Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
, iNúmero 31
BOLETIM DA REPUBLICA
PUBUCAÇÃO OACIAL DA REPÚBUCA DE MOÇAMBIQUE
SUPLEMENTO
IMPRENSA NACIONAiL DE MOÇAMBIQUE o direito de uso das águas do domínio público será
reconhecido em regime de uso livre, em determinados ca-
AVISO sos, e por meio de autorizações de uso ou de concessões
de aproveitamento, em casos especialmente regulados.
A matéria a publicar no «Boletim da República» deve A Lei de Águas surge como instrumento fundamental
ser remetida em cópia devidamente autenticada, uma para a realização e satisfação de interesses do povo mo-
por cada assunto, donde conste, além das indicações çambicano.
Nestes termos, ao abrigo do disposto no n," 1 do ar-
necessárias para esse efeito, o averbamento seguinte, tigo 135 da Constituição da República, a Assembleia da
assinado e autenticado: Para publicação no uBoletim República determina:
da Repúblicél)). CAPITULO I
Disposições preliminares
ARTIGO 1
SUMÁRIO
(Propriedade das águas)
Assembleia da República:
1. As águas interiores, as superficiais e os respectivos
Lei n.· 16/91: leitos, as subterrâneas, quer brotem naturalmente ou não,
Aprova a Lei de Águas. são propriedade do Estado, constituindo domínio público
Lei n.· 17/91: hídrico.
2. Constituem ainda domínio público hídrico, as obras,
Aprova a Lei das Empresas públicas. equipamentos hidráulicos e suas dependências realizadas
pelo Estado ou por sua conta com o objectivo de utilidade
pública.
3. O domínio público hídrico é inalienável e imprescri-
ASSEMBLEIA DA REPOBLlCA tível e o direito ao uso e aproveitamento será concedido
~e. modo. a garantir a. sua preservação e gestão em bene-
Lei n.O 16/91 fICIO do Interesse nacional.
de 3 de Agosto
ARTIGO 2
A importância dos recursos hídricos em todos os sec- (Objectivo)
tores da vida tem originado um aumento cada vez maior
de necessidades da sua utilização. 1. A presente lei tem como objectivo definir em relação
A água é utilizada para diversos fins consoante as ne- às águas interiores:
cessidades e as quantidades que cada utente entender. Para a) O domínio público hídrico do Estado e a política
que o uso da água pelos múltiplos interessados não pre- geral da sua gestão:
judique as necessidades de alguns, toma-se indispensável b) O regime jurídico geral das actividades de pro-
criar mecanismos conducentes à sua distribuição ou for- tecção e conservação, inventário, uso e apro-
necimento na medida das necessidades de cada um. veitamento, controlo e fiscalização dos recursos
A presente Lei de Águas estabelece os recursos hídricos hídricos;
que pertencem ao domínio público, os princípios de ges- c) As competências atribuídas ao Governo em rela-
tão de águas, a necessidade de inventariação de todos os ção ao domínio público hídrico.
recursos hídricos existentes no país, o regime geral da sua
utilização, as prioridades a ter em conta, os direitos gerais 2. As águas minerais naturais, minero-medicinais e tér-
dos utentes e as correspondentes obrigações, entre outros. micas são reguladas por legislação específica.
214-(12) I SSRIE - NOMERO 31
-----------------------
3. A protecção, utilização e exploração dos recursos curso ao Conselho Nacional de Aguas c inspira-se nos
pesqueiros nas águas interiores serão reguladas por legis- princípios seguintes:
lação própria, bem como a navegação e a flutuação. a) Unidade e coerência de gestão das bacias hidro-
4. A pesquisa e aproveitamento do recursos minerais nos gráficas do país, isto é, do conjunto de cursos
leitos, margens e zonas inundáveis ficarão sujeitos à legis- de água que confluem para um mesmo curso de
lação própria, água principal o das áreas por eles drenadas,
ARTIGO 3 bem como dos aquíferos subterrâneos,
(Dos leitos) b) Coordenação institucional e participação das po-
pulações nas principais decisões relativas à po
1. O leito das águas interiores é limitado pela linha de lítica de ge-stão das águas;
margem. Linha de margem é a definida pelas águas quando c) Compatibilização da política de gestão de águas
alcançam o seu maior nível ordinário. No leito cornpreen- com a política geral de ordenamento do tcrri-
dem-se os mouchões, lodeiros e areais nele formados por tório c de conservação do equilíbrio ambiental,
deposição aluvial.
2. Competirá às administrações regionais de águas de- 2. As obras hidráulicas não poderão ser aprovadas sem
terminar a linha de margem legal dos dep6sitos e cursos prévia análise dos seus efeitos e impactos sociais, econó-
do água do país c proceder à sua inscrição no cadastro micos e ambientais.
de ãguas. Caber-lhes-á igualmente adoptar as medidas ne- 3. Os estudos sobre os efeitos referidos no número an-
cessárias à protecção dos leitos e das linhas de margem. terior constituirão encargo dos donos das' obras de grande
3. O uso e aproveitamento dos leitos ficam sujeitos ao envergadura, Por regulamento definir-se-á o critério de
regime do licenciamento e concessão desta lei. classificação das obras para deito de imputação do preço
dos estudos.
ARTIClO 8
ARTIGO 4
(OrlentaÇÕtl6 da politica de gestlio de éguas)
(Das margens)
Ao Estado competirá implementar, progressivamente t:
1. Margem é a faixa de terreno contígua ou sobranceira nas regiões definidas como de intervenção prioritária, uma
à linha que limita o leito das águas. Em toda a sua exten- política de gestão de águas orientada para a realização dos
são longitudinal, as margens estão sujeitas ao regime de seguintes objectivos:
protecção parcial definido na Lei de Terras.
a) Melhor uso das éguas disponíveis para todos os
2. Competirá às administrações regionais de águas, sem
fins através da sua utilização racional e plani-
prejuízo do disposto na Loi de Terras, zelar pela preser-
ficada, com vista a satisfazer as necessidade-
vação, conservação e defesa das zonas de protecção par-
das populações e de' desenvolvimento da eco-
cial definidas no número anterior. nomia nacional;
b) Abastecimento contínuo e suficiente das popula-
ARTIGO 5
ções em água potável, para a satisfação das
(Zonas lnundévels) necessidades domésticas e de higiene:
c) Promoção, enquadramento e regulamentação da
I. Zonas inundáveis são as que podem ser alagadas du- utilização da água para fins agrícolas, indus-
rante as cheias extraordinárias dos dep6sitos e dos curso!' triais e hidroeléctricos;
de água naturais, contínuos ou descontínuos, e como tal d) Melhor aproveitamento das águas do domínio pú-
forem definidas no cadastro.
blico, nome-adamente, através da luta contra os
2. Os te-rreno" abrangidos pelas zonas inundáveis man- desperdícios, possibilidade de usar as águas para
têm a qualificação jurídica e a titularidade que tiverem, fins múltiplos através da sua reciclagem, con-
podendo, no entanto, ser declarados zonas de protecção trolo das perdas para o mar, realização de obras
parcial ou sujeitos a outras restrições para garantir a se- e de equipamentos de retenção c armazena-
gurança das pessoas e bens. mento de águas e de regularização dos caudais;
e) Promoção, segundo as necessidades e a" priorida-
ARTIGO ó
des da acção governamental, de acções de in-
(Aguas subterrâneas) vestigação, de pesquisa e de captação destina-
das a aumentar o volume global dos recursos
Entende-se por águas subterrâneas, para efeitos desta hídricos disponíveis;
lei, as que, encontrando-se debaixo da superffcíe da terra. j) Melhoria do saneamento, luta contra a poluição
são ou podem ser afloradas por acção do homem. As me- e contra a deterioração das águas pela intrusão
didas para a sua protecção, uso e aproveitamento poderão de salinidade;
incluir as partes s6lidas e líquidas dos aquíferos e· as zo- g) Prevenção e combate contra os efeitos nocivos das
nas de protecção que sejam necessárias. águas, nomeadamente, nos sectores da luta con-
CAPITULO II tra a erosão dos solos e o controlo das cheias;
h) Procura de equilíbrios para o conjunto dos uten-
Da politica geral de gestJo de éguas tes nos casos de utilizações múltiplas e confli-
8ECÇAO I
tuosas das águas do domínio público;
i) Salvaguarda dos interesses da promoção da nave-
Principias 6 orientações gação fluvial;
ARTIGO 7 j) Melhoria da gestão das infraestruturas hidráulicas;
(Prlnclplos de gestlo de éguas) k) Promoção das campanhas de formação, educação
e divulgação, tanto junto das populações, como
l . A acção do Estado no sector de gestão das águas será dos agentes da administração, em relação aos
realizada pelo Ministério da Construção e Águas com re- principais problemas de gestão das águas;
3 DE AGOSTO DE 1991 214-(13)
sejam compatíveis com as orientações da política geral do 4. A sua composição, estrutura orgânica c funciona-
Estado. mento serão regulados por decreto do Comelho de Mi-
2. Será também encorajada a realização, por parte des- nistros.
sas entidades e nos termos a definir em diploma regula- ARTIGO til
mental, de actividades e· operações de pesquisa, captação, (AdminIstrações regionais de éguas)
equipamento e aprovisionamento de águas. Caberá ainda
ao Ministério da Construção e Águas assegurar a fisca- L A gestão dos reCUJ so- hídricos será realizada por
lização técnica dos projectos e da sua execução. administrações regionais de águas organizadas na base de
bacias hidrográficas e fundamentalmente vocacionadas
ARTIGO 16 para a administração dos recursos hídricos da região,
(Cooperação lntersectorlal) 2. As administrações regionais de águas S<lO instituições
públicas dotadas de personalidade jurídica e autonomia
Na implementação das orientações gerais da política administrativa, patrimonial e financeira, tuteladas pelo Mi-
de gcstao de águas e sem prejuízo das suas competências nistério da Construção e Águas, através da Direcção Nacio-
próprias, o Ministério da Construção e, Águas promoverá nal de Águas. O seu âmbito territorial poderá compreen-
a necessária articulação com 0& outros Ministérios inte- der uma ou várias bacias hidrográficas.
ressados na gestão das águas, nomeadamente da Agricul-
3. Compete-lhes nomeadamente
tura, Negócios Estrangeiros, Cooperação, Indústria e Ener-
gia, Recursos Minerais, Administração Estatal e da Saúde, a) Participar na preparuçao, Implementação e revisão
Comissão Nacional do Plano e com os conselhos oxccutivos do plano de ocupação hidrológica da bacia;
b) A administração e controlo do domínio público
ARfIGO 17 hídrico e a criaçao e manutenção do cadastro
(Conselho Nacional de Aguas) de águas e do registo dos aproveitamentos pri-
vativos, bem como o lançamento (' cobrança de
L. n criado o Conselho Nacional de Águas, órgão con- taxas de uso e aproveitamento da água;
sultivo do Conselho de Ministros e de coordenação inter- c) O licenciamento c a concessão de uso e aprovei
ministci ial encarregado do se pronunciar sobre aspeetos tamento das água.. do domínio público, a auto-
relevantes (L\ politica geral de gestão de águas e zelar pelo rização de despejos, a imposição de servidões
bOU cumprimento administrativas, bem como a inspecção e fisca-
2. 1\0 Conselho Nacional de Águas, para além das lização do cumprimento dos requisitos a que
Iunçocs consultiva-, compete nomeadamente' os mesmos estão sujeitos;
a) Propor os objectivos da política hídrica do Go- d) A aprovação das obra-. hidráulicas II realizar e él
vemo no domínio social. económico e ambien- sua fiscalização;
tal; e) Declarar a caducidade de autorizações, licenças
h) Identificar as limitações institucionais, de recursos e concessões e sua extinção ou revogação;
humanos, inanceiros e económicos que afec-
í
j) A projecção, a construção e a exploração das obras
tem a prossecução dos objectivos da política hí- realizadas com os seus próprios meios. bem
drica c propor as soluções adequadas; como o das que lhe forem atriburdas:
c) Manter o Conselho de Ministros informado sobre
os aspectos críticos e recorrentes que afectem g) A prestação de servi, os técnicos relacionados com
o desenvolvimento L conservação dos recursos as suas atribuições e o assessoramento aos ór-
hídricos. propondo as medidas mais apropria- gãos locais do Estado, às entidades públicas c
das; privadas e aos particulares;
d) Propor programas, projectos e medidas necessá- h) Colher e manter actualizados os d.idos hidroló-
rias ao desenvolvimento c conservação dos re- gicos necessários ,1 gestão das bac ia'> hidrográ-
cursos hídricos; ficas;
e) Detectar os factores macrocconómicos e macroins- i) Conciliar conflitos decorrentes do mo e aprovei-
titucionais que afectem o desenvolvimento e tamento da água;
conservação dos recursos hídricos do país e J) Proceder ao policiamento das águas. aplicar san-
propor as soluções adequadas; ções, ordenar a demolição de obras, a elimina-
j) Emitir parecer sobre projectos e programas hídri- ção de usos e aproveitamentos não autorizados
cos antes que sejam subrnetidos a financia- e o encerramento de fontes de contaminação.
mento internacional 011 destinadas verbas do
4. Os estatutos das administrações regionais de águas
orçamento do Estado:
pj Solicitar, aos organismos públicos e privados, as serão aprovados por diploma ministerial
informações ou esclarecimentos necessários ao
desempenho das sua'> atribuições; ARTI(,O 19
11) Recomendar a adopção de medidas específicas ou (Orgllos das administrações regionais de águas)
o desenvolvimento de acções necessária'> por
parte dos órgãos centrais e locais do Estado e 1. As administrações regionais de águas, p.tra além dos
demais organismos com competência territorial órgãos que vierem a ser estatutariamente dei inidos, com-
011 funcional na área dos recursos hídricos. portam um conselho de gestao integrado por representan-
tes dos Ministérios da Construção e Águas, Agricultura,
,. O Conselho Nacional de Águas poderá propor aos Indústria e Energia, Recursos Minerais, dos órgãos locais
minivtério-, e a outros organismos públicos, linhas de es- do Estado e das organízaçõe , de utentes,
tudo e investigacão para o desenvolvimento de inovacõcs 2, Ao conselho de gestão, bem prejuízo do que vier a
técnica'> no que respeita à obtenção, emprego, conservação, ser estabelecido, competirá nomeadamente apreciar o pro-
rccuperncão, tratamento integral e economia de água grama de actividades, de obras e o orçamento.
j DE AGOSTO DE 1991 214-(15)
1. As águas do domínio público, quanto ao uso e apro- 1. Em casos de força maior, designadamente secas, cheias
veitamento, classificam-se em águas de uso comum e águas ou outras calamidades naturais e enquanto as mesmas
de uso privativo. O uso e aproveitamento privativo das perdurarem, poderão as autoridades administrativas impor
águas pode resultar da lei, de licença ou de concessão. que se faça, em benefício da população, o uso comum das
2. São usos comuns os que visam, sem o emprego de águas referidas no artigo anterior.
sifão ou de meios mecanizados, satisfazer necessidades 2. Caberá às autoridades administrativas definir as vias
domésticas, pessoais e familiares do utente, incluindo o de acesso, calendário de utilização e demais condições.
abeberamento de gado e a rega em pequena escala. 3. O utente do talhão terá direito de ser indemnizado
3. São usos e aproveitamentos privativos resultantes da pelos prejuízos causados.
lei os que podem ser directamente realizados pelos titu- SECÇÃO III
lares do direito ao uso e aproveitamento da terra, salvo
disposição em contrário. Aproveitamentos resultantes de licença ou concessão
4. Aos usos e aproveitamentos privativos resultantes de ARTIGO 25
licença ou concessão terão acesso quaisquer pessoas, sin- (Apt'Oveitamento privativo)
gulares ou colectivas, públicas ou privadas, nacionais ou
estrangeiras devidamente autorizadas a actuar em territó- As águas do domínio público, salvo o disposto no ar-
rio nacional, nos termos desta lei e desde que não ponham tigo 23, podem se'!' objecto de aproveitamento privativo
em causa o equilíbrio ecológico e o meio ambiente. mediante licenciamento ou concessão nos termos desta lei
e seus regulamentos.
ARTIGO 22
(Liberdade de uso) ARTIGO 26
(Prioridad? dos aproveitamentos privativos)
1. Os usos comuns das águas são gratuitos e livres,
isto é, realizam-se sem necessidade de prévio licenciamento 1. O abastecimento de água à população, para consumo
ou concessão. Por regulamento poderão ser especificadas humano e para satisfação das necessidades sanitárias, tem
as condições a que, em geral ou localmente, o uso comum prioridade sobre os demais usos privativos.
deverá obedecer, nomeadamente, em caso de penúria 2. Não são autorizados usos privativos de água em pre-
excepcional. juízo das quantidades nece-ssárias à protecção do ambiente.
2. Os usos comuns realizam-se de acordo com o regime 3. Os conflitos decorrentes da falta de água para satis-
tradicional de aproveitamento e sem alterar a qualidade fação de objectivos distintos serão resolvidos em função
da água e significativamente o seu caudal. Não poderão da rentabilidade sócio-económica dos respectivos aprovei-
ser desviadas dos seus leitos nem alteradas as margens. tamentos.
ARTIGO 27
SECÇÃO II (Oüs pedidos de IicenciarTteJitü e concessão)
Usos resultantes da \el 1. Os pedidos de licenciamento ou de concessão t>0-
ARTIGO 23 mente poderão ser indeferidos quando se verificar alguma
(Usos estabelecidos por lei) das circunstâncias seguintes:
a) Não haver água disponível ou as necessidades a
1. Os titulares do direito ao uso e aproveitamento da satisfazer não se justificarem;
terra, para satisfação das suas necessidades domésticas e b) A satisfação das necessidades comprometer a pro-
das necessidades normais e previsíveis da agricultura, po- tecção quantitativa ou qualitativa da água, salvo
dem usar, independentemente de licenciamento e sem afec- se a utilidade do aproveitamento, a dimensão
tar os usos comuns preexistentes quando tradicionalmente do seu impacto, a impossibilidade ou a invia-
estabelecidos e os direitos de terceiros: bilidade económica de aproveitamentos alterna-
a) As águas dos depósitos, isto é, dos lagos, lagoas tivos impuserem o contrário;
e pântanos existentes no respectivo talhão; c) Forem incompatíveis com os aproveitamentos cons-
b) As águas das nascentes que não transpuserem, cor- tantes de- planos aprovados ou se trate de apro-
rendo livremente, os limites do respectivo ta- veitamentos que devam ser realizados por en-
lhão ou não se lançarem numa corrente; tidades públicas;
214-(16) 1 SERIE-NOMERO 31
d) Dos aproveitamentos pedidos resultarem prejuízos meadamente, devido a desperdício ou mau LISO da água,
para terceiros cujos direitos devam ser respei- qualquer que seja o título de que se arrogue.
tados.
sunsrccxo I
2. Do deferimento do pedido cabe recurso, por parte Licenciamento
de terceiros, com fundamento no disposto na alínea d) do ARTIGO '52
número anterior.
ARTlOO 28 (llIcenças)
(Direitos do8 utentes) 1. O aproveitamento privativo da água dependerá do
1. O direito ao aproveitamento privativo confere' ao licenciamento, quando praticado através de obras de ca-
seu titular a possibilidade de, no prazo estipulado, fazer rácter não permanente que nào alterem as margens ou lei-
a utilização que lhe for determinada, podendo, para tanto, tos das correntes, lagos, lagoas ou pântanos.
realizar as obras adequadas e, nos termos que vierem a 2. Depende ainda do licenciamento:
ser estabelecidos, ocupar temporariamente terrenos vizi- a) A prospecção, captação e o aproveitamento de
nhos e constituir as servidões necessárias. águas subterrâneas incluídas nas zonas de pro-
2. Esse direito é atribuído com ressalva dos usos co- tecção;
muns preexistente, e dos direitos de terceiros. b) A instalação de depósitos, a implantação de cultu-
3. A possibilidade de utilização poderá ser revista, ve- ras ou plantações e o abate de ãrvoi es nos lei-
rificando-se insuficiência de equipamento de' captação e tos e margens das correntes naturais contínuas
adução, diminuição imprevisível do caudal ou volume de ou descontínuas e dos lagos, lagoas e pântanos;
água objecto do direito de utilização ou erro de cálculo c) A extracção de materiais inertes, designadamente
na avaliação do caudal. areia e cascalho, dos leitos e margens das cor-
4. A modificação das características do licenciamento rentes naturais contínuas ou descontínuas e dos
ou concessão só poderá ser feita mediante prévia e expressa lagos, lagoas e pântanos.
autorização da entidade outorgante.
ARTIGO 33
ARTIGO 29 (Natureza do direito reconheeldo pelo licenciamento)
(Transmissão do direito ao uso ~ aproveitamento)
1. O direito ao aproveitamento privativo da água me-
1. As águas concedidas para fins agrícolas ou industriais diante licenciamento é atribuído por período de cinco
transmitem-se juntamente com o direito ao uso e aprovei- anos susceptível de renovação.
tamento da terra onde essas explorações se acham implan- 2. As licenças são precárias e revogáveis. lião podendo
tadas e nas mesmas condições. servir de fundamento para oposição aos pedidos de con-
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, o di- cessão. Os respectivos titulares não terão di, eito a qual-
reito ao uso e aproveitamento privativo das águas trans- quer indemnização pelos prejuízos que dessa, concessões
mite-se, entre vivos, mediante autorização expressa do Mi- possam advir-lhes.
nistro da Construção e Águas e, por morte do titular, a ARTIGO 34
favor do cônjuge e herdeiros nos termos da lei civil. (Revogação do licenciamento)
3. A transmissão do direito ao uso e aproveitamento de
água não envolve alongamento do prazo da licença ou 1. As licenças extinguem-se no termo do prazo ou das
concessão. suas renovações e são revogáveis, designadamente com os
ARTIGO 30 fundamentos seguintes:
(Obrigações get'als dos utentes) a) Não cumprimento das obrigações essenciais fixa-
São obrigações gerais dos utentes: das no licenciamento, abuso do exercício do
direito ou violação repetida dos dir eitos de- ter-
a) Respeitar as condições estabelecidas no acto cons- ceiros;
titutivo do direito; b) Interesse público em destinar a água a outros apro-
b) Utilizar a água da maneira racional e económica, veitamentos privativos:
dando-lhe unicamente o destino definido; c) Força maior, nomeadamente secas, cheias ou ou-
c) Proceder ao pagamento pontual das tarifas e dos tras calamidades naturais de efeitos duradoiros
encargos financeiros estipulados:
ti) Participar nas tarefas de interesse comum, nomea- 2. Os fundamentos previstos nas alíneas b) e c) do nú-
damente, as destinadas a evitar a deterioração mero anterior só determinam a revogação da licença
da quantidade e qualidade de água e do solo; quando as necessidades não puderem ser satisfeitas com
e) Fornecer as informações solicitadas, cumprir as a simples requisição de' parte dos caudais concedidos,
orientações transmitidas pelas entidades compe- 3. A requisição de parte dos caudais, bem como a re-
tentes e sujeitar-se às inspecções necessárias; vogação da licença implicam rara o Estado o dever de
f) Garantir a minimização do impacto ambiental e, indemnizar, quando determinadas por força do disposto
em especial, zelar pela qualidade da água; na alínea b) do n," 1.
g) Respeitar os direitos dos outros utentes legítimos ~uD,ru ÃO II
das águas. Concessões
ARTIGO '51
AllTIGO 35
(Abuso do direito)
(C'0nC8ssão)
I! abusivo e consequentemente ilegítimo, o exercício do
direito ao uso e aproveitamento da água que exceder ma- O aproveitamento privativo da água fica sujeito ao re-
nifestamente os limites impostos pelo fim social ou econó- gime de concessão em todos os casos não previstos no
mico desse direito, pela boa fé 0 pelos bons costumes, no- artigo 32.
J DE AGOSTO DE 1991 214-(17)
diploma ministerial sob proposta do Conselho Nacional tadas para tratamento de minérios, desmonte de cascalho,
de Aguas, tendo em atenção, entre outros factores que tratamento de fibras vegetais e quaisquer outros fins in-
repute- pertinentes, os seguintes: dustriais.
a) Os encargos suportados com a construção, explo- 2. Do diploma de concessão constará a localização das
ração e conservação das obras; obras hidráulicas, das centrais ou das fábricas e oficinas
b) O número total de beneficiários; a construir, o volume de água concedido eo a indústria ou
c) Capacidade contributiva média dos mesmos. indústrias a explorar.
3. Quando a própria exploração industrial ou de ener-
2. O montante da taxa será re-duzido quando as obras gia estiver sujeita ao regime de concessão, dever-se-ão
e instalações estiverem totalmente amortizadas. harmonizar as durações, prazos e demais requisitos das
3. Salvo disposição em contrário, as taxas de utilização duas concessões.
de infraestruturas constituirão receitas próprias das admi- 4. Caberá aos utentes respeitar o prescrito nesta Lei e
nistrações regionais de águas, sendo aplicável o disposto respectivos regulamentos sobre a utilização racional e a
no n." 2 do artigo 42. protecção das águas.
SECÇÃO IV
Regimes especiais ARTIOO 49
ARTIGO 47 CAPITULO IV
(Pesca e piscicultura)
Protecção qualitativa das águas
1. A necessidade de manutenção e reprodução de espé-
cies piscícolas ou de outras riquezas aquáticas de aprovei- SECÇÃO I
tamento industrial poderá impor, em benefício da econo- Prevenção e controlo da contaminação das águas
mia pesqueira, restrições ao aproveitamento privativo da
ARTIGO 'iI
água.
2. A transferência de água do domínio público para fins (Contaminação)
piscícolas fica sujeita ao regime das concessões.
Contaminação da água, para os efeitos desta Lei, con-
ARTIGO 48
siste na acção e no efeito de introduzir matérias, formas
de energia ou na criação de condições que, directa ou in-
(Indústria e energia)
directamente, impliquem uma alteração prejudicial da sua
1. As águas do domínio público, mediante concessão qualidade em relação aos usos posteriores ou à sua função
e para além da produção de energia, poderão ser aprovei- ecológica.
3 DE AGOSTO DE 1991 214-(19)
b) O não cumprimento das condições impostas para b)Não executar obras ou trabalhos que alterem a
o uso e aproveitamento da água, designada- largura e a disposição do leito;
mente nos licenciamentos e concessões; c) Proceder ao corte ou arranque, segundo as cir-
c) A derivação da água dos seus leitos e a pesquisa, cunstâncias, das árvores e arbustos, troncos e
captação e aproveitamento das águas subterrâ- raízes que propendam sobre o leito.
neas com violação do disposto nesta lei;
d) A execução, sem prévia autorização, de obras, tra- ARTIGO 69
balhos, culturas ou plantações nos leitos e nas (Direitos adquiridos)
zonas sujeitas a restrições;
e) A extracção ou depósito de materiais inertes sem 1. A presente- lei não afecta os direitos adquiridos e não
~révia autorização; extintos ao abrigo da legislação anterior nomeadamente
f) O não acatamento das proibições estabelecidas do Decreto n.? 35463, de 23 de Janeiro, e- do seu regu-
na presente lei ou a omissão das condições im- lamento, desde que não se tenha, entretanto, verificado ne-
postas. nhuma causa de caducidade, designadamente abandono
por mais de- três anos e não determinado por motivo de
2. A infracção do disposto na presente lei determina força maior ou caso fortuito.
a obrigação de indemnizar os lesados, nos termos da res- 2. O reconhecimento dos direitos adquiridos será re-
ponsabilidade civil. ' clamado no prazo de um ano a partir da entrada em vigor
ARTIGO 66 da presente lei, cabendo aos interessados prestar as infor-
(Sanções) mações e esclarecimentos necessários.
1. Nos regulamentos desta lei estabelecer-se-ão as san- 3. As reclamações apresentadas depois de decorrido o
ções correspondentes às infracções previstas. prazo estabelecido no número anterior serão havidas como
2. As obras que- forem feitas sem licença ou contrariando novos pedidos de uso e aproveitamento de água, ficando
"'" que tiver sido estabelecido e com prejuízo da conserva- sujeitos ao regime estabelecido no Capítulo III desta lei.
..o, regularização e regime dos cursos de' água, dos lagos,
ARTIGO 70
lagoas, pântanos, e das águas subterrâneas ou com pre-
juízo de terceiros serão mandadas demolir à custa dos (ReconheCimento de direitos adquiridos em virtude
de legislação anterior)
infractores.
ARTIGO 67
1. As administrações regionais de águas procederão à
(Ascalização e policiamento) verificação dos direitos reivindicados com fundamento nos
Caberá ao Ministério da Construção e Águas e às admi- elementos fornecidos pelo requerente e- nos demais dados
nistrações regionais de águas: que tiver podido recolher.
2. Os direitos reclamados poderão ser restringidos, para
a) Assegurar o bom re-gime e policiamento das águas que não se verifiquem as incompatibilidades referidas no
e impedir a violação dos direitos de terceiros, artigo 27 da presente lei.
sem prejuízo da faculdade que a estes se reco- 3. Os direitos devidamente reconhecidos serão objecto
nhece de recorrerem aos tribunais competentes; de registo nos termos e condições que tiverem sido pres-
b) Inspeccionar locais, edifícios e equipamento e so- critos.
licitar as informações e esclarecimentos neces- ARTIOO 71
sários; (Reconhecimento dos usos tradicionais)
c) Impor a demolição de obras, encerramento de es-
tabelecimentos e de fontes de contaminação e 1. Serão reconhecidos e registados os usos comuns tra-
a cessação de actividades não autorizadas; dicionalmente estabelecidos e de facto existentes quando
d) Fiscalizar a execução das obras, a sua conservação possam concorrer com usos privativos resultantes da lei,
e segurança, bem como a exploração das licen- de licença ou concessão e se traduzam numa aplicação
ças e concessões, obrigando os seus titulares útil e benéfica da água.
ao cumprimento das condições impostas ao uso 2. Os usos que impliquem a contaminação das águas
e aproveitamento das águas. não serão reconhecidos a menos que se faça cessar a con-
taminação.
CAPíTULO VIII 3. Caberá às administrações regionais de águas proceder
ao reconhecimento e promover o registo dos usos comuns
Disposições gerai!', finais e transitórias que se conformem com o disposto nos números anteriores
ARTIGO 68
(Deveres dos titulares dos ta1hões marginais) ARTIGO 72
(Rewva de obrlgaç5es resultantes de compromissos
1. Os titulares do direito do uso e aproveitamento de Internacionafs)
talhões banhados por correntes de' águas contínuas ou des-
contínuas não poderão embaraçar o livre curso das águas As disposições da presente- lei não prejudicam as obri-
e são obrigados a remover os obstáculos que se lhe opo- gações resultantes de princípios de direito internacional
nham quando tiverem origem nos seus talhões, salvo tra- normalmente reconhecido, bem como as obrigações decor-
tando-se de alteração ao regime de águas, do seu retarda- rentes de compromissos internacionais assumidos com Es-
mento ou perda, devidos à lícita aplicação. tados vizinhos, ao abrigo de acordos e tratados regular-
2. A conservação do livre curso das águas compreende, mente celebrados e ratificados.
nomeadamente, o dever de:
AR'FIOO 73
a) Não mudar o curso de água sem prévia autoriza-
(Regulamento do registo)
ção e, obtida esta, assegurar que o novo leito
tenha dimensões adequadas, não embarace o O Ministro da Construção e Águas definirá, por diploma
curso das águas nem ofenda direitos de terceiros; ministerial, as normas a que deve obedecer o registo dos
214-(22) I sl1RIE - NVMERO 31
--------------- - - ----- - - - - ---- ------------
direitos ao uso e aproveitamento da água, cabendo-lhe ARTIGO 2
ainda fixar a data a partir da qual o registo se torna obri- (PersonaJldade " capacidade. jurfdtca)
gatório.
ARTIGO 74 1. As empresas públicas gozam de personalidade jurí-
(Crlaçlo das administrações regionais de Aguas) dica e são dotadas de autonomia administrativa, financeira
e patrimonial.
Ao Ministério da Construção e Águas competirá promo- 2. A capacidade jurídica das empresas públicas com-
ver a criação e a entrada em funcionamento das adminis- preende todos os direitos e obrigações necessários à pros-
trações regionais de águas e assegurar, entretanto, o exer secução do seu objecto, como tal fixado nos respectivos
cicio das respectivas funções. estatutos.
ARTIOO 3
ARTIGO 75
(Crlaçlo e subordlnaçlo)
(Regulamentos )
1. As empresas públicas são criadas por decreto do
Caberá ao Conselho de Ministros aprovar os regulamen- Conselho de Ministros.
tos desta lei, 2. O diploma de criação das empresas públicas definirá
ARTIGO 76 o órgão do aparelho do Estado a que se subordinam.
(Nonna revogatória) 3. As propostas de criação deverão ser acompanhadas
dos adequados estudos técnicos, económicos e financeiros,
Ê revogada toda a legislação que contrarie o disposto bem como do projecto de estruturação orgânica da em-
na presente lei. presa e ainda dos pareceres da Comissão Nacional do
Aprovada pela Assembleia da República. Plano e do Ministério das Finanças.
ARTlOO 4
O Presidente da Assembleia da República, Marcelino
dos Santos. (Estatutos)
Promulgada em 3 de Agosto de 1991. O diploma de criação das empresas públicas terá como
seu anexo os estatutos da empresa, cujo conteúdo cons-
Publique-se. titui sua parte integrante.
ARTlOO 5
O Presidente da República, JOAQUIM ALBERTO CHISSANO.
(Menç6es obrlgat6rlH dos estatutos)