conglomerado de bactérias e
fungo usado para a fermentação e, por conseguinte, a obtenção da
bebida como produto final. Foi utilizada apenas erva mate (Ilex
paraguariensis St. Hil.) não torrada da marca “Pampas”, que foi
adicionada a um recipiente contendo água mineral fervida, na
proporção de 10g/L durante 10 minutos de infusão.

151
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 01: Impressão global e seu percentual de aceitação


Tabela 04: Aparência e seu percentual de aceitação
Escala Hedônica Percentual de aceitação
Escala Hedônica Percentual de aceitação
9. Gostei extremamente 6%
9. Gostei extremamente 4,6%
8. Gostei muito 39,6%
8. Gostei muito 32,4%
7. Gostei moderadamente 32,4%
7. Gostei moderadamente 24,5%
6. Gostei ligeiramente 11%
6. Gostei ligeiramente 13,2%
5. Não gostei nem desgostei 4%
5. Não gostei nem 6%
4. Desgostei ligeiramente 6%
desgostei
3. Desgostei moderadamente 1%
4. Desgostei ligeiramente 15,3%
2. Desgostei muito 0%
3. Desgostei 4%
1.Desgostei extremamente 0% moderadamente
2. Desgostei muito 0%
Houve uma aprovação substancial no âmbito global, com uma boa
margem em relação aos números de recusa, o que sinaliza sobre uma 1.Desgostei extremamente 0%
abertura por parte de uma parcela de cosumidores para com uma bebida
É possível notar que, apesar de os provadores em sua maioria aceitar a
alternativa para as industrializadas como, por exemplo, o refrigerante.
aparência da bebida, há um número considerável acerca da reprovação
do mesmo. Isso provavelmente se deu por conta da sedimentação
Tabela 02: Sabor e seu percentual de aceitação observada com clareza no momento da aplicação do teste.
Escala Hedônica Percentual de aceitação
CONCLUSÃO
9. Gostei extremamente 17,8
Após diversas leituras acerca de produção deste tipo de bebida por
8. Gostei muito 29,7%
meio de fermentação natural, bem como a preparação piloto, pode-se
7. Gostei moderadamente 22,8% afirmar que houve êxito no que se refere a esse propósito, posto que
resultou em um produto de bons atributos sensoriais, vide elevado
6. Gostei ligeiramente 11,5%
índice de aceitação deste. Quanto à observação da sua elaboração, foi
5. Não gostei nem desgostei 1,2% possível entender que a descrição metodológica é de suma
importância para melhoramentos, correções ou até mesmo a
4. Desgostei ligeiramente 7,3%
implementação de inovações, assim como é imprescindível
3. Desgostei moderadamente 3,9% desenvolver o hábito de gerar anotações, quaisquer que sejam os
2. Desgostei muito 3,1% experimentos, sobretudo na área da gastronomia, para que a mesma
se fortaleça enquanto ciência. Sobre o teste de aceitação, como já
1.Desgostei extremamente 2,7% fora elucidado, seus resultados foram muito satisfatórios, porém é
perceptível uma falha quanto à sua aplicação, pois não ocorreu a
Supostamente o item mais importante da pesquisa no tocante à pesquisa da escala de atitude, deixando a desejar resultados que
gastronomia, o sabor adquiriu uma boa aceitação junto aos julgadores. tangem à intenção de compra, visto que se trata de um produto
Por ser um produto de uma fermentação artesanal e que detém poucas relativamente novo no mercado. Para tanto, ficam as considerações
quantidades de açúcar, a kombucha pode causar estranheza a quem a da continuação desta linha de trabalho para que haja, em um breve
experimenta, sobretudo, pela primeira vez. Como a população futuro, mais informações e opções de alimentos funcionais e menos
brasileira vem sofrendo altos bombardeios por parte da indústria artificiais à disposição da população.
alimentícia, a qual oferece produtos de baixo valores nutricionais,
com altos índices de açúcares em sua composição, talvez haja um
costume gustativo favorecendo o gosto doce. Entretanto, observa-se REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
uma aceitação considerável que, ao que tudo indica, é atribuída à
segunda fermentação e/ou saborização do produto com uma fruta (1).SANTOS, Mafalda Jorge dos. Kombucha: Caracterização da
bastante comum e utilizada, com a qual a maioria das pessoas têm microbiota e desenvolvimento de novos produtos alimentares
familiaridade. para uso em restauração. 2016. 119 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Ciências Gastronômicas, Universidade Nova de Lisboa,
Tabela 03: Aroma e seu percentual de aceitação Lisboa, 2016.
(2).ZERAIK, M. L. et al. Maracujá: um alimento funcional. Revista
Escala Hedônica Percentual de aceitação Brasileira de farmacognosia, v. 20, n. 3, p. 459-471, 2010.
9. Gostei extremamente 10,4% (3).LEAL, A.E.B.P.; OLIVEIRA JÚNIOR, R.G.; OLIVEIRA, A.P.;
ALMEIDA, J.R.G.S.; LIMA, J.T.. Atividade ansiolítica e sedativa de
8. Gostei muito 48,3%
espécies do gênero Passiflora – um mapeamento científico e
7. Gostei moderadamente 29,2% tecnológico. Cad. Prospec., Salvador, v.9, n. 3, p. 323-336, jul./set.
2016.
6. Gostei ligeiramente 10,9%
(4).KATZ, Sandor Ellix, A arte da Fermentação: explore os
5. Não gostei nem desgostei 0,8% conceitos e processos essenciais da fermentação praticados ao
4. Desgostei ligeiramente 0,4% redor do mundo. 1. Ed-São Paulo, 2014.
(5).MINIM, Valéria de Paula Rodrigues; SILVA, Rita de Cássia dos
3. Desgostei moderadamente 0%
Santos Navarro da Silva. Análise Sensorial Descritiva. Viçosa: UFV,
2. Desgostei muito 0%
2016. 280 p.
1.Desgostei extremamente 0%

Item mais bem recebido e aprovado, o aroma da kombucha apresentou


uma grande presença, certamente por conta do gás CO₂ e do perfume
característico do maracujá.

152
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração de Sorvete de Hibisco com Hortelã


Paulo Renato do Nascimento Costa

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Baturité


paulorenatocost@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE
PANC; Análise Sensorial; Alimento Funcional; Flores Comestíveis.

INTRODUÇÃO divulgação midiática. Além de possuírem boa carga nutricional, exige-se


Hibisco, vinagreira, caruru-azedo, azedinha, quiabo-azedo, veementemente que esses alimentos preservem ou desenvolvam bom
quiabo-róseo, quiabo-roxo ou rosélia são nomes comuns dados no Brasil sabor, fato este que denota refino no perfil do público.
à espécie ​Hibiscus sabdariffa L​.; flor de arbusto perene originário da Portanto, como uma possibilidade viável e próspera de
África ou Ásia e que desenvolve-se em climas quentes e solos ricos em disseminação desta flor e PANC por intermédio da gastronomia,
matéria orgânica. Muito utilizada na medicina popular, a espécie ganhou elaborou-se um sorvete saborizado com o extrato das flores do hibisco e
notoriedade recente por suas propriedades emagrecedoras e medicinais, folhas de hortelã (​Mentha spicata​), visando obter resultados sensoriais
devido, principalmente, ao grande número de compostos antioxidantes de possíveis consumidores.
[1] e antimicrobianos que apresenta [2]. Quanto à gastronomia brasileira,
o hibisco é aplicado mais comumente em bebidas infusionadas e alguns MATERIAL E MÉTODOS
pratos regionais. A utilização culinária, não sendo ainda tão abrangente O hibisco utilizado foi proveniente de comércio local do
em âmbito nacional e internacional, classifica o hibisco como PANC - Maciço de Baturité, embalados em sacos transparentes. Seu extrato
planta alimentícia não convencional [3]. Tal grupo de vegetais apresenta concentrado foi obtido infusionando as flores secas em água quente por
uso em ascensão dentro da gastronomia, democratizando o acesso à cerca de uma hora. Simultaneamente, foi preparado creme inglês
comida ​in natura pela facilidade com que são encontrados, lançando enriquecido com creme de leite e adicionado 1/4 de xícara de folhas de
desafios aos cozinheiros ao propor novas manipulações na cozinha e hortelã previamente higienizadas e picadas junto ao extrato. Utilizou-se
contribuindo para uma mudança significativa no cenário alimentar 250 ml de extrato para 1,5l de sorvete. Em seguida, a mistura foi batida,
mundial, na mentalidade e atitude dos consumidores. [4] resfriada e congelada até apresentar a textura desejada, armazenada em
De modo geral, as flores têm seu uso na gastronomia recipiente plástico tampado. O produto final apresentava cor rosa, sabor
empregue majoritariamente na ornamentação de pratos, atuando como doce e leve azedume, com notas de frutas vermelhas e cítricas.
complemento ou ponta final da linha de sabor pretendida pelo cozinheiro Os testes de aceitabilidade foram realizados em cabines
devido sua delicadeza. Em caso da espécie escolhida não apresentar individuais do laboratório de Análise Sensorial do IFCE - Campus
sabor aparente, a utilização torna-se meramente decorativa, relegando as Baturité no dia 10 de fevereiro de 2020. Participaram da avaliação 50
flores a um plano de figuração dentro do prato. Neste caso, entretanto, o provadores não treinados, entre estudantes, professores e servidores do
hibisco é flor de sabor forte e cor vermelha intensa. Seu cálice tem sabor campus. Os mesmos receberam amostras devidamente etiquetadas,
azedo acentuado e levemente picante, alçando-o à posição de possível codificadas e organizadas a fim de evitar erros. Nas fichas impressas
protagonista dentro de uma preparação. foram utilizadas escala hedônica de nove pontos para avaliação da
O sorvete, por sua vez, é uma sobremesa congelada comum e aceitação geral e do atributo ​cor​; escala de atitude de consumo de nove
apreciada em todo o mundo. Sua origem data da China há cerca de 3 mil pontos e escala relativa ao ideal de sete pontos para avaliação do nível de
anos​, feito na época com uma base de neve, mel, frutas e gema de ovo. adequação do atributo ​sabor​. [8, 9, 10]
Passada aos árabes, a mistura foi chamada de ​Sberbeth ​e mais tarde se
transformou no sorbet, a versão com água da iguaria. Na Itália, a calda RESULTADOS E DISCUSSÃO
gelada foi acrescida de leite e passou a ser produzida em uma máquina Os dados da aceitação sensorial foram contabilizados,
chamada de mantecadora (do italiano ​mantecare​, que significa bater ou comparados, avaliados e registrados em gráficos e planilhas, incluindo
misturar), dando origem ao gelato conhecido hoje. Em geral, as margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Foi
nomenclaturas denominam fabricações muito semelhantes entre si, considerada como critério-base a obtenção do valor mínimo de 70% do
diferindo apenas em relação à quantidade percentual de determinado Índice de Aceitabilidade (IA).
ingrediente, quantidade de ar (​overrun)​ ou temperatura final de consumo O atributo ​sabor​, avaliado através de escala relativa ao ideal,
do produto. apresentou 24 votos para a nota 4, sinalizada como “ideal” e tomada como
Estimado então pela temperatura; textura cremosa, leve e meta e ponto médio dentro da escala utilizada; apresentando assim
sabor complexo [5], o sorvete pode ser saborizado com praticamente resultado percentual de 48 pontos.
qualquer ingrediente - em geral doces, ácidos e amargos - desde que Os atributos ​cor e ​geral foram avaliados através de escala
aplicada a técnica correta. Caso seja fabricado de modo artesanal, é hedônica. A ​cor apresentou 19 votos (ou 38%) para a nota 8, que significa
considerado, ainda, um alimento completo devido ao seu alto valor “gostei muito”. As notas 9, 7 e 6 dividiram o restante dos votos
nutricional, que inclui carboidratos, lipídios, proteínas, minerais e qualificados como positivos; representando os parâmetros “gostei
vitaminas de vários complexos [6]. muitíssimo”, “gostei moderadamente” e “gostei ligeiramente”, em
Sobretudo ao se levar em conta os benefícios nutricionais do respectiva assimilação. No total, o percentual de aprovação da cor foi de
hibisco e do sorvete, pode-se classificar a elaboração final como 90%.
alimento funcional, pois a combinação e o protagonismo de ambos os O ​geral apresentou 16 votos (ou 36%) para a nota 8, seguida
elementos pode proporcionar benefícios à saúde [7], aumentando o pelas notas 9, 7 e 6 (24%, 20% e 8%, respectivamente). No total, somadas
interesse no desenvolvimento do produto. as notas e consideradas as categorias, infere-se um percentual de
Nota-se, nos últimos anos, uma crescente e intensa demanda aprovação do público de 90%.
do público consumidor por alimentos mais saudáveis e de caráter A ​atitude de consumo obteve maior número de votos para as
funcional, ocasionada pelo aumento do acesso à informação e da notas 6, 9 7 e 8 (26%, 24%, 18% e 6%, respectivamente), totalizando 74%

153
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

da intenção de consumo ou possível compra do produto por parte do [11] ​SANTOS, Grazielle Gebrim et al. Mangaba (Hancornia speciosa
público. Gomez) ice cream prepared with fat replacers and sugar substitutes.
Apesar do atributo ​sabor ​ter registrado apenas 48% das notas Ciência e Tecnologia de Alimentos​, v. 32, n. 3, p. 621-628, 2012.
para o parâmetro ​ideal​, quando comparados os números de forma geral,
levando em conta principalmente os critérios ​geral ​e ​atitude de consumo​,
percebe-se o êxito alcançado com a ideia da elaboração.
É preciso considerar também o relativo exotismo do insumo
protagonista. De acordo com as respostas gerais de alguns provadores,
mais precisamente daqueles cujas notas não foram tão altas, deduz-se que
a fabricação não é considerada ruim ou de má qualidade, mas que apenas
deve ser modificada de maneira a conquistar mais efetivamente o paladar
julgador.
Tal fato é confirmado na medida em que se faz uma
comparação entre os resultados do presente trabalho e do de terceiros,
referente também à análise sensorial de sorvete com ingredientes
incomuns. Ao observar, por exemplo, o artigo “​Sorvete de mangaba
(​Hancornia speciosa Gomez) preparado com substitutos de gordura e
açúcar” [11] nota-se percentuais de aceitação sensorial de 60% e 52,5%.

CONCLUSÕES
Analisando a execução técnica do sorvete e sua aceitabilidade
sensorial pelo público, considera-se sua formulação final bem sucedida -
além de apresentar bons índices, ela cumpre também com o objetivo de
promover o consumo das PANC’s, aplicando-as de modo a preservar seus
nutrientes mas sob um sabor agradável.
Os dados computados serão considerados e empregados em
melhorias futuras na fabricação do sorvete e de outras sobremesas como
bolos, tortas, cremes e pudins; pois sobretudo o extrato de hibisco
mostrou-se muito versátil em sua aplicabilidade.

REFERÊNCIAS
[1] ​SILVA, Analú Barbosa da; WIEST, José Maria; CARVALHO,
Heloisa Helena Chaves. Compostos químicos e atividade antioxidante
analisados em Hibiscus rosa-sinensis L.(mimo-de-vênus) e Hibiscus
syriacus L.(hibisco-da-síria). ​Brazilian Journal of Food Technology​, v.
19, 2016.

[2] MACIEL, Mônica Jachetti et al. Avaliação do extrato alcoólico de


hibisco (Hibiscus sabdariffa L.) como fator de proteção antibacteriana e
antioxidante. ​Revista do Instituto Adolfo Lutz (Impresso)​, v. 71, n. 3,
p. 462-470, 2012.

[3] RANIERI, Guilherme R. et al. Guia Prático de PANC–Plantas


Alimentícias Não Convencionais. 1. ​São Paulo: Instituto Kairós​, 2017.
40 p. ISBN: 9788599517086

[4] ​RODRIGUES, H. et al. Eating flowers? Exploring attitudes and


consumers' representation of edible flowers. ​Food Research
International​, v. 100, p. 227-234, 2017.

[5] ​SUAS, M. ​Pâtisserie – Abordagem Profissional. São Paulo: Cengage


Learning, 2010.
[6] ​ARBUCKLE, W. S. ​Ice Cream. 4. ed. AVI Publishing Company,
Inc., Westport, Connecticut, 1986.

[7] ​HASLER, Clare M. The changing face of functional foods. ​Journal


of the American College of Nutrition​, v. 19, n. sup5, p. 499S-506S,
2000.

[8] ​ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


14141: ​Escalas utilizadas em análise sensorial de alimentos e
bebidas​. Rio de Janeiro, 1998.

[9] MEILGAARD, M.; CIVILLE, G.V.; CARR, B.T. ​Sensory


evaluation techniques​. 4th ed. Boca Raton: CRC, 2007. 448p.

[10] PAL, D.; SACHDEVA, S.; SINGH, S. ​Methods for determination


of sensory quality of foods​: A critical appraisal. J Food Sci, v.32, n. 5,
p. 357- 367, 1985.

154
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cor e Gastronomia: Utilização da Teoria das Cores em Prepação da Confeiteria


Jarbas Lima1, Cássia Amaral1, Lucas Rodrigues1, Alessandra Carneiro2, Matusaíla Macêdo2
1
Discentes do Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará,
jarbaslimads@gmail.com
2
Docentes do Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará

Palavras-chave: Alimentação; Matiz; Pigmento; Efeito; Doce.

1. Introdução gemas, 50g de açúcar, 10g de amido, 395 g de leite condensado, 265g
de polpa de manga, 30ml de suco de maracujá e 30ml de suco de
O universo dos alimentos apresenta uma grande variedade de limão. Por último, o merengue feito foi o merengue suíço com 170g
cores e pigmentos. Antocianinas, betalaínas, carotenóides e clorofilas de açúcar e 4 unidades de clara e junto a ele, a mistura do corante
são exemplos de pigmentações naturais presentes em insumos vegetais extraído. Para essa extração, foi feito um purê de mirtilo.
e que embelezam muitas preparações e empratamentos. As cores, além
de serem um fenômeno físico, representam uma poderosa ferramenta
para a difusão de emoções e ideias, pois essas se expressam de muitas
formas, seja sutil, direto ou progressiva.

A cor oferece infinitas possibilidades de ser trabalhada como


elemento criativo. Dentro do espectro visível, essa oferece uma grande
liberdade para combinação de tons, misturando os matizes e
produzindo composições que atraem quem os percebe (1).
Foi no século XIX que, criticando de uma forma errônea a
concepção newtoniana sobre a óptica e sobre o efeito da luz, Johann Figura 1 - Insumos para a Figura 2 - Insumos para o
Wolfgang von Goethe desenvolve as primeiras teorias das cores, massa creme
fazendo que a cor fosse entendida não apenas com um fenômeno
físico, como também fisiológico e psíquico. Com isso, já no século
XX, outros artistista, como Paul Klee e Wassily Kandinsky,
Por fim, com as tortas já montadas, foram realizados 2 testes
ampliaram e desenvolveram suas próprias teorias das cores. Eles
que estão presentes na teoria das cores: observação do efeito
faziam parte da Escola de Bauhaus, uma das mais importantes escolas
cromático em dois fundos, um preto e um branco; e a observação da
de arte, e foram responsáveis pelo movimento abstracionista nas belas
harmonia e concordância das cores complementares.
artes (1).
A teoria de cor inicia com o entendimento do que um círculo
cromático. Esse é uma representação mais simples das cores visíveis 3. Resultados e Discussão
percebidas pelo ser humano, reunidas em um círculo contendo 12
cores distintas, que facilita a visualização das cores primárias (azul, 3.1. Pesquisa de referências bibliográficas
amarelo e magenta), secundárias e terciárias que formam o espectro
visível (1). Observou-se, ao fazer a pesquisa bibliográfica, a pouca
É através das disposições das cores no círculo que se obteve existência de referências que relacionam a gastronomia com a teoria
as mais diversas teorias de percepção da cor e como o organismo das cores. Isso ocorre pois, no universo da gastronomia, a cor tem
humano as compreende. Além disso, é por meio desse também que se caráter subjetivo, indo da intuição do artista/cozinheiro ao empratar
percebe as mais diversas formas de harmonização das cores, uma preparação. Além disso, o êxito em encontrar artigos que
entendendo os efeitos cromáticos, as gradações de cores, os associam o estudo da cor com comida foi escasso. No entanto, é
contrastes, falsos pares, pós-imagem e contraste simultâneo, sensação comum encontrar referências bibliográficas que estudam a cor e suas
de volume entre outras técnicas que são amplamente utilizadas por teorias em outras áreas de ensino e pesquisa, como no design, na
quem trabalha com a cor (1). arquitetura, na moda, na publicidade e propaganda.
Assim, o devido artigo tem como objetivo investigar a teoria
das cores aplicando-a à gastronomia, a fim de levantar e iniciar o
estudo sobre essa temática nas mais diversas preparações e
3.2. Preparação da Torta com Creme de Manga e
empratamentos, destacando a confeitaria básica, além de tentar provar
Merengue
que o estudo das cores pode ser feito também no mundo da
gastronomia. Para fazer a massa da torta, foi seguido uma ficha técnica
com todos os processos a serem seguidos. Nessa massa (figura 3), que
2. Material e Métodos tem caráter arenosa, a farinha, por estar mais envolta na gordura,
torna-a amanteigada e macia, em decorrência do menor
Para a elaboração desse artigo, foi realizada uma pesquisa desenvolvimento de glúten (2).
exploratória, tendo seus procedimentos classificados como
bibliográfica, participante e experimental. A manteiga utilizada tem com umas das principais funções
encurtar as redes de glúten, além de agregar sabor e umidade,
Primeiramente, foi coletado informações em livros que deixando o produto mais macio e suavizando a textura. A manteiga
abordem as temáticas da cor e da confeitaria. Após isso, foi realizado torna as massas mais difíceis de manipular pois, à temperatura
o preparo do prato que serviria para aplicar as teorias das cores vistas ambiente, essa gordura derrete com muita facilidade. Além disso,
nas referências. Para isso, foi feito uma mini torta com creme de essa, quando congelada, adquire textura dura e quebradiça (2).
manga e merengue. O método utilizado para o preparo da massa O açúcar utilizado é importante para agregar doçura e sabor,
(figura 1) foi o método de massa arenosa amanteigada e o recheio foi desenvolver uma textura mais macia e delicada, já que ele enfraquece
um creme de gemas (figura 2). Esse tipo de torta é considerado tortas a estrutura do glúten, e dar uma cor dourada a massa (2).
frias. Já o merengue foi colorido com corante natural extraído de A água é necessária para a preparação da massa, pois auxilia
mirtilos. na formação de glúten e para dar textura e flocosidade à ela. Se for
Para o processo de realização da massa, foi seguido uma usada em grande quantidade, a massa se torna dura por causa da
ficha técnica onde se tinha 200g farinha de trigo, 120g manteiga, 20g grande formação de redes de glúten. Se não for usada água suficiente,
açúcar e 40g água. Inicialmente, a manteiga teve que se levada ao a massa desfaz com facilidade (2).
refrigerador, a fim de manter-se congelada. Depois que ela já estava Para fazer o creme de manga, foi usado o purê de manga e a
na temperatura ideal, começou o preparo da massa. O creme de manga base do creme de confeiteiro, um creme à base de gemas.
foi feito partindo do creme de gemas, temperando-as e misturando a
polpa de manga. Para o creme foram usados usandos 4 unidades de

155
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

permitindo que a visão humana intensifique os contrastes entre as duas


cores, tornando-as mais vivas. Por acontecer simultaneamente entre
as duas cores, tal efeito é denominado contraste simultâneo (1).

Figura 3 - Massa

Por fim, foi feito o merengue suíço. Esse é feito com a clara
do ovo e açúcar aquecido em processo de banho-maria ao serem Figura 6 - Torta com creme de manga Figura 7 - Cores
batidos. Ao aquecer a mistura, o merengue adquire mais volume e complementares
estabilidade (2). Para colori-lo de roxo, foi utilizado corante natural
extraído de mirtilos. A segunda observação feita sobre a teoria das cores foi a do
efeito cromático em dois fundo, um branco e um preto.
Efeito cromático é o efeito que a cor tem na percepção visual,
3.3. Teoria das cores
sendo a realidade psicofisiológica da nossa percepção humana (1).
Para compreender as cores da preparação, foi utilizado o Uma mesma cor pode apresentar diversas variações ao ser
círculo cromático (figura 4). Foi esse que deu suporte a todas contrastada com outras cores, mudando, muitas vezes, a sua
observações levantadas. A primeira observação foi a harmonia e percepção. Ao colocar uma cor em um fundo preto, por exemplo, ela
concordância entre as cores complementares. se comporta de uma forma totalmente diferente se a mesma for
colocada em um fundo branco. Ao colocar o amarelo em um fundo
branco, ele parecerá mais escuro, já no preto, ele adquire um brilho
extremo.
Observou-se isso na torta com creme de manga e merengue.
No experimento, a torta foi colocado em dois fundo (figuras 8), um
branco e um preto, em um ambiente com a mesma incidência de luz.
No fundo branco, o amarelo do creme de manga aparenta ser mais
escuro que no fundo preto.

Figura 4 - Círculo cromático

Fonte: Google

A harmonia cromática é a avaliação do efeito da justaposição Figura 8 - Torta em fundo branco e fundo preto
de duas ou mais cores. Essa tem como objetivo buscar a satisfação do
olho humano, evitando que este produza, ilusoriamente e
fiiologicamente, as cores que não estão na composição (1).

Ao se estimular apenas um tipo de cone ocular por 4. Conclusão


determinado tempo, ocorre uma espécie de saturação, causando a
sensação de percepção de uma cor complementar. A cor que é vista Conclui-se que é possível atrelar o estudo das teorias das
ilusoriamente será sempre a cor complementar àquela observada. cores com a gastronomia. Entretanto, existem poucas referências ou
Além disso, a cor complementar, como exemplificada na figura 5 é a estudos acerca dessa temática;
soma das cores que faltam à cor observada para completar o quadro
das três primárias (1). Além disso, observou-se que a técnica de harmonia cromática
foi de fácil aplicação no experimento, mantendo a harmonização entre
as cores da preparação. No entanto, a técnica de efeito cromático ficou
difícil de ser percebida, tendo apenas a observação dos autores e sendo
necessário um estudo de análise sensorial visual mais aprofundado
nessa temática;
Em relação a preparação, tanto a massa como o creme de
manga foram de fácil execução. Entretanto, o merengue, ao ser
misturado com o corante natural, perdeu um pouco de sua
estabilidade.

Referência
Figura 5 - Cor complementar
(1)BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo: Um estudo sobre
Fonte: Google Imagem a Bauhaus e a teoria de Goethe. 3. ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2009.

(2)GISSLEN, W.; LE CORDON BLEU. Culinária Profissional. 6.


Observa-se, na preparação, a harmonização das cores ed. Barueri: Manole, 2012.
amarelo e roxo (figuras 6 e 7) . O amarelo é uma das 3 cores primárias
e o roxo é sua complementar. Ao uni-las em um prato, ambas se
harmonizam, pois, ao serem observadas juntas, parecem mais
vibrantes. Isso ocorre devido ao efeito ilusório da pós-imagem,

156
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência da Gelatina na Consistência de Sobremesa Láctea de Manga

Liana Velho1, Vanessa Abreu2, Ivila Costa2, Maria Gomes2, Sanvily Lima2, Maria
Rodrigues3

¹ Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal do Ceará. lianaflor@gmail.com


² Graduanda em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal do Ceará.
³ Doutora em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas – São Paulo

Palavras-Chave: Análise sensorial, Textura, Geleificante.


INTRODUÇÃO esperado, tendo em vista que a formulação B tem o dobro de gelatina
da formulação A.
Sobremesa láctea é uma categoria de produtos lácteos muito
popular no mundo. Existem produtos com diversas texturas, sabores e Tabela 1 - Média de aceitação dos provadores em relação à aceitação
aparências. A comercialização desse tipo de produtos vem crescendo global, a aparência, a consistência, ao aroma e ao sabor das
consideravelmente nas últimas décadas, ressaltando que produtos Formulações A e B.
lácteos são bem aceitos no mercado alimentício (1).
Neste contexto, a manga (Mangifera indica L.), que é Médias obtidas
comumente consumida in natura ou utilizada como matéria-prima no Atributos
processamento de diversos produtos alimentícios, a exemplo de sucos, Formulação A Formulação B
geleias, doces e néctares, se caracteriza como uma alternativa viável
para a elaboração de sobremesas lácteas, agregando cor, sabor e aroma Impressão Global 7,30a ± 1,42 7,38a ± 1,78
(2, 3).
Devido à alta produção e demanda da manga, sua Aparência 7,40a ± 1,88 7,48a ± 1,79
disponibilidade de formas variadas se torna uma opção de negócio (4).
Desta forma, o desenvolvimento de uma sobremesa láctea de manga é Consistência 7,33a ± 2,62 6,67b ± 3,36
uma maneira de incrementar mais ainda esta fruta na dieta brasileira,
em uma forma de produto que já é bem aceito no mercado.
O objetivo deste trabalho foi analisar a influência da Aroma 7,29a ± 2,40 7,58a ± 1,52
concentração de gelatina na consistência do produto, bem como a
aceitação do produto, idealidade de consistência e de sabor de manga e Sabor 7,30a ± 1,52 7,54a ± 1,30
intenção de compra.
Letras iguais na mesma linha indicam que não há diferença significativa
entre as amostras, p < 0,05.
MATERIAL E MÉTODOS
De acordo com a Tabela 1, é possível perceber que os
As sobremesas lácteas de manga foram elaboradas no
atributos sensoriais não se diferenciam significativamente, com
Laboratório Didático de Biotecnologia de Alimentos da Universidade
exceção da consistência. Os resultados obtidos para a impressão global,
Federal do Ceará, campus Pici, e a análise sensorial foi realizada no
aparência, aroma e sabor se concentraram na região do gostar, ou de
Laboratório de Análise Sensorial da instituição supracitada. Elaborou-
aceitação.
se duas formulações, com polpa de manga, leite condensado, gelatina e
Os dados da Escala do Ideal de consistência (Gráfico 1)
água, sendo os ingredientes adquiridos no comércio local da cidade de
mostram que a formulação A obteve um percentual de 79% de
Fortaleza-CE.
julgamentos na zona de idealidade (-1 <levemente menos forte que o
As duas formulações, A e B, seguiram as mesmas etapas,
ideal>, 0 <ideal> e +1 <levemente mais forte que o ideal>), um índice
diferenciando-se nas concentrações de gelatina, contendo na
superior ao da formulação B, que concentrou seus resultados na zona
formulação A 0,55% do gelificante e na formulação B 1,06%.
dos níveis mais elevados que o ideal, ficando com um índice de 56,4%
Para a obtenção da sobremesa de manga, submeteu-se a
na zona de idealidade.
polpa de manga e o leite condensado a aquecimento (80° C por 15
minutos). Após a mistura, se adicionou a gelatina previamente
Gráfico 1 - Histograma de distribuição de notas para o teste Ideal -
hidratada. Por fim, o doce foi envasado em copos de polietileno e
Consistência.
armazenados sob refrigeração (8-10ºC).
O julgamento sensorial englobou o teste de Escala Hedônica
(Avaliação da aceitação do produto), Escala do ideal (Verificação da
idealidade da consistência e sabor de manga), Escala de Intenção de
Compra, cuja escala era estruturada verbal, numérica e bipolar de cinco
pontos, na qual o julgador expressava sua vontade de comprar o produto
em estudo, conforme metodologia prescrita por Dutcosky (5).
Os resultados dos aspectos sensoriais (impressão global,
aparência, consistência, aroma e sabor) das duas formulações de
sobremesa láctea de manga foram analisados estatisticamente através
de análise de variância (ANOVA) por meio do Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise sensorial foi realizada com provadores não


Pinto et al. (6) verificou por meio da realização de uma
treinados que, em sua maioria, tinham entre 19 e 30 anos (79%),
pesquisa de mercado que sobremesas mais consistentes e muito
predominando o sexo masculino (51,6%). Quanto à escolaridade,
arenosas tem uma forte aceitabilidade dentre os consumidores. Desta
90,3% tinham nível superior incompleto e 9,7% nível superior
forma, como a amostra A resultou em uma consistência intermediária e
completo.
possuía característica arenosa acabou sendo a mais ressaltada como
Os valores médios das notas atribuídas pelos provadores no
ideal em termo de consistência, enquanto a amostra B se apresentou
teste de aceitabilidade das duas formulações de sobremesa láctea de
mais consistente e pouco arenosa. Sendo assim, a característica arenosa
manga estão dispostos na Tabela 1. Dentre todos os parâmetros
se sobressaiu a mais consistente.
sensoriais avaliados, apenas a consistência apresentou diferença
Feitosa et al. (3) observou que as formulações de
significativa entre as amostras, a nível de 5%. Este resultado já era
sobremesas lácteas de manga, onde se objetivava substituir o leite por

157
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

extrato de soja e o leite condensado por gelatina em pó e açúcar, com Gráfico 4 - Histograma de distribuição de notas para o teste de Intenção
diferentes concentrações de gelatina em pó, não apresentaram diferença de Compra.
significativa, a nível de 5%, para o atributo aroma, o que vai ao encontro
do resultado obtido nesta pesquisa, mostrando a baixa influência da
gelatina na percepção do aroma de manga.
O sabor da sobremesa láctea de manga não apresentou
diferença significativa entre as duas formulações, apesar das médias
serem crescentes quando comparadas. O percentual das formulações A
e B na zona de aceitabilidade da Escala Hedônica foi, respectivamente,
90,3% e 98,4%. O sabor agradável pode ser ressaltado pela presença de
leite condensado em ambas as preparações, segundo Feitosa et al. (3),
a utilização de leite condensado agregada maior chance de aceitação do
produto elaborado, pois o produto lácteo supracitado é agradável ao
paladar, possuindo uma alta aceitabilidade sensorial.
Para a Escala do Ideal de sabor de manga não houve
diferença significativa, porém, a formulação B apresentou um
percentual de 77,4% na zona de idealidade, enquanto a formulação A
obteve 62,9% na mesma zona. Esta última teve suas avaliações
predominantemente na zona que agrega as expressões de menor
idealidade, como se pode observar no Gráfico 2.
CONCLUSÕES
Gráfico 2 - Histograma de distribuição de notas para o Teste Ideal -
Sabor de Manga. Levando em consideração o objetivo do trabalho, conclui-se
que, dentre as formulações elaboradas, a preparação A, com maior
percentual de aceitabilidade e idealidade do atributo consistência,
configura-se como a amostra com teor satisfatório de gelatina. A
elaboração da formulação A, que apresenta menor proporção de
gelatina, se converte em um ponto positivo para a sua reprodução em
grande escala, pois trará redução de gastos devido a menores
quantidades utilizadas. Contudo, as duas formulações foram bem
aceitas pelos provadores, uma vez que seus índices de aceitabilidade
foram superiores a 70% e entre todos os atributos estudados na Escala
Hedônica, apenas a consistência teve diferença significativa.

REFERÊNCIAS

1. REVISTAS BRASIL DAIRY TRENDS. Tendências do mercado de


produto lácteos. Disponível em:
<http://www.brasildairytrends.com.br/30/>. Acesso em: 21 de janeiro
O Índice de Aceitabilidade das sobremesas lácteas de manga de 2020.
com diferentes concentrações de gelatina obtido a partir das médias das
avaliações hedônicas presentes na Tabela 1 e por meio de regra de três 2. JAHURUL, M. H. A.; et al. Mango (Mangifera indica L.) byproducts
simples, resultou em 81,38% e 81,44% para a formulação A e B, and their valuable components: A review. Food Chemistry. v. 183, p.
respectivamente, não apresentando uma diferença relevante (Gráfico 173–180. 2015.
3).
3 FEITOSA, B. F.; et al. Sobremesa láctea prebiótica de manga:
Gráfico 3 - Índice de aceitabilidade. desenvolvimento e caracterização. Energia na Agricultura, Botucatu, v.
34, n. 2, p. 271-282, 2019.

4 REVISTAS CONVIBRA. Alternativas Estratégicas para a


Comercialização da Manga Brasileira no Mercado Internacional.
Disponível em:
<http://www.convibra.com.br/2006/artigos/97_pdf.pdf>. Acesso em:
21 de janeiro de 2020.

5. DUTCOSKY, S. D. Análise Sensorial de Alimentos. 4º Ed. Editora


Universitária Champagnat. Paraná. Abril de 2019.

6. PINTO, E. P.; et al. Sucralose no desenvolvimento de sobremesas


lácteas light. B.CEPPA, Curitiba, v. 21, p. 49-60, 2003.
Conforme Teixeira apud Santos et al. (7), para um produto 6. SANTOS, H. M. C.; et al. Análise sensorial de biscoitos com farinha
ser aceito pelos provadores, o mesmo deve atingir um percentual maior de soja orgânica de cultivares especiais para a alimentação humana.
ou igual a 70%. Desta forma, podemos inferir que as duas formulações Embrapa Soja, Londrin, p. 83-86, 2010.
foram aceitas pelos provadores, pois seus índices de aceitabilidade
foram superiores a 70%. Segundo Escopelli et al. (8), pode-se concluir 7. ESCOPELLI, K. S.;et al. Aceitabilidade e intenção de compra de
que a intenção de compra de um produto está diretamente relacionada queijo tipo pecorino produzido com leite ovino. Metha, Higiene
à aceitabilidade do mesmo. Alimentar – v.30, p. 119-122, 2016.
Na intenção de compra, Gráfico 4, analisando a junção das
expressões “provavelmente compraria” e “certamente compraria”,
escala 4 e 5, a formulação B (maior concentração de gelatina) desperta
nos consumidores uma maior atitude de compra, com percentual de
75,8%, já a formulação A ficou com um percentual de 62,9%. Com
esses percentuais acima de 50%, é possível verificar que há potencial
mercadológico do produto aqui explorado, pois tanto na intenção de
compra quanto nos parâmetros sensorial aqui estudados, os julgamentos
foram positivos, expressando resultados sempre na zona de aceitação.

158
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Releituras Veganas do Mungunzá Salgado Caririense: Opções de Incremento ao Cardápio para


Adeptos a Prática Alimentar

Indra N. Nunes¹, Elane I.N. Nunes², Cicero A. M. Simião³, Suziane A. J. Lima, Maria E. B. de Moura, João D. D. Furtado
1. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
2. Discente do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ/Estácio de Sá
3. Pesquisador do Instituto José Marrocos de Pesquisa e Estudos Sócio-Culturais – IPESC/URCA
4. Docente do Curso de Tecnologia em Gastonomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
5. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
6. Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
Indra_nunes@hotmail.com

PALAVRAS CHAVE: VEGANISMO; MUNGUNZÁ SALGADO CARIRIENSE, RELEITURA

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa experimental,


Introdução:
exploratória, descritiva e de abordagem qualitativa, tendo em vista a
elaboração do Mungunzá Salgado Vegano com Leite de Côco e o
São inúmeros os fatores determinantes para caracterizar as
Mungunzá Salgado Vegano com Leite de Castanha de Cajú. Como
práticas alimentares adotadas por grupos sociais. Estas escolhas
referência utilizou-se da elaboração tradicional do Mungunzá Salgado,
transitam por diversos elementos, dentre eles: os culturais, geográficos,
prato típico da Região Caririense.
ambientais e até mesmo possíveis modismos difundidos em meios de
comunicação. Pode-se afirmar que o veganismo se caracteriza como uma
destas práticas. As releituras foram desenvolvidas juntamente as suas Fichas
Técnicas de Preparo (FTP) na cozinha do curso de Tecnologia de
Gastronomia, da Faculdade Juazeiro do Norte (FJN). O tempo de
Como movimento social, o veganismo pode ser percebido da
preparação foi de duas horas e meia, se utilizando de insumos veganos
seguinte forma: devido a proximidade e afinidade com os direitos dos
para um prato, que, tradicionalmente, tem como base produtos de origem
animais e com os movimentos ambientais, existem organizações de
animal. A receita teve um rendimento de 30 porções pequenas. Após a
movimentos sociais dedicadas principalmente a propagação do
montagem final foi realizada a degustação com docentes e discentes da
veganismo que não se baseia em legislação ou identidade política, mas
instituição.
nas práticas diárias e no estilo de vida. (1)
A Ficha Técnica de Preparo (FTP), também denominada de
receituário padrão, é uma ferramenta gerencial e funcional utilizada nos
Qual a importância destas preparações para o cardápio do serviços de alimentação (hotéis, restaurantes comerciais ou
consumidor vegano? O tema justifica-se pelo know-how que a institucionais, laboratórios de desenvolvimento de produtos, etc.), cuja
gastronomia vegana adquiriu ao longo dos anos, sobretudo pela escassez utilidade está na padronização das preparações, permitindo a
de determinados alimentos de origem animal, alta densidade reprodutibilidade das mesmas por qualquer profissional (4).
demográfica, valor acessível dos vegetais, associado a mudança dos Os produtos utilizados seguiram o padrão vegano,
costumes à mesa. procedendo somente de produtos de origem vegetal, isento de todo e
qualquer tipo de teste em animais, (Tabelas 1 e 2).
A escolha do mungunzá para o desenvolvimento da pesquisa
se deu pelo fato de ser um prato típico, de consumo em larga escala na Tabela 1. Mungunzá Salgado Vegano com Leite de Côco Fresco
área delimitada. Trata-se de um prato de origem africana, em que
inicialmente o consumo consistia na sua versão doce. Na região do
Cariri, ao sul do estado do Ceará, o mungunzá é caracterizado pela versão
salgada, acrescido de carnes secas e diversos legumes e verduras para a
saborização. A releitura aqui proposta consiste na versão salgada dentro
dos padrões veganos. Além dos legumes e verduras da versão original,
foram introduzidos outros insumos de oriegm vegetal, distribuidos em
dois testes individuais. Teste 1 com leite de côco e Teste 2 com leite de
castanha de cajú.

“A releitura é uma característica da cozinha contemporânea,


em que “A Cozinha Contemporânea permite reunir elementos de
tradições culinárias num único prato, uma verdadeira síntese das culturas
predominantes em cada região. Essa cozinha utiliza produtos no auge de
seu frescor e exuberância. Envolve pesquisa de novos ingredientes,
muitos testes de qualidade e até tecnologias de ponta.” (2)

Chama-se atenção para a necessidade de novos estudos na


literatura e desenvolvimento de novas receitas que contemplem o público
vegano, visto que este tem crescido bastante, sem, no entanto, ser
acompanhado de uma maior diversidade de receitas. (3)
Tabela 2. Mungunzá Salgado Vegano com Leite de Castanha de Cajú
O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver duas releituras
do mungunzá salgado, com o intuito de incrementar o cardápio do
consumidor vegano com base em um prato típico local de grande
aceitação.

Os objetivos específicos são: instigar a produção de pratos


veganos com base regional, desenvolver Ficha Técnica Operacional e
analisar sensorialmente as duas preparações a partir da diferenciação dos
leites vegetais utilizados.

Material e Métodos:

159
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Conclusão:

Ao desenvolver as releituras do mungunzá tradicional em


vegana com leite de castanha de Cajú e leite de côco fresco é possível
afirmar que ambas estão aptas a serem inseridas no cardápio dos adeptos
à esta pratica, pois tratam-se de duas versões que respeitam os princípios
Iniciou-se o pré-preparo com a colocação do milho em molho ideológicos do veganismo e possuem ambas sabor e apresentação
na água, este permaneceu assim por 24h seguidas. No dia seguinte, agradáveis ao paladar do grupo de interesse da pesquisa.
procedeu-se com a higienização de todos os itens da preparação. Em
seguida cozimento do milho na pressão por cerca de 40 minutos e o feijão A prática vegana, assim como toda prática gastronômica,
verde por 20 minutos. Durante o cozimento destes itens cortou-se todos considera os valores histórico-regionais enquanto uma expressão cultural
os legumes, pisou-se o alho e reservou-os. Este procedimento foi e social. Neste sentido, há a necessidade do movimento vegano dialogar
realizado para ambas as versões, o mungunzá salgado vegano com leite com a escala regional, abrangendo os saberes tradicionais.
de côco e o mungunzá salgado vegano com leite de castanha de cajú. O
diferencial entre as duas preparações foram o tipo de leite vegetal A elaboração da receita apresentada partiu de uma adaptação
utilizado. de um prato regionalmente bastante consumido, o que favorece a
aceitação e divulgação do mesmo, assim como da importância do
Para o leite de Côco Fresco: movimento vegano de maneira geral.

Processou-se 150g de côco fresco com 50ml de água em Referências


liquidificador, reservou-se na geladeira por uma hora.
1. CHERRY, E. O veganismo como movimento cultural: uma
Para o Leite de Castanha de Cajú: abordagem relacional. Estudos do movimento social, vol.5, N 2, 155-
170. Setembro de 2006.
Foram colocadas de molho as amêndoas da castanha de cajú
(200g) em 80 ml de água durante 24h. após o tempo do molho escorreu- 2. ARCHELA, Rosely. Cozinha Contemporânea Brasileira. 2012.
se a água e processou as amêndoas da castanha de caju com 50 ml de Disponível em: HTTP< www.sucessolondrina.com.br/colunas/cozinha-
água, reservou-se na geladeira por uma hora. conteporanea-brasileira>. Acessado em 18/11/2019.

Em seguida separou-se o mise em place de cada preparação, 3. VIEIRA et al. Desenvolvimento de uma refeição nutricionalmente
com seus respectivos pesos e medidas. Foram dispostas duas panelas, completa para o vegano. Anais V Congresso de Pesquisa e Extensão da
cada uma recebeu os grãos de milho cozidos em um refolgado com o FSG, Caxias do Sul – RS, 2017.
alho, cebolas e pimentões. Em seguida acrescentou-se o feijão verde
500ml de água e deixou-se ferver por mais quinze minutos. Em seguida 4. AKUTSU, R. C.; BOTELHO, R. A.; CAMARGO, E. B Karin
incluiu-se cebolinha, vargem couve-flor, cheiro verde e pimenta de
Eleonora Oliveira SÁVIO, K. E. O.; ARAÚJO, W. C. (2005). The
cheiro, deixou-se cozinhar por mais cinco minutos, por fim em uma das
panelas (preparação) colocou-se os 200 ml de leite de côco e na outra o technical cards as quality instrument for good manufacturing process.
leite de castanha de caju. Rev. Nutr., Campinas, 18(2):277-279.

Algumas são as vantagens na utilização da FTP como: (i)· 5. FONSECA, M. T. (2011) Tecnologias gerenciais de restaurantes. São
registrar quantidades de matéria-prima utilizadas nas preparações; (i) Paulo: Editora Senac.
padronizar quantidades de matéria-prima nas preparações, a montagem
e apresentação dos pratos; (iv) registrar os processos da produção; (v)
manter um histórico das preparações do restaurante; (vi) permitir a
comparação das informações de consumo; (vii) facilitar as projeções de
compras e especificações de mercadorias, e (viii) controlar os volumes
de matéria-prima requisitados. (5)

Resultados e Discussão:

O mungunzá salgado vegano de leite de côco fresco


apresentou-se levemente adocicado e cremoso, a vagem e a couve-flor
garantiram a crocância do prato. Os sabores apresentaram-se bem
harmonizados, sendo possível identificar a presença de cada vegetal
utilizado na preparação.

O mungunzá salgado vegano de leite de castanha de cajú


apresentou-se com consistência cremosa superior ao mungunzá salgado
vegano de leite de côco freco, a vargem e a couve-flôr garantiram a
crocância do prato. os sabores apresentaram-se com harmonização
inferior, por se sobressair a presença da castanha de cajú em relação aos
outros sabores.

Figura 1. Preparo de mungunzá vegano em duas versões: leite de côco


fresco e leite de castanha de cajú.

160
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Tecnológica de Farinhas de Trigo Comercializadas em Fortaleza-Ce

Marcia Pinheiro1, Leiliane Herculano2, Cristiano Costa3, Márcia Medeiros4, Beatriz Dantas5, Idila Araujo6

1
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
3
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
4
Docente – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará/IFCE – Campus Baturité
5
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará/UFC
6
Técnica do Laboratório de Análise de Alimentos – Embrapa Agroindústria Tropical/CE

marcia.nayara2011@gmail.com

Palavras-Chaves: qualidade, tecnologia e reologia.

INTRODUÇÃO foi conduzido o teste de Tukey ao nível de 5% para identificar


diferenças entre as amostras.
Em 2019, o Ceará foi o segundo maior importador de trigo no Brasil
(973.698,50 toneladas), trigo este proveniente principalmente da RESULTADOS E DISCUSSÃO
Argentina, Canadá e Estados Unidos (1). A partir do trigo é possível
obter a farinha de trigo, que é uma das matérias-primas mais conhecidas Os resultados de umidade e cinzas das farinhas de trigo estão
e utilizadas pela humanidade, possibilitando a confecção de pães, bolos, apresentados na tabela 1.
biscoitos e uma infinidade de outros produtos, logo é atribuído a mesma
um importante papel no aspecto econômico e nutricional da Tabela 1 – Resultados dos percentuais de umidade e cinzas de
alimentação humana (2). A farinha de trigo, por ser um produto do farinhas de trigo.
beneficiamento da matéria-prima alimentar em estado bruto, é Parâmetros F1 F2 F3
considerada um produto alimentício passível de sofrer alterações na sua Umidade (%) 12,44b±0,40 11,86b±0,33 9,85a±0,40
qualidade nutricional e tecnológica durante a moagem. Para a obtenção Cinzas (%) 0,46a±0,01 0,49a±0,10 0,32a±0,10
de produtos de qualidade é de suma importância estar atento as Letras distintas em uma mesma linha apresentaram diferenças significativas ao nível de 5% de
características químicas e tecnológicas da farinha, como as seguintes: significância (p<0,05).
uma farinha com umidade acima de 15% pode mofar antes do prazo de
validade, alto teor de cinzas torna o produto mais escuro e com estrutura Os resultados de cor, glúten e Falling Number (FN) das farinhas de trigo
prejudicada, atividade enzimática elevada (Falling Number baixo) estão apresentados na tabela 2.
promove excessiva hidrólise do amido acelerando a fermentação e
caramelização de açúcares, teor de glúten (principal responsável pela Tabela 2 – Resultados de cor, glúten e FN, de farinhas de trigo.
estrutura) baixo pode interferir nos volumes dos produtos e, cores muito Parâmetros F1 F2 F3
escuras (“L” baixo) dependendo do produto pode não ser desejável Cor
L* 93,50b±0,02 92,68c±0,24 94,40a±0,07
(3,4). Nesses aspectos, as farinhas destinadas ao consumo doméstico
Gl. úmido (%) 25,75a±0,07 22,90a±1,27 23,60a±0,42
devem apresentar parâmetros adequados ao preparo de todo e qualquer Gl. index (%) 98,45a±1,10 98,94a±0,87 97,90a±1,76
produto com ela elaborado. Portanto, o objetivo desse trabalho foi Gl. seco (%) 8,70a±0,00 7,95b±0,07 7,85b±0,07
avaliar os teores de umidade, cinzas e as características tecnológicas de FN (seg) 346a±4,24 322ab±9,19 304a±1,41
cor, glúten (úmido e index) e atividade enzimática (Falling Number) de Letras distintas em uma mesma linha apresentaram diferenças significativas ao nível de 5% de
significância (p<0,05).
três marcas de farinhas de trigo de uso doméstico comercializadas em
Fortaleza-Ce. Os percentuais de umidade encontrados nas três marcas de farinhas de
trigo estão em conformidade com a Legislação Brasileira, inferiores à
MATERIAIS E MÉTODOS 15% (6). Os dados de umidade encontrados neste trabalho foi similar
ao valor apresentado por Moraes et al. (7) (11,97 g.100 g-1) para farinha
Foram adquiridos em supermercados de Fortaleza três marcas de de trigo. Em contrapartida, entre os valores de referência das cinzas,
farinha de trigo, intituladas como F1, F2 e F3. não houve divergências, no entanto foram inferiores quando
comparados a outros autores (7 e 8), que ao avaliarem teores de cinzas
• Caracterização das Farinhas de farinhas de trigo obtiveram (1,78 g.100 g-1) e (1,64 g.100 g-1),
Baseadas nas metodologias descritas pela AACC (5), as determinações respectivamente. As farinhas auferidas neste estudo, são classificadas
de umidade e cinzas foram realizadas segundo os métodos nº 44-15 e nº em farinhas tipo 1, conforme a descrição do rótulo.
08-12, respectivamente. A cor instrumental (método 14-22) foi Uma farinha geralmente é considerada branca quando se obtêm valor
reportada a partir do parâmetro L* (luminosidade – branco/preto) do de L* maior ou igual a 93 (6) e as três farinhas de trigo diferiram
sistema CIELab. O glúten úmido da farinha, substância viscoelástica significativamente (p<0,05) nos parâmetros de luminosidade (L*),
formada por gliadina e glutenina, foi obtido pela lavagem das massas sendo a amostra F3 a mais clara e a F2 a mais escura.
de farinha com solução de cloreto de sódio, segundo o método nº 38- O objetivo da análise de glúten é a lavagem da farinha com a separação
12. do amido para que ocorra a formação do glúten, pois a quantificação
Para determinar a atividade da enzima α-amilase na farinha de trigo, das proteínas formadoras de glúten são essenciais na avaliação da
utilizou-se o número de queda ou Falling Number, conforme método nº farinha de trigo (9). O glúten é o principal determinante nos produtos
56-81B, sendo o resultado expresso em segundos. Todas as de panificáveis. Na tabela 2 os percentuais de glúten úmido e index não
determinações foram realizadas em triplicada. diferiram significativamente entre as amostras de farinhas. Porém,
quanto ao glúten seco (correlação com a quantidade de proteína da
• Análise estatistica farinha) a amostra F1 diferiu significativamente das amostras F2 e F3
A análise de variância (ANOVA) foi conduzida nos dados para verificar que não diferiram entre si. As informações obtidas mostram-se
se existiam diferenças significativas entre os tratamentos (p <0,05), e semelhantes comparadas às referências indicadas por Jacob e

161
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Leelavathi (10), que foi de 7,13 g.100 g-1 para glúten seco. Costa et al.
(8) apresentaram valores percentuais de glúten úmido igual ou superior
a 27,00 g.100 g-1 e por Moraes et al. (7) 26,69 g.100 g-1 para glúten
úmido e 10,13 g.100 g-1 para glúten seco.
O índice de queda ou análise de Falling Number mensura indiretamente
a atividade de enzima alfa-amilase presente nas farinhas de trigo. Uma
farinha de trigo com Falling Number de no mínimo 220 segundos, pode
ser destinada para uso doméstico, já uma farinha com Falling Number
de 250 seja é indicativo de trigo classificado como melhorador (6).
Dessa maneira, pôde-se verificar diferença entre os resultados, onde a
amostra F3 possui um maior teor de alfa-amilase e a F1 um menor teor
desta enzima, responsável pela quebra das ligações glicosídicas alfa 1-
4. Os valores são satisfatórios e apresentam semelhanças ao resultado
de Jacob e Leelavathi (10) que obtiveram Falling Number de 439
segundos.

CONCLUSÃO

De modo geral as farinhas analisadas encontram-se dentro dos padrões


estabelecidos pela legislação para umidade, cinzas, sendo classificadas
como tipo 1. Em relação a cor, as farinhas apresentam boa
luminosidade, com coloração mais clara, cujo valor médio está acima
de 90%, característica desejável para farinha de trigo. Os valores
obtidos para os teores de glúten e Falling Number são adequados para
farinhas de uso doméstico.

REFERÊNCIAS

1. ABITRIGO. Importação de Trigo 2020. Disponivel em:


http://www.abitrigo.com.br/wp-
content/uploads/2020/02/Importa%C3%A7%C3%A3o-de-trigo-
2020-1.pdf
2. FERREIRA, R. A. Trigo: o alimento mais produzido no mundo.
Nut. Brasil, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 45-52, 2003.
3. PAUL, T.; VIECILI, A. A.; MENEGUSSO, F. J.; FERREIRA, D.
T. L. Avaliação da conformidade físico-química de 10 marcas de
farinha de trigo comercializadas no estado do Paraná/ Brasil Centro
Vocacional Tecnológico da Cadeia do Trigo, 2010
4. IONESCU, V.; STOENESCU, G. Comparative evaluation of wet
gluten quantity and quality through different methods. The Annals
of the University Dunarea de Jos of Galati. Fascicle VI–Food
Technology, v. 34, n. 2, p. 44-48, 2010.
5. AACC – AMERICAN ASSOCIATION OF CEREAL
CHEMISTS. Approved methods. 10 ed. Saint Paul: AACC
International, Inc., 2000.
6. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
Instrução Normativa nº 08, de 02 de junho de 2005. Regulamento
Técnico de Identidade e Qualidade para a Classificação da Farinha
de Trigo. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, n. 105E, Seção 1, p. 91, 2005.
7. MORAES, K. S.; ZAVAREZE, E. R.; MIRANDA, M. Z.; SALAS-
MELLADO, M. M. Avaliação tecnológica de biscoitos tipo cookie com
variações nos teores de lipídio e de açúcar. Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Campinas, v. 30, p. 233-242, 2010.
8. COSTA, M. D. G.; SOUZA, E. L. D; STAMFORD, T. L. M;
ANDRADE, S. A. C. Qualidade tecnológica de grãos e farinhas de trigo
nacionais e importadas. Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Campinas, V. 28, nº1, 2008
9. GUTKOSKI, L.; PAVANELLI, A. P.; MIRANDA, M. Z.;
CHANG, Y. K. Efeito de melhoradores nas propriedades
reológicas e panificação da massa de farinha de trigo. Ciênc Tecnol
Aliment., v.17, n.1, p. 11-16, 1997.
10. JACOB, J.; LEELAVATHI, K. Effect of fat-type on cookie dough
and cookie quality. Journal of Food Engineering, v. 79, n. 1, p. 299-
305, 2007.
11. PIZZINATTO, Maria. Qualidade da farinha de trigo: conceito,
fatores determinantes e parâmetros de avaliação e controle. Centro
de tecnologia de cereais e chocolate. ITAL, Campinas, São Paulo,
1999.

162
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Antropoentomofagia e Cozinha de Insetos: o Futuro da Gastronomia

José Carlos Veloso Filho¹, Ellen Karina Dourado², Alessandra Santos dos Santos³, Janaína Sarmento Vilela4

¹ Mestre Docente/Pesquisador. Graduando do Curso Superior Tecnólogo em Gastronomia. Centro Universitário de


Brasília. E-mail: zveloso@gmail.com; jose.filho@uniceub.br
² Graduada. Curso Superior Tecnólogo em Gastronomia. Centro Universitário de Brasília.
³ Mestre Docente/Pesquisadora Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia e Bacharelado em Nutrição no UniCEUB
- Centro Universitário de Brasília. Orientadora da Pesquisa.
4
Mestre Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia e Docente do Bacharelado em Nutrição no
UniCEUB - Centro Universitário de Brasília.

Palavras chave: Entomofagia. Insetos no Cardápio. Insetos para Alimentar o Mundo.


inseto como uma alternativa nutricional e economicamente sustentável
INTRODUÇÃO para os comensais brasileiros.

A antropoentomofagia, alimentação humana por meio de insetos, é MATERIAL E MÉTODOS


uma prática inerente à própria existência do homem. Mais
detidamente, remonta ao processo histórico que se inicia na A partir da revisão bibliográfica sobre a antropoentomofagia se
Antiguidade até o mundo pós-moderno, seja por uma questão de fundamenta o constructo teórico, em especial as pesquisas de Julieta
sobrevivência, seja por uma questão cultural dos povos. Ao contrário Ramos Elorduy e, por sua vez, a empiria é notada com a apropriação
do devaneio presente no imaginário popular, não é uma novidade na da metodologia construtivista utilizada para a elaboração dos preparos
linha do “tempo histórico”, inclusive entre os indígenas brasileiros, com insetos potencializando os sabores por meio de técnicas
dado que várias etnias possuem o hábito de consumir insetos em suas específicas da alta gastronomia.
rotinas alimentares. A pesquisa se subdivide a partir dos seguintes pontos: (a)
Os insetos como fonte alimentar são, portanto, inerentes à própria antropoentomofagia: sobre os aspectos pertinentes para a
história e estão presentes na dieta de povos ocidentais e orientais, os compreensão da cultura alimentar de insetos por seres humanos; (b)
quais transmitem tradições milenares relacionadas a entocultura - inseto: sobre o que é inseto e se todos os insetos são comestíveis; (c)
processo de criação de insetos - para as gerações futuras. Apesar de inseto como potencial fonte nutricional: sobre os insetos comestíveis
haver imprecisão na literatura especializada quanto ao número de serem potenciais fontes de proteína e a relação custo/benefício de suas
países e comunidades nativas que utilizam insetos em suas dietas respectivas cadeias produtivas; e (d) cozinha de inseto: sobre o uso do
alimentares, até porque seria um trabalho de catalogação sem fim que protocolo de experimento como ferramenta metodológica
levaria décadas de esforço acadêmico, pode-se afirmar que o hábito construtivista por meio de cardápio propositivo com harmonização de
alimentar de consumo de insetos nos remete aos prim1órdios da insetos e outros insumos.
existência do ser humano, sendo ainda inerente a várias culturas do A partir da exploração dos estudos da antropoentomofagia foi
mundo pós-moderno. apresentado um protocolo de experimento com cardápio propositivo,
Rossano Linassi cita Julieta Ramos-Elorduy corroborando o sob o enfoque da metodologia construtivista, em especial para alcançar
entendimento segundo o qual mais de 3 mil grupos étnicos em mais de os objetivos propostos.
120 países consomem mais de 1500 espécies de insetos das mais de
centenas de milhares de insetos catalogados. (1)
Por sua vez, Edenilze Teles Romeiro, Israella Dias de Oliveira e Ester RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fernandes Carvalho também citam Julieta Ramos-Elorduy no mesmo
sentido. (1) O valor nutricional dos insetos, portanto, é um argumento coerente
Assim, em que pese ser muito estranho para diversos povos até mesmo para ser considerado pelos comensais brasileiros, justamente para
“pensar” no consumo de insetos, o dado concreto é que o valor minimizarmos os impactos ambientais do mundo pós-moderno,
nutricional desses seres é potencialmente maior do que muitas fontes adotando-os como potenciais insumos em preparações populares ou
alimentares tradicionais as quais estamos acostumados (1), como as de alta gastronomia. O México é um caso a ser observado, haja vista
carnes de gado, porco, frango e peixe que, a rigor, demandam um custo os estudos nutricionais de insetos comestíveis realizados (2) os quais
absurdo em suas respectivas cadeias produtivas gerando impactos comprovam a potência nutritiva desses insumos, corroborando um
ambientais irreparáveis decorrentes do desmatamento de áreas nativas, aspecto positivo da cultura mexicana, pois tal hábito alimentar é um
do uso desordenado do solo, do consumo desenfreado da água, da dos pilares que constituiu a formação do povo mexicano. Debora Holtz
extinção de animais e dos próprios insetos, dentre tantas outras e Juan Carlos Mena no prefácio da obra, “Acridofagia y otros Insectos:
consequências decorrentes do modelo global de obtenção de proteína em donde se cuenta sobre la crianza, recolección, preparación y
animal. consumo de chapulines, gusanos, hormigas y otros bichos para salvar
Nesse sentido, a pesquisa apresenta a antropoentomofagia conectada à al mundo” de Julieta Ramos-Elorduy, asseveram que enquanto a
cozinha de inseto a partir de um protocolo de experimento - ferramenta metade do planeta se horroriza com a presença de um inseto no prato,
metodológica construtivista - por meio de um cardápio propositivo a outra metade os consome e saboreia, inclusive, somente
para explorar a aplicação de técnicas gastronômicas na elaboração de sobreviveram graças ao consumo de insetos durante seu processo
preparos com insetos. Concretiza a interação dos comensais com a histórico-evolutivo (3).
harmonização e degustação da cozinha de inseto (a) tanto como uma Afirmam que o México é um país privilegiado, pois é o local com mais
maneira de potencialização de sabores para a satisfação dos sentidos, insetos comestíveis no mundo. Pesquisas recentes comprovam que os
propiciando o incremento paulatino da cozinha de inseto, (b) quanto insetos constituem uma das melhores fontes de proteína, tendo em
como uma alternativa proteica à escassez de recursos e, vista que consomem menos do que a quarta parte que é consumida
consequentemente, a proteção do meio ambiente. Os objetivos para se criar um boi para abate, bem como contribuem para diminuir
específicos consistem em: (a) aplicar técnicas de alta gastronomia no a principal fonte de contaminação ambiental do planeta: a criação de
preparo de alimentos tornando-os agradáveis aos sentidos (paladar, gado (3).
visão, olfato, tato e audição) dos comensais brasileiros; (b) estimular A pergunta a ser feita não deve ser “por que os povos comem insetos?”
o preparo e o consumo consciente de insetos como alternativa ao no sentido literal e repugnante da ideia preconcebida de que insetos
impacto ambiental e à escassez de recursos alimentares; (c) fomentar não são alimentos, mas sim, conforme o pesquisador inglês Vincent
a antropoentomofagia como forma de disseminar a história, a M. Holt questionou no século XIX, devemos nos perguntar: “por que
gastronomia e o modo de vida de comunidades nativas ou nações não comer insetos?”, ou seja, por que não comê-los se são a melhor
populosas resgatando tradições milenares; (d) e divulgar a cozinha de fonte nutricional de proteínas disponíveis? (3).

163
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e (2) ROSTRO, Beverly Ramos. SALAZER, Baciliza Quintero.
Agricultura – FAO (4), ao lançar seu olhar para o problema da RAMOS-ELORDUY, Julieta. MORENO, José Manuel Pino.
miserabilidade da fome, enfatiza que o consumo de insetos na CAMPOS, Sergio C. Ángeles. PÉREZ, Águeda Garcia. GARCIA,
alimentação humana é uma alternativa para o combate desse problema Daniela Barrera. Análisis químico y nutricional de tres insectos
global, apontando argumentos importantes para a reflexão do tema, comestibles de interés comercial en la zona aequeológica del
quais sejam: “(a) a criação comercial de insetos teria um grande municipio de San Juan Teotihuacán y en otumba, en el estado de
impacto positivo não só no meio ambiente, como também México. In: Interciência, vol. 37, nº 12, dezembro de 2012.
no suprimento de proteínas para uma população cada vez mais (3) RAMOS-ELORDUY, Julieta. Acridofagia y otros Insectos: em
necessitada de fontes de alimentos; (b) insetos são ricos em donde se cuenta sobre la crianza, recolección, preparación y consumo
proteínas, gorduras e minerais, podendo ser consumidos inteiros, de chapulines, gusanos, hormigas y otros bichos para salvar al mundo.
moídos, em forma de pasta ou incorporados em outros alimentos; (c) Ciudad de México: Trilce Ediciones, 2015. p.10-11
embora o consumo de insetos seja desprezado pelos europeus e norte- (4) FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations.
americanos, os insetos suplementam a dieta de mais de dois milhões Edible Insects – Future prospects for food and security. 2013.
de pessoas na América Latina, África e Ásia; (d) com cerca de um Disponível em: <http://www.fao.org/3/i3253e/i3253e.pdf.>. Acesso
milhão de espécies, ao menos um mil e novecentos são utilizadas em: 18 abr. 2019.
regularmente como alimento, inúmeras outras espécies poderiam ser
incorporadas como resultado de estudos; (e) os insetos mais
consumidos são os besouros, larvas, abelhas, vespas, formigas,
gafanhotos e grilos; (f) a maioria dos insetos consumidos hoje em dia
provém de sua coleta na natureza, sendo que, se fossem implantadas
criações comerciais, a oferta de alimentos aumentaria
substancialmente; (g) com o constante aumento da população humana
na Terra, a criação de animais para consumo e mesmo como animais
de estimação vai aumentar significativamente a demanda por água e
solo cultivável, o que pode ameaçar áreas hoje ocupadas por florestas;
(h) criação de porcos, por exemplo, libera, por quilograma
de carne produzida, de 10 a 100 vezes mais gases de efeito estufa do
que a criação de insetos; (i) insetos podem ser alimentados com restos
orgânicos produzidos pelo homem, o que reduziria o impacto sobre
o meio ambiente; (j) comparada com a dos animais tradicionais,
a tecnologia para a criação de insetos é relativamente simples,
podendo ser adotada em zonas rurais e em locais com escassez de
alimentos.” (4)

CONCLUSÃO

Os argumentos expostos pela Organização das Nações Unidas para


Alimentação e Agricultura - FAO por meio dos estudos contidos na
obra Insetos Comestíveis: perspectivas futuras para a segurança do
alimento e da alimentação merecem destaque, dado que relacionam
aspectos importantes sobre a antropoentomofagia, a miserabilidade da
fome e os impactos ambientais ocasionados pela cadeia produtiva da
proteína animal de gado, ou seja, conclui que o consumo de insetos é
uma alternativa para minimizar tais problemas globais.
A partir dos objetivos propostos no presente artigo, em síntese, pode-
se concluir que: (a) a cozinha de inseto não é uma novidade, sendo
inerente ao processo evolutivo dos seres humanos, portanto,
disseminar a cozinha de inseto significa contar nossa própria história
e repassar tradições milenares para as futuras gerações; (b) embora
haja certa divergência de dados quanto aos índices nutricionais de
determinados insetos em pesquisas distintas, os dados acerca dos
componentes proteicos são comuns e resultam em índices superiores
aos das fontes comuns de proteína; (c) somente os insetos comestíveis
devem ser utilizados como insumos nos preparos gastronômicos, dada
a imprescindibilidade de se observar a segurança alimentar e o
consumo consciente de insetos como alternativa alimentar; (d) a
relação custo/benefício da entocultura é nitidamente mais efetiva do
que o modelo global de mercado das fontes de proteínas comuns,
favorecendo a preservação do meio ambiente (subsolo, solo, água,
florestas, dentre outros); (e) o protocolo de experimento detalhando o
cardápio propositivo com harmonização de insetos e outros insumos é
uma ferramenta metodológica construtivista efetiva para disseminar a
cozinha de inseto; (f) o cardápio propositivo concretizado por meio do
serviço (degustação de cozinha de insetos em cinco etapas), de fato,
proporcionou a interação dos comensais com a harmonização e
degustação da cozinha de inseto; (g) a cozinha de inseto sempre
esbarra na barreira cultural de povos que não têm por hábito consumi-
los, então, por que comer insetos? Parafraseando Vicent M. Holt: “por
que não comê-los?”, já que são uma fonte proteica e sustentável muito
superior as demais fontes de proteína e podem ser tão ou mais
saborosos se aplicadas as pertinentes técnicas gastronômicas.

REFERENCIAS

(1) LINASSI, Rossano; BORGHETTI, Bruna. Antropoentomofagia:


um estudo sobre as potencialidades dos insetos como alimento no
Brasil. In: COSTA NETO, Eraldo Medeiros (Org.).
Antropoentomofagia: insetos na alimentação humana. Feira de
Santana: UEFS Editora, 2011.

164
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Tomate (Lycopersicon esculentum) e Extrato de


Tomate.

Fátima Costa1, João Freitas2, Maria Uchôa3, Sheyla Amaral4, Vitor Silva5, Maria Milhome6
1
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
2
Aluno do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
3
Aluna do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
4
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
5
Analista de Laboratório do NUTEC / UFC
6
Professora Orientadora Doutora / IFCE-Limoeiro do Norte

Endereço de E-mail do Autor Principal: fatimarafaelasilva@gmail.com;

Palavras –Chave: Pesticidas, Industrializados, Cromatografia Gasosa.

INTRODUÇÃO As análises de 35 agrotóxicos foram realizadas


através de um Cromatógrafo Gasoso acoplado a Espectrometria de
O uso indiscriminado de agrotóxicos tem se tornado Massas (GC-MS) da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do
relevante nos últimos anos. O Brasil vem se destacando como o maior Ceará–NUTEC.
consumidor mundial de agrotóxicos e, dessa forma, os impactos O método foi validado através da determinação da
causados por esses resíduos têm sido crescentes (1,2). A presença de seletividade, linearidade, exatidão, precisão, Limites de Detecção (LD)
agrotóxicos nos alimentos tem se tornado uma das principais e Quantificação (LQ), de acordo com os critérios SANTE/11813
preocupações, constituindo riscos para a saúde pública. Os produtos Diretrizes (7).
utilizados na lavoura tendem a depositar-se na casca dos frutos,
passando posteriormente, para a polpa e para o sumo (3). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo ABUSHITA et al. (1997) (4), os tomates e
os produtos derivados são ricos em nutrientes, sendo considerados fonte Em relação aos parâmetros de validação, tanto a
de compostos fenólicos, ácido ascórbico, antioxidantes e carotenoides, seletividade e linearidade, quanto a precisão e exatidão foram
tendo como principal o licopeno. Porém, dependendo dos níveis de satisfatórios. Os LDs e LQs estiveram abaixo dos LRMs estabelecidos
resíduos tóxicos presentes nesses alimentos, pode afetar sua qualidade pela ANVISA. Através dos resultados adquiridos pela análise
nutricional. cromatográfica, dos trinta e cinco ingredientes ativos avaliados nas
Para monitorar os níveis de agrotóxicos em produtos amostras, apenas dois foram detectados e quantificados.
alimentícios, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Constataram-se resíduos de cialotrina apenas na
criou, em 2001, o Programa de Análise de Resíduos de Pesticidas Amostra 1 de tomate in natura, como representado no gráfico a seguir,
(PARA), onde limita as quantidades e estabelece limites máximos de excluindo sua presença nos extratos de tomate. A cialotrina é um
resíduos (LMR) em alimentos, garantindo a qualidade dos mesmos para inseticida, pertencente ao grupo químico dos piretróides, de
o consumidor. Segundo as análises das amostras coletadas nos 26 classificação toxicológica III (medianamente tóxico) estabelecendo um
estados do Brasil, realizada pelo Programa de Análise de Resíduos de LMR de 0,05 mg/Kg com intervalo de segurança de três dias [9]. Porém
Agrotóxicos em Alimentos (PARA), um terço dos alimentos verificou-se concentração média de 0,125 mg/Kg, ultrapassando o LMR
consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos permitido para a cultura do tomate.
agrotóxicos (5).

O Ceará ocupa a décima terceira posição no ranking


de estados consumidores de agrotóxicos no país, e a oitava posição Figura 1 – Resíduos de cialotrina e tebuconazol nas amostras de tomate
quanto ao número de notificações de casos de intoxicações por in natura e extrato de tomate.
agrotóxicos. O uso de agrotóxicos é mais intenso na Chapada do Apodi,
bem como na Serra da Ibiapaba e Cariri, que são as três regiões onde a Concentrações do ingrediente ativo
agriculturas irrigada, em especial as fruticulturas e as horticulturas são (mg/Kg)
bastante desenvolvidas. (2,6). 1
Para garantir o controle de qualidade e a saúde pública
0.9
0.8
é bastante relevante monitorar os resíduos de agrotóxicos não só nas 0.7
matérias primas e insumos para processamento da indústria, mas 0.6
também o produto final, como por exemplo, o tomate in natura e o 0.5
extrato de tomate como produto processado. 0.4
Portanto o objetivo do estudo foi investigar a presença 0.3
de resíduos tóxicos de pesticidas em tomate in natura e extrato de 0.2
0.1
tomate, comparando ao limite estabelecido pela legislação.
0
MATERIAL E MÉTODOS Tomate in natura Extrato de tomate

As amostras de tomate in natura e extrato de tomate Cialotrina Tebuconazol


comercial foram adquiridas no mês de maio de 2018, em supermercados
FONTE: Elaborado pelos autores.
do município de Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil. Foram analisadas
três amostras de tomate e três amostras de extrato de tomate em
De acordo com os dados obtidos pela análise das
duplicatas. As etapas de recebimento, processamento e armazenamento
amostras, foi detectado a presença do fungicida tebuconazol nas
foram realizadas conforme o recomendado por SANTE/11813
amostras de tomates, bem como em extratos de tomates da Amostra 1,
Diretrizes (7).
como mostra a figura 1. Os níveis médios verificados de Tebuconazol
Todas as amostras foram analisadas de acordo com o
foram de 0,42 para o tomate in natura e 0,565 mg/Kg para o extrato de
método de QuEChERS descrito por ANASTASSIADES et al. (2003)
tomate, sendo superior à LMR estabelecida pela cultura, 0,30 mg/Kg.
(8). O material em análise foi homogeneizado e pesado em tubos de
Outros estudos avaliaram a permanência de pesticidas
centrifuga PTFE 50,0 mL. Em seguida, efetuaram-se os procedimentos
em vegetais processados, como o pepino em conserva, que também
de extração, partição e limpeza descritos pelo método QuEChERS.
foram identificados agrotóxicos acima do LMR e não autorizados (10).

165
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

6. MILHOME, M. A. L.; SOUSA, P. L. R., LIMA, F. A. F. AND


CONCLUSÃO
NASCIMENTO, R. F. Influence The Use of Pesticides in The Quality
of Surface and Groundwater Located in Irrigated Areas of Jaguaribe,
Apesar de cialotrina e tebuconazol apresentarem baixa toxicidade (Classe Ceará, Brazil. International Journal of Environmental Research, v.
III e IV) é necessário um maior monitoramento para avaliar o risco de 9, n. 1, p. 255-262, 2015.
contaminação a população. Os valores de LMR já são definidos para este
fim, visando garantir a segurança. Dessa forma o estudo sugere o controle 7. EC-European Commission Document nº SANTE/11813/2017.
contínuo desses resíduos em produtos derivados do tomate, tendo em Guidance document on analytical quality control and method validation
vista o risco à saúde da população [11]. procedures for pesticide residues and analysis in food and feed. 2017.
Disponível em: http://www.eurl-
REFERÊNCIAS pesticides.eu/docs/public/tmplt_article.asp? CntID=727&gt.; Acesso
11.08.2019.
1. PINHEIRO, A. I., FLORÊNCIO, A. C., CASTRO, R. C.,
NASCIMENTO, R. F. D., MILHOME, M. A. L., Theorical estimate 8. ANASTASSIADES, M., LEHOTAY, S. J. S., TAJNBAHER, D.,
and multiresidue analyze using SPME – GCIT/MS/MS for management SCHENCK, F. J. Fast and easy multiresidue method employing
of pesticide in water of the rural zone of Ceará, Brazil. Revista AIDIS acetonitrile extraction/ partitioning and„„dispersive solid-phase
de Ingeniería y Ciencias Ambientales, v. 9, n.3, p. 386-398, 2016. extraction” for the determination of pesticide residues in produce.
Journal of AOAC International, 86, 412–431, 2003.
2. MILHOME, M. A. L., SOUSA, D. O. B., LIMA, F. A. F., &
NASCIMENTO, R. F. Avaliação do Potencial de contaminação de 9. ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Agrotóxicos
águas superficiais e subterrâneas por pesticidas aplicados na agricultura e Toxicologia: Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em
do Baixo Jaguaribe-CE. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 14, n.1, alimentos: relatório anual. Citação e referências a documentos
p. 363-372, 2009. eletrônicos. 2018. <http://portal.anvisa.gov.br/> Acesso em:
14/08/2019.
3. MATSADIQ, G.; HU, H.; REN, H.; ZHOU, Y.; LIU, L.; CHEN, J.
Quantification of multi-residue levels in peach juices, pulps and peels 10. VIEIRA NETO, J., GONCALVES, P. A. S. Pesticide residues in
using dispersive liquid–liquid micro extraction based on floating pickling cucumbers in natura and processed. Horticult. Brasil. 2016;
organic droplet coupled with gas chromatography-electron capture 34(1):126-129.
detection. Journal of Chromatography B, v.879, n.22, p.2113-2118,
2011. 11. CANTARUTTI, T.F.P., Risco tóxico de resíduos de pesticidas em
alimentos e toxicidade reprodutiva em ratos wistar. Dissertação de
4. ABUSHITA A. A.;HEBSHI, E. A.; DAOOD, H. G.; BIACS, P.B. Mestrado. Universidade Federal do Paraná. 1-73.2005.
Determination of antioxidant vitamins in tomatoes. Food Chemistry,
v. 60, n. 2, p. 207-202, 1997.

5. ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. PARA –


Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Nota
técnica para divulgação dos resultados do PARA, 2016.

166
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estudo das bebidas fermentadas de mandioca dos índios brasileiros


e seus diferentes substratos

Marcelo Bandecchi B. Miranda 1, Vitor Ribeiro 2, Gabriela Bueno2


1 Professor Doutor IFCE-Ubajara, 2 Graduando em Gastronomia IFCE-Ubajara
marcelo.miranda@ifce.edu.br

Fermentação, mandioca, caxiri, cauim, bebidas indígenas

Introdução sendo comercializada nas ruas de Boa Vista (8). A questão do abuso
de álcool pelos índios tem sido historicamente relatada e muitas tribos
As bebidas fermentadas têm sido produzidas por diversas consomem seus fermentados em momentos além daqueles ligados às
civilização há séculos, existindo registros de produção de cerveja pelos festividades e rituais. Fernandes (9), em um profundo estudo histórico
sumérios há pelo menos 5.000 anos (1). Pães, queijos e manteigas sobre a relação dos índios e portugueses com as bebidas fermentadas,
também eram produzidos na região da Mesopotâmia, assim como o conclui que os índios sempre as usaram em demasia, o que
vinho e vinagre nos Bálcãs (1). Tais produtos fermentados sempre incomodava os portugueses. Cauinagem era um termo utilizado para
tiveram importância como alimento, mas também foram largamente descrever as beberagens dos Tupinambás e Tupis-guaranis. Por serem
utilizados para fins medicinais, ritualísticos, de conservação e de corriqueiras, foram bem relatadas em termos de técnicas, utensílios e
assepsia durante as guerras, como é o caso do vinagre. papel social em manuscritos desde o século XVI. O relatos levantados
O processo de fermentação baseia-se na transformação da matéria também confirmam que os Tupinambás do litoral utilizavam do
orgânica estimulado por enzimas de microrganismos, tendo como mesmo modo a farinha para a produção de bebidas, fato que
resultado a produção de álcool, ácido lático e/ou ácido acético, assim desagradava os portugueses (9).
como CO2. As propriedades probióticas desses microrganismos são Desta forma percebe-se o amplo uso de bebidas fermentadas pelos
amplamente conhecidas e incluem a prevenção de doenças indígenas, com uma grande variação de nomes, substratos e métodos
gastrointestinais, protegem as funções do fígado, reduzem o colesterol de produção. Bebidas com o nome de chicha, cauim, caxiri, pajuarú e
e a pressão sanguínea, melhoram a imunidade, possuem efeitos caiçuma são comuns por todo o território indígena brasileiro, sendo
anticarcinogênicos, produzem nutrientes, entre outros (2). produzidas das mais diversas formas e com matérias primas que
Com a recente popularização no Ocidente de fermentados como o dependem da estação do ano. Entretanto, o tempo de fermentação e o
Kefir e Kombucha, principalmente pelo apelo probiótico que esses produto final podem variar consideravelmente dependendo do tipo de
alimentos apresentam, têm ocorrido um aumento no interesse por substrato e técnica utilizados.
pesquisas com fermentados tradicionais indígenas (3). Observa-se Os objetivos da presente pesquisa são discutir os métodos de
também um grande interesse no resgate e manutenção das culturas produção dos fermentados de mandioca indígenas e avaliar diferentes
ancestrais indígenas, que sempre utilizaram produtos fermentados para tipos de substrato para a produção destes fermentados.
diversos fins (4). Nas Américas, existem relatos que os Maias já
dominavam as técnicas de fermentação do cacau há pelo menos 3.000 MATERIAL E MÉTODOS
para produzirem uma bebida ritualística sagrada.
No Brasil, os registros arqueológicos não são abundantes, Para avaliar o potencial de fermentação de diversos substratos da
entretanto é amplamente documentado que quando os portugueses mandioca e métodos de processamento foi realizado um experimento
chegaram à costa brasileira, os índios já dominavam várias técnicas de no Laboratório de Análise Sensorial do Instituto Federal de Educação,
fermentação. Segundo o IBGE (5), o Brasil possui atualmente mais de Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Ubajara. Para o experimento,
305 povos indígenas que sofreram diversas influências devido a foi elaborado um desenho experimental com seis tratamentos que
vastidão do território nacional. Contudo, o consumo de fermentados é envolviam técnicas diferentes de produção de bebidas fermentadas a
amplamente difundido entre todas as etnias, sejam estes para fim de partir da mandioca, algumas delas utilizadas tradicionalmente por
nutrição, preservação do alimento, medicinal, ritualístico ou simples índios brasileiros. Todos os tratamentos foram feitos em triplicata,
lazer. De fato, é possível observar a produção de diversos fermentados totalizando 18 recipientes de fermentação. Para os quatro tratamentos
em uma mesma aldeia com funções sociais diferentes (6). Geralmente que utilizaram mandioca in nautra, dois quilos da mesma foram
essas receitas permanecem intactas em seu modo de preparo devido ao cozidos em água por 3 horas e deixados em repouso por 24 horas na
respeito e tradição com os “antigos”, seus entes que vieram antes das própria água de cozimento. Parte da mandioca foi então amassada com
gerações atuais5. garfo sem contato nenhum com as mãos para o tratamento 1 (MGF) e
Em vista da amplitude do território nacional, pode-se observar um foram colocadas 150g em garrafas esterilizadas de vidro transparente
grande número de bebidas e mingaus diferentes, muitas vezes com o de 500ml, sendo que e o volume total foi completado com água de
mesmo nome ou então o mesmo produto recebe nome diferente em cozimento das mandiocas. Este tratamento foi considerado controle,
variadas regiões(6). Pode-se ainda encontrar a mesma bebida em uma vez que não faz parte das técnicas tradicionais indígenas, porém
etnias diferentes, mas com significado social distinto. Porém, um fator é capaz de garantir maior inocuidade ao substrato de fermentação.
em comum que pode ser observado é que a maioria desses alimentos Para o tratamento 2, o mesmo volume de mandioca (150g) foi
amassado manualmente por seis pessoas e adicionado de água de
tem como matéria prima mandioca, milho, batata doce, arroz, mel e
cozimento (MMA). No tratamento 3, a mandioca foi mastigada por
frutas como abacaxi, buriti, banana, caju ou jenipapo.
seis pessoas diferentes antes de ser porcionada (150g), adicionada de
No baixo Xingu, o povo Juruna denomina de caxiri uma bebida água de cozimento e colocada em recipientes iguais (MMG). No
feita a partir de mandioca ou eventualmente de milho. Entretanto, faz tratamento 4 a mandioca sofreu o mesmo procedimento que no
distinção entre uma bebida refrescante não alcóolica tomada tratamento 1, amassada com garfo, entretanto foram adicionadas em
diariamente por toda a tribo, chamada também de yakupa e outra para cada recipiente 50g de casca de abacaxi previamente lavadas apenas
os rituais, esta alcóolica, chamada de caxiri ou cauim pawi (3). Além em água corrente (MAB). Os tratamentos 5 e 6 avaliaram outros
disso, é produzido o cauim dubia, um subproduto não alcóolico do substratos processados de mandioca. No tratamento 5 foram utilizadas
caxiri, com fins de preservação do alimento, que é consumido o ano 150g de farinha de mandioca comercial com água filtrada em cada
inteiro, além de outros fermentados. A maioria dessas bebidas é feita recipiente (FAR) e no tratamento 6 foram utilizadas 150g de fécula de
a partir da puba, ou seja, a mandioca in natura, fermentada em canoas mandioca (goma de tapioca), adicionadas de água filtrada até
(3). Já os Waiãpi do Amapá e Guiana produzem o caxiri a partir do completar o volume de 500ml das garrafas de fermentação (FEC).
beijú e seu consumo está fortemente ligado a rituais de passagem, que Amostras de todos os tratamentos foram separadas para medição de
os conectam com seus antepassados. A bebida é fortemente alcóolica, pH. Após a preparação dos substratos de fermentação, foi colocado um
mas utilizada com estrito intuito cultural para manter as tradições balão de látex na extremidade de cada garrafa, que foram presos
nativas (7). firmemente com fita isolante. Tais balões tinham como função medir
Por outro lado, os Wipachana de Roraima, utilizam o caxiri de o volume de gás produzido por cada tratamento. Após sete dias de
forma mais ampla, inclusive no dia a dia. Neste local, a bebida recebe fermentação, os balões foram retirados e o volume calculado por
também o nome de pajuarú, é produzida a partir da tapioca ou deslocamento de água em uma proveta. Com sete dias foi também
mandioca in natura e tem sido utilizada de forma rotineira, inclusive

167
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

realizada a medição do pH de cada tratamento e o mesmo facilitar o processo de hidrólise do amido aumentando assim a
procedimento foi realizado com 21 dias. quantidade de mono e dissacarídeos, que servem preferencialmente de
substrato para os microrganismos fermentadores. Bebidas indígenas
RESULTADOS E DISCUSSÃO tradicionais com a Chicha dos Andes e o caxiri de várias etnias ainda
utilizam essa técnica (3). Relatos históricos afirmam que os
As bebidas fermentadas, de um modo geral, são produtos portugueses, com aversão do processo de mastigação dos índios,
extremamente comuns entre os índios brasileiros, entretanto o modo tentaram produzir fermentados alcóolicos de mandioca sem a
de produção e o contexto de uso variam bastante entre as diversas mastigação, mas não obtiveram êxito (7).
etnias. Após 7 dias de experimento observou-se que ocorreu Também foi observada queda acentuada de pH na amostra na qual
fermentação em todos os tratamentos avaliados. Tal fermentação pode foram incorporados pedaços de cascas de abacaxi. Tal procedimento é
ser observada pela formação de gás preso nos balões de látex e pela comum entre os índios brasileiros (6). A adição de açúcares da fruta
redução de pH das amostras. favorecem o processo de fermentação por microrganismos uma vez
A fermentação caracteriza-se por ser um processo biológico que fornece açúcares simples como a frutose e sacarose.
preferencialmente anaeróbico, onde um microrganismo produz ATP O cozimento da mandioca durante várias horas parece ser uma
para sua sobrevivência, pela transformação de compostos orgânicos importante etapa para ajudar na degradação do amido e por isso
complexos para composto orgânicos simples. Neste processo utilizado por todas as etnias indígenas brasileiras, exceto quando se
metabólico não existe uma substância receptora de elétrons como produz fermentados a partir da puba ou da goma.
oxigênio e, normalmente, produz-se como resultado álcool, ácido
acético ou ácido lático, que reduzem o pH, além do gás carbônico (1). CONCLUSÕES
Observou-se que o primeiro tratamento a apresentar sinais de
fermentação foi o da fécula de mandioca (FEC), no qual os balões das Com a presente pesquisa pode-se concluir que o processo de
três repetições haviam sido inflados no período de 24 horas. A fermentação da mandioca ocorre com bastante facilidade, uma vez que
produção de gás carbônico é resultado obrigatório do processo de todos os tratamentos apresentaram evidências claras do processo nas
fermentação e a sua produção é proporcional à quantidade de açúcares primeiras 48 horas, independente do substrato utilizado. Tal fato
convertidos (1). Sendo assim, tomou-se como evidência da ocorrência justifica o porquê da fermentação ser um processo amplamente
utilizado por todas as etnias indígenas do Brasil, seja para produzir
de fermentação o aumento do volume dos balões. Todos os
mingaus nutritivos ou bebidas alcóolicas ritualísticas. O processo de
tratamentos apresentaram formação de gás no período de 48 horas. fermentação não somente é capaz de preservar os alimentos por
Entretanto, após certo volume observou-se que a pressão do gás períodos mais longos sem refrigeração, como também é capaz de
exercida em algumas amostras causava vazamento do gás, o que fornecer probióticos alimentares com importantes consequências na
comprometeu a análise estatística do volume de gás produzido. Apesar saúde de quem consome. A mastigação prévia dos carboidratos facilita
disso, pode-se observar uma sequência temporal na formação inicial o processo de fermentação e provavelmente por isso os índios ainda a
de gás, sendo que a ordem foi a fécula de mandioca, a farinha, a usem como método, apesar do princípio criar repulsa na perspectiva
mandioca mastigada, a mandioca com abacaxi, a mandioca amassada higiênico-sanitária do homem branco. A adição de frutas também
na mão e por último a mandioca amassada no garfo. Tais resultados facilita o processo de fermentação, o que justifica sua ampla utilização
são compatíveis com a hipótese de que os produtos processados e por várias etnias, incluindo abacaxi, buriti e banana. O resgate e
refinados apresentam maior quantidade de açúcares simples preservação das técnicas, costumes e rituais indígenas se faz
disponíveis para a fermentação, assim como a adição de frutas também necessário, uma vez que a cultura nativa tem sofrido forte influência
do meio socioeconômico dominante e corre o risco de se perder em
aumenta a quantidade desses açúcares (3). Além disso, o processo de
detrimento de tecnologias e processos modernos.
mastigação favorece a disponibilidade de açúcares fermentáveis
devido à prévia ação das enzimas salivares. Mesmo havendo REFERÊNCIAS
imprecisão no volume de gás produzido, todas as repetições de todos
os tratamentos foram capazes de inflar os balões com pelo menos 80 1 Oliveira, L. G.; Mantovani, S. M. Transformações biológicas:
ml de gás, deixando-os na posição vertical, o que demostra que ocorreu contribuições e perspectivas. Química Nova, Vol. 32, No. 3, 742-756,
fermentação em todos os casos. Tal resultado é corroborado pela 2009.
alteração de pH ocorrido também em todas as amostras. 2 Komatsu, T. R.; Buriti, F.C.; Saad, S. M. Inovação, persistência e
criatividade superando barreiras no desenvolvimento de alimentos
A tabela I mostra que todas as amostras sofreram redução probióticos Rev. Bras. Cienc. Farm. vol.44 no.3 São Paulo, 2008.
considerável de pH no dia 7 e a redução de pH continuo ocorrendo até 3 Santos, C.A. Identificação da microbiota e caracterização físico-
o dia 21. A acidificação é característica natural do processo de química da bebida fermentada caxiri produzida pelo povo Juruna,
fermentação, seja ela feita por bactérias ou por leveduras. A análise de Mato Grosso, Brasil. Dissretação de Mestrado. Univ. Fed. de lavras
variância (One-way ANOVA) calculada para pH não mostrou 2010.
diferença significativa no dia 7 entre as amostras considerando p < 4. Isaac, T. B. S.; Ivanise Maria Rizzatti, I. M.; Lima, R. C. P. Preparo
0.05 (F= 0,528, p-value = 0,715). do pajuaru como proposta para o Ensino de Química em uma escola
indígena no município de Bonfim, Roraima. XVIII Encontro Nacional
Tabela 1. Média do pH dos seis tratamentos e desvio padrão (DP) nos de Ensino de Química (XVIII ENEQ) Florianópolis, SC, Brasil – 25 a
28 de julho de 2016.
dias 7 e 21 do experimento. MGF = mandioca amassada com garfo;
5 IBGE. Censo de 2010. Disponível em:
MMA= mandioca amassada com a mão; MMG= mandioca mastigada;
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/defa
MAB= mandioca com abacaxi; FAR= farinha de mandioca; FEC= ult.shtm>. Acesso em: 22 jan. 2020.
fécula de mandioca) 6 Noelli, F. S.; Brochado, J. P. O cauim e as beberagens dos guarani
e tupinambá: equipamentos, técnicas de preparação e consumo. Rev.
pH dia 7 (média pH d 21(média do Museu de Arqueologia e Etnologia, Sao Paulo, 8: 117-128, 1998
Tratamento pH inicial
± DP) ± DP) 7 Fernandes, J. A. Um tesouro etílico: bebidas, identidades e
MGF 7,89 4,53±0,18 4,07±0,28 categorias sociais na Amazônia portuguesa do século XVIII.
MMA 7,82 4,47±0,53 3,97±0,23 Seaculum: Revista de história; João Pessoa, jul./dez. 2012.
7,75 3,59±0,10 3,33±0,08 8 Júnior, Amilcar. De bebida cultural dos índios, caxiri agora é produto
MMG
à venda 27/01/2017 disponível em http://www.folhabv.com.br.
MAB 7,32 3,70±0,44 3,24±0,07 acessado em 12/01/2020.
FAR 7,42 4,05±0,13 3,78±0,12 9 Fernandes, J. A. Sobriedade e embriaguez: a luta dos soldados de
FEC 7,37 4,20±0,11 3,84±0,03 Cristo contra as festas dos tupinambás. Tempo, vol. 11, n.
22, Niterói, 2007.
Apesar de não ter sido observada diferença significativa (p>0,05) de
pH entre as amostras no dia 7, a amostra que atingiu pH mais baixo foi
aquela mastigada antes de ser colocada para fermentar (MMG), que
alcançou pH de 3,59 em 7 dias e 3,33 em 21 dias. Tal resultado é
compatível com a teoria de que as enzimas da saliva são capazes de

168
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A somatossensibilidade oral na experiência de degustação e percepção de sabor em análise


sensorial de brownie de chocolate
Fernanda Soares1, Alessandra Benício², Nayane Fonteles², Paulo Sousa³
1
Bacharel em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. Email: fernandasoares@alu.ufc.br
2
Estudante de Bacharelado em Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte da UFC.
3
Professor do Curso de Bacharelado em Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte da UFC.

Palavras-chaves:Multissensorial.Toque.Adoçante.
INTRODUÇÃO máximo (gostei extremamente) (5). Essa escala indicou o quanto os
A análise sensorial é uma área de grande importância para provadores gostaram ou desgostaram das amostras em relação aos
a Gastronomia, pois seu estudo permite a percepção de fatores atributos de cor, aroma, doçura, textura e impressão global.
necessários para analisar um alimento. O alimento pode ser analisado Um total de 60 provadores participou da análise
por meio dos cinco sentidos: olfato, paladar, visão, tato e audição e sensorial. 30 provadores receberam amostras obedecendo o
ambos tem papéis essenciais na avaliação sensorial (1). A delineamento A-B e 30 provadores receberam seguindo B-A. Todos
experiência de comer e beber é, no entanto, “multissensorial”, sendo os provadores e participantes foram pessoas voluntárias, não
o conjunto da percepção de todos os sentidos responsáveis pela treinadas, recrutadas aleatoriamente entre estudantes e servidores da
aceitação ou rejeição de um alimento (2). referida universidade, e que mostraram seu consentimento, através da
A importância do toque e da somatossensibilidade oral para assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
a experiência de degustação e percepção de sabor é surpreendente. Os provadores julgaram os atributos de cor, aroma,
Nenhum dos muitos livros que foram publicados ao longo dos anos textura, doçura e impressão global das amostras segundo escala
sobre o tópico da percepção tátil já mencionou o papel significativo hedônica de atributos, sendo: 1-Desgostei muitíssimo; 2-Desgostei
que esse sentido desempenha na nossa experiência de comida e muito; 3-Desgostei moderadamente; 4- Desgostei ligeiramente; 5-
bebida. Talvez ainda mais surpreendentemente, os profissionais que Não gostei nem desgostei; 6- Gostei ligeiramente; 7- Gostei
trabalham nos campos da ciência dos alimentos e da gastronomia não moderadamente; 8- Gostei muito; 9- Gostei muitíssimo (1).
parecem ter dado a esse tópico a ideia de que isso certamente merece
também (2). Figura 1: Amostras Figura 2: Vista superior das amostras
Partindo deste contexto, o objetivo do presente trabalho de brownie codificadas. encaminhadas para análise sensorial.
foi realizar a análise sensorial de dois produtos: um clássico brownie
de chocolate adoçado com açúcar mascavo e um brownie de
chocolate adoçado com rapadura, observando como a troca de
ingredientes, adicionados com a mesma função, pode impactar na
percepção sensorial do alimento como um todo. Dessa forma,
também discutir a somatossensilidade oral envolvida na percepção de
textura, aroma e sabor.

MATERIAIS E MÉTODOS
A análise sensorial foi realizada no Laboratório de Análise
Sensorial da Universidade Federal do Ceará no dia 01 de Outubro de
2018. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram feitas duas formulações de brownie, com
proporções iguais de ingredientes e obedecendo mesmos métodos de Cor
preparo e parâmetros de tempo e temperatura de forno. A única A cor da amostra adoçada com açúcar mascavo
alteração foi o tipo de ingrediente adicionado para adoçar. (amostra A) apresentou grande aceitação dos provadores.
Tabela 1. Proporção de ingredientes usados na formulação das Aproximadamente 92% dos julgadores deram nota 7, 8 e 9, que, na
amostras. Adaptado (3) escala hedônica pré-estabelecida, equivalem a “Gostei
Moderadamente”, “Gostei muito” e “Gostei muitíssimo”,
Quantidade Ingrediente respectivamente.
500g Chocolate meio amargo A análise da cor do brownie adoçado com rapadura
300g Manteiga sem sal (amostra B) mostrou que 43% dos provadores “Gostaram
6 unid Ovos inteiros moderadamente” ou “Gostaram muitíssimo”; 40% “Gostaram muito”
300g Açúcar mascavo ou rapadura triturada e 10% “Desgostaram muito”, “Desgostaram ligeiramente” ou “Não
300g Farinha de trigo sem fermento gostaram nem desgostaram”.
Qb* Sal
Qb* Amendoim Aroma
Os resultados do atributo aroma da amostra A mostraram
Legenda: *Qb: Abreviatura de quanto baste. Abreviatura muito usada em receitas culinárias
para indicar que a quantidade de determinado ingrediente deve ser aquela que cada um que 97% dos provadores gostaram da amostra, variando apenas a
considera suficiente ou necessária (4). intensidade do julgamento entre “Gostei Ligeiramente” e “Gostei
Muitíssimo”.
Inicialmente, o chocolate foi derretido em micro-ondas. 93% dos provadores gostaram do aroma da amostra B,
Depois foi acrescentada a manteiga. Em outro bowl, os ovos foram atribuindo notas 6,7,8 ou 9 que correspondem, na escala hedônica
adicionados ao açúcar mascavo ou à rapadura e misturados referida, a “Gostei Ligeiramente”, “Gostei Moderadamente”, “Gostei
levemente. À essa mistura, acrescentou-se chocolate e manteiga, Muito” e “Gostei Muitíssimo”, respectivamente.
mexendo suavemente com um fouet, para uma boa homogeneização.
Então, foi acrescentada a farinha de trigo peneirada e o sal. Por Textura
último, foi adicionado o amendoim picado. A massa foi posta em A análise dos resultados do atributo textura da amostra A,
uma assadeira de 30X20 cm e levada ao forno a 180°C por mostrou que 80% dos provadores “Gostaram Muito” ou
aproximadamente 40 minutos. “Muitíssimo” da textura desta amostra. 16% “Gostaram
As amostras foram entregues aos provadores codificadas, Ligeiramente” ou “Moderadamente” e 3 % “Desgostaram
sendo “A” o brownie adoçado com açúcar mascavo e “B” o brownie Ligeiramente”.
adoçado com rapadura. As amostras apresentavam tamanhos Um total de 2% dos provadores “Desgostaram Muito” ou
iguais, tendo 3 cm de comprimento, 3 cm de largura e 2 cm de altura “Muitíssimo” da textura da amostra B. 11% “Desgostaram
e foram servidas à temperatura ambiente, cerca de 25°C. Moderadamente” ou “Ligeiramente”. 37% atribuíram notas 6 e 7,
A aceitação sensorial foi avaliada através de uma ficha gostando “Ligeiramente” e “Moderadamente”. 40% dos provadores
com escala hedônica estruturada de nove pontos, onde 1 se referiu à “Gostaram Muito” ou “Muitíssimo” da textura da amostra de
nota de valor mínimo (desgostei muitíssimo) e 9 à nota de valor brownie adoçado com rapadura.

169
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

textura (2).
Doçura Claro que a composição nutricional e as características
sensoriais dos açúcares variam de acordo com alguns atributos
A análise dos resultados do atributo doçura da amostra A, inerentes ao sistema de produção tais como: condições de
mostrou que 88% dos provadores “Gostaram Moderadamente”, crescimento, estação do ano entre outros, mas essa variável também
“Muito” ou “Muitíssimo” da doçura dessa amostra e apenas 1% pode ser afetada pelo transporte, estocagem e preparação do
“Desgostou Moderadamente”. alimento(7).
Em relação à doçura da amostra B, 79% dos provadores Mas o fato da experiência tátil influenciar a percepção de
“Gostaram Muito” ou “Muitíssimo”, 16% “Gostaram Ligeiramente” alimentos e bebidas provavelmente tem várias explicações
ou “Moderadamente” e 2% “Desgostaram Ligeiramente” ou “Não diferentes: alguns dos efeitos são provavelmente de natureza
gostaram nem desgostaram”. perceptiva, provavelmente resultam das regras da integração
multissensorial. Outros, enquanto isso, provavelmente têm uma
Impressão global origem mais decisória. Será o trabalho / desafio para pesquisas
futuras tentar determinar a explicação mais apropriada para qualquer
O gráfico 5 apresenta os resultados obtidos da efeito do toque no momento da degustação(2).
IMPRESSÃO GLOBAL das amostras.
Gráfico 1: Notas atribuídas à IMPRESSÃO GLOBAL das amostras
em relação ao total de provadores. CONCLUSÕES

A análise sensorial aplicada revelou que a troca de açúcar


mascavo por rapadura trouxe grandes impactos na percepção de
textura, aroma, sabor e doçura das amostras, embora as duas
amostras tenham tido bons índices de aceitação e intenção de
compra.
A somatossensibilidade oral do sentido do toque pode
explicar os resultados da análise sensorial aplicada, no sentido de
que todos os aspectos ligados à rejeição/aceitação de um alimento
são de natureza subjetiva e não dizem respeito apenas a um atributo,
mas ao conjunto de características deste. Desta forma, qualquer
degustação de um alimento ou bebida é uma experiência
multissensorial e o toque é bastante determinante, pois nos dá pistas
valiosas, desde a temperatura até a textura dos alimentos.
A impressão global da amostra A recebeu notas 7, 8 e 9,
indicando que os provadores “Gostaram Moderadamente”, “Muito”
ou “Muitíssimo” da amostra como um todo. REFERÊNCIAS
Do total de provadores, 6% deram nota 5 para a impressão 1. DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 3. ed. rev. e
global da amostra B, representando uma parcela que “nem gostou ampl. Curitiba: Champagnat, 2011. 426 p. (Coleção Exatas ; 4).
nem desgostou” da amostra. 91% dos provadores gostaram da 2. SPENCE, Charles et al. A touch of gastronomy. Flavour, [s.l.], v.
impressão global desta amostra, variando seus julgamentos entre 2, n. 1, p.2-14, 19 fev. 2013. Springer Science and Business Media
“Gostei Ligeiramente” e “Gostei Muitíssimo”. LLC. http://dx.doi.org/10.1186/2044-7248-2-14.
3. OLIVEIRA, F. Brownie de chocolate com castanhas. 2016.
Intenção de compra Disponível em: www.flamboesa.com.br/brownie-de-chocolate-com-
Baseando-se na impressão global das amostras, os castanhas. Acesso em: 01 set. 2018.
provadores avaliaram, segundo escala pré-definida, sua intenção de 4. "qb", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha],
compra, caso as amostras fossem comercializadas. A escala variava 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/qb [consultado em 16-02-
entre 1 e 5, sendo: 1- Certamente não compraria; 2- Possivelmente 2020].
compraria; 3-Tenho dúvidas se compraria; 4- Possivelmente 5. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
compraria; 5- Certamente compraria (5). New York: Academic Press.2004.
Gráfico 2. Resultados obtidos da intenção de compra: notas
atribuídas X número de provadores. 6. SPENCE, Charles; SMITH, Barry; AUVRAY, Malika. Confusing
Tastes with Flavours. In: STOKES, Dustin; MATTHEN, Mohan;
BRIGGS, Stephen. Perception and Its Modalities. Oxford: Oxford
University Press, 2015. p. 247-276.
7. Dangour, A. D.; Dodhia, S. K.; Hayter, A.; Allen, E.; Lock, K.;
Uauy, R. Nutritional quality of organic foods: a systematic review.
American Journal of Clinical Nutrition. New York. v. 90, p. 680-685,
2009.

Amostra A: 1% avaliou que tinha dúvidas se compraria;


30% Possivelmente compraria e 68% Certamente compraria o
produto, caso fosse comercializado.
Amostra B: 3% Possivelmente não Compraria; 20%
teve dúvidas se compraria; 55% Possivelmente compraria e 21%
certamente compraria o produto, caso fosse comercializado.

Aspectos somatossensoriais da comida e bebida


Nem sempre é tão fácil determinar exatamente qual
sentido está realmente fazendo o trabalho em termos de dar origem a
aspectos específicos de nossa experiência multissensorial de comida
e bebida (6).
A somatossensibilidade oral desempenha um papel
crucial em muitos aspectos de nossa percepção multissensorial de
comida / sabor. A estimulação tátil que recebemos na boca nos
informa sobre tudo, desde a temperatura de um alimento até sua

170
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial de Estruturados Mistos de Cajá e Manga

Giovana Prado1, Keliane Santiago1, Lerrena Sousa1, Michelle Cavalcante1, Larissa Silva1, Raimundo
Figueiredo1
1
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará. vanaprado@yahoo.com.br

Palavras-Chaves: barra estruturada, cajá, manga, banana, análise sensorial

INTRODUÇÃO Tabela 1 – Formulações de estruturados com diferentes


A investigação médica e nutricional tem destacado os concentrações de manga, cajá e açúcar adicionados de 1% do
benefícios para a saúde de consumir frutas e vegetais que hidrocolóide goma gelana.
F Concentração Concentração Concentração
incluem a redução de risco de doenças.
manga cajá açúcar
Frutas estruturadas são produtos obtidos de polpas de frutas 1 75% 25% -
devidamente formulados para a obtenção de produtos 2 75% 25% 5%
nutritivos, possui aceitação sensorial (textura e sabor) pelo 3 50% 50% -
consumidor, estrutura maleável, tecnologia empregada é 4 50% 50% 5%
simples, de baixo custo e facilmente adaptável (1), além de Fonte: Elaborada pela autora
conter características sensoriais e nutricionais da fruta. São Posteriormente, estas formulações foram submetidas à
utilizados hidrocolóides, responsáveis pela redução da avaliação sensorial com objetivo de determinar a formulação
umidade do alimento e estruturação da polpa, por meio de melhor aceita sensorialmente.
uma gelatinização, proporcionando textura e aspecto O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
agradáveis ao produto final (2). Gelano tem sido Ceará (PROPESQ) aprovou a pesquisa com o número
amplamente utilizado como um material de formação de gel CAAE 56393715.5.0000.5054, de 22 de novembro de 2016.
no domínio da ciência alimentar. A avaliação sensorial foi realizada por 100 provadores, no
A manga (Mangifera indica L.) é uma ótima fonte alimentar Laboratório de Análise Sensorial do Instituto de Cultura e
de antioxidantes, uma vez que possui em sua composição Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC). Todos os
carotenóides, ácido ascórbico e compostos fenólicos, que provadores e participantes foram indivíduos voluntários, não
são fitoquímicos com reconhecido poder antioxidante no treinados, recrutados entre estudantes e servidores e que
meio biológico (3). mostraram seu consentimento, através da assinatura do
A cajá (Spondias dulcis) é uma fruta suculenta, agridoce e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (7). Para
fortemente aromática, sendo muito apreciado in natura (4). iniciar a avaliação sensorial, as amostras de barras
A vida pós-colheita da cajá é limitada, havendo necessidade estruturadas mistas foram servidas aos provadores, em
de aumentar sua vida útil, reduzir os danos e perdas pós- mesas individuais, iluminadas com luz branca, à temperatura
colheita. A fruta possui características nutricionais convencional de apresentação, dentro de copos plásticos
importantes. Entretanto, devido à sua acidez, geralmente, codificados aleatoriamente com números de três dígitos. As
não são consumidas ao natural (5). amostras foram apresentadas utilizando o delineamento de
O objetivo desse estudo foi determinar as concentrações de blocos completos balanceados (8).
manga e cajá com adição do hidrocolóide e a escolha da A aceitação sensorial foi avaliada através de uma ficha com
formulação mais aceita por meio da avaliação sensorial. escala hedônica estruturada de nove categorias, onde 1
significa a nota de valor mínimo (desgostei muitíssimo) e 9
MATERIAL E MÉTODOS a nota de valor máximo (gostei extremamente) (8). Essa
O experimento foi realizado com polpa de manga e cajá, escala indicará o quanto os provadores gostaram ou
adquiridas no mercado local de Fortaleza-CE, na qual foram desgostaram das amostras em relação aos atributos de cor,
transportadas para o Laboratório de Frutas e Hortaliças da aparência, aroma, sabor, textura (maciez) e impressão
Universidade Federal do Ceará. global. Na mesma ficha, os provadores também avaliaram a
Gelano foi fornecido pela CP Kelco Corporação intenção de consumo das amostras, caso os produtos
Wilmington, EUA. As polpas de cajá e manga foram estivessem à disposição nos supermercados ou restaurantes,
selecionadas para esse trabalho devido à melhor aceitação baseados na impressão global das mesmas, em que será
dessas frutas pela população e com base no trabalho utilizada uma escala de intenção de compra estruturada de
realizado por Leal (6) que estudou a aceitação de mistura de cinco pontos, onde 1 significa a nota de valor mínimo
polpas tropicais, no qual relata que as formulações mais (“certamente não compraria”) e 5 a nota de valor máximo
preferidas continham polpa de manga em sua composição. (“certamente compraria”).
Para a preparação das barras, as polpas de manga e cajá Foi realizado, na mesma sessão, o teste CATA (marque tudo
foram transferidas para uma proveta de vidro de 80 mL que se aplique), uma modalidade baseada nas respostas dos
imerso em um 1 L banho de água quente. A temperatura do consumidores a uma pergunta para descrever as amostras,
banho de água foi aumentada, a fim de aquecer a polpa até a como extensão da abordagem sugerida por Plaehn (9).
uma temperatura de 88 ± 2 °C, seguido pela adição de pó de Os provadores marcaram em uma lista com alguns
gelano e agitação com um impulsor de quatro lâminas. As descritores sensoriais com objetivo de caracterizar as barras
misturas polpa-gelano foram colocadas em moldes de estruturadas mistas, levando em consideração aparência,
silicone retangulares e mantidas em repouso à temperatura aroma, sabor, textura e sensações. Os termos descritivos
ambiente (22 ± 2 °C). Posteriormente, as amostras foram foram selecionados com base em estudos preliminares. A
armazenadas a 5 °C durante 30 min antes de serem relevância de cada termo foi determinada calculando a sua
analisadas. Foram desenvolvidos géis estruturados frequência de utilização.
utilizando hidrocolóide goma gelana e polpas mistas de A avaliação estatística foi por meio de análise de variância e
frutas tropicais em oito formulações distintas e após um teste de Tukey ao nível de 95% de confiança, utilizando o
teste de bancada, selecionadas quatro formulações em XLSTAT software para Windows versão 2020.1.
concentrações diferentes de manga, cajá e açúcar, como
descrito na tabela 1 para realização da avaliação sensorial RESULTADOS E DISCUSSÃO
(Tabela 1). As frutas estruturadas foram preparadas para avaliar a
aceitação das amostras de estruturado de manga e cajá
testando-se os atributos aparência, sabor, intenção de

171
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

compra e avaliação global. Os resultados médios para os Apenas cor pálida e gosto ácido apresentaram uma
parâmetros avaliados estão na Tabela 2. percentagem significativa por estarem quase ausentes nas
Tabela 2 – Resultados médios dos parâmetros avaliados dos quatro formulações. Da mesma forma, os atributos mais
estruturados de manga e cajá com quatro formulações diferentes. relevantes que caracterizaram os estruturados foram cor
F Avaliação Aparência Sabor Intenção amarelada e brilhante. As outras atribuições mantiveram
global de compra seus valores aproximados.
1 6,0 7,2 5,7 2,6 Para os atributos avaliados, de acordo com o Gráfico 2,
2 6,9 7,4 6,9 3,3 apenas cor pálida e gosto ácido apresentaram uma
3 5,1 6,4 4,6 2,1 percentagem significativa por estarem quase ausentes nas
4 6,0 6,2 5,9 2,8 quatro formulações. Da mesma forma, os atributos mais
Ao analisar a Tabela 2, pode-se afirmar que a formulação de relevantes que caracterizaram os estruturados foram cor
75% manga/25% cajá e 5% açúcar foi a mais aceita pelos amarelada e brilhante. As outras atribuições mantiveram
provadores, apresentando valores de 6,9 para avaliação seus valores aproximados.
global; 7,4 para aparência; 6,9 para sabor e 3,3 para intenção Gráfico 2 - Percentual dos atributos avaliados Check-All-That-Apply
de consumo. (CATA).
Analisando-se os parâmetros de avaliação global, aparência,
sabor e intenção de consumo isoladamente, obtiveram-se os
resultados seguintes: (Gráfico 1).
De acordo com o gráfico 1, percebe-se que as amostras com
presença de açúcar obtiveram melhor nota quando feita a
avaliação global, assim como as amostras com maior teor de
manga (75% manga).
A formulação com 50% manga e 50% cajá sem açúcar
apresentaram-se com maior exsudação frente às outras
formulações, podendo explicar à interferência na avaliação
global do produto.
A formulação 75% manga e 25% cajá com 5% de açúcar foi
a melhor classificada pelos provadores em termos de Com a variação p<0,05, subentende-se que os provadores
aparência, mostrando média mais elevada. A formulação não notaram diferenças significativas nos outros atributos,
com 50% manga e 50% cajá sem açúcar foi a mais rejeitada exceto em presença de líquidos, brilhante, aroma doce,
pelos provadores quando analisado o sabor, com média aroma ácido, suculento, gosto doce, sabor de manga e sabor
inferior a 5,0. A formulação com 75% manga e 25% cajá cajá.
com açúcar, por sua vez, obteve média próxima a 7,0 Tal evento associado ao fato de que a amostra com 75%
Diferente dos parâmetros de avaliação global, aparência e manga e 25% cajá com 5% açúcar em sua formulação foi a
sabor, com pontuação de 1 a 9, a intenção de consumo foi mais aceita, permite identificar essa amostra como sendo a
avaliada de 1 a 5, variando, desta forma, entre: nunca ideal para prosseguir ao estudo.
comeria, comeria raramente, comeria ocasionalmente,
comeria frequentemente e comeria sempre. As médias para CONCLUSÃO
intenção de consumo estão representadas no gráfico 1. De acordo com avaliação dos atributos sensoriais das quatro
A formulação 50% manga e 50% cajá sem açúcar formulações em concentrações variadas de manga e cajá,
apresentou menor média para intenção de consumo, com um determinou-se a concentração de 75% manga e 25% cajá,
valor médio de 2,1, com intenção de consumo referente à com 5% de açúcar, pois apresentou maior preferência pelos
classificação, aproximadamente, de “comeria raramente” provadores.
A formulação 75%manga e 25%cajá com 5% de açúcar
obteve média superior às outras, apresentando média de 3,3 AGRADECIMENTO
para intenção de consumo, o que indica que a intenção de CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
consumo seria classificada como “comeria ocasionalmente”. Tecnológico - Brasil, pela concessão da bolsa de estudo.

8 A A
REFERÊNCIAS
7
A
B B
A
1. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. Cadeia produtiva
6
B B B B de frutas. Brasília: MAPA/SPA, 2007.
C
2. SILVA, P. A.; CARVALHO, A. V.; PINTO, C. A.
Valores Médios

5 C

4
Elaboração e Caracterização de Fruta Estruturada Mista de
A
B
B
Goiaba e Cajá. Rev. ciênc. agrár., 51, 99-113, 2009.
3. FREITAS, M. C. S. Estudo de desidratação osmótica
3
C

como pré - tratamento à secagem de manga tommy atkins.


2

1
2009. 120 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de
0
Avaliação global Aparência Sabor Intenção de
Alimentos) - Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo
consumo Horizonte, 2009.
75% manga/25% cajá 5% açúcar 50% manga/50% cajá 5% açúcar 4. LORENZI, H. et al. Frutas brasileiras e exóticas
cultivadas (de consumo in natura). Nova Odessa: Instituto
75% manga/25% cajá sem açúcar 50% manga/50% cajá sem açúcar

Gráfico 1. Médias dos valores atribuídos em relação à avaliação Plantarum de Estudos da Flora, 2006.
global, aparência, sabor e intenção de consumo para cada 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Alimentos regionais
formulação. brasileiros. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
6. LEAL, A.R. Estruturados mistos de frutas tropicais:
Check-All-That-Apply (CATA) elaboração e avaliação de aspectos tecnológicos, funcionais
e sensoriais. Dissertação. Universidade Federal do Ceará,
Os provadores tiveram acesso a uma ficha de avaliação 2017.
chamada Check-All-That-Apply (CATA), apresentando 7. BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012.
aspectos qualitativos que caracterizaram, ou não, as Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de
amostras. Dos 19 atributos relacionados aos estruturados em pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da
diferentes formulações, somente presença de líquidos, União. Brasília, 13 jun. 2013.
brilhante, aroma doce, aroma ácido, suculento, gosto doce, 8. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices.
sabor de manga e sabor cajá, obtiveram variação 3rd ed. New York: Academic Press. 2004.
significativa (p<0,05), de acordo com o observado pelos 9. PLAEHN, D. CATA penalty/reward. Food Quality and
provadores. Preference, v. 24, p. 141–152, 2012.

172
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE CARNE


CAPRINA “DRY-AGED”
Karyne M. N. Silva1, Tatiana Z. Rodrigues1, Alline Lima de Souza Pontes2, Patrícia Pinheiro Fernandes Vieira3, Ingrid
Conceição Dantas Guerra3
1 Discentes do Curso de Gastronomia – Universidade Federal da Paraíba
2 Departamento de Gastronomia – Universidade Federal da Paraíba
3 Docentes do Curso de Gastronomia- Universidade Federal da Paraíba
Palavras chave: envelhecimento a seco, caprinocultura, cortes caprinos.
INTRODUÇÃO: Dry-aging é um processo tradicional para armazenar estudos (10, 12) que encontraram 21,87% de proteínas e 3,18% de
carcaças inteiras ou cortes cárneos sob um ambiente de umidade, lipídeos respectivamente. A maturação da carne também encontrou
temperatura e fluxo de ar em um período controlado. Esta técnica causa variação e leve aumento de cinzas durante o tempo de maturação (13).
o amaciamento progressivo da carne, resultando em textura e sabores Em se tratando dos parâmetros físico-químicos o comportamento das
únicos, causadas por mudanças físico-químicas que estão associadas a amostras apresentaram-se dentro do esperado para amostras cárneas
proteólises e ação das enzimas endógenas (1,2). Como o Brasil se maturadas a seco, onde há diminuição dos parâmetros de umidade ao
destaca na qualidade e volume de produção de carne caprina (3), aplicar longo do período de armazenamento, atribuído a evaporação da água
o método dry-aging tem potencial de inovação para o mercado. A resultando no progressivo aumento dos demais macronutrientes em
necessidade de melhorias sanitárias no processamento da carne virtude da concentração destes (14,15). O maior tempo de
evidencia a necessidade de estudos sobre a pulverização de ácidos armazenamento também pode contribuir para a variação dos teores da
orgânicos na superfície do músculo para avaliar sua efetividade e composição centesimal (13). Assim como os fatores pré abate: peso do
interferências nos demais parâmetros e físicoquímicos durante o animal, diferenças entre cada genótipo, alimentação e utilização do
armazenamento, e aumento da vida de prateleira (4,5). Diante do músculo durante a vida do animal (16), além disso, a relação entre
exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade de produção umidade e a gordura medidas no músculo é inversamente proporcional
de um dry-aged caprino e realizar a caracterização físico-química e de (13).
oxidação lipídica e protéica de carne caprina dry-aging ao longo de 60
dias de armazenamento, quando submetidas a tratamento com e sem Tabela 1 – Composição centesimal das amostras SA e CA em três
ácido acético ao longo do armazenamento. tempos de maturação.

METODOLOGIA: Foram utilizados pernis caprinos obtidos dois dias


Pernis caprinos
post-mortem em estabelecimento comercial no município de João
Pessoa – PB. As amostras foram identificadas como “SA” quando não Variável
pulverizadas com ácido acético e CA quando receberam pulverização (%) Tempos de armazenamento (em dias)
diária de solução de ácido acético com concentração de 2% (v/v)
durante 60 dias de armazenamento refrigerado. Durante o período de 0 14 60
armazenamento foram realizadas análises para avaliar as características SA 66.97(±1.55)
1
52.75(±2.28) 30.29(±0,97)c
a* b
físico-químicas em três tempos ao longo do período de armazenamento Umidade
(0, 14, 60). A determinação de umidade foi realização através do CA 62.20(±1.26) 59.79(±4.40)b* 35.53(±2,74) c*
2 a

método de secagem em estufa à 105ºC até peso constante, de acordo SA 1.45(± 0.070 b 1.23(±0.04)b* 2.49(±0.13)a*
com os parâmetros descritos no protocolo número nº 950.46 da Cinzas
CA 1 .3 7 (± 0. 10 ) b 1.11(±0.02) c 1.80(±0.22) a
Association of Official Analytical Chemists (6). A determinação de
cinzas foi feita pelo método gravimétrico de carbonização e incineração SA 22.31(±0.32) c 35.91(±5.72)b 51.68(±2.56)a
Proteína
em mufla a 550º C, de acordo com os parâmetros descritos no protocolo CA 19.55(±4.52) c 32.38(±1.09)b 52.66(±5.61)a
número nº 950.46 da AOAC (6). O método de análise de proteínas foi SA 3 . 7 0 ( ± 1. 0 0 ) c 3.60(±0.39)b 8.70(±0.70) a
feito por meio do método de Kjedahl, seguindo a metodologia nº 928.08 Lipídeos
CA 3 .0 5 (± 0. 48 ) b 5.65(±0.98)ab* 8.74(±3.51) a
da AOAC (6). Os lipídeos foram dosados conforme descrito por Folch,
Less e Stanley (7). A avaliação da oxidação lipídica foi determinada
através do índice de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico Os resultados para oxidação lipídica e proteica estão expressos na tabela
(TBARS) das amostras de carne caprina, realizada conforme método 2. Para oxidação lipídica, entre o tempo 0 e o tempo 60 (SA), os valores
proposto por Rosmini et al. (8) sendo o resultado expresso em mg de de TBARS nos cortes caprinos variaram de 0.03 a 0.10 mg/kg/amostra
TBARS / kg de carne caprina. Para oxidação proteica foi realizado caprina, não havendo diferença estatística significativa entre o 14º e 60º
através da avaliação do conteúdo de carbonilas com base na dia de armazenamento. Já na análise da peça CA, a variação foi de 0.16
absorbância por derivação com 2,4-dinitrofenilhidrazina (DNPH a 0.05 mg/kg/amostra caprina, demonstrando declínio e diferença
10mM em HCl 2N) (9). Todas as análises foram realizadas em estatística (p<0.05) no último tempo de armazenamento (60º. dia).
triplicata. Os resultados obtidos nas análises foram compilados em Comparando os tratamentos, a peça CA apresentou os maiores valores
planilhas eletrônicas e submetidos à análise da variância ANOVA em todos os tempos de armazenamento. A análise da oxidação lipídica
univariada, usando um delineamento inteiramente casualizado e os realizada apontou declínio nos valores de TBARS no pernil CA ao
tratamentos estatisticamente diferentes foram comparados através do longo dos tempos de armazenamento. O teor de lipídeos das amostras
teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para comparar os se relaciona com os valores de TBARS correspondentes, observando
tratamentos aplicou-se o teste T-student, utilizando-se o software um baixo teor de lipídeos e, consequentemente, baixos valores de
estatístico SigmaStat 4.0 TBARS, julgando assim baixa propensão à oxidação lipídica (17).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados para a composição Na análise de oxidação proteica houve aumento do teor de compostos
centesimal estão expressos na tabela 1. Para composição centesimal, carbonílicos ao longo dos tempos de armazenamento no pernil SA. Já
quando comparadas as médias entre os tratamentos sem ácido (SA) e na análise do pernil CA, houve aumento inicial seguido de decréscimo
com ácido (CA), houve diferença estatística significativa (p<0.05) para ao final do tempo de armazenamento. Entre os tratamentos, houve
os valores de umidade entre os três tempos de maturação, cinzas no 14º diferença estatística (p<0.05), tendo a carne SA apresentado valores
e 60º e lipídeos no 14º dia. Não houve diferença estatística (p>0.05) superiores. A oxidação proteica em carnes pode ser causada por
entre os tratamentos SA e CA para o percentual de proteínas. Entre os diversos processos que ocorrem durante a maturação a seco, dentre eles
tempos de tratamento, ao final do tempo de maturação, em 60 dias, a degradação das proteínas através de endopeptidases, o que resulta no
observou-se diferença estatística significativa para os parâmetros aumento do conteúdo de aminoácidos livres (18) que pode ser causada
avaliados de umidade, cinzas, e lipídeos dos dois tratamentos, CA e SA. por fatores internos referentes a processos metabólicos ou enzimáticos
O parâmetro umidade diminuiu a partir do dia 0 de maturação nos dois que resultam em mudanças tecnológicas, nutricionais e sensoriais. O
tratamentos e houve aumento dos valores de cinzas, proteínas e lipídeos mecanismo da oxidação proteica se dá por interação entre moléculas,
nos dois tratamentos ao longo do tempo de armazenamento. Os valores fragmentação proteica e modificação nas cadeias de aminoácidos (19).
encontrados para composição centesimal estão de acordo com os As mudanças estruturais ocorridas no tecido muscular durante a

173
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

maturação aumentam de acordo com o tempo estocagem (20; 21). O (10) NASSU, R. T.; BESERRA, F. J.; SOUSA, M. P.; FREITAS, A.
processo de envelhecimento da carne é responsável pelo aumento na N. M.; FREIRE, S. A. Comparação entre características químicas de
concentração de carbonilas (19). carne de caprinos do nordeste brasileiro abatidos em diferentes idades.
Embrapa. 64, 2, 1999.
Tabela 2 – Índices de oxidação proteica, oxidação lipídica e pH.
(12) MADRUGA, M. S.; NARAIN, N.; ARRUDA, S. G. B.; SOUZA,
J. G.; COSTA, R. G.; BESERRA, J. B.; Influência da Idade de Abate
Pernis caprinos
e da Castração nas Qualidades Físico-Químicas, Sensoriais e
Variável Aromáticas da Carne Caprina. R. Bras. Zootec., Viçosa, 31, 1562-
(%) Tempos de armazenamento (em dias) 1570, 2002

0 14 60 (13) LIMA, M. C. O.; Análise de carne caprina armazenada sob


congelamento. 2012, 66 f. Tese (Doutorado Programa de Pós-
Carbonila/ SA 1
10.51(±0.37) a*
12.52(±0.39) ab *
14.17(±1,00) b*
Graduação em Engenharia de Alimentos) Universidade Estadual do
mg ptn CA2 3 . 6 1 ( ± 0. 4 6 ) a 5.89(±0.69) b 1.37(±0.13) c Sudoeste da Bahia – UESB, Bahia, 2012
TBARS SA 0 .0 3 (± 0. 00 ) b 0.09(±0.02)a 0.10(±0.01) a (14) LEE, H. J.; CHOE, J.; KIM, K. T.; OH, J.; LEE, G. D.; KWON,
mg/MDA/
CA 0.16(±0.04) a * 0.17(±0.02) a* 0.05(±0.00) b * K. M.; CHOI, Y. I. JO, C. Analysis of low-marbled Hanwoo cow
Kg meat aged with different dry-aging methods. Asian-Australasian
journal of animal sciences, v. 30, n. 12, p. 1733, 2017. Meat Sci. 88,
117-121, 2011.
A análise de oxidação proteica revelou um aumento e constância do teor
de carbonila para o pernil SA. A suscetibilidade a carbonilação de (15) JUÁREZ, M., CAINE, W. R., DUGAN, M. E., HIDIROGLOU,
proteínas pode ser atribuída a fatores diversos, como a quantidade de N., LARSEN, I. L., UTTARO, B., & AALHUS, J. L. Effects of dry-
glicogênio residual (22). ageing on pork quality characteristics in different genotypes. Meat
science, 88, 117-121, 2011.

(16) LISBOA, A. C. C.; FURTADO, D. A.; MEDEIROS, A. N.;


CONCLUSÃO:
COSTA, R. G.; QUEIROGA, R. C. R. do E; BARRETO, L. M. G.;
O processo de maturação a seco provoca mudanças físico- PAULO, J. L. A.; Quality assessment of goat meat of breeds native
químicas na carne. Ambas as amostras apresentaram redução na fed diets with two levels of Maniçoba hay. Rev. Bras. Saúde Prod.
umidade em ambos os tratamentos, o que resultou em aumento na An., 11(4),1046-1055, 2010.
composição centesimal. A carne maturada sem ácido maturou deu de
(17) LV, J., LI, C., LI, S., LIANG, H., JI, C., ZHU, B., & LIN, X.
forma mais intensa, embora os dois tratamentos tenham maturado
Effects of temperature on microbial succession and quality of sour
corretamente. Recomenda-se que estudos posteriores determinem as
meat during fermentation. LWT, 114, 108391, 2019.
semelhanças e diferenças de flavor através de análises sensoriais, assim
como a preferência e aceitação do consumidor. Os níveis de oxidação (18) KIM, J.; JEON, M.; LEE, C. Physicochemical and sensory
lipídica estão dentro da normalidade, de encontro com as características characteristics of commercial, frozen, dry, and wet-aged Hanwoo
da carne caprina. Os valores para oxidação protéica diferiram sirloins. Asian-Australasian j. of animal scie., 32 (10), 1621, 2019.
consideravelmente entre os tratamentos (SA/CA) por fatores
associações diversas (características intrínsecas e do manejo da carne (19) SOLADOYE, O. P.; JUÁREZ, M. L.; AALHUS, J. L.; SHAND,
caprina). P.; & ESTÉVEZ, M. Protein oxidation in processed meat:
Mechanisms and potential implications on human health.
Comprehensive. Rev.in Food Sci. and Food Saf., 14(2), 106-122,
REFERÊNCIAS: 2015.
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Review. J Anim. Sci. Technol. 58, 20, 2016. proteases, endogenous protease inhibitors and myofibril fragmentation
on postmortem aging of goat meat. Journal of Food Biochemistry 30,
(2) BERGER, J.; KIM, Y. H. B., LEGAKO; J. F., MARTINI, S.;
(3), 269-291, 2006
LEE, J.; EBNER, P.; & ZUELLY, S. M. S; Dry-aging improves meat
quality attributes of grass-fed beef loins. Meat Sci., 145, 285-291, (21) BISWAS, A. K.; TANDON, S.; SHARMA, Divya. Identification
2018. of different domains of calpain from blood and goat skeletal muscle
and their influence on quality during post-mortem ageing of meat
(3) NETO, J. S.; Demanda potencial de carne de caprinos e ovinos e
during holding at 4±1 C. LWT-Food Sci. and Tech., v. 71, 60-68,
perspectivas da oferta, In: Embrapa Caprinos e Ovinos, 213-216.,
2016.
1996.
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(4) SOARES, K. M. P. S.; SOUZA, L. B.; SILVA, J. B.; Coliformes
cooking on physical and oxidative changes in M. Gastrocnemius pars
totais e termotolerantes em bifes de carne bovina tratados com ácido
interna and M. Iliofiburalis of rhea americana. Meat science, v. 88(4),
lático e lactato de sódio. Rev. Bras. de Ciência Vet. 23, 3-4, 2016.
645-51, 2011.
(5) FREIBERGER, R. C. P. Utilização de ácidos orgânicos como
conservantes em linguiças curadas cozidas embaladas a vácuo. 2016.
77 f. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) -
Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2016.

(6) AOAC – ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL


CHEMISTS. Official methods of analysis of the Association of
Official. Analytical Chemists International. 20ed, 2016.

(7) FOLCH, J. M. A simple method for isolation and purification of


total lipids from animal tissue. J. biol. Chem, 226, 495-509, 1957.

(8) ROSMINI, M. R. TBA test by an extractive method applied to


paté. Meat sci., v. 42, 103-110, 1996.

(9) FAGAN, J. M, SLEZKA, B. G, SOHAR, I. Quantitation of


oxidative damage to tissue proteins. Int. J. Biochem. Cell Biol. v.31,
751-57, 1999.

174
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração De Queijo Petit Suisse Com E Sem Retenção De Soro

Lidenes Oliveira1, Vandesônia Oliveira1, Bianca Reges2, Afonso Filho3, Virna de Farias4, Aparecida Milhome4.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, lidenesoliveira@outlook.com
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará
3
Graduando em Tecnologia em Agroindústria, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Ubajara
4
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte

Palavras chave: Dessoramento. Queijo quark. Perfil de


textura.

INTRODUÇÃO (8 ºC ± 1) durante o período de 16 horas, e após o dessoramento fez-se


a homogeneização dos ingredientes descritos na Tabela 1 conforme o
O petit suisse é um queijo não curado, macio e cremoso, descrito para F2. Após a elaboração, os queijos foram acondicionados
apresentando textura mais parecida com a de um iogurte muito em potes de plástico e armazenados sob refrigeração até o momento
espesso do que mesmo de um queijo típico. Devido ao seu processo de das análises.
fabricação, este produto possui alto teor de umidade e proteína, se O teor de umidade foi medido a partir da sua perda de peso
comparado ao leite. Sua obtenção se dá a partir do queijo quark (1, 2, no analisador de umidade por infravermelho, modelo ID200 (Marte®,
3). Brasil), pesando-se 5 gramas da amostra. As proteínas foram
O queijo quark é obtido através da fermentação do leite pela determinadas pelo método de Kjeldahl, usando o fator de conversão
ação da cultura mesofílica starter (Lactococcus lactis subsp. lactis, 6,38 e o pH foi medido pelo método potenciométrico.
Lactococcus lactis subsp. cremoris) ou termofílica (Streptococcus O perfil de textura foi determinado com cinco repetições
através do teste de dupla penetração TPA (Análise do Perfil de
thermophilus), no qual após a fermentação a coalhada passa pelo
Textura). Utilizou-se “probe” de 36 mm de diâmetro (P/36), em
processo de dessoragem para separação do soro (3, 4). analisador de textura TA.XT/Express Enhanced (Stable Micro
A dessoragem é uma etapa que ocasiona baixa no rendimento Systems, Brasil). Os parâmetros analisados foram: firmeza,
do queijo e geração de soro, acarretando perda de nutrientes e adesividade, elasticidade, coesividade, gomosidade e mastigabilidade.
produção de resíduo líquido. Para minimizar esses problemas, pode-se As condições das amostras para análise foram de 2 cm de altura, 6,2
produzir petit suisse com retenção de soro, entretanto faz-se cm de diâmetro e 10 mm de distância. As velocidades de pré-testes,
necessário a adição de hidrocoloides para alcançar consistência teste e pós-testes foram 1, 1 e 2 mm/s, respectivamente, seguindo a
metodologia descrita por Barcelos (6), com modificações.
adequada e estabilidade no produto (5).
Os resultados foram submetidos à análise de variância
Sabendo disso, objetivou-se elaborar um queijo petit suisse (ANOVA) e comparados entre si pelo teste t de Student ao nível de
fazendo-se a dessoragem e com retenção de soro, observando o seu 5% de significância, com o auxílio do programa Statistica® versão 7
comportamento para verificar se a presença do soro no produto altera expressos com média seguida do desvio padrão (7).
sua qualidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E MÉTODOS
O teor de umidade das duas formulações elaboradas
Elaborou-se duas formulações, em que a primeira consistiu apresentou diferença significativa (p < 0,05) (Tabela 2), onde F2
do queijo produzido pelo método tradicional (com queijo quark) (F1) atingiu maior teor de umidade apesar da adição de goma xantana. Esse
e a segunda com retenção de soro (F2). Para a produção do queijo maior percentual ocorreu devido a base utilizada para a produção do
quark foi utilizado leite integral pasteurizado e padronizado, queijo não ter passado pelo processo de dessoramento, possuindo
concentrado de proteína (caseína 70%, Fonterra), cultura láctea então maior teor de água em sua composição. Resultados semelhantes
mesofílica contendo Lactococcus lactis subsp. cremoris e Lactococcus ao desse estudo foram encontrados por Matias et al. (8), que
lactis subsp. lactis previamente preparada. 6,5% e 6,0% de produziram um produto inovador probiótico à base de soja como
concentrado de proteína foi adicionado ao leite para F1 e F2, alternativa ao queijo petit suisse. Os autores obtiveram 63,90, 67,25 e
respectivamente, homogeneizado e aquecido até 90 ºC, seguido de 66,69% de umidade para queijo petit suisse a base de leite, produto
resfriamento até 36 ºC para a adição da cultura láctea. A fermentação misto com creme de leite e soja e produto à base de leite de soja,
perdurou por 12 horas até atingir o ponto de corte (pH 4,8). respectivamente.
Para a produção de F2, utilizou-se a base obtida após a Barcelos (6) desenvolveu queijo petit suisse caprino
fermentação, adicionando-se os ingredientes descritos na Tabela 1 e potencialmente probiótico com polpa de acerola, obtendo valores de
homogeneizando-se em batedeira elétrica. umidade acima dos valores encontrados nessa pesquisa, tanto para o
controle (71,33%) quanto para o que continha polpa (74,19%).
Tabela 1 – Ingredientes utilizados nas formulações de queijo petit suisse.
FORMULAÇÃO* (%) Tabela 2 – Resultados (média ± DP)* das análises realizadas nos queijos petit suisse
INGREDIENTES elaborados.
F1 F2
Queijo quark 70,0 - FORMULAÇÃO** (%)
PARÂMETROS
Coalhada - 69,5 F1 F2
Creme de leite 12,0 12,0 Umidade 64,77b ± 0,66 66,60a ± 0,28
Açúcar cristal 18,0 18,0 Proteína 9,40a ± 0,70 5,44b ± 0,32
Goma xantana - 0,5 pH 4,53a ± 0,06 4,57a ± 0,15
Fonte: elaborada pelas autoras.
TOTAL 100% *Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem significativamente pelo teste t de
Fonte: elaborada pelas autoras. Student (p ≥ 0,05); **F1 – Formulação elaborada pelo método tradicional; F2 – Formulação
*F1 – Formulação elaborada pelo método tradicional; F2 – Formulação com retenção de soro. com retenção de soro.

Já para a preparação de F1, a coalhada obtida após a O teor de proteínas também apresentou diferença
fermentação foi cuidadosamente cortada em cubos, esperando-se 5 significativa (p < 0,05) entre as formulações, onde nota-se que F2
minutos para separação parcial do soro e precipitação da massa para apresentou teor de proteína abaixo do exigido pela legislação, visto
então ser colocada em saco de tecido de algodão, previamente que o mínimo é de 6 % (9), embora tenha sido adicionada uma maior
esterilizado, para a drenagem do soro sob temperatura de refrigeração quantidade de proteína láctea a esta formulação. Esse resultado pode

175
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ter ocorrido devido a F2 não ter passado pelo dessoramento, assim não 3- PRUDENCIO, I. D.; PRUDÊNCIO, E. S.; GRIS, E. F.;
houve concentração da coalhada e, portanto, maior diluição das TOMAZI, T.; BORDIGNON-LUIZ, M. T. Petit suisse
proteínas presentes no produto. Destaca-se ainda que mesmo com a manufactured with cheese whey retentate and application of
adição de concentrado de proteína e creme de leite não foi possível betalains and anthocyanins. LWT-Food Sci. Technol. 41, 905-
atingir o padrão deste parâmetro. 910, 2008.
O pH não diferiu significativamente (p ≥ 0,05) entre as 4- DEOLINDO, C. T. P.; MONTEIRO, P. I.; SANTOS, J. S.;
amostras estudadas, portanto, infere-se que durante o período de CRUZ, A. G.; DA SILVA, M. C.; GRANATO, D. Phenolic-rich
dessoramento não houve redução significativa do pH. Resultados Petit Suisse cheese manufactured with organic Bordeaux grape
semelhantes foram encontrados por Prudêncio et al. (3) para petit juice, skin, and seed extract: Technological, sensory, and
suisse com e sem soro, onde obtiveram 4,55 e 4,57, respectivamente. functional properties. LWT-Food Sci. Technol. 115, 108493,
Quanto ao perfil de textura, observa-se que as formulações 2019.
diferiram estatisticamente (p < 0,05), exceto para a mastigabilidade 5- DE SOUZA, V. R., CARNEIRO, J. D. D. S.; PINTO, S. M.; DE
(TABELA 3). SOUZA, A. B.; STEPHANI, R. Efeito da concentração de
gordura nas propriedades físicas, químicas e sensoriais do queijo
Tabela 3 – Perfil de textura (média ± DP)* de queijo petit suisse com e sem retenção de soro.
petit suisse elaborado com retenção de soro. Rev. Inst. Latic.
PARÂMETROS FORMULAÇÃO** (%)
“Cândido Tostes”. 67, 20-28, 2012.
F1 F2
6- BARCELOS, S. C. de. Desenvolvimento e caracterização de
Firmeza (N) 116,02b ± 2,20 154,67a ± 1,57 queijo tipo petit-suisse caprino potencialmente probiótico com
Adesividade -463,88b ± 14,85 -268,61a ± 4,18 polpa de acerola (Malpighia emarginata DC). 2017. 172 p.
Elasticidade (mm) 0,957a ± 0,00 0,844b ± 0,02 Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) – Instituto
Coesividade 0,646a ± 0,01 0,584b ± 0,02 Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará, Limoeiro
Gomosidade (N) 75,62b ± 0,05 91,75a ± 5,33 do Norte, 2017.
7- STATSOFT. Statistica for Windows-computer programe manual,
Mastigabilidade (N.mm) 72,34a ± 2,00 75,86a ± 2,36
versão 7.0. Tulsa: Statsoft Inc. 2004.
Fonte: elaborada pelas autoras.
*Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem significativamente pelo teste t de 8- MATIAS, N. S.; BEDANI, R.; CASTRO, I. A.; SAAD, S. M. I.
Student (p ≥ 0,05); **F1 – Formulação elaborada pelo método tradicional; F2 – Formulação A probiotic soy-based innovative product as an alternative to
com retenção de soro. petit-suisse cheese. LWT-Food Sci. Technol. 59, 411-417, 2014.
9- BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
A amostra F2, obtida por meio do método de retenção de Instrução Normativa nº 53, de 29 de dezembro de 2000.
soro, apresentou maior valor de firmeza, comportamento que pode ser Regulamento técnico de Identidade e Qualidade de Queijo “Petit-
explicado devido à presença da goma xantana, que é um estabilizante Suisse”. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
solúvel e altamente higroscópico (10). Dessa forma, a umidade mais Brasília, DF, 04 jan. 2001. Seção 1, p. 3.
elevada da amostra possibilitou uma boa interação entre a goma e a 10- KATZBAUER, B. Properties and applications of xanthan gum.
água presente no soro, aumentando a firmeza e promovendo um
Polym. Degrad. Stab. 59, 81-84, 1998.
aspecto gelatinoso ao produto.
11- MARUYAMA, L. Y.; CARDARELLI, H. R.; BURITI, F. C. A.;
O aspecto gelatinoso e bastante firme, conferido pela goma
SAAD, S. M. I. Textura instrumental de queijo petit-suisse
xantana, foi um critério que descaracterizou o queijo petit suisse
potencialmente probiótico: influência de diferentes combinações
elaborado, pois apresentou uma textura que normalmente não é
de gomas. Food Sci. Technol. 26, 386-393, 2006.
observada no produto comercial.
Maruyama et al. (11), estudando o perfil de textura 12- BURKERT, J. F. M. Perfil de textura. Disponível em: <
instrumental de queijo petit suisse elaborado com diferentes http://www.sabercom.furg.br/bitstream/1/1575/1/perfil_de_textur
combinações de goma, observaram que as formulações que possuíam a1.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2020.
menor quantidade ou ausência de goma xantana resultaram em uma
menor firmeza quando comparadas a formulação que apresentava
maior porcentagem desse espessante.
Os valores de adesividade e gomosidade encontrados em F1
demonstram que possivelmente o produto irá ser removido mais
facilmente da boca durante o processo natural de mastigação e que a
força necessária para o desintegrar até o ponto de deglutir será menor
(12).

CONCLUSÃO

A produção de queijo petit suisse com retenção de soro não


se mostra viável, visto que o produto não conseguiu atingir o teor
mínimo de proteína preconizado pela legislação, mesmo com adição
de concentrado de proteína, além da textura observada não ser
característica desse produto, apresentando-se gelatinosa.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a Coordenação para o


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que
tornaram este trabalho possível.

REFERÊNCIAS

1- CESBRON-LAVAU, E.; LUBRANO-LAVADERA, A. S.;


BRAESCO, V.; DESCHAMPS, E. Fromages blancs, petits-
suisses et laits fermentés riches en protéines. Cah. de Nutr. et de
Diet. 52, 33-40, 2017.
2- ESMERINO, E. A.; CRUZ, A. G.; PEREIRA, E. P. R.;
RODRIGUES, J. B.; FARIA, J. A. F.; BOLINI, H. M. A. The
influence of sweeteners in probiotic Petit Suisse cheese in
concentrations equivalent to that of sucrose. J. Dairy Sci. 96,
5512-5521, 2013.

176
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Utilização dos Edulcorantes Stévia e Xilitol em Biscoito Tipo Cookies Enriquecido com
Mesocarpo do Babaçu

Kelly Silva Pinheiro1, Eulane Rys Rufino Abreu2, Flávia Rayane Carvalho Sousa3, Maria Amélia Gomes Dias4,
Sthefanny Gonçalves Jansem5, Álvaro Itauna Schalcher Pereira6

Palavras-chave: Análise sensorial; Preparo artesanal; Produtos nutritivos.


INTRODUÇÃO Fermento 25g 25g 25g 25g 25g 25g

Os biscoitos, devido à sua composição, estão entre os Açúcar 198g 198g - - - -


alimentos processados de menor custo e maior praticidade, Stévia - - - 133g - 133g
constituídos basicamente por farinha, açúcar e gordura (1). Conforme
a Resolução nº 263, biscoitos “são os produtos obtidos pela mistura de Xilitol - - 198g - 198g -
farinha, amido e ou fécula com outros ingredientes, submetidos a Mesocarpo - 200g 200g 200g - -
processos de amassamento e cocção, fermentados ou não” (2). O do babaçu
babaçu é um dos principais extrativos do Brasil, provendo alimentos,
fibras, bebidas, produtos medicinais e outros, uma das partes Fonte: Autora (2019).
tradicionalmente utilizada é o mesocarpo do fruto, este é bem rico em
amido e dele se prepara um tipo de farinha de alto valor nutritivo (3). A análise sensorial foi realizada com 120 avaliadores não
Devido a várias razões relacionadas com aspetos nutricionais ou treinados utilizando o teste de aceitação com escala hedônica de 9
preocupações de saúde, a ingestão de açúcar, principalmente a pontos.
sacarose, não é aconselhável, para isso, são utilizados adoçantes, os
quais podem ser naturais ou artificiais, como exemplo, a stévia, com RESULTADOS E DISCUSSÃO
poder adoçante cerca de 300 vezes superior ao da sacarose (4). O
xilitol, é legalmente permitida na incorporação em alimentos, Os resultados da análise sensorial estão descritos na Tabela
também é outro adoçante natural que pode estar sendo utilizado para 2. Nela estão descritas as médias de aceitação sensorial das seis
substituição da sacarose, tendo o mesmo poder adoçante, entretanto, amostras avaliadas, de acordo com os atributos cor, aroma, sabor e
com baixas calorias (5). consistência.
A análise sensorial é uma ferramenta aplicável em todas as
etapas da tecnologia de alimentos, desde a concepção de um novo Tabela 2. Médias de aceitação das seis amostras
produto alimentício até a padronização e avaliação do nível de
qualidade do produto (1). Amostras Cor Aroma Sabor Consistência
O xilitol e a stévia, apontados na literatura científica como
os mais eficazes na substituição do açúcar branco, devem ser mais A 7.87500 7.37500 8.00000 7.87500 a
a a a
visados na produção de novos produtos alimentícios visando oferecer
produtos alternativos para consumidores que excluem o açúcar branco
das suas dietas. B 6.48333 6.78333 6.98333 6.90833 b
b ab b
O objetivo desse trabalho foi elaborar um biscoito e
observar se a substituição do açúcar por stévia ou xilitol será bem
aceita sensorialmente. C 5.83333 5.88333 5.58333 5.92500 d
c c cd

MATERIAIS E MÉTODOS
D 6.70833 6.22500 5.29167 6.16667 cd
b bc d
O estudo foi realizado no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA Campus Codó. Para a
elaboração do biscoito tipo cookies, foi utilizado trigo, açúcar E 6.86667 6.41667 6.15000 6.67500 bc
b bc c
refinado, ovos, margarina e fermento, comprados no supermercado da
cidade de Codó – MA, e mesocarpo de babaçu, comprado numa casa
de produtos naturais em Codó – MA, também stévia e xilitol, F 7.59167 6.62500 5.29167 6.33333 bcd
a b d
comprados numa loja virtual de produtos naturais. Foi elaborado seis
amostras de biscoitos tipo cookies, a primeira amostra foi utilizada
como padrão. Com a mistura dos ingredientes de cada amostra foi As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente
entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
cortada a massa em 20g para formar o biscoito e levado ao forno numa Fonte: Autora (2019).
temperatura de 150°C por 25 min.
A amostra C tem diferença significativa entre as outras
Tabela 1. Lista e quantidade de ingredientes de cada amostra amostras com relação a cor e aroma, em 5,83333 e 5,88333,
Ingredient A B C D E F respectivamente, e com relação a sabor, as amostras A e B diferiram
significativamente das demais amostras e no item consistência, a
es amostra A diferiu em relação as outras, com 7,87500. Em relação a
Trigo 1000 1000 1000 1000 1000 1000 preferência, a amostra A foi a mais aceita sensorialmente recebendo
g g g g g g os valores das médias em cor, aroma, sabor e consistência acima das
Ovos 80g 80g 80g 80g 80g 80g outras médias. Sendo que a amostra A é a amostra padrão do teste,
Margarina 585g 585g 585g 585g 585g 585g podemos observar na Tabela 2 que a segunda amostra mais preferida
é a amostra B, que não recebeu substituição do açúcar, sendo assim,

1 Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do Campus Codó; E-mail: kellyksp1@gmail.com.


2Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do Campus Codó. 3Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do Campus

Codó. 4 Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do Campus Codó. 5 Estudante do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFMA do
Campus Codó. 6 Professor Doutor do Curso de Tecnologia de Alimentos do Campus Codó.

177
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

não houve aceitação do biscoito enriquecido com mesocarpo do


babaçu substituindo o açúcar por stévia e xilitol. Intenção de Compra
No trabalho (6), foi realizado a elaboração de um biscoito
com fibra e menos gordura e feita a comparação com um biscoito 100
industrial, no teste de aceitação não houve diferença significativa em
relação aos dois, completamente diferente da nossa pesquisa, já que a 50
amostra padrão obteve diferença com relação as outras amostras.
Com relação a aceitação aos atributos, no trabalho (7), as 0
amostras ficaram com média entre 6 e 7 para cor, aroma e sabor, entre A B C D E F
“gostei ligeiramente” e “gostei regularmente”, respectivamente.
Também foram coletados os dados como sexo e idade dos Certamente Compraria Provavelmente Compraria
120 avaliadores, obtendo os Gráficos 1 e 2. Talvez Compraria Provavelmente não Compraria

Gráfico 1. Relação do sexo dos avaliadores Certamente não Compraria

Fonte: Autora (2019).


Sexo
Em relação a frequência de consumo, 45% dos avaliadores
consomem biscoitos semanalmente, e com relação a intensão de
compra, a amostra A obteve as melhores pontuações.
Masculino
47%
CONCLUSÃO
53%
Feminino

As amostras que contém mesocarpo do babaçu e


substituição do açúcar não receberam a maior aceitação, e por isso não
Fonte: Autora (2019). é viável a substituição do açúcar por stévia ou xilitol em biscoitos
enriquecidos com mesocarpo do babaçu.
Gráfico 2. Relação da faixa etária dos avaliadores
NÚMERO DO PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA: 3.409.678

Faixa etária REFERÊNCIAS

SANTOS, D. A. M. Formulação de biscoito tipo cookie a partir da


substituição percentual de farinha de trigo por farinha de casca de
16 à 19
abóbora (Curcubita máxima) e albedo de maracujá amarelo (Passiflora
13% edulis flavicarpa). 2013.
4% 2% 20 à 29
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
33 à 39 Sanitária. Resolução nº 263, de 22 de setembro de 2005. Regulamento
21% 60%
40 à 47
técnico para produtos de cereais, amidos, farinhas e farelos. Diário
Oficial União, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de setembro de 2005.
Não respondeu
SILVA, N. C. Avaliação sensorial de biscoito tipo cookie contendo
farinha do mesocarpo do babaçu. Graduação em Engenharia de
Alimentos. Imperatriz, 2014.
TEIXEIRA, N. I. D. Formulação e Caracterização Físico-Química e
Fonte: Autora (2019). Sensorial de Doces de Abóbora Preparados com Stevia (Stevia
rebaudiana). Escola Superior Agrária. Bragança, 2016.
De acordo com os dados do Gráfico 1, a maioria dos MUSSATTO, S. I.; ROBERTO, I. C. Xilitol: Edulcorante com efeitos
avaliadores são do sexo feminino, com 53% em relação ao do sexo benéficos para a saúde humana. Revista Brasileira de Ciências
masculino com, 47%. E em relação ao Gráfico 2, 60% dos avaliadores Farmacêuticas Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences ,vol. 38,
tem idade entre 16 a 19 anos, isso se dá ao fato da pesquisa ser n. 4, out./dez., 2002.
realizada no Instituto Federal, onde o Ensino Superior compartilha o Saydelles, B. M.; Oliveira, V. R.; Viera, V. B.; Marques, C. T.; Rosa,
espaço com o Ensino Médio Técnico. C. S. Elaboração e análise sensorial de biscoito recheado enriquecido
Mais dois dados foram extraídos da análise sensorial com com fibras e com menor teor de gordura. Cienc. Rural vol.40 no.3
os avaliadores, a frequência de consumo de biscoitos e a intensão de Santa Maria Mar. 2010.
compra, no qual podemos observar nos Gráficos 3 e 4 a seguir. Silva, I. G.; Andrade, A. P. C.; Silva, L. M. R.; Gomes, D. S.
Elaboração e análise sensorial de biscoito tipo cookie feito a partir da
Gráfico 3. Frequência de consumo dos avaliadores
farinha do caroço de abacate. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 22,
e2018209, 2019.
Frequência de Consumo

7% 1% Diariamente
1%
Semanalmente
12%
34%
Quinzenalmente

Mensalmente

Não consome
45%
Não respondeu

Fonte: Autora (2019).

Gráfico 4. Intensão de compra dos avaliadores

178
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento e Caracterização de Reestruturados Cárneos Tipo Nuggets de Pato (Cairina


moschata) Enriquecido com Fibra

Rocha Filho, Luis1; Nogueira, Leonardo2; Marques, Beatriz3; Oliveira, John3; Damaceno, Marlene4; Gonsalves,
Hyngrid4.
1 Aluno do Curso de Mestrado em Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte.
2 Aluno do Curso de Bacharelado em Nutrição do IFCE campus Limoeiro do Norte
3 Aluno do Curso de Tecnologia em Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte
4 Docente da área de Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte
E-mail: kenedyalimentos@gmail.com
Palavras-Chaves: Empanado, Anseriformes, Farinha de Linhaça, Farinha de Arroz, Farinha de Soja.

INTRODUÇÃO apresentando alto poder de saciedade. Propriedades estas essenciais, do


ponto de vista médico, para tratamento e prevenção das complicações
Com a crescente demanda por produtos prontos e/ou de rápido
oriundas da obesidade (2, 3).
consumo, a população tem passado por mudanças de hábitos
Objetivou-se elaborar e caracterizar nuggets de pato
alimentares, visando uma alimentação saudável e nutritiva, com isso a
utilizando-se diferentes farinhas de empanamento em substituição a
tecnologia de alimentos vem gerando uma diversidade maior de
farinha de trigo.
produtos, devido a essas demandas geradas pelos consumidores.
Dentre os produtos cárneos processados procurados por esse
MATERIAIS E MÉTODOS
perfil de público, se encontra os empanados de aves, tendo comumente
o frango como matéria prima. Seu processamento se dá pela
Foram elaboradas três formulações de nuggets com os
desintegração dos músculos por processos mecânicos, misturando-se
ingredientes descritos na Tabela 1.
em seguida partes resultantes, e finalmente dividido em porções,
As matérias primas foram obtidas com produtor no município
proporcionando vantagens como diminuição das perdas de cozimento,
de Quixeré, e os ingredientes obtidos em comércio local. A carne foi
melhor aproveitamento dos músculos, e fácil preparo (1).
desossada e retirada a pele, em seguida triturada juntamente com os
Desenvolvendo papel de grande importância no trato
ingredientes. Em seguida foram enformadas manualmente em esferas
gastrointestinal estão as fibras alimentares, atuando na diminuição da
pequenas e imersas no pré-enfarinhamento, no líquido de
absorção de gorduras, aumento do peristaltismo intestinal, auxiliando
empanamento, e na farinha de cobertura, passando por fritura durante 7
na produção de ácidos graxos de cadeias curtas. Atuante também no
minutos.
combate ao colesterol, regulação no tempo do trânsito intestinal e

Tabela 1 – Porcentagem de ingredientes e de empanamento das formulações dos nuggets de carne de pato
% no Final do Produto % no Final do Produto
INGREDIENTES EMPANAMENTO
F1 F2 F3 F1 F2 F3
Farinha de Linhaça 45 - -
Pato desossado (coxa,
50 50 50 Farinha de Arroz - 45 -
sobrecoxa, peito)
Farinha de Soja - - 45
Emulsão 45 45 45 Leite 09 09 09
Água gelada 2,36 2,36 2,36 Açúcar 01 01 01
Sal 1,7 1,7 1,7 Ovo 03 03 03
Alho 0,15 0,15 0,15 Sal 01 01 01
Salsa 0,15 0,15 0,15 Fermento 01 01 01
Pimenta 0,33 0,33 0,33 Farinha de Rosca 20 20 20
Cebola 0,31 0,31 0,31 Amido de Milho 10 10 10
Fécula de Mandioca 10 10 10
Total 100 100 100 Total 100 100 100
FONTE: Elaborado pelos Autores.

As análises de composição centesimal da matéria-prima e das RESULTADOS E DISCUSSÃO


formulações de nuggets foram proteínas pelo método Kjeldahl (4),
Compilados na Tabela 2 os resultados com média e desvio
lipídios por Soxhlet (5), fibra bruta pelo analisador de Fibras Ankon
padrão dos parâmetros avaliados na carne de pato e nas formulações de
2001, cinzas e umidade de acordo com o prescrito pelas legislações
nuggets em comparação com a Tabela Brasileira de Composição
vigente (6) e carboidratos por diferença. A análise estatística consistiu
Alimentar (TBCA) (7) para carne e nuggets de frango, e com a
em média e desvio padrão, análise de variância e teste de Tukey a
legislação (8) para empanados.
0,05%.

Tabela 2 - Composição centesimal da carne de pato e das formulações de nuggets com média e desvio padrão
BRASIL
TBCA 2019
PARÂMETROS 2001
Carne de Pato F1 F2 F3
(g/100 g) Carne de Nuggets de
Empanado
Frango Frango
Proteínas 20,43 ± 0,38 14,87 ± 0,18 a 22,97 ± 5,70 a 18,23 ± 5,28 a 21,11 7,34 Mín. 10%
Lipídios 1,70 ± 0,23 10,65 ± 4,37 a 12,74 ± 2,38 a 11,31 ± 3,49 a 17,01 17,00 -
Carboidratos 6,87 ± 2,74 49,78 ± 9,64 a 49,25 ± 20,00 ab 46,61 ± 9,43 a 0,81 35,53 Máx. 30%
Fibra Bruta 8,22 ± 2,60 13,23 ± 6,19 b 28,37 ± 3,63 a 19,94 ± 2,53 ab 0,00* 0,00* -
Cinzas 1,23 ± 0,14 2,70 ± 0,25 a 2,41 ± 0,01 a 2,66 ± 0,98 a 0,75 2,21 -
Umidade 66,81 ± 0,89 20,08 ± 0,90 a 13,61 ± 2,80 b 16,95 ± 0,57 ab 74,85 32,03 -
* Dado para fibra alimentar.
Letras iguais na coluna indicam que não houve diferença significativa pelo teste Tukey (p≥0,05).
FONTE: Elaborado pelos autores.
A carne de pato, comparada ao estabelecido pela TBCA (7) possuam necessidades específicas em sua nutrição, como patologias
para carne de frango, destacou-se quanto aos teores de umidade e relacionadas à obesidade entre outras. Além disso, tecnologicamente
lipídios baixos, indicando uma carne magra, ideal para pessoas que falando, as gorduras presentes nos produtos alimentícios causam a

179
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

oxidação – processo natural de deterioração de óleos e gorduras na com 2,8 g/100 g de fibra em hambúrgueres bovinos enriquecido com
presença de oxigênio, e acelerada pelo calor. 10% de fibra de farelo de aveia.
Do ponto de vista tecnológico, entende-se que a perecibilidade As farinhas utilizadas são naturalmente isentas de glúten,
dos alimentos está diretamente relacionada à sua atividade de água, que contudo não foi realizado testes laboratoriais para confirmação da
proporcionará meio ideal para desenvolvimento e proliferação isenção desse.
microbiana e para reações enzimáticas no alimento, degradando-o. Por
tanto, para maior estabilidade, é importante que se diminua esse CONCLUSÃO
parâmetro o quanto possível. Observa-se então uma vantagem na baixa
Os resultados indicam a carne de pato como proteica, e magra,
umidade da carne de pato para estabilidade do alimento.
e sendo também uma ótima fonte de energia e minerais, além de
Apresentou resultado próximo à carne de frango de acordo
apresentar menor teor de umidade, o que sugere melhor conservação.
com a TBCA (7), apresentando, também alternativa de consumo.
Os nuggets formulados apresentaram bons resultados, quanto
Quanto aos parâmetros de carboidratos, fibras e cinzas, foram
a serem possíveis fonte de proteínas e carboidratos, terem baixo teor de
superiores ao previsto pela TBCA (7) para carne de frango.
gordura e umidade, o que os tornam mais estáveis do ponto de vista
Apresentando-se, por tanto, carne de valor enérgico considerável, e com
tecnológico, e principalmente, por todos se enquadrarem como rico em
minerais e fibras, mesmo não havendo informações de referências para
fibra bruta, o que garante ao público consumidor uma alternativa de
fibras brutas.
alimento saudável e seguro, e também de rápido e fácil preparo.
Os nuggets formulados com carne de pato e diferentes
farinhas, como substituto integral da farinha de trigo, apresentaram
REFERÊNCIAS
valores para proteínas acima do previsto pela TBCA (7) para nuggets
de frango, e dentro do que estabelece a legislação para empanados (8), 1. FLORES, A. F. Desenvolvimento de nuggets enriquecidos com
de 10 a 30% de proteína. fibras e sem adição de glúten. Trabalho de Conclusão de Curso.
As formulações também indicaram ser ricas em carboidratos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2012.
estando os resultados acima tanto do previsto pela TBCA, quanto do 2. LIMA, S.C.V.C. et al. Avaliação da dieta habitual de crianças e
estabelecido pela legislação. Sendo também portanto um alimento adolescentes com sobrepeso e obesidade. Revista de Nutrição,
alternativo quanto ao seu potencial energético. v.17, n.4, p.469-477, 2004.
Quantos aos parâmetros de umidade, os resultados foram 3. PITEIRA, M.F. et al. Extensional flow behaviour of natural fibre-
inferiores aos encontrados por Silva e Diniz (9), por Bastiani (10) e por filled dough and its relationship with structure and properties.
Flores (1), já os carboidratos foram superiores. O teor de proteína Journal of Non-Newtonian Fluid Mechanics, v.137, n.1-3, p.72-
também se apresentou superior na Formulação 2, quanto ao encontrado 80, 2006.
por Bastiani (10). Os teores de lipídios foram superiores aos 4. AOAC., ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
encontrados por Flores (1). CHEMISTS. Official Methods of Analysis of the AOAC
O teor de cinzas está próximo ao estabelecido pela TBCA, International. 16a ed. Arlington, USA, 1998.
indicando que as farinhas utilizadas nas formulações podem também 5. INSTITUTO ADOLF LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolf
ser alternativas na substituição da farinha de trigo. Lutz: Métodos físicos- químicos para a análise de alimentos.
O Resíduo Mineral Fixo (RMF), conhecido também por cinzas 1020p. 4ª ed. 1ª ed. Digital. São Paulo, 2008.
minerais, é o resíduo inorgânico que fica após a queima da matéria 6. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
orgânica, que se transforma em dióxido de carbono, dióxido de STANDARDIZATION. ISO 936:1998: Meat and meat products –
nitrogênio e água. Os minerais apresentam-se comumente como óxidos, Determination of total ash. Genebra. 1998.
sulfatos, silicatos e cloretos, dependendo da condição de incineração e 7. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA).
também da composição do produto analisado. Em altas quantidades Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center
podem conter potássio, sódio, cálcio e magnésio. Em baixas (FoRC). Versão 7.0. São Paulo, 2019. [Acesso em: outubro de
quantidades alumínio, ferro, cobre, manganês e zinco. E conter traços 2019]. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tbca.
de iodo, flúor e outros. 8. BRASIL. Instrução normativa n. º 6, de 15 de fevereiro de 2001.
Alimentos ricos em proteínas têm grandes chances de Aprova os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de
apresentarem enxofre, e carnes apresentam ainda em sua composição paleta cozida, produtos cárneos salgados, empanados, presunto tipo
de RMF, fósforo. serrano e prato elaborado pronto ou semipronto contendo produtos
Pode-se entender por fibra alimentar a parte comestível de de origem animal. Diário Oficial [da] República Federativa do
plantas (a parte fibrosa) ou carboidratos análogos que são resistentes à Brasil, 2001.
digestão e a absorção no intestino delgado dos seres humanos, com 9. SILVA, A. R.; DINIZ, K. M. Biomassa da banana verde como
fermentação completa ou parcial no intestino grosso. Inclui, nas fibras ingrediente na elaboração de empanado de frango. 2016.
alimentares, polissacarídeos vegetais, como celulose, hemicelulose, Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica
pectinas, gomas e mucilagens, oligossacarídeos, lignina e substâncias Federal do Paraná.
que são associadas às plantas. Foi firmada esta definição a partir da 10. BASTIANI, M. A. M. Aplicação de breading extrusado de
elaboração feita pela American Association of Cereal Chemist, em farelo de arroz e bagaço de mandioca na produção de nuggets
1999, posteriores a debates subsidiados com informações de indústrias, de frango. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade
academias e órgãos governamentais de vários países (12) Tecnológica Federal do Paraná.
As carnes são produtos fracos em fibras, sendo associadas 11. COLII, C.; SARDINHA, F.; FILISETTI, T.M. Alimentos
frequentemente à doenças no trato digestivo. Produtos enriquecidos são funcionais. In Cuppari L. Guia de nutrição, nutrição clínica no
aqueles que contêm substâncias benéficas ou de propriedades adulto. São Paulo: Unifesp. p. 55-70, 2002.
superiores que os diferenciam dos originais, e a busca por esse tipo de 12. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº. 27, de 13 de janeiro de
alimentos tem tido crescente nos últimos tempos. 1998. Regulamento Técnico referente à informação nutricional
Os teores fibra bruta encontrado em todas as formulações de complementar.
nuggets de pato sugere uma ótima alternativa de produto cárneo de fácil 13. FIAMETTI, D. L; et al; Nuggets de frango enriquecido com
e rápido preparo, e ainda assim, nutritivo e rico, trazendo benefícios em fibras de fécula de mandioca. Trabalho de conclusão de curso.
seu consumo. Medianeira 2003.
A associação da farinha de arroz e a carne de pato (F2) foi a 14. MARQUES. J de M. Elaboração de um produto de carne bovina
que melhor apresentou resultados para esse parâmetro, enquanto a “Tipo Hambúrguer” adicionado de farinha de aveia. 2007. p.
formulação de carne de pato com linhaça (F1), obteve menores 71. Mestrado (Mestre em Tecnologia de Alimentos). Setor de
resultados. Entretanto todas as formulações se enquadram no Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de
estabelecido pelo Ministério da Saúde (1998) (12) afirmando, para Alimentos. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.
alimentos sólidos, teor de “rico em fibras” a partir de 6 g/100 g. 15. BARTOLOMEU, D. A. F. S, Desenvolvimento e avaliação da
O teor de fibra bruta resultante foi superior ao encontrado por aceitação de embutido defumado “tipo mortadela” elaborado
Flores (1), que utilizou proteína texturizada de soja, linhaça e gergelim com CMS de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e fibra de
que foi de 4,57 g/100 g. Superior também aos estudos de Fiametti et al trigo. Curitiba, 2011.
(13), que utilizou fécula de mandioca e obteve resultado de 4,61 g/100 16. DANIEL, A. P. Emprego de Fibras e Amido de Aveia (Avena
g, Marques (14) com quantidades variáveis de farinha de aveia em sativa L.) Modificado em Produtos Cárneos. Santa Maria, RS,
hambúrguer bovino obteve de 2,38 a 7,58 g/100 g de fibra alimentar, 2006.
Bartolomeu (15) com 3,1 g/100 g de fibra alimentar em mortadela de
tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e fibra de trigo, Daniel (16)

180
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização Físico-Química De Amostras De Méis De Diferentes Espécies De Abelhas


Localizados No Vale Do Jaguaribe
Rocha Filho, Luis1; Nogueira, Leonardo2; Lima; Rafael3; Siqueira, Ana4; Pereira, Júlio5.
1 Aluno do Curso de Mestrado em Tecnologia de Alimentos do IFCE, campus Limoeiro do Norte.
2 Aluno do Curso de Bacharelado em Nutrição do IFCE, campus Limoeiro do Norte
3 Aluno do Curso de Ensino Médio Técnico Integrado em Química do IFCE, campus Limoeiro do Norte.
4 Docente da área de Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Limoeiro do Norte
5 Docente da área de Tecnologia de Alimentos do IFCE campus Sobral
E-mail: kenedyalimentos@gmail.com
Palavras-Chaves: Análises, Apis mellifera ligustica, Melipona subnitida, Tetragonisca angustula, Scaptotrigona depilis.

INTRODUÇÃO aparente (g/100 g), sólidos insolúveis (g/100 g), sólidos solúveis (º
No Brasil as abelhas vêm ganhando espaço, visto sua Brix), razão sólidos solúveis e acidez titulável (SS/ATT), e umidade
racionalização em trazer retornos econômicos rápidos, com pouco (%)
investimento. Além dos seus produtos – mel, cera, própolis, geleia real,
apitoxina, pólen – as abelhas são um dos principais polinizadores da MATERIAL E MÉTODOS
área vegetal. A apicultura pode ser estruturada em pequena área com As amostras foram obtidas através de produtores localizados
exigências de mão de obra baixas, além de fácil manejo, que adequado na cidade de Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte no interior do
atende às condições necessárias do apiário (1). estado do Ceará.
A legislação define o mel para o consumo humano como sendo A análise de Cor foi realizado com espectrofotômetro
o produto produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar de utilizando-se como referência amostra de Glicerol pura e usando a
floradas ou das secreções procedentes de partes de plantas vivas ou das escala de Pfund para sua classificação (6); a análise de açúcares
exceções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre as partes redutores (g/100 g) e açúcares totais (g/100 g) foi realizado titulação da
vivas das plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam solução da amostra em solução de Fehling A e B em aquecimento, e os
por elementos específicos das próprias, armazenam e deixam madurar cálculos para análises de sacarose aparente (2); os sólidos solúveis
nos alvéolos das colmeias (2). (ºBrix) a umidade (%) foi determinada por refratometria de acordo com
As características físico-químicas do mel ainda são pouco metodologia da AOAC (7) com conversão da leitura refratométrica do
conhecidas, principalmente nas regiões tropicais, onde a flora apícola é índice de refração pela tabela de Chataway e conversão para
bastante diversificada, associada às taxas elevadas de umidade e temperatura de 20º C, realizou-se também os cálculos de razão entre
temperatura (3). Assim, a caracterização de méis é fundamental para o sólidos solúveis e acidez (SS/ATT); a análise de sólidos insolúveis
conhecimento de suas propriedades físicas e químicas levando-se em (g/100 g) utilizou-se uma solução da amostra filtrado em papel filtro
consideração os fatores edafoclimáticos e estabelecendo critérios previamente seco, e em seguida realizando-se sua secagem até peso
comparativos de análise entre diversas regiões (4). constante (2); a análise de cinzas (g/100 g) utilizou-se a amostra e foi
De maneira geral, o mel das espécies de meliponíneos tem seca em estufa, calcinadas e incineradas em forno mufla a 600ºC por 6h
como principal característica a diferenciação nos teores da sua (2); a análise de acidez livre (m.E.q/ Kg-1) foi realizada com diluição do
composição, destacando-se o teor de água (umidade), que o torna mel e posta em pHmetro de bancada com titulação de Hidróxido de
menos denso que o mel das abelhas africanizadas (A. mellifera). A cor Sódio 0,1N até pH 8,3 (8); o pH foi medido com pHmetro de bancada
varia do quase transparente ao âmbar escuro e o gosto e níveis de açúcar digital (6); análises de Hidroximetilfurfural (HMF)(mg/ kg) com
dependem do paladar, da espécie, da época, da região e, principalmente, cálculos da absorbância das amostras diluídas e filtradas, e acrescidas
da florada (5). de bissufito de sódio nos comprimentos de ondas de 284nm e 336nm
Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar amostras de (8).
mel de abelha europeia (Apis mellifera ligustica), abelha jataí
(Tetragonisca angustula), jandaíra (Melipona subnitida) e canudo RESULTADOS E DISCUSSÃO
(Scaptotrigona depilis) em relação à acidez livre (m.E.q./ Kg-1), Os resultados obtidos foram ajustados na tabela 1 para melhor
açúcares redutores (g/100 g), açúcares totais (g/100 g), cinzas (g/100 interpretação. A legislação indica como índice de maturidade açúcares
g), cor (Pfund), hidroximetilfurfural (HMF) (mg/ kg), pH, sacarose redutores com mínimo de 65g/100, umidade com máximo de 20% e

TABELA 1 - Parâmetros avaliados nas amostras de méis com médias e desvios padrões.
LIMITES
APIS CANUDO JANDAÍRA JATAÍ VILLAS-
PARÂMETRO Apis mellifera Scaptotrigona Melipona Tetragonisca LEGISLAÇÃO
BOAS,
ligustica depilis subnitida angustula BRASILEIRA
MALASPINA
(2000)
(2005)
Acidez (m.E.q./Kg-1) 12,57 ± 0,00 c 24,50 ± 0,00 b 8,70 ± 0,00 d 49,47 ± 0,00 a Máx. 85 Máx. 50
Açúcares Redutores
86,42 ± 3,78 b 87,35 ± 6,87 b 103,87 ± 8,99 a 76,75 ± 1,21 b Min. 50 Min. 65
(g/100 g)
Açúcares Totais (g/100 g) 107,28 ± 6,57 a 94,66 ± 5,85 a 117,16 ± 95,71 a 95,71 ± 18,40 a - -
Cinzas (g/100 g) 0,14 ± 0,03 ab 0,15 ± 0,03 ab 0,10 ± 0,04 b 0,20 ± 0,02 a Máx. 0,6 Máx. 0,6
Cor (Pfund) Âmbar Claro Âmbar Âmbar Âmbar Escuro - -
Hidroximetilfurfural
94,18 ± 0,00 a 70,45 ± 0,00 b 45,18 ± 0,00 c 13,95 ± 0,00 d Máx. 40 Máx. 60
(HMF) (mg/ kg.)
pH 3,68 ± 0,02 c 3,87 ± 0,02 b 4,11 ± 0,01 a 3,23 ± 0,01 d 3,3-4,6 -
Sacarose Aparente
19,81 ± 6,48 a 6,94 ± 0,97 a 12,62 ± 7,56 a 18,01 ± 16,49 a Máx. 6,0 Máx. 6,0
(g/100 g)
Sólidos Insolúveis
0,28 ± 0,00 a 0,09 ± 0,00 b 0,09 ± 0,00 b NR Máx. 0,4 Máx. 0,1
(g/100 g)
Sólidos Solúveis
77,26 ± 0,35 a 68,63 ± 4,71 b 72,13 ± 0,47 ab 76,30 ± 0,60 a - -
(º Brix)
SS/ATT 6,14 ± 0,02 b 2,80 ± 0,19 c 8,29 ± 0,05 a 1,54 ± 0,01 d - -
Umidade (%) 20,56 ± 0,37 b <25 a <25 a 21,40 ± 1,41 b Máx. 35 Máx. 20
NR – Não Realizada
Letras iguais na mesma linha indicam que não houve diferença significativa pelo teste Tukey (p≥0,05).

181
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sacarose aparente com máximo de 6g/100 g (2). Para a amostra de mel 2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
de Apis, apenas o índice de açúcares redutores está dentro do exigido Defesa Animal. Legislação de Produtos Apícolas e Derivados.
por lei. Sua umidade e sacarose aparente estão acima do permitido. A Instrução Normativa n. 11, de 20 de outubro de 2000.
umidade é um dos parâmetros importantes na conservação de alimentos Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel.
no geral, visto que a quantidade de água presente pode propiciar Disponível em:
proliferação microbiana e, no mel, fermentar o produto. Méis que não http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/in_11_2000.htm.
estão maduros possuem alta umidade, o que pode ser evidência de uma 3. SODRE, G. S. et al. Caracterização físico-química de amostras de
colheita antecipada deste mel. méis de Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) do Estado do
Quanto às demais amostras, não há legislação específica para Ceara. Ciência Rural, v. 37, n. 4, 2007.
mel de abelhas nativas, e, entretanto, seus méis são de características 4. CRANE, E. O mel no passado e no presente, in: O livro do mel.
singulares e diferenciadas das abelhas do gênero Apis. Entretanto para Editora Nobel, São Paulo, Brasil, 1982.
Villas-Boas (9), indica o mínimo de 50 g/100 g de açúcares redutores, 5. MORETI, A. C. C. C et al., Características físico-químicas de
máximo de 6 g/100 g de sacarose e umidade até 35%. Para estes amostras de méis de Apis melífera do estado do Ceará, Brasil.
parâmetros, as amostras de mel de abelhas nativas deste estudo estão Ciência e agrotecnologia, Lavras, v. 33, n. 1, p. 191-199, 2009.
dentro do indicado quanto a açúcares redutores e umidade, entretanto 6. BRASIL. Ministério da Agricultura Nacional de Defesa
bem elevado em seu teor de sacarose aparente. Elevados teores de Agropecuária. Portaria n° 1 de 07 de outubro de 1981. Métodos
sacarose pode indicar adulteração por xarope de sacarose parcialmente analíticos oficias para controle de produtos de origem animal e
invertida e/ou indicar uma colheita prematura do mel, onde parte da seus ingredientes métodos físicos e químicos. Laboratório
sacarose presente no néctar não foi convertida, pela invertase, em Nacional de Referência Animal (LANARA): Brasília, DF, 1981.
glicose e frutose (10; 11; 4). v.11.
Os resultados de sacarose aparente de todas as amostras não 7. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS.
diferiram entre si, mas os resultados de umidade apresentaram os méis Official methods of analysis. 16. ed. Washington: Association of
de canudo e jandaíra como os mais úmidos e o mel de jandaíra também Official Analytical Chemists, 2000.
se destacou quanto ao valor de açúcares redutores. 8. AOAC., ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
Os valores de acidez deram dentro dos parâmetros indicados CHEMISTS. Official Methods of Analysis of the AOAC
pela legislação (2) para o mel de abelhas do gênero Apis, e também do International. 16a ed. Arlington, USA, 1998
Codex Alimentarius Commission (12) que determina 50 m.E.q/Kg, e 9. VILLAS-BÔAS, J. K.; MALASPINA, O. Parâmetros Físico-
dentro do sugerido por Villas-Boas e Malaspina (9) para mel de abelhas Químicos Propostos para o Controle De Qualidade do Mel de
sem ferrão, havendo diferença significativa entre todas as amostras para Abelhas Indígenas Sem Ferrão no Brasil. Mensagem Doce, São
esse parâmetro, indicando o mel de Jataí como o mais ácido dentre as Paulo, ed., ano, n.82, p.6-16, 20 de julho de 2005.
amostras. Informações do fornecedor deste mel, indicou este estar há 10. BORSATO, D. M. Avaliação de méis com indicação monofloral,
mais tempo em armazenamento. comercializados na região dos Campos Gerais – PR. 2008. 84f.
O tempo de armazenamento e acidez elevada, em méis de Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)
meliponíneos, pode sugerir fermentação do produto, como relatados por – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR.
alguns autores, devido a natural umidade elevada destes, favorecendo 11. VARGAS, T. (2006) Avaliação da Qualidade do Mel Produzido na
essa reação (13; 14). Região dos Campos Gerais do Paraná, Tese de Mestrado em
Os valores de Hidroximetilfurfural (HMF) indicam o mel de Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Ponta Grossa – Brasil.
Apis com maior conteúdo, e acima do previsto para este mel, enquanto 12. CODEX ALIMENTARIUS. Revised codex standard for honey
que o mel de Canudo também está acima do sugerido por Villas-Boas codex stan 12- 1981, Rev.2 [2001].24th session of the Codex
e Malaspina (9). Alimentarius in 2001. Disponível em:
Este parâmetro pode ter vários interferentes, como acidez, pH, htt://www.codexalimentarius.net/download/standards/310/CX12.
conteúdo de água e minerais, sendo considerado, portanto, um pdf. Acesso em 14 de Fevereiro de 2020.
indicativo do processo de deterioração de mel, já que em condições 13. OLIVEIRA, K. A. M.; RIBEIRO, L. S.; OLIVEIRA, G. V.
inadequadas de armazenamento, ou condições climáticas da região, e Caracterização microbiológica, físico-química e microscópica de
tratamento térmico excessivo podem aumentar o seu nível de mel de abelhas canudo (Scaptotrigona depilis) e Jataí
concentração. (15; 16; 17). (Tetragonisca angustula). Revista Brasileira de Produtos
Os resultados diferem do encontrado por Araújo (18), quando Agroindustriais. v. 15, n. 3, p. 239-247, 2013.
analisou méis de Meliponíneos no semiárido nordestino, que 14. VIT, P; MEDINA, M; ENRIQUEZ, M. E. Quality standards for
apresentaram resultados inferiores para HMF (12,0 ± 1,0 - 57,6 ± 13,2), medicinal uses of Meliponinae honey in Guatemala, Mexico and
açúcares redutores (51,1 ± 1,0 - 72,8 ± 5,9) e cinzas (0,23 ± 0,20 - 0,63 Venezuela. Bee World 85(1): 2-5, 2004.
± 0,04), e valores superiores para acidez (30,1 ± 12,7 - 114,2 ± 0,5), 15. FALLICO, B.; ZAPPALA, M.; ARENA, E.; VERZARA, A.
insolúveis (0,33 ± 0,01 - 0,67 ± 0,02) e sacarose (1,4 ± 0,5 - 6,5 ± 3,4), Effects of conditioning on HMF content in unifloral honeys. Food
e valores próximos para umidade (23,2 ± 0,1 - 26,4 ± 0,7). Chemistry, v. 85, n. 2, p. 305-313, 2004.
A amostra de mel de Apis diferiram nos resultados 16. CHAVES, A. F. A.; GOMES, J. E. H.; DA COSTA, A. J. S.
encontrados por De Araújo et al (19), quando avaliou amostras da Caracterização físico-química do mel de Melipona fulva
cidade do Crato/CE, apresentando-se inferior quantos à acidez (21,57 – Lepeletier, 1836 (Himenoptera: Apidae: Meliponinae) utilizada na
59,60), e superior quanto à açúcares totais (71,73 – 76,80), açúcares meliponicultura por comunidades tradicionais do entorno da cidade
redutores (59,38 – 76,45) e sacarose (0,30 – 14,84), e valores próximos de Macapá-AP. Biota Amazônia, v. 2, n. 1, p. 1-9, 2012.
de umidade (17 – 21), pH (3,48 – 3,70), cinzas (0,06 – 0,24), insolúveis 17. SOUSA, J. M. B.; DE SOUZA AQUINO, I.; MAGNANI, M.; DE
(0,03 – 0,24) e HMF (2,88 – 340,03). ALBUQUERQUE, J. R.; DOS SANTOS, G. G.; DE SOUZA, E.
De acordo com a escala de Pfund com classificação em L. Aspectos físico-químicos e perfil sensorial de méis de abelhas
fotômetro ou espectrofotômetro a 560 nm em célula de 1cm, usando sem ferrão da região do Seridó, Estado do Rio Grande do Norte,
como branco a glicerina pura, obteve-se cor de âmbar claro para o mel Brasil. Semina: Ciências Agrárias, v. 34, n. 4, p. 1765-1774,
de apis, sendo diferente dos méis de abelha sem ferrão, que variaram de 2013.
âmbar a âmbar escuro, no mel de Jataí. 18. ARAÚJO, F. G. Comparação das características físico-
químicas e antioxidantes de méis de diferentes espécies de
CONCLUSÃO abelhas. 2014. Tese de Doutorado. Dissertação de mestrado.
As características singulares bem como os parâmetros limites Orientadora: Edna MM Aroucha. Universidade Federal Rural do
estabelecidos na literatura e na legislação indicaram méis com teores de semiárido, Mossoró-RN, 2014, 65p.
sacarose aparente elevados, bem como apresentou índice de 19. DE ARAÚJO, D. R.; DA SILVA, R.H.D.; DOS SANTOS
Hidroximetilfurfural do mel de Apis e de Canudo acima do previsto, SOUSA, J. Avaliação da qualidade físico-química do mel
sendo por esse critério não recomendado seu consumo. comercializado na cidade de Crato, CE. Revista de Biologia e
Ciências da Terra, v. 6, n. 1, p. 51-55, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. APICULTURA. Instituto Centro de Ensino Tecnológico. 2 ed.
Fortaleza: Edição Demócrito Rocha; Ministério da Ciência e
Tecnologia, 2004.

182
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização Física E Físico-química De Pitaia (Hylocereus polyrhizus) Do Vale Do


Jaguaribe Em Dois Estádios De Maturação

Vandesônia Oliveira1, Thays Guimarães2, Milca Lima3, Lidenes Oliveira1, Bianca Reges4, Virna de Farias5.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, vandesonia@hotmail.com
2
Cursando Especialização em Saúde e Segurança Alimentar, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
Campus Limoeiro do Norte
3
Graduanda em Tecnologia em Alimentos, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do
Norte
4
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos,
Universidade Federal do Ceará
5
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte

Palavras chave: Britton & Rose, Chapada do Apodi,


produtor rural.

INTRODUÇÃO As massas da polpa e da casca foram obtidas em balança semianalítica


modelo BL3200H (Marte-Shimadzu, Brasil) e expressa em gramas.
A pitaia (Hylocereus polyrhizus) Britton & Rose é uma fruta Para as análises físico-químicas, os frutos de cada grupo foram
conhecida por ser rica em nutrientes e por suas características divididos em três parcelas constituídas de cinco frutos cada. Todas as
funcionais (1). Ela é originaria da América Tropical e subtropical (2) e análises foram determinadas em triplicata. O teor de umidade foi
é não-climatérica, sendo sua colheita realizada quando o fruto já está medido a partir da sua perda de peso no analisador de umidade por
maduro (3). No Brasil, a região sudeste é a principal produtora, mas sua infravermelho, modelo ID200 (Marte®, Brasil).
plantação ocorre também em outras regiões. No Ceará sua produção é A acidez titulável (AT) foi realizada de acordo com Instituto
na Chapada do Apodi, nas cidades de Limoeiro do Norte e de Quixeré Adolfo Lutz (6) e os valores expressos em porcentagem de ácido
(4). málico. Os sólidos solúveis foram determinados em refratômetro Abbe,
O cultivo da pitaia expandiu-se do Sul e Sudeste para o sendo expressos em °Brix. O pH foi determinado em triplicata, com as
Nordeste em 2017, especialmente nos estados da Paraíba e do Ceará, o leituras realizadas em um pHmetro de bancada (HI 2221, Hanna
que levou muitos produtores da região do Baixo Jaguaribe a trocar as Instruments, Brasil), com valores variando de 0-14 (7).
culturas de abacaxi e banana pela pitaia, que necessita de menos água
para sua produção (5). RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maturação do fruto é indicada pela coloração rosa a
vermelho intenso e pela textura firme. O período ideal da colheita varia Com base nos resultados obtidos, observou-se diferença
com as condições climáticas, por isso é importante o estudo do seu significativa (p < 0,05) entre os pontos de maturação apenas nos
comportamento em cada região de cultivo. Além disso, é importante o parâmetros firmeza da polpa e nos valores de croma e ângulo hue da
estudo da caracterização da pitaia em relação à coloração da sua casca, casca.
porque o produtor rural determina o ponto ideal para a comercialização
baseando-se na cor apresentada pela casca. Tabela 1 – Características físicas e físico-químicas (média ± DP) de pitaia em dois estádios de
maturação.
Nessa pesquisa, objetivou-se avaliar as características físicas e
físico-químicas da pitaia em diferentes estádios de maturação no Vale Amostra
do Jaguaribe-CE para identificar o melhor período para a colheita. Parâmetros
P75 P100
MATERIAL E MÉTODOS
L* da casca 45,94 a ± 6,72 43,71 a ± 5,96
Para a realização do experimento foram colhidas trinta pitaias C da casca 27,57 b ± 3,63 30,57 a ± 3,95
vermelhas produzidas na Chapada do Apodi, divididas em dois grupos. h° da casca 56,22 a ± 15,80 33,90 b ± 9,36
No primeiro estavam as frutas que atingiram 75% da coloração rosa da
L* da polpa 8,64 a ± 4,24 7,25 a ± 1,94
casca (P75), e no segundo as que alcançaram 100% da coloração da
casca ou epiderme rosa (P100). Estes estádios foram selecionados de C da polpa 29,35 a ± 5,29 34,77 a ± 3,11
acordo com o ponto de colheita considerado pelo produtor rural. A h° da polpa 10,48 a ± 1,87 9,40 a ± 2,54
colheita foi realizada entre 30 e 33 dias após antese (momento em que
Diâmetro longitudinal do fruto
ocorre a maturação da flor com abertura do botão floral). 7,95 a ± 0,62 8,08 a ± 0,54
(cm)
As frutas foram transportadas para a Planta Piloto de Frutos e
Diâmetro transversal do fruto
Hortaliças do IFCE Campus Limoeiro do Norte para sua higienização, 8,96 a ± 0,67 9,13 a ± 0,68
(cm)
e em seguida para o Laboratório de Química de Alimentos para as
análises físicas e físico-químicas. Espessura da casca (cm) 0,47 a ± 0,07 0,42 a ± 0,10
A coloração da casca e da polpa foi determinada com o auxílio Firmeza da casca (N) 28,22 a ± 4,45 27,48 a ± 4,67
do colorímetro portátil miniScan EZ (HunterLab-BrasEq®, Brasil), no Firmeza da polpa (N) 1,46 b ± 0,14 1,69 a ± 0,21
sistema CIE L*a*b*, sendo calculado ainda o croma e ângulo hue
(EQUAÇÕES 1 e 2). As leituras foram realizadas em três pontos Massa da polpa (g) 228,64 a ± 55,39 242,22 a ± 69,62
aleatórios de cada fruto. Massa da casca (g) 149,34 a ± 22,77 126,63 a ± 40,05
𝐶 ∗ = √(𝑎∗)2 + (𝑏 ∗ )2 (1) Umidade (%) 86,47 a ± 1,00 86,00 a ± 0,61
𝑏∗ Acidez (% ác. málico) 0,45 a ± 0,01 0,39 a ± 0,04
ℎ° = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 ∗ (2)
𝑎 Sólidos solúveis (°Brix) 13,40 a ± 0,35 13,60 a ± 0,35
onde: C* corresponde a cromaticidade e °h corresponde a tonalidade.
O diâmetro longitudinal e transversal, e a espessura da casca pH 4,41 a ± 0,04 4,44 a ± 0,08
foram avaliados utilizando paquímetro, e expressos em cm. A firmeza Fonte: elaborada pelas autoras.
P75: pitaia com 75% da coloração rosa da casca; P100: pitaia com 100% da coloração rosa da
da casca e da polpa foi medida com auxílio de um texturômetro casca; L*: luminosidade; C: croma; h°: ângulo hue; *Médias seguidas da mesma letra na linha
TA.XT/Express Enhanced (Stable Micro Systems, Brasil), utilizando- não diferem significativamente pelo teste t de Student (p > 0,05).
se uma probe SMS P/5. Os resultados foram expressos em Newton (N).

183
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A polpa da pitaia tornou-se mais firme com o desenvolvimento Considerando a qualidade das frutas analisadas, o produtor
completo da coloração vermelha da epiderme. Menezes et al. (8) pode fazer a colheita antes do período usual que se costuma colher a
explicam que esse aumento pode estar associado à perda de água pelo pitaia, ou seja, ao atingir 75% da coloração rosa da casca a fruta já está
fruto e apontam um comportamento semelhante em seu estudo sobre a apta para colheita e consumo.
firmeza da polpa da pitaia a partir dos 41 dias após a antese.
As cascas se encontraram numa faixa de luminosidade média, AGRADECIMENTOS
indicando que estavam brilhosas. P100 apresentou coloração da casca
com mais saturação e com menor tonalidade, então sua cor era mais As autoras gostariam de agradecer a Coordenação para o
pura e estava mais próxima do vermelho, uma vez que o ângulo 0 indica Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Instituto
esta cor. Já para P75, o tom se aproximou mais de 90°, ou seja, cor Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que
amarela, e menor pureza de cor. Esse comportamento era esperado, tornaram este trabalho possível, e ainda a Empresa Frutacor (localizada
visto que P100 possuía toda a epiderme com a cor rosa, enquanto P75 no Vale do Jaguaribe – CE) pela doação das pitaias.
não havia atingido esse ponto. A polpa das pitaias analisadas obteve
baixos valores para a luminosidade e ângulo hue, o que pode ser REFERÊNCIAS
explicado por sua cor intensa.
Os diâmetros transversais (DT) e longitudinais (DL) 1. LI, X.; LI, M.; WANG, J.; WANG, L.; HAN, C.; JIN, P.;
observados nesse estudo encontraram-se próximos dos relatados na ZHENG, Y. Methyl jasmonate enhances wound-induced phenolic
literatura, pois Esquivel et al. e Moreira et al. (9, 10) apontam valores accumulation in pitaya fruit by regulating sugar content and
médios de 8,5 e 7,3 cm de DT e DL, respectivamente. Já Cordeiro et al. energy status. Postharvest Biol. Technol. 137, 106-112, 2018.
(11) obtiveram valores superiores, de 10,73 para o DT e de 8,07 para 2. FAN, HUBER, D. J.; SU, Z.; HU, M.; GAO, Z.; LI, M.; SHI, X.;
DL. Estas divergências podem ter sido ocasionadas por diferenças ZHANG, Z. Effect of postharvest spray of apple polyphenols on
climáticas (11). the quality of fresh-cut red pitaya fruit during shelf life. Food
Cordeiro et al. (11) também encontraram resultado superior Chem. 243, 19-25, 2018.
para a massa da polpa, porém inferior para a da casca. No entanto, 3. RAMÍREZ-TRUQUE, C.; ESQUIVEL, P.; CARLE, R. Neutral
Menezes et al (8) verificaram massa de 257,67 g em pitaias colhidas sugar profile of cell wall polysaccharides of pitaya (Hylocereus
após 31 dias da antese. Desta forma, nota-se que a depender da região sp.) fruits. Carbohyd. Polym. 83, 1134-1138, 2011.
de cultivo pode haver variação do tamanho e peso da pitaia. 4. NUNES, E. N.; de SOUSA, A. S. B.; de LUCENA, C. M.;
Após a realização das análises físicas (decorrido de 4 a 5 dias), SILVA, S. D. M.; de LUCENA, R. F. P.; ALVES, C. A. B.;
observou-se que a coloração da casca mudou, onde as frutas do grupo ALVES, R. E. Pitaia (Hylocereus sp.): Uma revisão para o Brasil.
P75 atingiram maior percentual de coloração na epiderme (FIGURA 1). Embrapa Agroindústria Tropical-Artigo em periódico indexado
Esse comportamento não era esperado, visto que não se trata de uma (ALICE), 2014.
fruta climatérica. Assim, as alterações ocorridas após a colheita devem 5. DIÁRIO DO NORDESTE. Estiagem impulsiona mudança de
ser atribuídas a outros processos que não os de amadurecimento. culturas no agronegócio cearense. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/negocios/es
Figura 1- Mudança de cor em pitaia colhida com 75% da casca rosa. tiagem-impulsiona-mudanca-de-culturas-no-agronegocio-
cearense-1.2144457. Acesso em: 27 fev. 2020.
6. INSTITUTO ADOLFO LUTZ – IAL. Normas Analíticas:
métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 3. ed. São
Paulo: IAL, 1985. v. 1, 533p.
7. ASSOCIATION OF OFFICAL ANALITICAL CHEMISTS –
AOAC. Offcial methods of analysis of the Association of Offcial
Analitical Chemists. 18th ed. Washington: AOAC, 2007. 1750p.
8. MENEZES, T.P.; RAMOS, J.D.; LIMA, L.C.O.; COSTA, A.C.;
NASSUR, R.C.M.R.; RUFINI, L.C.M. Características físicas e
físico-químicas de pitaia vermelha durante a maturação. Semina:
Ciênc. Agrár. 36, 631-644, 2015.
9. ESQUIVEL, P.; STINTZING, F. C.; CARLE, R. Comparison of
morphological and chemical fruit traits from different pitaya
genotypes (Hylocereus sp.) grown in Costa Rica. J. Appl. Bot.
Food Qual. 81, 7-14, 2007.
10. MOREIRA, R. A.; RAMOS, J. D.; ARAÚJO, A. D.; MARQUES,
V. B. Produção e qualidade de frutos de pitaia-vermelha com
adubação orgânica e granulado bioclástico. Rev. Bras. Frutic. 33,
762-766, 2011.
(A): Pitaias 75% da coloração rosa da casca decorrido 5 dias após a colheita; (B): 11. CORDEIRO, M.H. M.; SILVA, J. M.; MIZOBUTSI, G. P.;
Pitaia com 75 e 100% da coloração rosa da casca no dia da colheita. MIZOBUTSI, E. H.; MOTA, W. F. Caracterização física,
química e nutricional da pitaia-rosa de polpa vermelha. Rev. Bras.
Os sólidos solúveis determinados nessa pesquisa foram Frutic. 37, 20-26, 2015.
próximos aos observados por Abreu et al. (12), que alcançaram 11,00 12. ABREU, W. C. D.; LOPES, C. D. O.; PINTO, K. M.;
°Brix para pitaia vermelha. Já para o pH e acidez, estes autores OLIVEIRA, L. A.; CARVALHO, G. B. M. D.; BARCELO, M.
obtiveram valores mais altos para o primeiro e mais baixo para o D. F. P. Características físico-químicas e atividade antioxidante
segundo. Isto ratifica que o local de produção pode influenciar bastante total de pitaias vermelha e branca. Rev. Inst. Adolfo Lutz
nas características dessas frutas. Destaca-se ainda que a acidez e o pH (Impresso). 71, 656-661, 2012.
observados nesse estudo indicaram baixa acidez para as amostras. 13. CHIK, C. T.; BACHOK, S.; BABA, N. Quality characteristics
A acidez e os sólidos solúveis podem ser indicadores do and acceptability of three types of pitaya fruits in a consumer
estádio de maturação das frutas (13), assim com base nessas acceptance test. JTHCA. 3, 89-98, 2011.
características, infere-se que as pitaias apresentaram boa qualidade para 14. LIMA, C. A. de;. FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V.;
o consumo nestes pontos de colheita. Em relação à umidade, assim COHEN, K. D. O.; GUIMARÃES, T. G. Características físico-
como a maioria dos vegetais, verifica-se que a pitaia é uma fruta que químicas, polifenóis flavonóides amarelos em frutos de espécies
possui alto teor de água. de pitaias comerciais e nativas do cerrado. Rev. Bras. Frutic. 35,
565-570, 2013.
CONCLUSÃO

As pitais em diferentes estádios de maturação (75 e 100% da


coloração rosa da casca) não apresentaram diferença para as
características físico-químicas, indicando terem atingido a mesma
qualidade para consumo, embora o aspecto de sua casca e sua firmeza
tenham apresentado diferenças.

184
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização Físico-química e Instrumental de Biscoitos Adicionados de Farinha de


Amêndoa de Castanha de Caju (Anacardium occidentale L.) e Linhaça (Linum usitatissimum
L.)

Cristiano Costa1, Márcia Medeiros2, Yago Silva³, Maria Silva4, Gabriela Azevedo4, Dorasilvia Pontes5
1
Mestre/doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
2
Mestre/doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE – Campus Baturité
3
Gastrônomo – Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – UNIFAMETRO
4
Graduanda de Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
5
Professora Doutora do Departamento de Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará – UFC
cristianocostanutri@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: ácidos graxos, alimentos funcionais, nutrição, tecnologia de alimentos, textura.

INTRODUÇÃO ingrediente, houve uma homogeneização para incorporá-los melhor à


massa. Posteriormente, as massas foram moldadas em aro cortador de
A legislação brasileira define biscoito como o produto obtido a partir aço liso n° 6 cm, com porções de 10 g e em seguida, foram dispostos
da mistura de farinha(s), amido(s) e/ou fécula(s), acrescidos de em formas de inox retangulares, e submetidos ao forneamento em
demais ingredientes, fermentados ou não, que passam por processo forno de lastro (150º C), pré-aquecido (10 min), por 13 minutos.
de forneamento, e que podem conter cobertura e recheios, além de Após assados, foram resfriados em temperatura ambiente (25ºC) por
diferentes formatos e texturas (1). 30 minutos, desenformados, embalados em plástico filme
O biscoito destaca-se por obter interesse comercial elevado, o que se (polietileno) e armazenados em temperatura ambiente até a realização
deve à praticidade na sua produção, comercialização e consumo e, à das análises de caracterização físico-químicas e instrumentais.
sua vida de prateleira, mais longa quando comparada a outros itens
produzidos a partir de cereais (2). Tabela 1 – Formulações de biscoitos tipo semi-doce duro adicionados
A amêndoa da castanha de caju (ACC) é o fruto do cajueiro e se de FACC e linhaça marrom.
constitui um dos principais produtos de utilização da planta. A Ingredientes (%) F11 F22
castanha contém teor elevado de lipídios, fósforo e ferro, além de FACC 20,6% 29,9%
zinco e fibras. A maior proporção de gordura da matéria-prima é a do Farinha de Trigo 37,6% 29,7%
tipo insaturada, que pode contribuir para benefícios à saúde (3). Açúcar 16,6% 16,04%
A linhaça (Linum usitatissimum L.) é um alimento com alto teor de Água 14,7% 14,2%
ácido α-linolênico (ALA), fibras e lignanas, além de proteínas, Linhaça marrom (semente) 6,2% 6,0%
compostos fenólicos e antioxidantes. Existem duas variedades da Leite em pó desnatado 3,7% 3,6%
linhaça: a marrom e a dourada, determinadas pela quantidade de Sal 0,40% 0,40%
pigmentos no revestimento externo da semente. Apesar de não Bicarbonato de sódio 0,30% 0,30%
apresentarem grandes diferenças em sua composição química, a 1
Formulação de biscoito com adição de 20% de farinha de amêndoa
linhaça marrom é produzida em maior escala no Brasil (4). de castanha de caju;
O presente trabalho objetivou elaborar e caracterizar biscoitos do tipo 2
Formulação de biscoito com adição de 30% de farinha de amêndoa
semi-doce duro, adicionados de farinha de amêndoa de castanha de de castanha de caju.
caju e linhaça marrom, com o intuito de analisar o efeito da
substituição total da gordura e parcial da farinha de trigo desses Análises físico-químicas dos biscoitos tipo semi-doce duro
produtos, por meio dos parâmetros físicos, físico-químicos e
instrumentais. A composição centesimal valor energético e os açúcares redutores e
foram determinados por meio de metodologias da AOAC (5),
MATERIAL E MÉTODOS ANKOM (6) e Instituto Adolfo Lutz (7). O °Brix foi determinado em
instrumento óptico refratômetro.
Os ingredientes utilizados foram adquiridos no comércio local de
Fortaleza-CE, com exceção da amêndoa de castanha de caju, que foi Análises físicas dos biscoitos tipo semi-doce duro
adquirida em uma Organização Não Governamental (ONG), na
cidade de Barreira-CE. A farinha de trigo utilizada foi a do tipo 1. A perda de peso foi determinada a partir da diferença de peso entre os
biscoitos crus e assados. O volume específico foi calculado a partir da
Elaboração da farinha da amêndoa de castanha de caju (FACC) razão entre o volume deslocado dos biscoitos em semente de painço
(Panicum miliaceum L.) e o peso dos mesmos. O diâmetro foi
As amêndoas de castanha de caju receberam a classificação de banda. verificado com o auxílio de uma régua. As análises físicas foram
As mesmas foram pesadas e submetidas à secagem em estufa com realizadas em 10 unidades de cada formulação.
circulação e renovação de ar a 55°C por 24 horas. Após essa etapa
foram resfriadas sob condições naturais e novamente pesadas e Análises instrumentais dos biscoitos tipo semi-doce duro
embaladas. Posteriormente, foram trituradas em liquidificador
doméstico e peneiradas em peneira com malha de 1100 mícrons. A cor instrumental foi analisada em colorímetro Minolta (Model CR-
400, Konica Minolta Sensing, Ind., Osaka, Japan), e os resultados
Elaboração dos biscoitos tipo semi-doce duro baseados nos parâmetros: L* (luminosidade – preto ao branco),
cromaticidade a* (eixo verde/vermelho) e cromaticidade b* (eixo
Os biscoitos foram produzidos no Laboratório de Cereais, do azul/amarelo).
Departamento de Engenharia de Alimentos (DEAL), da Universidade A textura foi determinada em Texturômetro TA-XT2 Texture
Federal do Ceará. Technologie Corp software, utilizando o probe HDP/BSK. Após seis
Foram elaboradas duas formulações de biscoitos tipo semi-doce duro, dias de forneamento, os biscoitos foram dispostos horizontalmente
denominadas F1 e F2, que continham, aproximadamente, 20% e 30% sobre a plataforma, a fim de analisar a dureza. Foram utilizados as
de FACC, respectivamente, conforme apresentado na Tabela 1. seguintes especificações: velocidade pré-teste = 2,5 mm s-1;
Após a seleção e pesagem dos ingredientes, misturou-se a FACC, o velocidade de teste = 2,0 mm s-1; velocidade pós-teste = 10,0 mm s-
açúcar e a água em bateira doméstica tipo planetária, por cinco 1; força de contato = 20 g; strain: 100%. Analisaram-se 10 amostras
minutos. Em seguida adicionaram-se os demais ingredientes. Ao de cada formulação, com resultados expressos em gramas (g).
final, acrescentou-se farinha de trigo aos poucos. À adição de cada

185
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

RESULTADOS E DISCUSSÃO aumento na maciez dos mesmos. A literatura relata que a substituição
de gordura em níveis acima de 20% oferece ao produto uma melhoria
Composição físico-química na textura (12).

O teor de umidade e cinzas das formulações mostrou-se similar ao Os biscoitos estão ilustrados na Figura 1.
encontrado em um estudo (3,37% e 1,65%, respectivamente), com
biscoitos que continham 50% de farinha de castanha de caju, em Figura 1 – Biscoitos com 20% e 30% de farinha de amêndoa de
substituição à farinha de trigo (8). castanha de caju (FACC).
O biscoito com adição de 30% de FACC apresentou uma quantidade
superior de lipídios, o que pode estar associado ao alto teor desse
nutriente presente na castanha de caju. Consequentemente, a
formulação teve sua umidade e valor energético aumentados, em
comparação à de 20%.
A amêndoa possui aproximadamente 45% de lipídios, dentre os quais
a maioria são ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados, com
F1 – formulação com 20% de FACC
destaque para os ácidos oleico (ômega 9), além do linoleico,
palmítico e esteárico (9, 10).
O biscoito com maior teor de FACC apresentou também uma
quantidade superior de açúcares redutores. Estes, por sua vez,
correspondem aos monossacarídeos (glicose, frutose e galactose),
que, por conter um grupo aldeído ou cetona livre em sua estrutura
química, tem capacidade de se oxidar na presença de agentes
antioxidantes, em soluções alcalinas (11) (Tabela 2). F2 – formulação com 30% de FACC

Tabela 2 – Composição físico-química e valor energético dos CONCLUSÕES


biscoitos adicionados de farinha de amêndoa de castanha de caju
(FACC) A partir dos resultados obtidos, verifica-se que a adição de diferentes
Parâmetros F1 (20%) F2 (30%) proporções de farinha de amêndoa de castanha de caju às massas de
Umidade (%) 4,14b±0,13 4,93a±0,08 biscoitos tipo semi-doce duro pode provocar influência nos
Cinzas (%) 1,61a±0,04 2,59a±1,20 parâmetros físico-químicos, físicos e instrumentais dos produtos.
Lipídios (%) 11,63b±0,31 16,84a±0,19 Sugere-se a realização de novos estudos a fim de averiguar o
Proteína (%) 8,51a±0,48 8,80a±0,32 emprego da castanha de caju e da linhaça como uma opção para a
Carboidratos (%) 74,10b±0,42 66,83a±0,93 substituição de gorduras do tipo saturadas ou trans, comumente
Valor energético (Kcal) 435,14b±1,99 454,13a±5,14 utilizadas na fabricação de biscoitos tipo semi-doce duro.
Açúcares redutores 16,87b±1,90 33,43a±9,40
° Brix1 1,00±0,00 2,00±0,00 REFERÊNCIAS
Letras distintas em uma mesma linha apresentaram diferenças
significativas ao nível de 5% de significância (p < 0,05). 1. BRASIL. Resolução n°. 263, de 22 de setembro de 2005. Aprova o
1
Não foi possível realizar teste de Tukey entre as amostras. “regulamento técnico para produtos de cereais, amidos, farinhas e
farelos”. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Característica físicas e instrumentais DF, 22 set. 2005.

Ao avaliar as características físicas do produto, verificou-se que a 2. SANTOS, R. C. O valor energético dos alimentos: exemplo de
perda de peso foi atenuada com a adição de um maior teor de FACC. uma determinação experimental, usando calorimetria de combustão.
O diâmetro e o volume específico dos biscoitos F1 e F2 não diferiram Química Nova, v. 33, n. 1, p. 220-224, 2010.
estatisticamente entre si, sugerindo que as diferentes proporções de
3. GAZOLLA, J. et al. Castanha de caju e sua amêndoa: composição
FACC e a adição da semente de linhaça não influenciaram na
e importância dos ácidos graxos - produção e comércio mundiais. In:
configuração geométrica do produto e não provocaram deformações
SOARES, N. S.; MERELLES, A. E. de F. (Org.). Comércio
indesejadas (Tabela 3). internacional de produtos agrícolas da região Nordeste do Brasil.
Fortaleza: Edições BNB, 2018.
Tabela 3 – Composição física e instrumental dos biscoitos 4. BARROSO, A. K. M. et al. Linhaça marrom e dourada:
adicionados de farinha de amêndoa de castanha de caju (ACC) propriedades químicas e funcionais das sementes e dos óleos
Parâmetros F1 (20%) F2 (30%) prensados a frio. Ciência Rural, v. 44, n. 1, p. 181-187, 2014.
Perda de peso (g) 1,39b±0,07 1,16a±0,06 5. AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
Diâmetro (cm) 5,21a±0,06 5,36a±0,14 CHEMISTS. Official methods of analysis. 18. ed. Gaithersburg:
Volume específico a AOAC International, 2005.
3,12 ±2,53 1,96a±0,08
(mL/g) 6. ANKOM. Technology method 2: rapid determination of oil/fat
L* 64,29b±1,34 65,64a±1,38 utilizing high temperature solvent extraction. Macedon, 2009. p.2.
a* 7,41b±0,80 5,99a±1,19 7. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
b* 20,87a±0,86 21,24a±0,39 análise de alimentos. 4. ed./1 ed. digital. São Paulo: Instituto Adolfo
Dureza (g) 19486,07b±3981,31 11686,51a±2246,05 Lutz, 2008.
Letras distintas em uma mesma linha apresentaram diferenças 8. MELO, A. B. P. et al. Elaboração e caracterização de biscoitos
significativas ao nível de 5% de significância (p < 0,05). adicionados de farinha de castanha de caju com diferentes adoçantes.
REBAGRO, 7, 145-150, 2017.
O biscoito com maior porcentagem de farinha de amêndoa de 9. DAS, I.; SHAH, N. G.; UMAR, G. Cashew Nut Quality as
castanha de caju apresentou uma luminosidade (L*) superior, o que Influenced by microwave heating used for stored grain insect control.
pode estar associado à coloração amarelada que esta matéria-prima Int. J. Food Sci, 1-7, 2014.
confere ao produto. Em contrapartida, o parâmetro da cromaticidade 10. USLU, N; ÖZCAN, M.M. Effect of microwave heating on
a* (eixo verde/vermelho) intensificou-se na formulação com 20% de phenolic compounds and fatty acid composition of cashew
FACC. Os açúcares presentes, incluindo os redutores, podem ter (Anacardium occidentale) nut and oil, J. Saudi Soc. Agric. Sci., 18,
sofrido o processo de caramelização, ou ainda, a Reação de Maillard, 344-347, 2019.
em combinação com os aminoácidos disponíveis nas farinhas. Ambas 11. SANTOS, G. L.; GEMMER, R. E.; OLIVEIRA, E. C. Análise de
as reações influenciam na coloração das preparações, deixando-as açúcares totais, redutores e não-redutores em refrigerantes pelo
com tonalidades mais escuras. método títulométrico de Eynon-Lane. Rev. Destaques Acadêmicos, 8,
186-197, 2016.
A dureza, definida como a força necessária para romper o produto, 12. BERTOLINO, M. T.; BRAGA, A. Ciência e tecnologia para a
foi menor na formulação com 30% de FACC, quando comparada à fabricação de biscoitos: handbook do biscoiteiro. São Paulo: Livraria
F1, sugerindo que maiores níveis de FACC podem causar um Varela: Revista Higiene Alimentar, 2017. 287 p.

186
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Obtenção de lipase a partir de fungos para a hidrólise de óleos vegetais

Fátima Nunes1*, Francisco de Assis2, Maria Oliviera3, Yana Silva4, Cristiano Lima5
1
Doutora em Química Orgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor do Departamento de Química
Orgânica e Inorgânica, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará. Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
E-mail: fatima.nunes@ufc.br
2
Aluno de graduação do curso de Engenharia Química, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Campus
do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
3
Doutora em Química Orgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor do Departamento de Química
Orgânica e Inorgânica, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará. Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
4
Aluno de graduação do curso de Licenciatura em Química, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Campus
do Pici, Fortaleza, CE, 60455-760.
5
Doutor em Agronomia/Fitopatologia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) Professor do Departamento de
Fitotecnia, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará, Campus do Pici, Fortaleza, CE, 60356-001,
Brazil.
Palavras-chave: Fusarium oxysporum, atividade enzimática, fungos fitopatogênicos.

INTRODUÇÃO Os fungos foram cultivados em placas de Petri com meio


de cultura BDA (Batata, Dextrose e Ágar) para ativação
As lipases são enzimas usadas em diversos processos das cepas. Após sete dias, três fragmentos de cada fungo
das indústrias alimentícia, farmacêutica e química. foram inoculados em placa com meio meio Yeast
Essas enzimas catalisam reações de hidrólise, Extract (YE) (0,5 g extrato de levedura, 4,5 mL de
esterificação, interesterificação e transesterificação. Emulsão de óleo de oliva, 0,5 mL de solução de
Podem ser encontradas em células de tecidos animais, rodamina B, 2g de ágar e 95,0 mL de água). Para a
vegetais e de microrganismos como fungos e bactérias avaliação da atividade lipásica no meio YE, o
(1). A biotecnologia industrial se beneficiou do uso de crescimento foi de 72 horas onde a atividade pode ser
lipases, uma vez que a sua utilização levou a obtenção visualizada e identificada em câmara de ultravioleta
de concentrados de ácidos graxos poli-insaturados com (365nm) pela formação de um halo com coloração
boas perspectivas de aplicação (2). A produção de fluorescente.
lipases a partir de microrganismos possibilita a
manipulação das condições de cultivo, a fim de Após o ensaio em placa de petri, para detectar a
aumentar a atividade enzimática da lipase. atividade lipásica, o fungo mais promissor nesse ensaio
para a produção de lipase foi cultivado em meio líquido
Lipases fúngicas apresentam vantagens sobre as lipases Batata-Dextrose (BD) enriquecido com azeite de oliva
bacterianas devido ao seu baixo custo de extração, são disperso em tween 80. Depois de cultivado por 72 hs a
estáveis numa ampla faixa térmica e de pH, 120 rpm em shaker orbital a 30 oC, a cultura foi filtrada
especificidade e atividade em solventes orgânicos (1). A e o sobrenadante foi centrifugado. 1,0 mL do meio
previsão é de que o crescimento na demanda por essas líquido centrifugado foi transferido para tubo de ensaio
enzimas cresça, o que tem motivado na triagem de novas + 5,0 mL de emulsão de óleo de oliva em tween (25 %
fontes desse tipo de enzima. v/v) + 4,0 mL de tampão fosfato e aquecido por 10 min
Dentre os diferentes tipos de fungos presentes na em banho maria. Após esse tempo a preparação
natureza destacam-se os fitopatogênicos, principalmente enzimática foi titulada com hidróxido de sódio 0,05 M
devido a capacidade de habitar diferentes hospedeiros. para neutralização dos ácidos graxos livres utilizando
Esse trabalho relata a investigação de fungos fenolfataleína com indicador (3).
fitopatogênicos produtores de lipase extracelular usando A atividade lipásica foi expressa pela quantidade de
métodos colorimétricos com rodamina-B para detectar a enzima que libera 1 mmol de ácido graxo por minuto e
produção da lipase e titulométricos na quantificação da é calcula pela seguinte expressão:
atividade enzimática.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados quanto a produção de lipase os fungos
fitopatogênicos Fusarium oxysporum (UFCM 0089),
Fusarium tupiense (UFCM 0312), Fusarium solani onde: A = atividade enzimática; Va = Volume da
(UFCM 0189), Fusarium guttiforme (UFC 0466), amostra titulada (mL); Vb = Volume do banco titulado
Fusarium sachari (UFCM 0440), Cladosporium sp. (mL); Vc = Volume da amostra usada na reação (mL); t
(LABS 0003), Colletotrichum musae (LABS 0004). = Tempo da reação (min); M = molaridade da solução
de NaOH.

187
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO


O teste da produção de lipase por microrganismos A hidrólise enzimática de óleos vegetais é uma
usando rodamina-B como indicador é um dos mais alternativa que vem sendo bastante estudada devido as
usados na literatura (4). Dos fungos as espécies peculiaridades do processo enzimático, que utiliza
UFC0089, UFC0312, UFC0440 e UFC0189 condições mais brandas. Os fungos estudados nesse
apresentaram fluorescência quando submetidas a luz trabalho apresentaram resultados promissores na
ultravioleta a 365 nm (Figura 1). A avaliação da região obtenção de lipases extracelulares e ligadas ao micélio,
fluorescente nas culturas fúngicas mostram que a através do teste colorimétrico usando rodamina B.
atividade lipásica de UFC0089, UFC0440 e UFC0189 Todavia, mudanças na composição do meio de cultura e
está nas bordas do micélio, indicando que estes fungos na condições de temperatura e pH do meio devem ser
excretam a enzima para o meio de cultura. Já o fungo ajustadas para melhorar a atividade enzimática.
UFC00312 tem a atividade lipásica dispersa no micélio,
o que indica a presença de lipase ligada ao micélio. REFERÊNCIAS

Figura 1: Teste colorimétrico de UFC0089 (a), 1. LUZ, B. D. S. Produção de lipases visando-se


UFC0312 (b), UFC0440 (c) e UFC0189 (d) para lipase aplicações industriais empregando-se micro-organismos
selecionados na bioprospecção realizada no parque
estadual serra do Ouro Branco/MG. Dissertação de
Mestrado, Programa de pós-graduação em tecnologias
para o desenvolvimento sustentável, Universidade
Federal de São João Del-Rei, Ouro Branco, MG.
2. CARVALHO, P.O.; CAMPOS, P.R.B.; NOFFS,
M.D.; OLIVEIRA, J.G.; SHIMIZU, M.T.; SILVA,
D.M. Aplicação de lipases microbianas na obtenção de
concentrados de ácidos graxos poli-insaturados. Quím
Nova, v. 26, n.1, p. 75-80, 2003.
(a) (b) 3. GONÇALVES, F. A. G. Produção de lipase
extracelular por levedura em cultivo submerso. 2007.
103 f. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Ciência de Alimentos, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas
Gerais.
4. FREITAS, M. F. M. Produção de lipases por
leveduras isoladas do bagaço de caju utilizando fontes
alternativas de Carbono e Nitrogênio. 2017. 103 f. Tese
(Doutorado em Engenharia Química)-Centro de
(c) (d) Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
A partir desses resultados somente o fungo 0089 foi 2017.
cultivado em meio líquido, uma vez que o interesse do 5. MAROTTI, B. S.; CORTEZA, D. V.; GONÇALVES,
trabalho é determinar a atividade enzimática de lipase D. B.; CASTRO, H. F. Seleção de espécies do gênero
excretada para o meio, e dos três fungos que mostraram Penicillium produtoras de lipase ligada ao micélio para
essa atividade a cepa UFC0089 apresentou maior aplicação em hidrólise de óleos vegetais. Quím Nova,
fluorescência A determinação da atividade lipásica em 40, 427-435, 2017.
meio líquido baseia-se na hidrólise do azeite de oliva 6. FRANCO, P. F.; GUTARRA, M. L. E.; LEITE, S. G.
adicionado ao meio que o fungo é cultivado. Esse tipo F.; NASCIMENTO, R. P; JUNIOR, I. I. ENZITEC,
de óleo é o mais usado na análise da atividade de lipase 2016: Trabalho 4492: Produção de Lipases por Fungos
(5). Filamentosos Isolados da Restinga da Marambaia e seu
Potencial Biotecnológico.
A atividade lipásica em U/mL do fungo UFC0089 7. LANKA, S.; TRINKLE, T. Screening and Isolation
encontrada foi 2,6 U/mL, valor próximo relatado para of Lipase Producing Fungi from Marine Water Obtained
alguns fungos do gênero Aspergillus e Trichoderma (6). from Machilipatnam Costal Region, Int. J. Pharmacogn.
Esse resultado também é menor que os relatados para a Phytochem. Res., 9, 928-932, 2017,
atividade de lipases oriundas de fungos isolados de água
do mar (7). A atividade lipásica, encontrada para as
enzimas secretadas para o meio líquido, pode ser
melhorada através de mudanças na composição do meio.
A variação da quantidade de óleo fornecida ao
microrganismo pode ser estudada a fim de alcançar
melhores atividades enzimáticas. Os demais fungos que
apresentaram indícios na produção de lipase através do
teste de rodamina B, também podem ter suas atividades
enzimáticas melhoradas através de mudanças na forma
de cultivo.

188
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Eficácia do tratamento térmico no preparo de doces e compotas artesanais

Flávia E. N. de Pinho¹, Eveline de A. Costa ², Evânia A. T. de Figueiredo³, Gisani de S. M. Teixeira 4 e


Alessandra P. de G. Carneiro 5 .

1Discente do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. Email: faupinho@gmail.com


2Professora Doutora do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
3Professora Doutora do Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará.
4Engenheira de Alimentos pela Universidade Federal do Ceará.
5Professora Doutora do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.

PALAVRAS-CHAVE: Gastronomia; Ciência de Alimentos; Microbiologia; Conservação de Alimentos; Segurança Alimentar.

INTRODUÇÃO Microbiologia de Alimentos, do Departamento de Engenharia


de Alimentos da Universidade Federal do Ceará.
A pesquisa foi desenvolvida com ação interdisciplinar entre a
disciplina de Microbiologia de Alimentos Aplicada à A análise foi realizada em capela de fluxo laminar e através
Gastronomia e o Curso Produção de Doces e Compotas dessa análise buscamos nos alimentos a presença de
Artesanais ofertado pelo Programa de Extensão Gastronomia microrganismos mesófilos, bem como bolores e leveduras,
Social, do Curso de Bacharelado em Gastronomia da com variação de tempo: 15 dias (T15), 30 dias (T30) e 45 dias
Universidade Federal do Ceará. O objetivo dos cursos (T45) dias contados da data sua produção. As metodologias de
oferecidos pela referida ação extensionista é capacitar os análise adotadas seguiram o Compendium of methods for the
alunos para que aprendam as técnicas de conservação artesanal microbiological examination of foods, da American Public
e possam empreender. Health Association (5).
Os alunos aprendem todas as fases do processo de preparação, Para análise de mesófilos usamos como meio de cultura o PCA
desde a lavagem e esterilização dos potes, passando pelo (Plate Count Agar) e para bolores e leveduras usamos o PDA
preparo do doce propriamente dito, seu envase e finalizando (Potato Dextrose Agar), com período de incubação de 48h a
com o tratamento térmico aplicado pós-envase. 35ºC para mesófilos e 3 a 5 dias a 23ºC para bolores e
As conservas artesanais são promissoras no mercado pois são leveduras. (6).
produtos livres de conservantes químicos ou artificiais. Além
disso, são alimentos que buscam se aproximar ao máximo do RESULTADOS E DISCUSSÃO
produto natural, tendo apenas ingredientes da formulação que
promovem a conservação, ou seja, a concentração adequada de As placas apresentaram baixas contagens de microrganismos
sal e vinagre na salmoura dos picles e do açúcar nos doces e mesófilos nos produtos analisados, bem como de bolores e
geleias. (1). leveduras, conforme descrito a seguir (Tabela 1).
A produção de doces e outras conservas permite evitar o
desperdício dos vegetais e ainda proporciona novas formas de Tabela 1- Contagens de mesófilos nas conservas artesanais
consumi-los ou saboreá-los. (2) Contagens de mesófilos
De acordo com a Associação Brasileira do Comércio de Produto
T15 T30 T45
Sementes e Mudas (3) o Brasil encontra-se, a nível mundial, DMC 4,5 x10³ (a) 5,0 x 10 5
em 3º lugar como produtor de frutas. Ressaltam ainda que as DMR <10 5,0 x 10³ <10
hortaliças constituem um dos ramos da agropecuária em largo GMB (b) 1,1 x 10³ 1,0 x 10²
crescimento no país. Assim, a produção de vegetais no Brasil GBM (b) <10 <10
abastece com êxito o mercado interno, oferecendo qualidade e GMP <10 <10 <10
variedade. (4) GMG <10 <10 <10
Portanto, o objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia do CB <10 <10 <10
tratamento térmico aplicado nas conservas artesanais, a fim de AMB 1,0 x 10² 1,2 x 10 4
7,0 x 10¹
estimar tempo de prateleira que possa conferir segurança ao CM <10 <10 <10
consumidor. GAPI <10 <10 <10
Fonte: Autores.
MATERIAL E MÉTODOS (a) Amostra descartada por mau acondicionamento (foi
colocada em geladeira antes da análise, o que poderia
O tratamento térmico consiste na lavagem e desinfecção dos comprometer o resultado).
potes e tampas através da fervura, com secagem ao ar livre, em (b) Amostra com data de produção que impossibilitou
superfície sanitizada. análise em T15.
O envase das conservas estudadas foi realizado com o doce ou
compota ainda quente, deixando pequeno espaço de cabeça A análise de mesófilos pode ser utilizada para verificar a
entre o conteúdo e a tampa do pote. Depois, os potes envasados segurança do consumo por meio da contagem de células, que
foram submetidos à fervura, por 15 minutos; inicialmente com devem ser baixas. Contagens de mesófilos são utilizadas como
a tampa semiaberta e depois com a tampa fechada, para indicadores das condições de higiene do ambiente e do
permitir a saída de vapores, gases e realizar vácuo ao fechá-las. manipulador de alimento. Portanto, mesmo a legislação
Para a análise microbiológica, utilizamos três amostras vigente (7) não preconizando contagens de mesófilos para os
lacradas de cada um dos seguintes doces e compotas: Geleia de produtos analisados, a decisão de identificá-los foi verificar as
Maçã com Pimenta - GMP, Geleia de Maçã com Gengibre - condições de envase, do ambiente e do manipulador, pois a
GMG, Caponata de Berinjela - CB, Doce de Mamão com Côco nível artesanal todos estes são passíveis de contaminações.
- DMC, Doce de Mamão em Rolinhos - DMR, Geleia de As poucas placas que apresentaram contagem elevada não
Melancia com Baunilha - GMB, Geleia de Banana com comprometem o resultado, tendo em vista que a legislação
Maracujá - GBM, Ambrosia - AMB, Chutney de Manga - CM prevê uma margem de tolerância, a depender do
e Geleia de Acerola com Pimenta – GAPI, produzidos pelos microrganismo e do produto.
alunos do Programa de Extensão Gastronomia Social, Na Tabela 2 encontram-se os resultados das contagens e
(precisamente do Curso de Produção de Doces e Compotas bolores e leveduras nos produtos artesanais analisados.
Artesanais). As análises foram realizadas no Laboratório de

189
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

As conservas estudadas possuem características intrínsecas (2) EMBRAPA INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA.


que permitem o crescimento de bolores e leveduras e, portanto, Conservas caseiras de frutas. – Brasília, DF: Embrapa
a legislação vigente (8) preconiza que a contagem destes não Informação Tecnológica, 2006. 54p. (ABC da Agricultura
deve ultrapassar 10 4 UFC/g do produto nas amostras Familiar, 11). Disponível em:
indicativas. A maioria das conservas artesanais apresentou <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/11941/
contagens de bolores e leveduras abaixo de 10 4 UFC/g do 2/00078780.pdf>. Acesso em 01. mar. 2020.
produto, estando em conformidade com o recomendado pela (3) SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL -
RDC nº12/2001 (9) para purês e doces em pasta ou massa e SENAR. Fabricação caseira de conservas permite maior
similares, incluindo geleias, não comercialmente estéreis; aproveitamento de alimentos. 2020. Disponível em:
doces em calda, não comercialmente estéreis (a granel). <http://etec.senar.org.br/extra-classe/noticias-e-
artigos/fabricacao-caseira-de-conservas-permite-maior-
Tabela 2 - Resultado da análise de bolores e leveduras nas aproveitamento-de-alimentos/>. Acesso em 01. mar. 2020.
conservas artesanais (4) SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL -
Contagens de bolores e leveduras SENAR. Fabricação caseira de conservas permite maior
Produto aproveitamento de alimentos. 2020. Disponível em:
T15 T30 T45
DMC <10 (a) <10 <http://etec.senar.org.br/extra-classe/noticias-e-
DMR <10 <10 <10 artigos/fabricacao-caseira-de-conservas-permite-maior-
GMB (b) <10 <10 aproveitamento-de-alimentos/>. Acesso em 01. mar. 2020.
GBM (b) <10 6,0 x 10¹ (5) AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION
GMP <10 <10 (c) (APHA). 2001. Compendium of methods for the
GMG <10 <10 <10 microbiological examination of foods. 4th ed. Washington:
CB <10 <10 4,0 x 10¹ APHA. 676 p
AMB <10 <10 <10 (6) DA SILVA, Neusely. [et al]. Manual de métodos e
CM <10 1,0 x 10¹ <10 análises microbiológicas de alimentos e água. 5 ed. São
GAPI <10 <10 <10 Paulo: Blucher, 2017.
Fonte: Autores. (7) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
(a) Amostra descartada por mau acondicionamento (foi Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 12, de 2 de janeiro
colocada em geladeira antes da análise, o que poderia de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões
comprometer o resultado). microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da República
(b) Amostra com data de produção que impossibilitou Federativa do Brasil, Brasília, jan. 2001.
análise em T15. (8) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
(c) Amostra descartada porque apresentava contaminação Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 12, de 2 de janeiro
por mofo visível. de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões
microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da República
A Geleia de Maçã com Pimenta apresentou-se estável até 30 Federativa do Brasil, Brasília, jan. 2001.
dias, pois apresentou mofo visível após este período. (9) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
A baixa contaminação das amostras analisadas é um resultado Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 12, de 2 de janeiro
muito satisfatório, haja vista que demonstra a eficácia de um de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões
método simples (tratamento térmico), passível de ser aplicado microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da República
pelas alunas em seus próprios negócios, e que garante a Federativa do Brasil, Brasília, jan. 2001.
segurança da maioria dos alimentos produzidos por um período (10) FRANCO, Bernadette D. Gombossy de Melo;
de até 45 dias. LANDGRAF, Mariza. Microbiologia dos Alimentos. Ed.
É evidente a importância do ensino reiterado das boas práticas Atheneu. São Paulo, 2004.
de higiene e manuseio durante o preparo dos alimentos, como
nos doces e compotas estudados neste trabalho. (10).
Esse cuidado é determinante para evitar casos de contaminação
microbiológica direta e indireta, garantindo a segurança
alimentar dos produtos e tempo de prateleira das amostras
produzidas.
Tudo isso permite que o curso alcance seu objetivo de capacitar
as alunas para que produzam alimentos seguros e possam a
partir daí obter uma fonte de trabalho e renda.
Assim, o tratamento térmico empregado nas conservas
artesanais é eficaz para reduzir e manter contagens de
microrganismos mesófilos, bolores e leveduras dentro do
limite aceitável.

CONCLUSÃO

Diante da pesquisa realizada e resultados apresentados, pode-


se concluir que os produtos apresentaram baixas contagens de
mesófilos, bolores e leveduras. Portanto, o tratamento térmico
empregado nas conservas artesanais é eficaz para a segurança
do consumo em até 45 dias na maioria das conservas artesanais
analisadas e até 30 dias na Geleia de Maçã com Pimenta e Doce
de Mamão com Côco.

REFERÊNCIAS

(1) BROWN, Lynda; HUMPHRIES, Carolyn; WHINNEY,


Heather (Org.). O livro das conservas: deliciosas receitas de
compotas, geleias, chutneys e picles. São Paulo: Publifolha,
2011. 352 p.

190
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

INFUSÃO DA FLOR DA CLITORIA TERNATEA: TESTE DE ACEITAÇÃO DA


TONALIDADE AZUL EM PRODUTOS NATURAIS COMESTIVEIS
Isaías Filho1
1
Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará. isaiasadnfilho@gmail.com
Palavras-chave: Blue Tea, Análise Sensorial, Pigmento.
INTRODUÇÃO inicialmente a amostra sem a adição de Clitoria ternatea. Em
seguida, foi apresentada a amostra com Clitoria ternatea.
O elemento fundamental que da condição a visão é a luz, e a sua
presença torna possível a capitação de estímulos cerebrais para a Inicialmente foi perguntado sobre a frequência de consumo de
decodificação do que se enxerga (1). A visão é um dom singular e infusões. A aceitação sensorial foi avaliada através de uma ficha com
determinante nas interrelações e preferências da sociedade, mesmo escala hedônica estruturada de três categorias, sendo essas: gostei,
que, na espécie humana haja uma grande limitação da captação de neutro e desgostei (10). Foi realizado, na mesma sessão, o teste
tais estímulos (1). Ao longo da história, contudo, uma particular CATA (check all that apply) em que os provadores marcaram em
curiosidade foi constatada a ponto de intrigar cientistas de várias uma x(número de descritores) lista com alguns descritores sensoriais
áreas: nem tudo que se vê é real. O azul que se encontra em diversos com objetivo de caracterizar as infusões. A relevância de cada termo
animais e plantas, por exemplo na borboleta Morphus didius, nada foi determinada calculando a sua frequência de utilização (11).
mais é do que o resultado da difusão e refração da luz solar,
As amostras foram apresentadas seguindo a seguinte ordem: foi
resultando na reflexão apenas da luz azul e tornando-a desta cor para
servida água para o degustador e sugerido que o teste fosse iniciado
quem a veja, fenômeno chamado iridescência, popularmente com um gole da mesma para limpar as papilas, seguido pela primeira
conhecido como furta-cor (2).
infusão que foi entregue com o propósito de familiarizar o paladar do
Notou-se então a dificuldade na aquisição de corantes da cor degustador à infusão, sem necessidade de avaliação da mesma,
azul comestível, afinal, as principais fontes de obtenção de finalizada por mais um gole de água para preparar para a avaliação
pigmentos naturais são plantas, animais ou microrganismos (3), e real. Para a análise sensorial foi entregue a segunda infusão junto
várias delas possuíam apenas o efeito apresentado anteriormente, não com a Ficha 1 para 25 participantes e a Ficha 2 para os outros 25,
reais pigmentos como o amarelo, vermelho ou laranja das betalaínas sem estes serem informados sobre a diferença que geraria a indução
(4) ou o verde da clorofila (5). Sendo assim, há uma grande de escolha.
utilização de corantes artificiais e sintéticos para fins alimentícios, a
Após o preenchimento das fichas, as mesmas foram recolhidas e
maioria extraídos da tinta do alcatrão de carvão (6). Afinal, por mais os degustadores foram apresentados a flor responsável pelo
que os alimentos devessem ser avaliados muito mais pelos seus
pigmento, nesse momento todas as observações dos mesmos foram
aspectos nutricionais, pois eles que suprem as reais necessidades do
anotadas. Logo depois foi apresentado aos participantes que as duas
corpo, o primeiro aspecto avaliado costuma ser a coloração dos infusões eram iguais com exceção da presença da flor, tomando-se
mesmos, afetando na aceitação e preferência de produtos (7).
nota dos comentários mais uma vez. E por último uma terceira
Devido a pouca frequência da coloração azul na natureza, a infusão apenas com a flor como ingrediente foi apresentada para que
maioria dos consumidores tendem a associa-la, corretamente, a os mesmos conferissem o sabor original e se o mesmo alterava
produtos processados, com aditivos de corantes químicos, realmente o paladar ou seria apenas uma indução gerada pela cor,
sintetizados artificialmente o que torna-se menos atraente, afinal, não mais uma vez anotando-se a discussão.
há a necessidade da ingestão de corantes para a dieta humana e pois a
utilização dos mesmos justifica-se apenas por finalidade estética(8).
Com o crescimento da sensibilidade e conscientização ecológica da RESULTADO E DISCUSSÃO
população, o consumo de produtos colorizados artificialmente caiu à
medida que os corantes naturais se tornam preferencia (9). Ao compilar os resultados das análises sensoriais constou-se que
apenas 11 provadores dentre os 50 não possuíam hábito rotineiro
O trabalho proposto, tem a finalidade de testar a reação do
com frequência superior a 2 vezes por semana relacionada ao
público em relação a um produto alimentício produzido com
consumo de chás e infusões, e que entre todos os avaliadores apenas
pigmentação natural azul, avaliando a aceitação devido a dificuldade
6 desgostaram da infusão de Clitoria ternatea e dos 44 que gostaram
da extração de corante natura azul e o mesmo costumar ser associado
todos apresentaram intenção de compra.
a produtos artificiais.
Dos 25 degustadores que possuíam o termo “artificial” em suas
fichas, 18 marcaram a opção e 2 desses escreveram no campo
MATERIAL E MÉTODOS “observações” sobre a similaridade da coloração dos mesmos
comparando-os a coloração de produtos de limpeza. Quanto aos
As amostras utilizadas na avaliação foram preparadas, demais 25 provadores, não induzidos com a descrição de “artificial”
sucessivamente, com: 2 litros de água fervendo adicionadas de 200g em suas fichas, nenhum decidiu preencher o campo “outro” com tal
de maçã picada sem casca e 300g de gengibre em pedaços de 0,5cm termo, apesar da presença do termo “natural” na ficha que
com casca deixando infusionar por 10 minutos, após o tempo a possibilitaria o mesmo de pensar no seu termo oposto, e apenas um
amostra foi coada e armazenada; 2 litros de água fervendo degustador acrescentou no campo “observações” que “o chá tem uma
adicionadas de 200g de Clitoria ternatea, 200g de maçã picada sem aparência não muito comum”.
casca e 300g de gengibre em pedaços de 0,5cm com casca deixando
infusionar por 10 minutos, após o tempo a amostra foi coada e Ao final da avaliação ao serem apresentados a planta responsável
armazenada; e 2 litros de água fervendo adicionadas de 200g de pela coloração da infusão avaliada, todos os entrevistados
Clitoria ternatea deixando infusionar por 10 minutos, após o tempo a demonstraram real interesse e curiosidade pela mesma tal como
amostra foi coada e armazenada. duvidas relacionadas a uma possível aquisição. Quando informadas
também que a única diferença entre a infusão oferecida inicialmente
As análises foram realizadas por 50 provadores, de um e a infusão com pigmentação azul era a presença da Clitoria ternatea
restaurante focado em produtos naturais e orgânicos, cujo nome em sua composição todos os degustadores afirmaram não haver
pediu-se sigilo. O local foi escolhido para análise pela presença de semelhança entre o inicial e a amostra e que certamente a flor azul
pessoas que costumam manter hábitos mais naturais. Todos os teria alterado bastante no sabor da segunda infusão, contudo ao
provadores e participantes foram pessoas voluntárias, não treinadas, serem servidos de um chá exclusivamente de Clitoria ternatea foi
recrutadas aleatoriamente entre os clientes frequentadores e que unânime a conclusão de que o sabor da infusão da mesma quase não
mostraram seu consentimento. As amostras de infusões foram possui sabor e, por isso, ela não afetaria na segunda amostra, sendo a
servidas aos provadores na quantidade de 50 mL, sendo servida diferença gerada apenas pela avaliação visual sobre a cor azul.

191
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÕES REFERÊNCIAS

Através da análise sensorial realizada foi possível identificar 1 Pedrosa, I. Da cor à cor inexistente, 3a. ed., Ed. Léo Christiano,
com clareza o impacto visual que corante e pigmentos causam nas Co-editora Univ. Brasília: Rio de Janeiro, 1982.
preferências dos consumidores, podendo alterar até mesmo a
percepção de sabores e aromas devido ao julgamento prévio 2 Kinoshita, S.: Structural Colors in the Realm of Nature (World
realizado pelo sentido da visão. Scientific Publishing, Singapore, 2008) p. 3-6.

Foi constatado também que cor azul, em alimentos, possui um 3 NETTO, R. C. M. Dossiê corantes. FOOD INGREDIENTS
aspecto inusitado e não natural para os consumidores, possivelmente BRASIL, n. 9, 2009.
devido sua escassez na natureza, gerando uma avaliação previa que o
assemelha a produtos industrializados. 4 MENDONÇA, J. N. Identificação e isolamento de corantes naturais
produzidos por actinobactérias. 2011. 121p. Dissertação (Mestrado
em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
FICHAS Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2011.

Ficha 1 – Ficha com presença do agente indutor na avaliação. 5 VOLP, A. C. P.; RENHE, I. R. T.; BARRA, K.; STRINGUETA, P.
C. Flavonoides antocianinas: características e propriedades na
nutrição e saúde. Rev Bras Nutr Clin, v. 23, n.2, p. 141-9, 2008.

6 STREIT, N. M.; CANTERLE, L, P.; CANTO, M. W.;


HECKTHEUER, L. H. H. As Clorofilas. Ciência Rural, Santa Maria,
v. 35, n. 3, p. 748-755, 2005.

7 BOBBIO, P. A.; BOBBIO, F. A. Introdução à química de


alimentos. 3 ed. São Paulo: Livraria Varela, 2003.

8 COSENTINO, H. M. Efeitos da Radiação Ionizante em Corantes


Naturais de Uso Alimentício. 2005. 149p. Tese (Doutor em
Ciências), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Autarquia
associada à Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
Orientadora: Dra. Nélida Lúcia Del Mastro.

9 MORITZ, D. E. Produção do Pigmento Monascus Por Monascus


ruber CCT 3802 em Cultivo Submerso. 2005. 150p. Tese (Doutor em
Engenharia Química), 63 Departamento de Engenharia Química e
Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2005. Orientador: Jorge Luiz Ninow.

10 Stone, H., & Sidel, J. L. (2004). Sensory evaluation practices.


(3rd ed.). New York: Academic Press.

11 Vidal, L., Tárrega, A., Antúnez, L., Ares, G., & Jaeger, S. R.
(2015). Comparison of Correspondence Analysis based on Hellinger
and chi-square distances to obtain sensory spaces from check-all-
that-apply (CATA) questions. Food Quality and Preference, 43, 106-
112.

Ficha 2 – Ficha sem a presença do agente indutor na avaliação.

192
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial da “Cocada Cremosa sem Lactose”, Geleificada e Espessada com Kappa-
carragenana

Rafael Castelo Branco¹, Alexsandra Gomes¹, Renato Rios¹ Rian Almeida¹


1 - Acadêmico do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC)
E-mail: raafaelverass@gmail.com

Palavras Chave: Gastronomia. Análise. Produto. e de Intenção de compra, ambos de 5 pontos. Assim, no primeiro, o item
“Gostei Muito” passa a ter valor 5, o “Gostei” valor 4, o “Não
Inovação. Hidrocolóides. Gostei/Nem Desgostei” valor 3, o “Desgostei” valor 2 e o item
“Desgostei Muito”, valor 1. Já no segundo, o item “Compraria Sempre”
INTRODUÇÃO passa a ter valor 5, o “Compraria Frequentemente” valor 4, o
“Compraria Ocasionalmente” valor 3, o “Compraria Raramente” valor 2
A cocada cremosa é um dos doces mais tradicionais do e o “Nunca Compraria” passa a ter valor 1.
nordeste brasileiro, e não poderia ser diferente, ao passo que seu Percentualmente, o resultado apresentado pelo Teste de
ingrediente base, o coco, é um fruto típico da Região – embora Aceitação pode ser observado no gráfico abaixo:
originário da Índia (1) – com produção em larga escala durante todo o
ano por favorecimento das condições climáticas tropicais. No entanto, a 80
referida preparação utiliza quantidades expressivas de outros insumos,
como o açúcar e o leite condensado, que são fundamentais para o 70
atingimento de sua consistência e textura cristalizada por fora e 60
cremosa por dentro, com certa viscosidade obtida pelas propriedades
espessantes das proteínas do leite, a exemplo dos caseinatos, que têm 50
grande capacidade de absorção de água e apresentam característica 40
viscosa (2). Contudo, o leite tem, em sua composição, um carboidrato a
que determinado grupo de pessoas é intolerante: a Lactose. 30
Assim, o produto aqui analisado foi desenvolvido com a
20
proposta de possibilitar o consumo de um dos doces nordestinos mais
populares também pelo público que tem restrições alimentares impostas 10
pelo leite. A ideia é reformular a receita básica da cocada cremosa,
substituindo o leite de origem animal (que contém lactose) pelo extrato 0
5 4 3 2 1
de coco (que não contém lactose e os espessantes artificiais presentes no
leite condensado), reduzindo o teor de açúcar e acrescentando kappa- Imagem 01: Gráfico percentual do Teste de Aceitação da “Cocada
carragenana como agente geleificante e espessante A kappa-carragenana, Cremosa sem Lactose”
por sua vez, é um carboidrato da “família de galactanas sulfatadas de
cadeias lineares formadas por dissacarídeos com unidades de Beta-D- Pode-se constatar, portanto, uma forte tendência em definir a
galactopiranose e Alfa-D-galactopiranose ou 3,6-anidro-galactoripanose “Cocada Cremosa sem Lactose” como de boa aceitação, já que 55 dos
alternantes” (3). 56 julgadores declararam ter gostado (25% do total) ou gostado muito
A avaliação sensorial proposta por meio deste trabalho tem, (abrangendo 73,2% do total) do produto.
portanto, o objetivo de avaliar a aceitação/rejeição e a intenção de A partir desses dados, calculou-se o Índice de Aceitabilidade
compra do público em geral em relação à “Cocada Cremosa sem do produto. Para tanto, foi adotada a expressão: IA (%) = A x 100/B,
Lactose”, verificando, ainda, a eficácia da kappa-carragenana junto ao onde A = nota média obtida para o produto, e B = nota máxima dada ao
leite de coco como agente geleificante e espessante em substituição ao produto. Para que o Índice de Aceitabilidade tenha uma boa repercussão
leite condensado, bem como propondo um produto que atenda às deve ter resultado ≥ 70%. A Nota Média foi calculada multiplicando o
necessidades de um público com intolerância à lactose. valor atribuído em cada item ao número de julgadores que o marcaram.
Somado os produtos de cada item, o resultado é multiplicado pelo valor
MATERIAIS E MÉTODOS máximo atribuído aos itens e dividido pelo número de julgadores (4). A
tabela abaixo apresenta o cálculo da Nota Média:
O produto analisado foi preparado com 600g de açúcar
cristal, 600g de coco ralado, 1.200ml de leite de coco fresco e 7g de Cálculo da Nota Média
kappa-carragenana em pó, seguindo basicamente os mesmos passos de
preparo da receita original, destacando a necessidade de diluição prévia Valor Atribuído a Quantidade de Resultado para cada
da kappa-carragenana em água aquecida para sua devida ativação Os Cada Item Julgadores que Item
teste foram realizados no Laboratório de Análise Sensorial do Instituto Marcaram o Item
de Cultura e Arte (ICA), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e a 5 41 205
metodologia utilizada para a realização da análise sensorial do produto
foi classificada como um método de análise afetivo de aceitação e 4 14 56
intenção de compra, também chamado de teste de consumidor. Os testes
afetivos qualitativos analisam, portanto, as respostas subjetivas dos 3 1 3
possíveis consumidores sobre o produto (4). Isso auxilia a identificar os 2 0 0
hábitos de consumo que podem ser úteis na predição do comportamento
desses consumidores, e, nesse caso, a verificar a relação de aceitação ou 1 0 0
rejeição com um produto protótipo.
Total 56 264
As amostras foram apresentadas em guardanapos de papel,
em temperatura ambiente, com cortes retangulares de 15g para cada
julgador. Foi disponibilizado um copo com água para que os voluntários Nota Média 4,7
pudessem fazer a limpeza do paladar. Os participantes, de modo geral,
foram alunos, professores e servidores voluntários do ICA, entre homens Imagem 2: Tabela com os dados para o cálculo da Nota Média do
e mulheres de diversas idades e poderes aquisitivos distintos, em total de produto “Cocada Cremosa sem Lactose” no Teste de Aceitabilidade.
56.
Calculada a Nota Média, pode-se calcular o Índice de
RESULTADOS Aceitabilidade do produto.
Para se chegar a um denominador satisfatório a partir dos IA% = 4,7 x 100/5 => IA% = 94%
resultados contabilizados, foram atribuídos valores de 1 a 5 em ordem
decrescente aos itens em cada um dos dois testes aplicados, de Aceitação

193
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A partir dos resultados do Teste de Aceitabilidade da “Cocada compraria”, “compraria frequentemente” e “compraria raramente”) e
Cremosa sem Lactose” submetidos, identifica-se que o produto tem uma com ponto intermediário (5), pode-se concluir que os aspectos positivos
aceitação de 94%, número bem superior aos 70% limítrofes do índice, da análise envolvem 67,8% dos julgadores no que diz respeito à intenção
mostrando, assim, uma ampla aceitação do produto entre o público que o de compra, considerando que ainda está se desconsiderando os possíveis
julgou. compradores “ocasionais” (30,4%).
O segundo teste aplicado foi o de Intenção de Compra, para o
qual valores de 1 a 5 também foram atribuídos aos itens, como CONCLUSÃO
mencionado anteriormente.
Percentualmente, o resultado do Teste de Intenção de Compra Os Testes de Aceitação e de Intenção de Compra mostraram-
pode ser observado no gráfico abaixo: se úteis para mensurar o interesse de aquisição e consumo da “Cocada
Cremosa sem Lactose” com resultados satisfatórios e comentários
positivos dos julgadores sobre o produto analisado. O Índice de
Aceitabilidade de 94% chega a ser surpreendente, pois mostra a
capacidade que este produto tem para impactar as pessoas em aderir ao
consumo deste, dada sua aprovação. Os resultados referentes ao teste de
Intenção de Compra, ainda que mais variados, podem ser analisados de
forma a entender que a “Cocada Cremosa sem Lactose” poderia ser
posicionada de auspiciosa no mercado.

REFERÊNCIAS

1. DÓRIA, Carlos Alberto. A formação da culinária brasileira. São


Paulo, SP: Publifolha, 2009. 85 p. (Série 21). ISBN 9788579140341
(broch.).
2. ORDÓÑEZ PEREDA, Juan A. (Ed.). Tecnologia de alimentos. Porto
Alegre: Artmed, 2005. (Biblioteca Artmed. Nutrição e tecnologia de
alimentos).
Imagem 03: Gráfico percentual de Intenção de Compra da “Cocada 3. HOLANDA, Márjory Lima. Iota-carragenana da alga marinha
Cremosa sem Lactose”. vermelha Solieria filiformis versus iota-carragenana comercial:
propriedades estruturais e reológicas. 2007. 121 f. Tese -
Os resultados apresentados neste teste mostraram-se um Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências. Departamento de
pouco mais variados, mas, ainda assim, com uma tendência de análise Bioquímica, Fortaleza, Ce.
positiva ao produto. O item mais marcado foi “Compraria 4. DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 3. ed.
frequentemente” (valor 4 atribuído) com 42,8%, seguido de “compraria rev. e ampl. Curitiba: Champagnat, 2011. 426 p.
ocasionalmente”, com 30,4% (valor 3). O item “Compraria sempre” 5. LUTZ, Instituto Adolfo. Métodos físico-químicos para análise de
(valor 5) foi marcado por 25% dos julgadores e “compraria raramente” alimentos. Coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco Pascuet e
por 1,8% (valor 2). Paulo Tiglea -- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.
Considerando que os itens apresentavam-se em equilíbrio,
com os itens definidos situados (“compraria sempre” e “nunca

194
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ENRIQUECIMENTO DE MASSAS DE MACARRÃO A PARTIR DA FARINHA DO


BAGAÇO DA UVA: PRODUÇÃO E ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS.

Moisés Assunção Neves (1), Dayanne Lopes Gomes de Oliveira (2), Evânia Maria da Silva Ferreira (3)

(1) Discente do curso de Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –
IFPI, E-mail: mosei1@hotmail.com, (2) Doutora - Professora de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí – IFPI, (3) Especialista – Professora de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí – IFPI.

PALAVRAS – CHAVE: Macarrão. Gastronomia. Avaliação nutricional.

INTRODUÇÃO afetando diretamente na qualidade dos subprodutos, apontando um


O macarrão é uma das formas de alimentação mais versáteis, nível máximo de 50mg de acidez para que as características da farinha
podendo ser preparadas e servidas de diversas formas (1). É um se mantenham preservadas. Nessa pesquisa foi encontrado um total de
alimento rápido e atrativo que pode ser produzido com tecnologia 115,91mg de acidez em 100g de massa fresca. Esse elevado teor de
simples, de fácil preparo, produzido em diversos formatos, tamanhos acidez deve-se ao acréscimo de farinha do bagaço de uva e do ovo na
e cores. Está agrupado ao hábito alimentar da maior parte da população composição da massa.
brasileira, sendo inserida na dieta de todas as idades e classes sociais, Em relação ao teor de vitamina C, a tabela TACO (5) em seus
atuando numa refeição tanto como prato principal como um resultados mostra que nas massas de macarrão não há valores
complemento, com inúmeras combinações e com alto índice de significativos da vitamina, mas na presente pesquisa, a FBU apresenta
aceitação (2). Como este produto é bastante consumido, diversas um alto teor de vitamina C, assim obtendo uma massa com 9,93mg em
pesquisas visam enriquecê-lo nutricionalmente com farinhas de 100g de material.
origem vegetal e animal. Uma opção de enriquecimento é o Os alimentos antioxidantes tem parte da atividade antioxidante
reaproveitamento dos resíduos de uva pois, ponto de vista nutricional presente associada ao teor de vitamina C, como ocorre em nossos
apresenta elevados teores de compostos bioativos como os ácidos resultados a FBU por possuir alto teor de Vitamina C possivelmente
fenólicos, antocianinas e flavonoides caracterizando-o como uma boa possui o poder de melhorar a qualidade e a durabilidade dos alimentos,
fonte de antioxidantes naturais, além de apresentar elevado conteúdo agindo como nutracêuticos e proporcionando, ainda, mais benefícios à
de fibras. Além disso, o bagaço da uva apresenta um alto teor de saúde dos comensais (6).
calorias, carboidratos e lipídeos, sendo estes compostos A atividade de água está relacionada com a disponibilidade de
principalmente por gorduras insaturadas. Destaca-se também, seu água para a atividade microbiana e reações químicas que possam
elevado teor em vitamina E Esse trabalho objetiva produzir uma diminuir a conservação do alimento. Segundo Melo Filho (7), aW se
massa de macarrão enriquecida de farinha de bagaço da uva e verificar dá em valores numéricos de 0,1 a 1, sendo que quantos mais próximo
aspectos físico-químicos. de 1, maior é a quantidade de água livre para reações e mais propicio
a deterioração o alimento se torna. Nos resultados da presente pesquisa
MATERIAIS E MÉTODOS a atividade de água na massa fresca foi de 0,75, caracterizando um
O bagaço da uva foi coletado na área de descarte da vinícola onde produto altamente deteriorável, pois a água encontra-se, mas livre para
o mesmo já se encontrava seco. No laboratório foi realizada a reações devido a maior concentração.
separação dos engaços, logo após o material separado foi moído com O teor de sólidos solúveis é utilizado para verificar, de forma
auxílio de um moinho multiuso e refinado com o auxílio de tamises indireta, o teor de açúcares. Comparando os resultados da presente
mech 35. Com a farinha já refinada foram enriquecidas massas com pesquisa com os obtidos por Leite (8) em seu macarrão misto de casca
diferentes porcentagens de adição de farinha do bagaço de uva com o de batata doce e farinha de trigo, observa-se que a matéria prima usada
objetivando obter uma massa o mais rica possível, sem danificar a por ele contém um alto teor de açúcares fazendo com que o valor de
estrutura da mesma. sólidos solúveis totais seja elevado. O valor obtido por ele na matéria
prima foi de 22,1 em ºBrix, já o valor encontrado na presente pesquisa
ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS foi de 1,63 em ºBrix indicando um baixo teor de açucares.
As análises físico-químicas foram realizadas no Laboratório de O pH, assim como a atividade de água, é um fator importante para
Bromatologia do IFPI, Campus Teresina Central. Foram realizadas definir a estabilidade e a segurança alimentar. Nesse estudo, o valor de
análises de acidez total, atividade de água, pH, vitamina C e sólidos pH encontrado para a massa fresca foi de 4,55, bem próximo de 4,5
solúveis totais na FBU, na massa fresca e na massa cozida. Essas que segundo Hoffmann (9) é muito importante para a microbiologia
análises seguiram as recomendações do Instituto Adolfo Lutz (3). de alimentos, pois abaixo desse valor não há o desenvolvimento de
Todas as análises foram realizadas em triplicatas. Clostridium botulinum bem como, de forma geral, das bactérias
patogênicas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com relação às porcentagens de FBU variaram de 20% à 60%. Parâmetros (%) FBU Massa fresca Massa cozida
Porcentagens maiores que 50% utilizadas para produzir as massas de
macarrão resultavam em massas com estrutura quebradiça e com sabor
Acidez 0,94 0,11 0,57
desagradável. As massas de macarrão produzidas com até 50% a
massa apresentava as características físicas desejadas. Como a
quantidade da farinha utilizada para o enriquecimento é importante, Vitamina C 27,30 9,93 7,82
sendo que quanto maior o teor de FBU adicionado maior o potencial
de enriquecimento, assim a porcentagem de farinha de bagaço de uva
escolhida para ser trabalhada na massa que foi submetida aos testes Atividade de água 0,32 0,75 0,76
posteriores ficou afixada em 50%.
O estudo da acidez é de suma importância quando se estuda
farinha de trigo e seus subprodutos como é o caso do macarrão, pois a Sólidos solúveis 1,63 1,43 0,86
partir da acidez e possível medir o estado de conservação da farinha totais
quimicamente e microbiologicamente. Esse indicador tem impacto
não só na conservação do alimento, ou seja, impacto biológico e pH 4,12 4,55 4,69
econômico direto, pois mede a vida de prateleira do produto, mas
também pela aceitação dos produtos pelo consumidor final através de Tabela 1. Resultado das análises físico-químicas da matéria prima
mudanças relacionadas ao sabor, por exemplo (4). (FBU), da FBU – farinha do bagaço de uva; Massa fresca - massa de
Ortolan (4) atribui o aumento da acidez ao tempo e condições de macarrão fresca enriquecida com a FBU; Massa Cozida – massa de
armazenamento da farinha, que modificam suas características, macarrão enriquecida com a FBU após o cozimento.

195
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÕES (4) ORTOLAN, F. (2006) - Genótipos de trigo do Paraná – Safra


De acordo com o estudo realizado, e em concordância com os 2004: Caracterização e fatores relacionados à alteração de cor de
resultados apresentados e discutidos, conclui-se que foi possível obter farinha. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa
uma massa fresca de macarrão com FBU do tipo tagliatelle. A maior Maria, Santa Maria. 140 p.
quantidade de FBU adicionado para que fosse obtido uma massa de
macarrão com estrutura física que não desintegrasse foi de 50%. (5) TACO, Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. Núcleo
A massa fresca produzida com 50% de FBU possui elevado teor de Estudos e Pesquisas em Alimentação – NEPA. Universidade
de acidez e atividade de água quando comparado com massas Estadual de Campinas – UNICAMP. 4. ed. Campinas, SP: NEPA-
tradicionais, porém possui valores de pH e umidade dentro do UNICAMP, Campinas, 2011.
preconizado pela ANVISA(10).
Tanto a massa fresca quanto a cozida produzida com 50% de FBU (6) ARUOMA, O.I. Free radicals, oxidative stress and antioxidants in
possui baixo teor de açúcares e uma quantidade significativa de human health and disease. Journal of American Oil Chemists
vitamina C (aproximadamente 10 mg/100g de massa produzida). Society, Champaign, v. 75, n. 2, p. 199–212, 1998.
Maiores estudos relacionados à caracterização dos compostos
bioativos da FBU incorporados à massa de macarrão produzida são (7) Melo Filho, A. B.; Vasconcelos, M. A. S. Química de alimentos.
necessários, bem como avaliação de análises microbiológicas para Recife: UFRPE, 2011. 78p.
comprovar sua segurança alimentar. É importante, também, que sejam
realizadas análises sensoriais e de intenção de compra para verificar (8) LEITE, Jorquiania Ferreira. Desenvolvimento de macarrão misto
sua aceitação numa possível comercialização do produto. de farinha de casca da batata doce (Ipomoea Batatas L.) e farinha
de trigo (Triticum Durum). 2019. 55f. Dissertação (Mestrado em
REFERENCIAS Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal do
(1) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIAS DE MASSAS Tocantins, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de
ALIMENTÍCIAS (ABIMA). Estatísticas - mercado nacional de Alimentos, Palmas, 2019.
massas. Disponível em https://www.abimapi.com.br/estatistica-
massas-alimenticias.php. acesso em 03 de Janeiro de 2020. (9) HOFMAN, Fernando Leite. BRASIL ALIMENTOS - n° 9 -
Julho/Agosto de 2001
(2) FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil.
7ª ed. Editora SENAC São Paulo, 2000. (10) Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução –
RDC n. 93, de 31 de Outubro de 2000. Regulamento técnico para
(3) INSTITUTO Adolfo Lutz. Agência Nacional de Vigilância fixação de identidade e qualidade de massa alimentícia. Diário
Sanitária. Métodos físico-químicos para análises de alimentos. oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília-
Brasília: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância DF, 01 novembro 2000. Seção I.
Sanitária, 2005,1018p.
.

196
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência de métodos de secagem sobre as propriedades físico-químicas das esferas de


alginato e óleo de pequi
Gabrielle Freire¹*, Rachel Castelo², Carlúcio Alves3, Roselayne Furtado 4

¹Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará (UECE).


²Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará (UECE).
³Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará (UECE).
4
Pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical – CNPAT.

Palavras-chave: Microencapsulação; gelificação iônica; Caryocar coriaceum Wittm; óleo vegetal; polissacarídeo.

INTRODUÇÃO Agroindústria Tropical) e b) em estufa com circulação e renovação de


ar (SL 102 - SOLAB) a 50 ºC por 5 horas.
O óleo de pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) possui elevado valor
econômico agregado, devido a presença de carotenoides, compostos CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS
fenólicos, ácidos graxos, vitamina A e E em sua composição (1,2).
Esses constituintes são de grande interesse nas áreas nutracêutica, TAMANHO DE PARTÍCULA
alimentícia e cosmética, porém são instáveis quando expostos a luz,
calor e oxigênio, afetando suas propriedades físico-químicas. Diante O tamanho médio do diâmetro das partículas foi avaliado em amostras
disso, a tecnologia de microencapsulamento se torna uma alternativa intumescidas e secas que foram medidas a partir de micrografias obtidas
viável para preservar a estabilidade dos seus constituintes (3,4). A pelo microscópio óptico JENAVAL (Carl Zeiss) e com o auxílio do
tecnologia de vibração do bico pode ser utilizada associada a técnica de software IMAGE J – NIH.
gelificação iônica de forma a favorecer a homogeneidade e
reprodutibilidade das partículas. É baseada na quebra de uma corrente COLORIMETRIA
de líquido laminar em gotículas por uma vibração mecânica sobreposta Os parâmetros de cor L*, a* e b* das capsulas secas de óleo de pequi
produzindo microesferas reproduzíveis e homogêneas (5). É sabido que foram medidos utilizando colorímetro digital Konica MINOLTA,
a secagem preserva a qualidade do material durante o armazenamento modelo CR-400 (Tokyo, JPN). Foram realizadas medições em todas as
(6). Desta forma essa pesquisa teve o objetivo de microencapsular o amostras secas em estufas e a condição ambiente. As análises de cor
óleo da polpa de pequi em matriz polimérica de alginato, e, avaliar a foram realizadas sob luz ambiente e superfície branca. O resultado
influência de secagem artificial (em estufa 50 ºC) e condição ambiente obtido foi a média dos testes realizados em triplicata.
(25ºC e umidade relativa de 50%) sobre características de tamanho de
partículas, cor e reidratação das partículas produzidas. REIDRATAÇÃO DAS PARTÍCULAS

MATERIAL E MÉTODOS As partículas secas foram submetidas a processo de reidratação. Para


isso, foram pesadas em uma placa de petri 0,1 g de cada amostra e
Água deionizada (Milli Q 18 mW cm a 25 ºC) foi utilizada no preparo adicionado 15 mL de água destilada. As amostras foram deixadas em
de todas as soluções. Os reagentes utilizados: sal de alginato de sódio repouso por 24 horas à temperatura ambiente (25 ± 2 ⁰C) e
de viscosidade média (90% de pureza) e cloreto de cálcio, foram da posteriormente medidas quanto ao tamanho em microscópio óptico
marca Dinâmica. O óleo de pequi (C. coriaceum) foi obtido por JENAVAL (Carl Zeiss). Os valores obtidos foram determinados de
aquecimento dos caroços de pequi e adquirido diretamente dos acordo com a Equação 1 (8).
produtores locais.
𝑇𝐸. 𝑅 – 𝑇𝐸. 𝐺
FORMAÇÃO DAS PARTÍCULAS COM ÓLEO DE PEQUI (OP) 𝑃 = 𝑋 100
𝑇𝐸. 𝐺
As esferas foram produzidas utilizando o Encapsulator 395 – Pro
(Buchi). Para o processo de formação das microesferas foram utilizados Onde: P é o percentual de reidratação das esferas, TE.R é o tamanho
4 bicos com diferentes diâmetros (120, 300, 400 e 750µm). Os das esferas reidratas TE.G é o tamanho das esferas gelatinosas ou
parâmetros utilizados variaram de acordo com o diâmetro do bico como inicialmente.
se pode observar na Tabela 1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1. Parâmetros operacionais do Encapsulator 395-Pro
utilizado no processo de formação das esferas. As esferas produzidas diretamente do equipamento apresentaram
diâmetro médio de 3,50 ± 0,25 mm, conforme Tabela 2. Percebeu-se
Bico Frequência Vazão Carga Agitação que ocorreu uma redução substancial no tamanho das partículas após os
processos de secagem.
(µm) (Hz) (ml/min) eletrostática (V) (%)
120 2500 1,8 500 30 Tabela 2. Tamanho de partículas de microesferas de alginato e óleo
de pequi sob diferentes condições de secagem.
300 800 6,0 500 30
450 500 11 500 30 Bico Partículas Partículas secas em Partículas secas
750 300 19 500 30 (µm) úmidas estufa em ambiente

120 3,61±0,21 1,96± 0,21 1,89±0,98


A emulsão utilizada foi de alginato de sódio (ALG) 2% (m/v) numa 300 3,70±0,16 1,58± 0,08 2,03±0,12
proporção de 1:1 para óleo de pequi (OP) agitada até sua completa 450 3,16±0,15 1,94± 0,09 1,60±0,10
homogeneização em agitador magnético (HS 7C-MAG, IKA®). A 750 3,14±0,11 1,68± 0,35 1,65±0,13
solução de ALG + OP foi gotejada numa solução de cloreto de cálcio
0,5% (m/v), sob agitação por aproximadamente 20 minutos (7). Com relação as análises usando o colorímetro, o parâmetro L*
representa a luminosidade da amostra que varia de zero (preto) até cem
SECAGEM (branco), a* indica as cores em uma escala de vermelho (+) a verde (-)
As amostras foram lavadas com água destilada, depositadas em placas e b* representa a cor em uma escala de amarelo (+) a azul (-), utilizando
de petri e secas: a) Por 5 dias em condição ambiente (25ºC e umidade o modelo CIE Lab (9). De acordo com os resultados obtidos, foi
relativa de 50% no Laboratório de Embalagens da Embrapa possível observar na Tabela 3 a diferença significativa (p > 0,05) da cor
entres as partículas secas a condição ambiente, 27,46 ± 3,11), e estufa,

197
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

(33,90 ± 3,43), em relação ao parâmetro b*. Visualmente, percebeu-se EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) pela
um amarelamento mais intenso das partículas secas em estufa frente a infraestrutura e suporte financeiro.
ambiente. A literatura mostra que a secagem em estufa quando
controlado o binômio tempo e temperatura pode promover baixas REFERÊNCIAS
modificações em relação as propriedades físico-químicas do material
(10). 1. ALVES, D. R. et al. Flavonoid Composition and Biological
Activities of Ethanol Extracts of Caryocar coriaceum Wittm., a Native
Tabela 3. Resultado dos parâmetros colorimétricos das partículas Plant from Caatinga Biome. Evidence-Based Complementary and
submetidas as duas formas de secagem.. Alternative Medicine, 2017.
2. FIGUEIREDO, P. R. L. de. et al. Caryocar coriaceum Wittm. (Pequi)
Secagem L* a* b* fixed oil presents hypolipemic and anti-inflammatory effects in vivo
Ambiente 70,40 ± 0,33 0,565 ± 27,46 ± 3,11 and in vitro. Journal of Ethnopharmacology, 2016.
0,20 3. BATISTA, J. S. et al., Avaliação da atividade cicatrizante do óleo de
Estufa 70,49 ± 0,73 0,525 ± 33,9 ± 3,43 pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) em feridas cutâneas produzidas
0,45 experimentalmente em ratos. Revista Arquivos Instituto Biológico, v.
77, n. 3, p. 441-447, 2010.
As partículas de alginato e óleo de pequi secas nas diferentes condições 4. NASCIMENTO, Marília Alves do. Obtenção e caracterização de
foram reidratadas após serem submetidas aos dois métodos de secagem. microcápsulas de óleo de pequi em matriz de goma de cajueiro e
Após as 24 horas de hidratação, foi possível observar que as amostras gelatina por coacervação complexa. 2016. 64 f. Dissertação
secas em estufa apresentaram um alto índice de hidratação, (Mestrado em Recursos Naturais) - Centro de Ciências e Tecnologias,
aproximadamente 100% (Tabelas 2 e 4), comportamento diferente das Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.
amostras secas a condição ambiente, que quase não se notou 5. GU, M. et al. Encapsulation of Bifidobacterium pseudocatenulatum
visualmente sua hidratação, como mostrado na Figura 1. G7 in gastroprotective microgels: Improvement of the bacterial
viability under simulated gastrointestinal conditions. Food
Figura 1. Esferas de Alginato e Óleo de pequi secas em estufa e Hydrocolloids, v. 91, n. July 2018, p. 283–289, 2019.
6. GARCIA, D.C. et al., Drying of seeds. Ciência Rural, v. 34 n.2, p.
condição ambiente e após reidratação. 603-608. 2004.
7. CHANG, Chih Pong; DOBASHI, Toshiaki. Preparation of alginate
complex capsules containing eucalyptus essential oil and its controlled
release. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v. 32, n. 3, p. 257-
262, 2003.
8. AOUADA, F. A.; MUNIZ, E. C.; VAZ, C. M. P.; MATTOSO, L. H.
C. Correlação entre parâmetros da cinética de intumescimento com
características estruturais e hidrofílicas de hidrogéis de poliacrilamida
e metilcelulose. Quím. Nova, v. 32, n. 6, p. 1482-1490, 2009.
9. JHA, S. N. Colour measurements and modeling. Nondestructive
evaluation of food quality, p. 17-40, 2010.
10. ROSADO, L. D. S. et al. Influência do processamento da folha e
tipo de secagem no teor e composição química do óleo essencial de
(a) amostra seca em condição ambiente (25ºC e UR de 50%; (b) amostra seca em manjericão cv. Maria Bonita. Ciência e agrotecnologia, v. 35, n. 2, p.
condição ambiente (25ºC e UR de 50%) e reidratada; (c) amostra seca em estufa 291-296, 2011.
(50ºC por 5h); (d) amostra seca em estufa (50ºC por 5 h) e reidratada; 11. GARCIA, D.C. et al., Drying of seeds. Ciência Rural, v. 34 n.2, p.
603-608. 2004.
Tabela 4. Tamanho das microesferas de óleo de pequi após processo
12. AZEREDO. H.M.C. Fundamentos de estabilidade de alimentos.
de reidratação.
Embrapa Agroindústria Tropical, 2012.
Bico Partículas secas em Partículas secas em
(µm) estufa após ambiente após
reidratação. reidratação.
120 2,71 ± 0,32 1,88 ± 0,19
300 3,83 ± 0,16 2,09 ± 0,22
450 3,62 ± 0,12 1,45 ± 0,13
750 3,72 ± 0,31 1,69 ± 0,11

As esferas gelatinosas de ALG+OP secas em estufa sofreram um


processo de secagem homogêneo, onde toda a umidade do material foi
removida de forma controlada (11). Possivelmente, ocorreu a formação
de fissuras ou poros em sua estrutura, mantendo o formato do material
e acelerando a reidratação, diferente da secagem a condição ambiente
(12).
As amostras secas nessa última condição, possivelmente precisariam de
um maior tempo para reidratar (superior a 24 horas). A estrutura da
esfera pode ter sofrido uma espécie de contração, sem a formação de
poros ou fissuras dificultando a entrada de água na partícula.

CONCLUSÃO

As partículas submetidas aos diferentes métodos de secagem


apresentaram características diferentes quanto a cor e reidratação. As
partículas submetidas à secagem em estufa (50 ºC) apresentaram rápido
intumescimento sendo, este o método de secagem mais recomendado.

AGRADECIMENTOS

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) pelas bolsas concedidas aos alunos e à

198
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aplicação do Amido de Amêndoa da Manga Tommy Atkins como Emulsionante em Patês

Daiane dos Santos Pinto 1, Daniele Maria Alves Teixeira Sá 2, Mirla Dayanny Pinto Farias 2
1
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Departamento de Engenharia de Alimentos (UFC)
2
Docente do Curso de Tecnologia de Alimentos, Eixo de Produção Alimentícia - IFCE Campus Sobral
E- mail:daianesp2013@gmail.com

PALAVRAS CHAVE: Resíduos agroindustriais; aproveitamento; análise sensorial; análise microbiológica


INTRODUÇÃO
A manga (Mangifera indica L.) é uma fruta com grande Para produção dos patês de peixe definiu-se duas formulações (P1:
quantidade de polpa, tamanho e formato variável, aroma e cor Patê adicionado de amido de manga) e (P2: Patê adicionado de amido
agradável (1). É consumida principalmente in natura, e também é de milho) ambos nas concentração de 4,2 % de amido. As proporções
processada na forma de sucos, néctares, geleias e bebidas prontas (2). dos ingredientes utilizados foram os seguintes: filé de peixe 50 %,
Durante sua industrialização são gerados resíduos provenientes de água 24 %, cloreto de sódio 1%, tempero para peixe 2 %, colorífico
cascas e sementes. Resíduos estes que podem ser utilizados para a 0,32 %, creme de leite 18,5 %, amido de manga 4,2 % (P1), amido de
produção de amidos aplicáveis na área alimentícia, pois a amêndoa da milho 4,2 % (P2). Para produção dos patês, filés de peixe tilápia foram
manga contêm aproximadamente 58% deste constituinte (3). Contudo descongelados e cozidos durante 15 min/74 °C. Os ingredientes foram
há dados limitados disponíveis na literatura sobre a aplicação do amido pesados em balança analítica e triturou-se o filé cozido juntamente
da manga variedade Tommy Atkins. com os demais ingredientes em cutter (Metvisa, Brasil). A massa do
A indústria alimentícia utiliza o amido como um constituinte básico patê homogeneizada foi transferida para potes de vidro estéreis e
dos produtos para melhorar a fabricação, apresentação e conservação, pasteurizadas em banho-maria a 74 °C/25 minutos monitorando a
visto que os amidos possuem propriedades emulsionantes e temperatura com um termômetro digital infravermelho. Após isso o
geleificantes além de serem bons reguladores e estabilizadores de produto foi imerso em banho de gelo para choque térmico até atingir
textura (4). Amidos podem ser adicionados à emulsão de carne e a temperatura de 8 ° C. O patê foi armazenado em embalagens de vidro
outros produtos alimentares devido suas propriedades funcionais e por sob resfriamento a 7 °C para posteriores análises.
seu baixo custo (5,6). Os parâmetros de cor na superfície dos patês foram medidos com
A legislação brasileira permite a adição de amido em alguns um colorímetro portátil (Colorium, Delta color,Brasil). Os resultados
produtos cárneos e um destes é o patê. O patê é obtido a partir de carnes foram expressos em coordenadas de cor L* (Luminosidade), a*
ou miúdos comestíveis, das diferentes espécies de animais, (verde/ vermelho), b* (amarelo/azul), C* (croma), h* (ângulo hue).
transformados em pasta, adicionado de ingredientes e submetido a Foi realizada análise microbiológica no amido e nos patês, quanto
processamento térmico. São classificados conforme seu modo de a coliformes totais, Escherichia coli (EC), bolores e leveduras (YM) e
preparo em cozido, pasteurizado ou esterilizado, e durante sua Staphylococcus aureus (STX) utilizando-se o kit de Placas
fabricação é permitido a adição no máximo de 10 % de amido (7). PetrifilmTM (3M Company, St. Paul, MN, EUA) conforme os métodos
As propriedades físicas do amido são muitos importantes para as AOAC 991.14 e AOAC 997.02 (10). A análise sensorial dos patês foi
caraterísticas do patê sendo capaz de melhorar alguns aspectos como conduzida no Laboratório de Análise sensorial do IFCE - Campus
suculência e retenção de água e consequentemente provocam menores Sobral com um painel não treinado de 90 provadores. Aplicou-se teste
perdas no cozimento por exsudação. Também são capazes de atuar de Preferência/Aceitação com escala hedônica variando de 1(desgostei
como emulsionantes, estabilizando as emulsões devido a formação de muitíssimo) até 9 (gostei muitíssimo). Os patês foram servidos em
géis (8). temperatura de refrigeração a 10 °C, espalhados em torradas, e
Tendo em vista a importância do aproveitamento de resíduos acompanhados com um copo de água para retirar o sabor residual entre
agroindustriais e de estudos para investigar uma nova fonte de amido a degustação das amostras. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética
para uso alimentício, este trabalho teve como objetivo a aplicação do do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará com
amido de amêndoa da Manga Tommy Atkins como emulsionante em o número do parecer 2.586.703. Os dados obtidos dos diferentes
patês e realizar a caracterização colorimétrica, microbiológica e tratamentos de patê foram avaliados através da análise de variância
sensorial dos patês produzidos. (ANOVA) seguido da comparação entre os pares de médias pelo teste
de Turkey (p<0,05).
MATERIAL E MÉTODOS
A matéria-prima utilizada neste estudo foi a amêndoa da manga RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tommy Atkins adquiridas no comércio local de Sobral, Ceará. As Houve diferença significativa (p> 0,05) para todos os parâmetros
mangas foram descascadas e despolpadas manualmente com auxílio colorimétricos avaliados como exposto na Tabela 1.
de facas. Em seguida as sementes foram secas em estufa elétrica
Hareus B12 (Hanau, Germany) a 50 °C/ 24 horas e quebradas Tabela 1 - Resultados da medição de cor instrumental nos patês
manualmente com o auxílio de uma faca inox obtendo-se assim as L* a* b* C* h*
amêndoas. O isolamento do amido foi realizado a partir das amêndoas
da manga conforme procedimentos descritos por Nawab com
P1 42,72 1,82± 8,49 8,68 77,93
adaptações (9). As amêndoas foram cortadas em cubos e submersas
±0,01a 0,01a ±0,01a ±0,01a ±0,06a
em solução de metabissulfito de sódio (Dinâmica, Brasil) a 1% (m/v)
por 12 horas. P2 42,04 1,49 8,17 8,30 79,64
Em seguida, a água foi drenada e as amêndoas foram trituradas ±0,0b ±0,01b ±0,01b ±0,02b ±0,06b
com adição de água destilada na proporção de 1:4 (m/v) em Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma coluna indicam diferença
significativa a 5% (p<0,05) entre os diferentes tratamentos. P1: Patê adicionado
liquidificador industrial Waring (USA) 550 watts por 3 minutos até a de amido de manga; P2: Patê adicionado de amido de milho.
obtenção de uma massa uniforme. Em seguida, o amido foi filtrado
em tecido de nylon de 100 mesh. Após, o amido foi ressuspenso em Patês elaborados com adição de amido de manga (P1)
água destilada e deixado em repouso em béquer para ser decantado sob apresentaram maior valor de luminosidade L*. A coordenada L* é
resfriamento a 8 °C/12 h. Decorrido esse tempo, o sobrenadante foi influenciada pela capacidade de retenção de água, o teor de gordura e
eliminado e o amido lavado com água destilada três vezes e água livre na superfície do produto (11). Os resultados sugerem que o
centrifugado a 3400 rpm/15 min em centrífuga refrigerada Eppendorf patê adicionado de amido de manga não apresentou uma boa retenção
5804R (Hamburg, Germany). Esse procedimento foi repetido várias de água e gordura o que pode afetar negativamente a qualidade do
vezes até o produto estar isento de resíduos não amiláceos. O amido produto final. Sendo assim, o amido de manga prejudicou a retenção
obtido foi transferido para béqueres e secos com em estufa à vácuo a de água nos patês analisados. Em relação ao parâmetro a*, (P1)
45 ºC/14 h e triturado com um mix para obtenção do amido em pó que apresentou maior aspecto de vermelhidão em comparação ao (P2).
foi utilizado na elaboração dos patês. Todas as amostras apresentaram valores positivos para o parâmetro b*,

199
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

isto é, a aparência amarelada é evidente para ambas as amostras, porém REFERÊNCIAS


o parâmetro b* foi maior no tratamento (P1). Os valores obtidos de C* 1.SIVAKUMAR, D.;JIANG, Y.; YAHIA,E.M. Maintaining mango
e h* confirmaram a tendência amarelada das amostras, no entanto, a (Mangifera indica L.) fruit quality during the exportchain. Food Res
intensidade da cor, ou seja, o maior valor de saturação C* foi Int.v. 44,p.1254 -1263, 2011.
observada na amostra adicionada com o amido de manga (P1).
Os resultados obtidos na análise microbiológica de coliformes 2.RAVANI,A.; JOSHI, D.C .Mango and it's by product utilization - a
totais no amido de manga e nos patês variaram de 3,0 x 102 a 6,0 x102 review. Trends i Post-Harvest Technol, v.1p.55- 67,2013.
(UFC/g), sendo que também observou-se ausência de Escherichia
Coli, Salmonella e Staphylococcus Aureus (Tabela 2). 3.NAWAB, A.; ALAM, F.;HAQ, M.A; HASNAIN, A. Effect of
guar and xanthan gums on functional properties of mango
Tabela 2- Resultados das análises microbiológicas (Mangifera indica L.) kernel starch. Int J of Biological Macromol.v.
Microorganismo AM P1 P2 93, p.630-635, 2016.
Escherichia Coli Ausência Ausência Ausência
(UFC/g) 4.MAHMOOD, K.; KAMILAH, H.; SHANG, P. L.; SULAIMAN, S.;
Coliformes Totais 6,0 x102 3,0 x102 6,0 x 102 ARIFFIN, F.; ALIAS, A. K. A review: Interaction of starch/non-starch
(UFC/g) hydrocolloid blending and the recent food applications. Food Biosci.
Bolores e leveduras 3,0x102 - - v.19, p.110-120, 2017.
(UFC/g)
Staphylococcus Ausência Ausência Ausência 5.GENCCELEP,H.; SARICAOGLU, F. T.; ANIL, M.; AGAR, B.;
Aureus (UFC/g) TURHAN, S.The effect of starch modification and concentration on
Salmonella Ausência Ausência Ausência steady-state and dynamic rheology of meat emulsions. Food
sp.(25g) Hydrocol.v.48, n.135-148, 2017.
AM: Amido de manga; P1:Patê adicionado de manga; P2:Patê adicionado de
amido de milho. 6.ADEBOWALE, K. O.;AFOLABI,T. A.; OLUOWOLABI,B. I.
Functional, physicochemical and retrogradation properties of sword
Na quantificação de bolores e leveduras do amido de manga bean (Canavalia gladiata) acetylated and oxidized starches. Carbohydr
obteve-se valor de 3,0 x 102 (UFC/g). As análises microbiológicas Polym, v.65, p.93-101, 2006.
tanto do amido de manga quanto dos patês apresentaram baixas
contagens para coliformes totais, bolores e leveduras. Para 7.BRASIL, Instrução Normativa n° 21 de 31 de Julho de 2000.
Escherichia coli, Salmonella e Staphylococcus aureus os produtos Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Patê, de Bacon ou
apresentaram ausência, encontrando-se dentro dos padrões Barriga Defumada e de lombo Suíno. Diário Oficial da República
estabelecidos pela resolução RDC Nº 12 (12). Indicando assim, um Federativa do Brasil. Brasília, 03 ago. 2000. Seção 1, p.12.
produto seguro do ponto de vista microbiológico para ser consumido.
8.HONG, L. F; CHENG, L. H.; GAN,C. Y.;LEE, C .Y.;PEH,K.
Os resultados da realização da análise sensorial das diferentes K.(Evaluation of starch propionate as emulsion stabiliser in
formulações de patê estão dispostos na Tabela 3. comparison with octenylsuccinate starch. LWT-Food Science and
Tabela 3- Resultados da avaliação sensorial dos patês Technol.v.91, p.526-531, 2018.
Atributos sensoriais Tratamentos
P1 P2 9. NAWAB. A.; ALAM, F.; HAQ, M. A.; LUTFI, Z.; HASNAIN, A.
Mango kernel starch-gum composite films: Physical, mechanical and
Cor 7,80 ± 1,00a 7,83 ± 0,98a barrier properties. Int J of Biological Macromol.v.98, p. 869-876,
Aroma 7,72 ±1,05a 7,92 ± 0,95a 2017.
Textura 7,72 ±1,29a 8,00 ±0,86a
Sabor 7,94 ±1,17a 8,32 ±0,80b 10. Association of Official Analytical Chemists. Official methods of
analysis of AOAC International. 17 ed. Gaithersburg, v.2, p.1-33,
Impressão Global 8,02 ±0,94a 8,16± 0,72a 2003.
Letras minúsculas sobrescritas distintas na mesma coluna indicam diferença
significativa a 5% (p<0,05) entre os diferentes tratamentos.P1: Patê adicionado 11.SÁNCHEZ-ZAPATA, E.; FUENTES-ZARAGOZA, E., DE
de amido de manga; P2: Patê adicionado de amido de milho. VERA, C.N.R.; SAYAS, E.;SENDRA, E.; FERNÁNDEZ-LÓPEZ,
J.; PÉREZ-ALVAREZ, J.A. Effects of tuna pâté thickness and
Os atributos sensoriais avaliados para as duas formulações de patê background on CIEL∗ a∗ b∗ color parameters and reflectance
obtiveram notas variando de 7 a 8, correspondentes aos termos “gostei spectra. Food Control, v.22, p. 1226-1232, 2011.
moderadamente” e “gostei muito”, demostrando assim uma boa
aceitação sensorial do produto. Os parâmetros cor, aroma, textura e 12. BRASIL. Resolução n°12 de 02 de janeiro de 2001. Ministério da
impressão global não apresentaram diferença significativa. agricultura, pecuária e abastecimento. Regulamento técnico sobre
Houve diferença significativa somente para o atributo sabor padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União
(p>0,05), onde o patê adicionado de amido de milho (P2) obteve a República Federativa do Brasil, Brasília, n. 7, 10 jan. 2001. Seção 1,
maior média, comparado com o adicionado de amido de manga (P1). p. 4553.
Isso pode ter sido pelo fato de que alguns provadores descreveram que
a formulação P1 estava muito salgada, tendo maior preferência pelo 13.FREITAS, D.G.C.; RESENDE, A.L.S.S.; FURTADO, A.A.L.;
sabor do P2. TASHIMA, L.; BECHARA, H. M. The sensory acceptability of a
Os dois tratamentos obtiverem uma aceitação satisfatória pois a tilapia (Oreochromis niloticus) mechanically separated meat-based
impressão global, não apresentou diferença estatística (8,02 e 8,16). spread. Braz J of Food Technol.v.15, p.166-173, 2012.
Foi possível verificar que a adição de amido de manga em patês não
alterou significativamente as características sensoriais, com exceção 14.MINOZZO,M.G.;WASZCZYNSKYJ,N.;BOSCOLO,W.R.Utiliza
do sabor. Os resultados encontrados nesse trabalho são superiores aos ção de carne mecanicamente separada de tilápia (Oreochromis
obtidos para patê à base de carne de tilápia (6, 99 a 7,56) (13), patês niloticus) para a produção de pate cremoso e pastoso. Alimentos e
cremosos e pastosos de tilápia (7,40 a 6,40) (14) e, para patês de Nutrição Araraquara.v.19, p.315-319, 2008.
outros tipos de peixe, como a cachapinta (4,57 a 7,54) (15).
15. LOBO, C. M. D. O.; TORREZAN, R.; DE FURTADO, A. A. L.;
CONCLUSÕES ANTONIASSI, R..; FREITAS, D. D. G. C.;DE FREITAS, S. C.;
A aplicação do amido da amêndoa do endocarpo da manga em MÁRSICO, E. T. Development and nutritional and sensory evaluation
patês é promissor, configurando um meio de aproveitamento desses of cachapinta (Pseudoplatystoma sp) pâté. Food Sci & Nutr, v.3,n.1,
resíduos agroindustriais. A utilização do amido de manga em 10-16,2015.
formulações de patês apresentou boa aceitação sensorial.

200
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Padronização do método e análise sensorial de biscoitos tipo Cookies

Alessandra Carneiro¹; Carolina Costa2; Luciane Farias2; Matusaíla Macêdo¹


¹Professora do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará; 2Graduanda em
Bacharel de Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. alessandrapgc@hotmail.com
Palavras chave: Gastronomia, Cookie, Ficha Técnica, Aceitação.

supermercado local da cidade de Fortaleza-Ceará, nas proximidades do


INTRODUÇÃO
Campus do Pici. O processamento do cookie foi realizado no
O Brasil ocupa a posição de 4º maior vendedor mundial de biscoitos
com registro de 1.366 milhões de toneladas comercializadas em 2018,
laboratório de confeitaria e panificação, do curso de gastronomia da UFC.
segundo os dados da ABIMAPI e Euromonitor. O mercado nacional de
A proporção utilizada de cada ingrediente na formulação do cookie está
biscoitos tem demonstrado um comportamento relativamente linear. Em
apresentada na Tabela 1.
2018, foi observada uma retração de 0,8%. Biscoitos recheados,
secos/doces e salgados foram os segmentos que mostraram maior
Tabela 1. Quantidade em gramas/mililitros dos ingredientes utilizados
queda, enquanto rosquinhas e cookies avançaram (1).
no preparo do cookie.
INGREDIENTES FORMULAÇÃO (g/ml)
Embora, não constitua um alimento básico como o pão, os biscoitos são Manteiga sem sal 125
aceitos e consumidos por pessoas de qualquer idade. Sua longa vida de Açúcar cristal 100
prateleira permite que sejam produzidos em grande quantidade e Açúcar mascavo 70
largamente distribuídos (2). Biscoito é o produto obtido pelo Ovos inteiros 1 unidade, aproximadamente 55g
amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com Essência de baunillha 1
farinhas, amidos, féculas fermentadas ou não e outras substâncias Farinha de trigo 130
alimentícias (3). Aveia fina 50
Sal 1
A palavra cookie vem do alemão, koekje, que significa “pequeno bolo”. Fermento químico 2
Ganhou esse nome porque era preparado a partir da massa de um bolo Bicarbonato de sódio 2
Nozes 30
e usada para testar a temperatura do forno antes de colocar o bolo inteiro
Gotas de chocolate meio amargo 100
para assar, minimizando os erros. Foram os britânicos que descobriram a
bolachinha e acharam que combinaria com seu tradicional chá. Até o
século XVIII, as receitas ainda eram publicadas nos livros de culinária A padronização da ficha técnica se deu em três etapas: 1ª execução
como pequenos bolos, apesar de já serem muito populares na Europa durante aula prática da disciplina de confeitaria; 2ª execução para ajuste
há, pelo menos, quatro séculos (4). do método de preparo; e 3ª execução após ajustes para a utilização na
análise sensorial. Segue método de preparo: Na batedeira planetária
Os cookies são definidos como produtos assados à base de cereais que (modelo Oster Peform 600w) homogeneizou-se manteiga, açúcar cristal
possuem altos níveis de açúcar e de gordura e baixos níveis de água (1- e mascavo até a obtenção de um creme. Adicionou-se os ovos, um a um,
5%) (2). O cookie vem conquistando vários consumidores e a sua e a baunilha em baixa rotação, aumentando a rotação posteriormente
comercialização vem aumentando muito no país devido sua fácil para total homogeneização e aeração. A etapa seguinte ocorreu de forma
preparação por ser leve e prático, entretanto as indústrias estão tendo a manual para a incorporação da farinha de trigo, aveia, sal, fermento e
preocupação de desenvolver formulações que agradem o paladar e bicarbonato, nozes e as gotas de chocolate. A modelagem se deu pela
ainda tenha propriedades funcionais, já que a população está mais técnica quenelle (com uso de duas colheres), com 32g de massa. Os
exigente e preocupado com a saúde (5). Os ingredientes usados na cookies foram assados sob papel manteiga, em forno a gás semi-
elaboração de biscoitos afetam grandemente a sua qualidade. A ficha industrial, pré-aquecido, por 10 minutos a 180ºC. Após sair do forno, os
técnica padroniza e o processo de produção da preparação garantem ao cookies foram resfriados por 1 hora em temperatura ambiente,
consumidor a padronização do aspecto físico e sensorial dos mesmos, acondicionados em potes hermeticamente fechados até o momento da
tornado o consumidor satisfeito e fiel à empresa. análise sensorial.

A massa de biscoito segue as regras e características de outras massas, Participaram da análise sensorial uma equipe não treinada de 36
como pâte sucrée, seca, crocante e amanteigada. Ainda nessa categoria provadores voluntários da comunidade acadêmica da UFC,
pode-se encontrar biscoitos de massas aeradas, como língua de gato e consumidores potenciais do produto e selecionados em função da sua
biscoito champanhe, as cremosas, como os cookies e as telhas que são disponibilidade e do interesse em participar do teste. O teste sensorial
muito usadas para finalização e decoração (6). foi aplicado no Instituto de Cultura e Arte (UFC) no mesmo dia em que
o cookie foi processado.
A análise sensorial objetiva estudar as percepções, sensações e reações
do consumidor sobre as características dos produtos, incluindo sua A aceitabilidade dos cookies foram analisados quanto aos seus atributos
aceitação ou rejeição, e tem-se mostrado como importante ferramenta visuais (cor, tamanho, forma, composição visual, aroma, textura, sabor
no processo industrial. Envolve um conjunto de técnicas diversas e e impressão global) através de uma escala hedônica estruturada de cinco
elaboradas com o intuito de avaliar um produto quanto à sua qualidade pontos, variando de 1-“desgostei muito” a 5-“gostei muito” e quanto a
sensorial (7). atitude de compra dos provadores foram questionados se comprariam ou
não esse produto, tendo-se um espaço para justificativas e observações
Fasoli et al. (8), explicam que os biscoitos tipo cookies apresentam (9).
grande consumo, longo tempo de comercialização e boa aceitação,
sobretudo entre as crianças e têm sido formulados com a intenção de Foi utilizado para o cálculo da estatística dos dados o programa Excel
torná-los fortificados, ou de torná-los fontes de fibras ou proteínas, 2016.
devido ao grande apelo existente nos dias atuais para a melhoria da
qualidade da dieta. Desta forma, o presente trabalho apresentou como RESULTADOS E DISCUSSÃO
objetivo, desenvolver e padronizar ficha técnica de cookies contendo
As etapas do processamento do cookie apresentam técnicas simples e
aveia, bem como avaliar sensorialmente a sua aceitação entre potenciais
de fácil execução (5), porém, como em qualquer outro processo requer
consumidores.
atenção e cuidado, a fim de se obter um produto de qualidade.
MATERIAL E MÉTODOS A padronização da ficha técnica seguiu rigorosamente as quantidades
em peso e o método de preparo, atentando para as temperaturas dos
A ficha técnica do cookie foi adquirida durante as aulas de confeitaria ingredientes e do forno para garantir o melhor desempenho. A primeira
do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do etapa foi executada seguindo a ficha inicial, anotando-se todos os
Ceará (UFC). Todos os ingredientes foram adquiridos em detalhes e alterações. Na segunda etapa, a execução se deu com as
201 adequações de alguns ingredientes e ajuste no método de preparo. Na
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

terceira etapa usou-se a ficha padronizada prosseguindo-se com a nem desgostar desses critérios.
avaliação sensorial do cookie. Sobre o método cremoso utilizado para
esta preparação, Bottini e Leme (10) explicam que antes de tudo O sabor apresentou 72% de gostei muito e 22% de gostei, apresentando
misturam-se a gordura e o açúcar, até ficarem relativamente lisos, 6% sem resposta, porém com relação ao sabor dois provadores
leves e cremosos. Depois, juntam-se os ovos gradualmente e, por fim, descreveram que poderiam alterar os ingredientes com passas, castanha
os ingredientes secos peneirados, em uma ou duas adições, de caju e do Pará ou mesmo amêndoas nativas.
dependendo da quantidade de farinha.
Quando perguntados se comprariam ou não o produto, todos os
Sobre a função dos ingredientes, que interfere no melhor provadores marcaram que sim, sendo justificado pela boa aceitação do
desenvolvimento da ficha técnica, a Farinha de Trigo e Aveia tem como produto.
objetivo estruturar a massa, pois é o elemento da preparação mais rico
em glúten. O fermento e bicarbonato de sódio objetivam introduzir gás CONCLUSÃO
carbônico na massa. O sal e o açúcar auxiliam na coloração e no sabor,
porém o sal ainda previne desenvolvimento excessivo do glúten e realça A padronização é uma etapa necessária no desenvolvimento de produtos
o sabor doce. Já a manteiga e os ovos reforçam a elasticidade do glúten garantido a repetibilidade. O Cookie apresentou boa aceitação, com
e confere sabor, maciez e umidade, além das claras possuírem a função destaque para cor, sabor e textura o que reflete os 100% de intensão de
de fermento físico. As nozes, chocolates e a essência de baunilha compra do produto. Apesar de conter sugestões de ajustes no aroma e
conferem sabor e textura a preparação (5). na impressão global, o cookie se mostra promissor para seu incremento
no mercado.
As percepções sensoriais dos alimentos são interações complexas que
envolvem os cinco sentidos: visão, olfato, paladar, tato e audição. A REFERÊNCIAS
avaliação sensorial tem por objetivo detectar diferenças nos produtos
(1) Mercado de Biscoitos, Massas e Grãos. M. Dias Branco. Disponível
avaliados, de acordo com as diferenças perceptíveis na intensidade de
em: h ttps://ri.mdiasbranco.com.br/servicos-aos-investidores/mercado- d
alguns atributos (11).
e-biscoitos-massas-e-graos/. Acesso em: 29/05/2020.
Os resultados da análise sensorial para o Cookies estão apresentados na
(2) MORAES, K. S.; ZAVAREZE, E. R.; MIRANDA, M. Z.; SALAS-
Figura 1.
MELLADO, M. I. M. Avaliação tecnológica de biscoitos tipo cookie
com variações nos teores de lipídio e de açúcar. Ciênc. Tecnol.
Aliment., Campinas, 30(Supl.1): 233-242, maio 2010.

(3) COMISSÃO NACIONAL DE NORMAS E PADRÕES PARA


Figura 1: Resultado da análise sensorial do cookie. ALIMENTOS – CNNPA. Resolução n. 12, de 1978. In:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE
ALIMENTAÇÃO. Alimentos e bebidas: 47 padrões de identidade e
100% qualidade. São Paulo, 1978. 281 p.

(4) MARINA. História dos cookies. Fundo Jornalístico, 2010.


Disponível em:
https://fundojornalistico.wordpress.com/2010/09/05/historia-dos-
cookies/. Acesso em: 30/05/2020.
0% (5) KÖVESI, B; SIFFERT, C; CREMA, C; MARTINOLI, G. 400g:
Técnicas de cozinha. São Paulo: Companhia editora Nacional, 2007.
568p.

(6) GOES, T. S.; DIONÍSIO, A. P.; MODESTO A. L. G.; ARAÚJO I.


5 4 3 2 1 Sem resposta M. S.; PONTES D. F.; OLIVEIRA R. P.;.CRISÓSTOMO, C.C.
Elaboração de biscoito tipo cookie com farinha de resíduos do
processamento de extrato de yacon. XX Congresso Brasileiro de
Fonte: Dados da pesquisa. Engenharia Química. Área temática, Engenharia e Tecnologia de
Alimentos. Florianópolis. Outubro, 2014.
Os biscoitos estavam com uma boa aparência, tanto no seu exterior
(Figura 2) quanto no interior. A massa estava cozida, entretanto bem (7) MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudos com consumidores.
úmida e macia. Viçosa: Editora da UFV, 2006.
Figura 2: Aparência visual do cookie (8) FASOLIN, L. H.; ALMEIDA, G. C.; CASTANHO, P. S.; NETTO-
OLIVEIRA, E. R. Biscoitos produzidos com farinha de banana:
avaliações química, física e sensorial. Ciênc. e Tecnol. Aliment. v. 27,
n. 3, p. 524-529, 2007.

(9) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos.


Curitiba:Champagnat, 1996. 123 p.

(10) BOTTINI, R. L.; LEME, M. Chef Profissional. Instituto


americano de culinária.São Paulo: Editora SENAC São Paulo. 9ed.
2017.
Fonte: Dados da pesquisa. (11) ARAÚJO, E.; RÊGO, E.; SAPUCAY, J.; RÊGO M.; SANTOS, R.
Elaboração e análise sensorial de geleia de pimenta com abacaxi.
De acordo com os resultados obtidos na análise sensorial, observa-se
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14,
sobre a apresentação visual, quando os provadores foram questionados
n.3, p.233-238, 2012 233 ISSN 1517-8595.
sobre adequação da louça, harmonia, disposição, composição visual e
aspectos ligados ao empratamento, ponto pouco explorado na análise
visual de preparações gastronômicas, os provadores demonstraram
dificuldade em responder devido à pouca familiaridade com as
perguntas, o que pode ser notado com a presença de perguntas sem
respostas quando a composição visual. Porém, mesmo com a
dificuldade, as notas se dividiram em gostei, e gostei muito, o que revela
boa aceitação. Para o quesito cor os cookies tiveram uma boa aceitação
com 72% para gostei muito.

Quanto ao aroma sua totalidade de participantes ficaram na escala de


gostei e gostei muito, apesar que na sessão destinada a sugestão para o
produto, um provador descreveu que sentiu um leve aroma de
queimado. Para a sensação de textura e temperatura de degustação
apesar da sua boa aceitação 6% dos provadores sinalizaram não gostar
202
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Brigadeiro de biomassa de figo (Fícus carica)

Liziane Lacerda1, Ana Carla Zandonai2


1
Doutora em Ciência dos Materiais – Unisinos, São Leopoldo, RS, 2Gastróloga – Unisinos, São Leopoldo, RS.
lizianedl@unisinos.br

Palavras Chave: Figo, Biomassa, Brigadeiro

Introdução
O brigadeiro é um doce típico da culinária brasileira, foi criado na Figura 1: Fluxograma do processo de produção da biomassa e do
década de 1940. Esse inocente preparo pode nos levar a sérias brigadeiro de figo.
complicações metabólicas, pois não agrega nenhum valor nutricional
para o nosso organismo. Possui Kcal vazias, seu consumo abusivo
pode resultar não só ao excesso de peso/obesidade, como também a
patologias mais sérias, pois seus ingredientes possuem apenas
açúcares e gorduras em sua composição (1).
Além disso, a intolerância à lactose, segundo Téo (2002), é uma
inabilidade para digerir completamente a lactose, causada pela
deficiência de fabricação da enzima lactase pelo corpo humano (2).
Como consequência, o intestino não consegue digerir a lactose que
passa pelo cólon, sendo fermentada por bactérias, havendo produção
de ácidos orgânicos de cadeia curta e gases. Freitas (2016) explica que
enquanto a intolerância é um problema digestivo, a alergia ao leite é
uma reação desencadeada pelo sistema imunológico a uma ou mais
proteínas do leite, como a caseína. Os principais sintomas da alergia à
proteína do leite se concentram nos sistemas digestório e respiratório,
além de alterações na pele e perda de peso (3).
O figo, fícus carica, é um fruto que contém vitaminas A, B1, B2,
cálcio, ferro, fósforo, magnésio, sódio, potássio, cloro e vários tipos de
anti-oxidantes. O Brasil possui excelentes condições de clima e solo
para o desenvolvimento e produção de figo, tendo a cultura maior
expressão econômica nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e
Minas Gerais (4).
Para desenvolver produtos com propriedades funcionais, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece que seja
necessário que o alimento que alegar propriedades funcionais deve
produzir efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à
saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica (5). Fonte: elaborada pela autora.
Desta forma, considerando os alimentos funcionais como promotores
de saúde por estarem associados à diminuição dos riscos de algumas
doenças crônicas, uma vez que são encontrados em alimentos naturais Resultados e Discussão
ou preparados, contendo uma ou mais substâncias funcionais, a Os resultados da determinação de umidade, atividade de água, sólidos
ingestão de alimentos funcionais contribui para um melhor solúveis totais, quantidade de cinzas, pH e lipídeos do produto, podem
desempenho do organismo do indivíduo que os ingere. ser observados na Tabela 1.
Assim, o presente trabalho pretende unir um doce característico do
Brasil com uma fruta que não possui muitas diversificações no seu uso
gastronômico, aliando as suas propriedades nutricionais sem o Tabela 1: Resultados das análises químicas.
acréscimo de leite em seu preparo, fazendo com que o produto possa
ser consumido por pessoas com dietas restritivas a lactose, além de Item analisado Resultado
poder ser consumido no período entre as refeições. Umidade 71,82%

Material e Métodos Atividade de água 0,989


Após a realização de vários testes preliminares nos laboratórios do Sólidos solúveis totais 30,8º
curso de Gastronomia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
obteve-se o fluxograma de processo de produção da biomassa e do Cinzas 1,48%
brigadeiro de figo, Figura 1. pH 6,56
Amostras do produto desenvolvido foram utilizadas para as análises
físico químicas nos laboratórios de Química da instituição segundo os Lipídeos 2,71%
métodos descritos pela Association of Official Analytical Chemists
Fonte: elaborada pela autora.
(AOAC) (6).
Com o propósito de avaliar a aceitação do brigadeiro de biomassa de
figo para com o consumidor final, realizou-se uma pesquisa de
mercado on-line com 122 participantes, de ambos os sexos, eles O resultado de 71,82% de umidade tem relação com a alta atividade
responderam a quatro perguntas elaboradas pela autora. de água encontrada, tornando o brigadeiro, conforme esperado, um
Cumprindo com as exigências pré-estabelecidas para os rótulos de doce de consumo imediato. Para o aumento de sua vida útil sugere-se
alimentos, desenvolveu-se a tabela nutricional teórica tendo como conservação em ambiente refrigerado ou adição de conservantes, pois
base as informações fornecidas pela Tabela Brasileira de Composição é um alimento propício ao desenvolvimento de microrganismos
de Alimentos (TACO), para cada insumo utilizado na formulação do patogênicos. O valor de sólidos solúveis totais, indicador da
brigadeiro desenvolvido (7). quantidade de açúcar, revelou-se muito inferior ao proposto para um
leite condensado, normalmente de 52º a 68º. Outro valor

203
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

extremamente baixo foi o teor de lipídeos, apenas 2,71%. Observou-se (3) FREITAS, Karina. Intolerância à lactose – causas e
que o produto apresenta 1,48% de matéria inorgânica, enquanto um consequências. Disponível em:
brigadeiro normalmente apresenta 1,04%, e pH praticamente neutro, http://vitalitecentromedico.com.br/intolerancia-lactose/
equivalendo-se ao pH do leite (8). (4) LEONEL, M. & LEONEL, S. Processamento do Figo .In:
Os resultados da pesquisa de mercado estão expressos através dos Leonel, S. & Sampaio, A.C. (Eds.) - A figueira – São Paulo, Ed.
gráficos da Figura 2, onde a maioria das pessoas consome figos, mas UNESP, p. 359-372, 2011.
não tem conhecimento das propriedades nutricionais dele. (5) BRASIL. Resolução nº 18, de 30 de abril de 1999. Aprova o
“Regulamento Técnico que estabelece as diretrizes básicas para
Figura 2: Pesquisa de mercado. análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde
alegadas em rotulagem de alimentos”. Órgão emissor: ANVISA -
Você tem conhecimento das Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:
Você consome Figos? propriedades nutricionais do figo?
Você compra brigadeiros?
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/815ada0047458a7293e
11% 3d73fbc4c6735/RESOLUCAO_18_1999.pdf?MOD=AJPERES>.
Sim
25%
Sim 43% Sim (6) AOAC. Association of Official Analytical Chemists. Official
Não Não 57%
Não Methods of Analysis of the AOAC International. 16th ed.
89% 75%
Washington: AOAC, 1995.
(7) Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA –
UNICAMP. - 4. ed. rev. e ampl.. -- Campinas: NEPAUNICAMP,
Em uma escala de 1 a 5. Com qual frequência voce experimenta
2011.
50
novos produtos que o mercado lhe oferece? (8) GAVA, A. J.; SILVA, C. A. B.; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de
40
alimentos: princípios e aplicações. São Paulo: Nobel, 2008.
30
20
10
0
1 2 3 4 5

Fonte: elaborada pela autora.

Comparando o brigadeiro desenvolvido com um brigadeiro


encontrado no mercado, como pode ser observado na Figura 3, este
apresenta valor energético menor, além de menores quantidades de
carboidratos, gorduras totais e sódio. Em contrapartida, o brigadeiro
desenvolvido apresenta fibras em sua composição. Por não ter a
presença de derivados do leite em sua formulação, seu aporte proteico
é bem baixo.

Figura 3: Comparação Informação Nutricional do brigadeiro de


biomassa de Figo e concorrente.

Fonte: elaborada pela autora.

Conclusões
Ao final do desenvolvimento da pesquisa obteve-se sucesso quanto à
elaboração do produto, uma vez que o brigadeiro de biomassa de figo
apresentou maiores vantagens nutricionais se comparado a um
brigadeiro convencional – menor valor energético, menor taxa de
carboidratos, gordura e de sódio e maior percentual de fibras. Um
doce com o sabor tradicional do brigadeiro e com um leve toque
aromático do figo, que pode ser consumido por pessoas que tenham
uma dieta com restrição a lactose. Como melhorias, sugere-se a adição
de algum tipo de proteína vegetal para manter o doce como produto
sem lactose porém aumentando o teor de proteína em sua composição.

Referências
(1) SOARES, L.E.G et al. Desenvolvimento de brigadeiro
elaborado com biomassa de banana verde, com efeito prebiótico e
antioxidante. UNINCOR, 2015.
(2) TÉO, Carla R. P. A. Intolerância à lactose: uma breve revisão
para o cuidado nutricional. Arquivos de Ciências da Saúde da
Unipar, Umuarama – PR, v. 6, n. 3, p. 135 – 140, set. – dez. 2002.

204
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Potencial Tecnológico do Licor de Mutamba (Guazuma ulmifolia Lam) em


Álcool de Cereais e em Cachaça Comercial.

JANETH BRITO1, FLAVIO SILVA2, GUILHERME NASCIMENTO3, AROLDO PINEDO4.


1
Mestranda (PPGCTA) Universidade Federal do Tocantins (UFT) 2Doutorando (Bionorte) Universidade
Federal do Tocantins (UFT), 3Professor Doutor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), 4Professor
Doutor da Universidade Federal do Tocantins (UFT). E-mail para correspondência: janeth.afb@gmail.com

Palavras chave: bebida alcoólica, fruto do cerrado, desenvolvimento de novo produto.

1.Introdução onde na Formulação A proporção de 30% fruto de mutamba


A Mutamba (Guazuma ulmifolia Lam) é uma macerado e de 70% álcool de cereais a 40%(v/v) e na
árvore comumente encontrada na América Latina, como no Formulação B proporção de 30% do fruto de mutamba
México, Cuba, Guatemala, Honduras, Equador, Bolívia e macerado e 70% de cachaça comercial a 39% (v/v), onde
Brasil. Os eventos de floração e frutificação variam e permaneceu em infusão por 7 dias em temperatura ambiente
dependem da região em que a espécie é encontrada, mas no em local escuro (Tabela 1). Este tempo foi o suficiente para
Brasil os frutos podem ser colhidos de junho a novembro (1). que ocorresse nas duas formulações A e B a difusão dos
É uma espécie encontrada no cerrado brasileiro, pode ser componentes aromáticos da matéria-prima para a mistura
considerada uma espécie importante para a recuperação de hidroalcoólica. Após este período foram realizados processos
áreas degradadas devido sua estrutura morfológica e de filtração utilizando peneira inox para separação do
taxonômica. (2). Seus frutos são comestíveis, de sabor e macerado da fruta em meio a solução alcoólica, em seguida
aroma agradável, apresentam baixa umidade (de 10 a 15%) e em filtro de papel para eliminar qualquer tipo de resíduo
altos teores de fibra alimentar, indicados por sua dureza e tornando a solução do extrato alcoólico límpida.
mucilagem das sementes, que demonstra seu potencial para
ser usado pela indústria de alimentos (3). Tabela 1: Preparo da solução Hidroalcoólica (Fruta e o
O licor é a bebida com graduação alcoólica de álcool) e o tempo de infusão.
15% a 54% em volume, a vinte graus Celsius, e um teor de
açúcar superior a 30 gramas, por litro. Pode ser preparado Formulação Fruta em Tipo de Tempo
com álcool etílico potável de origem agrícola, destilado (%) Álcool em de
alcoólico simples de origem agrícola, ou bebidas alcoólicas, Macerado (%) Infusão
adicionadas de extrato ou substâncias de origem vegetal ou A 30% de 70% de álcool 7 dias
animal, substâncias aromatizantes, saborizantes, corantes e macerado de cereais
outros aditivos permitidos em ato administrativo de mutamba
complementar (4). Licores de fruta são bebidas alcoólicas B 30% de 70% de 7 dias
preparadas sem processo fermentativo, cujos principais macerado cachaça
componentes naturais são as frutas. O etanol é a matéria- de mutamba comercial
prima principal do licor e interfere diretamente na sua
Fonte: Próprio Autor (2020).
qualidade. Podem ser usadas várias bebidas alcoólicas, dando
cada uma delas uma característica especial ao licor, tais como
conhaque, uísque, cachaça, vodka ou álcool de cereais (5). 2.2 Preparo do Xarope e a Mistura da Solução (Xarope
O potencial do fruto da mutamba como e o Extrato alcoólico)
ingrediente alimentar e suas características físico-químicas e
colorimétricas, ainda em estudo, nos leva ao desenvolvimento Para a produção de licores finos de maior
de um novo produto com combinação harmônica de fruta, qualidade é recomendada a utilização de açúcar refinado no
açúcar e do álcool. Sendo utilizado como alternativa na preparo do xarope, devido sua característica sensorial ser
formulação o álcool de cereais a 40%(v/v) e a cachaça a mais translúcido do que os produzidos por açúcares
39%(v/v), resultando em um produto de cor, aroma e sabor cristais. (6). O xarope foi preparado com 1 parte de açúcar e
característico. Os frutos do cerrado são ricos em nutrientes, 1 parte de água, pelo aquecimento por 15 a 20 minutos sem
de sabor exótico, com características regionais, podem ser mexer onde ocorreu a solubilidade e a concentração do
apresentados como alternativa de renda para a comunidade. mesmo. O resfriamento ocorreu de forma natural para que
fosse observado o ponto ideal do xarope. Sendo que, um
2.Materiais e Métodos xarope pouco concentrado está sujeito à fermentação e,
Os frutos de mutamba foram coletados na região quando supersaturado, à cristalização (5). A mistura da
central de Palmas estado do Tocantins, Brasil, entre agosto e solução hidroalcoólica foi realizada a frio para que não
setembro de 2019, transportados para o Laboratório de ocorresse a perda dos aromas voláteis presentes na mutamba.
tecnologia de frutas e hortaliças da Universidade Federal do O licor será denominado seco, fino, doce, creme, escarchado
Tocantins, UFT, onde passaram por processo de seleção, ou cristalizado. (4). Neste caso foi utilizado para a formulação
higienização com solução de Hipoclorito de sódio a 100 ppm A (200 g/L) de xarope e para formulação B (300 g/L) de
e armazenados em sacos de polipropileno em freezer (-18°C) xarope para obtenção do licor fino (Tabela 2). Essa
para preservação de suas propriedades organolépticas até a combinação de extrato alcoólico e xarope ficou em repouso
realização dos experimentos. por 45 dias maturando. É importante observar que segundo
(7), a combinação adequada do teor alcoólico e quantidade de
2.1 Desenvolvimento do Licor de Mutamba em álcool de açúcar desempenham um papel fundamental quanto à
cereais e em cachaça comercial. aceitação do licor por parte dos consumidores.

Para elaboração do licor, foram utilizados como


matéria-prima, o fruto de mutamba completamente maduros,
em estado seco, foram macerados para a extração de seus
princípios ativos, odor e sabor característico, o álcool de
cereais a 40% (v/v) e cachaça comercial a 39% (v/v). Foram
utilizados dois recipientes de vidro previamente esterilizados

205
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2: Mistura do xarope com o Tabela 3: Resultados médios das análises físico-químicas e
extrato alcoólico conforme formulação A e B. de colorimétria do licor de mutamba para a formulação A
(Xarope com extrato alcoólico de álcool de cereais)
Formulação Xarope Extrato Tempo de e formulação B (Xarope com extrato alcoólico de cachaça
(g/L) Alcoólico Maturação comercial).
(v/v)
A 200g/L Cereais 45 dias Parâmetros Formulação Formulação
A B
B 300g/L Cachaça 45 dias pH 4,37±0,07e 4,45±0,01e
Sólidos solúveis (°Brix) 26,20±0,15c 28,40±0,09c
Fonte: Próprio Autor (2020). Teor alcoólico% (v/v) 31,91±0,05b 33,73±0,06b
Após a maturação o licor foi submetido às análises Acidez total titulável 0,03±0,02i 0,03±0,03i
de controle de qualidade quanto aos parâmetros físico- (g/100ml)
químicos para às variáveis: pH; sólidos solúveis; densidade; Luminosidade (L*) 17,30±0,23d 18,22±0,07d
teor alcoólico; acidez total titulável. Todos os parâmetros Cromaticidade a* 0,65±0,04f 0,87±0,01h
analisados e citados foram determinados seguindo os Cromaticidade b* 2,44±0,12ef 2,05±0,08f
procedimentos descritos no livro de Métodos do Instituto
Adolfo Lutz. (8). E quanto aos parâmetros colorimétricos às Saturação (C*) 2,14±0,01 ef
1,65±0,05g
análises foram realizadas utilizando o Calorímetro Minolta, Tonalidade (H*) 74,25±0,16 a
64,92±0,04a
modelo Chroma Meter CR-400. As amostras foram avaliadas
Valores apresentados em Média e ± Desvio padrão:
no sistema L, a* e b* (9).
triplicata/amostra; médias seguidas da mesma letra na linha
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).
3.Resultados e Discussões
Fonte: Próprio Autor (2020).

Os resultados das análises físico-químicas e


4. Conclusão
colorimétricos estão demonstradas na tabela 3. Para as
análises de pH em ambas as formulações A e B, não houve
diferença significativa pelo teste de Tukey (p>0,05). A O fruto da mutamba utilizada para o
quantidade de sólidos solúveis presentes no xarope utilizados processamento do Licor encontrava-se em estágio completo
no preparo da formulação A foi menor do que na formulação de maturação onde apresentou boas características para o
B, isso justifica a variação de 26,20°Brix para 28,40°Brix. processamento da bebida. O tempo de infusão em solução
Mas é possível observar que não ocorreu diferenciação hidroalcoólica, aliados ao processamento operacional da
significativa dos sólidos solúveis (p>0,05). Os resultados adição do xarope combinados com o tempo de maturação
obtidos de teor alcoólico 31,91%(v/v) para a formulação A e possibilitou a extração dos elementos essenciais que conferiu
33,73%(v/v) para formulação B, não houve diferença cor, sabor e aroma ao Licor de mutamba. Através das
significativa pelo teste de Tukey (p>0,05). para as duas avaliações físico-químicas observou-se o potencial
formulações verificadas. Os valores da acidez total titulável tecnológico para as duas formulações (A e B) para a
para as duas formulações foram os 0,03g/100ml esses elaboração das bebidas nas quais atendiam as normas
resultados mostram que não houve diferença significativa exigidas pela Legislação de Alimentos. Não existe critério
pelo teste de Tukey (p>0,05). Os resultados das análises para escolha do álcool, tanto o álcool de cereais como a
físico-químicas estão de acordo com a legislação brasileira, cachaça constituem excelente opção.
mínimo de 30 g.L-1 de açúcar, não havendo limite máximo,
podendo ser a concentração acima de 350 g.L-1, pH entre 4,50 Referências
e 8,80, acidez que pode variar dependendo da matéria-prima
utilizada e graduação alcoólica entre 15 e 54 % v/v. (4). Para (1). PEREIRA, G. A., et al. Phytochemicals and biological activities of mutamba
(Guazuma ulmifolia Lam.): A review. Food Research International. Dez,2019.
análise de cor os parâmetros utilizados nas análises de
colorimétria das bebidas onde L expressa a luminosidade (0-
(2). SOBRINHO, S. P; SIQUEIRA, A. G. Caracterização morfológica de frutos,
100) variando do branco ou preto. Sendo que, quanto mais sementes, plântulas e plantas jovens de mutamba (Guazuma ulmifolia Lam. –
clara maior é o seu valor. As coordenadas a* e b* Sterculiaceae). Rev. bras. Sementes vol.30 n°.1 Londrina, 2008.
demostraram a variação de cor da bebida entre verde e
vermelha (-a* e +a*) e entre azul e amarelo (-b* e +b*). Neste (3). ASSIS, R.Q, et al. Characterization of mutamba (Guazuma ulmifolia LAM.)
espaço de cor, C* representa a saturação (+ = mais saturada, fruit flour and development of bread, Biocatalysis and Agricultural
- = menos saturada) e H* é o ângulo de tonalidade, podem ser Biotechnology, v. 19, p. 1-29. 2019.
positivos (+) ou negativos (-). As formulações A e B
apresentaram tonalidade próxima do preto, onde as (4) BRASIL. Decreto n. 6.871, de 4 de junho de 2009. Regulamenta a lei n°
8.918 de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação,
coordenadas a* e b* correspondentes a cor da bebida estavam o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário Oficial da
próximas do vermelho e do amarelo, apresentando diferença República Federativa do Brasil, Brasília, junho 2009.
significativa entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Já para a
tonalidade a formulação A obteve maior tonalidade em (5) SOUZA, C. M; BRAGANÇA, M.G.L. Processamento Artesanal de
comparação a formulação B, mas não apresentaram diferença Frutas.Belo Horizonte: Editora Cultura, 142p. 2001.
significativa pelo teste de Tukey (p>0,05). O Licor preservou
a tonalidade característica do fruto. (Figura 1). (6) PASSOS, F. R., et al. Licor de jatobá: análise físico-química e sensorial.
Anais. V Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - Campus Bambuí, 2012.

(7) TEIXEIRA, L. J. Q.; RAMOS, A. M.; CHAVES, J. B. P.; STRINGHETA, P.


C. Testes de aceitabilidade de licores de banana. Revista Brasileira Agrociência,
Pelotas, v. 13, n. 2, p. 205-209, 2007.

(8) INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolf


Lutz: Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto
Adolfo Lutz, 2008.

Fig1. Imagem do fruto da mutamba e do Licor de mutamba


(9) KONICA MINOLTA. Chromameter CR-400 instruction manual. Sakai:
(Formulação A e B) Fonte: Próprio autor (2020). Ed. Konica Minolta, 2015.

206
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise Físico-Química e Sensorial de Uvas Thompson Seedleess (Vitis vinifera L.) Cristalizadas,
Provenientes de Desbastes do Vale do São Francisco
Yan Borges1, Alda Livera 2, Tania Stamford2, Edvaldo Vieira 1, Luana Olegário 1 e Kaio Arruda 3
1
Mestre, UFPE, 2 Doutora, UFPE, 3 Graduando, UFPE – yanwbb@hotmail.com

Palavras Chaves: Uva Sem Semente, Desidratação Osmótica e Processamento.


1. INTRODUÇÃO

A viticultura ocorre em diversas regiões do mundo. No Brasil, As uvas foram cristalizadas pelo método lento e rápido, o
se destacam a pioneira Região Sul e o Nordeste. Nesta última, o primeiro consiste na imersão da uva em xaropes de baixa
Vale do São Francisco se consagrou como polo produtor e concentração (30, 50 e 70 ºBrix), progredindo gradualmente até
exportador de uvas de mesa de alta qualidade, a partir do cultivo da atingir o valor de 70 ºBrix. Para cada concentração do xarope, as
uva “Itália”, com elevado padrão tecnológico. A viticultura e a uvas foram levadas ao aquecimento até o ponto de fervura e
vinicultura vêm proporcionando um grande desenvolvimento posterior repouso por 24 horas, levando, então 96 horas para a
econômico para a região, desde o desenvolvimento da área completa cristalização. Para o método rápido, as uvas foram
comercial, alcançando o mercado interno quanto o externo (1). submetidas a um único xarope de 70 ºBrix e levadas ao aquecimento
até o ponto de fervura com posterior repouso de 24 horas. Os
Em uma região tipicamente semiárida, as condições xaropes de cada tratamento foram formulados com sacarose, com o
climáticas destoam completamente das encontradas nas regiões controle do ºBrix (6). A relação amostra/solução de sacarose foi de
tradicionais de cultivo de uva. Entretanto, essa peculiaridade, 1 g do fruto para cada 10 g da solução osmótica, para ambos os
somada à tecnologia de produção utilizada, fez com que este seja o processos (7).
único lugar conhecido em que pode se obter até duas safras e meia
de uva por ano (2). As uvas foram levadas para secagem em uma estufa com
circulação de ar a 65 ºC ± 5 ºC, no qual permaneceram
A videira (Vitis sp.), uma planta da família das Vitaceae, é aproximadamente por 20 horas (8). As uvas cristalizadas foram
uma trepadeira lenhosa, com gavinhas de fixação. O fruto, a uva, é acondicionadas em sacos de polietileno e armazenadas em
do tipo baga, de formato, tamanho, cor, consistência e aroma temperatura ambiente ao abrigo da luz. Deste modo, foram
variáveis. A polpa comestível, de sabor doce, ácido, amargo ou realizados quatro experimentos para obtenção de uvas cristalizadas.
adstringente, contém até quatro sementes. É uma fruta do tipo não- Pela cristalização rápida a 0 e 3,0 % de cloreto de calco (TR0 % e
climatérico, ou seja, não amadurece após a colheita, devendo ser TR3,0 %) e pela cristalização lenta a 0 e 3,0 % de cloreto de cálcio
colhida no ponto ideal de maturação. Atinge até 7 metros de (TL0 % e TL3,0 %).
comprimento e frutifica a partir do 3º ano após o plantio (3).
A umidade foi verificada na perda de massa por secagem em
O desbaste é principal técnica empregada para regular o estufa à temperatura de 105 °C. A determinação do pH foi realizada
equilíbrio vegetativo e produtivo da planta, afetando no crescimento pelo método potenciométrico. A acidez titulável foi determinada por
das bagas. Os espécimes que não sofreram o desbaste apresentam titulação com solução NaOH 0,1 N, utilizando-se uma solução de
um menor índice de biomassa e menor relação área foliar/peso dos fenolftaleína 1 % como indicador. Para a análise de açúcares totais,
frutos. Algumas espécies de uva apresentam cachos compactos, foi utilizado o método Lane-Eynon (9).
exigindo o desbaste de 50 % das bagas, esta operação representa 45 %
da mão-de-obra, sendo pois, a prática mais onerosa desta cultivar. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética Humana da
As técnicas de desbaste comumente usadas são tesoura (início da Universidade Federal de Pernambuco e aprovado sob parecer n°
frutificação), desbaste manual (prefloração) e a escova plástica 2.695.526. Essa análise foi realizada no tempo zero, por 112
(prefloração e queda natural dos frutos (4). provadores não treinados. As amostras foram ordenadas e avaliadas
os atributos da cor, sabor, textura e aspecto global com a utilização
Inúmeras são as tecnologias empregadas no processamento de escala hedônica estruturada de 5 pontos, onde 1 = Desgostei
de uvas e subprodutos como doces, geleias, passas, sucos, vinhos, muito e 5 = Gostei muito. Para intenção de compra foi utilizado
raspas, vinagres, cosméticos, dentre outros (5). Algumas mais escala hedônica estruturada de 5 pontos, onde 5= compraria
difundidas do que outras, dependendo da região produtora e certamente e 1 = nunca compraria. Os dados foram avaliados
variedade de uva. A cristalização ainda é um processo subutilizado através da frequência de notas recebidas em cada item avaliado (10).
para o processamento das uvas do Vale do São Francisco, sendo
uma alternativa de baixo custo para reduzir a umidade inicial do Os resultados das análises físico-químicas foram submetidos
fruto e, portanto, aumentar a vida útil. Pode ser aplicado para uvas à análise de variância (ANOVA). Mediante teste de Tukey em nível
que não atendam aos requisitos para consumo in natura, a exemplo de 5 % de significância e foi determinada a diferenças entre as
das bagas de desbaste. médias. Para a análise, o software estatístico SAS versão 9.1.3 foi
utilizado (SAS Institute).
O presente estudo teve como objetivo a Obtenção de uva
cristalizada, proveniente do desbaste final, com boa qualidade
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
fisico-química e sensorial.
Os resultados das análises físico-químicas podem ser
2. MATERIAL E MÉTODO observados na tabela 1. O pH que se obtém produtos cristalizados
de melhor qualidade é o que se encontra próximo ao pH 4. Isto
O material de pesquisa, bagas de uvas Thompson Seedleess porque, nesta faixa de pH, a sacarose sofre menos reação de
maduras, do último desbaste (momento de seleção da uva de mesa), inversão e promove maior taxa de trocas osmóticas no sistema, já
foi adquirido diretamente do produtor em Petrolina (Fazenda Terra que também provoca hidrólise de pectina da parede celular,
Nova), e transportado por correio aéreo para o Recife. O causando microfissuras nos vegetais e assim favorece a penetração
processamento foi realizado no Laboratório de Experimentação e do xarope no interior da mesma (11). Todas as amostras do presente
Análise de Alimentos (LEAAL) do Departamento de Nutrição da estudo ficaram próximo ao pH preconizado.
Universidade Federal de Pernambuco.
Tabela1: Caracterização físico-química das Uvas Thompson
As uvas foram selecionadas quanto presença de defeitos, Seedlees in natura e cristalizadas.
lavadas para retirada de sujidades e resíduos de pedúnculo, e na pH (%Ac.Tártarico) Umidade (%) Açúcares T.
sequência, sanitizadas por imersão em hipoclorito de sódio (200 Crimson in
4.34 ±0.06a 0.25 ±0.01a 81.28 ±0.28a 23.30 ±0.57a
ppm) por 20 min. Em seguida foram imersas em solução de cloreto natura
de cálcio (CaCl2) 0 % ou 3,0 % de concentração por 30 minutos e TR0% 4.34 ±0.02a 0.18 ±0.00b 13.59±0.41b 72.30 ±1.57c
drenadas. TR3,0% 4.40 ±0.01a 0.19 ±0.00b 13.09 ±0.12b 67.22 ±0.97b

207
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

TL0% 4.55 ±0.19a 0.07 ±0.00c 13.49±0.27b 75.56 ±3.45c associados a técnica (cristalização rápida) que menos utiliza
TL3,0% 4.48 ±0.01a 0.10 ±0.03c 12.82±0.45b 67.97 ±0.66b insumos (sacarose) para a cristalização.
OndeTRO % Uvas Thompson Seedleess tratamento rápido com 0 % de
cloreto de cálcio, TR3,0 % Uvas Thompson Seedleess tratamento rápido com A metodologia aplicada é de baixo custo e fácil manejo,
3 % de cloreto de cálcio, TL0 % Uvas Thompson Seedleess tratamento lento desta forma, permitindo a dissemineção desta técnica para as
com 0 % de cloreto de cálcio, TL3,0 % Uvas Thompson Seedleess famílias que vivem da cultura da uva no Vale do São Francisco,
tratamento lento com 3,0 % de cloreto de cálcio. Médias com letras diferentes
na mesma coluna são significativamente diferentes (p < 0,05). podendo ser um incremento de renda. Além do fato, das bagas
provinentes do desbaste final serem um produto subutilizado,
Em geral, as uvas brasileiras sem sementes apresentaram evitaria o disperdício do alimento, transformando-o em um produto
acidez titulável variando de 0,41 a 0,58 % (12). As uvas neste com valor agregado.
estudo apresentaram conteúdo baixo de acidez, por já estarem
maduras, sendo ainda mais reduzido devido imersões em soluções REFERÊNCIAS
de sacarose. Houve diferença significativa entre as amostas in
natura, as do tratamento lento e as do rápido, tendo as dos 1.GRANGEIRO, L.C.; LEÃO, P.C.S.; SOARES, J.M.
tratamento lento o menor teor de acidez (tabela 1). Fato este, que Caracterização fenológica e produtiva da variedade de uva Superior
pode ser atribuido a diluição e oxidação dos ácidos orgânicos, pois Seedless cultivada no Vale do São Francisco. Revista Brasileira de
as uvas que passaram pelo tratamento lento, passaram 96 horas (de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 552-554, 2002.
forma descontínua) imersas em solução de sacarose, enquanto as do
tratamento rápido apenas 24 horas. 2. DIAS, P. P.; VITAL, T. W. O Desenvolvimento do Enoturismo
no Vale do São Francisco: um segmento em expansão. Turismo em
De acordo com a RDC Nº. 272, DE 22 de setembro de 2005 Análise, São Paulo, v. 23, n. 3, p.643-662, 3 dez. 2002.
(13), que estabelece umidade máxima de 25 % para doces 3. LIMA, A. F.; BENTO, A.; PEREIRA, J. A.; BARALDI, I. J.;
cristalizados, a umidade das uvas cristalizadas encontra-se dentro MALHEIRO, R. Avaliação do teor em compostos fenólicos e
dos padrões estabelecidos. Em relação a quantidade de açúcares atividade antioxidante de folhas de videira com vista ao seu
totais nas amostras, foi observado uma relação entre a quantidade de aproveitamento para uso alimentar. Revista de Ciências Agrárias,
CaCl2 utilizado no tratamento prévio, com a impregnação de açúcar. v. 40, n. SPE, p. 171-180, 2017.
As amostras que tiveram tratamento prévio a 3,0 % de CaCl2
independente do tratamento sofrido (rápido ou lento), apresentaram 4. EMBRAPA, Uva e Vinho Sistema de Produção, 10 ISSN 1678-
impregnação de açúcar menor quando comparado as amostras 8761 Versão Eletrônica Dez./2005.
expostas a uma menor concentração de CaCl2. É tido na literatura
que CaCl2 atua no fortalecimento da parede celular a partir da 5. LOPEZ, L. D.; PINTO, E. P.; BÖRGER, B. R.; KAIPERS, K. F.
formação de ligações cruzadas entre ácidos pécticos e C. Interferência do sistema de cultivo, radiação UV-C e método de
polissacarídeos. Tal fortalecimento da membrana da célula vegetal secagem na qualidade da farinha de subprodutos de uva. Científica,
atua como uma barreira física, dificultando a impregnação de açúcar v. 45, n. 4, p. 347-354, 2017.
(14). 6. GONTERO, M.; BRANDELLI, A.; NOREÑA, C. Z. Production
of crystallized fruit from watermelon rind. Ciencia e Investigación
Em suma, todas as amostras se comportaram dentro do Agraria, v. 37, n. 2, p.55-60, 2010.
esperado, quando comparado os fatores físico-químicos das uvas in
natura com as uvas que sofreram tratamento. Diminuindo a acidez e 7. PORTO, M. A. L.; GUERRA, N. B.; VASCONCELOS, M. A.;
umidade, e o aumento do pH e dos açucares totais, tais fatos, OLIVEIRA, A.; ANDRADE, S. A. C. Otimização da desidratação
contribuem consideravelmente para a estabilidade microbiológica e osmótica de uva Crimson Seedless. Revista Ciência Agronômica,
aumento do tempo de prateleira do produto, o que é desejável. v. 45, n. 2, p. 249-256, 2014.

Para que um produto tenha boa repercussão no mercado e ser 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária.
considerado como aceito, em termos de suas propriedades sensoriais Resolução nº 08, de 06 de março de 2013.
o índice de aceitação pelos consumidores finais deve ser superior a 9. AOAC., Official methods of analysis of the Association of
70 % (15). No quesito aroma, todas as amostras tiveram a nota 4 e 5 Official Analytical Chemists. Caracterização, propagação e
com maior incidência (acima de 70 %), portanto nem o tipo de melhoramento genético de pitaya comercial e nativa do cerrado, v.
tratamento e nem a concentração de CaCl2 influenciaram em tal 26, n. 74, p. 62, 2013.
parâmetro. Com relação a cor, todas as amostras foram bem
pontuadas (prevalência de notas 4 e 5), entra em destaque a 10. DUTCOSKY, S. D. Análise Sensorial de Alimentos. 4. ed.
semelhança com as uvas passas vendidas comercialmente, o que Curitiba: Champagnat, 2013.
torna a experiência mais próxima da rotina dos provadores. A cor
um importante fator decisório, na determinação final de compra do 11. RIZZON, L.A. Metodologia para análise de mosto e suco de uva.
produto (16). Embrapa. Informação Tecnológica, 1ª edição, 2010.
Todas as amostras tiveram boa repercussão no quesito 12. MASCARENHAS, R. D. J.; SILVA, S. D. M.; LOPES, J. D.;
sabor, a amostra TR3,0 % obteve a maior preferência dos LIMA, M. A. C. D. Avaliação sensorial de uvas de mesa produzidas
provadores. A combinação de cloreto de cálcio com processamento no Vale do São Francisco e comercializadas em João Pessoa -
rápido, minimizou a perda de compostos de sabor típico da uva. O PB. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 32,
cloreto de cálcio atua fortalecendo a parede celular (14), a n. 4, 2010.
resistência criada na membrana proporcionou ao provador uma .
textura mais agradável ao degustar as amostras TR3,0 % e TL3,0 %,
tendo destaque para a amostra de processamento rápido (TR3,0 %). 13. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
Resolução RDC nº 272 de 22 de setembro de 2005.
No resultado da intenção de compra, a amostra TR3,0 % teve
14. MOTA, W.F.; SALOMÃO, L.C.C.; PEREIRA, M.C.T.;
superioridade sob as demais. Esse resultado é coerente com as notas
CECON, P.R. Influência do tratamento pós-colheita com cálcio na
obtidas nos parâmetros sensoriais avaliados e indica a viabilidade
conservação de jabuticabas. Revista Brasileira de Fruticultura,
comercial do produto.
v.24, n.1, p.049-052, 2002.
4. CONCLUSÃO 15. VIEIRA, A. F.; ROCHA, A. P. T.; SANTOS, D.; MORAIS, H.;
ALMEIDA, R. D.; SILVA, S. Aceitabilidade e caracterização física
Perante as análises dos requisitos testados, as amostras estão e físico-química de doce tipo doce de leite produzido com extrato
em consonância com os parâmetros regidos pela legislação vigente. hidrossolúvel de soja. Revista Principia, n. 42, p. 120-127, 2018.
Constatando assim, eficácia da metodologia desenvolvida no
16.JESUS, S. C. D.; MATSUURA, F. C. A. U.; CARDOSO, R. L.;
presente estudo. A técnica TR3,0 %, apresentou os melhores
FOLEGATTI, M. I. D. S Avaliação de banana-passa obtida de
resultados físico-químicos e os sensoriais mais satisfatórios, frutos de diferentes genótipos de bananeira. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v. 40, n. 6, p. 573-579, 2005.

208
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Bolo de Farinha de Beterraba (Beta vulgaris L.): Elaboração e Avaliação Sensorial

Lidenes Oliveira1, Laiana Lima2, Bianca Reges3, Vandesônia Oliveira1, Joyciane Gomes2, Marlene Damaceno4.
1
Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
2
Tecnóloga em Alimentos, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará
4
Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte

Palavras chave: Aceitação. Substituição parcial.

INTRODUÇÃO Tabela 1 – Percentual de ingredientes utilizados na elaboração de bolo de farinha de


beterraba.
A beterraba (Beta vulgaris L.) é uma importante hortaliça
cultivada no Brasil (1), sendo também amplamente consumida devido Ingredientes Formulação (%)
a sua aceitabilidade, além de apresentar bom retorno financeiro (2). Farinha de trigo com fermento 20,69
Este tubérculo possui um elevado conteúdo nutricional, com destaque
para a alta quantidade de fibras e carboidratos, dentre os minerais, Farinha de beterraba 6,90
potássio, sódio, fósforo, magnésio e cálcio, assim como as vitaminas, Açúcar 20,69
ácido fólico e ácido ascórbico (3). Além de possuir a betalaína como o Margarina 17,24
pigmento responsável pela sua cor, que é considerada um ótimo
antioxidante natural, agindo contra o envelhecimento celular e Ovos 17,24
reduzindo o risco de alguns tipos de câncer (4). Leite 17,24
Segundo Crocceti et al. (5), a introdução de farinha de
Total 100%
beterraba pode ser feita por diferentes formas, a exemplo, os autores
Fonte: Elaborada pelas autoras.
citam a aplicação em receitas que podem ser adaptadas para seu uso
(como bolos e pães), sendo usada como aditivo nutricional. Pois além Para a avaliação sensorial foi aplicado um teste afetivo de
das relevantes importâncias nutricionais, a pigmentação avermelhada
aceitação utilizando escala de atitude FACT (Figura 1), de nove
desse vegetal pode ser atraente aos consumidores dos produtos feitos
com a farinha proveniente do mesmo. pontos, onde o valor 1 corresponde a resposta “Só comeria se fosse
A produção de farinhas de tubérculos pode ter aplicação forçado(a)” e 9, “Comeria sempre que tivesse oportunidade”. Esta
como suplemento na produção de bolos e afins, aumentando o valor escala mede o grau de aceitação do produto com base em atitudes do
nutricional desses alimentos. Conforme o exposto acima, esse consumidor em relação à frequência em que estaria disposto a
trabalho objetivou formular um bolo substituindo parcialmente a consumir o produto em determinado período (6).
farinha de trigo pela farinha de beterraba e realizar avaliação sensorial
para verificar a aceitação desse produto. Figura 1 – Modelo de ficha de avaliação para o teste afetivo de aceitação de escala de atitude
(FACT).
MATERIAL E MÉTODOS TESTE DE ACEITAÇÃO DE PRODUTO

Todos os ingredientes utilizados para a elaboração do bolo SEXO: ( ) Masculino ( ) Feminino DATA: ____/____/____
de farinha de beterraba foram adquiridos na cidade de Limoeiro do Faixa etária: ( )18-20 ( ) 21-30 ( ) 31-40 ( ) 41-50 ( ) >50 anos
Norte, Ceará. Para a produção da farinha de beterraba, os tubérculos
foram lavados em água corrente com sanitização em solução clorada a Por favor, prove a amostra servida e marque a resposta que melhor
50 ppm por 20 minutos seguida do descasque, corte e trituração em corresponde ao seu julgamento (atitude).
liquidificador e secagem em estufa a 70 ºC por 48 horas. Após a ( ) - Comeria sempre que tivesse oportunidade
( ) - Comeria muito frequentemente
secagem foi realizada a moagem da beterraba desidratada em moinho
( ) - Comeria frequentemente
Fritsch, que apresentou rendimento de 3,2%. A farinha foi embalada
( ) - Gosto e comeria de vez em quando
em sacos de polietileno à temperatura ambiente até a fabricação do ( ) - Comeria se estivesse acessível, mas não me esforçaria para isto
bolo. ( ) - Não gosto, mas comeria ocasionalmente
Após a obtenção da farinha de beterraba procedeu-se a ( ) - Raramente comeria
elaboração do bolo no laboratório de Técnica Dietética do IFCE ( ) - Só comeria se não pudesse escolher outro alimento
Campus Limoeiro de Norte. Em uma batedeira elétrica foram ( ) - Só comeria se fosse forçado(a)
misturados ovos, margarina e açúcar até a obtenção de uma mistura
cremosa, adicionando-se aos poucos a farinha de trigo com fermento e Comentários:
o leite, e por último adicionou-se a farinha de beterraba até completa ________________________________________________________
homogeneização dos ingredientes. A massa resultante foi depositada _____________
em forma, previamente untada, levando-se ao forno convencional a
temperatura de 180 ºC por aproximadamente uma hora. Fonte: Minin, 2018.
Os ingredientes utilizados para a produção do bolo de
beterraba e suas respectivas quantidades são apresentados na Tabela 1.
A farinha de beterraba foi utilizada em substituição a farinha de trigo O teste foi realizado na área de convivência do IFCE
numa proporção de 25%. Campus Limoeiro de Norte, com 120 avaliadores não treinados, sendo
63 homens e 57 mulheres, englobando uma faixa etária entre 18 e
mais de 50 anos dentre alunos e funcionários do IFCE. Foi
apresentada ao avaliador, aproximadamente, 30 g da amostra a
temperatura ambiente, em pratos descartáveis.
A análise estatística consistiu na tabulação dos dados
obtidos que foram convertidos em valores numéricos e avaliados

209
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

considerando a média das notas obtidas do número total de


avaliadores que participaram do teste (6). CONCLUSÃO

A produção do bolo com substituição parcial da farinha de


RESULTADOS E DISCUSSÃO trigo por farinha de beterraba mostrou-se viável, pois a utilização
desta no preparo do produto não diminuiu a qualidade sensorial do
Na Figura 2 – (A) pode ser vista a farinha de beterraba, mesmo, apresentando alto índice de aceitabilidade por parte dos
produzida através da moagem desse tubérculo após a desidratação dos avaliadores. Portanto, pode ser direcionado ao mercado consumidor e
agregar maior valor nutricional a esse tipo de produto.
mesmos, e na (B) o bolo feito usando a farinha de beterraba, utilizada
como substituto parcial da farinha de trigo.
REFERÊNCIAS
Figura 2 - Farinha de beterraba (A) e bolo da farinha de beterraba (B).
1- TRAVALINI, A. P.; FARIAS, F. O.; MAYER, R; DEMIATE, I.
M.; BARANA, A. C. Avaliação do efeito da incorporação de
subprodutos agroindustriais na elaboração de cookies. Revista
Brasileira de Produtos Agroindustriais. 8, 2014.
2- KLUGE, R. A.; PRECZENHAK, A. P. Betalaínas em beterraba
minimamente processada: perdas e formas de preservação.
Revista Iberoamericana de Tecnología Postcosecha. 17, 175-
92, 2016.
3- USDA - United States Department of Agriculture Agricultural
Research Service. National Nutrient Database for Standard
Reference. Release 1 april, 2018. Disponível em:
<https://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/11080?fgcd=&manu=
Fonte: Elaborada pelas autoras.
&format=&count=&max=25&offset=&sort=default&order=asc&
qlookup=Beet&ds=&qt=&qp=&qa=&qn=&q=&ing=>. Acesso
A nota média obtida na escala de atitude do teste de aceitação em: 30 nov 2018.
do bolo de farinha de beterraba foi de 7,66, que está situada entre os 4- KLUGE, R. A.; COSTA, C. A.; VITTI, M. C. D.; ONGARELLI,
escores 7 e 8 correspondendo a “comeria frequentemente” e “comeria M. G.; JACOMINO, A. P.; MORETTI, C. L. Armazenamento
muito frequentemente”. refrigerado de beterraba minimamente processada em diferentes
O percentual por escore no teste de escala de atitude demonstra tipos de corte. Revista Ciência Rural. 36, 263-270, 2006.
que 95,86% das respostas dadas pelos avaliadores estão situadas na 5- CROCETTI, A; OGLEARI, C. H.; GOMES, G; SARE, I;
região de aceitação (6, 7, 8 e 9), sendo 40,83% no escore 9 “Comeria CAMPOS, F. R.; BALBI, M. E. Determinação da composição
sempre que tivesse oportunidade”, indicando que o bolo de farinha de centesimal a partir de dois métodos de secagem para a produção
beterraba teve boa aceitação, sendo apreciado pelos avaliadores. da farinha de beterraba (Beta vulgaris, L. - família
Observou-se ainda que os escores “não gosto, mas comeria Amaranthaceae). Revista Visão Acadêmica. 17, 22-35, 2016.
ocasionalmente” e “só comeria se fosse forçado” não foram 6- MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 4.
pontuados, ressaltando a grande aceitabilidade do produto (Gráfico 1). ed. rev. e ampl. Viçosa, MG: Ed. UFV, 2018.
7- VILAR, J. S.; CASTRO, T. C. M. Análise sensorial de bolo de
Gráfico 1 - Percentual de aceitação para o teste de escala de atitude do bolo de farinha de maracujá com chocolate para fenilcetonúricos. Revista Vértices.
beterraba.
comeria sempre que tivesse 15, 69-75, 2013.
oportunidade 8- BARCELOS, D.M. S; ANTÔNIO, L. C; RODRIGUES, J. P. M.;
45,00%
40,83% comeria muito OLIVEIRA, L. F.; OLIVEIRA, I. P. Processamento e análise
40,00% frequêntemente sensorial de bolo de chocolate com farelo de mandioca
comeria frequêntemente desidratado. Revista Faculdade Montes Belos. 7, 114-129, 2014.
35,00%
gosto e comeria de vez em
30,00% quando

25,00% comeria se tivesse acessível,


mas não me esforçaria pra
20% isso
20,00% 16,67% 18,33% não gosto, mas comeria
ocasionalmente
15,00% raramente comeria

10,00%
só comeria se não pudesse
escolher outro alimento
5,00% 1,67%1,67%
0,83% só comeria se fosse forçado
0,00%

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Resultados semelhantes foram encontrados por Vilar e


Castro (7), que analisando sensorialmente bolo de maracujá com
chocolate para fenilcetonúricos, obteve média 7,0 para o parâmetro
impressão global. Alto índice de aceitabilidade (89,78%) foi
encontrado por Barcelos et al. (8) em bolo de chocolate com farelo de
mandioca desidratado.
Os bolos de maneira geral estão presentes nos hábitos
alimentares da população. Isso pode explicar a grande aceitação
sensorial que eles têm, mesmo com ingredientes pouco comuns na
indústria de alimentos, como é o caso da farinha de beterraba. Sua
aceitabilidade pode estar relacionada também com a aparência, pois o
bolo ficou com uma cor atrativa, semelhante ao bolo de chocolate.

210
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estabilidade de óleo de pequi microencapsulado por coacervação complexa em condição


oxidativa acelerada
Tiago Barroso¹*, Luana Silva², Rachel Castelo³, Rosali Marques4, Roselayne Furtado5, Carlucio Alves6

¹Graduando do curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará (UFC), tiagohogas@gmail.com*.


²Doutoranda da Rede Nordeste de Biotecnologia, RENORBIO (UECE).
³Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará (UECE).
4
Graduanda do curso de Química, Universidade Federal do Ceará (UFC).
5
Pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical – CNPAT.
6
Professor Associado do Departamento de Química da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Palavras-chave: Rancimat; Goma de cajueiro; Gelatina; Microencapsulação.

INTRODUÇÃO

O pequi é um fruto produzido pelo pequizeiro, uma espécie arbórea por separação física em meio aquoso, de acordo com Lima et al. (13).
nativa do Cerrado brasileiro, pertencente à família Caryocaraceae. No Para ajuste do pH foram utilizadas soluções aquosas de HCl (2M) e
Nordeste brasileiro, a espécie Caryocar coriaceum Wittm. é NaOH (2M).
encontrada em áreas características do bioma Cerrado, como na
Chapada do Araripe, localizada na região sul cearense, na intersecção Formação das micropartículas
com os estados do Pernambuco e Piauí. O óleo de pequi tem se As microcápsulas de GC/QT foram preparadas de acordo com a
destacado como matéria prima para as indústrias alimentícia, na metodologia descrita por Silva et al. (14). Inicialmente, as soluções de
produção de margarina (1) e queijos (2), e farmacêutica com estudos GC (11 g) e QT (0,5 g) foram preparadas em volume de 100 mL de
realizados para atividade anti-inflamatória (3,4) e cicatrizante (5), em água deionizada separadamente. Na solução de QT foi adicionado 2
função da excelente qualidade associada aos altos teores de ácidos mL de ácido acético para favorecer a solubilização. Para o processo de
graxos, predominantemente o oleico (60,6%) e palmítico (35,4%) (6), coacervação, a emulsão foi inicialmente preparada a partir da solução
e de carotenoides, como o betacaroteno, precursor da vitamina A (7). de 100 mL de QT com 2 g de óleo de pequi e em etapa seguinte
Em função dessa composição que apresenta como compostos a adição de 100 mL de solução de GC, com agitação em ultra turrax
majoritários ácidos graxos insaturados, que são mais propensos a por 3 min a 10.000 rpm em cada etapa. Em seguida, foram
oxidação lipídica devido à fatores externos, como temperatura, luz, adicionados 400 mL de água e homogeneizados em ultra turrax (3
presença de oxigênio e umidade. O uso de métodos tais como a min; 10.000 rpm). Após o ajuste do pH para 4,5, a solução foi
encapsulação podem promover uma melhor proteção ao óleo, refrigerada (5°C) por overnight (12h) para precipitação dos
retardando o processo de rancificação oxidativa. No mercado se coacervados. As microcápsulas de GC/GE foram obtidas pela
encontram disponíveis macrocápsulas gelatinosas de óleo de pequi metodologia descrita por Nascimento et al. (15). Os biopolímeros
com propriedades nutracêuticas. Microcápsulas de óleo de pequi, por foram preparados em soluções de 100 mL de água deionizada
sua vez, em razão do seu tamanho, podem ser adicionados a produtos contendo 4 g de GC e 2 g de GE separadamente. Foi preparado
diversos sem alterar significativamente suas características sensoriais inicialmente uma emulsão contendo a solução de GE e 2 g de óleo de
e ser mais facilmente absorvido pelo organismo. pequi e em etapa seguinte a adição da solução de GC, com agitação
A coacervação complexa é uma técnica de microencapsulamento que em ultra turrax por 3 min a 10.000 rpm em cada etapa. Em seguida,
consiste na interação entre dois polímeros de cargas opostas, foi adicionado 400 mL de água e homogeneizado novamente em ultra
formando um complexo entre esses polímeros ao redor do material turrax (3 min; 10.000 rpm). Por fim, foi realizado o ajuste do pH para
ativo, originando assim as micropartículas. O coacervado funcionará 4,5 e levado a refrigeração (5°C), overnight (12h) até a precipitação
impedindo que os compostos interajam fisicamente e/ou dos coacervados. Ao final, os coacervados foram congelados em
quimicamente com o ambiente externo, criando uma barreira ao redor ultrafreezer, liofilizados e triturados em moinho de impacto.
do material ativo (8). A coacervação complexa é uma técnica clássica
de microencapsulação com grandes vantagens, incluindo condições de Análise da estabilidade oxidativa acelerada por Rancimat
reação mais moderadas durante o processamento, menor custo em Para análise da estabilidade oxidativa do óleo de pequi
equipamentos e maior capacidade de carreamento (9). Essa técnica de microencapsulado e puro foi utilizado o equipamento Rancimat
microencapsulação tem sido particularmente bem-sucedida na (Metrohm Rancimat 743 modelo 873) e a metodologia foi de acordo
estabilização de lipídios insaturados e no fornecimento de um com Comunian et al. (16). A análise consistiu em passar um fluxo de
ingrediente com um prazo de validade sensorial consistente (10). ar constante pela amostra (10 L/h) a uma temperatura fixa (110 °C) até
Polissacarídeos são bastante utilizados como material de interface para que o equipamento acusasse o término quando a condutividade
microcápsulas. A goma arábica é um dos mais empregados na alcançasse 200 µS/cm. Foram utilizados 3 g de óleo de pequi e 1,5 g
indústria de alimentos, apesar do custo e problemas de de óleo microencapsulados nas matrizes de GC/QT e GC/GE. O
disponibilidade. Assim, a busca por substitutos totais ou parciais para término da análise foi detectado pelo súbito aumento da condutividade
a goma arábica tem sido incentivada (11). Dentre os substitutos da (tempo de indução), período em que ocorreu a formação de produtos
goma arábica está a goma de cajueiro, devido suas características voláteis do processo oxidativo. O tempo de indução é o tempo até o
físico-químicas e ainda por ser um co-produto da cadeia produtiva do ponto de interrupção da curva de condutividade x tempo registrado
caju, ainda de pouco valor agregado. Neste trabalho foram utilizadas com o Rancimat. A determinação automática do tempo de indução foi
duas matrizes encapsulantes: goma de cajueiro/quitosana (GC/QT) e obtida através do ponto de máximo da segunda derivada da curva
goma de cajueiro/gelatina (GC/GE). O objetivo desse trabalho foi experimental no eixo das abscissas.
analisar o índice de estabilidade oxidativa de óleo de pequi
microencapsulado por coacervação complexa em condição de RESULTADOS E DISCUSSÃO
oxidação acelerada utilizando o equipamento Rancimat.
A oxidação leva à formação de sabores e odores desagradáveis,
MATERIAL E MÉTODOS reduzindo o prazo de validade do produto e promovendo a geração de
radicais livres, que podem ter efeitos fisiológicos negativos no
Material organismo (17). Um dos objetivos da microencapsulação é retardar o
A goma de cajueiro foi obtida do exsudato de Anacardium occidentale início da oxidação. Em condição de oxidação acelerada em alta
L., coletada de cajueiros do Campo Experimental de Pacajus da temperatura, o tempo de indução do óleo de pequi e das microcápsulas
Embrapa Agroindústria Tropical. Para obtenção da goma isolada foi com e sem óleo podem ser visualizados na Figura 1. Para o óleo de
utilizada a metodologia de Torquato et al. (12). A quitosana (baixo pequi puro o tempo de indução foi de 4,78 h, para as microcápsulas
peso molecular) 75-85% desacetilada foi adquirida da Sigma-Aldrich GC/QT o tempo de indução foi de 11,92 h e das microcápsulas
e gelatina bovina (G) 225H tipo B foi proveniente da Rousselout®. A GC/GE foi de 11,90 h. A microencapsulação do óleo de pequi pelas
extração do óleo da polpa (Caryocar coriaceum Wittm.) foi realizada matrizes de GC/QT e GC/GE proporcionaram uma proteção de

211
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

aproximadamente 2,5 vezes comparado ao óleo puro, não havendo 7. PINTO, M. R. M. R. et al. Encapsulation of carotenoid extracts
diferença no tempo de indução se comparado apenas as duas matrizes from pequi (Caryocar brasiliense Camb.) by emulsification (O/W)
encapsulantes. Para melhor entendimento da estabilidade térmica das and foam-mat drying. Powder Tecnol, v. 339, p. 939-946, 2018.
matrizes para justificar esses resultados seria necessário associar essa 8. BRITO DE SOUZA, V. et al. Microencapsulation by complex
análise com ensaios de TGA (Análise Termogravimétrica) e DSC coacervation as a tool to protect bioactive compounds and to reduce
(Calorimetria Exploratória Diferencial). astringency and strong flavor of vegetable extracts. Food Hidrocoll,
Estudos de encapsulamento por coacervação complexa têm mostrado v. 98, e105244, 2020.
a proteção de óleos quando submetidos a condição de oxidação 9. COMUNIAN, T. A; FAVARO-TRINDADE, C. S.
acelerada. Oliveira et al. (18) microencapsularam o óleo de café verde Microencapsulation using biopolymers as an alternative to produce
em matriz de goma de cajueiro e gelatina, e verificaram uma proteção food enhanced with phytosterols and omega-3 fatty acids: A review.
de até 12 vezes mais do que óleo puro. Comunian et al. (16) Food Hidrocoll, v. 61, p. 442-457, 2016.
estudaram a estabilidade oxidativa do óleo de echium 10. BARROW, C. J; NOLAN, C; JIN, Y. Stabilization of highly
microencapsulado e obtiveram uma proteção de 2 vezes mais do que o unsaturated fatty acids and delivery into foods. Lipid Technol, v. 19,
óleo puro. p. 108-111, 2007.
11. AZEREDO, H. M. C. Encapsulação: aplicação à tecnologia de
Figura 1. Tempo de indução (h) das amostras de óleo de pequi puro e alimentos. Alim Nutr, v. 16, p. 89-97, 2005.
das microcápsulas de GC/QT e GC/GE com e sem o óleo de pequi. 12. TORQUARTO, D. S. et al. Evaluation of antimicrobial activity of
cashew tree gum. World J Microbiol Biotechnol, v. 20, p. 505-507,
2004.
200 13. BARROS, A. C. et al. Obtenção do Óleo da Polpa de Pequi por
Separação Física Utilizando-se Centrifugação. Fortaleza, Embrapa-
CNPAT, 2019. 6 p. (EMBRAPA-CNPAT. Comunicado Técnico 254).
14. CARVALHO DA SILVA, L. et al. Optimization of cashew gum
Condutividade (µS/cm)

150
11,92 h and chitosan for microencapsulation of pequi oil by complex
Óleo de Pequi
GC/QT com óleo coacervation. J Food Process Preserv, v. 42, p. 1-8, 2018.
100 GC/GE com óleo 15. NASCIMENTO, M. A. et al. Pequi oil microencapsulation by
4,78 h GC/QT sem óleo complex coacervation using gelatin-cashew gum. Int J Food Stud, v.
GC/GE sem óleo
11,90 h 9, p. 97-109, 2020.
50 16. COMUNIAN, T. A. et al. Development of functional yogurt
containing free and encapsulated echium oil, phytosterol and sinapic
acid. Food Chem, v. 237, p. 948-956, 2017.
0 17. ALCÂNTARA, M. A. et al. Influence of the emulsion
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
homogenization method on the stability of chia oil microencapsulated
Tempo (h)
by spray drying. Powder Tecnol, v. 354, p. 877-885, 2019.
18. OLIVEIRA, W. Q. et al. Complex coacervates of cashew gum and
gelatin as carriers of green coffee oil: The effect of microcapsule
CONCLUSÃO application on the rheological and sensorial quality of a fruit juice.
Food Res Int, v. 131, e109047, 2020.
Pode-se concluir que a técnica de coacervação complexa de óleo de
pequi usando matrizes de GC/QT e GC/GE foram eficazes para uma
melhor estabilidade térmica do óleo, retardando assim à degradação
em condições oxidativas aceleradas, podendo a técnica de
encapsulamento utilizada ser promissora na manutenção dos ácidos
graxos do óleo de pequi para aplicações em matrizes alimentícias
como forma de enriquecimento.

AGRADECIMENTOS

À FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento


Científico e Tecnológico) e ao CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelas bolsas concedidas
aos alunos, à EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) e NUTEC (Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial
do Ceará) pela infraestrutura e suporte financeiro

REFERÊNCIAS

1. OLIVEIRA, E. N. A. et al. Obtenção e caracterização de margarina


convencional e light à base de óleo de pequi. Bol Cent Pesqui
Process Aliment, v. 29, p. 294-304, 2011.
2. BENEVIDES, S. D. et al. Processamento de Queijo de Coalho de
Leite de Cabra Adicionado de Óleo de Pequi. Sobral, Embrapa-
CNPC, 2009, 6 p. (EMBRAPA-CNPC. Comunicado Técnico 103).
3. SARAIVA, R. A. et al. Topical anti-inflammatory effect of
Caryocar coriaceum Wittm. (Caryocaraceae) fruit pulp fixed oil on
mice ear edema induced by different irritant agents. J
Ethnopharmacol, v. 136, p. 504-510, 2011.
4. FIGUEIREDO, P. R. L. et al. Caryocar coriaceum Wittm. (Pequi)
fixed oil presents hypolipemic and anti-inflammatory effects in vivo
and in vitro. J Ethnopharmacol, v. 191, p. 87-94, 2016.
5. BATISTA, J. S. et al. Avaliação da atividade cicatrizante do óleo
de pequi (Caryocar Coriaceum Wittm.) em feridas cutâneas
produzidas experimentalmente em ratos. Arq Inst Biol, v. 77, p. 441-
447, 2010.
6. PESSOA, A. S. et al. Extraction of pequi (Caryocar coriaceum)
pulp oil using subcritical propane: Determination of process yield and
fatty acid profile. J Supercrit Fluids, v. 101, p. 95-103, 2015.

212
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização sensorial de bebida comercial zero lactose de amêndoas da castanha de caju e


cacau pelo método CATA

Antônio Sousa 1, Jânio Silva 2, Rosângela Marinho 3, Beatriz Dantas 4, Ana Morais 5
1
Tecnólogo em Gastronomia - Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE, (chavesmaicom@gmail.com);
2
Graduando em Tecnologia em Gastronomia - Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE;
3
Mestranda em Tecnologia de Alimentos – Instituto Federal do Ceará, Campus Limoeiro do Norte – CE;
4
Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará, Campus Fortaleza – CE;
5
Drª em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Docente – Instituto Federal do Ceará, Campus Baturité – CE;

Palavras-Chave: Anacardium occidentale L., Avaliação sensorial, CATA, intolerância à lactose.

INTRODUÇÃO A avaliação sensorial foi realizada com 75 consumidores no


Com o aumento dos problemas de saúde relacionados aos hábitos Laboratório de Análise Sensorial, em cabines individuais com luz
alimentares, como intolerâncias e alergias, os consumidores têm branca. O agente de limpeza do palato foi água à temperatura
buscado uma alimentação mais saudável e que atenda às diversas ambiente. Foram servidos 25 mL da amostra à temperatura de 20˚C ±
restrições alimentares. Para acompanhar a essa tendência do mercado, 2˚C em copos brancos descartáveis (50 mL). Em seguida, os
as indústrias de alimentos têm investido no desenvolvimento de consumidores selecionaram os atributos sensoriais que se aplicavam a
alimentos para fins especiais, como produtosCaracterização
funcionais, sem glúten e
sensorial de bebida, comercial
bebida podendo selecionar
zero lactosetodasde as palavras da
amêndoas que castanha
julgavam de caju e
sem lactose (1). A amêndoa da castanha docacau caju (ACC), por ser um
pelo método CATA caracterizar a amostra analisada. Assim, o perfil descritivo da bebida
alimento proteico, tem sido utilizada como matéria-prima para bebidas foi determinado a partir das frequências de uso dos termos assinalados
alternativas ao leite, isoladamente ou em mistura, com outros produtos pelos consumidores, selecionando os nove atributos sensoriais mais
para saborização das bebidas (2). frequentes de cada bebida, considerando as frequências a partir de 20%
Entretanto, para o desenvolvimento e melhoria de produtos como critério de seleção (6,4).
alimentícios, as indústrias precisam conhecer os desejos e
necessidades dos consumidores, bem como entender como percebem Teste de Aceitação Global
os seus produtos através da aplicação de testes sensoriais. Dentre os Posteriormente, para o teste de aceitação global da bebida, os
testes sensoriais aplicados pela indústria de alimentos, está o método avaliadores foram orientados a provar e avaliar a amostra de acordo
descritivo rápido Check-all-that-apply (CATA), o qual é realizado com o grau com que gostaram ou desgostaram. Para isso, foi utilizada
através de um questionário constituído por questões de resposta uma escala hedônica estruturada de cinco pontos, considerando 1(um)
múltipla, consistindo numa lista de descritores (palavras ou frases), em como nota mínima e 5 (cinco) como nota máxima, onde 1= desgostei
que os consumidores escolhem aqueles que melhor caracterizam o muito; 2= desgostei; 3= não gostei, nem desgostei; 4= gostei e 5=
produto (3). gostei muito (8). Os resultados foram expressos em porcentagens
O método CATA permite a descrição dos produtos a partir da através de histogramas de frequência.
frequência dos termos mais usados, que estão diretamente
relacionados à percepção dos consumidores, obtendo as características Teste de Escala relativa ao Ideal
mais marcantes dos produtos. Assim, essas informações podem Foi realizado ainda, o teste do ideal para avaliar a adequação dos
auxiliar não somente na descrição da bebida como também na atributos doçura, sabor de ACC e sabor de chocolate utilizando uma
identificação de características que podem ser modificadas para escala relativa ao ideal de sete pontos, onde 3= muito mais forte que o
maximizar aceitação, de acordo com o perfil dos consumidores (3, 4). ideal; 0= ideal; -3= muito menos forte que o ideal (9). Os resultados
A partir disso, este estudo objetivou realizar através da foram expressos em porcentagem por meio de gráfico em barras, sendo
metodologia (CATA), a caracterização sensorial por consumidores de considerado ideal o atributo que atingiu no mínimo 70% de respostas
bebida de ACC com cacau, bem como avaliar a aceitação e a correspondentes a ideal (10).
adequação de atributos com a premissa de fornecer recomendações de
alterações na formulação que resultem em maior aceitação sensorial. RESULTADOS E DISCUSSÃO

MATERIAL E MÉTODOS TABELA 1. Frequência de escolha de cada atributo para a amostra de


Este trabalho consistiu em um estudo de cunho experimental bebida zero lactose de ACC com cacau pelo método CATA.
quantitativo e qualitativo, realizado no Instituto Federal do Ceará - Termo Descritivo Frequência
IFCE, Campus Baturité, onde foi feita a caracterização sensorial de 01 Cor marrom 72
(uma) amostra de bebida comercial zero lactose de ACC com cacau, Borra 7*
adquirida no mercado local da cidade de Fortaleza-CE. Para isso, foi Aparência uniforme 43
realizada uma análise sensorial descritiva CATA, bem como o teste de Aparência viscosa 9*
aceitação global e de adequação de atributos. Aparência oleosa 7*
Aroma de chocolate 15
Análise Descritiva – Check-All-That-Apply (CATA) Aroma de torrefação 12*
Inicialmente, foi realizada uma sessão de grupo de foco para o Aroma de ACC 30
levantamento de descritores característicos de Amêndoa da Castanha Aroma adocicado 38
de Caju (ACC) e bebidas zero lactose de ACC. A sessão do grupo de Gosto doce 38
foco foi executada em uma sala de aula do IFCE Campus Baturité com Sabor de chocolate 55
20 (vinte) alunos do curso de Tecnologia em Gastronomia, Sabor de ACC 53
consumidores de ACC. Textura encorpada 14*
A partir da descrição dos avaliadores, foram feitas adaptações e Textura homogênea 33
ajustes em palavras específicas que caracterizassem a bebida em Fonte: Autores (2020). *não relevante.
estudo, definindo assim, os termos sensoriais do teste descritivo (5, 6,
7). No total, 14 (quatorze) atributos foram selecionados para fazer Nesta pesquisa, todos os termos da CATA tiveram frequências de
parte da ficha de descritores adotada no teste sensorial pelo método citação maiores que zero, ou seja, todos os termos foram usados,
CATA, sendo 5 (cinco) relacionados à aparência, 4 (quatro) embora alguns foram usados muito mais / menos frequentemente do
relacionados ao aroma, 3 (três) relacionados ao sabor e 2 (dois) que outros. A Tabela 1 mostra a frequência com que cada um dos
relacionados à textura da bebida. A posição dos termos no questionário termos foi utilizado para descrever a amostra, na qual é possível
foi balanceada de forma que cada termo ocupou todas as posições na observar que houve frequência de escolha relevante para 9 (nove)
ficha, obtendo-se 15 (quinze) diferentes modelos. dentre os 14 (quatorze) atributos presentes. Dentre estes, os mais
citados pelos provadores, em ordem decrescente, foram cor marrom,

213
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sabor de chocolate, sabor de ACC, aparência uniforme, aroma FIGURA 4. Resultados do teste sensorial de escala relativa ao ideal
adocicado, gosto doce, aroma de ACC, textura homogênea e aroma de para o atributo de sabor chocolate.
chocolate, sendo assim, as principais características da bebida, que
foram semelhantes as características encontradas para uma bebida sem
lactose com alfaborra (8) e bebidas lácteas pós-treino sabor cacau [4].
Observando a Figura 1, verificou-se que a amostra obteve boa
aceitação, tendo em vista que os maiores percentuais de respostas
foram entre 4 (gostei) e 5 (gostei muito), sendo 49,3% e 34,7%,
respectivamente.

FIGURA 1. Resultados do teste sensorial de aceitação global da


amostra de bebida zero lactose de ACC com cacau.

Fonte: Autores (2020).

CONCLUSÃO
A utilização do método descritivo CATA foi eficaz para melhor
avaliação sensorial da bebida comercial zero lactose de ACC e cacau,
a qual foi caracterizada como marrom, com sabores de chocolate e
ACC, aromas adocicado e de ACC e gosto doce.
A amostra obteve boa aceitação global, no entanto, apresentou
intensidade fraca para os atributos de doçura, sabor de ACC e
chocolate, o que indica a necessidade de modificar a formulação da
Fonte: Autores (2020) bebida para melhorar a intensidade dos atributos avaliados, através do
aumento da quantidade de ACC e cacau na formulação ou
No entanto, nos resultados do teste do ideal, apesar dos maiores incorporação de realçadores de sabor, bem como considerar a adição
percentuais obtidos em todos os atributos terem sido em 0 (ideal), de açúcar ou adoçantes ao produto.
nenhum dos atributos avaliados está com a intensidade ideal para o
produto avaliado, pois todos obtiveram percentuais inferiores a 70%. REFERÊNCIAS
Dessa forma, a intensidade de doçura, atributo que mais se (1) FIRMO, A. Q.; SOUSA, M. M. de; CAVALCANTI, M. S.
aproximou do ideal, foi avaliada como menos forte que o ideal, uma Desenvolvimento e caracterização de bebidas produzidas à base de
vez que 37,3% dos consumidores atribuíram valores entre -1 castanha de caju (Anacardium occidentale L.). Research, Society And
(ligeiramente menos forte que o ideal) e -3 (muito menos forte que o Development, v. 9, n. 1, p. 8491-1645, 2020.
ideal), resultado que está relacionado com a formulação da bebida, que
de acordo com as informações contidas no rótulo, não tem adição de (2) REBOUÇAS, M. C.; RODRIGUES, M. C. P.; AFONSO, M. R.
açúcar (Figura 2). A. Optimization of the acceptance of prebiotic beverage made from
cashew nut kernels and passion fruit juice. Journal of Food Science, v.
FIGURA 2. Resultados do teste sensorial de escala relativa ao ideal 79, n. 7, p. 1393- 1398, 2014.
para o atributo de doçura.
(3) VARELA, P; ARES, A. Sensory profiling, the blurred line
between sensory and consumer science. A review of novel methods
for product characterization. Food Research International, v. 48, 2012.

(4) TEIXEIRA, R. M. Elaboração e análise sensorial de bebidas


esportivas póstreino a base de leite com café e cacau. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Nutrição Humana, Universidade de Brasília,
2019.

(5) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 4. ed. Curitiba:


Champagnat, 2013. 531p.

(6) BRUZZONE, F., VIDAL, L., ANTÚNEZ, L., GIMÉNEZ, A.,


Fonte: Autores (2020) DELIZA, R., ARES, G. Comparison of intensity scales and CATA
questions in new product development: Sensory characterisation and
Um resultado semelhante foi encontrado para os atributos sabor directions for product reformulation of milk desserts. Food Quality
de ACC e sabor de chocolate, que também tiveram as intensidades and Preference. v. 44, p.183 - 193, 2015.
avaliadas como menos forte que o ideal, já que as frequências
concentraram-se na parte negativa da escala (Figuras 3 e 4). Estes (7) MORAIS, A.C.S. Alfarroba como substituto do cacau no
resultados indicaram que existe a necessidade de melhorar a desenvolvimento de bebida sem lactose: otimização, perfil sensorial e
formulação da bebida. comportamento reológico. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-
graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade
FIGURA 3. Resultados do teste sensorial de escala relativa ao ideal Federal do Ceará, 2015.
para o atributo sabor de ACC.
(8) STONE, H.; SIDEL, J. Sensory evaluation practices. 3 ed.
London: Academic Press, 2004.

(9) MEILGAARD, M.; CIVILLE, G.V.; CARR, B.T. Sensory


Evaluation Techniques, 4th Ed., CRC Press, Boca Raton, FL, 2006.

(10) VILLEGAS, B., TÁRREGA, A., CARBONELL, I.; COSTELL,


E. Optimizing acceptability of new prebiotic low-fat milk beverages.
Food Quality and Preference, v. 21, p. 234-242, 2010.

Fonte: Autores (2020).

214
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de farinha de abricó (Mammea americana L) e sua utilização em produtos


alimentícios

Janaina M. M. Vieira1, Maria L. L. Celestino2, Larissa M. R. da Silva3

Doutora em Engenharia Química, Centro Universitário Fanor – UniFanor, email: janainammv@gmail.com,


1
2
Nutricionista, Pós graduada em Especialização em Prescrição de Fitoterápicos e Suplementação Nutricional Clínica e
Esportiva, 3Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará

Palavras-chave: farinha integral, abricó-do-Pará, análise sensorial.

INTRODUÇÃO para retirar o excesso de cloro.


O abricó (Mammea americana L.) é encontrado no Ceará como A casca do abricó foi retirada por cortes longitudinais com
vegetação silvestre das regiões serranas, é nativa das Índias Ocidentais profundidade em torno de 4 mm utilizando uma faca inox, a polpa foi
e do norte da América do Sul e Antilhas, popularmente conhecida como retirada por meio de fatias (5 mm de espessura) até o alcance dos
abricó-do-Pará, abricó, abricó de São Domingos e mammea maçã. caroços e pesada em balança digital.
Árvore de porte médio, podendo atingir 20 m de altura, o abricó se As fatias foram dispostas em bandejas de aço inox e submetidas a
propaga com facilidade por meio de sementes, que germinam entre 12 aquecimento em estufa com circulação forçada de ar, sob condições de
e 18 dias. A planta pode iniciar a floração a partir de seis a oito anos processo controladas, a 60°C por 240 minutos (5). Após desidratadas,
(1). as amostras foram trituradas em multiprocessador de bancada. Após
De acordo com (2) o fruto do abricó apresenta diferentes tamanhos trituração, toda a massa foi peneirada para descarte das partículas
e colorações. Possui elevado valor de sólidos solúveis totais, que no maiores. Em seguida a farinha produzida foi pesada e calculado o seu
processamento industrial é uma característica importante, pois traz rendimento.
menor tempo de processamento e implica diretamente na diminuição de Foram utilizados no preparo da farinha 2.720 g da fruta, que
açúcar para doces, compotas etc. Além dessas características, é quando convertidas em polpa obteve-se 973 g, das quais se produziu
importante destacar a presença de compostos pro-vitamínicos A. Dados 100 g de farinha. Este processo foi realizado para identificação do fator
relacionados à produção e comercialização do fruto de abricó ainda são de correção, obtendo-se um rendimento de 3,68% a partir da fruta in
considerados escasso, devido ser uma fruta silvestre. natura. A partir deste rendimento foi calculado a quantidade necessária
As técnicas são diversas para aproveitamento das frutas, das quais de fruto para a produção dos bolos utilizando 50% e 100% de farinha
pode-se citar: compotas, polpas congeladas, frutas desidratadas e de abricó no preparo da massa.
farinhas. Apesar de alguns consumidores preferirem produtos in natura, Para a avaliação da utilização da farinha de abricó utilizou-se a
a maioria prefere produtos industrializados, devido sua praticidade e produção de bolo como produto-teste. Foram preparadas duas
durabilidade. Para a indústria de alimentos é um desafio buscar formulações de bolos, a formulação A (bolo com substituição da farinha
inovações em produtos alimentícios. Os alimentos desenvolvidos de trigo por 100% de farinha do abricó) e a formulação B (bolo com
devem apresentar qualidade sensorial e nutricional. substituição da farinha de trigo por 50% de farinha do abricó) (Tabela
Deve-se levar em consideração que ao longo dos anos, o hábito 1).
alimentar da população vem sofrendo modificações e tais alterações
levaram ao baixo consumo de vitamina A. No Brasil, principalmente Tabela 1 – Formulações dos bolos utilizando a farinha de abricó.
nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, a hipovitaminose A é
considerada um caso de saúde pública (4).
Para atender essa carência, o uso culinário do fruto de abricó na
forma de geleias, licores, compotas, sucos, saladas, ou como farinha,
torna-o como fonte alternativa com o intuito de fornecer um alimento
mais saudável e de grande importância nutricional, trazendo benefícios
à saúde de seus consumidores.
Atualmente, muitas frutas estão sendo processadas para que se
preservem as características nutricionais por um tempo maior do que se
estivesse na sua forma in natura, aumentando a disponibilidade de
ingestão dos nutrientes característicos de determinadas frutas fora do
seu período de produção. Uma técnica recorrente na conservação dos Para a preparação dos bolos, misturou-se todos os ingredientes
nutrientes de uma fruta por mais tempo é a transformação da fruta em secos em um recipiente de vidro. Em seguida, os ingredientes líquidos
farinha. Com a produção da farinha é possível sua utilização em foram batidos em um liquidificador e somente depois misturados aos
diversas preparações culinárias, desde uma mistura em sucos de fruta, ingredientes secos. Toda esta massa foi transferida para uma forma
até como ingredientes de preparações para bolos, tortas ou alimentos retangular de alumínio, untada com óleo e farinha de trigo. Foi levada
mais elaborados. ao forno com temperatura de 180 °C onde permaneceu por 40 minutos,
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi desenvolver a farinha do o bolo foi desenformado após esfriar.
fruto abricó, avaliando a aceitabilidade de bolos que a utilizaram em Para realização da avaliação sensorial foram convidados 60
seu preparo. voluntários, não treinados. Os provadores foram cantactados de
maneira informal e aleatória no Centro Universitário, envolvendo
MATERIAL E MÉTODOS estudantes, professores e funcionários.
O presente trabalho se caracterizou como um estudo quantitativo e Respeitando a Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de
de corte transversal, sendo realizado nos Laboratório de Técnica e Saúde (6), os participantes foram esclarecidos acerca do tema da
Dietética e de Análise Sensorial do Curso de Nutrição de um Centro pesquisa, e o projeto foi aprovado sob número de parecer 1.993.137.
Universitário em Fortaleza/CE. Após consentimento verbal, os participantes assinaram o Termo de
A coleta do abricó foi realizada na serra de Maranguape, região Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) constituindo condição
metropolitana de Fortaleza - Ce. A colheita foi realizada utilizando uma essencial para participar da pesquisa.
vara com aparador de fruto para evitar rachadura, por ser uma árvore de A avaliação da aceitação dos bolos foi aplicada no Laboratório de
aproximadamente 15 metros de altura. Análise Sensorial do Centro Universitário situado em Fortaleza/CE, sob
Os frutos foram pesados e selecionados, separando-se os luz branca. Utilizou-se o método sensorial afetivo, através da escala
estragados (que apresentaram odor característico de fermentação), os hedônica estruturada de 9 pontos, em que o ponto (1) correspondia a
trincados e os quebrados. Foi realizada uma pré-lavagem dos frutos “desgostei muitíssimo” e o ponto 9 a “gostei muitíssimo” (7).
utilizando um jato de água potável sob pressão, aplicado diretamente As amostras foram servidas em copos plásticos descartáveis de 50
sobre os frutos, que foram lavados manualmente. ml, codificados com números aleatórios de três dígitos. Cada provador
As frutas foram imersas em solução de água clorada (100 ppm de foi informado que deveria provar uma amostra de cada vez, assim como
cloro livre) por 15 minutos. Em seguida, enxaguadas com água potável beber água nos intervalos entre uma amostra e outra, a fim de que o

215
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sabor não interferisse na amostra seguinte. O provador manifestou sua Os autores Guimarães, Freitas e Silva (10), produziram a farinha
opinião quanto aos atributos de aparência, cor, aroma sabor, textura e da entrecasca de melancia para elaboração de três bolos: um controle
aceitação global através da ficha sensorial. (sem farinha de entrecasca de melancia), um com uma proporção de 7%
Os resultados dos testes de aceitabilidade foram compilados no e outro com uma proporção de 30%. No que diz respeito para o “aroma”
programa Microsoft Excel, versão 2016, os valores obtidos foram do bolo, os provadores relataram um índice de 82% de aceitabilidade
avaliados pela análise de variância e aceito como grau de significância com 7% de farinha de entrecasca de melancia, sendo o mais bem aceito
5% (p<0,05), em seguida expressos em forma de tabelas e gráficos. entre as três formulações, assemelhando-se a este estudo.
Uma das características que foi fator determinante na
RESULTADOS E DISCUSSÃO aceitabilidade do bolo foi o “sabor”.
Dos participantes, 85% tinham idade entre 18 e 35 anos, dos quais,
81,7% eram do sexo feminino e 18,3% do sexo masculino. Em relação CONCLUSÃO
a escolaridade, 76,7% declararam estar cursando nível superior. É possível a produção da farinha a partir do fruto in natura e sua
Predominaram provadores do sexo feminino, 76,7 % cursando a aplicação em produtos alimentícios, como em bolos. Apesar de ser um
graduação e a faixa etária de compreendendo a maioria de 10 a 35 anos. fruto silvestre e pouco conhecido, com produção e comercialização
Foram realizados testes preliminares para produção do bolo usando escassa no estado de Ceará.
farinha de abricó, a fim de identificar as melhores proporções a serem Foi observado a necessidade de aprimoramento do processo de
usadas. Durante estes testes foi observado um leve sabor amargo na produção da farinha, otimizando extração da polpa, secagem e
farinha que permanecia no bolo depois do preparo. A solução trituração. Os dados da análise sensorial, para o atributo “sabor”
preliminar utilizada foi substituir o leite de coco pelo suco de laranja comprovaram uma baixa aceitação para o bolo que utilizou em seu
como tentativa de redução ou anulação do amargo. Esta mudança preparo 100% farinha de abricó, devido um leve sabor amargo presente
resultou em produto de bom sabor tanto nos bolos de 50% e 100% de na farinha. Sugere-se como continuidade do trabalho a identificação da
farinha. Este tipo de técnica de adição ou processamento adicional do causa do sabor amargo.
insumo para aumentar a qualidade do produto é muito utilizada, como A elaboração de alimentos que utilizem a farinha do abricó em seu
realizado no preparo de bolo com resíduo de casca de abacaxi que preparo irá proporcionar um produto com ingredientes de alto valor de
submeteu a cocção o suco da casca (8). sólidos totais, além de enriquecidos em provitamina A. O
A Figura 1 mostra a informação da média das notas para cada desenvolvimento desses alimentos poderá trazer melhoria nutricional
atributo, a linha escura contínua mostra as informações da farinha de de populações carentes em vitamina A.
50% e a linha clara tracejada mostra as informações da farinha de 100%.
A figura geométrica formada é um hexágono. Cada vértice contém a REFERÊNCIAS
informação da nota média de um atributo que determina a distância do (1) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
centro do hexágono até o vértice. Quanto menor a variação entre as Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros /
médias dos atributos de cada bolo mais regular será o hexágono Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
formado. Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
(2) BRAGA, Adriano César Calandrini; SILVA, Alessandra Eluan da;
Figura 1 – Média das notas por atributo dos bolos com 50% e 100% de PELAIS Ana Carla Alves; BICHARA, Carissa Michelle Goltara;
farinha de abricó. POMPEU, Darly Rodrigues. “Atividade Antioxidante e Quantificação
de Compostos Bioativos dos Frutos de Abricó”. Alim. Nutr.,
Araraquara, v.21, n.1, p. 31, jan. / mar. 2010.
(3) RAMALHO RA, FLORES H, SAUNDERS C. Hipovitaminose A
no Brasil: um problema de saúde pública. Rev PanamSaludPúbl/ Pan
Am J Public Health 2002; 12 (2):117-22.
(4) MACEDO, J. L.; SILVA, D. J. S.; DOS SANTOS, L. S.; RAMOS,
S. M. N.; OLIVEIRA, N. DOS S. L.; ASSUNÇÃO, M. DE J. S. M.
Consumo de antioxidantes por praticantes de atividade física. RBNE -
Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 13, n. 80, p. 550-556, 12
set. 2019.
(5) PORTELA, J. V. F. Estudo dos aspectos tecnológicos e de
qualidade envolvidos no aproveitamento da casca e da polpa da
melancia (Citrullus lanatus Schrad). 2009, 132 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) - Centro de
Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
(6) BRASIL. Ministério da Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE
DEZEMBRO DE 2012. Diário Oficial da República Federativa do
O hexágono da farinha de 50% formou um polígono quase regular, Brasil, Poder Executivo, de 13 de junho de 2016. Disponível em:
pois assemelhou-se aos polígonos regulares utilizados na escala do <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12
gráfico. Esta aproximação a um hexágono regular, mostra uma _12_2012.html>.
semelhança entre as médias das notas das avaliações de cada atributo (7) DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4ª
para o bolo de 50% de farinha de abricó. Na análise da variância, a edição. Curitiba: Champagnat, 2013.
média das notas dos atributos ficou igual a 8,21 com uma variância de (8) MARTIN, J. G. P., JÚNIOR, M. D. M, ALMEIDA, M. A.,
0,0036. Devido ao valor da variância ser pequeno, verificou-se pouca SANTOS, T., M. H. F., Revista Brasileira de Produtos
dispersão das médias dos atributos em relação à média. Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.3, p.281-287, 2012.
O hexágono da farinha de 100%, mostra uma irregularidade nos (9) PAULA, G. A., Caracterização Físico-Química e Estudo do
vértices do sabor e aceitação global, isto ocorreu pelo fato da média das Escurecimento Enzimático em Produtos Derivados de Açaí. Tese
notas destes atributos serem 5,87 e 6,62, respectivamente. Os demais (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007.
atributos: aparência, cor e aroma, obtiveram respectivamente as médias: (10) GUIMARÃES, Renata Rangel; FREITAS, Maria Cristina Jesus
7,37, 7,50 e 7,28. A média das médias das notas dos atributos ficou em de; SILVA, Vera Lucia Mathias da. Bolos simples elaborados com
6,95 com uma variância de 0,3771. farinha da entrecasca de melancia (Citrullus vulgaris, sobral): avaliação
Na análise do resultado dos dados, verificou-se diferença química, física e sensorial. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 30,
significativa nas médias das notas para cada atributo entre as duas n. 2: p. 354-363, abr./jun., 2010.
formulações, ou seja, valor-p > 0,05.
O estudo demostra uma boa aceitação do bolo que em seu preparo
da massa utilizou 50% de farinha de abricó e 50% de farinha de trigo.
Os dados indicaram pouca aceitação do bolo com 100% de farinha,
devido ao “sabor” muito intenso do abricó, implicando negativamente
na aceitação global. Este fato se assemelha ao açaí, que na região norte
é consumido praticamente in natura, sem adição de outros produtos para
aliviar o amargo. Nas outras regiões brasileiras ocorre o contrário, para
ser aceito adicionam-se outros ingredientes, como por exemplo: xarope
de guaraná, leite em pó etc. (9).

216
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise Sensorial de Brigadeiro Funcional para Intolerantes à Lactose e Alérgicos à Proteína


do Leite de Vaca
Janaina M. M. Vieira1, Maria I. R. B. Paiva2
1
Doutora em Engenharia Química, Centro Universitário Fanor – UniFanor, email: janainammv@gmail.com,
2
Nutricionista, Centro Universitário Fanor – UniFanor

Palavras-chave: alergia a alimentos; intolerância alimentar, funções sensoriais.

INTRODUÇÃO Esclarecido (TCLE). O teste de aceitabilidade verificou os atributos de


A Alergia Alimentar acomete o sistema imunológico, onde os sinais e aparência, cora aroma, sabor e textura do brigadeiro. Foi aplicado atra-
sintomas, após a ingestão do alimento, se dão de acordo com mecanis- vés do teste subjetivo quantitativo, a escala hedônica estruturada de
mos de ação ativados contra o antígeno causador (1). A Alergia Ali- nove pontos, em que o ponto (1) correspondia a “desgostei muitíssimo”
mentar à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é a alergia mais frequente e o ponto 9 a “gostei muitíssimo” (9).
na infância, acometendo geralmente crianças até o terceiro ano de vida, Essa análise foi realizada no Laboratório de Análise Sensorial do Cen-
afetando cerca de dois a cinco por cento dos lactentes. Esse fato acon- tro Universitário, onde foi disponibilizado uma amostra para cada pes-
tece porque quando o lactente tem o primeiro contato com leite de vaca soa, todas as porções padronizadas em aproximadamente 10g, servidas
na dieta ele irá ter contato com os primeiros antígenos alimentares, o em copinhos de plásticos, junto com um copo com água à temperatura
que faz com que a alergia seja tão frequente e precoce (2). ambiente para a limpeza do palato. Na avaliação de a intenção de com-
A Intolerância à Lactose (IL), diferentemente da APLV, não está rela- pra do produto obtido, foi apresentada uma tabela (no mesmo formu-
cionada com o sistema imunológico, mas sim com deficiência enzimá- lário da análise sensorial), onde o avaliador indicou o grau de certeza
tica da lactase, que se dá pela incapacitação da mucosa intestinal de com que compraria ou não compraria. A escala foi composta pelas al-
digerir a lactose (3). A prevalência da IL em brasileiros é de 37 mi- ternativas: 1-certamente não compraria; 2-possivelmente não compra-
lhões de pessoas que apresentam desde incômodo ao tomar leite e al- ria; 3-talvez compraria/talvez não compraria; 4-possivelmente com-
guns outros sintomas desagradáveis como desordens funcionais gas- praria e 5-certamente compraria.
trintestinais, diarreia, indigestão, náuseas, flatulência ou dores no es- O cálculo do Índice de Aceitabilidade (IA) da formulação foi realizado
tômago (4). segundo a equação: IA (%) = A x 100 / B, onde A = nota média obtida
O brigadeiro é um produto de bastante sucesso na categoria de doces para o produto e B = nota máxima dada ao produto (10,11).
entre os brasileiros. Para mais de 50% da população mundial adulta Essa pesquisa foi produzida de acordo com as normas éticas e cientí-
essa sobremesa pode causar náuseas, dores abdominais e diarreia, sin- ficas segundo a resolução Brasil 466/2012 do Conselho Nacional de
tomas típicos de quem tem incapacidade de digerir a lactose ou que Saúde (12), garantindo assim a integridade dos participantes. O pre-
tenha alergia à proteína do leite (5). sente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Academia Cea-
As principais tendências de consumo de alimentos no Brasil são sen- rense de Odontologia, sob o parecer consubstanciada de número
sorialidade e prazer; saudabilidade e bem-estar; conveniência e prati- 3.711.615.
cidade; qualidade e confiabilidade; sustentabilidade e ética (6).
No mercado atual há uma grande variedade de produtos que podem ser RESULTADOS E DISCUSSÕES
substituídos com a finalidade de produzir um alimento para alérgicos Responderam ao questionário referente a análise sensorial e inten-
e intolerantes, como a farinha de arroz, leite de coco, biomassa de ba- ção de compra, 70 voluntários não treinados. Todos preencheram
nana verde e soja. corretamente o teste de aceitação concedido, sem nenhuma exclu-
De acordo com o exposto pensou-se em fazer um alimento para fim são ou perda. Dos 70 participantes, 52 (74,29 %) Foram do sexo
especial que atenda na sua formulação um conteúdo que incorpore nas feminino e 18 (25,71 %) do sexo masculino. O grupo de provado-
suas modificações nutrientes e constituintes adequados para dietas di- res foi composto por alunos de diversos cursos do Centro Univer-
ferenciadas. Isso buscando as necessidades desses indivíduos com sitário.
condições metabólicas e fisiológicas específicas, sejam elas restritivas Quanto a faixa etária dos estudantes, 44 (62,85 %) estão na faixa
ou aditivas (7,8). Se inclui neste conceito indivíduos com alergias, in- etária dos 18 aos 24 anos, 17 (24,28 %) na faixa dos 25 aos 35
tolerâncias ou sensibilidade a determinados alimentos ou de algum de anos e 9 (12,85 %) dos 36 aos 50 anos. Em relação a IL e APLV
seus constituintes (8). Dessa forma, o presente trabalho teve por obje- dentre eles nenhum apresentavam essas patologias.
tivo a elaboração e a avaliação com relação à aceitabilidade sensorial A amostra elaborada apresentou maior quantidade de avaliações com
e intenção de compra de uma massa de brigadeiro isenta de lactose. escore 8 (gostei muito) e 9 (gostei muitíssimo), com porcentagem 34%
Buscando propor a disponibilização, para pessoas com sensibilidade à (24 respondentes) e 27% (16 respondentes), respectivamente em rela-
lactose e alergia a proteína do leite de vaca, um produto isento deste ção às demais notas, ou seja, apresentando boa aceitação sensorial.
dissacarídeo e que fosse bem aceito sensorialmente. Percebeu-se que em relação a cor, o público demonstrou uma boa acei-
tação e o maior número de notas foi no escore 8 (gostei muito) com
MATERIAIS E MÉTODOS 36% (25 respondentes) em relação a nota do escore 9 (gostei muitís-
O presente estudo tem natureza quantitativa, de delineamento trans- simo) 30% (21 respondentes) os avaliadores votaram demonstrando
versal, descritivo e analítico. O presente estudo foi realizado em um bastante satisfação em relação a esse quesito.
Centro Universitário localizado em Fortaleza e a população do estudo Em relação ao aroma percebe-se que os avaliadores demonstraram
foi composta por universitários e colaboradores da instituição, acima bastante dúvida, nota- se que o escore 5 e escore 9 (Não gostei/nem
de 18 anos de ambos os sexos. A amostra foi constituída de 70 pessoas desgostei), (Gostei muitíssimo) 27% (24 respondentes) e 21% (25 res-
escolhidas através de amostragem por conveniência e não probabilís- pondentes) respectivamente, foram os mais votados, o cheiro de cacau
tica. estava bem presente, o que pode ter causado essa dúvida nos avaliado-
A formulação do brigadeiro isento de lactose foi elaborada no Labora- res.
tório de Técnica Dietética do Centro Universitário. Para o processa- Como já previsto, o sabor teve nota em todos os números, os avalia-
mento da formulação de massa de brigadeiro isenta de leite foi utili- dores se mostraram um tanto quanto indeciso em relação as notas, mui-
zado leite de coco e farinha de arroz como elementos principais. O tos relatavam sentir gosto de café no palato, pois o gosto do cacau é
cacau, açúcar demerara funcionaram como elementos coadjuvantes bastante forte e estava bem presente. Como muitos não tinham o cos-
para o brigadeiro, onde todos os produtos foram adquiridos no comér- tume de fazer o uso de cacau em preparações, apresentavam essa dú-
cio local. O preparo foi feito através do cozimento do leite de coco vida. Apesar dessas dúvidas, ainda assim o escore 8 (gostei muito),
com acréscimo do cacau, adicionando aos poucos o açúcar e a farinha prevaleceu entre os demais com 26% (18 respondentes) em seguida
até ficar uma composição homogênea. escore 6 e 9 com 21% (15 respondentes) e escore 7, com 17% (12
Para a avaliação sensorial do brigadeiro, foi realizado um teste de acei- respondentes).
tabilidade e um teste de intenção de compra. Somente participaram do Na textura, o público apresentou maior número de notas no escore 8
estudo os indivíduos que assinaram Termo de Consentimento Livre e (gostei muito) com 27% (19 respondentes), mas ainda assim os escore

217
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

7 e 9 (gostei moderadamente), (gostei muitíssimo) 24% e 21% (17 res- Conforme mostra o presente estudo, melhorias no produto elaborado
pondentes), (15 respondentes) respectivamente apresentaram um valor necessitam ser realizadas. Acredita-se que a boa aceitação da formu-
em notas significativo. lação foi devido o fato do produto ter as características de aparência,
No estudo de Almada (13), buscou-se propor alternativas ao brigadeiro cor e textura parecidas com o brigadeiro tradicional disponível no mer-
convencional com uma abrangência maior. O objetivo estudo foi a ela- cado.
boração de substitutos do leite condensado tradicional, produzidos a
partir de extratos vegetais de aveia, arroz e amêndoa. REFERÊNCIAS
Entende-se que o fato de substituir o leite condensado da fórmula tra- (1) GASPARIN, Fabiana S. R.; TELES, Jéssica M.; ARAÚJO, Sa-
dicional, por outros ingredientes bem como farinha de arroz e leite de brina C. de. Alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à
coco, é válida nutricionalmente. Isso porque agrega minerais e amino- lactose: as diferenças e semelhanças. Revista Saúde e Pesquisa, Ma-
ácidos essenciais como leucina, lisina, metionina, valina, tirosina, tre- ringá, Paraná, v. 3, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2010.
onina e cistina, onde a quantidade de cistina do leite de coco supera a (2) CALDEIRA, Filipa; CUNHA; José da, FERREIRA; Maria Go-
quantidade que há no leite de vaca. Já a farinha de arroz, por sua vez, mes. Alergia a proteínas de leite de vaca: Um desafio diagnótico. Acta
tem se tornado um ingrediente atraente para a indústria a fim de for- MedPort 2011; 24: 505-510, 2011.
mulações com ausência de glúten, resultando em alimentos hipoa- (3) ZYCHAR, Bianca Cestari; OLIVEIRA, Beatriz Araújo, Fatores
lergênicos (14). Desencadeantes da intolerância á lactose: metabolismo enzimático, di-
Ao analisar o índice de aceitabilidade, 75,6% dos avaliadores apro- agnótico e tratamento. Atas de Ciências da Saúde, São Paulo, Vol.5,
varam o brigadeiro. A amostra elaborada apresentou maior quantidade N°.1, pág. 35-46, jan-mar, 2017.
de avaliações com média 7 (gostei moderadamente), dessa forma, me- (4) PEREIRA FILHO, D; FURLAN, S.A. Prevalência de intolerancia
lhorias nas formulações são necessárias para que os produtos atinjam à lactose em função da faixa etária e do sexo: experiência do laborató-
um IA adequado. A amostra apresentou aparência, cor e textura muito rio, dona Francisca Joinvile (SC). Revista Saúde e Ambiente/ Health
semelhantes ao produto tradicional, sendo bem aceita sensorialmente and Environment Journal, v.5, n.1 jun, 2004.
nesses quesitos. Observa-se que o desvio padrão em relação ao sabor (5) MATHÍUS et al. Aspectos atuais da intolerância à lactose. Revista
foi o mais alto, o que demonstra os avaliadores indecisos (Tabela 1). Odontológica de Araçatuba, v.37, n.1, p. 46-52, Janeiro/Abril, 2016.
(6) FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Brasil
Tabela 1 - Resultados das médias, desvio padrão e índice de acei- Food Trends 2020. São Paulo, 2010. Publicação digital. Disponível
tação referentes aos atributos aparência, cor, aroma, sabor e tex- em: <http://www.brasilfoodtrends.com.br/Brasil_Food_Trends/in-
tura avaliados na amostra de brigadeiro funcional produzido. dex.html>
Desvio Pa- Índice de Acei- (7) ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
Atributos Média
drão tação (%) CNNPA n. 12 de 30 de março de 1978. Define as normas técnicas
Aparência 7,55 1,30 83,9 especiais, do estado de São Paulo, revistas pela CNNPA relativas a
Cor 7,81 1,20 86,8 alimentos (e bebidas), para efeito em todo território brasileiro.
Aroma 7,82 1,14 86,9 (8) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sa-
Sabor 6,92 1,81 76,9 nitária. Resolução da Diretoria Colegiada, Resolução n. 54, de 12 de
Textura 7,11 1,67 79 novembro de 2012. Aprova Regulamento Técnico sobre Informa-
ção Nutricional. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/do-
Ao analisar a Figura 1, fica claro, que os julgadores afirmam que cments/%2033880/2568070/rdc0054_12_11_2012.pdf/c5ac23fd-
“Certamente Compraria” este produto mesmo demonstrando pre- 974e-4f2c-9fbc-48f7e0a31864>
ferência pelo brigadeiro convencional. Logo atrás, a maior fre- (9) DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4ª
quência identificada de respostas foi na escala “certamente com- edição. Curitiba: Champagnat, 2013.
praria”, com 34% dos votos (24 julgadores). Já para os demais ín- (10) DESSIMONI-PINTO, Nísia et al. Características físico-químicas
dices foram de 33%, 17%, 13% e 3%, “possivelmente compraria”, da amêndoa de macaúba e seu aproveitamento na elaboração de barras
“talvez comprasse, talvez não comprasse”, “possivelmente não de cereais. Alimentos e Nutrição, Araraquara, v. 21, n. 1, p. 77-84,
compraria” e “certamente não compraria” (23, 12, 9 e 2 respon- 2010.
dentes) respectivamente. (11) CLAUDY, Letícia et al. Brigadeiro adicionado de aveia e banana:
caracterização físico-química e sensorial entre crianças. Evidência,
Figura 1- Frequência das respostas ao questionamento referente a in- Joaçaba, v. 14, n. 1, p. 35-46, jan./jun. 2014.
tenção de compra das amostras analisadas. (12) BRASIL. Ministério da Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE
DEZEMBRO DE 2012. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Poder Executivo, de 13 de junho de 2016. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12
_12_2012.html>.
(13) ALMADA, Eid da Rosa. Substitutos de leite condensado a partir
de extratos vegetais. 2013. 39 f., il. Monografia (Bacharelado em Nu-
trição) - Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
(14) CARVALHO, Milla Rúbia Alves CG Paranhos; COELHO, Nás-
tia Rosa Almeida. Leite de Coco: aplicações funcionais e tecnológi-
cas. Revista EVS-Revista de Ciências Ambientais e Saúde, v. 36, n.
4, p. 851-865, 2009.

Corroborando com as notas hedônicas, no quesito intenção de


compra, a amostra apresenta considerável diferença comprando
padrão disponível no mercado, o público em geral assume com-
portamentos diferentes frente a consumir o novo produto, geral-
mente poucas pessoas se mostraram receosas quando o assunto é
provar um produto inovador. mas nota-se uma boa aceitação do
produto para os participantes.

CONCLUSÃO
Conclui-se que é possível ter o desenvolvimento do brigadeiro sem
lactose e sem proteína do leite de vaca. Observando o mercado pode-
se evidenciar que o comportamento do consumidor está mudando, de-
monstrando que a necessidade e vontade do consumidor prevalence,
sendo necessário alinhar a tecnologia e alimentação afim de resolver a
necessidade desse público.

218
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Perfil do Consumo de Leites Fermentados em Cidades Do Estado Do Ceará

Vitória Cruz​1​, Gabriel Castro​1​, Antonio Silva​1​, Gizele Cruz​2​, Juliane Carvalho​3

1 Graduando(a) em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará


2 Mestra em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará
3 Doutora em Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará
E-mail do autor correspondente: antoniosilvaqxl@gmail.com

Palavras-chave: Laticínios; Mercado; Preferências

Introdução (3). Muitas vezes, o consumidor desconhece as denominações e


as peculiaridades de cada produto.
A produção de laticínios é uma das áreas mais relevantes dentro A análise estatística dos dados detectou a dependência entre duas
da indústria alimentícia brasileira, porém o consumo per capita variáveis qualitativas, conhecimento sobre leites fermentados e
de volume de leite ainda se encontra abaixo de outros países escolaridade (p<0,05). A maioria das pessoas que declararam ter
desenvolvidos (1). O consumo domiciliar per capita de laticínios bom conhecimento sobre o tema (24%), possuem ensino superior.
no Ceará é de 39,17/ano, sendo considerado baixo quando Demonstrando possivelmente, um maior interesse e acesso a
comparado a de outros estados (2). Os leites fermentados são informação dessa parcela.
obtidos pela fermentação lática do leite, a qual promove a sua
coagulação pela redução do pH. Segundo a legislação brasileira, Figura 1. Avaliação dos participantes quanto ao nível de
os leites fermentados se classificam em: iogurte, coalhada, kefir, conhecimento em leites fermentados.
kumys, leite acidófilo e leite fermentado ou cultivado, essas
variações são dadas pelo tipo de microrganismo que realiza o
processo fermentativo (3). ​Além de nutritivos, esses produtos
possuem benefícios à saúde do consumidor, como potencial
probiótico e auxílio no processo digestivo. O consumo de leites
probióticos mostram efeitos contra diarreia, desnutrição, efeitos
colaterais de antibióticos e seu potencial para afe​tar alergias e
humor, e reduzir a adsorção de toxinas ambientais (4). N​esse
contexto, foi realizada uma avaliação do perfil de consumo e das
preferências dos consumidores em relação aos leites fermentados
no estado do Ceará, analisando também, se a parcela questionada
possui conhecimento sobre eles.

Material e Métodos
Fonte: Próprio autor, 2020.
A pesquisa foi realizada por meio digital, utilizando a ferramenta
“Google Formulário” da plataforma Google. O questionário Mais da metade dos participantes da pesquisa (68%) consome ou
abordou questões como o nível de conhecimento, preferência de reside com quem consome leites fermentados (Figura 2). Os
sabores e consumo de leites fermentados. Foi compartilhado via laticínios são componentes comuns de muitas dietas e influenciam
redes sociais, onde participaram 155 pessoas residentes em 18 as funções fisiológicas do organismo de quem os consome. Os
cidades do estado do Ceará, de modo voluntário, no período de produtos lácteos, incluindo leite, iogurte e queijo, são geralmente
Maio a Junho de 2020. Foi realizada análise estatística para considerados alimentos ricos em nutrientes que contêm proteínas,
comparação dos dados qualitativos por teste Qui-quadrado cálcio e outros nutrientes essenciais, como magnésio, potássio,
(p<0,05) e histogramas de distribuição de frequência para análise fósforo, zinco e vitaminas B e sua ingestão está associada a
das respostas recebidas, utilizando o software Microsoft Excel qualidade da alimentação​ (6).
versão 2010.
Figura 2. Consumo de leites fermentados pelos participantes da
Resultados e Discussão pesquisa ou por pessoas com que residem.

Os participantes da pesquisa foram formados por 67% de


mulheres e 33% de homens, sendo 81% solteiros (as). A faixa
etária predominante foi entre 18 a 25 anos (66%). Todos os
respondentes do questionário são residentes de cidades do estado
do Ceará. Do total avaliado, 50% possui graduação e 36% ensino
médio completo. Demonstrando a pluralidade do estudo.
O conhecimento do perfil de consumidor e consumo apresenta
diversas nuances, tanto características do ambiente, quanto
características relacionadas à idade, gênero, escolaridade e poder
aquisitivo podem influenciar no seu comportamento (5).
Dos respondentes, 54% declararam ter um pouco de
conhecimento sobre leites fermentados (Figura 1). Evidenciando
que o setor alimentício necessita desenvolver campanhas de
marketing mais intensas e direcionadas. É importante salientar, Fonte: Próprio autor, 2020.
que os leites fermentados possuem diversas classificações:
iogurte, coalhada, leite acidófilo, leite fermentado, kefir e kumys Segundo a análise realizada (p<0,05), foi observado que as
pessoas com maior renda são as que mais consomem leites

219
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

fermentados. Os níveis de consumo per capita de produtos de


Sabores %
origem animal são determinados por uma série de fatores, sendo
os fatores econômicos, tais como nível de renda e preços Nenhuma preferência 55
relativos, os mais relevantes (1). Para 55% das pessoas, o sabor é
o fator mais relevante no momento da compra dos leites Morango 27
fermentados, seguido de 16% que apontaram o preço como maior Baunilha 2
influência (Figura 3). Silva ​et al. (2019, p. 7) avaliaram os
atributos sensoriais mais relevantes na aceitação de cinco marcas Banana 3
comerciais de leite fermentado desnatado adoçado. De acordo
com os autores, a maior parte dos consumidores preferiu a Frutas vermelhas 3
amostra mais doce, sabor característico de leite fermentado e cor
Chocolate 3
esbranquiçada, mostrando assim que o sabor é uma das
características mais importantes ao escolher um alimento (7). Outros 8

Figura 3. Histograma de distribuição de frequência de respostas


Em relação às embalagens e às quantidades oferecidas no
sobre o que os consumidores observam no momento da aquisição.
mercado, os participantes responderam preferir produtos em
“garrafa” e com massa de 900g. Isso indica a procura de
praticidade no momento do consumo, a procura por produtos
que alimentem toda a família, como também a ida reduzida ao
mercado.

Conclusões

Em relação aos consumidores de leites fermentados no Ceará,


pode- se concluir que pessoas com maior renda e maior grau de
escolaridade, possuem mais conhecimento e maior frequência de
consumo de leites fermentados. Apesar de a maioria dos
participantes não apresentar preferência por sabores específicos
Fonte: próprio autor (2020). nos leites fermentados, os fatores mais importantes para a
Onde: 1-Conter probióticos; 2-Preço; 3-Sabor; 4-Ingredientes; aquisição dos produtos são o sabor e preço. O consumidor
5-Consistência; 6- Não conter açúcar; 7- Marca; 8- Conter fibras; cearense prefere leites fermentados líquidos, de embalagens
9-Nenhuma preferência. contendo 900g, indicando busca por praticidade.

De acordo com os resultados obtidos (Figura 4), 46% dos Referências


participantes preferem leites fermentados com consistência
líquida, 31% cremosa, 3% firme e 21% responderam que não SIQUEIRA, K. B. O Mercado Consumidor de Leite e
possuem preferências. A viscosidade e a consistência de um Derivados, Juiz de Fora, Embrapa Gado de Leite, Circular
produto devem ser avaliadas, pois são características que podem Técnica 120, 2019.
determinar sua aceitação por parte dos consumidores. Em
pesquisa realizada com bebidas lácteas achocolatadas, as IPECE- Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará,
amostras avaliadas como melhor viscosidade, também foram as Análise da Cadeia Produtiva de Leite e seus Derivados no Ceará,
mais aceitas sensorialmente (8). n 128, Fortaleza, 2018.

Figura 4. Histograma de frequência de respostas sobre a BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
consistência de leites fermentados que os consumidores Secretaria de defesa agropecuária. Departamento de inspeção de
preferem. produtos de origem animal. Instrução Normativa n. 46, de 23 de
outubro de 2007. Regulamento Técnico de Identidade e
Qualidade (RTIQ) de Leites Fermentados. Diário Oficial da
União, 24 de out 2007, Seção 1.p. 5.

REID, G. "O potencial de crescimento para probióticos lácteos."


International Dairy Journal, 49, 16-22, 2015.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing: a edição do novo


milênio. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. 764 p.

ASLAN, H. et al. Os efeitos dos laticínios e derivados do leite na


microbiota intestinal: uma revisão sistemática da literatura. Gut
Microbes. 12 (1), 2020.

A maioria dos participantes expuseram que não possuem SILVA, M. A. A. et al. Leites fermentados comerciais: estudo
preferência de sabor (55%), apesar de ser o atributo mais com consumidores. Revista do Instituto de Laticínios Cândido
relevante no momento da aquisição dos leites fermentados, Tostes, [S.l.], 74 (4), 252-261, 2019.
segundo os dados levantados (Quadro 1).
DANTAS, F. B. Est​udo do efeito da adição de farinha e
Quadro 1. Percentual de respostas dos sabores preferidos do mucilagem de linhaça marrom como espessante de bebida láctea
consumidor ao comprar leites fermentados. achocolatada. 2019. 101 f. Dissertação- Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Ceará, 2019.

220
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Qualidade Microbiológica de Sorvetes e Picolés Comercializados na Cidade de Salvador – BA


Juliana Matos1, Joselene Nascimento2, Danilo Vilas Boas3, Francine Paz1, Clícia Leite4
1- Graduandos do Curso de Farmácia da Universidade Federal do Bahia – UFBA.
2- Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciência dos Alimentos (PGAli) da Universidade Federal do Bahia
– UFBA-.

3- Doutorando pelo Programa de Pós Graduação em Ciência dos Alimentos da Faculdade de Engenharia de
Alimentos da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
4- Professora Orientadora e Coordenadora do Laboratório de Microbiologia de Alimentos - Departamento de Análises
Bromatológicas – Universidade Federal do Bahia, Faculdade de Farmácia– Salvador – BA – Brasil, e-mail:
microali@ufba.br
Palavras chave: gelados comestíveis; coliformes a 45°C; segurança alimentar.
INTRODUÇÃO devidamente acondicionadas em caixas isotérmicas contendo gelo seco
(dióxido de carbono sólido) e encaminhadas ao Laboratório de
Sorvetes e picolés estão incluídos na categoria genérica de Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade
“gelados comestíveis”, os quais são definidos como produtos Federal da Bahia, onde foram submetidas à determinação do Número Mais
alimentícios obtidos a partir de uma emulsão de gorduras e proteínas, Provável (NMP) de coliformes a 45°C, pesquisa de Salmonella spp para os
com ou sem adição de outros ingredientes, sendo posteriormente produtos de base não láctea, além da contagem de Estafilococos coagulase-
submetidos ao congelamento (1). Com textura macia e sabor doce, os positiva para os produtos de base láctea. As análises microbiológicas foram
sorvetes e picolés tornaram-se produtos de consumo dominante para realizadas de acordo com a metodologia preconizada pelo American Public
grandes seguimentos da população, principalmente em países tropicais Health Association – APHA (8), usando como referência os parâmetros de
durante o verão. A Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de qualidade sugeridos pela RDC n° 12, de 2001, do Ministério da Saúde (7).
Sorvetes (ABIS), reportou que no ano de 2019, o consumo brasileiro de
sorvetes e gelados foi de 1.107 milhões de litros, demonstrando a
importância desse seguimento na economia (2). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os sorvetes e picolés são considerados relativamente seguros,
devido ao armazenamento em temperatura de congelamento. A figura 1 demonstra os resultados das análises realizadas nas
Entretanto, as baixas temperaturas não são suficientes para garantir a 83 amostras de sorvetes e picolés comercializadas na cidade de
inocuidade desses alimentos após o processamento, principalmente Salvador - BA. A avaliação das condições higiênico-sanitária revelou
para àqueles preparados de base láctea, pois as características que, do total de amostras analisadas, 19 (22,9%) apresentaram-se
bioquímicas do leite irão favorecer a contaminação (3). Para os impróprias para o consumo humano por apresentarem NMP para
produtos de base láctea, a pasteurização é um método comumente coliformes a 45°C acima dos limites estabelecidos pela RDC n° 12, de
empregado para inativar os microrganismos presentes e manter a 2001, do Ministério da Saúde (7).
qualidade do produto. Entretanto, esse processo pode também não ser
completamente eficaz quando forem usadas matérias-primas com Figura 1 – Porcentual de amostras aprovadas e reprovadas, em relação
elevado índice de contaminação. Daí a importância fundamental da as 83 amostras de sorvetes e picolés analisadas, comercializadas na
aquisição de matérias-primas de qualidade assegurada, para garantir a cidade de Salvador - BA
promoção da saúde do consumidor (4).
O consumo crescente desse tipo de produto vem se tornando
uma preocupação para a saúde pública, visto que o risco de
contaminação microbiológica pode acarretar Doenças Veiculadas por
Alimentos (DVA). Segundo dados epidemiológicos do Ministério da
Saúde, os gelados comestíveis apresentaram 0,4% na distribuição dos
alimentos incriminados em surtos de DVA entre 2009 e 2018 (5).
Apesar do baixo índice, a ocorrência de doenças nesse grupo pode
representar um risco a saúde do consumidor, sendo necessária a adoção
de boas práticas de fabricação e manipulação por parte das empresas
produtoras, além da fiscalização pelos órgãos públicos.
Os estabelecimentos produtores e industrializadores de
alimentos, devem atender a Portaria nº 326, de 30 de julho de 1997 que
estabelece os requisitos gerais de higiene e de boas práticas de
fabricação, a fim de evitar a contaminação durante o processamento e, De acordo com a tabela 1, das amostras reprovadas, 14
assim assegurar a qualidade e a inocuidade dos alimentos produzidos (16,87%) pertenciam ao grupo de sorvetes e picolés de base láctea e 05
para o consumo direto (6). Entretanto, para a investigação da qualidade (6,03%) de base não láctea. Quanto em relação à contagem de
higiênico-sanitária, a Resolução RDC n° 12, de 02 de janeiro de
Estafilococos coagulase positiva e pesquisa de Salmonella spp, as
2001que estabelece os parâmetros microbiológicos vigentes para
amostras estavam de acordo com a legislação vigente.
alimentos, determina para as amostras de gelados comestíveis os limites
de tolerância de 5x10 UFC/g-1 para coliformes a 45ºC/g-1 e ausência de Tabela 1 – Quantitativo e percentual de amostras de sorvete e picolés
Salmonella spp em 25g. Para os produtos de base láctea, além desses é analisadas e reprovadas entre janeiro de a dezembro de 2019.
acrescido o limite de 5x102 UFC/g-1 para Estafilococos coagulase
positiva/g (7). O presente estudo objetivou avaliar a qualidade
microbiológica de sorvetes e picolés comercializados na cidade de
Salvador, BA.

MATERIAL E MÉTODOS

Para este estudo, investigou-se a qualidade microbiológica de 83


amostras de sorvetes e picolés produzidos e comercializados na cidade de
Salvador – BA, no período de janeiro a dezembro de 2019. Dessa quantidade
ECP= Estafilococos coagulase positiva; 0- = não ocorrência; N/A = Não se aplica
total de amostras, 54 eram de base láctea e 29 de base não láctea. As amostras (analise não sugerida pela Legislação); NC = Percentual de não conformes
coletadas em suas embalagens originais foram

221
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Resultados encontrados nesta pesquisa assemelham-se aos Alimentos) - Universidade Federal Rural De
observados por Giacomini, Guerino e Nascimento (2015) (9), que utilizando Pernambuco, Pernambuco, 2019.
metodologia semelhante ao analisar 12 amostras de sorvetes produzidos em 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Foz do Iguaçu, Paraná, verificaram que três ( 25%) das amostras analisadas Dados Epidemiológicos – Surtos de Doenças Transmitidas por
apresentaram contaminação por coliformes a 45°C e uma (8,34%) Alimentos no Brasil período 2000 a junho 2018. Brasília:
apresentou contagens elevadas de S. aureus. O mesmo ocorreu em trabalho Ministério da Saúde, 2018.
realizado por Silva, Vidal & Rossi Júnior (2016) (10), que ao avaliarem 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 326 da Secretaria de
microrganismos indicadores em produtos derivados lácteos e sorvetes Vigilância Sanitária de 30 de julho de 1997. Aprova Regulamento
Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas
comercializados na região nordeste do Estado de São Paulo, observaram que
de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores
dos nove sorvetes analisados, três apresentaram contagens elevadas de
de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 ago. 1997.
coliformes a 45ºC acima do padrão permitido pela legislação vigente, 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 12 da Agência
indicando possíveis falhas no processamento ou utilização de matéria-prima Nacional de Vigilância Sanitária de 02 de janeiro de 2001.
de baixa qualidade. Dispõe sobre o Regulamento Técnico Sobre Padrões
Valores mais elevados de foram encontradas por Silva e Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial [da] República
Martins (2019) (11), em pesquisa realizada, na cidade de Frutal, Minas Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2001.
Gerais, que ao investigarem a qualidade microbiológica de 40 amostras 8. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALT
de sorvetes a base de leite, verificaram que 11 (27,5%) apresentaram ASSOCIATION.VANDERZANT. Compendium of Methods for the
coliformes a 45ºC, sete 17,5%) contagens elevadas para Estafilococos Microbiological Examination of foods. 4th ed. Washington: 2001.
coagulase positiva e uma (2,5%) apresentou Salmonella spp, o que 9. GIACOMINI, A.P.; GUERINO, A.C.; NASCIMENTO, I.A.
representa risco a saúde dos consumidores. Análise microbiológica de sorvetes produzidos em Foz do Iguaçu –
PR. SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.10, n. 3, p.3-8, 2015.
Veiga, Antonacio e Belmonte (2020) (12), avaliaram a
10. SILVA, H. O.; VIDAL, A. M. C.; ROSSI JUNIOR, O. D. Análise
qualidade microbiológica de 45 alimentos oriundos do comércio
de coliformes totais e termotolerantes em produtos derivados lácteos
ambulante de Alfenas, MG dos quais, 18 eram picolés (nove de base
e sorvetes. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA
láctea e 09 de base não láctea. No estudo, os autores observaram que as
AGROPECUÁRIA, AGRÍCOLA E AMBIENTAL, 1., 2016, Câmpus
amostras de picolé de base não láctea se mostraram adequadas para
de Jaboticabal. [Anais]. Câmpus de Jaboticabal, SP: Ciência &
consumo, segundo a legislação, enquanto que os picolés de base láctea
Tecnologia FATEC-JB, 2016.
apresentaram contagens elevadas para Estafilococos coagulase positiva,
mostrando-se impróprias para o consumo humano. 11. SILVA, M.F.O.; MARTINS, E.S. Qualidade microbiológica de
sorvetes comercializados em Frutal, Minas Gerais. Revista Verde, v
Pode-se inferir que contagens elevadas de coliformes a 45ºC,
14, n. 1, p. 128-133, 2019.
podem significar utilização de matéria prima contaminada ou
12. VEIGA, S.M.O.M; ANTONACIO, N.R; BELMONTE, M.G.
contaminação pós processamento, possivelmente devido à manipulação
Qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio
inadequada durante o preparo, deficiência na limpeza e higienização
ambulante e intervenção educativa. Braz. J. of Develop,
dos utensílios, possíveis falhas nas etapas de produção, ou abuso do
Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14979-14997, 2020.
tempo em temperaturas inadequados de conservação dessas
13. ORDÓÑEZ, J. A. et al. Tecnologia de alimentos: componentes dos
preparações, sendo portanto, parâmetro de avaliação de condições
alimentos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 13.
higiênico- sanitárias (12).
Além disso, a maior ocorrência de contaminação
microbiológica em alimentos de base láctea pode estar relacionada com
as características bioquímicas do leite, que apesar da composição ser
variável a depender da espécie, em âmbito geral, é um alimento com
alto teor de água, gordura, proteínas, carboidratos e vitaminas, o que o
torna um meio de cultura adequado para o desenvolvimento de
microrganismos (13).

CONCLUSÕES

A presença de coliformes a 45ºC, acima dos limites


estabelecidos pela legislação vigente, em 22,9% das amostras
analisadas demonstra a não adequações das boas práticas de fabricação
na produção de sorvetes e picolés comercializados na cidade de
Salvador – BA, oferecendo risco ao consumidor, devido a possível
presença de enteropatógenos causadores de doenças de origem
alimentar. Com isso, torna-se imprescindível adotar medidas higiênico-
sanitárias mais rigorosas, como a aquisição de matéria-prima de
qualidade, a intervenção no processo de produção, manipulação e
métodos de conservação do alimento e principalmente a capacitação
dos manipuladores desse tipo de preparação, a fim de controlar os
possíveis riscos potenciais à saúde do consumidor.

REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 266 da Agência


Nacional de Vigilância Sanitária de 22 de setembro de 2005.
Aprova o regulamento técnico para gelados comestíveis e
preparados para gelados comestíveis. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 23 set. 2005.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS E DO
SETOR DE SORVETES – ABIS. Série da Produção e Consumo
de Sorvetes no Brasil. Disponível em: < http://abis.com.br/wp-
content/uploads/2020/04/Produc%CC%A7a%CC%83o-e-Consumo-
de-2003-a-2019-com-Regional.pdf >. Acesso em: 10 maio 2020.
3. DE SOUZA, J.M. et al. Análise microbiológica dos sorvetes
self-service sabor chocolate da cidade de Sinop-MT. Demetra, v.
10, n. 4, p. 857-866, 2015.
4. LOPES, I.A. Construção de sistemas automatizados para
pasteurização de leite e produção de iogurte natural. 2019.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Engenharia de

222
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Microbiológica dos Utensílios Utilizados em Cozinhas e Restaurantes de Resorts


localizados no Litoral Norte Baiano
Juliana Matos1, Joselene Nascimento2, Danilo Vilas Boas3, Francine Paz1, Clícia Leite4

1- Graduandos do Curso de Farmácia da Universidade Federal do Bahia – UFBA


2- Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade
Federal do Bahia - UFBA
3- Doutorando pelo Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos
da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
4- Professora Orientadora e Coordenadora do Laboratório de Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Farmácia da
UFBA– Salvador – BA – Brasil, e-mail: microali@ufba.br

Palavras chave: superfícies de contato, coliformes totais, coliformes termotolerantes, boas práticas de manipulação.
INTRODUÇÃO utensílios utilizados nas cozinhas e restaurantes de hotéis cinco estrelas,
localizados no Litoral Norte Baiano.
O setor de turismo no Brasil apresentou crescimento
significativo nas últimas décadas, tendo recebido, apenas no ano de MATERIAL E MÉTODOS
2019, 97,1 milhões de turistas, o que representa uma alta da Neste estudo foram avaliadas 36 amostras de superfície de
movimentação de 1,8%, quando comparada ao ano anterior (1). Com utensílios como tigelas, pratos, taça, copos, xícara, talheres, bandeja,
isto, percebe-se o consequente aumento das atividades na rede hoteleira, tábua, entre outros, de dois hotéis resorts localizados no litoral Norte
com destaque para o estado da Bahia, importante polo turístico do país, Baiano, das quais, 21 foram provenientes do hotel A e 15 amostras do
reconhecido por sua diversidade cultural e gastronômica (2). No hotel B, durante o período de janeiro de 2020 a fevereiro de 202. As
entanto, juntamente com a expansão da demanda por estes serviços, amostras foram colhidas por meio de esfregaço com swab estéril na
cresce a preocupação com a oferta de alimentação segura aos hóspedes, superfície dos utensílios após serem higienizados. Os swabs foram
a qual deve ser garantida através da adoção das Boas Práticas de acondicionados em caixas isotérmicas contendo gelo reciclável e
Fabricação dos alimentos, seguindo como referência as disposições transportados para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da
estabelecidas pela Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, onde foram
que institui o Regulamento Técnico de Boas Práticas para os Serviços submetidas as análises de coliformes totais, coliformes termotolerantes
de Alimentação (3). e Escherichia coli segundo metodologia preconizada pelo APHA (10).
Durante a hospedagem, o café da manhã frequentemente Os resultados foram impressos como positivos e negativos para
representa a única refeição ofertada nos hotéis, com exceção daqueles contaminação microbiológica.
classificados como resorts, que oferecem qualidade de lazer e
entretenimento que mantém o hóspedes durante todo o dia e, RESULTADOS E DISCUSSÃO
obrigatoriamente, necessitam disponibilizar outros serviços de
refeições, restaurante e bar e opções de dietas especiais. Para tanto, as Do montante de amostras analisadas, conforme demonstrado
cozinhas institucionais funcionam como um local destinado ao preparo, na figura 1, detectou-se crescimento microbiano em duas (5,55%), os
armazenamento e distribuição dos alimentos que, durante o quais foram utensílios provenientes do hotel A.
processamento destes devem utilizar técnicas de higienização
adequadas e eficientes dos equipamentos e utensílios, devido ao Figura 1 - Quantitativo e percentual das amostras analisadas e positivas
potencial dos mesmos de abrigar e veicular microrganismos, que podem para contaminação microbiológica nas superfícies dos utensílios
se organizar em biofilmes e apresentar resistência para eliminação (4, obtidos entre janeiro e fevereiro de 2020.
5).
Diversos fatores podem contribuir para a contaminação
microbiológica dos utensílios, como o armazenamento incorreto dos
mesmos, a má qualidade das matérias-primas utilizadas, a higienização
inadequada das mãos dos manipuladores, que contribuem com a
ocorrência de contaminação cruzada durante as etapas de preparo.
Estes, representam os principais fatores relacionados aos casos de
surtos por Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) (6,7,8). De
acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Vigilância em
Saúde, foram notificados 771 casos de surtos por DVA no Brasil,
apenas no ano de 2019, dos quais 52,66% ocorreram fora das
residências, o que incluem os restaurantes dos hotéis (9).
Para evitar problemas desta natureza, os utensílios utilizados
em cozinhas institucionais devem ser lisos, fáceis de higienizar e Destas, uma foi o copo para água obtido no setor de lavagem
produzidos com material que dificulte a contaminação (3). Além disso, de louças, que apresentou coliformes totais, enquanto a outra, a xícara
os parâmetros de qualidade higiênico-sanitário são fundamentais, uma utilizada no buffet, na qual identificou-se coliformes totais e
vez que a ineficiência e a negligência em relação às normas termotolerantes (Tabela 1). Em nenhuma das amostras consideradas foi
estabelecidas, contribuem para a ocorrência das contaminações de verificada a presença de Escherichia coli.
origem alimentar. Portanto, a realização periódica de avaliações Os resultados obtidos evidenciaram a predisposição do sistema
microbiológicas das superfícies dos utensílios, capacitações da equipe de higienização, armazenamento e distribuição dos utensílios do hotel
quanto à manipulação e higienização correta destes utensílios e A, a ocorrência de falhas, com consequente contaminação
equipamentos, são fundamentais para impedir a ocorrência destes microbiológica onde, para o primeiro caso, pode-se inferir que a falha
eventos (2,5) estaria relacionada ao processo de lavagem, já que a amostra foi colhida
Atualmente não existem legislações brasileiras que de forma asséptica do utensílio recém higienizado. Já para o segundo,
estabeleçam parâmetros de referência com os níveis de contaminação deve-se considerar além da higienização ineficaz, a possível inserção
aceitáveis para avaliação microbiológica de equipamentos e utensílios microbiana por manipulação inadequada uma vez que, o utensílio
utilizados na produção e consumo de alimentos. Além disso, as encontrava-se exposto no buffet para utilização dos hóspedes.
recomendações internacionais para superfícies são voltadas apenas para A presença de bactérias do grupo dos coliformes nos utensílios
a pesquisa de microrganismos mesofilos aeróbios com valores de pode promover a contaminação dos alimentos prontos para consumos,
referência entre 2 UFC/cm2(10) e 50 UFC/cm2(11). Desta forma, o dispostos no serviço de buffet e, consequentemente, ocasionar DVA. Os
presente estudo objetivou avaliar a qualidade microbiológica dos coliformes correspondem ao grupo de bactérias, pertencente à família
Enterobactereacea, mais comumente utilizados na indústria alimentícia
para monitoramento de condições higiênico-sanitárias, uma vez que

223
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

uma alta contagem em alimentos que sofreram processamentos Litoral Norte Baiano apresentou microrganismos indicadores do grupo
térmicos é indicativo de condições de processamento insatisfatórias coliformes. Apesar do baixo percentual, foram evidenciadas possíveis
(12). Ainda que não tenha ocorrido no presente estudo, os coliformes falhas nas técnicas de lavagens e/ou armazenamento dos mesmos, com
termotolerantes podem ser indicativos da presença Escherichia coli, potencial risco de contaminação cruzada para os alimentos. É
que é uma bactéria predominantemente entérica e apresenta importante salientar a necessidade de utilização das técnicas adequadas
determinados grupos patogênicos, responsáveis por sintomas mais de lavagem e higienização de utensílios nos serviços de alimentação da
brandos como diarreia e dor abdominal (13). rede hoteleira, de forma a garantir a qualidade microbiológica dos
utensílios utilizados no preparo e consumo dos alimentos, visando o
Tabela 1 – Relação de utensílios analisados no período entre janeiro a bem-estar e a segurança dos hóspedes. Estes resultados enfatizam a
fevereiro de 2020, de acordo com local/setor de obtenção e resultados necessidade de treinamentos periódicos, de modo a possibilitar a
das análises dos microrganismos pesquisados. consolidação e aplicação das técnicas de boas práticas de fabricação e
manipulação de alimentos.

REFERÊNCIAS

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2019. Ministério do Turismo, Brasília, 27 de jan. 2020, 15:56.
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Food. Saf, v. 38, n. 6, p. e 12543, 2018.
6- LEITE, C. C.; GALIZA, A. M. O. Avaliação da contaminação
microbiológica de alimentos em serviço de hotelaria. Hig. aliment, v.
29, n. 242/243, p. 76-80, 2015.
7- GARAYOA, R.et al. Essential tools for food safety surveillance in
Resultados semelhantes foram encontrados em diferentes catering services: On-site inspections and control of high risk cross-
estudos, conduzidos em regiões distintas do país. Sales et al (2015) (14) contamination surfaces. Food Control, v. 75, p. 48-54, 2017.
determinaram a presença de coliformes totais e termotolerantes em 28 8- FRAGAS, M. G.; VIEIRA, C. R. W.; RAMOS, R. J. Esponjas
amostras de utensílios de servir provenientes de quatro restaurantes na utilizadas em cozinha hoteleira: contaminação e métodos de
cidade de Curitiba-PR, onde foi constatada a presença de coliformes desinfecção. Hig. aliment, p. 92-96, 2017.
totais (três restaurantes) e coliformes termotolerantes (um restaurante), 9- BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
resultado este superior ao do presente estudo. Da mesma forma, Dados Epidemiológicos – Surtos de Doenças Transmitidas por
Rodrigues et al (2018) (15) detectaram a presença de coliformes Alimentos no Brasil período 2000 a junho 2019. Brasília: Ministério
termotolerantes, em duas (8,34%) amostras de utensílios e superfícies da Saúde, 2019. Disponível em: http://www.saude.gov.br/saude-de-a-
de contato analisadas em um hotel no estado do Rio Grande do Sul, z/doencas-transmitidas-por-
evidenciando ineficiência no processo de sanitização dos mesmos que, alimentos#:~:text=%C3%89%20considerado%20surto%20de%20DT
após um período com aplicação de checklist, observou-se que houve A,normalmente%20em%20um%20mesmo%20local. Acesso em: 06
adequação dessas amostras anteriormente inaceitáveis. Uma análise jul. de 2020.
microbiológica para verificar a presença de coliformes termotolerantes 10. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALT
em superfícies de contato com alimentos também foi realizada para ASSOCIATION.VANDERZANT. Compendium of Methods for the
avaliar as condições sanitárias nos serviços de alimentação de dois Microbiological Examination of foods. 4th ed. Wahington: 2001.
hotéis localizados na cidade de Curitiba, no Paraná, onde não foi 11- LEVORATO, J. Referência microbiológica de swab para
observado crescimento microbiológico (16). Os dados encontrados no monitoramento de mãos e superfícies. Food Safety Brazil, São Paulo,
presente estudo são preocupantes, pois o contato direto de utensílios 23 jun. 2024. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/referencia-
contaminados com os alimentos, pode proporcionar o risco de causar microbiologica-de-swab-para-monitoramento-de-maos-e-superficies/.
contaminação cruzada (15) e possíveis surtos de DVA. Dessa forma, Acesso em 13 de jul. 2020.
vários autores enfatizam a importância da adequação das Boas Práticas 12- FOOD STANDDARDS AUSTRALIA NEW ZEALAND –
em área de preparação de alimentos e bebidas levando-se em FSANZ. Compendium of Microbiological Criteria for Food. 2016.
consideração a participação dos profissionais envolvidos em todas as Disponível em:
etapas de atendimento aos hóspedes. Rebouças et al (2017) observaram, <https://www.foodstandards.gov.au/publications/Documents/Compedi
em um estudo, o nível de conhecimento, atitude e práticas de um%20of%20Microbiological%20Criteria/Compendium%20of%20M
manipuladores de alimentos, chefes de cozinha e gerentes de icrobiological%20Criteria.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2020
restaurantes de hotéis na cidade de Salvador - BA, quanto a importância 13- FOOD AND DRUG ADMINISTRATION – FDA. Bad bug book.
da segurança dos alimentos no ambiente hoteleiro. Os autores Handbook of foodborne pathogenic microorganisms and natural
observaram que apesar de receberem treinamentos, uma porcentagem toxins (2nd ed.). 2012. Disponível em: <
significativa dos profissionais ainda desconheciam as legislações de https://www.fda.gov/media/83271/download> Acesso em 19 jul. 2020.
Boas Práticas adotadas em restaurantes. Por este motivo, Rodrigues et 14- SALES et al. (2015). Determinação microbiológica de coliformes
al (2018) e Santos et al (2016) enfatizam que a implementação de totais e termotolerantes em utensílios de servir em restaurantes. Hig.
checklists baseados na legislação vigente, junto com o monitoramento aliment, v. 29, n. 242/243, p. 242-243, 2015.
profissional constituem estratégias interessantes e eficazes para 15-RODRIGUES, A.O. et al. Good hygienic practices and
controlar as condições higiênico-sanitárias em áreas de alimentos e identification of contamination sources in hotel food and beverage
bebidas de hotéis (15,16). sector. Food Sci. Technol, v. 38, p. 154-159, 2018.
16- SANTOS, B.N. et al. Diagnóstico e adequação das Boas Práticas
CONCLUSÕES em área de alimentos e bebidas de hotéis: aspectos relacionados à
Os resultados mostraram que 5,55% das superfícies dos higiene pessoal e ambiental. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 75, p. 1699,
utensílios higienizados provenientes de um dos hotéis localizados no 2016.

224
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de pão hambúrguer utilizando farinha mista de trigo e arroz enriquecida com
beterraba

André Souza1, Socorro Angelim1, Juliano Silva1, Amanda Leal2, Juliana Costa3, Luciana Marques4

1
Graduando (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
3
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, julianacosta31@gmail.com
4
Professora Doutora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.

Palavras-chave: Panificação; Análise sensorial; Farinha de vegetais.

INTRODUÇÃO

O pão é o produto obtido pela cocção de uma massa fermentada ou não,


preparada com farinha de trigo e/ou outras farinhas, que contenham Tabela 1. Formulação das amostras de pão hambúrguer com farinha
naturalmente ou adicionadas, proteínas formadoras de glúten e água, mista de trigo, arroz e beterraba
podendo conter outros ingredientes [1]. O pão é considerado uma das
principais fontes calóricas da dieta do brasileiro, devido seu sabor Ingredientes Amostras
agradável, aparência, aroma, preço e disponibilidade, é um produto de A B
grande aceitação por todas as faixas etárias [2;3]. Por apresentar alto Farinha de trigo (g) 125 50
consumo, o pão pode ser adicionado de alguns tipos de resíduos da Farinha de arroz (g) 125 200
indústria alimentícia, em substituição parcial ou total a farinha de trigo, Beterraba in natura (g) 10 -
principalmente aqueles ricos em fibras e proteínas, com a finalidade de Beterraba em pó (g) - 10
melhorar sua composição nutricional e as características sensoriais Leite em pó (g) 7,5 7,5
como, por exemplo, a cor e textura [3].
Açúcar (g) 22,5 22,5
Em substituição à farinha de trigo, uma alternativa é a utilização de
Fermento biológico (g) 10 10
cereais isentos de glúten, como é o caso da farinha de arroz. A farinha
de arroz, obtida através da moagem dos grãos polidos inteiros ou dos Manteiga (g) 30 60
quebrados oriundos do processo de beneficiamento industrial do arroz, Sal (g) 6 6
pode ser considerada uma boa fonte de fibras alimentares, com grande Agua (mL) 100 100
capacidade de absorção de água, fácil digestão, muito nutritiva, gosto Azeite (mL) 7,5 15
suave e uma ótima fonte de energia, sendo uma diversificação para os
produtos de panificação [4;5]. A farinha de arroz tem sido bem Para a elaboração das amostras iniciou-se com a homogeneização da
caracterizada para a produção de pão sem glúten e outros produtos à farinha de trigo, farinha de arroz, leite em pó, açúcar, levedura e sal, em
base de arroz por diversas razões, uma delas é o baixo custo, por ser um seguida foram umedecidos com o azeite extra virgem, margarina e a
subproduto do arroz [1]. Outras farinhas elaboradas a partir de vegetais beterraba (in natura ou em pó), que anteriormente foi preparada através
como beterraba, cenoura e espinafre, podem ser usadas na substituição da homogeneização no liquidificador com 100 ml de água. Após a
parcial da farinha de trigo para que se torne uma alternativa na completa dissolução dos ingredientes a mistura foi sovada
elaboração de pães, massas e bolos e, principalmente, como fonte manualmente até a obtenção de uma massa homogênea, lisa e que
enriquecedora de nutrientes e vitaminas [6]. A beterraba é uma desprendia das mãos. Posteriormente, as massas foram acondicionadas
hortaliça cultivada no mundo inteiro, muito utilizada em saladas, sucos, em formas onde permaneceram em repouso por 1 hora para o processo
é uma fonte de elevadas quantidades de compostos bioativos e de fermentação. Após este intervalo, a massa foi confeccionada para no
antioxidantes, vitaminas A, B1, B2, B5, C e minerais como potássio, formato tradicional como é conhecido o pão hambúrguer, com
sódio, fósforo, cálcio, zinco, ferro e manganês, além de pectina, aproximadamente 25g, nesta etapa ocorreu à extração de ar da massa e
celulose e hemicelulose, que são boas fontes de fibras dietéticas, que em seguida a mistura permaneceu em descanso por mais 30min para a
podem proporcionar efeitos benéficos à saúde [6;7;8] Na tentativa de se completa fermentação. Por fim, as amostras foram levadas ao forno a
elevar o consumo de nutrientes presentes em vegetais, assim como o 180º C por 40 minutos e em seguida resfriadas naturalmente até o
aproveitamento de resíduos, várias alternativas têm sido propostas, momento dos testes sensoriais.
como o emprego de novos ingredientes em alimentos tradicionais, As amostras foram submetidas à análise sensorial, na qual foi realizada
como é o caso do pão [2]. com 80 provadores não treinados, de ambos os sexos, com idade de 18
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi elaborar um pão a 65 anos, e escolhidos de forma aleatória entre alunos e servidores do
hambúrguer à base de farinha de arroz e beterraba como substituição Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sertão
parcial da farinha de trigo e avaliar sensorialmente a sua aceitação. Pernambucano. No inicio dos testes, foi dada orientação prévia para o
preenchimento das fichas do teste de aceitação e familiarização dos
MATERIAIS E MÉTODOS provadores com a análise a ser realizada. Para cada provador foram
servidos de forma monádica uma amostra de pão de aproximadamente
Elaboração dos pães 2 cm2 cada, em copos plásticos codificados com números aleatórios de
três dígitos, à temperatura ambiente (25 ± 2 °C) e água mineral para a
As amostras de pães foram produzidas seguindo as quantidades limpeza do palato entre as amostras. Foram realizados os testes de
descritas na Tabela 1. Todos os ingredientes foram adquiridos no aceitação sensorial para a avaliação dos atributos de cor, sabor textura,
comércio local da cidade de Salgueiro-PE. Foram desenvolvidas duas aroma e aceitação global, por meio de uma escala hedônica estruturada
formulações de pão à base de farinha de trigo, arroz e beterraba, sendo de 9 pontos, no qual 1 indica “desgostei extremamente” e 9 “gostei
a amostra A, formulada com proporção de 50% farinha de trigo e 50% extremamente” [9]. Também foi realizado o teste de intenção de
de farinha de arroz com adição de beterraba in natura e a amostra B, compra, através da escala variando de 1 a 5 sendo: 1 indicando
com maior porcentagem de farinha de arroz (80%) e o uso de farinha “certamente não compraria” e 5 “certamente compraria” [10]. Os
de beterraba em pó comercial. Ambas foram elaboradas por meio de resultados foram analisados estatisticamente no programa
pré-testes, adaptados a partir de uma formulação de pão de hambúrguer computacional SASM-Agri versão Beta. Foi aplicado um delineamento
tradicional e artigos científicos da literatura. inteiramente casualisado (DIC) simples, com análise de variância
(ANOVA) e teste de Tukey para análise dos dados experimentais.

225
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

REFERÊNCIAS
RESULTADOS E DISCUSSÂO
1. FRANCO, V. A. Desenvolvimento de pão sem glúten com farinha
Participaram dos testes 80 provadores sendo 68,7% do sexo feminino e de arroz e de batata-doce. Dissertação apresentada à Coordenação do
31,3% do sexo masculino, sendo a maioria (85%) universitários com Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos
idades até 30 anos. Os provadores indicaram que consumiam pão da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás,
diariamente (56,7%), uma vez por semana (23,5%), quinzenalmente 2015,129f.
(15%) e uma vez por mês (4,8%). O resultado do teste de aceitação
sensorial dos pães de hambúrguer a base de farinha de trigo e arroz 2. OLIVEIRA, D. A. S. B.; MÜLLER, P. S.; FRANCO, T. S.;
enriquecido com beterraba podem ser observados na tabela 2. KOTOVICZ, V.; WASZCZYNSKYJ, N.. Avaliação da qualidade de
pão com adição de farinha e purê da banana verde. Ver. Bras. de
Tabela 2 – Resultado do teste de aceitação dos pães de hambúrguer a Frutic., 37(3), 699-707. 2015.
base de farinha de trigo e arroz enriquecido com beterraba
3. MAIA, J.D.; BARROS, M. O. ; CUNHA, V. C. M.; SANTOS, G.
Intenção R.; CONSTANT, P. B. L.. Estudo da aceitabilidade do pão de forma
Aceitação
Amostra Cor Sabor Textura Aroma de enriquecido com farinha de resíduo da polpa de coco. Rev. Bras.
global
compra Prod. Agroind. 17(1), 1-9, 2015.

A 7,04ª 6,62 ª 7,10 ª 6,30ª 6,94 ª 3,98 ª 4. GRAÇA, C. S.; BARBOSA, J. B.; SOUZA, M. Z.; MOREIRA, A.
b S., LUVIELMO, M. M.; MELLADO, M. D. M. S. Adição de
B 7,02ª 6,54 ª 6,46 6,28 ª 6,90 ª 3,80 ª
colágeno em pão sem glúten elaborado com farinha de arroz. Braz. J.
a, b
Médias seguidas por pelo menos uma letra igual na mesma coluna, Food Technol. 20, e2016105, 2017
não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey. 5. MORO, J. Composição Centesimal e Composição Antioxidante do
Farelo de Arroz e Seus Benefícios a Saúde. Trabalho final de
Os resultados mostraram que as amostras foram iguais estatisticamente graduação acadêmico do curso de nutrição UNIFRA, Santa Maria
(p˃0,05) para os atributos avaliados, exceto para a textura, em que a 2004.
amostra A obteve maior média de aceitação, diferenciando
significativamente (p≤0,05) da amostra B (Tabela2).Alguns provadores 6. PIRES, P. S.; QUADROS, G. S. L.; GADELHA, G. G. P.
comentaram que esta amostra apresentava-se mais úmida e fofa, em Desenvolvimento e caracterização de pão sem glúten à base de
comparação com a amostra B, esta foi caracterizada como crocante. farinha de vegetais. E-xacta, Belo Horizonte, 11 (1), 85-95, 2018.
Esse resultado deve-se a adição da beterraba in natura que
proporcionou uma textura um pouco mais úmida e macia favorecendo 7. CHHIKARA, N., KUSHWAHA, K., SHARMA, P., GAT, Y., &
sua aceitação. Este atributo de textura para produtos como o pão indica PANGHALA, A. Bioactive compounds of beetroot and utilization in
frescor e qualidade, tornando-se um fator indispensável para que o food processing industry: A critical review. Food Chem. 272, 192-
consumidor defina a aceitabilidade do produto no mercado [8]. Os 200, 2019.
demais atributos apresentaram médias que correspondem na escala
hedônica aos termos “gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”. 8. GAYARDO, M.; COLLING, S. S.; ENSINA, T. C.S.
O que pode inferir que mesmo com maior proporção de farinha de Desenvolvimento de pães bisnaguinhas com substituição de farinha
arroz, a amostra obteve as principais características do pão elaborado de trigo por farinha de beterraba, isento de gordura hidrogenada com
apenas com farinha de trigo. Em um trabalho publicado os autores [11] adição de estermid®. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso.
desenvolveram pão integral de beterraba enriquecido com a farinha dos Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
talos de beterraba e obtiveram médias de aceitação sensorial entre 7,94
e 8,78, portanto, com boa aceitação pelos provadores. Para os autores o 9. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
uso dessas farinhas em receitas padrões de pães proporciona o New York: Academic Press. 2004.
aproveitamento integral do alimento, diminuindo assim o desperdício.
Outros autores [4] avaliaram sensorialmente pães sem glúten, 10. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
elaborados com farinha de arroz e obtiveram aceitação sensorial ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010
superior a 75%, sendo o pão com adição de colágeno em fibra com
melhores características próximas do pão tradicional.
O resultado do teste de intenção de compra dos pães hambúrguer a base 11. SOUZA, M. M. P.; MATTANNA, P. Desenvolvimento de
de farinha de trigo e arroz enriquecido com beterraba mostrou que não produtos enriquecidos com farinha de talos de beterraba. Biociências,
houve diferença significativa (p˃0,05) entre as duas amostras, com Biotecnologia e Saúde, 20, 16-26, 2019.
médias correspondendo aos termos “comeria ocasionalmente” e
“comeria frequentemente”. Estes resultados corroboram com as médias
de aceitação para os demais atributos, demonstrando a aceitabilidade do
produto elaborado.

CONCLUSÃO

O pão de hambúrguer elaborado com farinha mista de trigo e arroz


enriquecido com beterraba atendeu as expectativas propostas neste
estudo, o qual o produto obteve resultados satisfatórios em relação a
todos os atributos analisados independente da formulação, não sendo
observada diferença expressiva entre as amostras, demonstrando a alta
aceitabilidade do pão pelos consumidores, mostrando-se uma
alternativa para a elaboração de diversos produtos da panificação.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Sertão Pernambucano, campus Salgueiro pela
disponibilidade de realizar o trabalho.

226
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Características Físico-químicas dos Frutos de Maracujá-roxo Cultivados em Sistema


Convencional e Orgânico

Leirson Rodrigues da Silva1*, Ana Rosa de Figueiredo1, Milena Maria Tomaz de Oliveira2, Thayane Rabelo Braga
Farias3, Raul Castro Carriello Rosa4, Lilia Aparecida Salgado de Morais4
1
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará
4
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: rodriguesleirson@yahoo.com.br
Palavras-chave: Passiflora edulis Sims, Qualidade, Pós-colheita.
INTRODUÇÃO O rendimento das partes constituintes dos frutos de maracujá-roxo
O maracujá-roxo (Passiflora edulis Sims) é uma frutífera em cultivos convencional e orgânico é apresentada na Tabela 1.
pertencente à família Passifloraceae. Originária da América Tropical, a
espécie tem sido relatada como de grande expressão socioeconômica no Tabela 1. Rendimento das partes constituintes dos frutos de maracujá-
mundo. Aproximadamente 1,5 milhões de toneladas do fruto foram roxo em cultivos convencional e orgânico.
produzidos no mundo em 2017, destacando como países de maior Constituição percentual
produção o Brasil, Indonésia e Colômbia. Neste contexto, o Brasil tem Partes dos Frutos
se destacado como o maior produtor mundial, com produção de 1 Convencional Orgânico
milhão de toneladas em 2017 (1,2,3). A região Nordeste é responsável
pela maior produção dos frutos de maracujá no país (4). Polpa 39,52±2,64 36,20±2,54
Os frutos de maracujá-roxo são do tipo ovóides, apresentando
grandes variações no comprimento e largura. A cor da casca é Casca 50,96±2,80 54,06±3,71
totalmente arroxeada e a da polpa amarela escura. Entre as espécies de
maracujá cultivadas no Brasil, encontra-se o maracujá-roxo, com Semente 9,52±3,49 9,74±5,29
produção de frutos que podem ser aproveitados como alimento. A *Valores médios ± desvios-padrões determinados com base na
principal forma de comercialização do maracujá é como suco, sendo as média de 20 frutos.
cascas e sementes, resultantes de seu processamento, os principais
subprodutos. Pode-se observar que a produção de polpa não é muito alta, pois a
As características de alto rendimento em polpa, elevado teor de casca representa um valor acima de 50% dos frutos em ambos os
sólidos solúveis e de compostos bioativos presentes no fruto, são bem sistemas de cultivo. Trabalhos têm sido realizados quanto ao
importantes, principalmente pela contribuição dos efeitos benéficos que rendimento em polpa de frutos de maracujá (12,13). O valor médio
estes podem proporcionar a saúde humana e estarem relacionados à encontrado neste estudo para o rendimento em polpa foi considerado
redução do risco e desenvolvimento de doenças. adequado para o consumo in natura e indústria. O rendimento de polpa
Diversos estudos para determinação da composição nutricional e considerado como adequados tanto para o consumo in natura como
bioativa em espécies de maracujá cultivadas em diferentes sistemas de para agroindústria em frutos de maracujá deve ser superior a 50% (14).
cultivo têm sido relatados nos últimos anos (5,6,7). A composição físico-química da polpa dos frutos de maracujá-roxo
O estudo de maracujá-roxo torna-se interessante devido à em cultivos convencional e orgânico é apresentada na Tabela 2.
inexistência de informações literárias sobre os atributos de qualidade à Tabela 2. Características físico-químicas dos frutos de maracuja-roxo
comercialização e utilização da polpa deste fruto na elaboração de em cultivos convencional e orgânico.
produtos industrializados. Sendo assim, o presente trabalho teve por
objetivo determinar as características físico-químicas dos frutos de Características Físico-químicas
maracujá-roxo sob manejo convencional e orgânico. Frutos
AT2
SS1 (°Brix) SS/AT3 pH4 AA5
MATERIAL E MÉTODOS (%)
Foram utilizados frutos de maracujá-roxo provenientes de sistema 13,86 4,62 2,99 2,46 67,08
Convencional
de cultivo convencional e orgânico. Os frutos para estudo foram ±0,04a ±0,01a ±0,01a ±0,04b ±1,27a
coletados na Estação Experimental Fazendinha Agroecológica 12,93 4,43 2,94 2,66 61,85
localizada em Seropédica - RJ (Latitude: -22.7414, Longitude: - Orgânico
±0,04b ±0,02b ±0,03a ±0,04a ±2,46b
43.7053; 22°44’29’’ Sul, 43°42’19’’ Oeste) e altitude em torno de 26 m.
O clima, segundo Köppen, é do tipo Aw, com verões chuvosos e Médias ± desvios-padrões; 1SS = Sólidos solúveis; 2AT = Acidez
titulável; 3SS/AT; 4pH; 5AA = Ácido ascórbico. As médias seguidas da
invernos secos. As médias mensais da temperatura mais baixa e alta são
mesma letra nas colunas não diferem, de acordo com o teste de Tukey,
20º e 29ºC, respectivamente, com precipitação anual em torno de 1.250
mm (8). ao nível de 5% de probabilidade.
Os frutos foram colhidos em estádio de maturação comercial A caracterização físico-química dos frutos de maracujá-roxo
(maduro) nas primeiras horas do dia. Em seguida, selecionados, avaliados neste estudo permitiu verificar que os valores médios obtidos
embalados em sacos plásticos e encaminhados ao Laboratório de foram condizentes aos encontrados em pesquisas relacionadas a
Alimentos e Bebidas (LAAB) em Seropédica-RJ. Para as avaliações espécies de maracujazeiros em diferentes sistemas de cultivo
físicas foram tomados vinte frutos e realizadas mensurações individuais (14,15,16,17). O conhecimento das características físico-químicas dos
para cada fruto estudado. Em seguida, foi realizado o processamento da frutos é de suma importância, visando o potencial e o correto
polpa por meio de multiprocessador WALITA®, estabelecendo três direcionamento dos mesmos (18).
repetições para a caracterização dos frutos. Os frutos foram analisados A variabilidade de resultados encontrados em diversas pesquisas
quanto a: rendimento das partes constituintes dos frutos (%), sólidos realizadas com frutos de maracujás e em diferentes sistemas de cultivo
solúveis (°Brix) (9), acidez titulável (% de ácido cítrico) (9), SS/AT (9), podem ser explicadas por inúmeros fatores influenciáveis na sua
pH (9) e teor de ácido ascórbico (mg/100 g) (10). composição e qualidade, podendo citar a época de produção,
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e variabilidade genética da espécie, estádio de maturação na colheita,
as médias dos dados foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de dentre outros (19,20).
probabilidade. As análises foram realizadas pelo sistema de análise de
variância de programa computacional - SISVAR (11). CONCLUSÃO
Os frutos de maracujá-roxo possuem alto valor nutricional,
RESULTADOS E DISCUSSÃO provando ser um produto promissor, principalmente por conter

227
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

quantidades significativas de ácido ascórbico e sólidos solúveis em GENOVESE, M. I.; PINTO, M. S.; GONÇALVES, A. E. S. S.;
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colheita sobre as características dos frutos e do suco de maracujá-
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228
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Compostos Bioativos e Capacidade Antioxidante das Folhas de Louro (Laurus nobilis L.)
Leirson Rodrigues da Silva1*, Ana Rosa de Figueiredo1, Milena Maria Tomaz de Oliveira2, Thayane Rabelo Braga
Farias3, Raul Castro Carriello Rosa4, Lilia Aparecida Salgado de Morais4
1
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará
4
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: rodriguesleirson@yahoo.com.br
Palavras-chave: Qualidade, Ácido ascórbico, Pós-colheita.
INTRODUÇÃO
O louro (Laurus nobilis L.) é uma árvore perenifólia pertencente à Compostos Bioativos *Valores
família Lauraceae. Originária do mediterrâneo, a espécie apresenta
importância socioeconômica pela produção de folhas muito utilizadas
como aromatizantes na culinária em forma de tempero (1,2) e outros Ácido ascórbico (mg/100 g) 141,83±3,57
fins. Apesar do amplo uso, o cultivo desta espécie ainda se restringe a
Carotenoides totais (mg/100 g) 8,91±0,05
pequenos terrenos, não sendo por sua vez as plantas cultivadas em larga
escala (2). Clorofila total (mg/100 g) 140,09±0,03
As folhas de louro são simples e coriáceas, com coloração verde-
escuras e bem aromáticas. A espécie tem sido relatada como fonte Flavonoides amarelos (mg/100 g) 89,97±1,30
valiosa de inúmeros compostos bioativos com propriedades medicinais.
Além disto, os óleos essenciais extraídos das folhas apresentam Antocianinas totais (mg/100 g) 21,88±1,19
atividades biológicas diversas, como a atividade espasmódica (3).
A quantificação de compostos com propriedades funcionais a partir Polifenóis extraíveis totais (mg GAE/100 g) 129,88±0,04
das folhas de louro são importantes para o melhor conhecimento do seu *Valores médios ± desvios padrão da média de determinações em
valor nutricional e bioativo, e do ponto de vista comercial agregar valor triplicata.
e qualidade ao produto final. Pesquisas já realizadas em diferentes
espécies de louro elucidam que muitos destes compostos bioativos As folhas de louro apresentaram teores médios de ácido ascórbico
encontrados funcionam como agentes antioxidantes e têm recebido de 141,83 mg/100 g, carotenoides totais de 8,91 mg/100 g, clorofila
grande atenção, pois auxiliam na proteção do organismo humano contra total de 140,09 mg/100 g, flavonoides amarelos de 89,97 mg/100 g,
o estresse oxidativo, reduzindo por sua vez uma série de doenças. antocianinas totais de 21,88 mg/100 g e polifenóis extraíveis totais de
Considerando a relevância desta espécie e as poucas pesquisas no 129,88 mg/100 g, com destaque para os elevados teores de ácido
âmbito nacional, faz-se necessária a avaliação da composição bioativa ascórbico, clorofila total e polifenóis extraíveis totais, respectivamente.
das folhas de louro provenientes de Paty do Alferes - RJ, a fim de Alguns estudos têm sido realizados quanto a composição bioativa
quantificar particularidades a respeito da composição detalhada, das folhas em diferentes espécies de louro, alcançando resultados bem
assegurando seu potencial de utilização. satisfatórios (13,14). Os vegetais, apresentam em sua constituição
vários compostos com ação antioxidante, os quais incluem a vitamina
MATERIAL E MÉTODOS C, carotenoides e polifenóis. A quantidade e o perfil destes fitoquímicos
Foram utilizadas folhas de louro provenientes de sistema de cultivo variam em função do tipo, variedade e grau de maturação bem como
orgânico. As folhas de louro para estudo foram coletadas de das condições edafoclimáticas do cultivo (15,16).
propriedade familiar em Paty do Alferes - RJ (Latitude: -22.4144, A capacidade antioxidante das folhas de louro provenientes de
Longitude: -43.4226; 22°25’10’’ Sul, 43°25’21’’ Oeste) e altitude em Paty do Alferes - RJ é apresentada na Tabela 2.
torno de 624 m. O clima, segundo Köppen, é do tipo Cfa (clima Tabela 2. Capacidade antioxidante das folhas de louro provenientes de
subtropical úmido). A temperatura média é de 20ºC, com precipitação Paty do Alferes, RJ.
média anual em torno de 1.637 mm.
As folhas de louro foram colhidas diretamente na copa das plantas, Capacidade antioxidante *Valores
tomando-se como índice de colheita a coloração da folha (verde-escura)
e sem a presença de injúrias ou sinais de senescência. Em seguida, DPPH (μmol TE/100 g) 2282,04±0,02
selecionadas, embaladas em sacos plásticos e encaminhadas ao
Laboratório de Alimentos e Bebidas (LAAB) em Seropédica - RJ, onde
foram secas em estufa e transformadas em pó para posteriores análises. FRAP (μmol TE/100 g) 1270,54±0,04
Foram avaliados os seguintes compostos bioativos das folhas de *Valores médios ± desvios padrão da média de determinações
louro: ácido ascórbico (4) e os resultados expressos em mg/100 g; em triplicata.
carotenoides totais (5) e os resultados expressos em mg/100 g; clorofila
total (6,7) e os resultados expressos em mg/100 g; flavonoides amarelos Para a capacidade antioxidante a determinação pelo método
e antocianinas totais (8) e os resultados expressos em mg/100 g e DPPH obteve o maior valor médio que foi de 2282,04 μmol TE/100 g.
polifenóis extraíveis totais, com modificações (9) e os resultados Um estudo foi realizado por (15) avaliando a capacidade antioxidante
expressos em mg GAE/100 g. A capacidade antioxidante foi realizada das folhas de louro provenientes do Marrocos, utilizando os métodos
pelos métodos (10,11) e os resultados expressos em μmol TE/100 g. DPPH e FRAP. Esses resultados corroboram com os obtidos em outros
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) estudos. Segundo (11) a capacidade antioxidante pode ser devida ao
com obtenção dos valores médios e desvios-padrões das folhas de louro. teor de compostos fenólicos presentes em produtos vegetais, como as
As análises foram realizadas em triplicata. Utilizou-se o programa folhas.
computacional – SISVAR (12). Os dados comparativos da capacidade antioxidante pelo métodos
DPPH e FRAP, nesse estudo são de grande importância, pois é desejável
RESULTADOS E DISCUSSÃO não apenas a partir do ponto de vista acadêmico, mas também de
A composição bioativa das folhas de louro provenientes de Paty do interesse dos produtores e consumidores de produtos vegetais (17). Foi
Alferes - RJ é apresentada na Tabela 1. possível observar no referido estudo que a espécie pode ser considerada
fonte rica de compostos com propriedades nutricionais e funcionais,
Tabela 1. Composição bioativa das folhas de louro provenientes de mesmo assim mais estudos são necessários para ampliar o
Paty do Alferes, RJ. conhecimento cientifico da espécie e assim obter informações mais
detalhadas a respeito dos valores bioativos das folhas de louro, gerando

229
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

um incentivo ao consumo de um alimento de fonte natural e saudável, bay laurel (Laurus nobilis Linnaeus (Lauraceae) from Portugal. Nat.
de baixo custo e que possa garantir beneficios voltados à promoção da Prod. Res. 26, 6, 518-529, 2012.
saúde.
LEONG, L. P.; SHUI, G. An investigation of antioxidant capacity of
CONCLUSÃO fruits in Singapore markets. Food Chem. 76, 1, 69-75, 2002.
As folhas de louro demonstraram ser de boa qualidade para o
consumo in natura, principalmente porque contém quantidades MELO, E. A.; MACIEL, M. I. S.; LIMA, V. L. A. G. Capacidade
significativas de ácido ascórbico, clorofila total e polifenóis extraíveis antioxidante de hortaliças usualmente consumidas. Ciên. Tecn. Alim.
totais, o que é de grande importância para o setor agroindustrial e 26, 3, 639- 644, 2006.
quando voltados a promover benefícios à saúde humana.
BOMFIM, M. P.; LIMA, G. P. P.; VIANELO, F.; SÃO JOSÉ, A. R.
AGRADECIMENTOS Caracterização dos compostos bioativos em frutas e hortaliças
Os autores agradecem à UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e CAPES adquiridas no comércio de Padova - Itália. Rev. Iber. Tecn. Postc. 18, 2,
pelo apoio e suporte financeiro na execução do presente trabalho. 1-13, 2017.
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230
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial de Frutas Estruturadas de Manga com Cajá Desenvolvidas com Diferentes
Hidrocoloides

Amanda Rodrigues Leal1, Juliana Nascimento da Costa2, Tereza Carlas da N. A. Garcez3, Paulo Henrique Machado de
Sousa4
1
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, amanda.lleal@hotmail.com;
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Economista Doméstica, Universidade Federal do Ceará;
4
Professor Doutor no Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: géis de frutas; goma gelana; ágar; frutas tropicais.

INTRODUÇÃO uma escala estruturada de cinco pontos, com 1 significando a pontuação de


valor mínimo (“certamente não comeria”) e 5 a pontuação de valor máximo
Atualmente, observa-se crescente conscientização das pessoas quanto aos (“certamente comeria”).
riscos ocasionados por maus hábitos alimentares, o que tem resultado em Os dados foram tratados com auxílio do programa XLSTAT, versão 0.7.
uma maior preocupação com a alimentação (1). Com base nisso, muitos
estudos com foco em alimentos naturais vêm sendo desenvolvidos com RESULTADOS E DISCUSSÃO
base em suas propriedades funcionais, objetivando melhoraria da
qualidade de vida e saúde dos consumidores (2; 3; 4; 5). Os resultados para o teste de aceitação das formulações de fruta
Frutas estruturadas são produtos resultantes da concentração de polpa de estruturada de manga com cajá encontram-se na Figura 1. As notas para
frutas e adição de algum agente texturizante (hidrocoloides), sendo uma a cor ficaram entre 6 (gostei ligeiramente) e 8 (gostei muito). E, as médias
alternativa para a redução do desperdício de frutas, proporcionando o correspondentes aos parâmetros textura, sabor e impressão global situaram-se
aumento da vida útil desses alimentos e mantendo sua qualidade sensorial, entre 5 (não gostei nem desgostei) e 7 (gostei moderadamente). As amostras
nutricional e microbiológica por um período de tempo maior (6). contendo os diferentes hidrocoloides não diferiram em nenhum
A goma gelana e o ágar são hidrocoloides que podem ser utilizados para a parâmetro avaliado. Dessa forma, observa-se que os estruturados mistos
estruturação de frutas. A goma gelana é um polissacarídeo resultante da de manga com cajá foram bem aceitos pelos provadores, apesar de,
fermentação dos microrganismos Sphingomonas elodea (7; 8). Essa goma alguns atributos, estarem na zona da indiferença (nota 5). Essas notas
está disponível em baixa acilação – low acyl (LA) e em alta acilação – high mais baixas podem ter sido ocasionadas por conta da falta de açúcar
acyl (HA). A goma gelana LA não possui os grupamentos acila em sua no produto, uma vez que alguns provadores relataram que as amostras eram
estrutura, formando géis fortes, duros e quebradiços; ao passo que a goma “azedas”, sem açúcar ou sem sabor.
gelana HA origina géis fracos, macios e elásticos por conta da presença Addai et al. (12) fez couros de fruta elaborados com polpa de mamão,
desses grupamentos (9). Por sua vez, o ágar é um polissacarídeo constituinte mel, ácido cítrico e pectina, os quais foram submetidos à secagem. Este
estrutural da parede celular de algas vermelhas (Rhodophyceae) e podem produto teve uma boa aceitação, em que a média obtida para impressão
formar géis fortes que são sujeitos à alta sinérese por conta da forte global e para sabor ficou entre 5 e 6, que na escala hedônica de 7 pontos
agregação de suas moléculas (10). corresponde aos termos “gostei” e “gostei muito”, respectivamente. O
Com base nisso, o objetivo do presente estudo foi avaliar a influência dos autor acredita que a boa aceitação do produto foi proporcionada pela
hidrocoloides ágar e goma gelana de alta (HA) e baixa acilação (LA) sobre as adição de mel, que aumentou a doçura do produto, e de pectina.
características sensoriais de estruturados mistos de manga com cajá.
Figura 1 – Resultados do teste de aceitação das amostras de frutas
MATERIAIS E MÉTODOS estruturadas de manga com cajá.

Elaboração das frutas estruturadas


LA50/HA50
As frutas estruturadas foram feitas com polpa de manga e de cajá na 8
COR LA75/HA25
proporção de 50% cada, e os hidrocoloides ágar-agar (Sosa®), goma de 7 LA100/HA0
gelana baixo acil-LA e alto acil-HA (CP Kelco®), estes nas proporções 6 AGAR
5
LA100/HA0, LA75/HA25 e LA50/HA50 (p/p), numa concentração total de 4
0,75% em relação ao peso da polpa. 3
As polpas com hidrocoloide foram aquecidas (85 °C/30 s) em Termomix, 2
1
vertidas em moldes de silicone e permaneceu à temperatura ambiente, IMPRESSÃO
0 TEXTURA
GLOBAL
aproximadamente 20 °C, durante 30 min. Posteriormente, os moldes foram
colocados sob temperatura de 5 °C (em refrigerador) por 12 h, para
completar a formação do gel.

Avaliação sensorial e análise estatística


SABOR
A análise sensorial foi realizada com 100 provadores não treinados, de ambos
os sexos, com idades entre 18 e 65 anos, recrutados de acordo com o
interesse em participar. A aceitação sensorial foi avaliada por meio de um
formulário com uma escala hedônica estruturada de nove categorias, onde 1
significa a pontuação de valor mínimo (desgostei extremamente) e 9 a
pontuação de valor máximo (gostei extremamente) (11). Essa escala indicou Com base na Figura 2, observa-se que a formulação LA75/HA25 apresentou
o quanto os provadores gostaram ou não das amostras quanto à impressão o maior percentual de intenção de consumo, com 26% dos provadores
indicando que certamente ou provavelmente comeriam essa amostra. Por sua
global, cor, textura e sabor. A intenção de consumo foi avaliada por meio de
vez, 47% dos julgadores afirmaram que provavelmente ou certamente não

231
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

comeriam a formulação LA50/HA50. Costa et al. (13), em seu estudo com que resultou em produtos com propriedades similares, já que estes contêm os
fruta estruturada de goiaba, observaram que a amostra contendo proporções dois tipos de goma gelana, embora em proporções diferentes.
iguais de goma gelana LA e HA (LA50/HA50) abteve a maior taxa de Percebe-se que as formulações apresentaram uma preferência relativamente
intenção de consumo, seguida pela LA75/HA25. homogênea, com uma concentração maior de provadores próximos à
LA50/HA50 e LA75/HA25, e, menor ao redor de LA100/HA0, indicando
Figura 2 - Histograma de frequência do teste de intenção de consumo das que esta amostra foi preferida por menos julgadores. Pode-se perceber
formulações de fruta estruturada de manga com cajá também que sete provadores ficaram localizados no centro do gráfico,
indicando que para eles as amostras avaliadas eram muito semelhantes, e, por
Agar LA100/HA0 LA75/HA25 LA50/HA50 isso, não manifestaram preferência por nenhuma destas.
50
45 CONCLUSÃO
45 43 42

40
39 Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que os estruturados
34 mistos foram bem aceitos sensorialmente, e, através do cruzamento
35 dos dados sensoriais obtidos, observou-se que os provadores
CONSUMIDORES (%)

29
30 obtiveram uma maior aceitação pela amostra LA75/HA25.
24
25
21 21
20
15 15 REFERÊNCIAS
15 13 12 11
10
7 8 1. MISSAGIA, S. V.; REZENDE, D. C. A alimentação saudável
10
4 3 sob a ótica do consumidor: identificando segmentos de
5 2 mercado. In: ENCONTRO DA ANPAD, 35, 2011, Rio de
0 Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2011, p. 1-17.
Certamente Provavelmente Talvez comesse Provavelmente Certamente não 2. BOMFIM, M. A. D. et al. Abordagem multidisciplinar de PD&I
comeria comeria talvez não não comeria comeria para o desenvolvimento de produto lácteo caprino com alto teor
comesse
de CLA e alegação de propriedade funcional. Revista
INTENÇÃO DE CONSUMO (NOTA) Brasileira de Zootecnia, v. 40, p. 98-106, 2011.
3. SILVA, A. A.; BARBOSA JUNIOR, J. L.; BARBOSA, M. I.
Os resultados obtidos no MPI estão representados na Figura 3, onde cada M. J. Farinha de banana verde como ingrediente funcional em
ponto vermelho representa a correlação dos dados de aceitação de um produtos alimentícios. Ciência Rural, v. 45, n. 12, p.2252-
consumidor com os dois primeiros componentes principais (CP-1 e CP-2), ou 2258, 2015.
seja, cada ponto representa um consumidor. 4. VASCONCELOS, C. M. et al. Desenvolvimento e avaliação
sensorial de sobremesa láctea potencialmente simbiótica. Rev.
Figura 3 - Mapa de preferência interna dos dados de aceitação global das Inst. Laticínios Cândido Tostes, v.68, n. 391, p. 11-17, 2013.
formulações de fruta estruturada de manga com cajá 5. AMARAL, O. M. R. P. Pão com elevado teor em amido
resistente: desenvolvimento tecnológico e estudo in vivo. 2016.
Biplot (eixos F1 e F2: 70,58 %) 125 f. Tese (Doutorado em Doenças Metabólicas e
Comportamento Alimentar) - Faculdade de Medicina de Lisboa,
2 Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2016.
19 29 5368 6. CARVALHO, A. V. Otimização dos parâmetros tecnológicos
1,5 7593 104
14
96
7943 para a produção de estruturados de frutas funcionais a
8245
73
62 30
11
69
76
56
86
26
31
81
92
51 9
64
23
35
65 partir de polpa de açaí e mix de taperebá com mamão.
67
1
3
25
44
103
12
55
LA50/HA50 28
24 Documentos 306. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2007.
13
18 LA75/HA25 4
41
50
49
84
7. WUSTENBERG, T. Cellulose and cellulose derivatives in the
78
0,5 food industry: fundamentals and applications. Weinheim,
F2 (33,55 %)

105
48
83
99
32
54 Germany: Wiley-VCH, 2015.
0 63
66
58
60
90
5
10
17
39
61
80
87 21
47
100
2
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59
52
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-1 1
88
Oxford, England: Wiley Blackwell, 2010.
91 LA100/HA0
74 37
40
72
85
89
3320
10. CUI, S. W. (Ed.). Food carbohydrates: chemistry, physical
-1,5 16
7
70
38 97
95 36 6 42
71 57 properties, and applications. Boca Raton, United States: CRC
Press, 2005.
-2
11. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
-2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
New York: Academic Press. 2004.
F1 (37,02 %) 12. ADDAI, Z.R. et al. Evaluation of fruit leather made from two
cultivars of papaya. Ital. J. Food Sci., v.28, p.73-82, 2016.
Os mapas gerados (CP-1 e CP-2) explicaram juntos 70,58% da variação, 13. COSTA, J. N. et al. Texture, microstructure and volatile profile
onde o CP-1 explicou 37,02% e o CP-2 33,55%. Percebeu-se que houve a of structured guava using agar and gellan gum. International
formação de 3 grupos, o primeiro, formado pelas amostras LA50/HA50 e Journal Of Gastronomy And Food Science, v. 20, p. 100207,
LA75/HA25, o segundo pela LA100/HA0 e o terceiro composto pela amostra 2020.
ágar. Dessa forma, as amostras LA50/HA50 e LA75/HA25 obtiveram a 14. BRADBEER, J. F. et al. Self-structuring foods based on acid-
preferência dos mesmos consumidores, que não conseguiram diferenciá-las. sensitive low and high acyl mixed gellan systems to impact on
Bradbeer et al. (14), afirmaram que as misturas entre goma gelana LA e satiety. Food Hydrocolloids, v. 35, p. 522-530, 2014.
goma gelana HA resultam em géis com propriedades intermediárias. Isso
indica que o fato de as amostras LA50/HA50 e LA75/HA25 terem ficado em
um mesmo grupo tenha sido resultado da combinação desses hidrocoloides,

232
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Composição Físico-química dos Híbridos de Maracujás


Sângela de Aquino Batista1*, Leirson Rodrigues da Silva2, Ana Rosa de Figueiredo2, Milena Maria Tomaz de Oliveira3,
Thayane Rabelo Braga Farias4, Raul Castro Carriello Rosa5

Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará


1
2
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
3
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
4
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
5
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: sangelabatista2003@gmail.com
Palavras-chave: Passifloraceae, Pós-colheita, sólidos solúveis.
INTRODUÇÃO O rendimento das partes constituintes dos frutos de híbridos
O maracujazeiro é uma trepadeira lenhosa, perene, de crescimento interespecíficos P. edulis x P. cincinnata e P. edulis x P. setacea em
rápido e contínuo. Pertencente à família Passifloraceae, tem como cultivo convencional é apresentada na tabela 1.
origem a região tropical e subtropical da América do Sul. Atualmente,
a produção mundial de maracujá é cerca de 805 mil toneladas. O Brasil Tabela 1. Rendimento das partes constituintes dos frutos de híbridos
é o maior produtor mundial de maracujá, sendo responsável por cerca interespecíficos P. edulis x P. cincinnata e P. edulis x P. setacea em
de 70% da produção global. Todas as regiões do país são produtoras de cultivo convencional.
maracujá. Atualmente, mais de 70% da produção se concentra nos Constituição percentual (%)
estados da Bahia, Ceará, São Paulo e Santa Catarina (1,2). Partes dos Frutos
Entre as quase 500 espécies conhecidas do gênero Passiflora, a PEXC PEXS
mais importante é a Passiflora edulis Sims. Os frutos de maracujá são
do tipo ovóides, apresentando grandes variações no comprimento e Polpa 31,08±0,03 14,24±0,08
largura. Além disto, podemos encontrar frutos com coloração da casca
bem diferenciada como os amarelos, vermelhos e até roxos. Os frutos Casca 47,32±0,02 42,35±0,21
comestíveis podem ser consumidos de diversas formas, seja para o
consumo in natura ou quando destinados ao processamento Semente 21,60±0,12 43,41±0,13
agroindustrial na preparação de sorvetes, doces, sucos e licores (3). PEXC = Passiflora edulis x cincinnata; PEXS = Passiflora edulis x
É importante ressaltar que as características de alto rendimento em setacea. *Valores médios ± desvios-padrões determinados com base na
polpa, elevado teor de sólidos solúveis e de substâncias bioativas média de 10 frutos.
presentes nas espécies de maracujás, são bem importantes,
principalmente pela contribuição dos efeitos nutricionais e benéficos Pode-se observar que a produção de polpa não é muito alta, pois a
voltados para promoção da saúde humana. casca representa nos dois híbridos avaliados um valor acima de 40%
Diversos trabalhos têm sido realizados quanto a composição físico- dos frutos em sistema de cultivo convencional. Trabalhos têm sido
química em espécies de maracujá (4,5,6). Entretanto, é ainda incipiente realizados quanto ao rendimento em polpa de frutos de maracujá
o número de investigações em híbridos interespecíficos. Mediante ao (11,12). O valor médio encontrado neste estudo para o rendimento em
exposto, o presente trabalho teve por objetivo determinar as polpa não foi considerado adequado para o consumo in natura e
características físico-químicas em frutos dos híbridos interespecíficos indústria. O rendimento de polpa considerado como adequados tanto
de P. edulis x P. cincinnata e P. edulis x P. setacea. para o consumo in natura como para agroindústria em frutos de
maracujá deve ser superior a 50% (13).
A composição físico-química dos frutos de híbridos
MATERIAL E MÉTODOS interespecíficos P. edulis x P. cincinnata e P. edulis x P. setacea em
Foram utilizados frutos dos híbridos interespecíficos P. edulis x P. cultivo convencional é apresentada na tabela 2.
cincinnata e P. edulis x P. setacea, provenientes de sistema de cultivo
convencional. Tabela 2. Características físico-químicas dos frutos de híbridos
Os frutos para estudo foram coletados na Estação Experimental interespecíficos P. edulis x P. cincinnata e P. edulis x P. setacea em
Fazendinha Agroecológica localizada em Seropédica - RJ (Latitude: - cultivo convencional.
22.7414, Longitude: -43.7053; 22°44’29’’ Sul, 43°42’19’’ Oeste) e
altitude em torno de 26 m. O clima, segundo Köppen, é do tipo Aw, com Características Físico-químicas
verões chuvosos e invernos secos. As médias mensais da temperatura Frutos
mais baixa e alta são 20º e 29ºC, respectivamente, com precipitação SS1 AT2
SS/AT3 pH4 AA5
anual em torno de 1.250 mm (7). (°Brix) (%)
Os frutos foram colhidos em estádio de maturação comercial 12,06 3,46 3,48 2,52 20,70
PEXC
(maduro) nas primeiras horas do dia. Em seguida, selecionados, ±0,08b ±0,04a ±0,04b ±0,01b ±1,53a
embalados em sacos plásticos e encaminhados ao Laboratório de 13,03 3,03 4,29 3,51 19,55
Alimentos e Bebidas (LAAB) da Universidade Federal Rural do Rio de PEXS
±0,04a ±0,01b ±0,01a ±0,02a ±0,76b
Janeiro em Seropédica-RJ. Para as avaliações físicas foram tomados
PEXC = Passiflora edulis x cincinnata; PEXS = Passiflora edulis x
dez frutos e realizadas mensurações individuais para cada fruto
setacea. Médias ± desvios-padrões em triplicata. 1SS = Sólidos
estudado. Em seguida, foi realizado o processamento da polpa por meio
de multiprocessador WALITA®, estabelecendo três repetições para a solúveis; 2AT = Acidez titulável; 3SS/AT; 4pH; 5AA = Ácido
ascórbico. As médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem,
caracterização dos frutos.
de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Os frutos foram analisados quanto a: rendimento das partes
constituintes (%), sólidos solúveis (°Brix) (8), acidez titulável (% de A caracterização físico-química dos frutos de híbridos de maracujá
ácido cítrico) (8), SS/AT (8), pH (8) e teor de ácido ascórbico (mg/100 avaliados neste estudo permitiu verificar que os valores médios obtidos
g) (9). foram condizentes aos encontrados em pesquisas relacionadas a
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e diversas espécies de maracujazeiros (13,14,15,16). O conhecimento das
as médias dos dados foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de características físico-químicas dos frutos é de suma importância,
probabilidade. As análises foram realizadas pelo sistema de análise de visando o potencial e o correto direcionamento dos mesmos (17).
variância de programa computacional SISVAR (10). A variabilidade de resultados encontrados em diversas pesquisas
realizadas com frutos de maracujás pode ser explicadas por inúmeros
RESULTADOS E DISCUSSÃO fatores influenciáveis na sua composição e qualidade, podendo citar a

233
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

época de produção, variabilidade genética da espécie, estádio de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) quanto à
maturação na colheita, dentre outros (18,19). qualidade de frutos. Rev. Bras. Frut. 25, 1, 186-188, 2003.

CONCLUSÃO SOUZA, V. R.; PEREIRA, P. A. P.; QUEIROZ, F.; BORGES, S. V.;


CARNEIRO, J. D. S. Determination of bioactive compounds,
Os frutos de híbridos interespecíficos de maracujás
antioxidant activity and chemical composition of Cerrado Brazilian
apresentaram alto rendimento em casca, fator este de grande fruits. Food Chem. 134, 381-386, 2012.
importância para a indústria. Além disto, apresentaram quantidades
significativas de sólidos solúveis quando cultivados em sistema GENOVESE, M. I.; PINTO, M. S.; GONÇALVES, A. E. S. S.;
convencional. LAJOLO, F. M. Bioactive compounds and antioxidant capacity of
exotic fruits and commercial frozen pulps from Brazil. Food Sci. Tech.
AGRADECIMENTOS Intern. 14, 3, 207-214, 2008.
Os autores agradecem à UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e CAPES
pelo apoio e suporte financeiro na execução do presente trabalho. GAMARRA, R.; MEDINA, V. M. Variações físico-químicas do
maracujá ácido em função da idade do fruto. Rev. Bras. Frut. 17, 3, 103-
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234
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Potencial de utilização do óleo fixo da polpa de tucumã-açú


Sângela de Aquino Batista1*, Leirson Rodrigues da Silva2, Ana Rosa de Figueiredo2, Milena Maria Tomaz de Oliveira3,
Thayane Rabelo Braga Farias4, Lilia Aparecida Salgado de Morais5

Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará


1
2
Doutorandos em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
3
Doutora em Agronomia, Universidade Federal do Ceará
4
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
5
Pesquisadora, Embrapa Agrobiologia
1*
E-mail: sangelabatista2003@gmail.com
Palavras-chave: Astrocaryum aculeatum Meyer, cor, ácidos graxos.
INTRODUÇÃO equipado com detector de ionização de chama, acoplado a um
O tucumã-acú (Astrocaryum aculeatum Meyer) é uma palmeira integrador e registrador processador Shimadzu CR4A Chromatopach.
pertencente à família Arecaceae. A espécie é Originária do Brasil, mais Uma coluna capilar Carbowax de 50m de composição, com diâmetro
precisamente do estado do Amazonas onde está amplamente interno de 0,22 mm de sílica fundida, com espessura do filme de 0,25
distribuída, podendo também ser encontrada em outros estados como o mm. O fluxo do gás de arraste (H2) foi de 0,5 kg/cm². A temperatura do
Acre, Mato Grosso e Pará (1,2,3). injetor foi de 220°C, a do detector de 230°C e a da coluna de 190°C
A crescente demanda por óleos vegetais nas últimas décadas tem isotérmica, durante 60 segundos, seguida de elevação na razão de
sido motivada, principalmente, pelo expressivo aumento populacional 2°C/minutos até atingir a temperatura máxima de 220°C,
de países em desenvolvimento como o Brasil. A substituição do permanecendo nesta temperatura por 35 minutos.
consumo de gorduras de origem animal por óleos vegetais, aliado ao A identificação dos principais ácidos graxos foi realizada por
significativo desenvolvimento de tecnologias e custos de produção mais comparação dos tempos de retenção dos picos das amostras com os dos
baixos, são fatores que também impulsionam a expansão da indústria padrões conhecidos de ácidos graxos metilados (Sigma) e a
de óleos vegetais (4,5,6). quantificação, por cálculo das áreas dos picos, sendo os resultados
No Brasil, os frutos das palmeiras tropicais, mencionadas como médios expressos em porcentagem.
oleaginosas, fornecem elevados percentuais de óleo nas polpas e Os resultados foram submetidos a uma análise estatística
amêndoas, podendo constituir-se em matéria-prima valiosa para descritiva, com obtenção de valores médios e desvios-padrões do óleo
produção de óleos com características físico-químicas e nutritivas de fixo da polpa de tucumã-açú. As análises foram realizadas em triplicata
alto valor para a indústria de alimentos. O manejo de espécies (12).
oleaginosas para produção de frutos, com extração do óleo para fins
comestíveis, está incluído entre as atividades apontadas como RESULTADOS E DISCUSSÃO
economicamente viáveis para o país. Faz parte deste grupo de espécies A tabela 1 apresenta os resultados da análise colorimétrica do óleo
com potencial promissor o tucumã-açú. fixo da polpa de tucumã-açú de acordo com CIELAB.
Estes óleos são valorizados comercialmente devido à presença de
componentes especiais, onde se incluem fenólicos, carotenoides, Tabela 1. Resultados da análise colorimétrica do óleo fixo da polpa
flavonoides, tocoferóis, antioxidantes e composição especial em ácidos de tucumã-açú de acordo com CIELAB.
graxos, como alto conteúdo de mono e poliinsaturados, os quais os Óleo
caracterizam como alimentos funcionais (7,8,9).
Vale destacar também, a crescente busca por novas fontes naturais L* 28,50±0,26
de compostos com propriedades funcionais presentes nos óleos das
espécies de palmeiras tropicais, dos quais muitos ainda não foram a* 0,14±0,10
suficientemente estudados, além da procura por matérias-primas com
potenciais ainda pouco exploradas. Assim, o objetivo deste estudo foi
b* 8,91±1,68
analisar o óleo fixo obtido da polpa dos frutos de tucumã-açú, visto que
investigações desta natureza são necessários para a melhor
°Hue 89,90±0,90
caracterização da matéria-prima.
L* = claridade; a* = componentes verde-vermelho; b* = azul-
MATERIAL E MÉTODOS amarelo e °Hue = tonalidade cromática. Valores médios ± desvios-
No presente estudo, foi utilizado o óleo fixo da polpa de tucumã- padrões da média de determinações em triplicata.
açú. Este foi fornecido pela empresa Amazon Oil Industry LTDA,
localizada em Ananindeua, PA. O óleo foi processado na determinada O óleo fixo extraído a partir da polpa de tucumã-açú apresentou
empresa por meio de processo físico de extração a frio por prensa predominância da cor amarela b*. Em relação à luminosidade ou
hidráulica. A amostra para as posteriores análises tinha coloração claridade (L*), o óleo de tucumã-açú foi considerado claro (28,50), o
específica, odor característico e aparência líquida oleosa. O que corrobora os valores da cromaticidade (a* e b*). Para o índice °Hue,
experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Alimentos e o óleo de tucumã-açú apresentou o maior valor (89,90). A análise de cor
Planta Piloto da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), foi realizada em óleos de macaúba (13).
em Campos dos Goytacazes, RJ. A colorimetria tem sido utilizada para caracterizar a cor de
A coloração da amostra foi medida por reflectância utilizando-se diferentes pigmentos, a exemplo das clorofilas (14), carotenoides (15)
um colorímetro da marca Minolta, modelo CR-300, com fonte de luz D e antocianinas (16). A correlação da cor com o conteúdo de
65, com 8 mm de abertura no padrão C.I.E (Commission Internacionale carotenoides sugere que quanto mais intensa a cor, maior o conteúdo
de L’Eclaraige). Para a caracterização objetiva da cor usou-se o sistema dessas substâncias denominadas bioativas. Entretanto, há necessidade
CIELAB (L*a*b*). Os valores de L* (claridade), a* (componentes de mais estudos para confirmar a hipótese (17).
verde-vermelho) e b* (azul-amarelo) foram obtidos diretamente do A composição em termos do perfil de ácidos graxos do óleo fixo
colorímetro e utilizados para o cálculo da tonalidade cromática da polpa de tucumã-açú é apresentada na tabela 2.
(H*=arctan b*/a*). Para H*, o 0 representa vermelho puro; o 90, o
amarelo puro; o 180, o verde puro e o 265, o azul puro (10). Tabela 2. Perfil de ácidos graxos do óleo fixo da polpa de tucumã-açú.
Os perfis de ácidos graxos foram determinados por cromatografia Óleo Ácidos graxos
gasosa a partir das amostras transesterificadas com hidróxido de
potássio metanólico e n-hexano, segundo método Ce 2-66 (11). Na
determinação dos principais ácidos graxos do óleo fixo da polpa de Saturados 24,13±0,01 C16:00 - 12,66±0,01
tucumã-açú utilizou-se um cromatógrafo a gás Shimadzu CG 14A, C18:0 - 11,47±0,01

235
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Monoinsaturados 8,54±0,01 C18:1 - 8,54±0,01


MCGUIRE, R. G. Reporting of objective colour measurements.
HortScience. 27, 12, 1254-1255, 1992.
Poliinsaturados 67,33±0,01 C18:2 - 64,67±0,01
C18:3 - 2,66±0,01
AOCS. Official methods and recommended practices of the American
C16:0 = Palmítico; C18:0 = Esteárico; C18:1 = Oleico; C18:2 =
Oil Chemists Society. 6th ed. Champaign: American Oil Society. 2009.
Linoleico; C18:3 = Linolênico. Valores médios ± desvios-padrões da
média de determinações em triplicata.
BANZATTO, D. A.; KRONKA, S. N. Experimentação agrícola.
É possível observar que no óleo fixo da polpa de tucumã-açú foram Jaboticabal: FUNEP, 1, 4, 237, 2006.
identificados 5 ácidos graxos e os majoritários foram o linoleico
(C18:2), palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0), respectivamente. Este
óleo teve altos teores em ácidos graxos poliinsaturados, semelhante à CICONINI, G. Caracterização de frutos e óleo de polpa de macaúba dos
encontrada para o azeite de oliva. biomas cerrado e pantanal do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.
As composições de ácidos graxos vêm sendo estudadas ao longo Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) - Universidade Católica Dom
destes anos e diversos estudos já foram realizados com diferentes Bosco, Campo Grande, 128p, 2012.
espécies de palmeiras (18,19,20). A presença de ácidos graxos
insaturados, principalmente os essenciais das famílias ômegas 3 e 6, SINNECKER, P.; GOMES, M. S. O.; ARÊAS, J. A. G.; LANFER-
torna esses óleos interessantes do ponto de vista nutricional, já que os MARQUEZ, U. M. Relationship between color (instrumental and
ácidos graxos essenciais não são produzidos pelo organismo, tendo que visual) and chlorophyll contents in soybean seeds during ripening. Jour.
ser obtidos através da dieta. Eles são percursores de substâncias Agric. Food Chem. 50, 14, 3961-3966, 2002.
chamadas eicosanoides, que exercem importante papel na saúde
humana. A presença de teores adequados de ácido linoleico também é
fundamental, pois quanto maior a quantidade de ácido linoleico em MELÉNDEZ-MARTÍNEZ, A. J.; VICARIO, I. M.; HEREDIA, F. J.
relação ao oleico, melhor é a qualidade do óleo em evitar a formação Application of tristimulus colorimetry to estimate the carotenoids
do mau colesterol (21). content in ultrafrozen orange juices. Jour. Agric. Food Chem. 51, 25,
7266-7270, 2003.
CONCLUSÃO
Os resultados dos valores médios da coloração do óleo fixo da MONTES, C.; VICARIO, I. M.; RAYMUNDO, M.; FEET, R.;
polpa de tucumã-açú sugerem que estes se enquadram dentro dos HEREDIA, F. J. Application of tristimulus colorimetry to optimize the
padrões recomendados pelos órgãos regulamentadores de identidade e extraction of anthocyanins from jaboticaba (Myricia jaboticaba Berg).
qualidade de óleos. O óleo fixo da polpa de tucumã-açú apresentou Food Res. Inter. 38, 8-9, 983-988, 2005.
elevada porcentagem de ácidos graxos insaturados, destacando o
linoleico. Este elevado grau de insaturação favorece seu uso para fins
comestíveis, desde que comprovada à ausência de substâncias tóxicas SANJINEZ-ARGANDOÑA, E. J.; CHUBA, C. A. M. Caracterização
ou como matéria-prima para as indústrias alimentícias e oleoquímicas. biométrica, física e química de frutos da palmeira bocaiuva Acrocomia
aculeata (Jacq) Lodd. Rev. Bras. Frutic. 33, 3, 1023-1028, 2011.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e CAPES YUYAMA, L. K. O.; AGUIAR, J. P. L.; YUYAMA, K.; CLEMENT,
pelo apoio e suporte financeiro na execução do presente trabalho. C.R.; MACEDO, S. H. M.; FÁVARO, D. I. T.; AFONSO, C.;
VASCONCELLOS, M. B. A.; PIMENTEL, S. A.; BADOLATO, E. S.
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236
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Geleia de Jambo (Syzygium malaccensis): Elaboração, Propriedades Físico-Químicas e


Aceitação Sensorial

Lia M. P. Oliveira1, Maryana M. Farias 2, Natália V. S. Menezes 2


1
Especialista, Universidade Estadual do Ceará; 2Mestra, Universidade Federal do Ceará.
E-mail: nutrinatalia@ufc.br

Palavras-chave: Geleia, Jambo, Análise sensorial.

INTRODUÇÃO Cada julgador recebeu, juntamente com as amostras uma Ficha de


O jambo vermelho é um fruto que faz parte do gênero Syzygiumda, Avaliação Sensorial. Nela foi-lhes solicitado que marcassem, dentro de
família Myrtaceae, sendo proveniente da Malásia, de onde disseminou- uma escala, o seu julgamento em relação a cor, sabor, aroma, textura,
se para as regiões tropicais da África e América (1). Trata-se de um impressão global e intenção de compra. Utilizou-se a escala hedônica
fruto que é cultivado há muitas décadas em regiões tropicais e cujas estruturada de 5 pontos por ser considerada de fácil compreensão pelos
primeiras espécies nativas parecem ter surgido entre o Sudeste Asiático consumidores, sendo atribuídos escores de 5 (“gostei muitíssimo”) a 1
e a Oceania. No Brasil, é encontrado nos estados da região Norte, (“desgostei muitíssimo”). (9, 10). A intenção de compra também
Nordeste e nas regiões quentes do Sudeste (2). foi avaliada através de uma escala de cinco pontos variando do (1
A polpa do jambo constitui 84% do fruto e possui vitaminas A, B1, B2, – certamente não compraria ao 5 – certamente compraria) (11)
proteínas, antocianinas, além de cálcio, ferro e fósforo, contém teor
médio de açúcares de 6,8 °Brix e acidez de 0,4mg.100 ml-1 em ácido RESULTADOS E DISCUSSÃO
cítrico no seu estágio final de maturação (2). Quantidades elevadas de Na análise microbiológica o resultado encontrado na presente pesquisa
fibras insolúveis, lipídios e compostos fitoquímicos, principalmente foi <10 UFC/g de bolores e leveduras. Tal contagem sugere que houve
antocianinas, foram encontradas nas cascas. Além disso que a polpa do bons procedimentos no processamento da geleia, como higienização
jambo pode ser considerada uma fonte rica de fibras solúveis e açúcares adequada das frutas e esterilização dos utensílios e equipamentos
redutores (3). Alguns autores confrontaram os valores encontrados na utilizados, além da efetividade no tratamento térmico. Dessa forma, a
casca e na polpa do jambo vermelho, e analisou que a casca mostrou geleia teve boa estabilidade e menor perecibilidade. A presente
elevados teores de carboidratos, lipídios, cinzas, açúcares redutores e pesquisa enquadrou-se satisfatoriamente nesse quesito, obedecendo os
sólidos solúveis totais; entretanto, a polpa apontou melhor teor de padrões da RDC 12, da Anvisa (12) que determina para geleias de
proteínas, pH e fibras alimentares (4). frutas: mínimo de 103 UFC g-1 e tolerância máxima de 104 UFC g-1
Assim como o pequi ou a araruta, o jambo é uma opção de fruto para o para quantidade de bolores e leveduras.
consumo regional e compõem uma alternativa de produto a ser A Tabela 1 demonstra os resultados das análises físico-químicas da
comercializado em mercados locais. Apesar da sua baixa popularidade, geleia. Quanto ao pH, a geleia de jambo apresentou valor 3,94. Esse
os frutos do jambeiro podem ser consumidos in natura ou utilizados valor pode estar relacionado com as características de acidez do próprio
como matéria-prima para vários outros tipos de produtos como doces, fruto utilizado como base para o preparo da geleia e com certeza esse
geleias, polpa congelada, sucos, néctares e sorvetes, podendo ainda nível de pH contribuiu para a formação do gel.
haver aproveitamento das cascas para obtenção de farinhas aplicação Quanto aos açúcares redutores em glicose foi observado um valor de
no enriquecimento da alimentação ou na extração de corantes naturais 16,63%, para açúcares não redutores em sacarose encontrou-se 43,44%
(5). e para o açúcar total foi encontrado 60,07%. Esses parâmetros juntos,
Na época da safra grande parte dos frutos de jambo são desperdiçados, possivelmente, garantiram o brilho da geleia, assim como podem ter
em virtude da elevada produção de frutos por árvore, do reduzido contribuído para atrasar sua cristalização.
período da safra e da baixa vida útil do fruto in natura. Da produção ao Por sua vez, o resultado de sólidos solúveis da geleia de jambo foi de
consumo, a magnitude das perdas de jambo é considerável (6). A de 7,75° Brix. Curiosamente, na polpa do jambo vermelho in natura, o
falta de conhecimento da viabilidade tecnológica para a sua valor de sólidos solúveis variou de 6,5 a 8,61 °Brix, dando a entender
industrialização tem como consequência esse baixo aproveitamento (7). que este parâmetro não foi tão alterado devido ao processo de
Estes fatos evidenciam claramente a importância dos estudos para elaboração da geleia.
aumentar a vida útil do jambo, reduzindo as perdas, pela utilização de Os valores obtidos para proteínas (0,68%) e lipídeos (0,04%) são
técnicas de conservação, trazendo benefícios de grande importância a realmente baixos, mas já era o esperado por tratar-se de uma fruta.
todos os segmentos na cadeia produtiva (8). Com relação às cinzas, obteve-se na geleia o valor de 0,28%. Valor
Com base no exposto, este trabalho teve como objetivo desenvolver semelhante ao de outras geleias.
uma geleia a partir de jambo e verificar as características físico-
químicas e aceitação sensorial do produto. Tabela 1. Resultados das Analise físico-químicas da geleia de jambo.
Características Avaliadas Resultados
MATERIAL E MÉTODOS
pH 3,94
Trata-se de um estudo experimental, descritivo e de cunho quantitativo
Açúcar redutores em glicose 16,63%
que ocorreu em quatro etapas distintas. Na primeira fase, foi realizada
a produção da formulação de geleia de jambo contendo 50 partes de Açúcar não redutores em sacarose 43,44%
fruta e 50 partes de açúcar cristal. O lote produzido resultou em 8 kg do Açúcar total 60,07%
produto, de onde foram retirados 800g de amostra por técnica de Sólidos e Solúveis 7,75 (°Brix)
quarteamento. Na segunda, foi realizada análise microbiológica de uma Proteína 0,68%
amostra de geleia. A terceira etapa foi realizada as análises físico- Cinza 0,28%
químicas da geleia de jambo, para caracterização do produto. A quarta Lipídeos 0,04%
e última fase foi executada a avaliação do perfil sensorial das amostras Umidade 23,13%
e intenção de compra por parte dos consumidores. Acidez, em ácido cítrico 0,37%
A pesquisa foi realizada nos Laboratórios de Técnica Dietética e de Carboidratos totais 75,87%
Análise Sensorial localizados no Núcleo de Assistência Médica Neste estudo constatou-se um valor de 23,13% de umidade no produto.
Integrada (NAMI), pertencente à Universidade de Fortaleza. Este Este resultado indica que a redução de água está dentro do que se é
estudo foi realizado durante o ano de 2019. preconizado para geleias.
A geleia de jambo foi submetida à análise físico-químicas para No quesito acidez, o resultado obtido neste estudo foi de 0,37%,
determinação de pH, açúcares redutores em glicose, açúcares não encontrando-se dentro da faixa de conformidade para uma geleia. Uma
redutores em sacarose, açúcares totais, sólidos solúveis (ºBrix), alta acidez pode afetar diretamente a elasticidade da geleia, pois realiza
proteínas, cinzas, lipídeos, umidade, acidez (em ácido cítrico) e a quebra da pectina, tornado endurecidas as redes de fibras. A acidez
carboidratos. indicada no mínimo é de 0,3% e não deve superar 0,8%, caso seja
Para análise sensorial contribuíram voluntariamente somente superior a 1% ocorre exsudação do líquido da geleia (13).
participantes aptos e que concordaram em submeter-se ao teste, após
serem orientados a ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).

237
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Nas análises sensoriais, foram totalizadas 74 participações voluntárias, sobressaído do gosto característico da fruta, ou o provável
em que a maioria (59,5%) era do sexo feminino. Quanto ao grau de desconhecimento dos provadores em relação ao sabor próprio do jambo
escolaridade, a maioria (77%) possuía nível superior incompleto. pode ter interferido negativamente na aceitação do produto.
Também foi perguntado aos julgadores sua faixa etária. Esta variou
entre 18 e 50 anos. Deste modo, 77% deles possuíam cerca de 18 a 26 CONCLUSÃO
anos de idade, seguido por aqueles com 26 a 34 anos representando Conclui-se que a geleia elaborada com o jambo, um fruto pouco
17,6%. valorizado e subutilizado, resultou em um produto
microbiologicamente satisfatório. Em relação as análises físico-
Tabela 2 - Resultados das médias e desvios padrão para os atributos químicas a geleia demonstrou teores dentro do esperado para geleia de
sensoriais da geleia de jambo. fruta. No entanto, observou-se baixo valor de °Brix.
Em relação aos resultados da análise sensorial, a ausência de critério de
Desvio exclusão de participantes, para segregar consumidores ou não
Atributo Média
Padrão consumidores de geleia, pode ter interferido no resultado da avaliação
Aparência 1,7 0,8 de aceitação, uma vez que as pessoas, na maioria das vezes, realizam
Aroma 2,6 1,1 comparações com produtos já conhecidos por eles.
Cor 1,5 0,8 A elaboração da geleia do tipo extra também pode ter influenciado no
Sabor 1,9 1,0 resultado da análise sensorial, pois no preparo foi utilizado uma elevada
Textura 2,0 0,9 quantidade de açúcar e toda a casca presente no jambo. Com isso o
Global 2,0 0,9 preparo pode ter comprometido o sabor e aparência original do fruto,
onde o jambo passou de um sabor adocicado e levemente ácido, para
Conforme apresentados na Tabela 2, os atributos aroma, textura e uma geleia excessivamente adocicada e de cor escurecida, causando
avaliação global apresentaram as maiores médias 2,6, 2,0 e 2,0 certa rejeição por parte dos participantes.
respectivamente. Essas médias estão próximas da nota 3 para gostei Assim, o presente estudo, apresentou o potencial do jambo no que diz
moderadamente e nota 2 para desgostei muito da escala de aceitação respeito a valorização do plantio, resgatar do uso de frutas da
utilizada na análise sensorial da geleia de jambo. A cor obteve a menor biodiversidade nordestina e sua aplicabilidade na gastronomia,
média 1,5, seguida da aparência 1,7 e 1,9 para sabor. Estas médias ficam incentivando sua produção e comercializar em diversas formas, dando-
próximas da nota 2, que corresponde a desgostei muito na escala lhe novas aplicações.
hedônica.
Analisando a intenção de compra da geleia de jambo 40,5% REFERÊNCIAS
responderam que certamente não comprariam a geleia de jambo, 36,5% 1. AZEVÊDO, J. C. S. Estratégias de obtenção do corante do jambo
“possivelmente não compraria” e 18,9% responderam “talvez vermelho (Syzygium malaccense) e avaliação de sua funcionalidade.
comprasse/ talvez não comprasse”. Apenas 1 pessoa indicou que 2010. 101f. Dissertação (Mestre em Pesquisa e Desenvolvimento de
“possivelmente compraria” (1,4%) e 2 pessoas que “certamente Tecnologia Regional) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
compraria” (2,7%). 2010.
Com vistas a entender quais atributos influenciaram e, 2. COSTA, R.S., OLIVEIRA, I.V. M., MÔRO, F. V., MARTINS, A.
consequentemente, contribuíram para a baixa aceitação da geleia de B. G. Aspectos morfológicos e influência do tamanho da semente na
jambo, foi realizado um estudo de correlações e seu resultado germinação do jambo-vermelho. Revista Brasileira de Fruticultura, v.
demonstrado na Figura 1. 28, n. 1, p. 117-120, Abr. 2006.
3. BATISTA, A. G. et al. Red-jambo (Syzygium malaccense):
Figura 1 - Análise de correlação entre os atributos sensoriais da geleia Bioactive compounds in fruits and leaves. Food Science and
de jambo. Technology, São Paulo, v. 1, n. 1, p.1-8, Maio 2016.
4. NUNES, P.C. et al. Physico-Chemical Characterization, Bioactive
Compounds and Antioxidant Activity of Malay Apple [Syzygium
malaccense (L.) Merr.&L.M. Perry]. Journal Plos, Pernambuco, p.1-
11, jun. 2016.
5. AUGUSTA, I. M. Extração e secagem da casca de jambo vermelho
(Syzygium malaccensis, (l.) merryl et perry) para obtenção de corante.
2011. 137 f. Tese (Doutorado em Tecnologia de Processos Químicos e
Bioquímicos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011.
6. ALMEIDA, J. B. O. et al. Uso de leveduras de vinhos de frutas
tropicais na alimentação humana. Brazilian Journal of Food
Technology, p. 65-69, 2005. 5ª SPIAL.
7. TAVARES, J.T.Q.; SILVA, C.L.; CARDOSO, R.L.; SILVA, M.A.;
CARVALHO, L.A.; SANTOS, C.M.G. Aplicação pós-colheita de
cloreto de cálcio em frutos de jambeiro vermelho (Eugenia malaccensis
L.). Magistra, v. 14, n. 2, jul./dez., 61-65, 2002.
8. CARDOSO, R. L., ONIGENO, A. E., COSTA, J. A., SANTIAGO,
S. M. Influência de diferentes temperaturas de estocagem no teor de
acidez total, sólidos solúveis totais e pH do jambo (Eugenia
Entende-se que os fatores que mais contribuíram para a impressão malaccensis, L.). Magistra, v. 12, n. 1 / 2, jan./dez. 2000.
global foram “aroma” e o “sabor”, seguidos pela textura. Contudo, 9. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 3ª
observou-se que a “cor” e “aparência” não apresentaram correlação Ed. Viçosa, MG: Editora UFV. 332p. 2013.
significativa com a impressão global. O que influenciou mais a 10. CHAVES, J. B. P.; SPROESSER, R. L. Práticas de Laboratório
intenção de compra foi a “textura” e o “sabor”, enquanto que o fator de Análise Sensorial de Alimentos e Bebidas. 3.ed. Viçosa: UFV.
que menos influenciou na decisão de compra foi a cor. A cor e a 2002.
aparência pouco contribuíram para a aceitação global e intenção de 11. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
compra por sua vez, a coloração interferiu diretamente no valor da London: Academic Press, 2004. 408p.
aparência. Já a textura influenciou moderadamente na aceitação global 12. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
e na intenção de compra da geleia. Sanitária. Resolução RDC No 12 de 2 de janeiro de 2001. Aprova o
A geleia apresentou uma coloração roxa brilhante, semelhante a um regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos.
jambo em seu máximo estágio de amadurecimento, com consistência Diário Oficial da União, Brasília, 10 de janeiro de 2001.
firme. De sabor adocicado, devido a grande adição de açúcar, reduzindo 13. TAVARES, J.T.Q.; SILVA, C.L.; CARDOSO, R.L.; SILVA, M.A.;
seu sabor ácido característico. A geleia exalava um aroma de flores CARVALHO, L.A.; TORREZAN, R. Manual para a produção de
marcante e suave ao mesmo tempo. Possivelmente, o preparo da geleia geleias de frutas em escala industrial. Rio de Janeiro: EMBRAPA -
com 50% polpa e 50% açúcar tenha influenciado, de forma negativa, a CTAA, 1998. 27 p.
aceitação da geleia de jambo extra. O sabor adocicado pode ter

238
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Produto Alternativo para o Mercado Brasileiro: Sanduíche de Hambúrguer de Caju e


Emulsão de Castanha de Caju Congelado

Maria Fernanda Santos (1), Ana Cristina Cabral (2), Nelson Roberto Furquim (3).

(1) Nutricionista graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.


(2) Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Docente do Curso de Graduação em Nutrição, Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde, Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade Presbiteriana Mackenzie.
(3) Doutor em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de São Paulo. Docente do Curso de Graduação em
Nutrição, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade Presbiteriana
Mackenzie.em Nutrição, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Presbiteriana Mackenzie
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Contato: mariafernanda.esm@gmail.com

Palavras-chave: Tecnologia de Alimentos. Vitamina C. Fibra Alimentar.

Introdução Tabela 1 – Informações nutricionais em 200g de sanduíche de


hambúrguer vegetal de caju e emulsão de castanha de caju. São Paulo,
A produção de caju tem um papel importante na economia regional
2017.
brasileira, além de gerar oportunidades para a exportação dos seus
Quantidade por
derivados (1). A utilização do pedúnculo de caju para produção de Nutriente %VD
porção
produtos alimentícios novos é uma forma de aproveitar a parte Valor energético 442 Kcal 22
suculenta do fruto evitando seu desperdício exagerado, que é em torno
Carboidratos 72 g 23
de 85% de uma produção anual de mais de 1.000.000t (um milhão de
Proteínas 16 g 21
toneladas). O desperdício deve-se ao fato da castanha ser utilizada Gorduras Totais 5,5 g 10
para a produção de óleos e castanha comestível, sendo, pois, este o Gorduras Saturadas 0,7 g 8
principal interesse comercial em relação ao fruto integral, a qual Gorduras Trans 0g (**)
possui alto índice de exportação desses produtos (2,3). Sendo assim, o Fibra 11 g 44
presente estudo tem por objetivo caracterizar o sanduíche de Sódio 403 mg 17
hambúrguer elaborado a partir do pedúnculo do caju, farelo de aveia e Ferro 1,1 mg 7
emulsão de castanha de caju, proporcionando uma alternativa de uso Vitamina C 30 mg 67
completo do caju.
(**) VD não estabelecido.
Materiais e Métodos
Estudo de caráter experimental realizado entre março e maio de 2017. Para o cálculo da quantidade de vitamina C presente no produto
A elaboração do produto final desenvolvido para este estudo ocorreu utilizou-se o respectivo valor presente no caju in natura e,
em nível laboratorial. A elaboração do hambúrguer vegetal de caju considerando que a produção do sanduíche requer aquecimento do
baseou-se em retirar o líquido presente no pedúnculo, seguido de seu hambúrguer para a cocção e finalização do mesmo, bem como o
corte em pequenos cubos, refogá-lo em óleo de soja juntamente com processamento em liquidificador, o que pode acarretar perda no
os demais condimentos e liquidifica-lo. Esse preparo foi misturado ao conteúdo de vitamina C, foi utilizado o estudo de Correia, Faraoni e
farelo de aveia, sendo a massa resultante modelada em formato Sant’Ana (2008), o qual apresenta uma avaliação acerca da
característico de hambúrguer. A emulsão de castanha de caju foi porcentagem de perda de vitamina C em alimentos submetidos a
obtida depois de 4 horas de molho da castanha em água potável, que pasteurização. Esses autores apontam que cerca de 20% da vitamina C
foi liquidificada com condimentos. Para a elaboração do pão utilizou- presente em alimentos é perdida durante a pasteurização (8). Utilizou-
se de fermento biológico fresco, açúcar, óleo, água, sal, farinha de se, então, esse percentual de redução na quantidade de vitamina C
trigo enriquecida com ferro e ácido fólico e farelo de aveia, que foram presente no caju in natura para se chegar a uma estimativa da
respectivamente misturados, modelados e assados em forno diminuição da quantidade de vitamina C no produto final. Desta
convencional. O produto final foi classificado seguindo os critérios da forma, partiu-se de 38 mg de vitamina C e, com redução de 20,0%
RDC n° 273 de 22 de setembro de 2005 (4), que estabelece os desse valor, chegou-se a 30 mg de vitamina C no sanduíche.
parâmetros para alimentos Semi- Prontos ou Prontos para o Consumo, Um estudo realizado por Lima (2008) caracterizou hambúrgueres
definidos como: “alimentos preparados ou pré-cozidos ou cozidos, que elaborados à base de caju e proteína texturizada de soja, comparando
para o seu consumo não necessitam da adição de outro(s) suas características com as de produtos comercializados regularmente
ingrediente(s). Podem requerer aquecimento ou cozimento no mercado brasileiro. Os resultados demonstraram que o hambúrguer
complementar”. Para rotulagem do produto desenvolvido neste estudo elaborado à base de caju e proteína de soja com peso de 70g, obteve
a RDC n° 259 de 2002 (5) foi o parâmetro adotado. A técnica de 5,75% de proteínas e 7,90% de gorduras. Quanto à análise sensorial,
conservação utilizada foi o congelamento por ar como definido por em uma escala de 9 pontos, as seguintes pontuações foram obtidas na
Ordonez et al., 2007 (6). Para avaliar a qualidade nutricional do avaliação: 6,2 pontos para a aparência, 6,1 para o aroma, 5,7 para o
sanduíche de hambúrguer vegetal de caju e emulsão de castanha de sabor, 6,3 para a textura e 5,9 para a impressão global. Este mesmo
caju tomou-se como base a 4º edição da Tabela Brasileira de estudo concluiu que os hambúrgueres à base de caju apresentaram, em
Composição dos Alimentos (7). média, “menores teores de proteína e gordura do que os produtos
comerciais à base de proteína animais e de proteína vegetal avaliados,
Resultados e Discussão sendo a aceitação sensorial correspondente à avaliação gostaram
As informações nutricionais determinadas referem-se a uma porção ligeiramente” (9). Considerando-se as quantidades dos ingredientes
de 200g do produto e o percentual dos Valores Diários (%VD) é secundários utilizados para a produção do hambúrguer vegetal de caju
estabelecido para uma dieta de 2.000 Kcal ou 8.400 KJ. A Tabela 1 da presente pesquisa, é possível justificar a diferença entre os
apresenta as informações nutricionais do sanduíche, destacando o alto resultados das composições nutricionais obtidas no presente estudo e
teor de vitamina C (67,0% do VD), de fibras (44,0% do VD) e de os resultados obtidos por Lima (2008).
proteínas (21% do VD).
Conclusão
O produto apresentou alto conteúdo de fibra alimentar, de vitamina C
e de proteínas na porção, de acordo com a RDC nº 54 de 12 de
novembro de 2012, bem como baixa quantidade de gorduras totais e
saturadas, apresentando vantagens para o consumidor e se

239
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

diferenciando positivamente dos demais produtos desta categoria


comercializados no mercado brasileiro.

Referências
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(2) ARAÚJO, J.P.P. de. Caju: inovar ou inovar. Agro Valor,
Fortaleza,15, 5, 5 -10, 2012.
(3) PIRES, T.P.R.S. et al. Parâmetros físico - químicos do fermentado
de caju (anacardium occidentale l.) Produzido na fazenda cajucoco.
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(4) BRASIL. Resolução nº RDC nº 273, de 22 de setembro de 2005.
Aprova o regulamento técnico para misturas para o preparo de
alimentos e alimentos prontos para o consumo. Brasília, DF:
Ministério da Saúde.
(5) BRASIL. Resolução nº RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002.
Regulamento Técnico Sobre Rotulagem de Alimentos Embalados.
Brasília, DF: Ministério da Saúde.
(6) ORDONEZ, Juan A. et al. Tecnologia dos Alimentos. 2. ed.
Porto Alegre: Atmed, 2005. v.1.
(7) TACO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. Campinas,
4. ed. In: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 2014.
Disponível em:
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https://www.unicamp.br/nepa/taco/contar/taco_4_edicao_ampliada_e_
revisada>. Acesso em: 10 março 2017.
(8) CORREIA, L. F. M.; FARAONI, A.S.; SANT’ANA, H.P. Efeitos
do processamento industrial de alimentos sobre a estabilidade de
vitaminas, Araraquara, 19, 1, 85-95, 2008.
(9) LIMA, J. R. Pshysical chemical and sensory characterizationof
vegetal hambúrguer elaborated from cashew apple. Ciênc. Agrotec.,
Lavras, 32, 1, 191-195, 2008.

240
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Bebida Vegetal de Castanha De Caju: Composição, Utilização e Oportunidades na


Substituição aos Laticínios

Talita M. Santos1, Gabrielle A. Freire2, Kelvi W.E. Miranda3


1
Engenheira de Alimentos, Doutora em Eng. Química, Universidade Federal do Ceará; 2Química, Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais, Universidade Estadual do Ceará; 3Engenheiro de Alimentos, Doutor
em Eng. Biomateriais, Universidade Federal de Lavras.
E-mail para correspondência: talitamacs@yahoo.com.br

Palavras chave: bebidas vegetais proteicas; alimentos veganos; substituto lácteo, produto do caju.

INTRODUÇÃO utilizando como matriz o extrato da ACC. As publicações foram pré-


selecionadas pelos títulos, os quais deveriam conter como primeiro
O consumo de produtos de origem vegetal tem-se mostrado crescente critério o termo completo e/ou referências a bebida vegetal de
na forma de bebidas e/ou extratos vegetais, conhecidas, castanha de caju, acompanhada da leitura dos resumos disponíveis.
popularmente como “leites vegetais” na dieta dos consumidores (1). Utilizou-se, também, livros que fizessem referência à composição da
Tal crescimento está associado ao aumento do número de pessoas castanha de caju ou a usos da bebida de castanha de caju.
com dietas restritivas por (i) intolerância à lactose; (ii) alergia à
proteína do leite; (iii) problemas associados consumo de leite de RESULTADOS E DISCUSSÃO
animal; e, (iv) busca por alimentação saudável (2,3). Além disso, o
crescente aumento da população vegetariana estrita e vegana também Composição nutricional do leite vegetal de castanha-de-caju
são considerados motivações para a substituição de produtos de
origem animal por derivados vegetais. Cresce também a busca de A composição nutricional dos leites vegetais é um importante fator
substituição do leite visando maior sustentabilidade ambiental (4). para escolha da utilização adequada na substituição do leite de vaca.
O leite de castanha de caju é considerado saboroso e feito a partir de
As alternativas vegetais ao leite animal são os extratos aquosos de ACC e água; por isso, os nutrientes dessa bebida se devem à
base vegetal, que após processamento tecnológico se assemelham ao composição da amêndoa (12,13). Esta é considerada fonte de
leite em sua aparência e consistência (5,6). Dentre os diversos tipos proteína de alta qualidade, altamente energética, rica em gorduras e
de bebidas vegetais que passaram a ser industrializadas podem ser carboidratos (9). Apresenta alto teor proteico (23%) e a presença de
citados, além dos “leites” de soja e de coco, “leites” obtidos a partir todos os aminoácidos essenciais para humanos, e 44% a 47% de
de oleaginosas, grãos e frutos considerados nutritivos como: arroz, lipídeos (9,16). Em relação à composição de lipídeos, apresenta
aveia, amêndoas, castanha-do-pará, castanha de caju, dentre outros ácidos graxos mono e poliinsaturados como componentes
(7). majoritários (17), em que os insaturados representam 82% do teor
total (18,19). Entre os aminoácidos, pode ser destacado seu alto teor
A castanha de caju é uma das nozes mais populares e consumidas de arginina, e entre a composição de ácidos graxos, 61% de ácido
como lanche ou incorporada como ingrediente em uma diversidade oleico e 17% de ácido linoleico; estes fatores da composição estão
de receitas e pratos culinários com inúmeras combinações associados à redução de risco de doenças cardiovasculares (17).
alimentícias (8). A castanha é o fruto verdadeiro do cajueiro,
composta por pericarpo (casca), o qual deve ser retirado para A Tabela 1 mostra a composição nutricional da bebida de castanha
consumo, e amêndoa, bastante utilizada para produção de bebida, de caju, feita com extrato da castanha de caju e água (com exceção
extratos e uso como ingrediente (9). No comércio internacional de da amostra descrita por Lima et al. (22), que apresenta também 3%
nozes, a amêndoa de caju ocupa o terceiro lugar, com mais de 20% m/m de açúcar cristal na composição).
do mercado (10,11). O Nordeste brasileiro é considerado um dos
maiores produtores de caju (fruto e pseudofruto) (11) devido ao Tabela 1. Composição centesimal de bebidas vegetais de amêndoa
clima, solo e cultura gastronômica regional (8). da castanha-de-caju (ACC) obtidas em diferentes trabalhos ou
amostras comerciais.
A produção de bebida vegetal de castanha de caju constitui uma Composição
(g/100 g) (g/100 mL)
alternativa para agregar valor às castanhas quebradas, tendo em vista Parâmetros Comercial
que o mercado de exportação visa castanhas inteiras, grandes, sem (20) (21) (22)
defeitos e de cor marfim uniforme (12,13). As castanhas quebradas n.1* n.2*
correspondem à 40% das amêndoas obtidas, aproximadamente, e são Umidade 82.66±0.42 88.12±0.20 88,51±0,08 - -
Proteínas 5.00±0.57 2.36±0.24 1,83±0,03 1,6 1,9
um produto com baixo valor comercial quando comparadas às
Lipídeos 5.49±0.79 3.20±0.15 3,97+0,07 3,7 4,0
amêndoas inteiras (14). O desenvolvimento de produtos para Carboidratos 5.95±0.37 4.78±0.14 5,43±0,12 1,9 2,7
agregação de valor permite uma maior exploração de seu potencial Cinzas 0.90±0.28 0.84±0.10 0,26** 0,45** -
nutricional para atender ao atual mercado emergente, a nova cultura *Valores retirados da informação nutricional da embalagem (transformados para g/100 mL
arredondamento para 1 casa decimal). **Soma do teor de minerais descrito na informação
“vegan food” (15). nutricional da embalagem

Considerando a importância atual de conhecer a bebida vegetal de A Tabela 1 mostra que a bebida é rica em proteínas, lipídeos e
amêndoa de castanha de caju (ACC) para aplicação na produção de carboidratos. Além disso, os teores de nutrientes são variáveis entre
alimentos, este trabalho tem por objetivo mostrar a composição de as amostras apresentadas. Tais distinções podem ser devido a não
bebida vegetal de castanha de caju e apresentar os últimos existência de uma diluição padrão definida e ao fato de que os
desenvolvimentos em relação à sua utilização como ingrediente em diferentes estudos utilizaram diferentes proporções de diluição
outros produtos alimentícios referenciando trabalhos acadêmicos castanha:água, 1:6 (20) e 1:10 (22). Lima et al. (22) obtiveram
publicados. valores mais próximos às amostras comerciais (Tabela 1), com
exceção do teor de carboidratos, com valores superiores,
MATERIAL E MÉTODOS
possivelmente pela adição de açúcar na composição. O alto teor de
Os artigos selecionados foram coletados por meio de buscas nas cinzas, próximo a 1%, nos trabalhos obtidos por Tamuno e Monday
bases de dados: Google Acadêmico e Science Direct. Para isso, (20) e Manzoor et al. (21), se relacionam ao alto teor de minerais da
foram utilizadas as seguintes expressões: “castanha de caju”, “bebida castanha de caju, que contém elevados teores de cálcio, ferro e
vegetal”, “leite” e os correspondentes em inglês "cashew nut", fósforo, e ainda é fonte de manganês, cobre, arsênio e selênio que
"milk", “beverage”. A busca envolveu artigos publicados entre 2012 atuam como cofatores que regulam as funções fisiológicas e
e 2020. Foram escolhidos os artigos relacionados à composição da metabólicas do organismo (9,20). A bebida apresenta os minerais
bebida vegetal e produtos similares a laticínios e bebidas compostas, presentes na castanha, com destaque para o cálcio, com valor
significativamente superior ao teor de cálcio do “leite” de soja

241
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

(20,21). A quantidade expressiva de cálcio na bebida (4,7 mg/100g 1. CONCEIÇÃO, D.; PALLONE, J.; SILVA, J.; CARAMÊS, E. Potencial
(20)) pode ser relevante para dietas com restrição ao leite de origem bioativo de bebidas vegetais. Rev. Trab. Iniciação Científica da Unicamp.
27, 1-1, 2019.
animal, especialmente pelo cálcio presente no leite que é retirado da 2. TEIXEIRA, M.; ALTMAYER, T.; BRUXEL, F. et al. Rubus sellowii
dieta. Cham. & Schlitdl. (Rosaceae) fruit nutritional potential characterization.
Braz. J. Biol. 79, 510-515, 2019.
Utilização e oportunidades do uso de leite de castanha de caju 3. RIBEIRO, M.V.S.; LIMA, A.R.N.; OLIVEIRA, T.K.B. Physical and
chemical evaluation of the vegetable extract of the seed of Cucurbita
moschata. RSD. 9, e145942998-e145942998, 2020.
A bebida vegetal de ACC possui sabor mais agradável ao 4. PAUL, A.A.; KUMAR, S.; KUMAR, V.; SHARMA, R. Milk Analog,
consumidor em comparação ao leite de soja, e é mais cremosa e Plant based alternatives to conventional milk, production, potential and
doce, o que sugere que o consumidor dos “leites vegetais” pode se health concerns. Crit. Rev. Food. Sci. Nutr. 1-19, 2019.
dispor a pagar mais pela qualidade sensorial do produto, visto que 5. JESKE, S.; ZANNINI, E.; ARENDT, E.K. Past, present and future, The
essas matérias-primas são mais caras (2,3,22). Lima et al. (22) strength of plant-based dairy substitutes based on gluten-free raw materials.
Food. Res. Int. 110, 42-51, 2018.
avaliaram bebida do extrato de ACC obtida a partir de amêndoas de 6. HETHERINGTON, M.M.; SCHWARTZ, C.; MADRELLE J.; CRODEN,
castanha de caju quebradas com adição de açúcar e concluíram que F.; NEKITSING, C.; VEREIJKEN, C.M.J.L.; WEENEN, H. A step-by-step
esta apresenta estabilidade química, físico-química e microbiológica, introduction to vegetables at the beginning of complementary feeding. The
além de boa aceitação sensorial. effects of early and repeated exposure. Appetite. 84, 280-290, 2015.
7. ISMAIL, M.M. Which is better for humans, animal milk or vegetable milk?
J. Nutr. Health Food Eng. 2, 155-156, 2015.
Rebouças et al. (23) estudaram a aceitação de bebida vegetal de soja 8. SILVA, K.B.; SILVA JÚNIOR, M.J.; BATISTA, R.O.; SANTOS, D.B.;
e castanha de caju e observaram que informações sobre composição, BARBOSA FILHO, S. Performance of drippers operating with cashew nuts
características nutricionais e funcionais das bebidas tiveram impacto wastewater under different service pressures. Rev. Ceres. 60, 339-346,
positivo nos consumidores em relação ao valor nutricional e de 2013.
9. SOARES, D.J.; SABINO, L.B.S.; SOUSA, M.S.M.L.; MAGALHAES,
saudabilidade, sendo a bebida de castanha de caju percebida como C.E.C.; ALMEIDA, M.M.B.; SOUSA, P.H.M.; FIGUEIREDO, R.W.
mais vantajosa nutricionalmente e mais saudável que a de soja. Mineral content, based in the Recommended Daily Intake, in cashew nut
obtained from conventional and organic cultivation in different stages of
Bebidas vegetais obtidas a partir de misturas de diferentes processing. Semin. Cienc. Agrar. 33, 1869-1876, 2012.
proporções de extrato de amêndoa da castanha de caju, extrato de 10. KLUCZKOVSKI, A. M.; MARTINS, M. Cashew Nuts. In: Benjamin
Caballero; Paul M. Finglas; Fidel Toldrá (Org.). Encyclopedia of Food and
coco e de ‘tiger nut’ obtiveram boa aceitação, além de alto teor de Health. 1ed. Ed Elsevier, 2016, p. 683-686.
proteínas, gordura e minerais (24). Estes autores ressaltaram a 11. OSMARI, M.P.; MATOS, L.F.; SALAB, B.L.; DIAZ, T.G.; GIOTTO,
importância dessa alternativa de bebida para grupos econômicos mais F.M. Líquido da casca da castanha de caju, características e aplicabilidades
pobres em países que não têm suprimento suficiente de leite. na produção animal. Pub. Vet. 9, 101-157, 2015.
12. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.S.; ARAÚJO, I.M.S.; GARCIA, L.G.S. Case-
report, Characterization and acceptability of cashew nut candy and its
Em estudo da utilização de bebida de amêndoa de castanha de caju comparison with commercial products. Braz. J. Food Technol. 18, 332-336,
como matriz de iogurte em substituição ao leite verificou-se que o 2015.
produto foi bem aceito sensorialmente, com alto teor de proteínas 13. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.G.; BRUNO, L.M. Physicochemical,
(16,8% para iogurte de castanha de caju em comparação a 14,82% microbiological and sensory characteristics of cashew nut butter made from
different kernel grades-quality. LWT-Food Sci. Technol. 45, 180-185,
para iogurte comercial), e apresentando diferença significativa
2012.
sensorial em relação ao iogurte comercial somente no requisito 14. LIMA, J.R.; GARRUTI, D.S.; BRUNO, L.M.; ARAÚJO, I.M.S.; NOBRE,
sensação na boca (25). A.C.O.; GARCIA, L.G.S. Replacement of Peanut by Residue from the
Cashew Nut Kernel Oil Extraction to Produce a Type Paçoca Candy. J.
Foram relatadas bebidas prebióticas feitas a partir de bebidas de Food Process Pres. 41, e12775, 2017.
15. TABANELLI, G.; PASINI, F.; RICIPUTI, Y. et al. Fermented Nut-Based
amêndoas de castanha-de-caju com suco de maracujá (26) e também
Vegan Food, Characterization of a Home made Product and Scale-Up to an
com suco de manga (27) com aceitabilidade satisfatória. Bruno et al Industrial Pilot-Scale Production. J. Food Sci. 83, 711-722, 2018.
(28) estudaram a viabilidade do uso da bebida vegetal de caju como 16. FREITAS, J.B.; FERNANDES, D.C.; CZEDER, L.P.; LIMA, J.C.R.;
matriz para incorporação de probiótico e observaram que este uso é SOUSA, A.G.O.; NAVES, M.M.V. Edible Seeds and Nuts Grown in Brazil
possível sem mudanças significativas na cor, com boa aceitação as Sources of Protein for Human Nutrition. Food Nutr. Sci. 3, 720-726,
2012.
sensorial e boa qualidade microbiológica. 17. GRIFFIN, L.; DEAN, L. Nutrient Composition of Raw, Dry-Roasted, and
Skin-On Cashew Nuts. J. Food Res. 6, 13, 2017.
Oyeyinka; Odukoya e Adebayo (29) produziram análogo de queijo 18. PIMENTEL, P.G.; REIS, R.B.; LEITE, L.A.; CAMPOS, W.E.; NEIVA,
utilizando misturas em diferentes proporções de leite de soja e leite J.N.M.; SATURNINO, H.M.; COELHO, S.G. Ruminal fermentative
de castanha de caju e obtiveram que a mistura foi bem aceita e se parameters and concentration of purine derivatives in lactating dairy cows
fed cashew nut. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 64, 959-966, 2012.
mostra como um produto promissor como alternativa vegetal de 19. NAIR, K.P.P. Cashew Nut (Anacardium occidentale L.). In: Nair, K.P.P.
fonte de proteína. (Ed.). The Agronomy and Economy of Important Tree Crops of the
Developing World. Ed Elsevier, 2010, p. 21-66.
Na gastronomia, a bebida de ACC se mostra um ingrediente 20. TAMUNO, E.N.J.; MONDAY, A.O. Physicochemical, Mineral and
importante em substituição ao leite para opção de uso em dietas com Sensory Characteristics of Cashew Nut Milk. Int. J. Food Sci. Biotechnol.
4, 1, 2019.
restrição ao leite de vaca por intolerância à lactose ou alergia à 21. MANZOOR, M.F.; MANZOOR, A.; SIDDIQUE, R.; AHMAD, N.
proteína do leite (2–4) e a ótima facilidade de preparo torna seu uso Nutritional and Sensory Properties of Cashew Seed (Anacardium
possível em diversas aplicações. Este produto se mostra como occidentale) Milk. Mod. Concep. Dev. Agrono. 1, 2017.
ingrediente potencial em diversas receitas, especialmente em pratos 22. LIMA, J.R.; SOUZA, A.C.R. DE; PINTO, C.O.; et al. Estabilidade durante
armazenamento em temperatura ambiente de extrato hidrossolúvel de
veganos, como na elaboração de queijos veganos (29,30). Ainda há amêndoa de castanha-de-caju. Bol. Pesqui. Desenvolv./Embrapa
desconhecimento do produto e preferência pelo leite de vaca, porém, Agroindústria Tropical. 175, 1-15, 2018.
verifica-se que a consciência de sustentabilidade ambiental e o não 23. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; FREITAS, S.M.; FERREIRA,
consumo exacerbado de produtos de origem animal se mostram B.B.A.; COSTA, V.S. Effect of nutritional information and health claims
como motivações a fim de desenvolver o hábito de consumo de related to cashew nut and soya milk beverages on consumers’ acceptance
and perception. Nutrition & Food Sci. 47, 721-730, 2017.
produtos (alimentos e bebidas) de origem vegetal. Portanto, estudos 24. OLAGUNJU, A.I.; OYEWUMI, D.M. Physicochemical properties and
científicos, trabalhos de marketing e aplicações como ingrediente antioxidant activity of novel plant milk beverage developed from extracts
culinário podem aumentar a utilização dessa bebida vegetal pelo of tiger nut, cashew nut and coconut. J. Trop. Agric. 24, 170-176, 2019.
consumidor. 25. OLAYINKA, J.; EUGENE, Y.; OLALEKAN, O.; RICHARD, I.; CHUKA,
M. Physicochemical, microbiological and sensory characteristics of cashew
milk formulated yoghurt. Afr. J. Food Sci. 12, 204-209, 2018.
CONCLUSÕES 26. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; AFONSO, M.R.A.
Optimization of the acceptance of prebiotic beverage made from cashew
A bebida vegetal de castanha de caju apresenta excelentes nut kernels and passion fruit juice. J. Food Sci. 79, S1393-1398, 2014.
características nutricionais e diversas possibilidades de uso na 27. REBOUÇAS, M.C.; RODRIGUES, M.C.P.; DE FREITAS, S.M.;
elaboração de bebidas e produtos alimentícios análogos aos FERREIRA, B.B.A. The physicochemical optimization and acceptability of
a cashew nut-based beverage varying in mango juice and sugar, a pilot
laticínios. São necessários mais estudos em relação a usos da bebida study. Beverages 2, 23, 2016.
e o estabelecimento de padrões de qualidade no caso de produtos 28. BRUNO, L.M.; LIMA, J.R.; WURLITZER, N.J.; RODRIGUES, T.C. Non-
industrializados para garantir maior confiança e segurança para o dairy cashew nut milk as a matrix to deliver probiotic bacteria. Food Sci.
consumidor. Technol. Epub., 2019.
29. OYEYINKA, A.T.; ODUKOYA, J.O.; ADEBAYO, Y.S. Nutritional
composition and consumer acceptability of cheese analog from soy and
REFERÊNCIAS cashew nut milk. J. Food Process. Pres. 43, e14285, 2019.

242
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

30. CHEN, J.M.; AL, K.F.; CRAVEN, L.J.; et al. Nutritional, Microbial, and
Allergenic Changes during the Fermentation of Cashew ‘Cheese’ Product
Using a Quinoa-Based Rejuvelac Starter Culture. Nutrients 12, 648, 2020.

243
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação do Fator de Cocção e tempo de Preparo de Massas em uma Unidade de


Alimentação e Nutrição

Liziane Carlesso 1, Marcelo Kessler 2 , Willibaldo Carlotto Neto 2 , Elessandra Rosa 3, Marina Pizzi 4

Mestrado Profissional em Tecnologia e Gestão da Inovação pela Universidade Comunitária da Região de


Chapecó, Brasil (2017). Professor Titular da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil. 1
Acadêmico do curso de nutrição na Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ. 2
Nutricionista na empresa Nutribem, Chapecó - SC. 3
Mestrado em Nutrição pela UFSC. Professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil 4 E-mail:
liziane-cc@unochapeco.edu.br

Palavras-chave: preparação, rendimento, custos.

INTRODUÇÃO:
O Brasil ocupa o 9º lugar no consumo per capita de massas em Tabela - Fator de Cocção (FC), rendimento e tempo de preparo
todo o mundo. Devido ao elevado consumo e consequentemente de massas, obtidos a partir da coleta realizada em uma UAN
grande produção desse prato, conhecer o rendimento dos localizada em município no Oeste de Santa Catarina - Brasil.
diferentes tipos de massas é essencial, principalmente quando
pretende-se servir um grande número de comensais (1).
O fator de cocção (FC) é um importante indicador culinário
usado nas Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN’s) para
mensurar o rendimento de um alimento após este ser submetido
ao processo de cocção. Além disso, o mesmo ajuda a definir o
número de preparações que deverão ser produzidas e quais os
utensílios e equipamentos adequados para o preparo do prato
(DIAS,2018).
A padronização do tempo de preparo também é importante, Fonte: O autor, 2020.
pois garante que o alimento não cozinhe de mais, ou seja
servido cru, garantindo assim uma boa palatabilidade e Avaliando-se o rendimento, a massa que obteve valor mais
aceitação do produto. O tipo de calor (úmido, seco ou misto) expressivo foi: espaguete com FC= 2,52 e 1,26Kg, seguido do
empregado na cocção, também é importante, pois pode alterar o penne com FC= 2,3 e 1,15Kg, furadinho com FC= 2,26 e
FC e o tempo de preparo dos alimentos (COSTA et al.,2017). 1,13Kg, talharim grosso com FC= 2,2 e 1,1Kg, e parafuso com
Conhecendo o tempo de preparo e o rendimento das massas, as FC= 2,18 e 1,09Kg.
UAN’s conseguem calcular a quantidade de insumo que deverá Com relação ao tempo de preparo, a massa de preparo mais
ser utilizado, evitando possíveis falta, ou sobra de alimento, demorado foi o talharim grosso com 13 min, seguido do
facilitando o serviço administrativo e diminuindo o desperdício espaguete 10 min, parafuso 10 min, penne 9 min e furadinho 7
(MENEZES et al.,2018). min.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, avaliar o Percebe-se que apesar das massas conter os mesmos
tempo de preparo e o rendimento das massas preparadas no ingredientes, houve diferença significativa no rendimento e no
estabelecimento, buscando assim padronizar a produção das tempo de preparo das mesmas. Isso pode ter-se dado pela
mesmas, garantindo assim boa aceitação do produto final, diferença nas espessuras das massas, ou por fatores extrínsecos
evitando desperdício de alimentos e garantindo assim maior como o tempo de cocção, ingredientes e utensílios utilizados e
lucratividade através da redução de custos. mão de obra (3). A temperatura ambiente também pode ter
influenciado, pois na semana da coleta de dados houve bastante
MATERIAIS E MÉTODOS: variação de temperatura.
Os dados foram coletados durante o estágio obrigatório do
curso de Nutrição, em uma UAN localizada em um município CONCLUSÕES:
no Oeste de Santa Catarina – Brasil. A experiência se deu A implantação de ferramentas que auxiliam no controle de
especificamente entre os dias 22 a 26 de junho de 2020. Esta produção em UAN’s é fundamental, pois padroniza a
atividade ocorreu mediante a ciência e concordância da quantidade de insumos que devem ser utilizados e o tempo que
responsável técnica e dos proprietários do local e consistiu na determinado prato demora para ficar pronto, isso garante que a
cocção dos diferentes tipos de massas que o local serv e para os preparação seja servida com as mesmas características
seus comensais. sensoriais e qualidade, independente de quem a tenha
Cada dia da semana foi preparado um tipo diferente de massa: preparado. Além disso, auxilia no momento da compra dos
parafuso, espaguete, talharim grosso, penne e furadinho, itens para que não ocorra falta de ingredientes no momento da
respectivamente. A coleta teve início com a pesagem das preparação do prato, no cálculo do custo da preparação e ajuda
massas para obter-se o peso de 500g (cru). Em seguida elas a controlar gastos. Garantindo assim um padrão de produção,
foram postas em água já em ebulição, temperada com uma controle de custos e preços de venda que gere lucro para a
colher de sopa “rasa” de sal (25g) e 5 colheres de óleo (50ml). empresa.
Pela experiência das cozinheiras, foi solicitado a colaboração
das mesmas para obter-se o ponto correto de cocção. Após o REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
cozimento, as massas foram drenadas para eliminar o excesso
de água e pesadas para obter-se o peso cozido, possibilitando 1.DIAS BRANCO, M. MDIC - Ministério do desenvolvimento,
assim calcular o rendimento do produto final. Além do indústria e comércio exterior. Secret. Comér. Ext. -
rendimento, foi cronometrado e anotado o tempo de preparo de ALICEWEB, 2018.
cada massa.
2.COSTA, R. G. F.; PASSO, T. S.; OLIVEIRA, E. P. S. F.;
RESULTADOS E DISCUSSÃO: MACIEL, B. L. L. Determinação de fatores de cocção em
Após a experiência, pode-se perceber que todas as massas preparações. Biblio. Virt. Monogr. p. 39, jun. 2017.
obtiveram aumento de peso após o cozimento, isso se deu
porque na cocção por calor úmido a água hidrata o alimento, 3.PEREIRA, T. L. Desenvolvimento de um Catálogo de Fator
abrandando suas fibras e com isso acaba elevando o seu peso de Cocção de Alimentos Comumente Consumidos na Região do
(3). Curimataú Paraibano. Trab. Conc. Curs. p.56, 2017.

244
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

4.MENEZES, R. O. S.; SANTANA, E. M.; NASCIMENTO, M.


O. L. Elaboração de fichas técnicas das preparações oferecidas
em serviço de alimentação e nutrição de hospital público de
Salvador, BA. Higi. Alim. 32, n. 284, 46-50, 2018.

245
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Filmes e revestimentos: Potencial de aplicação da quitosana em embalagens de alimentos

Antonia Aguiar1
1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará,
livania_linhares@yahoo.com.br.

Palavras-chave: Polissacarídeo. Inovação. Shelf life.

Introdução alimento como cobertura e que tem a finalidade de inibir ou reduzir a


A indústria alimentícia, ao longo dos anos, passou por diversas migração de umidade, oxigênio, dióxido de carbono, aroma, dentre
mudanças para se adequar as necessidades dos consumidores, levando outros, pois funcionam como barreiras semipermeáveis (13).
a comercialização de produtos com qualidade e praticidade. A Conforme Sahraee et al. (14), os filmes e revestimentos comestíveis
demanda, por exemplo, de alimentos minimamente processados, que oferecem numerosas vantagens como, baixo custo, possibilidade de
apresentem as características sensoriais e nutricionais similares aos embalagens individuais, melhora das propriedades mecânicas,
presentes no produto in natura, aliado ainda, a qualidade organolépticos, nutricionais, além de poderem ser consumidos
microbiológica e preço acessível tem aumentado significativamente. juntamente com o produto. Ainda, com relação às propriedades, as
Isso resulta na necessidade de prolongar o tempo de estocagem de principais vantagens são: retardar a transferência de água, gases,
alimentos com diferentes condições de armazenamento, requerido o gorduras e solutos; diminuição de substâncias voláteis presentes;
desenvolvimento de embalagens de modo a assegurar a shelf life do melhorar a coesão e conservação dos alimentos; proteger de
produto. contaminantes microbianos e outros; proteger de certos agentes
A diversidade de tecnologias empregadas na expansão de embalagens externos (H2O, CO2, etc.); diminuindo a contaminação ambiental;
para alimentos, proporcionando comunicação e interação, tanto com a possuir boas propriedades sensoriais.
cadeia produtiva como para o consumidor influenciou ao Os principais componentes dos nossos alimentos (Figura 1) podem
desenvolvimento de filmes e revestimentos. Ainda, a preocupação em preencher os requisitos como materiais-base na produção de filmes
relação aos impactos ambientais provocados pela utilização de comestíveis. Estes biopolímeros são empregados como revestimentos
embalagens convencionais, considerando a grande quantidade de nos alimentos e podem ser utilizados de forma isolada ou combinados
resíduos sólidos gerados e, o tempo que leva para sua completa entre si ou com outros compostos. As características químicas e físicas
degradação. Nesse sentido, tornam-se importantes pesquisas dos biopolímeros influenciam a funcionalidade dos revestimentos
direcionadas para as questões sustentáveis e, introdução de produtos resultantes, por isso a sua seleção deve ser criteriosa de acordo com as
no mercado que levem em consideração conveniência, qualidade e suas propriedades e exigências do alimento a revestir (15).
sustentabilidade (1). Muitas pesquisas estão sendo realizadas na
tentativa de substituir os polímeros sintéticos por matérias primas Figura 1: Principais biopolímeros empregados na produção de filmes e
biodegradáveis que possam ser assimilados pelo meio ambiente. revestimentos
Atualmente, têm se destacado embalagens com atividades
antimicrobianas. Compostos naturais e sintéticos têm seu potencial
FILMES E REVESTIMENTOS
antimicrobiano analisado dentro deste conceito, a exemplo de ácidos
orgânicos, bacteriocinas e fungicidas, como os benzoatos e sorbatos.
Polímeros com atividade antimicrobiana natural, como as quitosanas e Polissacarídeos Proteínas Lipídeos
as poliamidas, também estão sendo estudados (2).
Filmes e revestimentos à base de quitosana tem sido utilizado na Vegetais (Proteína de
indústria alimentícia para conservação de frutos e vegetais (3, 4), Celulose, Gomas, Ceras (abelha,
Amido, Carragena, Soja, Glúten), Animais carnaúba, goma-
crustáceos (5), laticínios (6, 7) e carnes (8, 9), melhorando a qualidade (Soro do leite, laca), Óleos
Alginato
desses alimentos e, extensão da shelf life. Diante disso, o objetivo Caseína) (vegetais)
dessa revisão foi abordar o potencial de aplicação de filmes e
revestimentos, em especial quitosana, como embalagens para
alimentos. Os filmes comestíveis são películas de variadas espessuras
constituídas por diferentes substâncias naturais e/ou sintéticas que se
Filmes e Revestimentos polimerizam e isolam o alimento, sem riscos à saúde do consumidor,
As embalagens são responsáveis por agregar informações como uma vez que não são metabolizados pelo organismo e sua passagem
identidade do produto, marca, data de produção e validade, instruções pelo trato gastrointestinal se faz de maneira inócuo (16).
de preparo, informações nutricionais e modo de armazenamento.
Ainda, a embalagem atua como um sistema que protege um produto Formação de Filmes e revestimentos
perecível de danos físicos e possíveis contaminantes, extremas A obtenção de filmes comestíveis fundamenta-se na dispersão ou
condições de temperatura e umidade ou atmosferas que contenham solubilidade de polímeros em um solvente (água, etanol ou ácidos
gases que possam degradar o produto (10, 11). orgânicos), posteriormente adicionam-se aditivos (plastificantes,
Embalagens comestíveis são coberturas utilizadas em alimentos na agentes de ligação, entre outros), obtendo-se assim uma solução
forma de filmes ou revestimentos, formadas por macromoléculas tanto filmogênica que passará por uma operação de secagem para a
de origem vegetal como de origem animal. Nem sempre viabiliza a formação dos filmes. Nesta etapa, ocorre o aumento da concentração
substituição de materiais de embalagem sintética, mas ajudam a do biopolímero na solução, devido à evaporação do solvente, e
proporcionar maior qualidade, estendendo a vida útil do produto. Elas consequentemente, a agregação das moléculas de uma rede
são divididas em dois tipos: os filmes e os revestimentos. Filmes e tridimensional (10, 14, 17). Portanto, as características finais destes
revestimentos comestíveis são termos usados na área alimentar e, filmes comestíveis estão intimamente ligadas às propriedades dos
muitas vezes sem distinção. Contudo, é importante fazer a distinção biopolímeros utilizados como base. Sendo assim, torna-se
destes dois termos: o filme é uma película formada separadamente, indispensável o conhecimento das propriedades das matérias-primas
pela secagem da solução do biopolímero, do alimento, que é bem como os possíveis mecanismos de formação dos filmes.
posteriormente aplicado; enquanto que o revestimento pode ser uma Os filmes e coberturas comestíveis devem apresentar as propriedades
suspensão ou uma emulsão aplicada diretamente na superfície do organolépticas mais neutras possíveis (serem claros, transparentes,
alimento que após secagem leva à formação de uma película sobre o inodoros, insípidos) para que não sejam descobertos quando ingeridos.
produto (10, 12). Filmes a base de hidrocolóides são geralmente mais neutros que os
Recentemente, filmes e revestimentos comestíveis têm recebido formados a partir de lipídeos ou derivados de ceras, que são
interesse na indústria alimentícia devido às vantagens que os frequentemente opacos, moles e escorregadios ao degustar (17).
diferenciam das embalagens não comestíveis. A biodegradabilidade Filmes compostos por polissacarídeos (celulose e derivados, amidos e
inerente ao filme é uma de suas vantagens. Ainda, maior segurança derivados, gomas, etc.) ou proteínas (gelatina, zeina, glúten, etc.)
alimentar pode ser alcançada pela incorporação de agentes ativos no possuem propriedades ópticas e mecânicas adequadas, baixa
filme. Trata-se de finas camadas de material depositado em um permeabilidade ao oxigênio, dióxido de carbono e lipídeos, mas são

246
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

altamente sensíveis à mistura e demonstram fracas propriedades 2- PAGNO, C. H.; COSTA, T. M. H.; DE MENEZES, E. W.;
separatórias de vapor d’água. Em contraste, filmes à base de lipídeos BENVENUTTI, E. V.; HERTZ, P. F.; MATTE, C. R.; TOSATI, J. V.;
(ceras, lipídeos e derivados) possuem uma boa propriedade separatória MONTEIRO, A. R.; RIOS, A. O.; FLÔRES, S. H. Development of
de vapor d’água, mas são normalmente opacos e relativamente active biofilms of quinoa (Chenopodium quinoa W.) starch containing
inflexíveis. Filmes de lipídeos podem ser também bem frágeis e gold nanoparticles and evaluation of antimicrobial activity. Food
instáveis (rancidez) (18). Chem. 173, 755-762, 2015.
3- BUSO, E. K. R. P.; CLEMENTE, E.; ESTRADA, K. R. F. S.;
Quitosana ZÁRATE, A. H; OLIVEIRA, J. S. B. Comportamento pós-colheita de
Quimicamente, a quitosana é um copolímero formando por unidades mandioquinha-salsa revestida com quitosana. Rev. Ciênc. Agron. 45,
de N-acetil-d-glucosamina e N-glucosamina ligada por uma ligação 850-855, 2014.
glicosídica β (1,4) e, derivado do processo de desacetilação da quitina, 4- SUSENO, N.; SAVITRI, E.; SAPEI, L.; PADMAWIJAYA, K. S.
segundo polímero mais abundante da natureza, depois da celulose, e Improving shelf-life of cavendish banana using chitosan edible
que pode está presente na composição de exoesqueleto de crustáceos coating. Procedia Chem. 9, 113-120, 2014.
como camarão, siri, caranguejo e lagosta, insetos assim como, na 5- FARAJZADEH, F.; MOTAMEDZADEGAN, A.; SHAHIDI, S. A.;
parede celular de fungos (19, 20). HAMZEH, S. The effect of chitosan-gelatin coating on the quality of
A quitosana apresenta diversas propriedades, tais como: atoxicidade, shrimp (Litopenaeus vannamei) under refrigerated condition. Food
biocompatibilidade e biodegradabilidade, atividade antimicrobiana e Control 67, 163-170, 2016.
propriedades físico-químicas que possibilita a formação de filmes. Por 6- GOMES, H. C. A.; FIGUEIREDO, E. A. T.; CARVALHO, J. D.
estas razões, ela tem apresentado grande potencial de aplicação em G.; DIAS, F. G. B.; TEIXEIRA, G. S. M.; DA SILVA, L. R.;
embalagens alimentícias, fatores estes importantes para conservação PEREIRA, E. C. Avaliação da atividade antimicrobiana da quitosana
de alimentos e prolongação da vida útil de diferentes produtos em sorvete inoculado com Listeria innocua. Blucher Food Sci. Proc.
alimentícios (21). A aplicação de filmes à base de quitosana em frutos 1, 81-82, 2014.
e outros alimentos têm sido utilizados com finalidade de conferir 7- MEI, J.; YUAN, Y.; WU, Y.; LI, Y. Characterization of edible
proteção contra patógenos, melhorar seu aspecto sensorial como starch–chitosan film and its application in the storage of Mongolian
aparência e coloração, fatores estes importantes na escolha do produto cheese. Int. J. Biol. Macromol. 57, 17-21, 2013.
pelo consumidor. Ainda, retardar o amadurecimento, assim como 8- CARDOSO, G. P.; DUTRA, M. P.; FONTES, P. R.; RAMOS, A.
evitar perda de massa e troca gasosa (22). Silva et al. (20) em estudo L. S.; GOMIDE, L. A. M.; RAMOS, E. M. Selection of a chitosan
sobre a utilização de quitosana em amendoim, verificaram que a gelatin-based edible coating for color preservation of beef in retail
quitosana foi capaz de inibir o crescimento de micélio e de provocar display. Meat Sci. 114, 85-94, 2016.
alterações morfológicas nos esporos de Aspergillus parasiticus in 9- PAPARELLA, A.; MAZZARRINO, G.; CHAVES-LÓPEZ, C.;
vitro. Ainda, a aplicação de quitosana pelo método de aspersão foi ROSSI, C.; SACCHETTI, G.; GUERRIERI, O.; SERIO, A. Chitosan
mais eficiente quando comparado ao método de imersão. boosts the antimicrobial activity of Origanum vulgare essential oil in
Suseno et al. (4) avaliaram a utilização de quitosana na elaboração de modified atmosphere packaged pork. Food Microbiol. 59, 23-31,
revestimento com aplicação em bananas, observaram que o método foi 2016.
eficaz para extensão a vida útil do fruto, assim como ocorreu redução 10- SUHAG, R.; KUMAR, N.; PETKOSKA, A. T.; UPADHYAY, A.
de perda de peso e vitamina C e, melhor aceitação sensorial. Film formation and deposition methods of edible coatingon food
Os filmes e revestimento à base de quitosana são elásticos, flexíveis, products: a review. Food Res. Int. 136, 109582, 2020.
de difícil rompimento e oferecem barreiras excelentes para o oxigênio, 11- KUMARI, M.; MAHAJAN, H.; JOSHI, R.; GUPTA, M.
porém não possuem alta permeabilidade ao vapor de água. Uma das Development and structural characterization of edible films for
maneiras mais eficazes de melhorar as propriedades da quitosana, improving fruit quality. Food Packag. Shelf Life 17, 42-50, 2017.
principalmente de barreira a água é misturar com outros 12- GALUS, S.; KADZINSKA, J. Food applications of emulsion-
polissacarídeos, proteínas ou lipídeos (23). based edible films and coatings. Trends Food Sci. Technol. 45, 273-
Farajzadeh et al. (5) realizaram uma ampla pesquisa sobre a aplicação 283-2015.
de revestimento de quitosana com gelatina em camarão (Litopenaeus 13- HASSAN, B.; CHATHA, S. A. S.; HUSSAIN, A. I.; ZIA, K M.;
vannamei), sob refrigeração. Neste estudo os autores verificaram que AKHTAR, N. Recent advances on polysaccharides, lipids and protein
o revestimento foi eficaz no aumento da vida útil do camarão, quando based edible films and coatings: A review. Int. J. Biol. Macromol.
comparado com a amostra controle, 14 e 8 dias, respectivamente. 109, 1095-1107, 2018.
Ainda, contribuiu com a melhoria da perda de peso e aspectos 14- SAHRAEE, S.; MILANI, J. M.; REGENSTEIN, J. M.; KAFIL, H.
sensoriais como textura e cor. Paparella et al. (9) avaliaram a S. Protection of foods against oxidative deterioration using edible
utilização de quitosana e óleo essencial de orégano (Origanum films and coatings: A review. Food Biosci. 32, 100451, 2019.
vulgare) em carne de porco sob atmosfera modificada, verificando sua 15- ASSIS, O. B. G.; BRITTO, D. Revisão: coberturas comestíveis
atividade antimicrobiana para bactérias de deterioração, tais como protetoras em frutas: fundamentos e aplicações. Braz J. Food Technol.
Brochothrix ssp., Pseudomonas spp. e Listeria monocytogenes. Os 17, 87-97, 2014.
autores concluíram que a combinação de quitosana com óleo essencial 16- OLIVEIRA, T. A.; LEITE, R. H. L.; AROUCHA, E. M. M.;
de orégano apresentou um ótimo potencial para aplicação em carne de FERREIRA, R. M. A. Efeito do revestimento de tomate com biofilme
porco sob atmosfera modificada, mostrando efeitos significativos na aparência e perda de massa durante o armazenamento. Rev. Verde
contra micro-organismos importantes na deterioração de carnes, fator 6, 230 – 234, 2011.
esse importante para prolongar a shelf life do produto. 17- NAIR, M. S.; TOMAR, M.; PUNIA, S.; KUKULA-KOCH, W.;
KUMAR, M. Enhancing the functionality of chitosan-and-alginate-
Considerações Finais based active edible coatings/films for the preservation of fruits and
O interesse na elaboração de filmes e revestimentos, comestíveis ou vegetables: A review. Int. J. Biol. Macromol. 164, 304-320, 2020.
degradáveis biologicamente, deve-se, principalmente a demanda por 18- GANIARI, S.; CHOULITOUDI, E.; OREOPOULOU, V. Edible
alimentos de alta qualidade associado à preocupação ambiental com and active films and coatings as carriers of natural antioxidants for
relação ao descarte de materiais não renováveis de embalagens de lipid food. Trends Food Sci. Technol. 68, 70-82, 2017.
alimentos. Ainda, visando garantir a qualidade e segurança dos 19- ALJAWISH, A.; MUNIGLIA, L.; KLOUJ, A.; JASNIEWSKI, J.;
produtos, como aumento da shelf life. O interesse em SCHER, J.; DESOBRY, S. Characterization of films based on
desenvolvimentos de novas pesquisas para aplicações da quitosana no enzymatically modified chitosan derivatives with phenol compounds.
setor alimentício deve-se as diversas propriedades presentes que lhe Food Hydrocoll. 60, 551–558, 2016.
confere uma grande perspectiva de aplicação em novas embalagens, 20- SILVA, J. F. M.; PRADO, G.; MADEIRA, J. E. G. C.;
além de apresentar a característica de ser biodegradável e oriundo de OLIVEIRA, M. S.; FARACO, A. A. G.; MALTA, C. M.; NICOLI, J.
fonte renovável. R.; PIMENTA, R. S. Utilização de filme de quitosana para o controle
de aflatoxinas em amendoim. Bragantia 74, 1-9, 2015.
Referências 21- KUMAR, S. MUKHERJEE, A.; DUTTA, J. Chitosan based
1- UMARAK, P.; MUNEKATA, P. E. S.; VERMA, A. K.; BARBA, nanocomposite films and coatings; Emerging antimicrobial food
F. J.; SINGH, V. P.; KUMAR, P.; LORENZO, J. M. Edible packaging alternatives. Trends Food Sci. Technol. 97, 196-209, 2020.
films/coating with tailored properties for active packaging of meat,
fish and derived products. Trends Food Sci. Technol. 98, 10-24,2018.

247
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

22- BROEK, L. A. M. V. D.; KNOOP, R. J. I.; KAPPEN, F. H. J.;


BOERIU, C. G. Chitosan films and blends for packaging material.
Carbohydr. Polym. 116, 237-242, 2015.
23- BENBETTAÏEB, N.; KUREK, M.; BORNAZ, S.;
DEBEAUFORT, F. Barrier, structural and mechanical properties of
bovine gelatin–chitosan blend films related to biopolymer interactions.
J. Sci. Food Agr. 94, 2409–2419, 2014.

248
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização de cerveja artesanal adicionada de extratos do hibisco (Hibiscus sabdariffa L.)


obtidos em diferentes condições

Riclenya Alves1, Regina Costa2, Keyla Fonseca3, Diego Lemos4, Hilário Filho5, Thayza Stamford6
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco. 2Graduada em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. 3Mestre em Nutrição,
Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco. 4Mestrando em Desenvolvimento de
Processos Ambientais, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife, Pernambuco. 5Docente do curso de
Engenharia Química, UNICAP, Recife, Pernambuco. 6Docente do Programa de Pós-graduação em Nutrição (UFPE),
Recife, Pernambuco. Correspondência: riclenyapaulina@gmail.com.

Palavras-chave: Amargor, Cor, Compostos bioativos, Bebida alcoólica.

Introdução estimado pela equação de Balling. O pH foi aferido em potenciômetro


Segundo a legislação brasileira, a cerveja é definida como digital (DM21, Digimed®).
uma bebida resultante da fermentação por levedura cervejeira, do Resultados e Discussão
mosto de cevada ou do extrato de malte, previamente submetido a O amargor das cervejas teste foram inferiores à padrão e variaram
cocção junto ao lúpulo ou seu extrato (1). A cerveja artesanal entre 14,7 a 24,9, resultados similares foram apresentados por Silva &
apresenta escala produtiva menor, parcial ou totalmente isenta de Faria (2008), que observaram a variação de 14 a 27 em cervejas
processos industriais e, comumente recebe a adição de diversos brasileiras e americanas (5). Os extratos real e primitivo revelaram
coadjuvantes de origem animal e vegetal (2). que as cervejas foram classificadas como tipo Extra, segundo a
Na literatura, os extratos vegetais de ervas em forma de legislação brasileira. Em relação ao pH, as cervejas apresentaram
chás ou infusões apresentam amplo benefício ao mercado alimentício, valores entre 3,6 a 4,2. Whilst Giis e col. (2005) observaram pH entre
inclusive no setor cervejeiro (3,4). O hibisco (Hibiscus sabdariffa L.) 4,2 a 4,6 em cervejas tipo larger (6). EBC e IBU diferentes foram
é uma planta de cor vermelho escura que contém alto teor de observados em cervejas adicionadas de gojiberries, sendo 39,4 e 78,
compostos bioativos, dentre eles, as antocianinas (3). Além da respectivamente (4).
coloração, essa substância também apresenta propriedades funcionais, Tabela 3. Caracterização da cerveja artesanal adicionada de diferentes
dentre elas, antioxidantes e antimicrobianas, que são exploradas pela extratos de hibisco através do amargor (IBU), cor (EBC), extrato real,
indústria no enriquecimento e preservação dos alimentos (3). extrato primitivo e pH.
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar os efeitos dos Ensaio IBU EBC ER EP pH
extratos de hibisco (Hibiscus sabdariffa L.) obtidos em diferentes s
condições, sobre parâmetros de caracterização sensorial em uma Padrão 24,3±0,0 67,2±0,0 4,0±0,2 12,9±,25ª 4,1±0,0
cerveja artesanal. 0a 3ª 5ª 1ª
Material e Métodos 1 20,7±0,0 65,0±0,1 5,5±1,0 14,3±0,9 4,2±0,0
Para o desenvolvimento da cerveja artesanal adicionada 5b 0b 0a 5ª 1b
com extratos de hibisco (Hibiscus sabdariffa L.), foi realizado o 2 19,2±0,6 70,5±0,0 3,7±0,2 12,6±0,2 3,6±0,2
planejamento fatorial com desenho de 2³ considerando as variáveis 5b 8b 5ª 5ª 4ª
independentes de concentração (2g; 3,5g e 5g), temperatura (30°C; 3 14,7±1,7 70,0±0,0 3,4±0,0 12,4±0,0 3,9±0,0
40°C e 60°C) e tempo (5min; 7,5min e 10 min). 0b 8b 5ª 0a 3b
Tabela 1. Planejamento fatorial 23 para obtenção dos extratos em 4 16,8±1,3 63,8±0,0 4,8±0,5 13,7±0,5 3,8±0,0
diferentes tempos, temperaturas e concentrações. 0b 5b 0ª 0ª 7ª
Ensaios Concentração Temperatura Tempo de 5 14,6±0,8 61,3±0,0 4,4±,15ª 13,3±0,1 4,0±0,0
de hibisco de extração extração 0b 8b 5ª 0b
(g/100mL) (ºC) (min) 6 21,1±0,0 61,4±0,0 3,1±0,0 12,1±0,0 3,9±0,0
1 2 30 5 3b 8b 5ª 5ª 1b
2 5 30 5 7 17,5±1,4 63,8±0,0 3,1±0,1 12,1±0,1 4,0±0,0
3 2 60 5 5b 6b 5ª 5ª 1ª
4 5 60 5 8 19,3±0,0 59,9±0,6 3,9±0,0 12,9±0,0 4,1±0,0
5 2 30 10 4b 3b 5ª 5ª 1ª
6 5 30 10 9 20,9±0,3 59,9±0,0 2,8±0,1 11,8±0,1 3,9±0,0
7 2 60 10 0b 3b 0ª 0ª 0b
8 5 60 10 10 15,6±0,2 69,0±0,1 4,6±0,3 13,5±0,3 4,1±0,0
9 3,5 45 7 5b 0b 5ª 5ª 4ª
10 3,5 45 7 11 21,9±1,0 64,7±0,1 4,2±0,0 13,1±0,0 3,9±0,0
11 3,5 45 7 0a 1b 0a 5ª 5ª
12 3,5 45 7 12 19,4±0,4 62,1±,00b 3,0±0,2 12,0±0,2 4,0±0,0
A cerveja artesanal foi obtida através de receita base 0 b
5ª 5 a
1b
contendo ingredientes, como: água, mix de maltes, lúpulo e levedura Dados em média ± erro padrão da média, letras diferentes na mesma
(Tabela 2). A infusão de hibisco foi adicionada após a etapa de coluna indicam diferença estatística (p<0,05). Padrão se refere a
maturação, sendo cerca de 25ml por formulação. cerveja controle, sem infusão de hibisco.
Tabela 2. Descrição da formulação base da cerveja artesanal Conclusão
Ingrediente Quantidade (kg) A adição de extratos de hibisco obtidos por diferentes
Água 60 tempos, temperaturas e concentrações trouxeram alterações
Mix de malte 8,2 significativas em parâmetros sensoriais de cor e amargor, mas não
Lúpulo 0,2 influenciaram aspectos físico-químicos de cervejas artesanais.
Levedura 0,115 Referências
As cervejas foram caracterizadas quanto a cor, por 1.BRASIL. Decreto Nº 9.902, de 8 de julho de 2019. Altera o Anexo
espectrofotometria para determinar o EBC (European Brewing ao Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009, que regulamenta a Lei nº
Convention) por absorbância a 430nm. O amargor ou IBU 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a
(International Bitterness Units) foi determinado após filtragem e classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de
descarbonatação, seguida da acidificação por HCl 6,0M e aferição da bebidas. Poder executivo, Brasilia, DF, 04 de jun de 2009. Seção 3,
absorbância a 275nm em espectrofotômetro. O extrato real (ER) foi pag 10.
obtido por método gravimétrico, enquanto o primitivo (EP) foi

249
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

2.D'AVILA, RF et al. Adjuntos utilizados para produção de cerveja:


características e aplicações. Estudos Tecnológicos em Engenharia,
8(2), 60-68, 2012.
3.DA-COSTA-ROCHA, I et al. Hibiscus sabdariffa L. A
phytochemical and pharmacological review. Food chemistry, 165,
424-443, 2014.
4.DUCRUET, J.; REBENAQUE, P.; DISERENS, S.; CAGNAZZO,
AK.; HÉRTIER, I.; ANDLAUER, W. Amber ale beer enriched with
goji berries: the effects on bioactive compound content and sensorial
properties. Food Chemistry. 226, 109-118, 2017.
5. SILVA, PHA; FARIA, FC. Avaliação da intensidade de amargor e
do seu princípio ativo em cervejas de diferentes características e
marcas comerciais. Food Science and Technology, 28(4), 902-906,
2008.
6.GIJS, L.; CHEVANCE, F.; JERKOVIC, V.; COLLIN, S. How low
pH can intensify β-damascenone and dimethyl trisulfide production
through beer aging. J. Agric. Food Chem. 50(20), 5612-5616, 2002.

250
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Potential of Syzygium Aromaticum Merr (L.) & L.M.Perry Essential Oil Microcapsules for
Food: Preparation, Characterization and Anti-acetylcholinesterase Activity
Silvana Farias1, Arcelina Pacheco2, Daniela Alves3, Nágila Ricardo4, Selene Morais5

1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Universidade Estadual do Ceará, Ceará-Brasil
2
Doutora do Programa de Pós-Graduação em Química, Universidade Federal do Ceará, Ceará-Brasil
3
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciênciais Naturais, Universidade Estadual do Ceará, Ceará-Brasil
4
Doutora em Química de Polímeros, Universidade de Manchester, Inglaterra
5
Doutora em Química, Universidade de Londom, Inglaterra, selenemaiademorais@gmail.com

Key words: Microencapsulation, functional properties, Ellman method (16). Dilutions of samples and standards were made for
natural products. quantitative microplate evaluations, from a mother solution with a
concentration of 2.0 x 104 µg.mL- 1 , following a dilution of 200 µg.mL-
1
, 100 µg.mL-1, 50 µg.mL- 1, 25 µg.mL-1, 12.5 µg.mL-1, 6.25 µg.mL-1,
INTRODUTION
3.12 µg.mL-1, 1.56 µg.mL-1, and 0.78 µg.mL-1. The control used was
Spices such as cloves, oregano, mint, thyme and cinnamon, have been physostigmine with an IC50 inhibitory concentration value of 1.15 ±
used for centuries as food preservatives and as medicinal plants (1). 0.05 µg.mL-1.
Cloves are native to Indonesia and used in cooking all over the world, All samples were analyzed in triplicate. The samples showed their own
originating from the species Syzygium aromaticum L. belongs to the color absorbed by the reading wave spectrum, so the values for color
Myrtaceae family, is known to have antimicrobial, antioxidant, were deducted. After normalizing the data, a non-linear regression
antiviral, anticancer, anti-inflammatory and antinociceptive properties curve test was performed using the statistical program GraphPad Prism
(2, 3). v5.01.
Recent research suggests the use of clove essential oil (CEO) in
biofilms for food packaging, due to its action against fungi, bacteria RESULTS AND DISCUSSION
(4,5,6), and its recognized antioxidant activity in vitro e in vivo (7,8,9).
In the literature, the use of clove essential oil in Ayurvedic medicine is The infrared spectrum of the G polysaccharide used as the microcapsule
reported as a nervous stimulant and cognitive enhancer to combat the coating matrix showed a wide band at 3400 cm-1 due to the groups (O-
rate of reduction of cerebral acetylcholine during Alzheimer's disease H) present in the molecule, at approximately 2909 cm-1 there was
(10).
absorption related to the bonds (C-H). The absorption at 1152 cm-1 is
Essential oils (EOs) extracted from plants are volatile liquids and
related to the vibrational stretching of the (C-O) of the pyranose ring,
consist of up to 100 secondary metabolites, mainly terpenes and
terpenoids, consisting of 2-3 main elements and some trace elements the peak at 1025 cm-1 can be attributed to the axial deformation (C-OH)
(11). EOs are widely recognized for having functional potential as an of the C-4 of the pyranose ring, absorption bands in 814 and 877 cm-1
antimicrobial and antioxidant agent, however, they have high volatility, are related to anomeric connections (Figure 1). These spectral bands
hydrophobicity and propensity to oxidation (12), to improve activities characterize the polysaccharide G and are in line with others extracted
of EOs the food industry has made use of microencapsulation. from different plant species (17). The CEO also presented axial
Microencapsulation is a process in which individual particles are stretching (O-H) at 3520 cm-1, and aromatic ether at 1033 cm-1, in
covered by a polymeric film, to produce small capsules (13), in order addition to the aromatic ring band at 1520 cm-1 (Figure 1), these bands
to protect substances from the external environment, mask flavor, are also present in the study of eugenol major component of the CEO
promote prolonged release, among others (14). (18).
In view of the properties of CEO both as an adjuvant in food and herbal The microcapsules of the CEO did not show the characteristic signs of
medicine, the objective of this work was to produce microcapsules with the fingerprint of the essential oil, there is only a narrowing of the band
CEO and galactomannan (G) extracted from Delonix regia, using the
(O-H), there was no appearance of new absorption bands, this fact
microencapsulation technique by Spray drying.
As specific objectives, the microcapsules will be characterized by points out that there was no chemical interaction between G and the
Fourier Transform Infrared Spectroscopy (FTIR) and Scanning CEO, in fact occurring the microencapsulation of the EO, with the
Electron Microscopy (SEM), in addition to being evaluated for anti- formation of microcapsules capable of transporting the active
acetylcholinesterase (AChE) activity, in order to observe the potential ingredient, G has shown itself as a good carrier of bioactive, non-toxic
of these microcapsules for the food industry. and sustainable that can have wide purpose in the food industry.
In general, galactomannans have aroused research interest in various
MATERIAL AND METHODS industrial sectors, due to the ability to form gel in aqueous solution,
which makes them useful for several applications such as: water
Cloves were purchased at the São Sebastião Market in Fortaleza-Ceará retention, thickening, gelling, emulsifiers, film formation, among others
and the essential oil was extracted by hydrodistillation in a clevenger (19).
apparatus for 4 hours, the coating matrix polysaccharide for the
microcapsules was obtained from the seeds of D. regia following the Figure 1. Infrared spectrum of Galactomannan polysaccharide (G),
methodology proposed in literature with adaptations (15). Clove essential oil (CEO) and Clove essential oil microcapsules with
Microcapsules were prepared with a 0.2% aqueous solution of the galactomannan (GCEO).
polysaccharide and 1.0 g of the essential oil of the clove. The solution
was subjected to the Spray drying technique using the Mini Spray-
Dryer model Büchi B-290, with an inlet temperature of 140 ° C, an
outlet temperature of 90 ° C, a pump flow of 20% and an exhaust
efficiency of 100%.
The characterization by FTIR was performed in a spectrophotometer
model Shimadzu FTIR 8300, the microcapsules were ground with
potassium bromide (KBr) to obtain the tablets.
Scanning Electron Microscopy (SEM) was performed using a scanning
microscope model FEG Quanta 450 Ambiental with 2000x
magnification rate and acceleration voltage between 15Kv - 20Kv.
The acetylcholinesterase (AchE) activity assay was performed in a 96-
well plate, the inhibitory activity (AchE) was read in an Elisa BIOTEK
reader, model ELX 800, software “Gen5 V2.04.11”, based on the

251
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Through SEM (Figure 2) it was possible to observe that the (5) BUDRI, P. E.; SILVA, N. C.; BONSAGLIA, E. C.; JÚNIOR, A. F.;
microcapsules coated with G from D.regia had a spherical shape and JÚNIOR, J. A.; DOYAMA, J. T.; GONÇALVES, J .L.; SANTOS,
regular size, the surface and the interior of the microcapsules probably M.V.; FITZGERALD-HUGHES, D.; RALL, V. L. Effect of essential
presented circular deformations due to the physical interaction of the oils of Syzygium aromaticum and Cinnamomum zeylanicum and their
oil with the polymeric matrix. major components on biofilm production in Staphylococcus aureus
strains isolated from milk of cows with mastitis. J. Dairy. Sci. 98, 9,
In the microencapsulation of curcumin by Spray drying with modified 5899-5904, 2015.
corn starch, β-cyclodextrin and gelatin, a morphology similar to the (6) XU, Y.; CHU, Y.; FENG, X.; GAO, C.; WU, D.; CHENG, W.;
microcapsules produced in this work was observed (20). TANG, X. Effects of zein stabilized clove essential oil Pickering
emulsion on the structure and properties of chitosan-based edible films.
Figure 2. Micrograph of Clove essential oil microcapsules with Int. J. Biol. Macromol. 156, 111-119, 2020.
(7) RADÜNZ, M.; DA TRINDADE, M. L. M.; CAMARGO, T. M.;
galactomannan (GCEO).
RADÜNZ, A. L.; BORGES, C. D.; GANDRA, E. A.; HELBIG, E.
Antimicrobial and antioxidant activity of unencapsulated and
encapsulated clove (Syzygium aromaticum, L.) essential oil. Food.
Chem. 276, 180-186, 2019.
(8) IMANE, N. I.; FOUZIA, H.; AZZAHRA, L. F.; AHMED, E.;
ISMAIL, G.; IDRISSA, D.; NOUREDDINE, B. Chemical
composition, antibacterial and antioxidant activities of some essential
oils against multidrug resistant bacteria. Eur. J. Integr. Med. 35,
101074, 2020.
(9) DEANS, S. G.; NOBLE, R. C.; HILTUNEN, R.; WURYANI, W.;
PENZES, L. G. Antimicrobial and antioxidant properties of Syzygium
aromaticum (L.) Merr. & Perry: impact upon bacteria, fungi and fatty
acid levels in ageing mice. Flavour and Fragrance Journal. 10, 5, 323-
328, 1995.
(10) Shekhar, S.; Yadav, Y.; Singh, A. P.; Pradhan, R.; Desai, G. R.;
Dey, A. B.; Dey, S. Neuroprotection by ethanolic extract of Syzygium
aromaticum in Alzheimer's disease like pathology via maintaining
The anti-acetylcholinesterase activity of the microcapsules showed an oxidative balance through SIRT1 pathway. Exp. Gerontol, 110, 277-
IC50 inhibitory concentration of 12.23 ± 0.48 µgmL-1, this value 283, 2018.
demonstrates that microcapsules made with natural products are (11) VÁZQUEZ-UCHA, J. C.; MARTÍNEZ-GUITIÁN, M.;
potential inhibitors of acetylcholine and can be used as nutraceuticals. LASARTE-MONTERRUBIO, C.; CONDE-PÉREZ, K.; ARCA-
Through the encapsulation of CEO in nanostructured lipids, there is a SUÁREZ, J., ÁLVAREZ-FRAGA, L., POZA, M. Syzygium
better performance against (AchE) of CEO encapsulated in aromaticum (clove) and Thymus zygis (thyme) essential oils increase
microcapsules than free CEO (21). susceptibility to colistin in the nosocomial pathogens Acinetobacter
baumannii and Klebsiella pneumoniae. Biomed. Pharmacother.
130,110606, 2020.
CONCLUSIONS (12) JUGREET, B. S.; SUROOWAN, S.; RENGASAMY, R. R.;
MAHOMOODALLY, M. F. Chemistry, bioactivities, mode of action
The production of microcapsules with CEO is promising as a functional and industrial applications of essential oils. Trends. Food. Sci.Technol.
101, 89-105, 2020.
food, since it combines the antioxidant properties of essential oil with
(13) TYAGI, V. V.; KAUSHIK, S. C.; TYAGI, S. K.; AKIYAMA, T.
the gelling and emulsifying properties of the polysaccharide (oil-
Development of phase change materials based microencapsulated
carrying matrix). The potential against (AchE) favors greater added technology for buildings: a review. Renew. Sust. Energ. Rev. 15, 2,
value to microcapsules as nutraceutical, capable of preventing oxidative 1373-1391, 2011.
stress in the body. Therefore, a promising alternative for the food (14) JYOTHI, N. V. N.; PRASANNA, P. M.; SAKARKAR, S. N.;
industry. PRABHA, K. S.; RAMAIAH, P. S.; SRAWAN, G. Y.
Microencapsulation techniques, factors influencing encapsulation
ACKNOWLEDGMENTS efficiency. J. Microencapsul, v. 27, n. 3, p. 187-197, 2010.
(15) VIEIRA, Í. G. P.; MENDES, F. N. P.; GALLÃO, M. I.; DE
The authors would like to thank the Central Analítica-UFC/CT- BRITO, E. S. NMR study of galactomannans from the seeds of
INFRA/MCTI-SISANO/Pró-Equipamentos CAPES for the support. mesquite tree (Prosopis juliflora (Sw) DC). Food. Chem. 101, 1, 70-73,
They also thank the Ceará Foundation of Support for Scientific and 2007.
Technological Development of Ceará-FUNCAP for financial support (16) ELLMAN, G. L.; COURTNEY, K. D.; ANDRES, V.;
through the Research for SUS Program: shared management in Health FEATHERSTONE, R. M. A new and rapid colorimetric determination
/ PPSUS - CEFUNCAP-SESA-Decit / SCTIE under n ° 3781047/2017, of acetylcholinesterase activity. Biochem. Pharmacol. 7, 2, p. 88-95,
Government of the State of Ceará and the Laboratory of Polymers and 1961.
Material Innovation at the Federal University of Ceará (17) CERQUEIRA, M. A.; SOUZA, B. W.; SIMÕES, J.; TEIXEIRA,
(CAPES/PNPD/UFC).
J. A.; DOMINGUES, M. R. M.; COIMBRA, M. A.; VICENTE, A. A.
Structural and thermal characterization of galactomannans from non-
REFERENCES conventional sources. Carbohydr. Polym. 83, 1, 179-185, 2011.
(18) AFFONSO, R. S.; LESSA, B.; SLANA, G. B.; BARBOZA, L. L.;
(1) CORTÉS-ROJAS, D. F.; DE SOUZA, C. R. F.; OLIVEIRA, W. P. DE ALMEIDA, F. V.; LIMA, A. L. S.; FRANCA, T. C. Quantificação
Clove (Syzygium aromaticum): a precious spice. Asian. Pac. J. Trop. e Caracterização dos Principais Componentes do Extrato Etanólico de
Biomed. 1, 2, 90-96, 2014. Cravo-da-Índia Syzygium aromaticum [l] Merr. et Perry. Rev. Virtual.
(2) CHAIEB, K.; HAJLAOUI, H.; ZMANTAR, T.; KAHLA‐NAKBI, Quím. 6, 5, 1316-1331, 2014.
A. B.; ROUABHIA, M.; MAHDOUANI, K.; BAKHROUF, A. The (19) SRIVASTAVA, M.; KAPOOR, V. P. Seed galactomannans: an
chemical composition and biological activity of clove essential oil, overview. Chem. Biodivers. 2, 3, 295-317, 2005.
Eugenia caryophyllata (Syzigium aromaticum L. Myrtaceae): a short (20) GUO, J.; LI, P.; KONG, L.; XU, B. Microencapsulation of
review. Phytother. Res. 21, 6, 501-506, 2007. curcumin by spray drying and freeze drying. Food Sci. Tecnhnol, p.
(3) HEMA, R.; KUMARAVEL, S.; SIVASUBRAMANIAN, C. GC- 109892, 2020.
MS study on the potentials of Syzygium aromaticum. Res. 2, 12, 1-4,
(21) DE MENESES, A. C.; MARQUES, E. B. P.; LEIMANN, F. V.;
2010.
GONÇALVES, O. H.; INEU, R. P.; DE ARAÚJO, P. H. H.; SAYER,
(4) KHAN, M. S. A.; AHMAD, I. Biofilm inhibition by Cymbopogon
citratus and Syzygium aromaticum essential oils in the strains of C. Encapsulation of clove oil in nanostructured lipid carriers from
Candida albicans. J. Ethnopharmacol. 140, 2, 416-423, 2012. natural waxes: Preparation, characterization and in vitro evaluation of
the cholinesterase enzymes. Colloids. Surf. A. 583, 123879, 2019.

252
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento de Produto plant-based do Tipo Nuggets Utilizando Fibra de Caju


(Anacardium occidentale L.) Como Ingrediente

Diogo H. M. Portela¹, Nédio J. Wurlitzer²

¹Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE – Brasil, e-mail:
diogohmp2@gmail.com.
²DSc., Pesquisador na Embrapa Agroindustria Tropical, Fortaleza, CE – Brasil.

Palavras Chave: Inovação, Sustentabilidade, Aproveitamento.

Introdução sendo levemente espremida com o auxílio de uma colher.


Uma das principais culturas do Nordeste, o caju, apresenta Inicialmente, a cebola e o alho foram refogados no óleo de
como principal subproduto a castanha. Após a sua extração, o soja em uma panela previamente aquecida. Em seguida, acrescentou-
pedúnculo pode ser utilizado na indústria de sucos. Por ser um produto se a fibra de caju, a PTS e os temperos (sal e pimenta do reino). Esta
de alta perecibilidade, durante sua estação, há um grande desperdício mistura foi batida em processador (marca Philips Walita, modelo
desta parte do fruto (1). RI1366, 400W) juntamente com a batata, a cenoura e a farinha de
A extração do suco do pedúnculo produz um resíduo trigo, até atingir um ponto homogêneo. Então, a massa foi novamente
chamado bagaço ou fibra de caju, normalmente descartado ou usado aquecida em panela (fogão doméstico a gás), mexendo
para completar ração animal. Alguns autores já utilizaram-na para constantemente até a massa soltar do fundo dela. O aquecimento final
alimentação humana, principalmente por apresentar 12% de fibras durou aproximadamente dez minutos.
dietéticas (2).
Com o intuito de agregar valor a fibra, bem como Tabela 1 – Formulação dos nuggets com fibra de caju e PTS.
disponibilizar mais alimentos para a população, tem sido estimulada a
criação de novos produtos utilizando este insumo (3). Alguns
trabalhos já foram realizados utilizando este ingrediente na
formulação de produtos como hamburgueres, biscoitos, no
enriquecimento de pães, na substituição de carne em hamburgueres,
dentre outros (1).
É crescente a demanda por produtos alternativos que sejam
mais saudáveis e provoquem menor impacto no meio ambiente. Este
novo comportamento tem levado a um aumento no interesse por
alimentos que utilizam vegetais em sua composição, sejam eles
voltados para um público estritamente vegano, por exemplo, ou para
pessoas que busquem apenas produtos alternativos a carne (4).
Visando o melhor aproveitamento da fibra de caju e este
novo mercado em ascensão, este trabalho teve como objetivo
desenvolver uma formulação de produto plant-based, do tipo nuggets,
utilizando a fibra de caju como um dos principais ingredientes, Após esfriar a massa, os nuggets foram moldados
avaliando as características sensoriais do produto obtido. manualmente com peso de 30g e empanados. Para o empanamento foi
utilizada, primeiramente, uma mistura de água e farinha de trigo, na
Materiais e métodos proporção de 2:1, além de temperos a gosto (alho em pó, páprica
A fibra de caju liofilizada utilizada no teste foi proveniente defumada e sal) e, em seguida, os produtos foram passados em farinha
do Laboratório de Processos Agroindustriais da EMBRAPA. Antes de de pão flocada. Os nuggets empanados foram congelados
passar pelo processo de secagem por liofilização, a fibra foi lavada em individualmente e armazenados sob congelamento em sacos plásticos.
água na proporção 1:1 e passada por prensa expeller (tipo parafuso A preparação para consumo dos nuggets foi realizada em
sem fim), repetindo este processo cinco vezes consecutivas, para fritura por imersão, em óleo de soja, do produto ainda congelado. O
excluir o sabor residual de caju no produto final. tempo médio de fritura foi de 2 minutos para cada lado. Após fritura,
foram colocados em papel absorvente para escoar o excesso de óleo.
Figura 1 – Fibra de caju liofilizada. A avaliação sensorial foi efetuada apenas pelos autores do
trabalho, considerando a impossibilidade de efetuar metodologias
padronizadas de análise sensorial, devido a pandemia Covid-19.

Resultados e discussão
O processo de preparação da massa foi simples, sendo uma
receita de fácil execução. A trituração da massa no processador,
garante uma textura lisa e uniforme, auxiliando em uma boa
característica visual do produto final.
Como podemos ver na figura 2, a coloração da massa
apresentou-se escura, provavelmente devido a coloração da fibra de
caju junto a proteína texturizada de soja.

Figura 2 – Massa obtida após o cozimento.

Para utilização nos testes, a fibra seca foi hidratada em


água quente por 30 minutos e, em seguida, escorrida em uma peneira
com o auxílio de uma colher para retirar o excesso de água.
Para elaboração dos nuggets foi utilizado a fibra do caju
hidratada, proteína texturizada de soja (PTS), cenoura, batata, cebola,
alho, farinha de trigo, óleo de soja, sal e pimenta do reino, conforme
indicado na Tabela 1. A cenoura e a batata foram cortadas em cubos
grandes e cozidas no vapor, enquanto a cebola e o alho foram picados
em pequenos pedaços. A proteína texturizada de soja foi hidratada em
água quente por 10 minutos e, em seguida, escorrida em uma peneira,

253
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Com relação a modelagem, a massa apresentou facilidade para ser


moldada no formato desejado, sendo necessário apenas untar 2 LIMA, J. R.; GARRUTI, D. S.; MACHADO, T. F.; ARAÚJO, I. M.
levemente a mão com óleo de soja. S. Vegetal burgers of cashew fiber and cowpea: Formulation,
A etapa de empanamento é de fundamental importância, characterization and stability during frozen storage. Revista Ciencia
pois é esta fase que garantirá ao produto uma boa fritura. Por tratar-se Agronomica. 49 (4), 708–714, 2018.
de um produto plant-based era necessário procurar uma alternativa 3 LIMA, J. R. et al. Desidratação da fibra do caju para utilização em
viável para a substituição do ovo utilizado no empanamento produtos alimentícios. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 91. 1
tradicional. Foi, então, formulado uma mistura de água com farinha de ed. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2014.
trigo para melhorar a cobertura do bolinho e, consequentemente, a 4 WILD, F.; CZERNY, M.; JANSSEN, A. M.; KOLE, A. P. W.;
crocância do empanado. Após passar nesta mistura, o produto é ZUNABOVIC, M.; DOMIG, K. J. The evolution of a plant-based
envolvido com a farinha de pão flocada. alternative to meat: From niche markets to widely accepted meat
Os produtos foram congelados para simular os nuggets alternatives. Agro Food Industry Hi-Tech. 25 (1), 45–49, 2014.
tradicionais encontrados nos supermercados. A fritura foi rápida e a 5 NETO, P. M.; NASCIMENTO, C. P. F.; ZAMBELLI, R. A.; EÇA,
aparência do produto pronto ficou similar a produto comercial, quando K. S. Alimentos plant-based: estudo dos critérios de escolha do
considerado o aspecto externo, mas a coloração interna escura. como consumidor. Research, Society and Development, 9 (7), 2020.
podemos ver na figura 3 abaixo, pode ser melhorada. 6 SANTANA, M. F. S.; SILVA, I. C. Elaboração de Biscoitos com
Resíduo da Extração de Suco de Caju. Embrapa Amazônia Oriental,
Figura 3 – Nuggets após a fritura. Comunicado Técnico 214, 1–6, 2008.

A utilização da farinha de pão flocada contribuiu


significantemente para manter a textura seca e crocante do produto
após a fritura, atribuindo uma interessante característica sensorial.
Além disso, a textura da mordida apresentou-se resistente, mas não em
excesso. Entretanto, apesar de ter sido triturada, a massa pode
apresentar alguns “fios” da fibra de caju que aparecem no produto
final, podendo causar um ligeiro desconforto ao consumidor. Para
solucionar este problema, é possível triturar a fibra hidratada
separadamente antes de acrescentar à preparação.
O sabor do produto é bastante agradável, sendo possível
sentir levemente a batata e a cenoura. Não há sabor perceptível de
caju, nem de PTS. Neto (5), em sua pesquisa acerca dos critérios de
escolha dos produtos plant-based, constatou que o apelo sensorial é o
principal quesito, seguido do preço.
Por apresentar um sabor bem neutro, esta formulação pode
ser aproveitada para agregar outros sabores específicos, através da
utilização de aromatizantes e/ou flavorizantes.
Outros produtos feitos com fibra de caju também
apresentaram resultados satisfatórios. Lima (3), em seu trabalho,
testou diferentes formulações de hamburguer utilizando a fibra de
caju, onde todos tiveram boa aceitação por parte dos provadores.
Santana e Silva (6) obtiveram bons resultados na avaliação sensorial
de seus biscoitos elaborados, principalmente nos quesitos aroma,
sabor e textura.

Conclusão
O produto final obtido foi satisfatório do ponto de vista de
suas características sensoriais, além da formulação apresentar
facilidade em sua execução. A fibra de caju utilizada não deixou sabor
residual no preparo, demonstrando versatilidade para aplicação em
diversas receitas. Um dos pontos a melhorar no produto final é a
coloração, pois pode ser fator de rejeição em um teste sensorial.
Ademais, novos testes devem ser realizados, com a
finalidade de criar outros produtos que possam agregar valor a esta
fibra alimentar, reduzindo desperdícios na indústria e consequente
impacto ao meio ambiente.

Referências

1 SIQUEIRA, A. M. A.; BRITO, E. S. Aproveitamento do bagaço do


caju para alimentação humana e utilização em outras indústrias de
alimentos. Agronegócio caju: práticas e inovações. 1 ed. Brasília: Ed
Embrapa, 2013, p. 349–361.

254
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Prospecção Científica Aplicada ao Amido como Matéria-Prima de Embalagens


Biodegradáveis

Leidiana Xavier1,5; Bruno Feitosa2, Charlene Alcantara2, Andressa Santana1, Mônica Gonçalves3, João Feitoza4
Mestrandas em Sistemas Agroindustriais, Universidade Federal de Campina Grande; 2Graduandos em Engenharia de
1

Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande; 3Doutora e docente da Universidade Federal de Campina
Grande; 4Mestre e docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte; 5Discente
da Especialização em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte
Autor correspondente: joaovitorlg95@hotmail.com

Palavras-chave: artigos científicos, biopolímeros, impacto ambiental,


polissacarídeos, sustentabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO

INTRODUÇÃO O mapeamento das palavras-chave encontradas nas bases


de periódicos CAPES, SciELO e Science Direct está representado na
As embalagens são indispensáveis em diversos setores Tabela 1.
industriais, por desempenharem as importantes funções de envolver,
proteger e comunicar sobre o seu conteúdo (1). A indústria de Tabela 1. Mapeamento das palavras-chave encontradas, de acordo
alimentos está entre os setores que mais produzem embalagens (2). com as bases de periódicos.
Como sua composição pode ser variável, interferindo de diferentes Palavras-
Bases de periódicos
formas no produto embalado, deve-se considerar a possibilidade da Periódicos CAPES SciELO Science Direct
chave
POR ING POR ING POR ING
transferência de calor e massa entre o ambiente externo e o alimento, a
amido AND
passagem de oxigênio, luz e microrganismos (3). Mais intensamente biop$
5.973 54.935 23 58 33 111
nas últimas décadas têm crescido os números de pesquisas que amido AND
99 23.520 27 92 4 27.115
exploram matérias-primas com características biodegradáveis (4). filme
Os biofilmes foram considerados potenciais substitutos às amido AND
88 28.033 8 43 11 30.933
plástico
embalagens convencionais, pois estão disponíveis na natureza e são amido AND
naturalmente degradados (5). Comumente, os biofilmes podem ser 42 23.520 14 92 0 27.115
película
produzidos de diversas espessuras e obtidos pelos métodos de casting amido AND
135 12.633 26 54 1 23.595
ou de extrusão (6). Entre as principais matérias-primas estudadas para embalagem
amido AND
produção de biofilmes estão o amido, celulose e gomas (7).
embalagem
Os polissacarídeos demonstram algumas vantagens em 13 4.635 3 30 0 5.749
AND
suas propriedades, como a boa capacidade de formação de gel, perfil biodegradável
hidrofílico e baixa permeabilidade aos gases (8). Por sua vez, o amido Total 6.350 147.276 101 369 49 114.618
surgiu como uma matéria-prima promissora, devido ao baixo custo, POR – Português; ING – Inglês.
ser não-toxico e de fácil disponibilidade em todo o mundo (9).
As propriedades mais relatadas do amido são gelatinização, Em geral, as buscas na língua inglesa indicaram resultados
retrogradação, poder de inchamento, solubilidade e capacidade de numericamente mais substanciais. A representatividade amostral de
retenção de água, que estão relacionadas à estrutura do amido (10). todas as bases reduziu com o aumento do índice de refinamento. A
Embora os biofilmes de amido não apresentem boas propriedades palavra-chave “amido AND embalagem AND biodegradável”
mecânicas e flexibilidade, podem-se incorporar agentes plastificantes apresentou o maior índice de refinamento em relação ao objeto desta
para aprimorar a sua funcionalidade no alimento (11). Neste contexto, pesquisa, tendo uma maior representação na língua em inglês. A base
esta prospecção científica objetivou elucidar as pesquisas científicas SciELO registrou uma menor quantidade de artigos científicos
sobre o amido como matéria-prima de embalagens biodegradáveis, publicados em comparação com as demais bases de periódicos, porque
buscando disseminar os conhecimentos e potencializar as perspectivas trata-se de uma base de dados digital composta por periódicos
de inovação. científicos brasileiros de acesso aberto.
A evolução anual (2006-2020) dos resultados encontrados
METODOLOGIA para as publicações de artigos científicos nas bases de periódicos
CAPES e Science Direct sobre o amido como matéria-prima de
A presente prospecção científica apresenta uma abordagem embalagens biodegradáveis encontra-se na Figura 1.
quantitativa de caráter exploratória. O delineamento experimental foi
baseado em pesquisas nas bases eletrônicas de periódicos nacionais e Figura 1. Evolução anual das publicações de artigos científicos nas
internacionais de cunho científico: Portal de Periódicos da bases CAPES e Science Direct referente a palavra-chave em inglês:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior amido AND embalagem AND biodegradável.
(CAPES), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Science
Direct, por serem as bases mais recomendadas e confiáveis. O
levantamento sobre o amido como matéria-prima de embalagens
biodegradáveis foi executado durante julho de 2020. Foi utilizado o
seguinte conjunto de palavras-chave em combinações, em português e
inglês: amido AND embalagem; amido AND $plástico; amido AND
biop$; amido AND filme; amido AND película; e amido AND
embalagem AND biodegradável, empregando os Operadores Lógicos
Booleanos, conforme as recomendações de Tenório et al. (12). As
publicações em eventos científicos, livros técnicos, monografias,
dissertações e teses foram selecionadas por meio de filtros e excluídas
do quantitativo final. As informações extraídas na busca foram
tabuladas e analisadas quanto a quantidade de publicações em artigos
relativa a cada base de periódicos, evolução anual (2006-2020) e país
de execução da pesquisa, sendo interpretadas e expressas em tabelas
e/ou figuras, utilizando o Microsoft® Office Excel 2013.
Especificamente na palavra-chave “amido AND
embalagem AND biodegradável”, entre os anos de 2006 e 2020, a
maior quantidade de publicações científicas foram indicadas pela base

255
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

de periódicos Science Direct (5.291). Ao decorrer de 15 anos, houve o México (2%), que podem ser reconhecidos por pesquisas na Ciência
um aumento gradativo das publicações referentes ao amido como e Tecnologia (C&T) referentes ao amido como matéria-prima de
matéria-prima de embalagens nas bases destacadas; passando de cerca embalagens biodegradáveis. Os países identificados também revelam
de 80 artigos em 2006 para cerca de 600 artigos em 2020, em média. a preocupação acerca das problemáticas ambientais, como a poluição.
A maior quantidade de artigos científicos registrada até então, durante Segundo Risyon et al. (17), tem se tornado crucial a poluição
o período avaliado, foi em 2019 (816) na base Science Direct. Nas ambiental decorrente do uso de materiais não degradáveis.
últimas décadas houve um crescente interesse mundial por novas Somente na base de periódicos SciELO, as pesquisas
técnicas, formas e procedimentos para o desenvolvimento de realizadas no Brasil, selecionadas pelo conjunto de palavras-chave em
biofilmes para alimentos (13). Bonilla et al. (14) observaram que o combinações (Tabela 1), apontam nos últimos 2 anos enfoque nos
amido tem sido amplamente empregado por pesquisadores, visando temas: desenvolvimento e caracterização de novos tipos de
aumentar a biodegradabilidade de vários produtos. Porém, Krishnan et embalagens biodegradáveis a base de amido; técnicas e métodos
al. (15) ressaltam que o amido requer a presença de agentes inovadores; e o efeito de compostos/ingredientes adicionados na
plastificantes para ser processado, como a água e o glicerol, gerando o formulação. Por exemplo, Othaman et al. (18) elaboraram filmes de
amido termoplástico. amido de tapioca reforçados com celulose microcristalina para
A demanda das indústrias pelo amido tem aumentado potencial aplicação em embalagens de alimentos. Enquanto isso, Silva
continuamente, devido ao baixo preço, abundância e versatilidade et al. (19) desenvolveram e caracterizam os bioplásticos de amido de
(16). Logo, o investimento das indústrias de alimentos em Pesquisa e milho contendo farinha de subproduto de broto.
Desenvolvimento (P&D) nesse segmento prenuncia uma expressiva
vantagem comercial. Entre os temas na literatura mais abordados nos CONCLUSÃO
últimos 2 anos, considerando a amplitude do conjunto de palavras-
chave em combinações (Tabela 1), observou-se o desenvolvimento de O mapeamento das palavras-chave nas bases de periódicos
novos tipos de embalagens biodegradáveis a base de amido, técnicas e foi efetivo, principalmente na língua inglesa, ocorrendo uma
métodos inovadores, avaliação das propriedades e estabilidade das concentração mais intensa na quantidade de publicações científicas a
embalagens, efeito de compostos bioativos adicionados na formulação partir de 2006. Infere-se que nos últimos anos foi evidenciado um
e da aplicação de tratamentos durante a produção das embalagens. aumento do interesse científico mais acentuado internacionalmente.
A evolução anual (2006-2020) dos resultados encontrados Os artigos têm despertado maior enfoque no estudo do efeito da
para as publicações de artigos científicos na base de periódicos adição de compostos/ingredientes sobre a formulação de novos tipos
SciELO sobre o amido como matéria-prima de embalagens de embalagens de amido, além de técnicas e métodos inovadores.
biodegradáveis encontra-se na Figura 2.
REFERÊNCIAS
Figura 2. Evolução anual das publicações de artigos científicos na
base SciELO referente a palavra-chave em inglês: amido AND 1. KUMAR, S.; MUKHERJEE, A.; DUTTA, J. Chitosan based nanocomposite films
embalagem AND biodegradável. and coatings: Emerging antimicrobial food packaging alternatives. Trends Food Sci.
Technol. 97, 196-209, 2020.
2. FONTOURA, D. R. S.; CALIL, R. M.; CALIL, E. M. B. A importância das
embalagens para alimentos aspectos socioeconômicos e ambientais. ASA 4, 138-160,
2016.
3. GRUMEZESCU, A. M.; HOLBAN, A. M. Preface for Volume 9: Food Packaging
and Preservation, xxv–xxviii, 2018.
4. KISS, M. R.; KÖLLING, G. A falsa metáfora dos plásticos biodegradáveis e verdes.
Senac 13, 2018.
5. MIRI, N. E.; ABDELOUAHDI, K.; BARAKAT, A.; ZAHOUILY, M.; FIHRI, A.;
SOLHY, A.; ACHABY, M. E. Bio-nanocomposite films reinforced with celulose
nanocrystals: Rheology of filmforming solutions, transparency, water vapor barrier
and tensile properties of films. Carbohydr. Polym. 129, 156-167, 2015.
6. FERREIRA, M. S. L.; FAI, A. E. C.; ANDRADE, C. T.; PICCIANI, P. H.;
AZERO, E. G.; GONÇALVES, É. C. B. A. Edible films and coatings based on
Observou-se na base de periódicos SciELO, que a evolução biodegradable residues applied to acerolas (Malpighia punicifolia L.). J Sci. Food
Agric. 96, 1634- 1642, 2016.
anual (2006-2020) apresentou uma proporção reduzida de artigos 7. SLAVUTSKY, A. M.; BERTUZZI, M. A. Water barrier properties of starch films
publicados, pois consistem exclusivamente em periódicos brasileiros reinforced with cellulose nanocrystals obtained from sugarcane bagasse. Carbohydr.
com o acesso aberto. A partir de 2006, os registros da palavra-chave Polym. 110, 53-61, 2014.
“amido AND embalagem AND biodegradável” demonstraram 8. COSTA, M. C. C.; AZEVEDO, C. R.; SOUSA, R. M. L.; SANTOS, A. F. S.;
BARROQUEIRO, A. T. S. Embalagens de alimentos à base de biofilmes comestíveis:
maiores picos nos anos de 2013, 2016 e principalmente 2018. Até o
uma revisão de literatura. Rev Ceuma Perspectivas 30, 88-100, 2017.
primeiro semestre de 2020, a quantidade de publicações manteve-se 9. LUCHESE, C. L,; PAVONI, J. M. F; SPADA, J. C.; TESSARO, I. C. Avaliação da
constante em relação ao ano de 2019, estando semelhante ao influência da incorporação de diferentes resíduos agroindustriais em filmes à base de
comportamento encontrado entre os períodos de 2006-2007 e 2009- amido de mandioca. BJAER 2, 802-812, 2019.
2010. 10. BERNARDO, C. O.; ASCHERI, J. L. R.; CARVALHO, C. W. P. Efeito do
ultrassom na extração e modificação de amidos. Cienc. Rural 46, 739-746, 2016.
Os resultados encontrados na base de periódicos SciELO 11. AZEVÊDO, L. C.; SÁ, A. S. C.; ROVANI, S.; FUNGARO, D. A. Propriedades do
para as publicações de artigos científicos por país de execução da amido e suas aplicações em biopolímeros. Cad. Prospecção 11, 351-358, 2018.
pesquisa estão apresentados na Figura 3. 12. TENÓRIO, L. X. S.; LIMA, L. A.; SILVA, M. L.; FERNANDES, T. L.; GHESTI,
G. F. Mapeamento do desenvolvimento nacional de tecnologias dentro do contexto de
inundações urbanas. Cad. Prospecção 10, 828, 2017.
Figura 3. Publicações de artigos científicos por país de execução da 13. OLUWASINA, O. O.; OLALEYE, F. K.; OLUSEGUN, S. J.; OLUWASINA, O.
pesquisa na base SciELO referente a palavra-chave em inglês: amido O.; MOHALLEM, N. D. S. Influence of oxidized starch on physico mechanical,
AND embalagem AND biodegradável. thermal properties, and atomic force micrographs of cassava starch bioplastic film. Int.
J Biol. Macromol. 135, 282-293, 2019.
14. VERSINO, F.; LOPEZ, O. V.; GARCIA, M. A.; ZARITZKY, N. E. Starch‐based
films and food coatings: An overview. Starke 68, 1026-1037, 2016.
15. KRISHNAN, S.; MOHANTY, S.; NAYAK, S. K. Renewable Resource based
blends of Polylactic acid (PLA) and Thermoplastic starch (TPS) using Novel Reactive
Compatibilization. J. Polym. Mater. 34, 525-538, 2017.
16. NAWAB, A.; ALAM, F.; HASNAIN, A. Mango kernel starch as a novel edible
coating for enhancing shelf- life of tomato (Solanum lycopersicum) fruit. Int. J Biol.
Macromol. 103, 581-586, 2017.
17. RISYON, N. P.; OTHMAN, S. H.; BASHA, R. K.; TALIB, R. A. Effect of
halloysite nanoclay concentration and addition of glycerol on mechanical properties of
bionanocomposite films. Polym. Polym. Compos. 24, 793-800, 2016.
18. OTHMAN, S. H.; MAJID, N. A.; TAWAKKAL, I. S. M. A.; BASHA, R. K.;
NORDIN, N.; SHAPI’I, R. A. Tapioca starch films reinforced with microcrystalline
cellulose for potential food packaging application. Food Sci. Technol. 39, 605-612,
Com um total de 30 publicações de artigos científicos 2019.
19. SILVA, M. L. T.; BRINQUES, G. B.; GURAK, P. D. Desenvolvimento e
registrados na base de periódicos SciELO, ao buscar a palavra-chave caracterização de bioplásticos de amido de milho contendo farinha de subproduto de
em inglês “amido AND embalagem AND biodegradável” (Tabela 1), broto. Braz. J. Food Technol. 23, 2020.
foram relacionados 6 países de execução das pesquisas. O Brasil
representou 73% das publicações (22), seguido pela Colômbia (3%) e

256
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da qualidade pós-colheita do Butia capitata submetido a diferentes temperaturas.


Thalita C. Santos¹*, Gabriel S. L. Pereira², Renata N. Braga-Souto², Mariuze L. P. Olivera¹, Milton N. C. Chauca3,
Juliana P. Lima3
¹Pós-graduando em Alimentos e Saúde – UFMG; ²Graduando em Engenharia de Alimentos –UFMG; 3Doutor em
Ciência dos Alimentos e Docente do ICA – UFMG. *cordeirothalita@yahoo.com.br
Coquinho-azedo; Parâmetros de qualidade; Refrigeração; Armazenamento.

INTRODUÇÃO Em relação ao índice de escurecimento houve diferença significativa


O coquinho-azedo (Butia capitata) é um fruto proveniente de uma entre as temperaturas ao longo do armazenamento, sendo que os frutos
palmeira nativa do cerrado brasileiro e pertence à família Arecaceae armazenados na temperatura de 24ºC encontravam-se mais escuros.
(1). Seu nome popular varia de acordo com sua região de cultivo Nos três primeiros tempos de armazenamento não houve diferença
podendo ser conhecido como coco-cabeçudo, buitá, coco-babão (2,3). estatística nos frutos armazenados à 7ºC, apresentando escurecimento
Com uma polpa aromática de sabor azedo e adocicada, os frutos de somente a partir dos 12 dias. Os frutos armazenados à 24ºC
coquinho-azedo podem ser consumidos na forma in natura, em pratos apresentaram diferença estatística em todos os tempos, com
culinários, na produção de licores, sucos, dentre outros (4). crescimento acentuado do escurecimento. Frutos apresentam um
A conservação de alimentos tem por finalidade o prolongamento da elevado de teor de compostos fenólicos, esses compostos são
vida útil de produtos alimentícios conservando suas propriedades substratos das enzimas polifenol oxidase que na presença de oxigênio
sensoriais e evitando principalmente a degradação destas por ação de oxidam esses compostos produzindo as quinonas que se condensam
micro-organismos (5). Um dos métodos mais utilizados na rapidamente formando pigmentos escuros na derme desses frutos, um
conservação de alimentos é o emprego da refrigeração, pois a baixa dos fatores que aceleram a ação dessas enzimas é a temperatura de
temperatura inibe ou retarda as reações químicas, enzimáticas e a armazenamento (13, 14). Resultado similar ao observado neste
multiplicação dos microrganismos (6). trabalho foi relatado em frutos de Butiá, onde os autores obtiveram um
Portanto, esse estudo objetivou analisar a influência da temperatura escurecimento de 72% dos frutos em 4 dias de armazenamento `a
em parâmetros da qualidade pós-colheita de coquinho-azedo. 20ºC, em contrapartida esse valor foi menor nos frutos armazenados à
5ºC que no período de 31 dias de armazenamento apresentaram
MATERIAL E MÉTODOS apenas 4% de escurecimento (15).
Os frutos de Butia capitata foram colhidos no estádio verde-maturo de O Chroma indica a saturação da coloração dos frutos, logo frutos com
plantas em Mirabela-MG e encaminhados para o Laboratório de Pós- valores sem grande variação durante o armazenamento demonstram
colheita e Processamento de Vegetais do ICA-UFMG, onde foram frutos com aspectos visuais preservados durante o armazenamento,
selecionados pela sanidade e ausência de danos mecânicos. Os frutos mostrando uma boa sanidade do fruto e se tornam mais atraentes ao
selecionados foram sanitizados por imersão em água clorada (50 consumidor (8). Em relação a esta variável houve diferença estatística
ppm/10 min) e secos à temperatura ambiente. Em seguida os frutos entre as duas temperaturas nos tempos 4 e 8, sendo os maiores valores
foram acondicionados em embalagens de polietileno (PET) e na temperatura à 24ºC. Em ambas as temperaturas ocorreu oscilação
armazenados em incubadora refrigerada nas temperaturas 7º e 24ºC. do Chroma. O mesmo comportamento foi observado em um estudo
Os frutos foram analisados quanto à coloração, os valores de a* e b* sobre efeito do biofilme de gelatina e cloreto de cálcio na coloração de
obtidos pela medição com colorimetro foram utilizados nas equações quiabo armazenado sob refrigeração, já que os vegetais mantidos à
√(a²+b²) e tg-1.b*/a* para a determinação dos valores de chroma e 22ºC apresentaram um aumento do valor de crhoma seguidos de um
ºHue respectivamente. O índice de escurecimento foi determinado declínio ao final do experimento (16). Por outro lado, em relação aos
pela equação [100(x − 0,31) 0,172], em que, x = (a +1,75L).(5,645L + frutos armazenados à 7ºC estes apresentaram um aumento dos valores
a − 3,012b). Os valores de pH foram obtidos com a leitura em de cromaticidade sem declínio ao final dos 14 dias de armazenamento,
pHmêtro, a perda de massa foi mensurada em balança semi-análitca e esse mesmo comportamento foi observado em frutos de jabuticabas
o valores de ratio foram obtidos pela razão entre os teores de sólidos armazenados em embalagens de filme LDPE com vácuo parcial à
solúveis e acidez titulável. O índice de senescência foi determinado 12ºC (17), e em mangas “Tommy Atkins” armazenadas em
por an[álise visual seguindo escala de 1-5 determinada pelos autores, embalagens PEBD à 5ºC (18).
onde 1: ausência de danos; 2: 1–25% de danos; 3: 26–50% de danos; Os valores de ºHue diferiram estatisticamente entre as temperaturas. O
4: 51–75% de danos; e 5: 76–100% de danos. ºHue representa a variação da cor verde (ºHue = 180º) a amarela (ºHue
O delineamento foi inteiramente casualizado (DIC), esquema fatorial = 90º), sendo assim os valores obtidos no tempo 0 demonstram que os
2x5 (temperatura x tempo) com 3 repetições. Os dados obtidos foram frutos apresentavam coloração verde no início do experimento para as
submetidos à análise de variância e as médias comparadas por Scott- duas temperaturas (104,41º). Com o armazenamento à 4 dias os frutos
Knott ao nível de 5% de significância. a 24ºC já tiveram uma variação indicativa de coloração amarela que se
manteve até o final do armazenamento., Já os frutos armazenados à
RESULTADOS E DISCUSSÃO 7ºC apresentaram variação da coloração verde para amarela a partir
Os frutos armazenados à 24ºC apresentaram perda de qualidade dos 8 dias, chegando à 82,06º no final do armazenamento. Infere-se,
significativa, sendo seu armazenamento interrompido em 8 dias. Essa portanto, que a refrigeração foi mais eficiente no controle da
perda está relacionada a elevada taxa metabólica acelerada pela maturação do fruto. O mesmo comportamento foi obtido na
temperatura de armazenamento. Frutos climatéricos como o coquinho conservação pós colheita de cultivares de carambola (19).
azedo apresentam essa característica da continuidade da sua Os frutos de Butiá possuem um sabor ácido, valores baixos de pH
maturação mesmo após sua colheita, sendo necessária a aplicação de reafirmam ao fruto essa característica, os valores encontrados foram
técnicas pós-colheita afim de que essa perda seja retardada (7,8). Em próximos aos encontrados na literatura para frutos de coquinho azedo
um estudo de perda da qualidade de frutos de Murici mantidos à 25ºC, (20, 1) Em ambas as temperaturas houve aumento do pH dos frutos ao
os autores notaram uma perda de qualidade interrompendo o longo do armazenamento, sendo mais expressiva nos frutos a
armazenamento dos frutos também em 8 dias (9). temperatura ambiente. Esse aumento do pH é indicativo da redução de
Um os parâmetros utilizados para avaliar a eficácia de técnicas pós- ácidos orgânicos já que os mesmos são encaminhados para o processo
colheita é a perda de massa, durante a fase de amadurecimento dos respiratório na tentativa de manutenção do metabolismo do fruto (2).
frutos é normal que os frutos percam solutos e água pelo rompimento Os frutos armazenados à 24ºC tiveram um aumento do ratio do tempo
das membranas celulares ocasionando a perda de massa fresca (10). O 0 para 4 dias de armazenamento seguido de uma queda desses valores
coquinho-azedo armazenado à 24ºC apresentou uma porcentagem para o tempo 8. De forma semelhante, em 10 dias de armazenamento,
significativa de perda de massa aos 8 dias de armazenamento, ao em frutos de abacaxi observou-se aumento do valor de ratio seguido
contrário os frutos armazenados à 7ºC mesmo com 14 dias de de um decréscimo ao final do armazenamento (22). Comportamento
armazenamento tiveram uma porcentagem de perda de massa inferior inverso foi observado nos frutos armazenados à 7ºC, que com o passar
à 1%. Em um estudo de conservação pós-colheita os autores do tempo tiveram um aumento dos valores de ratio. Em um estudo
obtiveram baixa porcentagem de perda de massa em frutos de pinha com diferentes cultivares de banana envoltas em filmes de PVC
armazenados em embalagem de polietileno (11) já em uvas “Niagra armazenadas à baixas temperaturas houve aumento de valores de ratio
Rosada” uma baixa porcentagem de perda de massa foi obtida nos ao longo do armazenamento (23). O valor de ratio é o resultado da
primeiros dias de armazenamento à 1ºC, mas essa perda foi acelerada fração entre sólidos solúveis e acidez titulável, sendo este relacionado
quando os mesmo frutos foram acondicionado à 25ºC (12). ao índice de maturação dos frutos. Durante o amadurecimento dos

257
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

frutos há um consumo dos ácidos orgânicos e aumento dos sólidos (7) CENCI, S. A; SOARES, A. G.; FREIRE JUNIOR, M.Manual de
solúvies, o que acarreta no aumento do valor de ratio (21). perdas pós-colheita em frutos e hortaliças. Rio de Janeiro:
O índice de senescência diferiu estatisticamente entre as duas EMBRAPA-CTAA,1997. 29p
temperaturas no tempo 4 e 8, os frutos armazenados à 24ºC (8) SPRICIGO,P.C.; FERREIRA, M. D. Colorimetria – Princípios e
apresentaram escores 3 e 4 para 4 e 8 dias de armazenamento aplicações na agricultura. In: FERREIRA, Marcos David.
respectivamente, ou seja, de 26 à 75% de danos visuais em seus Instrumentação pós-colheita em frutas e hortaliças. Brasília: Embrapa,
tecidos. Houve diferença estatística entre os tempos para a
2017. p. 207-217.
temperatura à 7ºC, mas mesmo com o aumento os frutos não
(9) BELISÁRIO, C. M.; CONEGLIAN, R. C. C. Qualidade de frutos
apresentaram danos aparentes maiores que 25% até 12 dias. Na
de murici (Byrosonima crassifólia malpighiaceae) armazenados sob
literatura há relatos que frutos de Murici também obtiveram um índice
refrigeração. Rev. Gl Sci Technol., 06, 95 – 101, 2013.
avançado de senescência para frutos armazenados à 25ºC e uma maior
(10) SÁ, C. R. L.; SILVA, E. O.; TERAO, D.; OSTER, A. Efeito do
conservação para frutos armazenados à 7º (24). Resultados
KMnO4 e 1–MCP com atmosfera modificada na conservação pós-
satisfatórios também foram obtidos com o armazenamento de
colheita de melão Cantaloupe. Rev. Ciên. Agron., 39, 60-69, 2008.
pêssegos “Aurora-1” em embalagens de polietileno aliadas à uma
(11) ALMEIDA, R. R.; CAMPOS, A. J. Conservação pós-colheita e
temperatura de armazenamento à 3ºC (25).
avaliação da qualidade da Pinha tratado com radiação uv-c e
atmosfera modificada. In: III Congresso de ensino, pesquisa e
Tabela 1 Análise da qualidade pós-colheita de Butia capitata.
extensão da UEG: Inovação: Inclusão Social e Direitos. Pirenópolis.
Temp. Dia 0 4 dias 8 dias 12 dias 14 dias
2016.
Perda de massa fresca (%)
(12) CIA, P.; BENATO, E. A.; VALENTINI, S. R. T.; SANCHES, J.;
7°C - 0,2 Bd 0,4 Bc 0,7 b 0,9 a PONZO, F. S.; FLÔRES, D.; TERRA, M. M.. Atmosfera modificada
24°C - 1,0 Ab 7,42 Aa - - e refrigeração para conservação pós‑colheita de uva 'Niagara Rosada'.
Índice de escurecimento Rev. Pesq. agropec. Bras, 45,1058-1065, 2010.
(13) PRESTES, A. A. Avaliação do escurecimento enzimático em
7°C 13,1 Ac 13,5 Bc 15,6 Bc 24,0 b 29,8 a
maçãs híbridas: potencial tecnológico e atividade antioxidante. 2019.
24°C 13,1 Ac 20,0 Ab 26,5 Aa - - 111f. Dissertação. (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)
Chroma – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2019.
7°C 41,1 Ac 37,2 Bd 41,1 Bc 49,8b 53,1 a (14) SANTOS, I. R. C. Escurecimento enzimático em frutos:
24°C 41,1 Ab 52,6 Aa 46,8 Ab - - polifenoloxidase de atemóia (Annona cherimola Mill. X
ºHue Annonasquamosa L.). Dissertação (Mestrado em Alimentos e
7°C 104,4 Aa 101,8Aa 90,9 Ab 84,6 c 82,1 c Nutrição) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara,
24°C 104,4 Aa 81,3Bb 72,3Bc - - Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009.
pH (15) MEGGUER, C. A. Fisiologia e preservação da qualidade pós-
7°C 3,0 Ad 3,0 Bd 3,1 Bc 3,2 b 3,3a colheitade frutos de butiá [butiaeriospatha(martius) beccari]. 2006.60f.
24°C 3,0 Ac 3,4 Bb 3,8 Aa - - Dissertação (Mestrado em produção vegetal) - Centro de Ciências
Agroveterinárias – CAV, Universidade do Estado de Santa Catarina,
Ratio
Lages, 2006.
7°C 8,2 Ae 11,7 Bd 16, 2 Ac 20,9 b 23,5 a
(16) OLIVEIRA, T.A.; AROUCHA, E. M. M.; SOUZA, M. S. M.;
24°C 8,2 Ac 20,6 Aa 14,3Ab - -
LEITE, R. H. L.; SANTOS, F. K. G. Efeito do biofilme de gelatina e
Senescência
cloreto decálcio na coloração de quiabo armazenadosob refrigeração.
7°C 1,0 Ad 1,0 Bd 1,5 Bc 2,0 b 2,5 a Rev. ACSA, 8, 07-11, 2012.
24°C 1,0 Ac 3,0 Ab 4,0 Aa - - (17) SANTOS, L. F. Qualidade e conservação pós-colheita de frutos
Análise de variância e teste de médias Scott-Knott ao nível de 5%. da jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) sob atmosfera modificada
Letras maiúsculas diferentes na mesma coluna indicam diferença ativa. 2014. 61f. Monografia. (Agronomia). Universidade Federal da
significativa entre as temperaturas. Letras minúsculas diferentes na Paraíba,Areia, 2014.
mesma linha indicam diferença significativa entre os tempos. (18) SANTOS, M. A. Qualidade de manga minimamente processada
acondicionada em diferentes embalagens. 2017. 30f. Monografia
CONCLUSÃO (Tecnologia em Alimentos). Universidade Tecnológica Federal do
O uso da refrigeração foi mais eficaz na preservação dos atributos de Paraná, Ponta Grossa, 2017.
qualidade dos frutos de coquinho azedo avaliados neste estudo. (19) TEIXEIRA, G. H. A.; DURIGAN, J. F.; DONADIO, L. C.;
SILVA, J. A. A. caracterização pós-colheita de seis cultivares de
AGRADECIMENTOS carambola (Averrhoa carambola l.)¹. Rev. Bras. Frutic., 23, p. 546-
Agradecemos à UFMG e o apoio financeiro do Conselho Nacional de 550, 2001.
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de (20) ANDRADE, A. F. F.; DUARTE, A. B. FERREIRA, L. B.;
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). MELO, A. D. D.; MARTINS, J. C.; SANTOS, E. F. 2015.Avaliação
das características físicas e químicas dos frutos de Butia capitata
REFERÊNCIAS cultivados na região norte de Minas Gerais. In: Congresso Brasileiro
(1) FUJITA, L. F. F. Caracterização química, microbiológica e de Processamento mínimo e Pós-colheita de frutas, flores e hortaliças,
Farmacognóstica da polpa de coquinho-azedo (butia Capitata (mart.) 001. Aracaju.
Becc.) Produzida em Arinos – MG. 2012. 44f. Dissertação. (Mestrado (21) CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B.Pós-colheita de frutas e
em Alimentos e Nutrição) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785 p.
Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2012. (22) PAGLIARINI, M. K.; MARIANO-NASSER, F. A. C.;
(2) MARTINS, R. C.; SANTELLI, P.; FILGUERAS, T. S. Coquinho MENDONÇA, V. Z.; CASTILHO, R. M. M. Influência de
azedo. In: VIEIRA, R. F., AGOSTINI-COSTA, T. S.; SILVA, D. B.; embalagens no processamento mínimo de abacaxi Smooth Cayenne.
SANO, S. M.; FERREIRA, F. R. Frutas Nativas da Região Centro- Rev Tecn.&Cien. Agropec. 9, 63-70, 2015.
Oeste do Brasil. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e (23) SIQUEIRA, C. L.; ALMEIDA, H. J.; SERPA, M. F. P.;
Biotecnologia, 2010. p. 163-173. BATISTA, P. S. C.; MIZOBUTSI, G. P. Modified atmosphere
(3) LORENZI, H.; SOUZA, H. M.; COSTA, J. T. M.; CERQUEIRA, together with refrigeration in the conservation of bananas resistant to
L. S. C.;FERREIRA, E. Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas. black Sigatoka. Rev. Ciencia Agr. 48, 614-624, 2017.
Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2004. 416 p. (24) BELISÁRIO, C. M.; CONEGLIAN, R. C. C. Qualidade defrutos
(4) FARIA, J. P; ARELLANO, D.B.; GRIMALDI, R.; SILVA, L. C. de murici (Byrsonima crassifolia, malpighiaceae) armazenados sob
R.; VIEIRA, R. F.; SILVA, D. B.; AGOSTINI-COSTA, T. S. refrigeração. Rev. Gl. Sci Technol, 06, .95 – 101, 2013.
Caracterização química da amêndoa de coquinho-azedo. Rev. Brasil. (25) MARTINS, R. N. Processamento mínimo de pêssegos ‘aurora-1’:
Futic., 30, 549-552, 2008. estádios de maturação, embalagens, temperaturas de conservação e
(5) DOSSIÊ. Conservação de alimentos. Food Ingredients Brasil: São aditivos naturais. 2010. 145f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal)
Paulo, 2012. - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade
(6) LEONARDI, J. G; AZEVEDO, B. M. Métodos de conservação de Estadual de São Paulo, Jaboticabal, 2010.
alimentos. Rev. Saúde em foco. 10, 51-61, 2018.

258
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência da temperatura na qualidade do Butia capitata embalado


Gabriel S. L. Pereira¹, Thalita C. Santos²*, Melissa A. R. Silva3, Raissa Q. Andrade¹, Mariuze L. P. Olivera², Juliana P.
de Lima4.
¹Graduando em Engenharia de Alimentos –UFMG; ²Pós-graduando em Alimentos e Saúde – UFMG; ³Graduanda em
Engenharia Agrícola e Ambiental – UFMG; 4Doutora em Ciência dos Alimentos e Docente do ICA – UFMG.
*cordeirothalita@yahoo.com.br
Coquinho-azedo; Pós-colheita; Refrigeração; Atmosfera Modificada; Armazenamento.

INTRODUÇÃO Comportamento semelhante foi descrito na conservação pós-colheita


O Butia capitata conhecido popularmente como coquinho-azedo é um de frutos de Buitá (10), onde obteve-se uma perda de luminosidade
fruto oriundo de uma palmeira nativa do cerrado brasileiro com dos frutos em armazenamento à 5 e 20ºC sendo nesta última
grande incidência na região norte mineira, seu crescimento pode temperatura mais acentuado. Comportamento oposto foi observado em
ocorrer também em áreas de florestas Araucária no sul do Brasil onde pitombas (11) visto que ocorreu aumento no valor da luminosidade
o fruto é conhecido como Butiá (1, 2). nos frutos armazenados em embalagem PET por 12 dias em diferentes
Apresentando polpa fortemente aromática, o coquinho azedo pode ser temperaturas. O valor da coordenada L* está relacionada a
consumido na forma in natura ou de maneira processada em sucos, luminosidade do fruto podendo variar de 0 (preto) à 100 (branco),
licores e cerveja. Além do interesse culinário, o fruto se destaca por sendo assim os valores obtidos demonstram um ligeiro escurecimento
apresentar elevado perfil de vitaminas e fenólicos.(3)(2)(4). do fruto durante o armazenamento. Tal escurecimento pode ser
Frutos climatéricos como o coquinho azedo tem como vantagem a decorrente de um processo enzimático desencadeado pela ação de
possibilidade de colheita quando seu processo de maturação ainda não enzimas (polifenoloxidase e peroxidases) que ocasionam alterações na
está completo (5), contudo a continuidade do processo de respiração cor dos frutos ao usar os compostos fenólicos como substrato (12).
acarreta em perdas pós-colheita. Portanto é imprescindível a utilização .
de técnicas de conservação para o prolongamento da vida útil dos Tabela 1 Análise da qualidade pós-colheita de Butia capitata.
frutos, como o emprego de atmosfera modificada e refrigeração (6). Temp. Dia 0 4 dias 8 dias 12 dias 14 dias
O armazenamento refrigerado diminui a taxa respiratória, a perda de L*
água e o crescimento de micro-organismos, aumentando assim sua
7°C 63,7 Aa 59,5 Bb 65,5 Aa 62,3 a 59,3 b
oferta. A utilização de embalagens tem como objetivo o aumento da
barreira entre a troca de gases do fruto com a atmosfera, dentre elas 24°C 63,7 Ab 74,4 Aa 55,9 Bc - -
cita-se a embalagem plástica de polietileno (PET) muito empregada a*
para alimentos devido a efetiva barreira em relação aos gases, aromas 7°C -9,9 Ac -7,6 Bc -0,7 Bb 4,7 a 7,3 a
e lipídeos. O PET ainda apresenta elevada resistência mecânica
podendo ser usado em baixas temperaturas (7). 24°C -9,9 Ac 8,0 Ab 14,2 Aa - -
Sendo assim este estudo objetivou analisar a influência da temperatura b*
na qualidade pós-colheita do coquinho azedo acondicionado em 7°C 39,5 Ab 36,3 Bb 41,1 Ab 49,5 a 52,6 a
embalagem plástica de polietileno. 24°C 39,5 Ab 52,0 Aa 44,6 Ab - -
Sólidos Solúveis (°Brix)
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos de Butia capitata foram colhidos no estádio verde-maturo de 7°C 8,0 Ad 26,3 Ab 22,0 Ac 28,7 a 27,0 b
plantas nativas de Mirabela - MG e encaminhados para o Laboratório 24°C 8,0 Ac 17,7 Ba 9,0 Bb - -
de Pós-colheita e Processamento de Vegetais do ICA-UFMG, onde Acidez (% ácido cítrico)
foram selecionados pela sanidade e ausência de danos mecânicos. Os 7°C 1,0 Ad 2,3 Aa 1,4 Ab 1,4 b 1,2 c
frutos foram sanitizados por submersão em água clorada à 50 ppm por
24°C 1,0 Aa 0,9 Bb 0,6 Bc - -
10 min e drenados à temperatura ambiente. Posteriormente os frutos
Firmeza (N/cm²)
foram acondicionados em embalagens PET com tampa de encaixe e
armazenados em incubadora refrigerada nas temperaturas 7 e 24ºC. 7°C 24,4 Aa 21,0 Aa 17,5 Aa 9,7 b 4,8 c
Os frutos foram analisados quanto coloração (L*, a* e b* medidos por 24°C 24,4 Aa 6,7 Bb 2,6 Bc - -
colorímetro), teores de vitamina C e acidez titulavel determinados por Vitamina C (mg/100g)
método titulométrico com o 2,6-diclorofenolindofenol e solução de
7°C 71,6 Aa 73,1 Aa 66,7 Ab 66,7 b 60,2 c
hidróxido de sódio (0,01N) respectivamente, teor de sólidos solúveis
determinado por refratometria e expresso em ºBrix e determinação da 24°C 71,6 Aa 43,0 Bb 30,1 Bc - -
firmeza de polpa realizada pelo método de aplanação (8). Análise de variância e teste de médias Scott-Knott ao nível de 5%.
O delineamento foi o inteiramente casualizado (DIC), em esquema Letras maiúsculas diferentes na mesma coluna indicam diferença
fatorial 2x5 (temperaturas x tempo) com 3 repetições. Os dados significativa entre as temperaturas. Letras minúsculas diferentes na
obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias mesma linha indicam diferença significativa entre os tempos.
comparadas por Scott-Knott ao nível de 5% de significância.
Os valores das coordenadas a* e b* foram influenciados pelo tempo
RESULTADOS E DISCUSSÃO de armazenamento, ocorrendo aumento ao longo dos dias, sendo mais
Os frutos armazenados à 24ºC duraram somente 8 dias, já que aparente o aumento nos frutos não refrigerados. A coordenada a*
demonstraram perda de qualidade visual, tornando-os impróprios para define a variação de cor entre verde (-) e vermelho (+) sendo estas
o consumo. Tal comportamento já era esperado uma vez que o variações ligadas a pigmentos como clorofila e antocianinas.
coquinho-azedo é um fruto climatérico e a não aplicação de baixas Normalmente a clorofila é degradada durante o processo de
temperaturas para diminuição do seu metabolismo implica na amadurecimento desparecendo ou diminuindo a coloração verde dos
continuidade da respiração e da produção do etileno que induzem frutos (6). Já a coordenada b* define a variação de cor entre azul (-) e
transformações nutricionais e sensoriais nos frutos (6). O mesmo amarelo (+), sendo a coloração amarela ligada a presença de
comportamento foi observado ao analisar a qualidade pós-colheita de carotenoides. Portanto, tais resultados indicam diminuição da
frutos de butiá (5), onde constatou-se que o armazenamento dos frutos coloração verde e aumento da coloração amarela ao longo do
à 0ºC em embalagens plásticas teve uma maior conservação dos frutos armazenamento do coquinho-azedo, sendo mais pronunciada nos
em relação aos frutos armazenados à 20ºC. Resultado semelhante foi frutos armazenados a 24°C.
relatado no comportamento de carambola em diferentes temperaturas O teor de sólidos solúveis diferiu estatisticamente entre os tratamentos
(9), onde o armazenamento dos frutos à 25ºC durou apenas 4 dias, o ao longo do tempo, sendo que os frutos armazenados à 24ºC
que foi prolongado para 16 dias com a utilização de embalagens de apresentaram menor teor em relação aos armazenados à 7ºC. Já
PVC e com a diminuição da temperatura para 5 e 10 ºC. analisando as temperaturas isoladamente, à 7ºC houve aumento
Em relação aos valores de luminosidade (*L) de forma geral nota-se progressivo do teor de sólidos solúveis até 12 dias, decorrente do
que há uma diminuição dos valores comparando-se o inicio (tempo 0) amadurecimento normal do fruto, com uma ligeira queda aos 14 dias.
e o fim (14 dias para 7ºC e 8 dias para 24ºC) do experimento. Para os frutos a 24ºC, o teor de sólidos solúveis teve um aumento aos
4 dias e um decréscimo acentuado aos 8 dias de armazenamento.

259
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O conteúdo de sólidos solúveis está diretamente relacionado a (Mestrado Ciências Agrárias, concentração em Agroecologia) –
quantidade de açúcares presentes nos frutos (13), açúcares estes que se Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais.
elevam com o processo de maturação e opostamente são consumidos Montes Claros, 2008.
ao final do amadurecimento e posterior senescência do fruto, eventos (5) AMARANTE, C. V. T., MEGGUER, C. A., Qualidade pós-
estes que foram retardados pela aplicação de uma menor temperatura colheita de frutos de butiá em função do estádio de maturação na
aliada à atmosfera modificada. colheita e do manejo da temperatura. Rev. Ciência Rural. 1, 46-53,
Outro substrato degradado durante a senescência dos frutos são os
2008.
ácidos orgânicos e o comportamento esperado é de que o teor de
(6) ANEZE, R. O., FRONZA, D. Fisiologia pós-colheita em
acidez diminua ao longo do armazenamento (14). Comportamento de
acordo com essa observação foi obtido para os frutos armazenados à fruticultura. 1. ed. Santa Maria. ed. rede e-Tec Brasil. 2015. 130p.
24ºC, com um teor de 1,0% de acidez titulável no tempo inicial, tendo (7) MARCONCINI, J. M. Embalagens plásticas de alimentos. In:
seu teor reduzido à 0,6% aos 8 dias. Pela literatura (15), ao utilizar Marcos David Ferreira. Instrumentação pós-colheita em frutas e
embalagens plásticas para a conservação de mangas “Tommy Atkins” hortaliças. 1ed. Brasília: Embrapa, 2017. p. 247-268.
obteve o mesmo comportamento com embalagens PET obtendo um (8) CALBO, A.G.; NERY, A.A. Medida de firmeza em hortaliçaspela
menor valor de 0,181% ao final dos 10 dias. Já avaliando os frutos técnica de aplanação. Horticultura Brasileira. 1,14-18, 1995.
armazenados na temperatura de 7ºC, nota-se um aumento aos 4 dias (9) LAMEIRA, R.C.; SILVA, B. M. P.; VALENTINI, S. R. T.; CIA,
de armazenamento, seguido de queda até o final do período P.; BRON, I. U. Refrigeration and modified atmosphere to the
experimental. O mesmo comportamento foi registrado na conservação conservation of ‘Malasia’ Star fruit. Rev. Ciência Rural. 50, 1-10
de diferentes cultivares de banana sob atmosfera modificada e 2020.
refrigeração (16). O aumento do teor de acidez na temperatura 7ºC no (10) MEGGUER, C. A. Fisiologia e preservação da qualidade pós-
início do armazenamento pode estar relacionada ao processo de colheitade frutos de butiá (butiaeriospatha(martius) beccari).
maturação do fruto, visto que os frutos foram colhidos no estádio 2006.60f. Dissertação (Mestrado em produção vegetal) - Centro de
verde-maturo. A partir daí a queda ocorrida pode ser resultado do uso Ciências Agroveterinárias – CAV, Universidade do Estado de Santa
de ácidos orgânicos como substrato na respiração celular ou mesmo da Catarina, Lages, 2003.
sua conversão em açúcares (17). (11) ALMEIDA, R. R. Qualidade pós-colheita de pitombasin
Os frutos armazenados nas duas temperaturas diferiram entre si em
natura submetidas adiferentes temperaturas, embalagens e doses
relação a firmeza, com o tratamento à 7ºC apresentando frutos mais
firmes. Analisando o comportamento ao longo do tempo, frutos de radiação uv-c. 2019. 110f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
armazenados em simulação a temperatura ambiente obtiveram de Sistemas Agroindustriais) -Campus Anápolis de Ciências Exatas e
redução drástica de sua firmeza já com 4 dias e continuando com a Tecnológicas Henrique Santillo –CCET, Universidade Estadual de
queda até o final do armazenamento. Em contrapartida, os frutos Góias, Anápolis, 2019.
submetidos a refrigeração mantiveram a sua firmeza inicial até 8 dias, (12) SANTOS, I. R. C. Escurecimento enzimático em frutos:
com queda apenas aos 12 e 14 dias. Resultados similares foram polifenoloxidase de atemóia (Annona cherimola Mill. X
reportados na literatura, onde houve uma maior perda de firmeza em Annonasquamosa L.). 2009. 120f. Dissertação (Mestrado em
carambolas embaladas mantidas à 25ºC do que nos frutos Alimentos e Nutrição) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de
armazenados à 5ºC (9); e em Butiá (5) observaram um declínio maior Araraquara, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009.
nos valores de firmeza nos frutos armazenados à 20ºC em relação aos (13) FERRÃO, T. S. Compostos voláteis e parâmetros de qualidade
frutos armazenados à 0ºC. A perda da firmeza dos frutos está de diferentes genótipos de frutos de Butiá odorata. 2012. 92f.
relacionada a alteração dos componentes na parede celular durante o
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos),
amadurecimento, levando assim ao declínio na integridade do fruto,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012.
esse processo pode ser retardado com aplicação de baixas
temperaturas e atmosfera modificada. (14) WEICHMAN, J. The effect of controled atmosphere storage
Os teores de vitamina C diferiram estatisticamente entre os dois on the sensory na dnutritional qualities of fruits and vegetables.
tratamentos, onde a temperatura 7ºC manteve maiores teores ao longo Horticultural Review. 8, 101-108, 1986.
do armazenamento. No tratamento à 24ºC houve uma diminuição (15) NEVES, L. C.; SILVA, V. X.; FERRAZ, L. R.; PRILL, M. A. S.;
acentuada dos valores de vitamina C chegando ao valor mínimo de ROBERTO, SERGIO, R. Utilização de Diferentes Embalagens
30,1 mg/100g com 8 dias. Na temperatura de 7 ºC os teores de Plásticas para a Conservação de Produto Minimamente Processado de
vitamina C declinaram somente a partir do oitavo dia de Mangas ‘Tommy Atkins’. Rev. Bras. Futic. 3, 856-864, 2009.
armazenamento, chegando ao final do armazenamento com 60,2 (16) SIQUEIRA, C. L.; ALMEIDA, H. J.; SERPA, M. F. P.;
mg/100g, valor este superior à média encontrada na polpa fresca de BATISTA, P. S. C.; MIZOBUTSI, G. P. Modified atmosphere
coquinho azedo (53,0 mg/100g) (2) e em mangas armazenadas em together with refrigeration in the conservation of bananas resistant to
embalagens PET por 10 dias à 10ºC (21,14 mg/100g) (15). black Sigatoka. Rev. Ciencia Agr. 4, 614-624, 2017.
(17) CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Pós-colheita de frutas e
CONCLUSÃO
hortaliças: fisiologia e manuseio. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785p
O emprego de refrigeração aliada a atmosfera modificada mostrou-se
decisiva na conservação do coquinho-azedo, já que ocorreu uma
menor degradação em todos os atributos avaliados na qualidade pós-
colheita.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UFMG e o apoio financeiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

REFERÊNCIAS
(1) HENDERSON, A.; GALEANO, G.; BERNAL, R. Field guide to
the palms of the americas. Ed. Princeton University Press, 1995. 502
p.
(2) FARIA, J. P; ARELLANO, D.B.; GRIMALDI, R.; SILVA, L. C.
R.; VIEIRA, R. F.; SILVA, D. B.; AGOSTINI-COSTA, T. S.
Caracterização química da amêndoa de coquinho-azedo. Rev. Brasil.
Futic., 2, 549-552, 2008
(3) RIBEIRO, L. M..; NEVES, S. C., SILVA, P. O., ANDRADE, I.
G.Germinação de embriões zigóticos e desenvolvimento in vitro
decoquinho-azedo. Rev. Ceres. Viçosa,.2, 133-139, 2011.
(4) FERNANDES, R. C. Estudos Propagativos do Coquinho-Azedo
(Butiacapitata (mart.) becc) arecaceae. 2008. 95f. Dissertação

260
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise microbiológica de formiga Tanajura comestível comercializada na Serra da Ibiapaba


no Ceará

Antônio Filho1, Carlos Alves1*, Lorena Sampaio1, Larissa Araújo1, Larissa Silva1, Neuma Pinheiro1
1
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE.
*carturnalves@gmail.com

Palavras-chave: conservação, entomofagia, legislação, secagem.

INTRODUÇÃO Também foram feitas análises de atividade de água (Aw) e pH em todas


as amostras. A leitura da atividade de água ocorreu em equipamento de
A prática de consumo de insetos, conhecida como entomofagia (do medição da pressão de vapor da água (AquaLab® Dew Point 4TE). O
grego, éntomos, inseto; fagos, alimentação), tem sido posta em pH foi obtido por leitura em pHmetro (Jenway 3505) com as amostras
evidência devido a discussões sobre necessidade alarmante do aumento previamente maceradas em almofariz e diluídas em água destilada na
da população e da possível carência alimentar mundial. Para isso, a proporção de 1:10 (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, Todas as quatro amostras foram submetidas a análises de mesófilos
seu acrônimo em inglês) enumera as vantagens do consumo de insetos aeróbios e bolores e leveduras. Todos os meios de cultura foram
a fim de justificar a discussão da temática, tais como os altos valores de preparados segundo recomendação do fabricante. Todos os
proteínas, gorduras, minerais e fibras; a economia de água e produção procedimentos aconteceram com vidrarias e utensílios estéreis e em
com baixos impactos ambientais; e a baixa exigência de mão de obra, condições assépticas. Todas as análises foram feitas nas diluições de
possibilitando a criação de empregos para pessoas menos qualificadas 10-1, 10-2 e 10-3 seguindo os protocolos descritos por da Silva,
(van-HUIS et al., 2013; FAO, 2015). Junqueira & Silveira (2010), partindo-se de 10 g de amostra. As
Segundo Martin (2014), o clima mais propício para o crescimento dos contagens de mesófilos e bolores e leveduras foram expressas em
insetos é o tropical, já que esses animais são classificados como UFC/g.
ectotérmicos. Sendo assim, é possível avaliar que o Brasil possui grande A análise estatística foi realizada segundo a ANOVA, utilizando o
potencial de espécies comestíveis, devido sua biodiversidade. Os programa Statistica versão 10.0. Foi aplicado o teste de Tukey ao nível
registros de práticas entomofágicas no Brasil concentram-se de 5% de significância.
principalmente em três espécies, como dissertam Romeiro et al. (2015).
A larva do bicho do coco, consumida principalmente em Minas Gerais;
a cochonilha do carmim, utilizada pela indústria alimentícia como RESULTADOS E DISCUSSÃO
corante; e as formigas saúva, que são encontradas na alimentação do
Norte do país. No Ceará, também há costume de consumo de formigas Segundo Franco & Landgraf (2008), a contagem de bactérias aeróbicas
saúva, conhecidas na região como tanajuras. Essas formigas são mais mesófilas é comumente empregada para indicar a qualidade sanitária
presentes em serras e são coletadas no período de chuva do primeiro dos alimentos. Mesmo que patógenos estejam ausentes e que não
semestre. tenham ocorrido alterações sensoriais no alimento, um elevado número
Em todo o seu ciclo biológico, as formigas vivem no solo, onde desses microrganismos indica que o alimento é insalubre. Sendo assim,
naturalmente encontram-se bactérias, fungos e leveduras. Esses contagem elevada desse grupo de bactérias em alimentos não perecíveis
microrganismos são indicadores de qualidade alimentar e, em um indica uso de matéria-prima contaminada ou de processamento
insumo alimentício, precisam estar de acordo com os parâmetros insatisfatório, enquanto em alimentos perecíveis, pode indicar abuso
designados segundo legislações pertinentes. A regulamentação dos durante o binômio tempo/temperatura durante o armazenamento.
padrões microbiológicos de alimentos no Brasil atualmente é atribuída No que diz respeito às amostras de formigas analisadas (Tabela 01),
à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, sob a RDC nº 12 foram observadas maiores contagens para tanajuras apenas congeladas,
de 2 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001). como 1,33 x 105 UFC/g e 2,61 x 105 UFC/g, para 2018 e 2019,
O objetivo do presente trabalho é averiguar a conformidade respectivamente. As amostras submetidas ao processo de secagem, no
microbiológica de tanajuras comercializadas no interior do Ceará, entanto, apresentaram valores menores, como 1,15 x 10 3 UFC/g para
submetendo-as a diferentes métodos de conservação (secagem e 2018 e 0,5 x 102 UFC/g para 2019, o que permite analisar que houve
congelamento) em diferentes tempos de armazenamento. significativa redução na carga microbiana encontrada. Entretanto, não
é possível avaliar tais dados acordando com a legislação, uma vez que
MATERIAIS E MÉTODOS os parâmetros para bactérias totais não são preconizados pelas normas
regulatórias vigentes. Portanto, considerando os critérios de Leitão et
Formigas comestíveis da espécie Atta sp. (Hymenoptera: Formicidae), al. (1988), as contagens de bactérias mesófilas encontradas são
popularmente conhecidas como “tanajuras”, foram adquiridas no aceitáveis, uma vez que são classificados como satisfatórios valores
comércio local de Ubajara, na região da Serra da Ibiapaba, no Ceará, entre 104 e 106 UFC/g.
nos anos de 2018 e 2019. As formigas foram coletadas por coletores Durante o processo de secagem, parte da microbiota é destruída, o que
locais durante as revoadas entre os meses de fevereiro e março e torna difícil a deterioração bacteriana de alimentos desidratados. Isto
vendidas congeladas. As amostras, em sua embalagem original, foram ocorre porque as bactérias necessitam de valores superiores a 0,90 de
transportadas em isopor até a capital, Fortaleza, onde foram atividade de água (Aw), fator diretamente afetado pelo método de
armazenadas até seu uso. As formigas compradas em 2018 secagem. Conforme Tabela 01, o processo de secagem diminuiu
permaneceram congeladas em freezer, a -18 ºC, até o momento de significativamente a atividade de água para ambos os anos avaliados,
análise no ano seguinte. As formigas da revoada de 2019 também foram como esperado, passando para valores de Aw menores do que 0,36.
mantidas a -18 ºC até o momento de análise. A amostra do ano de 2018 congelada apresentou maior população de
Os exemplares de tanajura, de 2018 e 2019, foram submetidos a bolores e leveduras, na faixa de 105 UFC/g, enquanto as outras amostras
secagem para análise de umidade e experimentos posteriores com as se mantiveram até o máximo de 103 UFC/g. As amostras congeladas
amostras desidratadas. A secagem foi executada em estufa de apresentaram contaminação estatisticamente maior que as secas,
circulação (Tecnal TE-394/2) a 105 ºC, segundo Instituto Adolfo Lutz sugerindo a eficiência do método de secagem para a redução da
(2008). A partir da obtenção das formigas secas, todas as análises contaminação ambiental. A população de bolores e leveduras
seguintes aconteceram com as quatro amostras diferenciadas por resistentes ao tratamento térmico (1,5 x 102 e 5 x 10 UFC/g para 2018-
tratamento e revoada: amostras de 2018 congeladas (2018-C), de 2018 S e 2019-S, respectivamente) aponta a possível existência de espécies
secas (2018-S), de 2019 congeladas (2019-C) e, por fim, amostras de termorresistentes entre o pool fúngico ou, ainda, a contaminação pós
2019 secas (2019-S). Todas foram trituradas em processador Yammi processamento, uma vez que a trituração das amostras não aconteceu
(SPM-018), na potência 5 durante 60 segundos. em equipamento estéril.

261
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 01. Análises microbiológicas e físico-químicas de tanajura (Atta sp.).

Mesófilos (UFC/g) Bolores e leveduras (UFC/g) pH Aw Umidade (%)

2018 - C 1,33 x 105 Aa* 1,08 x 105 Aa 6,96 ± 0,02 Aa 0,98 ± 0,00 Aa 43,15 ± 0,85 A
2018 - S 1,15 x 103 Ab 1,50 x 102 Ab 5,63 ± 0,005 Bb 0,22 ± 0,02 Bb -
2019 - C 2,61 x 10 5 Ba
3,45 x 10 3 Ba
6,29 ± 0,01 Ba
0,93 ± 0,00 Ba
42, 54 ± 0,92 A
2019 - S 0,50 x 102 Bb 0,50 x 102 Ab 6,29 ± 0,07 Aa 0,36 ± 0,00 Ab -

*Letras maiúsculas comparam os resultados entre os tratamentos (P < 0,05).


**Letras minúsculas comparam os resultados entre os anos (P < 0,05).

A RDC nº 12/2001 da ANVISA (BRASIL, 2001) estabelece padrões de enquanto seriam uma boa alternativa para enriquecimento de alimentos
bolores e leveduras apenas para purês e doces de origem vegetal em secos, como produtos para panificação e confeitaria.
pasta ou massa (incluindo geleias e doces em calda não comercialmente
estéreis) e para alimentos para imunossuprimidos ou REFERÊNCIAS
imunocomprometidos. Para o primeiro grupo, são admitidas
contaminações de até 10⁴ UFC/g e para o segundo apenas 5 x 10 UFC/g. BEAUCHAT, L. R. Microbial stability as affected by water activity.
Assim, a amostra mais antiga congelada, 2018-C, não estaria apta para Cereal Food World, n. 26, p. 345-349. 1981.
consumo em nenhum dos padrões estabelecidos. As amostras 2018-S e
2019-C estariam na margem para purês e doces de origem vegetal. A BENEDETTI, J. Análise microbiológica da farinha parcialmente
única amostra apta ao consumo de imunossuprimidos e/ou desengordurada de baru. Universidade Católica de Brasília, Brasília,
imunocomprometidos seria a amostra seca de 2019. 2013.
A presença de bolores e leveduras em alimentos é indicativa de má
qualidade no processamento, evidenciando práticas deficientes no BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA.
quesito de higiene (BENEDETTI, 2013). Devido à sua forma de Resolução RDC n. 12, de 12 de janeiro de 2001. Diário Oficial União,
reprodução através da esporulação, tais microrganismos, em especial os Brasília, 10 jan. 2001.
bolores, são facilmente transportados pela água e pelo vento, também
resistindo à variação de temperatura, agentes químicos e outras FAO. How to feed the world in 2050. Food and Agriculture
condições ambientais adversas. Os esporos fúngicos podem justificar a Organization of the United Nations Forestry Department. Roma, 2009.
permanência desses microrganismos nas amostras após secagem (2018-
S e 2019-S). FRANCO, B. D. G. de M.; LANDGRAF, M.. Microbiologia de
Ainda como particularidade, os fungos podem sobreviver em ambientes Alimentos. São Paulo: Editora Ateneu, 2008.
com baixa atividade de água (Aw), sendo registrados casos de fungos
osmofílicos que já se desenvolvem em Aw de 0,6 (BEAUCHAT, 1981). INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo
Essa característica é muito comum em produtos farináceos, cujos Lutz. Métodos físico-químicos para análises de alimentos. 4ª ed. (1ª
atributos físicos e sensoriais podem se aproximar das amostras 2018-S Edição digital), 2008.
e 2019-S trituradas. Lima (2007) ao processar farinha e goma de
mandioca, como também fubás de milho, encontrou resultados LEITÃO, M.F.F. et al. Tratado de microbiologia. Rio de Janeiro:
semelhantes à população de bolores e leveduras encontradas nas Manole, 1988. 185p.
amostras de tanajura, entre 10³ e 10⁵ UFC/g. Ao se analisar farinhas
parcialmente desengorduradas de baru, Benedetti et al (2013) LIMA, C. P. de S.; et al. Presença de microrganismos indicadores de
constataram presença de fungos na magnitude de 10³ UFC/g, também qualidade em farinha e goma de mandioca (Manihot esculenta, Crantz).
semelhante ao encontrado na matéria prima deste estudo. Revista Aps, Juiz de Fora, v. 10, n. 1, p.14-19, jun. 2007.

CONCLUSÕES MARTIN, D. Edible: An adventure into the world of eating insects and
the last great hope to save the planet. Houghton Mifflin Harcourt.
A partir dos dados apresentados e discussões geradas, é possível inferir Boston, 2014.
que o método de secagem aplicado às formigas tanajuras é uma boa
alternativa para a redução da carga microbiana de insetos comestíveis, ROMEIRO, E. T.; OLIVEIRA, I. D.; CARVALHO, E. F. Insetos como
tornando as amostras secas aceitáveis em um largo grupo alimentar. A alternativa alimentar: artigo de revisão. Contextos da Alimentação. São
análise estatística mostrou que não houve diferença significativa entre Paulo, v. 4, n. 1, 2015.
as cargas microbianas de acordo com o tempo de armazenamento.
Para mesófilos, os valores foram analisados como satisfatórios, devido SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A. Manual de
à ausência de regulamentação específica. No que se refere a bolores e métodos de análise microbiológica de alimentos. 4ª ed. Varela. São
leveduras, a amostra 2018 congelada foi a única que não se adequou em Paulo, 2010.
nenhum grupo previsto, enquanto a seca de 2019 enquadrou-se em mais
categorias. Logo, é possível inferir que formigas tanajuras comestíveis van-HUIS, A., et al.. Edible insects: Future prospects for food and feed
não seriam recomendadas para grupos infantis e imunossuprimidos, security. Food and Agriculture Organization of the United Nations.
Roma, 2013.

262
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Sobremesa Láctea Cremosa Sabor Chocolate


Utilizando Pectina do Albedo de Maracujá Amarelo Como Estabilizante
Jéssica Carmo¹, Jamília da Silva², Samara Vieira2, Brenda Vasconcelos1, Islan Barbosa1, Daniele Teixeira-Sá³
1. Especialista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, jessicacarmo.ufc@gmail.com
2. Discente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
3. Doutora, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.

Palavras-chave: polissacarídeo, resíduos agroindustriais, viscosidade.


1. INTRODUÇÃO Utilizou-se parte do leite UHT previamente aquecido a
O Brasil se destaca como um dos maiores produtores 65°C para dissolver o estabilizante (pectina e/ou goma guar, de acordo
mundiais de maracujá, sendo o maracujá amarelo (Passiflora edulis F. com cada formulação) juntamente com parte do açúcar. Os demais
flavicarpa) responsável por 95% da produção de maracujá em todo ingredientes secos foram misturados com o açúcar e o leite aquecido
país, por apresentar boa qualidade, produtividade e rendimento em restantes. Adicionou-se o estabilizante já dissolvido, e aqueceu-se até
suco. Deste fruto, aproximadamente 75% são descartados (cascas e 85ºC seguido por resfriamento em banho de gelo até 30 ºC. Por fim,
sementes) e apenas 25% são aproveitados, gerando toneladas de adicionou-se creme de leite. Bateu-se em batedeira doméstica durante
resíduos ao ano (1, 2, 3, 4). O agronegócio é uma das atividades mais 15 minutos. Envasou-se em recipientes plásticos com tampa e
importantes nos países, gerando grande quantidade de resíduos, os acondicionou-se a uma temperatura de 4º C.
quais têm sido estudados para diversas aplicações (5). Parâmetros analíticos e análise sensorial
O albedo do maracujá amarelo (parte branca da casca) A caracterização físico-química (pH, acidez titulável,
apresenta alto teor de carboidratos, principalmente pectina (em torno sólidos solúveis totais e cor) foi realizada de acordo com as
de 27% em base seca), consideráveis quantidades de potássio e cálcio, metodologias descrita pela Association of Official Analytical Chemists
e boas propriedades físicas e funcionais (6, 7). (AOAC) (13). A viscosidade aparente das sobremesas foi determinada
As pectinas são polissacarídeos ácidos presentes na parede utilizando o viscosímetro rotativo microprocessado Quimis®, modelo
celular de alguns vegetais, compostas principalmente de ácido Q860M26. As amostras foram posicionadas na altura correta do
galatacturônico. Utilizados na indústria de alimentos em processos de espíndole (SP:4), com velocidade de 1 rpm (rotação por minuto). O
formação de géis, com aplicação na produção de geleias, produtos tempo mínimo de leitura foi de aproximadamente cinco minutos por
lácteos, sobremesas, bebidas, entre outros, estudos demonstram que amostra. Para manter a temperatura de 7 oC no momento da medida,
sua propriedade de fibra dietética apresenta bons efeitos fisiológicos as mesmas ficaram imersas em banho de gelo. O desempenho do fio
ao organismo humano (8, 9). de torção “espiral” apresentou-se entre 37,5 a 62,4% conforme
A maior parte da pectina usada pela indústria de alimentos recomendados pelo fabricante. Os resultados foram expressos em
é originária do bagaço de maçã e casca de frutos cítricos. Estudos mPa.s (mili Pascal vezes segundo).
recentes têm buscado a extração de pectina de novas matérias-primas, Foram realizadas análises microbiológicas: para a
visando melhor qualidade reológica e rendimento do produto final (8). determinação de coliformes termotolerantes utilizou-se o kit de placas
O consumo de sobremesas lácteas tem apresentado de Petrifilm 3M, seguindo o método oficial da AOAC (13). Para a
importante crescimento nos últimos anos pela possibilidade de adição determinação de Salmonella spp., foi utilizado o método
de ingredientes inovadores e aplicação de sistemas tecnológicos nas BAM/FDA:2016 (14). Todas as análises microbiológicas foram
fábricas de laticínios, permitindo a produção de sobremesas com realizadas no dia seguinte à produção.
novos sabores, maior digestibilidade e melhor valor nutritivo (10). As análises foram realizadas em triplicata para cada
Geralmente, as sobremesas apresentam consistência semi-sólida, formulação. Os resultados foram submetidos à análise de variância e
característica gelatinosa e são basicamente formuladas com leite, as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de
hidrocolóides, aroma e corantes (11). significância, através do programa Statistica 7.0 (2008).
Este trabalho teve como objetivo estudar o uso de pectina
A análise sensorial foi aprovada pelo Comitê de Ética do
de casca de maracujá amarelo como estabilizante para uma sobremesa
IFCE com o número do parecer 3.085.967 e foi realizada com 120
láctea cremosa sabor chocolate e avaliar a aceitação dos provadores
provadores não treinados, entre estudantes e funcionários do IFCE. As
para esse produto.
amostras de sobremesa foram codificadas e distribuídas de forma
balanceada e individualmente aos provadores, servidas em copos
2. MATERIAL E MÉTODOS descartáveis em temperatura de 4 °C. A análise foi realizada após a
Obtenção da farinha do albedo do maracujá amarelo constatação do resultado das análises microbiológicas. Utilizou-se
As cascas de maracujá amarelo previamente sanitizadas e
escala hedônica estruturada de nove pontos, variando de 1-“Desgostei
congeladas foram obtidas de uma indústria produtora de polpas de
Muitíssimo” a 9 - “Gostei Muitíssimo’’, e as amostras foram avaliadas
frutas de Limoeiro do Norte-CE. A produção da farinha, a extração da
quanto aos atributos: impressão global, cor, aroma, textura e sabor,
pectina, o processamento das sobremesas lácteas e as análises foram
utilizando-se o teste de aceitação de acordo com os métodos descritos
realizados em laboratórios do Instituto Federal de Educação, Ciência e
por Dutcosky (15). A intenção de compra foi avaliada por meio de
Tecnologia do Ceará (IFCE) campus Sobral.
uma escala de cinco pontos, variando de 1- “Certamente Não
As cascas de maracujá foram descongeladas, lavadas em
Compraria” a 5-“ Certamente Compraria”, conforme descrito por
água destilada e submetidas à retirada do epicarpo utilizando-se facas.
O epicarpo foi descartado e o albedo foi cortado em pedaços médios Meilgaard et al. (16).
(2,0 cm x 1,5 cm x 1,0 cm). Fez-se o branqueamento dos pedaços em
água a 90 °C por 3 minutos para inativação enzimática. O albedo 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
branqueado foi seco em estufa a 105 °C por 4 horas e, posteriormente, Na tabela 1 encontram-se os valores obtidos dos
foi triturado e peneirado em moinho para obtenção final da farinha. parâmetros físico-químicos das sobremesas lácteas.
Obtenção da pectina As formulações apresentaram diferenças significativas
A extração da pectina da farinha do albedo foi realizada entre si nos parâmetros pH e acidez, mostrando que quando
seguindo a metodologia descrita por Pinheiro (12) utilizando-se ácido adicionado 0,5% de pectina as sobremesas apresentaram maior acidez.
cítrico 0,086% sob refluxo e precipitação com etanol e ácido cítrico. Não houve diferença significativa quanto ao teor de sólidos solúveis
Processamento das sobremesas lácteas sabor chocolate com totais.
pectina do albedo do maracujá A sobremesa que apresentou maior viscosidade foi a F3,
Foram elaboradas três formulações de sobremesas lácteas que utilizou goma guar e pectina, seguida da viscosidade da amostra
sabor chocolate. A base das três formulações foi composta de 48% de F1 e da F2. A goma guar atua como um espessante comumente
leite UHT (com pequena variação entre as formulações pela adição da utilizado para melhorar a consistência dos alimentos processados,
pectina e goma guar), 25% de creme de leite comercial, 10% de aumentando a viscosidade dos produtos, e é compatível com outras
açúcar e 4,5% de chocolate em pó. Nas formulações F1 e F2 foram gomas, amidos, hidrocolóides e agentes gelificantes (10).
adicionados 0,5% e 0,2% da pectina extraída, respectivamente, e na Observa-se na Tabela 2, que os resultados de cor
F3 foi adicionado 0,2% da pectina extraída e 0,2% de goma guar. instrumental das amostras de sobremesas lácteas não apresentaram
diferenças estatísticas ao nível de 5% de significância, indicando que a

263
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

variação nos ingredientes não resultou em mudança de cor entre as sobremesa láctea produzida com subprodutos do maracujá é uma
amostras. De acordo com os resultados de a*, b* e °h, afirma-se que estratégia adequada para agregar valor aos subprodutos industriais.
as formulações apresentaram cor tendendo, majoritariamente, ao 4. CONCLUSÃO
marrom. A sobremesa láctea cremosa sabor chocolate com adição da
pectina do albedo do maracujá amarelo apresenta-se como um produto
Tabela 1. Caracterização físico-química e resultados do teste de Tukey atraente em função de suas características sensoriais, tendo boa
(contraste entre médias) das sobremesas lácteas sabor chocolate. aceitação pelos provadores, indicando que poderia ser incluído no
Resultado expresso em médias ± desvio padrão. mercado com perspectivas de potencial tecnológico. O aproveitamento
Análises F1 F2 F3 da casca do maracujá se apresenta como uma boa alternativa de
pH 6,40a ±0,01 6,44ab ±0,01 6,53b ±0,06 matéria prima para a extração de pectina, possibilitando reduzir
Acidez (%) 0,75a ±0,01 0,61b ±0,01 0,75a ±0,01 impactos ambientais gerados pela agroindústria.
Sólidos solúveis a a
22,02 ±0,06 22,02 ±0,06 22,01a ±0,01 5. REFERÊNCIAS
(°Brix)
Viscosidade 233.306 ab ± 175.123 a ± 350.803 b ± (1) COELHO, E. M.; AZÊVEDO, L. C., UMSZA-GUEZ, M. A. Fruto
(mPa.s) 10.761,4 47.205,7 44.079,6 do maracujá: importância econômica e industrial, produção,
F1 e F2 com 0,5% e 0,2% da pectina extraída, respectivamente, e F3 com 0,2% subprodutos e prospecção tecnológica. Cad. Prospec., v. 9, n. 3, 347-
da pectina extraída e 0,2% de goma guar. 361, 2016.
Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem significativamente (2) MELETTI, L. M. M. Avanços na cultura do maracujá no brasil.
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Rev. Bras. Frutic., v. E. 083-091, 2011.
(3) FERRARI, R. A.; COLUSSI, F.; AYUB, R. A. Caracterização de
Tabela 2. Parâmetros de cor das sobremesas lácteas sabor chocolate. subprodutos da industrialização do maracujá - aproveitamento das
Resultado expresso em médias ± desvio padrão. sementes. Rev. Bras. Frutic., v. 26, n. 1, 101-102, 2004.
Amostra (4) DO NASCIMENTO FILHO, W. B.; FRANCO, C. R. Avaliação do
L* a* b* C* h*
* potencial dos resíduos produzidos através do processamento
F1 35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a agroindustrial no Brasil. Rev. Virt. Quim., v. 7, n. 6, 1968-1987, 2015.
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 (5) NASCIMENTO, T. A.; CALADO, V.; CARVALHO, C. W. P.
35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a Development and characterization of flexible film based on starch and
F2
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 passion fruit mesocarp flour with nanoparticles. Food Resear. Inter., v.
35,55a 1,563a 2,173a 2,676a 54,34a 49, 588-595, 2012.
F3
±0,0057 ±0,0057 ±0,0115 ±0,0057 ±0,3119 (6) OLIVEIRA, E. M. S. de; RESENDE, E. D. Yield of albedo flour
Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem and pectin content in the rind of yellow passion fruit. Ciênc. Tecnol.
significativamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Aliment., v. 32, n. 3, 492-498, 2012.
(7) MATSUURA, F. C. A. U. Estudo do albedo de maracujá e de seu
Em todas as amostras avaliadas houve ausência de aproveitamento em barra de cereais. 157f. Tese (Doutorado em
crescimento de Salmonella spp. e coliformes termotolerantes. Engenharia de Alimentos) - Faculdade de Engenharia de Alimentos,
Análise sensorial das sobremesas lácteas Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
Os resultados de aceitação foram submetidos à análise de (8) CANTERI, M. H. G.; MORENO, L.; WOSIACKI, G.; SCHEER,
variância. As médias obtidas para cada atributo estão representadas na A. P. Pectina: da matéria-prima ao produto final. Polím., v. 22, n. 2,
Tabela 3. 149-157, 2012.
(9) MUNHOZ, C. L.; SANJINEZ-ARGANDOÑA, E. J.; SOARES-
Tabela 3. Médias dos testes sensoriais das sobremesas lácteas sabor JÚNIOR, M. S. Extração de pectina de goiaba desidratada. Ciênc.
chocolate. Resultado expresso em médias ± desvio padrão. Tecnol. Aliment. v. 30, n. 1, 2010.
Atributos F1 F2 F3 (10) NIKAEDO, P. H. L.; AMARAL, F. F.; PENNA, A. L. B.
Cor 7,91a±1,069 7,34b±1,188 7,28b±1,301 Caracterização tecnológica de sobremesas lácteas achocolatadas
Aroma 7,61a±1,325 7,14b±1,524 7,36ab±1,418 cremosas elaboradas com concentrado protéico de soro e misturas de
Textura 7,70a±1,222 7,15b±1,580 7,46ab±1,560 gomas carragena e guar. Rev. Bras. Ciênc. Farmac., v. 40, n. 3, 397-
a b
Sabor 7,97 ±1,143 7,39 ±1,474 7,55b±1,424 404, 2004.
Impressão a b (11) VALENCIA, M. S. Desenvolvimento de sobremesa láctea
7,88 ±1,160 7,42 ±1,342 7,59ab±1,335
global cremosa de chocolate adicionada de fruto-oligossacarídeo e
Intenção Lactobacillus paracasei subsp. paracasei LBC 81. 69f. Dissertação
4,516a ±0,685 4,083b±0,931 4,016b±0,916
de compra (Mestrado em Nutrição) - Programa de Pós-Graduação em Nutrição,
Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem significativamente Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
(12) PINHEIRO, E. R. Pectina da casca do maracujá amarelo
(Passiflora edulis flavicarpa): otimização da extração com ácido
Os resultados demonstraram boa aceitação das sobremesas
cítrico e caracterização físico-química. 79 f. Dissertação (Mestrado em
lácteas com adição de pectina do albedo do maracujá amarelo,
Ciência dos Alimentos) – Programa de Pós-Graduação em Ciência dos
apresentando notas superiores a 7,0, situando-se dentro da zona de
Alimentos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
aceitação (“gostei moderadamente a “gostei muitíssimo).
2007.
Observa-se que a formulação produzida com adição de
(13) ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS
0,5% de pectina (F1) diferiu significativamente das formulações F2 e
(AOAC). 18 ed. Gaithersburg, MD, USA: Official methods of analysis
F3, apresentando médias ligeiramente superiores para todos os
of the Association of Analytical Chemists. 2005.
atributos.
(14) SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A.;
A F2 mostrou uma média ligeiramente menor para o
TANIWAKI, M. H.; GOMES, R. A. R.; OKAZAKI, M. M. Manual de
atributo textura, constatando-se assim que os provadores preferiram as
métodos de análise microbiológica de alimentos e água. 5. ed. São
sobremesas com viscosidade maior, comparando-se as três
Paulo: Blucher, 2017. 560p.
formulações.
(15) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 2 ed.
As médias das notas para intenção de compra
Curitiba: Champagnat, 2011.
(“provavelmente compraria”) estão de acordo com as notas atribuídas
(16) MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B. T. Sensory
aos demais atributos, considerando-se o produto comercialmente
Evaluation Techniques. Boca Raton: CRC Press, 1988. 279p.
viável.
(17) HENRIQUE, J. R.; HENRIQUE, J. R.; RODRIGUES, L. M. A.
Os resultados evidenciam a viabilidade de aproveitar a
PAIXÃO, M. G.; PINTO, S. A.; PACIULLI, S. O. D.
pectina extraída do resíduo do maracujá, demostrando que com a
Desenvolvimento, parâmetros físico-químicos e avaliação sensorial de
adição de apenas 0,2% de pectina já se obtém um produto de
sobremesas lácteas produzidas com diferentes variedades de maracujá
qualidade e bem aceito pelos provadores, dispensando a adição de
com e sem soro de leite. Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, v. 67, n.
goma guar.
389, 27-33, 2012.
Henrique et al (17) desenvolveram sobremesas lácteas
elaboradas com casca e sementes de diferentes variedades de maracujá
e também observaram boas notas de aceitação dos provadores
atribuídas aos produtos, evidenciando que o desenvolvimento de

264
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ACEITAÇÃO SENSORIAL DE TORTA PÂTÉ SABLÉ COM CREME PÂTISSERIE A


BASE DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE ARROZ
Pedro Abreu da Silva Neto¹, Ana Cristina da Silva Morais², Fládia Carneiro da Costa³, Ana Chiara Felismina Azevedo4

¹ Esp. em Gestão da Qualidade em Serviços de Alimentação, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Ceará
(SENAC), pabreunt@gmail.com.
² Dra. em Ciências e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará,
anacmorais@ifce.edu.br.
³ Esp. em Segurança e Qualidade de Alimentos, fladiacarcos@gmail.com.
4
Bacharel em Nutrição, anaazevedonutricionista@gmail.com.

Palavras-chave: Gastronomia. Confeitaria. Intolerância à Lactose. Restrição Alimentar. Leite.


INTRODUÇÃO A mesma foi coada em uma peneira de malha fina, com o cuidado para que
a polpa do arroz não atravessasse o líquido extraído (figura 1).
O leite é considerado uma bebida de origem biológica, que tem
sabor próprio e leve, agradável ao paladar, tem um gosto ligeiramente Figura 1 - Arroz liquidificado e transformado em pasta (A); Extração (B).
adocicado, com valor nutritivo elevado contendo carboidratos, ácidos
graxos, sais minerais, vitaminas e água (1). Se destaca como fonte de
alimento rico em nutrientes por conta de suas proteínas de alto valor
biológico, e variedade de vitaminas e minerais. (2).
Mesmo com todos os benefícios que o leite apresenta, o mesmo
tem sido o causador de problemas como alergias e intolerâncias, o que pode A B
ter impulsionado a pesquisa a respeito do mesmo nos últimos cinco anos.
Tais problemas podem ser caracterizados como reações adversas causadas Fonte: Autor (2016)
pela ingestão de determinado alimento (3).
A causa da alergia é provinda das proteínas presentes no leite, O creme pâtisserie foi preparado em sequência a produção do
causando uma reação adversa no organismo, por conta de uma baixa no extrato. Este, foi aquecido a uma temperatura de 60°C. Após retirado do
sistema imunológico. Os sintomas mais frequentes são manifestações fogo foi acrescida a essência de baunilha e encorpado com um fouet e em
gastrointestinais, cutâneas e sistêmicas (4). Diferente da alergia, a seguida foi reservado.
intolerância à lactose está relacionada a uma deficiência do organismo na
absorção do açúcar do leite. Ao chegar no intestino delgado, a falta ou baixa Elaboração do creme pâtisserie
quantidade da enzina lactase (β-D-Galactosidase), responsável por hidrolisar
o açúcar em partículas menores para serem absorvidas no organismo, não é O creme pâtissière foi preparado (tabela 2) com a utilização da
suficiente para a alta quantidade de açúcar (5). Não ocorrendo a absorção, a preparação da figura 1. Os ingredientes e o modo de preparo foram
lactose chega ao cólon sendo fermentada por bactérias da microbiota adaptados do livro Le Cordon Bleu (8).
causando gases CO2 e H2, acidificando e liquidificando as fezes, causando
distensão abdominal (4). Tabela 2 - Formulação do creme pâtisserie.
Sendo assim, a indústria surgiu com uma nova tendência, INGREDIENTES
conhecida como leite vegetal ou extrato hidrossolúvel. O extrato
Leite de Arroz (ml) 670
hidrossolúvel é preparado através da seleção, maceração, tratamento
térmico, cocção e centrifugação de um determinado produto de origem Essência de Baunilha (g) 25
vegetal (6).
Após todo processo, o produto está em seu estado pronto para Gemas (un) 6
consumo, sendo este de alto valor nutritivo, de acordo com o vegetal Açúcar (g) 250
escolhido, possuindo baixo custo e fácil obtenção, podendo ser preparado
com produtos encontrados em casa. A derivação deste produto tem uma Farinha de Trigo (g) 50
ampla utilização na indústria de alimentos, sendo bastante utilizado no Fonte: Autor (2016)
preparo de bebidas do tipo lácteas, como iogurtes, sorvetes, cremes e outros.
Os extratos vegetais têm sido popularmente denominados de ‘leites Em uma batedeira planetária emulsionou-se as gemas e o açúcar
vegetais’ e têm garantido seu espaço na indústria alimentícia, tais como o até atingir uma cor esbranquiçada e textura aveludada. Em seguida, a farinha
leite de soja, coco, castanha, amêndoas, arroz e outros (7). foi adicionada aos poucos. Acresceu-se o extrato de arroz junto à preparação
Portanto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a aceitação sensorial lentamente. Após todos os ingredientes estarem bem encorpados, o creme
por meio da escala hedônica, atributos de cor, aparência, odor e geral de torta foi retirado da batedeira e levado ao fogo baixo em uma panela e foi
pâté sablé com creme pâtisserie a base de extrato hidrossolúvel de arroz. encorpado sem parar até atingir fervura. Ao retirar do fogo, o creme foi
despejado em um refratário para que resfriasse e foi reservado na geladeira
MATERIAIS E MÉTODOS por 15 horas. O creme foi preparado um dia antes da análise, com o propósito
de observar seu comportamento em relação ao creme pâtisserie tradicional.
Elaboração do leite vegetal de arroz Antes de ser utilizado, o creme foi batido em uma planetária, na velocidade
5, até que ficou com uma textura lisa.
Realizada a produção artesanal do extrato vegetal de arroz de
acordo com a formulação da tabela 1. Figura 2 – Mise in place do creme pâtisserie (A); Creme após batimento,
em sua textura lisa e homogênea (B).
Tabela 1 – Formulação do leite vegetal de arroz.
INGREDIENTES A
Água (ml) 3000
Arroz parboilizado (g) 1000
Essência de baunilha (g) 5
B
Fonte: Autor (2016)

A extração hidrossolúvel do arroz ocorreu através de cocção. Foi Fonte: Autor (2016)
aquecido 1500 ml de água em uma panela e ao atingir o ponto de mijoté,
acrescentou-se o arroz e deixou o mesmo cozinhar até ficar al dent. Após
este processo, o arroz foi posto em um liquidificador com o restante da água
(1500 ml) e a essência de baunilha e foi batido até formar uma pasta líquida.

265
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração da massa pâte sablé Os resultados foram positivos (Tabela 4), considerando que a cor
ficou com média 7,68 (correspondente a ‘gostei muito’), sendo esta a maior
O preparo da massa paté sablé se deu com ingredientes que podem média dos atributos avaliados. A aparência do produto com 7,65, o odor com
ser visualizados na tabela 3. Os ingredientes e método de preparo foram 7,23 e o geral do produto ficou com média de 7,45.
adaptados do livro Le Cordon Bleu (8). As médias da aparência e da cor são equivalentes ao ponto 8 da
escala “gostei muito”, enquanto o geral e o odor são equivalentes ao ponto
Tabela 3 - Formulação da massa paté sablé. 7, “gostei moderadamente”.
INGREDIENTES
Tabela 4 – Médias e desvios padrão da avaliação da aceitação sensorial da
Óleo de girassol (g) 150 torta com creme pâtisserie sem lactose.
Açúcar mascavo (g) 90 Amostra
Atributos
Ovo (un) 1 TCP
Cor 7,68±1,27
Farinha de trigo (g) 250
Aparência 7,65±1,07
Fonte: Autor (2016)
Odor 7,23±1,32
Para o preparo da massa pâte sablé a farinha e o óleo foram Geral 7,45±1,25
misturados em um bowl. Escala Hedônica
Por último acrescentou-se o ovo e o açúcar que foi misturado com Escala: 1=desgostei muitíssimo; 5=nem gostei, nem desgostei; 9=gostei
as mãos por 4 minutos. Após ficar firme, a massa foi posta em uma bancada muitíssimo.
e passou por processo de sabláge por 9 minutos, ou seja, até que estivesse Fonte: Autor (2017).
firme.
A massa foi levada à geladeira coberta com filme plástico para um Considerando a utilização de ingredientes não convencionais no
descanso de 30 minutos. Em seguida, foi modelada e levada ao forno creme, pode-se definir que amostra teve excelente aceitação, por ter tido a
combinado pré-aquecido a 160°C, com controle da temperatura, e assado formulação bastante alterada em relação à original e ainda sim os avaliadores
por 12 minutos, quando apresentava textura firme e crocante. aceitaram produto.
A massa pâte sablé foi preparada no dia anterior à análise
sensorial, para que pudessem ser observadas suas características em relação CONCLUSÃO
ao produto original, pois o óleo fez substituição à manteiga, por conta do
leite presente neste último. A torta pâte sablé com creme pâtissière foi bem aceita em todos
atributos avaliados e de forma geral. Desta forma, a utilização de leite
Figura 3 – Mise in place da massa Paté Sablé (A); Tortinhas preparadas vegetal de arroz mostrou-se viável em substituição ao leite na elaboração
para a avaliação sensorial (B). da torta com creme pâtissière sem lactose e, portanto, apresenta-se como
B uma alternativa acessível e de baixo custo. Sugere-se novos estudos de
A aplicação do leite vegetal de arroz em outros tipos de preparações
culinárias.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará


Fonte: Autor (2016) – Campus Baturité e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do
Ceará.
Procedimentos do teste sensorial
REFERÊNCIAS
A aceitação da torta com creme pâtisserie foi verificada através de
uma avaliação sensorial com 60 provadores não treinados no laboratório de 1. RODRIGUES, E. Qualidade do leite e derivados: processos,
Análise Sensorial do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia processamento tecnológico e índices. 1 ed. Rio de Janeiro: Programa Rio
do Ceará (IFCE), Campus de Baturité. A avaliação foi feita em cabines Rural. Niterói, 2013. v. 1. 55p.
individuais, sob luz branca. Junto com a amostra, foi servida água à
temperatura ambiente para que os provadores pudessem limpar o palato 2. AMANCIO, O.; et al. A Importância do Consumo de Leite no Atual
antes e após a avaliação. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi Cenário Nutricional Brasileiro. 1 ed. São Paulo: Sociedade Brasileira de
entregue junto com a ficha de avaliação sensorial para obter o consentimento Alimentação e Nutrição. Pamplona, 2013. v. 1. 28p.
do avaliador em participar da análise.
Aplicou-se o teste de aceitação com a escala hedônica de nove 3. BRASIL. Consenso brasileiro sobre alergia alimentar. Associação
pontos (1=desgostei extremamente, 5=nem gostei, nem desgostei, 9=gostei Brasileira de Alergia e Imunopatologia: 2007. Revista Brasileira de Alergia
extremamente), para avaliar a aceitação da cor, aparência, odor e geral do e Imunologia, Brasília, v. 31, n. 2, p. 64-89, 2008.
produto.
4. OLIVEIRA, V. C. D. Alergia à proteína do leite de vaca e intolerância à
Análise dos dados lactose: abordagem nutricional e percepções dos profissionais da área da
saúde. 2013. 104f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ciência e
A análise dos dados obtidos nos questionários se deu com a Tecnologia do Leite e Derivados) - Universidade Federal de Juiz de Fora.
tabulação dos resultados em planilhas e a execução de gráficos para Juiz de Fora, 2013.
avaliação. Todos os resultados da avaliação sensorial foram expostos em
histogramas de frequência, calculados também as médias e desvios padrão 5. SÁ, P. T. M; DELANI, T. C. O; FERREIRA, A. A. Aspectos Etiológicos
dos dados obtidos com a escala hedônica (9). da Hipolactasia. In Revista UNINGÁ. Vol.20, n.2, p.123-128. Ingá, 2014.

RESULTADOS E DISCUSSÕES 6. LUZ, L. M.; SANTOS, M. S.; SCHEMIN, M. H. C; FRANCISCO, A. C.


Concentração do Extrato Hidrossolúvel de Soja. In: 4° Encontro de
Teste de aceitação com escala hedônica Engenharia e Tecnologia dos Campos Gerais. Pará, 2008

A torta foi aceita por uma grande parte dos provadores por se 7. PEREIRA, G. G. Utilização de extrato hidrossolúvel de soja na produção
aproximar bastante da preparação original, não havendo grande diferença. de sorvete. 2010. 166p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos)
A soma dos pontos de 6-9, correspondentes a gostar, totalizou um – Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, Universidade
percentual de 93%. enquanto entre os pontos. Federal de Lavras, Lavras, 2010.
A aparência também teve uma boa aceitação dos pontos positivos
da escala, os pontos de 6-9, correspondentes a gostar, tiveram um total de 8. DUCHENE, Laurent; JONES, Bridget. Le Cordon Bleu - Sobremesas e
96% de escolhas dos provadores. Suas Técnicas. São Paulo: Marco Zero, 2012. v. 1. 224p.
O odor do produto obteve 88% de aceitação dos provadores dos
pontos de 6-9, correspondentes a gostar. 9. ZENEBON, Odair; et al. Métodos físico-químicos para análise de
No atributo geral, obtiveram porcentagens de: gostei ligeiramente alimentos. In Instituto Adolfo Lutz. 4. ed. São Paulo, 2008. p. 279-320
(13%), moderadamente (27%), muito (32%), muitíssimo (22%). A avaliação
geral obteve uma porcentagem de 94% dos votos dos provadores nos pontos
positivos da escala entre 6-9.

266
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Molho De Murici Como Instrumento De Valorização Dos Ingredientes Regionais


Benito Bezerra Filho¹, Larissa Aguiar²

¹ Discente do Curso de Gastronomia – Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO) – Fortaleza, CE.


² Mestre em Tecnologia de alimentos; Docente do Curso de Gastronomia – Centro Universitário Fametro
(UNIFAMETRO) – Fortaleza, CE.
E-mail: benito.costa94@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Regionalismo, fruta nativa, cultura alimentar

INTRODUÇÃO ácida. O sabor da frutinha amarela é bem ácido, então, se o molho fosse
feito com ela e com o azeite, por exemplo, o molho vinagrete de murici
Dentre as espécies frutíferas nativas do Nordeste destaca-se seria extraído.
o muricizeiro, pois apresenta potencialidades para consumo in natura, O molho consiste em 3 medidas de base gordurosa para uma
com sal (1) e para o processamento industrial da polpa na fabricação de de base ácida. Foi preparado o mise en place: 75 ml de azeite, 25ml de
suco, licor, geleias (2), vinho, doces, refrescos e sorvetes (3). polpa de murici, sal, pimenta-do-reino e noz-moscada a gosto.
O muricizeiro apresenta fruto de importância econômica Os ingredientes foram adicionados em um bowl e batidos
para pequenas comunidades do litoral que o colhem de forma com um fouet para que acontecesse a emulsão, que é a mistura de dois
extrativista para consumo e comercialização. O fruto é coletado líquidos incompatíveis, com gotículas de líquido disperso na fase
principalmente por mulheres e crianças, aproveitando a mão de obra contínua do outro (9). Assim, após um processo de 30 segundos
disponível, diversificando a dieta e aumentando a renda familiar no batendo-se a mistura, os líquidos se misturaram e formando um molho
período de safra da fruta (4). de cor amarela.
O fruto amassado em água desprende facilmente a sua massa Neste molho, essa mistura apresentou-se com um sabor de
carnosa, que, dissolvida, misturada com farinha, adoçada ou não, azeite bem presente, sendo assim ideal a substituição por outra base
constitui um dos recursos alimentares mais importantes para a pobreza gordurosa, como por exemplo, óleo de girassol.
dos tabuleiros costeiros (5). A emulsão do molho vinagrete é classificada como instável,
Os frutos, quando maduros, possuem a casca e a polpa e pouco tempo depois, a base gordurosa se separou da base ácida.
suculenta de um amarelo intenso, com sabor adocicado e cheiro Assim, foi batida novamente e a emulsão voltou a acontecer, porém,
característico (6,7). isto não sendo satisfatória, a intenção é deixar a emulsão estável, ou
O murici permaneceu por muito tempo sem despertar a seja, sem se separar.
atenção dos estudiosos, suas reduzidas dimensões e fácil perecibilidade, Na segunda tentativa de desenvolvimento de uma receita a
se constituíram nos principais entraves para o desenvolvimento de base de murici, foi-se pensado em como melhorar o molho anterior. Os
estudos relativos ao seu aproveitamento (8). problemas encontrados foram: excessivo gosto de azeite e a separação
O objetivo do trabalho é resgatar algum insumo regional que da dispersão devido ao vinagrete ser uma emulsão instável, ou seja, que
está um pouco esquecido pelos nativos da terra, optou-se por escolher se separa pouco tempo após a mistura.
um frutinho amarelo chamado murici, com gosto ácido e cheiro Como a receita do molho indicava 3 medidas de base
inconfundível, assim, desenvolvendo-se um molho de murici. gordurosa para uma de base ácida, foram separados 75 ml de óleo de
girassol, e novamente, 25ml de polpa de murici, sal, pimenta-do-reino
MATERIAL E MÉTODOS e noz-moscada a gosto.
Os ingredientes foram batidos com um fouet e logo após a
O artigo ancorou-se em pesquisas bibliográficas e emulsão estar pronta, percebeu-se um sabor bem mais suave e agradável
experimentais. A primeira buscou coletar dados em livros, artigos ao paladar. Porém, pouco tempo depois a emulsão já estava separada,
acadêmicos e sites. A segunda possibilitou a criação do ‘molho de necessitando, então de uma nova alternativa.
murici’, depois das análises feitas nos testes. Recordando as emulsões estáveis, a maionese surge como
O molho proposto e desenvolvido é constituído por um principal exemplo, e em sua receita clássica leva gemas, óleo e um
molho amarelo denso com cheiro e sabor característico do murici. pouco de limão (líquido aquoso). A lecitina contida na gema é um
Para a composição do molho foi desenvolvida uma ficha agente tensoativo que ajuda a associar intimamente esses dois líquidos
técnica. imiscíveis (água e óleo) e dar à mistura a maior estabilidade possível
Figura 1: Ficha técnica do molho de murici (fala-se em líquido metastável). Assim, para obter a textura da
PRATO: Molho de murici maionese, é preciso azeite (ou qualquer outra gordura líquida), água (ou
Categoria: Molhos Rendimeto: 300 ml qualquer outro líquido aquoso) e um tensoativo (10).
INGREDIENTE QUANTIDADE UNIDADE OBSERVAÇÕES
A gema então poderia ser a solução dos problemas, porém,
Polpa de murici 120 ml
uma das principais propriedades da clara é a formação de espuma –
Gema 5 und.
agregação de ar em uma rede composta por proteínas que se ligam
Água 5 Colheres (sopa)
quando submetidas a um estresse físico, como o batimento; é a
Manteiga clarificada 200 g
dispersão de bolhas de ar em um líquido/solução ou em um sólido (9).
½
As partes hidrófilas permanecem na água da clara, enquanto
Limão und.
3
as partes hidrófobas vêm à superfície das bolhas de ar. Por essa razão,
Sal g
os tensoativos são também chamados de “agentes de superfície”.
Pimenta-do-reino branca 1 g
Assim, embora a densidade do ar e a da água sejam muito diferentes, o
MODO DE PREPARO
1. Bata 5 gemas e 5 colheres (sopa) de água em fogo bem baixo no banho maria até emulsificar.
ar continua aprisionado no líquido, e essa mistura permanece estável o
2. Junte 200 g de manteiga clarificada aos poucos em fios. Bata vigorosamente a cada adição. suficiente para ser usada. No entanto, a maionese é estabilizada por
3. Após a emulsão estar firme, tempere com o suco de ¹/2 limão. Ponha sal e pimenta-branca a gosto. tensoativos. Em outras palavras, as proteínas tensoativas da clara
4. Reduza a polpa de murici, fervendo-a e deixando sobrar apenas 70 ml.
5. Misture 2 colheres (sopa) da redução ao molho já preparado, assim estará feito o molho de murici.
poderiam estabilizar uma maionese, a exemplo das lecitinas na gema.
Fonte: Elaboração própria, 2020
Como, do ponto de vista físico-químico, a maionese só pode ser descrita
como uma mistura água-óleo-tensoativos, clara de ovo (água e
Antes deste resultado final foram realizados alguns testes até tensoativo) e óleo também poderiam dar conta do recado (10).
chegar em um resultado satisfatório, o primeiro foi uma emulsão Mas a dúvida seria se esta preparação possuía algum valor
instável de murici, o segundo, uma emulsão estabilizada com gema de gustativo. As pesquisas possibilitam a melhor compreensão, e as
ovo e melhoria dos valores gustativos e o último, uma emulsão baseada aplicações destas pesquisas devem levar à melhoria da culinária. A
em um molho-mãe chamado Hollandaise com redução de murici. priori, a clara e o óleo (de semente de uva, girassol, canola etc.) são
praticamente insípidos, e o valor gustativo disso parece limitado (10).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Assim, com essas informações, poderia ou ser adicionada a
gema de ovo ao vinagrete ou fazer uma maionese de claras e misturar
Inicialmente, a ideia foi executar um molho vinagrete com o com uma redução de murici, obtendo uma emulsão estável. Resolveu-
murici, pelo fato deste ser feito com uma base gordurosa e uma base se, então, adicionar uma gema ao molho vinagrete de murici, pois era o

267
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

mais simples no momento, e o resultado foi de uma emulsão estável 2. SILVA, D. B da.; SILVA, J. A. da.; JUNQUEIRA, N. T. V.;
onde a dispersão dos líquidos misturados não se separava mais. ANDRADE, L. R. M. de. Frutas do cerrado. Brasília: Embrapa
Montou-se, então, um molho brilhante e amarelado, devido Informação Tecnológica, 2001. 179p.
a cor da gema e do próprio murici, um pouco ácido, em geral, com um
sabor muito bom. 3. ANDERSEN, O.; ANDERSEN, V. U. As frutas silvestres brasileiras.
Após pensar mais na maionese de claras com redução de 3. ed. São Paulo: Globo, 1989. 203p.
murici, esta hipótese foi descartada, pois a clara crua não traria muito
valor gustativo ao molho, além de trazer riscos à saúde. 4. LOURENÇO, I. P. Potencial de utilização de frutos de genótipos de
Logo, surgiu uma dúvida sobre o possível risco de trabalhar muricizeiros cultivados no litoral do Ceará. 2008. 100f. Dissertação
com gema crua, pois estima-se que 96% dos casos de Salmonella sejam (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
causados por uma ampla variedade de alimentos. Isso inclui carnes 2008.
cruas, produtos de frango crus ou malcozidos, ovos, produtos contendo
ovos crus e outros (11). Na próxima experiência teria que se pensar em 5. BRAGA, R. Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará. Escola
alguma forma de conseguir cozinhá-la ou substituí-la, ou se fosse o caso Superior de Agricultura de Mossoró. 3. ed. comemorativa ao II
teria de usar a mesmas pasteurizadas. Congresso Brasileiro de Florestas Tropicais. Mossoró. 1976. 540p.
Partindo da dificuldade de encontrar gemas pasteurizadas, a
alternativa adotada foi cozinhar as gemas, um aumento brando de 6. ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBIERO, J.
temperatura sem afetar a receita. F. Cerrados: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC,
Então, surgia a dúvida de como adicionar gemas cozidas ao 1998. 464 p.
molho? A lembrança do clássico molho-mãe chamado Hollandaise veio
à tona. Molho clássico da cozinha francesa à base de manteiga, gemas 7. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação de
e ácido, seu sabor é marcante e possui um alto teor de gordura. Um bom plantas arbóreas nativas do Brasil. 2. ed. São Paulo: Plantarum, 1998.
molho Hollandaise deve ter textura aveludada e levemente aerada,
coloração amarela pálida e sabor marcante de manteiga, levemente 8. SILVA, C. E. M. Estudo tecnológico, e algumas características
ácido (12). físicas e químicas do murici, byrsonima verbascifolia Rich. 1978. 63f.
A técnica aqui é muito simples. O truque é o primeiro passo: Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) - Universidade
bater as gemas com água até emulsificar. Depois, é só misturar, Federal do Ceará, Fortaleza, 1978.
batendo, a manteiga clarificada para obter uma emulsão grossa. (13).
E, assim, foi separado primeiro todo o mise en place no qual 9. ARAÚJO, W. M. C.; MONTEBELLO, N. di P.; BOTELHO, R. B.
continha 5 gemas, pimenta-do-reino branca e sal a gosto, meio limão A.; BORGO, L. A. Alquimia dos alimentos. 3. ed. Brasília: Editora
espremido, um pouco de água e a famosa manteiga clarificada. Senac, 2018. 310p.
Conhecida como manteiga puxada e como ghee na cozinha
indiana, a clarificação da manteiga é um método através do qual se 10. HAUMONT, R. Um químico na cozinha: a ciência da cozinha
separa os sólidos de leite, água e gordura existentes na manteiga. Esse molecular. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. 168p.
processo é feito com o intuito de se utilizar somente a gordura existente,
que terá um ponto de queima (ou ponto de fumaça) maior do que o da 11. FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança dos alimentos. 2. ed.
manteiga integral. É utilizada quando se quer obter o sabor da manteiga Porto Alegre: Artmed, 2013. 602p.
em processos nos quais se necessita de altas temperaturas (por exemplo,
batata rõsti). (12). 12. KÖVESI, B.; SIFFERT, C.; CREMA, C.; MARTINOLI, G. 400g:
Após separar todos os ingredientes, foi colocada uma panela Técnicas de cozinha. 4. ed. São Paulo: Nacional, 2007. 576p.
com água no fogo até levantar fervura. Logo após foram adicionadas as
5 gemas com um pouco de água para o banho-maria e batidas com um 13. WRIGHT, J.; TREUILLE, E. Le Cordon Bleu: Técnicas culinárias.
fouet até levantar espuma e cozinharem. Em seguida a manteiga São Paulo: Marco Zero, 2017. 352p.
clarificada foi adicionada em fios com o objetivo de emulsionar e
espessar o molho. Quando o mesmo atingiu a consistência desejada,
adicionou-se o suco de limão, sal e pimenta-do-reino branco,
finalizando o molho Hollandaise, base para o molho de murici.
Adicionando diferentes sabores ao sauce Hollandaise
básico, outros molhos clássicos podem ser criados. Misture 1 colher
(sopa) de mostarda Dijon para fazer molho moutarde. (13).
Partindo desse mesmo princípio, foi adicionado, também, 1
colher (sopa), porém, de redução de polpa de murici. Para obtê-la foi
colocada a sua polpa em uma panela e levada ao fogo brando para
reduzir. Após estar bem concentrada foi adicionada ao molho
Hollandaise, dando uma alternativa de molho com utilização desta
fruta.

CONCLUSÕES

O propósito da criação de um molho à base de murici foi


alcançado. O aroma do murici é único. O molho criado apresentava um
“perfume” bem característico, com sabor mais ácido que o molho
Hollandaise tradicional, firme, encorpado, brilhante, amarelo, da cor do
fruto, suave, porém, inconfundível, e ainda capaz de resgatar uma fruta
regional não comumente utilizada. É um bom começo para quem nunca
provou o murici ou até mesmo para quem não gosta. Sua delicadeza é
de conquistar, principalmente, se for combinado com os alimentos
como por exemplo um peixe no vapor ou até mesmo frituras, pois o
gosto ácido limpa o paladar gorduroso. Além de ornar bem com filé de
peixe no vapor ou até mesmo ovos beneditinos, os quais combinam bem
com Hollandaise, que tal experimentar com o molho de murici?

REFERÊNCIAS

1. DONADIO, L. C.; MÔRO. F. V.; SERVIDONE, A. A. Frutas


brasileiras. 2. ed. Jaboticabal: Novos Talentos, 2004. 248p.

268
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Garde Manger: Molhos Frios

Lucas Vasconcelos1, Elizangela Oliveira 1, Robson Mota2, Rafael Gurgel2

1
Discentes do curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. Email:
lucasvascdeoliveira@gmail.com
2
Orientadoes. Docentes do curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: Cozinha fria. Gastronomia. Técnicas. Proporções.

INTRODUÇÃO denominação também era utilizada para identificar um tipo de armário que
era utilizado nesse setor para estocar alimentos que necessitavam de
Kövesi et al. dizem que o Garde Manger é a parte fria da cozinha. (1), ambientes frescos, como carnes curadas, embutidos e outros. (4)
pois é nesta área que são preparados saladas, charcutaria, O profissional do Garde Manger é responsável pelo preparo de diversos
patés, galantines, hors-d'oeuvres, sanduíches frios e quentes, e também alimentos frios e processados, como queijos, linguiças, presuntos, patês,
decorações, assim como etapas do pré-preparo, como a higienização picles e terrines, bem como, sopas frias, saladas, hors-
e porcionamento dos alimentos. Para o autor, a concepção e uso dos d’oeuvre, sanduiches, molhos frios, entre outros (2). Além disso, o Garde
molhos é um exemplo de “expertise” dos chefs e cozinheiros. Isso porquê, Manger também é responsável pelas etapas de pré-preparo, como
nos tempos remotos da gastronomia, muitos molhos eram usados para a higienização dos insumos que serão utilizados, o devido corte
encobrir o sabor forte das carnes e de pratos sem temperos, geralmente e porcionamento destes, a estocagem correta dos alimentos utilizados
sendo bem gordurosos (1). antes, durante e depois do preparo, bem como a limpeza da sua praça de
Porém, hoje, sabe-se que os molhos são utilizados para valorizar as trabalho.
preparações, e não encobrir o sabor das mesmas. Para Instituto Americano Os molhos frios mais utilizados no Garde Manger são: as emulsões
de Culinária, os molhos e sopas estão entre os primeiros testes reais da frias, podemos citar a maionese e o vinagrete; os molhos à base de
habilidade de um chef. (2), ou seja, o gastrônomo não pode trabalhar com laticínios, sendo os mais famosos são molhos a base de queijos, iogurte,
“achismos” e /ou sem embasamentos, visto que no Garde Manger as sopas molhos enriquecidos com creme de leite e outros; a salsa, que é um molho
e molhos precisam ser muito mais atrativos e aromáticos que os molhos e típico mexicano; o coulis, que é produzido a partir de frutas ou legumes,
sopas preparados na cozinha quente, por exemplo (não que as preparações cozidos ou crus; e os molhos de cobertura (1).
desta cozinha não devam ter tais características), ou seja, a cozinha fria e As emulsões podem ser divididas em: emulsão temporária, como é o
o profissional que a compete tende a prezar bastante por técnicas, exemplo do do vinagrete, e emulsão permanente, como é o exemplo da
qualidade e frescor dos insumos, além do conhecimento dos alimentos e maionese, tendo, cada uma dessas preparações, uma proporção específica
equipamentos utilizados. para serem executadas corretamente. Para o vinagrete, existe
A pesquisa tem por objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os concordância entre os autores consultados, ambos concordam quanto a
molhos frios do Garde Manger, abordando suas técnicas de execução, proporção básica de um vinagrete: 3 (três) partes de óleo para 1 (uma) de
insumos base e proporções básicas de alguns deles, como a maionese e o ácido, podendo haver variações de acordo com o grau de acidez do ácido
vinagrete, por exemplo. utilizado. Quanto a maionese, os autores citam que a proporção básica de
uma maionese é de 180 ml a 240 ml de óleo para 1 gema (1,2).
MATERIAIS E MÉTODOS Kövesi et al. afirmam que os molhos à base de laticínios não seguem
regras ou técnicas específicas. (1) Ou seja, como os molhos de laticínios
O presente trabalho enquadra-se em uma pesquisa com natureza podem ser feitos com vários ingredientes, as texturas são as mais variadas
qualitativa, já que Appolinário quando citado por Mota explica que é a possíveis, podendo ir dos mais fluidos até os mais firmes (2). Kövesi et
mais adequada para o estudo dos fenômenos, onde os dados são obtidos al. Trazem que ss molhos à base de laticínios mais comumente usados
utilizando-se de interações interpessoais, não sendo possível mensurar os no garde manger são: creme azedo (sour cream), molhos à base de
resultados por meios numéricos e estatísticos. (3), isso porque, os dados queijos (com queijos cremosos em geral), molhos com iogurte, molhos
da mesma foram obtidos através de uma revisão bibliográfica, não sendo enriquecidos com creme de leite fresco, entre outros (1).
possíveis mensura-los por números ou estatísticas. Já quanto aos coullis, Kövesi et al. se referem a ele como um molho
Quanto aos objetivos, trata-se uma pesquisa exploratória, pois Mota cita produzido a partir do purê de legumes ou de frutas, cozidos ou crus. (1),
Dencker trazendo a seguinte informação: A pesquisa exploratória procura assim como Instituto Americano de Culinária, que diz que os coulis são
aprimorar idéias ou descobrir intuições. Caracteriza-se por possuir um feitos amassando-se frutas e vegetais cozidos até que adquiram uma
planejamento flexível envolvendo em geral levantamento bibliográfico, consistência próxima à de um molho. (2). O coullis pode sofrer alterações
entrevistas com pessoas experientes e análise de exemplos similares (3). na textura de acordo com a fruta ou legume utilizado, podendo ir dos mais
Logo, o estudo foi desenvolvido por meio do levantamento bibliográfico, leves aos mais ásperos.
que buscou contextualizar e conceituar o Garde Manger, além de Kövesi et al. definem o molhos de revestimento (aspic) como
apresentar os molhos frios desta cozinha. um consommé gelatinizado (1), e Instituto Americano de Culinária refere-
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, já que de acordo com Mota, se ao aspic como uma mistura clara, que se é obtida por meio do
entende-se como pesquisa bibliográfica o estudo realizado a partir de clareamento de caldos e sucos, por exemplo, em que se adiciona gelatina
informações obtidas em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas (3), até obter a consistência desejada (2). Já o chaud froid é uma combinação
a temática aplicada foi: Garde Manger e Molhos Frios de gelatina, creme e velouté ou béchamel (1), derivado do aspic. Instituto
do Garde Manger. Os dados foram coletados através de fichamento, pois Americano de Culinária complementa ainda que, além dessas
segundo Mota, pode-se considerar o fichamento com uma das técnicas, já combinações, pode-se adicionar ainda à gelatina o demi-glace ou a
que é possível realizar uma pesquisa exclusivamente bibliográfica, sendo maionese, sempre mornos (2).
assim, a forma mais completa para se analisar os dados relevantes, é esta Os molhos de cobertura são usados para várias finalidades, e a proporção
técnica (3). de gelatina muda para cada uma delas. Estes molhos podem ser utilizados:
em: porções de carne ou peixes; para revestir itens individuais; em
RESULTADOS E DISCUSSÃO revestimento de travessas para exibição e também na preparação de
mousses.
O garde manger é o termo usado para designar a cozinha fria, a palavra é
de origem francesa e possui o significado de “guardar comida”, pois essa

269
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÃO

Com a elaboração do trabalho e o estudo dos termos e técnicas que


são utilizados na cozinha fria, percebeu-se a grande importância
do aprofundamento nesse setor de cozinha. Visto que, é um setor
complexo, que trabalha com diversas preparações e necessita de muitas
habilidades para que o serviço flua com maestria.
Em relação ao molhos frios, notou-se que existem diversas variedades que
podem ser produzidas, desde emulsões à molhos de cobertura; e que sua
utilização visa ressaltar o sabor da preparação com o qual será servido.
Para a elaboração dos molhos frios é necessário que o profissional tenha
aprofundamento no assunto, visto que, é necessário entender as reações
físicas e/ou químicas que podem ocorrer durante o preparo.
Apesar da grande importância do Garde Manger para a formação
gastronômica, os estudos relativos à esse assunto são bastante limitados
frente a complexidade deste setor da cozinha. Dessa maneira, ressalta-se a
necessidade de futuros estudos com enfoque nesse setor, para que assim, o
profissional do Garde Manger tenha fundamentos necessários para
desenvolver-se na área, não executando funções apenas por “achismos”
ou de forma unicamente empírica, bem como, para que o acervo literário
seja enriquecido com pesquisas que se mostrem relevantes tanto para
o Garde Manger, quanto para a gastronomia como um todo.

REFERENCIAS

1. KÖVESI, Betty et al. 400g Técnicas de Cozinha. 4. ed. São Paulo:


Companhia Editora Nacional, 2012.

2. INSTITUTO AMERICANO DE CULINÁRIA. Garde Manger: 4. ed.


São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014.

3. MOTA, Robson Nascimento da. Introdução à Metodologia da Pesquisa


Científica. Recife: O Autor, 2009. 66 f.

4. FARO, Bruno Andreassi de. Cozinha Fria. Indaial: Uniasselvi, 2018.


196 p.

270
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação sensorial de salgadinhos acebolados sem glúten elaborados a partir da farinha de


ervilha (Pisum sativum) obtida por diferentes métodos

Débora da Silva1, Maria Carolina de Lima2, Regina Costa1, Wenicios Chaves3, Pedro César do Nascimento3,
Viviane Xavier4.

1
Graduada em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2Graduanda em Nutrição, Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). 3Mestre em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 4Docente do Curso de
Graduação em Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Autor para correspondência: carolina.cavalcantilima@ufpe.br.

Palavras-chave: Leguminosas, Proteína, Remolho.


Introdução Para elaboração das demais farinhas, os grãos foram
As leguminosas são plantas da família Leguminosae, cujo submetidos ao remolho em água, na proporção de 2 partes de água
cultivo e utilização na alimentação datam de milhares de anos, desde para 1 parte de grãos, sem troca de água, por 12 h em temperatura
a mais antiga prática da agricultura. Estas são um importante ambiente (25 °C). A água foi eliminada após o processo e parte dos
componente alimentar em países em desenvolvimento dos grãos foi submetida à estufa com circulação de ar forçada a 65 °C por
continentes africano, asiático e latino-americano, uma vez que 12h, obtendo-se a Farinha de ervilha estufa, e outra parte foi levada
servem como valiosas fontes proteicas de custo reduzido ao forno, a 180 °C por 40 min, obtendo-se a Farinha de ervilha forno.
comparativamente à carne (1). As formulações dos salgadinhos acebolados estão
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e descritas na Tabela 1. Foram elaboradas 4 formulações: P (padrão)
Agricultura (FAO) promoveu o ano de 2016 como o “Ano das com farinha de trigo, F1 com a farinha de ervilha in natura, F2 com
Leguminosas”, buscando intensificar o consumo, por serem farinha de ervilha estufa, e F3 com farinha de ervilha forno.
altamente nutritivas, economicamente acessíveis e contribuírem para
a segurança alimentar em todos os níveis. As leguminosas têm Tabela 1. Formulações dos salgadinhos acebolados.
importantes benefícios para a saúde, contribuem para mitigação e Ingredientes P F1 F2 F3
adaptação às mudanças climáticas e promovem a biodiversidade (2). Farinha de trigo 450g -- -- --
A ervilha (Pisum sativum) é uma leguminosa que deriva Farinha de ervilha in natura -- 600g -- --
da forma selvagem Pisum elatius, natural da região oriental do Farinha de ervilha estufa -- -- 600g --
Mediterrâneo e da Ásia Menor e Central. Atualmente, é Farinha de ervilha forno -- -- -- 446g
comercializada de várias formas, como: enlatada, congelada, na Margarina (80% de lipídeos) 300g 300g 300g 300g
forma de farinhas, preparações ou frescas. Com alto teor de proteína, Cebola ralada 120g 120g 120g 120g
fibras, vitaminas e minerais, o consumo do grão de ervilha mostra Clara de ovo 60ml 60ml 60ml 60ml
benefícios para a saúde (3). Esses benefícios são apresentados Queijo parmesão ralado 25g 25g 25g 25g
também pela concentração e propriedades do amido e por não Sal refinado 1g 1g 1g 1g
apresentarem níveis altos de fatores antinutricionais comparados com
outras leguminosas, como a soja (3). Para a elaboração dos salgadinhos acebolados, os
Leguminosas apresentam enorme potencialidade para ingredientes secos, previamente misturados e peneirados, foram
serem utilizadas em alimentos processados melhoria da qualidade adicionados aos demais, e amassados até textura uniforme e não
nutricional, tais como produtos de panificação, massas, salgadinhos, quebradiça. A massa foi dividida em porções de aproximadamente 5g
sopas, barras de cereais etc. como fonte de proteínas e fibras (1). e moldada com auxilio das mãos. Os salgadinhos foram assados
Porém, ainda é um desafio desenvolver formulações a base de forma untada à temperatura de 210 °C por 30 minutos, seguido de
leguminosas que atendam as características sensoriais desejáveis resfriamento em temperatura ambiente (25 °C), acondicionados em
pelos consumidores. Em geral, leguminosas têm baixa aceitação sacos de polietileno, selados e armazenados em recipientes plásticos
devido ao seu sabor típico, relacionado à presença de aldeídos, hermeticamente fechados até o momento das análises.
álcoois, cetonas, ácidos, pirazinas e compostos sulfurados. O sabor A análise sensorial foi realizada com 100 julgadores não
desagradável, a adstringência e o amargor também têm sido treinados, de ambos os sexos, maiores de 18 anos, recrutados
associados à presença de saponinas, compostos fenólicos e alcaloides aleatoriamente e após a assinatura do Termo de Consentimento Livre
(4). Porém o sabor estranho pode ser modificado ou eliminado e Esclarecido – TCLE. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
dependendo do emprego de processamento adequado, como a em Pesquisa da UFPE sob o número 87149418.0.0000.5208.
aplicação ou não de remolho e a escolha do método de cocção (5). As amostras foram dispostas em pratos plásticos brancos,
Assim, a produção de novos produtos a base de ervilha codificados aleatoriamente com números de três dígitos. Foram
possibilitaria a ampliação de sua produção e consumo pela fornecidos aos julgadores água à temperatura ambiente (25 °C) e a
população, o aproveitamento do seu alto valor nutricional e atenderia ficha de análise de aceitabilidade e intenção de compra. A análise foi
aos objetivos da FAO para aumentar o consumo de leguminosas. feita em blocos completos, sendo que cada julgador recebeu 1
Portanto, o presente estudo teve como objetivo obter a farinha de amostra de cada formulação, totalizando 4. A ficha de aceitabilidade
ervilha (Pisum sativum) por diferentes métodos e analisar foi composta por uma escala hedônica com 9 categorias, cujo ponto 1
sensorialmente salgadinhos acebolados elaborados com as farinhas corresponde a “Desgostei Extremamente” e o ponto 9 a “Gostei
em substituição à farinha de trigo. Extremamente”, em relação aos atributos sensoriais: aparência,
aroma, cor, sabor, textura e qualidade geral. Foi investigada também
Material e Métodos a intenção de compra, em escala de 5 pontos, sendo 1 “Certamente
O estudo foi realizado no Laboratório de Experimentação não compraria” e 5 “Certamente compraria”. Também foi avaliada a
e Análise de Alimentos Nonete Barbosa Guerra (LEAAL), localizado preferência com relação ao sabor por meio da ordenação (1 = menos
no Departamento de Nutrição da Universidade Federal de preferido, 4 = mais preferido).
Pernambuco (UFPE). Os dados foram analisados através distribuição por
Foram obtidas três tipos de farinha de ervilha a partir do frequência e análise de variância (ANOVA), seguido do teste de
grão seco, adquirido no comércio local. Para o processo de obtenção Tukey para comparação entre as médias obtidas, em nível de 5% de
da Farinha de ervilha in natura, os grãos de ervilha foram significância, utilizando o software PAST. Os resultados foram
selecionados, triturados em liquidificador, peneirados em peneira expressos como média e desvio padrão.
com abertura de malha de 20 mesh e armazenados em recipiente de
polietileno com tampa em temperatura ambiente (25 °C).

271
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Resultados e Discussão Conclusão


Os resultados da análise sensorial (Tabela 2) revelaram Os resultados obtidos demonstram que a técnica do
que os diferentes tratamentos aplicados nas formulações remolho da ervilha associada a secagem ao forno para obtenção da
experimentais resultaram em menores notas em relação ao farinha proporcionou melhores características sensoriais nos
salgadinho padrão, mas não influenciaram entre si nos atributos salgadinhos acebolados, sendo promissora na elaboração de produtos
avaliados, com exceção da aparência e da cor, que foram alimentícios a base de farinha de ervilha. Testes futuros para
significativamente maiores para a formulação F3. Esta formulação melhorar as características sensoriais dos salgadinhos são
apresentou notas acima de 6 para a maioria dos atributos, que interessantes, uma vez que a ervilha pode ser uma boa alternativa
corresponde a “gostei ligeiramente” na escala, sendo, portanto, para o desenvolvimento de produtos saudáveis, proteicos e livres de
considerada bem aceita pelos provadores. Oyeyinka et al. (2018) glúten, podendo seu uso ser ampliado para outros itens de
obtiveram notas semelhantes, entre 4,56 e 7,48 para salgados fritos a panificação.
base de feijão-bambara e feijão caupi (6).
Alguns provadores mencionaram que a cor esverdeada Referências
mais acentuada da formulação F1 e a aparência de queimado da F2 1. ASIF, M. et al. Application and opportunities of pulses in food
contribuíram para que atribuíssem notas mais baixas nesses system: a review. Crit Rev Food Sci Nutr. 53 (11), 1168-1179,
parâmetros. Estudo com massa alimentícia elaborada com adição de 2013.
farinhas de leguminosas (ervilha e grão-de-bico) resultou em baixa 2. POWERS, S. E.; THAVARAJAH, D. Checking agriculture’s
aceitação para a formulação com farinha de ervilha devido à cor mais pulse: Field pea (Pisum sativum L.), sustainability, and phosphorus
escura e esverdeada (7). use efficiency. Front Plant Sci. 10, 1489, 2019.
3. DAHL, W. J.; FOSTER, L. M.; TYLER, R. T. Review of the
Tabela 2. Valores médios obtidos no teste de aceitabilidade dos health benefits of peas (Pisum sativum L.). Br J Nutr. 1, S3-10,
salgadinhos. 2012.
Formulações 4. SINGH, N. Pulses: an overview. J Food Sci Technol, 54 (4), 853-
Atributos 857, 2017.
P F1 F2 F3
5. FERNANDES, A. C.; CALVO, M. C. M.; DA COSTA
Aparência 7,4a±1,69 6,1b±1,86 6,2b±1,75 6,7c±1,66 PROENÇA, R. P. Técnicas de pré-preparo de feijões em unidades
Cor 7,3a±1,78 5,9b±1,74 6,3b±1,65 6,6c±1,58 produtoras de refeições das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Rev
Aroma 7,1a±1,38 6,4b±1,67 6,8b±1,39 6,6b±1,55 Nutr., 25 (2), 259-269, 2012.
6. OYEYINKA, S. A., et al. Value added snacks produced from
Sabor 7,0a±1,61 5,7b±2,11 5,6b±1,82 6,2b±2,12 Bambara groundnut (Vigna subterranea) paste or flour. LWT., 88,
a b b
Textura 7,7 ±1,50 5,8 ±2,01 5,8 ±1,91 5,5b±2,41 126-131, 2018.
Qualidade a
7,4 ±1,30 b
5,9 ±1,87 b
5,7 ±1,70 6,1b±1,93 7. DEL BEM, M. S., et al.. Massas alimentícias elaboradas com
geral farinhas de leguminosas. Alim. Nutr. 23 (1), 101-110, 2012.
Valores expressos em média ± desvio padrão. Letras diferentes na 8. CARVALHO, A. V. et al. Processamento e caracterização de
mesma linha indicam diferença em nível de 5% de significância. snack extrudado a partir de farinhas de quirera de arroz e de
Legenda: P (padrão) com farinha de trigo, F1 com a farinha de bandinha de feijão. Braz. J. Food Technol., 15 (1), 72-83, 2012.
ervilha in natura, F2 com farinha de ervilha estufa, e F3 com farinha
de ervilha forno.

De acordo com o teste de intenção de compra (Figura 1),


observou-se que as formulações experimentais obtiveram menores
percentuais nas notas 4 e 5, que correspondem a certamente e
provavelmente compraria, respectivamente, em relação a formulação
padrão. Porém, a formulação F3 obteve maiores percentuais nessas
notas em relação a F1 e F2, corroborando com os resultados do teste
de aceitação. No estudo de Carvalho et al. (2012), snacks elaborados
com farinha de quirera de arroz e bandinha de feijão apresentaram
elevado percentual de intenção de compra (8). Provavelmente, a
combinação com farinha de cereais contribua para melhoria do sabor
de produtos a base de leguminosas.

Figura 1. Intenção de compra dos salgadinhos.

Em relação ao teste de preferência por ordenação, a


formulação padrão foi a preferida em nível de 5% de significância,
enquanto as formulações experimentais não apresentaram diferença
entre si. Porém a formulação F3 obteve maiores escores, sendo a
segunda na ordem de preferência em relação as demais formulações
com farinha de ervilha.
O presente estudo apresenta como principais limitações a
ausência de outros trabalhos que elaboraram preparações similares
que foram adicionadas com a farinha da ervilha. Adicionalmente,
outras formulações contendo o mix de farinha de ervilha e farinha de
trigo poderia ser utilizada para investigar a aceitabilidade pela
substituição parcial.

272
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Utilização de cervejas especiais como ingredientes estrela para fichas técnicas de preparação
culinária

Elga B. da Silva1; Camila S. V. Branco 2; Elisabeth S. L. A. Vieira3; Bruna M. F. Fonseca4


1
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos; 2Mestranda em Agricultura Orgânica; 3Graduanda em Hotelaria
4
Bacharel em Hotelaria – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Contato: elga.silva@hotmail.com

Palavras-chave: cervejas gourmet, teste afetivo, pontos, que variava entre as impressões “gostei muitíssimo” ao “desgostei
muitíssimo” (8, 9).
zitogastronomia
Resultados e Discussão
Introdução Os resultados referentes ao teste afetivo das preparações culinárias
A utilização de vinhos como ingredientes para a elaboração de com cervejas estão apresentados na tabela 1.
preparações culinárias, principalmente servindo como uma base para
reduções, vem sendo utilizada em vários pratos pesquisados nos anos Tabela 1. Notas médias do teste afetivo de aceitação de preparações
recentes (1, 2, 3), o que pode ser justificado pelo fato dos vinhos serem culinárias elaboradas com cervejas especiais como ingredientes estrela.
bebidas tradicionalmente muito correlacionadas à gastronomia e Preparação
Aparência Aroma Textura Sabor
enogastronomia. Por outro lado, o emprego de cervejas (que também são culinária
bebidas alcoólicas de ampla aceitação em muitas culturas) para essa Sopa de 7,5 7,0 7,5 6,5
finalidade não é observado com a mesma frequência, podendo ser mandioca
considerado uma iniciativa pouco usada no desenvolvimento de fichas com aipo
técnicas de preparação culinária, uma das atividades elementares para a Risoto de 8,5 7,5 9,0 9,0
gestão em operações de food service. alho poró e
Como exemplo da elaboração de preparações culinárias com bacon
cervejas, cita-se uma pesquisa (4) que avaliou a utilização dessas bebidas Brigadeiro de 9,0 8,0 8,0 7,5
como ingredientes para marinadas de carnes grelhadas. Em outro trabalho cacau a 50%
semelhante (5) os autores desenvolveram e avaliaram preparações como Bolo de 8,5 8,0 9,0 9,0
molho vinagrete, panqueca, mingau de centeio, sopa de cenoura, peixe banana com
cozido no vapor e costela com a adição de cervejas. canela
De acordo com a legislação brasileira (6), artigo 2º, conforme Fonte: As autoras.
definido no art. 36, do Decreto nº 6.871, de 2009, a
Cerveja é a bebida resultante da fermentação, a partir da Embora pareça inusitada a inserção da cerveja em uma ficha técnica
levedura cervejeira, do mosto de cevada malteada ou de de uma sopa, as médias do teste de aceitação evidenciaram resultados
extrato de malte, submetido previamente a um processo de razoáveis na avaliação de três dos quatro atributos sensoriais pesquisados
cocção adicionado de lúpulo ou extrato de lúpulo, hipótese em (aparência, aroma e textura) na sopa de mandioca com aipo, adicionada
que uma parte da cevada malteada ou do extrato de malte de uma cerveja Pilsen que também contém mandioca em sua composição.
poderá ser substituída parcialmente por adjunto cervejeiro. Com relação ao sabor, que apresentou a menor média, é relevante estudar
Essas bebidas apresentam características sensoriais apreciáveis, possíveis meios de aprimorar esse atributo, como, por exemplo, inserindo
como aromas e sabores resultantes da atividade microbiana durante os novos temperos. Em pesquisa de Paulsen, Rognsåa e Hersleth (7), que
processos fermentativos, fato que permite explorar as mesmas não apenas estudaram harmonizações de sopas com cervejas, os autores verificam
como elementos para harmonização com alimentos (na chamada resultados positivos para esse tipo de combinação, abrindo possibilidades
zitogastronomia), mas também como ingredientes para a elaboração de para usos variados das cervejas no que tange à zitogastronomia e à
fichas técnicas de preparação culinária diferenciadas. culinária.
O objetivo do presente trabalho foi desenvolver quatro preparações A análise sensorial do risoto de alho poró e bacon, uma receita
culinárias com a inserção de cervejas especiais como ingredientes estrela, inspirada na versão tradicional com inserção de vinho branco,
e avaliar sensorialmente esses produtos a partir de testes de aceitação e demonstrou médias consideráveis na avaliação de todos os atributos
intenção de compra. sensoriais pesquisados, com destaque para a textura e o sabor. Como esse
risoto apresentava bacon em sua composição, uma matéria-prima de
Materiais e Métodos sabor e aroma marcantes, pensou-se numa cerveja Belgian Strong Ale,
uma bebida de sabor também pronunciado, para a criação dessa ficha
Desenvolvimento dos produtos técnica. Segundo Debatin et al. (10), em uma pesquisa contemplando a
Para desenvolver essas preparações, foram usadas como bases as análise sensorial de cervejas do estilo blond ale, estas também receitas da
metodologias adaptadas de Ryapushkina et al. (5) e Paulsen, Rognsåa e escola cervejeira belga, atributos como aroma e sabor são importantes
Hersleth (7), sendo as cervejas adicionadas em temperatura ambiente às nesse tipo de cerveja.
preparações culinárias. Foram elaboradas as fichas técnica para quatro Para a elaboração do brigadeiro, houve uma etapa inicial de elevação
preparações culinárias tendo cervejas especiais como ingredientes estrela, do pH da cerveja Stout com adição de bicarbonato de sódio para evitar a
a saber: coagulação de proteínas do leite condensado também presente na
formulação, prevenindo a formação de uma textura flocada dessas
1. Sopa (tipo caldo) vegana de mandioca e aipo com adição de uma proteínas do leite coaguladas no produto pronto. A ideia de criação dessa
cerveja Pilsen proveniente de Ribeirão Preto, São Paulo; ficha técnica surgiu com a leitura do trabalho de Flores et al. (11), que
2. Risoto de alho poró e bacon com adição de uma cerveja Belgian Strong estudaram aspectos sensoriais de uma cerveja de chocolate e caramelo.
Ale, proveniente da Bélgica; Como a Stout apresenta notas intensas de cacau tanto no sabor quanto no
3. Brigadeiro de cacau a 50% (receita tradicional) com adição da uma aroma, sua inserção no brigadeiro foi considerada interessante, hipótese
cerveja Stout (Speciality Beer), proveniente de Campos do Jordão, São corroborada pelas altas médias alcançadas pelo doce da presente
Paulo; pesquisa.
4. Bolo de banana e canela com substituição do leite integral por uma Sobre os resultados da avaliação dos atributos sensoriais do bolo de
cerveja Weiss Beer, proveniente de Ribeirão Preto, São Paulo. banana com canela, foram observadas médias expressivas na avaliação de
todos os atributos pesquisados. Pesquisas pregressas já comentaram sobre
Análise sensorial a associação entre frutas e cervejas no desenvolvimento de novas
A análise sensorial foi efetuada no Laboratório de Alimentos e formulações dessas bebidas (12), fato que fomentou a ideia de usar a
Bebidas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com cerveja como ingrediente para uma ficha técnicas incluindo também uma
a participação de 50 julgadores não treinados no painel sensorial, fruta, neste caso, a banana prata.
selecionados de forma aleatória. Esses indivíduos avaliaram as
preparações culinárias em função de seus atributos sensoriais (aparência,
aroma sabor e textura), usando uma escala hedônica estruturada de nove

273
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

conhecidas como “brigadeiros gourmet”. Cabe ressaltar que, dentre as


quatro preparações desenvolvidas nessa pesquisa, esse docinho
Teste de intenção de compra apresentou os mais expressivos percentuais de intenção de compra.
As figuras de 1 a 4 apresentam os resultados referentes à intenção de Alguns dos comentários apresentados pelo painel foram “percebemos
compra das quatro preparações culinárias desenvolvidas, tendo cervejas instantaneamente o sabor de cerveja na amostra” e “o gosto de cerveja
especiais como ingredientes estrela. estava bem presente na amostra”, estes resultados interessantes
considerando-se o objetivo da presente pesquisa, que enfatizou o uso das
Figura 1. Resultados referentes à intenção de compra da sopa de cervejas em fichas técnicas de preparação culinária com a perspectiva de
mandioca com aipo e cerveja Pilsen. aprimorar sabores e aromas dos produtos prontos.

Figura 4. Resultados referentes à intenção de compra do bolo de banana


com canela e cerveja Weiss Beer.

Fonte: As autoras.

Foi possível perceber que 54% dos participantes do painel sensorial


manifestaram, em algum nível, o potencial desejo de adquirir o produto Fonte: As autoras.
caso o mesmo estivesse disponível à venda; embora este o produto com
menor intenção de compra dessa pesquisa. Os julgadores apontaram A intenção de compra do bolo evidenciou que 86% dos julgadores
pontos a serem melhorados nessa preparação culinária, como a apresentou alguma intenção de adquirir o produto em questão. Nesse
possibilidade de adicionar mais cerveja, para que o sabor da bebida seja bolo, o conteúdo de leite integral, ingrediente usual da receita do bolo de
mais pronunciado. Por se tratar de um produto vegano e o painel sensorial banana, foi substituído por igual quantidade de Weiss Beer. Com relação
ser composto por pessoas com hábitos alimentares variados, alguns aos comentários do painel sensorial, algumas sugestões foram verificadas,
julgadores sugeriram que a receita fosse testada em uma versão como testes com a possibilidade de substituição da banana pelo abacaxi; e
convenciona, ou seja, não vegana. também o aumento do conteúdo de açúcar na receita dessa preparação.

Figura 2. Resultados referentes à intenção de compra do risoto de alho Conclusão


poró com bacon e cerveja Belgian Strong. Considerando os resultados da análise sensorial, foi possível concluir
que os produtos desenvolvidos alcançam considerável aceitação entre os
julgadores participantes da presente pesquisa, indicando a viabilidade da
inclusão dessas preparações culinárias em cardápios diversos;
destacando-se as médias alcançadas pelo bolo de banana com canela e
Weiss Beer.

Referências
1
Kekelidze, I. et al. Phenolic antioxidants in red dessert wine produced
with innovative technology. Annals of Agrarian Science, 2018, v.16,
p.34-38.
2
Rognsåa, G. H. et al. From wine to wine reduction: Sensory and
chemical aspects. International Journal of Gastronomy and Food
Science, 2017a, v.9, p.62–74.
Fonte: As autoras. 3
Rognsåa, G. H. et al. From wine to hollandaise sauce: Does the nature of
the wine or wine reduction influence sensory attributes? International
O risoto, mesmo com a substituição do vinho branco pela cerveja Journal of Gastronomy and Food Science, 2017b, v.9, p.75–87.
belga, apresentou alto percentual de intenção de compra, considerando 4
Vidal, N. P. et al. Novel unfiltered beer-based marinades to improve the
que as respostas dos julgadores perfizeram 86% do total das impressões nutritional quality, safety, and sensory perception of grilled ruminant
“compraria”. Um julgador mencionou que o produto “parece feito com meat. Food Chemistry, 2020, v.302, 125326
vinho e o sabor lembra queijo (brie ou camembert)”. 5
Ryapushkina, J. et al. Cooking with beer: How much alcohol is left?
International Journal of Gastronomy and Food Science, v.5, n.6,
Figura 3. Resultados referentes à intenção de compra do brigadeiro com p.17– 26, 2016.
cacau e cerveja Stout (Speciality Beer). 6
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução
Normativa nº 65, de 10 de dezembro de 2019. Padrões de identidade e
qualidade para os produtos de cervejaria. Diário Oficial da União, de 11
de dezembro de 2019.
7
Paulsen, M. T.; Rognsåa, G. H.; Hersleth, M. Consumer perception of
food–beverage pairings: The influence of unity in variety and balance.
International Journal of Gastronomy and Food Science, v.2, p.83–92,
2015.
8
Meilgaard, M.; Civille, B.; Carr, T. Sensory evaluation techiniques.
3a.ed. Boca Raton: CRC Press, 1999. 350p.
9
Sidel, J. L. Sensory evaluation practices. Orlando: Academic Press,
1985. 287p.
10
Debatin, A. H. et al. Produção de cerveja: análise sensorial das blond ale
produzidas. REAI – Revista de Estudos Acadêmicos Interdisciplinar,
Fonte: As autoras. v.1, n.1, p.1-11, 2017.
11
Flores, A. B. et al. Perfil sensorial e avaliações físico-químicas de
Percebeu-se que 94% do painel sensorial apontou alguma impressão cerveja artesanal de chocolate e caramelo. Revista Destaques
sobre o interesse de comprar o brigadeiro, este um resultado esperado Acadêmicos, v.7, n.4, p.158-166, 2015.
considerando a ampla aceitação dos consumidores em geral pelo produto
12
Pinto, L. I. F. et al. Desenvolvimento de cerveja artesanal com acerola
em sua versão convencional, bem como por suas variações, mais (Malpighia emarginata DC) e abacaxi (Ananas comosus L. Merril).
Revista Verde, v. 10., n.4, p.67 - 71, 2015.

274
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação química e sensorial de uma kombucha produzida artesanalmente com chá verde e
suco de graviola

Elga B. da Silva1; Camila S. V. Branco 2; Rachel L. C. Pinto23


1
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos; 2Mestranda em Agricultura Orgânica; 3Graduanda em Hotelaria
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Contato: elga.silva@hotmail.com

Palavras-chave: alimentação viva, fermentação, 7) Quando o chá estiver em temperatura ambiente, colocá-lo em
um frasco de 500mL com o disco de SCOBY e metade do
probióticos, crudivorismo açúcar orgânico ou demerara;
8) Cobrir o frasco com vual ou “falso” tecido ou material
Introdução semelhante (não tampar);
Dentre os alimentos fermentados não lácteos cita-se a bebida 9) Reservar o chá por três dias;
kombucha, também denominado kombuchá, um tipo de produto 10) Depois desse período, separar o chá do SCOBY, colocando o
geralmente preparado com chás ricos em teína (uma substância análoga à chá em um frasco de 1L com tampa (com auxílio de um funil);
cafeína) como o chá verde e o chá preto, que vem se popularizando no 11) A esse chá adicionar 500 mL do suco de graviola e a outra
Brasil nos anos recentes. metade de açúcar orgânico ou demerara;
Por ser um produto cujo consumo é relativamente novo no país, até o 12) Reservar o conteúdo da garrafa por mais três dias e consumir.
ano passado não existiam parâmetros brasileiros legais definindo o As matérias-primas utilizadas no preparo da bebida, bem como suas
padrão de identidade e qualidade da bebida. Somente com a publicação respectivas quantidades, estão apresentadas no quadro 1.
da Instrução Normativa nº 41, de 17 de setembro de 2019 (1), passou-se a
definir kombucha como “a bebida fermentada obtida através da Quadro 1. Matérias-primas empregadas (e suas respectivas quantidades)
respiração aeróbia e fermentação anaeróbia do mosto obtido pela infusão na elaboração de uma kombucha com suco de graviola.
ou extrato de Camellia sinensis e açúcares por cultura simbiótica de
bactérias e leveduras microbiologicamente ativas (SCOBY)”.
O kombucha é uma bebida funcional consumida em todo o mundo,
destacando-se principalmente em função de suas propriedades
probióticas. Uma vez que há probióticos em sua composição, este produto
promove diversos benefícios à saúde, como a capacidade de estimular o
sistema imunológico, auxiliar na digestão, melhorar o trânsito intestinal,
reduzir o risco de alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares, além
de prevenir infecções (2).
A elaboração dessa bebida pode ocorrer de maneira artesanal ou
industrial, pela fermentação de chá açucarado com uma simbiose de
Fonte: As autoras.
espécies de levedura, fungos e bactérias de ácido acético à temperatura
ambiente por até 14 dias. Tempos maiores podem ser empregados, mas o
Depois de pronto, o produto foi armazenado em temperatura de
aroma e o sabor da bebida se assemelharão às do vinagre (3).
refrigeração até o momento das análises.
Os ingredientes básicos necessários para elaborar esse tipo de produto
são: chá verde ou preto, água filtrada e fervida, açúcar orgânico ou
Análise sensorial
demerara, disco de SCOBY (Symbiotic Culture of Bacteria and Yeasts),
A análise sensorial, assim como as análises químicas, foi realizada no
que é uma matriz formada por várias bactérias do ácido lático e do ácido
Laboratório de Alimentos e Bebidas da Universidade Federal Rural do
acético, bem como leveduras (1, 4).
Rio de Janeiro (UFRRJ), com 50 julgadores não treinados, que avaliaram
Com o objetivo de pesquisar um novo sabor para a kombucha, essa
a kombucha segundo atributos aparência, aroma, textura e sabor, usando
pesquisa desenvolveu e analisou uma kombucha de chá verde com
uma escala hedônica estruturada (nove pontos), variando entre as
graviola (Annona muricata L.) produzida artesanalmente, em escala
impressões “gostei muitíssimo” ao “desgostei muitíssimo” (7, 8).
laboratorial.
Análises químicas
Materiais e Métodos
Foram determinados °Brix, segundo método do Instituto Adolfo
Lutz (9), pH, acidez em ácido cítrico e acidez em ácido acético segundo a
Desenvolvimento do produto
Association of Official Analytical Chemistry (10).
A opção pela graviola para saborizar a kombucha ocorreu após uma
pesquisa on-line acerca de frutas brasileiras já utilizadas para a
Resultados e Discussão
elaboração de versões comerciais da bebida, quando foi possível perceber
Os resultados referentes ao teste afetivo da kombucha com suco de
que a graviola ainda não havia sido usada em nenhuma kombucha
graviola estão apresentados na tabela 1.
disponível à venda, ou estudada em pesquisas pregressas com esse tipo de
chá.
Tabela 1. Notas médias do teste afetivo de aceitação da kombucha com
Além disso, como a polpa desse fruto já foi usado na elaboração de
suco de graviola.
uma bebida probiótica (kefir) em um estudo de Contim, Oliveira e
Cardoso Neto (5), pensou-se em usar o mesmo ingrediente para criar
outra bebida fermentada, também com propriedades funcionais.
Optou-se pelo emprego do chá verde para a presente pesquisa em
função de sua maior atividade antioxidade, conferida pela presença de
substâncias fenólicas como as catequinas, e também pelo considerável
estímulo à sobrevivência de microrganismos probióticos (6). Para Fonte: As autoras.
elaborar a bebida em questão, foram executados os seguintes
procedimentos operacionais, todos em temperatura padronizada em Entre os atributos sensoriais avaliados, destaca-se a textura do
25º.C: kombucha de graviola, que apresentou nota média de 7,68. O kombucha,
1) Organizar o mise en place; também conhecida como bio-chá (11), é uma bebida levemente
2) Ferver 500 mL de água; gaseificada, sendo o gás carbônico formado naturalmente durante o
3) Retirar essa água do aquecimento quando a mesma ferver; processo de fermentação do produto. Essa característica agradável pode
4) Adicionar os sachês de chá verde; ter influenciado positivamente a avaliação da textura. Já a aparência foi o
5) Com auxílio de uma colher pressionar cuidadosamente os atributo que recebeu a menor nota média entre os atributos avaliados
saches para facilitar a extração do chá; (5,68), possivelmente porque o produto, embora contenha polpa da
6) Deixar o chá resfriar com os sachês; graviola em sua formulação, que possui cor clara, em tom esbranquiçado,

275
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

apresentou um tom castanho típico do chá verde comercial (vendido em Diferentes concentrações de açúcar adicionadas às kombuchas
sachês) quando submetido ao processo de fermentação com o SCOBY proporcionaram alterações em quase todos os parâmetros dessa bebida,
inerente ao preparo da kombucha. exceto no teor de álcool e nos valores de pH da bebida. Os valores de pH
Aroma e textura são importantes critérios em termos de avaliação diminuem com o passar das semanas, porém mostra-se mais estável nas
sensorial, pois influenciam o consumidor no que tange à intenção e à bebidas em frasco fechado e sob refrigeração (18), mesmas condições de
decisão de compra (12). A aparência, que envolve entre outras armazenamento empregadas para a kombucha com graviola.
características a luminosidade, é o primeiro atributo a despertar a atenção Em uma outra pesquisa, de Neffe-Skocińska et al. (19), que
do consumidor, e serve para que esse possa criar expectativas sobre a fermentaram um chá misto (verde e preto) em temperaturas de 20ºC, 25ºC
percepção sensorial do produto (13). e 30ºC por sete dias, apresentou valores de pH de 2,88, 2,79 e 2,71,
Embora a kombucha possa ser consumida sem quaisquer ingredientes respectivamente, também menores que aqueles observados na kombucha
além do chá contendo teína e do açúcar, a mistura do chá fermentado com suco de graviola.
associado a algum suco é comum (14), sendo esta uma estratégia que
pode favorecer a aceitação do produto, contribuindo também para Conclusão
diversificar as maneiras de consumir essa bebida. Com a análise sensorial dos julgadores foi possível concluir que o
kombucha de sabor graviola atingiu resultados consideráveis após a
Teste de intenção de compra análise dos atributos sensoriais (aroma, textura, sabor e aparência).
A figura 1 apresenta os resultados referentes à intenção de compra Considerando os resultados do teste de intenção de compra, foi possível
da kombucha desenvolvida na presente pesquisa. afirmar que o produto atingiu resultados satisfatórios, indicando então
uma potencial demanda pelo kombucha de graviola caso o produto seja
Figura 1. Resultados referentes à intenção de compra da kombucha com inserido em um cardápio de um estabelecimento de food service. Já com
suco de graviola. relação aos resultados das análises químicas, o pH da kombucha com
graviola apresenta-se dentro da faixa de normalidade definida pela
legislação brasileira, e possui um valor discreto de °Brix.

Referências
1
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Padrão de
identidade e qualidade da kombucha. Diário Oficial da União, de 18 de
setembro de 2019.
2
Pei, J. et al. Isolation, purification, and structural identification of a new
bacteriocin made by Lactobacillus plantarum found in conventional
kombucha. Food Control, 2020, v.110, 106923.
3
Fu, C. et al. Antioxidant activity of kombucha prepared from three
different substrates and changes in content of probiotics during storage.
Food Science and Technology, 2014, v.34, n.1, p.123-126.
4
Kapp, J. M.; Sumner, W. Kombucha: a systematic review of the
empirical evidence of human health benefit. Annals of Epidemiology,
Fonte: As autoras. 2019, v.30, p.66-70.
5
Contim, L. S. R.; Oliveira, I. M. A.; Cardoso Neto, J. Avaliação
Ressalta-se que, aglutinando os resultados referentes aos microbiológica, físico-química e aceitação sensorial do kefir com polpa
posicionamentos “certamente compraria” (16%) e “provavelmente de graviola. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, 2018,
compraria” (42%), o produto alcançou 58% de intenção de compra nesses v.73, n.1, p.1-9.
dois pontos da escala. Embora não seja exatamente um produto novo, a 6
Lacey, A. M. L. et al. Survival and metabolic activity of probiotic
kombucha não é consumida como um produto comum na rotina de bacteria in green tea. LWT - Food Science and Technology, 2014, v.55,
muitos indivíduos, fato que pode ter influenciado esses resultados. p.314-322.
Destaca-se que, a partir da realização da revisão de literatura, foi possível 7
Meilgaard, M.; Civille, B.; Carr, T. Sensory evaluation techiniques.
verificar que são escassas as publicações envolvendo a análise sensorial 3a.ed. Boca Raton: CRC Press, 1999. 350p.
de kombuchas, fato que aponta o recente interesse da comunidade 8
Stone, H.; Sidel, J. L. Sensory evaluation practices. Orlando: Academic
acadêmica sobre esse produto. Apesar disso, verificou-se também que Press, 1985. 287p.
esse produto já teve suas propriedades probióticas (15) e antioxidantes 9
Instituto Adolfo Lutz (IAL). Métodos físico-químicos para análise de
(14) atestadas em estudos pregressos. alimentos. 4a.ed. São Paulo: IMESP, 2008. 1020 p.
10
Association of Official Analytical Chemistry (AOAC). Official
Análises químicas methods of analysis.18° ed. Gaithersburg, M. D. U.S.A., 2005.
Os resultados referentes às análises químicas estão na tabela 2. 11
Lobo, R. O.; Sagar, B. K. C.; Shenoy, C. K. Bio-tea prevents membrane
destabilization during isoproterenol-induce myocardial injury. Journal os
Tabela 2. Resultados referentes às análises químicas da kombucha com Microscopy and Ultrastructure, 2017, n.5, p.146 – 154.
suco de graviola. 12
Bosse, R. et al. Recent advances in cured raw ham manufacture.
Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 2018, v.58.
13
Quadros, D. A.; Rocha, I. F. O.; Ferreira, S. M. R.; Bolini, H. M. A.
Low-sodium fish burgers: Sensory profile and drivers of liking. LWT -
Food Science and Technology, 2015, v.63, v.236-242.
14
Sun, T. Y.; Li, J. S.; Chen, C. Effects of blending wheatgrass juice on
enhancing phenolic compounds and antioxidante activities of traditional
Fonte: As autoras. kombucha beverage. Jornal of Food and Drug Analysis, n.23, 2015,
p.709 – 718.
A composição final da kombucha pode variar de produção a
15
Wolfe, B. E.; Dutton, R. J. Fermented foods as experimentally tractable
produção, dependendo do tipo de SCOBY inoculado, chá utilizado, microbial ecossystems. Cell, 2015, n.162, p.49 – 55.
tempo de fermentação e temperatura durante o processo (16).
16
Jayabalan, R. et al. A review on kombucha tea: microbiology,
Santos et al. (17) encontraram valores de °Brix maiores que o da composition, fermentation, beneficial effects, toxicity, and tea fungus.
presente pesquisa para amostras de kombuchas elaboradas com chás preto Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, 2014, v.13,
e verde após três dias de fermentação a 28º.C, ou seja, 16,8 e 14,75, n.4, p.538-550.
respectivamente. Sobre o pH, os autores observaram valores inferiores
17
Santos, Y. M. A. et al. Avaliação da composição de kombucha a base de
aos da kombucha com suco de graviola desenvolvida na presente diferentes chás (verde e preto). Revista Brasileira de Gestão
pesquisa, iguais a 3,02 para a amostra com chá preto e 2,52 com chá Ambiental, 2019, v.12, n.03, p. 01-06.
verde. Esse pH maior da amostra desta pesquisa pode ter relação com o
18
Cintra, B.P.G. Desenvolvimento e avaliação de formulações de chá
fato desta bebida ter passado por duas etapas de fermentação, o que fermentado (kombucha). Revista Científica UMC, Edição Especial
permitiu uma maior produção de ácidos orgânicos. Segundo a Instrução PIBIC. Mogi das Cruzes, 2018.
Normativa nº 41/2019 (1), que determina o padrão de identidade da
19
Neffe-Skocińska, K. et al. Acid contents and the effect of fermentation
kombucha, o pH da bebida deve estar compreendido entre 2,5 e 4,2. condition of Kombucha tea beverages on physicochemical,

276
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

microbiological and sensory properties. CyTA Journal of Food, 2017,


v.15, n.4.

277
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise Sensorial do Melado Batido de Joinville SC

Caroline Saidel¹*, Suéli de Lima¹, Gabriella Keber², Michele C. F. Garcia², Marcia L. Silveira², Mariana Duprat²
¹Academicas do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille
²Docentes do do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille
carolinesaidel0@gmail.com
Palavras chave: Análise descritiva quantitativa, CATA, Produto artesanal e Cana de açúcar

Introdução Como esperado, evidenciou-se a diferença na cor e na textura do


melado batido e não batido comercial. Os resultados também
O melado é o produto obtido pelo cozimento e concentração do caldo
apontaram uma diferença entre a percepção do dulçor entre os
da cana-de-açúcar acidificado, para evitar a cristalização. O xarope
produtos, sendo o melado não batido comercial classificado como
obtido tem textura lisa e viscosa, com cor escura. Nesse ponto, para
muito doce por Barreto e colaboradores (9) e o melado batido
obtenção de um produto mais consistente, o melado pode ser batido e,
analisado na presente pesquisa foi descrito por provadores treinados
pela incorporação de ar, tem suas características organolépticas
como pouco doce. A frequência dos termos citados por consumidores
modificadas (1). O processo de cocção e batedura descrito já em 1922
no método CATA é estreitamente relacionada à intensidade de
por Antonil (2) ainda é muito comum em municípios do sul do Brasil,
percepção dos mesmos (10), porém sem indicação quantitativa da
sendo produzido por produtores familiares (3,4) e tão presente na
intensidade pois os provadores apenas avaliam a adequação de termos
cultura alimentar de algumas localidades que teve sua indicação
para descrição do produto. A representação dos resultados obtidos por
geográfica associada à Capanema, Paraná (5). O estado de Santa
meio da nuvem de palavras (figura 2) indica que, para os
Catarina conta com 3.221 produtores de melado, o que demonstra a
consumidores, os atributos de percepção visual (cor e brilho) foram os
importância econômica do produto para a região (6). No entanto
que melhor caracterizavam o melado batido, corroborando com o
poucos trabalhos foram desenvolvidos com o intuito de explorar as
apontado por Rupini e Nandagopal (11), que a visão é o sentido mais
características sensoriais do melado e não foram encontradas
relevante para identificação de um produto. A aeração foi fracamente
pesquisas com o produto melado batido. A presente pesquisa teve o
percebida na amostra, sendo mais frequente o descritor “liso” que
objetivo de descrever os atributos sensoriais do melado batido
“espuma” ou “aerado”. Cerca de 41% dos consumidores classificaram
produzido em Joinville-SC, com vistas a contribuir para a valorização
o produto como colonial, porém apenas 24% o consideraram
deste produto.
tradicional, o que pode ser associado à baixa frequência de consumo
Material e Métodos deste produto declarada pelos mesmos.
A pesquisa foi realizada no laboratório de Análise Sensorial da Figura 2 Termos descritores do melado Batido de Joinville
Universidade da Região de Joinville entre os meses de agosto e
novembro de 2019. O melado batido foi adquirido diretamente da
Associação Joinvillense de Agroindústrias Artesanais Rurais
(AJAAR). Foram realizados dois testes sensoriais descritivos
distintos: Análise descritiva quantitativa (ADQ) com 6 provadores
treinados, de acordo com a metodologia proposta pelo Instituto Adolfo
Lutz (7), e a metodologia Check-All-That-Apply (CATA) para análise
da percepção dos consumidores sobre as características sensoriais dos
produtos (8). Participaram deste teste 103 provadores não treinados,
sendo 35 homens, 67 mulheres e 1 não binário, com idades entre 18 e
70 anos. Neste, cada provador recebeu uma amostra de 30g de melado
batido em temperatura ambiente, um copo com água para lavagem da
cavidade bucal e a ficha de avaliação para marcarem os termos
descritores que consideravam relacionados aos atributos de cor,
aparência, aroma, sabor e textura da amostra. Os resultados obtidos
foram comparados com o perfil sensorial de melado não batido Conclusão
descrito na literatura (9). A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética
O melado batido de Joinville apresentou características sensoriais
sob o parecer: 2.998.981.
distintas do melado não batido comercial descrito na literatura (9),
Resultados e discussão sendo caracterizado menos doce. Além disso foram destacados
atributos como brilho e viscosidade deste produto. Foi evidenciado
Cinco atributos foram propostos pelos provadores treinados para que os consumidores associam o melado batido a um produto colonial,
descrever o perfil sensorial do melado batido: espuma, brilho, gosto porém não o vincula às tradições de Joinville, justificando o
doce, aeração e viscosidade. investimento na promoção deste como produto regional.
Figura 1 Descritores dos atributos sensoriais propostos para
melado batido
Referências
1- PINTO, G.L. Produção de melado a partir de caldo de cana.
Universidade Federal de Viçosa, 38p. 1982. (Tese de M.S.).
2- ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo
Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil).
3- SCHNEIDER, Evandro Pedro; PRESTES, Kaliton. QUIOSQUES
MISSIONEIROS: A CONSTRUÇÃO DE NOVOS MERCADOS
PARA VENDA DIRETA DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA
FAMILIAR. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e
Extensão, v. 9, n. 11, 2018.
4- IWAYA, Maria Elisa Horn; DA SILVA, Janine Gomes. “Meu
pedacinho de céu”: a região rural de Joinville narrada pelas suas
mulheres. VI Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar.
Maringá: 27 a 30 de outubro de 2009.
5 - Brasil. Ministério da Economia. Instituto Nacional de Propriedade
Industrial. Indicações geográficas: indicações de procedência
reconhecidas [internet]. 2020 [citado em: 2020 mar. 11]. Disponível

278
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

em:https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/indicacoes-
geograficas/pedidos-de-indicacao-geografica-no-brasil.
6 - Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina – Epagri, 18p.
2017-2018.
7 - Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para
análise de alimentos/coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco
Pascuet e Paulo Tiglea -- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008 p.
1020
8 - MEYNERS, M.; CASTURA, J. C. Check-All-That- Apply
Questions. In; P. Varela & G. Ares (Eds.). Novel Techniques in
Sensory Characterization and Consumer Profiling. Boca Raton: CRC
Press, Taylor & Francis Group, p. 272-305, 2014.
9 - BARRETO, Pedro PAFA Pereira et al. Avaliação físico-química e
sensorial de diferentes melados. BRAZILIAN JOURNAL OF
AGRICULTURE-Revista de Agricultura, v. 90, n. 3, p. 217-228,
2015.
10 - VARELA, P; ARES, A. Sensory profiling, the blurred line
between sensory and consumer science. A review of novel methods
for product characterization. Food Research International, 48 (2012)
893-908.
11 - RUPINI, R. V.; NANDAGOPAL, R. A Study on the Influence of
Senses and the Effectiveness of Sensory Branding. Journal of
Psychiatry, v. 18, n. 2, p. 236, 2015.

279
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração e Análise Sensorial de Brigadeiro Vegano


Barbara Dantas¹; Eveline Costa², Leandro Xavier³
¹Graduada em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará; ²Doutora e professora na Universidade Federal do
Ceará; ³Mestre e professor na Universidade Federal do Ceará.
E-mail: zaniniribeiro@gmail.com

Palavras chave: aceitação, alimentação vegana, doce RESULTADOS E DISCUSSÃO


vegano. Foi observado que nenhum dos provadores eram adeptos da dieta
vegana, porém suas respostas foram consideradas viáveis para a
INTRODUÇÃO aceitação do produto elaborado, considerando-os pela perspectiva de
público em geral.
O veganismo é um estilo de vida derivado do vegetarianismo, mas, A cor do brigadeiro vegano foi aceito por todos os provadores. Em
diferente deste, o vegano recusa consumir quaisquer produtos relação a textura, verificou-se que 79% dos provadores escolheram
derivados de animais, como produtos lácteos ou a base de ovos, e não respostas dentro da zona de aceitação (Figura 1).
apenas alimentos, mas também produtos de vestuário fabricados
a partir de matéria-prima animal (como seda, pele e couro) e Figura 1 – Avaliação sensorial da textura do brigadeiro vegano
produtos de saúde, higiene e estética que tenham sido testados
em animais. A vertente também se opõe à utilização de animais em
pesquisas científicas, à vivissecção como prática pedagógica nas Textura
universidades e ao uso de animais no entretenimento (1).
Os adeptos desse estilo de vida argumentam que o hábito de comer
carne e qualquer alimento de origem animal
– laticínios, ovos, mel, por exemplo – gera conflitos éticos quando 19%
2%
relacionado à realidade de industrialização (2).
O brigadeiro vegano pode ser elaborado com ingredientes que
possuem valores nutricionais significativos, como: cacau em pó, 79%
açúcar mascavo e aveia. O cacau em pó é conhecido por ser um
alimento energético e estimulante, seu sabor é uma de suas
características mais importantes, além do seu teor de antioxidantes. Gostei Indiferente Desgostei
(3). O açúcar mascavo é muito procurado por pessoas que possuem
hábitos alimentares fundamentados na diminuição ou na
Fonte: Dados da pesquisa.
eliminação de produtos químicos agregados, pois não passa por
nenhum tipo de refinamento e, comparado ao açúcar refinado,
Respostas simplificadas dentro das zonas de aceitação (gostei
possui coloração mais escura e menor percentual de sacarose (4). A
extremamente ao gostei ligeiramente), indiferença e rejeição (desgostei
aveia é um cereal de excelente valor nutricional e destaca-se por ser
ligeiramente e desgostei extremamente).
um cereal energético e de alto valor nutricional por conter
Quanto ao aroma do brigadeiro, 91% dos participantes afirmaram ter
aminoácidos, ácidos graxos, vitaminas e sais minerais
gostado e 9% afirmaram ser indiferentes e, portanto, não houve
imprescindíveis à dieta humana. Este cereal é rico em fibras
nenhuma resposta negativa. (Figura 2).
alimentares que, auxiliam na diminuição do colesterol LDL no
sangue. (5; 6).
Figura 2 – Avaliação sensorial do aroma do brigadeiro vegano
Diante disso, este trabalho visa elaborar um produto com alto valor
nutricional que atenda as restrições alimentares de adeptos a dieta
vegana: brigadeiro vegano.
Aroma
MATERIAL E MÉTODOS 9%

O trabalho foi realizado entre os meses de dezembro de 2015 e


janeiro de 2016. Inicialmente foi realizada pesquisa bibliográfica
sobre brigadeiro vegano, em fontes virtuais e através de livros e artigos
científicos. 91%
Para execução da receita foram utilizados os seguintes
ingredientes: aveia em flocos finos, açúcar mascavo, cacau em pó e
água, conforme a formulação na Tabela 1.
Gostei Indiferente Desgostei
Tabela 1. Formulação do brigadeiro vegano.
Formulação do brigadeiro vegano Fonte: Dados da pesquisa.
Ingredientes Proporção
Aveia em flocos finos 31% Respostas simplificadas dentro das zonas de aceitação (gostei
extremamente ao gostei ligeiramente), indiferença e rejeição
Açúcar mascavo 42%
(desgostei ligeiramente e desgostei extremamente).
Cacau em pó 4%
O sabor agradou a 66% dos provadores, que escolheram respostas
Água 23% dentro da zona de aceitação. (Figura 3)
Total 100%
Fonte: Dados da pesquisa

A amostra foi apresentada no tamanho de 5g (1 unidade), servidas em


forminhas convencionais de brigadeiro acompanhadas de um copo com
água para realizar a limpeza das papilas gustativas. Os atributos avaliados
foram cor, sabor, textura, aroma e aparência global. Os provadores
também responderam se eram adeptos ou não à dieta vegana. Os
resultados foram tabulados no programa Microsoft Word 2016®,
Windows 10 e expressos em média aritmética, descrita em percentuais.

280
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 3 – Avaliação sensorial do sabor do brigadeiro vegano CONCLUSÕES

O brigadeiro vegano apresenta aceitação em todos os atributos


Sabor analisados (cor, textura, aroma, sabor e impressão global), bem
como para a intensão de compra. Apesar de não ter tido nenhum
vegano participando da pesquisa, foi possível concluir que este
produto é aceito por outros consumidores. Entretanto, sugere-se
28% que a mesma seja aplicada apenas com o público vegano.

REFERÊNCIAS
6% 66%
1. ABONIZIO, J. Consumo alimentar e anticonsumismo: veganos e
freeganos. Ciências Sociais Unisinos, Porto Alegre, v. 49, n. 2,
Gostei Indiferente Desgostei p.191-196, 2013. Disponível em:
<http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/vie
Fonte: Dados da pesquisa. w/csu.2013.49.2.07/2589>. Acesso em: 14 dez. 2015.
2. ALMEIDA, L. S. “Nem Peixe”: Práticas a Relações Sociais aa
Quanto a impressão global do brigadeiro elaborado, 84% dos Culinária Vegana. 2015. 48 f. Monografia (Especialização) - Curso de
participantes citaram respostas dentro da zona de aceitação, Sociologia, Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília,
enquanto que 3% alegaram ser indiferentes ao mesmo. Contudo, Brasília, 2014. Cap. 1. Disponível em:
13% afirmaram não gostar do produto (Figura 4). <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/9542/1/2014_LuizaSimaoAl
meida.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2015.
Figura 4 – Impressão global do brigadeiro vegano 3. LOPES, A. S.; PEZOA-GARCÍA, N. H.; AMAYA-FARFÁN, J.
Qualidade nutricional das proteínas de cupuaçu e de
cacau. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, n. 2,
Impressão Global p.263-268, abr. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/cta/v28n2/a01v28n2.pdf>. Acesso em:
13%
15 dez. 2015.
3%
4. MENDONÇA, C. R.; RODRIGUES, R. da S.; ZAMBIAZI, R. C.
Açúcar mascavo em geleiadas de maçã. Ciência Rural, Santa Maria,
v. 30, n. 6, p.1053-1058, dez. 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84% 84782000000600022&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 14
dez. 2015.
5. BORGES, J. T. da S. et al. Utilização de farinha mista de aveia e
trigo na elaboração de bolos. Boletim do Centro de Pesquisa de
Gostei Indiferente Desgostei
Processamento de Alimentos, Curitiba, v. 24, n. 1, p.145-162, jan.
2006. Disponível
Fonte: Dados da pesquisa
em:<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/alimentos/article/view/
5286/3957>. Acesso em: 03 jan. 2015.
O produto elaborado apresentou boa aceitação entre os provadores em
6. BROWN, L. et al. Cholesterol-lowering effects of dietary fiber: a
todos os atributos avaliados. Pires e Maneira (8) elaboraram brigadeiro
meta-analysis. The American Journal Of Clinical Nutrition,
com leite condensado de soja e obteve índice de aceitação
Rockville, v. 69, n. 1, p.30-42, jan. 1999. Disponível em:
semelhante com 86% de aprovação pelos consumidores, conforme
<http://ajcn.nutrition.org/content/69/1/30.full.pdf+html>. Acesso em:
atributo global.
03 jan. 2014.
Em relação a intenção de compra, 41% dos participantes
7. DUTCOSKY, S. D. Analise Sensorial de alimentos. 2. ed.
assinalaram que comprariam o brigadeiro elaborado, ao passo que
Curitiba: Champagnat, 2007.
22% não comprariam. Porém, 37% dos provadores citaram
8. PIRES, L. S.; MANEIRA, A. A. M. Análise das propriedades
respostas equivalente ao item “talvez comprasse, talvez não
sensoriais de brigadeiro de soja. In: Jornada Científica da
comprasse” (Figura 5).
Faculdades Associadas de Uberaba, 7., 2009, Uberaba.
Disponível em:
Figura 5 – Intenção de compra
<http://www.fazu.br/hd2/jornada2009/pdf/engenharia.pdf#page=7
3>. Acesso em 14dez. 2015.
9. SILVA, G. S. et al. Avaliação sensorial de doce de chocolate
Intenção de Compra “brigadeiro” com potencial funcional. Caderno Verde de
Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, Campina Grande,
v. 4, n. 1, p.119-124, dez. 2014. Disponível em:
<http://gvaa.org.br/revista/index.php/CVADS/article/view/2868/2
Compraria 620>. Acesso em: 04 jan. 16.
22%
41%
Talvez comprasse, talvez não

37%
Não compraria

Fonte: Dados da pesquisa

Tal resultado foi semelhante ao encontrado por Silva (9) na


elaboração de brigadeiro com biomassa de soja, onde o resultado
apresentou a mesma variação entre “compraria o produto” e “talvez
comprasse, talvez não comprasse”.

281
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

PANC’s e sua Aplicabilidade com (Ipomoea batatas) e (Amaranthus viridis)


na Sugestão para a Elaboração em Preparações e suas Funcionalidades.
Italo Silva¹;Marcos Silva²;Valesca Amaral³
1
Graduando do Curso Superior Tecnológico em Gastronomia, Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão
do RN. (UNIFACEX) E-mail: italobrunoribeiro@hotmail.com.
²
Especialista e Docente do Curso Superior Tecnológico em Gastronomia, Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e
Extensão do RN. (UNIFACEX) E-mail: marcoscarlos@unifacex.edu.br.
³ Graduando do Curso Superior Tecnológico em Gastronomia, Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão
do RN. (UNIFACEX) E-mail: oliveiradoamaralvalesca@gmail.com.

Palavras Chave: Alimentação, Sustentabilidade, Planta

INTRODUÇÃO alimentação significa variar o cardápio, aprender novos sabores


aliados a uma alimentação rica em diversos nutrientes necessários
O conceito de alimentação muda conforme o conhecimento da para a homeostase do nosso organismo, as PANC são uma alternativa
população sobre os alimentos saudáveis e seus benefícios. A busca para uma alimentação adequada, saudável e consciente.
por uma vida saudável leva as pessoas a buscarem novas formas de Segundo (5) são excelentes fontes de nutrientes, vitaminas e sais
alimentação tendo em vista sua funcionalidade e sustentabilidade, minerais, as PANCs as características antioxidantes, anti-
nesse sentido, podemos perceber em vários setores mudanças inflamatórias e ação terapêutica, o consumo de tais plantas e
profundas, que vieram crescendo nas últimas décadas e levam ao hortaliças deve ser realizado respeitando suas características e formas
indivíduo o retorno a vida natural (1). de preparo para que tais efeitos sejam obtidos com segurança.
Diante desse contexto, as Plantas Alimentícias Não Convencionas Deve-se, também, aprofundar os conhecimentos e conduzir mais
(PANCs), apresentam-se como uma ótima fonte nutricional e estudos acerca da possível presença de fotoquímicos tóxicos ou
funcional para a alimentação humana. O termo PANC foi criado em fatores anti nutricionais que algumas PANCs podem apresentar se
2008 pelo Biólogo e Professor Valdely Ferreira Kinupp e refere-se a consumidas de forma inapropriada (5).
todas as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo
elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão
incluídas em nosso cardápio cotidiano (2). BATATA DOCE
Uma forma rica, sustentável e saudável para a alimentação das
pessoas. As plantas possuem importante valor nutricional. A maioria A batata-doce é uma hortaliça tipicamente tropical e subtropical,
delas são bem conhecidas, Pode-se considerar como PANC algumas rústica, de fácil cultivo, boa resistência a seca e ampla adaptação e,
plantas comuns, como a batata doce, que normalmente consome-se grande importância por ser fonte de calorias e apresentar alto
somenteo tubérculo, descartando-se o restante (folhas e caule), sendo conteúdo de vitaminas e minerais. Apresenta custo de produção
que os mesmos também podem ser consumidos. Portanto, as plantas relativamente baixo, com investimentos mínimos e de retorno
alimentícias não conhecidas pela maioria das pessoas e as partes não elevado se bem conduzida (6)
usuais de plantas conhecidas podem ser classificadas como PANC No Brasil e no Estado do Paraná, o cultivo da batata-doce é antigo e,
(3). relativamente bem disseminado, principalmente nas pequenas
São caracterizadas como PANCs as plantas que ainda não foram propriedades .Por unidade calórica, as folhas de batata-doce superam
estudadas por estudo científicos e/ou exploradas pela sociedade de em teor de proteína até mesmo o feijão, uma das principais fontes
forma completa, resultando em consumo regional (4). proteicas da população brasileira de baixa renda . Têm um valor
Essas plantas possuem um enorme potencial para complementar a alimentício semelhante ao das folhas de mandioca, e, tal como esta,
alimentação das pessoas, diversificar cardápios e nutrientes pode ser empregada em multimisturas para combate à desnutrição,
consumidos e até mesmo fontes de renda, como a venda das partes bem como pastorais da criança e outras organizações não
das plantas ou de produtos como geleias, farinhas e outros (3). governamentais. Mas a folhas da batata-doce têm sobre as
O presente trabalho teve como principal objetivo apresentar os de mandioca a vantagem de não possuírem princípios tóxicos
conhecimentos relevantes sobre as PANC’s e suas funcionalidades na (cianogênicos), não exigindo portanto detoxificação prévia antes do
aplicabilidade em prática na gastronomia, devido possuir ausência uso. O uso de brotações de batata doce como hortaliça verde tem sido
dessas informações sobre a temática, com isso possibilitando a prioridade de pesquisa em países asiáticos (7).
agregação ao conhecimento científico as PANC’s No Brasil, o seu cultivo é tradicional na agricultura familiar em
diversos estados. O seu consumo é convencional, mas há formas
MATERIAL E MÉTODOS menos usuais de serem consumidas. Tradicionalmente a batata é
assada nos fogões a lenha, suas cascas podem ser consumidas.
Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva de corte transversal. Segundo (8), Conforme dados da Organização das Nações Unidas
Realizado por meio de busca sistemática por bibliografias publicadas para Alimentação e Agricultura (FAO), calcula-se que em todo o
em bases de dados científicos analisados. Dados estes selecionados planeta o número de plantas consumidas pelo homem caiu de 10 mil
por meio de plataformas de artigos científicos no qual aborda a para 170 nos últimos cem anos.
temática escolhida. Foram selecionados mais de 50 artigos
científicos, abordando assuntos relevantes desses quais 3 foram
descartados BREDO, CARURU, MARIA GORDA OU BREDO MAJOR
GOMES
RESULTADOS E DISCUSSÂO
O Bredo ou Caruru é uma planta nativa da América tropical,
considerada planta invasora. É usada para
Segundo KINUPP, A grande maioria das PANCs não é cultivada,
conter disenteria e inflamação. A planta é antidiabética, diminui a
crescem espontaneamente sem que sejam plantadas, podem ser
concentração de gordura no sangue, antioxidante, vermífuga. Possui
cultivadas, não precisam de muita atenção apenas cuidados básicos
lectinas que não deixam as células ruins multiplicarem-se e inibe a
em relação aos demais cultivos. As PANCs são plantas
proliferação de fungos. O suco da raiz é utilizado para tratar a
independentes pois possuem maior adaptabilidade devido sua
inflamação durante a micção, prisão de ventre e constipação. Ajuda a
variação genética. As hortaliças e legumes também fazem parte das
defender o organismo contra infecções. É recomendada como
PANCs, pois o cultivo que é comum em uma região pode não ser em
preventivo no tratamento de problemas hepáticos e apresentam
outra, isso quer dizer que o termo PANC pode ser utilizado para o
atividade antibacteriana.
que não convencional em uma região. Inserir as plantas na

282
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

As plantas espontâneas, conforme aparece em (3), podem ser Agropecuária – EMBRAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e
entendidas como espécies que nascem e se reproduzem Abastecimento. Brasília, 20 abr. 2018. Disponível em:
espontaneamente e não são cultivadas pelo homem. Estas plantas https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/33580014/mais-
podem ser classificadas como ervas daninha ou “pragas”, mas do-que-matos-elas-saoas-plantas-alimenticias-nao-convencionais-
também adverte que elas protegem o solo e contribuem, ao deixar pancs Acesso em: Agosto 2020
seus restos mortais, para adubar o mesmo.
Existem várias espécies de bredos ou carurus, conhecidas 9.P. CLEMENTE J. STEFFEN, S.J. PLANTAS MEDICINAIS
principalmente pelos agricultores, porque são consideradas ervas USOS POPULARES TRADICIONAIS2010 Instituto Anchietano de
invasoras. Mas, como outras invasoras, os mesmos têm também Pesquisas/UNISINOS
outras propriedades, pois podem ser ornamentais, comestíveis e
medicinais. Entre os vários bredos ou carurus, um dos mais úteis e
comuns é Amaranthus de flexus, da família Amaranthaceae. (9)
Existem dados estatísticos no Brasil que pelo menos 3 mil espécies
conhecidas de PANCs, estudos indicam que são consideradas 10% da
flora sejam de plantas alimentícias (2).
As plantas que crescem e são típicas de regiões, geralmente são
cultivadas por agricultores, e na maioria das vezes o consumo ocorre
na própria família, sem intuito comercial. Podendo ser também
utilizadas na Fitoterapia e medicina popular (2).
Os carurus são ricos em ferro, potássio e cálcio. Suas propriedades
medicinais são reconhecidas desde a antigüidade quando ele era
considerado símbolo da imortalidade, porque suas flores não
murcham, mesmo quando a planta morre, e, como as flores de umas
espécies têm cor vermelha viva, era usado para estancar hemorragias
(9).
Algumas indicações de usos medicinais: a decocção das folhas se
toma em casos de problemas de fígado, tais como dores e digestões
difíceis e na retenção de urina. A salada e o suco são diuréticos. O
pigmento vermelho de algumas espécies serve como corante de
alimentos e remédios (9)

CONCLUSÃO

É imprescindível que este tema seja mais discutido e


estudado pela população em geral. Existe um enorme potencial de
aproveitamento da biodiversidade que deve ser explorado para que
essas plantas sejam inseridas na dieta alimentar de toda a população.
Considerando-se esperado que o projeto de pesquisa científica se
deslumbre como base para outros estudos mais aprofundados.
Desenvolvendo então pesquisas correlacionadas a essa temática, com
foco na real utilização no âmbito da gastronomia, pois alimento
natureza, saúde e bem estar são importantes para a vida e para o
planeta.

REFERÊNCIAS

1. COSTA, E.A. Nutrição e Fitoterapia: tratamento alternativo


através das plantas. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 2012.

2. KELEN, M. E. B.; NOUHUYS, I. S. V.; KEHL, L. C.; BRACK.


P.; SILVA, D.B. Plantas alimentícias não convencionais (PANCs):
hortaliças espontâneas e nativas. (1ª ed.). UFRGS,PortoAlegre, 2015.

3.LORENZI, Harri; KINUPP, Valdely Ferreira. Plantas alimentícias


não convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: Plantarum, 2014.
768 p. LORENZI, H; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais no Brasil:
nativa e exóticas cultivadas. Nova Odessa. Instituto Plantarum. 2014.
560 p.

4. BRASIL. Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento.


Manual de hortaliças não - convencionais. Secretaria de
Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Brasília:
mapa/ACS, 2010.

5. PASCHOAL, V.; SOUZA, N.S. Plantas Alimentícias não


convencionais (PANC). In: CHAVES, D. F. S. Nutrição Clínica
Funcional: compostos bioativos dos alimentos. VP Editora, 2015.
Cap. 13. p. 302-323. 2.

6. SILVA, J.B.C.; LOPES, C.A.; MAGALHÃES, J.S. Cultura da


batata-doce. Sistemas de Produção, 6. EMBRAPA HORTALIÇAS.
Versão eletrônica. Dez. 2004.

7. Xiaoding, G. Evaluation of sweetpotato tips as green vegetables.


ARC Training. 1995. 9p

8.LIRA, A. Mais do que matos, elas são plantas alimentícias não


convencionais (PANCs). Empresa Brasileira dePesquisa

283
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Determinação do Indicador de Cocção de Diferentes Massas Alimentícias do Tipo


Macarrão Seco Comum

Thanise de Nigro1

1 Doutoranda em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Paraná, docente do Curso Superior


de Tecnologia em Gastronomia Faculdade SENAC Curitiba e do Centro Universitário Filadélfia (UniFil);
e-mail: tha_pitelli@hotmail.com

Palavras-chave: Indicadores de preparo de alimentos, rendimento, fator de cocção, ficha técnica de


preparações.

Introdução
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑑𝑜 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑧𝑖𝑑𝑜 (𝑔)
Uma unidade de alimentação e nutrição (UAN) é 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑐𝑟𝑢 (𝑔)
denominada como uma unidade de trabalho que desempenha
atividades relacionadas à alimentação e nutrição e tem por objetivo
fornecer refeições com qualidade sensorial, nutricional e higiênico- Em seguida, elaborou-se a tabela com os dados obtidos no
sanitária de modo a satisfazer o cliente (1). cálculo do IC dos diferentes tipos de macarrão seco comum.
A UAN deve buscar a melhora constante do trabalho,
padronizando as preparações, controlando os custos e planejando as Resultados e discussão
atividades visando evitar o desperdício de alimentos (1, 2).
O controle do desperdício depende, dentre outras questões, Os resultados obtidos, bem como os tempos de cocção
do conhecimento dos indicadores de preparo de alimentos, como o utilizados são apresentados na tabela abaixo:
indicador de conversão (IC), também conhecido como fator de
cocção (FCc) ou fator térmico (FT) que pode ser calculado pela Tabela 1 – Resultados da média obtida no indicador de conversão
relação entre o peso do alimento processado (após a cocção) e o peso de diferentes formatos de macarrão seco
do alimento no estado inicial (cru e limpo a ser utilizado na Formato do macarrão Indicador de Tempo de
preparação) (3). Segundo Domene (4) os indicadores são usados para conversão cocção
dimensionar a compra, o custo e o rendimento e auxiliam no Espaguete (número 8) 2,60 9 minutos
conhecimento do ganho ou perda de peso do alimento preparado. Pena 2,30 8 minutos
O IC reflete a perda de água ou a retração das fibras do Ave Maria 2,35 6 minutos
alimento, como por exemplo a carne, ou ainda, a hidratação durante a Parafuso 2,20 9 minutos
absorção de água em alimentos submetidos ao calor úmido, como a Fettuccine 2,50 10 minutos
cocção de alimentos fonte de amido (3). O conhecimento deste
indicador definirá o rendimento das preparações, a determinação da Por meio dos dados obtidos é possível identificar o
quantidade a ser preparada e a capacidade dos utensílios e/ou rendimento diferente nos formatos de macarrão que foram avaliados,
equipamentos que deverão ser utilizados (5). demonstrando que o conhecimento desses dados é essencial para
A partir destas considerações, fica evidente a importância de evitar que a produção de alimentos fique sub ou superestimada. Esse
se manter em perfeito funcionamento o uso do IC para estimativa indicador desempenha função importante dentro das UANs por
correta no preparo de alimentos e devido à escassez de dados na determinar a porção da preparação pronta a partir da quantidade de
literatura, o presente trabalho teve por objetivo calcular os alimento cru e limpo a ser destinado à preparação (6).
indicadores de conversão de diferentes formatos de massa alimentícia Na literatura, os indicadores apresentados são generalistas
tipo macarrão seco. para macarrão, na maior parte das vezes sem especificar seu formato,
como é o caso de Philipi (6) e Rodrigues (7) que descrevem o IC do
Metodologia macarrão como 2,5 e Ornellas (3) que descreve um IC = 3,0 para
“massa (espaguete, talharim)”. Na pesquisa realizada por Chaves e
A pesquisa foi conduzida no município de Londrina- Paraná, Silva et al. (8) o resultado foi específico para o formato espaguete,
mesmo local onde os alimentos foram adquiridos do comércio com IC = 2,48. Enquanto Menegassi e Leonel (2006) descreve um
varejista. Foram selecionados cinco diferentes formatos de massa aumento no peso após cozimento de massas de 295% na massa
alimentícia do tipo macarrão seco, sendo: espaguete (número 8), fresca, 319% em massa seca com ovos e 271% em massa seca
fettuccine, ave maria, parafuso e pena, sendo todos produzidos pelo integral (9).
mesmo fabricante, amplamente distribuído no comércio brasileiro. A Em preparações envolvendo macarrão, foi descrito na
composição de todos os produtos avaliados consistiu em sêmola de literatura IC = 1,36 para salada de macarrão, IC = 2,15 para macarrão
trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, corantes naturais: urucum à bolonhesa e IC = 1,05 para lasanha à bolonhesa (10). O
e cúrcuma. comportamento das massas alimentícias após o cozimento é um
Inicialmente, 200 gramas de cada produto foi pesado em parâmetro de qualidade para os consumidores, sendo citado por
balança digital da marca Ferimte® capacidade máxima 10 Kg e Hummel (11) que o parâmetro indicado é um IC entre 2,0 e 3,0.
graduação de 1 g e todas as amostras foram feitas em duplicada, com A diferença entre a quantidade de água absorvida irá
resultados apresentados na média dos valores obtidos. Para cocção depender dos tipos de farinha em sua composição, já que quanto
utilizou-se fogão doméstico de quatro bocas, com a chama mantida maior a porcentagem de farinhas que não seja de trigo, menor tende a
igualmente a fim de evitar diferença de temperatura entre as ser o aumento de volume, bem como o tempo de cozimento e o
amostras. Inicialmente, a água na proporção 10:1 indicada pelo formato da massa. Sendo que o conteúdo e qualidade de proteínas
fabricante foi fervida e, após a água atingir 100ºC, controlada por que ao se hidratarem e absorverem água também podem participar do
meio de termômetro de infravermelho, o alimento foi colocado em aumento de volume (12).
cocção, o tempo foi cronometrado e seguiu o tempo máximo Por isso, é indicado que cada empresa padronize uma tabela
recomendado pelo fabricante nas embalagens para cada um dos de indicadores, já que, além dos fatores citados, também podem
formatos de macarrão para obtenção da textura al dente. variar de acordo com a marca do produto adquirido, mão de obra do
Após o tempo recomendado, a água foi escorrida, o alimento serviço, utensílios, intensidade do calor, uso de pressão, entre outras
foi pesado para obtenção do peso do alimento processado e foi questões (3).
calculado o indicador de conversão (IC) por meio da seguinte
fórmula:

284
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Em uma pesquisa realizada em Teresina- Piauí que buscou


avaliar a presença do indicador de conversão em 10 hospitais,
Almendra, Costa e Vasconcelos (13) observaram que apenas dois
hospitais utilizavam os indicadores no preparo de alimentos.
Vale ressaltar que a utilização de ferramentas que permitam
a avaliação do preparo de alimentos é útil e essencial, já que o
controle e a padronização são condições primordiais para a avaliação
de todo o processo e para evitar gastos desnecessários e desperdícios
(14).

Conclusões

O conhecimento dos indicadores de preparo de alimentos é


essencial e o cálculo do indicador de conversão demonstrou que
diferentes formatos de macarrão possuem diferentes rendimentos.
Seu conhecimento evita que os processos e a produção não seja sub
ou super estimados, porém, ainda há uma grande necessidade de
realização de mais pesquisas em relação aos indicadores de preparo
de alimentos para comparação dos dados.
Os resultados obtidos na presente pesquisa podem servir
como material de consulta para a elaboração de cardápios na prática
clínica, bem como no planejamento de alimentação em diversos
estabelecimentos destinados servir alimentos fora do lar.

Referências

(1) SILVA JR, E. A. da. Manual de controle higiênico-sanitário


em alimentos. 8 ed. São Paulo: Varela, 2020. 820p.

(2) TEIXEIRA, S. et al. Administração aplicada às unidades de


alimentação e nutrição. São Paulo: Ateneu, 2007. 230p.

(3) ORNELLAS, L. H. Técnica dietética: seleção e preparo de


alimentos. 8. ed. São Paulo: Atheneu, 2013. 296p.

(4) DOMENE, S. M. A. Técnica dietética: teoria e aplicações. Rio


de Janeiro: Guanabara, 2011.

(5) PARISOTO, D. F; HAUTRIVE, T. P; CEMBRANEL, F. M.


Redução do desperdício de alimentos em um restaurante
popular. Rev. Bras. de Tec. Agroindustrial, Ponta Grossa, v. 7, n.
2, p. 1106 – 1117, 2013.

(6) PHILIPPI, S. T. Nutrição e técnica dietética. 4. ed. Barueri:


Manole, 2019. 464p.

(7) RODRIGUES, V. B. Técnica dietética I. São Paulo: Editora


Pearson, 2016. 208p.

(8) CHAVES E SILVA, P. et al. Análise do Fator de Cocção de


Alimentos. VII CONNEPI. Palmas, out, 2012.

(9) MENEGASSI, B; LEONEL, M. Análises de qualidade de uma


massa alimentícia mista de mandioquinha-salsa. Rev. Raízes e
Amidos Tropicais, Botucatu, v. 2, p.27-36, out, 2006.

(10) AMORIM, M. M. A; JOLK, L. Determinação dos fatores


térmicos das preparações de uma unidade de alimentação e nutrição
de Minas Gerais. Nutrição Brasil, v. 14, n. 1, p. 29 – 34, 2015.

(11) HUMMEL, C. Macaroni Products: manufacture, processing


and packing. 2.ed. London: Food Trade Press, 1966. 287p.

(12) ORMENESE, R.C.S.C; et al. Influencia do uso de ovo líquido


pasteurizado e ovo desidratado nas características da massa
alimentícia. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 24,
n.2, p.255-260, 2004.

(13) ALMENDRA, G. D. S; COSTA, S. C; VASCONCELOS, V. M.


S. Existência de indicadores de alimentos nas unidades de
alimentação e nutrição dos serviços hospitalares. R. Interd., v. 10, n.
1, p. 20-27, jan. fev. mar., 2017.

(14) ABREU, E. S. de; SPINELLI, M. G. N; PINTO, A. M. DE S.


Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer.
5. ed. São Paulo: Metha, 2013. 378p.

285
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Elaboração, Aceitação e Intenção de Compra de um Brownie Funcional Produzido com


Farinha de Amêndoas e de Aveia.
Géssica Martins1, Anna de Sousa2, Isabel Campos3, Valeska Lima4, John Pinheiro5, Sandra Lira6*
1
Graduanda em Nutrição. Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO)*.
2
Graduada em Nutrição. CISNE Faculdade de Quixadá (CFQ).
3
Graduada em Nutrição. CISNE Faculdade de Quixadá (CFQ).
4
Graduada em Nutrição. CISNE Faculdade de Quixadá (CFQ).
5
Graduado em Nutrição. CISNE Faculdade de Quixadá (CFQ).
6
Doutora em Biotecnologia. Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO/UECE).
* autor para correspondência: Géssica de Souza Martins: s.gessica@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Alimento Funcional. Tecnologia de Alimentos. Dieta Saudável.

INTRODUÇÃO intenção de compra de um Brownie funcional produzido com farinha


de amêndoas e de aveia.
Nos últimos anos têm-se aumentado a demanda por produtos sem
glúten e/ou sem lactose pela população em geral. Muitos desses METODOLOGIA
consumidores são celíacos e/ou intolerantes à lactose, entretanto, outro
fator contribuinte para essa demanda é a vasta divulgação de forma Caracterização do estudo
equívocada de possíveis benefícios associados ao consumo de dietas
sem glúten e sem lactose que tem levado pessoas que não possuem O presente estudo se trata da elaboração de um Brownie funcional e a
diagnóstico médico da presença de tais doenças a adotarem este tipo sua análise sensorial de aceitação global e intenção de compra em
de dieta restritiva (1). alunos e funcionários de uma faculdade. O Brownie foi desenvolvido
A Doença Celíaca tem chamado bastante atenção da população, ela é no Laboratório de Técnica Dietética de uma faculdade de nutrição em
caracterizada por um processo inflamatório que envolve a mucosa do Quixadá-CE.
intestino delgado, levando à atrofia das vilosidades intestinais, má
absorção de nutrientes e provocando uma variedade de manifestações Coleta de Dados
clínicas, como por exemplo, constipação intestinal, desnutrição,
osteoporose, inchaço abdominal, dentre outros (2). Para a formulação do Brownie funcional foram utilizados os seguintes
No Brasil cerca de 2 milhões de pessoas são afetadas pela doença ingredientes: óleo de coco (480 ml), 3 barras de chocolate 70% (300
celíaca e 1% da população mundial, porém a grande maioria dessas g), 2 xicaras de açúcar mascavo (330g), 4 xicaras de farinha de
pessoas ainda se encontram sem diagnóstico (3). O único tratamento amêndoas (200g), fermento químico em pó (90g), 1 xicara de farinha
da Doença Celíaca é baseado na exclusão total de alimentos fonte de de aveia (140 g), essência de baunilha (5 ml), 9 ovos (450g). Para o
glúten. Para garantir uma dieta isenta de glúten, o celíaco deve sempre preparo, foram realizadas as seguintes etapas: os ovos foram batidos
conhecer e fazer leitura minuciosa dos ingredientes que compõem os com óleo de coco e essência de baunilha no liquidificador, em seguida
alimentos. Além disso, a população relata que a oferta de alimentos foi acrescentado açúcar aos poucos. A barra de chocolate foi derretida
sensorialmente adequados é restrita, o que torna a dieta monótona e os e posteriormente adicionada a mistura. Por fim, foi adicionado a
produtos disponíveis no mercado normalmente possuem um valor farinha de amêndoa, aveia e o fermento. A mistura foi colocada em
elevado (4). uma forma de inox quadrada previamente untada com óleo de côco e
Outro problema bastante comum é a intolerância à lactose que farinha de amêndoas. Após a isso a mistura foi ao forno (pré-
consiste na incapacidade de digerir a lactose, presente no leite e aquecido) por 20 a 25 minutos a 180ºC.
derivados dele. Esse processo acontece quando o organismo não A análise sensorial ocorreu no laboratório de técnica e dietética e foi
produz, ou produz muito pouco, a lactase, enzima digestiva aplicado utilizando fichas de provadores previamente elaboradas
responsável por hidrolisar e decompor a lactose em galactose e constando os testes de aceitação global e intenção de compra,
glicose. Dessa forma, ao chegar no intestino grosso a lactose não adaptado do trabalho de Freitas, Cândido e Silva (2016) (9).
digerida corretamente é fermentada por bactérias, e provoca efeitos Os provadores, que participaram da análise sensorial foram individuos
desagradáveis como retenção de líquidos, cólicas abdominais e destreinados, que avaliaram a aceitação global de forma monádica por
diarreias (5). meio da escala hedônica de 9 pontos. A intenção de compra foi
Além do interesse por esses tipos de dietas restritivas, tem crescido o avaliada utilizando-se uma escala estruturada de 5 pontos (9).
interesse geral do público por alimentos saudáveis. Dentro desse
contexto, os alimentos funcionais ganham destaque, pois além das RESULTADOS E DISCUSSÃO
capacidades nutricionais básicas, eles demonstram capacidade de
regular funções corporais de forma a auxiliar na proteção contra As etapas do processamento do brownie funcional são simples, porém,
determinadas doenças como hipertensão, diabetes, câncer e como em qualquer outro processo requer atenção e cuidado, a fim de
osteoporose (6). Esse interesse por alimentos saudáveis e funcionais obter um produto de qualidade. Este produto foi elaborado com intuito
faz com que fibras, compostos bioativos, vitaminas, probióticos, de obter um alimento sem lactose, sem glúten e rico em nutrientes.
ácidos graxos essenciais entre outros, tenham sido inseridos como Os testes sensoriais foram aplicados em 41 pessoas e obtiveram
ingredientes na alimentação e/ou em produtos elaborados resultados satisfatórios. O gráfico abaixo apresenta a porcentagem de
industrializados (7). aceitação do produto. Observou-se que para os atributos de aceitação
Acompanhando a tendência de produção de alimentos saudáveis, sensorial do brownie funcional obteve boa aprovação entre os termos
torna-se importante o desenvolvimento de novos produtos com “gostei muitíssimo”, “gostei muito”, “gostei moderadamente” e
características que permitam o seu consumo pelo público celíaco e “gostei ligeiramente”, indicando assim que o brownie funcional, de
intolerante a lactose, além de consumidores que buscam produtos forma geral foi bem aceito pelos provadores (Figura 1).
saudáveis.
O Brownie é um tipo de doce típico dos Estados Unidos, geralmente
feito com chocolate e nozes, apresentando a característica de ser Figura 1 - Resultados do Teste de Aceitação Global do Brownie
achatado e servido em pedaços quadrados ou retangulares, de Funcional
coloração marrom escuro, como relata o seu nome (8).
Esse tipo de preparação pode ser um veículo para adição de novos
ingredientes como forma de enriquecimento, e diferenciação do
produto. Diante disso, o objetivo deste estudo avaliar a aceitação e a

e-xacta, Belo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.


Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/

286
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
2. SILVA, T. S. G.; FURLANETTO, T. W. Diagnóstico de doença
celíaca em adultos. Revista da Associação Médica Brasileira, [S.L.],
v. 56, n. 1, p. 122-126, 2010.

3. ASSOCIAÇÃO DE CELÍACOS NO BRASIL (ACELBRA). A


doença Celíaca de Hoje. Disponível em:
http://www.acelbra.org.br/2004/doencaceliaca.php. Acesso em: 03 set.
2020..

4. ARAÚJO, H. M. C.; ARAÚJO, W. M. C.; BOTELHO, R. B. A.;


ZANDONADI, R. P. Doença celíaca, hábitos e práticas alimentares e
qualidade de vida. Revista de Nutrição, [S.L.], v. 23, n. 3, p. 467-
474, 2010.

5. SILVA, V. R.; COELHO, A. Causas, sintomas e diagnóstico da


intolerância à lactose e alergia ao leite de vaca. Revista Saúde
De acordo com Dutcosky (2007) a aceitação foi boa, pois o valor do
UniToledo, Araçatuba, v. 03, n. 01, p. 20-31, 2019.
somatório dos principais resultados ficou acima de 70%. Ramos et al.
(2012) em sua pesquisa, avaliou a aceitação global de um bolo feito
6. PASCHOAL, V.; NAVES, A.; BAPTISTELLA, A. B. Nutrição
com pré-mistura para bolos sem glúten contendo 7,5% de farinha de
Clínica Funcional: Dos Princípios à Prática Clínica. 2. ed. [S.L.]:
linhaça dourada em sua composição e observou um índice de 77% de
VP, 2014.
aprovação (10). De acordo com o autor, essa boa aceitação do seu
produto pode estar diretamente relacionada a uma tendência atual dos
7. VIANA, M. R.; NEVES, A. S.; JUNIOR, K. R. C.; PRADO, S. D.;
consumidores por produtos mais saudáveis (11).
MENDONÇA, A. L. O. A racionalidade nutricional e sua influência
na medicalização da comida no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva,
Figura 2 - Resultados do Teste de Intenção de compra do Brownie
[S.L.], v. 22, n. 2, p. 447-456, 2017.
Funcional
8. KOERICH, G. H.; NEIS, M. S.; MARINHO, K. B. Análise
sensorial do brownie: tradição versus contemporaneidade. In:
CONGRESSO INTERNACIONAL DE GASTRONOMIA, []., 2013,
São Paulo. Anais do Congresso Internacional de Gastronomia –
Mesa Tendências 2013. [S.L.]: Centro Universitário Senac, 2013. p.
115-121. Disponível em:
http://www3.sp.senac.br/hotsites/campus_santoamaro/cd/arquivos/pes
quisa/2013/mesa_tendencias_anais_2013.pdf. Acesso em: 03 set.
2020.

9. FREITAS, J. B.; CÂNDIDO, T. L. N.; SILVA, M. R. Geléia de


gabiroba: avaliação da aceitabilidade e características físicas e
químicas. Pesquisa Agropecuária Tropical, [S. L.] v. 38, n. 2, p. 87-
94, 2008.

10. DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 2. ed. [S.L.]:


Pucpress - Editora Universitária Champagnat, 2015.

11. RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T; SANDRI, I. G.


Elaboração de pré-mistura para bolo sem glúten. Alimentos e
Com relação a intenção de compra, um percentual de 86% dos
Nutrição, Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, 2012.
participantes assinalaram as opções “certamente compraria” ou
“provavelmente compraria”. Mossmann (2012), em seu trabalho sobre
12. MOSSMANN, D. L. Elaboração de biscoito salgado sem glúten
a elaboração de biscoito salgado sem glúten e com fibras, teve um
com fibras. 2012. 65 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de
resultando semelhante ao presente estudo, onde 78% dos provadores
Alimentos, Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
afirmaram que “certamente compraria” ou “provavelmente compraria”
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
(12).
Acredita-se que o resultado da aceitação global tenha repercutido na
intenção de compra. O resultado obtido do processamento do brownie
funcional foi tecnicamente satisfatório, o que sugere que o produto
possui potencial de comercialização, não somente pelos seus
resultados de aceitação sensorial e intenção de compra como também
pelas suas características nutricionais (boa fonte de vitamina B2, baixa
quantidade de açúcares e gorduras. (Figura 2).

CONCLUSÃO

O Brownie funcional elaborado apresentou bons resultados nos testes


de aceitação global e de intenção de compra, podendo ser uma opção
viável para o comércio e para o consumo por pessoas que apresentam
alguma restrição alimentar ou que buscam uma alimentação saudável.

REFERÊNCIAS

1. FRANCO, L. H. E. Desenvolvimento de Browie funcional sem


glúten e sem lactose. 2017. 52 f. TCC (Graduação) - Curso de
Engenharia de Alimentos, Instituto de Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2017.

287
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência de variáveis sociodemográficas na percepção sensorial de mel de flores


silvestres da espécie Apis mellífera
Gabriela Yamamoto¹*, Gabriella Kerber², Michele Garcia², Marcia Silveira², Mariana Duprat²
¹Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille
²Docentes do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia Universidade da Região de Joinville – Univille

Palavras chaves: análise sensorial, CATA (check all that apply), percepção, consumidores.

gabriela.yamamoto@univille.br

INTRODUÇÃO Figura 1- Ficha de análise sensorial CATA

O mel é o produto alimentício produzido por abelhas melíferas a


partir do néctar de flores ou das secreções oriundas de partes vivas
das plantas (1). Dentre as espécies produtoras, a Apis mellífera,
também chamada de abelha africana, é a mais conhecida, sendo o
produto valorizado pelo sabor, aroma e qualidade nutricional (2).
Além da espécie produtora, a origem do néctar e/ou secreção e
clima interferem na composição físico química do mel (3) e,
consequentemente, em suas propriedades sensoriais como cor,
aroma e sabor (2). O estado de Santa Catarina é o maior produtor
de mel do Brasil e, desta localidade, provém o mel reconhecido
cinco vezes como melhor do mundo. Este reconhecimento é
decorrente das características únicas deste produto, como ser Considerando a não normalidade dos dados e um nível de
silvestre, multifloral e possuir coloração mais escura, indicando significância de 5% para erro tipo I, as correlações entre as
uma maior concentração de sais minerais (4). Em Santa Catarina variáveis sociodemográficas e a frequências dos atributos
cerca de 10 mil famílias estão envolvidas na produção de mel, reconhecidos foram testadas utilizando-se o teste de Spearman
abrangendo 300 mil colmeias com produção de cerca de 6 mil com o auxílio do software SPSS 23.
toneladas por ano (5). Sendo este um produto cujas propriedades
sensoriais dependem de vários fatores, nem sempre possíveis de RESULTADOS E DISCUSSÃO
controlar, a avaliação das características sensoriais é um
parâmetro fundamental na determinação da qualidade do mel. A análise sensorial foi realizada no mês de novembro de 2019 e
Para isso são utilizadas diversas metodologias, de acordo com o teve a participação de 88 indivíduos, sendo 57% (n=50) mulheres
objetivo proposto, visto que não existe um método referência para e 43% (n=38) homens, com idades entre 18 e 77 anos e moda de
cada fim (6). Por meio da análise da frequência de citação de 21 anos.
atributos sensoriais, diretamente relacionada à intensidade de A metodologia utilizada permitiu a identificação da percepção de
percepção destes, o método Check-All-That-Apply (CATA) consumidores em relação ao mel de flores silvestres da espécie
identifica a percepção dos consumidores em relação ao produto Apis mellífera produzido em Joinville, SC. Os principais atributos
(7). É importante ressaltar, no entanto, que a frequência de relacionados ao produto foram: consistente, brilhoso, encorpado
consumo, idade, sexo, grau de escolaridade, entre outros fatores, e medianamente doce (figura 2).
podem influenciar diretamente a percepção sensorial de
indivíduos não treinados (8). Assim, este trabalho teve como Figura 2- Termos descritores do mel de flores silvestres da
objetivo avaliar a percepção de consumidores em relação ao mel espécie Apis mellífera produzido em Joinville, SC
de flores silvestres da espécie Apis mellífera produzido em
Joinville, SC, identificando se a frequência de consumo, idade e
sexo destes indivíduos influenciam sua percepção sensorial.

MATERIAS E MÉTODOS

Foi realizada a metodologia CATA para análise da percepção das


características sensoriais de um mel produzido em Joinville, SC.
O mel, produzido a partir de néctar de flores silvestres por abelhas
Apis mellífera no município é extraído por um apicultor associado
à Associação de Apicultores de Joinville (APIVILLE). O produto
foi escolhido por conveniência e adquirido em um mercado Em relação ao gosto, foi identificada correlação negativa entre a
varejista da região. A análise sensorial foi realizada no laboratório percepção de dulçor e a frequência de consumo (ρ = -0,283
de Análise Sensorial da Universidade da região de Joinville, p<0,05), indicando, como apontado na literatura (9), que
sendo previamente aprovada pelo comitê de ética (parecer indivíduos com menor frequência de consumo de determinado
2.998.981). Foram convocados para participarem do painel, por produto são mais sensíveis à percepção de gostos dos mesmos.
meio de uma chamada via Facebook, indivíduos maiores de Desta mesma forma os resultados obtidos corroboram com os
idade, sem problemas de saúde ou intolerância ao consumo de indicadores da pesquisa de orçamento familiar (POF 2017-2018)
mel. Cada um dos provadores recebeu uma amostra de 30g do que aponta alto consumo de açúcares na região sul, a mais elevada
mel em temperatura ambiente e uma ficha com termos descritores do Brasil (10). As variáveis sexo e idade não apresentaram
(figura 1), sendo solicitado aos mesmos que indicassem aqueles correlações significativas com a percepção de nenhum atributo
que melhor representavam a amostra degustada. Estes termos (p>0,05), assim como já descrito por outros autores (11, 12).
foram relacionados aos atributos de aparência (brilho, Quanto ao grau de escolaridade, houve correlação significativa
opacidade), textura (consistência, corpo, viscosidade), gosto com o atributo “ácido” (ρ = 0,216 p<0,05), apontando que os
(doce e ácido), sabor (floral, frutal e herbal) (2) e cor (de quase indivíduos com menor grau de instrução foram mais sensíveis a
incolor a pardo-escura) (1). Nesta mesma ficha os provadores esse atributo, contrapondo achado de outros autores que não
participantes também foram questionados quanto ao seu gênero, identificaram correlação entre nível de escolaridade e percepção
idade, grau de instrução e frequência de consumo do mel. sensorial (13).

CONCLUSÃO

288
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O mel de flores silvestres da espécie Apis mellífera produzido em


Joinville e analisado neste estudo, apresenta como principais
atributos os descritores: consistente, brilhoso, encorpado e
medianamente doce. Em relação a influência das variáveis
sociodemográficas na percepção sensorial de atributos, conclui-
se que a frequência de consumo possui correlação inversa com a
percepção do dulçor, e que o grau de escolaridade pode estar
correlacionado com percepção de atributos sensoriais. Sugere-se
que sejam feitos outros estudos para continuidade da investigação
da influência da frequência de consumo, idade e sexo na
percepção sensorial, visto que os painéis sensoriais com
indivíduos não treinados podem ser influenciados por estas
variáveis.

REFERÊNCIAS
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Estabelece o regulamento técnico de identidade e qualidade do
mel. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
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4
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de Santa Catarina. Santa Catarina tem o melhor mel do mundo.
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<.https://www.epagri.sc.gov.br/index.php/2019/09/13/santa-
catarina-tem-o-melhor-mel-do-mundo/>. Acesso em: 08 de
agosto de 2020.
5
DELSIN, C. Mel: caracterização de processos e
desenvolvimento de uma nova formulação de Melosa. 2019. Tese
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6
DOS SANTOS, P. E. J. Análise sensorial de mel: revisão
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Coimbra - Portugal. 2016
7
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8
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Santa Catarina. Engevista, v. 19, n. 4, p. 906-915, 2017.
10
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https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf.
Acesso em: 21 set. 2020.
11
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CALDAS, A. S. C.; SILVA, H. J. Interferência das variáveis sexo
e idade no olfato e no paladar em crianças com e sem rinite
alérgica. Audiology-Communication Research, v. 24, 2019.
12
LUIZ, A. A. O.; SANTOS, M. B.; AZEREDO, E. M.
Elaboração e análise sensorial de preparações a partir do
aproveitamento integral de alimentos. RASBRAN, v. 10, n. 2, p.
52-58, 2019.
13
ROCHA J. G.; LIMA, E. R.; MARINHO, J. B.; DE MELO, D.
S.; PEREIRA, G. B.; ALVES, T. P. A.; MILAGRES, P. M.
Avaliação da percepção sensorial ao gosto salgado em pessoas
hipertensas. Journal of Nursing UFPE/Revista de Enfermagem
UFPE, v. 13, n. 2, 2019.

289
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação de tempo ideal de contato para metodologias de absorção de água ou óleo ao avaliar
fibra de pedúnculo de caju (Anacardium Occidentale L.) desidratada

Diogo H. M. Portela¹, Nédio J. Wurlitzer²

¹Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE – Brasil, e-mail:
diogohmp2@gmail.com.
²DSc., Pesquisador na Embrapa Agroindustria Tropical, Fortaleza, CE – Brasil.

Palavras-Chave: Contole de qualidade, Processamento, Tempo de Hidratação.

Introdução adicionado 100ml de água ou óleo, de acordo com a análise. Foram


No processamento industrial do caju, além da castanha que deixados em repouso, a temperatura ambiente, para três tempos de
é o produto principal, o pedúnculo é aproveitado para a fabricação de contato: 30 minutos, 120 minutos e 240 minutos.
sucos. O resíduo da extração do suco, conhecido como bagaço do Ao término de cada tempo de contato, as amostras foram
caju, representa de 20 a 40% do peso do fruto, sendo comumente escorridas em uma peneira de aço e pressionadas com o auxílio de
descartado ou utilizado para ração animal (1). uma colher, a fim de ser retirado todo o excesso de água ou óleo. Após
Este bagaço é uma fibra alimentar que pode ser utilizada esse procedimento foi realizada a primeira pesagem.
para elaboração de novos produtos, agregando valor comercial a esse
resíduo. Dentre os trabalhos já realizados, foram produzidos biscoitos,
barra de cereais e hamburguer, além da fibra desidratada e triturada
para misturas com outros tipos de farinhas (2, 3).
A composição do bagaço (ou fibra) de caju é apresentado
na tabela 1 em dados obtidos na pesquisa de Pinho (4), onde foram
avaliadas as características da fibra ainda úmida e após processo de
desidratação por liofilização, a fim de averiguar as propriedades da
fibra para aplicação em produtos alimentícios.

Tabela 1 – Composição centesimal, fibra total e vitamina C do bagaço


de caju úmido e do bagaço de caju desidratado por liofilização.
Parâme tro Bagaço úmido Bagaço de sidratado
Umidade (%) 75,74 ±2,73 4,04 ± 0,41
Figura 1 – Fibra de caju liofilizada.
Proteínas (%) 2,07 ± 0,01 9,80 ± 0,02
Açúcares totais (%) 2,48 ± 0,03 10,71 ± 0,23 Em seguida, as amostras foram colocadas em um pano
Vitamina C (mg/100g) 2,70 ± 0,42 6,61 ± 1,70 fino, fechado em formato de trouxa e colocado em uma centrífuga
doméstica, com ação manual por 5 minutos, com cada amostra, e
Lipídeos 0,24 ± 0,04 2,81 ± 0,12 depois foi realizada nova pesagem.
Cinzas 0,26 ± 0,11 1,20 ± 0,22 Foram efetuadas cinco repetições para cada de tempo de
contato e método de retirada de excesso. Os dados de absorção obtidos
Fibras total (%) 12,51 ± 0,12 40,35 ± 0,64
em cada intervalo de tempo foram submetidos a análise de variância
Fibra insolúvel (%) 12,41 ± 0,12 33,03 ± 0,12 (ANOVA) por fator único, considerando diferença significativa α ≤
5%, utilizando o software Microsoft Excel 2016. Existindo diferença
Fibra solúvel (%) 0,09 ± 0,02 7,33 ± 1,31
significativa na análise de variância, efetua-se também teste de Tukey
Fonte: Adaptado de Pinho (4). para comparação entre as médias.

Contudo, são necessários diversos testes para averiguar as Resultados e discussão


melhores formas de obtenção desta fibra e utilização de suas Após os processos realizados, é possível observar na
características na indústria alimentícia. Dentre as particularidades que Tabela 2 os resultados obtidos para a hidratação em água.
podem ser estudadas, estão a capacidade de absorção de água e óleo,
pois são parâmetros importantes para caracterizar a adequação deste Tabela 2 – Resultados de água absorvida em 5g de amostra.
ingrediente em formulação de produtos. Peso após prensagem com colher Peso após centrifugação
Por este motivo, buscou-se avaliar nessas metodologias Repetição 30 min 120 min 240 min 30 min 120 min 240 min
qual o tempo ideal de imersão, em água ou óleo, para sua reidratação, 1 24,3 23,9 23 13,7 14,2 14
além de estudar a melhor forma para eliminação da água ou óleo 2 21,5 21,5 22 12,8 13,5 13,2
excedente. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o tempo de 3 22,1 22,5 21,9 12,8 13,2 13,5
4 21,2 21,3 20,8 12,5 12,5 12,2
contato (30, 120 ou 240 minutos) e forma de eliminar o excesso
5 23,5 23,5 22,9 13,9 14,5 14,2
(método de prensagem com colher ou uso de centrífuga manual), a fim
Média 22,52 a 22,54 a 22,12 a 13,14 B 13,58 B 13,42 B
de diminuir o tempo de análise, mas também de manter a
Desvio Padrão 1,33 1,16 0,89 0,62 0,80 0,79
repetibilidade e precisão do método.
Máximo 24,3 23,9 23 13,9 14,5 14,2
Mínimo 21,2 21,3 20,8 12,5 12,5 12,2
Materiais e métodos Amplitude 3,1 2,6 2,2 1,4 2 2
A fibra de caju liofilizada (Figura 1) utilizada no teste é
Obs: Para a média, letras diferentes seguindo as médias na mesma linha diferem
proveniente do Laboratório de Processos Agroindustriais da significantemente (p ≤ 0,05); Letras minúsculas seguindo as médias comparando
EMBRAPA. A fibra oriunda de uma indústria de cajuína, foi passada tempo de imersão e prensagem com colher; Letras maiúsculas seguindo as
em uma prensa expeller (tipo parafuso sem fim) por cinco vezes médias comparando tempo de imersão e centrifugação.
consecutivas, sendo lavada em água a temperatura ambiente na
proporção de 1:1 antes de cada prensagem. Este processo foi utilizado
com o intuito de diminuir o tamanho da fibra, a acidez característica e Ao avaliar os resultados, observa-se que a fibra retém
o sabor de caju. Após esse processo, a fibra foi liofilizada e grande quantidade de água (que corresponde a 450%), apresentando
armazenada em local seco e arejado, dentro de sacos plásticos característica de um hidrocolóide. Esta capacidade de absorver água
vedados. representa uma importante propriedade tecnológica, pois pode impedir
A metodologia utilizada para os testes de absorção foi a sinérese, além de evitar alterações na viscosidade final de um
adaptada do estudo de Siqueira (5). A amostra foi pesada (5g) em produto (5).
balança digital (MH-500, China), capacidade 0,1g a 500g. Depois foi No experimento realizado, a média de absorção de água foi

290
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

de 22,12g a 22,54g, ou seja, aproximadamente 450% em relação ao


peso inicial de massa seca. Siqueira (5), em sua pesquisa, avaliando
fibra de caju como ingrediente funcional para redução de calorias e
aumento de saciedade, obteve valores de absorção de água de 327,9 a ANOVA (prensagem com colher)
395%. Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 1,67 2 0,83 0,29 0,75 3,89
Dentro dos grupos 34,70 12 2,89
ANOVA (prensagem com colher) Total 36,37 14
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 0,56 2 0,28 0,21 0,81 3,89 ANOVA (centrifugação)
Dentro dos grupos 15,67 12 1,31 Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Total 16,23 14 Entre grupos 0,05 2 0,02 0,07 0,93 3,89
Dentro dos grupos 4,01 12 0,33
ANOVA (centrifugação) Total 4,06 14
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico Figura 3 – Quadro de análise de variância dos testes com absorção de
Entre grupos 0,50 2 0,25 0,45 0,65 3,89 óleo em relação ao tempo de hidratação.
Dentro dos grupos 6,57 12 0,55
Total 7,06 14 Semelhante ao teste realizado com água, a análise de
Figura 2 – Quadro de análise de variância dos testes com absorção de variância apontada na figura 3 também não apresenta diferença
água em relação ao tempo de hidratação. significativa (α ≤ 5%) entre os tempos de hidratação, tanto no método
de prensagem, quanto na centrifugação. Logo, indica-se o tempo de 30
Na Figura 2 é possível observar no quadro de análise de minutos de imersão para obter um melhor tempo de análise.
variância que o valor de F calculado é inferior ao F crítico (α ≤ 5%), Com relação ao método de eliminação do excesso de óleo,
portanto não foi constatada diferença significativa de hidratação entre ambas as formas (prensagem com colher e centrifugação) levam a
os diferentes tempos praticados no método de prensagem com colher. resultados diferentes, porém com respostas precisas, sendo viável a
De forma similar, ainda na figura 2, podemos ver que no método de escolha da prensagem com colher por ser mais rápido, diminuindo
centrifugação também não há diferença significativa entre os tempos mais uma etapa da análise.
de hidratação praticados. Portanto, para facilitar a metodologia de Vale ressaltar, ainda, que o método de centrifugação
análise, recomenda-se o tempo de 30 minutos de imersão, diminuindo consegue retirar mais excesso de óleo, mesmo após a prensagem.
assim o tempo de análise. Dependendo da aplicação da fibra, este processo pode ser útil.
Com relação à forma de eliminação do excesso de água,
observamos que os métodos (prensagem com colher e centrifugação) Conclusão
levam a resultados diferentes. Tanto um quanto outro tem relativa A fibra de caju liofilizada apresentou índices de absorção
precisão nas respostas, podendo-se escolher o mais fácil de prensagem de água (~450%) e óleo (~315%), podendo ser aproveitada como
com colher, e assim diminuir uma etapa. ingrediente pela indústria de alimentos. Em relação ao método, o
No entanto é visível que o método de centrifugação menor tempo de 30 minutos de imersão da fibra, é suficiente para
consegue retirar ainda mais excesso de água, mesmo após a avaliar o máximo de absorção, tanto para água quanto para o óleo.
prensagem. Este fato é importante, pois dependendo da aplicação da Quanto a forma de eliminar o excesso de água, como forma de
fibra, talvez seja interessante hidratá-la e retirar ao máximo este simplificar, recomenda-se a leve pressão com colher.
excesso. O presente estudo foi realizado com a fibra obtida em
A Tabela 3, a seguir, mostra os resultados alcançados nos equipamento tipo expeller, e seca por liofilização. A utilização da
testes de absorção de óleo. fibra processada em menor granulometria pode contribuir com maior
absorção, e recomenda-se ampliar os estudos para avalliar o efeito de
Tabela 3 – Resultados de óleo absorvido em 5g de amostra. diferentes granulometrias ou outros processos de secagem.
Peso após prensagem com colher Peso após centrifugação
Repetição 30 min 120 min 240 min 30 min 120 min 240 min Referências
1 16 17,1 16,3 7,1 8 7,5
2 16,7 15,9 15,6 6,9 6,8 6,7 1 LIMA, J. R.; GARRUTI, D. S.; MACHADO, T. F.; ARAÚJO, I. M.
3 15,8 16,9 15,7 6,7 6,4 6,8
S. Vegetal burgers of cashew fiber and cowpea: Formulation,
4 17,9 16,7 16 6,7 6,7 6,6
characterization and stability during frozen storage. Revista Ciencia
5 12,8 13,2 12,4 7,7 7,9 7,8
Agronomica. 49 (4), 708–714, 2018.
Média 15,84 a 15,96 a 15,2 a 7,02 B 7,16 B 7,08 B
2 SIQUEIRA, A. M. A.; BRITO, E. S. Aproveitamento do bagaço do
Desvio Padrão 1,89 1,61 1,59 0,41 0,74 0,54
Máximo 17,9 17,1 16,3 7,7 8 7,8
caju para alimentação humana e utilização em outras indústrias de
Mínimo 12,8 13,2 12,4 6,7 6,4 6,6 alimentos. Agronegócio caju: práticas e inovações. 1 ed. Brasília: Ed
Amplitude 5,1 3,9 3,9 1 1,6 1,2 Embrapa, 2013, p. 349–361.
Obs: Para a média, letras diferentes seguindo as médias na mesma linha diferem 3 CARVALHO, D. V.; GALLÃO, M. I.; BRITO, E. S. Obesidade e
significantemente (p ≤ 0,05); Letras minúsculas seguindo as médias comparando fibra dietética: destaque para a fibra de caju. Brazilian Journal of
tempo de imersão e prensagem com colher; Letras maiúsculas seguindo as Development. 6(7), 43474-43488, 2020.
médias comparando tempo de imersão e centrifugação. 4 PINHO, L. X. Aproveitamento do resíduo do pedúnculo de caju
(Anacardium occidentale L.) para alimentação humana. Dissertação
A capacidade de absorção de óleo é fator interessante a ser (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Programa de Pós
estudado, pois pode ser aplicada de diferentes formas em um produto Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade
alimentício. Pode ser considerada uma característica negativa, quando Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.
trabalhamos com fritura, por exemplo, ou positiva quando utilizamos 5 SIQUEIRA, A. M. A. Caracterização de fibra antioxidante obtida a
para formular produtos emulsionados, molhos e massas de bolo, partir do bagaço de caju. 2013. 112f. Tese (Doutorado em
auxiliando no sabor final. Além disso, pode ser utilizado como Biotecnologia) - Rede Nordeste de Biotecnologia, Universidade
propriedade funcional, pois quando ingerido, pode contribuir com a Estadual do Ceará, Fortaleza, 2013.
redução dos indíces de colesterol em um indivíduo (6, 2). 6 BARABACH, A; SILVA, E. C. K.; VIANTE, L. C. Influência da
A média de absorção de óleo varia de 15,2g a 15,95g, ou granulometria nas propriedades funcionais e físico-químicas de
seja, aproximadamente 315% do peso inicial de fibra. Já após a farinhas de frutas e hortaliças. 2017. 41f. Trabalho de conclusão de
centrifugação, esta média diminui para valores de 7,02g a 7,16g, curso (Tecnologia em Alimentos) - Departamento de Engenharia de
totalizando em torno de 140% de absorção do peso inicial. Estes Alimentos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta
percentuais diferem dos encontrados por LIMA (7) em sua pesquisa, Grossa, 2017.
cuja capacidade de absorção encontrada foi de 476,27% para fibra de 7 LIMA, J. R. et al. Desidratação da fibra do caju para utilização em
caju com o mesmo tratamento. produtos alimentícios. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 91. 1
ed. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2014.

291
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aproveitamento da entrecasca da mandioca (Manihot esculenta Crantz): processo de


desenvolvimento de uma conserva

Camila Berlezzi, Samuel Lima2, Ana Cristina Cabral3, Daniel Martins4


1
1
Graduanda em tecnólogo em gastronomia. Universidade Presbiteriana Mackenzie /cberlezzi@gmail.com
2
Graduando em tecnólogo em gastronomia. Universidade Presbiteriana Mackenzie
3
Professora Doutoranda do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
4
Professor Especialista do Curso de Gastronomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie

PALAVRAS CHAVE: Palmanito, análise sensorial,


produto sustentável.
INTRODUÇÃO: Foi consultada aos provadores, no mesmo questionário, a intenção de
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e compra caso o produto fosse comercializado. As respostas variavam
Agricultura (FAO)(1) a mandioca foi considerada o alimento do entre certamente compraria, provavelmente compraria, talvez
século 21. Em 2016, a produção mundial de mandioca foi de 277,1 comprasse/talvez não comprasse, provavelmente não compraria e
milhões de toneladas sendo a Nigéria o maior produtor e o Brasil se certamente não compraria. Foi deixado um espaço para comentários
posicionaram em 4º lugar. Em 2018, a produção do Brasil atingiu a a respeito do produto.
marca de 20.936.782 toneladas (2,3). Para cálculo do percentual de aceitação de cada atributo, utilizou-
A mandioca in natura é amplamente consumida bem como seus se a fórmula proposta por Dutcoski (1996) (12): % Aceitação =
principais subprodutos: farinhas, féculas e a tapioca (4,5,6). Sua (Média de aceitação/5) *100. Para que um produto seja considerado
estrutura se divide em parte aérea, polpa e casca (película e aceito em suas características sensoriais é imprescindível que atinja
entrecasca) que em geral são descartados ou utilizados para aceitabilidade mínima de 70% da amostra participante o que também
alimentação animal (7,8,5,9). confere potencial mercadológico (13).
A possibilidade da utilização da entrecasca em conserva ácida em
produções culinárias permite não só o aproveitamento integral e RESULTADOS E DISCUSSÃO:
sustentável da mandioca, como pode servir também de alternativa A amostra contou com 51 indivíduos com idade média de 21 anos.
viável e de baixo custo ao palmito, que além do alto custo de Os maiores percentuais de resposta alcançaram nota 5, ou seja, gostei
mercado, muitas vezes, é retirado de forma ilegal da natureza (10). muito (Tabela 2) corroborando com o histograma que conflui para a
Este artigo é resultante de um estudo realizado nas disciplinas direita expressando a aceitação do produto.
tecnologia de alimentos e história da gastronomia do curso de
graduação em Tecnologia em Gastronomia da Universidade Tabela 2. Frequência de notas de aceitação sensorial do Palmanito
Presbiteriana Mackenzie, instituição de ensino superior privada
situada na cidade de São Paulo, cujo objetivo foi desenvolver uma Escala Número de Avaliações
conserva de entrecasca de mandioca em caldo de salmoura Desgostei muito 0
acidificada, desenvolvendo um produto alimentício sustentável, Desgostei 0
alternativo ao palmito comum em conserva, em usos culinários e Indiferente 3
fazendo a análise sensorial do produto. Gostei 17
Gostei muito 31
MATERIAL E MÉTODOS Fonte: Autores (2019).
Ao processamento da conserva de entrecasca de mandioca,
nominada “Palmanito”, empregou-se a metodologia descrita no O teste de intenção de compra demonstrou resultados positivos,
Manual Palmito de Pupunha in natura e em Conserva elaborado pela com maioria das notas 5, certamente compraria (Figura 1).
EMBRAPA (2009) (11), utilizando-se os seguintes ingredientes:
entrecasca de mandioca, sal, ácido cítrico e água, nas proporções Figura 1. Intenção de compra do Palmanito.
descritas na tabela 1.

Tabela 1. Formulação da conserva de entrecasca de mandioca

Ingrediente proporção em %
Entrecasca de mandioca (g) 100
Água (L) 200
Sal (g) 6
Ácido cítrico (g) 1
Fonte: Autores (2019). Fonte: Autores (2019).
O desenvolvimento da conserva seguiu as seguintes etapas de Os itens que foram analisados como “não gostei”, ainda que
processamento: seleção, lavagem, despeliculagem, sanitização, índices baixos foram aroma (7,8%), cor (3,9%) e consistência
branqueamento, fervura de 20 minutos, envase com adição de (3,9%), contudo alcançaram a média de aceitação necessária. Vale
salmoura, pasteurização, resfriamento e armazenamento. ressaltar que nenhum dos participantes declarou “desgostei muito”
Para avaliar a aceitação do produto foi realizado um teste de e/ou “certamente não compraria” para os itens questionados. Isto
análise sensorial de aceitação no dia 29 de outubro de 2019, na demonstra que o produto obteve uma aceitabilidade bastante
cozinha experimental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na promissora ainda que contenha aspectos que podem ser melhorados.
cidade de São Paulo, com a participação de 51 provadores adultos
(maiores de 18 anos), ambos os gêneros, consumidores de palmito, CONCLUSÕES:
não treinados, formado por alunos da universidade. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade com o número de Constatou-se que a conserva elaborada foi muito bem aceita pelos
CAAE - 48483015.7.0000.0084. participantes da análise sensorial realizada ainda que haja
Cada indivíduo experimentou uma pequena porção do produto. Foi necessidade de melhorias no produto. De modo geral todos os
solicitado que o provador avaliasse o produto Palmanito em relação a indivíduos que experimentaram a conserva se surpreenderam
quatro critérios (aparência, sabor, aroma e textura) e nota global do positivamente com seu sabor e consistência e demonstraram apoio a
produto, de uma escala hedônica, com pontuação variando entre proposta do produto, uma vez que objetiva substituir o palmito de
gostei muitíssimo (nota 5,0) e desgostei muitíssimo (nota 1,0).

292
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

forma sustentável, econômica e sem prejuízo de sabor e consistência


nas produções.
Recomenda-se que mais estudos sejam realizados, como a
elaboração de uma análise bromatológica centesimal da conserva, a
fim de obter dados confirmativos a respeito de seus componentes
nutricionais; realizar melhorias especialmente na cor do Palmanito,
para torná-lo mais claro, a fim de aumentar ainda mais a aceitação.
Aumentar o n da amostra. Por fim, conclui-se que o mercado
consumidor de alimentos atual demanda produtos que tenham como
foco o bem estar ambiental e social dos países e não apenas o
compromisso com a qualidade sensorial.

REFERÊNCIAS:

1. FAO. Produzir mais com menos: Mandioca – um guia


para a intensificação sustentável da produção (2013).
Disponível em http://www.fao.org/3/a-i2929o.pdf.
Acessado em 10/10/2019a.
2. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em
janeiro, IBGE prevê safra 6,0% inferior à 2017.
Disponível em
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/19942-em-
janeiro-ibge-preve-safra-6-0-inferior-a-de-2017. Acessado
em 16/08/2019.
3. CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento.
Análise mensal – Mandioca: maio de 2019. Brasília – DF.
2018.
4. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. Mandioca. Disponível em
https://www.embrapa.br/mandioca-e-
fruticultura/cultivos/mandioca. Acessado em 21/08/2019
(b).
5. FIGUEIREDO, P.G. Morfo-Anatomia de raízes tuberosas
de mandioca (Manihot esculenta Crantz) cultivar IAC
576-70 em diferentes preparos do solo. Botucatu-SP.
2012.
6. VALLE, T. L. Mandioca de mesa, macaxeira ou aipim: a
hortaliça negligenciada pelo Brasil. Instituto Agronômico
(IAC). In: 47º Congresso Brasileiro de Olericultura
(Palestra). Porto Seguro-BA. 2007.
7. MARQUES, J.A.; MAGGIONI, D. Utilização dos
subprodutos da mandioca na alimentação de ruminantes.
Disponível em
https://www.cerat.unesp.br/Home/compendio/palestras/pa
lestra17.pdf. Acessado em 02/09/2019.
8. VIANA, E. S.; OLIVEIRA, L. A. de; SILVA, J. de.
Processamento mínimo de mandioca. Circular técnica 95.
Cruz das Almas-BA. 2010.
9. FERNANDES, F. D. et al. Produtividade e valor
nutricional da parte a� rea e de ra�zes tuberosas de oito
gen�tipos de mandioca de ind�stria. Rev. Bras. Sa�de
Prod. Anim., Salvador, v.17, n.1, p.1-12 jan./mar., 2016.
10. RUDKE, A. R. Aproveitamento de entrecasca de
mandioca na produ� ão de conserva a fim de substituir o
palmito. 5º SSA5. Bento Gonçalves-RS. 2015.
11. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. Mandioca na alimentação animal. Palmito
de Pupunha in natura e em conserva. Brasília. 2009.
12. DUTCOSKY, S.D. Análise sensorial de alimentos.
Curitiba: Champagnat, 1996.
13. TEIXEIRA, E.; MEINERT E.M.; BARBETTA
P.A. Análise sensorial dos alimentos. Florianópolis:
UFSC; 1987. 182p.

293
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estudo da otimização de produção do fermentado de graviola

Adriellen F. Mendes1, Sumaya F. Guedes2, Sumária S. Silva3, José W. P. Carvalho4, Claudinéia A. Q. Geraldi5, Raquel
A. Loss6
1
Engenheira de Alimentos, Licenciada em Química/Doutora em Ciências, 3Licenciada em Química/Doutora em
2

Ciências, 4Licenciado em Química/Doutor em Ciências, 5Engenheira Química/Doutora em Engenharia Química


6
Engenheira de Alimentos/Doutora em Engenharia de Alimentos. 1-5Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT). E-mail: sumayaguedes@unemat.br.

Palavras-Chave: Vinagre, Produtos exóticos, Planejamento experimental.

INTRODUÇÃO mL de polpa, na proporção 30 mL de mosto de ativação e 70 mL de


suco. Após esterilização em autoclave (Prismatec vertical CS) a
A graviola (Annona muricata L.) pertencente à família 121°C, por 15 minutos, os mostos foram resfriados até atingir
Annonaceae, é normalmente cultivada em países tropicais. No Brasil temperatura de 30°C. Em seguida a levedura foi inoculada, na
é encontrada principalmente em regiões litorâneas e no Nordeste, e se proporção de 10% (m/v), deixando-a em repouso por 2 horas para
adapta em clima quente e úmido. O fruto, de alta perecebilidade, pesa ativação da mesma em estufa BOD com temperatura de 30°C, que logo
entre 1,2 e 4 kg e possui uma polpa branca e pegajosa, de casca verde depois foi adicionada ao restante do mosto e homogeneizado.
mesmo madura, com espinhos e caroços no seu interior (1,2).
De acordo com Vieira (2012), a produção de fermentados de Produção de etanol
frutas pode ser uma alternativa para o reaproveitamento de matérias- A fermentação alcoólica foi conduzida segundo metodologia
primas que apresentam alta perecibilidade, e que não são exploradas descrita por Tessaro et al. (2010) (9). Os ensaios de fermentação
comercialmente, como a graviola (3). Assim sendo, denomina-se alcoólica foram incubados em estufa BOD (Biochemical Oxygen
fermentado de frutas “a bebida com graduação alcoólica de 4 a 14 % Demand) (J. Prolab, modelo JP 1000) com temperatura estável 30°C
em volume, a 20°C, obtida da fermentação alcoólica do mosto de fruta ± 2°C, em frascos airlock, para garantir anaerobiose. O tempo de
sã, fresca e madura” (3). Segundo o Decreto n. 2.314/1997, o fermentação e concentração de sólidos totais variaram de 14 a 40 horas
“fermentado de fruta pode ser adicionado de açúcares, água e outras e de 13 até 27 ºBrix, conforme condições estabelecidas em um
substâncias previstas em ato administrativo complementar, para cada planejamento experimental do tipo composto central rotacional 2²,
tipo de fruta” (4). A produção de fermentados, portanto, possibilitaria com cinco pontos centrais (Tabela 1).
um aumento da economia nas regiões ribeirinhas que em sua maioria
vivem da exploração de alimentos (5). Tabela 1: Variáveis e níveis estudados no Delineamento Composto
Atualmente existem no mercado vinagres de frutas como por Central Rotacional 22 para a fermentação alcoólica do mosto de
exemplo, de maçã (6). O vinagre é um produto obtido a partir da graviola.
fermentação alcoólica e acética. Possui característica ácida, de sabor Níveis Sólidos solúveis Tempo (h)
azedo, e consistência líquida, muito utilizado como condimento e totais (ºBrix)
tempero. Pode ser obtido de diversas matérias-primas, incluindo -1,41 14 14
vinho, arroz, sidra, malte, frutas, entre outras (7). -1 15 18
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo o 0 20 27
estudo e otimização do processo de fermentação alcoólica da polpa de +1 25 36
graviola industrializada para posterior produção de vinagre. +1,41 27 40
Fonte: construção do Autor.
MATERIAL E MÉTODOS A influência das variáveis independentes (sólidos totais e
tempo) foram avaliadas em função da variável dependente
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Química (concentração de etanol) usando software Statistic 7.0.
Geral e no Laboratório de Microbiologia da Universidade do Estado As análises de etanol foram realizadas na Indústria de açúcar e
de Mato Grosso, Campus Deputado Estadual Renê Barbour, álcool Barralcool, localizada na cidade de Barra do Bugres. Utilizou-
localizado na cidade de Barra do Bugres-MT. se o micro destilador de álcool (TECNAL, modelo TE 012), no qual
Para a realização deste trabalho foi utilizado polpa foi adicionada aproximadamente 50 mL de amostra em um erlenmeyer
industrializada de Graviola (100g) adquirida em supermercado local, e colocado na coluna de destilação, a amostra foi destilada para a
na cidade de Barra do Bugres, MT. Inicialmente, as embalagens retirada do álcool. Após destilado o etanol foi diluído e introduzido no
contendo as polpas foram devidamente higienizadas, seguido de densímetro digital (ANTON PAAR, modelo DmA 4500M), que
homogeneização e obtenção do suco da polpa sem adição de água. O identifica os parâmetros de etanol em °GL, densidade, densidade
suco foi utilizado como meio de cultivo para o processo de aparente, etanol INPM (m/m) e temperatura, sendo que as
fermentação alcoólica. Além disso, a polpa também foi submetida a concentrações de etanol foram expressas em °GL.
análises físico-química.
Análise estatística
Análise físico-química da polpa de graviola Os resultados do delineamento experimental foram submetidos
As análises físico-químicas de pH (potenciometria), acidez em a análise estatística e validados pela Análise de Variância (ANOVA),
ácido cítrico (titulometria), cinzas (incineração a 550 °C), umidade ao nível de 5 % de probabilidade utilizando o software Statistic 7.0.
(secagem a 105°C) e sólidos solúveis totais (refratometria) foram
realizadas em triplicata de acordo com a metodologia proposta pelo
Instituto Adolf Lutz (2008) (8). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Preparo do mosto Análise físico-química das polpas de graviola
Foram utilizados aproximadamente 100 mL de polpa para cada Na Tabela 2 é possível observar os resultados obtidos das
ensaio. O teor de sólidos solúveis totais obtido inicialmente na polpa análises físico-químicas da polpa de graviola.
foi de 12 ºBrix. Em seguida foi realizada a chaptalização da polpa, De acordo com as diretrizes de padrões de identidade e
adicionando açúcar cristal ao suco sob agitação, até a obtenção de um qualidade (PIQ) não há parâmetros para determinação de umidade, não
mosto de 25°Brix. A polpa de graviola apresentou pH inicial de 3,25, sendo possível comparar o resultado obtido com a legislação
no entanto, o pH ideal para fermentação é de 5,50, e nesse caso foi (BRASIL, 2000) (4). Porém, frutos constituídos de mais de 80% de
necessário realizar a correção com adição de carbonato de cálcio para umidade aumentam a deterioração causando fermentação, e
obter a acidez desejada. Para produção do fermentado alcoólico foi consequentemente, mau cheiro (SILVA et al., 2017) (5).
utilizado a levedura Saccharomyces cerevisiae, na forma de fermento
biológico comercial liofilizado. Utilizou-se para cada erlenmeyer: 100

294
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2: Parâmetros físico-químicos das polpas de graviola. É válido ressaltar que altas concentrações de etanol podem
Parâmetros analisados Composição (g 100g-1) intoxicar as leveduras e inibir a atividade metabólica, não consumindo
todos os açúcares disponíveis no mosto (12).
Umidade (%) 89,11±0,08 Com o teor de sólidos solúveis apresentou efeito
Cinzas (%) 0,37±0,01 estatisticamente significativo na fermentação alcoólica para o mosto
pH 3,54±0,03 de graviola, foi possível a obtenção de um modelo empírico para a
Sólidos solúveis totais (ºBrix) 11,38±0,17 produção de etanol, sendo que este modelo foi validado
Acidez em ácido cítrico (%) 0,91±0,01 estatisticamente (p<0,05) pela análise de variância (ANOVA). O
Os valores correspondem a média de triplicatas ± desvio padrão. valor de coeficiente de determinação (R 2) obtido na ANOVA foi de
Fonte: construção do Autor. 0,9476, de maneira que é possível sugerir que modelo pode explicar
aproximadamente 95% da variação total dos resultados. O valor de F
A análise de cinzas é importante para a detecção de resíduos calculado foi de 18,08, sendo superior ao F tabelado que foi 5,05,
inorgânicos (minerais) presentes nos alimentos e apesar do PIQ não condição essencial para a validação estatística do modelo empírico.
determinar valores máximos e mínimos para análises de cinzas em
polpas de frutas, os resultados obtidos estão próximos aos encontrados CONCLUSÃO
por Lima et al. (2015) que obtiveram resultados variando de 0,19 a
0,60 % para polpas de acerola e graviola. (10) As polpas apresentaram bons resultados na caracterização
De acordo com as diretrizes de padrões de identidade e físico-química corroborando com os parâmetros exigidos pelo (PIQ).
qualidade (PIQ), os valores de pH para polpas industrializada de Na fermentação alcoólica da polpa de graviola apenas o teor de
graviola deve ser de 3,50, acidez titulavel de 0,60% e o teor de sólidos sólidos solúveis interferiu de forma significativa na produção de
solúveis totais de 9,0 ºBrix. Dessa forma, observa-se que a polpa etanol, sendo as melhores condições experimentais estabelecidas em
avaliada se encontra dentro dos parâmetros legislados para 25°Brix e 18 horas.
comercialização (4).

Análise do planejamento experimental realizado no processo de REFERENCIAS


fermentação alcoólica
1- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Na Tabela 3 é apresentada a matriz do delineamento composto Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos
central rotacional 2², com as variáveis reais e codificadas, avaliando regionais brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
qual a condição de tempo e concentração de sólidos solúveis totais que 2- OLIVEIRA, E. N. A. de et al. Estabilidade física e química
melhor favorece a produção de etanol (°GL). de licores de graviola durante o armazenamento em
condições ambientais. Revista Brasileira de Engenharia
Tabela 3: Matriz do Delineamento Composto Central Rotacional 2 2, Agrícola e Ambiental, v. 19, n. 3, p. 245- 251, 2015.
com as variáveis reais para a fermentação alcoólica do mosto de 3- VIEIRA, C. R. Dossiê Técnico- Produção de
graviola. fermentados a partir de frutas. Minas Gerais: Fundação
Sólidos Álcool Álcool
Centro Tecnológico de Minas Gerais CETEC, 2012.
Tempo 4- BRASIL. Instrução Normativa nº 01, de 07 de janeiro
Ensaios Totais Experimental Predito Erro
(h) de 2000. Aprova o Regulamento Técnico Geral para
(ºBrix) (ºGL) (ºGL)
1 -1 (15) -1 (18) 7,2 7,59 0,39 fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Polpa
de Fruta. Brasília: Ministério da Agricultura e do
2 1 (25) 1 (18) 11,88 12,05 0,17 Abastecimento, 2000.
3 -1 (15) -1 (36) 7,44 7,93 0,49 5- SILVA, A. K. N. et al. Avaliação da composição
4 1 (25) 1 (36) 11,36 11,63 0,27 nutricional e capacidade antioxidante de compostos
5 0 (20) 0 (27) 9,32 10,03 0,07 bioativos da polpa de açaí. Revista Brasileira de
6 0 (20) 0 (27) 10,66 10,03 0,71 Tecnologia Agroindustrial, v. 11, n. 1, p. 2205-2216,
7 0 (20) 0 (27) 10,1 10,03 0,07 2017.
8 -1,41 (13) 0 (27) 6,9 6,42 0,48 6- VIANA, R. O. Elaboração de vinagre de maçã (Malus
9 +1,41 (27) 0 (27) 12,36 12,17 0,19 spp.) empregando os grãos de kefir como inóculo. 2015.
10 0 (20) -1,41 (14) 10,6 10,33 0,27 105f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Agrícola) -
11 0 (20) +1,41 (40) 10,7 10,28 0,42 Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2015.
Fonte: construção do Autor. 7- SCHMOELLER, R. K.; BALBI, M. E. Caracterização e
controle de qualidade de vinagres comercializados na
Nos ensaios 2, 4 e 9, o teor de sólidos solúveis relativamente região metropolitana de Curitiba/PR. Visão Acadêmica, v.
alto promove uma maior formação de etanol. Esse fato deixa explicito 11, n. 2, p. 80-92, 2010.
que o teor de sólidos influencia diretamente na fermentação alcoólica 8- INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos
e o tempo de 18 horas é o suficiente para o teor máximo de etanol. para análise de alimentos. nstituto Adolfo Lutz, 2008. p.
Outra evidência que demostra que não são necessários longos períodos 1020.
de fermentação é no ensaio 10, que em 14 horas já foi possível 9- TESSARO, D. et al. Avaliação das fermentações alcoólica
observar o teor de etanol significante, já que o teor de sólidos inicial e acética para produção de vinagre a partir de suco de
foi de 20 ºBrix. Observando a Tabela 3 foi possível identificar boa laranja. Acta Scientiarum Technology, v. 32, n. 2, p. 201-
reprodutibilidade nos pontos centrais ensaios (5, 6 e 7), identificando 205, 2010.
que os valores obtidos se encontram próximos resultando em baixo 10- LIMA, T. L. S. et al. Avaliação da composição físico-
erro experimental e boa repetição. química de polpas de frutas comercializadas em cinco
Além disso, pelo diagrama de Pareto foi possível verificar que cidades do Alto Sertão paraibano. Revista Verde de
a variável SST exerceu maior influência na fermentação alcoólica no Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 10, n. 2,
fermentado de graviola. A variável tempo não influenciou p. 49-55, 2015.
estatisticamente ao nível de significância avaliados (p>0,05). Desta 11- BESSA, M. A. D. et al. Elaboração de fermentados
forma, como condição que melhor favoreceu a produção de etanol foi alcoólicos de melão das variedades amarelo e cantaloupe.
selecionada a condição experimental descrita no ensaio 2, teor inicial In: Congresso Técnico Científico da Engenharia e da
de sólidos solúveis totais de 25ºBrix e tempo de fermentação de 18 Agronomia, 03., 2016, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do
horas. Iguaçu: Rafain Palace Hotel & Convention Center, 2016.
Tessaro et al. (2010) obteve 13,45 % (p/vֿ) de etanol em v. 1, p. 1-5
fermentado de suco de laranja, utilizando o tempo de 48 horas e 12- LIMA, K. P. D. Produção de vinagre como estratégia de
22°Brix inicial (9). Comparando com o resultado obtido para graviola aproveitamento tecnológico da amora-preta: avaliação
a 25°Brix inicial e 18 horas obteve-se 11,78 (°GL). Bessa et al. (2016) do processo submerso e do processo lento. 2014. 115f.
evidenciam que o tempo da fermentação alcoólica está diretamente Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Processos
relacionado a disponibilidade de nutrientes (sacarose), e condições Químicos e Bioquímicos) – Universidade Tecnológica
ideais (temperatura e pH) para o crescimento das leveduras (11). Federal do Paraná, Pato Branco.

295
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O uso de hidrocoloides no desenvolvimento de uma sobremesa plant based

FUTATA, Renata 1; SANTOS, Stefanie 2 MATA, Paulina 3


1
Autor(a) Principal: Estudante do Mestrado em Ciências Gastronómicas da FCT NOVA e ISA ULisboa -
Quinta da Torre, 2829-516, Caparica / Portugal (e-mail:renata@chefkeiko.net.br)
2
Co-autora: Estudante de Mestrado em Ciências Gastronómicas da FCT NOVA e ISA ULisboa - Quinta da
Torre, 2829-516, Caparica / Portugal
3
Orientadora: Professora Auxiliar e Coordenadora do Mestrado em Ciências Gastronómicas, FCT
NOVA - Quinta da Torre, 2829-516, Caparica / Portugal,

Palavras chave: aditivos; restrições alimentares; texturas


Introdução Materiais e Métodos

A busca por agregar valor às produções gastronômicas, Objetivou-se a criação de uma sobremesa onde foi
através das experiências sensoriais, favorece o uso de diferentes excluído o uso de insumos de origem animal, bem como se procurou
aditivos, os quais atuam na sua estruturação, mas que podem ser manter os aspectos sensoriais que tornam uma sobremesa interessante
multifuncionais, adicionando diferentes texturas, formas de libertação e atrativa. Para tanto foram utilizados diversos matizes de sabor, além
de sabores e permitindo ainda despoletar diferentes sensações. Dentro de diferentes texturas. Cabe ressaltar, que por ser livre de insumos de
deste contexto, destaca-se o uso dos hidrocoloides. origem animal e de lactose, este torna-se um produto que atende a
Os hidrocoloides são substâncias que apresentam diferentes dietas alimentares, atingindo assim, um público variado.
afinidade com a água e que quando em contato com a mesma se ligam A inspiração para a criação do prato partiu de um preparo
a ela alterando a textura dos meios em que são aplicados, resultando bastante tradicional da gastronomia Italiana, a Panna Cotta. Um doce
em preparos líquidos com uma vasta gama de viscosidades ou delicado, com textura suave e com sabor onde prevalecem as notas
formando géis. De acordo com as características de cada hidrocolóide, lácteas. A versão aqui apresentada, é uma sobremesa empratada, onde
do meio, bem como a concentração utilizada, é possível alcançar foram substituídos os insumos de origem animal por insumos vegetais,
diferentes resultados como gelificar, espessar ou somente estabilizar além da substituição de gelificantes tradicionais, como a gelatina, por
um produto. Neste contexto, é notável a sua utilização na indústria outros menos convencionais nas cozinhas.
alimentícia, uma vez que são aplicados como gelificantes em A componente base da panna cotta, foi substituída por um
compotas, marmeladas, geleias e pudins; como espessantes em sopas, gel suave preparado com creme de leite vegetal e leite de coco. Este é
molhos e cremes; e estabilizantes em sorvetes, produtos lácteos e servido com um gel fluido de manga, um crocante de pistache e esferas
molhos (1). de flor de laranjeira. Para sua construção foram utilizados os seguintes
No que tange a sua origem, muitos hidrocoloides são hidrocoloides: (i) iota carragenana - “panna cotta”; (ii) gelano (de
extraídos de plantas, como é o caso do amido de milho, da pectina baixa acilação - LA) - gel fluido de manga; (iii) maltodextrina de
presente nas frutas e da goma de semente de alfarroba. Ainda se têm tapioca - crocante de pistache; (iv) alginato de sódio - esfera de flor de
os extraídos de algas marinhas, como os alginatos e as carregenanas, laranjeira. Estes hidrocoloides foram todos fornecidos pela empresa
e os produtos de origem animal e microbiana, a exemplo do gelano. Sosa (Barcelona, Espanha).
Estudos apontam os benefícios destes aditivos alimentares para a A metodologia da pesquisa se baseou em um estudo
saúde, sendo muito deles utilizados em dietas especiais, como as teórico-empírico com o intuito de a partir do embasamento teórico
veganas, alimentos para pessoas com alergias e intolerâncias aliado aos testes práticos, se otimizar a escolha de hidrocoloides e suas
alimentares, e também por serem fonte de fibras e possuírem baixo concentrações, de forma a alcançar os aspectos sensoriais desejáveis
índice calórico (1). para a sobremesa.
Dentro do contexto gastronômico, o uso de Desta forma, primeiramente foi realizada uma pesquisa
hidrocoloides possibilita aos cozinheiros concretizar suas criações, bibliográfica sobre os hidrocoloides, em que se consideraram as suas
visto que viabilizam a elaboração de novas texturas, aparências e origens, principais características e formas de aplicação. As fontes de
formas de transmitir os sabores. Desta maneira pode-se afirmar, que pesquisa utilizadas foram sobretudo, dissertações, livros e artigos
os hidrocoloides atuam diretamente nas propriedades organolépticas científicos relacionados ao tema. Em uma segunda etapa, foram
dos alimentos e que se tornaram um grande aporte, sobretudo na pesquisadas diversas receitas, retiradas dos preparos realizados
cozinha moderna. (2) durante as aulas práticas da disciplina, de sites ou da literatura tal
Somado a isto, Aleixo (3) afirma que a utilização de novos como, do livro “Texture – a hydrocolloid recipe collection” (4), do site
ingredientes caracteriza a cozinha modernista e permite desenvolver Chef Steps e do site da empresa Sosa ®. Estas receitas serviram de
um conjunto de novas fórmulas alimentares, tanto em um âmbito de referência para a aplicação de cada hidrocolóide, bem como das
restauração como pela indústria alimentar. Neste sentido, estes novos técnicas a serem empregadas. Por fim, em terceira etapa, houve a
ingredientes podem corroborar com o desenvolvimento de produtos e realização de ensaios para testar as concentrações e procedimentos, e
receitas para diferentes tipos de dietas alimentares bastante praticadas assim, alcançar as características organolépticas pretendidas.
atualmente, a exemplo da plant based, que consiste em um padrão
alimentar que prioriza o consumo de alimentos vegetais e cereais 1. Gel suave de creme e leite vegetal
integrais, associada frequentemente, mas não exclusivamente, ao
estilo de vida vegano . A receita tradicional de Panna Coota tem como
Diante do que foi exposto, o presente projeto, inserido na ingredientes leite integral, creme de leite, açúcar, aromatizante e,
unidade curricular - Hidrocolóides na Alimentação - do programa de como agente estruturante, a gelatina. Nesta versão os produtos lácteos
Mestrado em Ciências Gastronómicas, a qual foi ministrada em 2020 foram substituídos por leite de coco e creme de castanha de caju, e a
na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de gelatina pela iota carragenana. Para o preparo a concentração utilizada
Lisboa, teve como objetivo desenvolver um prato recorrendo à foi de 0,8% de iota carragenana, em proporção aos elementos líquidos.
utilização de diferentes tipos de hidrocoloides. Para tanto, foi criada Seguiu-se o procedimento habitual para a utilização de diversos
uma sobremesa onde a intenção é oferecer a um público variado, hidrocolóides, o qual consiste primeiramente na dispersão em líquido,
incluindo veganos e pessoas com restrições alimentares, uma seguido da hidratação através da aplicação de aquecimento (até a
sobremesa agradável e atraente, que se assemelhe às sobremesas temperatura atingir aproximadamente 95૦C), descanso e
tradicionais servidas em um restaurante. arrefecimento em moldes.

296
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

2. Gel fluido de manga perca a crocância, o mesmo deve ser mantido em local hermeticamente
fechado até o momento da utilização.
A ideia para a utilização do gel fluido de manga partiu das No que tange às esferas de flor de laranjeira, estas tiveram
técnicas utilizadas pelo chef Heston Blumenthal. Um gel fluído feito como umas das inspirações o conceito de encapsulamento de sabor
a partir de gelano é formado quando uma solução é agitada difundida pelo chef Heston Blumenthal. Este consiste na adição de
vigorosamente, após a gelificação ou à medida que é arrefecida, elementos, normalmente de sabor intenso e de menores dimensões,
quebrando a estrutura do gel e obtendo-se pequenas partículas deste que não libertam simultaneamente todas as suas nuances, mas
(5). permitem desenvolver explosões de sabores durante a degustação (5).
Para este preparo a concentração de gelano LA utilizada foi Neste sentido, a técnica de esferificação inversa mostrou-se adequada
de 1% em relação aos líquidos. O processo de aplicação foi ao objetivo pretendido, onde além de contribuir com a componente
semelhante ao utilizado no preparo de gel de leite vegetal - dispersão- estética do prato, ainda trouxe mais uma nuance de sabor e uma
hidratação e arrefecimento - entretanto, após a formação completa do experiência diferente ao comensal, pois quando mastigadas, liberam o
gel, este foi vigorosamente agitado para assim, se obter a textura líquido e o sabor contido em seu interior.
fluida. Cabe ressaltar, que além da manga, o gel contém maracujá em
sua composição, o qual foi acrescentado como forma de trazer mais Imagem1: Resultado sobremesa.
acidez e quebrar o sabor doce da manga, além de conferir mais frescor
ao prato. Por seu teor ácido, e não interferir com a capacidade de
gelificação ao provocar a hidrólise das cadeias de gelano, o mesmo foi
acrescentado ao preparo somente depois que o gelano já se encontrava
hidratado.

3. Crocante de pistache

A inspiração para este preparo partiu de um crumble,


receita muito tradicional na pastelaria, o qual é composto por partes
iguais de farinha de trigo, açúcar e manteiga. Por se tratar de uma
sobremesa isenta de produtos de origem animal, o crumble foi
substituído por um crocante de pistache o qual levou em sua
composição: pistache triturado, água, sal e maltodextrina de tapioca
(Maltosec Sosa), esta aplicada como agente de ligação entre os
elementos. O preparo foi assado por aproximadamente 30 minutos a
130०C e após arrefecimento, quebrado em pequenos pedaços.
Conclusão
4. Esfera de água de flor de laranjeira
A realização deste trabalho tornou-se bastante formativo e
Para a criação deste componente foi aplicada a técnica de interessante, pois propiciou um maior conhecimento teórico sobre os
esferificação inversa – gelificação por difusão com alginato – com hidrocoloides aqui utilizados, bem como possibilitou a experiência da
congelação, a qual consiste em submergir um líquido rico em cálcio sua aplicação prática de forma a validar o conhecimento adquirido
ou com este adicionado, numa solução de alginato. Esta técnica, durante do mestrado em Ciências Gastronômicas. Cabe ressaltar que
permite realizar uma preparação antecipada, bem como de esferas de o conhecimento teórico aliado às receitas utilizadas como referência,
maior dimensão. Para produtos que não contém cálcio em sua tornaram-se um elemento chave na fundamentação e desenvolvimento
composição, como é o caso da água de flor de laranjeira, adiciona-se das formulações testadas, de forma a minimizar os resultados
um sal de cálcio ao líquido que se pretende esferificar (6). Neste caso negativos. Por se tratar de um produto livre de ingredientes de origem
foi utilizado o gluconolactato de cálcio. animal em sua fórmula, sendo também uma sobremesa sem glúten e
lactose, nota-se que atende às atuais tendências com foco em novos
Resultados e Discussões hábitos alimentares, como a dieta vegana e as dietas que se destinam
aos consumidores com restrições alimentares.
Os hidrocolóides selecionados para aplicação neste
trabalho são todos de origem vegetal ou microbiana, porém, obtidos Referências Bibliográficas
de diferentes fontes. Acerca das concentrações utilizadas, bem como
das propriedades organolépticas obtidas, verificou-se que as mesmas 1.ABRANTES, G. Cozinha Modernista Curso para Introdução do
foram suficientes para cumprirem a função desejada e alcançarem os Ensino de Novas Técnicas Culinárias na Formação de
resultados pretendidos. Cozinheiros. Tese - Mestrado em Ciências Gastronômicas –
Segundo Amaral e Southgate, “Na confeitaria a retirada Faculdade de Ciências de Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa.
da gelatina de origem animal tem se apresentado como um desafio, 2014.
tanto para a produção de recheio de bolos, cremes, gelatinas e 2. MATA, P., 2020. Manual do Módulo: Hidrocolóides, Pós-
verrines” (7). Esta situação foi ultrapassada com sucesso, tendo a Graduação em Ciências Gastronómicas, FCT/UNL
panna cotta tradicional sido substituída por um gel em que foi utilizada 3. ALEIXO, M;LEAL, R; et al. Redes Sociais Como Fontes De
o iota carregenana como agente gelificante, em detrimento da gelatina, Informação Para Pesquisas De Mercado: Um Estudo Sobre
tradicionalmente utilizada. A concentração aplicada (0,8%) permitiu a Veganismo e as Dietas “Plant-based” -Instituto Federal de
estabilidade desejada, e este elemento da sobremesa foi obtido com a Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, v. 1, n. 7.2020.
estrutura necessária para ser desenformado, mantendo, porém, a sua 4. LERSH, M. Texture – a hydrocolloid recipe collection. 2008.
característica delicada. 5.SALGADO, A. Técnicas Culinárias Baseadas no Conhecimento
A utilização do gelano para o gel fluido, permitiu alcançar Científico: Estágio no The Fat Duck e Extrações Assistidas por
a textura pretendida sem que fosse necessária a adição de elementos Ultrassons. Tese - Mestrado em Ciências Gastronômicas – Faculdade
que pudessem dissipar as características do elemento original - a de Ciências de Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa. 2018
manga. O gel fluido apresentou boa textura e liberação de sabor, 6. MOURA, J. Cozinha com Ciência e Arte. Bertrand Editora, 2013
quesitos muito importantes na composição da sobremesa. 7. AMARAL, F, SOUTHGATE, A. Aplicação de hidrocolóides da
O crocante de pistache teve como principal intuito elaboração da panna cotta. Arq. Bras. Alim., Recife, v. 3, n. 1,
acrescentar uma nova textura ao prato, uma vez que o contraste de jan./jun., p. 2-10, 2018
texturas eleva seu grau de complexidade além de tornar o conjunto
mais interessante ao paladar. Desta forma, pode-se afirmar que o
mesmo apresentou um resultado satisfatório, visto que trouxe o
elemento crocante para o prato, ao mesmo tempo que corroborou com
o viés plant based da sobremesa. Cabe ressaltar, que para que não

297
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Atividades Biológicas do Óleo Essencial e do Extrato da Casca de Cebola (Allium cepa L.):
Uma Breve Revisão

Elder Pacheco da Cruz1, Gabriel Lucas Pail2, Laura Martins Fonseca3, Elessandra da Rosa Zavareze4, Alvaro Renato
Guerra Dias5
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
2
Discente de Bacharelado em Química de Alimentos do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos
(CCQFA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
3
Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
4
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustrial (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
5
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustrial (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Autor correspondente: elderpachecodacruz@hotmail.com
PALAVRA CHAVE: fitoquímico, antioxidante, antimicrobiano

INTRODUÇÃO: A cebola (Allium cepa L.) era considerada membro RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com o atual estudo realizou-se um
da família Liliaceae, mas recentemente, esquemas taxonômicos breve levantamento das diferentes propriedades biológicas da cebola,
descrevem que o gênero Allium pertence à família Amaryllidaceae, as quais já foram estudadas. De modo geral, indiferentemente da parte
subfamília Allioideae (1, 2). É uma planta bienal, no qual, o bulbo é da cebola, sua composição química é composta por vitaminas, minerais
feito de bases de folhas ampliadas e concêntricas. De modo geral, as e metabólitos secundários, os quais conferem as propriedades
cebolas são classificadas com base no sabor, sendo, doces e não doces, biológicas (1, 4, 6), como por exemplo, a atividade antioxidante que
e de acordo com a cor, tais como, branca, roxa, vermelha, amarela e atua na inibição de diferentes radicais livre e é amplamente estudada na
outras, sendo essas características que representam as variedades mais literatura (7, 9, 10). Lee et al. (9) relataram que o extrato de casca de
conhecidas da espécie (3, 4). Na agricultura, é considerada uma das cebola produzido pelo método de extração subcrítica, utilizando água
hortaliças mais importantes e consumidas em quase todo mundo (3). Se destilada como solvente, apresentou efeitos antioxidantes frente aos
destaca por ser utilizada em diversas preparações alimentícias radicais 2,2-difenil-1-picril-hidrazil (DPPH•), ácido tiobarbitúrico
domésticas, como alimento e tempero, podendo ser processada em (TBA) e tiocianato férrico (FTC). Os autores relataram que a atividade
diferentes produtos, como em forma de pó desidratado, usado para antioxidante variou frente aos diferentes radicais, alcançando até 4
temperar e dar sabor aos alimentos (1). Ainda, é amplamente utilizada vezes maior atividade que o hidroxitolueno butilado (BHT), um
como recurso nutricional primário por várias indústrias de alimentos composto sintético utilizado pelas indústrias para prevenir a oxidação
para o desenvolvimento de alimentos funcionais, devido a suas nos alimentos. Os autores atribuem, que a atividade antioxidante refere-
importantes propriedades (5). Na literatura, é conhecida por apresentar se aos efeitos sinérgicos dos vários polifenóis, incluindo flavonóides,
diversos fitonutrientes que são reconhecidos como elementos que estão presentes nas cascas de cebola. Em outro estudo, os mesmos
importantes (1, 4, 6). Além, de apresentar uma grande variedade de pesquisadores avaliaram a atividade antioxidante de diferentes extratos
metabólitos secundários, como flavonóides, fitoesteróis e saponinas, de cebola isolados por extração com etanol, água quente e água. Ao
apresentando diversas propriedades biológicas, a qual, estão associadas avaliar os extratos pelos métodos DPPH•, TBA e FTC, esses autores
à promoção da saúde e à redução do risco de uma série de doenças (1, relataram que o extrato obtido com etanol apresentou maiores
3, 4, 5). Esses compostos podem ser encontrados no óleo essencial da atividades frente ao radical DPPH• alcançando 71,25% de inibição e
cebola, sendo uma fonte rica de fitoquímicos que se destaca, por TBA alcançando 13,40% de inibição de peroxidação lipídica. No
apresentar, diversas propriedades, tais como, atividades antioxidantes, entanto, a atividade antioxidante pelo método FTC, não apresentou
antibacterianas, antifúngicas, entre outras (7, 8). A casca da cebola é diferença significativa entre os extratos (10). Além dos extratos da
outra alternativa de fonte desses compostos, em especial os fenólicos, casca, o óleo essencial de cebola também apresenta atividade
os quais estão associados a diversas propriedades biológicas (1, 3). No antioxidante. Como em um estudo realizado por Ye, Dai e Hu (11), que
entanto, a casca da cebola normalmente é descartada, somando a uma avaliaram a atividade do óleo essencial de cebola em diferentes
grande quantidade de resíduos sólidos desperdiçados no planeta. Este concentrações (0,2-1,0 mg/mL), frente aos radicais DPPH•, ABTS•+
resíduo gerado é considerado um possível recurso útil para a produção (ácido 3-etilbenzotiazolina-6-sulfônico), ensaio de quelação de metal e
de subprodutos de valor agregado e compostos fenólicos bioativos (3). poder redutor. Os pesquisadores relataram que o óleo essencial
Frente ao exposto, o objetivo do estudo foi realizar um breve apresentou atividades antioxidantes moderadas nos ensaios frente a
levantamento bibliográfico, elucidando algumas propriedades ABTS (IC50= 0,67 mg/mL), DPPH (IC50 = 0,63 mg/mL) e ensaio
biológicas do extrato da casca e do óleo essencial de cebola, destacando quelante de metal (IC50= 0,51 mg/mL). Além disso, o poder de redução
suas atividades antioxidante e antibacterianas. do óleo essencial frente aos radicais mostrou-se dependente da dose, e
inferior ao BHT (antioxidante sintético), conhecido por ser um forte
MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo é exploratório- agente redutor. Os diferentes métodos de avaliação da atividade
descritivo, realizado por meio de pesquisas bibliográficas oriundas de antioxidante mencionados são muito estudados, pois de modo geral,
publicações específicas sobre a temática: propriedades biológicas do essa atividade assegura benefícios para a melhoria da qualidade de vida,
óleo essencial e do extrato da casca de cebola. Para realização dessa visto que, possuem a capacidade de proteger um organismo dos danos
breve revisão, foram analisados artigos na íntegra, com publicação a causados pelos radicais livres, prevenindo ou adiando o início de várias
partir do ano de 2010, nas bases de dados: Science Direct, Scielo, doenças. Além que essas substâncias antioxidantes são capazes de
PubMed e Lilac, no qual foram selecionados 15 artigos. atrasar ou inibir a oxidação nos alimentos, aumentando sua a vida útil
(10, 11, 12). Essa hortaliça também possui ações antifúngicas e
antibacterianas. Como um estudo investigando a ação do óleo essencial

298
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

de cebola frente a diferentes espécies de Aspergillus, Fusarium e approach. Food Chem. v. 335, 2021.
Penicillium isoladas de bolos, produtos à base de carne e saladas <doi:10.1016/j.foodchem.2020.127650>.
frescas. O estudo demonstrou que o óleo essencial de cebola na
(4) ABOUZED, T. K.; CONTRERAS, M. M.; SADEK, K. M.;
concentração de 28,0 μL/100 mL possui efeito fungicida. Além de
SHUKRY, M.; ABDELHADY, D. H.; GOUDA, W. M.; ABDO, W.;
efeito inibitório frente a Aspergillus niger e Penicillium NASR, E. N.; MEKKY, R. H.; SEGURA-CARRETERO, A.;
aurantiogriseum. Ainda, os autores relataram que esse óleo essencial
KAHILO, K. A. A.; ABDEL-SATTAR, E. Red onion scales
pode ser utilizado para proteção de alimentos contra o crescimento de
ameliorated streptozotocin-induced diabetes and diabetic nephropathy
fungos, como em salsichas e saladas (8). Lee et al. (9) estudaram o in Wistar rats in relation to their metabolite fingerprint. Diabetes Res
extrato casca de cebola extraída por água subcrítica e avaliaram frente
Clin Pract. v. 140, p. 253-264, 2018.
a cepas de Staphylococcus aureus. Neste estudo foi avaliada a
quercetina como um padrão, uma vez que, esta foi identificada como (5) NILE, A.; NILE, S. H.; KIM, D. H.; KEUM, Y. S.; SEOK, P. G.;
um dos principais flavonoides em cascas de cebola. Os pesquisadores, SHARMA, K. Valorization of onion solid waste and their flavonols for
relataram que o efeito antimicrobiano do extrato é maior do que o da assessment of cytotoxicity, enzyme inhibitory and antioxidant
quercetina na mesma concentração. Outro estudo, avaliando a atividade activities. Food Chem Toxicol. v. 119, p. 281-289, 2018.
antimicrobiana do óleo essencial de cebola relatou um potente efeito (6) BYSTRICKÁ, J.; MUSILOVÁ, J.; VOLLMANNOVÁ, A.;
inibitório contra as bactérias (Escherichia coli, Bacillus subtilis e TIMORACKÁ, M.; KAVALCOVÁ, P. Bioactive components of onion
Staphylococcus aureus), leveduras (Rhodotorula glutinis, (Allium cepa L.) - A Review. Acta Aliment. v. 42, p. 11-22, 2013.
Saccharomyces cerevisiae e Candida tropicalis) e bolores avaliados
(Aspergillus niger, Monascus purpureus e Aspergillus terreus) com (7) CHU, L. L.; KANG, X. J.; WANG, Y. Extraction of onion (Allium
diâmetro de zonas de inibição variando de 4,1 a 19,3 mm. Ainda, o óleo cepa) essential oil by polystyrene nanofibrous membranes. J Food
essencial apresentou alto efeito antimicrobiano frente a B. subtilis, C. Process Eng. v. 40, p. 1-11, 2017.
tropicalis e M. purpureus com diâmetros de zonas de inibição de 19,3, (8) KOCIĆ-TANACKOV, S.; DIMIĆ, G.; MOJOVIĆ, L.;
15,1 e 13,2 mm, respectivamente (11). As atividades antimicrobianas e GVOZDANOVIC-VARGA, J.; DJUKIC-VUKOVIC, A.; TOMOVIC,
antifúngicas de compostos são determinações importantes a serem V.; SOJIC, B.; PEJIN, J. Antifungal activity of the onion (Allium cepa
realizadas, pois conferem a inibição e/ou redução de agentes L.) essential oil against aspergillus, fusarium and penicillium species
deteriorantes e patogênicos em alimentos, resultando em uma maior isolated from. Food. J Food Process Preserv. v. 41, 2017.
vida útil e em uma maior segurança alimentar (8, 9). Também são <doi:10.1111/jfpp.13050>.
relatados que os produtos oriundos da cebola apresentam efeitos
citotóxicos. Como o estudo realizado por Kim, Kim e Park (13), que (9) LEE K, A.; KIM K, T.; NAH S, Y.; CHUNG M. S.; CHO S. W.;
relataram a atividade citotóxica do extrato etanólico de casca de cebola PAIK, H. D. Antimicrobial and antioxidative effects of onion peel
em células HT-29 de carcinoma de cólon humano por ensaios de extracted by the subcritical water. Food Sci Biotechnol. v. 20, p. 543-
liberação de MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5- 548, 2011.
difeniltetrazólio) e LDH (lactato desidrogenase). Além disso, os (10) LEE, K. A.; KIM, K. T.; KIM, H. J.; CHUNG, M.; CHANG, P.;
pesquisadores reportaram que o extrato da casca de cebola modula a PARK, H. PAIK, H. Antioxidant activities of onion (Allium cepa L.)
expressão de genes antioxidantes, inflamatórios e de desintoxicação em peel extracts produced by ethanol, hot water, and subcritical water
células HT-29 estimuladas por lipopolissacarídeo (LPS). A avaliação extraction. Food Sci Biotechnol. V. 23, p. 615-621, 2014.
da citotoxicidade é de extrema relevância, pois está ligada com a
(11) YE, C. L.; DAI, D. H.; HU, W. L. Antimicrobial and antioxidant
aptidão que um composto ou substância possui de inibir a proliferação
activities of the essential oil from onion (Allium cepa L.). Food Cont.
celular ou causar danos e lesões às células, que as levam a morte celular.
v. 30, p. 48-53, 2013.
Nile et al. (5) investigaram a citotoxicidade (liberação de MTT e em
diferentes linhas celulares de carcinoma), inibição enzimática (inibição (12) SIDDIQ, M.; ROIDOUN, S.; SOGI, D. S.; DOLAN, K. D. Total
de α-amilase e α-glucosidase in vitro) e a atividade antioxidante (DPPH, phenolics, antioxidant properties and quality of fresh-cut onions
ABTS e poder redutor férrico) do extrato metanólico e etanólico de (Allium cepa L.) treated with mild-heat. Food Chem. v. 136, p. 803-
resíduos sólidos da cebola. De modo geral, os resultados foram 806, 2013.
positivos e promissores. Sobressaindo, que o extrato metanólico (13) KIM, J.; KIM, J. S.; PARK, E. Cytotoxic and anti-inflammatory
mostrou-se mais eficaz na eliminação de radicais livres e na inibição effects of onion peel extract on lipopolysaccharide stimulated human
das enzimas. Estudos envolvendo as propriedades funcionais da cebola colon carcinoma cells. Food Chem Toxicol. v. 62, p. 199-204, 2013.
são bastantes importantes e relevantes, visto que, essa hortaliça é
extremamente utilizada na culinária, estando presente em pratos e (14) YANG, C.; LI, L.; YANG, L.; LU, H.; WANG, S.; SUN G. Anti-
refeições de quase todo mundo. Muitas pesquisas atribuem outras obesity and Hypolipidemic effects of garlic oil and onion oil in rats fed
propriedades biológicas oriundas da cebola, tais como, efeito a high-fat diet. Nutr Metab. v. 15, p. 4-11, 2018.
antiobesidade e hipolipemiantes (tratamento de dislipidemias e controle (15) CHOI, E. Y.; LEE, H. WOO, J. S. JANG, H. H.; HWANG, S. J.;
dos níveis de colesterol) (14), função endotelial (prevenção de eventos KIM, H. S.; KIM, W. S.; KIM, Y. S.; CHOUE, R.; CHA, Y. J.; YIM,
cardiovasculares) (15) e anti-inflamatória (13). No entanto, um estudo J. E.; KIM, WEON. Effect of onion peel extract on endothelial function
mais aprofundado deve ser realizado procurando elucidar and endothelial progenitor cells in overweight and obese individuals.
detalhadamente e particularmente cada uma das propriedades atribuídas Nutrition. v. 31, p. 1131-1135. 2015.
a cebola e suas diferentes partes.

CONCLUSÕES: Com esse breve levantamento da literatura, foi


possível ressaltar que os diferentes produtos derivados da cebola, como
o óleo essencial e o extrato da casca da cebola, apresentam diversas
propriedades biológicas benéficas a saúde, como atividade
antioxidante, antibacteriana, antifúngica e citotóxica.

REFERÊNCIAS:

(1) MARRELLI, M.; AMODEO, V.; STATTI, G.; CONFORTI F.


Biological properties and bioactive components of Allium cepa L.:
Focus on potential benefits in the treatment of obesity and related
comorbidities. Molecules. v. 24, 2019.
<doi:10.3390/molecules24010119>.
(2) PERUZZI, L.; CARTA, A.; ALTINORDU, F. Chromosome
diversity and evolution in Allium (Allioideae, Amaryllidaceae). Plant
Biosyst. v. 151, p. 212-220, 2017.
(3) NILE, A.; GANSUKH, E.; PARK, G. S.; KIM, D. H.; NILE, S. H.
Novel insights on the multi-functional properties of flavonol glucosides
from red onion (Allium cepa L) solid waste – In vitro and in silico

299
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento E Avaliação Sensorial De Biscoito Tipo Cookie Com Vistas A Aumentar O


Conteúdo De Ferro E Fibras Alimentares

Rafaella Nascimento Martins¹, Andrea Carvalheiro Guerra Matias²

¹ Graduada no Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie; e-mail: rafaella.nmartins@hotmail.com


² Docente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Palavras chaves: desenvolvimento de produto, alimentação infantil, doenças crônicas não transmissíveis

INTRODUÇÃO idade entre 5 a 6 anos utilizando escala hedônica de 3 pontos para a


A prevalência de obesidade e doenças crônicas não avaliação de aceitação.
transmissíveis (DCNT) vem crescendo de forma acelerada na As fichas de avaliação foram analisadas e tabuladas através do
população infantil, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2009 programa Microsoft Excel 2019, e os dados foram apresentados em
(1) mostrou que a prevalência de excesso de peso oscilou de 25% a 30% média e desvio-padrão, bem como tabelas de distribuição de frequência.
nas Regiões Norte e Nordeste, e 32% a 40% nas Regiões Sudeste, Sul
e Centro-Oeste. O excesso de peso mostrou-se mais frequente no meio RESULTADOS E DISCUSSÃO
urbano do que no meio rural, em particular nas Regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste, também foi observado que a prevalência de excesso de Figura 1 – Tabela de Informação nutricional obrigatória do biscoito
peso variou de 25% a 40% em crianças entre cinco e nove anos (2). tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e fibras
Tais números podem ser explicados pelo crescente consumo alimentares segundo a legislação RDC 360/2003. São Paulo, 2019.
de alimentos processados e ultraprocessados, uma tendência que tem
sido evidenciada nas regiões metropolitanas do Brasil desde a década INFORMAÇÃO NUTRICIONAL
de 1980 e em todo o país na década de 2000. Dados demostram que Porção de 30 gramas (3 unidades)
quase um terço das crianças com menos de dois anos de idade já Quantidade por porção %VD*
consume sucos artificiais com alto teor de açúcar e refrigerantes, e mais Valor energético 159 Kcal = 665,6 Kjoules 8%
de 60% comem biscoitos recheados e bolos (3). Carboidratos 22 g 7%
Considerando a importância do período da infância na Proteínas 4,8 g 6%
prevenção das DCNT e o papel da indústria alimentícia no Gorduras totais 8g 15 %
aprimoramento de produtos com foco em saudabilidade, o presente Gorduras saturadas 4g 18 %
estudo objetivou desenvolver e avaliar sensorialmente uma massa para Gorduras trans 0,20 g *VD não
biscoitos tipo cookies que atenda as alegações de fonte ou alto teor de
estabelecido*
ferro e fibras, e que possua teores reduzidos de gordura total, saturada
Fibra alimentar 3,5 g 14 %
e energia comparativamente ao biscoito tipo cookie tradicional.
Sódio 61 mg 3%
MATERIAL E MÉTODOS Ferro 2,5 mg 18 %
(*)% Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.000
Trata-se de um estudo transversal de caráter experimental, no kcal ou 8.400 kJ. Seus valores diários podem ser maiores ou
qual as atividades foram realizadas nas instalações dos Laboratórios de menores dependendo de suas necessidades energética
Cozinha do Centro de Ciências Biológicas da Saúde da Universidade Fonte: Os autores.
Presbiteriana Mackenzie
Os ingredientes foram adquiridos no comércio varejista local. Tabela 2 – Comparação entre o valor nutricional do cookie
Para a formulação da massa de biscoito tipo cookies foram desenvolvido no estudo com o cookie tradicional. São Paulo, 2019.
homogeneizados feijão branco cozido, açúcar mascavo, ovos, farinha
de feijão rajado, manteiga, gotas de chocolate 70% cacau, farelo de Quantidade por porção (30 g)
aveia, fígado de galinha, bicarbonato de sódio. Para mensuração do Cookie desenvolvido Cookie tradicional
peso foi utilizada balança semi-analítica. Valor energético 159 Kcal 233 Kcal
Carboidratos 22 g 26 g
Tabela 1 – Formulação utilizada na elaboração da massa de biscoito Proteínas 4,8 g 2,7 g
tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e fibras Gorduras totais 8g 14,2 g
alimentares. São Paulo, 2019. Gorduras saturadas 4g 7,5 g
Gorduras trans 0,20 g 0,41 g
Ingredientes % Peso (g) Fibra alimentar 3,5 g 0,8 g
Farelo de aveia 36 180 Sódio 61 mg 61 mg
Açúcar mascavo 28 140 Ferro 2,5 mg 0,8 mg
Manteiga 20 100 Fonte: Os autores.
Gotas de chocolate 70% cacau 18 90
Fígado de galinha 17 83 Como ilustrado na Tabela 3, foi possível notar que o cookie
Feijão branco cozido 16 80 desenvolvido no presente estudo possui valor energético e quantidades
Farinha de feijão branco 14 70 de gorduras reduzidos se comparados a uma receita de cookie
Ovo 10 50 tradicional. Sendo que em uma porção de 30 g apresenta 159 Kcal, 8 g
Bicarbonato de sódio 0,6 3 e 4 g de gorduras totais e saturada respectivamente, enquanto o cookie
Essência de baunilha 0,4 2 tradicional possui 233 Kcal por porção e 14,4 g de gorduras totais e 7,5
Fonte: Os autores. g de gorduras saturadas.
Em relação aos valores de fibras alimentares e ferro presentes
A aceitação dos biscoitos foi avaliada por meio de dois testes na preparação, o cookie desenvolvido no estudo apresentou 3,5 g de
afetivos. O primeiro teste foi realizado por um painel de 58 fibras alimentares e 2,5 mg de ferro por porção. Já o cookie tradicional
degustadores não treinados, a avaliação da aceitação do produto foi feita apresenta pouquíssimas quantidades de tais nutrientes, demonstrando
pelo método sensorial afetivo, através de escala hedônica de 9 pontos 0,8 g de fibras alimentares e 0,8 mg de ferro por porção.
(4). E o segundo com 80 crianças do Colégio Mackenzie que participam De acordo com a Portaria no. 54 (5) são considerados fonte de
do projeto de extensão do Centro de Ciências Biológicas e Saúde, com fibras os produtos prontos para o consumo que apresentarem no mínimo

300
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

3g de fibras em 100g, dessa forma, podemos considerar que o biscoito Os biscoitos recheados desenvolvidos em um estudo de 2010
tipo cookie é fonte de fibras. (8) obtiveram 100% de aceitação entre crianças de 7 a 10 anos, na
Quanto às quantidades de ferro, a Portaria no. 54, da Secretaria formulação dos biscoitos conteve farinha de trigo, farinha de trigo
de Vigilância Sanitária do ministério da Saúde (5), afirma que para um integral, amido de milho, achocolatado em pó, cacau em pó, linhaça
produto ser considerado fonte é necessário atingir o mínimo de 15% da triturada, açúcar, margarina light e ovo. Tais valores de aceitação não
IDR de referência por 100 g, os valores de referência de ferro são 14 estão tão distantes dos desta pesquisa se avaliarmos que os
mg, sendo assim o biscoito tipo cookie é fonte de ferro, visto que atinge componentes da formulação dos biscoitos tipo cookie fonte de ferro e
18% das necessidades diárias. fibras são mais sugestivos à rejeição das crianças.
Na tabela 4 são apresentados os valores médios, desvio padrão
e moda para os atributos aparência, aroma, sabor, textura e impressão CONCLUSÕES
global avaliados no teste de análise sensorial de 9 pontos.
Concluímos que os objetivos da pesquisa foram alcançados,
Tabela 3 - Média, desvio padrão e moda segundo atributos sensoriais com o desenvolvimento de uma massa para biscoitos tipo cookie com
para biscoito tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e melhor qualidade nutricional quando comparada a versão original. O
fibras alimentares. São Paulo, 2019. presente produto atende as alegações de fonte de ferro e fibras, bem
como apresenta redução dos valores de gordura total, saturada e
Teste energia.
Atributos sensoriais Média (desvio padrão) Moda O produto foi aceito sensorialmente com destaque para o
Aparência 7,2 (1,5) 9,0 aroma e sabor.
Aroma 8,1 (1,0) 9,0 Pelo exposto, o cookie apresenta-se como excelente opção
Sabor 7,8 (1,3) 9,0 tanto para a manufatura industrial, doméstica ou institucional.
Textura 7,6 (1,4) 8,0
Impressão geral 7,7 (1,2) 8,0 REFERÊNCIAS
Fonte: Os autores.
(1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
O biscoito tipo cookie do presente estudo apresentou boa (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009.
aceitação, sendo que todos os atributos receberam nota maior que 7, e Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos
moda entre oito e nove. Destaque para os atributos de sabor e aroma no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
com notas 8,1 e 7,8, respectivamente. Estatística; 2010.
Em uma pesquisa de 2019 (6), foram desenvolvidas
formulações de cookies a partir da farinha de caroço do abacate, os (2) SPARRENBERGER, K. et al. Consumo de alimentos
atributos aparência, cor, e textura para todas as formulações foram bem ultraprocessados entre crianças de uma Unidade Básica de Saúde. J.
aceitas pelos provadores, apresentando médias hedônicas entre 6 e 7,8. Pediatr, Porto Alegre, v. 91, n. 6, p. 535-542, 2015.
Outro fator semelhante entre as pesquisas é em relação a
coloração dos cookies, os quais ficaram mais escuro à medida que a (3) HENRIQUES, P. et al. Políticas de Saúde e de Segurança Alimentar
concentração de farinha do caroço de abacate aumentava, tal e Nutricional: desafios para o controle da obesidade infantil. Ciênc.
característica pode ser justificada pela elevada quantidade de saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 12, p. 4143-4152, 2018.
carboidratos presentes nas formulações, as quais, quando submetidas ao
aquecimento no forno, podem ter sofrido o processo de caramelização (4) DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 4. ed. Curitiba:
ou o de reação de Maillard, o que causou uma coloração mais escura Champagnat, 2013. p. 531.
dos produtos (6). Nesta pesquisa, a coloração escura pode ser explicada
pelo uso do açúcar mascavo e pelo processo de caramelização. (5) ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012. Regulamento Técnico
Figura 2 – Distribuição em porcentagem da aceitação do Mercosul Sobre Informação Nutricional Complementar (Declarações
biscoito tipo cookie com vistas a aumentar o conteúdo de ferro e fibras De Propriedades Nutricionais).
alimentares dentre crianças de 5 a 6 anos em uma escola do município
de São Paulo (n=80). São Paulo, 2019 (6) SILVA, I. G. da et al. Elaboração e análise sensorial de biscoito tipo
cookie feito a partir da farinha do caroço de abacate. Braz. J. Food
Technol., Campinas, v. 22, 2019.
5%
(7) ISSA, R. C. et al. Alimentação escolar: planejamento, produção,
GOSTOU distribuição e adequação. Revista Panamericana de Salud Publica, v.
16% 35, n. 2, p. 96-103, 2014.
INDIFERENTE
(8) SAYDELLES, M. et al. Elaboração e análise sensorial de biscoito
recheado enriquecido com fibras e com menor teor de gordura. Ciência
79% NÃO GOSTOU Rural, Santa Maria, v. 40, n. 3, p. 644-647, 2010.

Fonte: Os autores.

Quanto a análise de aceitação do biscoito tipo cookie com


crianças de 5 a 6 anos, a amostra foi composta por 80 escolares, porém
5 deles se recusaram a provar a preparação, sendo assim o número final
de provadores foi 75.
Foi expressiva a aceitação do cookie entre o público infantil,
com 79% de aceitação. Este excelente resultado caracteriza que o
produto pode ser incorporado no cardápio das escolas e orientado aos
pais para proporcionar melhor aporte de ferro e fibra na dieta. Os
hábitos alimentares incorporadas durante a infância são determinantes
para a formação dos padrões alimentares dos indivíduos, sendo que o
ambiente escolar é de de extrema importância para o intercâmbio entre
a criança e a criação de hábitos alimentares saudáveis, desta forma é
dever da escola implantar práticas adequadas capazes de controlar as
deficiências nutricionais e reduzir a desnutrição infantil e das doenças
crônicas não transmissíveis (7).

301
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Comparação Físico-Química de Laranja Lima (Citrus limettioidesTanaka) produzidas em


Sistema Orgânico e Convencional

Pâmella Oliveira1, Emanuelle Santos1; Bruno Rodrigues2, Neide Machado3


Marcia Gomes4, Juliana Moraes4
1
Discentes do Curso técnico em Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL- Campus Murici)
2
Discentes do Curso técnico em Agroecologia do Instituto Federal de Alagoas (IFAL -Campus Murici)
3
Técnica do Departamento de Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL -Campus Murici)
4
Docentes do Departamento de Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL -Campus Murici)
E-mail: pamellaoliveira707@gmail.com

Palavras-chave: Alimento orgânico; Citricultura; Pós-colheita.

Introdução Helder Câmara, situado na cidade de Murici-AL, onde são cultivadas


O cultivo de frutas cítricas tem importante destaque laranja Lima de forma agroecológica e também se utilizam de
econômico na agroindústria brasileira (1). A produção de frutas técnicas convencionais. A aquisição foi realizada no mês de
cítricas expandiu-se rapidamente e um crescimento ainda mais rápido dezembro de 2019, foram adquiridos 24 frutos em estádio de
foi percebido para produtos cítricos processados por meio da maturação C2 de acordo com as normas da Companhia de
melhoria nas práticas de pós-colheita, reduzindo os custos e Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (10), sendo 12 frutos
melhorando a qualidade. (2). O Brasil figura como um dos três oriundos da produção orgânica e 12 frutos da produção convencional.
maiores produtores de laranja, tendo para o ano de 2016, alcançado Os frutos foram transportados em sacos plásticos para o Laboratório
uma produção de 17.251.291 toneladas em 2016, com rendimento de Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas- Campus Murici,
médio de 26.180 t.ha-1(3). onde se procederam as análises físicas e físico-químicas.
A Citrus limettioidesTanaka, também conhecida por lima-
da-pérsia, lima doce, lima de bico ou lima comum é a variedade mais Análise de parâmetros físico-quimicos pós-colheita
representativa das limeiras doces. A fruta possui tamanho médio, de Após a colheita dos frutos, estes foram encaminhados ao
formato subgloboso a oblongo, com casca fina e coloração interna e Laboratório de Processamento de Alimentos de Origem Vegetal –
externa amarelada. Geralmente, essa fruta apresenta cerca de 150 IFAL (campus Murici), separados em bancada para serem avaliados
gramas, sendo uma fruta suculenta, com mais de 50% de seu peso em quanto à sua qualidade físico-química, conforme metodologia
suco (4). descrita pelas Normas do Instituto Adolfo Lutz (11), a citar: a)
Conforme o IBGE (5), a produção brasileira está diâmetro transversal e longitudinal (cm): leitura direta com
concentrada nas regiões Sudeste e Nordeste, embora a cultura esteja paquímetro; b) massa (g): por meio de pesagem direta em balança de
presente em todas as regiões brasileiras. No Nordeste, a produção de precisão; c) espessura da casca: leitura direta com paquímetro; d)
citros tem se destacado em áreas específicas, especialmente rendimento de suco: medição do volume de rendimento de caldo com
localizadas nos estados de Alagoas, Ceará e Pernambuco. proveta; e) quantidade de sementes (contagem); f) sólidos solúveis
Particularmente o estado de Alagoas destaca-se como o maior totais: leitura direta em refratômetro com correção de temperatura,
produtor nacional de laranja lima Citrus sinensis(L.) Osbeck, com sendo os resultados expressos em ºBrix; e g) acidez titulável total:
uma produção que se aproxima de 213 mil toneladas anuais (6,7). com indicador de ácido básico (fenolftaleína) e por meio de titulação
Atualmente, a laranja Lima vem sendo ofertada para com NaOH (11).
consumo in natura em alguns supermercados, embora em pequeno
volume (8).As vendas mundiais de produtos orgânicos têm crescido Análise estatística
20,6% nos últimos anos. De acordo com a Federação Internacional Os resultados foram submetidos à análise de variância e as
de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), o mercado médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de
orgânico apresentou uma taxa de crescimento de mais de 10% nos probabilidade, segundo metodologia proposta por Ferreira (12).
últimos anos, como consequência das preocupações dos
consumidores devido a crises alimentares e os avanços tecnológicos Resultados e Discussão
(9). Os resultados obtidos na avaliação dos parâmetros físicos
Neste cenário, o presente estudo tem como objetivo e físico-químico estão apresentados na tabela 1. Para todos os
avaliar os atributos físicos e físico-químicos de laranja Lima (Citrus parâmetros avaliados não foi observado diferença significativa entre
limettioidesTanaka) conduzidas em sistema orgânico e convencional os tipos de cultivo avaliados (p>0,05).Os frutos convencionais
comercializadas na cidade de Murici – AL. apresentaram um diâmetro transversal mais alongado em relação aos
orgânicos, 8,0 e 7,5 cm, sendo este orgânico e aquele convencional.
Materiale Métodos Os frutos convencionais apresentaram maiores valores de diâmetro
Amostra longitudinal e massa fresca, alcançando 7,3cm e 204,6g
As amostras de laranja Lima (Citrus limettioides Tanaka) respectivamente, porém não diferiram estatisticamente dos orgânicos
utilizadas neste estudo foram adquiridas pelo assentamento Dom que mostraram valores de 8,0cm e 158,9g, respectivamente.

Tabela 1 - Avaliação dos parâmetros físico-químico de laranja Lima in natura em cultivo convencional e orgânico.

Parâmetrosfísico-químicos ORGÂNICOS CONVENCIONAL

Diâmetrotransversa (cm) 7,5 a


8,0a
Diâmetro longitudinal (cm) 8,0a 7,3a
Massa (g) 158,9a 204,6a
Espessura da casca (mm) 43,3 a
70,0a
Rendimento de suco (mL) 75,0a 83,5a
Quantidade de sementes (Und) 19,0a 27,0a
Sólidossolúveistotais (°Brix) 11,6a 11,6a
Acideztitulável total (%) 3,0 a
2,2a
*Médias seguidas de letras iguais não diferem significativamente (Tukey, a 5%)

302
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Os frutos produzidos em ambos os cultivos(Tabela 1) (12) ARRUDA, M. C.; FISCHER, I. H.; ZANETTE, M. M.; SILVA,
apresentaram massa semelhantes ao observado no estudo B. L.; SANTOS, C. A. J. P. Qualidade físico química de frutos de
desenvolvidopor Schwarz (13), cujo os resultados obtidos foram de laranja ‘Valência’ provenientes de cultivos orgânicos e convencional.
204,0g para os frutos em sistema convencional e 195g para as Pesquisa e tecnologia de citrus, v 32, n. 2, p. 103-108, 2011.
laranjas do sistema orgânico.
O rendimento de suco observado foi de 75,0 e 83,0% para (13) FERREIRA, P.V. Estatística experimental aplicada a
orgânicos e convencionais, respectivamente. Segundo o Agronomia. 3.ed. Maceió: EDUFAL, 2000. 422 p.
CodexAlimentarius (14), os frutos para consumo in natura devem
apresentar rendimento acima de 35%, o que foi plenamente atendido (14) SCHWARZ, S. F. Melhoramento genético e variedades. In:
em ambos os sistemas de cultivo (Tabela 1). KOLLER, O. C. (Org.). Citricultura: 1. Laranja: Tecnologia de
Quantoa espessura da casca, foi verificado que os frutos produção, pós-colheita, industrialização e comercialização. Porto
apresentaram média de 43,3 e 70,0 mm, e que a quantidade de Alegre: CincoContinentes, 2006. p. 41-54.
sementes encontradas foi de 19 e 27 unidades para cultivo orgânico e
convencional, respectivamente (Tabela 1). Enquanto os teores de (15) CODEX ALIMENTARIUS. Standard for oranges: Codex
sólidos solúveis, independentemente do sistema de produção, foram Stan 245-2004. 1º Amendment. Rome: FAO e WHO, 2005. 6 p.
acima de 10,5° Brix, que é o valor mínimo para a comercialização de (16) BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
sucos de laranja no Brasil de acordo com o regulamento técnico geral Coordenação de Inspeção Vegetal. Serviço de Inspeção Vegetal.
para fixação dos padrões de identidade e qualidade para polpa de Instrução Normativa n. 1, de 7 de janeiro de 2000. Aprova o
fruta (15). regulamento técnico geral para fixação dos padrões de
A acidez titulável mostrou os maiores valores para os identidade e qualidade para polpa de fruta. DiárioOficial da
frutos cultivados na produção convencional. Esses valores República
encontrados foram superiores aos relatados por Machado (16), que
(17) MACHADO, T. V. Avaliação sensorial e físico-química do
atesta um valor médio de 0,95 g ácido cítrico.mL-1.
suco de laranja proveniente das etapas do processamento do suco
concentrado e congelado. 2010. 117 f. Dissertação (Mestrado em
Conclusões
Alimentos e Nutrição), Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Os resultados obtidos neste estudo mostram que laranja
Mesquita Filho”, São Paulo, 2010.
Lima (Citrus limettioidesTanaka) produzida em sistema orgânico e
convencional não apresentam diferenças significativas quantoaos
atributos físicos e físico-químicos de qualidade.Portanto, este estudo
destaca o potencial de expansão nosetor hortifrutigranjeiro da laranja
Lima oriundas de cultivo orgânicos.

Referências
(1) OLIVEIRA, R. P. et al. Produção Orgânica de Citros no Rio
Grande do Sul. Pelotas- RS: EMBRAPA clima temperado. 2010.
296p.

(2) ONUAA. Organização das nações unidas de agricultura e


alimentação,2015. Disponível:
em:<http://faostat.fao.org/DesktopDefault.aspx?PageID=567#anc>.
Acesso em: 20 jun. 2019.

(3) IBGE, 2016. Produção Agrícola Municipal, 2016. Disponível


em: https://sidra.ibge.gov.br. Acessado em 27 de março de 2020.

(4) BARROS, H. R. de M. Composição mineral e capacidade


antioxidante de citros cultivados em Goiás. 2011. 102 p. Dissertação
(Mestrado em Nutrição e Saúde) – Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2011.

(5) IBGE - Instituto Brasileiro de geografia e Estatística. Indicadores


IBGE, Estatística da Produção Agrícola (2011). Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lsp
a/estProdAgr_ 201112.pdf. Acesso em 04 de março de 2020.

(6) ALMEIDA, C. O; PASSOS, O. S; CUNHA SOBRINHO, A. P &


SOARES FILHO, W. S. Citricultura Brasileira: Em busca de novos
rumos, desafios e oportunidades na região Nordeste. Cruz das Almas:
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, 160p. 2011.

(7) SEBRAE/AL - Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e


Pequenas Empresas. Disponível em:
http://www.sebrae.com.br/uf/alagoa. Acesso em: 04 mar. 2020.

(8) KOLLER, O. L. Citricultura Catarinense. Florianópolis: Epagri,


2013. 319 p.

(9) OLIVAS, R.; Bernabéu, R. 2012. Homens e atitudes das


mulheres em relação a consumo de alimentos orgânicos. Um estudo
de casoespanhol. Espanhol JournalofAgriculturalResearch. 10:
281-291.

(10) CEAGESP- Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de


São Paulo. Normas de Classificação de Citros de Mesa/ CEAGESP
- São Paulo: CEAGESP, 2011. 12p.

(11) INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para


análise de alimentos/coordenadores Odair Zenebon,
NeusSadoccoPascuet e Paulo Tiglea -- São Paulo:Instituto Adolfo
Lutz, 2008p. 1020

303
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Garde Manger: Óleos Aromatizados

Flávia E. N. de Pinho¹, Dhébora P. Lima², Rafael Q. G. do Amaral³ e Robson N. da Mota 4 .

1Discente do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. Email: faupinho@gmail.com


2 Discente do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
3Professor do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
4 Professor do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.

PALAVRAS-CHAVE: Gastronomia; Ciência de Alimentos; Cozinha Fria; Azeite de Oliva; Aromatização.

INTRODUÇÃO produção acadêmica, especialmente dissertação de Mestrado


sobre o assunto.
Dentro da Cozinha Fria, especificamente na Garde Manger, Destaca-se ainda que a literatura sobre Óleos Aromatizados
aborda a questão do uso dos óleos. Eles são comumente encontrada trata, em grande parte, dos efeitos relacionados a
lembrados na preparação de molhos para salada, mas seu uso condições físico-químicas, principalmente da oxidação e da
não se restringe a isso. Eles também podem ser usados em maior durabilidade do produto nas prateleiras, com a menor
conjunto com especiarias, frutas cítricas, ervas ou vegetais, perda possível de sua qualidade.
desde que tenham boa qualidade. Realizou-se a aromatização de azeite com laranja, para
Os aromatizados também podem ser utilizados como um realização de análise gustativa.
tempero a mais no prato, saborizando, bem como para Para proceder a aromatização de óleos existem basicamente 4
contribuir na finalização e empratamento, adicionando cor e métodos, a saber: infusão morna, imersão, purê ou infusão fria
sabor (1). (8).
O óleo mais utilizado é o azeite de oliva, por seu sabor Na infusão morna, deve-se aquecer o óleo em fogo baixo, junto
diferenciado, podendo ser adocicado ou até mais picante, suave aos ingredientes aromatizantes até que um aroma evidente seja
ou mais intenso. Extraído do fruto das oliveiras, o azeite tem exalado. Posteriormente, a mistura deve esfriar para que seja
seu uso documentado desde a Mitologia Grega, passando pela transferida para o recipiente de armazenamento, podendo ser
Bíblia, onde encontramos o nome hebraico zayit, no aramaico então coado, a fim de se obter um azeite aromatizado mais
zaita, no árabe zeituna, derivando para o espanhol aceite e para claro, ou mantido misturado, a fim de se obter um sabor mais
o português azeite (2). intenso.
O uso do azeite ou óleo de oliva, sobretudo o extravirgem, tem Na imersão, os aromatizantes são colocados em uma garrafade
se intensificado após estudos, que tomaram como base a dieta vidro ou policarbonato enquanto o óleo é aquecido,
mediterrânea e seus benefícios à saúde dos comensais. Esse rapidamente, até que fique morno. Este será vertido sobre o
termo “dieta mediterrânea” foi popularizado pelo estudo de aromatizante e permanecerá até a obtenção do sabor desejado.
Ancel Keys, chamado “Como alimentar-se bem e sentir-se No método de purê, os vegetais, ervas ou frutos crus,
bem à maneira mediterrânea”, publicado nos idos de 1970. branqueados ou inteiramente cozidos, são transformados em
Ressalte-se que a adoção desse tipo de alimentação, baseada purês e fervidos em fogo baixo, sendo reduzidos até que os
em azeite, peixes, vegetais, grãos, frutas e feijão, não foi uma sabores sejam concentrados. Em seguida, os óleos são
escolha da população local baseada em obter boa saúde. Essas acrescentados e a mistura será levada para armazenamento (9).
escolhas foram feitas baseadas em critérios simples, tais como Por último, na infusão fria, os óleos são misturados com
geografia e acesso fácil e mais barato aos produtos citados (3). temperos já moídos, à temperatura ambiente, e transferidos
Os estudos realizados demonstraram que a adoção desse tipo para um recipiente de armazenamento, a mistura deve assentar
de alimentação favorece o bem estar cardíaco, minimizando até que o óleo se torne claro e os temperos se depositem no
problemas coronarianos causados por acúmulo de gorduras. fundo do recipiente. Esta deve ser decantada assim que o sabor
Muitas pesquisas foram realizadas até que se pudesse desejado for atingido.
relacionar esses benefícios e as características químicas do A aromatização foi realizada utilizando o método da infusão
azeite, cuja composição é feita por ácidos graxos, glicerol, que morna, com o aquecimento do azeite a cerca de 60º,
correspondem a cerca de 98,5% a 99,5%, e componentes acrescentando então as zestes de laranja. Transferiu-se a
voláteis, que correspondem ao restante, cerca de 0,5% a 1,5%. infusão para recipiente devidamente higienizado e refrigerou-
O ácido oleico, que é monoinsaturado, representa 80% do total se por cerca de 24 horas. Após este período, foi feita análise
do produto. Como ácidos graxos temos ainda o ácido linoleico gustativa da infusão e, em seguida, esta foi coada. Obtido o
e o linolênico, com cerca de 5%, e demais ácidos graxos sabor desejado, o azeite então aromatizado foi devidamente
saturados, que giram em torno de 10% (4). armazenado e refrigerado para ser utilizado.
A extração do azeite, feita preferencialmente a frio, é feita da A aromatização foi realizada em ambiente domiciliar,
polpa da azeitona. Quanto mais rápida a extração se der após seguindo procedimento orientado conforme literatura e normas
colheita, melhor para a qualidade do óleo (5). vigentes (10).
A aromatização dos azeites depende da qualidade, tanto do
azeite, que deve ser preferencialmente extravirgem, como dos RESULTADOS E DISCUSSÃO
agentes aromatizantes (6). Deve-se atentar para a forma de
proceder à essa aromatização. Ao misturar ingredientes frescos ou crus com um óleo ou
Nesse sentido, este trabalho pretende abordar as maneiras de vinagre, ficou evidente o risco de intoxicação alimentar caso o
aromatizar azeites e suas consequências para o produto final, produto final não seja cautelosamente armazenado. Ao
bem como seu tempo de prateleira, forma adequada de contrário das versões comerciais de óleos e vinagres
armazenamento e eventuais riscos (7). aromatizados, que não necessitam de refrigeração, aqueles
produzidos pelo próprio chef ou cozinheiro devem ser
MATERIAL E MÉTODOS mantidos refrigerados, especialmente se levarem alho ou
chalota crus. Devem então ser consumidos dentro de poucos
A aromatização de azeites consiste em acrescentar ao óleo um dias, quando apresentarão o melhor sabor e a melhor cor. Após
agente aromatizante ou saborizante, de modo que o produto este período, haverá deterioração do azeite.
final reste melhorado, com boa qualidade e pronto para
conferir mais sabor ou cor às preparações em que for utilizado.
Para a elaboração deste trabalho, foi realizada pesquisa
baseada em revisão bibliográfica e leitura de artigos de

304
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÃO

Diante da pesquisa realizada e resultados apresentados, pode-


se concluir que é muito importante utilizar produtos de boa
qualidade porque isso impactará na qualidade e durabilidade
do azeite aromatizado, bem como a observância das normas de
higiene e procedimentos para evitar riscos à saúde de quem vai
consumir óleos aromatizados.
Ademais, foi constatado que os óleos aromatizados
artesanalmente podem sofrer degradação oxidativa mais
rapidamente a depender do agente aromatizante, da qualidade
do azeite e do armazenamento. O tempo de prateleira com as
melhores condições gustativas também é curto, girando em
torno de 3 a 5 dias, quando começam a perder qualidade de
maneira significativa.

REFERÊNCIAS

(1) INSTITUTO AMERICANO DE CULINÁRIA. Chef


Profissional. 9. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2017.
Tradução de Renata L. Bottini e Márcia Leme.
(2) PERCUSSI, Luciano. Azeite: história, produtores, receitas.
4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
(3) PERCUSSI, Luciano. Azeite: história, produtores, receitas.
4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
(4) PERCUSSI, Luciano. Azeite: história, produtores, receitas.
4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
(5) PERCUSSI, Luciano. Azeite: história, produtores, receitas.
4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
(6) PERCUSSI, Luciano. Azeite: história, produtores, receitas.
4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
(7) COSTA, Hugo Manuel Lamas Gomes da; Azeites
aromatizados: estudo da influência do agente aromatizante na
composição química e resistência à oxidação. Instituto
Politécnico de Bragança, Escola Superior Agrária, 2012.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/10198/7611>. Acesso
em 03 ago. 2020.
(8) THE CULINARY INSTITUTE OF AMERICA. Garde
Manger: a arte e o ofício da cozinha fria. 4. ed. São Paulo:
Senac São Paulo, 2014. Tradução de Anthony Cleaver, Juliana
C. Malzoni e Julie C. Malzoni.
(9) GISSLEN, WAYNE; [tradução Lorecy Scavarazzini,
Maria A. R. Tedesco, Marlene Deboni; revisão técnica de Elisa
D. Teixeira]. Culinária Profissional. Barueri, SP: Manole,
2012.
(10) THE CULINARY INSTITUTE OF AMERICA. Garde
Manger: a arte e o ofício da cozinha fria. 4. ed. São Paulo:
Senac São Paulo, 2014. Tradução de Anthony Cleaver, Juliana
C. Malzoni e Julie C. Malzoni.

305
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desempenho Sensorial do Requeijão Caseiro

Amanda Marques¹, Matheus Lima¹, David Silva¹, Sarah Maciel¹


¹Discentes do Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
E-mail: matheuseartur49@gmail.com

Palavras-chave: Gastronomia. Leite. Análise sensorial.

INTRODUÇÃO

O requeijão cremoso é um produto tipicamente brasileiro, de


estimável valor comercial e que surgiu como um subproduto de
diversas tecnologias e pesquisas na área. Fonte: criação do autor
O ramo ligado à produção de subprodutos lácteos deu origem a uma
enorme gama de requeijões denominados pelas regiões produtoras, Os estudos sensoriais do requeijão caseiro e industrial foram
distribuídas por todo território nacional, variando de acordo com o submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias foram
seu teor de umidade, como os requeijões do Norte e Nordeste, com comparadas pelo teste de Tukey com significância de 5% de
características duras, requeijão mineiro e o crioulo do Sul e Sudeste, probabilidade (6). Se o efeito do julgador for significativo, ou seja,
que são mais macios, quase pastosos (1). F(modelo) do julgador a p<0,05, indica que eles estão utilizando
Existem várias formas de aplicação da análise sensorial, a diferença parcelas diferentes da escala para expressar a mesma sensação
se dá na finalidade e propósito de cada uma. Em vista disso, na percebida.
presente pesquisa tem-se como objetivo avaliar a aceitação de um A partir do grupo focal, foi decidido que as fichas da análise
requeijão caseiro em detrimento do requeijão industrial através do sensorial teriam um cabeçalho com as informações gerais (nome,
método afetivo de aceitação para avaliar o grau de aprovação ou idade e sexo) dos participantes. Os atributos sensoriais a serem
reprovação de um produto (2). Vale salientar que o teste de aceitação avaliados foram escolhidos de forma mais ampla sendo, portanto,
sofre diretamente influência da cultura e dos costumes de onde o juiz aroma, textura, sabor, cor, viscosidade, aparência e avaliação global.
avaliador está inserido, sendo analisado de diferentes perspectivas, O julgamento seria do tipo estruturado de 9 pontos, variando de 9 (
como o seu preço, por exemplo, que desencadeia a intenção de gostei extremamente) a 1 (desgostei extremamente). Ao final, os
aquisição do produto para além do gosto (3). participantes deveriam marcar a intenção de compra do produto,
tendo 3 alternativas que variam entre a certeza de compra e a
MATERIAIS E MÉTODOS afirmação da não compra.
O método aplicado na análise foi o subjetivo ou afetivo, que tem
A pesquisa desenvolvida é de origem qualitativa, que pode ser como função expressar a opinião do consumidor em relação às
definida como o estudo de um experimento por meio da análise de características específicas e globais de um produto, que no caso da
material bibliográfico e documental. Foi realizada então uma pesquisa em questão foi o requeijão. O teste de aceitação, que se
pesquisa a partir de material já publicado, como livros, artigos encaixa dentre as avaliações afetivas quantitativas, foi aplicado com
científicos e publicações em periódicos. Além disso, o estudo o intuito de apresentar uma atitude positiva e/ou uma intenção de
também pode ser definido como quantitativo, já que faz uso da consumir esse produto na sua alimentação. A escala hedônica
quantificação no tratamento das informações, utilizando-se de adotada seguiu o procedimento do julgador receber as amostras
técnicas estatísticas através da coleta de dados dos questionários codificadas, sendo solicitado a avaliação do quanto ele gosta ou
aplicados na análise sensorial do requeijão (4). desgosta de cada amostra, utilizando como critério uma escala de 1 a
Para ser feita a observação do resultado final do requeijão, usou-se a 9, que é a mais utilizada para os estudos com adultos (7). Foram
metodologia do Check-all-that-apply (CATA). Esse método é empregadas as seguintes amostras:
bastante utilizado e, basicamente, consiste em uma lista de atributos
que descrevem as características sensoriais do produto através da Amostra 1: Requeijão caseiro integral
percepção do consumidor. A lista pode ser gerada por avaliadores
treinados ou por um grupo de consumidores, tendo em vista que os A produção do requeijão caseiro que foi utilizado na análise sensorial
descritores não são limitados somente às características sensoriais do em questão se deu a partir do leite integral da marca Betânia
produto, mas, como também, ao uso do produto e ao conceito as pasteurizado, com percentual 3% de gordura. O processo da feitura
quais pertencem (5). A partir disso, a tabela abaixo mostra os do requeijão caseiro começa com a fervura do leite, até atingir a
atributos a serem julgados pelos participantes do grupo focal. temperatura de 100 °C. Essa exposição de temperatura no leite
ajudará a eliminar parcialmente microrganismos patógenos presentes
Tabela 01 - Ficha para grupo focal (CATA) no leite. Após a ebulição do líquido, é acrescentado um ácido que
ajudará na “talha” do leite, fazendo a separação do soro e da gordura.
Para a fabricação do requeijão caseiro, o soro é descartado e utiliza-
Atributos para Grupo Focal (CATA) se apenas a separação da gordura, na qual é levada para um aparelho
de liquidificador, com sal para ser batida com o objetivo de atingir a
textura cremosa e lisa de um requeijão convencional.
Marque todas as palavras que você acredita que se aplicam ao
produto: Amostra 2: Requeijão industrial

A amostra de requeijão industrial é tradicional, de apresentação


Sabor intenso Sabor leve cremosa e textura aveludada.

Acidez Rançoso Foram utilizados 52 provadores, e cada amostra foi porcionada em


10 gramas. As mesmas foram dispostas em copos descartáveis de 50
ml e servidas juntas aos provadores. Para acompanhar o requeijão
Textura granulosa Textura lisa
foram utilizadas torradas como veículo.
Viscosidade Oleosidade RESULTADOS E DISCUSSÕES

Cor leitosa Cor amarelada A utilização do grupo focal serviu de base para completarmos as
fichas de análise a partir do mesmo, onde nelas estaria um cabeçalho
Aroma de derivados do leite Aroma ácido a ser preenchido com as informações gerais dos participantes e
também a partir deste mesmo grupo focal foi decidido os atributos

306
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sensoriais que seriam avaliados, a partir disso, os participantes Tabela 04 - Intenção de compra do requeijão
qualificaram as características do produto, portanto, aroma, textura,
sabor, cor, viscosidade, aparência e avaliação global. A tabela
seguinte mostra os resultados obtidos pelo grupo focal (CATA) e a
Intenção De Com Certeza Talvez Não
frequência que cada um apareceu na avaliação total.
Compra Comprariam Comprariam Comprariam
Tabela 02 - Avaliação grupo focal (CATA)

CASEIRA 36 14 2
Termo Frequência
INDUSTRIAL 39 10 3
Sabor intenso 0
Fonte: criação do autor
Sabor leve 4
Em relação à intenção de compra dos produtos, o requeijão caseiro
Acidez 2
foi muito bem aceito com 36 pessoas que com certeza o comprariam
se este estivesse disponível no mercado. Apenas 2 dos 52 avaliadores
Rançoso 0 disseram que não comprariam o produto, tornando esse número
irrisório diante de todo o contexto.
Textura granulosa 3
CONCLUSÃO
Textura lisa 1
Dentro das condições em que os testes sensoriais são conduzidos,
concluem que o resultado obtido na análise foi bastante satisfatório,
Viscosidade 4
tendo em vista que a amostra caseira teve notas estatisticamente
muito semelhantes com as da industrial, demonstrando que, a
Oleosidade 1 percepção dos provadores não foi afetada pelo tipo de matéria prima
ou de processamento aplicado. Sendo assim, o requeijão
Cor leitosa 4 desenvolvido pela equipe apresenta características sensoriais
consideráveis, como sabor levemente ácido, textura lisa e cremosa,
Cor amarelada 0 aroma encontrado em derivados lácteos e aparência razoável, sendo
bem aceito pelos avaliadores.
Aroma de derivados do leite 4 Em suma, os requeijões estudados não apresentam diferença
significativa entre si em relação aos atributos avaliados (aroma, cor,
aparência, sabor, textura, viscosidade e avaliação global), com
Aroma ácido 0
exceção da cor, todos obtêm notas que indicam boa aceitação dos
Fonte: criação do autor provadores. Entende-se assim, que o requeijão caseiro é bastante
vantajoso e que o que foi desenvolvido nessa pesquisa tem grande
A apreciação partira da estrutura de 9 pontos, variando de 9 a 1, onde potencial para ser introduzido no mercado.
9 representava gostei extremamente e 1 desgostei extremamente. E
ao final da degustação, os participantes escolheriam entre as 3 REFERÊNCIAS
alternativas de compras, as quais variam por meio da certeza da
(1) TRINTIM, Lorena Tobias. et al. Desenvolvimento e aceitação
compra e a afirmação da não compra.
sensorial de requeijão cremoso com adição de óleo essencial de
As médias das notas atribuídas pelos provadores a cada propriedade
orégano. 2017. Disponível em:
pedida (sabor, cor, aroma, viscosidade, textura, aparência e avaliação
<https://www.mastereditora.com.br/periodico/20171204_114215.pdf
global), para cada uma das amostras avaliadas sensorialmente, são
> Acesso em: 20 de maio de 2019.
apresentadas na tabela abaixo.
(2) FERREIRA, V. L. P. et al. Análise sensorial: testes
Tabela 03 - Média dos valores atribuídos pelos provadores em cada
discriminativos e afetivos. Manual: série qualidade. Campinas,
atributo para as amostras caseira e industrial
SBCTA, 2000. 127p.
Resumo
Viscosida Avaliação (3) TEIXEIRA, E.; MEINERT, E. M.; BARBETTA, P. A. Análise
(Médias Ls) - Sabor Cor Aroma Textura Aparência
de Global sensorial de alimentos. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1987. 180 p.
Amostra:

CASEIRA 7.13 a 8.07 a 7.63 a 6.86 a 7.61 a 7.81 a 7.52 a (4) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
INDUSTRIA Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas,
L 7.61 a 7.52 b 7.42 a 7.35 a 7.44 a 7.40 a 7.69 a 2010.
Pr >
F(Modelo) 0.10 0.03 0.47 0.13 0.57 0.14 0.50 (5) DOOLEY, L.; LEE, Y. S.; MEULLENET, J. F. The application
Significativo Não Sim Não Não Não Não Não of check-all-that-apply (CATA) consumer profiling to preference
mapping of vanilla ice cream and its comparison to classical
external preference mapping. Food Qual Prefer, v. 21, p. 394-401,
A partir desses números, pode-se observar que as amostras caseiras e 2010.
industriais obtiveram médias muito próximas nos atributos de sabor,
viscosidade, aroma, textura e aparência, sendo representadas pela (6) VIEIRA, S. Análise de Variância: (Anova). São Paulo: Atlas,
mesma letra (a) e não diferenciando significativamente entre si. Já no 2006. 204 p.
quesito cor, o requeijão caseiro obteve média relativamente maior do
que o industrial, apresentando um valor de p<0,05, logo, identificou- (7) SOUSA, Paulo Henrique M. Análise Sensorial na Gastronomia.
se a representação com letras diferentes e uma distinção relevante Universidade Federal do Ceará. Ceará, 2019.
entre as amostras.
Em relação à intenção de compra dos produtos, o requeijão caseiro
foi muito bem aceito com 36 pessoas que com certeza o comprariam
se este estivesse disponível no mercado. Apenas 2 dos 52 avaliadores
disseram que não comprariam o produto, tornando esse número
irrisório diante de todo o contexto. Abaixo está a tabela com os
demais posicionamentos dos potenciais consumidores ou não do
requeijão caseiro e industrial.

307
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Vitaminas Lipossolúveis: Suas Propriedades Gerais e seus benefícios ao metabolismo

Amanda Marques, Isaías Filho, Matheus Lima, Eliecê Neto, Rafael Gaspar
matheuseartur49@gmail.com
Palavras-chave: Nutrição, gastronomia, alimentação

INTRODUÇÃO nutricionais desses micronutrientes aumentam durante os


períodos de crescimento, gestação e lactação, nas condições de
O presente trabalho consiste em uma discussão acerca das trabalho intenso e ocorrência de determinadas doenças,
vitaminas, de forma que é discutido as diferenças e propriedades notadamente as infecciosas (MURRAY, 1998).
desses compostos no corpo humano, com ênfase em uma de As vitaminas lipossolúveis, notadamente A, D e E, têm
suas categorias, as vitaminas lipossolúveis. Além disso, busca-se merecido destaque quando do desenvolvimento de produtos
destacar a importância que esses micronutrientes orgânicos enriquecidos e vitaminados, com o intuito de assegurar ao
apresentam para a realização do metabolismo celular. público infantil o suprimento destes micronutrientes essenciais
O tema foi determinado por essa significância que as vitaminas ao crescimento, desenvolvimento e outras funções biológicas
apresentam para o bom funcionamento do organismo, de forma (LEHNINGER, 1995).
que cada uma apresenta uma característica específica, logo,
tem-se como objetivo esclarecer essas diferenciações e os VITAMINA A
benefícios do uso apropriado de vitaminas, sobretudo as
lipossolúveis, assim como advertir sobre os riscos da carência Bittencourt (2013) comenta que foi observado pelos
das mesmas. pesquisadores Hopkins e Stepp que um fator estimulante do
Pode-se citar também a motivação em desenvolver mais crescimento podia ser extraído do leite, esse foi um importante
pesquisas acerca desse tema, de forma que seja articulado uma passo que, consequentemente, levou à identificação da vitamina
correlação entre as áreas da Nutrição e da Gastronomia, visto A. Sua presença de fator promotor de crescimento foi descrita
que ambas são importantes e que uma complementa a outra para também na gema do ovo, manteiga e óleo de fígado.
a execução de um plano alimentar adequado. Considerada uma das mais importantes, a vitamina A é chamada
também de Retinol e é famosa por sua composição antioxidante,
MATERIAIS E MÉTODOS que fortalece o sistema imunológico e protege a pele. Esta
vitamina escolhe os alimentos que tem cores fortes para se alojar
O seguinte trabalho tem cunho exploratório, com a finalidade de e ela é muito importante por estar relacionada ao auxílio no
proporcionar um melhor entendimento do caso abordado, além crescimento, melhora da visão, formação de colágeno, contribui
de também ser utilizado material bibliográfico já publicado e na formação de dentes e é necessária na renovação celular, por
documental, como artigos científicos na área de nutrição e ter efeito antioxidante ela também ajuda na prevenção da acne,
gastronomia, como explica Marconi e Lakatos (2), melhorando combate úlceras de pele, além de inibir a carcinogênese e
o contato do pesquisador com a temática, trazendo um maior combater a anemia (SUPER ABRIL, 2013).
entendimento do caso a ser abordado. Nesta pesquisa utiliza-se Na natureza, a vitamina A está presente, em grande quantidade,
amostras das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K, conceituando como ésteres lipídicos nos tecidos animais como no fígado e no
e trazendo suas funcionalidades no organismo humano. rim, também é encontrada na nata, manteiga e gema de ovo.
O organismo, normalmente, não consegue sintetizar as Frutas, plantas e vegetais amarelos e verde-escuros são boas
vitaminas, sendo então obtidas por meio da alimentação. Uma fontes dietéticas de carotenos. A fonte mais rica desse elemento
pequena quantidade desses compostos é demandada pelo é o óleo de palma vermelha, o qual contém 500 μg/mL de α- e
metabolismo para a realização de uma infinidade de funções β-carotenos. Aproximadamente 7 mL/dia de óleo de palma
biológicas e bioquímicas, sendo, portanto, classificadas pelo seu vermelha pode facilmente preencher as necessidades
papel funcional e não pela estrutura. Sendo assim, elementos nutricionais de animais e crianças (BITTENCOURT, 2013).
distintos que desempenham a mesma atividade biológica são Ela é essencial para o funcionamento do organismo, também
colocados em grupos com o mesmo título de uma letra presente na batata doce, manga, leite, espinafre, pêssego e etc. A
(CATARINO; CLARO; VIANA, 2016). vitamina A é, por exemplo, fundamental para a criação de
As vitaminas então classificadas em lipossolúveis, que se células sanguíneas, especialmente os linfócitos (que fazem parte
dissolvem em meio lipídico e que são estocadas no organismo do nosso sistema de defesa).
naturalmente. Atualmente há catalogado um total de 13
vitaminas para os seres humanos, sendo 9 hidrossolúveis, que VITAMINA D
são as 8 do complexo B e a vitamina C, e 4 lipossolúveis, que
são as vitaminas A, D, E e K (REVISTA-FI, 2014). A vitamina D foi identificada pelo fisiologista britânico Sir
Edward Mellanby. Em 1921, ele estudava a doença raquitismo
VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS em cães e percebeu que a mesma acontecia devido à dieta que o
animal possuía. Já em 1922, ele atribui que o agente curativo do
óleo de fígado de bacalhau não era a vitamina A, mas sim uma
Segundo Lehninger (1995), vitaminas são substâncias orgânicas outra substância lipossolúvel, que, tempos depois, foi definida
presentes em muitos alimentos em pequenas quantidades e como vitamina D (BITENCOURT, 2013). Após os anos,
indispensáveis ao funcionamento do organismo, na forma de descobriu-se que a vitamina D tem como principal função a
co-fatores. Sua ausência sistemática na dieta resulta, quase regulação do metabolismo de cálcio, fósforo, ferro, magnésio e
sempre, em crescimento e desenvolvimento deficientes e outras zinco, sendo esses íons substâncias atuantes sobre as células
perturbações orgânicas, configurando-se um quadro ósseas e absorvidos principalmente no intestino. Estes elementos
sintomatológico característico de carência. Independentemente circulam pelo sangue e atuam diretamente na formação e
dos fatores do ambiente, a maioria dos organismos animais é manutenção dos ossos, ou seja, a mineralização destes, assim
incapaz de sintetizá-las por via anabólica, razão pela qual como beneficia algumas atividades neuromusculares. Além
precisam ser incluídas nas dietas; em geral, são necessárias em disso, esse hormônio também tem uma aplicação indispensável
micro quantidades e em função da idade, sexo, estado na regulação do sistema imunológico (MOREIRA, 2015).
fisiológico e atividade física do indivíduo. Os requerimentos Segundo Bitencourt (2013), a atividade da vitamina D nos

308
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

alimentos está associada a vários tipos de esteróis em lipídeos, RESULTADOS E DISCUSSÃO


abrangendo o colecalciferol, ou vitamina D3, proveniente de
fontes animais, e o ergocalciferol, ou vitamina D2, que é uma O presente trabalho tem como foco as vitaminas lipossolúveis,
configuração unicamente sintética de vitamina D, formada pela que são nutrientes essenciais para a nossa saúde. A pesquisa
irradiação de um esterol vegetal, o fitoesterol, com luz também mostrou os grandes benefícios de cada uma, o que pode
ultravioleta (UV), estando esse método habitualmente ocorrer quando há uma carência delas e onde as mesmas podem
adicionado ao leite e a manteiga como uma forma de ser encontradas nos alimentos. Diante disso, pode-se comprovar
suplemento alimentar para humanos. Em se tratando do o grau de importância desses compostos para o ser humano,
colecalciferol, este é produzido na pele mediante a exposição à desde o recém-nascido até o idoso. É essencial uma alimentação
luz solar. Devido a esse motivo, a quantidade de vitamina D na adequada e balanceada que forneça todos os nutrientes
dieta irão depender do grau de exposição à luz solar.É através da necessários, preocupando-se não só com a quantidade de
exibição da pele à luz do sol, que o corpo é capaz de ativar as carboidratos, proteínas e lipídeos, mas também a existência de
vias de produção de colecalciferol, tornando-se a forma mais outros componentes como as vitaminas.Conclui-se então que é
substancial de adquirir vitamina D para o organismo. necessário que pesquisas como essa sejam feitas, unindo a
Gastronomia e a Nutrição, de forma que sejam discutidos não só
VITAMINA E os tópicos nutricionais, como também os aspectos de cocção,
cortes, aromas, empratamento, entre outros, a fim de mostrar
Segundo Bittencourt (2013), em 1920, dois pesquisadores, que pessoas que buscam uma reeducação alimentar ou que
Herbert Evans e Kathryn Bishop observaram que ratos sofrem com alguma doença crônica possam se alimentar bem e
desenvolviam alguns problemas reprodutivos, quando também ter a sensação de prazer em comer como todos. Com
consumiam apenas uma dieta contendo gordura rançosa, a isso, é preciso estudos mais aprofundados, já que ainda é
menos que fossem suplementados com alface ou trigo. Tempo escasso o conteúdo nesta área e nesta temática.
depois, descobriu-se que o óleo de gérmen de trigo continha um
princípio ativo que parecia ser responsável por melhorar a REFERÊNCIAS
performance reprodutiva. Esse composto foi designado como
vitamina E por Sure, e mais tarde como αtocoferol, do grego
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
“tokos” que significa nascimento ou reprodução.
Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo:
A vitamina E é a principal vitamina lipossolúvel presente no
Atlas, 2010.
plasma e na partícula de LDL. Existe em oito formas químicas:
alfa, beta, gama e delta-tocoferol e alfa, beta, gama e
CATARINO, A.M.; CLARO, C.; VIANA, I. Vitamina D -
delta-tocotrienóis. A vitamina E não é produzida pelo organismo
Perspectivas atuais. Revista SPDV 74(4). 2016.
e deve ser adquirida por meio da dieta ou de suplementação, de
modo que o suplemento é indicado principalmente para pessoas
com dietas restritivas ou que não conseguem suprir a quantidade REVISTA-FI. Vitaminas. Food Ingredients Brasil Nº 29. 2014.
ideal da vitamina somente com a alimentação (THE <Disponível em: http://www.revista-fi.com/materias/378.pdf>
NUTRITION SOURCE, 2019). Os alimentos ricos em vitamina <Acesso em: 30 out 2019>
E são principalmente os de origem vegetal ricos em gordura,
como as sementes de girassol, as avelãs e castanhas. No entanto, LEHNINGER A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M.; Principles
alguns alimentos de origem animal, como salmão, bacalhau e of Biochemistry, 2nd ed., Worth Publishers: New York, 1995
ovo cozido também são ricos neste composto.
Os mecanismos pelos quais a vitamina E pode fornecer essa MURRAY, R. K.; GRANNER, D. K.; MAYES, P. A.;
proteção inclui sua função como antioxidante e seus papéis nos RODWELL, V. W.; Harper: Bioquímica, 8a ed., Atheneu Ed.
processos anti-inflamatórios, inibição da agregação plaquetária e Ltda.: São Paulo, 1998
aumento do sistema imunológico. (BITTENCOURT, 2013).
BITENCOURT, A.P. Papel das vitaminas lipossolúveis no
metabolismo. Pós Graduação em Bioquímica do tecido animal.
VITAMINA K
18p.2013.<Disponívelem:https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-co
ntent/uploads/2013/10/vitam_lipoAna.pd><Acesso em: 30 out
Em 1929, Henrik Dan pesquisou o que foi a primeira ideia sobre
2019>
o papel essencial do colesterol na dieta de frangos. Ele notou
que as aves alimentadas com dietas em que foram utilizados
solventes apolares para remover esteróis, desenvolveram SUPER ABRIL. Revista. A verdade sobre as vitaminas.
hemorragias musculares e esse sangue parecia coágulos. Estes <Disponível em:
estudos foram estendidos por MacFarland, que observou 2019.https://super.abril.com.br/especiais/a-verdade-sobre-as-vita
defeitos de coagulação em aves alimentadas com dietas minas/> <Acesso em: 28 out 2019>
baseadas em extrato lipídico de peixe ou farinha de carne.
MacFarland mostrou que esse defeito não podia ser revertido MOREIRA, T.B. et al. Vitaminas lipossolúveis e seus
com o uso de outras vitaminas conhecidas, como consequência, benefícios. Revista eletrônica de Farmácia. V. 13 n. 1.1:
a doença hemorrágica em frangos foi associada com um novo Suplemento Especial 10° Congresso Regional de Análises
fator, designado de vitamina K (BITTENCOURT, 2013). Clínicas do Centro-Oeste,2015.<Disponível
A vitamina K se apresenta de duas formas: filoquinona e em:https://revistas.ufg.br/REF/article/view/40826/pdf><Acesso
menaquinona. A filoquinona é a forma em que a vitamina se em: 30 out 2019>
apresenta em plantas e é consumida na dieta, mais absorvida
quando é consumida juntamente com gordura. A menaquinona é SOURCE, THE NUTRITION. Vitamin E. Harvard, School of
produzida por bactérias no intestino, mas apenas em pequenas Public Health.2019<Disponível
quantidades, e é utilizada em alguns países para suplementação. em:https://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/vitamin-e/>
Esta vitamina é necessária para a síntese de proteínas que Acesso em 04 nov 2019
ajudam a controlar o sangramento e também está relacionada a
saúde dos ossos e outros tecidos. Folhas verdes, couve, JOHNSON, LARRY E. Vitamina K. Manual MSD. 2018.
espinafre, brócolis, óleo de soja e de canola são boas fontes de Disponível
vitamina K (JOHNSON, 2018). A vitamina K é encontrada na em:<https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbio
couve-flor, no repolho, no espinafre e no fígado. s-nutricionais/vitaminas/vitamina-k>. Acesso em 04 nov 2019.

309
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Produção de Bebida Fermentada Tipo Iogurte a Partir de Extratos Vegetais de Amendoim

Victor Silva1, Pâmella Oliveira2, Neide Machado3


Luzia Silva4, Francinalva Sousa5
1. Discente do Curso técnico em Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL – Campus Murici)
2. Discente do Curso técnico em Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL - Campus Murici)
3. Técnica do Departamento de Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL - Campus Murici)
4. Docente do Departamento de Agroindústria do Instituto Federal de Alagoas (IFAL - Campus Murici)
5. Docente do Departamento de Agroindústria do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE - Campus Barreiros)
E-mail: hugobrm26@gmail.com

Palavras-chave: deficiências nutricionais; fermentação; extrato aquoso.

Introdução para a retirada de todo o bagaço de amendoim. Por fim os extratos


foram armazenados em geladeira até o momento de realização das
A utilização de grãos, como fonte alternativa na análises.
elaboração de produtos para a alimentação humana, na forma de
extrato aquoso natural ou fermentado foi inicialmente descrita com o
uso da soja. Aproveitando-se os métodos de produção de extrato Caracterização física e química dos extratos vegetais
aquoso fermentado ou não à base de soja, processos tecnológicos têm
sido utilizados e modificados para outros vegetais como quirera e As amostras dos extratos aquosos de amendoim foram
arroz integral (1), quinoa (2) e amendoim (3). caracterizadas quanto aos parâmetros: rendimento (%), teor de água
Grandes esforços vêm sendo despendidos para aumentar a (%), sólidos totais (%), atividade de água (Aw), cor, pH, acidez total
disponibilidade deste nutriente na alimentação humana, empregando- titulável (%), proteína total (%) e lipídios (%) de acordo com os
se novas fontes vegetais ricas em proteína (4). Devido a sua ampla procedimentos metodológicos do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 6 )
oferta e baixo custo, as sementes de leguminosas, com destaque para
a soja, têm importância nas dietas de vários países em Rendimento
desenvolvimento. A diversificação da alimentação, a partir da
inclusão de outras leguminosas como o amendoim, tanto in natura ou O rendimento do processo foi calculado considerando-se o
em forma de derivados, pode ajudar a minimizar essa carência, além peso dos grãos de amendoim e o peso dos extratos aquosos
de enriquecer a dieta (4). produzidos, conforme a relação da equação:
Além disso, são ótimas fontes de fibra dietética,
vitaminas, antioxidantes, minerais e fitoquímicos, podendo suprir as RP =PE/PA× 100
carências de ordem nutricional, especialmente por ser um alimento
de alto valor calórico (cerca de 596 calorias/100 g de sementes) (5).
Onde: RP = rendimento do processo
A produção da bebida fermentada tipo iogurte a partir do
extrato aquoso de amendoim disponibilizará no mercado mais uma
PE = peso do extrato aquoso produzido
opção de matéria-prima, podendo ser uma alternativa vantajosa,
principalmente para as pessoas que sofrem de intolerância à lactose
ou têm alergia às proteínas do leite, facilitando que formulações onde PA = peso da amostra utilizada
o ingrediente principal é um alimento alergênico, por exemplo,
possam ser reproduzidas fielmente agradando a todos os públicos. Produção da bebida fermentada tipo iogurte a partir do extrato
Esse trabalho teve como objetivo apresentar o aquoso de amendoim
processamento da bebida fermentada feito a partir do extrato aquoso
de amendoim e avaliar os atributos físicos e físico-químicos do Na produção dos iogurtes, foi utilizado 1000 ml de
produto final. extratos de amendoim para 25% de açúcar, 2% de emulsificante
(goma xantana) e 0,4% de probióticos de marca comercial (Bio Rich)
Material e Métodos contém streptococuus thermophilus uma bactéria láctea, e cepas de
Matéria prima lactobacilos acidophilus e biofidobacteriu. Os extratos vegetais foram
Para elaboração dos extratos aquosos foi utilizados grãos levados ao fogo, adicionado o açúcar e o emulsificante, sempre
de amendoim cru, variedade BRS Havana e água mineral natural com mexendo até formar uma mistura homogênea. Quando atingiu a
certificação ISO 9001. Nas formulações da bebida fermentada tipo temperatura de 45°C foram adicionados os probióticos, em seguida,
iogurte foi utilizado o extrato aquoso de amendoim, açúcar cristal foi feito o envase em embalagens apropriadas. Após o envase, o
(sacarose), emulsificante e probióticos. iogurte é deixado em temperatura ambiente por 4 a 6 horas, ou em
uma estufa com a temperatura controlada de 32 a 35°C ao fim desse
Produção dos extratos aquosos de amendoim período á bebida é acondicionada sob refrigeração.

Para produção dos extratos aquosos de amendoim foi Resultados e Discussão


utilizado um liquidificador industrial de aço inoxidável, para
trituração dos grãos nas proporções de uma parte de amendoim para Na Tabela 1 estão apresentadas as amostras dos extratos
seis e oito de água (grão: água – 1:6 e 1:8, p/v). Após a trituração o aquosos de amendoim foram caracterizadas quanto aos parâmetros
extrato foi passado em uma peneira de aço inoxidável e físicos e químicos: luminosidade, cromaticidade, tonalidade,
posteriormente passado novamente em peneira de tecido de organza, atividade de água, teor de água (%), proteínas (%) e lipídios (%).

Tabela 1 – Caracterização do extrato aquoso de amendoim quanto aos parâmetros físicos e químicos nas proporções 1:6 e 1:8 (grão: água, p/v) com
pele, sem pele.

1:6 C/P 1:8 C/P 1:6 S/P 1:8 S/P


Luminosidade 65,1700±0,17 70,6967±0,21 77,0800±0,03 81,4000±0,14
Cromaticidade 18,7200±0,14 13,4933±0,21 13,0800±0,07 10,0567±0,03
Tonalidade 64,056±0,01 73,186±0,17 80,260±0,03 80,556±0,21
Atividade de 0,96±0,17 0,97±0,05 0,98±0,13 0,98±0,02
água

310
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Teor de água 81,9317±0,17 84,1943±0,05 89,0333±0,13 93,4000±0,02


(%)
Proteínas (%) 25,3377±0,21 25,0783±0,17 25,3597±0,03 25,0850±0,02
Lipídios (%) 50,9377±0,07 44,1943±0,05 41,9400±0,13 40,2974±0,11

De acordo com os resultados obtidos é possível observar microbiano nos extratos, assim quanto menor a atividade de agua for
que os componentes dos extratos a base de amendoim variaram de encontrada nas formulações menor também as chances de
acordo com a proporção grão:água, para as duas condições, com e crescimento microbiano no produto.
sem pele, sendo os menores teores de cromaticidade obtidos com a
proporção 1:6 com pele. Os produtos com maiores teores de proteína A amostra na proporção de 1:8 sem pele teve um teor de
foram os obtidos com o extrato de amendoim com pele (1:6 e 1:8) e a água superior ás demais amostras com um teor de água de 93,4
porcentagem de lipídeos diminuiu com o aumento da proporção de fazendo com que a amostra na proporção de 1:6 com pele tenha o
água para os dois tipos de extratos vegetais. menor teor com 81,9 percebe-se que houve um aumento gradativo do
teor de água à medida que se aumentou a concentração de água nas
De acordo com a Tabela 1, foi verificado que os valores formulações e também a retirada da película.
médios da luminosidade diferiram estatisticamente entre si.
Observando-se que todas as amostras apresentaram claros com Foi verificada diferença significativa mutuamente para a
luminosidade maior que 65. A proporção 1:8 sem pele apresentou maioria dos parâmetros físico-químicos analisados para o extrato
maior valor em relação ás demais e somente ela obteve valor superior aquoso de amendoim, exceto para os valores de proteínas que foi
a 80, mantendo um valor parecido com ALBUQUERQUE (7). superior ao encontrado por (PRETTI, 2010).

As medias da cromaticidade teve uma variância de Variação nas quantidades de lipídeos no extrato aquoso de
10,0567 a 18,7200 nas amostras 1:8 sem pele e 1:6 com pele, amendoim também é bastante semelhante entre os mesmos, porém
respectivamente. Nos resultados de ângulo de tonalidade podemos foram obtidos valores maiores que (PRETTI, 2010). Em função das
observar que as amostras nas proporções 1:6 e 1:8 com pele possuem proporções grão:água utilizadas na elaboração do extrato. Ressalta-se
diferença significativa, diferente das amostras 1: 6 e 1:8 com pele. ainda que os extratos aquosos de amendoim elaborados a partir de
amendoins com casca apresentaram teor de lipídios superior àqueles
Foi verificado o valor de atividade de água em torno de elaborados sem casca evidenciando que a película pode conter
0,95 que é superior ao encontrado por ALBUQUERQUE (7). Vale quantidades de gordura que foram incorporadas ao produto através de
ressaltar que a atividade de agua tem ligação com o crescimento sua desintegração segundo ALBUQUERQUE (7).

Figura 1- iogurtes finalizados e engarrafados

Conclusão: (4) SANTOS, R. C. et al. Sistema de produção de amendoim: cultivo


O iogurte a partir dos extratos vegetais de amendoim foi do amendoim. 2006. Disponível em:
elaborado, obtendo-se resultados satisfatórios, cumprindo-se assim os https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/278148/1/DO
objetivos do estudo. Os resultados também mostram que a elaboração C207.pdf Acesso em: 09 set. 2020
do iogurte é uma alternativa viável para uma possível
comercialização, de fácil elaboração e com bom potencial para (5) Kris-Etherton, P. M.; Hu, F. B.; Ros, E.; Sabate, J. The role of
agradar o consumidor e suprir as deficiências nutricionais da tree nuts and peanuts in the prevention of coronary heart disease:
população em proteínas e lipídeos. Podendo ser uma alternativa multiple potential mechanisms. Journal Nutrition, Rockville, v.138,
vantajosa, principalmente para as pessoas que sofrem de intolerância p.1746- 1751, 2008.
à lactose ou têm alergia às proteínas do leite.
(6) IAL – INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos Físico-Químicos
Referências: para Análise de Alimen-tos – IV edição – Instituto Adolfo Lutz,
Versão on line de 2008. Disponível em
(1) Carvalho, W. T.; Reis, R. C.; Velasco, P.; Soares Júnior, M. S.; http://www.ial.sp.gov.br/resources/editorinplace/ial/2016_3_19/anali
Bassinello, P. Z.; Caliari, M. Características físico químicas de sedealimentosial_2008.pdf Acesso 20 set. de 2020
extratos de arroz integral, quirera de arroz e soja. Pesquisa
Agropecuária Tropical, v.41, n.3, p.422-429, 2011. (7) ALBUQUERQUE, Esther Maria Barros. Elaboração de massa
para produção de bolos funcionais com extrato aquoso (leite) de
(2) Bicudo, M. O. P.; Vasques, E. C.; Zuim, D. R.; Candido, L. M. B. amendoim. 2016. Disponível em:
Elaboração e caracterização de bebida fermentada à base de http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/bitstream/riufcg/14976/1/EST
extrato hidrossolúvel de quinoa com polpa de frutas. Bol. HER%20MARIA%20BARROS%20DE%20ALBUQUERQUE%20-
CEPPA, v.30, n.1, p.19-26, 2012. %20TESE%20%28PPGEP%29%202016.pdf. Acesso em 23 set.
2020.
(3) Albuquerque, E. M. B.; Almeida, F. de A. C.; Gomes, J. P.;
Alves, N. M. C.; Silva, W. P. Production of peanut milk based (8) PRETTI, Taciana. Tecnologia para produção de extrato
beverages enriched with umbu and guava pulps. Journal of the Saudi aquoso de amendoim e elaboração de produto fermentado. 2010.
Society of Agricultural Sciences, v.12, p.1-10, 2013 70 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências Farmacêuticas, 2010. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/88338>.

311
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial de Pão de Batata Doce (Ipomoea batatas L.)

Vanderléia Fernandes1; Cícero Silva1; Maria da Conceição1; Luciana Marques2; Amanda Leal 3; Juliana Costa4;
1
Discente do curso Superior Tecnologia em Alimentos, IF Sertão Pernambucano, campus Salgueiro;
2
Docente do curso Superior Tecnologia em Alimentos, IF Sertão Pernambucano, campus Salgueiro;
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, amanda.lleal@hotmail.com;
4
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: teste de aceitação; panificação; desenvolvimento de produto.

INTRODUÇÃO

O pão é definido como o produto gerado pela cocção em condições As matérias-primas utilizadas (farinha de trigo, batata doce, ovos, leite,
tecnologicamente adequadas, de uma massa fermentada ou não, fermento biológico seco instantâneo, açúcar e sal) foram adquiridas no
preparada com farinha de trigo ou mesmo outras farinhas que contenham mercado da cidade de Salgueiro-PE.
proteínas formadoras de glúten, ou adicionada destas, e água, podendo Foram feitas duas formulações de pão de batata doce, cujo preparo
conter outros ingredientes. O pão pode ser classificado tomando como consistiu, primeiramente, no cozimento, descascamento e amassamento
base os ingredientes e ou processo de fabricação ou então o formato. da batata doce. Logo após, pesou-se todos os ingredientes na balança
Existem as classificações do pão em: de forma, integral, ázimo, analítica, em seguida misturou-se o sal, o fermento biológico e o leite.
panetone, porém tradicionalmente é o pão francês o mais presente na Em recipiente separado uniu-se a farinha de trigo, a batata doce, o
mesa dos brasileiros, sendo definido como: o produto fermentado e açúcar, margarina e ovos e adicionou-se o leite, o fermento e sal unidos
fabricado, obrigatoriamente, com farinha de trigo, sal e água, o qual anteriormente. Na segunda formulação foi acrescentado o creme de leite
caracteriza-se pela casca crocante de cor uniforme castanho- dourada e na última etapa de mistura dos ingredientes. A massa foi amassada de
miolo de cor branco-creme tendo textura e granulação fina não uniforme forma a garantir a homogeneidade dos ingredientes.
[1]. Com a massa já sovada, as duas formulações foram modeladas em
O pão é um alimento que está presente na dieta da população visto ser formato desejado e postas nas formas para o descanso de
um bem acessível, quer em termos de preço quer de disponibilidade no aproximadamente 1 hora. Passado o tempo da fermentação (descanso)
mercado. No entanto, a sua composição nutricional caracteriza-se por pincelou-se o ovo na superfície das massas. Os pães foram levados ao
elevados valores de carboidratos e deficiências em proteína e minerais forno à temperatura de 180 °C por 40 minutos.
[2]. Após a elaboração dos pães, foram realizados testes sensoriais de
Como forma de enriquecer nutricionalmente esse produto e deixá-lo aceitação utilizando uma escala hedônica de 9 pontos, em que 1 significa
mais saudável, novos ingredientes podem ser adicionados, como por desgostei extremamente e 9 gostei extremamente [5]. Os atributos
exemplo, a batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam), a qual representa avaliados foram: cor, sabor, textura, aroma e aceitação global. Foi
importante fonte de energia, minerais e vitaminas [3]. Também tem aplicado também o teste de intenção de compra com escala variando de
relevante número de compostos bioativos como carotenoides, minerais 1 a 5 (1 - certamente não compraria e 5 - certamente compraria) [6]. Os
como potássio, cálcio, ferro e vitaminas do complexo B [4]. Além disso, testes foram feitos com 50 provadores não treinados, de ambos os sexos,
é fonte de fibra e de carboidratos complexos que prolongam a saciedade, alunos do curso de Tecnologia em Alimentos.
regulam a gordura sérica, normalizam os níveis de glicemia e é O estudo foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado
considerado uma boa fonte de minerais. Em termos sensoriais pode (DIC) e os dados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) e
também adicionar um sabor doce natural, cor e aroma ao pão [2]. Sendo, Teste de Tukey para verificar diferença significativa ao nível de 5%
portanto, um ótimo ingrediente para enriquecimento de produtos de entre as amostras. Os dados gerados foram analisados no programa
panificação. estatístico SASM-AGRI.
Com base nisso, o presente trabalho objetivou elaborar e avaliar
sensorialmente duas formulações de pães de batata doce.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Os resultados do teste de aceitação do pão de batata doce podem ser
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Processamento de observados através da Tabela 1.
Cereais do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sertão
Pernambucano- Campus Salgueiro. Tabela 1- Resultado do Teste de aceitação do Pão de batata doce

Tabela 1. Formulação das amostras de pão de batata doce Tratamento cor sabor textura aroma Aceitação
global
Ingredientes Amostras BTD 7,62 a 7,20 a 7,34 a 7,20 a 7,42 a
BTD BTDC BTDC 7,60 a 7,58 a 7,42 a 7,36 a 7,54 a
Batata doce (g) 180 180 BTD= Pão de batata doce (1ª Formulação)
Margarina (g) 38 38 BTDC= Pão de batata doce com creme de leite (2ª Formulação)
Farinha de trigo (g) 250 250
Fermento biológico (g) 6 6 Ao observar os dados obtidos pôde-se notar que as amostras obtiveram
Manteiga (g) 30 60 uma boa aceitação pelos provadores, com médias de cor, sabor, textura,
Sal (g) 6 6 aroma e aceitação global variando de 7,20 a 7,62, situando-se entre os
Açúcar 28 28 termos gostei moderadamente e gostei muito. Em estudo com pão de
Leite (g) 40 40 batata doce, Scortegagna et al. [7] relataram que o produto obteve uma
Creme de leite (ml) - 100 boa intenção de consumo e aceitação acima da média 6 (gostei
ligeiramente), nota inferior a encontrada na presente pesquisa

312
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

As duas formulações de pão de batata obtiveram aceitação sensorial


muito semelhante, uma vez que não apresentaram diferença significativa
(p>0,05) nos parâmetros cor, sabor, textura, aroma e aceitação global.
No quesito intenção de compra não houve diferença significativa entre
as amostras, em que os tratamentos 1 (BTD) e 2 (BTDC) apresentaram
médias 4,14 e 4,26, respectivamente. Sendo assim, de acordo com a
escala que mede a intenção de compra, as formulações se enquadraram
no ponto 4 (provavelmente compraria), demonstrando boa aceitação de
intenção de compra.
Em estudo realizado por Bruni et al. [8] pães de queijo elaborados com
25% de substituição de polvilho por farinha de batata-doce foram bem
apreciados, e, portanto, pode ser considerada como uma possível
opção para o mercado consumidor, uma vez que obteve aceitação e
intenção de compra maior do que o padrão (100% polvilho) e cor, sabor
residual, textura e aparência similares ao mesmo e sem
comprometimento das características físicas (fator de expansão e
densidade) do produto.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que ambas as amostras de pão de batata doce apresentaram


boa aceitação sensorial, com médias situando-se entre os termos gostei
moderadamente e gostei muito, indicando que a batata doce pode ser
uma ótima opção de ingrediente para o enriquecimento nutricional de
pães.

REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005.


Aprova o "regulamento técnico para produtos de cereais, amidos,
farinhas e farelos". DOU, 23 de setembro de 2005.
2. GONÇALVES, A. et al. Valor nutricional e sensorial de um pão à
base de farinha de batata doce. Res Net Health, v. 3, p. 49, 2017.
3. FRANCO, V. A. Desenvolvimento de pão sem glúten com
farinha de arroz e de batata-doce. 2015. 129 f. TCC (Graduação)
- Curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2015.
4. SILVA, R. G. V. Caracterização físico-quimica de farinha de
batata-doce para produtos de panificação. 2010. 71 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia de Alimentos,
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, 2010.
5. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
New York: Academic Press. 2004.
6. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010
7. SCORTEGAGNA, M. L. et al. Produção e avaliação de pães com
baixo teor de fenilalanina. In: Simpósio de Segurança Alimentar, 6.,
2018, Gramado. Anais [...] . Gramado: Sbcta-Rs, 2018. p. 1-6.
8. BRUNI, A. R. S. et al. Desenvolvimento e análise sensorial de pão
de queijo com adição de farinha de batata-doce. Brazilian Journal
Of Development, v. 6, n. 8, p. 58391-58403, 2020.

313
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Garde Manger: Uma Releitura Regional Acerca da Terrine


Gustavo Sirqueira, Hadassa Mendes, Vinícius Andrade1. Robson Mota, Rafael Gurgel2

Palavras chave: Terrine. Regional. Garde Manger. Cozinha Fria. Gastronomia.

INTRODUÇÃO chamada de “garde manger”, que traduzida literalmente significa


“guardar para comer”. Esse termo ainda é utilizado para designar
O universo da gastronomia abrange vários campos, dentre algumas copas e despensas (3).
eles o garde manger também conhecido como “cozinha fria”. Quando Com o decorrer do tempo, esse setor destinou-se também
foi criado, na sua forma mais antiga, a sua principal função era cuidar para o preparo de pratos frios, como terrines, sopas frias, sanduíches,
da preservação dos alimentos (1). Com a evolução do tempo e das canapés, entre outros e o pré-preparo de preparações de outras praças,
tecnologias, o ofício de garde manger se desenvolvia e com ele suas além de ter se designado como uma área de especialização da
técnicas e produtos. Conforme a necessidade de preservação se tornou gastronomia (3). Além disso, a cozinha fria não está ligada apenas a
menos recorrente, o aproveitamento de produtos mais frescos foi esses preparos, mas também à conservação dos alimentos, ao controle
adicionado aos cardápios. A utilização de saladas, temperos, molhos e de entrada e saída de mercadorias, à organização das câmaras de
sopas frias foram se tornando especialidades, além também de outras estocagem, além de porcionar e dividir os produtos, auxiliando no fluxo
preparações, entre elas a terrine, que tem como sua base a farce (2). da cozinha (7).
A farce é uma emulsão de carne magra e gordura, elaborada Segundo Montagné (8), nos primórdios da cozinha, a terrine
a partir de ingredientes combinados e moídos, coados ou batidos em era apenas uma forma de barro, nos quais os cozinheiros cozinhavam
purê. Podendo ser lisa ou texturizada, dependendo do modo de carne, caça e peixe em pequenos pedaços com gordura, a qual
emulsificação ou moagem e da finalidade da preparação. A pâté en chamavam de pâté em terrine, mas com o passar do tempo começou-se
terrine, preparação mais conhecida pela sua forma abreviada, é a utilizar a palavra para designar também a preparação, a qual,
caracterizada como uma mistura de farce assada em uma forma de atualmente, é uma mistura de farce assada na forma de argila com
tampa. As terrines podem ser elaboradas com qualquer tipo de farce,
argila com tampa, porém atualmente já são utilizados outros
seja simples, estilo camponês, gratin ou mousseline. Existem também
materiais, como aço inoxidável, alumínio, ferro ou argila esmaltados,
algumas terrines não tradicionais produzidas com itens de guarnições
cerâmica, entre outros (3). como carne ou aves assadas, vegetais grelhados ou assados, lombo de
É perceptível que no estado do Ceará o conhecimento sobre cordeiro tostado, etc. (3). Além disso, as terrines devem ser totalmente
terrines é quase nulo, já que tal preparação advém de uma cultura, com resfriadas antes de serem consumidas e podem ser conservadas durante
condições climáticas e outras características totalmente diferentes das vários dias desde que em perfeitas condições, guardando-as em um
que os cidadãos dessa localidade estão acostumados. Tendo isso em local fresco.
vista, esse artigo visa elaborar uma preparação do tipo terrine utilizando De acordo com o Culinary Institute of America (3), a farce
de insumos característicos da região, aumentando a aceitabilidade desse se constitui de uma emulsão de carne magra e gordura feitas a partir da
tipo de preparação ao paladar do comensal local, tendo como objetivo combinação de ingredientes, podendo apresentar um aspecto mais liso
a inserção da terrine no âmbito cearense, fazendo também uma breve ou mais grosso e texturizado. Ela possuí quatro estilos particulares.
revisão ao garde manger e ao mundo das terrines. Farce simples que consiste na mesclagem de uma carne dominante
mais partes iguais de carne e gordura suína. São temperadas e curadas
MATERIAL E MÉTODOS e, posteriormente, moídas e emulsificadas. Farce camponesa é
tipicamente produzida com carne e gordura suínas, contendo miúdos,
A pesquisa é caracterizada qualitativa (4), pois busca geralmente o fígado e outros insumos de guarnição. Sua textura já é um
compreender o objeto estudado aprofundando os quesitos pouco mais grossa. Farce gratin é denominada dessa forma devido ao
gastronômicos, culturais e históricos. Já quanto aos objetivos, ela é termo “gratiné” que significa gratinado. Nesse preparo, parte da carne
denominada exploratória (5) por procurar aplicar técnicas clássicas de é previamente salteada antes de ser moída. E a mousseline é elaborada
terrine francesa, porém utilizando majoritariamente insumos regionais a partir de carnes brancas magras e macias. Ao ser incorporado creme
para facilitar a sua aplicação e aumentar o seu interesse. De acordo com de leite e ovos é conferida à mousseline textura e consistência
Angelo, pode-se definir o uso do método hipotético-dedutivo, pois a tipicamente leves.
partir de uma problematização, que é a falta de conhecimento da receita Além da farce, as terrines também podem conter sal, ervas,
clássica europeia e a abrangeremos para generalização ao utilizar outros vegetais aromáticos, vinhos, vinagres, reduções, entre outras
insumos, porém mantendo a essência, através da observação e da guarnições, incorporadas com a finalidade de conferir mais sabor, cor e
experimentação laboratorial. Também pode-se definir a pesquisa como textura. Essas tais guarnições são simplesmente inseridas mescladas
bibliográfica, documental e experimental (6). com a farce ou podem ser também conhecidas como mosaicos, na qual
Ademais, todos os insumos que foram utilizados nos testes os insumos são colocados na farce enquanto a forma é preenchida,
laboratoriais da terrine regional foram adquiridos no Mercadinho São tendo o cuidado para que cada fatia exponha uma apresentação
Luiz, em Fortaleza. Já os experimentos foram executados no Atelier consistente (2).
L’École Brasil, pois a Universidade Federal do Ceará, que seria o local Os alimentos tradicionais de uma região são assim
previamente selecionado, está fechada temporariamente devido a caracterizados por persistirem às marcas do tempo, sendo produzidos e
pandemia de COVID-19. Logo, é válido observar que durante todo o consumidos em um local conservando características que os ligam à
período de testes as pessoas estavam seguindo todas as recomendações uma cultura gastronômica (9). Nesse mesmo contexto, o processo de
da Organização Mundial da Saúde (OMS). globalização está pondo diversas culturas num processo de
interconexão, fazendo com que muitas identidades culturais sejam
RESULTADOS E DISCUSSÃO afetadas ou até mesmo desapareçam. Porém, também é natural que
muitos elementos culturais se comuniquem e se agreguem (10).
Inicialmente, o garde manger era somente um local para Entendendo a ligação entre o sabor e cultura localé visto que para uma
estoque de comidas, pois no século XII a maioria da população era maior aceitação no processo de assimilação de uma preparação
camponesa e a época da colheita era a mais importante do ano. A safra pertencente a uma cultura em outra, é preciso respeitar alguns aspectos
era devidamente preservada por meio se salgas, conservas, secagem, da cultura gastronômica local, visto que a população é culturalmente
defumação ou eram acondicionadas em gordura. Também eram feitos ligada aos sabores da região
embutidos, queijos e outros processados. Assim, todas as residências Para a releitura da terrine foi feita com base nos insumos
dos nobres tinham um local para armazenar os alimentos, normalmente disponíveis e culturalmente consumidos no estado do Ceará. Para isso,
localizado no subsolo para conservar melhor os alimentos. Essa área era

1
Discentes do Curso de Bacharelado em Gastronomia, da Universidade Federal do Ceará. E-mail: gustavoburger@alu.ufc.br,
hadassamendes13@gmail.com e viniuslavor@gmail.com.
2
Orientadores. Docentes do Curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: rafaelgurgel.amaral@gmail.com e
motarobson@gmail.com.

314
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

foi selecionado o quiabo, os pimentões e a couve manteiga como reprodução e geralmente não se adequam ao paladar do comensal
guarnição. Também escolhemos o peixe pargo como protagonista da cearense. Assim, a execução da reinterpretação com produtos regionais
preparação por ser um peixe da costa local (11) facilmente encontrado é de suma importância para o resultado.
nos mercados e feiras, além de fornecer leveza e sabor desejados. Sobre a releitura da terrine, o sabor ficou bem agradável,
Dentre as técnicas menos usuais, a principal foi a farce fine com o peixe sendo o protagonista com o quiabo e os pimentões
ou mousseline que consiste em peneirar uma proteína para deixá-la complementando bem ao fornecerem acidez e dulçor à preparação.
super lisa e agradável ao paladar. Também utilizamos a técnica de Além disso, a couve manteiga também agrega ao ser levemente doce e
habiller, que numa tradução direta do francês, significa vestir, ou seja, amarga concomitantemente. Já sobre o visual da preparação, o mosaico
a terrine foi envolta com a couve para agregar mais textura, sabor, cor foi muito bem realizado agregando simetria, coloração, formas e beleza.
e regionalismo. Já dentre as técnicas mais convencionais foram feitos o Entretanto, como o plástico filme não ficou tão bem esticado, a couve
branqueamento, a emulsão, o banho-maria e o banho-maria invertido. que se moldou nele também ficou levemente enrugada.
Seguem a ficha-técnica e a foto do experimento (12). Ademais, a textura ficou bem suave ao paladar, parecendo
um patê ou uma mousse. O quiabo e a couve também somaram nesse
Quadro 1 - Ficha-técnica da releitura da terrine sentido fornecendo um pouco de crocância e maciez. Porém, por causa
TERRINE REGIONAL DE PARGO de um excesso de claras, ao assar a textura da mousseline ficou
Ingredientes: levemente granulada. Isso ocorreu pois, quando a água presente nas
- 600g de filé de pargo sem pele claras evaporou durante a cocção, ela ficou encapsulada formando
- 200g de creme de leite fresco microbolhas de vapor. Todavia, a ficha-técnica presente no tópico seis
- 80g de clara de ovo já está corrigida para evitar esse erro.
- 10 folhas de couve manteiga (com o mínimo de imperfeições Por fim, devido a situação atual da pandemia do COVID-19,
possível) não foi possível fazer o teste de análise sensorial em larga escala, pois
- 4 unidades de quiabo isso, consequentemente, geraria uma aglomeração não essencial. Logo,
- 120g de pimentão (vermelho, amarelo e verde) as considerações sobre o sabor, visual e textura da terrine foi feita com
- 10ml de vinagre branco base apenas na avaliação dos alunos que a prepararam.
- Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo: REFERÊNCIAS
1- Em uma panela média, colocar água para ferver com o vinagre;
2- Enquanto isso, tirar o talo e a ponta do quiabo; 1 - ESTEVÃO, William. GARDE MANGER TÉCNICAS DA
3- Tirar o talo da couve e fazer lâminas retangulares, quanto COZINHA FRIA: turismo, hospitalidade e lazer. Elaborada por
maiores as lâminas, melhor; Centro de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão - Cetec
4- Fazer tiras de pimentão com a espessura aproximada a 3mm.; Capacitações Responsável.
5- Branquear o quiabo por 3min. e a couve por 1min. na água que
está fervendo; 2 - SACKETT, Lou; PESTKA, Jaclyn; GISSLEN, Wayne.
6- Deixar os a couve e o quiabo escorrendo o excesso de água; Professional Garde Manger: a comprehensive guide to cold food
7- Em um processador, colocar o pargo e 40g de clara e processar preparation. New Jersey, Eua: John Wiley & Sons, 2010. 780 p.
por 3min.;
8- Peneirar o peixe em duas peneiras: uma mais grossa e outra 3 - CULINARY INSTITUTE OF AMERICA. Garde manger: the art
mais fina; and craft of the cold kitchen. 4th ed. Hoboken, NJ: John Wiley &
9- Adicionar o restante das claras e processar novamente por mais Sons, c2012. xiii, 706 p. ISBN 9780470587805.
1min;
10- Em banho maria invertido, dispor o peixe e, aos poucos, ir 4 - APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia da ciência: filosofia e
adicionando o creme de leite até que, quando suspender a espátula prática da pesquisa. Thomson, 2006.
a massa caia em blocos;
11- Em uma forma retangular alta (20x8x5cm), cobrir com papel 5 - GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social.
filme próprio para forno e trançar as lâminas de couve, deixando editora Atlas. São Paulo–SP, 1999.
metade do seu comprimento para fora da forma;
12- Fazer camadas de farce, pimentões, farce, quiabos, farce, 6 - ANGELO, Elis Regina Barbosa. Métodos e técnicas de pesquisa
pimentões e farce; em turismo. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
13- Fechar a parte superior com a couve que ficou para fora da
forma, tirando os excessos, caso necessário; 7 - BRITO, Otávio Henrique M. de. Cozinha fria e clássica. Curitiba:
14- Tampar a forma ou envolver com papel alumínio e levar ao Universidade Positivo, c2018. 154 p. ISBN 9788584863440
forno, em banho-maria, pré-aquecido a 150ºC por 1h;
15- Esperar esfriar antes de desenformar e cortar. 8 - MONTAGNÉ, Prosper. Nouveau Larousse gastronomique.
Paris, France: Librairie Larousse, 1967. 1064 p.
Figura 1 - Resultado do experimento
9 - FERREIRA LIMA, Anna Erika et al. Alimentos tradicionais
enquanto estratégia de soberania alimentar: o caso do município de
Baturité – Ceará – Brasil. Geosul, Florianópolis, v. 34, n. 71, p. 809-
835, maio 2019. ISSN 2177-5230

10 - GODOI, Edileide de Souza. A produção da identidade


paraibana na propaganda da culinária nordestina. 2009. 141 p.

11 - REZENDE, S. M.; FERREIRA, Beatrice Padovani; FREDOU,


Thierry. A pesca de lutjanídeos no nordeste do Brasil: histórico das
pescarias, características das espécies e relevância para o manejo. Bol.
Téc. Cient. CEPENE, v. 11, p. 56-63, 2003.

12 - WRIGHT, Jeni; TREUILLE, Eric. Le cordon bleu: todas as


técnicas culinárias. Marco Zero, 2005.
Fonte: Gustavo Burger, 2020.

CONCLUSÕES

Em virtude dos fatos mencionados anteriormente, conclui-


se que o objetivo de reinterpretar uma terrine francesa utilizando
insumos cearenses foi bem-sucedido. A preparação clássica geralmente
é bem gordurosa e com sabor proeminente. Além disso, as guarnições
são feitas com vegetais e hortaliças do terroir francês, o que dificulta a

315
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação das Alegações nos Rótulos de Produtos com Denominação Farinha


Ornella Moreira Diniz
Universidade Cândido Mendes – UCAM, pós graduanda, e-mail: rnllyoga@gmail.com

Palavras chave: Alimentos; Consumidor; Rotulagem; Fiscalização

INTRODUÇÃO

O rótulo é o meio de comunicação entre a indústria e o consumidor orientações sobre o consumo do produto. Em alegações
(1). Os alimentos embalados não devem apresentar informações, nutricionais foram encontrados “e você me quer só porque sou rica
figuras, desenhos ou qualquer outra forma de comunicação que em ômega 3, fibras e antioxidantes”, “prazer, sou a farinha de coco
induza o cliente ao erro ou engano, tornando a informação falsa ou e sou fonte de fibras, proteínas e muito gostosa”, “substitui a
insuficiente (2). O objetivo desse estudo foi avaliar as informações farinha de trigo integral”, “sem açúcar”, “fonte de fibras* como
presentes nas embalagens dos produtos com denominação de
toda farinha de coco”, “Fonte de fibras”, “ômega 3* como todo
farinha e se estavam compatíveis com a legislação geral de
alimento semelhante”, “fonte de fibras, selênio e magnésio* como
rotulagem brasileira vigente.
todo fubá integral”, “100% integral”, “100% natural”, “sem
glúten”, “sem lactose”, “vegan”, “100% integral preserva as partes
MATERIAIS E MÉTODOS nutritivas”, “rica em fibras, fonte de vitaminas e minerais”. Os
apelos comerciais e orientações sobre o consumo do produto
Estudo transversal descritivo, onde foram visitados 3 encontrados foram “alimentos sinceros”, “gourmet”, “produto
supermercados, na cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas orgânico”, “para uso in natura e culinário”, “ideal para frutas,
Gerais, no período de junho a julho de 2020. Foram fotografados saladas e pães”, “seu corpo sua casa”, “moída em moinho
os lados da embalagem frente e verso e quando necessário os 4
artesanal”,” “Papo reto: sabia que muitos produtos chamados
lados da embalagem, dos produtos com denominação Farinha no
“integrais” são feitos com farinhas reconstituídas só para durarem
rótulo. Os dados coletados foram lançados em uma planilha de
Excel e comparadas com a legislação RDC 360/03, RDC 359/03 e mais na despensa e não preservam todas as propriedades dos grãos
RDC 259/02. integrais? (Marca) é diferente”, “Nós, (marca), acreditamos que a
mudança começa pelo nosso prato. Por isso, temos paixão em
RESULTADOS produzir alimentos naturais e orgânicos, que nutrem o corpo, a
alma e a nossa mãe terra”, “paixão por cozinhar”, “O que a nossa
Foram encontradas 20 marcas de produtos com denominação de farinha tem de bom”, “orgânica, livre de agrotóxicos”, “1º
venda farinha, totalizando 40 rótulos, divididas em farinha de maca pacotinhos feitos 100% de papel”, “cada saquinho conta”, “não
(1), amêndoas (2), arroz (4), aveia (3), amaranto (1), banana verde polua, evolua”, “após aberto, armazene na geladeira ou em local
(1), castanha de caju (1), chia (2), coco (4), fubá (1), linhaça fresco”, “valorizando a biodiversidade brasileira”, “7 princípios
marrom (1), mandioca (1), Psyllium (1), (3) sem glúten (mistura de dos produtos (marca) 1-integrais de verdade menos processados; 2-
farinha de arroz, fécula de batata, fécula de batata e estabilizante orgânicos sempre que possível; 3-ingredientes da biodiversidade
INS 415), rosca (1), trigo (7), trigo com fermento (2) e trigo brasileira; 4-privilegiando pequenos agricultores; 5-livres de
integral (4). As farinhas foram disponibilizadas em quantidades de pozinhos artificiais; 6-livres de transgênicos; 7-feitos com sabor e
100g (maca, coco, amêndoas), 130g (castanha de caju), 150g afeto”, “produtos naturais”, “Mais orgânicos e amor, por favor!
(chia), 200g (banana verde, coco e Psyllium), 250g (chia), 300g Acreditamos que a mudança começa pelo nosso prato. Por isso,
(coco e rosca), 400g (arroz), 500g (sem glúten, trigo integral, apresentamos os tradicionais ingredientes da cultura brasileira
mandioca, fubá, aveia e arroz) e 1kg (arroz, trigo, trigo integral, cultivados de forma orgânica, livres de agrotóxicos”, “Bolo de
trigo com fermento e sêmola/ semolina). A porção para as farinhas fubá com erva doce, tão gostoso quanto abraço de vó”, “aqui tem
de coco, Psyllium e amêndoas foi indicada em 10g e a conversão orgânico e afeto”, “voltamos, tradição que você reconhece”,
para medida caseira variou em 1 colher de sopa para coco, “enriquecida com ferro e ácido fólico”, “tradicional”, “aquele
Psyllium e amêndoas. Em uma marca informou 1 colher de chá toque de sabor que faz a diferença”, “O enriquecimento de farinhas
para a farinha de amêndoas como conversão de consumo para com ferro e ácido fólico é uma estratégia para combate a má
medida caseira; Em 3 marcas a porção da farinha de coco foi formação de bebes durante a gestação e da anemia”, “puríssima”,
informada em 12 g e a conversão da medida caseira variou em 2 “matéria prima selecionada”, “moída carinho”, “praticidade para o
colheres de chá e 2 colheres de sopa. A porção para as farinhas de seu dia a dia”, “quantidade ideal de fermento”, “Ideal para todas as
castanha de caju, aveia e rosca foi em 30g, variando a orientação receitas”, “padaria sem glúten – farinha de arroz”, ”solução
de medida caseira em 2 colheres (castanha de caju e aveia) e 3 completa”, “sem glúten”, “sem conservantes”, “nova receita!’,
colheres de sopa (rosca). A porção de 50g foi indicada para as “absorve menos gordura”, “sem sódio”. A Informação Nutricional
farinhas de trigo, arroz, fubá, aveia, mandioca e sêmola/ semolina e de 1 embalagem estava em inglês, sem tradução para o português
variou a orientação na medida caseira, por causa do peso e do (3) e em 2.5% (1) rótulo de farinha de trigo, estava no idioma
tamanho da espessura do alimento, que seriam em 1 xícara para Italiano, sem tradução para o português (3). Em 5% (2) rótulos não
farinha sem glúten; ½ xicara (farinha de trigo integral, trigo constavam a medida caseira para consumo (4). Em relação a
comum, arroz, sem glúten, arroz e sêmola/ semolina); 1/3 de xícara comunicação de alérgenos, em 1 embalagem orienta que pode
(fubá e arroz), ¼ de xícara mandioca, ¾ de xícara aveia. Foram conter traços de amendoim e amêndoas, a informação sobre traços
encontradas informações nos rótulos que serão divididas em está incorreta (5). Em 11 rótulos é informado somente xícara na
alegações nutricionais; alegações do marketing sobre o produto e conversão da porção para medida caseira porem, temos xícara de

316
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

chá e de café, ficando a informação incompleta (4). Foram https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/912/o/resoluo_rdc_n_259_20


encontrados a alegação de Produtos naturais (4), Fonte de ômega 3 02_-_rotulagem_em_geral.pdf Acesso em: 05/08/2020.
(2), Fonte de fibras (6), antioxidantes (1), fonte de proteinas (1),
100% natural (1), Não contém glúten (8), gourmet (1), 100% ou 3. ANVISA. Resolução - RDC Nº 360, DE 23 DE DEZEMBRO
DE 2003. Regulamento Técnico sobre \rotulagem Nutricional de
vegan (5), sem aditivos (1), sem açúcar (3), sem lactose (4),
Alimentos Embalados. Disponível em:
orgânico (), rico em fibras (3), 100% integral (1), tradicional (3),
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/res0360_23_
puríssima (1), sem conservantes (1) e sem sódio (1)Dentre os 12_2003.pdf/5d4fc713-9c66-4512-b3c1-afee57e7d9bc Acesso em:
termos encontrados com alegação nutricional sobre o produto, o 17/09/2020
termo sem lactose é empregado para leite e derivados que tenham
tido a quantidade de lactose diminuída a níveis previstos em 4. ANVISA. Resolução- RDC nº. 359, de 23 de dezembro de 2003.
legislação, não faz muito sentido uma farinha de origem vegetal ter Aprova Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados
orientação sem lactose. Outro termo que está vulgarizado é o termo para Fins de Rotulagem Nutricional. Disponível em:
“vegan” que deveria ter sido traduzido para o português como https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-
vegano, porem é complicado esse termo em um produto de origem vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
vegetal, esse tipo de alegação deveria ser utilizado em produtos bebidas/resolucao-rdc-no-359-de-23-de-dezembro-de-2003.pdf
que sejam substitutos de produtos de origem animal. Outro ponto é Acesso em: 16/09/2020.
utilizar uma estratégia governamental como o enriquecimento da
farinha de trigo com ferro e ácido fólico e colocar como um 5. Resolução– RDC nº 26, de 02 de julho de 2015. Dispõe sobre os
diferencial, sendo que é obrigatório essa pratica e a frase requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que
“enriquecido com ferro e ácido fólico” é obrigatória nas farinhas causam alergias alimentares. Disponível em:
que são enriquecidas. Alguns fabricantes informam “matéria prima http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/393963/RDC%2B26_
2015%2BRotulagem%2Bde%2Balimentos%2Balergenicos.pdf/b0
selecionadas” é uma obrigação da indústria colocar alimentos em
582dd2-627e-49f2-9887-6ccaa4c9e125?version=1.0 Acesso em:
condições adequadas para o consumo isso é o mínimo, não é 17/09/2020.
diferencial. Outros termos que estão sendo amplamente utilizados
são “artesanal”, “tradicional” e “gourmet”, não encontramos na
legislação nada que ampare a utilização desses termos em farinhas.
A farinhas com alegação fonte de e rico em fibras, os valores de
fibras estavam dentro dos parâmetros da legislação 54/12. As
farinhas que trouxeram no rótulo rica em ômega 3 (linhaça marrom
e chia), apresentaram o valor de 3,0g e o valor deve ser descrito em
miligramas (mg), fornecendo no mínimo 40 mg de EPA e DHA
para poder utilizar a alegação “fonte de ômega 3”. Um rótulo traz a
informação orgânico na frente do rótulo, com o selo de orgânico e
no verso a frase “orgânico, sempre que possível” deixando o
questionamento, é orgânico ou não é? Quando não for possível ser
orgânico, a propaganda e o selo devem ser retirados do produto, ou
a indústria orienta que o cliente consuma orgânicos sempre que
possível? Um rótulo informa sem açúcar e fornece 39,5g de
carboidratos por porção de 50g, não podendo ser utilizado essa
alegação, porque farinha não tem adição de açúcares exógenas e
possui açúcares dos próprios ingredientes. Outro alerta indevido
foi a informação “sem aditivos” em uma farinha de trigo, foram
verificadas outras farinhas com o mesmo perfil, que seria a de trigo
comum e não foi encontrado aditivos na farinha, somente farinha
de trigo na lista de ingredientes, sem aditivos. As farinhas de trigo
são todas obrigatoriamente enriquecidas com ferro e ácido fólico.

CONCLUSÕES

Nas 40 embalagens avaliadas, em todas havia ao menos uma


alegação de nutrição ou apelo comercial. É necessário que a
fiscalização e o consumidor estejam atentos as informações
transmitidas pela indústria, através dos rótulos que deve ser clara e
não pode induzir o consumidor ao erro ou engano.

REFERÊNCIAS

1. CAVADA, Rotulagem nutricional: você sabe o que está


comendo? Braz. J. Food Technol., IV SSA, maio 2012, p. 84-88
http://dx.doi.org/10.1590/S1981-67232012005000043. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/bjft/v15nspe/aop_bjft_15e0115.pdf
Acesso em: 04/08/2020.

2. ANVISA. Resolução- RDC Nº 259, de 20 de setembro de 2002.


Regulamento Técnico para Rotulagem de alimentos embalados.
Disponível em:

317
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação das Características Físico-Químicas de Pernis Caprinos Submetidos Ao Método


“Dry-Aging”
Tatiana Rodrigues1, Karyne Silva2, Ingrid Guerra3
1
Discente do Bacharelado em Gastronomia. Departamento de Gastronomia. Universidade Federal da Paraíba
2
Gastróloga. Departamento de Gastronomia. Universidade Federal da Paraíba
3
Doutora. Docente do Bacharelado em Gastronomia. Universidade Federal da Paraíba
E-mail: tzrodrigues@hotmail.com

Palavras-chaves: Caprinocultura. Carne maturada. Maturação à seco. Gastronomia.


INTRODUÇÃO no T5 (CA) pode estar relacionado ao aumento do pH no mesmo
O cenário do agronegócio brasileiro voltado para a criação de tempo que acarreta pouca desnaturação proteica e perda de menos
caprinos está em expansão. Em 2017, a estimativa nacional atingiu umidade devido a sua estrutura fechada onde a água está presa às
9,5 milhões de unidades (1,2). O baixo custo de manutenção do proteínas musculares. A maturação promove aumento da CRA (22) e
rebanho, adaptabilidade no semiárido nordestino e os aspectos físico- um pH em torno de 6 permite uma maior retenção de água na carne
químicos e sensoriais da carne (baixo teor lipídico, fácil (23). Na determinação de cor instrumental, houve diferença
digestibilidade, alto valor proteico, boa capacidade de retenção de estatística no parâmetro L* (T5 SA) com relação aos demais e a
água) contribuíram para o crescimento e fomentaram um nicho de partir do T2.
mercado para elaboração de produtos como as carnes denominadas No parâmetro L* (CA) foi observada diminuição ao longo dos dias,
dry aged (3,4,5). O processo de maturação à seco, através de controle
de umidade e temperatura, promove o amaciamento progressivo da
carne (6), favorece o flavor único produzido, intensificado pela
desidratação superficial da área, concentração dos compostos
químicos inerentes ao músculo e suculência interna (7), no entanto as
reações de oxidação, responsáveis por aromas, sabores indesejáveis e
substâncias tóxicas, podem comprometer a qualidade do produto e
reduzir o valor nutricional (8,9). Visando prolongar a vida de
prateleira , a aplicação efetiva de ácidos orgânicos tem sido estudada,
(10). Diante do exposto, o trabalho objetivou aplicar a técnica dry
age e avaliar o impacto do tempo e a interferência da aplicação de
ácido na superfície da carne nos parâmetros físico-químicos.

MATERIAL E MÉTODOS
Dois cortes de pernil caprino (de animais sem padrão racial definido-
SPRD) foram obtidos em frigorífico do município de João Pessoa-
PB. Os pernis foram acondicionados sob refrigeração, após a toalete
(11), com monitoramento da umidade relativa do ar e temperatura
(3°C) para envelhecer à seco, envoltos em tecido de algodão cru
higienizado e codificados como SA (sem ácido) e CA (com ácido). O
corte SA não recebeu intervenção e no corte CA foi aspergido a
solução de ácido acético a 2% (v/v) na superfície, uma vez ao dia.
Cada tratamento foi submetido a 5 tempos de armazenamento (T0 –
0 dias, T1 – 7 dias, T2 - 14 dias, T3 – 30 dias, T4 – 45 dias, T5 – 60
dias). A caracterização físico-química foi realizada em triplicata:
determinação da cor instrumental (12), capacidade de retenção de
água [CRA] (13), determinação do teor lipídeos (14) e proteínas, justificada por mais absorção da luz do que reflexão, diminuição de
composição centesimal, atividade de água [Aw], pH (15), água no tecido muscular e maior deposição de gordura (24,25) e
determinação das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico aumento ao final. O aumento de L* no final da maturação pode ser
[TBARS] (16) e teor de carbonilas totais [DNPH] (17)). As análises justificado pela superfície áspera e irregular da carne devido à perda
de oxidação foram realizadas somente no T0, T2 e T5. Os dados de umidade (26). Na variável a* foram observadas diminuição ao
foram submetidos à análise da variância (ANOVA), com longo dos dias (CA), e aumento no final (SA). Em relação ao
delineamento experimental casualizado e os tratamentos parâmetro b* (SA), houve diminuição e aumento no final, no pernil
estatisticamente diferentes foram comparados por meio do teste de CA a diminuição foi notada a partir do T3. A maturação por mais
Tukey ao nível de 5%, através do software estatístico SigmaStat 4.0. tempo afetou mais as amostras maturadas à seco e diminuiu os
valores de L* e aumentou os valores a* e b* de maneira maior (27).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores de cinzas (SA) apresentaram diferença a partir do T3,
Os resultados das análises estão nas Tabelas 1 e 2. Observou-se sendo observada aumento ao longo dos dias, já no pernil CA, houve
diminuição no parâmetro Aw ao longo do tempo, com maior Aw no diferença quando comparados T2 e T3, com aumento a partir do T3,
pernil CA pela provável pulverização da solução. Menores valores de valor este semelhante à literatura (28). Para os valores de proteínas,
Aw são encontrados quando comparadas as carnes maturadas úmidas houve diferença quando comparados o T3 e T4 (SA). Para o pernil
(18). Houve diferença no pH a partir do T3 e após o T4 (SA), com CA foi encontrada diferença na comparação entre T2 e T3, com
elevação ao longo do tempo. Houve diferença na comparação de T0 aumentos em ambos (SA e CA). Os valores iniciais (T0) são
com T2, T3 e T4 (CA), diminuição ao longo dos dias e aumento no coerentes com a literatura (29). Nas análises de lipídeos (SA), houve
final. A variação pode ter sido causada pela pulverização. O pH é diferença a partir do T4 e na comparação de T3 e T5 (CA), com
influenciado pela raça o animal e maturação, influenciadas por aumento ao longo dos tempos. Segundo a literatura, os teores diferem
fatores ante mortem (19,20,21). Os valores de umidade apresentaram entre as raças, pela alimentação e criação (30, 31). Nota-se que a
diferença a partir do T2 (SA) e diminuição ao longo do tempo, variação da composição centesimal está diretamente relacionada com
inclusive no perfil CA. Foi observada diminuição da CRA ao longo a diminuição de umidade observada, visto que está perda tende a
do período para o pernil SA. Houve diferença estatística entre T2 até concentrar os componentes da carne (32). Os valores de TBARS e
T4 (CA) e aumento no final do armazenamento. O valor DNPH (Tabela 2) variaram entre o T0 e T5 (SA). O pernil SA
demonstrou aumentou em ambas as análises. O pernil CA apresentou
aumento inicial em ambas as análises, com queda ao final. Entre os
tratamentos, a carne SA apresentou valores superiores na oxidação
proteica. Alguns autores informam que bactérias láticas podem inibir
a oxidação lipídica, cuja liberação de derivados de proteínas possui

318
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

capacidade de proteção contra o processo oxidativo (33, 34). (10) FREIBERGER, R. C. P.; Utilização de ácidos orgânicos como
Relacionando o teor de lipídeos com os valores de TBARS, se conservantes em linguiças curadas cozidas embaladas à vácuo. 2016.
observa um baixo teor de lipídeos e de TBARS, portando baixa 77p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) -
propensão à oxidação lipídica. A análise de oxidação proteica Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
revelou um aumento e constância do teor de carbonila para o pernil
SA. Autores relatam teores inferiores para lipídeos, relacionado ao (11) GONTIJO, R. P.; Características de qualidade da carne bovina
processo de maturação e relatam êxito para inibir à oxidação lipídica, maturada proveniente do músculo semispinalis thoracis. 2017. 44p.
porém pouco eficazes frente a oxidação proteica (35). Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2017.
ONCLUSÃO
O processo de maturação à seco provoca mudanças físico-químicas (12) ABULARACH, M. L. S.; ROCHA, C. E.; FELÍCIO, P. E.
na carne. A carne SA apresenta aumento em sua CRA, com impacto Características de qualidade do contrafilé de touros jovens da raça
na maciez, textura e suculência, devido a maior capacidade das Nelore. Ciênc. e Tecnol. Aliment., 18, 2, 205-210, 1998.
proteínas reterem água em seu interior. As amostras apresentam
redução na umidade, Aw, (SA/CA) e aumento na composição (13) ALFRANCA, I. S.; Aportación al estudio del cruce Blanco
centesimal. A carne maturada SA sofre maturação de forma mais Belga x Landrace: Caracteres productivos, calidad de la canal y de la
carne. Instituto de Economía y Producciones Ganaderas del Ebro,
intensa. Recomenda-se que estudos posteriores determinem as
1973.
semelhanças e diferenças de flavor através de análises sensoriais. Os
níveis de oxidação lipídica estão de encontro com as características (14) FOLCH, J.; LESS, M.; STANLEY, S.A Simple method for the
da carne caprina, sem evidências de oxidação, assim como a análise isolation and purification of total lipids from animal tissues. Journal
de oxidação proteica, que indica baixos teores de compostos of Biological Chemistry, 226, 497-509, 1957.
carbonílicos. Não é possível afirmar que a solução de ácido acético
(15) AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
CHEMISTS. Official Methods of Analysis. Washington: AOAC,
2010. 1018p.

(16) ROSMINI, M. R.; PERLO, F.; PÉREZ-ALVAREZ, J. A.;


PAGÁN-MORENO, M. J.; GAGO-GAGO, A.; LÓPEZ-
SANROVEÑA, F.; ARANDA-CATALÁ, V. A test by an extractive
method applied to paté. Meat sci, 42, 1, 103-110, 1996.

(17) OLIVER, C. N., ANH, B-W., MOERMAN, E.J., GOLSTEIN,


S., STADTMAN, E. R. Age-related changes in oxidized proteins. J
Biol Chem. 262, 5488–5491, 1987.

(18, 22, 27) FERREIRA, F. M. S.; Efeito da temperatura e umidade


relativa do ar na qualidade da carne bovina maturada pelos processos
seco e úmido. 2018. 119p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Alimentos), Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Engenharia de Alimentos, Campinas, 2018.
iniba a oxidação lipídica e proteica.
(19, 30) MADRUGA, M. S.; NARAIN, N.; DUARTE, T. F.;
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https://biblioteca.ibge.gov.br. seco e suas combinações nos atributos físicos, químicos e sensoriais
em filé de costela bovino. Campinas, SP: [s.n.], 2016.
(3, 23, 28, 29, 31) DIAS, R. P.; DUARTE, T. F.; GARRUTI, D.
ZAPATA, J. F. F.; MADRUGA, M. S.; VASCONCELOS, P. M.; (24) SABADINI, E.; HUBINGER, M. D.; SOBRAL, P.J. do A.;
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caprinocultura e da ovinocultura brasileiras, 5, MS. 2006. Tecnol. Aliment., Campinas, 21,1, 14-19, 2001.
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Ovinocaprinocultura de corte: a convivência dos extremos. BNDES SOBRINHO, A. G. S.; BARBOSA, J. C.; Cor, capacidade de
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(6,21) ZAPATA, J. F. F.; GONÇALVES, L. A. G.; RODRIGUES, 3-14, 1996.
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(8) LEYGONIE, C.; BRITZ, T. J.; HOFFMAN, L. C. Impact of 2016.
freezing and thawing on quality of meat. Meat sci, 91, 2, 93-98, (34) CHEN, Q.; KONG, B.; HAN, Q.; XIA, X.; XU, L. The role
2012. ofbacterial fermentation in lipolysis and lipid oxidation in Harbin dry
(9) JACOBSEN, C. Oxidative Rancidity. In: Melton, L.; Sharidi, F.; sausages and its flavour development. LWT, 77, p.389-396, 2017.
Varelis, P. (Ed.). Encyclopedia of Food Chemistry. Academic Press, (35) ESTÉVEZ, M. Protein carbonyls in meat systems: A
2019, p. 261-269. review. Meat sci, 89, 3, 259-279, 2011.

319
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Chá, Tisana ou infusão: o que você está bebendo?


Ana Paula Costa de Abreu e Melo, Tea Sommelier Certificada do El Club del Té, Curso de Tea Sommelier na Escuela
Argentina de Té, Arquiteta e Urbanista pela UFPE - abreuemelo@hotmail.com
Bianca Costa de Abreu, Bacharel em Ciências Contábeis (UNICAP) e Gastróloga (Universo-Recife) -
biancacalvitor@gmail.com

Palavras-chave: chá, bebida, processo, preparação, gastronomia.

INTRODUÇÃO
As plantas fornecem diversas matérias primas para a produção RESULTADOS E DISCUSSÕES
de remédios para os seres humanos, sejam elas flores, folhas, raiz, ou
até cascas. A escolha das ervas é uma parte importante para a produção Com base na análise linguística das palavras o estudo busca
de remédios naturais. diferenciar a conceituação do termos “Chá/ Tea/ Té/ Tee/ Té” e
No Brasil, existe um equívoco no emprego da palavra “Chá”, “Tisana/Tisane/ Tisane/ Kräutertee/ Tisana”, por meio de diferentes
pois ela só pode ser empregada nas bebidas em que são utilizadas as referências bibliográficas, principalmente em dicionários de Português
folhas da árvore Camellia sinensis (figura 01). Segundo Gaylard (2016) (4), Inglês (5), Francês (6), Alemão (7) e Espanhol (8) respectivamente.
(1), os únicos que podem ser chamados de chás são: o branco, o verde, Após o estudo, buscou-se referências bibliográfica que dessem mais
o oolong, o pu erh e o preto. Eles são diferenciados apenas pelo informações sobre o assunto. Além disso, o estudo deve abordar
processo de preparação das folhas da Camellia sinensis. diferentes formas de preparos para análise das diferenças entre chás e
Para tratar das demais ervas será utilizado o termo Tisana. Tisanas, para essa etapa entrevistei uma moradora de Pelotas-RS
O objetivo é apresentar argumentos que demonstrem que na fazendo a seguinte pergunta: “Sem pesquisar prévia, você saberia o que
preparação das Tisanas os métodos de preparo são mais amplos do que é Tisana? Obtive como resposta:
o chá.
“Geralmente para nós aqui, Tisana é quando deixamos ferver
Figura 01 – Árvore da Camellia sinensis
cascas, ou folhas ou flores para fins medicinais. Não se usa
muito este termo agora, mas antigamente usava direto. Se
tomava Tisana, era para remédio. Se chá, para acompanhar
algo para comer. Mas Tisana somente quando a gente fervia
a erva junto com a água (AMARAL,2020). (9)”

Mesmo usando ideograma iguais, no dialeto amoy falado em


Fujian-China, ele é pronunciado “Tê”, em mandarim e japonês é
pronunciado “Tchá” (Figura 03).
Figura 03 – ideograma do chá

Fonte: Cristiana Sato (10).

Para os portugueses o conhecimento do chá se deu pelo porto


Fonte: KLÁTIL, L. (2020) (2)
de Macau, onde se falava mandarim, lá a infusão das folhas de Camellia
sinensis se chamava Tchá, sendo posteriormente adaptada para palavra
METODOLOGIA CIENTÍFICA chá.
Vale ressaltar que o termo Tisana, conhecido nos países
Utilizando o Arco de Charles Maguerez para o estudo que se
estudados e no sul do Brasil, é abrangente quanto a matéria prima e
baseia no estudo da realidade para identificar a problemática e
pode ser feita das mais diversas formas de preparo.
posteriormente os pontos-chaves, partindo para teorização e hipótese se
solução para aplicação na realidade (3) (Figura 02).
São diferentes as formas de preparo, que levam em consideração
a parte da planta a ser utilizada. Podemos citar:
Figura 02- Esquema do Arco de Maguerez.
✓ Para folhas, flores – Infusão – ex.: boldo, camomila, chá;
✓ Para ervas medicinais – Maceração – ex.: hortelã
✓ Para frutos, caules ou raízes que precisem ser cozidos –
Decocção – ex.: limão, canela, gengibre, rooibos (casca de
uma árvore africana) (11).

Quanto à forma de preparo, segundo Cavalcante (2015) (12)


temos os seguintes métodos:

➢ Infusão – utilizado quando imergimos a erva em um líquido


fervente ou aquecido durante um tempo determinado. O chá,
preparado exclusivamente com folhas da Camellia sinensis,
utiliza apenas a infusão para seu preparo, já as Tisanas podem
ser feitas utilizando os três métodos que serão aqui expostos,
dependendo apenas de que é feita. Não há consenso quanto ao
uso do termo “infusão” para chamar a Tisana. Lembro apenas
Fonte: Autoras que este é um processo de preparo e não uma bebida (Figura
04).

320
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 04- Infusão para uma Tisana. Esse processo também pode ser Observa-se que, por ser pouco utilizada a palavra Tisana, são
utilizado no chá. confundidas com o termo “infusão”. Este termo não é mais adequado,
uma vez que este é apenas o método de preparo das diversas ervas.
Sendo assim, muitas das bebidas que consumimos chamando
de chá ou infusão são na verdade: Tisanas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) GAYLAND, Linda. O livro do chá: história, espécies e variedades,


indicadores de qualidade, técnicas de preparo, chás pelo mundo,
utensílios, receitas. São Paulo: Publifolha, 2016.
(2) KLÁTIL, L. http://www.biolib.cz/en/image/id173318/ Camellia
sinensis- Tea plant. Acesso em 05/07/2020.
(3) PRADO, M.; et al. Arco de Charles Maguerez: Refletindo
estratégias de metodologia ativa na formação de profissionais de saúde.
Escola Anna Nery – Revista de Enfermagem, 16(1), 172-177, 2012.
(4) DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. https://www.dicio.
Fonte: Autoras com.br. Acessado em 22/04/2020.
(5) CAMBRIDGE DICTIONARY. https://dictionary.cambridge.
➢ Maceração – consiste em extrair a essência da erva por meio org/pt/dicionario/ingles. Acessado em 22/04/2020.
de ação mecânica, geralmente com o uso de um pilão. Pode ser (6) MICHAELIS DICIONÁRIO ESCOLAR FRANCÊS. 2ed. São
utilizado um pouco de líquido para facilitar no processo de Paulo: Melhoramentos, 2009.
extração. (7) WordReference.com: Online Language Dictionaries.
https://www.wordreference.com/definicion. Acessado em 22/04/2020.
Figura 03-Maceração para uma Tisana. (8) MICHAELIS DICIONÁRIO ESCOLAR ESPANHOL. 2ed. São
Paulo: Melhoramentos, 2009.
(9) AMARAL, Tanise Gayer. Entrevistada pela equipe. Reside em
Pelotas-RS em 15 de julho de 2020. A proximidade com países de
língua espanhola fez com que a palavra tisana ainda fosse utilizada em
sua região.
(10) SATO, Cristiana. Chá. Disponível em:
<www.culturajaponesa.com.br>. Acesso em: 27 de fev. 2020.
(11) A touch of rooibos: Over 100 delicious recipes from 14 of South
Africa’s leading chefs. Clanwillian: Rooibos Limited,2010. p.168.
(12) CAVALCANTE, Luis G. M. Accioly et al. Cuidados na produção
de “Tisanas” para uso medicinal. III Forum Mundial da Educação,
2015.
(13) DATTNER, CHRISTINE. Chá: Rituais e Benefícios. Senac. São
Paulo,2011.

Fonte: Autoras

➢ Decocção – utilizado quando a erva e o líquido estão juntos em


ebulição.

Figura 04- Decocção de uma Tisana.

Fonte: Da autora.

CONCLUSÕES
No Brasil, usa-se o termo chá para toda bebida quente feita
com folhas, ervas, cascas e frutas, flores e etc. Quando passamos a
conhecer realmente o chá, entendemos que ele é produzido
exclusivamente pela infusão das folhas da Camellia sinensis (chá
branco, verde, oolong, pu-erh e preto) (13). No Nordeste do Brasil esse
equívoco pode ter sido decorrente da influência indígena que já
preparava bebidas quentes principalmente para fins medicinais.

321
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Eletrofiação de Amido na Formação de Nanofibras: Uma Breve Revisão

Elder Pacheco da Cruz1, Gabriel Lucas Pail2, Laura Martins Fonseca3, Elessandra da Rosa Zavareze4, Alvaro Renato
Guerra Dias5
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
2
Discente de Bacharelado em Química de Alimentos do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos
(CCQFA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
3
Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel)
4
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustral (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
5
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) do Departamento de
Ciência e Tecnologia Agroindustral (DCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Autor correspondente: elder-pdc@hotmail.com
PALAVRAS CHAVE: eletrospinning, encapsulação, nanotecnologia

INTRODUÇÃO: A nanotecnologia consiste na produção e exploração MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo foi realizado do tipo
de materiais em nanoescala, e nas últimas décadas, vem ganhando exploratório-descritivo por meio de pesquisas bibliográficas oriundas
espaço na ciência e na engenharia. Os nanomateriais são utilizados, de publicações e resultados de pesquisas específicas sobre a temática
praticamente, em todas as indústrias, incluindo as indústrias de proposta: amidos eletrofiados. As bases de dados utilizadas foram
alimentos e embalagens (1). Esses nanomateriais, em especial as Science Direct, Springer, Wiley, Scielo, PubMed e Lilacs utilizando os
nanofibras, apresentam algumas vantagens, como por exemplo, seguintes descritores: “starch electrospinning”, “starch nanofibers by
aumento da biodisponibilidade e versatilidade, e quando aplicados para electrospinning”, “nanotechnology” e “electrofiled nanofibers”. Ao
encapsulamento de compostos bioativos ocorre um aumento na final da busca foram selecionados 15 artigos dos últimos 10 anos, no
eficiência de encapsulamento e controle do comportamento de qual, apresentaram maior relevância sobre o tema abordado.
liberação dos compostos (2). A utilização da técnica de eletrofiação se
destaca na fabricação de nanofibras, devido, a sua simplicidade, e RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na literatura, em meios de pesquisas
principalmente, por ser um processo não térmico (3). Somado a isso, as e patentes, foram relatadas tentativas de produção de fibras de amido
nanofibras produzidas a partir do processo de eletrofiação desenvolvem (4). Primeiramente, ocorreram tentativas de produção com alta amilose,
algumas vantagens, tais como, alta área superficial, flexibilidade para porque essa macromolécula é linear e, portanto, presumiram-se que se
uma grande variedade de formas e tamanhos e a capacidade de controlar associava prontamente lado a lado em condições favoráveis. No
a composição das nanofibras para alcançar os resultados desejados a entanto, o alto custo da purificação da amilose se torna um obstáculo
partir de suas propriedades e funcionalidades. No processo de para a produção em alta escala, uma vez que a amilose é o componente
eletrofiação, são necessários quatro componentes: uma fonte de alta secundário da maioria dos amidos (4, 9). Comumente, são encontrados
tensão (para geração do campo elétrico); um tubo capilar (normalmente estudos que usam eletrofiação de amido nativo incorporando com
uma agulha de pequeno diâmetro); uma bomba de infusão (para outros polímeros sintéticos, como por exemplo, poli (óxido de etileno)
alimentação da solução polimérica no sistema) e uma placa coletora. O (PEO), na solução formadora de fibras (10). Jaiturong et al. (11)
processamento, se dá com a fixação de um eletrodo a uma agulha que produziram nanofibras eletrofiadas de amido de arroz glutinoso
se conecta ao tubo capilar (seringa) contendo o polímero, enquanto combinado com álcool polivinílico (PVA) e as nanofibras apresentaram
outro eletrodo conecta-se ao coletor. O campo elétrico é gerado por alta diâmetro média de 191 ± 25 nm. Komur et al. (12) produziram
tensão pela diferença de potencial aplicada no coletor e na extremidade nanofibras de amido de milho e policaprolactona (PCL) e relataram que
do tubo capilar contendo o fluido que induz uma carga elétrica na o diâmetro médio das nanofibras foi de aproximdamente 150 nm. Por
superfície do líquido. À medida que a intensidade do campo eléctrico é mais que seja mais comum, nesses casos, o amido não é o principal
aumentado, a superfície do fluido na ponta do tubo capilar se alonga polímero na fibra resultante. Então, para tornar a produção das
para formar uma forma cónica, chamada Cone de Taylor. No processo nanofibras a partir de amido como polímero único na solução como uma
do jato da agulha para o coletor, o solvente evapora e as fibras secas são estratégia eficaz e economicamente viável, alguns estudos têm sido
depositadas na placa coletora como uma rede interligada (4, 5, 6). As realizados (3, 4, 8, 13, 14, 15). Recentemente, pesquisadores
nanofibras eletrofiadas são produzidas com soluções poliméricas, e alcançaram a produção de fibras de amido puro por eletrofiação,
embora, seja mais fácil obter nanofibras a partir de polímeros sintéticos, envolvendo o uso do solvente dimetilsulfóxido (DMSO), para amido
em razão das suas estruturas químicas complexas, baixa solubilidade e nativo de alta amilose (teor de amilose de cerca de 80%) e a fiação com
alta tensão superficial, os polímeros naturais são desejados devido à sua uma configuração de eletrofiação modificada. Além disso, um
biocompatibilidade e biodegradabilidade (7). Em destaque, o amido é tratamento térmico pós-fiação e reticulação foram empregados para
um polímero que tem sido alvo de interesse e curiosidade na melhoramento das propriedades da fibra de amido, incluindo
eletrofiação, devido a suas características, tais como, versatilidade, estabilidade à água. Eles concluíram, que as fibras de amido puro
biodegradabilidade, fácil acesso e baixo custo (3). Embora o amido, não foram, pela primeira vez, fabricadas pela técnica de eletrofiação
possa ser facilmente eletrofiado, alguns estudos já relatam a utilização modificada, ou seja, “eletrofiação úmida, do inglês “electro-wet-
desse polímero, e ainda, para encapsulação de compostos bioativos, spinning”, e, observaram que quando aplicada uma alta tensão jatos
produzindo nanofibras com propriedades antioxidantes e contínuos foram obtidos, ocorrendo, a fabricação fibras de amido de
antimicrobianas (2, 3, 8). Deste modo, objetivou-se realizar um breve alta amilose lisas e uniformes (4). Em outro estudo, pesquisadores
levantamento de dados, sobre estudos que alcançaram a eletrofiação de produziram fibras de amido de milho com alto teor de amilose (Hylon
nanofibras amido. VII), usando ácido fórmico em diferentes concentrações como solvente
e submetendo cada solução polimérica a diferentes tempos de descanso
após sua produção, ou seja, 2, 6, 24 e 72 h antes da eletrofiação (obtendo
variação de diâmetro das fibras de 80-300 nm). Os autores relataram

322
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

que o tempo de descanso altera as propriedades reológicas da solução, amido, está relacionado, ao alto teor de amilopectina, que é um aspecto
ou seja, sua viscosidade, e isso, junto com as variações na concentração desafiador. No entanto, vêm sendo estudadas nanofibras produzidas
do solvente, resulta em fibras com morfologias distintas (14). Além dos com amido de normal teor de amilose e ainda com aplicações voltadas
estudos supracitados que utilizam amidos com alto teor de amilose a indústria alimentícia como agentes antioxidantes e antimicrobianos.
ainda foram encontrados estudos relatando a produção de nanofibras de Vale ressaltar, que esse tema requer mais exploração e investigação
amido com normal teor de amilose. Um estudo foi realizado por usando abordagens predefinidas e diferentes.
Fonseca et al. (8), que produziram fibras ultrafinas de amido de batata
solúvel (com teor normal de amilose de 32,54 ± 3,65%) por eletrofiação REFERÊNCIAS:
e fizeram a avaliação das características das fibras partir de soluções
formadoras de fibras submetidas a diferentes tempos de descanso (0, (1) AMETA, S. K.; RAI, A. K.; HIRAN, D.; AMETA, R.; AMETA S.
24, 48 e 72 h antes da eletrofiação). Os autores relataram que as fibras C. Use of nanomaterials in food science. Biog Nano-Particles their
ultrafinas apresentaram morfologia cilíndrica e homogênea, com Use Agro-ecosystems. p. 457-488, 2020.
diâmetro médio na faixa de 128–143 nm, e ainda, que o tempo de
descanso da solução influenciou a viscosidade das soluções poliméricas (2) ZHANG, C.; LI, Y.; WANG, P.; ZHANG, H. Electrospinning of
formadoras de fibras. Em outro estudo, foram produzidas e investigadas nanofibers: Potentials and perspectives for active food packaging.
fibras de amido de milho nativo e aniônico com diferentes teores de Compr Rev Food Sci Food Saf. v. 19, p. 479-502, 2020.
amilose por eletrofiação. O amido aniônico foi produzido por meio da
(3) FONSECA L. M.; DE OLIVEIRA, J. P.; CRIZEL, R. L.; DA
fosfatação utilizando tripolifosfato de sódio. Os autores ainda
SILVA, F. T.; ZAVAREZ, E. R.; BORGES, C. D. Electrospun starch
investigaram diferentes tempos de descanso das soluções poliméricas
fibers loaded with pinhão (Araucaria angustifolia) coat extract rich in
(24, 48 e 72 h) que foram dissolvidas em ácido fórmico aquoso 75%.
phenolic compounds. Food Biophys. 2020. doi:10.1007/s11483-020-
Eles concluíram que as fibras de amido apresentaram diâmetros médios
09629-9
variando de 70 a 264 nm, e, as fibras produzidas com amido aniônico
Hylon V (50% de amilose) apresentaram-se mais homogêneas e (4) KONG, L.; ZIEGLE, G. R. Fabrication of pure starch fibers by
maiores em diâmetro do que aquelas submetidas a eletrofiação a base electrospinning. Food Hydrocoll. v. 36, p. 20-25, 2014.
de amido nativo Hylon V (sem modificação). Ainda, relataram que o
tempo de descanso das soluções afetou suas propriedades reológicas, (5) BHARDWAJ, N.; KUNDU, S. C. Electrospinning: A fascinating
resultando em maior heterogeneidade das fibras (13). Estudos sobre a fiber fabrication technique. Biotechnol Adv. v. 2010, p. 325-347, 2010.
eletrofiação se tornam mais interessantes quando utilizados para
encapsulação de compostos bioativos, aumentando sua aplicabilidade (6) KULKARNI, A.; BAMBOLE, V. A.; MAHANWAR, P. A.
devido às atividades antioxidantes e antimicrobianas, por exemplo. Electrospinning of polymers, their modeling and applications. Polym -
Assim, tornando viável sua aplicação na indústria de alimentos tanto na Plast Technol Eng. v.49, p. 427-441, 2010.
matriz alimentar quanto na embalagem alimentícia. No entanto, são
escassos estudos que utilizem fibras de amido com essa finalidade. (7) ASHRAF, R.; SOFI, H. S.; MALIK, A.; BEIGH, M. A.; HAMID,
Como pioneiro na encapsulação de compostos, no estudo realizado por R.; SHEIK, F. A. Recent Trends in the fabrication of starch nanofibers:
Fonseca et al., (15), foi proposto um método para encapsular carvacrol Electrospinning and non-electrospinning routes and their applications
em nanofibras eletrofiadas de amido de batata solúvel (com teor de in biotechnology. Appl Biochem Biotechnol. v. 187, p. 47-74, 2019.
amilose de 32,5 ± 3,6%). Os autores realizaram a caracterização quanto
as propriedades físicas, térmicas e mecânicas, bem como as atividades (8) FONSECA, L. M.; SILVA, F. T.; ANTUNES, M. D.; HALAL, S.
antimicrobiana e antioxidante das nanofibras. Os pesquisadores L. M.; LIM, L. T.; DIAS, A. R. G. Aging time of soluble potato starch
constataram que as nanofibras foram eletrofiadas com sucesso, e que, solutions for ultrafine fibers formation by electrospinning.
as nanofibras de amido de batata puro apresentaram morfologia Starch/Staerke. v. 71, 2019. doi:10.1002/star.201800089
fundida. Entretanto, aquelas carregadas com carvacrol apresentaram
morfologia homogênea com diâmetros médios variando de 73 a 95 nm. (9) KONG, L.; ZIEGLER, G. R. Role of molecular entanglements in
Além disso, as nanofibras de amido carregadas com carvacrol exibiram starch fiber formation by electrospinning. Biomacromolecules. v. 8, p.
alta atividade antioxidante e antimicrobiana, ressaltando, que essas 2247-2253, 2012.
atividades são promissoras em aplicações como sistemas de embalagem
ativas de alimentos para estender a vida útil e garantir a segurança dos (10) SUNTHORNVARABHAS, J.; THUMANU.; LIMPIRAT, W.;
KIM, H. J.; PIYACHOMKWAN, K.; SRIROTH, K. Assessment of
produtos alimentícios. Recentemente, em um estudo foi realizada a
material blending distribution for electrospun nanofiber membrane by
encapsulação de extrato da casca de pinhão (Araucaria angustifolia) em
fibras de amido de batata solúvel produzidas por eletrofiação e foram Fourier transform infrared (FT-IR) microspectroscopy and image
avaliadas sua atividade antioxidante e liberação de compostos fenólicos cluster analysis. Infrared Phys Technol. v. 66, p. 141-145, 2016.
in vitro. Esse estudo encapsulou com sucesso o extrato da casca de
(11) JAITURONG, P.; SIRITHUNYALUG, B.; EITSAYEAM, S.;
pinhão rico em compostos fenólicos, e ainda, as fibras produzidas
ASAWAHAME, C.; TIPDUANGTA, P.; SIRITHUNYALUG, J.
apresentaram morfologia homogênea e diâmetros médios variando de Preparation of glutinous rice starch/polyvinyl alcohol copolymer
96 a 124 nm e atividade antioxidante. Além disso, a estabilidade térmica
electrospun fibers for using as a drug delivery carrier. Asian J Pharm
do extrato foi aumentada quando incorporado nas fibras de amido e as
Sci. v. 14, p. 239-247, 2018.
fibras apresentaram rápida, mas baixa liberação de compostos fenólicos
in vitro em meios hidrofílicos e hidrofóbicos. Os autores justificam que (12) KOMUR, B.; BAYRAK, F.; EKREN, N.; EKREN, N.; EROGLU,
a rápida liberação dos fenólicos pode ser desejável para a atividade M. S.; OKTAR, F. N.; SINIRLIOGLU, Z. A.; YUCEL, S.; GULER,
antioxidante, dependendo das condições de uso final da preservação de O.; GUNDUZ, O. Starch/PCL composite nanofibers by co-axial
alimentos, e que, a liberação deve ser baixa se o objetivo da electrospinning technique for biomedical applications. Biomed Eng
encapsulação for a proteção dos fenólicos para prevenir sua degradação, Online. v. 16, p. 1-14, 2016
a fim de proporcionar uma liberação controlada e específica para
manter sua biodisponibilidade. (3). Apesar de extremamente escassos, (13) FONSECA, L. M.; DE OLIVEIRA, J. P.; DE OLIVEIRA P. D.;
a utilização de amido como encapsulante de compostos por eletrofiação ZAVAREZE, E. R.; DIAS, A. R. G.; LIM, L. T. Electrospinning of
se torna muito uma alternativa interessante, pois essa técnica não native and anionic corn starch fibers with different amylose contents.
envolve altas temperaturas ou pressões na produção de nanomateriais. Food Res Int. v. 116, p. 1318-1326, 2019.
Assim, possibilita a proteção dos compostos para não se degradarem
quando em contato com o ambiente externo. Além de propiciar uma (14) LANCUŠKI, A.; VASILYEV, G.; PUTAUX, J. L.; ZUSSMAN,
liberação controlada e específica (3). Ainda, o amido é o polímero E. Rheological properties and electrospinnability of high-amylose
natural mais abundante na natureza e extremamente barato, sendo ideal starch in formic acid. Biomacromolecules. v. 16, p. 2529-2536, 2015.
para tais aplicações (4). No entanto, ainda são escassos os estudos
elucidando a produção de materiais de amido por eletrofiação. (15) FONSECA L. M.; CRUXEN, C. E. S.; BRUNI, G. P.; Fiorentini,
Â. M.; ZAVAREZE, E. R.; Lim, L. T.; DIAS, A. R. G. Development
CONCLUSÃO: Com esse breve levantamento de dados, foi possível of antimicrobial and antioxidant electrospun soluble potato starch
concluir que embora escassos, são relatados estudos na literatura que nanofibers loaded with carvacrol. Int J Biol Macromol. v. 139, p. 1182-
alcançaram a eletrofiação de nanofibras de amido. Mais comumente, 1190, 2019.
são encontrados estudos que relatam a eletrofiação com amidos com
alto teor de amilose. Estabelecendo, que o problema da eletrofiação de

323
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Microbiológica e Sensorial de Iogurte de Seriguela

Soares, Elisângela.1; Silva, Marília2; Fonsêca, Sebastiana.2; Sousa, Poliana4; Silva, Jurandy5; Reis, Dilson.6

1
Autor Apresentador (Pôster), Especialista em gastronomia em panificação e confeitaria, Técnica do Laboratório de
Cozinha, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus Teresina Zona Sul;
2
Graduandos em Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus
Teresina Zona Sul;
4
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Técnica do Laboratório de Laticínios, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - Campus Teresina Central;
5
Doutor em Biotecnologia, Técnico do Laboratório de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Piauí - Campus Teresina Zona Sul;
6
Mestre em Ciência dos Materiais, Técnico do Laboratório de Panificação, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí, Campus Teresina Zona Sul, Teresina-PI, Brasil.
elisangela.soares@ifpi.edu.br

Palavra Chave: Aceitabilidade, fruta, lácteo, microbiologia, intenção de compra

INTRODUÇÃO

Originária da América do Sul e Central, a seriguela (Spondias


purpurea L.) é geralmente cultivada por pequenos produtores e
consumida sobretudo na forma de fruta fresca. Por ser um fruto
extremamente perecível ocorre uma significativa perda durante a
colheita, desta forma necessita de mais estudos com a utilização da
seriguela na composição de outros alimentos. Tem-se conhecimento
científico que o fruto é rico em antioxidantes, compostos que atuam
contra os temidos radicais livres e também é rico em fibras, que
auxiliam na redução das taxas de colesterol (1,2). Assim, objetivou-
se com esta pesquisa elaborar iogurtes com diferentes concentrações
de polpa de seriguela, posterior avaliação microbiológica e analisar
sensorialmente suas características organolépticas e aceitabilidade por
parte dos consumidores.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os frutos da seriguela, adquiridos no Mercado Municipal de Teresina-


PI, foram selecionados e submetidos à lavagem em água clorada (20
ppm/15 min). Em seguida, a polpa foi extraída manualmente e
triturada em multiprocessador de alimentos no Laboratório de
Panificação do IFPI Campus Teresina Zona Sul. Os demais RESULTADOS E DISCUSSÃO
ingredientes para elaboração dos iogurtes: leite pasteurizado, açúcar
refinado, leite em pó desnatado, preparado em pó de seriguela e iogurte Observou-se ausência de colônias em relação à contagem de
natural foram adquiridos no comércio local. Foram elaboradas, no coliformes a 35 °C e a 45 °C, assim como não foi detectada a presença
Laboratório de Laticínios do IFPI Campus Central, três formulações de Salmonella spp. nas amostras analisadas, apresentando-se estas
de iogurtes de seriguela (T1: iogurte com 30% de polpa de seriguela; dentro dos padrões microbiológicos designados pela legislação. Para
T2: iogurte com 20% de polpa de seriguela e T3: iogurte com 25% de um correto cálculo de Unidades Formadoras de Colônias (UFC/g) de
polpa de seriguela + 5% de preparado em pó sabor seriguela), seguindo bolores e leveduras é necessário apresentar um mínimo de 25 colônias
as normas da legislação para leites fermentados (3). O processamento em cada placa contaminada, porém nenhuma das amostras alcançou
dos iogurtes foi realizado de forma artesanal conforme o fluxograma este nível de contaminação.
apresentado na (Figura 1)(4).
Segundo a análise sensorial (Tabela 1)(7), pôde-se observar que o
Foram realizadas as determinações do NMP de Coliformes Totais e quesito Aparência manteve uma nota média para as três formulações
Termotolerantes, Salmonella spp., Bolores e Leveduras, seguindo-se de 7,156 (±1,353) não diferindo significativamente entre si,
as diretrizes gerais da RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001(5). A caracterizando que os provadores “Gostaram moderadamente” das
análise sensorial, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFPI amostras apresentadas. Para o Aroma, a formulação T3 apresentou a
sob o CAAE 16927819.0.0000.9207, foi realizada com 141 pessoas maior média de 7,227 (±1,475) em relação a T1 e T2, diferindo
não treinadas, de ambos os sexos e idade variada. Para cada provador significativamente destas amostras. Da mesma forma que o quesito
foi fornecido 3 formulações de iogurte e solicitado que avaliassem os Aroma, também se manifestou pelos provadores que o Sabor da T3
atributos aparência, aroma, sabor, textura, aceitação global e intenção manteve a maior média 7,468 (±1,637) em relação as demais
de compra de cada amostra. Os tratamentos experimentais para as formulações diferindo estatisticamente delas. Para o quesito Textura,
análises microbiológicas e sensoriais foram constituídos pela Análise as amostras T3 e T2 apresentaram as maiores médias 7,436 (±1,400) e
de Variância e teste de comparação de médias Tukey ao nível de 5% 7,113 (±1,503), respectivamente, não diferindo estatisticamente entre
(6). si. A Aceitação Global se apresentou com maior média de 7,514
(±1,375) para a formulação T3 diferindo estatisticamente das demais
amostras, caracterizando-se como um iogurte que facilmente seria
Figura 1 – Etapas do processo de elaboração dos iogurtes saborizados aceito pelos consumidores. Com uma média de 4,129 (±1,124) para a
com seriguela. formulação T3, que difere significativamente das demais, a Intenção
de Compra demonstrada pelos provadores seguiu o padrão dos

324
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

resultados dos quesitos anteriores, demonstrando que o iogurte T3 é o


mais aceito e provavelmente seria facilmente adquirido no comércio.

Tabela 1 - Valores médios atribuídos aos quesitos sensoriais dos


iogurtes elaborados com diferentes concentrações de polpa de
seriguela.

CONCLUSÕES

Constatou-se que as três formulações de iogurte de seriguela


apresentaram resultados microbiológicos consistentes com a
legislação, atestando condições adequadas de higiene ao longo do
processamento dos tratamentos e que os iogurtes possuem qualidade
higiênico-sanitária satisfatória. Sensorialmente, destacou-se a
formulação T3 por parte dos provadores, caracterizando-se como um
produto de consumo fácil no mercado brasileiro. Diante disso, a adição
de polpa de seriguela na produção de iogurtes torna-se uma alternativa
de renda aos pequenos produtores, além de agregar valor comercial e
nutricional ao produto.

REFERENCIAS

1.TASSARA, H. SILVA, S. Frutas Brasil frutas. São Paulo: Editora


Empresa da Artes, 2005. p. 322

2.LIMA, I. C. G. S. Seriguela (Spondias purpúrea L.): propriedades


físico-químicas e desenvolvimento de geléia de doce de corte e
aceitabilidade desses produtos. Rio de Janeiro: UFRRJ, 2009. 87 p

3.BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento.


Resolução n. 05 de 13 de novembro de 2000. Padrões de Identidade e
Qualidade de Leites Fermentados. Diário Oficial da República
Federativa Do Brasil. Brasília, 02 jan. Seção 1, p. 19-22

5.BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 12


de 02 de janeiro de 2001. Padrões microbiológicos para alimentos.
Diário Oficial da República Federativa Do Brasil. Brasília, DF, 10 jan.
2001. n.7

6.STATISTICAL ANALYSIS SISTEM. SAS. System for linear


models. Cary: SAS Institutte, 1997. 211p.

325
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Queijo Minas Frescal adicionado de Nisina e avaliação do seu efeito inibitório


sobre Listeria monocytogenes ATCC 7644

Luana Souza1, Raiane Silva2, Luis Gustavo Nascimento1, Camila Teixeira1, Evandro Martins3, Antônio de
Carvalho3

1
Doutorando(a) em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
2
Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
3
Professor Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
Autor correspondente: luana.virginia@ufv.br

Palavras-chave: Bacteriocina; Conservação de Alimentos; encapsulamento.

INTRODUÇÃO umidade foi removido por sua exposição ao ambiente por 1 hora
(temperatura 25 ℃).
O queijo Minas Frescal é um produto obtido por coagulação enzimática
do leite. Esse queijo é um dos produtos não curados mais populares e Elaboração do Queijo Minas Frescal
produzidos no Brasil, apresentando um expressivo valor
socioeconômico e cultural. É considerado um alimento de fácil Os queijos foram elaborados em escala laboratorial. O leite destinado
produção, elevado consumo, porém, de consumo imediato e curta vida à elaboração dos queijos foi submetido à Pasteurização (65°C/ 30
de prateleira (1,2). De acordo com Câmara et al. (2002), o queijo Minas min), resfriado a 34°C e adicionado de Cloreto de Cálcio (Macalé,
Frescal, apresenta elevado teor de umidade, é altamente perecível e Juiz de Fora, Brasil) 0,02% (v/v) e coagulante Quimosina (18 g/L)
muito manipulado em seu processo de produção, sendo susceptível a (Prozyn, São Paulo, Brasil). Em seguida, o leite foi levemente
contaminação e multiplicação de microrganismos patogênicos e agitado e deixado em repouso por aproximadamente 45 minutos para
deterioradores (4). A contaminação microbiana em queijos merece a coagulação do leite. Ao final da coagulação, foi realizado o corte da
destacada atenção sobre bactérias patogênicas dos gêneros Salmonella, massa com um auxílio de uma lira. Em seguida, realizou-se uma leve
Staphylococcus aureus e Listeria monocytogenes que podem ser agitação da massa e posterior retirada de soro. Para dar aos queijos a
encontradas em derivados lácteos. Entre esses microrganismos, forma característica, prosseguiu-se com a etapa de enformagem, onde
podemos destacar a L. monocytogenes que é um agente causador de as massas foram inseridas em formas com capacidade para 250
enfermidades graves em homens e animais, é amplamente distribuída gramas de queijo. Posteriormente, foram realizadas duas viragens e
na natureza, tendo como principal característica a capacidade de uma salga a seco (1,2% m/m). Os queijos foram armazenados a 10°C
multiplicação em temperaturas de refrigeração e relativa resistência para as análises posteriores.
térmica (5). Do ponto de vista industrial, a adição de bacteriocinas e
outros agentes antimicrobianos naturais é uma alternativa para o Preparo da cultura
controle microbiológico em alimentos. As bacteriocinas possuem a
capacidade de interferir, por efeito bactericida ou bacteriostático, no Culturas de Listeria monocytogenes ATCC 7644 pertencentes à
crescimento de outras bactérias de espécies relacionadas. Entre as coleção de culturas do laboratório de Leite e Derivados
bacteriocinas conhecidas pode-se destacar a nisina, que possui um (INOVALEITE) foram previamente ativadas. Para isso, adicionou-se
amplo espectro de ação contra a maioria das bactérias Gram-positivas e 1 % da cultura em tubos Falcon contendo 10 mL de caldo Brain
seu principal mecanismo de ação está relacionado à formação de poros Heart Infusion - BHI (Oxoid, Hampshire, Reino Unido). Em seguida,
na membrana citoplasmática, resultando no extravasamento de material o tubo foi incubado a 37 °C por 24 horas. Após o período de
celular e consequentemente morte celular (6). Devido às características incubação, o tubo foi centrifugado (Thermo Scientific,
antimicrobianas da nisina e por sua adição ser permitida em queijos no Langenselbold, Alemanha) a 4500 rpm por 10 minutos e o
Brasil, estudos relacionam um alto potencial da sua aplicação com sobrenadante foi descartado. Foram realizadas duas lavagens
intuito de verificar a sua capacidade antagonista sobre diversos sucessivas com solução salina 0,85% e entre as lavagens ocorreram
microrganismos e em diferentes queijos. Pinto et al. (2011) verificaram centrifugações. Após a segunda lavagem e centrifugação, o pelete foi
o efeito antagonista de nisina sobre S. aureus em queijo Minas ressuspendido em 10 mL de caldo BHI para a posterior inoculação
artesanal do Serro (7). Márquez e Rojas (2017) avaliaram o efeito nos queijos.
inibitório da nisina sobre a Listeria monocytogenes em queijo tipo
“telita” (8). Tendo em vista os aspectos apresentados, o objetivo deste Análise microbiológica
estudo foi avaliar o efeito inibitório da nisina em solução e encapsulada
sobre L. monocytogenes em queijo Minas Frescal.
Para avaliação do efeito antimicrobiano das cápsulas de Nisina
aplicadas ao queijo Minas Frescal foram realizados três tratamentos
MATERIAIS E MÉTODOS em duplicata (T1,T2 e T3), sendo o T1 – Tratamento controle
(Listeria); T2 – Listeria + Solução de Nisina; T3 – Listeria + Cápsula
Elaboração das Cápsulas de Nisina de Nisina. O inóculo da cultura a ser adicionado aos tratamentos foi
padronizado para 1,8x106 UFC·mL-1 e a concentração de Nisina (T2
As cápsulas foram elaboradas através do método de gelificação direta
e T3) foi de 12,5 mg/Kg que é a concentração máxima permitida pela
conforme descrito por Narsaiah et al. com modificações (9).
legislação brasileira para uso em alimentos (10). Os tratamentos
Inicialmente, foi disperso em água deionizada alginato de sódio
foram realizados nos queijos na produção antes da etapa de
(Dinâmica, Indaiatuba, Brasil) a uma concentração de 20 g/L. Após a
enformagem e prosseguidos de incubação a 10°C. Foram avaliados
reidratação do alginato , foi adicionada nisina (Globalfood, Lubeque,
os tempos 0, 0,5, 1, 2, 8, 24 e 72 h. Em cada tempo a ser avaliado
Alemanha) na concentração de 1,2 g/L. A dispersão da nisina foi
foram pesadas 25 g do queijo de cada tratamento em sacos estéreis e
realizada usando agitador magnético (SpLabor, São Paulo, Brasil) a
diluídos em 225 ml de solução citrato de sódio (2% m/v) (Sigma
700 rpm até completa reidratação, que ocorreu em aproximadamente 15
Aldrich, Darmstadt, Alemanha) e homogeneizadas em stomacher
minutos. Para o processo de gelificação a suspensão foi gotejada a uma
BagMixer (Interscience, França). Posteriormente, prosseguiu-se com
distância de 6 cm em um banho de cloreto de cálcio (Macalé, Juiz de
a realização de diluições seriadas e o plaqueamento foi realizado em
Fora, Brasil) à 20 g/L sob agitação constante. As cápsulas foram
ágar seletivo Oxford (HIMEDIA, Mumbai, Índia). A incubação foi
formadas e permaneceram em contato com o banho por 5 minutos.
realizada a 37°C por 72 horas. Após incubação foi realizada a
Posteriormente, foram retiradas cuidadosamente e o excesso de

326
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

contagem em UFC·mL-1 em cada tempo definido e os resultados


foram expressos em log. A análise dos dados experimentais foi REFERÊNCIAS
realizada no programa computacional SASM-Agri versão Beta com
teste de Tukey. 1.NASCIMENTO, M. S.; MORENO, I.; KUAYE, A. Y.
Applicability of bacteriocin producing Lactobacillus plantarum,
.RESULTADOS E DISCUSSÃO Enterococcus faecium and Lactococcus lactis ssp. lactis as adjunct
starter in Minas Frescal cheesemaking. International Journal of Dairy
Os resultados das contagens de cada tratamento em cada tempo Technology, v. 61, n. 4, p. 352-357, 2008.
avaliado (0, 0,5, 1, 2, 8, 24 e 72h ) estão descritos na Figura 1.
2.VISOTTO, R. G.; OLIVEIRA, M. A.; PRADO, S. P. T.;
9,00 BERGAMINI, A. M. Queijo Minas Frescal: perfil higiênico-sanitário e
avaliação da rotulagem. Revista Instituto Adolfo Lutz, v. 70, n. 1, p. 8-
8,50 15, 2011.
8,00
2.RIBEIRO, E. P.; SIMÕES, L. G.; JURKIEWICZ, C. H.
Log UFC/mL

7,50 Desenvolvimento de queijo Minas Frescal adicionado de


Lactobacillus acidophilus produzido a partir de retentados de
7,00 ultrafiltração. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 1, p. 19-
23, 2009.
6,50

6,00 3.CÂMARA, S.A.V.; A MARAL, G.B.; MULLER, M.T.; S


0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 ILVEIRA, K.C.S.; ALMEIDA, T.N.; MEDEIRO, C.F. Avaliação
Tempo (horas) microbiológica de queijo tipo minas frescal artesanal,
Controle Tratamento 2 Tratamento 3
comercializados no mercado municipal de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul. Higiene Alimentar, v.16, n.101, p.32-36, 2002.

Figura 1. Resultado das contagens (T1, T2 e T3) em log UFC·mL-1 nos 4.McAULIFFE, O.; RYAN, M. P.; ROSS, R. P.; HILL, C.;
tempos (0, 0,5, 1, 2, 8, 24 e 72h ). BREEUWER, P.; ABEE, T. Lacticin3147,a broadspectrum
bacteriocin which selectively dissipates the membrane potential.
Em todos os tratamentos os resultados mostraram que não houve Applied and Environmental Microbiology, V.64, p.439, 1998.
diferença estatística significativa entre eles (p˃0,05). Isso indica que
independente do tratamento realizado com a Nisina, seja encapsulada 5.INTERNATIONAL COMISSION ON MICROBIOLOGICAL
ou em solução, não ocorreu o efeito inibitório sobre Listeria SPECIFICATION FOR FOODS. I – Their significance and methods
monocytogenes nos queijos. Além disso, após o período de 2h de of enumeration. 2.ed. Toronto: Toronto University Press, 2000.
incubação, em todos os tratamentos ocorreu um aumento gradativo na 439p.
população de L. monocytogenes. Estudos demonstram que algumas
estirpes de Listeria monocytogenes tem capacidade de se adaptar em 5.PINTO, F. G. S. et al. Qualidade microbiológica de queijo Minas
ambientes mais ácidos, como por exemplo, em alguns tipos de queijos Frescal comercializado no município de Santa Helena, PR, Brasil.
(11). Essa adaptação pode ocorrer devido à ativação do mecanismo de Arquivos do Instituto Biológico, v. 78, n. 2, p. 191-198, 2011.
resposta ao estresse. Assim, podem modificar sua membrana celular,
alterando os sítios de ligação em que a Nisina se adere (11,12). Além 6.MÁRQUEZ, J. G.; ROJAS, C. E. G. Efecto de la nisina sobre la
da acidez, outro fator importante pode influenciar na atividade de microflora patógena del queso blanco artesanal tipo “telita’ elaborado
Nisina sobre Listeria monocytogenes, como a concentração de sal em uma quesera de Upata, Estado Bolívar, Venezuela. Revista de la
presente no substrato. Algumas concentrações de Nacl podem fornecer Sociedad Venezolana de MIcrobiología, V 27, n 2, p.108-111, 2007,
um efeito protetivo sobre Listeria, impedindo a eficiência na ação da
Nisina (13). Há relatos de estirpes também resistentes a várias 9.NARSAIAH, K.; JHA, S. N.; WILSON, R. A.; MANDGE, H. M.;
concentrações de sal. Alguns autores atribuíram esse fenômeno à MANIKANTAN, M. R. Optimizing microencapsulation of nisin with
interferência do sal no metabolismo microbiano que interfere no fator sodium alginate and guar gum. Journal of food science and
de produção que liga o indutor ao receptor (14). Em contrapartida, technology, 51, 4054-4059, 2014.
estudos apontam que a Nisina pode até não apresentar eficácia para
controlar Listeria em queijos frescos, mas apresentam um potencial 10. BRASIL. Portaria nº. 146, de 7 de Março de 1996. Regulamento
sinérgico forte quando combinada com outras substâncias e/ou métodos técnico de identidade e qualidade de queijos. Diário Oficial da
de conservação de alimentos (15). Ibarra Sánchez et al. (2018) República Federativa do Brasil, Brasília, DF.
aplicaram nisina em queijo fresco e durante o armazenamento sobre
refrigeração não foi capaz de inibir a multiplicação de L. 11.CATALDO,G.; CONTE, M. P.;CHIARINI, F.; SEGANTI, L.;
monocytogenes nesse queijo. Já a combinação dessa nisina com uma AMMENDOLIA, M. G.; SUPERTI, F.; LONGHI, C. Acid
endolisina demonstrou uma forte sinergia com inibição total de L. adaptation and survival of Listeria monocytogenes in Italian-style
monocytogenes no queijo após 4 semanas de armazenamento (15). A soft cheeses. Journal of Applied Microbiology, v. 103, n. 1, p. 185-
eficiência da atividade inibitória de nisina também pode estar 193, 2007.
relacionada com o nível de contaminação do microrganismo, sendo
que, neste estudo o inóculo inicial aplicado aos queijos já estava na 12.OKEREKE, A.; THOMPSON, S. S. Induced acid-tolerance
concentração de 1,8x106 UFC·mL-1. Uma vez que a contaminação response confers limited nisin resistance on Listeria monocytogenes
inicial é alta, a eficiência da bacteriocina pode ser reduzida sendo Scott A. Journal of food protection, v. 59, n. 9, p. 1003-1006, 1996.
incapaz de prevenir a multiplicação do contaminante (13).
13.HUGAS, M.; GARRIGA, M.; PASCUAL, M.; AYMERICH, M.
CONCLUSÃO T.; MONFORT, J. M. Enhancement of sakacin K activity against
Listeria monocytogenes in fermented sausages with pepper or
A nisina em solução e encapsulada não foi capaz de inibir o manganese as ingredients. Food Microbiology, v. 19, n. 5, p. 519-
crescimento de L. monocytogenes em queijo minas frescal neste estudo. 528, 2002.
Além disso, o inóculo inicial utilizado de 1,8x106 UFC·mL-1 de Listeria
pode ter influenciado na eficiência da nisina. Além do inóculo, as 14.NILSEN, T., NES, I. F.; Holo, H. An exported inducer peptide
condições do ambiente do queijo, tais como, pH e concentração de sal regulates bacteriocin production in Enterococcus faecium
podem também ter influenciado na eficiência inibitória. Dessa forma, CTC492. Journal of Bacteriology, 180, 1848-1854, 1998.
mais estudos com a aplicação de Nisina em diferentes concentrações do
inóculo, aplicação em diferentes matrizes lácteas e uma avaliação por 15.IBARRA-SÁNCHEZ, L. A.; VAN TASSEL, M. L.; Miller, M. J.
um tempo maior pode ser uma alternativa para uma verificação de um Antimicrobial behavior of phage endolysin PlyP100 and its synergy
aumento na eficiência da Nisina. with nisin to control Listeria monocytogenes in Queso Fresco. Food
microbiology, 72, 128-134, 2018.

327
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Qualidade Pós-Colheita De Frutos Oriundos Do Cerrado Norte-Mineiro

Raissa Q. Andrade¹, Gabriel S. L. Pereira¹, Melissa A. R. Silva ², Thalita C. Santos3, Camila A. Jesus4, Juliana P. Lima5
¹Estudante de Graduação em Engenharia de Alimentos no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de
Minas Gerais, Campus Regional de Montes Claros - MG; ²Estudante de Graduação em Engenharia Agrícola e
Ambiental na no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Regional de Montes
Claros- MG;³Mestranda em Alimentos e Saúde no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas
Gerais, Campus Regional de Montes Claros -MG; 4Doutoranda em Engenharia e Ciências de Alimentos na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BA; 5Doutora em Ciência dos Alimentos, Professora Ajunto do Instituto
de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Regional de Montes Claros– MG.
raissaq66@gmail.com
Palavras Chave: cagaita, coquinho-azedo, pitomba, análises físico-química

Introdução (luminosidade, em escala de 0 (preto) a 100 (branco)), a* (escala de


tonalidades de verde a vermelho) e b* (escala de tonalidades de azul a
O cerrado brasileiro possui uma grande diversidade de plantas amarelo). A partir dos parâmetros a* e b* foi calculado o Chroma e
frutíferas, que vem sendo utilizada ao decorrer dos anos pelos ângulo Hue.
habitantes locais, além de possuir grande potencial agroindustrial. No - Delineamento experimental e Análise estatística: O experimento foi
entanto, características químicas destes frutos são ainda pouco conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC),
conhecidas, dificultando assim o desenvolvimento tecnológico para contendo 5 repetições. Os dados foram submetidos a análise de
aplicação nestes frutos (1). Como exemplos dessas frutíferas temos o variância e quando significativo utilizou-se do teste de médias Scott-
coquinho-azedo (Butia capitata) a pitomba (Talisia esculenta) e a Knott ao nível de 5% de significância.
cagaita (Eugenia dysenterica).
o coquinho-azedo é um tipo de palmeira encontrada desde a Bahia ao Resultados e Discussão
Uruguai, nas regiões de cerrado e zonas arenosas (2). O seu fruto é
consumido in natura ou processado como em sorvetes, geleias e Após a realização das análises os seguintes resultados foram
sucos, além disso, o óleo extraído da sua semente é usualmente encontrados, e podem ser observados na tabela 1.
utilizado em preparações de pratos culinários (3,4).
A pitomba é uma fruta de origem amazônica que floresce de maneira Tabela 1. Análises de sólidos solúveis, acidez, ratio, firmeza, vitamina
silvestre e na atualidade é encontrada em quase todo território C e coloração de coquinho-azedo, pitomba e cagaita.
brasileiro (5) incluindo no bioma cerrado. A pitomba possui uma Análises Coquinho-azedo Pitomba Cagaita
polpa suculenta de sabor adocicado que reveste o seu caroço. Este
S.S. ¹ 8,00 ± 0,00 b 16,02 ± 0,57 a 8,60 ± 1,08 b
fruto é consumido basicamente na sua forma in natura (6) e é
facilmente encontrado em mercados regionais. Acidez ² 0,97 ± 0,01 c 2,40 ± 0,22 a 1,92 ± 0,13 b
A cagaiteira possui frutos de formato globular com casca delicada e de Ratio 8,22 ± 0,00 a 6,74 ± 0,75 b 4,51 ± 0,95 c
cor amarelada e sabor ligeiramente ácido (7). O consumo da cagaita é
Firmeza ³ 24,38 ± 4,11 a 28,38 ± 5,96 a 10,15 ± 1,43 b
feito tanto do fruto in natura quanto em sucos, geleias, sorvetes e
licores (8), que podem ser encontrados em algumas regiões do Brasil Vit. C 4 57,58 ± 4,29 c 178,57 ± 16,84 a 75,07 ± 3,32 b
dependendo da época do ano, já que por se tratar de um fruto sazonal L* 63,71 ± 7,45 a 53,69 ± 4,12 b 55,48 ± 3,70 b
e ainda sem técnicas de processamento eficazes para o aumento da
Chroma 41,06 ± 4,15 a 37,18 ± 3,34 a 39,66 ± 3,20 a
vida de prateleira destes produtos (9).
Devido a crescente exploração dos frutos do cerrado, as análises °Hue 104,41 ± 7,09 b 68,51 ± 5,43 c 113,38 ± 2,53 a
físico-químicas são de suma importância para caracterização dos Análise de variância ANOVA e teste de médias Scott-Knott ao nível
frutos e para viabilizar possíveis meios de exploração e de 5% de significância. Letras minúsculas diferentes na mesma linha
processamento. Sendo assim, o objetivo deste presente trabalho foi indicam diferença significativa entre os frutos.
analisar características de qualidade pós-colheita de frutos oriundos do ¹ S.S.:Sólidos Solúveis (ºBrix). ² Acidez titulavel expressa em % ácido
cerrado norte-mineiro, a saber: coquinho-azedo, pitomba e cagaita. cítrico. ³ Firmeza do coquinho-azedo e pitomba expressa em N/cm² e
da cagaita expressa em .4Vit. C: Vitamina C em mg/100g.
Material e Métodos
Sobre os sólidos solúveis nota-se que o coquinho-azedo e cagaita não
Os frutos foram colhidos no município de Montes Claros no norte de tiveram diferença entre si ,mas foram diferentes da pitomba, já que
Minas Gerais e encaminhados ao laboratório de Pós-colheita e esta apresentou um teor bem elevado. Para o coquinho-azedo foi
Processamento de Vegetais do Instituto de Ciências Agrárias da encontrado o valor de 8º Brix, já em um estudo onde foram avaliados
Universidade Federal de Minas Gerais, onde foram realizadas as frutos de três diferentes populações de butiazeiros da cidade Santa
análises. Posteriormente os frutos foram submetidos a etapa de Vitória do Palmar – RS obtiveram valores médios 11,38 a 11,78º
seleção, escolhendo os frutos isentos de pragas ou danos mecânicos, Brix(11). Para a pitomba foi encontrado o valor de 16,02 ºBrix, valor
sanitização (50 ppm de hipoclorito de sódio/10 min) e drenagem. Em superior ao encontrado na literatura, 14,13 ºBrix para pitombas (12).
seguida os frutos foram analisados quanto: Para a cagaita o valor achado foi de 8,60 ºBrix, resultado ligeiramente
- Sólidos Solúveis: a análise de sólidos solúveis da polpa dos frutos foi superior ao relatado em cagaitas da safra de 2011, onde para sólidos
realizada com o auxílio do refratômetro digital portátil e os resultados solúveis encontrado foram de 7,18 ºBrix(13)
expressos em ºBrix. Analisando os resultados encontrados podemos perceber que o teor de
- Acidez: realizada a partir de titulação, onde foi utilizado solução de acidez titulavel dos três frutos possuiu diferenciação entre si, sendo o
hidróxido de sódio (NaOH) com concentração de 0,1N e fenolftaleína maior teor observado na pitomba, seguido da cagaita e por último o
como indicador. Os resultados foram expressos % ácido cítrico. coquinho-azedo. Em relação ao coquinho- azedo o valor encontrado
- Ratio: feito a partir da razão entre o teor de sólidos solúveis e acidez. foi de aproximadamente 0,97 % ácido cítrico o qual foi inferior ao
- Firmeza: para cagaita utilizou-se penetrômetro e os resultados foram relatado na literatura, já que os valores obtidos para os frutos de três
expressos em newtons(N). Já para coquinho-azedo e pitomba utilizou- populações e safras diferentes de butia foram entre 2,81 e 2,59 %
se o método de aplanação (10) e os resultados foram expressos em ácido cítrico (11). Para pitomba o valor mensurado foi de 2,40 %
N/cm². ácido cítrico, quase três vezes superior ao reportado na literatura 0,87
- Vitamina C:a extração foi feita com ácido oxálico 1%. Já a % ácido cítrico (12). E para a cagaita foi encontrado o resultado de
determinação foi feita por titulação, onde o titulante utilizado foi 2,6- 1,92 % ácido cítrico já o apresentado por outros autores, para cagaita
diclorofenolindofenol-sódio a 0,2. da safra de 2011 foi de 1,48% ácido cítrico (13).
- Colorimetria: utilizou-se de colorímetro portátil com escala do O valor de ratio é o resultado da razão entre os sólidos solúveis e
sistema de cor CIELab, sendo avaliados os parâmetros L* acidez titulavel, sendo este relaconado ao índice de maturação e sabor

328
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

de frutos (14). Observando os resultados percebemos que para ratio os Agradecemos a Universidade Federal de Minas Gerais e o apoio
três frutos apresentaram diferença entre si, com maior razão para o financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
coquinho-azedo, seguido pela pitomba e depois a cagaita. Para o Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
coquinho azedo o valor obtido foi de 8,22, resultado bem superior de Minas Gerais (FAPEMIG).
quando comparado com a literatura (4,75 e 6) (11). A pitomba deste
estudo apresentou o ratio 6,74 bem inferior ao obtido em outro estudo Referências bibliográficas
com pitombas(16,53) (12) o que caracteriza uma grande diferença no
ponto de maturação dos frutos estudados nos dois estudos. A cagaita (1)SILVA, M. R.; LACERDA, D. B. C. L.; SANTOS, G. G.;
mostrou o resultado de 4,51 para ratio, resultado bem semelhante MARTINS, D. M. O. Caracterização química de frutos nativos do
(4,85) ao obtido para cagaitas da safra de 2011, resultado calculado a cerrado. Cienc. Rural v.38, n.6, p. 1790-1793, 2008.
partir dos dados expostos no estudo (13). (2) MARCATO, A. C.; PIRANI, J. R. Flora de Grão-Mogol, Minas
No quesito firmeza, coquinho-azedo e pitomba não apresentaram Gerais: Palmae (Arecaceae). Bol. Bot. Univ. de São Paulo, v.24, p.1-
diferença entre si, mas foram diferentes da cagaita, sendo esta obtendo 8, 2006.
um valor menor que as demais frutas. (3) MARTINS, E. R. Projeto Conservação de recursos genéticos de
Para coquinho- azedo o resultado encontrado foi de 24,38 N/cm², já espécies frutíferas nativas do Norte Mineiro: coleta, ecogeografia e
para pitomba a firmeza obtida foi de 28,38 N/cm². Para a cagaita a etnobotânica. Montes Claros: UFMG, 2003. 76p. (Relatório
firmeza encontrada foi de 10,15 N, resultado inferior ao de 13 N Institucional).
encontrado na literatura para fruta matura (15). Frutos com baixa (4) MERCADANTE-SIMÕES, M. O.; FONSECA, R. S.; RIBEIRO,
firmeza, como é o caso da cagaita são menos resistentes ao manuseio L. M.; NUNES, Y. R. F. Biologia reprodutiva de Butia capitata
pós-colheita, ao transporte e armazenamento, o que dificulta sua (Mart.) Beccari (Arecaceae) em uma área de cerrado no norte de
comercialização. Todos os frutos estudados neste trabalho Minas Gerais. RUC, v. 8, n. 2, p. 143-149, 2006.
apresentaram teores elevados de vitamina C, apresentando a pitomba o (5) GUARIM NETO, G.; SANTANA, S.R.; SILVA, J.V.B.
maior teor (178,57 mg/100g), seguida pela cagaita (75,7 mg/100g) e Repertório botânico da pitombeira (Talisia esculenta (St.–Hil.) Radlk.
por fim o coquinho-azedo (57,58 mg/100g). Tais resultados foram - Sapindaceae). Acta Amazonica, Manaus, v.33, n.2, p.237-242, 2003.
ligeiramente semelhantes com os encontrados na literatura, 200,68 (6) PEREIRA, C. R. Formação Gastronômica do Cerrado – Estado do
mg/100g para pitomba (16), 34,11 mg/100g para cagaita (7) e 53 Goiás. 2007. 52f. Dissertação (Especialista em Gastronomia e Saúde)
mg/100g para o coquinho-azedo (17). – Centro de Excelência em Turismo e Pós-graduação Lato Sensu,
Se compararmos com outros frutos conhecidos como fonte de Universidade de Brasília, Brasília -DF, 2007.
vitamina C, como a laranja baía, laranja pêra e tangerina Poncã que de (7) CARDOSO, L. M.; MARTINO, H. S. D.; MOREIRA, A. V. B.;
acordo com a tabela Taco (18) possuem 56,9 mg/100g, 53,7 e 48,8 RIBEIRO, S. M. R.; Pinheiro-Sant'Ana, H. M. Cagaita (Eugenia
mg/100g respectivamente, podemos reafirmar os altos teores de dysenterica DC.) of the Cerrado of Minas Gerais, Brazil: Physical and
vitamina C dos frutos deste estudo. Em relação aos dados chemica characterization, carotenoids and vitamins. Food Res. Int. v.
colorimétricos, ressalta-se que o parâmetro Chroma define a saturação 44, n 7, p. 2151–2154, 2011.
da coloração dos frutos, sendo que quanto maior os valores desta (8) SILVA, R. S. M.; CHAVES, L. J.; NAVES, R. V. Caracterização
variável, maior a intensidade da coloração. Já o ângulo Hue (ºh), de frutos e árvores de cagaita (Eugenia dysenterica DC.) no sudeste
determina graficamente os ângulos de 0º, 90º, 180º e 270º como sendo do Estado de Goiás, Brasil. ver. Bras. de Frut. v. 23, n. 2, p. 330-334,
referente as cores vermelha, amarela, verde e azul respectivamente. E 2001.
finalmente o valor da coordenada L* indica a luminosidade do fruto, (9) SANTOS, P. R. G.; CARDOSO, L. D. M., BEDETTI, S. D. F.,
podendo variar numa escala de 0 (preto) a 100 (branco) (19). HAMACEK, F. R., MOREIRA, A. V. B., MARTINO, H. S.
Observando os dados de colorimetria percebe-se que para o valor L* a D.;PINHEIRO-SANT'ANA, H. M. Geleia de cagaita (Eugenia
pitomba e cagaita não tiveram diferença entre si, mas foram diferentes dysenterica DC.): desenvolvimento, caracterização microbiológica,
do coquinho-azedo que apresentou-se mais claro. Para Chroma, os sensorial, química e estudo da estabilidade. Rev. Inst. Adolfo Lutz
frutos não possuíram diferenciação entre si, apresentando uma (Impr.), v. 71, n. 2, p. 281-290, 2012.
intensidade de cor moderada. Já o ºHue dos três frutos apresentaram (10) CALBO, A. G.; NERY, A. A. Medida de firmeza em hortaliças
diferenças, indicando que a cagaita tem cor tendendo ao amarelo, o pela técnica de aplanação. Hortic. Bras. v.13, n.1, p.14-18, 1995.
coquinho-azedo apresenta coloração amarelo-esverdeada e a pitomba (11) SCHWARTZ, E.; FACHINELLO, J. C.; BARBIERI, R. L.;
apresenta um tom ligeiramente avermelhado. Já comparando-se os SILVA, J. B. Avaliação de populações de Butia capitata de Santa
resultados, a cagaita apresentou valores de L* (55,48) superior ao Vitória do Palmar. Rev. Bras. Frutic. Jaboticabal, v. 32, n. 3, set.
relatado na literatura de 49,65 (13), indicando frutos mais claros do 2010.
que o trabalho comparativo. O coquinho-azedo do nosso estudo (12) ALMEIDA, R. R. Qualidade pós-colheita de pitombas in natura
apresentou resultado semelhante de L* (63,71) e valor superior de submetidas a diferentes temperaturas, embalagens e doses de radiação
ºHue (104,41) quando comparado ao descrito na literatura (65,78 de uv-c. 2019. 110f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Sistemas
luminosidade e 70,21 de ºHue), o que indica que nosso fruto estava Agroindustriais) – Campus Anápolis de Ciências Exatas e
com uma tonalidade mais esverdeada do que os frutos do trabalho Tecnológicas Henrique Santillo, Universidade Estadual do Goiás,
comparativo (11). Para a pitomba o valor de L* encontrado foi de Anápolis-GO, 2019.
53,69, Chroma de 37,18 e ºHue de 68,51 que ao ser comparados com (13) CAMILO, Y. M. V., SOUZA, E. R. B., VERA, R.; NAVES, R.
outro estudo sobre pitombas onde a luminosidade foi 52,95, Chorma V. Caracterização de frutos e seleção de progênies de cagaiteiras
24,38 e ºHue 84,12, percebe-ce que os valores de L* foram (Eugenia dysenterica DC.). Científica, v. 42, n.1, p. 1-10, 2014.
semelhantes, sendo o valor de Chroma superior e o de ºHue inferior ao (14) CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas
estudo em comparação (12) o que mostra que os frutos de nossa e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras UFLA, 2005. 785 p.
pesquisa eram mais avermelhados e com maior intensidade de (15) SILVA, M. M. M. Estudo do desenvolvimento fisiológico da
coloração. Por fim, ressalta-se que as variações existentes nos cagaita (Eugenia dysenterica). 2016. 121f. Dissertação (Mestrado em
resultados dos componentes avaliados deste trabalho e dos Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Escola de Agronomia,
mencionados na literatura para os mesmos frutos, podem ser Universidade Federal do Goiás, Goiânia, 2016.
explicadas pelas diferenças de cultivar, pelo período de safra, pelas (16) FRAGA, L. N. Compostos bioativos, capacidade antioxidante e
condições edafoclimáticas ou mesmo do grau de maturação dos frutos citotoxicidade da casca e polpa da pitomba (Talisia esculenta (st. Hil.)
utilizados pela análise. Raldk). 2018. 132f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Nutrição) –
Conclusão Universidade Federal do Sergipe, São Cristovão-SE, 2018.
Podemos concluir que os frutos analisados apresentaram diferenças e (17) FARIA, J. P.; ALMEIDA, F.; SILVA, L. C. R.; VIEIRA, F. R.;
similaridades entre os parâmetros avaliados, o que era de se esperar, AGOSTINI-COSTA, T. S. Caracterização da polpa do coquinho-
por se tratarem de frutos distintos. De modo geral, ressalta-se que azedo (Butia capitata var capitata). Rev. Bras. Frutic. v.30, n.3, p.
coquinho-azedo, pitomba e cagaita possuem características 827-829, 2008.
interessantes que fortalecem o consumo do fruto in natura, bem como (18) Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO. 4ª
na elaboração de subprodutos de elevado valor agregado. Além do edição revisada e ampliada– UNICAMP. Campinas 2011. Disponível
que, ratifica-se que o conhecimento destas propriedades físico- em:<https://www.cfn.org.br/wpcontent/uploads/2017/03/taco_4_edica
químicas facilitará o desenvolvimento de técnicas tanto de o_ampliada_e_revisada.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2020.
aproveitamento quanto para processamento destes frutos. (19) PATHARE, P. B.; OPARA, U. L.; AL-SAID, F. A. Colour
measurement and analysis in fresh and processed foods: a review.
Agradecimentos Food Bioproc. Tech. 6, 36-60, 2013.

329
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Comportamento pós-colheita de frutos de Butia capitata armazenados em diferentes


embalagens
Raissa Q. Andrade¹; Melissa A. R. Silva²; Gabriel S. L. Pereira1; Thalita C. Santos3; Milton N. C. Chuaca4; Juliana P.
Lima4
¹ Graduando em Engenharia de Alimentos, Instituto de Ciências Agrárias/Universidade Federal de Minas Gerais;
²Graduanda em Engenharia Agrícola e Ambiental, Instituto de Ciências Agrárias/Universidade Federal de Minas
Gerais; ³Pós-graduanda em Alimentos e Saúde, Instituto de Ciências Agrárias/Universidade Federal de Minas Gerais;
⁴Doutor em Ciência dos Alimentos, Docente, Instituto de Ciências Agrárias/Universidade Federal de Minas Gerais
*E-mail para correspondência: juliana-pinto-lima@ica.ufmg.br
Palavras-chave: Coquinho-azedo, Atmosfera Modificada, Qualidade, Conservação
Introdução elipsóide formado, esses valores foram submetidos à equação de área
e o valor encontrado à equação de firmeza:
Cientificamente chamado de Butia capitata (Mart.) Becc, pertencente Área = F x Comprimento Maior x Comprimento Menor
à família Aracaceae é popularmente conhecido por diversos nomes F𝑖𝑟𝑚𝑒𝑧𝑎 (𝑁/𝑐𝑚²) = 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑥𝑒𝑟𝑐𝑖𝑑𝑜 x 9,81
como coco-cabeçudo, coquinho, butiá, butiá-da praia, coquinho- Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑒𝑙𝑖𝑝𝑠𝑜𝑖𝑑𝑒
azedo, entre outros. O coquinho-azedo possui ocorrência em cerrados A acidez titulável foi verificada realizando titulação com NaOH a
e cerradões nos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia (1). A 0,1N, utilizando fenolftaleína como indicador, resultado foi expresso
palmeira pode atingir até 4 metros de altura com tronco recoberto por em porcentagem de ácido cítrico. Para as análises de potencial
suas próprias folhas envelhecidas. Sua copa é ampla formada por hidrogênico (pH) utilizou-se pHmetro Schott Handylab, técnica
folhas de coloração verde-acinzentada, as flores são amareladas e aconselhada pela AOAC (7).
dispostas em cachos, os frutos são arredondados e amarelos ao Com auxílio do Excel e cálculos de desvio padrão, os dados foram
amadurecer, possuindo polpa comestível e fibrosa (2). submetidos à regressão e os resultados plotados em gráficos.
O coquinho-azedo possui características climatéricas (3), ou seja,
manifestam um rápido aumento da atividade respiratória Resultados e Discussão
desencadeada por picos de produção de etileno, culminando com o
processo de maturação de consumo (4). A transpiração após colheita do fruto é contínua, logo comprometerá a
Entre as técnicas de conservação de alimentos mais utilizadas para aparência afetando coloração, firmeza e por consequência o valor
estender a vida útil dos alimentos, uma das mais eficientes em comercial (8), visto isso a utilização de embalagens apropriadas é um
conjunto com a refrigeração é a utilização de embalagens com fator importante na conservação, pois protegerá o produto de danos
atmosfera modificada, estas possuem função de estender o tempo de mecânicos e outros fatores como a perda de umidade (1).
prateleira, retardando alterações físico-químicas nos alimentos, como A utilização de embalagens afetou significativamente na perda de
características sensoriais, nutricionais e microbiológicas, mantendo a massa dos frutos ao longo do armazenamento como pode ser
qualidade do produto (5). As embalagens plásticas que proporcionam observado no Gráfico 1. Verificou-se ao longo do armazenamento que
atmosfera modificada passiva são permeáveis a gases, permitindo com a perda de massa foi gradual, sendo que frutos mantidos em
que o produto respire reduzindo a concentração de O2 e aumentando embalagens controle (Poliestireno expandido sem tampa) tiveram
CO2, ambiente este formado que por sua vez inibirá enzimas maior perda de massa (29,74%) seguido de frutos embalados em PVC
responsáveis pela oxidação, alcançando equilíbrio desejado e e PP (22,08 e 13,83%, respectivamente). Os frutos acondicionados em
diminuindo desordens fisiológicas e deteriorações (6). embalagem PET obtiveram o menor percentual de perda de massa
Considerando a importância da conservação pós-colheita para a fresca (7,42%) ao longo dos 8 dias. Resultados semelhantes foram
espécie, este trabalho teve como objetivo investigar o efeito da reportados em camu-camu (9) e pinha (10) já que revestidos por
atmosfera modificada em frutos de Butia capitata através do uso de filmes plásticos os frutos tiveram as menores perdas de massa.
diferentes embalagens.

Material e Métodos

Os frutos foram coletados na cidade de Mirabela-MG no estádio


verde-maturo e transportados ao Laboratório de Pós-colheita e
Processamento de Vegetais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Em seguida, foram submetidos a seleção, utilizando como parâmetros
a maturação e a ausência de qualquer dano mecânico. Posteriormente
passaram por sanitização com solução de hipoclorito de sódio a 200 Gráfico 1. Percentual de perda de massa fresca em frutos de Butia
mg.L-1 durante 10 minutos e secos em temperatura ambiente, para em capitata submetido ao armazenamento em diferentes embalagens.
seguida serem distribuídos em 4 diferentes embalagens, a saber:
Poliestireno expandido sem tampa (Controle), Polietileno (PET) com Denominamos senescência o envelhecimento e morte dos tecidos
tampa do mesmo material, Poliestireno recoberto com filme de devido a diminuição dos processos anabólicos e predominância dos
Policloreto de vinila (PVC) e Polipropileno (PP) com tampa do processos catabólicos ocorrendo transformações degradativas (4). A
mesmo material. Após o acondicionamento as embalagens foram utilização de embalagens influenciou a senescência, frutos embalados
armazenadas a 24ºC, sendo os frutos analisados periodicamente, como em PET foram avaliados com nota 4 no oitavo dia seguido de PP
descrito a seguir. avaliados com 4,5. Controle e PVC concluíram com avaliação 5,0 por
A senescência foi avaliada visualmente, utilizando escala de 1 a 5, 1 não estarem próprios para consumo (Gráfico 2).
se refere ao fruto sem danos e 5 se refere ao fruto impróprio para
consumo, ou seja, com manchas escuras e marcas de deterioração.
A perda de massa fresca foi obtida com a utilização de balança
analítica e expressa em porcentagem (%), sendo avaliada a partir da
diferença entre a perda de massa inicial e a final de cada intervalo do
experimento.
As análises de cor foram realizadas através de colorímetro CR-400 da
marca Konica Minolta que expressa os resultados pelo sistema CIEL*
a*b* e através desses foram encontrados os índices Chroma e ºHue Gráfico 2. Notas de senescência em frutos de Butia capitata
utilizando as seguintes equações respectivamente: submetido ao armazenamento em diferentes embalagens.
°𝐻𝑢𝑒=𝑡𝑔−1∙𝑏*/𝑎*
𝐶ℎ𝑟𝑜𝑚𝑎=√(𝑎2+𝑏2) Ao avaliar a senescência de duas cultivares de sapoti, armazenadas em
Para a obtenção da firmeza foi utilizado equipamento Aplanador onde temperatura ambiente, assim como em nosso trabalho, perceberam que
foi medido com paquímetro o maior e menor comprimento do o comportamento do processo de senescência foi diferente nas

330
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

cultivares estudadas, sendo que aos 8 dias de armazenamento a observado na nossa experiência (14). Em experimento realizado com
cultivar BRS-228 apresentou notas próximas a 2 (1 a 25% de danos) e Butiá, após seis dias de armazenamento em temperatura ambiente
a cultivar BRS-227 notas próximas a 3 (26 a 50% de danos) (11). observou-se redução de 50% da acidez titulável como notamos nos
Notas essas melhores do que o coquinho-azedo de nosso estudo, frutos sem embalagem da pesquisa que realizamos (15).
independente da embalagem empregada.
Os Gráficos 3 e 4 referem-se aos parâmetros de cor dos frutos.
A saturação ou cromaticidade é definida por Chroma, determinará a
diferença de tom comparada a cor cinza, quanto mais altos os valores
maior será a saturação da cor ao olho humano (12). Houve aumento
do dia 0 até o dia 4 de experimento e em seguida declínio dos valores
de saturação, os dados apresentados no oitavo dia para frutos
embalados obtiveram pouca variação com relação ao tempo zero,
sendo PP com menor diferença, apresentando 5,21% de acréscimo, em
seguida PET, PVC e controle com a maior porcentagem de aumento Gráfico 6. Acidez titulável em frutos de Butia capitata submetido ao
de Chroma (11,37% ), logo, não houve evolução da cor indicando que armazenamento em diferentes embalagens.
o armazenamento refrigerado em associação com atmosfera
modificada pode ser benéfica no atraso do amadurecimento. Conclusões

O uso de embalagem PET foi a mais eficiente na manutenção da


qualidade pós-colheita dos frutos de Butia capitata (Mart.) Becc até o
oitavo dia à 24ºC, sendo uma alternativa no prolongamento da vida
útil do fruto. Sugere-se o estudo desta embalagem conjuntamente com
a refrigeração para ampliação de sua conservação.

Agradecimentos

Gráfico 3. Valores de Chroma em frutos de Butia capitata submetido À Universidade Federal de Minas Gerais, à Fundação de Amparo à
ao armazenamento em diferentes embalagens. Pesquisa do Estado de Minas Gerais e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
O ângulo de tonalidade Hue (ºh) ou matiz é um atributo qualitativo de
colorimetria, graficamente se considera os ângulos de 0º, 90º e 180º Referências
vermelho, amarelo e verde respectivamente (12). No dia 0 de
experimento os frutos apresentaram valores de 104,41 ºHue, próximo (1) LORENZI, H.; SOUZA, H.M.; COSTA J.T.M.; CERQUEIRA,
ao encontrado em frutos de Butia eriospatha (Martius) Beccari, esse L.S.C. & FERREIRA, E. Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas.
valor representa o estádio maturo, entre verde e amarelo (13). Ao 1. ed. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2004.
longo do tempo observou-se queda desse valor para os quatro 432 p.
tratamentos indicando maior proximidade do amarelo a partir do (2) LIMA, V. V. F. de; SILVA, P. A. D. da; SCARIOT, A. Boas
quarto dia de armazenamento (Gráfico 5), evidenciando a completa práticas de manejo para o extrativismo sustentável do coquinho azedo.
maturidade dos frutos, ou seja, independente do tipo de embalagem os 1. ed. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2010.
frutos completaram seu amadurecimento. v.1. 60 p.
(3) NEUWALD, D.; GIEHL, R.; PINTO, J.; SESTARI, I.
Caracterização das curvas de respiração e síntese de etileno de frutos
de PsidiumcattleianumSabine. e de Butiacapitata (Mart.) Becc.
Simpósio Nacional do Morango2, 2004.
(4) CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B.Pós-colheita de frutas e
hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785 p.
(5) WYRWA, J., BARSKA, A. Innovations in the food packaging
market: active packaging. Eur Food Res Technol 243, 1681–1692,
2017.
Gráfico 4. Valores de °Hue em frutos de Butia capitata submetido ao (6) ZAGORY, D.; KADER, A. A. Modified Atmosphere Packaging
armazenamento em diferentes embalagens. Of Fresh Produce. Food Technol, 9, 70-77, 1988.
(7) AOAC. Association of Official Analytical Chemists.Official
O Gráfico 5 apresenta que independente da embalagem, houve Method of Analysis. 15.ed.,Washington DC, 1998. v. 1.
aumento do pH no decorrer dos dias, sendo as embalagens Controle e (8) SILVA, J. de S.; AFONSO, A. D. L.; LACERDA FILHO, A. F.
PVC com aumento mais notável. de. Secagem e armazenagem de produtos agrícolas. 2. ed. Viçosa:
AprendaFácil, 2008. p. 560.
(9) OLIVEIRA, J., SILVA, I.G., SILVA, P. P. M., SPOTO, M. H. F.
Atmosfera modificada para conservação pós-colheita de camu-camu.
Ciência Rural. 44, 1126-1133, 2014.
(10) MIZOBUTSI, G. P., SILVA, J. M., MIZOBUTSI, E. H.,
RODRIGUES, M. L. M., LOPES, R. S., FERNANDES, M. B.,
OLIVEIRA, F. S. Conservação de pinha com uso de atmosfera
modificada e refrigeração. Ver. Ceres. 59, 751-757, 2012.
Gráfico 5. Valores de pH em frutos de Butia capitata submetido ao (11) MORAIS, P. L. D., LIMA, L. C. O., ALVES, R. E.,
armazenamento em diferentes embalagens. FIGUEIRAS, H. A. C., ALMEIDA, A. S. Alterações físicas,
fisiológicas e químicas durante o armazenamento de duas cultivares
Durante o armazenamento observou-se que contrário do pH, como de sapoti. Pesq. Agropec. Bras. 41, 549-554, 2006.
esperado devido a associação existente entre essas variáveis, a Acidez (12) FERREIRA, M. D.; SPRICIGO, P. C. Instrumentação pós-
Titulável (Gráfico 6) decaiu independente da embalagem, iniciando colheita em frutos e hortaliças. 1. ed. Brasília: Embrapa, 2017. 284p.
com valores de 0,97%. As embalagens Controle e PET foram as que (13) PATHARE, P. B.; OPARA, U. L.; AL-SAID, F. A. Colour
concluíram com menor e maior acidez (0,49 e 0,64%) measurement and analysis in fresh and processed foods: a review.
respectivamente, esse aumento do pH e queda da acidez titulável é Food and bioprocess technology, 6, 36-60, 2013.
devido a utilização de ácidos orgânicos na manutenção do (14) OLIVEIRA, L. F. G., SANTOS, P. N., CANA, E., JUNIOR, J.
metabolismo dos frutos e por consequência no processo respiratório L., RODRIGUES, S. Utilização da atmosfera modificada na
(4), sendo assim a embalagem PET foi a que manteve os maiores conservação pós-colheita de carambola. Global Science and
teores de acidez, controlando o intenso processo respiratório. A technology. 03, 49-59, 2010.
tendência da perda da acidez também foi observada em carambolas, (15) AMARANTE, C. V. T. do; MEGGUER, C. A. Qualidade pós-
com maior decréscimo em frutos sem embalagem, em contrapartida as colheita de frutos de butiá em função do estádio de maturação na
embalagens PET e PP obtiveram maiores teores de acidez como colheita e do manejo da temperatura. Ciência Rural. 38, 46-53, 2008.

331
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Sensorial de Bolinho de Abóbora (Cucurbita moschata D.) Submetido a Diferentes


Métodos de Cocção

Cícero Santos1, Milena Sousa 1, Maria Santos1, Amanda Leal2, Juliana Costa3, Luciana Marques4

1
Graduando (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
3
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, julianacosta31@gmail.com
4
Professora Doutora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano.

Palavras-chave: Panificação; Sopaipilla; vegetais

INTRODUÇÃO
Tabela 1. Formulação das amostras de bolinho de abóbora elaboradas
A abóbora (Cucurbita moschada D.) pertence a famílias das por dois métodos de cocção
cucurbitáceas, tendo uma participação relevante na alimentação de
muitos países [1]. No Brasil, especificamente na região Nordeste, Ingredientes Formulação
concentram-se os maiores produtores desta cultura, agrupando também Farinha de trigo 48,06%
os maiores estados consumidores, como Pernambuco, Piauí, Maranhão Abóbora cozida 37,53%
e Bahia [2]. A abóbora se destaca por sua riqueza em provitamina A, Manteiga 11,08%
vitaminas do complexo B (B1, B2 e B5), vitamina C e outros nutrientes Fermento 2,13%
como proteína, hidratos de carbono, gorduras, fibra alimentares e
minerais tais como, fósforo, potássio, cálcio, sódio, silício, magnésio,
ferro e cloro [3]. Uma característica importante da abóbora e pouco Em seguida despejou-se a mistura em uma tigela e misturaram-se
explorada comercialmente é a presença de compostos benéficos ao delicadamente ao purê os demais ingredientes: a farinha, manteiga, o
organismo, em especial os carotenoides, pigmentos de propriedades fermento e uma pitada de sal de acordo com cada proporção (Tabela 1)
antioxidantes responsáveis por conferir a coloração amarelo-laranja e A massa foi misturada até torna-se homogênea e desprender totalmente
vermelha de muitos alimentos. Os carotenoides se destacam entre os das mãos. Posteriormente, a mistura foi aberta na bancada com o
compostos alimentícios de maior importância para saúde, mesmo sendo auxílio de um rolo para massa, deixando-a com ½ cm de espessura
encontrados em níveis muito baixos (micrograma por grama) [4]. As aproximadamente e em seguida foram cortadas em moldes cilíndricos e
abóboras destacam-se pelo seu amplo uso tradicional, em pratos estes foram fechados em forma de mini pastéis. Esta preparação foi
típicos, e pelo seu teor nutricional, sendo fonte de vitaminas, minerais e realizada para as duas formulações, entretanto, o método de cozimento
fibras. Devido o aumento dos produtos de panificação, várias foram distintos. Os bolinhos da formulação A foram adicionados em
preparações com compostos nutricionais e antioxidantes têm sido panela com óleo quente para a fritura até que as amostras
desenvolvidas, como por exemplo, bolos, pães, biscoitos, muffins, apresentassem douradas por inteiras, em seguida retiraram-se as
cupcakes, apresentando inúmeros benefícios para a saúde [5]. Bolo é o amostras com auxílio de uma escumadeira e escorrido o excesso de
termo utilizado para se referir a produtos que são caracterizados por óleo com ajuda de um papel-toalha. A formulação B foi acondicionada
formulações à base de farinha de trigo, açúcar, ovos inteiros e gordura, em assadeiras e levada ao forno a 180ºC por 30 minutos para o
onde cada ingrediente tem um importante papel na estrutura e cozimento, em seguida as amostras foram armazenadas até o momento
qualidade [2]. Portanto, o uso da abóbora pode ser uma opção para a das análises. Foram realizados os teste de grupo focal com provadores
elaboração de diversas preparações culinárias, na área de panificação, do curso de tecnologia em alimentos com o objetivo de aperfeiçoar os
em destaque para os bolinhos estilo panqueca que são processados aspectos sensoriais do produto. A sessão realizou-se com os 12
fritos ou assados no forno, e podem ser consumidos como lanches provadores e um moderador que presidiu a sessão, na qual os
rápidos em pequenas porções. Diante do exposto, o objetivo deste provadores foram orientados a analisar as amostras e caracterizar de
trabalho foi elaborar um bolinho de abóbora através de dois métodos de acordo com a sua percepção sensorial para os atributos sabor, textura,
cocção e avaliar a sua aceitação sensorial. cor e aparência e citar todas as características observadas nas amostras.
A reunião foi gravada e todas as informações registradas. Também
MATERIAIS E MÉTODOS foram realizados testes aceitação sensorial com 50 provadores, não
treinados de ambos os sexos, com idade de 18 a 65 anos, para a
As matérias-primas utilizadas na elaboração das amostras foram avaliação dos atributos de cor, sabor textura, aroma e aceitação global
adquiridas no mercado local da cidade de Salgueiro-PE e levadas para utilizando a escala hedônica estruturada de 9 pontos no qual 1 indica
o laboratório de processamento de cereais do curso Tecnologia em “desgostei extremamente” e 9 “gostei extremamente” [6]. Além disso,
Alimentos do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, campus foi realizado o teste de intenção de compra, através da escala variando
Salgueiro-PE. A preparação dos bolinhos de abóbora foi adaptada de de 1 a 5 sendo: 1 indicando “certamente não compraria” e 5
formulações publicadas em artigos científicos e receitas de alimentos “certamente compraria”[7]. A avaliação estatística foi realizada pelo
elaborados no Chile. O bolinho de abóbora é conhecido como programa computacional SASM-AGRI, utilizou-se uma análise de
Sopaipilla (pão chileno) muito apreciado na culinária chilena, porém variância (ANOVA) com delineamento inteiramente casualisado e teste
pouco conhecido no Brasil. Para a elaboração das formulações iniciou- de Tukey.
se com a sanitização da abóbora, através da lavagem com água potável
da rede de abastecimento, detergente neutro e sanificadas em solução
de hipoclorito de sódio a 200 ppm. Na sequência foram cortadas ao RESULTADOS E DISCUSSÂO
meio para a retirada das sementes e cascas, posteriormente as abóboras
foram cortadas em cubos e pesadas de acordo com a proporção da Participaram dos testes 50 provadores sendo 56% do sexo feminino e
Tabela 1. As abóboras foram levadas ao cozimento em panelas com 44% do sexo masculino. A maioria dos provadores era universitários
água a 100 ºC por 30 minutos. Após esta etapa elaborou-se um purê da (75%) com idade entre 18 a 30 anos. Os demais participantes eram
abóbora cozida através do seu amassamento, formando uma mistura servidores do IF com idade acima de 30 anos. Os resultados do grupo
bem homogênea. em foco mostraram que os provadores caracterizaram a formulação
“A” com os atributos “sabor de fritura”, porém com aroma agradável,
cor marrom e dourado, informaram que o sabor apresentava-se gostoso

332
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

e formato de tamanho de biscoito. Por outro lado, para a amostra B, os


provadores identificaram a amostra como pão assado, com cor CONCLUSÃO
amarelada, aspecto visual bonito, sabor agradável e aroma
amanteigado. Estas informações foram importantes para um Os bolinhos de abóbora (sopaipilla) elaborados com dois métodos de
aperfeiçoamento das formulações e assim foi possível identificar as cocção apresentaram boa aceitação sensorial pelos provadores,
características mais marcantes de cada formulação. caracterizando-se como uma alternativa para o uso da abóbora em
O resultado do teste de aceitação sensorial dos bolinhos de abóbora produtos de panificação e confeitaria. Portanto, este produto pode ser
podem ser observados na tabela 2. aprimorado com a utilização de outros tipos de vegetais e métodos de
cocção tornando um produto mais diversificado e conhecido na
culinária brasileira.
Tabela 2 – Resultado do teste de aceitação e intenção de compra de
bolinho de abóbora elaboradas por dois métodos de cocção
AGRADECIMENTOS
Aceitação Intenção
Amostra Cor Sabor Textura Aroma
global de compra Agradecimentos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e
A 7,30ª 6,64 ª 7,28 ª 6,92ª 7,24 ª 4,06 ª Tecnologia do Sertão Pernambucano, campus Salgueiro pela
disponibilidade de realizar o trabalho.
B 7,18ª 6,70 ª 6,54 b 6,48 ª 6,82 ª 3,70 ª

Médias seguidas por pelo menos uma letra igual na mesma coluna,
a, b REFERÊNCIAS
não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey. 1. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura. Viçosa:
UFV. 412 p. 2003.
Os resultados apontaram que as formulações foram iguais
estatisticamente (p˃0,05), exceto para a textura que apresentou 2. RAMOS; N. C,; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G.
diferença estatística entre as amostras. Essa diferença pode ser Elaboração de prémistura para bolo sem glúten. Alimentos e
justificada devido à presença de óleo na amostra A, que pode ter Nutrição, Araraquara v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012.
tornado a formulação mais macia. Além disso, muitos provadores
podem ter associado à formulação com outros produtos como pasteis, 3. Rocha, et al. Elaboração e aceitação de massa alimentícia
por exemplo, e assim apreciando mais a textura da amostra. Foi utilizando pasta de abóbora. III Jornada Nacional da Agroindústria.
possível verificar no teste de aceitação que os atributos apresentaram Bananeiras. 2008.
médias que variaram de 6,48 a 7,30, correspondendo na escala
hedônica aos termos “gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”. 4. RODRIGUEZ-AMAYA, D. B; KIMURA, M; AMAYA-
Dessa forma as amostras foram bem aceitas pelos provadores
FARFAN, J. Fontes brasileiras de carotenoides. Brasília: Ministério
independente do tipo de cozimento. Apesar de não apresentar diferença
estatística para a cor, os provadores identificaram durante as análises do Meio Ambiente, 2008. 99 p.
que a amostra B apresentava-se mais escura em comparação com a
amostra A. Possivelmente devido o processo de cozimento ao forno 5. CHIARELI CA, et al. Desenvolvimento de um bolo rico em fibras
que tornou a amostra mais escura. Os autores [8] avaliaram pão com solúveis enriquecido com chia. Revista Ciências Nutricionais Online,
farinha de semente de abóbora obtiveram menor aceitação pelos 2017; 1(1): 46-52.
provadores, devido o escurecimento da massa, porém não influenciou
negativamente a aceitação sensorial do pão. 6. STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 3rd ed.
Os resultados para o sabor, cor e aroma obtiveram medias satisfatórios,
New York: Academic Press. 2004.
acima de 6 “gostei ligeiramente”. Estes atributos são de extrema
importância, uma vez que são responsáveis em grande maioria pela
aceitação do produto. Para a impressão global, ambas as formulações 7. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudo com consumidores. 2.
obtiveram elevadas médias, caracterizando que as duas foram bem ed. Viçosa: Ed. UFV, 2010
aceitas.
8. ALVES, A. S., CAMARGO, E. R., CORREIA, M.H.S.,
BECKER, F.S., DAMIANI, C. Pães elaborados com polpa efarinha
Gráfico 1 – Resultado do teste de intenção de compra de bolinho de
de semente de abóbora kabutiá (curcubita máxima x curcubita
abóbora elaboradas por dois métodos de cocção
moschata). Revista Stona, v.18,n.3, 2012.

20 18 18 18
17

15
11
9
10

5 2 2 2
1
0
certamente provalmente talvez provalmente certamente
não compraria não compraria compraria\ compraria compraria
talvez não
compraria

B A

O resultado do teste de intenção de compra dos bolinhos de abóbora


mostrou que não houve diferença significativa entre as amostras e as
médias para as duas formulações situaram na escala entre os termos
“provavelmente comprariam” e “talvez compraria” e “talvez não
compraria”. Porém, de acordo com o gráfico 1, observa-se que a
maioria dos provadores provavelmente comprariam as duas amostras e
que certamente comprariam a amostra B.

333
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Estruturados de Caju

Giovana Prado1, Margarida Moldão-Martins2, Vitor Alves2, Paulina Mata3, Paulo Sousa1,4* Florina
Danalache2,3
1
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará. vanaprado@yahoo.com.br,
2
REQUIMTE/CQFB, Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
Nova de Lisboa
3
CEER e Centro de Engenharia dos Biossistemas, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de
Lisboa,
4
Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-Chaves: barra de fruta, pedúnculo, análise sensorial

INTRODUÇÃO Figura 1. Barras de caju com adição de goma gelana (CP-


A pesquisa médica e nutricional tem, há décadas, enfatizado LA, CP-LA/HA 75/25, CP-LA/HA 50/50, CP-LA/HA 25-
os benefícios para a saúde do consumo de frutas e vegetais, 75, respectivamente).
que incluem a redução do risco de inúmeras doenças como
câncer, diabetes e obesidade. Esses alimentos são baixos em
calorias, ricos em nutrientes e contêm fibras para promover
saúde e bem-estar (1).
O desenvolvimento do agronegócio foi fortemente
influenciado pelas necessidades dos consumidores. Em
comparação com frutas frescas, o consumo de frutas Avaliação Sensorial
processadas tem aumentado em todo o mundo (2). Esse A avaliação sensorial das barras de caju foi realizada em
crescimento tem despertado o interesse da indústria na uma sala sensorial com seis cabines, de acordo com a ISO
produção de novos produtos, principalmente influenciada 8589:2006. 80 consumidores participaram deste estudo,
pela busca dos consumidores por alimentos saudáveis e sendo 62 mulheres e 18 homens, todos maiores de 18 anos,
funcionais (3). A conveniência e o tempo são fatores muito estudantes ou funcionários do Instituto Superior de
importantes hoje, devido ao ritmo de vida e a busca Agronomia (Lisboa, Portugal).
constante de tornar a vida mais conveniente (4). Isso se Quatro diferentes barras de caju (CP-LA, CP-LA/HA 75/25,
reflete nos hábitos e preferências alimentares das pessoas. CP-LA/HA 50/50 e CP-LA/HA 25/75) foram apresentadas à
As frutas e vegetais prontos para comer como lanches ou temperatura ambiente (20 - 22o C) aleatoriamente, rotulados
embalados para atender a essa necessidade são sempre mais com códigos de três dígitos gerados aleatoriamente. A
populares devido à conveniência associada (5). O ordem de apresentação das amostras foi completamente
desenvolvimento de novos produtos com altas proporções de balanceada (8). A aceitação geral foi avaliada por um teste
frutas em suas formulações e com boas propriedades de escala hedônica de nove categorias (1 - "não gostei
funcionais e nutricionais contribui para diversificar as muito" 9 - "gostei muito") (9), indicando o quanto gostaram
oportunidades de mercado, principalmente se os produtos ou não gostaram das amostras para aparência, cor, aroma,
forem atrativos e práticos (6). textura, sabor e impressão geral. No mesmo registro foi
Segundo Fizman e Duran (7) alimento estruturado ou incluída uma faixa de intenção de compra, estruturada em
“designed food” ou “engineered food” refere-se a alimentos cinco pontos (5 - “certamente compraria” a 1 “certamente
oriundos de frutas que se encontram fora de classificação não compraria”) (10). Água potável foi fornecida para
para comercialização in natura ou excedentes de produção enxágue oral.
durante o período de safra, utilizando-se hidrocolóides, que No CATA, os consumidores receberam uma lista para
atuam como agentes de união, facilitando o corte e retendo a selecionar todos os termos que considerem adequados para o
umidade. O objetivo deste estudo foi avaliar a avaliação produto. Esse tipo de pergunta foi usado em estudos de
sensorial de barras estruturadas de pedúnculo de caju com consumo para determinar quais atributos sensoriais os
diferentes proporções de goma gelana de baixa acilação e de consumidores percebem em diferentes produtos alimentícios
alta acilacão utilizando testes afetivos de escala hedônica e (11). A avaliação estatística foi por meio de análise de
metodologia Check-all-that-apply (CATA). variância e teste de Tukey ao nível de 95% de confiança,
utilizando o XLSTAT software para Windows versão
MATERIAL E MÉTODOS 2020.1
O experimento foi realizado com caju (Anacardium
occidentale, L.) CCP-076 fornecido por fazendas RESULTADOS E DISCUSSAO
experimentais da EMBRAPA localizadas em Pacajus, A frequência do consumo de suco de frutas foi alta, onde se
Estado do Ceará, Brasil. O hidrocolóide gelano foi fornecido observou que 80% dos provadores indicam consumir
pela CP Kelco Corporação Wilmington, EUA. diariamente ou de 2 a 3 vezes por semana, isso se deve
Os pedúnculos de caju foram descastanhados e processados provavelmente a busca por uma alimentação mais saudável.
em thermomix até a obtenção de um purê homogêneo. O É válido considerar que o experimento sendo realizado em
purê foi aquecido a temperatura de 88 ± 2 oC, seguido da Lisboa, Portugal, leva a certa rejeição do produto, devido ao
adição da goma gelana nas proporções apresentadas a seguir baixo conhecimento e apreciação do pedúnculo, mais de
e agitação com rotor de quatro pás. Amostras de purê de 55% dos provadores afirmaram que conheciam apenas a
caju/baixo acilo/alto acilo (CP/LA/HA) com uma castanha, e 16% conheciam castanha e pedúnculo (Tabela
concentração geral de gel de 1% em peso variando a razão 1). Isso influencia na intenção de compra das barras de caju,
LA/HA (CP-LA, CP-LA/HA 75/25, CP-LA/HA 50/50, CP- na qual a intenção de compra de todas as formulações de
LA/HA 25-75) foram preparadas. As misturas de gel de CP barras estruturadas de caju ficou localizada entre os termos
foram colocadas em moldes retangulares de silicone e “possivelmente não compraria" e "talvez comprasse, talvez
deixadas em temperatura ambiente (22 ± 2 oC). Em seguida, não comprasse”.
as amostras foram armazenadas a 5 oC por 8h antes de serem Na Tabela 1 estão representadas as características dos
analisadas (Figura 1). provadores envolvidos nos testes de avaliação sensorial das
barras estruturadas de caju.

334
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Principal Coordinate Analysis (eixos F1 e F2)

Gelatinosa 0.5 Sabor de fruta


Firme
Aroma frutado

Sabor Estranho
Gosto doce
Aceitação
0
-1 -0.5 0 0.5 1

Macia

F2
Mole

-0.5

Aroma de caju

Sabor de caju

-1
F1

A formulação CP-LA/HA 75/25 foi a mais bem aceita pelos


provadores, apresentando as maiores médias para os CONCLUSÃO
atributos analisados, incluindo a textura, no qual apresentou A barra de caju com 0,75% de goma gelana de baixa
média que situa entre os termos hedônicos "gostei acilação e 0,25% de alta acilação apresentou melhor
ligeiramente" e "gostei moderadamente" (Tabela 2). O aceitação sensorial em todos os atributos hedônicos
contrário foi observado por Danalache et al. (13), no qual avaliados, sendo esta associada a melhor maciez, firmeza e
para as barras estruturadas de manga, os painelistas presença de sabor e aroma da fruta. A presença das duas
preferiram a formulação que continha 25% de LA e 75% de gomas aumenta a aceitação sensorial, devendo a goma
HA, afirmando que a baixa proporção de gelano LA pode gelana de baixa acilação estar presente em maior proporção.
ser suficiente para transmitir a firmeza adequada para o
produto, enquanto gelano HA, responsável pela suavidade, REFERÊNCIAS
confere uma textura bem equilibrada para a barra de manga. 1. REKHY. R.; MCCONCHIE, R. Promoting consumption
As médias das notas dos atributos sensoriais avaliados das of fruit and vegetables for better health. Have campaigns
formulações de barras estruturadas de caju estão dispostas delivered on the goals?. Appetite 79, 113–123, 2015.
na Tabela 2. 2. HAWKES, C., BLOUIN, C., HENSON, S., DRAGER,
N., DUBÉ, L., 2010. Trade, Food, Diet and Health:
Tabela 2 - Comparação das médias de impressão global, PPerspectives and Policy Options. Wiley-Blackwell,
textura, cor, sabor, aroma, aparência e intenção de compra Oxford.
das formulações de barras estruturadas de caju. 3. BETORET, E., BETORET, N., VIDAL, D., FITO, P.
Formulação Impressão Global Textura Cor Sabor Aroma Aparência
Intenção de
Compra
Functional foods development: trends and technologies.
CP-LA 5,48 5,73 6,46 5,39 5,35 5,98 2,48 Trends Food Sci. Technol. 22, 498–508, 2011.
CP-LA/HA 75/25 5,84 6,14 6,55 5,57 5,61 6,41 2,70 4. DIXON, H., MULLINS, R.,WAKEFIELD, M., & HILL,
CP-LA/HA 50/50 5,47 5,80 6,42 5,39 5,18 6,23 2,50 D. Encouraging the consumption of fruit and vegetables by
CP-LA/HA 25/75 5,48 5,85 6,44 5,34 5,19 6,21 2,66
older Australians. An experiential study. Journal of
Dos 22 termos utilizados para descrever as barras de frutas
Nutrition Education and Behavior, 36, 245–249, 2004.
de caju, 10 deles foram significativos, sendo retirados da
5. CARTER, O. B. J., POLLARD, C. M., ATKINS, J. F. P.,
análise de CATA os termos não significantes.
MARIE MILLINER, J., & PRATT, I. S. We’re not told
As amostras LA/HA 75/25 e LA/HA 50/50 apresentaram as
why.We’re just told. Qualitative reflections about
características mais agradáveis sendo caracterizadas por um
theWestern Australian Go for 2and5® fruit and vegetable
sabor de fruta, e sabor de caju e aroma de caju, firme,
campaign. Public Health Nutrition, 14, 982–988, 2011.
respectivamente. A barra estruturada de caju LA/HA 25/75
6. MARTÍN-ESPARZA, M. E.; ESCRICHE, I.; PENAGOS,
apresentou características contrárias à barra LA/HA 75/25,
L.; MATÍNEZ-NAVARRETE, N. Significance of osmotic
caracterizadas por apresentar-se mole e com sabor estranho.
temperature treatment and storage time on physical and
Isso pode ser atribuído a maior quantidade de baixo acil
chemical properties of a strawberr-gel product. Journal of
(HA) (Figura 1).
Science and Food Agriculture, Chichester, v.91, p.894-904,
Figura 2. Mapa sensorial obtido pelo CATA.
2011.
Gráfico simétrico
(eixos F1 e F2: 88,91 %)
7. FIZMAN, S. M.; DURAN, L. Effect of fruit pulps and
0.2
sucrose on the compression response of different
Mole
Gosto doce
polysaccharides gel systems. Carbohydr. Polym., v. 17, n. 1,
LA/HA 25/75
p. 11-17, 1992.
0.1
Sabor Estranho
LA 8. MacFie, H. J., Bratchell, N., Greenhoff, K., & Vallis, L.
V. Designs to balance the effect of order of presentation and
F2 (27,41 %)

Gelatinosa
0 Aroma frutado first-order carry-over effects in hall tests. J. Sens. Stud, 4,
129-148, 1989.
Aroma de caju Macia Sabor de caju

-0.1
LA/HA 50/50 Sabor de fruta
LA/HA 75/25
9. PERYAM, D. R.; PILGRIM, P. J. Hedonic scale method
Firme
for measuring food preferences. Food Technol, Chicago, v.
-0.2 11, n. 9, p. 9-14, 1957.
-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 10. MEILGAARD, M.; CIVILLE, G. V.; CARR, B. T.
F1 (61,50 %) Sensory evaluantion tecniques. Boca Raton: CRC Press,
1987.
Atributos Produtos
11. DOOLEY, L.; LEE, Y. S.; MEULLENET, J. F. The
Os provadores acreditam que as barras de caju com maior application of check all-that-apply (CATA) consumer
aceitação sensorial devem apresentar as seguintes profiling to preference mapping of vanilla ice cream and its
características: macia, firme, gosto doce, aroma e sabor de comparison to classical external preference mapping. Food
caju, aroma e sabor de fruta. Não devem ser moles, Qual. Prefer, v. 21, p. 394–401, 2010.
gelatinosas e nem apresentar sabor estranho (Figura 2). 12. DANALACHE, F.; MATA, P.; MOLDÃO-MARTINS;
Figura 3. Análise de Componentes Principais (ACP) ALVES, V. D. Novel mango bars using gellan gum as
gelling agent: Rheological and microstructural studies. LWT
- Food Sci. Technol, n. 62, p. 576-583, 2015.

335
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Encapsulamento e Liberação Controlada de Nisina: Influência da concentração de alginato e


pH

Luis Nascimento1, Camila Teixeira1, Sidney Silva2, Raiane Silva2, Evandro Martins3, Antônio de Carvalho3

1
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
2
Graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.
3
Professor Doutor do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa.

Palavras-chave: Gelificação externa, encapsulamento,


alginato de sódio.
retiradas e o excesso de umidade foi removido pela exposição das
cápsulas ao ambiente por 1 hora (temperatura 25 ℃).
INTRODUÇÃO
Caracterização e perfil de liberação
Bacteriocinas são peptídeos ou proteínas que apresentam
propriedades antimicrobianas (1). Dentre essas bacteriocinas encontra- As características morfológicas das cápsulas, como área,
se a nisina que possui status GRAS ("Generally Recognized As Safe") diâmetro e esfericidade foram analisadas utilizando o programa
(2). A nisina é efetiva contra microrganismos Gram-positivos devido a ImageJ. O perfil de liberação da nisina em cada tipo de cápsula foi
sua atuação na membrana celular, onde ocorre a geração de poros e analisado em três pHs, sendo esses 4,5, 5,4 e 6,8. Os pHs foram
liberação de componentes essenciais à célula levando ao rompimento escolhidos baseados na potencial aplicação das cápsulas: iogurte,
da mesma (3). O leite e seus derivados apresentam composição química queijo minas frescal e leite fluido. O pH 4,5 e 5,4 foram alcançados
rica em nutrientes o que proporciona o crescimento de diversos através da formulação de um tampão de acetato de sódio/ácido acético
microrganismos como Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes 0,1 M e o pH 6,8 através de um tampão Hepes 0,1 M. Cinco gramas de
e Enterococcus faecalis. Microrganismos esses que estão no espectro cada cápsula foram colocadas em tubos de ensaio, seguido de adição de
de atuação da nisina (4) que é capaz de provocar inibição enquanto 4 mL dos tampões e foram condicionados a 10 ℃. Em tempos
estiver ativa no meio (3). A aplicação da nisina de forma direta no determinados, 100 µL do sobrenadante de cada tubo reagiu com 3 mL
alimento resulta em inibição imediata do crescimento microbiano, de reagente de Bradford como descrito por Kruger et al. (2009) (9) e
porém após um intervalo de tempo a nisina perde sua eficácia e a após 15 min de reação a absorbância foi medida em espectrofotómetro
multiplicação volta ocorrer em taxas elevadas (5). UV-VIS (modelo 5100, Globaltrade technology) à 595 nm. Uma curva
Uma alternativa para transpor essa desvantagem é a liberação padrão de nisina foi construída para determinar a concentração de
gradual de nisina no meio, o que poderia manter a contagem de nisina nos sobrenadantes.
microrganismos a níveis baixos por um maior período de tempo. Essa
liberação gradual pode ser alcançada por métodos de encapsulamento. RESULTADOS E DISCUSSÂO
O encapsulamento consiste na cobertura de um material, seja liquido ou
sólido por um filme de material polimérico (6). Essa técnica é usada Na Figura 1 podem ser encontradas as cápsulas fabricadas com
principalmente na proteção de compostos sensíveis a agentes externos diferentes concentrações de alginato. Visualmente as capsulas
e/ou para promover liberação controlada desses compostos. Alginato de produzidas com 15 g/L de alginato são mais alongadas que as demais
sódio têm sido utilizado no encapsulamento de diversos compostos formulações. Isso pode ser comprovado numericamente por uma menor
como como revisado por Martins et al. (2017) (7). Alginato é um esfericidade, como mostrado na Tabela 1. Também foi observado uma
polissacarídeo aniônico extraído de algas marrons que na presença de menor área e diâmetro para a cápsula na concentração de 15 g/L. Isso
cátions bivalentes como Ca+2 suas cadeias poliméricas assumem uma ocorre devido à baixa viscosidade da dispersão do polímero,
organização chamada de “egg-box”, o que causa a gelificação do ocasionando deformação da gota quando a mesma entra em contato
sistema (8). Além da diversidade de técnicas de encapsulamento que com o banho de cálcio. As capsulas nas concentrações de 20 e 25 g/L
podem ser usadas usando alginato outras vantagens do seu uso são apresentaram tamanho similar, entretanto a cápsula a 25 g/L de alginato
baixo custo, relativa facilidade no processo de encapsulamento, apresentou maior esfericidade.
potencial de fabricação em larga escala e ausência de toxicidade, fator
relevante para aplicação em alimentos (7).
Assim, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver cápsulas
de alginato a fim de modular a liberação de nisina e observar o efeito
do pH do meio sobre o perfil de liberação da bacteriocina visando uma
aplicação futura em leite (pH 6,8) e seus derivados como iogurte (pH
4,5) e queijo minas frescal (pH 5,4).

MATERIAIS E MÉTODOS

Elaboração das cápsulas de alginato

As cápsulas foram elaboradas através do método de gelificação


externa como descrito por Narsaiah et al. (2014) (6) com algumas
modificações. Inicialmente, o alginato de sódio (Dinâmica, Brazil) foi
disperso em água deionizada em 3 concentrações distintas 15, 20 e 25 Figura 1. Cápsulas de alginato com diferentes concentrações do
g/L. Após completa reidratação do alginato, nisina (Globalfood, polímero. (A) 15 g/L, (B) 20 g/L, (C) 25 g/L.
Alemanha) foi adicionada em todos os sistemas na concentração de 1,2
g/L. A nisina foi dispersa usando agitador magnético a 700 rpm até Tabela 1. Caracterização morfológica das cápsulas.
completa reidratação, que ocorreu em aproximadamente 15 minutos.
Para o início do processo de gelificação, a suspensão resultante foi
Amostra Área Diâmetro Esfericidade
gotejada a uma distância de 6 cm em um banho de cloreto de cálcio à
15 g/L 0,082 ± 0,007 0,323 ± 0,015 0,758 ± 0,088
20 g/L sob agitação constante. As cápsulas formadas permaneceram em
20 g/L 0,101 ± 0,004 0,357 ± 0,008 0,895 ± 0,039
contato com o banho por 5 minutos, quando foram cuidadosamente
25 g/L 0,100 ± 0,008 0,356 ± 0,014 0,932 ± 0,027

336
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

similares foram encontrados no encapsulamento de extrato de


beterraba, onde maiores taxas de liberação foram observadas em pH
próximo a neutralidade (10).
Os resultados de liberação controlada para cada pH estudado estão
expostos na Figura 2. CONCLUSÃO

A O presente estudo mostrou a possibilidade de modular a


liberação de nisina com base na concentração de alginato empregado na
A formulação das cápsulas. Foi observado uma liberação mais prolongada
em pH 4,5 e na concentração de 25 g/L do polímero. Como perspectiva
está o emprego das cápsulas de nisina em produtos lácteos para o
controle duradouro da contagem baixa de microrganismos nessas
matrizes alimentares.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos às agências de fomento CNPq, Fapemig e à Coordenação


de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Código Financeiro 001, pelo apoio financeiro.

B REFERÊNCIAS

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positive bacteria. Microbiological Reviews, v. 59, n. 2, p. 171–200,
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CHIKINDAS, L.M. Bacteriocins: Safe, natural antimicrobials for
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(3) MORENO, 1.; LERAYER, A.L.S. & BALDINE, V.L.S. Efeito e


modo de ação das bacteriocinas produzidas por Lactococcus lactis
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(4) FAGUNDES, H.; OLIVEIRA, C.A. F. Infecções intramamárias
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(5) LARIDI R., KHEADR E. E., BENECH R. O., VUILLEMARD J.


C., LACROIX C., FLISS I. (2003) Liposome encapsulated nisin Z:
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(6) NARSAIAH, K., JHA, S. N., WILSON, R. A., MANDGE, H.


M., & MANIKANTAN, M. R. Optimizing microencápsulation of
nisin with sodium alginate and guar gum. Journal of food science
and technology, 51(12), 4054-4059. 2014.
Figura 2. Perfil de liberação de nisina das cápsulas de alginato a 15g/L
(△), 20 g/L (□) e 25 g/L (◊) nos pHs 4,5 (2A), 5,4 (2B) e 6,8 (2C). (7) MARTINS, E., PONCELET, D., RODRIGUES, R. C., &
RENARD, D. Oil encapsulation techniques using alginate as
Foi observado que para todos os pHs as cápsulas formuladas encapsulating agent: applications and drawbacks. Journal of
com a maior concentração de alginato (25 g/L) apresentaram liberação microencapsulation, 34(8), 754-771. 2017.
mais lenta em todo o intervalo de tempo analisado, ao passo que as
cápsulas com menor concentração de alginato (15 g/L) apresentaram (8) KHAN, M. A., YUE, C., FANG, Z., HU, S., CHENG, H.,
liberação mais rápida. O resultado observado pode ser explicado pela BAKRY, A. M., & LIANG, L. Alginate/chitosan-coated zein
maior estruturação das cápsulas devido a maior concentração de
alginato, formando uma rede tridimensional mais densa, dificultando a nanoparticles for the delivery of resveratrol. Journal of Food
difusão da nisina de dentro para fora da cápsula. Resultados similares Engineering, 258, 45-53. 2019.
forem encontrados por Gorbunova et al. (2018) (10) que observou uma
liberação mais lenta de polifenóis em cápsulas de alginato após a (9). KRUGER, Nicholas J. The Bradford method for protein
incorporação de uma segunda camada do polímero. No presente estudo, quantitation. In: The protein protocols handbook. Humana Press,
foi observado um perfil similar de liberação da nisina em todas as Totowa, NJ, 2009. p. 17-24.
concentrações de alginato e pHs avaliados. Esse perfil caracteriza-se
por uma rápida liberação da nisina nas primeiras duas horas, seguida (10). GORDUNOVA, N., BANNIKOVA, A., EVTEEV, A.,
por uma diminuição na taxa de liberação nas horas subsequentes. Na EVDOKIMOV, I., & KASAPIS, S. Alginate-based encapsulation of
técnica de encapsulamento empregada a nisina está distribuída em toda extracts from beta Vulgaris cv. beet greens: Stability and controlled
a cápsula, assim, a nisina que se encontra mais próximo a superficie é release under simulated gastrointestinal conditions. LWT, 93, 442-
liberada mais facilmente, enquanto que a nisina mais interna leva mais 449. 2018.
tempo para difundir. O perfil de liberação foi influenciado pelo pH do
meio, sendo que a nisina foi liberada de mais rapidamente no pH 6,8.
Tal fato é explicado pelo aumento da repulsão eletrostática entre as
cadeias de alginato uma vez que o pH do meio está muito acima do
pKa do ácido urônico (aproximadamente 3,4) que compõe o polímero,
o que por sua vez causa um afrouxamento da rede tridimensional e
promoveu uma maior liberação da nisina encapsulada. Resultados

337
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desenvolvimento De Cereal Matinal Com Subproduto Agrícola De Cana-De-


Açúcar Com Potencial Prébiótico
Anny Auerswald1, Mônica Martins², Victoria Manrique³, Laura de Carvalho4, Andrea Guerra5
1
Discente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
² Discente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
³ Discente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
4
Discente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
5
Docente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
endereço para correspondência: annyvitoria2010@gmail.com

palavras-chave: subprodutos agrícolas, sustentabilidade, fibra alimentar

INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo com o Ministério da agricultura o Brasil é um dos
maiores produtores de cana de açúcar do mundo, chegando a Estudo experimental com ingredientes adquiridos no
produzir na safra de 2017/2018 cerca de 647,6 milhões de comércio varejista local. A farinha do bagaço da cana-de-
toneladas e sendo responsável por 20% da produção mundial de açúcar foi doada pela empresa Dilumix.
açúcar (1, 2).
Obteve-se os flocos de milho com farinha de bagaço de
Atualmente a preocupação com questões ambientais, tem cana-de-açúcar pela substituição de 3% da farinha de milho
resultado em busca por alternativas que possuam menor impacto pela farinha do bagaço.
ambiental possível e auxiliem no combate à intensificação do
Os ingredientes foram homogeneizados em liquidificador,
efeito estufa (3).
abertos com rolo e plástico filme, cortados e assados em
Além da matéria-prima para a produção de açúcar e álcool, os forno combinado com calor seco à 250°C por 7 minutos.
subprodutos e resíduos da cana de açúcar podem ser utilizados
Para fins de cálculo nutricional foi utilizada a Tabela
para a co-geração de energia elétrica, fabricação de ração
Brasileira de Composição dos Alimentos (11), sendo que
animal e fertilizantes para as lavouras. Dentre os subprodutos
para os valores nutricionais de farinha do bagaço
da cana-de-açúcar destaca-se o bagaço, que é a maior
considerou-se dados do estudo de Bernardino (12).
porcentagem de resíduos da agroindústria brasileira, representando
15 milhões de toneladas anualmente (4). De cada tonelada de cana
moída na indústria obtêm- se 700 litros de caldo de cana e 300 RESULTADOS E DISCUSSÃO
kg de bagaço (5) e cerca de 95% do bagaço produzido são
queimados em caldeiras para geração de vapor, produzindo
Obteve-se um produto com características sensoriais
como resíduo a cinza do bagaço gerando um sério problema
ambiental devido a sua disposição no meio ambiente (6,7). semelhantes aos cereais matinais a base de milho, apesar de não
ter sido utilizada a técnica industrial de manufatura desta classe
No entanto, este resíduo agroindustrial por seu caráter de produtos. Obteve-se u produto crocante de sabor suave,
lignocelulóstico contém grande quantidade de fibras levemente doce (Figura 1).
alimentares, o que poderia resultar em outras aplicações de
finalidade alimentícia. O resíduo da produção agroindustrial de
Figura 1: Cereal matinal com farinha de bagaço de cana de
cana de açúcar apresenta potencial probiótico, devido à
açúcar.
presença de xilooligosacarídeos (3)
O interesse nos alimentos que contenham substâncias
funcionais, podendo ser naturalmente dos alimentos ou
acrescidos à produtos industrializados, desempenhando e
propiciando melhor saúde física e mental, está em crescimento,
ligando-se diretamente à saúde e tendo papel essencial na
manutenção do bem-estar e tratamento de doenças (8). Na
definição de alimentos funcionais, os probióticos e prebióticos
são alimentos que se aglomeram de maneira acentuada,
executando efeito positivo sobre a formação da microbiota
intestinal (9).
Ao ser implementado de maneira correta na dieta, ajudam a
preservar a estabilidade adequada da microbiota que influi
significativamente sobre várias reações bioquímicas e quando
estável, impossibilita que os micro-organismos patogênicos
resultem em uma infecção bacteriana (10) Tabela 1 – Comparação da Informação nutricional do cereal
matinal com de farinha de bagaço da cana-de-açúcar com cereal
O objetivo principal deste trabalho é o desenvolvimento de um
cereal matinal a base de farinha do bagaço da cana-de-açúcar.

338
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

matinal top of mind (porção de 30 g). 4. CANDIDO, M.J. D. et al. Avaliação do valor nutritivo do bagaço de
cana-de-açúcar amonizado com uréia. R. Bras. Zootec, vol.28, n.5,
Flocos de milho Flocos de milho p.928-935.1999
- farinha de comercial
cana de açúcar 5. TEXEIRA, F.A; PIRES, A.V; NUNES, P.V. Bagaço de cana-de-açúcar
VALOR ENERGÉTICO 135 Kcal 109 Kcal
na alimentação de bovinos, Rev. Revista electrónica de Veterinária, v.
VIII, n.6, 2007.
CARBOIDRATOS 31 g 26 g
PROTEÍNAS 2,4 g 1,2 g 6. CORDEIRO, G.C; FILHO. R.D.T; FAIRBAIRN, E.M.R.
FIBRA ALIMENTAR 3,5 g 0g Caracterização de cinza do bagaço de cana-de-açúcar para emprego
SÓDIO 66 mg 176 mg como pozolana em materiais cimentícios, Rev. Quimica nova, v. 32, n.1,
p. 82-86, Rio de janeiro, 2009.

7. PAULA, M.O et al. Potencial da cinza do bagaço da cana-de-açúcar


Considerando o valor de 3,5 de fibra alimentar na porção de 30 como material de substituição parcial de cimento Portland, Rev.
gramas, o cereal matinal de milho com bagaço de cana-de-açúcar Brasileira de engenharia agrícola e ambiental, v.13, n.3, p.353–357,
pode receber a alegação de rico em fibras e alimento com Campina Grande/ PB, 2009
propriedades funcionais respectivamente (12, 13). Destacando-se
o fato da presença de xilooligosacarídeos, com potecial 8. RECINE, E.; P. RADAELLI ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL.
prébiotico, nesta fração fibra. Disponível
em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_saudavel
.pdf> Acessado em: 09 de setembro de 2019.
CONCLUSÃO 9. ZIEMER, C. J.; GIBSON, G. R. An overview of probiotics, prebiotics
and symbiotic in the functional food concept: perspectives and future
Este estudo corrobora o potencial uso da farinha do bagaço de strategies. Int. Dairy J., Amsterdam, v.8, p.473-479, 1998.
cana-de-açúcar em produtos alimentícios. Além do papel
sustentável representado pelo aproveitamento do refugo da 10. BIELECKA, M.; BIEDRZYCKA, E.; MAJKOWSKA, A. Selection
produção da cana-de-açúcar, estes produtos apresentam of probiotics and prebiotics for symbiotic and confirmation of their in
destaque nutricional e funcional em função do elevado teor de vivo effectiveness. Food Res. Int., Amsterdam, v.35, n.2/3, p.125-131,
fibra alimentar, intensificado pelo potencial prebiótico desta 2002.
fração fibra.
11. BERNARDINO, M. A. Caracterização e aplicação da farinha do
bagaço da cana-de-açúcar em bolo. 2011. Dissertação (mestrado,)
REFERÊNCIAS
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Pirassununga, São
Paulo, 2011.
1. ÚNICA, União da indústria de cana de açúcar, 2019. Disponível em:
<www.unica.com.br/setor-sucroenergetico/acucar/> Acesso em: 09 de 12. BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
setembro de 2019. SANITÁRIA. Resolução RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012.
Dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional
2. Ministério da agricultura, agropecuária e abastecimento, 2018. Safra de Complementar. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2012.
cana-de-açúcar 2017/2018 é estimada em 647,6 milhões de toneladas.
Disponível em: <www.agricultura.gov.br> Acesso em: 09 de 13. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.Alegações de
setembro de 2019 propriedade funcional aprovadas. Disponível em:
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3. CEZARINO, L.O; LIBONE, L.B. Impactos sociais e ambientais da vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
indústria da cana de açúcar, Profuturo: programas de estudos do futuro, bebidas/alegacoes-de-propriedade-funcional-aprovadas_anvisa.pdf
v. 4, n. 1, p. 202 - 230, São Paulo, 2012.

339
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Bebida Ancestral Russa: Preparo De Bread Kvass em Casa


Carmelita da Costa Jardim¹*; Rangel Carraro Toledo Borges².
Professora Voluntária do Curso de Gastronomia/Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre/RS¹; Aluno do Curso de Gastronomia/Universidade Federal de Pelotas/RS²;
*profcarmelitajardim@gmail.com

Palavras-chave: fermentação, levain, borodinsky.


Introdução mais 5 minutos. Retirar do forno e deixar esfriar sobre uma grade ou
pano de cozinha.
Kvass é uma bebida de origem russa, semelhante a kombucha, pois é
ácida e efervescente (1, 2). Uma de suas versões, a mais conhecida, é Figura 1: Corte no pão borodinsky após seu preparo.
feita a partir de pão de centeio velho (bread kvass). O kvass apresenta
um aroma de pão de centeio e é muito consumido no verão (3). Para
iniciar a produção da bebida é necessário o pão de centeio feito com
fermentação natural a partir do levain (1). De acordo com o estudo de
Gambus et al (4), ao produzirmos em casa a bebida, ela apresenta
aumento de 60% de atividade antioxidante, se comparada ao kvass
comercialmente vendido; e também aumento de flavonoides, como
aponta o trabalho de Kolobaeva et al (5). Atualmente, as bebidas
fermentadas, uma delas é a kombucha, têm se apresentado como uma
opção saudável (6, 7). Entretanto, devemos ficar atentos, pois o kvass
artesanal apresenta uma curta shelf-life (2, 3).
O objetivo principal do trabalho é fazer com que as pessoas conheçam o
kvass, que é uma bebida fermentada e probiótica. Além disso, ela
também pode ser produzida de forma caseira, maneira interessante,
principalmente, em tempos de isolamento social; assim conseguimos
encontrar uma receita adequada e que possa ser aplicada no Brasil.

Materiais e Métodos

Para a produção do kvass, cultivou-se o fermento natural levain por sete


dias, feito com farinha de trigo branca e água (1:1). Após a obtenção do
fermento, partiu-se para o preparo do pão integral de centeio, chamado
borodinsky. A receita foi retirada do site Pants Down a Pronson sob
autoria de Charlé Visser (8). Para assar usou-se forno convencional a
gás e forma antiaderente. Após o preparo do pão, se fez dois testes de
bread kvass. A primeira formulação foi retirada do site Practical Self
Reliance da autora Ashley Adamant (9), e no segundo teste, se
alteraram algumas quantidades e se acrescentou alguns ingredientes,
chegando na formulação final descrita mais abaixo.

Método de preparo do pão integral de centeio (borodinsky)


Método de preparo do kvass de pão russo (bread kvass)
Para refrescar o levain: Misturar 150 g de fermento natural, 280 g de
água fria e 100 g de farinha de centeio. Deixar descansar por 12 horas. Cortar em pedaços pequenos 600 g do pão e tostar no forno até que
No dia seguinte, misturar o fermento refrescado, 300 g de farinha de fique ligeiramente torrado (dourado, mas não queimado). Colocar o pão
trigo, 50 g de farinha de centeio, 100 g de farinha integral, 14 g de sal, 5 torrado em uma tigela grande. Levar 3 litros de água para ferver e jogar
g de sementes de cominho moídas na hora, 12 g de sementes de coentro sob o pão torrado. Cobrir e deixar descansar por 12 horas. Coar essa
inteiras, 60 g de melado, 40 g de cacau (70%) em pó e 300 g de água à mistura e juntar 20 g de fermento biológico seco, 150 g de açúcar
temperatura ambiente. A mistura ficará muito molhada e não se deve cristal, 50 g de açúcar mascavo, 10 g de frutas vermelhas secas, 10 g de
adicionar mais farinha. Basta trabalhar a massa por cerca de 5 minutos gengibre ralado e zestes de um limão. Cobrir novamente e descansar a
com as mãos ou com uma colher de pau até que o glúten se forme. mistura por 24 horas. Mexer de vez em quando.
Quando ficar um pouco mais firme, passar óleo nas mãos, esticar e Coar essa mistura novamente e acrescentar mais 10 g de frutas
dobrar a massa formando uma bola, depois cobrir. Deixar descansando vermelhas secas. Colocar em um frasco de plástico de 5 litros. Tampar o
por 3 horas. frasco e deixar em um lugar escuro, fermentando em temperatura
Untar a forma, colocar papel manteiga e um pouco de óleo novamente ambiente por 5 dias. Retirando a pressão 2 a 3 vezes ao dia para que não
por cima. Polvilhar a forma com um pouco de farinha de centeio, estoure.
sementes de coentro e cominho moído. Quando a massa dobrar de Coar a mistura em uma peneira de malha fina, com cuidado para não
tamanho colocar cuidadosamente na forma e espalhar uniformemente. deixar a borra do fundo passar. Engarrafar o kvass em garrafas, fechar e
Com as mãos úmidas, alisar a superfície e polvilhar com mais um pouco guardar na geladeira. Beber após, no mínimo, 8 dias resfriado, tempo
de coentro e sementes de cominho moídas. Deixar a massa crescer necessário para que esteja com os sabores equilibrados.
novamente, coberta com filme plástico, untando-o para evitar que grude
no pão e deixar o pão dobrar de tamanho, cerca de uma hora e meia. Figura 2: Rendimento da receita bread kvass
Pré-aquecer o forno até 220°C. Quando estiver quente, colocar uma aproximadamente dois litros.
pequena tigela de metal ou bandeja com água no fundo do forno. Isso
criará um pouco de vapor e a crosta do pão ficará crocante, além de
permitir que o pão termine de crescer no forno sem que a crosta se
forme muito rapidamente.
Assar o pão a 220ºC por 20 minutos. Reduzir o forno a 180°C e assar
mais 10 minutos. Quando os dez minutos terminarem, remover
cuidadosamente da forma e assar com o lado de baixo para cima por

340
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Conclusão

A bebida que foi produzida possui características semelhantes aos


estudos que foram consultados. Foi um trabalho muito interessante para
conhecer este preparo tão antigo e ainda muito apreciado na europa
oriental. Seus sabores são únicos e não são facilmente encontrados em
demais bebidas. Tem propriedades probióticas, além de ser fonte de
antioxidantes e flavonoides. É necessário aplicar o teste sensorial em
com painel adequado, além de realizarmos as análises laboratoriais,
sendo esta a continuação deste trabalho.

Referências

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211.
2. LIDUMS, Ivo et al. Quality parameters of fermented kvass
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4. GAMBU’S, Halina et. al. Healt benefits of kvass manufactured
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and Food Sciences, Nitra (SVK), 2015, p.34-39.
5. KOLOBAEVA, A. A. et al. Expanding the assortment of
fermented beverages at small enterprises. IOP Conf. Series: Earth
and Environmental Science, Russia, 2020, 8p.
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with plant by-
Resultados e Discussão products and their use in fermented beverage production.
Agronomy Research, Latvia (LV), 2019, p.1346-1355.
Após a produção da bebida bread kvass, foram encontradas as mesmas
7. IGNAT, Maria Valentina et al. Current functionality and potential
características vistas na literatura, principalmente com destaque de
improvements of non-alcoholic fermented cereal beverages. Foods
aroma de pão de centeio (3). Outras características sensoriais foram
— Open Access Journal, Romenia, 28p.
observadas, como leve amargor e acidez, com residual doce. A acidez
8. VISSER, Charlé. Borodinky dark rye bread. Pants down a pronson.
deve-se a fermentação, devido a transformação do açúcar (presente no
Moscow, (RU). 2020 março. Disponível em: <
amido do pão) em ácido lático por bactérias, além de, neste caso, o
https://www.pantsdownapronson.com/dark-rye-bread/ > Acesso em: 06
toque de limão (4, 3). A acidez também pode ser proveniente de outras
set 2020.
frutas (4).
9. ADAMANT, Ashley. How to make kvass. Practical Self Reliance.
Com relação à shelf-life da bebida, foi curta, como apresentaram os
Vermont (EUA), 2019 abril. Disponível em: <
demais estudos. Suas características organolépticas foram degradando-
https://practicalselfreliance.com/kvass-recipe/ > Acesso em: 06 set
se além de sua coloração sofrer oxidação (4, 2, 3).
2020.
O estudo tornou-se inconclusivo com relação ao total de fibras, como
foi visto no trabalho de Konrade et al (6) e aminoácidos e vitaminas (5).
Excepcionalmente, essas análises não foram possíveis serem realizadas.
Infelizmente o trabalho não pode ser realizado como gostaríamos, pois
não conseguimos aplicar teste sensorial com painel adequado e não
conseguimos realizar as análises laboratoriais devido à pandemia do
COVID-19 e ao isolamento social.

341
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Produção Artesanal de Sourdough bread: Benefícios no Consumo e Aspectos da Produção


Stéfanie Santos 1; Renata Futata 2; Paulo Sousa 3
1
Estudante de Mestrado do curso de Ciências Gastronómicas na FCT/ISA/ULisboa - Portugal
chefstefaniesampaio@gmail.com
2
Estudante de Mestrado do curso de Ciências Gastronómicas na FCT/ISA/ULisboa - Portugal
3
Professor do Curso de Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará – UFC.

Palavras chave: massa mãe; levain; bactérias lácticas; leveduras; microrganismos.

Introdução (2012) quando afirma que ao adicionar farinha de centeio no


“Sourdough” é uma das formas mais antigas de sourdough propicia a multiplicação de microrganismos e utilizou-se
fermentação de cereais utilizada principalmente para fins de o conceito de autólise(5). Também, optou-se por utilizar a
panificação e tem boa performance para aumentar a vida útil, textura, metodologia do clube The Sourdough school, em que inclui tutorias
palatabilidade e valores nutricionais de pães de trigo e centeio. Sua acerca de processos operacionais da produção do sourdough bread:
principal função é fermentar a massa para produzir um pão mais dobras, modelagem, orientações de tempo e temperatura,
alveolado e leve. Nos últimos anos, a produção de pão de massa forneamento do pão em ambiente fechado para formar crosta e
fermentada tradicional obteve um tremendo sucesso com o aumento interpretar a atividade microbiana da cultura selvagem(6).
da demanda dos consumidores por alimentos mais orgânicos, Sob ponto de vista descrito anteriormente, destacou-se os
saborosos e saudáveis. Tradicionalmente, massa fermentada são principais métodos aplicados para a fabricação do sourdough bread:
obtidos pela fermentação espontânea de uma mistura de farinha 1. Água enriquecida com pêras e mel: existem naturalmente
(trigo ou centeio), água e sal pela cultura autóctone de bactérias microrganismos nesses alimentos, com umidade e temperaturas
ácido-lácticas homo e heterofermentativas em associação com ideais ocorre a multiplicação efetiva de microorganismos para a
leveduras produz uma série de metabólitos (ácido lático e acético) e criação de uma cultura, assim verificou-se visualmente a formação
substâncias antimicrobianas e uma variedade de enzimas que de bolhas e o surgimento de um cheiro mais ácido.
comprovadamente conferem efeitos benéficos na textura, nos valores 2. A farinha de Centeio orgânica: possui microorganismo que em
nutritivos e no endurecimento do pão. Por exemplo, algumas dessas contato com umidade se desenvolvem e se multiplicam.
enzimas podem estimular as propriedades viscoelásticas da massa, 3. Secagem da massa mãe: o objetivo da secagem é obter um
aumentar o volume do pão, reduzir a robustez do miolo e aumentar a fermento seco com maior durabilidade, facilitar seu uso ao reduzindo
vida útil(1). etapas no processo. Acerca do processo de secagem: estenda a massa
“Sourdough é a palavra em inglês para designar o mãe contra uma folha de papel vegetal com o auxílio de uma
fermento natural, ou levain, uma cultura iniciadora mista para fazer a espátula e deixe em repouso. Ao final de quatro dias, possivelmente
massa de pão crescer (além de muitas outras aplicações culinárias). A estará seca, depende da umidade relativa do ar. Por fim, guardar em
técnica utilizada costuma ser o backslopping, que é simplesmente um recipiente hermético em local seco e em temperatura ambiente.
usar um pouco da cultura anterior para iniciar o próximo”. O 4. Autólise: é um processo em que farinha e água são misturados e
benefício é o fato de que o sourdough bread é considerado um deixados descansar por 30 minutos em média. Durante esse tempo,
alimento probiótico e possui elevado valor nutricional, auxilia na as proteínas da farinha se hidratam melhor, levando ao
eliminação de antinutrientes que podem ser tóxicos para o nosso aprimoramento das propriedades do glúten de textura e retenção de
organismo e na regulação do trânsito intestinal, além de ser livre de CO2. Em seguida, ocorrem ações de enzimas proteolíticas que estão
conservantes químicos. Nos pães com farinha de trigo ocorre uma contidas na farinha naturalmente que agem degradando as proteínas e
pré-digestão possibilitada pelo fermento natural de cultura mista ligações de glúten, resultando em uma maior extensibilidade e
resultando em um aumento da fragmentação do glúten quando está facilitando no manuseio da massa durante o processo de fabricação.
sendo metabolizado, ou seja, ocorre uma ruptura do glúten em Quando cumpre-se essa etapa não é necessário sova excessiva.
pequenas partículas facilitando a digestão. Além de propiciar uma 5. Levain: é a base de sua massa fermentada - farinha e água,
melhor capacidade estrutural da massa: crosta estaladiça, e cria misturada com uma pequena quantidade de sua massa mãe e
condições para o controle do desenvolvimento de agentes fermentada para criar uma colônia ativa de microrganismos de
patogênicos, aumentando o tempo da validade do produto(2). levedura selvagem e lactobacilos.
Nesse sentido, segundo (3) as bactérias do Sourdough são 6. Dobras (folding): uma técnica para auxiliar no desenvolvimento de
predominantemente lactobacilos e também são encontradas em glúten em uma massa. A massa é dobrada sobre si mesma como uma
outros alimentos fermentados, como kefir e chucrute. Esses produtos carta, virada a 90º e dobrada novamente.
são responsáveis pela produção de subprodutos únicos que melhoram 7. Modelagem (shaping): dobrar, enrolar e selar as bordas da massa
os sabores e texturas da massa fermentada, em particular produzindo para obter a forma final de um pão. Após a modelagem, leva-se a
os ácidos orgânicos que alteram o pH da massa (3). Dessa forma, o massa para um cesto para fermentar e para ajudar a manter a forma
uso da levedura selvagem somada ao processo de longa durante a prova final.
fermentação tem um papel importante no desenvolvimento de pães, Aliada às considerações descritas acima, realizou-se
ocorrem modificações físico-químicas associada a baixas fichas técnicas da massa mãe e do pão rústico para exemplificar e
temperaturas propiciando o crescimento de bactérias lácticas que apontar o passo a passo minuciosamente:
libertam ácido lático contribuindo para a formação de sabor e aromas
complexos em pães e em outros produtos alimentícios. Assim, 1.Ficha técnica do Sourdough ou Massa mãe (Ficha 1):
observa-se o retorno do uso da massa mãe em padarias artesanais e
no âmbito doméstico como forma de apreciar esse produto. FICHA TÉCNICA -Massa Mãe
O objetivo do trabalho foi caracterizar a produção de um
sourdough bread utilizando uma solução com mel de abelha e uma
fruta, no caso, utilizou-se a pera, para a fabricação de uma cultura ou Ingredientes Unidade Quantidade
massa mãe. Como também, descrever conceitos e principais
métodos aplicados para a produção artesanal/doméstica de um pão
rústico com fichas técnicas e modo de preparo.
Água Kg 0,25
Materiais e Métodos
A metodologia da pesquisa baseou-se em um estudo Farinha de trigo Branca Kg 0,20
teórico-empírico com o intuito de se obter a comprovação prática dos T65 (marca Nacional)
aspectos sensoriais dos pães. Utilizou-se conhecimentos adquiridos
durante um curso realizado pelo português Vítor Sobral pela Eduk
(cursos online) em que usa uma mistura de água com fruta para criar Farinha de Centeio Kg 0,05
uma solução que favorece o crescimento microbiano, utilizou-se o
conceito de refrescar a massa mãe e empregou-se o processo de
secagem da mesma(4). Também recorreu-se a metodologia de SUAS

342
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Pêra em cubos Kg 0,03 5. Em seguida leve a massa para geladeira para iniciar a
longa fermentação em baixa temperatura (5 a 7o C)
Mel de abelha Kg 0,02 6. Após 18 horas a massa havia crescido três vezes seu
tamanho inicial. Pré aqueça o forno por 45 minutos a 220 oC
Modo de Preparo (utilizar a temperatura máxima do forno doméstico)
7. Retire o pão do cesto, faça as incisões, passe para uma
folha de silicone ou papel manteiga e leve para uma panela
de ferro com tampa ou recipiente fechado, acomode o pão
1.Em uma vasilha de vidro adicione a água, o mel e os dentro da forma, tampe e leve ao forno.
pedaços de pêra e cubra com um pano, deixe descansar por 5 9.Retire a tampa da panela aos 25 min de forno, diminua a
dias em temperatura ambiente (no experimento a temperatura e deixe o pão dourar por mais 15 a 20 minutos.
temperatura estava em torno de 12 a 15o C) 8.Após isso, deixe o pão sobre uma grelha para esfriar.
2. Após isso, retire a pêra e penere se for necessário. Obs: o objetivo da tampa é impedir que o vapor de água
3. Adicione as farinhas e misture bem. criado pela umidade da massa do pão evacue e impeça de
4. Deixe repousar por 24 horas em temperatura ambiente formar a crosta crocante nas extremidades do pão.
5.Quando a massa atingir volume e houver bastante
atividade microbiana estará pronta para fazer o levain.
Obs: o crescimento dos microrganismos varia em detrimento Resultados e Discussões
da temperatura (temperatura ideal é entre 27 a 28o C).
No que tange às características sensoriais, observou-se
que ao cortar o pão apresentava-se uma crosta estaladiça e crocante, a
2.Após a fabricação da massa mãe, realizou-se um teste empírico ponto de até ouvir. Possuía aparência dourada e apetitosa e via-se um
para verificar a atividade microbiana. Uma porção de massa mãe foi salto, o que mostra um bom desempenho da fermentação durante a
adicionada a um copo com água, a massa precisa flutuar cocção. Os alvéolos se desenvolveram bem, resultado do processo de
comprovando que os microrganismos estão vivos e libertando gases dobras, onde alguns gases ficam retidos e formaram bolhas. Verifica-
(Figura 1). Após essa confirmação, é necessário refrescar ou se o Pão esfriando na grelha (Figura 2) - esquerda; Alvéolos (direita).
alimentá-la para que renove a flora microbiana e tenha mais Ao experimentar, sentia-se um leve toque ácido.
nutrientes para que se fortaleça, assim descarta uma parte e adiciona
novamente farinha e água em proporções iguais. Com o descarte faz-
se o levain, como também pode desidratá-lo. Figura 1: teste da massa
mãe (esquerdo); Massa mãe após o processo de secagem (direita).

Em suma, esse trabalho apresenta a dinâmica do processo


3. Fabricação do levain: retira 50g de massa mãe no ápice do
de fermentação de um tipo de levedura selvagem desenvolvida
crescimento, e adiciona 25g de água e 25g de farinha de trigo branca
artesanalmente. Além disso, foi comprovado que é possível elaborar
T65, o rendimento total foi de 100g. O levain garante uma melhor
um pão de fermentação natural longa com os utensílios e
performance fermentativa, além de poder alimentá-lo utilizando um
equipamentos domésticos.
mix de farinhas variadas para enriquecer a massa do pão.
Conclusão
4.Elaboração de ficha técnica do Sourdough bread (Ficha 2):
A longa fermentação promove diversas modificações na
FICHA TÉCNICA - Sourdough Bread qualidade dos pães, principalmente no sabor, que é basicamente
caracterizado pela ação das leveduras e bactérias láticas presentes na
Ingredientes Unidade Quantidade cultura/fermento. Além disso, esses pães não terão um padrão único,
visto que, se não forem respeitadas as condições de preparo como
ficha técnica, temperatura, umidade e tempo, alteraram-se as
características, entretanto, há uma busca por produtos
Farinha de trigo Branca Kg 0,4 (100%) caseiros/artesanais sem a obrigatoriedade de padronização, busca-se
T65 (marca Nacional) produtos que tragam benefícios à saúde, que sejam artesanais e
únicos, como no caso desse pão.
Água Kg 0,3 (75%)
Referências Bibliográficas

1.SUDHANSHU, Behera1; RAMESH, Ray. Sourdough bread; In :


Levain Kg 0,1 (25%) Bread: its Fortification for Nutrition and Health, CRC press,
USA.Editora: Cristina M. Russell, outubro, 2015, p.54.
sal Kg 0,008 (2%) 2.KATZ, Sandor Ellix. A arte da Fermentação. Prefácio Michaell
Pollan. Editora Tapioca, SESI-SP, 2012, capítulo 8.
3.KIMBELL, Vanessa. The Sourdough School: The ground-
Modo de Preparo
breaking guide to making gut-friendly bread. Prólogo Richard
Hard, 2018.p 58 a 64.
4.Eduk. Pães portugueses de fermento natural, Vítor Sobral.
1.Em uma vasilha adicione a farinha e água, tampe com um Disponível:www.eduk.com.br/cursos/6-gastronomia/10018-paes-
pano e faça autólise durante 30 minutos. portugueses-de-fermento-natural. Acesso: 20 de outubro de 2019.
2. Em seguida, adicione o levain, misture, e por fim 5.SUAS, Michel. Panificação e Viennoiserie: abordagem
adicione o sal, sove rapidamente e deixe a massa descansar profissional. São Paulo: Cengage Learning, 2012. pg.61 a 95.
por 30 minutos. 6.The Sourdough Club, por Vanessa Kimbell. Disponível em
3. Após isso, faça a primeira dobra, repita esse processo https://thesourdoughclub.com/glossary. Acesso 08 de setembro de
quatro vezes com intervalos de 30 minutos. 2020 às 9h.
4. Ao final das dobras, enfarinhe uma superfície e verta a
massa, faça a modelagem na massa e leve para um cesto
levemente enfarinhado. Deixe a massa fermentar por 4h.

343
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe

Hanna Schu1*; Eloisa de Oliveira2; Paola Stefanuti3, Gislaine Simões4*

1
Graduanda de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu
2
Mestranda em Tecnologia dos Alimentos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Medianeira
3
Doutora em Sociedade, Cultura e Fronteiras. Docente de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu
4
Doutora em Ciência de Alimentos. Docente de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu. email:
gislaine.simoes@ifpr.edu.br

Palavras chave: enriquecimento nutricional, glúten free, desenvolvimento de produtos alimentícios.

Introdução

Observa-se atualmente uma forte tendência no desenvolvimento de Tabela 1. Formulação do biscoito tipo cookie sem glúten e sem
produtos alimentícios isentos de glúten e lactose, e ainda verifica-se a lactose enriquecido com farinha de peixe
importância do incremento nutricional destes alimentos com proteínas
de alto valor biológico (1, 2). Diante deste cenário, pesquisadores vem Ingrediente Quantidade (kg)
estudando a produção de farinha de peixe e a adição desta em
produtos alimentícios, com finalidade de enriquecimento nutricional. Farinha de arroz 0,110
Alguns autores elaboraram caldos e canjas a base de farinha de
carcaça de peixe com o objetivo de inserção na merenda escolar, Fécula de batata 0,110
sendo que foi verificado através de análise sensorial, com provadores
Farinha de oleaginosas 0,110
não treinados, que os caldos e as canjas elaborados a partir das
farinhas aromatizadas tiveram boa aceitabilidade, independente da Farinha de peixe 0,110
espécie de peixe utilizada (3). Quanto a utilização de resíduos do
beneficiamento de peixe, destacamos que a carne mecanicamente Chocolate meio amargo 0,110
separada (CMS) é um subproduto obtido após a filetagem de peixes, Açúcar demerara 0,220
portanto, buscar alternativas de utilização desse subproduto é uma
forma de reduzir os impactos negativos do beneficiamento de peixe ao Açúcar mascavo 0,165
meio ambiente, e ao mesmo tempo, pode ser uma solução para
Manteiga clarificada 0,035
problemas de má nutrição atribuída à carência ou deficiência de
proteínas de elevado valor nutricional na dieta alimentar. Neste Essência de baunilha 0,015
sentido, em outro estudo realizado por nosso grupo de pesquisa,
verificou-se que a adição de farinha de carne mecanicamente separada Fermento químico 0,015
(CMS) de peixe em formulações de pão, macarrão e farofa de pinhão
promoveu o enriquecimento nutricional destes alimentos, pelo
aumento nos teores de proteína e de sais minerais (4). Diante das Determinação da composição nutricional da farinha de peixe e dos
evidências da qualidade nutricional da farinha de peixe, objetivou-se biscoitos tipo cookie
neste trabalho o desenvolvimento de um biscoito tipo cookie sem
glúten e sem lactose enriquecido nutricionalmente com farinha de A farinha de peixe e os biscoitos tipo cookie foram analisados quanto
peixe. ao teor de umidade, proteína, lipídeos e resíduo mineral por métodos
oficiais (5) e carboidratos por diferença. As análises foram realizadas
Material e Métodos no Laboratório de Química do Instituto Federal do Paraná, campus
Foz do Iguaçu, sendo executadas em triplicata, para os resultados
Produção da farinha de peixe finais foi calculado a média dos valores com uso do software Excel
2013.
Utilizou-se carne mecanicamente separada (CMS) de tilápia, obtida de
um frigorífico comercial da região oeste do Paraná. A CMS foi Avaliação sensorial dos biscoitos tipo cookie sem glúten e sem
descongelada em geladeira a (4±2ºC) por período de 12 horas e então lactose enriquecido com farinha de peixe
submetida ao processo de prensagem pelo uso de uma prensa de rosca.
Após a prensagem, a CMS foi distribuída em formas de alumínio Realizou-se a avaliação sensorial dos cookies pelo teste de escala
perfuradas e realizou-se a secagem em estufa com circulação de ar na hedônica de 9 pontos (sendo 1 desgostei muitíssimo e 9 gostei
temperatura de 70ºC por 10 horas, sendo que esta temperatura foi muitíssimo) com 50 provadores não treinados. Os provadores
definida em estudos realizados previamente. Após a completa analisaram os atributos de sabor, cor, aroma, textura e impressão
secagem, a CMS foi triturada em processador de alimentos para global dos cookies. O projeto foi aprovado em Comitê de Ética da
obtenção da farinha de peixe. Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), número CAAE
68250117.8.0000.0107 e número do Parecer 2.087.157.
Elaboração do biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose
enriquecido com farinha de peixe RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os experimentos foram realizados no Laboratório Didático de Observou-se que a farinha de peixe apresentou alto teor protéico,
Gastronomia do Instituto Federal do Paraná, campus Foz do Iguaçu. 75,09 +0,18 g de proteína em 100g de farinha (Tabela 2), por isso
Realizou-se testes iniciais com receitas de cookie elaboradas com destaca-se a sua importância como uma opção de ingrediente no
farinhas sem glúten como a farinha de arroz e a fécula de batata. desenvolvimento de novos produtos alimentícios. Em outro estudo
Posteriormente, testou-se formulações com adições de farinha de realizado por nosso grupo de pesquisa, verificou-se que a farinha de
peixe, até se obter uma receita em que o produto final fosse peixe produzida com a CMS de tilápia apresentou todos os
sensorialmente aceito pelas pesquisadoras. Sendo assim, a formulação aminoácidos essenciais a alimentação humana (6), por isso,
final do biscoito tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com reforçamos que a adição de farinha de peixe em produtos alimentícios
farinha de peixe está apresentado na Tabela 1. promove o enriquecimento nutricional dos mesmos. Além do alto
valor protéico, a farinha de peixe apresentou alto valor de minerais,
Para o preparo, misturou-se todos os ingredientes em um bowl, 9,40 +0,31 g de minerais em 100 de farinha (Tabela 2). A presença de
deixou-se repousar por 30 minutos em geladeira. Em seguida os minerais deve-se ao fato de que, para a obtenção da CMS de peixe
biscoitos foram modelados em formato esférico e assados em forno a utiliza-se a carcaça com as espinhas, sendo assim, a maior parte deste
gás em 180ºC por 15 minutos. minerais é o cálcio que compõem as espinhas dos peixes.

344
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

utilizado como substituto da baunilha para aromatizar produtos da


confeitaria (7).
Tabela 2. Composição nutricional da farinha de peixe
abela 4. Avaliação sensorial do biscoito tipo cookie sem glúten e sem
Parâmetros Teores (g / 100 g)* lactose enriquecido com farinha de peixe
Umidade 9,25 +0,45 Parâmetro Média das notas*
Cor 7,94 +1,44
Proteína 75,09 +0,18 Aroma 6,60 +1,70
Sabor 7,80 +1,34
Lipídeos 6,61 +0,67
Textura 7,26 +1,65
Minerais 9,40 +0,31 Impressão Global 7,90 +1,18
*Média e desvio padrão das análises realizadas em triplicata. *Médias e desvio padrão das notas atribuídas pelos provadores.

Quanto a composição nutricional dos biscoitos tipo cookie, observou- A Figura 1 mostra como ficou a aparência dos biscoitos tipo cookies
se um alto teor de proteínas (Tabela 3), este valor deve-se a adição da sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe.
farinha de peixe. Destacamos que o biscoito tipo cookie foi
desenvolvido com ingredientes isentos de glúten e lactose, podendo Figura 1. Biscoitos tipo cookie sem glúten e sem lactose enriquecido
ser indicado para dietas com restrição ao glúten e a lactose, atendendo com farinha de peixe
as necessidades deste público por produtos diversificados, além de
promover um ganho nutricional devido ao alto teor de proteínas.

Tabela 3. Composição nutricional e valor calórico do biscoito tipo


cookie sem glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe

Parâmetro Teores (g / 100 g)*

Umidade 6,69 +0,15


Proteína 15,25 +0,05
Lipídeos 15,30 +0,20
Minerais 1,99 +0,02g Fonte: Dos autores.
Carboidratos 46,21 +0,01 CONCLUSÃO

Valor Calórico 384,54 Kcal** Neste trabalho obteve-se uma farinha de peixe rica em proteínas e
*Média e desvio padrão das análises realizadas em triplicata. minerais, e a adição desta farinha de peixe na elaboração de biscoitos
** Valor calórico em 100 g de produto. tipo cookie possibilitou a obtenção de um produto com elevado teor de
proteínas e com boa aceitação sensorial. Sendo um produto sem glúten
Destacando o teor de proteínas dos biscoitos tipo cookies elaborados e sem lactose, os cookies desenvolvidos apresentam-se como uma
neste estudo, 15,25+0,05 g de proteína em 100 g de produto (Tabela alternativa de alimento destinado tanto para indivíduos com
3), observamos que este valor encontra-se acima do teor de proteína intolerância ao glúten e/ou à lactose, quanto para os que buscam
verificado nas rotulagens de alguns cookies sem glúten de marcas produtos diferenciados e saudáveis no mercado.
comerciais, os quais apresentam teores médios de 3,0 a 7,0 g em 100 g
de produto. Diversos autores tem estudado formulações de cookies REFERÊNCIAS
sem glúten com o uso de farinhas alternativas, como o farelo de arroz,
farinha de arroz, farinha de soja, farinha de coco, farinha de abóbora, 1. QUEIROZ, A. M.; ROCHA, R. F. J. da; GARRUTI, D. S.; SILVA,
farinha de banana verde, entre outras. Porém observa-se poucos A. P. V. da; ARAUJO, I. M. S. Elaboração e caracterização de
estudos com o uso de farinhas de origem animal, como é o caso da cookies sem glúten enriquecidos com farinha de coco: uma alternativa
farinha utilizada nesse estudo, a qual foi produzida com um resíduo do para celíacos. Braz. Journal of Food Tech., Campinas, v.20,
beneficiamento de peixes, a CMS. Portanto, destaca-se aqui o caráter e2016097, 2017.
inovador deste trabalho e a possibilidade de enriquecimento 2. MICHAELSEN, L. K.; ALVEZ, M. K. DESENVOLVIMENTO
nutricional de alimentos com proteínas de alto valor biológico, visto DE ALFAJOR SEM LACTOSE E SEM GLÚTEN E AVALIAÇÃO
que a farinha de peixe possui aminoácidos essenciais a alimentação DA SUA ACEITAÇÃO EM DIETAS COM LIMITAÇÕES DE
humana (6). INGREDIENTES. Revista Bras. de Produtos Agroind., Campina
Grande, v.19, n.1, p.73-78, 2017
Avaliação sensorial dos biscoitos tipo cookie sem glúten e sem 3. GODOY, L. C. de; FRANCO, M. L. R. de S.; FRANCO, N. do P.;
lactose enriquecido com farinha de peixe SILVA, A. F.; ASSIS, M. F.; SOUZA, N.,E.; MATSUSHITA, M.;
VISENTAINER, J. V. Análise sensorial de caldos e canjas elaborados
Analisando as médias das notas obtidas na avaliação sensorial dos comfarinha de carcaças de peixe defumadas: aplicação na merenda
biscoitos tipo cookies (Tabela 4), observou-se que a cor, o sabor e a escolar. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 30(Supl.1):
textura foram bem avaliados, pois obtiveram notas entre 7 e 8, o que 86-89, maio 2010.
corresponde na escala hedônica a “gostei” e “gostei muito”. Sendo 4. OLIVEIRA, E. C. R.; MORAIS, G. R.; AMORIM, G. M. V.;
assim, podemos afirmar que os biscoitos tipo cookie sem glúten e sem ARANDA JUNIOR, R. J.; STEFANUTTI, P.; SIMÕES, G. S.
lactose enriquecido com farinha de peixe apresentaram cor, sabor e Enriquecimento nutricional de alimentos com farinha de CMS de
textura agradáveis e bem aceitos pelos provadores. A nota Tilápia. ANAIS. III Mostra científica de alimentos. Medianeira:
correspondente a impressão global (7,90 +1,18) também confirma a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017. v. 1. p. 108-114.
boa aceitação sensorial do produto desenvolvido nesse estudo. Quanto 5. AOAC. Official Methods of Analysis of Association of Official
ao aroma, a nota atribuída foi menor (6,60 +1,70) do que as notas dos Analytical Chemists. 18ed. Association of Official Analytical
demais parâmetros, ou seja, o aroma dos biscoitos tipo cookie sem Chemists, Maryland, United States, 2006.
glúten e sem lactose enriquecido com farinha de peixe não foi bem 6. ARANDA JUNIOR, R.; SIGNOR, A. A.; SIMÕES, G. S. Valor
aceito pelos provadores. Este fato deve-se ao uso da farinha de peixe, nutricional de farinha de carne mecanicamente separada de tilápia.
a qual apresenta um leve aroma característico de peixe, sendo assim, Caderno de Resumos. III Mostra de Inovação, Pesquisa, Ensino,
observou-se que é preciso melhorar o aroma dos biscoitos tipo cookies Extensão e Cultura do IFPR, Campus Foz do Iguaçu. vol. 1, n.3, 03 de
enriquecidos com farinha de peixe, para que o produto seja melhor setembro de 2019, Foz do Iguaçu, Paraná.
apreciado pelos consumidores. Para a melhora do aroma dos biscoitos 7. KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não
desenvolvidos, pretende-se testar o uso de essência chocolate e convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos
também a adição de essência de cumaru. O extrato de cumaru tem sido nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de
Estudos da Flora, 2014.

345
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise da Composição Nutricional de Preparações Gastronômicas a partir de


Fichas Técnicas de um Restaurante do Município de João Pessoa
Michelle Pereira¹, Noádia Rodrigues ²
¹Especialista em Nutrição Clínica, Secretaria de Saúde, Prefeitura Municipal de Goiana
² Mestrado em Ciências da Nutrição, Departamento de Gastronomia, Universidade Federal da Paraíba
kercianutricao@hotmail.com
Palavras chave: cardápio, valor nutricional, macronutrientes, micronutrientes
INTRODUÇÃO A preparação estilo salada de fruta, composta por manga,
O cardápio, também conhecido por “menu”, “lista” ou uva, maçã, uva passa e leite condensado, se destacou como a
“carta”, pode ser definido como uma lista de preparação culinária que sobremesa mais rica em calorias que as outras frutas. Um trabalho
compõe uma refeição ou que compõe todas as refeições de um dia ou buscou elaborar substitutos do leite condensado tradicional,
de um período determinado. Os cardápios devem exibir a seguinte produzidos a partir de extratos vegetais de aveia, arroz e amêndoa.
ordem de apresentação: entrada, prato principal, guarnição, prato- Foi verificado que ocorreu diminuição do valor energético total e
base e sobremesas (1). redução do teor lipídico dos substitutos comparados ao produto
A vasta inovação de alimentos e as diversas opções de original, porém necessitam de modificações para serem aceitos pela
formas de prepará-los indicam uma oferta diversificada de pratos população (4).
tipicamente degustados, formando um ponto imprescindível para a Dentre os acompanhamentos, o feijão preto e a farofa
cultura brasileira. Desse modo, tanto o sabor quanto as composições simples foram as preparações mais energéticas. Além disso, se
químicas e quantidades de nutrientes presentes nos alimentos e pratos destacaram nas maiores quantidades de carboidratos e lipídeos,
locais colaboram para ampliar os gostos em relação às dietas mais nutrientes estes utilizados para o fornecimento de energia.
equilibradas em teores nutricionais e saudáveis (2). Tabela 3: Composição dos macronutrientes dos acompanhamentos
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo Energia Proteína Lipídeo Carboidrato
analisar a composição nutricional de macro, alguns micronutrientes e (Kcal) (g) (g) (g)
o valor energético de preparações gastronômicas de um restaurante Dobradinha 180,93 10,61 11,59 10,64
de João Pessoa – Pb, permitindo o conhecimento dos ingredientes e Feijão carioca 87,01 18,63 7,23 46,97
os nutrientes fonte de cada iguaria tradicional. Feijão 71,51 5,75 0,47 15,57
METODOLOGIA macassar
Tratou-se de um estudo de campo, exploratório com Feijão preto 304,73 20,39 4,63 46,34
abordagem quantitativa-descritiva usando 89 fichas técnicas (22 Feijão tropeiro 113,37 11,34 6,86 38,22
pratos de entrada, 25 preparações proteicas, 19 acompanhamentos, 04 Rubacão 168,36 6,07 4,40 27,16
sobremesas, 17 bebidas e 02 sanduíches) que foram elaboradas para a Arroz à Grega 247,66 4,73 2,16 51,25
padronização do cardápio. Para o cálculo do peso foi utilizada Purê de batata 92,09 1,82 4,81 12,32
balança digital Toledo com capacidade de 6 kg. Foram analisados Bolinhos de 258,59 13,33 14,71 17,46
através da planilha do Microsoft Excel e a partir do peso líquido per peixe
capita, em porção de 100g da preparação, foram calculadas a Farofa simples 415,13 1,43 15,47 68,13
composição nutricional e valor energético das preparações, baseada Lasanha de 168,03 16,05 6,81 9,99
na Tabela de Composição dos Alimentos – TACO/UNICAMP (3). frango
Os macronutrientes, fibras e energia de cada preparação Macaxeira frita 207,94 1,37 6,97 35,31
foram estimados e os micronutrientes, tais como Cálcio, Magnésio, Fonte: Própria do autor
Ferro, Sódio, Zinco, Vitamina C e Vitamina A. O método estatístico O bolinho de peixe se apresentou como um
utilizado foi a análise de componentes principais (PCA). acompanhamento rico em proteína e deveria ser utilizada em um
RESULTADO E DISCUSSÕES cardápio como uma preparação principal. Porém, é rico em lipídeos
As entradas (saladas) são preparações ricas em fibras e pelo uso de óleo na fritura e deve ser utilizado nas refeições com
pobre em calorias como pode ser observado na tabela 1. A salada de moderação. Em um estudo óleos e gorduras, sob condição de fritura,
tomate se encontrou como uma preparação mais pobre em calorias. são levados a formação de isômeros trans. A Organização Mundial
Já a batata doce cozida, se mostrou mais rica em calorias que as da Saúde (OMS) recomenda que o consumo máximo deste tipo de
outras saladas, podendo assim ser utilizada na refeição como um gordura não deve ser superior a 1% das calorias totais, pois pode ser
acompanhamento. fator de risco para as doenças do coração (5).
Tabela 1: Composição energética e de fibras dos pratos de entrada Dentre as preparações principais, na tabela 4 pode-se
Energia (Kcal) Fibras (g) observar que a linguiça e o bode guisado se destacaram mais pela
Batata doce 69,50 2,89 presença de gorduras. Alimentos de origem animal são ricos em
Salada de acelga 23,09 1,09 gorduras saturadas responsáveis pelo aumento do colesterol total e
Salada de brócolis 24,03 2,80 LDL-colesterol, devendo os mesmos serem consumidos com
Salada de legumes 52,52 2,30 moderação (6).
Salada de Jerimum 24,05 2,35 Tabela 4: Composição dos macronutrientes dos pratos principais
Salada de pepino 28,00 1,90 Energia Proteínas Lipídeos
Salada de pepino e couve 27,36 2,00 (Kcal) (g) (g)
Salada de tomate 20,71 1,42 Atum na chapa 161,39 21,56 7,2
Salada colorida 24,47 1,91 Bife temperado 163,85 20,59 8,39
Vinagrete 23,36 1,69 Bode guisado 349,60 16,27 30,87
Fonte: Própria do autor Camarão no creme 90,88 10,48 3,49
Foi evidenciado nas sobremesas, constituídas pelo grupo das Coxa de frango 156,61 16,33 9,52
frutas, a presença de fibras em sua composição, o que também pode Frango na chapa 134,24 21,38 4,78
ser justificado, visto que as mesmas são fontes de fibras e possui Isca de carne 167,02 15,88 10,87
baixa caloria – Tabela 2. Isca de frango c legumes 102,13 16,28 3,13
Tabela 2: Composição energética e fibras das sobremesas Isca de frango na chapa 123,44 21,37 3,56
Energia (Kcal) Fibras (g) Linguiça 228,41 13,98 18,68
Abacaxi 47,98 1,00 Peixe à dorê 166,36 14,27 8,17
Estilo Salada de Frutas 128,25 1,21 Fonte: Própria do autor
Laranja 45,00 1,10 Dentre as preparações ricas em lipídeos e proteínas podemos
Manga 51,00 2,10 destacar os sanduíches de queijo e misto quente. Eles possuem uma
Fonte: Própria do autor quantidade grande de gorduras presentes nos ingredientes de origem

346
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

animal, pois dos 18,17 g total de gorduras no sanduíche temos 10,08g Os micronutrientes fontes mais encontrados foram nas
de lipídeos no queijo mussarela. Um estudo buscou estabelecer os preparações dos pratos principais e acompanhamentos, com destaque
valores de carboidratos, lipídeos, proteínas, fibras e sódio em 100 g para os alimentos a base de fígado, ricos em vitamina A e bacalhau,
de “sanduíches naturais” utilizando métodos laboratoriais diretos e ricos em cálcio, além do magnésio no feijão carioca. O uso de
indiretos Os ingredientes de origem animal presente nas preparações embutidos e temperos prontos também devem ter bastante atenção,
contribuíram para um maior percentual de gorduras contido nos como visto na dobradinha e feijão preto, pois estes alimentos
sanduíches, similarmente observado neste trabalho (7). utilizados nestas preparações são ricos em sódio e devem ser
Em relação aos micronutrientes o suco de polpa de caju se utilizados com moderação.
destacou como a bebida mais rica em vitamina C com 78,75 mg Contudo, podemos concluir que estas preparações devem
superando as outras bebidas, porém um estudo comparando o teor de ser inseridas na alimentação diária em combinação com outras
ácido ascórbico (vitamina C) presente no fruto do caju, o pendúculo, preparações de forma equilibrada em quantidade e qualidade
no suco da polpa e na polpa desidratada de duas marcas, observou nutricional para atender as recomendações gerais respeitando a
que o suco natural tem maior quantidade de ácido ascórbico em cultura dos comensais desta região.
relação aos seus derivados industrializados. Logo, sucos naturais são
ricos em vitamina C mais do que produtos processados como a polpa REFERÊNCIAS
de caju aqui descrita (8). SILVA, S. M. C. S.; MARTINEZ, S. Cardápio: Guia prático para
As preparações isca de fígado (7,84 mg), isca de fígado a elaboração. 3.ed. São Paulo: Roca, 2014.
acebolado (6,96 mg) e fígado refogado (6,89 mg) foram às
preparações mais ricas em vitamina A. A predominância dessa SILVA, M. R.; SILVA, M. S.; SILVA, P. R. M.; OLIVEIRA, A. G.;
vitamina nas preparações acima se justifica pela presença de fígado AMADOR, A. C. C.; NAVES, M. M. V. Composição em nutrientes
como ingrediente principal. e valor energético de pratos tradicionais de Goiás, Brasil. Ciência e
O bacalhau cremoso e bacalhau “zé do pipo” que em 100 g Tecnologia de Alimentos, V. 23, suppl., p.140-145, 2003.
da preparação apresentaram 119,03 mg e 98,26 mg de cálcio,
respectivamente. Esse micronutriente responsável para a formação e Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA-
manutenção de ossos e dentes, sendo suas fontes alimentares UNICAMP - 4. ed. rev. e ampl. Campinas: NEPA-UNICAMP,
laticíneos, carnes, aves e peixes e na preparação acima analisada o 2006. 164p.
cálcio se destacou em maiores quantidades no bacalhau e leite,
utilizados como ingredientes da preparação (9).
Das preparações analisadas o feijão carioca se destacou ALMADA, E. D. R. Substitutos de leite condensado a partir de
como a preparação mais rica em magnésio com 162,71 mg do extratos vegetais. 2013. 39 f. Monografia (Graduação em Nutrição)
micronutriente. A mistura feijão com arroz aparece em quase todos – Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
os almoços da população brasileira, sendo deste modo uma boa fonte
deste mineral para ser consumido diariamente (10). SANIBAL E.A.A., MANCINI-FILHO J. Perfil de ácidos graxos
Tabela 5: Composição dos micronutrientes dos acompanhamentos trans de óleo e gordura hidrogenada de soja no processo de
Cálcio Magnésio Sódio fritura. Ciência e tecnologia dos alimentos. 24(1). 27-31, 2004
(mg) (mg) (mg)
Dobradinha 21,82 29,52 1.319,14 CUPARI, L. Nutrição nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
Feijão carioca 101,82 162,71 853,61 1.ed. Barueri, SP: Manole, 2009.
Feijão macassar 27,36 41,51 468,00
Feijão preto 89,88 150,4 907,45 DAROS, T. L. Análise da composição centesimal do sanduíche
Feijão tropeiro 76,25 103,50 90,69 natural e adequação do rótulo conforme a legislação da ANVISA.
Rubacão 56,90 28,04 338,45 Monografia (Curso de Bacharelado em Farmácia) - Universidade do
Arroz à grega 13,95 20,50 247,96 Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2010.
Arroz de Braga 14,31 21,56 288,78
Arroz integral 7,98 109,78 48,76 ELER, J. F. de C.; QUINTÃO, A. L.; FIGUEIREDO, E. A;
Arroz refogado 12,33 26,97 270,84 ANDRADE, N. A.; NASCIMENTO, R. A.; OLIVEIRA, T. P. de.
Arroz simples 3,95 29,64 290,18 Avaliação do teor de ácido ascórbico presentes nos sucos de caju
Bolinhos de peixe 18,69 27,26 128,42 natural, na polpa industrializada e na polpa desidratada.
Espaguete refogado 16,28 26,34 42,53 Disponível em:
Farofa simples 50,88 29,06 48,02 http://co.unicaen.com.br:89/periodicos/index.php/UNICA/article/vie
Lasanha de carne 211,70 15,00 430,46 w/26. Acesso em: 18 ago. 2020.
Lasanha de frango 183,16 20,23 384,10
Macaxeira frita 14,12 40,57 1,83 GALLAGHER, L.M. Os nutrientes e seu metabolismo. In: Mahan,
L.K., Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12
Fonte: Própria do autor ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
Já o feijão preto (feijão preto, carne de charque, calabresa
e caldo de carne) e dobradinha (feijão branco, carne de charque, BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a população
tripa, bucho de boi e temperos) demonstrados na tabela acima se brasileira. 2.ed., 1.reimp. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
apresentaram ricos em sódio pela presença da carne de charque,
calabresa e caldo de carne que são ingredientes ricos em sal. De Sociedade Brasileira de Cardiologia. VII Diretriz Brasileira de
acordo com a OMS, a quantidade de sódio a ser consumida por dia é Hipertensão Arterial. v. 107, n°3, Supl.3, 2016.
de 2.000 mg e também é recomendada pela VII Diretriz Brasileira de
Hipertensão Arterial (11), logo estes alimentos devem ser
consumidos em porções menores e de forma mais equilibrada.

CONCLUSÃO
A composição nutricional dos pratos analisados nos
mostraram que em relação aos macronutrientes os pratos de entrada
podem ser utilizados nas refeições como alimentos saudáveis pela
presença de fibras e baixa caloria. Dando ênfase também as frutas
utilizadas como sobremesa nas refeições as quais possuem grandes
quantidades de fibras. Já em relação aos acompanhamentos, estes se
destacaram por serem ricos em carboidratos e lipídeos, podendo os
mesmos serem inseridos na alimentação com moderação. Devemos
ter bastante atenção na adição de alguns ingredientes que podem
alterar o valor nutricional da preparação de forma negativa, como por
exemplo, o óleo utilizado nas frituras, como visto no bolinho de
peixe.

347
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
1

Aproveitamento Integral: Avaliação da Aceitabilidade e da Qualidade Nutricional de


Preparações de uma Escola Privada no Município de João Pessoa.

Michelle Pereira¹, Ana Gonzalez², Érika de Melo²


¹Especialista em Nutrição Clínica, Secretaria de Saúde, Prefeitura Municipal de Goiana
² Especialista em Gastronomia, Restaurante e Cafeteria Cidade Viva, Escola Internacional Cidade Viva
² Mestre em Ciências da Nutrição, Restaurante e Cafeteria Cidade Viva, Escola Internacional Cidade Viva
kercianutricao@hotmail.com

Palavras chave: Alimento, Desperdício, Receita

INTRODUÇÃO
Na administração de uma Unidade de Alimentação e Ingrediente Quantidade
Nutrição (UAN) o desperdício é um fator de grande relevância, tendo
este na cadeia alimentar causas econômicas, políticas, culturais e Melancia 1Kg
tecnológicas, que abrangem as principais etapas da cadeia Coentro 0,100 kg
produtiva: colheita, transporte, manipulação, comercialização,
sistema de embalagem e armazenamento (1). Pimentão 2 unidades
Há uma grande preocupação no sentido de se aproveitar ao Cebola 1 unidade
máximo os alimentos. Estudos mostram a importância do controle do
processo de produção como técnicas corretas de pré-preparo, Amido de milho 2 colheres de sopa
métodos para se evitar o desperdício no momento da aquisição dos Água ½ copo
alimentos, treinamentos, bem como, a valorização da mão-de-obra
(2). Sal pitadas
O homem pode obter uma alimentação sadia com partes de Azeite 1 colher de chá
alimentos que normalmente são desprezadas. Sendo assim, é
importante a utilização de cascas, talos e folhas, pois o Folha de louro 1 unidade
aproveitamento integral dos alimentos, além de diminuir os gastos Participaram da análise sensorial do “Refrigerante Caseiro”
com alimentação e melhorar a qualidade nutricional do cardápio, oitenta e dois alunos das séries Infantil I e II manhã e tarde, pelo
reduz o desperdício de alimentos e torna possível a criação de novas Método afetivo com escala hedônica facial para escolares (4). Já para
receitas, como, por exemplo, sucos, doces, geleias e farinhas (3). sensorial da “Panqueca verde” e do “Molho de melancia” a amostra
Diante do exposto, o presente estudo objetivou avaliar a foi de 111 funcionários, realizando testes hedônicos para os atributos:
composição nutricional e aceitabilidade de preparações elaboradas a cor, textura, sabor, aparência e avaliação global com escala hedônica
partir do aproveitamento integral dos alimentos no restaurante de verbal de 9 pontos, variando de gostei muitíssimo (9 pontos) até
uma escola privada do município de João Pessoa. desgostei muitíssimo (1 ponto) , utilizando-se a metodologia
recomendada pelo Instituto Adolfo Lutz – IAL (5).
MATERIAIS E MÉTODOS Os dados sobre a aceitação foram colocados em planilhas e
Trata-se de um estudo do tipo exploratório quantitativo. gráficos do programa Microsoft Excel. A escala de aceitação usada
Foram desenvolvidas três receitas de aproveitamento integral dos para avaliar o nível de aceitação do refrigerante caseiro por parte das
alimentos na cozinha do restaurante: refrigerante caseiro, panqueca crianças dos infantis I e II manhã e tarde, originalmente possuía
verde e molho de melancia. As fichas técnicas foram desenvolvidas índices de 1 à 5, os quais eram atribuídas as expressões péssima,
para que pudessem ser padronizadas. ruim, bom, muito bom e ótimo respectivamente. Entretanto,
Tabela 1- Formulação do refrigerante caseiro para 5L para fins de análise estatística, esta escala foi reformulada, sem
Ingrediente Quantidade alteração nos resultados finais, para índices 1 e 2, representando
Laranja 15 unidades respectivamente Ótimo/Muito Bom e Ruim/Péssimo, pois em
alguns índices as escalas possuíam valores menores que 5,
Limão 5 unidades inviabilizando a análise estatística. Lembrando que a categoria
Cenoura 4 unidades “Bom” foi retirada das análises, visto que nenhum dos alunos
escolheu a mesma. Assim, adotamos o teste exato de Fisher com
Casca de laranja 1 unidade valor de significância menor que 0,05.
Açúcar 0,4 Kg Para a determinação da composição nutricional das receitas
desenvolvidas utilizou-se Tabela de Composição dos Alimentos –
Água com gás 2,5 L TACO/UNICAMP (6). Foram calculados através da planilha do
Microsoft Excel o valor energético, macronutrientes, e teor de fibras.
Tabela 2- Formulação da panqueca verde para 40 panquecas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ingrediente Quantidade Observando a ficha de análise sensorial do refrigerante
Couve 3 molhos caseiro, foi possível verificar que, em ambos os turnos, os alunos
apresentaram uma aceitação superior a 80%, conforme demonstrado
Ovos 4 unidades na Tabela 4.
Farinha de trigo 1Kg Tabela 4 – Análise sensorial do refrigerante caseiro
Manteiga 2 colheres
Leite 2L
Sal 1 colher de sopa
Queijo mussarela 0,632 Kg
Cenoura 0,306 Kg
Em uma análise sensorial de sucos elaborados com
Tabela 3- Formulação do Molho de melancia para 1,2 L de aproveitamento integral de alimentos, encontraram uma aceitação de
molho 35,82% para o suco de casca de maçã, 57,49% para o suco de limão
com couve e 81,65% para o refrigerante caseiro. (6)

348
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
A panqueca verde apresentou uma aceitação superior a possuem boa fonte de fibras e baixas calorias. Já a porção da
70%, não levando em consideração quem não respondeu a essa preparação refrigerante caseiro apresenta mais de 10g de açúcar,
pergunta, como demonstrado na figura 1. portanto não são indicadas pelo guia para população brasileira. A
Organização Mundial de Saúde – OMS recomenda essas
Figura 1 – Aceitação sensorial da panqueca verde preparações, pois elas possuem menos de 30% de lipídeos por
porção. (11)
Em pesquisa com elaboração de bolo feito com casca de
banana mostraram menores valores energéticos e maiores
quantidades de fibras quando comparado com a preparação utilizado
apenas a banana. Em relação a elaboração de suco de acerola em 300
ml apresentou valores menores de energia, proteínas, lipídeos, fibras
e maiores para carboidratos, quando comparados com o suco de
acerola, cenoura e couve. (12)

CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos concluímos que uma revisão
na receita do molho de melancia deve ser feita a fim de melhorar suas
características sensoriais para uma maior aceitação. Já refrigerante
caseiro e a panqueca verde tiveram níveis de aceitação consideráveis,
sendo altamente viável a incorporação no cardápio da escola.
A implantação do uso integral de alimentos em preparações
Comparando-se com o estudo sobre análise do perfil é uma alternativa que deve ser incentivada, pois como mostram os
sensorial do pão de forma integral é possível verificar que a maioria resultados possuem baixas calorias e uma boa fonte de fibras, além
das respostas dadas pelos provadores foram superiores a nota 5 de aumentar a qualidade nutricional e diminuir o desperdício dos
quanto à aparência, aroma, sabor, textura e impressão global no teste alimentos.
de aceitação, indicando boa aceitação pelos consumidores (7).
Os principais critérios para aceitação de alimentos REFERÊNCIAS
enriquecidos com fibras alimentares são: bom comportamento no CASTRO, M.H.C.A. Fatores determinantes de desperdício de
processamento, boa estabilidade e aparência, e satisfação no aroma, alimentos no Brasil: Diagnóstico da situação. 2002. 93p.
na cor, na textura e na sensação deixada pelo alimento na boca (8). Monografia (Especialização em Gestão de Qualidade em Serviços de
Certamente, de uma maneira geral, a maioria desses requisitos foram Alimentação) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2002.
alcançados pelas panquecas.
O molho de melancia apresentou uma aceitação em torno KIMURA, A. Y. Planejamento e administração de custos em
de 60%, não sendo levado em consideração os que não responderam, restaurantes industriais. 1. ed. São Paulo: Fazendo Arte, 1998.
conforme demonstrado na figura 2.
GONDIM, J. A. M.; MOURA, M.F.V.; DANTAS, A.S.;
Figura 2 – Aceitação sensorial do molho de melancia MEDEIROS, R.L.S.; SANTOS, K.M. Composição centesimal e de
minerais em cascas de
frutas. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 4, n. 25, p. 825-827,
2005.

BRASIL, Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição Escolar –


UNIFESP. Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no
Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. São Paulo.
2010.

BRASIL, Instituto Adolfo Lutz. Métodos físico-químicos para


análise de alimentos. São Paulo, 4 ed. 2005.

Tabela brasileira de composição dos alimentos. Campinas: NEPA –


UNICAMP. 4 ed. rev. e ampl. 2011. 161p.
Para que um produto seja considerado aceito, em termos
de suas propriedades sensoriais, é necessário que obtenha um índice VIEIRA, V. B. et al. Análise sensorial de sucos elaborados com
de aceitabilidade de, no mínimo, 70% (9). Portanto, o molho de aproveitamento integral de alimentos. In: JORNADA
melancia não apresentou uma boa aceitação, refletindo a necessidade INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE, 3. Anais eletrônicos. Santa
de revisão da receita, para posteriormente, ser novamente avaliado. Maria: UNIFRA, 2010. Disponível em:
<www.unifra.br/eventos/jis2010/Trabalhos/253.pdf.> Acesso em: 02
Dados obtidos das fichas técnicas de preparo mostram os mar. 2019.
valores calóricos das preparações e indicam que uma porção de 300 BATTOCHIO, J. R. et al. Perfil sensorial de pão de forma integral.
ml de refrigerante caseiro possui 121,66 kcal, 2,96% de proteína, Rev. Ciênc. Tecnol. Alim., Campinas, v.26, p.428-432, 2006.
0,92% de lipídeos, 96,12 de carboidrato e 1,96 g de fibras. Em 100 g THEBAUDIN, J. Y. et al. Dietary fibres: Nutritional and
de panqueca verde há 75,93 kcal, 17,89% de proteína, 34,4% de technological interest. Trends in Food Science Technology, v. 8, n.
lipídeos, 47,7% de carboidrato e 0,39g de fibra. Em 30 ml de molho 2, p. 41-48, 1997
de melancia obteve-se 21,84 kcal, 14,3% de proteína, 16,7% de TEIXEIRA, E. et al. Análise sensorial de alimentos. Florianópolis:
lipídeos, 69,12% de carboidrato e 1,22g de fibra. Isso mostra que UFSC, p. 180, 1987.
estas preparações feitas com aproveitamento integral dos alimentos
VIANA, D.S. et al. Análise da dieta habitual as recomendações
nutricionais em pacientes atendidos em consultório particular.
Revista brasileira de obesidade e emagrecimento. São Paulo, v.1, n.3,
p. 55-59. 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a população


brasileira – promovendo a alimentação saudável. 1.ed., 1.reimp.
Brasília: Ministério da Saúde, 2008.

349
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

DETERMINAÇÃO DE POLIFENÓIS TOTAIS PRESENTES NA CASCA E


SEMENTE DO FRUTO DO CACAUEIRO (Theobroma cacao)

Heloisa, Portela-de-Sá1; Ingrid, Souza2; Nayara, Costa2; André, Costa3; Júlia, Sá4; Paula, Freitas5; Keciany, Oliveira6

1 Faculdades Integradas de Cacoal (Mestre, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
(heloportelasa@gmail.com)
2 Faculdades Integradas de Cacoal (Discente, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
3 Faculdades Integradas de Cacoal (Especialista, Curso de Bacharelado em Nutrição, Cacoal, Rondônia, Brasil).
4 Centro Universitário UniFacid Wyden (Discente, Curso de Bacharelado em Medicina, Teresina, Piauí, Brasil)
5 Universidade Estadual do Ceará (Mestre, Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde, Fortaleza, Ceará,
Brasil).
6 Universidade Estadual do Ceará (Doutora em Ciências Fisiológicas – Universidade Estadual do Ceará – UECE).

INTRODUÇÃO e armazenada separadamente. A polpa extraída foi armazenada sob


refrigeração -18ºC até a análise. A semente do cacau foi processada e
O cacau (Theobroma cacao) é classificado sob três variedades torrada (110ºC) para transformá-la em nibs.
importantes, o Criollo, o Forastero e o Trinitario. A maioria do cacau Para a análise dos compostos fenólicos, foi realizado o
comercializado mundialmente é tipo Forastero (1). O Brasil é um dos preparo do extrato do cacau em tubo Falcon contendo acetona. Essa
maiores produtores mundiais e grande exportador de cacau (2). mistura (cacau e acetona) foi homogeneizada, centrifugada e o
O fruto do cacaueiro é composto de três partes distintas: o sobrenadante coletado para análise do conteúdo fenólico (5). O
epicarpo (casca), o mesocarpo (polpa) e o endocarpo (semente), parte conteúdo de fenólicos totais foi determinado de acordo com o método
utilizada para a fabricação do chocolate (1). Com o cacau é possível de Folin Ciocateau adaptado de (6). A quantificação de fenólicos totais
desenvolver uma quantidade relevante de subprodutos, tais como: cacau se fez pela interpolação na curva padrão de ácido gálico e os valores
em amêndoas, cacau líquido, manteiga de cacau, cacau em pó, chocolate, expressos em miligramas (mg) de equivalente de ácido gálico (EAG)
entre outros (3). por 100 g, e leitura em 720nm.
A semente do cacau apresenta comprovado efeito antioxidante
devido à presença de polifenóis ou compostos fenólicos, que são produtos Análise estatística
do metabolismo secundário de plantas com diversas propriedades
biológicas benéficas à saúde (4). Além disso, o interesse quase Os dados foram submetidos à análise de variância pelo
predominante do cacau é sobre a semente torrada (nibs) pela sua programa estatístico GraphPad Prism 6.0, e as médias dos tratamentos
importância na fabricação do chocolate. Existem poucas pesquisas sobre comparadas pelo teste t de Student, a 5% de significância.
sua polpa, o que gera curiosidades quanto ao seu benefício, apesar do fruto
ser facilmente encontrado e bastante consumido no estado de Rondônia. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante disso, o objetivo desta pesquisa foi analisar e comparar o conteúdo
de compostos fenólicos presentes na polpa e no nibs obtidos do fruto do A Tabela 1 apresenta o tamanho e peso médio dos frutos
cacau (Theobroma cacao) cultivado no município de Cacoal, no estado analisados.
de Rondônia. Tabela 1 – Caracterização física dos frutos do cacau (Theobroma
cacao).
MATERIAIS E MÉTODOS
Cacau Compri Larg Cacau Casca Sem
Cinco amostras de cacau foram obtidas com agricultores da mento (cm) int (g) (g) (g)
zona rural do município de Cacoal – RO, com estado de maturação ideal (cm)
para consumo (Figura 1). Após a seleção, os frutos foram encaminhados
para o Laboratório Multidisciplinar/Laboratório de Análise de
1 45,5 31,5 733,5 622,7 110,7
Alimentos da Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC, para a coleta
das características físicas do fruto, como comprimento, largura e peso. 2 45 32,5 750,2 624,6 125,5
Para a determinação dos pesos e medidas utilizou-se: comprimento 3 42,5 29 613,8 497,5 116,3
(paquimetro universal analógico), largura (fita métrica inelastica) e peso 4 39,5 30 572,6 444,8 127,7
do fruto integral, casca e semesnte (balança de precisão). 5 47,3 30,28 748,5 643,0 104,6
Média 43,96 ± 30,66 683,8 ±
Figura 1 – Amostras selecionadas de cacau (Theobroma cacao).
3,0 ± 1,3 84,1 566,6 ± 117,0 ±
39,9 4,3

Fonte: Dados da pesquisa. Cacoal, Rondônia, 2019. Os dados são expressos


como média ± desvio-padrão (DP). Larg, largura; cacau int, cacau inteiro;
sem, semente.
De acordo (7), o cacau possui cerca de 30 a 50 sementes,
representando 13,5 a 29% do peso do fruto, o que corresponde ao nosso
resultado na semente do cacau encontrada de 17,3%. Contudo, estudo
avaliando as características físicas de três variedades do cacau Theobroma
cacao L. demonstrou a média do peso do fruto inteiro, da casca e da
Fonte: Próprio autor, 2019.
semente menor, 526,9 g, 405,4 g e 103,9 g, respectivamente (8). Essa
diferença possivelmente deve-se à espécie analisada e ao local do cultivo.
Para realização das análises, a polpa foi retirada da semente
A Tabela 2 apresenta os resultados de concentração de

350
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

polifenóis na polpa e no nibs do cacau.


1. BECKETT, S. T. Industrial chocolate manufacture and use. 4. ed.
Tabela 2 – Concentração de polifenóis da polpa e do nibs do fruto do Nova York: Edições Steve Beckett, 2011.
cacaueiro (Theobroma cacao). 2. SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Projeto
Amostra mg média DP %CV potencialidades regionais estudo de viabilidade econômicas, 2003.
EAG/100 Disponívem em:
g file:///C:/Users/pc9/Desktop/Ingrid%20Faculdade/cacau%20(1).pdf.
Acesso em: 06 ma. 2019.
Polpa 57,67 58,76 1,88 0,032
3. RENKE, G. O poder antioxidante do cacau: quais são os benefícios
60,93 para a nossa saúde? 2015. Disponível em:
<http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2015/11/o-
57,68 poder-antioxidante-do-cacau-quais-sao-os- beneficios-para-nossa-
saude.html>. Acesso em: 07 de jun. 2019.
Semente 627,60 617,40 22,41 0,04 4. Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC).
Cacau História e Evolução. Disponível em:
591,70 <http://www.ceplac.gov.br/radar/radar_cacau.htm>. Acesso em: 02 de
mai. 2019.
632,90 5. BOCHI, V. C.; BARCIA, M. T.; RODRIGUES, D.; et al.
Polyphenol extraction optimisation from Ceylon gooseberry
Fonte: Dados da pesquisa. Cacoal, Rondônia, 2019. Os dados foram (Dovyalis hebecarpa) pulp. Food Chem., 164, 347-354, 2014.
analisados em triplicata e estão apresentados como média ± desvio- 6. SWAIN, T.; HILLS, W.E. The phenolic constituents of Punnus
padrão (DP), e coeficiente de variância (%CV). Os valores são domestica. The quantitative analysis of phenolic constituents. Journ.
expressos em miligramas (mg) de equivalente de ácido gálico (EAG) of the Sci. of Food and Agric., 19, 63-68, 1959.
por 100g. 7. MATTIETO, R.A. Estudo das transformações estruturais e físico-
Durante o processamento do nibs, os compostos fenólicos químicas durante o processo fermentativo em amêndoas de cacau
entram em contato com enzimas, sofrendo reações de oxidação e reduz (Theobroma cacau L.) e cupuaçu (Theobroma grandiflorium Schum).
em até 70 % o teor de polifenóis totais (9). Contudo, os resultados obtidos Dissertação (Mestre em Tecnologia de Alimentos)- Faculdade de
nessa pesquisa demonstraram um alto conteúdo de compostos fenólicos Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, 2001.
no nibs, bem maior comparado a estudos anteriores como de (10) com 8. CRUZ, J. F. M. Caracterização das sementes de variedades de cacau
114 mg/g de conteúdo fenólico total (CFT) em extrato do pó de cacau e Theobroma cacao L. resistentes à vassoura de bruxa durante a
de (11) com 468 mg/g de CFT numa fração rica em flavonóides extraída fermentação e após a secagem. Dissertação (Mestre em Ciências de
de cacau comercial. A quantidade de compostos fenólicos presentes no Alimentos)- Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia,
cacau depende da genética do fruto, clima (temperatura e umidade), Salvador, 2012.
propriedades químicas do solo e região de cultivo (12). 9. FORSYTH, W. G. C.; QUESNEL, V. C. Cocoa glycosidase and
Apesar do conteúdo fenólico total na polpa analisada no color changes during fermentation. Journal of the Science of Food and
presente estudo foi menor em relação ao nibs, essa concentração pode ser Agriculture, 8, 505-509, 1957.
considerada uma quantidade expressiva na polpa do cacau e ter efeitos 10. ALI, F. et al. Identification of phenolic compounds in polyphenols-
benéficos à saúde (Figura 1). São escassos os trabalhos que determinem a rich extract of Malaysian cocoa powder using the HPLC-UV-ESI—
quantidade de compostos fenólicos na polpa do fruto. Entretanto, na casca MS/MS and probing their antioxidant properties. Journal of Food
do fruto foi identificado elevado conteúdo fenólico (197,4 mg/g) que Science and Technology, 52, 2103-2111, 2015.
estava associado ao potencial efeito antioxidante da amostra (13). 11. LEE, K. W. et al. Cocoa polyphenols inhibit phorbol ester-induced
superoxide anion formation in cultured HL-60 cells and expression of
Figura 1 – Comparação entre a concentração de polifenóis da polpa e do cyclooxygenase-2 and activation of NF-κB and MAPKs in mouse skin
nibs do fruto do cacaueiro (Theobroma cacao) in vivo. The Journal of nutrition, 136, 1150-1155, 2006.
12. JALIL, A.M. M.; ISMAIL, A. Polyphenols in cocoa and cocoa
products: Is there a link between antioxidant properties and health?
Molecules, Basel, Switzerland, 13, 2190-2219, 2008.
13. GRILLO, Giorgio et al. Cocoa bean shell waste valorisation;
extraction from lab to pilot-scale cavitational reactors. Food Research
International, 115, 200-208, 2019.
14. FELICE, Francesca et al. Antioxidant effect of cocoa by-product
and cherry polyphenol extracts: A comparative study. Antioxidants, 9,
2, p. 132, 2020.
Fonte: Dados da pesquisa. Cacoal, Rondônia, 2019. Concentração de
polifenóis da polpa e do nibs do fruto do cacau. Os valores estão
expressos com média ± DP. Teste t de student. *** (p< 0,0001).

Outro estudo com a casca do cacau observou alto CFT no


extrato da casca de cacau (7105,0 mg EAG/100g) comparado ao extrato
de cereja (402,5 ± 8,4 mg EAG/100 g), porém ambos obtiveram
atividade antioxidante semelhante (14). Assim, o menor conteúdo
fenólico da polpa encontrado no nosso estudo pode estar associado a
uma importante atividade antioxidante.

CONCLUSÃO

Podemos concluir que tanto o nibs como a polpa do fruto do


cacaueiro (Theobroma cacao) podem ser aproveitadas como um
alimento funcional por apresentar alta concentração de polifenóis e
possível atividade antioxidante, importante na prevenção e no
tratamento de doenças crônicas não transmissíveis.

REFERÊNCIAS

351
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Determinação de Polifenois Totais, Antocianinas e Atividade Antioxidante Presentes no


Fruto da Pupunheira (Bactris Gasipaes Kunth)

Heloisa Portela-de-Sá1 , Larissa Silva2, Lila Matos3, André Costa4, Júlia Sá5, Paula Freitas6, Keciany Oliveira7

1
Mestre em Nutrição e Saúde – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC, heloportelasa@gmail.com
2
Bacharel em Nutrição – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
3
Mestre em Educação – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
4
Especialista em Docência do Ensino Superior – Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC
5
Docente do Curso em Bacharelado em Medicina – Faculdade Integral Diferencial – FACID
6
Mestre em Nutrição e Saúde – Universidade Estadual do Ceará - UECE
7
Doutora em Ciências Fisiológicas – Universidade Estadual do Ceará - UECE

Palavras-chave: Compostos Bioativos. Frutas regionais. Análises.

INTRODUÇÃO interpolação na curva padrão de ácido gálico contendo 9 pontos, r2


A pupunheira (Bactris Gasipaes Kunth), pertence à igual a 0,993. Os valores foram expressos em miligramas (mg) de
família das palmáceas (Arecáceas), palmeira que em virtude de equivalente de ácido gálico (EAG) por 100 g de amostra analisada.
possuir um elevado potencial produtivo, está distribuída nas O conteúdo de antocianinas totais foi determinado pelo
diferentes regiões do Brasil. Entretanto, na Região Norte, em que método da diferença de pH9, em que se dissolve em dois sistemas
possui grande importância como fonte alimentícia, pelo alto valor tampão: cloreto de potássio pH 1,0 (0,025M) e acetato de sódio pH
nutritivo dos seus frutos, tornou-se, também, uma alternativa 4,5 (0,4M). A concentração de antocianinas monoméricas (expressas
economicamente viável para produção de palmito1. como cianidina-3- glicosídeo) foi calculada por meio da seguinte
Essa espécie se destaca ainda pelo seu alto conteúdo de equação:
carotenoides , com destaque, para o β- caroteno, presentes nos frutos Antocianinas monoméricas (mg.L-1) =
de pupunha, que se destaca por sua propriedade antioxidante (A x PM x FD x 1000)/(ε x 1)-1
contribuindo de forma funcional na dieta2. A = absorbância
Estudos sugerem que metabólitos como os polifenóis, PM = peso molecular (449,2 para cianidina-3-glicosídeo)
flavonóides, antocianinas entre outros, presentes em frutos e plantas FD = fator de diluição ε = absortividade molar (26900 para cianidina-
atuam na nutrição preventiva, já que beneficiam o organismo com 3-glicosídeo).
ação antioxidante atenuando danos oxidativos gerados pelos radicais
livres nas células3. Atualmente a atenção dos pesquisadores tem se RESULTADOS E DISCUSSÃO
voltado para efeitos de compostos bioativos nutracêuticos como Os resultados obtidos através das análises foram
polifenóis na prevenção de doenças relacionadas com estresse representados em média, desvio padrão e coeficiente de variância.
oxidativo, podendo citar as cardiovasculares, oncológicas e Para determinação de fenólicos totais e atividade antioxidante in
relacionadas ao envelhecimento4. vitro foram utilizados como agente extrator a acetona 80% onde
A indicação de uma alimentação diversificada em frutas, os resultados estão representados na tabela 1 e 2.
legumes e verduras atualmente vai além dos macronutrientes
essenciais com as vitaminas e minerais que são encontrados nestes Tabela 1 – Atividade antioxidante da Pupunha (Bactris gasipaes
alimentos. Os complexos bioativos presentes nestes ganham cada kunth).
vez mais destaque na literatura, por meio de seus promissores efeitos
que contribuem positivamente para o equilíbrio da saúde, como Amostra TEAC
polifenois antocianinas e propriedades antioxidantes5. μM/100g-1 Média DP %CV
Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi de Casca 267,123
determinar e comparar a concentração de polifenoís totais,
antocianinas e atividade antioxidante presentes na casca e polpa do 204,589 230,529 32,599 0,141
fruto da pupunheira.
219,875
MATERIAL E MÉTODOS
Polpa 278,240
Os frutos da pupunheira (Bactris gasipaes kunth) foram
292,136 274,071 20,470 0,075
coletados na zona rural no município de Cacoal – RO,
aproximadamente 300g de frutos maduros de pupunha vermelha. E
251,837
foram levadas ao Laboratório de Análises Bromatológicas e
Bioquímica de Alimentos da Faculdades Integradas de Cacoal –
UNESC, onde foram higienizados, lavados em água corrente, Os resultados foram expressos como média ± DP e utilizou-se o
posteriormente cozidos por 50 minutos, resfriados até temperatura coeficiente de variância para verificar diferença entre a atividade
ambiente, separado casca e polpa, pesados separadamente e antioxidante presente na casca e na polpa do fruto.Valores expressos
levados para o forno a 45ºC para secagem até peso constante. em TEAC μM/100g-1. Análises realizadas em triplicata.
A atividade antioxidante in vitro dos frutos foi
avaliada através da ação de desativação do radical estável DPPH
por antioxidantes presentes no extrato conforme descrito
anteriormente6,7. Através da interpolação da porcentagem de
inibição final do radical DPPH em curva padrão de ácido
ascórbico, os resultados foram expressos em µmol de atividade
antioxidante equivalente ao ácido ascórbico (EAA) por 100 g de
fruta in natura.
O conteúdo total de compostos fenólicos foi determinado
espectrofotometricamente de acordo com o método de Folin-
Ciocalteu8. A quantificação de fenólicos totais se fez pela

352
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2 – Determinação de Polifenóis da Pupunha (Bactris gasipaes alcançando maior realce na polpa do fruto. Tendo em vista que os
kunth) polifenóis são micronutrientes e estão presentes na alimentação
diária, funcionam assim, como antioxidantes trazendo ações
mg média DP %CV benéficas ao organismo.
EAG/100g
Amostra REFERÊNCIAS
Casca 230,70
219,80 224,87 5,49 0,024 1. FERNANDES AR, et al. Ativação e significância da
224,10 H + -ATPase vacuolar na adaptação de
Polpa 185,70 Saccharomyces cerevisiae e resistência ao herbicida
192,60 186,83 5,29 0,028 ácido 2,4- diclorofenoxiacético. Biochem Biophys Res
182,20 Commun 312 (4): 1317-24.
Valores expressos em mg EAG 100 g-1 de fruta in natura. Análises 2. ESPINOSA-PARDO, F. A.; MARTINEZ, J.; MARTINEZ-
CORREA, H. A. Extraction of bioactive compounds from
realizadas em triplicata.
peach palm pulp (Bactris gasipaes) using supercritical CO2.
Outro estudo, obtiveram os seguintes resultados, 124,40 Journal of Supercritical Fluids 93, 2–6, 2014.
± 1,17e µmol EAA 100 g-1, 93,35 ± 6,42ªmg GAE 100 g-1 de 3. HERTOG MGL, HOLLMAN, PCH, KATAN MB. Content
atividade antioxidante e polifenóis respectivamente10. of potentially anticarcinogenic flavonoids of 28
Uma pesquisa sobre as propriedades antioxidantes e teor vegetables and 9 fruits commonly consumed in the
total de polifenóis em doces em massa do fruto da pupunha apresenta Netherlands. J Agric Food Chem. 1992;40(12):2379-83.
maiores resultados: 338,22 μmol trolox g-1 de atividade antioxidante 4. HUANG D, OU B, PRIOR RL. The chemistry behind
e 60,61 - 65,7 mg GAE 100 g-1 de polifenóis11. Pode-se observar que antioxidant capacity assays. J Agric Food Chem.
os resultados obtidos através das análises realizadas para este estudo 2005;53(6):1841-56.
foram de relevância, embora tenha encontrado resultados maiores, a 5. SOARES, E. R.; MONTEIRO, E. B.; SILVA R. C.;
quantidade de antioxidantes da polpa foi 274,071 μM/100g-1, mais BATISTA, A.; SOBREIRA, F., MATTOS, T.; COSTA, C.
da metade do segundo autor citado. A.; DALEPRANE J. B. Compostos bioativos em
alimentos, estresse oxidativo e inflamação: uma visão
Tabela 3 – Determinação de Antocianinas Monomérica presen molecular da nutrição. revista.hupe.uerj.br. v. 14, n. 3, jul-
tes na casca e polpa da pupunha (Bactris gasipaes kunth). set/2015.
6. BRAND-WILLIAMS, Wendy; CUVELIER, Marie-
Elisabeth; BERSET, C. L. W. T. Use of a free radical
Amostra média DP %CV
method to evaluate antioxidant activity. LWT-Food science
Casca and Technology, v. 28, n. 1, p. 25-30, 1995.
7. RUFINO, M. S. M.; ALVES, R. E.; BRITO, E. S.;
0,404 0,337 0,836 MORAIS, S. M.; SAMPAIO, C. G.; PÉREZ- JIMÉNEZ, J.;
SAURA-CALIXTO, F. D. Metodologia científica:
Polpa determinação da atividade antioxidante total em frutas
pela captura do radical livre DPPH. Comunicado técnico
1,759 0,329 0,187
online 127. 2007.
8. SINGLETON, V. L.; ROSSI, J. A. Colorimetry of total
Valores expressos em AM mg.L-1. Análises realizadas phenolics with phosphomolybdicphos- photungstic acid
em triplicata. reagents. Am. J. Enol. Vitic., v. 20, p. 144-158, 1965.
A concentração inicial das antocianinas totais, calculada 9. GIUSTI, M. M.; WROLSTAD, R. E. Anthocyanins:
através do método de pH diferencial, foi de 0,404mg/1g de casca e characterization and measurement with uv-visible
1,759mg/1g de polpa, liofilizada e o comprimento de onda de spectroscopy. In: WROLSTAD, R.E. Current protocols in
absorção máxima encontrado foi de 650nm. A quantidade de food analytical chemistry. New York: John Wiley & Sons,
antocianinas totais na polpa da pupunha foi maior do que na casca 2001. Unit. F1.2.1- 13.
como mostra na tabela 3. 10. SERAGLIO,S. K. T.; GONZAGA, L. V.; HELM,
Não há estudos feitos sobre a antocianina no fruto da C. V.; NEHRING, P.; OLIVO I. S.; FETT, R.
pupunheira. Como observado na tabela 3, os resultados das análises Avaliação da capacidade antioxidante in vitro
foram de baixa concentração de antocianina na pupunha, isso se edeterminação de compostos fenólicos em
justifica pelo fato de que as antocianinas têm pigmentos que se diferentes sistemas de extração em frutos de
encontram usualmente na forma de uma mistura de diferentes pupunha. Revista do Congresso Sul Brasileiro de
estruturas químicas em equilíbrio: cátion flavilium (vermelho), base Engenharia de Alimentos, Pinhalzinho, Santa
anidra quinoidal (azul), pseudo-base carbitol (incolor), e chalcona Catarina, Brasil, 2015.
(incolor ou levemente amarela)12. 11. BELLETTINI, M. B. Análise preditiva de
Estes antioxidantes agem nos organismos vivos por meios características físicoquímicas da pupunha em
diferentes de mecanismos, tais como: complexação com íons função do clima e aproveitamento de seus frutos
metálicos, captura de radicais livres, disposição de peróxidos, e bainha foliar. Universidade Federal Do Paraná,
inibição de enzimas responsáveis pela geração ROS (espécie reativa Curitiba, 2017.
de oxigênio) e modulação de vias sinalizadoras celulares13. Os 12. HEREDIA. F.J.; FRANCIA-ARICHA, E.M.; RIVAS-
antioxidantes podem neutralizar os radicais livres produzidos GONZALO, J.C., et al. Chromatic chaterization of
durante o processo de envelhecimento e têm uma função potencial anthocyanins from red grapes-I. PH effect, Food
de agir de forma preventiva à algumas doenças crônicas como Chemistry, v.63, n.4, p.491-498, 1998
doenças cardiovasculares, desordens neurológicas e processos e 13. VESKOUKIS, Aristidis S.; TSATSAKIS, Aristidis M.;
processos inflamatórios14 KOURETAS, Dimitrios. Dietary oxidative stress and
Silva e colaboradores(2009)15 ressaltam que o sistema de defesa antioxidant defense with an emphasis on plant extract
antioxidante no organismo humano é composto por substâncias que administration. Cell Stress and Chaperones, v. 17, n. 1, p.
podem ter origem endógena, como as enzimas produzidas pelo 11-21, 2012.
própria corpo exposto, o ácido úrico, entre outros, ou de origem
exógena, sendo obtidas através da dieta. 14. ARRANZ, A. M. et al., Functional glutamate
transport in rodent optic nerve axons and glia. Glia
56. p. 1353-1367, 2008.
CONCLUSÃO 15. SILVA, M. das G. C. P. C.; BARRETTO, W. de S.;
SERÔDIO, M. H. Caracterização química da polpa dos
A partir dos dados obtidos, é possível concluir que os frutos de juçara e de açaí. In: CONGRESSO BRASILEIRO
frutos da pupunheira contem elevados teores de compostos DE FRUTICULTURA, 18., 2004, Florianópolis, S. Anais...
polifenóis e consideráveis propriedades antioxidantes, Florianópolis, SC, 2009.

353
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Queijos artesanais da Serra da Mantiqueira


Hálef Rodrigues¹, Leila A. da Costa²
¹ Graduando do curso de Gastronomia na Universidade do Vale do Itajaí - halef.pr@edu.univali.br
²Doutorado em Turismo e Hotelaria- Universidade do Vale do Itajaí; Mestrado em Ciência dos Alimentos Universidade
Federal de Santa Catarina; Graduação em Engenharia Química–Universidade do Sul de Santa Catarina.
Palavras-chave: Produtos artesanais; Gastronomia; Análise Sensorial

exemplo, a câmara de maturação natural- elaborada com madeira e


terra, denominada tulha.
INTRODUÇÃO O painel de análise sensorial descritivo foi realizado no dia 25 de
Sabe-se que o Brasil é considerado um país continental novembro de 2019 nas dependências da Universidade do Vale do
pela sua extensão territorial, porém, juntamente com essa Itajaí (UNIVALI) em uma sala climatizada, iluminada, silenciosa,
característica, encontram-se ricas fauna, flora e tradições regionais, sem interferências externas. Nesse sentido, a análise sensorial
como reflexo disso, pratos e ingredientes típicos. Essa história descritiva é definida por Minim e Silva (4) como: “[...] uma ciência
começou a ser construída a partir da chegada dos animais trazidos que possibilita determinar quais características sensoriais são
pelos colonizadores portugueses. Além de introduzirem novas perceptíveis e importantes para a qualidade dos alimentos”. A
espécies estrangeiras, os europeus também trouxeram uma nova vertente descritiva é construída a partir de avaliações qualitativas e
cultura alimentar abrangendo cultivo de plantas, criação de animais e quantitativas. Os testes qualitativos descrevem aparência (cor, textura
técnicas culinárias, que foram se espalhando pelo país, estabelecendo visual, tamanho, forma e interações entre componentes), aroma
suas raízes (1). Num olhar mais específico, destacam-se os queijos, (sensações olfatórias e sensações nasais), sabor (sensações de gostos,
principalmente os produzidos em Minas Gerais, reconhecidos e percepções orais e sensações bucais) e textura (propriedades
premiados mundialmente. Nesse contexto, após o período de estágio mecânicas, propriedades geométricas e propriedade de gordura e
realizado pelo autor do presente estudo, na pousada-bistrô Provence umidade). Por outro viés, os testes quantitativos buscam identificar o
Cottage, localizada em Monte Verde - MG, na Serra da Mantiqueira, grau de intensidade em que se encontra determinado elemento na
foi detectada a necessidade de desenvolver descritores sensoriais composição alimentar (4). Tal quantificação, de acordo com
como base para uma identificação mais especifica das suas Dutcosky (5), é feita a partir de escalas, as quais podem ser de
características como valorização do seu terroir. Diante desse cenário, intervalo ou proporção. Quanto a classificação, abrange estrutura,
desenvolveu-se o presente estudo, que abrange a origem e posição, polaridade, ao número de atributos e tipologia de avaliação.
propagação do queijo em âmbito mundial, com aprofundamento na Desse modo, o grupo avaliador contou com a participação de seis
sua chegada ao Brasil, bem como a aplicação de análise sensorial profissionais da gastronomia, dentre eles professores do curso de
descritiva dos queijos artesanais coletados na fazenda Atalaia- SP. gastronomia da Universidade do Vale do Itajaí e egressos.
Destaca-se a necessidade da construção desse trabalho, considerado Destacando suas formações específicas, são especialistas
precursor, visto que não existem pesquisas dessa vertente disponíveis em análise sensorial, harmonização de alimentos e bebidas,
nas plataformas acadêmicas. Pelo exposto, o objetivo da pesquisa foi laticínios, culinária tradicional brasileira e gastronomia clássica, em
desenvolver um levantamento dos principais queijos artesanais da sua maioria com experiência internacional. De forma dinâmica, os
Serra da Mantiqueira, bem como coletar amostras, identificar suas avaliadores se organizaram no modelo de mesa redonda, onde as
etapas de produção e características sensoriais, com o intuito de amostras foram cortadas em cubos e dispostas em pratos brancos. As
preservar, valorizar e apresentar novas alternativas para produções amostras apresentadas possuíam características morfológicas de
gastronômicas. aproximadamente 2cm³ e pesos que variavam de 5 a 7g, ainda, foram
analisadas na ordem do mais suave para o mais intenso,
MATERIAL E MÉTODOS respectivamente: Porão, Figueira, Mantiqueira e o Tulha. Todavia, os
A Serra da Mantiqueira (FIGURA 1), de acordo com nomes dos queijos não foram divulgados para não haver interferência
Dias (2) é composta por: “[...] 125 municípios dos estados de Minas na avaliação. Então, foram utilizados números de três algarismos
Gerais (60% do total), São Paulo (30%) e Rio de Janeiro (10%). aleatórios para representar cada amostra: Porão (528), Figueira (906),
Mantiqueira (293) e Tulha (175). Nesse viés, foi disponibilizada a
Figura 1: Mapa da Serra da Mantiqueira (3) Tabela 1, para que os participantes registrassem suas conclusões.

Tabela 1: Tabela sensorial


Aparência Aroma Sabor Textura
528
906
293
175
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019

As características analisadas foram aparência, aroma, sabor e


Levando em conta tais fatores geográficos, que atribuem qualidades consistência/textura. Além das observações, também foram
sensoriais únicas, foi realizada uma pesquisa através de sites, redes contabilizadas as frequências de repetições de cada conclusão, o que
sociais e visitas presenciais. Os produtores identificados nas gerou gráficos de colunas. Para o embasamento teórico foram
delimitações Serra da Mantiqueira foram: Fazenda Atalaia: Amparo - utilizados recursos exploratório e bibliográfico, ademais, um
SP; Queijaria Bolderini: Pindamonhangaba - SP; Santo Antônio: questionário foi aplicado junto aos produtores, sobre as
Passa Quatro - MG; Queijo do Baú: São Bento do Sapucaí - MG; São características de produção, raça dos animais, possíveis
João das Três Ovelhas: Gonçalves - MG; Pátio de Pedra: Poços de harmonizações, relações com a gastronomia e a identificação de
Caldas – MG; Terra Límpida: Cássia dos Coqueiros - SP, Queijaria outros produtores de queijo artesanais da Serra da Mantiqueira.
Queijo Capital: Alagoa - MG; Capril do Bosque: Joanópolis - SP;
Queijo d’alagoa: Alagoa - MG e Laticínios Montezuma: São João da RESULTADOS E DISCUSSÃO
Boa Vista - SP. Os resultados foram organizados respectivamente de
Como amostras da análise foram utilizados quatro tipos de acordo com aparência, textura, aroma e sabor. Além das observações,
queijos artesanais provenientes da Serra da Mantiqueira, também foram contabilizadas as frequências de repetições de cada
especificamente da Fazenda Atalaia, localizada na cidade de Amparo conclusão, o que resultou num gráfico de colunas conforme Figura 2.
- SP. A escolha desse local de produção foi estratégica, visto que lá Figura 2: Aparência 528
existe criação de vacas de forma livre, no pasto, além da alimentação
complementar com nutrientes selecionados, o que resulta em leite de
elevada qualidade tipo A. Outros critérios avaliados foram a criação
de receitas próprias e formas distintas de armazenamento, como por

354
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

REFERÊNCIAS
APARÊNCIA 1. DIAS, João Castanho. Uma longa e deliciosa viagem: O primeiro
7
6 5 5
livro da história do queijo no Brasil. São Paulo: Editora Berleus,
5 4 2010.
4 2. DIAS, João Castanho. Duas unhas de queijo. São Paulo: Editora
3 Berleus, 2016.
2 1 3. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO E
1
BIODIVERSIDADE. Área de Proteção Ambiental da Serra da
0
Branco com tonalidades amarelas Mantiqueira. 2019. Disponível em:
Seco <http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-
Brilhante brasileiros/mata-atlantica/unidades-de-conservacao-mata-
Amarelo pálido atlantica/2177-apa-da-serra-da-mantiqueira->. Acesso em: 11 dez.
2019.
Fonte: Acadêmico, 2019. 4. MINIM, Valéria Paula Rodrigues; SILVA, Rita de Cássia dos
Tratando-se do queijo Porão (528), sua composição conta Santos Navarro da. Análise Sensorial Descritiva. 1.ed. Viçosa:
como leite desnatado tipo A, 3% de gordura e é proveniente de vacas Editora UFV, 2016.
holandesas. Ainda, suas transformações físico-químicas são causadas 5. DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 4.ed.
por culturas propiônicas naturais do ambiente e do leite. Sua Curitiba: Editora PUCPRESS, 2013.
maturação leva de quatro a cinco meses nas câmaras naturais de
madeira e tijolo denominada tulhas. Observou-se que a coloração
branca teve predominância, acompanhada do aspecto seco. Ainda, a
maioria dos avaliadores consideraram a característica brilhante.
Nesse âmbito, tais atribuições da aparência refletem nos
apontamentos realizados na textura, como pouco untuoso, quebradiço
e duro. Tratando-se do aroma, apresentou frutas voláteis, notas
fermentadas e amendoadas, ou seja, maior variedade de descritores
em relação ao sabor, o qual apresentou com maior frequência
descritores associados a notas salgadas e ácidas.
Já o Figueira (906) é composto por leite integral tipo A,
com 3,5% de gordura. Assim como a amostra anterior, a matéria
prima é oriunda de vacas holandesas. Vale salientar que são
adicionadas culturas propiônicas e aromáticas, bem como o corante
natural de urucum. Sua maturação leva 15 dias em câmaras frias
industriais de 8 a 10 °C e 40 dias na tulha. A partir de tais
informações, notou-se a predominância da coloração alaranjada, com
aspecto brilhante. A observação do brilho está diretamente ligada
com a sua textura, a qual oportunizou variadas interpretações, como
compacta, untuosa, macia, lisa e elástica. O aroma expressou
complexidade média comparada ao sabor, visto que permaneceu com
notas suaves de giz e de terra. Já no sabor foi identificada a presença
de notas amendoadas, adocicadas, ácidas e também amargas.
O queijo Mantiqueira (293) é elaborado com leite integral
tipo A, com 3,5% de gordura e leva aproximadamente 35 dias de
maturação em câmaras industriais. Levando em conta suas
características, estacou-se a coloração branca, compacta e opaca. Da
mesma forma, sua textura refletiu nas observações, apresentando
textura quebradiça e seca, fato que coincide com a baixa
coesividadee opacidade da aparência. Todavia, tanto no aroma
quanto no sabor, trouxe complexidade nas notas frutadas,
fermentadas e de pelego, descritor este que remete a notas animais.
Por último, mas não menos importante, o Tulha (175),
composto por leite desnatado tipo A, com 3% de gordura e no
mínimo um ano e meio de maturação nas tulhas, apresentou distintas
características em todos os detalhes. Ressalta-se na aparência a
característica marmorizada, amarela, seca e também degradê. A
textura coincide com tais observações típicas de queijos maturados,
como o fato de ser quebradiço, granuloso, duro e cristalizado.
Ademais, tanto no aroma quanto no sabor existe ampla descrição de
caramelizado, frutas, fermentados de frutas, umami, doce, salgado,
ácido e amargo. Tais fatores demonstram a sua complexidade
sensorial, tamanha a sua diversidade de descritores.

CONCLUSÃO
Pelo exposto, os reflexos desses esforços servem para
elucidar o pensamento crítico em relação às leis em vigor a respeito
dos queijos artesanais, ao consumo sustentável e também para
evidenciar que existem produtos com características inigualáveis
sendo produzidos no Brasil, que devem ser identificados e protegidos
das ameaças industriais que monopolizam os grandes mercados. Com
base nos resultados desse estudo, sugerem-se novas pesquisas onde
haja aprofundamento da análise sensorial quanto ao perfil das
amostras. Ainda, recomenda-se a construção de trabalhos que
também busquem a relação do terroir com as características
sensoriais dos produtos, os quais têm potencial para contribuir com a
criação de pratos, com diferentes alternativas de harmonização,
oportunizando a melhoria da economia local, além do potencial de se
tornarem um atrativo turístico e, consequentemente, uma vitrine para
a gastronomia brasileira no cenário internacional.

355
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ANÁLISE DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS EM UMA ESCOLA DE TEMPO


INTEGRAL DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ
Eliene Leão1, Rita Moura1.
1
Tecnóloga em Alimentos, Docente na EEEP Osmira Eduardo de Castro, eliene.leao@hotmail.com.

Palavras-chave: Serviço de alimentação. Desperdício de alimentos. Refeitório escolar.

INTRODUÇÃO IR: Índice de Resto Ingesta;


R: Resto em quilograma (kg);
As Unidades de Alimentação e Nutrição - UAN, como por exemplo, Qc: Quantidade consumida, sendo calculada pela quantidade
os restaurantes acadêmicos, também são denominadas Serviços de produzida subtraída da quantidade servida.
Alimentação e Nutrição (SAN). A principal competência é o
fornecimento de refeições equilibradas nutricionalmente, ajustadas às Os resultados obtidos foram inseridos em planilhas no programa Excel
necessidades nutricionais dos clientes e em adequadas condições 2010. Para análise dos dados foi solicitado os dados de controle de
higiênico-sanitárias. Ainda, busca o desenvolvimento de hábitos produção diária do refeitório que inclui o cardápio, quantidade de
alimentares saudáveis na população atendida (1). alimento produzido e quantidade servida. Os resultados foram
O conceito de qualidade vem sendo amplamente difundido e atinge apresentados na forma de tabela e gráfico.
setores como a produção de alimentos, por exemplo refeições coletivas
em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN). Entre as informações RESULTADOS E DISCUSSÃO
necessárias para o efetivo controle e avaliação da qualidade dentro de
uma empresa do setor alimentício, a mensuração das perdas é uma das A tabela 1 dispõe sobre a quantidade consumida, quantidade de resto
mais importantes. Por meio da identificação dessas perdas, é possível e resto ingesta (RI) obtidos durante o acompanhamento realizado no
detectar práticas que geram aumento dos gastos e, em contrapartida, refeitório escolar. Foram produzidos ao longo desses cinco dias da
propor mecanismos que levem ao cumprimento das metas estipuladas pesquisa, em média, 342 kg de alimentos, considerando apenas o
de acordo com a realidade de cada UAN (2). almoço, foco de estudo nessa pesquisa.
Resto é mensurado a partir do recolhimento dos pratos ou bandejas dos
comensais. Nessa quantificação não inclui os materiais não Tabela 1: Resultados dos dados obtidos durante acompanhamento no
comestíveis, como guardanapos, ossos, cascas, entre outros. Isso é um refeitório escolar
indicativo de desperdício na UAN e deve ser avaliado não somente do
ponto de vista econômico, como também da falta de integração e Dia Quantidade Quantidade do RI (%)
conscientização do cliente (3). consumida (Kg) Resto (Kg)
O desperdício se mostra bastante significativo na produção de
alimentos, de início esse índice surge por parte de quem produz a 1 355 kg 13,4 3,8
refeição, ou seja pela equipe da UAN, que pode ser mensurado pelo 2 322 kg 14,5 4,5
fator de correção e o índice de sobras, e logo desperdício pelo cliente, 3 345 kg 18,7 5,4
que é o índice de resto-ingesta. Vale ressaltar que tanto o cliente como 4 351 kg 13,6 3,9
os colaboradores fazem a diferença no controle de desperdício de 5 337 kg 18,4 5,5
alimentos, e precisam entender que se trata de uma questão ética e Média 342 kg 15,7 4,6
econômica, com reflexos políticos e sociais, visto que o Brasil é um Legenda: RI: resto ingesta.
país onde a fome e a miséria são consideradas como problemas de
saúde pública (4). Apesar do primeiro dia ter uma maior quantidade de alimentos
Desse modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar os desperdícios consumidos (355 kg), esse dia não obteve o maior índice de resto
alimentares resultantes das refeições servidas no refeitório de uma ingesta (RI). Isso pode ser justificado pelo tipo de proteína consumido
escola de tempo integral da rede pública estadual do Ceará, através da no dia, sendo está de maior aceitação pelo público.
quantificação dos restos referentes ao almoço. O elevado índice de resto ingesta (RI) por ser justificado pelo fato dos
estudantes servirem-se à vontade, não estabelecendo um limite
MATERIAL E MÉTODOS máximo de consumo diário.
Os dados obtidos de resto ingesta nesse trabalho (Tabela 1), são
A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública estadual no inferiores a 6%, estando dentro dos parâmetros considerado por (6)
município de Morada Nova, estado do Ceará. A escola atende (2000) e (7) (2006) que consideram como sendo percentuais de resto
diariamente, em média, 480 discentes do ensino de tempo integral no aceitáveis taxas inferiores a 10%.
horário do almoço (11:50 às 12:40h), de segunda-feira a sexta-feira.
A refeição é servida na forma de self-service parcial, onde o comensal Gráfico 1: Resultado de resto de proteínas obtidos durante
serve o próprio prato, porém, com as medidas de proteínas acompanhamento no refeitório escolar
padronizadas pela unidade, sendo servido por um funcionário
responsável pela merenda da escola. O cardápio é bastante
estrogonofe
diversificado, composto por arroz branco, arroz integral, feijão carne de
de carne
carioca, feijão preto, feijão de corda, salada crua ou cozida, diversas porco
17%
opções de proteína de origem animal como estrogonofe de frango, 28%
picadinho de carne, creme de galinha, carne suína ou bovina, além de
sobremesas, com opção de fruta ou doce, e suco. filé de
Para o desfecho da pesquisa foi realizado o acompanhamento diário frango
durante uma semana, entre os meses de outubro e novembro de 2019. 16%
Para verificar a quantidade de resto ingesta foi realizado a pesagem estrogonofe
das refeições rejeitadas vindas nos pratos dos alunos entregue na área de frango
de devolução, sendo que ossos, cascas e outras partes não comestíveis picadinho 16%
assim como descartáveis não foram contabilizados na pesagem. de carne
Para cálculo do índice de resto ingesta utilizou-se a fórmula conforme 23%
(5) (2018). Fonte: Autora (2019).

𝑅 Com o intuito de verificar a influência do componente proteico da


𝐼𝑅 = 𝑥100 refeição sobre o número de refeições desperdiçadas, calculou-se o
𝑄𝑐
resto nos dias avaliados (Gráfico 1). Este foi manifestamente superior
Onde: no dia em que foi servida carne de porco, com 28%, o que pode ser

357
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

indicador de uma não preferência dos comensais por este componente


proteico. As maiores aceitações proteicas foram para o filé e
estrogonofe de frango, com 16%, seguido de estrogonofe de carne,
com 17%.
A avaliação dos desperdícios alimentares pode contribuir como
indicador da qualidade da refeição. Nesse contexto, as perdas
presentes podem refletir também em falhas no planejamento do
número de refeições, na seleção de alimentos e sua preparação. Os
desperdícios de alimentos ocasionados dentro das unidades escolares
ainda não são alvo de atenção, no entanto, todo processo educativo
demanda tempo e, está implícito pelos resultados mostrados ao final
da pesquisa que há uma necessidade urgente de mudar o quadro
apresentado (8).
Ao longo dos dias acompanhados verificou-se que ocorre uma falta de
preocupação com o desperdício ocasionado por parte dos alunos.
Ainda, outros fatores podem intervir no rejeito da preparação como a
qualidade, temperatura, apetite, utensílios inadequados ou pratos de
grandes dimensões (9).
A escola, através de seu potencial educativo, é o espaço ideal para
ações de educação nutricional e de saúde. A alimentação ofertada pelas
unidades de ensino tem como finalidade oferecer refeições
nutricionalmente adequada e a avaliação do desperdício de alimentos
é um fator de identificação da qualidade e aceitabilidade das refeições
servidas. Assim, quando os índices de desperdícios são elevados são
considerados indicativos de erros no processo de produção e
distribuição de alimentos (5).
Seria interessante a aplicação de medidas de forma a reduzir os
desperdícios, tais como a implementação de campanhas de
conscientização e, através de avaliações, de forma detalhada, sobre o
perfil dos comensais (estudantes), dando ênfase às preferências
alimentares.

CONCLUSÃO

A falta de conscientização dos comensais, nesse caso os estudantes,


gera altos prejuízos para o refeitório escolar, sendo isso comprovado
por meio dos resultados obtidos nesse estudo. A implementação de
medidas torna-se necessário de forma a reduzir os desperdícios
presentes.

REFERÊNCIAS

1. COSTA, N. A.; FARIAS, L. S.; ARAÚJO, L. P.; RODRIGUES,


B. T. C.; OLIVEIRA, R. L.; DIAS, F. S. B. Análise do custo do resto
ingestão do restaurante universitário da Universidade Federal do
Acre. South American Journal of Basic Education, Technical and
Technological, v. 4, n. 1, 2017.
2. SOUZA, F. D. E.; LOPES, J. N. S.; DOS SANTOS, F. P.;
CRISPIM, P. S.; PEREIRA, J. K. S.; ROCHA, A. M. F. Avaliação
do desperdício de alimentos em uma escola de tempo integral da rede
pública estadual. Revista e-ciência, v. 7, n. 1, p. 43-49, 2019.
3. VIANA, K. L. S.; DE SOUZA, A. L. M. Avaliação do índice de
resto ingestão, antes e durante uma campanha educativa, em unidade
de alimentação e nutrição (UAN). Revista Connection Line, Porto
Velho–RO, 2016.
4. SCHMIDT, V. Análise do índice de resto-ingesta em uma unidade
de alimentação e nutrição do Noroeste do noroeste do RS. 2014. 20
p. Monografia (Graduação em Nutrição). Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, RS. 2014.
5. SILVA, D. B.; SCHAUREN, B. C. Avaliação do desperdício de
alimentos em uma instituição de educação infantil e fundamental do
interior do Rio Grande do Sul. Revista Uningá, v. 55, n. 2, p. 47-58,
2018.
6. MAISTRO, L. Estudo do índice de resto ingestão em serviços de
alimentação. Nutrição em Pauta, v. 8, n. 45, 2000.
7. VAZ, C. S. Restaurantes: Controlando custos e aumentando
lucros. Brasília: LGE, 2006, 196p.
8. SILVÉRIO, G. A.; OLTRAMARI, K. Desperdício de alimentos
em Unidades de Alimentação e Nutrição brasileiras. Revista do Setor
de Ciências Agrárias e Ambientais, v. 10, n. 1, p. 125–133, 2014.
9. SILVA, A. M.; SILVA, C.; PESSINA, E. L. Avaliação do índice
de resto ingesta após campanha de conscientização dos clientes
contra o desperdício de alimentos em um serviço de alimentação
hospitalar. Revista Simbio-Logias, v. 3, n. 4, 2010.

358
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Gastronomia e seu Caráter Extensionista – Ações Praticadas por Docentes de Cursos de


Graduação no Brasil
Ítalo Casemiro1, Cláudia Soares2
1
Mestre em Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), 2Mestre em
Desenvolvimento Regional e Urbano (Universidade Federal do Rio de Janeiro). E-mail: italopc12@gmail.com
claudiasoares@ufrj.br
Palavras-chave: alimentos, ciência, extensão.
Introdução Figura 1 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFBA (N = 09)
A área da gastronomia e suas discussões no contexto brasileiro ainda
são recentes. Com a expansão e crescimento da economia criativa,
além de outros fatores como a exploração do potencial turístico da
Gastronomia Brasileira e o desenvolvimento do setor de alimentos no
Brasil, impulsionaram o desenvolvimento de todo o setor
gastronômico, destacando-se como um dos segmentos que mais cresce
no Brasil (1). Neste cenário de crescimento e expansão da
gastronomia, ela acabou por adentrar no contexto acadêmico, sendo
inserida tanto como objeto de pesquisa, como elemento de formação,
com a criação dos cursos superiores na área (2). Uma das formas de
levar o conhecimento sobre a gastronomia, na perspectiva da ciência
para a sociedade é por meio da ação extensionista. A atividade
extensionista é um meio importante para estreitar a relação entre o
conhecimento produzido no contexto universitário e propaga-lo na
comunidade. Ações extensionistas desempenham papéis diversos. A
extensão pode ser vista como uma forma de divulgar o conhecimento
científico com a população em geral, uma forma de divulgar as ações
que estão sendo desenvolvidas dentro das universidades, etc. A
Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).
política Nacional de Extensão Universitária (3) propõe o
desenvolvimento de relação autônoma e crítica-propositiva da
É importante notar a presença marcante de atividades do tipo “curso”
extensão com as políticas públicas e aponta as seguintes diretrizes:
como forma de atender o público externo. Assim como a UFBA, a
Interação Dialógica, Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade,
UFC (Figura 2) também possui no curso, a principal forma de realizar
Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, Impacto na Formação
suas atividades de extensão, além de ações voltadas à formação e
do Estudante, e Impacto e Transformação Social. Nesta pesquisa,
treinamentos.
iremos nos debruçar sobre os projetos de extensão desenvolvidos por
docentes de cursos de graduação em gastronomia de instituições de Figura 2 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
ensino superior - IES públicas do Brasil e suas características. Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFC (N = 09)
Objetivos

Identificar, por meio do Currículo Lattes, as atividades extensionistas


desenvolvidas por docentes de cursos de bacharelado em gastronomia
no Brasil.

Materiais e Métodos

Abordagem desta pesquisa é qualitativa (4) e de cunho exploratório


(5). A pesquisa caracteriza-se como documental (6) utilizando como
objeto de análise os Currículos Lattes dos docentes de cursos de
bacharelado em gastronomia do Brasil, ofertados por instituições
públicas (UFRPE, UFRJ, UFBA, UFC e UFPB). Os dados para
análise foram diretamente coletados dos documentos que formaram a
população da pesquisa (7), composta por 68 currículos (Currículo Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).
Lattes) de docentes dos cursos de bacharelado em gastronomia de IES
públicas do Brasil. Para a análise dos dados, optamos pela análise A UFPB (Figura 3) possui projetos ligados ao desperdício de
temática. Para Minayo (8), “a análise temática consiste em descobrir alimentos, à educação nutricional e à formação profissional, sendo
os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença que, a principal forma de ofertar atividades de extensão é por meio de
ou frequência signifique alguma coisa para o objetivo analítico oficinas.
visado”. Os projetos foram extraídos dos currículos dos docentes,
organizados num documento no software Bloco de Notas e depois
analisados com o auxílio do software Iramuteq, um software gratuito
e com fonte aberta, desenvolvido por Pierre Ratinaud (9,10).

Resultados e Discussões

Foram analisados 9 projetos da UFBA, 9 projetos da UFC, 16 projetos


da UFRJ, 17 projetos da UFPB e 40 da UFRPE. A UFBA (Figura 1)
possui uma grande variedade de projetos e com variedades temáticas,
abordando temas ligados à higiene, consumo, pescado, comida de rua,
nutrição e gastronomia.

359
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 3 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de Figura 5 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFPB (N = 17) Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFRPE (N = 40)

Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).

A UFRJ (Figura 4) possui uma linha de projetos dedicados à memória


social e à cultura do milho; projetos em comunidades e sobre a Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).
comercialização e produção de alimentos. No caso da UFRJ, podemos
notar o termo “oficina” entre os principais, o que sugere que, o modelo Também é possível notar alimentos específicos. Na UFRJ o milho
de oficina é a principal atividade de extensão utilizada pelos docentes possui grande presença, já na UFBA o azeite é o produto alimentar
do curso. mais frequente.

Figura 4 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de Conclusões


Extensão Desenvolvidos por Docentes da UFRJ (N = 16)
Neste estudo buscamos compreender as características dos projetos de
extensão desenvolvidos por docentes de gastronomia. Pelas análises
foi possível notar uma limitação quando aos meios utilizados pelos
docentes para executar os projetos de extensão, havendo uma
concentração em projetos envolvendo cursos e oficinas. Concluímos,
neste aspecto que há um imenso campo em aberto para o
desenvolvimento de projetos voltados à extensão, por meio da
ampliação de temas, públicos e formas de oferecer tais atividades.

Referências

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE


ALIMENTOS – ABIA. Indústria de Alimentos Fecha 2018
com Aumento de 2,08% em Faturamento. 2019.
2. BRASIL. Decreto n° 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o
Programa de Apoio a Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI.
3. FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS
Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019). UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
(FORPROEX). Política nacional de Extensão universitária.
Outro aspecto interessante é o público. Na UFRPE (Figura 5) podemos Manaus-AM, 2012.
notar o termo “criança” (específico) e população (genérico) o que pode 4. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo,
sugerir os públicos atendidos pelas ações desenvolvidas. cuantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
5. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em
Administração. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
6. MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa Social. Teoria,
método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
7. FLICK, U. Métodos de Pesquisa: introdução à pesquisa
qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
8. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento. 10. ed.
São Paulo: HUCITEC, 2007.
9. LAHLOU, S. Text mining methods: an answer to Chartier and
Meunier. Papers on Social Representations, v. 20, n. 38, p.
1-7, 2001.
10. MARCHAND, P.; RATINAUD, P.. L’analyse de similitude
appliquée aux corpus textuels: les primaires socialistes pour
l’élection présidentielle française (septembre-octobre
2011). Actes des 11eme Journées internationales d’Analyse
statistique des Données Textuelles. JADT, v. 2012, p. 687-
699, 2012.

360
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Oficinas de gastronomia na promoção da saúde: modificações antropométricas e relatos de


modificações comportamentais

Diana Carvalho1, Adriana Siqueira1, Robson Mota1, Fernando Mayorga2, Gustavo Sirqueira3, Elizangela
Oliveira3, João Tavares3

¹Prof. Bacharelado Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. ²Prof. Ciências Econômicas, Universidade Federal do
Ceará, Campus Sobral. 3Estudante Bacharelado Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
Email: dianacarvalho@ufc.br

Palavras-chave: educação alimentar e nutricional, gastronomia saudável, doenças crônicas

INTRODUÇÃO participante através de um planejamento alimentar individualizado,


dialogado, respeitando as preferências alimentares e o estilo de vida
Tem se observado significativas modificações no padrão alimentar da de cada indivíduo. As consultas foram realizadas por nutricionistas,
população em muitos países, inclusive no Brasil, acarretando em professoras da UFC, acompanhadas dos bolsistas do curso de
sérios agravos à saúde. Destaca-se atualmente elevado consumo de gastronomia que participavam do aconselhando fornecendo
alimentos de origem animal, gorduras, açúcares, sal, alimentos orientações sobre ingredientes e técnicas de cocção.
industrializados e relativamente pouca quantidade de carboidratos As palestras e oficinas de gastronomia foram realizadas em quatro
complexos e fibras, associado ao menor gasto energético diário encontros. Os temas das palestras foram: 1) Informações sobre o
devido à redução da atividade física(1,2). Este padrão alimentar curso/Alimentação saudável; 2) Prevenção de doenças crônicas –
propicia o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis como Nutrição e Atividade física; 3) Nutrição Funcional na prevenção de
diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e obesidade que doenças crônicas; 4) Alimentos orgânicos/Avaliação do curso. As
interferem na qualidade de vida e saúde do indivíduo e implicam em palestras foram ministradas pelas coordenadoras do projeto, por
elevados custos para a sociedade e governo(3). professores convidados e profissionais atuantes na área do tema da
Diante deste quadro, denota-se a necessidade de ações educativas palestra. As oficinas de gastronomia aconteceram entre as palestras
organizadas e interdisciplinares. Essas ações devem se articular em ou no final e foram desenvolvidas pelos estudantes de gastronomia
um processo pedagógico ativo, de busca de mudanças voluntárias de da UFC, bolsistas do projeto. Na oportunidade, os estudantes
atitudes em relação à alimentação, afastando-se do enfoque em demostravam a elaboração das preparações, explicavam a ficha
processos de normatização e de culpabilização do indivíduo(4). técnica de preparo, davam sugestões de utilização de ingredientes e a
Nesse contexto, a gastronomia pode trazer efeitos positivos no possível substituição por outros, orientando também a utilização de
processo de promoção da saúde. A gastronomia tem papel relevante técnicas de corte, harmonia de cores, texturas e sabores, além de
no desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional técnicas de empratamento. Os participantes tiravam dúvidas e
(EAN), já que descobre e explora saberes e técnicas culinárias mantinham o contato com aromas e sabores dos ingredientes durante
tradicionais, bem como promove educação e reeducação dos a demonstração. Ao final da oficina, todos os participantes
sentidos(4). Além disso, a gastronomia, através da culinária, agrega degustavam a preparação finalizada. As preparações realizadas
conhecimentos tradicionais e também inovadores, apresentando-se foram: 1) Salada de quinoa, Panqueca integral de banana, Água
como ações apropriadas e promissoras para intervenções que visem aromatizada; 2) Salada de folhas com molho vinagrete, Frozen de
promover a troca de experiências e o aprendizado holístico sobre mamão, Kombucha; 3) Brownie de batata doce com amaranto, Suco
alimentação e nutrição(5). Atualmente, promoção de saúde e a funcional de limão com leite de coco; 4) Salada de bacalhau e grão
educação alimentar e nutricional por meio de oficinas de culinária de bico, Pink limonade, Muffin de farinha de amaranto com castanha
tornou-se ferramenta estratégica para políticas de saúde mundiais, de caju. Todas as preparações realizadas nas oficinas foram testadas
cujo objetivo é restaurar vínculo entre saúde, adesão, bem-estar previamente no laboratório de gastronomia da UFC e aprovadas pela
social e qualidade de vida(6) . equipe de gastrônomos e nutricionistas. No último dia do curso, os
Foi pensando em todas essas problemáticas e na importância da participantes responderam a um questionário de avaliação da eficácia
gastronomia no processo de EAN que este estudo objetivou avaliar as do curso e de relatos nas possíveis modificações de comportamento
modificações antropométricas e comportamentais de participantes de que obtiveram com a realização da ação educativa.
uma ação extensionista de EAN que teve oficinas de gastronomia
como ferramenta metodológica. Análise estatística

METODOLOGIA Foi realizada análise descritiva e os dados expressos como média ±


desvio padrão. Para verificação das diferenças estatísticas foi
O estudo foi desenvolvido com participantes do projeto de extensão realizado o teste de médias pareadas, considerando significativo
“EAN para Todos”, da Universidade Federal do Ceará (UFC). O p<0,05.
projeto tem como proposta a promoção da saúde através de
aconselhamento nutricional, palestras e oficinas de gastronomia, RESULTADOS E DISCUSSÃO
ofertados anualmente para quem tiver interesse na temática,
independente do estado nutricional do participante. No ano de 2019, A procura pelo curso de EAN pelos participantes se deu por motivos
trinta e cinco pessoas fizeram inscrição para o curso EAN, mas relacionados ao seu estado de saúde e ao aprendizado sobre
somente dezessete pessoas confirmaram inscrição. Destas, quatorze alimentos funcionais e suas preparações. Pode-se observar na tabela
participaram de todas as atividades propostas no curso e três não 1 que 59% dos participantes apresentavam excesso de peso, sendo
compareceram a consulta nutricional no final das atividades. 35% sobrepeso e 24% obesos, com IMC médio de 26,11 ± 5,3. Os
Participaram do curso servidores técnico administrativo, docentes e demais apresentavam eutrofia ou baixo peso. Isso explica a procura
estudantes da UFC e comunidade externa à UFC. do curso por esses participantes e seus diferentes objetivos:
O curso foi ministrado no Instituto de Cultura e Arte (ICA)/UFC e emagrecimento, aumento de peso, manutenção do peso saudável,
teve duração de oito semanas, sendo organizado em consultas desempenho esportivo e/ou aprendizado sobre alimentos saudáveis e
individuais, palestras e oficinas de gastronomia. As consultas suas preparações aliadas à praticidade, sabor e funcionalidade. Além
individuais foram realizadas uma no início e uma no final das disso, doenças associadas também explicam a procura pelo curso de
atividades e tiveram como objetivo realizar o aconselhamento EAN para tratamento de doenças gastrintestinais, hipertensão e
nutricional e acompanhamento de cada participante de forma dislipidemia.
individualizada e contextualizada. Na oportunidade, foram coletados
dados antropométricos, como peso corporal, circunferências e índice
de massa corporal (IMC), história alimentar e de saúde, recordatório
24h habitual. Foram fornecidos orientações e aconselhamentos
nutricionais adequados às necessidades e objetivos de cada

361
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 1 – Caracterização geral dos participantes do curso de EAN Tabela 2 – Dados antropométricos de participantes com objetivo de
(n=17), 2019. emagrecimento (n=10), 2019.
Características % n Media DP Variáveis Média (±) Média (±) P-valor
Gênero Idade 46,7 ± 7,95 46,7 ± 7,95 -
Masculino 23,5 4 - Estatura (m) Desvio
1,63 ± 0,12 Desvio
1,63 ±Padrão
0,12 -
Feminino 76,5 13 - Peso (kg) Padrão
76,15 ± 25,62 75,78 ± 25,32 0,09
Idade (anos) - - 47,05 ± 9,6 IMC (kg/m2) 27,88 ± 4,59 Final
27,76 ± 4,55 0,10
Início
Estatura (m) - - 1,61 ± 0,1 Circunferência 98,2 ± 16,30 96,72 ± 15,50 0,07
IMC (kg/m2) - - 26,11 ± 5,3 abdominal
Classificação nutricional dos participantes Fonte: Dados da pesquisa.
Baixo peso 12 2 -
CONCLUSÃO
Eutrofia 29 5 -
Sobrepeso 35 6 - Pode-se concluir que as modificações observadas com uso de
Obesidade 24 4 - oficinas de gastronomia como estratégia metodológica obteve
Abdominal(cm)
Grau do Risco de complicações metabólicas (n=15) resultados satisfatórios nos relatos dos participantes sobre as
mudanças de comportamento, observando-se relatos de consciência,
Elevado 40 6 -
autonomia, reconhecimento de atitudes e inclusão de hábitos mais
Muito elevado 40 6 - saudáveis. No entanto, não se observaram modificações
Baixo 20 3 - significativas de medidas antropométricas. Sugere-se que mais
Fonte: Dados da pesquisa. estudos, com maior número de participante e maior tempo de
acompanhamento, sejam realizados para avaliar os impactos das
Os dados antropométricos dos participantes com objetivo de oficinas de gastronomia na promoção da saúde.
emagrecimento estão apresentados na tabela 2. Pode-se observar que
houve leve redução do peso corporal e IMC, mas não foi REFERÊNCIAS
estatisticamente significante. A circunferência abdominal foi a
medida antropométrica que mais reduziu, no entanto, apresentou 1. Lindemann IL, Oliveira RR, Mendoza-Sassi RA. Dificuldades
p<0,10. Isto pode ter ocorrido pelo curto espaço de tempo (8 para alimentação saudável entre usuários da atenção básica em
semanas) e pelo pequeno número da amostra (n=10). Embora os saúde e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva.
resultados antropométricos não tenham sido expressivos naqueles 2016;21:599–610.
que desejavam emagrecimento, considera-se resultados importantes,
pois se trabalhou com um plano alimentar mais flexível, com 2. Souza A de M, Pereira RA, Yokoo EM, Levy RB, Sichieri R.
objetivo de reeducação e modificações de hábitos e estilo de vida Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito nacional de
mais saudáveis. Para o sucesso do tratamento dietético, devem-se alimentação 2008-2009. Revista de Saúde Pública.
manter mudanças na alimentação por toda a vida. Um planejamento 2013;47:190s–199s.
alimentar mais flexível, que objetive reeducação, geralmente obtém
mais sucesso, devendo considerar, além da quantidade de calorias, as 3. Santos RP, Horta P, Souza CS, Dos Santos CA, De Oliveira
preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de HBS, De Almeida LMR, et al. Aconselhamento sobre
vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde. Em alimentação e atividade física: prática e adesão de usuários da
longo prazo, o método, a velocidade de perda de peso, o ajuste atenção primária. Revista Gaúcha de Enfermagem.
fisiológico e a habilidade de manter as mudanças comportamentais 2012;33(4):14–21.
de dieta e atividade física é que determinarão o sucesso de qualquer
programa de emagrecimento(7).
Os demais participantes (n=7) objetivavam ganho ou manutenção do 4. Bezerra, J.A.B. Educação Alimentar e Nutricional: Articulação
peso, desempenho esportivo e aprendizado sobre alimentos saudáveis de Saberes. Fortaleza: Edições UFC; 2018. 120 p.
e suas preparações, o que foi contemplado em todas as atividades
propostas no curso. 5. Diez-Garcia RW, de Castro IRR. A culinária como objeto de
As oficinas de gastronomia se destacaram como ferramenta estudo e de intervenção no campo da Alimentação e Nutrição
metodológica durante todo o curso. As palestras e as oficinas Culinary as an object of study and intervention in the field of
deixaram o plano alimentar mais atrativo e mais fácil de ser Food and Nutrition. 2011;16(1):91–8.
realizado, estimulou o uso de novos ingredientes, a criatividade, as
habilidades culinárias e a autonomia dos participantes. Quando se 6. Augusto VG, Aquino CF de, Machado NC, Cardoso VA,
perguntou: “A respeito das oficinas de gastronomia oferecidas, quais Ribeiro S. Promoção de saúde em unidades básicas: análise das
você colocou em prática em casa”? As respostas foram: “iogurte, representações sociais dos usuários sobre a atuação da
kombucha, brownie de batata-doce, salada de quinoa, molho fisioterapia. Ciência & Saúde Coletiva. 2011;16:957–963.
vinagrete, panqueca de banana”. Alguns relatos foram observados
como “desenvolvi a receita em casa e ficou ótima”, “fiz a receita em
7. ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
casa e meu filho adorou”, “fiz a substituição do ingrediente para
adequar a minha dieta vegetariana”. Quando se perguntou: “Quais da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade
foram as mudanças que o curso EAN proporcionou em sua vida?” As 2016 / ABESO. 4a edição. São Paulo; 2016.
respostas foram: “melhora da disposição”, “melhora da qualidade
de vida”, “aumento do consumo de água”, “diminuição da fraqueza 8. de Figueiredo SM, de Freitas MCD, da Silva JMT, Vieira Filho
durante o exercício físico”, “maior consumo de frutas”, “parar de SA, Caligiorne RB. Oficinas de culinária: método educativo de
comer pizza”, “diminuição do consumo de açúcar”, “buscar alimentação saudável. 2014;40(1):45–50.
processo de emagrecimento devagar e contínuo”, “mais diversidade
na alimentação”, “respeitar as atitudes em relação a mim mesmo”,
“consciência de alimentação saudável”, “cuidado na compra de
alimentos saudáveis”, “cuidado na higienização dos alimentos”,
“diminuição do sal, açúcar e gordura”.
Embora não tenha se observado mudanças importantes nas medidas
antropométricas, as oficinas de gastronomia juntamente com o
aconselhamento nutricional promoveram relatos de consciência,
autonomia, reconhecimento de atitudes e inclusão de hábitos mais
saudáveis. A literatura ressalta que oficinas de culinária bem
conduzidas são capazes de olhar o ser humano enquanto único,
contextualizando-o à sua orientação dietética e respeitando suas
práticas cotidianas para que o atendimento em saúde seja eficaz (8).

362
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Título: O Design Thinking na Gastronomia como Metodologia na


Conceituação de Restaurantes e Cardápios para Alunos em Conclusão de
Curso.

Andressa Barbosa Maria Cabral Guedes 1​​ Gastrônoma e Professora de Gastronomia


UNIVERITAS (​alo@andressacabral.com​)
Isis Coutinho-Degani​2​ Gastrônoma e Doutoranda do NUTES/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ)
Palavra-Chave​: Gastronomia; Design Thinking; Ensino; Economia Criativa

INTRODUÇÃO para seu empreendimento, que vai direcionar e requerer


coerência com as decisões posteriores sobre o negócio ora
O ​Design Thinking é uma forma de organizar o planejado. A partir dessa primeira definição, é requerido aos
pensamento para solução de problemas, que ganhou alunos um estudo de identidade para esta nova marca, (que
notoriedade no mundo corporativo a partir do final dos anos inclui não só o desenvolvimento de logotipo, mas outros
1960 e atualmente se baseia nos processos cognitivos de aspectos fundamentais ao ​branding​). Essa etapa é anterior ao
criação dos designers para criar produtos e serviços em cardápio, pois o mesmo deverá respeitar o conceito de cada
diversos campos do conhecimento. empreendimento e suas especificidades. Independentemente
O design thinking se beneficia da do tipo de gastronomia, cada empreendimento deverá
capacidade que todos nós temos, traduzir a narrativa em três atos e, com isso, realizar um
mas que são negligenciadas por serviço em três tempos.
práticas mais convencionais de Apresentaremos como exemplo do emprego desta
resolução de problemas […] o metodologia a experiência do tema ​“O ​Universo dos Contos
design thinking se baseia em e Brincadeiras Infantis​”​. Um grupo de estudantes, que
nossa capacidade de sermos propunham um restaurante de cozinha brasileira
intuitivos, reconhecer padrões, contemporânea, optou por uma releitura do conto ​“O
desenvolvermos ideias que Patinho Feio”​, resultando nos seguintes três atos divididos
tenham um significado emocional desta forma: 1) ​Rejeição ​(O tempo de não aceitação social);
além do funcional, nos 2) ​Internalização ​(O pato lidando com seus conflitos
expressarmos em mídias além de internos e pensando seu futuro) e, por fim, 3)
palavras ou símbolos” ​(BROWN, Ressignificação ​(A diferença que o coloca em destaque no
2010, p. 04) mundo). Para chegar a este desfecho, os estudantes
Esta prática, originária do campo do Design, vem precisaram chegar a um nível de abstração conceitual que
sendo empregada na formação em Gastronomia pela professora perpassa, sobretudo, temáticas dos nossos tempos. O “pato
Andressa Cabral nos últimos anos. Principalmente em projetos feio” é metáfora para os sentimentos de exclusão e
práticos de conclusão de curso, privilegiando o desenvolvimento inadequação vivenciados pelas pessoas.
de produtos (pratos) a partir de conceitos e narrativas. A partir de cada ato, os estudantes criam uma
frase que sintetize a narrativa a ser contada. A partir dessa
Assim, o presente trabalho tem por objetivo relatar
frase, se elegem palavras-chave representativas que são
uma experiência de utilização do ​Design Thinking como método
transpostas para montagem do “Mapa Sensorial ou Mapa
de criação de um menu, por parte de estudantes de Gastronomia
dos Sabores”. O mapa elaborado pelos alunos é apresentado
em uma instituição de ensino superior privada na cidade do Rio na Figura 1.
de Janeiro.
As palavras-chave elaboradas são então
traduzidas em sentimentos e estes, traduzidos em sensações
MATERIAL E MÉTODOS
do palato (quente, frio, doce, cítrico, untuoso etc) e em
percepção de cores. E finalmente, chega-se aos insumos que
O presente artigo foi elaborado a partir da devem aparecer no prato. Destaque-se que a escolha das
metodologia de relato de experiência. A metodologia de cores e sensações do paladar que deverão aparecer no prato
criação e de ensino aqui descrita foi aplicada durante o leva em conta a coloração dos alimentos pós-cocção.
semestre de 2019.1 em instituição de ensino superior privada
no Rio de Janeiro. Figura 1- Mapa de Sabores: “​Renegado​ desde o ​Ninho​- A
triste sensação de estar ​despossuído​ de um sentido de ​Lar​.
(1ª ato-​ Entrada)
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos cursos tecnológicos não há a obrigatoriedade


de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) acadêmico.
Por isso, alguns cursos utilizam uma disciplina em forma de
Projeto de Criação para a elaboração de um negócio e a
criação de um cardápio. Nesta experiência, os estudantes
devem escolher um conceito de restaurante à sua escolha e,
depois, recebem da docente um tema central, dentro do qual
deverão criar uma narrativa a ser contada em três atos,
correspondentes à entrada, prato principal e sobremesa (um
serviço completo do restaurante criado).Durante a jornada de
construção do TCC, o aluno precisa pensar em um conceito

363
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Assim. , o aluno passa a ser capaz de transformar


os sentimentos em cores e sensações gastronômicas, com o Por fim, é importante ressaltar que o método
auxílio de atividades de sensibilização criativa, discussões de pretende mobilizar o criador do menu em uma reflexão que
conteúdo e outras técnicas. Os estudantes devem organizar se traduza em uma experiência mais consistente para o seu
todas essas informações para a elaboração de um menu, onde comensal. Ele afeta o outro, porque foi implicado primeiro.
cada prato remonta à experiência sensorial e emocional da O cozinheiro comunica seus valores, sua história e sua
narrativa construída. cultura na elaboração de um prato na busca de estabelecer
Ao final deste processo de criação e este elo. E isso gera mais valor para a cadeia criativa.
aproximando-se da finalização do TCC, os estudantes terão
desenvolvido diversas opções de preparações para compor
cada prato, realizado testes com as receitas e apresentado-as
ao professor, que fará sugestões, inclusive propondo CONCLUSÃO
recombinações de ideias. O momento de testes é importante
para ajustar o “modo de fazer” da receita, pensar em Deste modo, a inserção do ​Design Thinking como referencial
medidas e proporções para a ficha técnica e também a metodológico dos projetos estimula uma ressignificação do ​chef:​
comunicação culinária da história que se quer vender ao distanciando-se da figura de um livre artista, movido por
comensal, além de testar o que chamamos, neste método, de inspiração e intuição e aproximando-o dos profissionais da
usabilidade do prato​. A jornada na construção dessa economia criativa e gera mais valor agregado às suas criações.
narrativa produz misturas inusitadas que levam a uma
experiência sensorial diversificada no campo gastronômico. REFERÊNCIAS
A seguir, na Figura 2, são apresentados os pratos
desenvolvidos pelos alunos como resultado final do trabalho.
BRILLAT-SAVARIN, Jean-Anthelme. ​A Fisiologia do Gosto​.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Figura 2- Prato de Entrada Segundo o Mapa de Sabores

BROWN, Tim. ​Design Thinking​: Uma metodologia poderosa


para decretar o fim das velhas ideias. São Paulo: Elsevier
Editora, 2010.

Essa construção mobiliza não apenas o


conhecimento culinário mas, sobretudo, a psicologia e a
cultura na produção de um menu. No mapa dos sabores, ao
traduzir emoções e sentimentos em sensações do paladar, o
aluno precisa acionar a percepção de que alimentos
comunicam essas emoções. Quando se consome um
espumante, o momento é de celebração e na boca sentimos
as suas borbulhas. Se estamos tristes, os doces e alimentos
quentes nos fazem sentir um aconchego. Uma psicologia do
sabor que Brillat Savarin ao falar das ações dos sentidos diz:

“Mas, como essas sensações têm


por centro comum a alma, atributo
especial da espécie humana e
causa sempre ativa de
perfectibilidade, elas foram
refletidas, comparadas, julgadas; e
prontamente os sentidos passaram
a ajudar uns aos outros, para a
utilidade e o bem-estar do eu
sensitivo​, ou, o que é a mesma
coisa, do indivíduo”.
(BRILLAT-SAVARIN,
1995,p.40)

364
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Projeto de Extensão Gastronomia Consciente: medidas de sustentabilidade em restaurantes


Abigail Silva¹, Elaine Fernandes², Juliana Pinto3, Matheus Santos4, Mayara Galvão5, Yolaine Silva6.

¹Graduanda em Hotelaria - Universidade Federal do Maranhão. abigailmendesx@gmail.com


²Mestre em Gestão de Negócios Turísticos – UECE. Docente da Universidade Federal do Maranhão.
elaine_csfernandes@hotmail.com
³Graduanda em Hotelaria - Universidade Federal do Maranhão. juliana.fp@icloud.com
4
Graduando em Hotelaria - Universidade Federal do Maranhão. m.rios2015.mr@gmail.com
5
Graduanda em Hotelaria - Universidade Federal do Maranhão. mayarasg13@gmail.com
6
Graduanda em Hotelaria - Universidade Federal do Maranhão. cordeiroyolaine@gmail.com

Palavras-chave: Restauração. Sensibilização. Profissionais. Práticas Sustentáveis

INTRODUÇÃO (SEBRAE) fornece algum tipo de assessoria. De acordo com o


exposto, percebe-se que as variáveis nesta perspectiva de
A Gastronomia consciente é defendida (entre outros) por Alice sustentabilidade em restauração, são: planejamento de cardápios
Waters, chef-proprietária do Chez Panisse, na Califórnia, uma das sustentáveis; sustentabilidade no uso dos ingredientes
fundadoras do movimento Slow Food e pioneira na defesa da cozinha regionais/tradicionais; descarte de resíduos, uso racional de energia e
sustentável. A chef norte-americana alertou para a ameaça do fast- água e os diversos aspectos relacionados às dimensões econômicas,
food e o domínio que exerce na forma como as pessoas se alimentam, ambientais e socioculturais. Desta forma, o objetivo deste trabalho é
ao afetar crenças, rituais e cultura gastronômica, (1). Entre as várias desvelar a relevância de ações sustentáveis por meio do Projeto de
formas de identidade sugeridas e comunicadas pelos hábitos Extensão Gastronomia Consciente da Universidade Federal do
alimentares, uma que hoje nos parece óbvia é a do território: “o Maranhão - UFMA, cujo intuito do projeto é sensibilizar
comer geográfico”, conhecer ou exprimir uma cultura de território gestores/proprietários, chefs/cozinheiros, bem como toda brigada de
por meio de uma cozinha, dos produtos, das receitas, (2). O território salão de restaurantes, a desenvolverem práticas culinárias seguras,
constitui um valor de referência absoluta nas escolhas alimentares. sustentáveis e de preservação da gastronomia tradicional/regional.
Não há restaurante da moda que não ostente, como elemento de
qualidade, a proposta de uma cozinha vinculada ao território, (2). O MATERIAL E MÉTODOS
atual contexto é de valorizar os pequenos produtores, pois produzem
sem agrotóxicos e respeitam o ciclo de vida dos animais, evitando A metodologia é caracterizada como qualitativa a partir de relato de
um desequilíbrio ambiental. experiência inerente às ações desenvolvidas pelo Projeto de Extensão
Assim, a gastronomia deixou de ser apenas uma arte, para exercer Gastronomia Consciente, coordenado pela Prof.ª M.ª Elaine
um papel social, cultural, ambiental e econômico. Busca-se Fernandes, este é vinculado ao Departamento de Turismo e Hotelaria
desenvolver métodos e ações que direcionem os colaboradores, e à Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Empreendedorismo da
consumidores, por fim, a sociedade em geral, a uma conscientização UFMA. Os sujeitos são profissionais de restaurantes que
a respeito do esgotamento das matérias-primas, e o desperdício participaram de ações/oficinas do projeto em tela, realizado nos
exacerbado de alimentos, e de energia, bem como o descarte de municípios Raposa, Alcântara e São José de Ribamar no Maranhão.
forma irregular de resíduos na natureza. Entende-se que a utilização As ações envolveram atividades expositivas, dialogadas e lúdicas
indiscriminada dos recursos naturais, iniciando pela obtenção das para implementação de práticas culinárias seguras, sustentáveis e de
matérias-primas, dos processos de produção e serviços até a preservação da gastronomia tradicional/regional, realizadas no
disposição final do produto após uso, e as consequências negativas universo de 30 restaurantes dos municípios supramencionados.
provocadas ao meio ambiente, tem feito com que a sociedade se Destaca-se que foi realizado entrevista com os sujeitos das ações nos
preocupe cada vez mais com a diminuição da qualidade e da municípios para conhecer a realidade física-operacional (rotina) dos
quantidade dos recursos disponíveis na cadeia em que se vive, Reis; restaurantes e convite formalizado aos participantes das oficinas
(3). De acordo com (4): Sustentabilidade é respeito à sobre “Práticas Sustentáveis em Restaurantes”. As ações foram
interdependência dos seres vivos entre si e em relação ao meio planejadas e desenvolvidas por discentes bolsistas e voluntários do
ambiente. Sustentabilidade significa operar a empresa, sem causar Projeto de Extensão.
danos aos seres vivos e sem destruir o meio ambiente, mas, ao
contrário, restaurando-o e enriquecendo-o. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Assim, sustentabilidade em gastronomia e restauração sugere atenção
de gestores, organizadores e colaboradores que implique em efetivas O papel da extensão universitária de acordo com (9) revela em si a
mudanças comportamentais, principalmente no que diz respeito a importância de se consolidar a relação de troca de conhecimentos e
necessidade da redução de desperdícios de alimentos e produção de experiências entre a comunidade e o ambiente acadêmico, facilitando
resíduos sólidos, e por conseguinte a redução dos custos, (5). Com no processo de aprendizagem de ambas as partes, considerando que
base no conceito do tripé da sustentabilidade, ou Triple Bottom Line, seu intuito é de confrontar a teoria com as práticas vivenciadas no dia
sugerido originalmente na década de 1990, pelo analista britânico a dia. Sendo assim, é de extrema relevância que a criação de boas
John Elkington, propõe três pilares que devem nortear a gestão ações sejam elaboradas e também que a universidade esteja
sustentável nas empresas: social, econômico e ambiental, (4). Tal fomentando políticas de apoio destinado a extensão universitária,
proposta também foi indicada por (6), em sua tese de doutorado, cujo observando e respeitando também que, o Estado tem seu papel no
objetivo conceitual era desenvolver um modelo de planejamento que diz respeito à assistência a comunidade.
estratégico para o alcance da sustentabilidade empresarial. Os Nesta perspectiva o Projeto de Extensão Gastronomia Consciente –
requisitos indicados pelo autor, se alinha com as atitudes propostas UFMA vem desenvolvendo ações extensionistas nos
pela Sustainable Restaurant Association, organização sem fins estabelecimentos de alimentos e bebidas, com finalidade de
lucrativos sediada no Reino Unido que tem colaborado com sensibilizar os proprietários, chefs de cozinha, cozinheiros e demais
restaurantes a trabalharem de acordo com a sustentabilidade, além de colaboradores dos Restaurantes a desenvolverem práticas seguras,
orientar os consumidores para escolhas sustentáveis, (7). sustentáveis e de valorização e/ou preservação da gastronomia
Os estudos relacionados à sustentabilidade, dentro da experiência tradicional local.
gastronômica, especificamente no Brasil, estão em condição Os objetivos específicos do projeto são: promover o conhecimento
embrionária, (8). Observa-se que instituições como a Green sobre o uso dos recursos da biodiversidade de maneira sustentável,
Restaurant Association (GRA), no exterior, fornecem certificados incentivando a aquisição de alimentos do pequeno agricultor local
para restaurantes sustentáveis. Os estabelecimentos passam por em função da alimentação saudável e beneficiando a agricultura
avaliações e seguem rígidos padrões de qualidade. Enquanto que no familiar; estimular o combate à utilização de espécies em extinção
Brasil, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas nos cardápios, descontrole de água e óleo bem como do mau

365
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

direcionamento seletivo do lixo, em função da defesa da para a formação cidadã, possibilitando a promoção e reprodução de
biodiversidade e das culturas a ela ligadas pelas unidades de serviço ações sustentáveis, por meio da aproximação academia –
de alimentação; sensibilizar brigadas de cozinha a reduzir o comunidade (sociedade) e mercado gastronômico na atividade
desperdício de alimentos e da geração desnecessária de resíduos turística.
orgânicos, incentivando o aproveitamento integral dos alimentos e
inserção destes nos cardápios e apontar as Boas Práticas de
Manipulação de Alimentos para a qualidade e segurança na produção CONCLUSÕES
dos alimentos; incentivar o resgate e valorização a produção de
pratos baseados na gastronomia local ou regional nos restaurantes; O Projeto Gastronomia Consciente possibilita participação de
contribuir para formação plena e cidadã do discente do Curso de públicos diversos de restaurantes, aprendizagem de novas técnicas,
Hotelaria e de Turismo, a partir das ações voltadas para uma prática práticas e a compreensão sobre os benefícios relacionado à aplicação
gastronômica sustentável junto à comunidade. dos aspectos econômicos, ambientais e socioculturais, o
As atividades envolveram: Práticas Sustentáveis em A& B, posicionamento dos sujeitos durante as oficinas demonstra que
Aproveitamento Integral dos Alimentos, Boas Práticas de aplicação prática da sustentabilidade se estende ao contexto familiar
Manipulação. Assim, os resultados foram considerados satisfatórios, ou doméstico. A troca de conhecimento entre academia e
porém, notou-se a intimidação dos funcionários por parte dos comunidade ultrapassando os muros da universidade impacta
gestores dos estabelecimentos que eventualmente os conduziam a positivamente na sociedade. A aceitação do público alvo à ação do
omitirem suas opiniões em relação às práticas cotidianas em não Projeto de Extensão Gastronomia Consciente implica em
conformidade aos princípios de sustentabilidade (identificado ao minimização dos impactos gerado pelo segmento de alimentação,
decorrer das palestras). Durante as oficinas os participantes contribuindo para o desenvolvimento local e da atividade turística. A
contribuíram com experiências vivenciadas, sanando dúvidas, sustentabilidade na produção de refeições envolve um conjunto de
conhecendo melhor sobre a temática abordada pelo projeto e medidas durante todo o processo produtivo, desde o planejamento do
demonstrando práticas que podem gerar impactos relacionados às cardápio, até a reciclagem e gerenciamento dos resíduos alimentares
dimensões econômicas, ambientais e socioculturais do município. da unidade. E que a extensão universitária contribui para o compasso
Direcionou-se a atividade para a aplicabilidade de práticas entre a gastronomia e o desenvolvimento sustentável ao passo que se
sustentáveis aos serviços dos restaurantes, tendo como principais apresenta como instrumento de transformação dos sujeitos
medidas sugeridas a aproximação do ser humano à origem dos envolvidos e conservação da biodiversidade, e, sobretudo imprimi
alimentos reduzindo os circuitos da cadeia produtiva dos alimentos, múltiplos olhares na formação cidadã dos acadêmicos.
ao uso de alimentos orgânicos no cardápio, a preocupação da
empresa com o bem-estar dos funcionários, evitar o uso de espécies REFERÊNCIAS
ameaçadas de extinção no cardápio, dar aos clientes a opção de pedir
porções menores por preços mais baixos caso necessário, aquisição 1. MANUAL DO SLOW-FOOD. (2008). Disponível em:
de produtos de fornecedores locais e incentivo aos pequenos <http://www.slowfood.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2019.
produtores, valorização de produtos locais, regionais e/ou orgânicos, 2. MONTANARI, M. (2008) Comida como cultura. São Paulo:
realizar a coleta seletiva do lixo e separar os resíduos orgânicos para
Editora Senac São Paulo.
compostagem, utilizar materiais de limpeza biodegradáveis na
higienização, uso racional de água e energia, apelo sustentável na 3. REIS, L. F. S. S. D.; QUEIROZ, S. M. P. (2002). Gestão
decoração/ambientação dos estabelecimentos, aproveitamento ambiental em pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro:
integral dos alimentos e aplicação de boas práticas de manipulação Qualitymark.
evitando desperdício e geração de resíduos. Observou-se durante as 4. SAVITZ, A. W.; WEBER, K. (2007). A empresa sustentável: o
discussões entre bolsistas e sujeitos das ações a compreensão sobre a verdadeiro sucesso é o lucro com responsabilidade social e
importância de um restaurante sustentável. Trabalhou-se ainda ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
conhecimentos sobre aproveitamento de alimento, descartes dos
5. NERY, C. H. C.; CONTO, S. M.; ZARO, M.; PISTORELLO, J.;
resíduos, hábitos alimentares e alimentos típicos de cada região.
Percebeu-se um posicionamento de empoderamento ao final dos PEREIRA, G. S. (2013). Geração de resíduos sólidos em eventos
trabalhos, e mostraram-se assertivos aos requisitos de gastronômicos: o Festiqueijo de Carlos Barbosa, RS. Rev. R. dos Ven.,
sustentabilidade que implicariam em mudanças nos hábitos e práticas Caxias do Sul, v. 5, n. 2, abr./jun.
diárias nos restaurantes. 6. CORAL, E. (2002). Modelo de planejamento estratégico para a
A contribuição dos/das participantes com suas experiências no sustentabilidade empresarial. 2002. 282 p. Tese (Doutorado em Engenharia de
reaproveitamento de alimentos, de reutilizar o que seria descartado, Produção) - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção,
revelou a importância de pequenas atitudes para influenciar a
minimização dos impactos. Houve adesão a proposta de Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
personalização dos cardápios, tanto no material de sua confecção 7. THESRAThe Sustainable Restaurant Association. About us. What
(que por sua vez pôde ser feito com material reciclado) e confecção are sustainable restaurants, (2014). Disponível em: . Acesso em: 12
de alguns em braile para atendimento aos portadores de necessidade jan. 2020.
(mostrando de forma criativa que a sustentabilidade não se limita 8. NUNES, R. (2012). Gastronomia Sustentável. Interação - Revista
apenas em ter um espaço adaptado), quanto aos produtos oferecidos, Científica da Faculdade das Américas, São Paulo, ano III, n. 1, jan./jul.
a introdução de alimentos orgânicos, a distribuição de pequenas
9. HENNINGTON, E. A. (2004) Acolhimento como prática interdisciplinar
porções evitando o desperdício. Essas ações relacionadas a extensão
universitária, transcenderam as expectativas esperadas quanto ao num programa de extensão universitária. Caderno de Saúde Pública, [S.L],
tema abordado nas oficinas e possibilitou aos participantes refletirem jan./ago. Disponível em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-
sobre novas formas de conduzir esse conhecimento para inserção de 311X2005000100028&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 29 jan 2020.
gestão sustentável, respeitando o conhecimento e práticas já adotadas
pela comunidade, além de poder expandir também para outras
localidades. As atividades do projeto foram satisfatórias, pois os
participantes dos restaurantes supramencionados participaram de
forma efetiva, demonstrado interesse e em alguns momentos o
desconhecimento, possibilitando novas atitudes na rotina dos
restaurantes do município. Nesta perspectiva, vale ressaltar a
relevante contribuição das ações extensionistas para a formação
plena e profissional dos discentes envolvidos no projeto, por meio da
troca de conhecimento (fundamentos interdisciplinares) entre a
academia e a comunidade, associação prática e teorias discutidas no
âmbito acadêmico.
As ações geraram reflexão e estimulou a mudança de
atitude na rotina dos estabelecimentos de alimentação dos
municípios. Nesse sentido, a extensão universitária contribuiu ao
passo que se apresentou como instrumento de transformação dos
sujeitos envolvidos e na conservação da biodiversidade, sobretudo,

366
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Sorvete de abacaxi com biomassa de banana verde: uma alternativa funcional, livre em adição de
açucares e lactose: uma aula prática no CTUR/UFRRJ
Maria do Socorro Guedes Freitas Durigon¹, Suzete Maria Micas Jardim Albieri², Ana Beatriz Freitas Durigon ³, Maria Eduarda
Lopes de Oliveira4, Aline Daniel Moreira de Moraes5

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Colégio Técnico /UFRRJ, socorrodurigon@gmail.com


1
2
Mestre em Educação Agrícola, Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro /UFRRJ,
3
Curso Técnico em Hospedagem Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
4
Curso Técnico em Agroecologia Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
5
Curso Técnico em Agroecologia Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ

PALAVRAS CHAVE: Biomassa de banana, Alimento funcional, Sorvete de Abacaxi


INTRODUÇÃO: Alimentos como veículo de promoção de bem‐estar e saúde, e também
redutores dos riscos de algumas doenças, tem incentivado pesquisas
Cada vez mais a população mundial busca por produtos naturais e de novos componentes e novos ingredientes, possibilitando a inserção,
saudáveis, sem adição de açucares, conservantes e com baixos teores de produtos alimentícios inovadores e de novos mercados
de gorduras, por estarem conscientes da relação entre alimentação e (Matsubara, 2001).
saúde. Nesse contexto, os alimentos funcionais são a nova tendência Este trabalho tem como objetivo elaborar um sorvete de abacaxi com
na alimentação devido aos seus benefícios fisiológicos que são biomassa de banana verde direcionado ao público com restrições a lactose
capazes de reduzir ou estagnar os riscos a doenças crônicas e que buscam uma alimentação saudável e funcional
degenerativas e metabólicas, além de conterem suas funções básicas
nutricionais. Conforme Lajolo; Menezes, 2009, O Brasil produz MATERIAL E MÉTODO:
aproximadamente 8 milhões de toneladas de banana 60% da colheita Inicialmente é necessário produzir a biomassa que é feita de banana
nacional se perde antes de chegarão consumidor final, devido a falhas verde o fruto ainda verde possui maior concentração de sais minerais,
oriundas da utilização de técnicas inapropriadas de colheita e pós- baixas quantidades de açúcar e altas quantidades de amido resistente
colheita, assim como falha nos sistemas de transporte, distribuição e
armazenamento que compromete significativamente a qualidade final Fluxograma de Processamento da Biomassa
do produto. Por outro lado, por ter a banana verde uma vida útil muito
mais longa vem sendo considerada como um produto ideal para ser
industrializado. Aquisição das Bananas
Conforme a (Anvisa,1999), alimento funcional é aquele que além de
nutrir possui alguns efeitos metabólico ou fisiológico que o nutriente,
ou não nutriente, tem no crescimento, desenvolvimento e manutenção Limpeza -lavagem com água e detergente neutro e pesagem
do organismo humano, além de possuir outras funções normais no
organismo, ou seja, fornece algum efeito benéfico a saúde,
melhorando o metabolismo do organismo e diminuindo o risco de Higienização - molho em agua clorada (50ppm cloro) por quinze
doenças quando consumido na dieta habitual. minutos para eliminar os microrganismos presentes na casca)
A banana é uma fruta presente em grande número na dieta dos
brasileiros devido ao seu sabor e ao seu alto valor nutritivo, o Brasil é
um grande produtor de banana, porém apresenta um alto índice de Cozimento - as bananas foram colocadas em uma panela de
perdas na cadeia produtiva devido a falhas na colheita, pós-colheita e pressão com quantidade de agua suficiente para cobrir toda a
nos sistemas de transporte, distribuição e armazenamento. O fruto fruta, deixando cozinhar por cerca de 20 minutos.
ainda verde possui maior concentração de sais minerais, baixas
quantidades de açúcar e altas quantidades de amido resistente. O
amido resistente presente na banana verde pode ser utilizado como Processamento – retirada das cascas ainda quente e processada
ingrediente para a geração de produtos com 16 qualidades funcionais em liquidificador até se obter uma massa homogênea
na alimentação dos brasileiros de diversas formas, sendo as mais
relevantes na forma de biomassa e de farinha. (Carmo, A. F. dos S.).
Segundo Lewis et al. (1999) O fruto verde é rico em flavonoides, que
atuam protegendo a mucosa gástrica. A fruta ainda verde é rica em Produto finalizado
amido resistente, o qual com propriedades funcionais que auxiliam na
prevenção de doenças não comunicáveis. Na banana madura, o amido
é convertido em açúcares, por isso se faz necessário o uso da banana
verde para usufruir das propriedades funcionais.
A biomassa da banana verde pode ser caracterizada como alimento
funcional devido ao elevado teor de amido resistente, chegando a
alcançar 84% da sua composição, que por sua vez age como fibra
alimentar, sendo fermentado no intestino grosso, pelas bactérias que
compõem a flora intestinal, em especial pelas bifidobactérias, assim o
amido resistente é considerado um alimento prebiótico. Outra
funcionalidade da biomassa de banana verde está relacionada aos
Fig 1 – biomassa de banana verde
consumidores portadores de doença celíaca, que podem utiliza-la
como ingrediente base em substituição aos que contenham glúten,
visto que não altera o sabor nem o odor dos alimentos. Além de poder
ser utilizado na redução dos teores de lipídios, açúcares e ainda
enriquecer nutricionalmente com vitaminas, minerais e compostos
fenólicos que estão presentes em sua maioria na banana ainda verde.).
O número de pessoas com intolerância aos componentes presentes em

367
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

formulações alimentares tem crescido, a exemplo do glúten, muito


utilizado nas indústrias de alimentos devido à utilização da farinha de RESULTADOS E DISCUSSÃO:
trigo, maior fonte de glúten na alimentação (Gomes, Santiago,
Koakuzu & Bassinello, 2014).
A busca por uma alimentação mais saudável, o aumento da expectativa
de vida dos brasileiros, a participação feminina no mercado de
trabalho e o aumento do número de pessoas que moram sozinhas têm
provocado uma revolução nos hábitos de consumo da população
brasileira, particularmente nos grandes centros urbanos, sendo assim a
produção de um alimento funcional e prático é de grande relevância
para a população, dessa forma, o sorvete de abacaxi com biomassa de
banana verde é um alimento que pode fazer diferença na alimentação,
Fig 2 Processamento do Abacaxi
pois o mesmo ficou com uma cor ligeiramente amarronzada quase a
mesma cor da biomassa, com uma consistência cremosa e levemente
adocicado, não houve necessidade do acréscimo de leite ou água.
O abacaxi é considerado uma das frutas tropicais mais popular do
mundo possui quantidades significativas de vitaminas A, B e C.
A receita básica foi de 1 copo de 200g de biomassa para 500g de polpa
de abacaxi bem doce, caso a fruta esteja ácida é necessário colocar um
pouco de açúcar, os ingredientes foram liquidificados e colocados em
copinhos descartáveis e após o tempo de congelamento o mesmo foi
Fig 3 Sorvete pronto degustado pelos alunos. Na degustação após a aula prática os alunos
mostraram-se satisfeito com o resultado do produto variando na
A biomassa de banana e o sorvete foram desenvolvidos no laboratório questão do açúcar, pois alguns acreditam que colocando um pouco de
de aulas práticas de processamento de frutas e hortaliças do açúcar o sabor seria ainda melhor. O sorvete apresentou uma cor
CTUR/UFRRJ, antes foi dada uma aula teórica explicando sobre a marrom clara, mostrou-se cremoso sem formação de pedra de gelo
importância da banana na alimentação humana, a abundância de conservando a maciez o sabor do abacaxi ficou acentuado, mostrando
componentes nutricionais e essenciais para a saúde na alimentação, se agradável
mostrou-se o grande consumo da fruta no Brasil, discutiu-se sobre a
fragilidade da fruta madura, as dificuldades de armazenamento e CONCLUSÃO:
conservação bem como tomar medidas para reduzir as perdas do
produto, deixando claro que a fruta verde tem um potencial grande de
benefícios na alimentação e na saúde do consumidor, partindo se dessa Entende –se que o objetivo foi alcançado, uma vez que se obteve um
premissa chegamos a idealização do sorvete de abacaxi, uma vez que sorvete funcional cremoso e rico em fibras, sem adição de açúcares,
queríamos uma fruta rica em fibras e açúcares e que fosse de fácil lactose e gorduras e teve uma boa aceitação por parte dos alunos que
acesso, o abacaxi nos contemplava, pois tinhas essas características, desenvolveram o produto. Acredita-se que o sorvete tem potencial
fizemos o sorvete sem o acréscimo de açúcar e livre de conservantes, para chegar ao mercado, havendo investimento no aperfeiçoamento na
ficou no refrigerador fizemos três mexeduras com o intervalo de 30 obtenção do produto, pois o mesmo é livre de conservantes e precisa
minutos cada para garantir a cremosidade. ser feito um estudo de vida de prateleira.

PROCESSAMENTO DO SORVETE DE ABACAXI REFERÊNCIAS

Fluxograma de Processamento da Biomassa LAJOLO; F. M.; MENEZES, E. W. Bases Científicas e Tecnológicas


de Alimentos Funcionais a Partir de Plántano/banana verde. São Pa
2009.
Aquisição das Abacaxi
ANVISA, Agencia Nacional de Vigilancia Sanitária. Resolução nº 19,
De 30 de abril de 1999.
Limpeza -lavagem com água e detergente neutro, pesagem
CARMO, Ana Flávia dos Santos Propriedades funcionais da biomassa
farinha de banana verde / Ana Flávia dos Santos Carmo; orientador
Higienização - molho em agua clorada (50ppm cloro) por quinze Ismael Maciel de Mancilha. - Lorena, 2015. 58 p. Monografia ap
minutos para eliminar os microrganismos presentes na casca requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso Engenharia
Bioquímica Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de
São Paulo.
Preparo do Fruto - o abacaxi foi descascado e foi feito a .
retirada do eixo central e o corte da polpa em pedaços menores. LEWIS, D. A; FILDS, W. N; SHAW, G. P. A natural flavonóides
presente in uripe plantain banana pulp (Musa sapientium. L. var.
paradiaisaca) protects the gastric mucosa from aspirin induced
Processamento – a polpa foi colocada no liquidificador para erosion. Journal of Ethnopharmacology, v. 65, pag 283- 288, 1999.
bater
GOMES, L.O.F. SANTIAGO, R.A.C., KOAKUZU, S.N. &
BASSINELLO, P.Z. (2014). Estabilidade microbiológica e
Formulação - Para cada abacaxi foi acrescentado um copo de
biomassa de banana verde, como era bem doce não houve físico-química de misturas para bolo sem glúten e qualidade dos
necessidade de se acrescentar açúcar bolos prontos para consumo. Braz.J.Food Technol.17(4):283-295.

MATSUBARA, S. Alimentos funcionais. Indústria


É de grande importância um estudo mais aprofundado para se de Laticínios, v. 6, n. 34, p. 10-18, 2001.
conhecer as propriedades funcionais do sorvete, quantificar e
qualificar as fibras e dessa forma avaliar os benefícios que o mesmo
trará para a população uma vez que o produto é funcional.

368
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise de uma Ferramenta de Gestão para o desenvolvimento discente:


estudo de caso em Instituição de Ensino Superior em Maceió/Alagoas

AUTORES: Purcell, Cristiana¹, Acioli, Maria de Fátima²


1
Profª Mestre Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT. E-mail:
tinapurcell@hotmail.com
2
Profª Drª Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT.

Palavras-chave: Docência (superior). Desenvolvimento (humano). Planejamento.

Introdução insumo, tendo como norte a sua disponibilidade de acordo com a


A história da evolução humana, desde a pré-história, nos permite sazonalidade, possibilitando inclusive, acrescentar novas receitas
observar que a divisão e a organização do trabalho foram necessárias e/ou substituir algumas delas.
e importantes para a sua sobrevivência e para a formação de um Para este processo organizacional, foi necessário estruturar um
objetivo comum. Segundo Cruz (2013, p.12), “cada membro dos modelo denominado “Panorama”, que se adequasse e atendesse as
primitivos grupos de hominídeos tinha um “papel funcional” na necessidades da gestão acadêmica, voltado às unidades curriculares
comunidade em que vivia.” Desta forma, é admissível pressupor que que envolvessem as práticas laboratoriais, e que pudesse dar não só
a divisão de trabalhos, bem como o ordenamento das atividades, era uma cronologia, mas também uma sequencialidade dentro de cada
um meio de hierarquização no processo organizacional, elencando as unidade curricular e por conseguinte entre as demais, indicando data
responsabilidades por determinadas tarefas, o prazo de sua execução, e dia, hora, turma, turno, quais receitas, qual o professor responsável,
delegando assim poderes para a realização de determinado trabalho. qual a unidade curricular vinculada, quantidade de bancadas
No entanto, este processo de desenvolvimento da humanidade foi ocupadas e qual laboratório a ser utilizado.
vagaroso ao passar dos milhões de anos que precederam as grandes Sendo assim, nada mais pertinente do que realizar a análise do
civilizações do ocidente. O percurso evolutivo do homem está “Panorama” como uma ferramenta de gestão, que possibilita o
marcado por distintas fases do desenvolvimento de técnicas desenvolvimento dos discentes, norteando-os sobre as aulas
rudimentares de sobrevivência, em que preponderava o empenho permitindo o acesso ao planejamento semestral das práticas, podendo
para completar o trabalho da natureza, seguindo depois para a estimular suas atividades aulas ministradas.
descoberta da agricultura, da noção de posse e de produto, da fase
industrial até a pós-industrial (De Masi, 1999). Material e Método
Sendo assim, o trabalho humano apareceu de forma instintiva como Para realizar esta pesquisa, foi seguida uma abordagem qualitativa e
necessidade imperiosa voltada a sua própria sobrevivência. Com o de caráter exploratório, que conforme Lakatos e Marconi (1991)
desenrolar do tempo, o homem, ainda impelido pela necessidade de possuem interesses práticos e os resultados devem ser aplicados ou
sobreviver, mas demonstrando sinais evidentes do desenvolvimento usados na solução de problemas que acontecem na realidade. Para
da inteligência, passou a realizar um trabalho de organização, voltado Vergara (1997), os tipos de pesquisa podem ser escolhidos em
a defesa e a preservação, fosse contra os ataques de animais ou consonância com os meios e as finalidades necessárias. Com relação
mesmo de tribos rivais, dando início à fabricação de instrumentos de aos meios de investigação, esta pesquisa se configura como um
defesa e consequentemente promovendo uma organização. estudo de caso por uma ferramenta por um determinado espaço
No meio acadêmico, não diferentemente, a organização do trabalho temporal. Lakatos e Marconi afirmam ainda que: estudar o fenômeno
apresenta propriedades particulares no que diz respeito às é conhecer a natureza, sua composição, os processos envolvidos e a
hierarquias, ao posto de trabalho, ao planejamento e controle das frequência com que ele acontece.
atividades. São nestes espaços de formação, tomados por Além disso, a pesquisa bibliográfica e a de campo com o uso de
pensamentos e pela ação de interlocutores, que a forma como a entrevistas para coleta de dados foram adotadas neste trabalho.
organização do trabalho pedagógico na escola é apresentada, produz As entrevistas realizadas com os discentes foram dispostas em cinco
rumos que podem orientar a uma prática renovadora. perguntas que tiveram como fim, obter a percepção do discente sobre
Por este motivo, ao observar a gestão do Curso Superior de o Panorama, com relação ao seu conhecimento sobre a ferramenta; se
Tecnologia em Gastronomia em uma Instituição de Ensino Superior - ela poderia colaborar com a evolução do docente e também, se a
IES privada verificou-se que, a princípio, ele possuía características mesma poderia ajudar no seu próprio desenvolvimento.
organizacionais semelhantes aos demais cursos superiores, fossem O convite para participar das entrevistas foi direcionado a todos os
eles bacharelados ou tecnológicos, principalmente quando observada discentes concluintes do Curso de Gastronomia, pois, a princípio,
a necessidade da organização dos processos acadêmicos. teriam melhor percepção do uso da ferramenta desde o início do
Ao longo de seis anos, acompanhando a docência e a coordenação do Curso, além da influência que o Panorama poderia ter no
Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, foi possível desenvolvimento do potencial do docente, e em seu próprio
vivenciar o diferencial deste curso em relação a outros cursos potencial.
superiores, sobretudo pelo volume de aulas práticas e pela quantidade A investigação foi então desenvolvida por meio da realização de
de produções. As produções são receitas selecionadas, adequadas e entrevistas estruturadas com um grupo composto por 18 discentes de
organizadas pelos docentes, em um documento denominado Gastronomia do último semestre do referido curso, correspondendo a
Protocolo de Aula Prática - PAP. Estas receitas são realizadas 67% da turma.
concomitantemente em cada aula, nas diferentes unidades
curriculares, em laboratórios diversos, tendo como consequência uma Resultados
maior necessidade de aquisição de insumos. O questionário construído com cinco perguntas, sendo três fechadas e
Os PAPs são documentos que norteiam, não só o professor, mas duas abertas, teve como objetivo levantar o conhecimento dos
também o discente, na preparação que será realizada durante cada discentes sobre o que era a ferramenta e se a mesma colaborava com
aula prática, informando o nome da receita, os objetivos da aula, as o desenvolvimento do professor que ministrava aulas práticas em
quantidades a serem utilizadas de cada insumo, o seu modo de laboratório, assim como o desenvolvimento pessoal do discente.
preparo e também quais utensílios devem ser utilizados. Este registro A análise das respostas destas questões mostrou que 100% dos
possibilita o desenvolvimento das atividades predefinidas para o discentes sabiam o que era o Panorama e todos foram igualmente
processo ensino aprendizagem, permitindo um constante ajuste e unânimes ao afirmar que a ferramenta contribuía para o
adequação às condições existentes, exigindo do docente uma desenvolvimento pessoal tanto do docente quanto do discente.
permanente atualização de sua capacidade técnica e um possível Ficou ainda evidenciado, na análise das respostas às questões abertas
crescimento enquanto docente. formuladas aos discentes sobre sua percepção quanto ao
Além disso, é de responsabilidade do docente de determinada desenvolvimento do corpo docente durante o exercício das
unidade curricular, a cada semestre, revisar todos os PAP’s, de forma disciplinas práticas, que dois aspectos se destacaram: a contribuição
individual, observando a quantidade de cada insumo a ser utilizado, para o planejamento profissional e, consequentemente seu
os utensílios e equipamentos que deverão estar disponíveis durante as desenvolvimento pessoal para o exercício da docência.
aulas, além de verificar a necessidade da substituição de algum

369
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

De acordo com a tabela 1, foram identificadas e agrupadas por


similaridade as palavras chaves, conforme análise de Bardin (1997). A fala do D11 indica claramente este resultado: “o acesso antecipado
Ficou evidenciado na Q03 que, na percepção do discente, o ao Panorama possibilita ter conhecimento do que vai acontecer nas
Panorama colabora principalmente com o planejamento do docente, aulas práticas, e assim como, poder também, organizar melhor sua
apontando 15 respostas direcionadas a palavras que correspondem a agenda de atividades”. Corrobora com este indicativo, ainda a
este eixo. Seguidamente foram identificadas 8 palavras que se narrativa do D010 e D14, respectivamente: “o Panorama colabora
correlacionam ao desenvolvimento do docente e por fim, pois sabendo do assunto com antecedência, o discente se programa e
agrupamentos que direcionaram a análise para os dois eixos: estuda a aula antes de acontecer, indo mais preparado” e “colabora
planejamento e desenvolvimento. pois antecipa o conteúdo a ser ministrado, o que faz com que o
discente estude antes, se organize e inclusive possibilita tirar suas
Tabela 1 dúvidas”.
Percepção do discente com relação à contribuição do Panorama
no desenvolvimento do professor
Palavras chave Quantitativo de respostas
Planejamento 15
Desenvolvimento 8
Não se aplica 2
Planejamento e Desenvolvimento 7
Fonte: produzido pelos autores.

Destacando a narrativa do D05 sobre a percepção que o discente tem


de como o Panorama contribui com o docente: “mantendo uma rotina
das aulas e seguindo um cronograma, dando um melhor
aproveitamento aos insumos utilizados”. Nesta ótica é identificado
Figura 2: Percepção do discente com relação à contribuição do
que o docente realiza um planejamento antecipado e ao mesmo
Panorama no seu próprio desenvolvimento.
tempo consegue desenvolver melhor suas aulas utilizando melhor Fonte: produzido pelos autores.
seus insumos. Corroborando com a fala desse discente, evidencia-se
também a atuação do docente na descrição do D08, “o Panorama Desta forma, Shiba et al. (1997) certifica que o melhor meio para
melhora o seu conhecimento (docente) para poder se organizar de prosseguir junto à equipe é partilhar as informações claramente,
forma adequada para cada aula e passar para seus discentes a melhor indicando o caminho, direcionando às práticas, viabilizando o
forma de trabalhar em equipe”, ou seja, o professor tem a interesse e a participação dos envolvidos, o que é percebido pela
possibilidade de estudar, adquirir mais conhecimento, melhorando análise do questionário dos discentes, contribuindo assim, para o seu
seu desempenho e consequentemente transmitir melhor a informação desenvolvimento e desempenho.
para seus discentes.
Consoante ao demonstrado na figura 1, são positivos os percentuais
que relacionam a percepção que o discente tem diante do uso do Conclusões
Panorama pelo docente e a contribuição desta ferramenta para o Sendo assim, ao estudar a ferramenta Panorama, foi observado que
desenvolvimento do potencial do professor. Estas respostas sua construção foi desenvolvida de modo a contribuir com a
corroboram mais uma vez com Araújo (2008) e Grönroos (1985) a potencializar o desenvolvimento do docente durante a realização de
respeito de como as atividades pelo docente são realizadas, como se sua atividade, bem como com o desenvolvimento do discente, por
relacionam e são percebidas pelos discentes, podendo se tornar um meio do incentivo à pesquisa, estudo, planejamento e organização.
fator significante, agregando valor (conhecimento) à qualidade já O que foi observado no Curso de Gastronomia da Faculdade
assimilada pelo discente. estudada foi um ambiente dentro das conformidades, onde seus
colaboradores buscam a execução das tarefas cotidianas em sua
excelência, em um ambiente de trabalho harmonioso, o que
transparece para seus clientes uma relação de satisfação e bem-estar.
O zelo com que são tratados os ambientes em que são ministradas as
aulas práticas, especificamente nos laboratórios de práticas do Curso
de Gastronomia, seja pela limpeza, organização, manutenção dos
equipamentos, compras e o planejamento, transcende a
obrigatoriedade da execução. Tal percepção demonstra, no professor,
o prazer na realização da atividade cotidiana, o que é notório também
para os discentes.

REFERÊNCIAS
CRUZ, Tadeu. Sistemas, Organização & Métodos. São Paulo:
Figura 1: Valores percentuais da percepção do discente com relação
Editora Atlas S.A., 2013.
à contribuição do Panorama no desenvolvimento do professor
Fonte: produzido pelos autores. DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na
sociedade pós-industrial. 2a. ed., Rio de janeiro: José Olympio:
Ainda é possível observar na fala do D02, o seguinte: “o Panorama Brasília, DF: Ed. da UnB, 1999.
auxilia na programação antecipada das aulas, na correção de LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Metodologia científica. 2a Ed.
possíveis erros nas PAP’s, ajuda na diminuição do desperdício de São Paulo: Atlas, 1991.
insumos e otimiza o tempo”. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em
Outro aspecto analisado no questionário teve como finalidade aferir a administração. São Paulo: Atlas, 1997.
percepção de como o Panorama poderia colaborar com o seu BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70,
(discente) próprio desenvolvimento. Conforme a tabela 2, explicitada 1997.
na figura 2, para o discente, o Panorama contribuiu para seu ARAÚJO, J.C.S. Disposição da aula: os sujeitos entre a técnica e a
desenvolvimento tanto no planejamento como no aprendizado. polis. In: VEIGA, I. P.A. (Org.) Aula: gênese, dimensões, princípios
e práticas (pp. 45-72). Campinas: Papirus, 2008.
Tabela 2 GRÖNROONS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços –
Percepção do discente com relação à contribuição do Panorama a competição por serviços na hora da verdade. Rio de Janeiro:
no seu próprio desenvolvimento Campus, 1995.
Palavras chave Quantitativo de respostas SHIBA, S.; GRAHAM, A.; WALDEN, D. TQM: Quatro
Planejamento 11 Revoluções Na Gestão da Qualidade. Porto Alegre: Artes Médicas,
Aprendizado 11 1997.
Não se aplica 1
Planejamento e Aprendizado 5
Fonte: produzido pelos autores.

370
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Raiz e Afetividade: O Uso do Glacê Mármore

Cristianne Barros1, Maria Arraes2, Cláudio Queiroz3 , Izabella Lima4,

Robson Lustosa5

1 Mestranda em Educação, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC, e-mail:


cristiannebbarros@fac.pe.senac.br
2 Graduanda em gastronomia, pela Faculdade de gastronomia do SENAC,
3 Graduando em gastronomia, pela Faculdade de Gastronomia do SENAC,
4 Pós graduanda em Confeitaria pela Faculdade de Gastronomia do SENAC,
5 Mestre em ciência do alimento, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC.

Palavras Chave: Boleira, Tradição, Cobertura de bolos, Cultura.

INTRODUÇÃO evento, cultivando a educação cultural gastronômica da cana


Sacarina Pernambucana, a partir do bolo de noiva coberto com glacê.
Não se pode falar da cultura gastronômica em Pernambuco, sem falar
da importância da cana sacarina para formação social do povo. “Em RESULTADOS
gastronomia tanto quem cozinha, quanto quem come, deve saber
combinar tradição com criação. A tradição está no saber do povo, é “Deitam-se em uma tigela 125 gramas de açúcar refinado
ligada a terra e a exploração dos produtos da região e das estações. Já e peneirado e duas claras de ovos, bate-se com uma espátula de pau:
à criação está relacionada à invenção, à renovação e as e depois de bem batido, coloca-se alguns pingos dos sumo de limão
experimentações”.(1). e continua a bater até que a massa fique bem clara e firme. Este glacê
“No caso de Pernambuco o açúcar é um elemento verdadeiramente é para enfeitar..”(5).
construtor de nossos paladares, e assim, é confirmado o patrimônio O estudo, através da experiência didática junto às boleiras,
do “comer regional” e do “comer pernambucano”.(2) possibilitou uma imersão no resgate das tradições culinárias. A ação
A confeitaria pernambucana trás em sua raiz a arte de produzir bolos, extensionista realizou um total de 120 visitas às “boleiras”, em suas
alguns tornam-se patrimônio cultural e imaterial do Estado como o casas e ateliers em diferentes bairros em Recife e cidades do Estado
Souza Leão e o bolo de rolo, tendo uma importância relevante, neste de Pernambuco (Figuras 01 e 02).
cenário o bolo de noiva Pernambucano, com cor escura, sabor Pôde-se verificar que as boleiras procuram manter o uso
pronunciado é coberto com uma vasta camada de glacê mármore. Sua do glacê mármore mesmo diante da disponibilidade de técnicas mais
primeira aparição foi no bolo da rainha Vitória, feito com base de atuais, consideradas de mais fácil modelagem, contribuindo para a
açúcar, claras e sumo do limão. manutenção de uma educação cultural que promove a perpetuação da
“Integrando esse imaginário no branco profundo do glacê de açúcar e tradição no consumo do bolo de noiva pernambucano em
cítricos”(3). O glacê simboliza tradição nas famílias e junto às boleiras festividades. A valorização desta iguaria pelos pernambucanos
que exercem um papel fundamental para nossa sociedade, mantendo motiva as novas gerações que buscam a modernização nas técnicas
o uso do mesmo, e contribuindo para a cultura Regional. tradicionais de produção do bolo, conferindo sabor, aromas e texturas
“Quase religioso é o ofício das boleiras e principalmente, categorias únicas, mantendo assim como um patrimônio deixado por suas
de boleiras especialistas em fazer viver as receitas dos bolos de famílias, influenciando a escolha profissional, e firmando a cultura
noiva, que confere um conceito e um estilo de bolo fundamental para gastronômica local. Observou-se que a produção do bolo de noiva
as tradições do açúcar em Pernambuco”(3) com glacê além de agregar sabor ao bolo, remete a memórias
“Doce, família, receitas autorais, assinaturas e cozinhas afetivas no ato de experimentá-lo, com suas respectivas influências,
eram territórios das senhoras nos exercícios domésticos de heranças e tradições. Por outro lado, algumas confeiteiras buscam
transformar o açúcar”(4) praticidade e ganho de tempo, e com a gama de facilidade de
Desta forma, o estudo está diretamente ligado ao resgate do produtos oferecidos, utilizam a pasta americana para a finalização na
glacê mármore ao bolo de noiva junto às boleiras, com o intuito de cobertura de seus bolos.
preservar e manter a cultura gastronômica do Estado. Realizado semestralmente, o evento “A Arte da
O objetivo do trabalho é incentivar as boleiras Pernambucanas a Confeitaria Pernambucana” reunia cerca de 100 pessoas em cada
manter a cultura da cana sacarina através do uso do glacê mármore edição. Os estudantes, após vivência com as boleiras, reproduziam os
ao bolo de noiva. bolos que aprenderam durante as visitas, e colocavam em exposição
como forma de homenagear as confeiteiras (Figura 03). Em cada
MATERIAL E MÉTODOS evento, os estudantes eram estimulados a utilizarem as técnicas de
confeitaria aprendidas durante as aulas, e cada bolo produzido tinha
uma temática voltada para as causas sociais, como a conscientização
Tratou-se de um relato de experiência didática, com base
sobre o outubro rosa, o diagnóstico precoce do câncer infantil, entre
reflexiva de caráter bibliográfico, a partir de visitas às tradicionais
outras, em parceria com instituições e organizações sociais.
“boleiras de bairro” em todo Estado de Pernambuco com propagação,
incentivo, e troca de vivências das técnicas artesanais de elaboração
do bolo de noiva Pernambucano, para valorização e perpetuação do
glacê Mármore. Os estudantes do curso de gastronomia da Faculdade
SENAC – PE realizaram as visitas no período de 2011 a 2019 e, além
de levarem às boleiras a conscientização da importância de seus
trabalhos, desenvolveram um evento por nome “A Arte da
Confeitaria Pernambucana”, homenageando as boleiras e replicando
suas receitas do bolo e do glacê para servir aos convidados no dia do

371
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 01: foto dos docentes e discentes na visita à Boleira Evandir 2. CUNHA, Nininha Carneiro, comida e tradição: receitas de família,
Galindo, na cidade de Vitória de Santo Antão, Pernambuco . Fonte: editora Cepe 2018. P.10 . Prefácio LODY, Raul.
acervo da autora (Recife/2019). 3.LODY, RAUL. Doce Pernambuco, Editora, p.68- Cepe-2019
4. LODY, RAUL. Brasil, Bom de Boca: Tema da antropologia da
Alimentação editora SENAC, São Paulo, 2008
5. REGO, ANTONIO JOSÉ DE SOUZA, Dicionário do doceiro
Brasileiro, organizador Raul Lody, Editora SENAC, 2010.

Figura 02: foto da boleira Evandir Galindo da cidade de Vitória de


Santo Antão, aplicando a pasta americana sobre o glacê mármore nas
finalizações de sua arte . Fonte: acervo da autora (Recife/2019).

Figura 03: foto da boleira com os discentes e a professora no evento


“ A Arte da Confeitaria Pernambucana”, no auditório da Faculdade
Senac. Fonte: acervo da autora (Recife/2019).

CONCLUSÃO

O estudo mostra a importância das boleiras para a sociedade


pernambucana, assim como elas mantêm o enriquecimento cultural
através da satisfação e do orgulho na construção e perpetuação de sua
profissão, no amor ao ensino de suas técnicas artesanais do glacê
mármore às novas gerações de confeiteiras, enriquecendo assim a
grandeza desta arte.
Tal processo está em risco de ser esquecido pelas
profissionais devido à modernidade e a praticidade dos produtos na
confeitaria. Diante deste cenário, torna-se relevante experiências e
estudos voltados para o trabalho das confeiteiras do tradicional bolo
de noiva pernambucano como um produto da cultura gastronômica
no Estado e promissor patrimônio imaterial.

REFERÊNCIAS

1. LEAL, MARIA LEONOR M. SOARES, A história da


gastronomia, SENAC- 2004.

372
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aulas Práticas Como Ferramenta na Formação de Profissionais de Alimentação, Saúde e


Nutrição
Yan Borges1, Edvaldo Vieira 1, Luiz Lourenço 2, Amanda Oliveira 3, Alessandra Monteiro 4 e Kaio Arruda 5
1
Mestre, UFPE, 2 Enfermeiro, UNIFG, 3 Cirurgiã Dentista, UNINASSAU, 4 Sanititarista, FIOCRUZ , 5 Graduando,
UFPE – yanwbb@hotmail.com

Palavras Chaves: Docência, Educação e Graduação


1. INTRODUÇÃO lácteas infantis” e “Prepare e apresente para a turma com o
O nutricionista é um profissional com formação porcionamento adequado as preparações” com a supervisão do
generalista, humanista e crítica, com fundamentação teórica no docente responsável pela disciplina e por um nutricionista convidado.
campo da nutrição, capaz de traduzir esta ciência para a linguagem A avaliação e os resultados da eficácia da abordagem da
de seu público, orientando o comportamento alimentar dos aula foram constatados através de uma dinâmica e roda de conversa
indivíduos, capacitado a atuar, visando à segurança alimentar e a com temática semiestruturada acerca do assunto em questão, com a
atenção dietética (1). mediação do professor responsável pela disciplina administrada e o
As Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em nutricionista convidado. Os alunos foram expostos para demostrar a
Nutrição (DCNCN), instituídas pelo Conselho Nacional de Educação profundidade e o quanto foi absorvido pela aula exposta,
da Câmara de Educação Superior (Parecer n.5 de 7/11/2001), concomitantemente avaliados sobre a dominação do conteúdo através
determinam conter atividades teóricas e práticas desde o início, dos discursos.
assegurando a definição de estratégias pedagógicas que articulem
ensino/pesquisa/extensão-assistência. O conteúdo principal está 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
centrado no delineamento do perfil profissional, dos princípios que As turmas dentro da proposição da aula conseguiram
devem reger a prática do nutricionista, bem como na discriminação identificar e contextualizar os principais enfoques da aula prática, as
das competências e habilidades requeridas (2). preparações e os porcionamentos estão representados na Figura 1. Os
Dentro de uma sociedade dinâmica, a capacidade de atuar estudantes associaram que o público alvo são as crianças, e focaram
de forma crítica e reflexiva diante dos problemas vivenciados é na apresentação para os mesmos, autores atribuíram a apresentação
parâmetro primordial na testagem da qualidade da educação ofertada. um fator decisório, na apetência e aceitação dos pratos (6).
Os professores e suas políticas pedagógicas são peças fundamentais
na aprendizagem dos novos docentes, desde na transmissão de Figura 1 - Apresentação e porcionamento das preparações.
conteúdos ministrados, até comportamentos, atitudes e exemplos
repassados aos estudantes (3).
As disciplinas do Curso de Bacharelado em Nutrição
ressalta a necessidade do domínio de conhecimentos diferentes
daqueles que compõem somente o instrumental técnico de nutrição,
pois desafia professores e alunos a se relacionarem com contextos,
pessoas e realidades de pluralidades diversas. A relação teórico-
prática no processo de aprendizagem na docência, por muitas vezes
o conhecimento técnico se revela insuficiente para lidar com as
situações vivenciadas em campo e na atuação dos futuros
profissionais em formação (4).
A alimentação complementar na primeira infância é um
tópico da grade curricular da disciplina Nutrição e Dietética, comum
aos diversos currículos dos Cursos de Nutrição. Alimentação
complementar é definida como a alimentação no período em que
outros alimentos ou líquidos são oferecidos à criança, em adição ao Foi notório a absorção e fixação dos conteúdos,
leite materno. Os alimentos complementares podem ser preparados previamente ministrados, pela turma após a utilização da aula prática
especialmente para a criança ou podem ser os alimentos consumidos como uma ferramenta agregadora para formação dos futuros
pelos demais membros da família, modificados para atender às profissionais. Paulo Freire considera insuficiente a simples narração
habilidades e necessidades da criança (5). de conteúdos de forma estática, visando somente à memorização
O presente relato tem como objetivo ressaltar a mecânica do conteúdo. Dentro de uma aula prática, os docentes
importância da associação das atividades teórico-práticas para à proporcionam aos discentes a possibilidade de se tornarem sujeitos
devida formação ética e crítico-humanizada dos profissionais em ativos do processo que estão vivendo, participando de forma reflexiva
saúde, alimentação e Nutrição. e crítica da construção de conhecimentos, sempre dentro das próprias
realidades (7).
2. MATERIAL E MÉTODO Figura 2 – Dinâmica da aula prática
As atividades foram realizadas com a turma do quinto
período do curso de Nutrição, pela disciplina de Nutrição e Dietética,
na aula prática sobre Alimentação Complementar na Primeira
Infância, de uma Instituição de Ensino da cidade de Recife-PE, no
mês de maio de 2019. A metodologia utilizada foi aplicação de casos
clínicos, abordando situações onde se fazia necessário a utilização da
teoria para a elaboração e preparo de um plano alimentar para
crianças a partir de 6 meses.
De forma didático pedagógica foram levantadas 3
situações para avaliar os conceitos e a fixação dos alunos em relação
a temática. Foi abordado junto aos discentes como definir e elaborar
cardápios práticos para crianças recém retiradas do aleitamento
exclusivo, crianças não acostumadas a novos sabores, crianças já
introduzidas e habituadas a alimentação complementar e alimentação A aceitação dos alunos para aulas práticas sempre é
para crianças acima de um ano, desta forma a aula prática serviu massiva, tendo participação majoritária (Figura 2). É visível a
como uma ferramenta contextualizada e simuladora da vivência com
empolgação dos alunos em deixarem a posição de simples
as crianças.
expectadores, largando os moldes das aulas palestras teórico-
Dentre as atividades sugeridas estavam, “Monte um expositivas para se tornarem agentes atuantes, construindo com as
cardápio qualitativo e quantitativo, associado ao uso de fórmulas

373
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

próprias mãos baseados na bagagem acumulada, conhecimento 10. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para
aplicável, plausível e contextualizado com sua realidade. a mudança e a incerteza. Coleção Questões da nossa época, v.77.5a.
Paulo Freire criticava um diálogo singular e vertical entre ed. São Paulo: Cortez; 2005.
educador e educando. A principal vertente de uma educação inclusiva 11. PEDROSO, M. R. O.; VENZKE, J. G. Graduação em nutrição:
é a horizontalidade dos moldes educacionais, onde ambas partes, experiência da monitoria em técnica e dietética II, Salão de
dialogam e problematizam na construção do conhecimento, e não um Graduação: Salão de Educação a Distância, Porto Alegre, 2008
monólogo opressivo do educador sobre o educando. Tais
questionamentos fazem com que o educando aprenda a aprender. (8)
Já é um conceito totalmente difundido, que não pode
priorizar à teoria ou à prática, e sim torná-las recíprocas, dando face
a uma totalidade produzindo um contexto, satisfatório no ensino dos
futuros profissionais. Nesta perspectiva, a associação dos tipos de
aulas é fundamental para formação completa na construção de um
banco de dados teóricos e uma memória de desenvoltura no âmbito
pratico da função (9).
Dentro de todo esse contexto crítico os professores não
são apenas técnicos, mas possuem papel crítico e mediador na
formação dos futuros profissionais. A postura do professor frente ao
planejamento, é uma ordem de maneira decisiva, através da postura
ser muito mais que uma simples transmissão de conteúdo, devendo
se apresentar como facilitador da articulação entre a teoria e a
situação prática, capaz de provocar a participação e discussão de
conhecimentos entre os alunos" (10).
Diante disso, a conjugação das aulas teóricas e práticas na
cozinha experimental permite também a ampliação das habilidades,
associadas as reflexões críticas e humanizadas. Dentre as habilidades
de conhecer as características dos alimentos, visualizar pesos,
proporções entre medidas caseiras e padronizações dos diversos tipos
de alimentos; conhecer os rendimentos das preparações, valor
nutritivo e custos, possibilitando a elaboração de fichas técnicas,
sendo essenciais no planejamento de cardápios e dietas (11).

4. CONCLUSÃO
É notório para formação de qualidade de futuros
profissionais uma construção adequada do projeto político
pedagógico dos currículos profissionais. A adequada formação
depende do equilíbrio, do número, da estrutura e do conteúdo entre
as aulas práticas e teóricas das bases profissionais.

REFERÊNCIAS

1. RECINE, E.; ALVES, K. P. D. S.; MONEGO, E.; SUGAI, A.;


MELO, A. C. M. Formação profissional para o SUS: análise de
reformas curriculares em cursos de graduação em
nutrição. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior
(Campinas), v. 23, n. 3, p. 679-697, 2018
2. SOARES, N. T.; AGUIAR, A. C. Diretrizes curriculares nacionais
para os cursos de nutrição: avanços, lacunas, ambiguidades e
perspectivas. Revista de Nutrição, v. 23, n. 5, p. 895-905, 2010.
3. DE ARRUDA, G. Q.; BEZERRA, M. A. D.; DE ARRUDA, G. L.
Q. Dificuldades na formação do docente na prática
escolar/Difficulties in teacher training in school practice. Brazilian
Journal of Development, v. 6, n. 2, p. 5786-5796, 2020.
4. FRANCO, A. C.; BOOG, M. C. F. Relação teoria-prática no ensino
de educação nutricional. Revista de Nutrição, v. 20, n. 6, p. 643-655,
2007.
5. DA SILVA C. J. L.; CIRINO, I. P.; DE OLIVEIRA L. L. H.; DE
SOUSA, A. F.; DE CARVALHO, M. F.; OLIVEIRA, E. A. R.
Conhecimento das mães sobre aleitamento materno exclusivo e
alimentação complementar. Saúde em Redes, v. 2, n. 4, p. 383-392,
2016.
6. JESUS, S. C. D.; MATSUURA, F. C. A. U.; CARDOSO, R. L.;
FOLEGATTI, M. I. D. S Avaliação de banana-passa obtida de frutos
de diferentes genótipos de bananeira. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 40, n. 6, p. 573-579, 2005.
7. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª edição. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, p. 259-268, 1987.
8. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura), 1997.
9. SOUZA, N. A. A relação teoria-prática na formação do
educador. Semina: Ciências Sociais e Humanas, v. 22, n. 1, p. 5-12,
2001.

374
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

GASTRONOMIA SOCIAL: ATIVIDADES NO CURSO TORTAS DOCES E SOBREMESAS GELADAS


Antônio Augusto Nunes Lobo¹, Eveline de Alencar Costa²,
Regiane R. Damasceno, Anne Louise B. de Moura, Natália Martins, Tereza Carla da Nobrega A. Garcez³.
Autor Principal¹, Orientadora², Co-Autores³

INTRODUÇÃO na pesquisa, de acordo com análise de satisfação, aumento


exponencial de qualidade de vida dentre os participantes em
Na edição denominada “Gastronomia como Terapia: a vários aspectos, dentre qualificação profissional e pessoal
cozinha como lugar de cura” foram realizados vários cursos, em diversas esferas sociais.
dentre eles o de Tortas Doces e Sobremesas Geladas, unindo
práticas de cozinha e terapias mediadas por psicólogos e
terapeutas. O referido curso aconteceu na Escola de
Gastronomia Autossustentável, localizada no Bom Jardim
em Fortaleza-Ce, a qual é parceira do Gastronomia Social. O
Curso de Tortas Doces e Sobremesas Geladas teve duração
de 5 meses com 93h/a, incluindo atividades teóricas e
práticas.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi apresentar as atividades


desenvolvidas no Programa Gastronomia Social, que visa
estimular o interesse dos estudantes ao ambiente acadêmico,
aproximando-os da realidade do ensino e da sociedade. O
Gastronomia Social busca contribuir para o processo de
formação do estudante e da comunidade, através do
relacionamento professor-orientador e participantes de
cursos temáticos de gastronomia.
CONCLUSÕES
METODOLOGIA
Conclui-se que o Gastronomia social foi bastante produtivo e
Durante as aulas, foram desenvolvidas atividades de
instrutivo, uma vez que a experiência adquirida no ambiente
monitoria, que compreendeu a organização do ambiente para
acadêmico estimulou o amadurecimento profissional,
as práticas e o mise en place dos insumos e utensílios, além
potencializado pela educação e confiança depositada no
de realizar estudo sobre a temática a ser repassada no dia.
processo de produção entre os graduandos da Gastronomia e
Paralelamente a isso, foi realizado o processo de
aos demais profissionais que faziam parte do projeto,
acompanhamento dos alunos a fim de gerar relatórios
tornando esta experiência um melhoramento para evolução
mensais de sala de aula. As dúvidas foram sanadas
profissional e pessoal.
periodicamente aos assuntos ministrados pela
orientadora/coordenadora do programa de extensão.
REFERÊNCIAS
RESULTADOS
ANDRIEU Philippe , Doces: Laduré. Editora: SENAC São
O acesso era facilitado, e muito bem instruído. Esta Paulo.
aproximação foi vantajosa pois nos permitiu indicar índices ANVISA. Resolução-RDC nº 216/04. Regulamento Técnico de
Boas Práticas para Serviços de Alimentação Disponível em:<
www.anvisa.gov.br/legis> Acessado em: 20 de junho de 2019.
ELEUTERIO, Helio. Serviços de Alimentação e Bebidas - Série
Eixos. Editora: Iátria

375
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS CURSOS DE GASTRONOMIA NO


DISTRITO FEDERAL

PAIVA, Mércia – mvnp20@gmail.com¹


¹ Mestranda em Ciências Ambientais pela Universidade de Brasília; especialista em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Faculdade Nova do Imigrante, tecnóloga em
Gastronomia pelo Centro Universitário de Brasília, licenciada em Educação Artística pela Universidade Federal de Pernambuco.

Palavras-chave: Gastronomia – Educação Ambiental - Centro Universitário IESB e a Universidade


Sustentabilidade Católica de Brasília. Verificou-se, assim, a
Introdução existência de disciplinas voltadas para a
sustentabilidade e a Educação Ambiental.
O presente trabalho apresenta uma De acordo com a Política Nacional de
proposta investigativa sobre os temas Educação Ambiental – PNEA, no Art. 10,
Educação Ambiental, Sustentabilidade e parágrafo 3, diz que: “Nos cursos de formação
Gastronomia, em uma perspectiva e especialização técnico-profissional, em
integradora, ofertados aos estudantes dos todos os níveis, deve ser incorporado
Cursos de Tecnologia em Gastronomia no conteúdo que trate da ética ambiental das
âmbito do Distrito Federal. Em busca pelas atividades profissionais a serem
grades curriculares dos cursos de Tecnólogo desenvolvidas.” (BRASIL, 1999)1.
em Gastronomia das principais Faculdades Nas quatro instituições selecionadas,
Privadas do DF, percebe-se um hiato entre os percebeu-se que, dentre as disciplinas
dois campos: “Gastronomia” e oferecidas existe uma lacuna no que diz
“Sustentabilidade/Educação Ambiental”. Em respeito à educação ambiental. A partir de
relação à Gastronomia, tem-se verificado uma busca no site dessas instituições e de
estudos e projetos voltados para a área de uma breve análise das grades curriculares
Turismo, Alimentos e Bebidas e Restaurantes. vemos ainda uma grande distância do tema.
Enquanto educadora e gastrônoma questiono Naturalmente, um professor engajado e
a falta de ligação entre os temas e a preocupado com as questões ambientais pode
necessidade da inclusão da Sustentabilidade e incluir em sua disciplina aspectos sobre a
da Educação Ambiental na formação do gestão ambiental. Mas a nível institucional
profissional de Gastronomia. essa demanda ainda não foi atingida.
Por estar ainda em tramitação o
projeto de Lei Nº 2079/2011, que regulamenta Resultados e Discussão
a profissão do formado em Gastronomia, na
qual inicialmente foi apresentada a expressão Em duas disciplinas do curso de
“gastrólogo”, e que, posteriormente, a tecnólogo em gastronomia ofertado pelo
Comissão de Trabalho, em 2015, alterou para UniCeub, percebeu-se uma inclinação sobre o
“gastrônomo”, optou-se, nesse resumo, tema nos conteúdos programáticos em duas
utilizar o termo gastrônomo. disciplinas do primeiro período, são elas:
Ciência dos Alimentos e Percepção Sensorial
Objetivo de Matérias-Primas. Na disciplina de Ciência
dos Alimentos na Unidade 1 do conteúdo
Investigar previamente a relação entre menciona-se o Guia alimentar para a
Gastronomia e Sustentabilidade nos Cursos de população Brasileira: conceitos e definição de
Gastronomia do Distrito Federal. alimentação saudável. Intui-se que a
alimentação saudável é entendida como uma
Materiais e Métodos prática que estimula o consumo de alimentos
in natura em contrapartida aos
Para esse artigo utilizou-se uma ultraprocessados, que vêm em embalagens e,
análise da grade curricular dos cursos de por vezes, são produtos alimentícios gerados
Tecnólogo em Gastronomia de quatro em escala industrial.
universidades privadas no Distrito Federal,
são elas: o Centro Universitário de Brasília –
UniCeub, o Centro Universitário Unieuro, o 1
PNEA, Política Nacional de Educação Ambiental

376
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Já a disciplina de Percepção Sensorial privadas de Brasília no que diz respeito à


de Matérias-Primas, a Unidade 4 tem como Educação Ambiental, na questão da
tema a Valorização da Gastronomia Local e construção de conhecimentos e avaliação do
Produção Familiar, em que são abordadas aprendizado dos estudantes.
questões relativas à Agricultura familiar, Para atingirmos uma educação
Produção local e Produção alimentar ambiental holística é preciso ir além do
artesanal. Nessas questões estão imbuídas tecnicismo. A interdisciplinaridade é
práticas de sustentabilidade que podem ser fundamental para uma maior compreensão de
exploradas e estimuladas. Por vezes a sustentabilidade e gestão ambiental. Para todo
sustentabilidade prioriza uma alimentação e qualquer futuro profissional há a urgência
voltada aos insumos locais e sazonais, das questões ligadas à insustentabilidade do
respeitando o tempo natural de produção e modo de vida de um sistema hegemônico e
desestimulando o transporte de ingredientes dominante, e que por vezes, fere a harmonia
de outras localidades. do planeta.
As demais instituições não apresentam
de forma clara disciplinas relacionas à Referências
Educação Ambiental, ou gestão ambiental, ou
mesmo sustentabilidade. O que, naturalmente, BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
não impede que o professor trabalhe essas atenção à saúde. Departamento de atenção
questões em sala de aula, como mencionado Básica. Guia alimentar para a população
anteriormente. brasileira, 2014.
___________. Política Nacional de Educação
Conclusão
Ambiental, Lei 9795/1999.
O conceito de “sustentabilidade” GADOTTI, M. Pedagogia da terra:
aborda a maneira como se deve agir em Ecopedagogia e educação sustentável. 2001.
relação à natureza e pode ser aplicado desde
uma comunidade até todo o planeta. Dessa GUIMARÃES, M. Educação Ambiental: No
forma, é importante ensinar aos estudantes consenso um embate? 3. ed. Campinas, SP:
que suas ações individuais têm grande Papirus Editora, 2005.
impacto no ambiente em que vivem. Por
exemplo: economizar água, evitar o uso de MORIN, E. Os sete saberes necessários à
sacolas plásticas, dar preferência por educação do futuro. São Paulo:
consumir produtos biodegradáveis e locais, Unesco/Cortez Editora, 2000.
separar o lixo para coleta seletiva, evitar o PETRINI, Carlo. Comida e Liberdade: Slow
desperdício de alimentos, dentre outros. Uma Food, histórias de Gastronomia para a
das formas de combater o desperdício de libertação. São Paulo: Senac, 2015.
alimentos e de diminuir a produção de lixo é
promover o uso integral do ingrediente. Nesta POLLAN, M. O dilema do onívoro. Rio de
perspectiva, podemos unir a Gastronomia e a Janeiro: Intrínseca, 2006.
Educação Ambiental, a fim de que seja
despertada no estudante a responsabilidade ZANETI, T. Cozinha de raiz: as relações
pessoal, social e ambiental e sua autonomia entre chefs, produtores e consumidores a
no preparo de alimentos. partir do uso de produtos agroalimentares
Como resultado, conclui-se ser ainda singulares na Gastronomia Contemporânea.
necessário aprofundar as pesquisas sobre as Tese de Doutorado. Universidade Federal do
disciplinas oferecidas nos cursos de Rio Grande do Sul, 2017.
Tecnólogo em Gastronomia em instituições

377
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

SONDAGEM DA ADEQUAÇÃO DE UM CENTRO DE GASTRONOMIA SOCIAL ÀS


BOAS PRÁTICAS PELA VISÃO DOS ALUNOS
Pedro Abreu da Silva Neto¹, Ana Cristina da Silva Morais², Fládia Carneiro da Costa³, Ana Chiara Felismina Azevedo4

¹ Esp. em Gestão da Qualidade em Serviços de Alimentação, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Ceará
(SENAC), pabreunt@gmail.com.
² Dra. em Ciências e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará,
anacmorais@ifce.edu.br.
³ Esp. em Segurança e Qualidade de Alimentos, fladiacarcos@gmail.com.
4
Bacharel em Nutrição, anaazevedonutricionista@gmail.com.

Palavras-chave: Gastronomia. Boas Práticas. Segurança de Alimentos. Instituições de Ensino.

INTRODUÇÃO concordância através da assinatura do Termo de Consentimento Livre


e Esclarecido – TCLE.
A gastronomia engloba os diversos profissionais que
trabalham em prol da preparação e manipulação de alimentos, tendo m Instituição de Estudo
vista a preservação da saúde do consumidor através da alimentação. É
um segmento que abraça as bebidas, os materiais e os equipamentos O instituto onde ocorreu a pesquisa, surgiu no mercado com o
utilizados na alimentação e tudo que estiver associado à mesma, e propósito de levar conhecimento aos jovens com cursos
atrai pessoas de diversas idades e aspectos sociais (1). profissionalizantes em diversas áreas, inclusive na área da alimentação
Com gourmetização em massa houve um crescimento de (7). Sendo aberta ao público em 2017, contando com 7 ambientes
profissões no âmbito gastronômico, no Brasil os cursos de nível pedagógicos, sendo um deles a copa/cozinha da instituição, que
superior de gastronomia surgiram inclusive em instituições públicas proporciona aos estudantes noções de culinária nas diversas
(2). tipologias, sempre em sintonia com o visto em sala de aula, durante o
Antes mesmo da abertura de cursos superiores, foi criado o estudo da teoria.
primeiro curso de Cozinheiro Chef Internacional, no SENAC de Durante as aulas práticas, os alunos têm a chance de preparar,
Águas de São Pedro, um curso de qualificação profissional, pago, com montar, finalizar e degustar todos as preparações, assim,
foco no público com maior poder aquisitivo e com precedente de constantemente são abordados assuntos como boas práticas e higiene
formação acadêmica. Levando em consideração a limitação do pessoal. É importante entender que todas as preparações realizadas são
conhecimento, é possível verificar que a gastronomia social, oferece consumidas entre os alunos, professores e demais profissionais que
oportunidades de capacitação, geração de renda e autonomia a atuam na instituição, sem nenhum objetivo ou vínculo comercial.
públicos de baixo poder aquisitivo (3). Alunas e alunos da unidade de ensino responderam a um
A aplicação da segurança em alimentos e produtos deve ser a questionário para a compreensão da leitura dos mesmos sobre
prioridade em instituições que desenvolvem serviços alimentícios, categorias de análise como processo de ensino, boas práticas e
antes mesmo de qualquer aspecto de qualidade, pois vários problemas conteúdos estudados e mercado de trabalho. Responderam o
podem surgir em decorrência de sua ausência (4). questionário apenas os (as) alunos (as) que concordaram através da
Diversos fatores colaboram para a efetivação da segurança de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE.
alimentos em estabelecimentos do ramo alimentício, variando desde a Foram abordadas os seguintes questionamentos:
necessidade de alimentar-se até um estilo de vida diferente imposto caracterização do discente; nível de escolaridade; cursos realizados;
pela sociedade, porém mesmo com todos os cuidados, constantemente conhecimento acerca das BP; mercado de trabalho no ramo da
pessoas têm padecido com a ingestão de alimentos contaminados, Gastronomia; e a importância desta profissão no âmbito social. É
sendo considerado um grande problema de saúde (5). importante observar que, a maior parte das nomenclaturas de cursos
Para as Boas Práticas serem efetivamente implantadas, o citadas no questionário, fazem parte da grade pedagógica da
conhecimento deve ser para os colaboradores de todas as hierarquias, instituição em estudo. No período de realização da pesquisa, a
para tanto são necessários capacitação e treinamento contínuo para os instituição contava apenas com uma turma do curso de Cozinheiro
funcionários, tendo em vista a produção de alimentos seguros aos Geral, com o total de 25 alunos.
consumidores (6).
Quem aposta nesses cursos tem a oportunidade de absorver Análise dos dados
conhecimentos que vão desde as boas práticas, até a preparação de
alimentos. O objetivo deste trabalho foi averiguar a percepção dos Os resultados foram tabulados no software Excel 2016, e
alunos de uma escola de um Centro Educacional Social em Fortaleza dispostos em gráficos e histogramas para uma melhor análise.
– CE acerca do curso de gastronomia e avaliar os impactos da
aplicação das Boas Práticas no fazer gastronômico na cozinha desta
escola. RESULTADOS E DISCUSSÕES

MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização de Entrevistados

De início foi realizada uma reunião com a coordenadora da O questionário foi aplicado com dezenove alunos sendo
instituição de ensino profissionalizante no bairro Jangurussu, na entrevistados dois homens e doze mulheres com idade variante entre
cidade de Fortaleza (CE) onde seria realizada a pesquisa a fim de 18 e 57 anos, enquanto cinco participantes não responderam as
apresentar a proposta de trabalho. O projeto foi submetido ao Comitê informações de sexo e idade.
de Ética em Pesquisa (CEP) com seres humanos da Universidade Treze dos entrevistados afirmaram ter naturalidade de
Estadual do Ceará (UECE), sendo aprovada no dia 09 de janeiro de Fortaleza, um de Quixadá (CE), um de Ibicuitinga (CE), um de
2019, sob o CAAE 01551618.7.0000.5534. Itapipoca (CE), um de Cariré (CE) e duas do Estado no Maranhão, da
Visitas à instituição foram feitas para observar os processos cidade de Santa Inês. Destes alunos, apenas um afirmou possuir
organizacionais antes do início da pesquisa para a familiarização com ensino superior, sendo na área da Pedagogia.
a unidade.
A pesquisa deu-se início com a aplicação de questionário Dados obtidos da pesquisa
para verificar o conhecimento dos estudantes a respeito das boas
práticas por meio de entrevistas, os indivíduos participaram após Segundo a figura 1, é possível verificar que a maior parte dos
participantes deste curso são adultos acima de 30 anos.

378
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 1 - Comparativo de idades entre alunos preocupação que as instituições que de ensino neste segmento, tem a
57 57
zelar pela saúde dos seus alunos, mantendo-os informados em relação
60
52 52 52
as suas obrigações como manipuladores de alimentos.
48
50 50
Quando questionados em relação a instituição em que estava
50
44 45 estudando atualmente, 16 (84%) afirmaram estudar Boas Práticas na
37 38 instituição, enquanto 3 (16%) disseram que este estudo foi moderado.
Faixa Etaria

40 35
É possível ver que projetos como os desenvolvidos nesta instituição,
30 ensinam não apenas a cozinhar, mas a gastronomia como um todo.
25
21
23 Estes dados podem ser melhor visualizados na figura 3.
18 18 18
20
Figura 3 – Se os entrevistados conheciam a BP (A); Se estudaram BP
10 em outras instituições (B); Se estudaram na instituição atual (C)

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Idade dos alunos entrevistados

Fonte: Elaborado pelo autor

Quando questionados se a gastronomia foi a primeira área


procurada quando pensou em fazer cursos, sete (37%) dos
entrevistados responderam sim, enquanto dez (53%) responderam não.
Houve apenas duas abstenções a esta pergunta. Acredita-se que esta
negatividade esteja relacionada com o fato de que alguns alunos não
vejam a gastronomia como uma área de investimento profissional,
estando limitado ao segmento doméstico.
Os alunos também foram questionados se já possuíam algum
curso em segmentos de gastronomia (figura 2) e quatorze (74%) dos
entrevistados afirmaram já ter participado de cursos nesta área,
enquanto 26% não.

Figura 2 – Se já realizaram cursos na gastronomia (A); Quais cursos


já realizam (B); Instituições onde tais cursos foram realizados (C) Fonte: Elaborado pelo autor.

Levando em consideração os conhecimentos prévios que os


entrevistados possuíam e suas experiências profissionais na área,
questionou-se a respeito do mercado de trabalho e as oportunidades
que este oferece para aplicação das BP. Assim, 6 pessoas (32%)
disseram que as empresas davam oportunidades para isto, 7 (37%) não
acreditam, 5 (26%) acham que isto ocorre de maneira moderada e
apenas 1 (5%) se absteve de resposta.
Sendo assim, verificou-se que a maior parte dos alunos não
acredita que os restaurantes estão estruturados conforme as BP. Isto
pode ocorrer pelo fato destes profissionais atuarem em restaurantes de
pequeno porte, que possuem maiores dificuldades de implementar as
boas práticas, mesmo esta sendo de cunho obrigatório.
Em um espaço concedido nesta questão, solicitou-se que o
entrevistado discorresse brevemente sobre sua opinião. É possível
verificar que as maiores queixas prestadas estão relacionadas a falta de
treinamento/capacitação, estrutura, equipamentos e utensílios. Assim,
abaixo podem ser visualizadas as respostas obtidas na tabela 1.

Tabela 1 – Resposta dos alunos em relação ao mercado de trabalho


Fonte: Elaborado pelo autor.
com as BP
ENTREVISTADO RESPOSTA
Quando questionados sobre quais cursos já haviam realizado
(figura 2), os cursos mais presentes nas respostas foram: Doces e 1 “Pode atrair maior número de clientes”.
Salgados (10%), Cozinheiro Geral (40%), Congelamentos (5%), “Eu acho que não oferece treinamento nas
2
Salgadeiro (40%), Bolos e Doces (5%). Neste ponto foi permitido que empresas”.
os alunos respondessem mais de uma opção. “Acho que não oferece os equipamentos e a
3
As instituições onde foram realizados tais tais cursos, foram: estrutura adequadas para os seus funcionários”.
o Senac, onde três alunos estudaram (23%); Senai, onde apenas uma 4 “Sim da maneira do possível”.
realizou o curso (8%); e com uma maior frequência de escolha, “Sim. Requisito mandatório legal para poder
5
apareceu a instituição em questão, onde nove alunos (69%) realizaram comercializar”.
os cursos. 6 “Sim, porque o mercado é bem amplo”.
Isso se deve ao fato de se tratar de uma instituição que “Não, porque não oferece os equipamentos
7
oferece cursos gratuitamente, pois os cursos oferecidos em instituições necessário”.
privadas como Senac ou Senai, costumam ser pagos e ter preços “Nem sempre, existem várias dificuldades
8
exorbitantes para a realidade de pessoas com baixa renda. encontradas nos locais de trabalho”.
Buscou-se investigar o conhecimento dos entrevistados a 9 “Sempre falta alguma coisa”.
respeito das BP, assim, 15 (79%) afirmaram conhecer e estar “Pois não oferecem materiais necessários para
10
familiarizado com as boas práticas, enquanto 1 (5%) não conhecia e 3 usar no ambiente de trabalho”.
(16%) disseram conhecer moderadamente. O elevado número de “Porque ele não oferece capacitação para seus
alunos conhecedores do assunto faz com que durante o processo de 11
profissionais”.
manipulação evite problemas com contaminações ou acidentes de “Sim, porque eles têm treinamento e
cunho físico, químico ou biológico, até mesmo ergométrico. 12
equipamentos para isso”.
Seguindo aos questionamentos, 15 (79%) alunos afirmaram Fonte: Elaborado pelo autor.
ter estudado BP em instituições anteriores, 1 (5%) afirmou não ter
estudado, e 3 disseram ter visto moderadamente. Isto demonstra a

379
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Foi solicitado aos entrevistados escrevessem quais Os que obtiveram maior número de respostas foram: Boas
procedimentos eles exerciam antes de preparar algum alimento. As Práticas, Habilidades e Técnicas Culinárias, e todas as opções
respostas se assemelharam, pois, a maioria afirmou lavar as mãos apresentadas. O item avaliado como menos importante foi enologia,
como algo importante para manter higiene. Os resultados estão em que houve apenas uma escolha de resposta.
contemplados na Tabela 2. É importante observar que dentre as opções marcadas
estavam o mercado de trabalho na gastronomia e administração e
Tabela 2 – Resposta dos entrevistados sobre os procedimentos que empreendedorismo, ambos escolhidos como opções por 5
aplicam antes de iniciar o preparo de algum alimento entrevistados, o que demonstra um interesse por parte dos alunos em
ENTREVISTADO RESPOSTA conhecer mais o mercado antes de ir para a prática de fato, e além
“Lavar bem as mãos, fazer a organização dos disso, é possível verificar um interesse de alguns em atuar como
1 empreendedores na área, o que pode alavancar mais o mercado de
materiais”.
2 “Limpar o lugar onde vou fazer o alimento”. empreendimentos no ramo da gastronomia, oferecendo mais
“Lavar bem as mãos, usar touca, lavar oportunidades financeiras às pessoas de baixa renda.
bancadas e tabuas, tirar anéis, pulseiras e
3
colares, cortar carnes e verduras em suas
respectivas tabuas”. CONCLUSÃO
“Lavar as mãos, retirar objetos do corpo (anel,
4 Os alunos possuem conhecimento mediano, porém
cordão, relógio e etc.)”.
“Higiene pessoal, organização e um pouco de conseguem compreender as Boas Práticas e estão aptos a aplicá-las. A
5 instituição oferece treinamento durante as aulas práticas, o que
pratica”.
“Usar toucas, lavar as mãos sempre e usar fortalece o processo de aprendizagem.
6 O projeto oferece a pessoas de todas as idades e de condição
luvas”.
social baixa oportunidades enriquecedoras com a oferta de cursos na
“Higienização dos alimentos. Colocar Avental,
7 área da culinária. Sugere-se uma revitalização das instalações da
touca”.
cozinha pedagógica, como uma forma de melhorar os projetos
8 “Lavar as mãos, usar uma touca, etc”.
oferecidos para comunidade, para que evite acidentes, ou
“Lava as mãos, toca. Manter a organização
9 contaminações.
usar luva”.
“Lavagem dos alimentos e depois levo para
10
cozinha”. REFERÊNCIAS
11 “Higienizar os alimentos e mãos”.
12 “Lavar os alimentos”. 1. ROCHA, Keli de Araujo. A Evolução do Curso de Gastronomia no
“Lavas as mãos, colocar tocas e higienização Brasil. Contextos da Alimentação. Revista de Comportamento,
13
do local de trabalho”. Cultura e Sociedade. São Paulo, v. 4. n. 2. 2016.
“Colocar a toca, avental, lavar mãos, colocar
14
organizar todos os ingredientes”.
“Colocar a touca, avental, lavar mãos ter
2. ANJOS, Francisco Antônio dos; CABRAL, Sílvia Regina;
15 HOSTINS, Regina Celia Linhares. O cenário da formação superior em
bastante higiene”.
gastronomia no Brasil: uma reflexão da oferta. Revista
“Proteção de higiene pessoal, touca para
Hospitalidade, São Paulo, v. 14, n. 1, p.1-21, ago. 2017. Disponível
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de fabricação”.
“Lava as mãos, toca. Manter a organização.
17 3. ARRETO, Yana Araújo. Formação do profissional de
Usa Luvas”.
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18 “Uso as boas práticas de fabricação”. espiral do conhecimento de Takeuchi e Nonaka [manuscrito].
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Faculdade de Informação e Comunicação, Universidade Federal de
Por último, foi realizado uma pergunta voltada para o âmbito Goiás, Goiânia, 2016.
da gastronomia, em que buscava compreender quais disciplinas e
módulos os estudantes mais achavam importantes para o processo de 4. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL.
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Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAewp4AI
Figura 4 – Frequência de respostas das áreas mais importantes a /28748137-guia-elaboracao-plano-appcc-1>. Acesso em: 26 dez.
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<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/8641
595/9095>. Acesso em: 26 dez. 2018

7. TRIBUNA DO CEARÁ. Centro de Inclusão Social de Fortaleza


oferece cursos pra quem procura emprego. Fortaleza, 2013.
Disponível em: <http://tribunadoceara.uol.com.br/empregos/cursos/
centro-de-inclusao-tecnologica-e-social-de-fortaleza-oferece-cursos-
pra-quem-procura-emprego/>. Acesso em: 16 out. 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor.

380
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

PANC com Potencial Gastronômico: Experiência do Centro de Referência em Agroecologia


do IFAM-CMZL

Andrea Paula Menezes de Almeida1, Ana de Souza Lima¹, Marluce Silva dos Santos¹, Nailson Celso Da Silva Nina2,
Rosana Antunes Palheta,2,3

1 – Discentes de graduação em tecnologia em Agroecologia do IFAM-CMZL, apauma@hotmail.com.br,


2- Professor EBTT do IFAM –CMZL, 2,3 - Orientadora,

Palavras-chaves: receitas, botânica, culinária, agroecologia, espécies vegetais

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Centro de referência em Agroecologia (CRA), conta com uma área Após levantamento foram encontradas no IFAM-CMZL apresenta
de produção de diversas espécies vegetais, dentre elas as plantas cerca de 30 espécies.
alimentícias não convencionais (PANC). Algumas espécies fazem
parte de um agroecossistema com histórico de mais de 20 anos, onde Nome Cientifico: Xanthosoma taioba E G.Gonç.; Xanthosoma
foi iniciado como componente do Instituto de Permacultura da violaceum Schott; Celosia argentea L.; Acmella
Amazônia (IPA) em parceria com a antiga Escola Técnica oleracea(L.)R.K.Jansen, Basella alba L., Fridericia chica
Agrotécnica Federal de Manaus (EAFM), entre outras instituições, (Bonpl.)L.G.Lohmann; Mansoa alliacea (Lam.)A.H.Gentry;
que deram início á implantação da Unidade Demonstrativa de Bixa orellana L, Ananas ananassoides (Baker)L.B.Sm.
Permacultura (UDP-Manaus, “Projeto Sítio Urbano”). Atualmente Pareskia bleo (Kunth)DC.
seu uso principal é como instrumento de educação para formação Nopalea cochenillifera (L.)Salm-Dyck
técnica e profissional de estudantes de ensino técnico integrado, Tradescantia zebrina Heynh, ex Bosse
técnico na modalidade subsequente e de ensino superior tecnológico Coccinia grandis (L.) Voigt
em agroecologia. As PANC podem ser entendidas como todas as Ocimum selloi Benth
plantas que não são produzidas em sistemas agrícolas convencionais, Hibiscus mutabilis L.
mas que contribuem na alimentação e /ou tem potencial de Eugenia stipitata McVaugh
contribuição com a alimentação e nutrição humana. Segundo Moringa oleifera Lam.
Kinupp; Lorenzi (1), PANC são aquelas espécies que serviram para o Sauropus androgynus(L)Merr.
sustento do homem desde a idade da pedra, mas que a maioria das Peperomia pellucida(L.)Kunth
pessoas não conhece mais, não usa e não chegam aos pratos porque Piper peltatum L.
não são produzidas e não há comércio. Uma definição semelhante, Antigonon leptopus Hook. & Arn.
determinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Alibertia patinoi (Cuatrec.)Delprete &C.H.Perss.
Abastecimento (2), considera-as como hortaliças não-convencionais, Morinda citrifolia L.
“com distribuição limitada, restrita a determinadas localidades ou Triphasia trifolia (Burm.f.)P.Wilson
regiões, exercendo grande influência na alimentação e na cultura de Solanum sessiliflorum Dunal
populações tradicionais além disso, são espécies que não estão Tanilum trianguiare (Jacq)Willd.
organizadas enquanto cadeia produtiva propriamente dita, Turnera subulata Sm.
diferentemente das hortaliças convencionais (batata, tomate, repolho, Laportea aestuans (L.) Chew
alface, etc...), não despertando o interesse comercial por parte de Etlengera elatior (jack) R.M. Sm
empresas de sementes, fertilizantes ou agroquímicos. A utilização
dessas hortaliças não convencionais, muitas vezes, está ligada ao A maioria das espécies são propagadas por raízes, estaquia e
modo de vida e à identidade cultural de populações tradicionais, sementes
desde o seu preparo e consumo sendo feitos de modo característico As trinta espécies estão distribuídas em 24 famílias, e sendo as 5
nas mais diversas preparações, entre elas estão: saladas crua e cozida, famílias de maior frequência; Araceae (taioba verde e a taioba
molhos, refogados, cremes, sopa, patês, recheio, pastas, massas, roxa), Bignoniaceae (cipó alho e crajiru), Cactácea (palma forrageira,
doces, sucos, chás, bolos, biscoitos, geleias, omeletes, farofa, pães, ora-pro-nóbis), piperácea (erva de jabuti e caapeba) e Rubiaceae
bebidas fermentadas, sorvete, bombom entre outros. Assim, o (moringa e borojô) (Figura 01).
objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência e o potencial
gastronômico de plantas alimentícias não convencionais no Centro de
Referência em Agroecologia no IFAM-CMZL em Manaus-AM. 2,5
2 2 2 2 2
MATERIAL E MÉTODOS 2
Frequência %

1,5
O estudo foi realizado no município de Manaus, no Centro de 1 11 1111111 1 111111
Referência em Agroecologia (CRA), localizado nas coordenadas (59º 1

56’00.22’’ W; 3º04’47.94’’S) dentro do Instituto Federal de 0,5


Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM CMZL. Para
realizar o levantamento das plantas alimentícias não convencionais, 0
foi efetuado duas saídas em campo por semana, por um período de
seis meses, no Centro de Referência em Agroecologia (CRA-IFAM-
CMZL) foram coletados os seguintes dados nome popular, nome
cientifico, a família, forma de propagação, partes utilizadas na
Figura 01-Frequência das Famílias botânicas cultivadas no Centro
culinária, com base encontradas na literatura recente.
de Referência em agroecologia (CRA-IFAM-CMZL).
Os dados coletados na pesquisa foram tabulados no programa da
Microsoft Excel para análise e elaboração dos gráficos.
As receitas foram realizadas em oficinas para desenvolvimento dos
Algumas plantas alimentícias não convencionais apresentam mais de
produtos.
uma parte comestível utilizada na elaboração dos pratos culinários,
como citadas na tabela 01.
As receitas foram elaboradas em cinco oficinas, com participação de
estudantes do IFAM e pessoas da comunidade. Foram elaborados os
seguintes pratos: arroz com caapeba; bebidas fermentadas de araçá

381
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

boi e hibisco, bolo de araçá boi, bolo de capim santo com geleia de pela população por falta do conhecimento das mesmas, que possui
araçá boi e flores de amor agarradinho, chá de hibisco gelado, creme um grande valor nutricional que trariam mais sabor, vitaminas e um
de araçá boi; creme de jaca, farofa de ora-pro-nóbis, molho de araçá colorido de encher os olhos e a boca, sendo as folhas as partes mais
boi, molho de cubiu, pão de ora-pro-nóbis; patê da flor da ora-pro- utilizadas na criação de pratos culinários, algumas plantas
nóbis com cenoura, patê de ora-o- nóbis feitos na base dos feijões de alimentícias não convencionais apresentam mais de uma parte
praia, e o feijão manteiguinha, refogado de jaca verde com pirarucu comestível utilizada na elaboração dos pratos culinários, foram
seco, suco de araçá boi com malvarisco; suco do araçá boi, vinagrete realizadas duas oficinas uma na Escola Agrícola Rainha dos
panc: erva de jabuti, palma forrageira bem novinha, jambu, alfavaca, Apóstolo na BR-174 com participação de duas turmas de 20 alunos
ora-pro-nóbis, cipó alho folhas novas, pepino doce e limão. por receitas, e na 9º semana de Agroecologia no IFAM-CMZl com
participação de 20 entre eles alunos e pessoas que moram próximo ao
IFAM, e a nossa participação no evento de recepção aos Diretores da
Faculdade SOKA, onde na ocasião fizemos a ornamentação da sala
vip e algumas amostras da culinária panc's. Os valores de custo de
cada receita elaboradas com as plantas alimentícias não
convencionais ficaram entre R$ 3,82 o menor valor de receita e R$
15,57, a de maior valor se elaboram 22 receitas. Foram processados
os seguintes produtos patê, pão e farofa, refogado de Ora-pro-nóbis,
creme, suco, bebida fermentada, vitaminada, geleia e bolo de araçá
boi, creme, pudim e molho de cubiu, refogado de jaca verde com
pirarucu seco, patê da flor da ora-pro-nóbis, bolo de capim santo,
arroz com caapeba, bebida fermentada de hibisco, molho do reimoso
Figura 2- Darlan Cruz-novembro 2019, encerramento da 9º Semana
de Agroecologia e a degustação de pratos culinários feitos com as a base de PANC'S.
plantas alimentícias não convencionais (PANCs). A realização dessa pesquisa mostrou que e possível usar as plantas
alimentícias não convencionais (PANCs), nas elaborações de pratos
culinários simples ao mais sofisticado, tem uma valiosa
biodiversidade brasileira e importância vital na nossa alimentação,
tem um baixo custo de produção, pois muitas são espontâneas e as
mesmas trazem uma nutrição completa com proteínas, vitaminas,
cálcio e minerais.

REFERÊNCIAS:

1. KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas Alimentícias


NãoConvencionais (PANCs) no Brasil: guia de identificação,
aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Plantarum,
2014. 768p.
Figura 3 Andrea P. Menezes algumas receitas criadas no andamento
do projeto BRASIL, Ministério da agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Manual de hortaliças não convencionais – Brasília: MAPA, 2013.
99p.
CONCLUSÕES:

Essa pesquisa resultou em um levantamento de 30 espécies de


plantas alimentícias não convencionais, encontradas no centro de
referência em agroecologia (CRA-IFAM-CMZL), distribuídas em 24
famílias botânicas, e sendo 5 famílias de maior frequência, entre as
quais estão: ; Araceae ( 2 espécies -taioba verde e a taioba roxa),
Bignoniaceae (2 espécies- cipó alho e crajiru), Cactácea ( 2 espécies-
palma forrageira, ora-pro-nóbis), piperácea ( 2 espécies- erva de
jabuti e caapeba) e Rubiaceae (2 espécies -moringa e borojô). Ambas
apresentam partes comestíveis como: folhas, raízes, caules, frutos
flores, pecíolo e talos, que são diariamente desperdiçado diariamente

Figura 5: Andrea P. Menezes, setembro 2019-Agroindústria IFAM-CMZL,


preparação do molho do cubiu (Solanum sessiliflorum).

382
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e interdisciplinaridade: montagem de saladas por crianças da


educação infantil inspiradas nas obras do arquiteto Burle Marx

Autores: Alisson Alcantara1, Marília Buonavita2, Rayza da Rocha3, Alessandra Carneiro4, Ana Mendes5

Autor principal: Alisson Alcantara, Graduando do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal


do Ceará, alissonmralcantara@gmail.com

Palavras-chave: Fotografia; Ensino; PANC;

Introdução memórias e sensações gustativas a partir de preparações da


Panificação e Confeitaria” (Secult/UFC), representado pelo
Mesmo sendo uma área acadêmica relativamente nova, a discente Alisson Alcantara, para que seus pratos fossem
Gastronomia vem se mostrando interessante (e promissora) fotografados. Todas as crianças presentes na ocasião
em sua aplicabilidade nas mais diversas áreas do participaram da atividade e, respectivamente, tiveram seus
conhecimento, incluindo na construção de novas pratos registrados em fotografias.
metodologias de ensino. Dessa forma, vemos sua capacidade
em ser multidisciplinar sendo desenvolvida e aplicada por Resultados e Discussão
discentes e docentes, como é o caso da situação analisada no
seguinte artigo, sendo estudado a utilização da Com a realização da atividade, compreendemos a capacidade
interdisciplinaridade da Gastronomia na educação infantil, da ciência gastronômica de unificar, moldar e adaptar saberes
permeando saberes e aplicações metodológicas. múltiplos. Dessa forma, caracteriza-se cada dia mais como
uma Ciência multidisciplinar, sendo verificada durante a
Objetivos atividade, abordando temas como Botânica (no estudo das
plantas comestíveis), Paisagismo e Arquitetura (ao analisar as
Relatar a experiência e desenvolvimento de uma atividade obras do arquiteto Burle Marx), Metodologias de Ensino (ao
lúdica de educação artística, alimentar e nutricional com os adaptar-se essas mais variadas ciências ao ensino infantil, de
estudantes da Unidade Universitária Federal de Educação forma eficiente), além da Fotografia, como ferramenta de
Infantil Núcleo de Desenvolvimento da Criança (UUNDC), registro e integração na realização da atividade e, também, da
realizada pela parceria de dois projetos do Bacharelado em própria Gastronomia, mais especificamente na Cozinha Fria
Gastronomia UFC: “UUNDC: um estudo exploratório e uma (ou Garde Manger), ao se estimular a preparação de saladas
ação educativa com as crianças e suas famílias”, coordenado com ingredientes tão variados e, em alguns casos,
pela Profa Drª Ana Erbenia Pereira Mendes, e o Projeto desconhecidos pelas crianças.
“Imagens que despertam aromas, sabores, memórias e
sensações gustativas a partir de preparações da Panificação Conclusões
e Confeitaria”, coordenado pela Profa Drª Alessandra
Pinheiro de Goes Carneiro, ambas do Bacharelado em Contudo, percebemos a capacidade multidisciplinar que a
Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. Gastronomia possui, contribuindo cada vez mais para a
consolidação dessa área do conhecimento como ciência
Material e Métodos acadêmica, ressaltado valores educacionais e culturais,
contribuindo para o desenvolvimento de metodologias
Durante a realização da atividade, foram utilizadas várias criativas de ensino, que podem ser adaptadas e utilizadas para
metodologias de ensino com as crianças da UUNDC, como o os mais diversos públicos, abrangendo de forma ampla e
ensino coletivo sobre PANC’s (Plantas Alimentícias Nãos significativa áreas do conhecimento como, por exemplo, a
Convencionais), já orientando as crianças sobre o consumo, arquitetura, fotografia e biologia.
benefícios e posterior utilização desses alimentos durante a
atividade prática, tendo em vista educar as crianças sobre os Referências
benefícios do consumo dessas hortaliças para sua saúde,
englobando metodologias de ensino alimentares, tão 1
SANTOS, Lígia Amparo da Silva. Educação alimentar e
importantes para o desenvolvimento humano, como cita nutricional no contexto da promoção de práticas
Santos (2005)1, sendo a promoção da saúde uma estratégia alimentares saudáveis. Revista de Nutrição, Campinas, v.
fundamental para o enfrentamento dos problemas do 18, n. 05, p. 1, 1 out. 2005. Disponível em:
processo saúde-doença-cuidado e da sua determinação. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-
Sendo assim, após as explicações, as crianças utilizaram o 52732005000500011&script=sci_arttext. Acesso em: 24 set.
livro Burle Marx: Arte & Paisagem2 para análise e inspiração 2020.
nas obras paisagísticas do arquiteto Burle Marx, planejando a
montagem dos pratos de saladas de acordo com cada 2
BURLE Marx: Arte & Paisagem. 1. ed. [S. l.]: Nobel,
interpretação individual das obras arquitetônicas. Contudo, as
1987. 224 p. v. 1.
crianças tiveram disponíveis em uma mesa diversos
alimentos, incluindo as Panc’s (como Flor de Manjericão,
Maria Pretinha, Boungaville, Picão, dentre outras), para
montagem de seus pratos. A atividade contribuiu para a
construção crítica e analítica das crianças, estimulando seu
olhar sobre a arte (paisagística, no caso) e sua posterior
interpretação pessoal.

Dessa forma, após a montagem de cada prato, os estudantes


foram direcionados para uma Light Box (equipamento para
fotografia de produtos com “fundo infinito”), disponibilizada
pelo projeto “Imagens que despertam aromas, sabores,

383
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ANEXOS

Registros realizados durante a atividade:

384
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Educação na pandemia do Covid-19: Ensinos gastronômicos por meios digitais

Autores: Alisson Alcantara1, Matusaila Macedo2; Alessandra Carneiro3; Luís Holanda4, Samuel Gomes5

Autor principal: Alisson Alcantara, Graduando do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal


do Ceará, alissonmralcantara@gmail.com

Palavras-chave: Tecnologia; Metodologias de ensino; Educação à distância;

Introdução

Com o avanço da pandemia do novo Corona vírus (SARS-


CoV-2) e respectiva aplicação da quarentena sanitária, vários
setores da sociedade precisaram se adaptar à nova realidade,
incluindo as relações digitais mais consolidadas e adaptada a
cada necessidade. Sendo assim, com a educação não foi
diferente, havendo a necessidade de adaptação aos meios
remotos de ensino. O evento “Live de Saberes e Sabores”
nasceu com essa proposta, de adequar os ensinos
gastronômicos às plataformas digitais, visto que estamos em
um momento emergencial que apresenta uma realidade de
“dois mundos”: um digital e outro virtual, como citado no
artigo “Educação a Distância ou Atividade Educacional
Remota Emergencial”1, alcançando outros públicos além dos
estudantes do Bacharelado em Gastronomia da Universidade
Federal do Ceará, abordando diversos temas de variadas áreas
do conhecimento, agregando e consolidando a Gastronomia
como ciência que se destaca por sua multidisciplinaridade.

Dessa forma, o trabalho a seguir tem como objetivo


apresentar os resultados desse evento realizado totalmente
online, composto por uma série de palestras que abordaram
temas que tinham a Gastronomia como objetivo principal de
ensino. Dessa forma, alcançar um público variado e, mesmo
a distância, manter a qualidade de ensino, expandido a visão
sobre a Gastronomia, evidenciando sua participação na
construção histórica, social, política e artística.

Material e Métodos

Para o desenvolvimento das palestras foram realizadas


reuniões prévias entre os integrantes da organização para
planejar a divulgação, contatos e qual seria a melhor
plataforma para realização do trabalho, intitulando o evento
de “Lives de Saberes e Sabores”. Dessa forma, foi utilizado a
plataforma Canva para construção dos designes de
divulgação, bem como datas, pôster digital e as informações
sobre o tema de cada palestra. Contudo, a promoção das
palestras foi produzida pela parceria entre os projetos
“Imagens que despertam aromas, sabores, memórias e
sensações gustativas a partir de preparações gastronômicas”
e pelo projeto “Gastronomia em Movimento”, ambos do
Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do
Ceará.
Sendo assim, as inscrições foram realizadas através da
A divulgação foi totalmente realizada de forma on-line plataforma Google Forms e as palestras foram apresentadas
através da plataforms Instagram, pelo perfil do projeto via Google Meet. Foram realizadas dez palestras no total, com
“Imagens que despertam aromas, sabores, memórias e os seguintes temas: História da alimentação, Alimentação nos
sensações gustativas através de preparações gastronômicas”, tempos de crise: Ceará e suas secas, A formação do Chef fora
registrado como @gastro.foto.ufc. do Brasil, Saborologia: aspectos sensoriais do sabor, A
importância do Chef durante a 2ª Guerra Mundial, O diário
Artes preparadas para divulgação das palestras: de um estudante de Gastronomia da UFC em Lisboa, A
relevância das políticas públicas no planejamento de retorno
mercadológico da Gastronomia, Acredite em você e o mundo
também acreditará, A Gastronomia no turbilhão das redes
sociais, o poder da fotografia na Gastronomia, sendo cada

385
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

uma realizada por um palestrante convidado pela Profa.


Matusaila Macedo, que também participou das palestras
como mediadora.

A média de participação foi de 45 expectadores por Live


composta por pessoas de diversas áreas, da Gastronomia ou
não, havendo um momento para discussão, respostas às
dúvidas que surgiram durante a palestra e demais
contribuições dos palestrantes e do público.

Resultados e Discussão

As palestras propostas foram realizadas como planejado,


porém foi possível, durante cada evento, perceber os desafios
que os educadores e estudantes enfrentam com a adaptação à
nova realidade do ensino remoto, principalmente porque tudo
foi realizado no início da quarentena. Dessa forma, foi
necessária uma adequação ao modelo de ensino a distância,
ajustando os diálogos, momentos de fala e exposições visuais,
como vídeos e slides utilizados durante as apresentações.
Como citado anteriormente, a participação foi considerável,
com cerca de 45 expectadores por palestra, apresentando
diminuição nas últimas lives realizadas, mas em sua maioria
com essa média de participantes. As lives alcançaram
públicos diversos também com a ajuda da divulgação nos
perfis oficiais no Instagram da Universidade Federal do Ceará
(@ufcinforma), do Instituto de Cultura e Arte da UFC
(@icaufc) e do Bacharelado em Gastronomia UFC
(@gastronomia_ufc).

Todavia, mesmo com os desafios, foi possível preparar e


ministrar as dez palestras com sucesso, onde foi possível
abordar os mais variados assuntos que contribuíram para a
expansão da visão sobre a Gastronomia para além do ato
culinário.

Conclusões

Dessa forma foi possível perceber alguns pontos importantes


durante a realização do evento, como por exemplo a
capacidade da Gastronomia (e das formas de ensino) em se
adequar as mais variadas situações, abordando temas
constituídos desde as ciências humanas, como História e
Sociologia, até abordagens do designe, comunicação visual,
publicidade, participando também da culinária e cultura
alimentar, integrando assim um amplo espaço de estudo e
conhecimento cujo é constituído pelos saberes (e sabores)
gastronômicos.

Referências
1
Joye, C. R., Moreira, M. M., & Rocha, S. S. D. (2020).
Distance Education or Emergency Remote Educational
Activity: in search of the missing link of school education
in times of COVID-19. Research, Society and
Development, 9(7), e521974299.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4299

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO. Universidade Federal


do Ceará. Julho de 2020. Plano Pedagógico Emergencial:
Documento Geral, Fortaleza, 2020.1 2020. Disponível em:
https://prograd.ufc.br/wp-content/uploads/2020/08/plano-
pedagogico-de-emergencia-ppe.pdf. Acesso em: 9 set. 2020.

386
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Oficinas culinárias como estratégia para o ensino-aprendizagem de matemática: uma


revisão da literatura
Mylena Félix dos Santos1, Gildeir Avelino da Silva2, Tiago Augusto Soares de Souza1, José Rafael Pereira da
Silva3, Mauricio Pereira de Souza4.

Bacharel em Nutrição. Universidade Federal de Pernambuco.


1
2
Acadêmico de Matemática. Universidade Federal de Pernambuco.
3
Acadêmico de Nutrição. Universidade Federal de Pernambuco.
4
Licenciado em História. FAINTVISA.
mylenafelixsantos@gmail.com

Palavras chave: Gastronomia, Educação, Metodologias Ativas, Educação Alimentar e Nutricional.

Introdução Deste modo, o objetivo do trabalho foi realizar uma revisão


A Matemática não é uma ciência estática, nem uma bibliográfica sobre oficinas culinárias como estratégia para o ensino-
disciplina abstrata e desligada da realidade. Ao longo do tempo ela aprendizagem de matemática.
esteve conectada a diversas áreas do conhecimento, respondendo Material e Métodos
necessidades e questionamentos do ser humano (1). Segundo dados do Se trata de um estudo de revisão sistemática de literatura
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018, sobre oficinas culinárias como estratégia para o ensino-aprendizagem
quando comparado com países da América do Sul, o Brasil é o país de matemática. O levantamento bibliográfico de artigos científicos foi
com pior resultado em matemática, tendo 68,1% de estudantes no pior realizado através das bases de dados Scielo e Google Acadêmico,
nível de proficiência, e apenas 0,1% apresentando nível máximo de entre os anos de 2010 e 2020, nos idiomas português e inglês. Os
proficiência na área (2). Muitos estudantes não conseguem aprender descritores utilizados foram: oficina culinária, ensino de matemática,
matemática por fatores psicológicos, sociais e familiares onde estão metodologias ativas. Os critérios de inclusão foram as publicações em
inseridos, e principalmente por não conseguirem se adaptar às que seu título e resumo estavam alinhados com a proposta do artigo.
metodologias usadas pelos professores (1). Foram excluídos os artigos que não estavam de acordo com a temática
Ao longo do tempo ocorreram mudanças no processo proposta.
ensino-aprendizagem, trazendo desafios e exigindo dos professores
novos métodos de ensino (3). Com as transformações da sociedade, se Resultados e Discussão
torna necessário modificar as formas de ensinar tradicionais, O estudo de Huppes e Guterres (16) desenvolveu
aprimorando as práticas e saberes docentes (4). A atual forma de atividades culinárias na cozinha através de situações problemas para o
ensinar no Brasil descende de influência das escolas jesuítas da época ensino de representações de números, operações, medidas, formas
de colonização no país. O sistema jesuítico de ensino tinha como geométricas e frações. Junto com os educandos foram preparados
características a aula expositiva, memorização de conteúdos, e alimentos como bolos, pizza, bolachas, e as receitas padrão foram
resolução de exercícios, sendo um sistema rígido de conduta e alteradas com a finalidade de mostrar que a mudança numérica e
avaliação baseado no método escolástico ou parisiense (5). quantitativa altera o resultado final. O estudo demonstrou que o ensino
Em contrapartida, as Metodologias Ativas são formas de de matemática utilizando da cozinha, enquanto ambiente de
desenvolver o processo de aprendizagem na condução da formação aprendizagem, foi capaz de permitir a autonomia dos educandos por
crítica dos educandos. O uso das Metodologias Ativas pode estimular levar em consideração os diferentes saberes.
a autonomia do estudante, despertando a curiosidade e a tomada de Ao ingressarem no ambiente escolar, os discentes trazem
decisões (6). Desta forma, a educação não é um processo realizado consigo suas histórias de vida e muitos conhecimentos e habilidades,
apenas por um sujeito, mas se realiza na interação entre sujeitos, que podem e devem ser aproveitados pelos professores dando sentido
através de suas ideias, palavras, ações e reflexões (7). Sendo assim, ao que é ensinado (11). É essencial que os professores de matemática
enquanto o método tradicional prioriza a passagem de informações e percebam os conhecimentos matemáticos não escolares que são
centraliza o professor, nas Metodologias Ativas os discentes são trazidos pelos alunos, para que utilizem tais compreensões
protagonistas das ações educativas e o conhecimento é construído de valorizando o que é produzido socialmente como conhecimentos
forma conjunta (8). Alguns exemplos de Metodologias Ativas são: importantes. Ao utilizar a experiência dos discentes como ponto de
aula dialogada, seminário, mapa conceitual, solução de problemas, partida para a proposição e desenvolvimento de atividades, o processo
dramatização, portfólio, grupo de verbalização e de observação, de aprendizagem poderá auxiliar os alunos a ampliarem os
oficinas, simpósio, estudo de caso, dentre outros (9). conhecimentos que estes já possuem (10).
Os professores podem utilizar diversas teorias e caminhos Paiva et al (17) utilizou de oficinas culinárias para unificar
no seu planejamento. Sendo um grande desafio, nos vários níveis de o aprendizado de matemática, a valorização da cultura regional e a
ensino, o uso de elementos que possam viabilizar a aprendizagem e o possibilidade de geração de renda dos educandos. As oficinas foram
desenvolvimento dos envolvidos no processo (10). Usar oficinas realizadas com a produção de um biscoito de goma regional, os
culinárias para ensinar e aprender conteúdos matemáticos faz com que educandos foram estimulados a pesquisar sobre o biscoito,
os estudantes se sintam motivados e interessados pela disciplina. perpassando desde a origem dos ingredientes até o preço de venda.
Através do preparo de receitas é possível encorajar o interesse dos Logo após, a receita foi avaliada e aplicada, trabalhando
estudantes, estimulando a discussão e criação de novas situações de concomitantemente conteúdos de medidas, grandezas, operações
aprendizagem (11). aritméticas, proporcionalidade, formas e frações; enquanto que na
A lei 13.666 de 2018 incluiu a Educação Alimentar e parte final de avaliação de gastos e viabilidade de venda do produto
Nutricional (EAN) como temática transversal nas diretrizes e bases da foram trabalhados assuntos de porcentagem, lucro, prejuízo e regra de
educação nacional (12), sendo a EAN um campo de conhecimento e três. A realização das oficinas com o objetivo de abordar a matemática
de prática transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que com a realidade dos alunos favoreceu a aprendizagem de forma mais
objetiva a promoção de autonomia de hábitos alimentares saudáveis prazerosa, não sendo uma tarefa fácil para os educadores e educandos
(13). As estratégias de EAN no ambiente escolar promove a que costumam ter mais contato com a forma tradicional de ensino-
construção de conhecimento de forma transdisciplinar, trabalhando a aprendizagem (17).
alimentação saudável de uma forma que perpassa entre as disciplinas A valorização da cultura no processo ensino-aprendizagem
trabalhando o cultivo, preparo, consumo e tudo aquilo que envolve o deve ser proposta como um reconhecimento dos saberes produzidos
alimento (14). Ao utilizar oficinas culinárias como metodologia de pelas pessoas, e deve ser considerada a inserção desses saberes na sala
ensino-aprendizagem de matemática, o educador e educando também de aula (18). Além disso, isto se trata de um dos princípios da
desenvolvem e partilham habilidades culinárias, as quais são Educação Alimentar e Nutricional, o qual preza o respeito à cultura
importantes para uma alimentação adequada e saudável (15). alimentar local, a valorização da diversidade de opiniões e
perspectivas, e a considerando da legitimidade dos saberes de
diferentes naturezas (19).

387
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O estudo de Travia e Spessatto (20) integrou as aulas de 11 DUFFEK, A. P. L.; ROCHA, S. H. Cozinhando e calculando: uma
uma turma da Educação de Jovens e Adultos a oficinas e grupos estratégia para ensinar matemática com o uso de receitas culinárias.
terapêuticos com o serviço de saúde mental. As atividades foram Cadernos PDE, Curitiba, v. 1, p. 1-14, 2014.
mediadas com uso de música, objetivando a reflexão de forma lúdica,
e as receitas foram definidas pela própria turma. Foi feita elaboração 12 BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.666, 2018: Inclusão
de receita; estimativa de preços; compra, avaliação de preços, data de do tema transversal da educação alimentar e nutricional no
vencimento e medidas dos ingredientes. Logo após, os alunos foram currículo escolar. Brasília: Ministério da Educação, 2018
divididos em dois grupos e cada grupo preparou diferentes receitas,
sempre estimulados a refletir sobre a racionalização de recursos, 13 BRASIL. Ministério da Educação. Educação alimentar e
trabalhando a educação financeira. Para uma maior efetividade da nutricional: articulação de saberes. Brasília: Ministério da
educação financeira na vida dos alunos é necessário exercitar a crítica Educação, 2018.
e reflexão de situações que afetam a organização financeira dos
mesmos, deixando de se limitar apenas a fórmulas e cálculos, indo 14 BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação
além para associar a matemática à vida real (21). e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
Fazer com que o aluno associe sua realidade com as
discussões em sala é uma forma de remover o professor do centro da 15 BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população
aula e tornar o aluno como agente principal do seu processo de brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
construção do próprio conhecimento, trazendo autonomia (22). Dessa
forma, o discente passa a notar que consegue aprender mais 16 HUPPES, J. C.; GUTERRES, N. B. Prática social da culinária na
facilmente quando tem de buscar respostas e maneiras de solução para
perspectiva do programa etnomatemática. In: III EIEMAT, 2012,
responder às suas próprias dúvidas e resolver seus problemas (21).
Santa Maria. Anais da 3ª Escola de Inverno de Educação Matemática.
Santa Maria: III EIEMAT, v. 1, n. 1, 2012.
Conclusões:
O estudo demonstra que o uso de oficinas culinárias é 17 PAIVA, T. V. S et al. A matemática na culinária regional. In: III
efetivo no processo ensino-aprendizagem de matemática, visto que ao
EIEMAT, 2012, Santa Maria. Anais da 3ª Escola de Inverno de
perceber os conhecimentos matemáticos da vida dos educandos e
Educação Matemática. Santa Maria: III EIEMAT, v. 1, n. 1, 2012.
aplica-los utilizando de metodologias ativas de ensino, o processo
possibilita a amplitude do conhecimento que estes já carregam e faz
18 SILVA, H. L et al. Etnomatemática: a relação da matemática, da
com que percebam a aplicabilidade da disciplina no dia a dia. Além
cultura e dos saberes. In: XII ENEM, 2016, São Paulo. Anais do XII
disso, a realização das oficinas valoriza a cultura alimentar dos
Encontro Nacional de Educação Matemática. São Paulo: XII ENEM, ,
discentes e promove a Educação Alimentar e Nutricional, de forma
v. 1, n. 1, 2016.
que os alunos sejam capazes de ver o ato de escolher, preparar e
consumir o alimento de forma autônoma e saudável.
19 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Referencias Fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional
para as políticas públicas. Brasília: Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, 2012.
1 KREMER, K. A. Dificuldades na Aprendizagem de Matemática.
2007. 43 f. Monografia (Pós Graduação em Psicopedagogia) -
20 TRAVIA, R. H.; SPESSATTO, M. B. Oficina de integração
Instituto A Vez do Mestre, Universidade Cândido Mendes, Rio de
mexendo a cuca: saúde mental, gastronomia, matemática e cidadania.
Janeiro, 2010.
Cad. Bras. de Saúde Mental, Florianópolis, v. 9, n. 23, p.105-125,
2017.
2 BRASIL. Ministério da Educação. Relatório Brasil no PISA 2018.
Brasília: Ministério da Educação, 2019.
21 CUNHA, C. L.; LAUDARES, J. B. Resolução de Problemas na
Matemática Financeira para Tratamento de Questões da Educação
3 BRIGHENTI, J.; BIAVATTI, V. T.; SOUZA, T. R. Metodologias
Financeira no Ensino Médio. Bolema, Rio Claro, v. 31, n. 58, p. 659-
de ensino-aprendizagem: uma abordagem sob a percepção dos alunos.
678, 2017.
Rev GUAL, Florianópolis, v. 8, n. 3, p. 281-304, 2015.
22 BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. Educação Matemática:
4 VAILLANT, D.; MARCELO, C. Ensinando a ensinar. As quatro
pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2012.
etapas de uma aprendizagem. Curitiba: Editora da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, 2012.

5 ANASTASIOU, L. G. C. Metodologia de Ensino na Universidade


Brasileira: elementos de uma trajetória. Campinas: Papirus, 2001.

6 BORGES, T. S.; ALENCAR, G. Metodologias ativas na promoção


da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como
recurso didático. Cairu em Revista. Cairu, v. 3, n. 4, p. 119-143,
2014.

7 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à


prática educativa. 51ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2015.

8 DIESEL, A.; BALDEZ, A. L. S.; MARTINS, S. N. Os princípios


das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Rev.
Thema, Pelotas, v. 14, n. 1, p. 268-288, 2017.

9 MOREIRA, J. R.; RIBEIRO, J. B. P. Prática pedagógica baseada em


metodologia ativa: aprendizagem sob a perspectiva do letramento
informacional para o ensino na educação profissional. Outras
Palavras, Brasília, v 12. n 2. p. 93-114, 2016.

10 BRANDT, C. F.; MORETTI, M. T. Ensinar e aprender


matemática: possibilidades para a prática educativa. Ponta Grossa:
Editora UEPG, 2016.

388
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Importância das Abelhas na Cadeia Produtiva de Alimentos

Artur de Jesus 1, Carla Santos2, Sophia Hohlemwerger 3, Adriana Sciarreta4


1
Licenciado em Geografia pela UFBA, Bacharelando em Geografia e Docente Ensino Médio.2Engenheira Agrônoma pela
UESB, Tecnóloga em Gastronomia pela FBB, Mestra em Engenharia Ambiental Urbana pela UFBA e Docente das
Faculdades FBB e UNIDOM. 3Licencianda em Geografia pela UFBA, Bacharelanda em Direito pela FBB, Sommelier
Profissional pela FBB, Docente de Inglês. 4Licenciada em Letras pela UFBA Docente da FBB.
artuca90@gmail.com.

PALAVRAS CHAVE: Polinização, Desaparecimento, Agricultura Familiar, Colmeia.

INTRODUÇÃO: A coleta de dados se deu a partir da busca de materiais


Pertencente a ordem dos himenópteros, as abelhas são insetos disponibilizados em meio eletrônico nas seguintes bases de dados:
sociais que vivem em colônias divididas em castas, sendo as operárias Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Embrapa, artigos
as responsáveis pela coleta do néctar das flores, o que possibilita a acadêmicos e periódicos.
polinização delas. É um dos insetos polinizadores mais importante para
o equilíbrio do ecossistema, essas pequenas operárias realizam um RESULTADOS E DISCUSSÃO:
trabalho fundamental na reprodução de espécies vegetais nativas e no Segundo relato de alguns agricultores da região de Entre
aumento da produtividade de plantas cultivadas. A abelha do gênero Rios/BA, a produção de mel assim como a produtividade das culturas
Apis mellifera é a mais utilizada para fins comerciais e polinização na agrícolas tem reduzido bastante devido à morte repentina das abelhas,
área agrícola. o que tem impactado diretamente na renda familiar.
No Cerrado, cerca de 30% das plantas são polinizadas “A conservação das abelhas é de extrema importância para a
exclusivamente por abelhas. Estudos na Chapada Diamantina preservação ambiental e da biodiversidade, garantia de produção de
evidenciaram que apenas uma visita da abelha Apis mellifera nas flores alimento e geração de renda para trabalhadores rurais que atuam
de café é suficiente para depositar grãos de pólen nos estigmas das também como apicultores”, (4). É de grande relevância a retomada de
flores, que produziram frutos mais pesados e de melhor qualidade conservação na área de estudo desta pesquisa, como forma de garantir
quando comparados com os frutos que não tiveram suas flores ao agricultor seu sustento provido da agricultura e da criação de
polinizadas (1). abelhas.
Sabendo da importância desses insetos para a polinização e De acordo com a Embrapa (5), entre todos os polinizadores, as
para a produção de mel dos apicultores, esta pesquisa foi criada, após a abelhas são as quais frequentam uma maior diversidade de plantas,
sinalização de alguns apicultores da região de Entre Rios-BA sobre o sendo concluído, por exemplo que não haveria maracujá sem a abelha
desaparecimento das suas abelhas, fato que poderia estar vinculado a mamangava, da mesma forma em que não haveriam acerolas sem as
vários fatores. abelhas coletoras de óleo. Ela ainda reforça que a degradação de
As razoes da preocupação destes apicultores e agricultores habitats naturais para o uso da terra ou para a ocupação humana, o
podem estar vinculadas ao crescente uso dos agrotóxicos de forma manejo inadequado de colmeias, bem como a ação dos agrotóxicos, está
descontrolada nas lavouras, ao avanço da ocupação humana com as entre as principais dificuldades encontradas para a conservação e uso
indústrias madeireiras na região, a redução da vegetação nativa em troca racional dos polinizadores.
pelo monocultivo do eucalipto - que tem crescido nesta região -, as O alto índice de chuva inesperado na região provocou a
intensas chuvas que podem acabar com as colmeias, dentre vários redução de muitas colmeias, bem como o uso do agrotóxico nos
outros fatores, os quais podem afetar direta ou indiretamente a forma de momentos das florada tem agravado o desaparecimento das abelhas na
vida das abelhas. região de Entre Rios-BA. Além desses fatores, o plantio da monocultura
A baixa de enxames por diversos fatores impacta diretamente de árvores para extração de madeira (eucalipto), tem reduzido as
a produção de flores, frutos e sementes, o que afeta a produção do espécies de flora nativa, e consequentemente tornando escasso o
agricultor e consequentemente reduz a presença de alguns produtos no alimento das abelhas, levando à redução gradual do enxame e
mercado interno. consequentemente à perda da produção de mel e da polinização dos
Da mesma forma, o mel, considerado um dos produtos mais plantios dos agricultores familiares
puros da natureza, derivado do néctar e de outras secreções naturais das De acordo com Pires et.al. (6), o Brasil é reconhecidamente
plantas, as quais são coletadas e processadas pelas abelhas, também é um grande consumidor mundial de agrotóxico e diante deste fato, as
reduzido quando ocorre perda de abelhas na colmeia. O mel é uma fonte investigações e reflexões sobre as consequências de tais efeitos em
de alimentação potencialmente nutritiva e saudável, e é mais uma forma longo prazo e qual o impacto que estes compostos podem causar na
de renda para o agricultor familiar. (2). continuidade da vida das abelhas no presente trabalho foram feitas.
Sem as abelhas, não só os apiários com suas produções de mel, Cerca de 80% das plantas com flores dependem de
própolis e cera serão reduzidos, mas muitas plantas agrícolas como: polinizadores para produzir frutos e sementes. Na região de Itapeva -
tomate, café, melancia, chuchu, pimentão, laranja, abacate, manga, e SP, Burger et.al. (7), desenvolveram um trabalho que tinha por
inúmeras outras culturas, as quais dependem da polinização das finalidade conhecer espécies de abelhas importantes para a polinização
abelhas, correm o risco de terem sua produção reduzida, podendo do cultivo de tomate, com o intuito de contribuir para uma colheita mais
chegar até a extinção de algumas variedades que dependem diretamente produtiva. Utilizando esses resultados como comparativo, será
da polinização feita por este inseto. Esse evento não apenas impacta a necessário uma análise e estudo de algumas espécies de abelhas que
renda do produtor e a oferta dos produtos no mercado, mas também, favoreçam a polinização das variedades de plantas produzidas pelos
como mencionado, toda a cadeia produtiva do agronegócio. agricultores familiares da região do presente estudo, assim como
Esses fatores podem agir separadamente ou em conjunto, ao espécies que aumentem a quantidade de mel produzida nos apiários.
mesmo tempo ou em sequência, podendo exercer mais efeitos em certas
situações e menos em outras. Contudo o resultado é o mesmo: o gradual CONCLUSÃO:
desaparecimento das colônias. (3). Os artigos analisados mostraram que o desaparecimento das
O objetivo desta pesquisa foi fazer um levantamento sobre abelhas está vinculado a vários fatores, sendo necessário analisar e
alguns fatores promoventes do desaparecimento das abelhas no avaliar cada cenário para melhor entendê-lo e minimizar os danos as
Munícipio de Entre Rios-BA e como este impacto pode interferir na diversas espécies de abelhas que são fundamentais na cadeia produtiva
sustentabilidade do ecossistema, na produção agrícola local. de algumas espécies vegetais e consequentemente a oferta de produtos
regionais.
MATERIAL E MÉTODO: É notória a preocupação do agricultor, apicultor familiar em
O presente trabalho sobre investigação do desaparecimento relação as mortes das abelhas na região de Entre Rios-BA , isso devido
das abelhas fica situado no município de Entre Rio -BA, que fica a 140 ao fato delas assumirem uma elevada importância no equilíbrio de um
Km de Salvador. Situada em uma zona de influência de Mata Atlântica ecossistema, assim como pela polinização das plantas agrícolas que
e a zona de transição com o Cerrado, consistindo em uma pesquisa serviram de alimento para a família e para a renda dos agricultores
exploratória e de revisão de literatura científica qualitativa. através da venda destes produtos.

389
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A quantidade de caixas produzidas por eles e que foram


perdidas causou um impacto muito grande na produção do mel, este
produto é comercializa na região e em Salvador, com a morte das
abelhas houve uma redução na venda desse produto.
Práticas sustentáveis na agricultura, a exemplo da restrição do
uso de agrotóxicos em áreas habitadas pelas abelhas - principalmente
no período da florada - e a preservação das matas e florestas nativas
podem auxiliar na conservação das diversas espécies de abelhas, o que
fortalece a prática agrícola e apícola da região e a venda desses produtos
pelos agricultores familiares, pois se sabe que mais de 70% do que
consumismo são decorrentes da agricultura familiar.

REFERÊNCIAS:
(1) PIRES, Carmen. Importância das abelhas na polinização de
plantas cultivadas e em áreas naturais. Embrapa Brasília/DF, 2018.

(2) JUST, Suzana e NEPOLO, Cássia. O mel e suas propriedades. SB


Rural, ed. 47. Santa Catarina, 2010.

(3) POTTS, S. G. et al. Global pollinator declines: trends, impacts


and drivers. Trends in Ecology & Evolution, Maryland Heights, v.
25, n. 6, p. 345-353, 2010.

(4) ROSA, Joatan Machado et. Al. Polinizadores em perigo: Por que
nossas abelhas estão desaparecendo? IV Simpósio Internacional
Ciência Saúde e Território. 2017.

(5) EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA


(Embrapa). Cientistas preocupados com a perda de colônias de
abelhas, 2017. Disponível em: embrapa.br Acesso em: 28 de agosto de
2020.

(6) PIRES, Carmen S. S. et.al. Enfraquecimento e perda de colônias


de abelhas no Brasil: A caso de CCD? V 51 n.5 p. 422-442. Brasília,
2016.

(7) BURGER, Gleiciane et. al. As abelhas polinizadoras nas


propriedades rurais. Fundo Brasileiro para a Diversidade -FUNBIO,
Rio de Janeiro, 2015.

390
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Desafios do ensino remoto para docentes em Gastronomia durante a pandemia de Covid-19

Cassandra Santos1*, Daniela Minuzzo2, Claudia Porto3, Isis Coutinho4, Lourence Alves5
1
Doutora, Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
2
Doutoranda, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Professora, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
3
Mestra, Univeritas BH e Faculdade Patos de Minas (FPM)
4
Doutoranda, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Professora, Universidade Estadual de Goiás (UEG)
5
Doutora, Universidade Estácio de Sá/ RJ
*e-mail para correspondência: cassandra7789@yahoo.com.br

Palavras-chave: Educação, isolamento social, atividade remota, metodologias de ensino.


INTRODUÇÃO remuneração proporcional. O conteúdo abordado em sala presencial,
Os cursos superiores de gastronomia, sejam eles tecnológicos quando transformado em aulas remotas, sem o devido tempo para
ou bacharelados, proporcionam a seus alunos uma alta carga de uma boa adequação, pode levar a um tempo de apresentação muito
atividades práticas, o que torna o curso bastante dinâmico e atrativo. reduzido, uma vez que cessam ou diminuem consideravelmente as
Com a chegada da pandemia ao Brasil e a necessidade do isolamento discussões e participações ativas dos alunos. Com isso, os
social, foram inicialmente proibidas as atividades curriculares professores relatam que necessitaram preparar muito mais material
presenciais práticas (1) e um grande desafio se apresentou aos teórico do que em um mesmo período de tempo equivalente no
professores de tais cursos: o de manter o nível de interesse desses presencial.
alunos mesmo sem a realização desse componente curricular tão O enorme desafio foi conseguir montar aulas com alto
importante na formação da profissão. incentivo à participação, de conteúdo expandido e contextualizado,
Além disso, a carga horária das diversas disciplinas com tal fazendo uso de técnicas muitas vezes nunca antes vistas e muito
abordagem se tornou bastante complexa. Em algumas instituições menos dominadas pelo corpo docente. Estratégias utilizando
não era possível abordar somente sua parcela teórica e dizer ao aluno professores convidados para aulas, se mostraram eficazes e bem
para voltar depois da pandemia e concluir seu conteúdo. Muitos vindas pelos alunos.
professores realizaram aulas extras de conteúdo teórico apesar de Outros professores relatam que adquiriram equipamentos como
depois terem que repor os conteúdos práticos que foram “ring light”, suporte para celular, câmera de melhor resolução,
temporariamente suspensos. microfone, fogão portátil, entre outros, para realizar aulas práticas
É fundamental destacar que apesar das variações, os formatos online através de plataformas digitais (zoom, meet, jitsimeet ou
de ensino empreendidos durante o período de isolamento social não teams) ou lives pelo Instagram ou YouTube. Algumas universidades,
se configuram como EaD, ao mesmo tempo que enfrentam a barreira geralmente privadas, adotaram um modelo padrão de uso de
do distanciamento (2). Nesse sentido, as diversas formas de ensino, ambiente online como o Google Classroom, Teams, Moodle entre
acabaram por compor uma nova forma de interação entre os sujeitos outros para toda a instituição de ensino, uma forma de padronização
que ainda carece de estudos mais detalhadas do campo da pedagogia e treinamento dos docentes para uso da plataforma, além de uma
para seu amplo entendimento (3, 4). É a partir dessa realidade que forma de controlar os conteúdos e presença de alunos. Os docentes
empreendemos o presente estudo. Sendo assim, o objetivo deste do ensino público, nem sempre tiveram por parte da instituição uma
trabalho é que a partir dos relatos aqui apresentados possamos padronização ao acesso, o que pode ser encarado como autonomia,
realizar uma troca de experiências de forma a auxiliar os professores mas também delega ao professor a responsabilidade de criar as
da área em estratégias para situações futuras, bem como desafios estratégias para o ambiente online. Na prática, isso demanda dos
atuais que ainda se fazem presentes. discentes uma adequação às diversas metodologias online que os
professores estiverem propondo.
MATERIAL E MÉTODOS Outro fato relatado pelos profissionais de instituições privadas
Para este trabalho a metodologia utilizada foi a de relato de foram as demissões ocorridas no período. Devido a essa realidade
experiência (5, 6) com professores de gastronomia localizados em muitos desses professores tiveram que suprir a carga horária de
diversas regiões do país, em universidades públicas e privadas de outras disciplinas, ocorrendo uma sobrecarga de trabalho aos
modalidade presencial, tendo o caráter tecnológico ou bacharelado. profissionais que permaneceram. Também foi relatado diminuição da
Por meio de trocas de áudio, conversamos com os professores a fim carga horária semanal, sem compensação pelas horas de
de apreender suas experiências com o formato remoto durante o planejamento das aulas que necessitaram serem reavaliadas ou
período do isolamento social. Este trabalho está vinculado ao Grupo muitas vezes construídas desde o início. Apesar disso, muitas
de Pesquisa Cozinha Invisível: Estudos interseccionais em instituições também promoveram treinamentos para os professores
Gastronomia, que reúne pesquisadoras vinculadas ao campo da aprenderem a mexer nas novas tecnologias, e se sentirem à vontade
Gastronomia de diferentes lugares do Brasil. na nova realidade. O quadro de demissões também gerou insegurança
em alguns entrevistados. Outro caso relatado, diz respeito a
RESULTADOS E DISCUSSÃO instituições que optaram por focar no conteúdo teórico durante a
Os professores se viram diante da necessidade de transpor suas pandemia e prometeram aos alunos o cumprimento posterior da parte
atividades presenciais para a modalidade remota. No primeiro prática mediante autorização de retorno do funcionamento. Nesses
momento, acreditava-se que o isolamento físico seria uma medida casos, alguns professores não estão sendo pagos integralmente pela
breve, porém se estendeu ao longo do semestre. Diante disso, um carga horária das reposições. Além disso, a incerteza do retorno
novo planejamento foi se reconstituindo ao longo das semanas. gerou uma série de demandas de planejamento, replanejamento e
O primeiro desafio seria transportar o ambiente profissional sobrecarga no tocante a adequação do cumprimento dessa carga de
para a dinâmica da vida doméstica, onde as mulheres são mais acordo com protocolos de segurança. Em alguns casos foi proposto
demandadas nas atividades do dia-a-dia, sobretudo quando possuem que a reposição seja feita no período usualmente designado para as
filhos. Na quarentena, os cuidados com higiene e possíveis idosos férias, no mês de janeiro, a fim de atender às demandas dos alunos.
e/ou crianças disputavam as atenções. Se antes a internet e os Sem considerar as demandas do professor.
equipamentos eletrônicos eram suficientes para a família, estando Entre atividades propostas pelos docentes para dinamizar a
todos em atividades remota impôs uma nova logística que inclui, atividade virtual, relatou-se: Atividades que proporcionasse o uso da
aumentar as horas destinadas ao trabalho. criatividade; trabalhos que utilizasse o recurso de memória e cultura
Estas questões foram impostas tanto aos docentes, como aos gastronômica da família; projetos de criação e análise sensorial;
discentes que pelos relatos, as instituições de ensino puderam pesquisas de temas interdisciplinares; quizz com perguntas de alto
perceber em maior ou menor grau o quão profundo eram as interesse; apresentação à turma de pratos preparados segundo um
desigualdades sociais entre este grupo. Assim, cada professor tema central; pesquisas para preparação de aulas invertidas; todos os
precisou criar sua estratégia para ofertar o conteúdo em menor tempo recursos foram explorados.
de tela e contato para garantir uma certa equidade de acesso. Ainda que algumas instituições tenham oferecido diferentes
Observou-se um aumento das atividades em aulas teóricas tipos de treinamento, a maior parte destes abordou questões técnicas
complementares, intensificando o trabalho sem ajuste de de adequação a plataformas ou apresentando recursos ligados a

391
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

metodologias ativas. Todavia, uma adequação metodológica da urgentes no tocante às possibilidades, especificidades e limites do
proporção das necessidades do momento, demanda tempo e estudos ensino remoto em Gastronomia. O que se confronta com o recente
mais aprofundado. O que não aconteceu na maioria das realidades. crescimento de cadeiras e até cursos inteiros na modalidade EaD.
Além disso, a maioria das metodologias ativas comumente utilizadas Olhando para esses relatos, podemos entender a necessidade de
no ensino presencial, ainda não dão conta das especificidades estudos mais aprofundados sobre formatos não presenciais de ensino
sensoriais e particulares do ensino em Gastronomia. e formação na Gastronomia que levem em consideração as
Um exemplo da dificuldade está no formato de interação experiências docente e discente e não apenas as demandas de
remota que não proporciona o mesmo engajamento que no barateamento de custos.
presencial. Em um dos relatos professores trabalharam com Por fim, precisamos destacar que, no tocante às experiências
atividades baseados em projetos (7). Apesar da metodologia docentes, em todos os casos relatados percebemos que o excesso de
apresentar possibilidades de aplicação bem definidas, quando essas demandas novas, as sobrecargas de serviço foram elementos de
foram implementadas na realidade remota, relacionando com dilemas desgaste e exaustão física e mental para muitos profissionais. Que
típicos de empreendimentos gastronômicos, os relatos mostram que o tiveram que lidar ainda, principalmente em instituições privadas, com
engajamento não foi o mesmo. Algumas metodologias como a sala a incerteza em relação aos seus honorários e de seu próprio cargo.
de aula invertida (8), onde os alunos leem previamente textos ou
material bibliográfico disponibilizados pelo professor e fazem a REFERÊNCIAS
discussão em posterior em sala de aula, obtiveram maior sucesso na 1. BRASIL. Portaria MEC nº. 343, de 17 de março de 2020. Brasília,
adaptação para o ensino remoto. Um dos pontos levantados pelos DF. DOU nº 54-D, 19.03.2020, Seção 1, p.1.
entrevistados foi o engajamento dos alunos em sala de aula, o fato de 2. ALVES, Lucineia. Educação a Distância: Conceitos e História no
não ligarem as câmeras ou os microfones e muitas vezes não falarem Brasil e no Mundo. In: Anais do CIEAD. Volume 10, Curitiba/PR:
pelo chat. Além dos problemas de conexão individual e sobrecarga ABED, 2011.
do sistema também foram relatadas experiências de dificuldades de 3. hooks, bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da
mexer com a tecnologia, vergonha de aparecer na câmera ou no liberdade. Ed. São Paulo, 2013.
áudio, timidez, ou estar vestindo roupas inadequadas, ou dividirem o 4. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo:
ambiente com outras pessoas e não quererem mostrar suas casa. Paz e Terra, 2016.
É importante pontuar que os desafios não estão restritos a 5. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4.ed. São Paulo:
disciplinas com carga horária de atividades práticas, muitas Saraiva, 2003.
disciplinas teóricas, que tinham como recurso trabalhos e atividades 6. CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo,
que demandam o deslocamento dos alunos até os empreendimentos quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed Bookman, 2007.
passaram a ter a limitação do isolamento social, tendo que ser 7. MASSON, T.J.; MIRANDA, L.F; MUNHOZ JR, A.H.;
adaptadas para exercícios de investigação em aplicativos e redes CASTANHEIRA, A.M.P. Metodologia de Ensino: Aprendizagem
sociais, ou ainda entrevistas via aplicativos de conversa instantânea. baseada em Projetos (ABL). Anais do XI Congresso Brasileiro de
Ensino de Engenharia, 2012.
CONCLUSÕES 8. PEREIRA, F. A. Invertendo a educação: uma reflexão sobre a
Os relatos observados nos permitiram aferir algumas perspectivas metodologia sala de aula invertida. In: Gercimar Martins (Org.).
pontuais, mas de grande relevância para o entendimento dos desafios Metodologias Ativas, métodos e práticas para o século XXI. 1ed.
enfrentados durante esse período de isolamento social. Apesar de ser Quirinópolis: Ed IGM, 2020, v. 1, p. 287-294.
um momento atípico, esse grande infortúnio trouxe a tona reflexões

392
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Harmonização de Bolos de Noiva e Vinhos Espumantes – Uma Abordagem


Interdisciplinar no Ensino da Gastronomia para Construção de Competências

Robson Luis Trindade Lustosa¹; Cristianne Boulitreau de Menezes Barros²; Luciana Sultanum Lins
Calazans³

¹Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Faculdade Senac Pernambuco. robsonllustosa@fac.pe.senac.br.


²Especialista em Alta Gastronomia, Faculdade Senac Pernambuco.
³ Especialista em Gestão de Negócios, Faculdade Senac Pernambuco
Palavras chave: enogastronomia, aprendizagem significativa, interdisciplinaridade.

Introdução
vinhos espumantes com bolos de noiva e promover a degustação
O novo paradigma da educação profissional direciona e orienta os junto a um público externo. A fim de promover a integralização com
currículos escolares dos cursos superiores de tecnologia no o mundo do trabalho, os estudantes foram mobilizados a abordar
desenvolvimento de competências profissionais. O ensino por profissionais sommeliers da Região Metropolitana do Recife (PE) a
competência envolve a iniciativa e a capacidade do aprendiz de fim de gerar uma interação com estes profissionais no planejamento
realizar análises para identificar, planejar e propor soluções a das harmonizações. As cozinhas didático-pedagógicas foram
problemas, bem como a capacidade do trabalho individualizado e em utilizadas ao longo do semestre para o desenvolvimento e a produção
equipe para a realização de atividades, onde o indivíduo tende a do bolo de noiva, assim como a abordagem sobre a harmonização de
aplicar na prática os conhecimento e saberes vivenciados em vinhos em confeitaria. Para o acompanhamento da aprendizagem, foi
diferentes situações de aprendizagem (1,2). definido um tipo de portfólio, onde os estudantes relatavam as
Os cursos tecnológicos de Gastronomia encontram-se no eixo de atividades desenvolvidas e expressavam os conhecimentos
hospitalidade e lazer e objetivam desenvolver habilidades referentes apreendidos, considerando seu domínio técnico-científico e sua visão
à produção de alimentos, integrando a formação científica, crítica. Ao final, os estudantes expunham as suas percepções das
empreendedora e profissionalizante. Seu currículo está estruturado na atividades realizadas, as facilidades e dificuldades de aprendizagens,
formação por competências, tanto por estarem configuradas e bem como os saberes construídos.
estabelecidas pelos perfis profissionais definidos a partir dos Os workshops, com duração de 120 minutos, envolveram a
processos laborais, quanto pelas exigências de competitividade, degustação técnica das bebidas e a avaliação sensorial das
produtividade e de inovação do mundo do trabalho (3,4,5). harmonizações propostas pelos estudantes assim como palestras e
A enogastronomia, a partir da análise exploratória das características debates sobre harmonização com os sommeliers convidados pelos
organolépticas e sensorias promovidas pelo vinho, apresenta-se como estudantes. As percepções dos participantes foram preenchidas em
atividade de caráter técnico-cientifico que almeja a correlação ficha de avaliação entregue no início dos workshops. No final,
harmoniosa entre o vinho e a comida, referendando-se nas gerava-se o debate com o público participante para verificar suas
percepções e sensações promovidas por ambos no palato, percepções quanto à combinação do vinho espumante proposto e
consistindo, portanto, em combinar da melhor forma os sabores dos com o bolo de noiva produzido e servido pelos alunos.
alimentos com as características dos vinhos, evocando uma
experiência que agrade os sentidos (6,7,8,9). Resultados e discussão
A realização de atividades educativas interdisciplinares, na
perspectiva de um processo de ensino diferenciado e de uma De modo geral, o público apresentou resposta positiva quanto às
aprendizagem significativa, visa propiciar um diálogo entre a sala de harmonizações propostas (2016 – 99%; 2017 – 98%, 2018 – 99%),
aula e a realidade do mundo do trabalho onde diversos assim como para os bolos de noiva elaborados (2016 – 100%; 2017 –
conhecimentos são acessados. Na educação, é relevante promover 97%, 2018 – 99%). Este feedback do público coloca o estudante em
formas diferenciadas e motivadoras de ensino com o propósito de uma posição de reflexão e análise crítica do saber empregado nas
gerar um incremento na aprendizagem através da reconfiguração de práticas para a organização do evento. Observa-se que a realização de
uma metodologia e estratégia pedagógica que propicie a articulação uma atividade como esta coloca o estudante em um momento de
das diferentes competências e saberes (10, 11). reflexão sobre sua prática e conteúdos conceituais, procedimentais e
Portanto, este trabalho, elaborado em formato de relato de atitudinais, na medida em que o aluno reflete sobre a problemática
experiência, tem como objetivo principal apresentar a atividade apresentada e, em um clima de acolhimento, colaborativamente
multidisciplinar realizada entre estudantes, professores e constrói estratégias e indicadores de ações possíveis (10, 12).
profissionais do mercado gastronômico local para a realização de Nos debates, os estudantes expuseram as suas facilidades de
workshops com propósito de harmonização com bolos de noiva e aprendizagem, considerando a integração das diferentes disciplinas e
vinhos espumantes. Ainda, contempla como objetivos específicos a a fluidez percebida conforme “as informações e os conhecimentos
exposição da integração de diferentes saberes das disciplinas de eram apresentados no decorrer das atividades” (fala de estudante do
Confeitaria, Cozinha Internacional e Enogastronomia para à turno da manhã semestre letivo 2017.1) e, ademais: “a participação
investigação e proposição de atividade acadêmica para harmonização dos sommeliers foi muito boa pra gente aprender mais com quem
de vinho e comida; provocar a reflexão quanto à realização de está lá no mercado, trabalhando” (fala de estudantes do turno da noite
atividades interdisciplinares com vistas à construção de uma semestre letivo 2018.1); “as degustações com os vinhos durante as
aprendizagem significativa. aulas facilitaram o entendimento do assunto teórico de
enogastronomia” (fala de estudantes do turno da noite semestre letivo
Material e métodos 2018.1).
No entanto, houveram desafios que, conforme as expressões dos
Os sujeitos da atividade descrita foram os professores das disciplinas estudantes, dificultavam a continuidade dos trabalhos, sendo
de Enogastronomia, Confeitaria e Cozinha Internacional, assim como inclusive apresentados como desmotivadores (a falta de integração e
os estudantes do 3º e 4º período, turnos manhã e noite, do curso colaboração inicial dos grupos de estudantes): “sempre há alguém
superior de tecnologia em Gastronomia da Faculdade Senac que não faz os trabalhos porque tem dificuldades de relacionamento
Pernambuco. Os professores desenvolveram estas atividades com os ou de entendimento do trabalho” (fala de estudante turno manhã
objetivos pedagógicos e educacionais nos semestres letivos de 2016 a semestre letivo 2018.1) e, ainda, “tem pessoas que não buscam
2018, conforme a oferta das disciplinas. Na formalização dos estudar o conteúdo, mas são boas na hora de praticar” (fala de
contratos didáticos fora apresentada a proposta de atividade estudante turno noite semestre letivo 2016.2). Muitos ainda
interdisciplinar para organização de workshop de harmonização de apontavam a dificuldade de compreensão da proposta da atividade:
“foi difícil entender o que os professores queriam que a gente

393
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

fizesse” (fala de estudante semestre letivo 2016.2). O professor deve 12. LIMA, V. M. R.; RAMOS, M. G. Percepções de
ser reflexivo e capaz de provocar em si mesmo a autoavaliação e interdisciplinaridade de professores de Ciências e Matemática: Um
questionamentos sobre sua prática, pensar sobre a maneira que ensina Exercício de Análise Textual Discursiva. Revista Lusófona de
e de aprender, ação que acontece durante sua atuação docente e na Educação, 36, p. 163-177, 2017.
interação com os estudantes (10)
As atividades interdisciplinares devem atuar de forma integral não
apenas no contexto de unir as disciplinas em uma atividade
pedagógica, mas integrá-las na construção e produção do
conhecimento através das atividades de ensino, pesquisa e extensão
(12). Verifica-se que esta atividade possibilitou aos estudantes
aplicar de forma interdisciplinar diversas competências relacionadas
não apenas com a organização e o planejamento de um evento
gastronômico, mas com enfoque acadêmico e, ainda, no que
concerne às disciplinas citadas, oportunizando a aplicação prática de
saberes construídos em classe a partir de uma visão crítica e holística,
o que é esperado pelo profissional de Gastronomia (5, 12).

Conclusões

Este trabalho apresenta como a atividade educativa e interdisciplinar


desenvolvida ao longo de diferentes semestres letivos oportunizou a
construção dos conhecimentos das diversas disciplinas de forma
conectada, integralizando as diferentes competências que foram
mobilizados nas atividades de ensino e pesquisa, teoria e prática para
a realização dos workshops de harmonização de vinhos espumantes
com bolo de noiva, propiciando a construção de saberes mais
próximas ao comportamento do que à simples memorização.
Neste contexto, este relato apresenta como uma atividade
interdisciplinar pode ser uma metodologia para a realização de um
processo de ensino e aprendizagem inovador e criativo. No entanto, a
realização de atividades interdisciplinares apresenta desafios
relacionados à cultura escolar e comportamental de seus
participantes, sejam alunos ou professores. O ensino por
competências determina que certos paradigmas educacionais sejam
quebrados a fim de garantir uma educação fundamentada na
autonomia do aluno para o desenvolvimento e transformação de si
como profissional e cidadão.

Referências

1. SANTO NICOLA, R. M.; VOSGERAU, D. S. R. Conceitos e


enfoques em competências nas pesquisas brasileiras: uma revisão
narrativa. Revista e-Curriculum, [S.l.], v. 17, n. 1, p. 107-144, mar.
2019.
2. PARANHOS, W. R. A importância do desenvolvimento de
competências individuais para o profissional de gastronomia:
subsídios para empreender. RBG - Revista Brasileira de
Gastronomia, Senac Santa Catarina, Florianópolis, v. 2, n. 2,
jul./dez. 2019.
3. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica. Catálogo Nacional de Cursos
Superiores de Tecnologia. 2009. Disponível em: <
http://catalogo.mec.gov.br>. Acesso em: 14 jul. 2020.
4. DE CRONIS, G. T.; FELUCHO, F. Y. VAZ, T. G.; HERRMANN,
F. F.; GOMES, A.N. Análise do perfil esperado do profissional
formado em Gastronomia da Universidade Federal de Pelotas pelos
empresários e donos de restaurantes na cidade de Pelotas. In:
Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de
Pelotas, 12, 2013, Pelotas. Anais…Pelotas, 2013.
5. ROCHA, Fernando Goulart. GASTRONOMIA: CIÊNCIA E
PROFISSÃO. Arquivos Brasileiros de Alimentação, Recife, [S.l.],
p. 3-20, jul. 2015.
6.RECH, A. L.; FRIZZO, D. A harmonização de vinhos e
espumantes com trufas artesanais como estratégia de marketing.
Fólio Revista Científica Digital - Publicidade e Propaganda,
Jornalismo e Turismo, n.2, p.22-p.31, dez. 2019.
7. NOVAKOSKI, D.; FREIRE, R. Enogastronomia : a arte de
harmonizar cardápios e vinhos. Rio de Janeiro: Senac Nacional,
2005.
8. SANTOS, J.I.; SANTANA, J.M. Comida e vinho: harmonização
essencial. 4. Ed. São Paulo: SENAC São Paulo, 2014.
9. SILVA, R.; LAGO-VANZELA, E.S.; BAFFI, M.A. Uvas e
vinhos: química, bioquímica e microbiologia. São Paulo: Editora
Unesp, 2015.
10. ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário: seu cenário e
seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004
11. SENAC. DN. Projeto Integrador. Rio de Janeiro, 2015. 36 p.
(Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 4).

394
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Temas de Pesquisa em Gastronomia – Uma Análise das Pesquisas Desenvolvidas por Docentes
de Universidades Brasileiras
Ítalo Casemiro1, Cláudia Soares2
1
Mestre em Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), 2Mestre
em Desenvolvimento Regional e Urbano (Universidade Federal do Rio de Janeiro). E-mail: italopc12@gmail.com
Palavras-chave: alimentos, ciência, projeto.
Introdução

Gastronomia é uma ciência? Essa pergunta gera inúmeros debates.


Por um lado, temos aqueles que defendem a gastronomia como uma
arte (1; 2). Outros a defendem como uma cultura (3). Nos últimos
anos temos observado no Brasil o surgimento de cursos de
bacharelado em gastronomia em instituições federais de ensino
superior, impulsionados em boa parte pelo Programa Reuni –
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (4). Esses cursos estão ligados às instituições
reconhecidas pela sua produção científica, tais como a Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, entre outras. Neste contexto, a
gastronomia ganhou nos últimos anos um novo ambiente para se
propagar no Brasil: o da ciência. Nesta pesquisa, pretendemos
analisar as temáticas de pesquisa desenvolvidas por docentes de
cursos de graduação em gastronomia de instituições de ensino Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).
superior - IES públicas do Brasil, e suas contribuições para a difusão
da gastronomia como ciência. Nosso intuito é, discutir as temáticas
abordadas e que tipos de pesquisas os docentes estão conduzindo.
Fica claro que, os docentes estão desenvolvendo projetos voltados a
Objetivos elementos regionais, como o pescado, o azeite de dendê, assim como
desenvolvendo estudos ligados ao território (Salvador, Ondina...).
Mapear, por meio do Currículo Lattes, o perfil das pesquisas Por estar localizando junto à Escola de Nutrição da UFBA e por ter
desenvolvidas por docentes de gastronomia no Brasil, no intuito de docentes com formação na área de nutrição, há também pesquisas na
identificar as temáticas tratadas nos estudos conduzidos por estes área de ciência de alimentos e nutrição. As pesquisas da UFC (Figura
docentes. 2) são concentradas na área de ciências de alimentos. Os estudos
envolvendo frutas e sucos estão presente. Mas o que chama atenção é
Materiais e Métodos a linha de projetos dedicados à gastronomia. As análises deixam
evidente que os projetos da UFC giram em torno de temáticas como
Abordagem desta pesquisa é qualitativa (5) e de cunho exploratório “fruta”, “desenvolvimento”, “alimento tradicional” e “composição
(6). A pesquisa caracteriza-se como documental (7) utilizando como nutricional”.
objeto de análise os Currículos Lattes dos docentes de cursos de
bacharelado em gastronomia oferecidos por instituições públicas de Figura 2 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
ensino do Brasil. Os dados para análise foram diretamente coletados Pesquisa Desenvolvidos por Docentes da UFC (N = 13)
dos documentos que formaram a população da pesquisa (8),
composta por 68 currículos (Currículo Lattes) de docentes dos cursos
de bacharelado em gastronomia de IES públicas do Brasil (UFRPE,
UFRJ, UFBA, UFC e UFPB). Para a análise dos dados, optamos pela
análise temática (9). Os projetos foram extraídos dos currículos dos
docentes, organizados num documento no software Bloco de Notas e
depois analisados com o auxílio do software Iramuteq (10,11),
aplicando-se o Método da Classificação Hierárquica Descendente
(CHD).

Resultados e Discussões

Ao todo foram selecionados 31 projetos desenvolvidos pela UFRPE,


14 da UFBA, 13 da UFC, 3 da UFPB e 32 da UFRJ. Os projetos
desenvolvidos pelas UFPB não foram avaliados, tendo em vista o
número muito reduzido de projetos encontrados (três projetos). Nos
projetos da UFBA (Figura 1), podemos notar que, destacam-se os
termos “pesquisa”, “como”, “alimento”, “estudo” e “alimentação”.
Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019).
Figura 1 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
A UFRJ (Figura 3) apresenta uma concentração temática, em
Pesquisa Desenvolvidos por Docentes da UFBA (N = 14)
comparação com instituições como a UFBA e UFC. A análise
permitiu a identificação de dois eixos temáticos: um voltado à
culinária e para às pesquisas de intervenção alimentar e; outro
voltado para as pesquisas envolvendo o meio universitário e questões
como a alimentação saudável, ou seja, uma linha mais voltada a
aspectos sociais e outra com características biomédicas.

Figura 3 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de


Pesquisa Desenvolvidos por Docentes da UFRJ (N = 32)

395
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Conclusões

Ao analisar os projetos de pesquisa observa-se que, as temáticas da


gastronomia, culinária entre tantas outras, ainda são pouco
exploradas pelos docentes. Os projetos de pesquisa são um caminho
para a construção científica do campo da gastronomia, uma forma de
materializar o conhecimento produzido na universidade e sobre um
tema, que ainda gera dúvidas, como é o caso da gastronomia. Pelos
resultados, notamos que, temas fundamentais como a atuação dos
chefs de cozinha, não aparecem nos projetos desenvolvidos. Há uma
grande lacuna de temáticas voltadas à culinária e à gastronomia, que
não estão sendo objeto de estudo dos docentes, sendo que, há uma
miscelânea de estudos voltados para a ciência de alimentos e
nutrição.

Referências

1. BRAUNE, R.; FRANCO, S. O que é Gastronomia. São


Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019). Paulo (SP): Brasiliense, Col. 322, primeiros passos, 1ª edição,
2007.
Como exemplo das análises feitas, podemos citar a UFRPE (Figura 2. LÓPEZ, L. S. M.; LÓPEZ, R. H.; CASTILLO, S. E. M.
4), que apresenta como principal palavra “vinho”, o que indica que, Cocina y arte. CULINARIA - Revista virtual especializada
os projetos desenvolvidos nesta instituição giram em torno desta en Gastronomía, n. 06, p. 07 – 22. 2013.
temática. 3. FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História
da Alimentação: dos primórdios à Idade Média. Tradução
Figura 4 - Classificação Hierárquica Descendente dos Projetos de
de Maria da Graça Pinhão. Lisboa: Terramar, 2008.
Pesquisa Desenvolvidos por Docentes da UFRPE (N = 31)
4. BRASIL. Decreto n° 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o
Programa de Apoio a Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI.
5. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo,
cuantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
6. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em
Administração. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
7. MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa Social. Teoria,
método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
8. FLICK, U. Métodos de Pesquisa: introdução à pesquisa
qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
9. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento. 10. ed.
São Paulo: HUCITEC, 2007.
10. LAHLOU, S. Text mining methods: an answer to Chartier and
Meunier. Papers on Social Representations, v. 20, n. 38, p.
1-7, 2001.
11. MARCHAND, P.; RATINAUD, P.. L’analyse de similitude
appliquée aux corpus textuels: les primaires socialistes pour
Fonte: Elaborado no software Iramuteq pelos autores (2019). l’élection présidentielle française (septembre-octobre
2011). Actes des 11eme Journées internationales d’Analyse
No caso da UFBA, podemos notar a presença do termo “Salvador” statistique des Données Textuelles. JADT, v. 2012, p. 687-
entre as principais palavras, ou seja, isto sugere que as pesquisas, 699, 2012.
pelo menos parte delas ocorre ou tem como foco elementos da capital 12. FOOLADI, E. et al. Chefs and researchers: Culinary
da Bahia. practitioners' views on interaction between gastronomy and
sciences. International Journal of Gastronomy and Food
Os resultados do presente estudo apresentam aspectos importantes
Science, v. 15, p. 6-14, 2019.
para compreender o estado da pesquisa sobre gastronomia no Brasil.
Analisando o perfil da pesquisa, por meio do que os docentes dos
cursos têm desenvolvido, podemos notar que, a gastronomia tem sido
pesquisada sobre diferentes olhares, destacando-se a pesquisa
vinculada à área de nutrição e ciência de alimentos. Além disso, estão
sendo contemplados aspectos regionais, o que é de suma importância
para abarcar os diferentes objetos de pesquisa, inseridos no contexto
onde estes docentes atuam.

Uma questão que ainda necessita de resposta, é o que é o objeto da


gastronomia, quando uma pesquisa é sobre gastronomia e não sobre
ciência de alimentos? O que caracteriza uma pesquisa na
gastronomia? Ainda há muitos temas pouco explorados pelas
pesquisas, tais como o chef de cozinha, inclusive o desenvolvimento
de pesquisa em colaboração com estes sujeitos. Como identificado
por Fooladi et al (12), há um grande interesse por parte dos
profissionais do setor de alimentos em colaborar com pesquisadores,
contudo, alguns destacaram que a colaboração é mais relevante
quando os resultados das pesquisas podem ser vistos dentro de um
prazo curto, algo complexo no contexto científico, especialmente
quando olhamos para o cenário brasileiro. Cabe lembrar que, o
campo científico caracteriza-se por seu dinamismo e pela
possibilidade de transformação e interação entre seus agentes sociais,
que materializam-se por meio de grupos de pesquisa, pesquisadores,
programas de pós-graduação, sociedades científicas entre outros.
Aqui, chamamos a atenção para a necessidade de pesquisas nas mais
diversas áreas, que possam colaborar para os estudos sobre a
gastronomia e cultura, por exemplo.

396
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A memória nos museus de gastronomia no Brasil.

Cecilia Neves1, Isabela Silveira2


Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
PPGMS/UNIRIO
ceneves7@hotmail.com

Palavras-chave: Patrimônio cultural, museu, memória, arquitetônico, as paisagens, o folclore e a música. As


identidade. tradições gastronômicas são um desses pontos de referência,
já que os modos de plantar, colher, preparar, e também os
Introdução sabores e aromas fazem desabrochar recordações.
Depois da língua, a comida é o vínculo mais Para Jô Gondar, o conceito de memória
resistente entre o indivíduo e sua cultura, afirma o produzido no presente é uma maneira de pensar o passado
antropólogo Sidney Mintz. O comportamento relativo à em função do futuro que se almeja. Toda perspectiva
comida está diretamente ligado ao sentido de nós próprios e envolve a escolha de um passado e a aposta em um futuro
à nossa identidade social, e isso parece valer para todos os (Gondar 2005). A memória não nos conduz a reconstruir o
seres humanos. Reagimos aos hábitos alimentares de outras passado, mas sim a reconstruí-lo com base nas questões que
pessoas, quem quer que sejam elas, da mesma forma que nos fazemos, que fazemos ao passado, questões que dizem
elas reagem aos nossos (Mintz, 2001). mais de nós mesmos, de nossa perspectiva presente, que dos
Com o aparecimento nos últimos anos de museus acontecimentos passados. A memória é pensada enquanto
dedicados à gastronomia no Brasil, faz-se necessário um componente ativo dos processos de transformação social e
olhar sobre esse objeto a fim de aplacar certas preocupações de produção de um futuro.
tanto com a formação da identidade local, quanto da Os Museus
construção de memórias. Os museus se destacam como autoridade
Pretendemos nesse trabalho entender se no intelectual e estável na contemporaneidade. A nova cultura
Museu da Gastronomia Baiana (MGBA) e no Museu da museal tem um papel a respeito de reflexões sobre a
Gastronomia Maranhense (MGM) se encontra a formação e memória e a identidade. A redefinição desse papel se dá na
construção de memórias e identidade local. A pesquisa sobre importante mudança na concepção pragmática dos museus
o MGBA foi feita através de revisão bibliográfica, de enquanto depósitos de objetos (dépots) para exposição de
consulta ao site ao MGBA, que conta com um blog do objetos (expôts). Segundo o historiador Dominique Poulot,
curador, o antropólogo Raul Lodi. A pesquisa sobre o MGM no século XIX o museu clássico europeu foi símbolo ou de
foi feita através de questionário estruturado, com perguntas uma nação ou de uma coletividade. Posteriormente, foi
abertas, respondido pela secretária municipal de turismo da ganhando perspectivas vinculadas a um saber universal, um
cidade de São Luís. vínculo social e um viés edificante. Assim, todo museu
Memória assume um papel educativo que lhe é atribuído e lhe da
Segundo o sociólogo Michael Pollak (1992), a legitimidade.
memória é um elemento constituinte do sentimento de Manuelina Cândido aponta que os museus são
identidade e deve ser entendida, sobretudo, como um por excelência instituições guardiães e educadoras da
fenômeno coletivo e social, submetido a flutuações, memória. Ela parte da ideia da memória como construção e
transformações e mudanças constantes. É também um fator do museu como locus privilegiado de institucionalização
extremamente importante do sentimento de continuidade e destas memórias. Assim, essas instituições, através das
de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua escolhas que fazem a respeito do que expor ou descartar,
reconstrução de si. A construção da identidade é um tornam-se instrumentos de poder.
fenômeno que se produz em referência aos outros, em Conforme Le Goff: Tornar-se senhor da memória e do
referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, esquecimento é uma das grandes preocupações das classes,
de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as
com outros. A memória e a identidade podem ser sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da
negociadas (Pollak, 1992). história são reveladores desses mecanismos de manipulação
A memória, segundo Maurice Halbwachs (2006), da memória coletiva. (Le Goff, 1984)
seria uma construção social, formando-se a partir das No campo da Museologia, a preservação implica
relações mantidas entre indivíduos e grupos, um fenômeno em processos de musealização, que ocorrem por diversas
eminentemente coletivo. O sujeito só consegue construir e razões socioculturais tais como ideologia do momento,
acessar lembranças na condição de membro de um conjunto desenvolvimento de autoestima de uma determinada
ou totalidade que o ultrapassa. As memórias individuais se comunidade, busca e afirmação da identidade cultural,
constituem a partir de “quadros sociais de memória”, que relações afetivas com os objetos e/ou referências
são impostos ou fornecidos pelo meio social. Estes selecionadas e até ostentação do poder. Atualmente estamos
funcionam como pontos de referência para a construção passando por um momento de ampliação conceitual
subjetiva de lembranças, conferindo estabilidade e coerência tornando o museu espaço de interação social com o
às representações coletivas. As visões construídas sobre o patrimônio.
passado revelam mais sobre o presente do que sobre o Georges Henri Rivière (1989 apud Duarte
passado que se pretende restituir. Para o autor, a memória é Cândido, 2009. p. 129) defendeu a ideia do museu como um
um tipo de relação que se estabelece entre o passado e o espelho onde a população se visse e se reconhecesse, e onde
presente. ela também se exporia para conquistar a compreensão e o
A padronização do tempo e do espaço permite a respeito de outras comunidades. Assim, percebemos que a
formação de memórias, que cumprem a função social ação museológica associa a necessária visibilidade à ideia de
fundamental de contribuir para a constituição de uma memória, como algo a ser trabalhado com continuidade.
“comunidade de sentimentos”. A relação entre memória e Educação Patrimonial.
identidade faz com que Halbwachs estabeleça uma Quando pessoas se reúnem para construir,
associação entre memória e tradição. Para ele, a memória investigar e dividir conhecimentos e entender e transformar
não diz respeito somente a uma experiência iniciada e sua realidade, elas estão praticando uma ação educativa.
concluída no passado. A memória é algo que permanece Quando tudo isso é feito levando em conta algo relativo ao
vivo, animando os pensamentos e ações dos indivíduos e patrimônio cultural então trata-se de Educação Patrimonial.
grupos no presente. A memória só deixa de existir quando A Educação Patrimonial consiste em processos educativos
os laços sociais que a alimentavam já não existem mais. O formais e não formais que têm como foco o patrimônio
autor nos fala sobre os diferentes pontos de referência que cultural, apropriado socialmente como recurso para a
estruturam nossa memória, entre eles o patrimônio compreensão sócio-histórica das referências culturais em
1

398
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

todas as suas manifestações, com a intenção de colaborar Secretaria de Turismo. Desde sua inauguração, em junho de
para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. 2019, até dezembro de 2019, sua visitação foi formada
Pretende-se, ainda, que os processos educativos devem majoritariamente por brasileiros, dentre os quais mais de
destacar-se pela construção coletiva e democrática do 50% do Estado do Maranhão.
conhecimento, por meio da participação efetiva das O museu possui uma exposição de longa
comunidades detentoras e produtoras das referências duração, organizada de acordo com pesquisa histórica e
culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio etnográfica realizada por equipe multidisciplinar, constituída
cultural. por historiadores, turismólogos, antropólogos e geógrafos,
Entendemos como relevante também a onde se apurou a herança deixada pelos ancestrais. O foco
abordagem do patrimônio cultural ligada à gastronomia. A central do MGM é a gastronomia ligada aos festejos típicos
Constituição Federal de 1988 ampliou a noção de do Estado. Os aspectos patrimoniais da alimentação estão
patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens em um setor específico do museu sobre as tradições
culturais de natureza material e imaterial. São considerados alimentares dos maranhenses, apontando questões sociais,
bens culturais de natureza imaterial: práticas e domínios da históricas e culturais formadoras dos sistemas alimentares
vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos locais. Essa área conta a história da culinária no estado por
de fazer; e nos lugares como mercados e feiras que abrigam meio de objetos e utensílios que são usados na preparação
práticas culturais coletivas. dos pratos típicos incluindo as tradicionais panelas de barro.
O Museu da Gastronomia Baiana – MGBA e o O manguezal, ecossistema que contribui com ingredientes
Museu da Gastronomia Maranhense - MGM que fazem parte da culinária local, como o caranguejo, o
Constituído através da iniciativa do Senac-Bahia, sururu e o sarnambi, também está presente.
o MGBA está localizado no Largo do Pelourinho, sítio Embora o MGM não possua um site específico
histórico reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da na Internet, pudemos observar através das fotos postadas em
Humanidade. Sua equipe de planejamento de atividades e rede social na página da Secretaria Municipal de Turismo de
atendimento ao público conta com um antropólogo e São Luís que a exposição não coloca em destaque as formas
curador do museu e duas turismólogas. O museu possui uma de saber fazer, assim como observado no MGBA.
exposição de longa duração, exposições temporárias e faz Conclusão
parte do complexo do Senac que conta com Restaurante- Este trabalho traz uma breve discussão sobre a
escola; bar-museu; loja-museu e Galeria Nelson Daiha, apropriação da gastronomia pelo espaço museal. Pudemos
espaço dedicado à art-food. Sua visitação é formada por observar que tanto o MGBA quanto o MGM têm em seus
aproximadamente 65% de turistas nacionais, 20% de turistas princípios a formação de memórias, a afirmação e
internacionais e 15 % de visitantes locais. Esse público de valorização da identidade local e de suas representações
15% corresponde ao público que agenda sua visitação, por culturais. A memória é pensada enquanto componente ativo
telefone ou através do site do SENAC, e é constituído por dos processos de transformação social e de produção de um
grupos de escolas, faculdades, agências de viagens, ONG’s e futuro. Isso se dá através da apresentação das comidas,
grupos participantes de projetos governamentais (Sales, história e utensílios ligados a religiosidade e as tradições das
2016). matrizes étnicas presentes na Bahia e no MGM com as
Organizada de forma temática, a exposição de festas populares. Cumprem, assim, a função social
longa duração aponta para questões sociais, históricas e fundamental de contribuir para o fortalecimento das
culturais formadoras dos sistemas alimentares locais. O “comunidades de sentimentos”, assegurando e estimulando a
dendê trazido de Angola aparece com destaque, assim como identidade local, além de buscar conquistar a compreensão e
a mandioca exportada do Brasil para Angola. Desta forma, o o respeito de outras comunidades.
foco central da exposição é a Bahia e sua variedade de Entendemos o MGBA e o MGM como um
ingredientes, biomas e culturas, orientando para aspectos espaço de educação patrimonial não somente por ser
patrimoniais da alimentação da população não só da capital utilizado por universidades e cursos técnicos locais em aulas
como também do Sertão e do Recôncavo. de campo. As exposições permanentes também chamam o
Tendo como missão a promoção de ações que visitante a uma reflexão sócio-histórica das referências
valorizem os sistemas alimentares da Bahia, o MGBA se culturais, colaborando para seu reconhecimento, sua
propõe a estabelecer mecanismos para dar visibilidade aos valorização e preservação. Dessa forma, entendemos que
muitos segmentos sociais que fazem parte das cadeias uma pesquisa mais profunda é necessária para verificar se os
produtivas de alimentos. No blog do museu o curador Raul próprios baianos e maranhenses, em toda a sua extensão
Lody chama os visitantes pra “comerem o Museu”, fazendo territorial e não somente os da capital, veem sua
assim a ligação com o Restaurante-escola que está dentro do gastronomia representada pelas exposições.
circuito de visitação. Referências
Pudemos observar através das fotos do site do DUARTE CÂNDIDO, MANUELINA MARIA.
MGBA que a exposição não coloca em destaque as pessoas, Diagnóstico museológico: estudos para uma metodologia.
as formas de saber fazer. São os bens materiais que têm Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos
maior visibilidade. Dentre os bens expostos estão quartinhas Países de Língua Portuguesa e Espanhola, vol. 3,
(uma espécie de jarro com tampa, feito em barro ou pp.124/132, 2009
porcelana), utensílios de madeira, panelas de barro, talheres GONDAR, JÔ. Cinco proposições sobre memória social.
entre outros. Além disso, estão presentes através de painéis Morpheus: revista de estudos interdisciplinares em memória
as “comidas de santo”, que são as comidas sagradas do social, Rio de Janeiro, v. 9, n. 15, 2016. p. 19-40.
Candomblé, e as especiarias largamente utilizadas na HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo:
cozinha baiana. Assim a parte do patrimônio cultural Centaura, 2006.
imaterial fica de lado, a não ser por um vídeo de 15 minutos, LE GOFF, JACQUES. Memória. In: LE GOFF, J. História e
produzido pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Memória. Campinas, Editora da UNICAMP, 1996.
Bahia (IPAC) e da Fundação Cultural Palmares, sobre o MINTZ, SIDNEY. Comida e Antropologia: uma breve
Acarajé. revisão. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Brasília,
O MGM foi constituído através de uma parceria nº 47, 2001.
entre Ministério do Turismo, Instituto do Patrimônio Histórico e POLLAK, MICHAEL. Memória e Identidade Social,
Artístico (Iphan) e Prefeitura de São Luís, e está localizado no Centro Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. , n. 10, 1992, p.
Histórico da cidade. O Museu é subordinado à Secretaria 200-212.
Municipal de Turismo e possui equipe técnica específica, SALES, FABIANA DE LIMA. Museus, patrimônio e
composta pelo curador e coordenador do museu e monitores, turismo: o caso do Museu da gastronomia baiana no
além de possuir parceria com universidades para estágios Pelourinho, Salvador – BA. 30ª Reunião Brasileira de
curriculares. A parte administrativa e de planejamento do Antropologia, agosto de 2016, João Pessoa/PB.
equipamento é feita através da estrutura técnica da

399
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Os sentidos e a comida trazem lembranças

Liziane Lacerda1, Deise Schell2, Maurício Roloff3, Gustavo Pinto4, Flávia Silva5 e Sarah de Almeida6
1
Doutora em Ciência dos Materiais – Unisinos, São Leopoldo, RS, 2Doutora em História – Unisinos, São Leopoldo, RS,
3
Mestre em Edição – Unisinos, São Leopoldo, RS, 4,5 e 6Mestre em Nutrição e Alimentos– Unisinos, São Leopoldo, RS.
lizianedl@unisinos.br

Palavras Chave: Infância, Memória, História, Cultura

Introdução dentro da instituição, tais como alunos, servidores, visitantes,


É possível encontrar na crônica gastronômica, na literatura e no fornecedores e atendentes, entre outros. Não havia pré-requisito para o
cinema diversas referências sobre lembranças relacionadas à comida e treinamento dos entrevistados, que foi realizado de modo aleatório. O
ao ato comer. Desde a clássica imagem da experiência sensorial tratamento estatístico foi demonstrado por meio de gráficos e tabelas,
iniciada pelas madeleines com chá de Marcel Proust no primeiro nos quais se agruparam os resultados semelhantes.
volume de “Em Busca do Tempo Perdido" (1913) até a cena da
degustação de um tradicional prato francês pelo personagem Anton Resultados e Discussão
Ego em “Ratatouille” (2007), muitas narrativas costumam ressaltar a A partir dos 566 questionários aplicados foi possível estabelecer uma
importância da conexão afetiva e recordativa que indivíduos guardam análise dos vários atributos abordados. Quanto à divisão de gênero dos
com determinados pratos, preparos e sabores, quase sempre construída entrevistados, verificou-se que a maioria eram mulheres (70%), os
ainda na infância (1). homens tiveram uma participação bem menor na pesquisa realizada
As memórias gustativas, no entanto, não se referem apenas a (30%).
reminiscências particulares e individuais, mas a experiências coletivas Com relação à faixa etária, a heterogeneidade do grupo foi evidente,
que dizem respeito à construção identitária de comunidades, mas houve predominância da faixa etária de 20 a 30 anos de idade. Os
manifestada através da cozinha. Por isso mesmo, o historiador participantes pertenceram as seguintes faixas etárias: até 20 anos
Massimo Montanari afirma que “exatamente como a linguagem, a (21%), de 20 a 30 anos (48%), de 30 a 40 anos (14%), de 40 a 50 anos
cozinha contém e expressa a cultura de quem a pratica, é depositária (11%) e os acima de 50 anos (6%).
das tradições e das identidades de grupo. Constitui, assim, um Quanto à escolaridade, houve um grupo de participantes mais
extraordinário veículo de auto representação e de comunicação" (2). expressivo, o qual possuía Ensino Superior Incompleto (70%),
Sabe-se, assim, que a relação dos indivíduos e dos grupos sociais com seguido pelo grupo dos participantes com Ensino Superior Completo
o alimento é reveladora das suas identidades e das suas formações (23%) e o grupo de participantes com Ensino Médio (7%).
culturais. Dentro dessa perspectiva, alguns saberes e fazeres culinários Muitos dos voluntários residiam nos municípios onde situam os
mantêm-se, também, porque habitam as memórias das pessoas e das principais campi da instituição e onde foram aplicados os formulários,
comunidades ao longo de suas vidas e de suas histórias e fazem Porto Alegre (29%) e São Leopoldo (18%), além de cidades que
comunicação com o passado de cada um e de cada uma. Neste sentido, compõe a Região Metropolitana de Porto Alegre (41%).
o presente trabalho buscou encontrar memórias afetivas associadas No que diz respeito à cidade de origem dos participantes, tivemos
com comidas por meio de uma investigação baseada no representantes das cinco regiões que dividem o estado do Rio Grande
preenchimento de formulário, seguido da tabulação dos resultados, do Sul, Região Metropolitana (68%), Região do Planalto (14%),
tratamento estatístico e análise dos dados coletados. Região da Depressão Central (5%), Região do Litoral (5%) e Região
da Campanha (2%). Alguns raros participantes foram provenientes de
Material e Métodos outros estados, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de
Um formulário padrão previamente elaborado foi preenchido de forma Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso do Sul e até mesmo de
voluntária pelos participantes, Figura 1. Os atributos abordados no outros países, como Uruguai, Argentina e Japão.
Formulário de Memória Afetiva oferecido estavam relacionados às Cabe ressaltar, que não houve respostas previamente determinadas, o
vivências dos entrevistados. O questionário foi montado com uma que implica dizer que os resultados obtidos foram muito distintos. Ou
parte inicial contendo informações como sexo, idade e escolaridade do seja, o questionário exigiu respostas pessoais e subjetivas, sendo
participante, o que tornou possível categorizar as respostas e entender muito diferentes entre os participantes. Desta maneira, para a
quais memórias elas evocaram nos indivíduos de acordo com os três elaboração da Tabela 1 que apresenta os principais pratos que
atributos acima listados. Em seguida, foi indagada a cidade de permearam as memórias dos participantes, foram considerados apenas
residência atual e a cidade em que eventualmente tenham passado a preparos citados mais de 5 vezes. Conforme as respostas obtidas,
infância. Além disso, o participante foi instado a informar uma comida lasanha e macarronada, dois pratos tipicamente italianos, foram os
que lhe trouxesse boas lembranças, bem como questionado sobre mais lembrados, seguidos pela cuca e o churrasco, preparos de origem
quem realizava o seu preparo (se dentro ou fora do ambiente familiar). alemã e tradicionalmente gaúcha, respectivamente.

Figura 1: Formulário de Memória Afetiva. Tabela 1: Resultados obtidos após preenchimento do atributo referente
à comida que lhe traz uma boa lembrança.
Comida que traz boa lembrança Respostas Comida que traz boa lembrança Respostas
Lasanha 46 Pudim 11
Macarronada 31 Bolo de cenoura 10
Cuca 21 Sagu 10
Churrasco 19 Strogonoff 9
Pizza 19 Moranga 8
Bolinho de chuva 16 Pure com molho 8
Bolo de chocolate 15 Carreteiro 8
Galinhada 15 Frango com molho 7
Pão caseiro 15 Cueca virada 7
Arroz doce 12 Bolo 7
Sopa 12 Pastel 7
Torta de bolacha 11 Doce em calda 6
A coleta dos dados ocorreu nos corredores dos prédios da Instituição Feijão 11 Ambrosia 6
do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, nos campus de São Leopoldo Polenta 11 Arroz e feijão 6
e de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, durante o intervalo das aulas
dos períodos da manhã e da noite. Os ambientes, embora fechados,
permitiram a circulação de pessoas com diferentes idades e funções

400
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

E posteriormente verificado se essas memórias envolviam ou não o (5) ZANETI, Tainá Bacelar. A Cozinha Gaúcha: um resgate dos
seu grupo familiar, Figura 2. Como esperado, majoritariamente a sabores e saberes da Gastronomia do Rio Grande do Sul. Ágora,
figura feminina foi associada ao preparo das refeições que traziam Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 1, p. 28-42, jan./jun. 2016.
uma boa lembrança ao participante, representando 84% das respostas (6) GIARD, Luce. Artes de nutrir. In: DE CERTEAU, Michel;
obtidas. GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2. morar,
Tais dados podem permitir avaliar os hábitos de consumo do grupo cozinhar. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1996.
participante da pesquisa. Também é possível perceber diferenças da (7) LUNKES, Luciano. Os sons da cozinha: Evocação de memórias
relevância do prato revelado como uma boa lembrança em diferentes através dos sons produzidos no ato de cozinhar. Caxias do Sul, RS:
localidades, possibilitando categorizar as respostas a partir de Educs, 2015.
características geográficas e culturais.

Figura 2: Resultados obtidos após preenchimento do atributo referente


a quem preparava/prepara esta comida.
44%

30%

10%
5% 3% 2% 2% 2% 1% 1%

Conclusões
A pesquisa elaborada demonstrou-se capaz de identificar os aspectos
afetivos ligados, sobretudo, à infância dos participantes. Essas
memórias, por sua vez, se constituíram como importantes conexões
com o ambiente familiar e com os próprios familiares.
As idades, por ter sua mais elevada representatividade na faixa entre
20 e 30 anos e o fato de que a maior parte dos participantes possuem
memórias ligadas ao ambiente familiar, ou membros da família (mães,
tias, avós, entre outros) permite inferir que, portanto, a produção
caseira do alimento e a refeição em família é um hábito que permeava
os momentos passados dos participantes, e a presença de alimentos
industrializados ou a compra da alimentação produzida por terceiros
(restaurantes, carrocinhas, refeições prontas, e outros) é um cenário
mais recente. Este fato indica que a mudança nos hábitos de
comensalidade das famílias do Rio Grande do Sul - a individualização
e terceirização da alimentação – ocorre de forma menos expressiva, e
contrasta com as estatísticas mundiais, cuja tendência é passar menos
tempo cozinhando e compartilhando o alimento em família (3,4).
As comidas indicadas pelos participantes como aquelas que lhes
trouxeram memórias gustativas remetem, em sua maior parte, a pratos
tradicionais do estado onde a pesquisa foi aplicada (5). O fato de a
maior parte dos pratos lembrados serem gaúchos ou uma mescla
daqueles pertencentes a grupos imigrantes do sul do Brasil, indica que
alguns elementos culinários se mantém, e que a infância do
participante foi preenchida com comidas da região, com função,
muitas vezes, agregadora e mediadora da sociabilidade dentro da
estrutura familiar.
Além disso, ao analisar as pessoas responsáveis pelo preparo, verifica-
se que, quase em sua totalidade, eram figuras femininas ligadas ao
ambiente familiar. Isso se deve, sobretudo, à cultura que ainda resiste
em alguns grupos de manter a mulher como responsável pela
alimentação das famílias e pela manutenção das tradições culinárias
(6, 7).
Destaca-se, por derradeiro, a importância que o estudo e a
compreensão das memórias afetivas podem ter para a gastronomia.
Sem dúvida, o aprofundamento desse conhecimento pode trazer uma
série de contribuições para o desenvolvimento do setor.

Referências
(1) PETRINI, Carlo. Slow Food: Princípios de uma nova gastronomia.
São Paulo: Editora Senac, 2009.
(2) MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
(3) POLLAN, Michael. Cozinhar: uma história natural da
transformação. São Paulo: Intrínseca, 2014.
(4) WILSON, Bee. The Way We Eat Now: how the food revolution
has transformed our lives, our bodies, and our world. Londres:
Hachette UK, 2019.

401
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Um Estudo das Práticas Alimentares na Comunidade Picos em Dom Inocêncio – PI

Daniela Dias1, Gerlane Silva2


1
Discente do curso de Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal do Piauí (IFPI). E-mail:
danielaamorimdias@gmail.com.
2
Mestre e docente do IFPI.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura alimentar. Memória. Religião.

INTRODUÇÃO incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um
membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais
A alimentação desde a antiguidade sempre foi primordial destes” (9). Logo com o decorrer do trabalho de campo há a
para sobrevivência do ser humano, a mesma envolve relações sociais e oportunidade de presenciar vários comportamentos, formas de
culturais, pois além do bem-estar do corpo incorpora as relações do socialização, além da integração ao grupo.
bem-estar do ser, deste ser que se relaciona com o ambiente em que
vive. Assim, o modo de alimentação da sociedade não está relacionado RESULTADOS E DISCUSSÃO
somente como meio de saciar a fome, ela vai além, tendo como
influência o local onde o indivíduo vive, a geografia, a cultura alimentar As práticas alimentares de um grupo estão relacionadas as
e as crenças religiosas (1). formas como acessam os alimentos e os transformam em comida. Logo,
A relação entre hábitos alimentares e religião faz parte da as práticas alimentares dos moradores de Picos e o trabalho do roçado
vida do homem, pode-se pegar como referência a Ceia de Jesus Cristo tem grande relação, uma vez que as famílias são agricultoras familiares,
com seus discípulos, que foi um momento muito importante na vida de pois produzem para o núcleo familiar. Para tanto “a agricultura familiar
Jesus e uma grande referência para o cristianismo, onde o pão é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho,
representa o seu corpo e o vinho representa o seu sangue derramado vem de indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou de
naquela cruz, assim como está descrita na Bíblia Sagrada. As práticas casamento” (10). Contudo, alguns membros da família exercem outras
alimentares estão ligadas a muitos rituais religiosos, pois desde a funções geradoras de renda, como pedreiros, professores, secretárias do
antiguidade pode-se observar que há muita religião na comida e muita lar, além de programas governamentais como bolsa família e
comida na religião (2). aposentadoria, que cumprem a função de complementar a renda
Como referência a Ceia, “na sexta-feira Santa não se come familiar. Na terra de trabalho de cada família, coordenado pelo
carne vermelha. Em casa de judeu o porco não faz parte do cardápio. Já patriarca, cultivam alimentos do roçado, como, milho, feijão, abóbora,
na dieta Hare Krishna, somente o leite e o vegetal têm espaço. Em pepino, melancia e maxixe, além disso, criam gado, caprinos, ovinos,
período de Ebó, limpeza espiritual, o que é para o santo não se come. galinhas e porcos.
Quando se trata de fé, a comida deixa de ser apenas um alimento para O alimento pode significar, além da mera ingestão de
o corpo e assume um papel espiritual. Dogmas nas diversas religiões nutrientes, despertar de sentimentos, vivências ou memórias (11).
trazem proibições, permissões e atribuem funções que vão além do Quando se trata das refeições diárias vemos presentes os elementos do
caráter nutricional e prazeroso a refeição”. (3) Ou seja, ao alimentar-se, trabalho desses agricultores.
o indivíduo está satisfazendo tanto o espírito quanto o corpo, mas No café da manhã, o cuscuz é a principal preparação
através da fé, que quase sempre conduziu as práticas alimentares, consumida, geralmente acompanhada com ovo, fígado ou carne dos
muitas vezes o indivíduo prefere abster-se de certos alimentos como animais abatidos. O beiju também é outra preparação muito apreciada.
forma de respeitar a crença, em vez de sentir prazer ao consumir o Tem-se ainda o bolo, a rosca de queijo, por muitas vezes a coalhada e
alimento. umbuzada, o café e o leite são os elementos indispensáveis. No almoço,
Desse modo, ao adentrar nas crenças tem-se as festas o arroz e o feijão é a comida base que nunca pode faltar, o macarrão na
religiosas, onde se ressalta a Semana Santa, uma vez que a comida maioria das vezes encontra-se presente. Algumas pessoas tem o hábito
preparada durante esse período passa a ter um sentido sagrado para os de cozinhar a batata doce. Em época de safra do maxixe, a maxixada
cristãos católicos, não servindo apenas para nutrir o corpo, mas para ganha um grande espaço na mesa dos inocentinos, a abóbora por sua
preparar o espírito para um rito cristão (4). Assim, as festas populares vez tem um nível muito elevado em seu consumo, sendo preparada
piauienses tem grande conexão com a comida, pois “de todos os rituais, tanto em talhada como em quibebe, a farofa também é muito apreciada.
o da comida é o mais comum, já que se pratica em todos os lugares e é A carne na maioria das vezes é provinda da própria criação, entretanto
um fator de diferenciação social e cultural com base na forma de o frango ganha destaque nas compras, já que as galinhas só são mortas
preparar e ingerir a comida, naquilo que se come, com quem e nos ciclos para consumo geralmente em momentos de confraternizações
da alimentação diária” (5). familiares. No jantar é costume comer sempre a mesma comida do
Portanto, esse trabalho tem por objetivo apresentar um almoço e algumas vezes cuscuz ou beiju também.
estudo acerca da relação entre a religião católica e as práticas É tradição em Picos as pessoas fazerem almoços e jantares
alimentares da Semana Santa na comunidade Picos, que fica situado no como forma de reunir as famílias, como por exemplo, na Semana Santa,
Município de Dom Inocêncio, no estado do Piauí. Tal comunidade assim, pode-se classificar esses eventos de encontros e reencontros com
encontra-se a uma distância de 32 km do centro do município. a família como momentos afetivos, tornando a comida como um centro
Vale salientar que os alicerces de fundação do município de ligações e sentimentos marcantes. De forma que “(...) o
foram ditados pelo Padre Lira e suas doutrinas cristãs que chegou em comportamento alimentar pode ser nutrido com esses momentos de
1963 (6). Em virtude dessa conjuntura percebe-se porque afetividade e marcado por sentimentos construindo assim um material
aproximadamente 91% da população de Dom Inocêncio é católica (7). cultural na formação alimentar, tornando também alimentar-se um ato
sentimental” (11).
MATERIAL E MÉTODOS Quanto ao âmbito das proibições relacionadas à comida,
observa-se um tabu alimentar praticado pelos moradores de Picos que
Para alcançar os objetivos da pesquisa, esse trabalho partiu é o de não poder comer a carne vermelha na Sexta-feira Santa. Segundo
de uma perspectiva etnográfica utilizando métodos no trabalho de relatos dos mais velhos quem come a carne vira “bicho”. Por outro lado,
campo para contribuir com a investigação. Logo a Etnografia tornou-se nessa época o frango é a carne mais consumida pelo grupo. A carne
fundamental para compreender o indivíduo e suas diversidades dentro vermelha não é consumida porque é oriunda de animais mamíferos, ou
de um coletivo (8). seja, provinda de animais que mamam e por isso é proibido, pois a carne
Assim, o trabalho de campo fez uso da observação e seu sangue representam a morte de Jesus Cristo. Entretanto, o peixe e
participante para buscar entender as práticas alimentares no período da o frango por não serem considerados mamíferos e terem carne branca,
Semana Santa na comunidade Picos. Esse método de pesquisa tornou- tais moradores os consideram como “batata”. Assim, para eles é
se instrumento chave dessa investigação, onde a mesma “consiste na permitido comer. Alguns acham que isso é consequência das regras
participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se impostas pela Igreja Católica, já outros, ou mais jovens, desconhecem

402
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

o motivo, só dizem que é “busão” dos mais velhos e que eles continuam é feita e o que ela representa para o indivíduo que está consumindo-a.
seguindo. Logo, é ritual das famílias de Picos unir-se durante a Semana Santa,
Dessa forma, nesse contexto pode-se compreender tabu tornando-se um momento de troca e afeto.
alimentar a partir do momento que o mesmo é tido com uma proibição
que distingui a evitação deliberada de um alimento por inúmeros REFERENCIAS
motivos que não seja somente a antipatia pelas preferências
alimentares, além do mais ele pode ser imposto por membros do grupo (1) FERRARI, Evandro Sérgio. Religiões e Hábitos Alimentares: uma
familiar ou mesmo por pessoas de fora (12). construção histórica, 2016. Revista Eletrônica de Teologia e Ciências
A maioria das preparações feitas antigamente continuam até das Religiões, Vitória – ES, v. 4, n. 2, jul – dez., 2016. Disponível em:
hoje, no entanto, mesmo não identificando mudanças significativas, os file:///C:/Users/usuario/Downloads/416-1423-2-PB%20(1).pdf.
modos de prepará-las sofreram alterações entre as diversas gerações, Acesso em: 07 de maio de 2019.
pois ocorreram mudanças nos equipamentos e utensílios utilizados para (2) SOUZA, Patricia Rodrigues de. Religião e Comida: como as
produção. Mas ainda podemos encontrar práticas antigas com usos de práticas alimentares no contexto religioso auxiliam na construção
alguns utensílios e equipamentos, como o fogão à lenha, o giral, a banca do Homem. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –
de pote e cisternas. Pontifícia Faculdade Católica de São Paulo, 2014.
A comida da Semana Santa tem grande influência da (3) ALVEZ, Christiane; OLIVERIRA, Gabriella; CURY, Leandro;
comida do dia-a-dia, já que na sua maioria são as mesmas preparações, MENDES, Mariana. A comida e o Sagrado: O alimento que satisfaz o
porém mais incrementadas. Além do acréscimo de preparações corpo e o espirito. Portal PUC-Rio Digital, 2006 2. Disponível em:
características de comemorações, como é o caso do doce de leite e o http://puc-riodigital.com.puc-
requeijão, o peixe é outro exemplo, mesmo sendo uma carne consumida rio.br/media/2%20%20a%20comida%20e%20%o%20sagrado.pdf.
em menor quantidade comparada as outras proteínas animais, é Acesso em: 25 de junho de2019.
preparado também no dia-a-dia dos moradores e não só apenas no (4) MATOS, M.A. O. Pelas Quebradas, Várzeas e Chapadas- uma
período Quaresmal. viagem gastronômica pelo Piauí. 2. ed. Teresina: Alínea Publicações
O jejum é um ato pouco praticado pelos moradores de Picos, Editora, 2007.
já que uma minoria diz ainda jejuar. Alguns relatam que nunca jejuaram (5) SCHLÜTER, Regina G. Gastronomia e Turismo. São Paulo:
e a maioria diz que praticavam o jejum, porém hoje em dia já não Editora Aleph, 2003.
praticam mais tal ato. Segundo eles alguns aspectos contribuem para (6) DAMASCENO, Marcos Oliveira. Padre Lira: monumental
isso, como o fato de alguns serem protestantes e outro fator é a idade, homem de Deus. Dom Inocêncio: Produtora Sertão, 2014.
onde dizem ser tradição a partir dos 60 anos não poder mais jejuar. (7) IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dom
Grande parte dos costumes que eram praticados antigamente Inocêncio. 2010. Disponível em:
na comunidade não prevalece hoje em dia, como o fato de não poder https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/dom-inocencio/historico. Acesso
andar amontado, trabalhar, tomar banho e varrer a casa. O não consumo em 22 de junho de 2019.
da carne vermelha na Semana Santa é uma cultura seguida e praticada (8) PEIRANO, Mariza. Rituais ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge
pela maioria dos moradores da localidade de Picos. Entretanto, parece Zahar, 2003.SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. A comida como
que a religião não é mais o fator preponderante para tal proibição da lugar de história: as dimensões do gosto. História: Questões &
carne vermelha, e sim por ser tradição e os mais jovens seguem os Debates, Curitiba, n. 54, p. 103-124, jan-jun, 2011. Disponível em:
saberes dos mais velhos. https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/25760. Acesso em 03 de
Diante dessa conjuntura verifica-se que os moradores da maio de 2019.
localidade praticam ações vinculadas ao período da Semana Santa como (9) MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 6.
uma tradição local, e não por uma obrigação da igreja, pois Ed. São Paulo: Editora ATLAS S.A., 2007. Disponível em:
ressignificaram suas necessidades. Mesmo aqueles que se afirmam http://www.labev.uerj.br\textos\tecnicas-pesquisa_documentacao-
como católicos não praticam com a mesma veemência dos tempos direta-intensiva.pdf. Acesso em: 13 de outubro de 2019.
antigos. Por isso ao definir “a cultura como dinâmica e flexível, ela é (10) ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário
modificada na prática pelas ações individuais e coletivas e apresenta em questão. São Paulo. Anpocs, Unicamp, Hucitec, 1992. “Uma nova
sistema de significados atribuídos aos acontecimentos” (13). Diante do extensão para a agricultura familiar”. In: Seminário Nacional de
contexto apresentado, pode-se compreender que a religião Católica tem Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília, DF, Anais, 1997.
influência sobre as práticas alimentares da comunidade de Picos, pois (11) SANTANA, W. C. Comida e afeto: Um reencontro da infância a
seus princípios ainda se encontram presentes no cotidiano e nas partir da memória. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnólogo
festividades religiosas, apesar de alguns não serem mais praticantes da em Gastronomia) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
religião participam das reuniões em famílias desse período. do Piauí– IFPI.
(12) MEYER-ROCHOW, Victor Benno. Tabus alimentares: suas
CONCLUSÕES origens e propósitos. Revista de Etnobiologia e Etnomedicina, Escola
de Engenharia e Ciências, Jacobs University, Bremen, Alemanha,
Uma vez que as práticas alimentares se caracterizam como dezembro 2009. Disponível em:
o modo em que as pessoas ou um grupo de pessoas utilizam um certo file:///C:/Users/LARISSA/Downloads/Tabus%20alimentares_%20sua
alimento, as mesmas são definidas de acordo com inúmeros fatores que s%20origens%20e%20propo%CC%81sitos%20_%20SpringerLink.pd
cercam o ser humano, como por exemplo, a religião. Dessa forma, visto f. Acesso em: 08 de setembro de 2019.
que a Semana Santa tem grande importância para a Igreja Católica, as (13) SILVA, G. D. Do fogo da terra à cozinha: uma etnografia sobre
tradições alimentares da mesma foram em muitos casos ressignificados o campesinato quilombola. Dissertação, Mestrado em Antropologia.
pelos moradores de Picos, mas ainda são seguidas dentro do atual Universidade Federal do Piauí, 2018.
contexto. Além disso, a comensalidade é caracterizada pelas relações
sociais de reciprocidade e trocas presente nessa festa popular,
relacionados ao ato de comer, quando envolve a forma que a preparação

403
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e a Memória Afetiva

Rita de Cássia Resende Lopes Oliveira1,2


Iury Antônio de Souza2,3
1
Especialista em gastronomia, Faculdade Estácio de Sá, e-mail: caialopes@hotmail.com
2
Docente do Centro Universitário UNIFAMINAS - Muriaé – MG
3
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos – IF Sudeste MG

Palavras-chave: Comida, Olfato, Paladar, Comfort food.

INTRODUÇÃO: realidade vivenciada naquele momento. Ao recorrer a determinada


iguaria em momento de fragilidade, este consumo pode funcionar
Quando acordamos ou visitamos determinado lugar e sentimos um também como um mecanismo de reforço identitário, sendo acionado
cheiro de café fresquinho, bolo de milho, frango com quiabo, pão de para fortalecer o vínculo a um determinado grupo. Isso se dá porque,
queijo, entre outros, nos remetemos a muitas lembranças embora exista uma tendência que aponte o consumo comfort food
significativas, sejam de nossos familiares, de um passeio, férias ou de como individual, o seu vínculo memorial com situações de
um determinado indivíduo. Assim, pode-se afirmar que, a maioria das comensalidade é evidente. Embora a definição do que é ou não comfort
pessoas lembra-se de algo ao sentir o cheiro e o sabor de uma food para um indivíduo dependa de conteúdos subjetivos ligados
determinada preparação. A comida pode relacionar-se com a diretamente à sua história pessoal, é possível perceber constâncias de
companhia de outras pessoas e por isso torna-se especial, como por critérios e de iguarias em grupos sociais cujos integrantes tenham
exemplo, as refeições em família, o happy hour com os amigos ou uma experimentado referências socioeconômicas e culturais semelhantes.
festa de criança. Cada um desses “eventos” guarda e guardará muitas Tal questão tem sido entendida pela indústria alimentar e pelo mercado
memórias afetivas, proporcionadas pela gastronomia ou de forma de alimentação fora do lar, que incorporam expressões como “da
simples e grandiosa em significado a comida da avó, mãe, tia.1 vovó”, “caseiro” e “tradicional” em vários de seus produtos e em seus
A nutricionista Carolina Baliere (2017)1, explica: discursos de marketing.3,4,5
"A memória gustativa tem um poder involuntário que nos faz ter uma
consciência de um sabor que remete ao passado. Por exemplo, você CONCLUSÃO
passa por um lugar, uma padaria, vê um frango e sente o seu aroma.
Aquele momento remete alguma época que você frequentava a casa Como brevemente analisamos, é possível compreender e afirmar que
da sua avó e ela preparava um delicioso frango para você. O cheiro e a alimentação tem uma função social e afetiva de grande importância
a imagem ficaram na sua memória e te traz uma sensação de prazer e para o indivíduo.
bem-estar”. Percebemos também que este breve estudo não abrange em
A memória afetiva tratada na gastronomia e nesse estudo também é profundidade este debate, que pode e deverá ser ampliado em outras
retratada no cinema com os filmes Ratatoullie (2007)2 e Comer, Rezar oportunidades com novas metodologias.
e Amar, os quais são direcionados a diferentes públicos. Por meio Entretanto fica claro a importância da gastronomia na construção da
destes demonstra-se que a gastronomia e a afetividade, o alimento e o sociedade e de sua cultura.
coração, também caminham juntos, mas além disso a gastronomia nos
proporciona o conhecimento de um povo e seus costumes.
Exemplifica-se tal questão pelos pratos tradicionais de Minas Gerais, REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dentre os quais podemos citar o frango com quiabo, pão de queijo e
queijos variados.2
(1) BALIERE, Carolina. Memória gustativa: O que é? Descubra
OBJETIVOS: como os alimentos agem em nosso cérebro. TAEQ. 2017. Disponível
em: https://www.conquistesuavida.com.br/noticia/memoria-
Refletir sobre a memória afetiva e gustativa dos alimentos, no intuito gustativa-o-que-e-descubra-como-os-alimentos-agem-em-nosso-
de evidenciar como a gastronomia pode tornar-se parte da construção cerebro_a4795/1. Acesso em 30 jan 2020.
social dos indivíduos.
(2) LEWIS, Brad. Ratatouille, Direção Brad Bird, 2007,
METODOLOGIA Disney/Pixar. Produzido por Pixar Animation Studios, Distribuíção:
Walt Disney Pictures, Direção de Brad Bird, produção de Brad Lewis
Para a realização deste artigo utilizou-se o método da pesquisa e roteiro de Brad Bird e Jim Capobianco. 2007.
bibliográfica, na qual enquadrou-se o levantamento de informações,
ideias e referências pertinentes a memória afetiva na gastronomia. (3) FERREIRA, Bruno. Comida e afetividade: "Lembranças afetivas
na Gastronomia são chamadas de 'comfort food', ou seja, a comida de
conforto. E confortam, porque nos remetem a momentos felizes".
RESULTADOS E DISCUSSÃO Disponível em: http://portalamazonia.com/opiniao/bruno-
ferreira/comida-e-afetividade. Acesso em 30 jan 2020.
Segundo Ferreira (2019)3, a comida é, acima de tudo, cultura. Aquilo
que comemos, como comemos, quando e onde comemos é resultado (4) SPENCE, Charles. Comfort food: a review. International Journal
de acumulações, que fazem parte da nossa história de vida, do of Gastronomy and Food Science. 9:105-9, 2017.
ambiente em que estamos inseridos e das relações que estabelecemos
com os outros na construção da nossa própria identidade. Um dos (5) GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio. Contextos da
aspectos que torna nossa cultura perene reside nas memórias que dela Alimentação – Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade, Vol.
guardamos e reproduzimos, seja de seus símbolos, práticas, rituais, 4 no 2 – março de 2016, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN
entre outros. Após análises é possível verificar que os indivíduos 2238-4200.
associam algum alimento a alguma situação afetiva, seja por meio do
cinema em obras baseadas em vida real, seja na família ou
simplesmente pela experiência, a comida transcende as barreiras
físicas do fogão alcançando as emoções individuais dos envolvidos.2,3
Diante disso surgem novos campos dentro da gastronomia, como por
exemplo o “Comfort food”, o qual literalmente é traduzido como
comida confortante, mas com um significado muito mais amplo4.
O termo comfort food diz respeito a comidas (e bebidas) que possuem
uma ligação com o passado percebido como mais feliz do que a

404
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Rapadura Como Comida Afetiva Na Alimentação Da Comunidade de Lagoa da
Moitinga, Ubajara- Ceará

Josilane Cavalcante1, Afonso filho1, Patrícia Mesquita2,


1. Graduando, Curso de Tecnologia em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE), josilane.cavalcante2813@gmail.com
22 Profa. Msc.Ciência e Tecnologia de alimentos- Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFCE)
Campus Ubajara.

PALAVRA CHAVE: Engenho, Cana de Açúcar, Gastronomia.

INTRODUÇÃO
A influência afetiva, pela inserção da rapadura em
A rapadura, de origem artesanal, é considerada um preparações culinárias feitas tradicionalmente por seus pais,
alimento, também utilizado como ingrediente principal para durante a infância, é perpetuada até os dias atuais.
muitas preparações culinárias por todo mundo(1). De acordo com Essa dimensão afetiva está presente especialmente
Figueiredo(2), a rapadura é “o verdadeiro alimento de poupança em pratos considerados marcantes na vida de um indivíduo(5). A
do nordestino” uma vez que, em tempos passados, ele a utilizava essas preparações, dá o nome de pratos-totem - aqueles que
tanto para a própria alimentação como para a dos animais de carregam grande valor simbólico para um determinado grupo(6).
carga.
A comida afetiva é baseada em memórias, é o ato Grafico1 - Preparações culinárias feitas com
de degustar um alimento que seja associado à hospitalidade rapadura
capaz de gerar a boa lembrança da vida, ao prazer, ao gosto de
infância, regados sempre de doação, despertando sentimentos,
memórias, segurança e prosperando em suas gerações (3).
No Ceará duas regiões se destacam pela existência
da pequena produção de rapadura: a do Cariri e a da Serra do
Ibiapaba(4).
Ubajara é um município localizado a microrregião
da Ibiapaba, na Mesorregião do Noroeste Cearense,
no estado do Ceará, Brasil. A rapadura se destaca no cenário
ubajarense, por ser um produto acessível e que vem alimentando
o nordestino em tempos de seca e fome.
Neste município, boa parte dos engenhos de
rapadura estão instalados na localidade de sítio de Moitinga,
comunidade da Lagoa da Moitinga. A produção de rapadura e
seus derivados vem sendo feita de maneira artesanal pelas
famílias que lá habitam, e esta tradição é passada de pais para
filhos. Os engenhos de rapadura são responsáveis por
movimentar parte da economia da localidade.
Desta forma este estudo busca analisar a
importância da rapadura e suas preparações culinárias na Fonte: Autora
alimentação da comunidade da Lagoa da Moitinga Ubajara, CE,
para a cultura gastronômica e memória afetiva da comunidade
estudada Para a comunidade de Lagoa da Moitinga, a
gastronomia dos engenhos de rapadura não está relacionada
MATERIAL E MÉTODOS apenas à alimentação, mas também às lembranças afetivas desta
comunidade sendo importante tanto como alimento, como
A presente pesquisa caracterizou-se por ser um memória, segundo o entrevistado (PE2):
estudo exploratório e qualitativo aprovado pelo comitê de ética e “Era um marco na cultura, pois quando era
pesquisa com seres humanos (CEP) do Instituto Federal de criança a diversão era o engenho, tomando a
Educação Ciência e Tecnologia do Ceará, em agosto de 2018, garapa, comendo puxo com nata de leite”.
com Número do Parecer: 2.945.255.
Foi utilizando como ferramenta um questionário Algumas preparações à base de rapadura
semiestruturado aplicado a sete homens com idade entre 32 anos permanecem na alimentação da comunidade, como doce de
e 68 anos, e cinco mulheres com idade entre 32 e 62 anos mamão com rapadura ou melaço, doce de leite com rapadura,
moradores da comunidade que consomem rapadura na sua doce de banana, café torrado com rapadura, cocada com
alimentação, para identificar a afetividade gastronômica da rapadura, bala de café com rapadura, caldo de cana com suco de
rapadura e de seus produtos para a região estudada. limão, feijão com rapadura, doce de jaca com rapadura dentre
As perguntas aplicadas estavam relacionadas ao outras. Preparações essas que pertencem às memórias e à
uso da rapadura na alimentação local, buscando verificar quais alimentação dessa comunidade. Como relata o entrevistado
preparações são de conhecimento dos entrevistados, se são (PE3):
preparadas com rapadura, melaço ou outro derivado da cana-de- “O doce de leite já vem lá da minha vó, ela fazia
açúcar, a fim de fazer um levantamento dessas receitas perante de tachada, o doce de mamão e de jaca e todos
as famílias e sua importância para o cotidiano dos mesmos. levavam rapadura como ingrediente que fazemos
até hoje”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A afetividade pela rapadura como comida está Todas essas preparações, pratos-totem, citadas
presente como elo de identificação da comunidade que tenta pelos entrevistados estão ligadas em algum momento da sua
preservar nas lembranças estes sabores e sentimentos. vida, fazendo parte da sua vivência e de suas lembranças
Como podemos observar no gráfico 1, a rapadura está afetivas em períodos importantes do seu cotidiano, sendo
mais presente a preparações doces do que nas salgadas. São repassadas através gerações.
utilizados ingredientes locais para simbolizar sua identidade e O doce de leite com rapadura, doce de jaca com
afetividade na alimentação. rapadura e doce de mamão verde com rapadura, foram lembradas
como receitas preparadas em comemorações familiares, sendo

405
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

considerada uma comida afetiva que remete às lembranças 3 TAVARES, A. P. COMIDA AFETIVA: UMA
importantes para os pesquisados. EXPRESÃO DE GOSTO, HOSPITALIDADE E
O ato de comer não emerge, então, como um gesto MEMÓRIA. 2018. Universidade de Brasilia, 2018.
qualquer, mas sim assume um valor muito mais profundo, é um Disponível em:
ritual simbólico real que contribui para a identificação pessoal, <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/32829/1/2018_
individual e social(7). AdrianoPereiraTavares.pdf>.
O consumo de algumas dessas preparações como
farofa de rapadura e feijão com rapadura estão relacionadas à 4 LIMA, J. P. R; CAVALCANTI, C. M. L. Do engenho
sabedoria popular, cujo conhecimento das propriedades para o mundo? A produção de rapadura no Nordeste:
nutricionais da rapadura já eram empiricamente conhecidas, características, perspectivas e indicação de políticas. Revista
como descreve um dos entrevistados, mesmo antes de estudos Econômica do Nordeste. Fortaleza 2001
que comprovam sua eficiência nutricional (PE2):

“Além da rapadura ser um alimento forte a nossa 5 CALVO, Manuel. “Migration et alimentation”. Social
sobrevivência veio da rapadura raspada com science information, v. 21, 1982 383–446. Crossref, ,
feijão.” doi:10.1177/053901882021003003. (Consulta em:
15.06.2018)
A rapadura representa, para muitas populações, um
dos principais ingredientes culinários para diversas receitas 6 CONTRERAS, Jesús. Alimentación y religión. Humanitas
utilizadas no Brasil, principalmente no Nordeste. A rapadura está humanidades médicas, n. 16, p. 1-22, 2007
ligada a cana de açúcar, não só como um doce, mas sim como
um alimento, um remédio (8). 7 FRANZONI, E. A gastronomia como elemento cultural,
O nível de glicose na rapadura é recomendado para símbolo de identidade e meio de integração. 2016.
impedir: fraqueza, tremores, cansaço mental, desmaios ou universidade Nova de Lisboa, 2016. Disponível em:
hipoglicemia. Além disso, é eficaz no tratamento de sintomas de <https://run.unl.pt/bitstream/10362/19832/1/_ELISA
gripes e resfriados usado topicamente na cura de feridas e FRANZONI - A gastronomia como elemento cultural_%2C
arranhões (9). Como relata PE2, entrevistado: símbolo de identidade e meio-.pdf>.

“Quando a gente era criança era difícil e a merenda


8 FREYRE, G. Açúcar: uma sociologia do doce, com
que a gente fazia era raspar a rapadura e mistura
receitas de bolos e doces do nordeste do Brasil. 5. ed. rev.
com a farinha e era a farofa de rapadura e todo
São Paulo: Global, 2007.
mundo comia, por isso acho que foi muito
importante para a alimentação”.
9 DE MARIA, G. Panela: The natural nutritional sweetener.
A importância dos engenhos de rapadura para a Agro Food Industry Hi-Tech, 2013.
comunidade tem relações culturais que persistem para essa
população, como modo de vida que deve ser preservado como
descreve o entrevistado (PE1):

“Uma herança pra ficar na família e não acabar”.

A gastronomia dos engenhos de rapadura não está


relacionada apenas à alimentação, mas também às lembranças
sensoriais, aquele gatilho de memória cheio de sensações
esquecidas no passado e que suscita ao provar alguma receita que
nos remeta a uma lembrança positiva.
A sua importância do resgate desta comida afetiva,
pode ser demostrada com receitas que foram passadas de mães
para filhos e que permanecem entre gerações, demostrando a
importância da rapadura como comida de afeto sendo utilizada
para partilhar lembranças de vida.

CONCLUSÕES
Pode-se identificar que o consumo da rapadura na
comunidade da Lagoa da Moitinga, Ubajara, Ceará é de extrema
importância não só apenas pelo valor nutricional, mais também
como comida afetiva, demostrando assim a importância desse
alimento para a cultura da comunidade.
Contudo, sendo a comida um elo de identificação de
um determinado grupo social e antes que se deem por totalmente
perdidas as receitas tradicionais, estas devem ser preservadas
para que a identidade gastronômica dessa comunidade perdure e
seja cada vez mais fixada na memória do povo ubajarense.

REFERENCIAS

1 SEBRAE, O Novo Ciclo da Cana: Estudo sobre a


competitividade do sistema agroindustrial da cana-de-açúcar
prospecção de Novos Empreendimentos. Brasília IEL 2005.

2 FIGUEIREDO, F. J. Engenhos de Rapadura do Cariri:


Documentário da Vida Rural. Fortaleza: Edições UFC,
2010.

406
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Panelada E Buchada: Comida Da Alma Em São Raimundo

Evanir de Araujo Santos¹, Gustavo Miguel Pereira Dias². Karolayne Ribeiro Soares²

¹ Especialista - Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Piauí - IFPI evanir.araujo@ifpi.edu.br

Palavras chave: gastronomia regional, cultura, comfort food

que dá segurança, enche o estômago, conforta a alma, lembra


INTRODUÇÃO a infância e o costume.
Essa definição trazida por HORTA (1995), não pode
Comer é a interpretação de um povo através dos ser aplicada a todo tipo de contexto, pois os fatores
alimentos, nos quais vão evidenciar o que, como, aonde e o determinantes que vão provocar um sentimento reconfortante
por que se come tal alimento ou preparação. Cada povo irá para um indivíduo, estão baseados na sua cultura, que nem
decidir o que comer por meio de suas crenças e do que se sempre vão apresentar preparações como a autora descreve.
encontra na região, os alimentos com maior abundância vão Como as autoras Amon e Menasche (2008) trazem,
dar a identidade alimentar do lugar, partindo deste, fica à através do modo com que a comida é descrita e narrada, é
disposição de quem come dar diferentes interpretações ao possível também que a mesma conte uma história através dos
alimento, criando então infinitas formas de prepará-lo para seus modos de fazer. Sobre isso, é possível trazer à tona um
cada ocasião específica. "A comida é tão importante e pensamento do autor Raul Lody (2008) onde o mesmo vai
identificadora de uma sociedade, de um grupo, de um país, dizer que a comida é tão importante como a linguagem,
como é o idioma, a língua falada, funcionando como um dos como o idioma, pois através dela também é possível se
mais importantes canais de comunicação” (LODY, 2008, comunicar. Essa comida que conta história, que faz o
p.31). indivíduo resgatar suas lembranças de um tempo no qual ele
Dentre as relações com comida, destaca-se a sente saudade, também é considerada comida de conforto.
afetividade com que as pessoas tratam os alimentos. A A partir das leituras destacada e outras
memória gustativa do ser humano é algo que vai lhe complementares, trazendo para a realidade da pesquisa com
acompanhar em todos os momentos da vida, fazendo com foco na buchada e na panelada, e de acordo com as pesquisas
que seu paladar esteja sempre fixo à referências do que lhe é de campo, é possível observar que a comida que conforta não
comum, possibilitando então diferir o que é agradável ou não precisa ser algo de fácil digestão, que exige pouca
ao paladar, definindo assim o que popularmente conhecemos mastigação, ou até mesmo necessitar de um lugar ou
por “gostoso e ruim”. momento específico para ser consumido, mas sim, algo que
Essa relação afetiva com a comida muitas vezes desperte sentimento, que além de cessar a fome e o apetite,
remetem a lembranças da infância, de familiares e de um possa trazer para a alma o conforto específico para o qual se
povo. A transmissão dessas receitas antigas seguindo recorreu ao escolher tal alimento específico. A comida que
paulatinamente o passo a passo do seu modo de fazer conforta é algo que é ingerido fisicamente, saboreado no
garantem que nada seja alterado e a memória não seja paladar mais que é sentido pela alma, é um remédio para as
apagada ou esquecida. Comidas com essas características dores da alma (LAUAND; CHASSERAUX, 2012).
ganham extrema importância, e são reconhecidas como foco As informações a seguir foram colhidas no decorrer de
principal da cultura culinária, marcando os principais sabores um dia na cidade de São Raimundo Nonato-PI em 3
e saberes de um povo. estabelecimentos distintos, dando início no horário do
Existe dentro da gastronomia juntamente com a almoço. Na ocasião percebeu-se que os consumidores desses
antropologia e com a história ramificações que explicam esse pratos são de diversas faixas etárias e não se restringe à
fato, internacionalmente falando chama-se “Comfort Food”, moradores de São Raimundo, inclui também viajantes, que
traduzindo para o português “Comida de Conforto” ou como entre idas e vindas, passam ali para matar a vontade de
algumas literaturas brasileiras trazem “Comida de comer uma comida caseira, forte e que lhes proporcione um
Lembrança” que está diretamente ligada à memória afetiva. momento de conforto e descontração, aproveitando a
Este trabalho tem como intuito investigar a afetividade refeição para reencontrar amigos e familiares.
das pessoas residentes da cidade de São Raimundo Nonato- Outro ponto observado é que esses estabelecimentos
PI com iguarias que são muito requisitadas na região, possuem um público muito fiel, mesmo os que mudaram
produzidas a partir do bucho do bode e do boi, sendo para outras cidades, sempre que podem procuram a panelada
respectivamente a buchada de bode e a panelada, de aromas e/ou a buchada, e quando partem de volta para seus estados
fortes e sabores intrigantes que no ato de comer, se tornam levam vários potes da panelada já pronta e congelada, essa
harmoniosas e saborosas, e que por si só contam toda uma que foi previamente encomendada. Nas épocas de festas e
história a partir do seu preparo e do modo com que se é férias a demanda aumenta, sendo habitual clientes buscarem
consumido. esses pratos após as festas para curar a ressaca.
Com o desenvolver das entrevistas, ficou claro a
MATERIAIS E MÉTODOS importância dada pelos entrevistados quanto à manter seus
pratos praticamente os mesmo que aprendera quando foi lhes
Além do levantamento bibliográfico foi realizada uma apresentado, principalmente se tratando da panelada e da
pesquisa de campo de caráter qualitativo em buchada, algo que para os mesmos é visto como uma comida
estabelecimentos comerciais onde eram vendidas as citadas que os remete sua infância, a real preocupação é manter os
iguarias. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas os sabores originais, os quais sempre foram referência, os
proprietários dos estabelecimentos que também eram os mantendo vivos ainda com o passar dos tempos. Os
próprios cozinheiros. entrevistados demonstraram ainda a preocupação de
transmitir seus saberes para seus filhos assim como
RESULTADOS E DISCUSSÃO aprenderam com seus antecedentes, e veem que esta é uma
maneira de evitar que sua comida seja esquecida.
Comfort food traduzido para o português Comida de Segundo todos os entrevistados, seus clientes os
Conforto ou Comida que conforta. O conceito de comida que procuram principalmente pela proximidade com que as
conforta segundo Horta (1995), vai ser algo sempre fácil de pessoas sentem de suas origens, procurando esses
ser digerido e degustado, um alimento que preencha os pré- estabelecimentos pela “comida caseira” como os mesmos
requisitos para confortar o corpo e alma é aquele que consola, relatam.
que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser
mastigado, na hora da dor, de depressão, de tristeza pequena,

407
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÃO que além de proporcionar um bem-estar físico e emocional,


possa também demonstrar os sabores da cultura local.
Durante o decorrer do trabalho, um tema que foi
evidenciado, porém pouco conhecido como o “comfort REFERÊNCIAS
food”, se deu de grande importância para justificar pontos
LODY, Raul. Brasil bom de boca: temas da antropologia da
discutidos na pesquisa, cessando então dúvidas quanto a
alimentação. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
afetividade das pessoas com os alimentos. Outro ponto
abordado nessa temática, são as sensações nas quais essas HORTA, Nina. Não é sopa: crônicas e receitas de comida /
comidas podem despertar, atiçando então as memórias, Nina Horta. São Paulo: Companhia das Letras,1995. p. 15-21.
fazendo com que lembranças boas, ou fatos de importância
para o indivíduo, possam vir à tona, dando um outro sentido AMON, Denise; MENASHE, Renata. Comida como
à preparação. Fora observado ainda que através do modo narrativa da memória social. Sociedade e cultura. Vol,11. N
com que a preparação é servida, cria-se um ambiente 1. Jan-jun, 2008. Disponível em:
confortável para o indivíduo, que mesmo estando longe dos https://www.revistas.ufg.br/fchf/article/view/4467. Acesso
seus amigos e familiares, poderá se sentir o mais próximo em 30 de jun de 2017.
possível de suas raízes. LAUAND, Jean; CHASSERAUX, Priscila. N. C. “Comida
Sobre as preparações que foram abordadas neste de alma”, antropologia e educação. Convenit Internacional 8.
trabalho, é importante salientar, que a buchada e a panelada, Jan-abr, 2012. CEMOrOc-Feusp / IJI - Univ. do Porto.
são pratos onde as técnicas de preparo são passadas através Disponível em:
da sabedoria popular, através de heranças familiares. http://www.hottopos.com/convenit8/4754JeanPri.pdf.
Como foi observado em São Raimundo Nonato-PI, Acesso em 30 de jun de 2017.
essa herança popular, influenciou a comercialização dessas
preparações, ocupando o importante papel de manter viva a
cultura do consumo das mesmas, aliado ao modo de sustento.
dessas famílias, que utilizaram de todos os seus saberes
passados entre as gerações para servir a outra pessoa algo

408
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Hábitos culinários de estudantes africanos no Brasil

Julliane Castro1*, Claisa Rabelo 2, Paulo Sousa3.


1
Mestrado, Divisão de Alimentação e Nutrição, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira,
Avenida da Abolição, 3, Campus Universitário da Liberdade, Redenção, Ceará CEP 62790-000, Brasil
2
Doutorado, Curso de Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, Avenida Munguba, (1700), Campus do Itaperi,
Fortaleza, Ceará CEP 60.714.903, Brasil
3
Doutorado, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará, Avenida Mister Hull, 2977, Campus
Universitário do Pici, Fortaleza, Ceará CEP 60356-000, Brasil
*julliane@unilab.edu.br

Palavras chave: estudantes internacionais, culinária africana, imigração, preparo de alimentos.

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cultura alimentar diz respeito aos princípios e práticas de um Dentre os estudantes internacionais da UNILAB que haviam
determinado grupo social abrangendo as especificações sobre os tipos chegado há seis meses ao Brasil, 92,3% (n=72) responderam à pesquisa.
de alimentos, as formas de armazenamento, preparo e a transmissão dos Os entrevistados eram provenientes de Angola (n=26; 36,1%), Guiné
saberes (1). As habilidades culinárias podem ser discutidas a partir Bissau (n=45; 62,5%) e Moçambique (n=1; 1,4%), apresentaram idade
desse aspecto da propagação da cultura, mas também há preocupação média de 24 anos (± 3,1 anos), eram negros, majoritariamente solteiros
acerca das práticas alimentares consideradas inadequadas do ponto de e em sua grande maioria homens (82%). A maioria dos estudantes
vista da saúde no contexto de diversos países, principalmente entre internacionais (68%) relatou não conhecer previamente a alimentação
adultos jovens (2), visto que a baixa autoeficácia e a percepção de ter brasileira. Após a imigração, a maioria dos indivíduos (85,8%)
habilidades alimentares inadequadas representam barreiras ao preparo elegeram o restaurante universitário (RU) para realização das refeições
das refeições e escolhas alimentares saudáveis, resultando em uma de almoço e jantar.
tendência crescente de escolher alimentos de conveniência (3). Quando perguntados se tinham habilidades culinárias anterior
A migração de estudantes africanos para o Brasil tem sido à imigração, 62,5% responderam positivamente, referindo cozinhar em
recorrente. Essa mobilidade é influenciada por questões globais e seu país de origem. Tais habilidades diferiram de acordo com o sexo,
facilitada devido à existência de convênios e iniciativas, tanto por como mostra a figura 1. Acerca da percepção da evolução de suas
órgãos públicos quanto por órgãos privados, mas há também por habilidades culinárias após seis meses de imigração para o Brasil, a
financiamento próprio (4,5). maioria dos estudantes afirmou que suas habilidades melhoraram
A adaptação alimentar dos migrantes tem sido estudada, pois (61,1%), enquanto 34,7% responderam não terem percebido nenhuma
produtos encontrados no local de origem e as formas de manipulação alteração. Houve destaque para a melhoria de habilidade culinária
desses alimentos são diferentes dos encontrados no país de destino, dentre indivíduos do sexo masculino, como mostra a figura 2.
onde pode haver escassez ou indisponibilidade dos produtos. Fica na
memória das pessoas os sabores vivenciados na sua casa, na Figura 1. Presença de habilidades culinárias auto-relatadas dentre
comunidade, e com a mudança de ambiente buscam preservar esses estudantes universitários africanos lusófonos anterior à imigração para
sabores e se sentirem mais próximos do local de origem (6). o Brasil, por sexo. Fortaleza, 2020.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou identificar os
hábitos culinários de estudantes africanos lusófonos vivendo há seis
meses no Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa transversal, com abordagem


quantitativa, realizada na Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), fazendo parte de uma pesquisa
mais abrangente intitulada “Hábitos alimentares e estado nutricional
num contexto de migração: estudantes de países lusófonos em
universidade brasileira”, a qual obteve aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, parecer nº 2.291.372.
A população foi composta por estudantes provenientes de
países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), com idade igual Figura 2. Evolução das habilidades culinárias após seis meses de
ou superior a 18 anos, que chegaram ao Brasil há aproximadamente seis imigração ao Brasil segundo a percepção de estudantes universitários
meses no momento da coleta de dados, os quais concordaram em africanos, por sexo. Fortaleza, 2020.
participar da pesquisa e assinaram Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, seguindo a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde (7). Este estudo foi realizado no primeiro semestre de 2018.
Um questionário estruturado foi desenvolvido e pré-testado
antes do início da investigação com estudantes de semelhante perfil do
público a ser estudado. Foi avaliada compreensão e feita escuta ativa de
sugestões que contribuíram para a melhoria do instrumento.
As questões focadas em fatores sociodemográficos incluíam
idade, sexo, estado civil. Acerca dos hábitos culinários, investigou-se
as habilidades culinárias no país de origem e no Brasil, a frequência
com que os estudantes consumiam no Brasil algum prato típico do seu
país de origem e quais preparações. Verificou-se ainda o conhecimento
sobre a culinária brasileira, além do local de realização das refeições de
almoço e jantar após a imigração.
As variáveis categóricas foram descritas em frequências
simples e percentual. Enquanto as preparações foram agrupadas Acerca do consumo de pratos típicos de seu país, a maioria da
segundo o país de origem e posteriormente as mais citadas foram população (93%) referiu consumo em frequência menor ou igual a duas
descritas. vezes na semana durante sua estadia no Brasil. Dentre os alimentos
mais reproduzidos no Brasil, estiverem entre as respostas preparações

409
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

genéricas à base de arroz, frango, peixe, carne de gado, massas, saladas. original (11). Logo, a culinária pode ter papel importante contribuindo
Pratos com características específicas são apresentadas na tabela 1. para esse aspecto de manutenção de saúde.
Quanto às preparações típicas elencadas, foi observado que
Tabela 1. Preparações típicas confecionadas por estudantes africanos apesar de a nomenclatura ser diferente, os ingredientes principais são
lusófonos no Brasil, por nacionalidade. Fortaleza, 2020. encontrados localmente o que possibilitou a sua reprodução no Brasil.
País Categoria Preparações n % Chama a atenção ainda que não são preparações secas, mas com a
Angola Prato Bitoque(a,b) 1 3,8 presença de molhos e caldos. Dada a aproximação das culinárias
principal Mufete(c) 2 7,7 brasileira e africana, bem como a presença destes imigrantes desde a
Caldeirada(d) 2 7,7 colonização, existem iniciativas para conhecer melhor essas receitas
Carne seca 1 3,8 para reprodução no Brasil, além de contribuir para a divulgação desta
Frango rija 1 3,8
cultura alimentar no país, como as oficinas de culinária africanas e
Catchupa(e) 1 3,8
produção de fichas técnicas de preparação (12).
Chouriço(e) 1 3,8
Feijoada angolana 3 11,5
Lanche Magoga(f,g) 1 3,8 CONCLUSÃO
Guarnição Funge de bombô(h); funge de 11 42,3
milho. Os estudantes internacionais africanos apresentavam
Feijão de óleo de palma(i) 4 15,4 habilidades culinárias (destaque para mulheres) que melhoraram depois
Guiné Prato Cafriela(g) 5 11,1 de seis meses no Brasil (destaque para os homens). Houve a reprodução
Bissau principal Caldo branco(c) 7 15,6 de preparações típicas africanas após a imigração, apesar de
Caldo chabéu(j) 5 11,1 confeccionadas em baixa frequência semanal pelos estudantes. O
Caldo citi(c,i) 6 13,3 incentivo às práticas culinárias de estudantes africanos no Brasil pode
Caldo de mancarra(g,l) 19 42,2 contribuir para seu bem-estar e saúde física e mental, bem como ajudar
Caldo de óleo de palma(i) 4 8,9 na ampliação dos conhecimentos sobre a cultura alimentar africana no
Chep tchen(a) 1 2,2 território anfitrião, salientando os pontos de aproximação entre Brasil e
Feijoada guineense 1 2,2 África.
Futi(i,m) 1 2,2
Siga(n) 5 11,1
REFERÊNCIAS
Moçambique Prato Frango ao molho de mancarra(b,f) 1 100
principal Xiguinha(h,o,p) 1 100 1. ROCHA, C.P.V. Comida em uma Cidade Global: Práticas
São ingredientes principais das preparações: (a) carne vermelha; (b) ovo; (c) peixe; (d) carne
de cabrito ou frango; (e) embutidos; (f) pão; (g) frango; (h) mandioca; (i) azeite de dendê; (j) Alimentares de Imigrantes Transnacionais em Amsterdã. 2017. 258f.
fruta do dendê; (l) amendoim; (m) arroz e legumes; (n) quiabo; (o) feijão; (p) coco. Tese (Programa de Pós- Graduação Interdisciplinar em Ciências
Humanas) – Centro de filosofias e ciências humanas, Universidade
Foi possível perceber que o sexo feminino se destaca nas Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.
habilidades culinárias, dados corroborados por estudo com 2. JOMORI, M.M. Adaptação transcultural e validação de um
universitários canadenses onde as mulheres universitárias também se instrumento de identificação das habilidades culinárias e alimentação
classificaram como capazes de preparar refeições com ingredientes saudável em estudantes ingressantes de uma universidade brasileira.
básicos mais frequentemente do que os homens universitários (64,8% e 2017. 343f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Nutrição) - Centro
58,9%; p <0,001) (3). de ciências da saúde, Universidade Federal de Santa Catarina,
Houve desenvolvimento das habilidades culinárias após seis Florianópolis, 2017.
meses de imigração e início da vida universitária, com destaque para o 3. WILSON, C.K. et al. Self-reported food skills of university students.
sexo masculino. Essa percepção de melhora em ambos os sexos foi Appetite, 108, 270-276, 2017.
também identificada em estudo no Canadá, onde estudantes 4. MÜLLER, M.L.R.; SILVA, A.G.S. A experiência de estudantes
universitários do primeiro ano relataram notas de habilidades africanos no brasil. Revista da FAEEBA – Educação e
alimentares percebidas significativamente mais baixas do que todos os Contemporaneidade, 25, 45, 55-70, 2016.
outros estudantes. Enquanto estudantes que moram fora de casa por um 5. OJIMA, R.; AGUIRRE, M.A.C.; SILVA,B.L.; LIMA, W.M.
ano ou menos relataram menores pontuações em habilidades Migrações internacionais motivadas por estudo: uma análise
alimentares do que os estudantes que moravam fora de casa por mais sociodemográfica dos estudantes estrangeiros radicados no Brasil.
de um ano (3). PerCursos, 15, 28, 166-189, 2014.
Apesar de os estudantes africanos não conhecerem 6. SILVA, A.F.; PASQUALI, D. Migração e hábitos alimentares em
previamente a culinária do Brasil, quando uma população que emigra ambientes educacionais: o caso da tríplice-fronteira. Educere et
traz consigo um conjunto de práticas ligadas a sua alimentação, Educare, 11, 23, 2016.
mesclando ou acrescentando possibilidades e práticas alimentares no 7. BRASIL. Resolução nº. 466, de 12 de dezembro de 2012.
novo lugar, não apenas se adequa ao sistema alimentar local, mas 8. GOULAO, B; SANTOS, O; CARMO, I. The impact of migration
também interfere nele (8,9). on body weight: a review. Cad. Saúde Pública 31, 229-245, 2015.
O acesso dos estudantes ao RU a baixo custo para refeições de 9. FRIEDRICH, F. H; SOARES, A. R. L. Alimentação: o trabalho de
almoço e de jantar pode também ter influenciado na baixa frequência preservar e elaborar a identidade e a memória dos imigrantes alemães
de consumo semanal de pratos típicos após a mudança para o Brasil. na Colônia de Santo Ângelo/RS (1850- 1900). Oficina do Historiador,
Contudo, pode-se perceber que mesmo com a mudança de país foi Porto Alegre, 641-654, 2014.
possível reproduzir, possivelmente com adaptações, pratos da cultura 10. MARIESSE, L.E.K.; OLIVEIRA, A.M.B. O conceito comfort
alimentar original dos indivíduos. Alguns alimentos ao serem food entre dois tipos de estabelecimentos de alimentação na cidade de
consumidos trazem lembranças e conforto. O termo comfort food Porto Alegre. 2015. 17f. TCC (Especialização em Gestão e
significa “comida que conforta’’ que aborda a relação do homem com Gastronomia em Serviços de Alimentação) - Universidade do Vale do
o alimento, do conforto que a comida traz, aliviando tristezas, Rio dos Sinos, Porto Alegre, 2015.
relembrando a infância, a comida da mãe, da avó que tendem a 11. MÉJEAN, C.; TRAISSAC, P.; EYMARD-DUVERNAY, S.;
transmitir segurança (10). Esse comportamento pode ser usado por DELPEUCH, F.; MAIRE, B. Influence of acculturation among
estudantes imigrantes como forma de aliviar a saudade de casa, no qual Tunisian migrants in France and their past/present exposure
o ato de comer, pode ser prazeroso e reconfortante quando realizada por to the home country on diet and physical activity. Public Health
pessoas afetivamente ligadas, reunidas. Nutrition, 12, 6, 832-841, 2009.
Ademais, é importante ressaltar que no contexto de imigração, 12. ÂNGELO, S.L.S. O sabor da cultura: memórias da culinária
a exposição anterior e presente às normas socioculturais do país de africana de estudantes imigrantes vivendo no Brasil. 2019. 71f. TCC
origem permite a manutenção de alguns aspectos positivos da dieta (Gradução em Nutrição) – Centro de ciências da saúde, Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019.

410
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Slow Food - Um Estudo Da Relação Entre Tempo e Alimento Em Estados Da Região


Nordeste
Lucas Rodrigues1; Cássia Amaral1; Aylana Oliveira1; Jarbas Lima1; Ilana Barbosa1; Erbenia Mendes2

1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. lucasbraga712@gmail.com
2
Docente do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.

PALAVRAS CHAVE: Hábito; Comer; Cultura; Escolha; Alimentação

INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, o ato de alimentar-se e o tempo andam A breve pesquisa foi aplicada entre os meses de julho e agosto de
fortemente relacionados e interferem diretamente, diversas vezes de 2019, através de um formulário estruturado elaborado na plataforma
forma negativa, nas escolhas do consumidor. Em virtude de Google Formulários, com um total de 3 perguntas com o objetivo de
cotidianos cada vez mais corridos, é perceptível a crescente aquisição entender melhor acerca dos hábitos alimentares dos indivíduos e suas
ao hábito de se comer cada vez mais rápido, onde muitos deixam uma vivencias para com o movimento slowfood, também buscando-se, ao
boa e mais calma alimentação em segundo plano. A união destes mesmo tempo, ter um melhor entendimento acerca do tempo e
fatores resulta, devido aos curtos intervalos do dia-a-dia, em uma alimento para esses indivíduos e suas relações com redes de fast-
alimentação que muitas vezes se baseia em refeições provenientes de food. Os gráficos com os dados relacionados aos resultados da
estabelecimentos onde as opções disponíveis podem ser preparadas e pesquisa foram gerados automaticamente pela mesma plataforma em
servidas em um intervalo pequeno de tempo, também conhecidos que o formulário foi elaborado. Foram coletadas um total de 103
como fast-foods. O advento deste tipo de estabelecimento tem gerado respostas nas três regiões do Nordeste nas quais foi destinada a
constantes transformações no ato de comer. pesquisa (Pernambuco, Ceará e Bahia)
O modelo de fast-food encontrou uma forma de posicionarse graças RESULTADOS E DISCUSSÃO
aos novos princípios de produção (poucos produtos, grandes
quantidades, pouca elaboração, pouca mão-de-obra), oferecendo e
distribuindo o mesmo cardápio em vários pontos de venda, com A primeira pergunta tratava-se de uma questão global, com o intuito
preparo e serviço rápidos. (1) de analisar a porcentagem dos indivíduos pertencentes a cada estado
Em contraponto, o movimento slow food surge nesse contexto de participante da pesquisa. A maioria das respostas veio do estado do
desaceleração. Esse movimento originou-se na Itália, em 1986, Ceará (53,4%), totalizando 55 respostas. Em seguida vem Bahia
reagindo aos fast-foods estadunidenses, símbolo da comida rápida (32%) com um total de 33 respostas e por último se tem o estado de
pela vida corrida. O movimento propaga a ideia de que aquilo que se Pernambuco (14,6%) onde foram colhidas um número de 15
ingere deve ser cultivado, cozido e consumido em ritmo de respostas.
tranquilidade, com prazer do ato de alimentar-se e utilizando-se
preferencialmente produtos artesanais. (2) Em seguida, foram feitas as seguintes perguntas aos participantes:
A cozinha expressa as relações homem versus ambiente, o
aproveitamento de produtos, meios e técnicas naturais. Reflete
aspectos significantes da cultura traduzidos em música, pintura, GRÁFICO 01: Porcentagem de frequência de consumo em fast-foods
desenho, literatura, cinema (...). É improvável precisar quando o
alimento se transformou em prazer à mesa. A refeição-ritual
originouse de preparar carnes de caça para logo consumi-las com a
família e os grupos próximos, vez que sem técnicas de conservação
os alimentos estragavam brevemente (...). Come-se conforme as
normas da sociedade. Hábitos interiorizam costumes. Todos preferem
os sabores que suas mães lhes fizeram apreciar (...). No entendimento
científico, os efeitos socializantes de alimentar-se em grupo
harmonizam, fortalecem vínculos, estabilizam estruturas de convívio.
Extinguir refeições regulares desestrutura o contato assíduo,
indisciplina apetites, induz à solidão, como se o espírito fosse o
estômago e a alimentação individual gerasse a não-comunhão ao não
se socializar o alimento. (3)
Partindo destas explanações iniciais, este estudo tem como principal GRÁFICO 02: Porcentagem de identificação com cada frase modelo
objetivo abordar os conceitos e a importância do movimento slow
food nos dias atuais, com enfoque em estado do Nordeste Brasileiro
e, mesmo que de forma breve, a importância da valorização da
gastronomia local.

MATERIAIS E MÉTODOS

O labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora


suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus
resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias
e encaminha-se para certas direções privilegiadas. (4)
Trata-se aqui de uma condição da pesquisa que deve ser incorporada
como critério de realidade e busca de objetivação (...) A realidade Nos dias de hoje todo o setor alimentício ou setores relacionados a
social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a alimentos foram atingidos pela globalização. No plano simbólico os
riqueza de significados dela transbordante (...) É desse caráter desejos de consumo por si só marcam uma inclinação ao perfil
especificamente qualitativo das ciências sociais e da metodologia alimentar, embora nos países emergentes estas tendências sejam
apropriada para reconstruir teoricamente seu significado que trata o distribuídas de formas diferentes para cada classe social. (5)
presente trabalho. (4) Ocorreram algumas mudanças na segunda metade do século XX, onde
a sociedade brasileira passou por um intenso processo de

411
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

transformação devido ao desenvolvimento industrial. Dentre as alimentarse de uma refeição mais regional, com mais tranquilidade e
mudanças, destacamse o padrão de consumo alimentar e os novos com apreciação daquilo que come, e recorrem às redes de fast-foods
hábitos sociais. (6) em que nem sempre as opções de cardápio são as mais indicadas para
a garantia de uma alimentação saudável, tranquila e, ainda assim,
O hábito de fazer refeições fora de casa, embora não seja tão recente, prazerosa.
fortaleceu-se ao longo do século XX, sobretudo ao ser assimilado
Torna-se preocupante o fato de que tem sido cada vez mais crescente
entre várias camadas sociais, e passou a contribuir para uma difusão
o número de pessoas que optam por deixar em segundo plano uma
gastronômica sem precedentes. (1)
refeição mais tranquila e apreciativa, seja devido à uma rotina cada
Nota-se que mais da metade dos participantes dividiram-se entre um vez mais corrida ou por simplesmente escolherem aderir às refeições
público que relata não ser possível se alimentar com a calma e mais rápidas e, muitas vezes, a depender do tipo e da frequência com
tranquilidade que gostariam devido às ocupações do dia a dia (26,2%) que são consumidas, contraindicadas à saúde.
e resposta que afirmam que, mesmo que não tenham uma rotina
É então possível notar a importância da abordagem dessas temáticas
muito corrida, ainda assim, sempre que possível, alimentam-se de
voltadas para a alimentação, através da aplicação, por meio de
refeições provenientes de fast-foods (24,3%).
estratégia, de programas e projetos relacionados à educação alimentar
Um consumo prolongado de alimentos ingeridos inadequadamente e nutricional, para que seja então garantido o conhecimento acerca de
acaba por provocar diversas enfermidades, e associada ao baixo importantes movimentos como o Slow-food que, talvez, se unidos à
índice de escolaridade, diminui a capacidade de memória, valorização de refeições típicas regionais, tornam-se uma ótima
aprendizagem e baixa resistência a infecções. Observa-se também, opção para quem quer equilibrar as relações do homem tanto com o
que as pessoas estão consumindo mais alimentos de grande densidade ambiente em que está inserido, quanto com o tempo. Deve-se
energética com teores de açúcar e gorduras saturadas ou também considerar a importância de uma alimentação de qualidade e
excessivamente salgados. (7) assim fazendo com que os “prazeres à mesa” não sejam situações tão
esporádicas como nos tempos atuais.
Os dados apresentados nessas questões chegam são preocupantes,
visto que é nítido que uma parcela significativa dos participantes
relata situações que muitas vezes são consequências diretas de
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
cotidianos corridos ou, que mesmo com tempo para comerem algo
com mais tranquilidade e calma, optam por fast-foods sempre que (1) COLLAÇO, J. H. L.. Restaurantes de comida rápida, os fast-
possível, podendo este último, a depender da frequência, vir a ser foods, em praças de alimentação de shopping centers: transformações
uma escolha prejudicial à saúde. no comer. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n. 33, p.
116-135, jun. 2004. ISSN 2178-1494. Disponível em: <
Por último, os participante foram indagados quanto ao conhecimento
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2 216>.
acerca do movimento slow food pantes, sendo obtidos os seguintes
Acesso em: 04 Ago. 2019.
resultados:
(2): MARTINS, U. M. O. Experiências Com A Gastronomia
Local: um estudo de caso sobre movimento Slow Food e o
GRÁFICO 03: Porcentagem de conhecimento ou não acerca do turismo gastronômico na cidade de Recife - Brasil. Espanha:
movimento Slow Food Pasos, 2016.
(3): ARAÚJO, W. M. C. (et al). Da alimentação à gastronomia. 1. ed.
Brasília: Editora UnB, 2005. v. 1. 102p.
(4):MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: Teoria, Método e
Criatividade 21. Ed. Petrópolis. Editora Vozes. 2002.
(5): GARCIA, R.W.D. Reflexos da globalização na cultura alimentar:
considerações sobre as mudanças na alimentação urbana. Rev. Nutr.
V.16 n.4, Campinas Oct./Dec. 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415- 527320
03000400011&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 15 abr. 2009.
Ao observar o gráfico, observa-se que mais da metade dos (6): MENDONÇA, C.P., ANJOS, L.A. Aspectos das práticas
participantes da pesquisa, distribuidos nos três estados estudados, alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento
infelizmente não têm conhecimento do movimento slow food. do sobrepeso/obesidade no Brasil). Cad. Saúde Pública V.20, n.3,
Este é um movimento que é de grande importância para o May/June 2004. Disponível em:
desenvolvimento do pensar crítico de todo e qualquer indivíduo com http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_
relação ao universo da gastronomia, uma vez que, ao se estudar acerca arttext&pid=S0102311X2004000300006. Acesso em: 17 jul. 2009.
da temática, toma-se conhecimento de que o movimento aconselha o
reconhecimento da importância do prazer aliado à alimentação. (7) GARCIA, M. M. A., Revolução Alimentar: Da Cozinha Aos Fast
O movimento slow é rico em sua organização, propondo modos Foods XIV Encontro Latino Americano De Iniciação Científica E X
originais de agrupar pessoas, saberes e fazeres em torno do que talvez Encontro Latino Americano De Pósgraduação, 2010, Universidade do
pudéssemos chamar de uma ecologia da alimentação. (8) Vale do Paraíba. Paraíba: Inicepg, 2010. 5 p.
A maioria das ações do Slow poderia ser considerada educativa, vide (8): MOURA C. I. C. Slow Food E A Educação Do Gosto: Um
a catalogação e o resgate das culturas alimentares, o aprendizado de Movimento Social Sem Pressa Revista Prâksis, vol. 1, enero-junio,
novas formas organizativas, a formação de redes identitárias em torno 2008, pp. 101-107 Centro Universitário Feevale Novo Hamburgo,
do alimento, ou ainda a tradução do alimento em cultura, ecologia e Brasil
transformação social. (8)

CONCLUSÃO
Levando em consideração as análises supracitadas, é nítido que a
comida também é um símbolo de prazer, indo muito além de apenas
um fator que supre as necessidades nutricionais do indivíduo.
Todavia, torna-se válido questionar se, na atualidade, este ato de
prazer não está ultrapassando a linha tênue entre comer bem e o
descuido para com a saúde
Devido às constantes mudanças nos hábitos alimentares, nota-se que
uma parcela significativa tem deixado de lado o costume de

412
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e Filosofia
Antônio Beethoven Gondim1, Maria Mozarina Almeida2, Paulo Henrique Machado de Sousa2
1
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Email: abcgondim@yahoo.com.br
2
Professor do Curso de Bacharelado em Gastronomia do Instituto de Cultura e Arte da UFC. Email: phmachado@ufc.br

Palavras-chaves: Gastronomia. Ciência. Arte. Filosofia.

INTRODUÇÃO que nos ensinaram a usar o fogo, e foi utilizando o fogo que o
homem dominou a natureza. Numa visão panorâmica do assunto,
Cônscio de que a Filosofia é o inexaurível desejo de buscar saber a podemos reconhecer até três espécies de culinária: A primeira, que se
significação do quer que seja, e não apenas de palavras, mediante ocupa do preparo dos alimentos, conservou o nome primitivo; A
argumentação justificada, alcançando-se uma visão de mundo segunda se ocupa em analisa-los e em verificar seus elementos:
(Παγκόσμια άποψη ou Weltanschauung) como resposta aos convencionou-se chama-la de química; E a terceira, que pode ser
problemas da raça humana, partindo-se, portanto, da linguagem, chamada de culinária de reparação, é mais conhecida pelo nome de
conforme o terceiro paradigma da pesquisa filosófica: o da Semiótica farmácia. Se elas diferem quanto ao objetivo, têm em comum o
Transcendental ou Pragmática Linguística (1), de que Ciência é toda emprego do fogo, de fornos e dos mesmos recipientes” (10). Aqui há
forma de conhecimento obtida a partir da observação algumas considerações a serem feitas: primeiramente, pelo que se lê,
intencionalizada, seguida pela problematização, formulação de a Gastronomia é mais abrangente que a Culinária, por esta se voltar
hipóteses, realização de experiências, constatação da consequência principalmente ao uso do fogo no preparo de Alimentos. Ou seja,
verificável das hipóteses, obtenção dos resultados, interpretação e todo prato culinário é gastronômico, mas nem todo gastronômico é
conclusão, tudo submetido à tentativa de refutar a teoria que culinário; segundo, muito embora a conceituação da Gastronomia
fundamenta os experimentos, permitindo, assim, o estabelecimento seja de condição epistemológica, não se pode esquecer que, quando a
de um saber e a possibilidade de seu desenvolvimento (2), e, por fim, elaborou, Brillat-Savarin (1755-1826) o fez movido por uma das
de que Arte é todo e qualquer fazer humano, com ou sem produto, nove grandes teorias filosóficas da Arte: a do Gosto, cujo maior
exercitado em seu mais alto grau, que comunica sentimento ao quer expoente fora Montesquieu (1689-1755) (11); terceiro, tanto a
que seja, tornando o inacreditável em indispensável (3), dessarte é Gastronomia quanto a Culinária podem produzir obras em estado da
possível comprovar que a Gastronomia deve ser considerada, sim, Arte e, ipso facto, podem apresentar aspectos estéticos, e não apenas
uma Ciência que resulta em obras que atingem o Estado da Arte (4), a Culinária, até porque esta está contida na Gastronomia; quarto,
ensejando uma forma de vida, a fundamentar, conseguintemente, óbvio que a Química e a Farmácia (ou Farmacologia) não são
uma visão de mundo. espécies de Culinária, por apresentarem objeto, método e leis
Os objetivos deste trabalho são: Defender a Gastronomia tanto como distintas, conquanto possam apresentar uma aplicação comum.
uma área científica, quanto como uma Arte multissensorial, com Ainda no que tange à Teoria do Gosto, que fundamenta a visão de
reflexões sobre o bem-estar e, desse modo, contribuições à qualidade mundo estética de Brillat-Savarin sobre Gastronomia, importa não se
de vida; Desenvolver argumentações científicas, estéticas e esquecer de que “gosto [...] nada mais é senão a vantagem de
filosóficas; Analisar as implicações desses dados para a Gastronomia. descobrir com sutileza e presteza a medida do prazer que cada coisa
deve dar às pessoas [...] É bom conhecer a fonte dos prazeres dos
MATERIAL E MÉTODOS quais o gosto é a medida: o conhecimento dos prazeres naturais e
adquiridos poderá servir para retificar nosso gosto natural e nosso
Esta é uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório (5), gosto adquirido. É preciso partir do ponto em que se encontra nosso
mediante o diálogo com livros e textos em geral, tendo por alvo ser e saber quais são seus prazeres para poder avaliar esses prazeres e,
colimado uma síntese valorativa de informações. mesmo, por vezes sentir esses prazeres [...] como a perfeição das
artes consiste em nos apresentar as coisas de modo a nos
RESULTADOS E DISCUSSÃO proporcionar o maior prazer possível, seria preciso que as artes
mudassem, uma vez que seria outra a maneira de nos darem prazer
Ciente de que “a linguagem é conjuntamente (zumal) a casa do Ser e [...] o gosto natural não é um conhecimento teórico; é uma aplicação
a habitação da Essência do homem” (6), ou seja, daquele que se direta e requintada de regras que não conhecemos bem [...] o gosto
humaniza por meio da Educação. Em virtude disso é que a adquirido afeta, muda, aumenta e diminui o gosto natural, tanto
linguagem é o lugar intranscendível de toda fundamentação e, ipso quanto o gosto natural afeta, muda, aumenta e diminui o gosto
facto, “Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu adquirido [...] gosto é aquilo que nos liga a uma coisa por meio do
mundo” (7), “Pois na linguagem é assim: a essência linguística das sentimento, o que não impede que ele possa aplicar-se às coisas do
coisas é sua linguagem [...] esse elemento comunicável é a intelecto, cujo conhecimento dá tanto prazer à alma que essa é
linguagem mesma sem mediações [...] toda língua se comunica a si mesmo a única felicidade que certos filósofos conseguem
mesma. Ou melhor: toda língua se comunica em si mesma; ela é, no compreender. A alma conhece por meio das ideias e dos sentimentos;
sentido mais puro, o meio [Medium] da comunicação [...] ela sente prazer por meio das ideias e dos sentimentos, pois, embora
‘Linguagem, a mãe da razão e da revelação, seu alfa e ômega’, diz possamos estabelecer uma oposição entre ideia e sentimento, quando
Hamann” (8), importa esclarecer o âmbito do que se deve entender a alma vê uma coisa ela sente, e não há coisas tão intelectuais que ela
por Gastronomia e Culinária, a fim de se evidenciarem suas não possa ver ou que acredite não ver e, por conseguinte, que não
similitudes e dessemelhanças, destacando seus aspectos científicos, sinta [...] Ter espírito consiste em ter as faculdades bem constituídas,
estéticos e filosóficos. relativamente às coisas às quais se aplica [...] se está mais ligada a
Não é preciso ser um Saussure (1857-1913) ou um Chomsky (1928-) um certo prazer delicado das pessoas comuns, seu nome é gosto [...]
para saber que inexiste sinonímia perfeita entre Culinária e A arte vem em nossa ajuda e nos revela a natureza que se oculta em
Gastronomia, de maneira que esta “é o conhecimento fundamentado nós [...] pode-se dizer que a arte fornece as regras e o gosto, as
de tudo o que se refere ao homem, na medida em que ele se alimenta. exceções; o gosto nos diz quando a arte deve governar e quando deve
Seu objetivo é zelar pela conservação dos homens, por meio da ser governada” (12).
melhor alimentação possível. Ela atinge esse objetivo dirigindo, De fato, desde a Antiguidade, a Gastronomia e, por conseguinte, a
mediante princípios seguros, todos os que pesquisam, fornecem ou Culinária são consideradas filosoficamente, haja vista terem sido
preparam as coisas que podem se converter em alimentos [...] O objeto de discussão em Platão, mais especificamente nos diálogos O
assunto material da gastronomia é tudo o que pode ser comido; seu Banquete, Górgias, A República, Crítias e as Leis (13). Não apenas
objetivo direto, a conservação dos indivíduos; e seus meios de porque “qualquer assunto de importância é tratado à mesa” (14),
execução, a cultura que produz, o comércio que troca, a indústria que senão porque na Gastronomia reside uma visão de mundo como
prepara e a experiência que inventa os meios de dispor tudo para o resposta a um dos problemas da raça humana: não apenas a
melhor uso” (9), enquanto que a Culinária é “a mais antiga das artes alimentação, mas, sobretudo, o prazer da mesa, visto que “O prazer
[...] É também de todas as artes a que nos prestou o serviço mais da mesa é próprio da espécie humana; supõe cuidados preliminares
importante para a vida civil; pois foram as necessidades da culinária com o preparo da refeição, com a escolha do local e a reunião dos

413
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

convidados. O prazer de comer exige, se não a fome, ao menos o (18) ADRIÀ, Ferran; JAQUES, Jèssica. For an Applied Philosophy
apetite; o prazer da mesa, na maioria das vezes, independe de ambos” of Gastronomy. Cosmo – Comparative Studies in Modernism
(15). n. 6 (Spring), 2015.

CONCLUSÕES DUMAS, Alexandre. Memórias Gastronômicas de Todos os


Tempos, seguido de Pequena História da Culinária. Tradução,
Das considerações ponderadas, é possível concluir que: 1) a apresentação e notas por André Telles. Consultoria e tradução de
Gastronomia, à qual está inextricavelmente ligada a Culinária, trata- cardápios e receitas por Sandra Secchin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
se de uma Ciência, uma vez que opera mediante experiências e testes 2005, 150p.
gastronômicos, resultando em obras sápidas a serem servidas,
apreciadas e saboreadas, constituindo as cozinhas verdadeiros
laboratórios, em que têm lugar pesquisas multissensoriais (16); 2) a
Gastronomia é uma linguagem estética, por obter obras em Estado da
Arte, além de oferecer composições que têm um inegável apelo
sensorial, por excelência (sensible insight) (17); e 3) por trazer uma
visão de mundo em suas práticas, a implicar uma Filosofia Aplicada,
ou seja, uma forma reflexiva que consegue sua validação num objeto
real, mediante uma práxis, a Gastronomia deve ser considerada
também como Filosofia, propriamente (18).
Assim, “seja qual for o lugar onde nasceu o homem, ele precisa
comer; esta é tanto a grande preocupação do homem selvagem como
do homem civilizado. Só que, selvagem, ele come por necessidade;
civilizado, come por prazer” (19). Nisso residem tanto o segredo
quanto a importância da Gastronomia (e da Culinária) como Ciência,
Arte e Filosofia.

REFERÊNCIAS

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STEIN, Ernildo; BONI, Luís A. de. (org.). Dialética e
Liberdade: Festschrift em Homenagem a Carlos Roberto Cirne
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Científica. Tradução por Leonidas Hegenberg e Octanny
Silveira da Mota. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2008, 570p.
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História da Arte para a Formação Plena do Ser Humano. In:
SILVA, Solonildo Almeida da; SILVA, Simone César da.
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Design and Construction of Turbines Operated by Gas
Combustion. Philadelphia, U. S. A. Lippincott Company, 1910,
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Científica – Projetos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografias,
Dissertações e Teses. São Paulo: Pioneira, 1997, 326p.
(6) HEIDEGGER, Martin. Sobre o Humanismo. Tradução,
introdução e notas por Emmanuel Carneiro Leão. 3. ed. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009, 120p, grifo original.
(7) WITTGENSTEIN, Ludwig Josef Johann. Tractatus Logico-
philosophicus. Tradução e apresentação por José Arthur
Giannotti. São Paulo: Companhia Editora Nacional/EdUSP,
1968, 155p, grifo original.
(8) BENJAMIN, Walter Benedix Schönflies. Escritos sobre Mito
e Linguagem (1915-1921). Tradução por Susana Kampff
Lages e Ernani Chaves. Organização, apresentação e notas por
Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Editora Duas
Cidades/Editora 34, 2011, 176p, grifo original.
(9) BRILLAT-SAVARIN, Jean-Anthelm. A Fisiologia do Gosto.
Tradução por Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras,
2005, 385p.
(10) Idem, Op. Cit., grifo original.
(11) CHALUMEAU, Jean-Luc. As Teorias da Arte – Filosofia,
Crítica e História da Arte. Tradução por Paula Taipas. Lisboa:
Instituto Piaget, 1997, 176p.
(12) MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Barão de La
Brède e de. O Gosto. Tradução, posfácio e notas por Teixeira
Coelho. São Paulo: Iluminuras, 2005, 135p
(13) NOTARIO, Fernando. Plato’s Political Cuisine. Commensality,
Food and Politics in the Platonic Thought. Ágora: Estudos
Clássicos em Debate 17 (2015), p. 123-158.
(14) BRILLAT-SAVARIN, Op. Cit.
(15) Idem, Op. Cit.
(16) Idem Op. Cit.
(17) JAQUES, Jèssica; VILAR, Gerard. Feeding Thought: A
Philosophy of Cooking and Gastronomy, grifo original.

414
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Práticas, hábitos e costumes alimentares da Comunidade Quilombola do Cumbe, Aracati –


CE: resistências e conflitos
Leopoldo Gondim Neto1, Samuel Regis Silva1, Leilane Oliveira Chaves
1
Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceara

Palavra-chave: segurança alimentar, quilombolas, Cumbe

INTRODUÇÃO
Foi observado que a instalação do parque eólico na área trouxe
A alimentação é fundamental para a sobrevivência humana, impactos negativos tanto no meio ambiente quanto na reprodução
alimentar-se é a forma mais básica do ser humano. Porém, grande sócio cultural da comunidade, comprometendo sua fonte de renda e
parte da população mundial realiza de forma inadequada, autoconsumo. Seu Zé Correia, artesão de 73 anos comenta que o
principalmente por não ter acesso a alimentas de suficientes coco e o sururu são produtos bem representativos na comunidade, o
quantidades e qualidades1. coco está presente na maioria dos pratos de pescados e até no pirão
Durante a segunda guerra, devido à escassez de alimentos, surgem os feito com caldo de galinha caipira. Já o sururu faz parte de músicas
primeiros conceitos de segurança alimentar. Em 1996 a Organização tradicionais como o “Baião do Aracati”. Ele também alega que os
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) trazem a proprietários do parque vetaram o acesso de moradores a locais que
definição: “A segurança alimentar existe quando toda pessoa, em eram considerados de lazer, como lagoas interdunares e o próprio
todo momento, tem acesso físico e econômico suficientes, inócuos e mar, onde se produzia comidas tradicionais de festejo. Com isso
nutritivos para satisfazer suas necessidades alimentares e preferências algumas tradições foram prejudicadas. Uma dessas tradições o
quantos aos alimentos, a fim de levar uma vida saudável e ativa. ”2 pescador Ronaldo de 38 anos chama de “comer no mato”, que
Em consequência dos debates de segurança alimentar, surgiu o consiste em pegar o resultado da pescaria do dia e preparar nas
conceito de soberania alimentar. Ela pode ser definida como o ato de dunas, na beira do rio ou nas praias, acompanhado de bebidas. Ele
comer de maneira sã e consciente o que acarreta a interrogar-se sobre também comenta que o sururu passou cinco anos sem aparecer nos
de onde vem o que consumimos, como se elaborou, em que rios e menciona que a causa mais provável sejam os tanques de
condições, porque pagamos um determinado preço. Ser soberano é carcinicultura que despejam produtos nos rios. Ele ainda fala que o
produzir e comercializar cada povo, reduzindo a dependência de búzio foi usado para substituir o sururu nesses períodos. O pescador
agentes externos. É poder decidir sem influência de outros sobre a também reclama da quantidade de peixes que diminuiu e algumas
alimentação.3 espécies como a “pescada” não se encontra mais. No entanto a
Em povos e comunidades tradicionais, as práticas e costumes “tainha” ainda é bastante abundante, muito consumida assada no
alimentares foram construídos ao longo do tempo, principalmente braseiro. Um produto do mangue muito comum é o caranguejo, mas
respeitando os recursos alimentares disponíveis em seu território. ele comenta que o tamanho do crustáceo diminuiu. Lidiane,
Entretanto, a instalação de grandes empreendimentos tem marisqueira de 33 anos, fala que nas dunas existia uma fruta muito
desencadeado a insegurança alimentar, comprometendo locais de consumida chamada de “ubaia”, era comum ser colhida para fazer
pesca e cultivos de alimentos nessa localidade4. suco, mas depois da chegada do parque eólico ficou muito difícil de
Especificamente, na comunidade quilombola do Cumbe, esse efeito é encontrar. Muitos moradores ainda hoje buscam manter os mesmos
bem notório. Os alimentos que construíram a história da comunidade, hábitos mesmo após a instalação do parque eólico, mas foi relatado
em muitos casos, não existem mais. A pesca artesanal, os quintais diversas vezes que os seguranças do parque solicitavam a retirada
produtivos, assim como as frutas nativas foram gravemente afetadas dos moradores. Os entrevistados comentam que não possuem mais
pelos grandes empreendimentos. Os principais fatores que geraram satisfação em caminhar pelos campos de dunas em função das
esses impactos socioambientais foram as instalações de parques de limitações impostas diariamente pelo parque eólico.
energia eólica e a carcinicultura5.
No Cumbe, resiste-se à expansão de grandes empreendimentos e à CONCLUSÃO
extinção de seus saberes e ações tradicionais. Os dois insumos mais citados como tradicionais da comunidade
O objetivo desse trabalho é analisar as condições ambientais de foram o sururu e o coco, principais ingredientes da preparação
forma produtiva, prática alimentares, hábitos e costumes locais dos conhecida como “sururu no leite de coco” ou “moqueca de sururu”.
moradores da comunidade do Cumbe, com propósito de analisar a Apesar do coco se manter abundante na comunidade, o sururu foi o
influência de agentes externos na segurança e soberania alimentar da insumo mais afetado, já que todos mencionaram a falta dele por 5
Comunidade Tradicional do Cumbe. anos, tendo que ser substituído muitas vezes pelo búzio. As conexões
emocionais e materiais com o local foram comprometidas pelo
MATERIAL E MÉTODOS parque eólico. A análise mostra as relações afetivas entre a
comunidade e as dunas, lagoas interdunares e o mar e como o parque
A pesquisa de campo concentra-se na comunidade do Cumbe, eólico veta o acesso da comunidade, causando mudança em hábitos
município de Aracati, litoral leste do Ceará. A comunidade possuiu tradicionais nessa comunidade, como o de “comer no mato”.
168 famílias (702 residentes), que sobrevivem da pesca no mar e no
rio, coleta de mariscos, cultivo de alimentos, produção de artesanato, REFERÊNCIAS
criação de animais e dos pequenos comércios. O trabalho foi 1. RODRIGUES, L. P. F; ZANETTI, I. C. B. B; LARANJEIRA, N.
realizado primeiramente com levantamento bibliográfico, buscando P. Sustentabilidade, segurança alimentar e gestão ambiental para a
entender a estrutura e alimentação de comunidades e povos promoção da Saúde e qualidade de vida. ParticipAção, nº 19, p. 22-
tradicionais. Depois foi realizado uma coleta de dados. Para a coleta 22, 2011.
de dados foi feita uma reunião com lideranças da Associação 2. BELIK, W. SILIPRANDI, E. Hábitos Alimentares, Segurança e
Quilombola do Cumbe, intercalando com momentos de observação, Soberania Alimentar. In: VILARTA, Roberto; GUTIERREZ,
anotações em diários de campo e depois uma conversa com cinco Gustavo L. & MONTEIRO, Maria I. (org.). Qualidade de vida:
moradores locais. As entrevistas tiveram caráter semi-estruturado, Evolução dos conceitos e práticas no século XXI. – Campinas: Ipes
focando em perguntas como “Quais insumos você considera Editorial, 2010
característicos da região? ”, “Quais preparações são mais comuns na 3. VIVAS, E. Os mitos do sistema alimentar. Esquerda.net, 20 out.
região? ”, “Quais insumos você notou que a quantidade diminuiu 2014. Disponível em: https://www.esquerda.net/opiniao/os-mitos-do-
depois da presença dos empreendimentos? “ e “Quais preparações e sistema-alimentar/34479. Acesso em: 2 jun. 2018
pratos foram alterados com as implantações dos empreendimentos? 4. FÁVARO, T; RIBAS, D. L. B; ZORTZATTO, J. R; SERGALL-
”. Em seguida houve a organização, interpretação e análise dos dados CORRÊA, A. M; PANIGASSI, G. Segurança alimentar em famílias
e das informações ao longo da pesquisa. indígenas Teréna, Mato Grosso do Sul, Brasil. Cadernos Saúde
Pública, Rio de Janeiro, n23 v. 4, p 785-793, 2007
RESULTADOS E DISCUSSÃO

415
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

5. IBAMA. Diagnóstico de carcinicultra do Ceará, 2005

416
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Fubá de Gergelim Artesanal: Elaboração e Avaliação Físico-Química

Sheyla Amaral1, Felipe da Silva2, Marlene Damaceno3


1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte
3
Docente Doutora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte

E-mail: sheylaamaral82@gmail.com

Palavras chave: Farinha, Oleaginosa, Semente, Sesamum indicum.

Introdução Figura 1. Fluxograma de Elaboração do Fubá de Gergelim.

A farinha, de acordo com a RDC n° 263 de 22 de setembro Torração das sementes de gergelim
de 2005 que dispõe sobre o Regulamento Técnico para produtos de
cereais, amidos, farinhas e farelos, é definida como “o produto obtido
de partes comestíveis de uma ou mais espécies de cereais, Mistura dos ingredientes (semente torrada e farinha branca)
leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e ou
outros processos tecnológicos considerados seguros para produção de Primeira trituração (pilão)
alimentos” (1).

O gergelim (Sesamum indicum L.), é conhecido como a Adição de rapadura


planta oleaginosa mais antiga do mundo. Sua origem não é bem
definida, mas acredita-se ter sido nos continentes asiáticos ou Segunda trituração (pilão)
africanos, visto que existem registros do uso da semente e do óleo
nessas regiões desde 4.300 a.C. No Brasil o gergelim foi introduzido
Fubá de gergelim
no século XVI, por navegantes portugueses (2).

Na Região Nordeste, o gergelim é utilizado de forma Acondicionamento


artesanal na fabricação de remédios, como o chá das folhas e o óleo
Fonte: Elaborado pelos autores.
das sementes para tratar queimaduras. Na alimentação é usado no
preparo de paçoca, cocada, tijolinho, pé-de-moleque e o fubá de
Cinzas Totais (CT)
gergelim, também conhecido como fuba, farinha ou farofa. Muito
apreciada pelos idosos, essa farinha pode ser consumida com café,
feijão ou sozinha. Atualmente seu uso se estende a dietas e saladas (3). O resíduo mineral fixo foi determinado pela eliminação da
matéria orgânica, sendo pesado aproximadamente 2 g da amostra em
cadinhos, incinerados e levados ao forno tipo mufla (Heraeus
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Instruments, EUA) a 550 ºC/6 horas, até obtenção de peso constante
Abastecimento indicam que em 2019 o Brasil obteve US$ 25,4
(método 940.26; AOAC, 2005).
milhões com a exportação de gergelim (4). Diante do exposto, o
objetivo do presente trabalho foi determinar a composição centesimal
do fubá de gergelim elaborado artesanalmente no interior do Ceará, e Lipídeo Total (LT)
verificar a conformidade com a legislação vigente.
Aproximadamente 3 g da amostra foi pesada em cartucho.
Ao extrator de Soxhlet contendo o cartucho foram acoplados os balões
de fundo redondo, o hexano foi adicionado duas vezes, adaptou-se ao
refrigerador de bolas, mantendo sob aquecimento em chapa elétrica
Materiais e métodos
por 6 horas. Após esse período os balões foram colocados em estufa
(Heraeus Instruments, EUA) a 105 °C e pesados até obtenção de peso
O fubá de gergelim foi elaborado de maneira artesanal na
constante (método 930.09; AOAC, 2005).
zona rural do município de Jaguaruana, no interior do Ceará.
Utilizando como ingredientes a semente de gergelim seca (57,14%),
farinha branca (28,57%) e rapadura (14,29%). A semente de gergelim
foi torrada em fogão a gás depois foi triturada com os outros
ingredientes em um pilão artesanal de madeira sendo acondicionada Resultados e discussão
em recipiente de plástico com tampa, previamente higienizado e seco.
As etapas de produção da farofa estão descritas na Figura 1. Os resultados da avaliação físico-química do fubá de
gergelim encontram-se na Tabela 1.
As análises físico-químicas foram realizadas no
Laboratório de Química de Alimentos do IFCE Campus Limoeiro do Tabela 1. Avaliação Físico-Química do Fubá de Gergelim.
Norte, segundo a metodologia oficial da Association of Official Umidade Cinzas Totais Lipídeo Total
Analytical Chemists (5). Foram realizadas a determinação de umidade,
lipídeos e cinzas. 6,24±0,14 2,05±0,23 15,17±2,12
Fonte: Elaborada pelos autores.
Umidade (U)
A RDC n° 263 de 2005 especifica que para farinhas, amido
Consistiu na secagem de aproximadamente 3 g da amostra, de cereais e farelos, a umidade deve ser de no máximo 15%. Observa-
em estufa (Heraeus Instruments, EUA) a 105 °C, até obtenção de peso se então que o fubá de gergelim artesanal encontra-se dentro do
constante (método 934.06; AOAC, 2005). especificado pela legislação.

417
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

De acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Essas variações nas concentrações de cinzas e de gordura
Alimentos (6), a semente de gergelim possui 3,9% de umidade, 2,9% podem estar relacionadas às condições de cultivo, à variedade do grão,
de cinzas e 50,4% de lipídeos. Como esperado, o teor de cinzas do fubá pois foram cultivados em regiões distintas, e ao processo de extração
de gergelim é o que mais se aproxima. Apenas como informação de óleo, já que nesse estudo, não houve nenhum processamento na
observa-se ainda que o fubá de milho cru possui 11,5% de umidade, semente além da torração, visto ser uma produção artesanal.
0,6% de cinzas e 1,9% de lipídeos, destacando-se que o gergelim
possui maiores teores de minerais e gordura que o milho. Quanto ao teor de umidade, conforme a legislação, as
farinhas podem ter até 15%, portanto, a farinha desse estudo também
Estudos evidenciam que uma das formas de beneficiamento se encontra dentro do parâmetro estabelecido.
da semente de gergelim é a elaboração de farinhas para incorporação
em diversos produtos, como bolos, massas, biscoitos, bebidas, dentre
outros (7). Para esse procedimento as sementes podem ser moídas ou
torradas, como é o caso do fubá preparado no estudo em questão Conclusão
(Figura 2).
Os parâmetros estudados indicam a possibilidade de
Figura 2. (A) Preparo do Fubá. (B) Fubá de gergelim. utilização da semente de gergelim na elaboração de produtos
convencionais, como no caso do fubá produzido artesanalmente,
A contribuindo para sua incorporação na alimentação das pessoas que
não possuem o hábito de consumo desse grão. Constata-se que mesmo
sendo um produto obtido de forma artesanal, atende ao parâmetro
especificado pela legislação vigente. Sugere-se para realização de
estudos futuros a aplicação de uma análise microbiológica para
verificação da qualidade higiênico-sanitária do processo de elaboração
e da determinação de macro e micro nutrientes do fubá.

Referências

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância


Sanitária. Resolução RDC N° 263, de 22 de setembro de 2005.
Regulamento técnico para produtos de cereais, amidos, farinhas e
farelos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 23 de setembro de 2005.
B
2. EMBRAPA. Gergelim: o produtor pergunta, a Embrapa responde.
Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2009. 209 p.

3. EMBRAPA. A cultura do gergelim. Brasília, DF: Embrapa


Informação Tecnológica, 2007. 72 p.

4. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


Brasil vai exportar gergelim para Índia. Disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/noticias/brasil-vai-exportar-gergelim-
para-india. Acesso em: 17 mar. 2020.

5. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS


(AOAC). Official Methods of Analysis of AOAC International.
Gaithersburg, MD, USA: AOAC International, ed. 18, 2005.

6. TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos) /


Fonte: Autores. NEPA-UNICAMP. 4. ed. Campinas, SP: NEPA-UNICAMP, 2011.
161 p.
Estudo desenvolvido para elaboração de biscoitos tipo
cookies substituindo a farinha de trigo pela farinha desengordurada de 7. FERREIRA, L. C. Bebida à base de gergelim e fruta:
gergelim, obteve-a no comércio local, diferindo do estudo em questão desenvolvimento, caracterização e aceitabilidade. Fortaleza: UFC,
em que a farinha foi elaborada. Ao avaliarem o teor de umidade, os 2017. 83 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de
autores obtiveram 5,19%, pouco inferior a encontrada no presente Alimentos), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.
estudo. Quanto ao teor de cinzas, encontraram 17,80%, superior a esse
estudo, e em lipídeos obteve apenas 0,30%, já que a farinha passou por 8. CLERICI, M. T. P. S.; OLIVEIRA, M. E.; NABESHIMA, E. H.
processo da retirada da gordura para elaboração dos biscoitos (8). Qualidade física, química e sensorial de biscoitos tipo cookies
elaborados com a substituição parcial da farinha de trigo por farinha
Outro estudo realizou a elaboração de iogurte com adição desengordurada de gergelim. Braz. J. Food Technol, v.16, n.2, p.
de farinha de semente de gergelim, desidratada em estufa à 65 °C por 139-146, 2013.
48 h, triturada, peneirada e armazenada. Em seguida, realizaram a
caracterização da farinha e obtiveram: 7,23% de umidade, 6,12% de 9. FINCO, A. M. O.; GARMUS, T. T.; BEZERRA, J. R. M. V.;
cinzas e 39,74% de lipídeos, valores superiores aos desse estudo em CÓRDOVA, K. R. V. Elaboração de iogurte com adição de farinha
questão, com destaque para o teor de umidade, visto que a semente não de gergelim. Amb, v.7, n.2, p. 217-227, 2011.
foi seca em estufa (9).

418
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

MOCORORÓ COMO EXPRESSÃO DE RESISTÊNCIA DOS POVOS INDÍGENAS DO CEARÁ

Carolinne dos Santos​1​, Anna Erika Ferreira Lima​2​, Francisco Romário de Sousa Holanda​3​, Rildelene dos Santos Silva​4​,
Jair dos Santos Júnior 5​

1​
Graduanda em Turismo, IFCE ​campus Fortaleza ,​carolinnemelo@yahoo.com.br
2​
Professora do Curso de Bacharelado em Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE.
3​
Graduado em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE.
Mestranda em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis na Universidade da Integração da Lusofonia
4​

Afro-Brasileira - UNILAB ​campus​ Liberdade.


5​
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará - UFC.

Palavras-chaves: ​Cultura alimentar; Bebidas fermentadas; Caju azedo; Ceará; Gastronomia.

INTRODUÇÃO Gavião). Considerando os povos indicados acima, a presente pesquisa


No Ceará resistem 14 povos indígenas, reconhecidos pela FUNAI, e o tem como objetivo principal desenvolver um estudo sobre a
povo Jaguaribara/Karão reconhecido recentemente pelo Movimento identificação e reconhecimento dos territórios indígenas que fabricam
Indígena do estado, totalizando cerca de 35 mil indígenas, segundo o e/ ou produzem o mocororó, considerando os rituais intrínsecos ao
levantamento realizado na Assembleia dos Povos Indígenas do Ceará de consumo dessa bebida, tendo como ponto de partida as seguintes
2019 na aldeia Encantada do povo Jenipapo Kanindé em Aquiraz - CE. questões: Quais povos produzem e consomem o mocororó no Ceará? O
Desde o início das invasões européias no Brasil esses povos seguem consumo do mocororó está ligado à rituais? Como se efetiva a
lutando em defesa dos seus territórios tradicionalmente ocupados, elaboração da bebida pelas diferentes etnias identificadas?
buscando a preservação de seus conhecimentos e culturas ancestrais. Esta pesquisa se faz fundamental no contexto da compreensão sobre as
Nesse sentido, o mocororó, bebida fermentada a partir do ​sumo ​de caju formas de organização dos povos indígenas do Ceará e a consequente
azedo, constitui um marco de resistência cultural dos povos que habitam visibilidade de seus aspectos culturais e ancestrais, onde sua cultura
as regiões Norte e Nordeste do Brasil, como é o caso do Ceará. alimentar resiste aos ditames do capital e aos modos de produção
Os territórios indígenas se localizam em diversos ambientes no Ceará, alimentares que adentram as aldeias. Tratar, do mocororó é
estendendo-se pelo litoral e pelo interior, como pode ser verificado no compreender processos que estão para além de técnicas de fermentação,
Mapa 1, que tem como base às comunidades indígenas reconhecidas armazenamento ou conservação do cajú; mas perceber a importância
pelo Movimento Indígena do Ceará. espiritual de uma bebida milenar que apresenta significados nos ritos
ligados ao seu consumo.
Mapa 1 - Mapa do Movimento Indígena do Ceará. Fonte: Acervo do
NEABI - Campus Fortaleza & Jair dos Santos Júnior, 2020. MATERIAIS E MÉTODOS
A fundamentação da pesquisa foi de cunho bibliográfico documental,
aliada à trabalhos de campo com a efetivação de entrevistas
semi-estruturadas com lideranças das seguintes comunidades indígenas:
Anacé da aldeia Japuara, Tapeba da lagoa dos Tapebas, ambos em
Caucaia e Jenipapo Kanindé na aldeia Encantada, em Aquiraz nos
períodos de ​maio a novembro de 2019, além de vivências e artigos que
indicam a fabricação de mocororó pelos povos Tremembé de Almofala
e da Barra do Mundaú e Kanindé de Aratuba.Optou-se usar nomes
fictícios para preservar a identidade dos entrevistados. Os resultados
mostram que as etnias entrevistadas preservam a tradição de fabricar
mocororó e consumi-lo nos rituais de toré e do torém; rodas de conversa
e o povo Jenipapo Kanindé há ​três a​nos realiza a Festa do Mocororó.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde a chegada dos invasores europeus que registra-se a fabricação de
bebidas fermentadas por indígenas brasileiros. O mocororó, objeto desta
pesquisa, foi descrito por alguns a​utores como sendo elaborado por
etnias no Norte e Nordeste do país, contudo outros povos originários
produzem outras bebidas que seguem processos de produção
semelhantes, contudo com insumos distintos.
O caju é um fruto tipicamente brasileiro com maior abundância na
região Nordeste. Cultivado por indígenas antes da chegada dos
portugueses, é um alimento versátil e característico do cenário tropical
brasileiro. “O cajueiro é uma árvore celebrada e está no variado
imaginário tradicional e popular brasileiro. Além do consumo da fruta
in natura e de muitos outros aproveitamentos da culinária enquanto
doce, vinho, castanha assada (...)” (LODY, 2008, p. 186).
O caju sempre esteve presente na alimentação dos indígenas no Ceará,
tendo o mocororó como elemento mais característico da cultura
indígena relacionada ao fruto. A bebida fermentada a partir do caju é
servida nos rituais e acompanhado da dança típica toré.
O processo de fabricação do mocororó compreende-se em espremer o
caju azedo, este, especificamente, utilizado pelos povos do litoral, já
que as demais costumam utilizar o caju doce. Engarrafar após coar o
sumo e esperar que a fermentação aconteça em um período mínimo de
aproximadamente uma semana; contudo ocorrem algumas pequenas
Destacamos então as etnias cearenses que produzem e/ou consomem o mudanças neste processo de acordo com o artesão e/ou povo que produz
mocororó: na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) temos as etnias a bebida. Dependendo do estágio de fermentação há mudanças quanto
Jenipapo Kanindé, Anacé, Tapeba e Pitaguary; na região litorânea ao teor alcoólico da bebida que pode ser comparado ao da cerveja
(Itapipoca, Acaraú e Itarema) temos os Tremembé; e no município de segundo os autores Silva & Morais (2018): “Foi verificada a presença
Monsenhor Tabosa encontra-se o Movimento Potiguartapuia de álcool na bebida mais jovem,e na mais velha, indicando que o
(contemplado pelas etnias Tabajara, Potyguara, Tubiba Tapuya e 419 mocororó é uma bebida alcoólica com teor de álcool similar ao de
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

algumas cervejas.”(p. 14) Além disso, em degustações durante as visitas registraram que os Kanindé e Pitaguary tiveram o primeiro contato com
a campo e conversas informais em festas indígenas percebe-se que o o mocororó na Assembléia dos Povos Indígenas do Estado do Ceará em
mocororó mais velho, aquele com fermentação superior a 12 meses, 1993. Podemos destacar sobre o fabrico do mocororó pelos Kanindé
avinagra semelhante a um vinho estragado. que: “Para fazer o mocororó precisa ser com o caju azedo e caído da
O povo Jenipapo Kanindé, em Aquiraz, à 32 Km de Fortaleza, realiza planta. O sumo é extraído espremendo o pendúculo com as mãos. Em
desde 2017 nos dias 4 de novembro de cada ano a Festa do Mocororó seguida, o líquido é coado e envasado em cabaças ou potes de barro
onde ocorrem competições de quem bebe e quem fabrica mais onde permanecem fermentando por um período de até um ano ou por
mocororó, além de venderem a bebida e artesanatos da comunidade tempo indeterminado pode ser enterrado para que ocorra uma
(Figura 1). Contudo, para este povo a festa vai além da bebida, pois a fermentação mais rápida. Durante este processo é recomendado tomar
data serve para comemorar a demarcação da sua terra indígena. após 6 meses”. (SILVA; MORAIS, 2018, p. 2 )
Os tremembé, similarmente aos Kanindé, ingerem o mocororó
Figura 1 - Mocororó em diferentes estágios de fermentação e acompanhado de ritualística sagrada através da dança tradicional dessa
artesanatos na III Festa do Mocororó. Fonte: Acervo do NEABI - etnia: o torém. Oliveira (2014) observou que no ritual do qual era
Campus Fortaleza . Fotógrafa :Sabrina Moura, 2019. praticado o torém possui saberes intrínsecos a técnica de fabricação do
mocororó e durante a ingestão deste à compreensão do universo
espiritual concentrando-se na figura dos encantados.
Em conversas informais, lideranças do Movimento Potigatapuia , que
contempla os povos Tabajara, Potyguara , Gavião e Tubiba Tapuia do
município de Monsenhor Tabosa, confidenciaram que consomem
mocororó em cerimônias de casamento.

CONCLUSÕES
Desde o Relatório Provincial de 1863 até o levantar do Movimento
Indígena em 1970 com os povos Tapeba e Tremembé, negava-se a
existência de indígenas no Ceará, contudo trata-se de um equívoco que
fez com que os povos esconderem sua identidade para sua própria
sobrevivência. Atualmente, resistem mais de 35 mil indígenas, 15
povos, esses preservam sua cultura: danças típicas, alimentação,
artesanato, medicina, culto aos encantados e vestimentas. Destes povos,
identificamos cerca de 10 que produzem e/ou consomem o mocororó;
esse saber fazer que envolve não somente os ensinamentos acerca da
O povo Tremembé foi um dos primeiros povos a serem reconhecidos fermentação como também os rituais de toré e torém (esse
pela FUNAI no Ceará, onde ​em 2003, a Terra Indígena Tremembé especificamente do povo Tremembé), o uso da bebida em casamentos e
Córrego do João Pereira foi a primeira a ser homologada no estado do rituais mais íntimos aos povos que os aproximam de seus ancestrais.
Ceará. Essa etnia ​encontra-se nos municípios de Itarema, Acaraú e O mocororó é uma bebida que aproxima, pois as famílias tendem a se
Itapipoca. ​Em Itarema, vivem tanto perto da costa, sobretudo no distrito reunir para a colheita do caju, e no processo de retirada do suco e
de Almofala, como no interior, em área já regularizada pela Funai, engarrafamento , contudo quando o consumo fora dos rituais dar-se em
conhecida por Córrego do João Pereira, que compreende o Capim-açu, rodas de conversas. O conhecimento é elemento básico para a
São José e Telhas. A região da “Grande Almofala” (CHAVES, 1973) preservação das tradições, ademais os registros acadêmicos são
compreende a vila hom​ônima e um grande número de localidades onde importantes para a disseminação dessa cultura, para que se perca os
vivem tanto os Tremembé como regionais e proprietários de terra. O estereótipos relacionados à figura mitológica do indígena. A
Cacique João Venâncio, em entrevista ao Diário do Nordeste em 2003, gastronomia de um povo diz muito sobre sua história, como ele se
afirmara que após a colheita do caju, os tremembé se reúnem ​para tomar relaciona com a terra, o poder econômico da região, como se dá a
a tradicional mocororó, feito do suco do caju azedo e fermentado. organização familiar e a divisão do trabalho.
João Anacé1, atualmente um dos representantes do Cacicado Anacé,
em entrevista realizada dia 24/05/2019, relata a existência de um
REFERÊNCIAS
mocororó adicionado de ingredientes cujo o conhecimento é restrito ao CASCUDO, Luís Câmara. ​Antologia da Alimentação no Brasil​. 2. ed.
seu povo e também é um elo com mundo espiritual: “O nosso mocororó São Paulo: Global, 2008. 320 p.
preparado para rituais fechados, nossos, é um momento de inserção ao CHAVES, Luiz G. M. ​Trabalho e subsistência, Almofala : aspectos
mundo espiritual. Ele não seria alucinógeno, mas abre alguns portais". da tecnologia e das relações de produção. Rio de Janeiro : Museu
O mesmo declarante explica que a bebida é utilizada no ritual chamado Nacional, 1973. (Dissertação de Mestrado).
ouricuri, momento religioso e exclusivo da comunidade para reconectar DIÁRIO DO NORDESTE. ​Comunidade Mantém costumes. ​20 de
com o sagrado onde são realizadas as “encantarias”. Abril de 2003. Disponível em
Felipe Tapeba¹, em entrevista realizada em 10/06/2019, destaca que o <​https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/comunid
mocororó é um costume tradicional muito importante para os povos ade-mantem-costumes-1.95492​>.Acesso em 12 de Jan.de2020.
indígenas e seu povo o produz há várias gerações e inclusive tem um LODY, Raul. ​Brasil Bom de Boca: Temas da antropologia da
toré que fala da bebida e mostra essa conexão com os ancestrais : ​“ O alimentação. São Paulo: Senac, 2008. 424 p.
mocororó é uma ciência divina, mocororó é uma ciência encantada. No MONTANARI, Massimo. ​Comida como Cultura​. São Paulo: Senac,
toré venha beber, venha beber com os meus encantados.” 2013. 207 p.
As preparações a partir do caju estão nas raízes da tradição cearense e a S​ILVA, Rildelene dos Santos; MORAIS, Ana Cristina da Silva.
gastronomia como elemento cultural deve ser registrada para que são se BEBIDA INDÍGENA MOCORORÓ: ​DESVENDANDO UM
perca, pois atualmente com o advento da globalização muitas POUCO DA COMPOSIÇÃO E ACEITAÇÃO POR NÃO
modificações estão sendo feitas para que as preparações fiquem mais INDÍGENAS. ​2018. 16 f. TCC (Graduação) - Curso de Tecnologia em
modernas o que muitos chamam de “gourmetização” chama atenção Gastronomia, Instituto Federal do Ceará, Baturité, 2018.
para a importância da língua falada e do sistema alimentar, pois estes OLIVEIRA, Renata Lopes de. ​O Torém Enquanto Espaço de
transportam a cultura de quem a pratica como um depositário das Formação na Educação Diferenciada Indígena Trememb​é.
tradições e da identidade de um grupo (MONTANARI, 2013). Comunicação. XVII ENDIPE, 2014.
Observa-se, atualmente, que as preparações das cozinhas típicas vêm
perdendo certas características histórico-culturais, uma vez que a
memória coletiva e conhecimento oriundo do processo de elaboração
destas preparações tradicionais estão desaparecendo, por conta da
mundialização dos mercados, da homogeneização das cozinhas, pela
facilidade de aquisição de novas mercadorias estranhas a cultura de
origem.
O mocororó é produzido também pela etnia Kanindé, esta comunidade
relaciona a bebida a rituais sagrados no quais realizam a dança típica
toré durante reuniões ou encontros especiais. Silva & Morais (2018)

1
Nomes Fictícios 420
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Denominação de Origem e Identidade

Renato Rios1; Amanda Felicio Marques2


1- Mestre em História e Culturas (UECE) e acadêmico do Bacharelado em Gastronomia (UFC).
Email: renatorios19@gmail.com
2- Acadêmica do Bacharelado em Gastronomia (UFC)
Email: mandafmarques@gmail.com
Palavras Chave: memória, identificação, DOC
que se define como elemento símbolo da cultura cearense é algo que
Introdução permeia as discussões de intelectuais locais desde o século XIX (9).
Produtos que carregam um certificado de origem ou elementos
que apontem para características específicas da produção vêm tendo Resultados e discussão
sua procura aumentada no mercado, principalmente com aqueles Ao se trazer para a discussão a respeitos dos critérios que se
ligados à agropecuária. É cada vez mais comum encontrar esses mostram pertinentes nas definições que ajudam a compor
produtos disponíveis para o consumidor, em um reflexo tanto à maior Denominações de Origem diversas os Estudos Culturais na figura do
produção como à maior procura por qualidades específicas. conceito de Identidade percebemos que esses aspectos se mostram
Muitas vezes são as indicações geográficas que inicialmente sincrônicos no resultado das DO dos produtos.
definem e categorizam esses produtos, já que estas são ferramentas Dos vinhos chilenos – para os quais questões como a localização,
cujo intuito é valorizar produtos tradicionais vinculados a o tipo de solo, o tipo de uva (2, 7) – aos queijos de Minas Gerais (8),
determinados territórios. Funcionando tanto para agregar valor como elementos como a legislação, o processo de produção e a tradição
proteger a região produtora, costumeiramente são estes aspectos que local são relevantes e ajudam a compor essa a Identidade que vai ser
definem as Denominações de Origem (DO) e a Indicação de atribuída (e/ou vem se atribuindo) ao produto. Chamar o processo de
Procedência (IP). A primeira é definida pelo modo como as sincrônico é evidenciar os vários sentidos que ajudam a formular tais
peculiaridades de uma região afetam o resultado do produto; já a Denominações de Origem. A legislação, por exemplo, se estabelece
segunda, toca numa espécie de proteção à reputação do produto, posteriormente numa tentativa de proteger a tradição, elemento
relacionando-o a sua origem geográfica. (1) relacionado a um processo constituído a priori. Já os processos de
Produtos como vinhos, queijos e café cada vez mais recebem produção transitam entre dois mundos: as receitas que pouco se
definições específicas quanto às suas origens. No caso dos vinhos, adaptaram com o passar do tempo e a inserção de elementos de
desponta tais denominações de acordo com o país, região, tipo de uva inovação e tecnologia passiveis de tornar o processo mais eficiente,
ou produtor: os vinhos italianos podem ter pelo menos três com menos desperdícios e menores gastos, geralmente visando à
denominações específicas (Denominazione di Origine Controllata, manutenção da qualidade do produto. Se as receitas – ainda mais se
Denominazione di Origine Controllata e Garantita e Indicazione forem de uma longa trajetória temporal – ajudam a construir a
Geografica Típica). Ao se observar os elementos que ajudam a definir identidade do produto pelas escolhas e como estas se relacionam com
o produto dentro de cada uma destas evidencia-se que há mais clima, solo, relevo, a tecnologia e inovação também ajudam a
elementos que ajudam a definir o produto final, para além da região – localizar o produto em um mercado cada vez mais preocupado com a
o tipo de uva, o tempo de participação na categoria inicial, a legislação higiene e a segurança dos alimentos, o que não deixa de ser também
e, às vezes, até o caráter mais genérico da produção. (2) um aspecto de identificação trazido pelo produto.
Assim, a partir das reflexões levantadas pelos teóricos dos É justamente por não pensar esse processo com um único sentido,
Estudos Culturais, parece pertinente elucubrar que, para além dos mas de forma sincrônica que, mostra-se pertinente observar as
aspectos geográficos – que são sim pertinentes – possa-se avaliar os definições trazidas pelo grupo que defende Denominação de Origem
processos de definição de produtos que carreguem uma Denominação Cearense (DOC). Os produtos, os preparos, as inovações e as
de Origem a partir do conceito de Identidade e as relações entre com o tradições ajudariam a definir essa DO, porém é pertinente perceber
que se identifica e o que difere(3). O caso do desenvolvimento de que definir um produto ou processo como “cearense” é bem mais
produtos com Denominação de Origem Cearense (DOC) mostra-se complexo. O Ceará tem pelo menos três regiões que trazem relevo,
alinhado à discussão levantada (4). clima, insumos e preparos diferentes de sua culinária, e essas regiões
Ainda que seja pertinente a questão geográfica, visa-se aqui não tem no Ceará sua exclusividade: o litoral cearense pouco difere
discutir Denominação de Origem de produtos em geral a partir do dos estados vizinhos; o Cariri é uma região que tem uma parte sua em
conceito de Identidade, assim como pontuar os principais tipos de território cearense; o Sertão Central pouco ou nada difere dos sertões
Denominação de Origem utilizados no caso de vinhos e queijos e de outros estados do Nordeste. Pensar algo exclusivo e identitário ao
lançar uma reflexão inicial sobre o caso dos produtos de Denominação Ceará revela-se complexo pela própria distinção interna das regiões.
de Origem Cearense. Os pescados, por exemplo, são mais facilmente identificados como
relacionados ao Litoral, enquanto a carne de caprinos, ao Sertão
Material e Métodos Central. Assim, as discussões sobre DOC devem perpassar a
Apesar de Denominações de origem (DO) relacionar-se aos perspectiva geográfica (que pode ser ponto de partida, mas não é o fim
aspectos geográficos, há uma intensa relação da tradição e a memória do processo, como citado) e se apropriar das discussões sobre os
que compõem a gastronomia local e aspectos constitutivos da aspectos que formariam uma identidade cearense para se pontuar
identidade do grupo relacionado, colocando o local e o regional como como relevante, inclusive diante do mercado.
elementos que precedem o nacional e o internacional (5). A partir
desse ponto, é relevante pontuar que o processo de construção de uma Conclusões
Identidade, dentro das lógicas dos Estudos Culturais, é pautado A reflexão aqui articulada é uma proposição de discussão de
inicialmente pela diferença (6). Identidade e diferença constam em Denominação de Origem de produtos em geral sob a luz das teorias
sistemas de significação e de representações e parte da construção dos Estudos Culturais e, especificamente, do conceito de Identidade,
dessa identidade vai partir da identificação daquilo que poderia por perceber que essas denominações apontam-se como sincrônicas e
compor como parte do produto no qual será apontada uma para alem das questões meramente geográficas. Pontua-se também
Denominação de Origem em detrimento àquilo que o diferencia. lançar uma reflexão inicial sobre o caso dos produtos de Denominação
Vinhos verdes portugueses são definidos por serem produzidos na de Origem Cearense, o processo esse que revela que identidade e
região de Minho em Portugal, mas não podem conter uvas viníferas identificação das DO são complementares.
tintas, por exemplo (7). Assim, outros aspectos comportam-se como
relevantes no processo de identificação de um produto. Essa definição Referências
não é arbitrária, pois é constituída culturalmente, partindo desde as
receitas dos produtos (como no caso dos queijos mineiros ou cafés do 1. GIESBRECHT, H.O.; SCHWANKE, F.H.; MÜSSNICH, A.G.
Cerrado) até a busca por uma qualidade que se mostre um diferencial Indicações geográficas brasileiras. Brasília: SEBRAE, INPI, 2011.
no mercado, seja para um público amplo ou específico (8). É inclusive 164 p.
a partir de dessa perspectiva que o uso de Denominação de Origem
Cearense vem se constituindo (4), já que a problemática em torno do

421
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

2. BERTHOLDO, A. Como ler rótulos. Revista Wine 118, Ano 10,


p14-17, Outubro, 2019.

3. WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e


conceitual. In: SILVA, T.T. (org). Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. 10 ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2011,
07-72.

4. PRADO, I. Revolução Cearense: cozinha DOC(G). In: Jornal O


Povo, Fortaleza, Disponível em: 29 jul, 2018. Acesso em: 27 jan,
2020.

5. SANTOS, C.R.A. dos. A comida como lugar de história: as


dimensões do gosto. História: questões e debates. N. 54, Ano 28, 103-
123, 2011.

6. SILVA, T.T. A produção social da identidade e da diferença. In:


SILVA, T.T. (org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. 10 ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2011, 07-72.

7. PUCKETTE, M.; HAMMACK, J. O guia essencial do vinho: Wine


Folly. 1. Ed. Rio de Janeiro: Ed. Intrínseca, 2016. 240p.

8. GUIMARAES, E. Minas é o segundo estado em certificações de


origem no mercado agro. In: Estado de Minas, Minas Gerais,
Disponível em: 13 ago, 2018. Acesso em: 27 jan, 2020.

9. RIOS, R.M. João Brígido e sua escrita de uma história para o


Ceará: narrativa, identidade e estilo (1859-1919). 2013. 150f.
Dissertação (Mestrado em História e Culturas) – MAHIS,
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2013.

422
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Importância da Memória Gustativa Sertaneja Cearense

Autores: Samuel Gomes1, Alisson Alcantara 2


1, 2
Graduandos do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará, samuelelias@alu.ufc.br

Palavras-chave: Cultura Alimentar; Sertão; Resgate Alimentar.

Introdução nos dias de hoje, que nos parece “natural”. Todavia, somente a partir
do século XIX é que este tipo de cozinha surge no cenário
A alimentação humana, diferente da de outros seres vivos, vai além gastronômico europeu e bem mais tardar no nordeste brasileiro.
dos aspectos nutricionais e biológicos. Comer, para nós, é também Montanari (2008) ressalta que tudo que é óbvio e universal em
um ato sociocultural, marcado por diversas transformações ligadas a relação à alimentação foi aprendido culturalmente. Rachel, por meio
práticas alimentares, costumes e protocolos regidos pelas dinâmicas de sua obra, busca resgatar e documentar, através de relatos e
sociais. O escritor folclorista Luís da Câmara Cascudo (1) cita que receitas, os costumes alimentares da população sertaneja cearense,
“comer é um ato orgânico que a inteligência tornou social”. trazendo assim, a valorização de sua terra natal.
Conscientes ou não, o ato de comer não é neutro e carrega diversos Segundo a autora, a dieta diária se constituía de feijão temperado
significados e simbologias culturais. Portanto, cabe dizer que a com um pedaço de carne ou toucinho, ou o feijão cozido com apenas
comida é culturalizada, pois comemos comidas, comemos cultura, água e sal. Comia-se carne moqueada i na brasa misturada com
comemos momentos, comemos memórias (2). Os gostos e as farinha de mandioca, tubérculos, favas entre outros produtos da terra.
predileções variam no tempo e no espaço, e ajudam a desenvolver os Essa dieta simples, porém, torna-se mais variada em ocasiões
valores da sociedade. Nesse âmbito, a gastronomia sai da cozinha festivas, como casamentos, aniversários e bodas. Os pratos feitos ali
para virar objeto de estudo. Com foco nos símbolos e representações receberam o nome de cozinha festiva, que apresenta pratos
que se agregam e combinam com o passar dos anos e transformam a tradicionais adaptados aos recursos e ambientes locais.
cultura dos povos. A miscigenação cultural é refletida com forte impacto na cultura
A memória gustativa de um indivíduo representa o valor dos alimentar brasileira. Rachel ressalta que a cozinha sertaneja cearense
vestígios alimentares de seu passado. A importância dessa memória é se aproxima da simplicidade dos hábitos alimentares indígenas e seus
justificada por aquilo que ela representa individualmente, sem a pratos representam uma adaptação dessa cozinha com traços da
necessidade de ser legitimada socialmente (2). A documentação abundância da cozinha portuguesa.
dessas memórias, porém, representam práticas e hábitos alimentares Em O Não Me Deixes (4), Rachel apresenta a influência indígena no
desse indivíduo e daqueles que estão inseridos no mesmo tempo e Ceará ao citar a farinha de mandioca como amplamente consumida e
espaço geográfico em questão. De acordo com Montanari (3), “assim concluir que a alimentação do caboclo nordestino e amazônico não
como a língua falada, o sistema alimentar contém e transporta a mudou muito dos tempos da colonização para os dias atuais.
cultura de quem a pratica, é depositário das tradições e da identidade A culinária portuguesa trouxe seus elementos já incorporados aos da
de um grupo”. O amor da autora Rachel de Queiroz pela sua fazenda África e Ásia e os aliou a carne e peixe assados no moquém
no interior do Ceará, construiu o livro “O Não Me Deixes: suas (parafernália doméstica com quatro forquilhas de pau enfiadas no
histórias e sua cozinha” (4), repleto de relatos dos costumes chão e varas assentadas em cima, formando uma grelha de madeira)
alimentares do sertanejo cearense e ao mesmo tempo mistura a (1) daqui.
história e lembranças ligadas à cozinha de seu próprio lar. 1. Representação Ilustrativa do Moquém (6)
O presente estudo busca, a partir dos escritos de Rachel, uma
sertaneja cearense. ressaltar o valor sociocultural das memórias
gustativas escritas ou faladas no sertão do Ceará, de cultura alimentar
rica, mas ainda pouco discutida, estudada e valorizada em detrimento
de outras culturas.

Material e Métodos

Esse estudo utilizou como base a obra literária "O Não Me Deixes:
suas histórias e sua cozinha" (4) - da escritora cearense Rachel de
Queiroz - para um apanhamento das memórias gustativas da autora.
A partir deste método, empreendeu-se revisão de livros e periódicos
que abordavam sobre cultura e memória alimentar.

Para a escritora, a cozinha cearense representa o Nordeste pobre,


Resultados e Discussão “que não produzia nem café nem açúcar”, insumos de grande valor
comercial cultivados em grande escala em outros estados do
No sertão, cozinhava-se passando receitas e costumes de geração em Nordeste. Nas províncias escravocratas, a culinária africana teve
geração. O antropólogo Gilberto Freyre (5) descreve bem sobre a forte impacto, mas esse não foi o caso do Ceará, um dos âmbitos da
importância das receitas como conteúdo histórico em sua obra culinária sertaneja, que tinha a cultura do gado em detrimento do café
Açúcar - uma sociologia do doce, “Em compensação - através de e do açúcar.
receitas - algumas delas, segredos de família-, é uma arte que resiste Utilizando-se basicamente de farinha, feijão, milho e carne de
a seu modo ao tempo, repetindo-se ou recriando-se, com constância rebanho ou de caça, insumos típicos da região, assim como o modo
das suas excelências e até suas sutilezas de sabor; afirmando-se, por específico de preparo, perpetua-se uma cultura alimentar que se
essa repetição ou por essa recriação”. aprimora com novas descobertas. A primazia do cozinhar diário e da
Assim como o tempo, também o espaço serve como referência à integração de novos alimentos, como os gansos citados pela autora
formação da cozinha sertaneja nordestina. Conhecer ou exprimir uma em sua obra, mostram a criatividade do sertanejo, apesar da escassa
“cultura de território” por meio de comidas típicas é algo tão comum variedade de alimentos.

423
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Apesar da notável escassez de material bibliográfico sobre a história


da alimentação no Ceará, pode-se notar, através desse breve estudo,
que as memórias gustativas da autora trazem uma significativa
contribuição para o cultivo e desenvolvimento da cultura alimentar
cearense

Conclusões

Raquel constrói, por meio de suas memórias, importante meio de se


guardar história da cozinha sertaneja, simples em variedade, porém
rica em cultura. A partir da análise de publicações referentes ao tema
abordado, nota-se a importância de se documentar costumes,
vivências, e culturas individuais e coletivas, que atuam como
embasamento teórico para pesquisas e estudos posteriores.

Referências

1 CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil.


São Paulo: Global, 2004;
2 STEFANUTTI, Paola. Do couvert ao café: pescadores, memórias e
comidas. 2015. 179 f;
3 MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008;
4 QUEIROZ, R. de. O Não Me Deixes: suas histórias e sua cozinha.
aed. São Paulo, 2004;
5 FREYRE, Gilberto. Açúcar - uma sociologia do doce [...]. Global,
1969;
6 CAVALCANTE, Messias S. Comidas os Nativos do Novo Mundo.
Barueri, SP. Sá Editora. 2014, 403p. ISBN 9788582020364;

424
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia e Memória: Uma Visão Sobre os Aspectos Socioculturais do Queijo Coalho do


Nordeste Brasileiro

Lucas Martinelli¹, Flávio dos Anjos², Myriam Pimentel³

¹ Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPel. Bacharel em Gastronomia/UFRJ


(lucasmartinelli.mart@gmail.com);
² Doutor em Sociologia pelo ISEC (Universidad de Córdoba). Professor do Departamento de Ciências Sociais Agrárias
e dos PPGs em Sistemas de Produção Agrícola Familiar e Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPel
³ Doutora em Memória Social/UNIRIO. Professora do Instituto Josué de Castro/UFRJ

Palavras-Chaves: Tradição, Cultura, Comensalidade, Alimentação, Identidade.

Introdução: que nos serviram como base para a formulação de um pensamento


Os queijos artesanais trazem consigo aspectos que transcendem as crítico e preparo para a pesquisa de campo.
características organolépticas pelo simples fato de que sua produção, Esta etapa envolveu uma entrevista semiestruturada que forneceu aos
comercialização e degustação refletem fatores vinculados à cultura e entrevistados espaço para falarem sobre suas experiências de modo
sociedade em que estão inseridos. Destacados por Cavalcante (1) como aberto. Assim, em agosto de 2018 na cidade de Recife-PE e Olinda-PE,
produtos que apresentam qualidade sensorial elevada, esses exemplares foram realizadas seis entrevistas qualitativas com atores sociais
remetem a sabores e aromas antes presenciados mas que atualmente não heterogêneos, buscando uma abrangência maior do espectro social
mais se encontram nos produtos industrializados. São iguarias que representado. A partir da captação dos relatos em formato de áudio,
evocam ancestralidade e identidades culturais, através da foram realizadas transcrições e a revisão dos textos resultantes,
presentificação de diferentes técnicas e formas de preparo (savoir garantindo sua fidedignidade ao material original. As definições
faire/saber-fazer), passadas muitas vezes de geração para geração. aplicadas nesse momento foram pautadas por Verena Alberti (7). A
É através dessas relações que a cultura do queijo coalho existe. Sendo coleta dos dados das entrevistas baseou-se no método de análise de
um produto intrinsecamente relacionado ao seu território e à conteúdo clássica, seguindo as definições propostas por Martin W
subsistência de sua população, Menezes (2) nos apresenta essa Bauer e George Gaskell (8). Além das entrevistas, também trouxemos
dimensão com um trecho retirado de uma entrevista realizada em como metodologia aplicada a observação do autor ao visitar os
Cachoeirinha/PE, agreste nordestino: mercados públicos desses cidades, entre os quais, o mercado público de
O queijo é o sustento da minha família. Ele é o meu patrão. São José, mercado municipal de Camaragibe, mercado da encruzilhada
Trabalho na minha terra, crio poucos animais, vendo o e mercado público de Casa Amarela.
queijo e com o soro tenho nas precisões vendo o porco. Esse Num segundo momento, foi realizado um estudo bibliográfico sobre a
é o meu modo de vida, e de muitos dos meus parentes e sociologia da memória, mediante o qual, foi possível expandir a
vizinhos. A vida é dura por aqui nesse tempo de seca. Sem discussão dos dados provenientes das entrevistas a novos conceitos.
o queijo não teria como viver nessa terra. (3)
Mediante um vínculo secular com o seu território, o coalho desenvolveu Resultados e Discussão:
ao longo dos anos uma relação de intensa proximidade à comensalidade O início da história do queijo coalho no nordeste brasileiro remete a
nordestina. A isto deve-se a grande variedade de produtos capazes de séculos atrás. Com uma relação direta à cultura dos engenhos e à
atingir diferentes públicos consumidores, sua ampla versatilidade no necessidade de interiorização do gado pelo território a partir de 1701,
desenvolvimento de preparações (tanto salgadas quanto doces), e sua que o leite e seus derivados começam a receber uma maior importância
inserção direta em ambientes sociais e promovedores de sociabilidade, na dieta alimentar das fazendas. Surgem, neste momento, relatos sobre
como a rua e a casa. É através desta última que muitas relações afetivas o “queijo do sertão”, provavelmente antecessor do coalho como
e memoriais entre os sujeitos e o queijo coalho tradicional são conhecemos hoje, além do queijo manteiga, requeijão, coalhada, entre
formadas. Desenvolvidas principalmente durante a infância e outros (9).
exercendo contínua influência aos sujeitos até a atualidade, são Foi a partir deste movimento pelo território para diferentes áreas, que
concebidas tanto em caráter individual como coletivo (4). A memória obteve-se ao longo dos anos uma alta variabilidade de produtos, onde
assim, mostra-se como um elemento constituinte do sentimento de através dos diferentes modos-de-fazer, é possível encontrar na
identidade, fundamental para a reconstrução de si, garantindo uma atualidade queijos coalhos com as mais diversas características.
sensação de coerência e continuidade para uma pessoa ou grupo (5). Durante as visitas realizadas aos mercados públicos da região estudada,
Buscando um melhor entendimento das relações do coalho com o seu onde diversos tipos de coalho são encontrados, foi possível vislumbrar
contexto de origem, tendo em vista um cenário global de massificação parte dessas especificidades que muitas vezes passam despercebidas as
do consumo e direcionamento aos modelos industriais, onde tudo torna- pessoas pouco familiarizadas. Para um consumidor pouco interessado,
se obsoleto, substituível e descartável (6), esclarecer as relações qualquer tipo poderia ser facilmente vendido; entretanto se
socioculturais desse produto com a região nordeste do Brasil é o questionado, o vendedor logo informará, “-Temos esse mais furadinho
principal objetivo deste trabalho. Além disso, trata-se de analisar de que e o liso, também temos esse mais salgado, aquele que não derrete todo
forma as lembranças dos entrevistados vinculam-se e tendem a formar na hora de fritar”. Junto às explicações, um pedaço do queijo sempre é
uma rede de significados local. O presente estudo se insere no contexto oferecido para a prova do cliente.
das pesquisas relacionadas com a valorização e salvaguarda desse bem Após a escolha e compra, inicia-se então uma esfera que de certo modo
alimentar, tão importante socialmente e culturalmente para essa região, é responsável pela fixação diária deste produto na comensalidade
o qual apresenta significados e rituais escorados na imaterialidade e praticada na região. Munido de ampla versatilidade culinária, seus usos
subjetividade das relações interpessoais. A justificativa para o estudo não se restringem essencialmente a um tipo de preparo. Desde o simples
reside nos riscos dessa cultura alimentar desaparecer em virtude da “tira gosto” como diz um dos entrevistados “-cortadinho, entendeu; cru,
padronização dos hábitos alimentares. com azeitona [...] ele mesmo cru e acrescenta um azeitezinho e um
orégano”, passando pela elaboração de pratos salgados típicos como o
Materiais e Métodos: baião de dois, o rubacão, com carne de sol, no escondidinho e
Os dados e resultados abordados e apresentados neste trabalho foram na tradicionalíssima tapioca. Igualmente é popular nas sobremesas,
colhidos e analisados em diferentes momentos com diferentes tendo destaque a pamonha de milho, com mel de engenho, os bolos de
repertórios. Num primeiro momento foram realizados levantamentos macaxeira e milho e na cartola. Seu uso também evoluiu em outros
bibliográficos sobre a temática do “queijo coalho” em diferentes bases aspectos na gastronomia nordestina, indo de indispensável na refeição
de dados, como Scielo, base Minerva e google acadêmico. do trabalhador a um contexto de releituras e práticas gourmet.
Identificamos as principais obras e através delas chegamos a outras Essa ampla dimensão de usos do queijo coalho é refletida em diferentes
contextos sociais. Por fazer parte do hábito alimentar da população, o

425
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

seu sucesso e presença é garantido nos cardápios dos empreendimentos e fizeram parte deles. De certo modo, tecendo uma rede de memórias e
gastronômicos nordestinos, onde normalmente, ao menos um item significados através da exposição de suas lembranças.
possuirá o queijo. Essa presença é evidenciada para nós através do Mesmo que a subjetividade inerente a individualidade de cada sujeito
relato de um entrevistado “-A maioria dos restaurantes se você chegar esteja presente nessa relação, ainda assim é possível afirmar que uma
com uma carne de sol, elas vem com uma fatia de queijo em cima”, e mesma lembrança, captada individualmente de um sujeito, seja
continua sobre sua presença durante as resenhas nos bares “-Você vai e compartilhada com outros, ao passo que as memórias coletivas
come muito assim esse furadinho(o queijo) no caso para tira gosto [...] manifestam-se nas lembranças individuais.
final de semana o pessoal fica nos bares aí”.
Alcançando as relações sociais no convívio familiar, este produto Conclusões:
funcionária muitas vezes como um mediador, um facilitador das Através deste estudo é possível visualizar e caracterizar diversos
relações desenvolvidas durantes esses encontros. Assume de certo saberes vinculados à tradição e comensalidade do queijo coalho
modo as características que a própria comida têm, quando encarada nordestino. Por um vínculo secular com o território, desenvolveu ao
como algo que nutre tanto o corpo quanto a alma. Dentre os trechos longo dos anos diversos modos-de-fazer ligados aos diferentes estados
retirados das entrevistas, e que evidenciem essa presença ao âmbito e regiões. Mediante a isso, seus usos culinários são variados, sendo
familiar e celebrações, temos: “-[...] tem variedade de pratos, tem empregado no preparo de pratos tradicionais, releituras de clássicos, ou
pessoa que sempre vai fazer um prato que vai levar o queijo[...] no final sustento na refeição do trabalhador. Presente em diferentes contextos
de ano sempre vai ter um”; outro diz: “-[...]a gente faz a carne de sol, sociais, como a rua e a casa, funciona como um mediador das relações
bota o queijo em cima para derreter na carne de sol, aí você dá um interpessoais de sociabilidade entre os sujeitos, reforçando o ato de
toquezinho com mel de engenho[...]”. O simples encontro despojado criação e manutenção de memórias compartilhadas.
para um churrasco familiar pede sua presença, segundo relatado “- está Por meio das memórias registradas através da oralidade dos
presente porque quando se faz um churrasco a turma sempre gosta de entrevistados, podemos indicar sua presença em diferentes grupos
um queijinho coalho”. O alimento, independente de sua posição, sociais ao longo de suas vidas. Assim, por meios desses relatos,
carrega importância acentuada na sociabilidade de um grupo, seja nas dialogamos com aqueles integrantes que compõe esses coletivos, que
organizações que giram em torno dele, seja naquelas onde é encarado compartilham dessas memórias, construindo conexões entre dezenas de
como expressão tangível dos atos e intenções (10). novos sujeitos inseridos nesse mesmo contexto alimentar tradicional.
Através de suas lembranças com o coalho, muitas delas que remetem
aos primeiros anos de vida, que começamos a teorizar suas memórias. Referências:
Todos os entrevistados apresentam esse primeiro contato aos anos (1) CAVALCANTE, J. F. M.; BASTOS, M.S.R.; FONTENELE,
iniciais de suas vidas, um deles nos diz: “- Comia, do leite de vaca, meu M.A. Queijo Coalho artesanal no estado do Ceará. In: José Fernando
pai criava, agora ele não fazia queijo de coalho, mas eu comia o queijo Mourão Cavalcante (org.). O queijo coalho artesanal no nordeste do
de coalho desde aqui (aquela época)”; um outro conta, com certa Brasil. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil S.A, 2017, p. 35 -78.
nostalgia suas experiências: ”- [...]como meus avós eles tinham um (2) MENEZES, S.S.M. A força dos laços de proximidade na tradição
armazém, eles também produziam queijo, né. Eles vendiam. Então a e inovação no/do território sergipano das fabriquetas de queijo. Tese
gente chegava lá e cortava e pegava os pedaços de queijo e comia com (Doutorado em Geografia), Universidade Federal de Sergipe, 359
a farinha, era gostoso que só. O Queijo bom!”. Passagens deste tipo, f, São Cristóvão/SE, 2009.
sem dúvidas, estão presente nas memórias de diversos outros (3) Ibidem.(4) MINTZ, S.W. COMIDA E ANTROPOLOGIA: Uma
nordestinos que nasceram e cresceram nesta região. E é através dessas breve revisão. RBCS Vol. 16, nº 47, outubro, 2001
perspectivas individuais que tentamos entender como o coalho se (5) POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos,
caracteriza perante os grupos sociais. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
Essas memórias quando encaradas em um caráter individual, são lidas (6) MELCHIOR, M. Introdução. In: Myriam Melchior (Org.).
como um conjunto de impressões do mundo, assistidas como uma Gastronomia, Cultura e Memória: Cerâmicas, potes e vasilhames. Rio
reconstrução pessoal dos eventos vividos. Um “eu” singular que lembra de Janeiro: Folio Digital, 2018, p. 7-18.
e narra de forma idiossincrática os eventos que marcaram sua vida, (7) ALBERTI, V. Manual de História Oral. 2.ed. Rev e atual. Rio de
sejam voluntários ou involuntários (11). No âmbito coletivo, nossas Janeiro: Editora FGV, 2004, 236p.
memórias nunca são absolutamente nossas, já que estamos a todo (8) BAUER, M, W; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com texto,
momento sobre efeito de grupo sociais. Até mesmos quando “sós”, imagem e som: Um manual prático. 11.ed. Petrópolis/RJ: VOZES,
utilizamo-nos de signos, símbolos e definições identitárias construídas 2013, 516p.
socialmente (12). Nesse contexto, a memória individual é como um (9) PORTO, C. O pastoreio na formação do nordeste. Departamento
ponto de vista dentro da memória coletiva, que se altera dependendo do de Imprensa Nacional: Rio de Janeiro/RJ, 1959, 68p.
lugar que eu ocupo neste grupo e das relações que mantenho com o (10) ULISSES, I.B. História do queijo coalho do nordeste do Brasil.
mundo. In: José Fernando Mourão Cavalcante (org.). O queijo coalho
O indivíduo seria tido como um “armazém” vivo, detentor de artesanal no nordeste do Brasil. Fortaleza: Banco do Nordeste do
recordações, mas que somente poderia acessá-las ao assumir o ponto de Brasil S.A, 2017, p. 9-33.
vista do grupo, utilizando-se para isso dos chamados quadros sociais da (11) CÂNDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o
memória. Estes são, de maneira simplificada, recordações estáveis que caipira paulista e as transformações dos seus meios de vida. 6ª ed.
permitem aos indivíduos uma forma clara de recuperar o passado, onde Rio de Janeiro: Duas Cidades; 1982. 284p.
as memórias dos outros vem em ajuda das nossas servindo como (12) CANDAU, J. Mémoire collective et mémoire individuelle
suporte (13). “Podemos perfeitamente afirmar que o indivíduo recorda fonctionnent-elles selon le même modèle? Archives, Paris, n. 25,
quando assume o ponto de vista do grupo e que a memória deste se Abril, 2008.
manifesta e se realiza nas memórias individuais”. A linguagem seria o (13) HALBWACHS, M. A memória coletiva. Traduzido por Laurent
quadro mais estável e elementar de uma memória coletiva (14). Léon Schaffter, 2.ed. São Paulo: Editora revista dos tribunais LTDA,
Um indivíduo deverá flutuar simultaneamente entre diferentes quadros 1990, 189 p.
sociais em sua vida, visto que fará parte de diferentes comunidades ao (14) COLACRAI, P. Releyendo a Maurice Halbwachs. Una revisión
longo dela. Os quadros são próprios de cada grupo social (consolidados del concepto de memoria colectiva. La Trama De La Comun. 14, 63-
ou quase), cada um com seus próprios conjuntos de recordações; 73, 2010.
transitar entre esses grupos implica necessariamente transitar entre (15) HALBWACHS, M. Los marcos sociales de la memoria.
diferentes recordações. Traduzido por Manuel Antonio Baeza; Michel Mujica, Barcelona:
Nessa perspectiva, extrapolando os dados apresentados, arriscando Anthropos editorial, 2004, 431 p.
definições e pensamentos, proponho: O queijo coalho, encarado como
um bem de consumo ligado diretamente a tradicionalidade alimentar
nordestina, está potencialmente presente em grande parte das memórias
individuais das populações locais. Através de relatos orais, vistos
como o quadro mais estável e elementar de uma memória coletiva,
pudemos vislumbrar as lembranças de seis sujeitos, nordestinos, que ao
longo de suas vidas fizeram e fazem parte de diversos grupos sociais.
Desta forma, ao recordarem suas experiências para transmiti-las
oralmente, acessaram seus quadros memoriais, provavelmente vários
deles, ligando suas lembranças a dezenas de outras pessoas que fazem

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Direto do Casco: Comensalidade e Memória no Consumo da Tartaruga entre os Índios


Karajá

Many Andrade1, Eduardo Nunes2


1
Graduanda em Nutrição no Centro Universitário da Amazônia; Doutor em antropologia, professor da Universidade
2

Federal do Oeste do Pará


manychuery@hotmail.com

Palavras-chave: Hábito alimentar, Cultura alimentar, Nutrição

Introdução: “A tartaruga é nossa vaca”, afirmou certa vez o cacique da altura). Diferentemente do que acontece com a carne, os ovos de tracajá
aldeia Buridina, Raul Hãwakati. Ele fazia essa comparação pois, assim são apreciados tanto quanto o das tartarugas. De volta à aldeia, os
como os não-indígenas aproveitam praticamente tudo de um bovino animais são armazenados vivos no terreiro e são abatidos apenas no
abatido, até mesmo o miolo dos ossos da canela (mocotó), o bucho, o momento do preparo. Os espécimes pequenos e médios (até
rabo e o couro, o uso alimentar que os Karajá fazem das tartarugas aproximadamente 40cm) são assados para consumo, colocados inteiros
descreve muito bem o que se chama de “aproveitamento integral dos sobre o fogo. Depois de pronto, o casco é aberto e carne, gordura e
alimentos”: apenas a cabeça, os poucos e pequenos ossos do animal e o vísceras são consumidas. Pode parecer curioso, mas a cerne não
conteúdo de seu trato digestivo é descartado. Os Karajá são um povo necessariamente é a parte mais apreciada do animal. Algumas pessoas
indígena centro-brasileiro, falante de uma língua pertencente ao tronco preferem as vísceras, e a capa de gordura que se forma ao redor da base
Macro-Jê. Distribuídos em mais de 20 aldeias, sua população total é de da musculatura das patas é uma unanimidade. Dentre as vísceras, o
pouco mais de três mil pessoas. Habitantes imemoriais da calha do rio fígado é sem dúvida o mais valorizado. Algumas pessoas consomem
Araguaia, são exímios pescadores, e é do rio que vem parte considerável inclusive a vesícula bilear que se aloja em seu centro, cujo conteúdo
de sua dieta. Dentre uma diversidade de pescado consumido, a tartaruga líquido extremamente amargo (o fel) é dito ter efeito medicinal.
se destaca: ela é o alimento karajá por excelência. Os índios valorizam Pulmão, coração e pescoço também são consumidos. Nos animais
enormemente seu consumo e se ressentem quando passam algum tempo maiores, o trata digestivo é aberto, lavado cuidadosamente e consumido
sem quelônios para comer – a pesca do animal é sazonal. Esse hábito (o estômago tanto quanto o intestino). A carne, que se restringe à
alimentar se vincula muito fortemente à memória, em dois sentidos: estrutura das patas, é igualmente consumida. Trata-se de uma carne
primeiro, pois a tartaruga é um alimento consumido imemorialmente, branca de textura fibrosa. O aroma e o sabor conferidos por essa forma
que já figura, por exemplo, em muitas das histórias sobre os tempos de preparo, o assado na brasa, é inconfundível. Por isso, mesmo que os
antigos que os não-indígenas chamam comumente de “mitos”; segundo, Karajá tenham hoje acesso a fogões, eles nunca assam tartarugas no
pois sua pesca, preparação e consumo é movida pela memória recíproca forno.
entre os parentes, assim como alimenta essa memória. Nesse sentido, o Nutricionalmente, em análise feita da composição da carne de
consumo do quelônio é uma imagem forte da comensalidade entre o tartarugas-da-Amazônia fêmeas criadas em cativeiro, sua carne pode
grupo, proporcionando grandes refeições coletivas. A comensalidade, ser considerada magra pelo seu baixo valor calórico: cada 100g de carne
com efeito, é o que define a família (1): parentes, em um sentido, são fornece em média 89 kcal. Apresenta baixo teor de colesterol, em média
aqueles que comem juntos. 50 mg/100g de colesterol, o que corresponde a 17% do teor máximo
recomendo para ingesta diária (2,3). O tipo de alimentação da tartaruga-
Objetivos: O objetivo desse trabalho é, por meio de um diálogo entre da-Amazônia pode explicar esse teor baixo de colesterol (2). Quanto as
nutrição e antropologia, descrever o consumo da tartaruga entre os proteínas, 100g da carne de tartaruga pode suprir aproximadamente
índios Karajá em termos de sua pesca, espécies e partes consumidas, 34% das necessidades diárias desse macronutriente em uma dieta de
modos de preparo e propriedades nutricionais, relacionando tal hábito 2.000 kcal (2,3). É uma carne rica em lipídeos e, embora seja abundante
alimentar à memória e a comensalidade por meio das refeições coletivas em ácidos graxos saturados, também apresenta ácidos graxos
que propicia. monoinsaturados e poli-insaturados - em especial o ômega 9; desse
grupo o mais encontrado é o ácido graxo oleico, muito conhecido como
Material e métodos: Esse trabalho se baseia em uma pesquisa empírica uma gordura “boa” por ajudar a diminuir os níveis no organismo da
entre os índios Karajá realizada entre os anos de 2008 e 2016. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) ou “colesterol ruim”, que é a
metodologia utilizada foi a etnografia, se valendo de anotações em proteína que transporta o colesterol para o fígado (2). O que chama
caderno de campo e registro fotográfico. O diálogo interdisciplinar mais a atenção na composição nutricional da carne da tartaruga-da-
entre nutrição e antropologia foi elaborado a partir do cruzamento de Amazônia é a diversidade de minerais (manganês, potássio, sódio,
referências teóricas das duas áreas. zinco, cobre, cobalto, fero, magnésio, cálcio, fosforo e sódio) e seus
teores, principalmente quando comparados com valores encontrados
Resultados e discussão: A pesca da tartaruga é atividade em outras carnes (carne bovina, de frango e avestruz), podendo ser
eminentemente masculina. Os homens saem em expedições que podem considerada um excelente fonte de minerais. Isso se deve ao fato de os
demorar dias e retornam com dezenas de quelônios de tamanhos minerais serem absorvidos tanto pela dieta quanto pela água
variados em suas canoas. As principais iscas utilizadas são a mandioca circundante (2). O potássio é o mineral encontrado com teor mais
e o palmito de tucum (uma espécie de palmácea). Enquanto o palmito é elevado: uma porção de 100g de carne tem 1.189 mg desse mineral,
extraído dos tucunzais à margem do rio, a mandioca provém das roças correspondendo a 25% da ingesta diária requerida (2, 3). O fósforo foi
familiares. Hoje, os Karajá não têm mais um hábito tão forte de plantar o segundo mineral mais encontrado, com teor médio de 530 mg em
como no passado. Mas em todas as aldeias há sempre roças de 100g da carne da tartaruga-da-Amazônia, fornecendo ao organismo
mandioca, pequenas ou grandes, e a pesca da tartaruga é um motivo 75% da ingesta diária requerida (2,3). O terceiro mineral mais
importante para isso. Além da isca, o tubérculo é também utilizado para encontrado foi o cálcio. Em uma porção de 100g são encontrados 189
fazer a “puba” (resultado da fermentação da mandioca submersa em mg de cálcio, para 7 mg na carne bovina, 12 mg na carne de frango e 8
água por alguns dias) que, despejada na água, atrai os quelônios. Nos mg na carne de avestruz. Uma porção de 100g de carne de tartaruga-da-
mesmos locais de pesca, captura-se duas espécies: o tracajá Amazônia supre em até 24% da ingesta diária de cálcio requerida (2,3).
(podocnemis unifilis), cujo consumo não é tão apreciado, e a tartaruga Mesmo sendo uma carne branca, foi encontrado um teor elevado de
(podocnemis expansa, conhecida também como tartaruga-da- ferro, 6 mg de ferro em uma porção de 100 g, suprindo 43% da ingestão
Amazônia). Também é possível capturar espécimes de tamanhos diária requerida. O teor de zinco encontrado (5,7 mg/100g) corresponde
variados, desde animais pequenos com dois ou três anos de idade até as a 37% da ingestão diária recomendada. O valor de cobre encontrado
gigantescas as fêmeas velhas de tartaruga que podem atingir 90 cm de (0,56 mg/100g) supre cerca de 15% da necessidade diária desse
comprimento e chegar a pesar 75kg – que os Karajá chamam de mineral. Os valores encontrados de magnésio, podem suprir até 22%
“viração”. Para ambas as espécies, os machos são pouco apreciados das necessidades diárias. O sódio apresentou teores mais elevados
para consumo. Além da carne do animal, seus ovos também são quando comparado a carne bovina, de frango e avestruz (370mg/100g),
consumidos, cozidos ou como “omelete” (os ovos são batidos em um equivalendo a 15% da ingestão diária (2).
recipiente e levados à uma frigideira ou panela sem adição de nenhum O fígado que é uma parte muito apreciada. Em análise feita da sua
outro ingrediente, resultando em preparo aerado com cerca de 3 cm de composição centesimal em tartarugas-da-Amazônia fêmeas criadas em

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

cativeiro, o fígado pode ser considerado uma boa fonte de proteínas dedica a estudar os povos indígenas tem apontado ao longo de décadas
(com bons teores de aminoácidos essenciais e não essenciais), lipídios de estudo, o parentesco indígena não se define por um vínculo biológico
e, assim como a carne, também possui um teor baixo de colesterol e dado, mas pela construção continuada de relações apropriadas entre
também ser considerada uma boa fonte de minerais (manganês, cálcio, pessoas por meio da convivência cotidiana, no seio da qual a partilha
magnésio, fósforo, cobre, ferro, zinco, sódio e potássio). Porém, de alimentos e a memória são elementos fundamentais (5, 6). Entre os
energeticamente o fígado é mais calórico, uma porção de 100g tem 152 Karajá, o trabalho não é pensado como algo individual. Pessoas
kcal (4) solteiras não tem obrigação de trabalhar, pois o trabalho é algo que um
A tartaruga assada é a forma mais comum de consumo. Mas os cônjuge faz para o outro. É essa memória recíproca que movimenta as
pratos mais apreciados são aqueles feitos com as “virações”, as imensas ações cotidianas. Os homens saem para pescar porque se lembram de
fêmeas. O animal é aberto e descarnado, e o casco é utilizado para a suas esposas, filhos e netos, que desejam comer tartaruga. E as grandes
preparação de dois pratos, o brèti e o bòròrò. O brèti (palavra que na refeições coletivas restarão depois como memória daquelas pessoas
língua karajá significa “peito”) é feito na parte de baixo do casco, a com as quais se come junto como seus parentes. Mais ainda, a pesca da
porção reta que protege o “peito” do animal. O caso é colocado sobre a tartaruga está intimamente ligada à memória do parentesco enraizada
brasa, e sobre ele se coloca pedaços de carne e de gordura. Adiciona-se no território. Um homem aprende a pescar acompanhando seu pai ou
farinha de mandioca aos poucos, mexe-se de tempos em tempos. O caso avô: é assim que ele desenvolve a técnica de captura, mas também que
é rico em óleo (4) que, liberado pelo calor, ocasiona um processo de conhece os bons pontos de pescaria, que aprende a visualizar os animais
fritura. O resultado é uma espécie de farofa liguenta. O bòròrò (termo na água (que boiam apenas com a cabeça para fora), a identificar seu
que deriva da palavra para “costas”, brò) é um pirão feito na parte tamanho e a escolher onde posicionar sua canoa para a pescaria. A pesca
côncava do casco, as “costas” do animal. O prepara é igualmente feito da tartaruga, assim, produz e mantém relações entre pessoas por meio
na brasa. No casco as vísceras picadas (também se coloca pedaços de de sua movimentação pelo rio, resultando em uma memória enraizada
carne, mas em menor quantidade) são cozidas no sangue do animal na terra (7). Onde fica tal lugar? Logo depois de onde eu e meu pai
diluído em água. A mandioca que antes servira de isca, retorna agora costumamos pescar. Onde você foi pescar? No mesmo lugar onde
para o preparo do prato. Ao longo do cozimento, adiciona-se aos poucos fulano deixou escapar aquela tartaruga enorme. O território que se
massa de mandioca cozida (ou farinha de mandioca puba, conhecida em conhece e se vive é marcado pela memória de pessoas e eventos; o
algumas regiões como “farinha d’água”) e mexe-se constantemente. O território, com efeito, é produzido por essas pessoas, eventos e
resultado é um pirão espesso de coloração cinza-esverdeado, altamente memória. Tudo isso está condensado nas refeições coletivas de
energético. Assim como no caso da tartaruga assada inteira e do brèti, tartaruga. Em torno dos cascos, dos animais ainda vivos colocados no
o aroma e o sabor do bòròrò é único – é muito difícil aproximá-lo a chão, sendo preparados ou já com os pratos servidos, os homens contam
outro prato, como medida de comparação. Uma única tartaruga grande como foi a pescaria, e as pessoas relembram histórias de outras
pode gerar aproximadamente 10 kg de carne (lembrando que essa se pescarias, de animais de tamanho excepcional, de coisas curiosas que
concentra nas patas). Assim, além de um brèti e um bòròrò, a carne de aconteceram no caminho, e de outros momentos em que estavam como
um animal de grande corte é consumida separadamente, cozida. ali, reunidos e comendo direto do casco.
Algumas pessoas, sobretudo não-indígenas ribeirinhos ou moradores de
cidades interioranas próximas às aldeias (nos estados de Goiás, Mato Conclusões: O consumo da tartaruga é um hábito alimentar karajá que
Grosso e Tocantins e Pará, que circundam o território karajá, essas data de tempos imemoriais. Muito além do próprio ato de comer,
pessoas também tem o hábito de consumir tartaruga), afirmam que a entretanto, seu consumo é inundado pela memória que os parentes
carne da tartaruga se aproxima em sabor à da galinha. No entanto, isso guardam uns dos outros: desde o aprendizado de como e onde pescar
se deve principalmente à suas formas de preparo, nas quais utilizam os até o convívio coletivo que uma refeição propicia, passando pelas
mesmos condimentos que quando fazem uma galinhada, por exemplo. memórias sobre lugares, pessoas e outras ocasiões em que se reuniram
Os Karajá cozinham a carne da tartaruga em água e adicionam apenas para comer direto do casco, o consumo da tartaruga envolve uma série
sal. Nesse preparo, a particularidade do sabor não é tão marcante quanto de elementos que constituem seu modo de vida particular, à beira do rio
naqueles feitos no casco, mas a textura fibrosa da carne é inconfundível. Araguaia, e trabalha no sentido de produzir e manter as relações de
Hoje, depois de o animal consumido, os cascos podem ser limpos e parentesco entre as pessoas. Os Karajá costumam se definir como
utilizados para a produção de artesanato, aplicando-se padrões gráficos “comedores de tartaruga”, e esperamos que o texto tenha conseguido
karajá com tinta sobre a superfície óssea. Antigamente, entretanto, até mostrar que essa é uma afirmação profunda. Nada do que dissemos aqui
mesmo o casco era redirecionado para um uso alimentar. A pesca da deve ser tomado como um estímulo ao consumo do animal, cuja pesca
tartaruga é sazonal. Durante a seca (aproximadamente de abril a é proibida. Nosso intuito foi o de registar um hábito alimentar
outubro), os animais ficam preferencialmente no leito principal do rio, tradicional de um povo indígena, mostrando como ele é muito mais que
no pé dos brancos de areia que caracterizam a paisagem do Araguaia. E uma simples opção alimentar, mas se conecta a um modo de vida
aí é possível pesca-los. Na cheia (aproximadamente de novembro a particular em um território ancestral. Os Karajá têm tido muitos
março), por outro lado, as tartarugas “somem”, como dizem os Karajá, problemas com a fiscalização ambiental ao longo dos anos em função
entrando para os lagos e baixios alagados onde há fartura de alimento, da pesca da tartaruga. Mas enquanto o trabalho de proteção dessa
e não se consegue captura-las. Durante o período de fartura de espécie ameaçada deve continuar, é preciso respeitar a particularidade
quelônios, os casos eram amontados em algum lugar do quintal. dos povos indígenas e seus modos de viver em suas terras; e, para os
Quando a cheia do rio trazia escassez de tartarugas, costumava-se Karajá, comer tartaruga é uma parte importante disso.
quebrar os cascos acumulados e levá-los ao fogo para extrair o óleo que
contém (4). Esse óleo era então misturado à massa de mandioca para a Referências
preparação do que se chama de “grolado”, armazenado em formato de 1. MOREIRA, S. A. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos
bolas. O grolado era consumido geralmente como acompanhamento e antropológicos. Cienc. e Cult. 62(4), 23-26, 2010.
para peixes assados ou cozidos, retirando-se manualmente porções do 2. GASPAR, A.; SILVA, T. J. P. Composição nutricional da carne da
bolo. tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em cativeiro em
O dia seguinte a uma pescaria gira em torno do consumo do animal. idade de abate. Rev. Inst. Adolfo Lutz. 68(3), 419-425, 2009.
Começa-se ainda cedo descarnando uma fêmea grande. Próximo da 3. PADOVANI, Renata Maria et al, Dietary reference intakes:
hora do almoço, pequenas tartarugas são assadas e é preparado o brèti, Aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr. 19(6),
que é mais rápido de fazer. Enquanto isso, o bòròrò começa a ser 741-760, 2006.
preparado, ficando pronto uma ou duas horas depois. Toda essa fartura 4. SCARLATO, R. C. Composição centesimal do casco e fígado da
de alimento convida as pessoas a um cochilo depois da refeição. À Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em cativeiro e
noite, a carne é cozida para o jantar. Todas essas ocasiões propiciam em idade de abate. 92f. Dissertação (mestrado em Ciência e Tecnologia
refeições coletivas. Assim como o brèti e o bòròrò, as tartarugas de Alimentos) – Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do
assadas inteiras são abertas e servidas no próprio casco do animal. E é Rio de Janeiro, Seropédica, 2006.
assim, direto do casco, que as tartarugas são comidas. Os Karajá se 5. COELHO DE SOUZA, M. S. Parentes de Sangue: Incesto,
juntam ao redor do casco e comem juntos, com a mão (no caso da substância e relação no pensamento Timbira. Mana. (10)1, 25-60, 2004.
tartaruga assada), com garfo (para o brèti) ou colher (para o bòròrò), 6. OVERING, J. O elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida
alternando-se para pegar uma porção. O consumo da tartaruga, assim, é social em uma comunidade amazônica. Mana. 5(1), 81-106, 1999. pp.
uma imagem forte da comensalidade entre os Karajá. É uma ocasião 81-106.
que reúne as pessoas em torno do alimento e propicia momentos de 7. GOW, P. Land, people, and paper in Western Amazonia. In. Erick
convívio íntimo e descontraído. A comida que se come junto, e os dias Hirsch; Michael O’Hanlon (Org.). The anthropology of landscape.
inteiros que se dispensam em torno disso, formam parte das memórias Perspectives on place and space. Oxford: Claredon Press, 1997. pp. 43-
que as pessoas nutrem de seus parentes. Como a antropologia que se 46

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O comer nos Campos de Concentração do Ceará, dimensões de seca e fome

Libia Amaral Corrêa¹

¹Mestrado em Ciências Sociais e Humanas, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, libia_amaral@yahoo.com

Palavras-chave: História, Memória, Alimentação.

INTRODUÇÃO dicotômicas de popular e elite, falando mais em relações culturais,


circulares, perspectivas da micro-história, da voz do anônimo e do
Esse trabalho surgiu nos estudos de História, mídia e memória como inferior e de escavações dos não-ditos dos textos. Ainda, tentou-se
narrativas em disputa em tempo de incertezas do Curso de Mestrado utilizar as ideias de busca da verdade, ou de uma visão da verdade,
em Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Estado do Rio como uma visão da História, a exemplo do ceticismo e do relativismo
Grande do Norte. Procurou-se contribuir com um olhar sobre a os encontrados em Jenkins, Appleby, Hunt e Jacobs, bem como das
Campos de Concentração da Seca no Ceará, durante as secas de 1877, metamorfoses do acontecimento e do cotidiano como em Certeau, Le
1915 e 1932 e relacionar esses fatos com a forma como o sertanejo se Goff e Norra. A perspectiva foi a do subalterno, das pessoas que não
são retratadas, não tem seu conhecimento validado, nem observado de
relaciona com a comida, ou com a falta dela.
forma a valorizá-los ou entender seu lado da História ou ver o mundo
A seca é um fenômeno que marca a vida do sertanejo nordestino.
pelo seu prisma. Spivak vai defini-los como subalternos que seriam as
Além de um fenômeno climático, ela possui econômicas, culturais e camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos
sociais e sociais bem complexas. Algumas de suas consequências são específicos de exclusão dos mercados, da representação política e
a desestruturação da vida cotidiana, periodicamente, a cada ocorrência legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estado
e a inviabilização da agricultura de subsistência com base na social dominante (4). Não se trata, contudo, de falar no lugar dessas
organização familiar do trabalho (1). pessoas, mas, de falar contra a subalternidade, de criar espaços onde o
Dentre a complexidade da seca, surge a figura conhecida como subalterno possa falar, possa se articular e possa ser ouvido. Pode-se
“retirante”, ou “flagelado”, que seriam indivíduos sertanejos que teorizar e analisar a narrativa desses indivíduos, todavia, não se pode
migram de sua terra em busca de sobrevivência, devido à intensidade criar essas narrativas por elas.
da seca e as consequentes mazelas decorrentes dela, como a fome.
Sobre essa nomenclatura, disse Rodolfo Teófilo “O retirante começou RESULTADOS E DISCUSSÃO
a chamar-se flagelado. Em todas as secas chamou-se ao sertanejo que
Os Campos de Concentração no Ceará ocorreram em 1915 e em 1932,
emigra retirante e não flagelado. Flagelados somos todos nós durante
mas a ideia inicial surge em 1877, quando Fortaleza passa por diversas
a calamidade” (2). crises com a queda do preço do algodão e o endividamento da
O comer do nordestino, sua alimentação é marcada pelo clima, pela burguesia dessa cidade que já era um espaço que se pretendia
geografia, pelas relações econômicas, sociais e humanas inseridas moderno, marcada por forte segregação econômica, a exemplo do
dentro do binômio seca- fome. A fome, mais do que a simples vontade principal espaço de convivência urbana, o Passeio Público ter sido
de comer, é uma presença constante a espreitar a lida diária do construído em 3 planos, os quais dividiam-se em frequentadores ricos,
sertanejo. Ela chega, não somente como contraponto do comer, ou da de classe média e pobres. A moda era francesa e a cidade
abundância, além desse binômio, ela é quase uma personagem, autointitulava-se “Loira desposada do sol” orgulhosa por parecer Paris
central, da qual faz-se necessário entender sua temática para (5). Nesse ano, a cidade contava com 40 mil habitantes, contudo,
compreender o nordeste do Brasil e a alimentação desse povo. devido à seca ocorreu a chegada de cerca de 110 mil retirantes vindos
No decorrer dos anos, algumas secas foram mais severas do que outras do sertão, o que triplicou a população da cidade, os flagelados se
e os governos lidaram de forma mais ou menos diferente com esse amontoavam pelas ruas e assombravam a população, além do aumento
dos índices de criminalidade, prostituição, roubos, mendicância e
problema, quase sempre, os nordestinos saem prejudicados e sofrem
mesmo relatos de antropofagia.
diversos tipos de violência. Desta forma, ao final do séc. XIX e início
Rodolfo Teófilo, à época, escreveu o livro A fome, um romance
do séc. XX, anos antes do nazismo, no sertão cearense foram criados naturalista em que narra de forma descritiva e com detalhes os
Campos de Concentração, com o intuito primeiro de barrar a chegada horrores observados por ele. Nesse livro, ele narra a saga de Freitas e
de retirantes à capital cearense. Aqueles que conseguiam chegar sua família, descreve a Fortaleza da época, denunciando-a. O autor
também seriam barrados, evitando que “enfeiassem” as zonas mais escreveu vários relatos sobre as secas cearenses e neles fala dos
abastadas e modernas da cidade. Campos de Concentração, que também eram chamados de “Currais”:
Diante do exposto, o objetivo geral dessa pesquisa foi lançar um olhar “Os retirantes estiveram no Passeio Público até se preparar no
sobre a existência dos Campos de Concentração para retirantes das Alagadiço o futuro abarracamento, o qual tomou, não sei por que,
secas de 1915 e 1932, no estado do Ceará, analisando as implicações nome de Campo de Concentração e o povo batizou de curral”(6). Para
desse fato no que se refere à alimentação e à fome, perceber como se a historiadora Kênia Rios, o sertanejo batizou os Campos de
vê a comida no Ceará, a partir de sua História, o que se mantém na Concentração (nome dado pelo Governo) de Curral do Governo
memória e o que é esquecido. O objetivo é fazer isso de forma porque ele entendia que o curral era uma prisão, uma prisão de
interdisciplinar, incluindo, além das Ciências Humanas, manifestações animais, animais que deviam ser cercados e não podiam estar soltos.
artísticas, dentre elas a Literatura, a Fotografia e as Artes Plásticas, O sertanejo entendia que era tratado como animal e que assim eram
assim como, dialogar com a História, a Antropologia e a Gastronomia, tratados todos os despossuídos pelo governo (7).
dentre outras disciplinas. Esses diálogos servem para vislumbrar Outra grande seca assola o Ceará em 1915, até hoje lembrada no
conexões e rastros que clareiem o tema, que revelem o que se entendia estado. A população temia que acontecesse novamente o que ocorrera
por pobreza, miséria, fome, seca, alimento, poder e riqueza naquela em 1877 e, rapidamente, lançou-se mão dos Campos de Concentração,
época e sua repercussão atualmente. nos arredores de Fortaleza, no local chamado de Alagadiço,
atualmente o bairro Otávio Bonfim, na seca de 1915, estima-se que o
MATERIAIS E MÉTODOS Campo de Concentração abrigou 8 mil pessoas, de todas as idades, as
mortes eram diárias, de fome ou sede, os mais fortes iam para o
Para tanto, utilizou-se os recursos da revisão bibliográfica, como trabalho nas pedreiras do Mucuripe, ganhando ração de farinha diária
forma de instrumento de análise das questões levantadas e suas para levar ao Campo, os que ficavam no Campo tinham a constante
implicações. Utilizou-se o conceito de circularidade de Ginzburg que vigilância de guardas e era proibida sua saída, bem como sua entrada
analisou como as classes subalternas e dominantes se afetavam que havia sido compulsória. Novamente, fora estimulada a emigração
reciprocamente, de forma dialógica, um “relacionamento circular feito dos sertanejos para a Amazônia, atrás da borracha e o Campo de
de influências recíprocas, que se movia de baixo para cima, bem como Concentração foi fechado em novembro de 1915 (7).
de cima para baixo” (3), rompendo, desta forma, com visões

429
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Rachel de Queiroz no livro O quinze narra sobre o cotidiano dos e caatinga. Esse amor vem da esperança, da possibilidade de se colher
Campos. A protagonista Conceição ajuda os grupos de senhoras da melancias suculentas em um novembro, deliciar-se com elas, vem dos
sociedade que prestam socorros aos flagelados da seca, ela sente o milagres (12). Em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa disse:
cheiro dos Campos, que a acompanha, mesmo quando sai de lá (8). “Quem mói no aspro, não fantaseia”, o sertanejo é assim, sem
Em 1932, Fortaleza pretendia-se uma cidade do futuro, moderna, fantasias, lidando na aspereza do cotidiano (15).
inaugurou seu primeiro arranha-céu. Fortaleza está apostando nos
negócios turísticos e no progresso. Os intelectuais de um movimento
fortalezense conhecido por Padaria Espiritual denunciavam que por CONCLUSÃO
trás do orgulho de suas ruas de arquitetura perfeita, do crescimento
econômico e demográfico, a cidade queria mesmo era uma Entendemos que um olhar sobre os campos de concentração das secas,
higienização, varrer de suas ruas os indesejáveis, os sujos, os no Ceará serve para nos lembrar das atrocidades que podem ser
alienados (9). Nova grande seca nesse ano, e novamente, a pé, cometidas, não do outro lado dos oceanos, mas, em nossos quintais,
seguindo as estradas de ferro, milhares de retirantes rumam à capital. por pessoas de nossa própria comunidade. Quando a pobreza e a
Os Campos de Concentração, nesse ano são implantados de forma miséria incomodam e os que estão no poder não querem ter sua visão
mais violenta, contendo os retirantes o mais longe possível da capital, turvada pela fealdade da realidade, os genocídios acontecem.
totalizando sete campos ao todo, em seis cidades diferentes. Em Em nome de uma saúde coletiva, ou de falso assistencialismo milhares
Fortaleza, são dois Campos, um no Alagadiço e outro no Urubu, atual de pessoas sofreram sede, fome e morte nos sete Campos instalados
bairro do Pirambu. No Relatório apresentado ao Presidente da durante a seca de 1932.
República pelo Interventor Federal, Cap. Carneiro de Mendonça, O sertanejo, acostumado com a escassez, com a pouca comida, com o
sobre o período de 22/09/1931 a 05/09/1934, lê-se que foram criadas, enfrentamento da falta d’água e do eterno pedir aos céus, viu-se em
sob a fiscalização do Departamento das Secas, sete concentrações: condições ainda mais degradantes, preso compulsoriamente, pelo
Burity, no Município do Crato; Quixeramobim, no Município do único motivo de ir em busca de sobrevivência.
mesmo nome; Patu, no Município de Senador Pompeu; Cariús, no A partir dessas memórias, tentou-se encontrar sentido para
Município de São Matheus; Ipú, no município de mesmo nome; compreender a alimentação sertaneja e a relação do homem nordestino
Urubu e Otávio Bonfim, no Município de Fortaleza (7) . atual com a comida, percebeu-se que a comida cearense tem a marca
São muitos os registros dessa época, fotos, matérias de jornal, da frugalidade e da fome em contraponto com sua riqueza, diversidade
menções em obras, todavia, percebe-se que há uma tentativa de de sabores e criatividade, qualidade, essa última, capaz de transformar
esquecimento, de não- pertencimento à memória coletiva cearense. No e mostrar riqueza cultural, desafiando um preconceito com a falsa
Crato, onde o Campo de Concentração recebeu por volta de 16 mil falta de uma comida originalmente cearense.
retirantes e em Cariús quase 29 mil, dados de um relatório da
Universidade Regional do Cariri, não se fala sobre o assunto, as REFERÊNCIAS
cidades não querem acreditar que seus antepassados foram coniventes
com tamanha atrocidade. Há a disputa de memórias, e memórias 1. NEVES, F. C. Curral dos Bárbaros: campos de concentração no
oficiais e memórias subterrâneas, que a memória oficial quer esquecer Ceará(1915-1932). Rev. Bras. de Hist. v.15, nº 29, p 93-122, São
(10). No município de Senador Pompeu, entretanto, a memória do Paulo, 1995
Campo do Patu, encontra-se viva. Há um conjunto arquitetônico, 2. TEÓFILO, R. A seca de 1915.Fortaleza: Imprensa Universitária
formado por casario de uma Vila Operária, 12 casarões e 3 casas de UFC, 1980.
pólvora. Essas ruínas resistem até os dias de hoje e passam por 3. GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de
processo de tombamento. Além disso, é que se formou um culto às um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das
“almas penadas da barragem”, dos milhares de mortos que eram Letras, 1987.p.13
sepultados em valas comuns, próximo à barragem. Todos os anos, há 4. SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG,
uma festividade religiosa e uma procissão ao cemitério construído 2010
simbolicamente sobre o local que se costumava enterrar os mortos e 5. BRITO, L. A fome, retrato dos horrores das secas e migrações
pagamento de promessas. cearenses no final do século XIX. Rev. Estação Literária,vol. 10B, p.
O artista plástico Cândido Portinari pintou diversos quadros de 111-125, Londrina, 2013.
Retirantes, sua obra foi marcada pela denúncia da fome, 6. TEÓFILO, R. A seca de 1915.Fortaleza: Imprensa Universitária
pictoricamente, ele fala sobre o oprimido, o outro, para usar o conceito UFC, 1980.
de Boaventura de Sousa Santos, o outro, ou aquele que está do outro 7. RIOS, K. S. Isolamento e poder- Fortaleza e os campos de
lado da linha, o não-existente (11). Note-se que, mesmo ocorrendo o concentração na seca de 1932. Fortaleza: Imprensa Universitária UFC,
fenômeno da seca em vários locais do Nordeste brasileiro, apenas no 2014
Ceará ocorreu a instituição dos Campos de Concentração. 8. QUEIROZ, R. O quinze.93ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
Sobre o que se comia nos Campos de Concentração, a historiadora 2012.
Kênia Rios apresenta as memórias do sr. Francisco, que aos 11 anos 9. CARDOSO, G. P. Padaria Espiritual- Biscoito fino e travoso. 2ªed.
de idade, viveu no Campo de Ipu e relatou que a cozinha parecia um Fortaleza: Museu do Ceará, 2006
inferno: “A cozinha parecia o inferno. Pra acabar de esculhambar os 10. POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Hist.,
homens tinham um avental de couro vermelho. Aqueles homens tudo Rio de Janeiro, vol.2, n.3, 1989, p.3-15.
mexendo os tachos, as comidas...Era um fogo danado, aqueles homens 11. SANTOS, B.S.S; MENESES, M.P.(Org.) Epistemologias do sul.
brigavam com os pobres que chegavam e tinha uma cerca para evitar a Coimbra: Ed. Almedina, 2009.
invasão” (7). 12. QUEIROZ, R. O não me deixes: suas histórias e sua cozinha. 3.ed.
O sertanejo é acostumado à frugalidade, o comer no sertão nordestino Rio de janeiro: José Olympio, 2010.
é um binômio constante com a fome e com a falta. Rachel de Queiroz, 13. CASCUDO, L.C. Os santos da alimentação brasileira.
dizia que “o nordestino é um sóbrio” fazendo alusão à frase de In:CASCUDO, L.C. Antologia da alimentação no Brasil. 4ªed. São
Euclides da Cunha “o sertanejo é um forte”. A sobriedade da Paulo: Global, 2011.
alimentação sertaneja se refere às parcas porções de proteína diária, a 14. MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: Senac,
base alimentar de feijão e farinha de mandioca, algum café e rapadura 2008.
(12). 15. ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. 21ª ed. Rio de Janeiro: Nova
A fome era combatida com rezas, em cada casa sertaneja se encontra Fronteira, 2015
um Santo Onofre em meio à farinha para garantir abundância ou um
São Sebastião, colado à soleira da cozinha para evitar que a “Fome”
entrasse, ou a “Velha do Chapéu”, ou o “Bernardo”, nomes dados à
personificação da fome (13). Mesmo com a escassez, há festejos e
alegrias, uma carne de criação e galinhas cheias para dias de festa,
castanhas confitadas no açúcar e aluá para beber, não se compara ao
inferno das cozinhas dos campos de concentração. Montanari diz que,
através da fome o homem consegue criar prazer na falta e valorizar a
abundância, aprende a regrar e racionalizar a alimentação (14).
E, por que tanto carinho a essas terras tão ásperas? Que não há
encantos, nem jardins, além de zínias e manjericões, que as ovelhas
têm um pelo curto vermelho como os de cachorro? Onde só há sertão

430
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Farinhada: Um Evento Formador De Identidade


Sophia Hohlemwerger1, Carla Santos2, Ítalo Oliveira3, Artur de Jesus4, Adriana Scicarreta5, Iza Charla Macedo6.
1
Graduanda em Geografia pela UFBA, Bacharelanda em Direito pela FBB, Sommelier Profissional pela FBB,
Docente de Inglês. 2Engenheira Agrônoma pela UESB, Tecnóloga em Gastronomia pela FBB, Mestra em
Engenharia Ambiental Urbana pela UFBA e Docente das Faculdades FBB e UNIDOM. 3Graduando em
Tecnólogo em Gastronomia pela UNICESUMAR. 4Licenciado em Geografia pela UFBA, Bacharelando em
Geografia pela UFBA e Docente Ensino Médio. 5Licenciada em Letras pela UFBA, Tecnóloga em Gastronomia
pela Unicesumar e Pós Graduada em Segurança de Alimentos pelo Senac, Docente da FBB. 6Nutricionista pela
UNEB, Pós Graduação em Nutrição clínica pela Unicsul, Pós Graduação em Gastronomia pela Ruy Barbosa
Docente de Graduação e Pós em Nutrição.
salves1399@gmail.com.

PALAVRAS-CHAVE: Farinha, tradição, beneficiamento.

INTRODUÇÃO: MATERIAL E MÉTODOS:


A saudosista fala do nordestino, cheio de lembranças da A pesquisa foi realizada de forma descritiva e exploratória,
realização do evento farinhada foi o impulsionador desta pesquisa. para isso foi necessário um levantamento bibliográfico de produções
Essa atividade típica do sertão brasileiro, de origem indígena, sobre o tema em sites, a exemplo da EMBRAPA, Scielo, Google
é marco formador de tradição na região nordestina, a qual proporciona acadêmico, em busca de artigos e periódicos.
um dos produtos mais presentes à mesa do povo nordestino: a farinha Já a pesquisa de campo foi realizada de início na região de
de mandioca. Conceição do Coité através de uma visita à farinhada, em seguida a área
O hábito alimentar envolve tradições, culturas, técnicas, trocas de estudo foi expandida para também abarcar o município de Entre
e agregações, as quais levam à construção de memórias e costumes de Rios-BA. Em ambos foram realizadas entrevistas de forma remota,
um grupo social. Do plantio, À colheita, do descascar, ralar, prensar e buscando captar informações e sensações dos agricultores, das famílias,
torrar, surgiu o beneficiamento da mandioca, ritual popularmente os quais têm ou tiveram contato com a cadeia produtiva da mandioca e
conhecido como farinhada, evento que tem como objetivo, além dos consequentemente com a farinhada em si.
momentos de confraternização - cheio de cantigas e “fofocas” Na conversa foram tratados os seguintes assuntos: o tipo de
envolvendo toda a família, amigos e vizinhos -, colher a mandioca e produção, a variedade, a participação nas atividades da farinhada, bem
produzir a farinha, a goma e o beiju: produtos de subsistência, os quais como as lembranças sobre o evento e cada participação.
hão de ser compartilhados entre aqueles que participam do evento, e o
excedente, caso exista, comercializado. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Segundo Coutinho (1), enquanto comida do cotidiano, a Restou claro, então, o ensinamento de Santos (5): “O evento é
farinha de mandioca tornou-se, através do processo histórico, um um vetor das possibilidades existentes numa formação social. O lugar é
alimento unificador, pautante das relações sociais, podendo ser um elemento obrigatório do evento. Os eventos criam o tempo, como
considerada um símbolo de uma identidade regional. portadores da ação presente.”
Sendo assim, a farinha não é apenas um acompanhamento no Conforme a descrição de Santos acima podemos classificar a
prato do nordestino, a qual servirá para engrossar o pirão e o mingau, farinhada como um evento por ser formador de uma identidade social
ela é construtora de uma identidade sertaneja envolvida pela do local, uma vez que a mesma tem objetivo de reunir pessoas
solidariedade. entrelaçando a comunidade em torno da sua formação social.
Destarte, Coutinho (6) observou em seu trabalho que mesmo
“[...]São ainda hoje três épocas alegre do ano em momentos de estiagens, onde não havia muita mandioca e a
sertanejo: a do milho verde, a da farinha e a da produção de farinha seria pouca, a reciprocidade da comunidade do
moagem. Do milho seco, quase exclusivamente lugar não deixava de existir. Da mesma forma ele fala que a oferta dos
reservado para os cavalos, só se utilizavam torrado ou alimentos nesses períodos é vista como um elemento fortalecedor das
feito pipoca, transformado no cuscuz ou no aluá. O relações, tornando o evento um marco para a formação da identidade
milho verde, cozido ou assado, feito pamonha ou do grupo.
canjica, durante semanas tirava o gosto das outras Em suma a pesquisa mostrou um grupo diverso de pessoas
comidas. A farinhada com a farinha mole, os beijus saudosistas devido a falta do evento alegre, contagiante e cheio de
de coco ou de folha, as tapiocas, os grudes etc., as tarefas para serem feitas em suas vidas: aproximadamente ⅔ dos
cenas joviais da raspagem da mandioca indivíduos envolvidos na conversa são ou foram agricultores familiares,
representavam dias de convivência e cordialidade e destes menos de ⅓ ainda continuam beneficiando mandioca com a
(2).” finalidade de produzir farinha, porém sem a presença do evento
farinhada.
Andrade e Filho (3) afirmam pela existência de um modo de Portanto foi compreendido que a grande maioria cessou a
vida camponês pautado pela onipresença da cultura da farinha de produção da chamada “mandioca brava” - utilizada para o
mandioca, da mesma forma, Cardoso (4) enfoca a importância da beneficiamento destinado à farinha -, devido ao árduo trabalho
cultura, da história e da economia que envolvem a cadeia produtiva da envolvente na produção, sendo mais prático comprar o produto nas
mandioca e o beneficiamento da farinha, acreditando ser de grande mercearias e mercados.
relevância contar e resgatar a rito da farinhada, esta que transformou a Outro fator desta terrível perda foram os fatores climáticos, os
identidade de um grupo social. quais, às vezes de forma imprevisível lhes surpreendiam
Em contrapartida, a corrida para conquistar um mercado negativamente, levando à perda da produção.
“inovador”, resultante da Revolução Industrial, focado na Os jovens hoje, que na época eram crianças, retratam o
padronização, na agilidade, nas tecnologias e na alta produtividade, momento da farinhada com muito carinho, mas assumem não querer
fizeram com que o modo artesanal de produção da farinha fosse sendo continuar a tarefa dos pais, pois não há reconhecimento e nem
gradativamente reduzida até ao ponto de ser esquecido em diversas valorização do agricultor familiar, o qual a lida com o campo, de forma
regiões do Brasil. Esse esquecimento pode levar ao fim de uma tradição, grandiosa, porém extremamente cansativa e desgastante.
de uma identidade fortalecida, em face da cadeia industrial.
Reconhecendo a importância dessa história, o objetivo desta CONCLUSÃO:
pesquisa é resgatar memórias e tradições alimentares do nordestino, Muitos especialistas consideram a farinha um alimento com
enfatizando a importância desses conhecimentos para a formação de pouco valor cultural e nutricional, porém a mesma ganhou espaço no
uma identidade cultural e alimentar de um grupo social. Assim, o prato do brasileiro, uma vez que por meio do seu beneficiamento
trabalho servirá para documentar e informar um registro histórico de possibilitou uma inserção de subprodutos na mesa do nordestino: o
tradições envolventes nos processos da farinhada. aipim cozido ou frito, a goma para os biscoitos e o beiju, o polvilho
doce e azedo para os pães e a manipueira para o tucupi. Todos frutos do

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

beneficiamento da farinha, um produto milenar utilizado até hoje pelos


indígenas.
A continuidade do evento farinhada se tornou cada vez mais
complexo e raro, pois a submissão do agricultor familiar aos fatores
climáticos, bem como a iminente concorrência do mercado moderno
industrial, ao superar a produção artesanal, reduziram o valor de
mercado deste produto, excluindo o agricultor familiar da formação do
preço da farinha, e consequentemente o custo do beneficiamento
próprio tornou-se maior do que o gasto ao adquirir um produto similar
pronto para o consumo, de forma prática.
A consequência da falta do evento farinhada nos interiores,
não está apenas na ausência da produção, mas principalmente na perda
da cultura - todo o conjunto de tradições, crenças e costumes na
formação de um grupo social, os quais são repassados para gerações
futuras.
Entender a cadeia produtiva da mandioca e seu beneficiamento
é entender a identidade do sertanejo, é percebê-lo em suas técnicas e
criações para facilitar a produção. A percepção das histórias contadas,
as quais retratam memórias antes esquecidas, é uma maneira sublime
de captar suas emoções, saudades e sentimentos presentes no evento
farinhada.

REFERÊNCIAS:
(1,6) COUTINHO, Andrea L. D. Farinhada e identidade sertaneja:
estudo de caso da produção de farinha de mandioca na comunidade
de Lagoa do Saco -Monte Santo/BA. 2014.

(2) DÓRIA, Carlos Alberto. A Formação da Culinária Brasileira.


São Paulo: Publifolha (Série 21), 2009.

(3) ANDRADE, Maristela de Paula; FILHO, Benedito Souza (Org.).


Fome de Farinha: deslocamento compulsório e insegurança
alimentar em Alcântara-MA. São Luís: EDUFMA, 2006.

(4) CARDOSO, Joelson Cruz. Farinhada: do engenho a indústria.


Florianópolis/Santa Catarina. 2017.

(5) SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo,


Razão e Emoção. Hucitec, São Paulo, 1996.

432
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

PARTILHA ALIMENTAR E CANIBALISMO: O RITUAL ANTROPOFÁGICO


TUPINAMBÁ
Rafael Farias¹, Marcos Oliveira², Izabella Oliveira​3
¹Gastrônomo, Mestrando no PPG em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP.
²Especialista em Docência para o Ensino Superior, Professor de Gastronomia da UNINASSAU e Faculdade
Pitágoras, Maceió/AL.
3​
Aluna do curso de Gastronomia da UNINASSAU, Maceió/AL.

E-mail: ​rafaelrochafarias@gmail.com

PALAVRAS CHAVE: comensalidade; alimentação; antropofagia; tupinambás.

INTRODUÇÃO Ritual é a celebração de um rito, ou seja, repetição e


O ritual antropofágico tupinambá foi um ritual encenação de sequências formais baseadas em normas e regras
religioso de partilha alimentar, praticado pelas tribos ameríndias pré estabelecidas por determinada comunidade​(5)​.
tupinambás com uma série de etapas: provocação deliberada de As tribos ameríndias Tupis mantinham entre si um
batalhas, captura de guerreiros e canibalismo, dentre outras. Foi ritual rico e intrincado. As tribos deliberadamente provocavam
descrito em diários de viagens de expedicionistas europeus que entre si batalhas constantes que tinham como finalidade a
passaram pelo Brasil no século XVI. Por uma questão de captura de prisioneiros, que mais tarde serviriam como alimento
limitação de fontes sobre o ritual, o assunto é abordado de uma sagrado em um ritual antropofágico. Ou seja, o indivíduo que
perspectiva ocidental se valendo da descrição do ritual escrita seria comido era um objeto de deglutição que tinha como função
por expedicionistas europeus, sendo que seus escritos se estreitar os laços entre aqueles que o comiam e o divino num
enquadram na categoria de fontes secundárias, pois os autores ritual de comensalidade.
eram observadores externos ao objeto. No banquete ritual canibal, todos os indivíduos
É analisado na pesquisa o ritual antropofágico presentes tomavam seu quinhão na partilha da comida-ritual. De
tupinambá enquanto cena de comensalidade. São discutidas crianças a anciãos, passando por mulheres, homens e xamãs
também as questões da comensalidade, alimentação ritual e religiosos, que também se aproximavam entre si através da
antropofagia. De maneira específica, o presente artigo tem como partilha de comida (o sacrifício) e bebida (o cauim que regava o
objetivos promover a discussão acerca da comensalidade e banquete). Era um banquete para aquela comunidade, que, ao
também identificar as práticas de comensalidade no contexto do comer, se apropriava do ‘​mana​’, energia vital e espiritual, do
ritual antropofágico tupinambá. Quanto à metodologia, este guerreiro abatido, tornando-se assim, mais forte espiritualmente
artigo se utilizou de levantamento bibliográfico acerca de e fisicamente. Até as mulheres que tinham filhos que ainda
comensalidade e do ritual antropofágico tupinambá. No que diz amamentavam untavam os bicos dos peitos com o sangue da
respeito ao ritual antropofágico tupinambá os autores utilizados vítima, acreditando assim que ao amamentar os filhos com o
foram André Thevet, Alfred Métraux e Hans Staden. O sangue estariam tornando os filhos mais valorosos​(6)​.
referencial teórico acerca da comensalidade foi composto por Vale apontar então, que a deglutição de carne
autores consagrados do tema como Poulain, Boutaud e Fischler, humana não é somente pelo ato de comer em si, mas por uma
dentre outros. questão espiritual religiosa que vai além da nutrição, é a comida
em sua função espiritual. Aqueles que comem se apropriam da
MATERIAL E MÉTODOS energia vital do alimento, recuperando a energia que o alimento
De acordo com Gil​(1)​, a pesquisa exploratória tem o (guerreiro) um dia se apropriou de outros da própria
objetivo de proporcionar maior familiaridade com o tema comunidade.
estudado a fim de permitir melhor compreensão do pesquisador,
de modo que a pesquisa exploratória pode ser utilizada como
primeira etapa de uma investigação, permitindo que um CONCLUSÃO
problema seja melhor esclarecido e passível de investigação O presente artigo conclui portanto que o ritual
mediante procedimentos mais sistematizados​(1)​. Portanto, para a antropofágico tupinambá é um caso de comensalidade e
realização desta pesquisa foi feito um levantamento alimentação ritual onde o indivíduo reforça sua identidade com a
bibliográfico das produções científicas acerca de comensalidade comunidade ao participar do ritual e a comunidade reforça sua
e produções em geral acerca do ritual antropofágico tupinambá. identidade de maneira positiva com os seus membros e negativa
com possíveis indivíduos e comunidades exteriores. O “comer
RESULTADOS E DISCUSSÃO simbólico” transforma a comida, que é, neste caso, o guerreiro
Comensalidade, segundo Poulain​(2)​, deriva do latim: capturado, em algo mais além do que puro alimento e objeto de
‘comensale’, que significa comer junto. No entanto, não se nutrição. O alimento ritual é o que aproxima os tupinambás de
limita a partilhar uma mesa no sentido estrito da expressão, pois, seus deuses e ancestrais, é o alimento que faz circular o mana, a
a alimentação traz atrelada a si uma dimensão social. Essa energia vital.
dimensão social pode ser apontada na criação de laços e
estreitamento social entre aqueles que partilham o alimento e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
expressam sobre aquele grupo de indivíduos modos, hábitos 1 GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São
culturais e experiências​(3)​. Quanto à comensalidade, Boutaud​(4) Paulo: Atlas, 2008.
separa o “comer-simbólico” em dois níveis, sendo o primeiro a 2 POULAIN, J. Sociologias da alimentação: os comedores e o
ingestão e a incorporação dos valores ligados ao alimento e o espaço social. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013.
segundo a ingestão e a incorporação do valor simbólico do 3 FISCHLER, C. Commensality, society and culture. Social
alimento quando consumido nas refeições em grupo​(4)​. Ainda Science Information, v. 50, p. 528– 548, 2011.
sobre alimentação ritual, Boutaud​(4) aponta para uma outra 4 BOUTAUD, J. J. Comensalidade. Compartilhar a mesa. In:
característica da comensalidade ritual religiosa: a característica MONTANDON, A. O Livro da Hospitalidade. São Paulo:
da partilha alimentar mística ou mágica, a qual pressupõe uma Senac, p. 1213-1230, 2011.
partilha alimentar como compromisso de comunhão.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

5 VAN GENNEP, A. Les Rites de passage, étude systématique


des rites de la porte et du seuil, de l’hospitalité, de l’adoption, de
la grossesse et de l’accouchement, de la naissance, de l’enfance,
de la puberté, de l’initiation, de l’ordination, du couronnement,
des fiançailles et du mariage, des funérailles, des saisons, etc.
Paris: 1909.
6 MÉTRAUX, A. A Religião dos Tupinambás e suas Relações
com a das Demais Tribos Tupi-Guaranis. Ed. Nacional: Ed. da
Universidade de São paulo. São Paulo: 1979.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Formiga Tanajura e Seu Valor Simbólico Na História e Cultura Da Serra Da Ibiapaba.

¹Antonia Carvalho, ¹Heitor Carvalho.


1. Acadêmicos do curso de Agroindústria e Gastronomia do Instituto Federal do Ceará, Campus Ubajara-CE, Brasil.
profheitor.carvalho@gmail.com
Palavras-chave: Sociedade, Formiga Tanajura, tradição inventada.

INTRODUÇÃO CONCLUSÕES

A formiga tanajura ou içá, como era assim conhecida Podemos afirmar que a formiga Tanajura e seu valor
pelas tribos indígenas, trazem um valor simbólico de história e simbólico na história e cultura da serra da Ibiapaba traz um grande
cultura aos habitantes da Serra da Ibiapaba no interior do Ceará. significado e importância às ações relacionadas ao comércio,
Diante das atitudes de preservação com a formiga tanajura, esse consumo, e extração. Logo, concluímos que o encontro do festival
trabalho apresenta uma abordagem com (2), sobre a história e da Tanajura realizado na cidade de Tianguá, apresenta valorização e
manifestações culturais ocorridas na serra da Ibiapaba na cidade de conhecimento da formiga Tanajura e preservação da cultura local.
Tianguá, zona norte do estado do Ceará, conhecido como “O
festival da tanajura”. Esse trabalho apresenta como objetivo abordar REFERÊNCIAS
as práticas e cultura da população serrana com a formiga tanajura e
seu valor simbólico para região, dando visibilidade a cadeia (1) CONTRERAS, Jesús. Alimentação, sociedade e cultura. /
produtiva da tanajura. Partindo desse pressuposto, foi possível Jesús Contreras e Mabel Gracia; tradução de Mayra Fonseca e
dialogar com os autores (1 e 2). Barbara Atie Guidalli. – Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011, p.
147- 157.
MATERIAL E MÉTODOS
(2) MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo Ed.
O método de pesquisa que orientou o desenvolvimento SENAC, 2008. 15 p.
deste trabalho, trata- se de uma pesquisa exploratória e
bibliográfica, realizada através de depoimentos abertos com
moradores da região, objetivando- se compreender o sentimento
cultural das práticas de alimentação da formiga tanajura. Visto que o
estudo focal se deteve sobre a formiga Tanajura na Serra da
Ibiapaba, um garimpar em meio a vulnerabilidade das práticas
existentes pelos índios desde o período colonial até o tempo
presente, se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua
vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas
crenças e diversas formas de vida social (1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Içá ou tanajura é a formiga fêmea da saúva no período de


reprodução. Em partes do Brasil é um alimento, considerado uma
iguaria. A caça de tanajuras é uma atividade de lazer e comercial
realizada na Serra da Ibiapaba por crianças e jovens. Segundo os
depoimentos dos habitantes da região o hábito de alimentar-se da
formiga tanajura vem dos indígenas, desde o período de
colonização. Eles às comiam in natura, ou assava-as, resultado de
um prato delicioso, típico e muito nutritivo.
Em meio à diversidade de hábitos e crenças alimentares a
que estamos inseridos, os valores de base do sistema alimentar não
se definem em termos de ‘naturalidade’, mas como resultado e
representação de processos culturais que preveem a domesticação, a
transformação, a reinterpretação da natureza, conforme (2).
Observou-se que a região proporciona um festival da
tanajura, na cidade de Tianguá, constituindo um marco na história e
cultura desse tipo social de alimentar serrano, que invade as ciências
humanas, a partir da premissa que a formação do gosto alimentar
não se dá, exclusivamente, pelo seu aspecto nutricional e biológico.
Tendo em vista que o alimento constitui uma categoria histórica,
pois os padrões de permanência e mudanças dos hábitos e práticas
alimentares têm referências na própria dinâmica social. Segundo
afirma (1).

436
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A simbologia oculta e permanente do bolo do casamento


Matusaila Macêdo1, Paula Dias2
Professora do curso de
1
Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
mattuculinaria@hotmail.com
2
Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Palavras chave: Bolo do Casamento, simbolismo, tradição.

INTRODUÇÃO Considerando que estamos falando de bolos de casamento, a


identificação da população encontra-se coerentemente definida: o
O mundo está em um movimento contínuo de transformação e os rituais universo escolhido foram casais (noivos e/ou casados) da cidade de
de celebração neste contexto social também. No passado, todas as Fortaleza, Ceará, Brasil. Assim foram enviados via e-mails 73
dificuldades relacionadas com as questões entre famílias, continuidade questionários e foram obtidas resposta de 51.
de gerações, vínculos políticos, sociais, consanguinidade familiar e Tendo em conta os objetivos do estudo e a temática, não foi viável
questões patrimoniais eram importantes, e em sua maioria resolvidas encontrar um questionário totalmente coerente que estivesse
através da celebração de laços matrimoniais (Ribeiro, 2010). devidamente organizado, portanto segue modelo (Figura 1).
As bodas do casamento era a confirmação que uma nova célula social
estava se formando. Tudo isso ocorria diante da participação da Figura 1. UNIVERSO DA PESQUISA
sociedade. Tudo era previamente preparado, os convidados, música, Q QUESTIONÁRIO SIM NÃO
flores, as roupas, o cerimonial e bolo de casamento, seguindo um 1 Houve Bolo no casamento ? 50 1
modelo iniciado na antiguidade onde o casamento se identificava com 2 O Bolo é importante para o casamento? 49 2
rituais de cerimônias específicas para esta finalidade. 3 Você conhece a simbologia do Bolo ? 12 39
A multiplicidade dos povos possibilita que cada um tenha aspectos
específicas em suas leis do casamento e modos particulares de legitimá- RESULTADOS E DISCUSSÃO
lo perante a sociedade. Essa legitimação vem munida de um simbolismo
cultural, histórico, espiritual e social de cada povo. (Charsley,1992). O presente estudo permitiu perceber a importância do bolo do
O bolo do casamento se transforma ao longo dos tempos como objeto casamento nas cerimónias de núpcias, avaliando seus significados e
simbólico e material presente nesta cerimonia legitimando e simbolismo para os noivos, mesmo que não haja uma consciência
oficializando, este ato de união entre duas pessoas. Embora os nubentes histórico e cultural da representação do mesmo, objetivo geral deste
e a comunidade, não compreendam sua real importância e significado, estudo.
este objeto se faz presente na maioria da cerimônia do casamento quase Identificou-se que o bolo do casamento é uma temática pouco estudada,
como um legitimador da consagração do ato. O bolo do casamento tem e nem sempre explorada em todas as suas dimensões abre a
uma mensagem em cada parte de seu todo, sua massa, bandeja, possibilidade para uma diversidade de estudos.
cobertura, decoração, cor, altura, corte, espaço no salão e distribuição
(Charsley,1992). SIMBOLISMO DO BOLO NO CASAMENTO
Na pesquisa apresentada e discutida neste levantamento evidencia-se a
problemática associada às questões do significado, do simbolismo e a O simbolismo do bolo de casamento pode ser reconhecido através de
conscientização da importância do mesmo para os nubentes. diversas variáveis. Neste contexto foram selecionadas três questões (
Com base na revisão bibliográfica e no levantamento de conceitos e Q1, Q2, Q3) passivas de verificar o simbolismo do bolo de casamento.
definições, onde se identificaram particularidades ligadas ao bolo do Embora haja indícios da revisão da literatura que o bolo de casamento
casamento, se realizou uma abordagem exploratória que permitiu tenha sido um símbolo importante na Antiguidade, o mesmo tem
identificar conteúdos importantes para responder ao objetivo principal presença na maioria deste tipo de celebração a partir do séc. XIV. Dos
do estudo. A partir destas questões, o que se pretende é perceber a 51 questionados cujas respostas foram recebidas, em sua grande
importância do bolo do casamento nas cerimônias de núpcias, e seus maioria (96%; n=49) revelam a mesma percepção quanto à sua
significados e simbolismo para os noivos. importância no ato (Cf; Figura 1).
Devido ao imensurável contexto do assunto o estudo traça como Na figura 2 (Q1), a pergunta “Houve bolo no Casamento?”, temos um
objetivo geral verificar o simbolismo do bolo do casamento, e como resultado onde 98% ( n= 50) tem o Bolo em sua festa contra 1,96%
objetivo específico averiguar porque os nubentes querem ter um bolo (n=1) não acharam relevante sua presença. Isso vem a demonstra a
de casamento. Com isso pretende-se entender a razão pela qual ele se necessidade que os nubentes sentem da presença deste símbolo
torna a peça tão importante na festa de um casamento.

MATERIAL E MÉTODOS

Segundo Craveiro (2007, p 203), a “escolha da metodologia de


investigação deve fazer-se em função da natureza do problema a
estudar”, pelo que a escolha de um método quantitativo ou qualitativo
depende do potencial para dar resposta ao problema de investigação e à
questão levantada no estudo.
O tema em estudo tem por base “percepções e sensações” dos vários
nubentes que o integram (Lorga, 2014, p.15), o que nos leva desde já a
escolher uma pesquisa qualitativa, que se relaciona “mais com a
compreensão e a interpretação sobre como os fatos e os fenômenos se Figura 2. Resposta dos questionários da pergunta: Houve bolo no
manifestam do que em determinar causas para os mesmos” (Craveiro, casamento?
2007, p.203).
Pelo apresentado, confirma-se a necessidade de se alargar a busca a Na figua 3 (Q2) percebermos que em sua grande maioria os
mais dados primários e/ou também a secundários para se garantir que questionados acham que o bolo de casamento é importante, com
os mesmos se adequam aos objetivos deste estudo, diminuindo resultados de 96% ( n=48) confirmam a importância de dão para a
incorreções (Craveiro, 2007). No levantamento dos dados primários, e presença do bolo enquanto somente 4% ( n= 3) não o consideram
em virtude da área de estudo, que integra uma grande possibilidade de importante. As respostas vêm confirmar a importância da presença do
interpretação, definiu-se que o questionário seria a ferramenta de bolo em festa de casamento, visto com a finalidade de um objeto de arte
levantamento de dados primários mais apropriado. comestível e decorativo para fotos.

437
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 3. Resposta dos questionários da pergunta: O bolo é importante http://pos.eicos.psicologia.ufrj.br/wp-


para o casamento? content/uploads/2010M-KARINA-PENIDO-RIBEIRO.pdf

Na figura 4 (Q3) nos deparamos que não há conhecimento cultural,


histórico e simbólico do bolo do casamento. O resultado proposto com
76% (n= 39) dos nubentes confirmam esta hipótese.

Figura 4. Resposta dos questionários da pergunta: Você conhece a


simbologia do bolo de casamento?

FIGURA 4

CONCLUSÕES

Um fato, um questionamento ou uma curiosidade pode-se tornar um


ponto importante para desenvolver e aprofundar o conhecimento, pelo
que depois da abordagem teórica sobra a temática de estudo associada
aos objetivos gerais e específicos, descrevem-se os principais
resultados obtidos nesta investigação, que pretendia perceber se os
nubentes teriam consciência da simbologia do bolo de casamento.
A questão inicial exigiu a definição de objetivos específicos, que
diminuem a margem de erros e suportam o objetivo geral,
nomeadamente: averiguar a importância do bolo do casamento e se os
nubentes conheciam o simbolismo do bolo no casamento;
Neste sentido, o estudo empírico permitiu não só legitimar a questão
principal, mas também dar resposta a todos os objetivos específicos.
Os resultados permitiram ainda confirmar que, apesar dos nubentes não
terem consciência nem conhecimento do simbolismo que o envolve,
consideram, contudo, importante a sua presença no ato do casamento.
Em síntese, os resultados nos sugerem de uma forma global que o Bolo
de Casamento é hoje como foi ontem, uma peça de extrema importância
nas cerimónias de casamento, apesar dos nubentes não identificarem as
mensagens diretas ou indiretas associadas ao seu simbolismo e ao bolo
vitoriano, foco inicial deste estudo.

REFERÊNCIAS

1. Charsley, S. 1992. Wedding cakes and cultural history.


(1º ed.). London: Labriry of Congress Cataloging in
Publications
2. Craveiro, M. C. 2007. Formação em contexto – Um estudo
de caso no âmbito da pedagogia da infância. (Tese de
Doutoramento, Universidade do Minho). Acedido em 1 de
maio de 2018. Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle
3. Lorga, S. 2014. Estudo e potencialidades dos clusters
agroalimentar, economia do mar, cidades inteligentes,
tecnologias de produção e turismo para as empresas
TICE. B’TEN Business Talent Enterprise Network, 1-188.
Acedido em 12 de abril de 2018. Disponível em
http://www.inova-
ria.pt/sites/default/files/projects/estudo_de_atratividade_cl
usters_final.pdf
4. Ribeiro, K.P. 2010. A visão de casamento e
relacionamentos afetivos de mulheres separadas de
diferentes gerações (Dissertação de mestrado,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, centro de filosofia
e ciências humanas -instituto de psicologia). Acedido em 30
de março de 2018. Disponível em

438
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Comida no Cinema Brasileiro - Gastropoética e Simbologias

Alessandra Santos dos Santos 1Marlus Regis Alvarenga 2 Pedro Henrique Gomes 3
1
Centro Universitário de Brasília - UniCEUB
2
Mestrando em Literatura e outras Artes na Universidade de Brasília. Gastrólogo pela instituição
UniCeub – Centro Universitário de Brasília.
3
Gastrólogo pela instituição UniCeub – Centro Universitário de Brasília.

Palavras chaves: Cinema Nacional. Imagética. Gastronomia. Gastrocinema. Gastropoética.

INTRODUÇÃO

Essa pesquisa parte da revisão imagética extraída sociais, inclusivas e de gênero, acompanhando as artes
do Cinema Novo brasileiro, período marcado pela forte contemporâneas, analisando as relações
crítica à desigualdade social, se contrapondo aos movimentos gastrocinematográficas dentro das traduções coletivas (4),
classistas e o racismo proeminente nos anos 1960 e 1970. visando os processos conjuntos de adaptação ao cinema e na
Esse movimento tem início em 1950, destaca o diretor relação do fílmico com o gustativo.
Glauber Rocha (1939 – 1981) no ramo cinematográfico
internacionalmente. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A forma com que as montagens cinematográficas
influenciam no percurso e visão cultural à frente da sétima O cinema é quase sempre associado ao
arte, feita de forma coletiva e imagética, visando encontrar e entretenimento, salvo documentários e séries jornalísticas,
resgatar na sensibilidade da imagem na tela inspiração para a que possuem um grande enfoque específico. Quando a
cozinha artística nacional, torneiam uma política de arte discussão no cinema é reflexiva, filosófica ou de marcante
escassa no Brasil, qual atualmente tem buscado novas fontes alcunha social, a própria divulgação da obra se torna
de observação, inclusive observando a função política, complicada, como vemos a exemplo dos recentes Berenice
cultural e expansiva das obras. (1) Procura e Paraíso Perdido com temáticas de diversidade e
Assim, ao assistirmos os filmes sob essa luz, violência.
notamos que o processo de biologizar o ato de comer, em A cozinha, arcaica, ancestral, que nos conecta a
uma geração líquida (2) traduz a solidez das questões família em Lavoura Arcaica e sua escassez, mirada em
humanas em gestos de troca e solidão, sem permear apego ao Central do Brasil, por exemplo, traduz um elo não só com o
outro off-line. passado familiar, mas também com nosso eu primitivo. Sendo
A delimitação do tema comida no cinema assim, os mais gastroimagéticos Estômago e Nina ganham o
brasileiro se deu pelo enfrentamento que as relações entre o mesmo espaço do cinema de cabeceira: a reflexão de dentro
cinema cultural nacional e a forma com que os personagens e das periferias do país. Ver um filme confortável para a mente
situações confrontam seus espaços sociais. Na obra Comida e ao mesmo tempo militante como Hoje eu quero voltar
como Cultura, as escolhas do que se vai comer não se dão sozinho que lembra a infância, ou que traz o choro ansiado é
apenas pela fome e pela demanda alimentar. Há, de fato, tão importante quanto relembrar o sabor do último jantar em
questões culturais enraizadas nesse eixo que tange desde o família, ou do vinho pós-sexo. É essa relação de desejo táctil
querer comer até o escolher comer. (3) que Aquarius conecta as duas formas de arte como forma de
A pesquisa pauta sobre a forma com que os coito, interligado pelo elo cultural e a necessidade humana de
alimentos, na tela foram retratados, sensibilizados, existir.
mencionados e objetificados, Buscando experienciar a visão gastrosocial dentro
das obras propostas, é urgente que há grande importância na
MATERIAL E MÉTODOS ciência dos signos, dos símbolos e códigos por trás da
imagem. (5)
A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica
em obras teóricas de autores pré cinema e de técnicas
gastronômicas, e análise dos filmes selecionados dentro do CONCLUSÃO
recorte pós Cinema Novo Nacional, que possibilitará a
conexão entre obra e a comida. A técnica de entrevistas e Assim, chegamos a seguinte conclusão: é
dados jornalísticos também serviram para o arcabouço necessário elucidar a relação mais aproximada do contexto
teórico, realizando a análise de imagens por meio da social dos filmes, sua paleta de cores, o espectro de formas
semiótica. geométricas e a sensorialidade que as imagens transmutam,
Revisando a cinematografia nacional no recorte na tela, da tela, para o espectador coletivo. Assim, clareando
escolhido e focando na discursão do elo gastronômico, a proposta de discutir os traços da cozinha nacional no
ampliamos o que antes era somente imagem de cinema e cinema brasileiro, notamos que é recorrente o tema da
traduzimos na possibilidade de se reconstruir como um menu comida como foco da construção da poética e da narrativa ao
essas referências, analisando a poética da comida em cena, redor da imagem.
feita para ser encenada. Comida como poesia. Cinema como Assim, é possível perceber que é urgente utilizar a
gastropoética. relação imagem-sociedade-alimento na construção do menu-
Os filmes escolhidos dentro dessa amostra são experiência; referir ao campo de cores e formas que os filmes
adaptação cinematográfica da Central do Brasil, de Walter perpassam por meio das montagens; usar técnicas de alta
Salles, 1998, até Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, 2016, gastronomia para executar o menu, visando a interação
Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, 2001; Nina, cinêmica do agente produtor da comida em cena, como um
Heitor Dhalia, 2004; Estômago, de Marcos Jorge, 2008 e grande menu montado em tela.
Hoje eu quero voltar sozinho, Daniel Ribeiro, 2014. E para transpor o fílmico aliado ao sabor após a
A visão fílmico-gastronômica em cenários análise realizada, eaborou-se um menu de seis etapas para
nacionais diferentes refletirá sobre as formações culturais, fundamentar a leitura das obras cinêmicas, de forma estética.
O primeiro foi uma entrada com pão e manteiga amarga de

439
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

sálvia, para remeter a austeridade em Lavoura Arcaica; na


sequência, servimos um petisco de massa de pastel sem
recheio, buscando a escassez de alimento em Central do
Brasil; um ceviche de camarão pitu com cachaça para
Aquarius; coxinha de frango com creme de queijo e rabo de
galo para representar a comida de boteco em Estômago; uma
releitura de Beef Wellington coberto com muçarela de búfala
derretida e molho de vinho nero di sepia demonstrando o
contraste do preto do nanquim com o branco do papel em
Nina e, para fechar, a suavidade e a diversidade dos macarons
com creme para a obra Hoje eu quero voltar sozinho

REFERENCIAS

1.BOURDIEU, P. A distin� � o: cr�


tica social do julgamento.
Trad. Daniela Kern & Guilherme J. F. Teixeira. Porto Alegre:
Zouk, 2007.

2.BAUMAN, Z. O mal-estar na p�s-modernidade. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

3.MONTANARI, M. Comida como cultura. S�


o Paulo:
Senac S�
o Paulo, 2008, 207 p.

4.GANDARA, L. da C. Cinema literário goiano e ensino:


teoria e prática da tradução coletiva. In: MEDEIROS, A. C.
M; LEITE, K. R. de O; SILVA JUNIOR, A. R; GANDARA,
L. da C. Os parceiros de Águas Lindas Ensino de Literatura
pelas letras de Goiás. Goiânia: Pé de Letras, 2018.

5.SANTAELLA, L. e NÖTH, W. IMAGEM, Cognição,


semiótica, mídia. 2. ed. São Paulo: ILUMINURAS, 2001.

440
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Chá ou Tisana? Uma Dose de Conhecimento na sua Bebida


1
Ana Paula Costa de Abreu e Melo; 2Bianca Costa de Abreu
1
Tea Sommelier certificada pelo El Club del Té em Buenos Aires/Argentina,
Curso de Tea Sommelier na Escuela Argentina de Té, Rosário/Argentina, e Arquiteta e Urbanista (UFPE)
abreuemelo@gmail.com
2
Bacharel em Ciências Contábeis (UNICAP) e Gastróloga (Universo-Recife) biancacalvitor@gmail.com

Palavras-chave: bebida, infusão; bem-estar; atividade antioxidante.

INTRODUÇÃO chineses que exportavam o chá, a palavra incorporou-se aos idiomas


Desde os primórdios da civilização as plantas fornecem ocidentais com um som similar ao de sua origem. Desta forma, o “tê”
diversas matérias-primas utilizadas na produção de remédios para os da região de Fujian virou “thé” em francês, o “te” em italiano, o “tea”
seres humanos, sejam elas flores, folhas, raízes ou cascas. A escolha em inglês e o “tee” em alemão.
das ervas é uma parte importante para a produção de remédios Os portugueses, por adquirirem o chá principalmente de
naturais (1). Macau, antiga colônia de Portugal na China, onde se falava o
No Brasil, existe um grande equívoco no emprego da palavra mandarim, passaram a chamar o “tchá” de “chá”, como conhecemos
“chá”, pois ela só deveria ser empregada nas bebidas em que são até os dias atuais.
utilizadas as folhas da árvore Camellia sinensis. São chás: o branco, o Os diferentes chás são na verdade variações no tratamento
verde, o oolong, o pu-erh e o preto. dado às folhas da Camellia sinensis, que podem variar de processos
As bebidas que não derivam das folhas desta árvore devem para murchar as folhas, oxidá-las ou fermentá-las de acordo com a
receber o nome de tisana, mas esse termo dificilmente é empregado Tabela 01 abaixo:
para tal.
Tabela 01 – Características de diferentes tipos de chá (Camellia sinensis)
FOLHAS
OBJETIVO: CHÁ
(MURCHAS)
OXIDAÇÃO
O presente estudo visa identificar diferenças conceituais entre
Branco (brotos) Sim Não - 0%
chás e tisanas, e identificar elementos marcantes na história do chá até
sua chegada ao Brasil. Verde Não Não - 0%
Oolong (azul) Sim Parcial - 20 a 80%
MATERIAL E MÉTODOS Preto Sim Sim - 80 a 100%
A fundamentação teórica ocorreu com a pesquisa e análise Pu-Erh Negro Oxidado e
Sim
de referências bibliográficas, teses e anotações de aula das autoras. Shou-cozido Fermentado
Foi realizada também uma visita a Fazenda de Chá Amaya Pu-Erh Verde Não oxidado 0% e
(Figura 01), na cidade de Registro, em São Paulo, e entrevista com Sim
Sheng (reserva) Fermentado
Milton Amaya (2), para melhor compreensão da chegada do chá na Fonte: Autoras.
região e seu processo de manufatura para produção do chá verde e
preto. Para tratar das bebidas produzidas pela infusão ou decocção
de folhas, flores, raízes ou cascas será utilizado o termo tisana,
Figura 01 – Visita à fazenda de chá (Camellia sinensis) na cidade de semelhante à palavra “tisana” existente na língua espanhola (Figura
Registro - SP. 03).

Figura 03 – Infusão de uma tisana de erva-doce.

Fonte: Autoras.
Fonte: Autoras. No Brasil pouco se conhece sobre chá e tisana. Há um erro
conceitual comum pelo desconhecimento da segunda palavra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o dicionário Houaiss de língua portuguesa
o termo “tisana” é um substantivo feminino que significa: “Bebida,
Segundo Cristiane Sato (2), o ideograma abaixo (Figura geralmente usada como medicamento, obtida por maceração, infusão
02) é lido em mandarim e japonês como “tchá” e no dialeto amoy, ou decocção (3).”
falado na região de Fujian na China - uma das principais regiões As tisanas podem ser de folhas (boldo, hortelã, erva-
produtoras de chá do mundo – como “tê”. Ele representa o chá, isto é, cidreira, erva-doce), flores (hibisco, laranjeira), cascas (canela.
a bebida resultante da infusão das folhas da Camellia sinensis. rooibos) ou de frutos (maçã, limão). Para cada uma delas convém
identificar o processo a ser utilizado:
Figura 02 – Ideograma que representa a palavra chá.
• Infusão – utilizado quando imergimos posteriormente as
folhas ou flores em um líquido fervente ou aquecido durante
um tempo determinado;
• Maceração – consiste em extrair a essência da erva por
meio de ação mecânica, geralmente com o uso de um pilão.
Fonte: Cristiane Sato (2). Pode ser utilizado um pouco de líquido para facilitar no
processo de extração;
Por meio de carregamentos de navios vindos da Ásia, o chá
chegou à Europa ocidental. Dependendo do dialeto falado nos portos

441
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

• Decocção – utilizado quando líquido entra em ebulição era primitivamente de ferro. Demolida, em seu lugar foi
com os caules ou frutos. construído o atual Viaduto do Chá, referência central da
cidade.”
Para o caso do chá (Camellia sinensis), o único processo
utilizado é a infusão que varia o tempo de acordo com o tratamento Em 1935 a história do chá com o Brasil se intensificou com
dado às folhas para se tornarem branco, verde, preto, oolong ou pu- Torazo Okamoto, imigrante japonês que foi ao Sri Lanka (antigo
erh. Ceilão), importar sementes de chá. Como na época havia fiscalização
O Chá é uma bebida consumida na China desde 2750a.C. nos navios e o transporte de sementes era proibido, Torazo escondeu
Diz uma antiga lenda chinesa que imperador Shennong, o “lavrador diversas sementes de chá dentro de miolos de pães. Surgem assim as
divino”, estava certa vez sentado à sombra de uma árvore nativa fazendas de chá na cidade de Registro, interior de São Paulo..
fervendo água para beber, quando o vento fez cair algumas folhas da
árvore dentro do seu pote, conferindo à água um sabor agradável e CONCLUSÕES:
revigorante, surge então o chá. Posteriormente, viria a descobrir as
propriedades medicinais do chá e estimular a bebida para toda O termo chá deveria ser utilizado apenas para a infusão de
população. folhas da Camellia sinensis, sendo também inadequado chamar as
É nesse contexto que Lu Yu, órfão adotado por um monge demais bebidas de infusão, uma vez que esse é apenas um processo de
budista, passa a estudar cada detalhe da planta e se especializa no preparação da bebida, que serve tanto para chás, quanto para tisanas.
preparo do chá ideal. Depois de anos de estudo, escreve o livro que Embora seja constantemente associado ao uso medicinal, o
seria um marco para a história do chá: o “Cha jing” (5), conhecido chá também tem sua importância no contexto social, sendo motivo de
também como “O clássico do chá”. encontro entre as pessoas, desde o período Vitoriano.
Anos depois monges budistas japoneses que estudavam em No Brasil existem relatos de consumo do chá pela corte D.
num templo na China, logo perceberam que a bebida lhes trazia um João VI e das tentativas, algumas delas frustradas, de plantação da
estado de vigília durante a meditação e aprenderam rápido o cultivo da Camellia sinensis no Rio de Janeiro e em São Paulo.
árvore do chá, levando para o Japão a prática de beber chá (6)(7). A vinda de japoneses para o interior de São Paulo fez com
As folhas da Camellia sinensis se tornaram populares, que fosse retomada a plantação e a manufatura do chá para consumo
como especiarias, durante as grandes navegações. Por meio de navios, interno e externo até os dias atuais.
segue de Macau, na Ásia, até Portugal, no antigo continente (8).
Não demorou muito até que descobrissem outras
variedades da mesma árvore (Tabela 02) em lugares como a Índia e o
Camboja. REFERÊNCIAS:
Tabela 02 – Detalhes de algumas Camellia sinensis existentes.
(1) DATTNER, C. Chá: Rituais e Benefícios. Ed. Senac. São Paulo,
Árvore de Chá 2011.
(2) SATO, Cristiana. Chá. Disponível em:
Nome científico Localização Altura <www.culturajaponesa.com.br>. Acesso em: 27 de fev. 2020.
(3) HOUASS, ANTÔNIO. Minidicionário Houass. 4 ed. Rio de
Camellia sinensis sinensis Sul e Leste da China 1-3m Janeiro: Objetiva, 2010.
(4) Entrevista com Milton Amaya, da Amaya Chá, em Registro-SP em
Camellia sinensis assamica Assam-Índia 10-12m 18 de março de 2016.
(5) YU, Lu. Cha jing. EBook #23949. Disponível em <
Camellia sinensis cambodi Camboja 15-18m http://www.gutenberg.org/cache/epub/23949/pg23949-images.html>
Acesso em: 07/07/2020.
Fonte: Autoras. (6) GRACINDO, I. Viagem ao mundo do Chá: Tao te cha. Ed. Casa
da Palavra. Rio de Janeiro, 2013.
De acordo com Abreu e Melo (9), foi no século XVII com (7) KAKUZO, Okakura. The book of the. 2 ed. Canada: Benjamin
o casamento da infanta portuguesa Catarina de Bragança com o rei da Press, 2013.
Grã-Bretanha Carlos II, que o chá chegou em terras inglesas. (8) SMITH, Krisi. World atlas of tea: from the leaf to the cup, the
Agregando também no dote real as terras referentes a Bombaim world’s tea explored and enjoyed. Londres: Mitchell Beazley, 2016.
(Índia). Posteriormente esse dote seria de grande importância para os (9) ABREU E MELO, Ana Paula Costa de. A Influência Portuguesa
ingleses na produção de chá. na Introdução do Chá na Inglaterra no Século XVII. Anais do I
Já no reinado da rainha Vitória, além do consumo como Congresso de Internacional de Gastronomia e Ciência de Alimentos.
bebida medicinal, o hábito de beber o chá se tornou popular tanto nos Fortaleza. 2013
encontros da elite como para classe trabalhadora. Acompanhado de (10) FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil. 3ed. Rio de Janeiro:
um pequeno lanche vespertino, o evento passou a ser conhecido como Topbooks, 1948.
“Chá da Tarde”. (11) TOLEDO, Benedito Lima de. Largo Do Arouche: Algumas
Introduzido no Brasil no reinado de D. João VI o chá era Considerações. Disponível em
inicialmente importado. Gilberto Freyre relata esse fato ao pesquisar <www.academiapaulistadeletras.org.br/ memoria.asp?materia=1352 >
em periódicos do Rio de Janeiro (10): Acesso em: 27 de fev. de 2020.

“ A 28 de outubro de 1815 a mesma Gazeta anunciava que


na loja defronte da candelária vendia-se ‘vidros para
vidraças’- e também – pois era uma das lojas em que o
Oriente e o Ocidente se encontravam fraternalmente, em
vez de se repelirem – ‘chá de todas as qualidades vindos
proximamente de Macau de navio Maria I para vender por
grosso e a varejo’...
... A rua da Alfândega nº5 se vendia por atacado e a varejo,
entre outros artigos ingleses e orientais, ‘chás superiores de
todas as qualidades’...”

Pioneiro na produção do chá em São Paulo, José Arouche


de Toledo Rendon, comprou equipamentos para secagem das folhas
da China, chegando a plantar cerca de 44 mil pés de chá na sua
Fazenda Casa Verde, região conhecida atualmente como Largo do
Arouche (11).

“A essa cultura, o viaduto, então construído na área central,


mereceu a denominação de Viaduto do Chá, sua estrutura

442
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Impactos do açúcar no nordeste colonial: uma revisão baseada nas obras de
Gilberto Freyre
José Mateus Rodrigues¹, Amanda Marques¹.
¹Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: História, Cultura, Economia Segundo Freyre, a cana-de-açúcar teve


INTRODUÇÃO origem na Indochina e foi cultivada em todo
Extremo Oriente. Os responsáveis por
A presente pesquisa expõe aspectos espalhar o vegetal por todo o Mediterrâneo
foram os mouros, na ilha de Creta, onde se
positivos e negativos da exploração da
deu origem ao “qandi” um açúcar
monocultura do açúcar e sua contribuição na cristalizado (1).
ascensão da miscigenação dos povos que O açúcar tornou-se tão raro, que era
deram origem a formação cultural brasileira privilégio de nobres. Começou a ser vendido
(1). O tema foi definido pela grande como remédio para doenças respiratórias e
relevância do açúcar para a gastronomia do como cicatrizante e calmante (1).
país, e, consequentemente, para a cultura Se tornou tão importante, que substituiu o
mel em receitas e, junto com gema de ovo,
alimentar. A partir das influências trazidas
virou a base para sobremesas da confeitaria
pelos portugueses ao chegarem ao Brasil, brasileira, o que originou a cultura do doce
esse produto e seus doces derivados no Brasil, repleta de sabores e símbolos
tornaram-se indispensáveis no nordeste sociais e culturais.
colonial (2), como afirma Freyre “sem
açúcar não se compreende o homem do “Até hoje, no Brasil, oferecer um doce,
partilhar um bolo, um doce em calda, receita
Nordeste” (1). especial da família, é um importante elo que
celebra encontros, festa, fortalece relações.
Assim, este trabalho tem como objetivo Certamente, o açúcar do doce adoça e aproxima
esclarecer os impactos causados pelo açúcar as pessoas ” (2).
no nordeste colonial, que caracterizou a
“civilização do açúcar no Nordeste” (1). Mas na Europa, cultivar a cana-de-açúcar
era uma tarefa difícil, pois exigia solo rico,
Essa civilização teve início após um úmido e quente. Assim, o Brasil estava
processo de adaptação e domínio dos pronto para ser descoberto (1). A partir de
portugueses, pautada, sobretudo, no plantio relatos de Freyre, oficialmente a cana-de-
de uma única espécie, a cana-de-açúcar, que açúcar teria chegado ao território brasileiro
foi uma das principais culturas alimentares em 1532, com Martins Afonso de Souza,
do país, tendo alavancado a economia mas já haviam registros de sua plantação em
Pernambuco datados de 1526, com Duarte
brasileira, contudo, contribuído para a
Coelho Pereira.
exploração dos povos indígenas e, Desse modo, o cultivo dessa cultura
principalmente, dos africanos (1). começou a se espalhar por todo o Nordeste.
METODOLOGIA “O primeiro engenho pernambucano
completo foi instalado por Jerônimo de
A metodologia aplicada se baseia nas obras Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho, no
de alguns autores, principalmente Marconi e mesmo ano em que aqui chegaram” (1).
Lakatos (3) e Gil (4). A pesquisa aplicada é
De acordo Freyre, os primeiros a serem
de origem qualitativa, que pode ser indicada obrigados a trabalhar nos engenhos foram os
como o conhecimento das questões sociais índios, no entanto, esses povos não eram
por meio da análise e estudo de material acostumados ao trabalho pesado e não
bibliográfico e documental, com ênfase nas faziam uso do açúcar. Além disso, muitos
obras de Gilberto Freyre. povos nativos fugiam ou não resistiam às
epidemias trazidas pelos europeus.
A Cana-de-açúcar

443
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

“Em sua cultura, antes da chegada do CONSIDERAÇÕES FINAIS


colonizador, doce era o mel de abelha. Puro em
bebidas fermentadas, misturando a frutas e raízes A partir do presente trabalho, ficou evidente
mastigadas pelas mulheres, postas depois em a relevância do açúcar no nordeste colonial,
potes de barro para fermentar” (1). principalmente devido a convivência e troca
cultural entres os povos. Este fato agregou
Sendo assim, devido a lucratividade do novos conhecimentos gastronômicos, novos
tráfico negreiro, o povo africano foi trazido valores e novas tradições, formando a
ao Brasil para ser explorado nos canaviais. cultura brasileira.
Economicamente, o açúcar proporcionou
Impactos Socioeconômicos da Cana de vantagens e desvantagens. Na Europa, era
Açúcar um produto caro e de alto valor econômico,
pois o cultivo era difícil devido ao solo e
Para Freyre, o açúcar “era uma fonte de
clima europeu, portanto, a cana-de-açúcar se
riqueza quase igual ao ouro”. Desta forma, o
adaptou às características geográficas
governo português investiu bastante no setor
brasileiras, precisamente nordestinas.
açucareiro, apesar das dificuldades com
Entretanto, o cultivo desenfreado trouxe
local, escravos nativos agressivos e alto
impactos negativos trazidos pela
custo do transporte. Ainda foi necessário
monocultura sem limites à procura de lucro,
garantir benefícios aos que se arriscassem a
com queimadas e desmatamento,
instalar engenhos no Brasil. Contudo, a
desequilibrando assim o ecossistema do
escassez de mão de obra logo foi resolvida
Nordeste.
com a chegada de escravos africanos (1). Na gastronomia, a importância do açúcar se
Impactos Ambientais reflete em muitas receitas da nossa
confeitaria, receitas de família, passadas de
Segundo Freyre, um dos fatores que mãe para filha como herança cultural.
favoreceram a produção de cana-de-açúcar
no Nordeste foi o solo rico em nutrientes, o Referências
massapê (5).
O mesmo autor descreve que todo esse foco, 1. FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma
sobre a produção dessa cultura na região, sociologia do doce, com receitas de
bolos e doces do Nordeste do Brasil.
visando somente o lucro, trouxe alguns
5. ed., rev. São Paulo: Global, 2007.
problemas para o meio ambiente nordestino,
270 p.
como a contaminação dos rios pelos
“vermes causadores de doenças de Manson- 2. LODY, Raul. Brasil bom de boca.
Pirajá da Silva ou Esquistossomose mansoni Temas da antropologia da alimentação.
trazida pelos escravos negros” (5) e o São Paulo: SENAC, 2008. 424p.
empobrecimento do solo, em consequência
da erosão causada pelas queimadas e 3. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI,
desmatamentos, que eram feitos com o Marina de Andrade. Fundamentos de
propósito de aumentar os terrenos de metodología científica. 7. ed. São
produção. Paulo: Atlas, 2010.
Outro problema ambiental foi o uso dos rios 4. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar
como “mictório”. “Um mictório das projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo:
caldas fedorentas de suas usinas” (5), onde Atlas, 2010.
os resíduos dos engenhos jogados nos rios
causavam a morte de milhares de peixes (5). 5. FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos
O desmatamento causou desequilíbrio em da influência da cana sobre a vida e a
todo o ecossistema, pois no momento que há paisagem do Nordeste do Brasil. 3. ed.
a desarborização para o cultivo de uma única Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
espécie de planta, você acaba destruindo a 183p.
moradia e o alimento de outros animais que
viviam nessas matas (5).

444
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Mulher, a Comida e a Rua: Provedoras de Alimentos e de Renda nas Ruas de Fortaleza


Barbara Dantas¹, José Arimatéa Bezerra²
¹Graduada em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará; ² Doutor e professor na Universidade Federal do Ceará.
E-mail: zaniniribeiro@gmail.com

Palavras chave: comércio informal, comida de rua, Foram entrevistadas quatro mulheres de bairros distintos de Fortaleza,
com idades entre 30 e 57 anos. Todas as entrevistas foram feitas nos
trabalho feminino.
locais de trabalho dessas mulheres e foram gravadas com autorização
INTRODUÇÃO delas, com uso de aparelho smartphone para as gravações e caderneta
para as anotações das observações feitas em campo. Os nomes das
O ato de comer, além de essencial para a sobrevivência é uma ação entrevistadas foram retirados para manter sigilo de suas identidades.
cultural, por isso sempre acompanhou as evoluções dos povos e é um Todas as entrevistas foram transcritas e as observações reescritas e
reflexo da cultura e dos costumes locais. O fenômeno da comida de rua organizadas logo após os encontros com as mulheres, para não se perder
no Brasil pode ser compreendido como uma metáfora (alegoria) da detalhes importantes. Após terem sido feitas várias leituras do material
atual sociedade: a dos empregos marginalizados e da falta de tempo coletado em campo iniciou-se o processo de análise do material,
para a alimentação (1). agrupando as semelhanças nos discursos e destacando as diferenças das
A comida de rua vem acompanhando o ritmo de trabalhadores e falas das mulheres.
estudantes que desafiam diariamente as longas distâncias entre seus
destinos, principalmente entre a moradia e o local de trabalho, RESULTADOS E DISCUSSÃO
tornando-se um elemento praticamente fundamental para enfrentar tal
jornada. Aliando o baixo custo, a rapidez e a facilidade de acesso com Todas as mulheres entrevistadas já venderam ou ainda vendem o
a falta de tempo para realizar refeições, essa forma de alimentação faz pratinho, com as preparações mais comuns: arroz branco, creme de
parte do cotidiano de milhares de brasileiros por tais fatores (2). galinha, vatapá de frango e paçoca. O fato de as cozinheiras
Compreendido como uma forma de manifestação cultural, o comércio prepararem o mesmo prato em diferentes bairros da cidade reforça
de alimentos nas ruas traduz as preferências e os hábitos alimentares da como a cultura da venda de comidas típicas é presente em Fortaleza e,
sociedade em que está inserido, unindo ingredientes ou receitas pelas observações referentes a quantidade de procura e venda, esta é
tradicionais às novas maneiras de preparar ou servir as preparações (3). claramente uma manifestação do gosto popular da capital cearense
Nas ruas de Fortaleza, é possível encontrar com facilidade banquinhas Esse fato concorda com a pesquisa de Fonseca et al (7) na qual o autor
e carrinhos, onde são comercializados os mais variados tipos de destaca que os alimentos oferecidos pela comida de rua devem ser
comidas de rua, que vão desde as mais comuns, como salada de frutas, aceitos social e culturalmente por quem está exposto a esse mercado.
milho verde cozido e pastel, até preparações tipicamente cearenses, Fruto dessa aceitação, esses alimentos possuem caráter identificador
como a chegadinha, a tapioca e o pratinho – prato de comida servido no para produtores e consumidores, gerando sensações de pertencimento.
pratinho fundo de plástico composto de arroz branco, vatapá de frango, Outra característica absoluta entre as vendedoras é a necessidade de
creme de galinha e paçoca. É notável a presença feminina nesses criar uma relação de carinho e amizade com seus clientes. Por vezes,
comércios. esse elo é estabelecido de forma natural pela frequência das compras,
A investigação justifica-se pela ausência de trabalhos sobre comida de porém se destacou nos relatos o quanto essa relação movimenta os
rua com foco nesses atores sociais, responsáveis por essa forma de negócios e possui relevância afetiva significativa para as mulheres. O
manifestação gastronômica-cultural da cidade e de provisão de renda. relacionamento com os clientes foi frisado como um dos aspectos que
Apesar do grande número de mulheres envolvidas no comércio de mais lhes agradavam por estarem envolvida com comércio.
comida de rua e da grande presença delas por toda capital cearense, não Dentre as escolhas que as levaram a adentrar em tal nicho de trabalho,
foram localizados trabalhos similares sobre o assunto. a predileção pela cozinha foi um fator determinante para essas
A presente pesquisa teve como objetivo principal documentar a vida de mulheres, que enxergaram nesse meio uma forma de ganhar dinheiro
mulheres que trabalham com a venda de comida nas ruas de Fortaleza. para completar a renda familiar com algo que gostam de praticar. Com
E mais especificamente, a pesquisa buscou identificar os motivos que exceção da entrevistada número 4, todas elas afirmaram que esse
levam o ingresso de 4 mulheres nesse mercado de trabalho, os papéis trabalho lhes proporciona realização profissional.
que a comida de rua assume em suas vidas e o quanto a venda dessas Sobre o financiamento inicial para o começar o próprio negócio, todas
comidas contribui para o orçamento familiar em seus lares. destacaram que o investimento não é necessariamente alto,
principalmente por utilizarem equipamentos domésticos, e que o
MATERIAL E MÉTODOS retorno é rápido. Todas as mulheres começaram apenas com o próprio
dinheiro, com exceção da entrevistada número 2, que teve ajuda do
O início da pesquisa se deu pela revisão bibliográfica do tema comida filho para a compra de alguns equipamentos. Tal observação condiz
de rua e alimentação fora do lar, em plataformas digitais de publicações com a afirmação de Dutra (8) de que o ingresso neste mercado
de periódicos e artigos científicos, como o Scielo, anais de congressos informal de trabalho é facilitado pelo pequeno aporte necessário e pelo
e seminários e portais de publicações de universidades. O trabalho de uso de equipamentos domésticos, operando em pequena escala.
campo teve a entrevista como principal técnica de coleta de dados. Na Foi unânime entre as vendedoras de pratinho a declaração de que as
entrevista, a relação que se cria é de interação, de troca mútua entre preparações produzidas para a venda não são feitas com frequência
entrevistado e entrevistador. A escolha pelo uso de entrevistas se deu para consumo próprio, sendo preparadas em casa exclusivamente para
pelo entendimento de que as entrevistas são essenciais quando se deseja os pratinhos, reforçando que, mesmo sendo consideradas comidas
investigar relações e práticas de um universo social específico (4). típicas da cultura alimentar cearense, a comida para venda não é do
O tipo de entrevista utilizada foi a não-estruturada, em que o cotidiano domiciliar alimentar das famílias. Apesar desta diferença
entrevistado possui maior liberdade para discorrer sobre o assunto entre comida de casa e comida de venda, todas as mulheres
abordado. Esse tipo de entrevista procura obter descrições e declararam ter o mesmo cuidado no preparo das comidas para venda
informações detalhadas sobre determinado problema sob o ponto de como se fosse “a comida de casa”. Tal afirmação reflete o pensamento
vista do entrevistado. Através de uma conversação guiada, o de Pertile (9) que destaca que a comida feita em casa remete a maior
entrevistado usa de suas próprias palavras para considerar os aspectos segurança alimentar e evoca um universo sensorial conhecido pelos
que considera mais relevante do assunto em questão (5, 6) sujeitos, mesmo que para cada um o termo “comida caseira” possua
A outra forma de coleta de dados foi a observação, que é a melhor forma diferentes representações.
de se aproximar da perspectiva do sujeito, um aspecto de grande Em relação a contribuição financeira, apenas a entrevistada número 4
importância em pesquisas qualitativas. A forma de observação não contribui com o orçamento familiar, dado que o dinheiro da venda
escolhida para a pesquisa foi a da observação não participativa, onde o dos pratinhos é apenas de uso pessoal. As outras três mulheres alegaram
pesquisador assume papel apenas de espectador do meio e objeto de que a renda oriunda das vendas é uma contribuição para orçamento da
estudo (5, 6). casa: as entrevistadas número 2 e 3 contam com proventos de outros

445
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

membros da família, enquanto a entrevistada número 1 possui outro 3. (ELOY, Antonia Lucia de Souza; REIS, Renata Ramos Vieira dos.
trabalho de meio período. A comida de rua como ferramenta na preservação dos alimentos
As últimas perguntas da entrevista eram relativas aos valores subjetivos tradicionais. In: Seminário Sobre Alimentos e Manifestações Culturais
que a comida e a venda de comida de rua possuíam nas vidas dessas Tradicionais, 1, 2012, São Cristóvão. Anais. Disponível em <
mulheres, o quanto e o que lhes foi agregado por estarem inseridas nesse https://drive.google.com/file/d/1FZIQJQ-
meio. A primeira entrevistada afirmou que o trabalho lhe proporciona DGA7iuQvLjiczz9RP41jPYX3I/view> Acesso em 10 mar 2019.
realização pessoal e profissional e que a satisfação dos clientes é o que 4. DUARTE, Rosélia. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar,
lhe motiva a se dedicar sempre mais. Já a entrevistada número 2, disse Curitiba, v. 20, n. 24, p.213-225, dez. 2004. Semestral. Disponível em:
que todas as etapas que envolvem seu trabalho lhe dão prazer, e que . Acesso em: 20 mar. 2019.
adora o movimento que a casa atrai nas noites de venda. A terceira 5. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação:
mulher entrevistada também destaca o carinho pelas amizades que o abordagens qualitativas. São Paulo: Epu, 1986.
comércio de comida de rua trouxe para sua vida e acrescenta que sente 6. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas.
muito orgulho em ser responsável pelo próprio sustento. Apenas a São Paulo: Atlas, 2011.
última entrevistada exprime certo descontentamento com o atual 7. FONSECA, Marcelo Traldi et al. Comida de Rua na Cidade de São
trabalho, declarando que o desgaste na profissão é muito grande e Paulo, SP: Uma Breve Descrição. Rosa dos Ventos: Turismo e
alegando que o pratica por falta de opções. hospitalidade, Caxias do Sul, v. 5, n. 2, p.311-318, jun. 2013.
É possível identificar muita simplicidade nas falas de todas as mulheres, Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2018.
que relatam seu trabalho com modéstia e naturalidade. A satisfação com 8. DUTRA, Rogéria Campos de Almeida. Comida de rua: estilo
o emprego não é unânime, porém é no mínimo é viável reconhecer o alimentar, temporalidade e sociabilidade nas ruas da cidade. In:
quanto a comida foi, e ainda é, transformadora nas vidas das mesmas, Encontro Anual da Anpocs, 36, 2012, Águas de Lindóia. Tópico
sendo por meio dela possível contornar situações de desemprego ou de temático. Disponível em < https://www.anpocs.com/index.php/papers-
descontentamento profissional. 36- encontro/gt-2/gt07-2/7917-comida-de-rua-estilo-alimentar-
Para essas mulheres, a comida de rua é provedora não apenas da renda, temporalidade-e-sociabilidade-nasruas-da-cidade/file>. Acesso em 27
mas também é responsável pelo contexto social em que estão inseridas, set. 2018.
aspecto avaliado positivamente entre todas as participantes da pesquisa. 9. PERTILE, Krisciê. Comida de rua: relações históricas e conceituais.
Além dos acréscimos pessoais, o trabalho dessas entrevistadas é Rosa dos Ventos: Dossiê Turismo e Gastronomia, S.i., v. 5, n. 2, p.301-
promotor da manifestação cultural-gastronômica da capital cearense. O 310, jun. 2013. Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2018.
trabalho de cozinheira possui uma jornada exaustiva, mas é
fundamental para essas mulheres alcançarem sua estabilidade e
independência financeira.

CONCLUSÕES

Através da pesquisa foi possível observar o quanto essas mulheres estão


envolvidas afetivamente e financeiramente com o trabalho que fazem,
no geral demonstrando muito orgulho em serem responsáveis pelo
próprio negócio e terem participação notável no orçamento familiar. A
comida de rua se mostrou para tais mulheres como possibilidade de
gerar sua renda mensal e ainda praticar algo que realmente gostam.
Podemos destacar a busca por maior qualidade de vida e a fuga do
desemprego como os principais motivos de ingresso nessa atividade. É
necessário pontuar que tal profissão é desgastante e como foi apontado
na pesquisa, nem toda mulher envolvida com esse comércio sente
prazer ao desenvolver esse trabalho. Apesar dos diferentes motivos que
levaram essas pessoas a aproximarem-se do mercado de comida de rua,
fica evidente o quanto ele é responsável por mudanças ocorridas nas
vidas dessas mulheres: ao redor desse comércio foram criadas novas
relações de amizade, assim como realização pessoal e profissional para
a maioria das entrevistadas.
Os resultados da pesquisa têm importante papel para o estudo da
gastronomia por aprofundar e dar ouvidos para as vivências das
mulheres responsáveis por essa manifestação gastronômica-cultural de
Fortaleza, muitas vezes invisíveis aos olhos da gastronomia pela
informalidade de seu trabalho.
A pesquisa foi desafiadora pelas dificuldades, inclusive pela
dificuldade em encontrar estudos sobre o tema, e instigante, por se tratar
de uma investigação sobre mulheres que são (re)produtoras de cultura
na capital cearense. A proximidade com essas mulheres permite
observar com precisão o quanto a comida pode ser transformadora e
quantos laços são estabelecidos ao seu redor, afirmando que se
alimentar é mais do que apenas nutrir-se, pois estabelece vínculos que
vão além da comercialização financeira ou do suprimento de nutrientes
necessários ao corpo. A carência de publicações com tal objeto de
estudo evidencia a pouca relevância que é atribuída para a prática,
porém, também deve motivar novas pesquisas e novos pesquisadores.

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA, Boaventura Cardoso Cordeiro de; ELOY, Antonia Lucia


de Souza. Comer fora de casa: o que se come na praça de alimentação
do shopping jequitibá e na praça otávio mangabeira em Itabuna-Bahia.
In: Seminário Sobre Alimentos e Manifestações Culturais Tradicionais,
1, 2012, São Cristóvão. Anais. Disponível em Acesso em: 10 mar 2019.
2. CARDOSO, Ryzia de Cassia Vieira; SANTOS, Sandra Maria
Chaves dos; SILVA, Edleuza Oliveira. Comida de rua e intervenção:
estratégias e propostas para o mundo em desenvolvimento. Ciência e
Saúde Coletiva, [S.l.], v. 14, n. 4, p.1215-1224, ago. 2009. Bimestral.
Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2018.

446
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cultura entomofágica no Oriente: uma revisão sobre o consumo de insetos por indianos e
tailandeses
Antonio Araujo-Filho¹, Carlos Alves2, Larissa Araujo2, Rafael do Amaral3, Paulo Sousa4
1
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, antonioaugusto.laf@gmail.com;
2
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará;
3
Professor do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará;
4
Professor Doutor do Curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.

Palavras-chave: medicina tradicional, controle de pragas, subsistência, cupins, formigas.

das condições vegetais associadas a estas configurações. Oecophylla


INTRODUÇÃO smaragdina, localmente conhecida como tonge ou babuk, tem seus
formigueiros coletados de maneira integral, direto da árvore onde se
A Entomofagia é a prática de alimentar-se de insetos. Seres constroem, e então são mergulhados em água para a separação das
vivos com hábitos entomofágicos estão distribuídos em várias classes formigas e das folhas que estruturam o ninho. As formigas preferidas
do reino Animalia, sejam eles anfíbios, répteis, aves ou mamíferos. Nós, pela população são as adultas ou as que ainda estão em estágio larval,
humanos, estamos incluídos na listagem, ainda que esta temática seja podendo ser consumidas cruas ou em forma de chutney quando
bastante estranha para boa parte da sociedade. misturadas a especiarias e pimentas [9].
Os insetos foram inseridos na dieta humana há milênios e Já os cupins, ou takmin, são coletados nas revoadas da época
seus registros perpassam inúmeros povos e tempos diferentes [1, 2, 3]. de chuva, de maio/junho até outubro. Sua captura acontece de maneira
Contudo, segundo van-Huis et al. [4], a prática foi deixada de lado interessante: os insetos são atraídos por armadilhas de luz e, ao tocarem
conforme a vida nômade foi substituída pela sedentária e os produtos nela, sofrem um choque elétrico e caem em um recipiente com água
agropecuários foram relacionados à urbanização e modernização, tidas posicionado logo abaixo da lâmpada. A depender da tribo, eles podem
como socialmente positivas, diferente dos hábitos rurais que passaram ter consumidos integralmente ou apenas suas cabeças, crus ou tostados
a ser vistos como “comportamentos primitivos”. Amar [5] [9].
complementa com um detalhe importante: o abandono da Entomofagia Outros autores já relatam a presença de insetos na dieta da
deu-se de maneira muito mais intensa em países que sofreram maior população de outros estados indianos. Srivastava, Babu e Pandey [10]
“ocidentalização”, ou seja, aqueles que tiveram suas culturas invadidas descrevem o consumo de grilos, formigas vermelhas, larvas de bicho da
por valores de países europeus com altas taxas de industrialização. seda e gafanhotos em Nagaland, no nordeste do país. Estes últimos, em
Assim, a Entomofagia tendeu a ser preservada em países tropicais, especial, são mais extensivamente discutidos. Eles são coletados à
especialmente aqueles do Sul e Sudeste da Ásia. noite, após a colheita de arroz, e têm suas asas e pernas removidas, às
A presente revisão tem como objetivo buscar entender como vezes o torso também, e são tostados antes do consumo. Podem ser
as práticas entomofágicas são expressas entre as populações da Índia e temperados com uma mistura de óleo vegetal e ingredientes como
da Tailândia, ambos países do Oriente. Serão feitas revisões gengibre, alho, pimenta, cebola e sal. Os autores dizem, ainda, que
bibliográficas afim de coletar e reunir informações sobre as espécies de existem pessoas alérgicas ao gafanhoto.
insetos mais populares, sua aceitação, as regiões onde mais são O uso de insetos na medicina tradicional indiana também já
consumidas, eventuais valores culturais relacionados e demais foi relatado na literatura. Diversas tribo de Kerala, no extremo sul do
informações de valor. país, usam abelhas (e o mel delas), cupins, vespas, formigas, grilos e
besouros para os mais diversos tratamentos de enfermidades, como
MATERIAIS E MÉTODOS úlceras, anemia, malária, conjuntivite, asma, resfriados e dores nas
costas [11, 12].
O artigo foi elaborado a partir de consultas à materiais já A Tailândia, por sua vez, tem mais da metade da sua
publicados tais como livros, revistas e periódicos relacionados à população concentrada no Norte e no Nordeste do país, sendo também
temática e cuja leitura pudesse solucionar os problemas emersos. as suas regiões mais pobres. A topografia, a qualidade do solo e a má
Prodanov [6] define essa metodologia como bibliográfica e acrescenta, distribuição de água na área dificultaram muito o desenvolvimento da
ainda, que é parte da pesquisa do tipo exploratória uma vez que “[...] agropecuária, fazendo com que a população sofra ainda hoje com o
tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto, abastecimento de leite, carne ou ovos. Dessa maneira, o consumo de
[...] possibilitando sua definição e seu delineamento”. Por fim, o insetos foi estabelecido na região há alguns séculos, uma vez que estes
trabalho também tem caráter qualitativo, pois, ainda de acordo com eram abundantes e fáceis de capturar, tornando-se uma fonte
Prodanov [6], o ambiente é fonte direta dos dados e estes serão importantíssima de proteínas para seus residentes [13, 14, 15].
analisados indutivamente, não sendo necessárias técnicas estatísticas. Hoje, são conhecidas pelo menos 194 espécies de insetos
comestíveis na Tailândia e seu consumo é distribuído por todo o país,
RESULTADOS E DISCUSSÃO variando de acordo com a região, hábitos culturais e práticas religiosas
[16]. van-Huis et al. [4] apontam os movimentos migratórios do país,
A Índia é o sétimo maior país do mundo e conta com uma entre áreas de trabalho rual (norte-nordeste) e de turismo (sul), como
enorme biodiversidade, abrigando cerca de 45 mil espécies de plantas e responsável pela disseminação da prática integralmente no espaço
81 mil espécies de animais [7]. Diferentes tribos nativas, ao redor de nacional.
todo o país, dependem diretamente desses biomas para sobreviver todo A Entomofagia foi tão bem estabelecida entre os tailandeses
dia. Nessas espécies, também estão incluídos os insetos. Já foram que suas práticas foram elevadas para além do seu estilo de vida ou
catalogados pelo menos 255 tipos desses artrópodes comestíveis, sendo hábitos culturais: tornaram-se uma ferramenta contra pragas
os principais, em ordem decrescente, os besouros (coleópteros, 34%), ambientais. Hanboonsong [14] relata um episódio interessante onde
grilos e gafanhotos (ortópteros, 24%), cigarras e cochonilhas houve um surto de gafanhotos (Patanga succinta L.) pelo país na
(hemípteros, 17%) e abelhas e formigas (himenópteros, 10%) [8]. década de 70 que ameaçou devastar as plantações de milho. Diferentes
Uma revisão sistemática feita por Chakravorty [8], resultou técnicas de controle de pragas foram aplicadas, inclusive aspersão aérea
em levantamento entno-entomofágico dos estados indianos, inclusive de inseticidas, mas nenhuma surtiu efeito. Foi então que o governo
quantificando as espécies conhecidamente consumidas em cada região. tailandês passou a promover uma campanha para consumo de P.
Os estudos apontaram hábitos entomofágicos em 11 dos 29 estados succinta, ao ensinar à população métodos de cocção do inseto (fritura
indianos, sendo Arunachal Pradesh a região com maior índice de insetos por imersão, moagem para formação de farinha e fermentação para
comestíveis registrados, tendo 117 espécies a mais que os segundos produção de molho similar ao de peixe). Atualmente, o gafanhoto
colocados (Nagaland e Manipur). conhecido como patanga, frito por imersão, é um dos pratos
Arunachal Pradesh é um estado que localizado na província entomofágicos mais populares da Tailândia. Consumo humano como
indiana ao leste, aos pés do Himalaia. Sua alta variação topográfica é controle de pragas foi também utilizado para a larva do escaravelho
sugerida como principal razão para a alta biodiversidade presente, vermelho (Cyrtotrachelus dochrous, praga para palmeiras), o “verme
inclusive de insetos, por agregar climas tropicais e temperados, além

447
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

do bambu” (Omphisa fuscidentalis) e a “broca da cana de açúcar” 14. HANBOONSONG, Y. Edible insects and associated food habits
(Chilo tumidicostalis). in Thailand. Food and agriculture organization of the united nations:
Hanboonsong et al. [17] conduziu uma série de regional office for asia and the pacific. Bangkok, 2010.
questionários entre tailandeses para entender melhor os motivos pelos 15. GOLDIN, Stacie. Eating Insects in Thailand. 2016. Disponível
quais eles consumiam insetos. Os resultados mostram diversas em: <http://entomofarms.com/eating-insects-in-thailand/>. Acesso
justificativas positivas, sugerindo ótima aceitação entre os comensais. em: 01 dez. 2018.
Entre 75% dos participantes, insetos como sendo “saborosos” foi a 16. SIRIMUNGKARARAT, S.; SAKSIRIRAT, W.; NOPPARAT,
resposta mais obtida, seguida de “petiscos”, “ingredientes em refeições T.; NATONGKHAM, A. Edible products from eri and mulberry
cozidas”, “remédio tradicional” e “tempero para comida”. silkworms in Thailand. Food and agriculture organization of the
A homepage oficial da cidade de Phuket, localizada na united nations: regional office for asia and the pacific. Bangkok,
província homônima na costa oeste da Tailândia, designa uma área 2010.
especial apenas para a divulgação de pratos clássicos com insetos que 17. HANBOONSONG, Y., Rattanapan, A., Utsunomiya, Y. &
podem ser encontrados pela cidade, especialmente como comida de rua Masumoto, K. Edible insects and insect-eating habits in northeastern
nas feiras livres. Para citar alguns: kai mod daeng (ovos de formigas Thailand. Food and agriculture organization of the united nations:
vermelhas, servidos como uma salada, tem sabor levemente azedo), rod regional office for asia and the pacific. Bangkok, 2000.
duan (larvas do bambu, muito comum entre a população local, é servida 18. PHUKET. Eating Insects in Phuket: Phuket's edible bugs. 2018.
frita e tem sabor residual de queijo), tua duang (larva do escaravelho Disponível em: <http://www.phuket.com/magazine/eating-
vermelho, servida assada ou crua, tem consistência de carne e sabor insects.htm>. Acesso em: 01 dez. 2018.
semelhante ao bacon) [18].

CONCLUSÃO

A entomofagia é bastante difundida na Índia e na Tailândia,


contando com muitas espécies de insetos consumidas, que podem ainda
ter emprego medicinal. Os métodos de cocção e as preparações criadas
com os insetos podem ser muitas, que vão desde molhos até saladas,
mostrando a criatividade e a versatilidade dos países orientais ao tratar
da inserção de insetos na sua alimentação.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos à Universidade Federal do Ceará pelo


apoio durante a disciplina de Cozinha Oriental do Bacharelado em
Gastronomia.

REFERÊNCIAS

1. ROMEIRO, E. T.; OLIVEIRA, I. D.; CARVALHO, E. F. Insetos


como alternativa alimentar: artigo de revisão. Contextos da
Alimentação. São Paulo, v. 4, n. 1, 2015.
2. BUGS: a gastronomic adventure. Direção de Andreas Johnsen.
Dinamarca: Sigrid Dyekjær, 2016. (73 min.), son., color. Disponível
em: <https://www.netflix.com/br/title/80108610>. Acesso em: 16
jun. 2018.
3. EVANS, J. et al. ‘Entomophagy’: an evolving terminology in need
of review. Journal Of Insects As Food And Feed, [s.l.], v. 1, n. 4,
p.293-305, 2015.
4. van-HUIS, A., et al.. Edible insects: Future prospects for food and
feed security. Food and Agriculture Organization of the United
Nations. Roma, 2013.
5. Amar, Z. 2003. The Eating of locusts in Jewish tradition after the
Talmudic period. The Torah u-Madda Journal, 11: 186–202.
6. PRODANOV, C. C. FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho
científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico.
Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2013.
7. MoEF. Biodiversity country studies, strategies and action plan.
Ministry of Environment and Forests, Government of India. Déli,
1994, p. 48.
8. CHAKRAVORTY, J. Diversity of Edible Insects and Practices of
Entomophagy in India: an overview. Journal Of Biodiversity,
Bioprospecting And Development, [S.L.], v. 01, n. 03, 2014.
9. CHAKRAVORTY, Jharna et al. Nutritional and anti-nutritional
composition of Oecophylla smaragdina (Hymenoptera: Formicidae)
and Odontotermes sp. (Isoptera. Journal Of Asia-pacific Entomology,
[s.l.], v. 19, n. 3, p.711-720, set. 2016.
10. SRIVASTAVA, S. K.; BABU, N.; PANDEY, H. Traditional
insect bioprospecting – As human food and medicine. Indian Journal
of Tradicional Knowledge. India, 2008.
11. WILSANAND, V. Utilization of termite, Odontotermes
formosanus by tribes of South India in medicine and food. Explorer:
article. India, 2005.
12. WILSANAND, V.; VARGHESE, P.; RAJITA, P. Therapeutics
of insects and insect products in South Indian traditional medicine.
Indian Journal of Tradicional Knowledge. India, 2007.
13. YHOUNG AREE, Jintana; PUWASTIEN, Prapasri; ATTIG,
George A.. Edible insects in Thailand: An unconventional protein
source?. Ecology Of Food And Nutrition, [s.l.], v. 36, n. 2-4, p.133-
149, set. 1997.

448
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Palha Italiana: Origens E Substituição De Leite Fresco E Açúcar (In Natura) Por Leite
Condensado Na Doçaria Tradicional Brasileira.
Bruno Decker1, Cristianne Barros2

1. Pós-graduando em Confeitaria pela Faculdade SENAC Pernambuco


2. Mestranda em Ciência da Educação, Docente em Gastronomia na Faculdade SENAC Pernambuco
E-mail: brunofrd@gmail.com

Palavras Chave: Doces, Salame de chocolate, Cultura alimentar, Doces italianos e portugueses.

INTRODUÇÃO Estes povos, chegando ao Brasil, interpretaram os ingredientes que aqui


encontraram, preservando as receitas que traziam na memória. (7)
Em uma de suas edições, na última década do século XX, o Jornal do
Brasil mostrava — em seu caderno de domingo — uma extensa matéria O salame de chocolate compartilha aspectos comuns com a palha
celebrando os cinquenta anos de criação de um apreciado doce italiana, entre eles estão o uso de chocolate, biscoito doce triturado
brasileiro: O brigadeiro. E, ainda, revelava as circunstâncias que grosseiramente e manteiga. (8)
propiciaram a concepção desse doce: Escassez de produtos — após a
segunda grande guerra — como leite fresco, ovos, amêndoas e açúcar, Mas diferem no formato — a palha italiana corta-se em quadrados (9)
fundamentais no feitio dos doces. Nessa situação, calhou de alguém — e no uso de ingredientes distintos, como é o caso do leite condensado
levar ao fogo o leite condensado acompanhado de chocolate em pó e (empregado no feitio da palha italiana) e o uso do açúcar (in natura) e
manteiga, originando, assim, o brigadeiro. (1) dos ovos, no preparo do salame de chocolate.

A doçaria tradicional brasileira, dos tachos repletos de frutas e açúcar Observa-se que, atualmente, em livros e revistas de culinária, sites de
— que por influência da colonização portuguesa, tem sua base nos receitas, aulas on-line ou cursos livres, o doce feito de brigadeiro,
doces conventuais europeus (2) — antecede o advento do leite biscoito doce e açúcar popularizou-se com o nome de palha italiana.
condensado. Eram as grandes quantidades de ovos, açúcar e oleaginosas Mas segundo registro no livro “O grande livro da cozinha maravilhosa
que conferiam valor e complexidade a doçaria brasileira da época. (1) de Ofélia” (9) o nome designado para este doce, há praticamente três
décadas atrás, era “Palha à italiana”. Este “detalhe” ortográfico “à” (a
Inicialmente, o leite condensado não era visto como matéria-prima para letra ‘a’ craseada) amplia o entendimento e a investigação acerca da
a preparação de doces. Ele era uma alternativa, para conservar o leite origem desse doce.
— importante alimento, principalmente, para as crianças — por um
tempo maior, em uma época em que ainda não existia geladeira no OBJETIVOS
Brasil. (3)
O objetivo do trabalho é compreender as origens do doce comumente
Aderindo a recomendação governamental, devido à escassez de alguns chamado de palha italiana, relacionando o seu surgimento ao advento
produtos alimentícios no Brasil — sobretudo do leite fresco — em do leite condensado em território brasileiro e a cultura alimentar
meados do século XX, no período que entende-se como pós-guerra, o europeia.
leite condensado — na carência do leite fresco — passa a ser
introduzido no cotidiano alimentar dos brasileiros, fomentando a MATERIAL E MÉTODOS
diversificação do seu uso. (1)
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, com abordagem
Com o passar do tempo, o leite condensado — que anteriormente era descritiva. Utilizando fontes de pesquisas primárias e secundárias, tais
utilizado para complementar a alimentação infantil — deixa de ser, como artigos científicos, monografias, projetos de pesquisa, manuais
apenas, uma opção para a falta do leite (in natura) e passa a ser técnicos e livros de gastronomia, buscou-se, na produção literária,
reconhecido, e utilizado, como matéria-prima para a confecção de reunir materiais que atendessem aos questionamentos principais citados
doces. (1) nos objetivos do presente artigo.

O leite condensado oriundo de uma vasta concentração de açúcar se RESULTADOS E DISCUSSÃO


torna essencial para a elaboração de bombons, pudins, nos recheios e
coberturas de doces e tortas (3) A palha italiana vem se popularizando no Brasil ao longo da última
década e parece estar presente nas cinco regiões do Brasil. Quanto a sua
É a partir desse contexto, da implementação do leite condensado na origem, parece remontar ao sudeste — ou sul — do país. Mas de fato,
confeitaria, que se torna possível, também, o surgimento do doce são escassos os registros que possam ser validados cientificamente.
chamado de palha italiana1 (4), que tem como sua base o tradicional
brigadeiro. (1) Existe muita especulação em torno do seu nome de “batismo”, com
facilidade pode-se encontrar (em sites, blogs e afins) explicações
Consta, no periódico O Cruzeiro (1949) — em seção assinada por duvidosas acerca dele e, também, informações pouco precisas no que
Helena B. Sargandi — o primeiro registro da receita que leva o nome diz respeito a origem do nome “palha italiana”; que parece não ser
de brigadeiro2. (1) passível de comprovação.

Mas a palha italiana não é fruto apenas do brigadeiro e da popularização Quanto ao termo “italiana” parece uma contração natural da língua,
do leite condensado na confeitaria. A palha italiana, constituída aonde, com o passar dos anos, o “à” (a craseado) foi suprimido na
tradicionalmente de brigadeiro, biscoito doce e açúcar, parece ter sua linguagem falada e posteriormente, possivelmente, tenha caído em
origem em um doce europeu, presente tanto na cultura alimentar desuso, também, na escrita. O “à” que anteriormente denominava “à
portuguesa quanto na italiana. Chamado, respectivamente, de “salame moda” (à moda italiana), caiu em desuso, abrindo caminho para a
de chocolate3” (5), em Portugal e de “Salame ao cioccolato” (6), na “Palha à italiana” (8) tornar-se “Palha italiana”. E é essa pequena
Itália. mudança na grafia do nome desse doce que parece acarretar no
entendimento, equivocado, de que ele é originário da Itália.

1
“Palha Italiana (cul): doce brasileiro feito com leite condensado,
chocolate em pó, biscoito doce triturado e manteiga. ” (4) 3
“Ingredientes para o salame de chocolate - 2 Chávenas de chocolate
2
“Ingredientes – 2 latas de leite condensado – 2 colheres (sopa) bem em pó - 2 Chávenas de açúcar - 4 Ovos - Meio pacote de manteiga - 3
cheias de chocolate em pó – chocolate granulado ou confeitos Pacotes de bolachas.” (3)
coloridos.” (1)

449
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Já em relação ao termo “palha” não foram encontradas informações


legitimadas que possam corroborar as informações disponíveis na
internet (em sites e blogs) de que o termo estaria diretamente ligado a
película da amêndoa que (no que parece uma explicação fantasiosa) no
preparo do doce, era desprezada, criando assim, um excedente de
película de amêndoa — que foi associada a imagem da palha do milho
— e acabou por identificar o doce pelo nome de “Palha italiana”.
Algumas informações mostram-se especulativas, e contraditórias, ao
sugerir levianamente que a palha italiana seria uma simples adaptação
do salame de chocolate, e que este levava amêndoas no seu feitio; e no
Brasil substitui-se as amêndoas por biscoito doce.
CONCLUSÕES
Agora, se as amêndoas foram substituídas por biscoito, não parece
verossímil sustentar a “teoria” de que um subproduto da amêndoa (no Constatou-se, através do presente trabalho de pesquisa, que o doce
caso, a película) tenha dado origem ao nome do doce. chamado de “palha Italiana” não é originário da Itália — mas carrega
em seu “dna” características que podem ser encontradas, também, no
Mas o fato dessas informações (ainda que duvidosas ou contraditórias) doce europeu (italiano e português) conhecido por “salame de
existirem, e uma gama de confeiteiros (as) e consumidores alimentarem chocolate”. O surgimento da palha italiana, no Brasil, pode ser
essas informações, demonstra a popularização da palha italiana no atribuído, entre outros fatores, a escassez do leite fresco — em meados
território brasileiro. De norte a sul, leste a oeste, a palha italiana vai do século XX —, a implementação, e consolidação, do leite condensado
ganhando espaço na mesa do brasileiro. na categoria de ingrediente culinário, ao surgimento do doce chamado
de brigadeiro — matéria-prima para a confecção da palha italiana — e
Composta, inicialmente, pelo brigadeiro tradicional (leite condensado, a imigração europeia; tanto dos italianos — aos quais o nome do doce
chocolate em pó e manteiga), biscoito doce (tipo maisena) e envolta em faz alusão — que ao chegar no Brasil tiveram que adaptar-se aos
açúcar, atualmente, a palha italiana assume os mais diversos sabores, ingredientes disponíveis para o consumo, quanto aos colonos
através da combinação de brigadeiros e biscoitos variados. portugueses que imprimiram no paladar do brasileiro o gosto pelo doce.

Como observado, anteriormente, através da literatura, na introdução do REFERÊNCIAS


presente trabalho, uma série de fatores convergiram para o surgimento
da palha italiana. 1. MEIRELLES, Pedro von Mengden. “O mais popular dos doces
brasileiros”: história crítica do brigadeiro. Aedos, Porto Alegre, v. 11,
A escassez do leite fresco converteu o leite condensado em ingrediente n. 25, p. 330-354, 2019. Semestral. Disponível em:
indispensável para a confeitaria. https://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/88452. Acesso em: 30 ago.
2020.
O advento do leite condensado na confeitaria fez surgir o brigadeiro,
que rapidamente consolidou-se como um doce indispensável nas mesas 2. LODY, Raul (Org.). Dicionário do Doceiro Brasileiro. São Paulo:
de festas e comemorações. Senac São Paulo, 2010. 325 p.

A colonização, e cultura portuguesa, com sua doçaria carregada de 3. PERRELA, Ângelo Sabatino; PERRELA, Miryan Castanheira.
açúcar e ovos, imprimiu no paladar do brasileiro o gosto pelo doce. Receitas Históricas da Confeitaria Mundial. São Paulo: Editora
SENAC, 2016. 318p.
A imigração italiana para o Brasil, no século XX, especialmente para
as regiões sul e sudeste, trazendo na bagagem uma cultura gastronômica 4. PALHA. Dicionário online do Michaelis, 31 ago. 2020. Disponível
riquíssima, parece ter encontrado nos insumos disponíveis para o em < https://michaelis.uol.com.br >. Acesso em 31 ago. 2020.
consumo, no Brasil da época, dificuldades e possibilidades que
convergiram para a criação de doces brasileiros “à italiana” (à moda 5. PIMENTA, Bárbara Raquel Gomes. Relatório de estágio de
italiana). mestrado. 2012. 200 f. - Dissertação (Mestrado em Educação Pré-
Escolar e Ensino do 1° Ciclo do Ensino Básico) - Universidade da
As imagens, a seguir, mostram o salame de chocolate (europeu) e a Madeira, Funchal, 2012. Disponível em:
https://repositorio.uma.pt/bitstream/10400.13/1601/1/MestradoB%c3
palha italiana (brasileira), evidenciando a semelhança entre eles. Os
%a1rbaraPimenta.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020.
formatos se distinguem, quando observada apenas a parte externa.
Observando a palha italiana e o salame de chocolate externamente, eles 6. SILVA, Greice Mara Marques da; CONFORTIN, Helena.
pouco se parecem. Mas é na parte interna, quando se cortam, ambos os CULTURA ITALIANA: estudo comparativo - descritivo da culinária
doces, que as semelhanças se revelam. italiana da itália e da culinária italiana do Brasil. Perspectiva, Erechim,
v. 39, n. 148, p. 33-45, dez. 2015. Trimestral. Disponível em:
Figura 01: Salame de chocolate4 (aspecto externo e interno) http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/148_531.pdf. Acesso
Fonte: Acervo pessoal do autor em: 30 ago. 2020.

7. LODY, Raul. Vocabulário do açúcar: histórias, cultura e gastronomia


da cana sacarina no Brasil. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
200 p.

8. BETTENCOURT, Mariana Costa. Educação Financeira e


Matemática: proposta didática para alunos do 3.º e 4.º anos de
escolaridade. 2019. 184 f. Dissertação (Mestrado em EPE e Ensino do
1º CEB) - Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Viana do Castelo,
2019. Disponível em:
http://62.28.241.119/bitstream/20.500.11960/2306/1/Mariana_Bettenc
Figura 02: Palha italiana tradicional5 ourt.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020.
Fonte: Acervo pessoal do autor
9. ANUNCIATO, Ofélia Ramos. O grande livro da cozinha
maravilhosa de Ofélia. São Paulo: Melhoramentos, 1993. 536 p.

4
Ingredientes: Biscoito doce, Chocolate em pó, Manteiga, açúcar e 5
Ingredientes: Leite condensado, biscoito doce, chocolate em pó,
ovos. manteiga e açúcar (apenas para envolver).

450
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Telúrico Doce: Um Olhar Acerca do Açúcar e do Legado Cultural que Ele Confere ao
Nordeste Brasileiro.

Bruno Decker1, Cristianne Barros2

1. Pós-graduando em Confeitaria pela Faculdade SENAC Pernambuco


2. Mestranda em Ciência da Educação, Docente em Gastronomia na Faculdade SENAC Pernambuco
E-mail: brunofrd@gmail.com

Palavras Chave: Sociologia do alimento; Doçaria nordestina; Cana sacarina; Identidade cultural

INTRODUÇÃO mercadológicas, mas, também, pelas ciências humanas, como a


sociologia, a história e a filosofia.
O doce — a comida doce — sempre teve um lugar de destaque nos
cadernos de receitas de família (1) . O açúcar, sinônimo de doçura e É possível, observar, através da literatura, a importância que o açúcar
delicadeza, assume em sua trajetória tanto o papel do herói quanto o assume para a sociologia da doçaria nordestina. A bibliografia é rica,
papel do vilão. Ao longo dos séculos o açúcar seduziu o mundo, em conteúdos que apresentam, nos mais variados contextos, questões
tornando-se alvo de disputas e conquistas, símbolo de poder e riqueza que permeiam a realidade em torno da cultura da cana-de-açúcar (cana
(2). O açúcar foi decisivo na “construção” do Brasil. Pde. Antônio sacarina).
Vieira, no século XII, observou a importância do açúcar no território Através da predominância da lavoura de cana-de-açúcar e da indústria
brasileiro — como, também, a importância que o escravo negro açucareira no Nordeste, a região torna-se solo fértil para o surgimento
assumia na produção desse açúcar. Portanto, é justificável que o e a criação da arte de doces no Brasil.
açúcar tenha influenciado o paladar do brasileiro, despertando seu E os valores dessa “doçaria brasileira” foram erguidos sobre três
interesse por bolos e doces de toda a espécie. Sobretudo na região pilares — Três culturas: Europeia, ameríndia e africana. E a mistura
Nordeste, onde houve a predominância dos engenhos de açúcar dos costumes arraigados dessas três maneiras tão distintas de olhar e
introduzidos pelo colono português (3). pensar a comida, o doce, fez nascer essa doçaria genuinamente
Certamente, o brasileiro aprecia, e identifica-se, com o sabor dos nordestina. No nordeste brasileiro, açúcar, frutas e tachos produziram
alimentos doces (4). O açúcar influenciou tanto a vida dos brasileiros uma gama de doces — que seduziam o paladar de quem os provasse
que passou a compor, também, a cultura do seu povo. (1) — dos quais muitos deles ainda fazem parte do nosso dia a dia, como
Principalmente no Nordeste — reconhecido, historicamente, como é o caso da goiabada, da cocada e da própria rapadura. Outros doces
núcleo da produção açucareira (5). tradicionais, atualmente, não estão mais em voga, estão caindo no
No livro “Açúcar” — Originalmente lançado no ano de 1939 — o esquecimento ou são pouco conhecidos, como é o caso do alfenim
autor reconhece a região Nordeste como área, predominante, do (também chamado de bala de coco), da marmelada e das castanhas
açúcar e constata que o Nordeste firmou-se econômica e socialmente confeitadas.
através da cultura da cana-de-açúcar. (3) Alguns doces saem de moda e tempos depois retornam as mesas, as
Observa-se, através de documentação alfandegária, que em vitrines e as bocas; outros permanecem com seu esplendor inalterado
Pernambuco, na primeira metade do século XVI já existia produção de (tornando-se símbolo de valor, riqueza e prosperidade — como foi
açúcar — e exportação de açúcar para Portugal. (3) inicialmente a própria história do açúcar, o “ouro branco”),
Durante os séculos XVI e XVII, Pernambuco teve a maior produção infelizmente alguns deles se perdem, ou modificam-se, com o passar
mundial de açúcar. Esse açúcar gerou tanta riqueza para a aristocracia do tempo, nos cadernos esquecidos de receitas de famílias e nos
açucareira que Tobias Barreto (1839 – 1889) chamou-a de segredos das receitas guardadas “as sete chaves”. Mas a doçaria em si,
“açucarocracia”. (6) não parece sair de moda, muito pelo contrário, desde o início do
O açúcar — indispensável para a doçaria brasileira — foi introduzido cultivo da cana de açúcar no Brasil, não são apenas quinhentos anos
pelo colono português. Na cultura indígena, antes da chegada dos do descobrimento, são cinco séculos de arte e doces — arte em doces
portugueses, o sabor doce era conferido pelo mel de abelha. (6) — no Nordeste.
O doce brasileiro revela um percurso que, a princípio, encontra-se nas Arte essa, que carrega outras artes consigo, que pode (cada vez mais)
cozinhas tradicionais dos engenhos do Nordeste. (7) ser comparada as artes plásticas, como a pintura e a escultura; e
A doçaria nordestina — que tem a sua base nos doces conventuais também, a arquitetura, e que traz consigo símbolos carregados de
europeus (1) — formou-se através da união, e da mescla, de aspectos história. A nossa própria história, e também a história de outros povos,
da cultura alimentar portuguesa, indígena e africana (6). Compete ao de outras culturas mescladas a nossa cultura. E quem nega o
Nordeste a vanguarda da doçaria brasileira (3). O açúcar no Nordeste significado histórico e social das artes — e da ciência — como parte
é sinônimo de tradição, cultura alimentar, confecção de doces, dos significativa da expressão de um povo? “E quem hoje ignora o
mais variados doces e com elevado teor de dulçor. (7) significado sociológico de doces ou quitutes como expressão de uma
cultura regional ou nacional? ” (3)
OBJETIVOS
Portanto, é possível observar que, a arte do açúcar e a ciência do
O objetivo do trabalho é compreender a relevância que o açúcar açúcar, tiveram — e ainda tem têm — um papel bastante significativo
assume, historicamente, na construção da identidade cultural, e no Brasil, no nordeste brasileiro; “Sem açúcar não se compreende o
alimentar, da região nordeste do Brasil. homem do Nordeste. ” (3)

MATERIAL E MÉTODOS Surgiu no Nordeste, da região que compreende a Bahia até o


Maranhão — região onde predominava a cultura da cana — uma
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, com abordagem gama de bolos e doces, dos mais variados e distintos sabores. Bolos
descritiva. Utilizando fontes de pesquisas primárias e secundárias, tais que trazem em seus nomes, os nomes das famílias tradicionais da
como artigos científicos, monografias, projetos de pesquisa, manuais região, de datas festivas nacionais, alusões a igreja com nomes de
técnicos e livros de gastronomia, buscou-se, na produção literária, padres, santos e festas religiosas; e também bolos que carregam o
reunir materiais que atendessem aos questionamentos principais nome de estados da região nordeste. Pode-se constatar, então, que
citados nos objetivos do presente artigo. esses bolos não existiram apenas como “simples” alimento, mas
constituem, também, um importante sentido social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No livro “Açúcar” (1) pode-se observar, ao longo de mais de cento e
O açúcar, o doce — a doçaria — e tudo o que está envolvido nos cinquenta páginas, diversas receitas desses bolos, como: “Bolo
processos relacionados a eles, direta ou indiretamente, constitui um Guararapes”, “Bolo Fonseca Ramos”, “Bolo Sousa Leão” (em três
vasto campo a ser explorado, não apenas pelas ciências do sabor e versões), “Bolo Treze de Maio”, “Bolo Republicano”, “Bolo D. Pedro
II”, “Bolo Luís Filipe”, “Bolo divino”, “Bolo do Padre João”, “Bolo

451
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

São Bartolomeu”, “Bolo de São João”, “Bolo Paraibano”, “Bolos Freyre, a doçaria nordestina é emblemática e representativa. Uma
Fritos do Piauí”, “Bolo de Rolo Pernambucano” e muitos outros. É bandeira que se estende sob o céu aos olhos de todos — sobre as
interessante observar que bolos como o “Sousa Leão” e o “Bolo de mesas. A bandeira da nossa história: A história do doce genuinamente
Rolo” (e ainda outros) permanecem até hoje “vivos” na cultura e nas brasileiro.
mesas dos pernambucanos, enquanto que muitos dos bolos ali citados
caíram no esquecimento. CONCLUSÕES

Como sugerido no início deste texto, são amplas as direções que Constatou-se, através do presente trabalho de pesquisa, a importância
tangem a cultura da cana-de-açúcar. Desde a doçaria em si; a do açúcar na construção histórica, econômica e social do Brasil.
soberania das mulheres na doçaria nordestina, da época colonial até o Sobretudo na região Nordeste do país — onde predominava a
século XIX quando, então, começou a aparecer a figura do “homem abundância, tanto de engenhos de cana-de-açúcar, quanto do teor de
doceiro” (1); a diminuição da procura por doces regionais em virtude açúcar presente nos doces. O açúcar conferiu um legado indenitário ao
do aumento da oferta de doces de toda a espécie; a substituição, por povo do Nordeste e a sua doçaria, visto que, ainda hoje, a doçaria
parte da população, dos doces “caseiros” (feitos em casa) pelos doces nordestina conserva, na sua identidade, a inclinação pelos doces de
industrializados, seja pelo barateamento desses doces ou, também, elevado dulçor.
pelo aumento da oferta de doces produzidos para consumo fora do
domicílio, por exemplo: Em confeitarias, cafés, padarias, praças de REFERÊNCIAS
alimentação, etc. — resultando até em uma mudança na própria
relação do indivíduo com o açúcar, que no passado destinava 1. LODY, Raul (Org.). Dicionário do Doceiro Brasileiro. São Paulo:
determinada quantia do seu ganho mensal para compra de açúcar e Senac São Paulo, 2010. 325 p.
hoje migrou “do consumo de açúcar in natura para o açúcar contido
em produtos industrializados” (8), o que, por consequência, reflete na 2. LODY, Raul (org.). Seminários Comida & Identidade: 2010,
indústria do doce, com o surgimento de uma imensa gama de produtos 2011, 2012, 2013. Recife: Senac Pernambuco, 2016. 105 p.
“food service” — que transbordam das prateleiras do supermercado e
das lojas especializadas — disponíveis para serem usados na 3. FREYRE, Gilberto. Açúcar: Uma Sociologia Do Doce, Com
confecção dos “novos” doces. Receitas De Bolos E Doces Do Brasil. São Paulo: Global, 2007. 271
Outro aspecto de grande importância, e que não deve cair no p.
esquecimento, é a hierarquia do doce: A economia açucareira e o seu
“modus operandi”, tão significativo para o surgimento do doce com 4. LODY, Raul. Doce Pernambuco: uma viagem pela memória
identidade nacional (regional e local) quanto para a sociologia do doce histórica e cultural da doçaria pernambucana. Recife: Cepe, 2019. 255
brasileiro1 — “Condicionada pela realidade da escravidão” (1) — p.
baseado, sobretudo, na exploração da mão de obra do escravo africano
— uma ferida ainda aberta na história do Brasil. Sem o escravo negro 5. Frazão, Ana Claudia. Comedoria Popular: receitas, engenhos e
africano não existe mão de obra para o ciclo do açúcar; por fazendas de Pernambuco. Recife: A. C. Frazão, 2011. 164p.
conseguinte, não existe cultura de cana-de-açúcar, não existe engenho,
não existe açúcar e não existe doce genuinamente brasileiro. 6. QUINTAS, Fátima (org.). A civilização do açúcar. Recife:
É hediondo conceber que existisse tal realidade, injusta e ingrata, Civilização do Açúcar, 2007. P. 155.
como esta relatada a seguir: “Os negros que empurram a cana entre os
rolos metem as mãos demasiadamente nos cilindros, e se uma ou 7. LODY, Raul. Vocabulário do açúcar: histórias, cultura e
ambas são presas, antes que qualquer auxílio seja dado, os membros, gastronomia da cana sacarina no brasil. São Paulo: Editora Senac São
ou mesmo o corpo inteiro, fica esmagado, (...) Nalguns lugares vi, Paulo, 2011. 200 p.
junto da barra e do martelo, um facão afiadíssimo, para separar a parte
do corpo julgada necessária. Nessa desesperada situação os gritos do 8. SOUZA, Mauricio Jorge Pinto de; OLIVEIRA, Pedro Rodrigues
negro assustam os cavalos que movem o engenho, acelerando-lhes a de; BURNQUIST, Heloisa Lee. Lar "Doce" Lar: uma análise do
velocidade” (9). consumo de açúcar e de produtos relacionados no Brasil. Rev. Econ.
Além do dulçor, o açúcar tem, também, em seu “DNA” um passado Sociol. Rural, Brasília, v. 51, n. 4, p.785-796, 2013. Trimestral.
perverso, obscuro. É fato que o cultivo da cana de açúcar, através de Disponível em:
cinco séculos, deixa — nas mesas do Nordeste — um legado cultural <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
que inclui preparações de riquíssimo dulçor. Mas não se pode deixar 20032013000400009&lang=pt>. Acesso em: 16 dez. 2019.
de observar, também, que “os engenhos criaram uma injusta divisão
de classes. Casa grande e senzala se tornaram a síntese de um modelo 9. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO (Recife) (Org.). Cultura do
econômico e social mantido amargamente mesmo após o ciclo do açúcar. Recife: Massangana, 2010. 180 p.
açúcar” (9). O açúcar é a “alma do doce” (1). E no Nordeste foi ele
quem moldou o gosto, o gosto doce — até exageradamente doce, para
quem é de fora — do doce do Nordeste.
No Nordeste o açúcar traz “sentimento de pertença” (1) e “o doce
nasce em contextos ritualizados por gênero, religiosidade e indicações
para o seu consumo” (1). Como do costume antigo, de ter a roupa para
usar no dia a dia, a roupa de festa e a roupa de ir à missa (igreja),
existem, também, os “doces do dia a dia, doces das festas, doces para
comer na rua, na feira, no mercado. Doces para serem comidos em
casa. Em todos esses lugares estão marcados os sentidos [...] de dar ao
gosto doce as diferentes dimensões simbólicas” (1). Tamanho é o
número de preparações doces no Nordeste — e que dão a doçaria
identidade de autoria regional — que lhe cabe, muito bem, ser
chamado de “civilização do açúcar” (1).
O açúcar foi — e continua sendo — protagonista na formação do
paladar do Nordeste do Brasil. O ciclo do açúcar deixou marcas
socioculturais profundas no dia a dia e na história do povo. Não há
como negar a importância do açúcar para o Nordeste. Não há como
negar a importância histórica do doce da cana-de-açúcar. A doçaria
nordestina não é apenas pioneira, como tão bem observou Gilberto

1
“Surpreendentemente, uma sub-região desligada do complexo
açucareiro se apresenta rival do Nordeste — e do Rio De Janeiro
também açucareiro — na tradição daqueles doces finos: a rio-
grandense-do-sul dominada por Pelotas. [...] Há, assim, no Brasil, uma
geografia do doce” (3).

452
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Mandioca como manifestação cultural cearense: um estudo sobre as casas de farinha.


David Barros1 Matheus Lima1 Amanda Marques1 Karina Fernandes²
1
Discentes do Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
²Gastrônoma pela Universidade Federal do Ceará
davidbarros4@hotmail.com

Palavras-Chave: Gastronomia, cultura alimentar, farinhada.


nutrientes. Tolera bem solos ácidos, porque suporta altos níveis
de saturação com alumínio, porém é muito suscetível à
INTRODU�O salinidade. A faixa de pH ideal situa-se entre 5 e 6 (4).
A miscigenação de diferentes povos desencadeou uma
Apesar de constituir a forma mais ampla de aproveitamento
pluraridade do povo brasileiro, que tem em suas bases culturais
industrial, a farinha não é um produto muito valorizado,
a civilização indígena, que habitava o Brasil quando os
sobretudo pela falta de uniformidade, já que há vários tipos
portugueses chegaram por engano às Índias, os portugueses, que
diferentes de farinha em diversos estados brasileiros, onde a
colonizaram a terra e os africanos que foram trazidos na época
classificação de qualidade é particular de cada fabricante, logo,
da escravidão. Os hábitos e técnicas alimentares influenciados
essa variabilidade torna difícil a comercialização uniforme de
pela fusão cultural desses povos estão presentes na nossa cultura
uma mesma empresa em todo o país (5).
até os dias de hoje, alguns se fizeram necessário a substituição
de insumos e utensílios tradicionais pelos da terra. A heterogeneidade da farinha também se dá à fabricação pelos
Os primeiros registros portugueses sobre o inhame se referem à pequenos produtores para seu uso diário. Os diferentes tipos do
mandioca do Brasil, sendo “À maneira de inhame-de-são-tomé” produto se dão também pelas várias formas de cultivar, clima,
e “Uma raiz da feição dos inhames”, onde os dois autores do solo, ponto de colheita, variabilidade genética, matéria-prima e
registro cultural descreviam a mandioca, diariamente consumida o método de processamento, que é o principal fator responsável.
pelos povos indígenas (1). A cultura da mandioca se destaca Esse procedimento, no entanto, não é mantido pelos pequenos
como uma das principais no Brasil, tendo a maior parte da sua
produtores não mantém (6).
produção destinada à fabricação de farinha de mandioca e o
restante é dividido entre alimentação humana, animal e A mandioca fazia parte da alimentação indígena de forma
processamento para amido (2). A mandioca e a técnica de inarredável, compondo a farinha e os beijus. A farinha foi o
transformá-la em farinha é uma herança cultural muito marcante primeiro insumo e era o produto essencial e principal, estando
na região norte e nordeste, como no Ceará e mais precisamente presente no acompanhamento de quase tudo comível, de carnes
nos interiores do estado. A manifestação cultural perdura até os
à frutas. O segundo, os beijus, responsáveis pela produção de
dias de hoje, apesar de estarem sendo engolidas pela
globalização e caindo no esquecimento do seu povo. O presente bebidas culturais além de servir como matalotagem de guerras,
trabalho tem como objetivo pontuar a importância da jornadas, pesca, permuta, oferenda, presentes. O beiju era tido
manutenção cultural através dos costumes alimentares passados como "farinha de guerra", mais robusta, grossa, seca e
por diversas gerações, preservando assim a cultura alimentar resistente, chegando a ser dada nos navios para as grandes
ancestral do povo cearense. viagens por ser sadia e dar sustância, e quando misturada com
caldo de carne ou de peixe fica branda, sendo comparada ao
MATERIAIS E MÉTODOS cuscuz. Beijus muito torrados também compunham a
O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica matalotagem dos navios, principalmente por serem menos
pertinente ao assunto com o objetivo de pontuar o uso da perecíveis, podendo chegar a 1 ano sem estragar, diferente da
mandioca como matéria-prima primordial para a produção da "farinha de guerra", que era mais suscetível à degradação (1).
farinha. A mandioca serve como base para o preparo de farinha, No período colonial, o europeu, no Brasil, investia nas roçarias
mingaus, beijus, caldos. A sua raiz era o alimento regular, de mandiocas. Eles compravam e vendiam as roças, o que
obrigatório e indispensável aos nativos e europeus recém- acabava valorizando, ampliando e melhorando as “casas de
chegados, sendo conhecida como o "pão da terra", com farinha”. Além disso, adaptavam o maquinário, que antes era de
legitimidade funcional, sabor agradável, de fácil digestão e ser madeira e depois passou a ser de ferro. Essa modernização
um alimento substancial (1). permitiu as exportações para as colônias africanas, introduzindo
a mandioca, o beiju, a farinha, o mingau e o pirão na
alimentação nessas novas regiões (1).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos navios negreiros, era levado o fumo para a troca e nos
Para melhor contextualizar, entenderemos sobre a difusão do
porões da embarcação bruacas e surrões de farinha para o
tubérculo através do seu cultivo, quando a cultura não necessita
sustento dos futuros escravos, que já chegavam ao Brasil com o
de muito preparo da terra para se desenvolver e o manejo do
hábito alimentar. A introdução do alimento se dava antes das
solo deve ser o menor possível, apenas o suficiente para a
embarcações, já que assim que o escravo era adquirido recebia
instalação da cultura e para o sistema radicular ter um bom
o "carapetal", um saco de suprimentos composto por farinha de
desenvolvimento. É importante também sempre ser executada
mandioca, milho e aipim, que era a dieta da escravidão nas
segundo as curvas de nível do terreno, orientação esta que
marchas entre os presídios. A farinha de mandioca se difundia
também deve ser seguida para o plantio (3).
no vasto território litorâneo da África e nos sertões brasileiros,
A planta é muito versátil e apresenta capacidade de se conhecida como "comida de volume", que sacia e satisfaz,
desenvolver e produzir satisfatoriamente, em solos com baixa apresentava-se como elemento principal nas refeições, sem ela
fertilidade, além de superar os problemas de baixos teores de estaria incompleta (1).
fósforo, através de uma eficiente associação com micorrizos.
Em detrimento disso, é notória a influência cultural dos hábitos
Vale ressaltar que a planta reduz seu tamanho em solos pobres
alimentares indígenas na cultura do Ceará, perdurando até
de nutrientes, entretanto mantém um nível quantitativo de
atualmente o hábito do consumo da farinha, que além de
concentração de nutrientes ideal, viabilizando melhor o uso dos

453
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

incorporar diversos pratos, é elemento marcante no prato do em Mato Grosso do Sul. Dourados: Embrapa Agropecuária
dia-a-dia do cearense. O costume das casas de farinha Oeste/UNIDERP, 2002. p. 77-108.
artesanais ainda tenta sobreviver ao processo de
(5) CEREDA, M. P.; VILPOUX, O. F. Farinhas e derivados. In:
industrialização, que vem crescendo cada vez mais e tomando o
CEREDA, M. P; VILPOUX, O. F. Série Culturas de
espaço da manifestação cultural. Tuberosas Amiláceas Latino Americanas, v. 3, p. 577-620,
Na região do Cariri, na casa de farinha do senhor Silva e da 2003. Fundação Cargill. São Paulo.
família Da Hora, mantém o costume da feitura da farinha,
aliando a agricultura familiar, o trabalho comunitário, a (6) LIMA, U. de A. Manual técnico de beneficiamento e
sociabilidade, o modo do saber-fazer que é transmitido por industrialização da mandioca. São Paulo: Secretaria de
gerações. A manifestação da cultura se dá desde o plantio, Ciência e Tecnologia, 1982. 56 p. (Série Tecnologia
Agroindustrial – Programa Adequação, 2).
passando pela colheita, onde a parte aérea é separada dos
tubérculos, que são transportados até a casa de farinha. Lá são (7) BEZERRA, J. A. B. Alimentos tradicionais do Nordeste:
raspadas até a retirada total da casca, atividade realizada Ceará e Piauí. 1. ed. Fortaleza: Edições UFC, 2014. v. 1. 119p
geralmente por mulheres, uma herança indígena em que o
homem colhia e a mulher processava. Em seguida, a mandioca
é triturada para obtenção da massa, que é posta de molho.
Quando a massa assenta no fundo do refratário é feito a coação
em peneiras ou sacos de nylon para retirada do excesso de água.
A massa é passada por uma prensa, para ficar mais seca
possível, sendo essa prensa confeccionada artesanalmente de
madeira. A massa seca é levada para o cocho de quebra, onde
os blocos de goma são quebrados com marreta de madeira para
formação de pequenos grãos. A última etapa consiste na torra
da massa nos fornos de cimento para retirada total da umidade e
redução dos grãos. Esse processo exige movimentos contínuos
de vaivém da massa com um rodo de madeira por cerca de 90
minutos. Depois de pronta a farinha é dividida entre a família e
os ajudantes da farinhada e também armazenadas em sacos de
nylon para o comércio local (7).

CONCLUSÃO
Sendo assim, tem-se que nossos hábitos culturais estão
arraigados com diferentes culturas, a indígena é uma delas. É
evidente a importância do conhecimento indígena sobre técnicas
de plantio, colheita e feitura de produtos, pois estes compõem
nossa tradição cultural, perdurando até os dias atuais a presença
da farinha nos pratos, para dar corpo, estrutura, engrossar caldos
e complementar a nossa alimentação. Vale salientar também a
relevância da resistência dos costumes alimentares, que
valorizam o que é nosso e o que nos compõe. As tradições das
casas de farinha e farinhadas mantém um elo com nossa
identidade cultural que vem sendo sobreposta por outras
culturas, além de ter um papel social, estruturante, massivo,
como base econômica de muitas famílias que ainda resistem e
acalentam a manifestação cultural. Vale ressaltar a importância
da preservação cultural e da valorização da mesma, o trabalho
servirá como embasamento de pesquisas futuras além do seu
registro cultural.

REFERÊNCIAS
(1) CASCUDO, L. C. Hist�ria da alimenta�
�o no Brasil. São
Paulo: Global, 2004.

(2) CEREDA, M. P.; VILPOUX, O. F.; TAKAHASHI, M.


Balança hidrostática como forma de avaliação do teor de massa
seca e amido. In: CEREDA, M. P; VILPOUX, O. F. Série
Culturas de Tuberosas Amiláceas Latino Americanas, v. 3,
p. 30-46, 2003. Fundação Cargill. São Paulo.

(3) SOUZA, L. D.; SOUZA, L. da S. Escolha da área e preparo


do solo. In: MATTOS, P. L. P. de; GOMES, J. de C. (Coords.).
O cultivo da mandioca. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e
Fruticultura, 2000. p. 14-15

(4) LORENZI, J. O.; OTSUBO, A. A.; MONTEIRO, D. A.;


VALLE, T. L. Aspectos fitotécnicos da mandioca em Mato
Grosso do Sul. In: OTSUBO, A. A.; MERCANTE, F. M.;
MARTINS, C. de S. (Eds.). Aspectos do cultivo da mandioca

454
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Lu Yu: o Santo do Chá


Ana Paula Melo
Tea Sommelier Certificada do El Club del Té – Buenos Aires/Argentina;
Curso de Tea Sommelier na Escuela Argentina de Té – Rosário/Argentina e Arquiteta e Urbanista pela UFPE
abreuemelo@gmail.com

Palavras-chave: santo do chá, bebida, budismo, preparação, gastronomia.

INTRODUÇÃO METODOLOGIA CIENTÍFICA


Durante milhares de anos o chá foi consumido na China sem O estudo apresentado foi iniciado na busca de um tema que
que houvesse um estudo aprofundado a seu respeito, baseado apenas tivesse relevância para a história do chá. A definição das palavras-
no conhecimento popular, por isso torna-se importante explanar um chaves “Lu Yu” e “Cha jing” (Etapa 1) foi de grande importância para
pouco sobre a história dessa personalidade chamada Lu Yu, que a formulação dos objetivos do trabalho (Etapa 2) e definição da
Victoria Bisogno (1) descreve como: “El santo patrono del té”(1). pesquisa como descritiva. Para a teorização (Etapa 3) foi realizado um
De acordo com a lenda, o chá foi descoberto pela primeira levantamento bibliográfico utilizando notas de aula da autora, livros
vez pelo lendário imperador chinês e herbalista, Shennong, em 2737 físicos e digitais, teses e sites disponíveis na internet sobre o tema de
a.C. Um dia, em uma viagem para uma região distante, ele e seu acordo com a Figura 02.
exército pararam para descansar. Toda água potável era fervida antes
de beber para que fosse limpa, de modo que foi isso que seus servos Figura 02- Esquema metodológico da pesquisa
fizeram. Sem perceber que uma folha morta do arbusto de chá
selvagem (Camellia sinensis) caiu na água quente que foi servida ao
Imperador. Este, ao perceber o que tinha tornado a água revigorante,
passou a difundir a bebida por toda China. Começa assim a história do
chá (2).
Embora historicamente a origem do chá como uma erva
medicinal útil para ficar desperto não seja clara, a China é considerada
como fonte dos primeiros registros de chá como bebida, desde o
primeiro milênio a.C. A Dinastia Han (206 a.C.- 220 d.C.) usou chá
como remédio e antes da Dinastia Tang (618-907 d.C.), o chá já vinha
sendo servido como bebida alcoólica em ocasiões sociais.
No livro “Cha Jing” (Clássico do Chá), escrito por volta do
ano 760d.C., Lu Yu (729-804d.C.) (Figura 01) descreve como as
plantas de chá (Camellia sinensis) eram cultivadas, as folhas
processadas e o chá preparado como bebida. Também descreve como
o chá deveria ser avaliado, discute onde as melhores folhas de chá
foram produzidas (2), sendo o primeiro escrito abordando o chá de
forma científica.
Há um antigo ditado chinês que fala que os chineses têm
"sete necessidades", isto é, que deve "abrir a porta para sete itens”: a
lenha, o arroz, o óleo, o sal, o molho, o vinagre e o chá. As sete
necessidades se tornaram populares na cultura do chá moderno devido
ao fato de a bebida ter sido mencionada como uma das sete
necessidades da vida chinesa. Fonte: A autora.
Figura 01- Estátua de LuYu em Xi’an
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A história de Lu Yu é bastante rica e elaborada. Estima-se
que, aos três anos de idade, o órfão abandonado Lu Yu (733-804) foi
encontrado pelo monge zen budista Zhiji e acolhido no Mosteiro
Jingling de Longgai, durante a Dinastia Tang (618-901) (4). Como
não tinha nome, o Mestre Zhiji resolveu escolher um após a consulta
do Yi Jing, também conhecido como “antigo livro da mudança”. Sua
educação foi inicializada no Mosteiro Jinglin pelo próprio mestre
Zhiji. Quando percebeu que o aluno tinha maior interesse pelo
confucionismo e pelas artes chinesas que pelo budismo, o encaminhou
para estudar na casa de uma família de Li. Desde muito cedo mostrou
interesse na literatura e na arte do chá, passando a dominar com
grande habilidade sua preparação, se tornando o responsável em servir
o chá do mestre Zhiji.
Quando completou nove anos Lu Yu, por determinação do
mestre, deveria iniciar seus estudos budistas e se preparar para se
tornar um monge, mas seu temperamento contestador não permitiu
que se torna-se um deles. Mesmo com pouco conhecimento sobre o
Budismo e estudos confucionistas, o jovem Lu Yu desafiou o mestre
que, contrariado com desrespeito deste jovem rebelde, decidiu puni-lo.
Fonte: Wikipedia (3). Lu Yu por causa de sua insubordinação passa a executar uma série de
tarefas braçais no mosteiro, cuidado inclusive de um rebanho de 120
O objetivo do estudo é descrever um pouco a vida dessa personalidade
cabeças de gado. Mesmo trabalhando muito, nada abalava a
chamada Lu Yu, o que fez para ser reconhecido na China como Santo
determinação de Lu Yu em buscar mais conhecimento literário fora do
do Chá e qual sua contribuição para mundo do chá.
mosteiro.
Aos doze anos resolve fugir do mosteiro e ingressar num
grupo de artistas itinerante. Em 746, aproximadamente um ano depois,
durante uma de suas apresentações, conhece Tang Li Qiwu, membro
da família real chinesa. Qiwu percebe no rapaz grande potencial

455
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

intelectual e habilidade com o chá, e o influencia a estudar recluso nas


montanhas Houmen, a noroeste de Jingling, com o mestre Zou Eero. ➢ Capítulo 10. Ilustrando o Chá – Apresenta como colar o “Cha
Em 754 d.C., decide deixar a reclusão nas montanhas e Jing” em cartaz e rolos para utilizá-lo numa referência rápida.
iniciar sua “Busca do Chá”, seguindo para a cidade de Bashan
Xiachuan onde poderia fazer uma pesquisa de campo sobre o chá Durante sua vida Lu Yu nunca se importou com posição ou
selvagem e a influência da água no seu preparo. Durante sua status e se destacou como um intelectual de múltiplos talentos (ator,
caminhada Lu Yu escreve o livro “Cha Jing” (O Clássico do Chá) escritor, poeta, historiador, calígrafo, geógrafo, e exímio preparador de
onde apresenta novos métodos de preparação e os instrumentos chá). Passou maior parte do seu tempo a viajar, explorar, pesquisar e a
adequados para fazer um chá de qualidade. Mesmo com o texto pronto escrever livros sobre chá, mas também escreveu ensaios e livros sobre
Lu Yu não considerava o Cha Jing concluído, por achar que ainda uma vasta gama de assuntos.
faltavam informações importantes. Quando surge o convite para Infelizmente quase todos os livros escritos por Lu Yu foram
trabalhar na Biblioteca Imperial em Huzhou, Lu Yu percebe que pode perdidos, sendo encontrados como referência em registros históricos
encontrar as informações que faltavam para concluir seus estudos de outros autores. Estudiosos da vida de Lu Yu acreditam que sua
sobre o chá (5). autobiografia também foi perdida e que a que existe foi escrita por um
Em 780 o livro “Cha Jing” é concluído. Lu Yu consegue autor desconhecido que provavelmente alterou alguns dados. Dos
escrever em 55 páginas e um pouco mais de 7000 caracteres chineses diversos livros que escreveu sobre o chá e a água, apenas o Cha Jing
(6). Uma pesquisa de 26 anos sobre o chá, dividindo seu texto em 10 foi encontrado. Depois da Dinastia Tang muitos talentos de Lu Yu
capítulos. Cada capítulo trata resumidamente: foram esquecidos, ficando apenas seu valor como literato. Muitos
anos após seu falecimento, depois da Era Tang, o Cha Jing é
➢ Capítulo 1. Origem do Chá – Nesse capítulo Lu Yu fala da velha finalmente reconhecido como valioso recurso para as indústrias do chá
árvore gigante de chá encontrada em Bashan Xiachuan; dos e para toda China, e como forma de gratidão o agraciam com o título
caracteres chineses que o representam (茶 e outros cinco de honra de “Santo do Chá” (7).
caracteres chineses); dos seus benefícios; da influência geográfica
da topografia, do solo e do clima no cultivo de uma erva de CONCLUSÕES
qualidade.
O “Cha Jing” é uma obra que trata do chá de forma inédita,
➢ Capítulo 2. Ferramentas – Apresenta especificações de todos os reunindo fatos históricos, elementos científicos, métodos e práticas,
instrumentos necessários para o cultivo, colheita, produção e para chegando a ser considerada uma obra mais técnica que literária. Nos
preparação da erva (Figura – 03). seus dez capítulos Lu Yu abrange uma série de assuntos que vão da
cultura da Camellia sinensis, arte, história, botânica, biologia,
agricultura, medicina, Geografia, hidrologia, cerâmica, agricultura
Figura 03 – Utensílios para o preparo do chá. máquinas para produção da erva de chá. Estimula a abertura de novos
caminhos para o chá, caminhos estes inalterados por 3000 anos. Além
disso, propõe a mudança no cultivo e nos métodos de processamento
da erva, sendo o pioneiro na valorização da cultura do chá e na forma
de beber o chá.
Com os registros realizados por Lu Yu, o “Santo do Chá”, foi
possível não só cultivar a árvore do chá (Camellia sinensis) de forma
ordenada como também conhecer os elementos necessários para
produção de uma erva de qualidade superior.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) BISOGNO, V. PETTIGREW, J. Manual del Sommelier de Té:


variedades, cata y protocolo del té. 2 ed. Buenos Aires: Del Nuevo
Extremo, 2014.
(2) ABREU E MELO, A.P.C. de. Anotações de aula dos cursos de
sommelier de chá pela Escuela Argentina de Té e El Club del té.
Fonte: Ebook Cha jing, de Lu Yu (4)
(3) Lu Yu. Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Lu_Yu>
Acesso em: 07/07/2020.
➢ Capítulo 3. Processos – Especifica a hora certa do dia, a melhor
(4) GRACINDO, Ina. Viagem ao mundo do chá: tao te cha. Rio de
estação e o clima ideal para extração das folhas de chá, secagem e
Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
armazenagem do coletado. Ensina também como identificar a
(5) YU, Lu. Cha jing. EBook #23949. Disponível em <
qualidade de um tijolo de chá por suas características.
http://www.gutenberg.org/cache/epub/23949/pg23949-images.html>
Acesso em: 07/07/2020.
➢ Capítulo 4. Louças e Utensílios – É um manual que especifica 25
(6) Cha jing. Disponível em https://pathofcha.com/blogs/all-about-
utensílios necessários que vão do fogão, bacias, até às porcelanas
tea/lu-yu-and-the-cha-jing. Acessado em 07/07/2020.
(detalha cuidadosamente a forma de cada um deles e o material
(7) SILVA, Rui Manuel Esteves da. O Chá Em Portugal: História e
que deve ser usado para sua fabricação) para preparar o chá e a
Hábitos de Consumo. Dissertação de Mestrado da Universidade do
influência deles na qualidade.
Minho, Minho, 2014.
➢ Capítulo 5. Fazer o Chá – São apresentadas nesse capítulo as
etapas e métodos para ebulição da erva e preparação do chá.
Explica também a importância de uma água de qualidade na sua
elaboração.

➢ Capítulo 6. Beber o Chá – Especifica os diferentes tipos de chá


(verde, em pó ou tijolo) e a forma com que podem ser bebidos
(puro ou com especiarias e/ou frutas), explica também como
partilhar o chá.

➢ Capítulo 7. Registros de Chá – Registros de personalidades antes


da Dinastia Tang e de algumas histórias e lendas sobre o chá.

➢ Capítulo 8. Áreas de Produção – Classificação de qualidade com a


comparação dos chás de diferentes regiões da China Tang.

➢ Capítulo 9. Métodos Úteis para o Chá – Indica formas de


simplificar a preparação do chá em casos adversos.

456
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cozinhas Regionais Brasileiras:


aspectos históricos, geográficos, econômicos e culturais
Adriana Siqueira1,

¹Professora do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. adriana.nutrii@gmail.com

Palavras-chave: gastronomia, biodiversidade, Brasil

INTRODUÇÃO formação da cultura alimentar brasileira, biodiversidade


brasileira, cozinha da Amazônia brasileira, cozinha do
O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma Cerrado, cozinha pantaneira, cozinha da Caatinga, cozinha do
extensão territorial de 8.514.876 Km² e o mais rico em Norte, cozinha do Nordeste, cozinha do Sudeste, cozinha do
biodiversidade, com mais de 20% do total de espécies do Sul, cozinha do Centro-Oeste, cozinha mineira, cozinha
planeta. O país conta com uma fauna de 103.870 espécies gaúcha, cozinha paulista, cozinha carioca cozinha dos
animais e uma flora de 43.020 espécies vegetais conhecidas. Pampas, entre outros termos. Utilizou-se como referências:
Possui 9 biomas, a Floresta Amazônica, maior floresta livros, artigos, teses de doutorado e dissertações de mestrado,
tropical úmida do mundo; o Pantanal, maior planície além de sites oficiais do governo brasileiro e de seus Estados,
inundável; o Cerrado, com suas savanas e bosques; a bem como, de suas instituições de pesquisas, universidades
Caatinga, composta por florestas semiáridas; os Campos dos das diferentes regiões do Brasil, Embrapa etc. A busca foi
Pampas; a floresta tropical pluvial da Mata Atlântica, Mata sem limite de tempo, ou seja, desde o período colonial
de Araucárias, Mata de Cocais e Zonas Litorâneas, com brasileiro até os dias atuais. A pesquisa foi desenvolvida entre
uma costa marinha de 3,5 milhões de km², que inclui os meses de abril à julho de 2020 (7)(8).
ecossistemas como recifes de corais, dunas, manguezais,
lagoas, estuários e pântanos (1)(2). Essas características RESULTADOS E DISCUSSÃO
possibilitam uma rica e específica gastronomia regional,
bem definida nas 5 regiões do país, onde podemos Cozinhas Regionais Brasileiras
classificar em: cozinha regional do Nordeste, cozinha
regional do Norte, cozinha regional do Centro-Oeste, As cozinhas regionais brasileiras são extremamente ricas
cozinha regional do Sudeste e cozinha regional do Sul. quanto aos aspectos culturais, com pratos típicos que
Essas diferentes cozinha são marcadas pelas influências dos mostram as influências e heranças dos povos que povoaram
colonizadores portugueses, dos nativos indígenas, que cada região, e apresentam uma grande diversidade de
habitavam o território nacional, e pelos africanos que foram insumos próprios de seus territórios e biomas. Assim, cada
trazidos como mão de obra escrava para trabalhar nas região do Brasil tem uma cozinha única.
lavouras de cana-de açúcar nos séculos XVI e XVII, e nas
usinas de minérios, como o ouro e o diamante, no século A Cozinha Regional do Nordeste
XVIII (3)(4)(5).
Além da conhecida tríade (português, africano e indígena), A região Nordeste, composta por 9 Estados, é a região com
outros europeus, que lutavam constantemente com os maior número de Estados do Brasil. Segundo o IBGE a
portugueses pela posse das terras brasileiras, também população da região, corresponde a 57.317.225 habitantes,
influenciaram na cultura alimentar brasileira do período representando, 25% do total da população do país (9)(10).
colonial, entretanto, em menor escala, como os espanhóis, Dados do IBGE mostram que do total de 26,5% dos
holandeses e franceses (6). brasileiros que vivem em situação de pobreza, 44,8% são do
Com a abolição dos escravos, muitos engenhos de cana de Nordeste (11). Assim, faz necessário entender e refletir
açúcar e posteriormente, as fazendas de café e usinas de sobre o assunto a partir da colonização do Brasil, que se
minérios, que usavam a mão de obra escrava, sofreram iniciou pelo Nordeste (6).
dificuldades econômicas, sendo necessário a coroa Desde o início da formação do Brasil com a colonização
portuguesa incentivar a vinda de outros povos imigrantes portuguesa, a entrada do Brasil na economia internacional
para substituir a mão de obra escrava(6). Assim, em 1888, se deu por meio da produção de alimentos. Diferente do
chegaram no Brasil, os italianos, e em seguida, os árabes, ocorrido na América colonizada pelos espanhóis, os
japoneses, alemães, franceses, entre outros povos, fazendo portugueses não encontraram ouro logo no início da
do Brasil uma nação multicultural com uma rica colonização, fato que os obrigou a buscar outras fontes de
gastronomia, que com o crescimento do turismo e a alta rentabilidade econômica. Assim, os portugueses
globalização passa a ser conhecida no mundo todo por seus instalaram no país grandes engenhos especializados na
insumos e pratos únicos, de riqueza ímpar, tanto cultural, produção de açúcar derivado da cana-de-açúcar trazida da
como nutricional, tendo em vista, o uso da rica Ásia, já que encontraram clima e solo apropriados à cultura
biodiversidade de cada uma de suas regiões geográficas canavieira. Tais Engenhos constituíram grande propriedade,
(3)(4)53)(6). controlada pela figura dos Senhores de Engenho,
Esse estudo teve por objetivo caracterizar as cozinhas responsáveis pela implementação de estratégia de produção
regionais brasileiras quanto aos aspectos históricos, em larga escala e voltada para atender o mercado europeu.
geográficos, econômicos e culturais, descrevendo as Concentrados na Zona da Mata, eles trouxeram da Europa
heranças e as especificidades da cozinha de cada região, as tecnologias apropriadas e os especialistas na produção de
destacando seus pratos e insumos típicos. açúcar, bem como, a mão-de-obra africana, tendo em vista
que os índios brasileiros não se adaptaram ao trabalho
MATERIAIS E MÉTODOS escravo. Assim, durante três séculos, XVI, XVII e XVIII,
observa-se um quadro regional característico, com a
A pesquisa é de natureza descritiva, onde foi desenvolvida a economia brasileira e nordestina voltada para o exterior,
metodologia de pesquisa bibliográfica com revisão de onde as riquezas da região eram escoadas pelas cidades
literatura dos temas propostos, usando os termos de busca: portuárias de Salvador e Olinda, esta última substituída
cozinha brasileira, cozinhas regionais brasileiras, gastronomia posteriormente por Recife. Assim, de um Nordeste,
brasileira, Brasil colônia, Brasil império, Brasil república, inicialmente ocupado a partir da Zona da Mata, saem

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

grupos de mestiços, que partem para o interior do país Partindo-se da compreensão que a gastronomia regional
seguindo a rota dos rios. Estes se estabelecem primeiro no sofre a influência dos aspectos históricos, geográficos,
Agrete, e posteriormente, ocupam o Sertão econômicos, sociais e culturais passamos a discorrer de
(3)(4)(5)(6)(12)(13)(14)(15). cada um dos estados que compõem a região Nordeste.
A origem da palavra “Sertão” é uma referência ao clima Atualmente, o Ceará destaca-se na produção de feijão,
quente e seco do interior do Nordeste que passou a ser milho, arroz, algodão, castanha de caju, cana-de-açúcar,
chamado de “desertão” e depois virou “sertão” (4). Nesse mandioca, mamona, tomate, banana, laranja, coco e, mais
primeiro momento o Agreste, região de transição entre a recentemente, a uva. Na pecuária os rebanhos de maior
Zona da Mata e o Sertão, se especializa na produção de representatividade são os bovinos, suínos, caprinos,
grãos, como o arroz, o feijão e o milho, além de mandioca e equinos, aves, asininos, carcinicultura e ovinos. Com a
de carne. Posteriormente, esses produtos também passam a expansão do turismo, o Estado ficou conhecido
ser produzidos no Sertão, que iniciou sua ocupação com o nacionalmente pela beleza de seu litoral, pela religiosidade
estabelecimento de fazendas especializadas na criação de popular e como berço de humorísticos, sendo chamado de
gado e produção de grãos e mandioca para o consumo local. "Terra da Luz", numa referência à grande quantidade de
Segundo Dantas (2010) esta região foi por muito tempo
dias ensolarados, mas também ao fato de o Estado ter sido o
vista pelos portugueses como região semiárida, sendo
primeiro da federação a abolir a escravidão, em 1884,
colonizada lentamente, a partir de seus vales úmidos com
quatro anos antes da Lei Áurea. A religião é muito
quantidade reduzida de gado, acompanhada por um
vaqueiro, empregado do grande proprietário de terras. O importante. O estado é o terceiro mais católico do país, com
autor explica que estes sistemas de produção de alimentos muitas festas religiosas populares. Na cultura local
criaram quadros históricos diferentes de relações de destacam-se o jangadeiro, o vaqueiro, a rendeira como
trabalhos específicas em cada uma dessas sub regiões do principais símbolos (4)(5)(17)(18). Como em toda região
Nordeste, como o Senhor de Engenho e seus escravos na Nordeste, a base da culinária do Ceará tem sua origem nos
Zona da Mata, o Coronel e seus vaqueiros no Sertão, e povos indígenas, nos africanos, que chegaram para trabalhar
ainda os pequenos produtores no Agreste. Até o século nos engenhos de cana-de-açúcar e nos portugueses
XVIII predomina o Nordeste da cana-de-açúcar, após o colonizadores. Os hábitos alimentares baseavam-se na
século XIX, surge o Nordeste do algodão. No século XX, a pesca, na pecuária e em algumas culturas agrícolas (4)(5)
imagem do Nordeste semiárido se impõe em relação à da Da pesca temos os peixes, as lagostas, os camarões e os
Zona da Mata e a seca é usada pelo poder econômico e caranguejos. Entre os produtos cultivados para o consumo
político das oligarquias algodoeiras como estratégia visando local, destacam-se a macaxeira, a batata-doce, o milho, o
captar a atenção nacional. A imagem nostálgica do feijão, o arroz e a cana de açúcar. A carne seca foi a
Nordeste propagada por Gilberto Freyre do rico Nordeste principal herança do ciclo do couro, juntamente com a
açucareiro, é substituída lentamente pela imagem do criação de caprinos. Esses produtos deram origem aos
latifúndio dos coronéis do Sertão, do Nordeste pobre e da pratos mais famosos da culinária cearense: a peixada
seca (6)(12)(13)(14)(15)(16). Segundo Castro (1997), cearense, a lagosta grelhada, o pargo no sal grosso, a
citado por Dantas (2010) “um território condenado ao panelada. a buchada, o baião de dois, a carne de sol, o
sofrimento e à pobreza por uma natureza difícil de sarrabulho. No litoral prevalecem as receitas à base de
domesticar”. Nasce o discurso da seca, da semiaridez, peixe e frutos do mar, embora sejam consumidos também
criado por uma elite regional, fundada em imagem negativa outras preparações, como por exemplo, a carne de sol e a
do Nordeste. Assim, a seca do Nordeste passa a ser a galinha. Entre os peixes há preferência pelo pargo, que
principal causa dos problemas da região e essencial na normalmente é preparado assado com sal grosso na brasa. O
obtenção de recursos do governo federal (16). Nesse serigado, conhecido no resto do país como badejo, é o
contexto, de discurso político regionalista se estabelece na preferido no preparo da peixada, servida com pirão de
região uma política de modernização que se inicia com a farinha de mandioca, feito com caldo da cabeça do peixe.
construção de vias capazes de promover a integração do Também podem ser usados na peixada cearense, a garoupa, a
Sertão com outros mercados, como as vias férreas, as
cavala, o robalo, a guaiuba, e o bijupirá. Além da peixada
rodovias estaduais (Ce’s), as rodovias federais (as Br’s); e
os peixes podem ser consumidos fritos ou com molho de
ainda, a criação de organismos públicos federais de
camarão. A Lagosta, ícone da cozinha cearense é
gerenciamento e de financiamento, como o Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a geralmente preparada de maneira simples, cozida em água e
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste sal ou gralhada com manteiga. Já o camarão é comumente
(SUDENE), e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) (16). preparado frito no alho e óleo ou cozido no leite de coco.
Assim, foram criados o “Polígono das Secas”, administrado Outros pescados muito consumidos são o caranguejo, o siri,
pela SUDENE, cujos limites são superiores aos do a arraia e a ostra. Na cozinha do Sertão no interior cearense
Nordeste, incluindo a parte setentrional de Minas Gerais, os pratos que se destacam são a carne de sol, a paçoca, o
Estado da região Sudeste do Brasil, e os Polos de baião de dois, a galinha de cabidela, o capote, o sarrabulho
Desenvolvimento Integrados PDIs, com financiamentos do de porco, a carneirada ou guisado de carneiro/bode, a
Banco do Nordeste do Brasil, BNB (16). Segundo Dantas buchada e a panelada. Os pratos são acompanhados com
(2010) um total de dez polos foram criados na região: três arroz, pirão de ossobuco e feijão de corda. Na região do
de produção exclusiva de grãos (Pólos Sul do Maranhão, Cariri o pequi entra no preparo de arroz e carne. Entre os
Uruçui-Gurguéia do Piuaí e Oeste Baiano, na Bahia); cinco doces e outras preparações típicas destacam-se ainda a
de irrigação de natureza mista, com uma importante rapadura, bolo de milho, pé de moleque, mugunzá, canjica,
produção de frutas (Pólo Cariri Cearense e Baixo Jaguaribe tapioca, bolo de batata, bolo de mandioca, cuscuz, além dos
no Ceará, Assú-Mossoró, no Rio Grande do Norte, Alto doces em calda (caju, jaca, mamão etc.), doce de leite, doce
Piranhas na Paraíba e Alto Piranhas em Pernambuco); um de batata doce com leite de coco, doce de jerimum, cocada
de cítricos (Pólo Sul de Sergipe) e um de produção leiteira com rapadura. As frutas tropicais mais apreciadas são o caju
(Pólo da Bacia Leiteira de Alagoas). Com a implantação (castanha de caju), coco, mamão, jaca, manga, murici, cajá,
dos PDI’s no Nordeste e os investimentos científicos e sapoti, seriguela, graviola, pitomba, cajarana, maracujá,
tecnológicos dos quais se beneficiou, a região conseguiu se goiaba, abacaxi. Com elas faz-se sucos, licores, batidas,
inserir no mercado internacional como produtor de grãos e doces, sorvetes(4)(5)(17)(18). Recentemente, muitas dessas
frutas tropicais, sem, no entanto, solucionar a questão da frutas passaram a ser usadas pelos chefes de cozinha da
fome (16). região em diversas preparações, tanto doces como salgadas,
como forma de resgate da biodiversidade local.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Em Pernambuco, destacam-se a produção de frutas irrigadas pernambucano, que sofreu adaptações. Originado do doce
no Vale do Rio São Francisco, voltadas para a exportação. português colchão de noiva, onde as amêndoas do recheio
Abastecidas pelas águas desse rio vinícolas investem na foram substituídas pela goiaba. O beijo de freira, do
qualidade do vinho e promovem o enoturismo no Sertão. Da Convento de Vila do Conde. Em todo o Estado encontram-
pesca no rio São Francisco, destacam-se o peixe cari, é se pratos como a galinha cabidela, baião de dois, buchada
chamado a “lagosta do São Francisco”, e o pitu, camarão de de bode, beijus e tapiocas. No litoral, destacam-se a lagosta,
água doce (4)(5)(19)(20). Os principais produtos agrícolas camarão, marisco, caranguejo, guaiamum, siri, sururu,
cultivados no Estado de Pernambuco são: cana-de-açúcar, aratu, polvo, ostra, além dos peixes: robalo, tainha,
algodão, banana, feijão, cebola, mandioca, milho, tomate, beijupirá, cavala, cioba, agulha. As peixadas são preparadas
graviola, caju, goiaba, melão, melancia, acerola, manga com peixe temperado com azeite, limão e temperos verdes e
e uva (4). Outros destaques são a criação de gado de corte e cozido com leite de coco, cebola, alho e legumes. Com
de leite e a avicultura, além da criação de suínos e caprinos frutos do mar faz-se a aratuzada, caranguejada,
(4)(5)(19)(20). guaiamunzada, camarãozada e pituzada. Já as caldeiradas
Na religião assim como no Ceará, também predomina os são feitas com dois ou mais tipos de pescados. Nas
católicos, propiciando o grande número de festas de cunho moquecas, estes frutos do mar são temperados com leite de
religioso. Do litoral ao sertão, as cidades pernambucanas coco, azeite, cebola, tomate, pimentão, azeite de dendê e
realizam grandes e animadas festas populares. São romarias, coentro. As fritadas também são comuns nas praias
procissões e outras celebrações religiosas; vaquejadas e pernambucanas, estas são feitas com frutos do mar
corridas de animais; festas de rua; exposições e festivais misturados a ovos batidos. Na cozinha do Sertão em
agropecuários; carnaval; festejos de final de ano e tantas Petrolina foi criado o complexo gastronômico
outras festividades. (4)(5). Nas festas populares não pode “Bodódromo”, com todos os bares especializados em servir
faltar, além das celebrações religiosas, shows musicais e bode. Já na Zona da Mata da herança dos engenhos de cana-
barracas de comidas típicas e de artesanato. Outro símbolo de-açúcar é produzido um típico doce português, a alféloa,
cultural são as feiras, que misturam gastronomia, festivais com que se faz em Pernambuco, uma bala chamada puxa-
musicais e danças. A mais famosa é a Feira de Caruaru, que puxa. Segundo Gilberto Freyre, em Pernambuco era comum
é realizada toda semana, onde pode ser visto: barraca de homenagear as famílias tradicionais batizando bolos com
comida, artesanato, literatura de cordel, e apresentações de seus nomes, assim o bolo mais conhecido é o Souza Leão,
artistas como violeiros, cantadores, bandas de pífanos etc. feito com a massa de mandioca puba, ou seja, fermentada,
(4)(5). A Feira de Caruaru é tão importante para a cultura conhecida como carimã, e acrescida de ingredientes como
local que em 2006 ganhou o título de Patrimônio Cultural e gema e leite de coco. Hoje o bolo é considerado patrimônio
Imaterial Brasileiro, concedido pelo Ministério da Cultura, cultural imaterial pelo Iphan (Instituto do Patrimônio
através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Histórico e Artístico Nacional)
Nacional (Iphan). Já as festas juninas, mais um símbolo da (3)(4)(5)(13)(14)(19)(20)(21).
cultura da região, mesclam gastronomia, folclore e religião. Sabemos que as divisas entre os Estados são rompidas
Rezas em homenagem aos santos católicos, São Pedro, quando se trata de gastronomia e muito da culinária de um
Santo Antônio e São João, comidas típicas, danças, como a Estado sofre e influência na culinária de outros. Assim,
quadrilha, e o forró são obrigatórios nas festas juninas. ocorre com o Estado da Bahia. A Bahia faz divisa com 8
Segundo as autoras Dolores Freixa e Guta Chaves (2008) a estados, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Piauí ao norte,
palavra forró tem duas versões. Na primeira, as autoras Minas Gerais e Espírito Santo ao sul, Goiás e Tocantins a
explicam que vem da expressão inglesa for all, “para Oeste. Ao Leste com o Oceano Atlântico. É o maior Estado
todos”, usada na porta dos bailes ingleses em Pernambuco, do Nordeste, com maior litoral do Brasil (22). A economia é
no início do Século XX, quando várias ferrovias estavam diversificada. Na agricultura destacam-se a produção de
em construção e os bailes eram promovidos para alegrar os cana-de-açúcar, cacau, mandioca, coco, café, algodão,
trabalhadores. Outra versão seria que a palavra “forró” vem dendê, feijão, milho e banana. Na região do Vale do Rio
de “forrobodó”, como eram chamados os bailes de São Francisco destaca-se como maior produtora de frutas
arrastapé. Foi o músico Luiz Gonzaga, quem difundiu o tropicais do país. Na pecuária os rebanhos bovinos, ovinos e
ritmo pelo Brasil, a partir dos anos 40. As cidades de caprinos destacam-se, sendo este último, o maior do país. A
Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) disputam o título de religião é muito importante para a cultura do povo baiano,
melhor festa junina do Nordeste (4)(5). marcado pelo sincretismo religioso, catolicismo (de origem
Segundo Xico Sá: “Se toda existência humana decorre do europeia) e candomblé (de origem africana)
binômio estômago e sexo, como registra Câmara Cascudo (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). Segundo Freixa e Chaves (2008)
em A História da Alimentação no Brasil, a gastronomia de o carnaval de Salvador é a maior festa popular do planeta.
Pernambuco e arredores sacia, com requinte e fartura, todas Durante o ano todo há manifestações folclóricas como a
as fomes de um homem. Basta um caldinho de sururu ou de capoeira, espécie de luta e dança bem brasileira; o maculelê,
aratu e uma fritada de caranguejo para que a satisfação luta e dança de origem africana e indígena; o samba de roda,
gastronômica nos leve a buscar outros desejos” (19). patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico
A culinária pernambucana recebeu influência dos elementos e Artístico Nacional (Iphan). Nas Festas Juninas não pode
formadores da população: do africano, que veio trabalhar faltar o quentão (bebida feita de cachaça e gengibre) e os
nos engenhos, o gosto pela pimenta, o uso do azeite de pratos típicos: bolo de carimã, de milho e de aipim, canjica,
dendê e do coco. Dos indígenas nativos, o uso do milho e de mungunzá. Todas as festas populares, religiosas ou profanas
raízes, como a mandioca. Do colonizador português, herdou têm barracas de comidas típicas (4)(5).
as técnicas de preparo de cozidos, caldos e doces. Dos A Bahia é o Estado onde vive maior número de afro
holandeses ficou apenas um tipo de biscoito conhecida descendentes do Brasil, representando 80,4% da população
como brote (brood, em holandês = pão). A cozinha regional do Estado, seguida pela europeia, com 10,8% e a indígena,
tem pratos criados nas casas grandes e nas senzalas, nas com 8,8%. A figura da baiana é símbolo cultural, guardiã da
aldeias e nos mosteiros. Nos Conventos e Mosteiros foram memória das receitas e do modo de preparo. Das heranças
preservadas as receitas dos doces portugueses: o pão de ló à do indígena vem o hábito de utilizar o milho e a mandioca.
moda do Convento dos Amarantes, o manjar branco criado A forma de preparar o peixe na folha da bananeira. Dos
no Convento Santa Maria das Celas (na cidade de Portugueses o modo de preparar e conservar os alimentos.
Guimarães, em Portugal). O biscoito Nicolau trazido pelas O uso de especiarias, do azeite de oliva, os doces de ovos
freiras alemãs nos anos de 1940. E o famoso bolo de rolo (quindins, manjares). As técnicas de conservação de carnes

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

através da salga e secagem. No entanto a “grande receitas, e criou seus pratos típicos: arroz de toucinho, arroz
contribuição” lusitana para a culinária baiana foi ter trazido de caranguejo, arroz de carneiro, arroz de galinha e o arroz
da costa da África produtos como o azeite-de-dendê, o coco, de cuxá, o mais famoso de todos. O cuxá é o prato típico do
o gengibre, a pimenta malagueta e principalmente as Maranhão. Herança dos povos africanos, a receita tem como
cozinheiras, que chegavam como escravas. Entre todas as ingrediente principal a vinagreira, erva de sabor azedo
cozinhas típicas do Brasil a baiana é a que tem mais raízes comum nas preparações típicas. O cuxá leva também
africana. (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). O azeite-de-dendê é um camarão, pimenta de cheiro, farinha seca, entre outros
óleo extraído da polpa do coco da palmeira Elaeis ingredientes (4, 5, 20,25).
guineensis, de origem africana. Dendê é o nome da palmeira Entre as bebidas típicas do Maranhão destaca-se a Catuaba,
no idioma quimbundo. Os escravos usavam para passar no um destilado produzido a partir das frutas amarelas de uma
cabelo e no corpo. As escravas que cozinhavam para as árvore local. Os “poderes” energéticos e afrodisíacos da
senhoras brancas começaram a substituir o azeite de oliva planta que serve de base à bebida são conhecidos há séculos
(que os baianos chamam “azeite doce”) pelo dendê (20). A pelos índios nativos. Muito antes da colonização, os índios
pimenta malagueta, de origem africana, está presente em já a utilizavam como um tipo de tônico. Hoje, a planta pode
quase todos os pratos baianos. No Brasil já existia uma ser consumida ao natural ou também misturada à cachaça.
espécie nativa muito semelhante, do gênero Capsicum, que Outra bebida típica é a Tiquira, destilado de mandioca,
foi levada para África e lá passou a ser chamada também de também de origem indígena, aguardente típica do
malagueta. Dos negros iorubas e bantos veio o uso da Maranhão, leva açúcar e cascas de tangerina em sua
bananeira e do dendezeiro, do feijão-guando, do leite de produção, tendo como característica sua cor azulada e alto
coco, da galinha d’angola. O acaçá veio da Nigéria e do teor alcoólico. Mas a bebida mais famosa é o Guaraná
Daomé (atual Benin). Acaçá é um bolo de arroz ou milho Jesus, apelidado de “sonho cor-de-rosa”, por causa de sua
ralado cozido em banho-maria e envolvido em folha de cor rosa, com sabor doce de tutti-frutti é um dos símbolos
bananeira. O coco, dendê e a pimenta malagueta formam o do Maranhão. Foi inventado por acaso em 1920, quando o
trio de temperos básicos da cozinha baiana e o diferencial farmacêutico Jesus Norberto Gomes errou a fórmula de um
entre as outras cozinhas nordestinas. A moqueca baiana é o medicamento. Outros pratos típicos do Maranhão, pode-se
exemplo clássico da união dos três ingredientes citar: a caldeirada maranhense, o creme de bacuri, o doce de
(3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). A palavra “MOQUECA” tem espécie e a torta de camarão (4,5, 20,21,25). Já os
origem tupi, e não africana. “MOQUECA” vem de ingredientes típicos do Maranhão, destacam-se, o bacuri,
“POKEKA”, como afirma Câmara Cascudo, em História da fruta da região amazônica, de polpa branca, muito doce, e
Alimentação no Brasil (3)(4)(5). Segundo Trevisani et al. sabor singular, pode ser consumido ao natural, mas também
(2004), no fim do século XVIII os negros começaram a costuma entrar na composição de cremes, compotas, sucos,
organizar-se em comunidades religiosas formando os sorvetes, refrescos, licores, geleias, tortas, bolos, bombons;
candomblés em torno de uma família de santos (deuses). o babaçu, grande palmeira nativa, com mais de 20 metros
Além do canto e da dança ofereciam comidas – “comida de de altura e intensa produção de cocos, muito importante
santo” ou “comida dos deuses”. Oxalá, pai de todos os para a comunidade local, o babaçu é aproveitado por
orixás, sua comida predileta é o acaçá insosso. Iemanjá, a completo: do coco, extrai-se um óleo comestível; das
rainha do mar e a mãe de todos os orixás, gosta de arroz amêndoas verdes raladas e espremidas com água, forma-se
com mel, manjar branco, peixe, camarão, cabra, pato, um leite muito nutritivo utilizado no preparo de cuscuz de
carneiro e galinha d’angola. Xangô, guardião dos raios e milho e para temperar carnes e peixes; e, das folhas, ainda
trovões, gosta de carneiro e galo. Iansã, deusa dos ventos, se produzem cestos e peneiras; o gergelim, natural da Índia
das tempestades e das almas, gosta de cabra, galinha e peru e conhecida desde a Antiguidade, esta planta também se
(4)(5). Um cardápio clássico baiano não pode faltar acarajé, tornou comum no Maranhão. As sementes torradas
moqueca baiana e quindim. A qualquer hora, o acarajé pode compõem pratos salgados e doces e servem de base ao cuxá,
ser consumido. Pelo menos duas vezes por semana o baiano já citado anteriormente; a juçara, palmeira nativa da região
come pratos típicos, como: caruru, vatapá, sarapatel. Os amazônica, entra no preparo de pratos doces e salgados. A
ingredientes da cozinha baiana são: amendoim, araticum, cozinha do Maranhão é uma das mais saudáveis do
dendê, cacau, camarão, castanha de caju, coentro, coco, Nordeste. Pouca gordura e muito peixe fresco com
farinha de mandioca, feijão fradinho, lambreta, mangaba, moderado tempero à base de tomate, cebola, pimentão,
maturi, palma, pimenta malagueta, quiabo, sapoti, siri pouco alho e cebolinha verde caracterizam sua culinária. Ao
catado, siri mole, xerém (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24) . contrário dos baianos, usam pimenta de forma moderada
A expressão popular “O que é que a baiana tem?” originaria (4,5, 20, 26).
da música de Carmen Miranda, mostra a riqueza do Na cozinha tradicional piauiense a farinha de mandioca é
tabuleiro da baiana, que tem comida de rua espalhada por muito consumida para complementação dos pratos. Presente
todos os cantos de Salvador e não pode faltar o acarajé. O nas farofas, no pirão e na paçoca é indispensável na mesa
acarajé e os trajes das baianas foram tombados como dos piauienses. O uso de carne com caldo é outra
patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Artístico e característica bem típica do costume alimentar dos
Histórico Nacional (Iphan). Além do acarajé, o abará, o piauienses. O arroz é consumido como carne seca de gado,
acaçá, o caruru, o efó, o mugunzá, o vatapá, xinxim de com carne de criação, de galinha, de capote (galinha
galinha, o bobó de camarão, arroz-de-hauçá, bolinho de d'Angola) ou pato (4,5, 20, 26).
estudante, a cocada, frigideira de maturi, são pratos que Apesar da predominância das comidas sertanejas à base de
compõem a culinária baiana. No litoral peixes e frutos do carne, a cozinha piauiense dispõe também de pratos à base
mar: agulha frita, frigideiras (bacalhau, camarão, siri) de peixes e de frutos do mar. As frigideiras e as caldeiradas
aratuzada, moquecas. No interior o baião de dois, conhecido de camarão, as casquinhas de caranguejos, os mexidos de
como rubacão, a carne de sol, o pirão de leite, o aipim, o ostras e as peixadas ao leite de coco babaçu são apreciados
jerimum, o bode, o feijão de corda, o angu, a buchada, a na região. Entre as bebidas a cajuína se destaca, sendo o
galinha (3)(4)(5)(20)(21)(23)(24). Piauí o maior produtor do país (4,5, 20, 26, 27).
No Maranhão o maior destaque da gastronomia é o Arroz A culinária paraibana é outro referencial da gastronomia
trazido da Ásia pelos colonizadores portugueses no século nordestina, com uma combinação de sabores e cores,
XVIII, o ingrediente se tornou, no fim do período colonial, contribuindo com o desenvolvimento do turismo local. No
produto de exportação do Maranhão para a Europa. Com o litoral podem ser encontrados pratos como a agulhinha frita,
excedente o maranhense aprendeu a preparar diferentes pratos à base de camarão, a peixada e os famosos caldinhos

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

de caranguejo com leite de coco (20)(26)(28)(29). O angu é processada com a ajuda de um instrumento chamado tipiti,
um prato popular, de influência africana (28) (29). Outro uma espécie de prensa de palha usada para espremer a raiz e
prato muito consumido na região é o arroz doce, feito com o extrair o tucupi, caldo de cor amarela, que deve ser fervido
leite de coco e o de vaca. Em 1720, na região compreendida para que possa ser consumido. Outro ingrediente muito
entre o centro norte paraibano e as cidades do Seridó Norte- apreciado na região amazônica é o jambu, ou agrião do
Rio-Grandense surgiu a carne de sol, a qual é, sem dúvida, Pará, planta que causa dormência e faz os lábios tremerem
um dos pratos mais característicos do estado como também levemente. Outro prato que se destaca na região é a
de toda a região Nordeste, como citado anteriormente. maniçoba, um tipo de cozido, que lembra uma feijoada, mas
Vários restaurantes se especializaram na preparação, que é é feito com a folha da mandioca no lugar do feijão. Tanto o
servida acompanhada pela macaxeira, feijão verde e pato no tucupi como a maniçoba são preparações voltadas
manteiga da terra (28) (29). De influência indígena a para dias festivos, como o Círio de Nossa Senhora de
gastronomia paraibana herdou pratos feitos a partir de raízes Nazaré, que acontece no mês de outubro. O pato no tucupi é
e de milho, que nas festas juninas se destacam, como as assado e depois cozido no tucupi, o pato ainda leva jambu,
pamonhas, canjicas, mungunzás entre outros. Tem-se pimenta-de-cheiro, chicória e alfavaca. Leva um dia para
também a sopa de cabeça de galo, o chouriço, a maxixada e ficar pronto e é servido com arroz branco, farinha d’água e
sarapatel de porco e o baião de dois, que além do queijo de molho de pimenta. Já a maniçoba, um dos poucos pratos
coalho, leva creme de leite ou nata, e pode ter carne se sol com alguma influência portuguesa, leva muitos cortes do
desfiada (28) (29). Na Paraíba ele é chamado de rubacão. porco, como língua, orelhas, lombo, toucinho e também
Pela sua privilegiada localização geográfica, às margens do charque, além do ingrediente principal, a maniva, folha da
oceano Atlântico, o Rio Grande do Norte tem uma cozinha mandioca, considerada venenosa. As folhas precisam ser
típica que se divide entre os produtos da terra e os frutos do moídas e são fervidas por praticamente quatro dias
mar. Entre as mais variadas preparações no interior do seguidos. No total, a maniçoba leva uma semana para ser
Estado destacam-se aquelas que derivam da atividade preparada. E por demorar tanto para ficar pronta,
pecuária: a carne-de-sol, a paçoca, o queijo de manteiga e geralmente é preparada em grandes quantidades. Ainda se
de coalho, a coalhada etc. Também é comum as comidas destacam no cardápio da região amazônica peixes como o
preparadas com produtos da terra como a mandioca, milho filhote, o pirarucu e o tambaqui. Pratos como o pirarucu de
verde e coco, entre outros (28) (29. casaca, preparado com azeitonas, ovos e cheiro-verde, e a
costela de tambaqui (espinhas do peixe), assada em brasa e
A Cozinha Regional do Norte ainda o filhote, como o nome sugere, é um peixe novo, de
até 20 kg, consumido enquanto sua carne é macia, são
Formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, muito apreciados na região. Outras iguarias do Norte: o
Rondônia, Roraima, Tocantins. Localizados na região caldo de turu, as sopas de tartaruga, o aviú, o picadinho de
geoeconômica da Amazônia (22). A culinária do norte jacaré e a farinha de peixe, chamada de piracuí, feita do
celebra as origens brasileiras. Diversos pratos de sabores peixe acari-bodó, que é assado em forno a lenha ou seco ao
únicos, sofreram pouca influência de europeus e africanos. sol antes de ser transformado em farinha com a maceração
Destaque para a valorização da culinária indígena em pilão de madeira. Com essa farinha são feitos bolinhos e
(4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32). A Amazônia possui farofa (4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32).
grande diversidade: 250 variedades de mandioca; 30.000 A região Norte tem uma grande diversidade de frutos como
espécies da flora (10% de todo o planeta); 1300 espécies de o açaí, bacuri, pipriá, mangaba, murici, piquiá e cupuaçu.
peixes; 10% das abelhas do mundo estão na Amazônia; 176 Usado para fazer doces, sucos, sorvetes, licores, geleias e o
tipos diferentes de frutos. Essa exuberância em cupulate, o cupuaçu substitui outro fruto da região o cacau,
biodiversidade faz dessa cozinha uma das mais autênticas mostrou-excelente para o “chocolate”. Os bombons de
do Brasil, sendo considerada exótica para o resto do país e cupuaçu são apreciados em todo o país. Para obter o
do mundo, porém cheia de personalidade. Assim é a cupulate, as sementes do cupuaçu precisam ser despolpadas,
cozinha da Região Norte do Brasil, a cozinha da Amazônia fermentadas, secas ao sol, torradas, descascadas, prensadas
(4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32). Formada por técnicas de e moídas. A massa obtida mistura-se açúcar, leite e
preparo indígenas e por frutos, peixes e vegetais exclusivos manteiga extraída da prensagem das sementes. A partir daí
da região, consequentemente, produtos únicos do Brasil. são feitos os produtos de cupulate. Em Belém, o mercado
Seu produto mais popular é, sem dúvida, a mandioca, do Ver-o-peso é uma instituição amazônica com mais de
chamada por Câmara Cascudo de “A Rainha do Brasil”, 380 anos, o complexo teve origem no período colonial com
que juntamente com suas farinhas, e outros subprodutos, a Casa do Haver-o-peso, onde as mercadorias eram pesadas
produzidos pelos índios que já habitavam o Brasil antes da antes de serem tributadas pela coroa portuguesa e, depois,
chegada do colonizador, está presente em diversas pela Câmara de Belém, representa um símbolo da
preparações típicas e na maioria das refeições do povo que gastronomia local (4)(5)(20)(21)(26)(30)(31)(32).
habita essa região (3). Também muito divulgado como
outra riqueza da Amazônia é o açaí, costuma ser servido A Cozinha Regional do Centro-Oeste
com granola e banana nos estados do Sudeste e Sul, mas na O Centro-Oeste é formado por dois grandes principais
Amazônia, o açaí pode ser consumido como doce ou biomas: O Pantanal e o Cerrado. Assim, também é sua
acompanhado de um peixe e de farinha de mandioca. cozinha regional pantaneira (MT e MS) e goiana (do
Excluindo a mandioca e o açaí, pouco se vê da cozinha do Cerrado). Apesar dos biomas predominantes a região possui
Norte em outros Estados do Brasil. Os ingredientes são áreas de Floresta Amazônica e até Caatinga. Apresenta
difíceis de encontrar fora da região. Alguns pratos clima tropical semiúmido e úmido, com duas estações bem
principais, doces e outras iguarias típicas da cozinha do definidas, uma chuvosa e uma seca. Ocupa uma área de 1
norte brasileiro que podemos destacar são o tacacá, caldo de 606 403,506 km², sendo a segunda maior região do Brasil.
tucupi fervido com goma, camarões, jambu e molho de Possui mais de 16 milhões de habitantes. A Pecuária
pimenta. Servido sempre em cuias, é conhecido como o extensiva é a atividade mais importante. Na agricultura de
“chá do Pará”, sendo consumidos pelos paraenses no fim de exportação destaca-se o arroz, algodão, café, milho,
tarde, por volta das 17h. O tucupi, um caldo extraído da amendoim, trigo e soja e na agricultura familiar, destinada
mandioca brava, é usado em várias preparações, como no ao consumo local, destaca-se o cultivo de milho, mandioca,
famoso pato no tucupi. Para retirar o tucupi a mandioca abóbora, feijão e arroz. A área mais industrializada e
brava, que é venenosa (contém ácido cianídrico), precisa ser desenvolvida socioeconomicamente é o eixo Goiânia-

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Anápolis-Brasília. (1)(2)(9)(10)(22). Índios, portugueses, A região Sudeste é a região mais populosa do país, possui
espanhóis, afrodescendentes, além de paulistas, mineiros, e uma população de 88.371.433 habitantes, que representa
sulistas, compõem a formação étnica da região, com 44% do total nacional. Ela é formada pelos estados de São
múltiplas heranças. (5). Os indígenas foram os primeiros Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo e
habitantes. Depois chegaram os bandeirantes. Em busca possui uma extensão territorial de 924.511,3 quilômetros
de minas de ouro fundaram as primeiras vilas: Vila Real do quadrados, sendo a segunda menor região do Brasil, maior
Bom Jesus de Cuiabá, atual Cuiabá, capital do Estado apenas que a região Sul. É a região que tem a maior
de Mato Grosso, fundada em 1719. Em 1729, o Bandeirante densidade demográfica (92 habitantes por quilômetro
Bartolomeu Bueno da Silva fundaria, o Arraial de quadrado) e o mais alto índice de urbanização, 92,1%, com
Sant'Anna. Em 1736 passa a ser chamada de Vila Boa, atual 1.668 municípios (2)(9)(10)(22). A agricultura é bem
cidade de Goiás. Em 1748, foi criada a Capitania de Goiás. diversificada, destaca-se o cultivo de cana de açúcar, café,
Os mineiros e paulistas também povoaram a região laranja, algodão e soja. O principal porto do Brasil localiza-
instalando grandes fazendas de criação de gado. Para se na cidade de Santos em São Paulo, onde chegam e são
defender as fronteiras do Brasil com os outros países, foram escoados diversos produtos, inclusive alimentos. Os
portugueses influenciaram bastante a comida dos Estados
criados fortes militares e em volta desses fortes surgiram
do Sudeste, como o apreço pela carne de porco e os doces
povoados. Destaca-se o Forte de Coimbra, hoje o município
em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, o uso do bacalhau e a
de Corumbá. A construção de Brasília, também contribuiu
feijoada são heranças dos lusitanos
para o povoamento e o desenvolvimento socioeconômico da (5).(20)(26)(30)(35)(36)(37). Pratos com peixes e frutos do
Região Centro-Oeste. O povoamento aumentou com a mar, como a moqueca capixaba, carro-chefe da culinária do
construção de estradas de ferro e, mais tarde, com o Espírito Santo, carrega vários traços da alimentação
aparecimento das rodovias e das hidrovias indígena (5)(20)(26)(30)(38).
(4)(5)(6)(20)(26)(30). O Mato Grosso do Sul lutou várias A cultura de cafezais do interior paulista influenciou no
vezes para se tornar independente do Mato Grosso, tendo hábito do café preto após as refeições. A imigração italiana
sua independência oficializada em 1° de janeiro de 1979. disseminou o apreço pelas massas e pizzas nas mesas
Na cultura da região Centro-Oeste destaque para a figura da paulistas. Não menos importante para a cultura local, a
doceira poetisa Cora Coralina (4) e no Pantanal a figura do cozinha japonesa se tornou mania, principalmente na capital
boiadeiro (4)(5). Em Goiás, uma tradição cultural são as paulista. Mas na cozinha do dia-a-dia, o paulistano prefere o
Cavalhadas, que ocorre na Festa do Divino (5). Entre as arroz com feijão e uma carne, chamada de “mistura” Graças
principais preparações da gastronomia e as comidas típicas aos ciclos do ouro e do café a região tornou-se a mais rica
da região Centro-Oeste, destacam-se: a grande variedade de do país, e com maior diversidade gastronômica (5)(35). A
peixes e carnes exóticas; a mojica de pintado; o caldo de tradicional cozinha paulistana com raízes que se originam
piranha; o matrinxã com farofa de banana da terra; o dos bandeirantes e tropeiros, preserva pratos como o
caribéu; o churrasco; o bolo de arroz cuiabano; a sopa e a ensopado de galinha caipira, o feijão tropeiro, o virado à
chipa paraguaias; o furrundu; o arroz e a saltenha paulista e o cuscuz paulista. Na doçaria, os doces feitos em
(bolivianos), o soba japonês; o tererê; a galinhada com tachos de cobre, como a goiabada cascão e o doce de
pequi; o arroz com pequi; a maria Izabel; o empadão laranja-da-terra são bem típicos da região. A partir do final
goiano; a pamonha salgada e a doçaria única, com seus do século XIX, com a chegada dos imigrantes italianos,
doces em caldas feitos com os frutos do cerrado árabes, japoneses, entre outros, são incorporados diversos
(4)(5)(20)(26)(30)(33)(34). No Mato Grosso e Mato Grosso pratos como pizzas, massas, esfihas, charutos, sushi,
do Sul, o que melhor caracteriza a culinária presente nos sashimi etc. No início do século XX, com a
dois Estados são os peixes encontrados nos rios que cortam industrialização, assim como ocorreu na Europa, ocorreram
o Pantanal. Pacus, pintados, dourados, tucunaré, curimbatás, grandes mudanças à cultura da região, com forte influência
piraputangas, cacharas, jaús, matrinxãs e piranhas, da herança francesa na culinária. Nomes afrancesados se
destacam-se entre as mais de 200 espécies que habitam a incorporam ao vocabulário: toalete (toillete), à la carte,
região. As formas de preparo são bem variadas, com maître, menu, patê (pâté), musse (mousse) são alguns
destaque para o peixe frito, assado, ensopado, refogado ou exemplos. Ainda com a influência dos imigrantes, o pastel,
assado na brasa envolvidos em folhas de bananeira, já os de de origem chinesa, chegou ao Brasil através dos japoneses
grande porte como dourado e o pacu, costumam ser em 1908, tornando-se uma iguaria dos paulistanos, que tem
preparados inteiros. Também se destacam as carnes exóticas por hábito comê-lo nas feiras acompanhados de caldo-de-
como jacaré, capivara, javali, paca e avestruz cana (5)(20)(26)(30)(35)(39). São Paulo é hoje considerada
(4)(5)(20)(26)(30). Na cozinha goiana muitos pratos têm a capital brasileira da gastronomia. O símbolo da
influência dos mineiros e paulistas. Como os pratos à base gastronomia paulistana é Mercado Municipal, conhecido
de carne seca, carne de porco e galinha. Os alimentos popularmente como Mercadão. Ele abriga a riqueza cultural
indígenas incorporados ao cardápio goiano eram à base de gastronômica da cidade representada por ingredientes e
milho e mandioca. O aproveitamento dos produtos típicos insumos de diversos povos. O Mercadão oferece os famosos
do Cerrado, como a guariroba e o pequi nas receitas trazidas sanduíches de mortadela e pernil e o bolinho de bacalhau
pelos colonizadores é um dos diferenciais dessa cozinha. ((5).
Galinhada com pequi, arroz com pequi e Maria Izabel, Por mais de dois séculos a cidade do Rio de Janeiro foi a
empadão goiano, a pamonha salgada, que pode ser recheada capital da Colônia, do Império e da República do Brasil,
com queijo, carne moída, frango etc. doces cristalizados. entre 1763- 1960. (5)(6). Esse fato explica a forte influência
Na doçaria, o cajuzinho do cerrado, mané pelado, alfenim, da culinária portuguesa nos hábitos alimentares carioca.
pastelinho, que lembra o pastel de Belém, mas é recheado Pratos à base de bacalhau, o caldo verde, iscas de fígado, o
com o doce de leite da região (4)(5)(20)(26)(30)(34). Já os cozido carioca e a tradicional feijoada carioca são exemplos
Frutos do Cerrado, destacam-se: araçá, araticum, baru, dessa influência (4)(5)(36). A cultura Caiçara, nome de
buriti, cagaita, caju do cerrado, coquinho-azedo, guabiroba, origem tupi dado ao homem que vive do mar, ainda é
gueroba ou guariroba. Além do jatobá do cerrado, jenipapo, presente no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo. As
jurubeba, macaúba, mangaba, maracujá do cerrado, murici, comunidades de pescadores mantêm os hábitos alimentares
pequi e pera do cerrado (4)(5)(33). de seus ancestrais indígenas. Além do peixe, utilizam o
milho, a mandioca, o feijão, o inhame, a cana, abóbora, e a
A Cozinha Regional do Sudeste banana. Um prato típico do litoral da região é o “azul
marinho”, uma peixada preparada com banana nanica

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

verde, que libera tanino na hora do cozimento, conferindo religiosos Jesuítas espanhóis, que catequisaram os índios e
cor azulada ao prato (5). ensinaram a estes a agricultura e criação de rebanhos. Com
A culinária mineira tem muitos pratos semelhantes a as guerras por posse da terra muitos indígenas foram
paulista, principalmente quando falamos de cozinha mortos, os Jesuítas fugiram e o gado foi deixado solto nas
regional, tradicional. pastagens. No século XVIII a coroa Portuguesa já com a
O arroz com suã, a rabada, o leitão à pururuca, o lombo retomada das terras e com medo de novas invasões cede
assado, a pamonha, e diversos doces. A carne de porco é o terras para brasileiros e portugueses ocuparem a região,
“carro chefe” na cozinha mineira: o leitão à pururuca, o tutu dando início as vaquejadas, onde os vaqueiros capturavam o
à mineira (mexido de feijão com farinha, servido com gado solto, que se multiplicou, e comercializavam a carne
torresmo, que lembra o virado à paulista, herança dos salgada, o charque, principal atividade econômica da época.
tropeiros), a canjiquinha com costelinha de porco, o arroz Entretanto, somente no século XIX, com a chegada dos
com suã de porco. Também não podem faltar no cardápio o imigrantes europeus açorianos, italianos, alemães e eslavos,
frango com quiabo, a vaca atolada e a galinha acompanhada a região começa a se desenvolver economicamente com a
de ora-pro-nóbis. A expressão ora-pro-nóbis vem do latim agricultura. Essa é a região do país que possui maior
e quer dizer “orai por nós”. Esse vegetal é um ingrediente influência europeia na sua cultura. Segundo o IBGE, 79%
típico da culinária mineira, mas nos outros Estados do da população se declara branca (2,6,9,10, 22).
Brasil é conhecida atualmente como uma PANC (Planta Os principais produtos agrícolas produzidos na região são:
alimentícia não convencional), muito usado em Minas no soja, trigo, arroz, algodão, cana-de açúcar, laranja, uva, café
preparo da galinha caipira, servida com angu. Com suas e erva-mate. A economia é bem diversificada. O turismo
folhas pode-se fazer saladas e sopas, além de ser utilizado nas cidades litorâneas, principalmente, de Santa Catarina e
como ingrediente em vários pratos, principalmente de na Serra Gaúcha também ajudam a economia local. Grande
frango e carne moída. É rico em vitamina A, B, C, cálcio, parte das cidades da região sul apresenta ótimos índices
fósforo, ferro e proteína (4)(5)(20)(26)(30)(37). Mas é nos sociais e de qualidade de vida. As cidades litorâneas
doces e quitandas que a arte da cozinha mineira se destaca, possuem uma excelente infraestrutura turística (aeroportos,
herança dos portugueses, os suspiros, as brevidades, o bolo pousadas, hotéis, parques etc.). As praias se destacam pelas
de fubá, as compotas de frutas, ou os doces em pasta, como belezas naturais, principalmente no litoral catarinense. Há
o de leite, sempre acompanhados do queijo de minas, o também o turismo histórico-cultural, com cidades de
biscoito de povilho, a broa de fuba com erva doce, o curau, arquitetura do período da colonização italiana e alemã (final
a pamonha, a canjica, e o pão de queijo, sempre servidos do século XIX e início do XX) (4)(5)(20)(26)(30). Muitas
com café, fazem essa cozinha uma das mais destacadas do cidades do sul do país foram fundadas por colonos alemães
país (4)(5)(20)(26)(30)(37). e italianos. Portanto, a cultura desta região é fortemente
Capixaba, em tupi, significa pequena roça. A maior marcada pela influência cultural destes povos europeus.
influência da cozinha do ES é indígena. A tradição Festas típicas, danças, músicas e a culinária são marcadas
pesqueira vai determinar a culinária local, com fartura de por traços alemães e italianos. Estão presentes também na
pescados (peixes e frutos do mar). A preparação mais culinária da região as influências indígenas, dos
conhecida é a moqueca capixaba feita na panela de barro. Bandeirantes e Tropeiros, onde podemos destacar o arroz
Diferente da baiana a moqueca capixaba não vai azeite de carreteiro, chimarrão e churrasco, típicos do Rio Grande do
dendê nem leite de coco. Os ingredientes utilizados são: Sul. Em Santa Catarina destacam-se os pratos à base de
peixe, e/ou frutos do mar, muito coentro, cebola, alho, camarão, o marreco com repolho roxo e a bijajica, um
tomate, pimenta malagueta, limão, azeite de oliva, sal e bolinho frito em banha, cujos ingredientes são polvilho,
urucum. Os peixes mais apreciados são o badejo, o robalo, ovos e açúcar. Este prato típico só existe na Serra
o namorado, a garoupa e o cação. Entre os frutos do mar Catarinense, especialmente em Lages. No Paraná, os pratos
destacam-se o camarão, a lagosta, o siri, o caranguejo. As mais típicos são arroz com pinhão, o barreado e o carneiro
moquecas e cozidos são sempre acompanhadas com pirão no buraco. Como herança dos Tropeiros no Estado podemos
de cabeça de peixe. Outro prato típico é a torta capixaba, citar o feijão tropeiro e a quirera (cozido feito com costela
um prato da Semana Santa. A torta é feita com vários frutos de porco, linguiça e quirera de milho) e o arroz carreteiro
do mar, palmito, bacalhau e azeite de oliva, em seguida é (4)(5)(20)(26)(30)(40)(41)(42). Os paranaenses adoram
coberta com ovos batidos e cebola. É preparada em preparações com pinhão, fruto da araucária (árvore símbolo
frigideira de barro, e depois vai ao forno para dourar. As do Paraná). É tradicional nas festas juninas o consumo do
sobremesas valorizam os ingredientes locais, como a pinhão cru, cozido, ou assado na brasa. Um prato típico
banana-da-terra servida com açúcar e canela, o muxá feito com pinhão é o entrevero de pinhão, cozido de carnes,
preparado com milho verde e coco ralado e a machota, feita linguiça, quiabo, pinhão e vinho, feito na panela de ferro.
com rapadura, gengibre e mandioca (4)(5)(20)(26)(30)(38). A contribuição dos imigrantes alemães são os salsichões, a
Além da influência portuguesa a cozinha do ES teve linguiça de porco, as carnes defumadas, o chucrute (repolho
influência de outros europeus. Destaca-se a influência azedo) e os picles, além do strudel de requeijão, e o stolen
alemã e italiana. Na região de Venda Nova do Imigrante e (bolo de farinha de trigo, semelhante ao panetone, com
Santa Tereza os italianos trouxeram o hábito do risoto, da passas brancas e pretas, castanha, frutas cristalizadas e
polenta, massas e vinhos. Na cidade de Domingos rum). Já os poloneses contribuíram com o pierogi (pastel
Martins, além de italianos, os alemães trouxeram a cozido, feito de massa de farinha de trigo levedada,
produção de linguiças defumadas, chucrute (repolho recheada com batata cozida e requeijão) e os ucranianos
fermentado) (4)(5)(38). com o borscht (tradicional sopa de beterraba, feita com
creme de leite fresco). Os italianos estão presentes na
A Cozinha Regional do Sul cozinha paraense no bairro gastronômico na capital, o Santa
Felicidade com o frango caipira com polenta e radicchio.
Geograficamente a Região Sul pode ser caracterizada por Radicchio, é uma iguaria de origem italiana, que para ter o
um relevo constituído de Planaltos e Planícies e por um seu status de verdura original, deve ser produzida nas
clima subtropical com 4 estações bem definidas, sendo cercanias de Treviso, na Itália. Com sabor suavemente
formada pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio amargo e consistência crocante, a verdura de folhas
Grande do Sul, representa a menor Região do país, com vermelhas e nervuras brancas é indicada para o preparo de
apenas 6,76 % do território nacional (1)(2)(22). Seu saladas, risotos, massas ou guarnições.
povoamento foi iniciado com as chamadas Missões dos

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Em todo o estado do Paraná há muitas outras receitas: o incentivo à cultura, que forneçam subsídios para a
leitão desossado e recheado, o porco no rolete, o carneiro ao produção, o consumo e a preservação dos alimentos
molho de vinho, o carneiro no buraco (típico da cidade de tradicionais regionais, fortalecendo ainda o turismo e às
Campo Mourão). Mas a receita símbolo do estado é o economias locais e valorizando a gastronomia brasileira.
barreado, cozido do dianteiro do boi, temperado com sal,
cebola, alho, louro e cominho, feito em panela de barro REFERÊNCIAS
vedada (barreada) com goma feita de farinha de mandioca, 1. BRASIL. Ministério do meio ambiente. Disponível em:
sua origem é atribuída aos açorianos portugueses. https://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-
Geralmente é servido sobre pirão de farinha de mandioca brasileira. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
feito com o caldo do próprio barreado, acompanhado de 2. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
laranja e banana-da-terra cozida. A cidade de Morretes é a IBGE. Área da unidade territorial: Área territorial
grande divulgadora do barreado (4)(5)(20)(26)(30)(40). brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
A história da culinária catarinense também está ligada à 3. CASCUDO, L.C. História da alimentação no Brasil. 3.
colonização. Os açorianos trouxeram a tradição pesqueira ed. São Paulo: Global, 2004. 954 p.
para a região de Florianópolis. Os frutos do mar da região 4. CHAVES, G., FREIXA, D. Larousse da Cozinha
são de ótima qualidade, e um dos pratos típicos é a Brasileira. São Paulo: Larousse, 2007. 200p.
“sequência de camarão”. A região é hoje a maior 5. CHAVES, G., FREIXA, D. Gastronomia no Brasil e
produtora de ostras do país. Todos os anos a produção de no mundo. Rio de Janeiro. SENAC, 2008.304p.
ostras é comemorada na Fenaostra, festa da nacional da 6. KOSHIBA, L., PEREIRA, D. M.F. História do Brasil.
ostra. Também é comemorada a pesca da tainha com a Atual Editora. 7ª. edição. São PAulo, 1996, 388p.
Festa da Tainha. Além da tainha a região é rica em 7. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed.
linguado, badejo, corvina, garoupas, melros, namorado, São Paulo: Atlas, 2010.
pescada, robalos e anchovas. Pode-se também encontrar 8. PÁDUA, E. M. M. Metodologia da pesquisa:
pratos feitos com a lagosta, mariscos e lulas. Já no Vale do abordagem teórico-prática. Campinas, SP: Papirus,
Itajaí, colonizado pelos alemães, pratos com repolho 1997.
(chucrute), e carne suína, além do marreco, encontrado na 9. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
Rota do Marreco, juntamente com presuntos, e a maçã , Estatística - IBGE. Censo demográfico. 2010.
presente na apelstrudel, torta folhada de maçã, além da 10. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
batata, entre outros ingredientes, como a cerveja, a bebida Estatística - IBGE. Estimativas da população residente
símbolo dessa região festejada na Oktoberfest em no Brasil e unidades da federação com data de
Blumenau. Os italianos também deixaram suas influências, referência em 1º de julho de 2019.
no cultivo da uva e na produção de vinho e em pratos 11. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
típicos como sopa de capeletti, a lasanha, a polenta, o IBGE. Agência IBGE Notícias, Disponível em:
galeto, os embutidos, e os queijos. E ainda temos a presença https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
de outros temperos trazidos pelos russos, ucranianos, noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/23299-
poloneses, húngaros, holandeses e austríacos, que também pobreza-aumenta-e-atinge-54-8-milhoes-de-pessoas-em-
deram sua contribuição na cozinha catarinense. O Goulash 2017. Acesso em: 25 de jul. de 2020.
é um ensopado típico do leste europeu (cozido de carne de 12. MATTA, R. DA. O que é o Brasil. Rio de Janeiro:
músculo bovino com verduras, servido com spätzle Rocco, 2004.
(pequenos pedaços de massas à base de farinha de trigo, 13. CASCUDO, L.C. História da alimentação no Brasil.
ovos e leite). Na cidade de Lages a cozinha dos tropeiros e Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1983.
dos gaúchos deixaram sua influência na culinária. Pratos 14. FREYRE, G. Açúcar: uma sociologia do doce, São
como o arroz de carreteiro, o churrasco, e o chimarrão estão Paulo: Companhia das Letras, 1997.
presentes. Receitas com pinhão também aparecem nessa 15. SCAVONE, N. Discursos da gastronomia brasileira:
região de Santa Catarina (4)(5)(20)(26)(30)(41). gêneros e identidade nacional postos à mesa. Tese de
Na cozinha Gaúcha as autoras Freixa e Chaves (2008) Mestrado. UFRGS, 2007.
destacam que “O nosso churrasco nasceu pelas mãos dos 16. DANTAS, E.W.C. Mutações no Nordeste brasileiro:
gaúchos no extremo sul do país, na divisa com os pampas reflexão sobre a produção de alimentos e a fome na
uruguaios e argentinos” (5). Os acompanhamentos são contemporaneidade. Revista franco-brasileira de
farinha de mandioca, mandioca cozida, arroz de carreteiro, geografia. v.10, n.10, 2010. 1-16p.
feijão campeiro e vinagrete. A bebida típica do Rio Grande 17. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
do Sul é o chimarrão, feita com erva-mate e água quente Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.9, 2009.
(80°C), colocada em cuia e mexida com uma bomba, cujo 18. GALENO, A.S. A cozinha dos cabeças-chatas: uma
preparo e compartilhamento obedecem a um verdadeiro excursão pelo campo da culinária, da história e do
ritual (4)(5)(20)(26)(30)(42)(43). folclore dos cearenses. Fortaleza: RBS, 2003.
Como em toda a região Sul a Serra gaúcha também foi 19. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
marcada pela culinária italiana e alemã. De origem italiana Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.6, 2009.
destaca-se o galeto na brasa servido com radiccio no bacon, 20. TREVISANI, B., MATTOS, N., RAMOS, R.H.P.,
a sopa de capelete e a polenta frita. De origem alemã, o café BARBOSA, T.M. Sabores da cozinha brasileira,
colonial é destaque, consumido no café da manhã ou no Melhoramentos, São Paulo, 2004.
lanche da tarde, com variedade de pães caseiros, queijos, 21. LODY, R. Brasil bom de boca: temas da antropologia
geleias, embutidos, tortas, como o apfelstrudel e as cucas de da alimentação. 1.ed. SENAC São Paulo, 2008.
maçã, banana e uva, servido com café, sucos, chás, 22. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
chocolate quente, e vinho (4)(5)(20)(26)(30)(42)(43). Estatística -IBGE. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ms.html.
CONCLUSÃO Acesso em 5 abr. de 2020.
23. SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS
Diante do exposto, fica evidente a riqueza cultural das ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA Disponível
cozinhas regionais brasileiras e a necessidade de preservar em: https//www.sei.ba.gov.br. Acesso em: 23 de jun.
essa cultura por meio de políticas públicas ambientais, de de 2020.
preservação dos seus biomas, bem como, de políticas de

464
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

24. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional


Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.2, 2009.
25. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.10, 2009.
26. FERNANDES, C. Viagem gastronômica através do
Brasil. 7. ed., São Paulo, SENAC Ed. Estúdio Sonia
Robatto, 2005. 255 p.
27. BEZERRA. J. A. B. Alimentos tradicionais do
Nordeste: Ceará e Piauí. Fortaleza, Edições UFC,
2014. 119p.
28. LEAL, W. Fragmentos etílicos e gastronômicos – a
história do comer e do beber na Paraíba. 1 ed. João
Pessoa. Editora Textoarte, 2002.
29. CAMPOS, R.F.F, FERREIRA, J.F., MANGUEIRA et
al. Gastronomia nordestina: uma mistura de sabores
brasileiros. Anais do XI Encontro de Iniciação à
Docência.UFPB, Disponível em:
http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/m
onitoriapet/ANAIS/Area6/6CCSDNMT01. Acessado
em: 10 de jul. de 2020.
30. CARVALHO, A. J. Cozinha Típica Brasileira, Rio de
Janeiro: Ediouro, 1998.
31. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.18, 2009.
32. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.19, 2009.
33. MONEGO, E. T, SANTIAGO, R.A.C., SOUZA,
C.R.S. Projeto Biodiversidade para a Alimentação e
Nutrição Região Centro-Oeste, MMA, 2017.
34. NAVES, M. M. V. Culinária Goiânia, RF
EDITORA,2004.
35. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.4, 2009.
36. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.5, 2009.
37. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.1, 2009.
38. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.7, 2009.
39. MACIEL, M. E. Uma Cozinha �Brasileira. Estudos
Históricos: Alimentação. Rio d Janeiro, n. 33, p. 25-
39, 2004.
40. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.11, 2009.
41. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.8, 2009.
42. ABRIL COLEÇÕES. Coleção Cozinha Regional
Brasileira. Editora Abril. São Paulo, v.3, 2009.
43. BOSISIO, A., LESSA, B., MEDEIROS, H. et al. Do
Pampa à Serra: os sabores da terra gaúcha. 2. Ed. Rio
de Janeiro: Editora SENAC Nacional. 2002.148p.

465
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O Queijo Artesanal Macururé Como Patrimonio Cultural Do Sertão Alagoano.

Marcos Oliveira1, Rafael Farias2, Arliane Câmara3

1
Especialista em Docência para o Ensino Superior, Professor de Gastronomia da Uninassau e Faculdade Pitágoras,
Maceió/AL.
2
Gastrônomo, Mestrando no PPG em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP.
3
Gastrônoma, formada pela Uninassau Maceió, AL.

Email: profesor.mvieira@gmail.com

PALAVRAS CHAVE: gastronomia, laticínios, produto rural.

INTRODUÇÃO produto fica condicionado às variações naturais do leite, que podem


mudar em função da região, clima e da alimentação do gado, a
No sertão de Alagoas, a elaboração de queijos artesanais, constitui fermentação do leite para o preparo da massa é natural, devido ao grau
uma das mais significantes atividades informais de produtos lácteos do de aquecimento no seu preparo, possui elevada resistência quanto à
estado, onde é explorada por populações rurais e representa a principal sua conservação.
fonte de renda de pequenos produtores. As etapas de fabricação do queijo macururé são totalmente empíricas
Na cidade de Jacaré dos Homens, no Povoado Caititus, destaca-se porém, atualmente existe um pequeno controle que garanta uma
uma família de agricultores que produz um queijo artesanal conhecido uniformização das fabricações. O queijo, conforme dito anteriormente,
como Macururé, cujo registro do início do processo de fabricação é produzido apenas uma vez por semana.
deste queijo é inexistente, o que se conhece é que sempre foi produzido O processamento do queijo Macururé é obtido do cozimento intenso
na família, o atual produtor, aprendeu com seu pai, que por sua vez, do leite que pode durar até 09 (nove) horas de intenso preparo, num
aprendeu com seu tio-avô. Atualmente o Macururé é preparado para tacho de inox, aquecido por um forno de lenha.
ajudar no complemento da renda da família e para continuar com a A cor final varia do caramelo ao marrom, com crosta firme, podendo
tradição. apresentar certa oleosidade (devido à “manteiga” misturada à massa
Todo conhecimento para a produção do queijo é empírico, nunca no decorrer do processamento). O queijo possui textura lisa (fechada)
houve qualquer consultoria técnica, tampouco qualquer conhecimento ou com pequenos “olhos”. O sabor vai do suave ao intenso,
sobre boas práticas para a produção de queijo, nem visita de qualquer dependendo das condições do leite e do preparo.
órgão. O queijo possui elevada resistência quanto sua conservação, devido ao
Como enfatiza MONTANARI (2013), comida é cultura quando é grau de aquecimento no preparo (somado ao tempo), além de ser um
produzida, preparada e consumida (1), nesse aspecto, é essencial produto de maior consistência (menos seco e um pouco gorduroso).
difundir o produto, para que este receba o seu devido valor e possa Ao se reportar a história dos queijos no Nordeste CASCUDO (2004),
servir de referencial culinário na história da gastronomia em nosso assinalava que a preparação desses produtos eram processados pelas
Estado. mãos femininas e não recebima nenhuma ajuda masculina, uma vez
O objetivo desse estudo é divulgar a produção do queijo Macururé, que a quantidade de leite processado era pequena, e a cozinha “não
produto artesanal típico do interior do Estado, mas desonhecido por consistia em lugar de homem” (3). Essa observação de Cascudo não se
grande parte dos alagoanos, cujo processo de fabricação está aplica na história desse queijo, cuja produção sempre foi feita pelos
ameaçado de extinção pela sua baixa produção. homens da família.
A alimentação e suas variáveis atestam um processo essencial da
MATERIAL E MÉTODOS existência humana. Para FRAZONI (2016), ela é fortemente
influenciada pela cultura e pela sociedade de referência, e constitui-se
Foram realizadas para este estudo, duas visitas à propriedade da como um meio de comunicação, de identidade e de pertença (4), sendo
família para conhecer o método de preparo do queijo Macururé, o a produção do Macururé, uma prática de orgulho em manter acessa a
estudo pode ser caracterizado uma investigação participante. história de sua família.
As pesquisas de campo foram feitas durante as visitas com uma
entrevista aberta ao produtor e com um questionário com perguntas Fig 1 – Queijo Macururé
simples, com o objetivo de verificar a sua origem, o modo e seu
método de preparo, o tempo de produção.
Por se tratar de um produto artesanal e sem caracterização definida,
foram abordadas no questionário, todas as etapas do processo de
fabricação: retirada da manteiga (nata), coagulação e fervura do leite,
obtenção da massa, prensagem e enformagem.
A coleta dessas informações levou a um resultado sobre a
territorialidade e produção do queijo, enraizados na compreensão
local.
O método utilizado foi à pesquisa qualitativa em decorrência da
necessidade de enfatizar a qualidade do fenômeno, enquanto natureza,
essência, significado, dinâmica e atributos do objeto ora estudado
CORREIA (2009), que através da utilização da técnica de observação
participativa, enfatizou a interpretação individual da realidade
encontrada, o eixo de condução, o significado das informações e as
orientações, respaldando, assim, a busca para solução da problemática
e, consequentemente, do objetivo do próprio estudo (2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
Para a produção do Macururé, os ingredientes necessários são o leite,
creme ou manteiga (que se forma na superfície do leite durante sua A alimentação como fenômeno cultural, define territorialidades
fermentação), sal e um pouco de água, se necessário. gastronômicas, e se constituem na própria imagem de um povo, nesse
É elaborado com o leite cru, integral (com sua gordura e não sentido, o queijo macururé é a imagem dessa família, pois existe prazer
pasteurizado), o sabor adocicado, que é característica essencial deste com a produção da iguaria.

467
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Evidencia-se uma certa negligência das políticas públicas que pouco


valorizam essa potencialidade local/regional não só como objeto de
cultura gastronômica, mas como impulsionador de uma nova
economia.
Se a culinária também é parte da construção da identidade local,
manter viva essa tradição, é valorizar a sua história, a sua identidade.
É inegável a necesidade da valorização desse produto identitário
juntamente a outros símbolos gastronômicos de Alagoas.
A família produtora dessa iguaria precisa não só do reconhecimento,
mas também de incentivo e de um suporte técnicoespecializado, para
incrementar a produção do queijo, perpetuando esse costume local.
Esse produto carece de maior divulgação, pois o público-alvo, ou seja,
as pessoas precisam conhecer mais o produto, para que o Macururé
não corra o risco de ser esquecido antes mesmo de ser degustado em
maior escala.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1 MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: SENAC,


2013.
2. CORREIA, M.C.B. A observação participante enquanto técnica de
investigação. Pensar Enfemagem, 13(2): 30-36, set., 2009.
3. CASCUDO, L.C. História da Alimentação no Brasil, 3ª ed. São
Paulo: Global. 2004.
4. FRAZONI, E. A gastronomia como elemento cultural, símbolo de
identidade e meio de integração. 2016. 21f. Dissertação (Mestrado em
Ciência da Educação) – Faculdade de Ciências sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, Portugal, 2016.

468
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

“Cai, Cai, Tanajura na Panela de Gordura”


Tanajura como Iguaria Culinária Tradicional do Bairro Monte Castelo,
em Ubajara-Ce.

Cláudia de Souza Rodrigues1, Patrícia Campos Mesquita2, Karlane Holanda Araújo3.


1
Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFCE)
Campus Ubajara. - claudiasousar@hotmail.com.
2
Profa. Msc.Ciência e Tecnologia de alimentos- Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFCE) Campus
Ubajara.
3
Profa. Msc do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFCE) Campus Paracuru.

Palavras-chave: Entomofagia; Cultura Alimentar; Povos indígenas; Identidade Local; Ibiapaba.

Os pesquisados relacionam a tanajura a suas lembranças de


1 INTRODUÇÃO infância, como tempos bons, felizes, dias de festas, em que todos
participavam crianças e adultos, como diversão: sair às ruas correndo
Ubajara é um município da microrregião da Ibiapaba, em tempo de revoada com seu pano, sua palha ou mesmo seus coros
situada na Mesorregião do Noroeste Cearense, catando para as tanajuras baixar voo.
estado do Ceará, Brasil. De acordo com P6, de 71 anos, “tenho muitas lembranças
O território era habitado primitivamente pelos boas, que dá saudade do tempo em que saía com a minha família
índios tabajaras e como herança alimentar permaneceu o costume de para pegar tanajuras nos buracos, e usava os sapatos mais velhos
consumir insetos (1). para proteger das formigas, e latas e garrafas para guardá-las”.
Atualmente, o consumo das formigas é feito em forma A Foto 1 contém uma compilação de produções de farofas e
farofas ou in natura, sem misturas torradas com água e sal, como paçoca à base de tanajura, que são reproduzidas segundo orientações
aperitivo, acompanhando bebidas fermentadas ou destiladas, pratos dos moradores.
compostos por abdomens ovados de tanajuras com arroz e feijão,
empregado também como substituto da carne (2). Foto 1 - Coletânea de farofas e paçoca à base de tanajura
Diante dessa realidade gastronômica, o presente estudo teve
como objetivo identificar a tradicionalidade das farofas à base de
tanajura que representam a gastronomia da cidade de Ubajara-Ce,
especialmente do bairro Monte Castelo, bem como a elaboração de
fichas técnica com as preparações culinárias e os respectivos
registros fotográficos da culinária à base de tanajura.

2 MATERIAL E MÉTODOS:

A presente pesquisa caracterizou-se por ser um estudo


exploratório e qualitativo aprovado pelo CEP/IFCE sob Parecer
nº.3.277.459. Para obtenção dos dados, foram entrevistadas 15
pessoas, homens e mulheres, com idade a partir dos 25 anos,
moradores do bairro Monte Castelo (Ubajara-CE). Foi aplicado um
questionário semiestruturado que identificou as tradicionais farofas à A ficha técnica contem as quantidades per capita para
base de tanajuras. Após a coleta e análise dos dados, elaborou-se uma auxiliar na hora de compra de matéria prima. O fator de correção
ficha técnica baseada nos relatos dos entrevistados, e as preparações (FC) varia conforme a qualidade do alimento “in natura” e como
foram produzidas com um registro fotográfico a fim de criar mais retiram-se as partes não comestíveis. É utilizado para determinar a
uma fonte de pesquisa científica sobre o assunto. quantidade certa de alimentos a serem comprados. Calcula-se
dividindo o peso bruto pelo peso líquido
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Onde: PB= Peso bruto da matéria-prima
Traçou-se um perfil dos informantes da pesquisa realizada PL = Peso das partes comestíveis
no bairro Monte Castelo, em Ubajara-Ce, conforme o questionário:
Faixa etária foi constituído por pessoas de diferentes idades, *100g de amostra de tanajuras para calcular o FC = 1,11
com destaque para a faixa etária acima de 60 anos 40% do total, até (considerando as partes comestíveis a cabeça e o abdômen)
40 anos representou 27%, a mesma proporção até 50 anos. Esses
dados evidenciam que o consumo da iguaria é transmitido entre As tradicionais farofas e paçocas à base de tanajuras podem
gerações, conservando a tradicional cultura alimentar. ser consumidas com ou sem acompanhamentos, no café da manhã,
Em relação à fase da vida os pesquisados começaram a nas refeições, em substituição da proteína e como aperitivos em
consumir tanajura, 80%, não dá para dizer com precisão quando diversas ocasiões.
consumiram tanajura a primeira vez, pois sempre existiu a tanajura Para preparação das receitas à base de tanajuras buscou-se
na alimentação, desde a infância e 20% consumiram a tanajura pela ser o mais original possível, utilizando o tradicional ingrediente, a
primeira vez na adolescência. tanajura, e produzindo as porções de acompanhamento que são
Formas de aquisição 24% obtêm tanajuras durante a complementares durante as refeições.
revoada, 36% coleta direto no formigueiro e 32% através da compra. Quanto aos ingredientes empregados, todas as receitas
O consumo de 73% apenas no período de revoada, 13% foram fielmente respeitadas, segundo as orientações dos moradores.
mensalmente, 7% semanalmente e 7% três vezes por semana. Esse A farofa de tanajura é tradicionalmente elaborada pelos
baixo consumo durante ao ano deve-se à escassez e ao elevado valor. moradores do bairro Monte Castelo. Utilizam como ingredientes
A tanajura é reconhecida como uma iguaria que surgiu entre principais, o abdômen da tanajura, farinha de mandioca branca,
índios Tabajaras, primeiros habitantes da região da Ibiapaba. A manteiga da terra, alho, pimenta do reino, sal, cheiro verde ou
tradição de consumir tanajuras permanece até hoje, sendo coentro, corante (condimentos de cor avermelhada).
considerado um alimento que agrega valores culturais e Farofa de tanajura moída no liquidificador: é elaborada
gastronômicos, por ser uma comida refinada, de sabor único. pelos moradores do bairro Monte Castelo. Está técnica de moer no
liquidificador foi adaptada em substituição ao pilão, por ser mais

469
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

fácil e rápida, entretanto, ainda hoje há quem prefira utilizar o pilão. com pouca gordura, servindo de acompanhamento em todas as
Utilizam-se como ingredientes o abdômen da tanajura, farinha de refeições, desde o café da manhã até as principais refeições.
mandioca branca, banha de porco, alho, pimenta do reino, pimenta
dedo de moça, sal e corante. É consumida geralmente durante as Quadro2-Ficha técnica da paçoca de cabeça de tanajura/
refeições. Produzida tradicionalmente no mês de revoada, como pilão
também no decorrer do ano.
Farofa de tanajura simples: é feita com o abdômen da
tanajura, óleo, farinha de mandioca branca, banha de porco, alho,
pimenta do reino, sal, água, cheiro verde ou coentro, sendo
consumida nas refeições e como tira-gosto acompanhando diversas
bebidas como cerveja, cachaça, vinho e licor. É produzida
tradicionalmente no mês de revoada; também no decorrer do ano
serve para agregar os amigos e familiares para sua degustação.

Quadro 1-Ficha técnica da farofa simples de tanajura

PAÇOCA DE CABEÇA DE TANAJURA


Porções: 1
/PILÃO
Per capita (mL/ g) Quantidade
Ingredientes
PL FC PB Total
Tanajuras, só as 1,1
90,09 100g
cabeças. 1 99,99
Óleo 10 1,0 0,10 10 ml
Farinha de mandioca 300 1,0 300 300
Sal 0,05 1,0 0,05 5g
Água - - - 100

1- Cozinhe por 5 minutos, até as tanajuras morrerem.


2- Depois retire as asas, ferrão e pernas. Utilize apenas as
FAROFA DE TANAJURA Porções: 1 cabeças das tanajuras e adicione o óleo e o sal, deixe até
Per capita (mL/ g) Quantida secar e ficarem crocantes. Em seguida transfira para um
Ingredientes de total pilão, adicione a farinha de mandioca e macere até
PL FC PB
ficarem trituradas.
Tanajuras, só o abdômen. 135,13 1,11 149,99 150g
4 CONCLUSÕES:
Óleo 15 ml 1,0 15 15 ml
Banha de porco 1 5ml 1,0 15 15 ml A pesquisa sobre as tradicionais farofas produzidas à base
Alho haché, 0,05 1,2 0,06 6g de tanajura no bairro Monte Castelo, Ubajara, CE proporciona um
Cebola 0,50 1,1 0,55 55g resgate da cultura alimentar local, levando em consideração os
Pimenta do reino 0,2 1,0 0,2 2g ingredientes, o modo de produção, conservação e as técnicas
Farinha de mandioca 300 1,0 300 300 culinárias utilizadas nas preparações das farofas.
Sal 0,05 1,0 0,05 5g Obtém-se o perfil gastronômico local, bem com as fichas
Corante/ colorau 0,02 1,0 0,02 2g técnicas dessas preparações, proporcionando um olhar diferente
Água - - - 200 ml sobre os costumes e crenças em relação ao consumo da tanajura em
Cheiro verde ou coentro 0,03 1,6 0,048 5g Ubajara.
Na cidade de Ubajara a tanajura é reconhecida como uma
1- Primeiro faça a limpeza, retirando a cabeça, asas, ferrão iguaria que surgiu entre índios Tabajaras, primeiros habitantes da
e pernas e descarte tudo, utilizando apenas a bunda da região da Ibiapaba.
tanajura (abdômen). Na região da serra da Ibiapaba, o consumo de tanajuras,
2- Coloque as tanajuras em uma panela com água e sal até desperta múltiplos valores, desde o gastronômico ao valor simbólico,
levantar fervura. que manifestam significados da cultura e da identidade como
3- Retire a tanajura, e escorra e transfira para uma patrimônio imaterial, em diversas atividades socioculturais como as
frigideira. lendas, poesias e festivais.
4- Adiciona o óleo e leve ao fogo, mexendo por cerca de 10
minutos ou até que as tanajuras estejam bem crocantes e
crescidas. 5 REFERÊNCIAS:
5- Adicione o alho, pimenta do reino, cebola, corante e
banha de porco, até dourar o alho e por fim misture a
farinha de mandioca até ficar crocante. 5-Finalize com (1) SOUSA. J. E.P; SOUSA. A.N.P. Cultura, práticas alimentares
cheiro verde ou coentro por cima. e comunicação: a comida como dimensão comunicativa. REU,
Sorocaba, SP, v. 41, n. 2, p. 265 – 280 dez. 2015
Paçoca de cabeça de tanajura: Emprega como
ingredientes apenas a cabeça da tanajura, óleo, farinha de mandioca (2) SÁ. M.L.B. Tanajuras e seus significados. Alimentação e
branca. cultura, publicado em 28 de Abril 2018. Disponível em:<
É consumida nas refeições, produzida tradicionalmente no https://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/204-
mês de revoada, como também no decorrer do ano. tanajuras-e-seus-significados> Acesso em: 04.04.2019.
A paçoca é produzida essencialmente das cabeças de
tanajuras, que são piladas e misturadas com a farinha de mandioca,
geralmente adiciona-se um tipo de lipídeo (óleo ou banha) e
condimentos, sendo os mais usuais as pimentas e a cebola roxas, que
também são piladas para intensificar o sabor característico.
Mas o sucesso da Farofa de tanajura, como iguaria, é
atribuído ao abdômen da tanajura, popularmente conhecido como a
“bunda de tanajura”.
O informante com P6, de 71 anos, produz a paçoca com as
cabeças das tanajuras individualmente por ser uma parte mais seca e

470
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Consumo de Alimentos Regionais Brasileiros: Distribuição e Evolução 2008-2018

Marcos Silva¹, Maria Louzada²


¹Aluno do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde – UNIFESP. anderson.lucas@unifesp.br
²Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde - UNIFESP
Palavra-chave: Alimentação; Saúde; Cultura
INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

A alimentação adequada e saudável é um direito humano que envolve Na primeira fase desse estudo, foi realizado uma revisão literária sobre
a prática alimentar apropriada aos aspectos biológicos e socioculturais o consumo de alimentos no Brasil, identificando padrões alimentares
dos indivíduos, bem como ao uso sustentável do meio ambiente. Ou nos últimos anos dos brasileiros, sendo esse o principal foco desse
seja, deve estar em acordo com as necessidades de cada fase do curso trabalho. Já na segunda fase, será feita uma análise dos dados da
da vida e com as necessidades alimentares especiais ,referenciada pela Pesquisa de Orçamento Familiar, onde explicaremos como funciona a
cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível fonte de dados, amostragem e como será a classificação dos alimentos.
do ponto de vista físico e financeiro, harmônica em quantidade e
qualidade, baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis Fonte de dados e amostragem
com quantidades mínimas de contaminantes físicos, químicos e Os dados utilizados para este estudo são provenientes de pesquisas
biológicos (1). realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em dois períodos: maio de 2008 a maio de 2009 e junho de 2017 a maio
A promoção da alimentação adequada e saudável é uma das vertentes de 2018. As POFs 2008-2009 e 2017-2018 utilizaram plano amostral
da promoção à saúde, e se fundamenta em dimensões de incentivo, complexo por conglomerados, com sorteio dos setores censitários em
apoio e proteção da saúde, combinando iniciativas focadas em políticas primeiro estágio e de domicílios, em segundo. Os 12.800 setores do
públicas saudáveis, na criação de ambientes saudáveis, no conjunto de setores censitários na POF 2008-2009 e 5.504 na POF
desenvolvimento de habilidades pessoais e na reorientação dos serviços 2017-2018 (Amostra Mestra de Inquéritos Domiciliares ou Amostra
de saúde. Suas ações são um compromisso do SUS que está expresso Comum) foram agrupados previamente para obter estratos de
na Política Nacional de Alimentação e Nutrição e na Política Nacional domicílios com alta homogeneidade geográfica e socioeconômica.
de Promoção da Saúde (1,2). Foram considerados a localização dos setores (região, unidade da
federação, capital ou interior, área urbana ou rural) e a amostra total de
No escopo dessas ações, o Ministério da Saúde brasileiro publicou, em domicílios nesses domínios foi de 15.399 em 2008-2009 e 17.500 em
novembro de 2014, a segunda edição do Guia Alimentar para a 2017-2018. As informações básicas das POFs que serão analisadas
População Brasileira. O Guia consiste em um documento oficial que compreendem as aquisições de alimentos e bebidas para consumo
aborda os princípios e as recomendações de uma alimentação saudável domiciliar feitas pela unidade de consumo durante um período de sete
para a população brasileira, configurando-se como um instrumento de dias consecutivos e registradas diariamente pelo morador do domicílio
apoio às ações de educação alimentar e nutricional e norteador das ou pelo entrevistador do IBGE numa caderneta. No registro incluem-se
ações no Sistema Único de Saúde e também em outros setores. Em a descrição detalhada do produto, a quantidade adquirida e a unidade
primeiro lugar, ele considera que a alimentação é mais que a ingestão de medida, além do valor da despesa em Reais, local de compra e forma
de nutrientes e traz recomendações sobre alimentos e refeições de aquisição - monetária ou não (5).
saudáveis, modos de comer adequados e sustentáveis. Há também uma
perspectiva realista e factível. Grande parte das recomendações se Classificação dos alimentos regionais
baseou na análise da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, Os alimentos regionais serão identificados a partir da classificação do
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e que livro Alimentos Regionais Brasileiros (2014) do Ministério da Saúde.
avaliou o consumo alimentar de 2 dias de mais de 30 mil brasileiros. Este livro tem o objetivo resgatar e despertar o interesse para a vasta
Nessas análises, observou-se que uma boa parcela da população quantidade de alimentos regionais presentes em todas as regiões
brasileira tem uma alimentação que corrobora o que o Guia preconiza e brasileiras e típicos da nossa flora e fauna, de forma a contribuir para a
essa parcela foi usada como exemplo para aproximar todos os outros melhoria da alimentação da população (5). Ele apresenta alimentos
brasileiros do que é recomendado. Com isso, o Guia traz uma grande típicos de cada uma das cinco macrorregiões do País e receitas de
valorização da experiência cultural, enaltecendo as variações que preparações culinárias que utilizam esses alimentos, ressaltando a
demarcam as diferentes regiões do país (3). riqueza da diversidade da alimentação brasileira.

O alimento e a culinária regionais representam valores que conformam No livro, os alimentos foram classificados por região (Norte, Nordeste,
a habitualidade dos tipos de alimentos, o horário das refeições, o modo Centro-Oeste, Sudeste e Sul) como: Frutas; hortaliças; leguminosas;
que se misturam às recordações e outras referências necessárias à Tubérculos, raízes e cereais e; ervas, condimentos e temperos. Apenas
identidade social dos indivíduos em seus grupos ou camadas sociais nas regiões Norte e Nordeste tiveram classificações a mais
específicas. Como exemplo, podem-se citar alguns pratos que fazem denominadas “Farinhas derivadas da mandioca” no Nordeste e
parte da identidade dos brasileiros: chouriço do seridó, no Rio Grande “Farinhas e preparações” no Norte. Para a análise da pesquisa essas
do Norte; feijoada, no Rio de Janeiro; beiju de tapioca, em várias classificações serão agrupadas em “Tubérculos, raízes e cereais” para
províncias do Nordeste; acarajé, na Bahia; arroz de cuxá, no Maranhão; melhor entendimento nas suas respectivas regiões. A região Centro-
galinhada em lagarto, em Sergipe; pão de queijo, em Minas; baião de Oeste foi a única que não apresentou nenhum legume no seu grupo. A
dois (queijo de coalho, feijão e arroz), no Ceará; pamonha e pequi, em tabela 1 a seguir apresenta a quantidade de alimentos em seu grupo para
Goiás; pato no tucupi e tacacá, no Pará; pirarucu, no Amazonas; cada região.
churrasco, no Rio Grande do Sul; barreado, no Paraná; moqueca de
peixe capixaba; cuscuz de milho, no Nordeste; e o açaí, no Norte (4). Tabela 1: Quantidade dos alimentos segundo tipo de alimento e suas
Diante do que foi citado, e por possuir poucos estudos que avaliam o regiões de origem
consumo dos alimentos regionais do Brasil com uma amostragem Frutas Hortali Legumes Túberculos, Ervas,
populacional representativa, o principal objetivo desse estudo é revisar ças reizes e condimentos
cereais e temperos
a literatura a cerca do consumo dos alimentos regionais no Brasil (fase
1) e analisar a distribuição sociodemográfica e a tendência temporal do Norte 32 5 1 8 2
consumo dos alimentos regionais brasileiros entre os anos de 2008 e
2018 por meio de análise dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar Nordeste 19 8 5 7 2
(fase 2).

471
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Centro- 24 8 0 3 3 CONCLUSÃO
Oeste
Apesar de possuir literaturas que falem e apresentem os alimentos
Sudeste 13 18 3 4 2 regionais Brasileiros entre os dados, ainda não possui estudos que
avaliaram esse grupo de alimentos especificamente. Concluímos que
Sul 11 12 1 3 3
apesar das literaturas apresentadas, tendo como foco o consumo geral
dos alimentos, que á uma carência de dados que demonstrem o consumo
Fonte: Alimentos Regionais Brasileiros, 2014
dos alimentos regionais do Brasil como um todo.

REFERÊNCIAS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1.Brasil. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde.
Na sociedade brasileira, há distintos modos de conceber a alimentação
Departamento de atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e
e a comida. Para uma melhor compreensão desses aspectos, é preciso
Nutrição. Brasília, 2012.
considerar diferentes elementos, tais como o acesso, a produção, o
abastecimento/comercialização e o consumo de alimentos, que
2.Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde.
permitem refletir sobre o ser humano-natureza, no processo de escolha
Brasília: MS; 2006.
alimentar. Diferentemente dos outros animais, o ser humano confronta
diversos fatores culturais, sociais, econômicos, religiosos, psíquicos e
históricos, para conceber sua comida (6). O incentivo ao consumo de 3.BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população
alimentos regionais permite o resgate de aspectos fundamentais da brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
relação entre o ser humano e o meio ambiente. A regionalidade,
segundo o geógrafo brasileiro Milton Santos (7), é um conceito que
4.Brasil. ministério da saúde. secretaria de atenção à saúde.
extrapola o espaço geográfico e revela o lócus entre teias de relações
departamento de atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2.
sociais, econômicas e culturais.
ed. Brasília, 2015.
Apesar da ampla diversidade de espécies vegetais existentes na
natureza, uma parcela muito pequena dessa diversidade é utilizada pelo 5.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de
ser humano, para os diversos fins, e isso se reflete, por exemplo, na orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimento e
baixa diversificação dos alimentos. Estudos apontam que a humanidade condições de vida. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
já teria utilizado, ao longo da história, entre 3 mil e 10 mil espécies de Estatística; 2010.
plantas para atendimento de suas necessidades alimentícias. Entretanto,
a produção mundial de alimentos hoje depende de um número muito
reduzido de espécies, talvez 150 e, mesmo assim, o fato é que apenas 6.TEUTEBERG, H. O nascimento da era de consumo moderna. In:
cerca de 15 espécies fornecem 80% de toda a energia necessária ao ser FREEDMAN, P. A hist�
ria do sabor. São Paulo. São Paulo: Senac,
humano: duas açucareiras (beterraba e cana-de-açúcar), quatro 2009. p. 234-261.
produtoras de amido (batata, batata-doce, feijão e mandioca), cinco
cerealíferas (arroz, centeio, milho, sorgo e trigo), duas frutíferas 7.SANTOS, M. Por uma outra globaliza� �o: do pensamento �nico
(banana e coco) e duas oleaginosas (amendoim e soja), sendo que só �consci�
ncia universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.
duas espécies brasileiras, a mandioca e o amendoim, estariam entre as
consideradas mais importantes em âmbito mundial. Tal dependência é 8.SOUZA, A. M. et. al. Alimentos mais consumidos no Brasil:
ainda maior, uma vez que somente quatro espécies (arroz, batata, milho Inquérito Nacional de alimentação 2008-2009. Rev. Saúde Pública vol
e trigo) são responsáveis por mais da metade dessa energia. Não 47. Sulp.1 São Paulo Feb. 2013 BRASIL.
obstante, cultivos com espécies e variedades locais formam a base
alimentar para centenas de milhões de pessoas e apresentam potencial
de nutrição para um número incontável de outras. Muitas dessas 9.SILVA, L. E. S; CLARO, R M. Consumo de frutas e hortaliças em
espécies são de extrema importância para as comunidades locais, e a adultos no município de São Paulo: a influência dos locais de
exploração do potencial dessas espécies é crucial para o alcance da aquisição e consumo de alimentos. 2015. Tese de Doutorado.
segurança alimentar (5). Universidade de São Paulo.

Martins et al. (8) analisaram a contribuição dos alimentos no total de


calorias adquiridas nos domicílios do Brasil, que levando em conta a
extensão e o propósito do seu processamento industrial. Os dados são
da Pesquisa de Orçamentos Familiares realizadas no Brasil em 1987-
1988, 1995-1996, 2002-2003 e 2008-2009. As análises das POFs
indicam aumentos sistemáticos na participação de todas as principais
categorias de alimentos processados e ultraprocessados no conjunto das
compras de alimentos realizadas pelas famílias brasileiras e redução
concomitante na participação de alimentos in natura ou minimamente
processados e de ingredientes culinários. Entre 2002-2003 e 2008-2009,
a participação no total de calorias dos alimentos ultraprocessados
passou de 20,8% para a 25,4% e dos processados de 2,0% a 2,4%,
enquanto os alimentos in natura ou minimamente processados e o
ingredientes culinários caíram, respectivamente 1,6 e 3,2 pontos
percentuais. Já Silva e Claro (9) analisaram a tendência temporal do
consumo de frutas e hortaliças entre adultos nas capitais brasileiras e no
Distrito Federal no período entre 2008 e 2016 com dados do
VIGITEL e identificaram o aumento significativo na prevalência de
consumo regular (de 33 a 35,2%, aumento de 1,86%/ano) e de consumo
recomendado de frutas e hortaliças (de 20 a 24,4%, aumento de
3,32%/ano). Observou aumento do consumo de frutas e hortaliças
especialmente entre os grupos com menor nível de consumo no início
do período estudado. No entanto, 3 a cada 4 indivíduos permanecem
consumindo menos frutas e hortaliças do que o recomendado.

472
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

“Cana Sacarina: Cultura e Saberes da Gastronomia Pernambucana”

Maria Cristina Barbosa,1 Cristianne Barros2, Maria de Fátima Costa3 Maria Arraes4, Cláudio Queiroz5, Robson Lustosa6

1. Pós graduanda em Gastronomia Nacional e Internacional pela Faculdade de Boa Viagem E-mail:
mcrisbrandao1982@gmail.com
2. Mestranda em Ciência da Educação, Docente da Faculdade de Gastronomia do SENAC
3. Graduada em Gastronomia pela Faculdade SENAC
4. Pós Graduanda em cozinha Internacional pela Faculdade SENAC
5. Graduado em Gastronomia, pela Faculdade SENAC
6. Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Docente da Faculdade de Gastronomia SENAC

Palavras Chave: Doces, Bolos, Tradição, Engenhos de cana


INTRODUÇÃO bibliográfico, em literaturas. Obtendo assim embasamento de
informações que nortearam o desenvolvimento da pesquisa, diante
“Sem o açúcar não se compreende o homem do nordeste” Freyre dos pensamentos e fala dos autores.
(2007), em sua frase definia a importância do açúcar para a formação
e identidade do povo nordestino. “Enquanto nas casas-grandes, em RESULTADOS E DISCUSSÃO
um ambiente de cheiros fortes e fumaças, ia nascendo aos poucos a
doçaria pernambucana”(1). Atualmente os doceiros pernambucanos seguem as tradições dos
mosteiros e conservam a cultura e memórias afetivas, ligada aos
A Cana de açúcar desempenhou um papel de suma importância para chamados cadernos de família. Gerando um gama de produtos,
o desenvolvimento do Brasil colônia. O cultivo da Saccharum sabores e sabores que formam a doçaria pernambucana e
officinarum, pedia terras quentes, solos férteis e muito calor, caracterizam a riqueza do povo. O bolo expressa valores nas famílias,
adaptando-se ao clima do País, favorecendo a colonização brasileira. nos eventos sociais, torna-se símbolo nas mesas de café, como o
bolo de mandioca, milho, manuê, divino, Souza Leão, bolo de rolo,
A formação do povo nordestino foi gerada através da cultura da cana Bolo de noiva, Bolo Guararapes, entre outros.(5)
sacarina. O ouro branco era um produto destinado às pessoas que
tinham um alto poder aquisitivo. Incialmente utilizado como O leite condensado oriundo de uma vasta concentração de açúcar se
remédio, chega aos conventos e mosteiros iniciando a arte da doçaria. se torna essencial para a elaboração de bombons, pudins, nos
Em Alentejo surge uma riqueza de doces feita com base de muito recheios e coberturas de doces e tortas. (7)
açúcar e gemas, nas chamadas doçarias conventuais.(2)
Sem falar do nego bom, da rapadura, do alfinin, da passa de caju, da
Em Pernambuco, os engenhos canavieiros cresciam e com a chegada cartola, do queijo coalho com mel de engenho, a canjica, o munguzá,
das senhoras Portuguesas e suas receitas. Pode-se afirmar que a o arroz doce, do doce em rodelas, doce de jaca, estas traduzem
doçaria brasileira surgiu no nordeste, com base de mandioca e heranças viva na cultura Pernambucana. Desta forma, é visto a
produtos nativos, enriquecida de uma vasta quantidade de açúcar, importância da cana sacarina para o povo pernambucano e para a
alguns com uma abundância de gemas, receitas modificadas e cultura gastronômica do Estado nas tradições. Desta forma o estudo
geradas pela doçaria conventual. Surgem, assim, diversos bolos, busca compreender o consumo abundante e a cultura viva do açúcar
doces e compostas. Presentes nas mesas e tradição das famílias, o ao povo pernambucano, desta forma torna-se relevante buscar
bolo e os doces são tão significativos para o povo pernambucano que estudos através de pesquisas para embasar a influência do açúcar nos
alguns são reconhecidos como patrimônio Cultural e Imaterial do dias atuais como patrimônio gastronômico do Estado.
Pernambuco, Os chamados bolos de Rolo e bolo Souza Leão.

QUINTAS (2007) já afirmava que “A influência do açúcar se fez Açúcar Produto regional abundante nos lares, indústrias e comércios,
sentir-nos mais variados aspectos: na organização familiar, na utilizado em grande escala na produção de sucos, doces, compotas,
arquitetura, na alimentação, na religião e na cultura”(3). geleias, bolos, sobremesas, bolos e tortas. Oriundo da cana sacarina
torna-se um produto valioso quando se trata de elaborar
FREYRE (1937) “Esse Nordeste de terra gorda e de ar oleoso é o especialidades na confeitaria, puro, cristalizado, refinado ou
nordeste da cana de açúcar. Dos sobrados de azulejo, Dos mocambos pulverizado tem seu valor nas tradições e mesas pernambucanas, no
de palha de coqueiro ou de cobertura de capim-açu. O nordeste da valor afetivo na hora de produzir e receber alguém com doçuras que
primeira fábrica brasileira de açúcar.”(4). vai além do sabor doce, do calmante, da maciez, da coloração,
conservação, aeração, tornando-se símbolo de afeto, carinho e
Do melado a rapadura, dos infinitos tipos de bolos, das frutas ao preciosidade.
doce, Pernambuco tem em sua raiz a doçaria mais doce do País,
representa a alma do seu povo e simboliza a emotividade e tradição
das suas famílias no ato de receber e desenvolver receitas regionais Os doces geralmente são elaborados com frutas regionais
garantindo e perpetuando a cultura da cana sacarina. “O doce de selecionadas e mergulhadas de açúcar assim como as geleias,
Pernambuco é o mais doce” Lody (2019)(5). compotas, alguns pedem técnicas especiais como é o caso do alfinin,
da rapadura, as passas de caju embebecidas por dias no sumo da fruta
OBJETIVOS e do açúcar, os preciosos bolos recobertos de glacês, caldas ou leite
condensado, outros são feitos com base calda como o bolo Souza
O objetivo do trabalho é compreender como a cultura do açúcar leão e o pé de moleque, a riquíssima cartola com cobertura de queijo
marca a sociedade pernambucana, enriquecendo as tradições regional e uma vasta cobertura de açúcar com canela, o bolo de noiva
deixadas em famílias através dos hábitos alimentares e de sua vasta pernambucano, feito com doce de frutas e coberto com glacê
utilização na doçaria, enriquecendo assim nossa cultura e a mármore, os bolos recheados com duas vastas camadas de recheios, e
gastronomia no Estado. o bolo de rolo com finíssimas camadas revestidas de doce de goiaba,
entre outros.
MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo desenvolvido através de uma abordagem com O açúcar corre nas veias do povo pernambucano, nas mesas de doces
caráter descritivo, realizado através de pesquisas de cunho nas famílias, no ato de presentear e receber. Símbolo do grande finale
de uma refeição, torna-se tradição após uma refeição saborear uma

473
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

rica sobremesa. Os bolos são enriquecidos de coberturas de açúcar,


dando prazer a quem os consome. Remonta nossa história, infância,
momentos imaginários e felizes de nossas vidas. Trás o doce sabor
que acalma, representando o remédio da alma, da saudade, da
felicidade, do amor, garante conservação dos produtos por ele
utilizado, garantindo assim seu reinado na cultura gastronômica do
Estado.

A sequência de fotos a seguir mostra bolos regionais, consumidos


diariamente pela população pernambucana.

Figura 05: Passas de caju, regado com o sumo da fruta e açúcar.


Fonte: Acervo pessoal

CONCLUSÕES

Os estudos permitiram concluir a importância do açúcar para o povo


pernambucano, no resgate de suas raízes, culturas e tradição, assim
como o mesmo torna-se símbolo da afetividade e receptividade nas
famílias, obtendo o poder de unir as pessoas através de um simples e
delicioso doce.

REFERÊNCIAS

1.FREYRE, Gilberto, Açúcar: Uma Sociologia do Doce, com


Figura 01: Bolo Souza Leão e bolo pé de moleque, presença Receitas e doces do Nordeste do Brasil, organizadora, Cavalcanti,
marcante na festa cultural de São João. Maria Lectícia Monteiro, Editora Global, 2007, 221p.
Fonte: Acervo pessoal
2.FRAZÃO, Ana Cláudia . Shakkar: a cultura do açúcar e saberes
tradicionais da gastronomia de Pernambuco- Recife, comedoria
popular, 2016. 50p.

3.QUINTAS, Borba, A Civilização do Açúcar, organização Menezes,


José Luiz Mota, Cavalcanti, Maria Lectícia Monteiro, Lody Raul,
Kaufman Tânia. 2007. 208 p.

4. LODY, Raul, Caminhos do Açúcar, ecologia, gastronomia, moda,


religiosidade e roteiros turísticos a partir de Gilberto Freyre. Editora,
Topbooks, 2011. 298p..
Figura 02: Bolo de tapioca, consumido nos chás, lanches e cafés da
manhã, geralmente acompanhado de leite condensado e canela em 5. LODY, Raul, Doce Pernambuco, Uma viagem pela memória
pó. Histórica e cultural da doçaria Pernambucana, Editora CEPE, 2019.
Fonte: Acervo pessoal . 243p.

6.PERRELA, Ângelo Sabatino, PERRELA, Miryan Castanheira,


Receitas Históricas da Confeitaria Mundial, Editora SENAC, São
Paulo, 2016. 318p.

Figura 03: Bolo de rolo com finíssimas camadas de doce de goiaba,


polvilhado com açúcar.
Fonte: Acervo pessoal

Figura 04: foto do noiva Pernambucano feito com base doce de


ameixa, coberto com glacê mármore.
Fonte: Acervo pessoal

474
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O baião para lém do arroz com feijão.

Shammai Moreira Silva; Prof.Dra.Uiara Martins

Palavras-chave:Baião de Dois, Gastronomia, Identidade Cultural e


Culinária Cearense

INTRODUÇÃO Embora esta iguaria seja difundida em vários os estados do


nordeste, no Ceará o baião possui uma grande representatividade,
O Ceará foi um dos últimos Estados do Brasil a ser colonizado, por não só como comida sertaneja, mas um acompanhamento de muitos
sua região não ser tão favorável para o plantio de cana de açúcar, pratos na serra e no Litoral. Para Couto Filho (2004, p.62 )a receita
como os estados de Pernambuco e Bahia. Contudo o território no Ceará representa uma comida de aproveitamento. Em tempos
cearense revelou-se muito favorável para a produção do gado, das grandes secas nada se podia estragar, por menor que fosse a
sobretudo na região do interior/sertão. Nesse contexto a atividade quantidade. Com as sobras do feijão e do arroz, misturados a carne
agropecuária durante muitos anos trouxe para essa região, uma seca e as cascas do queijo nasce essa saborosa iguaria do Ceará .O
comida simples, mas cheia de sabor, a base de derivados do leite autor conta ainda que as mulheres dos vaqueiros que trabalhavam
(coalhada, manteiga da terra, queijo coalho), da carne de charque e nas grandes fazendas, onde se criavam vacas para a produção de
de outros produtos agrícolas como o feijão, o arroz, o milho e a carne, leite e queijo como principais produtos, iam para as suas
mandioca. casas ao final do seu dia de trabalho e levavam o resto que sobrara
Sertão que durante muitos anos fora terra de fartura, mas que se de arroz e feijão, em uma panela só. Ao chegar em casa aqueciam a
transformou em local de sofrimento e de restrições alimentares mistura e acrescentavam as cascas de queijo coalho e os pedaços de
devido a sequência de secas nos anos de 1877, 78 e 79, as quais carne seca para servirem a sua família. A popularização deste prato
devastaram 80% da produção de gado. É nesse contexto, que emerge inicia com a presenças filhos dos fazendeiros quando visitavam a
a receita do Baião de Dois, um prato que configura a identidade casa dos vaqueiros os meninos comiam daquilo que se tinha a mesa
cearense do homem sertanejo que precisa de comida de sustança dos empregados, que por muitas vezes era o baião. Quando as
para aguentar o trabalho agropecuário e que por outro lado retrata o crianças estavam em casa pediam as suas mães que lhes fizessem as
reaproveitamento. De acordo com Alberto Galeno (2003, p.38) o comidas que eram preparadas nas casas das empregadas, daí o prato
baião encontrado no sertão é composto da mistura do arroz com começa a se tornar conhecido não somente nas mesas dos menos
feijão, tendo como temperos o queijo de coalho, a manteiga de abastados, mas também como na mesa dos mais ricos e
garrafa ou toucinho e carne de boi fresca. conquistando o paladar de todos. (COUTO FILHO,2004,p. 62 e
A receita sertaneja ganhou o apreço de todo o estado, acompanhando 63).
pratos tradicionais na serra e no litoral e nesse sentido, foi recebendo O baião traz em sua rusticidade elementos da riqueza e da pobreza,
novas configurações, as quais alteraram o baião de dois, pois somente os mais ricos tinham acesso ao arroz, e os mais
descaracterizando esse prato com grande valor identitário e grande pobres se utilizavam das sobras deles para fazerem o seu sustento.
representatividade cultural. Nesse cenário, esse trabalho tem como Criado em meio a seca foi chamado de “alimento da fome” pelo
objetivo analisar e refletir sobre aspectos identitários da relação que grande pesquisador Câmara Cascudo.De acordo com Delfina Rocha
esta receita possui com a história e cultura do Estado, para além de (2003) historicamente esse prato é de origem portuguesa. Era
apresentar uma proposta de valorização identitária, do baião, tendo comum na região do Norte de Portugal comer arroz com feijão ou
em conta a sua forte relação com a história do Ceará, até os dias de fava. Na cultura lusitana esse prato é denominado de “arroz de
hoje feijão” (Martins, 2009). A versão sertaneja apresentada por Rocha
(2003) no livro sabores e saberes do Ceará revela uma receita
RESULTADOS E DISCUSSÕES composta por feijão verde, arroz, pimenta de cheiro, nata, queijo
coalho, alho, cebola, oléo de soja e manteiga da terra.
O termo baião, popularmente conhecido no Nordeste brasileiro, é Apesar da união dos dois elementos terem dado tão certo, eles
um gênero musical e dança popular que derivadolundu, canto e passaram muito tempo para se unir. O arroz chegou em terras
dança africana introduzido no Brasil pelos angolanos, também brasileiras com a chegada de Pedro Álvares Cabral, e teve início ao
conhecida como “baiano”(Câmara Cascudo, 1998).Os temas mais seu cultivo em 1530, mas seus primeiros registros são datados na
retratados nesse gênero abordam o cotidiano do sertanejo, Ásia com mais de 5000 anos. Logo que chegou aqui o cereal
declarando as suas dificuldades e as secas vividas pelos nordestinos, começou a substituir o milho na alimentação (CASCUDO,2011,
como é o caso da música “asa branca” de Luiz Gonzaga, conhecido p.454-564). Já o feijão, bem mais antigo, tem registros no Peru,
como o rei do baião e um dos principais difusores deste ritmo no com achados arqueológicos que mostram que ele está na natureza
Brasil. há mais de 10.000 anos. A ideia é que ele tenha saído da América
De acordo com Couto Filho (2004,p. 62) , o nome baião-de-dois do Sul e depois foi levado para a América do Norte (CASCUDO,
difundiu-se da música feita a partir de uma visita de Luiz Gonzaga a 2011, p. 433-437). O feijão é conhecido como a “carne dos pobres”
casa de seu amigo Adão Apolinário. Adão apressado para que o por ser um cereal muito rico em proteínas, minerais, carboidratos,
almoço saísse logo para não ficar constrangido diante de seus vitaminas e fibras, assim como também é o alimento mais presente
visitantes, de tempo em tempo ia a cozinha e abria a panela para ver na mesa brasileira (Maciel, 2004, p. 32).
se a iguaria já estava ficando pronta. A mulher então pede aos No intuito de fazer o reconhecimento do baião como iguaria
amigos de seu marido que peçam para ele se retirar da cozinha , pois cearense, o Governo do Estado do Ceará encarregou aos
toda vez que ele abria a panela atrasava ainda mais o cozimento. Foi coordenadores do projeto ‘Comida Ceará” uma pesquisa que se
então que o “rei do baião” e seu amigo Humberto Teixeira, com seu expandisse por todo o território cearense para fazer um aparato
humor nordestino, criam os versos da música “ baião de dois “ que sobre os hábitos alimentares do estado para que como o resultado
diz: final pudesse dar início ao processo de tombamento da receita do
“Abdom que moda é baião de dois como patrimônio cultural do estado. A idealizadora
essa. Deixe a trempe e a do projeto, a historiadora e diretora do Centro Dragão do Mar de
cuié. Home não vai na Arte e Cultura (CDMAC) Valéria Laena, diz que a pesquisa inicou-
cozinha. Que é lugá só se em 2008 e chegou aos seus dez anos com a publicação do livro
de mulhé. Vô juntá “Além da peixada e do baião - histórias da alimentação do Ceará”.
feijão de corda, Numa Para a autora, a pesquisa está longe de acabar. Tal projeto resultou
panela de arroz. em quase Segundo a escritora Isabelle Moreira Lima, em sua
Abdom vai já pra sala. publicação para o jornal FOLHA DE S. PAULO Ilustrada, de título
Que hoje têm baião de “ Baião faz história”, ela cita: “Depois que o acarajé e o ofício das
dois. baianas receberam registro de patrimônio cultural do país no último
Ai, ai ai, ai baião que bom tu ano, o baião-de-dois pode ter sua chance de entrar para o "hall da
sois. fama" das comidas brasileiras, tornando-se patrimônio imaterial do
Se o baião é bom Brasil.
sozinho. Que dirá baião
de dois”

475
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Com efeito, o modo como a receita se difundiu para além do sertão, Desse modo, só através do conhecimento e do pertencimento da
especialmente em estabelecimentos de restauração, reflete na comunidade, para além do consumo em si, podemos pensar o baião
desconstrução da identidade gastronômica dessa iguaria, não só pelo como um patrimônio gastronômico do povo Cearense.
acréscimo de ingredientes, mas pelas variadas formas de preparar, a
ponto de não sabermos se quando pedimos um baião de dois em
Fortaleza, iremos comer um prato com ou sem nata (ou creme de REFERÊNCIAS
leite), com feijão branco, verde ou de corda, com toucinho ou linguiça
calabresa, etc. Na ótica de Julião et al (2017, p.76) “com o tempo as GALENO, Alberto S. A cozinha dos cabeças-chatas: Uma excurso
receitas foram sendo ampliadas e diversificadas, de modo que cada pelo campo da culinária, da história e do folclore dos cearenses. -
cearense tem a sua própria receita” Fortaleza: RBS, 2003 60p.
Diante desse cenário, é contraditório a realidade do baião de dois, CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Ediouro, Rio
por um lado um prato presente no cotidiano alimentar do Estado, por de Janeiro, 10ª ed., 1998 (ISBN 85-00-80007-0) COUTO FILHO, C.
outro, uma iguaria que muitas vezes é oferta sem refletir ou retratar a Tempero do Sol: culinária cearense. Fortaleza (CE): CCF Ltda.,
relação com a identidade sertaneja, fruto de inovações 2004, 80p
gastronômicas, muitas vezes desenvolvidas para agradar o paladar CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil. 4. ed., São
de clientes.A Gastronomia como um elemento capaz de revelar a Paulo (SP): Global Editora, 2011, 976p. MACIEL, M. E. Uma
identidade de um povo, quer através do que comemos ou de como o cozinha à brasileira. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 33, jan/jun
produzimos, rituais, etc, para tornar-se um patrimônio imaterial, de 2004, p. 25-39.
necessita passar por processos de fortalecimento e sobretudo de BARROSO, Gustavo. Liceu do Ceará: 2º Volume de Memórias. Rio
conhecimento e pertencimento, para que assim possa ser valorizada, de Janeiro: Getúlio Costa, 1940, 220p.
resguardada e refletida no quotidiano alimentar também dos São Paulo (SP), Jornal FOLHA DE S. PAULO Ilustrada, Baião faz
estabelecimentos de alimentos e bebidas. história, disponível em 10 de maio de 2005
Segundo o IPHAN “Os bens culturais de natureza imaterial dizem ROCHA, Delfina. Sabores e Saberes do Ceará: Arte Culinária e
respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se Fotografia. Fortaleza: editora D. M. Rocha, 2003. 1° Edição.
manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; MARTINS, UIARA. A Gastronomia Portuguesa no Brasil: Um
formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos roteiro de turismo cultural. (Dissertação de Mestrado).
lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas Universidade de Aveiro, Aveiro – Portugal, 2009.
culturais coletivas). A Constituição Federal de 1988, em seus
artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao
reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e
imaterial.Nesses artigos da Constituição, reconhece-se a inclusão, no
patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a
sociedade, dos bens culturais que sejam referências dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira. O patrimônio imaterial é
transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação
com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de
identidade e continuidade, 800 processos culinários, 300 horas de
entrevistas, 48 mil fotografias e 1.500 objetos relacionados ao
mundo da cozinha, tendo percorrido 63 municípios e mais de 30 mil
quilômetros. contribuindo para promover o respeito à diversidade
cultural e à criatividade humana.”
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) define como patrimônio imaterial "as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os
indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural."
Nesse sentido, é necessário refletir as intercessões que encontramos
na história e cultura da construção do baião-de-dois como um
patrimônio imaterial que pode revelar muito do povo cearense, do
seu passado sertanejo, em consonância com o presente em que ele
continua como parte do cotidiano, mas que pelas suas variadas
formas e composições, não permite identificar claramente a sua
representação na cultura gastronômica cearense. Qual a matriz do
prato na qual a população se identifica? Que baião revela as
memórias, as histórias do Ceará?

CONCLUSÃO

O baião-de-dois, embora seja um prato encontrado em vários


estados do Nordeste, possui uma relação muito peculiar no
quotidiano alimentar cearense, sendo um acompanhamento
indispensável em pratos da serra, do sertão e do litoral. Contudo
essa iguaria carrega consigo a história do homem sertanejo e suas
superações para o convívio de dias tão difíceis em meio a seca.
.Esse retrato de um prato simples, cheio de memórias e tão
apreciado pela população, necessita ser resguardado.
Seria utopia ou mesmo não reconhecer que a identidades culturais
não são estáticas, elas evoluem com o homem, assim como a
gastronomia, portanto ao ponto em que chegamos hoje, com a
diversidade do baião, seria difícil estandardizarmos uma matriz
única a ser usada por cearenses e chefs de cozinha em Fortaleza.
Com efeito, pode-se haver propostas de reconhecimento da origem
desse prato, através de diversas ações do poder público ou mesmo
de instituições privadas: cartilhas que falem da história do baião,
festivais que envolvam ações que rememorem a cultura sertaneja,
sensibilização de chefs de cozinha para a importância de valorizar a
matriz desse prato, concursos gastronômicos do “baião mais
sertanejo”, etc.

476
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Identidade gastronômica-cultural de Manaus e suas relações com o turismo: primeiros passos.

C l á u d i a A r a ú jo d e M e n e z e s Go n ç a l v e s M a r t in s - Mestre em Gestão de Negócios Turísticos-UECE, Doutoranda em Turismo


e Hotelaria–UNIVALI, Professora Assistente do Curso de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da Universidade do
Estado do Amazonas–UEA. E-mail: camenezes@uea.edu.br

Jully Leslly Craveiro de Farias - Acadêmica do 5º. Período do Curso de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da
Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: jlcf.tur18@uea.edu.br

INTRODUÇÃO: O turismo é uma atividade econômica que vem Produtiva - Cultura – Gestão do Turismo. O que se identificou em uma
ganhando espaço na mídia obtendo maior visibilidade nos últimos pesquisa bibliográfica preliminar, foram diversos artigos científicos
anos gerando uma mobilização por parte dos profissionais visando que abordam o turismo e a gastronomia de forma segmentada e temos
incrementar a atividade e seus segmentos. A gastronomia é dos várias denominações como: “turismo culinário”, “turismo
propulsores do turismo possuindo uma cadeia econômica sustentável gastronômico”, “gastroturismo”, “turismo do vinho” e “turismo
e a proposta é buscar o fomento da identidade gastronômica-cultural gourmet”, Enoturismo, Turismo Cultural e por isso, uma pesquisa não
do estado do Amazonas, iniciando pela capital Manaus, por meio da pode ser realizada, desconsiderando um ou outro segmento, tendo em
identificação e valorização dos ingredientes típicos, produções vista que cada um deles irá enfatizar a motivação que o turista teve
culinárias tradicionais e procuando resgatar, na população, o orgulho para chegar até aquele destino. Assim é possível identificar pesquisa
de falar, comer, cozinhar e comercializar produtos até por vezes com trabalhos intercambiáveis tendo como temas comida, alimento,
desvalorizados, mas que fazem parte da cultura gastronômica do povo gastronomia, culinária, cultura alimentar, tradição, cultura, crença são
e que estão presentes no seu dia a dia. alguns dos termos utilizados por pesquisadores que estudam a
A alimentação é um dos componentes da vida de diária de todo ser gastronomia (10, 11, 12, 13, 14, 15, 16).
humano. É necessidade básica que precisa ser saciada diariamente para OBJETIVOS: Assim para este projeto de iniciação cientifica foram
que se possa ter energia e força para as demais atividades cotidianas. propostos os seguintes objetivos: 1. Levantar sobre identidade cultural
Quando se fala de gastronomia, há um valor agregado ao alimento, da comida da cidade de Manaus; 2. Pesquisar os insumos identitários
pois junto com ele, vem também componentes como cultura, tradição, da culinária oferecida em Manaus e suas origens; 3. Relacionar as
satisfação e experiência, fazendo com que um prato simples de preparações culinárias reconhecidas como identitárias de Manaus; 4.
comida, seja uma experiencia cultural e que remete ao significado da Conhecer como a gastronomia manauara/amazonense está sendo
palavra gastronomia que é a fusão das palavras gregas “gaster” difundida nos cursos de Gastronomia ofertados nas Instituições de
(estômago) e “nomas” (lei). Ensino de Manaus e 5. Propor estratégias para o fomento do turismo
Em uma visão mais ampla a gastronomia possui uma cadeia produtiva valorizando a gastronomia amazonense.
que envolve desde o seu mais longínquo e humilde produtor rural MATERIAL E MÉTODOS: Para que se possa desenvolver uma
fornecedor de insumos até a mesa do comensal, agregando também a investigação científica, se faz necessário conectar vários
história de um lugar, os usos e costumes para o preparo da comida. procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objetivos sejam
Sendo a gastronomia uma atividade complexa por envolver uma atingidos: os métodos científicos, que são os processos ou operações
compreensão e apreciação da química, literatura, biologia, geologia, mentais que vamos utilizar na pesquisa e se faz necessário buscar uma
história, agronomia, antropologia, música, filosofia, psicologia e linha de raciocínio para o processo de pesquisa. Com o início dos
sociologia (1), para a atividade turística, vem sendo pesquisada como trabalhos de pesquisa, buscaremos inicialmente atingir a etapa 1 que
umas das motivações para a escolha de um destino turístico, visto a trata a respeito da pesquisa bibliográfica através do levantamento
quantidade de livros, artigos, competições e programas de televisão bibliográfico e documental sobre a cultura, identidade e memória da
ligados ao tema (2,3,4). comida da cidade de Manaus e o levantamento dos locais onde são
Para tanto, se faz necessária uma reflexão sobre a importância da comercializados produtos alimentícios típicos.
gastronomia local para a atividade, tendo em vista a sua importância Para tanto caracterizando os objetivos do estudo, elencou-se como
para o setor econômico e os recursos gerados reforçam o seu metodologia uma pesquisa de natureza aplicada, com um estudo
crescimento longitudinal e faz com que os produtores locais se exploratório, que é aquele que visa proporcionar uma maior
conectem com os seus compradores e com a população em geral, os familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou construindo
comensais. À medida que as necessidades das pessoas aumentam, hipóteses sobre ele (17), descritivo para que se possa expor as
amplia a obrigação de produção e oferta de bens e serviços, características de uma determinada população ou fenômeno,
necessitando expandir a produção, o investimento e a renda em demandando técnicas padronizadas de coleta de dados e explicativa
sociedades (5). O turismo afeta pessoas e nações estabelecendo (17), procurando identificar os fatores que causam um determinado
relações entre si e integra também os fenômenos da cultura, fenômeno, aprofundando o conhecimento da realidade (17), Como
patrimônio, economia e meio ambiente; portanto, orientando seu técnica, será utilizada a Pesquisa Bibliográfica a partir dos materiais já
desenvolvimento, e sua coordenação e controle são questões altamente publicados e documental, que utiliza materiais que não receberam
cruciais (6). tratamento analítico.
Quando se inicia a pesquisa sobre gastronomia tendo uma relação com Será utilizada uma abordagem qualitativa tendo em vista o ambiente
o turismo, a identidade de um lugar e a experiencia vivenciada nele, natural é fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos
várias são as possibilidades dos caminhos a serem percorridos, pois há e atribuição de significados, utilizando como recursos técnicos a
aspectos sobre a qualidade dos serviços de gastronomia, sobre a pesquisa de campo utilizando observação in loco e uso de questionário.
atratividade que pode exercer para um destino (7,8), bem como qual a O projeto será dividido em três etapas: levantamento bibliográfico e
interferência que a oferta turística de uma localidade exerce em relação de campo; Catalogação dos insumos e pratos regionais; Pesquisa nas
aos insumos e como movimentam a atividade turística como um todo. faculdades que ofertam o curso de gastronomia e como a cultura
A comida é um elemento de identificação de um lugar, onde se pode alimentar local está sendo difundida; Divulgação dos resultados na
saber quem foram e são os habitantes, os imigrantes e migrantes que cidade e em periódicos científicos da área e organização de um
ocuparam aquela terra e o que o agregaram de suas bagagens compendio sobre o projeto e os resultados.
originárias e que hoje fazem parte da oferta turística e que combina Etapa 1: Pesquisa bibliográfica: Levantamento bibliográfico e
aromas e sabores para tornar a experiencia gastronômica em algo documental sobre a cultura, identidade e memória da comida da cidade
inesquecível para o turista que quer conhecer a culinária local, de Manaus; Levantamento dos locais onde são comercializados
degustar doces e bebidas e poder desfrutar de forma mais autentica da produtos alimentícios típicos;
vida do lugar (9). Etapa 2: Pesquisa nas faculdades que ofertam o curso de gastronomia
Há de se abordar também que o tema é complexo tendo em vista ser e como a cultura alimentar local está sendo difundida; Registro dos
interdisciplinar, conectando-se com várias áreas do conhecimento. insumos identitários de Manaus; Compilação dos resultados visando a
Quando se relaciona com o turismo poucas são as pesquisas existentes construção de uma linha do tempo em relação aos insumos, registros
quando se busca a relação Gastronomia - Sustentabilidade - Cadeia

477
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

e pratos identitários da comida manauara; Realização de encontros (2012), A Cozinha Amazonense de Mário Ypiranga Monteiro de 1972,
abordando a temática Cultura Alimentar local nas IES. que foi uma solicitação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e
Etapa 3: Análise e compilação dos resultados utilizando o método reeditado em 2014 e Dieta Amazônica – Saúde e Longevidade de Euler
não-probabilístico, conhecido como análise de conteúdo, que permite Ribeiro e Ivana Cruz (2012) que em nada faz a relação da comida, da
descrever as percepções dos referidos atores sobre a formação culinária, da gastronomia de Manaus com a atividade turística que a
identitária da gastronomia local e seus principais pratos identitários mesma tem relação direta.
regionais; Divulgação dos resultados na cidade e em periódicos CONCLUSÕES: Como o projeto está na fase inicial, ainda não há
científicos da área e organização de um compendio sobre o projeto e considerações efetivas a serem feitas.
os resultados. REFERÊNCIAS:
Ressalte-se que para este trabalho inicial, desenvolveu-se a etapa 1. (1) KIVELA, Jakša; CROTTS, John C.. Tourism and Gastronomy:
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para alcançar a etapa 1 Gastronomy's Influence on How Tourists Experience a
estabelecida, realizou-se o levantamento bibliográfico com os termos Destination. Journal Of Hospitality & Tourism Research, [s.l.], v. 30, n. 3,
cultura e identidade, resultando no quadro 01: p.354-377, ago. 2006.
Quadro 01 – Total de artigos pesquisados conforme busca na base (2) OLIVEIRA MARTINS, U. M.; IBIAPINA GURGEL, L.; CLERTON
DE OLIVEIRA MARTINS, J. Experiências com a gastronomia local: um
de dados EBSCO.
estudo de caso sobre movimento Slow Food e o turismo gastronômico na
Aplicar assuntos equivalentes Identidade Cultura cidade de Recife - Brasil. Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural,
jan. 2016. v. 14, n. 1, p. 229–241. Disponível em:
Texto completo 58 308 <http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=hjh&AN=1143
35706&lang=pt-br&site=ehost-live>. Acesso em: 20 out. 2018.
Revistas acadêmicas
(3) RINALDI,C.Food and Gastronomy for Sustainable Place
(analisadas por 40 275 Development: A Multidisciplinary Analysis of Different Theoretical
especialistas) Approaches. Sustainability 2017, 9, 1748. Disponivel em:
Limitadores Periódicos www.mdpi.com/journal/sustainability
33 193
Científicos (4) HENRIQUES, Cláudia; CUSTODIO, Maria João. Turismo e
2000- 2010- Gastronomia: a valorização do património gastronómico na região do
Período
2019 2019 Algarve. Encontros Científicos, Faro, n. 6, p. 69-81, 2010 . Disponível
em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-
Período 2010-2020 38 158 24082010000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 27 jan. 2020
Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). (5) AKGOZ, E.. Turizm İsletmelerindeki Turk Gecelerinin Turk Kulturunu
Tanıtmaya Katkıları, Selcuk University, Institute of Social Sciences,
Devido a pandemia de COVID-19, não foi iniciada a etapa de pesquisa Department of Public Relations and Publicity, MA Thesis, Konya,2003.
documental que será desenvolvida na Biblioteca Central do Estado do (6) CAGLI, I.B..Turkiye'de Yerel Kulturun Turizm Odaklı Kalkınmadaki
Amazonas, que guarda o acervo dos jornais e periódicos que serão alvo Rolu: Gastronomi Turizmi Ornegi, İstanbul Technical University, Institute
desta pesquisa. of Science and Technology, Department of Urban and Region Planning,
Sobre os locais que comercializam os insumos regionais que compõem Region Planning, MA Thesis, İstanbul.2012
a alimentação da cidade, foi realizado no site da prefeitura municipal (7) KRAUSE, R. W.Aspectos determinantes na percepção da qualidade dos
de Manaus, que através da Secretaria Municipal de Abastecimento, serviços na experiência gastronômica turística. Caderno Virtual de
Turismo. Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p.19-33.2014
Mercado e Feira - SMAMF assim como no Google Earth para elaborar
(8) GÁLVEZ, Jesús Claudio Pérez; GRANDA, Marlene Jaramillo;
o quadro 02. GUZMÁN, Tomás López;, CORONEL, Jose Reinoso. Local gastronomy,
Quadro 02 - Levantamento de Feiras e Mercados Municipais de culture and tourism sustainable cities: The behavior of the American
Manaus tourist. Sustainable Cities and Society 32 (2017) 604–612
No. Local (9) MASOUD, H.; MORTAZAVI, M.; TORABI FARSANI, N. A study
1. Mercado Municipal Senador Cunha Melo on tourists’ tendency towards intangible cultural heritage as an attraction
2. Mercado Municipal Walter Rayol (case study: Isfahan, Iran). City, Culture and Society, [s. l.], 2018.
3. Mercado Adolpho Lisboa Disponível em:
4. Mercado Dorval Porto <https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&AuthType=ip,sso
5. Mercado Municipal Da Glória &db=edselp&AN=S1877916617302278&lang=pt-br&site=eds-live>.
6. Mercado Municipal Maximino Corrêa Acesso em: 9 set. 2019.
7. Mercado Municipal Dr. Jorge de Moraes (10) SANTA-CRUZ, Francisco González, LÓPEZ-GUZMÁN, Tomás.
8. Mercado Municipal do Morro da Liberdade
Culture, tourism and World Heritage Sites. Tourism Management
9. Feira Municipal Jardim dos Barés
Perspectives 24 (2017) 111–116,2017.
10. Feira Municipal do São Francisco
(11) PÉREZ GÁLVEZ, J.C.; GRANDA, M.J.; LÓPEZ-GUZMÁN, T.;
11. Feira Municipal Do Parque Dez
CORONEL, J.R.. Gastronomia, cultura local e turismo em cidades
12. Feira Moderna da Banana
sustentáveis: O comportamento do turista americano. Sustainable Cities
13. Feira da SEPROR
and Society, 32, 604–612. doi: 10.1016/ 2017
14. Feira Coberta da Japiinlândia
(12) XAVIER MEDINA, F. Reflexiones sobre el patrimonio y la
15. Feira do produtor
alimentación desde las perspectivas cultural y turística Reflections on food
16. Feira Do Zumbi
and heritage from a cultural and tourism perspective.Universidad Nacional
17. Feira Regional do Millennium
Autónoma de México, Instituto de Investigaciones Antropológicas.2017
18. Feira Livre Do Nova Cidade
(13) HUSSAIN, Z.; LEMA, J.; AGRUSA, J. Enhancing the Cultural
19. Feira Modelo da Compensa
Tourism Experience through Gastronomy in the Maldives. Journal of
20. Feira Vale Do Amanhecer
Tourism Challenges and Trends, Vol. V, No. 2, 2012, p. 71-84. 2012
21. Feira de Produtos Regionais
(14) TSAI, Chen-Tsang (Simon), WANGB, Yao-Chin (2017). Experiential
22. Feira Municipal da Panair
value in branding food tourism. Journal of Destination Marketing &
23. Feira da FAS
Management 6 (2017) 56–65.
24. Feira do Bairro de São Jorge
<http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=hjh&AN=9911
25. Feira Municipal da Maués
0795&lang=pt-br&site=ehost-live>. Acesso em: 30 out. 2018.
26. Feira de produtos regionais da ADS
27. Feira Da Barcelos
(15) HILLEL, David, BELHASSEN, Yaniv, SHANI, Amir (2013). What
28. Feira do Santo Antônio
makes a gastronomic destination attractive? Evidence from the Israeli
29. Feira De Produtos Orgânicos
Negev. Tourism Management 36,200 e 209.2013
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados dos sites da Secretaria Municipal de (16) SINHA, Nilanjana, CHAUDHURY, Himadri Roy,
Abastecimento, Mercado e Feira - SMAMF assim como no Google Earth, 2020. MAZUMDAR,Sitanath. Understanding Gastronomic Taste of
Cosmopolitan Consumers: Study on Bengali Themed Restaurants in
Os resultados iniciais irão embasar o levantamento para posterior Kolkata. Vilakshan, XIMB Journal of Management, Vol.13 (I),
catalogação dos insumos e produtos alimentícios locais. Para March.2016
posteriormente organizar um material que irá subsidiar as 4 palestras (17) PRODANOV, C. C. Metodologia do trabalho científico [recurso
que serão ministradas nas Escolas Estaduais, visando a difusão e eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. /
valorização dos resultados alcançados. Ressalte-se o registro da Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo
gastronomia da cidade de Manaus, que tem poucos livros publicados Hamburgo: Feevale.2013
sendo eles: A Cozinha Amazônica de Bruna Trevisani (2002),
Gastronomia Amazônica das autoras Lauriene Faraco e Geni Cauper

478
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Mercado Municipal Adolpho Lisboa: um lugar de história e tradição da


alimentação dos Manauaras

Cláudia Martins¹, Evelin Andrade¹ e Kliwea Medeiros¹


1
Mestre em Gestão de Negócios Turísticos-UECE, Doutoranda em Turismo e Hotelaria–UNIVALI, Professora Assistente do Curso
de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da Universidade do Estado do Amazonas–UEA. E-mail:
camenezes@uea.edu.br
1
Acadêmica do 5º. Período do Curso de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da Universidade do Estado do
Amazonas – UEA. E-mail: evra.tur@uea.edu.br
1
Acadêmica do 5º. Período do Curso de Turismo da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT da Universidade do Estado do
Amazonas – UEA. E-mail: kvfm.tur18@uea.edu.br

Palavras-chave: Patrimônio histórico; Alimentação; Costumes.

INTRODUÇÃO

O mercado municipal de qualquer cidade, na maioria das


vezes, é um lugar de referência das tradições, costumes e
cultura de um lugar. Desta forma, o lócus deste trabalho é
Mercado Municipal Adolpho Lisboa, situado na cidade de
Manaus, capital do Amazonas às margens do Rio Negro e
representa um símbolo arquitetônico e cultural, sendo
compreendido pela população como um lugar que representa
e se constroem identidades. O prédio foi erguido durante o
período da economia de Manaus chamado Ciclo da
Borracha em 1880 e foi restaurado em 2013. Erguido com
estilo art nouveau e tornou-se também um local para os
visitantes da capital que podem provar as delícias regionais Fonte: https://www.essemundoenosso.com.br/mercado-municipal-
e comprar artesanato e conhecer um pouco da vida do de-manaus-adolpho-lisboa/, acessado em 01.08.2019.
manauara, seus aromas, sabores e diversidades da terra,
revelando a cultura local. Está localizado no Centro MATERIAL E MÉTODOS
Histórico de Manaus e é um espaço utilizado diariamente
pelo habitante da cidade que adquire os produtos frescos A pesquisa resulta em um estudo exploratório descritivo
para os preparos da comida diária. O prédio se divide em (FONSECA, 2010), numa abordagem quali-quantitativa. O
dois estilos arquitetônicos: um de alvenaria e um de ferro local da pesquisa foi o Mercado Municipal Adolpho Lisboa
que foi trazido da Inglaterra e montado no local. Como e como instrumentos de pesquisa utilizou-se de observação
problema, apresenta-se a necessidade de se caracterizar a in loco, pesquisa de campo e entrevista, para que fosse
oferta gastronômica do mercado, com vistas a identificar os realizada a quantificação de boxes de comercialização dos
insumos da região que são ofertados aos consumidores do
produtos, bem com a classificação deles em relação ao que é
local e tem como objetivo geral realizar um levantamento da
oferta gastronômica do espaço e identificar a sua relação comercializado.
com a cultura da cidade de Manaus.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Imagem 01 e 02 – Fachada e Entrada do Mercado
Através de entrevista com o Senhor Raimundo Batista que é
Municipal Adolpho Lisboa
o Administrador do mercado, identificou-se que o espaço
tem boxes, conforme quadro 01, abaixo:

Quadro 01 – Quantitativo de Boxes que compõem o


Mercado Adolpho Lisboa

Setor Produto Quantidade

Central Artesanato, Doces, Biscoitos, 68


Vestiário

Hortifruti Verduras e Frutas 25

Peixe Peixes da região 20

Carne Carne 20

Frontal Empórios 18

A&B Alimentação e bebidas 21

Fonte: Organizado pelas autoras,2019.

479
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Ao longo da entrevista com o administrador, foi detectado https://www.essemundoenosso.com.br/mercado-municipal-


que não há uma separação entre os boxes que comercializam de-manaus-adolpho-lisboa/. Acesso em: 01 ago. 2019.
os insumos crus ou os que comercializam as refeições,
sendo apenas pela sua localização, se no setor de peixe ou FONSECA, L. A. M. de. Metodologia científica ao alcance
de carne. Desta forma, optou-se por realizar a coleta dos de todos. 4. ed. Manaus: Editora Valer, 2010.
dados in loco para que se pudesse quantificar e qualificar em
PARENTE, Valdenei de Melo; BATISTA, Vandick da
relação ao cardápio ofertado. As coletadas a partir de diário
de campo da pesquisadora no mês de agosto de 2019. A Silva. A organização do desembarque e o comércio de
partir da coleta de dados, chegou-se ao seguinte diagnóstico, pescado na década de 1990 em Manaus, Amazonas.Acta
o espaço possui 21 estabelecimentos de restauração que Amaz., Manaus , v. 35, n. 3, p. 375-382, Sept. 2005
comercializam café da manhã e almoço, já que o mercado . Available from
funciona no horário das 07h às 17h, distribuídos na seguinte <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0
localização conforme quadro 02: 044-59672005000300011&lng=en&nrm=iso>. access
on 01 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0044-
Quadro 02 – Estabelecimentos de Restauração existentes 59672005000300011
no Mercado Adolpho Lisboa.

Localização Quantidade

Setor de Peixe 09

Setor de Carne 09

Parte Externa 02

Prédio principal 01

Fonte: Autoras, 2019.

Em relação ao cardápio, a oferta para o café da manhã é bem


homogênea, não havendo muita diferenciação entre eles,
sendo ofertado tapioca, café com leite, suco de frutas
regionais, cará branco, cará roxo, macaxeira cozida além de
sopas e farofas de charque que são bem apreciadas pelos
frequentadores. No horário do almoço, a oferta é baseada em
peixes da região, carnes cozidos, assados e fritos em sua
maioria, variando apenas nos valores praticados e no local
onde estão posicionados por toda a planta do mercado. Os
dois estabelecimentos localizados na parte externa, tem a
mesma arquitetura com coretos e utilizaram seus formatos
para os nomes dos estabelecimentos. Os frequentadores dos
espaços são em sua maioria os trabalhadores das redondezas
e turistas, na maioria estrangeiros da França e da Ásia e
brasileiros de várias regiões do país, segundo os atendentes
do Centro de Atendimento ao Turista – CAT que funciona
na entrada principal do mercado. Há apenas um restaurante
que fina no segundo andar do prédio central que oferece
uma proposta bem diferenciada em relação aos demais,
apresentando uma gastronomia mais gourmet com os peixes
da região, inclusive um pirarucu defumado que é produzido
no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, por
um pesquisador e comercializado em pequena escala. Os
estabelecimentos de alimentação localizados no mercado
Adolpho Lisboa, representam a culinária amazonense em
seus costumes e tradições pois facilmente são encontrados
os insumos identitários sendo um dos principais locais onde
a população vai para adquirir produtos frescos e saudáveis.

CONCLUSÕES

Realizar este trabalho foi de grande valia para as


pesquisadoras que puderam realizar o diagnóstico do
Mercado Adolpho Lisboa que é um ícone da cidade de
Manaus e um atrativo turístico importante para o mercado
turístico local. Esta pesquisa não se encerra em si, pois
podem vir a ser desenvolvidos outros trabalhos no futuro, no
que tange a alimentação ofertada no local mas também que
podem saber investigados em relação aos trabalhadores do
local, satisfação dos visitantes entre outros.

REFERÊNCIAS

MANAUS(AM). Esse mundo é nosso. Matéria sobre o


Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Manaus,2019.
Disponível em :

480
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O consumo de carne de caça como hábito alimentar na Comunidade Indígena Potiguara

Leandro Restrepo1, Ana Larissa,2, Adryane Gorayeb3, Eveline de Alencar Costa4, Rafael Q. G. Amaral5
1
Aluno do curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará leandroflaviorestrepo@hotmail.com
2
Geógrafa pela Universidade Federal do Ceará
3
Professora do Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará
4
Professora do Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
5
Professor do Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará

Palavras-chaves: alimentação, indígenas, cultura, caça.

INTRODUÇÃO gente come. A gente prefere a rolinha, a arribaçã. Os filhos não


caçam, só o pai. ”
O conceito de identificação de um povo pode ser regido e guiado Os animais caçados pela comunidade em estudo foram identificados
pela alimentação, pelos ingredientes, pelos produtos, pelo preparo, e estão listados no Quadro 01. Compreendem aves, roedores e
pelas técnicas, pelos instrumentos e utensílios trazendo, assim, animais selvagens nativos da biodiversidade local.
características singulares, específicas de alguma região, dando um
sentimento de pertencimento a um determinado lugar. Quadro 01 – Animais capturados pelos caçadores do Amarelão
A alimentação é uma necessidade básica do ser humano, ou seja,
Tatu Preá Juriti Socó boi
necessidade biológica e pode ser entendida como um complexo
sistema de significados sociais, sexuais, culturais, religiosos, étnicos, Peba Mocó Ribaçã ou Socó
estéticos e até mesmo político (1). Arribaçã
Para os indígenas o ato de caçar é cultural, sendo um oficio Tamanduá Timbu Nambu Mergulhão
repassado de geração a geração e que perdura até os dias atuais. (Gambá)
Podemos definir a ação de caçar como “ato de perseguir; seguir Tacaca Raposa-do- Rolinha Jacanã
animais silvestres ou assilvestrados para fins alimentares, para campo
entretenimento, defesa de bens, populações e atividades agrícolas; Teju Gato do mato Jacu Maçarico
para os prender; matar animais silvestres” (2). A carne de caça faz
Camaleão Veado Marreco Carão
parte da alimentação dos indígenas, sendo o tipo variável conforme o
campeiro
território onde localiza-se a tribo. As mesmas podem ser desde
répteis, aves, pescados e outros animais selvagens. Montanari (2008, Punaré Furão Sariema
p. 15) afirma que “os valores de base do sistema alimentar não se Fonte: Autores.
definem em termos de “naturalidade”, mas como resultado e
representação de processos culturais que preveem a domesticação, a Os indígenas utilizam vários artefatos para conseguir capturar os
transformação, a reinterpretação da natureza”, ou seja, para o autor a animais (Figura 1).
comida é inteiramente ligada a cultura de um povo (3).
Diante do exposto o objetivo desse trabalho é identificar os principais Figura 1. Artefatos utilizados para a captura de animais.
animais caçados pela comunidade indígena potiguara do “Mendonça”
do Amarelão, da cidade de João Câmara no Rio Grande do Norte,
bem como os métodos de preparo.

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi do tipo observacional e com resultados qualitativos,


pois compreende a relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
ou seja, não se pode traduzir a sua subjetividade em números (4). O Baladeira “Tatuzeira”
método observacional é considerado como o mais primitivo e ao
mesmo tempo o mais impreciso dos métodos de pesquisa, contudo,
pode ser tido como um dos mais modernos, visto ser o que possibilita
o mais elevado grau de precisão nas ciências sociais (5).
O estudo foi realizado in loco na comunidade indígena potiguara do
“Mendonça do Amarelão”, localizada na cidade de João Câmara -
Rio Grande do Norte. Para a obtenção dos dados foi realizada
Espingarda “Forjo”
observações durante o ato de caçar, bem como perguntas realizadas
de forma não-estruturada conforme o período de convivência do Fonte: Autores.
estudo. Foi também procurado reunir aspectos importantes da cultura
De acordo com Freedman (7) “a caça fornece basicamente proteína,
alimentar da referida comunidade, como a identificação dos animais
comumente caçados e as formas de preparo. Foram consideradas acompanhada de gordura animal”, ou seja, dieteticamente falando o
animal tem nutrientes extremamente necessários para o equilíbrio
falas de oito indígenas, incluindo mulheres e homens. O estudo
correto do funcionamento biológico do corpo humano.
seguiu as recomendações do comitê de ética, solicitando
consentimento por meio de termo livre e esclarecido para o registro De acordo com o Decreto nº 10.088, de 5 de novembro de 2019,
dos dados. precisamente na Convenção nº 169 da OIT sobre povos indígenas e
tribais (8), reconhece que cabe aos mesmos assumir o controle de
RESULTADOS E DISCUSSÃO suas próprias instituições e formas de vida, bem como seu
desenvolvimento econômico. A referida legislação preconiza ainda
que os povos indígenas devem manter e fortalecer suas identidades,
A partir da pesquisa elaborada foi possível identificar que a caça
línguas e religiões, dentro do âmbito dos Estados onde moram (8).
realizada pela comunidade indígena potiguara do “Mendonça do
Amarelão” era tarefa exclusiva do sexo masculino. As mulheres eram A frequência do ato de caçar também foi registrada pela fala de um
dos indígenas: “A gente vai duas, três vezes por semana... as vezes
responsáveis pelo preparo, ou seja, tarefas divididas por questões de
quando não estamos fazendo nada, vamos caçar, aí qualquer coisa
gênero repassadas de uma geração a outra, desde os primórdios da
cultura indígena (6). Este aspecto é justificado pela fala da esposa de guarda no congelador”. Esse relato revela que o oficio é praticado
para o consumo imediato, mas também tem a finalidade de
um dos caçadores, onde detalha a realidade da caça, quanto ao gênero
provimento ou abastecimento, para que não faltasse alimento à
e também quanto aos aspectos de consumo: “Quando ele mata, a

481
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

família. Podemos ainda identificar o hábito cultural desse ofício REFERÊNCIAS


quando o indígena afirma que sai para caçar quando está ocioso.
Por outro lado, Verdade e Seixas (9) cita que a caça de subsistência é 1. CARNEIRO, H. Comida e sociedade: uma história da
uma atividade que se pratica em todas as regiões do país, mas não alimentação. 7. ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003, 185 p.
exclusivamente por populações indígenas e as chamadas populações 2. [CAÇAR]. Dicionário online. 2017. Disponível em:
tradicionais. O uso da fauna silvestre de maneira sustentável ocorre <https://www.dicio.com.br/cacar/>. Acesso em 04 de jun.
há diversas gerações, por regras de uso e de acesso aos recursos com 2020.
base no conhecimento ecológico popular (9). 3. MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo:
De acordo com um líder da comunidade em estudo “a caça do ponto
editora Senac São Paulo, 2008, 207 p.
de vista alimentar é sim um direito do índio”.
4. PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do
Os animais caçados eram preparados de diversas formas e
comumente consumidos no dia a dia. Foi possível registrar as trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e
preferências de consumo e os modos de preparo realizados técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo
frequentemente. As caças mais apreciadas sensorialmente eram: Hamburgo: Feevale, 2013.
pebas, pássaros e tatus, como identificado nas afirmações: 5. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed.
• “Todo mundo come o que é caçado, todo mundo gosta. A gente São Paulo: Atlas, 2008.
também gosta das carnes da rua, mas as caça também é boa”; 6. RIBEIRO, D. Os índios e a civilização. 7. ed. São Paulo:
• “Aqui quem corta as carnes sou eu e ela tempera. Eu acho que o Editora Global, 2017.
peba é o mais gostoso, os outros eu nunca nem comi! Mas o peba é 7. FREEDMAN, P. A história do sabor. São Paulo: Senac,
gostoso. Os pássaros tudo são bons, tudo. ” (Esse relato é de um 2009, 368 p.
potiguar que caça todos os animais, porém, só se alimenta de um); 8. BRASIL. Presidência da República, Secretaria-Geral,
• “Homi, sendo um tatu, ou tamanduá, a carne dele é gostosa. A Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 10.088,
tacaca fede demais, eu não gosto não, muita gente come torrada de 5 de novembro de 2019. Anexo LXXII - Convenção Nº
para comer. O tatu é tipo um peba; agora a carne dele não é igual 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais. Brasília, DF.
à do peba, é mais gostoso, é branca, a do peba é mais vermelha; é
9. VERDADE, L. M; SEIXAS, C. S. Confidencialidade e
mais macio... eu como com farofa, arroz, macarrão, feijão”.
sigilo profissional em estudos sobre caça. Revista Biota
Para o preparo dos animais a etapa do abate era necessária e, na
maioria das vezes, eram abatidos realizando uma lesão no pescoço do Neotrop, Campinas, v. 13, v. 1, p. 21-24, mar/2013.
animal: “A gente mata quebrando o pescoço dele, pega a cabeça dele Disponível em:
e joga para trás, até dar um estalinho. Nem se mexe mais depois. O <http://www.scielo.br/pdf/bn/v13n1/02.pdf>. Acesso em
jeito é esse mesmo, todos quatro. Tem caçador que dá de paulada na 20 de mai. 2020.
cabeça do bicho, mas eu não gosto não”. Outro caçador colabora 10. KATZ, E. Alimentação indígena na América Latina:
com o relato sobre o abate: “O animal sofre, todo vivente sofre para comida invisível, comida de pobres ou patrimônio
morrer”. culinário? Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p.
Também foi identificado relatos culturais sobre tabus alimentares, 25-41, jan./jun. 2009.
onde algumas caças foram consideradas “reimosas” e, portanto, não
recomendadas para serem consumidas pelas mulheres grávidas, por
pessoas com doenças mais graves e por crianças.
A forma de preparo foi identificada em uma das falas das
entrevistadas: “Preparo com alho, pimenta, coentro, cebola, óleo,
pra botar nas caças cozidas; não assa não. Pouca água, torrado
mesmo. Sendo na panela de pressão 10 minutos, sendo na panela
normal é uns 20 minutos”.
“No caso de temperos, olha, os tipos de temperos são comuns,
porque, a culinária normal, sal, alho, pimenta do reino, alho poró,
colorau, óleo, e algumas ervas daqui chamada de louro, limão, vai
depender da caça”.
Diante do exposto verifica-se que no preparo da caça, as mesmas
eram temperadas com várias ervas e especiarias como louro, alho,
pimenta do reino e alho poró; eram comumente cozidas, mas outras
torradas, ou seja, havia uma predileção pela técnica de cocção
conforme o tipo de caça. Katz (10) corrobora com este ao afirmar que
as dietas indígenas são baseadas no uso de diversos insumos naturais,
proveniente da biodiversidade geográfica da tribo indígena, bem
como o uso de técnicas peculiares para realizar a preparação dos
alimentos.

CONCLUSÃO
Diante do estudo realizado conclui-se que os alimentos provenientes
da caça são culturalmente consumidos pelos indígenas da
comunidade dos “Mendonça” do Amarelão, e compõem suas
tradições alimentares. Portanto, a pesquisa conseguiu identificar
elementos importantes da cultura alimentar desse povo como os
animais comumente caçados (tatu, peba e pássaros), formas de
preparo (cozido, torrado e temperado com várias ervas e especiarias
como louro, alho, pimenta do reino e alho poró) e as preferências de
consumo.

AGRADECIMENTOS

Ao Labocart – Laboratório de Geoprocessamento pelo apoio técnico


e institucional, ao Programa de Apoio a Núcleos Emergentes
(PRONEM), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e a Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) que deram o
apoio financeiro para que fosse possível a manutenção e finalização
desse projeto.

482
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O MILHO NA GASTRONOMIA – UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE SEUS


ASPECTOS HISTÓRICOS E PREPAROS POPULARES
Lucas Rodrigues1; Vinicius Quintino1; Carlos Guerra; Rafael Gurgel2

1
Discentes de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. lucasbraga712@gmail.com
2
Docente do curso de Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.

PALAVRAS CHAVE: Milho, Gastronomia, Cultura, Alimento, Américas

ASPECTOS HISTÓRICOS
INTRODUÇÃO
Há mais de meio milênio, desde a invasão das Américas que se tenta
O ato de comer é um dos mais indispensáveis em nossa sociedade e se saber de onde essa planta se originou, já se acreditou que nasceu no
faz presente nas relações sociais desde os primórdios. A gastronomia é México e de lá seguiu para os Estados Unidos e Antilhas. Nasceu a leste
um campo que nos proporciona uma imensa variabilidade de insumos, e a nordeste da Bolívia e Paraguai e sudoeste do Brasil. Nasceu na
preparos e possibilidades que, ao longo da história, foram responsáveis Colômbia. Inúmeros são os debates de onde o milho se originou (6).
por construir e desenvolver inúmeros costumes e tradições em nossa
sociedade. O milho, insumo proveniente da América Central, é um Segundo Freitas (7), em seu estudo genético-evolutivo usando amostras
exemplo que irá ser utilizado como objeto central deste estudo. arqueológicas de milho, nos mostra que este insumo, consumido desde
as civilizações mais antigas tem sua origem na américa central, sendo o
Também chamado de abati, auati e avati, o milho (Zea mays) é México considerado o berço de sua produção.
milenarmente utilizado na alimentação de humanos e animais. Foi
amplamente cultivado por povos nativos das américas, como os astecas, O milho é uma gramínea pertencente à família Poacese e à espécie Zea
maias e incas. Ele é um dos cereais mais cultivados e consumidos no mays L., sendo que todos os milhos existentes pertencem a essa única
Brasil e sua versatilidade permite que dele sejam feitas diversas espécie. É uma das plantas com maior variabilidade genética, o que
preparações, como canjica, cuscuz, pamonha, pipoca e mugunzá (1) permitiu vários trabalhos de sucesso no melhoramento genético, com
início por volta de 1930, resultando no que hoje é conhecido como milho
Magalhães (2017), identificou que o cultivo de milho no Brasil é feito híbrido. Essa espécie é obtida de linhagens mais promissoras para
em grande parte por agricultura familiar, sem muita utilização de novas capacidade de combinação e o cruzamento entre elas (8)
tecnologias. Essa agricultura utiliza das plantações para subsistência e
para maior variedade na alimentação, criam novas formas e usos Consumido em larga escala, tanto na forma de grãos secos como verde,
culinários para o mesmo produto. Ainda de acordo com Magalhães o milho utilizado no Brasil, antes da era do híbrido, era o milho cateto e
(2017), o milho tem sua importância além da sua variedade de os provenientes do seu cruzamento com milhos americanos sentados.
derivados, pois na sua composição química existem diversas substâncias Como grãos verdes para consumo in natura, o milho é conhecido
importantes para uma boa alimentação. Um exemplo é o amido, que popularmente como milho verde, e, como tal, pode ser consumido
rapidamente pode ser convertido em açúcar no organismo. (2) cozido ou assado, processado para fazer curau, pamonha e suco e, ainda,
como ingrediente para a fabricação de bolos, biscoitos, sorvetes, entre
Este estudo tem como principal objetivo investigar o milho e, mesmo outros (8)
que de forma breve, expor um pouco de sua história e origem, bem como
explorar sua usabilidade e versatilidade na gastronomia, abordando É perceptível que os estudos arqueológicos e científicos acerca da
preparos populares que o tenham como principal ingrediente. A escrita origem e história do milho são inúmeros e de grande importância para
desta revisão bibliográfica tem também a finalidade de expandir ainda um aprofundamento ainda maior deste insumo. No entanto, não se deve
mais o número de fontes para estudos e pesquisas acerca deste insumo desconsiderar as histórias, mitos e lendas contadas em versões de
tão importante e evidenciar sua contribuição para a nossa cultura diferentes povos ao longo da história, como os TupiGuarani e outros
alimentar brasileira. indígenas.

MATERIAIS E MÉTODOS É de muita importância que essas e outras narrativas sejam levadas em
consideração uma vez que se deseja investigar um insumo tão antigo
A pesquisa se caracteriza como qualitativa, pois busca a compreensão quanto o milho. Cada uma delas traz consigo a cultura, história e
do objeto estudado, o milho. O estudo foi mais aprofundado nos quesitos costumes de um povo, nos revelando também o valor que era dado ao
históricos e culturais e de forma menos numérica ou estatística (3). Os alimento na época. Retratando a origem de insumos (como é o exemplo
objetivos são qualificados como exploratórios (4) pois têm como da mandioca ou do milho) considerados tão essenciais em grande parte
finalidade promover uma visão geral acerca do milho e da sua das vezes como símbolos de renascimento e esperança.
aplicabilidade na gastronomia por meio de levantamento bibliográfico
sobre o cereal, sua história e aplicações gastronômicas, a efeito de O MILHO NA GASTRONOMIA
proporcionar maior clareza a respeito do milho, cereal tão presente na
gastronomia brasileira. Segundo Ornellas (9), O milho é exemplo de hortaliças, que são muito
importantes por fornecer vitaminas, minerais e aumentarem o resíduo
Segundo Ângelo (5), a pesquisa pode ser definida como bibliográfica e alimentar no trato digestivo.
documental. Bibliográfica pois foram utilizados materiais já publicados
para reunir informações acerca do objeto estudado. Documental por No entanto, limitar este insumo apenas a suas funções nutricionais ou
utilizar de documentos variados a fim de ter conhecimento sobre o suprimento das necessidades biológicas seria uma análise importante,
assunto. Ainda conforme Ângelo (5), foi utilizado o método porém incompleta. O milho é um insumo conhecido por sua
exploratório, pois foi feito um levantamento bibliográfico sobre o milho versatilidade e, por este motivo, se faz muito presente na gastronomia
e foram analisados exemplos de preparações que levam esse insumo em de muitas regiões. Cascudo (6) também cita a popularização deste
sua constituição, também por meio de levantamento bibliográfico insumo até os dias de hoje devido a sua simplicidade e variabilidade de
consumo. O milho, de fato, se faz muito presente no gosto popular
através de preparos muito conhecidos como é o caso do cuscuz e da
pamonha. A seguir será explorado de forma breve acerca destes
preparos típicos brasileiros em que o milho é o protagonista.

483
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

PAMONHA
CONCLUSÃO
A Pamonha pode ser considerada um dos preparos mais populares onde
o milho está presente como protagonista. Em suas escritas acerca da
São inúmeros os aspectos que podem ser usados para definir os desejos
história da alimentação, Cascudo (6) nos afirma que a pamonha está
e necessidades do ser humano. Muitos são construídas através de
entre os preparos herdados dos indígenas. Hoje esse preparo é tido como
fatores como crenças, tradições e comportamentos que surgem no meio
uma das receitas regionais brasileiras, marcando presença frequente na
social como atos, em sua grande maioria, culturalmente desenvolvidos.
gastronomia de rua de inúmeras regiões.
A história e exemplos de usabilidade do milho neste estudo mostram
que o ato de comer é um exemplo dentre estes aspectos e evidencia sua
Quando se fala em pamonha, espera-se com especificidades de receitas importância através de uma construção histórica e cultural,
de acordo com cada região brasileira. Foi adorada então a especificação desenvolvida através destes fatores já supracitados.
de produção do Centro-oeste, mais precisamente de Goiás, onde o
produto pamonha pode ser encontrado em pamonharias nas cidades,
É inegável a importância deste insumo não só para a indústria
mercados e até rodovias (10).
alimentícia, mas também sua contribuição para a gastronomia e cultura
alimentar de inúmeras regiões do nosso país, como é o caso do Centro-
Não se deve deixar aqui de citar a importância da Pamonhada. Costume Oeste, por exemplo. Tradições como a Pamonhada, por mais que
muito comum em locais da região Centro-Oeste que, segundo Péclat venham desaparecendo com o tempo, reafirmam que a comida também
(2005), foi um dos marcos para a entrada dos homens na cozinha para é símbolo de memória afetiva e seu valor vai muito além da satisfação
que fossem realizadas tarefas como cortar, selecionar e ralar o milho. das necessidades biológicas do indivíduo. Também contribui para a
Com o papel de agregar famílias, a Pamonhada tem sido esquecida, construção e desenvolvimento de costumes e tradições, onde a
ficando apenas na lembrança e que alguns estabelecimentos comerciais versatilidade do milho nos presenteia com os mais diversos preparos.
tentam resgatar. Porém, é possível que quem come uma pamonha
consiga resgatar as lembranças "da cozinha da vovó e dos tempos de
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quintais" (11)
1 - MACHADO, D. D; Becker, E. L. S. (2016) Milho: a versatilidade
Observa-se que a pamonha é um preparo de gerações e de extrema de um alimento saboroso e os retratos de uma história. in Produtos
importância quando se trata de gerar memórias gastronômicas e agroalimentares e desenvolvimento regional / Organização: Marquetto,
lembranças do passado. Mais do que um alimento nutricionalmente R. M; Silveira, J. S. T. da. (orgs.) Santo Ângelo: FuRI. p. 187.
importante e de sabor agradável para muitos, a pamonha também é um 2 - MAGALHÃES, C. F.. Análise dos processos logísticos de uma
verdadeiro símbolo de afetividade e torna o ato de comer uma empresa brasileira produtora de pamonhas: um estudo de caso. 2017. 73
experiência ainda mais prazerosa. f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Empreendedorismo e
Internacionalização, Instituto Superior de Contabilidade e
Administração do Porto Instutito Politécnico do Porto, Porto, 2017.
CUSCUZ
Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.22/11245. Acesso em: 31
ago. 2020
Na mesma perspectiva, a farinha de milho se encontra presente na 3 - APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da
culinária brasileira. Tendo uma riqueza de formas devido seu sabor bem pesquisa. Thomson, 2006.
aceito, assim como seu custo reduzido e ampla disposição no mercado 4 - GIL, A. C.. Métodos e Técnicas de pesquisa social. editora Atlas.
(12). São Paulo–SP, 1999.
5 - ANGELO, E. R. B.. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo.
O cuscuz é um prato originário do Maghreb, região do norte da África, Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
consiste em um preparo de sêmola de cereais, principalmente trigo,
como também de farinha, polvilho, milho ou mandioca. Pode ser
incrementado com muitos ingredientes. No Brasil, corresponde a uma 6 - CASCUDO, L. C.. História da alimentação no Brasil. 3. ed. São
massa de milho, pilada, temperada com sal, cozida ao vapor d’água e Paulo: Global Editora, 2004.
depois umedecida com leite de coco, com ou sem açúcar. (6)
7 - FREITAS, F. O. Estudo genético-evolutivo de amostras modernas
Sendo comum usos como leite de coco ou, em alguns casos, até mesmo e arqueológicas de milho (Zea mays, L.) e feijão (Phaseolus vulgaris,
açúcar. No início a moagem era feita artesanalmente com a moagem L.). Piracicaba, 2001.
caseira do milho em casa, sendo nos tempos atuais produzida em escala 8 - UDRY, C. V.; DUARTE, W (orgs). Uma história brasileira do
industrial e vendo nacionalmente para consumo em diversas refeições. milho: O valor dos recursos genéticos. Brasília: Paralelo 15,
Sendo comumente consumido em cafés da manhã com manteiga e 2000.
algumas vezes dissolvido no leite da vaca, cuscuz com leite, ou na sopa
(6). 9 - ORNELLAS, L. H. Técnica Dietética. Seleção e preparo de
alimentos 7.ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2001
No entanto, é valido mencionar que este preparo pode diferir de modo 10 - ARAÚJO, W. M. C. Da alimentação à gastronomia. Brasília:
significativo de acordo com a região em que é preparado. No estado de Editora Universidade de Brasília, 2005
São Paulo, por exemplo, temos a popularização do cuscuz paulista,
onde o preparo comumente é cozido em uma forma redonda com furo 11 - PÉCLAT, G. T.S. C. Hábitos alimentares e a noção
no meio e em sua estrutura, antes da cocção, são incrementados simbólica do comer em Goiás GUANICUNS: Revista da
ingredientes como o ovo e a sardinha, por exemplo. Faculdade de Educação e Ciências Humanas de Anicuns.
FECHA/FEA - Goiás, 02, 211-223, 2005
Embora muito apreciado, pelo motivo de cada região ter sua 12 - GUERREIRO, L. Dossiê técnico: farinhas não tradicionais. 2006.
peculiaridade para com a preparação do prato, demonstrou-se notável Instituição responsável: REDETEC - Rede de Tecnologia do Rio de
desapreço por versões de outras regiões, como cita: Janeiro. Disponível em: <http://respostatecnica.org.br/dossie-
tecnico/downloadsDT/MjM=>. Acesso em: 02 SET. 2020.
“A Gastronomia do Ceará caracteriza-se por sabores https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/download/188/177/
marcantes de diversas regiões. Os de alimentos típicos da 13 - MARQUES, M. T. P. A Gastronomia do Ceará como atrativo
fauna e da flora, do azedo ao doce, do salgado ao insosso,
turístico. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão de Negócios
todos têm sua história na culinária do local. Litoral, sertão
Turísticos) — Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2014.
e serra, mistura de alimentos, hábitos, costumes e cultura é
que fazem a gastronomia do Cearense. Alimentos exóticos
de gosto forte como buchada, panelada ou cuscuz não são
apreciados pelos visitantes, são mais atrativos para
residentes habituados a pratos exóticos” (13).

484
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Doce seco: uma iguaria do Seridó Norte Riograndense


Mônica Paiva1

1 Mestranda em Ciências Gastronômicas - Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa - monica.vale.25f@gmail.com

PALAVRAS CHAVE: doceiras, saber-fazer, doce de espécie.

INTRODUÇÃO. e me pôs em contato com a doceira Zélia Fernandes, depois a professora


e pesquisadora da região do Seridó, Maria Izabel Dantas, me pôs em
É na mesorregião Central Potiguar que estão localizadas as contato com a doceira Vandilza Gomes da Silva Moraes. Através de
microrregiões Seridó Ocidental e Seridó Oriental, popularmente uma enquete online por formulário para identificar o quão conhecido o
conhecidas como Seridó situado no estado do Rio Grande do Norte, se doce seco é no estado do Rio Grande do Norte, obtive contato com as
encontra uma região com alto poder gastronômico, rica em terroir, doceiras Maria das Dores dos Santos e Birosa, e a doceira Maria de
“termo em francês que compreende o conjunto de características de Fátima faz parte do meu círculo de amizades. Ao final da investigação,
uma determinada parcela de terra” (1), fazendo com que sua restaram três municípios (figura 1) e quatro doceiras produzindo o doce
gastronomia seja diferenciada das demais regiões do Estado. Conhecida seco na região do Seridó no Rio Grande do Norte.
principalmente pela carne de sol, queijo coalho, queijo manteiga e pelos
seus doces. Para o seridoense, o doce é o símbolo da própria identidade, Figura 1 – Mapa dos municípios onde atualmente se produz doce
há uma forte relação entre o doce e a festa; festejos juninos, carnaval, seco
festas natalinas, festas religiosas, são motivos para que as famílias se
reúnam, “para celebrar a vida, a união, a amizade, a comunhão, a
transgressão; é uma forma de estar junto, de estar em relação” (2)
aflorando sentimentos de pertencimento ao lugar.
Vários doces se tornaram tradicionais na região sendo feitos até os dias
atuais, entre eles o doce seco , uma espécie de pastel de goma seca de
mandioca, temperada com gengibre, castanha de caju, pimenta-do-
reino, cravo, mel de rapadura, leite de coco e que depois de fechado é
colocado para secar (3)(4). Este doce, feito principalmente no período
natalino é considerado de origem portuguesa, muito parecido com o
fartes, doce português “de massa, em forma de rissol, com recheio de
amêndoa, cidrão e especiarias” (5), mas com influência árabe devido as
especiarias usadas em seu recheio parecido com o doce de chouriço,
mas sem o sague de porco. Aparentemente, apenas poucos moradores Fonte: Marysol Medeiros
da região conhecem o saber-fazer do doce seco que parece estar
ameaçado, sendo que “essa cultura do saber-fazer dos doces é uma Em um segundo momento, foi definida a visita às quatro doceiras para
identidade que deve ser estudada e contemplada para que sempre exista acompanhar o preparo do doce e coletar informações. A primeira visita
a continuidade da memória regional” (6). foi em Caicó com a doceira Maria de Fátima, em novembro de 2019.
Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o doce As outras visitas aconteceriam em abril e maio de 2020, porém, devido
seco considerado uma iguaria pelos seridoenses, a fim de obter a pandemia do novo coronavírus Covid-19, não foi possível visitá-las,
informações sobre seu preparo, além de identificar o maior número de tendo que mudar a metodologia para obter as informações necessárias.
doceiras que atualmente fazem doce seco, diferenciar os doces secos Foi elaborado um questionário com dez perguntas e enviado para as
produzidos pelas doceiras através dos ingredientes e técnicas usadas doceiras para que pudessem responder. O questionário, conforme tabela
durante o seu preparo e detectar se o doce seco atualmente é um doce 1, foi elaborado com dez perguntas, as mesmas que foram feitas durante
conhecido. a visita em Caicó.

MATERIAL E MÉTODOS Tabela 1 – Questionário feito com as doceiras

A ideia dessa pesquisa iniciou após conversar com a doceira Maria de QUESTIONÁRIO
1. Nome completo e idade.
Fátima, conhecida como Betinha Cafumbó, que faz o doce seco em 2. Com quem você aprendeu a fazer o Doce Seco?
Caicó. No início de 2018, estando com ela, tive curiosidade em saber 3. Quem fez o doce pela primeira vez na família?
mais sobre suas tias que eram exímias doceiras. Dentre tantos doces, 4. Por que tem o nome de Doce Seco?
conheci o doce seco e tive curiosidade em saber mais sobre ele, pois 5. Hoje mais alguém na família faz o Doce Seco? Quem? (Nome e idade)
6. O que representa o doce para você? E para sua família?
segundo Betinha, poucas doceiras da região do Seridó detém a arte do 7. Você tem prazer em fazer o Doce Seco? Te traz alguma recordação?
saber-fazer do doce seco, além de ser trabalhoso. Foi então, que deu 8. Esse doce tem alguma história? Alguma curiosidade?
início a uma pesquisa de campo qualitativa, a fim de obter mais 9. Quais os ingredientes usados para fazer o doce de espécie? São moídos?
Ralados? E como ele é feito?
informações sobre o doce seco. 10. Quais os ingredientes da capa? E como é feita?
Inicialmente, como parte da pesquisa era identificar as doceiras que
praticam essa arte do saber-fazer do doce seco, as doceiras foram
A partir das informações obtidas com as doceiras, foi possível fazer
identificadas nos municípios de Caicó, São João do Sabugi, Jardim do
uma comparação entre as receitas para identificar a existência ou não
Seridó e Jardim de Piranhas. Em Caicó apenas uma doceira, Maria de
do uso de diferentes técnicas e ingredientes no preparo dos doces
Fátima (Betinha Cafumbó), em São João do Sabugi duas doceiras, Zélia
produzidos na região do Seridó.
Fernandes e Birosa, porém esta última, pela idade avançada, não faz
mais doce seco e não passou adiante o saber-fazer, em Jardim do Seridó
duas doceiras, Vandilza e Maria das Dores (Dorinha) e em Jardim de RESULTADOS E DISCUSSÃO
Piranhas mais duas doceiras Maria Leonor e Mônica Maria (Nuta),
porém já falecidas e não repassaram o saber-fazer do doce seco. Atualmente, foi identificado apenas quatro doceiras produzindo o doce
Para encontrá-las entrei em contato, através das redes sociais, com seco na região do Seridó, através delas foi possível obter mais
seridoenses que conheci durante a graduação em gastronomia. O informações sobre o doce, sobre o seu preparo e sobre as próprias
primeiro contato foi através do Chef Walter Dantas, que me apresentou doceiras. Das quatro entrevistas planejadas, apenas uma foi presencial,
Josenice Garcia de Morais Medeiros, moradora de São João do Sabugi a da doceira Betinha Cafumbó de Caicó, as outras três doceiras, Zélia
Fernandes de São João do Sabugi, Vandilza e Dorinha de Jardim do
Seridó, tiveram que ser remotas, devido a pandemia causada pelo novo
coronavírus Covid-19, prejudicando o processo de obtenção de

485
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

informações mais detalhadas e acompanhamento do preparo do doce durante duas semanas, foi obtido 296 respostas, das quais 61 pessoas
seco. (21%) responderam que conheciam o doce seco, 12 pessoas (4%)
De acordo com as informações passadas pelas doceiras, o recheio do responderam que conheciam pelo nome de beira seca e 75% não o
doce seco, o doce de espécie (figura 2), é feito igualmente por todas conheciam. Sendo que o percentual de pessoas que responderam que
elas, usando os mesmos ingredientes, rapadura escura, farinha de conheciam o doce seco estão na faixa etária de 50 a 59 anos.
mandioca, leite de coco, castanha de caju, cravo, canela, erva-doce e
gengibre. Porém, no preparo da capa que o envolve, há diferenças tanto Figura 4 – Doce seco de Jardim do Seridó – Dorinha
nos ingredientes quanto no preparo. O doce feito em Caicó (figura 3)
tem a capa feita com farinha de mandioca, goma seca e água indo ao
fogo para se transformar numa massa que posteriormente é sovada para
ser recheada. Os doces de São João do Sabugi (figura 4) e de Jardim do
Seridó (figura 5) usam farinha de trigo e água para a confecção da capa,
sendo que uma das doceiras não leva essa mistura ao fogo para dar o
ponto da massa, o ponto é dado sem que haja cocção, depois das massas
atingirem o ponto desejado, são sovadas para serem recheadas com o
doce de espécie. Após finalizado esse processo os doces ficam
aproximadamente dois dias em temperatura ambiente para secarem e o
doce seco de Caicó passa por mais um processo, o de ser pintado com
corante comestível.

Figura 2 – Recheio de doce de espécie Fonte: arquivo pessoal da doceira

CONCLUSÕES

Tendo em vista as informações apresentadas neste trabalho, conclui-se


que o doce seco mesmo sendo considerado uma iguaria da região do
Seridó do Rio Grande do Norte, atualmente é pouco conhecido
principalmente pelas novas gerações, mas os mais velhos trazem na
memória boas recordações de suas infâncias, quando se reuniam em
família para a produção do doce seco. Devido ser um doce trabalhoso e
de preparo prolongado, são poucas as doceiras que se dispõem a fazê-
lo.
Mesmo sendo quatro doceiras produzindo o doce seco no Seridó, foi
Fonte: arquivo pessoal da autora observado algumas diferenças no preparo da capa, diferenças de
ingredientes e de técnicas de preparo, que nem as próprias doceiras
Figura 3 – Doce seco de Caicó – Betinha Cafumbó souberam explicar, apenas resumem a dizer que aprenderam assim com
suas mães, avós ou amigos da família.
Por fim, as doceiras precisam passar o saber-fazer do doce seco adiante,
algumas não tem a consciência da importância do doce para a história
da região, algumas faleceram e não deixaram nenhum legado, apenas a
família para recordar dos momentos em que a mãe ou a avó faziam o
doce seco, mas ao contrário da maioria, a doceira de Caicó tem
contribuído, timidamente, disseminando o saber-fazer em pequenas
oficinas em sua residência, além de ter ministrado um workshop no 1º
Encontro de Doceiras do Seridó ocorrido em setembro de 2019 no
município de Caicó .

REFERÊNCIAS

(1) GOMENSORO, Maria Lucia. Pequeno dicionário de


Fonte: arquivo pessoal da autora gastronomia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
(2) DANTAS, Maria Izabel. Sabores doces: uma análise
Figura 5 – Doce seco de São João do Sabugi – Zélia Fernandes sociocultural da doçaria do Seridó potiguar. Disponível em
http://www.29rba.abant.org.br/resources/anais/1/1401799293_
ARQUIVO_SABORES_DOCES
ISABEL_DANTAS_ARTIGORBA_2014.pdf. Natal. IFRN,
2014.
(3) CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil.
4ª ed. São Paulo: Global Editora, 2011
(4) GOMES, Maria Marluce. História da gastronomia do Rio
Grande do Norte. Natal: Editora Alternativa, 2004.
(5) GOMES, Vírgílio. Dicionário prático da cozinha portuguesa.
Barcarena: Marcador Editora, 2015.
(6) DANTAS, Juliana Taline Gomes. Doces regionais, identidade
local e tradição: um estudo com as doceiras do Seridó/RN. Artigo
Fonte:http://docesdoserido.com.br/DocePerfil.h científico (Bacharel em turismo: Ensino Superior). Natal. UFRN,
tml#Doce%20Seco- 2019.
Z%C3%A9lia%20Fernandes-6

Por saber das doceiras que o doce vive um processo de extinção, foi
feito uma enquete online através de formulário para saber o quanto é
conhecido dentro e fora do estado do Rio Grande do Norte, onde

486
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Comida típica - Monumento, Documento e Patrimônio.


Gabriel Simões e Souza
Aluno do curso de bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará

Palavras chave: Cultura alimentar, relato histórico, memória.


Introdução: O que é comida “típica”? Esse é um debate “típica”. O termo PANC, em si, já nos diz isso. “Não
importantíssimo, tanto dentro da gastronomia, como na convencionais” quer dizer que não houve a inserção desse alimento
antropologia, história cultural, sociologia. È importante para a na dieta convencionada. É um produto nativo que não constitui
gastronomia, conhecer e compreender o conceito, para estabelecer uma comida”típica”. Analisamos também o exemplo oposto, de
uma relação mais profunda com o alimento e com quem vai comê- uma planta estrangeira se configurar como parte de da cultura
lo. alimentar de um povo. O milho, uma planta nativa das américas,
Quando se pesquisa sobre o tema, o que mais se encontra como foi introduzida na alimentação Europeia e se tornou um produto de
resposta é uma lista de preparações. Mas o que essas preparações extrema importância nos séc. XVII e XVIII. Como consta no livro
têm em comum que as agrupam? É difícil sem uma análise A fome e a abundância, “...o milho viveu sua primeira experiência
anterior, responder o que é o conceito, o que torna os exemplos de europeia confinado e por assim dizer dissimulado nas hortas
pratos citados pratos “típicos”. Ao nos debruçar sobre o conceito, camponesas…”(3)No noroeste da Itália isso foi ainda mais
tentando encontrá-lo, o senso comum relaciona a comida típica aos acentuado. O agrônomo Italiano da província de Remimi, ás
hábitos alimentares de um povo ou à origem de seus ingredientes, margens do mar Adriático, Giovanni Battarra, escreve em 1778:
ao clima, geografia. O objetivo deste ensaio é tentar através de “Não faz quarenta anos que os camponeses ao redor dos hortos
análise bibliográfica e observação de dados, propor um conceito plantavam uma espiga ou duas [...]. Mas pouco a pouco, com o
elementar de comida “típica”. aumento das plantações ocorreu que as colheitas tornaram-se
fecundas, e encheram belos sacos”(4). Esse aumento vertiginoso na
Metodologia: Através de dados e fontes bibliográficas iniciamos produção do milho na Itália tornou a polenta de milho, um dos
um processo de investigação sobre que o senso comum entende principais alimentos da população Italiana.Tão forte que a
como “comida típica”. Apresentamos dados estatísticos sobre os migração trouxe para o Brasil o prato que é considerado típico não
hábitos alimentares dos brasileiros, buscando uma relação direta só na Itália, como nas regiões brasileiras de ocupação italiana.
entre esses hábitos e o consumo de pratos considerados “típicos” Note que o milho, uma planta de origem exótica para os europeus,
de cada região. Apresentamos relatos de experiências com panc’s e devido à questões econômico-sociais se tornou um produto
plantas nativas, também buscando relacioná-las as comidas cultural.O mesmo milho, teve no Brasil uma forma completamente
tradicionais. Mapeamos, através de uma farta bibliografia histórica, diferente de implantação, visto que já era um hábito alimentar dos
as trajetórias de alguns alimentos, que constituem parte integrante nativos. Aqui ele teve dois principais meios de consumo, o modo
de culturas alimentares em locais distintos do globo. Depois disso, europeu, que o utilizava como um substituto do trigo, fazendo uma
analisamos fatores sociais, culturais e principalmente históricos, farinha fina e torrada, o fubá, e o jeito indígena, que usava os grãos
para que, enfim, munidos dessas ferramentas, iniciássemos a minimamente processados, sendo apenas pilada em forma de
construção de uma proposta de conceito. xerém. Sobre isso Sérgio Buarque de Holanda, nos fala eu seu
livro Caminhos e Fronteiras, no capítulo intitulado “Uma
Resultados e discussão: Sobre os hábitos alimentares Carlos civilização do milho”(5). Notamos então que a origem geográfica
Alberto Dória, em seu livro A formação da culinária brasileira, nos do alimento não determina seu uso e que o mesmo produto teve
trás alguns números. usos diferentes por ter tido contextos diferente. Isso nos leva a crer
“Numa enquete realizada nas regiões metropolitanas, coordenada então que o contexto histórico e social têm mais relevância sobre o
pela antropóloga carioca Lívia Barbosa, as pessoas mencionaram conceito de “comida típica” que o determinismo geográfico,
espontaneamente 130 diferentes itens que compõem a sua dieta, e origem do alimento, receita ou os hábitos alimentares modernos.
dentre eles, viu-se que o consumo dos itens regionais é muito Para isso, Jacques Le Goff, historiador e medievalista francês, um
baixo.” Tapioca e baião de dois, por exemplo, aparecem com 1,4% cientista cuja a principal matéria é o estudo do homem no tempo,
e 5,4% de consumo em Fortaleza; polenta, 4,1 em Porto Alegre e em seu texto Documento/monumento, nos fornece uma boa
0,3% em São Paulo. A cidade com maior consumo de itens sugestão: “De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que
relacionados a sua cozinha tradicional é Recife, com 57,1% para o existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças
cuscuz, 10,2% para o queijo de coalho, 55% para o inhame, 36,7% que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da
para a macaxeira e 6,3 para a batata doce.”(1). Observamos aqui humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do
que não há relação direta entre os hábitos alimentares e o consumo tempo que passa, os historiadores. Estes materiais da memória
de comidas “típicas”.A rotina, as relações de trabalho, a podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos,
globalização, a falta de tempo do brasileiro moderno o afasta das herança do passado, e os documentos, escolha do historiador.
preparações típicas de suas determinadas regiões. [...] Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo
Ao levar a origem do insumo em consideração, vemos o conceito aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação [...] O
de “típico” se confundindo com “regional”. O artista plástico monumento tem como características o ligar-se ao poder de
Jorge Menna Barreto foi convidado, em 2014, para participar de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas
um projeto na Ilha de Anhatomirim (SC).(2). Sua proposta era (é um legado à memória coletiva)...(6). Ora, o que não é a comida
confeccionar 200 garrafinhas de uma bebida feita à base de frutas e típica se não um legado à memória coletiva? A evocação ao
folhas que nascem na Ilha. Eram utilizadas, em algumas dessas passado, uma testemunha viva de um outro tempo e contexto?
bebidas, as PANC’s (plantas comestíveis não convencionais). Peguemos a feijoada como exemplo. Ela é uma retrato do
Desse modo ele produziu sucos “regionais/territoriais”. Na colonialismo, da escravidão, da apropriação de técnicas e
gastronomia, isso é chamado de Cozinha de terroir, ou seja, uma ingredientes, é um relato/retrato de um contexto histórico
cozinha que traz em suas preparações o sabor da terras, das águas, específico, diferente de seu “primo” francês, o cassoulet, que
dos pastos locais. É uma nova forma de fazer cozinha regional, apesar de ser similar na composição, é diferente no contexto
valorizando esses produtos da terra e ampliando a sensação de histórico social em que foi criado.
pertencimento e auto-estima. Mas isso não faz dela uma comida

487
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Se, a comida é um monumento involuntário, diferente de uma (3,4) Montanari, Massimo. A fome e a abundância: história da
estátua ou um memorial, que são intencionais, podemos, enquanto alimentação na Europa; tradução Andréa Doré. Bauru: Edusc,
observadores do passado, explorar seu caráter de documento. Se, 2003.
como disse Le Goff, o documento é uma escolha do observador, (5) Holanda, Sérgio Buarque. Caminhos e fronteiras. 89. Rio de
escolhemos usar a comida monumento como tal. As comidas janeiro: Livraria José Olympio, 1957.
típicas, nos trazem informações documentais. O Arroz de (6) Le Goff, Jacques. Documento/monumento, 1990.
Carreteiro, por exemplo, é o retrato de um Brasil nômade, dos (7) Di Giovanni, Roberto e Alves Filho, Ivan. Cozinha brasileira
mercadores pioneiros que levavam produtos para os cantos mais com recheio de história. Rio de Janeiro: Revan, 2000.
remotos deste país continental, ao assobio das rodas dos carros de Marinho, Cláudia, Org.; Caetano, Patricia, Org.; Ribeiro, Walderi,
boi. Os carreteiros. O nome do prato já é documental, nos diz de (8)http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes
quem e pra quem. Um prato que traz carne seca e arroz, insumos /85/patrimonio-imaterial
não perecíveis, transportáveis e práticos, ideais para o nomadismo.
No livro Cozinha brasileira ( com recheio de história) de Ivan
Alves Filho & Roberto Di Giovanni essa ideia é confirmada:”A
culinária, por exemplo, nos fornece uma uma prova suplementar da
frequência com que ocorre o nomadismo no Brasil. ‘O verbo da
vida é andar’, sentenciou uma vez o escritor Álvaro Moreyra. E aí
estão o arroz de carreteiro, feijão tropeiro e a comida de
camboeiro ( uma espécie de paçoca - do tupi paçoc, esmigalhar -
de carne com farinha) que não nos deixam mentir. Pratos nômades
por excelência, preparados em meio aos solavancos das carroças e
tropas de muares…”(7). Dessa forma a comida se torna documento
de um lugar no tempo e seu contexto natural, cultural e
socioeconômico.
Se nós, quando olhamos para esse monumento enquanto
observadores distanciados, o transformamos em documento, pra
quem está inserido no contexto que ele representa, esse
monumento ganha um significado muito mais profundo. Ele se
torna patrimônio cultural. Segundo o IPHAN, patrimônio cultural
traz “referências simbólicas dos processos e dinâmicas
socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de
tradições fundamentais para as identidades de grupos, segmentos
sociais, comunidades, povos e nações.[...] remete � riqueza
simbólica, cosmológica e tecnológica desenvolvida pelas
sociedades, e que é transmitida como herança ou legado. Diz
respeito aos conjuntos de conhecimentos e realizações de uma
sociedade ou comunidade que são acumulados ao longo de sua
história e lhe conferem os traços de sua identidade em relação às
outras sociedades ou comunidade”.(8). É esse caráter identitário
que transforma o monumento em patrimônio cultural. E nesse
ponto ele vai além de um mero documento, ele está relacionado ao
pertencimento, auto estima, auto conhecimento, memória afetiva,
memória sensorial, conforto, acolhimento. Deixa de ser um
narrativa fria e se torna quente, viva e ativa. Se como dito acima,
nem toda comida regional é típica, toda comida típica é tão
regional quanto a cultura de que é fruto, e como sabemos, os
espaços e a cultura modificam e moldam um ao outro.

Conclusão: A comida típica, enquanto conceito, está para além


dos atuais hábitos alimentares grupais, das origens geográficas de
seus ingredientes, técnicas ou influências, como o senso comum
geralmente propõe. Descobrimos em nossa análise que ela é
contextual, e que o conjunto de elementos sócio-culturais e
históricos são seus verdadeiros determinantes. A princípio uma
solução nutricional, atrelada ao determinismo geográfico, que se
torna complexa a medida que as relações humanas assim também o
fazem, e como todas as produções humanas se configura em relato
histórico resultante de um contexto. Ela é monumento, pois evoca
o passado. Ela é documento, pois nos traz informações enquanto
investigadores. Ela é patrimônio cultural, quando configura nossa
herança ancestral. Ela é causa e consequência, é amor, resistência,
identidade. Ela é memória.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Dória, Carlos alberto. Formação da culinária brasileira. São
Paulo: Publifolha, 2009.
(2) Org. Das artes e seus percursos sensíveis. São Paulo:
Intermeios; Brasília: capes; CNPq, 2016. P 201 à 206.

488
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aquisição de Frutas Regionais do Nordeste Brasileiro 2008-2009

Marcos Silva¹, Maria Louzada²


¹Aluno do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde – UNIFESP. anderson.lucas@unifesp.br
²Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde - UNIFESP
Palavra-chave: Regional; Alimentos; Domicílio
INTRODUÇÃO Análise dos dados
Dos domicílios pesquisados no Nordeste (N=18.190), apenas 15,5%
Devido à composição, rica em vitaminas, minerais e fibras e a baixa (N=2.824) fizeram a aquisição de alguma fruta regional. Com esses
densidade energética, o consumo adequado de frutas está associado a dados, foi descrito a porcentagem das frutas adquiridas por cada
uma alimentação mais saudável e é reconhecido como marcador de um Unidade de Federação segundo a diversidade (0=houve a aquisição de
padrão de alimentação saudável por suas características de composição. um tipo de fruta; 1=houve a aquisição de 2 tipos de frutas; 2=houve
Esses alimentos possuem capacidade antioxidante e diminuem riscos de aquisição de 3 tipos de frutas) e área (urbana ou rural) utilizando o
morte relacionada a diversas doenças cardíacas, previnem do câncer e software Stata versão 14.0.
as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à Região Nordeste, o aproveitamento da biodiversidade
nativa dessa região teve início antes mesmo da colonização europeia, Com base no resultado apresentado na figura 1 que mostra a aquisição
passando da exportação do pau-brasil (Paubrasilia echinata), da cera de frutas regionais de acordo com a diversidade, 2.779 (98.41%) dos
de carnaúba (Copernicia prunifera) até a coleta de frutas para produção domicílios analisados fizeram aquisição de apenas uma fruta regional,
de polpa congelada, nos dias atuais (2). Entretanto, atualmente, 44 (1.56%) dos domicílios duas frutas, e apenas um domicílio
inúmeras frutas nativas desapareceram dos mercados locais e são, até localizado em Maranhão (0.04%) teve aquisição de 3 frutas. A Unidade
mesmo desconhecidas da maior parte da população urbana regional (2). de Federação com o maior número de domicílios que apresentou a
aquisição de apenas uma fruta regional foi Bahia (20.76%) e o menor
Com base no que foi citado, o objetivo desse trabalho é descrever a Maranhão (5.40%). Na aquisição de duas frutas, Maranhão foi o que
aquisição de frutas regionais do Nordeste Brasileiro segundo a apresentou mais domicílios (40,91%), já Paraíba e Alagoas foram os
diversidade adquirida e área de cada Unidade de Federação em 2007- únicos que não tiveram participação. Vale ressaltar que Maranhão foi a
2008. única UF a participar de todos os grupos de diversidade.

MATERIAL E MÉTODOS Figura 1: Porcentagem (%) da aquisição de frutas regionais por Unidade
de Federação segundo a diversidade.
Fonte de dados e amostragem
Foram utilizados dados secundários provenientes da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) realizada entre maio de 2008 e maio de
2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF
2008/2009 utilizou plano amostral complexo, por conglomerados com
sorteio dos setores censitários em um primeiro estágio e de domicílios
em um segundo, de modo que, ao final, 55.970 domicílios foram
pesquisados. A informação analisada no presente estudo se refere às
aquisições de alimentos e bebidas para consumo domiciliar feitas pelas
famílias, durante um período de sete dias consecutivos, e registradas
diariamente por um dos moradores do domicílio ou por entrevistador
do IBGE. O procedimento amostral e as condutas empregadas para
coleta de dados são descritos detalhadamente em publicação específica
(3, 4).

Foi analisado apenas os dados do Nordeste do Brasil, que possui um


total de 18.190 domicílios pesquisados nas nove Unidades de Federação
(Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia).

Classificação das frutas regionais Já a figura 2 mostra a aquisição segundo áreas urbanas e rurais de cada
O grupo de frutas regionais foi identificado a partir da classificação da UF. Os domicílios da área urbana foram o que mais apresentaram
segunda edição do livro Alimentos Regionais Brasileiros (2015) do aquisição de frutas regionais (85,76%) e a rural a menor (14.24%) sendo
Ministério da Saúde (5). Ele apresenta alimentos típicos de cada uma 2.422 e 402 domicílios, respectivamente. Tanto na área urbana
das cinco macrorregiões do País e receitas de preparações culinárias que (17.96%) e rural (36.82%), Bahia foi a UF com maior participação na
utilizam esses alimentos. O Nordeste possui dezenove frutas regionais aquisição. Já a menor participação na área urbana foi de Maranhão
no total, sendo elas: Acerola, banana-nanica, banana-da-terra, cacau, (6.65%) e na rural Alagoas (1%). A aquisição das frutas da Bahia na
cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê, fruta-pão, graviola, juá, área Rural e do Maranhão na área urbana são equivalentes. As outras
mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo, umbu (5). UFs que não foram citadas tem um consumo similar com elas mesmas
nas áreas urbanas e rurais, mas em dimensões diferentes, como
Foram considerados apenas aquisição de alimentos in natura que mostrado na figura 2.
segundo a Classificação NOVA, onde classifica os alimentos segundo
seu grau de processamento (6), “são aqueles alimentos obtidos Com base nos resultados, vimos que uma pequena parcela dos
diretamente de plantas ou de animais (como folhas e frutos ou ovos e domicílios estudados (15.5%), cerca de 2.824, apresentaram a aquisição
leite) e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer de frutas regionais, isso se deve ao desconhecimento do potencial das
alteração após deixarem a natureza”(6), assim respeitando a espécies alimentícias nativa, limita significativos ganhos nutricionais,
recomendação da segunda edição do Guia Alimentar Para a População ecológicos, sociais e econômicos potenciais, advindos do seu cultivo,
Brasileira (7) onde recomenda os alimentos in natura e minimamente consumo e comercialização (2).
processados como a base da alimentação.

489
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Disponível em:
Figura 2: Porcentagem (%) da aquisição de frutas regionais segundo <http://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade/category/142-
área urbana e rural serie-biodiversidade.html>, Acesso em: 15 de agosto de 2020.

3.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de


Orçamentos Familiares 2008-2009: despesas, rendimento e
condições de vida. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística; 2010.

4.RICARDO, Camila Zancheta; CLARO, Rafael Moreira. Custo da


alimentação e densidade energética da dieta no Brasil, 2008-
2009. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, p. 2349-2361, 2012.

5.Brasil. ministério da saúde. secretaria de atenção à saúde.


departamento de atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2.
ed. Brasília, 2015

6.MONTEIRO, Carlos Augusto et al. Uma nova classificação de


alimentos baseada na extensão e propósito do seu
processamento. Cadernos de saúde Pública, v. 26, n. 11, p. 2039-
2049, 2010.
Entre as principais razões do abandono gradual desses alimentos estão
as transformações oriundas da urbanização, da industrialização, do 7.BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população
desenvolvimento de tecnologias, da expansão da indústria de alimentos,
brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
da difusão da mídia e do discurso científico, que afetam de forma
diferenciada os grupos sociais de acordo com sua história e
8.ROTENBERG, S. et al. Oficinas culinárias na promoção da
aprendizagem (8).
saúde. Mudanças alimentares e educação nutricional. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
Outra explicação seria o custo dos alimentos in natura. Em um estudo,
foi verificado que restrições no custo da alimentação resultaram na
9.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de
seleção de dietas com maior densidade energética, indicando que o
Orçamentos Familiares 2017-2018: Primeiros Resultados. Rio de
custo da alimentação pode conduzir à adoção de dietas inadequadas no
Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2019.
Brasil (4), assim reduzindo o consumo de alimentos in natura como
frutas, legumes e hortaliças.

Segundo dados da Vigitel, realizado em 2014, o consumo regular de


frutas e hortaliças é atingido por 36.5% da população total estudada e o
consumo recomendado, por 24.1% (1)

Vale ressaltar que os dados que foram analisados nesse estudo são de
uma década atrás. O IBGE liberou alguns resultados preliminares da
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018 de aquisições de
alimentos e bebidas para consumo domiciliar, e analisou a Aquisição
alimentar domiciliar per capita anual (Kg) por grupos de produtos e viu
que o consumo de frutas diminuiu comparado a 2008-2009 (9). Uma
limitação do estudo foi não conseguir identificar as frutas consumidas,
apenas quantas vezes ela apareceu nos domicílios por conta do método
estatístico utilizado.

A vantagem desse estudo é que a Pesquisa de Orçamentos Familiares


apresenta dados representativos da população como um todo e mostra
a real aquisição dos alimentos apresentados nesse trabalho.

CONCLUSÃO
Concluímos que o consumo de frutas regionais ainda representa uma
pequena parcela da aquisição dos domicílios do Nordeste Brasileiro,
apresentando pouca diversidade e uma maior aquisição na área urbana
do Nordeste.

REFERÊNCIAS
1. SILVA, L. E. S; CLARO, R M. Consumo de frutas e hortaliças
em adultos no município de São Paulo: a influência dos locais de
aquisição e consumo de alimentos. 2015. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.

2. CORADIN, Lidio; CAMILLO, Julcéia; PAREYN, Frans Germain


Corneel (Ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor
econômico atual ou potencial: plantas para o futuro: região
Nordeste. Brasília, DF: MMA, 2018. (Série Biodiversidade; 51)

490
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Um Estudo de Caraterização do Patrimônio Alimentar do Ofício das Baianas de Acarajé


Ana Paula Brito1, Angela Aparecida Mattos1, Ednilson Andrade1, 2, Letícia Lima1, 3 e Uerisleda Moreira1.
1
Faculdade Batista Brasileira (FBB). Curso Superior Tecnólogo em Gastronomia. Salvador, Bahia, Brasil.
angelamattos239@gmail.com.
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde (PGNUT).
Escola de Nutrição. Salvador, Bahia, Brasil.
3
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Programa de Pós-Graduação do Centro Interdisciplinar de Administração e
Gestão Social (CIGS). Escola de Administração. Salvador, Bahia, Brasil.

Palavras-chave: Alimentos Tradicionais, Patrimônio Este estudo se baseia no método da revisão de literatura, a partir de
pesquisa descritiva, bibliográfica, documental e de campo. utilizando
Imaterial, Gastronomia Baiana. entrevistas com roteiros semiestruturados. Estudos publicados entre
1993 e 2019, envolvendo livros e artigos foram consultados. Além
disso, foram consultados também documentos legais nacionais
INTRODUÇÃO relacionados. Entrevistas e pesquisa documental foram feitas no
Memorial das Baianas, na Associação das Baianas de Acarajé,
Na cidade de Salvador na Bahia, o fim de tarde é perfumado pelo Mingau, Receptivo e Similares (ABAM) e na sede do IPHAN, em
aroma intenso do azeite de dendê (Elaesis guineensis L) que ferve Salvador, no período de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020.
nos tachos onde são fritos os acarajés – bolinhos de feijão fradinho
(Phaseolus angulares Wild) temperados com sal e cebola. O preparo RESULTADOS E DISCUSSÃO
do acarajé demanda técnica na manipulação do feijão fradinho para
preparação da massa, pois o feijão deve ser colocado de molho para A UNESCO (2019) concebe como sendo manifestações de
retirar a casca, em seguida moído e batido com cebola ralada e sal Patrimônio Cultural Imaterial a serem preservadas as tradições
(QUERINO, 1957). culturais em diversos níveis, gerando um sentimento de identidade,
O acarajé tem origem africana e foi introduzido Brasil por continuidade, respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
escravizados nagôs do Daomé (BORGES, 2008). A palavra acarajé No Brasil, o órgão responsável por preservar o patrimônio histórico e
tem sua origem etimológica do Iorubá Acará (fogo) e ajeum (comer) artístico é o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
que, segundo o IPHAN (2007, p. 15) se originou a partir do ato de IPHAN, (BRASIL, 2019), atualmente uma autarquia federal
mercar a iguaria pelas ruas, onde se anunciava: “acará, acará ajé, vinculada ao Ministério da Cultura, criado pela Lei nº378, de 13 de
acarajé”. Acará é, portanto, a bola de fogo, referência aos tons janeiro de 1937.
alaranjados que assume a superfície dos bolinhos após serem fritos O Decreto nº 3.551 do IPHAN estabelece que o Registro de Bens
no azeite de dendê. Culturais de Natureza Material e Imaterial seja organizado em quatro
A bola de fogo é também a comida dos Orixás, alimento predileto de livros específicos de documentação. Um dele é o Livro de Registro
Xangô e sua mulher Oiá. Muitas são as histórias da relação destes dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer
Orixás com o ato de comer o fogo (acará ajé), sendo, portanto, um enraizados no cotidiano das comunidades. Neste inventário consta o
elemento importante no rol de alimentos votivos, preparados com Ofício das Baianas de Acarajé de Salvador, Bahia. Este consiste em
cuidado para o Orixá seguindo suas preferências. O formato do uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiros, nas ruas,
acarajé pode variar a partir dos rituais aos quais estão inseridos, bem das chamadas comidas de baiana ou comidas de azeite, no qual se
como a nação de origem do terreiro, mas se prevalece os ingredientes destaca o acarajé, um clássico do setor informal de alimentos da
e os modos de fazer (IPHAN, 2007). cidade. (IPHAN, 2007).
Roger Bastide (2001) aponta que a cozinha baiana recebeu influência De origem sagrada, esta comida popularizou-se e passou a marcar a
da cozinha ritual dos terreiros de candomblé, sendo as cozinheiras sociedade baiana e a culinária regional. E se estabelece como
dos senhores e sobrados herdeiras da ancestralidade africana, patrimônio alimentar brasileiro, valorizando e promovendo a comida
inserindo no cardápio da cozinha europeia na Bahia os pratos e os de rua ao rol das tradições alimentares singulares nacionais (IPHAN,
ingredientes de origem na cozinha africana. 2007).
Ao mote de cozinheiras que somaram na construção da cultura Assim, entre os elementos essenciais e identitários do Ofício das
alimentar na Bahia, estão as quituteiras que, na Bahia colonial, Baianas do Acarajé, citam-se:
vendiam o acarajé, o acaçá, o abarém e o mingau, entre outros, • os rituais envolvidos na produção do acarajé, na arrumação do
alimentos mercados por mulheres, promovendo ganhos que no tabuleiro e na preparação do lugar onde as baianas se instalam;
contexto da sociedade escravista contribuíram para a consolidação • os modos de fazer as comidas de baiana;
das estratégias de conquista e de manutenção da liberdade de • o uso do tabuleiro para venda das comidas;
mulheres escravizadas, alforriadas e livres. • a comercialização informal em logradouros, feiras e festas de
A venda dos quitutes pelas ruas no Brasil Colonial pode ser inclusa largo;
no que Negro e Gomes (2006) apontam como comércio de • o uso da indumentária própria das baianas, como marca
abastecimento, com a presença cotidiana de escravizadas distintiva de sua condição social e religiosa, presente
mercadejando com a autorização dos seus senhores iguarias das mais especialmente nos panos das costas, nos turbantes, nos fios de
diversas. As quituteiras cativas entregavam as rendas oriundas do contas e outras insígnias. (IPHAN, 2007).
seu trabalho aos seus senhores, ficando apenas com uma pequena A Figura 1 apresenta os aspectos constituintes do tabuleiro de vendas
parte que era destinada à sua alimentação e, por vezes estes pequenos e da indumentária ligados ao Ofício das Baianas de Acarajé.
recursos possibilitavam o acúmulo de pecúlio necessário à conquista
da alforria (ALMEIDA, 2006). Figura 1 – Ofício da baiana de acarajé de Salvador e seu
Inicialmente, apregoar acarajé pelas ruas da cidade pode ser tabuleiro de vendas
considerada uma estratégia de garantia da sobrevivência. Tal prática,
perpetuada ao decorrer de séculos, se tornou um símbolo da cultura
alimentar do Brasil, recebendo a insígnia de Patrimônio Imaterial
brasileiro. O presente trabalho, tem objetivo compreender o
significado da inscrição do Ofício das Baianas de Acarajé no livro de
registro de saberes do Iphan, seus aspectos regulatórios e os
elementos que compõem o ofício.

MATERIAL E MÉTODOS

491
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. V. 4, N. 7, 2012.


Disponível em: https://periodicos.furg.br/rbhcs/article/view/10467.
Acessado em 10 mai 2020.
FRANCISCO, L.. Vereador quer limitar venda de acarajé em
Salvador, Ba. Agência Folha em Salvador. Salvador. Disponível em:
<http\\www.celacanto.blogspot.com 30/09/2001-celacanto-
archive.html>. Acesso em: 17 out. 2019.
INSTITUTO DO PATRIMÔMIO HISTÓRICO NACIONAL
(Iphan). Ofício das baianas de acarajé. Brasília: IPHAN, 2007.
________. Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000. Institui o
Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial e dá outras providências. 2000.
NEGRO, Antonio Luigi; GOMES, Flávio. Além de senzalas e
fábricas: uma história social do trabalho. Rev. Tempo soc. v. 18, n.
1, Jun. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
Fonte: O GLOBO, 2009. 20702006000100012&lng=en&nrm=iso>. Acessado
em: 20 Fev. 2020.
O processo de regulamentação da atividade informal de alimentos em QUERINO, Manuel. A arte culinária na Bahia. Salvador: Livraria e
Salvador, iniciado no final do ano de 1997, causou inúmeras Editora Progresso, 1957.
transformações no cotidiano dos trabalhadores de rua da cidade. SALVADOR. Decreto nº 12.175, de 25 de novembro de 1998.
Adotando uma postura essencialmente controladora e restritiva, o Dispõe sobre a localização e funcionamento do comércio informal
poder público municipal, através de decretos, passou a impor aos exercido pelas baianas de acarajé e de mingau em logradouros
informais uma série de regras e condições para o funcionamento de públicos e dá outras providências, 1998.
suas atividades. (DURÃES, 2010). UNESCO. United Nations Educational, Scientific and Cultural
A regulamentação alcançou diversos segmentos do trabalho de rua, Organization. Disponível em:
desde os ganhadores em geral até os vendedores ambulantes e as <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-
quituteiras (ganhadeiras). Porém, as políticas que buscam uma heritage/intangible-heritage/>. Acesso em: 14 out 2019.
adequação coerente esta regulação do setor informal de alimentos nas
ruas de Salvador ainda são ineficientes, não contemplando a sua
complexidade e as suas dinâmicas.
O artigo 2º do Decreto Municipal nº 12.175/98, que discorre sobre a
localização e funcionamento do comércio informal exercido pelas
baianas de acarajé, é citado por Francisco (2019) neste sentido, ao
estabelecer os produtos que podem ser vendidos pelas baianas de
acarajé, como patrimônio alimentar tombado: acarajé e abará, tendo
como complementos queijada, cocada branca e preta e bolinho de
estudante, ainda se admitindo, de forma secundária, a venda de peixe
frito e passarinha. Este documento também serviu como mecanismo
regulatório na padronização de indumentárias e tabuleiros, na
higienização e controle no manuseio de alimentos, localização,
distância dos tabuleiros e as possíveis multas, caso não fossem
cumpridas as determinações. Porém, na prática diária, não alcança as
realidades e demandas da diversidade social, cultural e econômica do
setor.
.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Ofício das Baianas de Acarajé já é reconhecido como Patrimônio


da Cultura Imaterial do Brasil, mas ainda há que se discutir e
divulgar o seu papel como um trabalho remunerado
predominantemente feminino, ocupação esta que tem sido
consolidada ao longo dos séculos. E, a seu valor como importante
patrimônio alimentar regional, identificador de um povo e sua
territorialidade, acrescenta-se ainda ao acarajé o importante papel na
preservação do seu papel na economia familiar de classes vulneráveis
e na manutenção do legado afro descendente na gastronomia baiana.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Kátia Lorena Novais. Alforrias em Rio de Contas,


século XIX. Dissertação (mestrado), Universidade Federal da Bahia.
Salvador, 2006.
BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia. São Paulo: Cia das
Letras, 2001.
BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN). O IPHAN. Brasília: Ministério da Cidadania. Disponível
em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872>. Acesso em: 17
out. 2019.
BRASIL. Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Dá nova, organização
ao Ministério da Educação e Saúde Publica. 1937.
BORGES, Florismar Menezes. Acarajé: tradição e modernidade.
(2008). Dissertação (mestrado). Universidade Federal da Bahia,
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2008.
DURÃES, B. J. R. Trabalhadores de rua de Salvador: precários nos
cantos do século XIX para os encantos e desencantos do século XXI.

492
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Rapadura e sua história: a iguaria de tradição cearense


Amanda Marques1 Matheus Lima1
1
Discentes do Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
mandafm@hotmail.com

Palavras-Chave: Gastronomia Regional. Ceará. Açúcar. Cultura.

INTRODU�O
A gastronomia é um elemento bastante significativo na a partir da fervura do caldo de cana, e, em seguida, é moldada e
interpretação da identidade de um povo, e, consequentemente, seca (5).
participa da formação cultural de uma sociedade. A partir dela, No decorrer dos anos de colonização, esse produto foi se
então, desenvolvem-se as tradições culinárias de uma localidade, popularizando, sobretudo no Nordeste, que era a região onde se
tendo por base as vivências de receitas caseiras e das memórias encontrava a maior parte dos engenhos do Brasil. Apesar de
afetivas. Devido a enorme territorialidade do Brasil, essa existir uma certa concorrência com o açúcar e outros adoçantes,
culinária regional se manifesta de diferentes maneiras, o consumo da rapadura firmou-se de forma efetiva na culinária
dependendo dos ingredientes disponíveis, técnicas e formas de local de zonas interioranas, principalmente nos locais semi áridos,
preparo apresentando, assim, características particulares de onde localizam-se os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba,
acordo com cada região do país (1). Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí (5, 7).
O estado do Ceará destaca-se no cenário nacional pela quantidade A rapadura não era tão valorizada comercialmente, estando
de insumos regionais marcantes e pela sua gastronomia presente nas mesas das famílias com menor poder aquisitivo. Isso
tradicional rica em temperos e personalidade. Não é à toa que a pode ser explicado pelo fato desse insumo apresentar um preço
culinária cearense é motivo de grande atração turística à chamada bastante acessível e possuir um elevado teor energético em
"Terra da Luz" (2). termos nutricionais. Além disso, pela praticidade dos transportes,
Em virtude disso, o presente trabalho utiliza como tema a sabor doce e agradável, tornou-se parte da dieta alimentar do
gastronomia do Ceará e tem como objetivo valorizar os alimentos sertanejo e dos escravos, para que estes suportassem jornadas
tradicionais desse estado, dando foco à rapadura. Tal preparação exaustivas de trabalho. Ainda hoje o produto é considerado
apresenta formas e sabores variados e é para muitos cearenses a “comida de pobre” (5).
sobremesa preferida após o almoço. Sua produção é marcada pelo A região Nordeste é responsável por 67% da produção de
tradicionalismo e é uma atividade que estimula a economia local, rapadura, tendo o Ceará como principal produtor, segundo o
sendo fonte de empregos, mesmo que informais, nos grandes Censo Agropecuária da Indústria Canavieira, realizado em
engenhos produtores. 1995/1996 (8). Esse sistema produtivo é mantido pela tradição de
consumo, pelo baixo custo de produção, como também devido ao
valor energético e nutritivo da rapadura. Seu emprego regular na
MATERIAIS E MÉTODOS dieta humana combate à desnutrição.
A pesquisa desenvolvida é de origem qualitativa, que pode ser O processamento de rapadura é caracterizado pelo baixo nível
definida como o estudo de um experimento por meio da análise tecnológico, condicionado ao saber tradicional, que é transmitido
de material bibliográfico e documental. Foi realizada então uma entre as gerações e subordina o processo às habilidades dos
pesquisa a partir de material já publicado, como livros, artigos operadores. Sendo assim, a maioria das rapaduras ainda não
científicos e publicações em periódicos que abordam sobre a apresenta padronização, sendo comercializada no mercado
rapadura e as suas especificidades, e, de acordo com Marconi e informal, sem garantias de qualidade, dificultando a estruturação
Lakatos (3), “sua finalidade é colocar o pesquisador em contato e a organização dos canais de comercialização (9).
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre A integração com o mercado é baixa, a produção é comercializada
determinado assunto[…]”, logo, terá uma maior fundamentação no âmbito local, ou seja, na região interiorana, com forte presença
sobre a temática. de atravessadores, e na maioria das vezes o setor não alcança os
grandes canais de distribuição. Recentemente, algumas unidades
de produção de rapadura estão implementando melhorias no
RESULTADOS E DISCUSSÕES processo produtivo e na apresentação do produto. As primeiras
A legislação brasileira define a rapadura como: iniciativas de modernização do setor, ainda que poucas, vêm
repercutindo na qualidade da rapadura e também no seu valor
“O produto sólido obtido agregado (6, 7).
pela concentração do caldo O mercado da rapadura também sofre com a invasão de produtos
de cana-de-açúcar falsificados, como a rapadura produzida a partir do açúcar
(Saccharum officinarum L.), refinado, que é muito semelhante à rapadura processada do caldo
podendo ser adicionado de da cana-de-açúcar. Essa rapadura falsificada é difícil de ser
outro(s) ingrediente(s) desde identificada pelo consumidor, que, aliás, provavelmente
que não descaracterize(m) o desconhece essa prática ilícita (6).
produto” (4). Os fraudadores têm vantagens competitivas em relação aos
pequenos produtores, que são lesados com o que chamam de
No entanto, para surpresa de algumas pessoas, essa iguaria não
“concorrência desleal”. Como o processo da rapadura falsificada
foi criada no Brasil. A rapadura surgiu nas ilhas Canárias, em um
tem baixo custo de produção, especialmente quanto à mão-de-
arquipélago da Espanha, no século XVI, e apenas no século XVII
obra e à matéria-prima, e seu processo produtivo pode ser
foi exportada para as Américas (PAIXÃO e SOUSA, 2014).
desenvolvido em qualquer período, independente da época da
Os colonizadores portugueses foram os responsáveis em trazer
safra de cana, já que, o açúcar usado nessas falsas rapaduras pode
em 1532 a rapadura ao Brasil, que tinha, inicialmente, toda sua
ser estocado (6).
produção voltada para exportação. Essa produção em terras
O tradicionalismo e o conservadorismo dos produtores
brasileiras acontecia nos engenhos de cana-de-açúcar, alguns bem
descapitalizados e, portanto, limitados em seu potencial inovador,
simples, com moendas de madeira movidas a água ou por cavalos
repercutem em baixos níveis de inversões em melhorias
e bois. Nessa época, a rapadura era um produto sólido originado
tecnológicas. Perante esse cenário, é importante afirmar que os
das raspagens da camada espessa de açúcar que ficavam grudadas
programas de qualidade para o setor rapadureiro estão difundindo
nos tachos de fabricação do produto, e depois eram moldadas em
práticas adequadas à produção de rapadura com uma boa
formas semelhantes às de tijolos. Nos dias atuais, ela é fabricada

493
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

qualidade e buscando também envolver instituições financeiras (7) LUNA, A. Estudo sobre a crise que atualmente atinge a
para abertura de crédito aos produtores. Apesar disso, o setor agricultura canavieira no Vale do Cariri - Barbalha. Barbalha,
ainda carece de evoluções técnicas e estruturas que ajudem a 1997. 27 p.
criação de novas oportunidades no negócio e modifiquem o
sistema produtivo, melhorando o setor rapadureiro de uma forma (8) OLIVEIRA, J. C.; NASCIMENTO, R. J.; BRITTO, W. S. F.
geral (6). Demonstra� �o dos custos da cadeia produtiva da rapadura:
estudo realizado no Vale do S�o Francisco. 2007. Disponível
em:<https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Cadeia
CONCLUSÃO _produtiva_rapadura_000fjd72njv02wyiv809gkz51cga46rg.pdf
É perceptível a grande importância que a identidade de um povo > Acesso em: 11 de junho de 2019.
tem em participar da formação da cultura alimentar de uma
região. Os hábitos alimentares podem revelar os costumes (9) BORRAY, G. A R., La Panela en Colombia: un analisis de
enraizados no cotidiano de uma sociedade. Com o estado do la Cadena Agroindustrial. In: CURSO INTERNACIONAL DE
Ceará não seria diferente. A culinária cearense é derivada da CAÑA PANELERA Y SU AGROINDUSTRIA, 2., 1997,
miscigenação da tríade índio, português e africano, que Barbosa. Trabalhos apresentados. Barbosa:
participaram da formação do Brasil. A partir dessa mistura de CORPOICA/CIMPA, nov. 1997. 12p.
culturas formou-se uma cozinha tão rica em sabores, aromas e
características que mantêm a marca gastronômica do Ceará no
panorama nacional. A rapadura, então, se destaca como um dos
produtos tradicionais mais benquisto do estado e presente na
mesa dos nordestinos.
O processo de produção da rapadura carrega consigo uma grande
herança do período colonial que perdura até os dias atuais. Sua
elaboração acontece de forma artesanal, desde o cultivo da sua
matéria prima, a cana-de-açúcar, até o processamento final. Toda
essa cadeia produtiva movimenta a economia do estado e
promove o crescimento dos produtores locais.
Nota-se que apesar do valor simbólico e de toda a história que a
rapadura apresenta por ser fabricada artesanalmente, esse sistema
de produção, em muitos casos, ainda é muito rudimentar, o que
traz alguns problemas para sua comercialização. A falta de
cooperativas ou associações dos produtores provoca uma
desvalorização do produto final, sendo vendido sem uma
padronização definida e por preços muito baixos.
Diante de tudo o que foi exposto, conclui-se que a rapadura é um
produto de grande importância para a perpetuação da cultura
gastronômica do Ceará. É importante haja a introdução de
programas de incentivo à produção e a inserção de mudanças do
processo produtivo pelos produtores locais com o objetivo de
assegurar a qualidade da rapadura.
Por fim, o presente trabalho também poderá servir de fonte de
exploração e argumentação sobre esse produto tão emblemático
para os cearenses, de modo que fomente a sua valorização no
mercado nacional, além de servir de referência para futuras
análises.

REFERÊNCIAS
(1) CASCUDO, L. C. Hist�ria da alimenta�
�o no Brasil. São
Paulo: Global, 2004.

(2) MARQUES, Tereza Maria Pacheco. A gastronomia do


Ceará como atrativo turístico. Universidade Estadual do Ceará.
Ceará. 2014. Disponível em:
<http://www.uece.br/mpgnt/dmdocuments/MARQUES,T.M.P.p
df> Acesso em: 11 de junho de 2019.

(3) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.


Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas,
2010.

(4) BRASIL. Resolução RDC nº 271, de 22 de setembro de 2005.


Aprova o "REGULAMENTO TÉCNICO PARA AÇÚCARES E
PRODUTOS PARA ADOÇAR". ANVISA. D.O.U. - Diário
Oficial da União; Poder Executivo, de 23 de setembro de 2005.

(5) PAIXÃO, Denize de Lima; SOUSA, Eliane Pinheiro de. A


produção de rapadura no município cearense de Barbalha:
dificuldades e perspectivas. Universidade Regional do Cariri
(URCA). 2014.

(6) COUTINHO, Edilma Pinto. Perspectivas mercadológicas


da rapadura frente à modernização de seu sistema produtivo.
Ouro Preto, Minas Gerais. XXIII Encontro Nacional de
Engenheiros de Produção. 2003.

494
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Confeitaria francesa e o surgimento da tarte tatin


Amanda Marques1 José Mateus Rodrigues1 Matheus Lima1
1
Discentes do Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
mandafm@hotmail.com

Palavras-Chave: Gastronomia. Confeitaria. França. Doce.

INTRODU�O
A doçaria, pastelaria ou confeitaria é a especialidade da cozinha Entre os séculos XVI e XVII foi uma época de grande afeição
que se destina a produzir os alimentos doces. Possivelmente o pela confeitaria. As cortes reais contratavam os melhores artistas
primórdio da pastelaria deve remeter a uma simples pasta, do açúcar e os incentivaram a preparar as mais variadas receitas
semelhante a um mingau feito à base de algum cereal, água, leite doces, de forma que o resultado final apresentasse um sabor e
e mel que eram assados sobre uma pedra quente, sem nenhuma uma beleza notável. Surgem, dentre muitas preparações, os
técnica ou forma elaborada de preparo. Contudo, para de fato ser merengues, o chantilly, os macarons, o crème fouettée, os
chamada de doçaria, era necessário o homem conhecer o processo numerosos biscoitos e as tartes (7).
de misturar os ovos, a manteiga e o açúcar (1, 2). Com o final da Revolução Francesa em 1799, os confeiteiros que
Tendo isso em vista, o tema foi escolhido pela grande relevância trabalhavam para nobreza resolveram abrir o seu negócio e as
que a confeitaria apresenta na cozinha francesa, e, suas criações doces de alto nível, que antes era restrita aos mais
consequentemente, na cozinha mundial, pois além de ser um ricos, podia neste momento serem acessíveis ao público geral.
campo bem antigo, que remonta desde o período medieval, leva Nos anos de 1830, inicia-se a “Era Dourada” da pâtisserie
consigo muitos processos específicos e que necessitam de francesa, inaugurada por Marie-Antoine Carême. Ele foi um dos
precisão e sutileza. grandes chefs que estimulou a mudança e a evolução da
O principal objetivo dessa pesquisa é produzir uma análise mais gastronomia e, consequentemente, da confeitaria para
aprofundada sobre a confeitaria francesa, de forma que seja transformá-la no que é hoje (6).
explanada como se originou a doçaria na França e em que Uma das receitas que se destaca nessa área são as tartes,
circunstância essa área passou a ser respeitada e tida como um conhecidas por serem a base de tortas européias. Apesar de não
modelo clássico a ser seguido. Além disso, o estudo propõe serem apenas uma torta sem a massa de cima, embora possam
apresentar a história e as particularidades da tarte tatin, a fim de parecer com as tortas por sua aparência semelhante, as tartes na
proporcionar um maior conhecimento sobre o assunto. verdade estão mais relacionadas a outras sobremesas de estilo
europeu. Elas são leves, em geral têm menos de 2,5 cm de altura
e costumam ser muito coloridas. Sua aparência elaborada
MATERIAIS E MÉTODOS costuma exibir frutas cuidadosamente dispostas (4).
A pesquisa desenvolvida apresenta caráter qualitativo, que pode Como as tartes possuem menos recheio que as tortas, o sabor da
ser definido como a investigação de um caso por meio da análise massa é fundamental. Embora seja possível usar a massa de uma
e do estudo a partir de materiais bibliográficos e documentais. Foi torta comum, em geral são elaboradas com massas amanteigadas
e enriquecidas, como a pâte brisée e a massa seca. Com
utilizado então para a pesquisa material já publicado, como livros,
frequência, as bases pré-assadas são recheadas com creme de
artigos científicos, revistas e publicações em periódicos, que tem confeiteiro, cobertas com frutas e servidas sem irem ao forno (4).
como intuito conduzir o pesquisador a ter um contato direto com As tartes que vão ao forno após serem recheadas são apenas
tudo o que foi escrito, dito ou desenvolvido sobre determinado massas de torta crua coberta com uma camada de frutas frescas e
assunto, logo, terá uma maior fundamentação sobre a temática. um pouco de açúcar, muitas frutas podem ser utilizadas, as mais
Neste estudo, utilizou-se como amostra a tarte tatin, devido a populares são maçãs, peras, pêssegos, ameixas, damascos e
mesma se destacar na área de confeitaria francesa. Essa redução cerejas, no geral, frutas que trazem uma textura macia para a torta
do universo se deu, pois nem sempre é viável a exploração de após a cocção (4).
todas as amostras do grupo, já que pode haver a escassez de A tarte tatin, um segmento das tartes, é uma das sobremesas mais
conteúdo e precisão de dados (3). conhecidas da França, por seu sabor, ousadia e versatilidade. No
final do século XIX, Stéphanie Tatin e Caroline Tatin herdaram
o hotel e restaurante Tatin do falecido pai Jean Tatin que se
RESULTADOS E DISCUSSÕES situava na cidade de Lamotte-Beuvron, no Loir-et-Cher, no
O pâtissier na França foi, durante muito tempo, o responsável em centro da França. Caroline era conhecida por ser uma excelente
fazer os patês de carne, de peixe, de carne de caça ou de frutas. administradora, já Stéphanie, uma cozinheira talentosa. As duas
Com o passar do tempo, as funções foram mudando e se formaram uma equipe para continuar gerindo o estabelecimento
reorganizando e, como resultado, tem-se o desenvolvimento de familiar, que era um lugar famoso entre os caçadores da região
uma área na cozinha francesa destinada aos doces (1, 2). (8, 9).
Essa doçaria manifesta-se ainda no período medieval na Europa. Uma das especialidades da cozinheira da casa, Stéphanie, era a
No entanto, a profissão de confeiteiro esteve sempre muito torta de maçãs, que era servida morna, caramelizada e bem macia.
associada à de padeiro, que também fazia bolos de massas Tal iguaria era tão famosa que chamava a atenção de pessoas de
contendo mel e outros ingredientes doces, como as frutas secas e longe. No entanto, Stéphanie também era conhecida pelo seu jeito
as amêndoas. Foi somente no século XV que os confeiteiros meio distraído e tagarela. Assim, num dia que a casa estava muito
franceses começaram a formar suas próprias confrarias para movimentada, após muita conversa com alguns clientes,
proteger ainda mais o seu ofício e se desassociaram dos padeiros. observou que a sobremesa não estava pronta, então, ela apressou-
A partir desse momento, vários novos tipos de receitas foram se para preparar a famosa torta, pôs no forno e só depois percebeu
criadas e a confeitaria de fato foi iniciada (4, 5). que tinha esquecido de colocar a massa no fundo da forma. Vendo
Outro acontecimento importante foi a descoberta das Américas que as maçãs estavam caramelizadas, a cozinheira teve a ideia de
em 1492, que provocou uma inovação na confeitaria com a pôr a massa por cima e de virar a torta quando ela saísse do forno,
introdução do açúcar e, posteriormente, do cacau, trazidos do o que deixou os clientes maravilhados quando viram a nova
“Novo Mundo” para a Europa. Esses novos insumos receita (8, 9).
transformaram a pâtisserie em mais sofistificada e apreciada Essa nova iguaria fez tanto sucesso que até um dos mais célebres
pelas pessoas, e receitas base da doçaria clássica como a pâte críticos culinários da época, o nobre Maurice-Edmond Sailland,
sucrée e a pâte feuilletée foram desenvolvidas (6). mais conhecido como Curnonsky veio experimentá-la.

495
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Completamente encantado pela originalidade da receita e pela (8) FERREIRA, Luciana. Tarte Tatin: uma sobremesa cheia de
agradável mistura de texturas e sabores, ele acaba promovendo-a história. 2013. Disponível em:
em Paris, sob o nome de “tarte des demoiselles Tatin” (torta das <http://www.avidafrancesa.com/tarte-tatin-uma-sobremesa-
senhoritas Tatin). E, desse modo, a tarte tatin acabou-se cheia-de-historia/> Acesso em: 09 dezembro 2018.
transformando numa celebridade nacional, ao ponto de ser
servida no restaurante Maxim’s (símbolo internacional da alta (9) NOCI, Patricia. A história de La Tarte Tatin. 2012.
gastronomia francesa). A torta foi elevada a um nível tão alto que Disponível em: <https://tabledhotes.com.br/2013/03/18/la-tarte-
foi criada uma confraria para defender o respeito da receita tatin-historia/> Acesso em: 09 dezembro 2018.
tradicional da torta, chamada “Confrérie des Lichonneux de Tarte
Tatin de Lamotte-Beuvron” (8, 9).

CONCLUSÃO
Quando se fala em gastronomia é comum a associação com a
França, país que tem o reconhecimento em ser o pioneiro da
cozinha profissional. Dessa maneira, a confeitaria francesa é
certamente uma das mais se destaca no mundo e carrega consigo
uma variedade de doces, cada um com a sua particularidade.
Foi possível perceber a partir dessa pesquisa o quanto a doçaria é
uma arte antiga, sendo a França referência mundial no assunto,
apresentando receitas que são tidas como verdadeiros
patrimônios culturais. O processo histórico do país foi
determinante para a criação da sua identidade gastronômica e,
consequentemente, a pâtisserie foi formada com as suas
características tão únicas. Ela se destaca na gastronomia mundial
pelas suas preparações clássicas, que utilizam diversificados
ingredientes, sofisticação na aplicação de técnicas e sabores,
cores e texturas surpreendentes.
Notou-se também que um desses doces clássicos, a tarte tatin,
mesmo sendo criado de forma despretensiosa e ocasional, ainda
é uma receita muito desenvolvida na França. É notável que com
o passar do tempo, esse doce sofreu algumas alterações, podendo
ser encontrado no mercado com outros tipos de recheios e
sabores, como a pêra, e outros tipos de massa, como a massa
folhada.
Concluiu-se, então, que essa iguaria é de grande relevância para
a confeitaria francesa e o quanto a área é ampla e repleta de
especificidades. Sendo assim, identifica-se a necessidade de
haver um maior número de estudos mais aprofundados acerca
dessa cozinha e das suas técnicas, pois ainda são muito reduzidas
as bibliografias sobre o tema. O trabalho, então, servirá de fonte
de exploração e argumentação sobre a doçaria da França,
podendo servir de referência para futuras análises.

REFERÊNCIAS
(1) NOCI, Patricia. Histoire de la pâtisserie (história da
doçaria na França) – Parte 1. 2013. Disponível em:
<https://tabledhotes.com.br/2013/02/01/histoire-de-la-patisserie-
historia-da-docaria-na-franca/> Acesso em: 09 dezembro 2018.

(2) NOCI, Patricia. Histoire de la pâtisserie (história da


doçaria na França) – Parte 2. 2013. Disponível em:
<https://tabledhotes.com.br/2013/02/02/historia-da-patisserie-
na-franca-parte-2/> Acesso em: 09 dezembro 2018.

(3) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.


Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas,
2010.

(4) GISSLEN, Wayne. Panificação e confeitaria profissionais.


5. Ed. São Paulo: Manole 2011.

(5) GISSLEN, Wayne. Culinária Profissional. 6 ed. São Paulo:


Manole, 2012.

(6) CURLEY, William; CURLEY, Suzue. Pâtisserie: Arte e


técnica para profissionais. 2015. São Paulo: Manole, 2015.

(7) SCALAMANDRÉ, Giulianna Loduca. Uma pequena


história da pâtissèrie. 2016. Disponível em:
<http://www.revistamade.com.br/materia/um-pequena-historia-
da-ptisserie-1> Acesso em: 09 dezembro 2018.

496
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cozinha das Américas: A Importância das Pimentas e dos Pimentões

Amanda Marques¹, Matheus Lima¹


1
Discentes do Bacharelado em Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.
matheuseartur49@gmail.com

Palavras chaves: Gastronomia, Capsicum, Patrimônio


Brancos, negros e índios distribuem-
INTRODUÇÃO se desproporcionalmente de uma
região para outra, tanto que se pode
O presente trabalho consiste em uma discussão acerca da gastronomia falar de uma América Branca (a
da região das Américas, de forma que é contextualizado os aspectos anglo-saxônica e os países do prata),
históricos e as especificidades dessa cozinha, com ênfase em um dos uma América Índia (os países
seus principais insumos, as pimentas e os pimentões. andinos), uma América Hispano-
O tema foi determinado pela amplitude que a cozinha das Américas Índia (as áreas centro-americanas e
apresenta e por ser uma culinária tão rica em sabores e temperos, que o Paraguai) e uma América Negra
encantam muitos consumidores ao redor do mundo. Ademais, existiu a (parte das Antilhas), sem esquecer
curiosidade em descobrir de forma mais abrangente como sucedeu o os países de mestiçagem
surgimento dessa gastronomia e quais as suas principais características multirracial, como o Brasil.
e preparações (1).
Pode-se mencionar também o fomento em desenvolver mais pesquisas
sobre o tema, visto que ainda é um assunto pouco difundido pelos A contribuição desses povos para a construção da América foi
gastrônomos, em virtude da gastronomia ser uma área muito nova. grandiosa. Além dos diferentes idiomas, eles trouxeram muitos
Com essa análise, no presente trabalho busca-se entender como as elementos culturais da sua região de origem, e esse fato se reflete
preparações da cozinha das américas surgiram e quais as suas intensamente na formação de uma cozinha nativa das Américas, que é
particularidades e técnicas de preparo que envolvem as pimentas e os mestiça e rica em sabores, temperos e cores (4).
pimentões, de modo que respeitem as características sensoriais desses
produto. Além disso, o estudo propõe buscar a compreensão da PIMENTAS E PIMENTÕES
importância dessa culinária na esfera gastronômica atual e como as As pimentas e os pimentões são de origem americana e imagina-se que
pimentas e os pimentões se destacam nessa cozinha, contextualizando a as primeiras foram coletadas de plantas selvagens. Elas surgiram por
origem das primeiras espécies destes insumos e abordando os principais volta de 7000 anos a.C na região do México Central, sendo utilizadas
países e culturas que utilizam e envolvem o consumo desses produtos. constantemente pelos nativos das Américas como um medicamento.
Além disso, possivelmente foram os primeiros condimentos usados
MATERIAIS E MÉTODOS pelas civilizações antigas do México e da América do Sul, como os
maias e os astecas, que conheciam bastante os benefícios de aroma, cor
A metodologia aplicada baseia-se na obra dos autores Marconi e
e sabor que traziam aos alimentos. Serviam, então, para deixar a
Lakatos e Gil (2). A pesquisa abordada é de origem qualitativa, que
ingestão de carnes e cereais mais agradáveis, além de também
pode ser definida como o entendimento de uma experiência por meio da
apresentarem a função de conservar os alimentos, pois combatiam a
análise e do estudo de material bibliográfico e documental.
contaminação por bactérias e fungos, o que preservava a saúde e a
A pesquisa foi realizada a partir de materiais já publicados, como
longevidade desses povos (5).
artigos científicos, monografias, revistas e periódicos, que, como cita
No entanto, o gênero Capsicum, que não está relacionado ao gênero
Marconi e Lakatos (2) “sua finalidade é colocar o pesquisador em
Piper, a fonte de pimenta preta e pimenta branca, só ficou conhecido a
contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre
partir do século 15, com o descobrimento das Américas e da invasão do
determinado assunto [...]”, assim, terá um referencial teórico maior
México pelos espanhóis. Sendo assim, foram os europeus, sobretudo os
sobre a temática. O mesmo trabalho tem a finalidade de proporcionar
espanhóis e portugueses, que conduziram a propagação do cultivo dessa
um melhor entendimento do caso abordado, sendo classificado como
planta, durante o período de 1492 a 1600, e, em cada continente que
exploratório. O mesmo autor ainda cita que esse tipo de análise se
passavam, esse produto adquiria um nome próprio e uma característica
aproveita de recursos, como a observação de exemplos, para uma maior
particular. Nesse caso, essas plantas passaram a ser domesticadas e sua
compreensão.
cor, tamanho, sabor e forma acabaram se alterando pela seleção humana
Nesta pesquisa utilizou-se como amostra a cozinha das américas,
(5).
devido à mesma se destacar na área da gastronomia com a utilização
Segundo Reifscheider (6), Cristovão Colombo foi o primeiro europeu a
das pimentas e pimentões em suas preparações. Essa limitação
entrar em contato com uma pimenta em 1493, através de uma de suas
aconteceu, pois Marconi e Lakatos (2) declaram nem sempre é viável a
viagens à América. Ele buscava uma nova variação que substituísse a
exploração de todas as amostras do grupo, já que pode ocorrer a
pimenta preta, condimento muito apreciado na Europa. Colombo, então,
escassez de conteúdo, de argumentos e precisão de informações.
encontrou um fruto vermelho pequeno, a pimenta vermelha e a chamou
de "pimiento", palavra espanhola para pimenta preta, devido a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
semelhança que esse insumo apresentava com a pimenta do reino,
Reconhecida como a parte do globo que viria a se chamar de Novo
originária do sudeste asiático, sobretudo o sabor picante. A pimenta
Mundo, a região das Américas, já em seus primeiros instantes
vermelha é nativa do hemisfério ocidental e, provavelmente, evoluiu de
demonstrou extrema diversidade continental, acerca de seus acidentes
uma espécie ancestral na região do Peru e Bolívia.
geográficos, clima e população. E, com o passar do tempo, viria a se
Depois de aproximadamente um século, as pimentas vermelhas se
destacar e aprofundar as suas diferenças, apesar das semelhanças dos
difundiram por todos os continentes por meio dos exploradores
seus processos históricos (4).
europeus, que levaram as espécies nativas americanas para a Ásia e
A região das Américas, que se destaca pelas suas peculiaridades, teve
para África, onde começou-se o cultivo em larga escala. A expansão
influência do período colonial pelos africanos e migratório pelos
desse produto aconteceu rapidamente e a sua aceitação nos novos países
japoneses, chineses e árabes. Essas variedades culturais dividiram de
foi grande, sobretudo na Índia, China, Filipinas, Coréia, entre outros
forma desigual o continente americano, o que contribuiu para a criação
(5).
dos tipos das sociedades, como cita Oscar (4):

497
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

UTILIZAÇÃO NA GASTRONOMIA
Desde muito tempo que as especiarias são produtos valorizados e que (2) LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
dão um toque notável na comida, logo, a presença das pimentas na Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
gastronomia se tornou um processo fundamental. Além de trazer um
sabor diferenciado as preparações, esse insumo de sabor forte e (3) GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São
inconfundível, tem função anti-inflamatória e efeito termogênico, ou Paulo: Atlas, 2010.
seja, tem a capacidade de acelerar o metabolismo, facilitando a
digestão. Não é surpresa, então, que ela já ocupa em diversos pratos,
(4) CAMPOS, Tharcizio de; FILHO, Vicente Canéchio. Principais
como carnes, molhos ou até mesmo coquetéis, o papel de protagonista,
Culturas. São Paulo: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1987.
sendo, portanto, um dos condimentos mais utilizados no mundo (7).
Levando isso como base, percebe-se que as pimentas são também
sinalizadoras das comidas regionais, premeditando ou até revelando os (5) OSCAR, Aquino Jesus. História das Sociedades Americanas. Rio de
aromas e sabores típicos de cada região. Primeiramente, tomando como Janeiro: Record. 2008.
exemplo o Brasil, o pimentão, a pimenta dedo-de-moça, a aroeira
vermelha e a pimenta cambuci são as mais consumidas nas regiões sul e (6) NETO, Nelusko Linguanotto. Dicionário Gastronômico Pimentas.
sudeste (8). São Paulo: Gourmet Brasil, 2004.
A pimenta-de-cheiro também se espalha pelo país com características
particulares em cada lugar: amarelas, vermelhas, alaranjadas, verdes,
(7) REIFSCHEIDER, Francisco José Becker. A história da pimenta.
quase pretas, alongadas, arredondadas, triangulares, campanuladas,
retangulares. A pimenta bode e a pimenta malagueta são as mais Brasília, 2000. Disponível em: <https://pimentadojamal.com.br/a-
comuns no nordeste. Na Bahia, as malaguetas verdes e vermelhas historia-da-pimenta/> Acesso em: 10 novembro 2018.
frescas temperadas em uma espécie de molho vinagrete acompanham os
vatapás, as moquecas, os caranguejos, etc. Os baianos também (8) DALBY, Andrew. Sabores Perigosos, a História das Especiarias.
apreciam a pimenta curtida (tanto a malagueta quanto a de cheiro) e no São Paulo: Senac. 2010.
preparo de molhos específicos, como o do acarajé, conhecido como
molho Nagô. No Centro-Oeste e no sertão nordestino e de Minas Gerais (9) SAMPAIO, Joanice. Pimenta: conheça as famosas cozinhas
a pimenta-de-cheiro é bastante usada, inclusive fresca, na finalização de picantes e como usar a especiaria. Disponível em:
alguns pratos, como, a galinhada ou o capote com arroz (9). <http://www.papocult.com.br/2016/07/07/pimenta-conheca-as-
De acordo com Sampaio (10), muitas culturas, agora se tratando das
famosas-cozinhas-picantes-e-como-usar-a-especiaria/> Acesso em: 19
cozinhas internacionais, utilizam as pimentas em suas preparações e,
consequentemente, acabam se destacando e se tornando referência na novembro 2018.
gastronomia mundial pelos seus sabores picantes. Possivelmente, a
ligação mais conhecida entre pimenta e comida acontece com a cozinha (10) SILVA, S.; TASSARA, H. Frutas no Brasil. São Paulo: Empresa
mexicana, um exemplo disso é o fato do povo mexicano ser bem das artes, 1996.
habituado com a ardência das pimentas, colocando-as em praticamente
todas as suas refeições e em doses elevadas, fato esse que causa
(11) ORRICO, O. Molhos, picantes e pimentas. Jangada Brasil. Pará,
estranhamento e repulsa em muitas pessoas que não estão acostumados
com essa cultura. 2004.
No entanto, outros países também empregam esse produto em vários
pratos da sua culinária, como acontece na Índia, na Coréia, na
Indonésia, no Nepal, na Tailândia, no Peru, no Japão, na China, entre
outros. É notável que esse produto representa muito mais do que um
simples tempero ou especiaria, ele está presente em boa parte das
comidas, e, em alguns casos, apresentam combinações exóticas, como
sobremesas, doces, bebidas e frutas bastante apimentadas (11).

CONCLUSÃO
A partir da presente pesquisa foi possível perceber o quanto as pimentas
e os pimentões são de suma importância para a gastronomia atual,
levando em conta todas as suas formas de preparo ,uso na culinária e
valores culturais e históricos. É essencial o estudo das suas formas de
cultivo e conservação com a finalidade de ter um melhor
aproveitamento desses insumos. Além disso, como foi exposto, há
vários tipos e espécies, e cada uma delas apresenta um aspecto bem
particular, logo, saber qual delas é mais adequada para determinada
preparação é relevante para se obter um prato final que respeite as
características sensoriais almejadas.
O processo histórico de cada país foi determinante para a construção da
identidade gastronômica de cada um deles. A partir desse fato,
compreende-se que cada região possui seus insumos tradicionais, já que
o clima, o tipo de solo, o tipo de colheita e também os hábitos
alimentares da população são fatores que influenciam bastante em qual
produto terá mais relevância.
Conclui-se, então, que esse trabalho servirá de fonte de exploração e
argumentação para futuras análises, engrandecendo, assim, as fontes
literárias, e, consequentemente, poderá despertar o interesse dos alunos
e profissionais de Gastronomia.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
(1) CHESNAIS, P.A. A culinária das Américas. 1.ed. [S.I.]. [2014?].
Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/120112732/A-Culinaria-das-
Americas> Acesso em: 10 novembro 2018.

498
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O USO DO VELAME COMO ERVA AROMÁTICA NA BAHIA.


Uerisleda Alencar Moreira1 Stephanie Mirele Andrade Dos Santos1, Alicio Charot2, José Geraldo de Aquino Assis3 e
Ednilson Andrade1

1
Curso Superior de Graduação Tecnológica em Gastronomia, Faculdade Batista Brasileira.
2
Chef de Cozinha, autor do blog Sossego da Flora.
3
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Biologia / Museu de História Natural.
E-mail correspondente: uerisleda@gmail.com

Palavras-chave: Cozinha Baiana, Velame, PANC, Croton heliotropiifolius Kunth

INTRODUÇÃO
as comunidades tradicionais preservam o seu uso medicinal e seu
Muitos são os sabores da Bahia, uns possuem grande visibilidade e consumo em forma de chá (4).
outros fazem parte da memória gustativa das comunidades
tradicionais do Estado. Alguns destes sabores, estão relacionados Figura 2 – Senhor Zezinho fala sobre suas memórias
aos biomas e as plantas nativas ou adaptadas que as comunidades acerca do Velame.
tradicionais domesticaram e desenvolveram as mais diversas técnicas
para a sua aplicação. Muitas destas plantas, possuem o seu uso
tradicional em determinados lugares, mas são completamente
desconhecidas em outros, mesmo quando estão disponíveis no
ambiente. O termo Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)
para se referir a estas plantas, que não possuem cadeia produtiva e/ou
não são consumidas (1).
As Panc podem possuir um significativo potencial para a nutrição
humana, além disso, podem fortalecer a agricultura familiar, pois
parte dessas variedades vegetais são guardadas pelas comunidades e
pelos pequenos agricultores, são de fácil manejo ou mesmo
consideradas ervas daninhas (1). Uma destas plantas alimentícias não
convencionais é o Velame (Croton heliotropiifolius, Kunth), uma
planta nativa do Brasil, distribuída em regiões com predominância Fonte: https://www.mangaba-producoes.com/episodio-07
dos biomas Caatinga e Cerrado, incluindo áreas de brejos de altitude
e de restingas (2), conforme pode ser observado na Figura 1. Com sabor silvestre, o velame pode ser utilizado como erva
aromática, como aparece na série documental Comida Aqui é Mato
(5). No episódio 07, intitulado “Sertão”, o senhor Zezinho, um
Figura 1 – Distribuição geográfica do Velame no Brasil. açougueiro aposentado, confere ao Velame o lugar de uma erva
aromática especial, e muito importante na construção de sua memória
gustativa (Figura 2).
O senhor Zezinho partilha suas memórias com o que há de mais belo
na tradição culinária, que permitem entrever a construção da
identidade fortemente atrelada à região. A região é o espaço
geográfico em que a questão natural se sobrepõe à ação humana e a
determina (6). Assim, no sertão baiano, o açougueiro Zezinho possui
sua história de vida atrelada ao Velame, um elemento da
biodiversidade local e regional e ao Bode, animal emblemático do
cotidiano sertanejo.
No referido documentário, o sr. Zezinho partilha uma de suas
receitas, o “Bode no Velame”. O Velame, então aparece como um
ingrediente culinário, uma erva aromática que acrescenta ao preparo
do bode seu sabor e aroma.

Figura 3 – Sal do Himalaia com ervas da Caatinga


(Velame).
Fonte: Flora do Brasil, 2020.

Por reconhecer o potencial do Velame como uma erva aromática


brasileira, o presente trabalho tem como objetivo identificar os usos
culinários do Velame em comunidades baianas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi elaborado como uma pesquisa exploratória


com base bibliográfica com o foco em identificar o Velame e seus
usos culinários na Bahia, através da consulta a diferentes suportes
documentais, a saber: livros, jornais, artigos e documentários acerca
do tema.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fonte: Fotografia digital dos autores, 2020.
O Velame (Croton heliotropiifolius, Kunth) é uma planta arbustiva
da família das euphorbiaceae, e pode ser observada durante todo o A relação entre o Velame e o bode também no sertão baiano é
ano com flores e/ou frutos. O Velame possui ação antioxidante (3) e cotidiana, pois a planta é muito presente na caatinga e, ao mesmo
tempo em que é um tempero para a preparação da carne do bode, é

499
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

também um alimento abundante da Caatinga para o consumo dos


caprinos (7).
O uso do Velame tem sido divulgado pelas comunidades que
começam a construir sua cadeia produtiva e a posicioná-lo no
mercado, através de um produto chamado “Sal do himalaia com
ervas da caatinga”, as ervas utilizadas para a elaboração do produto é
o Velame (Figura 3). Produzido pela Associação Comunitária
Agropastoril Testa Branca com apoio da Cooperativa Agropecuária
Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) e da Central da
Caatinga, o sal temperado possibilita que o Velame possa adentrar
outras cozinhas, além daquelas em que já é tradicionalmente
utilizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O velame é um ingrediente pouco conhecido da culinária baiana, que


passou a ser apresentado ao mercado consumidor através de uma
associação comunitária do Território de Identidade Sertão do São
Francisco. Com um sabor característico do bioma caatinga, é
tradicionalmente utilizado como erva aromática para temperar outro
elemento importante do povo sertanejo, o bode. Ante o exposto, o
Velame compõe o grupo de Plantas Alimentícias Não Convencionais
(PANC) e, como tal, necessita de divulgação de seus usos
alimentícios como erva aromática, para que haja demanda para a
construção e o fortalecimento de uma cadeia produtiva do Velame.

REFERÊNCIAS

1. KINUPP, V.F; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não


Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos
nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Plantarum, 2014.
2. Croton in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim
Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB17517>.
Acesso em: 17 jul. 2020.
3. SILVA, Jéssica de Andrade Gomes. Investigação
fitoquímica e biológica de folhas do Croton heliotropiifolius Kunth
(Euphorbiaceae). Dissertação (mestrado). Universidade Federal de
Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia.
Recife, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/26363. Acessado em 05
set. 2020.
4. DOMINGOS, Timóteo. O Chef do Sertão: Reinventando
o Sertão. Nossa Senhora da Glória: Lumia – Escritório de Design,
2017.
5. COMIDA AQUI É MATO. Direção: Jonathan Mark
Lewis, Produção: Mangaba Produções. Bahia, 2019. Série
Documental, TVEBahia.
6. AMADO, Janaína. História e Região. Reconhecendo e
Construindo Espaços. In: SILVA, Marcos, A. da. República em
migalhas. História Regional e Local. SP: Marco Zero, 1990. p. 7 –
15.
7. RIGO, Neide. Uauá, umbuzeiro, umbu e umbuzada.
Caderno Paladar, Estadão. 21 mar. 2012.

500
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

AS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS (PANC) NA FEIRA AGROECOLÓGICA DA UFBA.


Uerisleda Alencar Moreira2, Maria Rosangela S. Britto 1, Mariana Garcia 1, Jean Carlos Spiess2 José Geraldo de Aquino
Assis3
1
Faculdade Estácio / FIB. Campus Gilberto Gil. Pós-Graduação Gestão de Qualidade em Gastronomia, discente.
2
Faculdade Estácio / FIB. Campus Gilberto Gil. Pós-Graduação Gestão de Qualidade em Gastronomia, docente.
uerisleda@gmail.com
3
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Biologia / Museu de História Natural, docente

Palavras-chave: Hortaliças tradicionais, dialogar acerca das PANC, apresentando-as ao público consumidor
que frequenta a feira, oferecendo degustações, mudas e sementes,
biodiversidade, feira livre.
informações sobre plantio, ciclos produtivos, valores nutricionais e
muitos outros aspectos que dizem respeito as PANC.
INTRODUÇÃO
Figura 1 – Ação educativa no Stand da Rede Panc Bahia na
Na Bahia há uma rica biodiversidade em termos de flora alimentícia
que está disponível nos meios urbanos e rurais e por vezes não se Feira Agroecológica da Ufba.
fazem presentes na mesa cotidiana da população e/ou não possuem
cadeia produtiva. Kinupp e Lorenzi (2014) utilizam o termo Plantas
Alimentícias Não Convencionais (PANC) para se referir a esta
biodiversidade, composta por frutos, folhas, flores, rizomas,
sementes e outras estruturas ou partes das plantas que são
alimentícias e podem ser consumidas in natura ou após algum tipo
de preparo culinário.
Muitas destas plantas são consideradas matos, ou mesmo ervas
daninhas, e não estão inseridas na cadeia produtiva, apesar de serem
uma excelente fonte de nutrientes (KINUPP; LORENZI, 2014). A
inserção da biodiversidade local e regional podem contribuir com a
soberania alimentar e com a construção de uma gastronomia
sustentável (KRAUSE; BAHLS, 2013).
A EMBRAPA hortaliças tem desenvolvido projetos para a
sistematização do cultivo de PANC para que estas plantas possam ser
cultivas e inseridas em cadeias de produção e consumo (BRASIL,
2010). Por compreender o papel da pesquisa para a produção e Fonte: Rede Panc Bahia, 2019.
divulgação do conhecimento, o presente trabalho buscou identificar
quais plantas alimentícias não convencionais podem ser adquiridas Na visita a feira agroecológica da UFBA, foram observados nas
em Salvador – BA. bancas dos feirantes as seguintes PANC: Bredo (Amaranthus
deflexus L.), Língua de vaca Talinum triangulares (Jacq.) Willd.),
MATERIAL E MÉTODOS Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill.) Chaya (Cnidoscolus
aconitifolius (Mill.) I.M. Jonhnst.), Pepininho do mato (Coccinia
Trata-se de uma pesquisa exploratória com observação in locus grandis (L) Voigt), Moringa (Moringa Oleífera Lam.), Taioba
através de visita à feira agroecológica da UFBA. Foram observadas (Xanthosoma taioba E.G. Gonç.) e Quiabo de metro (Trichosanthes
as bancas dos feirantes e identificadoa quais plantas alimentícias não cucumerina L.).
convencionais estavam disponíveis aos consumidores da feira e, o
fluxo do comércio desses alimentos através da observação da venda Figura 2 Barraca na Feira Agroecológica da Ufba com Chaya
dos mesmos e a redução do quantitativo de alimentos disponíveis e outros hortifrútis.
para a aquisição durante o período de duração da feira. Os dados
coletados foram analisados em diálogo com a literatura pertinente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A feira agroecológica da UFBA acontece em dias de sexta-feira no


Campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Estes
eventos tiveram início em Fevereiro de 2016 e tem como objetivo
“[...] difundir novas concepções, valores e relações vinculados ao ato
de comprar alimentos e outras necessidades, com foco no modo mais
consciente no tocante a qualidade e ao respeito a tudo e a todos.”
(LIMA et al, 2016. p. 08). Na feira agroecológica da UFBA, é
possível identificar uma diversidade de PANC e esta presença pode
estar associada a objetivo da própria feira, em promover o consumo
em diálogo com a sustentabilidade.
Ao chegar à feira agroecológica da UFBA, já é possível observar que
ali as PANC possuem um espaço de divulgação, comercialização e
consumo. No início da feira há um stand de um projeto de extensão
chamado Rede Panc Bahia, que para além dos muros da
Universidade, a Rede Panc Bahia é “[...] formada por um grupo de
ativistas que se reuniram com o propósito de disseminar
conhecimentos acerca dessas plantas e assim contribuir para a
segurança alimentar numa perspectiva que incorpore critérios
socioambientais ao cultivo e comercialização dos produtos Fonte: Feira Agroecológica UFBA, 2019.
agrícolas.” (SOUZA; ASSIS, 2019, p. 44).
No Stand da Rede Panc Bahia na feira agroecológica da UFBA,
estudantes, professores e demais militantes estão a postos para

501
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Dentre a variedade de plantas identificadas na feira agroecológica da


UFBA, observa-se que há a presença de legumes e hortaliças e os
feirantes informam que alguns destes alimentos estão presente em
suas bancas quando são produzidos na roça, que alguns nem toda
semana é possível levar a feira pois a produção depende de fatores
que podem estar relacionados ao clima, como as chuvas. Esta
alternância de disponibilidade de hortifrúti nas bancas dos produtores
agroecológicos pode estar relacionada à Sazonalidade. O Respeito a
sazonalidade é um elemento que chama a atenção, e está inserido no
âmbito da gastronomia sustentável. Krause e Bahls (2013) afirmam
que o papel da sazonalidade na construção da cultura alimentar,
quando algumas plantas se consolidam como ingredientes de pratos
que são consumidos em determinadas épocas do ano.
As variedades encontradas na feira agroecológica da UFBA foram
observadas em mais de um stand, e algumas delas foram vendidas e
esgotadas nas bancas já no início da feira, o seja, o consumidor que
chegasse às 9h da manhã não encontraria mais algumas das
variedades que estavam disponíveis nas bancas às 7h da manhã. Este
é um fator que pode demonstrar que a partir de um processo
educativo dos consumidores através da divulgação de informações
acerca dos usos dessas espécies vegetais, estas podem ser as escolhas
dos consumidores, conscientes do papel socioeconômico de manter a
biodiversidade no prato.

.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As PANC são alimentos que podem ampliar a biodiversidade no


prato dos consumidores e o seu cultivo e comércio contribuem ao
fortalecimento dos pequenos produtores, como aqueles que fazem
parte da Feira Agroecológica da UFBA. Em Salvador – BA, a feira
agroecológica é um espaço de referência quando os consumidores
buscam alimentos não convencionais e orgânicos e isso pode ser um
desdobramento da ação a longo prazo dos projetos da própria feira e
da parceria da Rede Panc Bahia que, semanalmente, está a postos
junto com os feirantes para as ações de educação do gosto e de
divulgação de informações acerca desses alimentos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


Hortaliças não-convencionais : (tradicionais). Brasília: MAPA/
ACS, 2010.
KINUPP, V.F; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não
Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos
nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Plantarum, 2014..
KRAUSE, Rodolfo W.; BAHLS, Álvaro A. D. S. M. Orientações
gerais para uma gastronomia sustentável. Revista Turismo Visão e
Ação. V. 15, n. 3. Set/dez 2013. P. 434-450.
LIMA, J. S.; GUIMARAES, A. A.; SILVA, G. P. S.A.; SANTOS, L.
B.; GARCIA, C. C. M.; GOMES, I. F. A feira agroecológica da
UFBA como plataforma de divulgação dos princípios
agroecológicos. Cadernos de Agroecologia. V. 13, N.1, jul. 2018.
Disponível em: http://cadernos.aba-
agroecologia.org.br/index.php/cadernos/article/view/967/257. Acesso
em 08 set. 2020.
REDE PANC BAHIA. Disponível em:
https://www.instagram.com/p/Bzi14SQhhng/?utm_source=ig_web_c
opy_link. Acesso em 10 mar. 2020.
SOUZA, L. E. V. de; ASSIS, J. G. de A. Diversidade no prato.
Revista Ingesta, V. 1, N. 2. Dez. 2018, p. 38-48. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revistaingesta/article/view/158889/15778
6 . Acesso em: 10 set. 2020.

502
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O Bolo das Noivas de Santo Antonio de Barbalha-CE: Pioneirismo para a Gastronomia


Social no Cariri

Indra N. Nunes¹
Discente do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade de Juazeiro do Norte – FJN
Indra_nunes@hotmail.com

PALAVRAS CHAVE: Gastronomia Social, Festejo Popular, Tradição

trabalhar efetivamente a gastronomia como vetor de transformação


Introdução: social com o projeto “O Bolo das Noivas de Santo Antônio de Barbalha”,
que consiste na confecção de quinze bolos de casamento para serem
A Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio em Barbalha, cortados pelos noivos e partilhados com a população em geral. A
manifestação cultural do Ceará, é uma celebração popular que, desde Gastronomia Social configura-se como um movimento jovem que
1928, antecede os festejos do dia de Santo Antônio de Pádua. Em 2015, prioriza oferecer comida, cultura e dignidade para todos. No Brasil
foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e inscrita no Livro iniciou-se no ano de 2006 pelo Chef David Hertz ao implantar a ONG
de Registro das Celebrações, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Gastromotiva Reffetorio na cidade do Rio de Janeiro, inspirada no
Artístico Nacional (IPHAN). Trata-se de uma grande celebração que Refettorio Ambrosiano, por Massimo Bottura, Chef Italiano. Ambos
acompanha a versão local do costume de erguer, em frente à Igreja presam contribuir contra o desperdício de alimentos, má nutrição e
Matriz da cidade, um tronco de grande porte para receber a bandeira do exclusão social. Haja vista o exemplo de Bottura e Hertz vislumbrou-se
santo padroeiro da cidade. A data central da Festa é o domingo mais uma oportunidade de beneficiar a população carente através deste viés.
próximo de 31 de maio, dia do carregamento e hasteamento do pau da Outrossim pretende-se colaborar com a construção da
bandeira (IPHAN, 2014). Anualmente milhares de visitantes vem a narrativa destacando a tradição que vem se firmando, tendo em vista a
cidade para participar da festa, hoje firmada na tradição e rica de cultura disposição dos agentes envolvidos no processo, tanto quanto a
e folclore popular. pontualidade anual. Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de
No ano de 2017, a tradicional Festa de Santo Antônio de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente
Barbalha foi enriquecida pela realização do primeiro casamento coletivo, aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar
evento este denominado “As Noivas de Santo Antônio”. A realização certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que
do casamento durante os festejos teve como referência o casamento implica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passado,
coletivo realizado a sessenta e um anos na cidade portuguesa de Lisboa, Hobsbawm (1984, pág. 09).
na data de treze de junho, dia dedicado ao mártir. Como observadora, a O objetivo principal deste relato é reconhecer o papel do Bolo
cientista social Maria Juraci Maia Cavalcante, junto ao seu esposo, o de Noiva na cena do casamento coletivo “As noivas de Santo Antônio”
cineasta Rosemberg Cariry acreditaram que importar a ideia do como impulsionador da gastronomia social, sob a ótica da partilha, forte
casamento para agregar a festa barbalhense seria de grande valia cultural elemento de pregação Paduana. Por conseguinte, investigar as
e social. proposições referentes às vertentes da tradição e cultura, e por fim
Neste enredo criou-se o projeto, elegendo como executora a analisar os resultados globais do processo.
Escola de Saberes de Barbalha (ESBA), instituição voltada para o Teoricamente justifica-se na construção do conceito de
fomento e a preservação dos saberes tradicionais da região, na pessoa do gastronomia social, que muito é praticada de forma empírica,
professor Josier Ferreira da Silva. Após a formatação o mesmo passou a necessitando de aporte acadêmico. Em prática justifica-se no altruísmo
apreciação da Paróquia de Santo Antônio, na pessoa do padre Cícero surtido na sociedade Barbalhense e classe envolvida.
Alencar, a câmara de vereadores do município, o prefeito Argemiro
Sampaio junto a pasta da cultura e a senhora Socorro Luna, promotora Material e Métodos:
do evento “noite das Solteironas”. Assim sendo foi para votação do
legislativo o projeto de lei n 34/2017 que fomenta o evento tal qual a Este trabalho refere-se a um relato de experiência haja vista
cidade de Lisboa. que traz à baila variáveis motivacionais e metodológicas aptas a
Santo Antônio de Lisboa, para os italianos de Pádua, da descreverem ações, levando em consideração as impressões vividas
ordem franciscana, além dos milagres reconhecidos junto a igreja pelos atores envolvidos, bem como demais aspectos que venham a
Católica, na crença popular, é o santo mais solicitado para resolver os aglutinar de certa forma o intento. Assim sendo, destaca-se a vivência e
problemas de amor. Segundo Aquino (2010) Reza a lenda que, certa vez, as relações pessoais como elemento de pesquisa. Sob a luz de Marconi e
em Nápoles, havia uma moça cuja família não podia pagar seu dote para Lakatos “a maneira particular pela qual o indivíduo reage aos fatos, à
se casar. Desesperada, a jovem – ajoelhada aos pés da imagem de Santo cultura em que vive, à ciência, ao quadro de referência de outras ciências
Antônio – pediu com fé a ajuda do Santo que, milagrosamente, lhe e as observações constitui também fonte de novas hipóteses”
entregou um bilhete e disse para procurar um determinado comerciante. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.135).
O bilhete dizia que o comerciante desse à moça moedas de prata É uma pesquisa qualitativa, pois busca compreender um
equivalentes ao peso do papel. Obviamente, o homem não se importou, determinado grupo social com intuito de produzir novas informações,
achando que o peso daquele bilhete era insignificante. Mas, para sua Richardson (1999, p. 102) destaca que "o objetivo fundamental da
surpresa, foram necessários 400 escudos da prata para que a balança pesquisa qualitativa não reside na produção de opiniões representativas
atingisse o equilíbrio. Nesse momento, o comerciante se lembrou que e objetivamente mensuráveis de um grupo; está no aprofundamento da
outrora havia prometido 400 escudos de prata ao Santo, e nunca havia compreensão de um fenômeno social por meio de entrevistas em
cumprido a promessa. Santo Antônio haveria de fazer a cobrança profundidade e análises qualitativas da consciência articulada dos atores
daquele modo maravilhoso. A jovem moça pôde, assim, casar-se de envolvidos no fenômeno".
acordo com o costume da época e, a partir daí, Santo Antônio recebeu – É crucial afirmar que há observação participante, haja vista a
entre outras atribuições – a de “O Santo Casamenteiro”. interação da relatora com os personagens e os processos abordados. A
O casamento coletivo “As Noivas de Santo Antônio” Observação Participante é uma metodologia muito adequada para o
acontece no domingo que sucede o “Pau da Bandeira”, e agracia quinze investigador apreender, compreender e intervir nos diversos contextos
casais que, mediante edital previamente aberto, participam de processo em que se move. A observação toma parte no meio onde as pessoas se
seletivo. Dentre os principais tópicos para o alvidrio está a comprovação envolvem. Por um lado, esta metodologia proporciona uma aproximação
de que o casal se enquadre em perfil econômico desabastado, ao qual o ao quotidiano dos indivíduos e das suas representações sociais, da sua
impeça de realizar o matrimônio oficialmente. dimensão histórica, sócio-cultural, dos seus processos. Por outro lado,
No ano de 2018, segundo do evento, a então discente do curso permite-lhe intervir nesse mesmo quotidiano, e nele trabalhar ao nível
de gastronomia Indra Nogueira Nunes, vislumbrou a possibilidade de das representações sociais, e propiciar a emergência de novas

503
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

necessidades para os indivíduos que ali desenvolvem as suas atividades


(Martins, 1996). ANO II
Para proporcionar embasamento técnico, realizou-se Considerando a proporção que “O Bolo Das Noivas de Santo
portanto, revisão bibliográfica. Para Lakatos e Marconi (2001, p. 183), a Antônio de Barbalha” conquistou dentro do casamento coletivo, propôs-
pesquisa bibliográfica, “[...] abrange toda bibliografia já tornada pública se trabalhar com maiores quantidades do produto, assim, a atividade foi
em relação ao tema estudado, desde publicações avulsas, boletins, reconhecida como extensão universitária, todos os alunos matriculados
jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, materiais na disciplina de confeitaria participaram da produção, ocorrida entre os
cartográficos, etc. [...] e sua finalidade é colocar o pesquisador em dias 06 à 09 de Junho de 2019.
contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre Houve a preocupação em trabalhar o conceito estético,
determinado assunto [...]”. utilizando o naked cake semi-espatulado para os casais, composto cada
Isto posto, ao analisar os documentos e as fontes primárias e por 25 fatias, cobertos com chantilly branco, fitas marrons, flores
secundárias baseadas nos autores Luíz Beltrão, Osvaldo Meira Trigueiro amarelas e em destaque a imagem de Santo Antônio posta no topo. Para
e Luís da Câmara Cascudo é cabível afirmar que as comemorações o público ali presente trabalhou-se o bolo colchão, este com a mesma
fazem parte do coletivismo humano, haja vista que “a sociedade estrutura de massa, recheio e cobertura, este já porcionado rendeu 235
homenageia, honra ou rememora personagens, símbolos ou fatias. Ao todo foram distribuídas 610 fatias. A festa pela primeira vez
acontecimentos com os quais ela se identifica” (BELTRÃO apud foi totalmente externa, os noivos, familiares e população em geral
TRIGUEIRO, 2007, p.107). Assim sendo o homem a utiliza como forma puderam celebrar em conjunto.
de expressar o seu pertencimento junto aos que participam de seu
convívio, relevando os fatores culturais intrisecos ao meio que se insere. Conclusão:
Trigueiro (2007) afirma que ao observar e analisar essas
manifestações populares é possível descobrir os códigos, as regras e os Tendo em vista os dois anos de execução do projeto “Os
estatutos que as constroem, os saberes e fazeres da diversidade cultural Bolos das Noivas de Santo Antônio de Barbalha”, e sua análise é
e, conseqüentemente, o desenvolvimento da identidade de um grupo de possível afirmar que o mesmo é pioneiro no quesito gastronomia social
pessoas. Desta forma, nas manifestações populares como festas no Cariri cearense, proporcionando em dois anos mais de mil fatias de
religiosas ou profanas e comemorações diversas são observadas não só bolo de noiva para serem consumidas pela população participante do
o fazer artístico, mas também as relações sociais que perpassam pela evento.
realização destas que traduzem a linguagem, a expressão do pensar, do É relevante afirmar que esta ação aproximou a realidade do
fazer e do sentir característico de um povo. evento ao projeto original, com base na lei orgânica do município de
Festas são momentos sociais nos quais os homens reafirmam Barbalha-Ce n° 34/2017, pois, quando trata-se da comensalidade, é
laços de solidariedade, praticam a sociabilidade, se harmonizam, se preconizada a partilha de bolos entre os noivos, familiares e demais
unem e, assim, constroem suas identidades sociais, afirma Mazoco presentes, na primeira edição não a comemoração foi de cunho coletivo
(2007). Por tanto, para caracterizar a Festa de Santo Antônio de porém particular.
Barbalha, por ser a primeira das três festas ocorridas durante o mês de Quanto a tradição, o projeto “O Bolo Das Noivas de Santo
Junho, consequentemente denominadas de “Juninas”, “tratam-se de Antônio de Barbalha”, tornou-se oficialmente projeto de extensão
celebrações aos santos populares de Portugal, tendo sua origem europeia. universitária da Faculdade de Juazeiro do Norte, no mês de setembro de
Durante as festas, realizadas nos arraiais, um amplo espaço ao ar livre, 2019, para que as turmas a posteriori possam dar continuidade a este
Fogueiras, fogos de artifício iluminam as noites e animam a população processo juntos as instituições organizadoras do casamento coletivo.
com os casamentos caipiras, as quadrilhas, as leituras de sorte, sempre
acompanhados das comidas e bebidas típicas.” (CASCUDO, 2002, p. Referências
232).
Por conseguinte, dividiu-se a pesquisa em duas etapas, AQUINO, F. A Intercessão e o Culto dos Santos - Imagens e
respeitando a ordem cronológica do evento. O primeiro momento trata Relíquias. 3. Ed. São Paulo: Cléofas 2010.
da experiência pioneira vivenciada no ano de 2018, intitulado de Ano I, BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comunicação dos
o segundo trata-se do ano de 2019 ou Ano II. marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 11.
Resultados e Discussão: ed. ilustrada. São Paulo: Global, 2002.
CONTINENTE DOCUMENTO. Nº 28. Recife/PE: Companhia Editora
ANO I de Pernambuco-CEPE, Dezembro/2004.
Trata-se do primeiro ano do “Bolo das noivas de Santo HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições.
Antônio de Barbalha”. A proposta foi levada a instituição FJN e Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
apresentada a Direção e coordenação do Curso de Gastronomia, que de TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. A espetacularização das culturas
imediato se prontificou e tratou de montar estratégias para a execução o populares ou produtos culturais folkmidiáticos. Revista Internacional
evento. A orientação do evento foi destinada a professora Sinara De Folkcomunicação. Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. Ano
Gregório Xenofonte e os alunos da primeira turma de gastronomia da III, Número 5 - Junho/2005.
instituição. A partir desta organização houve a terceirização da mão de
obra, dividida da seguinte maneira: Equipe de produção de massas,
equipe de produção de recheios, equipe de produção de cobertura. Estas
equipes trabalharam durante três dias e aos que tiveram disposição de
horário se deslocaram até o evento para a montagem e distribuição.
Tendo em vista a inviabilidade da produção de um único bolo
no tamanho solicitado, a orientadora sugeriu quinze bolos, número
equivalente a quantidade de casais em matrimônio. Cada um constava
de trinta porções, num total de quatrocentos e cinquenta fatias. Após a
finalização dos bolos na cozinha pedagógica da Faculdade de Juazeiro
do Norte, os alunos envolvidos dirigiram-se à cidade de Barbalha-Ce,
transportando a produção. Cada bolo ficou exposto em mesa individual,
para que os casais fizessem o corte ao que lhe cabia. Após o momento
do cerimonial os alunos fizeram a distribuição das fatias aos que
prestigiaram o evento.
Figura 1. (Do Corte/ foto: arquivo pessoal)

504
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia, Saber, Sabor e Inovação: Estudo De Caso do Prato Revirado


Liziane Carlesso 1, Maria Regina Martinazzo 2, Simone Cervini 2, Claudio Alcides Jacoski 3, Rodrigo Barrichello 3

1
Mestrado Profissional em Tecnologia e Gestão da Inovação pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó, Brasil e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó. E-mail: liziane-
cc@unochapeco.edu.br
2
Especialista em Gestão e Operação de Bares, Restaurantes e Similares pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
2
Mestre pelo Programa de Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais na Unochapecó. Especialista em Docência no Ensino
Superior pela Unochapecó e Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
3
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC. Professor Titular da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó

Palavras-chave: História; Hábitos Alimentares; Comida; Cultura

INTRODUÇÃO abertas e semi-abertas, ficando disponível na plataforma google


forms, pelo período de 30/08/2019 até 14/09/2019, podendo ser
A alimentação pode ser percebida como uma prática
social diária que permite a sobrevivência humana. Sob o olhar da respondido apenas uma única vez pelos participantes. O questionário
antropologia, comer é um ato social e têm uma inter-relação com antes de ser enviado aos respondentes, foi validado por um docente
cultura e história, indo para além de atender somente necessidades conhecedor, mas não participante do Projeto. Os dados obtidos com a
biológicas e de subsistência. Transmitir hábitos alimentares torna-se aplicação dos questionários serão analisados de forma qualitativa
importante à medida em que contribuem na formação da identidade
alimentar e cultural de um povo (1). RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ato de comer revela não só a história do alimento e de
quem come, mas traduz o modo de viver de uma população. A Quando perguntados sobre a sua experiência em participar
cultura e a história da humanidade estão entrelaçadas com a do Projeto Panorama Gastronômico, todos os professores e alguns
alimentação de forma diversa e arraigada em inúmeros saberes dos dos alunos destacam a importância de conhecer a história e a
povos (2). Desta forma, no estudo alimentar, o homem social e o cozinha de um povo ao mesmo tempo em que descrevem, a
homem biológico não podem ser dissociados da comida ou da arte relevância de sua experiência pela oportunidade de ser parte
culinária (3). integrante da equipe do Projeto. Os participantes da pesquisa B, C e
Nesse contexto, o objetivo do estudo é F, não evidenciam o viés histórico-cultural do Projeto Panorama
demonstrar o valor da gastronomia tradicional como elemento de Gastronômico ao descreverem sua experiência como: “Satisfatória”
cultura e o importante papel exercido pelas etnias italiana, alemã, (respondente C), e “Foi muito boa, apesar do pouco tempo
cabocla e polonesa na comida local, bem como, verificar o caráter conseguimos fazer uma boa pesquisa”(respondente F).
inovador do prato denominado “Revirado”, criado a partir do legado Porém, o respondente B, destaca o caráter inovador do
dos colonizadores da região oeste catarinense. Projeto ao descrever sua experiência de participação como sendo:
O ato de comer não é somente uma necessidade “Integradora, participativa e com o toque inovador da
fisiológica, pois traz em si um olhar sobre nossa história e costumes, gastronomia”. Na atualidade inovação e criatividade são entendidas
assim sendo, o projeto de extensão Patrimônio Gastronômico da como vantagens competitivas de forma singular na gastronomia.
Universidade Comunitária Regional de Chapecó – Unochapecó, entretanto, para inovar e criar é necessário estudo, pesquisa,
apresenta-se como um ator relevante na contribuição da universidade experimentação e conhecimento técnico acerca dos ingredientes e das
na construção da identidade gastronômica da região oeste inúmeras possibilidades de mesclar sabores (4).
catarinense. Por sua vez, os respondentes A, D e E, distinguem
claramente o viés histórico-cultural do Projeto através da sua
MATERIAIS E MÉTODOS experiência e destacam como sendo:
“Enriquecedora! Projeto fantástico que me trouxe conhecimento
Esta pesquisa se baseia em estudo de caso único, acerca da história e da tradição de um povo”. (respondente A).
qualitativo com enfoque descritivo e interpretativo. O caso foi “Foi uma experiência diversa, permitindo a pesquisa e
escolhido por representar um caso profícuo pela contribuição cultural desenvolvimento de produtos, com a possibilidade de testes
e de identidade gastronômica que as etnias italiana, alemã, cabocla e organolépticos de aceitabilidade, além de promover a cozinha
polonesa deixaram como legado à região oeste catarinense. O local”. (respondente D). “Experiência incrível! Oportunidade de
presente estudo procurou explorar o valor da gastronomia tradicional muito aprendizado, abrindo inúmeras portas para o conhecimento
como elemento de cultura e o importante papel exercido pelos tanto científico e bibliográfico quanto cultural”. (respondente E).
imigrantes na comida local, bem como, verificar o caráter inovador No que tange as atividades desenvolvidas pelo Projeto
do prato denominado “Revirado”, criado a partir do legado dos objeto deste estudo, fica evidenciado o envolvimento com a
colonizadores da região oeste catarinense. A comunidade, atendendo desta forma, aos objetivos extensionistas
população da pesquisa compreendeu quatro docentes e oito discentes indissociáveis de ensino e pesquisa, como relatam os respondentes A,
envolvidos no Projeto Panorama Gastronômico, da sua fase inicial B, C e E:
até o momento. A amostra da pesquisa foi delineada em torno dos
“Pesquisas de campo, reuniões de discussões para criações de
respondentes, totalizando um retorno de seis questionários, os quais
pratos baseados nas pesquisas de campo, visitas as feiras da cidade
foram considerados para este estudo. Dos respondentes docentes dois
e mercado municipal, conversas com famílias descendentes de
estão atualmente envolvidos no Projeto e dos discentes, três
italianos e alemães, visita ao CEOM, museus, casa Bertaso, horas de
respondentes são egressos e outro é parte integrante da equipe.
testes na cozinha da Unochapecó, eventos de lançamentos e visitas
O
aos restaurantes de Chapecó e São Carlos”. (respondente A).
instrumento de pesquisa utilizado, foi estruturado com questões
“Estudo e resgate dos pratos representativos dos cinco povos

505
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

formadores do Oeste Catarinense, apresentação do Projeto à


comunidade em 2016. Divulgação de diversos trabalhos científicos,
inclusive uma artigo publicado em revista”. (respondente B).
“Testes dos pratos, elaborações de artigos, participações em
eventos...”. (respondente C). “Divulgação do Projeto na
Feira dos Estudantes com degustação dos pratos; Inauguração do
salão Nobre com degustação de alguns pratos; Participação no
SIEPE com apresentação à banca e divulgação do projeto;”.
(respondente E). No que tange a
representatividade do Revirado em relação a história, cultura e
identidade do povo da região oeste catarinense, os respondentes
docentes e discentes na sua totalidade, afirmaram verificar esta
representação a partir dos ingredientes utilizados na preparação do
prato e justificam: “[...] de
acordo com a história da colonização os ingredientes pensados para
elaboração do revirado representa a história da colonização e
resgata a tradição de um povo que ao longo dos anos vem se
perdendo”. (respondente A). “Sim,
pois traz num único prato a junção de vários elementos (insumos
étnicos)”. (respondente B). “[...] diante das culturas presentes no
oeste de SC, o prato abrange, de certa forma, cada uma delas!”.
(respondente C).
“Sim, pois mescla os insumos das diferentes etnias, tornando o
preparo atemporal, contemporâneo e clássico ao mesmo tempo em
que resgata a identidade gastronômica da cultura oestina”.
(respondente D).
“[...] representam os caboclos, [...] as famílias italianas, alemãs e
polonesas”. (respondente E). “[...] é composto por ingredientes que
eram muito utilizados por nossos antepassados”. (respondente F).

CONCLUSÕES

Através do projeto de extensão universitária Panorama


Gastronômico de Chapecó e Região, a instituição de ensino superior
tem a oportunidade de proporcionar conhecimento acerca da história
e cultura da região. Permitindo assim, que a comunidade reconheça a
importância das etnias colonizadoras e sua contribuição na história
alimentar. Esta compreensão auxilia no diálogo e na interação entre
as diversas culturas presentes na região.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

1. ANGEL, M. Q.; MENDOZA, D. M.; ANGEL, D. Q. The cultural


transmission of food habits, identity, and social cohesion: A case
study in the rural zone of Cali-Colombia. Appetite, v. 139, p. 75-83,
2019.

2. DÓRIA, Carlos Alberto. Formação da culinária Brasileira. São


Paulo: Três Estrelas, 2014.

3. MONACO, G. L.; BONETTO, E. Social representations and


culture in food studies. Food research international, 2018.

4. FREITAS, Ú. S.; LEITE, D. T. B. S.; SOUZA, B. B.; CHAGAS,


S. O.; DIAS, C. M. P. Criatividade e Inovação na Gastronomia:
Subsídios para Empreender. In: Congresso de Gestão, Negócios e
Tecnologia da Informação–CONGENTI. 2017.

506
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

SOJA: UM ESTUDO DE SUA CULTURA, VERSATILIDADE E CONSUMO NO BRASIL


Jarbas Silva1, Cássia Amaral1, Lucas Rodrigues1, Fernando De Marchi1, Rafael Amaral2
1
Discentes do Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará,
jarbaslimads@gmail.com
2
Docente do Curso de Gastronomia, Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará

Palavras-chave: Gastronomia. Grão. Leguminosa. Tofu. Alimentação.

1. INTRODUÇÃO buscado por alimentos que proporcionem variações de consumo e resta


Glycine max L. é o nome científico dado ao popular questionar se o consumidor tem notado a soja tanto no ponto de vista
alimento conhecido como Soja. De origem chinesa, esta faz parte da de seus benefícios bromatológicos, quanto também em sua
família Fabaceae, também conhecidas como leguminosas. A Soja versatilidade na gastronomia.
chegou ao Brasil por volta de 1882 na Bahia e foi introduzida no Rio
Grande do Sul em 1914 (1,2). 3.2 A SOJA COMO FOMENTO DE PROBLEMAS
Na gastronomia, este grão tem ampla aplicação, podendo ser SOCIOAMBIENTAIS
usada como matéria prima na produção alimentícia de produtos como o Em contraponto aos inúmeros proveitos permeados por esse
leite de soja, o tofu, doces, carne de soja, óleo e diversos outras tipo de cultura no país, há uma grande problemática observada – e
produções que contribuem positivamente e em grande escala para a sofrida – por várias populações e territórios. É importante alertar sobre
economia do país (3). a questão do desmatamento, sobretudo na Amazônia e no Cerrado o que
O presente estudo busca apresentar um breve levantamento se deve à modificação territorial por conta de pastagem e agronegócios,
teórico acerca da cultura e uso da soja em território nacional, bem como sendo a soja responsável por 29% do total da perda florestal dos dois
evidenciar a versatilidade e os benefícios deste grão no ramo da biomas (7).
gastronomia. Também serão analisados resultados de uma pesquisa Para Montoya et. Al (2019), a Cadeia da Soja (soja em grão,
aplicada com o objetivo de avaliar a frequência do consumo de soja na farelo e óleo) trouxe com potência o agravamento da degradação do
rotina do consumidor cearense. E, em casos da existência deste tipo de meio ambiente, pois com a expansão desta agricultura, fomentos dados
consumo, será também discutido a forma do seu consumo. pelo Governo Federal, grandes exportações, a sua área de plantação
aumentou (21,7 mi de hectares plantados, dados do fim da década de
2. METODOLOGIA 2000), sendo o seu crescimento feito de forma não planejada e sem
Para a elaboração desse artigo, foram utilizados como base responsabilidade ambiental ou propostas de garantia da
dois tipos de pesquisa: a bibliográfica, para a análise teórica e sustentabilidade regional, sem contar com os graves índices de emissão
contextual da soja e seus derivados; e a de campo, de modo a de CO (8).
compreender o comportamento da população do Estado do Ceará Com estes conhecimentos, faz-se necessária e substancial
perante esse insumo. Assim, Fonseca (2002) define que a pesquisa uma reflexão. Este tipo de cultivo não trouxe apenas benefícios ao
bibliográfica compreende como sendo o levantamento de dados Brasil: ainda que outorgue desenvolvimento econômico, empregos,
teóricos ou hipotéticos em bases científicas de publicação, de modo a afasta em massa gerações de seu território natural, que provavelmente
analisar os conhecimentos prévios do tema que podem auxiliar na busca serão alocadas em regiões afastadas e muitas vezes marginalizadas,
pela solução do problema proposto no estudo (4). bem como promove o extermínio da natureza em vários pontos e das
Desse modo, a pesquisa de campo é responsável pela coleta mais variadas formas, acentuando a complexidade dos problemas
de informações acerca de um problema, segundo Prodanov e Freitas socioambientais brasileiros.
(2013), ou seja, revela-se de modo que os pesquisadores adquiram
dados de fenômenos espontâneos da sociedade. Com base nisso, foi 4. VERSATILIDADE DA SOJA NA GASTRONOMIA
desenvolvido um formulário online pela plataforma da Google, sendo
divulgado em redes de comunicação para realizar a reunião das 4.1 LEITE DE SOJA
respostas (5). O leite de soja é o leite não lácteo amplamente consumido
no mundo. É utilizado para a preparação de tofu, yuba, iogurte de soja,
3. LEVANTAMENTO TEÓRICO sorvete de soja, queijo de soja, etc. Segundo Shurtleff e Aoyagi (2013),
Segundo a agência EMBRAPA de informação e tecnologia somente na China o leite, há muito tempo, era consumido como bebida.
(AGEITEC), a soja trata-se de um grão rico em proteínas. No Brasil, é Tradicionalmente, era servido quente em um caldeirão no café da
um grão muito plantado e tem formato arredondado de coloração manhã, adoçado no local em que era feito. Ganhou popularidade nos
amarelada que contém de 18% a 20% de óleo e apresenta teor de anos 90, quando passou a ser comercializada em garrafas (9).
proteína de 45%. Com vagem tendo até quatro sementes, sua
estabilidade é limitada pelo ácido linolênico. Além disso, no setor 4.2 TOFU
industrial, este grão tem vasta aplicação. Na produção de alimentos, é O tofu, conhecido popularmente como queijo de soja, é um
usado como matéria-prima para a produção de leite de soja, carne de produto muito consumido pelos asiáticos. De sabor suave, é um produto
soja, tofu (queijo de soja), doces e óleo de soja, por exemplo (3). nutritivo e com baixo teor calórico. Esse pode ser obtido em muitas
No contexto mundial, o Brasil atingiu a posição de segundo texturas, desde mais firme até uma mais cremosa. A obtenção do tofu
maior produtor do grão, entretanto o principal diferencial em relação acontece com a precipitação de proteínas do leite de soja, utilizando
aos Estados Unidos e à Argentina, primeiro e terceiro colocados, está processo de coagulação através de uso ácidos e sais (10,11).
na disponibilidade de uma maior área potencial para expansão do
cultivo. Especialistas projetam uma produção superior à 105 milhões de 4.3 MOLHO DE SOJA
toneladas em 2020, o que tornaria o país o principal produtor do grão Molho de soja, líquido de coloração marrom escuro, é obtido
(6). através de processo de fermentação do grão de soja com um cereal, seja
o trigo ou outro, ou amiláceo e sal com uma mistura de leveduras,
3.1 CULTURA DA SOJA NO BRASIL bactérias e fungo. Tradicionalmente, é feito a partir de grãos integrais
A exploração da Soja iniciou-se no sul do país e hoje já é de soja. Tem sabor salgado e aroma característico de extrato de carne.
encontrada nos mais diferentes ambientes, retratado pelo avanço do É muito utilizado na gastronomia asiática para substituir o sal, sendo o
cultivo em áreas de Cerrado. Apesar das condições edafoclimáticas Japão o maior país em termo de consumo e produção, atualmente (12).
ideais para o cultivo da soja, o crescimento contínuo da área cultivada
na região enfrenta desafios como avanço em logística para o transporte 5. ANÁLISE DE RESULTADOS
do grão e além disso, impasses na questão ambiental, na qual o código Ao pesquisar sobre o contexto da soja no território
florestal tenta reduzir o desmatamento na região (6). brasileiro, notou-se que seu uso já apresentou um crescimento
O sucesso na expansão da leguminosa no território brasileiro exponencial latente e, graças aos desenvolvimentos tecnológicos e
ocorreu também pelo desenvolvimento de variedades resistentes a estudos realizados, acredita-se que o papel desse insumo na sociedade
algumas doenças que afetam a cultura (6). irá ganhar mais destaque, principalmente por tratar-se de um dos
Nos dias atuais, nota-se que o consumidor tem sido cada vez produtos utilizados como substituto das proteínas de origem animal.
mais exigente quando o assunto é variedade alimentícia. O mesmo tem

507
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Deste modo, constatou-se que a Glycine max L. apresenta Surpreendentemente, o leite de soja foi apontado por 25,8%,
um leque de possibilidades em questões de uso, dando origem a ou seja, 8 pessoas. No entanto, apenas 2 pessoas afirmaram não
diferentes subprodutos, os quais, muitos, já são conhecidos e consumir nenhum subproduto da soja em seu dia a dia, o que confirma
frequentemente encontrados, ou ainda estão em fase de adquirir seu a importância desse insumo e seu papel latente na alimentação da
espaço no mercado, ou seja, aceitação do público. sociedade.
Nessa vertente, em geral, a pesquisa realizada obteve um
total de 31 respostas, as quais cumpriram o objetivo de analisar a 6. CONCLUSÃO
frequência e modo de uso da soja pelos consumidores brasileiros. Vale É indiscutível que a soja é um insumo de importância para
ressaltar que, por serem questões objetivas e concisas, teve-se o economia e tem ganhado espaço na gastronomia brasileira e mundial.
aproveitamento de 100% dos resultados. Seu plantio e uso nos meios de produção tem crescido de forma
gradativa e tornando-se uma opção versátil para ser somada ao cardápio
5.1 FREQUÊNCIA DE CONSUMO DO GRÃO DA SOJA de diversos brasileiros nos dias atuais. Entretanto, é necessário avaliar
A primeira pergunta da pesquisa serviu para avaliar como se questionar sua origem, tanto em relação à qualidade dos grãos quanto
dava o consumo da soja pelas pessoas, no caráter temporal, ou seja, aos seus subprodutos, além de buscar produtos provenientes de uma
identificar a presença do grão de soja na rotina do público em geral. colheita menos agressiva ao meio ambiente que se encontra. Tomando
Assim, conclui-se que esse insumo é raramente ou nunca utilizado, como base a breve pesquisa aplicada, nota-se que muitos ainda não têm
tendo em vista que essas categorias, juntas, compõem 74,2% das conhecimento do conteúdo e versatilidade dessa leguminosa, devido ao
respostas adquiridas. agronegócio ser voltado à exportação. É importante o incentivo para
Gráfico 1 - Consumo do grão da soja estudos e pesquisas acadêmicas nesse âmbito, bem como o incentivo a
criação e produção de novos produtos alimentícios tendo como base a
soja.

REFERÊNCIAS
(1) CÂMARA G.S.; HEIFFIG L.S. Agronegócio de plantas
oleaginosas: matérias-primas para biodiesel. Piracicaba:
ESALQ/USP/LPV, p. 256, 2006

(2) MONTANARINI, M. Soja: nutrição e gastronomia. Editora Senac


São Paulo, p. 245, 2009.

(3) JARDINE, J. G.; BARROS, T. D. Soja. Disponível em:


http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CON
5.2 FREQUÊNCIA DE CONSUMO DE PRODUTOS T000fbl23vmz02wx5eo0sawqe3vtdl7vi.html. Acesso em: 10 set. 2020.
DERIVADOS DA SOJA.
Nessa vertente, questionou-se o uso de subprodutos da soja, (4) FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa cient�
fica. Fortaleza:
tendo em vista que a versatilidade do insumo é extensa e deve ser UEC, 2002. Apostila
consultada para melhores conclusões. Com isso, obteve-se um índice
de 48,4% para pessoas que classificam seu consumo como de vez em (5) PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho
quando, e 22,6% afirmam utilizar quase todos os dias algum produto científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico.
derivado da soja. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
Gráfico 2 – Consumo de produtos derivados de soja
(6) FREITAS, M. C. M. A cultura da soja no Brasil: o crescimento da
produção brasileira e o surgimento de uma nova fronteira agrícola.
Enciclopédia Biosfera: Centro Científico Conhecer, Goiania, v. 7, n.
12, p.1-12, maio 2011

(7) AGUIAR, C. O efeito China no desmatamento da Amazônia


Legal: uma análise para o período 2000 – 2017. 2019. 67f.
Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento (PPGE) - Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 67. 2019.

Deste modo, nota-se que a presença desses produtos no (8) MONTOYA, M. A. et al. Uma Nota Sobre Consumo Energético,
mercado é bem mais expressiva do que o grão em si, já que apenas 2 Emissões, Renda e Emprego na Cadeia de Soja no Brasil. Rev. Bras.
pessoas revelaram que nunca consomem algo proveniente da Glycine Econ., Rio de Janeiro, v. 73, n. 3, p. 345-369.
max L., mesmo que condiga com a mesma porcentagem do público que
faça o consumo diário. (9) SHURTLEFF, W; AOYAGI, A. History of Soymilk and Other
Non-Dairy Milks (1226-2013): Including Infant Formulas, Calf Milk
5.3 PRINCIPAIS SUBPRODUTOS DA SOJA UTILIZADOS. Replacers, Soy Creamers, Soy Shakes, Soy Smoothies, Almond Milk,
Por fim, averiguou-se quais são os produtos derivados da Coconut Milk, Peanut Milk, Rice Milk, Sesame Milk, etc. Lafayette,
soja que mais são consumidos pela população brasileira. Logo, entende- CA: Soyinfo Center. 2013.
se que o óleo de soja é o principal subproduto presente na rotina das
pessoas, tendo em vista que 71% delas o indicaram na pesquisa. Neste (10) BENASSI, V. de T.; FELBERG, I.; ALVARENGA, A. L. B.;
sentido, a carne de soja também recebeu um grande índice de consumo, MANDARINO, J. M. G. Tofu. Brasília, DF: Embrapa Informação
já que 12 pessoas afirmaram consumi-la. Tecnológica; Londrina: Embrapa Soja, 2007. 39 p

Gráfico 3 – Subprodutos da soja (11) SHURTLEFF, W; AOYAGI, A. History of Tofu and Tofu
Products (965 CE to 2013). Lafayette, CA: Soyinfo Center. 2013

(12) GUIDI, L. R. Aminas bioativas em molho de soja: validação de


método e ocorrência. 2010. 90 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Ciência de Alimentos, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2010.

508
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Políticas Públicas e Identidade Gastronômica no município Barreirinhas-MA


Elaine Fernandes¹, Marilene Bezerra², Oscar Neto³. Richardson Pinheiro4, Widismar Martins5,

¹Mestre em Gestão de Negócios Turísticos – Universidade Estadual do Ceará. Docente na Universidade Federal do
Maranhão. elaine_csfernandes@hotmail.com,
²Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas – Universidade Federal do Maranhão. Docente na Universidade Federal
do Maranhão/UFMA. marilene_sabino@yahoo.com.br,
³Graduando em Hotelaria – Universidade Federal do Maranhão. oscarachneto@hotmail.com,
4
Graduando em Hotelaria – Universidade Federal do Maranhão,
5
Graduando em Turism – Universidade Federal do Maranhão. widissmartins@live.com.

Palavras-chave: Turismo. Culinária Regional. Território. Produção Local. Lençóis Maranhenses.

INTRODUÇÃO de mercado, identificando o produto original e coibindo possíveis


O município Barreirinhas – MA integra a região turística do Parque imitações por meio de leis contra a propriedade intelectual, e também
Nacional dos Lençóis Maranhenses, sendo expressivo apelo aos funciona como um selo de qualidade, que garante a legitimidade de
aspectos ambientais na dimensão ecoturística, A cidade recebe um associação de determinados produtos a determinadas regiões e agrega
fluxo de visitantes contínuo, em épocas de altas temporadas para o valor simbólico. Esta valorização contribui diretamente para a
turismo (meses de janeiro, fevereiro, julho e agosto) a população perspectiva do turismo gastronômico, uma vez que confere distinção
flutuante deste município aumenta consideravelmente, resultando em a estes produtos e os associa de forma permanente a uma localidade,
desabastecimento de alguns insumos alimentares. A região tem criando e fortalecendo territorialidades gastronômicas, um tipo de
potencial para a prática agrícola, piscicultura, criação de bovinos, demarcação simbólica de uma localidade que contribui para a
caprinos, extrativismo do babaçu (Orbignya phalerata Martius) e da distinção e competitividade de um destino turístico (2).
juçara (Euterpe oleracea Mart), entre outros. Analisar a produção Quanto ao aproveitamento da produção local pela cadeia produtiva
local e sua relação com a gastronomia é compreender a identidade gastronômica, é necessário perceber que o desenvolvimento agrário
territorial gastronômica, considerando a importância das políticas se constitui da valorização das formas que mulheres e homens
públicas no aproveitamento da produção local para composição pensam e valorizam o espaço rural e a cultura alimentar. (3) reforça
culinária. E assim, o turismo resulte em ganhos econômicos para a que, agricultoras e agricultores familiares precisam de uma gestão
população rural local pela via da produção de componentes para a pública que compreenda que suas demandas não advêm de fomento e
gastronomia. crédito rural, mas de um diálogo sobre as vivências e relações do
Embora as políticas discutidas neste trabalho não sejam específicas campo a fim de garantir a cidadania e o saber popular. Possibilitar
da gastronomia, por distintos objetivos e foros de atuação, podem ser que planos estaduais dialoguem diretamente com o desenvolvimento
instrumentos de legitimação e valorização dos produtos e práticas agrário, com destaque ao Plano de Desenvolvimento Rural
direcionados a gastronomia. O reconhecimento e valorização da Sustentável (PDRS) e a Política de Segurança Alimentar e
gastronomia brasileira como prática cultural é considerado um Nutricional Sustentável (PESANS). (4) a partir desse fenômeno, há
movimento em construção que, rigorosamente, é afunilado no âmbito uma ressignificação e reposicionamento do papel da agricultura
das instituições e entidades federais, atrelado às respectivas políticas familiar que vão além de políticas de fortalecimento, de qualificação
públicas, tal qual no âmbito do turismo. As cozinhas regionais e de comercialização. Os autores recomendam, a entrada de produtos
traduzem a relação do homem com o meio, a partir de ingredientes, locais no circuito gastronômico, gerando a construção de imaginário
sabores próprios do local, de técnicas de produção, preparo e serviço da relação entre cozinheiros e o produtor local, na reconstrução da
que transmitem valores e tradições de um determinado contexto relação cooperativa com o campo, bem como da trajetória do
cultural. Portanto, as rotas gastronômicas são instrumento de alimento. Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao intermédio
promoção dos alimentos locais, e elemento estratégico para as do Ministério do Desenvolvimento Agrário [MDA] e do Ministério
dificuldades de comercialização da produção local. As articulações do Turismo [MTUR], com a criação do Programa Nacional de
entre território, identidade, cultura e mercado permitem a Turismo na Agricultura Familiar [PNTRAF], que tem o objetivo de
interpretação de um espaço geográfico permeado por uma identidade “trabalhar de forma integrada, utilizando toda atividade turística no
construída socialmente, formando laços de proximidade e meio rural para proporcionar retorno financeiro e melhores condições
interdependência e, possibilitando qualidade e vantagens aos de vida aos produtores, famílias e comunidades rurais”. Diante do
produtos e serviços locais, conferindo-lhes maior competitividade no exposto, o objetivo deste estudo é refletir sobre a identidade
mercado. Na maioria das vezes, o desenvolvimento das territorial na gastronomia do município Barreirinhas no Maranhão, e
potencialidades territoriais pode ser explorado economicamente, o papel das políticas públicas no aproveitamento de produtos da
através de produtos ou serviços genéricos, sem a produção de região nas preparações culinárias.
características identitárias com especificidades locais, (1).
Estratégias territoriais de desenvolvimento são voltadas para o MATERIAL E MÉTODOS
conhecimento dos recursos específicos disponíveis, com base na Empregou-se pesquisa de caráter exploratório e descritivo com
organização de ações voltadas para a promoção das qualidades abordagem qualitativa no tratamento dos dados. Aplicação de
construídas (adquiridas) ou mesmo intrínsecas do território. A entrevista semiestruturada com proprietários de restaurantes
identificação da região, território e comunidade permeia a produção localizados à Beira-rio no município Barreirinhas no Maranhão, o
agroalimentar, gastronomia, modos de fazer. E essa identificação e qual é um dos destinos que compõe o polo turístico lençóis
valorização das especificidades territoriais justificou a criação de maranhenses. Os entrevistados estão representados por letras do
políticas públicas regulamentadas nas Indicações Geográficas, alfabeto (pseudônimo) nos resultados e discussões abaixo.
preconizando o reconhecimento das especificidades e peculiaridades
possibilitando proteção e competitividade aos produtos locais. Assim RESULTADOS E DISCUSSÕES
como qualquer setor econômico, a cadeia produtiva da gastronomia Os resultados mostram que a diversidade natural do território da
também demanda por políticas públicas e normativas que promovam região dos Lençóis Maranhenses está presente nas preparações
sua regulação, segurança, produção familiar, sobretudo fomentem culinárias do município e que a identidade enquanto construtora de
seu desenvolvimento. As formas de IG previstas são: a Indicação de novas territorialidades ancora-se na articulação de potencialidades
Procedência Geográfica (IP) e a Denominação de Origem (DO). A IP locais, constituindo elemento catalizador do desenvolvimento
refere-se ao nome do local que se tornou conhecido por produzir, territorial, As características diversas da gastronomia local auxiliam
extrair ou fabricar determinado produto ou prestar determinado na construção de políticas públicas que viabilizem a cadeia
serviço. A DO refere-se ao nome do local que passou a designar produtiva. Assim, com base em dados fornecidos pela Secretaria
produtos ou serviços, cujas qualidades ou características podem ser Municipal de Turismo existem cerca de 20 (vinte) restaurantes
atribuídas a sua origem geográfica. O registro de IG junto ao INPI cadastrados, conforme normas e legislações vigentes para inclusão
visa principalmente a proteção do produto e serviço em um contexto no cadastro local, entre estes estão os estabelecimentos incluídos na

510
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

“Rota das Emoções” (rota turística), atendendo a critérios de lugar. Em relação ao buriti (Mauritia flexuosa), considerado uma das
qualidade do “Roteiro Gastronômico” proposto pela “rota”. Os palmeiras mais abundantes na região, o que possibilitaria a produção
restaurantes inseridos na atividade turística apresentaram de diversas iguarias por meio desse produto, observou-se que os
especialidades, da região, cozinha variada com ingredientes das cardápios dos restaurantes não apresentam o aproveitamento desse
comunidades do município. Observou-se que a rota gastronômica do produto/nativo, a exemplo de: sobremesas ou até mesmo os doces já
Polo Turístico - Lençóis Maranhenses está sustentada em frutos do comercializados no município. Ressalta-se que o buriti é uma
mar, a exemplo têm-se a caldeirada de camarão (caranguejo e espécie-símbolo fundamental no equilíbrio dos ecossistemas,
camarão do município de Tutóia e do povoado de Caburé), moqueca auxiliando na manutenção dos corpos hídricos e umidade do solo nas
de peixe, peixada maranhense (pescada amarela, também encontrada épocas secas desse território. Verificou-se ainda que o açaí (Euterpe
nesse litoral), o baião de dois (feijão verde-produção local), o arroz oleracea) não aparece nos cardápios em suas diferentes formas de
de cuxá preparado com a vinagreira (Hibiscus sabdariffa), uma aproveitamento, como: puro com acompanhamentos ou na
planta bastante cultivada e utilizada pelos maranhenses, e o camarão composição de pratos, porém possui produção registrada no
seco (produção local). Além desses, os pratos à base dos peixes: município. Esse ingrediente poderia ser mais aproveitado na
robalo, peixe serra, peixe tambaqui e tilápia, preparados -frito no leite composição de pratos dos cardápios dos restaurantes. O uso desse
de coco babaçu, peixe cozido, ou com ova de camurupim. Destaca-se produto nativo permite o preparo de sobremesas, molhos, recheios,
ainda, preparações à base de mariscos, leitoa ao molho pardo e a sucos, sorvetes dentre outras, sobretudo o uso criativo na
galinha caipira ao molho pardo (com sangue) ou sem o “molho”. Os gastronomia contemporânea, a exemplo de composição de pratos
peixes e frutos do mar recebem destaque nos cardápios, revelando a salgados, com pescados ou até mesmo com suínos. Recorrendo a (6),
possibilidade de facilidade no acesso a esses insumos, pelo fato do a autora apresenta que dentre os produtos que são extraídos pelo
município ser banhado por diversos rios e por localizar-se no litoral modelo agroextrativista tradicional no município de Barreirinhas, o
maranhense, mesmo com ocasionais dificuldades na aquisição dos açaí e a fibra de buriti, se destacam na produção. Essa construção de
produtos locais, conforme percebido na fala de alguns entrevistados: uma territorialidade cultural contribuiu, e continua a contribuir, para
[...] Peixes e frutos do mar a gente compra aqui dos pescadores a atração de fluxos, o aproveitamento dos recursos locais, a
mesmo, na peixaria local, macaxeira se compra de um senhor que mobilização dos atores para valorização do patrimônio na construção
traz duas vezes por semana da localidade do Tapuio, é um povoado de identidade local ou regional.
de população tradicional. Outras coisas a gente compra ou dos
agricultores locais ou em supermercado, mas daqui de Barreirinhas CONCLUSÕES
mesmo (E - A). Conclui-se que o turismo gastronômico pode ser elemento estratégico
[...] o cliente sempre procura em nossos cardápios pratos regionais a para a disseminação, sistematização e valorização das manifestações
base de peixes e frutos do mar, como; camarão que vem de Tutóia gastronômicas, promovendo a diversidade geográfica e cultural. A
também, pescada amarela, robalo, peixe serra, o turista sempre quer predominância das atividades agrícolas, pecuárias e extrativistas, a
conhecer, e aqui não temos dificuldades em encontrar esses produtos atividade pesqueira artesanal no litoral, a ocupação e uso do solo para
pela biodiversidade, somente em época de reprodução que fica mais fins agrícolas e pecuários de forma extensiva, possibilita o
difícil o acesso, e compramos a macaxeira e vinagreira e outros dos aproveitamento de ingredientes de origem/local pelo segmento
pequenos agricultores, mas em falta compramos em outros (E- B). gastronômico na atividade turística. A diversidade natural do
E a gente quando está em período de proibição da pesca, nós território contribui para preparações culinárias diversas, porém, ainda
compramos os de cativeiro. E na época de caju fazemos preparações é tímida a participação da produção local no processo de
e bebidas com caju, que tem em abundância na região (E - C). desenvolvimento proposto pelo turismo na comunidade, necessitando
Nós compramos sempre peixe, caranguejo e camarão de Tutóia e do de incentivo, políticas públicas e articulação dos atores envolvidos na
povoado de Caburé, por que no cardápio temos sempre que ter pratos cadeia produtiva, sobretudo atuação efetiva das associações locais. A
regionais, por que quando o turista chega quer saber quais são os da identidade enquanto construtora de novas territorialidades ancora-se
região. Os outros insumos, as vezes compramos dos produtores na articulação de potencialidades locais, Políticas públicas fortalecem
locais e outras vem de fora. Nós aproveitávamos o buriti que tem e interligam a cadeia produtiva local com o segmento gastronômico
muito na região (E - D). na atividade turística. A concessão de indicações de procedência ou
Grande parte dos nossos insumos são produção daqui de Barreirinhas de denominação de origem, ainda precisa ser difundida e aproveitada
[...] mas os de grande escala, compramos em outro lugar, é o caso do no contexto turístico. Os ingredientes utilizados na culinária
feijão, arroz. Mas a farinha, a galinha caipira, temperos e frutas, caracterizam a identidade territorial do município.
compramos aqui mesmo[...], só não algumas carnes como a de porco,
pela questão de higiene que não é muito bom.(E - E). REFERÊNCIAS
Os cardápios analisados durante a pesquisa evidenciaram 1. CAVALHEIRO, L; VENDRUSCOLO, R; FROEHLICH, J. M. F;
ingredientes de origem, apontando para o aproveitamento parcial da DULLIUS, P. R. Imprimindo sabores – gastronomia e identidade
produção local, conforme a narrativa dos sujeitos da pesquisa, territorial na Quarta Colônia –RS. XLVI Congresso da Sociedade
revelando o modus vivendi das comunidades da região dos lençóis Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Rio
maranhenses, onde ocorre o cultivo da mandioca, do arroz, a Branco – Acre, 20 a 23 de julho de 2008.
confecção da farinha, a pesca no rio e no mar e a criação de pequenos 2. GIMENES-MINASSE, Maria Henriqueta Sperandio Garcia.
animais, principalmente cabras e galinhas. Assim, a lavoura, a pesca, Notas sobre políticas públicas a respeito da gastronomia no
o extrativismo, a pecuária e a olaria se misturam. O principal traço contexto turístico brasileiro. 2012. Disponível em;
das comunidades dos Lençóis Maranhenses é a combinação e https://www.researchgate.net/publication/314288938_Notas_sobre_p
predomínio destas atividades, o que diferencia os grupos de pessoas. oliticas_publicas_a_respeito_da_gastronomia_no_contexto_turistico
Entre as populações tradicionais (moradores do interior e das _brasileiroCidade: Acesso: dez, 2019.
proximidades do Parque Nacional dos Lençóis) ocorre de forma 3. MARTINS, Leonardo Koury. MUITO ALÉM DE COMIDA: a
esporádica a caça (comunidades de Baixa Grande, Queimada dos gastronomia e o desenvolvimento agrário na garantia da
Britos e Travosa). Nos povoados de Baixa Grande e Queimada dos cidadania. Perspectivas em Políticas Públicas | Belo Horizonte | Vol.
Britos, a população residente sobrevive do cultivo de arroz, de murici X | Nº 20 | P. 271-277 | nov/dez 2019.
e da criação de bovinos, caprinos e suínos. E em Travosa, a 4. ZANETI, Tainá Bacellar; Caio Bonamigo, DORIGON. Os
comunidade vive basicamente da pesca artesanal, utilizando vários produtos tradicionais nas cozinhas dos chefs: uma discussão sobre
instrumentos de pesca como zangaria, caçoeira e malhão. Tudo se a valorização das relações entre chefs e produtores na gastronomia
insere na lógica, do fluxo dos Lençóis Maranhenses, colaborando contemporânea a partir da observação do congresso Mesa
para a afirmação de que é incorreto pensar nas comunidades sem Tendências. In: XVII Congresso Brasileiro de Sociologia, 2015,
pensar conexões espaciais-temporais. O modo de vida nas ilhas Porto Alegre.
depende de múltiplas conexões externas, compatíveis com os hábitos 5. D’ANTONA, A. O lugar do parque nacional na lógica dos
e movimentações de seus moradores (5). para o autor a produção Lençóis Maranhenses. In: XXII Reunião Brasileira de
social do espaço se constitui por meio da interação dialética entre a Antropologia, 2000, Brasília. Anais da 22.a Reunião Brasileira de
tríade espacial (o vivido, o percebido e o concebido). Desta forma, há Antropologia. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Antropologia.
um predomínio do biológico-ecológico sobre o sociológico 6. SILVA, Thirzá Augusta Azevedo. A gastronomia sustentável e o
antropológico. agroextrativismo em barreirinhas – ma como atividades de base
Neste sentido, observou-se que nos cardápios dos restaurantes para o turismo e o desenvolvimento socioeconômico regional.
pesquisados não há oferta de preparações culinárias à base de Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas)
espécies em extinção o que corrobora para a sustentabilidade do Universidade Federal do Maranhão. São Luís 2014.

511
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O PROGRAMA GASTRONOMIA SOCIAL NO JARDIM DA GENTE (CE): PERFIL


SOCIOECONÔMICO DOS ALUNOS QUE PASSARAM PELO PROGRAMA (2017-
2018)

Ilana das Neves Barbosa¹, Eveline de Alencar Costa2, Leandro Pinto Xavier³, Lucas Braga Rodrigues4

¹ Graduada em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ceará - Brasil. E-mail:


ilananevess_@hotmail.com
² Professora do Curso de Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Ceará - Brasil.
³ Professor do Curso de Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Ceará - Brasil.
4 Graduando em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ceará - Brasil.

Palavras chaves: Comunidade, Extensão Universitária, Transformação Social


Cultural do Bom Jardim (CCBJ) em formato de planilha online, a
qual se realizou um filtro de coleta para dados socioeconômicos
INTRODUÇÃO referente aos cursos da gastronomia pelo equipamento, de
importância para esse trabalho, sendo eles: gênero, valor da renda
O presente resumo tem o objetivo de apresentar o perfil mensal, recebimento de benefício social, idade, bairro residente, e
socioeconômico dos alunos que passaram pelo Programa de Extensão escolaridade. Ao todo, foram realizadas 358 matrículas presenciais
Gastronomia Social no Jardim da Gente (GS) no recorte de tempo por meio do CCBJ, ou articuladas pela Casa Brasil e UFC, os três
entre os anos 2017 e 2018. O Programa em questão possui cadastrado locais onde os cursos ocorreram nos respectivos anos.
na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará
(UFC) desde 2010 sua principal proposta visa a capacitação de RESULTADOS E DISCUSSÃO
jovens e adultos por meio de oficinas temáticas e cursos de Os dados apresentados abaixo sobre onde residem os alunos do
gastronomia voltadas aos moradores da comunidade em geral e do programa (Figura 1), demonstram como a população do Grande Bom
Grande Bom Jardim, bem como estimula a inserção destes no Jardim está em maioria na ação extensionista, estando em 42,8 %, o
mercado de trabalho, além de promover aos bacharelandos em que revela a procura e o interesse dos moradores nos cursos. Levando
Gastronomia da UFC a experiência docente dentro do Programa em consideração também que os bairros Granja Portugal, Granja
(1,2,3). Lisboa, Parque Santo Amaro, Parque Santa Cecília fazem parte do
As atividades do Programa, em sua grande maioria, acontecem na Grande Bom Jardim, aumentando assim o percentual de pessoas do
Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA), a qual foi projetada Grande Bom Jardim no programa.
pelo Programa em parceria com a ONG Movimento de Saúde Mental
Comunitária do Bom Jardim (MSMC), ambos localizados na região Figura 1 - Bairro onde residem os alunos do programa
do Grande Bom Jardim em Fortaleza, CE. O GS atualmente está em
parceria com o Movimento de Saúde Mental Comunitária no suporte
físico e estrutural das aulas, bem como o Centro Cultural Bom
Jardim (CCBJ), o Instituto de Arte e Cultura do Ceará, do Governo
do Estado do Ceará (1, 4, 5).
O Grande Bom Jardim faz parte da Regional administrativa V da
cidade e é formada por cinco bairros sendo: Granja Portugal, Granja
Lisboa, Siqueira, Canindezinho e Bom Jardim. Entendida como
uma região periférica, não está livre do estereótipo de um dos bairros
mais perigosos da cidade de Fortaleza, visto que refletem um
ambiente com baixos índices de desenvolvimento, indicadores
sociais e econômicos. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), o bairro da Granja Lisboa
ocupava o 3° lugar no ranking de pesquisas de população na extrema
Como a prioridade do programa é atender jovens e adulto em busca
pobreza, com renda domiciliar chegando a menos de R$ 70,00 (6).
de uma oportunidade no mercado de trabalho filtrou-se os dados
O Centro Cultural do Bom Jardim, desde 2006 possui atividades
sobre a escolaridade dos alunos (Figura 2). Na qual, 39,4% possuem
voltadas à arte e cultura na região ao redor. Nele são realizadas
o Ensino Médio Completo, seguido de Ensino Fundamental
atividades de formação em diversos contextos e áreas, apresentações
Incompleto (15,6 %), enquanto que 7,1% responderam ter o Ensino
artísticas, espetáculos de artes, teatro, cinema, música, dança e entre
Superior Completo.
outros. Tal equipamento está direcionado a contribuir com ações que
contribuem para o desenvolvimento da comunidade, contando com a
participação da comunidade, realiza juntamente com a comunidade Figura 2 - Escolaridade
suas ações. Sendo o Gastronomia Social um programa que foi criado
com intervenção do CCBJ, possuem algumas semelhanças no que
referem os seus objetivos em relação à comunidade no Bom Jardim e
adjacências. Portanto, esse estudo tem como objetivo apresentar o
perfil desses participantes do GS, pontuar observações e atualizar os
seguintes dados, visto que não se obteve registros sobre tais cadastros
no programa em questão, bem como procura saber se o Programa
atinge o seu público alvo. (7)

MATERIAIS E MÉTODOS
A fim de compreender o perfil socioeconômico dos participantes do
Programa, realizou-se uma compilação dos dados cadastrais dos
alunos participantes do programa ao segundo semestre de 2017 e No que concerne ao gênero dos inscritos (Figura 3), como
primeiro semestre de 2018. Tais informações foram coletadas em previamente observado in loco durante os cursos, a maioria dos
banco de dados fornecido, construído e autorizado pelo Centro inscritos no programa são do gênero feminino (83,6%), enquanto que

512
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

16% são do gênero masculino. Muitas dessas participantes já acordo com seus demais objetivos, em atender a população que se
trabalhavam com a alimentação de formato informal, com propõe, reafirmando assim seu compromisso e importância no meio
encomendas, comercializavam domesticamente como uma forma de onde é realizado.
complementar a renda familiar ou usá-la como fonte principal.
.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
Figura 3 – Gênero

(1) COSTA, E.A. Gastronomia Social no Jardim da Gente.


Programa de Extensão, Universidade Federal do Ceará, 2010.

(2) BARBOSA, I. das N.; COSTA, E. A.; MARQUES, A. K. F.;


AMARAL, R. Q. G.; BASTOS, R. M. S.; GARCEZ, T. C. da
N. A. Gastronomia Social: curso práticas de bolos para
formação de grupo capacitado produtivo na Escola de
Gastronomia Autossustentável. UFC - Encontro Universitários,
2017.

(3) OLIVEIRA, L. T. P. COSTA, E. A.; AMARAL, R. Q. G.;


Sobre a idade dos alunos (Figura 4), 32,6% é composta por alunos BASTOS, R. M. S.; GARCEZ, T. C. da N. A. MARTINS, N.
que estão entre 21 e 31 anos de idade, enquanto que 26,1% estão com Projeto Gastronomia Social: possibilidades e desafios. UFC -
idade acima de 42 anos, 18,2% faz parte do público até os 20 anos e Encontro Universitários, 2016
17% entre 31 e 41 anos de idade. Sobre a presença de pessoas acima
dos 60 anos, Oliveira observa que “a principal procura pelos cursos, (4) OLIVEIRA, V. V.; COSTA, E. A.; FREIRE, V. N.; AMARAL,
é por se considerarem fora do mercado de trabalho e a alternativa é a R. Q. G.; BASTOS, R. M. S.; BONVINI, R. Gastronomia
capacitação através destes” (8). Social: estrutura físico-estrutural e organizacional da Cozinha
Escola da Comunidade do Grande Bom Jardim. UFC -
Figura 4 – Idade dos alunos do programa Encontro Universitários, 2016

(5) FREIRE, V. F.; OLIVEIRA, V. V.; COSTA, E. A.; AMARAL,


R. Q. G.; BASTOS, R. M. S.; CAETANO, D. R. A.;
MARTINS, N. Escola de Gastronomia da comunidade do
Grande Bom Jardim como ação do Programa Gastronomia
Social. UFC - Encontro Universitários, 2016.

(6) CEARÁ. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do


Ceará. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
(IPECE). IPECE Informe: perfil municipal de Fortaleza tema
VIII: o mapa da extrema pobreza. 43. ed. Fortaleza: Ipece,
2012. Disponível em: . Acesso em: 10 mai. 2018. CENTRO
Cultural Grande Bom Jardim (CCGBJ). 2006. Disponível em: .
Em relação ao valor da renda mensal aproximada apontada na Figura Acesso em: 17 jun. 2018.
5: 55,1% se mantém com o valor de até um salário mínimo, 19,7%
com renda entre um e dois salários mínimos, enquanto que 3,8% (7) HONÓRIO, Raquel Santos. A cultura como estratégia de
possuem renda entre dois e três salários e 3% dos alunos com acima combate à pobreza: a experiência do Projeto Jardim de Gente
de três salários mínimos, o que justifica ao dado apontado pelo no Centro Cultural Bom Jardim. 2014. Dissertação (Mestrado
IPECE no início desse trabalho. (6) em Políticas Públicas) - Curso de Mestrado Profissional em
Planejamento e Políticas Públicas, Centro de Humanidades e
Figura 5 – Valor da renda mensal aproximada dos alunos do Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual do
programa Ceará, Fortaleza, 2014.

(8) OLIVEIRA, Maria do Carmo Ferreira de Sousa. Perfil dos


integrantes dos cursos ofertados pelo programa gastronomia
social no jardim de gente e seus impactos. 2015. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Economia Doméstica) -
Economia Doméstica, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2015.

A renda também é geralmente completada por programas de


transferência de renda, sendo o programa Bolsa Família o mais
conhecido. No caso dos alunos do programa, 44,7% afirmaram serem
beneficiários do programa. (8)

CONCLUSÃO

Os dados apresentados aqui são um recorte simples com o objetivo


de conhecer o público participante da ação de extensão, bem como
registrar tais informações em formato científico. Por fim, constatou-
se que o Programa em questão atinge seu público pretendido,
considerando em idade entre 21 anos e 31 anos. O que o mantém de

513
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
GASTRONOMIA SOCIAL E A PARCERIA
COM A ESCOLA DE VIDA ARTE E SABOR
Antônio Augusto Nunes Lobo¹, Eveline de Alencar Costa²,
Marcos Daniel S. Clemente, Simone Veras Medeiros, Regina M. Silva Bastos, Celso M. dos Santos³.
Autor Principal¹, Orientadora², Co-Autores³

INTRODUÇÃO

A concepção da gastronomia social visa neste projeto,


precisamente nas áreas de gestão e planejamento de eventos
gastronômicos e no ramo de serviços de alimentos e bebidas
compreendeu: Tipos de eventos gastronômicos e gestão dos
mesmos; Planejamento de cardápios; Tipos de Serviços;
Utensílios e materiais utilizados; Brigada de trabalho;
Planejamento de custo; Higiene e segurança dos alimentos a
serem preparados e servidos.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é descrever as atividades da


parceria realizada entre o programa Gastronomia Social da
UFC e a Escola de Vida, Arte e Saúde – EVISA. Nesta ação
foram ofertados dois Cursos de capacitação, ambos com
40h/a: “Organização de Eventos” e “Garçom e Garçonete”.
Os mesmos foram ministrados pelos bacharelandos em CONCLUSÕES
Gastronomia e supervisionado pela coordenação do
Programa intencionista. Tais cursos buscaram capacitar Portanto, as atividades apresentadas contribuíram para o
pessoas em situação de vulnerabilidade social e desemprego, crescimento educacional e profissional dos participantes,
a fim de entrarem no mercado de trabalho. pois 50% foram encaminhados ao mercado de trabalho.
Além disso permitiu a vivência dos bacharelandos de
METODOLOGIA Gastronomia no universo da docência.

Foram realizadas atividades teóricas e práticas, aproximando REFERENCIAS


os bacharelandos da realidade do ensino em gastronomia e da
sociedade. Os cursos aconteceram no prédio da EVISA, ANVISA. Resolução-RDC nº 216/04. Regulamento Técnico
localizado no bairro Papicu em Fortaleza-CE, o qual de Boas Práticas para Serviços de Alimentação Disponível
funciona como anexo ao Sistema Nacional de Emprego em:< www.anvisa.gov.br/legis> Acessado em: 16 de junho
(SINE-IDT) de 2019.

RESULTADOS ELEUTERIO, Helio. Serviços de Alimentação e Bebidas -


Série Eixos. Editora: Iátria FREUND, F. Tommy, Alimentos
Esta aproximação foi vantajosa pois nos permitiu E Bebidas - Uma Visão Gerencial. Editora: SENAC São
indicar alguns participantes para entrevistas de Paulo.
empregos. No Curso de Garçom e Garçonete foram
ensinados conteúdos sobre: Modalidades de serviços KUCHER Debora , REIS Juliana. Serviço memorável em
de mesa; brigada para salão e ou eventos; Tipos de alimentos e bebidas. Editora: SENAC São Paulo.
equipamentos e utensílios utilizados no salão;
Disposição dos pratos, talheres e copos; Composição
de cardápios; Montagens de mesas para diferentes
tipos de serviços; Serviço de bebidas; Segurança dos
alimentos a serem servidos.

514
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

RESSIGNIFICANDO A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: AS AÇÕES DO PROJETO


DOÇURA QUE AGREGA NA CAPACITAÇÃO PARA PRODUÇÃO DE CONSERVAS
ARTESANAIS NA PERIFERIA DA CIDADE DE FORTALEZA
Geórgia Goiana1; Alessandra Carneiro2 Matusaila Macêdo¹ Eveline Costa¹ Antônia Lopes³,
Marciana Araújo³, Ana Luísa Capistrano4
1Graduanda Bacharel em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. georgiagoiana@hotmail.com
2Professora
do curso de Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará;
3Graduanda Bacharel em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Ceará;
4Graduanda Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará.

Palavras chave: Gastronomia, Autossustentável, Frutas, Transformação social

INTRODUÇÃO

A elaboração de novos saberes, bem como a divulgação de extensão, prevalece a produção de conhecimentos práticos e
práticas extensionistas, é uma necessidade constante para que teóricos que podem colaborar com o desenvolvimento
se possa discutir o caráter transformador da extensão, com o acadêmico, além de proporcionarem benefícios à sociedade.
intuito de ser parte integrante da formação acadêmica e Pode-se dizer que a extensão não é mais vista como uma
profissional dos alunos de graduação. A extensão, como um atividade acadêmica, mas uma forma de caracterizar a
dos pilares desta formação, demonstra sua importância no universidade como cidadã, que visa solucionar os problemas
processo de interação social junto à comunidade. Segundo o da sociedade, transmitindo conhecimento (5).
Plano Nacional de Extensão Universitária, no processo de Contudo este artigo tem como objetivo analisar ações
formação profissional é imprescindível [ao aluno] sua efetiva exitosas do projeto Doçura que agrega, bem como pontuar
interação com a sociedade, seja para se situar historicamente, fragilidades que foram percebidas em sua atuação. Isso se
para se identificar culturalmente e/ou para referenciar sua justifica devido a extensão universitária ser uma poderosa
formação técnica com os problemas que um dia terá de ferramenta de transformação e capacitação social, papel esse
enfrentar(1). A extensão universitária é compreendida como de grande importância no que diz respeito às contribuições
uma atividade acadêmica que pressupõe a integração entre a que pode trazer frente à sociedade.
comunidade universitária e a sociedade, sob formas de
programas, projetos, cursos, eventos, publicações entre MATERIAIS E MÉTODOS
outras. Enquanto uma função acadêmica da universidade, a
extensão objetiva integrar ensino-pesquisa voltado para a Esta pesquisa se caracteriza como documental e qualitativa.
prestação de serviços junto à comunidade. A extensão Para tanto dividiu-se a pesquisa em três momentos: Pesquisa
identifica as demandas sociais, promovendo o intercâmbio bibliográfica; Coleta de dados de ações executadas; Relato de
entre universidade e sociedade, gerando, benefícios para os experiências dos participantes dos projetos.
dois lados (2). Foi utilizada a pesquisa bibliográfica para construir
O projeto de extensão “Doçura que agrega” criado definições, acessar dados de outros projetos, dentre outros
institucionalmente como projeto de extensão na UFC a partir pontos. Foram elencadas todas as atuações do projeto Doçura
de 2018, contudo já desenvolvia atividades em comunidades que agrega nas comunidades e, dentre todas, foram escolhidas
de forma descontínua desde 2016. Este projeto surgiu em aquelas que haviam relatos espontâneos ou através das
parceria com o Programa Gastronomia Social devido a avaliações direcionadas ao final de cada curso, para a
percepção que esses produtos detinham como potencial de abordagem nesta pesquisa, a fim de construir e manter uma
venda e da manutenção de um grupo produtivo nas percepção das ações reais e tangíveis do projeto. Através
comunidades. As ações do projeto tiveram início no bairro dessa proposta, espera-se formatar um diálogo compreensível
Bom Jardim dentro da Escola de Gastronomia para qualquer um que deseje conhecer e se aprofundar no
Autossustentável (EGA) do Movimento de Saúde Mental e conhecimento de projetos de extensão em comunidades.
Comunitária do Bom Jardim (MSMC) depois se expandindo
para outras comunidades e dentro na própria Universidade RESULTADOS E DISCUSSÃO
Federal do Ceará. Este projeto, em todos os âmbitos de sua
atuação trabalha a inclusão e capacitação profissional por A gastronomia como ciência tem sido contemplada nos
meio da gastronomia, levando cursos que trabalham a últimos anos com as ações da extensão universitária. Por ser
cooperação, condições higiênico-sanitárias e um curso na modalidade Bacharelado com oferta nas
empreendedorismo, dentre outros temas transversais que universidades Federais do Brasil, essas ações extensionistas
perpassam a vivência dos cursos. tem colaborado de forma significativa para o campo de
A conservação de alimentos, através do uso de vários pesquisa enquanto ciência e dos profissionais que estão sendo
métodos e técnicas modernas ou tradicionais, que detêm ou formados. Perpassando por esse caminho, ao longo da
estacionam a ação das enzimas e de microrganismos, formação, estudantes vivenciam por meio da extensão
transforma matérias-primas alimentares em produtos universitária a prática e o serviço da profissão, agregando
adequados ao consumo humano e de longa vida de prateleira, uma experiencia que certamente vai diferenciar o estudante
reduzindo a perda e aumentando a disponibilidade dos participante dos demais profissionais.
alimentos (3). O gastronomia social, que é um programa extensionista bem
A garantia de qualidade dos produtos artesanais é atualmente sucedido do curso de Bacharelado em gastronomia da
exigência e anseio dos consumidores do mundo inteiro. Em Universidade Federal do Ceará, é um exemplo de retorno
relação à produção de alimentos, a qualidade pode ser positivo como devolutiva do que se é produzido em forma de
avaliada considerando-se, qualidade sensorial, higiênico- saber dentro da academia. Ao longo
sanitária e nutricional (4). de seus 10 anos de atuação, tempo de existência paralela a
A formação de empreendedores baseia-se em encorajar o concepção do curso, o projeto já proporcionou por meio de
estudante a buscar e experimentar a inovação, ter ideias, criar ações pontuais ao longo dos anos a capacitação, formação e
novidades, persistir, planejar, e fazer com que as orientação para serviços gastronômicos e ainda se apresenta
oportunidades se concretizem (5). Já na relação pesquisa- como ferramenta de transformação social, uma vez que suas

515
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ações também atingem transformação econômica e social por aulas teóricas, quando era repassado desde os conceitos de
meio do empreendedorismo. E quanto a discussão da boas práticas de higiene e manipulação de alimentos até as
integração com o social, Vannucchi (5) assinala a importância aulas práticas propriamente ditas onde ocorriam na cozinha,
da abertura da universidade para a sociedade, permitindo no preparo das conservas. Essa troca é identificada como a
também a entrada dos saberes do senso comum no campo da característica central da extensão, pois nessa dinâmica a
vida acadêmica. As ações extensionistas geram interferências comunidade deixa de ser passiva no recebimento das
significativas tanto no campo acadêmico quanto na informações/conhecimentos transmitidos pela universidade e
sociedade. A extensão proporciona na academia a geração de passa a ser, participativa, crítica e replica o que lhe foi
novos conhecimentos, a criação de novas modalidades de repassado.
pesquisa, além da integração entre teoria e prática. Já na Dentre as atividades do Projeto Doçura que agrega, o
sociedade permite uma melhor percepção dos problemas Quadro 1 cita aqueles de grande impacto social com enfoque
sociais, econômicos e políticos (5). nas instituições parceiras e as pessoas contempladas com
cada modalidade.
Na fala de uma participante do grupo produtivo, “a
oportunidade de aprender novas coisas sobre o preparo de
doces e geleias é algo maravilhoso e que a enche de alegria
por ter essa chance” - declarou a participante se referindo as

Quadro 1 – Cursos e ações de impacto do Projeto Doçura que Agrega

Projeto Doçura Que Agrega


Cursos e ações Período Instituições parceiras Pessoas
contempladas
Grupo produtivo de doces e 02 a 30 de Maio Movimento de Saúde Mental Mulheres da
geleias artesanais para stand 2019 Comunitária do Bom Jardim comunidade do
social no shopping Rio Mar grande Bom Jardim
Fortaleza e adjacências
Oficinas interativas no 08 e 09 de Mercado Público São Sebastião Permissionários e
Mercado Público São |Novembro frequentadores do
Sebastião 2019 Mercado São
Sebastião
Curso modular de geleias e 06 de agosto a Movimento de Saúde Mental Mulheres da
doces e compotas artesanais 13 de dezembro Comunitária do Bom Jardim comunidade do
projeto “Gastronomia e de 2019 grande Bom Jardim
Terapia” e adjacências

Grupo Produtivo de Doces e Geleias artesanais para stand produzida. Para além da ação, hoje há participantes desse
social no shopping Rio Mar Fortaleza grupo produtivo empreendendo no segmento, produzindo e
comercializando, usando do conhecimento adquirido.
Uma das ações de grande porte do projeto, essa iniciativa se
deu em parceria com o Movimento de Saúde Mental Oficinas interativas no Mercado Público São Sebastião
Comunitária do Grande Bom Jardim, instituição essa que
viabilizou a exposição dos produtos elaborados serem
comercializados e difundidos dentro de um grande shopping
de Fortaleza. Durante o mês de maio/2019, um grupo
formado por 14 participantes da comunidade do Bom Jardim
e adjacências participaram da capacitação e produção em
doces, geleias e conservas artesanais (Figura 1). As aulas
foram ministradas pelos alunos do bacharelado em
gastronomia, bolsistas extensionistas e voluntários. A ação se
deu em três etapas: Capacitação para produção artesanal de
doces e geleias, Produção de doces e geleias artesanais e
exposição e vendas dos produtos elaborados. Ao final de 30
dias, foram produzidas e comercializadas cerca de 382
unidades de conservas e doces artesanais. Aos participantes
do grupo produtivo, coube a participação nas vendas, onde
cada integrante recebeu percentual por vidro de conserva

Figura 2: Stand expositor com as geleias do grupo


produtivo.

Local que é referência em compras com características


regionais e populares, o Mercado São Sebastião é um polo de
grande aplicabilidade para ações do projeto doçura que
agrega. A participação do projeto em um evento promovido
pela administração do mercado foi um grande marco e
abertura para ações futuras, uma vez que por ser um local de
comercialização de frutas, formas de aproveitamento dessas
a fim de evitar desperdício são propostas para ações mais
pontuais e frequentes junto aos permissionários do local. Em
Novembro de 2019, no evento “Festival da Buchada”, o

Figura 1: participantes do grupo produtivo

516
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

projeto realizou nos dias do evento oficinas gastronômicas


junto a visitantes e permissionários, com práticas de Conclusão
elaboração de geleias e doces, orientando para o melhor
aproveitamento de frutas locais, na ocasião a manga, onde Tendo como ponto de partida a importância e a ênfase para a
preparamos uma geleia da fruta que é abundante em nosso extensão universitária como braço do que se produz nos
estado nos períodos de novembro, dezembro e janeiro. Na campus e é devolvido a sociedade, ao finalizar esse artigo,
mesma ocasião, ainda ocorreram uma oficina de cocada concluímos o quão a universidade permite um conhecimento
nordestina e outra de cebolas caramelizadas. teórico-prático que amplia o ensino da sala de aula, além da
criação e recriação de novos saberes. Ela se mostra
importante para a formação, uma vez que coloca os alunos
em contato também com saberes populares, produzidos pela
sociedade, externos à universidade, permitindo a tomada de
consciência quanto às demandas sociais. A extensão coloca,
ainda, questionamentos acerca da prática profissional
permitindo uma visão crítica sobre a atuação profissional e
suas possibilidades de mudança. E ainda no reflexo desses
resultados, estão os beneficiados que mostram por meio de
transformação de vidas a eficácia da ação desses projetos
extensionistas. A extensão, ao abranger a comunidade interna
e externa à universidade, permite contribuições recíprocas
aos agentes envolvidos.

Referências

(1) BRASIL – Ministério da Educação. Indissociabilidade


ensino–pesquisa–extensão e a flexibilização curricular:
Figura 3: Stand montado para realização das oficinas
uma visão da extensão. Fórum de Pró Reitores de
gastronômicas dentro do evento. Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e
Curso modular de geleias e doces e compotas artesanais SESu/MEC. Porto Alegre: UFRGS. Brasília, 2006.
projeto “Gastronomia e Terapia” (2) RODRIGUES, A. L. L.; DO AMARAL COSTA; C. L.
N.; PRATA, M. S.; BATALHA, T. B. S.; NETO, I. D. F. P.
Uma ação que promovia a gastronomia como terapia, o Contribuições da extensão universitária na sociedade.
projeto “A cozinha como lugar de cura” foi e é uma ação do Cadernos de Graduação – Ciências Humanas e Sociais -
Movimento de Saúde Mental Comunitária, ONG situada no UNIT, v.1, n.16, p.141-148, 2013.
grande Bom Jardim, onde nos meses de agosto a dezembro (3) GAVA, A. J. Tecnologia de Alimentos: princípios e
de 2019 promoveu cursos de gastronomia atreladas as aplicações. São Paulo: Nobel, 2008. 511p.
terapias comunitárias já desenvolvidas pela entidade. O (4) SOUZA, C. M. et al. Manual de boas práticas de
projeto então pode promover em um dos cursos a capacitação fabricação de doces artesanais. 2ª ed. Belo Horizonte: 2001.
de 15 participantes em técnicas de elaboração, conservação e 60p.
aproveitamento de frutas e legumes, preparando geleias, (5) VANNUCCHI, A. A Universidade comunitária: o que
conservas e doces artesanais. Ao longo de 180 dias, o projeto é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2004.
atuou com essas capacitações, oportunizando aos (6) TAVARES, M. G. M.. Os Múltiplos Conceitos de
participantes condições de conhecer e empreender nesse Extensão. In: FARIA, Dóris Santos de. Construção
segmento. O sucesso do projeto que teve como parceiro a casa conceitual da extensão universitária na América latina.
civil do governo do estado do Ceará foi tão positivo que Brasília: Universidade de Brasília, 2001. p. 73-84.
rendeu a chegada de novos parceiros para dar continuidade a
este exitoso projeto. Na segunda edição prevista para o ano
de 2020 a meta é atender mais 50 novos participantes.

Figura 4: Participantes do curso modular de conservas e


compotas artesanais - Gastronomia e Terapia

Figura 5: Conservas e doces feitos dentro do grupo


produtivo.

517
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia Social X Terapia: ação extensionista como ferramenta para a transformação


social em uma comunidade da periferia de Fortaleza-CE
Louise Moura1, Andyara Veras1, Geórgia Goiana1, Regiane Damasceno1, Eveline Costa2, Natália Martins3,
Ottorino Bonvini4
1
Discentes do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará - UFC; 2 Docente do Curso de
Bacharelado em Gastronomia da UFC, Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos; 3Psicóloga e Diretora
do Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim - MSM; 4Médico psiquiatra, Sacerdote, Doutorando em
Saúde Coletiva e Presidente do MSM

Palavras chaves: atendimento terapêutico, cozinha, bem-estar psíquico.


INTRODUÇÃO estudo, tais como os atores, a pedagogia das aulas teóricas e
práticas e dos momentos de terapia e os impactos realizados
A saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e por meio da análise de alguns relatos dos alunos.
social, que não consiste apenas na ausência de doença ou de
enfermidade segundo a OMS (1). Nesse contexto a terapia RESULTADOS E DISCUSSÃO
comunitária (TC) permite tecer redes sociais através de trocas
de experiências, minimizando o sofrimento psíquico. Este Por se tratar de um relato de experiência priorizou-se destacar
trabalho relata a experiência de implantação do projeto que em sub tópicos os pontos relevantes do Projeto “Gastronomia
e Terapia – a cozinha como lugar de cura”
tem por nome “Gastronomia e Terapia – a cozinha como
lugar de cura”, implementado dentro da comunidade do Bom
a) Apresentação do projeto em estudo
Jardim, periferia de Fortaleza com um dos IDHs mais baixos O projeto “Gastronomia e Terapia – a cozinha como lugar de
da capital. O Grande Bom Jardim é um composto espacial, de cura” teve sua primeira edição, no ano de 2019, no período
dimensões regionais, formado por cinco bairros da periferia de maio a dezembro, com subsídio garantido pelo Governo
de Fortaleza, são eles: Granja Lisboa, Granja Portugal, Bom do Estado do Ceará através de aprovação no edital
Jardim, Canindezinho e Siqueira; abrigando uma população administrado pela Casa Civil. Essa submissão foi realizada
de 211 mil habitantes, segundo censo do IBGE (2). pela ONG Movimento de Saúde Mental, parceiro do
Programa de Extensão Gastronomia Social da UFC.
O projeto citado é uma iniciativa vinculada a uma parceria O projeto foi executado por meio de cinco cursos (Salgaderia,
entre o Programa Gastronomia Social da Universidade Chocolateria, Compotas Doces e Geleias, Comida Típica e
Federal do Ceará (UFC) e a organização não governamental Tortas e Sobremesas Geladas), dirigidas a pessoas com
Movimento de Saúde Mental (MSM) (3). Essa ONG existe vulnerabilidade social e psíquica.
há mais de 20 anos e tem como causa social o cuidado com a Os cursos ocorreram na Escola de Gastronomia
saúde mental, atuando diretamente com a parcela da Autossustentável - EGA, equipamento do MSM e onde
população fortalezense na periferia da cidade. As atividades acontecem parte das atividades extensionistas do Programa
psicoterapeutas do MSM estão fundamentadas em uma Gastronomia Social da UFC.
metodologia própria chamada de “abordagem sistêmica Deste modo, o projeto “Gastronomia e Terapia – a cozinha
comunitária- ABS” que hoje é classificada como tecnologia como lugar de cura” visou atender pessoas em situação de
social inovadora. (4) vulnerabilidade social e psicológica, acolhendo os
Diante do exposto, o presente trabalho visa realizar um relato participantes para o aprendizado de técnicas gastronômicas,
de experiência vivenciado pelos professores, terapeutas, envolvendo-as em processo terapêutico de prevenção aos
psicólogos e pela coordenação do Projeto “GASTRONOMIA adoecimentos emocionais e mentais (6). Além disso procurou
E TERAPIA – A COZINHA COMO LUGAR DE CURA” e repassar conhecimento técnicos que viabilizassem a inserção
do Gastronomia Social da UFC, apontando a metodologia no mercado de trabalho ou ao empreendedorismo. Durante as
empregada, os resultados positivos e negativos, bem como as aulas também foram trabalhadas assuntos transversais como
superações. o empoderamento, memoria gastronômica, inclusão social e
desenvolvimento sustentável (3).
MATERIAIS E MÉTODOS Ressalta-se ainda que essa ação teve como suporte a visão de
que o processo de elaboração culinário pode e deve se
Essa pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa, descritiva, converter em um instrumento de intervenção terapêutica
analítica e participativa com ação antropológica pelo fato dos observado no ato da preparação em contato com sua matéria-
pesquisadores participarem ativamente da condução do prima, um complexo sistema de ativação de memória de laços
estudo (5). Assim, os resultados foram apresentados pela afetivos, concentração no momento da terapia e sensação de
visão dos professores, terapeutas e pela coordenação do bem-estar.
Projeto e do Gastronomia Social da UFC.
O “Gastronomia e Terapia – a cozinha como lugar de cura” b) Os atores envolvidos
foi o objeto de pesquisa, precisamente a metodologia didática Os alunos que participaram dos cursos temáticos tinham faixa
desenvolvida nos cursos temáticos deste projeto: Salgaderia, etária variando entre 18 e 65 anos, eram residentes do referido
Chocolateria, Compotas Doces e Geleias, Comida Típica e bairro e adjacências. Esses alunos foram encaminhados, em
Tortas e Sobremesas Geladas. sua maioria, pelo Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) do
O estudo aconteceu no Bairro Bom Jardim, mais Bom Jardim, sendo muitos pacientes com relatos de
precisamente na Escola de Gastronomia Autossustentável depressão, ansiedade e suas variantes.
vinculada à ONG MSM e ao Programa Gastronomia Social Ao todo, o projeto atendeu 74 alunos, divididos nos cincos
da UFC, no período de maio a dezembro de 2019. cursos (turmas com aproximadamente 15 integrantes).
A coleta de dados foi feita ao longo dos cursos, por meio da Os professores, monitores e coordenadores envolvidos no
escuta de relatos dos alunos durante as aulas teóricas e projeto eram todos bolsistas e extensionistas voluntários do
práticas. Também foi realizado pesquisa bibliográfica a fim Programa de Extensão Gastronomia Social da UFC, (ou seja,
de compreender a situação psicológica por parte de alguns todos graduandos do Curso de Bacharelado em Gastronomia
participantes. Os resultados serão expressos de forma da UFC), sendo responsáveis pelas aulas teóricas e práticas
descritiva, descrevendo pontos importantes sobre a ação em dos cursos temáticos em gastronomia. Ao todo foram 5

518
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

professores, 5 monitores e 2 coordenadores. Os mesmos A seguir descrevemos os registros de alguns participantes


receberam ajuda de custo durante a vigência do projeto. realizados na avaliação final do curso; todos eles justificam
Os psicólogos (dois) e o terapeutas social (um) eram as exposições anteriores:
vinculados ao MSM e responsáveis por conduzir os - “Melhora da autoestima, vontade de se cuidar e voltar a
momentos terapêuticos. Estes também foram remunerados estudar e trabalhar”;
com recursos do projeto. - “Bem estar e motivação obtidos a partir das vivências do
curso”;
c) A pedagogia dos cursos temáticos do projeto - “Me ajudou a me conhecer melhor, me cuidar e me
Os cursos tinham carga horária de 98 horas/aula, perceber”.
compreendendo aulas teóricas e práticas, ocorrendo uma vez - “Pude melhorar minhas habilidades em culinária, foi muito
na semana (com 4 h/a). Os alunos receberam material bom conviver com pessoas que têm o mesmo objetivo”;
didático como apostilas para o acompanhamento das - “Uma grande oportunidade de me recolocar no mercado
atividades propostas, além de uniformes e equipamentos de participando desse curso gratuito oferecido pelo MSM e
proteção pessoal para as aulas práticas dentro da EGA. O agradeço por tê-las conhecido e convivido”;
momento terapêutico acontecia tanto durante as aulas teóricas - “Pude realizar meu sonho de estudar gastronomia, que era o
como nas práticas, sendo disponibilizado uma hora aula para que eu queria quando era jovem”;
este, que poderia acontecer antes, durante ou depois do - “Ambiente acolhedor e de pessoas humildes. As práticas
conteúdo especifico, seguindo o planejamento de aula do dia. terapêuticas me fizeram sentir útil e isso dá vontade de vir pro
As aulas teóricas eram de natureza expositivas e discursivas curso, me senti motivada”;
e foram realizadas em conjunto com um professor e um - “Me senti motivada a empreender, me sinto empoderada;
monitor, bem como as aulas práticas. O conteúdo repassado - “Aprendi a trabalhar em conjunto e dividir tarefas.
nas aulas foram noções de manipulação segura dos alimentos; Portanto, o projeto em estudo impactou positivamente na vida
segurança no trabalho da cozinha; ergonomia e dos alunos, proporcionando bem-estar psíquico e
racionalização do trabalho; influência dos variados tipos de acolhimento, fatores relevantes trabalhados na saúde mental
alimentos no hábito alimentar; memória gastronômica; como preventivos para enfermidades psíquicas alcançadas
criatividade na apresentação dos produtos; técnicas de venda por terapias comunitárias conforme Souza et al. (2011) (7).
e empreendedorismo e o conteúdo específico de cada curso Ao final do curso, foi realizada uma festa de formatura com
conforme planos de aula. (6) culminância organizada e executada pelos alunos e
As aulas práticas eram do tipo oficina, onde os alunos professores. A entrega dos certificados dos concludentes foi
executavam fichas técnicas, que eram explicadas realizada pelo representante da MSM, coordenação do
anteriormente. Os professores acompanhavam a execução Gastronomia Social da UFC e pela primeira dama do Estado
das preparações e muitas vezes realizam explanações técnicas do Ceará.
necessárias.
A metodologia do momento terapêutico era variada CONCLUSÕES
utilizando técnicas de relaxamento, massagens, diálogos em Pode-se concluir que a metodologia aplicada nos cursos do
grupo tendo livros, textos e outros mecanismos como projeto “Gastronomia e Terapia – a cozinha como lugar de
propagadores da discussão. Além da terapia proporcionada cura”, por meio da ação interdisciplinar permitiu promover
dentro do curso, os alunos participavam de outras terapias, melhorias sociais e psíquicas, despertando para o
tendo como cardápio: arte-terapia, biodança, constelação empoderamento e transformação de vidas. Além disso
familiar, fitoterapia, meditação, musicoterapia, terapia possibilitou a capacitação para o mercado de trabalho e
comunitária integrativa, terapia da respiração e ioga. motivação para o empreendedorismo.
Os psicólogos e terapeutas sempre buscavam aliviar a carga
emocional e os problemas enfrentados pelas alunas durante REFERÊNCIAS
as aulas, portanto, os participantes aprendiam conhecimentos (1) ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.
técnicos em gastronomia e a interagir em equipe. Constituição da Organização Mundial da Saúde. ed. 45.
2006. Disponível
d) Resultados alcançados através da análise de relatos dos em: https://www.who.int/governance/eb/who_constitution_s
participantes p.pdf.
A interdiciplinaridade entre a gastronomia e a psicologia no (2) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
projeto em estudo permitiu identificar o despertar ou a ESTATÍSTICA - IBGE. Censo 2010. Resultados do
melhoria da autoestima e do empoderamento dos universo, aspectos populacionais e moradia/Sistema
participantes por meio de seus relatos. A convivência em Integrado de dados agregados. 2010. Disponível em:
equipe na cozinha também permitiu aprimorar a capacidade http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/popul/default.asp?z=t&o=
de entenderem seus problemas e os dos colegas, ou seja, 25&i=P. Acessado em agosto/setembro de 2014.
despertando empatia. A ajuda mutua, em equipe, também foi (3) COSTA, E. A. Programa Gastronomia Social no Jardim
verificada, onde todos se uniam para o alcança de um objetivo da Gente. Fortaleza: PREX-UFC, 2020.
comum – a execução da preparação proposta. (4) MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL DO BOM
Durante os momentos terapêuticos alguns alunos JARDIM. Práticas de Cuidado. 2020. Disponível em:
comentavam que chagavam “carregados” devido aos http://movimentosaudemental.org/praticas-de-cuidado/.
problemas pessoais e ao final da aula se sentiam melhor. Acesso em 01 set. 2020.
Também foi detectado que havia uma expectativa pelo dia de (5) FONTENELLES, M. J., SIMÕES, M. G., FARIAS, S.
aula e pelo cardápio terapêutico oferecido. H., FONTENELLES, R. G. S. Metodologia da pesquisa
Outros alunos relataram que as práticas terapêuticas aliadas à científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de
prática gastronômica foram ferramentas importantes na pesquisa. Pará. 2009. Disponível em:
construção de hábitos que promovem o bem-estar e saúde <https://cienciassaude.medicina.ufg.br/up/150/o/Anexo_C8
psicológicas, ou seja, enxergaram a cozinha como ambiente _NONAME.pdf&gt>. Acesso em 01 set. 2020.
terapêutico. (6) VIANA, I. C. C. Gastronomia e Terapia: a cozinha como
Também foi afortunado perceber o empoderamento e a lugar de cura. Fortaleza: MSM, 2019.
segurança na tomada de decisão para abrir e gerir seu próprio (7) SOUZA, G. M. L.; SILVA, P. M. C; AZEVEDO, E. B.;
negócio, uma vez que tiveram aulas de empreendedorismo e FERREIRA FILHA, M. O.; SILVA, V. C. L.; ESPINOLA,
gestão por meio dos cursos. A partir de contatos após a L. L. A contribuição da terapia comunitária no processo
realização dos cursos foi detectado que cerca de 24% dos saúde – doença. Cogitare Enferm. v. 16, n. 4, p. 682-688,
alunos montaram seu próprio negócio, que incluem venda de out./dez.,2011.
pães, bolos, doces, chocolates e outros alimentos.

519
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Aditivos em Embutidos Comercializados em Supermercados de Fortaleza

Ashley Valentim1, Renata Assis2, Thayane Sousa1, Camila Abdala1, Sabrina Silva1, Carla Maia3
1
Graduanda em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, ashley.valentim@aluno.uece.br
2
Mestre em Nutrição e Saúde, Universidade Estadual do Ceará, renata.carmo@uece.br
3
Doutora em Nutrição Humana, Universidade de São Paulo, carla.maia@uece.br

Palavras-chave: Rotulagem. Legislação. Tecnologia.


INTRODUÇÃO Tabela 1. Quantificação percentual de aditivos alimentares
encontrados na lista de ingredientes de produtos embutidos
Segundo a legislação brasileira, os embutidos são produtos coletados em supermercados da periferia de Fortaleza-CE.
elaborados com carnes ou outros tecidos animais comestíveis, curados
ou não, condimentados, cozidos ou não, defumados e dessecados ou SR R C T
Aditivos
não, tendo envoltório natural ou artificial (1).
Os embutidos surgiram há milhares de anos quando o (%)
homem aprimorou suas técnicas de conservação de alimentos, passando Aroma Natural Fumaça 58 8 0 41
a utilizar o couro dos próprios animais e sal para preservar a carne em Aroma de Pimenta 24 58 25 33
porções (2). Glucona-Delta-Lactona 3 0 0 2
Nesta década, a demanda dos consumidores por alimentos Maltodextrina 3 17 0 6
seguros à saúde tem aumentado consideravelmente, desencadeando a Natamicina 3 0 0 2
busca, através da tecnologia de alimentos, por ingredientes e aditivos Corante Natural Carmim de Cochonilha 55 58 75 57
que possam reduzir a contaminação garantindo a conservação e Corante Natural Urucum 0 8 0 2
segurança dos produtos cárneos (3). Além disso há também a Corante Caramelo IV 12 0 25 10
preocupação com a qualidade nutricional dos alimentos, demonstrando Corante Vermelho de Beterraba 6 8 25 8
a importância da informação nutricional, de ingredientes e de aditivos Eritorbato de Sódio 70 58 50 65
nos rótulos dos produtos de origem animal (4). Espess. carragena 12 50 25 22
O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Glutamato Monossódico 52 75 100 61
Abastecimento) considera rotulagem toda inscrição em forma de Hexametafosfato de Sódio 6 0 0 4
imagem ou escrita, registrada sobre a embalagem do produto (5), sendo Isoascorbato de Sódio 21 42 50 29
assim, é um importante meio de comunicação entre a indústria e o Lactato de Sódio 42 42 0 39
consumidor (6). Citrato de Sódio 9 8 25 10
A RDC nº 360 de 23 de dezembro de 2003 referente a Nitrato de Sódio 39 50 0 39
Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados, discorre sobre a Nitrito de Sódio 88 75 100 86
obrigatoriedade de informar no rótulo o valor energético, quantidade de Pirofosfato Ácido de Sódio 0 8 50 6
carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras Pirofosfato Dissódico 18 25 0 18
trans, fibra alimentar e sódio do alimento (7). Deve-se, ainda informar Pirofosfato Tetrassódico 0 25 25 8
os ingredientes e aditivos alimentares que são definidos segundo a Polisorbato 80 6 0 0 4
Portaria nº 540 de 27 de Outubro de 1997, como qualquer ingrediente Polifosfato de Sódio 15 42 0 20
adicionado intencionalmente aos alimentos, sem o objetivo de nutrir, Tripolifosfato de Sódio 73 25 75 61
somente de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou Legenda: SR: Sem refrigeração; R: Refrigerados;
sensoriais, do alimento (8). C: Congelados; T: Total de produtos com o referido aditivo.
As legislações surgem como forma de controlar a
quantidade dos aditivos que compõem os alimentos, visto que podem Sais de cura a base de nitritos e nitratos são aditivos com
apresentar riscos à saúde, por isso são classificados em Aditivos maior possibilidade de funções em produtos cárneos, desde prevenção
Reconhecidamente Seguros ou GRAS (Generally Recognized as Safe) à proliferação de bactérias até mesmo a promoção organoléptica do
visto sua baixa possibilidade de causar intoxicação e não-GRAS (9). alimento, podendo adicionar cor e sabor ao produto final (11).
Diante disso, o trabalho teve como objetivo investigar a O nitrito de sódio obteve elevada ocorrência nos produtos
frequência dos aditivos alimentares em produtos embutidos, das três categorias, aparecendo em 86% das listas de ingredientes,
disponíveis nas prateleiras de supermercados em Fortaleza-Ceará. incluindo 100% dos congelados, enquanto o nitrato de sódio esteve
presente em apenas 39% do total, sendo nenhum congelado.
MATERIAL E MÉTODOS Independente da quantidade nos alimentos, nitritos e nitratos tendem a
formar compostos N-nitrosos conferindo a coloração desejada. O
O estudo foi realizado na cidade de Fortaleza. Foram aparecimento desses sais em excesso nas dietas pode representar um
coletadas informações dos aditivos alimentares presentes nas risco tóxico cumulativo, uma vez que apresenta atividade mutagênica e
embalagens dos embutidos, categorizando-os sem refrigeração, carcinogênica, sobretudo relacionada ao desenvolvimento de câncer
refrigerados ou congelados. Selecionou-se, então, 5 filiais das grandes gastrointestinal, devido à produção de nitrosaminas (12).
redes de supermercado de Fortaleza. O glutamato monossódico, por sua vez, também foi
A coleta foi feita de forma aleatória e tentando contemplar predominante nos embutidos com refrigeração, além de, juntamente ao
100% dos produtos encontrados nas prateleiras naquele período. Os nitrito de sódio, terem aparecido em todos os produtos congelados.
dados foram tabulados e disponibilizados em Excel, de forma a A maltodextrina é um produto da quebra parcial de
apresentar a frequência na qual os aditivos estavam presentes no molécula do amido, que quando adicionado em determinadas
embutido. quantidades tem como função a melhora das características sensoriais
dos produtos embutidos com relação a textura e consistência, devido a
RESULTADOS E DISCUSSÃO sua capacidade de ligação. Foram encontradas baixas quantidades desse
aditivo nas amostras coletadas, em apenas 6% do total, no entanto,
A RDC nº 272 de 14 de março de 2019 estabelece os aditivos aparece em maior proporção dentre os refrigerados, grupo composto
alimentares autorizados para uso em carnes e produtos cárneos (10). principalmente de presuntos e salsichas, alimentos que necessitam de
Com isso, foram discriminados, na Tabela 1, os aditivos alimentares textura mais firme (13).
presentes nas listas de ingredientes coletadas de 49 produtos embutidos Dentre os estabilizantes, os mais utilizados são os fosfatos,
sendo eles, 33 sem refrigeração, 12 refrigerados e 4 congelados. que tornam a consistência do alimento mais macia, aumentando a
retenção de água que se potencializa com a aplicação de sal comum, os
mais utilizados são o tripolifosfato de sódio (61%) e o hexametafosfato
de sódio (6%), no entanto vários outros aparecem nos embutidos
analisados. O polifosfato de sódio está presente em 20% dos produtos

521
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

consultados, quantidade considerável, visto que há outros compostos Alimentos) - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa
fosfatos presentes (14). Catarina, Florianópolis, 2013.
Silva et al. (2008) afirma que mesclar dois ou mais 4 PINHEIRO, R. S. B.; SOBRINHO, A. G. S.; SOUZA, H. B. A.;
estabilizantes têm se tornado uma alternativa para conseguir melhor YAMAMOTO, S. M. Informações nutricionais de carnes ovinas em
combinação de propriedades para desenvolver um determinado rótulos comerciais, comparativamente às obtidas em análises
produto, sem ultrapassar os valores permitidos (15). laboratoriais. Ciênc. Tecnol. Aliment. 27, 376-381, 2007.
A RDC nº 2 de 15 de janeiro de 2007 que aprova o 5 BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Regulamento Técnico da Anvisa sobre Aditivos Aromatizantes, os Instrução normativa nº 22, de 24 de novembro de 2005. Aprova o
definindo como substâncias ou misturas capazes de conferir ou Regulamento Técnico para Rotulagem de Produto de Origem Animal
intensificar o aroma e/ou sabor dos alimentos (16). Durante a coleta, embalado. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 2005. Seção
foram encontrados dois aromatizantes: o Aroma Natural de Fumaça 1, p. 15.
conferindo a sensação de defumado e o Aroma de Pimenta conferindo 6 CARDOSO, M. F. M. Adequação da rotulagem e das condições de
a sensação de apimentado, ambos os aromas possuem frequência armazenamento de linguiças de diferentes marcas comercializadas em
moderada dentre os aditivos. estabelecimentos varejistas de Uberlândia-MG, Brasil. 2018, 36f.
Quanto aos corantes de alimentos, constituem uma classe de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária)
aditivos alimentares que podem ser classificados em naturais e - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de
artificiais/sintéticos e têm a finalidade de conferir, intensificar ou Uberlândia, Uberlândia-MG, 2018.
padronizar a coloração dos produtos alimentícios, proporcionando as
7 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução - RDC nº 360, de 23 de
mesmas características de um produto natural (17). dezembro de 2003. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem
O corante mais utilizado foi o Natural de Carmim de Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a rotulagem
Cochonilha estando ele presente em 57% dos embutidos. Expressivos
nutricional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 dez. 2006. Seção
75% dos produtos congelados possuem esse corante, seguindo de 58%
1, p. 33.
dos congelados e 55% dos sem refrigeração. Tal corante é considerado
8 BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 540, de 27 de outubro de
bastante estável ao calor e à luz, resistente à oxidação e não sofre
1997. Aprova o Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares -
alterações significativas pela ação do dióxido de enxofre. Em razão de
definições, classificação e emprego. Diário Oficial da União, Brasília,
sua estabilidade, o carmim é considerado sob o ponto de vista
DF, 28 out. 1997.
tecnológico um excelente corante (18) e sua utilização tem o intuito de
atrair cada vez mais o consumidor, por passar a imagem de um produto 9 SILVA, L.C.. Estratégias de pré e pós-colheita na prevenção de
saboroso e chamativo. micotoxinas. In: Adésio Ferreira; Andreia Barcelos Passos Lima;
O espessante identificado está presente em 22% dos Frederico de Pina Matta; José Augusto Teixeira do Amaral; José Carlos
embutidos, estando em 50% dos refrigerados foi o Carragena, categoria Lopes; José Eduardo Macedo Pezzopane; Marcia Flores da Silva
de hidrocolóides extraídos de algas vermelhas da classe das Ferreira; Ricardo Antônio Polanezky; Tais Cristina Bastos Soares.
Rhodophyceae. Ele possui a propriedade de formar gel, reter água e (Org.). Tópicos Especiais em Produção Vegetal I. 1ed. Alegre: UFES,
fornecer a textura desejada. Vem sendo utilizado devido a sua 2009, v. 528, p. 246-257.
capacidade de gelatinização térmica. A funcionalidade da carragena em 10 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 272, de 14 de
produtos cárneos revela-se devido a sua propriedade de gelatinização março de 2019. Dispõe sobre os aditivos alimentares autorizados para
térmica reversível. A carragena se dissolve totalmente no produto uso em carnes e produtos cárneos. Diário Oficial da União, Brasília,
cárneo e se gelatiniza quando resfriada, o que aumenta a retenção de DF, 18 mar. 2019.
água, textura e consistência dos produtos cárneos (19). 11 CARTAXO, J.L.S. Riscos associados aos níveis de nitritos em
Os aditivos alimentares dos embutidos coletados, estavam alimentos: uma revisão. 2015. 30 f. TCC (Graduação) - Curso de
determinados pela legislação e variaram entre aromatizantes, corantes, Farmácia, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade
acidulantes, espessantes, antioxidantes, reguladores de acidez e Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
estabilizantes. 12 IAMARINO, Luciana Zancheta et al. Nitritos e nitratos em produtos
cárneos enlatados e/ou embutidos. Gest. em Foc., v. 7, p. 246-51, 2015..
CONCLUSÃO 13 GONZÀLES, J.A.O.; CASTRO, E.F.P. Estudio técnico para la
elaboración de salchichas a partir de carne de toyo blanco
Pode-se concluir que os embutidos são um grupo diverso no (Carcharhinus Falciformis) y almidón modificado (Maltodextrina).
mercado e por isso apresentam processamentos diferentes, aromas 2012. 134p. Proyecto de grado para optar al título de Ingenieros
atribuídos variados e outras características distintas entre si. Ainda Agroindustriales - Facultad de Ingeniería, Universidad de San
assim, todo o grupo possui uma grande diversidade de aditivos por Buenaventura Cali, Santiago de Cali, 2012.
tratar-se de produtos elaborados a partir de carnes ou outros tecidos 14 RAPELO, A.LT. Evaluación del efecto almidón obtenido a partir de
animais, muito sensíveis à contaminação microbiológica. malanga (colocasia esculenta) en las propiedades de un producto
De forma geral, o nitrito de sódio foi o aditivo alimentar com cárnico. 2012. 80p. Trabajo de grado (Magister Scientiarum en Ciencia
maior ocorrência nos embutidos, seguido por eritorbato monossódico, y Tecnología de Alimentos) - Facultad de Ingenieria División de Pos
glutamato monossódico e tripolifosfato de sódio. grado. Universidad del Zulia, Maracaibo, 2012.
Dentre os embutidos sem refrigeração, o nitrito de sódio 15 SILVA, L. P; LOPES, M, M; MANO, S; MÁRSICO, E. T;
destaca-se por aparecer com maior frequência, além do eritorbato de CONTEJÚNIOR, C. A; TEODORO, A. J; GUEDES, W. S. Influência
sódio, predominante apenas nessa categoria. O nitrito de sódio aparece da adição de polifosfato em lingüiça de frango. Rev. bras. ciênc. vet, p.
novamente com maior ocorrência entre os embutidos com refrigeração, 50–55, 2008.
juntamente com o glutamato monossódico, o qual é encontrado também 16 BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 2, de 15 janeiro
em todos os embutidos congelados, assim como o nitrito de sódio. O de 2007. Aprovar o Regulamento Técnico sobre Aditivos
tripolifosfato também pode ser observado frequentemente entre os Aromatizantes. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jan. 2007.
congelados.
17 MESSIAS, C.M.B.O; SOUZA, H.M.S; REIS, I.R.M.S. Consumo de
Entretanto, após o estudo, nota-se que ainda carecem
alimentos ultraprocessados e corantes alimentares por adolescentes de
estudos disponíveis nos bancos de dados acerca aditivos que podem ser
uma escola pública. Rev. Adolesc. e Saú. v. 13, n.4, Rio de janeiro,
adicionados à dieta.
out/dez, 2016.
REFERÊNCIAS 18 VOLP, A.C. P; RENHE, I. R.T; STRINGUETA, P.C. Pigmentos
naturais bioativos. Rev. Alim. e Nutr., v.20, n.1, p. 157-166, jan./mar.
2009.
1 SÃO PAULO. Decreto n. 52.504, de 28 de julho de 1970. Aprova
Normas Técnicas Especiais Relativas a Alimentos e Bebidas. São 19 PEDROSO, R.A; DEMIATE, I.M. Avaliação da influência de amido
Paulo, São Paulo, 28 jul. 1970. e carragena nas características físico – químicas e sensoriais de presunto
cozido de peru. Ciênc. Tecnol. Aliment. v. 28 n. 1 Campinas Jan/Mar.
2 MADRUGA, M.S.; SOUZA, W.H.; MENDES, E.M..S.; BRITO,
2008.
E.A. Carnes caprina e ovina - processamento e fabricação de produtos
derivados. Tecnol. & Ciên. Agropec., v.1, n.2, p.61-67, 2007.
3 SILVA, C. N. Estudo da vida útil de linguiça frescal de frango e
modelagem do crescimento de bactérias ácido láticas em condições
isotérmicas. 2013. 92f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de

522
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise das condições higiênico-sanitárias de food trucks na cidade de Fortaleza

Victor Vidal1, Nildyane Pontes1, Sabrina Silva1, Sarah Costa1.


Vinícius Moura1, Carolinne Pontes2
1
Graduando em Nutrição, Universidade Estadual do Ceará, victor.nobre@aluno.uece.com.br
2
Doutora em Biotecnologia – RERNOBIO, Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Universidade Estadual do
Ceará (UECE), carolinne_nutri@yahoo.com.br

Palavras - chave : Boas Práticas. Alimentação. Consumidores.

1. INTRODUÇÃO Observou-se que a média geral das conformidades dos


Food truck (“carro de comida” ou “cozinha sobre rodas”) veículos analisados foi de 75,8%. Diferentemente da média de um
é um modelo de negócio de origem norte americana fundamentado trabalho também feito em food trucks na cidade de Uberlândia, que
na comercialização de alimentos em veículos de forma itinerante. se encontrou somente 37,1% de conformidades. (5)
Essa forma de comercializar alimentos busca suprir as necessidades Os percentuais dos resultados individuais quanto às
das pessoas que procuram praticidade e comodidade em suas conformidades, observadas a partir da aplicação da lista de
refeições e isso tem se propagado pelas cidades brasileiras (1). verificação, dos food trucks analisados podem ser observados na
Segundo a lei municipal N° 10474 de 2016 (2), food trucks são tabela 1 e a comparação dos percentuais entre as conformidades e
veículos automotores que realizam a atividade de comércio de não conformidades são observados no gráfico 1.
alimentos, em locais públicos ou em vias possibilitando assim a
venda direta ao consumidor. Tabela 1: Percentual de conformidades dos itens analisados dos
Todavia, os alimentos vendidos nas ruas constituem uma food trucks, Fortaleza, 2019.
preocupação de saúde pública, pois, na maioria das vezes, são
preparados e vendidos em condições incertas de higiene, podendo
conter micro-organismos contaminantes e potencialmente Food Trucks
Itens analisados
patogênicos, o que coloca em risco a saúde dos consumidores. (3) 1 2 3 4 5
A principal referência legal para área de serviços de Estrutura do
66% 100% 88% 77% 55%
alimentação são as boas práticas, estabelecidas pela RDC 216/2004 Food Truck
(4) que contém um conjunto de procedimentos cujo objetivo é Equipamentos e
garantir um alimento de qualidade, em todas as suas etapas, desde a 100% 80% 80% 60% 60%
Utensílios
compra de da matéria prima até a distribuição ao consumidor. A
Higiene das
necessidade de legislações específicas com foco para os food trucks é
fundamental pelas particularidades do tipo de estabelecimento e o Instalações do 40% 80% 100% 40% 100%
referencial teórico sobre o tema é insuficiente. (5). Food Truck
Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar as Controle de
condições higiênico-sanitárias de food trucks localizados na cidade Vetores e 100% 100% 66% 100% 100%
de Fortaleza, a fim de quantificar as conformidades e identificar as Pragas
principais não conformidades encontradas.
Armazenamento 75% 100% 100% 25% 75%
2. MATERIAL E MÉTODOS Manipulação
100% 100% 87,5% 50% 87,5%
O estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa dos Alimentos
descritiva e transversal, e a abordagem foi de cunho quantitativo, ao Lixo 33% 100% 100% 100% 66%
passo que foram analisadas as condições higiênico-sanitárias de Documentação 50% 100% 100% 0% 0%
cinco food trucks dos sete localizados em um espaço com Fonte: Autores
predominância desse tipo de alimentação, no bairro Dionísio Torres
na cidade de Fortaleza – CE. A pesquisa foi realizada durante 2 dias
do mês de abril de 2019, no período noturno e em horário de maior
movimento. Como instrumento de coleta de dados, foi aplicada uma Figura 1: Percentual das conformidades e não conformidades dos
lista de verificação adaptada para food trucks, com base na Food Trucks analisados.
metodologia de Ribeiro, 2017 (6) e das determinações contidas na
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 216/2004 (4), e na
Portaria n° 31/2005 (7) do município de Fortaleza. A lista de
verificação foi agrupada em oito tópicos referentes a: Estrutura do
food truck; Equipamentos e Utensílios; Higiene das instalações food
truck; Controle de Vetores e Pragas; Armazenamento; Manipulação
dos Alimentos; Lixo e Documentação.
O checklist possibilitou avaliar e classificar os itens em conforme
(C), quando se encontravam em acordo com a RDC nº 216/2004 (4),
não conforme (NC), quando não estavam em conformidade com as
normas e não se aplica (NA), quando os itens não eram aplicáveis à
realidade do local. Fez – se também a classificação dos food trucks
com relação aos grupos de porcentagem de conformidades: Grupo 1
– 76 a 100% de conformidades; Grupo 2 – 51 a 75% e Grupo 3 – 0 a
50%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A classificação dos food trucks nos seus grupos
correspondentes em relação a porcentagem de conformidades
segundo a lista de verificação aplicada, onde, dois food trucks (40%)
ficam no Grupo 1, com mais de 76% das conformidades e os outros
três estabelecimentos (60%) se encontram no Grupo 2, com mais de
51% de conformidade.

523
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

5. REFERÊNCIAS
Quanto à estrutura do food truck, observou-se que todos (1) DE LIMA SILVA, Gabriela; LIMA, Luana Filgueira;
os que foram avaliados não possuíam autonomia de energia, como LOURENÇO, Nelson Serra. Food truck na cidade de São Paulo e a
também a dificuldade de alguns quanto à ventilação adequada que, influência do perfil do consumidor em sua longevidade: aspectos
segundo a RDC nº 216/2004 (4) , esta deve propiciar a renovação do socioculturais. Refas-Revista Fatec Zona Sul, v. 2, n. 1, p. 1-23,
ar, sem que incida nos alimentos. 2015
Sobre os equipamentos e utensílios observou-se que
somente um food truck possuía termômetro para a aferição da (2) FORTALEZA. Prefeitura Municipal de Fortaleza. Lei municipal
temperatura dos alimentos expostos ou em manipulação, no entanto N° 10474 de 2016 que Regulamenta o Exercício das Atividades de
todos os estabelecimentos possuíam equipamentos e utensílios "Food Truck", "Food Bike" e "Food Cart" no Município de
adequados quanto ao seu material e sua higienização, como relata a Fortaleza.
ABERC (2015) (8) acerca da importância deste ponto. Nos food
trucks avaliados, todos tiveram porcentagem maior ou igual a 60% (3) SANTOS, Newton Carlos et al. AVALIAÇÃO
de conformidade, já em comparação com o estudo feito no MICROBIOLÓGICA DE CACHORROS-QUENTES
Recôncavo da Bahia este apresentou um percentual de 80% de COMERCIALIZADOS POR FOOD TRUCKS
conformidade nesse quesito. (9)
Em relação a higiene das instalações percebeu-se uma
adequada frequência da higienização dos equipamentos, móveis e (4) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução Agência Nacional de
utensílios, no entanto foi observado materiais destinados a limpeza e Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de
higienização, em contato com as bancadas de manipulação e de 2004. In. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. 16 de setembro de 2004
higienização dos utensílios. Fazendo a comparação do presente
estudo e o de COSTA, et al (9), as porcentagens foram um pouco (5) FREITAS, A. M.; BARBOSA, N. P.; JARDIM, F. B. B.
divergentes. O estudo feito em Fortaleza obteve em média 72% de Avaliação das Condições Higiênico-Sanitárias dos Alimentos
conformidade em higiene, já o realizado no Recôncavo da Bahia Servidos nos Food Trucks na Cidade de Urbelândia/MG. IFTM.
obteve somente 32% de conformidade. Quanto à existência de Minas Gerais, 2018.
vetores e pragas é possível perceber a eficácia no controle na grande
maioria dos estabelecimentos, porém, no que diz respeito aos (6) RIBEIRO, Soraya Antônio de Bastos. Avaliação das boas
registros, dentre os estabelecimentos visitados apenas dois possuíam práticas de manipulação: um estudo de caso sobre um food truck
os mesmos. de Jaraguá-GO, 2017. 42 f. Monografia (Especialização - Curso de
Em relação ao armazenamento dos insumos percebeu-se Especialização em Gestão da Produção de Refeições Saudáveis) -
que estes em alguns food trucks não estavam acondicionados em Universidade de Brasília, 2017.
local limpo ou sem contato com o chão, como também os
equipamentos que armazenam alimentos em refrigeração não possuía (7) FORTALEZA, Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza.
controle das temperaturas, estando em não conformidade de acordo Portaria N° 31/2005 – Lista de Verificação das Boas Práticas em
com a RDC nº 216/2004 (4). Serviços de Alimentação conforme Resolução N° 216 de 15 de
Setembro de 2004.
4. CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados, foi possível (8) ABERC, Associação Brasileira das Empresas de Refeições
perceber que as condições higiênico-sanitárias de uma forma geral Coletivas. Manual ABERC de Práticas de Elaboração e Serviço
foram satisfatórias. Além disso, as não conformidades encontradas de Refeições Coletivas – 11° Ed. São Paulo, 2015.
são pontos fáceis de implantar ações corretivas, não demandando
períodos prolongados de não funcionamento do estabelecimento. (9) COSTA, Milena da Cruz et al. Condições higiênico-sanitárias de
food trucks em uma cidade do Recôncavo da Bahia. Magistral, Cruz
das Almas - Bahia, p. 328- 334, 22 nov. 2018. Disponível em:
https://magistraonline.ufrb.edu.br/index.php/magistra/article/view/52
4/336. Acesso em: 12 maio 2019

524
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Quantidade de Aditivos Alimentares e Declarações Obrigatórias em Rótulos de Barras de


Castanhas

Priscila Pereira Pessoa1, Bruno Victor Pereira da Costa2, Jeferson Vidal do Nascimento Meneses2, Carla
Soraya Costa Maia3.

1: Professora Mestre do Centro Universitário Fametro - Unifametro.


2: Graduando em Nutrição do Centro Universitário Fametro - Unifametro.
3: Professora Doutora da Universidade Estadual do Ceará - UECE. E-mail:
priscila.pessoa@professor.unifametro.edu.br

Palavras chave: Rotulagem de Alimentos, Hipersensibilidade Alimentar, Legislação sobre Alimentos.


INTRODUÇÃO
embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional; Resolução nº
A barra de cereal é um alimento fabricado a partir da extrusão da massa 54/2012 da ANVISA/MS (9) que dispõe sobre o regulamento técnico
de cereais que pode ser preparada pela mistura de flocos de arroz, sobre informação nutricional complementar e por fim, foi elaborado um
milho, aveia e outros cereais, xarope de glicose e gordura vegetal, com checklist sobre a verificação dos aditivos presentes nas listas de
a opção de agregar frutas desidratadas (1). Substâncias que podem ser ingredientes dos rótulos das amostras. As médias de adequação dos
adicionadas pela indústria alimentícia nessas barras são os aditivos resultados foram realizadas utilizando o programa Excel2013®.
alimentares, que são definidos como qualquer substância adicionada de
forma intencional aos alimentos, sem qualquer intenção de nutrir, mas RESULTADOS E DISCUSSÃO
apenas com o objetivo de modificar as propriedades físicas, químicas,
biológicas ou sensoriais dos alimentos durante todos os processos de Foram adquiridas 24 barras de cereais de castanhas. As amostras
fabricação, desde a preparação até o consumo final do alimento. Após variaram em seus sabores e subtipos, mas todas tinham em sua
agregar-se ao produto no qual se destina, o mesmo poderá se converter composição algum tipo de castanha como ingrediente. Constatou-se que
em um componente de um determinado alimento (2). Os aditivos somente sete amostras apresentaram conformidade em todos os itens
alimentares tornaram-se quase indispensáveis no que se refere à das legislações consideradas e que as demais, que representam 70,8%
alimentação moderna, sobretudo pela sua capacidade de manter a (n=17) das amostras, apresentaram algum tipo de inconformidade.
qualidade e o tempo de prateleira dos alimentos vendidos nos Resultado semelhante ao encontrado em uma pesquisa que detectou que
supermercados. Entretanto, há estudos que associam a utilização 59,2% de barras de cereais light e pães estavam em não conformidade
inadequada desses componentes aos efeitos prejudiciais à saúde, como o com a legislação (10). Já em uma outra pesquisa realizada com pães de
aparecimento de alergias e outras enfermidades (3). A rotulagem correta fôrma, observou-se um maior percentual de inadequações, apresentando
é um compromisso do fabricante perante o consumidor de que seu cerca de 95% (n=22) dos 23 rótulos de pães com algum item não
produto atende a todas as exigências legais vigentes, contendo conforme com a legislação (11). Considerando a RDC nº 26/2015 da
informações claras e legíveis quanto as suas características, ANVISA/MS (6) a qual dispõe sobre a rotulagem dos principais
composição, natureza, qualidade, quantidade e modo de fabricação. O alimentos que causam alergias alimentares, verificou-se que cerca de
rótulo é o elemento fundamental de comunicação com o consumidor, 25% (n=6) das amostras, apresentaram pelo menos um item não
portanto deve conter toda a informação relativa ao produto de forma a conforme. O alerta obrigatório: "Alérgicos: Contém castanha” estava
permitir uma escolha adequada à sua necessidade e evitar o risco de encoberto ou com difícil visualização em seis amostras. Os outros
sofrer uma reação alérgica, por exemplo (4). A castanha encontra-se requisitos analisados estavam de acordo. Como não existe cura para a
dentro do grupo de alimentos descritos como alergênicos, segundo a alergia alimentar, a restrição no consumo dos alimentos alergênicos é a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), autarquia principal alternativa para prevenção e o aparecimento das complicações
vinculada ao Ministério da Saúde (MS), apresentando relevância no que clínicas provenientes do consumo destes produtos por parte do
se refere a saúde pública (5). Diante do exposto, ressalta-se a consumidor. Consequentemente, o acesso a informações corretas sobre
importância do desenvolvimento de pesquisas que verifiquem e avaliem a composição dos alimentos se torna uma ferramenta essencial para
o cumprimento das legislações de rotulagem voltadas para produtos que proteger a saúde de indivíduos com alergias alimentares (4). Já em
contenham alimentos potencialmente alergênicos. Logo, o presente relação à RDC nº 259/2002 da ANVISA/MS (7), verificou- se que
estudo teve como objetivo avaliar a adequação das informações somente uma amostra (4,16%) apresentou um item não conforme com a
obrigatórias em rótulos de barras de castanhas e verificar o número e os legislação vigente, e que 95,83% (n=23) das amostras estavam de acordo
tipos de aditivos alimentares presentes na lista de ingredientes dos com a legislação. A única irregularidade encontrada foi a presença de
rótulos dos produtos. inconformidades referente a embalagem, pois apresentava uma
denominação (vocábulo), que podia induzir os consumidores ao erro. A
MATERIAL E MÉTODOS quantidade de irregularidades observadas na pesquisa em relação a
resolução supracitada foi inferior aos resultados encontrados em outro
Realizou-se uma pesquisa de campo, na qual barras de castanhas foram estudo no qual foram avaliados 25 rótulos de produtos alimentícios com
adquiridas no caráter de consumidor em 15 supermercados da cidade de a designação diet e light e foram identificadas inconformidades em 12%
Fortaleza – CE, distribuídos em todas as regionais da cidade. Procurou- (n=3) dos produtos, referente a presença na rotulagem de alguma
se o máximo de amostras de marcas diferentes durante o período de chamada ou representação gráfica que interferisse de alguma forma na
coleta. Os supermercados foram escolhidos considerando a localização escolha do consumidor ou que conduzisse a algum erro (12). De acordo
de ruas e avenidas de fácil acesso. A aquisição das amostras ocorreu em com a Resolução RDC nº 360/2003 da ANVISA/MS (8), das 24
julho de 2019. O critério de inclusão foi que a palavra “castanha” amostras analisadas, 14 revelaram inconformidade referente à difícil
estivesse escrita na denominação do produto, caracterizando que o visualização das informações nutricionais, o que totaliza 58% das
produto continha a castanha como um de seus principais ingredientes. amostras. Em relação à RDC nº54/2012 da ANVISA/MS (9), das 24
Assim, as análises foram realizadas quanto aos princípios gerais de amostras analisadas, apenas 54,16% (n=13) continham informações
rotulagem, apresentação da informação nutricional, informações nutricionais complementares e estavam em conformidade com o que
complementares obrigatórias e listagem dos aditivos observados na lista constava na embalagem do produto. O restante das amostras analisadas
de ingredientes dos rótulos. A avaliação foi realizada por meio de uma não se aplicava a essa resolução, por não apresentarem informação
lista de verificação da rotulagem elaborada pelos autores de acordo com relatando alguma propriedade nutricional, portanto neste quesito,
itens exigidos nas seguintes resoluções brasileiras: Resolução nº 26/2015 nenhuma das amostras apresentou inconformidades. Em outro estudo
da ANVISA/MS (6) que estabelece os requisitos para rotulagem que analisou a rotulagem e o teor de fibras em barras de cereais de
obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares; diferentes marcas e sabores, dos 20 rótulos analisados apenas 20%
Resolução nº 259/2002 da ANVISA/MS (7) a qual aprova o (n=4) das amostras estavam classificadas como fonte de fibras e
regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados; atendiam aos requisitos exigidos pela legislação e as demais amostras
Resolução n° 360/2003 da ANVISA/MS (8) a qual aprova o não atendiam aos critérios de classificação (13). O número máximo de
regulamento técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos aditivos alimentares encontrados na lista de ingredientes das amostras

525
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

foi de sete. Por outro lado, duas amostras apresentaram baixo número, nº 26/2015 (6); RDC nº 259/2002 (7) e RDC nº 360/2003 (8).
apresentando apenas um aditivo alimentar cada uma. No presente Desta forma, a disponibilidade de informações claras e legíveis nos
trabalho, contabilizou-se 25 tipos de aditivos diferentes presentes nas rótulos, se torna de suma importância para garantir a saúde e a
listas de ingredientes dos rótulos das amostras. Os aditivos foram segurança alimentar dos consumidores. Para isso, sugere-se que o
agrupados conforme sua classificação na tabela 1. acesso à educação nutricional no tocante à rotulagem de alimentos seja
ampliado. Salienta-se, ainda, a melhor fiscalização para que as
indústrias alimentícias possam disponibilizar informações corretas e
Tabela 1 – Tabela 1 – Aditivos alimentares encontrados em rótulos acessíveis nos rótulos dos produtos.
de barras de castanhas adquiridas no comércio de Fortaleza – CE,
2019.
COMPONENTE N % REFERÊNCIAS:
Antioxidante
Tocoferol (vitamina E) 8 13,7 % 1 SKLIUTAS, A.R. Estudo do desenvolvimento de barra dietética de
Lecitina de soja 6 10,3 % cereais e goiaba desidratada pelo processo de osmose a vácuo com
Edulcorantes (adoçantes) utilização de frutooligossacarideo. 2002. 116p. Dissertação (mestrado)
- Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia de
Edulcorante stevia 1 1,7 %
Alimentos, Campinas, SP, 2002.
Edulcorante sucralose 1 1,7 %
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Sorbitol 1 1,7 % Sanitária - ANVISA. Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997.
Xarope de glicose 1 1,7 % Aprova o Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares - definições,
Maltitol 1 1,7 % classificação e emprego. Diário Oficial [da] República Federativa do
Glicosídeo steviol 2 3,4 % Brasil, Brasília, DF, 28 out. 1997.
Polidextrose 1 1,7 % 3. HONORATO, T.C., et al. Aditivos alimentares: aplicações e
toxicologia. Revista Verde, 8, 1-11, 2013.
Espessantes/emulsificantes/estabilizantes
4 Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Guia sobre
Espessante maltitol 1 1,7 % Programa de Controle de Alergênicos. Alimentos - Guia nº 5, versão 2,
Espessante goma acácia 2 3,4 % 2018. 23 p.
Emulsificante lecitina de soja 8 13,7 % 5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Perguntas e
Respostas: Rotulagem de alimentos alergênicos. 5. ed. Brasília, 2017.
Emulsificante lecitina de girassol 2 3,4 % 40 p.
Emulsificante poliglicerol 1 1,7 % 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Estabilizante lecitina de soja 3 5,1 % Sanitária. Resolução RDC nº 26, de 02 de julho de 2015. Dispõe sobre
Estabilizante polidextrose 1 1,7 % os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que
causam alergias alimentares. Diário Oficial [da] República Federativa
Acidulantes
do Brasil, Brasília, DF, 27 ago. 2015.
Ácido cítrico 2 3,4 % 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Ácido ascórbico 2 3,4 % Sanitária. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Aprova o
Umectantes Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Diário
Umectante sorbitol 2 3,4 % Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 set. 2002.
Umectante glicerina 2 3,4 % 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Glicerina 2 3,4 % Sanitária. Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova
Corantes Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos
Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional. Diário
Corante caramelo IV 4 6,8 %
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 dez. 2003
Urucum 2 3,4 %
9. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Corante natural de clorofila 1 1,7 % Sanitária. Resolução RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012.
Carmin de cochonilha 1 1,7 % Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar.
Legenda: n=número de aditivos presente nas barras de castanhas. Diário Oficial [da] União da República Federativa do Brasil, Brasília,
Fonte: Elaborada pelos próprios autores. DF, 21 ago. 2006.
10. PEREIRA, J.R.P. et al. Análise de conformidade das informações
apresentadas nos rótulos de barras de cereais e pães light. Linkania, 1,
No presente estudo, observou-se que o antioxidante tocoferol (vitamina 137-155, 2014.
E) e o emulsificante lecitina de soja foram os dois aditivos alimentares 11. MIRANDA, L.L.S. et al. Análise da rotulagem nutricional de pães
mais frequentes na composição na lista de ingredientes dos rótulos de forma com informação nutricional complementar comercializados
analisados, presentes em oito barras cada, das 24 totais. A vitamina E no município de Belo Horizonte–MG. HU Revista, 43, 211-217, 2017.
pode ser adicionada para prevenir a oxidação dos alimentos (14). Já os 12. BARROS et al. Análise da rotulagem de alimentos diet e light
emulsificantes, são substâncias que tem como principal função comercializados em Teresina-PI. Ens. Ciênc, 16, 51-60, 2012.
proporcionar a formação ou manutenção de uma mistura uniforme de 13. MEDEIROS, L.A. et al. Avaliação da Rotulagem Nutricional e
duas ou mais fases que se misturariam no alimento (15). Em um estudo Teor de Fibras Alimentares de Barras de Cereais. R. Saúde Públ. Santa
realizado por Pereira et al. os resultados indicaram que os Cat, 8, 7-14, 2015.
aromatizantes, corantes e estabilizantes, foram os aditivos mais 14. BATISTA, E.S.; COSTA, A.G.V.; PINHEIRO-SANT’ANA,
presentes em todas as categorias de alimentos avaliados por estes H.M. Adição da vitamina E aos alimentos: implicações para os
autores (biscoitos salgados, biscoitos doces, sopas instantâneas e alimentos e para a saúde humana. Rev. Nutr., 20, 525-535, 2007.
salgadinhos). Dos 217 alimentos analisados foram encontrados um total 15. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
de 57 aditivos que foram divididos em 15 classes de acordo com a sua análises de alimentos. 4. ed. (1ª Edição digital), 2008. 1020 p.
função (16). No presente estudo o corante caramelo IV foi o mais 16. PEREIRA, L. F. et al. Prevalência de Aditivos em Alimentos
frequente nos rótulos analisados (presente em quatro amostras). Os Industrializados Comercializados em uma Cidade do Sul de Minas
corantes caramelos se caracterizam como misturas complexas de Gerais. Ciências em Saúde, 5, 1-7, 2015.
componentes, elaborados a partir do aquecimento de carboidratos 17. ANVISA. Informe Técnico n. 68, de 3 de setembro de 2015.
(como glicose ou frutose), com ou sem adição de ácidos, substâncias Assunto: Classificação dos corantes caramelos II, III e IV e dos demais
alcalinas ou sais. O corante caramelo IV é classificado como corante corantes autorizados para uso em alimentos.
orgânico sintético idêntico ao natural (17). Alerta-se que inúmeros ABREU, I.S.; BUSSINGUER, E.C.A. O racismo ambiental no Brasil e
estudos discutem os riscos à saúde que advêm da utilização excessiva seus reflexos na saúde: uma análise do uso do corante caramelo IV.
dos corantes (18). CONCLUSÃO: Conclui-se que o tocoferol e o Opin. Jurid., 16, 229-243, 2017
emulsificante lecitina de soja foram os aditivos com maior frequência
nas listas de ingredientes e que todas as amostras apresentavam pelo
menos um aditivo alimentar nos rótulos. Através da realização do
presente trabalho foi possível identificar algumas não conformidades
nos rótulos de barras de castanha comercializadas na cidade de
Fortaleza - CE em relação à algumas resoluções da ANVISA/MS: RDC

526
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Concentration of Selenium in Food from the State of Ceará – Brazil

Rafaela Soares1, Priscila Pessoa 2, Renata Assis3, Ana Araújo4, Silvia Cozzolino5, Carla Maia 6

1. MSc Uninta College of Itapipoca, 2. MSc Fametro University Center, 3. MSc State University of Ceará, 4. State
University of Ceará, 5. PhD University of São Paulo, 6. PhD State University of Ceará.
* Corresponding Author: rafaelasoaresprofa@gmail.com

Keywords: Spectrophotometry, Food analysis, Food composition.

INTRODUTION The foods were properly crushed with food cutter CUT.8 MAX
Metvisa® with 8 liters capacity. They were then homogenized
The geochemical distribution of selenium (Se) varies throughout the according to the Adolfo Lutz Institute [7]. The material was spread
world. In general, it occurs at a concentration of 50 to 200 μg/kg in with a spatula on a large sheet of filter paper and separated into four
soils [1]. Many soils are unable to provide growing plants the parts in a cross. Two opposite segments were removed and returned to
necessary amount of Se for animals which consume them. Animals the pack and the two remaining parts were mixed. The four segments
with low intake of the mineral Se will have a deficiency and even a separation process was repeated to obtain enough sample for analysis
risk of dying. However, plants that grow in soil that is very rich in this in triplicate. After that, the material was dried in an oven at 105 °C
element can accumulate 13-15 mg/kg of Se [2]. until the dried mass reached the constant weight prior to their analysis
Se in the form of selenoproteins containing selenocysteine exerts of Se.
multiple physiological functions [3]. Some of these functions include All reagents used in the analysis were of P.A. analytical grade purity.
a defense against oxidative stress, regulation of the thyroid hormone The water used for the preparation of solutions, calibration curve and
actions, and regulating the redox state of vitamin C and other sample dilution was deionized.
molecules [4].
In an attempt to recognize the distribution of Se in Brazil, one study Se Dosage:
examined the concentration of beans from 12 Brazilian states. The
study concluded that the states of the north (Amazonas, Pará) and Digestion: Sub samples were placed in quartz tubes and 6 mL of nitric
northeast (Ceará, Pernambuco and Alagoas) have a higher acid and 1 mL of hydrochloric acid were added. They were subjected
concentration of the mineral compared to the midwest, southeast and to digestion at 150 °C for 40 minutes in a closed system using an Anton
south. However, states of the southern region of the country, Paraná, Paar model Wave 3000 microwave digestion oven.
Santa Catarina and Rio Grande do Sul stand out by having a lower
concentration of Se [5]. Reduction: The Se content was then reduced to ensure that it was
The study of Se is especially important because of its essentiality and present in the Se (IV) state in solution by addition of 5 mL of 1.2 N
toxicity. However, information about the element in tropical coastal HCl to each digested sample.
regions such as Brazil remain scarce and more studies of these area
should be undertaken [6]. Thus, Brazil as a continental country Dilution: The contents of the reduced solutions were quantitatively
presents different geochemical conditions with respect to selenium and transferred to a 50 mL volumetric flasks with careful (three times)
the study of food in the state of Ceará (Northeast region) is important washing of the quartz tube and funnel with MilliQ water. The volume
to support the hypothesis that this region produces foods rich in Se. of the flask was made up to the mark using MilliQ water.

Determination of Se concentration:
METHODS
The determination of Se concentration was conducted by atomic
Three foods from the daily basic Brazilian diet were selected: rice absorption spectrophotometry based on hydride generation coupled
(Orysa sativa), cassava flour (Manihot esculenta) and beans (Vigna with a model Z-5000 model quartz cell (Hitachi), following the
unguiculata). In addition, one other food typical of the Northeast, the methodology proposed by Foster and Sumar [8], and adapted to the
cashew nut (Anacardium occidentale) was also included. These foods standards followed by the mineral laboratory at the University of São
were purchased directly from local producers in the municipalities Paulo (USP). Results were expressed in μg / 100g of the food in natura
participating in the study. The cultivated soils had not been enriched (wet weight).
with the mineral by application of fertilizers. The collected foods
comprised the crops of 2010, 2011 and 2012, which corresponded to Control of the methodology for the analysis of Se:
years of drought in the state of Ceará. Three kg of each food sample
+from each municipality were collected and labeled with the crop and Quality control of the methodology relied on analysis of Se in certified
region origin. The foods were homogenized and packaged for further Wheat Flour® material from the National Institute of Standards and
analysis. Technology (NIST).

In an attempt to map the distribution of the samples, the food RESULT AND DISCUSSION
collected in the different municipalities of these macro-regions are
shown in Table 1. Results for the determination of the Se concentration in the food
samples distributed according to their macro-regions of origin (of
Table 1. Macro-regions of Ceará with their respective samples Ceará) are shown in Figure 1.
selected for study, 2013.
Macro-region (Ceará, Brasil) Samples Figure 1 shows the average concentration of selenium in food sourced
Fortaleza Metropolitan Area cashew nut and beans from the various macro-regions the state of Ceará. It is evident that the
West Coast Beans metropolitan area of Fortaleza is characterized by high selenium
Sobral/Ibiapaba rice and beans concentrations in beans.
Inhamuns Backlands Beans
Central Backlands Beans A study by Ferreira et al. [9] of the Se concentrations in food samples
Baturité cassava flour from retail stores in various Brazilian states reported that the Se
East Coast/Jaguaribe cassava flour and beans concentration in beans was 1 μg/100g, rice was 0.8 μg/100g and
rice, cassava flour and cassava flour was 1.6 μg/100g of raw food. These results are lower
Cariri/South Central than values for the foods analyzed in the present study, as summarized
beans
in Table 2.

527
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figure 1. Se concentration in the food samples distributed supply of Se in the diet of this population and consequently account
according to their macro-regions of Ceará for its good nutritional status with respect to this micronutrient.

REFERENCES

1.REILLY, C. Selenium in food and health. 2.ed. New York: Springer;


2006. 220p.

2.MAYLAND, H. P. Selenium in Plant and Animal Nutrition. In:


Frankenberger, W.T.; Benson, S. (eds.). Selenium in the Environment.
New York: Marcel Dekker, 29-45, 1994.

3. HOLBEN, D. H.; SMITH, A.M. The Diverse Role of Selenium


within Selenoproteins: A Review. J. Am. Diet. Assoc. 99, 836-843,
1999.

4. INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary References Intakes for


Source: Research data Vitamin C, Vitamin E, selenium, and Carotenoids. Washington:
National Academy Express; 2000.

Table 2. Concentration of selenium in rice, cashew nuts, cassava 5. SHALTOUT, A.; CASTILHO, I. N. B.; WELZ, B. Determinação de
flour and beans produced in Ceará (Brazil) – 2013. selênio em feijão com espectrometria de absorção atômica
Selenium (μg/100g of raw foodc) eletrotérmica por geração de hidretos, 34a Reunião Anual da
Food Average Rangea CVb ±SDd Sociedade Brasileira de Química, Florianópolis, 2011. Available in:
(number of Content http://sec.sbq.org.br/cdrom/34ra/resumos/T1176-2.pdf. Accessed 9
samples) apr. 2015.
Rice (2) 18.5 10.1 and 9.77 27,1
26.9 6. SEIXAS, T.G.; KEHRIG, H.Á. O selênio no meio ambiente. Oecol.
Cashew Nut 49.2 – – – Bras. 11, 264-276, 2007.
(1)
Cassava 11.4 0.22 – 3.79 4,2 7.INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
Flour (5) 31.9 análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,2008. Available
Beans (10) 23.7 5.70 – 4.99 10,3 in:http://www.crq4.org.br/sms/files/file/analisedealimentosial_2008.p
56.4 df. Acessed 27 apr. 2015.
a
Range of variation among the analyzed samples of each product.
b
Average variation coefficient among the analyzed samples. 8. FOSTER, L.H.; SUMAR, S. Hydride generation atomic absorption
c
Wet wheight spectrometric (HGAAS) determination of selenium in term and
d
Standard Deviation preterm infant formulae available in the United Kingdom. Food Chem.
55, 293-298, 1996.
It is important to take into consideration that Ferreira et al. [10] did
not report the origin of most of the foods examined, a fact that 9. FERREIRA, K. S. J.C.; GOMES, J. C.; BELLATO C.R.; JORDÃO
undermines the interpretation of the results of the study since Se C. P. Concentração de selênio em alimentos consumidos no Brasil. Rev.
concentrations are directly linked with the soil on which the crops are Panam. Salud. Públ. 11, 172-177, 2002.
cultivated. However, regardless of the origin of these foods, it is clear
that the Se concentration in rice and beans from Ceará is elevated in 10. HINTZE, K.J.; LARDY, G. P.; MARCHELLO, M.J.; FINLEY,
our study. Hintze et al. [11] suggest that the greatest source of variation J.W. Areas with High Concentrations of Selenium in the Soil and
in Se content of bovine skeletal muscle was the geographic region Forage Produce Beef with Enhanced Concentrations of Selenium. J.
from which the beef originated and not production or management Agric. Food Chem. 49, 1062-1067, 2001.
practices.
11. HINTZE, K J.; LARDY, G.P.; MARCHELLO, M.J.; FINLEY, J.W.
The soils derived from sedimentary rocks have a higher content of Areas with High Concentrations of Selenium in the Soil and Forage
selenium [12]. In the state of Ceará, the sedimentary plateaus present Produce Beef with Enhanced Concentrations of Selenium. J. Agric.
themselves as more representative units of the Ibiapaba mountains and Food Chem. 49,1062-1067, 2001.
the Apodi and Araripe plateaus [13]. An example of a sedimentary
rock rich in selenium is limestone [14] which is found in the 12.FAQUIN, V. Nutrição Mineral de Plantas. 2005. 186f. Trabalho de
sedimentary basin of Araripe, in the municipalities of Nova Olinda and conclusão de especialização (Especialização em Solos e Meio
Santana do Cariri in the state of Ceará [13]. Ambiente), Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2005.

13.VIDAL, F.W.H.; SALES, F.A.C.B.; ROBERTO, F.A.C.; SOUSA,


Soils rich in Se can be found in arid regions, where they accumulate
J.F.; MATTOS, I.C. Rochas e minerais industriais estado do Ceará.
or Seleniferous plants are found [15]. It is important to emphasize that
Fortaleza: Realce, 2005. 176p.
the state of Ceará, located in northeastern Brazil, is the state that is the
most vulnerable to the effects of droughts since the semi-arid region 14.SUBCOMMITTEE ON SELENIUM, COMMITTEE ON
occupies almost the entire territory [16]. ANIMAL NUTRITION, BOARD ON AGRICULTURE, NATIONAL
RESEARCH COUNCIL. Distribution. In: Subcommittee on Selenium
The average Se content in the soil of the littoral pampas in the south et al., (eds). Selenium in Nutrition. Washington: National Academy
of Brazil is one-sixth of the established selenium deficiency threshold Press; 1983. p.10-35.
and food products produced in the littoral pampas are characterised by
the extremely low Se concentrations [17]. 15.TERRY, N.; ZAYED, A.M.; SOUZA, M.P.; TARUN, A.S.
Selenium in Higher Plants. Annu. Rev. Plant. Physiol. Plant. Mol. Biol.
Food composition tables are limited in relation to the concentration of 51, 401-32, 2000.
Se, because this would require them to be regionalized. It is important
to know these values to avoid the occurrence of toxicity and deficiency 16. FOLHES, M.T.; DONALD, N. Previsões tradicionais de tempo e
in this mineral. clima no Ceará: O conhecimento popular à serviço da ciência. Soc.
Nat. 19, 19-31, 2007.
CONCLUSION
17.MIRLEAN, N.; SEUS-ARRACHE, E. R.; VLASOVA, O.
It may be concluded from this study that the food produced in the state Selenium deficiency in subtropical littoral pampas: environmental and
of Ceará has a higher concentration of Se which may contribute to the dietary aspects. Environ. Geochem. Health., 40, 1,543-556, 2017.

528
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Compilação sobre a composição Nutricional de Amêndoas de Sapucaia


(Lecythis pisonis Cambess)

Francisco das Chagas Alves do Nascimento1


1
Doutor. Universidade Federal do Pará. E-mail: fcanufpa@gmail.com
Palavras-chave: Composição química. Alimentos. Segurança alimentar.

INTRODUÇÃO amêndoa da sapucaia (Lecythis pisonis Cambess) e incentivar o


O bioma amazônico é um conglomerado que representa a consumo, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional da
principal reserva fitogenética onde são encontradas mais de 500 população. Tal amêndoa já vem sendo estudada por alguns
espécies frutíferas com potencial alimentício humano9. pesquisadores, no que concerne ao seu potencial tecnológico e sua
Caracteristicamente, a sapucaia é originária da Amazônia e composição nutricional para que possa ser efetivamente inserida no
pertencente à família Lecythydaceae e na região Nordeste Ocidental plano alimentar humano10,11,12,13.
do Brasil existe uma flora nativa ainda não muito conhecida da Portanto, faz-se necessário a compilação de dados de
população brasileira chamada sapucaia (Lecythis pisonis Cambess), alimentos, neste caso específico, o da sapucaia, pois os dados
onde suas amêndoas apresentam grande potencial tecnológico1. encontram-se dispersos, e a consolidação dos mesmos em uma
A sapucaia pode ser encontrada em uma larga faixa tabela, agrupa os dados desta oleaginosa e facilita o acesso a
territorial, perpassando pelo norte, nordeste e indo até ao sudeste do informação nutricional deste fruto regional.
Brasil (Rio de janeiro)20. É uma árvore de porte elevado, onde seus Este trabalho tem por objetivo fazer a compilação dados
frutos têm um formato arredondado, apresentando uma casca bastante da composição nutricional da sapucaia (Lecythis pisonis Cambess).
dura, bem como uma tampa, que quando, do fruto maduro, esta se
solta, expondo as amêndoas3. Essas apresentam como característica MATERIAL E MÉTODOS
uma coloração variando de marrom-clara a branca; podendo ser A compilação foi realizada seguindo as diretrizes da
consumidas de forma in natura, torradas ou até mesmo cozidas. INFOODS para que os dados obtidos fossem confiáveis e
Apresentando-se como um alimento nutritivo e saboroso21. As fidedignos. Portanto, a base de dados de composição nutricional dos
amêndoas são ricas em princípios nutritivos como lipídios, vitaminas frutos foi resultado do agrupamento dos dados compilados segundo
como tiamina, riboflavina e niacina, além das fibras alimentares, as normas e metodologia desta rede internacional.
cálcio, magnésio, ferro22 e selênio23. A pesquisa foi realizada de outubro a dezembro de 2019,
Tradicionalmente a fonte de informação sobre a sendo que o levantamento das informações foi realizado através de
composição dos alimentos tem sido as tabelas de composição de buscas em base de dados de universidades, institutos e órgãos de
alimentos impressas, que atualmente estão dando lugar as formas pesquisa. Fez-se, ainda, uma busca ativa em bibliotecas setoriais e
digitais. Os dados de composição de alimentos são utilizados central da Universidade Federal do Pará e da Empresa Brasileira de
amplamente na área da saúde, ciência dos alimentos, agricultura e no Pesquisa Agropecuária Amazônia Oriental. Os termos utilizados
comércio, em nível local, nacional e internacional na avaliação foram: “composição”, “química”, “nutriente” e “sapucaia”.
nutricional dos produtos alimentícios consumidos pelos indivíduos e Foram selecionados 10 trabalhos que abordavam a
pela população4. composição nutricional da sapucaia. Destes, 4 foram utilizados para
As primeiras tabelas de composição de alimentos se compilação na base de dados, pois estes apresentavam informações
baseavam nas análises feitas em laboratórios como Von Voit na completas em termos da metodologia utilizada internacionalmente.
Alemanha, Atwater nos Estados Unidos da América e no Reino O processo de compilação foi realizado com o suporte da
Unido. A INFOODS descreveu métodos e procedimentos de ferramenta em Excel chamada Compilation Tool, versão 1.2.12,
compilação de dados de composição de alimentos5. disponibilizada no site da INFOODS, na versão 1.2.1.
As bases de dados de composição de alimentos
disponíveis na atualidade contêm valores da composição com distintos RESULTADOS E DISCUSSÃO
graus de qualidade, isso em função dos diversos métodos de obtenção. Os resultados da compilação dos dados da composição
Os tipos e fontes de dados podem ser identificados nas bases de dados nutricional da sapucaia (Lecythis pisonis Cambess) nas várias
de alimentos mediante códigos5,6. As bases de dados de composição descrições consultadas estão na Tabela 1.
de alimentos são utilizadas como fonte bibliográfica para fins de
comparação com os valores obtidos em diversos lugares. Tabela 1: Composição nutricional da sapucaia (Lecythis pisonis
As tabelas de composição de alimentos nas suas diversas Cambess).
formas são utilizadas como ferramentas para avaliação de valor
nutritivo de alimentos e planos alimentares. A informações dos
princípios nutritivos presentes nos alimentos são caracterizados
utilizando métodos padronizados e reconhecidos pela comunidade Componentes Sapucaia
internacional pela sua acurácia. Conhecer a composição dos alimentos
expressos nas tabelas permite a avaliação do consumo alimentar I II III IV
individual ou populacional e também da adequação de planos Calorias (Kcal) 620,52 684,00 645,05 534,00
alimentares3,19. Umidade (g) 10,20 4,92 5,04 4,15
Os sistemas de dados de composição dos alimentos Proteínas (g) 26,82 19,86 20,47 15,80
informatizados estão substituindo as tabelas impressas. Esta Lipídeos (g) 54,80 63,03 60,61 47,90
substituição está ocorrendo devido à facilidade que as bases
AGS (g)* 15,19 17,70 18,64 18,80
informatizadas possuem para armazenamento de grandes volumes de
AGMI (g)** 51,71 33,30 34,22 34,20
dados, acesso e produção. Além do mais, bases de dados de diferentes
países que sejam compatíveis entre si podem conduzir estudos AGPI (g)*** 43,10 48,90 42,73 32,70
epidemiológicos em escala internacional, e este é o objetivo central da Carboidratos (g) 5,01 8,28 4,42 4,90
Rede Internacional de Sistemas de Dados de Alimentos – Fibras (g) - 3,80 5,67 16,50
INFOODS19. Cinzas (g) 3,17 3,91 - -
Atualmente, no Brasil, tem-se a castanha do Brasil Al (mg) 6,90 0,41 - 6,90
(Bertholletia excelsa Kunt) e a castanha de caju como as principais Ca (mg) 182,1 111 172,00 106,3
que são comercializadas9. Sendo que a flora brasileira apresenta uma Fe (mg) 7,00 1,42 326,50 7,00
grande variedade de castanhas ou amêndoas comestíveis e que são Mg (mg) 343,40 155 279,00 113,0
excelentes fontes de nutrientes, no entanto são pouco consumidas pelo P (mg) 941,7 - 875,00 -
homem. Faz-se, portanto, mister conhecer o valor nutritivo da K (mg) - 464 890,00 -

529
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Na (mg) - 49,8 0,53 5,34 Proceedings of the First International Food Data Base Conference, pp.
Zn (mg) 4,40 - 4,04 4,40 175–182. Arlington, VA, USA, AOAC International. 1995.
Cu (mg) 2,30 - 3,28 2,3
Se (mcg) - 0,03 - 34,8 9 CHAVES, M. H.; BARBOSA, A. S.; MOITA NETO, J. M.; AUED-
S (mg) - - - - PIMENTEL, S.; LAGO, J. H. G. Caracterizaçao química do óleo da
Mn (mg) 4,80 9,10 8,07 4,8 amêndoa de Sterculia striata St Hill et Nauda. Química Nova, São
Paulo, v. 27, n. 3, p. 404-408, 2004.
Ni (mcg) 0,5 - - -
Vitamina B1 (mg) - 0,31 - -
10 VALLILO, M. I.; TAVARES, M.; PIMENTEL, S. A.;
Vitamina B2 (mg) - 0,27 - - BADOLATO, E. S. G.; INOMATA, E. I. Caracterização química
Vitamina C (mg) - 17,10 - - parcial das sementes de Lecythis pisonis Camb. (SAPUCAIA). Acta
*AGS: ácidos graxos saturados; **AGM: ácidos graxos Amazônica, Manaus, v. 28, n. 2, p. 131-140, 1998.
monoinsaturados; ***AGP: ácidos graxos poli-insaturados.
- sem análise; amêndoa da sapucaia. I14.II15. III16. IV17. 11 VALLILO, M. I.; TAVARES, M.; PIMENTEL, S. A.; CAMPOS,
N. C.; MOITA NETO, J. M. Lecythis pisonis Camb. nuts: oil
O valor calórico médio das amêndoas de sapucaia foi de characterization, fatty acids and minerals. Food Chemstry, Barking, v.
620,89 kcal. Quanto às fibras apresentou média de 8,66 g (Tabela 66, p. 197-200, 1999.
1). Estes resultados mostram que a sapucaia é rica em fibras e
calorias conforma estabelece a legislação brasileira16, podendo ser 12 SOUZA, V. A. B.; CARVALHO, M. G.; SANTOS, K. S.;
utilizado para fins dietéticos específicos. FERREIRA, C. S. Características físicas de frutos e amêndoas e
A as amêndoas de sapucaia apresentaram as seguintes características químico-nutricionais de amêndoas de acessos de
umidade 12,2; 4,92; 5,04; e 4,15; I, II, III, e IV, respectivamente. sapucaia. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 30, n. 4, p.
Quanto aos carboidratos, estes apresentaram 5,01 g; 8,28 g; 4,42 g; 946-952, 2008.
4,90 g; I, II, III, e IV, respectivamente. Os valores de proteína foram
26,82 g; 19,86 g; 20,47 g; e 15,80g, I, II, III, e IV, respectivamente. 13 DENADAI, S. M. S.; HIANE, P.A.; MARANGONI, S.;
Quanto ao teor de lipídeos apresentou 54,80 g; 63,03 g; 60,61 g; e BALDASSO, P. A.; MIGUEL, A.M.R.O.; MACEDO, M.L.R. In vitro
47,90g; I, II, III, e IV, respectivamente, com média de 56,58 g. digestibility of globulins from sapucaia (Lecythis pisonis Camb.) nuts
Sendo consideradas com alto valor de proteínas e lipídeos18. Ainda by mammalian digestive proteinases. Ciência e Tecnologia de
são pouco os trabalhos que caracterizam a composição química da Alimentos, Campinas, v. 27, n. 3, p. 535-543, 2007.
amêndoa da sapucaia.
Quanto aos valores de cálcio e magnésio (Tabela 1), as 14 CARVALHO, I. M. M. et al. Caracterização química da castanha
amêndoas da sapucaia apresentaram elevados valores destes de sapucaia (lecythis pisonis cambess.) da região da zona da mata
nutrientes, sendo consideradas como alimento fonte18. mineira. Biosci. J., Uberlândia, v. 28, n. 6, p. 971-977, Nov./Dec.
2012.
CONCLUSÃO
Foi possível fazer a compilação e construir uma base de 15 VALLILO, M.I. TAVARES, M.; PIMENTEL, S.A.; BADOLATO,
dados da composição desta amêndoa. Com estas informações, E. S. G.; INOMATA, E.I. Caracterização química parcial das
consegue-se notar a potencialidade nutricional que da amêndoa da sementes de lecythis pisonis camb. (Sapucaia). Acta Amazônica,
sapucaia e fomentar o consumo dela, favorecendo a segurança 28(2): 131-140, 1998.
alimentar da população.
16 DENADAI, S.M.S.; HIANE, P.A.; MARANGONI, S.;
REFERÊNCIAS BALDASSO, P.A.; MIGUEL, A.M.R.O.; MACEDO, M.L.R. In vitro
digestibility of globulins from sapucaia (Lecythis pisonis Camb.) nuts
1 ARAÚJO, E. C. E. Chichá (Steculia striata St. Hil. et Naud.): uma by mammalian digestive proteinases. Ciênc. Tecnol. Aliment.,
nova opção para os mercados nacional e internacional de nozes. Campinas, 27(3): 535-543, jul.-set. 2007.
Informativo SBF, v. 16, n. 04, p. 13-14, 1997.
17 DEMOLINERA, F. et al. Sapucaia nut (Lecythis pisonis Cambess)
2 GREENFIELD, H.; SOUTHGATE, D. A. T. Food Composition and its by-products: A promising and underutilized source of bioactive
Data: production, management and use. 2ª ed. Roma: Food and compounds. Part I: Nutritional composition and lipid profileFood
Agriculture Organization of the United Nations (FAO); 2006. 288 p. Research International 108:) 27–34, 2018.
3 CAVALCANTE, P. B. Frutas comestíveis da Amazônia. 6. ed.
Belém: CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi, 1996. 18 BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA - RDC Nº
54. Dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre Informação
4 GRANDE, F. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos Nutricional Complementar. Diário Oficial da República Federativa do
(TBCA-USP): atualização e inclusão de dados de vitaminas Brasil, Brasília (DF), 12 de novembro de 2012.
[Mestrado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2013.
19 DONADIO, L.C. Frutíferas nativas da América Tropical. In:
5 RAND, W. M.; PENNINGTON, J. A. T.; MURPHY, S. P. Y; SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE
KLENSIN, J. C. 1991. Compiling data for food composition data FRUTEIRAS NATIVAS, 1993, Cruz das Almas-BA. Anais ... Cruz
bases. Tokyo, United Nations University Press. Disponível em: das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1993. p.9-12.
http://www.unu.edu/unupress/unupbooks/80772e/80772E00.htm.
Acesso em 01 Fev 2020. 20 CAVALCANTE, P.B. Frutas comestíveis da Amazônia. 6.ed.
Belém: CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi, 1996. 282p.
6 BURLINGAME, B. A. Development of food composition data base
management systems: the New Zealand experience. Food Chem., 21 TEIXEIRA, E. Frutas do Brasil: sapucaia. Disponível
57(1): 127–131. 1996. em:<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/
7 USDA. National nutrient database for standard reference. Release especiais/frutasnobrasil/sapucaia.htm>. Acesso em: 17 set. 2020.
16. Nutrient Data Laboratory. Servicio de Investigacion Agricola. 22 BENJAMIN, T.B. Nutrição humana. São Paulo, SP: McGraw-Hill
Departamento de Agricultura de los Estados Unidos. 2003.Disponível do Brasil, 1979. 200p.
em: http://www.nal.usda.gov/fnic/foodcomp/Data/SR16/sr16.html.
Acesso em 01 Fev 2020. 23 VALLILO, M.I.; TAVARES, M; AUED-PIMENTEL, S.;
CAMPOS, N.C.; MOITA NETO, J.M. Lecythis pisonis Camb. nuts:
8 BURLINGAME, B. A.; COOK, F. M.; DUXFIELD, G.M.; oil characterization, fatty acids and minerals. Food Chemistry,
MILLIGAN, G. C. Food data: numbers, words and images. In: H. Kidlington, v.66, n.2, p.197-200, 1998.
Greenfield, ed. Quality and accessibility of foodrelated data.

530
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Qualitativa do Cardápio dos Restaurantes Universitários da


Universidade Federal do Ceará
Natália Menezes¹, Háquila Silva², Conceição Carvalho³, Sansão Neto4, Natália Vasconcelos5
1
Mestra. Curso de Gastronomia, ICA - Universidade Federal do Ceará. nutrinatalia@ufc.br
² Doutoranda. Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará
3
Mestra. Coordenação do Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará 4
Mestrando. Coordenação do Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará 5
Mestra. Coordenação do Restaurante Universitário - Universidade Federal do Ceará

Palavras chave: Avaliação de Cardápio, Método AQPC, Restaurante Universitário.


Tabela 1. Análise dos cardápios do Restaurante Universitário de
INTRODUÇÃO
uma universidade federal do estado do Ceará, 2019.
O Decreto nº 7.234 de 19 de julho de 2010 estabeleceu o Plano
Nacional de Assistência Estudantil (PNAES),¹ que apoia a Refeição Almoço
permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de Nov Dez Nº Dias Total1
graduação presencial das instituições federais de ensino superior. Item
2019 2019 (n) n (%) Classif.
Entre as ações desse plano está a alimentação. Assim, a Universidade 7 Bom
Federal do Ceará, (UFC) no intuito de executar essa política, em seus Fritura 3 4 34
(20,6)
Restaurantes Universitários (RU) atende estudantes, servidores e
colaboradores, fornecendo almoço e jantar, além de café da manhã 8 Bom
Cores iguais 3 5 34
apenas para residentes. (23,5)
Com intuito de embasar melhorias nas refeições fornecidas, um Ricos em 21 Ruim
13 8 34
método que pode ser utilizado para auxiliar o nutricionista na enxofre (61,8)
atividade de planejamento de cardápios é a avaliação qualitativa das 20 Regular
preparações do cardápio (AQPC), o qual propõe a avaliação de cores, Folhosos 12 8 34
(58,8)
técnicas de preparo, repetições, combinações, oferta de folhosos e de
34 Ótimo
frutas e tipo de carnes, além do teor de enxofre dos alimentos². Este Frutas 20 14 34
método visa auxiliar o profissional na elaboração de cardápios mais (100)
adequados do ponto de vista nutricional e sensorial, dentro dos Conserva em 0 Ótimo
parâmetros de saúde cientificamente preconizados³. saladas 0 0 34 (0,0)
Pretendeu-se com o presente estudo avaliar qualitativamente as
preparações servidas para identificar falhas e propor soluções a serem Carne 21 Ruim
12 9 34
efetuadas na adequação do cardápio. gordurosa (61,8)
Doce na 34 Péssimo
MATERIAL E MÉTODOS sobremesa 20 14 34
(100)

Realizou-se um estudo documental, descritivo, qualitativo e 7 Bom


Doce+Fritura 3 4 34
transversal, cujo instrumento de pesquisa foram os cardápios dos (20,6)
meses de novembro e dezembro de 2019 oferecido nos Restaurantes Jantar
Universitários (RU) da Universidade Federal do Ceará, na cidade de 4 Bom
Fortaleza. No RU, a refeição padrão, almoço e jantar, é composta Fritura 4 0 34
(11,8)
por: salada crua ou cozida; duas opções proteicas de origem animal e
Cores iguais 0 0 34 0 (0,0) Ótimo
uma opção vegetariana; arroz branco e integral; feijão; guarnição;
sobremesa (fruta e doce) e suco de fruta. O usuário deverá optar por Ricos em 15 Regular
9 6 34
apenas uma das opções proteicas e uma das opções de sobremesa. enxofre (44,1)
A avaliação do cardápio foi realizada pelo método AQPC, segundo 28 Bom
Veiros e Proença (2003)². A avaliação consistiu, a partir da Folhosos 16 12 34
(82,4)
ocorrência diária, no almoço e no jantar, segundo os critérios
propostos no AQPC. A partir da frequência total de dias do cardápio 34 Ótimo
Frutas 20 14 34
que foram analisados, os itens foram classificados em categorias (100)
segundo a metodologia proposta por Prado et al. (2013), Conserva em 1 Ótimo
considerando como aspectos positivos a oferta de frutas e de 1 0 34
saladas (2,9)
folhosos e, como negativos, os demais. Os aspectos positivos foram
classificados como “ótimo” (≥ 90%), “bom” (de 75 a 89%), Carne 15 Regular
6 9 34
“regular” (de 50 a 74%), “ruim” gordurosa (44,1)
(de 25 a 49%) ou “péssimo” (< 25%). Os aspectos negativos Doce na 34 34 Péssimo
(presença de alimentos gordurosos e/ou muito açucarados, conservas 20 14
sobremesa (100)
em saladas, monotonia de cores, alimentos ricos em enxofre) foram
classificados como “ótimo” (≤ 10%), “bom” (de 11 a 25%), 34 4 Bom
Doce+Fritura 4 0
“regular” (de 26 a 50%), “ruim” (de 51 a 75%) ou “péssimo” (˃ (11,8)
75%). Utilizou-se técnicas de estatística descritiva, tais como 1 Total de ocorrências do item.
frequência absoluta e relativa.
Ressalta-se a baixa oferta de frituras no cardápio, resultado do uso de
RESULTADOS E DISCUSSÃO equipamentos que combinam calor seco com calor úmido, como o
forno combinado, que permite a cocção em grande volume.
Os resultados da aplicação do método AQPC nos cardápios dos RUs Quanto aos aspectos desfavoráveis do cardápio, foi possível observar
da universidade encontram-se na Tabela 1. inadequação nos quesitos alimentos ricos em enxofre (61,8%) e
Conforme verificado, destacou-se como um dos aspectos positivos presença de carne gordurosa no almoço (61,8%).
do cardápio a oferta de frutas, classificada como ótima (100%), no
almoço e no jantar. Isso acontece porque o cardápio inclui esse
grupo diariamente. Contudo, assim como o doce, as frutas são uma
opção de sobremesa, cabendo ao usuário a escolha de um dos dois.
Já a presença de folhosos foi considerada regular no almoço e boa,
no jantar, mostrando uma predominância da oferta de vegetais nesta
refeição.
531
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

CONCLUSÕES

A avaliação dos cardápios por AQPC demonstrou que a oferta de


alimentos feita nos RUs da UFC é sensorial e nutricionalmente
satisfatória; superando, tanto no almoço quanto no jantar, o percentual de
alimentos que devem ser controlados por seus aspectos desfavoráveis.
Sugere-se uma revisão sobre a frequência de aparecimento de
preparações ricas em enxofre e carnes gordurosas para assegurar a
oferta de preparações saudáveis. Além disso, recomenda-se trabalho
educativo para que se possa repensar a ofertar de doce nasobremesa.

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Educação. Decreto nº 7.234, de 19 de julho de


2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil -
PNAES. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20/07/2010, p. 5.
2. VEIROS, M. B.; PROENÇA, R. P. C. P. Avaliação qualitativa das
preparações do cardápio em uma unidade de alimentação e nutrição -
método AQPC. Nutr. Pauta, v. 11, p. 36-42, 2003.
3. VEIROS, M. B. et al. How to analyse and develop healthy menus in
foodservice. J. Foodserv., v. 17, p. 159-165, 2006.
4. BENVINDO, J. L. S.; PINTO, A. M. S.; BANDONI, D. H.
Qualidade nutricional de cardápios planejados para restaurantes
universitários de universidades federais do Brasil. Demetra:
alimentação, nutrição & saúde, n. 12, v. 2, p. 447-464, 2017.

532
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Diagnóstico Alimentar e Nutricional de Alunos de Uma Escola Pública de Tempo Integral


Adriana Siqueira1, Diana Carvalho1, Elizangela Oliveira 2, Gustavo Sirqueira2, Dayane Costa2, Dhébora Paiva2, Lucas
Vasconcelos2

¹Professora do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará. ²Estudante de Graduação do Curso de Bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará.
adriana.nutrii@gmail.com

Palavras-chave: hábitos alimentares, adolescentes, sobrepeso

INTRODUÇÃO cada visita. Estes tiveram o tempo necessário para realizar o


preenchimento dos dados e foram auxiliados pelos pesquisadores
As mudanças nos padrões alimentares e estilo de vida, quando necessário. Após a coleta, os dados foram tabulados e
caracterizado por um perfil dietético de alta densidade energética, analisados estatisticamente usando planilha Excel®, e
sendo os alimentos ricos em fibras e equilibrados em termos qualitativamente, utilizando-se como referência as recomendações
nutricionais, como frutas, verduras e cereais integrais, do Guia alimentar para população brasileira (9).
substituídos por produtos ricos em gorduras e açúcares, com alto
grau de processamento, concomitantemente, associado ao RESULTADOS E DISCUSSÃO
sedentarismo, têm levado a população brasileira a altas taxas de
sobrepeso e obesidade (1,2). O questionário foi aplicado em 67 adolescentes, com idades entre
A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura 15 e 17 anos, sendo 56,72% do sexo masculino e 43,27% do sexo
corporal, muitas vezes causada pelo consumo energético maior feminino.
que o necessário para realizar as atividades diárias e pode ter A Tabela 1 apresenta os resultados da classificação do estado
como consequência outras graves doenças associadas, como nutricional dos adolescentes estudados. Observou-se que a
hipertensão, diabetes, dislipidemias, cardiopatias, entre outras (3, maioria (69,6%) estava com peso adequado. Entretanto, 16,7%
4), causando prejuízos de saúde, sociais e econômicos à toda foram diagnosticados com sobrepeso e 7,6% obesos, ou seja,
sociedade. 24,3% dos adolescentes estudados estão com peso acima do
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), durante a normal, considerando os dados de IMC com ponto de corte
adolescência, que vai dos 10 aos 19 anos de idade (5), as recomendado pelo Ministério da Saúde e OMS (5,8).
necessidades nutricionais encontram-se aumentadas e a
exposição a diversas condições que influenciam o Tabela 1 – Estado nutricional de adolescentes de uma escola
comportamento e os hábitos de vida se intensifica, ocorrendo a pública de Fortaleza (n=67).
modificação de hábitos alimentares e de estilo de vida (5,6). Estado Nutricional n %
No Brasil, a alimentação dos adolescentes vem sendo
caracterizada pelo grande consumo de fast-foods e alimentos Baixo peso 04 6,1%
ultraprocessados (1, 4,7). Alimentos com elevado teor de açúcar, Eutrofia 47 69,6%
sódio, gordura e aditivos, como pizzas, sanduiches, salgados, Sobrepeso 11 16,7%
biscoitos e refrigerantes passaram a fazer parte da rotina
Obesidade 05 7,6%
alimentar dos adolescentes brasileiros. (1,4,7).
Assim, considerando as crescentes taxas de sobrepeso e Fonte: Da pesquisa
obesidade entre crianças e adolescentes brasileiros provenientes
de importantes mudanças na alimentação e no estilo de vida nas Na tabela 2 são apresentadas a frequência de consumo alimentar
últimas décadas, ressalta-se a necessidade de identificar tais dos produtos in natura e minimamente processados, processados
problemas e intervir, ainda nessa fase da vida, visando reduzir os e ultraprocessados mais citados pelos adolescentes da pesquisa.
impactos destes problemas na saúde da população (7).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi desenvolver um Tabela 2 –Frequência de consumo alimentar de produtos in
diagnóstico alimentar e nutricional de adolescentes, alunos de natura, minimamente processados, processados e
uma escola pública de tempo integral no município de Fortaleza, ultraprocessados mais citados pelos adolescentes de uma escola
Estado do Ceará, Brasil. pública de Fortaleza (n=67).
Produtos n %
MATERIAIS E MÉTODOS In natura e minimamente
processados
A pesquisa foi realizada na escola pública EEMTI SA, localizada laranja 52 77,6
no município de Fortaleza-CE, durante os meses de agosto a banana 49 73,1
dezembro de 2019. Foram selecionados 100 alunos do ensino maçã 41
médio, 1ª. a 3ª. série, que frequentavam a escola em tempo integral. 61,2
manga 37 55,2
Para a coleta de dados utilizou-se um questionário validado (7),
alface 44 65,7
com perguntas sobre frequência de consumo alimentar, prática de
cenoura 33 49,2
atividade física e hábitos alimentares, bem como, valores de peso e
beterraba 26 38,8
altura, para posterior cálculo do índice de massa corporal (IMC),
repolho/couve/acelga 25 37,3
permitindo o diagnóstico alimentar e nutricional dos adolescentes
(7, 8).
Processados e
Os dados antropométricos de peso e altura foram aferidos no local
da aplicação do questionário, ou seja, em sala de aula da escola, ultraprocessados
pizza 58 86,57
utilizando-se estadiômetro padrão e balança digital da marca 85,07
CAMRY® com capacidade para 150Kg. hambúrgueres 57
cachorro quente 54 80,60
Apenas 67 alunos concordaram em participar da pesquisa e 79,10
entregaram os termos de consentimentos assinados pelos seus linguiça 53
batata frita/chips/palha 52 77,60
responsáveis. Os dados foram coletados durante 3 visitas na escola,
onde aplicou-se o questionário para uma média de 22 alunos em Fonte: Da pesquisa

533
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Observa-se que o consumo de alimentos in natura e CONCLUSÃO


minimamente processados está bem abaixo do consumo de
alimentos processados e ultraprocessados. Entre os alimentos in Os resultados encontrados nos permitem concluir que os
natura ou minimamente processados, destacam-se as frutas, adolescentes estudados correm sérios ricos de saúde, decorrente
como tangerina/laranja; banana; maçã e manga, além de do excesso de consumo de alimentos processados e
hortaliças, como a alface. Entretanto, menos da metade dos ultraprocessados, bem como, das consideráveis taxas de
adolescentes pesquisados responderam consumir cenoura sobrepeso e obesidade apresentadas. Diante do exposto, fica
(49,2%); beterraba (38,8%) e repolho/couve/acelga (37,3%). evidente a necessidade de ações governamentais, por meio de
Entre os alimentos processados e ultraprocessados, os mais política públicas, e da sociedade, como a escola e a família, por
consumidos foram: a pizza, citada por 86,57% dos adolescentes meio de educação alimentar e nutricional, que possam gerar
pesquisados; seguida dos hambúrgueres; cachorro quente e mudanças consistentes nos hábitos alimentares e estilo de vida
linguiça. A batata frita/chips/palha, também apresentou altas dos adolescentes, visando a promoção da saúde e a prevenção de
taxas de consumo, citada por 77,6% do total dos indivíduos doenças crônicas como a obesidade. Recomenda-se ainda, que as
pesquisados. Vale salientar que a frequência de consumo e as escolas sigam e divulguem, o que determina o Guia alimentar
porções são variadas. Considerando o consumo de pelo menos para a população brasileira. Sugere-se também, que mais
uma vez por semana, a pizza foi citada por 44,8% dos pesquisas sobre o estado nutricional e hábitos alimentares de
adolescentes, sendo que 84,5% destes consomem 2 pedaços ou adolescentes brasileiros sejam desenvolvidas de forma a se
mais; para hambúrgueres 22,8% responderam que consomem promover uma maior conscientização da sociedade e do governo,
pelo menos uma vez por semana, sendo que 38,6% destes garantindo mais segurança alimenta e nutricional à esta
consomem 2 unidades ou mais; o cachorro quente também foi população.
citado por 27,8% dos participantes que declararam consumir pelo
menos uma vez por semana; com essa mesma frequência de REFERÊNCIAS
consumo, os embutidos, como a linguiça, foram citados por 1. COSTA, C.S.; FLORES, T.R.; WENDT, A.; NEVES, R.G.;
30,2%, sendo que 31,3% destes consomem mais de 3 pedaços
ASSUNÇÃO, M.C.F.; SANTOS, I.S. Comportamento
médios; para batata frita/chips/palha 32,7%, sendo que 23,5%
sedentário e consumo de alimentos ultraprocessados entre
destes consomem 3 pacotes de chips ou o equivalente a 3 ou mais
adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do
porções pequenas de batata.
Escolar (PeNSE), 2015. Cad. Saúde Pública, 2018; 34(3)
Os resultados obtidos por meio da análise dos questionários
aplicados evidenciam um detrimento entre o consumo de :e00021017.
alimentos in natura ou minimamente processados, com relação
ao alto consumo de alimentos processados e ultraprocessados. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
O Guia alimentar para população brasileira (9) orienta limitar o Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de
consumo de alimentos processados e evitar o consumo de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância
alimentos ultraprocessados, bem como, incentiva um maior de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
consumo de alimentos in natura e minimamente processados, que inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e
geralmente são alimentos menos calóricos, com menos adição de distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção
sódio, açúcares e conservantes, dando então, prioridade às frutas, para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros
verduras e cereais integrais, além de alimentos proteicos, como e no Distrito Federal, Brasília, 2019. 132p.
ovos, carnes, leites e derivados, com baixos teores de gordura (9).
Ao perguntar a opinião dos adolescentes quanto a qualidade de 3. ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade
sua alimentação, somente 32 dos 67 participantes consideraram e da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de
“Regular”, correspondendo a 47,76% do total; apenas 14 obesidade 2016 / ABESO. 4a edição. São Paulo, 2016.
consideraram como “Boa”, correspondendo a 20,9% das
respostas; e 10 consideraram como “Ruim”, correspondendo a 4. GUIMARÃES JUNIOR, M.S.; FRAGA, A.S.; ARAÚJO,
14,93% dos adolescentes. Apenas 5 adolescentes (7,45%) T.B.; TENÓRIO, M.C.C. Fator de risco cardiovascular: a
responderam que sua alimentação era “Péssima” e 4 obesidade entre crianças e adolescentes nas macrorregiões
consideraram como “Ótima”, correspondendo a 6,0% dos brasileiras. v. 12, n. 69 (2018).
adolescentes estudados. Vale salientar que 2 dos participantes
não responderam à pergunta, talvez por não saber avaliar sua 5. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Physical
própria alimentação. status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva;
Em relação a prática de esportes ou atividades físicas, 80,6% (Who Technical Report Series, 854), 1995.
responderam que haviam praticado atividade física nos últimos
90 dias e apenas 19,4% responderam que não.
6. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Nutrition in
O Guia (9) também recomenda outras mudanças no estilo de vida,
adolescence: issues and challenges for the health sector:
como por exemplo, o hábito de preparar e consumir refeições em
issues in adolescent health and development. Geneva; 2005.
família e entre amigos, e a prática de atividade física, visando o
combate ao sedentarismo e consequentemente prevenção das
patologias associadas a este (9). Segundo o Guia Alimentar para 7. RODRIGUES, P. R. M. Hábitos alimentares, estilo de vida e
a População Brasileira (9), os alimentos processados são estado nutricional de adolescentes: um estudo de base escolar
fabricados com a adição de sal, açúcar, óleo ou vinagre, por em Cuiabá – MT. 2013. 240 f. Tese (Doutorado) - Curso de
exemplo, e são considerados como modificações do alimento Nutrição, Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio
original, frequentemente, este processamento tem por objetivo de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em:
aumentar a duração dos alimentos e torná-los mais palatáveis, <http://pct.capes.gov.br/teses/2013/31001017084P7/TES.PD
tornando-os desequilibrados nutricionalmente devido a F>. Acesso em: 10 abr. 2019.
alterações na sua composição nutricional, por isso, o consumo
excessivo desse grupo de alimentos pode elevar o risco de 8. MINISTÉRIO DA SAÚDE. IMC em crianças e
doenças crônicas, como cardiopatias, obesidade, diabetes, adolescentes. 2017. Disponível em:
hipertensão, entre outras. Já os ultraprocessados são alimentos <https://www.saude.gov.br/artigos/804-imc/40510-imc-em-
que, em geral, são pobres nutricionalmente e ricos em calorias, criancas-e-adolescentes> Acesso em: 03 nov. 2019.
açúcar, gorduras, sal e aditivos químicos, com sabor realçado e
maior prazo de validade, assim como os processados, a ingestão 9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
periódica destes, aliado a outros fatores, podem levar a várias Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para
patologias (9). a população brasileira. 2. ed. Brasília, 2015. 156p.

534
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estado Nutricional e Hábito Alimentar de Adolescentes Estudantes da Rede Pública de


Fortaleza, Ceará
Daniel Lima1, Fernanda Souza1, Dayane Costa2, Paulo Machado3, Ana Mendes3
1
Graduando (a) em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
2
Graduando (a) em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Professor (a) Dr (a) do Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
Autor Correspondente: daniellima_19@hotmail.com

Palavras-Chave: Avaliação Antropométrica, IMC, Circunferência Abdominal, Consumo de Alimentos

INTRODUÇÃO corretamente; os que faziam uso de medicamentos controlados ou eram


portadores de necessidades especiais, uma vez que esses aspectos
A adolescência, segundo o Ministério da Saúde (MS), é poderiam interferir no estado nutricional e na mensuração dos dados
compreendida como o período entre os 10 a 19 anos e 11 meses de vida antropométricos.
de indivíduos de ambos os sexos, que é marcado pelo intenso
desenvolvimento biopsicossocial. Nesta faixa etária ocorre a Foram feitas as medições de estatura (estadiômetro WCS®)
puberdade, componente biológico da adolescência que envolve uma e peso (balança eletrônica Tanita UM-080®) utilizando técnicas
enormidade de transformações, dentre elas, o desenvolvimento das padronizadas. Após a realização da coleta de dados em relação ao peso
características sexuais secundárias e a alteração da composição e a altura, foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC).
corporal, em que meninas tendem a ganhar mais tecido adiposo e os Posteriormente o estado nutricional dos estudantes foi definido
meninos têm sua massa magra aumentada e, por consequência, sua conforme a classificação proposta pela OMS (6) para adolescentes,
força física (1). utilizando escore z do IMC/idade segundo gênero e idade. Foram
classificados como baixo IMC para idade adolescentes com escore-z <
Durante as três últimas décadas, o processo de globalização -2, eutrófico > escore-z -2 e < escore-z +1, sobrepeso > escore-z +1 e <
se intensificou e com ele surgiram novos anseios e necessidades, escore-z +2 e obeso escore-z > +2. Para investigação do risco de
sobretudo no que diz respeito aos hábitos alimentares. Este fato complicações metabólicas associadas à obesidade, foi utilizada a
associado ao aumento no uso de televisão, e mais ultimamente, medida da circunferência abdominal, colocando-se a fita métrica no
celulares e computadores, impacta diretamente no estilo de vida de ponto médio entre a extremidade da última vértebra da costela e a borda
crianças e adolescentes fazendo com que demandem menos tempo a superior da crista ilíaca, com o participante em posição ortostática. A
atividades que, outrora, rendiam um maior gasto de energia e lhes categorização do risco cardiovascular ficou assim determinada: sem
garantiam hábitos de vida mais saudáveis (2). A Academia Americana risco (circunferência abdominal < 90 cm para homens e < 80 cm para
de Pediatria preconiza que o tempo dispendido em frente à TV pelos mulheres), risco aumentado (≥ 90 a < 102 cm para homens e ≥ 80 a <
jovens não deva ultrapassar 1 a 2 horas por dia; porém, o que se observa 88 cm para mulheres) e risco substancialmente aumentado (≥ 102 cm
é um aumento crescente desta exposição em nível mundial (3). para homens e ≥ 88 cm para mulheres) (7,8).

O fenômeno da globalização também interferiu de maneira Na avaliação do consumo alimentar adotaram-se as


incisiva nos hábitos alimentares da população em geral, e no Brasil não Orientações para Avaliação de Marcadores de Consumo Alimentar na
foi diferente. Longas jornadas de trabalho associadas ao estilo de vida Atenção Básica e foi utilizado o formulário adaptado de marcadores de
em que tempo é dinheiro casam quase que perfeitamente com a consumo alimentar que permitiu classificá-los com base na alimentação
aquisição e consumo de alimentos de fácil e rápido preparo, já que na do dia anterior (9). Os alunos foram indagados a respeito do consumo
maior parte dos casos, cabe aos pais preparar as refeições. No entanto, ou não de alimentos predefinidos e que caracterizavam uma
estes alimentos carregam consigo uma grande densidade calórica e de alimentação saudável (marcadores de consumo alimentar positivo:
outros nutrientes que, quando consumidos em excesso, contribuem para frutas, verduras e feijão) ou não saudável (marcadores de consumo
o desequilíbrio da homeostase corporal e, a longo prazo, resultam no alimentar negativo: embutidos, biscoitos recheados, bebidas adoçadas,
aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (4). guloseimas, entre outros).

Com base nessas alterações comportamentais que vêm Os dados obtidos referentes ao consumo alimentar e
transcendendo os anos, a avaliação antropométrica de adolescentes e avaliação antropométrica foram tabulados utilizando o programa
adultos se torna uma técnica extremamente prática porque não é Microsoft Office Excel® e agrupados em subdivisões, sendo os
invasiva e não requer alterações cotidianas nos dias que antecedem o resultados expressos em porcentagens.
exame, o que a torna uma excelente alternativa para estudos a respeito
do estado nutricional de coletividades, sendo inclusive a principal RESULTADOS E DISCUSSÃO
ferramenta para detecção do risco de DCNTs pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) (5). A amostra foi constituída por 62 alunos com idade média de
16,3 anos, sendo 51,8% do sexo feminino, em que 82,3% dos alunos
Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o estado afirmaram realizar as refeições mexendo no celular ou em frente à TV
nutricional de estudantes do ensino médio da rede pública de Fortaleza ou computador.
– Ceará, e promover atividades de educação alimentar como ferramenta
para melhoria das escolhas alimentares deste grupo estudado. Se alimentar é um ato importante e que não deve ser feito de
qualquer maneira, exatamente como afirma o Guia Alimentar para a
MATERIAL E MÉTODOS População Brasileira (10) quando diz que a falta de atenção durante as
refeições favorece o consumo de alimentos ultraprocessados e prejudica
Trata-se de um estudo de campo em carácter transversal, o controle do quanto se come, uma vez que o hábito afeta negativamente
quantitativo e descritivo que foi realizado em três escolas estaduais de a capacidade do organismo perceber as calorias ingeridas. Em estudo
ensino médio em tempo integral (EEMTI), situadas na cidade de que avaliou a eficácia na promoção de hábitos alimentares saudáveis
Fortaleza – Ceará, durante o segundo semestre de 2019. A amostra foi entre escolares, Duarte e Moreira (11), constataram que 83% das
constituída por alunos regularmente matriculados na disciplina eletiva crianças realizavam suas refeições em frente à TV ou celular, fato que
“Segurança Alimentar e Nutricional” e que aceitaram participar do corrobora com os achados do presente estudo.
estudo mediante a assinatura do termo de consentimento. Foram
excluídos os alunos que faltaram ao dia de coleta de dados; os que não A adolescência se caracteriza por ser uma fase de contínuo
aceitaram participar do estudo; os que não informaram os dados crescimento e desenvolvimento de órgãos e sistemas, além do próprio

535
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

crescimento físico. Sendo assim, uma alimentação saudável contribui (7) LEAN, M.E.J; HAN, T.S.; MORRISON ,C. E. Waist circumference
para que esses processos ocorram de maneira ordenada e progressiva. as a measure for indicating need for weight management. BMJ. 1995;
Sigilião e colaboradores (2) em estudo que avaliou as atividades diárias, 311: 158-61
hábitos alimentares e perfil antropométrico de adolescentes de uma
escola pública mineira, verificaram que 15,8% dos alunos tinham (8) Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
excesso de peso, resultado semelhante ao encontrado neste estudo, já Metabólica . Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 . [ Internet
que segundo o índice IMC/idade, 20,9% dos alunos apresentam algum ]. 3ª ed. Itapevi : AC Farmacêutica ; 2009 . 85 p.
grau de sobrepeso, sendo que 4,84% dos mesmos estão obesos segundo
a classificação da OMS. Observou-se ainda que 14,5% da amostra (9) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
integrou a faixa da magreza, ou seja, um peso abaixo do ideal para a Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de
idade e altura. marcadores de consumo alimentar na atenção básica. Brasília, 2015.

Uma alimentação de baixa qualidade, em que combina-se (10) BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar Para a População
grande ingestão de alimentos nutricionalmente pobres e consumo Brasileira. Brasília, 2019. Disponível em:
escasso de alimentos de maior valor nutritivo, também pode ocasionar <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populaca
excesso de peso. Logo, adolescentes que se mantém acima do peso o_brasileira_2ed.pdf>
dificilmente conseguem reverter esse quadro na fase adulta, sendo então
mais predispostos a sofrerem com as DCNT. (11) DUARTE, L. Á.; MOREIRA, D. C. F.. Educação Alimentar
Nutricional como Promotora de Hábitos Alimentares Saudáveis Entre
Dentre os participantes, apenas 46 aceitaram realizar a Crianças de uma Escola de Três Pontas. 2018. Trabalho de Conclusão
medida da circunferência abdominal, sendo que 87% destes não de Curso Graduaçao em Nutrição - Centro Universitário do Sul de
apresentaram risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Minas, Varginha, 2018.
Quando comparados os sexos, a presença do risco foi maior entre as
meninas (14,8%) do que entre os meninos (10,5%). Estes resultados (12) FONTANA, P. V.; GIANNINI, D. T.. Associação de indicadores
estão em desacordo com os encontrados por Fontana e Giannini (12), antropométricos com fatores de risco cardiovascular em adolescentes
quando verificou-se que adolescentes do sexo masculino apresentavam com excesso de peso. Ver. Adolesc. Saude, v. 11, n. 4, p. 68-78, 2014.
maior risco cardiovascular com base nestas medidas. Oliveira e
(13) OLIVEIRA, R. P. et al. Índice de adiposidade visceral como
colaboradores (13) constataram em seu trabalho que a medida que a
preditor de risco cardiometabólico em crianças e adolescentes. Rev.
circunferência abdominal aumenta, independentemente do sexo,
iBras. Med. Esporte, v. 23, n. 3, p. 222-226, 2017.
também aumentam as chances do desenvolvimento de fatores de risco
cardiometabólicos. (14) PRIORE, S. E; SPERANDIO, N. Prevalência de insegurança
alimentar domiciliar e fatores associados em famílias com pré-
No presente estudo, em relação ao consumo alimentar,
escolares, beneciárias do Programa Bolsa Família em Viçosa, Minas
verificou-se que 61,3% dos participantes tinham o hábito de ingerirem,
Gerais, Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde. 2015; 24(4): 739-748
predominantemente, alimentos de baixo valor nutricional e densidade
calórica elevada e apenas 17,7% dos alunos tinham como base da
alimentação, ou ao menos consumiam com certa frequência, frutas e
verduras. Resultado semelhante foi encontrado em um estudo que
verificou a prevalência de insegurança alimentar e fatores associados
em famílias com escolares em que 72,8% das mesmas estavam sob
condições de insegurança alimentar (14).

CONCLUSÕES

A avaliação do estado nutricional dos alunos permitiu


verificar que uma parcela representativa não se encontra com o peso
adequado e que a maioria dos alunos tinham como base da alimentação
opções não saudáveis, fato que comprova a importância da inclusão de
disciplinas que abordam esses temas e, desta forma, resultam em
escolhas mais conscientes sobre aquilo que se come.

REFERÊNCIAS

(1) FREITAS, S. K. S.. Avaliação do estado nutricional e da


composição corporal de adolescentes escolares do município de
Lagarto/SE. 2017. 1 CD-ROM. Monografia (Graduação em Nutrição)
- Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, 2017.

(2) SIGILIÃO, T. V. et al. Avaliação das atividades diárias, hábitos


alimentares e perfil antropométrico em adolescentes de uma escola
pública de um município mineiro. Nutrição Brasil, v. 17, n. 1, p. 34-
41, 2018.

(3) OLIVEIRA, J. S. et al. ERICA: uso de telas e consumo de refeições


e petiscos por adolescentes brasileiros. Rev. Saúde Públ., v. 50, p. 7s-
7s, 2016.

(4)DOS SANTOS, M. S. L.; GOMES, J. S.; BIESEK, S.. Avaliação do


perfil antropométrico e consumo alimentar adolescentes jogadores de
futsal. RBNE-Rev. Bras. Nut. Esport. v. 9, n. 53, p. 463-470, 2016.

5. GOMES, F. S.; DOS ANJOS, L. A. ; VASCONCELLOS, M. T. L.


Antropometria como ferramenta de avaliação do estado nutricional
coletivo de adolescentes. Rev. Nutr. vol.23 no.4 Campinas July/Aug.
2010.

(6) HEALTH ORGANIZATION. WHO Child Growth Standards:


Length/height-for-age, weight-for-age, weight-forlength, weight-for-
height and body mass index-for-age. Methods and development. WHO
(nonserial publication). Geneva, Switzerland: WHO, 2006.

536
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da Rotulagem de Iogurtes Comercializados em Supermercados da Cidade De Codó-


MA

Andrena Gomes¹, Cláudia Monteiro², Eduardo Barros3, Karla Silva4, Lucas Pessoa5, Josyanne Neves6

1. Estudante do IFMA do curso Tecnologia em Alimentos


2. Estudante do IFMA do curso Tecnologia em Alimentos
3. Estudante do IFMA do curso Tecnologia em Alimentos
4. Estudante do IFMA do curso Tecnologia em Alimentos
5. Estudante do IFMA do curso Tecnologia em Alimentos
6. IFMA- Instituto Federal do Maranhão/Orientador
E-mail: andrenagomes25@gmail.com

Introdução
Do ponto de vista da defesa do consumidor, a rotulagem dos alimentos Informação Marca Marca Marca Marca
visa disponibilizar informações sobre o produto corretas, claras, Nutricionais A B C D
precisas, e ostensivas, escritas em língua portuguesa, apresentando Obrigatórias
suas características, quantidade, composição, garantia, prazos de Porção 100,0 g 90,0 g 130,0 g 90,0 g
validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
possam apresentar à saúde e segurança dos consumidores. (1)
Valor 138 kcal 84 kcal 137 kcal 84 kcal
Segundo a Instrução Normativa n° 22, do ministério da Agricultura,
energético
Pecuária e Abastecimento rotulagem é toda inscrição, legenda,
imagem ou toda matéria descritiva ou gráfica que seja escrita, Carboidratos 20,0 g 11,0 g 22 ,0g 13,0 g
impressa, estampa, gravada, gravada em relevo ou litografada, ou
colada sobre a embalagem. Esse regulamento técnico é aplicado a todo
Proteínas 4,7 g 3,0 g 4,5 g 2,5 g
produto de origem animal (POA) destinado ao comércio interestadual
e internacional, qualquer que seja sua origem, embalado na ausência
do cliente e pronto para oferta ao consumidor. (2) Gorduras totais 4,2 g 3,1 g 3,6 g 2,4 g
Os leites fermentados são definidos como produtos resultantes da
fermentação do leite pasteurizado ou esterilizados, por fermentos Gorduras 2,3 g 2,0 g 2,1 g 1,3 g
láticos próprios, de acordo com a Resolução 05/2000 do Ministério da saturadas
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (3). A mesma legislação
descreve como iogurte o produto incluído na definição de leites Gorduras trans 0,0 g - 0,0 g 0,0 g
fermentados cuja fermentação se realiza com cultivos
protosimbióticos de streptococcus salivarius ssp. Thermophilus e Fibra alimentar 0,0 g - 0,0 g 0,0 g
Lactobacillus delbrueckii spp. bulgaricus, aos quais podem-se
acompanhar, de forma complementar, outras bactérias ácido-lácticas
que por sua atividade contribuem para a determinação das Sódio 72,0 mg 48,0 mg 88,0 mg 42,0 mg
características do produto final. (4)
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a rotulagem de iogurtes de Cálcio 177,0 mg 103,0 199,0 mg 188,0
diferentes marcas comercializados em supermercados da cidade de mg mg
Codo-Ma.
Foi observado que todas as marcas continham as informações
Metodologia obrigatórias, exceto a marca B que não que não apresentava o valor
As amostras de iogurte foram adquiridas em quatro supermercados, nutricional de gorduras trans e fibra alimentar. Analisou-se que os
totalizando quatro amostras de marcas diferentes, coletadas dados presentes no rótulo estavam de acordo com a RDC 360.
aleatoriamente uma por cada supermercado da cidade Codó-Ma, no Ainda constavam -se outras informações não obrigatórias na marca A
mês de dezembro de 2019. e C apresentavam açúcares (17,0 g e 16,0 g), na marca D apresentava
Foram utilizadas tabelas para obtenção de dados referentes às RDC zinco (2,4 mg), vitamina A (113,0 μg) e vitamina D (0,94 μg).
n° 259 de 20 de setembro de 2002, RDC n°359 de 23 de dezembro de Segundo o estudo sobre Avaliação dos Rótulos de Diferentes Marcas
2003, RDC n°360 de 23 de dezembro de 2003 onde constam as de Iogurtes Comercializados na Cidade de Pau dos Ferros-RS (8)
normas e informações nutricionais que devem ser apresentadas nos obteve resultado similar na fibra alimentar e gordura trans da marca B
rótulos para alimentos e bebidas embalados. que os rótulos não constavam essas informações.

Resultados e discussão Tabela 2: Informações Obrigatórias sobre Denominação de Venda,


Lista de Ingredientes, Medida Caseira, Conteúdo Liquido,
Os resultados em relação as informações nutricionais obrigatórias de
Identificação de Origem, Identificação do Lote, Prazo de Validade,
diferentes marcas de iogurtes comercializadas na cidade de Codó-Ma
Data de Fabricação, Conservação do Produto, Ausência de Glúten e
estão apresentadas na tabela 1.
Nome do País de Origem acordo com as RDC n° 259 e 359.

Tabela 1: Informações Nutricionais Obrigatórias sobre Porção, Informações Marca Marca Marca Marca
Valor Energético, Carboidratos, Proteínas, Gorduras totais, Obrigatórias A B C D
Gorduras Saturadas, Gorduras Trans, Fibra Alimentar, Sódio e Denominação de CT CT CT CT
Cálcio de acordo com a RDC n°360. venda
Lista de CT CT CT CT
ingredientes
Medida caseira CT CT CT CT

Conteúdo liquido NCT NCT NCT NCT

537
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Identificação de NCT CT CT CT
origem (8) FEITOSA et al. Avaliação dos Rótulos de Diferentes
Identificação do CT CT CT CT Marcas de Iogurte Comercializados na Cidade de Pau
lote dos Ferros – RN.
Prazo de validade CT CT CT CT

Data de fabricação CT CT CT CT

Conservação do NCT NCT CT CT


produto
Ausência de glúten CT CT CT CT

Nome do país de NCT CT CT CT


origem

(1) CT= Consta; NCT= Não consta

Nenhuma das amostras apresentaram 100% das informações


obrigatórias: Denominação de Venda do Alimento, Lista de
Ingredientes, Identificação de Origem, Prazo de Validade, Data de
Fabricação, Conservação do produto e Nome do País de Origem.
Avaliou-se que todas as marcas apresentavam medida caseira; sobre a
Identificação de Origem e Nome do País de origem apenas a marca A
não apresentava esse requisito; foi observado com êxito que todas
apresentavam prazo de validade, data de fabricação e identificação do
lote; somente duas marcas ( C e D) apresentavam o item conservação
do produto, sobre o conteúdo líquido nenhuma das amostras constava
este item, contudo todas as marcas apresentavam a informação que
continha glúten, uma informação importante para prevenir o consumo
por pessoas celíacas.

Conclusão
A parti dos resultados obtidos, conclui-se que: todas as indústrias
produtoras das rotulagens dos iogurtes analisados neste trabalho
apresentam informações nutricionais com clareza e objetividade
proporcionando ao consumidor conhecimento necessário do produto.

Referências
(1) MACHADO.R.L.P. Manual de Rotulagem de Alimentos.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;
Embrapa Agroindústria de Alimentos; Ministério da
Agricultura, Pecuária de Alimentos. ISSN 1516-8242
maio, 2015.

(2) BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento. Instrução Normativa nº22. Diário Oficial
da União, de 25 de novembro de 2005.

(3) Brasil. Resolução n°05, de 13 de novembro de 2000 do


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Padrões de Identidade e Qualidade de Leites Fermentados.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF, 13 nov. 2000.

(4) GRANDI. A.2; ROSSI, Daise Aparecida- Avaliação dos


Itens Obrigatórios na Rotulagem Nutricional de
Produtos Lácteos Fermentados. Rev. Instituto Adolf
Lutz, 2010; 69 (1): 62-68.

(5) ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA


SANITÁRIA. Resolução de Diretoria Colegiada- RDC
n°259, de 20 de etembro de 2002. Disponível em:<
www.anvisa.gov.br/legis> Acessado 01 de aneiro de 2020.

(6) ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA


SANITÁRIA. Resolução de Diretoria Colegiada- RDC
n°359, de 23 de dezembro de 2003. Disponível em:<
www.anvisa.gov.br/legis> Acessado 01 de janeiro de 2020.

(7) ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA


SANITÁRIA. Resolução de Diretoria Colegiada- RDC
n°360, de 23 de dezembro de 2003. Disponível em:<
www.anvisa.gov.br/legis> Acessado 01 de janeiro de 2020.

538
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Fazendo política com o garfo: Politização do consumo alimentar em um espaço de gastronomia


e hospedagem no Rio de Janeiro
Paula Franca1, Nicolle Venturi2, Juliana de Lima3, Fabio de Araujo4, Anna Paola Pierucci5
Palavras-Chave: Politização da alimentação; Consumo consciente; Sustentabilidade; Agroecologia
1 Doutoranda em Ciências Nutricionais- INJC/UFRJ
2 Graduanda em Gastronomia- INJC/UFRJ
3 Mestre em Engenharia de Produção-INJC/UFRJ
4 Doutor em administração- INJC/UFRJ
5 Doutora em Ciências Nutricionais- INJC/UFRJ

Introdução próprio espaço e feiras agroecológicas em diversos pontos da cidade e


Os hábitos alimentares cotidianos são permeados por no espaço do Raízes aos sábados.
diversas questões além de “gostar ou não da comida servida” ou “ter Agroecologia como contraponto ao latifúndio
ou não comida no prato”. Às dimensões simbólicas, culturais e sociais O bem-estar e dignidade do produtor rural surge como um
tradicionalmente atribuídas a alimentação, pode-se adicionar os dos elementos centrais do discurso. O fortalecimento do pequeno
conceitos éticos e políticos que hoje permeiam as escolhas alimentares agricultor que já é proprietário de terra, mas é subjugado ao modelo
(1). do agronegócio e não consegue escoar sua produção revela-se um dos
objetivos principais do MPA. A agroecologia desponta como
Dentre os fatores que motivaram a transformação do ato de
contraponto ao latifúndio e monocultivo, mostrando que é possível ter
se alimentar em uma prática consciente e política, pode-se destacar a
produtividade, variedade, preservar o meio ambiente, ser produtor
crescente consciência acerca das implicações ambientais do padrão rural, manter vida em comunidade, dignidade e diversidade no campo,
dietético atual, a abordagem nutricional dos alimentos, os movimentos sem utilizar agrotóxico, empregando tecnologia e inovação para
sociais de defesa do modo de produzir tradicional, os movimentos em otimizar os resultados.
defesa dos animais, entre outros (2). Esses fenômenos podem ser Soberania alimentar
observados tanto na forma de produção e distribuição dos alimentos A Soberania Alimentar (SA) nasce em contraponto ao
quanto nos locais de comercialização e aquisição. Nesse contexto, conceito menos abrangente de segurança alimentar pelo qual se
emergem diferentes grupos que têm buscado unir suas pautas em torno considera somente a obtenção de alimento em quantidade suficiente
da construção de uma identidade alimentar que expresse suas crenças (6). O discurso sobre autonomia alimentar e a forma como os povos
políticas (3). foram perdendo sua identidade alimentar a partir do momento que
Com isso, vai-se delineando um novo papel para o perderam sua capacidade de produção diversificada, surge com
consumidor, o de consumidor consciente - que pauta suas compras em bastante veemência. O pequeno produtor que produz um único cultivo
é obrigado a comer aquilo que o sistema impõe, comprando seus
escolhas políticas e não somente em preferências sensoriais ou de
alimentos no mercado local, onde os produtos são ultrapocessados e
conveniência. Estes consumidores utilizam suas escolhas pessoais não tem relação com a sua cultura alimentar, ou seja, não há garantia
como solução para o enfrentamento de problemas sociais, ambientais de SA.
ou éticos (2), (3). Por outro lado, vêm ocorrendo o fortalecimento de O preço do agronegócio é barato porque está cheio de injustiça
movimentos sociais que procuram organizar a agricultura camponesa A relação do custo x benefício dos alimentos
em resistência ao agronegócio e permitir o escoamento da produção agroecológicos emerge como uma denúncia de que nos preços
desses produtores a partir da construção de alianças com consumidores praticados pelo agronegócio não estão embutidos os valores da
urbanos (4). exploração injusta da força de trabalho, degradação do meio ambiente
Apesar da importância dessa discussão no espaço e da produção intensificada. Concluem esse tópico realçando o fato de
acadêmico, ainda são poucas as investigações empíricas que tratam da que ao se comprar do agronegócio se financia esse modelo de
politização da alimentação no Brasil, o que contrasta com o aumento produção. Porém, quando o consumidor opta pelo produtor
desses movimentos no país (2), (4). Dessa forma, essa pesquisa agroecológico permite que o pequeno produtor se organize e obtenha
procurou identificar os fatores associados à implementação de um uma vida mais digna e com melhores condições de trabalho.
espaço que, além de comercializar alimentos e refeições, se propõem
a estabelecer uma relação entre o movimento social do campo e os Conclusões
consumidores urbanos, aproximando as esferas da produção e do O espaço Raízes do Brasil nasce com a proposta de ser um
consumo alimentar na cidade do Rio de Janeiro. entreposto de distribuição dos alimentos e produtos do MPA na cidade
do Rio de Janeiro. Quando o consumidor opta por produtos de locais
Material e Métodos como o relatado não está somente escolhendo uma refeição, mas está
Essa pesquisa adotou uma abordagem qualitativa para se posicionando politicamente em relação aos modos de produção e
coleta e análise de dados, utilizando o método de estudo de caso (5). políticas relacionadas a alimentação.
Os dados para esse estudo foram obtidos a partir de uma entrevista
semiestruturada com os gestores do espaço Raízes do Brasil- Referências:
|Alimentação saudável, Cultura e Hospedagem e visita ao referido (1) BARBOSA, L. Feijão com arroz e arroz com feijão: o Brasil no
local, que ocorreram em dezembro de 2019. A entrevista foi gravada prato dos brasileiros. Horizontes Antropológicos, v, n. 28, p. 87-116,
e teve duração de 210 minutos, tendo seu conteúdo integralmente 2007.
transcrito para análise. (2) PORTILHO et al. A alimentação no contexto contemporâneo:
consumo, ação política e sustentabilidade. Ciência & Saúde Coletiva,
Resultados e Discussões v. 16, n. 1, p. 99-106, 2011.
O espaço Raízes do Brasil é considerado como uma (3) CHUCK, C. et al. Awakening to the politics of food: Politicized
conquista para o movimento dos pequenos agricultores (MPA). Esse diet as social identity. Appetite.2016.
movimento social iniciou sua atuação no Rio de Janeiro com as cestas (4) TANAKA, J. H.; PORTILHO, F. Ambiguidades da politização do
camponesas na Baixada Fluminense, posteriormente foram criados consumo: Ações do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) na
núcleos na cidade para entrega das cestas agroecológicas. A cidade do Rio de Janeiro, anais: IX Encontro Nacional da ANPPAS,
inquietação do grupo em relação a estar mais próximo da cidade e Brasília-DF, p1433-1452, 2019.
realizar um trabalho para além da distribuição da produção, culminou (5) YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método. 4ª Ed. Porto
com a organização do espaço Raízes do Brasil. A proposta do Raízes Alegre: Brookman, 2010. 248p.
é ser um espaço de discussão e resistência, além de promover a (6) MARQUES, P. E. Embates em torno da segurança e soberania
alimentação saudável. A obtenção do espaço permitiu ao grupo alimentar: estudo de perspectivas concorrentes. Segurança alimentar e
dialogar de outras formas, hoje contam com hospedagem, loja de nutricional, v. 17, n. 2, p. 78-87, 2010.
processados, café da manhã camponês, almoço e tarde de petiscos no
franca_paula@yahoo.com.br

539
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Agricultura Familiar na Alimentação Escolar

Claudiana Galdino1, Valdirene Santos2, Gerlane Silva3


1
Discente do curso de Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal do Piauí (IFPI). E-mail:
claudianaferreiragaldino@gmail.com.
2
Discente do curso de Tecnologia em Gastronomia do IFPI.
3
Mestre e docente do IFPI.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura alimentar. Educação. Alimento de base ecológica

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

Quando se fala em alimentação aponta inicialmente nas Foi realizado um levantamento bibliográfico para maior
pessoas a termos como nutrientes, saciar a fome, trazer energia ao compreensão e diálogo com o tema proposto. Logo o acervo
corpo, ou seja, em sua maioria remete a termos orgânicos que teórico teve como base referências que tratam de temas como
tratam da regulação do nosso organismo, consequentemente do alimentação escolar, políticas públicas de alimentação escolar,
nosso corpo. Todavia, a ingestão de alimentos vai além das agricultura familiar e agroecológica, segurança alimentar e outros
questões de manutenção do corpo, pois diz muito das pessoas que temas correlatos que surgiram no decorrer do trabalho.
circundam esses alimentos uma vez que questões culturais, sociais,
políticas e econômicas estão diretamente ligadas à alimentação. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentro desse quadro, a agricultura familiar ganha maior espaço por
valorizar as práticas e os sujeitos do campo. A agricultura familiar no Brasil vem destacando os
Contudo na literatura considera-se que a agricultura atores sociais do meio rural, mulheres e homens, que são
familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do responsáveis pelo trabalho no campo e pela produção da maior
trabalho, vem de indivíduos que mantém entre si laços de sangue parte dos alimentos que chega a mesa do brasileiro. Ela valoriza o
ou de casamento (1). Também é definida como uma unidade meio rural, além de demostrar “a possibilidade de unir o
familiar, pois é autossuficiente, depende da terra para viver, porém rendimento econômico e social colaborando para uma melhoria nas
nem sempre a possui. Assim, essa denominação refere-se aos que condições de vida tanto dos agricultores familiares, quanto das
vivem no campo trabalhando com a família em pequenos espaços populações urbanas” (5). Desta forma a agricultura familiar se faz
de terra ou não e devem produzir, sobretudo para a reprodução da de grande importância para a geração de renda de uma ampla parte
força de trabalho familiar (2). da população.
Entretanto na agricultura familiar há várias formas de A Constituição de 1988 garanti a alimentação como um
trabalho no campo, a partir de uma perspectiva convencional, com direito social para toda população brasileira. Dessa forma, baseada
o uso de agroquímicos, ou com princípios de base ecológica. na constituição, a Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006,
Todavia, esse trabalho busca uma valorização da agricultura determina que a alimentação adequada de qualidade é um direito
familiar com diretrizes sustentáveis como o de produtos orgânicos de todo ser humano (6).
e agroecológicos. Logo, “a vivência dessas práticas orienta para Contudo uma alimentação saudável deve ser baseada em
uma lógica do desenvolvimento rural, considerando o equilíbrio práticas alimentares assumindo a significação social e cultural dos
dos agroecossistemas e a permanência das famílias no campo, alimentos como fundamental básico conceitual. A alimentação se
valorizando seus saberes, de modo que os indivíduos envolvidos dá em função do consumo de alimentos (e não de nutrientes). Os
sejam livres para produzirem seus produtos e obterem retorno alimentos têm gosto, cor, forma, aroma e textura e todos estes
econômico, possibilitando assim o sustento de suas famílias” (3). componentes precisam ser considerados na abordagem nutricional.
Diante disso o Guia alimentar para a População Brasileira, Os nutrientes são importantes todavia, os alimentos não podem ser
em sua edição de 2014, afirma que “alimentos de origem vegetal resumidos a veículos destes. Os alimentos trazem significações
ou animal oriundos de sistemas que promovem o uso sustentável culturais, comportamentais e afetivas singulares que jamais podem
dos recursos naturais, que produzem alimentos livres de ser desprezadas. O alimento como fonte de prazer também é uma
contaminantes, que protegem a biodiversidade, que contribuem abordagem necessária para promoção da saúde (7).
para a desconcentração das terras produtivas e para a criação de Com isso o Guia Alimentar para a População Brasileira
trabalho e que, ao mesmo tempo, respeitam e aperfeiçoam saberes afirma ainda que, “(...) alimentos específicos, preparações
e formas de produção tradicionais são chamados de alimentos culinárias que resultam da combinação e preparo desses alimentos
orgânicos e de base agroecológica (4). e modos de comer particulares constituem parte importante da
O Guia Alimentar ainda aponta que “quanto mais cultura de uma sociedade e, como tal, estão fortemente
pessoas buscarem por alimentos orgânicos e de base agroecológica, relacionados com a identidade e o sentimento de pertencimento
maior será o apoio que os produtores da agroecologia familiar social das pessoas, com a sensação de autonomia, com o prazer
receberão e mais próximos estaremos de um sistema alimentar propiciado pela alimentação” (4).
socialmente e ambientalmente sustentável” (4). Logo, a agricultura familiar está inserida na alimentação
A educação está inserida nesse diálogo, onde os espaços escolar através de políticas públicas como o PNAE objetivando a
de ensino desenvolvem estratégias de educação alimentar com base melhoria no rendimento escolar através da alimentação. Assim, a
nas indicações do atual Guia Alimentar para População Brasileira. agricultura familiar tem se constituído em uma proposta de grande
À vista disso, pode-se pensar a alimentação escolar e como as relevância para a economia bem como no estímulo à produção de
instituições de ensino veem introduzindo discussões e ao alimentos seguros. Com o novo espaço que se abre no mercado de
proporcionar uma alimentação saudável, adequada e sustentável produtos para a alimentação escolar, ela tem mais uma
para seu alunado. Políticas públicas, como a Política Nacional de oportunidade importante de comercialização de forma segura e
Alimentação Escolar (PNAE), reavivam esse discurso e inseri mais rentável. Para promover conexão entre agricultura familiar e
fortemente o alimento do campo produzidos por agricultores alimentação escolar (...) (8).
familiares dentro do ambiente escolar. Dessa forma, esse trabalho “Adquirir gêneros alimentícios para programas como
visa à alimentação escolar, logo se propõe a entender como a alimentação escolar de agricultores familiares viabilizaria novas
agricultura familiar é inserida no ambiente de ensino. relações de mercado e uma maior equidade no meio rural.
Paralelamente, este acesso ao mercado institucional, geraria renda
para o agricultor garantir a sua própria segurança alimentar. Em

540
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

relação ao consumo, a aquisição de alimentos mais naturais, da alimentação. Com isso a inserção da agricultura familiar nesse
sazonais, tradicionais e ecológicos promoveria qualidade alimentar programa faz com que se cumpra o direito a uma alimentação de
e saúde pública, garantindo o direito ao ato pedagógico. qualidade.
Institucionalizando o processo, o Estado ainda teria a oportunidade Logo, a agricultura familiar tem cumprido o papel de
por meio da alimentação escolar de educar gostos para alimentos produzir alimentos ao promover o uso de práticas sustentáveis sem
locais, contrapondo-se ao marketing e a cultura do consumo agredir o meio ambiente e sem uso de qualquer produto químico.
massificado de produtos industrializados” (9).
Então, a Lei n. 11 947 que dispõe sobre o atendimento da REFERÊNCIAS
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos
alunos da educação básica, à vista disso, determina que os 1. ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo
alimentos oriundos da agricultura familiar estejam inseridos na Agrário em questão. São Paulo. Anpocs, Unicamp,
alimentação escolar, com isso assegura que no mínimo 30% dos Hucitec, 1992. “Uma nova extensão para a agricultura
recursos destinados para alimentação escolar venha da compra de
familiar”. In: Seminário Nacional de Assistência Técnica
produtos provenientes desse setor através do PNAE (10).
O PNAE, por sua vez, “tem por objetivo contribuir para o e Extensão Rural. Brasília, DF, Anais, 1997.
crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, 2. LIMA, J. R. T.; FIGUEIREDO, M. A.B. Agricultura
o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares familiar e desenvolvimento sustentável. In: LIMA, J. R.
saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e T.; FIGUEIREDO, M. A.B. (org.). Extensão rural,
nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas desafios de novos tempos: agroecologia e
necessidades nutricionais durante o período letivo” (10). sustentabilidade. Recife: Bagaço, 2006.
Dessa forma, o Programa foi criado com o objetivo de
3. SANTOS, C. F; SIQUEIRA, E. S.; ARAÚJO, I. T;
promover o desenvolvimento e melhoramento no rendimento
escolar dos alunos da rede pública, também com a finalidade de se MAIA, Z. M. G. A agroecologia como perspectiva de
criar hábitos alimentares saudáveis. Sendo assim, a inserção de sustentabilidade na Agricultura Familiar. Revista Nepan,
produtos sem uso de agroquímicos, oriundos da agricultura São Paulo, vol. XVII, n. 2, p. 33-52, abr-jun, 2014.
familiar, na alimentação escolar pelo PNAE, atesta em um dos seus 4. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
objetivos a promoção e a melhoria das condições nutricionais, para Saúde Departamento de Atenção Básica. Guia
a melhoria da aprendizagem dos estudantes (11). Por consequência alimentar para a população Brasileira. 2° ed.
visa estabelecer um elo de conhecimento e incentivo a valorização Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
dos alimentos resultantes da agricultura familiar, de maneira a 5. SILVA, C. H. Produtos da agricultura familiar na
aproximar estudantes e agricultores (10). alimentação escolar do município de Arroio dos
Portanto verifica-se que a estruturação desse programa Ratos –RS. Monografia, Graduação em Tecnologia em
implicou na reorganização de práticas sociais, dentro das unidades Desenvolvimento Rural. Faculdade de Ciências
escolares tiveram mudanças na forma do preparo dos alimentos. Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do
Com a redução (ou extinção) dos produtos industrializados, pré- Sul, 2013.
prontos ou instantâneos, a entrada de alimentos da agricultura 6. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006.
familiar no preparo da comida dos alunos demandou um diálogo Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
maior e mais próximo entre o conhecimento técnicos das Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito
nutricionistas e os saberes das cozinheiras. A elaboração de humano à alimentação adequada e dá outras
cardápio mais diversificado e que valorize os alimentos regionais providências. Diário Oficial [da] República
são novas demandas que surgiram para as instituições de ensino Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 set. 2006.
(12). 7. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde.
“No que tange especificamente à saudabilidade, uma Departamento de Atenção Básica. O que é uma
das discussões atuais mais relevantes com relação ao arranjo alimentação saudável?: considerações sobre o
regulatório das compras públicas é a possibilidade de exclusão dos
conceito, princípios, características: uma abordagem
cardápios daqueles alimentos que o Gui Alimentar Brasileiro,
publicado pelo Ministério da Saúde, define como ampliada. Brasília, DF, 2005. Disponível em:
“ultraprocessados”” (12). http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/oQueEAlime
Portanto, o Programa Nacional de Alimentação Escolar ntacaoSaudavel.pdf. Acesso em 27/06/2019.
se torna um ponto chave para fundamentar a agricultura familiar 8. COSTA, C, N. Alimentação Escolar e a inserção da
dentro da escola, com isso profissionais da área podem fortalecer o agricultura Familiar no âmbito do Programa
diálogo da alimentação saudável, adequada e sustentável na Nacional de Alimentação Escolar de Codó -MA.
perspectiva do Guia Alimentar de 2014. Em visto disso, “o PNAE, Dissertação, Mestrado em saúde pública e Meio
com as novas diretrizes, tornou-se um relevante segmento ambiente, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
institucional para a compra de alimentos da agricultura familiar. Auroca, Rio de janeiro, 2016.
Essa tarefa exige articulação entre quem compra e quem vende 9. TRICHES, R. M. Repensando o mercado da
(...)” (8). Dessa forma o papel das políticas públicas, como o alimentação escolar: novas institucionalidades para
PNAE, são mecanismos importantes para o fortalecimento da
o desenvolvimento rural. In. GRISA, C.;
agricultura familiar nos ambientes pedagógicos.
SCHNEIDER, S. (org.). Políticas públicas de
CONCLUSÃO desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2015.
. Em virtude do tema abordado verifica-se a importância 10. BRASIL. Lei Nº 11.947, de 16 de junho de 2009.
que a agricultura familiar exerce nos ambientes institucionais Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do
colaborando assim com o fortalecimento de sistemas alimentares programa Dinheiro Direto na escola. Dário Oficial [da]
sustentáveis, dessa forma contribuindo com a segurança alimentar
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de
e nutricional do corpo discente que frequentam os refeitórios das
escolas. junho de 2009.
Com isso cabe ressaltar a importância das políticas 11. BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional
públicas envolvidas no contexto da alimentação escolar, pois se da Alimentação Escolar (PNAE). Disponível em:
tornaram instrumentos de extrema relevância para que as <https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/pnae/p
instituições possam trabalhar com esse segmento uma vez que nae-sobre-o programa/pnae-histor>ico. Acesso em
facilita o acesso a compra de produtos da agricultura familiar. 19/12/2019.
Destaca-se, assim, o Programa de Alimentação Escolar (PNAE) 12. NIEDERLE, Paulo André; WESZ JUNIOR, Valdemar
que está dentro da Política Nacional de Assistência Estudantil. João. As novas ordens alimentares. Porto Alegre:
Essa política possibilita a garantia do direito presente na Editora da UFRGS, 2018.
constituição, cujo seu objetivo é o desenvolvimento escolar através

541
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Agroflorestas, Sustentabilidade e Segurança Alimentar no Município de Eusébio-CE


Hermano Campos Filho1, Danilo Gaspar2, Pablo Pessoa3, Luiza Manoela da Silva4, Fábio Matos5, Leandro Xavier6
1
Docente do Curso de bacharelado em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
2
Bacharel em Gastronomia, Universidade Federal do Ceará
3
Doutor em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília
4
Especialista em Gestão Sustentável e Bacharel em Ciências Sociais, Universidade Federal do Ceará
5
Doutor em Geografia, Universidade de Federal do Ceará
6
Mestre em Antropologia, Universidade Federal do Pará

Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais. Permacultura. Autonomia. Soberania Alimentar. Gastronomia.


1. INTRODUÇÃO olhar integrativo sobre a produção de comida (plantio, colheita,
A sustentabilidade é um dos assuntos mais urgentes da atualidade, transporte, beneficiamentos e reciclagens) é a melhor forma de
chamando atenção devido aos vários alertas da comunidade científica mostrar as relações sociais, políticas, econômicas e ambientais em
para uma necessidade de mudança no percurso atual, respeitando o direção a um equilíbrio sistêmico.
ritmo natural de reposição de recursos, utilizando energias
renováveis e diminuindo a quantidade de poluição que lançamos nos As agroflorestas ou sistemas agroflorestais (SAFs) se encaixam bem
ecossistemas naturais (1, 2, 3). Mesmo alertados acerca dos riscos neste contexto, como uma importante ferramenta para garantir a
iminentes que enfrentamos como espécie devido às mudanças soberania e a segurança alimentar e nutricional, oferecendo alimentos
climáticas, estamos destruindo o meio ambiente em busca de lucros variados e com alto valor nutritivo, além de possibilitarem a criação
crescentes, em um ciclo sem fim que demanda cada vez mais de lógicas diferentes de mercado, fugindo dos produtos da prateleira
recursos naturais e consumo desnecessário, a fim de sustentar uma do supermercado para formar economias locais diretas entre
lógica de consumo que tem agravado os abismos sociais e agricultores e consumidores (9). Para Young (10), agrofloresta é um
concentrado a maior parte da riqueza do planeta nas mãos de sistema de uso de terras em que árvores e arbustos são cultivados em
pouquíssimos indivíduos (4). O que não nos damos conta, é que associação com colheitas agrícolas, pastos ou criação de animais, em
nossa espécie está inserida neste grande ecossistema global e toda a que existem interações tanto ecológicas quanto econômicas entre as
nossa subsistência: comida, água, energias naturais, tudo está árvores e os outros componentes. Outros autores e estudos ressaltam
inserido em um contexto maior, interligado e dependente do a viabilidade (11) e a importância das agroflorestas na restauração e
funcionamento integrado dos mais diversos ecossistemas globais. manutenção da saúde do solo (5, 12) não só apresentando vantagens
em relação a sistemas monoculturais como também quando
Neste contexto, os sistemas produtivos baseados em agroflorestas comparadas a florestas nativas, apresentando valores de nutrientes
têm sido relatados como uma possibilidade animadora para a acima ou iguais, após cinco anos de cultivo no local (13).
produção de alimentos, pois permitem que se plante gêneros
alimentícios em meio a espécies nativas, sem destruir as relações já 3. METODOLOGIA
existentes no sistema e respeitando o funcionamento da natureza. Este estudo é parte de um esforço de pesquisa mais amplo acerca das
Esta alternativa tem sido investigada em sua capacidade de dar conta contribuições à sustentabilidade de SAFs praticados em territórios
da demanda de alimentos da população ao passo em que recupera cearenses. A população escolhida para o presente trabalho abrange
ecossistemas degradados e provê retorno econômico a seus moradores de uma comunidade no município de Eusébio-CE que
praticantes (5, 6). utilizam as práticas da Permacultura, dentre elas, a agrofloresta.
Deste recorte, foi entrevistado um dos participantes do IPC, residente
Desta forma, o presente relato de pesquisa procura apresentar do Sítio da Janaguba.
resultados da investigação sobre a prática de agroflorestas em
pequena escala no município de Eusébio-CE e suas contribuições A pesquisa foi feita por meio de entrevista presencial com um dos
para a diminuição do uso de recursos externos e na redução de lixo integrantes do IPC que reside no município de Eusébio-CE e que
gerado, garantindo a segurança alimentar de seus praticantes. A possui práticas de agrofloresta em seu sítio. Primeiro, foi feito um
mensuração das capacidades desses sistemas para aumentar a levantamento de dados sobre as condições do local. Em seguida,
sustentabilidade de seus praticantes foi feita mediante entrevista com foram feitos questionamentos específicos a fim de abordar a
Mário Fraga, presidente do Instituto de Permacultura do Ceará (IPC) dependência de recursos externos; a produção de lixo; e a capacidade
e morador do Sítio da Janaguba, pertencente à comunidade ecológica das agroflorestas garantirem a Segurança Alimentar.
colaborativa junto a outros sítios integrantes. Trata-se de uma
comunidade baseada na Permacultura e que busca promover
atividades educacionais, pesquisa e projetos socioambientais, além 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de oficinas e cursos como o de Design em Permacultura (PDC), de Dependência de recursos externos O Sítio da Janaguba, uma das
reaproveitamento de recursos (reciclagem e compostagem), Unidades Demonstrativas do IPC, foi comprado em 2010. Após a
construções ecológicas, armazenamento e uso eficiente da água, construção da casa, em 2011, e a mudança para o sítio, veio o outro
saneamento ecológico, jardins produtivos e agrofloresta (7). desafio: o terreno. O solo extremamente pobre de nutrientes, arenoso
e com um lençol freático bem profundo. Na análise inicial do solo, a
2. SEGURANÇA ALIMENTAR, SUSTENTABILIDADE E camada superficial, de 0 a 5 cm apresentava apenas 0,5% de matéria
AGROFLORESTAS orgânica, um estado crítico. Mário explica que em um solo fértil, o
percentual esperado é entre 2 a 5% de matéria orgânica (14). Esta foi
A alimentação é a mais básica das necessidades dos seres humanos. a condição encontrada no sítio, um solo extremamente pobre devido
Infelizmente, grande parte da população mundial ainda o faz de às queimadas do dono anterior. A fertilidade que existe no sítio
forma precária, por falta qualidade e/ou quantidade de alimentos, o atualmente foi trazida por eles, através de intervenções sistemáticas,
que acarreta a chamada fome oculta. É comum vermos preocupações plantando e trazendo matéria orgânica de fora, com adubações
apenas sobre as calorias necessárias para manter o corpo, o que, localizadas e utilizando um pouco de calcário ou pó de rocha. Hoje
isoladamente, não garante a nutrição do indivíduo (8). Para isso é em dia, todo o solo já está coberto, com muita matéria orgânica e a
necessário o acesso a diversidade de alimentos sãos e cheios de área de Agrofloresta atualmente ocupa 20% do terreno, com 700 m 2.
vitalidade, que lhe possam fornecer os elementos necessários.
Para o início da agrofloresta, houve um aporte de matéria orgânica
Problemas como a má distribuição e desperdício de comida para a externa, utilizando-se das podas gratuitas da COELCE – Companhia
população, o crescimento contínuo de doenças crônicas (diabetes, Energética do Ceará, sendo este o único recurso externo utilizado. Os
hipertensão, obesidade e problemas cardíacos) estão relacionados moradores pegaram mais de cinco carradas deste material, para
com os modos de vida, especialmente à cultura alimentar. Então, é fornecer matéria orgânica para o solo, criando uma camada que
necessário que todo o ciclo de produção do alimento esteja conectado cobriu o solo e fez o plantio por cima. A plantação inicial foi de
a fim de promover um desenvolvimento socialmente includente, que milho, feijão, jerimum e um coquetel de adubação verde, com
seja ambientalmente e economicamente sustentável (8). Portanto, um crotalárias, girassol, cunhã (ervilha borboleta) e algumas árvores

542
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

frutíferas. A primeira colheita foi principalmente de jerimum, com que uma plantação em SAF (mesmo em pequena escala e com pouco
produção superior a 200 kg. Os outros gêneros não se saíram tão tempo de desenvolvimento) contribui para a diminuição do lixo
bem, pois as podas utilizadas para iniciar a plantação em produzido. Mais que a não geração, típica dessa produção de
Agrofloresta eram ricas em carbono, por serem provenientes de alimentos, a visão permacultural muda a percepção sobre o que é lixo
árvores, no entanto o solo não tinha nenhuma fonte de nitrogênio, e um melhor aproveitamento dos resíduos.
que compromete o desenvolvimento dessas culturas.
Por fim, quanto à determinação da capacidade da Permacultura
Atualmente, com relação à dependência de recursos externos, Mário aliada às agroflorestas garantirem a Segurança Alimentar dos
conta que até pouco tempo atrás ainda utilizava um pouco de esterco moradores, constatamos que podem sim ser uma forma
de frango comprado fora. No entanto, a maioria vem contaminada, verdadeiramente sustentável de garanti-la, permitindo que sejam
devido aos antibióticos que são dados às galinhas e que acabam produzidos alimentos de qualidade, seguros e biodiversos,
sendo transferidos aos alimentos. Portanto, parou de comprar esse fundamentais para uma cultura alimentar equilibrada. Assim, os
esterco e passou a utilizar apenas o que é produzido em seu próprio resultados confirmam que a Permacultura e as agroflorestas
galinheiro de manejo mais natural, às vezes complementado com conseguem aumentar a sustentabilidade de seus praticantes. Estudos
milho comprado. Outras necessidades, como esterco para produção complementares poderão analisar outras práticas permaculturais
de adubo, coleta-se o esterco de cavalo produzido em fazendas aliadas a SAFs, com diferentes escalas de aplicação, além de poder
vizinhas, de manejo conhecido. avaliar estas práticas com um número maior de participantes. Outra
possibilidade é a pesquisa focada apenas em um dos aspectos
Produção de lixo Com relação ao lixo produzido, antes de se tornar abordados neste estudo, sejam eles, a dependência de recursos
Permacultor, Mário fazia como qualquer outra pessoa, descartando o externos, a produção de lixo ou a Segurança Alimentar.
lixo através dos sistemas tradicionais de coleta, no entanto ele já
realizava o reaproveitamento do lixo orgânico para alimentar seus Esta pesquisa ilumina um tema relevante para a Gastronomia,
animais. No entanto, após conhecer as dinâmicas do solo e os permitindo uma análise mais integrada sobre a cultura alimentar e os
princípios da Permacultura, atualmente todo o lixo orgânico que ele cuidados relacionados ao que comemos.
produz é reutilizado para a alimentação de outros organismos, dando
mais vida ao solo.
REFERÊNCIAS
Outra mudança na produção de lixo é a diminuição do plástico, pois
(1) WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. WMO statement on the status
os alimentos que antes eram comprados em embalagens, como frutas, of the global climate in 2014. Suíça, 2015.
ovos, verduras, passaram a ser em parte produzidos no sítio, sem (2) UN ENVIRONMENT. Global Environment Outlook: GEO. 6. ed. Nova York:
gerar resíduos inorgânicos. Porém, o lixo inorgânico que ainda é Cambridge University Press, 2019.
(3) BRUNDTLAND, G. H. World Commission on Environment and Development. Our
gerado através da compra de insumos alimentícios é destinado para Common Future. United Kingdom: Oxford University Press, 1987.
reciclagem. Atualmente, os moradores estão tentando substituir os (4) PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
produtos de plástico, como colheres, espátulas, recipientes para 2013.
(5) CARVALHO, R; GOEDERT, WJ.; ARMANDO, MS.Atributos físicos da
guardar alimentos e copos. Mário e sua esposa, Eugênia, estão se qualidade de um solo sob sistema agroflorestal.Pesq. agropec. bras.[online].
planejando para comprar todos os utensílios de materiais que não 2004, vol.39, n.11, pp.1153-1155.
possuem impacto ambiental tão grande, como madeira, vidro e metal. (6) SANTOS, J C; CAMPOS, R T. Análise da rentabilidade, sob condições de risco, de
um sistema agroflorestal adotado por pequenos produtores de cacau na região da
Transamazônica, Pará. In: SOBER. XXXIV Congresso Brasileiro de Economia e
Segurança alimentar Com relação aos hábitos alimentares, Mário Sociologia Rural. Aracaju: Embrapa, 1996. p. 1452-1472.
diz perceber uma grande mudança após começar as suas práticas de (7) IPC. Quem Somos. Instituto de Permacultura do Ceará, 2019. Disponível em:
<http://permaculturaceara.org.br/quem-somos/>. Acesso em: 05/10/2019.
Permacultura e agrofloresta. A primeira mudança percebida é a (8) RODRIGUES, L.; ZANETI, I.; LARANJEIRA, N. Sustentabilidade, Segurança
grande alteração do consumo de carne, especialmente o consumo de Alimentar e Gestão Ambiental para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida.
carne vermelha. Ele conta que raramente a consome, somente quando Participação, n. 19, 29 jun. 2012.
(9) PEREZ-CASSARINO, J. Agrofloresta, autonomia e projeto de vida: uma leitura a
está fora de casa, em algum evento social ou algo assim, mas é raro. partir da construção social de mercados. In: STEENBOCK, W; COSTA E SILVA, L;
Dentro de casa, na alimentação diária, come principalmente frango e SILVA, R, O; PEREZ-CASSARINO, J; RODRIGUES, A; FONINI, R. (Org.).
ovo. Ele diz perceber um grande aumento no consumo de ovos, que Agrofloresta, Ecologia e Sociedade. Curitiba: Kairós, 2013, p. 233-272.
(10) YOUNG, Anthony. Agroforestry for Soil Conservation. Nairobi: Icraf, 1990.
come quase todo dia, produzidos por suas próprias galinhas. Além do (11) MASCHIO, L A et al. A agrofloresta na ótica da teoria de sistemas. In: Congresso
consumo da carne vermelha, também diminuiu o seu consumo de Brasileiro Sobre Sistemas Agroflorestais (Comp.). Anais do Congresso Brasileiro
leite e derivados. Não toma mais leite em natura e apenas uma ou Sobre Sistemas Agroflorestais. Porto Velho: Embrapa, 1994.
(12) JARAMILLO-BOTERO, Catalina et al. Produção de serapilheira e aporte de
duas vezes no mês, iogurte. Come ainda alguns queijos. Outra nutrientes de espécies arbóreas nativas em um sistema agroflorestal na Zona da Mata
mudança é o aumento no consumo de frutas e verduras. Ele diz de Minas Gerais. Rev. Árvore, Viçosa, v. 32, n. 5, p. 869-877, Oct. 20 2008.
perceber a mudança na quantidade de frutas, especialmente bananas, (13) MENEZES, José Maria Thomaz et al. Comparação entre solos sob uso agroflorestal
e em florestas remanescentes adjacentes, no norte de Rondônia. Rev. Bras. Ciênc.
que considera ser o seu combustível. Conta que sempre que está com Solo, Viçosa, v. 32, n. 2, p. 893-898, Apr. 2008.
um pouco de fome ou vontade de comer alguma coisa, consome uma. (14) FRAGA DA SILVA. Home. Sítio Janaguba, 2019. Disponível em: <
Ele relata que há dias em que consome dez bananas ou mais. https://www.sitio dajanaguba.com.br>. Acesso em: 20/10/2019.

A Permacultura também altera a percepção sobre o que são os


alimentos e a relação com a comida. Ele conta que antes um lanche
para ele era um refrigerante com uma coxinha, um salgado ou algo
assim. Hoje em dia um lanche é uma fruta ou uma tapioca com ovo.
Conta que não consome refrigerantes desde 2012, sendo que hoje em
dia produz Kombuchá em casa.

Ele estima que a produção própria da sua alimentação gira em torno


de 20%, mas que aos poucos está conseguindo aumentar este valor.
Conta que ao se mudar para o sítio, até a água utilizada ainda era
adquirida de fora, mas aos poucos vai substituindo os produtos
comprados pela produção própria. Ainda precisa comprar alimentos
de produção mais difíceis, como sal, farinha de trigo, frutas que não
são produzidas por ele e especiarias.

5. CONCLUSÃO
Analisamos a dependência de recursos externos para a manutenção
de uma agrofloresta e verificamos que apesar do aporte inicial de
recursos necessários, com o tempo, estes sistemas começam a
produzir e criam ciclos de retroalimentação, diminuindo ou até
zerando a necessidade de aportes externos de recursos.

Já ao avaliar a mudança na produção de lixo no sítio, foi constatado

543
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Tomate (Lycopersicon esculentum) e Extrato de


Tomate.

Fátima Costa1, João Freitas2, Maria Uchôa3, Sheyla Amaral4, Vitor Silva5, Maria Milhome6
1
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
2
Aluno do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
3
Aluna do Curso de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
4
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico de Tecnologia de Alimentos / IFCE-Limoeiro do Norte
5
Analista de Laboratório do NUTEC / UFC
6
Professora Orientadora Doutora / IFCE-Limoeiro do Norte

Endereço de E-mail do Autor Principal: fatimarafaelasilva@gmail.com;

Palavras –Chave: Pesticidas, Industrializados, Cromatografia Gasosa.

INTRODUÇÃO As análises de 35 agrotóxicos foram realizadas


através de um Cromatógrafo Gasoso acoplado a Espectrometria de
O uso indiscriminado de agrotóxicos tem se tornado Massas (GC-MS) da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do
relevante nos últimos anos. O Brasil vem se destacando como o maior Ceará–NUTEC.
consumidor mundial de agrotóxicos e, dessa forma, os impactos O método foi validado através da determinação da
causados por esses resíduos têm sido crescentes (1,2). A presença de seletividade, linearidade, exatidão, precisão, Limites de Detecção (LD)
agrotóxicos nos alimentos tem se tornado uma das principais e Quantificação (LQ), de acordo com os critérios SANTE/11813
preocupações, constituindo riscos para a saúde pública. Os produtos Diretrizes (7).
utilizados na lavoura tendem a depositar-se na casca dos frutos,
passando posteriormente, para a polpa e para o sumo (3). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo ABUSHITA et al. (1997) (4), os tomates e
os produtos derivados são ricos em nutrientes, sendo considerados fonte Em relação aos parâmetros de validação, tanto a
de compostos fenólicos, ácido ascórbico, antioxidantes e carotenoides, seletividade e linearidade, quanto a precisão e exatidão foram
tendo como principal o licopeno. Porém, dependendo dos níveis de satisfatórios. Os LDs e LQs estiveram abaixo dos LRMs estabelecidos
resíduos tóxicos presentes nesses alimentos, pode afetar sua qualidade pela ANVISA. Através dos resultados adquiridos pela análise
nutricional. cromatográfica, dos trinta e cinco ingredientes ativos avaliados nas
Para monitorar os níveis de agrotóxicos em produtos amostras, apenas dois foram detectados e quantificados.
alimentícios, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Constataram-se resíduos de cialotrina apenas na
criou, em 2001, o Programa de Análise de Resíduos de Pesticidas Amostra 1 de tomate in natura, como representado no gráfico a seguir,
(PARA), onde limita as quantidades e estabelece limites máximos de excluindo sua presença nos extratos de tomate. A cialotrina é um
resíduos (LMR) em alimentos, garantindo a qualidade dos mesmos para inseticida, pertencente ao grupo químico dos piretróides, de
o consumidor. Segundo as análises das amostras coletadas nos 26 classificação toxicológica III (medianamente tóxico) estabelecendo um
estados do Brasil, realizada pelo Programa de Análise de Resíduos de LMR de 0,05 mg/Kg com intervalo de segurança de três dias [9]. Porém
Agrotóxicos em Alimentos (PARA), um terço dos alimentos verificou-se concentração média de 0,125 mg/Kg, ultrapassando o LMR
consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos permitido para a cultura do tomate.
agrotóxicos (5).

O Ceará ocupa a décima terceira posição no ranking


de estados consumidores de agrotóxicos no país, e a oitava posição Figura 1 – Resíduos de cialotrina e tebuconazol nas amostras de tomate
quanto ao número de notificações de casos de intoxicações por in natura e extrato de tomate.
agrotóxicos. O uso de agrotóxicos é mais intenso na Chapada do Apodi,
bem como na Serra da Ibiapaba e Cariri, que são as três regiões onde a Concentrações do ingrediente ativo
agriculturas irrigada, em especial as fruticulturas e as horticulturas são (mg/Kg)
bastante desenvolvidas. (2,6). 1
Para garantir o controle de qualidade e a saúde pública
0.9
0.8
é bastante relevante monitorar os resíduos de agrotóxicos não só nas 0.7
matérias primas e insumos para processamento da indústria, mas 0.6
também o produto final, como por exemplo, o tomate in natura e o 0.5
extrato de tomate como produto processado. 0.4
Portanto o objetivo do estudo foi investigar a presença 0.3
de resíduos tóxicos de pesticidas em tomate in natura e extrato de 0.2
0.1
tomate, comparando ao limite estabelecido pela legislação.
0
MATERIAL E MÉTODOS Tomate in natura Extrato de tomate

As amostras de tomate in natura e extrato de tomate Cialotrina Tebuconazol


comercial foram adquiridas no mês de maio de 2018, em supermercados
FONTE: Elaborado pelos autores.
do município de Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil. Foram analisadas
três amostras de tomate e três amostras de extrato de tomate em
De acordo com os dados obtidos pela análise das
duplicatas. As etapas de recebimento, processamento e armazenamento
amostras, foi detectado a presença do fungicida tebuconazol nas
foram realizadas conforme o recomendado por SANTE/11813
amostras de tomates, bem como em extratos de tomates da Amostra 1,
Diretrizes (7).
como mostra a figura 1. Os níveis médios verificados de Tebuconazol
Todas as amostras foram analisadas de acordo com o
foram de 0,42 para o tomate in natura e 0,565 mg/Kg para o extrato de
método de QuEChERS descrito por ANASTASSIADES et al. (2003)
tomate, sendo superior à LMR estabelecida pela cultura, 0,30 mg/Kg.
(8). O material em análise foi homogeneizado e pesado em tubos de
Outros estudos avaliaram a permanência de pesticidas
centrifuga PTFE 50,0 mL. Em seguida, efetuaram-se os procedimentos
em vegetais processados, como o pepino em conserva, que também
de extração, partição e limpeza descritos pelo método QuEChERS.
foram identificados agrotóxicos acima do LMR e não autorizados (10).

544
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

6. MILHOME, M. A. L.; SOUSA, P. L. R., LIMA, F. A. F. AND


CONCLUSÃO
NASCIMENTO, R. F. Influence The Use of Pesticides in The Quality
of Surface and Groundwater Located in Irrigated Areas of Jaguaribe,
Apesar de cialotrina e tebuconazol apresentarem baixa toxicidade (Classe Ceará, Brazil. International Journal of Environmental Research, v.
III e IV) é necessário um maior monitoramento para avaliar o risco de 9, n. 1, p. 255-262, 2015.
contaminação a população. Os valores de LMR já são definidos para este
fim, visando garantir a segurança. Dessa forma o estudo sugere o controle 7. EC-European Commission Document nº SANTE/11813/2017.
contínuo desses resíduos em produtos derivados do tomate, tendo em Guidance document on analytical quality control and method validation
vista o risco à saúde da população [11]. procedures for pesticide residues and analysis in food and feed. 2017.
Disponível em: http://www.eurl-
REFERÊNCIAS pesticides.eu/docs/public/tmplt_article.asp? CntID=727&gt.; Acesso
11.08.2019.
1. PINHEIRO, A. I., FLORÊNCIO, A. C., CASTRO, R. C.,
NASCIMENTO, R. F. D., MILHOME, M. A. L., Theorical estimate 8. ANASTASSIADES, M., LEHOTAY, S. J. S., TAJNBAHER, D.,
and multiresidue analyze using SPME – GCIT/MS/MS for management SCHENCK, F. J. Fast and easy multiresidue method employing
of pesticide in water of the rural zone of Ceará, Brazil. Revista AIDIS acetonitrile extraction/ partitioning and„„dispersive solid-phase
de Ingeniería y Ciencias Ambientales, v. 9, n.3, p. 386-398, 2016. extraction” for the determination of pesticide residues in produce.
Journal of AOAC International, 86, 412–431, 2003.
2. MILHOME, M. A. L., SOUSA, D. O. B., LIMA, F. A. F., &
NASCIMENTO, R. F. Avaliação do Potencial de contaminação de 9. ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Agrotóxicos
águas superficiais e subterrâneas por pesticidas aplicados na agricultura e Toxicologia: Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em
do Baixo Jaguaribe-CE. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 14, n.1, alimentos: relatório anual. Citação e referências a documentos
p. 363-372, 2009. eletrônicos. 2018. <http://portal.anvisa.gov.br/> Acesso em:
14/08/2019.
3. MATSADIQ, G.; HU, H.; REN, H.; ZHOU, Y.; LIU, L.; CHEN, J.
Quantification of multi-residue levels in peach juices, pulps and peels 10. VIEIRA NETO, J., GONCALVES, P. A. S. Pesticide residues in
using dispersive liquid–liquid micro extraction based on floating pickling cucumbers in natura and processed. Horticult. Brasil. 2016;
organic droplet coupled with gas chromatography-electron capture 34(1):126-129.
detection. Journal of Chromatography B, v.879, n.22, p.2113-2118,
2011. 11. CANTARUTTI, T.F.P., Risco tóxico de resíduos de pesticidas em
alimentos e toxicidade reprodutiva em ratos wistar. Dissertação de
4. ABUSHITA A. A.;HEBSHI, E. A.; DAOOD, H. G.; BIACS, P.B. Mestrado. Universidade Federal do Paraná. 1-73.2005.
Determination of antioxidant vitamins in tomatoes. Food Chemistry,
v. 60, n. 2, p. 207-202, 1997.

5. ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. PARA –


Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Nota
técnica para divulgação dos resultados do PARA, 2016.

545
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio de uma Escola de Tempo Integral do
Município de Ubajara – CE

Afonso Filho1, Josilane Mendes1, Roney Magalhães1, Lidenes Oliveira2, Valeria Nogueira3, Patrícia Mesquita3.
1. Graduando, Curso de Tecnologia em Agroindústria, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), afonso.filho70@hotmail.com
2. Mestranda em Tecnologia de Alimentos, Programa de pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE),
3. Professor (a), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

PALAVRAS CHAVE – Alimentação escolar, Hábitos alimentares, Cardápio.

INTRODUÇÃO Oferta de dois ou mais alimentos ricos em enxofre- Como o feijão


está presente diariamente nas refeições, não foi levado em consideração
nesta análise(3).
Durante a elaboração de um cardápio devem-se levar em conta as
necessidades nutricionais dos indivíduos, para a manutenção da saúde, A monotonia de cores nas preparações - Mais de um alimento com
fornecendo assim um alimento nutricionalmente adequado(1). Estudos cores iguais estavam presentes na preparação (3).
comprovam que distúrbios nutricionais podem vim a ocorrer devido à Oferta de: frutas, doces, frituras, folhosos, doces associados às frituras,
carência ou ao excesso de nutrientes. Fazendo assim com que a conservas, duas ou mais frituras no mesmo dia e Repetição da técnica
qualidade da alimentação de crianças e adolescentes seja um dos de preparo dos pratos proteicos (3,6).
responsáveis por promover o crescimento e desenvolvimento adequado Para cada item analisado do método AQPC, foi verificada a quantidade
(2)
. de dias adequados e inadequados da escola, com apresentação em
O planejamento do cardápio deve ser feito por um nutricionista, pois ele porcentagem. A adequação seguiu a recomendação de Ginani (2011) (6).
poderá garantir que o cardápio atenda quesitos como hábitos alimentares Que foram consideradas “muito satisfatórias” aquelas que obtiveram
do consumidor e também a ingestão de nutrientes necessários. Ao adequação acima de 85%; “satisfatórias” de 60 a 84,9%;
elaborar o cardápio o nutricionista deve considerar algumas “insatisfatórias” de 50 a 59,9% e “muito insatisfatórias” de 0 a 49,9%.
recomendações do Guia Alimentar da População Brasileira, do
Ministério da Saúde. Fazendo assim, com que o cardápio contemple
RESULTADOS E DISCUSSÃO
todos os alimentos marcadores de alimentação saudável, especialmente
frutas e hortaliças(3,4). Também é necessário levar em consideração o
Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que faz recomendação Como pode-se observar na Tabela 1, no mês que foi analisado, nenhuma
de oferta de uma alimentação saudável sempre respeitando algumas opção de fruta foi oferecida no cardápio, sendo que estes alunos passam
características socioculturais da população, garantindo o o dia na escola, o consumo de frutas, além de fornecer vitaminas,
desenvolvimento e crescimento da criança, bem como um satisfatório também é importante devido auxiliar na necessidade diária de ingestão
rendimento escolar (5). de fibras. O guia alimentar brasileiro cita as frutas como uma base
O método de Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio excelente para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa e
(AQPC), desenvolvido por Veiros e Veiros e Proença (6), permite avaliar culturalmente apropriada (7).
qualitativamente os aspectos nutricionais e sensoriais que compõem um A monotonia de cores foi observada em 70% das preparações, ficando
cardápio. evidenciada na primeira e na segunda semana com 100% de ocorrência.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o cardápio do almoço de uma A cor das preparações é de grande importância, pois além de chamar
escola de tempo integral, localizada na cidade de Ubajara - CE, mais atenção do comensal, pode garantir que ele esteja ingerindo
utilizando o método de Avaliação Qualitativa das Preparações do alimentos diversificados em nutrientes (6,8,9).
Cardápio (AQPC). Os folhosos e preparações de saladas cruas, apresentaram 65% de
ocorrência. Durante a elaboração do cardápio sempre deve ser oferecido
uma opção de frutas, legumes e folhosos, pois são alimentos fonte de
MATERIAL E MÉTODOS
vitaminas, minerais e fibras (8). Pesquisas já apontaram que os compostos
presentes em frutas, legumes e verduras apresentam substâncias
O presente trabalho é resultante de uma análise de cardápio de uma químicas com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, de grande
escola de tempo integral, localizada na cidade de Ubajara, Ceará. Foram importância para a prevenção de doenças (10).
feitas duas visitas à escola. A primeira com a intenção de conversar com
os diretores para explicar sobre o projeto e solicitar o cardápio. A
Tabela 1 – Resultados da análise qualitativa das preparações do
segunda foi para a entrega de um oficio e assinatura de um termo de
cardápio do mês de Junho de 2018.
autorização de fiel depositário onde os responsáveis assinaram
permitindo a realização da pesquisa e utilização dos dados fornecidos. Semanas
A amostra foi composta pela descrição do cardápio do almoço. O 1º 2º 3º 4º % de Ocorrência
cardápio foi coletado do mês de junho e analisado utilizando a Dias do cardápio 5 5 5 5 -
ferramenta de Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio
Fruta 0 0 0 0 -
(AQPC), que aponta itens como: monotonia de cores, técnicas
culinárias, montagem dos pratos, presença de alimentos com alto teor de Folhosos 3 3 3 4 65%
enxofre, presença de doces e frituras na mesma refeição. Cores iguais 5 5 2 2 70%
O jogo de cores no prato é de grande importância, pois o fator estético Ricos em enxofre 5 5 5 5 100%
visual é, normalmente, o primeiro atrativo. Foi verificada se existia a
Doce 3 3 3 3 60%
monotonia de cores, onde se observaram repetições de cores no prato
e/ou também repetições nas técnicas culinárias (frituras, cozidos, Fritura 4 3 3 2 60%
grelhados) em dias consecutivos. Foram analisados os seguintes Doce + fritura 2 2 1 3 40%
critérios: Repetição
Preparações ricas em enxofre - alimentos que causam flatulências: 2 4 3 4 65%
técnicas preparo
abacate, acelga, aipo, alho, amendoim, batata-doce, brócolis, castanha,
cebola, couve-de-bruxelas, couve-flor, ervilha, gengibre, goiaba, jaca,
lentilha, maçã, melancia, melão, milho, mostarda, nabo, nozes, ovo, Os alimentos com alto índice de enxofre aparecem todos os dias das
rabanete, repolho e uva(3). semanas. Segundo Proença et al, 2003(6) os alimentos que apresentam
altos índices de enxofre podem provocar sensação de desconforto
gástrico devido ao elevado teor de compostos sulfurados.

546
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A presença de doces representou 60% das ocorrências, sendo oferecidos 3. VEIROS MB. Análise das condições de trabalho do nutricionista na
em dias alternados durante a semana. O cardápio apresentou um atuação como promotor de saúde em uma unidade de alimentação e
percentual calórico altíssimo, a sobremesa oferecida é sempre um doce nutrição: um estudo de caso [dissertação]. Florianópolis: Universidade
cristalizado alterando os sabores entre banana ou goiaba. Este cardápio Federal de Santa Catarina; 2002.
também mostrou um percentual bastante alto na oferta de doces como
sobremesa no mesmo dia que uma fritura (40%). 4.GINANI, V. C. Avaliação da qualidade nutricional, sensorial e cultural
É importante durante o planejamento do cardápio se atentar para os de cardápios populares. 2011, 131 f., tese (Pós-graduação em Nutrição
métodos de cocção, devendo haver uma diversificação destes em cada Humana) - Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília,
refeição, a fim de melhorar a aparência e ajudar na aceitação dos Brasília, 2011.
comensais e evitar possíveis desperdícios(9).
Quadro 1 – Percentual de adequação e inadequação do cardápio, 5. Issa RC, Moraes LF, Francisco RRJ, Santos LC, Anjos AFV, Pereira
segundo os critérios da Avaliação da Qualidade das Preparações do SCL. Alimentacao escolar: planejamento, producao, distribuicao e
Cardápio, 2018. adequacao. Rev Panam Salude Publica. 2014; 35(2):96-103.
ADEQUADO NÃO ADEQUADO
CRITÉRIO
Número % Número % 6. VEIROS, M.B.; PROENÇA, R.P.C. Avaliação qualitativa das
Fruta 0 0 20 100 preparações do cardápio de uma Unidade de Alimentação de Nutrição –
Folhosos 13 65 7 35 Método AQPC. Nutrição em Pauta, São Paulo, v.12, n.62, set/out, p. 36-
42, 2003.
Cores iguais 6 30 14 70
Ricos em
0 0 20 100 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
enxofre
Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia
Doce 8 40 12 60 alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação
Fritura 6 30 14 70 saudável. Brasília, 2014. 31p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Fritura +
12 60 8 40
Doce 8. PHILIPPI, S. T. Nutrição e técnica dietética. Barueri, SP: Manole,
Técnicas de 2003. 390p.
7 35 13 65
Preparo
9. TEICHMANN, I. T. M. Cardápios: técnicas e criatividade. 7.ed.
Usando a recomendação de Ginani (2011)(4) os dados do cardápio foram Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2009. 151p.
tabulados em duas colunas sendo elas de “adequado” e “não adequado”
os dados foram calculados e feito à porcentagem, para verificar os níveis 10. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à
de adequação e inadequação do cardápio escolar estudado. O item fruta Saúde. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia
no cardápio não apareceu em nenhum dia, deixando o item com 100% alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação
de inadequação. A pirâmide alimentar brasileira determina que haja a saudável. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
ingestão de, no mínimo três porções de frutas por dia com o objetivo de
reduzir as doenças cardiovasculares e até mesmo alguns tipos de câncer
(10)
. O item “Ricos em enxofre” apresentou 100% de inadequação, pois 11. SUAREZ FL, SPRINGFIELD J, LEVITT MD. Identification of
no cardápio estudado, a oferta de alimentos com essa característica foi gasesresponsible for the odour of human flatus and evaluation of a
feita em todos os dias, uma ou mais vezes por dia. O consumo de device purported to reduce this odour. Gut. 1988; 43:100-04.
alimentos com alto teor de enxofre pode causar desconfortos
gastrointestinal devido causar uma produção de gases pela fermentação 12. TEICHMAN, I. M. Cardápios - técnicas e criatividade. Caxias do
bacteriana no colon (11). Sul: EDUCS, Coleção Hotelaria, 2000.
Como podemos observar no Quadro 1, o item técnicas de preparo
apresentou um nível bem alto de inadequação, Durante o preparo das
refeições é importante que os sabores devam estar em equilíbrio sendo
eles o ácido, salgado, apimentado, amargo, doce, picante, suave, azedo,
sempre tomando cuidado para que não se repitam. Diversificar os
métodos de alguns componentes do prato deixam a refeição variada em
sua aparência e no sabor (12). Apenas dois itens apresentaram um nível
satisfatório apresentando 60% e 65% sendo a oferta de doces associado
a fritura e a de folhosos.

CONCLUSÕES
O cardápio possui várias inadequações, como a exclusão da oferta de
frutas, as repetições de técnicas de cocção, o excesso na oferta de
alimentos ricos em enxofre, dentre eles, ovos, cebola, repolho, batata
doce, couve-flor e alho. Além disso, a repetição de grupos alimentares,
que deixa a alimentação dos estudantes monótona. Os itens mais
preocupantes desse cardápio foram a ausência de oferta de frutas e o
excesso de doces, pois sempre era ofertado um doce como opção de
sobremesa. Uma alternativa a isso seria revezar a oferta de sobremesa
entre frutas e doces, proporcionando assim uma redução no consumo de
doce e aumento na ingestão de frutas.

REFERENCIAS

1. TEICHMANN ITM. Cardápios: técnicas e criatividade. 7. ed. Caxias


do Sul: EDUCS; 2009. 151p

2. ROSSI A, Moreira EAM, Rauen MS. Determinantes do


comportamento alimentar: uma revisão com enfoque na família. Rev
Nutr. 2008;

547
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Ocorrência de Microrganismos Patogênicos em Alimentos Prontos para o Consumo


Danilo Vilas Boas¹, Juliana Matos², Francine Paz², Joselene Nascimento², Clícia Leite²
1- Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Faculdade de Engenhara de Alimentos, Universidade Estadual
de Campinas – Campinas – SP- Brasil, e-mail: danilo_mvb1808@hotmail.com.
2- Laboratório de Microbiologia de Alimentos - Departamento de Análises Bromatológicas – Universidade Federal do
Bahia, Faculdade de Farmácia– Salvador – BA – Brasil.
Palavras chave: segurança alimentar; boas práticas; saúde pública.
INTRODUÇÃO a ocorrência de microrganismos patogênicos em amostras de alimentos
prontos para o consumo.
A busca pelo acesso igualitário da população a uma
alimentação adequada, continua representando um grande desafio para MATERIAL E MÉTODOS
os países em desenvolvimento que, além da distribuição, devem
garantir a segurança e qualidade dos alimentos fornecidos (1). Neste Este foi um estudo longitudinal, realizado em diferentes
contexto, a alimentação pronta para o consumo, como carnes, aves estabelecimentos produtores ou distribuidores de alimentos, localizados
cozidas, pratos frios, legumes em molho, macarrão e arroz, torna-se nas mesorregiões do Estado da Bahia (Centro-Norte Baiano, Centro-
cada vez mais popular, pois destina-se a ingestão fácil e direta, além de Sul Baiano, Metropolitana de Salvador, Nordeste Baiano, Sul Baiano e
estar mais facilmente disponível. Estes produtos que foram lançados Vale São Francisco da Bahia), desenvolvido no Laboratório de
incialmente de forma padronizada para atender requisitos econômicos Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Farmácia, que cedeu além
e demandas específicas de grandes redes comerciais, passaram a ser do espaço físico, os equipamentos calibrados, vidraria esterilizada,
produzidos em larga escala em decorrência das mudanças nos hábitos meios de cultura, EPI’S e EPC’s e todo material necessário à execução
das famílias, com a inserção das mulheres no mercado de trabalho. No dos testes. Foram analisadas 1.687 amostras de alimentos prontos para
entanto, apesar da conveniência para os consumidores, estas o consumo, de diversos tipos de preparações (alimentos à base de
mercadorias estão frequentemente contaminadas com bactérias pescados, carnes ou ovos cozidos, saladas cozidas, mistas e cruas,
patogênicas, que são as responsáveis pela ocorrência de doenças de preparações a base de cereais e grãos, sobremesas, frutas e sucos),
origem alimentar (2,3). durante o período de 12 meses (janeiro e dezembro de 2019).
Estas Doenças que são Veiculadas por Alimentos (DVA) têm Para tanto, as amostras foram colhidas em sacos estéreis,
sido, nos últimos anos, motivo de discussões, em todo o mundo, acondicionadas em caixas isotérmicas com gelo e encaminhadas ao
sobretudo, com relação à prática do controle de qualidade Laboratório, onde foram cadastradas e submetidas às análises
microbiológico e consequente garantia da inserção de produtos inócuos microbiológicas para a pesquisa de Salmonella spp. e contagens de
no mercado consumidor (4). Estima-se que mais de 200 tipos de Bacillus cereus, Estafilococos coagulase positiva e clostrídios sulfito
enfermidades possam ser ocasionadas ou disseminadas devido a redutores a 46°C, de acordo com a metodologia descrita pelo American
presença de patógenos microbianos nos alimentos, podendo gerar Public Health Association – APHA (15), adotando como referência os
problemas de saúde a longo prazo em grupos populacionais vulneráveis parâmetros estabelecidos pela RDC n° 12, de 2001, do Ministério da
como idosos, crianças e pacientes imunocomprometidos (5). A fonte Saúde (13). Os resultados das análises microbiológicas realizadas,
mais provável de contágio por estes patógenos está relacionada a foram compilados utilizando o Sistema Informático de Controle de
contaminação cruzada ou adoção de medidas inadequadas de higiene Processo de Análise (SCPA), um software de gerenciamento de
durante o manuseio, processamento e armazenamento dos alimentos informações relativas às atividades executadas nos laboratórios de
uma vez que, tais microrganismos possuem a capacidade de análise de produtos.
disseminação a partir das mãos humanas e superfícies dos
equipamentos e utensílios, para os alimentos e vice – versa (6,7). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os casos de doenças de origem alimentar na Europa são
estimados em mais de cinco milhões por ano, refletindo altas perdas Do montante total de amostras analisadas, apenas quatro
econômicas e grande risco para os seres humanos (8). A Autoridade (0,23%) apresentaram crescimento microbiológico em concentrações
Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e o Centro Europeu superiores aos limites estabelecidos pela legislação vigente e, portanto,
das Doenças, Prevenção e Controle relataram a ocorrência de 4.786 foram consideradas reprovadas, conforme demonstrado na figura 1.
surtos, que compreendem um total de 49.950 casos, com 3.869 Sendo que em três delas (75%), detectou-se Bacillus cereus em
hospitalizações e 20 óbitos, apenas no ano de 2016, tendo os agentes de concentrações que variaram entre 1,5 a 5,6 x 10³ UFC/g, enquanto em
origem bacteriana como responsáveis por 33,9% dos casos (9). Já de uma (25%), identificou-se clostrídio sulfito redutor na ordem de 2,9 x
acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 48 10³ UFC/g. Nenhuma das amostras apresentou contagem de
milhões de casos de doenças veiculadas por alimentos são estimados estafilococos coagulase positiva ou presença de Salmonella spp.,
para ocorrer no Estados Unidos da América a cada ano, resultando em estando aprovadas quanto a ocorrência desses microrganismos. Tais
128.000 hospitalizações e 3.000 mortes (10). No Brasil, dados do resultados podem ser comparados com diversos estudos conduzidos
Ministério da Saúde evidenciaram que no período entre 2009 a 2018, com o objetivo de investigar a qualidade microbiológica de alimentos
foram notificados 6.809 surtos de DVA, com 120.584 indivíduos prontos para o consumo.
acometidos onde, Salmonella spp. (11,3%), Staphylococos aureus
(9,4%), Bacillus cereus (2,3%) e Clostridium perfringens (1,6%) Figura 1 – Quantitativo e percentual de amostras de alimentos prontos
encontraram-se entre os dez agentes etiológicos mais identificados para o consumo, aprovadas e reprovadas, analisadas entre janeiro de a
nestes casos, sendo especialmente preocupantes devido à ocorrência dezembro de 2019.
ambiental (11, 12).
Neste sentido, com o intuito de proteger a saúde da população
brasileira, diversas legislações foram publicadas pelos órgãos
fiscalizadores, para regulamentar a produção e comercialização dos
alimentos no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) através das Resoluções da Diretoria Colegiada (RDC) n°
12, de 02 de janeiro de 2001 e RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004,
passou a avaliar os sistemas de qualidade, identificando, quantificando,
investigando e prevenindo os riscos de doenças veiculadas por
alimentos onde, a primeira delas aborda critérios microbiológicos para
os alimentos destinados ao consumo humano, cujos parâmetros
permitem avaliar a sua qualidade microbiológica, enquanto a segunda,
dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de
Alimentação (13, 14). Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar

548
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Quanto a ocorrência de Bacillus cereus, pesquisa realizada na 9. EFSA - The European Union Summary Report on
China, analisando 860 produtos alimentícios prontos para o consumo, Trends and Sources of Zoonoses, Zoonotic Agentes and
no período de seis anos (2011 a 2016), detectou este microrganismo em Food-borne Outbreaks in 2016. Available at, 2017.
656 (35%) amostras (16). Já na Colômbia, outro grupo de pesquisa ao 10. Centers for Disease Control and Prevention. – CDC.
analisar 479 alimentos desta natureza, encontrou 17% de contaminação Estimates of Foodborne Illness in the United States,
por Bacillus cereus, detectando a toxina diarreica em 91% destes (17). 2013.
11. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Este microrganismo trata-se de um patógeno, causador de surtos
Saúde. Dados Epidemiológicos – Surtos de Doenças
alimentares, com sua patogênese baseada na lise das células do trato
Transmitidas por Alimentos no Brasil período 2000 a
digestivo com subsequente liberação da toxinas e fatores de virulência, junho 2018. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
podendo ocasionar quadros de diarreia e vômitos, a depender da 12. OLIVEIRA, M.; RODRIGUES, C.; TEIXEIRA, P.
síndrome desenvolvida. Além da intoxicação alimentar, esta Microbiological quality of raw berries and their products:
bactéria pode estar associada a infecções graves, como pneumonia, A focus on foodborne pathogens. Heliyon, v. 5, n. 12, p.
bacteremia, endoftalmite, fasceíte necrosante, osteomielite e 2992, 2019.
endocardite (18). 13. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 12 da
Os clostridios sulfito redutores também são de grande Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 02 de
relevância nesse contexto, pois podem estar presentes principalmente Janeiro de 2001. Dispõe sobre o regulamento técnico
nos alimentos proteicos, podendo causar graves complicações a saúde sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário
do consumidor com sintomas que variam de gastroenterites leves a Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
moderadas até lesões no intestino delgado. Na realização dessa análise, 10 jan.2001.
14. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
a detecção do Clostridium perfringens é considerada como um dos
Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de
alvos bacterianos principais, pois em caso de intoxicações alimentares, setembro de 2004. Regulamentos Técnicos sobre de Boas
seus sintomas aparecem rapidamente, entre 6-24 horas após a ingestão Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da
do produto contaminado (19). Estudo realizado na Turquia, União, Brasília, DF, 15 set.2004a.
considerando 306 amostras de alimentos prontos para o consumo, 15. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALT
identificou Clostridium perfringens em 56 (17%) análises (20). ASSOCIATION.VANDERZANT. Compendium of
Vale ressaltar que a falta de manutenção adequada das Methods for the Microbiological Examination of foods.
condições ambientais, principalmente no local de preparo da cozinha, 4th ed. Wahington: 2001.
bem como situação higiênico sanitária insatisfatória dos manipuladores 16. Yu, S. et al. Um estudo sobre prevalência e caracterização
e superfícies dos utensílios e equipamentos envolvidos nas preparações, de Bacillus cereus em alimentos prontos para consumo na
podem atuar como coadjuvantes no processo de contaminação e China. Fronteiras em Microbiologia, v. 10, p. 3043,
deterioração dos alimentos. Além disso, a utilização de matérias-primas 2020.
17. FORERO, A.; GALINDO, M.; MORALES, G.
com boas procedências e utilização adequada do binômio tempo-
Aislamiento de Bacillus cereus en restaurantes escolares de
temperatura, representam fatores que colaboram para a inocuidade dos
Colombia. Biomédica, v. 38, n. 3, p. 338-344, 2018.
alimentos de consumo imediato (21). 18. IKEDA, M.; YAGIHARA, Y.; TATSUNO, K.;
OKAZAKI, M.; OKUGAWA, S; MORIYA, K.
CONCLUSÕES Características clínicas e suscetibilidade antimicrobiana de
infecções da corrente sanguínea de Bacillus
Ao confrontar os resultados obtidos nas análises cereus . Ann. Clin. Microbiol. Antimicrob. 14:43. doi:
microbiológicas de alimentos prontos para o consumo, provenientes de 10.1186 / s12941-015-0104-2, 2015.
diferentes estabelecimentos produtores ou distribuidores de alimentos, 19. MASSOLI, M. Prevalência de Clostrídios Sulfito
localizados nas mesorregiões do Estado da Bahia, constatou-se que Redutores e Clostridium perfringens na mucos intestinal de
estes produtos são susceptíveis a contaminações desta natureza, frangos de corte. São Paulo, 2014.
apresentando contaminação pelos microrganismos patogênicos 20. YIBAR, A. et al. Clostridium perfringens Contamination
Bacillus cereus e clostrídios sulfito redutores, sugerindo condições in Retail Meat and Meat-Based Products in Bursa,
insatisfatórias de preparo e acondicionamento destes produtos, que Turkey. Foodborne pathogens and disease, v. 15, n. 4, p.
podem tornar-se veículos para transmissão de doenças e, desta forma, 239-245, 2018.
representar um grande problema em nível de saúde pública. 21. MELLO, A.G.; GAMA, M. P.; MARIN, V. A.;
COLARES, L. Conhecimento dos manipuladores de
REFERÊNCIAS
alimentos sobre boas práticas nos restaurantes públicos
1. PAUDYAL, N. et al. Prevalence of foodborne pathogens in food populares do Estado do Rio de Janeiro. Brazilian Journal
from selected African countries–A meta-analysis. International of Food Technology, Campinas, v. 13, n. 1, p. 60-68,
journal of food microbiology, v. 249, p. 35-43, 2017. 2010.
2. Yu, S. et al. Um estudo sobre prevalência e caracterização de
Bacillus cereus em alimentos prontos para consumo na
China. Fronteiras em Microbiologia, v. 10, p. 3043, 2020.
3. Chen, F.; Zhang, M; Yang, C. Aplicação da tecnologia de ultrassom
no processamento de alimentos frescos prontos para consumo: uma
revisão. Sonochemistry Ultrasonics, p. 104953, 2019.
4. MATHEUS, D. et al. Ocorrência de Salmonella spp. em carne de
frango comercializada no município de Bauru, SP, Brasil. Revista do
Instituto Adolfo Lutz, v.62, n.2, p.111-115, 2003.
5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Facts on food
safety. World Health Organization, v. 10, 2015.
6. JANSEN, W. et al. Foodborne diseases do not respect borders:
zoonotic pathogens and antimicrobial resistant bacteria in food
products of animal origin illegally imported into the European
Union. The Veterinary Journal, v. 244, p. 75-82, 2019.
7. MKHUNGO, M.; OYEDEJI, A.; IJABADENIYI, O. Food safety
knowledge and microbiological hygiene of households in selected
areas of Kwa-Zulu Natal, South Africa. Italian journal of food
safety, v. 7, n. 2, 2018
8. JEVŠNIK, M.; HLEBEC, V.; RASPOR, P. Consciência dos
consumidores sobre a segurança dos alimentos, das compras às
refeições. Controle de alimentos, v. 19, n. 8, p. 737-745, 2008.

549
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Recursos Fitogenéticos Comercializados em uma Feira-livre de Belém-PA


Francisco das Chagas Alves do Nascimento1
1
Doutor. Universidade Federal do Pará. E-mail: fcanufpa@gmail.com
Palavras-chave: Biodiversidade. Vegetais. Segurança Alimentar.

“raças geográfica ”dentro das espécies arbóreas e que a origem


INTRODUÇÃO inicial das sementes influenciou bastante a sobrevivência e
resultados de iniciativas de plantio de árvores. Inúmeros testes
Na atualidade, a produção global de alimentos tem internacionais de procedência de muitas espécies de árvores foram
apresentado expressivo aumento, isso em decorrência do realizados para avaliar o desempenho do germoplasma de diferentes
desenvolvimento e inovações centrados no setor agrícola, países ou regiões7.
considerando a este crescimento, a biodiversidade1. Uma agricultura
global que foca em poucas espécies impacta na subutilização de Os recursos genéticos vegetais têm sido utilizados e
espécies locais e tradicionais, além da perda genética de variedades trocados desde o início da agricultura, cerca de 10.000 anos atrás. O
e espécies. Deve-se considerar que pelos aspectos climáticos e de agricultores e comunidades agrícolas plantaram, sementes
composição do solo de cada região, irá interferir diretamente no selecionadas e trocadas e material de propagação vegetativa, e uma
valor nutritivo do alimento ali cultivado2. Chamando-se atenção que combinação de seleção natural e artificial permitido cultivar
incentivar o consumo de uma dieta diversificada, composta por espécies de plantas e adaptá-las às necessidades mudando
alimentos locais e tradicionais, irá fortalecer e aumentar o nível de agricultura e consumo. A migração, o comércio e a colonização
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) da população da região3. dispersaram muitas espécies além de suas regiões de origem, o que
aumentou ainda mais a pressão de seleção. Desde meados do século
A Conferência das Nações Unidas sobre XIX, fornecedores profissionais de sementes, seguidos por
desenvolvimento sustentável realizada no Rio de janeiro no ano de especialistas em melhoramento genético e biotecnologia, vêm
2012 sustenta que um dos fatores para o desenvolvimento global é a desenvolvendo métodos avançados para selecionar recursos
diversidade da dieta e sua sustentabilidade. Pesquisadores ressaltam genéticos vegetais nos níveis fenótipo, genótipo e molecular para
que essa dieta biodiversa apresenta uma redução no impacto continuar desenvolvendo culturas e contribuir para o
ambiental, além de proporcional uma maior acessibilidade aos estabelecimento de sistemas agrícolas avançados e produção e
alimentos, com uma melhor SAN, através de uma ingestão segura e fornecimento de produtos agrícolas e cultivares com características
saudável, já que com o uso de espécies locais e tradicionais, além do distintas7.
valor nutritivo que estes aportam, resgatam a cultura local e
fortalece a SAN3,4. Em todos os setores, a falta de diversidade genética
aumenta os riscos para a segurança alimentar e nutrição. Entre os
Ao referir-se em segurança alimentar e nutricional, exemplos históricos podem ser citados o efeito devastador da praga
está definição foi formulada pelo fórum Brasileiro de SAN, no ano da batata na Irlanda em meados do século XIX, a destruição de até
de 2003 e referendada na II conferência Nacional de Segurança 15% das culturas de milho nos Estados Unidos da América por
Alimentar e Nutricional em 2004. O Sistema Nacional de Segurança causa da praga sul na década de 1970, o ataque ferrugem da cana-
Alimentar e nutricional (Sisan), instituído pela Lei n. 11.346, de 15
de-açúcar em Cuba nos anos 80. Por outro lado, o uso da
de setembro de 2006 estabelece a seguinte definição: “Segurança
diversidade e das características desejadas selecionado a partir desta
Alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao
acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em diversidade melhora a segurança Alimentação e nutrição. Exemplos
quantidade, suficiente, sem comprometer o acesso a outras notáveis recentes são os Variedades de batata-doce para a África
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares Oriental com níveis mais altos de provitamina A, uma variedade de
promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que feijões comuns da Nicarágua com uma tolerância à seca muito alta,
sejam social, econômica e ambientalmente sustentável”5. alto rendimento e alta estabilidade de produção, bom gosto e
variedades tomates e cebolas nutritivos que resistem a patógenos
Na região norte existem muitas espécies nativas antes e depois da colheita em regiões quentes e úmidas10.
subutilizadas e que podem ser potencializadas para o consumo do
comércio local. Tais espécies poderão fornecer teores significativos Com toda a biodiversidade de alimentos presentes na
de macro e micronutrientes na alimentação humana, além de evitar a região norte, as plantas nativas comestíveis não são utilizadas
preda permanente da biodiversidade e da herança genética. suficientemente na dieta regional. Portanto é de grande importância
o desenvolvimento de preparações culinárias utilizando-os,
Destacando a importância econômica e nutricional de mostrando as diferentes formas de utilização desses alimentos,
centenas de espécies nativas subutilizadas nas diferentes regiões valorizando a cultura local, fortalecendo a agricultura familiar,
geopolíticas do Brasil, o governo, através do Ministério do Meio aumentando a produção dessas espécies e contribuindo efetivamente
Ambiente implementou nos anos de 2004 e 2005 a ação “Espécies com práticas promotoras de saúde com o consumo de alimentos
Nativas da Flora Brasileira de Valor econômico e Atual ou autóctones e menos processados
Potencial de Uso Local e Regional – Plantas para o Futuro”.
Nominando que 90% da flora nativa não compõem a dieta do Reintroduzir os alimentos nativos da região norte na
brasileiro6. dieta da população local, através de preparações culinárias
saudáveis com estes alimentos, além de ser fator determinante da
O Brasil, bem como a região norte apresentam segurança alimentar e nutricional, irá coadunar para a
dimensões continentais e a maior biodiversidade do planeta, no implementação de políticas públicas intersetoriais voltadas para a
entanto, apenas em torno de 10% da flora nativa faz parte da biodiversidade, sustentabilidade e para um melhor padrão de
alimentação dos brasileiros. Na região norte, muitas espécies nativas alimentação e nutrição, bem como irá permitir maior acesso da
que fazem parte da alimentação local, hoje são subutilizadas, população a uma biodiversidade da flora amazônica e resgatar a
podendo o resgate dessas espécies representar uma importante cultura alimentar local dos alimentos autóctones da dieta da
estratégia para a segurança alimentar e nutricional e permitir que população indígena da região.
essas espécies não desapareçam.
Desde os primórdios da colonização brasileira, as
A diversidade agrícola é essencial para atender às feiras-livres representam uma prática de congregar pessoas, tendo
necessidades humanas alimentos básicos e para a segurança dos com função abastecer de alimentos as cidades, portanto de grande
meios de subsistência A exploração, avaliação e circulação de importância para economia local8. Trata-se de um local onde de
material florestal A área reprodutiva tem uma longa história no setor múltiplas relações, dede as afetivas, sociais, econômicas e sociais,
florestal. O Os primeiros testes de procedência revelaram que havia onde as pessoas se dirigem a elas por concentrar em um único

550
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

espaço, uma grade diversidade de gêneros alimentícios, bem como 3 TOLEDO, A., BURLINGAME, B. Biodiversity and nutrition: A
outros produtos9.
common path toward global food security and sustainable
Esse estudo teve por objetivo fazer um levantamento development. Journal of Food and Analysis, 2006 19, 477-483.
de espécies vegetais (frutífera, olerículas e tubérculos e raízes)
comercializadas na Feira de Batista Campos, Belém-PA.
4 BURLINGAME B., DERNINI, S. Sustainable diets: the
MATERIAL E MÉTODOS mediterranean diet as an example. Public Health Nutrition, 2011:

Esta feira funciona apenas nos dias de sexta, sábado e 14(12A), 2285-2287.
domingo. As informações foram obtidas no período de janeiro a
dezembro de 2019, através da observação dos vegetais expostos 5 BRASIL. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
para comercialização em 16 barracas dos feirantes.
Nutricional (Consea). II Conferência Nacional de Segurança
RESULTADOS E DISCUSSÃO Alimentar e Nutricional, 17-20 março, 2004. Brasília: Consea;
2004.
Foram inventariadas 38 famílias e 83 espécies assim
distribuídas: pertencentes a, sendo Curcubitaceae (7); Solanaceae
(7); Fabaceae (4); Myrtaceae (4); Moraceae (2); Musaceae (4); 6 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Biodiversidade
Rutaceae (4); Asteraceae (3), Cactaceae (3); Anacardiaceae (3) na nutrição. Brasília, 2013. Disponível em
Clusiacea (3); Liliaceae (3); Malvaceae (3); Sapotaceae (3);
Annonaceae (2); Apiaceae (2); Arecaceae (2); Brassicaceae (2); http://wwwmma.gov.br/informa/item/9094-biodiversidade-na-
Bromeliaceae (2); Malpighiaceae (2); Amaranthaceae (1); alimenta%C3%A7%C3%A3%. Acesso em 10 fev 2020.
Apocynaceae (1); Caricaceae (1); Caryocaraceae (1);
Convolvulaceae (1); Chrysobalanus (1); Dioscoreaceae (1);
Ebenaceae (1); Euphorbiaceae (1); Lamiaceae (1); Lecythidaceae 7 FAO. Elementos del ADB: Elementos para facilitar la aplicación
(1); Oxalidaceae (1); Passifloraceae (1); Poaceae (1); Rubiaceae (1); nacional del acceso y distribución de beneficios en diferentes
Sapindaceae (1); Talinaceae (1); Vitaceae (1). Da biodiversidade
encontrada na feira, as frutíferas representaram o maior número, subsectores de los recursos genéticos para la alimentación y la
com 63,8% das espécies, enquanto que as olerículas e tubérculos e agricultura – con notas explicativas. Roma.2019.
raízes, representaram 28,9% e 7,3%, respectivamente. Apesar de ser
uma feira-livre pequena, verifica-se uma grande biodiversidade
vegetal disponível para comércio, fortalecendo a segurança 8 JESUS, GM. O lugar da feira-livre na cidade capitalista. Ver Bras
alimentar e nutricional da população.
Os recursos fitogenéticos encontrados apresentavam as Geografia, Rio de Janeiro, 54(1):95–121, 1992.
seguintes denominações populares locais: foram: beterraba, manga,
taperebá, ciriguela, graviola, beribá, cheiro-verde, cenoura, 9 COUTINHO, E. P.et al.Condições de higiene das feiras livres dos
mangaba, coco, pupunha, alface americana, alface crespa, jambu,
couve, repolho, abacaxi – pérola, pitaia -vermelha por dentro com municípios de Bananeira, Solânea e Guarabira. In:XEncontro de
pele rosa, pitaia - branca por dentro com pele amarela, pitaia - Extensão da UFPB – PRAC, 2006.
branca por dentro com pele rosa, mamão papaia, pequiá, bacuripari,
bacuri, mangostão, batata – doce, ajuru, maxixe, melancia, melão,
10 FAO. Secretaría de la Comisión de Recursos Genéticos para la
jerimum, melão, pepino, chuchu, cará-roxo, caqui chocolate,
Alimentación y la Agricultura. Disponível em:
macaxeira, feijão de corda, ingá-cipó, tamarindo, jatobá, alfavaca,
Web: http://www.fao.org/nr/cgrfa/cgrfa-home/es/. Acesso em 10.fev
castanha-do Pará, cebola, cebolinha, alho, quiabo, cupuaçu, cupuí,
2020.
murici, acerola, camu-camu, fruta-pão, jaca, banana da terra, banana
maçã, banana nanica, banana prata, araçá – boi, jambo, goiaba,
maracujá – azedo, milho, jenipapo, laranja – lima, limão – galego,
limão – tahiti, rambutão, sapoti, camitiê, batata inglesa, camapum,
pimentão, pimenta – de – cheiro, pimenta – doce, tomate – azedo,
berinjela, cariru.

CONCLUSÃO

Foi caracterizada uma grande variedade de recursos


fitogenético nesta feira, fortalecendo, portanto, a segurança alimentar
da população local, além de contribuir para que muitos dos recursos
fitogenéticos comercializados, fossem conhecidos pelos
frequentadores da feira-livre.

REFERÊNCIAS

1 CHARRONDIÈRE, U.R, STADLMAYR, B.,


RITTENSCHOBER, D., MOUILLE B., NILSSON, E.
FAO/INFOODS food composition database for biodiversity. Food
chemistry,140, 408-412. 2013.

2 NEBAMBI, L., BURLINGAME B., CREWS, J. Horticulture,


biodiversity and nutrition. Journal of Food Composition and
Analysis, 2010, (23): 481-485.

551
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação microbiológica de farinha de linhaça (Linun usitatissimun L.)


comercializada na cidade de Fortaleza/CE

Adriana M Nogueira¹, Francisco E R Paes¹, Kamila de L Santos¹, Larissa M R da Silva², Neuma M de S


Pinheiro³, Selvina D S Mendes¹.

¹ Mestrandos em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela universidade Federal do Ceará


² Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela universidade Federal do Ceará.
³ Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela universidade Federal do Ceará.
E-mail para contato: paes.elvino@gmail.com

Palavras-chaves: Contaminação. Coliformes. Bolores. Comercialização.

INTRODUÇÃO parâmetro legal de avaliação dos produtos ou por maiores precauções


a não se atingir os limites máximos estabelecidos (11,12).
As farinhas, de um modo geral, são consideradas um produto seguro
do ponto de vista microbiológico, uma vez que possuem baixa Tabela 1. Quantificação de coliformes totais (CT), coliformes
atividade de água (1). No entanto a falta de cuidados devido à termotolerantes (CTE) e contagem de bolores, para farinha de linhaça
comercialização a granel e algumas vezes o uso de embalagens dourada comercializada a granel no município de Fortaleza/CE no
inadequadas, sementes e grãos podem ser alvo de microrganismos período de novembro de 2018.
deteriorantes, tais como fungos (2,3). CT
Os fungos além de degradar o alimento podem prejudicar a saúde CTE Bolores
Amostra (máximo
humana pois podem sobreviver por longos períodos e produzir (NMP/g) (UFC/g)
NMP/g)
toxinas que muitas vezes são termorresistentes, em ambiente de
A 3,6 <3,0 *
processamento e armazenamento; nos armazéns, moinhos, silos,
moegas, elevadores e outros equipamentos (1,2,3). B <3,0 <3,0 1,4 x 10³
As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por bolores,
C 29 <3,0 7,0 x 10²
que apresentam efeitos tóxicos, mutagênicos e teratogênicos,
incluindo potencial atividade imunossupressora e efeitos D 3,6 <3,0 *
carcinogênicos (4). Há muitos fatores que predispõem à produção de
micotoxinas por fungos, incluindo tipo e disponibilidade de E <3,0 <3,0 1,1 x 10³
substrato, condições climáticas, condições de armazenamento e * sem crescimento aparente de colônias típicas de bolores
processamento (5,6,7).
O estudo apresentará dados que influenciarão no armazenamento
adequado de alimentos naturais, utilizando parâmetros quantitativos e De acordo com a Legislação Brasileira (10) não há previsão de
comprovadamente aceitos pelas legislações nacionais vigentes, RDC limites para contagem padrão em placas para bolores. A análise da
12. Dessa forma, a pesquisa teve como objetivo avaliar presença de tais microrganismos torna-se importante, por serem
microbiologicamente, farinha de linhaça comercializada na cidade de responsáveis por acelerar a deterioração dos alimentos, reduzir o
Fortaleza/CE através da contagem de coliformes totais e valor nutricional e provocar mudanças às qualidades organolépticas
termotolerantes e de bolores. do produto; fatores indesejáveis que afeta a vida de prateleira dos
alimentos (14).
MATERIAIS E MÉTODOS Houve crescimento de bolores nas amostras B, E e C. O maior
crescimento foi detectado na amostra B seguido pelas amostras E e
As amostras de farinhas de linhaça dourada foram adquiridas no C, com respectivas médias de 1,4 x 103, 1,1 x 103 e 7,0 x 10² UFC/g.
comércio varejista da cidade de Fortaleza, Ceará. Foi obtido cinco Outros estudos encontraram de 2,5 x 10 a 7,7 x 10² UFC/g de
amostras de comercialização a granel, codificadas pelas letras A, B, bolores para amostras de farinhas de linhaça comercializadas Vitória
C, D e E. Todas estavam dentro do período de validade, portanto da Conquista na Bahia (12). Outro estudo observou valores ainda
aptas a comercialização, segundo o estabelecimento de venda. menor para bolores e leveduras de 1,0 x 10² UFC/g para farinha de
Os procedimentos adotados foram estabelecidos pela American linhaça comercializada em Natal no Rio Grande do Norte (13). O
Public Health Association – APHA com modificações (8, 9) e presente estudo apontou valores superior ao relatado em outros
expressos em NMP/g para coliformes totais (CT) e termotolerantes estudos.
(CTE) e UFC/g para contagem de bolores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO

Os resultados apresentados na Tabela 01 mostram que não houve As farinhas de linhaça comercializadas na cidade de Fortaleza/CE
contaminação de CT significativa. Mesmo sem existir uma legislação não apresentaram coliformes em quantidades superiores à
para tal é utilizada como indicador na contagem de CTE. A análise estabelecida na legislação, que possam rejeitar ou impedir o seu
de CT mostrou que os valores foram inferiores a 3,6 para amostra A consumo. Contudo a contagem de bolores mostrou um elevado
e D, inferiores a 3,0 para amostra B e E. A amostra C foi a que crescimento em comparação a outros estudos. Havendo necessidade
apresentou a maior variação dentre os ensaios, com máximo de 29 de controlar o ambiente e condições de armazenamento destas
NMP/g. farinhas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece limites para A microbiologia dos alimentos é uma importante área da ciência e
contagem de coliformes a 45 ºC, o qual inclui os de denominação tecnologia dos alimentos, uma vez que muitos microrganismos
fecal, termorresistente e termotolerante (10), inaceitável quando podem causar doenças transmitidas por alimentos (DTA), decorrente
superior a 10² UFC/g. O metodologia do número mais provável das condições de processamento e armazenamento em locais de
(NMP) é adotada para estimar o número de colônias em cada amostra comercialização. Além de reduzir a estabilidade dos alimentos e
analisada. A determinação de CTE para farinha de linhaça não consequentemente sua vida de prateleira.
constatou contaminação, apresentando valores inferiores a 3,0
NMP/g em cada uma amostra, isto é, dentro do padrão exigido e AGRADECIMENTOS
considerado muito baixo.
De modo geral pesquisas envolvendo a avaliação de coliformes em O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
linhaça e suas farinhas apresentam valores considerados como Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
ausência para coliformes a 45 ºC, provavelmente por tratar-se de um Código de Financiamento 001.

552
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Os autores agradecem ao Laboratório de microbiologia de alimentos


do DEAL/CCA/UFC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7. Covarelli, L.; Beccari, G.; Prodi, A.; Generotti, S.; Etruschi, F.;
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enniatins in vitro by wheat Fusarium species and natural grain
contamination in an area of central Italy. Food microbiology, v. 46,
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estocagem, Revista UNI-RN, Natal, v. 12, n. 1/2, p. 55-71, 2013.

14. Borges, C.B.F.; Bonnas, D.S. Qualidade microbiológica da


linhaça (Linum usitatissiumum L.) in natura comercializada no
município de Uberlândia–MG. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 7,
n. 12, p. 1-8, 2011.

553
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Ecologia Microbiana da Água Mineral em Poço de Extração e como Produto Final


Danilo Vilas Boas¹, Juliana Matos², Francine Paz², Joselene Nascimento², Anderson S. Sant’Ana¹, Clícia Leite²
1- Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Departamento de Ciência de Alimentos, Faculdade de
Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP, e-mail: danilo_mvb1808@hotmail.com.
2- Laboratório de Microbiologia de Alimentos, Departamento de Análises Bromatológicas, Faculdade de Farmácia,
Universidade Federal do Bahia, Salvador – BA.
Palavras chave: segurança microbiológica; boas práticas; saúde pública.
INTRODUÇÃO gelo, cadastradas de acordo com o local, data e horário da colheita,
A contaminação dos recursos hídricos por agentes patogênicos levando em consideração o intervalo máximo de 24 horas entre a
e a subsequente infecção humana constitui-se como um dos principais obtenção e o início das análises.
problemas em nível de saúde pública, mesmo em nações desenvolvidas,
já que este recurso é amplamente utilizado nos mais diversos setores da Análises microbiológicas
sociedade (1). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), As amostras foram submetidas às análises microbiológicas
a ingestão de água fora dos padrões de qualidade tem sido responsável para determinação do Número Mais Provável (NMP) de Pseudomonas
por 485 mil óbitos por ano, devido a veiculação de diversas doenças aeruginosa, Clostridium perfringens e Enterococus spp., através da
como diarréia, disenteria, hepatite tipo A, cólera, poliomielite e febre técnica dos Tubos Múltiplos, utilizando os meios de cultura Caldo
tifóide (2). No Brasil, dados do Ministério da Saúde, indicam que entre Asparagina, Caldo Diferencial para Clostrídios (DRCM) e Caldo Azida
os anos de 2009 a 2018, a água ocupou o segundo lugar na proporção Dextrose. Além destes parâmetros, foi investigada a presença dos
dos produtos alimentícios incriminados nos surtos de Doenças coliformes totais e termotolerantes, através do método da membrana
Veiculadas por Alimentos (DVA), sendo responsável por 21,1% das filtrante, que envolveu a filtração de volumes adequados da amostra,
notificações no perfil epidemiológico (3). mediante pressão negativa (vácuo) através de membrana de celulose em
Nesse contexto, aliado às percepções negativas que muitos têm polipropileno, com porosidade de 0,45 µm. Para os coliformes totais
sobre a ingestão de água da torneira por esta ser insalubre, utilizou-se o meio de cultura Ágar m-Endo Less e, para os
microbiologicamente insegura e possuir sabor inferior, associado à termotolerantes, o Ágar m-FC. Todos os meios de cultura, soluções e
conotação de segurança com as águas minerais engarrafadas, podem ser reagentes utilizados foram preparados de acordo com as instruções dos
os principais fatores impulsionadores para obtenção destes produtos fabricantes e as análises conduzidas conforme estabelecido pelo
como fontes primárias de água potável (4- 10). A água mineral foi Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (17),
definida pela primeira vez como àquela que contem ao menos 1000 tendo como referência, os padrões sugeridos na RDC n° 274/2005, do
mg/L de constituintes minerais dissolvidos. Esta definição foi alterada Ministério da Saúde (18). Os resultados foram expressos em NMP para
algumas vezes, para que águas com menor conteúdo mineral também as análises em Tubos Múltiplos e Unidades Formadoras de Colônias
pudessem ser rotuladas como minerais (11). Atualmente, diversas (UFC) para a técnica em membrana, ambos por 100mL de amostra
legislações internacionais concordam com a definição da água mineral analisada.
como a de origem subterrânea, microbiologicamente saudável,
protegida dos riscos de poluição e claramente distinguível de outros Análise de dados
tipos de água potável, dentre outros fatores, por seu conteúdo Os resultados obtidos através das análises microbiológicas
característico de minerais e demais elementos (12). No entanto, para realizadas no período do estudo, foram compilados em forma de
serem consideradas como minerais naturais estas águas subterrâneas Relatórios de Ensaio, utilizando o Sistema Informático de Controle de
precisam atender aos requisitos técnicos específicos e ter sua extração Processo de Análise (SCPA), um software de gerenciamento de
regulamentada (13). informações relativas às atividades executadas nos laboratórios de
Diante disto, de acordo com a Associação Brasileira da análise de produtos. Para tanto, desenvolveu-se exclusivamente para
Indústria de Água Mineral (ABINAM), o consumo de água mineral no esta finalidade, uma plataforma denominada CloudPro que utiliza o
Brasil tem aumentado progressivamente, fazendo com que o país ocupe banco de dados do SCPA, agrupando-os de acordo com as variáveis
o quinto maior mercado do mundo, com o consumo de 20,8 bilhões de consideradas no estudo. Todos os dados foram analisados utilizando o
litros apenas no mercado interno e média de ingestão de 99,2 litros per teste de qui-quadrado (χ2), que permitiu a comparação entre as
capita a cada ano (14). Contudo, o aumento constante da extração e frequências de reprovação das amostras de água provenientes dos poços
processamento de água mineral pode resultar na alteração da sua de extração e àquelas obtidas nas embalagens originais. O nível de
ecologia microbiana original e, consequentemente, na sua qualidade e significância adotado foi de p<0,05, para intervalo de confiança de
segurança microbiológica, resultando em riscos à saúde pública. As 95%, com análise bicaudal, com utilização do programa estatístico
razões para a multiplicação bacteriana e suas sucessivas gerações após SPSS® 21.0 for Windows.
o engarrafamento da água ainda não estão totalmente esclarecidas. No
entanto, existe um consenso de que a carga bacteriana esteja relacionada RESULTADOS E DISCUSSÃO
com a qualidade da água da nascente e com as boas práticas de higiene Considerando as amostras colhidas diretamente dos poços de
realizadas nas instalações industriais durante os processamentos da extração e àquelas acondicionadas em suas embalagens finais, como
água (15). Esse ecossistema é relativamente desconhecido, dois grupos distintos pareados e dependentes, compostos por nove e 33
principalmente no que diz respeito às mudanças que ocorrem durante o indivíduos cada, respectivamente, obteve-se um total de 42 amostras ao
prazo de validade, onde essas comunidades microbianas podem sofrer final do período de estudo. Ao realizar a análise descritiva dos
alterações com o decorrer do tempo (16). Diante disto, o presente estudo resultados, constatou-se a presença de coliformes totais em quatro
objetivou elucidar a ecologia microbiana da água mineral, desde o poço amostras, com concentrações que variaram de 1,0 a >2,0 x 10² UFC/100
de extração até a obtenção dos produtos finalizados e prontos para o mL de água, sendo duas delas provenientes dos poços (22,2%) e as
consumo. outras dos produtos finalizados (6,1%) consideradas portanto, como
impróprias para o consumo humano, sem diferença estatística entre as
MATERIAL E MÉTODOS mesmas (p=0,143), conforme demonstrado na tabela I. Não detectou-se
nenhuma concentração de Pseudomonas aeruginosa, Clostridium
Amostragem perfringens, Enterococus spp. e coliformes termotolerantes. De forma
Este foi um estudo longitudinal, realizado em uma indústria de semelhante, diversos estudos foram conduzidos no Brasil objetivando
água mineral sediada no estado Bahia, no período de três meses verificar a conformidade da água mineral proveniente de diferentes
(novembro de 2019 a janeiro de 2020). A amostragem foi realizada fontes, com os padrões estabelecidos pela legislação vigente (19-23).
mensalmente, obedecendo as técnicas de assepsia, de forma a preservar Em todos eles, foram quantificados coliformes totais, em concentrações
a microbiota original das amostras, que foram colhidas diretamente das variadas, evidenciando a predisposição da água a contaminantes desta
saídas dos poços de extração e das suas embalagens originais prontas natureza.
para distribuição e consumo, totalizando o montante de 42 amostras. Os indicadores fecais são utilizados para avaliar a qualidade
Estas, foram identificadas, acondicionadas em caixas isotérmicas com da água e o desempenho dos tratamentos aplicados desde o início do

554
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

século 20 e com isso, foram incluídos nos regulamentos de qualidade experimento de degustação às cegas. Ciência do ambiente total, v.
da água em países de todo o mundo. Trata-se de um grupo microbiano 643, p. 1400-1410, 2018.
heterogêneo, definido por características fenotípicas que permitem sua 8. CHIDYA, R. C. G.; SINGANO, L. CHITEDZE, I.; MOURAD, K.
detecção e quantificação seletiva. Fazem parte dele os coliformes totais Standards Compliance and Health Implications of Bottled Water in
e termotolerantes (também conhecidos como fecais), a Escherichia Malawi. International Journal of Environmental Research and
coli, os enterococos e os esporos de clostrídios sulfito redutores (24). Public Health, v. 16, n. 6, p. 951, 2019.
Esses grupos podem não refletir necessariamente uma ameaça à saúde 9. DELPLA, I.; et al. Perception of tap water quality: Assessment of
humana no entanto, indicam a possível presença de outros the factors modifying the links between satisfaction and water
microrganismos com maior patogenicidade (25). Em um sistema de consumption behavior. Science of The Total Environment, p.
distribuição, essas bactérias atuam como sinalizadores operacionais. 137786, 2020.
Sua presença indica o dano na qualidade da água, possivelmente por 10. GEERTS, R.; et al. Bottle or tap? Toward an integrated approach
problemas de reprodução bacteriana ou contaminação pós-extração to water type consumption. Water Research, v. 173, p. 115578, 2020.
(26). 11. KOŃCZYK, Joanna et al. Major inorganic anions and cations in
selected European bottled waters. Journal of Geochemical
Tabela I-Proporção das amostras de água mineral aprovadas e Exploration, v. 197, p. 27-36, 2019.
reprovadas segundo a legislação vigente. 12. LESAULNIER, C.; et al. Bottled aqua incognita: microbiota
Amostras assembly and dissolved organic matter diversity in natural mineral
waters. Microbiome, v. 5, p. 126, 2017.
Poço Produto final
13. GOMES, L.; DE CARVALHO, P.; PAIS, L. Hydrogeochemical
Aprovadas 7 (77,8%) 31 (93,9%) Studies of a Groundwater with a View to its Classification as Mineral
Análise Water for a New Medical Spa in Portugal. In IOP Conference
Reprovadas Series: Earth and Environmental Science, v. 221, 2019.
2 (22,2%) 2 (6,1%)
14. ABINAM, 2018. Disponível em:
Total 9 (100%) 33 (100%) <http://www.abinam.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=71>
Acesso em: 14 fev. 2020.
p = 0,143; Qui-quadrado de Pearson 15. NOVELLO, J.; SILLANKORVA, S.; PIRES, P.; AZEREDO, J.;
WANKE, C.; TONDO, E.; BIANCHI, O. Inactivation of
Como por tradição o conteúdo microbiológico da água é Pseudomonas aeruginosa in mineral water by DP1 bacteriophage
determinado através da utilização de métodos dependentes da cultura immobilized on ethylene‐vinyl acetate copolymer used as seal caps of
que, na maioria das vezes, são incapazes de detectar todos os plastic bottles. Journal of Applied Polymer Science, p. 49009, 2019.
microrganismos, especialmente aqueles que não são cultiváveis, 16. SALA-COMORERA, L.; et al. Traceability of different brands of
estudos com metodologia independente de cultura devem ser utilizados bottled mineral water during shelf life, using PCR-DGGE and next
para uma compreensão mais abrangente do microbioma da água generation sequencing techniques. Food Microbiology, v. 82, p. 1-10,
mineral, considerando desde a sua captação nas fontes naturais, até o 2019.
seu processo industrial com obtenção de produtos acondicionados em 17. APHA. American Public Health Association. Standard methods
embalagens de diversos tipos (27). for the examination of water and wastewater. Washington. 10ed.
2012.
18. BRASIL. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC nº. 275, de 22
CONCLUSÕES de setembro de 2005. Dispõe sobre o regulamento técnico de
Ao confrontar os resultados obtidos nas análises características microbiológicas para água mineral natural e água
microbiológicas das amostras de água mineral, foi possível constatar a natural.
predisposição deste produto a contaminantes microbianos indicadores 19. REIS, L. R.; BEVILACQUA, P. D.; CARMO, R. F. Água
da possível presença de outros patógenos, que podem não estar sendo envasada: qualidade microbiológica e percepção dos consumidores no
detectados devido a utilização de métodos dependentes de cultivo. A município de Viçosa (MG). Caderno de Saúde Coletiva, v. 22, p.
inserção da contaminação na água pode ser proveniente de práticas 224-232, 2014.
inadequadas de fabricação nas indústrias, métodos de higienização 20. GOMES, T. P.; DA SILVA SANTANA, J.; DE CARVALHO, L.
ineficientes, formação de biofilmes ao longo das plantas de R. Avaliação microbiológica de água mineral comercializada no
processamento ou estrutura comprometida das tubulações. Com isso, município de Itabuna-Bahia. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 12,
torna-se imprescindível a adoção de medidas de controle mais rigorosas n. 4, 2015.
para que a incidência das doenças de veiculação hídrica possa ser 21. ALBANO, R. C.; SILVA, L. L.; CASTRO, F. B. G. Análise de
reduzida e desta forma, colaborar para promoção da saúde pública. indicadores microbiológicos em amostras de água mineral natural.
Além disso, os dados analisados apontam para necessidade de novos Cadernos da Escola de Saúde, v. 1, n. 9, 2017.
estudos que objetivem elucidar o microbioma das águas minerais. 22. MARTINS, H. L.; DE LIMA MACHADO, G.C.; DA SILVA
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engarrafada: uma pesquisa orientada a produtos e consumidores e um
27, 2020.

555
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Plantas Alimentícias Não Convencionais na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional

Manuela Cunha1, 2, Ryzia Cardoso1


1
Escola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia, manuelanutri@yahoo.com.br
2
Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Palavras chave: plantas silvestres, soberania alimentar, sociobiodiversidade.

INTRODUÇÃO Em contrapartida, a constatação de que os vegetais possuem substâncias


biologicamente ativas tem impulsionado pesquisas acerca de novas
O consumo de vegetais vem sendo substituído por alimentos fontes desses biocompostos e até mesmo o resgate de espécies que
excessivamente calóricos. No Brasil, como resultado da globalização e atualmente não são mais consumidas, mas apresentam grande potencial
do crescente uso de alimentos industrializados, a alimentação baseada nutricional, podendo promover benefícios à saúde (8).
em vegetais tem diminuído em diversas regiões do país e entre todas as Iniciativas que visem estimular o consumo de vegetais, principalmente
classes sociais, verificando-se mudanças no padrão alimentar e perdas de espécies locais, são importantes para a diversificação da dieta dos
de características culturais e de identidade no consumo de alimentos brasileiros. Ainda, há que se ressaltar a valorização do patrimônio
regionais (1, 2, 3, 4). sociocultural do povo brasileiro. A cultura é o maior patrimônio de
Em paralelo a isso, a tradição do uso de plantas silvestres comestíveis qualquer civilização e a alimentação, com seus pratos típicos e hábitos
tem sido cada vez mais esquecida pela população (5, 6). Muitas dessas alimentares saudáveis, é fundamental para a perpetuação das relações
plantas são chamadas de “daninhas”, “inços”, “matos” e outras culturais existentes nas diferentes regiões do país (1).
denominações reducionistas ou pejorativas, pois suas utilidades e
potencialidades econômicas são desconhecidas (7). 2. PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS NA
As plantas que apresentam potencial alimentar, mas que, por diversos ALIMENTAÇÃO
motivos, não estão disponíveis no circuito global de comercialização e
não são consumidas de forma ampla pela população recebem a O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) definiu
denominação de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) (3, Hortaliças Não Convencionais como sendo espécies vegetais presentes
7). Essas, já estiveram presentes na alimentação humana, porém, aos em determinadas localidades que exercem influência na alimentação de
poucos, foram desvalorizadas, especialmente pela migração da populações tradicionais, como grupos de agricultores familiares que
população para os grandes centros e pelo fato de não possuírem valor têm a sua convivência e sobrevivência ligadas ao campo, e que
comercial representativo (8). No entanto, estudos apontam que as normalmente, não estão organizadas enquanto cadeia produtiva (1). A
PANC são ricas em nutrientes. Muitas delas, apresentam teores de partir do trabalho de Kinupp (7), essas espécies vêm sendo
vitaminas, minerais, fibras e proteínas significativamente maiores do denominadas como Plantas Alimentícias Não Convencionais. As
que as fontes vegetais convencionais (8, 9, 10, 11, 12). PANC são plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, tais
Na dimensão da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), as políticas como raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos,
de estímulo à diversificação e ao crescimento da produção folhas, brotos, flores, frutos e sementes, mas que não estão presentes na
agroalimentar devem estar associadas à valorização das culturas alimentação diária da grande maioria da população (16).
alimentares e ao estímulo ao desenvolvimento local (13). O Há uma grande variedade dessas plantas. A literatura cita mais de 3.000
reconhecimento da importância das PANC pode contribuir para a espécies com potencial alimentício ocorrentes no Brasil. Todavia, a
segurança e soberania alimentar de famílias e para a conservação da maioria não é cultivada, crescendo de maneira espontânea, sem que
biodiversidade (3). sejam plantadas, em áreas antropizadas e até em áreas naturais de
O objetivo do presente trabalho foi ressaltar a importância das Plantas florestas, cerrados e campos (16).
Alimentícias Não Convencionais na promoção da Segurança Alimentar Entretanto, cabe aqui ressaltar que essas plantas podem ter um
e Nutricional da população. importante papel como: suplemento alimentar, fonte de renda
complementar, elemento de fixação do homem no campo, além de
MATEREIAL E MÉTODOS medida de valorização dos recursos naturais e de resgate cultural (7).
Culturas esquecidas nos últimos anos, vêm sendo redescobertas e
Foi realizada uma revisão na literatura, buscando sistematizar podem ajudar a aumentar a diversificação da produção de alimentos,
informações sobre as possíveis contribuições das Plantas Alimentícias bem como a diversificação do consumo de espécies vegetais na
Não Convencionais na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional alimentação. Ademais, o cultivo dessas espécies pode gerar benefícios
da população brasileira. Foram utilizadas referências bibliográficas dos econômicos e ambientais, já que os agricultores podem cultivá-las
últimos dez anos (2009 a 2019), não excluindo publicações dos anos como parte de sistemas de rotação de culturas, de forma a promover a
anteriores que apresentavam conteúdos relevantes para o trabalho. biodiversidade (17).

RESULTADOS E DISCUSSÃO 3. PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS NA


PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
1. PADRÃO ALIMENTAR DOS BRASILEIROS
Um número cada vez menor de espécies de plantas costuma fazer parte
A alimentação dos brasileiros vem se caracterizando pela introdução de da alimentação da população e apenas oito delas: trigo, arroz, milho,
alimentos processados de alta densidade energética, ricos em gordura e batata, mandioca, batata doce, soja e cevada, estão presentes na maioria
açúcar. Esse padrão alimentar é compatível com a elevação das taxas dos produtos alimentícios industrializados. Como resultado desse
de excesso de peso e de distúrbios metabólicos, que têm caracterizado processo, tem sido observado o desaparecimento de várias plantas da
o quadro epidemiológico e nutricional do país (2). Nesse cenário, a alimentação, que poderiam constituir fonte de alimento e renda, o que
substituição de alimentos tradicionais por produtos industrializados se leva ao empobrecimento da dieta em função da mudança do hábito
constitui um grave fator de ameaça à soberania alimentar da população, alimentar e a desvalorização dos produtos locais, além de
uma vez que resulta em maior dependência de alimentos processados, consequências negativas para a conservação da biodiversidade (3).
com custo financeiro (14). O resgate cultural dessas espécies pela população brasileira pode
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em contribuir para a melhorar a condição nutricional e de renda de pessoas
2018, a produção de vegetais no Brasil foi superior a 960,0 milhões de menos favorecidas economicamente, em diversas regiões do país (18).
toneladas (15). Porém, o consumo de vegetais pela população ainda é Além disso, pode ampliar a autonomia das famílias nas escolhas de
considerado baixo. A dieta do brasileiro costuma ser composta alimentos, pois os mesmos estão disponíveis em suas comunidades.
basicamente por: café e pão, arroz, feijão, carne, sucos, refrescos e Isso refletirá no fortalecimento das comunidades para se tornarem
refrigerantes, e poucas frutas e hortaliças (2). Além disso, as pessoas agentes produtores de sua saúde, desenvolvendo a capacidade de
não costumam utilizar as espécies nativas de vegetais, que apresentam autocuidado e também de agir sobre os fatores ambientais que
potencial para a diversificação dos cardápios (16). determinam sua saúde (19).

556
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

No Brasil, o cultivo das PANC é feito predominantemente por 8. VIANA, M. M. S. Potencial nutricional, antioxidante e atividade
agricultores familiares e a maioria da produção ainda está estabelecida Biológica de hortaliças não convencionais, Sete Lagoas/MG. 2013.
somente nos quintais, para o consumo próprio, sem nenhum apelo 77p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade
comercial (1). Portanto, o estímulo e o apoio à agricultura familiar têm Federal de São João del Rei, Programa de Pós-Graduação em Ciências
se mostrado relevantes para a formulação e a implementação de ações Agrárias, Sete Lagoas, 2013.
de Segurança Alimentar e Nutricional e de desenvolvimento local, que 9. KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. Teores de proteínas e minerais de
visem promover o Direito Humano à Alimentação Adequada (20). espécies nativas, potenciais hortaliças e frutas. Ciênc. Tecnol.
A produção de alimentos, especialmente da agricultura familiar, tem se Alimentos. Campinas, v. 28, n. 4, p. 846-857, out./dez. 2008.
fortalecido com iniciativas de articulação de políticas públicas, a 10. PAULA FILHO, G. X. Frutas alimentícias não convencionais da
exemplo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (20, zona rural de Viçosa, Minas Gerais: levantamento etnobotânico e
21). A alimentação escolar pode agregar os produtos da valor nutricional, Viçosa/MG. 2013. 324p. Dissertação (Mestrado em
sociobiodiversidade (inter-relação entre a diversidade biológica e a Agroecologia) - Universidade Federal de Viçosa. Programa de Pós-
diversidade de sistemas socioculturais), valorizando a produção local, Graduação em Agroecologia, Viçosa, 2013.
de forma a resgatar culturas alimentares e promover a diversificação da 11. ALMEIDA, M. E. F.; JUNQUEIRA, A. M. B.; SIMÃO, A. A.;
alimentação nas escolas, na perspectiva da Segurança Alimentar e CORRÊA, A. D. Caracterização química das hortaliças não-
Nutricional. Como exemplos de espécies nativas de uso alimentício da convencionais conhecidas como ora-pro-nobis. Biosci. J. Uberlandia,
sociobiodiversidade, registram-se: guabiroba, pinhão, pitanga, v. 30, supplement 1, p. 431-439, Jun. 2014.
jaboticaba, cagaita, jatobá, mangaba, pequi, babaçu, jenipapo, umbu, 12. BEZERRA, A. S.; STANKIEVICZ, S. A.; KAUFMANN, A. I.;
murici, baru, buriti, dentre outras (22). MACHADO, A. A. R.; UCZAY, J. Composição nutricional e atividade
Alguns estudos apontam que há viabilidade na utilização de algumas antioxidante de plantas alimentícias não convencionais da região sul do
PANC na alimentação escolar. Monego et al. (23), por exemplo, Brasil. Arq. Bras. de Aliment., v. 1, n. 1, p. 182-188, 2017.
caracterizaram a produção e o potencial produtivo de frutos nativos do 13. TRICHES, R. M.; SCHNEIDER, Sergio. Alimentação escolar e
Cerrado (baru, buriti, cagaita, jatobá, mangaba e pequi) com vistas à agricultura familiar: reconectando o consumo à produção. Saúde Soc.
sua inserção na alimentação escolar e concluíram que apesar desses São Paulo, v. 19, n. 4, p. 933-945, 2010.
frutos apresentam grande potencial produtivo, valor nutricional e 14. DUTRA, L. V. Insegurança alimentar e nutricional e produção
comercial para utilização na alimentação escolar, são alimentos para o autoconsumo na zona rural de São Miguel do Anta, Minas
subaproveitados, sendo sua produção pouco explorada. Já Soares et al. Gerais, Viçosa/MG. 2013. 118p. Dissertação (Mestrado em
(24) e Ortolan et al. (25), desenvolveram, respectivamente, cookies Agroecologia) - Universidade Federal de Viçosa. Programa de Pós-
adicionados de farinha de jatobá e cupcakes adicionados de farinha de Graduação em Agroecologia, Viçosa, 2013.
baru, com o objetivo de avaliar a aceitabilidade desses entre crianças 15. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Área,
em idade escolar. Os produtos foram bem aceitos pelas crianças. Produção e Rendimento Médio – Confronto das safras de 2017 e
É importante destacar que a valorização dos alimentos regionais das estimativas para 2018. Disponível em:
possibilita a geração de renda, promovendo a sustentabilidade, práticas <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ls
alimentares mais saudáveis e respeito à identidade cultural das pa/defaulttab.shtm>. Acesso em: 20 de março de 2019.
comunidades, em consonância às diretrizes da Segurança Alimentar e 16. KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não
Nutricional (23). Outrossim, ainda são insuficientes os registros quanto Convencionais (Panc) no Brasil. São Paulo: Instituto Plantarum de
às iniciativas para utilização das PANC na alimentação. Essas Estudos da Flora, 2014. 768p.
informações, poderiam contribuir para o uso cotidiano das espécies e 17. FAO - Food and Agricultural Organization of the United Nations.
reconhecimento dos seus benefícios, tornando-as tão apreciadas quanto Promoting neglected and underutilized crop species. Roma. 2017.
os alimentos convencionais (3). Disponível
em:<http://www.fao.org/news/story/en/item/1032516/icode/>. Acesso
CONCLUSÕES em: 08 de julho de 2019.
18. ALMEIDA, M. E. F.; CORRÊA, A. D.. Utilização de cactáceas do
Estudos apontam que a valorização das Plantas Alimentícias Não gênero Pereskia na alimentação humana em um município de Minas
Convencionais pode ser importante para promover a SAN. Todavia, Gerais. Ciência Rural. Santa Maria, v. 42, n. 4, p. 751-756, abr. 2012.
pesquisas que abordem o tema PANC na promoção da Segurança 19. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Alimentar e Nutricional ainda são escassas. Trabalhos nessa vertente Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população
poderiam contribuir para: a conservação da biodiversidade e brasileira. 2 ed., 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
sustentabilidade alimentar, o estimulo à produção e o desenvolvimento 20. SARAIVA, E. B.; SILVA, A. P. F.; SOUSA, A. A.; CERQUEIRA,
local, o resgate de culturas alimentares e diversificação da alimentação G. F.; CHAGAS, C. M. S.; TORAL, N. Panorama da compra de
da população, na perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional. alimentos da agricultura familiar para o Programa Nacional de
Alimentação Escolar. Ciên. & Saúde Colet.. Rio de Janeiro, v. 18, n.
REFERÊNCIAS 4, p. 927-936, 2013.
21. HUNTER, D.; BORELLI, T.; BELTRAME, D. M. O.; OLIVEIRA,
1. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. C. N. S.; CORADIN, L.; WASIKE, V. W.; WASILWA, L.; MWAI, J.;
Secret. de Desenv. Agropecuário e Cooperativismo. Hortaliças não- MANJELLA, A.; SAMARASINGHE, G. W. L.; MADHUJITH, T.;
convencionais (tradicionais). Brasília: MAPA/ACS, 2010. 52p. NADEESHANI, H. V. H.; TAN, A.; TUĞRUL AY, S.; GÜZELSOY,
2. SOUZA, A. M.; PEREIRA, R. A; YOKOO, E. M.; LEVY, R. B.; N.; LAURIDSEN, N.; GEE, E.; TARTANAC, F. The potential of
SICHIERI, R. Most consumed foods in Brazil: national dietary survey neglected and underutilized species for improving diets and nutrition.
2008-2009. Rev. Saúde Pública.. São Paulo, v. 47, 1 supl., fev. 2013. Planta, p. 1-21, 2019.
3. CHAVES, M. S. Plantas alimentícias não convencionais em 22. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Departamento de
comunidades ribeirinhas na Amazônia, Viçosa/MG. 2016. 108p. conservação da biodiversidade. Caatinga: contexto, características e
Dissertação (Mestrado em Agroecologia) - Universidade Federal de estratégias de conservação. Brasília, 2012. Disponível em:
Viçosa. Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, Viçosa, 2016. <http://www.mma.gov.br/component/k2/itemlist/category/55-
4. MONTEIRO, C. A.; CANNON, G.; MOUBARAC, J-C.; LEVY, R. caatinga?start=15>. Acesso em: 03 de outubro de 2019.
B.; LOUZADA, M. L. C.; JAIME, P. C. The UN Decade of Nutrition, 23. MONEGO, E. T.; ALEXANDRE, V. P; SOUSA, L. M.;
the NOVA food classification and the trouble with ultra-processing. MARTINS, K. A.; ROSA, J. Q. S.; SOUZA, P. L. C; ASSIS, J. N.
Public Health Nutrition., v. 21, n. 1, p. 5-17, 2017. Produção e potencial agrícolas de alimentos destinados à alimentação
5. CRUZ, M. P.; PERONI, N.; ALBUQUERQUE, U. P. Knowledge, escolar em Goiás e no Distrito Federal, na Região Centro-Oeste do
use and management of native wild edible plants from a seasonal dry Brasil. Rev. de Nut.. Campinas, v. 26, n. 2, p. 233-241, mar./abr., 2013.
forest (NE, Brazil). Jour. of Ethnob. and Ethnomed., v. 9, n. 79, 2013. 24. SOARES, J. M.; SANTOS, M. M. R; CANDIDO, C. J.; SANTOS,
6. MELDRUM, G.; PADULOSI, S.; LOCHETTI, G.; ROBITAILLE, E. F.; NOVELLO, D. Cookies adicionados de farinha de jatobá:
R.; DIULGHEROFF, S. Issues and prospects for the sustainable use composição química e análise sensorial entre crianças. Brazilian
and conservation of cultivated vegetable diversity for more nutrition- Journal of Health Research, v. 18, n. 3, p. 74-82, 2016.
sensitive agriculture. Agriculture, v. 8, n. 7, p. 112, 2018. 25. ORTOLAN, A. V.; EING, K. K. C.; SANTOS, M. M. R.;
7. KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não-convencionais da região CANDIDO, C. J.; SANTOS, E. F.; NOVELLO, D. Adição de farinha
metropolitana de Porto Alegre, RS, Porto Alegre/RS. 2007. 560p. de baru em cupcakes: caracterização físico-química e sensorial entre
Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Universidade Federal do Rio Grande crianças. Mundo saúde (Impr.), v. 40, n. 2, p. 213-220, 2016.
do Sul. Faculdade de Agronomia, Porto Alegre, 2007.

557
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da qualidade do sono e percentual de gordura em funcionários de um restaurante


comercial em Fortaleza, CE

Karina P. de Oliveira1, Laerte F. H. Lobo2, Luiz E. T. de Oliveira2, Janaina M. M. Vieira3, Bárbara R. da C. de O. P.


Coutinho4, Camila P. Pereira5
1
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, Universidade de Fortaleza – Unifor, email:
karinapedroza1807@gmail.com, 2Discente do curso de Nutrição, Universidade de Fortaleza – Unifor, 3Doutora em
Engenharia Química, Centro Universitário Fanor – UniFanor, 4Mestre em Bioquímica, Centro Universitário Fanor –
UniFanor, 5Mestre em Nutrição e Saúde, Centro Universitário Fametro - Unifametro

Palavras-chave: obesidade, sono, restaurante.

INTRODUÇÃO adipômetro Cescorf por um estagiário de nutrição capacitado para tal


A obesidade é uma causa de preocupação mundial com a saúde pois o atividade.
excesso de peso traz consigo diversas comorbidades como por Após a avaliação das dobras cutâneas os colaboradores foram
exemplo o aumento do risco de doença cardiovasculares, diabetes, submetidos ao questionário de Pittsburgh, o qual foi utilizado para
câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis. O sobrepeso e a avaliar a qualidade subjetiva do sono, sendo um instrumento de alta
obesidade geralmente são classificados pelo IMC (índice de massa confiabilidade e que é validado pela comunidade científica, o
corporal), o qual é calculado como peso atual em quilogramas questionário se compõe de 19 perguntas que são reunidos em sete
dividido pela altura em metros ao quadrado, além do IMC existem grupos onde cada um é pontuado em uma escala de 0 a 3. Os grupos
outras avaliações como circunferência da cintura, % de gordura, avaliam separadamente a qualidade subjetiva do sono, latência do
dentre outros (1). sono, duração do sono, eficácia habitual do sono, alterações do sono,
A incidência e prevalência no Brasil têm aumentado cada vez mais uso de medicações para o sono e disfunções diurnas. Ao término das
durante os anos, para ser mais preciso, os índices de sobrepeso no país respostas dos sete grupos se tem um somatório de pontuação global do
aumentaram de 42,6% para 55,7% da população no período de 2006 a questionário que pode variar entre 0 a 21, onde pontuações de 0 a 4
2018, e os níveis de obesidade se elevaram de 11,8% para 19,8%, ou indicam boa qualidade do sono, pontuações de 5 a 10 indicam
seja mais da metade da população brasileira se encontra com qualidade de sono ruim e pontuações acima de 10 indicam distúrbios
sobrepeso, o que se torna um dado de saúde pública bastante do sono.
preocupante (2). Logo após a resposta dos colaboradores os dados foram analisados e
Concomitante ao crescimento de excesso de peso, pode-se observar foi feito um cruzamento de dados, entre o % de gordura obtido pelo
um aumento da privação voluntária de sono, onde as pessoas estão somatório de dobras cutâneas e pontuação obtida pelo questionário.
dormindo cada vez menos por seus estilos de vida mais frenéticos e
mudanças de hábitos que o avanço da tecnologia trouxe consigo (3). RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhos que envolvem especialmente o turno noturno, como o de Na tabela 1 são demostrados os resultados obtidos no restaurante,
diversos cargos de colaboradores do restaurante podem gerar maiores demonstrando a função dos avaliados, sua pontuação na escala de
sensações de cansaço, isolamento social, maior exposição a violência qualidade de sono de Pittsburgh e o respectivo % de gordura de cada
urbana e privação do tempo de sono, dessa forma diminuindo a um.
duração do tempo de sono hábil desses colaboradores (4).
Essa curta duração de sono pode influenciar a obesidade através de Tabela 1. Pontuação dos questionários de Pittsburgh, % de gordura
diferentes formas, como por o exemplo o aumento da ingestão aferidos e suas respectivas médias.
alimentar pela alteração da produção hormonal de hormônios
anorexígenos e orexígenos, como a leptina e a grelina respectivamente
(5).
Além da obesidade a redução do tempo de sono pode acarretar outros
problemas como maior sonolência durante o dia, cansaço exacerbado
e redução da otimização do trabalho de profissionais durante seu
horário de trabalho ou estudo (6).
Logo, dentro do restaurante comercial, se fez objetivou avaliar a
qualidade do sono dos colaboradores em geral para poder
correlacionar com seu desempenho no trabalho e correlacionar com a
composição corporal de cada colaborador, visando dessa forma
observar possível correlação entre excesso de peso e restrição de sono.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em um restaurante comercial localizado em
área turística do município de Fortaleza, Ceará. Trata-se de um estudo Dentro da população estudada encontrou-se um número bastante
transversal e quantitativo. O presente estudo apresentou a participação expressivo de indivíduos que têm uma qualidade de sono ruim
de 13 colaboradores da UAN, dentre eles chefes de cozinhas, segundo a escala definida pelo questionário de Pitsburgh, onde apenas
auxiliares de cozinhas, almoxarifes, caixa, pieiro, gerentes um dos indivíduos avaliados obteve pontuação que indica uma boa
operacionais, consultores, barmens, porcionador, de ambos os sexos. qualidade do sono.
O critério de inclusão se embasava em todos os colaboradores de Associado ao questionário de Pitsburgh pode-se avaliar uma
qualquer idade que estivessem presentes no restaurante, aceitassem o correlação de uma maior pontuação, que indica uma baixa qualidade
convite e que tivessem seguido o protocolo de fidedignidade de de sono, com um maior % de gordura na maioria dos indivíduos
resultados da bioimpedância, com no mínimo duas horas sem comer e avaliados sendo possível correlacionar possíveis disfunções em
uma hora sem beber água ou qualquer outro tipo de líquidos, dessa mecanismos metabólicos, como por exemplo a disfunção da sensação
forma deixando o resultado mais confiável. O critério de exclusão se de saciedade relatada por Patel (8).
deu através do não cumprimento do protocolo de fidedignidade de Logo, esse estudo deve estimular a necessidade da realização de
resultado da bioimpedância, em prol de deixar o resultado o mais outros trabalhos científicos que ressaltem a importância de uma boa
fidedigno possível ou colaboradores que se negassem a participar. qualidade do sono e sua relação com a saúde para que colaboradores
Para avaliação de % de gordura por pregas cutâneas, foi utilizado o de restaurante ou outros segmentos que tenham a qualidade do seu
método de Durnin e Womersley (7) que avalia prega bíciptal, triciptal, sono prejudicada por motivos profissionais, possam entender os
suprailíaca e subescapular, tais pregas foram avaliadas com o motivos de diversos efeitos deletérios dessa baixa qualidade do sono e

558
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

busquem uma melhor qualidade de vida, adequando seus horários de e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília:
trabalho da melhor forma junto ao empregador. Ministério da saúde, 2018.
(3) HRUBY, Adela et al. Determinants and Consequences of
CONCLUSÃO Obesity. AJPH American Journal of Public Health. Washington,
O presente trabalho elenca a grande importância de poder avaliar a Dc, p. 1656-1662. 2016.
qualidade do sono em trabalhadores de restaurantes e trabalhadores (4) DINIZ, Ana Paula Rodrigues; CARRIERI, Alexandre de Pádua;
que usem parte da noite para prestação de serviços, pois essa privação BARROS, Amon Narciso de. Invisibilidade social e trabalho noturno:
de sono de forma crônica pode acarretar alguns malefícios a saúde dos reflex�es a partir de representaç�es sociais de garçons. Gestão e
trabalhadores, como por exemplo a obesidade. Planejamento, Salvador, v. 1, n. 14, p.18-38, abr. 2013
Porém se faz necessário a realização de mais estudos que associem a (5) OGILVIE, Rachel P.; PATEL, Sanjay R.. The epidemiology of
baixa qualidade do sono com o % de gordura em prol de enriquecer as sleep and obesity. Sleep Health, v. 3, n. 5, p.383-388, 2017. Elsevier
evidências científicas, pois não foi possível correlacionar indivíduos BV.
com má qualidade do sono com indivíduos que tenham uma boa (6) PURIM, Kátia Sheylla Malta et al. Sleep deprivation and
qualidade do sono, pois além do número de amostra do estudo ser drowsiness of medical residents and medical students. Revista do
pequeno, quase toda a amostra apresentou baixa qualidade do sono. Colégio Brasileiro de Cirurgiões, [s.l.], v. 43, n. 6, p.438-444, dez.
2016. FapUNIFESP (SciELO).
REFERÊNCIAS (7) DURNIN J.V., WOMERSLEY J. Body fat assessed from total
(1) ENGIN, Atilla. The Definition and Prevalence of Obesity and body density and its estimation from skinfold thickness:
Metabolic Syndrome. Obesity And Lipotoxicity, p.1-17, 2017. Measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br.
Springer International Publishing. J. Nutr. 1974;32:77–97. doi: 10.1079/BJN19740060.
(2) BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de vigilância em saúde. (8) PATEL, Sanjay R.; HU, Frank B.. Short Sleep Duration and
Departamento de vigilância de doenças e agravos não transmissíveis e Weight Gain: A Systematic Review. Obesity, [s.l.], v. 16, n. 3, p.643-
promoção da saúde. Vigitel. Brasil 2018: vigilância de fatores de risco 653, 17 jan. 2008.

559
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estudo da Adequação da Estrutura Física em uma Unidade de Alimentação e Nutrição do


tipo Comercial no Município de Fortaleza - CE

Karina P. de Oliveira1, Silvana Mara Prado Cysne Maia2, Aryelle Santos Aguiar3, João Lucas Ferreira Andrade3.

Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, Universidade de Fortaleza – Unifor, email:


1

karinapedroza1807@gmail.com, 2Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade de Fortaleza – Unifor,


3
Discente do curso de Nutrição, Universidade de Fortaleza – Unifor

Palavras-chave: Alimentação Coletiva. Lista de verificação. Legislação de alimentos.

INTRODUÇÃO ser utilizadas para implantação de um novo fluxo, transferindo setores


Atualmente observa-se um crescimento na área de alimentação que se encontram distantes, acarretando erros quanto ao fluxo de
coletiva, tendo como principal setor de trabalho a Unidade de algumas preparações (6).
Alimentação e nutrição (UAN) (2). Com intuito de gerar um serviço de Uma pesquisa realizada em uma unidade de alimentação e nutrição do
qualidade, um ambiente acolhedor e saudável dentro da UAN para a tipo hospitalar da cidade de Ponta Grossa – Paraná, encontrou
clientela e colaboradores é necessário observar aspectos como a irregularidades quanto a estrutura do local e seu fluxo, além de erros
ambientação, o tipo de cardápio e o dimensionamento físico-funcional nas distribuições das áreas. Acarretando possíveis contaminações
(1). O planejamento físico-funcional realizado de forma correta dentro cruzadas nos setores de recebimento, armazenamento e distribuição
de uma unidade de alimentação e nutrição auxilia aumentando a para áreas de preparo e cocção (3).
produtividade do estabelecimento, diminuindo custos, além de Outro recente estudo realizado com cinco unidades de alimentação e
estabelecer um fluxo mais adequado possível com o dia a dia da unidade nutrição na cidade de São Paulo foram encontrados erros relacionados
(3, 4). Pensando nisso é importante que seja planejado um layout aos fluxos de preparo, pré-preparo, recebimento de matérias primas e
adequado para a área física da UAN. Estudos indicam que a proposta lixo, o que ocasionava contaminações cruzadas e problemas
de um layout adequado melhora fluxos de produção, além de auxiliar relacionados a realização de atividades no mesmo setor, gerando
no dimensionamento de equipamentos com intuito de diminuir riscos cruzamento de etapas (7).
ergonômicos e contaminações cruzadas, diminuindo assim ocorrências
de Doenças transmissíveis por alimentos (DTA's) (1). Figura 1 – Layout de uma Unidade da Alimentação e Nutrição do tipo
É de extrema importância realizar uma análise completa do comercial no município de Fortaleza – CE.
dimensionamento da estrutura física-funcional da UAN, para que se
possa realizar um projeto de melhorias de forma adequada, adaptando-
se a realidade da UAN, a fim de evitar desperdícios financeiros e
problemas operacionais durante o horário de produção (5).
Entende-se que as unidades de alimentação e nutrição se encontram
inadequadas com relação a estrutura física e layout como preconiza a
resolução RDC n° 216/2004 (6). Este trabalho tem como objetivo
avaliar o nível de adequação da estrutura física funcional e layout, de
uma unidade de alimentação e nutrição do tipo comercial na cidade de
Fortaleza - CE.
Legenda: W.C (banheiro), C. fria (câmara fria), c. congelada (câmara
MATERIAL E MÉTODOS congelada), linha verde (fluxo do lixo), linha amarela (fluxo de
Trata-se de um estudo qualitativo, numa perspectiva comparativa entre produto), linha laranja (fluxo de produto).
o atual layout da unidade e a legislação RDC n° 216/2004 (6) e seu
checklist. O estudo foi realizado nos meses de fevereiro e março no ano Como ferramenta avaliativa foi utilizado o checklist da RDC n°
de 2020, em uma Unidade de Alimentação e Nutrição do tipo comercial, 216/2004 (6), para então classificar a unidade. Após sua aplicação o
que trabalha com self-service, delicatessen e padaria, localizada em estabelecimento foi classificado no segundo grupo, apresentando um
Fortaleza - CE. O local foi analisado a estrutura e coletado os dados quantitativo de 64 itens adequados equivalendo em percentual a 68%
durante quatro (4) dias por semana (de segunda a quinta), cinco (5) (6). Um estudo aplicado em um hotel localizado na cidade de Piraí do
horas por dia, durante o turno da manhã. Sul, buscou-se avaliar o layout do local, para isso foi utilizado como
Para a realização da pesquisa e coleta de dados, foi utilizado o primeiro ferramenta classificatória da UAN o questionário presente na RDC
bloco de quesitos (totalizando 93 itens) do checklist com foco na 216/2004. De acordo com o checklist o estabelecimento apresentou
estrutura física levando em consideração as edificações, instalações, adequações em 75% das questões, classificando-se no grupo 2 (8).
equipamentos, móveis e utensílios. Por meio dessa aplicação e É comum unidades de alimentação e nutrição que se classificam no
observação, os itens foram avaliados como, conformes, não conformes grupo 2 de adequações segundo a RDC 216. Outros dois estudos
ou não se aplica. Aos itens não conformes, foram estabelecidas ações realizados no Paraná e no Rio Grande do Sul com unidades do tipo
corretivas para mudanças de acordo com a referida legislação RDC n° comercial, utilizaram o checklist da RDC 216/2004 (6) para classificar
216/2004, além disso, obteve-se também a classificação do seus estabelecimentos, alocaram suas unidades no grupo 2, com 69,22
estabelecimento de acordo com os itens conforme preconizados na % e 54% respectivamente de adequações segundo a legislação (10).
mesma legislação que se classificam em 3 grupos. Diante dos resultados encontrados é importante reforçar que segundo a
Primeiro grupo refere-se a 76 a 100 % de adequação dos itens, o legislação RDC 216/2004 (6) as unidades de alimentação e nutrição
segundo grupo de 51 a 75% de adequação dos itens, e o terceiro grupo devem apresentar um fluxo adequado visando a minimização de
de 0 a 50% de adequação dos itens. Assim obteve-se a classificação do contaminações cruzadas e acidentes de trabalho, englobando todos os
estabelecimento e fez-se as devidas propostas para adequação dos processos de produção do alimento (recebimento, armazenamento, pré-
fluxos de produção e foi sugerido um novo layout. preparo, preparo e distribuição) e todas as áreas devem ser
dimensionadas de forma compatível com suas respectivas funções.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Recentemente um estudo aplicado em uma unidade de alimentação e
Foram encontrados na UAN em estudo, problemas relacionados ao nutrição hospitalar localizada na cidade de Ponta Grossa – PA, teve
fluxo da unidade, podendo ocasionar contaminações cruzadas e como objetivo avaliar a estrutura física-funcional da unidade. Com a
acidentes de trabalho. Tendo como principais exemplos os fluxos aplicação do checklist organizado pela Resolução RDC 216/2004 foi
utilizados pelos colaboradores responsáveis pela produção de doces e possível constatar irregularidades em algumas áreas de recebimento,
pães até a área de distribuição. Sendo necessário percorrer um caminho distribuição e armazenamento de insumos, os quais impactavam de
por fora da unidade, sem proteção contra poeira e sobre temperatura forma direta a produtividade do local, além de aumentar os riscos de
ambiente. Além disso o fluxo do lixo encontrava-se em contato com as contaminações cruzadas (3).
áreas de produção, armazenamento e distribuição de alimentos da Vale a pena também destacar que as autoras observaram que a unidade
UAN. Observou-se também a presença de áreas inutilizadas, podendo não apresentava uma área exclusiva para o recebimento de insumos e

560
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

mercadorias, e por isso não possuía balança do tipo plataforma lixo ao ser recolhido nas áreas determinadas, será levado até a casa do
(possuindo apenas balança digital) para verificar de forma correta o lixo por fora da UAN, onde foram estabelecidas duas saídas visando
peso de insumos que tinham seu valor final quantificado a partir do peso minimizar o seu fluxo por dentro da unidade. As áreas de pré-preparo
total do pedido (3). Com isso foi proposto um novo layout para o local, foram acrescentadas perto da cocção, com o intuito de minimizar
visando adequar de acordo com a legislação notadamente a RDC qualquer tipo de contaminação. Os setores de armazenamento foram
216/2004 (6). redistribuídos de forma adequada, apresentando um fluxo minimizando
acidentes e contaminações, sendo essas o estoque seco, e as câmaras de
Figura 2 – Proposta de adequação de layout de uma Unidade da congelamento e resfriamento (acrescentando uma antecâmara). Para os
Alimentação e Nutrição do tipo comercial no município de Fortaleza – funcionários, foi proposto uma entrada exclusiva, gerando acesso direto
CE. aos setores como vestuários, área de descanso e refeitório exclusivo.
Com intuito de garantir um fluxo adequado de funcionários no desde
sua entrada no estabelecimento, perpassando pelos vestiários, área de
descanso e refeitório, até seu respectivo setor de trabalho, aumentando
assim a prevenção contra contaminações cruzadas e acidentes de
trabalho, proporcionando assim um fluxo mais adequado e seguro (6).

CONCLUSÃO
Foi possível demonstrar quanto ao planejamento adequado de um
layout aplicado a uma UAN, auxilia na minimização de riscos
relacionados a contaminações cruzadas e acidentes de trabalhos, além
de diminuir custos para o estabelecimento. No que diz respeito a
aplicação do checklist, foi concluído que a empresa obteve pontuação
de 68% ficando adequada, classificando-se no segundo grupo do
Legenda: W.C (banheiro), C. fria (câmara fria), c. congelada (câmara checklist da RDC 216/2004.
congelada), C.G (Casa do Gás), D.M Limpeza (Dispensa de Materiais Assim, foi sugerida uma nova planta com as devidas adequações. Para
de limpeza), D.D ( Deposito de descartáveis ), H.U.CO (Higiene de tanto recomenda-se um trabalho conjunto de profissionais da área de
Utensílios da cozinha) H.U.CL (Higiene de utensílios de clientes), P.P engenharia e nutricionistas comtemplando as normatizações de cada
(Produção de Pães) D.Pães (Distribuição dos Pães) , S.Nutri (Sala da área, planejando todo o fluxo do local com intuito de minimizar os
nutricionista), P.ve (Pré- preparo de vegetais), V.F.F (Vestiário riscos de contaminações cruzadas, garantindo a qualidade dos
feminino de funcionários) V.M.F (Vestiário masculino de alimentos e a saúde dos consumidores.
funcionários), D.F (Área de Descanso dos funcionários) linha verde
(fluxo do lixo), linha amarela (fluxo de produto), linha laranja (fluxo de REFERÊNCIAS
produto). (1) ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de
unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 3. ed. São Paulo:
Para assegurar a excelência dos serviços, as UANs, devem se preocupar Metha, 2009.
com todas as etapas do processo, não apenas com a qualidade do (2) TEIXEIRA, S. M. F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.
alimento já pronto, mas com todos os fatores que podem interferir na Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São
qualidade da preparação durantes o fornecimento da matéria-prima, no Paulo: Atheneu, 2006.
armazenamento e na sua produção (10). O acesso às informações faz (3) BELPHMAN, C. LEITE, D. B. G. Readequação do layout de uma
com que os consumidores fiquem mais atentos e procurem Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar na cidade de Ponta
estabelecimentos que ofereçam maior segurança e atendam às suas Grossa-Parará. Revista Nutrir, ISSN 2358-2669, v. 1, n. 5, 2017.
expectativas (11, 12). Com isso foi proposto um novo layout, (4) SANT’ANA, H. M. P.; CAMPOS, F. M. Dimensionamento dos
acrescentando novas áreas que segundo literatura são cruciais para que setores da Unidade de Alimentação e Nutrição. In: Sant’Ana HMP,
se tenha uma produção adequada e um alimento seguro. Com essa nova editor. Planejamento físico-funcional de unidades de alimentação e
proposta, será possível melhorar a unidade, tornando-a mais organizada nutrição. Rio de Janeiro: Rubio; 2012. p.85-109.
e aconchegante para os colaboradores, contendo todos as áreas (5) GUIMARÃES, I. A. A análise da estrutura física e funcional de uma
necessárias para um bom funcionamento segundo RDC 216/2004 (6). UAN é de fundamental importância para que se possam determinar as
Tomando como ponto de partida a correção de fluxos foram ações a serem tomadas e assim evitar eventuais desperdícios e
acrescentadas áreas no novo layout, área de recepção e pesagem de problemas operacionais. Dissertação (Mestrado) Universidade de
alimentos, dispensa de materiais de limpeza (os materiais ficavam no Brasília, Centro de Excelência em Turismo, Brasília, 2006.
estoque seco, junto com alimentos), áreas de pré-preparo de carnes e (6) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC n° 216, de 15 de
pré-preparo de vegetais (antes estavam localizados em conjunto com setembro de 2004. Aprova o regulamento técnico de boas práticas para
toda a área de cocção o que é propício a contaminações cruzadas), uma serviços de alimentação. Diário Oficial da União, Brasília, 2004.
nova área de higienização, para separar a higiene dos utensílios da (7) SANTOS, A. P. C.; SANTOS, V. F. N. Adequação de estrutura
cozinha e os utensílios dos clientes (antes higienizados juntos no física de unidades de alimentação e nutrição na cidade de São Paulo –
mesmo local que ficava dentro da cozinha, dividido apenas por SP. UEPG Ci. Biol. Saúde, Ponta Grossa, v.22, n.1, p. 14-20, jan/jun.
estantes) (6). 2016.
Foi planejado uma sala específica para o profissional nutricionista (8) CARNEIRO, P.; VENANTE, B.; LEITE, D. Avaliação de Layout
dispondo de visão direta para a área de cocção. Além disso, foi de uma Unidade de Alimentação e Nutrição em um hotel na cidade de
adicionado ao layout proposto um refeitório para os funcionários e uma Piraí do Sul. Revista Nutrir, Ponta Grossa, v. 2, n. 1, p.1-16, jan. 2015.
área de descanso (6). Um estudo visou a verificação do checklist da (9) STOFELL, F.; BARRETO, L. T. P. Avaliação de boas práticas em
RDC 216/2004 em um supermercado na cidade de Patos no estado da restaurante especializado em culinária oriental. Revista Higiene
Paraíba. Foi encontrado inadequações relacionadas a higienização de Alimentar - V. 32 – p. 276/277 – Janeiro - Fevereiro. 2018.
instalações, equipamentos e móveis, além de documentações (10) BASTOS, M. S. R. Leite longa vida UHT: Aspectos do
irregulares e manejo inadequado de resíduos. Ao final aplicou-se o processamento e identificação dos pontos críticos de controle. Revista
manual de boas práticas no local, melhorando significativamente todos Higiene Alimentar, São Paulo, v. 13, n. 66/67, p. 32-36, 1999.
os itens irregulares no local antes inadequados segundo a legislação (11) TEIXEIRA, S. M. F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.
(13). Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São
Em relação ao fluxo, o novo layout além de propor a adição de novas Paulo: Atheneu, 2003.
áreas, todas foram posicionadas em locais estratégicos, para que não (12) ANDRADE, N. J.; SILVA, R. M. M.; BRABES, K. C. S.
haja contra fluxos nem contaminações cruzadas. No atual layout da Avaliação das condições microbiológicas em unidade de alimentação e
empresa a área de produção dos pães se encontra bem distante de onde nutrição. Ciênc. Agrotec., 2003, v. 27, n. 3, 590-596.
ocorre a distribuição, acarretando um transporte de forma inadequada (13) VIEIRA, F. J. A.; PEREIRA, S. M.; SANTOS, E. N.; SOUSA, C.
(do local de produção a distribuição), no layout proposto a área de P.; DINIZ, K. M. A importância da implantação das boas práticas de
produção fica ao lado da área de distribuição minimizando qualquer manipulação em um supermercado no Município de Patos-PB.
tipo de contaminação, assim como a confeitaria (6). Rev.Bras.de Gestão Ambiental, v. 14, p. 49-53 – janeiro/março. 2020.
Nesse novo layout a proposta do fluxo do lixo é ser recolhido em
horários programados, para que não tenha contaminações cruzadas. O

561
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação das Características Sensoriais e Físico-Químicas de Peixes Durante a Recepção em


uma Indústria de Fortaleza - CE
Priscila Pessoa1, Larissa Silva2, Larissa Mesquita3, Carla Maia4.
1
Mestre em Nutrição e Saúde e docente no Centro Universitário Fametro - Unifametro.
2
Bacharel em Nutrição pelo Centro Universitário Fametro - Unifametro.
3
Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Fametro - Unifametro.
4
Doutora em Nutrição Humana e docente na Universidade Estadual do Ceará - UECE.
E-mail: priscilapessoanutricionista@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: controle de qualidade; vigilância sanitária; indústria pesqueira.

1 INTRODUÇÃO superior e com a região inferior mais rosada, próprias da espécie. A


espécie Arius proops deve ter cor cinza escuro com dorso “puxando”
para levemente prateado, próprias da espécie. A coloração da pele da
Em casos de má conservação dos peixes, após o processo de captura, espécie Cynoscion acoupa deve ser cinza prateada com tom do dorso
a deterioração inicia-se rapidamente. Além disso, os possíveis danos mais escuro, ventre esbranquiçado com várias áreas amarelas que
no processo produtivo contribuem diretamente para essa ocorrência. incluem o flanco, e as nadadeiras inferiores com as margens escuras
Diante disso, o pescado vem sendo um agente veiculador de um e, com uma linha lateral localizada na parte central do corpo em
número significante de microrganismos patogênicos para o consumo direção horizontal, próprias da espécie (7). A tonalidade da pele da
humano, por isso, ele torna-se um dos objetos de pesquisa a respeito espécie Scomberomorus brasiliensis deve ter o dorso verde-azulado
da qualidade oferecida em inúmeros estabelecimentos do Brasil (1). brilhante, com flancos branco-prateados com inúmeras pintas ovais
Os parâmetros intrínsecos de deterioração estão correlacionados ao amarelas e/ou douradas com a parte anterior da primeira nadadeira
teor de água intramuscular do peixe, o potencial hidrogeniônico (pH) dorsal espinhosa negra, próprias da espécie (8). Foi realizada a
que se caracteriza à valores próximos à neutralidade (2). A análise análise do pH com soluções tampão de pH 4,00, pH 7,00 e pH 10,00.
sensorial é um meio de avaliação apontado como um dos mais Para tanto, utilizou-se o pHmetro de Bolso KASVI® na parte interna
satisfatórios na análise da qualidade de peixes, pois ocorre de forma abdominal de cada peixe e verificou-se o resultado exibido. Salienta-
rápida, com baixo custo, não é destrutiva e considera os mesmos se que pelo fato de os peixes chegarem eviscerados, não foi
critérios eleitos pelos consumidores (3). Um dos meios de classificar necessário nenhum tipo de corte ou ruptura dos mesmos para esta
o grau de frescor é através da realização da reação de Éber que avalia análise. A temperatura dos peixes foi analisada de acordo com as
através da percepção do enxofre liberado pelo músculo do animal, o técnicas de segurança alimentar do Manual de Boas Práticas de
início do processo de decomposição, onde o meio ácido do tecido Manipulação de Alimentos (9). Para tanto, utilizou-se o
conjuntivo agregado com acetato de chumbo reage dando origem ao procedimento de fincar o termômetro espeto KASVI® na parte
gás sulfídrico (4). A Portaria nº 185 (5) do Ministério da Agricultura, interna do abdômen do pescado até a temperatura estabilizar. A
Pecuária e Abastecimento (MAPA) dispõe sobre as condições reação de Éber segundo Instituto Adolfo Lutz (4) também foi
mínimas para a obtenção da qualidade ideal, por meio de métodos realizada no laboratório interno da indústria visitada, logo após a
sensoriais e físico-químicos como o controle de pH, temperatura e de recepção dos pescados analisados. A coleta de dados foi registrada
estado de putrefação dos pescados. Este estudo tem a finalidade de em planilhas de informações sensoriais e físico-químicas. Os dados
avaliar as características físico-químicas e sensoriais de peixes de adequação foram analisados através de média e desvio padrão no
inteiros e eviscerados refrigerados durante a sua recepção em uma programa Excel®.
indústria da capital cearense a fim de classificar o grau de frescor
destes exemplares. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2 MATERIAIS E MÉTODOS Em relação às características sensoriais das amostras analisadas,
foram observados problemas principalmente no quesito aparência,
Este estudo apresenta caráter descritivo com abordagem quantitativa. uma vez que havia rupturas nas superfícies externas e manchas por
O mesmo foi realizado em uma indústria pesqueira situada em hematomas em 16 amostras, conforme pode-se observar na tabela 1
Fortaleza - CE no período de dezembro de 2018 a março de 2019, a qual expõe os resultados de adequação dos parâmetros sensoriais
através de quatro visitas em dias aleatórios. A indústria em questão dos peixes analisados.
adquire peixes nacionais e através de importação. Foram analisadas
sensorialmente, segundo a Portaria 185(5) do MAPA, 100 amostras Tabela 1 - Percentual de adequação das características sensoriais de
de pescados, sendo: 25 amostras da espécie Cynoscion acoupa (nome peixes durante o recebimento em uma indústria. Fortaleza, 2019.
popular: pescada amarela); 25 amostras da espécie Pagrus pagrus Aspecto Cynoscion Pagrus Arius Scomberomorus
(nome popular: pargo vermelho); 25 amostras da espécie Arius sensorial acoupa pagrus proops brasiliensis
Total
proops (nome popular: uritinga) e 25 amostras da espécie (“Pescada (“Pargo
(“Uritinga”) (“Serra”)
amarela”) vermelho”)
Scomberomorus brasiliensis (nome popular: serra). As características
sensoriais analisadas foram: presença de manchas por hematomas, (n) % (n) % (n) % (n) % (n) %
incisões na pele e rupturas das superfícies externas; as escamas
Aparência 22 88% 25 100% 20 80% 17 68% 84 84%
deveriam estar unidas entre si, aderidas à pele, translúcidas e
brilhantes; a pele deveria estar úmida, tensa e bem aderida; as Escamas 18 72% 24 96% NA NA NA NA 42 84%
mucosidades que deveriam ser aquosas e transparentes; os olhos que Pele 25 100% 25 100% 25 100% 24 96% 99 99%
deveriam estar brilhantes, salientes e ocupar toda a cavidade Mucosidade 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
orbitária; opérculo rígido, fornecendo resistência à sua abertura; as Olhos 21 84% 25 100% 23 92% 16 64% 85 85%
brânquias que deveriam ter variação de coloração rosa ao vermelho Opérculos 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
intenso, além de estarem úmidas e brilhantes; o abdômen o qual Brânquias 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
deveria ser tenso; os músculos que deveriam ser aderidos aos ossos, à Abdome 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
espinha dorsal e/ou cartilagens e, por fim, o odor deveria ser Músculos 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
característico da espécie (6). As colorações dos peixes também Odor 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
devem ser características das espécies. A espécie Pagrus pagrus deve Cor 25 100% 25 100% 25 100% 25 100% 100 100%
ter coloração vermelho-rosa vibrante, com pintas amarelas na região LEGENDA: NA = Não se aplica.

562
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

FONTE: Elaborada pelas autoras. químicas de peixes. Atenção deve ser dada para a forma de
conservação e logística dos serviços prestados pelos fornecedores
A matéria-prima deve ser conservada, sem sinais de hematomas, sem dos mesmos visando à efetiva monitoração da qualidade do pescado.
incisões no corpo, rupturas das partes externas ou de qualquer outro Reforça-se ainda, a importância da presença de profissionais
estado que evidencie decomposição. Este estado de conservação qualificados que atuem na fiscalização do processo de recebimento
implica na qualidade da carne do pescado (10). Das 100 amostras desta matéria-prima.
analisadas no presente estudo, somente 12 tinham manchas por
hematomas possivelmente causadas na captura ou durante transporte 6 REFERÊNCIAS
dos peixes (11). Outras quatro amostras apresentaram rupturas
(nadadeiras quebradas, rompimento da composição óssea da cabeça e 1. SILVA-JÚNIOR, A. C. S.; SILVA, A. S. S.; BRITO, T. P.;
dentes). Com base nos resultados, verificou-se também que o pH FERREIRA, L. R. Ocorrência de Staphylococcus coagulase positiva
apresentou valor médio de 6,8, classificando-os dentro do padrão e coliformes termotolerantes em Jaraqui, Semaprochilodus brama
definido (6,6 a 6,8 segundo a Portaria nº 185 de 1997) (5). Como (Valenciennes, 1850) comercializado na Feira do Pescado, Macapá-
pode ser visto na tabela 2. AP. Biota Amazôn. 5, 32-36, 2015.
2. AMARAL, G. V.; FREIAS, D. G. C. Método do índice de
Tabela 2 – Caracterização dos resultados físico-químicos de PH e qualidade na determinação do frescor de peixes. Ciênc. Rural. 43,
temperatura durante o recebimento de peixes em uma indústria. 2093-2100, 2013.
Fortaleza, 2019. 3. FERNANDEZ-SALGUERO, J.; MACKIE, I.M. Preliminary
survey of the content of histamine and other higher amines in some
samples of Spanish canned fish. Int. J. Food Sci. Technol. 22, 409-
pH Temperatura (oC) 412, 1987.
Espécie 4. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para
(M±DP) (M±DP) análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. 1020 p.
5. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Cynoscionacoupa Portaria n. 185, de 13 de maio de 1997: Regulamento Técnico de
6,8±0,2 -2±1,7
(“Pescada amarela”) Identidade e Qualidade de Peixe Fresco (Inteiro e Eviscerado).
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 15
Pagruspagrus mai. 1997. Seção 1, n. 158. p. 102-8.
6,8±0,3 -1±2,4
(“Pargo vermelho”) 6. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Decreto-Lei n. 30.691, de 29 de março de 1952. Regulamento da
Ariusproops inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário
6,8±0,2 -2±1,0
(“Uritinga”) Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 29 mar.
1952.
Scomberomorus 7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
brasiliensis 6,6±0,1 2±4,4 Manual de Inspeção para Identificação de Espécies de Peixes e
(“Serra”) Valores Indicativos de Substituições em Produtos da Pesca e
Aquicultura. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília, DF,2016a.
Total 6,8±0,2 -0,75±3,2 188 p.
8. NÓBREGA, F. M.; LESSA, R. P. T. Idade, crescimento e
LEGENDA: M = média; DP = desvio padrão. avaliação de estoque da serra Scomberomorus brasiliensis
FONTE: Elaborada pelas autoras. (Teleostei: Scombridae), na plataforma continental do Nordeste do
Brasil. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Universidade
O pH de 55% (n = 55) das amostras estava dentro dos parâmetros Federal de Pernambuco, Recife, 2002.
ideais. Entretanto, as espécies Pagrus pagrus e Scomberomorus 9. SÃO PAULO (Estado). Secretaria Municipal de Saúde. Boas
brasiliensis estavam com a minoria das suas amostras adequadas práticas de manipulação de alimentos. São Paulo, 2006. Disponível
(36% e 48%, sucessivamente), diferente dos resultados encontrados em:
nas demais (Cynoscion acoupa e Arius proops) que estavam com <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/manual_
grande parte das suas amostras com pH adequados (64% e 72%). boas_praticas_alimentos_2019.pdf>. Acesso em: 13 set. 2018.
Erkan (12) observou em um estudo na Turquia que com o aumento 10. NUNES, M. L.; BATISTA, I. Aplicação do índice de qualidade
do pH do peixe Pagrus pagrus analisado por ele, consequentemente (QIM) na avaliação da frescura do pescado. Lisboa, 2004.
alteraram os parâmetros sensoriais ao longo do tempo de 11. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e
armazenamento em gelo. Sousa (13) observou que as espécies Vigilância Sanitária de Alimentos. 5. ed. Barueri: Manole, 2015.
analisadas comercializadas no sul de Portugal (Faro) e/ou em Angola 1112 p.
(Luanda) apresentavam elevados níveis de frescura e de qualidade, 12. ERKAN, N. Sensory, Chemical, and Microbiological Attributes
onde o pH e os demais meios de deterioração estudados mostraram of Sea Bream (Sparus Aurata): Effect of Washing and Ice Storage.
boa correlação com a avaliação sensorial. Sobre a reação de Éber, a Int. J. Food Prop. 10, 421-434, 2007.
qual constata deterioração, somente a amostra de Cynoscion acoupa, 13. SOUSA, M. I. Estudo comparativo das características físico-
no presente estudo, apresentou-se com resultado inadequado. Um químicas e sensoriais de polvo, pescada, cachucho e barracuda
elevado percentual de não conformidade na prova de Éber foi comercializados em Faro e em Luanda. Departamento de Engenharia
determinado em amostras de filé de pescado congelado Alimentar. Faro, 2015.
comercializado em Belo Horizonte – MG (3). No presente estudo 14. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA.
constatou-se que nas amostras analisadas, apenas 40% (n = 40) Cartilha Orientativa: Cartilha Semana do Peixe. Ministério da Saúde.
tinham temperatura de refrigeração dentro do exigido ao serem Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 2016.
recebidas (-2° à 0°) (14). A refrigeração não apresenta ação 15. CORDEIRO, D. et al. Qualidade do mexilhão Perna perna
esterilizante, somente retarda as atividades microbianas já existentes submetido ao processo combinado de cocção, congelamento e
e impede o surgimento de novos agentes deteriorantes. Com isso, a armazenamento. B. CEPPA, Curitiba, 25, 165-179, 2007.
inadequação da temperatura na conservação dos peixes pode implicar
em aumento de microrganismos decompositores (15).

5 CONCLUSÕES

As matérias-primas recebidas pela indústria no período estudado


apresentaram 40% (n = 40) das amostras frescas em todos os quesitos
pesquisados. As inconformidades encontradas implicam no grau de
frescor dos peixes, onde o consumo futuro destes poderia favorecer a
contaminação por Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs),
sendo indicado, portanto, o descarte das amostras inadequadas de
acordo com a legislação vigente. Salienta-se a importância do
desenvolvimento de mais estudos sobre análises sensoriais e físico-

563
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise da Aceitabilidade da Merenda Escolar de Alunos do Ensino Fundamental em uma


Escola Municipal de Pacatuba - CE

Camila P. Pereira1, Raquel A. Queiroz2, Janaina M. M. Vieira3, Karina P. de Oliveira4, Bárbara R. da C. de O. P.


Coutinho5

Mestre em Nutrição e Saúde, Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO, e-mail: camicpp@gmail.com,


1
2
Nutricionista, Centro Universitário Fanor – UniFanor, 3Doutora em Engenharia Química, Centro Universitário Fanor –
UniFanor, 4Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, Universidade de Fortaleza – Unifor, 5Mestre em
Bioquímica, Centro Universitário Fanor – UniFanor

Palavras-chave: Merenda escolar. Alunos. Aceitabilidade.

INTRODUÇÃO escolha do ponto da escala que representasse a opinião de cada um


A alimentação escolar deve oferecer energia, ser balanceada, sobre a merenda consumida.
saudável, fornecendo nutrientes como vitaminas e minerais, para que A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de teste de
as crianças tenham o crescimento adequado. Nesse momento da vida, escala hedônica facial, de acordo com o Programa Nacional de
destaca-se mudanças no desenvolvimento cognitivo, na Alimentação Escolar (PNAE) para a faixa etária das crianças.
aprendizagem e no crescimento de ossos e dentes (1). Os dados coletados foram analisados e expressos em termos
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi percentuais, média ± desvio padrão e representados graficamente.
introduzido em 31 de março de 1955, e assinado pelo Decreto nº O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
37.106, que instituiu a Campanha de Merenda Escolar, subordinada Academia Cearense de Odontologia/Centro de Educação Continuada
ao Ministério da Educação, tendo caráter assistencial, pois envolve sob parecer n° 2.646.284, de acordo com a Resolução n° 466/2012
vários participantes da sociedade, entre eles as crianças, professores, (7).
merendeiras, gestores e a família. O programa é gerenciado pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento Nacional (FNDE), que objetiva RESULTADOS E DISCUSSÃO
fornecer uma alimentação equilibrada, trabalhar a educação A alimentação e a nutrição compõem condições básicas para a
nutricional com os alunos e contribuir com a melhora do rendimento proteção e promoção da saúde, possibilitando o crescimento e
escolar e na formação de hábitos alimentares saudáveis (2). Assim, a desenvolvimento humano. A alimentação escolar oferecida deve ser
merenda escolar deve ser planejada, desde a seleção de gêneros até a variada e de qualidade, além de fornecer aos alunos nutrientes que
distribuição. Cada etapa precisa ser cuidadosamente desenvolvida, a contribuam para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças no
fim de que os alunos possam receber uma alimentação segura, de ambiente escolar. Para que isso ocorra, a merenda escolar deve ter
qualidade, saudável, colorida, variada, balanceada, equilibrada, além boa aceitação por parte dos alunos (8).
de saborosa (3). A pesquisa foi realizada com (n=126) participantes, com duração de
A baixa aceitação da alimentação fornecida na escola traz o dez dias aleatórios, sendo realizada análise da aceitabilidade da
desperdício da merenda escolar. Alguns fatores podem contribuir merenda oferecida na escola no turno da manhã. Foi utilizada para a
para gerar desperdício, tais como: falta de treinamento das pessoas pesquisa a escala hedônica facial de cinco pontos.
que preparam os alimentos, que muitas vezes não sabem a forma Os resultados apresentados na figura 1, que compreende do primeiro
correta de preparo e deixam a preparação com a aparência e o gosto ao quinto dia da pesquisa, apresentam como resultados uma boa
inadequados; compra de gêneros de baixa qualidade e que não são aceitação do cardápio oferecido, pois no 1° dia (néctar de uva com
bem aceitos pelos alunos; o horário de preparo, que dependendo do biscoito doce) obteve 67% de aprovação (adorei), no 4° dia
alimento, se ficar por muito tempo exposto à temperatura ambiente (achocolatado com leite e biscoito salgado) com 62% (adorei), no 2°
pode alterar o gosto do alimento (4). Nas escolas, a aplicação de dia (arroz com salsicha) com 57% (adorei) e no 3° dia (sopa de carne
testes de aceitabilidade é bastante importante, pois a partir deste moída) com 54% (adorei).
pode-se avaliar como está o trabalho desenvolvido dentro da escola,
por parte das pessoas que preparam a merenda, da nutricionista que Figura 1. Preparações do primeiro ao quinto dia dos cardápios
elabora o cardápio e da verba que é repassada para o fornecimento da avaliados.
compra dos gêneros alimentícios (5).
Dentro desse contexto, a pesquisa realizada teve o objetivo de
analisar a aceitação da alimentação escolar dos alunos das escolas
municipais de Pacatuba, Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa realizada foi do tipo transversal, com caráter descritivo e
abordagem quantitativa, sendo realizada em uma escola de ensino
fundamental da rede pública de ensino, com crianças que estavam
regularmente matriculadas, na cidade de Pacatuba, Ceará. A amostra
foi composta por crianças de ambos os gêneros, com faixa etária
entre 6 a 10 anos; que abrange do 1° ao 5° ano do ensino
fundamental.
Para amostra aleatória simples o cálculo amostral foi baseado em um
erro amostral tolerável de 5%, calculado em uma população de 126
crianças, que estão regularmente matriculadas nesta escola (6).
A primeira etapa realizada foi uma conversa com a direção e os
professores dos alunos, que participaram da pesquisa, onde foi O dia que representa menor aceitação foi no 5°dia, onde a preparação
informado o processo de aplicação dos testes de escala hedônica servida foi mingau com sabor de arroz, com 53% na nota detestei,
facial com as crianças, onde foi explicado como os alunos deveriam onde as crianças relataram que não gostaram do sabor do mingau por
fazer no momento da aplicação dos testes. A segunda etapa foi ter pouco leite.
realizada em uma reunião com os pais das crianças, onde foi Os resultados obtidos na figura 2, abrangem do sexto ao décimo dia
apresentado o teste de aceitabilidade e como seria realizada a da pesquisa e mostra também que, na maioria dos dias, as
pesquisa com as crianças. A terceira etapa constituiu na apresentação preparações foram bem aceitas pelas crianças. No 10° dia (canja)
da escala hedônica facial para as crianças (1 – detestei, 2 – não apresentou aceitação com 64% (adorei), no 6° dia (achocolatado com
gostei, 3 – indiferente, 4 – gostei, 5 – adorei). O teste de leite e biscoito salgado) com 60% (adorei) e no 9° dia (achocolatado
aceitabilidade foi apresentado de forma simples e explicativa para com leite e biscoito doce) com 59% (adorei).
que cada um compreendesse a forma que deveria ser realizada a

564
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2

Foi possível observar que no 7° dia, o resultado para a preparação por Silva (12), também foi encontrada uma baixa aceitação do
“mingau de milho” ficou semelhante entre os pontos da escala mingau com 59%, devido à temperatura do alimento que era servido
“adorei” e “detestei”. Os alunos relataram que não gostaram porque a com temperatura quente, podendo ser também um possível motivo da
preparação não ficou com o sabor agradável devido à pouca baixa aceitação.
utilização de leite no mingau, justificando o percentual elevado de
detestei. CONCLUSÃO
Os resultados encontrados não alcançam o que é preconizado no
Figura 2. Preparações do sexto ao décimo dia dos cardápios manual do teste de aceitabilidade da merenda escolar, demonstrando
avaliados. que não se tem uma adesão satisfatória por partes dos alunos,
devendo ter uma maior investigação sobre o motivo pelo qual a
merenda não tem uma aceitação adequada pelo o que é estabelecido.
Ao observar qualitativamente as preparações que são oferecidas na
escola, foi possível observar que não é oferecida uma alimentação
com muitas variedades. Em alguns dias é repetitiva e não são
fornecidas às crianças frutas e verduras em pequenas quantidades na
sopa. O ideal seria a necessidade de uma variedade maior para
fornecer um aporte melhor de nutrientes, necessária ao
desenvolvimento e para a saúde dos alunos.
É necessário que sejam realizados mais estudos para que seja
verificado o real motivo da baixa aceitação e quais os fatores que
podem serem vistos para esse resultado. Além disso, melhorar a
qualidade da merenda com a inclusão de mais frutas e verduras,
como também oferecer a essas crianças variedade no cardápio da
escola. Como sugestão, pode-se trabalhar a educação alimentar e
nutricional, informando e mostrando a importância da alimentação
saudável para a saúde de forma lúdica para a compreensão deles.

De acordo com Manual da aceitabilidade da merenda escolar, para REFERÊNCIAS


um alimento ou preparação ter a classificação de aceitação adequada
por parte dos alunos que a consomem, precisam atingir o percentual (1) SILVA, C.C. Alimentação, Atividade Física e Qualidade de
igual ou superior a 85% com a soma dos pontos da escala hedônica, Vida dos Escolares do Município de Vinhedo/SP. Editora: Ipes
que é representado pelo “gostei” e “adorei” (9). Editorial, 1. ed., v.1, p. 15-20, 2009.
Sendo observado no presente estudo que, após a soma desses dois (2) ACCIOLY, E.A escola como promotora da alimentação saudável.
resultados, não é atingindo o valor preconizado no manual para Ciência em tela, v. 29, n.3, p. 1-3, 2009.
determinar que a alimentação é aceita pelos alunos, como percebe-se (3) BASAGLIA, P.; MARQUES, A. S.; BENATTI, L. Aceitação da
na Figura 3. merenda escolar entre alunos da rede estadual de ensino da cidade de
Amparo-SP. Revista saúde em foco,1. ed., 07, p. 126-138, 2015.
Figura 3. Percentuais obtidos com a soma dos pontos dos critérios (4) SILVA, A. E. B.; Desperdício da merenda escolar em uma escola
“gostei” e “adorei”, da aceitabilidade avaliada. municipal na cidade de ponta grossa – PR. Revista nutrir,1. ed., v.1,
p. 22-27, 2014.
(5) BATISTA, S. H. S.; STEDEFELDT, E.; CASTRO, P. M.;
CUNHA, D. T.; BRITO, R. R.; URU, P. M. S. B.; CHAVES, L. G.;
ALVES, J. C. M. Manual para aplicação dos testes de
aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação Escolar –
PNAE. 1. ed., p. 9, 2010.
(6) BARBETTA, P. A. Estatística Aplicada as Ciências Sociais.
Ed. 5. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
(7) BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 466, de 12
Dez. 2012. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF.
13 jun. 2013. Seção I, p. 59-62.
(8) BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. Resolução nº 26, de 17 de junho de
2013. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos
da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação
Escolar – PNAE. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 18 jun. 2013.
(9) CENTRO COLABORADOR EM ALIMENTAÇÃO E
NUTRIÇÃO ESCOLAR – CECANE. Manual para aplicação dos
Foi possível observar que as preparações com maior aceitação foram
testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação
nos dias em que são servidos: “suco de uva com bolachas” e
Escolar – PNAE. São Paulo: Unifesp, 2010.
“achocolatados com biscoitos” (com exceção do dia em que foi
(10) GARCIA, L. S.; ROCHA, T. C.; ARAÚJO, N. D.; VIANA, K.
servida canja, que teve boa aceitação), mostrando que esse tipo de
S.; MARANHÃO, H. S. Aceitabilidade da alimentação escolar por
alimentação, rica na sua composição em açúcares e carboidratos
crianças e adolescentes de um município rural do nordeste brasileiro.
simples, têm maior preferência por esses alunos.
Revista científica da escola de saúde, v. 5, n. 1, p. 85-94, 2016.
Em estudo realizado no estado do Rio Gande do Norte, em uma
(11) CRUZ, L. D.; SANTOS, A. J. A. O.; SANTOS, A. A. O.;
escola de ensino fundamental, mostrou que os alimentos com maior
GOMES, A. B. L.; ANDRADE, F. A. M.; MARCELLINI, P. S.
aceitabilidade entre os alunos são bebidas lácteas, sucos e biscoitos,
Análise de aceitação da alimentação escolar dos alunos das escolas
sendo compatíveis aos resultados achados no presente estudo,
municipais urbanas de Itabaiana-SE. Scientia Plena, Sergipe, v. 9, n.
mostrando que ambos os grupos apresentam preferência por esse tipo
10, p. 1042031-1042036, 2013.
de alimentação (10).
(12) SILVA, M. M. D. C.; GREGÓRIO, E. L. Avaliação da
De acordo com Cruz et al. (11), em estudo realizado em uma escola
composição nutricional dos cardápios da alimentação escolar das
do ensino fundamental, as preparações mais aceitas são os doces e
escolas da rede municipal de Taquaraçu de Minas – MG. HU
industrializados. As cantinas que vendem alimentos ultra
Revista, v. 37, n. 3, p. 387-394, 2012.
processados, como doces e salgadinhos, também podem influenciar
as crianças ao consumo de alimentos com essas características.
No que se diz respeito à de menor aceitabilidade, ao observar o ponto
da escala hedônica, que é simbolizada pelo “detestei”, verifica-se
uma baixa aceitação no quinto dia com 53%. Em estudo realizado

565
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Condições higiênico-sanitárias na produção de sushi e sashimi na cidade de Fortaleza, Ceará

Camila P. Pereira1, Renata Q. Vieira2, Janaina M. M. Vieira3, Karina P. de Oliveira4, Bárbara R. da C. de O. P.


Coutinho5, Larissa P. Aguiar6
1
Mestre em Nutrição e Saúde, Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO, e-mail: camicpp@gmail.com,
2
Nutricionista, Centro Universitário Fanor – UniFanor, 3Doutora em Engenharia Química, Centro Universitário Fanor –
UniFanor, 4Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, Universidade de Fortaleza – Unifor, 5Mestre em
Bioquímica, Centro Universitário Fanor – UniFanor, 6Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Centro
Universitário Fanor – UniFanor

Palavras-chave: Consumo de alimentos. Saúde pública. Vigilância sanitária.

INTRODUÇÃO A pesquisa atendeu aos fundamentos éticos e científicos elencadas na


A adesão pela busca de hábitos alimentares saudáveis e o crescente Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 (9), sendo aprovado
número de estabelecimentos comercializadores de alimentos, traz pelo Comitê de Ética da Academia Cearense de Odontologia (ACO),
consigo a preocupação com a manutenção da qualidade da produção sob número de parecer 1.489.753.
dos alimentos, pois se sabe que condições impróprias de higiene e
manipulação estão diretamente relacionadas ao risco à saúde dos RESULTADOS E DISCUSSÃO
consumidores (1). Foram descritos os percentuais de adequação dos estabelecimentos e
Ainda assim, vê-se o crescimento de práticas alimentares trazidas de os grupos aos quais os estabelecimentos foram classificados. Foi
outras culturas, como é o caso do consumo de pescado cru (2). O possível observar que os estabelecimentos X e Z, que são
crescente aumento do consumo desses alimentos em cidades especializados, apresentaram variação nos percentuais de
ocidentais vem sendo exemplo do surgimento de mais conformidade, estando estes, respectivamente, com 52,6% e 89,5%
estabelecimentos especializados ou não na produção desses de itens conformes. O único estabelecimento não especializado, “y”,
alimentos. Cidades que recebem grande número de turistas como com percentuais bem próximos ao do estabelecimento “X” (Figura
Fortaleza-Ceará, são citadas como as maiores distribuidoras desses 1).
alimentos devido ao aumento do consumo dos mesmos (3, 4).
Apesar de todas essas características favoráveis, o aumento do Figura 1. Classificação por percentual de adequação dos
consumo dessa prática, no Brasil, vem trazendo preocupação para as estabelecimentos através do checklist.
autoridades sanitárias, assim como para pesquisadores, por constituir
um perigo potencial de infecções alimentares veiculadas pelo
consumo desse tipo de alimento (4). O fato de o sushi e o sashimi
serem alimentos que não são submetidos a nenhum tipo de
processamento térmico, estes são considerados veículos de
contaminação (5). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar
as condições higiênico-sanitárias na produção de sushi e sashimi da
cidade de Fortaleza, Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem
quantitativa. Participaram do estudo, três estabelecimentos (dois
especializados e um não especializado na produção de sushi e
sashimi). Todos os locais avaliados ofereciam serviços à la carte e
sushi bar. A técnica de coleta de dados ocorreu em duas fases: 1ª
Fase (avaliação do cumprimento das boas práticas através do Legenda:azul - restaurante não especializado, vermelho -
checklist adaptado da resolução RDC nº 275/02 (6) e 2ª Fase restaurante especializado.
(verificação da presença de possíveis microrganismos nas mãos dos
manipuladores através do swab de mãos). Os resultados obtidos no presente estudo classificaram os
A primeira fase, referente à aplicação do checklist realizada por meio estabelecimentos X e Y no grupo 2, ou seja, eles atenderam 52,6% e
da observação do local, foi utilizada apenas uma única vez em cada 55,3%, de conformidades, respectivamente. Com 89,5%, o
estabelecimento. Esse instrumento continha 38 itens divididos em estabelecimento Z foi classificado como grupo 1. Vale ressaltar que o
cinco blocos: edificações e instalações; equipamentos móveis e estabelecimento “Z” era o único que possuía a presença de um
utensílios; manipuladores; fluxo de produção; produto final. Na profissional (nutricionista) como gestor da qualidade, periodicamente
segunda fase, realizou-se swabs das mãos de dois manipuladores de executando atividades relacionadas à segurança alimentar.
cada estabelecimento, para a contagem de coliformes termotolerantes Por meio da divisão por blocos, os resultados do checklist foram
e Staphylococcus aureus (7). demonstrados de acordo com a lista de verificação das boas práticas
Os resultados foram expressos em percentuais de conformidade com aplicada, divididos em 5 blocos (Tabela 1). Em relação ao item
os itens atendidos pela RDC nº 216 de 2004 (8), sendo classificados edificações e instalações, os principais pontos encontrados em não
nos seguintes grupos: Grupo 1 (76-100% de atendimento dos itens), conformidade foram em relação à porta, pois estas não possuíam
Grupo 2 (51-75% de atendimento dos itens) e Grupo 3 (0-50% de fechamento automático, superfície limpa e de fácil higienização,
atendimento dos itens). Foram então pontuadas as não conformidades além de não possuírem barreira para o impedimento da entrada de
apresentadas em estabelecimentos especializados ou não na pragas e animais. As janelas não possuíam telas milimétricas para a
comercialização de sushi. proteção contra insetos e roedores.
Os swabs colhidos foram acondicionados sob manutenção de Um item não conforme em dois estabelecimentos avaliados foi a
temperatura de no máximo 10 ºC através de gelo químico, e levados inexistência de lavatórios exclusivos para a higienização das mãos e,
imediatamente ao laboratório para a realização das análises. As que consequentemente, não havia a presença de material necessário
análises foram realizadas no laboratório de Microbiologia dos para a higienização correta das mãos.
Alimentos, situado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Em relação aos equipamentos, móveis e utensílios, em dois dos
locais avaliados, “X” e “Y” os materiais que entravam em contato

566
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

com os alimentos não eram de materiais resistentes, impermeáveis, e práticas inadequadas de processamento e higiene realizadas por
não estavam em adequado estado de conservação e nem permitiam pessoas inabilitadas podem provocar a contaminação dos alimentos.
fácil higienização. Apesar da Resolução nº 12 (11), estabelecer padrões microbiológicos
O item relacionado aos equipamentos de conservação dos alimentos para alimentos, presente no item 22, isso não quer dizer que a
demonstrou-se inadequado em todos os restaurantes analisados, pois pesquisa por microrganismos nas mãos não possua relevância no
eles não possuíam medidores de temperatura. Entretanto, em um meio científico, um vez que, subentende-se que, se há a presença de
deles, o estabelecimento “Z”, realizava o controle da temperatura microrganismos indicadores de interesse para o sushi nas mãos de
duas vezes ao dia, por meio de termômetro, e era registrado em manipuladores, possivelmente o alimento poderá conter níveis
planilha específica. Segundo a Resolução RDC nº 216, no item aceitáveis ou não destes microrganismos indicadores
4.10.3, os equipamentos utilizados para exposição ou distribuição (Staphylococcus aureus e coliformes termotolerantes) no alimento
dos alimentos preparados, sob temperaturas controladas, devem ser pronto para o consumo humano.
regularmente controlados, além de estarem em adequado estado de
conservação e higiene. CONCLUSÃO
Em relação ao vestuário dos manipuladores, um dos locais não havia Conclui-se que em relação ao checklist, houve alguns pontos
a utilização completa de uniformes, já no outro, era utilizado deficientes nos locais estudados e bastante variação nos pontos em
uniforme, entretanto, não eram de cor clara e não eram adequados conformidade. Os pontos não conformes que se destacaram por sua
para a área de produção. O uso de uniformes é um elemento simples deficiência e que poderiam estar sendo potencializados nos
e de fundamental importância para que sejam mantidos os requisitos estabelecimentos seriam os itens: edificações e instalações;
de higiene (10). equipamentos, móveis e utensílios. Sendo necessária atenção para a
No que diz respeito ao controle da circulação de pessoal na área de manutenção diária das condições higiênico-sanitárias como garantia
manipulação, o estabelecimento “Y”, não estava adequado, pois de segurança alimentar.
outros funcionários e visitantes possuíam acesso a esta área sem os Os resultados dos swabs de mãos dos manipuladores apresentaram
mínimos cuidados, como por exemplo, o uso de touca para proteção. resultados insatisfatórios, pressupondo falha no processo de
E relacionado ao quesito fluxo ordenado, linear e sem cruzamento, higienização das mãos e consequentemente contaminação no produto
um dos estabelecimentos não possuía esse cuidado com a final. Portanto, fazem-se necessárias medidas de controle mais
organização dos processos, não existia separação das atividades, o eficazes, até mesmo por parte dos órgãos sanitários, no que tange o
sujo do limpo, com o intuito de se evitar uma contaminação cruzada. controle de qualidade dos alimentos, principalmente quando se trata
Em relação ao produto final, no registro de temperatura de ambientes de alimentos crus.
com controle térmico, presentes nos estabelecimentos, apenas o
estabelecimento “Z” possuía planilha específica para o registro da REFERÊNCIAS
temperatura. (1) VALLANDRO, M. J. Avaliação da qualidade de
De acordo com o que foi demostrado na tabela 2, apenas o microbiológica de sashimis à base de salmão preparados em
estabelecimento “Z” ficou com 100% de adequação nos quesitos restaurantes especializados em culinária japonesa. 2010. 69F.
manipuladores, fluxo de produção e armazenamento do produto final. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sendo estes pontos os de maior porcentagem também nos demais Sul, Porto Alegre.
estabelecimentos, entretanto não chegaram a atingir o valor máximo. (2) MOURA FILHO L. G. M. et al. Enumeração e pesquisa de
Na tabela 1, encontra-se uma demonstração dos percentuais de Vibrio spp. e coliformes totais e termotolerantes em sashimis de
conformidade dividida por blocos avaliados, resumindo os atum e vegetais comercializados na região metropolitana do Recife,
percentuais de cada estabelecimento por blocos. Estado de Pernambuco. Acta Sci. Technol. v. 29, n. 1, p. 85-90,
2007.
Tabela 1- Percentual de conformidades por etapas do checklist. (3) CEPENE. Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade
Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Marinha do Nordeste. Salmonella e Staphylococcus coagulase
X Y Z positiva em sushi e sashimi preparados em dois restaurantes da
cidade de Fortaleza, Ceará. Boletim técnico (Tamandaré). Vieira et
Edificações e 58,82% 41,1% 82,3% al. v. 15, n. 1, p. 9-14, 2007.
instalações
(4) MELO, M. V. C et al. Ocorrência de helmintos em sushis e
Equipamentos, móveis 50% 70% 90% sashimis comercializados em supermercados de Fortaleza, Ceará.
e utensílios Nutrivisa. Fortaleza, v.1, n. 3, p. 11-14, 2014.
Manipuladores 66,6% 25% 100%
(5) MARTINS, F. O. Avaliação da qualidade higiênico-sanitária
de preparações (sushi e sashimi) a base de pescado cru servidos
Fluxo de produção 25% 75% 100% em bufês na cidade de São Paulo. 2006. 146f. Dissertação
Armazenamento do 50% 75% 100% (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Paulo.
produto final (6) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 275, de 21 de
outubro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico de
Os resultados obtidos da análise de swabs de mãos de manipuladores procedimentos operacionais padronizados aplicados aos
de sushi e sashimi foram demonstrados como “ausência” ou estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista
“presença”, por conta da impossibilidade de contagem do número de de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos
colônias evidenciadas nas amostras, pois apresentaram incontáveis produtores/industrializadores de alimentos. Diário Oficial da União,
números de colônias. Brasília, 2002.
(7) SILVA, N, et al. Manual de métodos de análise microbiológica
Tabela 2- Resultado dos swabs de manipuladores de alimentos e água. 4ª edição, São Paulo, 2010.
Amostras X1 X2 Y1 Y2 Z1 Z2 (8) BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC no 216, de 15 de
setembro de 2004. Aprova o regulamento técnico de boas práticas
Coliformes
Termotolerantes
Presença Presença Presença Presença Presença Presença para serviços de alimentação. Diário Oficial da União, Brasília,
2004.
Staphylococcus (9) BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde.
Ausência Ausência Presença Presença Ausência Ausência
Aureus
Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
Por meio dos resultados expressos na tabela 2, pode-se inferir que em Brasília, Diário Oficial da União, 12 dez. 2012.
todos os restaurantes estudados houve a presença de coliformes (10) PONATH, F. S et al. Avaliação da higienização das mãos de
termotolerantes. Em relação à presença de Sthaphylococcus aureus, o manipuladores de alimentos do Município de Ji-Paraná, Estado de
estabelecimento “Y” foi o único em que esses microrganismos Rondônia, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude. v. 7, n.1, p. 63-69, 2016.
estavam presentes. A presença destes microrganismos (11) BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução -
(Sthaphylococcus aureus e coliformes termotolerantes) somado a RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o regulamento técnico
sobre padrões microbiológicos para alimentos. Brasília, 2001.

567
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Mudanças nos hábitos alimentares no ensino superior


Benavides Narváez, Jheimy Daniela 1, Largo López, Sara Yanceli 1, Chaux-Gutiérrez, Ana María 1
1
Programa de Gastronomía, Facultad de Ciencias Administrativas Económicas y Contables, Grupo Goras,
Universidad Católica Luis Amigó

jheimy.benavidesna@amigo.edu.co

Palavras chave: estresse, saúde, comida, adultos jovens


REFERENCIAS

1. CECILIA, M. J.; ATUCHA, N. M.; GARCÍA-ESTAÑ, J.Educ.


INTRODUÇÃO
Médica 19, 294-305, 2018.
Em geral, a maioria das pessoas que ingressam na universidade são
2. BECERRA-HERAUD, S. A. Rol Del Estrés Percibido y Su
adultos jovens, os quais encontram-se em uma fase da vida, na qual,
Afrontamiento En Las Conductos de Salud de Estudiantes
desenvolvem e consolidam estilos de vida saudável ou não. (1). O
Universitarios de Lima. 2013. 63f. Dissertação (Maestría en psicología
ingresso no ensino superior gera nos estudantes universitários um
clínica de la salud) – Escuela de posgrado, Pontificia Universidad
aumento nos níveis de estresse, pelo fato de enfrentar situações
Católica del Perú, Lima, 2013.
como rivalidades entre colegas, novas responsabilidades, medo ao
fracasso, ou decepcionar aos pais e aceitação nos novos grupos sociais 3. SCHNETTLER, B.; MIRANDA, H.; LOBOS, G.; ORELLANA L.;
(2). Isto pode ocasionar mudanças nos hábitos alimentares, em direção SEPÚLVEDA, J.; DENEGRI, M.; ETCHEBARNE, S.; MORA, M.;
a estilos de vida pouco saudável (3). Nesta revisão se quer identificar GRUNERT K. G. Appetite 89, 203;214, 2015.
se existe relação entre o estresse e as mudanças nos hábitos
alimentares dos estudantes universitários, a fim de ter uma base teórica 4. STAMMERS, L.; WONG, R.; BROWN, L.; PRICE, S.; EKINCI,
e propor pesquisas sobre este tópico na população universitária da E.; SUMITHRAN, P. Horm, Behav. 124, 104752, 2020.
Universidad Católica Luis Amigó- Medellín-Colômbia.
5. RAMÓN-ARBUÉS, E, MARTÍNEZ ABADÍA, B.; GRANADA
MATERIAIS E MÉTODOS LÓPEZ, J. M.; ECHÁNEZ SERRANO, E.; PELLICER GARCÍA, B.;
JUÁREZ VELA, R.; GUERRERO PORTILLO, S.; SÁEZ GUINOA,
A revisão bibliográfica foi realizada mediante a pesquisa nas bases de M. Nutr. Hosp. 36, 1339-1345, 2019.
dados Scielo, Science Direct e repositórios. As palavras chave usadas
foram: hábitos alimentares, universitários, estresse académico. Foram 6. SKEAD, N. K.; ROGERS, S. L.; DORAISAMY, J. Int. J. Law
excluídos documentos que tiveram relação do estresse em crianças ou Psychiatry 61, 90-102, 2018.
idosos.
7. MORENO-JAIME, A.F.; GALLEGOS-GONZÁLEZ, M. del C.;
RESULTADOS Y DISCUSIÓN. ZÚÑIGA-RENTERÍA, O.S.; TORRES-MONTOYA, R.; SERNA-
MARTÍNEZ, L.; RODRÍGUEZ- MORENO, S. G.; MARTÍN DEL
O estresse associa-se como possível causa na má alimentação, devido CAMPO-CERVANTES, J Lux Médica 52, 15, 2015.
a que as pessoas obesas o com sobrepeso consomem em excesso
alimentos más deliciosos ou apetitosos por causas das emoções
negativas, relacionadas com o estresse emocional, físico o emocional
que estão padecendo, no entanto, é importante ressaltar que um
pequeno grupo de pessoas com emoções positivas poderia ter um
consumo excessivo de alimentos. Além disso, há diferença entre os
homens e mulheres e o tipo de estresse que podem presentar, e
consequentemente sua relação com uma alimentação inadequada (4).

De acordo com o reportado por vários autores, se tem evidenciado que


o estresse pode ter influência sobre a dieta dos estudantes
universitários. Ramón-Arbués et al. (5) encontraram que a mudança
de vida da escola à universidade levou a ter condutas como o estresse
a depressão, a ansiedades a insônia. Esses autores indicaram que estas
condições levaram a ter una alimentação não saudável. Skead et al. (6)
estudou a correlação entre os níveis de angústia psicológica e física, e
a alimentação e hábitos alimentares dos advogados e estudantes de
direito. Os resultados obtidos, indicaram que os participantes de este
estudo presentaram altos níveis de angústia, o que aumentou a
probabilidade de optar por hábitos alimentares pouco saudáveis.

Pelo contrário, Moreno-Jaime et al. (7) indicaram que não há uma


associação entre o estresse académico e al má nutrição nos estudantes,
já que existem outros fatores que devem ser considerados no momento
da realização do estudo de hábitos alimentares. Porém, sim,
reportaram que a alimentação dos estudantes é deficiente na qualidade
e quantidade.

CONCLUSÃO

O efeito do estresse sobre os hábitos alimentares não pode ser um


conceito geralizado, devido a que esta relação pode depender de
diversos fatores, os quais devem ser inclusos nos estudos a ser
desenvolvidos.

568
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

QUANTIFICAÇÃO DO TEOR DE GORDURA E SÓDIO EM LANCHES


INDUSTRIALIZADOS À BASE DE TRIGO E MILHO
Maria Fernandes1, Keyline Moreira2, Maria Almeida1 Antonio Magalhães1
1
Docente da UFC – Campus do PICI, Departamento de Química Analítica e Físico-Química.2 Graduação em Química pela UFC – Campus do PICI.
fgomes@ufc.br

Palavras chave: fast food; nutrientes; sal; lipídios; hipertensão.

INTRODUÇÃO seguida, obteve-se as cinzas por incineração em forno mufla a 525°C.


Esfriou-se a amostra em dessecador. Após resfriadas, as cinzas foram
A gordura é um termo genérico para uma classe de lipídios. É solubilizadas com 15mL de ácido nítrico 0,1 mol/L e filtradas
produzida por processos orgânicos, tanto por vegetais como por utilizando-se papel filtro, sendo o filtrado transferido
animais, e consiste em um grande grupo de compostos geralmente quantitativamente para um balão volumétrico de 100mL. Completou-
solúveis em solventes orgânicos e insolúveis em água. se o volume do balão com água deionizada e realizou-se a leitura em
Quimicamente, as gorduras são sintetizadas pela união de três ácidos comprimento de onda para 589nm, no fotômetro de chama já
graxos a uma molécula de glicerol, formando um tri éster. São calibrado e zerado. Em paralelo, a partir de uma solução-padrão
chamadas de triglicerídeos, triglicérides ou mais corretamente de estoque de sódio, preparou-se uma solução de concentração
triacilgliceróis. Usualmente, o termo “gordura” se refere aos intermediária, diluindo 10mL para um volume final de 100mL com
triglicerídeos em seu estado sólido, enquanto, o termo óleo, ao água deionizada. Usou-se volumes adequados desta solução de
triglicerídeos no estado líquido. Na concepção de Garcia (1) gorduras concentração intermediária para preparar soluções-padrão na faixa de
saturadas referem-se aos triglicerídeos com ácidos graxos isentos de 0,1 a 10 mg de sódio/L, para obter a curva de calibração analítica
duplas ligações, expressos em ácidos graxos livres. A ingestão desse para leituras de emissão atômica no fotômetro de chama.
tipo de lipídeo deve ser feita com moderação, tendo em vista que Para análise de gordura, pesou-se 2 g da amostra seca triturada em
quando realizada em elevadas quantidades pode repercutir como cartucho de aparelho extrator tipo Soxhlet. Transferiu-se o cartucho
fator de risco para o surgimento de doenças cardíacas (2). A para o extrator acoplado a um balão de fundo chato, previamente
definição de sal para o consumo humano refere-se ao “cloreto de tarado a 105°C. Adicionou-se éter em quantidade suficiente e
sódio cristalizado, extraídos de fontes naturais, com a adição adaptou-se a um refrigerador de bolas. Mantida, sob aquecimento em
obrigatória de iodo’’. O sal (NaCl) contém sódio, que é o chapa elétrica, à extração contínua por 8 h (quatro a cinco gotas por
componente mais abundante nos fluidos extracelulares e permite o segundo). Após a extração, o éter foi destilado e transferiu-se o balão
transporte de nutrientes. Os eletrólitos têm um papel importante na com o resíduo extraído para uma estufa a 105°C, mantendo-se por
manutenção da homeostase no organismo. Nos mamíferos, os cerca de uma hora. Resfriou-se em dessecador até a temperatura
líquidos e eletrólitos estão distribuídos nos compartimentos intra e ambiente, em seguida foi pesada em balança analítica de precisão.
extracelular, cuja manutenção de volume e composição, é essencial Com os resultados em mãos, estes foram comparados com os valores
para processos metabólicos fundamentais à vida. Por serem fornecidos nos rótulos dos produtos, e ainda como padrões
moléculas ionizadas, os eletrólitos adquirem cargas negativas estabelecidos pela ANVISA.
(ânions) ou positivas (cátions) e são responsáveis por regular a
pressão osmótica (3). Nas últimas décadas, o consumo de sal na RESULTADOS E DISCUSSÃO
maioria dos países tem sido excessivo, variando de 9 a 12 g por
pessoa por dia. Assim, a maior parte dos indivíduos consome sal Na tabela 1 são indicados os resultados obtidos para os teores médios
além de suas necessidades. Estudos recentes mostram um aumento de sódio e gordura encontrados nas amostras de lanches
considerável no consumo de sódio mediante a adaptação as industrializados a base de trigo e milho, de marcas distintas,
condições do dia a dia das pessoas (4). Com base nestas informações, adquiridas em mercados de alimentos da cidade de Fortaleza – CE.
estima-se que o consumo médio de sal deve ser reduzido à metade (5; Os teores de sódio encontrados nas amostras analisadas variaram
6). O consumo elevado de sal e, consequentemente de sódio, pode entre 298,76 a 931,15 mg/100 g. Pode-se observar que, através dos
causar prejuízos à saúde humana. A relação entre o consumo de sal e resultados das análises, os teores mostram-se bem acima do
a hipertensão arterial vem sendo discutida na literatura científica e estabelecido pela OMS, que recomenda o consumo de 2 g (duas
confirmada por estudos de revisão (7; 8). A hipertensão arterial é gramas) de sódio por dia, sendo esse o valor máximo. Considerando
considerada um problema de saúde pública em função da magnitude que, a diversidade de alimentos consumidos, ao longo do dia, contém
do risco e a dificuldade em controlar esta condição. Portanto cabe aos sódio, os elevados valores encontrados para as amostras de
órgãos de saúde tomarem medidas preventivas acerca do aumento do salgadinhos são realmente preocupantes. Tomando como exemplo o
índice de pessoas com hipertensão a reduzirem o teor de sódio desses consumo de 100 g do salgadinho de milho sabor pizza analisado, já
alimentos, o que vem acontecendo ao longo dos anos através de estaria sendo ingerido quase metade da necessidade do consumo
acordos entre a indústria de alimentos e a Agência Nacional de diário de sódio. As demais amostras analisadas também representam
Vigilância Sanitária – ANVISA (9). um percentual de sódio significativo em relação as recomendações ao
Desse modo, esse trabalho tem por finalidade contribuir com referido teor. Segundo a Portaria n° 27 de 13 de janeiro de 1998 (10),
informações referentes ao teor de gordura e sódio em lanches os salgadinhos de milho são classificados como produtos com
industrializados à base de trigo e milho, de marcas distintas, elevado teor de sódio, haja vista que o valor máximo para ser
comercializadas em Fortaleza – CE, buscando averiguar se estão categorizado como baixo é de 120 mg/100 g de alimento sólido.
adequados a legislação vigente no Brasil. Ademais, a RDC n° 24 de 15 de junho de 2010 regulamenta a
propaganda e publicidade com objetivo de divulgar alimentos com
quantidade elevada de sódio, que são caracterizados com valores
MATERIAIS E MÉTODOS
iguais ou acima de 400mg /100g na forma como está disposto à
comercialização (11).
Para a realização do experimento foram adquiridas em mercados de
Os teores de gordura encontrados nas amostras analisadas variaram
alimentos da cidade de Fortaleza/CE, amostras de lanches salgados
de 0,50 a 15,72 g/100 g, sendo os teores mais elevados verificados
de diferentes marcas, todas dentro do prazo de validade e embaladas
nos salgadinhos de milho sabor queijo, de trigo sabor bacon, de
em sacos próprios vindos das indústrias de origem. Para a
milho sabor pizza e de milho sabor bacon. Com relação à gordura
determinação dos teores de sódio e gordura, foram seguidas as
saturada, sabe-se que está associada com a elevação do LDL-c
normas da legislação da ANVISA e as amostras foram tratadas no
plasmático, aumento de risco cardiovascular, além de outros fatores
Laboratório de Físico Química Aplicada (LFQA) da Fundação
de risco, como a resistência à insulina e a pressão arterial (12).
Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (NUTEC). Foram
Segundo a legislação brasileira vigente, as concentrações de ácidos
analisadas dezesseis amostras e os valores comparados com padrões
graxos saturados e trans podem ser ditas como zero quando
da ANVISA. Para análise de sódio, as amostras foram tratadas da
encontrados no produto em quantidade inferior a 0,2 g na porção
seguinte forma: inicialmente pesou-se aproximadamente 4 g de
(10). No entanto, a ANVISA recomenda o limite de 2 g de gordura
amostra em cadinho de porcelana. A amostra foi carbonizada e, em

569
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

saturada por porção de alimento, não constando na legislação de REFERÊNCIAS


rotulagem nutricional.
1. GARCIA, M.R. Conformidade da rotulagem de alimentos
consumidos por escolares à legislação brasileira. 2012. 78 f.
Tabela 1 – Teores médios de sódio e gordura em amostras de lanches
Dissertação (Mestrado em Agronomia). Universidade Estadual
industrializados, a base de trigo e milho, tipo salgadinhos, de marcas
Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências
diversas, comercializadas em Fortaleza – CE
Agronômicas da Unesp – Câmpus de Botucatu. Botucatu – SP, 2012.
2. SOUZA, A.C.T.O.; ARANTES, B.F.R.; COSTA, P.D. A
TEOR DE TEOR DE Obesidade como Fator de Risco para Doenças Cardiovasculares.
AMOSTRA SÓDIO GORDURA Rev. Edu., Meio Amb. e Saúde 2008; 3(1):107-116.
(mg/100 g) (g/100 g)
3. STIVANIN, S.C.B. Desequilíbrio eletrolítico: sódio, potássio e
Salgadinho de trigo sabor cloro. Seminário apresentado na disciplina Transtornos Metabólicos
368,48 0,90
pizza dos Animais Domésticos, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Salgadinho de trigo sabor Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. 10p.
810,50 14,60
bacon 4. MILL, J.G.; MALTA, D.C.; MACHADO, I.E.; PATE, A.;
PEREIRA, C.A.; JAIME, P.C.; SZWARCWALD, C.L.;
Salgadinho de trigo sabor
460,32 10,12 ROSENFELD, L.G. Estimativa do consumo de sal pela população
presunto
brasileira: resultado da Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Rev. Bras.
Salgadinho de trigo sabor Epidemiol., Rio de Janeiro, v. 22, supl. 2, E190009. SUPL. 2, 2019.
527,85 2,37
requeijão 5. BUZZO, M.L.; CARVALHO M.F.H.; ARAKAKI, E.E.K.;
Salgadinho de trigo sabor MATSUZAKI, R.; GRANATO, D.; KIRA, C.S. Elevados teores de
401,14 0,50 sódio em alimentos industrializados consumidos pela população
cebola e salsa
brasileira. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 73, n. 1, p. 32-9, 2014.
Salgadinho de trigo sabor 6. HE, F.J.; MACGREGOR, G.A. Reducing Population Salt Intake
388,75 1,30
queijo Worldwide: From Evidence to Implementation. Prog Cardiovasc
Salgadinho de trigo sabor Dis 2010; 52:363–82.
334,84 0,90
calabresa picante 7. REINALDO, J.M.; RESENDE, A.S.; SANT ANNA, M.S.L.
Salgadinho de trigo sabor Prevalência de hipertensão arterial e avaliação da ingestão de sódio
623,28 1,51
churrasco em uma Unidade de Alimentação e Nutrição do Estado de
Salgadinho de milho sabor Sergipe/Brasil. Rev Assoc Bras Nutr 2017; 8:58-63.
931,15 14,30
pizza 8. PERIN, M.S.; CORNELIO, M.E.; RODRIGUES, R.C.;
Salgadinho de milho sabor GALLANI, M.C. Characterization of salt consumption among
517,29 15,72
queijo hypertensives according to socio demographic and clinical
Salgadinho de milho sabor factors. Rev Lat Americ Enferm. 2013; 21: 1013 1021.
815,41 14,05
bacon 9. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe
Salgadinho de milho sabor Técnico nº 72/2016. Teor de sódio dos alimentos processados.
463,20 10,24
presunto Brasília: Anvisa; 2016.
Salgadinho de milho sabor 10. BRASIL. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 27, de
310,44 0,82
calabresa 13 de janeiro de 1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária. Aprova
Salgadinho de milho sabor regulamento técnico referente à Informação nutricional
298,76 1,05
manteiga complementar (declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes),
Salgadinho de milho sabor constantes do anexo desta portaria. Diário Oficial da União, Brasília,
457,82 0,70
cebola DF, 16 jan. 1998.
Salgadinho de milho sabor 11. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
719,73 1,67
churrasco RDC nº 24, de 15 de junho de 2010. Aprova o Regulamento Técnico
que estabelece os requisitos mínimos para oferta, propaganda,
publicidade, informação e outras práticas correlatas cujo objetivo seja
CONCLUSÕES
a divulgação e a promoção comercial de alimentos considerados com
A análise, realizada nos produtos selecionados, revelou que as quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura
indústrias produtoras de salgadinhos a base de trigo e milho estão trans, de sódio, e de bebidas com baixo teor. Diário Oficial da
mantendo teores relativamente elevados de sódio e de gordura nesses União: Brasília, de junho de 2010.
alimentos. Foi também possível perceber que o salgadinho de milho 12. SANTOS, C. M. Avaliação da informação nutricional contida
tem um teor de gordura e sódio mais elevado que os salgadinhos de nos rótulos de biscoitos água e sal, sopas industrializadas.
trigo. Uma das possíveis causas na manutenção de altos valores, pode Informativo Técnico do Semiárido, Pombal, v. 7, n. 1, p. 209 - 216
ser atribuída ao descaso dos fabricantes em relação a saúde da jan.– dez de 2013.
população, bem como uma provável deficiência na vigilância dos
órgãos fiscalizadores.
A venda elevada desses produtos e a falta de conscientização por
parte da população com relação aos males associados ao consumo
excessivo de sódio e gordura, se tornam um estímulo a produção de
alimentos desta natureza. Considerando que as gorduras estão
presentes nos alimentos em quantidades variáveis, é importante
verificar sempre os teores de gorduras presentes em alimentos
industrializados e que não sejam fontes de nutrientes.
Ainda de acordo com os teores encontrados nas amostras de lanches
industrializados, infere-se que os salgadinhos de milho são alimentos
com elevado teor de sódio e gorduras saturadas.
A ingestão excessiva de sódio e gorduras, comumente presentes em
alimentos industrializados, está associada a vários agravos à saúde e
deve ser evitada desde a infância. Dessa forma, o consumo desses
produtos deve ser desestimulado, especialmente em relação as
crianças, que normalmente fazem uso desse tipo de alimento nos
lanches.

570
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

O Controle De Vetores e Pragas Urbanas Nos Restaurantes Comerciais Localizados Na


Região Da Serra Da Ibiapaba.

¹Antonia Carvalho, ¹Débora Silva, ¹Heitor Carvalho, ¹Maria Alves, ¹Raíla Silva, ²Valéria Nogueira.
1. Acadêmicos do curso de Gastronomia do Instituto Federal do Ceará, Campus Ubajara-CE, Brasil.
2. Docente do Curso de Graduação em Ciência da Nutrição.
Profheitor.carvalho@gmail.com

Palavras-chave: Serviço de Alimentação. Controle de Pragas. Controle de Qualidade.

INTRODUÇÃO

Todo local onde se prepara alimentos deve ser protegido


contra ratos, baratas, moscas e outros insetos, pois esses animais
transportam microrganismos que contaminam os alimentos e podem
causar doenças sérias (1). O controle de pragas urbanas é um
conjunto de ações preventivas e corretivas, afim de impedir a
proliferação de vetores e pragas dentro das unidades de alimentação.
É importante e faz-se necessário impedir a proliferação desses
vetores, para que o Serviço de Alimentação esteja em conformidade
com as boas práticas de manipulação e em um bom estado de
organização, limpeza do ambiente de trabalho e higiene de
equipamentos e utensílios. Este trabalho tem por objetivo identificar
o percentual de conformidade existente no controle de vetores e
pragas urbanas em restaurantes comerciais localizados na região da
Ibiapaba. Foram relevantes as contribuições de (1) e (2), para
realização e produção desta pesquisa.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata- se de uma pesquisa transversal realizada nos meses


de janeiro a março de 2020, compreendendo 06 restaurantes situados
na serra da Ibiapaba, nas cidades de Tianguá, Ubajara e Ibiapina zona
norte do Estado do Ceará. Para a avaliação foi utilizada a lista de
verificação de boas práticas em serviços de alimentação, conforme a
(2), contendo 181 itens divididos em 9 blocos. Visto que o estudo
focal se deteve sobre o controle de vetores, pragas e manejo de
resíduos, foi analisado apenas os itens pertinentes a esse tópico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O item de controle de vetores, pragas e manejos de


resíduos, obteve maior porcentagem de conformidades, seguindo os
critérios da (2), com 70% a 100%. Foi observado que a edificação, as
instalações, os equipamentos, móveis e utensílios são livres de pragas
e vetores e que fazem uso de telas de proteção no ambiente e controle
químico com uma empresa especializada para este serviço.

CONCLUSÕES

Podemos confirmar que o item controle de vetores e


pragas urbanas encontra-se, regularizado, seguindo os critérios de
higienização do ambiente e proteção dos alimentos. Concluímos que
o controle para evitar o acesso de pragas deve ser mantido por uma
empresa terceirizada responsável pela dedetização do ambiente.

REFERÊNCIAS

(1) BRASIL,. MINISTERIO DA SAUDE: Vigilância Sanitária


Guia Didático. Alimentos, Medicamentos, Produtos e Serviços de
Interesse á Saúde. 1.1 ed. 2007. 110p.

(2) BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA.


Resolução – RDC Nº 216, de 15 de Setembro de 2004.

571
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Caracterização Físico-Química e Bioativa do Bagaço de Uva (Vitis labrusca cv Isabel)

João Feitoza1,2, Edilayane Santos1, Solange Sousa3


1
Mestres em Tecnologia Agroalimentar, Universidade Federal da Paraíba; 2Docente do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte; 3Doutora e docente da Universidade Federal da Paraíba
Autor correspondente: joaovitorlg95@hotmail.com

Palavras-chave: reaproveitamento, resíduos agroindustriais, Piracicaba - SP, Brasil) a 40 °C por 30 minutos, resfriados e lidos em
sustentabilidade, uva preta, antocianinas espectrofotômetro UV-VIS a 765 nm (UV-VIS 5100, Labnova, Santo
André, Brasil). Os resultados foram calculados com o auxílio de uma
INTRODUÇÃO curva padrão de ácido gálico e os resultados expressos em mg EAG.g-
1
da amostra. Para os flavonoides amarelos (FA) e as antocianinas
As frutas possuem nutrientes que estão associados a totais (AT) (17), cerca de 1 g do extrato foi diluído em 5 mL de
diversos efeitos benéficos ao organismo humano, por meio das suas Etanol:HCl (1,5 N) na proporção 85:15, em ambiente escuro, e
propriedades funcionais, antioxidantes e antimicrobianas (1, 2, 3). deixados em repouso por 24 horas sob refrigeração (4 ºC). As
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2017, a amostras foram filtradas em papel de filtro qualitativo (80 g.m-2) e as
uva foi a segunda frutícola mais importante em termos de volume de leituras. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
produção total, correspondendo a 14%, atrás apenas da banana, com
27% (4). As indústrias que utilizam uvas para produção de vinhos e RESULTADOS E DISCUSSÃO
sucos geram bagaços - cascas, polpa e sementes - e a quantidade
gerada é tão elevada que pode chegar a até 20% do peso total desses A caracterização do BU é um requisito essencial para se ter
frutos (5). conhecimento sobre a composição química, os componentes bioativos
O bagaço é rico em água e nutrientes e essa composição e o conteúdo mineralógico (18). O BU deste estudo apresentou
exige que seja processado rapidamente. Uma das alternativas para umidade 69,02% (±1,57). Na literatura, foram reportados valores de
prolongar a vida de prateleira é a secagem, por reduzir umidade nas cascas e sementes de uva Isabel (Vitis labrusca) de
consideravelmente o teor de água, concentrando os nutrientes e 86,33% e 9,31%, respectivamente (19). Este alto teor de água permite
facilitando também a transformação em farinha (6, 7). A secagem por uma aceleração das reações químicas, físicas e bioquímicas, que estão
convecção em estufa é o método mais utilizado devido ao baixo custo diretamente associadas a rápida deterioração (20). O teor de cinzas
e elevada eficiência (8, 9), porém a secagem elimina boa parte dos encontrado neste estudo (1,08% ±0,38) foi inferior ao reportado por
compostos fenólicos em bagaço de uva (BU) (10). Atualmente, os Sánchez-Alonso et al., de 2,4 a 3,5% (21). Santos et al. encontraram
consumidores anseiam não apenas por alimentos seguros e nutritivos, valores nas cascas de 0,86% e nas sementes de 1,48% (19). Becker et
mas também que sejam naturais e saudáveis. Portanto, resíduos de al. e Gomes et al. encontraram nas uvas minerais como K, Mg, Ca, Fe
frutas podem ser usados como matérias-primas para agregar valor ao e Zn (22) e (23). A presença desses elementos comprova a riqueza de
mercado de alimentos, sendo esta uma das principais tendências da minerais presentes no BU (23). Para lipídeos (0,94 ± 0,11), (19)
indústria (11). Diante disso, investigou-se a composição físico- encontraram valores nas cascas de 0,31% e nas sementes de 10,84%.
química e bioativa da farinha do BU, com o intuito de complementar e Os principais ácidos graxos da casca da uva são o ácido
validar os estudos científicos acerca das suas propriedades benéficas linoleico (18:2n-6), o ácido palmítico (16:0) e o ácido oleico (18:1n-
como ingredientes alimentícios. 9). Nas sementes esses valores são ainda maiores, o que indica que a
semente da uva é uma boa fonte de óleo que pode ser extraído para a
METODOLOGIA alimentação humana (19). As proteínas compuseram
aproximadamente 2,68% (±0,44) do BU deste estudo. Santos et al.
Foram obtidos 100 Kg de uvas (Vitis labrusca cv Isabel), encontraram valores nas cascas de 0,85% e nas sementes de 6,87%
provenientes de um mesmo lote da Zona Rural do município de São (19). Os resíduos de frutas não apresentam teores elevados de
Vicente Ferrer, Pernambuco – PE, safra de 2018/2019. Com pequenas proteínas, mas em forma de farinhas são ótimas fontes deste nutriente
modificações (12), os frutos saudáveis (92,64 Kg) foram lavados em e podem ser adicionadas em produtos alimentícios com a finalidade de
água corrente, sanitizados com solução de cloro ativo (200 ppm/15 melhorar o teor proteico (24).
minutos), enxaguados e despolpados em despolpadeira (Hauber – Os SST encontrados (14,13 ºBrix ± 0,06) foram superiores
DM-JI-05, Macanuda, Joinville – SC, Brasil) com malha de 0,8 mm ao relatado por Gomes et al., de 11,9 ºBrix para uvas da variedade
de diâmetro. O bagaço obtido foi armazenado em embalagem flexível Bordô (23), mas inferior ao relatado por Padilha et al., para uva Isabel,
de polietileno de alta densidade, a vácuo, protegido da luz, em com valores próximos a 20 ºBrix (25). O presente estudo revelou valor
ultracongelamento a -80 ºC até o momento da realização das análises. acima de 10 ºBrix, o que demonstra a riqueza de açúcares presentes no
Foram determinados os teores de umidade, cinzas, BU. Valores elevados de SST são preferidos para o consumo in
proteínas - N x 6,25 - (13) e lipídeos (14). Os sólidos solúveis totais natura e para a industrialização, pois oferecem a vantagem de
(SST) foram determinados em refratômetro digital (MA871, proporcionar maior rendimento no processamento (26). Os valores da
Milwaukee, Romania) (13). A acidez total titulável (ATT) foi ATT (1,33 % ácido tartárico ±0,05) e Ratio (10,60 ± 0,43) deste
determinada através da titulação das amostras com solução de estudo foram semelhantes aos de Meneghelli et al. ao estudarem a
hidróxido de sódio a 0,1 M, sendo o resultado expresso em % de ácido polpa de uva Isabel, onde obtiveram valores que variam de 0,87 a 1,36
tartárico. O índice de maturação (Ratio) foi determinado através da g de ácido tartárico por 100 mL e Ratio de 11,24 (27),. Para (28), a
razão entre o teor de SST e da ATT (13). O pH foi determinado com ATT superior a 1% é considerada de maior interesse para a indústria,
pHmetro (PHS – 3E, Ionlab, Araucária – PR, Brasil) previamente uma vez que minimizam a necessidade de adição de ácido na inibição
calibrado com tampão de pH 4,0 e 7,0. A atividade de água (Aa) foi do desenvolvimento de microrganismos. No que se refere a relação
quantificada utilizando aparelho Aqualab 4TE (Decagon Devices, Inc. SST/ATT, é notável a alta concentração de açúcar e a baixa acidez.
São Paulo, Brasil). A vitamina C foi determinada pelo método de Essa relação é uma das melhores formas de avaliação do sabor, a qual
Tillmans (15). Com adaptações (10), para obtenção dos extratos, 10 g ocorre, de forma majoritária, devido ao balanço de ácidos e açúcares,
de cada amostra foi homogeneizada em vortex por uma hora com a tendo mais representação do que a mensuração isoladamente (19).
solução extratora (30 mL de metanol PA acidificado com HCl 0,1 M Os valores de pH (3,64 ± 0,05) na faixa ácida foram
até pH 2), sob refrigeração (4 ºC) e penumbra, sendo filtrados em semelhantes aos relatados por Gomes et al. e Padilha et al., (23) e
papel filtro qualitativo (80 g.m-2) e armazenados em tubos Falcon, sob (25). O pH é uma característica importante, uma vez que pode
refrigeração (4 ºC), até o momento das análises. influenciar no tempo de conservação, ao evitar o desenvolvimento de
Os compostos fenólicos totais (FT) foram determinados microrganismos e influenciar a atividade enzimática, não alterando de
com adaptações (16). Alíquotas de 50 µL dos extratos obtidos foram forma negativa as características sensoriais dos produtos (30). Valores
homogeneizados com 1.950 µL de água destilada e 150 µL do mais altos de pH e baixa acidez são preferidos para o consumo,
reagente Folin-Ciocalteau, submetidos a agitação e repouso por 5 porém, um pH mais elevado favorece o desenvolvimento da atividade
minutos, protegidos da luz. Em seguida, foram adicionados 350 µL de enzimática e o desenvolvimento bacteriano (26). Os valores de Aa
carbonato de sódio a 20% e a mistura foi submetida à agitação. Os encontrados foram 0,97 (±0,01). Por apresentarem elevada Aa as
tubos foram incubados em banho-maria (SL-154/10-4, Solab, frutas são importantes habitats para uma imensidão de

1
572
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

microrganismos e, portanto, são suscetíveis a uma rápida deterioração, 12. SOUSA, K. S.; FIGUERÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.;
principalmente sob conservação inadequada (31, 32). Os teores de FERNANDES, T. K. S. Produção e caracterização da polpa de atemoia em pó. Rev.
Bras. Frutic. 37, 718-728, 2015.
vitamina C encontrados (23,52 mg.100 g -1 ±0,52) foram semelhantes
ao observado por Nayak et al. (18). A contribuição desta vitamina 13. AOAC. Association of Official Analytical Chemist. Official methods of
analysis. 20. ed. Washington, D.C., 2016.
para o valor antioxidante de frutas varia muito de fruta para fruta (33). 14. FOLCH, J.; LEES, M.; STANLEY, G. H. S. A simple method for the
O teor de vitamina C das uvas Vitis foi de 4,6 a 17,92 mg.100 g-1 em isolation and purification of total lipides from animal tissues. Journal of Biological
suco de uva integral (34). Chemistry, J. Biol. Chem. 226, 497-509, 1957.
Os valores de FT encontrados no extrato metanólico deste 15. STROHECKER, R.; HENNING, H. M. Análises de vitaminas: métodos
estudo (31,88 mg de EAG.g-1 ± 1,60) foi semelhante ao reportado por comprovados. Madrid: Paz Montalvo, 1967. 428p.
Rockenbach et al., que encontraram valor de 32,62 mg de EAG.100 g- 16. WATERHOUSE, A. L. 2002. Determination of total phenolics. In:
Current Protocols in Food Analytical Chemistry. Wiley, Hoboken, New Jersey, p.
1
(35). Os FA apresentaram teores de 0,70 mg.100 g-1 (±0,13). Os FA I1.1.1– I1.1.8.
apresentam efeitos benéficos para a saúde, atuando como 17. FRANCIS, F. J. Analysis of anthocyanins. In: MARKAKIS, P. (Ed).
nutracêuticos e antioxidantes (36). Os teores de AT deste estudo Anthocyanins as food colors. New York: Academic Press, 1982. p. 181-207.
foram inferiores (2,17 mg.100 g-1 ±0,01) aos de Rockenbach et al. e 18. NAYAK, A.; BHUSHAN, B; ROSALES, A.; TURIENZO, L. R.;
Gomes et al., que encontraram valores de 1,84 mg.g-1 equivalentes de CORTINA, J. L. Valorisation potencial of Cabernet grape pomace for the recovery of
malvidina-3-glicosídeo e 324,75 mg.g-1 equivalentes de malvidina- polyphenols: Process intensification, optimisation and study of kinetics. Food Bioprod.
Process. 109, 74-85, 2018.
3,5-gdilicosídeo, respectivamente (35) e (23). Para Nayak et al.,
19. SANTOS, L. P.; MORAIS, D. R.; SOUZA, N. E.; COTTICA, S. M.;
Rockenbach et al., Nowshehri et al. e Gomes et al., a alta BOROSKI, M.; VISENTAINER, J. V. Phenolic compounds and fatty acids in
concentração de polifenois é proveniente das sementes e do conteúdo different parts of Vitis labrusca and V. vinifera grapes. Food Res. Int. 44, 1414–1418,
de antocianinas das cascas (18), (35), (37) e (23). A malvidina (3-O- 2011.
monoglucosídeo) e a cianidina (3,5-diglicosídeo) são antocianinas 20. NORTHOLT, M. D.; VAN EGMOND, H. P.; PAULSCH, W. E. Patulin
altamente abundantes nas cascas de uvas vermelhas (38, 23). production by some fungal species in relation to water activity and temperature. J.
Food Prot. 41, 885-890, 1978.
Rockenbach et al. ao analisarem o perfil fenólico do BU da variedade
21. SÁNCHEZ-ALONSO, I.; JIMÉNEZ-ESCRIG, A.; SAURA-CALIXTO,
Isabel encontraram como principais componentes as antocianinas F.; BORDERÍAS, A. J. Antioxidant protection of white grape pomace on restructured
(496,61 mg.100 g-1 equivalentes de malvidina-3-glicosídeo) e os fish products during fronzen storage. LWT - Food Sci. Technol. 41, 42-50, 2008.
flavonoides quercetina (25,72 mg.100 g-1), kaempferol (11,41 mg.100 22. BECKER, M. M.; MENDES, T. M. F. F.; JUNIOR, C. A. S. Teores de
g-1), rutina (26,39 mg.100 g-1), catequina (94,28 mg.100 g-1), Elementos Minerais e Caracterização Física da Uva Isabel (Vitis labrusca L.)
epicatequina (44,36 mg.100 g-1), t-resveratrol (1,18 mg.100 g-1) e Produzida em Boa Vista/RR. Orbital: Electron. J. Chem. 6, 82-86, 2014.
ácido gálico (17,49 mg.100 g-1) (35). O mesmo foi relatado por Storck 23. GOMES, T. M.; TOALDO, I. M.; HAAS, I. C. S.; BURIN, V. M.;
CALIARI, V.; LUNA, A. S.; GOIS, J. S.; BORDIGNON-LUIS, M. T. Differential
et al., com algumas poucas diferenças, que segundo Doshi et al. são contribution of grape peel, pulp, and seed to bioaccessibility of micronutrients and
normais, já que a concentração fenólica nas uvas depende do tipo de major polyphenolic compounds of red and white grapes through simulated human
processo de vinificação, bem como das características genéticas, digestion. J. Funct.Foods. 52: 699-708, 2019.
ambientais e culturais (24) e (39). 24. STORCK, C. R.; BASSO, C.; FAVARIN, F. R.; RODRIGUES, A. C.
Qualidade microbiológica e composição de farinhas de resíduos da produção de suco
de frutas em diferentes granulometrias. Braz. J. Food Technol. 18, 277-284, 2015.
CONCLUSÃO 25. PADILHA, C. V. S.; LIMA, M. S.; TOALDO, I. M; PEREIRA, G. E.;
BORDIGNON-LUIZA, M. T. Effects of successive harvesting in the same year on
Torna-se evidente que o BU é uma rica fonte de nutrientes, quality and bioactive compounds of grapes and juices in semi-arid tropical viticulture.
Food Chem. 301, 125170, 2019.
principalmente quando se observa os teores de SST, vitamina C e
compostos bioativos como os fenólicos totais e as antocianinas. Este 26. SANTOS, M. B.; CARDOSO, R. L.; FONSECA, A. A. O.;
CONCEIÇÃO, M. N. Caracterização e qualidade de frutos de umbu-cajá (Spondias
estudo evidencia a grande possibilidade de poder utilizar o BU como tuberosa X S. mombin) provenientes do Recôncavo Sul da Bahia. Rev. Bras. Frutic.
ingrediente em produtos alimentícios. Contudo, mais estudos são 32, 1089-1097, 2010.
necessários para investigar a melhor forma de inserção desse bagaço 27. MENEGHELLI, C. M.; LIMA, J. S. S.; BERNARDES, A. L.;
nos alimentos, bem como a concentração, a influência sobre os COELHO, J. M.; SILVA, S. A.; MENEGHELLI, L. A. M. ‘Niágara Rosada’ and
‘Isabel’ grapes quality cultivated in different altitudes in the state of Espírito Santo,
nutrientes da matriz receptora e sua biodisponibilidade no organismo Brazil. Emir. J. Food Agric. 30, 1014-1018, 2018.
humano. 28. LIMA, E. D. P. A.; LIMA, C. A. A.; ALDRIGUE, M. L.; GONDIM; P.
REFERÊNCIAS J. S. Caracterização física e química dos frutos de umbu-cajazeira (Spondias spp) em
cinco estádios de maturação, da polpa congelada e néctar. Rev. Bras. Frutic. 24, 338-
1. ALBUQUERQUE, M. A. C.; LEVIT, R.; BERES, C.; BEDANI, R.; 343, 2002.
LEBLANC, A. M.; SAAD, S. M. I.; LEBLANC, J. G. Tropical fruit by-products water 29. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e
extracts as sources of soluble fibres and phenolic compounds with potential hortaliças: fisiologia e manuseio. 2ª ed. Universidade Federal de Lavras, 2005, Lavras.
antioxidant, anti-inflammatory, and functional properties. Journal of Funct. Foods. 52, 785 p.
724-733, 2019. 30. LIMA, C. A.; FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V.; COHEN, K. O.;
2. SCHNEIDER, V. S.; BARK, J. M.; WINNISCHOFER, S. M. B.; GUIMARÃES, T. Características físico-químicas, polifenóis e flavonoides amarelos
SANTOS, E. F.; IACOMINI, M.; CORDEIRO, L. M. C. Dietary fibres from guavira em frutos de espécies de pitaias comerciais e nativas do Cerrado. Rev. Bras. Frutic. 35,
pomace, a co-product from fruit pulp industry: characterization and cellular 565-570, 2013.
antioxidant activity. Food Res. Int. 109065, 2020. 31. FARIA, M.; OLIVEIRA, L. B. D.; COSTA, F. E. C. Qualidade
3. DIARRA, M. S.; HASSAN, Y. I.; BLOCK, G. S.; DROVER, J. C. G.; microbiológica de polpas de açaí congeladas. Alim. Nutr. 23, 243-249, 2012.
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4. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E grandiflorum Schum). Persp. Online: Biol. & Saúde.14, 41-49, 2014.
ESTATÍSTICA. Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: 33. GUO, C.; YANG, J.; WEI, J.; LI, Y.; XU, J.; JIANG, Y. Antioxidant
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5. SOUZA, V. B.; THOMAZINI, M.; BALIEIRO, J. C. D. C.; assay Changjiang. Nutr. Res. 23, 1719−1726, 2003.
FÁVARO‐TRINDADE, C. S. Effect of spray drying on the physicochemical 34. SANTANA, M. T. A.; SIQUEIRA, H. H.; LACERDA, R. J.; LIMA, L.
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2015. 35. ROCKENBACH, I. I.; RODRIGUES, E.; GONZAGA, L. V.; CALIARI,
6. SINGH, S. P.; JAIRAJ, K. S.; SRIKANT, K. Universal drying rate V.; GENOVESE, M. I.; GONÇALVES, A. E. S. S.; FETT, R. Phenolic compounds
constant of seedless grapes: A review. Renew. Sust. Energ. Rev. 16, 6295–6302, 2012. content and antioxidant activity in pomace from selected red grapes (Vitis vinifera L.
7. ADILETTA, G.; RUSSO, P.; SENADEERA, W.; MATTEO, M. D. and Vitis labrusca L.) widely produced in Brazil. Food Chem. 127, 174–179, 2011.
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2
573
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cuidados Com Os Clientes Dos Serviços De Alimentação Em Tempos De Pandemia Do


COVID-19
Benito Costa Bezerra Filho¹, Larissa Pereira Aguiar²

¹ Graduando do Curso de Gastronomia – Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO) – Fortaleza, CE.


² Mestre em Tecnologia de alimentos; Docente do Curso de Gastronomia – Centro Universitário Fametro
(UNIFAMETRO) – Fortaleza, CE.
E-mail: benito.costa94@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Coronavírus, segurança alimentar, restaurantes

INTRODUÇÃO Na figura 2 é apresentado os cuidados estruturais necessário


para receber com segurança.
COVID-19 é a doença infecciosa causada pelo coronavírus Figura 2: Zelos na organização estrutural do estabelecimento
descoberto mais recentemente. Esse novo vírus e a doença eram
Organizar a disposição das mesas Se não for possível retirar algumas mesas,
desconhecidos antes do início do surto em Wuhan, na China, em
e cadeiras para que seja mantida fazer interdição de mesas de forma
dezembro de 2019. O COVID-19 é agora uma pandemia que afeta
a distância segura de 1 metro intercalada, a fim de manter o
muitos países do mundo (1).
entre as pessoas. distanciamento recomendado.
A dinâmica da pandemia do novo coronavírus mostra que a
transmissão tem ocorrido de pessoa a pessoa, pelo contato próximo com Uma família que já convive no mesmo
um indivíduo infectado ou por contágio indireto, ou seja, por meio de ambiente dentro de casa, como pais e filhos,
superfícies e objetos contaminados, principalmente pela tosse e espirro poderá ficar numa mesma mesa dentro do
de pessoas infectadas (2). Clientes em uma única mesa estabelecimento, mas deverá preservar a
Entretanto, são eliminados pela higienização ou desinfecção distância em relação aos demais clientes.
das superfícies (tanto pela ação de detergentes, sabões e desinfetantes) Essa orientação deve ser repassada aos
clientes e fica sob responsabilidade deles.
e pela lavagem das mãos, além de serem sensíveis às temperaturas
normalmente utilizadas para cozimento dos alimentos (em torno de Quando o distanciamento mínimo
70°C) (3). recomendado não for possível devido às
Assim, garantir que os alimentos cheguem com segurança à características inerentes à atividade, devem
população brasileira, assegurar que não haja desabastecimento, ser aplicados outros métodos para evitar a
fornecer informações corretas sobre o assunto à população e minimizar exposição ao vírus.
os riscos de contágio pelo novo coronavírus, inclusive entre os Uso de barreiras físicas As barreiras físicas representam outro
trabalhadores, são desafios impostos por essa nova realidade (4). impermeáveis entre os clientes recurso para reduzir o contágio entre as
O objetivo do trabalho é trazer informações simplificadas pessoas por meio de secreções respiratórias
e saliva. Para isso, elas precisam ser
para facilitar o entendimento e as aplicações de medidas de prevenção
confeccionadas de material impermeável e
do COVID-19 na área da segurança de alimentos em gastronomia e seus
de fácil higienização, como acrílico ou
estabelecimentos.
vidro.
MATERIAL E MÉTODOS Dispor de pias com água corrente,
sabão neutro e toalhas Para uso dos clientes na higienização
descartáveis ou outros secadores das mãos;
O presente resumo, de caráter informativo e a partir de
de mão seguros
referências bibliográficas atualizadas, apresenta os procedimentos mais
pertinentes que os estabelecimentos, da área de alimentos e bebidas, Por exemplo, junto às pias de higienização
devem adotar visando a segurança dos clientes. Para empreender tal das mãos, antes do expositor de alimentos,
Distribuir dispensers de álcool
busca partiremos de textos de notas técnicas da Agência Nacional de no caixa;
70% em gel em locais
Vigilância Sanitária (ANVISA) sobre o COVID-19 e algumas afixando orientações sobre a correta
estratégicos
Resoluções de Diretoria Colegiada. lavagem das mãos e correto uso do álcool,
podendo ser feito uso de figuras;
RESULTADOS E DISCUSSÃO Deve-se incentivar que os Caso os ambientes sejam climatizados, a
ambientes sejam ventilados qualidade do ar deve ser garantida através
Na Figura 1 consta os cuidados que devem ser tomados antes naturalmente, mantendo portas e da manutenção dos aparelhos de ar
da entrada do cliente no estabelecimento. janelas abertas. condicionado.

Figura 1: Precauções com o cliente na entrada do estabelecimento Fonte: Elaboração própria, 2020.
NÃO é recomendada até o A figura 3 mostra os cuidados que devem ser tomados a
momento a utilização de Uma vez que não foram encontradas partir do momento que o cliente adentra as dependências internas do
estruturas para desinfecção de evidências científicas de que o uso dessas estabelecimento.
pessoas na entrada de estruturas para desinfecção sejam eficazes
Figura 3: Cautelas nas dependências internas
estabelecimentos, como câmaras, no combate ao SARS-CoV-2. Além disso, a
cabines ou túneis, com o uso de borrifação de saneantes sobre seres humanos Higienizar as mesas e cadeiras
Sempre após o término de cada atendimento
produtos químicos (como tem potencial para causar lesões dérmicas, com sanitizante (por exemplo,
ou refeição (e podem ser cobertas com
hipoclorito de sódio, dióxido de respiratórias, oculares e alérgicas, podendo álcool a 70° ou água sanitária
plástico para facilitar essa higienização).
cloro, peróxido de hidrogênio, o responsável da ação responder penal, civil diluída)
quaternários de amônio, ozônio, e administrativamente. Ter vigilância constante do fluxo
entre outros). Para isso, podem ser designados
de clientes e orientá-los para
funcionários para verificar e intervir sempre
Devem ser utilizados equipamentos facilitar a circulação interna,
Os estabelecimentos podem que for verificada aglomeração de pessoas,
devidamente certificados para esse fim e evitando a aglomeração e
implementar medidas adicionais ou colocar avisos sonoros chamando a
que não entrem em contato direto com a mantendo o distanciamento,
para controlar a entrada de atenção dos clientes para isso ou mesmo
pele. Além disso, deve-se ter em mente que inclusive nos locais que tendem à
clientes, como medição de avisos impressos, a serem dispostos em
muitas pessoas infectadas pelo novo concentração de pessoas, como
temperatura antes da entrada nos forma de cartazes, evitando-se distribuição
coronavírus são assintomáticas e, portanto, banheiros e nos balcões de
serviços de alimentação. de panfletos.
não desenvolvem sintomas como a febre. exposição de alimentos.
De forma que não haja aglomeração e E, quando obrigatório por normas locais,
Controlar o fluxo de entrada de O uso de máscaras faciais pelos
impossibilidade de manutenção da distância deve ser reforçado na entrada dos
pessoas no local. clientes deve ser estimulado.
mínima recomendada. estabelecimentos.
Fonte: Elaboração própria, 2020.

574
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avisos e orientações em locais Ajudar a conscientização do público. Os produtos prontos para o consumo,
visíveis do estabelecimento sobre Lembrando que é importante preservar a vendidos sem embalagens, como refeições
a necessidade de manter o distância segura mínima de 1 metro, tanto prontas e produtos de panificação e
Os alimentos também precisam
distanciamento e obedecer às entre os clientes, quanto entre esses e os confeitaria, devem ser expostos,
estar protegidos por meio de
demarcações. funcionários. preferencialmente, embalados. Não sendo
barreiras físicas
possível, devem estar totalmente protegidos
Reforçar o procedimento de por meio de balcões expositores (com
higienização dos utensílios usados Ajustando os materiais e equipamentos de fechamento frontal e lateral).
ou compartilhados pelos clientes limpeza necessários para o processo de
(por exemplo, bandejas, copos, higienização. A entrega de alimentos (delivery)
pratos e garfos). por meio de serviços específicos
Nesse tipo de serviço, também devem ser
de aplicativos ou disponibilizados
observadas as boas práticas de manipulação
Aumentar a frequência de pela própria empresa, incluindo
de alimentos, de forma que sejam adotados
higienização das superfícies em para retirada local (take-out),
cuidados básicos visando garantir a
que os empregados e clientes além de oferecer uma comodidade
segurança sanitária do produto.
tocam usualmente, como ao cliente, pode ajudar auxiliando
Ajudar a conscientização do público. no combate a COVID-19.
maçanetas das portas, alças dos
equipamentos, balcões, carrinhos
e cestas de compras, máquinas de • No caso de retirada pelo próprio cliente
(take-out), zonas de coleta específicas
cartão de crédito.
devem ser estabelecidas, visando ajudar a
Dar preferência ao uso de manter o distanciamento físico de 1 metro,
temperos, molhos, condimentos e Quando não for possível essa opção, dar pelo menos.
especiarias em embalagens mais atenção à desinfecção das embalagens. • Ao entregar o alimento, utilizar meios que
individualizadas (sachês). reduzam o contato com os clientes,
oferecendo entregas "sem contato" e
Preferir o uso de cardápios Quando não for possível essa opção, usar Outras dicas a serem seguidas
enviando alertas de texto ou ligando quando
descartáveis, eletrônicos, lousas cardápios plastificados, de maneira a são:
as entregas chegarem ao destino, por
ou outros painéis. possibilitar a sua higienização. exemplo.
Fonte: Elaboração própria, 2020. • Quando o contato for necessário, os
entregadores devem ser orientados a manter
A figura 4 é bem específica sobre a hora do pagamento, onde o distanciamento dos clientes; e
os clientes terão contato um pouco mais direto com equipamentos e • Embalagem, bolsas e caixas usadas para o
pessoas. transporte de alimentos devem ser
Figura 4: Precauções ao efetuar os pagamentos higienizadas frequente e adequadamente.
Isto também pode colaborar para manter o Fonte: Elaboração própria, 2020.
distanciamento entre os funcionários e os
uso de barreiras, como faixas, Desta forma, os estabelecimentos que adotarem as medidas
clientes, as demarcações visam facilitar o
entre o caixa e o cliente com citadas nas figuras atingirão condições satisfatórias para combater o
cumprimento do distanciamento em filas
demarcações no chão. COVID-19, além de estabelecer um cenário seguro para os
para atendimento. Para garantir a separação
consumidores.
entre as pessoas que aguardam atendimento.
O uso de cartão ao invés de cédulas, se CONCLUSÕES
possivel envelopar a máquina com plástico
Deve-se estimular os clientes a
filme para facilitar a higienização. O Diante de todos esses procedimentos de segurança conclui-
usar meios de pagamento que
manuseio pode ser feito pelos próprios se que é de extrema importância os cuidados com o cliente em época de
demandem menos toque e
clientes para inserção e retirada da máquina, pandemia do COVID-19, tanto pela magnitude de procedimentos
manuseio, quando disponível.
assim auxiliando na diminuição do risco de quanto pela importância dos consumidores para a área de alimento e
contato com objetos contaminados. bebidas, assim, os mesmos merecem todos os cuidados necessário para
Além disso, é recomendando desfrutarem do ambiente, dos produtos e da receptividade do
disponibilizar ao cliente álcool gel estabelecimento de uma forma altamente segura.
-
ou pias próximas, para estimular a
higienização das mãos. REFERÊNCIAS
Fonte: Elaboração própria, 2020.
Já a figura 5 traz dicas de cuidados nos serviços de 1. World Health Organization. Q&A on coronaviruses (COVID-19).
autoatendimento e entregas. Disponível em: https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-
Figura 5: Cuidados nos serviços de bufê, delivery e take out coronaviruses. Acessado em 06/04/2020. Acessado em: 5 de jun. 2020

Evitar, sempre que possível, a Visando minimizar o risco de contaminação 2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
oferta em serviços de auto devido ao compartilhamento de utensílios, TÉCNICA Nº Nº 49/2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA.
atendimento (self-service), como assim como a contaminação do próprio Ementa: Orientações para os serviços de alimentação com atendimento
bufê e estações de bebida. alimento. direto ao cliente durante a pandemia de Covid-19. Disponível em:
http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
Tais como: cobrir o expositor de alimentos ICA_N__49.2020.GIALI__orientacoes_atendimento_ao_cliente.pdf/e
com protetores salivares elaborados com 3cb8332-e236-482f-b446-cb2a39dc4589. Acessado em 1° de jun.
material de fácil limpeza, como vidro, com
2020.
fechamento frontal e lateral; conduzir os
Os serviços de alimentação que clientes para higienização das mãos antes e
3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
permanecerem com o serviço de depois de se servir; e avaliar a
bufê deverão implementar possibilidade de dispor um colaborador
TÉCNICA Nº 47 /2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA. Ementa:
melhorias que minimizem a para servir a refeição aos clientes, visando
Uso de luvas e máscaras em estabelecimentos da área de alimentos no
disseminação do vírus. diminuir a manipulação de utensílios, como contexto do enfrentamento ao COVID-19. Disponível em:
pegadores, por diversas pessoas. http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
Adicionalmente, os utensílios utilizados na ICA_N__47.2020.SEI.GIALI_0_uso_de_EPIs.pdf/41979d87-50b8-
manipulação de alimentos deverão ser 4191-9ca8-aa416d7fdf6e. Acessado em 1° de jun. 2020.
higienizados frequentemente.
Orientações claras e visíveis aos 4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. NOTA
clientes sobre boas práticas TÉCNICA Nº Nº 48/2020/SEI/GIALI/GGFIS/DIRE4/ANVISA.
respiratórias, incluindo a Ementa: Documento orientativo para produção segura de alimentos
recomendação de não falar - durante a pandemia de Covid-19. Disponível em:
enquanto se serve, podem ajudar http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NOTA_TECN
na proteção do alimento e das ICA_N__48___Boas_Praticas_e_Covid_19__Revisao_final.pdf/ba26f
superfícies do estabelecimento. be0-a79c-45d7-b8bd-fbd2bfdb2437. Acessado em 1° de jun. 2020.

575
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação do excesso de peso e consumo alimentar de crianças em idade escolar de uma escola
em Pernambuco
Maria Carolina de Lima1, Regina Costa2, Ana Paula da Silva3, Maria Raiane de Goes3, Wenicios Chaves4, Gicely
Monteiro5, Franciely da Silva6.
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco. 2Graduada em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. 3Graduada em Nutrição,
Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, Rio Grande do Norte.
4
Mestre em Nutrição, Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco. 5Mestre em
Enfermagem, Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade de Pernambuco (UPE), Recife,
Pernambuco. 6Mestre em Nutrição, Alimentos e Metabolismo, Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), Cuiabá, Mato Grosso. Correspondência: carolina.cavalcantilima@ufpe.br.

Palavras-chave: IMC, escolares, alimentação adequada, segurança alimentar e nutricional.


Introdução divergem de Silva e col. (2017) cerca de 80% das crianças de Juiz
A obesidade é uma doença metabólica, crônica e de Fora, Minas Gerais, realizam 4 refeições (4).
multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura
corporal (1). No Brasil, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Figura 1. Frequência do consumo de refeições ao longo do dia por
Familiares (POF), a prevalência de excesso de peso em crianças está escolares de uma escola municipal localizada em Jaboatão dos
estimada em cerca de 30%, nos anos de 2008-2009 (2). Guararapes, Pernambuco (n=87).
Estudos sugerem que a elevada frequência de obesidade
infantil tem relação com o baixo consumo de frutas/hortaliças, e
consumo excessivo de óleos, açúcares, refrigerantes e sucos de caixa 100%
(1). Tendo em vista que é no ambiente escolar onde as crianças
permanecem a maior parcela do dia e realizam parte das refeições, 80%
torna-se relevante que este local incentive a construção de hábitos
saudáveis (3). 60%
Tempo de tela se refere ao tempo gasto em frente à
TVs, videogames e computadores no geral. A utilização exagerada 40%
dessas tecnologias pode exercer uma grande influência no aumento
de números de casos de excesso de peso e obesidade na infância, a 20%
julgar por sua associação ao sedentarismo e a distúrbios alimentares.
Diante do exposto, o presente estudo objetivou analisar 0%
a relação entre o excesso de peso e o consumo alimentar atual de Café da Lanche Almoço Lanche Jantar Ceia
crianças com 7 a 10 anos incompletos matriculadas em uma escola manhã da da tarde
da rede municipal de ensino em Jaboatão dos Guararapes, manhã
Pernambuco.
Sim Não
Material e Métodos
Foi realizado um estudo transversal, cuja amostra foi
composta por escolares de ambos os sexos, idade entre 7 e 10 anos, No presente estudo, o uso de telas teve associação com o
matriculados em uma escola municipal localizada no município de excesso de peso, enquanto a ingestão de frutas foi associada a
Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. eutrofia (Tabela 2). Esses resultados corroboram com os descritos
O peso foi mensurado em uma balança digital (Techline por Corrêa, RS e col. (2017), onde foi relatado que marcadores de
Tecsilver; capacidade:180kg; precisão: 100g), enquanto a altura foi alimentação do SISVAN são associados ao estado nutricional
aferida através de um estadiômetro compacto (Slim Fit; capacidade: adequado (5). O sobrepeso e a obesidade são uma realidade no
200cm; precisão: 1cm). O estado nutricional das crianças foi público infantil e encontra-se na escola a oportunidade de
classificado e expresso em escore z, utilizando a Estatura/Idade e o desenvolvimento de ações que possam contribuir para a melhoria da
IMC/Idade com auxílio do software AnthroPlus versão 1.0.4. saúde em geral (6).
O consumo alimentar atual dos escolares foi analisado
através da frequência alimentar atual e de marcadores do consumo
alimentar. Na primeira fase (frequência alimentar atual), as crianças Tabela 2. Relação entre IMC/Idade e consumo alimentar de
foram questionadas se no dia anterior à entrevista foram realizadas escolares em uma escola municipal de Jaboatão dos Guararapes,
ou não seguintes refeições: café da manhã, lanches da manhã e/ou Pernambuco (n=86).
tarde, almoço, jantar e ceia. Enquanto na segunda etapa (marcadores IMC/IDADE
do consumo alimentar), as crianças foram entrevistadas com auxilio Consumo Excesso de
do Formulário de Marcadores de Consumo Alimentar do Sistema de Eutrofia
alimentar peso p*
Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). As entrevistas foram % %
conduzidas por uma nutricionista, tendo em ambas as etapas a
Realizar as
utilização de questionários estruturados fechados, cujas alternativas
refeições assistindo
foram “sim” ou “não”.
TV, mexendo no
A análise estatística foi realizada através do software
computador e/ou
SPSS Statistics 20. A associação de variáveis qualitativas foi obtida
celular?
através dos testes Qui-quadrado ou F de Fisher (p ≤ 0,05). Esta
Sim 61,0 (n=36) 81,5 (n=22)
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da 0,049
Não 39,0 (n=23) 18,5 (n=5)
Faculdade Tiradentes sob o parecer nº 3.645.643.
Feijão
Sim 83,1 (n=39) 79,1 (n=19)
Resultados e Discussão 0,146
Não 16,9 (n=10) 20,9 (n=8)
A análise da frequência do consumo evidenciou que os
Frutas Frescas
escolares apresentam baixa adesão no consumo do lanche da manhã
Sim 69,5 (n=41) 40,7 (n=11)
e ceia, refeições realizadas em casa, estimando que a maior parte da 0,011
Não 30,5 (n=18) 59,3 (n=16)
amostra realiza em média 4 refeições (Figura 1). Nossos resultados
Verduras e/ou

576
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

legumes possível entender como eventos em longo prazo impactaram na


Sim 50,8 (n=30) 44,4 (n=12) formação do hábito alimentar, além disso encorajar o
0,375
Não 49,2 (n=29) 55,6 (n=15) desenvolvimento de novas estratégias de educação alimentar e
Hambúrguer e/ou nutricional.
embutidos
Sim 50,8 (n=30) 44,4 (n=12) Conclusão
0,375
Não 49,2 (n=29) 55,6 (n=15) As refeições realizadas em casa, como o lanche da manhã
Bebidas adoçadas e ceia, apresentaram baixa adesão pelos escolares. Ademais, o uso de
Sim 66,1 (n=39) 63 (n=17) telas teve correlação com o excesso de peso, enquanto a ingestão de
0,48
Não 33,9 (n=20) 37 (n=37) frutas frescas se associara a eutrofia.
Macarrão
instantâneo, Referências
salgadinhos ou 1.WANG, H.; LIM, H. The global childhood obesity epidemic and
biscoitos the association between socioeconomic status and childhood obesity
Sim 59,3 (n=35) 40,7 (n=11) 2.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa
0,085
Não 40,7 (n=24) 59,3 (n=16) Nacional de Saúde: Brasil e grandes regiões. Rio de Janeiro: Instituto
Biscoito recheado, Brasileiro de Geografia e Estatística; 2015.
doces ou 3.BEVANS, K.N.; SANCHEZ, B.; TENERALLI, R.; FORREST,
guloseimas C.B. Children’s eating behavior: the importance of nutrition standars
Sim 72,9 (n=43) 59,3 (n=16) for foods in schools. J. Sch. Health. 81(7), 424-429, 2012.
0,156
Não 27,1 (n=16) 40,7 (n=11) 4.SILVA, F.A. et al., Daily meal frequency and associated variables
in children and adolescents. J. Ped. 93, 79-86, 2017.
Ademais, o presente estudo apresentou algumas 5.CORRÊA, RS.; VENCATO, PH.; ROCKETT, FC.; BOSA, VL.
limitações, dentre elas a composição da amostra, que abrangeu uma Dietary patterns: are there differences between children and
escola. Outro ponto relevante, foi que o trabalho teve como objetivo adolescents? Ciên. Saúde Col. 22(2), 553-562, 2017.
principal investigar o consumo alimentar atual, ou seja, que tem 6.COELHO, Lara Fernandes; SIQUEIRA, Jordana Herzog;
relação com eventos mais recentes vividos pela criança. Por outro MOLINA, Maria del Carmen Bisi. Estado nutricional, atividade
lado, uma sugere-se em estudos posteriores, que haja o maior física e tempo de tela em escolares de 7-10 anos: um estudo de
envolvimento de outras escolas e a aplicação de ferramentas de intervenção em Vitória-ES. DEMETRA: Alimentação, Nutrição &
avaliação dos hábitos alimentares das crianças. Dessa forma, será Saúde, [S.l.], v. 11, n. 4, p. 1067-1083, ago. 2016. ISSN 2238-913X.

577
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Percepções e Práticas Alimentares de Discentes de Gastronomia

Samuel Gomes1, Diana Carvalho 2


1
Graduando do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará,
2
Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará, samuelelias@alu.ufc.br

Palavras-chave: Perfil Nutricional; Consumo Alimentar; Conhecimento Nutricional;

Introdução Massa Corporal (IMC) adequado, porém 48% encontrava-se acima


do peso, sendo 36% com sobrepeso e 12% obesos. Nota-se que o
O aumento de sobrepeso e obesidade incide a todas as faixas etárias percentual de alunos do curso de Gastronomia da UFC que estão
da população brasileira e as Doenças Crônicas não Transmissíveis acima do peso é notavelmente mais elevado se comparado à estudos
(DCNT’s), atualmente, são a principal causa de morte entre adultos.
que avaliam o estado nutricional de estudantes universitários.
Seus sintomas aparecem de maneira lenta e gradativa e as
Oliveira (4) pesquisou o estado nutricional de estudantes de nutrição
complicações podem levar desde a incapacidade até a morte (1).
Essas doenças poderiam ser evitadas com um estilo de vida saudável, de uma universidade pública na cidade de Lagarto-Sergipe. O estado
que contemple fatores como alimentação adequada, prática regular nutricional antropométrico dos estudantes apresentou 71%
de exercícios físicos, lazer, controle de estresse e cuidados com si e eutróficos, seguida de excesso de peso (sobrepeso e obesidade), com
com o meio (2). 22%. Feitosa (3), em sua pesquisa com universitários, observou que
A transição para o meio acadêmico pode promover mudanças maioria da amostra encontrava-se no estado eutrófico (69,6),
significativas no nível de atividade física e na qualidade da dieta de enquanto 12,6% encontravam-se com baixo peso, e 17,9%
estudantes. Vários são os fatores que levam a essas mudanças apresentavam sobrepeso/obesidade.
alimentares e ao consequente reflexo na saúde dos estudantes após Com relação aos hábitos alimentares, notou-se a inadequação na
ingresso à universidade. Como exemplo citam-se as diversas frequência alimentar, consumo de frutas frescas, verduras e legumes,
atividades acadêmicas que influenciam nas escolhas dos alimentos e e consumo expressivo de alimentos processados como bebidas
diminuem o tempo para realizar as refeições de forma adequada. (3) adoçadas e embutidos.
Outros fatores como: independência, maturidade, raciocínio crítico e
A refeição principal dos estudantes de Gastronomia é o almoço,
vida profissional também podem atuar como agentes nessas
seguida do jantar. As refeições da manhã (café da manhã 66,7% e
mudanças (4).
A partir desse pressuposto, buscando identificar características e lanche da manhã 28,6%) mostram-se menos aderidos que o lanche da
conhecimentos nutricionais para auxiliar na garantia da saúde e tarde. Isso indica que boa parcela desses estudantes faz do almoço a
qualidade de vida dos estudantes, este trabalho teve como principal primeira refeição do dia. O estudo qualitativo de Borges (9), com
objetivo analisar as relações entre perfil nutricional, consumo universitários apresenta diversos fatores que afetaram sua rotina
alimentar e conhecimento nutricional dos discentes do curso de alimentar. Dos que se referem ao consumo do café da manhã, o autor
Gastronomia da Universidade Federal do Ceará. cita: morarem sozinhos, falta de tempo e não terem se adaptado ao
ritmo da universidade. Os que não conseguem se alimentar em casa,
Material e Métodos geralmente optam por comer lanches rápidos em estabelecimentos
comerciais. Importante destacar que o jejum prolongado pode
A primeira etapa do projeto se caracterizou pelo mapeamento da
desencadear em uma série de alterações metabólicas e pode ser
quantidade de discentes ativos no curso e quais preenchiam os
evidenciada principalmente na tendência ao ganho de peso (10).
requisitos da pesquisa (O critério de exclusão foi estar cursando o
primeiro semestre: isso se dá ao fato destes alunos não cursarem Os legumes e verduras foram consumidos por pouco mais da metade
nenhuma disciplina que aborde o tema a ser estudado e ao pouco dos estudantes (64,3%), e frutas ainda menos (54,8%), o que pode
tempo de vivência na universidade). Os instrumentos da pesquisa significar a substituição desses alimentos por outros com valores
foram questões estruturadas em formulários aplicados virtualmente nutricionais menos substanciais. O consumo de frutas, hortaliças e
pelo pesquisador utilizando a plataforma Google Forms e separados cereais integrais está associado ao teor de fibras na alimentação. As
em quatro seções: Termo de consentimento livre e esclarecido, fibras atuam no aumento da saciedade, redução de apetite e retardo
conhecimento nutricional, práticas alimentares e perfil alimentar. da absorção de carboidratos após as refeições (11).
Para investigar as medidas antropométricas da população do estudo, Sobre o consumo de alimentos processados e ultraprocessados nota-
o pesquisador incluiu no formulário duas questões abertas para que se um consumo elevado. Os hamburgueres/embutidos são
cada participante informasse seu peso e altura. O perfil consumidos por mais da metade 52,4% dos estudantes. As bebidas
antropométrico foi identificado através do índice de massa corporal adoçadas, refrigerantes e sucos processados, por exemplo, foram
(IMC). A partir do resultado, as amostras foram classificadas
consumidos por 59,5%.dos estudantes. Isso exemplifica a
segundo os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS)
(5). substituição de alimentos naturais por outros similares que
Para se avaliar as práticas alimentares dos discentes, se optou por apresentam maior facilidade de acesso e praticidade de consumo. Já
utilizar o marcador de consumo alimentar utilizado pelo Sistema biscoitos recheados, doces e guloseimas foram consumidos por
Único de Saúde e desenvolvido por Sisvan Web (6). 38,1%.
Para identificar o conhecimento nutricional utilizou-se um Os resultados sobre conhecimento nutricional indicam que a grande
questionário baseado na escala de conhecimento elaborada por maioria dos estudantes possuem entre alto (52%) e moderado (43%)
Harnacke et. al (7) , aplicada no National Health Interview Survey conhecimento nutricional. Os dados que se destacam são o
Cancer Epidemiologye traduzida, adaptada e validada por Scagliusi conhecimento dos estudantes da influência de uma alimentação
et al. (8), contendo 2 questões abertas e 10 de múltipla escolha, sendo adequada na diminuição da incidência das principais DCNT’s, o
um ou mais itens corretos para cada questão. reconhecimento das principais doenças provenientes de uma má
alimentação e o teor de lipídeos entre os alimentos. Os dados que
Resultados e Discussão
preocupam, porém, são o desconhecimento da relação do
Sobre o perfil antropométrico dos estudantes, percebeu-se que a sedentarismo, alimentos processados e junk food com a incidência do
maioria dos discentes (52%) encontrava-se eutrófica, com Índice de

578
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

câncer, e a falta de correlação positiva entre o conhecimento 10 FRANCISCHI, Rachel Pamfilio Prado de et al. Obesidade:
nutricional e hábitos que resultem em manutenção do peso. atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev. Nutr.,
Autores como Datillo et al (12) observaram pouca influência do nível Campinas, v. 13, n. 1, p. 17-28, Apr. 2000;
de conhecimento nutricional sob a composição corporal. Sua 11 MIRANDA et al. Avaliação antropométrica e análise do consumo
pesquisa apresenta uma baixa correlação positiva entre o IMC e QNC alimentar de universitários da Faculdade de Ciências Aplicadas –
(r=0,16). O autor cita que mesmo indivíduos com bom conhecimento UNICAMP. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 21(2):
nutricional não necessariamente modificam positivamente seus 461-468, 2014;
hábitos alimentares. As práticas alimentares são determinadas por 12 DATTILO, M.; KURODA, A. P.; FURLANETTO, P.;
aspectos de cunho cultural educacional e econômico, sendo o NICASTRO, H.; COIMBRA, P. C. F. C.; SIMONY, R. F.
conhecimento nutricional importante, mas não um fator isolado para Conhecimento nutricional e sua associação com o índice de massa
mudar o comportamento alimentar (13). corporal. Nutrire Rev. Soc. Bras. Aliment. Nutr. v. 34, n.1, p. 75-84,
Diferentemente do consumo alimentar, estudos disponíveis que 2009;
associam o conhecimento alimentar ao estado nutricional da 17 O’Brien G, Davies M. Nutrition knowledge and body mass index.
população universitária ainda se encontram extremamente limitados, Health Educ Res. 2007;22(4):571-5.
em sua maioria avaliando alunos atletas ou da área da saúde. A
maioria dos estudos, porém, apresentam falha na associação entre o
IMC e o conhecimento nutricional. Isso significa que melhorar o
conhecimento não implica necessariamente na mudança de hábitos
alimentares.

Conclusões

A partir desse estudo, destaca-se a relação entre o consumo alimentar


e perfil nutricional (IMC) dos estudantes do curso de
Gastronomia/UFC, aqui observado pela alta incidência de indivíduos
com sobrepeso/obesidade e adesão de hábitos alimentares
inadequados, porém há dados conflitantes e poucas evidências da
relação entre perfil nutricional e conhecimento nutricional.
Recomenda-se, em estudos futuros, uma análise mais detalhada das
relações que envolvem a alimentação, com amostras compondo
diferentes variáveis, a fim de se esclarecer as especificidades da
influência dos conhecimentos em nutrição na adesão de práticas
alimentares saudáveis em universitários.
Visando melhorias na saúde dos indivíduos estudados, observa-se o
papel da gastronomia no fomento e difusão dos conhecimentos
relacionados a práticas alimentares saudáveis e na articulação de
projetos que atinjam positivamente a comunidade acadêmica.

Referências

1 BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da
Saúde, 2014;
2 BARBOSA, Lídia Bezerra et al. Estudos de avaliação do
conhecimento nutricional de adultos: uma revisão sistemática. 2015;
3 FEITOSA, E. P. S., et al.. Hábitos alimentares de estudantes de
uma universidade pública no Nordeste, Brasil. Alim. Nutr.,
Araraquara v. 21, n. 2, p. 225-230, abr./jun. 2010. Disponível em:
<http://goo.gl/yslQdp >. Acesso em 06 nov. 2019.;
4 OLIVEIRA Avaliação do perfil sociodemográfico, nutricional e
alimentar de estudantes de nutrição de uma universidade pública em
Lagarto-SE RASBRAN - Revista da Associação Brasileira de
Nutrição. São Paulo, SP, Ano 8, n. 2, p. 37-42, Jul-Dez. 2017;
5 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS. Physical
status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO,
1995;
6 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de
marcadores de consumo alimentar na atenção básica Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 33 p.;
7 HARNACK L, BLOCK G, SUBAR A, LANE S, BRAND R.
Association of cancer-prevention-related nutrition knowledge, beliefs
and attitudes to câncer prevention dietary behavior. J Am Diet Assoc.
1997; 97(9):957-65;
8 SCAGLIUSI, F; POLACOW, V; CORDAS, T; COELHO, D;
ALVARENGA, M; PHILIPPI, T. Tradução, adaptação e avaliação
psicométrica da escala de conhecimento nutricional do National
Health Interview Survey Cancer Epidemiology. Revista Nutricional.
v.19, p. 425-436, 2006;
9 BORGES, C. M.; LIMA FILHO, D. O. Hábitos alimentares dos
estudantes universitários: um estudo qualitativo. In: SEMINÁRIOS
DE ADMINISTRAÇÃO, 7., 2004, São Paulo. Anais... São Paulo:
FEA/USP, 2004.7;

579
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

580
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

581
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise do Rótulos de Milho e Ervilha em Conserva em Relação ao Teor de Sódio, Fibras e


Ingredientes

Géssica Martins1, Priscila Neta1, Ana Santos1, Tamires Veras1, Priscila Pessoa2.
1 - Graduandas do curso de Nutrição pelo Centro Universitário Fametro – Unifametro.
2 – Professora Mestre do Centro Universitário Fametro – Unifametro
E-mail para correspondência: s.gessica@hotmail.com
Palavras-chave: Rotulagem de alimentos. Composição dos Alimentos. Nutrientes.

INTRODUÇÃO nutricional da ervilha “D”, apresentava 3,5 gramas de fibra na porção


de 130 g. Todos os dados de fibras estão expostos nas tabelas 2 e 3.
Os alimentos em conserva surgiram na antiguidade, quando os Verificou-se que outras amostras se apresentaram com mais fibras
homens da época sentiram necessidade de armazenar alimentos que nas porções apresentadas em seus rótulos, apesar de não terem
não estragassem até o término da estação. Nesse intuito, a conserva é colocado informação nutricional complementar como destaque,
uma excelente opção para armazenar alimentos produzidos sendo as com maior teor de fibra a amostra G de milho (6,3 g) e a
excessivamente, o que propicia um aumento na sustentabilidade e amostra F de ervilha (7,1 g). A média de fibras de todas as amostras
evita desperdícios (1). Como exemplos de alimentos que podem ser de milho foi de 4,38 g e a média de fibras de todas as amostras de
armazenados em conserva, estão o milho e a ervilha. Considerando ervilha foi de 3,89 g na porção.
que o milho e a ervilha em conserva são alimentos embalados na
ausência do consumidor, eles precisam obedecer às legislações de Tabela 1 – Denominações e informações nutricionais
rotulagem brasileiras, caso comercializados no país (2). A Agência complementares de milhos e ervilhas industrializados adquiridos
Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA é o órgão responsável no comércio de Fortaleza – CE (2020)
pela regulação da rotulagem de alimentos no Brasil e estabelece as
informações que um rótulo deve conter, com o intuito de garantir a Código Denominação do Informação nutricional
qualidade do produto e a saúde do consumidor (3). A finalidade é da produto complementar
orientar os consumidores sobre a composição do produto e as amostra
características nutricionais que constituem o alimento (4). Com base Milhos
no exposto, na carência de estudos sobre rotulagem de milhos e A Milho em conserva
ervilhas em conserva e devido à importância da interpretação dos (transgênico) -
rótulos dos alimentos, o presente estudo teve como objetivo informar B Milho verde em Milho ao vapor
sobre as características nutricionais desses produtos em relação ao conserva Somente milho e água
sódio, fibras e descrever a lista de ingredientes presente nos rótulos. C Milho em conserva -
D Milho em conserva Apenas milho, água e sal
MATERIAL E MÉTODOS Fonte de fibras
E Milho em conserva -
Trata-se de um estudo de caráter descritivo de abordagem (transgênico)
quantitativa. As amostras de milho e ervilhas em conserva foram F Milho em conserva -
adquiridas no mês de janeiro de 2020 em modo de consumidor em (transgênico)
sete supermercados de todas as regionais de Fortaleza - CE G Milho em conserva Milho ao vapor
localizados em ruas de fácil acesso e com grande movimento Rico em fibras
comercial. Foram analisados os rótulos de milhos e ervilhas em H Milho verde em -
conserva de diferentes marcas. Os produtos foram adquiridos de conserva
modo a abranger todos aqueles disponíveis em mercado no período I Milho granos de Colhido no tempo certo
da coleta de dados. Teve como critério de inclusão milhos e ervilhas choclo em conserva Do campo para o preparo
em conserva em lata e em retort pouch. E como critério de exclusão, em 6 horas
os produtos estrangeiros e amostras duplicadas. Foi construído um Ervilhas
checklist a partir dos itens exigidos na Resolução n° 54/2012 da A Ervilha em conserva -
ANVISA/MS, a qual aprova o regulamento técnico sobre informação B Ervilha em conserva -
nutricional complementar (5). Além disso, foram avaliadas a C Ervilha em conserva -
quantidade de sódio, fibras e a lista de ingredientes (que incluem seus D Ervilha em conserva Fonte de fibras e proteínas
aditivos alimentares) apresentadas nos rótulos dos produtos também Apenas ervilha, água e sal
através de checklist. Todas as amostras foram identificadas por E Ervilha em conserva -
códigos através de letras do alfabeto e apresentadas através de F Ervilha em conserva -
tabelas. A média da quantidade de sódio e fibras foi calculada no G Ervilha crocante Sem adição de sal e açúcar
programa Microsoft Excel®. cozida ao vapor
Fonte: Dados da própria pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação ao teor de sódio, observou-se que somente uma amostra
Para a aquisição dos milhos ervilhas em conserva, foram visitados de milho continha a declaração de zero teor de sódio (amostra “B” de
sete supermercados de Fortaleza. Foram adquiridas 16 amostras, milho – tabela 1). A mesma apresentava-se como a vapor e chamava
sendo nove milhos (oito latas e uma amostra em retort pouch) e sete atenção do consumidor por destacar que continha somente milho e
de ervilhas (seis latas e uma amostra em retort pouch). água em sua composição. No entanto, o maior teor de sódio
Três amostras de milho apresentavam-se como transgênicas contendo encontrado nas amostras de milho foi de 447 mg na porção de 130 g
(milho Zea mays geneticamente modificado a partir de (amostra “C” - tabela 2). Sendo a média de sódio de todas as
Bacillusthuringiensis e/ou Agrobacteriumtumefaciens) (amostras amostras de 300,67 mg.
“A”, “E” e “F” – tabela 1). Segundo a Resolução da Diretoria Já nas ervilhas, o maior teor de sódio foi de 489 mg na porção de 130
Colegiada - RDC 54, RDC (5) para um produto ser fonte de fibra, o g das amostras “A”, “B” e “E”- tabela 3. E o menor teor de sódio foi
mesmo precisa conter um mínimo de 3 g de fibra por 100 g em pratos de 51 mg na amostra “ G “- tabela 3. A mesma apresentava-se como
preparados ou um mínimo de 2,5 g de fibra por porção. No estudo, a vapor e chamava atenção do consumidor por destacar que não
verificou-se que uma amostra de milho e uma de ervilha continha adição de sal e açúcar em sua composição, além de ser
apresentaram informação nutricional complementar como sendo embalada à vácuo. Não apresentando a presença de outros aditivos,
fontes de fibra (Tabela 1). A informação nutricional do milho “D”, como o da amostra F que possuiu a presença do Estabilizante cloreto
apresentava 3,8 gramas de fibra na porção de 130 g. Já a informação de cálcio. A média de sódio de todas as amostras de ervilha foi de

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

366,71 mg. Os ingredientes mais prevalentes nas amostras foram deletério à maioria dos microrganismos e por isso, é considerado um
água e sal estando ambos presentes em oito das nove amostras de agente conservador de alimentos (8). Notou-se que uma das amostras
milho, e em seis das sete amostras de ervilha. Somente uma amostra com menor teor de sódio apresentava-se como embalagem à vácuo.
de ervilha e uma mostra de milho não continha sal na lista de Em estudo realizado com feijões mostrou que a embalagem selada a
ingredientes. E o açúcar estava presente em uma amostra de milho (G vácuo foi mais eficiente em diminuir a atividade das enzimas
– tabela 2) e o estabilizante cloreto de cálcio em uma ervilha (G – Peroxidase (PER) e Polifenoloxidase (PFO), retardando ainda mais o
tabela 3). escurecimento e endurecimento dos feijões durante o armazenamento
por oito meses em condição ambiente (9). A solução para a ingestão
Tabela 2 – Sódio, fibra e ingredientes em rótulos de milhos em demasia de sódio no Brasil requer tanto a diminuição no teor de
industrializados. Fortaleza (2020) sódio adicionado pela indústria a alimentos processados ou
Código da Sódio Fibra Descrição da lista de ultraprocessados quanto a diminuição na adição de sal a preparações
amostra de (em mg) (em g) ingredientes culinárias (10). Verificou-se nos rótulos do presente estudo que o
milho na na teor de sódio chegou a 20 de percentual de valores diários (%VD) em
porção porção três amostras de ervilhas (A, B e E) que apresentaram uma
de de quantidade de 489 mg de sódio em suas porções e uma amostra de
130 g 130 g milho que chegou à 19 em relação ao %VD (amostra C). Apesar
(1 xícara (1 xícara destes valores, ressalta-se que o %VD para fibras chegou a 25% em
de chá) de chá) uma amostra de milho (amostra G) a qual possuía 6,3 g de fibras na
A 386 3,8 Milho (geneticamente porção e 28% em uma amostra de ervilha (amostra F) a qual possuía
modificado a partir de 7,1 g de fibras na porção. No entanto, cabe salientar que a amostra F
Bacillusthuringiensise/ou de ervilha possuía em sua lista de ingredientes um estabilizante como
Agrobacteriumtumefaciens aditivo alimentar. No caso dos alimentos fonte de carboidratos, o
e Zeamays), água e sal. efeito na saciedade está diretamente relacionado ao teor de fibras
B 0 2,6 Milho verde em grão e presentes na refeição. Elas retardam o esvaziamento gástrico e
água. controlam a velocidade do peristaltismo intestinal, refletindo na
C 447 5,1 Milho verde e salmoura saciedade. Dessa forma, alimentos com grandes quantidades de fibras
(água e sal) contribuem para que o indivíduo coma menos, auxiliando no controle
D 260 3,8 Milho em grãos, água e sal. da ingestão total de alimentos (11). Em relação à rotulagem, uma
E 386 3,8 Milho (geneticamente pesquisa constatou que 70% das pessoas não conseguem interpretar
modificado a partir de as informações expostas nos rótulos, o que pode contribuir para um
Bacillusthuringiensis e/ou consumo inadequado e, como consequência, o risco de algumas
Agrobacteriumtumefaciens doenças ligadas à má alimentação (3).
e Zeamays), água e sal.
F 386 3,8 Milho (geneticamente CONCLUSÃO
modificado a partir
deBacillusthuringiensis Conclui-se que, nas amostras de milho, identificamos uma média de
e/ou 300,67mg de sódio e 4,38g de fibra. A média de sódio das amostras
Agrobacteriumtumefaciens de ervilha foi de 366,71 mg e a média de fibras foi de 3,89g. Os
e Zeamays), água e sal. ingredientes mais prevalentes nas amostras foram água e sal, sendo
G 225 6,3 Milho, água, sal e açúcar. que uma amostra de milho e uma amostra de ervilha não apresentava
H 378 5,0 Milho e salmoura (água e sal na lista de ingredientes. Diante disso, incentiva-se ações de
sal) educação nutricional afim de possibilitar um maior acesso a
I 238 5,2 Milho verde, água e sal. informações sobre rotulagem de alimentos, proporcionando assim,
MÉDIA 300,67 4,38 - uma melhor seleção dos alimentos para o consumo.
Fonte: Dados da própria pesquisa
REFERÊNCIAS:

Tabela 3 – Sódio, fibras e ingredientes na rotulagem nutricional de 1. SILVA, E. R. et al. Tecnologia de Conservação dos Alimentos
ervilhas industrializadas. Fortaleza, 2020 pelo Uso de Aditivos Químicos. Revista Brasileira de
Código da Sódio Fibra Ingredientes Agrotecnologia, [S. L.], v. 4, n. 1, p. 10-14, 2014.
amostra de (em mg) (em g) 2. BRASIL. Resolução-RDC Nº 259, de 20 de setembro de 2002.
ervilha na na Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Diário
porção porção Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 2002.
de130 g de 3. BRASIL. Rotulagem Nutricional Obrigatória: manual de
(1 xícara 130 g orientações às indústrias de alimentos. 2. ed. Brasília: Ministério da
de chá) (1 xícara Saúde, 2005.
de chá) 4. CAVADA, G. S. et al. Rotulagem nutricional: você sabe o que
A 489 3,6 Ervilha, água e sal está comendo? Brazilian Journal Of Food Technology, [S.L.], v.
B 489 3,6 Ervilha, água e sal 15, n. 1, p. 84-88, 30 2012.
C 317 3,5 Ervilha, água e sal 5. BRASIL. Resolução - RDC Nº 54, de 12 de novembro de 2012.
D 325 3,5 Ervilha reidratada, água e Regulamento técnico de porções de alimentos embalados para fins de
sal rotulagem nutricional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov
E 489 3,6 Ervilha, água e sal 2012.
F 407 7,1 Ervilha reidratada, 6. WHO. Guideline: Sodium intake for adults and children. 1 ed.
salmoura Geneva: World Health Organization, 2012.
(água e sal), Estabilizante 7. SARNO, F. et al. Estimativa de consumo de sódio pela população
cloreto de cálcio brasileira, 2008-2009. Revista de Saúde Pública, [S.L.], v. 47, n. 3,
G 51 2,3 Ervilha e água p. 571-578, 2013.
MÉDIA 366,71 3,89 - 8. GAVA A. J; SILVA, C. A. B; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de
Alimentos: Princípios e Aplicações. 1 ed. São Paulo: Nobel, 2008.
Fonte: Dados da própria pesquisa
9. LIMA, R. A. Z.; TOMÉ, L. M.; ABREU, C. M. P. Embalagem a
vácuo: efeito no escurecimento e endurecimento do feijão durante o
A recomendação limite para o consumo de sódio pela Organização armazenamento. Ciência Rural, [S.L.], v. 44, n. 9, p. 1664-1670,
Mundial de Saúde (OMS) é de 2g/dia ou 5g de sal (6). No entanto, 2014.
estima-se que na maior parte dos países o consumo médio de sódio 10. LOUZADA, M. L. C. et al. Ultra-processed foods and the
seja de 2,3g/dia, enquanto que no Brasil, estipula-se que a quantidade nutritional dietary profile in Brazil. Revista de Saúde Pública,
de sódio consumida por pessoa é de 4,7g/dia ou 12g de sal, [S.L.], v. 49, p. 1-11, 2015.
excedendo em mais de duas vezes o recomendado pela OMS (7). O
sal, dependendo de sua concentração, pode proporcionar um efeito

583
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

11. BRASIL. Desmistificando dúvidas sobre alimentação e


nutrição: material de apoio para profissionais da saúde. 1 ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2016.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Análise de Rótulos de Cervejas Especiais Comercializadas em Fortaleza, Ceará


Aline Caetano Freire1
1
Pós-graduanda em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. Bacharel em
Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará – UFC. alinecfreire7@gmail.com
Palavras-chave: rotulagem; legislação; cervejas especiais,

INTRODUÇÃO estabeleceu em 6 de novembro de 2018, a Instrução Normativa


O processo de fabricação da cerveja provém de diferentes Nº 68 (9), determinando que os rótulos de cervejas indiquem os
origens. Sua descoberta é atribuída a uma situação ocasional, ingredientes componentes do produto, substituindo expressões
havendo uma relação com a história de outro alimento milenar, genéricas por especificação das matérias-primas, descritas em
o pão (1). Registros apontam dados de produção de cerveja ordem decrescente de proporção no produto. As cervejarias
desde o Egito Antigo e que na Idade Média as mulheres terão um ano para realizarem a adequação dos rótulos a partir da
assumiram o papel de produtoras de cerveja, ainda em âmbito data de lançamento da Instrução Normativa.
doméstico. A rotulagem de bebidas produzidas ou comercializadas no
A cerveja chega ao Brasil com os colonizadores europeus, os Brasil seguem as normas da Vigilância Sanitária (Anvisa) e do
comerciantes vendiam a bebida até então desconhecida. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Segundo Santos (2), houve um período com poucas cervejarias Industrial (Inmetro) (10). Segundo a RDC n° 259/02 (11), todo
no país até o século XIX. Com a Primeira Guerra Mundial havia alimento comercializado embalado na ausência do cliente deve
dificuldade em obter malte e lúpulo europeu, sendo aqui conter o seu conteúdo no rótulo. A RDC n°359, de 2003,
substituídos por milho, arroz ou trigo, produtos de acesso regulamenta as porções de alimentos embalados para fins de
facilitado no país, seja por serem elementos nativos ou pela rotulagem nutricional, considerando os direitos do consumidor,
disponibilidade no comércio. quanto de ter informações sobre a composição nutricional do
No que cerne, a elaboração de cervejas, destacam-se três países produto (12).
ou “escolas”: Alemã, Belga e Inglesa. Cada país sendo uma A presente pesquisa tem como objetivo analisar a rotulagem de
referência no setor. A mais antiga é a escola alemã, com mais de cervejas especiais, comercializadas na cidade de Fortaleza – CE,
500 anos de registro, “estabeleceu regras de fabricação que identificando se as obrigações sobre rotulagens impostas pela
impulsionaram o mercado cervejeiro e ajudaram a criar a legislação vigente, nas figuras do Ministério da Agricultura e
identidade do produto.” (3). Belgas, holandeses e uma minoria Inmetro, estão sendo obedecidas ou se o consumidor deste tipo
francesa compõem a escola Belga. Diferente da escola alemã de bebida está sendo lesado ao comprar um produto cujas
que busca uma identidade universal da cerveja, a escola Belga informações não estejam claras.
preza por um mercado cervejeiro com o uso de ingredientes
diferenciados, criando notas únicas na bebida. MATERIAL E MÉTODOS
A fabricação de cerveja acontece a partir do malte, produto a O estudo foi realizado em duas redes de supermercados da
base de cevada. A legislação permite que parte do malte seja cidade de Fortaleza- CE, com visitas em 4 lojas. A coleta de
substituída por outros carboidratos fermentáveis (4) em até 45% dados foi feita na primeira semana de fevereiro de 2019.
do peso. O arroz e o milho são os mais empregados no Brasil. O Foram selecionados 30 rótulos de cervejas especiais, de
Brasil é um país deficitário na produção de malte, sendo a cervejarias estrangeiras e nacionais. A escolha dos produtos teve
maioria dos maltes provenientes da Argentina e do Uruguai. A como base a disponibilidade de compra nos estabelecimentos
produção de cervejas artesanais demanda maltes importados da selecionados.
Europa, por conta do uso de maltes específicos (5). Para a análise dos pontos em adequação, foram avaliados pontos
Todas as etapas da produção devem seguir as regras gerais, obrigatórios de rotulagem descritos na RDC n° 259/02 (11), que
podendo ser concluída em até 10 dias. Nas microcervejarias, define a rotulagem de todo alimento que seja comercializado,
esse tempo pode dobrar, onde são buscadas características qualquer que seja sua origem, embalado na ausência do cliente,
particulares de aroma e sabor. “As microcervejarias, em sua e pronto para oferta ao consumidor e IN n° 157/02 (13), este
maioria, prezam pelo cumprimento da lei da Pureza” (5), Regulamento Técnico Metrológico estabelece a forma de
característica da escola alemã. A Lei da Pureza da cerveja ou lei expressar a indicação quantitativa do conteúdo líquido dos
da pureza alemã define que a cerveja apenas poderia utilizar três produtos pré-medidos.
ingredientes: água, malte de cevada e lúpulo (6) A pesquisa analisou rótulos de cervejas especiais, enlatadas e
Com o crescimento da renda da população, o mercado cervejeiro engarrafadas, de diversos gêneros de cerveja, e teores e volumes
cresceu 37,7% (7). Porém, ainda há um limitado raio de líquidos diferentes. Foram pesquisadas cervejas dos tipos;
distribuição atendendo costumeiramente os locais onde estão Ale,Weizen, Hefeweizer, Witbier e Stout.
instalados. Os itens observados na avaliação de rótulos foram :
A produção de cervejas no Brasil deve seguir algumas normas denominação de venda, lista de ingredientes, ingredientes
para a produção. Os órgãos fiscalizadores responsáveis pela listados em ordem de proporção, conteúdo líquido, identificação
regulamentação da produção de bebidas no Brasil é o Ministério de origem e lote, declaração de aditivos, razão social do
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). produtor, fracionador ou importador da marca, endereço
O decreto n° 2314 de 1997 (8), define pela primeira vez o que se completo, número de registro no MAPA, data de fabricação e
entende como cerveja e suas classificações: leves ou fortes, validade com as expressões exigidas, tamanho das letras da
claras ou escuras e comuns. Determina também a proibição de rotulagem superior a 1 mm, conteúdo líquido em ml, algarismos
produzir e preparar bebidas que não sigam o regulamento, do conteúdo líquido superior a 3mm e indicação dos produtos
inibindo assim a produção caseira de cerveja, pois o decreto não pré-medidos está expressa no Sistema Internacional de Unidades
determina como proceder nesses casos. (SI).
Em 2009, ocorre uma revisão da regulamentação de bebidas no
Brasil, com o Decreto n° 6871/09 de 4 de junho de 2009, que
dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a RESULTADOS E DISCUSSÃO
inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Este decreto Foram analisados 30 rótulos de cervejas especiais enlatadas e
substituiu quatros decretos anteriores, sendo a legislação vigente engarrafadas dos tipos IPA, APA, Weizen, Hefeweizer, Witbier
atual que deve ser seguida pelos fabricantes de bebidas. Este e Stout. Das cervejarias responsáveis pelos trinta rótulos
decreto acrescentou as terminologias de cerveja light, com estudados, 37% são produzidas em território nacional.
redução de 25 de calorias ou nutrientes, cerveja colorida, tingida O presente estudo observou que 28 dos rótulos analisados se
por corantes naturais e determina o teor mínimo de malte para encontram em conformidade conforme as indicações de origem
ser de 45 a 50% para ser classificada como cerveja. O MAPA da marca e/ou importadoras, duas das marcas pesquisadas
apresentaram rótulos em idioma estrangeiro, sem dados

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

traduzidos. De acordo com a RDC Nº 81 (4), é proibida a (5)BNDES,2014. O setor de bebidas no Brasil. Disponível em:
entrega para consumo de produtos com identificação ou <https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/3462/1/BS%2040%2
rotulagem em língua estrangeira. 0O%20setor%20de%20bebidas%20no%20Brasil_P.pdf> Acesso em 15
de maio de 2020.
Os ingredientes principais descritos nos rótulos avaliados são
água, maltes; estes podem ser de diversas variações como
(6)PAES, Ricardo. A construção da qualidade: estudo sobre a
cevada e trigo, lúpulo e levedura. Diante deste item, 93% das legitimação do standard da lei de pureza alemã no mercado catarinense de
marcas obedeceram a legislação. Todas as marcas nacionais cervejas. Disponível em:<
apresentaram essa descrição de maneira legível no rótulo e as https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/130417/TCC%20
marcas importadas apresentaram rótulos com a descrição de Ricardo%20Paes.pdf?sequence=1> . Acesso em 07 de fev de 2020.
ingredientes traduzidas pelas empresas importadoras, seguindo a
legislação, com exceção dos dois rótulos em idioma estrangeiro, (7)MAPA,2017. A Cerveja no Brasil. Disponível em:
sem rótulos traduzidos para a língua portuguesa. Almeida <http://www.agricultura.gov.br/assuntosinspecao/produtos-vegetal/a-
(2018), relatou em sua análise de 10 rótulos em cervejas do tipo cerveja-no-brasil> Acesso em 15 de maio de 2020.
Pilsen, que 100% das marcas obedeceram às normas quanto a
descrição dos ingredientes. (8)BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Decreto Nº 2.314 de 4 de setembro de 1997. Diário Oficial da União:
Silva e Silva (2018)(14) analisaram 148 marcas de cervejas Brasília, 07 de setembro de 1997..
especiais e demonstraram que 23% dos rótulos avaliados
listaram as matérias primas não convencionais empregadas no (9)BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
processamento. Nenhum dos rótulos analisados neste estudo, Instrução Normativa nº 68, de 06 de novembro de 2018. Diário Oficial da
apresentou essa descrição. Segundo a IN nº 68 (10), os rótulos União: Brasília, 16 de novembro de 2018.
de cervejas deverão apresentar na lista de ingredientes todos os
produtos não convencionais. Apesar dos rótulos analisados não (10)ALMEIDA, Regina Amanda França. Avaliação da adequação de
apresentarem essa descrição, a IN promulga a adequação em até rotulagem de cervejas tipo pilsen produzidas no Brasil e
365 dias, portanto as marcas de cerveja ainda estão em tempo comercializadas no Ceará. Disponível em:
hábil para a adequação. <http://www.revistanutrivisa.com.br/wp-
content//uploads/2015/08/nutrivisa-vol-2-num-2-g.pdf> Acesso em 10 de
Em relação a Portaria do Inmetro nº 157/2002, os rótulos
maio de 2020.
devem apresentar conteúdo líquido expressos em ml e com
altura maior ou igual a 3mm. Todos os rótulos analisados estão (11)BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
em conformidade com este item, com exceção de dois rótulos, Sanitária. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Define a
cuja descrição está em língua estrangeira, e por consequência, as rotulagem de todo alimento que seja comercializado, qualquer que seja
unidades de volume estavam indicadas em unidades de medida sua origem, embalado na ausência do cliente, e pronto para oferta ao
não expressas no Sistema Internacional de Medidas. consumidor. Diário Oficial da União: Brasília, 23 de setembro de 2002.
Bebidas alcoólicas são isentas de obrigatoriedade de rotulagem
nutricional, conforme a RDC nº 360/03. Todos os rótulos da (12)BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
amostra não apresentaram tabela nutricional, utilizando assim Sanitária. Resolução RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003. Aprova
essa possibilidade da legislação. Regulamento Técnico de Porção de Alimentos Embalados para fins de
Rotulagem Nutricional. Diário Oficial da União: Brasília, 23 de
As marcas apresentaram conformidade nos itens obrigatórios, dezembro de 2003.
com exceção de dois rótulos em língua estrangeira, as
informações estão legíveis, demonstrando uma preocupação dos (13)BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e
fabricantes em seguir a legislação. Qualidade Industrial - INMETRO. Portaria INMETRO nº 157, de 19 de
agosto de 2002. Diário Oficial da União: Brasília, 20 de agosto de 2002.
CONCLUSÃO
Diante da análise de rotulagem quanto a legislação vigente, foi (14)SILVA, Elga Batista; SILVA, Andrea dos Anjos. Perfil das
observado que 93% da amostra estava em conformidade com a informações complementares na rotulagem de cervejas especiais
lei. A responsabilidade de demonstrar um conteúdo claro ao comercializadas no município do Rio de Janeiro. Brazilian Journal of
Food Research. Campo Mourão. v. 9, n. 1, p. 1-11, jan/mar.2018.
consumidor foi seguida pelos fabricantes de cerveja especial,
apesar de grande parte das cervejarias serem de pequeno porte.
Foi diagnosticado que além dos itens exigidos pela legislação, as
marcas de cervejas especiais apresentam na rotulagem itens que
incentivam a compra como dicas de harmonização e rótulos com
designs atrativos, em detrimento das informações obrigatórias.
O rótulo é a identidade visual do produto, diante de uma vasta
legislação vigente acerca de rotulagem, os resultados mostram
que ainda é preciso fazer ajustes quanto a circulação de rótulos
estrangeiros.

REFERÊNCIAS
(1)SILVA, Hiury Araujo; LEITE, Maria Alvim; PAULA, Arlete
Rodrigues Vieira de. Cerveja e Sociedade. Contextos da Alimentação –
Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade Vol. 4 no 2 – Março de
2016, São Paulo: Centro Universitário Senac.
(2)SANTOS, S. P. Os Primórdios da Cerveja no Brasil. Ateliê Editorial. 1
ed, Cotia, 2003.

(3)SEBRAE, 2016. Microcervejarias. Disponível <


em:http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRON
US/bds/bds.nsf/8818d2954be64fcda8628defef1f70f8/$File/7503.pdf>
Acesso em 18 de maio de 2020.

(4)BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância


Sanitária. Resolução RDC nº 81, de 05 de novembro de 2008. Dispõe
sobre o Regulamento Técnico de Bens e Produtos Importados para fins de
Vigilância Sanitária Diário Oficial da União: Brasília, 05 de novembro de
2008

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Insegurança Alimentar e Estado Nutricional de Crianças Residentes em uma Comunidade de


Alta Vulnerabilidade Social do Recife

Riclenya Alves1, Regina Costa2, Allifer Pereira3, Renata Santos4, Wenicios Chaves2, Fernanda Tavares5, Mayanne
Moraes2.
1
Graduanda em Nutrição, Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco.
2
Graduado (a) em Nutrição, Departamento de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco.
3
Mestrando em Atividade Física e Plasticidade Fenotípica, Programa de Pós-graduação em Nutrição (UFPE/CAV).
4
Doutoranda em Nutrição do Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGN/UFPE), Recife, Pernambuco.
5
Docente do curso de Nutrição (UFPE), Recife, Pernambuco. Correspondência: riclenyapaulina@gmail.com.

Palavras-chave: Obesidade; Segurança Alimentar e Nutricional; Alimentação Adequada; Agravos Sociais.

Introdução
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), através da Tabela 1. Prevalência do estado nutricional e (in)segurança alimentar
Lei Orgânica e Nutricional (LOSAN), pode ser definida como o dos escolares da comunidade de Ayrton Senna, Recife.
direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentação,
adequada em quantidade e qualidade, sem que haja prejuízo à outras Estado nutricional %
necessidades essenciais (1). No Brasil, programas como o Programa Desnutrição 2,5 (n=1)
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Nacional de Eutrofia 67,5 (n=27)
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) compõem Excesso de peso 30 (n=12)
estratégias de enfrentamento às carências nutricionais, como a Escala EBIA
desnutrição infantil, através da SAN (1). Segurança 12,5 (n=5)
A infância é uma fase dinâmica em relação ao processo de IA leve 37,5 (n=15)
crescimento, sendo vulnerável aos agravos sociais, econômicos e IA moderada 27,5 (n=11)
ambientais, bem como à insegurança alimentar (IA) (2,3). Nesse Ia grave 22,5 (n=9)
sentido, o baixo peso foi considerado um indicador indireto da IA, IA: (In)segurança alimentar
embora recentes estudos indiquem que esse parâmetro pode não
expressar carências nutricionais ou alterações físico-biológicas em Possivelmente, as variáveis investigadas não mostraram
crianças (1). Portanto, são recomendadas as escalas de medida direta e associação com a (in)segurança alimentar devido a homogeneidade
validadas para população, como a Escala Brasileira de Insegurança das características da população estudada e ao pequeno tamanho da
Alimentar (EBIA) (3,4). amostra. Ademais, na área onde o estudo foi realizado, há o
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a segurança predomínio de tráfico de drogas/violência, além de falta de assistência
alimentar domiciliar e o estado nutricional de crianças que residem em a muitas famílias.
uma comunidade de alta vulnerabilidade social no município de
Recife. Tabela 2. Associação entre (In)segurança alimentar domiciliar e
estado nutricional ou características socioeconômicas de escolares da
Material e Métodos comunidade de Ayrton Senna, Recife.
O estudo transversal foi realizado entre agosto e novembro
de 2016. A amostra foi composta por crianças de 7 a <10 anos (n=40) Variáveis SAN INSAN
e seus familiares, residentes na comunidade de Ayrton Senna, Recife- % %
PE. Foram coletados o peso corporal, mensurado em balança IMC/Idadea
mecânica (capacidade:150kg; precisão: 100g), e altura, aferida em Desnutrido/Adequado 53,6 (n=15) 46,4 (n=13)
estadiômetro (amplitude: 200cm; precisão: 1cm). O estado nutricional Excesso de Peso 41,7 (n=5) 58,3 (n=7)
foi classificado conforme escore z, estabelecido pela OMS, e Anos de estudo do (a) chefe da
utilizando IMC/Idade. A (in)segurança alimentar foi avaliada pela casaa
aplicação da EBIA, contendo perguntas relativas à percepção do <4 anos 56,2 (n=9) 43,8 (n=7)
entrevistado nos últimos 3 meses (4). Foi atribuído (1) em respostas >4 anos 45,8 (n=11) 54,2 (n=13)
positivas e (0) para as negativas, o somatório resultante foi Status de trabalho do (a) chefe
classificado em quatro níveis: 0, segurança alimentar; 1-5, IA leve; 6- da casaa
10, IA moderada; e 11-15, IA grave. Desempregado/Não trabalha 38,5 (n=5) 61,5 (n=8)
Foram aplicados os testes de Qui-quadrado com correção Empregado/ 55,6 (n=15) 44,4 (n=12)
de Yates ou F de Fisher para associação de variáveis qualitativas. Foi Autônomo/Esporádico
utilizado o software SPSS versão 13.0. Tratamento da água de bebera
(CAAE55654616.0.0000.5208). Sem tratamento 42,9 (n=6) 57,1 (n=8)
Filtrada/Mineral 53,8 (n=14) 46,2 (n=12)
Resultados e Discussão Destino do lixob
Coletado 51,4 (n=18) 48,6 (n=17)
No presente estudo, a prevalência de excesso de peso foi de 30% e a Não coletado 40 (n=2) 60 (n=3)
eutrofia 67,5% (Tabela 1). Esses resultados se aproximam dos Número de pessoas/domicílioa
observados em escolares de São Leopoldo, município do Rio Grande 1-4 54,5 (n=12) 45,5 (n=10)
do Sul, sendo 38% com excesso de peso e cerca de 76% de eutrofia >5 44,4 (n=8) 55,6 (n=10)
(2,3). Em relação à EBIA, cerca de 87,5% da população apresentava a= Teste Qui-Quadrado de Pearson, com correção de Yates; b= Teste
algum grau de insegurança alimentar, valores próximos aos de São Exato de Fisher.
Leopoldo-RS e do semiárido de Pernambuco, com cerca de 74% e
87%, respectivamente (Tabela 1) (2,5). Não houve associação entre as Conclusão
variáveis socioeconômicas ou estado nutricional com a IA, divergindo No presente estudo foi observado que as crianças se
da associação inversa observada em escolares de São Leopoldo-RS (2) encontram num ambiente de insegurança alimentar, apesar disso
(Tabela 2). houve a alta prevalência de excesso de peso e não se correlaciona com
variáveis socioeconômicas.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Referências
1.VASCONCELOS, ABPA; MOURA, LBA. Segurança alimentar e
nutricional: uma análise da situação da descentralização de sua
política pública nacional. Cad. Saúde Pública. 34(2)1-13, 2018.
2.VICENZI, K.; HENN, RL.; WEBER, AP.; BACKES, V.; PANIZ,
VMV; DONATTI, T.; OLINTO, MTA. Insegurança alimentar e
excesso de peso em escolares do primeiro ano do Ensino Fundamental
da rede municipal de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad.
Saúde Pública. 31(5)1-11, 2015.
3.PEDRAZA, DF.; SILVA, FA.; MELO, NLS; ARAUJO, EMN;
SOUSA, CPC. Estado nutricional e hábitos alimentares de escolares
de Campina Grande, Paraíba, Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva. 22(2),
469-477, 2017.
4.TRIVELLATO, PT.; MORAIS, DC.; LOPES, SO.; MIGUEL, ES.;
FRANCESCHINI, SCC.; PRIORE, SE. Insegurança alimentar e
nutricional em famílias do meio rural brasileiro: revisão sistemática.
Ciênc. Saúde Coletiva. 24(3), 865-874, 2019.
5.OLIVEIRA, J. S.; LIRA, P. I. C.; ANDRADE, S. L. L. S.; SALES,
A. C.; MAIA, S. R.; FILHO, M. B. Insegurança Alimentar e estado
nutricional de crianças de São João do Tigre, no semi-árido do
Nordeste. Rev. Bras. Epidemio. 12(3), 413-423, 2009.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Características físicas da cenoura cultivada com a cobertura de milheto, um sistema


agroecológico e sustentável

Ezequias N. S. Berto1, Eduarda G. da Silva2, Kethelin C. L. de Oliveira 3, Raquel A. Loss4, Claudinéia A. Q. Geraldi5,
Sumaya F. Guedes6
1
Agronomia/Discente de graduação, Agronomia/Discente de graduação, 3Bacharel em Agronomia/Mestre em Ciências,
2
4
Engenheira de Alimentos/Doutora em Engenharia de Alimentos, 5Engenheira Química/Doutora em Engenharia Química,
6
Licenciada em Química/Doutora em Ciências. 1-6Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail:
sumayaguedes@unemat.br.

PALAVRAS-CHAVE: Cobertura verde, Cobertura Vegetal, Milheto, Agroecologia.

INTRODUÇÃO Os canteiros foram preparados e o milheto foi semeado a lanço na


proporção de 16 kg/ha. Após 45 dias da semeadura, o milheto foi
Dentre as hortaliças tuberosas a cenoura é a que mais se destaca cortado com o auxílio de uma tesoura de jardim e aguardado 10 dias
economicamente pelo seu valor nutritivo. A cenoura (Daucus carota para a semeadura da cenoura (Figura 1).
L.) é uma hortaliça da família Apiácea, do grupo das raízes tuberosas.
Produz uma raiz aromática e comestível, caracterizando-se como uma Figura 1: Processo de semeadura da cenoura
das mais importantes olericulturas, pelo seu grande consumo em todo
mundo, pela extensão de área plantada e pelo grande envolvimento
sócio-econômico dos produtores rurais. (1,2)
No Brasil o plantio de cenoura é realizado em todo o território
e se encontra entre as cinco hortaliças mais cultivadas e se destaca
entre as principais hortaliças de raiz, quanto ao valor econômico. (3)
A cenoura pode ser cultivada durante o ano todo, havendo cultivares
específicas para o outono-inverno, primavera e verão. (4)
No âmbito nacional, o cultivo desta cultura ocupa uma área
aproximada a 26 mil hectares, sendo que, no ano de 2013 foram
produzindo aproximadamente um milhão de toneladas. Entre os
principais estados produtores no ano de 2016 estão, por ordem de
importância, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná,
Bahia e Goiás. Eles, em conjunto, são responsáveis por 90% da
produção nacional. (5, 6)
A utilização de cobertura morta de solo não é uma prática Fonte: Própria.
tradicional na cultura da cenoura, mas acredita-se que essa técnica
possa ser vantajosa. O cultivo de olerícolas em sistemas que favorecem A semeadura da cenoura foi realizada de forma manual. As
a formação de palhada na superfície do solo, vem se tornando uma sementes de cenouras, variedade Brasília, foram semeadas de maneira
nova prática economicamente viável, pois ela favorece a manutenção linear e após sua emergência foi realizado o desbaste. Todos os tratos
do solo, garantindo assim uma maior qualidade do produto. (7) culturais foram realizados quando necessário.
A cobertura do solo em hortaliças tem sido utilizada com o intuito de Após 78 dias da semeadura do milheto, foi realizada a coleta
reduzir a desagregação do solo, incidência de plantas daninhas, além aleatória de 30 unidades das cenouras. As raízes foram colhidas e
de contribuir para manutenção da temperatura e umidade do solo em levadas imediatamente para o laboratório de pesquisas – campus Nova
níveis adequados para o desenvolvimento das plantas. (8) Mutum - MT, onde foram lavadas com água destilada e secas com
O milheto (pennisetum glaucum (l.) R. Brown) surge como papel absorvente.
alternativa para atender as exigências dos sistemas agrícolas, ela é uma Posteriormente, foram realizadas análises dos testes físicos de
gramínea forrageira anual de verão, de fácil implantação e manejo, massa (g, balança analítica Bioprecisa), diâmetro (mm, 1/3 do
destacando-se por sua adaptação a uma grande diversidade de comprimento, base superior, paquímetro) e comprimento total (cm,
ambiente e na sua capacidade em recuperação de áreas degradadas. O base superior até a ponta inferior, paquímetro) da cenoura e suas folhas
elevado crescimento radicular do milheto pode auxiliar na (Figura 2).
descompactação do solo pela formação de canais preferenciais para o
escoamento da água e crescimento de raízes das culturas anuais Figura 2: Análises físicas realizadas na cenoura e na folha.
sucessoras (9), as plantas de milheto absorvem os nutrientes das
camadas subsuperficiais do solo e os liberam, posteriormente, na
camada superficial após a decomposição dos seus resíduos (10).
O milheto serve como excelente opção para cobertura dos solos, Folhas
1/3 do
pois com a manutenção da palha do milheto sobre o solo e a comprimento
consequente criação de condições para o desenvolvimento e a
manutenção da fauna microbiana, resultam em menor necessidade de
adubação e calagem. (11)
Desta forma, objetivou-se neste trabalho verificar se a cobertura Cenoura
de solo com milheto interfere nas qualidades físicas da cenoura e de Comprimento Diâmetro Comprimento
total total
suas folhas.
Fonte: Própria.

MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O experimento foi conduzido na área experimental da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), no Campus de A cobertura com milheto proporcionou maior massa e diâmetro
Nova Mutum - MT, localizada na latitude: 13º48'18,5" sul, longitude: às cenouras com uma média de 22,20 g e 18,5 mm respectivamente,
56º04'59,8" oeste, altitude: 487 m, clima tropical, do tipo Aw, segundo enquanto a testemunha apresentou uma média de 14,1 g e 13,8 mm.
a classificação de Köppen-Geiger; caracterizado por uma estação Em comparação ao comprimento, a testemunha teve um maior valor
chuvosa, de outubro a abril, e uma estação seca, de maio a setembro, com 12,23 cm enquanto o milheto apresentou 11,49 cm.
sendo a temperatura média anual de 24°C e a precipitação média anual
entre 1850 e 2400 mm.

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Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Como a cenoura é comercializada pelo seu peso, o incremento 12- NETTO, D. A. M.; DURÃES, F. O. M. (ed). Milheto: tecnologias
em sua massa é buscado pelos produtores, podendo assim com os de produção e agronegócio. Embrapa Informação
mesmos tratos culturais e na mesma área aumentar sua produção e Tecnológica/Milho e Sorgo, Brasília: 2005. 451p.
consequentemente seu lucro. Em relação as folhas, foi observado o
mesmo comportamento, com maiores massas e crescimento das folhas 13- SALGADO, J.A.A.; ALMEIDA, D.L.; GUERRA, J.G.M.;
das cenouras cultivadas com a cobertura do milheto (9,30 g e 19,58 RIBEIRO, R.L.D. Balanço de nutrientes em cultivos de hortaliças sob
cm, respectivamente) em comparação com a testemunha (5,34 g e manejo orgânico. EMBRAPA-CNPAB, Seropédica: 1998. 9p.
17,36 cm, respectivamente). 14- SANTOS CAB; ZANDONÁ SR; ESPINDOLA JAA; GUERRA
Confirmando a hipótese que as plantas de cenoura demonstram JGM; RIBEIRO RLD. Efeito de coberturas mortas vegetais sobre o
menor desenvolvimento, principalmente de raiz, quando colocada desempenho da cenoura em cultivo orgânico. Hort. Bras. v. 29: p.
exposta a ambiente de competição, pois as plantas de cenoura se 103-107, 2011.
apresentam menores tanto para parte aérea quanto no comprimento e
diâmetro das raízes. (12)
Segundo Salgado et al. (1998), a disponibilidade de composto
orgânico próximo ao sistema radicular das plantas é um aspecto
desejável para a cultura, a qual resulta em uma maior penetração e
distribuição radicular, aumento os índices de desenvolvimento da
cultura. (13)
Para Santos et al. (2011), o aumento na produtividade está
relacionado quanto a disponibilização de nutrientes pela acelerada
decomposição da cobertura morta e pelo controle eficiente da
população de plantas daninhas. (14)

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que a cobertura do solo com milheto


aumenta o peso das folhas e das cenouras, podendo ser uma alternativa
aos produtores.

REFERÊNCIAS

1- CHITARRA, M. I. F.; CARVALHO, V. D. Cenoura: Qualidade e


Industrialização. Informe Agropecuário, Belo Horizonte: 1984. v.10,
n.120, p.73-75.
2- OLIVEIRA, R. A.; ROCHA, J. B.; SEDIYAMA, G. C.; PUIATTI,
M.; CECON, P. R.; SILVEIRA, S. F. R. Coeficientes de cultura de
cenoura nas condições edafoclimáticas do Alto Paranaíba, no estado
de Minas Gerais. Rev. bras. eng. agríc. ambient. v. 7, p. 280-284,
2003.
3- FREITAS FCL; ALMEIDA MEL; NEGREIROS MZ;
HONORATO ARF; MESQUITA HC; SILVA SVOF. 2009. Períodos
de interferência de plantas daninhas na cultura da cenoura em função
do espaçamento entre fileiras. Planta Daninha. 1 ed. Viçosa: 2009,
v.27, p. 473-480.
4- RESENDE FV; SOUZA LS; OLIVEIRA PSR; GUALBERTO R.
2005. Uso de cobertura morta vegetal no controle da umidade e
temperatura do solo, na incidência de plantas invasoras e na produção
da cenoura em cultivo de verão. Ciência e Agrotecnologia, Lavras:
2005, v.29, p. 100-105.
5- DUMBRA, J.G.R. Recordes em 2013: Setor tem o maior e o menor
preço da série histórica. Hf Brasil. Piracicaba: 2014, n.130, p. 20-21.
6- CENTRAIS DE ABASTECIMENTOS - CEASA-PR.
CENOURA: Produção, mercado e preços. Boletim Técnico 04.
2017, p8.
7- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
– IBGE. Manual Técnico de Uso da Terra. 3.ed, Rio de
Janeiro: 2013, n.7, 170p.
8- MULLER, A. G. Comportamento térmico do solo e do ar em alface
(Lactuca sativa L.) para diferentes tipos de cobertura do solo. 1991.
77 f. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, Piracicaba, 1991.
9- HERRADA, M. R.; LEANDRO, W. M.; FERREIRA, E. P. B.
Leguminosas isoladas e consorciadas com milheto em diferentes
sistemas de manejo do solo no feijão orgânico. Terra Latinoam. v.35,
n.4, p.293-299, 2017.
11- PIRES, F. R.; ASSIS, R. L de; SILVA, G. P.; BRAZ, A. J. B. P.;
SANTOS, S. C.; VIEIRA NETO, S. A.; SOUZA, J. P. G. de.
Desempenho agronômico de variedades de milheto em razão da
fenologia em pré-safra. Bioscience Journal, Uberlândia. v. 23, n. 3,
p. 41-49, 2007.

590
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Plantas Alimentícias Não Convencionais: Uma Alternativa Viável para o Fortalecimento da


Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia

Many Andrade1; Thaiza Sousa2; Luziene Silva3


Graduandas em Nutrição, Centro Universitário da Amazônia – UNAMA
1, 2
3
Mestranda PPGSAQ-Ufopa; docente do curso de Nutrição, Centro Universitário da Amazônia – UNAMA
manychuery@hotmail.com

Palavras-chave: Nutrição, Amazônia. Agroecologia, Alimentação saudável

Introdução alimentos” (6). O uso alimentar da biodiversidade nos países tropicais


O conceito de segurança alimentar é abrangente e entrelaça “três e subtropicais apresentam grande potencial de pesquisa. Não existe uma
aspectos principais: quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos catalogação de todas as plantas comestíveis do mundo, mas cabe notar
alimentos” (1). Desta forma, compreende-se segurança alimentar e que apenas 20 espécies de plantas correspondem a cerca de 90% da
nutricional como um direito, que garante a efetivação do acesso a alimentação mundial. Além de poucas espécies, também são poucas as
alimentos qualitativamente e quantitativamente adequados, variedades cultivadas em larga escala. “Por isso é tão básica, monótona
satisfatórios e seguros, sem comprometer as diversas necessidades e homogênea a nossa alimentação” (4). Nesse sentido, observa-se a
essenciais e que visa atender o indivíduo de maneira integral, simplificação dos hábitos alimentares ao longo da história em
garantindo a promoção de uma alimentação saudável (2). Salutar se faz decorrência do desenvolvimento da monocultura voltada para o
destacar que a segurança alimentar e nutricional constitui uma ligação mercado de alimentos em larga escala, que depende do uso de uma
transdisciplinar “que transita nas esferas biológica, econômica, social, grande extensão de terra, uso de agrotóxicos e transporte por longas
ambiental e cultural” (3). Esta discussão advém de um processo distâncias dessa produção como matérias-primas para a fabricação de
histórico de insegurança alimentar e nutricional, que “veio à luz a partir alimentos ultraprocessados (7). Como resultado desse modelo de
da 2a Grande Guerra”, a qual devastou uma parcela da Europa e a agricultura temos a insegurança alimentar e nutricional assim como
deixou sem estrutura para produção agrícola. A conjuntura de degradação ambiental, exclusão social e comprometimento da saúde
insegurança alimentar perdura ao longo dos anos e passa por humana (5). Na contramão desse modelo, uma grande variedade de
transformações em seu entendimento. Anteriormente utilizava-se o PANC fazem parte da alimentação cotidiana de populações tradicionais
conceito de acessibilidade ao alimento, o que é diferente de indígenas e não-indígenas. Chaves (5), por exemplo, identificou 80
disponibilidade. Nota-se que há uma variedade na produção de espécies cultivadas em três comunidades da Reserva Extrativista
alimentos, mas esse cenário não reflete o acesso da população aos Tapajós-Arapiuns. Em comunidades como essas, as atividades de
alimentos em quantidade e qualidade suficientes para satisfazer suas cultivo e cuidado com as plantas estão imbricadas nas relações
necessidades básicas chamando atenção para a diferença entre familiares, sendo aprendidas ao longo da vida e passadas de geração em
acessibilidade e disponibilidade. Todo este contexto de insegurança geração. Para além das comunidades tradicionais, entretanto, o uso das
alimentar afeta, principalmente a população mais carente, gerando uma PANC pode se configurar como uma importante alternativa para a
situação de fome e desnutrição (1). Nesse sentindo, busca-se segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a diversificação
alternativas viáveis para saciar a fome da população e garantir o direito agrícola (8). Sendo em geral plantas de fácil cultivo, podem ser
à alimentação, levando em consideração a qualidade, a variedade e plantadas em quintais ou vasos. Devido a seu consumo regional,
quantidade necessárias para manter a saúde e nutrição. As plantas também são encontradas com relativa facilidade em feiras.
alimentícias não convencionais podem ser grandes aliadas por terem
seu consumo amparado por diversas pesquisas científicas que garantem Conclusões: O acesso da população brasileira à alimentação saudável
a segurança de seu uso e os benefícios de suas propriedades ainda precisa ser ampliado. O uso alimentar das PANC pode se
nutricionais, bem como são de fácil cultivo, economicamente viáveis e configurar como um importante vetor nessa direção pois, além de
em muitos casos faziam parte da dieta, mas estão em desuso; além de fortalecer a agricultura familiar e os sistemas de base agroecológica, no
fortalecerem a segurança alimentar e nutricional entre as comunidades contexto dos quais geralmente são produzidas, contribuem para uma
rurais dessa região. Apesar da importância do tema, ainda há poucas diversificação na alimentação, bem como para a preservação da
pesquisas, sobretudo quando se trata da região Amazônica. O presente biodiversidade. Por serem cultivadas regionalmente, contribuem para a
trabalho almeja apresentar a utilização das plantas alimentícias não manutenção da identidade alimentar e de modos particulares de relação
convencionais como uma alternativa viável para garantia da segurança com a terra. Esses fatores, aliados a seu significativo valor nutricional,
alimentar e nutricional da população. indicam que as PANC são uma alternativa viável de alimentação
saudável e sustentável e que, por isso, seu cultivo e consumo devem ser
Objetivos: Apresentar uma revisão sobre o potencial das plantas estimulados no contexto da segurança alimentar e nutricional.
alimentícias não convencionais como uma alternativa viável para a
garantia da segurança alimentar e nutricional. Referências
1. BELIK, Walter. Perspectivas para segurança alimentar e nutricional
Material e Métodos: Este trabalho se baseia em um levantamento no Brasil. Saúde e Soc. 12(1), 12-20, 2003.
bibliográfico, utilizando a base de dados Scientific Eletronic Library 2. VASCONCELLOS, A. B. P. A; MOURA, L. B. A. Segurança
Online- SciELO e Portal Regional da Biblioteca Virtual de Saúde - alimentar e nutricional: uma análise da situação da descentralização de
BVS, utilizando as palavras-chave “plantas alimentícias não sua política pública nacional. Cad. Saúde Pub. 34(2), 1-13, 2018.
convencionais”, “segurança alimentar” e “segurança alimentar e 3. FREITAS, M. C. S.; PENA, P. G. L. Segurança alimentar e
nutricional” de trabalhos acadêmicos publicados entre 2003 e 2018. nutricional: a produção do conhecimento com ênfase nos aspectos da
cultura. Rev. Nutr. 20(1), 69-81, 2007.
Resultados e Discussão: As plantas alimentícias não-convencionais, 4. KINUPP, V.F; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não
também conhecidas pela sigla PANC, são aquelas que possuem uma ou Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos
mais partes com importância alimentar, tais como: raízes tuberosas, nutricionais e receitas ilustradas. 1 ed. Nova Odessa: Plantarum, 2014.
tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos, folhas, brotos, flores, frutos 5. CHAVES, M. S. Plantas alimentícias não convencionais em
e sementes. Podendo ser espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas comunidades ribeirinhas na Amazônia. Dissertação (mestrado em
e que não fazem parte da alimentação cotidiana da maioria da população agroecologia) – Programa de Pós-Graduação em Agroecologia,
(4). Cabe dizer que muitas dessas espécies passaram a ser consideradas Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2016.
como um alimento não-convencional devido ao seu desuso pela 6. BRASIL. Casa Civil. Decreto 7.272, de 25 de agosto de 2010. Institui
população amazônica, haja vista que faziam parte dos hábitos a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Diário
alimentares locais (5). A Política Nacional de Segurança Alimentar e Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, agosto 2010.
Nutricional (PNSAN), publicada através do Decreto 7.272/2010, Seção 1, p.6.
estabeleceu em sua segunda diretriz a “promoção do abastecimento e 7. MALUF, R.S; FLEXOR, G. Questões agrárias, agrícolas e rurais.
estruturação de sistemas descentralizados, de base, agroecológica e Conjunturas e políticas públicas. 1 ed. Rio de Janeiro: E-papers, 2017.
sustentáveis de produção, extração, processamento e distribuição de

591
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

8. SOUZA, M. R. M. O potencial da ora-pro-nóbis na diversificação da


da produção agrícola familiar. Rev. Bras. De Agroecol. 4(2), 3550-
3554, 2009.

592
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Interação entre a Nutrologia e a Gastronomia para Atendimento dos Requerimentos,


Necessidades e Preferências Alimentares de Autistas
Regiane Damasceno1, Louise Moura1, Eveline Costa2, Henrique Costa3, Marília Costa4, Paulo Sousa5
1
Discente do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Ceará - UFC; 2 Doutora em Ciência e
Tecnologia de Alimentos, Docente do Bacharelado em Gastronomia da UFC; 3 Nutrólogo, Doutor em Biotecnologia
pela Rede Nordeste De Biotecnologia - RENORBIO; 4 Fisioterapeuta, Mestre em Biotecnologia pela RENORBIO;
5
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Docente do Bacharelado em Gastronomia da UFC.

PALAVRAS CHAVE: Aceitações sensoriais. Alimentação. Adaptação alimentar. Desnutrição.

INTRODUÇÃO
As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam Tabela 1. Parametrização da Severidade do Problema
grande dificuldade manter uma dieta apropriada e frequentemente
apresentam alterações do estado nutricional, devido à alta ÍNDICE SEVERIDADE CRITÉRIO
seletividade e recusa. Também reconhecemos várias desordens
gastrointestinais que podem acometer os autistas, em geral 1
relacionadas à deficiência de enzimas digestivas, inflamações da
Dificuldade resolvida apenas com
parede intestinal, e a permeabilidade intestinal alterada, a soma MÍNIMA
aumento do esforço do cuidador.
destes fatores tornam o aspecto nutricional um fator marcante no
desenvolvimento destes pacientes (1, 2).
Tais desordens podem apresentar respostas excessivamente vigorosas
a estímulos prejudiciais ao organismo, denominados de disfunção de 2 Dificuldade resolvida apenas com
modulação sensorial, tornando bastante sofrida a oferta de nutrientes aumento do esforço do cuidador.
3 PEQUENA
que consideramos importantes (3, 4). Ligeira ou moderada mudança
A fim de reduzir estes problemas e proporcionar qualidade de vida custo mensal.
aos autistas por meio da alimentação, foi realizado um projeto
multidisciplinar, reunindo esforços da nutrição, da nutrologia e da 4 Dificuldade nem sempre
gastronomia para atender os requisitos e necessidades destas crianças resolvida com aumento
e seus cuidadores. Cumprindo a premissa de “fazer com eles e não 5 importante do esforço do
MODERADA
por eles”. O grupo tem o propósito não de tomar e determinar cuidador.
6 Importante mudança custo
condutas a estes pacientes e cuidadores, e sim colaborar para
viabilizar suas próprias soluções, utilizando técnicas e expertises mensal.
destes profissionais que agora se envolvem neste projeto. A ação do
projeto visa evitar ao máximo os estímulos não tolerados, que se 7 Levando a comprometimento do
tornam, portanto, deletérios. Além disso, se propõe aperfeiçoar ALTA estado nutricional
8 Leve ou moderado.
preparações que causam estímulos confortáveis e benéficos para
estes seres humanos, pouco compreendidos.
9 Levando a comprometimento
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar um modelo
grave do estado nutricional com
sistematizado da interação desse processo envolvendo nutrologia e 10 MUITO ALTA
quadro estabilizado ou ainda
gastronomia para atendimento dos requerimentos, necessidades e
deteriorando.
preferências de autistas atendidos.

METODOLOGIA Etapa 5 – Definição do método para análise sistematizada da


O presente estudo é do tipo qualitativo descritivo, onde serão severidade x vulnerabilidade, correlacionando com a chance de
apresentadas as ações do “Projeto Nutrologia e Gastronomia para o resolução. Etapa 6 – Parametrização do nível situacional,
atendimento do Autista”. O mesmo foi iniciado em Fortaleza-Ce, no multiplicando os três escores obtidos, dentre eles Severidade (S) X
ano de 2019 e encontra-se em andamento. Prevalência do problema (P) X Chance de Resolução = C.P
Serão apresentadas as etapas realizadas na estruturação da referida (Coeficiente de Priorização) (Tabela 2).
ação e resultados preliminares alcançados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 2. Escala de Prevalência do problema.


O grupo de trabalho que compõem o “Projeto Nutrologia e
Gastronomia para o atendimento do Autista” foi formado, a partir de NÍVEL CLASSIFICAÇÃO INTERVALO
profissionais voluntários, oriundos do Curso de Bacharelado em
Gastronomia da UFC e do Serviço de Nutrologia da Endoclínica, 1 REMOTA 0,10%
precisamente os profissionais envolvidos com reabilitação 2
PEQUENA 0,1 % > P > 2,1 %
neuropediatra e nutrologia. 3
Para a estruturação do Projeto “Nutrologia e Gastronomia para o 4
atendimento do Autista” foram necessários seguir algumas etapas: 5 MODERADA 2,1 % > P < 13,6 %
Etapa 1 – Seleção do processo e formação da equipe: nesta fase 6
foram agrupados profissionais de diferentes formações (Nutrologia, 7
Gastronomia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Fisioterapia) ALTA 13,6 % > P < 34,1 %
8
que atuarão em quatro grupos – a) Captação e Diagnóstico; b) 9
Produção; c) Logística e d) Comunicação. Etapa 2 – Contato e MUITO ALTA P> 34,1%
10
interação com instituições que acolhem pacientes com TEA ou P= Prevalência
outros quadros clínicos semelhantes. Etapa 3 – Entrevistas com as
mães e cuidadores para identificar problemas enfrentados na Etapa 7 – Definição de escala contendo o índice de resolução e a
alimentação dos portadores de TEA ou síndromes correlatas. Etapa 4 ação a ser tomada (conduta) (Tabela 3). Etapa 8 – Formulação de
– Coleta de informações sobre o estado nutricional, por meio da receitas de baixo custo, que atendam as demandas, bem como a
avaliação nutricional dos pacientes e relacionar com o grau de promoção de ações como oficinas e cursos aos responsáveis.
severidade do problema enfrentado (Tabela 1).

593
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A seguir serão apresentados resultados preliminares das etapas comportamento do autista, inclusive avanços na comunicação e na
citadas. cognição quando realizavam substituições de alimentos (como por
As entrevistas e coleta de informações sobre os problemas foram exemplo, a troca do leite de vaca por leite de camelo).
realizadas em consultório de Nutrologia localizado em Fortaleza - Ao contrário da identificação das crianças com desnutrição nesse
CE, com atendimento aos pacientes (crianças) com autismo. A projeto, Caetano e Gurgel (2018) (8) constataram elevados índices de
classificação e análise dos problemas de maneira parametrizada, foi sobrepeso, obesidade e inadequação na ingestão de vitaminas e
obtida em reuniões com todo o grupo na dependência da clínica minerais em crianças autistas após avaliarem seu estado nutricional.
médica, conforme as Tabelas 1, 2 e 3. A Tabela 3 proporcionou a tomada de decisão (conduta) conforme a
Tais tabelas possibilitaram a formação de uma percepção unificada situação de cada paciente autista por meio da intervenção na
dos pacientes com autismo. Apesar das diferentes expertises dos alimentação, como por exemplo, através da elaboração de
profissionais do grupo as tabelas permitiram a estruturação de um preparações a fim auxiliar na resolução dos diferentes problemas.
fluxo de conceitos e análises a fim de favorecer para a determinação As preparações elaboradas como bolos, pães, sucos, farofas e várias
do nível de prioridade (Tabela 1 e 2), entendimento da efetividade receitas fortificadas, ainda não foram suficientes para formulação de
um manual ou livro. Contudo, é objetivo do grupo de trabalho a
das soluções (Tabela 3) e dos produtos propostos (preparações
publicação deste tipo de material.
desenvolvidas).
A gastronomia tem papel importante nesse projeto, pois confere
soluções para os diferentes problemas encontrados em relação a
Tabela 3. Índice do tipo de resolução x conduta. alimentação dos autistas, os quais são sensorialmente seletivos. Essa
ÍNDICE RESOLUÇÃO CONDUTA parceria vem engrandecer esta ciência principalmente pela
interdisciplinaridade da ação.
Simples mudança de um item
1 MUITO ALTA CONCLUSÃO
do cardápio.

2 Concluímos ter sido possível construir uma metodologia de


Mudança do cardápio, mas de governança e gerência de um grupo multiprofissional, com ações
ALTA
duas ou três refeições. baseadas em critérios sistematizados, com análises parametrizadas e
3
com definição do nível de prioridade para atendimento de pacientes
4 autistas.
Alimentação monótona
5 MODERADA envolvendo duas, três ou REFERÊNCIAS
quatro refeições.
6 1. CARVALHO, J. A.; SANTOS, C. S. S.; CARVALHO, M. P.;
SOUZA. L. S. Nutrição e autismo: Considerações sobre a
7 Sem solução, só com manejo alimentação do autista. Revista Científica do ITPAC,
BAIXA de alimentos, necessidade Araguaína, v.5, n.1, jan., 2012.
8 suplemento. 2. BATISTA, P. F. S. Evaluation of gastrointestinal symptoms in
autism spectrum disorder: relation with serotonin serum levels
9 Sem solução só com manejo
and dietary. 2013. 68 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) -
de alimentos. Necessidade
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
MÍNIMA suplemento > 40% GET.
3. LOCATELLI, P. B.; SANTOS, M. F. R. Autismo: propostas de
10 Indicação de alimentação
intervenção. Revista Transformar, n. 8, 2016.
artificial.
4. BOSA, C. A. Autismo: Intervenções psicoeducacionais. Revista
Brasileira de Psiquiatria, v. 28, maio., 2006.
Ao longo do atendimento encontramos crianças com desnutrição e 5. ALVES, T. P. C. Dieta sem glúten e sem caseína e
classificada com nível de complexidade alto, a exemplo de um suplementação de ómega-3 como terapêutica nutricional no
paciente do sexo masculino que só se alimentava de suco autismo. Porto, Portugal: Faculdade de Ciências da Nutrição e
industrializado (de determinada marca) e pastel de carne bovina, Alimentação, Universidade do Porto, 2017.
devido a aceitabilidade sensorial. Portanto, foi prescrito fortificação 6. LEAL, M.; NAGATA, M; CUNHA, N. M.; PAVANELLO, U.;
dos sucos com triglicerídeos de cadeia média (TCM) e módulos FERREIRA, N. V. R. Terapia nutricional em crianças com
proteicos. Também foram identificadas crianças com parametrização transtorno do espectro autista. Cadernos da Escola de Saúde,
sinalizando baixa complexidade (mínima ou pequena), os quais Curitiba, v.1, n.13, p. 1-13, 2015.
apresentavam exigências acerca da cor ou da textura dos alimentos. 7. MONTEIRO, M. A.; SANTOS, A. A. A.; GOMES, L. M.;
Alves (2018) (5) e Leal et al. (6) mencionam que comumente Rito R. V. F. Transtorno do Espectro Autista: uma revisão
realizam terapia nutricional para o autismo, onde são recomendadas sistemática sobre intervenções nutricionais. Revista Paulista de
dietas sem glúten e sem caseína e suplementação de ómega-3. Pediatria, v. 38, mar., 2020.
Monteiro e colaboradores (2020) (7) realizaram pesquisa 8. CAETANO, M. V.; GURGEL, D. C. Perfil nutricional de
bibliográfica sobre vários estudos referentes a alimentação do autista crianças portadoras do transtorno do espectro autista. Revista
e verificaram que há registros de melhorias no desenvolvimento e no Brasileira de Promoção da Saúde, v. 31, n. 1, p. 1-11, jan./mar.,
2018.

594
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

INFLUÊNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO PERFIL NUTRICIONAL DE


ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA
Daniel Lima1, Lissidna Cabral2, Ana Mendes3
1
Graduando em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará.
2
Professora MSc. do Curso de Nutrição do Centro Universitário Christus.
3
Professora Dra. do Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
Autor Correspondente: daniellima_19@hotmail.com

Palavras-Chave: consumo alimentar; crianças; escolares; crescimento e desenvolvimento.


INTRODUÇÃO Cascavel é um município do estado do Ceará localizado na
região metropolitana de Fortaleza e distante 63 quilômetros da capital. No
Nos dias atuais, o conceito de Segurança Alimentar e último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Nutricional (SAN) é bem definido e pode ser entendido como “a (IBGE), no ano de 2010, o município dispunha de uma área territorial total
realização do direito a todos ao acesso regular e permanente a alimentos de 835,003km2 e uma população total de 66.142 habitantes, com a
de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a caatinga como bioma predominante e o Índice de Desenvolvimento
outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares Humano (IDH) de 0,646 (12)
promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam
ambiental, econômica e socialmente sustentáveis”(1,2,3). Já a A amostra do estudo foi composta por todos os alunos
Insegurança Alimentar (IA) consiste no acesso limitado ou incerto a matriculados na escola no turno da manhã e tarde e seus respectivos
alimentos em quantidades e qualidade adequadas, sendo associado ao responsáveis, totalizando 173 alunos que tinham entre 3 e 12 anos. Foram
consumo alimentar não saudável (4). excluídos os alunos que, por ventura, não se estabeleceu contato com os
pais ou responsável, seja por meio telefônico ou em entrevista presencial;
No Brasil, em 2009, 30% dos domicílios particulares (17,7 os que faltaram aos dias programados para a coleta de dados; e os
milhões) apresentavam algum grau de IA. Essa condição foi mais portadores de deficiência física ou que faziam uso de medicamentos
prevalente nos domicílios que tinham na sua composição familiar crianças controlados, uma vez que esses aspectos poderiam interferir no estado
e adolescentes (17,5%) do que naqueles constituídos somente por adultos nutricional e na mensuração dos dados antropométricos.
(10,7%), com o agravante de que crianças de famílias que apresentam IA
tendem a ter uma ingestão maior de alimentos com alta densidade calórica Foram feitas as medições de estatura (estadiômetro WCS®) e
e nutricionalmente pobres (4, 5). peso (balança eletrônica Tanita UM-080®) utilizando técnicas
padronizadas que obedeciam aos procedimentos recomendados pela
O estado nutricional de uma criança possui papel fundamental Organização Mundial da Saúde (13), além da idade, para fazer o
para que seu crescimento seja progressivo e para que ela desenvolva suas cruzamento de dados e classificá-los segundo os índices antropométricos
aptidões psicomotoras e sociais (6). O perfil de crescimento físico é da OMS. Sexo, contato telefônico e demais informações necessárias para
considerado como uma importante medida e que melhor define o estado o estudo foram obtidas através dos registros de cada criança contidas em
de saúde e nutrição dos indivíduos, principalmente em crianças e suas fichas de matrícula.
adolescentes (7,8,9).
Para avaliação do consumo alimentar foi utilizado o
O déficit de altura em crianças representa um problema formulário adaptado Orientações para Avaliação de Marcadores de
nutricional resultante de uma multiplicidade de fatores, no qual os Consumo Alimentar na Atenção Básica (14) que permitiu classificá-los
alimentos interagem com problemas de saúde em condições com base na alimentação do dia anterior. Os alunos foram indagados a
socioeconômicas desfavoráveis, sendo que no Brasil essa prevalência respeito do consumo ou não de alimentos predefinidos e que
ainda é três vezes maior que a encontrada em populações bem nutridas caracterizavam uma alimentação saudável (marcadores de consumo
(10). alimentar positivo: frutas, verduras e feijão) ou não saudável (marcadores
de consumo alimentar negativo: embutidos, biscoitos recheados, bebidas
Por conta de sua estreita ligação com a pobreza é comum que adoçadas, guloseimas, entre outros).
países em desenvolvimento tratem a IA como caso de saúde pública.
Neste sentido, o Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de Os dados socioeconômicos e demográficos foram obtidos
proteção social destinado às famílias em situação social adversa e que é através de um questionário adaptado do Instituto Brasileiro de Geografia
utilizado no Brasil para a realização de transferência de renda e Estatística (IBGE) aplicado aos pais ou responsável abordando a temas
condicionada com a intenção de reduzir a incidência de IA na população, como saneamento básico, número de moradores, renda per capita e
e consequentemente, melhorar outras variáveis como diminuição da escolaridade do responsável pela criança. Foi utilizado programas
evasão escolar e um maior alcance longitudinal das campanhas de saúde, específicos para os cálculos estatísticos como o programa Microsoft
como no caso da vacinação na idade infantil, além de promover a inclusão Office Excel® e o programa WHO Anthro e WHO Anthro Plus para
social (2,11). cálculo e classificação nutricional das crianças.
Considerando então a importância de se verificar como os RESULTADOS E DISCUSSÃO
programas sociais afetam o estado nutricional e a qualidade de vida de
seus usuários e a fim de gerar dados e informações que auxiliem na A partir do número total de 173 crianças e adolescentes
formulação de ações de promoção da saúde e orientações nutricionais para matriculadas na escola e que foram incluídas no estudo, houve um
estas famílias, este estudo teve como objetivo avaliar a influência do percentual de perda de 15,6%. Portanto, a amostra final foi reduzida a 146
Programa Bolsa Família no perfil nutricional de crianças e adolescentes crianças e adolescentes, sendo 54,8% do sexo masculino e 45,2% do sexo
de uma escola pública na cidade de Cascavel-CE. feminino com idade média de 6,93 anos (±2,43 de desvio padrão), em que
78,1% eram participantes do PBF. Verificou-se ainda que 92,5% dos pais
METODOLOGIA ou responsável tinham 11 anos de estudos ou menos e que 69,2% das
famílias viviam com até 1 salário mínimo.
Trata-se de um estudo de campo, quantitativo, transversal e
descritivo que foi realizado em uma escola pública de Cascavel-CE, Os dados do estudo revelaram que a média dos resultados
situada em uma região carente do município e que atende, em sua maioria, referentes a antropometria (em escores-z) dos alunos, de acordo com os
crianças que vêm de famílias com baixa renda per capita e que são parâmetros indicados para cada idade (peso/idade; estatura/idade;
participantes do PBF. IMC/idade; peso/estatura), estão dentro da margem tida como desejável,
no entanto, a varável ‘estatura/idade’ teve um valor abaixo do escore 0,
demonstrando que os alunos, de uma forma mais abrangente, tendem a

595
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

não terem uma estatura relativamente alta. Quando comparados os índices O estudo mostrou que os participantes do programa
dos não participantes com os dos participantes do PBF, verifica-se que o apresentam resultados antropométricos, de consumo alimentar e
primeiro grupo supera nos quesitos ‘peso/estatura’, ‘estatura/idade’, escolaridade negativos ou inferiores quando comparados aos não
‘IMC/idade’ e ‘peso/estatura’ os valores apresentados por aqueles que são participantes e que muito provavelmente essa diferença seria ainda maior
beneficiários, indicando que neste caso, o programa vem cumprindo o se estas mesmas famílias não fizessem parte do programa.
objetivo de contemplar as famílias, e consequentemente as crianças, mais
carentes e que estão em maior risco nutricional. Contudo, ainda assim é necessário que sejam feitas melhorias
no processo de fiscalização e funcionamento do PBF, pois tudo aquilo que
Em relação a classificação do estado nutricional das crianças não se renova se torna obsoleto, para que desta forma o programa consiga
avaliadas foi possível verificar que a amostra geral, independentemente focar realmente naquelas famílias que estão em maior insegurança
de ser beneficiário do PBF ou não, teve mais da metade dos participantes alimentar e nutricional.
na classificação ‘adequada/eutrofia’, embora também seja possível
observar algumas classificações que realçam o excesso de peso nas REFERÊNCIAS
crianças. Esta condição foi mais prevalente naqueles alunos que não eram
participantes do PBF. Em contrapartida, as classificações que indicam o (1) Bezerra TA, Olinda RA, Pedraza DF. Insegurança alimentar no
‘baixo peso’ e ‘baixa estatura’ foram observadas exclusivamente nos Brasil segundo diferentes cenários sociodemográficos. Cienc Saude
alunos que eram cadastradas no PBF. Coletiva. 2017; 22(2): 637-5.

Quando se analisou a relação da renda familiar com o estado (2) Priore SE, Sperandio N. Prevalência de insegurança alimentar
nutricional das crianças, percebeu-se que as famílias que tinham renda domiciliar e fatores associados em famílias com pré-escolares,
inferior a 1 salário mínimo apresentaram maior prevalência nas beneciárias do Programa Bolsa Família em Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
classificações ‘magreza/baixo peso’ e ‘baixa estatura’. Além disso, as Epidemiol. Serv. Saúde. 2015; 24(4): 739-748
famílias com renda superior a 1 salário mínimo tinham maior
representatividade percentual nos parâmetros que indicam o excesso de (3) Kepple AW, Segall-Correa AM. Conceituando e medindo segurança
peso, em que é possível supor que a renda familiar parece ter relação direta alimentar e nutricional. Ciênc Saude Coletiva. 2011; 16(1): 187-199.
com peso dessas crianças.
(4) Ribeiro AA, Pessoa MTG, Azevedo SMU, Oliveira VTL, Meireles
Em relação ao consumo alimentar dos escolares, constatou-se AL. Caracterização socioeconômica, estado nutricional e prevalência de
que os alunos que tinham práticas alimentares positivas são ampla minoria
insegurança alimentar em idosos usuários do restaurante popular de um
nos três grupos (amostra geral, participantes do PBF e não participantes).
município do nordeste brasileiro. Rev Cienc Plural. 2016; 2(3): 59-71.
Nota-se ainda que os participantes do PBF também são minoria dentre
aqueles que tem um consumo alimentar positivo e são maioria dentre
(5) Ruschel LF, Henn RL, Backes V, De Melo P, Marques LAS, Olinto
aqueles que tem o consumo alimentar negativo. Observou-se que 74,56%
das famílias cadastradas no programa tinham renda igual ou inferior a 1 MTA. Insegurança alimentar e consumo alimentar inadequado em
salário mínimo, portanto, tendiam a adquirir alimentos de alta densidade escolares da rede municipal de São Leopoldo, RS, Brasil. Cienc Saude
calórica e que eram mais acessíveis financeiramente, tais como Coletiva. 2016; 21(7): 2275-85.
embutidos, sucos artificiais, doces e balas, sendo o consumo de
marcadores alimentares positivos mais frequente nas famílias com renda (6) Ferreira HS, Souza MECA, Moura FA, Horta BL. Prevalência e
superior a 1 salário mínimo, embora a prevalência maior, em ambos os fatores associados à insegurança alimentar e Nutricional em famílias dos
grupos, seja de marcadores alimentares negativos. municípios do norte de Alagoas, Brasil, 2010. Ciênc & Saude Coletiva,
2014; 19(5): 1533-1542.
Outros pontos também foram observados e merecem destaque:
escolaridade em relação a participação no PBF; e escolaridade e consumo (7) Victora C, Aquino EML, Leal MC, Monteiro CA, Barros FC,
alimentar. No primeiro, notou-se que dentre aqueles responsáveis que Szwarcwald CL. Saúde de mães e crianças no Brasil: progressos e
tinham uma escolaridade inferior a 11 anos, os participantes do PBF desafios. Lancet 2011;377(9780):1863-76.
tinham maior representatividade percentual do que quando comparado a
amostra geral e aos não participantes. Já no grupo dos responsáveis que (8) Pedraza DF, Rocha ACD, Sousa CPC. Crescimento e deficiências de
tinham 11 anos de estudos ou mais, verificou-se o contrário, os não micronutrientes: perfil das crianças assistidas no núcleo de creches do
participantes detinham o maior percentual e os participantes eram governo da Paraíba, Brasil. Cienc Saude Coletiva. 2013; 18(11):3379-
minoria, ou seja, o programa abrange em sua maioria, aqueles 3390
responsáveis com escolaridade inferior e que são menos favorecidos no
âmbito social, e a medida que a escolaridade aumenta diminui-se a chance (9) Ferreira AA. Avaliação do crescimento e crianças: a trajetória das
de ser beneficiário. curvas de crescimento. Demetra. 2013; 7(3): 191-202.
No que diz respeito a escolaridade e consumo alimentar,
(10) Blössner M, Borghi E, De Onis M. Prevalence and trends of
observou-se que à medida que se aumentava a escolaridade do
stunting among pre-school children, 1990–2020. Public health
responsável, diminuía a prevalência do consumo de alimentos marcadores
negativos. No entanto, a maior escolaridade não influenciava ou não se nutrition. 2017; 5(1) :142-48.
convertia em melhores hábitos alimentares, já que independentemente da
escolaridade, o consumo alimentar negativo foi amplamente superior ao (11) Coelho PL, Melo ASSA. Impacto do Programa “Bolsa Família”
consumo alimentar positivo. sobre a qualidade da dieta das famílias de Pernambuco no Brasil. Cienc
Saude Coletiva. 2017; 22(2): 393-02.
CONCLUSÕES
(12) BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A partir de um dos principais objetivos do PBF, que é o de Dados estatísticos provenientes do censo demográfico de 2010. Rio de
promover o aumento da escolaridade, saúde e segurança alimentar Janeiro: IBGE; 2010. Disponível em: Acesso em: 24 de abril de 2017.
daquelas famílias que se encontram as margens da sociedade e que
englobam a parcela da população brasileira que vive dentro ou próximo (13) WHO EXPERT COMMITTEE et al. Physical status: the use and
da linha de pobreza, foi possível concluir com este estudo que o programa interpretation of anthropometry. Report of a WHO Expert
vem tendo êxito, uma vez que boa parte das famílias que estavam em risco Committee. World Health Organ Tech Rep Ser, v. 854, p. 1-452,
nutricional eram contempladas com o recebimento do benefício. 1995.
Na medida em que o programa exige que sejam cumpridas (14) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
contrapartidas para a continuidade do recebimento do benefício, outras
Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de
variáveis tendem apresentar resultados mais positivos, sendo esse um
marcadores de consumo alimentar na atenção básica. Brasília, 2015.
processo que ocorre em médio a longo prazo, portanto, não se justifica
cobrar resultados imediatos para que se comprove a importância que o
programa tem para o desenvolvimento do país e no combate à pobreza e
desnutrição dessas famílias.

596
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Presença de Alimentos Regionais das Preparações Oferecidas em um Refeitório Universitário


no Nordeste do Brasil

Bárbara Nascimento¹, Shaiane Chagas2, Diva Vieira3


1
Doutora, Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Nutrição.
2
Estudante, Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Nutrição.
3
Doutora, Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Nutrição.

E-mail: barbarantos@gmail.com

Palavras-chave: Serviços de alimentação, Dietética, Educação alimentar e nutricional.

Introdução: Os restaurantes universitários são um tipo de unidade de palma, quiabo, vinagreira, algaroba; leguminosas - feijão, feijão-de-
alimentação e nutrição (UAN), inseridos nas ações de auxílio a corda, feijão-verde, guandu; tubérculos, raízes e cereais - araruta,
alimentação do Plano Nacional de Assistência Estudantil, o qual gergelim, inhame, junca, mandioca, sorgo, farinha de tapioca; ervas,
viabiliza a igualdade de oportunidades e contribui com a melhoria de condimentos e temperos - cebolinha e coentro (6). A tabulação dos
desempenho dos estudantes universitários (1). Esses locais têm um dados foi realizada por meio do software Excel® 2017.
público bem definido, os universitários e comunidade acadêmica,
devido a necessidade de realizar a refeição no espaço de estudo e/ou Resultados e Discussão: Promover uma educação alimentar com o
trabalho. Além disso, otimiza o tempo dos usuários de deslocamento consumo de alimentos saudáveis permeia também o campo da escolha
para a refeição e o retorno as atividades pertinentes. Outro ponto de produtos alimentícios relacionados a cultura e produção local,
relevante é que o restaurante universitário se torna um dos únicos estimulando o fortalecimento da agricultura familiar e sustentabilidade
lugares de fornecimento de alimentação de baixo custo, adequada e (3, 7, 8). A Tabela 1 mostra a frequência encontrada da presença de
saudável dentro das instituições de ensino. Nesse sentido, conduz a alimentos regionais nos cardápios da UAN. Os itens de frutas e
discussão dos aspectos socioculturais da alimentação quanto ao prisma leguminosas apresentaram frequência superior a 50%. A análise dos
cultural e de desigualdades sociais arraigados no conceito Política cardápios da UAN universitária deste estudo revelou um aparecimento
Nacional de Alimentação e Nutrição (2,3). O estilo de vida e os continuado de alimentos regionais estabelecidos pelo Ministério da
padrões de alimentação estão correlacionadas com o aumento na Saúde para a região Nordeste brasileira (6). A presença no cardápio do
incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como as feijão, quiabo, abóbora e coco revela os alimentos típicos da
doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus, entre outras. localidade. Porém, outros alimentos regionais bem como preparações
No Brasil, essas doenças correspondem a 72% das causas de morte (4). elaboradas tendo como matéria-prima esses poderiam ser mais
Além disso, dados da Pesquisa Nacional de Saúde em 2013, mostram frequentes e variados nos cardápios avaliados. No estudo feito por
que mais de 45% da população adulta relata pelo menos uma Benvindo, Pinto e Bandoni (9), no qual avaliaram os cardápios de
comorbidade (4,5). Nesse âmbito, enfatiza-se a necessidade do diversos restaurantes universitários do Brasil, evidenciaram que, ao
nutricionista avaliar os cardápios com o propósito de ofertar refeições analisar o consumo de frutas regionais na região Nordeste, observaram
equilibradas, variadas, culturalmente aceitas e promover hábitos a presença apenas de banana-nanica e mamão. Já o trabalho de Abreu
alimentares mais saudáveis. Assim, esse trabalho tem como objetivo et al. (10) assemelha-se ao presente trabalho, afinal observaram nos
avaliar a oferta regional dos alimentos fornecidos no Refeitório cardápios estudados a inclusão de acerola, banana da terra, cajá, caju,
Universitário do Campus Professor Antônio Garcia Filho da coco, dendê, mamão, maracujá e umbu. Apesar da diversidade de
Universidade Federal de Sergipe, Lagarto (RefLag). frutas como a acerola, umbu/cajá, caju, coco e maracujá nos cardápios
avaliados, esses alimentos encontram-se em preparações e não in
Material e Métodos: Trata-se de um estudo transversal de caráter natura. Os alimentos regionais e as principais preparações que foram
qualitativo no RefLag. A coleta dos dados foi realizada durante os utilizados encontram-se na Tabela 2. Dentre as frutas regionais que
meses de julho a dezembro de 2019 totalizando 23 cardápios em 107 apareceram em 56,07% nos cardápios, a que foi mais presente nas
dias da UAN estudada. A execução da pesquisa ocorreu em três etapas. refeições foi a acerola, sendo oferecido na forma de suco. Em relação
Na primeira etapa foram avaliadas as preparações diariamente, na as hortaliças presentes em 40,19% dos dias estudados o quiabo foi o
segunda etapa, semanalmente, e por último e terceira etapa, foi principal alimento regional ofertado em preparações como o feijão e a
avaliada mensalmente, no qual os dados semanais foram agrupados e carne. Quanto as leguminosas, a única ofertada foi o feijão (97,2%)
tabulados em percentuais em relação ao número total de dias dos carioca e preto nos cardápios. A mandioca foi o único tubérculo
cardápios estudados. Seguindo a publicação “Alimentos Regionais regional presente no cardápio (25,23%), sendo ofertado como farofas
Brasileiros”, Ministério da saúde (6), foram avaliados a presença de e macaxeiras fritas e no grupo de ervas e temperos, apenas o coentro
alimentos da região nordeste. Assim, foram analisados o aparecimento (6,54%) esteve presente no cardápio.
dos alimentos nas preparações: frutas – acerola, banana-nanica,
banana-da-terra, cacau, cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê,
fruta-pão, graviola, juá, mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo,
umbu; hortaliças - abóbora, agrião, jurubeba, major-gomes, maxixe,

Tabela 1. Análise da presença de alimentos regionais da UAN estudada, Lagarto (SE), Brasil.

Tubérculos, raízes e Ervas, condimentos e


Meses Dias Frutas Hortaliças Leguminosas
cereais temperos
Julho 22 11 8 22 8 0
Agosto 16 8 5 16 3 2
Setembro 16 10 5 16 4 0
Outubro 21 12 11 20 4 0
Novembro 17 13 8 16 4 4
Dezembro 15 6 6 14 4 1
Total 107 60 43 104 27 7
% ocorrência 56,07 40,19 97,20 25,23 6,54

597
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Tabela 2. Alimentos regionais e suas principais preparações contidos nos cardápios da UAN estudada, Lagarto (SE), Brasil.

Grupos Alimentos Principais preparações


Frutas Acerola, umbu/cajá, caju, coco, Sucos e sobremesas
maracujá

Hortaliças Quiabo, abóbora Feijão em caldo e carne com quiabo

Leguminosas Feijão Feijão em caldo, feijão em caldo com abóbora ou quiabo ou repolho ou couve

Tubérculos, Raízes e Mandioca Farofa com soja, farofa com cenoura, macaxeira de forno
Cereais

Ervas, Condimentos e Coentro Saladas


Temperos

5 MALTA, D. C. et al. Probabilidade de morte prematura por doenças


crônicas não transmissíveis, Brasil e Regiões, projeções para 2025.
Conclusões: O estudo mostra que os alimentos regionais aparecem Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 22, p. e190030, apr. 2019.
regularmente, porém com pouca variedade durantes os dias analisados.
Fundamentar a construção de cardápios na ótica da comida como 6 BRASIL. Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Atenção à
patrimônio cultural contribui para a adequada dimensão nutricional e Saúde, Ministério da Saúde. Alimentos regionais brasileiros. 2.ed.
na anuência dos comensais aos produtos alimentícios ofertados nas Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
unidades de alimentação.
7 BRASIL. Lei nº. 11947, de 16 junho de 2009. Dispõe sobre o
Referências: atendimento da alimentação escolar e do programa dinheiro direto na
escola aos alunos da educação básica. Diário Oficial da União, 17 jun
1 IMPERATORI, T. S. A trajetória da assistência estudantil na 2009.
educação superior brasileira. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n.129, p. 285-
303, maio/ago. 2017. 8 RAMÍREZ, Y. P. G.; MOREIRA, R. R. D.;, OLIVEIRA, J. R. S.
Avaliação de cardápio e identificação de alimentos funcionais: estudo
2 JUNIOR, F. J. M. et al. Satisfação dos usuários do restaurante qualitativo de restaurante popular de Araraquara, São Paulo, Brasil.
universitário da Universidade Federal de Santa Maria: uma análise Artigo de Segurança Alimentar e Nutricional. Segurança Alimentar e
descritiva. Revista Sociais e Humanas, v. 28,n.2, p. 83-108, jul. 2015. Nutricional, v. 23, n. 1, p. 859-867, 2016.
3 BARBARINI, T. A.; MARIO, C. G. Alimentação Saudável, Saúde 9 BENVINDO, J. L. da S.; PINTO, A. de S. M.; BANDONI, D. H.
e Sustentabilidade: um Debate sobre Justiça Social. Mediações - Rev. Qualidade nutricional de cardápios planejados para restaurantes
Cien. Soc., v. 25, n. 1, p.188-206, jan./apr. 2020. universitários de universidades federais do Brasil. Demetra:
alimentação, nutrição & saúde, v. 12, n. 2, p. 447-464, out./maio. 2017.
4 BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o
enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no 10 SOUZA, M. de A et. al. Presença de alimentos regionais e
Brasil, 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. avaliação qualitativa do cardápio planejado em um restaurante
universitário da região nordeste do Brasil. Brazilian Journal of
Development, v. 5, n. 11, p. 24162-24171, out/nov. 2019.

598
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação do Potencial Antimicrobiano de Nisina sobre Listeria monocytogenes e


Staphylococcus aureus.
Raiane Silva1, Camila Teixeira2, Luís Gustavo Nascimento 2, Luana Souza2, Evandro Martins3, Antônio
Carvalho3.

1 Graduanda, Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa


2 Doutorando(a), Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
3 Professor Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
Autor correspondente: raiane.r.silva@ufv.br

Palavras-chave: bacteriocinas, concentração inibitória plaqueamento de todos os tempos, as placas foram incubadas a 37 °C
mínima, inibição; por 24 horas e então feito a contagem do número de colônias (4).

INTRODUÇÃO RESULTADO E DISCUSSÃO

A nisina é uma bacteriocina pertencente ao grupo dos O efeito da nisina sobre Listeria pode ser observado na
lantibióticos da sub classe Ia, sendo assim, é um peptídeo catiônico e figura 1.
hidrofóbico produzido comumente por bactérias comuns do leite e seu
mecanismo de atuação é baseado na formação de poros na membrana,
ocasionando o efluxo do material (1). Seu espectro de ação ainda é 9,00
bastante limitado, com isso a nisina tem maior efeito sob as bactérias 8,00
Gram + pois estas têm maior proximidade taxonômica com as bactérias
produtoras deste composto. Os gêneros Lactococcus, Streptococcus, 7,00
Staphylococcus, Micrococcus, Pediococcus, Lactobacillus, Listeria e Log UFC/mL 6,00
Mycobacterium são exemplos de microrganismos inibidos pela nisina.
As bactérias Gram – por terem uma membrana extracelular são menos 5,00
afetadas pela nisina, sendo assim para ter melhor atuação é necessário
4,00
causar o um estresse nestes microrganismos (2). Com isso, o objetivo
deste trabalho foi investigar o potencial inibitório da nisina sobre os 3,00
microrganismos Listeria monocytogenes ATCC 7644 e Staphylococcus
2,00
aureus ATCC 700696.
1,00
MATERIAIS E MÉTODOS 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (minutos)
1. Preparo das culturas 1,25 1 0,75 0,50 0,25

As culturas Listeria monocytogenes ATCC 7644 e


Staphylococcus aureus ATCC 700696 estavam previamente Figura 1. Efeito da nisina sobre Listeria monocytogenes ATCC 7644
armazenadas em caldo BHI (Brain Heart Infusion, Oxoid, Hampshire,
Reino Unido) juntamente com glicerol numa concentração final de 30% Pode-se perceber que inicialmente todas as culturas estavam
e congeladas a (-60 °C) no banco de culturas do laboratório de Leite e em uma concentração variável de 6-7 log UFC·mL-1, havendo,
Derivados (INOVALEITE) pertencente a Universidade Federal de inicialmente, uma redução de 2-3 ciclos log para as concentrações 1,25
Viçosa. Para a ativação adicionou-se 1 % da cultura em um tubo Falcon mg/100 mL, 1,0 mg/100 mL, 0,75 mg/100 mL e 0,50 mg/100 mL e uma
contendo 10 mL de caldo BHI, este tubo foi incubado a 37 °C por 24 menor redução para a concentração de 0,25 mg/100 mL. Com o passar
horas. Após o período de incubação, os tubos foram centrifugados a do tempo notou-se que ocorreu uma manutenção da contagem do
4500 rpm por 10 minutos (Thermo Scientific, Langenselbold, número dos microrganismos com exceção para a concentração de 0,25
Alemanha) e o sobrenadante foi descartado. Foram realizadas duas mg/100 mL em que voltou a ocorrer a multiplicação dos
lavagens sucessivas com solução salina 0,85% e entre as lavagens microrganismos.
ocorreram centrifugações a 4500 rpm por 10 minutos. Após a segunda É notório que quanto maior a concentração de nisina em
lavagem e centrifugação, o pelete foi ressuspendido em 10 mL de caldo caldo BHI, maior será a redução da contagem de microrganismos,
BHI. sendo que para as concentrações intermediárias não houve diferença
significativa.
2. Preparo solução de nisina Em seu estudo PINTO (1996) também verificou que com
maiores concentração de nisina existe uma morte celular maior. Para
Atualmente a legislação brasileira (3) permite a adição de uma concentração de 0,25 mg/100 mL, a redução foi de dois ciclos log
nisina a uma concentração de 12,5 mg/kg de alimento. Com base nesta semelhante ao apresentado no gráfico 1 (5).
informação, foram adicionadas 5 concentrações diferentes de solução O efeito da nisina sobre o microrganismo S. aureus ATCC
de nisina 2,5% (m/m) (GlobalFood, Lubeque, Alemanha) em caldo BHI 700698 pode ser observado na figura 2.
(Oxoid) contendo o patógeno na concentração de 10 6 UFC·mL-1. As
concentrações finais de nisina em caldo BHI (Oxoid) foram: 1,25
mg/100 mL, 1 mg/100 mL, 0,75 mg/100 mL, 0,5 mg/100 mL e 0,25
mg/100 mL (4).

3. Concentração mínima inibitória

Foi realizado diluições seriadas (solução salina 0,85%) da


suspensão de nisina com patógeno e então esta foi plaqueada através do
método de microgotas de 20 µL em placas de ágar BHI (Oxoid,
Hampshire, Reino Unido). O plaqueamento foi realizado nos tempos: 0
minutos, 30 minutos, 60 minutos, 90 minutos e 120 minutos. Entre os
plaqueamentos as culturas foram incubadas a 37 °C. Após o

599
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
9,00

8,00
7. P., M.; C., A.; P. A. C.; S. A; S., P. H.; S. D.; P. J.; S. A. The effects of
7,00 nisin on Staphylococcus aureus count and the physicochemical
properties of Traditional Minas Serro cheese. International Dairy
Log UFC/mL

6,00
Journal. 21. 90-96. 2011. Disponível em:
5,00 10.1016/j.idairyj.2010.08.001.
4,00
8. 8. T., V. A. M. Efeito da nisina na multiplicação de Staphylococcus
3,00
aureus e nas características físico-quimicas, reológicas e
2,00 microbiológicas do queijo minas artesanal da Serra da Canastra – MG.
Dissestação (Doutorado em Ciências e Tecnologia de Alimentos) –
1,00
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2018.
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (minutos)
1,25 1,0 0,75 0,50 0,25

Figura 2. Efeito da nisina sobre Staphylococcus aureus ATCC 700696.

Pode-se perceber pelo gráfico anterior que a atuação na


nisina sobre S. aureus não ocasionou a morte celular em nenhuma das
concentrações testadas. Um fator importante observado neste teste é
que para os tratamentos estudados houve uma manutenção da
concentração celular.
Vitola (2018) também percebeu em seus estudos que
algumas cepas de S. aureus apresentam também resistência a nisina (6).
Estudos anteriores mostram que para o efeito bactericida da
nisina sobre S. aureus é necessário a aplicação de maiores
concentrações do bactericida (7,8).
Considera-se também que decorrente a concentração inicial
elevada (106 UFC/mL) , a quantidade de nisina utilizada pode ser
considerada insuficiente para uma morte celular maior para os dois
microrganismos.

CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível perceber que em


concentrações maiores que 0,75 % a nisina consegue causar a inibição
da multiplicação microbiológica de Listeria monocytogenes ATCC
7644, sendo então necessários mais estudos capazes de verificar esta
atuação dentro de alimentos.
Para o Staphylococcus aureus ATCC 700696 pode-se
perceber que a nisina não apresentou potencial de inibição de sua
multiplicação nas concentrações testadas neste estudo.

REFERÊNCIAS

1. M., N. R.; S., N. F. F.; G., M. P. J. C. Nisina: um conservante natural


para alimentos. Revista Ceres. vol. 52, núm 304. 2005. Disponível em:
https://www.redalyc.org/artic ulo.oa?id=305242984008. Acesso em:
07 de setembro de 2020.

2. B., S,; M., M.; C., J.; T., C.; C, G.; S., C. Inhibiting Gram-negative
bacteria growth in microdilution by Nisin and EDTA treatment. Journal
of biotechnology and biodiversity. vol.3. 127-133. 2012. Disponível
em: 10.20873/jbb.uft.cemaf.v3n 4.bordignon. Acesso em: 07 de
setembro de 2020.

3. BRASIL. Portaria nº 146 de 07 de março de 1996. Regulamentos


Técnicos de Identidades e Qualidades de Produtos Lácteos. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 mar. 1996.

4. B., N.; W. S. Inhibitory action of nisin against listeria monocytogenes.


Dairy foods technical notes. 1988. Disponível em: https://www.journa
lofdairyscience.org/rt icle/S0022-0302(88)79929-4/pdf. Acesso em: 08
de setembro de 2020.

5. P., M. E. R. Estudo da ação antibacteriana da nisina. 1996. Dissertação


(doutorado) - Faculdade de farmácia, Universidade de Porto, Porto,
1996.

6. V., H. R. S.; G., E. A.; F., A. P. G; D., G. S.; M., A. S. Efeito de nisina
e pediocina sobre culturas de Staphylococcus aureus isoladas de
carcaças de frango. Revista Brasileira de Biociências, v. 16, p. 21-27,
2018.

600
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Influência do encapsulamento de nisina sobre a multiplicação de Listeria monocytogenes


ATCC 7644 em leite

Camila Teixeira1, Raiane Silva2, Luis Gustavo Nascimento1, Luana Souza1, Evandro Martins3, Antônio de Carvalho3
1
Doutorando(a) em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
2
Graduanda em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
3
Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
Autor correspondente: camila.g.goncalves@ufv.br
foram ativas em caldo BHI (Oxoid) a 37 °C por 24 h. Em seguida, os
tubos foram centrifugados a 4500 rpm por 10 minutos (Thermo
Palavras-chave: Preservação de alimento, bacteriocina, Scientific, Langenselbold, Alemanha), o sobrenadante descartado e o
precipitado foi lavado com solução salina 0,85%. Esse procedimento
liberação controlada foi realizado duas vezes consecutivas. Por fim, houve a ressuspensão
do precipitado em caldo BHI (Oxoid).
INTRODUÇÃO
Análise microbiológica
As bacteriocinas constituem um grupo heterogêneo de
peptídeos antimicrobianos ou proteínas, sintetizados A atividade antimicrobiana das cápsulas de nisina contra o
ribossomicamente, que exibem atividade antimicrobiana contra patógeno L. monocytogenes ATCC 7644 em leite foi realizado de
bactérias sensíveis por diferentes mecanismos de ação (1, 2). A nisina acordo com Perin et al. (2013), com modificações (11). As culturas de
se trata de uma bacteriocina que possui status GRAS ("Generally L. monocytogenes foram inoculadas em 3 frascos contendo leite
Recognized As Safe") devido a sua baixa toxicidade e alta eficiência desnatado reconstituído (LDR, 10%, p / v, 100 mL por frasco, Molico,
como conservante (3). Esta bacteriocina atua contra micro-organismos Nestlé Brasil Ltda., São Paulo, Brazil). Cada tratamento foi preparado
Gram-positivos devido a sua atuação na membrana celular gerando da seguinte forma: Tratamento 1, leite inoculado apenas com L.
poros e liberação de componentes essenciais como íons K+, monocytogenes a uma concentração de 1,8x106 UFC·mL-1; Tratamento
aminoácidos e ATP, levando, por fim, à lise celular (4). Alguns dos 2, leite adicionado de nisina (12,5 mg·kg-1) e 1,8x106 UFC·mL-1 de L.
micro-organismos que estão dentro do espectro de atuação da nisina são monocytogenes; Tratamento 3, leite adicionado de cápsulas de nisina a
Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes e Enterococcus uma concentração final no leite de 12,5 mg·kg-1 de nisina e 1,8x106
faecalis, comumente encontrados em leite e produtos oriundos de leite UFC·mL-1 de L. monocytogenes. Os tratamentos foram mantidos a 10
cru como queijos artesanais (5). A inibição dos patógenos persiste °C por 72 h e realizou-se plaqueamento “spread plate” em duplicata
enquanto houver nisina ativa presente no meio, uma vez que as nos tempos 0h, 0,5h, 1h, 2h, 8h, 24h e 72h. O experimento foi realizado
moléculas de nisina que atuam contra os patógenos perdem sua com duas repetições.
funcionalidade após o processo (4). A adição de nisina ao alimento
ocorre mais comumente de forma direta, o que implica em uma inibição RESULTADOS E DISCUSSÃO
imediata de parte dos micro-organismos presentes no alimento
perdendo sua eficácia em um curto espaço de tempo (6). Além disso Os resultados obtidos ao longo do tempo de incubação estão
pode resultar em aquisição de resistência à bacteriocina pelas bactérias apresentados na figura 1.
remanescentes (7). O processo de encapsulamento de compostos
bioativos é uma alternativa para controlar a liberação desses compostos Figura 1. Curva de crescimento de L. monocytogenes ATCC 7644 nos diferentes
para o alimento estendendo seu tempo de atuação, além de proteger e tratamentos.
isolar, evitando interferência da matriz alimentar sobre os mesmos (8). 8,4
Nisina já foi encapsulada em lipossoma, porém apesar de eficiente se 8,2
trata de uma tecnologia bastante cara (9). Com base nisso, o objetivo do 8,0
trabalho foi verificar a atuação de nisina encapsulada frente ao patógeno
Log UFC/mL

7,8
L. monocytogenes em leite.
7,6
MATERIAIS E MÉTODOS 7,4
7,2
Produção das cápsulas de nisina 7,0
6,8
As cápsulas foram elaboradas através do método de 6,6
gelificação direta como descrito por Narsaiah et. al. (2014) com 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
modificações (10). Inicialmente, alginato de sódio (Dinâmica, São Tempo (horas)
Paulo, Brasil) foi disperso em água deionizada em 3 concentrações
distintas 15, 20 e 25 g·L-1. Após completa reidratação do alginato Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3
(Dinâmica), nisina (Globalfood, Lubeque, Alemanha) foi adicionada
em todos os sistemas na concentração de 1,2 g·L-1. A nisina foi dispersa
usando agitador magnético (SPlabor, São Paulo, Brasil) a 700 rpm, até Comparando-se as curvas de crescimento obtidas nota-se
completa reidratação, que ocorreu em aproximadamente 15 minutos. que o leite adicionado diretamente de nisina (tratamento 2) apresentou
Para o início do processo de gelificação, a suspenção resultante foi uma rápida diminuição das contagens até as duas primeiras horas de
gotejada a uma distância de 6 cm em banho de cloreto de cálcio incubação aproximadamente. Após este período, as estirpes de L.
(Macalé, Minas Gerais, Brasil) à 20 g·L-1 sob agitação constante. As monocytogenes voltaram a se multiplicar uma vez que, provavelmente,
cápsulas formadas permaneceram em contato com o banho por 5 não houve mais disponibilidade de nisina ativa no meio (4, 6). Já o leite
minutos, quando foram cuidadosamente retiradas e o excesso de adicionado de nisina encapsulada (tratamento 3), apresentou uma baixa
umidade foi removido pela exposição das capsulas ao ambiente por 1 redução da contagem do micro-organismo nas primeiras horas de
hora (temperatura 25 ). incubação em comparação com o tratamento 2. Porém, ao longo do
tempo as contagens de L. monocytogenes foram reduzindo até o tempo
Preparo da cultura 8 horas de incubação quando as estirpes voltaram a se multiplicar. Os
resultados mostram que as cápsulas liberaram as moléculas de nisina de
As culturas de Listeria monocytogenes ATCC 7644 foram forma controlada e mais lentamente ao meio havendo, portanto, um
oriundas da coleção de culturas do laboratório de leite e derivados controle da multiplicação do patógeno e sua inibição por um maior
(INOVALEITE) do departamento de ciência e tecnologia de alimentos período de tempo (8). Brasileiro (2010) avaliou a utilização de nisina
da Universidade Federal de Viçosa. As culturas estavam armazenadas encapsulada em mortadela contra o patógeno Listeria monocytogenes e
sob congelamento ( -60 °C) em solução de caldo Brain Heart Infusion seus resultados corroboram com os obtidos nesse trabalho uma vez que
(BHI, Oxoid, Hampshire, Reino Unido) mais glicerol (Synth, São houve uma inibição do patógeno durante um período maior de tempo
Paulo, Brasil) a uma concentração final de 30% de glicerol. As culturas provando a eficácia da técnica de encapsulamento (12). Já Malheiros et.

601
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

al. (2010) utilizou nisina encapsulada em nanovesículas de lecitina de


soja contra L. monocytogenes também em leite refrigerado, porém ao
comparar com a atuação de nisina livre no leite perceberam que o
processo de encapsulamento utilizando nanovesículas de lecitina como
agente encapsulante não foi eficiente, obtendo resultados similares
entre os dois tratamentos (13).

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que a utilização de nisina encapsulada


foi eficiente no controle de L. monocytogenes em leite levando a um
prolongamento da atuação da nisina. Além disso, a utilização de
alginato como agente encapsulante não interferiu na atuação da nisina
e promoveu sua liberação de forma controlada.

REFERÊNCIAS

(1) G., A.; A. H.; L. R.; B. O N. Bacteriocin-based strategies for food


biopreservation. International Journal of Food Microbiology, v. 120, n.
1–2, p. 51–70, 2007.

(2) J., R. W.; T. J. R.; R., B. Bacteriocins of gram-positive bacteria.


Microbiological Reviews, v. 59, n. 2, p. 171–200, 1995.

(3) C., J.; M., T.J.; N., I.F.; C., L.M. Bacteriocins: Safe, natural
antimicrobials for food preservation. International Journal of Food
Microbiology, 71:1-20, 2001.

(4) M., I.; L., A.L.S.; B., V.L.S. Efeito e modo de ação das
bacteriocinas produzidas por Lactococcus lactis subsp. lactis ITAL 383,
ATCC 11454 e CNRZ 150 contra Listeria innocua LIN 11. Ciência
Tecnologia Alimentos, 19(1):23-8,1999.

(5) F., H.; O., C. A. F.; Infecções intramamárias causadas por


Staphylococcus aureus e suas implicações em saúde pública. Ciência
Rural, v. 34, n. 4, p. 1315-1320, 2004.

(6) B. A.; L. D. S.; C. M. L; Y. K.L. Effect of nisin’s controlled release


on microbial growth as modeled for Micrococcus luteus. Probiotics
Antimicro Prot v.3, p. 113–118, 2011.

(7) K. G.; S., T. P.; M., R. K.; B. A.; Antibacterial efficacy of nisin,
pediocin 34 and enterocin FH99 against L. monocytogenes, E. faecium
and E. faecalis and bacteriocin cross resistance and antibiotic
susceptibility of their bacteriocin resistant variants. J Food Sci Technol.
2011. Disponível em: doi:10.1007/s13197-011-0500-3. Acesso em: 6
de setembro de 2020.

(8) EZHILARASI, P. N.; KARTHIK, P.; CHHANWAL, N.;


ANANDHARAMAKRISHNAN, C. Nanoencapsulation techniques for
food bioactive components: a review. Food Bioprocess Technology, v.
6, p. 628-647, 2013.

(9) L. R.; K. E. E.; B., R. O; V. J. C.; L. C.; F., I. Liposome encapsulated


nisin Z: optimization, stability and release during milk fermentation.
International Dairy Journal. v.13, p. 325–336, 2003.

(10) N., K. ; J., S. N. ; W., R. A. Optimizing microencapsulation of nisin


with sodium alginate and guar gum. Jour Food Sci Technol v. 51, p.
4054–4059, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s13197-012-
0886-6. Acesso em: 6 de setembro de 2020.

(11) P., L. M.; M., R. O.; C., A. C.; C., M.; C., A. F.; N., L. A.
Antimicrobial activity of the Nisin Z producer Lactococcus lactis
subsp. lactis Lc08 against Listeria monocytogenes in skim milk.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 65, n. 5, p.
1554-1560, 2013.

(12) B., I. S. Atividade de antimicrobianos comerciais no controle de


Listeria monocytogenes em mortadela e salsicha. Dissertação
(Mestrado em Ciências de Alimentos) – Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2014.

(13) M., P. S.; D., D. J.; S., N. P.; B., A. Effect of nanovesicle-
encapsulated nisin on growth of Listeria monocytogenes in milk. v.
27, n. 1, p. 175-178, 2010.

602
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação da Temperatura de Distribuição de Alimentos de uma Unidade de


Alimentação e Nutrição Institucional de Fortaleza-CE

Bruna Palácio1, Géssica Martins2, Cícero Amaral3, Mariana Cordeiro3, Matheus Firmino3, Camila Pereira4.

1. Graduanda em Nutrição. Universidade Estadual do Ceará (UECE). brunaqap@gmail.com


2. Graduanda em Nutrição. Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO).
3. Graduado em Nutrição. Universidade Estadual do Ceará (UECE).
4. Mestre em Nutrição e Saúde, Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO).

PALAVRAS-CHAVE: Serviços de Alimentação. Controle de Qualidade. Temperatura.

INTRODUÇÃO Além disso, também foi feito o registro das temperaturas dos
equipamentos de manutenção “Pass Through” do tipo vertical,
O hábito de se alimentar fora do lar tem sido progressivamente aquecido de aço inoxidável AISI304. Os equipamentos de manutenção
incorporado na rotina da população, ocasionado, principalmente, pelas são responsáveis por acomodar cubas contendo alimentos prontos para
modificações no estilo de vida (1). Nesse contexto, tornou-se o consumo, que irão posteriormente para o balcão de distribuição.
frequente as escolhas por realizar refeições em ambientes compatíveis Os critérios de temperatura empregados para avaliação das refeições
com atividades diárias e considerando aspectos como tempo e foram os da RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004, devendo os
deslocamento da população (2). Diante desse crescimento de refeições alimentos quentes apresentarem temperatura superior a 60ºC por, no
em ambientes extradomiciliares, destaca-se a necessidade de controle máximo, seis horas (8).
da qualidade dos alimentos produzidos (3). Os dados coletados foram analisados estatisticamente no software R
Diante do exposto, as unidades fornecedoras de alimentação devem ter versão 3.2.2. Os dados foram expressos como percentuais medidas de
um monitoramento satisfatório sobre os alimentos produzidos, tendência central e dispersão.
considerando aspectos sensoriais, nutricionais e higiênico-sanitários
(4), caso ocorra falhas sobre o processo de manutenção da integridade RESULTADOS E DISCUSSÃO
do alimento, tem-se margem para o surgimento das Doenças
Transmitidas por Alimentos (DTAs), que ocorrem devido a ingestão Foram realizadas 180 aferições de temperatura, correspondendo a 15
de alimentos que abriguem agentes contaminantes em frações dias úteis. Na tabela 1 é apresentada a média das temperaturas das
suficientes para causar malefícios à saúde das pessoas que os preparações analisadas, com exceção da guarnição e proteína
consomem (5). vegetariana, todas as outras médias apresentaram-se dentro da
Tais riscos a saúde dos comensais vão desde simples sintomas como recomendação (8). Porém, mesmo com as médias dentro da
dores de cabeça, desconforto intestinal, vômitos, até situações mais recomendação, as proteínas animais apresentaram valores altos de
preocupantes, como infecções intestinais (3). Um dos fatores de risco desvio padrão.
para a multiplicação de microrganismos patogênicos causadores de
DTAs é período prolongado de exposição dos alimentos que corrobora Tabela 1 – Médias das temperaturas das preparações aferidas durante
para temperaturas inadequadas de conservação (6). a distribuição de alimentos no período do almoço.
Nessa perspectiva, a temperatura dos alimentos tem-se apresentado
como um forte indicador de qualidade e segurança das refeições Amostra Temperatura ºC
servidas, tanto no acondicionamento como na distribuição (7). Diante Arroz Branco 75,7 ± 8,2
disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a temperatura de Feijão 78,0 ± 7,8
distribuição de alimentos uma Unidade de Alimentação e Nutrição Guarnição 46,3 ± 17,1
(UAN) Institucional de Fortaleza-CE, de acordo com os parâmetros da Proteína Animal 1 67,8 ± 12,5
legislação vigente. Proteína Animal 2 71,4 ± 13,2
Proteína Vegetariana 56,2 ± 10,0
MATERIAIS E MÉTODOS Legenda: Média ± desvio padrão

O estudo foi realizado em uma UAN localizada em Fortaleza - Ceará, No que concerne à porcentagem de adequação das temperaturas
que produzia, em média, 2.000 refeições/dia. A UAN institucional aferidas, uma amostra apresentou 100% de adequação (feijão), duas
avaliada foi de uma Universidade Pública e a distribuição era amostras com mais de 80% (arroz branco e a segunda opção de
realizada seguindo o modelo “self-service” com bandejões. proteína animal), uma amostra com mais de 70% (primeira opção de
Neste trabalho, foram avaliadas as refeições quentes do almoço de 15 proteína animal) e duas com 30% de adequação (guarnição e proteína
dias úteis do mês de fevereiro e março de 2020. O horário da vegetariana) (Tabela 2).
distribuição era de 10:30 as 13:00. As preparações quentes
apresentadas no cardápio eram 2 opções proteicas onívoras, 1 Tabela 2 - Porcentagem de Adequação das temperaturas aferidas
vegetariana, 1 guarnição e 2 acompanhamentos (arroz e feijão) segundo a RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004.
As preparações eram distribuídas em cubas gastronômicas de inox
tipo GN dispostas em um módulo distribuidor aquecido de aço Amostra % de adequação das temperaturas
inoxidável AISI304, que possui banho maria com resistências elétricas Arroz Branco 88,46 %
de contato. A unidade possui dois balcões ou módulos de distribuição Feijão 100 %
com as mesmas preparações para conseguir suprir a demanda rápida e Guarnição 30 %
concentrada de comensais no horário de almoço. Proteína Animal 1 73,3 %
As temperaturas foram aferidas, em média, às 11h00min, dos dois Proteína Animal 2 83,3 %
balcões de distribuições e, para isso, foi utilizado o termômetro laser Proteína Vegetariana 30 %
digital TC0380 da marca FERIMTE ®, com variação de – 50°C a + Legenda: Média ± desvio padrão
380°C, do tipo infravermelho. Todos os termômetros utilizados
passaram por calibração prévia e periódica pela administração As temperaturas aferidas no arroz e no feijão apresentaram elevados
superior da unidade. As temperaturas foram aferidas por nutricionistas índices de adequação. Alguns artigos também relatam facilidade em
ou estagiários de nutrição previamente treinados, que fizeram os alcançar a temperatura correta nesses alimentos, seja na cocção, na
registros em planilha própria elaborada para tal finalidade. expedição, ou na distribuição (6, 9, 10, 11).
e-xacta, Belo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/

603
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
O feijão apresenta boa manutenção de temperatura, pois a elevada 4. MENESES, N. V.; RIBEIRO, R. C.; MONTEIRO, M. R. P. Análise
quantidade de água da preparação e o modo de preparo, cocção e das temperaturas dos alimentos na distribuição em um restaurante
fervura do alimento dificulta a perda de temperatura durante comercial no município de Belo Horizonte/MG. Nutrição Brasil,
exposição (9). [S.L.], v. 1, n. 16, p.37-42, 2017.
As temperaturas das guarnições foram as que apresentaram os
menores valores, resultando na menor média das preparações 5. GNOATTO, E. S.; MACHADO, A. D. Binômio tempo e
avaliadas. Dessa forma, pode-se identificar que as guarnições temperatura na produção do almoço em um restaurante da rodovia PR
responsáveis por diminuir tanto essa média, foram o macarrão e a 182 no sudoeste paranaense. Nutrição Brasil, [S.L.] v. 17, n. 1, p.27-
farofa. Outros autores também identificaram grande variação entre as 33, 2018.
temperaturas das guarnições nas etapas supracitadas, e descreveram
como possível causa o reduzido teor de água dessas preparações (9, 6. BORGES, N. R. et al. Avaliação do Binômio Tempo-Temperatura
10, 11). das refeições de um restaurante na cidade de Palmas-TO. Desafios -
Entretanto, no caso do macarrão, é provável que o principal motivo Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins,
para as baixas temperaturas encontradas seja o processo de [S.L.], v. 3, n. 2, p. 90-98, 2016.
resfriamento com água gelada, que serve para interromper o seu
processo de cocção. 7. Associação Brasileira de Empresas de Refeições Coletivas
Em relação às proteínas animais, o alto valor de desvio padrão (ABERC). Manual ABERC de Práticas de Elaboração e Serviço de
observado pode ser explicado por uma possível perda de calor que Refeições para Coletividades. 11 ed. São Paulo: ABERC, 2015.
algumas preparações possuem devido à sua grande superfície de
contato e baixa quantidade de água (6, 9). Com relação às proteínas
8. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária Dispõe sobre
vegetarianas, os valores de percentual de adequação ainda foram mais
Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.
baixos que os das proteínas animais.
Resolução Rdc Nº 216, de 16 de Setembro de 2004
Uma das possíveis causas da dificuldade observada em alcançar
valores recomendados de temperatura pode ser devido ao mau
9. MARINHO, C. B.; SOUZA, C. S.; RAMOS, S. A. Avaliação do
funcionamento dos equipamentos “Pass Trough” desta unidade. A
binômio tempo-temperatura de refeições transportadas. E-scientia,
falta de manutenção dos equipamentos é apontada como uma das
Belo Horizonte, v. 2, n. 1, p. 1-11, 2009.
causas das baixas temperaturas registradas nos equipamentos (Tabela
3).
10. SOUSA, A. V. R.; PEREIRA, D. M.; PEREIRA, C. T. M.
Avaliação da temperatura de preparações servidas em uma unidade de
Tabela 3 – Médias das temperaturas dos equipamentos de
alimentação e nutrição. Research, Society and Development, [S.L.],
manutenção modelo “Pass Through” aferidas durante a distribuição
v. 8, n. 5, p. 1-12, 2019.
dos alimentos.
11. SILVA, B. B.; BONI, B. R.; SCHLINDWEIN, A. D. Tempo de
Equipamento Temperatura ºC
exposição e temperatura de distribuição da refeição quente dos
Pass Trough 1 49,4 ± 5,5 funcionários de uma unidade de alimentação e nutrição hospitalar de
Florianópolis-SC. Revista UNINGÁ, Maringás, v. 56, n. 3, p. 132–
Pass Trough 2 41,8 ± 4,6 140, 2019.
Legenda: Média ± desvio padrão

Os baixos valores de temperatura identificados possuem seu risco


“amenizado” pelo curto período de distribuição de alimentos da
unidade (10:30-13:00), levando em consideração a recomendação de
que alimentos com temperatura inferior a 60ºC podem ser consumidos
em até no máximo 2 horas (7).

CONCLUSÃO

Conclui-se que a análise das temperaturas de distribuição revelaram


valores regulares no controle das temperaturas. As principais
inadequações encontradas foram nos grupos de guarnições e de
proteínas vegetarianas. São apontadas como possíveis causas o
resfriamento pós-cocção do macarrão, o baixo teor de água presente
na farofa e o os equipamentos “Pass Trough” da unidade não
funcionarem efetivamente. Dessa forma, ressalta-se a importância de
mais estudos para avaliar o binômio tempo-temperatura de alimentos,
na busca de possíveis causas e soluções para as baixas temperaturas
encontradas. Ainda, destaca-se a importância da manutenção
adequada dos equipamentos, pois o seu bom funcionamento é
determinante para o correto controle de temperatura e garantia de
segurança alimentar.

REFERÊNCIAS

1. BEZERRA, I. N. et al. Alimentação fora de casa e excesso de peso:


uma análise dos mecanismos explicativos. Revista Brasileira em
Promoção da Saúde, Fortaleza, v. 3, n. 29, p.455-461, 2016.

2. NASCIMENTO, L. A. et al. Binômio tempo e temperatura de


preparações em serviço de alimentação transportada. NUTRIVISA:
Revista de Nutrição e Vigilância em Saúde, Fortaleza, v. 3, n. 3,
p.112-120, 2017.

3. PENEDO, A. O. et al. Avaliação das temperaturas dos alimentos


durante o preparo e distribuição em restaurantes comerciais de Belo
Horizonte-MG. Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, Rio de
Janeiro, v. 10, n. 2, p.429-440, 2015.

604
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio em uma Unidade de Alimentação


e Nutrição de um Centro Universitário de Fortaleza – CE.
Bruna Palácio1, Géssica Martins2, Luiza Rocha3, Cícero Amaral4, Lorna Oliveira5, Camila Pereira6

1. Graduanda em Nutrição. Universidade Estadual do Ceará (UECE). brunaqap@gmail.com


2. Graduanda em Nutrição. Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO).
3. Graduada em Nutrição. Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO).
4. Graduado em Nutrição. Universidade Estadual do Ceará (UECE).
5. Especialista em Nutrição Clínica e Fitoterapia aplicada. Instituto Viver de Ensino, Saúde e Performance
(IVESP).
6. Mestre em Nutrição e Saúde. Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO).

Palavras-chave: Planejamento de Cardápio. Serviços de Alimentação. Alimentação Coletiva.

INTRODUÇÃO considerado nessa avaliação. Na categoria de carne gordurosa foram


classificadas as seguintes preparações: linguiça, salsicha, chuleta,
Em decorrência da menor disponibilidade de tempo para preparar e hambúrguer e feijoada. Ainda, foram desconsiderados os dias em que
consumir alimentos, a busca por refeições prontas para consumo fora a carne era preparada com a técnica fritar (6,7).
do lar favoreceu o crescimento de estabelecimentos voltados para esse A monotonia de cores (cores iguais) entre as preparações foi
setor de alimentação (1). Essa mudança do padrão de consumo considerada quando o jogo de cores do cardápio não se mostrava
alimentar da população bem como as alterações de estilo de vida atrativo, ou seja, quando apresentava acima de duas preparações da
envolvidos nesse processo estão contribuindo para o aumento da mesma cor ou a repetição de apenas duas cores no cardápio do dia
incidência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como (6,8).
hipertensão, obesidade, diabetes, entre outras (2).
Diante deste cenário, a mudança do consumo alimentar deve ser RESULTADOS E DISCUSSÃO
avaliada também no âmbito do ensino superior privado, visto que a
inserção dos jovens nesse ambiente é marcada por constantes A análise do cardápio pelo método AQPC de 10 dias úteis de uma
transformações, dentre elas, a responsabilidade pelas finanças, UAN de um Centro Universitário revelou os resultados apresentados
moradia, alimentação e estudo, que por sua vez, podem interferir no na Tabela 1.
consumo alimentar e, por conseguinte, favorecer a incidência de
DCNT nesse público (3). Tabela 1 – Análise Qualitativa das preparações dos Cardápios
As Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) têm como intuito (AQPC) de uma UAN de um Centro Universitário de Fortaleza-CE.
fornecer refeições que estejam adequadas de acordo com o perfil dos
comensais e do ponto de vista higiênico, sanitário e sensorial (4). Essa
adequação pode impactar positivamente saúde da população, podendo Critérios N1 %
promover, manter ou recuperar a saúde de seus clientes, além de
auxiliar na construção de hábitos alimentares saudáveis (5). Frutas 8 80%
Com o propósito de uma análise qualitativa que incorporasse a
qualidade nutricional e sensorial das preparações, Vieiros e Proença Folhosos 6 60%
(2003) desenvolveram o método de Avaliação Qualitativa dos
Cardápios (AQPC), que consiste em uma ferramenta que compreende Cores Iguais 5 50%
aspectos relativos a tipos, cores e formas de preparo dos alimentos.
Além disso, esse método permite detectar falhas e determinar soluções
Ricos em enxofre 5 50%
para a adequação do cardápio da UAN (6).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a
qualidade nutricional dos cardápios de uma unidade de alimentação e Doce 2 20%
nutrição localizada em um centro universitário na cidade de Fortaleza-
ce, por meio do método AQPC. Frituras 4 40%

MATERIAIS E MÉTODOS Carne gordurosa 1 10%

O estudo foi realizado em uma UAN, localizada no ambiente interno Doce + Fritura 1 10%
de um Centro Universitário, administrada em sistema de terceirização
que produzia, em média, 150 almoços/dia na modalidade self-service Legenda: (1): número de dias.
de distribuição.
O cardápio dessa unidade era composto por preparações de média As frutas e os folhosos estavam presentes em 80% e 60%,
complexidade, a qual fornecia refeições de segunda a sexta, com uma respectivamente, dos dias avaliados. O aparecimento destes itens é
opção de entrada (salada), duas opções protéicas de origem animal, considerado importantes para uma alimentação nutricionalmente
dois acompanhamentos (arroz, feijão ou baião), uma opção de adequada pela oferta de vitaminas, minerais e fibra, além de contribuir
guarnição e uma sobremesa (fruta ou doce). com o colorido do cardápio e auxiliar na prevenção de doenças (6,11).
Neste trabalho, foram avaliados os cardápios fornecidos no almoço O resultado do presente estudo foi melhor do que o de Fonseca e
durante 10 dias úteis, durante o mês de outubro de 2019, a avaliação Souza (2017), que obtiveram 70% na oferta de frutas e 53% na de
foi realizada pelo método AQPC desenvolvido por Vieiros e Proença folhosos, em análise de AQPC de cardápios de restaurante
(2003), o qual considera na composição do cardápio as técnicas de universitário em Vitória da Conquista-BA (9).
preparo, as cores, as repetições e combinações, as oferta de No que diz respeito à presença de cores iguais no cardápio, observou-
determinados alimentos como folhosos, frutas ou tipo de carnes, além se monotonia de cores em 50% dos dias analisados. Resultado inferior
do teor de enxofre dos alimento (6). ao encontrado por Florintino e Manzur (2015), que observaram
Para avaliar a presença de preparações ricas em enxofre, foram monotonia em 100% dos dias no cardápio de um restaurante
considerados os cardápios diários que continham duas ou mais universitário do município de Guarapuava-PR (10). No planejamento
preparações contendo alimentos sulfurados (alho, batata-doce, cebola, de cardápio, a variedade de cores deve ser considerada, pois além de
ervilha, feijão branco, maçã, melancia, melão, milho, nabo, ovo, tornar a preparação mais atrativa visualmente também promove
rabanete e repolho). O feijão que era servido diariamente não foi

e-xacta, Belo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.


Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/

605
Inovação e Tecnologia na Gastronomia
2
variação na oferta de vitaminas e minerais, contribuindo para a saúde Santo. Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, [S.L.], v. 9, n. 4, p.
dos comensais (11). 975-984, 2014.
Com relação à presença de alimentos ricos em enxofre foi identificada
uma frequência de 50% nos dias analisados. O trabalho de Leonhardt, 9. FONSECA, N. T.; SOUZA, L. T. Avaliação qualitativa das
Kerber e Fassina (2014), que avaliou UANs do Vale do Taquari-RS, preparações do cardápio de um restaurante universitário de Vitória da
encontrou na Unidade A a presença de alimentos ricos em enxofre em Conquista–BA. Journal of Applied Pharmaceutical Sciences, [S.L.]
17 dias (74%) e 6 dias (26%) na Unidade B (11). Segundo Vieiros e v. 4, n. 1, p. 28-36, 2017.
Proença (2003), a presença de alimentos ricos em enxofre devem ser
limitados na oferta diária, para não causar sensação de mal estar pelo 10. FLORINTINO, C.; MAZUR, C. E. QUALITATIVE
desconforto gástrico gerados nos comensais por conta da presença de ASSESSMENT OF MENUS OF PREPARATIONS IN A
compostos sulfurados que produzem gases (6). O feijão não foi UNIVERSITY RESTAURANT. Visão Acadêmica, [S.L.], v. 16, n. 1,
considerado na avaliação devido a sua frequência diária no hábito p. 111-118, 2015.
alimentar brasileiro, porém ele possui oligossacarídeos não digeríveis
que contribuem para o desconforto gástrico (10). 11. LEONHARDT, M. B.; KERBER, M.; FASSINA, P. Análise
No presente trabalho, foi identificado a presença de doces e frituras qualitativa das preparações do cardápio de duas unidades de
em 20 e 40% dos dias, respectivamente. A associação de doce com alimentação e nutrição. Arquivos de Ciências da Saúde, [S.L], v.
fritura e o aparecimento de carne gordurosa foram observados em 26, n. 3, p. 153-157, 2019.
10% dos dias. O aparecimento de frituras, de maneira isolada e
associada aos doces, pode significar maior ingestão de gordura e
também a combinação de excesso lipídico com ingestão elevada de
carboidratos simples (6). As avaliações do grupo vermelho (doces,
frituras, carne gordurosa e doce + fritura) proposto pelo método
AQPC de Vieiros e Proença (2003) apontam aspectos que devem ser
cuidadosamente monitorados, uma vez que podem trazer
conseqüências prejudiciais à saúde, a médio e longo prazo (6).

CONCLUSÃO

Os resultados da avaliação AQPC do cardápio indicam boa oferta de


frutas e uma oferta regular de folhosos. Os critérios de cores iguais,
alimentos ricos em enxofre e presença de frituras também foram
considerados regulares. A oferta de doces, carne gordurosa e a
combinação de doce mais frituras apresentaram baixo percentual,
sendo considerado um bom resultado. Dentre as melhorias sugeridas,
destaca-se, principalmente, um aumento na oferta de folhosos,
diminuição da presença de cores iguais, de frituras e de alimentos
ricos em enxofre.
A utilização do método AQPC é uma ferramenta útil na elaboração de
cardápios e permite detectar falhas e definir soluções a serem
implementadas na revisão e adequação, pois além de reforçar o
equilíbrio nutricional dos cardápios, ele favorece a aceitação sensorial
das refeições.

REFERÊNCIAS

1. BEZERRA, I. N. et al. Alimentação fora de casa e excesso de peso:


uma análise dos mecanismos explicativos. Revista Brasileira em
Promoção da Saúde, Fortaleza, v. 3, n. 29, p.455-461, 2016.

2. BUSCEMI, S. et al. Caracterização do consumo de comida de rua


em Palermo: possíveis efeitos na saúde. Nutrition Journal , [S.L.], v.
10, n. 1, pág. 119, 2011.

3. NEVES, L. C. M. Oferta de alimentos ultraprocessados na


Universidade de Brasília. 2016. 24 f. TCC (Graduação) - Curso de
Curso de Nutrição, Departamento de Nutrição, Universidade de
Brasília, Brasília, 2016.

4. MACHADO, A. D. et al. Avaliação do almoço oferecido a


pacientes oncológicos e transplantados pediátricos pelo método
AQPC. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, [S.L.], v. 12, n. 3,
p. 332-336, 2013.

5. ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de


Unidades de Alimentação e Nutrição: um modo de fazer. 5. ed.
[S.L.]: Editora Metha, 2016.

6. VEIROS, M. B.; PROENÇA, R. P. Avaliação qualitativa das


preparações do cardápio em uma unidade de alimentação e nutrição–
método AQPC. Nutrição em Pauta, [S.L.], v. 11, n. 62, p. 36-42,
2003

7. PROENÇA, R.P.C., SOUSA A.A., VEIROS, M. B. Qualidade


nutricional e sensorial na produção de refeições. 3. ed.
Florianópolis: UFSC, 2008

8. JOSÉ, J. F. B. S. Avaliação qualitativa de cardápios em uma


unidade de alimentação e nutrição localizada em Vitória, Espírito

606
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

A Inserção De Produtos Da Agrobiodiversidade Na Alimentação

Juliana Machado Severo1, Marilene Cassel Bueno2


1
Mestre e doutoranda em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail:
julianamsevero@gmail.com
2
Mestre e doutoranda em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Introdução Resultados e discussões


Os hábitos alimentares e os Num conceito mais sintético, a
ingredientes consumidos ao longo dos tempos agrobiodiversidade pode ser compreendida
foram alterados por diversos motivos duais: como a parcela da biodiversidade utilizada
globalização e alimentos locais – na Austrália pelo homem na agricultura, ou em práticas
compramos feijão preto e na serra gaúcha correlatas, na natureza, de forma domesticada
comemos copa – alimentos saudáveis e ou semi-domesticada. A sociobiodiversidade é
ultraprocessados – a salada do almoço é feita o conjunto de espécies da biodiversidade
com produtos orgânicos e o jantar é uma pizza utilizada pelas comunidades locais, povos
de “caixinha” comprada no supermercado – os indígenas e agricultores familiares. Estas
alimentos são parte do nosso cotidiano, não diferentes comunidades conservam, manejam
apenas por ser combustível, mas também por e utilizam os diferentes componentes da
demandar tempo na escolha e nas refeições. agrobiodiversidade.
Pensar o alimento e as refeições é importante Aliado à agrobiodiversidade está a
para o declínio de doenças, de desnutrição, da gastronomia que se “alimenta” de seus
obesidade e outros fatores relacionados a má produtos e passa ao longo dos anos por
alimentação. transformações que alteram o eixo central da
Segundo Vieira, Camillo e Coradin (1), discussão – passa-se de grandes banquetes ao
a diversificação da dieta e a inserção de regional, ao simples, ao compartilhado e ao
produtos da sociobiodiversidade podem local – o ingrediente cede lugar ao chef que
contribuir para o fortalecimento da ganha autonomia e usa de sua criatividade para
gastronomia regional, uso de espécies da flora. ressignificar e valorizar o ingrediente ao
Mas para os autores ainda é necessário considerar a sua origem, sua produção, quem
conhecer e valorizar essa diversidade e a produz, sua diversidade.
gastronomia pode ser uma estratégia para No Brasil, há diversos movimentos
ampliar a utilização desses alimentos. É vinculados à chefs - que discutem o alimento,
importante destacar que a valorização de o ingrediente, o local, o produtor e a
alimentos tradicionais, culturais é também manutenção de espécies em que podemos
incentivado pelo Guia alimentar para a destacar alguns nomes como - Alex Atala
população brasileira, um importante (SP): Instituto ATA; Teresa Corção e
documento do Ministério da Saúde (2) para a Margarida Nogueira (RJ): Instituto Maniva;
promoção da alimentação saudável e Família Martins (PA): Instituto Paulo Martins.
adequada. Sendo assim, esse trabalho tem por Partindo do pressuposto que a principal
objetivo analisar o processo de consumo de tendência da gastronomia contemporânea é a
produtos da agrobiodiversidade sob a valorização de ingredientes locais, artesanais e
perspectiva de alimentação saudável. saber fazer locais, e o consumo de produtos
orgânicos e sustentáveis(3) o questionamento é
Metodologia relevante.
A metodologia proposta para este Diante do exposto acima, a influencia
trabalho é uma pesquisa bibliográfica da gastronomia no uso e na disseminação de
desenvolvida a partir de sites, artigos e livros. produtos da agrobiodiversidade parece um fato
Com este trabalho pretendo compreender a concreto e irreversível pelo próprio
inserção de produtos da agrobiodiversidade na movimento que a gastronomia faz de retorno a
alimentação contemporânea como meio para
atingir melhoria nutricional na alimentação.

607
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

terra e pelo engajamento de chefs e tradicionais e culturais, que também vão ao


gastrônomos. encontro de uma alimentação promotora de
Diversas são as pautas que permeiam saúde.
alimentação e produtos da Nesse sentido, destaca-se a importância
agro/sociobiodiversidade, o Guia Alimentar da gastronomia para o conhecimento e
Brasileiro diz que: valorização desses alimentos e também de
“...padrões tradicionais de alimentação, programas e políticas com potencial para
desenvolvidos e transmitidos ao longo de ampliar, incentivar e possibilitar o consumo de
gerações, são fontes essenciais de
conhecimentos para a formulação de alimentos da agrobiodiversidade por diferentes
recomendações que visam promover a públicos.
alimentação adequada e saudável. Esses
padrões resultam do acúmulo de Referências Bibliográficas
conhecimentos sobre as variedades de plantas
e de animais que mais bem se adaptaram às (1) VIEIRA, Roberto Fontes, CAMILLO,
condições do clima e do solo, sobre as Julceia, CORADIN, Lídio. Espécies nativas
técnicas de produção que se mostraram mais
produtivas e sustentáveis e sobre as da flora brasileira de valor econômico atual
combinações de alimentos e preparações ou potencial: Plantas para o Futuro: Região
culinárias que bem atendiam à saúde e o Centro-Oeste/ Ministério do Meio Ambiente.
paladar humanos (2).” Secretaria de Biodiversidade. Brasília (DF):
Há ações ocorrendo em diferentes 2016.
segmentos: da sociedade civil e do Estado para (2) BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar
diversificar e inserir nos cardápios e nos para a população brasileira. Ministério da Saúde,
hábitos alimentares produtos da 2014.
agrobiodiversidade. O consumidor também (3) ZANETI, Tainá Bacellar.; SCHNEIDER,
atua de forma participativa neste processo Sergio. Ingredientes singulares à la carte:
consumindo de forma consciente e sustentável. implicações do uso de produtos diferenciados na
O aumento do uso destes produtos auxilia não gastronomia contemporânea. Anthropology of
Food, V. online, P. online, 2016.
apenas a questão nutricional, mas a
manutenção das espécies – aumento de
(4) ALTIERI, Miguel A; NICHOLLS, Clara I.
consumo – aumento de demanda,
Agroecologia escalando para a soberania e
consequentemente aumento de produção. A
resiliência alimentar. In: Revisões da
valorização destes produtos diversificam a
agricultura sustentável. Springer, Dordrecht,
dieta, melhoram e ampliam os sabores e
2012. p. 1-29.
proporcionam uma ampla gama de variação de
uso devido à sua versatilidade de uso. http://www.institutoata.org.br/pt-br/home.php
Nesse sentido, Altieri e Nicholls(4) Acesso em 22/09/2019.
destacam que a inclusão desses alimentos em http://www.institutopaulomartins.org.br Acesso em
cardápios escolares pode contribuir a 22/09/2019.
valorização e reaproximação dos produtos, https://www.institutomaniva.org/ Acesso em
contribuir para a produção da agricultura 22/09/2019.
familiar que passa a ter um mercado para esses http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conser
produtos, estimular a economia local, vacao-e-promocao-do-uso-da-diversidade-
contribuir para a alimentação escolar com mais genetica/agrobiodiversidade. Acesso em
qualidade e, em uma perspectiva ambiental, 22/09/2019.
contribui também a conservação do meio
ambiente.

Conclusão
A inserção de alimentos da
agrobiodiversidade são importantes e
positivos, visto que estimulam o consumo
mais saudável e sustentável. Além disso,
destaca-se a valorização de alimentos locais,

608
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Estudo da Disponibilidade de Produtos Lácteos Zero Lactose no Município de Codó- Ma.


Lidiamália Moreira1, Eduarda Larissa Cabral 2, Maria Raimunda Cruz3, Renata Brito4, Fernanda Santos5

1- Graduanda em Tecnologia de Alimentos –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-


IFMA, Codó/MA- Brasil.
2- Graduanda em Tecnologia de Alimentos –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-
IFMA, Codó/MA- Brasil.
3- Graduanda em Tecnologia de Alimentos –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-
IFMA, Codó/MA- Brasil.
4- Graduanda em Tecnologia de Alimentos –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-
IFMA, Codó/MA- Brasil.
5- Graduanda em Tecnologia de Alimentos –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-
IFMA, Codó/MA- Brasil.
E-mail: lidia_malia@hotmail.com

PALAVRAS CHAVES: intolerâncias alimentares, produtos dietéticos, comercialização de produtos

INTRODUÇÃO
iogurte, manteiga, achocolatado, requeijão, leite UHT, leite em pó,
A alimentação das pessoas se modificou ao longo do tempo, ao
leite condensado, creme de leite.
mesmo tempo, a tecnologia e a medicina evoluíram, assim, passaram a
O leite UHT, leite em pó e os iogurtes, foram os produtos encontrados
serem observados alguns problemas de saúde de origem alimentar,
com maior frequência em todos os supermercados visitados. Contudo,
como por exemplo, as intolerâncias alimentares, que requer mudanças
o leite condensado, foi encontrado em apenas um dos supermercados
consideráveis no estilo de vida e alimentação dos indivíduos, o que
visitados, assim como o requeijão e os demais produtos. Com isso, vê-
levou as indústrias a transformarem o modo como produzem para
se a precariedade dos mercados do município em oferecer produtos
atender as necessidades destes consumidores. [1]
lácteos zero lactose, aos consumidores. Segundo pesquisas, estima-se
Ressalta-se que intolerância a lactose está hoje presente em 75% da
que no cenário atual 40% a 60% da população brasileira seja
população mundial, e 40% dos brasileiros, o autor define que, a
intolerante ao carboidrato lactose[5], por conta disso é importante
intolerância à lactose ou má absorção de lactose consiste na redução
estimular o consumo de leite e derivados, considerando os benefícios
da capacidade de hidrolisar a lactose (açúcar do leite), o que resultada
nutricionais proporcionados por este alimento além do que, o mercado
hipolactasia (redução da atividade de enzima lactase a qual é
deve adequar-se à esses consumidores.
responsável pela diluição da lactose, na mucosa do intestino delgado,
Quanto aos questionários, alguns dos resultados são apresentados nas
chamada ainda de “lactase não persistente”. [2]
figuras 01 e 02. Na Figura 01, observa-se a frequência quanto o
Portanto, sem dúvidas, esse mercado se apresenta como uma grande
conhecimento de produtos zero lactose.
oportunidade. Além disso, mesmo pessoas que não têm o diagnóstico
de intolerância à lactose estão aderindo a esse tipo de produto, muitas
vezes na tentativa de minimizar sintomas gastrointestinais similares
Figura 01. Conhecimento dos produtos zero lactose.
aos da intolerância, ou mesmo por escolha individual, contando com
certa percepção de maior saudabilidade desse tipo de produto.
O presente trabalho avaliou a disponibilidade dos produtos zero
lactose ofertada nas prateleiras e frios dos supermercados do 12%
município de Codó/MA.
12%
MATERIAL E MÉTODOS 52%

Executou-se um estudo observacional e descritivo [3], com o intuito


de saber a disponibilidade e variedade de produtos derivados de leite
zero lactose em 03 (três) estabelecimentos comerciais do município de
Codó-Ma, no período de um mês, através de visitas semanais, sim não talvez
selecionaram-se intencionalmente os supermercados considerados de
maior fluxo de consumidores e maior variedade de produtos Fonte: Elaborada pelas autoras.
alimentícios. Os produtos foram observados diretamente nas
prateleiras dos supermercados. Logo verificou-se que 12% dos consumidores que responderam ao
Aplicou-se 25 questionários, com o objetivo de analisar o questionário não conheciam ou talvez conhecessem produtos zero
acompanhamento e conhecimento dos consumidores sobre alimentos lactose. Dos 52% dos entrevistados que conheciam algum tipo de
da linha zero lactose no município de Codó-Ma. O questionário produto zero lactose, especificaram produtos como: leite de caixa
aplicado continha 4 afirmativas básicas: 1- Você conhece algum (UHT), leite condensado, iogurtes e manteiga.
produto da linha zero lactose? 2- Há qual grupo de pessoas é indicado Quanto ao questionamento sobre qual o grupo de pessoas é destinado
o consumo de produtos zero lactose? 3-Em que estabelecimentos os o consumo destes produtos, todos os consumidores responderam que
produtos zero lactose podem ser encontrados?4- Qual sugestão daria são destinados a intolerantes à lactose. Onde verificou-se que, apesar
para haver melhorias na disponibilidade de produtos zero lactose no de não conhecerem produtos da linha zero lactose os consumidores
mercado? As perguntas foram elaboradas para que não houvesse sabem a qual grupo de indivíduos são indicados o consumo desses
dificuldade dos entrevistados em responde-las. produtos.
Na Figura 02, observa- se a frequência quanto ao lugar onde estes
RESULTADOS E DISCUSSÃO produtos são encontrados.

Quanto à disponibilidade de produtos ofertados, observou a falta de


variedade que poderá refletir na mesa do consumidor intolerante a este
carboidrato. Pode-se observar nos 03 (três) supermercados as
seguintes variedades de produtos, da linha zero lactose, ofertados:

609
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Figura 02. Local onde podem ser encontrados produtos zero lactose.

20%
28% 68%

Supermercados Farmácias
Lojas especializadas

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Na Figura 02, 68% dos consumidores responderam que comprariam


os produtos zero lactose em supermercados, justificando-se pelo fato
de que há uma grande variedade de produtos alimentícios, em geral,
disponíveis nesses estabelecimentos, 28% dos entrevistados
responderam farmácias, mais não justificaram suas respostas e 20%
responderam que comprariam em lojas especializadas, também sem
justificarem suas respostas.
Se tratando do questionamento sobre as sugestões de melhorias quanto
a disponibilidade de produtos zero lactose nos mercados, mais de 70%
dos consumidores responderam que deveria haver um maior
investimento em produtos variados da linha zero lactose a serem
disponibilizados nos mercados da cidade.

CONCLUSÕES

Mediante os resultados do presente estudo, foi constatado que o


número de produtos da linha zero lactose comercializados no
município de Codó/MA ainda é pequeno se comparado às variedades
de produtos lácteos da linha zero lactose produzidos. Os produtos de
disponibilidade mais frequente nos supermercados do município são o
leite UHT (pó e caixa), iogurtes (de variados sabores), os derivados
como: manteiga, leite condensado e requeijão, são encontrados com
menor frequência nos mercados da cidade.

REFERÊNCIAS.

[1]; [2] SILVA, Luana Barros. Inovação em pequenas empresas de


alimentos para consumidores com restrição alimentar: o caso da
empresa gourmet Brasil. Trabalho de Conclusão do Curso de
Graduação apresentado ao Departamento de Ciências Administrativas
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
Disponível em: Acesso em 10 jan. 2020.
[3] ZIGMUND, WG; BABIN, BJ. PRINCÍPIOS DA PESQUISA DE
MARKETING. 4 ED. SÃO PAULO: CENGAGE LEARNING, 2011. 508 P.
[4] ; [5] FAEDO, R.; BRIÃO, V. B.; CASTOLDI, S.; GIRARDELLE,
L.; MILANI, A . OBTENÇÃO DE LEITE COM BAIXO TEOR DE
LACTOSE POR PROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS
ASSOCIADAS À HIDRÓLISE ENZIMÁTICA. REVISTA CIATEC –
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO, VOL.3 (1), 2013 DISPONÍVEL EM:
<HTTP://WWW.SEER.UPF.BR/INDEX.PHP/CIATEC/ARTICLE/VIEWFILE/32
22/2386>. ACESSO EM: 27 DE DEZEMBRO DE 2019.

610
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Um Estudo de Contextualização sobre os Aspectos de Boas Práticas de Produção de


Alimentos Tradicionais da Gastronomia Baiana
Priscila Barreto¹, Viviane Guedes¹, Elaine Rodrigues¹, Gislene Novais¹ e Ednilson Andrade1, 2.
1
Faculdade Batista Brasileira (FBB). Curso de Bacharelado em Nutrição. Salvador, Bahia, Brasil.
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde (PGNUT).
Escola de Nutrição. Salvador, Bahia, Brasil.

Palavras-chave: Alimentos Tradicionais, Boas Práticas As orientações de Boas Práticas de Produção de Alimentos se fazem
de Produção, Produção Rural, Agricultura Familiar. presentes e necessárias em todas as fases do processo de produção de
alimentos. A partir dos levantamentos feitos nos documentos legais e
manuais técnicos consultados, podem ser apresentadas as seguintes
INTRODUÇÃO orientações de Boas Práticas de Produção, de acordo com as etapas
gerais do processo produtivo de alimentos (1,2):
As Boas Práticas de Produção (BPP) são procedimentos que precisam 1) Recebimento: grande necessidade de limpeza, proteção e boa
ser adotados nos serviços de alimentação de qualquer natureza, para iluminação no ambiente do recebimento, para deixa-lo livre de
assegurar a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade destes com vetores e pragas. Quando à entrega dos insumos, o prestador
a legislação sanitária vigentes, garantindo a segurança do produto e a de serviços de está devidamente uniformizado e limpo. A
saúde coletiva (1). No contexto da produção dos alimentos temperatura manipulação dos insumos e alimentos deve estar
tradicionais, estas representam um desafio, uma vez que tal produção, de acordo com o os requisitos legais. Alimentos vencidos ou
artesanal e em pequena escala, pode encontrar nesta questão sua maior danificados devem ser rejeitados nessa etapa.
fragilidade sanitária e mercadológica. Mesmo no caso de micro e 2) Armazenamento: os principais cuidados nesta etapa são a
pequenos produtores, sendo estes registrados e formalizados, suas garantia da adequada circulação do ar, o evitamento de
autorizações de trabalho envolvem a observância de critérios superlotação no estoque, mantendo a distância correta entre os
específicos, previstos na legislação sanitária atual. produtos, a regulagem e controle adequados da temperatura
Especialmente na Cozinha Baiana, as Boas Práticas de Produção para dos equipamentos de acordo com os alimentos e a adoção de
alimentos tradicionais se tornam um dos temas mais relevantes de um fluxo de trabalho que previna a contaminação cruzada
hoje, haja vista a participação destes produtos no mapa regional do entre os alimentos.
consumo alimentar diário. 3) Pré-preparo: nesta etapa, são essencialmente necessários os
Dessa forma, este estudo objetiva analisar os aspectos fundamentais e cuidados com a higienização do ambiente, insumos e materiais
práticos das Boas Práticas de Produção de Alimentos em geral e os envolvidos, bem como dos utensílios e equipamentos. E as
relacionados à produção de alimentos tradicionais e identificar preparações produzidas devem ser estar alinhadas com as
oportunidades alinhamentos destas à produção de alimentos demandas do cardápio e as fichas técnicas, evitando excessos e
tradicionais da Cozinha Baiana. exposição desnecessários dos alimentos, que poderiam levar à
sua deterioração.
4) Preparo: no ambiente desta etapa não devem existir
MATERIAL E MÉTODO equipamentos de refrigeração, para que o calor dos seus
motores não exponha o alimento a temperaturas adversas.
Os aspectos metodológicos deste estudo caracterizam-se como Também é imprescindível observar com cuidado a normativa
pesquisa descritiva, qualitativa e indutiva, bibliográfica e documental, de preparo de cada alimento. No caso de alimentos cozidos,
segundo os métodos de revisão de literatura e estudo de deve-se atentar para o fato de que o cozimento é essencial para
contextualização. A revisão de literatura usou como palavras-chave o controle microbiológico e garantia de qualidade.
Segurança de Alimentos, Boas Práticas de Produção, Alimentos 5) Resfriamento: durante o resfriamento de alimentos cozidos,
Tradicionais e Cozinha Baiana Tradicional, no contexto da estes devem ser colocados ainda quentes em um recipiente
valorização de produtos alimentares tradicionais como patrimônio raso, à temperatura ambiente, por 30 minutos. Depois, devem
alimentar. Documentos legais e orientações técnicas da Agência ser colocados para resfriar, em geladeira ou freezer, sempre
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde e cobertos ou tampados.
Organização Mundial da Saúde (OMS) também foram consultados. A 6) Distribuição: a diminuição ao máximo do intervalo de tempo
partir destes, se realizam análises dos seus pontos em comum e entre o preparo e a distribuição é o principal aspecto de BPP
relações com os aspectos de BPP relacionados aos alimentos nesta etapa. Alimentos quentes devem ser transportados
tradicionais da Cozinha Baiana. sempre quentes. Alimentos servidos frios devem ser cobertos e
refrigerados adequadamente. E o alimento não servido
imediatamente deve ser mantido em temperatura controlada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os estudos também demonstraram que a padronização de processos é
um diferencial para qualquer produção de alimentos que visa um
A revisão de literatura também evidenciou que as Boas Práticas de maior aproveitamento de suas matérias primas, com redução de
Produção de Alimentos (BPP) caracterizam-se como conjunto de perdas, custos, aumento da lucratividade e da produtividade. Ter um
práticas de organização e higiene necessárias para garantir a produção controle rigoroso dos alimentos abertos é outro fator muito
de alimentos seguros, em todas as suas etapas. Os seus aspectos importante neste contexto. Armazenamento inadequado é muito
fundamentais envolvem a observância criteriosa dos hábitos de comum nos serviços de alimentação, bem como o uso de
higiene pessoal, boas condições de saúde e trabalho do ser humano e equipamentos muito antigos e depreciados. Treinar os manipuladores
capacitação técnica profissional contínua. Além disso, o ambiente sobre as formas corretas de manipulação e armazenamento dos
laboral deve ser arejado, limpo, sem umidade ou calor excessivo, alimentos é essencial para reduzir desperdício. (1, 2)
evitando a proliferação de bolores e outros vetores e livre de materiais Dessa forma, as Boas Práticas de Produção devem ser seguidas em
contaminantes. (2) todas as etapas do processo produtivo de alimentos, conforme a
Neste sentido, destacaram-se também a necessidade de higienização, regulamentação e critérios higiênicos sanitários apresentados. Neste
sanitização, seleção, fracionamento e adição de insumos no preparo de sentido, por abrangência e com adequação, aplicam-se também à
alimentos com segurança, além da manutenção dos padrões adequados produção dos alimentos tradicionais da Gastronomia Baiana.
de refrigeração e aquecimento de alimentos cozidos, grelhados, Neste trabalho, para efeitos conceituais, o alimento tradicional se
assados ou fritos. E os cuidados com o tipo de recipientes de caracteriza pela sua autencidade, pelo seu modo de preparo e por sua
armazenamento, etiquetagem e acondicionamento utilizados; origem cultural e histórica singulares. Produzidos com matérias
manutenção da cadeia de frio ou calor e tempo de entrega e consumo primas locais, em manufatura de pequena escala, com método
final. (1, 2) artesanal, são o resultado de um saber-fazer regional, historicamente
construído, passado de geração em geração, apresentando forte

611
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

ligação com um território de tradições locais. Assim, se contrapõem à CONSIDERAÇÕES FINAIS


lógica de produtos massificados, que são produzidos em escalas
industriais, não apresentando diferenciações sensoriais por parte do Portanto, este estudo identificou os requisitos mínimos de Boas
consumidor. (3, 4, 5, 6, 7) Práticas de Produção necessários aos alimentos tradicionais da
Desde sua ancestralidade, estes alimentos já seguem requisitos de Cozinha Baiana, em todas as suas dimensões. Ficou evidente que
Boas Práticas de Produção, preconizados em seus saberes e fazeres, estes são necessários e previstos para tais alimentos, tanto como parte
como a higienização do ambiente, do manipulador, dos insumos e dos saberes e fazeres que caracterizam sua cultura alimentar como
utensílios, a correta observação dos tempos e temperaturas de quanto requisitos essenciais para os registros legais de seus negócios
aquecimento e resfriamento, os cuidados com manuseio, transporte e e autorizações sanitárias para funcionamento.
serviço, dente outros. Graham (8), Querino (9) e Schumaher (10) Em sua grande maioria e por essas razões, já estão estabelecidos
como prática para as produções regulamentadas e legalizadas.
atestam esses aspectos, ao se referirem às produções tradicionais de
Contudo, o setor de alimentos tradicionais informais ainda carece
alimentos na Bahia Colonial, seus modos de preparo, comércio e
tanto de melhorias em sua legislação específica quanto de
serviço, como as moquecas de pescados, as iguarias do tabuleiro das conscientização sobre os aspectos tradicionais e higiênico sanitários
baianas de acarajés, mingaus e bolos, além da feijoada, arroz de em suas práticas laborais.
haussá, guisados, ensopados e alimentos à base de vegetais. Assim, recomendam-se intervenções governamentais,
Atualmente, a observância das Boas Práticas de Produção para mercadológicas e do Terceiro Setor neste sentido seriam fatores
alimentos tradicionais da Gastronomia Baiana também é reforçada favoráveis ao desenvolvimento desse setor, na promoção de trabalho,
pelos requisitos legais estabelecidos por documentos legais, emprego, renda, saúde, bem estar, patrimônio e cultura alimentar.
internacionais, nacionais e regionais, que regulamentam este setor. Dessa forma, este setor, tão relevante na Gastronomia Baiana, poderá
Dentre estes, citam-se: atingir patamares sustentáveis de desenvolvimento socioeconômico,
1) Codex Alimentarius: regulamento com orientações com múltiplos benefícios para todos os envolvidos.
internacionais gerais para elaboração de programas de BPP da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecido pela
REFERÊNCIAS
Organização Mundial do Comércio (OMC). (11)
2) RDC nº 275/2002: procedimentos para controle contínuo de (1) MOYANO, P. Boas práticas de fabricação e a legislação
BPP e procedimentos operacionais padronizados de inspeção brasileira. Disponível em <https://certificacaoiso.com.br/boas-
sanitária destas. (12) praticas-de-fabricacao-e-legislacao-brasileira/> acesso em: 12 jun.
3) RDC no 216/: regulamentação técnica de boa prática para 2020.
serviços de alimentação. (13) (2) MELO, S. B. M.; SOUZA, R. M. Curso de Formação de Gestores
Dessa forma, os estudos evidenciaram que as Boas Práticas de Escolares. Conteúdo: Boas Práticas de Manipulação de Alimentos.
Produção também são requisitos obrigatórios para a produção de Governo de Estado do Piauí, slides de apresentação, 2018.
alimentos tradicionais, tanto no que se refere aos saberes e fazeres (3) ZUIN, L.F.S.; ALLIPRANDINI, D.H. Gestão da inovação na
ancestrais de sua produção como no que diz respeito aos aspectos produção agropecuária (GIPA). In: ZUIN, L.F.S.; QUEIROS, T.R.
atuais de regulamentação e controle higiênico sanitário para produção (Org.). Agronegócios: gestão e inovação. 1ª ed. v.1, p. 252-278,
e comercialização de alimentos. Mesmo os pequenos e micro 2006, São Paulo.
(4) ZUIN, L.F.S.; ZUIN, P.B. Produção de alimentos tradicionais:
produtores rurais (agricultores e agroindustriais familiares) e urbanos
extensão rural. Aparecida: Idéias & Letras, 2008. 219 p.
(pequenos e micro empresários da alimentação) são contemplados
(5) RIBEIRO, M.; MARTINS, C. A tradição já não é o que era
nesta questão, haja vista que estes também são requisitos essenciais dantes: a valorização dos produtos tradicionais face à mudança
para os registros legais de seus negócios e autorizações sanitárias para social. Economia e Sociologia, n.60. p.29-43, 1995.
funcionamento. (3, 4, 5, 6, 7) (6) BERNAT, E. Los novos consumidores o las nevas relaciones
Também ficou evidente que, ao adotarem as Boas Práticas de entre campo y ciudad a través de los "productos de la tierra".
Produção em suas atividades, os produtores de alimentos tradicionais Agricultura y Sociedad. n. 80-81, 1996.
baianos agregaram maior valor e notoriedade aos produtos e (7) FAO. Building on gender, agrobiodiversity and local knowledge:
demonstraram que a segurança de alimentos também ocorrem em suas a training manual, 2005. 177 p.
atividades. (3, 4, 5, 6) (8) GRAHAM, Richard. Alimentar a cidade: das vendedoras de rua à
A figura 1 apresenta um exemplo da adoção de Boas Práticas de reforma liberal (Salvador, 1780 - 1860). Tradução Berilo Vargas. 1ª
Higiene e Segurança de Alimentos na Produção e Alimentos edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Tradicionais da Gastronomia Baiana: (9) QUERINO, Manuel. A arte culinária na Bahia. Salvador: Livraria
e Editora Progresso, 1957.
Figura 1: Manipuladora durante a Preparação de Alimento (10) SCHUMAHER, Schumura; BRASIL, Érico Vital. Mulheres
Tradicional da Bahia (Caruru) com a Adoção de Requisitos de Boas negras do Brasil. ed. condensada. Rio de Janeiro: SENAC, 2013. 160
Práticas de Produção de Alimentos (BPP) p.
(11) BRASÍLIA (DF). Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Codex Alimentarius. Brasília, 2016. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388701/Codex+Alime
ntarius/10d276cf-99d0-47c1-80a5-14de564aa6d3>. Acesso em: 21
set. 2020.
(12) BRASIL. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC Nº 275, de
21 de outubro de 202. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de
Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos
Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a
Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em
Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos, 2002.
(13) BRASÍLIA (DF). Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004.
Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços
de Alimentação, 2004. Disponível em: <
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388704/RESOLU%25C
3%2587%25C3%2583O-
RDC%2BN%2B216%2BDE%2B15%2BDE%2BSETEMBRO%2B
DE%2B2004.pdf/23701496-925d-4d4d-99aa-
9d479b316c4b#:~:text=RESOLU%C3%87%C3%83O%2DRDC%20
Fonte: CAR Bahia, 2020. N%C2%B0%20216,que%20lhe%20confere%20o%20art.>. Acesso
em: 21 set. 2020.

612
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Condutas e Controles dos Laboratórios do Curso de Gastronomia da Universidade Federal do


Ceará em Tempos de Pandemia da Covid-19
Amanda R. Leal1, Natália V. S. de Menezes 2, Regina M. S. Bastos3, Tereza C. da N. A. Garcez4, Eveline de A. Costa5
Doutoranda, Universidade Federal do Ceará; 2Mestra, Universidade Federal do Ceará; 3Especialista, Universidade Federal
1

do Ceará; 4Economista Doméstica, Universidade Federal do Ceará; 5Doutora, Universidade Federal do Ceará.
E-mail: amanda.lleal@ufc.br
Palavras-chave: biossegurança, SARS-COV-2, aulas práticas.
1. Introdução contemplando diluição de sanitizantes, procedimentos de higienização
Até o momento, não existem evidências de que o novo coronavírus seja de instalações, móveis, equipamentos, utensílios, alimentos frescos,
uma doença que possa ser veiculada por alimentos, isto é, uma DTA embalagens, corpo e mãos, além de regras para uso, manuseio e
(Doença Transmitida por Alimentos). Esse entendimento é uma desfinfecção de uniformes e máscaras de tecido. Passaram pelo mesmo
unanimidade entre órgãos como a Agência Nacional de Vigilância procedimento de revisão, atualização ou criação as Listas de
Sanitária (Anvisa), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Verificação, totalizado 15 listas de checagem.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Vale ressaltar que o protocolo destina-se a todos os docentes, técnicos,
(FAO) e de outras autoridades estrangeiras relacionados ao controle alunos, funcionários terceirizados e demais usuários desses espaços,
sanitário de alimentos. Sabe-se também que a transmissão desse vírus podendo ser atualizado a qualquer momento no caso de alteração das
ocorre de pessoa a pessoa, por contaminação direta com um indivíduo condições epidemiológicas.
infectado ou por contaminação indireta, através de superfícies e objetos
contaminados pela tosse e/ou pelo espirro de infectados (1, 2, 3). 3. Adaptação dos espaços dos Laboratórios de Gastronomia
No Brasil, em breve, as instituições de ensino serão autorizadas a 3.1 Hall de entrada aos laboratórios
retomar o ensino presencial com regime, no mínimo, híbrido. Nesse O hall de entrada no piso superior dos Laboratórios de Gastronomia é
sentido, a Equipe de Técnicos do Bacharelado em Gastronomia da um espaço amplo, de fácil acesso, com janelas que favorecem boa
Universidade Federal do Ceará (UFC) viu a importância de elaborar um iluminação e ventilação natural. Nesse espaço, são disponibilizados
documento a fim de que medidas de controle, monitoramento e ações bebedouro e armários para a guarda de materiais pessoais dos alunos.
preventivas fossem implementadas, tanto para garantir as boas práticas Ele será utilizado para a realização de treinamentos de todos os
de manipulação dos alimentos quanto para evitar a transmissão do vírus envolvidos nas atividades práticas, como alunos, bolsistas, servidores e
dentro dos Laboratórios (4). funcionários terceirizados. Serão contemplados nesses treinamentos
Assim, o presente trabalho visa apresentar o protocolo dos laboratórios apresentações de vídeos informativos com orientações sobre normas e
do curso de gastronomia em tempos de pandemia da covid-19, o qual foi regras dos laboratórios para a retomada de atividades presenciais em
elaborado pela equipe de técnicos do referido curso a fim de contribuir tempos de pandemia. Essa ação tem por finalidade sensibilizar sobre a
para a construção de uma cultura de seguridade nos espaços de aulas importância da adoção das boas práticas a fim de minimizar os riscos de
práticas através da introdução de normas de biossegurança relativas à contágio da Covid-19 e maximizar o desempenho profissional durante as
eliminação ou, pelo menos, à redução dos riscos de contaminação pelo atividades práticas.
novo coronavírus. As referidas capacitações serão realizadas mediante as seguintes ações:
- Projeção de vídeo que deverá acontecer na parede adjacente ao
2. Metodologia bebedouro;
O protocolo foi elaborado durante os meses de junho e julho de 2020. A - Utilização de carteiras para que os usuários se sentem em assentos
equipe que o idealizou é composta por uma Técnica em Nutrição e alternados, os quais serão demarcados com as indicações de “sentar” ou
Dietética, uma Técnica de Laboratório, uma Economista Doméstica, “não sentar”, de forma a garantir o distanciamento mínimo de 1,5m entre
uma Nutricionista e uma Professora do Magistério Superior; todas cada pessoa (Figura 1).
vinculadas ao Bacharelado em Gastronomia da UFC. Foram
estebelecidas normas para os quatro laboratórios ativos do curso: Figura 1 - Modelo da disposição das cadeiras no Hall de Entrada
Cozinha Quente 01, Cozinha Quente 02, Panificação e Confeitaria. Foi
elaborada a seguinte questão no intuito de suscitar a reflexão: Quais são
os saberes e práticas dos estudantes e servidores do curso de
Gastronomia sobre a manipulação de alimentos, o novo Coronavírus e o
controle de sua transmissão durante as aulas práticas? O estudo partiu do
princípio das boas práticas de manipulação de alimentos, enquanto
abordagem sanitária, o que proporcionou construir um espaço
importante na formulação de novas soluções, controles de qualidade e
condutas pessoais, com os alimentos e com a estrutura física das
cozinhas. Nesse sentido, a experiência se deu inicialmente pela
montagem de um grupo de estudos com encontros semanais e para os
quais foram definidos temáticas e bibliografia para aprofundamento.
Após análise de todos os documentos discutidos e, sem perder o foco da
questão reflexiva, organizou-se todas as informações e entendimentos do
grupo em um documento que serviria como base para capacitações,
nortear condutas e implementar medidas de controle que garantissem Fonte: Adaptado Plano de Retomada às Atividades Presenciais (4).
segurança a todos os envolvidos nas aulas práticas do curso de
gastronomia, quando estas forem liberadas pelas autoridades sanitárias. 3.2 Corredores de acesso aos laboratórios
O protocolo foi estruturado a partir das revisões de condutas, normas A fim de manter a organização, o distanciamento mínimo entre as
laboratoriais, procedimentos, instruções de trabalho, adaptação pessoas e tendo em vista que os laboratórios possuem acesso por dois
de espaços para garantir o distanciamento entre os indivíduos e medidas corredores distintos, propôs-se a utilização de sentidos diferentes para o
de comportamento para evitar contaminação por gotículas de saliva e trajeto de pessoas, em que um corredor será destinado exclusivamente
secreção respiratória, sem perder de vista a segurança dos alimentos, para a entrada e outro apenas para a saída dos laboratórios. Desse modo,
reforçando o compromisso do Curso de Gastronomia com a saúde, a cria-se um fluxo único que minimiza o cruzamento entre os indivíduos.
educação e com as medidas de enfrentamento à pandemia. Diante do exposto, o corredor do lado direito ao hall de entrada será
Para padronizar a execução de tarefas e técnicas específicas foram utilizado para a entrada de usuários, visto a proximidade das pias de
revisadas, atualizadas ou criadas 22 Instruções de Trabalho, lavagem de mãos instaladas nos laboratórios Cozinha Quente 01 e
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Cozinha Quente 02, e o corredor do lado esquerdo ao hall de entrada


seria exclusivo para a saída (Figura 1). Figura 3 - Disposição de mesas na sala técnica
No caso dos Laboratórios de Panificação e Confeitaria, como possuem
uma estrutura de interdependência, a entrada será pelo laboratório de
Panificação, o qual fica no final do corredor à direta do hall, e a saída
pelo Laboratório de Confeitaria (corredor à esquerda do hall). Assim,
manter-se-á a obediência ao fluxo estabelecido.

3.3 Organizações dos espaços internos dos laboratórios


Para a execução de aulas práticas de forma segura, a primeira decisão
tomada foi o fracionamento das turmas. Cada disciplina conta com uma Fonte: Adaptado Plano de Retomada às Atividades Presenciais (4).
média de 30 alunos matriculados. Com vistas a reduzir a aglomeração e
manter o distanciamento dentro dos ambientes laboratoriais decidiu-se 4. Avaliação das condições de saúde em tempos de pandemia de
pela divisão em subturmas constituídas entre 8 e 10 estudantes, no Covid-19
máximo. A fim de avaliar e mapear as condições de saúde dos envolvidos em
ações presenciais nos Laboratórios de Gastronomia elaborou-se um
3.3.1 Laboratórios de Cozinha Quente 01 e 02 Questionário de Avaliação das Condições de Saúde em Tempos de
Os laboratórios Cozinha Quente 01 e 02 possuem, cada um, quatro Pandemia (Figura 4), o qual deverá ser respondido na data anterior ao
unidades de aprendizado denominadas “praças”, onde regularmente dia da atividade presencial. Este questionário será enviado por meio de
divide-se os alunos em equipes para as aulas. Cada praça contém uma link, através de formulário criado no Google Forms pela equipe técnica.
bancada em inox ou balcão refrigerado, pia, fogão e forno, ambos Ressalta-se que esse procedimento é obrigatório e deve ser respondido
industriais. Para manter o distanciamento entre os alunos, foi decidido por todos, sejam eles: professores, técnicos, monitores, bolsistas, alunos,
pela montagem de uma praça adicional, gerando um total de cinco profissionais terceirizados e fornecedores.
praças em cada laboratório. Este novo espaço didático será dotado de
bancada em inox, pia e um fogão de indução. Assim, os laboratórios Figura 4 - Questionário de Avaliação das Condições de Saúde
serão adaptados para conter dois alunos por praça e uma capacidade de em Tempos de Pandemia
dez estudantes por aula, atendendo a nova demanda das subturmas.
Dessa forma, cada estudante será responsável por um grupo de tarefas
específicas de modo que não precise se locomover do seu local de
atividade. A proposta é realizar uma divisão de acordo com as áreas de
trabalho: um aluno na pia e bancada e outro no fogão. Recomenda-se
que haja um rodízio por aula, a fim de diversificar a experiência. Para
orientar o local de cada aluno, bem como manter o distanciamento físico
mínimo de 1,5 m entre os integrantes da equipe, haverá uma marcação
no piso com fita colorida. (Figura 2)

Figura 2 – Divisão das praças dos Laboratórios Cozinha Quente 1 e 2


Fonte: Elaborada pelos autores (2020).

5. Condutas durante permanência nos laboratórios de gastronomia


em tempos de pandemia de Covid-19

5.1 Regras gerais para contenção da Covid-19


a. Ao tossir, cobrir a boca e nariz com o antebraço ou usar lenço de
papel;
b. Não compartilhar equipamentos de proteção individual (EPI);
c. Evitar a prática de cumprimentar com abraços, apertos de mãos ou
beijo;
d. Não levar as mãos à boca, ao nariz ou aos olhos. Caso seja
necessário, proceder com a limpeza e sanitização das mãos;
e. Evitar o uso de adornos (anéis, pulseiras, relógios, colares etc);
f. Manter os cabelos amarrados.
Fonte: Elaborada pelos autores (2020). g. Caso apresente sinais ou sintomas sugestivos da COVID-19 ou
tenha tido contato com algum caso suspeito este deve: permanecer
3.3.2 Laboratórios de Panificação e Confeitaria em casa; comunicar imediatamente ao professor e à coordenação do
Os Laboratórios de Panificação e Confeitaria são dotados de quatro curso. aguardar, pelo menos, 14 dias após os primeiros sintomas
praças. Cada uma delas possui apenas uma bancada em inox e um para retornar à instituição.
balcão. Os dois fogões industriais e o forno de lastro presentes nesses
ambientes são de uso compartilhado. Não foi possível a inclusão de 5.2. Condutas individuais nas dependências dos laboratórios
mais uma unidade didática. Recomenda-se que cada praça seja ocupada Devido a necessidade de contenção do contágio pelo SARS-COV-2, as
por, no máximo, 2 estudantes, totalizando 8 alunos, os quais devem medidas listadas a seguir são sugeridas. Mais do que nunca, atender
permanecer no local demarcado no piso, saindo apenas quando essas condutas é relevante, pois elas podem salvar vidas e combater o
estritamente necessário. ciclo de contágio.
É importante que o fogão e o forno sejam utilizados por uma pessoa de a. Antes de dirigir-se ao campus, o aluno deverá verificar a turma e o
cada vez, adotando-se um regime de revezamento. Os demais devem horário em que iniciará sua aula prática através do Sistema
aguardar o momento de uso na sua praça, a fim de evitar aglomerações. Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), pois as
turmas passarão por um fracionamento com a finalidade de reduzir a
3.3.3 Sala Administrativa quantidade de pessoas nos laboratórios;
É importante implementar medidas de segurança e distanciamento em b. É importante chegar ao laboratório com antecedência de uma hora,
ambientes administrativos. Para tanto, recomenda-se que as mesas de pois cada turma passará por um registro de frequência e por uma
trabalho sejam organizadas de modo que os servidores mantenham o capacitação antes de poder entrar nos laboratórios;
distanciamento mínimo de 1,5 m, como pode ser observado na c. É preciso vestir, obrigatoriamente, uniforme completo (dólman e
representação da Figura 3. avental ou jaleco e calça comprida, juntamente com a máscara de
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

proteção), de cor clara e limpo para ter acesso e permanecer nos c. O trabalho em laboratórios exige concentração e bom desempenho.
laboratórios; Para tanto, o aluno precisa seguir as recomendações e instruções
d. Deve usar touca ou gorro que proteja completamente os cabelos, fornecidas;
sapatos e máscaras de proteção. Preferencialmente, a touca deve ter d. Deve ser mantido o mínimo ruído possível (silêncio), ou seja, evitar
cor branca. Os sapatos precisam ser fechados, laváveis e escutar músicas durante as atividades, entretanto o som permitido
antiderrapantes. As máscaras podem ser reutilizáveis ou dentro dos laboratórios será o tipo ambiente a fim de evitar fadiga
descartáveis; mental;
e. O aluno deve vestir o uniforme ao chegar ao Laboratório, ou seja, e. Não deixar materiais estranhos ao trabalho sobre as bancadas
não é permitido que o mesmo venha trajado com a vestimenta. O (cadernos, bolsas e afins. Estes devem ficar nos armários na entrada
dólman e a máscara deverão ser usados durante toda a aula, dos laboratórios);
inclusive durante as atividades de higienização; f. Os utensílios e equipamentos devem ser devolvidos, após o uso, ao
f. O uniforme e as máscaras de proteção devem ser transportados local de origem, devidamente limpos e sanitizados;
separadamente dos demais materiais, dentro de sacos plásticos ou g. As bancadas, pias e mesas, devem ser mantidas sempre limpas
similares, devidamente higienizados; durante o transcorrer da aula;
g. Sugere-se que cada indivíduo leve consigo, no mínimo, 2 máscaras, h. Os resíduos devem ser colocados em reservatórios específicos
em sacos plásticos limpos e uma outra embalagem para colocar as (lixeiras);
máscaras já utilizadas; i. Não jogar ou acumular lixo ou resíduos dentro das pias, utilizando
h. Cada aluno deve portar seu próprio kit de utensílios de cozinha, sempre as lixeiras;
conforme a disciplina, para evitar o compartilhamento de objetos na j. Evitar uso de utensílios de forma compartilhada, mas se o
execução das atividades práticas; compartilhamento for estritamente necessário, os manipuladores
i. Obrigatório estar com as unhas curtas e sem esmalte, inclusive base; devem higienizar as mãos e o material utilizado antes e após o uso,
j. Os homens devem apresentar-se barbeados (sem barba, bigode ou conforme Instruções de Trabalho correspondentes;
costeletas); k. Não fazer trocas de função entre os componentes das duplas, no
k. Evitar o uso de perfumes/desodorantes fortes; intuito de facilitar o trabalho e respeitar o afastamento entre os
l. Obedecer ao distanciamento mínimo de 1,5 a 2 metros entre os indivíduos;
colegas; l. Excepcionalmente nesse período, será permitido que o
m. Deixar todo material de uso pessoal nos armários localizados no hall procedimento de higienização de mãos seja realizado nas pias
de entrada dos laboratórios ou nas estantes do laboratório de pertencentes às praças. Deve-se atentar para não provocar
panificação (canetas, lápis, celular, borrachas, entre outros); contaminação química dos insumos e para o procedimento correto.
n. Atentar às demarcações nas cadeiras que estabelecem onde é Ao FINALIZAR a aula prática:
possível sentar e o novo fluxo de entrada e saída dos laboratórios; a. Lavar e secar todos os utensílios e equipamentos utilizados (fogão,
o. No interior das praças, deve-se respeitar as marcações e manter o liquidificador, micro-ondas, batedeira, balança, etc) e organizá-los
distanciamento de pelo menos 1,5 a 2 metros do parceiro de em seus devidos locais;
trabalho; b. Higienizar e secar as bancadas, cubas, pias e mesa (deixá-las sem
p. Antes de executar qualquer tarefa no laboratório, realizar o resíduos de alimentos e água);
procedimento de higienização das mãos conforme o cartaz c. Lavar a esponja e o perfex, deixando-os sem nenhum resíduo de
informativo que se encontra próximo à pia exclusiva para a alimentos;
higienização das mãos; d. Desligar a válvula do gás;
q. Higienizar as mãos sempre a cada 30 minutos ou quando e. Manter as geladeiras e balanças sempre ligadas;
necessário; f. Remover os sacos de lixos das lixeiras e descartá-los na lixeira
r. Realizar troca da máscara a cada 2 horas, mas esta deve ser maior de inox que ficam próximas a porta de saída dos laboratórios.
substituída antes caso fique com excesso de umidade; Vale ressaltar que cada laboratório possui uma lixeira grande de
s. Evitar sair do laboratório. Caso seja inevitável, retirar a dólman e o inox para descarte de lixo.
avental ou o jaleco (deixando-os no laboratório), podendo sair de
touca e máscara. Ao retornar, higienizar as mãos e, em seguida, 6. Controles no recebimento das matérias-primas
vestir novamente o uniforme; 6.1 Fornecedor e transporte de matérias-primas
t. Não fumar dentro do laboratório, nem nas áreas adjacentes; Anteriormente ao recebimento, entrar-se-á em contato com o fornecedor
u. Não coçar partes do corpo, tossir ou espirrar, evitar conversar, tocar para especificar todos os critérios envolvidos no processo de forma a
em dinheiro ou fazer uso de celular durante as atividades de minimizar a transmissão da Covid-19, incluindo condições das matérias-
manipulação de alimentos e de higienização; primas, higiene, conduta pessoal e condições de saúde dos entregadores
v. Ao provar os alimentos, reservar um talher para essa finalidade, e motoristas; condições higiênico-sanitárias do transporte de alimentos e
higienizando-o sempre após sua utilização. Não compartilhar procedimentos que devem ser seguidos durante o recebimento.
utensílios! O transporte de alimentos deverá obedecer às Boas Práticas.
Recomenda-se que os processos de higienização do veículo bem como
5.3 Condutas durante as atividades no laboratório de caixotes, pallets e outros equipamentos e utensílios envolvidos no
ANTES de iniciar a aula prática: processo de transporte sejam reforçadas. Atenção maior deve ser dada às
a. Higienizar as mãos; rotinas de higienização das superfícies em que há maior contato dos
b. Higienizar todas as superfícies de trabalho (bancadas, pias, cubas e trabalhadores, como pegadores em carrinhos de transporte manual de
mesa) antes de começar as atividades; carga, volante, maçanetas, câmbio e caixas usadas para o transporte, os
c. Ler atentamente as instruções contidas nas fichas técnicas, as quais quais devem passar por desinfecção com álcool 70% sempre após
serão disponibilizadas impressas para cada indivíduo; qualquer contato manual.
d. Planejar o trabalho com o colega, dividindo as atividades e Reforça-se a obrigatoriedade de responder o “Questionário de Avaliação
garantindo o distanciamento de 1,5 a 2 metros do começo ao fim da das Condições de Saúde em Tempos de Pandemia” no dia que antecede
aula; a data prevista para a entrega das matérias-primas.
e. Fazer a mise en place antes de iniciar a execução, reunir todo o
material necessário para o desenvolvimento do trabalho 6.2 Manipuladores envolvidos com o recebimento dos alimentos
(equipamentos, utensílios e ingredientes); Os carregadores, motoristas, técnicos e bolsistas devem estar
f. Higienizar todos os utensílios e equipamentos antes de os utilizar. paramentados com uniformes, sapatos fechados, ambos limpos e em
DURANTE a aula prática: bom estado de conservação. Técnicos e bolsistas devem usar jaleco. É
a. Trabalhar com seriedade evitando brincadeiras; necessário que estes usem máscara e obedeçam às regras de utilização,
b. Jamais esquecer que os laboratórios são ambientes de trabalho, manuseio e troca. Além disso, todos precisam higienizar as mãos
submetidos a riscos de acidentes, na maioria das vezes, causados obedecendo a frequência e o procedimento adequados.
por atos inseguros;
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

6.3 Área para recepção de mercadorias Antes da aula prática o monitor deve realizar a higienização dos insumos
Para a realização dessa atividade serão utilizadas três bancadas de aço in natura, separá-los por turma e acondicioná-los dentro dos balcões
inox, previamente higienizadas, sendo a primeira para o apoio aos refrigerados de cada praça.
insumos que estiverem sendo recebidos, configurando uma área suja, e Durante todas essas etapas, o monitor ou qualquer outro bolsista e os
dotada de balança para aferição das quantidades recebidas. A segunda servidores devem atentar para sua higiene pessoal, para a frequente
bancada será utilizada como suporte para os alimentos durante a higiene das mãos, para o correto uso e manuseio das máscaras de
desinfecção e/ou troca de embalagens e a última servirá como apoio aos proteção como forma de prevenir a recontaminação dos alimentos.
alimentos prontos para serem armazenados (área limpa). O fluxograma das etapas de recebimento e armazenamento de insumos
O espaço reservado para o recebimento será demarcado no piso pode ser visualizado na Figura 5.
indicando distanciamento de 1,5m entre cada manipulador. Deve-se
higienizar piso, parede, bancadas, utensílios e equipamentos antes e Figura 5 - Fluxograma de recebimento e armazenamento de insumos
após o término do recebimento dos insumos.
Destaca-se que este espaço dispõe de pia exclusiva para higiene das
mãos completa, bem como borrifadores contendo solução de álcool
70% líquido para desinfecção de superfícies e embalagens de alimentos.

5.4 Higienização das matérias-primas recebidas


No ato do recebimento deve-se borrifar solução de álcool 70% líquido
sobre as embalagens. Em seguida, todas essas matérias-primas serão
conduzidas para a área de armezanamento, onde devem permanecer por
72 horas em uma espécie de quarentena.
Antes de cada aula prática, um bolsista, de preferência o monitor da
disciplina onde esses insumos serão utilizados, irá higienizar os
hortifrútis, de acordo com as Instruções de Trabalho.

5.5 Procedimentos durante o recebimento


Antes do início do recebimento, as condições de higiene do transporte e
dos entregadores (motorista e descarregador) devem ser avaliadas. Essas
informações devem ser registradas em lista de verificação própria. Fonte: Elaborada pelos autores (2020).
Durante o processo de recebimento devem estar presentes um servidor
técnico-administrativo e dois bolsistas. É de responsabilidade do técnico 8. Ações de controle e monitoramento na produção de alimentos
conferir os insumos recebidos, verificando quantidade e qualidade. Os Entende-se que um bom sistema de gestão deve ser baseado em
bolsistas realizarão a desinfecção das embalagens (bolsista 1) e o documentos, pois esse é um elemento importante para a realização de
armazenamento dos insumos (bolsista 2). qualquer processo que envolva comunicação. Além disso, documentos
Permite-se que apenas um funcionário da empresa fornecedora faça o são base de dados que, se bem utilizados, podem minimizar falhas na
descarregamento e condução dos insumos até a área de recebimento. qualidade dos produtos, reduzir a contaminação e facilitar tomadas de
Este funcionário deve seguir as seguintes instruções: decisão (5).
a. Passar álcool em gel nas mãos antes de retirar as caixas do veículo Deve-se destacar que o objetivo da documentação é dar apoio aos
de transporte; servidores e estudantes no sistema de gestão da qualidade, e não o
b. Transportar os insumos a serem entregues até as instalações dos orientar. Desse modo, a documentação para ações de controle e
laboratórios com o apoio de carro de transporte próprio dos monitoramento da produção de alimentos dentro dos laboratórios
laboratórios de gastronomia; preocupa-se com:
c. Lavar as mãos ao entrar nos laboratórios de gastronomia e repetir o ▪ atividades que afetem diretamente o risco de contaminação pela
procedimento quantas vezes forem necessárias; covid-19;
d. Ele deve apoiar os insumos na bancada de recebimento (área suja) e ▪ ações que interfiram na qualidade dos produtos e na sua inocuidade;
ficar na marcação indicada, a 1,5 metros dos demais presentes. ▪ continuidade com os procedimentos de boas práticas já praticados;
Logo após, o técnico deve conferir as mercadorias e, estando todas em ▪ apresentação do funcionamento dos Laboratórios de Gastronomia
conformidade, o Bolsista 1 deve colocá-las na segunda bancada, realizar perante os discentes e docentes do curso, o Instituto de Cultura e
a desinfecção das embalagens e colocá-los na terceira bancada (área Arte (ICA) e os departamentos externos.
limpa). No Quadro 01 estão descritas as ações que exigirão monitoramento,
Caso haja alguma não conformidade nos insumos recebidos e seja registro, funções e responsabilidades. A equipe de técnicos-
necessário fazer a devolução, estes devem ser colocados em um pallet no administrativos do curso de Gastronomia, em consonância com seus
chão, afastado pelo menos 1,5 m da bancada (área suja). professores e alunos, serão responsáveis pela aplicação, monitoramento
Por fim, os insumos que estiverem na terceira bancada (área limpa) e registro dos procedimentos de controle. Entretanto, para que essas
devem ser armazenados pelo Bolsista 2, conforme suas necessidades. medidas de contenção da disseminação da Covid-19 sejam possíveis, é
Ressalta-se que o técnico, os bolsistas e o entregador devem evitar o uso necessário o comprometimento da Gestão Superior da Universidade
comum de quaisquer objetos, utensílios e equipamentos. Se o Federal do Ceará.
compartilhamento for inevitável, todos devem higienizar as mãos e o
material utilizado antes e após o uso, conforme Instruções de Trabalho Quadro 1 - Ações de monitoramento, registro, funções e
correspondentes. No caso de objetos de escritório, realizar desinfecção responsabilidades
com álcool 70% obedecendo a mesma frequência já citada para os outros Monitoramento Função Responsável
materiais. Capacitação dos
servidores,
7. Controle no armazenamento das matérias-primas estudantes e Executar treinamento Servidor
Logo após o recebimento, os insumos não perecíveis devem ser funcionários da (lista de frequência). (Registro)
armazenados na Área de Armazenamento de Insumos Não Perecíveis, empresa
localizada entre as Cozinhas Quente 01 e 02. No dia da aula prática, o terceirizada.
monitor deve selecionar e conduzir todos os insumos a serem utilizados Adequações
na aula para o laboratório, separar conforme ficha técnica e pelas estruturais nos Acompanhar processos
frações de turma. Por fim, deve distribuir em suas respectivas praças, Servidor
laboratórios, salas de solicitação e ações da
sobre as bancadas, identificando-os corretamente. (Registro)
e área de UFC Infra no setor.
No caso dos insumos perecíveis, estes devem ser armazenados nos recebimento.
refrigeradores ou congeladores e freezers localizados nos laboratórios. Execução de Aplicar lista de Funcionários
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

procedimentos de verificação de higiene do terceirizados Biossegurança e condutas nos laboratórios


Estudantes (curso à
higienização almoxarifado, hall de (Operacional) de gastronomia: Cenário de retorno às
distância)
ambiental geral. acesso aos laboratórios, Servidor aulas em tempos de COVID-19
laboratórios, área de (Registro) Biossegurança e normas laboratoriais no
Servidores, bolsistas e
recebimento, escritórios. retorno às atividades presenciais em
monitores.
Execução de tempos de COVID-19
procedimentos de Fonte: Elaborada pelos autores (2020).
Aplicar lista de
higiene nos
verificação de higiene
ambientes Servidor 9. Conclusão
dos escritórios (sala
administrativos (Registro) No que diz respeito às atividades de aulas práticas e o processo de
técnica, gabinetes e
(mesas, material produção de alimentos, com vistas a garantir um ambiente de
coordenação).
de escritório e aprendizado seguro, foi elaborado este protocolo correlacionando
equipamentos). cuidados, controles e novas condutas em todas as etapas. Foi feita a
Checagem de Registrar presença em determinação de fases que requerem controle para reduzir ou eliminar o
frequência de lista de frequência Servidor risco de contaminação pelo novo coronavírus, sem perder de vista a
servidores e contendo contatos dos (Registro) produção segura de alimentos. Dessa forma, estabeleceu-se um sistema
alunos. discentes. de monitoramento para cada etapa do processo que será controlado. Esse
Aplicar lista de monitoramento ajudará a detectar possíveis falhas nos processos de
Recebimento de verificação de Servidor higienização e condutas. Ademais, irá prover informação a tempo de se
matérias-primas. conformidade do (Registro) fazerem ajustes para assegurar o controle de qualidade sanitária dos
recebimento. alimentos. A adoção dessas medidas tornará viáveis as aulas práticas em
Execução de ambientes laboratoriais e o enfrentamento responsável à pandemia de
Aplicar planilha de Covid-19.
procedimento de Bolsista
monitoramento de
higienização de (Operacional)
perigos na higienização REFERÊNCIAS
hortaliças, frutas e Servidor
de hortifruti e insumos
de insumos (Registro)
embalados. (1) Brasil. NOTA TÉCNICA N° 47: Uso de luvas e máscaras em
embalados.
Execução de estabelecimentos da área de alimentos no contexto do enfrentamento
procedimento de ao COVID-19. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
higienização de Aplicar lista de Estudantes 2020.
equipamentos, verificação de higiene de (Operacional) (2) _____. NOTA TÉCNICA N° 48: Documento orientativo para
utensílios e equipamentos, utensílios Servidor produção segura de alimentos durante a pandemia de Covid-19.
superfícies de e superfícies de trabalho. (Registro) Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2020.
trabalho dentro (3) _____. NOTA TÉCNICA N° 49: Orientações para os serviços de
dos laboratórios. alimentação com atendimento direto ao cliente durante a pandemia
Registro de de Covid-19. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2020.
Registrar em planilha de (4) UFC, Superintendência de Infraestrutura e Gestão Ambiental. Plano
acidentes com Servidor
registro de acidente de de Retomada às Atividades Presenciais in Plano Pedagógico de
faca, queimaduras (Registro)
trabalho. Emergência. Fortaleza: UFC, 2020. Disponível em:
ou quedas.
Execução de https://prograd.ufc.br/wp-content/uploads/2020/08/plano-pedagogico-
procedimento de Registrar a temperatura Estudantes de-emergencia-ppe.pdf, acesso em 20 de julho de 2020.
controle de final de cocção de cada (Operacional) (5) Bertolino, M. T. (2010). Gerenciamento da Qualidade na
qualidade na produto elaborado Monitor Indústria Alimentícia: Ênfase em Segurança dos Alimentos. Porto
cocção de durante a aula. (Registro) Alegre: Artmed.
alimentos.
Funcionários
Coleta de lixo Efetuar registro em terceirizados
contendo fômites planilha de controle de (Operacional)
(máscaras). higienização das lixeiras. Servidor
(Registro)
Fonte: Elaborada pelos autores (2020).

Devido à implementação de novas rotinas dentro das cozinhas e ao fato


de que todos os envolvidos executarão atividades que podem redundar
em problemas associados à segurança quanto a contaminação por Covid-
19, vê-se a necessidade de se certificar de que todos estão
conscientizados e possuem a competência para realizar as atividades
didáticas. Além disso, deseja-se encorajar os estudantes a relatar falhas
nas práticas que possam conduzir a problemas de contaminação ou
desvios nos parâmetros de qualidade dos alimentos. Para isso, em
momento oportuno e anterior ao início das aulas práticas, serão
executados treinamentos com todos os envolvidos. As temáticas serão
voltadas para público-alvo específico conforme está especificado no
Quadro 2.

Quadro 2 - Atividades de capacitação


Capacitação Público-alvo
Biossegurança e Higiene Ambiental nos Funcionários
Laboratórios de Gastronomia terceirizados
Estudantes (antes do
Biossegurança e normas de condutas:
início de cada aula
você é agente no controle da Covid!
prática - vídeo)
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Alface do Mar: Possibilidade de Uso na Culinária do Alagoano.

AUTORES: LISBOA, Viviane1 MENEZES, Rita2 PEDROSA, Linda3 PURCELL, Cristiana4, ACIOLI, Maria de
Fátima5
1-3
Graduandas do Curso Superior em Gastronomia pela Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT - E-mail:
vivialbuquerque_al@hotmail.com
4
Profª Orientadora Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT.
5
Profª Drª Co Orientadora Docente do Curso de Gastronomia da Faculdade de Tecnologia de Alagoas – FAT.

Palavras-chave: Macroalgas. Algas comestíveis. Ulva lactuca.

Introdução A pesquisa consistiu nas seguintes etapas: coleta de


O litoral brasileiro tem uma grande diversidade de material (alga alface do mar) para preparo da farinha a
algas e no litoral de Alagoas, situado numa região ser acrescida ao beiju; Preparo da farinha de alface do
tropical, com grande extensão de recifes de arenito, a mar e adição à farinha do beiju, com testes para definir
alface do mar é uma das mais facilmente encontradas. a melhor proporção de adição da farinha de algas à
Trata-se de uma alga verde pertencente ao gênero Ulva farinha de beiju e confecção dos Protocolos Práticos da
e ao filo das Chlorophytas cujo nome científico é Ulva farinha de alface do mar e do beiju; Elaboração do
lactuca. (1) É uma macroalga comestível, rica em questionário de análise sensorial;Teste do beiju de
proteínas, glicídios e vitaminas, principalmente C, A e tapioca enriquecido com farinha de alface do mar e
D, contendo elevados teores de ômegas 3 e 6, aplicação do questionário de avaliação sensorial e
carotenóides e fitoesteróides, sais minerais como iodo, tabulação e análise dos dados.
potássio, bromo, cloro, magnésio, fósforo, cálcio e As datas ideais para a realização da coleta do insumo
ferro, além de ser pobre em gorduras. (2,3) Seu nas praias do litoral foram escolhidas seguindo a
elevado teor de fibras de baixo valor calórico, permite orientação técnica do Laboratório de Ficologia da
ser parte importante de uma dieta equilibrada e UFAL, realizada em mare mais baixa possível, em
saudável, auxiliando no controle da saciedade e do praia de boa balneabilidade, de acordo com relatório do
trânsito intestinal. Este insumo pode compor um Laboratório de Estudos Ambientais, do Instituto do
cardápio de baixo custo, dado a ser facilmente Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA).
encontrada em toda a região costeira e tem uso versátil A coleta de espécies de alface do mar ocorreu no dia
na gastronomia. 20/09/2019 na Praia de Tabuba, litoral Norte de
Atualmente, não há estudos sobre o uso de algas, em Alagoas, à 35km de Maceió, na cidade de Barra de
especial da alface do mar, na alimentação humana em Santo Antônio, com a maré em 0.2, no horário da
Alagoas, o que resultaria em enriquecimento calórico e manhã.O material coletado correspondeu a cerca de
de micronutrientes a alimentação da população local, 300g de algas, acondicionado em caixa térmica, para
com baixo custo. higiene e armazenamento. As folhas foram lavadas em
O objetivo do atual artigo foi testar a aceitação de uma água corrente, para retirada de impurezas, cortadas e
alternativa alimentar preparada a partir do insumo secadas com papel absorvente e submetidas a
alface do mar em Maceió, Alagoas. A técnica de desidratação em forno convencional, à temperatura de
avaliação sensorial foi usada como ferramenta de 110ºC por cerca de 30 minutos, resultando em 20g de
análise da aceitação do produto junto ao consumidor. produto seco, de cor verde-cana, odor e sabor
pronunciados de maresia. Após esfriar, o material foi
Material e Método guardado em um depósito hermeticamente fechado.
Segundo a literatura consultada, a alface do mar se Os dados do questionário foram digitados na
presta a diferentes preparações, em estado natural ou plataforma Epi-info versão 7.2.3.1, onde as variáveis
desidratada.(4,5) A escolha do método de desidratação foram tabuladas e os resultados dispostos em tabelas e
se deu pela praticidade na conservação e visando um gráficos.
melhor aproveitamento do insumo, apesar de resultar
na redução do volume de insumo disponível. Resultados
A opção da preparação, obedeceu ao critério da Foram realizados 57 testes sensoriais com banhistas da
praticidade no preparo e de distribuição e por se tratar Praia de Ponta Verde, escolhidos de forma aleatória,
de um alimento típico da região, foi escolhida a adição dentre os presentes ao local no dia 28/10/2019. Dos
da farinha obtida pela trituração da alface do mar entrevistados, 31 (54,4%) pessoas se identificaram do
desidratada, ao beiju de goma de tapioca, conforme sexo feminino e 26 pessoas (45,6%) do sexo
protocolo previamente testado. masculino. A faixa etária entrevistada foi de 17 a 68
O teste sensorial foi realizado em um único dia, na anos, estratificada em 17 a 30 anos, 31(62%)
Praia de Ponta Verde, quando foram oferecidas indivíduos e de 30 a 68 anos, 19 (38 %) indivíduos.
amostras de beiju de tapioca e alface do mar aos Dentre os entrevistados, 19 pessoas (33,3%)
banhistas, que ao final da degustação, respondiam ao consideraram o produto ótimo, e 23 pessoas (40,3%)
questionário previamente preparado, sendo obtidana consideraram bom, perfazendo uma aceitação de 73,7%
análise sensorial das produções a avaliação qualitativa e 7 indivíduos não gostaram do produto(12,3%).
do produto. Usando uma escala de 0-10, a qualidade geral do

619
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

produto recebeu nota ≥ 7 em 44 casos (78,2%). 2 a maioria dos entrevistados (71,9%) não ter
pessoas não responderam a este item, que obteve nota identificado o sabor como algo conhecido.
zero em 5 casos (9,1%) e 12 pessoas (21,9%) deram Cerca de 78% dos entrevistados deram uma nota global
nota 10 ao produto. igual ou superior a sete ao produto. A escolha da faixa
Os aspectos aroma, sabor e visual foram avaliados etária de adolescentes e adultos foi uma decisão dos
separadamente, resultados em gráfico 1. pesquisadores, pela necessidade de autorização parental
de consumo por parte das crianças e para que
pudéssemos avaliar uma população que
tivesseautonomia na compra do insumo.
A avaliação separada dos itens aroma, sabor e visual
permitiu identificar uma pequena diferença entre a
aceitação de sabor, aroma (68,4%) e visual (80,7%),
mas o pequeno tamanho da amostra não nos permitiu
inferir significância estatística ao resultado obtido.

Grafico1. Análise sensorial de beiju enriquecido com farinha de Conclusões


alface do mar: qualidades organolépticas . A alface do mar se presta a diversos outros preparos,
que, considerando os resultados do teste realizado neste
Um total de 41 pessoas (71,9%) relataram não ter estudo, podem e devem ser criados, testados e
provado aquele sabor anteriormente, 46 pessoas agregados a nossa culinária.
(80,7%) indicariam o produto a amigos e 37 pessoas O presente estudo demonstrou uma boa aceitabilidade
(64,9%) comprariam o produto no mercado. da farinha de alface do mar desidratada por parte dos
entrevistados, atestada inclusive pelo número de
Discussão pessoas que afirmaram indicar e adquirir o produto
A alface do mar é um insumo ainda não explorado em caso estivesse a venda.
nossa região. Neste estudo, desenvolvemos um beiju de Os resultados apesar de ainda incipientes, abrem
tapioca, ao qual foi acrescido de uma farinha feita a perspectiva para a continuidade do estudo, para maior
partir de alface do mar desidratada e triturada. embasamento técnico e teste de outras preparações com
O beiju é uma iguaria de origem indígena, tipicamente esta e outras espécies de algas locais, com vistas ao
encontrada na região nordeste e preparada a partir da preparo de iguarias que possam ser consumidas pela
goma de tapioca caroçuda, molhada em água e após população local e incrementar o turismo no nosso
secagem, acrescida de sal a gosto. Sua escolha se deveu Estado.
a se tratar de um produto típico e muito apreciado na
culinária alagoana, além de ter baixo custo, e ser fácil Referências
de preparar e distribuir. 1.VERTANO E SILVA, A. C., SILVA, M. J. F da,
Na sua preparação utilizamos 2 % de uma farinha VILA NOVA, L. L.M., OLIVEIRA, F. A. de,
obtida com a trituração das algas, com cheiro típico de GUEDES, E. A. C. Biodiversidade de algas marinhas
maresia, coloração verde-cana e sabor acentuado de bentônicas do litoral do estado de Alagoas: praia de
água do mar e um discreto amargor de retrogosto. O São Miguel dos Milagres, Notas de estudo de Ecologia,
resultado obtido foi uma farinha de beiju com uma 2019.
coloração esverdeada e sabor marcante de maresia. As 2. CARNEIRO, J. G., RODRIGUES, J.A.G., TELES,
farinhas se agregaram de forma satisfatória, sem que F.B. C., DANTAS, A.B. BENEVIDES, N.M.B.
houvesse predomínio de um sabor sobre o outro. Analysis of some chemical nutrients in four Brazilian
Não houve nenhuma observação por parte dos tropical seaweeds / Análise de alguns nutrientes
entrevistados acerca de sensação de sabor amargo de químicos em quatro algas marinhas tropicais
retrogosto, que consideramos ser resultante do sabor da brasileiras. Acta sci., Biol. sci; 36(2): 137-145, abr.-
própria alga, mas pode também ser resultado do modo jun. 2014.
de secagem do produto. Ao optarmos por um processo 3.MOURA, J. A.; FERREIRA, D. C.; AMARAL, R.
de desidratação em desidratador com temperatura Q. G. do. Algas marinhas na alimentação. Revista
controlada e inferior à usada neste experimento, Encontros Universitários da UFC, Fortaleza, v. 1, n 1,
possivelmente não haveria exacerbação do gosto 2016. (Encontro de Experiências Estudantis 9).
amargo. 4.MOTA, N. S. et al. Macroalgas marinhas
A análise sensorial é uma ferramenta de aferição que, comestíveis: tendências tecnológicas, Cad. Prospec.,
apesar de subjetiva, se mostra adequada a sua Salvador, v. 7, n. 2, p. 118-129, abr./jun. 2014
finalidade, desempenhando um papel importante na 5. PEREIRA, L. As algas na alimentação humana.
análise mercadológica, sendo frequentemente usada Revista da Marinha., 1005, setembro/outubro 2018.
pelas indústrias ao desenvolver e a controlar os seus <www.revistadamarinha.com.>Acessadoem
produtos. Seu uso tem como objetivo aferir a aceitação 25/10/2019.
do produto final, por parte do consumidor. (6) 6.TEIXEIRA, L.V. Análise sensorial na Indústria de
A análise sensorial do beiju enriquecido com farinha de Alimentos. Rev. Inst. Latic.”Candido Tostes”, Jan/fev,
alface do mar demonstrou uma boa aceitação do nº366, 64: 12-21, 2009.
produto por parte dos entrevistados (73,3%), apesar de

620
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

Gastronomia Árabe na Cidade Turística de Caldas Novas (GO/Brasil): trânsitos culturais e


mobilidades
Celio Roberto de Oliveira Filho¹, Jean Carlos Vieira Santos²
¹ Graduando do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da UniCesumar (celio_nano@live.com), ² Professor
Doutor da Universidade Estadual de Goiás – UEG.

Palavras chave: Alimentação; Trânsito de Pessoas; Turismo; Povos Árabes; Cultura.

Introdução Nessa perspectiva, a gastronomia tem sido tratada como bem


A gastronomia ocupa um lugar de destaque em nível global na cultural imaterial pelas autoridades patrimonialísticas, considerados
qual é considerada Patrimônio Mundial da Humanidade pela “os saberes e fazeres acumulados nas receitas ao longo do tempo.
UNESCO. A atribuição desta classificação é enquadrada pela Trata-se, entretanto, de um saber fazer que só em décadas recentes
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial e é mereceu ser integrado a estudos acadêmicos que incluam sua
atribuída a todo aquele patrimônio que deve ser salvaguardado e o magnitude social e patrimonial” (6).
qual consiste no reconhecimento dos usos, representações, expressões, Dessa forma, é importante sublinhar que a imigração árabe no
conhecimentos e técnicas transmitidos de geração em geração e que Brasil reveste-se de sentido positivo, tanto para os brasileiros natos
infundem nas comunidades e grupos um sentimento de identidade e quanto para árabes de qualquer descendência. Uma imigração
continuidade (1). consciente, calculada, com objetivos a cumprir tanto por parte dos que
Em Caldas Novas, principal destino turístico goiano (de águas ficaram na terra de origem, quanto por parte dos que imigraram. Nesse
termais), a gastronomia pode ser encarada como uma forma de sentido, essa imigração não foi aleatória, mas objetivou sanar
expressão cultural, especialmente a cozinha goiana que se afirma no necessidades básicas, preencher lacunas no país de origem, melhorar a
seu espaço urbano como um elemento marcante da identidade cultural situação econômica, eliminar o desemprego, bem como o domínio
da cidade turística, potencialmente, um importante atrativo turístico- otomano. (7).
cultural do lugar. No entanto, é possível observar uma A gastronomia árabe tem apresentado tanto pratos tipicamente
heterogeneidade de cozinhas e alimentos internacionais na cidade, o dos países de origem árabe, quanto adaptações da culinária com
que proporciona uma mistura de diferentes povos, tornando sua diferentes ingredientes e aspectos regionais brasileiros, como a esfiha
culinária o resultado da soma de diversas culturas. Nesse contexto, de frango, produto encontrado com facilidade pelos visitantes da
destaca-se a culinária árabe no urbano caldas-novense. cidade turística goiana. As pessoas, de um modo geral, são ligadas a
Assim, diante desse cenário, é fundamental sublinhar que a vinda modismo, porém, devemos ressaltar que, a gastronomia árabe deixou
de sírios e libaneses para o Brasil tem início no fim do século XIX e de ser modismo há muitos anos, pois é comum sair para comer um
início do século XX, o que provocou um processo de mobilidade e quibe, uma esfiha ou mesmo um carneiro assado.
trânsito cultural estrangeiro para o interior do país, especialmente para Sendo assim, foi observado empiricamente que para a cidade de
as cidades do centro-oeste. Esse processo histórico da chegada dos Caldas Novas, o turismo e as outras atividades (gastronomia,
povos árabes as diversas regiões do Brasil, teve impacto inicial na área hotelaria, artesanato, lazer etc.) ligadas a esse segmento representam
comercial, mas com o passar do tempo teve implicações culturais na uma alternativa socioeconômica, no âmbito da cidadania, de geração
sociedade, fazendo surgir novas opções comerciais ligadas a de emprego e fonte de renda; da promoção do desenvolvimento
gastronomia (2). econômico e cultural nas bases local e regional; e da conservação de
Desse modo, o principal objetivo deste trabalho foi analisar a recursos históricos e patrimoniais que contribuem para a criação e
relação da gastronomia árabe com o turismo na cidade de Caldas desenvolvimento de produtos turísticos diversificados, respondendo a
Novas, buscando compreender se essa cozinha estrangeira é um diversos tipos de motivações (8).
importante componente cultural ou atrativo turístico em um cenário Destarte, o ato de consumir uma esfiha e outros produtos árabes
marcado pela tradição dos pratos do cerrado goiano. passou a ser comum para os turistas calda-novenses, fazendo crescer
outros hábitos gastronômicos no urbano turístico. Portanto, estar em
Material e métodos um pequeno restaurante árabe é viver um comportamento que é local,
O presente trabalho buscou como caminho metodológico a que faz parte, sem dúvida, de uma hospitalidade que é instrumento
abordagem qualitativa, por meio de observações e trabalhos de campo. indispensável para as relações da cidade turística.
Desse modo, a pesquisa qualitativa, aqui proposta, é uma linha de
investigação que não procura seguir um plano elaborado com rigidez. Conclusões
Tal método é concebido, “[...] principalmente, numa perspectiva Por fim, a reflexão realizada neste artigo mostra que o hábito
compreensiva” (3). Assim, as leituras teóricas são fundamentais. alimentar está ligado a cultura e costumes de um povo, estando em
Portanto, uma ordem indispensável para a construção da pesquisa constante mudança, pois sofre inúmeras influências, assim
documental foi o levantamento das referências. construindo uma identidade cultural ou se tornando um atrativo do
Assim, uma ordem indispensável para a construção da pesquisa lugar. Foi percebido durante os trabalhos de campo que para os
documental (levantamento das referências), foi recorrer aos serviços turistas a gastronomia remete a uma dimensão sensorial
de periódicos eletrônicos e biblioteca da Universidade Estadual de continuamente associada ao prazer de comer e ao gosto pela comida.
Goiás (UEG). Nesse sentido, é fundamental conhecer o que é
gastronomia e apresentar o processo histórico da chegada dos povos Referências
árabes em Caldas Novas, uma mobilidade que proporcionou a (1) SANTOS, J. T.; PINTO, P. S. L. G. dos S.; GUERREIRO, M. O
inserção de uma cultura alimentar estrangeira no cotidiano urbano do contributo da experiência gastronômica para o enriquecimento da
território turístico. experiência turística. Perspectivas de um estudo no Algarve, Portugal.
In: Revista Turismo - Visão e Ação - Eletrônica, Vol. 18 - n. 3 - set. -
Resultados e discussão dez., p. 498-527, 2016.
Desse modo, pode-se sublinhar que o termo gastronomia
encontra-se vulgarmente associado a uma utilização sofisticada de (2) SAFADY, Jamil. Panorama da Imigração Árabe, in "Obras
alimentos e a um comportamento requintado do seu consumo. Nesse Completas", Vol. 1, Comercial Safady Ltda: São Paulo, 1972.
contexto, Freixa e Guta (4) arrazoam que “desde tempos remotos as
pessoas não se alimentam movidas apenas pela necessidade de (3) MATOS, P. F. de; PESSÔA, V. L. S.. Observação e entrevista:
sobrevivência, mas também por puro prazer”. Então, o que é, afinal, construção de dados para pesquisa qualitativa em geografia agrária.
gastronomia? In: RAMIRES, J. C. de L.; PESSÔA, V. L. S. Geografia e pesquisa
qualitativa: nas trilhas da investigação. Uberlândia: Assis, 2009.
[...] a origem da palavra. Vem do grego gaster (ventre, estômago) e
nomo (lei). Traduzindo, literalmente, “as leis do estômago”. Quem (4,5) FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no
criou o termo foi o poeta e viajante grego Arquestratus, no século
IV a.C. [...] Muito tempo depois, no final do século XVIII, a
Mundo. Rio de Janeiro: Senac, 2009.
palavra voltou à tona e o conceito se expandiu graças a um escritor
apaixonado pelos prazeres da mesa, o francês Brillat-Savarin. (5).

621
Inovação e Tecnologia na Gastronomia

(6) PERINI, K. P.; GASTAL, S. Italianidade como Herança Cultural:


a gastronomia de imigração na região turística da Serra Gaúcha. In:
Turismo: Estudos & Práticas (RTEP/UERN), Mossoró/RN, vol. 6
(Número Especial), p. 78-100, 2017.

(7) RICARDO ABDALLA, A.; BASTOS, Sênia Regina.


Alimentação e memória árabe na área central da cidade de São Paulo.
Contextos da Alimentação – Revista de Comportamento, Cultura
e Sociedade, Vol. 3 nº 2, p.27-36 – Maio de 2015.

(8) SALES, T. K. P.; FREITAS, D. P. de; SANTOS, J. C. V. Inovação


e desenvolvimento econômico-sustentável: uma análise sobre as micro
e pequenas empresas do setor de alimentação na cidade turística de
Caldas Novas (GO). In: Turismo: Estudos & Práticas, Mossoró, v.
6, n. 1, p. 50-68, 2017.

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