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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

RIBEIRÃO PRETO

Eduardo Moisés Silva

Sueli Sousa Lima

Tributos e Obrigações Legais: A Importância do Planejamento Tributário para


redução de custos em diferentes tipos de empresas

Ribeirão Preto

2021
Eduardo Moisés Silva

Sueli Sousa Lima

Tributos e Obrigações Legais: A Importância do Planejamento Tributário para


redução de custos em diferentes tipos de empresas

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Centro Universitário
SENAC – Ribeirão Preto, como exigência
para obtenção de Título de Especialista em
Controladoria e Finanças.

Orientador: Professor Marcus Vinicius


Berzoti Ribeiro

Ribeirão Preto
2021
Eduardo Moisés Silva

Sueli Sousa Lima

Tributos e Obrigações Legais: A


Importância do Planejamento Tributário
para redução de custos em diferentes tipos
de empresas

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Centro Universitário
SENAC – Ribeirão Preto, como exigência
para obtenção de Título de Especialista em
Controladoria e Finanças.

Orientador: Prof. Marcus Vinicius Berzoti


Ribeiro

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão pública


realizada em 24/ 06 / 2021 , considerou os candidatos:

1) Examinador: Marcus Vinicius Berzoti Ribeiro

2) Examinador: Eduardo Vicente Soares


Às nossas famílias,

Por todo amor e carinho.


AGRADECIMENTOS

Aos nossos familiares, que sempre nos apoiaram.

Ao nosso orientador, pelos ensinamentos concedidos.

Aos amigos, pela solidariedade e companheirismo.


“Todas as vitórias ocultam uma abdicação”.

Simone de Beauvoir
RESUMO

O presente trabalho trouxe como tema a importância do Planejamento Tributário para


redução de custos e controle contábil nas empresas cumprindo a legislação tributária.
Considerando para tanto, os tipos de empresas, tipos de tributos e as obrigações
legais vigentes conforme a Constituição Federal. A pesquisa teve por objetivo
esclarecer a importância e enfatizar a necessidade de os administradores explorarem
e conhecerem os meios legais para diminuição da carga tributária nas finanças de sua
empresa, buscando, desse modo, calcular a tributação adequada e mais vantajosa,
de acordo com a receita de faturamento obtida. Buscando sempre a redução de
valores pagos e aumento do lucro. Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado
o levantamento teórico a respeito da legislação vigente, os tipos de tributações
existentes e suas aplicações e o papel do administrador responsável pelo
planejamento tributário. Estes elementos levantamentos foram considerados
fundamentais para consolidar a relevância, apontar os meios e apoiar a investigação
sobre o tema.

Palavras-chave: 1. Planejamento Tributário. 2. Legislação Tributária. 3. Tributos. 4.


Sistema Tributário.
ABSTRACT

The present work brought as a theme the importance of Tax Planning for cost reduction
and accounting control in companies complying with tax legislation. For this,
considering the types of companies, types of taxes, and legal obligations in force in
accordance with the Federal Constitution. The research aimed to clarify the importance
and to emphasize the need for administrators to explore and know the legal means to
reduce the tax burden on their company's finances. Seeking to calculate the
appropriate and most advantageous taxation, according to revenue of billing obtained.
Always seeking to reduce amounts paid and increase profit. For the development of
the research, a theoretical survey was used regarding the current legislation, the types
of existing taxation and their applications, and the role of the administrator responsible
for tax planning. These surveyed elements were considered essential to consolidate
relevance, point out the means, and support research on the subject.

Keywords: 1. Tax Planning. 2. Tax Legislation. 3. Taxes. 4. Tax System.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Competências Tributárias..........................................................................21


Quadro 2. Instituição de Impostos...............................................................................21
Quadro 3. Percentuais da partilha dos produtos de arrecadação..............................24
LISTA DE SIGLAS

CIDE: Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico


CMV: Custo Mercadoria Vendida
CNAE: Classificação Nacional de Atividades Econômicas
CNPJ: Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
COFINS: Contribuição para Seguridade Social
CONFAZ: Conselho Nacional de Política Fazendária
CPP: Contribuição Patronal Previdenciária
CSLL: Contribuição Social sobre Lucro Líquido
CTN: Código Tributário Nacional
DARF: Documento de Arrecadação de Receitas Federais
DAS: Documento de Arrecadação do Simples
DRE: Demonstrativo de Resultado do Exercício
EPP: Empresas de Pequeno Porte
FGTS: Fundo de Garantia sobre Tempo de Serviço
ICMS: Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IE: Inscrição Estadual
IGF: Imposto sobre Grandes Fortunas
IE: Imposto de Exportação
II: Imposto de Importação
INSS: Instituto Nacional do Seguro Social
IOF: Imposto Sobre Operações Financeiras
IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados
IPTU: Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
IPVA: Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
IR: Imposto de Renda
IRPJ: Imposto de Renda Pessoa Jurídica
ISS: Imposto sobre Serviços
ISSQN: Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).
ITCD: Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação
ITCMD: Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação
ITR: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural
LTDA: Limitada
ME: Microempresas
PIS: Programa de integração Social
SRF: Site Receita Federal
CIDE: Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12
1.1 Definição do tema ................................................................................................12
1.2 Delimitação do problema......................................................................................13
1.3 Objetivos ..............................................................................................................13
1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................13
1.3.2 Objetivos Específicos........................................................................................13
1.4 Justificativa............................................................................................................14
2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................15
2.1 Sistema tributário nacional, conceitos e espécies de tributos..............................15
2.1.1 Sistema Tributário Nacional.............................................................................16
2.1.2 O conceito de tributo........................................................................................17
2.1.3 Tipos de tributos..............................................................................................18

2.1.4 A competência para instituir tributos...............................................................20

2.1.5 Divisão do produto da arrecadação...................................................................23


2.1.6 Elementos constitutivos dos tributos.................................................................26
2.1.6.1 O Fato gerador dos tributos............................................................................26
2.1.6.2 Contribuinte ou responsável...........................................................................28
2.1.6.3 Base de cálculo..............................................................................................28
2.2 O PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO .....................................................................29
3. FORMA DE TRIBUTAÇÃO PESSOA JURÍDICA E A RELAÇÃO COM O
PLANEJAMENTO TRIBITUTÁRIO ............................................................................32
3.1 Os Regimes Tributários Vigentes ........................................................................32
3.1.1 Tributação através do lucro real .......................................................................32
3.1.2 Tributação através do lucro presumido.............................................................34
3.1.3 Tributação através do Simples Nacional...........................................................35
3.2 Finalidades do planejamento tributário.................................................................41
3.2.1 Planejamento tributário como obrigação dos administradores .........................42
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................43
REFERÊNCIAS..........................................................................................................44
12

1 INTRODUÇÃO

A questão referente ao peso da tributação brasileira é amplamente discutida,


sendo muitas vezes considerada abusiva por grande parte dos órgãos reguladores.
Devido à alta carga tributária e os impactos que esta carga causa nos negócios, muitas
empresas não resistem e fecham suas portas já nos primeiros anos de vida.

Assim, é notória a dificuldade que empresários e administradores enfrentam, já


que, dentre os maiores motivos que provocam o fechamento de empresas, encontra-
se a ausência de um planejamento tributário capaz de determinar o melhor regime a
ser utilizado pela empresa.

O planejamento tributário implica em um conjunto de sistemas legais que


possuem o objetivo de reduzir os tributos de uma entidade, permitindo que a empresa
tenha a melhor alternativa de tributação, visando amenizar o impacto dos tributos
sobre sua situação financeira, econômica e patrimonial.

No planejamento tributário devem ser analisados todos os impostos e


contribuições previstos nas legislações Federais, Estaduais e Municipais, incidentes
sobre o lucro e sobre faturamento das empresas, tais como: o IRPJ(Imposto de Renda
de Pessoa Jurídica), ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), ISS
(Impostos Sobre Serviços), PIS (Programa de Integração Social), COFINS
(Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) e CSLL (Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido), e ainda outros, existentes na legislação.

Portanto, para efeitos desse estudo, foram apresentados os tipos de


contribuições e impostos, buscando uma análise que favoreça a melhor opção
tributária decorrente do planejamento.

1.1 Definição do tema

Pela sua relevância e atualidade, especialmente no que concerne à


preservação vital da empresa, o planejamento tributário é o tema definido para a
realização do presente estudo.
13

A partir da análise dos elementos constantes do planejamento tributário, foram


apresentadas alternativas para a diminuição da carga de tributos, em conformidade
com a legislação vigente e com o processo referente a cada método de tributação,
cabendo ao administrador da empresa escolher, dentre os métodos existentes, aquele
que se apresentar como o mais vantajoso para a empresa.

1.2 Delimitação do problema

O planejamento tributário é uma ferramenta essencial para a escolha do melhor


regime tributário. A partir da análise dessa temática, foi elaborado o seguinte problema
de pesquisa: Qual o melhor regime tributário para uma empresa reduzir sua carga
tributária? Para responder a tal problema, perseguiu-se os objetivos expostos a seguir.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

● Desenvolver um estudo evidenciando a importância do planejamento


tributário para a redução da carga tributária empresarial.

1.3.2 Objetivos específicos

● Compreender a estrutura do Sistema Tributário Nacional

● Discorrer sobre os tipos de tributos existentes;

● Apresentar conceitos e definições de Lucro Real, Lucro Resumido e


Simples Nacional;

● Descrever os conceitos e definições de planejamento tributário;


14

1.4 Justificativa do tema

A escolha do regime tributário apresenta-se como um importante fator para o


sucesso e continuidade de uma empresa, pois uma escolha errada pode gerar a
necessidade do pagamento de vários impostos inadequados, comprometer a saúde
financeira da empresa e até mesmo gerar problemas fiscais com a Receita Federal.

No capítulo 2 deste trabalho são apresentados os elementos essenciais que


dão fundamentação ao tema proposto, compreendendo os principais conceitos e
análise da problemática estudada.

Já no capítulo 3 são apresentadas as escolhas da forma de tributação, as


opções e enquadramentos obrigatórios de acordo com o resultado financeiro de cada
empresa.
15

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Os principais aspectos de um planejamento tributário, como defende Scholes


et al. (2015), devem envolver: a) perspectiva global ou multilateral: considerar
implicações de tributos de todas as transações (todas as partes envolvidas); b)
considerar todos tributos: explícitos (pagos diretamente) e implícitos (pagos
indiretamente); e c) custos do planejamento tributário: podem requerer a
reestruturação da empresa.

Para fundamentar este estudo, serão abordados conceitos de contabilidade


fiscal e tributária, princípios constitucionais tributários, sistema tributário nacional,
formas de tributação de pessoa jurídica, tributação do IR, CSLL, PIS/PASEP e
COFINS, e quais impostos incidem sobre o lucro real, lucro presumido e o simples
nacional.

Foi utilizado o site do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação),


por meio do qual foi possível contar com matérias e informações atualizadas sobre o
tema.

2.1 Sistema tributário nacional, conceitos e espécies de tributos

O Sistema Tributário Nacional envolve o amplo conjunto de tributos vigente no


país, os quais são legalmente amparados pela Constituição Federal do Brasil, bem
como pelo Código Tributário Nacional, ordenamento que rege esta matéria por meio
da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966.

De acordo com Celso de Barros Correia Neto, Consultor Legislativo da Área III
(Direito Tributário e Tributação), em estudo publicado pelo IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento e Tributação), constata-se que a legislação brasileira é complexa,
confusa e de difícil interpretação. (IBPT, 2019).

De acordo com estudo de Amaral et al (2019) referente à quantidade de normas


editadas no Brasil em 31 anos da Constituição Federal de 1988, foram editadas mais
6 milhões de normas, sendo que, em média, são editadas 776 normas diariamente.
Mais especificamente, no que diz respeito a matéria tributária, foram editadas 403.322
16

normas, o que significa a edição de mais de 2,14 normas tributárias por hora (dia útil).
Assim, apontam os estudiosos que, no decorrer de 31 anos da Constituição Federal
de 1988 (até 2019), com 16 emendas constitucionais tributárias, foram criados
inúmeros tributos, como CPMF, COFINS, CIDES, CIP, CSLL, PIS IMPORTAÇÃO,
COFINS IMPORTAÇÃO, ISS IMPORTAÇÃO.

Ainda nessa perspectiva de análise, constata-se que praticamente todos os


tributos foram majorados. Observa-se que o termo “direito” é apontado em 22% das
normas editadas, sendo que “Saúde, Educação, Segurança, Trabalho, Salário e
Tributação” são temas que aparecem em 45% de toda a legislação. Por sua vez,
apenas 4,15% das normas editadas no período de 31 anos da Constituição Federal
de 1988, não sofreram nenhuma alteração. (AMARAL et al, 2019)

Portanto, em meio a esse detalhamento analítico, constatam que desde 05 de


outubro de 1988 (data da promulgação da atual Constituição Federal) até 30 de
setembro de 2019 (período abordado pelos autores), foram editadas 6.087.473 (seis
milhões, oitenta e sete mil, quatrocentos e setenta e três) normas que estabelecem
diretrizes normativas para a vida dos cidadãos brasileiros.

2.1.1 Sistema Tributário Nacional

A denominação de “Sistema Tributário Nacional” refere-se ao conjunto de todas


as regras voltadas para a regulação da instituição, cobrança, arrecadação e partilha
de tributos, sendo que, num amplo sentido, este sistema envolve as disposições
constitucionais, leis, decretos, portarias, instruções e as diversas normativas
presentes no ordenamento jurídico, as quais estão relacionadas às exigências fiscais.
(CORREIA NETO, 2019)

Vale considerar que o termo “sistema” implica em certa ordem interna ao


conjunto das normas, sendo que esta ordem diz respeito, principalmente, a uma
hierarquia. Isso significa que as disposições não estão paralelamente postas, no
mesmo patamar, existindo uma escala hierárquica entre elas. Desde modo, os
decretos devem ser produzidos e aplicados conforme as leis – ordinárias e
complementares – e essas, por sua vez, conforme a Constituição. Dessa forma, para
cobrar tributos do seus cidadãos-contribuintes, cabe ao poder público, à figura do
17

Estado, instituir e obedecer ao conjunto de diretrizes , o qual se assenta na


Constituição Federal, a Carta Maior.

No que diz respeito especificamente à matéria tributária, o texto constitucional


regula as diretrizes existentes no Capítulo I (“Do Sistema Tributário Nacional”) do
Título VI (“Da Tributação e do Orçamento”), estabelecendo também diversas outras
disposições tributárias apresentadas pelo corpo da Lei Maior.

No nível infra constitucional, estão dispostos o Código Tributário Nacional


(CTN) e as leis complementares responsáveis pela divulgação das normas gerais em
matéria de Direito Tributário, aplicáveis a todos os níveis da federação, resoluções do
Senado Federal e do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) e, em
seguida, as leis que instituem e disciplinam a cobrança de cada um dos tributos nos
diferentes entes federativos. (OLIVEIRA, 210)

Todos esses atos normativos estão reunidos e vinculados a um mesmo


“sistema” por meio da noção de tributo, conceito que será explicado no tópico
seguinte.

2.1.2 O conceito de tributo

De forma introdutória, é importante considerar que nem tudo que o cidadão é


obrigado a pagar ao Governo pode ser denominado de tributo. Desse modo, para
efeito ilustrativo, vale considerar que uma multa de trânsito, ou uma infração por ato
ilícito cometido, por exemplo, não apresentam natureza tributária. Poderá haver
punição prevista conforme a legislação, sendo, o pagamento da multa obrigatório,
podendo até mesmo levar o devedor (infrator) à cobrança judicial. Contudo, não se
trata de tributo.

Para que se configure uma exigência tributária, coloca-se a necessidade de


existirem pelo menos três características essenciais: (1) a compulsoriedade; (2) a
natureza pecuniária; (3) a não constituição de uma punição pela prática de um ato
proibido. Em outras palavras, tributo é sempre obrigatório, é dinheiro (a ser pago ao
Governo) e não se refere a uma punição por algo indevido que o contribuinte tenha
feito. (CORREIA NETO, 2019)
18

Assim, para melhor compreensão, levando em consideração os critérios


expostos, bem como as definições legislativas a respeito de tributo, ressalta-se que
as multas, embora tenham natureza pecuniária, não configuram tributo, porque
decorrem de fato ilícito, enquanto o serviço militar obrigatório, por exemplo, também
não tem natureza tributária pois, embora seja obrigatório e decorrente de fato lícito,
não é considerado tributo por faltar-lhe a característica pecuniária.

A título de mais um exemplo, a tarifa de ônibus não tem natureza tributária, pois
seus aumentos não exigem o cumprimento das mesmas restrições que se aplicam à
majoração de tributos.

A legislação brasileira apresenta duas definições de tributo. Uma delas está no


art. 3º da Lei n. 5.172/1996, o Código Tributário Nacional (CTN); a outra no art. 9º da
Lei n. 4.320/64, a chamada “Lei Geral de Orçamentos”. Na definição do CTN, tributo
é essencialmente uma “prestação pecuniária”, e na da Lei Geral de Orçamentos, trata-
se de uma receita derivada. Isso significa dizer que são fases diferentes de um mesmo
fenômeno: o cidadão paga tributo ao Estado, e este o toma para si como receita
pública, a qual será empregada para custear os serviços e demais atividades que lhe
são atribuídas pela Constituição e pela legislação vigente.

Portanto, a diferenciação entre tributos e outras formas de cobranças ou


obrigatoriedades, é fundamental. Isso porque, afirmar que certa cobrança é um tributo
sugere reconhecer que sua instituição e sua cobrança devem acatar o regime jurídico
próprio dos tributos, isto é, o conjunto de regras que se aplica especificamente a esse
tipo de exigência estatal. Ou seja, nos termos da Constituição, a cobrança deve ser
instituída por lei (art. 150, I, da Constituição), não pode ser aplicada em relação a fatos
geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que a instituiu, nem, em regra,
no mesmo exercício financeiro ou antes de decorridos noventa dias da data da sua
publicação (art. 150, I, III, “a”, “b” e “c”, da Constituição).

2.1.3 Tipos de tributos

Tendo exposta a compreensão do que define um tributo, coloca-se a


necessidade de apresentar os tipos de tributos existentes.
19

Uma compreensão bastante difundida e atualmente adotada pelo Supremo


Tribunal Federal considera cinco espécies tributárias, ou seja, cinco formas de
contribuição pecuniária decretadas ao cidadão pelo Estado, as quais envolvem:
impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais e empréstimo
compulsório. (CORREIA NETO, 2019)

Há alguns critérios que permitem a diferenciação entre os tipos de tributos


existentes, para que estes não sejam confundidos. Para tanto, são considerados, ao
menos, três critérios: (1) o fato do qual decorrem essas cobranças, o que tecnicamente
se chama de “fato gerador”; (2) a destinação legal obrigatória das receitas
arrecadadas; e (3) a previsão de um dever de devolução dos valores arrecadados
após certo tempo.

Constata-se que, embora consensualmente as noções de “tributo” e “imposto”


sejam tomadas como sinônimos, na verdade, o imposto é apenas um dos diferentes
tipos de tributo que compõem o sistema tributário nacional. Impostos são cobrados
em decorrência do contribuinte possuir alguma forma de propriedade ou riqueza,
alheios a qualquer atividade estatal (arts. 145, I, 153, 155, e 156 da CF), como por
exemplo: auferir renda (IR), praticar operação relativa à mercadoria (ICMS), ser
proprietário de imóvel urbano (IPTU). A destinação de suas receitas não é
preestabelecida pela lei nem pode ser pela legislação, e não há devolução dos valores
arrecadados, sendo esses ingressos definitivamente para o Estado.

Por outro lado, de acordo com Correia Neto (2019), as taxas e contribuições de
melhoria, implicam em atividade estatal específica que justifica sua cobrança,
conforme art. 145 (II e III). No caso das taxas, essa atividade poderá consistir no
exercício do poder de polícia (por exemplo, a fiscalização do IBAMA e a expedição de
passaporte) ou na prestação de serviço público específico e divisível (por exemplo, a
coleta domiciliar de lixo). Já a contribuição de melhoria pressupõe realização de obra
pública que implique valorização dos imóveis próximos (por exemplo, a construção de
uma praça ou uma ponte), o qual, segundo Correia Neto (2019), apresenta-se como
um tributo pouco recorrente no Brasil.

Há ainda mais duas outras espécies tributárias. As contribuições especiais (art.


149), que dizem respeito às contribuições sociais, voltadas para intervenção no
domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, as
quais estão voltadas para o custeio das atuações específicas do Estado. É essa sua
20

característica essencial. Sua cobrança em geral decorre de um fato do contribuinte,


como é caso das contribuições previdenciárias, destinadas ao financiamento da
previdência social (por exemplo, pagamento de aposentadorias). O empréstimo
compulsório (previsto no art. 148), que se distingue dos demais tributos por uma
peculiaridade: o dever de restituição ao contribuinte dos valores cobrados. A
instituição desse tributo é condicionada à edição de lei complementar (mediante exige
maioria absoluta para sua aprovação no Congresso Nacional, e à ocorrência dos
graves fatos previstos na própria Constituição), sendo admitida somente em casos
que visem: (1) atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência ou (2) no caso investimento público de
caráter urgente e de relevante interesse nacional. Deparando-se com tais
circunstâncias, cabe ao legislador definir os fatos sobre os quais devem recair esses
tributos. (CORREIA NETO, 2019)

Assim, cumprindo as exigências e características descritas, qualquer uma


dessas obrigações pode ser chamada de tributo, pois tratam-se de “prestações
pecuniárias compulsórias em moeda decorrentes de fato lícito”, colocando-se, dessa
forma, na condição de serem aplicáveis à sua cobrança as disposições próprias do
regime tributário.

2.1.4 A competência para instituir tributos

No Brasil, os tributos podem ser instituídos e cobrados por qualquer dos três
níveis de governo: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, dado que todos os
entes políticos possuem “competência tributária”, ou seja, estão imbuídos de
capacidade para instituir leis que determinam pagamentos compulsórios ao Poder
Público a título de tributo.

Importante ressaltar que esse poder é atribuído pela Constituição Federal, aos
entes políticos, da mesma forma que esta estabelece os limites que devem ser
respeitados para o exercício dessa competência, como encontra-se disposto
especialmente no art. 150 da Constituição.

Algumas questões emergem a respeito da competência e da divisão de


determinados tributos entre os diferentes entes políticos. Fica definido, por exemplo,
21

que o Imposto de Renda diz respeito à Federação, enquanto o IPTU, diz respeito ao
Município. E por quê assim está estabelecido?

É na Constituição Federal que se encontra definida a necessária distribuição


de competências tributárias, por meio da qual se estabelece quem tributa o quê. Tal
distribuição é claramente apresentada no Quadro 1, a seguir exposto.

Quadro 1 – Competências Tributárias

Fonte: Correia Neto, 2019

Como se observa, União, Estados, Distrito Federal e Municípios podem instituir


taxas e contribuições de melhoria, mas precisam ter competência para realizar a
atividade à qual a cobrança desses tributos esteja vinculada. Ou seja, no caso das
taxas, precisam ser competentes para prestar os serviços ou desempenhar as
atividades de fiscalização próprias do poder de polícia; e, no caso das contribuições
de melhoria, devem ser competentes para realizar as obras públicas.

A seu turno, a divisão de impostos é mais complexa, conforme exposto no


Quadro 2.
22

Quadro 2 – Instituição de Impostos

Fonte: Correia Neto, 2019

É importante ressaltar que, no Brasil, existem razões de ordem histórica,


política e econômica quem influenciam na composição do quadro de partilha de
competências. Assim, no que se refere à instituição de impostos pela União, esta
possui competência para: (1) impostos sobre importação de produtos estrangeiros (II);
(2) impostos sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados (IE); (3) impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza (IR);
(4) impostos sobre produtos industrializados (IPI); (5) impostos sobre operações de
crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF); (6)
impostos sobre propriedade territorial rural (ITR); e grandes fortunas (IGF). A
Constituição dá também à União a competência para instituir novos impostos e
impostos extraordinários (art. 154, I e II, respectivamente), de modo que somente a
União tem competência para tal, sendo que os demais entes políticos só podem cobrar
os impostos que são taxativamente previstos na Lei Maior.

Cabe aos Estados e o Distrito Federal, com base no art. 155, a possibilidade
de estabelecer impostos sobre: (1) transmissão causa mortis e doação, de quaisquer
bens ou direitos (ITCD ou ITCMD); (2) operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação (ICMS); e (3) propriedade de veículos automotores
(IPVA).

Por sua vez, os Municípios são competentes para instituir impostos sobre: (1)
propriedade predial e territorial urbana (IPTU); (2) transmissão "inter vivos", a qualquer
título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos
reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua
23

aquisição (ITBI); e (3) serviços de qualquer natureza, definidos em lei complementar


(ISS ou ISSQN).

Ainda, constata-se que o Distrito Federal acumula a competência tributária


estadual e municipal. Ou seja, pode instituir os impostos de competência dos Estados
e também os de competência municipal (art.147).

Cumpre salientar ainda que, somente a União pode instituir empréstimos


compulsórios (art. 148) e contribuições especiais (art. 149), a qual envolve:
contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas. Entretanto, existe uma exceção: os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios podem instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio
do regime próprio de previdência (art. 149, § 1º).

2.1.5 Divisão do produto da arrecadação

De cordo com o exposto, a Constituição Federal define as competências


tributárias, e divide o produto da arrecadação de certos tributos, de modo que, um
determinado ente político, mesmo que possua a competência para instituir o tributo,
nem sempre terá direito à integralidade do produto da sua arrecadação.

Desse modo, a divisão do produto da arrecadação não se coloca da mesma


forma que a repartição de competências tributárias, o que se justifica especialmente
pelo fato de que na divisão da competência, o ente político recebe a capacidade de
instituir e disciplinar o tributo, ao passo que no que se refere ao do produto da
arrecadação, existe apenas uma partilha, uma divisão do produto arrecadado. A esse
respeito, explica Correia Neto (2019):

A repartição do produto da arrecadação de certos tributos explica-se


pela necessidade de corrigir assimetrias na nossa Federação, tanto no
nível vertical – entre entes federados de nível diferente (ex. União e
Estados) – quanto no nível horizontal – entre entes federados de
mesmo nível (ex. Estados diferentes).
24

Pode-se recorrer ao exemplo dado por Correia Neto (2019) acerca do IR e o


IPI: ambos são tributos de competência da União, instituídos e cobrados por esse ente
político. Contudo, 46% do produto da arrecadação é partilhado com Estados,
Municípios e Distrito Federal, por meio do chamado Fundo de Participação dos
Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Em conformidade
com o art. 161 (II), o objetivo dos fundos – FPE e FPM – é “promover o equilíbrio
socioeconômico entre Estados e entre Municípios”. Além do percentual partilhado, 3%
devem ser destinados a programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através das instituições financeiras regionais,
obedecendo os planos regionais de desenvolvimento. (CORREIA NETO, 2019)

A seguir, o Quadro 3 apresenta as regras de divisão do produto da arrecadação


tributária, em conformidade com o que é definido pela Constituição Federal de 1988:
25

Quadro 3 – Percentuais da partilha dos produtos de arrecadação

Fonte: Correia Neto (2019)

Como se pode constatar, na análise do quadro exposto, a partilha recai


especialmente sobre as receitas de impostos, visto que não existe divisão do produto
da arrecadação de taxas ou de contribuições de melhoria, nem dos empréstimos
compulsórios. As receitas das contribuições especiais, previstas no art. 149 também
não são compartilhadas, com exceção da CIDE-Combustíveis (art. 159, III, e 177, §
4º), o que, inclusive, apresenta-se como uma das causas que contribuíram para a
ampliação da cobrança dessa espécie tributária, especialmente a partir da década de
1990. (CORREIA NETO, 2019)

Cumpre ressaltar que o pagamento de tributos é, por definição, compulsório e,


nesse sentido, representa uma forma do Poder Público envolver (ou invadir) o
patrimônio particular e, ao mesmo tempo, colocar-se como um dever fundamental do
cidadão. Existe no ordenamento jurídico brasileiro uma enormidade de disposições
que regulam a instituição e a existência dessas prestações. O Sistema Tributário
Nacional estabelece, assim, uma estrutura hierárquica de disposições que se
articulam em torno do tributo, envolvendo a Constituição bem como os atos normativos
infraconstitucionais.
26

Desta forma, o texto constitucional regulamenta a matéria tributária,


delimitando as competências de cada ente político, definindo procedimentos e limites
acerca da aptidão de tributar e partilhar o produto da arrecadação de impostos.
Circunstancialmente, estabelece detalhamentos e pormenores, como ocorre com o
ICMS, cujo detalhamento busca proteger o contribuinte e evitar conflitos e
sobreposições. Passíveis de ocorrerem.

Entretanto, é certo que toda a matéria tributária está sujeita a modificações,


mesmo que assentada em diretrizes constitucionais. Dessa feita, frente às críticas
incisivas que a legislação tributária enfrenta, emerge a necessidade de reformas como
um importante desafio.

O Sistema Tributário, no Brasil, encontra-se caracterizado pela urgente


mudança, em decorrência de sua complexidade e até mesmo aspectos de injustiça,
embora ainda careça de consenso a respeito das direções a serem tomadas.

2.1.6 Elementos constitutivos dos tributos

Na constituição dos tributos apresentam-se três elementos fundamentais,


sobre os quais se trata neste tópico: a) fato gerador, b) contribuinte ou responsável,
c) a base de cálculo.

2.1.6.1 O Fato gerador dos tributos

O chamado “Fato gerador” refere-se ao o evento que dá origem a uma


obrigação tributária, incorrendo na cobrança de imposto ao contribuinte. Assim, o fato
gerador de um imposto implica na ação ou ocorrência que dá origem ao imposto
cobrado pelo governo, seja ele municipal, estadual ou federal.

Portanto, estando o fato gerador relacionado à concretização da hipótese de


incidência tributária abstratamente prevista na lei, a qual deverá gerar a obrigação
tributária, pode-se encontra-lo em diferentes ações: prestar serviços (ISS), fazer
circular mercadorias (ICMS), receber renda (IR), emitir notas fiscais, escriturar livros
27

fiscais, fazer inscrição no CNPJ, Estado e Municípios, manter e conservar livros e


documentos, prestar declarações em formulários próprios, dentre outros.

A esse respeito, o CTN define o fato gerador nos Artigos. 114 115:

Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em


lei como necessária e suficiente à sua ocorrência.
Art.115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que,
na forma da legislação aplicável impõe a prática ou a abstenção de
ato que não configure obrigação principal.

Importante considerar, com base no exposto no Portal Tributário (PORTAL


TRIBUTÁRIO, 2021), que o fato gerador possui três elementos básicos:

1) Legalidade, que se refere à exigibilidade do cumprimento do


princípio constitucional da legalidade;
2) Economicidade, que se refere ao aspecto econômico do fato
tributável (como regra geral, envolvendo a base de cálculo e alíquota
do tributo) e à capacidade contributiva do sujeito passivo;
3) Causalidade, que corresponde à consequência ao efeito, do fato
gerador; enfim, ao nascimento da obrigação tributária.

No que diz respeito ao momento da ocorrência do fato gerador, pode-se


encontrar no artigo 116 do CNT, a definição das circunstâncias. Na letra da lei,
encontra-se:

Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o


fato gerador e existentes os seus efeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se
verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os
efeitos que normalmente lhe são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja
definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar
atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a
ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a
serem estabelecidos em lei ordinária. (Incluído pela LCP nº 104, de
10.1.2001) (grifos nossos)
28

Ainda, para os efeitos do inciso II do artigo 116, apresenta-se o artigo 117 do


CTN, dispondo que os atos ou negócios jurídicos condicionais serão reputados como
perfeitos e acabados:

I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu


implemento;
II - sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do ato
ou da celebração do negócio.

2.1.6.2 Contribuinte ou responsável

Como já foi apontado anteriormente, outro elemento fundamental, constitutivo


dos tributos, é o Contribuinte ou Responsável. O Contribuinte refere-se ao sujeito
passivo da obrigação tributária que tem relação pessoal e direta com a situação que
deu origem ao fato gerador. Como exemplo, pode-se considerar o proprietário de um
prédio, que será responsável pelo IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana). Por sua vez, o Responsável é o sujeito passivo que não possui
uma relação pessoal e direta com a situação que deu origem ao fato gerador, quando
a obrigação tenha sido originada em virtude de uma imposição da Lei. Desse modo,
atua como uma espécie de agente arrecadador do Fisco e como seu depositário.
Exemplo: contratação de uma empresa prestadora de serviço. (TOMO DIREITO
TRIBUTÁRIO, 2019)

2.1.6.3 Base de cálculo

A chamada Base de Cálculo é o valor no qual é aplicada a alíquota (percentual)


para apurar o valor do tributo a pagar.

A Constituição Federal estabelece que a base de cálculo precisa estar definida


em Lei Complementar, sendo que sua alteração estará sujeita aos princípios
constitucionais da legalidade, da anterioridade e da irretroatividade. Desse modo, as
por meio de leis complementares, serão definidos os critérios para a delimitação da
29

base de cálculo. Depois de definida a base de cálculo, o contribuinte deverá aplicar


sobre o valor encontrado (Alíquota de incidência), as alíquotas tributárias referentes
ao tributo a ser pago por ele, entendendo que cada tributo implica numa alíquota
própria.

As características da alíquota podem ser classificadas em Fixa e Variável. A


Fixa indica a quantia determinada para todos os contribuintes, enquanto a Variável, é
definida especificamente pela base de cálculo. (NETO COSTA, 2019)

2.2 O PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Conforme já foi explicitado na Introdução deste trabalho, o Brasil encontra-se em


meio a uma amplitude de normas, dentre as quais estão presentes um número
significativo de leis complementares e ordinárias, decretos, medidas provisórias,
emendas constitucionais, todas de cunho tributário. (AMARAL et al, 2019)

De um modo geral, pode-se afirmar que as empresas precisam seguir, em


média, quase 4 mil normas tributárias para estar em dia com a legislação brasileira.
De acordo com João Eloi Olenike, presidente executivo do IBPT, pode-se afirmar que:

O cumprimento das determinações da nossa Constituição obriga as


empresas brasileiras a destinarem, no geral, cerca de R$ 45 bilhões
por ano, com equipe de funcionários, tecnologias, sistemas e
equipamentos, a fim de acompanhar as modificações, evitar multas e
eventuais prejuízos nos negócios (IBPT, 2019).

Dentro dessa realidade, a sobrecarga tributária das empresas faz emergir a


necessidade de um planejamento tributário que dê conta de suportar a empresa, de
modo que esta não sucumba frente a tantos encargos e custos tributários.

A esse respeito, o planejamento tributário apresenta-se como um procedimento


que possibilita uma economia legal de tributos para as empresas, e deve articular as
várias dimensões empresariais: fiscais, contábeis, financeiros, societários e jurídicos,
todas de grande complexidade (ENGELMANN, 2011).

Vale enfatizar ainda que, fazer planejamento tributário é um dever legal


estabelecido pela Lei nº 6.404/76, que no artigo 153 prevê:
30

Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício


de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.

Por sua vez, a Lei nº 8.137, de 27/12/1990, no artigo 1º, define os crimes contra
a ordem tributária nos seguintes termos:

Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir


tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades
fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou
omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro
exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou
qualquer outro documento relativo à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba
ou deva saber falso ou inexato;
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou
documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação
de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a
legislação.

Contudo, em contrapartida ao que está legalmente posto, existe a possibilidade


de praticar a chamada “Elisão Tributária”, fenômeno que implica em uma estratégia
capaz de reduzir a carga tributária de uma empresa, o que se faz por meio da omissão
do fator gerador do tributo. Ou seja, trata-se de uma forma lícita de redução, isenção
ou postergação do ônus tributário anterior ao fato gerador. Portanto, fica evidente que
por meio de um planejamento torna-se possível encontrar formas, dentro da
legislação, para realizar essa manobra, sem desconsiderar a atitude legal perante os
impostos.

Desse modo, evidencia-se a necessidade de tratar de elisão fiscal antes do


nascimento da obrigação tributária (fato gerador), exatamente no período em que o
contribuinte estará fazendo, por meio do planejamento tributário, a melhor escolha de
tributação que irá utilizar. (GALHARDO; GOSS NETO; SILVA, 2005).

Portanto, conforme se aprofunda na análise acerca do planejamento tributário,


consegue-se perceber que este se apresenta como uma ferramenta fundamental a
31

ser utilizada no propósito de se reduzir as despesas, na medida em que possibilita,


estrategicamente, excluir, diminuir e retardar os tributos. Dessa forma, o planejamento
tributário apresenta-se como uma “técnica de projeção das operações”, que possibilita
o domínio das obrigações fiscais apropriadas e cabíveis para cada uma das
alternativas legais, e, posteriormente, permite a escolha e utilização da alternativa
mais adequada ao procedimento tributário previsto no âmbito de liberdade fiscal lícita
(BORGES, 2002).
32

3 FORMAS DE TRIBUTAÇÃO PESSOA JURÍDICA E A RELAÇÃO COM O


PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

No que diz respeito à pessoa jurídica, encontra-se, na realidade tributária


brasileira, três opções de regime de tributação: com base no Lucro Real, com base no
Lucro Presumido e o Simples Nacional.

Portanto, para se realizar a melhor escolha do regime de tributação para uma


empresa, deverão ser considerados alguns fatores relevantes, como o faturamento
anual, o porte da empresa, o tipo de atividade exercida pela empresa, entre outros,
considerando que a escolha feita será decisiva para o estabelecimento dos impostos
que irão incidir sobre a empresa e que deverão ser pagos por ela.

3.1 Os Regimes tributários vigentes

A seguir, apresenta-se uma breve compreensão acerca dessas três formas de


tributação de pessoa jurídica.

3.1.1 Tributação através do lucro real

O regime de tributação com base no Lucro Real apresenta-se como uma


opção que poderá ser adotada quando o lucro efetivo (Lucro Real) da empresa for
inferior a 32% do faturamento no período de apuração. Entretanto, este regime de
tributação torna-se obrigatório quando o faturamento efetivo for superior a R$ 78
milhões no período de apuração, e também em algumas atividades, como as
dispostas a seguir:

● Bancos comerciais, de investimentos ou de


desenvolvimento;
● Caixas econômicas;
● Empresas ou cooperativas de crédito;
● Empresas de crédito imobiliário, de financiamento e
investimento;
33

● Corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários


e câmbio;
● Empresas de arrendamento mercantil;
● Empresas de seguro e previdência privada aberta.
● Empresas com lucros, rendimentos ou ganhos recebidos
do exterior.

O cálculo das alíquotas no regime do Lucro Real é feito com base no lucro
efetivo obtido pela empresa, realizado por meio da seguinte fórmula:

Receitas – Despesas = Lucro Real

Para tanto, as alíquotas de impostos do Lucro Real devem ser calculadas com
base no lucro real da empresa obtido no trimestre, sendo que o período de apuração
se encerra em: 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada
ano-calendário.

O cálculo de cada tipo de imposto para Pessoa Jurídica implica numa alíquota
específica, como disposto a seguir:

● Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ): para cálculo do


IRPJ, a alíquota é de 15% para lucro de até R$20.000,00
mensais, e 25% nos casos em que o lucro for superior a esse
valor no mesmo período.

● Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL): para


cálculo da CSLL, a alíquota é de 9% em relação ao lucro
apurado no período.

● Contribuição para o PIS: para cálculo do PIS, a alíquota é


de1,65% em relação ao lucro apurado no período.

● COFINS: para cálculo do COFINS, a alíquota é de 7,6% em


relação ao lucro apurado no período.
34

3.1.2 Tributação através do lucro presumido

As pessoas jurídicas não obrigadas à apuração do Lucro Real, podem optar


pela tributação com base no Lucro Presumido. Esta opção é válida para aquelas
empresas que obtiveram uma receita bruta no ano-calendário imediatamente anterior,
cujo total tenha sido igual ou inferior a R$ 78 milhões, ou R$ 6,5 milhões multiplicados
pelo número de meses de atividade no ano-calendário.

A tributação por meio de lucro presumido é mais simplificada, e toma como


base de cálculo uma estimativa (presunção) de quanto foi o lucro da empresa, sem
haver a necessidade de uma apuração efetiva do seu faturamento total. Nesse caso,
utiliza-se para a base de cálculo um percentual que varia entre 1,6% a 32%, cuja
variação depende da atividade exercida pela empresa.

Nesse sentido, encontram-se os seguintes impostos, que incidem na tributação


de uma empresa com opção de tributação pelo Lucro Presumido:

● Tributação do IRPJ: a Tributação do Imposto de Renda da


Pessoa Jurídica (IRPJ) é obtida pelo regime de presunção, e
sobre a presunção apurada, a alíquota será sempre de 15%,
sendo que se o lucro trimestral ultrapassar a receita de 20.000
mil reais mensais haverá um valor adicional de 10%.

● CSLL: para presunção de apuração da Contribuição Social


sobre Lucro Líquido (CSLL), utiliza-se a seguinte tabela de
percentuais a serem aplicados:

▪ 12%: toda empresa que não está na alíquota de


32% (setores gerais, como industriais, comerciais e
transporte);

▪ 32%: prestação de serviços em geral, daquelas


empresas cuja presunção nas atividades seja de
32%.

▪ 9%: Sobre a parcela de presunção de lucro.


35

● PIS: o Programa de Integração Social (PIS) é mais um


imposto cobrado das empresas, possuindo uma alíquota de
0,65% sobre o faturamento mensal.

● COFINS: a Contribuição para o Financiamento da Seguridade


Social (COFINS) é mensal, possuindo alíquota de 3%.

● ISS: O Imposto Sobre Serviço (ISS) refere-se a um imposto


municipal cobrado de empresas que prestam serviços em
geral, tendo uma alíquota que varia de 2,5 a 5%, dependendo
das regras de tributação de cada localidade.

● ICMS: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços


(ICMS) é estadual e será pago somente por empresas que
trabalham com industrialização, vendas ou serviços tributados
pelos seus estados.

É importante ressaltar que as alíquotas variam de acordo com a determinação


de cada estado. Em vendas ocorridas no mesmo estado, o cálculo se faz por meio da
multiplicação do preço de um produto/serviço pela alíquota.

3.1.3 Tributação através do Simples Nacional

O regime tributário denominado Simples Nacional foi criado pela Lei


Complementar 123, em 2006, voltado para as micro, pequenas empresas e os
microempreendedores individuais (MEIs). Possui um sistema unificado de
recolhimento de tributos, que se dá por meio de uma única guia denominada DAS
(Documento de Arrecadação do Simples Nacional).

O Simples Nacional envolve 8 tributos (IRPJ, CSLL, PIS/PASEP, COFINS, IPI,


ICMS, ISS e CPP), sendo que a base de cálculo de cada tributo é diferenciada por
meio de alíquotas variáveis segundo a atividade exercida pela empresa. Para cada
atividade exercida, categorizada pela CNAE (Classificação Nacional de Atividades
Econômicas), existe um enquadramento composto por 5 anexos, cujas alíquotas
variam de 4% a 15,5% sobre o valor bruto faturado, os quais são classificados da
seguinte forma:
36

● Anexo I: comércios;

● Anexo II: indústrias;

● Anexo III: prestadores de serviço;

● Anexo IV: prestadores de serviço;

● Anexo V: prestadores de serviço.

A seguir, apresentam-se os procedimentos para o cálculo do Simples Nacional,


de acordo com a divisão dos tipos de atividades exercidas, nos respectivos Anexos.

Anexo I - Empresas de comércio em geral

Receita bruta total em 12 meses Alíquota Quanto descontar do valor recolhido

Até R$180.000,00 4% R$0

De R$180.000,01 a 360.000,00 7,30% R$ 5.940,00

De R$360.000,01 a 720.000,00 9,5% R$ 13.860,00

De R$720.000,01 a 1.800.000,00 10,7% R$ 22.500,00

De R$1.8000.000,01 a 3.600.000,00 14,3% R$ 87.300,00

De R$3.600.000,01 a 4.800.000,00 19% R$ 378.000,00

Percentual de repartição dos tributos

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP CPP ICMS

1º. 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 41,50% 34,00%

2º. 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 41,50% 34,00%

3º. 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%

4º. 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%

5º. 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%

6º. 13,50% 10,00% 28,27% 6,13% 42,10% -

Fonte: Contabilizei.com.br
37

ANEXO II - Fábricas, indústrias e empresas industriais

Receita Bruta Total em 12 meses Alíquota Quanto descontar do valor recolhido

Até R$ 180.0000,00 5% R$ 0

De 180.000,01 a 360.000,00 7,80% R$ 5.940,00

De 360.000,01 a 720.000,00 10,00% R$ 13.860,00

De 720.000,01 a 1.800.000,00 11,20% R$ 22.500,00

De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 14,70% R$ 85.500,00

De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 30% R$ 720.000,00

Percentual de repartição dos tributos

PIS/PASE
Faixas IRPJ CSLL COFINS CPP IPI ICMS
P

1º 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00%

2º 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 34,00%

3º 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 33,50%

4º 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 33,50%

5º 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 33,50%

35,00
6º 8,50% 7,50% 20,96% 4,54% 23,50% -
%

Fonte: Contabilizei.com.br
38

ANEXO III – Prestadores de serviços em instalação, manutenção e reparos,


assim como agências de viagens, escritórios de contabilidade, academias,
laboratórios e empresas de medicina e odontologia

Receita Bruta Total em 12 meses Alíquota Quanto descontar do valor recolhido

Até R$ 180.0000,00 6% R$ 0

De 180.000,01 a 360.000,00 11,20% R$ 9.360,00

De 360.000,01 a 720.000,00 13,50% R$ 17.640,00

De 720.000,01 a 1.800.000,00 16,00% R$ 35.640,00

De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 21,00% R$ 125.640,00

De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 33% R$ 648.000,00

Percentual de repartições dos tributos

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP CPP ISS

1º 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 43,40% 33,50%

2º 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 43,40% 32,00%

3º 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 43,40% 32,50%

4º 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 43,40% 32,50%

5º 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 43,40% 33,50%

6º 13,50% 10,00% 28,27% 6,13% 30,50% (*)

Fonte: Contabilizei.com.br

(*) O percentual efetivo máximo devido ao ISS será de 5%, transferindo-se a diferença,
de forma proporcional, aos tributos federais da mesma faixa de receita bruta anual.
Sendo assim, na 5a faixa, quando a alíquota efetiva for superior a 14,92537%, a
repartição será:
39

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP CPP ISS



Faixa,
com
Alíquota
alíquota Alíquota Alíquota Alíquota Alíquota Percentual
efetiva
efetiva efetiva 5%) efetiva 5%) efetiva 5%) x efetiva 5%) de ISS fixo
5%)
superior x6,02% x5,26% 4,18% x 65,26% em 5%
x19,28%
a
14,9253
7%

ANEXO IV - Empresas que fornecem serviço de limpeza, vigilância, obras,


construção de imóveis, serviços advocatícios.

Quanto descontar do valor


Receita Bruta Total em 12 meses Alíquota
recolhido

Até R$ 180.0000,00 4,5% R$ 0

De 180.000,01 a 360.000,00 9,00% R$ 8.100,00

De 360.000,01 a 720.000,00 10,20% R$ 12.420,00

De 720.000,01 a 1.800.000,00 14,00% R$ 39.780,00

De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 22,00% R$ 183.780,00

De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 33% R$ 828.000,00

Percentual de repartições dos tributos

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP ISS

1º 18,80% 15,20% 17,67% 3,83% 44,50%

2º 19,80% 15,20% 20,55% 4,45% 40,00%

3º 20,80% 15,20% 19,73% 4,27% 40,00%

4º 17,80% 19,20% 18,90% 4,10% 40,00%

5º 18,80% 19,20% 18,08% 3,92% (*) 40,00%

6º 53,50% 21,50% 20,55% 4,45% -

Fonte: Contabilizei.com.br
40

(*) O percentual efetivo máximo devido ao ISS será de 5%, transferindo-se a diferença,
de forma proporcional, aos tributos federais da mesma faixa de receita bruta anual.
Sendo assim, na 5a, quando a alíquota efetiva for superior a 12,5%, a repartição será:

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP ISS

5ª Faixa,
com alíquota Alíquota Alíquota Alíquota Alíquota
Percentual de ISS
efetiva efetiva 5%) efetiva 5%) efetiva 5%) efetiva 5%) x
fixo em 5%
superior a x31,33%% x32,00% x30,13% 6,54%
12,5%

ANEXO V - Empresas que fornecem serviço de auditoria, jornalismo,


tecnologia, publicidade, engenharia, design de produto e interiores,
serviços de tradução, atividades veterinárias, dentre outros.

Receita Bruta Total em 12 meses Alíquota Quanto descontar do valor recolhido

Até R$ 180.0000,00 16% R$ 0

De 180.000,01 a 360.000,00 18,00% R$ 4.500,00

De 360.000,01 a 720.000,00 19,50% R$ 9.900,00

De 720.000,01 a 1.800.000,00 20,50% R$ 17.100,00

De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 23,00% R$ 62.100,00

De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 31% R$ 540.000,00

Percentual de repartições dos tributos

Faixas IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP CPP ISS

1º 25,00% 15,00% 14,10% 3,05% 28,85% 14,00%

2º 23,00% 15,00% 14,10% 3,05% 27,85% 17,00%

3º 24,00% 15,00% 14,92% 3,23% 23,85% 19,00%

4º 21,00% 15,00% 15,74% 3,41% 23,85% 21,00%

5º 23,00% 12,50% 14,10% 3,05% 23,85% 23,50%

6º 35,00% 15,50% 16,44% 3,56% 29,50% -

Fonte: Contabilizei.com.br
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3.2 Finalidades do Planejamento Tributário

Conforme foi devidamente exposto, constata-se na realidade brasileira que, em


média, aproximadamente 33% do faturamento empresarial é dirigido ao pagamento
de tributos. Do lucro obtido, até 34% acaba referindo-se à carga tributária. Assim, da
somatória dos custos e despesas, mais da metade do valor é representada pelos
tributos.

Em meio à intensa globalização da economia, a correta administração do ônus


tributário aponta como uma questão de sobrevivência empresarial, tornando-se, assim
essencial a utilização de um sistema de economia legal.

Nesse contexto, o planejamento tributário tem por objetivo primordial a


economia (redução) legal da quantidade de dinheiro a ser entregue ao governo por
meio das taxas de tributação, afinal, os tributos (impostos, taxas e contribuições)
representam importante parcela dos custos das empresas, senão a maior.

Desse modo, apresentam-se três importantes finalidades do planejamento


tributário: a) evitar a incidência do fato gerador do tributo; b) reduzir o montante do
tributo, reduzir sua alíquota ou reduzir a base de cálculo do tributo; c) Retardar o
pagamento do tributo, postergando (adiando) o seu pagamento, sem a ocorrência da
multa. (ZANCULO, 2020)

No que se refere a “evitar a incidência do fato gerador do tributo”, toma-se como


exemplo a possibilidade de substituir a maior parte do valor do pró-labore dos sócios
de uma empresa, por distribuição de lucros, (considerando que a partir de janeiro/1996
eles não sofrem incidência do IR nem na fonte nem na declaração). Dessa forma,
evita-se a incidência do INSS (20%) e do IR na Fonte (27,5%) sobre o valor retirado
como lucros em substituição do pró-labore. No segundo caso, quando se busca
“reduzir o montante do tributo, sua alíquota ou reduzir a base de cálculo do tributo”,
pode-se apontar, por exemplo que, ao preencher sua Declaração de Renda, o
contribuinte pode optar por deduzir até 20% da renda tributável como desconto padrão
(com limite anual fixado) ou efetuar as deduções de dependentes, despesas médicas,
plano de previdência privada, etc. Certamente, o contribuinte escolherá aquela opção
que lhe permitirá uma maior dedução da base de cálculo, para gerar um menor
Imposto de Renda a pagar (ou um maior valor a restituir). E por fim, em relação a
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“retardar o pagamento do tributo, adiando o seu pagamento, sem a ocorrência da


multa”, exemplifica-se com a possibilidade de transferir o faturamento da empresa do
dia 30 (ou 31) para o 1º dia do mês subsequente, o que pode garantir o ganho de 30
dias adicionais para pagamento do PIS, COFINS, SIMPLES, ICMS, ISS, IRPJ e CSLL
(Lucro Real por estimativa), até 90 dias do IRPJ e CSLL (Lucro Presumido ou Lucro
Real trimestral) se for final de trimestre, e 10 a 30 dias se a empresa pagar IPI.

3.2.1 Planejamento tributário como obrigação dos administradores

Como devidamente exposto, a Lei 6.404/1976 (Lei das S/A) prevê a


obrigatoriedade do planejamento tributário por parte dos administradores de qualquer
companhia, pela interpretação do artigo 153 da referida Lei.

Fica vinculado, portanto, à atividade do administrador o cuidado e a diligência


que se deve empregar na administração de empresas, como o faria com os seus
próprios negócios. Assim, mais do que um direito facultado ao administrador, o
Planejamento Fiscal apresenta-se como obrigatório para que este profissional seja
visto como bom e competente administrador.

Com vista a esta constatação, vem ocorrendo, cada vez mais, uma
preocupação com o Planejamento Tributário, como prática usual das organizações.
Pode-se inferir que, no futuro, a não utilização desta prática tenderá a provocar o
descrédito daqueles administradores que tenham se omitido frente aos benefícios do
planejamento tributário. (VIRGENS, 2018)

Embora até o momento não se tenha conhecimento de nenhuma causa ou


ação proposta neste sentido por acionistas ou debenturistas com participação nos
lucros, já emerge a possibilidade de que, no futuro, o despreparo e descuido do
administrador para com o planejamento tributário área venha a provocar ação de
perdas e danos por parte daqueles acionistas que se sintam prejudicados pela
omissão do administrador em perseguir o menor ônus tributário.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste estudo demonstrou que o planejamento tributário é


fundamental para toda e qualquer empresa brasileira.

Mesmo que a empresa tenha expressividade de vendas e lucros, sua saúde


financeira pode ser abalada por um erro de interpretação de normas e escolha
incorreta de seu regime de tributação.

Quando a empresa investe em planejamento tributário está garantindo que seu


lucro seja melhor apurado, de forma a diminuir a carga tributária, possibilitando melhor
entendimento e controle dos tributos, evitando também possíveis desvios da
legislação vigente.

Além disso, o planejamento tributário significa possibilidade de redução de


custos e maior retenção de capital para investimentos em áreas que darão retorno
financeiro, como qualidade do produto, redução de preços, expansão comercial e
geração de empregos.

Desse modo, o planejamento tributário impacta em vantagem competitiva em


relação à concorrência que não se atente para a sua importância.

Relatadas as vantagens, é importante também salientar a relevância


pedagógica do planejamento tributário. A escolha do tema e a pesquisa deste trabalho
visa contribuir através da literatura pedagógica com o fortalecimento dos estudos de
planejamentos ligados a controladoria e finanças. O profissional da área de
controladoria e finanças necessita ter em mente que resultado financeiro é uma
consequência de várias ações, dentre elas o controle de custos e vantagens tributárias
é fundamental para a saúde de qualquer empresa.
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REFERÊNCIAS

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- Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração do imposto
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www.fazenda.gov.br/legislação. Acesso em 15/mar/2021.

_____. Lei nº 10.406, de 10/01/02. Institui o Código Civil. Disponível em:


www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3000.htm Acesso em 15/mar/2021.

_____. Lei nº 10.637, de 30/12/02. Dispõe sobre a não-cumulatividade na cobrança


da contribuição para os PIS e de Formação do Patrimônio do Servidor Público
(PASEP), nos casos que especifica; sobre o pagamento e o parcelamento de débitos
tributários federais, a compensação de créditos fiscais; a declaração de inaptidão de
inscrição de pessoas jurídicas; a legislação aduaneira; e dá outras providências.
Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3000.htm Acesso em
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