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Biorremediação de áreas contaminadas com mercúrio: Revisão bibliográfica

(Bioremediation of areas contaminated with mercury: A literature review)

Breno Almada Junior; Patricia Nascimento Tinoco.

[breno.almada2005@gmail.com] [patriciatecuezo@gmail.com]

1 FUNDAÇÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE - Programa


de Pós-graduação Strictu Sensu modalidade Profissional em Ciência e Tecnologia
Ambiental, Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO)

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2017.

Resumo

A presença dos compostos de mercúrio é preocupante por este metal pesado


apresentar potencial para bioacumulação e biomagnificação, além de seu alto grau de
toxidade aos seres humanos e persistência no ambiente. A exposição humana pode
decorrer de fontes naturais e/ou artificiais (antrópicas). Consequentemente, os
impactos ambientais provocados por resíduos de mercúrio elementar ou seus
compostos, estão relacionados com sua característica de volatilidade, permanência
em ambientes aquáticos e bioacumulação. Métodos de remediação de origem física,
química e físico-química têm sido utilizados durante alguns anos, porém alguns destes
resultavam em compostos que apresentavam ainda um nível alto de toxicidade e
também provocavam impactos ambientais indesejáveis, o que levou ao incentivo de
pesquisas na área de biorremediação. Como na biorremediação de áreas
contaminadas são utilizados organismos vivos, as condições ambientais são
essenciais para o crescimento destes organismos. Apesar de organismos como
plantas e bactérias com resistência aos compostos de mercúrio terem seu uso como
promissor, ainda serão necessários maiores estudos com respeito à volatilização dos
compostos deste metal pesado, visto que ainda não estão bem explicados os
mecanismos de formação de outros compostos tóxicos na atmosfera e estratosfera.
Desta forma, o emprego de fungos que possuam o potencial de detoxificação de
ambientes torna-se muito interessante, pois, algumas espécies como o
Aspergillusniger e o Aspergillusvesicolor, demonstraram uma ação de
descontaminação de ambientes hídricos por bioabsorção, resultando em resíduos com
baixa toxicidade, imobilizando o referido metal. Neste trabalho é apresentada uma
revisão da literatura sobre a linha de pesquisa: “Contaminação com mercúrio nas suas
diversas formas, suas utilizações, seus impactos ambientais, medidas preventivas
ocupacionais nas áreas de saúde e garimpo; descartes de produtos contendo mercúrio
e biorremediação das áreas contaminadas”.

Palavras chaves: mercúrio; contaminação; impactos; meio ambiente;


biorremediação.
Abstract

The presence of mercury compounds is worrying as this heavy metal has a great
potential of bioaccumulation and biomagnifications beyond its high toxicity level to
human beings and environmental persistence. The human exposition can be from
natural or artificial sources (anthropic). Therefore, the environmental impacts caused
by elementary mercury waste or its compounds are related with its volatility
permanence in aquatic environments and bioaccumulation. Remediation methods of
physical, chemical and physicochemical sources had been used among the years, but
some of these had resulted in compounds with high toxicity level and also undesirable
environmental impacts, which led the encouragement to bioremediation research. As
bioremediation of contaminated areas are used by live organisms, the environmental
conditions are fundamental to the growth of these organisms. In spite of organism such
as plants and bacteria with resistance to mercury compounds has a promissory use,
should be required further study with respect to volatilization of the compounds of this
heavy metal, since are not yet well explained the forming mechanisms of other toxic
compounds into the atmosphere and stratosphere. This way, the usage of fungus that
has the potential of environment detoxication can be very interesting for some species
like Aspergillusniger and Aspergillusvesicolor, demonstrated a decontamination action
of water environments by biabsorption resulting in low toxicity waste, immobilizing the
said metal. In this Paper is submitted a literature review on the research line: “Mercury
Contamination in its various ways, its utilization, its environmental impacts, preventive
labour procedures in the areas of health and gold-digging, disposal of products
containing mercury and bioremediation of the contaminated areas”.

Key words: mercury; contamination; impacts; environment; bioremediation

Devido à intensa e contínua cobre promovem uma pressão de

utilização de metais pesados pela seleção, mantendo somente os

atividade antrópica, têm-se aumentado organismos resistentes neste local

a contaminação ambiental, tornando- contaminado. Essa pressão de

se um problema pertinente e motivo de seleção pode ser utilizada para

intensa pesquisa. Para os seres selecionar organismos resistentes a

humanos, a contaminação com metais estas condições e para testá-los

pesado pode acarretar graves posteriormente quanto ao seu uso na

complicações à saúde, podendo biorremediação. Segundo Blaszczak-

causar câncer e até mesmo a morte. Boxe (2014), mercúrio é um elemento

Para organismos como plantas, fungos químico de símbolo Hg e número

e bactérias, altas concentrações de atômico 80, classificado no grupo dos

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metais pesados. O símbolo Hg vem do Os principais aspectos

nome grego Hydrargyrium, que envolvidos na biorremediação de áreas

significa prata líquida. Trata-se de um contaminadas com metais pesados,

metal tóxico e perigoso, encontrado como a toxicologia, as fontes de

naturalmente no ar, no solo e na água poluição, os mecanismos biológicos de

em baixas concentrações, sendo resistência e as estratégias para o uso

liberado em processos erosivos e de microrganismos e de plantas para a

erupções vulcânicas. remediação de áreas contaminadas

com Mercúrio foi o objetivo do presente


Baird e Cann (2008) dizem ser
artigo científico.
o mercúrio o mais volátil dos metais e

o seu vapor é altamente tóxico. Único

metal que se apresenta em estado

líquido sob condições normais de

temperatura e pressão ambiente,

assume diferentes formas químicas, o

que possibilita diferentes vias de

exposição ao ser humano e diversas

consequências após a contaminação.

Devido a sua longa

permanência no ambiente e

capacidade de biocumulação e

biomagnificação, algumas tecnologias

de remediação estão sendo

desenvolvidas para descontaminar

áreas atingidas por uma das formas

químicas do mercúrio.

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A biorremediação combina tecnologias para remover o

processos biotecnológicos com a contaminante. Em se tratando de

engenharia ambiental, visando biorremediação de metais, o processo

solucionar ou atenuar os problemas é mais complexo que a de compostos

causados pela contaminação orgânicos, pois metais não se

ambiental, sendo definida como a degradam quimicamente e/ou

aplicação de processos biológicos com biologicamente. Como exemplo, pode

objetivo de converter contaminantes ser mencionada a biorremediação de

ambientais em substâncias inertes. Em áreas contaminadas com cobre que se

geral, a utilização de métodos químicos torna possível em função das

e físicos é de custo elevado e de pouca estratégias a serem adotadas

eficiência e geralmente geram produtos (Camargo et al., 2007).

secundários que necessitam de


A primeira etapa é a seleção de
tratamento adicional. O uso de
organismos tolerantes ao cobre e a
organismos (microrganismos ou
identificação de mecanismos de
plantas) ou de seus processos para
resistência. Podendo ser obtidos em
atenuar ou remover um contaminante
áreas contaminadas que podem ter
ambiental é uma alternativa de baixo
pré-selecionado organismos resistentes
custo, eficiente e ecologicamente
em função da exclusão exercida pela
aceitável. Para a adoção da
presença de cobre em concentrações
biorremediação como prática, devem
tóxicas (Atlas e Bartha, 1998). Para a
ser obedecidos alguns critérios como o
remoção de metais estratégias como a
contaminante deve estar biodisponível;
biossorção (uso de biomassa viva ou
o solo deve apresentar condições
morta, livre ou imobilizada, onde os
satisfatórias para manter o crescimento
organismos podem estar absorvendo
de microrganismos, plantas e atividade
ou adsorvendo o metal), precipitação
de enzimas; o custo da biorremediação
(em presença de sulfetos solúveis),
deve ser menor do que as demais

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complexação (na parede ou em exposição ao ser humano são a

materiais extracelulares) e enzimas inalação de vapores em consultórios

(redução ou oxidação do metal para odontológicos, fundições. A inalação de

formas menos tóxicas ou atóxicas), altas concentrações de vapor de

entre outras podem ser adotadas. mercúrio metálico pode causar danos

(Camargo et al., 2007). aos pulmões. A inalação crônica leva a

distúrbios neurológicos, erupções


Azevedo (2003) descreve que
cutâneas, insuficiência renal e
comumente são designadas por
problemas de memória. Foi muito
espécies as diferentes formas do
utilizado também em produtos
mercúrio, sendo as mais importantes a
farmacêuticos e cosméticos. O
elementar (podendo gerar duas formas
mercúrio elementar foi utilizado em
oxidadas: íon mercuroso Hg 2
2+
e íon
alguns produtos farmacêuticos nos
mercúrico Hg2+), as espécies
velhos tempos. Há relatos que as
inorgânicas e espécies orgânicas.
pílulas antidepressivas utilizadas pelo

Mercúrio metálico ou elementar então presidente americano Abraham

(Hg) forma bem estável usada Lincoln continham mercúrio e seriam as

principalmente como matéria-prima responsáveis pelo seu frequente

para barômetros, esfigmomanômetros, comportamento bizarro no período da

aparelhos industriais, interruptores sua pré-candidatura. Danos ao sistema

elétricos e eletrônicos, lâmpadas nervoso central, disfunções neurais e

fluorescentes (incluindo as em casos mais graves, paralisia e a

fluorescentes compactas que morte, são as principais consequências

substituíram as lâmpadas da exposição aguda a este metal.

incandescentes), lâmpadas de vapor (Jardim, 2004; Baird e Cann, 2008;

de mercúrio para iluminação pública, Blaszczak-Boxe, 2014).

amálgamas odontológicos e atividades

de mineração. As principais vias de

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