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O Decreto-Lei nº 54/2018, por muitos designado

de “Diploma para a Educação Inclusiva”,


pretende providenciar oportunidades de
aprendizagem efetivas para todas as crianças.
Este diploma vem promover uma visão mais abrangente da escola e do
processo de ensino-aprendizagem. Vem pedir que se olhe para a escola como
um todo, abarcando a multiplicidade e a interação das suas dimensões. Vem
alertar para o facto de qualquer aluno, em qualquer momento do seu percurso
académico, necessitar de medidas de suporte à aprendizagem.

Para isso, tem em conta o perfil de aprendizagem de cada aluno, assente


numa lógica de diferenciação pedagógica, que recorre a medidas de suporte à
aprendizagem para garantir equidade e igualdade de oportunidades de acesso
ao currículo, de frequência e de progressão no sistema educativo.

O que mudou?
Antes de julho de 2018, as medidas de apoio existentes eram apenas dirigidas
a alunos com necessidades educativas especiais.

Atualmente, o “novo” sistema educativo baseia-se na diferenciação


pedagógica, dirigindo-se assim a todos os alunos, independentemente da
existência de um diagnóstico de uma perturbação de aprendizagem específica
e/ou de outra de caráter permanente ou temporário.

Como se aplica?
É, no entanto, de reforçar que quanto mais significativas e extensas forem as
fragilidades do aluno, mais medidas e mais recursos serão necessários
mobilizar.

A decisão sobre que medidas se irão mobilizar pertence à equipa


multidisciplinar, a qual deve analisar a informação disponível, decorrente da
avaliação e da monitorização sistemática da evolução do aluno.

Que medidas?
As medidas propostas no diploma estão enquadradas numa abordagem
multinível, dividindo-se em 3.

Medidas Universais: respostas educativas que a escola tem para todos os


alunos com o objetivo de promover a participação e a melhoria das
aprendizagens;
Medidas Seletivas: respostas que visam colmatar as necessidades de suporte
à aprendizagem, não supridas pela aplicação das anteriores;

Medidas Adicionais: respostas que visam colmatar dificuldades acentuadas e


persistentes ao nível da comunicação, interação, cognição ou aprendizagens
que exigem recursos especializados de apoio à aprendizagem e à inclusão.

Medidas Universais
Assim, a mobilização de Medidas Universais, não depende de necessidades
específicas por parte da criança ao nível de intervenção especializada,
dependendo sim de avaliações/rastreios que podem ocorrer ao longo do ano
letivo, com o intuito de, por um lado, identificar áreas prioritárias de intervenção
e, por outro, de identificar alunos em risco, que possam estar a necessitar de
avaliações e de intervenções mais “personalizadas”.

Logo, dependendo das necessidades identificadas, poderá mobilizar-se, a este


nível, uma ou mais, das seguintes medidas:

Diferenciação pedagógica
Permite que as tarefas aplicadas em contexto de sala de aula possam ser
diferenciadas, no que concerne à finalidade, conteúdo, tempo e modo de se
realizarem, em simultâneo com os recursos, condições e apoios
disponibilizados;

Exemplo da operacionalização da medida:

Professor a refletir consigo mesmo sobre a organização de uma das suas


aulas: “Amanhã vou passar uma ficha de avaliação à turma, mas para o Hugo e
para a Madalena vou transformar a ficha de maneira a que só tenham espaços
para preencher.

Para os restantes alunos as fichas terão perguntas abertas, contudo, vou


permitir ao Vasco, à Rita e à Adriana que façam a mesma com consulta.
Enquanto eles estiverem a fazer, vou ler a ficha à Rita, porque sinto que faz
toda a diferença, desse modo ela consegue aceder ao pedido de uma forma
muito mais eficaz e a qualidade das suas respostas é logo diferente.”

Acomodações curriculares
Permitem aceder ao currículo e a atividades de aprendizagem, em contexto de
sala de aula, através da variedade e da combinação adequada de diversos
métodos e de estratégias de ensino, da utilização de diferentes modalidades e
instrumentos de avaliação, da adaptação de materiais e recursos educativos e
da remoção de barreiras na organização do espaço e do equipamento.
Por exemplo, “sentar o aluno junto de um colega que sirva de modelo positivo”,
“assegurar-se que as instruções são compreendidas”, “permitir, durante os
testes, a consulta de apontamentos/notas”, entre outras.

Exemplos da operacionalização da medida:

Professor do 1º ciclo a refletir com um colega: “A minha turma este ano parece-
me especialmente heterogénea… Já percebi que tenho alguns alunos que
assimilam a matéria só de ouvirem as minhas explicações, mas tenho outros
que, se não mostrar imagens em conjunto com a informação oral, é mais difícil
compreenderem o que quero transmitir… Estava a pensar abordar as matérias
de uma forma mais abrangente… Por exemplo, em relação ao sistema
digestivo, estava a pensar mostrar-lhes um vídeo, levar-lhes um puzzle em 3D
para que possam manipular e construir o sistema digestivo e posso também
organizá-los em pequenos grupos para que criem os seus sistemas digestivos
usando plasticina… O que é que achas?”

Diálogo entre o diretor de turma e uma aluna com irrequietude e com


dificuldade em manter a atenção: “Inês, estive a pensar e na próxima semana
vais mudar de lugar. Vamos experimentar sentar-te ao lado do Pedro. Vocês
têm uma boa relação e penso que a postura dele (mais tranquila e
concentrada) pode ajudar-te a controlar a tua agitação e a permaneceres mais
atenta. O que te parece? Vamos fazer um esforço para que corra bem?”

Antes de um teste, o professor dirige-se a uma aluna e diz: “Raquel, lembra-te


que se não compreenderes alguma das perguntas, ou seja, se não perceberes
o que é para fazer, podes-me chamar para tirares dúvidas.”

Enriquecimento curricular
Com base na autonomia e flexibilidade curricular, é permitido à escola
enriquecer o currículo com conhecimentos, capacidades e atitudes que
contribuam para alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à
Saída da Escolaridade Obrigatória, podendo, inclusive, passar pela criação de
novas disciplinas no ensino básico, como por exemplo Desporto Escolar,
Xadrez, entre outras.

Exemplo da operacionalização da medida:

Um professor informa os seus alunos: “Quero informar-vos que, durante o 3º


Período, todas as turmas vão usufruir, dentro do horário escolar, de uma aula
de yoga semanal, com duração de 45 minutos.”

Promoção do comportamento pró-social


Pode passar pela implementação de programas dirigidos para a promoção de
competências sócio-emocionais.
Exemplo da operacionalização da medida:

Uma turma, no âmbito de Educação para a Cidadania, vai assistir a algumas


palestras dadas pela psicóloga da escola sobre a gestão de conflitos para
posteriormente realizar atividades especificas, nomeadamente situações de
“roleplay” como forma de treinar e promover as referidas competências.”

Intervenção com foco académico ou comportamental em


pequenos grupos
Varia consoante a entidade educativa, podendo, por exemplo, ser o apoio ao
estudo a um determinado ciclo, grupos de promoção de competências
matemáticas, a criação de uma oficina de escrita, entre outras.

Exemplo da operacionalização da medida:

A criação de pequenos grupos de alunos, com dificuldades semelhantes a uma


determinada disciplina, para usufruírem de apoio.

Apoio Tutorial
Estratégia de apoio e orientação pessoal e escolar que se constrói através de
uma relação desenvolvida de forma partilhada e construída por ambos os
elementos da díade, que podem ser tutor/tutorando, professor/aluno ou
aluno/aluno.

Exemplo da operacionalização da medida:

Conversa entre um professor e o seu aluno de 5º ano que, apesar de estar a


usufruir de outras medidas universais, não está a conseguir obter um
aproveitamento satisfatório: “Diogo, queria falar contigo… Eu e os professores
que trabalham contigo, consideramos importante que passes a ter um tutor.
Esse tutor estará contigo semanal e individualmente, para que possa ajudar-te
a orientar o teu trabalho escolar e, pontualmente, a acompanhar-te em algumas
aulas, no sentido de te apoiar diretamente.”
Medidas Seletivas

Relativamente às medidas que constituem o nível 2, emergem


as Medidas Seletivas, que são mobilizadas quando os alunos manifestam
necessidades de suporte à aprendizagem que não foram supridas pela
aplicação de medidas universais e que exigem a elaboração de um Relatório
Técnico-Pedagógico aquando da sua mobilização. Neste âmbito, enquadram-
se as seguintes medidas:

Percursos curriculares diferenciados


Incluem as ofertas educativas do ensino básico, ofertas educativas e formativas
do ensino secundário e cursos de dupla certificação, para o ensino básico e
secundário (ver Decreto-Lei nº 55/2018, 6 de julho, Capítulo II, Artigo 7º –
Ofertas educativas e formativas).

Adaptações curriculares não significativas


Envolvem a gestão do currículo, mas que não comprometem as
aprendizagens previstas nos documentos curriculares e que se
materializam em adaptações ao nível dos objetivos e dos conteúdos, através
da alteração na sua prioridade ou sequenciação, ou na introdução de objetivos
específicos de nível intermédio que permitam aos alunos atingir os objetivos
globais e as aprendizagens essenciais.

Apoio psicopedagógico
Poderá ser dado por um técnico especializado, sendo de carácter remediativo e
cuja intervenção se centra nos domínios escolar, cognitivo, comportamental ou
sócio-emocional, em contexto individual ou de grupo.

Exemplo da operacionalização da medida:

Professora informa os pais da aluna Maria, com diagnóstico de perfil cognitivo


subdesenvolvido, que as medidas seletivas sugeridas foram aceites pela
equipa multidisciplinar e, como tal, o pedido referente ao apoio pedagógico
personalizado será concretizado, passando assim a beneficiar de apoio
especializado e individual com a professora de educação especial uma vez por
semana, com o intuito de treinar as competências cognitivas.

Antecipação e reforço das aprendizagens


Antecipar e reforçar aprendizagens, podendo operacionalizar-se, por exemplo,
facultando com antecedência e detalhe, os conteúdos que o aluno deverá
estudar para os testes e para as fichas de avaliação, ou os textos a trabalhar
em contexto de aula.

Exemplo da operacionalização da medida:

No dia anterior ao ditado de um texto de Português, o professor indica à sua


aluna Estela, a qual manifesta frequentes erros ortográficos em tarefas de
escrita, que texto deve explorar em casa, sugerindo lê-lo, sublinhar as palavras
mais difíceis, copiá-las e procurar que estas lhe sejam ditadas, verificando,
posteriormente, se as escreveu corretamente.

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