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O problema pode ser apontado de um modo geral e mais revelador definindo a área
monetária como o domínio no qual cada taxa de câmbio é fixada e perguntando: Qual o
domínio apropriado de uma área monetária? À primeira vista, pode parecer que a questão é
puramente acadêmica, já que dificilmente aparece dentro do campo de factibilidade política
que a moeda nacional alguma vez seria abandonada em favor de qualquer outro arranjo.
Para isso, 3 respostas podem ser dadas: (1) Certas partes do mundo estão sob processos
em andamento de integração e desintegração econômicas, novos experimentos estão
sendo feitos, e uma concepção do que constitui uma área monetária ótima pode esclarecer
o significado desses experimentos; (2) esses países, como o Canadá, que tem
experimentado com taxas de câmbio flexíveis tendem a encarar problemas particulares, que
a teoria de áreas monetárias ótimas podem elucidar se área monetária nacional não
coincidir com a área monetária ótima; e (3) a ideia pode ser usada para ilustrar certas
funções de moedas que foram tratadas inadequadamente na literatura econômica e que são
às vezes negligenciadas na consideração de problemas de política econômica.
Uma moeda única implica um único banco central (com poderes de emissão de nota) e,
portanto, uma oferta potencialmente elástica de meios de pagamentos inter-regionais. Mas
em uma área monetária compreendendo mais do que uma moeda, a oferta de meios de
pagamento internacionais é condicionada à cooperação de vários bancos centrais; nenhum
banco central pode expandir seus próprios passivos muito mais rápido do que outros bancos
centrais sem perder reservas e prejudicar convertibilidade. Isso significa que haverá uma
grande diferença entre ajuste dentro de uma área monetária com uma moeda única e uma
área monetária envolvendo mais de uma moeda; em outras palavras, haverá uma diferença
entre ajuste inter-regional e ajuste internacional mesmo que taxas de câmbio sejam fixas
nesse último caso.
Para ilustrar essa diferença, considere um modelo simples de duas entidades (regiões ou
países), inicialmente em pleno emprego e equilíbrio da balança de pagamentos, e veja o
que acontece quando esse equilíbrio é perturbado por um deslocamento da demanda dos
bens da entidade B para os bens da entidade A. Assuma que salários e preços não podem
ser reduzidos no curto prazo sem causar desemprego, e que autoridades monetárias agem
para evitar inflação.
Suponha primeiro que as entidades são países com moedas nacionais. O deslocamento da
demanda de B para A causa desemprego em B e pressão inflacionária em A. Na medida em
que preços podem subir em A, a mudança nos termos de troca aliviarão B de parte do peso
do ajuste. Mas, se A aperta restrições de crédito para evitar que os preços subam, todo o
peso do ajuste é empurrado para o país B; o que é preciso é uma redução na renda real de
B, e se isso não não pode ser realizado por uma mudança nos termos de troca – porque B
não pode reduzir, e A não irá aumentar, preços – isso pode ser alcançado através de uma
queda na produção e emprego de B. A política de países superavitários em restringir preços
portanto transmite uma tendência recessiva para a economia mundial sob taxas fixas de
câmbio ou (mais geralmente) para uma área monetária com várias moedas separadas.
Contraste essa situação com a qual as entidades são regiões dentro de uma economia
fechada com uma moeda comum, e suponha agora que o governo nacional busca uma
política de pleno emprego. O deslocamento da demanda de B para A causa desemprego na
região B e pressão inflacionária na região A e um superávit na balança de pagamentos de A.
Para corrigir o desemprego em B as autoridades monetárias aumentam a oferta de dinheiro.
A expansão monetária, contudo, agrava a pressão inflacionária na região A: de fato, a
maneira principal da política monetária ser eficaz em corrigir pleno emprego na região com
déficit é aumentando preços na região de superávit, “turning the terms of trade against B”.
Pleno emprego portanto transmite um viés inflacionário para a economia multirregional ou
(mais geralmente) para a área monetária com uma moeda comum.
Em uma área monetária compreendendo países diferentes com moedas nacionais, o ritmo
de emprego em países deficitários é definido pela boa vontade de países superavitários de
inflacionar. Mas em uma área monetária compreendendo várias regiões e uma única
moeda, o ritmo de inflação é definido pela boa vontade de autoridades centrais de permitir
desemprego em regiões deficitárias.
Os dois sistemas poderiam ser aproximados por uma mudança institucional: Desemprego
poderia ser evitado na economia mundial se bancos centrais concordassem que o peso de
um ajuste internacional deveria cair sobre países superavitários, que então inflacionariam
até que o desemprego em países deficitários seja eliminado; ou um banco central mundial
poderia ser estabelecido com poder de criar um meio de pagamento internacional. Mas uma
área monetária – de nenhum desses tipos – não consegue evitar tanto o desemprego
quanto a inflação entre seus membros. A culpa reside não no tipo de área monetária mas no
domínio da área monetária. A área monetária “ótima” não é o mundo. “Ótima” é aqui definido
em termos da habilidade de estabilizar emprego e níveis de preço nacionais.
Argumento Conclusivo
O tópico de taxas de câmbio flexíveis pode ser logicamente separado em duas questões
distintas. A primeira é se um sistema de taxas de câmbio flexíveis pode ser eficaz e eficiente
na economia mundial moderna. Para isso ser possível, deve ser demonstrado que: (1) um
sistema internacional de preço baseado em taxas de câmbio flexíveis é dinamicamente
estável depois de levar em conta demandas especulativas; (2) as mudanças na taxa de
câmbio necessárias para eliminar distúrbios normais nos equilíbrios dinâmicos não são tão
grandes a ponto de causar mudanças violentas e reversíveis entre as indústrias
concorrentes de exportação e importação (isso não é descartado pela estabilidade); (3) os
riscos criados por taxas de câmbio variáveis podem ser cobertos a custos razoáveis nos
mercados futuros; (4) bancos centrais irão abster-se de especulações monopolísticas; (5)
disciplina monetária será mantida pelas consequências políticas desfavoráveis de
depreciação contínua, e é até certo ponto mantida hoje por ameaças aos níveis de reservas
internacionais externas; (6) proteção razoável de devedores e credores pode ser garantida
para manter um fluxo crescente de movimentos de capital de longo-prazo; e (7) salários e
lucros não estão amarrados a um índice de preços no qual bens de importação são muito
pesados. Essas questões não foram explicitamente discutidas; algumas delas são tomadas
em capítulos seguintes.
A segunda questão diz respeito a como o mundo deveria ser dividido em áreas monetárias.
Nós argumentamos que o argumento de estabilização para taxas de câmbio flexíveis é
válido apenas se é baseado em áreas monetárias regionais. Se o mundo pode ser divido em
regiões em que há mobilidade de fatores dentro de cada qual, e imobilidade de fatores entre
elas, então cada uma dessas regiões deve ter uma moeda separada que flutua
relativamente a todas as outras moedas. Isso carrega o argumento para taxas de câmbio
flexíveis para sua conclusão lógica.
Mas uma região é uma unidade econômica, enquanto um domínio monetário é parcialmente
uma expressão de soberania nacional. Exceto em áreas onde abre-se mão da soberania
nacional, não é factível sugerir que moedas deveriam ser reorganizadas; a validade do
argumento por taxas de câmbio flexíveis portanto na proximidade das nações
corresponderem a regiões. O argumento funciona melhor se cada nação (e moeda) tem
mobilidade interna de fatores e imobilidade externa de fatores. Mas se trabalho e capital são
insuficientemente móveis dentro de um país, então flexibilidade dos preços externos da
moeda nacional não pode ser esperada para realizar a função de estabilização a ela
atribuída, e se poderia esperar taxas variadas de desemprego ou inflação nas diferentes
regiões. Similarmente, se fatores são móveis através de fronteiras nacionais, então um
sistema de câmbio flexível se torna desnecessário, e pode até ser positivamente prejudicial,
como eu sugeri em outro ponto.
O Canada fornece o único exemplo moderno em que um país avançado experimentou taxas
flexíveis de câmbio. De acordo com o meu argumento, o experimento deveria ser
amplamente malsucedido no que diz respeito a estabilização. Por conta da imobilidade entre
regiões, um aumento na demanda estrangeira pelos produtos de uma das regiões causaria
uma apreciação da taxa de câmbio e portanto um aumento de desemprego nas demais
regiões, um processo que poderia ser corrigido por uma política monetária que agravaria
pressões inflacionárias na primeira região; toda mudança na demanda pelos produtos em
uma região é provável que induza mudanças opostas em outras regiões que não podem ser
inteiramente modificadas por políticas nacionais de estabilização. Similarmente, o alto nível
de mobilidade de capital externo é provável que interfira com a política de estabilização por
razões completamente diferentes: Para alcançar estabilidade interna, o banco central pode
alterar condições de crédito, mas é a mudança na taxa de câmbio ao invés da mudança na
taxa de juros que produz o efeito estabilizador; esse processo indireto conduz a uma cíclica
aproximação ao equilíbrio. Embora um estudo empírico explícito seja necessário para
verificar que o experimento canadense não satisfez as reivindicações por taxas flexíveis de
câmbio, a “evidência à primeira vista” indica que não satisfez. É preciso enfatizar, contudo,
que fracasso no experimento canadense traria dúvida apenas sobre a eficácia de um
sistema de câmbio flexível em um país multirregional, não sobre um sistema de câmbio
flexível em um país unitário.