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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Centro de Comunicação, Turismo e Artes


Departamento de Jornalismo
Disciplina: Estudos em Cultura Midiática
Profa: Pedro Benevides
Aluna: Luana Aires de Souza
Data: 17/03/2021

FICHAMENTO
(BIBLIOGRAFICO E CITAÇÃO)

GERDA, Lerner. A criação do patriarcado: história da opressão de homens sobre mulheres.


São Paulo: Cultrix, 2019. 111-138.

Página Comentários e Citações


A autora inicia o texto apontando a escravidão como um divisor de águas
crucial para a humanidade derivado da guerra e da conquista:

“As fontes de escravidão que costumam ser citadas são: captura em guerra,
punição por algum crime, venda por algum familiar, venda de si mesmo por
111 débito e escravidão por dívida”

“Por mais opressiva e brutal que, sem dúvida nenhuma, tenha sido para suas
vítimas, a escravidão representou um avanço essencial no processo de
organização econômica, avanço no qual se baseou o desenvolvimento da antiga
civilização”.

“A escravidão só podia ocorrer onde existissem determinadas precondições: era


preciso haver excedentes de alimentos, meios de reprimir prisioneiros
resistentes, distinção (visual e conceitual) entre escravos e escravizadores”.
Foi necessário o desenvolvimento de diversas técnicas de escravização para o
desenvolvimento desse conceito, tanto por quem dominava quanto por quem era
113 dominado. Tais como: 1) substituição a mortes violentas, como permuta
condicional 2) Alienação natal e 3) Desonra da pessoa escravizada de forma
generalizada.
A autora defende a ideia de que foi necessário se construir de modo conceitual e
institucionalizado o status fixo e hereditário de escravo para que a escravidão
chegasse no patamar que chegou. O status de escravo se consolidou após um
processo gradual de desenvolvimento de estratificação como categoria que se
diferencia de ser humano. Esse estigma permanente era hereditário, uma
condição permanente desse grupo:

12 “A invenção crucial para além de brutalizar outro ser humano e forçá-lo a


trabalhar contra sua vontade, foi a possibilidade de classificar o grupo a ser
dominado como completamente diferente do grupo que exerce dominância”.

“Para que o status de escravo fosse institucionalizado, as pessoas precisavam ter


como certa que a possibilidade dessa dominância teria mesmo um resultado
positivo. A “invenção da escravidão” baseou-se na ideia de que um grupo de
pessoas pode ser classificado como um grupo externo, marcado a ferro como
escravizavel, forçado ao trabalho e à subordinação – [...] esse estigma de ser
escravizável, combinado com a realidade de seu status faria o grupo aceitar isso
como fato”.
Uma das defesas principais da autora é a de que uma experiência pregressa era
necessária para que homens pudessem conceber essa realidade escravagista
como possível. Essa realidade, para a autora, iniciou-se com a subordinação de
mulheres do próprio grupo pelos homens:

“A opressão de mulheres precede a escravidão e a torna possível”.


112
“Vimos como a confluência de inúmeros fatores resultou na assimetria sexual e
na divisão de trabalho com pesos desiguais para homens e mulheres. [...]A
sexualidade e o potencial reprodutivo das mulheres se tornam moeda de troca
ou adquiridas para servir a famílias; então, as mulheres eram consideradas um
grupo com menos autonomia que os homens”.
Os homens logo entendem a condição de vulnerabilidade maior das mulheres, e
no início da formação dos Estado e no estabelecimento de hierarquias e classes,
113
eles veem que assim podiam usar diferenças para separar e dividir um grupo de
pessoas de outro.
“ Quando a escravidão se tornou comum a escravidão de mulheres já era um
fato histórico. [...] Escravos eram, assim como as mulheres, pessoas inferiores
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que podiam ser escravizadas. As mulheres, sempre disponíveis para a
subordinação, eram agora consideradas escravas por serem como os escravos”.
“A invenção cultural da escravidão baseia-se tanto na criação de símbolos de
subordinação das mulheres quando na conquista real de mulheres”.
Primeiro, escraviza-se as mulheres do grupo, depois mulheres prisioneiras de
outros grupos. A partir dessa experiência os homens compreenderam que todos
116 os seres humanos podem tolerar a escravidão. Compreendendo um gradiente de
uma dominância absoluta para uma instituição social, algo da estrutura.
“Fatores biológicos e culturais predispuseram homens a escravizar mulheres
antes que aprendessem a escravizar homens”. (p.123)
As mulheres serem automaticamente entendidas como escravizáveis devido ao
processo histórico de subordinação e da instituição do patriarcado foi o mote
que leva as mulheres sobreporem/acumularem opressões: de gênero, de classe e
de raça:

“A prática de usar mulheres escravas como servas e objetos sexuais tornou-se


padrão de dominância de classe sobre as mulheres em todos os períodos
históricos”.
125-126
“Para as mulheres, a exploração sexual representava a própria definição de
escravidão [...]. De maneira semelhante, o período inicial do desenvolvimento
de classes até o presente, a dominância sexual de homens de classes mais altas
sobre mulheres de classes mais baixas é o próprio símbolo da opressão de classe
das mulheres”.

A autora ao longo do texto nos dá pistas sobre como se interseccionam as


formas de dominância sobre mulheres denunciando uma sobreposição de
opressão de gênero, sobre a classe, sobre a raça.
A autora defende que, o passo seguinte à escravização de mulheres do mesmo
grupo, a escravização sexual de mulheres prisioneiras, foi na realidade, um
passo no desenvolvimento e elaboração das instituições patriarcais, como o
116 casamento patriarcal e sua contínua ideologia de colocar a honra feminina na
castidade.
Para a autora, a esposa sob dominância/proteção patriarcal é tida como
manifestação inicial desse processo.
“Assim com a subordinação das mulheres pelos homens forneceu o modelo
conceitual para criação da escravidão como instituição, a família patriarcal
forneceu o modelo estrutural” para a escravidão.
126-127
A autoridade do homem/pai estava sobre morte e vida dos filhos, sobre o poder
de penhorar sua esposa, concubinas, filhos(as) para pagar dívidas, sobre os
parentes da esposa.
“A liberdade de outras mulheres, que nunca foi a liberdade de homens,
dependia da escravidão de algumas mulheres, e sempre foi limitada pelas
restrições de mobilidade e acesso a conhecimento e capacitação. De modo
oposto, para homens, o poder estava conceitualmente relacionado à violência e
à dominação sexual. O poder masculino depende tanto da disponibilidade de
serviços sexuais e econômicos de mulheres na esfera domestica quanto da
disponibilidade e do desempenho tranquilo da força militar”.

138 “Distinções de classe e raça, ambas manifestadas a princípio na


institucionalização da escravidão, baseiam-se no inextricável sistema de
dominância sexual e exploração econômica presente na família patriarcal e no
estado arcaico”.

Esse jogo de poder, fez com que existissem uma hierarquia de mulheres mais ou
menos oprimidas a depender das vantagens, para algumas mulheres, que
algumas posições passaram a ter, como o caso da concubina em relação à
mulher escrava.
A autora discorre sobre a institucionalização do concubinato como processo de
subjugação física de mulheres por meio de estupros e a forma que a dominação
sexual podia até fazer. A concubina e a mulher escrava estão nessa hierarquia
abaixo da mulher esposa. Mas a concubina podia, por vezes, se integrar a
família de seu senhor, alcançando um status acima da mulher escrava.

“Para as mulheres, o terror físico e a coerção, ingredientes essenciais no


processo de transformar pessoas livres em escravos, tomaram a forma de
estupro. As mulheres eram subjugadas fisicamente por meio de estupros; uma
124
vez gravidas, podiam se apegar a seus senhores em termos psicológicos. Daí
surgiu a institucionalização do concubinato, que se tornou instrumento social
para integrar mulheres prisioneiras às famílias dos captores, garantindo a estes
não apenas seus serviços fies, mas também o de seus filhos”.

“O livre acesso sexual a escravas as distingue de todas as outras pessoas tanto


quanto sua classificação jurídica como propriedade”.

A mulher escrava podia gerar renda, sendo alugada como prostituta.


“É o concubinato, evoluindo dos privilégios patriarcais de homens dominantes
128 da família, que representa a transição de dependência no casamento para a falta
de liberdade”.
124-133 A autora traz apanhados de escrituras que remontam à civilizações da
Babilônia, China, Egito para corroborar sua tese de que a escravização de
mulheres é anterior ao processo de escravização institucionalizada e anterior a
escravização de homens.

“Evidencias linguísticas de que mulheres foram escravizadas antes dos homens


também são sugestivas: o sinal cuneiforme acádio para “mulher escrava” era
“mulher” mais “montanha”, o que parece indicar a origem estrangeira de
mulheres escravas. Aliás, a maioria dos escravos vinha das montadas do leste,
provavelmente da área de Subartu”.

“A mulher escrava da Babilônia podia também ser alugada como prostituta por
um preço fixo, às vezes a um dono de bordel, às vezes a clientes particulares,
com o senhor ficando com o pagamento. Essa prática se disseminou por todo o
Oriente Próximo, no Egito, na Grécia, e na Roma da Antiguidade – de fato,
onde quer que existisse escravidão”. (p. 124)

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