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DUARTE, Constância Lima.

"Revendo o indianismo brasileiro: a lágrima de um Caeté, de


Nísia Floresta". Boletim do Centro de Estudos Portugueses, UFMG, Belo Horizonte, v. 19,
n. 25, p. 153-177, 1999.

Vinícius E. Magalhães

Resumo

Nísia Floresta nasceu em Papari, Grande do Norte em 1810, cidade que é hoje
conhecida como Nísia Floresta em homenagem à escritora. A escritora defendeu a causa
abolicionista e republicana, características que podem ser vistas em seus trabalhos.
Floresta também escreveu com temática indianista, com destaque para o poema A
lágrima de um Caetê (1849).
No poema, Floresta projeta seus anseios republicanos ao centrar sua trama na
Revolução Praieira de Recife (1848-1849), mas sob a perspectiva e a idiossincrasia do
indígena brasileiro. Com esses dois elementos narrativos combinados, Floresta propõe
um poema com crítica anticolonial, mais especificamente aos portugueses, que serão
apresentados como os algozes da soberania.
O líder da Revolução Praieira, Joaquim Nunes Machado (1809-1849), e outros
defensores da república são representados como aliados na defesa do reformismo social
e das boas causas, inclusive a indígena. Já o indígena, na figura de Caeté, apesar de
estar a parte da revolução e do mundo dos brancos, doa à narrativa sua idiossincrasia de
indígena com memória histórica.
Ao final, a revolução se mostrará frustrada, resultando mesmo na morte de Nunes
Machado. A impossibilidade de liberdade e justiça vai culminar no lamento do indígena, do
qual podemos inferir no título do poema.
Para representar essas lutas ideológicas e sentimentos dentro da narrativa, a
autora se utiliza de alegorias, como a “Realidade”, a “Liberdade” e o “Despotismo/Fúrias”
que dialogam ou interagem com Caeté. (DUARTE, 1999 p.162). A Realidade, se
personifica em vulto de uma mulher horrenda e quer alertar Caeté de suas ilusões,
tentando-o convencer de que volte às selvas.
A Liberdade logo aparece ao seu lado, personificada na figura de uma mulher bela,
porém que olha à distância Recife, pois foi expulsa. Em seu lugar, uma serpente com
armas “fúrias”, toma a cidade, representando o Despotismo.
O que se verifica no poema é que o indígena construído pela autora é bastante
diferente do de outras narrativas indigenistas em voga na época. Caeté não será
representado como "bon sauvage" ou como heroico, na narrativa de José de Alencar
(1857), mas sim com consciência histórica e ciente de seu não-lugar na sociedade.
Como afirma Duarte (1999, p.165) a autora apresenta Caeté sem qualquer
idealização, pois expõe as perdas culturais e identitárias que o indígena sofre ao entrar
em contato com o colonizador. Caeté é um índio vencido (ibid. p.167), dessa maneira,
sua tragédia se une com a do revolucionário frustrado da Revolução Praieira.
Dado como é apresentado o indígena na obra de Nísia Floresta, Duarte (1999)
propõe que “A Lágrima de um Caeté” seja uma obra com características de indigenismo,
pois não idealiza o nativo nos termos Europeus, mas o traz para o plano da realidade com
o intuito de responder a uma crítica social. Ao contrário do que se verifica em obras de
indianismo onde é representado de maneira fantasiosa.

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