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BAKHTIN, Mikhail M. Para uma filosofia do ato responsável.

Tradução aos cuidados de


Valdemir Miotello & Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010, 160p.

Pamela Ap. Cassão

Mikhail Mikhailovich Bakhtin1 (Rússia 1895 – 1975) - foi um pesquisador, pensador e filósofo
que dedicou sua vida à análise da linguagem. De família nobre, recebeu desde sempre a melhor
educação possível. Inicia sua vida acadêmica em 1913 (curso de estudos clássicos da Faculdade
Filológico-Histórica). Esteve sempre envolvido em círculos de discussões intelectuais que
influenciaram sua vida e sua teoria. Gradua-se em 1918 e envolve-se em círculos de acadêmicos
que discutiam múltiplas questões dentre elas o principal conceito de Bakhtin, o dialogismo.
Bakhtin foi condenado ao exílio em 1930 por envolvimento em grupos de discussão suspeitos

(grupos de discussão de filosofia da religião). Exílio, de 1930 a 1945 (Cazaquistão). De volta a

Rússia começa a ganhar prestígio e em 1960, ano de sua aposentadoria, atuava como chefe do
Departamento de Literatura Geral (Saransk). Fim da vida em estado de grave enfermidade (asilos
em Moscou) usando o dinheiro dos direitos autorais com o cuidado de sua saúde, até sua morte
em 1975. Bakhtin já foi definido entre os enclausurastes termos “filósofo”, “linguista”, “filólogo”,
“crítico-literário”, “semiólogo”, e mesmo tendo ele exercido todas essas atividades, melhor chamá-
lo apenas de pensador.

Para uma filosofia do Ato Responsável (Bakhtin, 1920 a 1924) permaneceu como manuscrito
inacabado até a sua publicação em 1986. A obra é composta por um conjunto de manuscritos
que Bakhtin havia guardado em um esconderijo em Saransk, cuja existência somente seria
revelada pelo próprio Bakhtin nos anos 70, quando já se sentia a salvo das perseguições
políticas. Os manuscritos foram encontrados em péssimo estado e algumas palavras não
puderam ser decifradas. Está dividida em dois amplos fragmentos: uma longa introdução e uma
seção denominada "primeira parte". Foi traduzida para o português em 2010.

Resumo
Em “Para uma filosofia do ato responsável Bakhtin lança mão de alguns conceitos fundamentais
sobre a interação da sociedade para com o indivíduo e vice e versa. E o foco está na centralidade
do ser. Há nesta obra a ênfase no compromisso com o outro. A sua responsabilidade enquanto
ser único, que ocupa também um lugar único no existir-evento singular da vida. Bakhtin faz uma
distinção entre Mundo ético/ mundo estético; mundo da cultura/ mundo da vida; responsabilidade

1
Resumo retirado da apresentação de Bakhtin para a disciplina “Tópicos especiais em pesquisa, alteridade,
formação: apontamentos teórico-metodológicos” – gentilmente cedido pela Profa. Dra. Laura Noemi Chaluh.
moral/ responsabilidade especial. Trabalha também com a compreensão dos termos
responsabilidade/responsividade; o não álibi para a existência (apor sua assinatura); a
participação no existir-evento; conhecimento/reconhecimento; a verdade (pravda) e a veracidade
(istina). Bakhtin aponta os limites da ética formal (kantiana) e diz que ao se pensar uma norma de
conduta universal deixa-se de lado a concretude do meu ato singular. Trago uma breve (e
singela) definição de cada um dos principais conceitos contidos na obra com o intuito de contribuir
com as nossas reflexões/ discussões.
Responsabilidade/responsividade: é a minha participação no ato singular da vida. Eu sou
responsável pelo que faço/digo desde o lugar que ocupo. O que faço/digo é sempre uma resposta
ao outro.
O não álibi para a existência: para Bakhtin cada sujeito é único e ocupa um lugar único na
existência; não há álibi para a existência. Não há escapatória para a responsabilidade do existir.
Viver é responder. É assumir, em cada ato uma posição axiológica frente aos valores. Cada um
de nós é convocado a responder eticamente pelos seus atos, sem álibi, sem proteção.
A participação no existir-evento: é a apreensão de um objeto no ato de compreender meu
dever com relação a ele, compreende-lo em relação a mim. Está pressuposto então a minha
participação responsável e responsiva, e não uma abstração de mim mesmo.
Conhecimento/reconhecimento: para Bakhtin a vida como concepção abstrata e conceitual não
me obriga a nada. O mundo da teoria é indiferente a singularidade de cada um. O meu ato
responsável reside no reconhecimento da minha obrigatória singularidade. O não-álibi do existir
transforma a possibilidade vazia em ato responsável real.
A verdade (pravda) e a veracidade (istina): A Verdade (Pravda) é a verdade do evento, a
experiência que me afeta, pode ser alcançada e comunicada. Istina é o conceito verdadeiro válido
em si, como por exemplo a verdade de um enunciado. É a verdade da ciência.
Mundo da vida (ético) / mundo da cultura (estético): o primeiro está ligado a experiência
vivida, a concretude do ato em sua unicidade. O segundo é mundo dos sentidos, dos atos
interpretados, dos conteúdos, tratado pelo autor como uma realidade objetiva.
O dever2: Não existe dever estético, científico e dever ético: há apenas aquilo que é
esteticamente, teoricamente, socialmente válido. Tais validades são instrumentos do dever. O
dever ganha validade dentro da unicidade de minha vida responsável e única. Não existem
normas morais que sejam determinadas e válidas em si como normas morais. Existe sim um
sujeito moral com uma determinada estrutura.
Responsabilidade moral / Responsabilidade especial: O ato, para Bakhtin pressupõe uma
responsabilidade bidirecional: a moral está ligada ao existir (ser evento único) e a especial (o seu
sentido, conteúdo). Segundo Bakhtin a comunhão das duas é forma de superar a falta de
interpenetração mútua da vida e da cultura.

2
Contribuição do Prof. Dr. João Wanderley Geraldi.

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