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“ EmVelhoSer : Solidão vs.

Rede Social” / Estudo Caso

Instituto Politécnico de Portalegre


Escola Superior de Educação de Portalegre
Escola Superior de Saúde de Portalegre

Mestrado Em Gerontologia
1ºAno / 1ºSemestre
Unidade Curricular: Gestão e Administração de Serviços Gerontologia
Docente: Professor Doutor Abílio Amiguinho

LAR DOCE LAR


ESTUDO CASO

Mestrando: Vítor Pires n.º 5840

Janeiro 2015
Instituto Politécnico de Portalegre
Escola Superior de Educação de Portalegre Escola Superior de Saúde de Portalegre
“ Lar Doce Lar” / Estudo Caso

Mestrado Em Gerontologia
1ºAno / 1ºSemestre
Unidade Curricular: Gestão e Administração de Serviços Gerontologia
Docente: Professor Doutor Abílio Amiguinho

LAR DOCE LAR


ESTUDO DE CASO

Mestrando: Vítor Pires nº 5840

Janeiro, 2015

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Fora de mim

É nas velhas casas, onde parece flutuar ainda a penumbra dourada do passado,
que se recebe, mais perdurável e mais viva, a impressão da família e do lar.

Júlio Dantas

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RESUMO

No presente trabalho de apresentação de um estudo caso, evidencia-se a


importância da existência de relações e suportes sociais para colmatar a solidão e o
isolamento, assim como a diversidade de carências que afetam a população idosa. Faz-
se uma reflexão dos conceitos de solidão e depressão perante o fenómeno de
envelhecimento. Pretende-se identificar as causas, as consequências e as respostas
sociais dirigidas à população idosa em Portugal, fazendo face à solidão, à depressão e
à diminuição das capacidades, características deste grupo etário.
Faz-se uma abordagem acerca da institucionalização do idoso, as suas causas, os
seus benefícios e as contrariedades associadas a esta profunda modificação na vida
dos indivíduos.

Palavras-Chaves: Solidão; Depressão; Envelhecimento, Institucionalização.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CDLNSGD - Centro de Dia e Lar de Nossa Senhora da Graça de Degolados


HDLMG – Hospital Dr. José Maria Grande
AVD’s- Atividades de Vida Diária
AVC - Acidente Vascular Cerebral
PTA – Prótese Total da Anca
UCC – Unidade de Cuidados Continuados

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ÍNDICE

Pág.
LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... 5
ÍNDICE ........................................................................................................................... 6
1.INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 7
2. ESTUDO CASO – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE ............................................ 9
3. INTERVENÇÃO SOCIAL...................................................................................... 12
4. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 15
5. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 17

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1. INTRODUÇÃO

No âmbito da Unidade Curricular de Gestão e Administração de Serviços


Gerontológicos, presente no plano de estudos do Mestrado em Gerontologia, foi-nos
proposto pelo docente da mesma, a realização de um trabalho final em que se
realizasse a apresentação, análise e resposta social de um estudo caso.
Coutinho (2003) refere que quase tudo pode ser um “caso”: um sujeito, uma
personalidade, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo um
país. Benbasat et al (1987) menciona que um estudo de caso deve ter em conta as
seguintes particularidades: deve ser um fenómeno estudado no ambiente natural do
individuo em estudo.
O presente estudo de caso irá incidir sobre a utente AR, uma idosa de 78 anos de
idade, viúva, reformada e natural de Campo Maior, distrito de Portalegre.
A utente AR encontra-se atualmente institucionalizada no Centro de Dia e Lar de
Nossa Senhora da Graça de Degolados desde o dia 4 de Novembro do ano de 2010.
O processo de institucionalização, simbolizado pela saída do idoso da casa onde
morou, pode ser longo ou curto e comporta um conjunto de etapas tais como a decisão
relativa à institucionalização, a escolha de um lar e a adaptação/ integração na nova
residência (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004)
A vinda para o Lar decorreu, desde o seu início, com algumas intercorrências
relacionadas com a não-aceitação por parte da idosa sobre a sua condição. A utente
AR não apresenta quaisquer défices ao nível das funções cognitivas, centrando-se as
suas limitações numa diminuição da acuidade visual corrigida com o uso de óculos e
numa diminuição da força motora corrigida com a utilização de canadianas para ajudar
na deambulação e realização das AVD’s.
A utente AR foi institucionalizada seguindo as indicações do Psiquiatra do HDJMG
de Portalegre, onde esteve internada, após uma tentativa de suicídio, provocada com
a ingestão excessiva de medicação.
A conceção idílica de que as últimas décadas de vida poderão assemelhar-se a um
período de serenidade, comparável a um entardecer tranquilo, está longe de
corresponder à realidade para a maioria das pessoas. O idoso passou de uma fase, no
passado, na qual lhe era atribuído um grande valor e respeito para uma época, atual,
de forte desvalorização (Silva, Moreira e Borges, 2007).

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O processo de adaptação a toda esta plenitude de alterações nem sempre é fácil


e é muitas das vezes acompanhado por reações e atitudes que podem por em causa a
segurança quer do idoso, quer dos restantes elementos institucionalizados.
Existem, ao longo do processo de envelhecimento, situações a que a pessoa idosa
tem que se adaptar (reforma, problemas de saúde, viuvez, e em alguns casos a
institucionalização). Uma melhor ou pior adaptação dependerá fundamentalmente de
muitos fatores: manutenção das atividades da meia-idade, satisfação com as suas
atividades e com a vida em geral e fulcralmente a qualidade da rede social (Oliveira,
2008). A inadaptação ou recusa ao processo de Institucionalização pode gerar
problemas sociais como o isolamento, a solidão e a depressão.

A solidão na terceira idade é um problema crescente, “A solidão, o isolamento, ao


significarem uma rarefação das relações sociais e um vazio afetivo, funcionam como
fatores stressantes, obrigando a um esforço de superação, muitas vezes vivido através
de comportamentos agressivos, de grande ansiedade ou de depressão” (Monfort, 2001,
cit. por Quaresma, 2004:46, cit. por Freitas, 2011:20). Este tipo de situações podem
condicionar a situações de morte, quer por falta de apoio na satisfação de cuidados
essenciais às condições básicas de vida, quer por suicídio. Segundo, Marques e
Ramalheira (2006:244), “a doença física, a dor crónica, a incapacidade funcional e o
isolamento/solidão social são o contexto propício para o aparecimento de depressão e
de suicídio no idoso.”
O sentimento de solidão desenvolve-se em casos de vivências isoladas, mas
também no seio das próprias famílias (abandono familiar) e em instituições. Existe falta
de comunicação, participação social e afetiva (Freitas,2011).
É de extrema importância sublinhar que, com o processo de envelhecimento, o
entusiasmo e a motivação tornam-se diminuídos pelo que são necessários estímulos
maiores para fazer com que o idoso se interesse por coisas novas. A depressão
constitui uma patologia com a capacidade de afetar o corpo como um todo já que afeta
o sono, o apetite, a disposição física e diversos aspetos psicológicos, nomeadamente
a autoestima e a autoconfiança, e ainda confere um tom pessimista a tudo o que o idoso
faz, sente e percebe do mundo que o rodeia (Borges e Rauchbach, 2004).

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2. ESTUDO CASO – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE

A Sr.ª AR é uma idosa de 78 anos de idade, reformada e viúva. Vivia sozinha e viu
a sua autonomia e independência comprometidas desde que o seu estado de saúde se
agravou. Quando viver no seu domicílio se torna numa fonte de instabilidade e forma
que contribui para um aumento da vulnerabilidade para o idoso, pode pensar-se na
possibilidade de realojamento. De acordo com Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004),
esta hipótese emerge em três momentos típicos: a morte do conjugue, ocorrência de
uma queda e aparecimento de uma doença.
A utente é diabética insulinodependente (Diabetes Mellitus tipo 2), hipertensa e
foi submetida a uma colocação de PTA à esquerda no ano de 2004. Em Outubro de
2010 sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que lhe deixou algumas sequelas
motoras e uma ligeira diminuição do estado cognitivo, denotando-se principalmente em
crises de ansiedade e depressões sucessivas. Após ter sofrido o AVC, a utente esteve
internada no serviço de Medicina Ala Direita do HSLE durante 12 dias, sendo
referenciada para uma UCC de forma a dar continuidade à sua recuperação e
reabilitação das suas capacidades e da sua autonomia. A realização das AVD´s é
avaliada por um maior ou menor grau de dependência a nível da higiene, alimentação,
eliminação e mobilização. (Araújo, Ribeiro, Oliveira & Pinto,2007). Aparentemente a
utente encontra-se num estado semi-independente, ou seja, necessita de ajuda ou
assistência parcial para realização da atividade de vida higiene e conforto, assim como
também usa fralda de proteção para colmatar alguns episódios de incontinência urinária
que possam ocorrer.
A utente sente um agravamento de alguns sintomas, como ansiedade, estado
depressivo e deprimido, principalmente em épocas festivas ou em datas com alguma
relevância, como o sejam as datas de aniversário, data de falecimento do esposo e
épocas festivas.
A sua situação sociofamiliar é algo complexa, e condicionou a sua vinda para o Lar.
A Sr.ª AR tem um filho que se preocupa muito com o seu estado e com a sua situação
e adaptação à nova realidade em que foi inserida, trata-se de um familiar responsável,
compreensivo e disponível para tentar solucionar todos os problemas que se relacionem
com a sua mãe.
O Sr. LR, filho da utente AR, é agente da brigada de Trânsito da Guarda Nacional
Republicana e desempenha a sua atividade laboral na cidade de Évora, o que o
impossibilita de prestar o apoio necessário à sua progenitora com a disponibilidade e a
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atenção que neste momento ela requer. Antes de sofrer o AVC a utente AR vivia sozinha
em domicílio próprio, sendo autossuficiente na realização de todas as tarefas e
atividades de vida.
O suporte social é essencial, quanto maior é o número e a intensidade dos
relacionamentos, maior será a importância de uma rede social (Freitas,2011).
Classifica-se assim, a rede social informal da Sr.ª AR como deficitária, não tendo o
apoio necessário às suas necessidades e ao seu bem-estar.
Para obter uma vida equilibrada na terceira idade é essencial a continuidade no
meio familiar e social, o apoio prestado pela família e amigos é no geral o mais adequado
às necessidades de cada individuo (Pimentel,2005). No que se refere à situação da Sr.ª
AR esta situação sofreu um compromisso com a diminuição e agravamento do seu
estado geral, assim como a sua necessidade de recorrer a terceiros para suprir e
complementar as suas necessidades básicas. Como foi referido anteriormente, a
indisponibilidade por parte do filho, em visitá-la diariamente e aceder a todos os seus
anseios e pedidos, condicionou o estado psicológico da Sr.ª AR, levando-a a tentar por
diversas vezes concretizar o suicídio.
Young (1982) define a solidão como “a ausência ou a ausência percecionada de
relações satisfatórias, acompanhada de sintomas de mal-estar psicológico” e propõe
que “as relações sociais possam ser tratadas como uma classe particular de reforço”.
Para o autor a solidão “pode ser vista como uma resposta à ausência de reforços sociais
importantes” (citado em Neto, 2000, p.322).
Segundo Mullins (1996), cit. por Neri (2008), o sentimento de solidão é mais sentido
por mulheres idosas, idosos solteiros, idosos viúvos e idosos divorciados. A manutenção
de relação com os filhos é fundamental e imprescindível.
No caso em estudo, a Sr.ª AR apesar de manter um bom relacionamento com os
seus familiares e com os seus vizinhos, o agravamento da sua situação condicionou o
facto de poder continuar a bastar-se por si própria. Viver só, não significa perda do senso
de bem-estar subjetivo. Para Weiss (1973,cit. por Neri, 2008) existe uma diferença entre
o isolamento emocional, e o isolamento social, no que se refere ao nível da qualidade
que o individuo tem com a sua rede de suporte social. Estes dois conceitos podem
relacionar-se com a experiencia de solidão e resultam, na maioria das vezes, do fraco
relacionamento social.
Na situação em estudo verificamos que predomina um isolamento emocional
conexo à solidão, uma vez que a utente vive numa zona residencial e mantem um

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contato familiar e social próximo, embora este não corresponda ao desejável e


necessário. Esta situação provoca-lhe sentimentos de carência de envolvimento social
provocados por fatores como o declínio da saúde, a perda de autoestima e a
personalidade (Neri, 2008).
“A solidão é uma experiência emocional aversiva e stressante relacionada à
inexistência, ao afastamento ou à perda de relações afetivas significativas. Não tem uma
relação necessária com o isolamento social. A solidão pode ser mais ou menos
stressante, dependendo da desejabilidade dos contatos disponíveis e das oportunidades
que a pessoa tem para alterar a situação que lhe parece insatisfatória” (Neri, 2008:192).
Segundo Weiss (1973) existem dois tipos de solidão, a social e a emocional. A
solidão social é a que surge na falta de integração social, como nos casos de isolamento
social. A solidão emocional desenvolve-se na ausência de uma figura segura, como um
parceiro. Contrariamente à solidão social que é facilmente resolvida com a aquisição de
novos contactos, a solidão emocional é muito difícil de compensar. Apesar de existirem
indivíduos mais vulneráveis que outros, depreende-se que estes dois tipos de solidão
sejam bastante prevalentes na população geriátrica. De facto, a perda de amigos e
familiares faz parte do processo de envelhecimento e é notória a dificuldade em
encontrar compensação pela grande dificuldade em obter novos contactos.
As noções de “felicidade” e de “bem-estar” sempre estiveram associadas à conceção
comum do que é ter uma vida satisfatória. Concernem para a noção do que aquilo que
é importante para uma boa vida não está na presença de um conjunto específico de
circunstâncias e nas condições objetivas que se possuem, mas sim no impacto que
estas têm sobre a forma como as pessoas se sentem na vida. Permite, por um lado,
avaliar quais as circunstâncias e as condições que são importantes para o bem-estar
subjetivo e, por outro lado, ajuda a medir e a compreender a diferença entre as condições
objetivas de vida que cada pessoa experiencia e a forma como avaliam essas condições
(Dolan, Peasgood, & White, 2008; Kahneman & Krueger, 2006). De modo a
conceptualizar e compreender o conceito de bem-estar subjetivo importa avaliar todo o
universo relativo às relações interpessoais, como o apoio emocional e a manifestação
de afetos.

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3. INTERVENÇÃO SOCIAL

A transferência do próprio lar para uma instituição é sempre um grande desafio para
os idosos, uma vez que se deparam com uma transformação muitas vezes radical do
seu estilo de vida, sendo desviados de todo o seu projeto existencial. Segundo Born
(1996), muitos idosos encaram o processo de institucionalização como perda de
liberdade, abandono pelos filhos, aproximação da morte, além da ansiedade quanto à
condução do tratamento pelos funcionários. Contudo, não devemos esquecer que,
muitas vezes, essa instituição cumpre um papel de abrigo para o idoso excluído da
sociedade e da família, abandonado e sem um lar fixo, podendo tornar-se no único ponto
de referência para uma vida e um envelhecimento dignos.
No caso da Sr.ª AR, a institucionalização no CDLNSGD acabou por tornar-se num
mal menor, uma vez que a utente dispõe de inúmeros familiares que residem em
Degolados e que a visitam habitualmente na instituição, assim como ela também se
desloca às suas casas para sair um pouco da sala de convívio e poder estar em contacto
com uma realidade à qual sempre esteve habituada em toda a sua vida.
O sentido de responsabilidade e de controlo das suas próprias vidas, afirmando que
os problemas ligados ao processo de envelhecimento podem estar na falta desse
controle, quase sempre agravados pela institucionalização, são muitas das vezes
problemas referenciados pelos idosos institucionalizados.
Outro ponto importante centra-se na relação com outras pessoas, mais
precisamente com os parentes e amigos. Sabemos que a rede social pessoal apresenta
uma tendência a diminuir à medida que se envelhece, normalmente a necessidade de
se estar próximo de entes queridos tornar-se, habitualmente, mais intensa quando se
trata do idoso institucionalizado. No que se refere à Sr.ª AR este tipo de problemática é
por demais evidente. Desde o início da sua institucionalização que sempre discordou
com o fato de deixar a sua casa, os seus hábitos e as suas rotinas, no entanto o
aconselhamento por parte do médico psiquiatra do HDJMG de Portalegre, aquando do
seu internamento devido a uma tentativa de suicídio por toma excessiva de medicação
antidepressiva, condicionou em grande medida a decisão do seu filho, no entanto, em
conversa informal com o Sr. LR, compreendemos a sua preocupação com o bem-estar,
a segurança e a felicidade da sua mãe.
A Sra. AR participa em atividades recreativas, lúdicas e de condição física,
proporcionadas pelos diversos técnicos que colaboram com a instituição.
Semanalmente, o padre da freguesia visita a Instituição e durante uma hora celebra uma
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missa, à qual os idosos pertencentes à valência de Centro de Dia também podem


participar. Também semanalmente, a instituição é visitada por um grupo de voluntários
do movimento “Campo Maior Solidário” que trazem papel para promover a elaboração
das flores de papel, assim como interagir com os idosos e estimulá-los de modo a
fomentar um ambiente mais propriocetivo e estimulante.
No que se refere à realização de atividades físicas, quinzenalmente, um professor de
ginástica do município de Campo Maior vem ao Lar e passa uma manhã com os idosos
residentes na realização de diversos exercícios. Para além desta aula, a Sr.ª AR também
realiza diversas caminhadas até casa dos seus familiares, como já foi referido
anteriormente.
Gradualmente, a utente, tem manifestado uma maior capacidade de integração e
de sociabilidade com os restantes utentes. Diz que se sente feliz e segura quando esta
na instituição, no entanto sempre que é questionada e tem a hipótese de ir até sua casa
em Campo Maior, a utente não dúvida e até pede ao filho para ficar mais tempo do que
inicialmente acordado.
No que se refere à medicação, esta é preparada pelo enfermeiro da instituição em
caixas individuais, por utente e por refeição, de forma a manter a segurança quer no
medicamento administrado, na sua dosagem e na hora de administração. Contudo, uma
vez que a utente AR sabe ler e escrever e é diabética há muitos anos, diariamente, ela
realiza os seus testes de glicémia capilar e anota os resultados em livro próprio para que
se possa manter um controlo relativo à alimentação fornecida e à dosagem de insulina
administrada pelas colaboradoras do lar.
Zimerman (2000) diz nos que a depressão traz alguns efeitos que prejudicam a vida
do idoso na área intelectual, ocorre a diminuição de capacidades e perturbações de
memória que dificultam a aprendizagem. Na área social, ocorre o afastamento dos
grupos, a perda de estatuto, o abandono, o isolamento.
A utente tem tido o acompanhamento por parte da médica neurologista, de modo a
compensar e controlar os sentimentos de depressão e isolamento. Na última consulta, a
utente AR queixou-se de astenia e dificuldade na locomoção, mesmo com a ajuda das
canadianas, assim como uma sensação de vertigens e mal-estar. Após uma avaliação
do seu estado foi-lhe diagnosticada doença de Parkinson e prescrita medicação para o
efeito. Atualmente e depois de realizar o ajustamento da medicação que a utente toma
para as diversas patologias de que padece, a Sr.ª AR encontra-se satisfeita e cada vez
mais integrada na realidade em que se encontra inserida.

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“A satisfação com a vida é uma das medidas do bem-estar subjetivo, que reflete a
avaliaação pessoal do indivíduo sobre determinados domínios. Um aspeto essencial do
bem-estar é a capacidade de acomodação às perdas e de assimilação de informações
positivas sobre o Self – um sistema composto por estruturas de conhecimento sobre si
que integram ativamente essas estruturas ao longo do tempo e ao longo de várias áreas
do funcionamento pessoal” (Neri, 2001, cit. in Resende, Cunha, Silva, & Sousa, 2007,
p.67).

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4. CONCLUSÃO

No caso da Sr. AR, a problemática identificada corresponde a um aumento da sua


dependência na realização das tarefas de vida diárias, assim como na indisponibilidade
da prestação dos cuidados necessários por parte do seu filho, que até aqui constituía o
se principal cuidador informal. É preciso ter em conta, que o ser humano não é um ser
isolado, ele é um ser social, que influencia e é influenciado pelos sistemas onde se
encontra inserido. Atua em diferentes contextos mutáveis e onde estão implicadas uma
ou várias estratégias de ação, assim como um conjunto de atores/entidades que contêm
interesses e perspetivas que podem ou não ser convergentes e que exigem do
profissional uma constante (des) construção da realidade que gradualmente lhe vai
sendo apresentada, permitindo-lhe adequar a intervenção (Faleiros, 1997).
Além de um aumento da dependência por parte da Sr.ª AR, o fato de tentar, por
diversas vezes, chamar a atenção do filho com várias tentativas de suicídio através da
toma excessiva de medicação, levou ao seu internamento hospitalar, fato que propiciou
a que fosse sugerido a sua institucionalização, devido à indisponibilidade em poder
contar de um cuidador.
A avaliação funcional foi definida como “uma tentativa sistematizada de mensurar
os níveis nos quais uma pessoa se enquadra, numa variedade de áreas, tais como:
integridade física, qualidade da auto-manutenção, qualidade no desempenho dos
papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitudes em relação a si mesmo e ao
estado emocional” (Lawton e Brodi, 1969). Temos uma pessoa que até ao episódio de
AVC, era autónoma física e psicologicamente, e que neste momento se vê numa
situação de dependência que a obriga a definir uma nova trajetória de vida, que a deixa
triste, e renitente relativamente ao seu futuro, mas tendo consciência daquilo que é
melhor para si e para a sua vida.
Para Carvalho e Dias (2011) a qualidade de vida dos idosos institucionalizados
depende do convívio de pessoas próximas, como familiares e amigos, com a finalidade
de evitar sentimentos de solidão ou isolamento que muitos vivem pelo facto de estarem
afastados dos seus entes queridos, no que se refere a esta problemática a situação da
Sr.ª AR encontra-se perfeitamente resolvida, uma vez que o se filho procura acompanhar
de uma forma muito próxima tudo o que é relativo à sua mãe, assim como o fato de
contar com contacto frequente de familiares que a vêm visitar à instituição ou que ela vai
visitar a suas casas.

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Independentemente das razões que possam levar o idoso à institucionalização, o


que se revela importante, é analisar o que uma situação de institucionalização exige do
idoso, nomeadamente o abandono do seu espaço, a obrigação de reaprender a integrar-
se num meio que lhe é estranho e que, muitas vezes, assume o controlo de vários
aspetos da sua vida (Paúl & Martins, 2006).
Apesar de, atualmente se encontrar adaptada a esta nova realidade a utente AR
manifesta o seu arrependimento por ter “tomado muitos comprimidos e vir parar aqui”,
pois aquilo que mais desejaria era poder voltar ao seu “Lar doce Lar”.

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5. BIBLIOGRAFIA

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Curitiba. Revista Digital. Acedido em 03 Novembro de 2014 em
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