Resenha
Resumo
→ ressaltar pontos positivos e negativos, de
modo que futuros consumidores possam de-
cidir se querem – ou não – se aprofundar
naquilo.
→ Para se alcançar alguma informação sobre o
público-alvo é importante ler outros comen-
tadores da obra
→ após a apreciação, cabe dizer a que público
o material se destina, ou se será útil para
alguém. Idade, profissão e valores culturais do
sujeito podem ser variáveis a se considerar.
o Introdução:
Título, ano da primeira publicação, ano da edição
que se analisa, editora, tradutor e outras informa-
ções catalográficas
De maneira mais abrangente, deve-se indicar
qual é o tema da obra e como ele se organiza.
(estrutura narrativa, composição dos persona-
gens, contexto histórico etc.).
o Desenvolvimento:
Privilegiar um aspecto da obra que possa ser uti-
lizado para esmiuçar características específicas;
Selecionar informações pertinentes que contri-
buam para a sua análise crítica;
Relacionar as informações escolhidas a outros
textos e obras de modo a evidenciar a razoabili-
dade de sua análise.
o Conclusão:
Indicar uma reflexão pessoal sobre a obra, sem
cair no efeito de subjetividade (eu acho);
Elaborar considerações finais pautadas em outros
comentadores.
Exemplo
Orange is the new black é uma série
americana original da Netflix, desenvolvida por
Jenji Kohan, Sara Hess e Tara Herrmann. Fora
baseada no livro Orange Is the New Black: My
Year in a Women's Prison, de 2010, que conta as
memórias de Piper Kerman quando foi conde-
nada à um presídio federal feminino. A comédia
dramática contém 6 temporadas, lançadas de
2013 a 2018., com previsão de lançamento da sé-
tima em 2019. Em cada episódio apresenta a
história de uma das presidiárias, que são as prin-
cipais personagens.
O seriado traz críticas ao falho sistema
carcerário americano, o excesso de corrupção
existente neste meio e a falta de segurança das
presidiárias; reforça a teoria do determinismo so-
cial, no qual defende que o ambiente determina
as ações do indivíduo nele inserido; e aborda
questões de homossexualidade e preconceito.
No geral, a obra destina-se a pessoas de
maioridade já que apresentam cenas muito for-
tes e reais do ambiente penitenciário, e
geralmente agrada o indivíduo com um olhar crí-
tico sobre questões políticas e sociais.
Logo no primeiro episódio conta-se a
história Piper Chapman, uma mulher de 30 anos,
noiva de Larry Bloon, da classe média alta de
Nova Iorque. Dez anos antes do início da série a
personagem se envolve com uma mulher, Alex
Vause, e é influenciada a ajudar sua companheira
no transporte de uma mala de dinheiro derivado
do tráfico de drogas. Anos depois, o passado de
Piper volta a assombrá-la, ela se entrega à polícia
e é condenada a cumprir quinze meses na prisão
federal feminina de Litchfield, onde se desenvol-
verá o seriado.
 As primeiras temporadas trazem con- aponta o quanto o sistema penitenciário é falho
sigo a descrição do lugar onde elas vivem, a e a visão que os diretores dos presídios têm so-
rotina dos seus serviços e relatos do passado de bre as detentas, as tratam como se fossem
cada uma das presidiárias, como: os motivos que números e não pessoas.
as levaram ao crime, o contexto em que elas
viviam antes de serem condenadas e o quanto De acordo com Ana Vieira¹ (2016):
isso justifica, ou ao menos influencia, o fato de É possível, inclusive, traçar paralelos entre a morte de
Poussey e as diversas mortes de jovens negros nos
elas estarem na prisão.. Estados Unidos. O #BlackLivesMatter, por exemplo,
A relação entre as mulheres passa a ser está por todo o último episódio da temporada quando
frequentemente homoafetivas, já que é um am- um protesto pacífico se transforma em um tumulto
que termina com a morte de um inocente negro.
biente completamente feminino, exceto aos
guardas do presídio. Acredita-se que esse era
A quinta temporada se desenvolve com
um dos tópicos que o autor quis trazer à obra: a
a rebelião das mulheres contra o presídio, são 13
necessidade humana do prazer sexual, por ins-
episódios nos quais encontram-se unidas para
tinto; o que está relacionado, também, ao
vingarem a morte de Poussey Washington e pe-
determinismo social, visto que, neste contexto,
direm por justiça. No último episódio os guardas
faz com que elas se relacionem entre si inde-
da segurança máxima conseguem entrar no
pendente de suas opções sexuais antes de irem
presídio e as retirarem de lá, mas no decorrer
para Litchfield., ou seja, as circunstâncias do am-
dessa busca um dos guardas acaba atirando em
biente determinam suas escolhas sexuais.
outro e o matando. O sistema vence no final, a
Além disso, dentro do presídio acontece
MCC consegue reverter a imagem dela na mídia
casos como estupro entre guardas e detentas e
culpando as presidiárias pela morte do guarda; as
contrabandos de drogas dos funcionários, que
mulheres são transferidas para a segurança má-
resultava muitas vezes em mortes das presas
xima e a sexta temporada tem o intuito de
por overdose; o que se associa a uma possível
mostrar a nova rotina delas em um ambiente
crítica do autor sobre a falta de segurança dos
ainda mais violento e degradante. Nesta tempo-
indivíduos no sistema penitenciário americano.
rada é possível enxergar o quanto cada uma das
Já na quarta temporada a prisão passa a ser
mulheres mudara com a vivência na cadeia; inte-
privatizada e a série mostra todas as consequên-
ligentes e com qualidades excepcionais, capazes
cias negativas que isto traz às detentas. A comida
de se tornarem melhores, agora se perdem cada
passa a ser uma mistura pronta sem gosto, afim
vez mais no mundo de violências e drogas, pas-
de reduzir os gastos e gerar lucro para a em-
sam a cometer mais crimes dentro deste
presa; as camas são trocadas por beliches para
ambiente afim de sobreviver; vezes por opção
receber um maior número de mulheres, igno-
própria; vezes por consequências da falha de um
rando a falta de infraestrutura para comportá-las;
sistema prisional completo de corrupção e ga-
os guardas são trocados por ex-soldados que
nância.
tratam as mulheres cada vez mais com des-
O Estado não satisfaz quando o assunto
prezo, ignorância e agressividade. O final desta
é segurança pública, execução penal e garantias
temporada se dá pelo assassinato de uma presi-
de direito, e não importa se o discurso é nacional
diária jovem, negra e inocente; por um dos
ou internacional, da sociedade livre ou carcerária”.
guardas da prisão de Litchfield durante um ato
(Creddo, RAQUEL e Parestrelo, TATIANA , 2016).
de manifestação das detentas. A morte de Po-
Apesar da obra retratar fatos norte-americanos,
ussey despertou nas presas um sentimento de
pode-se correlacionar com o sistema carcerário
revolta, enquanto a MCC — empresa que priva-
de outros países, como o Brasil. Muitos dos pro-
tizou o presídio — encontrava uma maneira de
blemas mostrados na série são frequentemente
se beneficiar através desta tragédia. A obra

¹ Escritora do blog “Valkirias”

discutidos e vistos entre os brasileiros, o que a
torna ainda mais interessante ao público.
Segundo Adriana Izel (2017):
Para que as aparições de presos em produções cine-
matográficas, televisivas e teatrais se aproximem ainda
mais da realidade, é relevante que sejam retratados
em sua complexidade humana. São pessoas, humanos
que possuem família, traumas, medos, sentem dores,
fome, frio e, além de tudo, sofrem todos os dias com
a desídia estatal, que os afasta do convívio em socie-
dade e os mantém trancafiados em um local distante
e, na maioria das vezes, sem qualquer estrutura de
higiene, saúde e educação”
No quesito de demonstrar a realidade,
Orange is the new black cumpre com esse pa-
pel perfeitamente. Além de ser baseado em
uma história real de Piper Kerman, é possível
ver na produção um cuidado com detalhes e
os flashbacks sobre a vida das personagens no
decorrer da série faz com que o espectador
crie uma ligação com elas, podendo de alguma
forma sentir o que as levaram a cometer os
crimes. De acordo com Raquel Creddo² e Tati-
ana Parestrelo³ “o uso do cinema para
conquistar o receptor pode ser de grande valia
quando se trata de grupos excluídos como o
são os encarcerados, os segregados social-
mente. Por este recurso é possível que um
maior número de espectadores entre em con-
tato com esse dilema e até mesmo apresente
debates e propostas visando solucionar tal con-
dição”.

Referências Bibliográficas:
[1] CREDDO, R. N. ; PERESTRELO, T. L. N. . Das telas à vida real: o cumprimento da pena e o método
APAC. In: II SIMPÓSIO REGIONAL DIREITO E CINEMA EM DEBATE, 2016, JACAREZINHO-PR. DIREITO E
CINEMA NACIONAL EM DEBATE. JACAREZINHO/PR: UENP & PROJURIS, 2016. v. I. p. 147-168.
[2] Valkirias. Crítica: Orange is the New Black, Valkirias. | Disponível em: <https://valkirias.com.br/review-
orange-is-the-new-black/> | Acesso em: 22/05/2019
[3] Izel, ADRIANA. Sistema prisional na TV: o cotidiano da vida por trás das grades. | Disponível em:
<http://blogs.correiobraziliense.com.br/proximocapitulo/sistema-prisional-na-tv/> | Acesso em: 22/05/2019

² Mestre em ciências jurídicas pela UENP e umas das autoras do artigo “Das telas à vida: O cumprimento da pena
e o método APAC.
³ Graduanda em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.