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PALAVRAS 10

Teste de avaliação – 10.º ano janeiro 2019

Educação Literária

Grupo I (100 pontos)

A (80 pontos)

Lê atentamente o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.

Entra logo Inês Pereira, e finge que está de jazer sempre dum cabo.5
lavrando só, em casa, e canta esta cantiga: Todas folgam, e eu não
todas vem e todas vão
Canta Inês onde querem, senão eu.
Hui! e que pecado é o meu
Quien con veros pena y muere ou que dor de coração?
Que hará quando no os viere?1
Esta vida mais que morta.
(Falando) sam eu coruja ou corujo,
ou sam algum caramujo
Inês Renego deste lavrar que não sai senão à porta?
E do primeiro que o usou E quando me dão algum dia
‘o diabo que o eu dou, licença, como a bugia,6
que tão mao é d'aturar. que possa estar à janela,
Oh Jesu! que enfadamento é já mais que a Madanela
e que raiva e que tormento quando achou a aleluia.
que cegueira e que canseira.
Eu hei de buscar maneira Vem a Mãe e diz:
d'algum outro aviamento.2
Mãe Logo eu adivinhei
Coitada, assi hei d’ estar lá na missa onde eu estava
encerrada nesta casa como a minha Inês lavrava
como panela sem asa, a tarefa que lhe dei.
que sempre está num lugar. Acaba esse travesseiro.
E assi hão de ser logrados3 E nasceu-te algum unheiro
dous dias amargurados, ou cuidas que é dia santo?
que eu possa durar viva Inês Praza a Deos que algum quebranto7
e assi hei d’ estar cativa me tire do cativeiro.
em poder de desfiados.4 Mãe Toda tu estás aquela.
Choram-te os filhos por pão?
Comendo-me eu logo ó demo Inês Prouvesse a Deus que já é rezão
s’eu mais lavro nem pontada de eu não estar tão singela.
Já tenho a vida cansada Mãe Olhade ali o mau pesar8
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como queres tu casar


com fama de preguiçosa?
Inês Mas eu, mãe, sam aguçosa9
e vós dais-vos de vagar.

Mãe Ora espera assi, vejamos.


Inês Quem já visse esse prazer!
Mãe Cal-te, que poderá ser
que ante a páscoa vem os ramos.
Não t’ apresses tu, Inês.
maior é o ano que o mês
Quando te não precatares,
virão maridos a pares
e filhos de três em três.

Inês Quero-m'ora alevantar.


Folgo mais de falar nisso,
assi me dê Deos o paraíso
mil vezes que não lavrar.
Isto não sei que o faz
Mãe Aqui vem Lianor Vaz.
Inês E ela vem-se benzendo.

Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira

1quen com ver-vos pena e morre, que fará quando vos não vir?
2ocupação
3aproveitados
4travesseiros de franjas
5de estar sempre no mesmo sítio
6macaca
7feitiço
8que desgraça
9ativa

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Caracteriza a personagem Inês, a partir do monólogo apresentado.


2. Explicita o sentido dos versos (33 a 35): “sam eu coruja ou corujo, / ou sam algum
caramujo / que não sai senão à porta?”
3. Identifica o recurso expressivo presente na primeira fala da mãe e explica a sua
expressividade.
4. Explica as causas da tensão entre mãe e filha.

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B (20 pontos)

5. Apoiando-te no teu conhecimento da Crónica de D. João I, redige uma exposição (70-


130 palavras) sobre as características da escrita de Fernão Lopes, a partir dos tópicos
apresentados.
Deves redigir um texto estruturado com introdução, desenvolvimento e conclusão.
 Introdução: informações genéricas sobre o cronista e tema da exposição.
 Desenvolvimento: características da escrita lopeana e fundamentação.
 Conclusão: síntese das ideias desenvolvidas.

Grupo II (50 pontos)


Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Uma pessoalíssima arte do conto


O conto vem de tempos imemoriais e, como toda a ficção, obedece a um simples
caderno de encargos: ser interessante – disse-o Henry James e, antes e depois dele,
disseram-no ou pensaram-no muitos outros. Desde Decameron até Hemingway e Carver,
os formatos adotados pelo congeminador de ficções curtas têm sido os mais variados.
5 Todos válidos, nenhum se impondo como o único aceitável. Maugham, grande contista
inglês, não se importou nada, no século XX, de seguir, quase à letra o guião de
Maupassant, do século XIX. Saroyan, desbocado americano de origem arménia, varia de
formato como quem muda de camisa e cultiva, desde fábulas singelas ao gosto da velha
pátria, até conversas escabrosas e desarrumadas sobre coisas e em termos que nada
1 devem aos protocolos mais normais da narrativa.
0 Neste seu belo livro – Prantos, amores e outros desvarios – Teolinda Gersão,
que tem já, no seu ativo, quatro livros de contos, dá-nos um exemplo pessoalíssimo da
arte da short story: histórias, quase sempre, de pequeníssima dimensão, estas,
caracterizam-se, entre outras, por duas vantagens: uma finíssima e maliciosa ironia e
uma pessoalíssima liberdade de execução e de formatos e protocolos, exibindo também
1 uma enorme variedade de registos e de vozes narrativas. Tudo alimentado por uma
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prodigiosa imaginação fabricadora.
Tirando a última história – “Alice in Thunderland”, extraordinária tour de force –
todas as outras, embora muito pessoalmente concebidas e executadas, correspondem
perfeitamente ao acervo de exigências proposto por Edgar Poe, para o que deve ser uma
boa short story: ser uma ficção que dê conta de um único incidente, material ou
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espiritual, que possa ser lida de uma assentada, que seja original, que cintile, excite ou
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impressione e que deva ter uma unidade de efeito ou de impressão. A todas estas
exigências respondem, de modo exemplar, estes “prantos, amores e outros desvarios”
que em boa hora, Teolinda Gersão resolveu servir-nos.
Eugénio Lisboa, Jornal de Letras, 23 de novembro a 6 de dezembro de 2016, p. 13.
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1. As expressões sublinhadas “antes e depois dele, disseram-no ou pensaram-no muitos


outros” (ll.2-3) desempenham na frase funções sintáticas, respetivamente, de
(A) sujeito e complemento direto.
(B) complemento direto e sujeito.
(C) complemento direto e complemento indireto.
(D) complemento indireto e complemento oblíquo.

2. A frase “Desde Decameron até Hemingway e Carver, os formatos adotados pelo


congeminador de ficções curtas têm sido os mais variados.” (ll. 3-4) o complexo verbal
apresenta um valor modal de
(A) obrigação.
(B) permissão.
(C) probabilidade.
(D) certeza.

3. O vocábulo sublinhado na expressão “estas, caracterizam-se, entre outras” (ll. 13-14)


assegura a coesão e tem como referente
(A) “dimensão”.
(B) “vantagens”.
(C) “vozes narrativas”.
(D) “histórias”.

4. A expressão “grande contista inglês” (ll. 5-6) desempenha, na frase, a função sintática
de
(A) sujeito.
(B) modificador do nome apositivo.
(C) complemento do nome.
(D) modificador.

5. O processo fonológico ocorrido na evolução da seguinte palavra: ante > antes designa-
se
(A) paragoge.
(B) prótese.
(C) epêntese.
(D) aférese.
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6. Na expressão “dá-nos um exemplo pessoalíssimo da arte da short story” (ll. 12-13), o


pronome pessoal desempenha na frase a função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D) complemento oblíquo.

7. Os dois pontos, no último parágrafo,


(A) anunciam uma enumeração.
(B) introduzem uma explicação.
(C) precedem uma citação.
(D) antecedem discurso direto.

8. Classifica sintaticamente as expressões sublinhadas: “O conto vem de tempos


imemoriais e, como toda a ficção, obedece a um simples caderno de encargos” (ll. 1-2).
9. Indica a função sintática do pronome relativo na oração: “que dê conta de um único
incidente” (l. 21).
10. Identifica a modalidade presente na expressão: “que deva ter uma unidade de efeito ou
de impressão” (l. 23).

Grupo III (50 pontos)


Leitura | Escrita
Elabora uma síntese (cerca de 80 palavras) do texto (310 palavras) apresentado no
Grupo II.

Bom trabalho!

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