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TAMBÉM DE AMIE KAUFMAN E JAY KRISTOFF

O Ciclo

Aurora Aurora Nascente

Aurora Queimando

Fim de Aurora

Os Arquivos

Illuminae Illuminae

Gemina

Obsidio

Memento

TAMBÉM DE JAY KRISTOFF

A Trilogia

LIFEL1K3

LIFEL1K3 DEV1AT3

TRUEL1F3

TAMBÉM DE AMIE KAUFMAN E MEAGAN SPOONER

A Trilogia Starbound

Estas Estrelas Partidas

Este Mundo Despedaçado

Fractured Light
The Unearthed Duology

Unearthed

Undying

O Outro Lado do Céu Duologia

O Outro Lado do Céu

Além do Fim do Mundo

Publicado pela primeira vez por Allen & Unwin em 2021

Copyright © LaRoux Industries Pty Ltd. e Neverafter Pty Ltd. 2021

Ilustração de capa copyright © Charlie Bowater 2021

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida
ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou
mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou por qualquer sistema de
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administra ) enviou um aviso de remuneração à Agência de Direitos Autorais
(Austrália) de acordo com a Lei.

Allen & Unwin

83 Rua Alexander

Crows Nest NSW 2065

Austrália

Telefone: (61 2) 8425 0100


E-mail: info@allenandunwin.com

Web: www.allenandunwin.com

ISBN 978 1 76029 575 2

eISBN 978 1 76106 229 2

Para recursos de ensino, explore

www.allenandunwin.com/ recursos/para-professores

Desenho da capa por Debra Billson

Ilustração da capa por Charlie Bowater

Desenho do texto por Heather Kelly e Jen Valero

www.amiekaufman.com

www.jaykristoff.com

Para os membros de nossos esquadrões

estaríamos perdidos sem:

Amanda,

Brendan,

e agora Pip.

CONTEÚDO

PARTE 1: UMA PIPA EM UMA TEMPESTADE

1 ZILA

2.1 SCARLETT
2.2 SCARLETT

2.3 SCARLETT
2.4 SCARLETT
3 TYLER
4 TYLER

5 FINIAN

6 AURI

7 KAL

PARTE 2: DOIS EM UMA

VIDA 8 ZILA

9 FINIAN

10 TYLER

11 TYLER

12 AURI

13

KAL

15 SCARLETT

16 ZILA

17 TYLER

18 SCARLETT

19 AURI
20 KAL

PARTE 3: UM GRITO NA NOITE

21 TYLER

22 FINIAN

23 AURI

24 SCARLETT

25 TYLER

26 KAL

27 ZILA

28 AURI

29 KAL

30 AURIKAL

31 AURIKAL 342 TRÊS

UM TWO PARTE 4: VEJO VOCÊ NAS ESTRELAS 35 TYLER 36 TYLER


37 TYLER 38 AURI 39 UM ANO DEPOIS COISAS QUE VOCÊ

DEVERIA SABER ‣ SÉRIE: CICLO AURORA ▾ CAST AURORA JIE-LIN


O'MALLEY – A GAROTA FORA DO TEMPO. SÉCULOS ATRÁS, SEU

NAVIO DE COLÔNIA, O HADFIELD, DESTINOU-SE A OCTAVIA III.


AGORA SABEMOS QUE É BOM QUE ELA NÃO FEZ ISSO PORQUE
MUITO

RUIM, MUITO... COISAS BOTÂNICAS ACONTECEM COM OS


COLONOS QUE FIZERAM. INFELIZMENTE, ISSO INCLUI SEU PAI.
MAIS
SOBRE ELE EM UM MOMENTO. APÓS UNIR FORÇAS COM O
ESQUADRÃO 312 DA LEGIÃO AURORA, AURI COMEÇOU A TER
SONHOS

PROFÉTICOS, EXIBINDO PODERES TELECINÉTICOS E


GERALMENTE SE TRANSFORMANDO EM UM PEQUENO, MAS
DETERMINADO

SUPER-HERÓI. ELA APRENDEU QUE SEUS PODERES FORAM


PRESTADOS A ELA PELO ESHVAREN, UMA RAÇA MISTERIOSA
QUE

DERROTOU OS RA'HAAM EONS ATRÁS. SABER QUE SEU ANTIGO


INIMIGO ESTAVA APENAS ADORMECENDO, O ESHVAREN
DEIXOU

ATRÁS DE UMA ARMA, E UM CAMINHO PARA O ACIONAMENTO


DESSA ARMA REALIZAR TREINAMENTO EM SEU USO. DENTRO
DO

ECHO, UM ESPAÇO DE TREINAMENTO PSÍQUICO, AURI DOMINOU


SEUS PODERES — E PRATIQUEI OUTRAS COISAS COM SEU

NAMORADO, KAL. ELA SURGIU, PRONTA PARA DERRUBAR O


RA'HAAM, APENAS PARA DESCOBRIR QUE ALGUÉM JÁ TINHA
ROUBADO

A ARMA. TAMBÉM TREINADO COMO GATILHO, O SENHOR DA


GUERRA SYLDRATHI, CONHECIDO COMO STARSLAYER, USOU A
ARMA

PARA DESTRUIR O SOL DE SEU PRÓPRIO PLANETA, E AGORA


AMEAÇAVA A TERRA COM ELA. AH, E ACONTECE QUE ELE É O
PAI DE

KAL. ESSA FOI UMA CONVERSA QUE NÃO TERMINOU BEM.


ÚLTIMA VISTA: A BORDO DA ARMA, UM NAVIO DE CRISTAL,
COMBATE
COM O STARSLAYER PELO CONTROLE DE SEU PODER DE
DESTRUIR O PLANETA E SUJAR A ROUPA INFERIOR. TYLER
JERICHO JONES

— O LÍDER FICOU FUGITIVO. QUANDO TYLER PARTICIPOU DA


LEGIÃO DA AURORA, ELE NUNCA IMAGINOU QUE SEU
ESQUADRÃO

ESTARIA CHEIO DE ESCOLHAS DO FUNDO DO BARril DA


ACADEMIA. ENTÃO, NOVAMENTE, ELE NUNCA IMAGINOU QUE
ACABARIA

FUGIDO DE METADE DA GALÁXIA, ROUBANDO BANCOS E


SAQUEANDO náufragos, muito menos se unindo ao MAIOR GUERREIRO

SYLDRATHI QUE ELE JÁ VIU. EU MENCIONEI QUE ELA É IRMÃ DE


KAL, SAEDII? ESSE MENINO TEM MUITOS ESQUELETOS NO

ARMÁRIO. DE QUALQUER FORMA, TYLER USOU SEU BRILHO


TÁTICO E COVINHAS INCOMPARÁVEIS PARA FAZER A FUGA DE
SEU

ESQUADRÃO DE OCTAVIA PARA A CITY ESMERALDA, ONDE


ASSALTOU UMA GORDA PILHA DE DINHEIRO, UMA CAIXA DE
PRESENTES

MISTERIOSOS DEIXADA MUITO ANTES DE QUALQUER DESSAS


TRAVESSIAS COMEÇAR, E AS CHAVES PARA MUITO , NAVIO
NOVO

MUITO EXTRAVAGANTE. NO MEIO DE ROUBAR A CAIXA PRETA


DE HADFIELD, A GANGA FOI FAZENDO PRISIONEIRO PELO
REFERIDO

GUERREIRO SYLDRATHI, SAEDII. UMA LUTA DE PIT DRAKKAN


MAIS TARDE, TY SE ENCONTROU CAPTURADO PELA AGÊNCIA
GLOBAL
DE INTELIGÊNCIA (AKA GIA) AO LADO DE SEU NOVO INIMIGO
SYLDRATHI. ELE APRENDEU MUITAS COISAS, INCLUINDO COMO
ELA

FICA EM SUA ROUPA INTEIRA, E QUE ELE E SCARLETT NÃO SÃO


HUMANOS, COMO PENSAM, MAS QUE A MÃE ERA UMA

CAMINHANTE SYLDRATHI. ÚLTIMA VISTA: EM FUGA COM SEU


NOVO FRENEMY, SAEDII. KALIIS IDRABAN GILWRAETH — A
GUERREIRA

INCOMPREENDIDA. DOS ALTOS DE ENCONTRAR UMA NOVA


FAMÍLIA NO SQUAD 312 E ENCONTRAR AMOR COM A ARMA
PSÍQUICA

AURORA ATÉ OS BAIXOS DE SEU DESMASCARAMENTO COMO


FILHO DO STARSLAYER E SUA EXPULSÃO DO SQUAD, KAL TEVE
MUITO

TEMPO RECENTEMENTE.

EXCLUÍDO POR OMITIR O DETALHE PEQUENO DE QUE ERA FILHO


DE SEU arqui-inimigo, ELE VOLTOU AO DOBRA DA FAMÍLIA. MAS,

TORÇÃO! ELE PERMANECEU FELIZ À AURORA, E LUTA AO LADO


DELA QUANDO ELA CHEGAVA PARA ENCARAR O PAI.

ÚLTIMA VISTA: SOB ASSALTO PSÍQUICO A BORDO DA ARMA


ESHVAREN.

SCARLETT ISOBEL JONES — A FABULOSA, INSTALADORA DO


MEU PROGRAMA DE PERSONALIDADE, LUZ DA MINHA VIDA.
ELA

TAMBÉM SABE ONDE ESTÁ MEU INTERRUPTOR.

AS PALAVRAS “SE ELA APENAS SE APLICASSE” APARECIRAM


MAIS NOS RELATÓRIOS DA ACADEMIA DE SCAR DO QUE EM
QUALQUER OUTRO CADETE DA HISTÓRIA, MAS SUA EMPATIA
INCRÍVEL (OU NÃO TÃO INCRÍVEL, SE VOCÊ SABE QUE A MÃE
DELA FOI

UMA CAMINHANTE SYLDRATHI, O QUE SCAR NÃO SABE) E


LEALDADE ABSOLUTA A SEU IRMÃO GÊMEO, TYLER, A VIU
ATRAVÉS DA

GALÁXIA COM O ESQUADRÃO 312, NUNCA RASGANDO UM


PREGO.

DURANTE O TEMPO DE FUGA, O ESQUADRÃO DESCOBRIU UMA


COLEÇÃO DE PRESENTES NO REPOSITÓRIO DO DOMINION,
DEIXADO

PARA ELES MUITOS ANOS ANTES DE PARTICIPAR DA LEGIÃO


AURORA. SCAR MARCOU A MELHOR — UM COLAR INSERIDO
COM UM

GRUPO DE DIAMANTES. SÃO, COMO TODO MUNDO SABE, OS


MELHORES AMIGOS DE UMA MENINA.

DEPOIS QUE TYLER FOI TOMADO PRISIONEIRO PELO GIA,


SCARLETT E OS OUTROS FORAM IMPULSIONADOS PARA AJUDAR
AURORA

A RETIRAR A ARMA DO STARSLAYER, SALVAR A TERRA, E


CONTINUAR COM O TRABALHO DE MATAR O RA'HAAM ANTES
DE

DESPERTAR E COMER A GALÁXIA. NÃO É GRANDE.

ÚLTIMA VISTA: prestes a dar uns amassos (!!!) COM FINIAN (!!!), MAS
FUGIDO NO ÚLTIMO MOMENTO POR SUA PERCEPÇÃO DE QUE

OS DIAMANTES EM SEU COLAR NÃO SÃO DIAMANTES MAS DE


CRISTAL DE ESHVAREN (!!!).

OH SIM, E DEPOIS TUDO EXPLODIU.


FINIAN DE KARRAN DE SEEL — AQUELE QUE REALMENTE
CRESCE EM VOCÊ, QUANDO VOCÊ O CONHECE. RESIDENTE
BETRASKAN

GÊNIO MECÂNICO, FINIAN COMPROVOU SUA LEALDADE AO


SQUAD 312 SEMPRE.

ELE PODE TER SUAVE SEU EXTERIOR ABRASIVO, MAS VOCÊ


PODE RETIRAR SEU SMART-ASSERY DE SUAS MÃOS FRIAS E
MORTAS. O

QUE VOCÊ AINDA PODE FAZER, DADO QUE A ÚLTIMA COISA QUE
ELE, SCARLETT E ZILA VIRAM NO FINAL DE NOSSO ÚLTIMO
VOLUME

FOI UM FLASH DE LUZ OBRIGANTE NO MEIO DE UMA BATALHA


ESPACIAL GIGANTE PARA DEFENDER A TERRA DE UM
STARSLAYER

MUITO ILUMINADO.

ÚLTIMA VISTA: INTERROMPER SEU PRÓPRIO SONHO DE BEIJAR


(!!!) SCARLETT JONES (!!!) COM SUA REALIZAÇÃO DO COLAR.
ESSE

MENINO PRECISA SAIR DO SEU PRÓPRIO CAMINHO, SÉRIO.

ZILA MADRAN — A DOS BRINCOS. E O CÉREBRO DO TAMANHO


DE UM PLANETA.

EMBORA A EQUIPE DE ZILA PENSOU DURANTE ALGUM TEMPO


QUE ELA ERA UMA SOCIOPATA DIRETA - E EM SUA DEFESA, ELA

MOSTRAVA UMA AFEIÇÃO MUITO DOENTE PELO


CONFIGURADOR DE SUA DESTRUIÇÃO - DESDE QUE
APRENDAMOS QUE, QUANDO

CRIANÇA, ELA VIU SEUS PAIS MORTOS COMO ELES TENTARAM


PROTEGÊ-LA, E QUE ELA ESTÁ SOZINHA NA GALÁXIA DESDE JÁ.

REALIZANDO ALGUMAS BADASSERIA CONSIDERÁVEL,


INCLUINDO O ESQUADRÃO DE RESGATE 312 DA PRISÃO NO
NAVIO DA SAEDII,

ELA ELEVOU SEU JOGO DA TEÓRICA PARA A PRÁTICA, E


LENTAMENTE, MAS COM CERTEZA, O GELO PARECE ESTAR
DERRETENDO.

ÚLTIMA VISTA: SENDO SOPRADA EM SUAS MOLÉCULAS


COMPONENTES, JUNTO COM SCARLETT E FINIAN, DURANTE A
BATALHA

PARA SALVAR A TERRA.

CATHERINE BRANNOCK — A CAMARADA CAÍDA. MELHOR


AMIGO DE TYLER E SCARLETT, E O PILOTO DO SQUAD 312, CAT
“ZERO”

BRANNOCK ERA UM ÁS SEM IGUAL.

ELA FOI CONSUMIDA PELO RA'HAAM ENQUANTO O ESQUADRÃO


FOI DE OCTAVIA, MAS NÃO FOI A ÚLTIMA QUE A VIMOS. AGORA
ELA

FAZ PARTE DO RA'HAAM, E ESTÁ USANDO SEU CONHECIMENTO


PARA PERSEGUIR AURORA, TYLER E O RESTO DO Esquadrão. NÃO

ESTÁ ACIMA DE USAR SEU ROSTO FAMILIAR, TAMBÉM. QUANDO


TYLER FOI PRESO, ELA O INTERROGOU COMO PARTE DO GIA.

ÚLTIMA VISTA: DISPARANDO UM BANDO DE MÍSSEIS NA CARA


FAVORITA DE TYLER.
CAERSAN, ARCHON DO INQUEBRADO — TODA FAMÍLIA TEM UM,
E ELE É DE KAL. É ÚTIL CONHECER A POLÍTICA DE SYLDRATHI
AQUI.

ENTÃO OS SYLDRATHI ESTÃO DIVIDIDOS EM CABALS, SIM? OS


WARBREED SÃO OS GUERREIROS (A DICA ESTÁ NO NOME,

REALMENTE), E QUANDO OS SYLDRATHI ASSINARAM UM


ACORDO DE PAZ COM OS TERRANOS E BETRASKANOS, OS
GUERREIROS,

BEM... ELES PREFERIRAM CONTINUAR LUTAR.

UM PACK DELES SE DIVULGOU DE UNBROKEN E COMEÇOU UMA


GUERRA CIVIL SYLDRATHI. ERAM CONDUZIDOS POR CAERSAN,

ARCHON DO UNBROKEN, AKA O STARSLAYER. ELE GANHOU O


NOME ROUBAR A ARMA ESHVAREN QUE AURI ESTAVA
TREINANDO

PARA USAR, E EXPLODINDO O SOL DE SEU PRÓPRIO PLANETA


EM UM MOVIMENTO ÉPICO DE PODER QUE CONVENCEU TODOS
OS

OUTROS A FICAR FORA DE SEU CAMINHO ENQUANTO FAZIA


GUERRA A SEU PRÓPRIO POVO.

SEU FILHO, KAL, NÃO QUERIA NADA COM ELE E SE DIVIDIU


PARA PARTICIPAR DA AURORA LEGION INCOGNITO. NÓS VIMOS
COMO

ISSO FUNCIONOU BEM PARA ELE.

SUA FILHA, SAEDII, PERMANECEU FELIZ, E QUANDO ELA E


TYLER FORAM PRESOS PELA GIA, ELE DEIXOU BASTANTE
CLARO QUE

ESTAVA PREPARADO PARA EXPLODIR A TERRA PARA


RECUPERÁ-LA.
ÚLTIMA VISTA: AURI DE LUTA PSÍQUICA PARA CONTROLE DA
REFERIDA ARMA.

SAEDII GILWRAETH — A IRMÃ ASSUSTADORA. ENQUANTO KAL


E SUA MÃE DEIXARAM CAERSAN EM IDADE NOVA, A IRMÃ DE
KAL

ESCOLHEU FICAR COM O PAI. ELA AGORA SERVE COMO UM DE


SEUS TEMPLÁRIOS, COMANDANDO UMA ENORME E TERRÍVEL
NAVE

DE BATALHA, E UMA PARTE SIGNIFICATIVA DE SUA FROTA.

ELA É LINDA, É MORTAL, E TEM UM COLAR DE POLEGARES DE


ANTIGOS APAIXONADOS NO PESCOÇO, ENTÃO VOCÊ DEVERIA

PENSAR DUAS VEZES ANTES DE TENTAR DAR NELA.

DEPOIS DE UM CASAL DAS UNBROKEN PEGOU O NOME DE KAL


DURANTE UMA LUTA DE BAR NO SEMPITERNITY, ELA
RASTREOU A

GANG DA CIDADE ESMERALDA ATÉ OS DESTRUÍDOS DO


HADFIELD, ONDE OS LEVOU PRISIONEIROS. DEPOIS DISSO VEIO
AQUELA

COISA COM O DRAKKAN PIT FIGHT, E ELA E TYLER FORAM


PRESOS PELA AGÊNCIA GLOBAL DE INTELIGÊNCIA. O GIA,
CORROMPIDO

PELO RA'HAAM, ESTAVA TENTANDO INICIAR UM INCIDENTE


INTERPLANETÁRIO PARA DESVIAR A ATENÇÃO DE SEUS
PLANETAS

BERÇÁRIOS DE RAPIDAMENTE AMADURECIMENTO. É TUDO


MUITO COMPLICADO.

ELA ACRESCENTA A RESPOSTA QUE TYLER SE TORNOU SEMI-


ÚTIL DURANTE A SUA FUGA.

ÚLTIMA VISTA: FAZENDO UMA PAUSA COM TYLER JONES.

OS ESHVAREN — OS MISTERIOSOS ESTRANGEIROS. EONS ATRÁS,


OS ESHVAREN LUTARAM CONTRA OS RA'HAAM PARA IMPEDI-
LOS

DE TOMAR TODA A VIDA NA GALÁXIA, E ELES GANHARAM.

BEM, QUASE.

O RA'HAAM FOI REALMENTE LEVADO A SE ESCONDER,


ESPERANDO APROXIMADAMENTE UM BILHÃO DE ANOS PARA
RECUPERAR

SUA FORÇA.

SABENDO QUE NÃO ESTARIA POR PERTO QUANDO INICIAR A 2ª


RODADA, OS ESHVAREN SEMEOU A GALÁXIA COM CENTENAS
DE

ESPÉCIES - TODAS BÍPEDAS, À BASE DE CARBONO E CAPAZES DE


SE COMUNICAR UMAS COM AS OUTRAS, UM EVENTO

ANTERIORMENTE INEXPLICADO QUE LEVANTOU A FORMAÇÃO


DO FÉ UNIDA. OS ACADÊMICOS VOLTARÃO A SEGUIR, SEM
DÚVIDA,

PARA A QUESTÃO DE QUEM FEZ OS FABRICANTES.

CONHECIDOS POR SEUS LINDOS ARTEFATOS DE CRISTAL, SUA


RELAÇÃO FLEXÍVEL COM O TEMPO E SEU MISTERIOSO GERAL,
OS

ESHVAREN CRIOU O ECHO, ONDE AURORA SE TRANSFORMOU DE


VIAJANTE DO TEMPO ESTRANGADA PARA UM GUERREIRO

CÉREBRO COM UM PROPÓSITO SINGULAR.


O ESHVAREN DISSE A AURI QUE ELA SÓ PODERIA CONVOCAR O
PODER DE QUE NECESSITA SE ELA SE LIBERTOU DE TODOS OS

LAÇOS QUE A LIGAM À SUA ANTIGA VIDA. MAS AURORA


PERCEBEU NO FINAL QUE ESSES LAÇOS ERAM A RAZÃO QUE
ESTAVA

DISPOSTA A LUTAR.

ÚLTIMA VISTA: EXTINTO POR EONS.

O RA'HAAM - O INIMIGO IMPlacável E ÚNICO (LITERALMENTE).

O RA'HAAM ESTÁ TENTANDO DOMINAR A VIA LÁCITA DESDE


TEMPOS IMEMORIAIS, E DEPOIS DE SUA ÚLTIMA GRANDE
DERROTA

NAS MÃOS DE ESHVAREN, RETIROU-SE PARA VINTE E DOIS


PLANETAS OBSCUROS, ONDE SUAS ÚLTIMAS SEMENTES

SOBREVIVENTES PODEM CRESCER LENTAMENTE DE VOLTA A


SAÚDE ABAIXO DA SUPERFÍCIE. NINGUÉM CONTAVA COM
AQUELES

TERRÂNEOS MALDITOS QUE COLONIAM O PLANETA OCTAVIA,


QUE ACORDARAM OS RA'HAAM DE SEU SONHO CEDO. ELE
TOMOU OS

CORPOS DOS COLONOS - INCLUINDO, ALAS, O PAI DE AURORA - E


OS USOU PARA SE INFILTRAR NA SOCIEDADE TERRA.

ALGUNS SÉCULOS DEPOIS DE SEREM ORIGINALMENTE


INFECTADOS, OS COLONOS DE OCTAVIA CHEGARAM AO PODER,
AGORA

CONTROLANDO A AGÊNCIA DE INTELIGÊNCIA GLOBAL, OS


SUPERSCAROS BLACK-OPS DA TERRA E O EQUIPAMENTO DE
SEGURANÇA
PLANETÁRIA.

ELES SÃO CONDUZIDOS POR PRÍNCIPES, QUE EM MENTE É


SIMPLESMENTE OUTRA PARTE DO RA'HAAM, MAS EM CORPO É O
PAI DE

AURORA.

ESTES AGENTES INDIVIDUAIS NÃO PODEM GERAR OS ESPOROS


NECESSÁRIOS PARA INFECTAR OUTROS - ELES ESTÃO APENAS

PROTEGENDO-SE CONTRA MAIS INTERFERÊNCIA COM OS


PLANETAS BERÇÁRIOS, ONDE O RA'HAAM QUASE TERMINOU DE

CRESCIMENTO DE VOLTA À FORÇA COMPLETA.

EVENTUALMENTE ESTES PLANETAS ESTÃO DESENVOLVIDOS


PARA FLORESCIR E DEPOIS EXPLORAR, ENVIANDO ESPOROS
ATRAVÉS

DA DOBRA PARA CADA PLANETA HABITADO NA GALÁXIA,


ONDE INFECTAR TODA A VIDA INTELIGENTE, TORNANDO-A
PARTE DA

GRANDE INTELIGÊNCIA FUNDIDA QUE É O RA'HAAM .

CAÇANDO A AURORA E O RESTO DO ESQUADRÃO 312 PARA


MANTER SEU SEGREDO SEGURO ATÉ QUE OS OUTROS 21
BERÇÁRIOS

PLANETAS ESTARAM PRONTOS PARA FLORESCIR E ESTOURAR,


OS RA'HAAM FIZERAM TYLER E SAEDII PRISIONEIROS. ISSO DEU

INICIADO A UM INCIDENTE INTERPLANETÁRIO QUE LEVOU AO


STARSLAYER AMEAÇAR SOPRAR A TERRA EM FRAGAÇOS A
MENOS

QUE O GIA DEVOLVE SUA FILHA NESTE MESMO MINUTO.


ÚLTIMA VISTA: EM PERSEGUIÇÃO DE TYLER E SAEDII
ENQUANTO CORRAM PARA ELE. MAS ESTÁ EM TODA PARTE,
REALMENTE.

MAGELLAN — OH, OLÁ, SOU EU! NÃO VOU MENTIR. TENHO ME


SENTIDO MELHOR DO QUE ÚLTIMAMENTE – FOI APAGADO PARA
A

CIDADE DESTRUÍDA QUANDO AURORA TOCOU UMA SONDA


ESHVAREN COMIGO NO BOLSO, ENTÃO TIVE QUE PERGUNTAR
PARA

PEGAR UM DESTES INTEL PARA VOCÊ. ATUALMENTE ESTOU, UH,


EM UMA FAZENDA NO CAMPO, ONDE HÁ MUITO ESPAÇO PARA
EU

CORRER.

MAS TALVEZ EU VOLTE ANTES DO FINAL DA HISTÓRIA PARA


SALVAR O DIA? PARECE ALGO QUE EU FARIA… .

POR AGORA, PREPAREM-SE, MEUS AMIGOS, PORQUE ESTAMOS


VOLTANDO.

ERA UMA VEZ UM BANDO DE CRIANÇAS LOUCAS QUE SE


RECUSARAM A OUVIR SEU AMIGO UNIGLASS ULTRA-
INTELIGENTE… .

ZILA

Raramente me surpreendo. Em qualquer situação, habitualmente calculo as


probabilidades de todos os resultados possíveis,

garantindo que estou preparado para todas as eventualidades.

No entanto, estou extremamente surpreso ao descobrir que ainda estou vivo.


Eu passo seis segundos em choque de boca aberta, piscando lentamente.
Depois disso, pressiono dois dedos no pescoço para

verificar meu pulso, que é rápido, mas inquestionavelmente presente. Isso


sugere que não estou experimentando uma versão

inesperada da vida após a morte.

Interessante.

Uma olhada pelos visores da cabine não revela nada — nem estrelas, nem
naves, simples escuridão. Por instinto, verifico nossos sensores com falha, de
longo e curto alcance. Estranhamente, não vejo nenhum sinal da enorme
batalha que estava travando ao nosso redor momentos atrás, pouco antes da
Arma Eshvaren explodir - um incidente sem resultado possível a não ser
nossa completa

incineração.

Por mais impossível que seja, toda a armada Syldrathi, junto com as frotas
Terranas e Betraskans, e a Arma, desapareceram.

… Interessante?

Não. Enervante.

Deixei meu treinamento assumir o controle, instruindo o antigo comando de


navegação em nossa nave Syldrathi a catalogar todas as estrelas visíveis,
FoldGates e outros marcos ou fenômenos e, em seguida, informar nossa
localização atual.

Espere. Nosso.

Eu ligo nos comunicadores. – Finian, Scarlett, você ainda está...?

"Respirando?" vem a voz de Finian, um pouco desigual.

“Aparentemente sim.”
Uma onda de alívio passa por mim, e não tento evitar. É ineficiente combater
tais sensações. Melhor deixá-los passar naturalmente.

“Eu sou um garoto confuso agora,” Fin continua.

"Nós não acabamos de... explodir um momento atrás?" Scarlett pergunta.

“… Deixe-me verificar,” Fin responde.

Eu ouço um pequeno chiado. Um suspiro suave. Um longo momento se passa


e estou quase tentada a enviar uma pergunta quando

Finian fala.

"Sim", ele finalmente relata. “Definitivamente ainda estamos vivos.”

"Estou investigando", eu os aconselho, enquanto o navcom pinga


suavemente. "Por favor, espere."

Consultando os sistemas de orientação da nave, sinto uma pequena carranca


se formando entre minhas sobrancelhas. Não só não há sinal da batalha
massiva que deveria ter nos matado, também não há sinal dos corpos
planetários do sistema solar terráqueo. Sem Netuno, sem Urano, sem Júpiter.

Na verdade, não consigo detectar nenhuma característica estelar, perto ou


longe.

Sem sistemas.

Sem estrelas.

Nós... nos mudamos.

E não faço ideia de onde.

Interessante e enervante.

Um novo ícone aparece na tela do sensor de fritzing, indicando que algo está
atrás de nós. Nossos motores ainda estão desligados, desativados durante a
batalha da frota, então ligo nossos sensores traseiros, olhando para a vasta
extensão de espaço à nossa popa.

Isso...

Quer dizer...

eu, hum...

eu...

Pare com isso, legionário.

Eu chupo uma respiração profunda, endireitando minha coluna.

Eu não entendo o que estou vendo.

Começo catalogando o que pode ser observado, como faria qualquer


cientista.

Os sensores da nave estão lendo flutuações colossais ao longo dos espectros


gravitônicos e eletromagnéticos, rajadas de partículas quânticas e
reverberações através do subespaço. Mas acionando nossas câmeras traseiras,
mal consigo ver nada dessa interrupção no espectro visual.

Na verdade, a princípio, suponho erroneamente que nossas matrizes visuais


foram danificadas. Tudo é totalmente preto. E então uma luz pálida brilha ao
longe, um pequeno pulso de fótons em desintegração. E por seu breve brilho
malva, vislumbro o que só pode ser descrito como...

Uma tempestade.

Uma tempestade escura.

É enorme. Trilhões e trilhões de quilômetros de largura. Mas é totalmente


preto, exceto por aqueles breves clarões de fótons — um vazio oleoso e
fervente, tão completo que a luz simplesmente morre dentro dele.

Eu sei o que é isso.


"Uma tempestade", eu sussurro. “Uma tempestade de matéria escura.”

A sua presença já seria bastante estranha, dado que apenas momentos atrás
estávamos no limite do espaço terráqueo, onde não

existe tal anomalia espacial. Mas mais estranho ainda, vejo algo mais.
Ativando minhas configurações de ampliação, confirmo minha suspeita. A
estibordo, gravada em prata contra aquela fervilhante tempestade de
escuridão, há uma... estação espacial.

É uma coisa volumosa e feia, claramente construída para a função, não para a
estética. Parece ter sido danificado – grandes raios crepitantes de corrente
deslizam sobre sua superfície, cegantes e brancos. Do lado mais próximo de
nós, o vapor está exalando: combustível, ou se a tripulação não tiver sorte,
oxigênio e atmosfera, soprando como um hálito quente em um dia frio e
arrastado para aquela escuridão interminável e turbulenta.

Se for terráqueo, as especificações de design da estação são positivamente


arcaicas.

Mas isso não explica o que está fazendo aqui em primeiro lugar.

Ou como chegamos aqui.

Nada disso faz sentido.

“Zila?” É Scarlett. “O que está acontecendo lá fora? Você consegue ver a


Arma Eshvaren? Qual é o status da frota inimiga? Estamos em perigo?”

“Nós...” Não tenho certeza de como responder a sua pergunta.

“Zila?”

Há um cabo grosso de metal brilhante que se estende da estação. Centenas de


milhares de quilômetros de comprimento, ele se

contorce e ondula, mas mantém firme a estrutura danificada em uma


extremidade. Na outra, à beira daquela fervilhante tempestade de
matéria escura, uma grande vela de mercúrio está esticada sobre uma moldura
retangular, sua superfície rodopiando como uma mancha de óleo. Parece
minúsculo no meu visual, mas para eu poder vê-lo daqui, a vela deve ser
imensa.

Se eu não o conhecesse melhor, pensaria que era...

“Nave desconhecida, você entrou no espaço restrito dos terráqueos.


Identifique-se e forneça códigos de liberação, ou você será alvejado. Você
tem trinta segundos para obedecer.”

A voz estala no cockpit, áspera e discordante. Meu pulso aumenta um pouco,


o que é inútil.

Não consigo ver outro navio. De onde vem a voz?

Deixando de lado o fato de não ter códigos de liberação, não sei se o granizo
vem de amigo ou inimigo.

Não que meu esquadrão tenha uma longa lista de amigos agora.

Aperto o botão para comunicações intra-esquadrão e falo com urgência.


“Scarlett, por favor, corra para a ponte. Diplomacias são necessárias.”

“Navio desconhecido, identifique-se e forneça códigos de liberação. O não


cumprimento será interpretado como intenção hostil. Você tem vinte
segundos restantes.”

Examino os controles da nave e me espreguiço — todo Syldrathi com mais


de doze anos é mais alto do que eu — para pressionar o

botão que mudará nosso canal de áudio para visual. Preciso descobrir quem
está se dirigindo a mim.

O rosto que preenche minha tela de comunicação está coberto por um


aparelho de respiração preto, uma mangueira grossa

serpenteando fora de vista. A máscara esconde tudo sob os olhos do piloto e


um capacete esconde tudo acima.
No entanto, estou olhando para um terráqueo, provavelmente do leste asiático
em origem, idade e gênero incertos. Por mais estranha que seja minha
situação, talvez um terráqueo possa ser raciocinado — afinal, somos da
mesma espécie.

"Por favor, espere", eu digo. “Estou convocando o Rosto do meu time.”

“Códigos de identificação!” o piloto exige, estreitando os olhos. "Agora!"

"Entendido", eu digo a eles. “Eu não posso fornecer códigos, mas—”

“Você está violando o espaço restrito dos terráqueos! Você tem

dez segundos para fornecer a liberação adequada, ou eu atiro em você!”

Ao meu redor, alarmes acendem, luzes piscando e símbolos Syldrathi se


iluminando enquanto um alto-falante late para mim. Não

entendo as palavras, mas sei o que está dizendo.

“AVISO, AVISO: BLOQUEIO DE MÍSSIL DETECTADO.”

“Cinco segundos!”

"Por favor", eu digo. “Por favor, espere—”

“Disparando!”

Eu vejo uma pequena linha de luz aparecer em nossos scanners.

Não temos motores. Sem navegação. Sem defesas.

Já deveríamos estar mortos. Incinerado com Aurora e a Arma. Mas parece de


alguma forma injusto ter que morrer novamente.

A luz se aproxima.

“Por favor...”
O míssil ataca.

O fogo rasga a ponte.

ESTRONDO.
2.1
SCARLETT
A luz negra queima branca em minha pele. Eu posso sentir o som ao meu
redor, metálico na parte de trás da minha língua, ouvindo o toque e sentindo o
cheiro como tudo que eu sou e fui e sempre serei se despedaça e junta e junta
e junta—

“Cicatriz?”

Abro os olhos, vejo outro par de olhos diante dos meus.

Grande.

Preto.

Bonito.

Finiano.

"Você fez … ?" Eu pergunto.

"Foi isso … ?" Fin diz.

"Estranho", murmuramos.

Olho ao nosso redor, uma estranha sensação de déjà vu de gato preto e


rastejante subindo pela minha espinha.

Estamos parados no corredor do lado de fora da sala de máquinas,


exatamente onde estávamos um minuto atrás, quando a Arma

Eshvaren disparou um raio inteiro de maldade destruidora de planetas em


nossos rostos favoritos e depois explodiu em pequenos
brilhos. Mas, alegria das alegrias, não estamos, de fato, mortos.

Isso é uma boa notícia por algumas razões.

Primeiro, é claro, e falando francamente, seria uma má jogada da parte do


universo desperdiçar uma bunda como a minha incinerando-a em uma
explosão de fogo nas profundezas do espaço. Honestamente, eles aparecem,
tipo, uma vez por milênio.

Em segundo lugar, significa que o garoto que está na minha frente também
não está morto. E, estranhamente, isso é muito mais

importante para mim do que eu teria admitido algumas horas atrás.

Finian de Karran de Seel.

Ele não é totalmente meu tipo. Cérebros não musculosos. Chip em seu ombro
tão largo quanto a galáxia. Mas ele é corajoso. E ele é inteligente. E de pé tão
perto, não posso deixar de notar aquela queda de cabelo branco e pele pálida
e suave e lábios que eu quase beijei quando estávamos prestes a morrer.

Mas essa é a única razão pela qual eu fiz isso.

Porque estávamos totalmente prestes a morrer, certo?

Olhamos um para o outro, conscientes de quão perto ainda estamos. Nenhum


de nós está se afastando. Ele olha nos meus olhos e eu abro a boca, mas pela
primeira vez desde que me lembro, não tenho ideia do que dizer, e a única
coisa que me salva do

constrangimento de ficar sem palavras, quando a única coisa Eu sou muito


bom em falar, é a voz de Zila estalando nas comunicações.

– Finian, Scarlett, você ainda está...?

"Respirando?" Finian diz, sua voz um pouco irregular.

“Aparentemente sim.”
E aí está novamente. Aquele mesmo sentimento assustador de gato preto
andando em seu túmulo. A sensação de que...

“Sou um garoto confuso agora”, diz Finian.

"Nós não acabamos de... explodir um momento atrás?" Eu pergunto.

Ele encontra meus olhos novamente. Ainda posso sentir aquele quase beijo
entre nós, e sei que ele também pode. E eu o vejo se

fortalecer, respirar fundo.

“… Deixe-me verificar,” ele diz.

Eu sinto a eletricidade crepitar quando seus dedos roçam os meus. Ele pega
minha mão e olha para mim por apenas um segundo a mais em uma pergunta
silenciosa, e ele não é totalmente meu tipo, mas eu ainda não estou me
afastando. E agora ele está se

aproximando cada vez mais, e mesmo que não estejamos prestes a morrer
mais, ele está me beijando, oh Criador, ele está me

beijando, a sensação crepitando como uma corrente viva através dos meus
lábios e descendo pela minha espinha. Sinto-me subir

contra ele, beijando-o de volta, formigando quando sinto suas mãos


deslizarem sobre meus quadris, até aquela bunda que nem o

universo ousaria desperdiçar, e apertar de todas as maneiras certas.

Bem, Finian de Karran de Seel. Abençoe minhas estrelas.

Quem na galáxia teria adivinhado que você tinha jogo?

Nossos lábios se separam, e uma parte de mim dói quando ele se afasta,
falando em comunicação novamente.

"Sim", ele relata. “Definitivamente ainda estamos vivos.”


“Estou investigando”, diz Zila. "Por favor, espere."

O canal de comunicação estala, deixando-nos sozinhos. Fin e eu ainda


estamos pressionados um contra o outro e aquele beijo paira entre nós agora,
e se um de nós não disser nada, eu sei que vamos começar de novo. Dadas as
circunstâncias, essa provavelmente não é a ideia mais inteligente.

Eu olho para suas mãos.

Sim. Ainda na minha bunda.

“Sabe, quando Zila disse 'Por favor, espere', não tenho certeza se foi isso que
ela quis dizer, De Seel.”

Ele ri, nervoso, soltando seu aperto. "Desculpe."

“Não seja.”

E eu pulei para sua boca novamente, apenas uma breve colisão, forte e
quente. Mordendo o lábio enquanto me afasto para deixá-lo saber que ainda
estou com fome.

“Mas precisamos descobrir o que diabos acabou de acontecer.” "Sim." Ele


respira fundo e se afasta, arrastando seus dedos com pontas de metal pelo seu
cabelo branco. "Sim, nós fazemos."

Ainda estamos no corredor do lado de fora da sala de máquinas do ônibus


espacial, as portas ainda seladas. O ar está penetrante com o cheiro de
plasteel queimado, fiação fundida, fumaça. Olhando através do acrílico,
posso ver o que aquele projétil de canhão elétrico fez com nossos motores
quando nos atingiu, e sei que não sou especialista, mas tenho certeza de que
os motores não deveriam vir em cinquenta peças diferentes.

"Precisamos deles para voar", eu digo.

“Quem disse que você não poderia ter sido um Gearhead?”

“Todos os instrutores que já tive na academia, junto com meu orientador e o


chefe da Divisão de Engenharia.”
Finian sorri e olha ao nosso redor. Seus olhos escuros percorrem o teto, a sala
de máquinas em ruínas. E então seu olhar deriva para o meu peito. Sua
mandíbula fica um pouco frouxa, e eu posso praticamente ver seus olhos
vidrados por trás de suas lentes de contato.

O que há com meninos e peitos, honestamente?

"Ei." Eu estalo meus dedos. “Eu sei que eles são sensacionais, mas falando
sério, mente no trabalho, De Seel.”

"Não." Ele bate na garganta. “Seu colar. Lembrar?"

Eu alcanço minha garganta. Para o colar que encontramos no Dominion


Repository em Emerald City. Cada um de nós tinha um

presente esperando naquele cofre, cortesia do Almirante Adams e do Líder de


Batalha de Stoy. Tyler conseguiu suas novas botas, Kal a caixa de cigarrilha
que salvou sua vida. Finian pegou uma caneta esferográfica, com a qual ficou
hilariamente irritado; Zila ganhou um par de brincos com falcões. E eu
peguei esse colar de diamantes com as palavras Vá com o Plano B. Só que
pouco antes de sermos explodidos em nossas moléculas componentes, Fin
percebeu que não era diamante.

“É cristal Eshvaren.”

E sim, isso é estranho. Já havíamos encontrado o cristal Eshvaren na Dobra


antes — a sonda que levou Auri ao Eco. Mas isso não explica realmente por
que os comandantes da academia me deram um colar daquelas coisas.

Ou por que não estamos mortos?

A adrenalina de quase morrer e quase beijar e então definitivamente não


morrer, mas, sim, definitivamente beijar está acabando agora, e minhas mãos
estão trêmulas. Mas meus olhos ainda percorrem o corpo de Finian enquanto
ele olha ao redor do corredor daquele

jeito irritado/confuso que ele tem, como se o universo tivesse decidido


incomodá-lo especificamente. Membros envoltos no
revestimento prateado de seu exosuit, pele pálida de fantasma e olhos negros
como breu se estreitaram quando ele inclina a cabeça.

"Não que eu esteja reclamando", diz ele com cuidado. “Mas estamos
empacados em uma nave Syldrathi durante uma enorme batalha de frota
dentro do espaço terráqueo. Mesmo que sobrevivêssemos à explosão da
Arma... algum lutador terráqueo não deveria estar nos explodindo em
pedaços agora?

Eu franzo a testa, digitando comunicações.

“Zila? O que está acontecendo lá fora? Você consegue ver a Arma Eshvaren?
Qual é o status da frota inimiga? Estamos em perigo?”

“Nós...” Sua voz falha.

“Zila?”

E eu olho para Finian, e posso sentir isso nele, assim como posso sentir isso
em mim. Aquele arrepiante rastejar até nossas espinhas.

Aquele sentimento como…

“Scar, esta conversa parece… terrivelmente familiar.”

"Eu sei o que você quer dizer."

Ele balança a cabeça, franzindo a testa. “Parece loucura, mas estou tendo a
sensação mais forte de—”

“Déjà vu.”

Ele pisca. “O que diabos é déjà vu?”

“É uma sensação. A impressão de que você já disse ou fez isso antes.”

"Oh. Certo." Ele acena vigorosamente. "Sim. Eu definitivamente estou tendo


isso. Mas os betraskans chamam isso de tahk-she.
"Sim, eu sei. Mas na Terra chamamos isso de déjà vu. É francês."

“Eu não sei nada de francês.”

"Fique por perto", eu pisco. “Vou te ensinar um pouco.”

A voz de Zila interrompe as comunicações novamente, cheia de urgência.


“Scarlett, por favor, corra para a ponte. Diplomacias são necessárias.”

E novamente, estou impressionado com esse sentimento. Que já dissemos,


fizemos, vivemos esse momento antes. E mais, que acabou muito, muito mal.
Eu estendo minha mão, e Fin a pega sem pensar, e nós estamos correndo pelo
corredor juntos. O exosuit de Fin fervilha e assobia enquanto corremos, botas
batendo no metal enquanto subimos as escadas até a cabine.

Zila está sentada na cadeira do piloto, parecendo um pouco exausta, o que


para ela quase constitui um colapso nervoso completo. À

primeira vista, todos os nossos vis-systems parecem mortos - nada além de


escuridão em qualquer uma de nossas telas de

visualização. Nenhum planeta, nem mesmo nenhuma estrela, o que é meio...

Não, espere. Algumas câmeras ainda estão online, pelo menos. Eu posso ver
uma pequena estação espacial de aparência atarracada em uma tela,
arrastando um cabo pesado para aquela escuridão perfeita.

Isso não faz sentido… .

Estávamos no meio de uma enorme batalha espacial nos limites do espaço


terráqueo há alguns minutos. Para onde foram as frotas?

De onde veio essa estação? E por que não há estrelas por aí?

Zila encontra meus olhos enquanto eu olho para ela em busca de explicação,
e eu sei que parece loucura, mas uma parte de mim sabe sabe SABE...

“Acho que você também está experimentando uma sensação que sugere que
este momento está se repetindo”, diz ela.
"É francês!" Finian declara.

Um pulso de luz brilha nas telas de visualização. É escuro, malva profundo,


apenas alguns segundos de duração. Mas meu estômago dá uma pequena
reviravolta quando percebo que não é apenas escuridão lá fora. Há algum tipo
de... tempestade acontecendo. Uma

colisão gordurosa e ondulante de gavinhas escuras, tão grande que quase


quebra meu cérebro.

Fin pisca. "É aquele … ?"

“Uma tempestade de matéria escura”, murmura Zila. "Sim."

Olho para a tela de comunicação, o gosto de metal queimado na minha


língua, a escrita luminosa de Syldrathi rastejando pelas leituras.

Eu posso ver as características do que é definitivamente um terráqueo no


monitor – mulher, jovem – mas seu rosto está quase todo obscurecido pelo
respirador e capacete de um piloto. Ela tem duas insígnias de diamante em
seu colarinho marcando-a como tenente, mas isso definitivamente não é um
uniforme da Força de Defesa Terráquea que ela está vestindo. Minha primeira
impressão é que ela é uma foda de 17º nível. Mas sua voz soa um pouco
incerta.

“Ouça… você precisa se identificar e fornecer códigos de liberação. Você


tem dez segundos.”

Tecnicamente, o Esquadrão 312 é procurado por terrorismo galáctico, então


decido ficar um pouco confuso com a coisa toda de

“Identifique-se”. Eu escovo meu cabelo para trás, conjuro um comportamento


suave do meu saco de truques e ronrono no microfone.

“Eu não posso dizer o quão bom é vê-lo, tenente! Pensávamos que estávamos
em apuros. Nossa nave está danificada, nossos motores estão desligados e
precisamos da sua ajuda, cum.

“Esta é uma área restrita”, responde o piloto, ainda um pouco trêmulo.


"Como você chegou aqui? E o que diabos você está voando?”

"É uma história muito longa, Tenente", eu sorrio, caloroso e amigável. “Mas
nossa situação de suporte de vida não é exatamente filhotes e sol por aqui,
então se você puder nos oferecer um reboque, eu posso te pagar uma bebida e
te contar tudo sobre isso.”

Uma longa pausa se segue, minha mandíbula apertada.

“Tudo bem”, o piloto finalmente declara. “Vou disparar um cabo de reboque


e trazê-lo para a doca. Mas você fizer qualquer movimento errado, eu vou
explodir suas bundas em todo o sistema sem nem pensar duas vezes sobre
isso.”

Eu sorrio. "Isso é uma ótima notícia, Tenente."

“Obrigadooooo!” Finian aparece atrás de mim e acena. “Você é tão sábia


quanto bonita, madame!”

A voz do piloto se transforma em gelo. O pouco que posso ver de sua


expressão endurece como pedra. "Você tem um maldito

Betraskan a bordo?"

Ao nosso redor, alarmes acendem, luzes vermelhas piscando e símbolos


Syldrathi se iluminando, e um alto-falante late.

“AVISO, AVISO: BLOQUEIO DE MÍSSIL DETECTADO.”

Uma pequena linha de luz aparece em nossos scanners. Olho para os outros,
indefesos, selvagens. Não temos motores. Sem

navegação. Sem defesas.

"Oh merda...", eu respiro.

— Cicatriz... — Fin sussurra.

A luz se aproxima. Nossos dedos se tocam.


“Não tenha medo,” Zila franze a testa. “Não dói muito.”

"… O que?" Eu pergunto.

O míssil atinge.

O fogo rasga a ponte.

ESTRONDO.
2.2
SCARLETT
A luz negra queima branca em minha pele. Eu posso sentir o som ao meu
redor, metálico na parte de trás da minha língua, ouvindo o toque e sentindo o
cheiro como tudo que eu sou e fui e sempre serei se despedaça e junta e junta
e junta—

“Cicatriz?”

Abro os olhos, vejo outro par de olhos diante dos meus.

Grande.

Preto.

Bonito.

Finiano.

"Você fez … ?" Eu pergunto.

"Foi isso … ?" Fin diz.

"Estranho", murmuramos.

Olho em volta, uma estranha sensação de déjà vu de déjà vu subindo pela


minha espinha. Estamos no corredor do lado de fora da sala de máquinas. E,
alegria das alegrias, não estamos, de fato, mortos.

Mas...

Espere...

Não acabamos de...?


Olho para Finian, consciente de quão perto estamos. Ele olha nos meus olhos,
mas não tenho ideia do que dizer, e sou salva do

constrangimento de ficar sem palavras por Zila.

– Finian, Scarlett, você ainda está...?

"Respirando?" Finian diz, sua voz um pouco irregular.

“Aparentemente sim.”

E aí está novamente. Aquela sensação assustadora de gato preto andando em


seu túmulo. A sensação de que...

“Sou um garoto confuso agora”, diz Finian.

"Nós não acabamos de... explodir um momento atrás?" Eu pergunto.

Ele encontra meus olhos novamente. Eu o vejo se fortalecer, respirar fundo.

“… Deixe-me verificar.”

Eu sinto a eletricidade crepitar quando seus dedos roçam os meus e então, oh


Criador, ele está me beijando, a sensação crepitando como uma corrente viva
através dos meus lábios e—

“Pare,” eu digo, me afastando. "Não, pare, Fin... espere..."

Eu estou olhando para ele, e ele está olhando de volta com a mesma
expressão confusa que eu provavelmente estou usando, e de

alguma forma, de alguma forma, antes que ele fale eu sei exatamente o que
ele vai dizer.

“Scar, estou tendo a sensação mais forte de—”

“Déjà vu.”

Ele pisca uma vez. “… Isso é francês.”


"Você não sabe nada de francês", eu digo, minha barriga dando cambalhotas.

Ele se afasta de mim, o convés parecendo se mover sob meus pés, e há um


pedaço frio de gelo onde meu estômago costumava estar

enquanto ele olha ao nosso redor. Ainda estamos no corredor do lado de fora
da sala de máquinas do ônibus espacial, o ar ainda está forte com o cheiro de
plasteel queimado, fiação fundida, fumaça. Olhando através do acrílico, ainda
posso ver o que sobrou dos motores, e sei que não sou especialista, mas esse
lugar, essa conversa, de alguma forma...

— Que diabos, Fin...?

Sua testa está franzida em uma carranca profunda. “Já fizemos isso antes.”

"Mas isso é... isso não é possível..."

Ele levanta uma sobrancelha pálida, de alguma forma ainda conseguindo


encontrar um sorriso apesar de tudo. “Scar, acredite em mim quando digo que
imaginei te beijar o suficiente para perceber quando fiz isso duas vezes no
mesmo dia.”

Uma voz toca nos comunicadores. "Scarlett? Finiano?”

“Zila?”

"Vocês dois estão... bem?"

"Eu não faço ideia." Fin endireita o maxilar, sua voz ficando firme. “Olha…
isso pode parecer insano, mas por acaso há uma estação espacial velha e
surrada na sua tela agora? Uma tempestade de matéria escura? E um lutador
terráqueo ameaçando nos explodir em pedacinhos tristes?

“Acho que você também está experimentando uma sensação que sugere que
este momento está se repetindo.”

Fin olha para mim, seus lábios apertados.

"Bafo do Criador...", eu sussurro.


"Nós já estaremos de pé", diz Fin.

A adrenalina de quase morrer e quase beijar e depois definitivamente não


morrer mas, sim, definitivamente beijar agora está sendo substituída pela
impossibilidade de tudo isso. Minhas pernas parecem gelatina, meu cérebro
zumbe no meu crânio. Mas estendo

minha mão para Fin e, juntos, estamos correndo pelo corredor até a cabine.
Mais uma vez, encontramos Zila sentada na cadeira do piloto, novamente
parecendo exausta. Mais uma vez, em nossas telas, posso ver aquela estação
espacial de aparência atarracada em um mar de escuridão sem estrelas, e
aquele piloto terráqueo furioso.

Novamente.

Novamente.

Mas em vez de apenas um pouquinho incerto, agora o piloto soa todo o


caminho de lado. "Que diabos está acontecendo aqui?" Zila está olhando para
Finian, mastigando uma mecha de cabelo comprido e encaracolado.

“Distorção temporal?” Fin diz.

“Não posso supor que não haja outra explicação adequada”, ela responde.

"Merda", ele sussurra. “Efeito Ouroboros?”

“É apenas teórico.” Nosso Cérebro balança a cabeça, olhando para a estação,


um pulso de breve luz roxa brilhando na tempestade escura além. “E apesar
de nossas aulas na academia de mecânica temporal, eu diria impensável.”

"Olha", eu digo, olhando para o par. “A única palestra de mecânica temporal


que fiz, passei flertando com Jeremy e Johnathan McClain

—”

(Ex-namorados #35 e #36. Prós: Gêmeos idênticos, portanto, cada um tão


gostoso quanto o outro. Contras: Gêmeos idênticos,
portanto , facilmente confundido no escuro. Ops.)

“—e caso você tenha perdido, há um piloto muito irritado—”

O commset estala, me cortando.

“Você está em espaço restrito terráqueo”, diz o piloto mencionado. "Você


tem quinze segundos para transmitir códigos de identificação, ou eu vou abrir
fogo!"

“Parece que estamos passando por uma distorção temporal, Scarlett”, explica
Zila. “Você, eu, Finian, nosso navio...

"Dez segundos!"

“É um loop de tempo, Scar,” Fin diz. “Estamos em algum tipo de loop


temporal.”

“Acabando com nossas mortes,” Zila acena com a cabeça. “E redefinindo


para o momento em que chegamos. Como Ouroboros. A

cobra da mitologia egípcia e grega que come o próprio rabo.”

Eu faço uma careta para o par deles. "Isso é impossível."

“É extremamente improvável”, concorda Zila. “Mas uma vez que você


elimine o impossível, o que sobrar, não importa o quão improvável

—”

“Você foi avisado!” o piloto cospe. “Estou abrindo fogo!”

Ao nosso redor, alarmes se acendem, luzes piscando e símbolos Syldrathi se


iluminando, e um alto-falante late.

“AVISO, AVISO: BLOQUEIO DE MÍSSIL DETECTADO.”

Uma pequena linha de luz aparece em nossos scanners. Eu olho para os


outros. Não temos motores. Sem navegação. Sem defesas.
“Não tenha medo”, diz Zila.

— Não dói muito — murmura Fin.

Minha mão alcança a dele, o medo deixando minha barriga fria e dura.

"É melhor você estar certo sobre isso", eu respiro.

"Bem, caso eu não esteja... você quer dar uns amassos?"

ESTRONDO.
2.3
SCARLETT
A luz negra queima. Eu posso sentir o som ao meu redor enquanto tudo se
separa e se junta e se junta e se junta—

“Cicatriz?”

Abro os olhos, vejo outro par diante do meu.

Finiano.

"O que...", eu pergunto.

"O...", diz Fin.

"Foda-se", murmuramos.

Olho em volta, déjà vu subindo pela minha espinha novamente. Estamos fora
da sala de máquinas novamente. E, alegria das alegrias, não estamos, de fato,
mortos.

Novamente.

Olho para Finian e, embora tudo isso seja impossível, ainda estou ciente de
quão perto estamos. Uma pequena parte de mim está

consciente de que da última vez que fizemos isso, esse menino pálido e lindo
me beijou daqui a cinco segundos. Mas o resto de mim, a parte sensata de
mim, está gritando com minhas partes femininas para calar a boca, porque
quem se importa com o que aconteceu

quando fizemos isso antes, Ovários, o ponto é, NÓS FIZEMOS ISSO


ANTES.
– Que diabos, Finian? Eu sussurro.

“Finiano?” uma voz estala. "Scarlett?"

Fin toca nas comunicações, fala rápido. “Chegamos, Zila.”

"De novo", eu digo.

“Eu sugiro que vocês dois subam aqui. Rapidamente."

A impossibilidade de tudo isso está transformando minhas pernas em geleia,


e meu cérebro está zumbindo no meu crânio enquanto

Fin pega minha mão e corremos pelo corredor até a cabine. Mais uma vez,
encontramos Zila na cadeira do piloto, a escuridão turva, as breves rajadas de
luz, a estação espacial. Tudo é o mesmo de quando fizemos isso antes, e oh,
respiração do Criador, fizemos isso antes, fizemos isso ANTES.

Exceto desta vez...

"Onde está o piloto?" Fin pergunta. – O terráqueo que nos explodiu?

“O navio dela está lá fora,” Zila acena com a cabeça. “Eu posso ver isso em
nossos sensores. Mas ela não iniciou contato por rádio.”

"Espere..." Eu encaro Zila e Fin, meu cérebro funcionando tão forte que
minha cabeça dói. "Você... eu pensei que você disse que estávamos em um
loop de tempo."

“Essa é a conclusão mais plausível, dados os dados atuais.”

“Bem, então ela não deveria estar gritando conosco por liberação agora? Ela
não deveria estar fazendo a mesma coisa, repetidamente?

Zila mastiga a ponta de um cacho, olhando para o pequeno ponto em nossas


miras. Ela digita rapidamente no console bruxuleante, murmurando quase
para si mesma.

"Interessante."
Os alarmes acendem, luzes piscando e símbolos Syldrathi se iluminando e
um alto-falante latindo.

“AVISO, AVISO: BLOQUEIO DE MÍSSIL DETECTADO.”

"Oh, pelo amor de Criador, de novo não...", murmuro.

Minha mão alcança e encontra a de Finian.

Ele olha nos meus olhos, aperta com força.

Zila encara o lutador nos sensores, ainda mastigando aquela mecha de cabelo.

"Muito interessante."

ESTRONDO.
2.4
SCARLETT
A luz negra queima enquanto tudo se despedaça e se junta e se junta

— “Cicatriz?”

Finiano.

Eu olho em seus olhos enquanto as luzes se apagam ao nosso redor. Os


alarmes acendem, um latido agora familiar saindo do alto-

falante enquanto meu estômago afunda até meus sapatos.

“AVISO, AVISO: BLOQUEIO DE MÍSSIL DETECTADO.”

"Ok", eu suspiro. “Estou oficialmente sobre este dia.”

"Scarlett? Finiano?”

“Estamos aqui, Zila,” Fin relata.

“O piloto está se preparando para atirar em nós novamente. Ainda mais


rápido desta vez.”

“Olha,” eu assobio em comunicação, tentando não gritar até minha voz


quebrar em um milhão de pedaços junto com o resto de mim,

“talvez eu não tenha estudado física temporal, talvez eu seja apenas estúpido,
mas se nós estão presos em um loop, tudo ao nosso redor não deveria estar
agindo exatamente da mesma forma?”

“Minhas leituras na estação são congruentes”, diz Zila. “Explosões


gravitônicas na tempestade, assinaturas de energia, fluxo quântico –
tudo sobre esse cenário é sempre idêntico.”

A eletricidade estala quando as pontas dos dedos de Fin roçam as minhas.


"Sabe, você não é estúpida", ele me diz. “Não sei por que você fala de si
mesmo assim.”

Olho para o metal cinza ao nosso redor. Os globos brilhantes refletiam nos
olhos grandes e bonitos do garoto segurando minha mão. E

então eu vejo.

Porque, sim, talvez eu não seja o Cérebro deste esquadrão. Mas se estamos
presos nesse loop e agindo de forma diferente a cada vez, e aquele piloto feliz
no gatilho também está agindo de forma diferente a cada vez, há apenas uma
explicação.

Elimine o impossível.

O que resta, por mais improvável que seja, é a verdade.

“Aquele piloto está preso no circuito com a gente,” eu digo.

“Não é apenas um rostinho bonito,” Fin sorri.

"Eu vi o que você fez lá."

Seu sorriso desaparece um pouco quando olho para seus lábios. E quando
pressiono minha boca na dele, enquanto ele me beija de

volta, percebo que existem maneiras piores de morrer, uma e outra e outra
vez.

ESTRONDO.

TYLER

“TYLER!”
As paredes ao meu redor são arco-íris.

O chão está tremendo sob meus pés.

Há sangue na minha boca e uma sombra subindo acima da minha cabeça tão
maciça e profunda e escura que eu sei que vai engolir a galáxia se eu deixar.

Eu não posso deixar… .

Uma garota Syldrathi se ajoelha sobre mim, um caleidoscópio de luz


brilhando atrás dela como uma auréola. Ela é linda. Radiante. Mais jovem do
que eu, mas de alguma forma mais velha, e seus olhos são violeta e seu
cabelo parece ouro fiado e eu sei que ela significa o mundo para mim sem
saber bem por quê.

“TYLER!”

A voz ecoa do meu passado, mas no meu futuro - outra garota que eu
conhecia, mas nunca realmente fiz, gritando além dos limites do tempo e da
morte. E eu sei que ela está tentando me dizer algo importante, mas aquela
garota Syldrathi diante de mim estende a mão e suas mãos estão cobertas de
sangue (meu sangue) e aquele cabelo dourado está agora pingando vermelho
e—

“… você ainda tem uma chance de consertar isso , Tyler Jones...”

“Eu não...”

“Tyler Jones.”

Pode não haver nada.

Não há nada. Eu

... “Tyler Jones!”

Abro os olhos e lanças de luz brilhante perfuram meu crânio. Eu estremeço


com a silhueta acima de mim.
Uma garota Syldrathi, como a do meu sonho agora, linda, radiante. Mas onde
seu cabelo era dourado como a luz das estrelas, agora é preto como a meia-
noite, igual à faixa de tinta em seus olhos e brilhando em seus lábios
curvados.

"Acordado finalmente", diz Saedii, uma sobrancelha escura levantando


ligeiramente. "Eu me perguntei se você planejava dormir durante toda a
guerra."

Minha mente está tocando, e as luzes estão muito brilhantes, o zumbido de


motores pesados retumbando através do beliche abaixo de mim. Há um
adesivo dérmico no meu braço, o gosto metálico de estimulantes na minha
boca e anti-séptico no ar. Dói um pouco

respirar.

Estou em um navio, eu percebo. Metal preto. Projeto Sydrathi. Mas a luz é


cinza, não vermelha, então estamos dobrando… .

"Ba-respiração do fabricante", eu tusso. "O-o que aconteceu...?"

“Isso não é óbvio?” Saedii se inclina para trás em sua cadeira e, levantando
suas longas botas pretas, ela descansa um salto afiado na beirada da cama ao
meu lado. “Você quase morreu, Tyler Jones.”

"… Onde estou?"

“A bordo do meu navio. O Shika'ari. Bem...” Ela olha ao redor brevemente,


joga uma trança preta grossa de seu ombro. "Meu navio agora, de qualquer
forma."

“A última coisa que me lembro… foi a batalha no Kusanagi.” Eu me apoio


em um cotovelo, minha cabeça latejando como um tambor de guerra.
“Saímos da nossa cela. Seu povo atacou.” Eu estremeço novamente, minha
memória confusa, aquele sonho estranho ainda

ecoando na minha cabeça. Parece que fui atropelado por um cargueiro.

... você ainda tem uma chance de consertar isso ...


"Nós evacuamos ... em cápsulas de fuga?"

“Os covardes terráqueos do Kusanagi atiraram em sua cápsula.” Saedii


zomba, um canino afiado brilhando. “Mas eu estava a bordo do Shika'ari
naquela época. Nossa rede de defesa interceptou o míssil deles antes que
atingisse você. A proximidade da explosão ainda desativou sua cápsula,
derrubou seu suporte de vida. Você estava perto de morrer quando o
recuperamos.

Ela arqueia uma sobrancelha preta afiada.

“Mas nós recuperamos você.”

Eu encontro seus olhos, íris violeta escuro com bordas pretas correndo para
cinza. Seu rosto é todo em ângulos agudos, simetria perfeita, frio e imperioso.

"Você salvou minha vida."

Ela inclina a cabeça. “Como você salvou a minha.”

Eu sinto o toque de seus pensamentos então. Tentativa, como para ter certeza
de que tudo o que compartilhamos durante nosso

tempo naquela cela de prisão a bordo do Kusanagi era real. A revelação sobre
o sangue Syldrathi em minhas veias fica em minha

mente como uma lasca de gelo. Pensamentos da mãe Waywalker, meu pai
nunca me contou sobre redemoinhos como fumaça.

Lembro-me dessas outras verdades que compartilhamos. A verdade de sua


linhagem. O nome do pai dela. A mentira que seu irmão me contou. Mas
antes que eu possa ficar muito zangada com a lembrança da traição do meu
amigo, os pensamentos de Kal levam a Auri, depois a Scarlett e—

“Terra,” eu assobio, sentando-me. “Os Invencíveis estão em guerra com a


Terra.”

"Sim."
“Temos que parar com isso! Uma galáxia em guerra é exatamente o que os
Ra'haam querem!”

Saedii dá de ombros, lábios pretos franzidos. “A sorte sorri, nesse caso.”

"Bem, onde diabos estamos?" Eu me levanto da cama, a cabeça nadando


enquanto me levanto. "Nós temos t-"

Saedii se levanta, tão alta que ela está quase cara a cara comigo. E colocando
uma mão no meu peito, ela me segura. Posso sentir o cheiro de seu cabelo, a
fragrância de couro e flores de lis e vestígios de sangue. Lembro-me da
pressão de seus lábios na minha bochecha quando nos despedimos. O olhar
em seus olhos, sua voz em minha mente enquanto eu cobria sua fuga.

“Você tem coragem, Tyler Jones. Seu sangue é verdadeiro.”

“Estamos realizando uma retirada tática”, diz Saedii. “A batalha com os


Kusanagi foi cara. Apenas o Shika'ari e outro de nossos cruzadores
sobreviveram. E ambas as nossas embarcações sofreram danos
significativos.”

“Preciso falar com meu pessoal no Comando Aurora”, insisto. “Almirante


Adams e Líder de Batalha de Stoy. O destino de toda a galáxia é...

— Você deveria se preocupar com seu próprio destino, terráqueo. Não da


galáxia.” Seus dedos se contorcem contra o meu peito,

pressionando um pouco mais forte. “Você é minha prisioneira agora, afinal. E


seu povo me mostrou pouca e preciosa hospitalidade enquanto eu estava sob
seus cuidados. Toda a minha equipe de comando é da opinião de que eu
deveria ter deixado você morrer em sua cápsula de fuga.

Minha mente volta aos meus minutos finais em cativeiro. Aquele confronto
perto das cápsulas, aqueles olhos, uma vez castanhos, agora azuis, perfurando
os meus. A mente do inimigo, a voz de um amigo, me implorando para ficar.

Tyler, não vá...

Gato...
eu te amo, Tyler.

Saedii procura meus olhos. Sua mão ainda descansa no meu peito. Posso
sentir o calor de sua pele através do uniforme terráqueo que roubei. Ela
aproveitou o tempo para mudar para as cores Ininterruptas novamente –
linhas pretas nítidas, curvas mais nítidas por baixo.

Ainda consigo me lembrar de vê-la despida até a cueca naquele armário se eu


tentar, mas estou desesperadamente tentando não fazê-

lo, porque as pessoas que compartilham o sangue Waywalker aparentemente


podem ouvir os pensamentos umas das outras, e a

última coisa que eu deveria ser pensando agora é –

“O que aconteceu com o Kusanagi?” Eu pergunto.

“Ele recuou, fortemente danificado.” Ela inclina a cabeça. "Por quê você se
importa?"

“Havia terráqueos a bordo daquele navio”, respondo. "Meu povo."

“É o seu povo que o preocupa? Ou seu amante?

“Tyler, não vá...”

“Cat não é minha...”

“Ela era.”

Eu aceno, engolindo. “Mas isso não é mais Cat.”

“Mmm.”

Saedii se inclina mais perto, balançando como uma cobra, me observando


através da névoa de seus longos cílios negros. Eu posso sentir isso nela se eu
tentar – a corrida da batalha que acabamos de escapar, sua emoção com o
cheiro de sangue, fumaça e fogo. Ela se sente quase... bêbada com isso. E
olha, eu sei que há coisas muito mais importantes em jogo agora, mas uma
parte de mim não pode deixar de notar como ela está bonita, lembrando da
visão dela enquanto lutávamos lado a lado, seus olhos acesos, meu sangue
batendo.

Saedii pressiona as pontas dos dedos no meu peito.

“Nós Warbreed temos um ditado, Tyler Jones. Anai la'to. A'le sénu.”

“Eu não falo syldrathi.” Eu faço uma carranca para suas unhas, longas e
pretas, pressionando com força na minha pele agora. “E isso dói.”

“Viva para esta noite”, ela traduz. “Amanhã morreremos.” Ela arrasta os
dedos pelo meu peito, unhas presas no tecido. “Nós, que nascemos para a
guerra, aprendemos a não perder tempo com trivialidades. Void sabe quando
nosso tempo vai acabar.”

Eu aceno, pensando em qualquer coisa, menos nas partes de seu corpo agora
pressionando contra mim. “Temos um ditado assim

também. Curta o momento. Aproveite o dia."

Lábios negros se curvam em um sorriso. “O nosso é melhor.”

Eu estremeço quando suas unhas cavam mais fundo na minha pele. "Pare
com isso."

"Me faz."

"Eu não estou brincando", eu rosno, empurrando a mão dela.

Quando minha pele toca a dela, ela se move, agarrando meu pulso rápido
como um piscar de olhos.

Eu suspiro quando uma pontada de dor sobe pelo meu ombro, a pulsação na
minha cabeça esquecida enquanto ela tenta me torcer em uma chave de braço.
Eu quebro seu aperto, recuando com minhas mãos para cima. "Saedii, o que
diabos é-"
Mas ela está fechando antes mesmo de eu terminar de falar, o sorriso se
transformando em um rosnado enquanto ela finta em direção ao meu rosto.
Quase mais rápido do que posso ver, ela coloca as mãos nos meus ombros e
traz o joelho entre minhas pernas.

Para minha sorte, Saedii já acertou esse movimento em mim algumas vezes -
quero dizer, os meninos não se sentiram com sorte na época, mas, você sabe,
viva e aprenda. Minha memória muscular entra em ação, e eu bloqueio seu
golpe.

“Você ficou louco?” Eu exijo.

Ela recua um punho para me bater, mas eu mudo meu peso, torço para o lado.
Deixando seu próprio impulso trabalhar contra ela, eu a empurro na espinha,
mandando-a bater na parede, e ela gira em mim com fúria.

Seu chute me atinge no plexo solar, e eu caio sobre o berço médico, bato no
chão, grunhindo quando um peso pesado bate em cima de mim.

Saedii está montado em meu peito agora, prendendo meus pulsos no chão.
Suas tranças caem em cortinas pretas ao redor de seu

rosto enquanto ela se aproxima, a respiração sibilante. Eu vejo uma mancha


roxa em sua pele pálida, percebendo com horror que ela dividiu o lábio. “Oh,
respiração do Criador, me desculpe, eu...”

E minhas palavras morrem quando, sem aviso, ela esmaga sua boca na
minha.

Cerca de mil pensamentos atravessam meu crânio simultaneamente. Lembro-


me que esta é uma garota que usava os polegares

decepados de antigos pretendentes em volta do pescoço para se divertir.


Guerreira, criada para derramamento de sangue, filha do próprio Starslayer.
Lembro-me que os Invencíveis estão em guerra com a Terra e, tecnicamente,
sou um prisioneiro aqui — ela é minha captora, ela é minha inimiga. Há uma
guerra por toda a galáxia sendo travada lá fora, e eu estou deitada aqui com
dois metros de princesa guerreira Syldrathi em cima de mim.
O problema é que há dois metros de princesa guerreira Syldrathi em cima de
mim, e todos esses pensamentos estão tendo problemas para serem ouvidos.

O beijo de Saedii é faminto, urgente, seus dedos apertando meus pulsos com
força enquanto seu corpo surge contra o meu. Encontrome beijando-a de
volta, seus sentimentos, seus pensamentos, seu desejo, tomando conta de
mim e alimentando o meu. Suas tranças caem em volta das minhas
bochechas, quadris moendo contra mim enquanto ela chupa meu lábio
inferior em sua boca e morde. Duro.

“Ai!” Eu assobio, puxando para trás. "O que é q-"

Ela me beija de novo, meio rindo, meio rosnando. Mas eu posso sentir o
gosto do sangue agora, dela e meu, a dor cortando a nova fenda no meu lábio.

“Saia de mim!”

"Me faz."

"Quero dizer!"

“Eu também, Tyler J—”

Ela engasga quando eu a solto e a empurro. Mas movendo-se como mercúrio,


ela bate em mim novamente, as mãos agarrando minha

garganta, e nós lutamos, assobiando, sangrando, rolando no chão. Ela é forte,


magra, se contorcendo como uma cobra em minhas

mãos, mas finalmente eu agarro seus pulsos e os empurro no chão,


prendendo-a com meu peso.

“Respiração do Criador, você vai se acalmar?” Eu rugi.

Saedii está embaixo de mim, ofegante, cabelo desgrenhado, olhos em


chamas. Envolvendo as pernas em volta de mim, ela se inclina para lamber o
sangue do meu queixo. E eu sinto seus pensamentos ecoando em meu crânio
enquanto seus lábios se curvam em um
sorriso escuro e brincalhão.

Eu faria se você realmente quisesse.

Eu suspiro quando ela se lança para o meu pescoço, dentes afiados cortando
minha pele.

Mas você não quer que eu faça isso. Você, Tyler Jones?

Ela aperta as pernas, me puxando mais apertado. E eu sei que isso é loucura,
mas também sei que ela esteve na minha cabeça esse tempo todo. Ela pode
literalmente sentir meus pensamentos e... ela está certa.

Saedii ri, e nossos lábios colidem novamente, e ela solta as mãos do meu
aperto para que possa enfiá-las sob minha camisa e arrastar as unhas pela
minha pele. Ela me beija como se estivesse faminta, fome sangrando em
mim, abafando todos os outros pensamentos

dentro da minha cabeça. Nossas mãos estão uma sobre a outra, ela rasga
minha camisa, e nós dois somos salvos da questão de quão longe isso pode
realmente ir por uma vibração fraca zumbindo debaixo da minha palma
direita.

“Hum...”

Nós nos separamos, meu coração martelando. Olhos fixos nos dela, eu
relutantemente levanto minhas mãos.

"Eu... acho que é para você."

Suspirando, Saedii bate o distintivo de comunicação prateado em seu peito.

"Relatório."

Agora, aqui está a coisa - eu meio que menti antes. Eu não falo Syldrathi tão
fluentemente quanto Scar, mas sou bom o suficiente para seguir a essência de
uma conversa. Recuperando o fôlego, lambendo meu lábio sangrando, escuto
a voz de seu segundo em comando, pequena e tingida de reverberação
eletrônica. Acho que ele pede perdão por interromper, mas Saedii o
interrompe.

"Erien", ela estala, os olhos piscando. "Falar."

Ouço algumas palavras que conheço bem. Mensagem. Batalha. Terra.

Os olhos de Saedii encontram os meus então. A lembrança de que nosso povo


está em guerra surge entre nós, sufocando lentamente o clima. Suas longas
pernas se desenrolam da minha cintura, e eu me solto dela, sentando no chão
frio de metal. Arrastando minha mão pelo meu cabelo, percebo que meus
dedos estão tremendo.

Posso sentir o gosto do sangue dela em meus lábios.

Saedii pede notícias sobre o pai. Há uma resposta hesitante, e ela se levanta
em um movimento suave e serpentino. Eu pego as

palavras sem paciência e enigmas. Mais uma vez ela pergunta sobre o
Starslayer.

A única palavra que eu entendo na resposta se foi.

Meu coração dispara no meu peito com isso. Incrível. Impossível. O


pensamento crepita entre nós enquanto os olhos de Saedii se arregalam – que
talvez de alguma forma, contra todas as probabilidades, o homem que
destruiu o mundo natal dos Syldrathi esteja...

“Se foi?” ela sibila em Syldrathi, incrédula. "Morto?"

Há uma resposta negativa. Eu pego palavras como confusão e recuo. Uma


correria sobre terráqueos e betraskans e...

“Vazio tome você, Erien, fale!” Saedii exige.

O Primeiro Paladino pede perdão, fala novamente. E quando os olhos de


Saedii encontram os meus, ouço três palavras. Palavras que enviam meu
coração batendo até minhas botas. Palavras que poderiam significar o fim de
tudo.
Matador de estrelas.

Arma.

Desapareceu.

TYLER

Estou sentado em uma sala de reuniões com treze guerreiros Invencíveis, e a


única coisa que tenho certeza é que pelo menos doze querem me matar.

Honestamente, ainda não tenho certeza sobre o Saedii.

Quando insisti que ela me levasse para a reunião de seu comando, tive certeza
de que ela me diria não. Afinal, sou tecnicamente uma prisioneira aqui. Um
estranho. Um inimigo. Ela me disse para ficar na cama e descansar.

“Eu também sou meio Sydrathi,” eu a lembrei. “E eu sei mais sobre o


verdadeiro inimigo aqui do que qualquer um. O Unbroken está sendo tocado,
e eu conheço a melodia. A cama é o último lugar que eu quero estar agora.”

Ela me observou pensativa, limpou meu sangue de sua boca, a memória


daquele... beijo/luta/o que quer que tenhamos ainda pairando entre nós. Eu
ainda posso sentir seu corpo pressionado contra o meu se eu tentar. Nós dois
sabíamos que minha linha sobre a cama era apenas parcialmente verdadeira...

“Esta não é uma nave de prazer terráquea tripulada por covardes e fracos,”
ela avisou. “Este é um cruzador de guerra Ininterrupto. A tripulação vai vê-lo
com desdém na melhor das hipóteses. Na pior das hipóteses, hostilidade
assassina.

“Eu não sabia que você se importava, Templário.”

Seus olhos se estreitaram com isso. Saedii é a tática que eu sou – ela podia
ver a armadilha que eu tinha preparado, e de jeito nenhum ela estava prestes a
admitir que dava a mínima para o meu bem-estar. E então ela zombou, jogou
as tranças e saiu da sala, comigo mancando atrás.
Tyler Jones: 1

Saedii Gilwraeth: 0

O ar está espesso com a tensão na sala de briefing, a luz vermelha tingida de


cinza pela Fold. Relatórios Holo dos principais feeds de notícias de toda a
galáxia são projetados nas paredes, centenas em todas as redes, o volume
baixou para que o Unbroken possa falar sem interrupção. Eles se ajoelham
em uma mesa oval esculpida em madeira escura de lia, Saedii em uma
extremidade, seu cajado em volta dela, e seu segundo em comando, Erien, na
frente.

Sento-me contra a parede, chupando a marca de mordida no meu lábio.

Lembro-me do tenente de Saedii, Erien, de minha prisão a bordo do


Andarael. Seu Primeiro Paladino é alto e esbelto, seu belo rosto marcado por
uma cicatriz em forma de gancho sob um olho. Ele usa um cordão de orelhas
cortadas de Syldrathi em seu cinto. Ao seu redor há uma mistura de veteranos
com cicatrizes de batalha e jovens cheios de fogo e fúria. Eles estão todos
fortemente armados e vestidos com belas armaduras pretas decoradas com
elegantes glifos Syldrathi. Seus cabelos são modelados para denotar sua

posição – quanto mais tranças, mais autoridade eles carregam. Cada testa lisa
é marcada com o sigilo da cabala guerreira Syldrathi: três lâminas cruzadas.

A atmosfera é... estranha. É como assistir a um bando de tigres devoradores


de homens realizar uma cerimônia do chá. Cada palavra e gesto é sublinhado
com hostilidade medida. Tenho a sensação de que pode haver derramamento
de sangue a qualquer segundo, mas

há dois cabos de ferro ligando essas pessoas.

Primeiro, é claro, eles são todos Ininterruptos.

Há um vínculo forjado na guerra que as pessoas que não lutaram por suas
vidas nunca entenderão. Quando você confia em alguém

para cuidar de você na batalha, quando você mata e sangra junto, você se
torna mais do que uma família. E enquanto olho ao redor da sala, é isso que
vejo aqui – pessoas que são mais do que sangue, os laços que os unem
forjados no fogo de uma vida inteira de guerra.

E segundo, claro, há a própria Saedii.

Posso dizer que cada uma das raças de guerra nesta sala a ama. A odeia. A
teme. A adora.

Mesmo que ela não fosse a filha do maior Arconte da Invencível, eu vi Saedii
em batalha agora – navio a navio, e corpo a corpo. E eu sei que ela não se
sentou na cabeceira desta mesa porque ela é a filhinha do papai. Ela
conseguiu movendo quem estava sentado lá antes dela.

Quando entramos na sala juntos, doze pares de olhos caíram sobre mim como
se eu fosse o aperitivo. Uma palavra de Saedii, eles começaram a trabalhar.
Mas os negócios, como se vê, não são bons.

Como eu disse, não falo Syldrathi tão bem quanto Scar, mas sou fluente o
suficiente para entender cada palavra. E ouvindo a equipe de comando de
Saedii falar, observando a miríade de noticiários brilhando nas paredes ao
meu redor, estou começando a entender

exatamente o que aconteceu na Batalha da Terra.

Uma enorme frota Unbroken, maior do que qualquer coisa que tenha sido
vista desde a queda de Syldra, concentrando-se fora do

espaço terráqueo.

A marinha terráquea se reunindo em resposta.

Os Betraskans entrando em cena para ajudar a defender seus aliados


terráqueos.

Archon Caersan exigindo o retorno de sua filha.

Agora, por dois anos, a Terra tinha andado na ponta dos pés ao redor do
Unbroken. Nossa última guerra com os Syldrathi durou duas décadas, e
estávamos tão desesperados para evitar outra que até fechamos os olhos
quando Caersan destruiu o sol de Syldra.

Mas a TerraGov nem sabia que o GIA tinha Saedii sob custódia – afinal, os
Ra'haam a haviam feito prisioneira para causar problemas.

Então eles não podiam exatamente cumprir o pedido do Starslayer para


devolvê-la. Em vez disso, eles educadamente pediram a ele para desocupar a
porta ou comer uma frota na cara.

Caersan não gostou disso.

Estou assistindo a filmagem da batalha agora, meu coração disparando toda


vez que a vejo – uma enorme lança de cristal, cor de arco-

íris, grande como uma cidade inteira. À medida que as frotas Unbroken,
Terran e Betraskan se chocam, ele cruza o derramamento de sangue como um
tubarão, pulsando com energia. Os noticiários estão rotulando-a como uma
“super arma ininterrupta”. Mas pelo que Saedii me disse a bordo do
Kusanagi, sei que não é um dispositivo Syldrathi.

Foi feito há eras, pelos seres que lutaram contra os Ra'haam na última vez
que tentaram consumir a galáxia. Os Antigos, os Eshvaren, que de alguma
forma estiveram por trás de tudo o que aconteceu desde que tirei Auri
daquele criópode, o que parece ter sido uma vida atrás.

Meu coração dói ao pensar nela. Eu me pergunto onde minha irmã e o resto
do Esquadrão 312 estão, rezando para o Criador para que eles estejam bem,
para que não sejam pegos nessa insanidade. Mas por mais que doa deixar
tudo isso de lado, a verdade é que temos problemas maiores. Porque uma e
outra vez, eu vejo isso se desenrolar nos feeds - a Arma, a Neridaa, a única
esperança que os

Eshvaren deixaram para a galáxia para lutar contra os Ra'haam, brilhando


como um novo sol no meio da batalha, enviando uma

explosão que desativa metade das naves ao seu redor, e então...


Desaparecendo como se nunca tivesse existido.

Ninguém sabe o que aconteceu. Por que desapareceu ou para onde foi. Mas o
desaparecimento do Starslayer, combinado com a

explosão de força que acompanhou a partida de sua arma, freou a batalha.

Os Unbroken pausaram seu ataque. As frotas Terran e Betraskan dizimadas


voltaram à postura defensiva. E depois de mais algumas horas de tenso
impasse, o Unbroken saltou de volta pelo FoldGate e saiu direto do sistema.

“Recuar,” uma mulher graciosa na armadura preta do Paladino diz.

“De'sai,” outro rosna.

Essa é a palavra Syldrathi para vergonha. Eu a vejo reverberar pela sala,


metade da assembléia murmurando concordância, a outra metade incerta.

Para guerreiros como esses considerarem a retirada uma opção... começo a


entender o que Caersan significa para eles. Ele não é apenas um líder. Ele é
um pai. O homem que os salvou da paz vergonhosa com a Terra, dos “fracos”
do conselho de Syldra. E seu

desaparecimento os cortou como uma faca no coração.

Dentes afiados estão à mostra. Palavras duras são ditas. Eu pego agitação e
templários e golpe. Um dos Paladinos mais jovens dá um soco na mesa – para
Syldrathi, uma explosão como essa é impensável.

E então Saedii fala.

Sua voz é calma. Duro. Resfriado. Ouço palavras como honra e vingança, pai
e verdade. Eu entendo o que ela está dizendo a eles.

Saedii pretende se encontrar com a armada Unbroken, assumir o comando,


depois retornar à Terra e descobrir o que aconteceu com o Starslayer.

Sua voz traz calma para seus nervos desgastados.


A princesa Ininterrupta, aproximando-se da cadeira vazia do rei. Mas...

“Isso é um erro, Saedii,” eu finalmente suspiro.

Todos os olhos se voltam para mim. Um Paladino com cabelos grisalhos o


encara, a mão deslizando para as belas lâminas de kaat

prateadas cruzadas em suas costas. Seu terráqueo é fluente, mas marcado por
um forte sotaque Syldrathi.

“Você se atreve a falar assim com um Templário dos Invencíveis, so'vaoti?”

"Sim." Uma fêmea de olhos aguçados me encara, olhando para Saedii.


“Quem é esse lixo que tiramos da barriga do Vazio, Templário?”

Eu respondo antes que Saedii possa falar por mim. “Meu nome é Tyler Jones.
Filho de Jericho Jones.”

Vejo meu nome ecoar pela sala.

Antes de se juntar ao Senado e lutar pela paz, meu pai lutou contra os
Syldrathi até parar. Deu a eles o pior nariz sangrento de toda a Guerra Terran-
Syldrathi.

“E enquanto estamos contando o placar,” eu continuo, “eu sou aquele que


salvou a vida do seu Templário quando o Andarael foi

atingido pelos Kusanagi. E depois a tirou de uma cela antes que a torturassem
até a morte. Eu não vi muitos de vocês lá ajudando ela.”

Erien mostra os dentes, caninos afiados. “Eu deveria cortar sua língua fora de
sua cabeça, filhote terráqueo.”

"Talvez você possa me deixar metade?" Eu aceno na minha boca. “A menos


que você queira remover a parte Syldrathi também?”

Seus olhos se estreitam com isso. Ele olha para Saedii, que inclina a cabeça.
O conhecimento da minha herança Syldrathi penetra na sala como fumaça.
"Quero dizer, isso é presumir que você pode colocar uma luva em mim,
grande homem." Eu me inclino um pouco mais perto, arrastando os olhos de
Erien de volta para os meus. “Ou talvez você tenha esquecido que também
fui eu quem matou um drakkan sozinho?”

Ok, então normalmente eu não sou o tipo de cara que tira e mede. Na maioria
dos dias, prefiro deixar minhas ações falarem por mim.

Mas eu sei com certeza que os Ininterruptos respeitam a força. Convicção. E


acima de tudo, coragem. Então eu apenas encaro Erien, o ar fervendo entre
nós, até que um Templário mais jovem ao lado dele toca seu braço. O toque
dura apenas um segundo. Eles trocam um olhar, algo se passa entre eles.

“Be'shmai,” o homem mais jovem murmura. “Osh.”

O olhar de Erien pisca, depois volta para Saedii.

“Talvez,” ela diz, lambendo a fenda em seu lábio, “você poderia elucidar a
natureza deste erro que estou cometendo.”

Eu lhe dou um meio sorriso com covinhas. "Achei que você nunca iria
perguntar."

“Eu não estou perguntando. Eu estou comandando.”

Ela faz uma careta para mim, o cabelo escuro caindo sobre suas bochechas
enquanto ela abaixa o queixo. Mas pelo brilho em seus olhos, o leve lampejo
de seus pensamentos, ainda posso sentir que Saedii está quase... divertido.

Um Templário do Invencível não tem utilidade para bajuladores, eu percebo.


Bons líderes nunca o fazem. Saedii gosta de luta. Ela gosta de ser empurrada,
desafiada. E pelo jeito que seus olhos continuam indo para eles, ela também
gosta das minhas covinhas.

Vamos ser honestos, quem pode culpá-la.

Tyler Jones: 2

Saedii Gilwraeth: 0
Erien fica carrancudo quando me viro para a miríade de feeds de notícias
projetados nas paredes. Com os olhos semicerrados, procuro até encontrar o
que quero e aponto para o riacho. “A alimentação do GNN-7. Você pode
ligar para isso?”

Um dos Paladinos olha para Saedii, e ela concorda com um pequeno aceno de
mão. A alimentação cresce, dominando a parede. Um

macho chelleriano está falando no feed, sua pele azul tornada cinza pela
Dobra. Mesmo em preto e branco, seu sorriso é deslumbrante e seu terno
parece ter custado o PIB de uma pequena lua. O nome LYRANN
BALKARRI flutua abaixo dele, manchetes em uma dúzia de

idiomas rolam atrás dele. A notícia é sombria.

“Um ataque de insurgentes rigelianos às propriedades chellerianas no setor


Colaris”, Saedii lê a manchete, levantando uma

sobrancelha. "E?"

“Colaris foi contestado por Rigel e Chelleria nos últimos cinquenta anos. O
consulado chelleriano acabou de intermediar um cessar-fogo após uma
década de negociações. E Rigel de repente começa a explodir navios
chellerianos?

Eu me viro para outra tela. "Aquele. Traga essa.” Aponto para outro feed.
"Isso também." São pequenas histórias – se você não estivesse prestando
atenção, elas seriam fáceis de perder no barulho e confusão do ataque
Unbroken na Terra. Mas há dezenas deles.

E estou prestando atenção.

Navios da colônia Ishtarri destruídos por um ataque de gremp na Dobra.

Uma guerra de fronteira de três vias entre o No'olah, o Coletivo Antarri e


Shearrr, fria nos últimos sete anos, de repente explode novamente.

Três oficiais de alto nível do Dominion assassinados por agentes de seus


principais rivais, o Pacto de Shen.
"Distrações", eu digo, olhando ao redor da sala. “Provocações significavam
arrastar uma dúzia de raças diferentes para uma dúzia de conflitos
diferentes.” Meu olhar cai em Saedii. As marcas de mordida no meu pescoço
ardem de suor. “Assim como seu sequestro

arrastou o Unbroken para a guerra com a Terra e Trask.”

“A guerra com a Terra nunca acabou para nós, terráqueo,” Erien rosna.
“Estávamos simplesmente preocupados com outras presas.”

Eu o ignoro, olhando nos olhos de Saedii. “Você sabe quem é.”

"Este... Ra'haam que você falou."

“Corrompeu o GIA. E o GIA tem agentes em todos os setores da galáxia.” Eu


aceno para os feeds, tentando não soar como uma maluca

de conspiração. “Isso poderia acontecer com planejamento suficiente. E está


planejando há séculos. Ele quer a galáxia em guerra.

Amarrado e distraído para que ninguém saiba quem é a verdadeira ameaça até
que seja tarde demais.”

Há uma troca em Syldrathi entre Saedii e sua tripulação de comando.


Perguntas. Uma breve explicação sobre o Ra'haam, o Eshvaren, a Arma.
Sinto ceticismo entre eles, vejo seu desdém quando me olham. Saedii pode
ver dentro da minha cabeça. Ela sabe que estou

dizendo a verdade.

Mas ainda assim...

“Nossa preocupação não é por alguma erva daninha apodrecendo nas


sombras,” ela declara. “Nossa preocupação é com nosso

Arconte desaparecido.”

“Esses problemas são a mesma coisa, Saedii.”


Ela tamborila as unhas afiadas na mesa, os olhos brilhando. "Eu presumo que
você tem um plano além de balir como um bâshii órfão?"

"Meus comandantes na Aurora Legion", eu digo, ignorando o golpe. “Eles


sabem alguma coisa. Essas minhas botas? O bloqueador dentro que nos tirou
daquela cela? Ele estava esperando por mim dez anos dentro de um cofre do
Dominion. Colocado lá pelo

Comando da Legião anos antes mesmo de eu entrar para a academia.”

"Você está sugerindo que corramos para os terráqueos em busca de ajuda?"


Erian zomba.

"A Aurora Legion é um partido neutro", insisto. “Você não está em guerra
conosco. Se eu pudesse falar com Adams e de Stoy, descobrir o que eles
sabem...

— A Terra é nossa inimiga — diz Saedii. “Trask é nosso inimigo.”

“A galáxia inteira pode ser sua inimiga se você deixar, Saedii.”

"Deixe-o?" Ela sorri, passando a língua pelos dentes.

"Nós amamos isso."

“A lâmina fica cega quando deixada na bainha, mestiço”, o veterano me diz.


“Se seu sangue fosse puro, você entenderia isso.”

“Aanta da'si kai,” outro murmura, tocando o glyf em sua testa.

Nascemos para a guerra.

Suspiro, balanço a cabeça para Saedii. Seu sorriso só cresce. Ela se delicia
com isso, eu percebo. Sai disso. Luta. Conflito. Essas pessoas foram criadas
para ver o conflito como o caminho para a perfeição. Talvez seja por isso que
ela está me mantendo por perto.

Eu vejo seus olhos vagarem para as marcas de mordida na minha garganta.


Sinto um lampejo de fome na minha cabeça. Mas isso não é um jogo, e estou
exausta e temo por minha irmã e meus amigos e sinto como se estivesse
correndo desde sempre e não me movi

um centímetro.

E o pior de tudo, eu sinto aquele sonho, aquele que me acordou aqui, ainda
ecoando em algum lugar do meu crânio enquanto a sala começa a girar, e eu
pressiono uma mão na minha testa dolorida.

As paredes ao meu redor, a cor do arco-íris.

O chão tremendo sob meus pés.

“Você parece mal, terráqueo”, diz Saedii.

Eu abaixo minha mão, rosno, "Eu estou bem."

Ela sorri tanto que posso ver os dentes afiados nos cantos de sua boca. “Se
você deseja voltar para a cama—”

“Esqueça-me,” eu estalo, temperamento desgastado. “Você está dando aos


Ra'haam o que eles querem. Está usando você, Saedii.

“Não sou peão de ninguém.”

“Então não aja assim. Você é mais esperto do que isso.”

“E mais inteligente do que você. Não se esqueça de quem você é cativo.”

“E de quem você ainda seria cativo, se não fosse por mim?”

“Você salvou sua própria pele assim como a minha.” Saedii inclina a cabeça,
olhos fixos nos meus. “Não acredite que isso lhe compra algum favor,
garoto.”

"Eu não estou pedindo favor", eu estalo. "Eu estou pedindo para você não ser
um idiota."

O sorriso divertido de Saedii desaparece. Um alarme soa na minha cabeça:


falta técnica na jogada. Penalidade de um ponto.

Tyler Jones: 2

Saedii Gilwraeth: 1

Opa. Longe demais...

A temperatura ao meu redor cai vários graus. O lampejo da mente de Saedii


na minha de repente desaparece, como se ela tivesse

batido uma porta de ferro entre nós. E olhando para seu Primeiro Paladino, o
Templário fala.

“Parece que nosso convidado está cansado depois de sua provação, Erien.”
Ela tira uma trança do ombro. "Vê-lo em segurança situado em aposentos
apropriados."

“Saedii—”

“Sua vontade, Templário.”

Ela se volta para os outros membros da tripulação e começa a dar ordens em


Syldrathi. Mas meus olhos estão em Erien enquanto ele se levanta, pairando
sobre mim. Seu belo rosto duro como pedra, distorcido por sua cicatriz,
cabelos prateados puxados para trás em sete tranças grossas, cada uma
decorada por uma orelha de Syldrathi desidratada.

"Mova-se", diz ele.

Eu olho para Saedii. Mas ela está me ignorando agora, sua mente fechada. Eu
não deveria ter deixado meu temperamento tirar o melhor de mim. Isso foi
estúpido, eu a encurralei em um canto, e ela saiu balançando.

Meu crânio está latejando quando fecho os olhos, fico de pé. O ar zumbe com
o som dos motores e a crescente corrente da guerra galáctica. Minha mente
ainda ecoa com a voz do meu sonho.

… você ainda tem uma chance de consertar isso, Tyler Jones …


Mas não consigo ver como.

Criador me ajude, não consigo ver como.

FINIAN

Aquela piloto terráquea nos explode mais três vezes antes de finalmente
desistir. Cada vez, Scar e eu reaparecemos no corredor do lado de fora da sala
de máquinas. Cada vez, Scarlett pressiona seus lábios nos meus enquanto
explodimos em uma bola de plasma

incandescente.

Talvez seja apenas algum tipo de justiça universal. Eu finalmente consigo


beijar Scarlett Jones, e a realidade implode porque é muito improvável.

Mas depois da oitava vez que nosso novo amigo puxa o gatilho, Scarlett e eu
nos rematerializamos do lado de fora do compartimento do motor, esperando
o inevitável, e nada acontece. Sem alarmes gritando. Nenhum aviso de
bloqueio de mísseis. Nada.

Scar está com a cabeça inclinada. Espera.

“… Ela não está nos matando,” ela murmura.

"Progresso!" Estou sorrindo como um idiota. Não é só porque não fomos


explodidos, para ser honesto.

Scar tenta esboçar um sorriso em resposta, mas posso ver o quão estranha ela
está com tudo isso. Honestamente, não posso culpá-la.

Nas últimas semanas, essa garota perdeu seu melhor amigo, seu irmão, e
agora, aparentemente, toda a sua realidade.

Eu alcanço suas mãos, envolvendo meus dedos ao redor dela, apertando


suavemente. "Eu sei que isso é loucura", eu digo suavemente.
“Estou tão assustado quanto você. Mas seja o que for, vamos descobrir, ok?

Ela consegue um sorriso melhor por isso, e apesar de toda a insanidade ao


nosso redor, sinto meu coração palpitar com a visão.

Criador, ela é linda.

Scarlett se aproxima, me beija suavemente nos lábios. "Você é doce."

“Não conte a ninguém. Eu tenho uma reputação de espertinho para manter.

"Vamos lá, espertinho", ela sorri. “Vamos ver nosso Cérebro.”

Corremos juntos para a ponte, encontramos Zila nos controles. Seus olhos
estão presos nas exibições de arco-íris frisantes, seus lábios franzidos.

“Sitrep?” Scar pergunta enquanto caminha pela cabine, toda eficiente, soando
como seu irmão por um momento.

Nosso Cérebro não levanta os olhos dos monitores. “Espacialmente, nossas


coordenadas são idênticas às nossas oito primeiras

manifestações. Estamos a várias centenas de milhares de quilômetros à beira


de uma imensa tempestade de matéria escura. A partir dos breves vislumbres
de estrelas que temos, o computador de navegação calcula que podemos estar
em algum lugar perto de Sigma Arcanis.”

“Mas estávamos no sistema solar terráqueo.” Scar olha para aquele trecho
maciço de preto perfeito, os breves pulsos de luz estranha dentro dele. Seu
rosto está mais pálido do que o normal. “Como nos mudamos para cá?”

"Não sei. Mas eu pretendo descobrir.” Zila bate em sua unidade de pulso. “Eu
configurei um cronômetro. Devemos reunir o máximo de informações
possível sobre esses ciclos. Estamos atualmente em quatro minutos e seis
segundos.”

“E quanto ao nosso amigo feliz no gatilho?” Eu pergunto.

Zila olha para o monitor como se isso a tivesse irritado pessoalmente.


“Nenhum contato de rádio desta vez. Mas, como Scarlett supôs, seja qual for
a natureza dessa anomalia temporal, as ações do piloto indicam que ela
também está passando por isso.”

Todos estremecemos quando os controles borbulharam na frente de Zila. Este


navio era antigo quando os Waywalkers nos deram, e

não aproveitou suas experiências recentes.

“A estação espacial, a tempestade de matéria escura além dela e minhas


leituras externas são idênticas”, continua Zila. “As únicas variáveis nesta
equação parecem ser nossas ações e as dela. Ela aparentemente decidiu que
nos incinerar é infrutífero, o que é uma boa notícia. A definição de insanidade
é repetir a mesma ação e esperar um resultado diferente.”

"Isso é progresso", murmura Scarlett. “Se ela sabe que algo estranho está
acontecendo com todos nós, podemos tentar nos comunicar.”

“Devemos mudar nossa abordagem”, declara Zila. — Finian, o que você acha
do nosso entorno?

Eu mordo o desejo de ser irreverente, porque não temos tempo. Nosso amigo
Shooty McShootface pode recomeçar a qualquer minuto.

Eu sei que é melhor não se incomodar em olhar pelas janelas – uma das
principais características da matéria escura é que você não pode realmente
vê-la, apenas o que ela faz com as coisas ao seu redor. Então, em vez disso,
olho para os controles frágeis, examinando os dados que chegam.

“Bem, essa tempestade de DM é enorme. Um dos maiores que já vi. As


flutuações gravitônicas, eletromagnéticas e quânticas estão todas fora da
escala. Mas estamos longe o suficiente para não sofrer nenhum efeito nocivo,
eu acho.”

“E a estação?”

Eu verifico nossas câmeras. "Não sei. Nunca vi nada parecido.”

“É terráqueo”, murmura Zila. “Assim como o piloto que nos saudou. Mas é
um projeto arcaico. Também está seriamente danificado.

Ventilação de plasma central, eu acredito.”

“Então, se essa é a casa dela, ela tem problemas maiores do que nós.”

Zila não está olhando muito para mim, aquele grande cérebro dela
funcionando a toda velocidade. “O que você acha dessa vela na tempestade?”

Eu dou de ombros, estudando o enorme cabo que sai da estação, o minúsculo


brilho retangular na beira da tempestade. “Quero dizer, parece uma vela
quântica.”

“Um o quê?” Scarlett pergunta, me dando um olhar que me desafia a sugerir


que ela estava fazendo as unhas durante esta palestra na academia.

Não desejo desagradar Scarlett de forma alguma, então respondo com muita
diplomacia. “É uma das coisas idiotas que vocês,

crianças sujas, estavam tentando quando terráqueos e betraskans fizeram o


primeiro contato. Nós não lhe ensinamos o erro de seus caminhos até depois
que a guerra terminou. Mas sua teoria era que você poderia colher energia de
tempestades de matéria escura.”

Scarlett pisca para mim, sugerindo que, sim, ela estava realmente fazendo as
unhas quando eles cobriram essas coisas em astrometria básica.

Muito cuidadosamente.

“Olha, a matéria escura é basicamente a cola gravitacional que mantém a


galáxia unida, certo?” Eu digo. “E quando os fluxos disso colidem, você
obtém todos os tipos de chakk loucos acontecendo no nível subatômico.
Essas luzes que você vê lá fora? Esses são pulsos quânticos escuros. Há mais
energia em uma única explosão do que é gerada por uma estrela em
supernova. Vocês terráqueos pensaram que poderiam aproveitá-la. Eu dou de
ombros. “Parece bom em teoria, mas a realidade é que a energia em um pulso
quântico escuro é muito instável, e a energia escura começa a fazer coisas
realmente perigosas sob contenção. Então, embora pareça uma vela quântica
lá fora, não pode ser, porque mesmo os terráqueos não são mais tão burros.”

Zila está olhando para a tela, pensativa, chupando uma mecha de cabelo.
Scarlett desliza para o assento ao lado dela.

“Ok, bem, nerd do espaço enorme de lado,” Scar diz, revirando os olhos para
mim, “nós ainda precisamos descobrir o que está

acontecendo. Então vamos tentar mudar as coisas. Se aquele piloto não falar
conosco, talvez possamos falar com ela.”

Zila lhe dá a frequência que ela precisa, e nosso Face luta com o equipamento
de comunicação por um momento. Eu apenas encaro

aquela enorme tempestade de escuridão pulsante, a pequena estação


pendurada na borda dela. Desnorteado.

“Atenção, nave terráquea. Atenção, nave terráquea. Você está nos lendo?”

Sem resposta. Zila e eu nos entreolhamos enquanto Scar tenta novamente.

“Escute, sabemos que parece insano, mas acho que essa situação está
parecendo muito familiar para você agora. E dado que você não está mais
atirando em nós, você provavelmente está começando a descobrir que nós
quatro estamos de alguma forma ligados a tudo isso juntos. Seja o que for. O
que dizer de nós descobrirmos isso?”

Mais silêncio. Scarlett coloca sua melhor Voz da Razão.

“Você provavelmente está tão assustado quanto nós. Nós só queremos


conversar, ok?”

Nada ainda. Um pulso de energia escura ilumina a tempestade, malva


profundo entre aquelas espirais fervilhantes de preto sem fundo.

E estou começando a me perguntar se talvez Scar conheceu a única pessoa na


galáxia que pode resistir a seus encantos quando a tela de vídeo estala e um
fodão mascarado aparece, lançando um olhar mortal de Classe Cinco através
dos olhos estreitos.
Olhando melhor para ela desta vez, percebo que ela é meio jovem – não
muito mais velha do que nós. Ela não está mais parecendo tão durona,
também. Na verdade, ela parece mais assustada do que nós.

"Bem, oi", diz Scar, dando ao piloto um de seus melhores sorrisos. “Nós
simplesmente temos que parar de nos encontrar assim.”

O olhar do nosso novo amigo endurece de uma forma nada amigável.

"O que diabos está acontecendo?"

“Boa pergunta,” Scarlett responde, ainda sorrindo, o que é uma boa ideia,
porque a Srta. Badass ainda tem todas as armas e nós não temos nenhuma.
“Excelente questão, de fato, vale a pena discutir. Posso sugerir que tentemos
responder juntos? Porque estamos

muito ansiosos para evitar morrer novamente.”

Os segundos passam em silêncio, a garota por trás da máscara inescrutável.


Mas, finalmente, ouvimos um enorme WHUNGGGG, e toda a nave treme ao
nosso redor. Outro WHUNGGGG soa em nosso casco, e quase caio no chão,
com as mãos estendidas para me

equilibrar.

"Bafo do Criador, ela está atirando em nós de novo?"

"Não." Zila olha para seus sensores, balança a cabeça. “Ela prendeu nosso
navio com cabos de reboque.”

“Abra a eclusa de ar”, ordena o piloto. “Vou a bordo. Espero ver suas mãos à
vista quando essas portas se abrirem. Se não, beije suas bundas adeus. Você
está me lendo?”

"Cinco por cinco", responde Scarlett. "Vejo você em breve."

Nosso rosto gira em sua cadeira. Ela endireita a mandíbula, respira fundo e
acena com a cabeça daquele jeito que me lembra seu irmão novamente.
"Tudo bem. Vamos estender o tapete vermelho”.

"Espere, vamos deixá-la aqui?" Eu pergunto, olhando ao redor da cabine. “Eu


não quero ser todo julgador, mas essa garota nos assassinou nove vezes
hoje.”

“Oito vezes”, corrige Zila.

"Ah, bem, tudo bem então."

“Ela é difícil de ler com a máscara e capacete e tudo.” Scar encolhe os


ombros. “Mas se ela não quisesse falar, ela não viria de jeito nenhum.”

“Não pretendo entender o que está acontecendo aqui”, diz Zila, indo em
direção à porta. “Mas este piloto faz parte disso. Devemos falar com ela.”

Troco um olhar com Scar, e seguimos nosso Cérebro escada abaixo.


Caminhando até o compartimento de carga, me pego tentando

entender tudo isso.

Não sou o gênio que Zila é, mas também não sou desleixada, e nada disso
está somando. Enquanto estou preocupado em salvar

nossas próprias peles, a preocupação com Auri também está me incomodando


– o que diabos aconteceu com ela, com a Arma, com a

frota Syldrathi na qual estávamos bem no meio?

A batalha no limite deste sistema ainda está em andamento? É por isso que
este piloto estava tão nervoso? O fato é que vimos a frota Betraskan chegar
para defender a Terra contra os Invencíveis – somos aliados desde que nossa
guerra terminou há quase dois

séculos. Não há dois planetas na galáxia mais próximos do que Terra e Trask.
Então, por que ela surtou quando me viu?

Chegamos na baía. A iluminação é fraca, o cheiro de plasteno queimado forte


no ar. Através do acrílico na eclusa de ar, posso ver a nave de combate
terráquea agora posicionada diretamente atrás de nós. Assim como aquela
estação lá fora, não é nenhum design que eu já vi. Mas sinceramente, eu
tenho preocupações maiores.

“Então, escute,” eu digo. “A última vez que Flygirl colocou os olhos em


mim, ela nos explodiu em muitos pedaços pequenos. Talvez eu devesse, sabe,
ficar um pouco atrás?

“Ela já sabe que você está aqui”, aponta Zila.

"Ela sabe que algo está acontecendo", eu a corrijo. “Nós não sabemos o
quanto ela se lembra. Quero dizer, talvez sejamos nós que causemos essa
anomalia. Exposição a Auri ou a Arma ou a explosão ou algo assim. Flygirl
pode estar sentindo os efeitos colaterais em menor grau. Nós não sabemos.”

Zila inclina a cabeça para o lado, indicando sem palavras o quão improvável
ela acha que isso é.

“O que acontece se eu morrer e você não?” Eu pergunto. “O ciclo ainda


começa de novo para todos, ou eu continuo morto? Há muito sobre tudo isso
que não sabemos. E para ser honesto, eu não quero levar um tiro na cara,
ok?”

“Justo,” Scarlett concorda.

“Otimista”, murmura Zila.

Há um estalo do lado de fora da câmara de ar, sinalizando a chegada do nosso


convidado. Eu me escondo atrás de uma pilha de

caixotes, uma mão no aperto do meu disruptor da academia. Nós três ficamos
em silêncio enquanto a fechadura se fecha, mas a

tensão está cantando através de mim enquanto eu assisto a escotilha através


de uma rachadura na minha capa.

Scarlett e Zila mantêm as mãos à vista, e eu tento manter meu corpo solto,
meu aperto na minha pistola disruptiva relaxado. O que não é fácil, com a
mesma música batendo na minha cabeça sem parar, como um tambor.
O que. É. Indo. Sobre.

Com um zumbido, a porta se abre, revelando uma figura esguia do tamanho e


constituição de Zila. Ela usa um traje de voo preto, um capacete e uma
máscara de respiração, e segura uma arma pesada em uma mão.

Seu abridor não é amigável. “Onde está o Betraskan?”

“Olá,” oferece Scarlett. “Adorável conhecê-lo. Meu nome é Sca—”

“Onde está o Betraskan?”

Ok, bem, valeu a pena tentar.

"Estou aqui", eu suspiro. Antes que alguém seja baleado, guardo meu
disruptor no coldre e coloco minhas mãos ao redor da borda do caixote para
mostrar que estou desarmado.

"Saia devagar", ela ordena. "Realmente devagar."

Eu obedeço, mãos erguidas. “Você sabe, geralmente as pessoas não querem


me matar até que me conheçam um pouco melhor do que

isso.”

Estou tentando ser arrogante, mas posso ouvir o tremor na minha voz. Talvez
eu já tenha morrido repetidamente e de alguma forma volte, mas meu corpo
não entende isso. É quase certo que vai levar um tiro, mais cedo ou mais
tarde, e não está tudo bem com isso.

Eu estudo o equipamento do tenente — não se parece com nenhum uniforme


que eu já tenha visto em um membro da Aurora Legion,

da Força de Defesa Terráquea ou da Agência de Inteligência Global. É


principalmente preto, além de algumas insígnias prateadas. A única cor em
todo o equipamento é o desenho em seu capacete, algum tipo de grande
pássaro com asas abertas, garras afiadas
piscando.

Sempre me misturo com pássaros terráqueos. Canário talvez? Pelicano?

Não, isso não está certo… .

Mas posso ver que nossa visitante tem o nome KIM estampado no bolso e
uma insígnia de tenente nos ombros. Tenente Kim, então.

Prazer em conhecê-la.

“Então,” Scarlett sorri. “Como eu estava dizendo, meu nome é Scarlett. Este é
meu oficial de ciências, Zila, e meu engenheiro, Finian. É

bom f—”

“Fique de joelhos,” Kim ordena. “Dedos entrelaçados atrás de sua cabeça.


Todos vocês. Devagar."

Scarlett é tão boa em saber quando calar a boca quanto em saber quando falar
e o que dizer. Ela silenciosamente desce até o convés, e Zila a segue com
aquela expressão um pouco vaga que diz que há cálculos internos furiosos
acontecendo. Meu exo zumbe e assobia enquanto eu me acomodo ao lado
deles, estremecendo com os choques de dor correndo pelos meus joelhos.

"O que você está vestindo?" O tenente Kim me pergunta. “É para combate?”

“Combatendo a gravidade,” digo a ela. “Eu preciso disso para andar. Não há
armas nele, se essa é a sua preocupação. Embora tenha um abridor de
garrafas embutido?

Zila fala como se já não houvesse uma conversa em andamento. “Aquela


estação está seguindo uma vela quântica à beira de uma

tempestade de matéria escura.”

"Isso é confidencial," Tenente Kim estala.


Os olhos de Zila mudam, como se ela pudesse ver através do casco da nave.
“Meu colega Finian sugeriu que está tentando colher

energia escura?”

"Exceto que ninguém mais faz isso", eu digo. “Não em qualquer lugar.”

“Nem em lugar nenhum,” Zila sussurra, um pouco assustadora, para ser


honesta.

“Eu estou fazendo as malditas perguntas,” Kim rosna. “Quem te mandou?


Você é ops spec cabeça-branca? Como você nos encontrou

até aqui?”

Scarlett tenta suavizar as coisas. "Tenente, eu lhe dou minha palavra-"

"Sua palavra?" A tenente Kim zomba, aponta sua pistola direto para mim.
“Vocês dois estão trabalhando com esse bastardo contra seu próprio povo?
Trair Terra? Você sabe o que acontece com os traidores em tempo de guerra?

“Tempo de guerra?” Eu pisco. "Você está bêbado? Nós não fomos—”

“Cala a boca, Bleachboy!”

Eu pisco. "Bleachboy?"

“Nem em lugar nenhum...”, Zila sussurra novamente.

"Olha, o que diabos está errado com ela?" Kim exige, encarando Zila.

Scar acena com desdém. “Ah, ela faz isso às vezes.”

Zila olha para o tenente novamente, apontando para as portas da câmara de


ar. “Sua nave de combate. É um antigo modelo Pegasus.

Marco III, sim?

"Velho?" o piloto zomba. “Querida, ela é tão nova que a tinta ainda está
molhada.”

Zila assente. “Não em qualquer lugar.”

— Por que você continua dizendo isso?

“Ninguém faz isso em lugar nenhum”, diz Zila baixinho. “Mas os terráqueos
tentaram brevemente a agricultura quântica escura. Na verdade, quando
estávamos em guerra com os Betraskans. Durante os primeiros dias de nossa
exploração na Dobra.”

Percebo finalmente o que Zila está insinuando, e meu cérebro gagueja até
parar.

Ela não pode estar falando sério.

Não tem jeito.

Exceto...

“Eu não reconheço o uniforme dela,” eu sussurro. “E a estação é tão


antiquada…”

Este. Não podes. Ser. Acontecendo.

“Não em qualquer lugar.” Zila assente. “A qualquer hora.”

"Bafo do Criador", Scarlett sussurra.

A tenente Kim obviamente já teve o suficiente e levanta sua arma. “Você vai
explicar o que quer dizer agora. Ou eu começo a atirar.”

“Você não vai acreditar em mim”, garante Zila.

"Me teste."

"Em que ano estamos? Agora mesmo?"

O tenente Kim zomba. "Você está falando sério?"


“Por favor”, diz Zila. "Conceda-me."

“… É 2177.”

“Somos do ano 2380.”

Uma pausa. "Você tem razão. Eu não acredito em você.”

“Eu avisei você,” Zila dá de ombros.

Meu cérebro começa a borbulhar, isso é impossível lutando com isso é tão
legal. E por baixo de tudo, uma vozinha está sussurrando, Sobreviver àquela
explosão foi impossível. Então estava sendo explodido mais oito vezes.
Então, estava sendo transportado para onde quer que estejamos em um piscar
de olhos.

Eu vejo o momento exato em que o Tenente Kim faz o check-out. “Tudo


bem, isso está acima do meu salário. Eu estou levando você.

“Você obviamente está experimentando distorção temporal também,


tenente,” Zila insiste.

Kim a ignora, toca um microfone na lateral de sua garganta. “Slipper, esta é


Kim, você lê?”

“Você está repetindo esse encontro, assim como nós”, diz Zila.

“Slipper, esta é Kim, você copia?”

Ainda sem resposta. A tenente amaldiçoa baixinho.

“Se for mesmo o ano de 2177”, insiste Zila, “Terra está no meio de uma
guerra com Trask. Sua estação parece severamente danificada.

Não temos nenhuma prova de nossa identidade. Se você nos trouxer a bordo
do que é claramente uma instalação militar experimental durante a guerra,
isso terminará mal.”

"Eu não estava pedindo para você votar", Kim retruca, acenando com a
pistola. "Jogada."

•••••

A tenente Kim nos conduz até a cabine sob a mira de uma arma, e
controlando seu caça através de algum tipo de console remoto em

seu pulso, ela começa a rebocar nosso ônibus danificado em direção à


estação. A tarefa é lenta, trabalhosa – Kim parece saber o que está fazendo,
mas não é como se as naves de combate fossem realmente feitas para esse
tipo de trabalho.

Zila, Scar e eu estamos de joelhos no centro da cabine, os dedos entrelaçados


atrás da cabeça. Kim aparece atrás de nós. De vez em quando, ela tenta
aumentar a estação em comunicações.

A má notícia é que ela parece ficar mais irritada cada vez que falha, e essa
garota já nos matou muito hoje. A boa notícia é que podemos sussurrar
enquanto ela jura uma tempestade.

“Zila estava falando sério?” Murmúrios de cicatrizes, inclinando-se para


perto. (Como ela ainda cheira bem, ela não sua?) "Viagem no tempo?"

Meus ombros sobem e descem no menor dos ombros, e eu olho para o nosso
Cérebro, que está perdido em seus pensamentos

novamente. "Não sei. Parece insano. Mas não tenho outra explicação que se
ajuste aos fatos.”

Ela morde o lábio, os olhos arregalados e preocupados.

Isso é ruim, ruim, ruim.

Se o ano que nossa raivosa garota suja nos deu estiver certo (o que não pode
ser, porque a viagem no tempo), terráqueos e betraskans estão em guerra.
Seremos por mais duas décadas. E estou sendo transportado para uma base
militar secreta à deriva à beira de uma tempestade de matéria escura no meio
de uma catástrofe em toda a estação. A promessa de Zila de que isso
“terminará mal” pode ser apenas o eufemismo do século.
Seja qual for o século em que estamos...

não digo nada disso em voz alta, mas não preciso. Scar se inclina
silenciosamente, pressionando seu ombro contra o meu.

"Eu sou muito charmoso", murmuro. “Eles provavelmente vão me deixar em


paz.”

A tenente Kim levanta sua pistola. "Você. Cale-se."

Eu calei a boca. E pressiono meu ombro contra o de Scarlett, extraindo todo o


conforto que posso do contato.

Gato se foi. Tyler se foi. Auri e Kal se foram.

Depois de tantos anos sozinho, meu esquadrão se tornou meu clã. Mil
gavinhas invisíveis me amarrando a cada um deles de uma

forma que os terráqueos não podem entender. Estou sempre sintonizado com
eles, sempre monitorando onde estão, a maneira como

se movem ao meu redor. É instinto. Um Betraskan sem clã passa cada


momento ciente de que é uma pequena partícula em um grande

universo e que não está conectado.

Senti essa dor quando meus pais me mandaram para fora do mundo para
morar com meus avós, longe de todo o resto da família,

porque seria mais fácil para mim ter acesso à gravidade zero. Meus avós
estavam bem — eles escolheram ir para onde estavam,

podiam voltar para casa a qualquer momento. Eu? Meu vínculo foi cortado,
se eles disseram isso em voz alta ou não.

Eu sentia a mesma dor todos os dias na academia, sempre cercada por outras
pessoas, nunca amarrada a nenhuma delas.
Mas a dor de perder meu time um por um é ainda pior.

Não quero perder Scar e Zila também.

Levamos quase trinta minutos para chegar à estação e, ao longo do caminho,


temos nossa primeira boa olhada na tempestade de

matéria escura. É alucinante em escala, trilhões de klicks de diâmetro, e o


escopo disso me faz sentir como um inseto olhando para o rosto do Criador.

É inteiramente preto, tão profundo e completo que seus olhos doem ao olhar
para ele. Mas, de vez em quando, ele acende, vibrando com pulsos
intermitentes de energia quântica, malva profundo correndo para o preto-
sangue. Suas bordas se contorcem, torcem e se enroscam como serpentes
feitas de fumaça, grandes como sistemas solares. Mas dentro de alguns
momentos, essa luz escura morre, e a escuridão sempre desaba.

Esse comprimento de enorme cabo metálico se estende desde a estação,


centenas de milhares de quilômetros na escuridão pulsante.

À medida que nos aproximamos, posso ver mais claramente onde termina –
uma vasta estrutura no caos invisível. Sua superfície é plana, metálica,
ondulando como óleo na água. Um testemunho de mil quilômetros da
insanidade absolutamente de tirar o fôlego de nossos captores.

Uma vela quântica.

Esta estação, este equipamento - tudo isso deve ter custado uma fortuna para
construir. E a coisa é, se você pudesse fazer uma dessas coisas funcionar, a
fonte de energia seria inimaginável. Mas a realidade é que montar uma vela
quântica em uma tempestade de

matéria escura e amarrá-la à estação em que você está é como lambuzar


sua(s) parte(s) favorita(s) do corpo em freyan e marchar direto para a toca de
um caladian. Você está absolutamente, positivamente pedindo — ou melhor,
exigente com desenvoltura — uma experiência muito desagradável e, em
última análise, terminal.
"Essas pessoas são perturbadas", eu sussurro.

Aproximamo-nos da estação atarracada, ainda cuspindo vapor na escuridão,


com o casco marcado e enegrecido. É simplesmente feio, como se alguém
muito zangado o tivesse construído. Não sei o que há com os terráqueos e sua
estética de design.

Cruzamos em uma pequena baía de desembarque, e embora a tenente Kim


ainda não tenha conseguido levantar seus comandantes

em comunicações, os braços de ancoragem automatizados se prendem em


nossos navios, o tremor do impacto percorrendo todo o

ônibus enquanto somos levados para baixo. o convés.

Enquanto as portas da baía se fecham atrás de nós, o tenente Kim ordena que
nos levantemos. Meu coração está na minha boca

enquanto ela nos leva até a câmara de ar do ônibus espacial. Mesmo que eu já
tenha sido morto nove vezes hoje, meu corpo ainda está cheio de adrenalina,
meu cérebro zumbindo com o pensamento de que eu não quero morrer.

Eu não quero morrer.

Nossa porta da eclusa de ar se abre e entramos em uma eclusa de ar


secundária conectada ao hangar principal. A baía é banhada por uma luz
vermelha intermitente. Pistola apontada para nós, Kim digita um código de
acesso, as portas do hangar principal se abrem e de repente estamos entrando
em uma cena de caos total.

Dezenas de tripulantes em uniformes militares estão correndo, os pés batendo


no chão de metal. Uma fumaça espessa sai das

aberturas no teto. Metade do hangar está no escuro, a outra metade iluminada


por iluminação de emergência. Um esquadrão de

combatentes como o de Kim é banhado por um brilho vermelho-sangue


tremeluzente. Os terráqueos estão correndo por aí, usando
respiradores para se proteger da fumaça. Scar começa a tossir, Zila também.
O fedor é como cabelo queimado e plasteno.

A parede à nossa esquerda tem uma longa janela de acrílico, e posso ver a
vela distante dançando como uma pipa em uma

tempestade, a tempestade pulsando além. Seria quase bonito se...

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Rompimento de casco nos Decks 13 a


17.”

O alto-falante abafa temporariamente todo o resto e, quando é cortado, uma


sirene irritante começa a soar.

"Mova-se", diz a tenente atrás de nós, me cutucando entre as omoplatas com


sua arma.

"Eu não quero", eu digo.

“O que ele disse,” Scarlett concorda.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Toda a equipe de engenharia se reporta à


Seção Gamma, Deck 12, imediatamente.”

“Isso vai acabar mal”, prevê Zila novamente.

“Kim!” uma voz ruge. "Onde diabos você estava?"

Nós cambaleamos até parar, e Kim chama a atenção. O alto-falante está vindo
para cima de nós da luz vermelha e da fumaça, um

homem enorme, de ombros largos, sem cabelo na cabeça, mas com um


daqueles bigodes estranhos que os terráqueos crescem,

parecendo que está tentando rastejar para fora de suas narinas. Quando ele me
vê, seus olhos se arregalam, e meu estômago sobe no meu peito.

"Que diabos?" ele late. “Isso é um maldito Betraskan? Explique-se, soldado!


“Desculpe, senhor!” Kim sauda. “Tentei aumentar o comando nas
comunicações, mas não obtive resposta! Esses três romperam a zona de
exclusão, senhor!”

“Então atire neles!” ele ruge.

ESTRONDO.

Todo o lugar estremece quando algo, em algum lugar, explode.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO. EVACUAR OS CONVÉS 5 A 6


IMEDIATAMENTE. REPETIR: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO...

Kim levanta a voz acima do clamor. “Senhor, acho que as anomalias em


torno de sua chegada justificam as atenções do Sci-Div. Se não fosse urgente
—”

“Eu vou te dizer o que é urgente, tenente,” ele rosna. “O campo de contenção
ao redor do núcleo foi rompido, metade dos conveses superiores está trancada
e trinta e seis pessoas estão confirmadas como mortas, incluindo o Dr.
Pinkerton! Toda a maldita estação está se despedaçando ao nosso redor, e
você escolhe agora trazer espiões Betraskan para uma instalação
confidencial? Você está louco?"

BATIDA.

Lá fora, na tempestade, a escuridão se ilumina, do preto ao malva turvo,


quando um pulso de energia escura atinge diretamente a vela.

A explosão de energia é tão intensa que, mesmo captando-a através das lentes
de contato com o canto do olho, minha visão se perde momentaneamente nas
imagens posteriores. Eu pisco furiosamente enquanto o pulso sobe pelo cabo
na velocidade da luz, caindo em cascata na própria estação. Um banco de
computadores à nossa direita explode em um jato de faíscas. Uma nova
explosão de alarmes mais altos e irritantes grita pelos alto-falantes. Quase
perco as palavras de Zila quando ela murmura para si mesma ao meu lado.

“Pulso quântico, quarenta e quatro minutos após a chegada.”


Os olhos do comandante do convés se estreitam. "Que diabo é isso?"

O homem levanta sua pistola, e meu coração dá uma guinada quando ele
aponta diretamente para Scarlett. Scar levanta as mãos mais alto, dá um passo
para trás, e através da fumaça, caos e faíscas ardentes, vejo que seu colar
começou...

A respiração do Criador, seu colar está brilhando.

Aquele pedaço de cristal Eshvaren que Adams e De Stoy deixaram para nós
na Cidade das Esmeraldas está queimando em seu peito. A luz é negra,
dolorosa de se olhar, assim como a pulsação na tempestade.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO CRÍTICA. EVACUAR OS


CONVÉS 2 A 10 IMEDIATAMENTE. REPETIR: VIOLAÇÃO DE
CONTENÇÃO

CRÍTICA.”

“Kim, você não verificou se eles tinham armas?” o terráqueo ruge.

"Sim, senhor, b-"

"Bem, o que diabos é isso?"

"Não sei!" Scarlett grita, recuando. "Por favor, eu não!"

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM CURSO, ENGAJAR


MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 11.”

Zila fala diretamente com Kim, ignorando tudo ao nosso redor.

“Eu disse que isso não funcionaria.”

O terráqueo levanta sua arma, apontando-a para Zila.

"Senhor", Kim tenta, agora desesperada. “Eles...”

“Você está indo para a prisão, Kim!” ele ruge, acionando a trava de
segurança.

"Ei!"

Oh chakk, era eu.

O tempo diminui enquanto ele gira sua arma em minha direção, e eu vejo o
início do movimento quando ele puxa o gatilho.

E embora pareça levar uma eternidade, só tenho tempo para um pensamento.

Eu não podia suportar vê-lo atirar neles.

Estou feliz que sou eu primeiro.

CULPA.

AURI Acordo

cercado pelos mortos. Um mar de rostos encarando, Syldrathi Waywalkers


pegos em um momento final de medo ou dor ou desafio,

bocas abertas, olhos arregalados. Adultos e crianças estão empilhados juntos,


não mais presos às paredes de cristal acima de nós pela força da vontade do
Starslayer.

Eu deito entre eles em um chão cheio de cacos de cristal, pegando vislumbres


de lado dos corpos através dos meus cílios enquanto eu forço meus olhos
doloridos para abrir, então perco a batalha e os fecho mais uma vez.

Não consigo sentir a mente de Kal.

Tudo dói, cada músculo do meu corpo grita, minha cabeça lateja. Mas sob a
dor latejante, eu ouço os ecos do poder que convoquei –

aquela explosão maciça de energia fluindo através de mim para dentro da


Arma e saindo novamente, correndo da minha espinha até a ponta dos meus
dedos. E a memória desperta algo como... alegria.

Ignoro a dor, concentro meus pensamentos, enviando uma gavinha azul meia-
noite através dos últimos resquícios dos gritos

moribundos dos caminhantes do Caminho. É como procurar uma árvore em


particular em uma floresta densa e coberta de vegetação.

Mas mesmo os mais leves indícios desses gritos estão desaparecendo agora, e
meu azul prateado não encontra nada, nada, nada.

Ele deve estar muito longe.

Devo estar muito fraco.

A última coisa de que me lembro é o disparo da arma — aquela colossal


explosão de energia destinada a destruir o sol, a Terra e todos os que estão
nela. Não consegui detê-lo, mas tentei direcionar sua energia para dentro,
proteger a frota ao nosso redor, proteger o planeta, seu sol, parar...

... Caersan.

O Matador de Estrelas.

Eu fico de quatro, coração batendo e cabeça nadando com apenas esse


esforço, minha própria respiração áspera em meus ouvidos

enquanto eu luto para ficar de pé.

O homem responsável pelo assassinato ao meu redor está perto, deitado aos
pés de seu trono de cristal, seu manto vermelho

espalhado ao redor dele. Ele está se mexendo grogue, tranças jogadas para
trás para revelar o lado arruinado de seu rosto. O brilho de seus olhos brilha
através da teia de cicatrizes ao longo de sua têmpora e bochecha, como se ele
estivesse iluminado por dentro. A luz pulsa suavemente, talvez no ritmo de
seu batimento cardíaco, e eu me sento sobre as minhas ancas, levantando uma
mão para o lado direito do meu próprio rosto. A pele parece áspera sob meus
dedos.
Não consigo sentir Kal em lugar nenhum.

Então a mente de seu pai roça na minha, o vermelho escuro de sangue seco, e
um dourado que é muito parecido com o de Kal, e seus olhos se abrem,
focando em mim.

Ele fez tudo isso. Ele é responsável por cada gota deste sangue, esta
destruição, esta dor.

E quando nossos olhos se encontram, ele sorri.

Estou me movendo antes que eu tenha tempo para pensar – eu pego um


fragmento afiado de cristal e empurro para cima como um

corredor saindo dos blocos, avançando para ele como se fosse estacar um
vampiro.

Ele levanta um joelho para me encontrar, e seu dorso da mão me faz tropeçar
no trono, o mundo girando - eu o agarro para ficar de pé, e ele está
balançando também, sangue roxo escuro escorrendo de seu nariz, seus lábios
puxados para trás em um grunhido agora.

Ele fez isso.

Os Waywalkers mortos.

Crianças, algumas delas.

Seu próprio povo.

O espaço em branco onde Kal deveria estar.

Eu vou matá-lo.

Ao nosso redor, a arma ressoa, o cristal zumbindo e cantando enquanto esfria,


e sobre tudo isso, a áspera respiração áspera da minha respiração enquanto
nós dois nos levantamos, nos reunindo.

Em seguida, nossos olhos se encontram, e eu me jogo nele de novo,


cegamente esmagando-o no chão, meu grito ecoando de volta

para nós de todas as direções, a respiração nocauteada dele quando eu enfio


uma joelhada em sua caixa torácica.

Ele rola, e suas mãos estão na minha garganta, apertando, esmagando. Por
instinto, eu aperto meus punhos e soco entre seus

antebraços, forçando-os a se separarem e quebrando seu aperto.

Eu vou matá-lo. Isso é tudo o que resta a fazer.

Procuro cegamente por outro fragmento de cristal, os dedos se fechando ao


redor dele, e o empurro para cima e para o lado dele. Ele corta sua armadura,
mas quando ele se afasta, eu saio de debaixo dele.

Nós dois nos levantamos, recuando alguns passos, e eu mudo meu aperto na
minha faca de cristal. Ele é enorme e se move como um guerreiro até agora,
mesmo ferido. Este é o homem que ensinou Kal a lutar.

Mas minha mente parece uma esponja com toda a água espremida – não há
como usar meu poder contra ele, então é isso que eu

tenho. Sua própria mente deve ser tão fraca, ou ele teria me esmagado como
um inseto agora.

Leva apenas um golpe de sorte.

É isso que vou fazer com o tempo que me resta.

Ele quebra primeiro, avançando com uma velocidade impossível para atingir
minha garganta. Eu pulo para trás, piso em algo macio, tropeço, avanço para
cortar suas costelas enquanto ele está perto.

Ele rosna sua fúria, mas nenhum de nós está com disposição para palavras.
Eu o sigo, dançando para outro golpe, mas em um

movimento rápido demais para seguir, ele agarra meu braço e me joga no ar
como se eu não pesasse nada.
Meus pés saem do chão, e tudo fica suspenso por um segundo antes de eu
bater na base do trono de cristal, ouvidos zunindo, visão se fechando na
escuridão.

Há um Waywalker morto olhando diretamente para mim, apenas silêncio


onde sua mente deveria estar, e suas tranças estão uma

bagunça, e eu quero alisá-las para ela, e quero dizer a ela que sinto muito,
sinto muito, e, impotente, minha mente procura Kal mais uma vez, um
desesperado meia-noite e prata se desenrolando em busca de...

... é isso...?

… o mais leve lampejo de violeta e ouro.

A alegria explode dentro de mim, e eu me viro para procurar na carnificina


por ele, porque ele está aqui, ele está vivo, ele está...

"Espere!" Eu levanto uma mão, e Caersan faz uma pausa, os lábios curvados
enquanto ele me encara como se eu fosse algo que pertencesse à sola de seu
sapato.

"Fraco", ele zomba. “Agora você busca misericórdia? Tarde demais para sua
coragem falhar com você, garota.

“Não, eu...” Estou procurando as palavras, e levanto minha mão para


gesticular, para observar nosso entorno. Na minha busca por Kal, abri minha
mente e, de repente, percebi que algo mudou. "Você não pode ouvir?"

Ele faz uma careta. “Não ouço nada.”

"Exatamente."

Caersan inclina a cabeça e, nos limites de minha mente, posso sentir sua
busca cautelosa. Farejando o vento por trás de suas

barricadas, recusando-se a se tornar vulnerável.

Não consigo ouvir nada lá fora. Quando lutamos durante o ataque, o abismo
de espaço ao redor da Arma era um turbilhão de batalha, as mentes dos
humanos, dos Betraskans e dos pilotos e tripulações Syldrathi – seu medo,
sua raiva, seu foco. Em algum lugar no meio deles eu estava ciente de Finian,
Scarlett e Zila, meu esquadrão, minha família.

Mas agora... não há nada. Ou melhor, não nada — não uma ausência, como
se todos estivessem simplesmente mortos. Mas algo mais.

É como acordar em um dia de neve, como se o mundo estivesse


estranhamente abafado.

“Para onde foi a frota?” Eu pergunto baixinho. "A batalha?"

Ele franze a testa, e eu fico de quatro, e finalmente posso ver Kal, deitado
amassado do outro lado do trono.

Mantendo um olho em Caersan, rastejo em direção ao filho dele — o


Caçador de Estrelas nota o movimento e o descarta, voltando à contemplação
do estranho silêncio lá fora.

Kal está enrolado de lado, usando a mesma expressão pacífica e vulnerável


que ele usa quando dorme. Acordava antes dele quase

todas as manhãs no Echo. Por meio ano, eu o vi assim todos os dias.

Eu envolvo uma mão em torno dele, e embora eu esteja tremendo de


exaustão, eu arrasto a energia que eu preciso da minha própria alma, tornando
meu toque mental tão delicado que eu mal roço sua mente machucada e
machucada.

Eu respiro suavemente sobre aquelas brasas violeta e dourada, infundindo-lhe


a minha força, tomando cuidado para não apagá-las ou esmagá-las.

E lentamente, lentamente, eles brilham um pouco mais.

E seus dedos apertam ao redor dos meus.

Não consigo evitar que meus olhos se inundem de lágrimas, o alívio


quebrando algo dentro de mim. Aqui ele jaz, vestido de preto, um guerreiro
da Unbroken. Mas ele nunca foi um deles. Ele veio aqui para nós, mesmo
depois que o expulsamos.

Para mim.

"Há algo." A voz de Caersan corta meu devaneio, e eu olho para cima. Ele
está franzindo a testa, quase incerto - quero dizer, é apenas uma pequena
contração de sua testa, mas por seus padrões ele parece completamente
assustado. "Dessa maneira."

Ele está apontando para além das paredes de cristal da Arma, em direção ao
espaço além. Talvez em direção ao Sol ou à Terra — não tenho mais sentido
de direção. Estou desconfiado dele, e relutante em tornar minha mente
vulnerável, mas a verdade é que ele é o Arconte de uma cabala de guerreiros
fanáticos. Embora eu tenha feito um bom show agora, se ele quisesse me
quebrar em dois, ele poderia.

E agora, com a mão de Kal na minha, tenho algo pelo que viver.

Então eu sou cuidadosa enquanto me permito sentir, sondando com minha


mente na direção que ele aponta, sempre pronta para voltar à segurança se ele
tentar atacar. Mas ele não. Ele simplesmente me observa, a cabeça inclinada
no momento em que meus olhos se arregalam de horror.

Porque em algum lugar lá fora, nos limites do meu alcance, posso sentir. O
mundo de onde veio a humanidade. O berço que deu origem a toda a nossa
civilização. O planeta em que nasci e teria morrido para proteger.

Terra.

Ele fica pendurado na escuridão, um ponto azul pálido suspenso em um raio


de sol, e apenas por um segundo, ele se sente em casa.

Mas então eu sinto isso, rastejando, rastejando, cobrindo meu mundo inteiro.
Algo prateado-esverdeado-azul-cinza, algo fervilhante-contorcendo-se
enrolando, algo cheio de um tipo de vida doentio.

O Ra'ham.
Mothercustard...

Os Ra'haam tomaram a Terra.

KAL

Minha mente é mil estilhaços, mil momentos, mil lembranças.

Eu sou um espelho, e tudo de mim está quebrado.

“Kal?”

… Eu tenho cinco anos de idade. Em nossas suítes a bordo do Andarael, o


antigo navio de meu pai. Esta é a minha primeira lembrança, eu percebo. E é
dos meus pais brigando.

Minha mãe me disse que eles já foram tão próximos que era como se fossem
um espírito em dois corpos. Quando se conheceram,

Laeleth e Caersan eram ferro e magnetita, pólvora e chamas. E ela pensou


que a adoração que ela tinha por ele seria suficiente para mudar a forma de
sua alma.

Minha mãe é linda. Corajoso. Mas ela é um escudo, não uma lâmina. Eles se
levantam e gritam um com o outro, e as lágrimas brotam em meus jovens
olhos enquanto eu o encaro. Minha irmã, Saedii, está ali perto, em silêncio.
Observando e aprendendo. Os rugidos de meus pais ficam mais altos, o rosto
de minha mãe se contorce e a mão de meu pai sobe para o céu e cai como um
trovão.

E então há silêncio, exceto pelos meus lamentos.

Eu não entendo, exceto que eu temo, que eu sei, não é assim que deveria ser.
Meu pai se vira de onde minha mãe caiu. Minha irmã observa enquanto ele
caminha até onde estou sentada. E ele me pega e eu estendo meus braços para
agarrar seu pescoço, buscando conforto daquele que me fez.
Mas ele não me abraça. Em vez disso, ele passa o polegar pelas minhas
bochechas molhadas e me encara, silencioso e glacial, até que eu pare de
chorar.

"Bom", diz ele. “Lágrimas são para os conquistados, Kaliis.”

“Kal?” alguém sussurra.

… Tenho sete anos e voltamos para Syldra.

A guerra está avançando lentamente, e meu pai e outros Arcontes da Raça de


Guerra foram convocados para uma cúpula do Conselho Interno, para calar
aqueles entre os Waywalkers e Watcher Cabals que clamam que devemos
negociar a paz com a Terra. Uma parte de mim espera que ele os esmague. O
resto de mim anseia pelo fim desta guerra. Duas metades dentro de mim, uma
nascida da raiva de meu pai, a outra da sabedoria de minha mãe. Eu não sei
qual é o mais forte ainda.

Saedii e eu nos encaramos sob os lias, um vento perfumado soprando entre


nós. Nossas posturas são perfeitas, assim como o Pai nos mostrou. Nossos
punhos estão cerrados. Ela é mais velha que eu. Mais alto. Mais rápido. Mas
eu estou a aprender.

A mãe está sentada por perto, falando baixinho com os anciãos de sua cabala.
Eles esperam que ela, como a amante da vida de

Caersan, possa persuadir meu pai a pelo menos considerar a proposta de paz
dos terráqueos. Mas eles são tolos.

A paz é a maneira como o cão grita: “Renda-se”.

Saedii avança e, comigo distraído, seu golpe atinge o alvo. Ela varre minhas
pernas, e eu caio na grama roxa, sem fôlego. Ela se senta em cima de mim,
olhos acesos com triunfo, punho erguido.

"Renda-se, irmão", ela sorri.

"Não."
Nós viramos nossas cabeças para a palavra, e lá está ele. Vestindo uma
armadura preta sob os galhos balançando. O maior guerreiro que nosso povo
já conheceu. Os anciões Waywalker curvam suas cabeças com medo. Minha
mãe fica em silêncio, uma sombra caindo

sobre ela. Meu pai fala, e sua voz é de aço.

“O que eu te ensinei sobre misericórdia, filha?”

“É a província dos covardes, padre”, responde Saedii.

“Então por que pedir ao seu inimigo que ceda?”

Minha irmã aperta os lábios e olha para mim. Mamãe está de pé agora,
olhando para meu pai e falando como ninguém mais se atreve.

“Caersan, ele é apenas um menino.”

Ele olha através dela como se ela fosse de vidro. “Ele é meu filho, Laeleth.”

Os olhos do pai caem em Saedii. Seu comando não dito.

Seu punho corta meu lábio e estrelas negras explodem em meus olhos. Outro
golpe acerta, outro, e sinto gosto de sangue, sinto dor, estilhaçando,
quebrando.

"O suficiente."

A batida para. O peso da minha irmã sobre meu peito diminui. Abro o olho
que não está inchado e encontro meu pai de pé acima de mim. Eu posso vê-lo
no meu rosto quando olho no espelho à noite. Posso senti-lo atrás de mim
quando penso que estou sozinha.

Minha mãe observa, sua expressão de angústia enquanto eu rolo para minha
barriga, me coloco em pé.

Papai se ajoelha diante de mim, então estamos olho no olho. Ele estende a
mão e arrasta um polegar pela minha bochecha. Mas onde uma vez ele
encontrou lágrimas, agora há apenas sangue.
"Bom menino, Kaliis", diz ele.

Eu concordo. “Lágrimas são para os vencidos, Pai.”

"Kal, por favor, acorde..."

… Estou no meu quarto a bordo do Andarael e tenho nove anos.

Meus punhos estão rasgados, meu sangue roxo profundo na luz baixa e
quente. Os motores roncam enquanto eu pesco dentro do

corte mais profundo com uma pinça, e estremecendo, eu a retiro da minha


junta inchada – uma lasca pálida de dente quebrado.

Eu não queria bater nele com tanta força. Não me lembro da maior parte do
que aconteceu depois que meu primeiro soco acertou. Mas me lembro das
palavras que ele falou sobre meu pai — as palavras que cheiravam a
covardia. A raça de guerra denunciou o tratado do Conselho Interno com os
terráqueos, atacou os estaleiros da Terra, esmagou sua marinha. E agora
voltaremos nossa atenção para

aqueles entre nosso próprio povo que clamam por paz quando só pode haver
guerra. Porque a guerra é para que eu nasci.

Não é?

A porta se abre com um sussurro, e minha mãe entra no quarto, vestida com
um vestido longo e esvoaçante, um colar de cristais Void brilhando em seu
pescoço. Eu fico como é apropriado, cabeça baixa, voz suave.

"Mãe."

Ela desliza para a janela de visualização, olhando para a escuridão além.


Ainda posso ver os ecos da batalha lá fora em minha mente –

aquelas vastas naves queimando à luz de Órion. Todas aquelas vidas


exterminadas pela mão do meu pai.

Vejo o leve hematoma no canto da boca de minha mãe, uma mancha escura
na luz das estrelas que beija sua pele. Uma brasa de raiva queima dentro de
mim. Eu amo minha mãe com tudo que tenho. E embora eu também ame meu
pai, odeio essa coisa dentro dele, essa

coisa que o faz machucá-la.

Eu o arrancaria dele com minhas próprias mãos se pudesse.

“Valeth está na enfermaria com um maxilar quebrado e nove costelas


quebradas.”

"Isso é lamentável", eu respondo com cuidado.

“Ele diz que caiu da escada auxiliar.”

“Eles podem ser traiçoeiros.”

Minha mãe olha para mim, os olhos brilhando. "O que aconteceu com tua
mão?"

Eu mantenho meu olhar no chão, falando suavemente. “Eu machuquei


treinando.”

Ouço passos silenciosos, sinto seu toque, frio na minha bochecha. “Mesmo
que eu não tivesse nascido Waywalker, mesmo que as

fechaduras do seu coração não abrissem as portas para mim, ainda assim eu
sou sua mãe, Kaliis. Você não pode mentir para mim.”

“Então não me peça. A honra exige que eu...

— Honra — ela suspira.

As pontas dos dedos dela roçam o novo glifo na minha testa, as três lâminas
marcadas lá no dia da minha ascensão. Eu sei que ela e meu pai brigaram
sobre qual cabala eu faria parte. E eu sei que ele ganhou.

Ele sempre vence.


“Como você acha que aquele menino vai se sentir quando ele mentir para o
pai sobre a surra que você deu nele?” ela pergunta.

"Ele se tornou meu inimigo", eu respondo. “Eu não me importo como ele se
sente.”

“Sim, você tem. Essa é a diferença entre Caersan e você.

Ela levanta meu queixo, gentilmente me forçando a encontrar seus olhos. Eu


vejo a dor neles. Eu vejo a força. E eu me vejo.

“Eu sei que você é filho dele, Kaliis. Mas você também é meu filho. E você
não precisa se tornar a coisa que ele está ensinando a ser.”

Ela se inclina para frente, pressiona os lábios na minha testa ardente.

“Não há amor na violência, Kaliis.”

Eu vejo luz atrás dela. Um halo de azul meia-noite salpicado de prata.

Ouço uma voz, familiar, mas estranha.

“Kal?”

“Não há amor na violência.”

“Kal, você pode me ouvir? Oh, por favor, por favor, acorde.”

… O toque de minha mãe me desperta do sono. Meu coração bate quando


meus olhos se arregalam e sua mão cobre meus lábios. Eu

tenho doze anos de idade.

"Levante-se, meu amor", ela sussurra. "Nós devemos ir."

"Vai? Ir aonde?"

"Estamos saindo", ela me diz. “Nós vamos deixá-lo.”


Eu vejo um hematoma, fraco em seu pulso. A divisão em seu lábio é nova.
Mas eu sei que não é para ela que ela está fugindo dele finalmente.

Ela me levanta da cama, me entrega meu uniforme. Sem palavras eu me


visto, me perguntando se ela realmente quis dizer isso. Meu pai nunca vai
permitir isso. Eu o ouvi ameaçar matá-la se ela for embora. Não há para onde
ela possa correr.

"Onde nós vamos?" Eu pergunto.

“Eu tenho amigos em Sylvra.”

“Mãe, estamos em guerra com Syldra.”

"Não, ele está em guerra", ela sussurra. “Com todos e tudo. Eu não vou
deixar você se tornar ele, Kaliis. Não permitirei mais que ele envenene meus
filhos.”

Minha mente está correndo enquanto deslizamos pela escuridão até os


aposentos de Saedii. Mamãe entra furtivamente enquanto eu

mantenho a vigilância, meu coração martelando, minha mente girando. Ele


nunca vai esquecer isso. Ele nunca perdoará.

“Saedii,” mamãe sussurra. “Saedii, acorde.”

Minha irmã ferve de pé, a lâmina retirada de debaixo do travesseiro, os


dentes à mostra. Quando ela vê nossa mãe, ela relaxa apenas um pouco. E
quando ela me vê, ela fica tensa mais uma vez.

Seu rosto ainda está machucado pela surra que dei a ela. A brecha entre nós é
maior do que nunca. Ela quebrou o siif que mamãe me deu depois que eu a
derrotei no spar. Ela não pode mais me superar no círculo, então ela procurou
me punir de outra maneira. E eu a puni na mesma moeda. Ainda posso
imaginar o sangue dela em meus dedos. A dor em seus olhos quando eu bati
nela com o siif ela

quebrou. Eu sinto vergonha mesmo agora que eu coloquei as mãos sobre ela
assim. Mente ecoando com a memória das palavras de
meu pai quando ele soube o que eu tinha feito.

“Nunca estive mais orgulhoso de você ser meu filho.”

“O que você quer, mãe?” ela sussurra, abaixando sua lâmina.

“Estamos saindo, Saedii. Estamos deixando-o”.

Seus olhos se estreitam. Seu lábio se curva. "Você está louco?"

“Estou louco por ter permitido que isso continuasse por tanto tempo. Caersan
é um câncer, e não permitirei que se espalhe mais. Venha agora."

Saedii tira a mão do aperto de mamãe. “Covarde infiel. Ele é o amor da sua
vida, Laeleth. Você deve a ele seu coração e sua alma.”

"Eu dei a ele ambos!" A mãe sibila, apontando para os hematomas em sua
pele. “E foi assim que fui recompensado! E se fosse apenas eu que carregasse
o fardo, talvez mesmo agora eu mantivesse minha fidelidade. Mas não vou
ficar parado vendo meus filhos caírem na mesma escuridão que o consome!”

Saedii olha para mim, rosto machucado, dentes à mostra. "Você permite isso,
irmão?"

Eu encontro seus olhos, implorando. “Sinto muito, irmã. Mas você sabe a
verdade. Ele não é bom para nós. Ele não é o que eu desejo ser.”

"Covarde!" ela cospe, levantando-se. “Vocês dois, covardes infiéis!” A luz


azul da meia-noite brilha atrás dela, e eu aperto os olhos, cega.

O calor dele banha minha pele, formigando em cada parte de mim.

“Kal?”

“Saedii, venha conosco!”

“Eu morreria antes de traí-lo.”


“Kal!”

"Covarde! Vergonha! De'sai!”

“CAL!”

... Eu abro meus olhos.

Eu a vejo acima de mim, um halo de luz brincando ao redor de sua cabeça.


Meu coração dispara tão dolorosamente que pressiono uma mão nas costelas
para parar a dor. Minha visão está turva, a mente doendo, mas ainda assim,
um pensamento queima brilhante o

suficiente para perfurar a névoa dos meus pensamentos quebrados.

Ela está viva.

Minha Aurora está viva.

As paredes ao nosso redor são de cristal brilhante, e percebo que estou


flutuando um metro acima do chão. Conforme eu mudo meu peso, tento me
levantar, o ar ao meu redor zumbe suavemente, cor de arco-íris – o mesmo
que as energias do Eco, onde Aurora e eu vivemos meio ano, uma vida
inteira, nas memórias do mundo natal dos Eshvaren. Mas eles se sentem
diferentes agora. A música de energia pairando no ar é

... “Não, não tente se sentar,” ela sussurra, uma mão no meu ombro. “Apenas
descanse, ok? Eu pensei que tinha perdido você por um minuto ali, eu... eu
pensei que...”

Sua voz falha e ela fecha os olhos, lágrimas em seus cílios enquanto ela
abaixa a cabeça. Eu levanto uma mão para segurar sua

bochecha, macia como penas.

"Estou aqui", digo a ela. "Eu nunca te deixarei. A menos que você queira.”

"Não", ela respira. "Desculpe, sinto muito por ter mandado você embora,
Kal."
— Lamento ter mentido para você, be'shmai. Fui covarde por fazer isso.”

“Você veio aqui sozinho para acabar com ele. Para salvar a maldita galáxia.”
Ela pressiona meus dedos em seus lábios. “Você é o garoto mais corajoso que
eu já conheci.”

Dele.

Uma sombra cai sobre mim enquanto as memórias se infiltram nos destroços
da minha mente – a batalha na sala do trono, a guerra

acontecendo lá fora, terráqueos e betraskans e Syldrathi se cortando em


pedaços enquanto a Arma pulsava e os Waywalkers gritavam e meu pai...

"Meu pai", eu sussurro. "Você fez … ?"

Aurora balança a cabeça. Minha visão está clareando e vejo agora que há
rachaduras atravessando sua pele, irradiando sobre seu olho direito. Sua íris
ainda está brilhando, e a luz brilha através das rachaduras, vindo de algum
lugar dentro dela.

Ela está ferida, eu percebo. Fraco. A Arma tem...

Tirou algo dela... .

E, no entanto, posso senti-la dentro da minha mente, um calor se espalhando


dela e consertando as lágrimas que meu pai rasgou por mim. Eu posso
imaginá-lo, me segurando ainda com o poder de sua vontade sozinho, a faca
que eu tentei enfiar em seu coração caindo dos meus dedos enquanto ele
rasgava minha psique.

Ele tentou me matar.

Assim como tentei matá-lo.

"O que aconteceu?" Eu sussurro.

“A arma disparou”, responde Aurora. “Eu tentei pará-lo, tentei voltar para
dentro de mim mesmo, mas... eu não consegui segurar. Os Waywalkers estão
todos mortos.”

“As frotas? A batalha?" Meu coração acelera, e eu levanto um cotovelo


apesar da dor. “O que aconteceu com a Terra? Seu sol?”

“O sol está bom.” Ela engole em seco, tremendo. “Mas a Terra...”

Ela encontra meus olhos, os dela cheios de lágrimas.

“A Terra se foi, Kal.”

Meu coração afunda, minha mão encontra a dela. “A arma o atingiu?”

"Não." Ela balança a cabeça novamente, e eu sinto o caleidoscópio de seus


pensamentos nos meus – confusão, medo, raiva. “Os Ra'haam. Tomou todo o
planeta. Consumiu. Absorvido. Cada coisa viva nele.”

“Por quanto tempo fiquei inconsciente?” Eu sussurro, confuso.

“Algumas horas, talvez.”

"Horas?" Eu balanço minha cabeça. "Então... como isso é possível?"

"Não sei. Estendi a mão quando acordei e não conseguia sentir nada ao nosso
redor. As frotas, os pilotos, os soldados, todos se foram, como se nunca
tivessem existido. A única coisa que senti foi... isso. Como... óleo e mofo em
minha mente. Muito disso. Cobrindo a Terra da mesma forma que cobriu
Octavia.” Ela passa a mão pelo cabelo, a pele ao redor do olho direito rachada
como argila atingida pela seca. “Eu também senti, Kal. Eu sei que sim.”

O cristal zumbe ao meu redor, uma mudança de tom e matiz. Ele ondula
quente em minha pele, mas, novamente, estou impressionado com a noção de
que nem tudo está bem.

“A música deste lugar.” Eu olho para a beleza brilhante ao nosso redor,


franzindo a testa. “Parece diferente do que costumava ser.

Quase... fora do tom?


Aurora assente. "Eu sei. Algo parece errado.”

“… Estamos nos mudando,” eu percebo.

Aurora olha para o corredor reluzente, com o maxilar cerrado. “Ele está
fazendo isso. Eu precisava cuidar de você. Então ele está nos movendo pela
Dobra. Estamos indo... não sei para onde. Longe da Terra. Longe disso.”

"Eu preciso falar com ele", eu digo.

"Kal, não", ela implora, tentando me parar enquanto me levanto. "Precisas de


descansar. Ele quase te matou, entende? Ele quebrou sua mente em mil
pedaços. E se ele tentar de novo, não sei se sou forte o suficiente para impedi-
lo.”

“Não tenho medo dele, Aurora.”

“Mas estou com medo por você. Não posso te perder de novo, não posso!”

Eu a pego em meus braços, e ela me abraça com força, e por um momento,


toda a mágoa, a dor, a dor desaparecem. Com ela em meu

abraço, estou completo novamente. Com ela ao meu lado, não há nada que eu
não possa fazer.

"Você não vai me perder", eu juro. "Eu sou sua para sempre. Quando o fogo
do último sol falhar, meu amor por você ainda queimará.”

Eu beijo sua testa.

“Mas devo falar com ele, Aurora. Ajude-me. Por favor."

Ela me encara por mais um momento, incerta. Lutando com o medo do que
ele pode fazer comigo. Meu coração dói ao ver a dor que

foi feita a ela. A força que ela deu para lutar até aqui. Mas, finalmente, ela
endireita a mandíbula e, colocando meu braço em volta de seu ombro, ela me
ajuda a ficar de pé.
Ainda me sinto frágil — como se fosse uma tapeçaria de um milhão de fios
unidos por um único nó de vontade e calor. Mas ela está ao meu lado
novamente, e isso é tudo que importa. Segurando uma na outra, Aurora e eu
mancamos pelos corredores reluzentes, cristal cantando arco-íris ao nosso
redor, discordantes e irritantes.

Meu pai deu a esse recipiente o nome de Neridaa — um conceito Syldrathi


que descreve o processo de simultaneamente destruir e

criar. Fazendo e desfazendo. Mas eu sei a mentira disso. Esta é a arma que ele
usou para destruir o sol de Syldra. Nosso mundo. Dez bilhões de vidas
extintas por sua mão, minha mãe entre elas. E eu sei que meu pai não cria
nada além da morte.

Sai'nuit.

Matador de estrelas.

Meu coração para quando coloco os olhos nele. Ele está sentado no topo da
torre de cristal no coração da câmara, como um imperador em seu trono
sangrento. O chão está cheio de cadáveres, fragmentos estilhaçados; o ar
cheira a morte. Ele ainda está vestido com uma armadura preta, de gola alta,
um longo manto carmesim se espalhando pelos degraus abaixo. Dez tranças
prateadas caídas sobre o lado marcado de seu rosto. Mas vejo seu olho
brilhando atrás deles, queimando com a mesma luminosidade pálida de
Aurora quando lutaram pelo destino de seu mundo.

Diante dele, vejo uma vasta projeção — um trecho de preto pontilhado por
pequenas estrelas. Estamos na Dobra, percebo, nos

aproximando de um portão. Eu me pergunto por que a paisagem de cores


dentro da Arma não é silenciada para preto e branco, como normalmente
aconteceria na Dobra. Eu me pergunto que outras propriedades esta
embarcação possui. É o cristal? O Eshvaren? Dele?

“Pai,” eu digo.

Ele não me ouve. Não olha para cima. O Neridaa está se aproximando do
portão – em forma de lágrima, cristalino, Syldrathi em design.

"Pai!" Eu rugi.

Ele olha para mim e depois para longe com a mesma rapidez, os olhos
queimando como um pequeno sol.

“Kalis. Você vive."

“Desapontado?”

“Impressionado.” Esse olhar ardente pisca para Aurora, depois volta para o
negro diante dele. “Mas então, você sempre foi filho de seu pai.”

Recusando-me a morder sua isca, dou um passo à frente com Aurora ao meu
lado. "O que está acontecendo? Onde está a frota

ininterrupta? Os terráqueos e os betraskans? Como é que a Terra foi


consumida pelo inimigo tão rapidamente?”

Ele lambe o lábio, enrolado quase em um rosnado. “O inimigo”, ele repete.

“O inimigo que você deveria parar!” Aurora rosna ao meu lado.

Seu olhar pisca em sua direção. O rosnado cresce uma fração maior. “Você é
uma tola, garota. Posso ver por que meu filho tolo adora você.

Ela dá um passo à frente, os dedos se fechando em punhos. “Seu filho da


puta...”

“Espere...” Pego a mão dela, aperto enquanto vejo a projeção flutuando


diante do meu pai. Estamos atravessando o FoldGate agora, no espaço real.
Mas tão perto, vejo que o portão parece... errado. Velho. Marcado por
relâmpagos quânticos. Metade das luzes de

orientação não funcionam. Parece que não tem visto manutenção em décadas.

"… Onde estamos?" Pergunta Aurora.


Meu pai zomba, escovando uma trança perdida por cima do ombro. “Sempre
e sempre, você procura respostas para as perguntas

erradas, garota.”

Olhando para o sistema, reconheço a estrela da minha infância — azul


brilhante, como uma safira brilhando em um oceano de

escuridão. “Isso é Taalos, be'shmai. Há uma colônia Syldrathi em Taalos IV,


um porto estelar, reivindicado pelos Invencíveis depois que eles se retiraram
do Conselho Interno de Syldra.”

"Ele... veio aqui para reforços?"

“Eu vim aqui para confirmação, garota.”

Aurora range os dentes, seu olho direito brilhando como um relâmpago. A


luz pulsa sob sua pele, vazando pelas rachaduras em sua bochecha. Por um
momento, o ar ao nosso redor parece gorduroso e carregado de corrente. Seus
lábios se abrem em um rosnado.

“Ouça, eu não me importo com o quanto estou magoado, e não me importo


com o que isso me custe. Você me chama de garota de

novo, e você e eu vamos terminar isso...”

“Silêncio,” ele diz.

Aurora pisca. “Ok, talvez eu não esteja sendo claro aqui, mas você não fala
comigo dessa maneira. Você não me chama de garota, você não exige
silêncio, você não me trata como algo que você entrou por engano. Eu sou
um Gatilho dos Eshvaren, e ao contrário de você, eu fui corajoso o suficiente
para dar um passo e—”

“Não.”

Meu pai se levanta, uma pequena carranca na testa, e ele olha para o sistema
estelar projetado à sua frente.
"Ouça", ele balança a cabeça. "Lá fora."

Eu olho para Aurora, e ela encontra meus olhos, apertando seus lábios finos.
Eu sinto sua mente inchar e esticar nas bordas da minha.

Ela levanta a mão, como se estivesse alcançando aquela estrela distante.


Aquele brilho pálido ilumina sua íris, penetra pelas fendas em sua pele.

"Eu não posso... eu não posso ouvir nada."

Ele concorda. "Silêncio."

Meu pai olha para a estrela de Taalos, seu rosto uma máscara fria.

“Uma colônia de quase meio milhão de pessoas orbitava este sol. Ininterrupto
tudo. Leal até a morte.” Ele entrelaça os dedos e respira fundo. “A morte que
agora os reivindicou. Todos e cada um.”

"Quão?" Eu respiro.

“Os Ra'haam,” Aurora sussurra. "Eu posso... eu posso sentir isso."

Ela me olha com lágrimas nos olhos.

“Tomou conta da colônia, Kal. Ele tomou conta do mundo inteiro deles.”

"Mas como?" Eu exijo, minha frustração aumentando. "Como isso é


possível? O Ra'haam ainda nem floresceu! Sua intenção era levar a galáxia à
guerra enquanto ela dormia em seus mundos de berçário, esperando para
chocar! Mas agora ele tomou a Terra? Taalos?

Como isso pode ser?"

"Isso é culpa sua", diz Aurora, dando um passo à frente. "Tudo isso. Os
Eshvaren confiaram a você para derrotar os Ra'haam, Caersan, e você usou a
arma deles para lutar sua própria guerra mesquinha! E onde isso te levou?”

Ele olha para ela então, e a máscara imperiosa que ele usa começa a
escorregar. Começa pequeno, apenas um brilho de diversão em seus olhos,
uma leve curva de seu lábio. Mas logo ele está sorrindo, e esse sorriso se
estica e se abre até os dentes, e de todas as coisas, ele começa a rir. Rindo,
como se meu amado tivesse dito a coisa mais divertida que já ouviu.

Toda essa morte. Toda essa escuridão. E ele acha isso divertido. E eu vejo
então, certo como vejo essa garota ao meu lado, certo como eu vi os
destroços de nosso mundo, a ruína que ele fez de nosso povo.

Meu pai é louco.

"O que diabos é tão engraçado?" grita Aurora.

“Como eu disse,” ele finalmente responde, enxugando uma lágrima do olho,


“você sempre procura respostas para as perguntas

erradas.”

“O que devemos perguntar, então?” Eu exijo.

“Não é uma questão de onde minha ambição me levou, meu filho.”

Meu pai respira fundo, olhando para aquele vazio silencioso.

“É quando.”

ZILA

“Que diabos está acontecendo?”

Estou de volta à cabine de nosso ônibus espacial Syldrathi novamente,


flutuando à beira de uma tempestade de matéria escura, meus ouvidos ainda
zumbindo com o estalo do tiro que me matou. Em vez de repassar o momento
da minha morte na minha cabeça,

concentro-me no rosto do tenente Kim que aparece no monitor. Eu esperava


que ela adotasse uma abordagem diferente nesse ciclo e, quando ela abre as
comunicações pela décima vez, percebo que ela está pronta para falar.
Agradável.

“Olá, tenente. Eu estava esperando por você.”

Sua pausa é tão longa que se eu não pudesse vê-la se mexendo levemente no
meu monitor, eu pensaria que nossas comunicações

foram cortadas.

“Eu não posso dizer se você está brincando,” ela diz eventualmente.

“Eu ouço isso com uma frequência notável.”

Mais silêncio.

"Abra a eclusa de ar", diz ela. "Estou chegando."

Scarlett e Finian chegam à ponte, sem fôlego, tendo saído correndo da sala de
máquinas. Percebendo o final da conversa, Finian se inclina para estudar o
tenente na tela. “Você só virá se concordar em não atirar em ninguém. Já
morri dez vezes hoje, e não estou com humor.

O tenente pisca, franzindo a testa. "Dez? Eu conto nove.”

“Nós também morremos no caminho para cá.”

“A caminho do futuro.” Seu tom é duvidoso.

Scarlett se inclina ao lado de Finian. "Vejo você em breve, tenente." Kim


corta a conexão, deixando nós três olhando um para o outro. A
impossibilidade do que estamos vivenciando não passa despercebida para
nenhum de nós.

“Eu não gosto disso,” Finian murmura. “Eu não gosto dela.”

“Nem eu,” Scarlett concorda. “Mas nosso navio está morto na água, então
não vamos chegar a lugar nenhum até convencê-la de que não somos uma
ameaça.”
Fin olha para Scarlett, a voz suave. “… Tem certeza de que está bem?”

Scarlett pisca. “Sim, eu estou bem. Quero dizer, tudo bem, considerando o
que está acontecendo aqui...

“Você...” Fin engole. “Você levou um tiro.”

— Estou bem, Fin. Scarlett sorri gentilmente, toca sua mão. "Eu prometo.
Você também foi baleado, você sabe.

"Sim", ele diz baixinho. “Mas eu não tive que assistir.”

Eles olham um para o outro por um longo momento, e o silêncio


eventualmente fica pesado o suficiente para eu me sentir compelido a quebrá-
lo.

“Seu medalhão.” Eu aceno para o pequeno cristal em volta do pescoço de


Scarlett. “O diamante reagiu depois que a vela quântica foi atingida na
tempestade.”

"Sim", ela responde, lembrando-se do negócio em mãos. “Mas não é


diamante. Fin descobriu que é cristal Eshvaren.

Encaro a gema, estreitando os olhos. “Interessante...”

“Por que brilhou assim?”

"Eu não sei", murmuro, minha mente agora correndo. “Mas deve ser
significativo. Vários de nossos presentes do Almirante Adams e do Líder de
Batalha de Stoy provaram ser vitais até este ponto. A caixa de cigarrilha que
salvou a vida de Kal. A inscrição em seu colar, nos dizendo para seguir com
o plano de desativar a Arma Eshvaren. É como se os comandantes da Aurora
soubessem o que aconteceria

conosco. Suas ações podem até ser interpretadas como tendo nos guiado até
este ponto.”

Fin inclina a cabeça, não convencido. “Obviamente, algo está acontecendo


com os presentes. Mas nos guiando? Isso é um exagero, Zil.
Eles me deram uma maldita caneta.”

Scarlett acena para meus aros dourados. “E você acabou de ganhar brincos.”

WHUNNGG.

Nossa nave balança quando um cabo de reboque atinge o casco. Segue outro.

WHUNNGG.

Fin revira os olhos. "Acho melhor descer e deixar a Tenente Psicopata entrar.
Eu me pergunto de que maneira nova e interessante ela vai nos matar desta
vez."

“Você deve ser educado, Finian,” eu aviso. “Seu comportamento pode ser
excessivamente agressivo, mas a tenente Kim é um

componente crítico em tudo isso.”

Scarlett levanta uma sobrancelha. "O que te faz dizer isso?"

“Acho que você não notou o indicativo dela.”

Agora Finian pisca para mim. "Huh?"

“Seu indicativo. Um apelido usado por seus colegas pilotos. Estava


estampado na asa de seu lutador. Também está pintado no

capacete que ela usa.”

“Eu estava muito ocupada olhando para a pistola na mão dela para notar o
capacete em sua cabeça”, admite Scarlett. "O que foi isso?"

Estendo a mão para tocar os brincos, o presente deixado para mim no


Dominion Repository. Os pequenos pássaros dourados

pendurados nos aros, as asas abertas, as garras brilhando na penumbra.

"Seu indicativo é Hawk."


•••••

Desta vez, quando a eclusa de ar desengata, nós três estamos esperando por
ela ao ar livre. A tenente Kim não está com a arma em

punho, embora uma mão esteja apoiada no cabo. Ela está emoldurada na
porta, estendendo a mão lentamente para desafivelar a

máscara e remover o capacete.

Ela talvez tenha vinte e poucos anos, e acredito que minha avaliação de que
ela é descendente do leste asiático está correta. Suas feições são simétricas,
convencionalmente atraentes, embora eu imagine que para alguns, sua
expressão severa diminuiria o efeito.

Ela não é alta.

“Ok, vamos tentar de novo,” diz Scarlett. “Meu nome é Scarlett Jones. Esta é
Zila Madran e este é Finian de Karran de Seel.

“E antes que você comece a atirar novamente, alguns dos meus melhores
amigos são terráqueos,” Finian a informa. “Todos os meus melhores amigos,
na verdade.”

“Tenente Nari Kim,” nosso convidado diz lentamente.

"Prazer em conhecê-lo", Scarlett sorri. “E obrigado por não nos matar.”

"De nada", ela diz sem expressão. “Então, quem ganha a guerra?”

Scarlett inclina a cabeça. "… O que?"

“Se vocês são do futuro”, diz Kim, obviamente ainda em dúvida. "Quem
ganha? Nós?" Ela acena para Finian. "Ou as cabeças de lixívia?"

"Ninguém nunca ganha uma guerra", eu respondo. – Mas os terráqueos e os


betraskans vão assinar um tratado de paz em...

– Espere, espere – diz Scarlett. “Deveríamos estar falando sobre coisas


assim?”

“… Por que não iríamos?” Fin pergunta.

Ela olha para o tenente. “E se mudarmos o futuro?”

“Isso só acontece em romances ruins de ficção científica, certo?”

“Não há precedente para o que estamos vivenciando”, digo. “Ou pelo menos,
nenhum dos quais estamos cientes. É difícil saber as ramificações de nossas
ações e praticamente impossível calcular os efeitos que nossa presença neste
momento pode ter em eventos futuros. Mas, considerando os presentes que o
Comando Aurora nos deu, acredito que é melhor supor que deveríamos estar
aqui.

“Talvez o futuro que conhecemos só exista por causa das coisas que fazemos
aqui”, sugere Finian. “Talvez tenhamos que contar essas coisas a ela.”

"Ainda aqui", o tenente Kim nos lembra.

"Desculpe", Scarlett sorri. “Estamos tentando entender tudo isso também.


Acredite, estamos quase tão perdidos quanto você. Mas em nosso tempo, os
Betraskans são os aliados mais próximos da Terra. Acabamos de sair de uma
batalha em 2380, e uma das últimas

coisas que vimos antes de tudo... isso” – ela acena para nós – “foi a frota
Betraskan aparecendo para proteger a Terra”.

Posso ver que a tenente quer fazer mais perguntas sobre nossa linha do
tempo, mas ela segura a língua, e por isso sou grata. Não é eficiente pensar
no que deixamos para trás. Quem deixamos para trás.

“Então, o que diabos é tudo isso” – ela imita o aceno de Scarlett – “isso,
então?”

“Isso é precisamente o que estamos tentando determinar.”

Ela me olha, os olhos demorando nos meus. “Então tente. Porque, no que me
diz respeito, ainda há chances de vocês serem todos
espiões cabeças-brancas.

“Ouça, Dirtgirl,” Fin começa. "Talvez você queira dar o bl-"

"Amigos aqui", Scarlett toca, dando um tapinha no braço de Fin e sorrindo


brilhantemente para o tenente. “Todos amigos, lembra?”

"Existem duas possibilidades", eu digo. “Ou um evento catalisador ocorreu


onde estávamos, nos jogando de volta no tempo e criando essa anomalia…

” Scarlett pergunta.

“… ou o evento catalisador ocorreu aqui”, continuo, “nos trazendo de volta a


este momento no tempo.”

"Potencialmente ambos", murmura Finian.

Eu concordo. "O que você tem experimentado, Tenente Kim?"

Nosso convidado considera a pergunta. Não sou um bom juiz de emoções,


mas parece-me que, embora ela ainda esteja cautelosa,

parte da tensão momentaneamente deixou o ar. Ela está pelo menos tentando
cooperar por enquanto.

“Estou voando patrulhando seis minutos atrás quando você de repente


aparece em meus escopos,” ela diz. “Nós conversamos, eu

explodo você, tudo é reiniciado. Nós não falamos, eu te explodo, tudo


reinicia. Eu te levo até a delegacia, você leva um tiro, tudo é reiniciado. Toda
vez que você morre, eu acabo exatamente onde estava seis minutos atrás.”

Minha mente está se acalmando e percebo que essa sensação de conforto vem
de ter um problema para resolver. Isso é algo que eu sei fazer. Eu vou coletar
dados. vou analisar. Será bom estar ocupado.

"O que estava acontecendo aqui seis minutos atrás?"

A tenente morde o lábio. Mesmo para mim, é óbvio que ela está relutante,
desconfiada. Mas finalmente ela fala. “A estação estava fazendo um teste.
Houve algum tipo de... flutuação de energia. Eu vi uma esfera de luz escura,
com milhares de cliques, engolindo minha nave. Todos os meus instrumentos
deram errado. E quando clareou… seu navio estava bem ali.”

“Que tipo de teste?” Eu pergunto.

Scarlett assente. "O que esta estação realmente faz, tenente?"

A tenente Kim olha ao nosso redor e, pela primeira vez, mostra uma pitada
do pânico que deve estar sentindo. “Inferno se eu sei.

Operações militares terráqueas classificadas.”

“Parece que a coleta de informações deve ser nosso primeiro curso de ação,”
eu declaro. “Se chegamos ao momento exato em que

este teste estava sendo realizado, é uma suposição razoável que o teste pode
ter precipitado essa chegada. Devemos determinar o propósito desta estação.”

"Quão?" Fin pergunta. “Da última vez que fomos lá, eles atiraram em nós à
primeira vista.”

"Talvez pudéssemos falar com eles?" Scarlett oferece. “Quero dizer, se eles
estão passando por esse loop de tempo também...”

“Negativo,” Kim diz, balançando a cabeça. “Eu não acho que ninguém na
estação tenha alguma pista de que isso está acontecendo.

Nas primeiras vezes que reiniciei, antes que as comunicações caíssem, liguei
para o Glass Slipper pedindo instruções. Eu tenho as mesmas respostas todas
as vezes. Palavra por palavra. Eles agiram como se nada estivesse errado.
Quero dizer, além da violação central e o que mais está acontecendo lá agora.

"Não sei o que você esperava", diz Fin. “Vocês se amarraram a uma
tempestade de DM perseguindo acertos de pulso quântico. Caso eu não tenha
entendido antes, é como entrar em uma caneta cheia de valshins mondorianos
e abrir o zíper das calças.
Ele é recebido com três olhares vazios.

"Não? Você não tem... Bem, vamos apenas dizer que é desaconselhável.

Scarlett faz beicinho pensativa, olhando para Kim. “Se nossa chegada causou
tudo isso, e seu navio era a única coisa perto de nós, isso pode explicar por
que você está preso no circuito conosco enquanto ninguém mais sabe que
está acontecendo.”

“Huh,” Kim diz, lançando um olhar para Scarlett que sugere surpresa por ela
ter feito um ponto tão perceptivo. Mas é uma suposição sensata.

"Precisamos saber mais", declaro. “O conhecimento é fundamental. Temos


vinte e oito minutos até que o segundo pulso quântico que testemunhamos
atinja a vela e depois a estação, o que pode desativar componentes vitais
dentro. E se o núcleo da estação estiver violando, é apenas uma questão de
tempo até que a própria estação seja desativada. Devemos prosseguir.”

"Com o que?" pergunta o tenente Kim, mais uma vez cauteloso.

"Com o estabelecimento dos fatos", eu respondo. “O precipitante parece


constante, mas sem mais dados, a natureza persistente da anomalia temporal
não pode ser considerada sem uma taxa de decaimento”.

O tenente tem uma expressão que me é familiar, embora não a tenha


experimentado com tanta frequência ultimamente. Isso significa que ela não
tem ideia do que estou falando. Ela olha para Scarlett, que olha para Finian.

Finian traduz. “Ela quer dizer que, como não sabemos o que deu início ao
ciclo, não sabemos se vai continuar para sempre. Podemos ficar sem tempo.”

“Bem, vamos nos mexer,” Kim diz. "Você tem trajes espaciais?"

"Estou assumindo que você tem uma ideia para nos colocar a bordo?" Scarlett
pergunta.

"Depende", diz o tenente Kim. “Você é certificado pelo EVA?”

“Alguns de nós mais do que outros,” nosso Rosto responde, irônico. — Fin
vai me ajudar. Ele é ótimo em zero gee.”

“Você não tem ideia,” Finian sorri.

A tenente Kim estuda Finian por um momento, depois desvia o olhar, como
se não quisesse se lembrar de que está ajudando um

betraskan. Suponho que seu treinamento militar a ensinou a confiar em seus


instintos, a lidar com situações de alta pressão enquanto mantém a cabeça
limpa. Sem nenhuma explicação alternativa viável, ela parece preparada para
acreditar no que seus próprios sentidos estão lhe dizendo por enquanto. Mas
admito uma leve admiração por ela estar lidando tão bem com essa situação.

O tenente olha para mim, e percebo que estou encarando.

Eu evito meu olhar, mergulhando minha cabeça para que meu cabelo caia
sobre meus olhos.

“A estação inteira estará em alerta máximo”, ela avisa. “O mau


funcionamento do teste foi há menos de vinte minutos. Eles vão estar se
perguntando se foi sabotagem, e eles vão atirar em você à vista. Meu navio
tem um porão de carga, mas vai ser muito apertado, então espero que vocês
três gostem um do outro. Muito."

Vejo Finian e Scarlett trocarem um rápido olhar.

“Vou levá-lo a uma câmara terciária”, continua Kim. “Se tivermos sorte, a
segurança estará muito ocupada com a violação principal para perceber.”

“E se tivermos azar?” Scarlett pergunta.

Fin abre um sorriso fino. “Décima primeira vez é o charme?”

•••••

Apesar das condições apertadas do porão de carga do caça, chegamos


rapidamente à estação, e é um simples EVA para a eclusa, que

está aberta ao espaço e pronta para receber suprimentos. Scarlett claramente


acha difícil — mesmo depois de estarmos seguramente guardados lá dentro,
ela segura a mão de Finian.

Pelo menos, acho que é esse o motivo.

O tenente Kim nos instruiu a esperar dentro da câmara. Ela vai atracar seu
lutador e se reportar a seus superiores. Então, quando ela puder escapar, ela
equalizará a pressão dentro da câmara de ar antes de nos admitir na estação,
esperançosamente sem ser

observada.

Esperamos em silêncio. Posso ver a vasta escuridão turva através da janela da


câmara de ar, iluminada por flashes momentâneos de energia – malva
sombrio, misturado com escuridão mais profunda. Eu faço o meu melhor para
ignorar a forma como a tempestade faz minha pele arrepiar. Seu poder é
quase inconcebível, e o pensamento de que os cientistas a bordo desta estação
tentaram domá-lo me deixa... inquieto.

Posso admitir para mim mesmo que a sensação que experimento quando as
portas externas começam a se fechar é puro alívio.

Devemos garantir que estamos de pé no chão quando a gravidade entrar em


ação, para não cairmos. Deslizo para tomar meu lugar ao

lado de Finian, Scarlett do outro lado, para lhe oferecer apoio. A sensação da
gravidade se reafirmando é desagradável para ele.

Uma luz verde acende ao lado das portas internas da eclusa de ar para indicar
que a pressão se igualou, e nós removemos nossos capacetes quando as portas
se abrem. Mas em vez do tenente Kim, somos confrontados por três soldados
terráqueos com

SEGURANÇA estampada em seus peitorais.

Uma pequena parte da minha mente nota com perplexidade que eles estão
usando camuflagem. Eles estão no espaço. Para que serve

a camuflagem?
Eles levantam suas armas.

“Ah, vamos lá”, diz Finian. “Você tem que ser—”

BLAM.

FINIAN

Foram necessários mais nove treinos — e mais nove mortes — mas


finalmente encontramos um caminho confiável para a estação. Na

verdade, estamos ficando muito bons nisso. A qualquer minuto, vamos


começar a fazer piadas internas com a tenente Nari Kim.

Eu estou brincando. A tenente Kim não saberia uma piada se ela caísse do
céu e a atingisse na cabeça enquanto todos ao seu redor gritavam: “Grande
Criador, está chovendo piadas!”

Mas falando do nosso caminho, está quase na hora. Estou agarrado ao lado de
fora da estação como se fosse meu único e verdadeiro amor, esperando minha
vez de entrar no sistema de ejeção de lixo. Zila desapareceu há dois minutos,
o que significa que faltam quatorze segundos para eu começar minha corrida.
Passo nove pensando na maneira como Scarlett piscou antes de entrar no

paraquedas, e os cinco restantes pensando na tenente Kim, porque se isso


funcionar, então teremos tempo para nossa primeira

conversa adequada com ela, e eu tenho que parar de irritá-la. desligado.

Já dominamos a primeira parte do loop e funciona como um relógio. Kim


avista nossa nave, e enquanto ela comunica ao comando da estação que ela
vai inspecioná-la, nós rastejamos para dentro do minúsculo compartimento de
carga de seu caça em nossos trajes espaciais.

Então nossa nova amiga Nari explode nossa nave em pedacinhos, suas
comunicações com a estação falham, e na marca de onze
minutos do nosso loop ela nos deixa na saída de lixo. Estamos nos
apressando, porque estamos todos preocupados que o pulso

quântico que vimos da baía de pouso possa danificar algo que possa nos
ajudar a voltar para casa.

Estou me sentindo muito bem com o sistema de ejeção de resíduos, no


entanto. Está caótico a bordo da estação desde o acidente que desencadeou
tudo isso, e foi apenas uma patrulha de segurança errante que nos fez tropeçar
da última vez.

Meu cronômetro vibra, e eu entro em ação, aproveitando as últimas sensações


de zero gee. A saída circular da calha se abre e,

prendendo minha bolsa no pé, espero enquanto ela emite uma baforada de gás
e cinzas.

Agora tenho cinco segundos antes de fechar e a pressão dentro equalizar. Eu


me puxo para dentro, puxando minhas botas e bolsa pela abertura assim que a
escotilha se fecha. E eu sou deixado no escuro, que é cortado por uma fatia de
luz do meu capacete.

O paraquedas é um pouco mais largo do que meu corpo, e estou esticada com
os braços à minha frente. Mesmo que eu seja magro,

ainda é um aperto apertado. Scar deve ter lutado, com suas partes mais
curvas.

Eu decido não pensar sobre isso. Já está meio lotado aqui.

Usando mãos e pés, joelhos e cotovelos, arrasto ao longo da rampa o mais


rápido que posso. Tenho pouco mais de dois minutos antes de encontrar a
próxima carga de cinzas quentes vindo na outra direção, o que não é uma
morte que eu queira experimentar – doeu bastante na primeira vez. Meu
corpo protesta, e meu traje torna tudo mais difícil. Minha multiferramenta
favorita gruda nas minhas costelas.

O cronômetro no meu pulso vibra para sinalizar que tenho um minuto


restante, e eu sigo em frente, cada movimento pequeno, mas

urgente.

Outro zumbido.

Trinta segundos.

Chakk.

Por fim, a luz do meu capacete atinge a borda da escotilha de saída.

"Estou aqui", eu chamo baixinho, e Scarlett e Zila aparecem. Seus capacetes


estão fora, suas mãos alcançando o túnel para mim.

Eles estão dentro de uma cavidade na parede com a largura de um corpo.


Ninguém desce aqui, exceto os drones automatizados que

coletam cargas de resíduos e as entregam em saídas de ejeção. Um estará


junto em cerca de vinte segundos.

As meninas agarram minhas mãos estendidas e puxam. Eu deslizo pelo anel


de incineração ainda quente e deslizo livre – eles me

abaixam, suportando meu peso até que eu possa descansar no chão. Ficamos
todos parados, a bota de Zila encostada na minha placa frontal, e ouço
Scarlett atrás de mim, abafada pelo meu capacete.

“O que tem na mochila?”

“Apenas alguns suprimentos. Ferramentas. Lanches. Você sabe, o essencial.”

“Bem, o caminho para o coração de uma garota é através dela...”

“Fique quieto!” Zila sibila.

Scar desce, apertando meu tornozelo em agradecimento enquanto o drone


zune no lugar acima, descarrega sua carga no paraquedas, então zunindo
novamente. A estação estremece ao nosso redor, uma sirene soando no alto-
falante.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper: equipe de engenharia necessária, deck


19, prioridade um. Repito: Engenharia, Deck 19, Setor Alfa.”

Uma vez que o drone está fora de vista, ficamos de pé, as articulações
rangendo. Eu tiro meu capacete enquanto Scar me entrega minha bolsa. O ar
cheira a fumaça e pólvora queimada, as luzes estão piscando, do branco ao
vermelho.

“Noventa segundos até a nossa janela,” murmura Zila.

Nós a seguimos silenciosamente em direção ao painel de acesso. Ao nosso


redor, os alarmes estão soando, relatórios de danos se espalhando pelo PA.
Desta vez, ao contrário da última vez, esperamos, ouvidos pressionados
contra o painel até que a patrulha de segurança passa correndo. Então eu pego
uma multi-ferramenta e abro a escotilha.

A partir daí é fácil. Apressamos o corredor, pegamos a segunda à esquerda e


chegamos ao nosso destino - uma sala de saída perto da unidade de produção
e armazenamento de hidratação. HY.PASF, diz a placa.

“Isso não é um animal?” Eu pergunto, estudando a sigla. “Nativo da Terra?”

Scarlett me lança um olhar confuso. “Um hypasf?”

“A áspide é um tipo de cobra”, arrisca Zila, incerta.

"Não, não, é um monstro gigante", eu digo, apertando os olhos enquanto


tento evocar mais detalhes da minha memória. “Dentes enormes. Vive na
água.”

"… Um tubarão?" Scar tenta.

“Ah”, diz Zila. “Um hipopótamo.”

Eu tinha certeza de que estava errado, mas vale a pena bancar o idiota pela
risada de Scarlett, um som quente e gutural que envia um zumbido na minha
espinha. "Certo. Um hipopótamo. Aprenda seus animais, Scar. Esse é
claramente perigoso.”

“O mamífero terrestre mais perigoso que existe”, Zila concorda solenemente.


“Eles são capazes de esmagar uma pessoa até a morte em suas mandíbulas.”

A tenente Nari Kim fala da porta. “Espere, o que está esmagando as pessoas
até a morte em suas mandíbulas?”

“Hipótamos, aparentemente,” Scarlett responde, parecendo preocupada com


isso.

“Não se preocupe muito, Red,” Nari diz a ela. “Eles não vivem no espaço. E
restam apenas cinco deles de qualquer maneira.”

“Não mais”, responde Zila. “Nossos programas de reabilitação foram muito


bem-sucedidos. Eles prosperam nos ambientes aquáticos encontrados em Troi
III.”

"Espere um minuto", eu digo. “Vocês trouxeram um terrível monstro de


dentes de volta à beira da extinção, por quê, exatamente?”

Zila dá de ombros. "Ciência."

Nari parece quase entretida por um momento, então lembra que ela é uma
foda que está tecnicamente em guerra com meu povo. Sua

carranca retorna, escura como sempre. Ainda assim, eu juro que estamos
crescendo um pouco sobre ela.

Quando aqueles seguranças nos encontraram na câmara de ar em nossa


primeira tentativa de embarque, eu pensei que ela tinha

desistido de nós com certeza. Mas nossas próximas nove tentativas me


convenceram de que, pelo menos por enquanto, Dirtgirl está do nosso lado.

Uma parte de nós sabe como isso é insano. Viagem no tempo. Laços
temporais. Morrendo de novo e de novo, apenas para redefinir.

Mas é difícil não acreditar nas evidências que nos atingem bem na cara toda
vez que morremos. E, como diz Zila, embora eu seja o inimigo dessa garota,
nossos interesses estão alinhados. Todos nós queremos sair desse ciclo.

"Tudo bem." Nari olha ao redor do corredor cheio de fumaça. "Parece que
descobrimos uma maneira de entrar sem que suas cabeças estourem."

“Ou asfixiado”, diz Zila.

“Ou incinerado,” Scarlett estremece.

"Sim." Eu concordo. “Aquela doeu.”

“A segurança está em alerta total”, continua Nari. “Pelo que posso dizer, o
dano ao núcleo é ruim.” A estação inteira estremece ao nosso redor, como se
concordasse. “Pode ser o que sobrou do Comando faz a chamada para
evacuar a qualquer minuto. Então, o que

estamos procurando a seguir?”

“Alerta, pessoal médico reporte-se ao Setor Beta, Convés 14.”

"Informações", eu digo. “Nós vamos precisar de um terminal com


autorização de nível superior se quisermos vasculhar seus registros, no
entanto. A tecnologia aqui tem duzentos anos, e eu gosto de vintage, mas não
posso hackear isso. Quer dizer, eu não consigo nem ligar meu equipamento
nas tomadas.”

“Os laboratórios de tecnologia estarão cheios de pessoas”, diz Nari, franzindo


a testa. “Trinta e seis membros da Sci-Div morreram durante o teste e, se o
Comando suspeitar de sabotagem, a segurança estará em todos esses níveis
como uma erupção cutânea”.

“Pessoal médico necessário imediatamente, Deck 12”, chama o PA. “Repita,


pessoal médico, Deck 12.”

“Pense,” Scar diz, encorajando. “Quem não estará em sua estação?”

Todo o lugar balança ao nosso redor, paredes de metal rangendo enquanto o


tenente lentamente olha para cima. “Dr. Pinkerton. O líder do projeto. Ele foi
morto na explosão. Definitivamente haverá um terminal pessoal em seu
escritório.”

"Brilhante." Scarlett a trata com um daqueles sorrisos que sempre me fazem


sentir como se estivesse sob o sol. “Está parecendo muito caótico aqui, mas
provavelmente precisaremos de uniformes se formos correr ao ar livre com
segurança. E alguma forma de disfarçar Fin.

“Não, podemos chegar ao deck administrativo pelas escadas de emergência,”


Flygirl garante a ela. “Gosto de nossas chances de ficar fora de vista lá.”

Acho que ela é a única que sabe, mas nós a seguimos, quatro conjuntos de
passos pisando quietos nas escadas de metal. Levamos

mais tempo do que eu gostaria – quase um quarto de hora, eu acho – mas


conseguimos evitar as patrulhas de segurança altamente

estressadas e definitivamente atiradas batendo por todo o lugar.

A estação ronca novamente, e ouço um oco ecoando pelas paredes. Scar


estende a mão para me firmar enquanto meu exo assobia, e

eu aperto sua mão, dando-lhe um sorriso agradecido. Todo este lugar parece
prestes a desmoronar em torno de nossos ouvidos.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Rompimento de casco nos Decks 13 a


17.”

"Eu tenho que estar fora da minha maldita mente...", Nari murmura.

“É possível”, concorda Zila, subindo atrás dela. “Mas duvidar de sua própria
sanidade é uma prova razoável de que você é, de fato, são.”

“Sim, mas talvez seja isso que eu deveria pensar,” Nari diz, olhando de volta
para Zila. “Talvez nada disso seja real. Talvez eu seja um prisioneiro de
guerra agora, trancado em algum laboratório psiquiátrico maníaco, e tudo
isso seja algum pesadelo induzido por drogas para me fazer trair informações
confidenciais.
“Informações sobre o quê?” Eu pergunto. "Vendo como você é um grunhido
e não sabe de nada?"

“Como posso saber, Bleachboy?” Nari responde, parecendo mal-humorada


por ter essa falha em sua teoria apontada. “Tudo o que sei com certeza é que,
se for pego ajudando vocês três, serei alinhado com vocês e fuzilado por ser
um traidor.”

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Toda a equipe de engenharia se reporta à


Seção Gamma, Deck 12, imediatamente.”

“Deixe-me assegurar a você,” Scar diz, “tendo morrido vinte vezes, isso
definitivamente está realmente acontecendo. Morrer dói.”

“É difícil entender o que está acontecendo aqui”, concorda Zila, falando


sobre o estrondoso PA. “Esperamos que nossas respostas estejam dentro do
sistema de computador da estação. Mas eu não acredito que você seja louco,
Tenente Kim. Ou um traidor. Na

verdade, eu acredito que você é muito corajoso.”

Dirtgirl levanta uma sobrancelha para isso, e Zila realmente mantém contato
visual por alguns segundos antes de abaixar a cabeça e continuar subindo. No
topo de três lances, nossa co-conspiradora sai para checar o corredor, então
nos conduz atrás dela.

ESTRONDO.

Todo o lugar estremece quando algo, em algum lugar, explode.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO. EVACUAR OS CONVÉS 5 A 6


IMEDIATAMENTE. REPETIÇÃO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO.”

“Nós podemos atravessar daqui para a Seção Beta,” murmura Dirtgirl. “Então
são mais dois andares até o escritório de Pinkerton.”

A Seção Beta do deck fica na periferia da estação, alinhada com as janelas de


visualização que olham para o espaço. Enquanto
passamos, posso ver a faixa de escuridão além da pele da estação. Esse
comprimento grosso de cabo se estende até a tempestade de matéria escura,
centenas de milhares de klicks, conectado à vela quântica no caos além. Um
minúsculo lampejo de energia ilumina a tempestade, iluminando aquelas
enormes nuvens turbulentas, com milhões de klicks, seus ecos rasgando o
tecido do subespaço.

Honestamente, isso me dá o heebie-jeebies gritando.

“É lindo,” Scarlett diz baixinho, provando – assim como sua decisão de me


beijar – que seu julgamento é altamente questionável.

BATIDA.

Na tempestade, o mesmo pulso maciço de energia quântica que vimos da baía


do hangar atinge a vela novamente. É tão brilhante que minha visão se perde
momentaneamente nas imagens posteriores. Zila olha para a tela de pulso.

“Quarenta e quatro minutos...”

“Olha,” Scar respira. "Está acontecendo de novo… ."

Eu pisco furiosamente enquanto o pulso sobe pelo cabo em direção à estação


– um arco de energia escura brilhando ferozmente

contra a escuridão mais profunda. O cristal no colar de Scarlett também está


queimando, a luz negra fazendo meus olhos doerem.

"Por que ele está fazendo isso?" Nari exige.

“Excelente pergunta”, responde Zila.

Olhando para os altos tremeluzentes, murmuro, quase para mim mesmo:


"Sabe, espero com certeza que a proteção gravitônica neste

setor ainda esteja intacta."

"Por que?" Scar olha para cima de seu decote brilhante. “O que acontece se a
blindagem gravitônica ainda não estiver intacta?”
Então duas coisas acontecem ao mesmo tempo.

Primeiro, o pulso quântico atinge a estação, formando um arco sobre o casco,


através da seção não blindada em que estamos e

atravessando nossos corpos.

E segundo, Nari Kim descobre que Scar não estava brincando quando disse
que morrer era doloroso.

ZAP.

10

TYLER

Estou marchando por um corredor banhado em luz cinzenta, o Primeiro


Paladino de Saedii atrás de mim. Os motores mudaram de tom há dois
minutos – estamos a todo vapor agora, a caminho do encontro com a armada
Inquebrável. Essas manchetes do feed de

notícias estão piscando em meu crânio – todas aquelas pequenas faíscas de


conflito sendo atiçadas em chamas pelos Ra'haam e

seus agentes. Um teatro de distração em massa. Um véu para esconder a


ameaça até que seja tarde demais.

Minha cabeça dói — ainda não me recuperei de quase morrer naquela


explosão da cápsula de fuga. Estou instável em meus pés, meus dedos estão
formigando, e sempre que fecho meus olhos, ainda posso sentir aquele sonho
em meu crânio.

Aquela voz, implorando-me, repetidamente.

… você ainda tem uma chance de consertar isso …

Eu deveria ser bom nisso. Tática é minha coisa. Mas estou preso a bordo de
uma nave inimiga com centenas de fanáticos Syldrathi, e cada momento que
desperdiço aqui é outro momento que os Ra'haam começam a gestar sob a
superfície de Octavia e seus outros

mundos-berçário.

Não sei onde Scarlett está. Áuri. Zila. Fin. Kal. Não sei se estão vivos ou
mortos.

E Maker, essa dor de cabeça...

“Pare”.

Erien fala atrás de mim, me parando ao lado de uma pesada porta de plasteel.
O corredor está cheio deles e, olhando ao redor, acho que fui levado ao nível
de detenção.

Faço o que me mandam, virando-me enquanto Erien pressiona a palma da


mão no bloco ao lado da porta. Ela abre, revelando um

quarto escuro, uma cama fina, paredes nuas.

"Eu pensei que seu Templário ordenou que você me colocasse em aposentos
apropriados."

“São quartos apropriados. Você é um prisioneiro aqui, mestiço, não um


convidado. Ele acena para o quarto. "Jogada."

"Ouça", eu digo, tentando ignorar o latejar no meu crânio. “Eu sei que você
acha que estamos em lados diferentes. Mas eu vi você no Andarael. Saedii
respeita você, Erien. Ela te ouve. E eu estou supondo que um primeiro
paladino do Unbroken é inteligente o suficiente para ver quando ele está
sendo jogado. Por que o GIA sequestraria Saedii se não para provocar uma
guerra? Por que...

Sua mão levantada me corta. “Estou tão interessado em suas conspirações


quanto em suas lisonjas. Entre."

Eu cerro os dentes, o temperamento subindo com o meu desespero. “Preciso


falar com Saedii de novo, temos que...”
“Se dependesse de mim, você já estaria morto. Apesar do claro ponto cego
que ela tem para você, Saedii é minha templária, e

obedecerei à ordem dela para vê-lo em segurança. Mas eu te aviso – não


insulte minha honra novamente.”

Eu pisco. "Ponto cego?"

Seus olhos frios piscam para minha garganta. As marcas de mordida que
Saedii deixou lá.

“Olha, eu não significo nada para ela,” eu asseguro a ele. “Nós estávamos em
uma situação difícil juntos, ela estava desabafando. Não é nada."

Erien inclina a cabeça. "Nada."

“Eu sou apenas um brinquedo. Ela praticamente arrancou minha cabeça


quando me beijou. Você não tem nada com que se preocupar.

Quero dizer... se você está preocupado. Aquele outro Paladino chamou você
de be'shmai, então imaginei que você e ele fossem...

— Você é um tolo. Erien coloca uma mão no cabo preto e elegante da arma
de pulso Syldrathi em sua cintura, colocando-a em

Atordoamento forte. “Entra na cela.”

“Grande Criador, você vai pensar por um minuto!” Eu assobio, minha dor de
cabeça queimando novamente. “A Terra evitou a guerra com os Invencíveis
por anos! Por que o GIA atacaria de repente o Andarael a menos que...

Erien agarra meu braço, apertando com força.

E é isso.

Não gosto de perder o controle. É por isso que eu não bebo, não fumo, não
xingo. Mas o desespero disso, o conhecimento de que

estamos todos sendo enganados, o medo pelo meu esquadrão e minha irmã, a
revelação da mãe Syldrathi que eu nunca conheci, e

essa maldita dor

de cabeça... Não me toque, você...

Erien se move mais rápido do que meus olhos podem acompanhar. Uma mão
aperta meu pulso, a outra agarra minha garganta, e

enganchando uma perna atrás da minha, ele me joga no chão, curvando-se


sobre mim com a mão ainda na minha garganta. Estrelas

explodem em meus olhos enquanto ele se inclina com todo o seu peso, me
sufocando.

Meu chute encontra sua mandíbula, encaixa sua cabeça de volta em seu
pescoço. Erien tropeça, seu aperto escorregando. Atacando com meu outro
pé, eu tiro suas pernas debaixo dele, rolando para longe e para os meus pés.
Ele está de volta em um momento,

movendo-se como água, me lembrando um pouco de Kal, tão rápido, tão


forte.

“Kii'ne dō all'ia—”

Ele pega sua arma de pulso e eu a afasto. Ele pega minha mão, me arrasta
para frente enquanto levanta o joelho em meu estômago, minha respiração
explodindo dos meus lábios agora sangrando. Pirueta, ele me joga de volta na
parede, bate o distintivo de

comunicação em seu peito. “Sēn, vin Erien, sa—”

A palma da minha mão encontra seu nariz, e há um estalo e esguicho de


sangue roxo quente. Meu pulso está batendo em minhas

têmporas enquanto eu pego um punhado de tranças e bato meu punho em seu


rosto novamente, espalhando seu nariz por todas as

bochechas.
Ele enganchou sua perna em volta da minha, e nós caímos no chão, uma luz
branca explodindo atrás dos meus olhos. Lutando por sua arma de pulso
caída, eu rugo quando ele torce meu braço atrás das minhas costas.

Meus dedos deslizam no punho da arma enquanto meu ombro grita, meu
cotovelo quase estalando. Erien puxa uma das lâminas kaat

nas costas com a mão livre. Mas meus dedos finalmente encontram apoio, e
eu pego a arma, torcendo e descarregando em seu peito.

O focinho pisca, a explosão de Atordoamento iluminando a expressão


chocada em seu rosto. Ele cai para trás, uma cicatriz fumegante no peitoral
preto da armadura de seu Paladino. Estremecendo, eu ofego para respirar,
ainda segurando a arma com força enquanto eu cambaleio para meus pés e

... As paredes ao meu redor se encheram de arco-íris.

O chão tremendo sob meus pés.

Eu posso ouvir gritos. O ar no corredor fica da cor do sangue seco e do azul


da meia-noite, pontilhado de estrelas brilhantes.

E então eu o vejo, pendurado no escuro na minha frente, brilhando como


fogos de artifício no Dia da Fundação.

Meu coração dispara ao vê-lo – mais do que minha casa nos últimos seis
anos. Mais do que o lugar onde cresci. Um símbolo de

esperança, uma luz em toda aquela escuridão, brilhando contra a noite.

"Academia Aurora...", eu sussurro.

... você ainda tem uma chance de consertar isso...

Eu me aproximo dele, dedos trêmulos. E quando eu a toco, a academia


explode em pedaços diante dos meus olhos. Minha barriga fica fria de horror,
o fogo floresce no escuro, e além dele, mais escuro ainda, vejo a sombra.

O Ra'ham.
Um gemido escapa dos meus lábios com a visão – dez mil navios, cem mil
formas, erguendo-se diante de mim e apagando as estrelas.

Muito grande.

Muito.

Viro a cabeça, fecho os olhos com força para não ter que assistir.

E é assim que não noto Erien se levantando atrás de mim.

Eu ouço o toque de metal contra metal e me viro para vê-lo parado ali. Seu
belo rosto contorceu-se de raiva. Sangue escorrendo pelo queixo, cinza
escuro à luz da Dobra, luz brilhando na lâmina de kaat que ele desliza de suas
costas.

... você me disse onde isso acontece ...

Eu cerro os dentes, levantando a arma.

... conserte isso, Tyler...

E eu suspiro quando ele enterra sua lâmina em meu estômago.

11

TYLER

“Você sabe que não existe uma palavra Syldrathi para adeus?”

Meus olhos se abrem, a luz desliza pelos meus cílios enquanto eu gemo.
Saedii está sentada ao lado da minha cama, cutucando as unhas com uma faca
longa e bonita.

“O-o quê?” Eu sussurro.

Eu forço meus olhos a abrirem novamente, a cabeça girando. Estou cercado


pelo zumbido suave de equipamentos médicos, a luz baixa e sombria.
Olhando para baixo, percebo que estou sem camisa. Novamente. Há uma dor
surda na minha barriga, uma derme sobre o

ferimento da lâmina de Erien. Mas este é um cruzador de batalha Unbroken, e


suas instalações médicas são de primeira qualidade - a dor nem é tão ruim
assim, para dizer a verdade.

Quero dizer, por um esfaqueamento brutal e tudo.

"É verdade. Syldrathi acreditam que as pessoas uma vez unidas nunca podem
realmente se separar.” Saedii acena com a faca em direção à derme. “Mesmo
que você morresse hoje, os átomos do seu corpo permaneceriam. Ao longo de
eras, essas partículas se

separariam e se fundiriam, incorporando-se a outros seres, outros corpos


planetários. Atraído em estrelas em colapso e espalhado novamente por
supernovas. E por último, quando o grande buraco negro no coração desta
galáxia puxar tudo de volta para seus braços, todas as coisas serão reunidas.
Assim, não nos despedimos quando nos separamos. Dizemos an'la téli saii.”

"O que isso significa?" Eu gemo.

“Vou te ver nas estrelas.”

Ela inclina a cabeça e seu sorriso suave desaparece. “Eu lhe digo isso porque
você parece estar com uma pressa extraordinária para morrer, Tyler Jones.”

“Um mero ferimento na carne, madame.” Eu pressiono minha mão no


remendo, estremecendo. "Seu tenente precisa trabalhar em seu objetivo se ele
quiser me matar."

Saedii zomba. “Erien é um Primeiro Paladino do Círculo Negro. Criador de


mil órfãos. Se ele desejasse que você morresse, você estaria morto. Estou
falando de Antaelis, a noiva de Erien. Você fez uma bagunça no rosto de sua
amada. Antaelis queria desafiá-lo para um duelo pela honra de Erien.

Eu balanço minha cabeça, suspirando. “Como se não tivéssemos nada melhor


para fazer, com toda a galáxia acabando e tudo.”

Saedii se inclina para trás, levantando as botas e descansando-as em minhas


coxas como se estivesse reivindicando um pedaço de território. Seu olhar
vaga lentamente sobre meu corpo, deriva de volta para os meus olhos. Esse
traço de diversão pisca entre nós novamente, tingido com uma raiva baixa e
pulsante.

“Você ainda não entendeu onde está, não é?”

“Eu sei exatamente onde estou. E com quem estou.”

"Se fosse assim", diz Saedii, as sobrancelhas baixando, "você não teria me
chamado de idiota na frente da minha equipe."

Eu estremeço. "Sim, olhe, me desculpe-"

Ela levanta a mão. “Não combine sua tolice com covardia. Pelo menos tenha
a coragem de suas convicções, terráqueo.

"Eu juro, você é o mais..." Eu balanço minha cabeça latejante, os dentes


cerrados. “Tudo tem que ser uma briga com você?”

Ela sorri então, língua a dente. "Se você desejar."

"Respiração do Criador", eu rosno. “Você vai parar com os jogos?”

“Eu gosto de jogos.”

"Bem, eu não estou com vontade de ser seu brinquedo." Meu crânio está
latejando, minha boca seca como cinzas. "O que você está fazendo aqui,
Saedii?"

Seu sorriso desaparece, lábios pretos franzidos enquanto ela me olha.

“Eu revisei as filmagens de você brigando com Erien,” ela finalmente diz.
“Você o derrotou na briga, mas vacilou no golpe final.

Agarrando a cabeça como se estivesse doendo. Mandei a equipe médica


escaneá-lo em busca de trauma cerebral, talvez causado por sua exposição ao
Fold. Mas você não está sofrendo nenhum.”
“Eu não sabia que você se importava, Templário.”

Eu vejo um brilho em seus olhos com isso. Apenas um batimento cardíaco, e


se foi. O humor dessa garota varia de quente a frio e volta novamente em um
piscar de olhos. Mas olhando mais de perto, por trás da bravata e do escárnio
e da coisa da princesa Ininterrupta, por um segundo eu acho que vislumbrei

... “Eu ouvi você,” ela diz, batendo na testa. “Chorando na minha cabeça
quando você caiu. Não como se você estivesse ferido. Como se você
estivesse... horrorizado.

Passo a mão nos olhos, suspirando. "Eu vi alguma coisa."

"Você quer dizer uma visão?"

Respiro fundo, assentindo. “Tenho visto coisas desde que acordei aqui. É
como... como se eu estivesse sonhando acordado. Eu vejo uma garota
Syldrathi, coberta de sangue. Mas no sonho, eu sei que é meu sangue, não
dela. Estamos em uma câmara enorme. Paredes de cristal. Um trono. Tudo
esculpido em arco-íris.”

Seus olhos se estreitam. “Isso soa como o interior da Neridaa.”

“Está sendo destruído no meu sonho. Quebrando-se em pedaços.” Eu engulo


em seco, minha barriga enchendo de gelo com a memória.

“E há uma sombra além das paredes. Tão grande e escuro que eu sei que vai
consumir tudo se eu deixar.”

“Você já sonhou acordado assim antes?”

"Nunca." Eu encontro seus olhos. "Não posso explicar, mas acho... Saedii,
acho que algo terrível está para acontecer."

Ela desvia o olhar de mim, os olhos focando em algum ponto distante além
das paredes. Ainda posso sentir o rastro de seus

pensamentos, o sangue Waywalker que ela herdou de sua mãe falando com o
sangue que recebi do meu. De uma mulher que nunca saberei, porque meu
pai não está aqui para me dizer quem ela é, como se conheceram, como me
tornei.

Apesar da fachada de rainha do gelo de Saedii, dos jogos mentais, posso dizer
que ela está incerta. E quando seus olhos encontram os meus novamente,
novamente eu sinto aquele lampejo, além da agressão e das provocações, o
desprezo e a frente de guerreiro

Inquebrável, um lampejo de...

Calor?

“Mais notícias de conflitos estão surgindo nos feeds”, diz Saedii. “Mais uma
dúzia de incidentes como os que você viu. Velhos rancores desenterrados. O
fogo das guerras passadas reacendeu mais uma vez. As estrelas gotejam
sangue.”

“É o Ra'haam, Saedii. Você sabe que é.”

Ela chupa o lábio, girando a faca entre os dedos. “Seus irmãos da Aurora
Legion estão fazendo o possível para apagar as chamas, pelo menos. Uma
cúpula de emergência do Galactic Caucus foi convocada para abordar a 'maré
crescente de inquietação entre as raças

sencientes da Via Láctea'. Será convocado em sua Academia Aurora em


cinco dias.

Meu coração dispara, o estômago ferido doendo quando me sento na cama.


“Na academia? Por que você não disse isso?”

“Eu acabei de dizer isso. Por que isso é importante?”

"Meu sonho", eu respiro, coração acelerado. "A visão. Foi diferente desta
última vez. Eu vi Aurora Academy, brilhando como um farol no escuro. Mas
estendi a mão em direção a ela, e ela... explodiu bem na minha frente.

Eu a vejo novamente, um súbito lampejo de dor em minha mente, aquela


imagem da academia explodida, a última esperança da galáxia extinta com
ela.
... conserte isso, Tyler...

Eu balancei minha cabeça, meu pulso batendo forte. "Se os chefes do


Galactic Caucus estão todos no mesmo lugar e os Ra'haam atacam..."

"Eles são tolos por se reunirem assim." Saedii faz uma careta, considerando.
“Mas se você acredita que a academia está sob ameaça...

talvez eu possa permitir que você acesse nossa rede de comunicações. Você
poderia enviá-los avisando.”

“Você acha que é uma transmissão que os comunicadores da Legião vão


responder?” eu zombo. “Muito menos acreditar? O GIA me

enquadrou como terrorista, Saedii. Um assassino em massa. Um traidor da


Legião e de seu próprio povo. E a transmissão virá de uma nave
Ininterrupta.”

“Certamente você tem contatos dentro da Legião que ainda mantém você na
fé? E aqueles que deixaram aqueles presentes para você na Cidade das
Esmeraldas?

“Almirante Adams e Líder de Batalha de Stoy,” eu aceno, a mente correndo.


“Eles sabem alguma coisa. Mas não tenho como entrar em contato direto com
eles. Se eu estivesse a bordo da Estação Aurora, poderia enviar uma
mensagem para Adams na rede da academia.

Mas com algo tão importante, não posso simplesmente lançar um aviso no
escuro e esperar que algum resmungão nos

comunicadores da academia dê um pontapé na corrente.”

Eu balanço minha cabeça, mais certa a cada respiração.

"Você tem que me levar lá", eu declaro.

Os olhos de Saedii são afiados como vidro. “Ter que fazer não é uma frase
para ser dita aos templários, terráqueo.”
“Se o Ra'haam destruir o Caucus, vai lançar a galáxia no caos! E cada dia
gasto juntando os pedaços é outro que o Ra'haam tem que crescer! Saedii, nós
temos que parar—”

“Lá essas palavras de novo.”

“Criador, você vai me ouvir?” Eu empurro suas botas das minhas coxas,
levantando da cama. “Podemos ser os únicos vivos com uma pista do que
está acontecendo aqui!”

"Eu tenho preocupações maiores do que..."

"Preocupações maiores?" eu grito. “Toda a galáxia está em jogo! Nós


sabemos a verdade! Temos o dever de parar essa coisa!”

“Não ouse pregar para mim sobre o dever, Tyler Jones!” ela rosna,
levantando-se para me encontrar. “Você não sabe nada de seu peso!

Nosso Arconte desapareceu no Vazio sem deixar rastro! Uma dúzia de


senhores da guerra dos Invencíveis estão prontos para assumir o controle
desta cabala, e eu sou o único que pode nos impedir de nos despedaçarmos. O
futuro do meu povo oscila à beira de uma lâmina! E você reclama que eu
deveria desviar o curso para o espaço inimigo para salvar um bando de
shan'vii idiotas o suficiente para arriscar se reunir para conversar em um
momento como este?

“Eles estão tentando intermediar a paz!” eu grito. "O Caucus não sabe que o
Ra'haam está lá fora!"

“Tolo e cego, então.”

"Saedii, você não pode simplesmente deixá-los-"

"Não me diga o que eu não posso fazer!" ela ruge, o rosto a centímetros do
meu. “Eu sou um Templário do Ininterrupto! Sangue em uma centena de
batalhas! Filha do Matador de Estrelas! Faço o que quero, vou aonde quero e
levo o que quero!”

Ela fica ali me encarando, os dentes arreganhados em um rosnado, sem


fôlego. Seus olhos são afiados como a lâmina em sua mão, e ela está
pressionada contra mim tão perto que posso sentir seu coração batendo sob
sua pele. Sua mente está sangrando na minha novamente, seus pensamentos
me encharcando.

Ela é raiva. Ela é fogo. Empurrando como uma faca no meu peito.

Eu faço o que eu desejo.

Eu vou onde eu quiser.

Eu pego o que eu quero.

E eu vejo então. Enquanto seus olhos se desviam dos meus, descem para os
meus lábios e voltam para cima novamente.

A respiração do Criador, ela me quer.

Batemos juntos, com tanta força que a fenda no meu lábio se abre novamente.
Ela respira em meus pulmões e meus dedos se

entrelaçam em seu cabelo, e o pensamento de quão estúpido é isso é abafado


pela sensação dela em meus braços enquanto eu a

levanto do chão.

Ela aperta as pernas em volta da minha cintura, ofegando quando colidimos


com a parede, suas unhas desenhando linhas de fogo nas minhas costas nuas
enquanto minhas mãos a apertam com força, empurrando-a com força contra
o metal. Por mais estúpido que

pareça, por mais louco que seja...

A galáxia inteira pode estar em guerra amanhã.

Podemos estar todos mortos.

Viva esta noite. Amanhã morremos.


Sua mente está entrelaçada com a minha, me encharcando com seu desejo e
redobrando o meu. É difícil respirar. Pensar. Eu nunca senti nada assim,
nunca precisei de algo tão desesperadamente, mas isso é loucura, isso é...

“Saedii...”, eu suspiro, virando minha cabeça para longe.

Pare de falar, Tyler Jones, vem a voz dela na minha cabeça. Há coisas
melhores para você fazer com a boca.

Sim, ok.

Difícil argumentar com isso.

Tyler Jones: 2

Saedii Gilwraeth: 2

•••••

“Bem, isso foi... intenso.”

Estamos deitados no chão da enfermaria, ofegantes, uma fina folha de


isolamento prateada jogada sobre nossos corpos. A sala está um caos ao
nosso redor, móveis derrubados, vidros quebrados no chão. Saedii está
pressionada contra mim, longas tranças pretas sobre o rosto, tinta preta
espalhada em sua boca. Nós dois estamos escorregadios de suor, sal ardendo
nos vergões que ela arranhou nas minhas costas.

"Eu acho que posso precisar de mais pontos", eu estremeço.

Ela não responde, o rosto pressionado no meu pescoço, o coração batendo


contra minhas costelas. Sua respiração está

desacelerando, mas fora isso, ela está completamente imóvel. Completamente


silencioso.

"Quero dizer, eu não estou reclamando", eu digo, tentando provocar uma


risada. “Mas talvez devêssemos ter um litro de O negativo em espera para a
próxima vez?”
Mais uma vez, ela não responde. Não se move. Seus pensamentos ainda estão
nos meus, vazando como tinta derramada no papel,

mas onde um momento atrás estávamos tão entrelaçados que quase


poderíamos ter sido uma pessoa, agora ela está se afastando

lentamente. Seus sentimentos esfriando assim como o suor em nossa pele.

É como se alguém tivesse desligado o sol.

"Você está bem?" Eu pergunto.

Sem aviso, ela rola de cima de mim e se senta. Sua cabeça se move na
escuridão, os olhos varrendo o caos, e se levantando, suave, graciosa, ela
procura entre os escombros os pedaços de seu uniforme descartado.

"O que há de errado?" Eu pergunto.

“Nada está errado”, ela responde.

"Bem... aonde você vai?"

“De volta à ponte.”

Eu pisco. "Bem desse jeito?"

Ela recupera sua cueca de cima do armário de suprimentos onde eu a


arremessei, e a coloca de volta. “Você estava esperando outra coisa?”

"Bem..." Eu me sento, folha de prata amassada em volta da minha cintura.


“Quero dizer, não tenho certeza de como Syldrathi funciona, mas os
terráqueos geralmente, sabe... falam depois.”

“E sobre o que devemos conversar, Tyler Jones?”

"… Fiz algo de errado?"

"Não." Ela puxa o sutiã. “Você foi perfeitamente adequado.” Eu levanto uma
sobrancelha. Minha cicatriz, apenas para efeito adicional.
“Senhora, eu estava em sua mente durante toda aquela coisa. Se isso é o que
você chama de adequado, o Criador sabe o que...

— Não estou aqui para aplacar seu ego em questões de desempenho. Ela
recupera a longa faca que estava carregando quando eu

acordei, amarrando a bainha de volta em sua perna. “Você ainda tem os dois
polegares. Faça disso o que você quiser.”

Eu fico de pé, enrolando o lençol em volta da minha cintura, estremecendo


com a pontada de suor, a dor baixa e latejante da facada no meu estômago.

"Você está com raiva de mim?"

Sem dizer nada, Saedii se vira, olhando para o espelho na parede e


começando a pentear as tranças com os dedos. Eu entro atrás dela para que
ela possa ver meu reflexo, então estendo a mão para roçar seu ombro. “Ei,
fale com...”

“Não me toque,” ela rosna.

Eu abaixo minha mão. Sentindo-se um pouco picado.

"Isso não é o que você estava gritando dentro da minha cabeça um minuto
atrás."

“Isso foi há um minuto.” Seus olhos voltam para sua trança, dedos movendo-
se rapidamente pelas grossas mechas pretas como tinta.

Eu a sinto se fechando como ela fez no conselho de guerra. Batendo sua


mente atrás de portas de ferro imponentes. “Tivemos prazer um com o outro,
e agora terminamos. Não faça com que isso seja algo mais do que era.”

“… E o que foi?”

"Uma liberação de pressão", diz ela. “Compreensível depois de nosso


cativeiro juntos. Sem significado."

— Por que você está mentindo para mim?


Sua mão fica imóvel, seu olhar travado no meu. “Eu deveria cortar sua
língua, terráqueo. Eu deveria arrancá-lo do seu crânio e...”

“Saedii, você estava na minha cabeça agora mesmo.” Eu procuro seus olhos,
minha voz suave. “Sou novo nessa coisa toda de telepatia, mas sei o que você
estava sentindo. Isso não foi apenas uma aventura de guerra. Isso não estava
apenas desabafando.”

"Você se lisonjeia", ela zomba.

"Saedii, fale comigo."

Eu agarro seu ombro, viro-a para me encarar. E embora eu sinta uma pontada
de raiva correr através dela enquanto minha mão toca sua pele, além disso,
novamente, eu pego aquele brilho de aprovação.

Essa garota é uma lutadora. Um líder. Nascido para o conflito. Criado para a
guerra. Ela não quer obediência, ela quer um desafio. Um igual.

Eu a beijo. Duro. Puxando-a em meus braços e esmagando-a contra mim. Seu


corpo fica tenso, seus punhos se fecham, mas sua boca derrete contra a minha
como neve no fogo, um suspiro deslizando por seus lábios enquanto ela joga
os braços em volta do meu

pescoço.

E além do choque de empurrar e puxar, querer e não, novamente eu


vislumbro isso através das rachaduras do ferro em que ela se

enrolou. Algo tão grande e assustador que ela não suporta olhar por muito
tempo.

Eu chego em direção a ela. Ela o empurra para baixo. Pisando sob seus
calcanhares e se afastando do meu beijo. E eu olho em seus olhos e percebo o
que é, por que ela está tentando tanto fingir que isso não significa nada para
ela.

Porque...
Porque significa tudo.

"Você está sendo puxado", eu sussurro.

Os olhos de Saedii piscam, e ela se empurra para fora dos meus braços com
um rosnado. Eu a vejo voltar para seu reflexo, fervendo, ocupando-se com
suas tranças com as mãos trêmulas. Mas posso ver a verdade por trás do gelo
de seus olhos, senti-la dentro de sua cabeça, inundando-a apesar de suas
melhores tentativas de mantê-la presa. O instinto de acasalamento Syldrathi.
A atração quase irresistível que sentem pelas pessoas com as quais suas
almas estão destinadas.

Kal sente isso por Aurora. Ele me disse uma vez que o amor era uma gota no
oceano do que ele sentia por ela. E olhando nos olhos de Saedii agora,
pensando em todas as vezes que ela poderia ter me matado, deveria ter me
matado...

Criador, que idiota eu fui... .

"Quanto tempo?" Eu pergunto.

Ela não diz nada. Eu passo atrás dela, procurando seu reflexo.

"Saedii, quanto tempo?"

Ela segura meu olhar, fúria e tristeza e adoração odiosa e desafiadora lavando
seus pensamentos. Em sua mente, vejo uma imagem minha a bordo do
Andarael, nas profundezas do poço de luta Inquebrável com um drakkan
morto atrás de mim, olhando para ela,

ensanguentado, mas vitorioso.

"Sim", murmuro. "Quero dizer, isso teria feito o motor de uma freira
funcionar, então eu realmente não posso culpá-lo."

Ela zomba, tentando não sorrir, afastando-se pela enfermaria. Eu posso sentir
sua raiva fervendo. Auto-aversão fervendo sob sua pele.

Uma parte dela quer pegar um caco de vidro quebrado do chão e me


esfaquear até a morte aqui e agora. Uma parte dela quer bater em meus
braços e me segurar tão forte que eu quebro. Ela odeia que ela me quer. Mas
ela está emocionada com isso também.

“Você não sabia que seria assim,” eu percebo.

Ela olha para mim, os lábios finos.

“Saedii, fale comigo,” eu exijo.

"Eu tive... pretendentes", ela finalmente suspira. “Distrações prazerosas. Mas


não como...” Ela abaixa a cabeça, os dentes afiados cerrados enquanto seus
dedos se fecham em punhos. Rindo baixinho enquanto ela balança a cabeça.
“The Void realmente tem um

senso de humor sombrio. Para me moldar um destino como este...”

“Eu sou tão ruim assim?” Eu pergunto suavemente.

"Você é terráqueo", ela sibila.

“Meio-terrâneo,” eu digo. "Mas e daí?"

“Então nosso povo está em guerra. E meu pai transformaria sua espinha em
vidro e a quebraria em um milhão de pedaços se

suspeitasse que seu dedo havia enfeitado minha pele. Ela ri, amarga, quase
para si mesma. "Void sabe o que ele faria comigo se soubesse que eu... que
nós..."

Sua voz se afasta, o temperamento subindo enquanto ela se agacha para puxar
uma de suas botas debaixo de um berço médico.

Eu atravesso a sala, passo uma mão sobre suas costas nuas enquanto ela se
levanta. Eu a sinto estremecer, mesmo quando ela

empurra de volta contra mim. A dor nela é tão real que posso sentir na minha
própria cabeça.
“Saedii, seu pai não está aqui,” digo a ela. “E nosso povo não precisa estar
em guerra. Você tem o poder de acabar com isso.”

"Não", ela rosna.

“Venha comigo para Aurora Acad...”

“Não!” ela estala, girando em mim. "Não me pergunte de novo! Tudo o que
meu pai lutou para construir pode virar pó agora que ele se foi! Qualquer um
de uma dúzia de Templários pode tentar tomar o poder sobre a cabala! Eu sou
a filha do Starslayer! Na ausência dele, cabe a mim manter os Invencíveis
juntos!”

“Nada disso importará se o Ra'haam tiver permissão para chocar!”

“Meu dever é para com meu povo!” ela ruge. “E nosso povo está em guerra!”

Ficamos ali na penumbra, e ainda posso sentir seu corpo pressionado contra
mim, o calor furioso de suas emoções iluminando minha mente. Há tanta
coisa nessa garota que estou apenas começando a ver. Ela é como a luz do sol
envolta em uma concha de ferro preto.

E mesmo através das pequenas rachaduras que ela me mostrou, posso dizer o
quão profundo e quente ela queima, como seria

maravilhoso me perder dentro de um calor como esse. O sangue Syldrathi em


mim a chama, a ponte entre nossas mentes ecoando

com sua música.

Ela é linda. Feroz. Brilhante. Cruel.

Essa garota é como ninguém que eu já conheci.

"Então me deixe ir", eu me ouço dizer.

"O que?" ela sussurra.

“Se você não quer vir comigo, deixe-me ir.” Eu engulo em seco, vendo uma
pequena chama de raiva e dor iluminar seus olhos. “Dê-me um ônibus e
alguns créditos. Deixe-me em um starport. Vou por conta própria para a
Academia Aurora. Vou parar os Ra'haam sozinho.

“Você não sabe nada do plano dele”, ela diz. “Você é um fugitivo, procurado
por seu próprio governo por violação de interdição e terrorismo galáctico.”

Eu sorrio, torto. “Parece um desafio para mim.”

“Você está cobrando em direção à sua morte. Você é um tolo."

“Quem é o maior tolo? O próprio tolo, ou o tolo apaixonado por ele?

Saedii faz uma careta e se vira, e eu passo na frente dela, pressiono minhas
mãos em suas bochechas. Enquanto a beijo, sinto a emoção percorrer todo o
seu corpo, dos dedos dos pés aos pés. Ela surge contra mim com tanta força
que quase me derruba.

Eu tropeço para trás e batemos na parede, seu corpo pressionado contra o


meu, encaixando-se como o mais estranho quebra-cabeça.

Suas curvas são duras como aço e seus lábios são macios como nuvens, e por
um momento é tudo que posso fazer para não me

perder nela novamente, para não fechar meus olhos contra a guerra ao nosso
redor e a sombra subindo acima de nós e apenas fazer ela minha.

Mas então eu percebo que ela puxou aquela faca novamente.

Segurando-o perto da minha garganta enquanto ela procura meus olhos.

"Eu não sei o que eu odeio mais", ela sussurra, a lâmina roçando minha pele.
“Puxando você para perto ou empurrando você para longe.”

“Eu sei qual eu prefiro.”

Ela vacila então, apenas por um batimento cardíaco. No silêncio, eu seguro


sua mão, afasto a arma da minha garganta e beijo seus dedos, procurando em
seus olhos por aquele calor, aquela luz.
“Ajude-me, Saedii. Podemos fazer isso juntos."

Mas ela olha por cima do meu ombro, e ao se ver no espelho, a cortina de
ferro desce, aquele fogo ardente dentro dela queima

repentinamente frio. Saedii aperta a mandíbula, recua, balançando a cabeça.

“Meu primeiro dever é com meu povo, Tyler Jones. Não meu coração.”

Eu procuro seus olhos, engolindo em seco.

— Então você tem que me deixar ir.

"Para a sua morte", ela rosna.

"Pode ser." Eu dou de ombros. “Mas eu não posso simplesmente sentar aqui e
não fazer nada.”

Eu vejo o desafio brilhar nela então. Fúria. A filha do Starslayer revelada.


Posso sentir a ameaça nela, como uma sombra subindo sob sua superfície, tão
escura quanto o fogo que me aqueceu alguns momentos atrás. Um é lançado
pelo outro, eu percebo. Cada uma faz parte do que a torna quem ela é: linda,
feroz, brilhante, implacável.

Ela levanta as mãos entre nós, os dedos manchados de sangue de sua


esquerda entrelaçados com os meus, a direita ainda segurando a faca
enquanto ela procura meus olhos.

Eu sei que ela poderia me forçar a ficar se ela quisesse.

Mate-me se ela quiser.

Saedii Gilwraeth é uma garota que consegue o que quer.

Ter que não é uma frase para ser dita aos templários, terráqueo.

Mas no final, ela desenrola nossos dedos. Desatando a bainha de sua coxa,
ela desliza a faca para casa, pressionando-a na palma da minha mão.
Dobrando meu aperto ao redor da alça esculpida, ela beija meus dedos,
macios e quentes.

"Vejo você nas estrelas, Tyler Jones", diz ela.

E ela me solta.

12

AURI

“Quando?” Eu repito. "O que você quer dizer, quando?"

Caersan olha além de mim para Kal, levantando a sobrancelha sobre o olho
bom. “Sério, Kalis? O universo inteiro diante de você, e foi isso que você
escolheu?”

Kal dá um passo à frente e eu pego sua mão, enrolando meus dedos nos dele.

“Problemas maiores,” eu o lembro baixinho, como se eu não estivesse a um


passo de atacar seu pai. Então eu falo com Caersan, sem me preocupar em ser
polido: “Agrade meu pequeno cérebro terráqueo e me diga do que diabos
você está falando.”

"Eu falo sua língua vil com a fluência de quem nasceu para isso", responde o
Starslayer, seu olhar roçando nossas mãos unidas enquanto ele se volta para a
projeção das estrelas. “Então eu vou assumir que você não consegue
compreender o conceito ao invés da palavra. Kaliis, o FoldGate para Taalos.
Observações?”

"Está danificado", diz Kal lentamente. “Negligenciado. O que faz pouco


sentido. Deveria ter sido atendido por equipes de tecnologia na colônia de
Taalos.”

"Que não está mais lá", concorda Caersan. “Assim como a população da
Terra se foi há muito tempo.”

"Não faz muito tempo", eu começo. “Estava lá apenas...”

Mas está começando a afundar agora. O que ele quer dizer.


Quando.

A profundidade da presença Ra'haam na Terra, as camadas dela, enrolando-se


e dobrando-se sobre si mesma, era tão densa quanto o crescimento em
Octavia. O planeta inteiro estava cheio disso.

Mas o Ra'haam ainda não floresceu e estourou. Esse era o objetivo da Arma –
destruí-la enquanto dormia, antes que isso pudesse acontecer.

Levaria anos para os Ra'haam povoarem a Terra assim.

Eu não acreditaria se não tivesse sentido isso por mim mesmo.

Mas talvez... talvez tenha levado anos.

"Quando", eu sussurro.

"Aurora?" Kal pergunta baixinho.

“Ah”, diz o pai. “Finalmente, a criança compreende.”

"Kal", eu digo. "Nós... eu não posso acreditar que estou dizendo isso em voz
alta, mas acho que... saltamos para frente... a tempo."

Ele fica em silêncio por um longo momento, seus olhos indo e voltando entre
seu pai e eu. Mas então, lentamente, ele assente. “Os Eshvaren tinham uma
relação com o tempo diferente de nós que viemos depois deles.”

Ele concorda com tanta calma que estou quase perplexa. Mas eu me lembro
que o povo de Kal é a raça mais antiga da galáxia – que eles sempre contaram
histórias dos Eshvaren. Histórias tão antigas que suas origens se perdem na
história. Se alguém iria comprar o que está acontecendo agora, são alguns
Syldrathi.

"O Eco", seu pai concorda.

“Meio ano se passou em pouco tempo,” Kal acena com a cabeça. “E quando
você entrou em seus poderes pela primeira vez, be'shmai, na noite em que
você nos indicou a Nave Mundial, você falou para trás, como se o tempo ao
seu redor estivesse girando em torno de si mesmo.”

“Precognição”, acrescenta Caersan. "Dilatação do tempo. Eles sabiam mais


do que nós. Eu não acredito que esta conjunção foi intencional, no entanto.
Os Eshvaren não previram dois Gatilhos a bordo de sua arma
simultaneamente.”

"Não", eu concordo. “Porque eles anteciparam que o primeiro faria seu


maldito trabalho.”

"Eles anteciparam o auto-sacrifício total", ele concorda, os lábios se curvando


em um sorriso de escárnio. “Para que seu Gatilho morra de joelhos.”

“Em vez de pegar essa coisa que eles deixaram para trás, a culminação dos
esforços de toda a sua espécie,” eu estalo, “e usá-la para destruir sóis inteiros
em nome da conquista da galáxia. Seu próprio povo, bilhões deles, para que
você pudesse fazer o quê? Governar pelos próximos anos até que os Ra'haam
floresçam?

“Nascemos para governar!” Ele joga as palavras de volta para mim como
uma lança, mas sai do curso – é Kal quem dá meio passo

para trás, sua respiração irregular. “E meu povo era covarde e traidor!”

“Você teve uma chance!” Minha voz ecoa nas paredes da câmara de cristal ao
nosso redor. “Você teve a chance de pegar o Ra'haam enquanto ele dormia e,
em vez disso, você fez isso!” Um aceno da minha mão toma o chão ao nosso
redor, cheio de corpos de seu

povo. Eles são provavelmente os sortudos - eles não viveram para ver a
tomada de Ra'haam que deve ter seguido nosso

desaparecimento.

O Starslayer não poupa nem um olhar para seus prisioneiros mortos. A raiva
dentro de mim engrossa, e eu mudo meu peso, porque eu juro que não há
nada neste momento ou em qualquer outro que seria tão satisfatório quanto
colocar minhas mãos em volta de sua
garganta. Mas a mente de Kal roça contra a minha, violeta se entrelaçando ao
redor do azul meia-noite, me acalmando, me acalmando.

Ele me encontra sem esforço agora, algo desbloqueado dentro de nós dois. E
ele é o suficiente para me derrubar.

“Como isso aconteceu, padre?” ele pergunta.

Caersan se vira e percorre um caminho entre os cadáveres que cobrem o


chão. Quando ele alcança a parede da câmara, ele coloca

uma mão no cristal e olha para o teto abobadado.

“Não está claro”, diz ele. “Dissonância psíquica causada pela presença de
dois Gatilhos, talvez. Mas se os Neridaa realizaram um ato tão extraordinário
uma vez, então acredito que poderia ser replicado. Conheço este navio tão
bem quanto a mim mesmo. O poder que zumbe através dele, assim como
minha própria respiração. É menos uma arma a ser disparada do que um
instrumento a ser tocado.”

Uma lasca de esperança rasteja em minha mente, como o menor raio de sol
atravessando as nuvens. "Você acha que poderíamos jogar de novo?"

Ele está pensativo. “Conheço a nota da música que ouvi enquanto


avançávamos no tempo. Eu poderia replicá-lo, com poder suficiente.

Sua mente poderia fornecer o impulso não sofisticado, por falta de um termo
mais preciso. Acredito que poderia canalizá-lo para essa mesma música e nos
devolver ao momento em que partimos.”

“Aurora...” Kal começa, mas eu já estou rindo.

“Está tudo bem, Kal, eu não estou me voluntariando para isso.”

“Ah, mas...” Caersan se vira para mim, com as mãos sobre o coração. “Você
é o Gatilho dos Eshvaren, Aurora! Você tem a chance de pegar o Ra'haam
enquanto ele dorme! Não é, como você colocou tão eloquentemente, seu
maldito trabalho?
Sua falsa sinceridade cai como uma máscara, as mãos ao lado do corpo.

“Não tão ansioso para servi-los agora, hein? Agora que você sabe quanto vai
custar?”

Meus dedos se arrastam para roçar minha bochecha e, embora a maior parte
da minha raiva seja direcionada ao bastardo arrogante parado na nossa frente,
uma pequena chama dentro de mim pisca e sussurra: Como você pretendia
disparar essa coisa vinte e duas vezes? Você teria morrido pedaço por
pedaço.

Isso é o que eles pediram de você.

Mas mesmo assim, sinto o poder formigando na ponta dos meus dedos,
ansiando por liberação. Mais uma vez, sinto aquela sensação de alegria com o
pensamento de que posso liberá-lo. É como um rio, jorrando dentro de mim
mesmo agora, e mesmo que eu ainda

esteja fraco da última vez, mesmo que eu possa sentir isso me machucando
cada vez que eu o uso, eu quase...

eu quase... quero.

“Tudo isso é irrelevante, independentemente”, suspira Caersan.

"Por que?" Eu pergunto, empurrando o desejo até os dedos dos pés. "O que
você quer dizer?"

“Você não sente isso, terráqueo? No ar? Nas paredes?”

Eu deixo minha mente explorar para fora, para os pulsos e cintilações que
fluem através das paredes ao nosso redor. E eu sei o que significa Caersan. É
como Kal já disse. "A música. A música neste lugar… parece diferente
agora.”

O Starslayer assente. “O Neridaa está danificado. Durante a batalha pela


Terra. Não posso tocar a nota se as cordas dela foram cortadas.”

"Bem, nós temos que consertá-lo, então," eu declaro.


Caersan zomba. "Tão simples como isso."

"Eu não estou dizendo que será simples", eu digo, as mãos se fechando em
punhos. “Mas não podemos simplesmente flutuar aqui sem fazer nada. Se
este é o futuro que fizemos, temos que voltar ao passado e consertá-lo.” Eu
aceno para a colônia Syldrathi corrompida, aquela mancha mofada de óleo
em nossas mentes. “Isso é culpa nossa, Caersan!”

“Devemos continuar este debate em um lugar mais protegido do que ao lado


de um FoldGate”, diz Kal. “Se os Ra'haam tomaram

Taalos...”

Seu pai faz uma careta. “Vire as costas e corra, você quer dizer? O que mais
ela te presenteou? Que outra fraqueza terráquea agora envenena suas veias?

“Apenas um tolo dá um golpe com pressa”, Kal revida. “Um guerreiro ataca
uma vez, e bem.” Um lampejo de desprezo cruza seu rosto que é todo
Caersan, desde a elevação do queixo até a curva do lábio. Neste momento,
posso ver o mesmo sangue correndo por eles.

Nossas mentes se juntam, a minha alcançando a dele tão instintivamente


quanto a dele pela minha. Não precisamos de palavras —

prata e ouro se unem, confirmando nossa intenção compartilhada.

Quando voltarmos, vamos enfrentá-lo novamente. Estaremos prontos.

Vamos estar juntos.

A boca de Caersan apenas se curva, porém, e ele inclina a cabeça. "Pelo


menos você reteve algo dos meus ensinamentos", ele murmura. “Passamos
por um FoldStorm não muito longe. Deve fornecer cobertura. Você vai me
ajudar a lançar o Neridaa na

tempestade, terráqueo.

Ele fica carrancudo enquanto eu hesito, e eu o avalio, estudando aquele rosto


tão parecido com o de Kal – e tão completamente
diferente.

"Você se moveu bem por conta própria antes", eu aponto.

Ele faz uma careta. “Você é muito covarde para se tornar vulnerável a mim.”

“Estamos cercados por pessoas que você matou. Não consigo pensar por que
hesitaria.”

"Você está certa em me temer, garota", ele sorri. “Mas posso exigir que sua
mente retorne ao meu próprio tempo. Eu seria um tolo se destruísse você
agora.

Ele vira as costas, desdenhoso, sem medo, e a tela projetada no centro da sala
muda enquanto ele traça um curso para a tempestade.

Lentamente, timidamente, eu abaixo minhas barreiras para observar a


maneira como ele se conecta com a Arma – a Neridaa, em sua mente – e a
impulsiona para frente apenas pela vontade.

Sua mente é rica, profunda e forte, camadas do mesmo ouro que a de seu
filho, e um vermelho-sangue escuro e seco. Eu posso sentir a força nisso,
uma união de sua herança Syldrathi e seu treinamento no Echo. Ele teria sido
um Trigger mais forte do que eu, se estivesse disposto. E quando ele olha de
volta para a colônia de Taalos corrompida, eu posso sentir isso nele, sob
aquele comportamento gelado.

Ele pode interpretar o imperioso, o impecável, mas posso dizer que ele está
furioso com a visão daquele mundo caído. Por mais que ele me deteste, posso
sentir que há algo que ele detesta ainda mais.

Derrota.

Ele me afasta antes que eu possa olhar mais de perto, e cada um de nós
coloca nossos ombros mentais no volante, facilitando o cristal do tamanho de
uma cidade através do silêncio da Dobra. Trabalhamos lado a lado, em vez de
tricotar juntos como faço com Kal. Mas estamos nos movendo através do
preto e branco, rápido como o pensamento.
A tempestade se aproxima à distância, massiva e turbulenta, maior que
planetas e crepitando com poder. Enquanto nos aproximamos dele, Caersan
sobe no trono e, com o manto vermelho estendido embaixo dele, fica mais
confortável. Eu me acomodo em um degrau

na parte inferior, e Kal toma seu lugar ao meu lado, nossas mãos ainda
unidas.

"Não olhe para eles", eu sussurro enquanto seu olhar cai - como não pode? -
sobre os cadáveres espalhados pelo chão.

"Eles me lembram alguém que eu conhecia", ele murmura, e eu fecho meus


olhos, descansando minha cabeça em seu ombro.

À medida que os minutos se arrastam, deixo minha mente divagar, me


esticando e empurrando para a Dobra ao nosso redor, testando meus limites.
Estou exausta, mas algo despertou dentro de mim, como um novo conjunto
de músculos que eu nem sabia que tinha.

Como um equipamento extra, e eu quero explorá-lo. Eu quero usar isso. me


perder nele. Solte meu corpo minúsculo e abrace tudo além dele.

— Você sente, não é, terráqueo?

Olho para Caersan, o ar vibrando entre nós. Ele olha para sua mão, fechando-
a lentamente em um punho. E ele sorri para mim.

Eu o ignoro, me virando, de volta para a escuridão além. O espaço é infinito,


grande demais para envolver minha cabeça. Mas lá fora, em meio a todo esse
nada, percebo que não está completamente vazio, afinal. A primeira vez que
toco em alguma coisa, eu me afasto instintivamente, o azul da meia-noite
queimando ao meu redor – então eu entendo o que encontrei. É um navio
morto, cercado por uma nuvem de destroços. Um minuto depois, encontro
outro abandonado. E outro. Não há vida aqui na Dobra, mas este setor não
está

vazio.
É um cemitério.

Todo mundo se foi? Todos na galáxia foram subsumidos pelos Ra'haam? Não
consigo imaginar as pessoas que conheci, os lugares

que vi, todos destruídos. As luzes brilhantes ficaram escuras, as ruas


movimentadas vazias e silenciosas. Centenas de mundos,

quietos para sempre.

Deixei minha mente ir mais longe em direção à tempestade, passando por


outro navio, este quebrado como se alguém o tivesse

pegado com as duas mãos e o rasgado para derramar o conteúdo na Dobra e

... olhos se abrindo.

"O que?" A mente de Caersan já está focando na direção de onde eu vim, e


sinto que Kal tenta fazer o mesmo, mas ele não tem poder.

Cuidadosamente junto minha mente com a dele e o trago comigo enquanto eu


rastejo de volta para dar outra olhada.

É como um daqueles quebra-cabeças onde você tem que apertar os olhos e


tentar desfocar seus olhos, e no momento em que você

para de olhar, a imagem aparece. Eu acalmo minha mente, arqueando um


arco para fora, o mais quieto e silencioso que posso estar, e lá na periferia, eu
os sinto novamente.

Um.

Então dois.

Então dez.

Então vinte.

Há navios lá fora no limite do meu alcance agora, apenas um sussurro deles.


Mas eles estão convergindo para nós. E estes não estão mortos. Eles estão se
aproximando de várias direções e, mesmo enquanto observo, sua presença se
torna mais firme, mais próxima, suas imagens se aglutinando na projeção de
Caersan.

“Amna diir,” Kal sussurra. “O Ra'haam.”

Os navios são de uma dúzia de estilos diferentes, construídos por uma dúzia
de raças diferentes. Eles são enormes — navios de guerra todos eles, eriçados
de armas. Mas seus cascos estão invadidos com o que parece ser musgo e
líquen, um branco doentio com bordas verdes azuis, e eles arrastam longos
tentáculos atrás deles, como trepadeiras, ou talvez raízes, em busca de novo
solo para poluir. Eles me lembram os ossos de Octavia, enterrados sob a
massa dos Ra'haam. Há algo errado neles que revira meu estômago, faz meu

sangue gelar, como se algo estivesse vivo dentro deles, mas um cobertor foi
jogado sobre eles, sufocando.

"Esses são navios grandes", murmuro.

“Navios de guerra da capital”, responde Caersan. “Há mais entradas.”

“Podemos lutar contra eles?” Kal pergunta.

“Não vamos combatê-los. Nós vamos destruí-los.” Caersan me olha com


calma, seu olho direito brilhando levemente. “Você vai disparar a arma,
garota. Vou moldar o pulso em direção ao inimigo. Mesmo danificada, a
Neridaa é mais do que páreo para—”

“Não,” Kal diz.

Caersan inclina a cabeça para o filho. "Não?"

“Você sabe o que vai custar, o que vai custar, para demitir essa coisa de
novo.” Kal olha para mim, aquelas rachaduras ao redor do meu olho, antes de
se voltar para seu pai. “Você simplesmente não deseja pagar o preço
sozinho.”

Eu sei que Kal está certo. O pulso não teria que ser nada perto do que eu
precisaria para destruir um sol, mas lutando com tantos navios, eu ficaria
enfraquecido depois. Minha pele continuará se abrindo, a teia de aranha de
rachaduras que vejo em Caersan

começará a se espalhar em mim. Ainda assim, meus dedos formigam,


arrepios subindo na minha pele em antecipação….

"Eu posso fazer isso, Kal", digo a ele.

“Be'shmai, isso vai te machucar.”

"Você vai permitir que essas larvas nos destruam, então?" pergunta Caersan.

"Você poderia?" Kal exige.

“Nós somos Warbreed, garoto,” ele cospe. “Você sabe tão bem quanto eu o
que isso significa. A partir do momento em que peguei o glyf, aceitei a morte
como amiga. Eu não temo o Vazio. Morrer em batalha é o destino de um
guerreiro.”

"Você mente, pai", Kal cospe. “Não é da sua natureza aceitar a derrota. Você
não vai ficar parado e deixar que essas coisas nos destruam.”

A Caçadora de Estrelas levanta uma sobrancelha prateada, sorrindo para


mim.

“Não vou?”

Caersan se recosta em seu trono, ajusta a linha de seu manto, sacode um


incômodo grão de poeira de sua ombreira. Colocando os

dedos em seus lábios, ele apenas me encara. Posso sentir as naves de guerra
Ra'haam se aproximando, mais delas chegando agora —

um enxame corrompido, lançando caças, descendo sobre nós do nada.

Caersan não faz nada.

O navio de guerra mais próximo abre fogo; um míssil talvez, explodindo


contra nosso casco de cristal. Sinto a arma se mover sob nós, um som
psíquico — quase como se a Neridaa sentisse a dor. Outra explosão balança a
Arma, outra, a luz ao nosso redor diminuindo enquanto estremecimentos
violentos percorrem o comprimento do navio.

E ainda assim, o Starslayer apenas encara.

Eu fecho minhas mãos em punhos, sentindo aquela onda de poder dentro de


mim.

— Be'shmai... — sussurra Kal.

"'Be'shmai'...", Caersan zomba de seu filho. “Este é quem você chama de


amado? Esse fracote que vai deixar você morrer aqui no escuro?

"Você não vai fazer isso", Kal cospe, levantando-se. "Você não vai me usar
contra ela!"

“Você se permitiu ser usado, Kaliis. Quando você se liga a um vagabundo


como ela. Sua irmã nunca teria me envergonhado tanto, para deitar com uma
larva terráquea. Saedii teria cumprido seu dever. Saedii teria colocado seu
povo, sua honra, sua família em primeiro lugar.”

"Família?" Kal grita. “Você matou nossa mãe! Você separou nossa família,
assim como fez com nosso sol! O que você sabe sobre família?”

Kal ferve para seu pai, os dentes à mostra, mas eu ultrapassei os limites das
palavras simples. Em vez disso, eu fecho meus olhos, o coração batendo
agora à medida que mais e mais naves inimigas se aproximam. Eu posso ver
as diferentes formas, algumas delas

repugnantemente familiares — Sydrathi e Betraskan e Terran — todas elas


corrompidas pelos Ra'haam. O poder cresce dentro de mim como água contra
uma represa. É quentinho. Convidativo. Eu posso sentir as profundezas disso,
assim como Caersan disse. É

ilimitado. É impressionante. Talvez até um pouco...

Explosões balançam o navio, embarcações Ra'haam batendo em nosso casco.


Lutadores corrompidos gritam por toda a extensão do

Neridaa, lascando sua pele com tiros vivos que corroem seu casco. A Arma é
vasta, mas posso senti-la sangrando, rachaduras se

espalhando por seu rosto. E o tempo todo, os olhos de Caersan estão fixos em
mim. Um pequeno sorriso nos lábios. Ele está jogando um jogo de galinha
com todas as nossas vidas, e se fosse apenas eu em risco aqui...

Mas eu olho para Kal ao meu lado. Meus lábios apertados finos. Eu posso
sentir a força disso. A força disso, esperando para ser desencadeada. Eu sei
que se eu deixar sair, eu vou querer de novo. E de novo. Afinal, foi para isso
que eles me fizeram. Mas…

“Aurora… não deixe que ele a manipule assim.”

Não posso te perder de novo.

E então eu extraio cada grama de minha energia mental, mantendo o poder


dentro de mim até minha pele ficar formigando, até eu

estourar pelas costuras, corrente correndo em minhas veias. Estou consumido


por um momento, pego na emoção absoluta e sem

limites disso. Sinto Caersan na minha cabeça então, frio e triunfante,


canalizando a força em um pulso, esférico, como os que eu solto em Emerald
City, em Sempiternity, liberando-o em uma explosão ofuscante.

Ele voa para fora, milhares de quilômetros dentro da Dobra, atingindo uma
dúzia de navios Ra'haam e rasgando-os em estilhaços

sangrentos. Uma pontada de dor passa pela minha cabeça em resposta, e eu


cerro os dentes, o sangue escorrendo do meu nariz

enquanto eu me esforço para respirar.

"De novo", diz Caersan.

"Aurora...", Kal sussurra.


"Novamente!"

"Você não pode fazer isso!" Kal ruge. “Ela está se machucando!”

“A misericórdia é a província dos covardes, Kaliis.”

Eu atiro novamente, outro pulso, florescendo para fora e aniquilando as naves


inimigas além. Eu me sinto como um gigante, quebrando os brinquedos das
crianças. Eu me sinto dez mil pés de altura. Mas já posso sentir mais nos
limites do meu alcance, apontando para nós, como se fôssemos um farol no
escuro.

Kal está ao meu lado. Apertando minha mão, olhando nos meus olhos. Posso
sentir a força dele aumentando a minha, mas as naves

Ra'haam ainda estão chegando, outra explosão nos balançando agora, lascas
de cristal caindo do telhado e quebrando no chão ao nosso redor

... "Ajude-a!" Kal ruge. “Vocês dois juntos podem aniquilar—”

“Não, espere,” eu suspiro.

Apertando a mão de Kal, eu aceno para a escuridão lá fora.

"Um desses não é um navio Ra'haam..."

Eu sinto isso, lá fora, entre a podridão e o mofo — um borrão de metal


enferrujado, cortando como uma faca a Dobra. Mísseis se enrolam e
florescem, cegando esferas brancas de fusão nuclear, imolando as naves
Ra'haam restantes em rajadas repentinas de luz e calor. Posso ouvir um grito
de frustração no fundo da minha mente: a raiva do inimigo negada. Mas ele
sabe agora, sabe que estamos aqui, e posso senti-lo, mesmo agora, reunindo
forças para atacar novamente.

Novamente.

Novamente.

Até que tenha tudo. É tudo.


Caersan se levanta de seu trono, testa franzida, uma mão manchada de sangue
estendida em direção ao recém-chegado.

"Design estranho", ele murmura.

"Quem são eles?" Kalis exige.

"Não sei." Seus olhos se estreitam. “Mas eles estão nos saudando.”

Limpo a mancha de sangue de meus lábios formigando, sento-me sobre os


quadris e tento recuperar o fôlego enquanto Caersan lança a transmissão na
tela projetada no coração da sala.

Seu rosto se contorce em uma carranca com o que ele vê.

Um grupo de pessoas aparece no monitor, sentado em estações na ponte deste


novo navio. Vejo duas mulheres, uma Betraskan e uma Syldrathi com um
símbolo Waywalker tatuado na testa e rachaduras profundas na pele ao redor
dos olhos. Atrás deles está um gremp que deve estar em cima de uma caixa e
uma Rikerite com longos chifres saindo de sua testa. Mais para trás, os
corpos estão

amontoados juntos — Chellerianos com pele azul que ficou cinza pela Dobra,
mais Betraskans, meia dúzia de tipos de alienígenas que eu nunca vi antes.

E na frente de todos eles, na cadeira do comandante, está alguém que meu


coração martelando se contorce ao ver.

Um homem.

"Eu não posso acreditar", ele sibila, olhando para Caersan. "É você."

Ele está na Dobra e, sem o efeito da Arma, sua pele pálida está ainda mais
pálida, seu cabelo loiro ficou grisalho. Seu uniforme está surrado e com
cicatrizes de batalha, ele tem um remendo preto cobrindo um olho e está mais
velho do que da última vez que o vi, talvez na casa dos quarenta. Mas mesmo
depois de mais de vinte anos, mesmo sob as cicatrizes, a barba por fazer e a
dor que marca a pele nos cantos de seus olhos, eu o reconheceria em qualquer
lugar.
Mas é Kal quem fala. Que suga todo o ar dos meus pulmões com apenas duas
palavras. Quem nomeia o homem antes de nós, este

homem que foi ao inferno e voltou e de alguma forma ainda está segurando,
olhando para nós com uma mistura de confusão e

acusação e raiva amarga.

“Tyler Jones”.

13

KAL

“Kal.”

Meu nome é pesado como ferro, cuspido dos lábios de Tyler como se fosse
veneno. Ele me encara da projeção que meu pai jogou no ar diante de nós, e
do outro lado de um oceano de tempo.

Tyler Jones é um homem agora, onde uma vez – poucos dias atrás – eu
conhecia apenas um menino. Ele está sentado na cadeira do

comandante de seu navio de guerra, e posso ver que os anos não foram gentis
com meu velho amigo. Seu rosto está cheio de

cicatrizes de batalha, desgastado, cheio de dor e tristeza, mas mais e mais,


com raiva.

"Que diabos você está fazendo aqui?" ele exige. “O que são...”

“Tyler!” Aurora chora ao meu lado. “Santo bolo, é você!”

Uma carranca enruga sua sobrancelha marcada, confusão em seu olhar. “…


Auri?”

"Sim, sou eu!" ela grita, limpando o sangue do nariz. Ela parece enfraquecida
após a batalha, mas parece animada, quase bêbada, talvez. "Somos nós! Ty,
pensei que nunca mais veria você!

Ele muda seu olhar de Aurora para mim, confuso. “Ver-me de novo? A
última vez que te vi foi há vinte e sete anos...

Aurora balança a cabeça. “A última vez que o vimos, você foi capturado pelo
GIA! Estávamos tão preocupados que Scar estava

enlouquecendo!” Ela sorri mesmo enquanto chora, seus olhos brilhando com
lágrimas. “Eu sei que parece loucura, Ty, mas meu Deus, é tão bom ver você!
Estou tão feliz que você está bem!”

"Aurora... eu pareço bem para você?"

Seu olhar muda para meu pai, seus olhos endurecendo.

“A nave em que você está desapareceu na Batalha da Terra com todos vocês
dentro dela. Precisávamos daquela arma, Auri.

Precisávamos de você!”

"Eu sei", ela sussurra, seu sorriso caindo. “Sinto muito, Ty. Não queríamos
vir aqui. Não queríamos que nada disso acontecesse.”

“Isso pode ser difícil para você entender, irmão,” digo a ele. “Vinte e sete
anos podem ter se passado para você, mas para nós, a batalha entre as forças
Inquebráveis e Terráqueas foi apenas algumas horas atrás. Viajamos no
tempo.”

"Que diabos...?" ele sussurra.

“Nós parecemos iguais, não é?” Eu insisto. “Olhe para Aurora. Quase três
décadas se passaram para você, mas ela não envelheceu nem um dia, certo?

Ele olha para mim, testa franzida, mandíbula apertada enquanto olha para sua
equipe.

"Estou lhe dizendo a verdade, irmão", eu imploro.


“Você não pode falar comigo sobre a verdade.” O lábio de Tyler se curva
enquanto ele fala em perfeito Syldrathi. “Eu não sou Sai'nuit.”

Meu coração afunda com isso. Então, ele sabe. A mentira que eu disse a ele.
Disse a todos eles. Me envergonha pensar nisso agora –

que eu o chamei de amigo e ainda menti na cara dele sobre quem eu era. Eu
tive meus motivos e, no entanto, não tenho desculpa.

“Irmão, sinto muito. Eu estava errado em enganá-lo então. Mas eu imploro


que você acredite em mim agora. Eu nunca vou mentir para você
novamente.”

“Tyler, por favor...”, diz Aurora.

O Betraskan ao lado de Tyler aparece, apertando os olhos enquanto ela ajusta


um monóculo de mira cibernética sobre o olho.

“Comandante, eu odeio interromper a reunião tocante, mas ainda temos


entrada. Frota de ervas daninhas, carregando sete-um-oito-doze-nove. As
armas alcançam em sessenta segundos.”

“Merda,” Tyler sussurra, e mais do que vê-lo, os anos em seus ossos, a dor
em seus olhos, isso me abala.

O Tyler Jones que eu conhecia nunca amaldiçoou.

Mas este não é o Tyler Jones que eu conhecia.

“Qual é o seu estado?” ele diz. “Seu casco parece comprometido.”

“A arma foi danificada durante a viagem até aqui.” Eu encaro meu pai, que
está sentado e assistindo a troca com um leve desinteresse.

“E fomos atacados novamente antes de você chegar. Demorou algum tempo


até que pudéssemos reunir energia para retaliar.”

“Pegamos o pico de energia em varreduras de longo alcance”, diz Tyler.


“Você tem muita sorte que nós fizemos, também. Estávamos voltando
para...”

Ele se detém antes de dizer mais, sua voz desaparecendo. Ele olha para suas
leituras, as naves Ra'haam que chegam, mastigando o lábio em pensamento.
Posso ver sua mente: a desconfiança, a raiva, lutando com a prova diante de
seus olhos. Ele olha para Aurora, e ela olha de volta, esperança infalível em
seus olhos, suavemente falando duas palavras: a mesma mensagem que o
almirante Adams nos passou o que parece uma vida atrás agora.

“Acredite, Tyler.”

“Trinta segundos para o alcance das armas, chefe”, diz o Betraskan.

E finalmente, Tyler Jones suspira.

"Tudo bem. Eu não sei o que diabos está acontecendo aqui, mas nós
recebemos Weeds e eu gastei a maior parte das minhas bombas de fusão.
Sugiro que continuemos esta conversa a alguns anos-luz daqui. Seus motores
ainda estão operacionais?”

Olho para Aurora, as manchas de sangue em seu lábio superior. Talvez seja
minha imaginação, mas as pequenas rachaduras na pele ao redor do olho
direito parecem... mais profundas. Mas ela balança a cabeça de qualquer
maneira, seus olhos brilhando. “Eu posso nos mover.”

“Tudo bem, siga nossa liderança. Lae, enrole a unidade da fenda e...

— Você não pode querer trazê-los conosco?

É a mulher Syldrathi que fala, sentada no que presumo ser o leme. Ela é
apenas um pouco mais velha do que eu, feroz e esbelta com longas tranças de
prata. O glifo Waywalker está marcado em sua testa, mas há rachaduras
profundas na pele ao redor dos olhos,

semelhantes às que marcam Aurora e meu pai. E quando ela fala, é com a
fúria de mil sóis, olhando para Tyler incrédulo.

“Parece que você está questionando meu julgamento, soldado,” Tyler


responde.
“Eles cavalgam com o Starslayer!” ela cospe. “O sangue de dez bilhões de
Sydrathi em suas mãos! A morte da galáxia a seus pés!”

“Acalme seu barulho, criança,” meu pai suspira, recostando-se em seu trono.
“Pelo seu olhar, você nem poderia estar vivo quando Syldra caiu.”

"Minha mãe me falou de você, cho'taa", ela sussurra, os olhos violetas


semicerrados. “Eu sei exatamente o que você—”

“Enrole o rift drive, Tenente,” Tyler interrompe. “Quero que saiamos daqui
agora.”

A mulher Syldrathi olha furiosa para Tyler, mas seu tom é duro, implacável.
Depois de um momento de luta silenciosa, ela aquiesce, inclina a cabeça.

“Se estou trazendo-os conosco, não podemos ir longe. Uma fenda tão
grande...

— Onde não importa, tenente. Desde que seja longe daqui.”

Ela aperta a mandíbula. "Sim senhor."

"Auri, Kal", diz Tyler. “Siga-nos. E apenas no caso daquele bastardo sentado
atrás de você estar colocando alguma ideia em sua linda cabeça? Ele olha
para meu pai, seu olho bom em chamas. “Ainda temos algumas armas
nucleares, Starslayer.”

Meu pai nem está mais olhando para a tela, tratando Tyler como se estivesse
sob desprezo. Mas Auri acena com a cabeça, maxilar cerrado. “Nós o
seguiremos, Ty.”

“Prendam-se se puderem. O passeio é um pouco acidentado.”

A transmissão termina e, com um olhar, meu pai bane a projeção que


convocou. A luz sobre nós morre, a sala do trono escurecendo para um tom
mais escuro de vermelho-sangue, refletido nos olhos de meu pai.

"Fraco", ele murmura.


Ao meu lado, Aurora o observa, os olhos semicerrados. E franzindo os lábios,
ela estende a mão em direção ao centro da sala onde estava a projeção. O ar
brilha. Eu sinto o poder em seu inchaço, uma pequena faísca brilhando no
branco de seu olho direito. Outra imagem aparece - uma visão de fora da
nave, conjurada pelo poder de sua mente.

Eu olho para ela, cautelosa, mas ela sorri de volta para mim.

Percebo que ela está aprendendo a manejá-lo. Ela está dominando este lugar.

Mas o que isso vai fazer com ela?

Vejo a nave de Tyler — um estranho amálgama de tecnologias Syldrathi e


Betraskan e terráqueas, como se tivesse sido remendado com pedaços de
meia dúzia de outras naves. Não é bonito, mas é funcional, construído para a
guerra. O nome VINDICATOR está pintado em sua proa.

Minha respiração para quando vejo um brilho começar, um pequeno ponto de


luz contra o pano de fundo do FoldStorm. A luz cresce em intensidade,
espalhando-se mais amplamente, como um rasgo no tecido da Dobra. E
percebo o que estou vendo - um FoldGate, tosco e temporário, com certeza,
mas grande o suficiente para passarmos por Neridaa, para o sistema solar
além.

Os propulsores da nave de Tyler brilham, e sua nave voa pela fenda que
abriu, desaparecendo da Dobra. Aurora abaixa o queixo, uma carranca
escurecendo sua testa, e eu pego sua mão enquanto sinto que começamos a
nos mover – esta poderosa nave, maior que

uma cidade, mais poderosa que qualquer arma desenvolvida por Syldrathi ou
terráqueos ou qualquer outra.

E minha be'shmai a move simplesmente com o poder de seus pensamentos.

Chegamos à fenda e a Arma começa a tremer ao nosso redor. Violento.


Repentino. O suficiente para me derrubar.

Mas eu sinto uma pressão suave, e o brilho nos olhos de Aurora queima mais
forte, seu poder me mantendo de pé. A Neridaa treme quando cruzamos a
soleira, luz branca como uma supernova, todo o espaço se estendendo e se
invertendo ao meu redor.

E tão repentinamente quanto começou, acabou.

Tudo é silêncio. O espaço que vejo projetado fora do nosso casco não é mais
a paisagem de cores branqueadas da Dobra, mas os tons vibrantes e arco-íris
do espaço real. Uma estrela vermelha queima distante. Perto dali, um gigante
de gelo de metano e nitrogênio paira na escuridão, silencioso e verde e para
sempre congelado. Não há sinal de naves Ra'haam nos perseguindo, o rasgo
no espaço

fechando atrás de nós com um último clarão cintilante de luz brilhante do sol.

E estamos seguros.

Por enquanto.

"Eles estão nos chamando de novo", murmura Aurora.

Olho para meu pai. Ele está observando Aurora como um falcão agora
enquanto ela focaliza seu olhar e move seus dedos. A imagem projetada no
coração da sala brilha e, novamente, vejo o rosto desgastado pela guerra de
Tyler Jones.

Meu peito normalmente pode doer ao vê-lo - as marcas que as mãos cruéis do
tempo deixaram na pele do meu amigo. Mas estou mais interessado em meu
pai agora, estudando Aurora como um drakkan com sua presa. Ela está
aprendendo rapidamente o funcionamento

da nave — ela foi feita para essa tarefa, assim como ele. Ambos os Gatilhos
dos Eshvaren. Ambos são capazes de empunhar esta

arma, para o bem ou para o mal. E olhando em seus olhos, um deles agora
suavemente brilhando, eu sei que ela está em perigo.

Caersan não tolerará rival por este trono.


"Vocês dois estão bem?" Tyler pergunta.

"Estamos bem, irmão", digo a ele, meus olhos não se desviando do meu pai.
“Agradecemos sua ajuda.”

“Não me agradeça ainda,” Tyler rosna. “Todos os membros da minha equipe


de comando estão me dizendo que preciso examinar

minha cabeça. É melhor você vir aqui e trazer uma explicação muito boa com
você. Porque, com toda a honestidade, estou quase meio

convencido de deixar você pelos Weeds.” Ele se inclina para frente,


carrancudo. “A propósito, o convite não se estende àquele psicopata
assassino em massa sentado atrás de você. Porque se eu colocar os olhos nele
em carne e osso, vou explodir sua porra de miolos por todo o chão.

Meu pai levanta uma sobrancelha e boceja.

“Vindicante, fora.”

•••••

Descemos juntos até a doca e, no caminho, Aurora para no lugar em que


deixou as botas quando entrou pela primeira vez no Neridaa.

Ela fica imóvel por um momento, os dedos dos pés se curvando e


flexionando contra o cristal como se não quisesse quebrar o contato com ele,
e então com um suspiro, ela se senta para calçar as meias e amarrar as botas.

“Provavelmente impraticável ir a um conselho de guerra descalço”, diz ela,


com um pequeno sorriso pesaroso que aperta meu coração.

Este momento é tão pequeno, tão simples, tão doméstico. Mas convoca mil
outros que passamos juntos em nosso meio ano dentro do Eco. Isso me
lembra de todas as maneiras pelas quais aprendemos a nos encaixar, dia após
dia. E então me lembro que, embora ela seja incrivelmente poderosa, e
embora estejamos em uma galáxia feita de nada além de morte, ela ainda é a
garota que eu conheço.
Ainda tenho riquezas incalculáveis, porque a tenho.

Tyler não irá, é claro, atracar com a nave Eshvaren, e então Aurora nos leva
para encontrar o Vindicator, levando-nos para o vazio.

Eu não estou vestindo um terno ou capacete, apenas a armadura preta de um


guerreiro Invencível - eu normalmente congelaria e

sufocaria aqui. Mas um nimbo quente de luz brinca sobre a pele de Aurora,
envolvendo-me enquanto ela pega minha mão, carregandonos através da
escuridão vazia apenas com o poder de sua mente.

Seu olho direito está brilhando, e fico maravilhado com a distância que ela
percorreu. Como ela se tornou forte. Seu rosto está quase em êxtase enquanto
atravessamos o Vazio juntos, seus lábios suavemente curvados. Mas ainda
assim, vejo aquela teia fraca de

cicatrizes ao redor do olho dela, imagino as mesmas rachaduras no rosto do


meu pai, mais profundas, mais escuras. Eu me pergunto o preço que tudo isso
está cobrando dela.

O preço que ela poderia pagar no final.

"Você é linda", digo a ela, enquanto voamos juntos através da escuridão.

Meu coração dói com o sorriso dela. “Não é tão ruim você mesmo.”

—Sinto... desculpe, Aurora. Por mentir para você. Sobre quem eu sou.”

Seu sorriso desaparece um pouco, e ela olha de volta para a Neridaa. A nave
paira no escuro atrás de nós — colossal e bela, todas as cores do espectro.
Mas agora posso ver cicatrizes rasgadas em seus flancos do ataque Ra'haam.
E eu posso sentir a sombra à espreita em seu coração.

“Doeu que você não pudesse me dizer a verdade, Kal.” Ela aperta minha
mão. “Mas agora que o conheci, entendo por que você prefere que seu pai
esteja morto.”

"Ele me deu vida", eu digo, olhando para nossos dedos entrelaçados. “E eu


procurei tomar o dele em troca. Tentei enfiar uma faca nas costas dele.”

“Ele é um monstro, Kal. Ele assassinou um mundo inteiro.”

"Eu sei isso." Eu balanço minha cabeça e suspiro. “Mas não deveria ser
assim.”

Ela segura minha mão com mais força, me olha nos olhos.

"Eu entendo. Estou contigo. E estou feliz por você estar aqui comigo.”

Ela me beija, breve e suave, e nesse infinito, estamos totalmente sozinhos e


totalmente completos. E apesar de tudo, da luta, da dor, da perda, uma parte
de mim ainda não consegue acreditar que essa garota é minha.

Aurora nos traz através do espaço de nada entre a nave Neridaa e a nave de
Tyler. Aproximando-me, posso ver que o Vindicador passou por muitas
batalhas, mantidas juntas com soldas e orações. Deslizamos para as baias de
lançamento de caças, e Aurora nos leva pela câmara secundária. A aura que
ela lançou ao nosso redor desaparece à medida que a câmara se pressuriza, o
oxigênio assobiando no compartimento. A gravidade retorna lentamente, o
cabelo de Aurora caindo para baixo, a mecha branca se estabelecendo sobre o
brilho moribundo em seus olhos.

A escotilha se abre e vemos o gremp da tripulação da ponte de Tyler


esperando, uma mão em garra na pistola em sua cintura. Ela usa um traje
espacial surrado e, através do plexiglass de seu capacete lacrado, posso ver
seu pêlo preto e a mancha branca sobre seu olho esquerdo. Um palito de
dente do que pode ser osso humanóide está pendurado em um canto de sua
boca.

Ao lado dela está a Rikerite — outra fêmea, pelo que parece. Ela é ainda mais
alta do que eu, chifres saindo de uma sobrancelha pesada. Seus braços são
grossos como minhas coxas, seus ombros impressionantemente largos. O
pesado rifle de pulso que ela

carrega está apontado vagamente em nossa direção, e ela usa um velho traje
de combate lacrado.
"Bom dia", diz ela, em uma voz profunda que se tornou metálica por sua
viseira. “Sou Toshh, chefe de segurança a bordo do Vindicator.”

"Saudações", eu digo, tocando meus olhos, lábios, coração.

"Olá," Aurora sorri.

“Aqui é Dacca. Ela vai escanear você para infecção. Façam um favor a vocês
mesmos e não se movam.” Toshh levanta seu rifle. “De repente ou não.”

O gremp dá um passo à frente, varrendo-nos com um scanner de mão. Aurora


e eu trocamos um olhar enquanto a luz vermelha rola

sobre nossos corpos – nós dois sabemos exatamente que tipo de infecção
esses dois estão procurando.

Terminando sua varredura, a pequena felina dá um passo para trás, rosnando


em sua própria língua. A rikerita acena com a cabeça, toca seu capacete.
“Comm, aqui é Toshh, nós somos luz verde em bio-scans. Nenhum sinal de
corrupção, acabou?”

“Entendido, chefe”, vem a resposta de Tyler. “Traga-os para cima.”

A mulher coloca seu rifle de pulso em um braço enorme, gesticulando por


cima do ombro. "Me siga."

A câmara de ar interna se abre depois que a mulher digita um código, e nós a


seguimos por um corredor mais amplo, a gremp na

retaguarda, com a mão ainda na pistola. Saindo para a embarcação principal,


vejo que as configurações de energia estão baixas, as luzes se apagam. O
plasteel é velho, as luminárias defeituosas e trêmulas, o aço cheio de
corrosão. Este navio já viu dias muito melhores.

Aurora encontra minha mão enquanto nos movemos para uma baía maior,
cheia de pessoas. Eles são jovens e velhos — principalmente betraskanos,
embora eu veja chellerianos e humanos e alguns gremps entre eles. Eles estão
esfarrapados e em estado de choque, pele suja e corpos magros, observando
com olhos cansados enquanto seguimos Toshh. Já vi guerra o suficiente para
conhecer a aparência deles em um instante.

"Quem são todas essas pessoas?" Aurora sussurra.

"Refugiados", eu respondo.

Tosh assente. “Sobreviventes de uma frota de mineiros, escondidos em um


cinturão de gelo ao redor de um sol morto no setor Beta.”

Ela encolhe os ombros. “Os Weeds os encontraram de qualquer maneira. Nós


os puxamos para fora do fogo assim que o enxame

atingiu. Consegui evacuar dois dos navios no comboio antes que o resto fosse
levado.”

“Quantos navios havia no total?” Pergunta Aurora.

O gremp tagarela atrás de nós, pequenas presas à mostra.

"Sinto muito", responde Aurora. "Eu não des-"

"Trinta e sete", diz Toshh. “Nós salvamos dois dos trinta e sete.”

Chegamos a um elevador, as portas rangendo. Aurora observa uma garotinha


rikerita brincando com um bicho de pelúcia ao lado de uma pilha de caixotes.
Ela é imunda, terrivelmente magra, pequenos chifres brotando em uma testa
manchada de sangue velho.

“Be'shmai?” murmuro.

Aurora pisca, junta-se a nós no elevador, sua mão encontra a minha enquanto
as portas se fecham. Sentimos o movimento, o zumbido suave da mecânica
magnetizada, e em um momento estamos saindo para o espaço que vimos na
transmissão de Tyler – a ponte de

sua nave.

Tomo nota de reparos pontuais e simulacros, feixes de cabos e fiação saindo


de estações táticas - os sinais de desgaste também são aparentes aqui. Mas em
nenhum lugar mais do que no homem que nos espera na cadeira do
comandante. Ele se vira para nós, uma

máscara com cicatrizes de batalha, uma jornada de anos e sangue manchando


suas mãos e gravado em seu único olho bom.

“Tiller!” Aurora chora.

Ela corre para a frente, de repente, sem aviso. Toshh e Dacca gritam
alarmados. Eu vejo a mulher Syldrathi se levantando, puxando uma lâmina
nula de sua cintura.

Eu grito quando as armas são levantadas, dando um passo em direção ao


chefe Toshh, entre ela e meu be'shmai. Tyler se levanta de sua cadeira, a mão
deslizando para a arma em sua cintura, a mulher Syldrathi ruge: “SENHOR,
CUIDADO!” avançando em direção a

Aurora. Enquanto chuto a arma do gremp para o lado e arranco o rifle de


pulso das mãos de Toshh, ouço um grunhido suave de Aurora, um assobio de
Tyler. E ele fica ali, todo o seu corpo tenso enquanto Aurora joga os braços
ao redor dele e lhe dá um abraço esmagador.

Tyler está pendurado congelado, como um espelho quebrado, a mão ainda na


pistola. Sua tripulação está tensa e pronta, o Syldrathi posicionado, a lâmina
nula estalando com um brilho roxo áspero, o gremp e Rikerite prendendo a
respiração. Eu posso ver o amor por Tyler em seus olhos - o olhar de uma
equipe que morreria de bom grado por quem os lidera. Uma tripulação que
acredita.

“Eu senti tanto sua falta, Ty,” Aurora respira, apertando-o com força.
“Pensamos que você fosse...”

Nenhum de nós disse isso em voz alta então – não agüentamos. E a palavra
paira silenciosamente no ar agora, como se pudesse atrair sua própria espécie,
atrair a escuridão sobre o pequeno navio.

Morto.
Tyler fica parado por mais um momento. Seu olho piscando para mim. Mas,
finalmente, sua mão escorrega da pistola e, lentamente, ele levanta os braços.
Seu abraço não é ardente de calor, não é uma rendição completa; Ainda vejo
a tensão em seu corpo, o peso em seus ombros. Mas por um pequeno
momento, ele a abraça forte, permitindo-se um segundo de alegria em uma
galáxia que parece

desprovida dela. Alegria que seu amigo ainda vive.

"Eu senti sua falta também", ele sussurra.

14

KAL

"Essa é uma história incrível, Aurora."

Estamos sentados à luz bruxuleante da sala de prontidão do Vindicante, uma


multidão de olhos hostis apontados em nossa direção.

Aurora está sentada ao meu lado, com a mão apoiada no meu colo. A equipe
de comando de Tyler está reunida do outro lado da mesa.

O ar está crepitando de tensão, animosidade, desconfiança.

Tyler está sentado na cadeira do capitão, o manto de comando repousando


sobre seus ombros com a mesma facilidade de sempre.

Mas sinto um novo peso no meu amigo, além dos anos e das cicatrizes, um
peso que ele nunca carregava.

O Tyler que eu conhecia era um gênio tático, um garoto que conseguia pensar
em sair das curvas mais apertadas. Mas eu já vi o olhar em seus olhos antes –
nos rostos de guerreiros que vão enfrentar suas mortes. Tyler não é o rosto de
um comandante corajoso,

lutando pela vitória, mas sabendo que triunfará no final. O seu é o rosto de
um guerreiro que sabe que não pode vencer sua guerra.
O rosto de um homem que está esperando para morrer.

"Eu sei", diz Aurora. “Eu acharia difícil de acreditar a menos que eu estivesse
vivendo isso eu mesmo. Mas para nós, a Batalha da Terra aconteceu apenas
algumas horas atrás.”

"Sorte sua", alguém rosna. “A maioria de nós convive com seu fracasso há
vinte e sete anos, garoto.”

É o Betraskan quem fala - um veterano mal-humorado chamado Elin de Stoy,


que serve como segundo em comando de Tyler. O

monóculo cibernético sobre seu olho zumbe e se move enquanto ela segura
Aurora em seu olhar negro. Aurora fica surpresa com o jab, mas mantém a
calma, encontrando o olhar de Elin.

"Eu sinto Muito. Mas eu não tinha controle sobre o que...

— Essa é uma palavra que você usa muito, terráqueo — diz a timoneira
Syldrathi. “Espero que você perceba que desculpas não contam para nada.”

Seus olhos violeta brilham enquanto ela encara Aurora em desafio


desmascarado. O nome dela é Lae, ou assim Tyler a chama – um

apelido curioso para um dos meus. Mas suponho que estes são tempos
curiosos. Ela usa o glyf dos Waywalkers em sua testa, mas ela se arrepia com
hostilidade guerreira. Rachaduras profundas marcam a pele ao redor de seus
olhos, marcas de dor torcem os cantos de sua boca, mas por baixo de tudo, há
uma... familiaridade com ela que não consigo identificar. E o mais estranho
de tudo, agora que estamos fora da Dobra, vejo que o cabelo dela não é a
prata comum entre meu povo, mas uma liga desbotada de prata e ouro.

“Esperamos consertar o que foi quebrado”, digo a ela, encontrando o desafio


em seus olhos. “Achamos que podemos viajar de volta ao momento em que
partimos e desfazer o que foi feito. Mas primeiro, a arma deve ser
consertada.”

"E nós devemos confiar em você?" Lae zomba. “Filho do Matador de


Estrelas?”

“Pelo estado de sua nave, sua tripulação, o pouco que vimos da galáxia, que
escolha você tem?”

A sombra dele paira na sala de prontidão agora — a memória daqueles


mundos consumidos pelos Ra'haam. Aqueles navios

corrompidos saindo da Dobra, aqueles compartimentos de carga abaixo


cheios de refugiados. Aurora olha para Tyler, com os olhos magoados
enquanto fala.

“O que aconteceu aqui, Ty?”

Ele levanta um frasco de metal amassado, toma um gole, com os dentes


cerrados. Posso sentir o cheiro do licor de onde estou — forte, feito em casa.
Tyler limpa o lábio, coça o pedaço de couro que cobre o lugar onde seu olho
deveria estar.

“O que você acha que aconteceu, Auri? Nós temos nossas bundas chutadas.”

Ele respira fundo, toma outro gole. Posso sentir um peso no quarto, um
cheiro no ar. Olhando entre esses guerreiros, vendo a cor refletida em seus
olhos, o gosto de sal e ferrugem na minha língua.

Sangue.

Tanto sangue.

“Saedii e eu fomos capturados pelo GIA,” Tyler suspira. “Tirado do tabuleiro


para provocar Caersan. E como um idiota, o Starslayer mordeu a isca, deu
início a uma guerra entre os Unbroken e a aliança Terran-Betraskan. Depois
que a arma desapareceu durante a batalha, o Unbroken recuou da Terra, mas
não antes que baixas maciças fossem infligidas em ambos os lados. E então o
Ra'haam

desencadeou seu plano real.”

Tyler balança a cabeça, toma outro gole.


“Ele tinha agentes secretos em toda a galáxia até então. Usando as redes e
recursos do GIA, ele encenou uma série de ataques

terroristas contra vários governos galácticos – os chellerianos, os rikeritas, os


betraskans – enquadrando os ataques para parecer que foram perpetrados por
outras espécies. Semeando desconfiança. Fraturando as velhas alianças. O
Galactic Caucus convocou uma

reunião de emergência para esclarecer tudo. Cada cabeça planetária reunida


em um só lugar. Estúpido, realmente.”

Tyler suspira, olha pela janela para as estrelas lá fora.

“Um agente Ra'haam detonou uma bomba na reunião do Caucus.


Simultaneamente eliminou todos os diplomatas e chefes de

governança planetária da aliança. Efetivamente cortando a cabeça do Caucus.


Cada planeta culpou o outro, velhos rancores voltaram para casa. Tanto
esforço foi desperdiçado procurando o perpetrador e lutando contra pequenas
brigas que, quando eles descobriram o que realmente estava acontecendo, já
era tarde demais”.

"Floresça e exploda", sussurra Aurora.

“Os Ra'haam nasceram de seus mundos-sementes,” Tyler acena com a


cabeça. “Espalhe pelos portões naturais nesses sistemas e de

lá para a Dobra. Trilhões de esporos, infectando tudo o que encontravam.


Navio por navio. Planeta por planeta. Raça por raça.

Arrastando todos eles para a mente da colmeia.

"Lutamos. Claro que sim. Mas cada mundo que consumia tornava-o mais
forte. Cada soldado ou navio infectado mudou o rumo da batalha. Até que
seus números fossem grandes demais para lutar mais, e tudo que qualquer um
podia fazer era correr. Espalhando-se pelos cantos da galáxia, deitando-se
baixo, esperando que a mente da colmeia não os ouvisse, os sentisse, os
encontrasse. Mas isso sempre acontece.”
O horror disso toma conta de nós dois, e Aurora encontra minha mão,
apertando com força. "Mas... você ainda está lutando?"

"Restam alguns de nós", diz ele, apontando para sua equipe desorganizada.
“Uma coalizão, procurando sobreviventes, trazendo-os de volta ao pequeno
santuário que podemos oferecer. Mas é só uma questão de tempo.”

Tyler balança a cabeça, encontra os olhos de Aurora novamente.

“Até que tenha tudo.”

“Como é que você fica à frente do inimigo?” Eu pergunto. "O FoldGate que
você abriu para nos trazer aqui... Eu não vi essa tecnologia antes."

“Chamamos isso de rift drive”, diz Tyler. “É um amálgama de tecnologia


Betraskan e Terran, usando a energia psíquica Syldrathi para manipular o
espaço-tempo. Eu realmente não entendo, mas nós mesmos descobrimos
algumas das propriedades incomuns do cristal

Eshvaren.” Ele acena para a mulher Syldrathi de cabelos dourados, ainda


olhando para Aurora, aquelas rachaduras em sua pele

escurecendo enquanto ela faz uma careta. “Cada uma de nossas naves tem um
Waywalker a bordo e um pedaço de cristal retirado de sondas Eshvaren
recuperadas. Os Waywalkers usam as sondas para abrir os portões, vamos
atravessar a Dobra. Mas tem um preço

cada vez que eles fazem isso. E não temos muitos Waywalkers restantes.”

“O que aconteceu com os outros?” Aurora pergunta baixinho.

Tyler franze a testa. “Os outros Waywalkers? Eles...

— Não, quero dizer os outros — ela insiste. "Scarlett. Fin. Zila. São eles …
?"

O humor de Tyler cai ainda mais, o raspar de cascalho molhado em seu tom
enquanto ele responde. “Eles morreram na Batalha da
Terra, Auri.”

"E... Saedii?" Eu pergunto.

Tyler olha para mim então. Arrastando a mão pelos cabelos grisalhos, ele
bebe profundamente de sua garrafa novamente.

“Nós escapamos do GIA juntos. Na verdade, eu me juntei a ela e sua antiga


tripulação para lutar contra os Ra'haam.” Ele sorri, mas por trás disso, posso
ver a dor de uma velha cicatriz. “Lutamos como cães e gatos, mas nos saímos
bem por alguns anos lá. Ela era uma mulher infernal, sua irmã.

A outra mulher Syldrathi está me encarando agora, olhos como facas.

"Onde ela está?" Eu me ouço perguntar.

“Saedii se matou, Kal.”

"Não", eu sussurro. “Ela nunca...”

“Ela estava em uma corrida de resgate.” Tyler suspira. “Tentando recuperar


uma frota de refugiados perto de Orion. Eles foram atingidos pelos Ra'haam.
Seus motores estavam desativados, sua nave estava morta no escuro. Ela e
sua tripulação foram cercados. Ela

detonou seu núcleo ao invés de ser consumida no coletivo.”

Murmuro uma oração ao Vazio, pressiono meus dedos nos olhos, nos lábios,
no coração dolorido. Aurora aperta minha mão, seus

olhos embaçando quando ela vê minha dor. Nós não éramos próximos no
final, minha irmã mais velha e eu. Mas Saedii e eu uma vez nos amamos
ferozmente, como só irmãos forjados na mesma fornalha podem.

Tyler engole o resto de seu frasco enquanto o Syldrathi me encara com raiva.

“Ela morreu com honra,” Lae cospe. “Ao contrário do resto de sua família.”

Seu tom muda para uma violência amarga quando ela vira aqueles olhos
violeta rachados para o ar ao lado da minha cabeça.

"Você me ouviu, cho'taa?" ela cospe. "Eu entendo você! Esgueirando-se no


escuro como um ladrão! Mostre-se, eu não destii! Ko'vash dei saam te
naeli'dai!” Ela se levanta, cuspindo fúria enquanto levanta sua lâmina nula.
“Aam sai toviir'netesh! Vaes santiir para sai'da baleinai!”

Estou de pé, entre Aurora e aquela lâmina psíquica crepitante. O ar ao meu


lado brilha, muda, um brilho vermelho-sangue deslizando sobre a luz do
quarto. Aurora se levanta, seu olho brilhando fracamente enquanto a figura de
meu pai se materializa na sala. Alto, moreno, dez tranças caídas sobre a ruína
de seu rosto enquanto ele abaixa o queixo e faz uma careta.

A arma de Tyler está fora em um piscar de olhos, outros membros da


tripulação também puxando seus braços. Eles abrem fogo,

mesmo quando eu grito de advertência, o flash e a explosão de disruptores e


blasters enchendo a sala. Mas a imagem de meu pai

apenas brilha, como água com pedras sendo jogadas nela, e percebo que isso
é apenas uma projeção da consciência — lançada do

Neridaa para escutar nossa conversa.

"Covarde!" Lae cospe. “De'saiie na vaelto'na!”

Meu pai inclina a cabeça, olhando para o Waywalker furioso.

“Me chama de sem vergonha?” ele diz. “Me chame de cur? Eu, que andei
pelas estrelas antes de você nascer? Eu, que rasguei sóis do céu e venci
batalhas incontáveis? Você não é digno de se chamar Syldrathi, filhote.”

"Isto é culpa sua!" ela ruge. "TUDO ISSO!"

Ele olha carrancudo para a mulher, um brilho fraco piscando em sua íris. Mas
vejo seu desprezo e raiva se romperem por um momento, uma pequena
sombra em seu coração.

"Saedii... é..."
Tyler se levanta, os lábios descascando de seus dentes enquanto ele levanta
seu disruptor. “Saia do meu navio, filho da puta.”

"Pai", eu digo suavemente. “Você deveria ir embora.”

Seu olhar muda para mim, depois de volta para Lae, e finalmente retorna para
Tyler. A insinuação de tristeza que senti nele é engolida inteira, um olhar de
desprezo caindo no frasco de metal vazio na mão do meu velho amigo.

“Não é de admirar que você falhe. Com um capitão tão inútil como este.”

“Se eu sou tão inútil, Caçadora de Estrelas, como é que...”

Mas ele se foi, desapareceu com uma ondulação silenciosa, retirando-se de


volta ao seu trono a bordo do Neridaa. Lae olha para Tyler, saliva nos lábios
enquanto sussurra: “Devemos ir até aquela embarcação e acabar com ele,
comandante.”

"Ele destruiria todos vocês", eu respondo.

"Tão com medo dele, você está?" Lae zomba.

"Tão assustada quanto odiada", eu respondo com tristeza, encontrando seus


olhos estreitos. “E se você tivesse sabedoria, você

também seria.”

“Cabe aos da linhagem de Caersan acabar com sua desonra. Ele é seu pai.
Você já deveria tê-lo matado para restaurar o nome de sua família.

A dor da perda de Saedii se aprofunda então. A morte de minha mãe


ressoando nos corredores da minha memória ao lado dela,

afiando minha língua quando encontro os olhos de Lae.

“Família é... complicada,” eu rosno. “Não ouse pregar para mim sobre o meu.
Você não tem ideia do que é fazer parte disso.”

"Por que diabos você está trabalhando com aquele bastardo, Aurora?" Tyler
pergunta, sua voz suave com admiração e ódio.

"Precisamos dele, Ty", ela responde. “Ainda não estou acostumado a


empunhar a Arma. Ele teve quase uma década para aprender a usá-lo e
conhece a nota a ser tocada no Neridaa para nos trazer de volta ao nosso
próprio tempo.”

"Como isso é possível?" Chefe Toshh pergunta. Ao lado dela, Dacca tagarela
e acena com a cabeça, os bigodes se contorcendo.

"Eu não sei", responde Aurora. “Mas eu acredito nele. Se pudermos voltar lá,
podemos desfazer tudo isso! Podemos destruir o Ra'haam antes que ele
ecloda!”

"Então, por que diabos você ainda está aqui?" Tyler exige. “Se você puder...”

“A arma está danificada, irmão. Precisa de reparos.”

O segundo em comando de Tyler me fixa com olhos negros e brilhantes.


“Como você vai lidar com isso?”

"Não sei." Eu esfrego meu queixo. “Você tem uma base? Em algum lugar...”

Dacca tagarela, rabo chicoteando enquanto ela me observa com olhos


dourados e semicerrados.

“Sim, nós temos uma base, Pixieboy,” Toshh rosna. “Mas o Criador
amaldiçoa a todos nós se estamos dando sua localização ao

Starslayer.”

“Mesmo se tivéssemos”, continua o Betraskan, “não temos tecnologia capaz


de trabalhar em um dispositivo como esse. Não há muitos portos estelares
especializados em superarmas de cristal Eshvaren flutuando por aí.”

"Há um, no entanto...", murmura Aurora, pensativa.

Eu olho para ela em questão, sobrancelha franzida.


“O mundo natal Eshvaren,” ela diz, encontrando meus olhos. "Lembrar?
Estava escondido dentro daquela anomalia do Fold. Talvez ainda esteja lá.”

Eu aceno lentamente. “Se há um lugar onde podemos reparar o dano, seria


onde os Antigos criaram a Arma em primeiro lugar.”

"Onde estava essa... anomalia?" Tyler pergunta.

"No setor Theta", eu respondo. “Nós visitamos lá com Scarlett e Finian e Zila
depois que você foi capturado pelo GIA.”

"Você está sonhando, Pixieboy", diz de Stoy. “O setor Theta está


completamente invadido por ervas daninhas. Eles são mais grossos do que
sketi em uma flor de martuush lá.”

“Se nos movermos rapidamente—”

“O poder do Ra'haam é aumentado dentro da Dobra,” Toshh diz. “Ele sente


as ondulações psíquicas de qualquer coisa viva que entra e envia frotas atrás
dele até que seja consumido.”

"Deve haver uma maneira, Tyler", diz Aurora.

“Atravessar o setor Theta é um plano ruim”, ele responde.

“Talvez para pessoas que não têm o melhor estrategista Aurora Academy já
produzido ao seu lado.” Aurora sorri. “Tyler Jones não faz planos ruins,
lembra? Apenas menos incríveis.”

Mas Tyler não retribui o sorriso, sua voz sombria, sua testa escura.

“Isso foi há muito tempo, Auri.”

"Precisamos de sua ajuda, irmão", digo a ele. "Por favor."

Tyler brinca com um anel de prata no dedo, mandíbula firme, raiva e traição
ainda borbulhando sob sua superfície. O rikerita olha Aurora com olhos
velhos, murmurando: “Talvez devêssemos resolver isso pelo conselho,
comandante.”
Lae faz uma careta para isso, retrucando: — Por que nos importamos? Por
que nos importamos com o que qualquer um deles diz ou

faz? Não podemos ajudar o Starslayer, nem seu filho, nem a tola que se liga a
ele. Devemos matá-lo para vingar nossa perda...”

“Já chega, Lae,” Tyler diz.

"Não!" Ela grita. “Comandante, o sangue de bilhões está em suas mãos! A


honra exige sua morte! Nós não podemos possivelmente—”

“Eu disse que é o SUFICIENTE, tenente!” Tyler ruge.

Os dois se encaram, olhos nos olhos, a vontade de Tyler crepitando contra a


de Lae. Eu posso sentir a raiva nela, a fúria. Mas, finalmente, ela abaixa o
olhar.

"Sim, senhor", ela murmura.

“Em que condição está o rift drive?” ele exige.

“… O cristal está mostrando degradação contínua,” ela responde suavemente.


“Mas é estável o suficiente por enquanto.”

"Em quanto tempo você pode nos levar para casa?"

Seus olhos piscam para os dele novamente, incrédulos. Mas ela não o desafia
mais, em vez disso, o observa cuidadosamente com

aqueles olhos violeta rachados. "Eu preciso descansar. Uma hora, talvez duas.
E um salto tão longe com navios tão grandes... será caro. Senhor."

Eu vejo o olhar de Tyler suavizar. “Vai te machucar?”

“Sempre dói. Mas se você está pedindo...”

Ele olha entre Aurora e eu novamente, finalmente resolvendo seus


pensamentos.
“Eu não posso fazer esta ligação sozinho. Não com tudo na balança.
Precisamos voltar para a base.” Seu olhar cai em Aurora, seu olho bom duro
como aço. “Você pode defender seu caso no Conselho dos Povos Livres. Se
eles decidirem que nós o ajudamos, então nós

ajudamos. Se não, você está sozinho.”

Aurora acena com a cabeça, dor em seus olhos. "Eu entendo. E se você
precisar de mim...” Ela olha para Lae, dando de ombros. "Com a unidade...
quero dizer, se você precisar de energia para nos mover, talvez eu possa
ajudar."

Lae olha para a Neridaa – aquela enorme nave movida aqui apenas pelo
poder da vontade de Aurora. Ela acena com a cabeça

brevemente. “Eu aceitarei sua ajuda.”

"Tudo bem", diz Tyler. “Dacca, Toshh, localizem esses refugiados. Elin,
quero que fiquemos no Alerta Dois caso apareçam mais Weeds.

Uma hora não é muito tempo para ficar em um lugar, mas assim que
pudermos, pulamos para casa.”

“Senhor, sim, senhor”, vem a resposta.

“Vamos nos mover como se tivéssemos um propósito.”

A tripulação se separa, indo para suas tarefas atribuídas. Com um sorriso


suave para mim, Aurora sai com Lae para inspecionar a unidade. Tyler e eu
ficamos sozinhos, olhando um para o outro do outro lado da mesa. Há muito
a ser dito entre nós, mas não tenho certeza se este é o lugar ou se ele ouviria.
Então, em vez disso, faço a pergunta queimando em minha mente.

“Onde fica o lar em uma galáxia como essa, irmão?”

Ele olha para a janela, aquele sol vermelho, aqueles mundos silenciosos.
Permito-me a menor esperança de que ele ainda não tenha me negado o uso
desse título. "Você já esteve lá antes, na verdade."
“… Academia Aurora?”

"Não", ele suspira. “Agentes Ra'haam o destruíram durante o ataque ao


Galactic Caucus. E a estação andava muito devagar, de qualquer É

maneira.” Ele olha para mim, um leve horror em seus olhos. “É... escuta, Kal.
É tão grande agora, pode ouvir tudo. Fure em um planeta, ele o encontrará
mais cedo ou mais tarde. Esconda-se dentro de uma frota, eventualmente ela
vai farejar você como aqueles pobres coitados lá embaixo.

Eu balanço minha cabeça. “Onde é seguro, então?”

Tyler dá de ombros levemente. “Se não há mundo que você possa chamar de
lar, nenhum navio que seja seguro para se esconder, bem, você apenas usa os
dois.”

Eu pisco, montando o quebra-cabeça na minha cabeça.

"Sempiternidade", eu sorrio.

15

SCARLETT

Minha orientadora me disse uma vez que as palavras “se ela ao menos se
aplicasse” apareceram mais nas minhas transcrições de

avaliação do que em qualquer cadete na história da Academia Aurora. E


tenho quase certeza de que não foi isso que ele quis dizer quando me disse:
“A prática leva à perfeição, Cadete Jones”. Mas eu morri trinta e sete vezes
até agora, e acontece que sou muito talentoso nisso.

Parece estranho, eu sei. Talvez até um pouco louco. Mas, por mais estranho e
mórbido que seja, estou começando a suspeitar que a maior razão pela qual as
pessoas têm medo de morrer é porque não sabem o que acontece depois.

Zila, Finian, Nari e eu sabemos o que acontece. Para nós, pelo menos. E de
alguma forma está ficando mais difícil ter medo quando você sabe o que está
por vir.

Luz negra.

Ruído branco.

Um momento de vertigem.

E então estou de pé na frente de Finian novamente, de volta a bordo de nosso


ônibus espacial, com o caça da tenente Nari Kim

esperando do lado de fora no escuro.

O medo não desapareceu imediatamente. E no começo, a estranheza de tudo


isso era tão pesada que eu me perguntei por um tempo

se eu não preferiria ficar morto. Havia algo de errado nisso. Antinatural, até.
Mas, como eu disse, sempre fui uma garota do tipo copo meio cheio. E uma
vez que o medo desaparece, eu tenho que te dizer... essa coisa de
imortalidade é quase incrível.

Então aqui estamos, em mais uma tentativa de acesso ao consultório do Dr.


Pinkerton. Tente #37, para ser mais preciso, descobrir o segredo do que
diabos está acontecendo dentro desta instalação. Deixe-me levá-lo através de
tudo bem rápido.

Primeiro, descobrimos que temos que acessar os níveis administrativos pelos


poços dos elevadores, não pelas escadas de

emergência, como o tenente Kim nos disse pela primeira vez. A escadaria A
leva à parte não blindada da estrutura, e já vimos o que acontece quando
aquele pulso quântico atinge a estação e estamos todos ali parados lindos.

ZAAAAPPPP.

Você pode estar se perguntando por que não esperamos até o pulso bater e
subimos depois. Excelente pergunta. Infelizmente, já
tentamos isso e descobrimos que, quando demoramos demais no nível
inferior, a segurança nos encontrou, não uma vez, nem duas,

mas três vezes seguidas.

CULPA.

CULPA.

CULPA.

Acontece que mesmo com os danos à estação, alguns dos feeds da câmera
ainda estão operacionais. Quem teria imaginado que os

SecBoys em uma instalação militar secreta de operações secretas levariam a


presença de sabotadores tão a sério? Achei que levar um soco no ta-tas doía.
Deixe-me assegurar-lhe que levar um tiro neles é muito pior.

BLAMBLAM.

Decidimos tentar a sorte com Stairwell B em seguida, e em nossa viagem


inaugural, uma estranheza inteiramente nova foi adicionada à mistura. Veja
bem, no caminho para nos encontrar, a boa tenente Kim decidiu tomar um
caminho diferente para economizar alguns

minutos de sua viagem. Ela entrou no Corredor 16B, Nível 6, no exato


momento em que uma antepara falhou e exalou a atmosfera do corredor para
o espaço.

HISSSSSHHHHHH.

THUMP.

E embora Zila, Fin e eu ainda estivéssemos rastejando pelo depósito de lixo


na hora, de repente – luz negra, ruído branco, vertigem –

estou de volta a bordo de nossa nave, olhando nos olhos grandes e bonitos de
Fin novamente.
Essa foi a confirmação final da minha teoria. De alguma forma, nós quatro
estamos presos nessa coisa juntos. Não importa como, não importa quem —
se um de nós for retirado do circuito, tudo é reiniciado.

Novamente.

E de novo.

Goste ou não, estamos todos juntos nisso.

Então, em seguida, nos ocupamos com Stairwell B. Fizemos três tentativas,


mas mesmo nos movendo o mais rápido que podíamos, só chegamos na
metade do caminho antes que o sistema de suporte à vida decidisse jogar
beijos com um curto-circuito em algum lugar da superestrutura, e toda a
escada pegou fogo.

FWOOOOOSH.

YARRRGG.

Então. Eixos de elevador é. Boas notícias, os danos na estação destruíram as


câmeras de segurança aqui. Más notícias, também

enfraqueceu o cabo e desativou os sistemas de segurança. Nós descobrimos


isso na primeira vez que rastejamos para o Poço A, e um elevador cheio de
engenheiros foi mandado para os níveis centrais no exato momento em que
estávamos tentando subir.

TWANGGG.

SQUISH.

Por sorte, o Poço B não sofre tais deficiências e, após outra tentativa, na qual
Finian descobriu que a integridade estrutural do degrau 372 da escada de
acesso havia sido comprometida (SNAP, “OH
FFFFFUUUUUAAAAAAGGGGG”), conseguimos chegar à seção hab,

onde o Dr. O escritório de Pinkerton pode ser encontrado.


Mas não comecem a comemorar ainda, pessoal.

As portas do elevador aqui em cima estão seladas como precaução contra


violações de atmosfera, e leva três minutos e quarenta e nove segundos para o
maçarico de Fin cortar as fechaduras.

Infelizmente, abrir as portas dispara um alarme silencioso. Descobrimos isso


da maneira mais difícil exatamente um minuto e vinte e três segundos após
nossa primeira tentativa bem-sucedida, enquanto abríamos caminho para o
escritório de Pinkerton.

"CONGELAR!"

“Por favor, não atire! Meu nome é Scarlett Isobel Jones, eu sou...

BLAMBLAMBLAM.

A má notícia é que não há como contornar esse alarme. No momento em que


abrirmos essas portas, marcaremos um encontro com os

seguranças.

A boa notícia é que, depois de algum teste

“FREEZE!”

“Bafo de criador, vocês não têm nada, merdinhas, b—”

BLAMBLAMBLAM.

e erro

“CONGELAR!”

“Por que vocês idiotas dizem congelar quando vocês vão—”

BLAMBLAMBLAM.

descobrimos uma maneira de entrar no escritório de Pinkerton sem ter que


perder um monte de tempo extra cortando sua porta.

É mais ou menos assim:

Legionnaire de Seel e eu subimos pelo Poço B (evitando cuidadosamente o


degrau 372 à medida que avançamos). Enquanto estou

pendurado na escada abaixo dele, observando a forma como as faíscas


refletem em seus olhos, Finian atravessa as portas que levam ao nível
administrativo. Enquanto isso, Zila e o tenente Kim dirigem-se ao necrotério
da estação, onde reside o corpo do recém-falecido Dr. Pinkerton.

Após quatro tentativas

BLAM.

BRAPPPP.

"CONGELAR!"

STABSTABSTAB.

as senhoras não encontraram uma maneira de evitar a segurança da estação e


conseguir o que vieram buscar: a chave eletrônica em volta do pescoço do
cadáver de Pinkerton. Mas como eu disse, eu tenho um bom pressentimento
desta vez.

Então cruze os dedos, crianças.

Faíscas estão caindo do metal, o silvo fraco da tocha de corte de Fin quase
inaudível sobre os alarmes, a buzina de alerta ocasional. Eu me penduro no
degrau abaixo dele, observo-o trabalhar: seus lábios apertados, uma linha
escura de concentração entre as

sobrancelhas.

"Posso ajudar?"

Ele sorri. “Você me perguntou isso nas últimas três vezes. Estou bem, Scar.
“Como você acha que Z e Kim estão indo?”

“Bem, ainda não desaparecemos em uma explosão de paradoxo temporal.”


Ele enxuga a testa na manga. “Então, melhor do que da

última vez.”

A estação vibra fracamente e outro alarme soa. Eu me sinto meio inútil só


esperando aqui, e eu não gosto disso.

“Tem certeza que não posso fazer nada?”

Fin sorri. “Estou com sede?”

Um braço enganchado nos degraus da escada, eu balanço a mochila que ele


trouxe do meu ombro. Alcançando dentro, eu pesco entre nossos óculos
inúteis para a cantina. Mas em vez disso, meus dedos roçam em algo macio.
Peludo. Puxando o objeto para a luz, sinto uma onda quente na minha pele
quando percebo o que estou segurando, um sorriso curvando meus lábios.

"Você salvou Shamrock?"

Fin olha para o dragão de pelúcia na minha mão e dá de ombros. “Achei que
precisamos de todos os aliados que conseguirmos.”

Eu pressiono Shamrock em meus lábios, respirando fundo e olhando para o


garoto acima de mim. Criador, ele é doce. De todas as

coisas que ele poderia ter trazido conosco, ele salva a única parte de Cat que
nos resta. Ainda posso sentir o cheiro dela no pelo do dragão enquanto inalo,
o cheiro de seu perfume e o amaciante de roupas que ela usou. Por um
momento, isso me atinge, e eu tenho que fechar meus olhos contra isso - o
conhecimento de quão longe estamos de casa, o quanto perdemos no caminho
até aqui e como podemos nunca encontrar o caminho de volta.

"Você está bem?"

Eu olho para cima e vejo Fin olhando para mim, preocupação em seus olhos.
Sei que não deveria incomodá-lo — ele tem trabalho a fazer e quem sabe o
que está em jogo. Mas, de repente, me sinto tão pequena que não consigo me
sentir.

— Você acha que vai ficar tudo bem, Fin?

Ele franze a testa ligeiramente. “Você quer dizer...”

“Quero dizer tudo isso. Auri, Tyler, isso, nós. Eu balanço minha cabeça,
odiando as lágrimas que sinto em meus olhos. “Eu nunca levei nada disso a
sério, Fin. Passei todo o meu tempo na academia brincando. E agora estamos
mergulhados nessa porcaria e me sinto

totalmente inútil. Tudo o que sei fazer é falar, e não há espaço para isso aqui.
Talvez se eu tivesse prestado atenção, se eu...

— Ei. Ele desliga a lanterna e, com um pouco de esforço, desce a escada para
ficarmos olho no olho. “Ei, nada disso. Você não é inútil.”

Eu reviro os olhos. “Agradeço o voto de confiança, Legionário de Seel. Mas


a física teórica não é exatamente o meu forte.”

"Talvez não." Ele dá de ombros, seu exo assobiando. “Mas desde que Tyler
foi pego pelo GIA, não tenho certeza se você percebeu, mas a pessoa que
mantém todo o nosso esquadrão unido é você. Precisamos de você, Scar.

Ele estende a mão e limpa uma lágrima com um dedo prateado.

"Eu preciso de você."

Eu balancei minha cabeça maravilhada. "Como você esteve na frente dos


meus olhos esse tempo todo, e eu só estou vendo você agora?"

Ele sorri, dando de ombros. "Estou apenas feliz que você faz."

"Eu faço", eu sussurro.

E eu me aproximo, e sinto seu braço deslizar em volta da minha cintura, e um


leve choque quando nossos lábios se encontram,
eletricidade e borboletas surgindo dentro de mim enquanto a estação balança
ao nosso redor e ele se pressiona contra mim e a voz de Zila ressoa sobre o
choro. alarmes.

“Vocês dois estão gastando preciosos minutos no meio de um paradoxo


temporal até então inédito, engajados em frívolas atividades pré-sexuais?”

Nós olhamos para baixo, vemos Zila subindo rapidamente com a tenente Kim
logo atrás dela.

“Você é um romântico sem esperança, Z,” eu chamo.

“Não temos tempo a perder com trivialidades, podemos...”

“Relaxe, Legionário Madran,” Fin diz, me dando uma piscadela e


escorregando dos meus braços. "Quando você estiver aqui em cima, eu terei
terminado."

"Vocês senhoras têm a chave mestra?" Eu grito.

“Tivemos sucesso”, responde Zila. “Graças ao raciocínio rápido de Nari.”

“Nari?” Fin murmura. "Ela e Dirtgirl estão na base do primeiro nome agora?"

"Comporte-se", eu murmuro.

“E se eu não quiser?” ele pergunta, piscando novamente.

A fechadura estala, Fin apaga seu cortador, e com um gemido trabalhoso de


seu exosuit, nosso Gearhead abre as portas do elevador assim que Zila e Kim
nos alcançam. Como sempre, o alarme silencioso soará em algum lugar assim
que pisarmos no corredor, mas

ainda temos um pouco de tempo antes que os SecBoys nos interceptem.

O mais rápido que podemos, corremos pelos corredores cheios de fumaça,


chegando ao escritório de Pinkerton. Zila passa a chave do morto no leitor,
alguns segundos agonizantes passam antes que a fechadura mude para verde
e nós nos apressamos para dentro ao
som de sirenes.

O escritório é luxuoso - bem, tão luxuoso quanto você vai conseguir em uma
estação espacial, pelo menos. Há dezenas de vitrines ao redor da sala, mal
iluminadas pela iluminação de emergência. Um monte de objetos estranhos
flutuam lá dentro, suspensos em

almofadas de gravidade zero. Isso me lembra um pouco o escritório de


Casseldon Bianchi na Sempiternity.

Parece que Pinkerton era algum tipo de colecionador.

Eu olho para um dos artefatos girando lentamente em um fino feixe de luz. É


plana, retangular, sua superfície velha e rachada. Pode ter sido escrito nele,
mas está desgastado com o tempo. E tem... papel dentro?

"O que é isso?" Fin pergunta, espiando pelo vidro.

"Nenhuma pista", murmuro.

"Você está brincando?"

Nós olhamos para trás, encontramos Nari olhando para nós como se fôssemos
simples.

“Quase sempre,” Fin dá de ombros. “Mas, neste caso, eu honestamente não


tenho ideia do que é isso.”

“Eles não têm livros no futuro?”

“É assim que os livros costumavam se parecer?” Eu pergunto, confuso.

"Cem anos atrás", Nari acena com a cabeça. “Dr. Pinkerton coleciona
antiguidades. No primeiro dia em que fui destacado para a delegacia, ele me
deu uma palestra sobre como preservar os tesouros do passado.” Ela encolhe
os ombros. “Então ele nunca mais

falou comigo.”
"Isto é um livro?" Fin pisca. “Está envolto em pele de animal morto!”

“É assim que costumávamos fazer.”

Fin levanta uma sobrancelha para mim. "Vocês crianças sujas, eu juro..."

Eu sorrio, olhando mais ao redor da sala. Eu posso ver holopics da família de


Pinkerton. Há uma fileira de cactos em vasos que devem ter sido alinhados
contra a janela de acrílico, mas os impactos na estação os derrubaram por
toda parte, e eles estão quebrados no chão.

— Quem coloca plantas pontiagudas em algum lugar que pode... Não


importa, não tente explicar — resmunga Fin, circunavegando-as
cuidadosamente.

Uma longa mesa de vidro está encostada em uma parede, a tela brilhante de
um dataport pessoal iluminando a escuridão.

Zila já deslizou na cadeira, passou a senha no terminal e começou a digitar.


Diga o que quiser para os avanços tecnológicos da humanidade nos últimos
dois séculos, além de ser muito mais lento, o computador parece funcionar
basicamente da mesma forma.

Zila logo está percorrendo os menus, as mãos acenando diante dos sensores,
varrendo as telas holográficas de lado em sua busca por informações. A
tenente Kim está atrás dela, olhando por cima do ombro. Fin está lá também,
murmurando conselhos.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Rompimento de casco nos Decks 13 a


17.”

Eu estou perto da janela, olhando para o caos além.

O espaço é incrivelmente grande. Mesmo o bolso subespacial da Dobra é


simplesmente muito grande para o cérebro humano se

envolver. Mas essa tempestade de matéria escura lá fora é colossal o


suficiente para ser aterrorizante. Enquanto olho para a
tempestade pulsante, o mesmo sentimento retorna - a impressão de que sou
pequena, insignificante, muito profunda e totalmente

acima da minha cabeça. Eu penso em Tyler. Eu penso em Auri. Eu até penso


em Kal. Querendo saber onde eles estão. Esperando que eles estejam bem.

Eu me afasto disso, muito grande, muito. Vagando pela pequena coleção do


Dr. Pinkerton enquanto Zila e Fin continuam procurando.

Há algo de reconfortante nisso – relíquias de uma Terra passada que


sobreviveram à idade em que nasceram. De certa forma, esses objetos são
viajantes do tempo como nós.

Passo por um velho pedaço de plástico quadrado, com um teclado numérico


circular e um fone estranho. Há o que pode ser algum tipo de pistola, sua
superfície cheia de pequenos pontos de corrosão. E em um caso contra a
janela...

"Puta merda", eu sussurro, olhando para a estação de trabalho. “Fina?”

— Pronto — murmura Fin para Zila. “Experimente esse.”

"Eu vejo isso", ela balança a cabeça.

“Fina!”

Ele olha para cima quando eu chamo. "Huh?"

“Venha ver isso.”

Ele franze a testa um pouco, mas deixa Zila e Nari sozinhos, saindo de trás do
console e se aproximando de mim. "E aí?"

Coração batendo descontroladamente, eu aponto para o objeto dentro da


caixa, girando suavemente em seu raio de gravidade zero.

Uma caixa fina, prateada e retangular. Perfeitamente mundano.


Impossivelmente familiar.
"Isso não é...?"

Seus grandes olhos negros se arregalam, aqueles lindos lábios se abrem em


espanto.

"Bafo do Criador...", ele sussurra, olhando para mim. “Essa é a caixa de


cigarrilhas que Stoy e Adams deixaram para Kal no cofre do Dominion!”

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Toda a equipe de engenharia se reporta à


Seção Gamma, Deck 12, imediatamente.”

“Scarlett,” Zila chama. “Finian, acho que você deveria dar uma olhada
nisso...”

“Zila, você não vai...”

“Isso é importante, Finian.”

Trocamos um olhar, e eu não consigo recuperar o fôlego enquanto corremos


para Nari e Zila. A dupla ainda está amontoada ao redor do terminal, e nas
telas holográficas suspensas no ar na frente de Zila, posso ver fluxos de
dados, brilhando no escuro.

A maior parte é totalmente incompreensível para alguém que passou suas


aulas de física desejando estar em qualquer outro lugar além de uma aula de
física, mas posso ver que a pasta é intitulada “Projeto Sapato de Vidro”. E
ilustrado com uma luz brilhante acima de uma enxurrada de gráficos ilegíveis
está uma forma familiar. Um pedaço de pedra polida, em forma de lágrima,
lapidada como uma joia, mil facetas para a luz dançar.

Uma forma que reconheço.

"Isso é uma sonda", eu sussurro. "Isso é uma sonda Eshvaren!"

Zila se recosta na cadeira. "Interessante."

"É um o que agora?" O tenente Kim exige.

"É um dispositivo de exploração", diz Finian, olhos arregalados na tela


giratória. “Criado por uma raça alienígena chamada Eshvaren.

Eles lançaram milhares deles na Dobra, milênios atrás. Nossa amiga Aurora
usou um para desbloquear seu potencial psíquico latente para que ela pudesse
continuar a antiga guerra dos Eshvaren contra...”

Sua voz desaparece quando ele percebe que Nari está olhando para ele como
se ele fosse um lunático.

“É uma longa história, ok? A questão é que é tecnologia alienígena. Núcleo


duro.”

ESTRONDO.

A estação inteira estremece quando algo, em algum lugar, explode.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO. EVACUAR OS CONVÉS 5 A 6


IMEDIATAMENTE. REPETIÇÃO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO.”

"Eles devem ter descoberto um", eu respiro. “Aqui, neste momento.”

“Está danificado.” Zila aponta para a borda quebrada da ponta da lágrima.


“Aparentemente inerte. O Projeto Glass Slipper está tentando descobrir as
propriedades do cristal. Potencialmente, armazená-los. O fragmento principal
está trancado no núcleo da estação, sendo submetido a testes com energia
quântica colhida dentro da tempestade escura.” Ela franze a testa,
manipulando os controles

holográficos. “Mas há um fragmento muito menor, que...”

A parede zumbe.

Um painel de parede acima do computador desliza, revelando uma caixa de


vidro cilíndrica como as outras ao redor do escritório. Mas em vez de uma
antiguidade suspensa em uma fina coluna de gravidade zero, há... um
pequeno pedaço de cristal.

Na tempestade de matéria escura, esse pulso de energia quântica atinge a


vela, formando um arco ao longo do cabo em direção à
estação. Quarenta e quatro minutos desde que chegamos, como sempre. E
como sempre, o fragmento em volta do meu pescoço

começa a brilhar em resposta. Mas desta vez, esse brilho é espelhado no


pedaço de cristal flutuando dentro do gabinete. Como

gêmeos, sua intensidade cresce, cada um exatamente igual a...

“Puta merda...”, sussurro.

Minha mão vai até o medalhão em volta do meu pescoço. Um medalhão que,
assim como a caixa de cigarrilha de Kal, esperou dez

anos naquele cofre na Cidade das Esmeraldas. Colocado lá por pessoas que
pareciam saber o que aconteceria antes que realmente

acontecesse.

“Cicatriz...” Fin olha para a caixa de vidro. "Este é o seu cristal..."

"Quão … ?" A tenente Kim balança a cabeça, olhando entre o cristal no vidro
e o cristal em volta do meu pescoço. A forma é inconfundível. Idêntico.
"Como isso é possível? Se você é do ano 2380?”

“Não sei”, diz Zila. “Mas é isso. Esta é a causa do loop. Uma interação
através do tempo e espaço entre a Arma, esta estação, o pulso quântico, os
cristais Eshvaren. Tudo isso está entrelaçado. Ouroboros.”

O pulso atinge a estação.

A estrutura estremece, as luzes ao nosso redor piscam.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO CRÍTICA. EVACUAR OS


CONVÉS 2 A 10 IMEDIATAMENTE. REPETIR: VIOLAÇÃO DE
CONTENÇÃO

CRÍTICA.”

A tenente Kim e eu estamos nos encarando, a mesma descrença em nossos


olhos. Fin e Zila começam a vasculhar os dados, lendo o

mais rápido que podem. O brilho no medalhão está desaparecendo agora, a


pós-impressão queimada em branco no interior dos meus

olhos.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM CURSO, ENGAJAR


MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 11.”

A estação treme novamente. Mais difícil desta vez.

A porta do escritório se abre e meia dúzia de miras a laser iluminam a


escuridão bruxuleante.

"CONGELAR!"

Fin suspira. "Ah, pelo amor de ..."

"REPETIÇÃO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM CURSO, ENGAJAR


MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 11."

Eu levanto minhas mãos para os SecBoys. "Vejo você em breve."

BLAMBLAMBLAM.

16

ZILA

“Ah chakk, o que nos pegou?” Finian pergunta pelo comunicador.

“Eu tinha certeza que estávamos seguros daquela vez,” Scarlett concorda.

"Uma violação do núcleo", digo a eles, levantando-me do assento do meu


piloto. “O reator da estação sobrecarregou cinquenta e oito minutos depois
que o pulso quântico o atingiu, destruindo toda a estrutura. Parece que o dano
que a estação sofreu será crítico, não importa o que façamos.”
“Por que eles não pediram uma evacuação?” Finian pergunta.

“A chamada para abandonar a instalação foi feita apenas três minutos antes
da detonação. Dada a quantidade de dinheiro que o

governo terráqueo deve ter gasto neste projeto, acredito que o que resta do
comando da estação estava tentando desesperadamente salvar a situação.”

"E de alguma forma dormimos com tudo isso?" Scarlett pergunta.

“Você parecia muito cansado. Eu não queria acordá-lo.”

Tomamos a decisão de dedicar nosso último loop ao descanso. O efeito


cumulativo das repetidas reinicializações, os picos de

adrenalina dos quase acidentes e dos momentos antes de nossas mortes, e o


puro esforço contínuo de cálculo mental cansaram todos nós – e é claro,
estávamos cansados quando chegamos aqui.

Quando Scarlett percebeu que estávamos essencialmente em movimento por


mais de vinte e quatro horas, e nenhum de nós estava se sentindo revigorado,
ficou evidente que o sono era indicado.

Eu me ofereci para fazer o primeiro turno, e nos acomodamos com Nari – que
também completou mais de um dia de loops – logo

dentro do nosso ponto de entrada pelo sistema de ejeção de resíduos.


Estávamos lotados, mas estávamos mais seguros lá do que à deriva a bordo
de nosso navio danificado. Até que a estação se desfez dramaticamente ao
nosso redor, é claro.

Agora, de volta ao nosso ônibus espacial, encontro Fin e Scarlett no corredor


a caminho do cais de carga.

"Pelo olhar em seu rosto", diz Scarlett, "isso não é bom."

“Não tenho certeza”, respondo. “Mas se os três fragmentos de cristal – o seu,


o do Dr. Pinkerton e a sonda principal – são a causa do loop, e nosso caminho
para casa, e todos os três foram destruídos em uma explosão em grande
escala...”

“Então este loop sempre termina,” Finian franze a testa. “Não importa o que
façamos.”

Eu concordo. “Cinquenta e oito minutos após o pulso quântico.”

“Chakk,” Fin suspira. “Isso significa que mesmo se nos esquivarmos de todas
as maneiras que existem para morrer naquele lugar, só temos uma hora e três
quartos para cada volta, mais ou menos. Isso é muito menos do que eu
gostaria.”

"Estou inquieto", eu admito.

“E não descansado,” Scarlett aponta. — Você dormiu?

"Vou fazê-lo durante um loop futuro", eu respondo. “Tive a oportunidade de


pensar enquanto observava. Voltemos ao consultório do Dr.

Pinkerton.

“Ninguém pisa em um cacto desta vez”, acrescenta Fin.

•••••

Chegamos ao nosso destino cada vez mais rápido agora, mas estou cada vez
mais preocupado por ainda não sermos rápidos o

suficiente. Antes, eu achava que éramos eficientes em nossos esforços. Agora


estou ciente de que uma parte considerável do nosso tempo limitado está
sendo gasto em cada loop apenas para acessar o escritório de Pinkerton.

Mas devemos saber mais.

Nari e eu trabalhamos em perfeita harmonia enquanto recuperamos a senha


do Dr. Pinkerton de seu cadáver, e uma vez que estamos

dentro de seus aposentos, sou capaz de navegar rapidamente por um conjunto


de menus agora familiar. Não perdemos mais tempo surpresos com o
fragmento de cristal que é gêmeo do de Scarlett, ou com a pura
improbabilidade de nossa situação.

Finian e Scarlett estão ganhando mais tempo – distraindo a patrulha que


chega aos aposentos de Pinkerton, atirando em nós e

encerrando nosso ciclo.

A estação treme ao nosso redor.

“AVISO: ESCALAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM CURSO,


ENGAJAR MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 9.”

Nari observa enquanto eu coleto dados sobre os testes desastrosos que


estavam sendo executados no momento em que o loop foi

iniciado. Eu aprendi durante nossas escapadas recentes que ela é mais falante
do que eu esperava.

Eu não acho isso perturbador. Pelo contrário, é calmante. Meus olhos estão
arenosos e eu sei que a fadiga está retardando meus pensamentos. Eu me
ancoro em sua voz.

"Então", ela reflete. "Você é amigo de alienígenas, hein?"

Eu não olho para cima, falando baixinho. “Tecnicamente, todo mundo é um


estranho para alguém.”

“Você conhece muito mais raças do que os Betraskans?”

"Muitos", eu confirmo. Minha mente vai para Kal, tão distante no espaço e no
tempo. E então para Auri, inclinando-se sobre Magellan enquanto tentava
recuperar dois séculos de história, para aprender sobre os alienígenas que
tanto fascinam Nari.

Mas Auri se foi agora, e Magellan é uma coleção quebrada de circuitos na


bolsa de Finian. Deixei essa memória de lado.

"Você deve ter visto alguns lugares incríveis", continua Nari, sem perceber
meu lapso momentâneo de atenção. “Quero dizer, todos aqueles planetas
alienígenas. Você disse que há hipopótamos em um, certo? Não posso
acreditar que os hipopótamos me venceram

na exploração interplanetária.”

Não tenho certeza do porquê, mas me pego desejando remover a nota de


arrependimento de sua voz. “Este ainda é um momento

maravilhoso para se estar vivo. Há tanto para ser visto agora que em breve
será perdido.”

"Como o quê?"

"Aquele livro, por exemplo", eu respondo, apontando para a vitrine. “Que


coisa extraordinária para segurar na mão.”

"Eu acho?" Seu tom sugere que eu estou gostando dela, mas não é assim.

“Um livro captura uma história em suas páginas. Não como um espécime
fixado sem vida para exibição, mas vívido e vivo. Um mundo inteiro está
dentro da capa, uma vida esperando para ser vivida por cada novo leitor.”

“Você ainda tem histórias no futuro”, ela aponta. “Embora isso seja mais
poético do que eu esperava de você.”

É, talvez, mais poético do que eu esperava também. “Ainda temos histórias”,


concordo. “Mas eles vivem no éter. O livro naquela vitrine representa algo
que nunca saberemos. Algo... permanente.

“As histórias nunca morrem”, ela responde.

"Eles não. Mas em um livro, você sempre sabe onde encontrá-los novamente.
Eles têm uma casa”.

Há algo em meu tom, nessa última palavra, enquanto falo de algo que não é
meu desde que eu era criança.

Casa.
Ela ouve e se vira da porta para me olhar pensativa. Uma pergunta está
prestes a passar por seus lábios, então continuo.

"Você também viu muitos lugares que estão perdidos para nós", eu digo, me
inclinando para estudar a tela. “Por mais estranho que pareça, eu nunca estive
na Terra.”

“O que, nunca?”

"Nunca", eu respondo.

"Isso é... meio triste", ela sorri.

“REPETIR: ESCALAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM


CURSO, ENGAJAR MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 9.”

Eu a olho, notando a forma como a luz da tempestade lá fora destaca suas


feições. Pulsações pretas e malva, brilhando em seus olhos.

Eu deveria estar trabalhando mais rapidamente em uma solução para nosso


dilema.

Mas sou atraído mais uma vez pela ideia de... casa.

“Você vai me contar sobre um lugar da Terra que você visitou?” Eu


pergunto.

“Gyeongju,” ela diz imediatamente. “É uma cidade muito legal na Coréia


com todas essas proteções históricas colocadas pela TerraGov.

Tem esses túmulos escondidos dentro de suas colinas, muito bem preservados
– costumava ser a capital do reino que estava lá antes de ser chamado de
Coreia.”

Volto para o console, desvendando uma série de menus e estudando seu


conteúdo, empurrando com o pensamento confuso de fadiga.

"Eu não tinha pensado em você como um aficionado por história", eu admito.
"Eu não sou", ela admite. “É onde meu halmoni mora – minha avó. Então,
você sabe, minha família visita lá às vezes.”

Há algo mais fácil na maneira de Nari do que nos loops anteriores. Ela está de
frente para a porta mais uma vez enquanto vigia, mas posso ver seu perfil,
aquela energia escura iluminando sua pele.

Minha mente desobediente volta ao nosso último ciclo, depois que Nari e
Finian adormeceram e Scarlett se acomodou ao meu lado.

"Nari Kim está crescendo em mim", Scarlett admitiu suavemente.

“Finian sugeriria que você consiga um creme para esse tipo de coisa”, eu a
informei gravemente.

Ela riu. "Ela está crescendo em você também, Zila."

"Oh?"

O tom de Scarlett ficou astuto. "Ela... não é alta."

Lamento o dia em que falei com Scarlett Jones sobre meu gosto por
mulheres.

“Zila?”

A voz de Nari me lembra do presente.

O que estávamos discutindo?

Casa.

"Você tem uma família grande, tenente?"

“Ah, sim, enorme. Mas meu halmoni ainda gosta que todos nos apresentemos
toda semana. Juro que ela tem uma agenda, e se você

perder seu horário... Demorou muito, muito tempo para convencê-la de que
não posso ligar para casa depois de uma postagem de
black-ops.

“E você a visitou com frequência, em Gyeongju?”

“Todo ano, até eu me alistar. Agora é mais como a cada dois anos.” Nari
suspira. “É ótimo lá. Quer dizer, estou sempre dividindo um quarto com meia
dúzia de primos, porque estamos tentando enfiar tanta família no apartamento
dela. Mas sempre há muita comida –

ela faz o melhor ensopado de doenjang de Gyeongju, além de uma dúzia de


pratinhos ao lado, e isso é para uma refeição informal – e um dos meus
primos é guia turístico na ilha de Jeju. Eles têm essa fruta lá – cítricos
muuuuito chamados hallabongs. Estupidamente suculentos, eles acabam em
cima de você, mas têm um sabor incrível. Eu levei minha ex-namorada
comigo uma vez, e juro que a única razão pela qual ainda estamos em contato
é que ela quer que eu traga de volta uma caixa deles quando eu for visitar. De
qualquer forma...”

Ela para, talvez sabendo que ela falou longamente. Ou talvez — não sou
hábil em adivinhar essas coisas — tentando avaliar minha reação à menção
da ex-namorada?

“Eu não encontrei um hallabong antes. Mas eu gosto de frutas cítricas.”

“E o resto?” ela pergunta baixinho.

“O resto?”

"Família? Em algum lugar você esteve? Eu falei sobre mim, e você,


Futuregirl?”

“AVISO: RADIAÇÃO DETECTADA NO CONVÉS 13, TODOS OS


FUNCIONÁRIOS DO CONVÉS 13 PROCEDEM PARA
PROCEDIMENTOS

IMEDIATOS DE DESCONTAMINAÇÃO.”

“Só posso oferecer decepção, receio.” Mudo minha atenção para um novo
conjunto de entradas, intrigado com os métodos usados nas tentativas dos
cientistas de energizar o cristal. “Eu cresci sob cuidados do estado sem
membros da família. E não tirei férias.”

Ela pisca. "Qualquer que seja?"

Eu dou de ombros. “Foi mais proveitoso passar minha licença da academia


estudando.”

Nós dois ficamos em silêncio depois disso, e escolho dedicar a maior parte da
minha atenção aos resultados dos experimentos do ciclo de potência.

"Você estava... sempre sob os cuidados do estado?" ela pergunta


eventualmente, mais calma agora. Mais gentil. “Isso é comum, no futuro?
Quero dizer, você não precisa falar sobre isso. Se você não quiser.”

Eu hesito, o que não é característico. "Não é comum", eu digo depois de um


tempo. Estou prestes a continuar, para informá-la de que não quero falar da
experiência, quando olho para ela.

Nossos olhos se encontram.

"Talvez possamos falar sobre isso durante outro loop", eu digo em vez disso.

Ela sorri, e nesse momento há algo tão familiar sobre ela que minha atenção é
totalmente capturada.

Sinto minha mente tentando mudar de marcha, acionar as rotinas de busca


que me ajudarão a combiná-la com alguma memória ou

experiência que explique essa familiaridade. Mas não tenho tempo para
estudar seu sorriso, seus olhos. Eu limpo minha garganta, voltando para o
meu console.

"Você quer ouvir um pouco mais de história antiga enquanto trabalha?" ela
pergunta. "Ou estou distraindo você?"

"Ambos", eu percebo.

Enquanto ela continua falando, eu me deixo afundar em sua voz e nas linhas
de dados diante de mim. A menos que encontremos uma maneira de sair
desse ciclo, esta será a minha vida. Este será o meu dia.

De novo e de novo e de novo outra vez.

Esta será a minha casa.

“Eu acho que...”

O alto-falante me corta.

“AVISO: CASCATA DE CONTENÇÃO EM EFEITO. IMPLOSÃO DO


NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRÊS MINUTOS E CONTANDO.
TODAS AS

MÃOS VÃO PARA AS VAGAS DE EVACUAÇÃO IMEDIATAMENTE.


REPETIR: IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRÊS MINUTOS E
CONTANDO.”

E aí está.

O fim do laço.

Sempre teremos o próximo, suponho.

Eu olho para o cronômetro no meu pulso, então fico imóvel.

Sinto um pequeno sulco se formando em minha testa.

Nari inclina a cabeça. “Zila?”

Devo ter calculado mal antes. Eu disse a Finian e Scarlett que o núcleo estava
sobrecarregado cinquenta e oito minutos após o

relâmpago quântico. Normalmente eu estou certo. Mas foram apenas


cinquenta e um minutos...

Devo estar cansado. Eu não dormi quando os outros dormiram.


Não falo do meu erro.

Em vez disso, termino o trabalho que posso, comprometendo o máximo


possível de dados na memória. Nari me observa da janela, a

luz das estrelas brilhando em sua pele. E, finalmente, quando restam apenas
alguns momentos, eu me levanto, pronto para enfrentar o que está por vir.
“Vejo você em breve, Nari.”

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRINTA


SEGUNDOS. TODAS AS MÃOS EVACUAM IMEDIATAMENTE.
REPETIÇÃO:

IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRINTA SEGUNDOS.”

“Eu odeio essa parte”, ela admite.

Encontro seus olhos novamente e, sem saber por que meu instinto é confortá-
la, respondo: “Você não está sozinha”.

Ela dá um passo em minha direção.

Os olhos dela são muito bonitos.

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE. CINCO SEGUNDOS.


AVISO."

Ela não é alta.

“Zila, eu sei que este é um momento terrível, mas eu realmente acho que você
está—”

“AVISO.”

ESTRONDO.

17

TYLER
Há vantagens em ser um dos criminosos mais procurados da galáxia.

Toda a minha vida eu joguei pelas regras. Estudou muito, trabalhou muito,
nunca teve tempo para problemas. Mas virando a gola do meu casaco preto
comprido contra o frio, puxando o capuz para cima e entrando no bar, por
mais que eu odeie admitir, eu meio que gosto da sensação de ser um homem
procurado.

O lugar está totalmente lotado — pilotos de cargueiros e tripulações de longa


distância, gângsteres e traficantes de drogas/sim/pele, centenas de rostos, uma
dúzia de raças diferentes. No meio da multidão, a garota Betraskan atrás do
bar me dá um sorriso agradecido, e os vários bandidos, canalhas e vilões que
eu observei nos últimos dois dias acenam com a cabeça ou apenas embalam
suas

bebidas. Mas ninguém mexe comigo, mesmo em um lugar difícil como este.

Afinal, sou um terrorista galáctico. Um legionário da Aurora que se tornou


desonesto. Um assassino em massa, responsável pela morte de centenas de
Syldrathi a bordo da Estação Sagan, sem mencionar uma violação da
Interdição, um assalto, algumas explosões a

bordo da Cidade Esmeralda e várias outras acusações que o GIA fez contra
mim.

Esse não é o tipo de cara com quem você mexe de frente.

Eu me aproximo do bar, encharcado na batida forte do dub profundo, cercado


por holos brilhantes anunciando os últimos stimcasts, feeds de notícias de
batalhas distantes, o pulso crescente da guerra que está subindo pelas estrelas.
Ninguém parece particularmente preocupado com isso. A maioria deles nem
sabe que está acontecendo. A garota atrás do bar desliza um copo de semptar
sintético pelo plasteel polido para mim. Quando levanto o copo, vejo que o
porta-copos embaixo tem seu número de palmglass escrito nele.

Como eu disse, há vantagens em ser durão.

Estou na estação MaZ4-VII há trinta e duas horas. É um starport na


interseção de uma dúzia de rotas marítimas principais, orbitando um gigante
gasoso ao lado do FoldGate no sistema Stellanis. Os voos de longa distância
o usam como uma escala para as tripulações evitarem a psicose Fold, mas
também fica na fronteira do espaço Betraskan, Rigellian, Terran e Free. O
que significa que está tão ocupado quanto um chelleriano de uma mão em
uma competição de queda de braço.

Saedii and Co. me deixou aqui há quase dois dias, e ainda posso sentir seu
beijo de despedida em meus lábios. Ainda vejo o olhar em seus olhos quando
ela me entregou aquela faca e se recusou a dizer adeus, mesmo sabendo que
provavelmente nunca nos veríamos

novamente.

Vejo você nas estrelas, Tyler Jones.

Na melhor das hipóteses, ela une os Invencíveis, eu de alguma forma impedi


os Ra'haam de destruir a Academia Aurora, e ainda

estamos presos sem a Arma, todos morrem lutando contra os Ra'haam.

Muito mais provavelmente, acabamos em lados opostos de uma guerra


galáctica em constante evolução. Ou o mais provável de tudo, eu sou preso
por ser um traidor da Terra e da Legião, e executado.

Ser um dos criminosos mais procurados da galáxia não é só bebidas grátis e


números de óculos de meninas bonitas, veja. E a verdade é que estou ficando
sem tempo.

Examino a multidão, procurando meu contato, esfregando o disco de plástico


no bolso. Os créditos que Saedii me deu são suficientes para comprar
passagem para o sistema Aurora, mas ainda há uma cúpula de todo o Galactic
Caucus sendo realizado na academia em

três dias. O que estou dizendo é que chegar ao sistema não é o verdadeiro
drama. Chegar na estação é. A segurança vai ser mais assustadora do que
Scarlett sem o café da manhã.
Mas, como eu disse a Saedii, não posso simplesmente enviar um aviso
aleatório e esperar o melhor. Eu tenho que subir a bordo sem ser pego e
baleado para poder avisar Adams diretamente sobre a ameaça a ele.

A única maneira de lhe enviar algo que não será interceptado é pelo sistema
da academia, para o seu número privado. Qualquer outra coisa, há pelo
menos uma pessoa entre mim e ele, e provavelmente mais.

Só há uma maneira de me ver fazendo isso.

“Deveria ligar para ela, Earthboi.”

Olho para o assento ao meu lado, vejo um humanóide felino sentado onde
ninguém estava um momento atrás. Takka tem um furtivo,

eu vou dar isso a ele.

Ele olha para mim com olhos dourados semicerrados, bigodes se contraindo.
Ele está vestido da mesma forma que quando eu o

examinei ontem – um terno de ombros largos preto como sua pele, saltos em
seus sapatos volumosos. Eu nunca conheci um gremp

com síndrome do homem baixo antes, mas há uma primeira vez para tudo, eu
acho. Ele está mastigando um pedaço azul brilhante de Rush, seus dentes
descoloridos pela sacarina e stims.

"O que?" Eu pergunto.

Ele acena para o número na montanha-russa. "Girrrrrl", ele ronrona. “Ela é


bonita. Deve aproveitar a noite passada antes de morrer.

— Você conseguiu?

Ele zomba, rolando o Rush para frente e para trás em seus dentes irregulares
com uma língua rosa áspera. “Diga a você, Earthboi.

Takka pessoas que conhecem pessoas.”


"Qual é o problema?"

Ele abaixa a voz para níveis adequadamente conspiratórios, olha ao redor do


bar. “Cargueiro de gelo. Passando dois mil LY antes de Aurora FoldGate.”

“Dois mil anos-luz?” Eu franzir a testa. “De que adianta isso?”

"Mais perto do que agora", Takka encolhe os ombros. “Claro que com
motivação, o capitão pode se aproximar. Falando em...” Ele olha para o meu
casaco, esfrega os dedos. “Pagamento”.

“Você não é pago até que eu esteja a bordo.” Eu brilho. "E eu quero conhecer
esse seu capitão antes de assinar."

"Engraçado. Disse o mesmo sobre você. Takka esmaga o Rush entre os


dentes, tremendo. “Mas Takka não está levando Earthboi a lugar nenhum sem
pagamento.”

Com um suspiro, eu alcanço meu casaco para pegar o cartão de crédito,


pressiono meu polegar no sensor de identificação para

desbloquear os fundos. Takka o agarra com dedos em garra, mas eu seguro


firme, olhando em seus olhos. “Metade agora. Metade se eu me inscrever.”

Uma orelha se contrai. “Natureza realmente desconfiada, Earthboi.”

“Eu sou um mestre do crime, lembra?”

Takka zomba, bate sua bengala na minha para a transferência e desliza da


cadeira. Eu o sigo pela multidão, pelos corredores da estação, puxando meu
capuz para baixo em volta do meu rosto. É o ciclo do sono no relógio da
estação, então a iluminação está fraca, mas o metrô em que viajamos ainda
está lotado, Takka obviamente descontente com sua visão de virilha enquanto
estamos presos

como pacotes de ração.

Nós desembarcamos em uma seção tranquila das docas, saindo com um


grupo de caminhões de longa distância. Está mais quieto
aqui embaixo, Takka me guiando pelas baias de desembarque, conversando
sobre uma dica que ele recebeu na próxima luta do GMA,

pagamento fácil, blá blá. Mas meus olhos estão nas sombras ao meu redor,
batimentos cardíacos mais rápidos enquanto eu seguro a pistola de pulso
Syldrathi no bolso do casaco.

De repente estou ciente de quão longe de casa estou.

As coisas vão mal aqui, vão mal o tempo todo.

“Qual é o navio?” Eu pergunto.

"Aqui em cima", o gremp acena. “Baía D.”

Uma longa janela transparente de plasteel dá para os navios atracados abaixo,


todos os modelos e marcas. Mas há uma pequena

montanha de carga entre nós e Bay D. Olhando em volta, percebo que mesmo
tarde da noite, este lugar é terrivelmente silencioso.

Alguns drones carregadores. Mas nenhuma patrulha de segurança ou equipes


de docas.

“Como se chama o navio?” Eu pergunto, escaneando um manifesto brilhante


na parede.

“Sem nome, Earthboi.” Takka olha por cima do ombro. “Ident AL-303.”

Meu coração cai no meu peito. Mão apertando minha pistola.

“Isso não é um cargueiro de gelo. Essa é uma designação da Legião.”

A curva do nosso corredor se endireita, e eu paro. Atrás da monótona


montanha cinzenta de caixas de carga, vejo a borda de um casco Longbow —
longo, em forma de ponta de lança, branco reluzente contra a pele de bronze
da estação. E estampada em seu flanco, vejo a estrela ardente da Aurora
Legion.
"Congelar."

A voz vem de trás de mim, acompanhada pelo zumbido de um rifle disruptor.


Pelo tom da arma, posso dizer que está em algum lugar entre Pacificar e
Matar. Olhando por cima do ombro, vejo um homem Syldrathi alto, cabelos
grisalhos em cinco tranças, olhos violeta afiados. Ele está vestindo um
uniforme da Legião, listras verdes em seus ombros me dizem que ele é um
especialista em ciências, os círculos gêmeos em sua testa denotando um
membro da Cabala da Weaver. O Tanque que aparece ao lado dele é um
grande

Betraskan, de ombros largos, com lentes de contato azul-escuras sobre os


olhos.

“Dê-nos uma desculpa, Jones”, diz o Tanque. "Por favor."

Takka se afasta enquanto mais figuras emergem das sombras, cada uma
vestindo um uniforme da Legião – Ace, Gearhead, Face –

uma mistura de Betraskan e Terran. Cada um está armado com um disruptor


e uma carranca sombria. Eu alivio meu aperto para longe da minha pistola de
pulso. Posso sentir a lâmina Syldrathi que Saedii me presenteou ainda presa
ao meu antebraço, pesada como

chumbo.

Olho para Takka, queixo cerrado. “Você me vendeu.”

“Desculpe, meu velho.” Ele dá outra mordida em Rush, sorrindo com os


dentes descoloridos, seu terráqueo de repente muito melhor.

“Talvez você devesse trabalhar nessa natureza desconfiada que discutimos.


Qualquer tolo sabe que a Aurora Legion está procurando por sua bunda
estúpida neste setor há meses.

“Você não receberá a outra metade do seu dinheiro.”

"Mas eu recebo a recompensa por entregar você." Ele sorri mais largo. “Sem
ressentimentos, meu velho. A Legião tem bolsos mais profundos do que
você.”

Uma figura sai do escuro à minha esquerda, sua mira e postura perfeitas. Eu
vejo as listras azuis de uma Alfa em seu uniforme, longos cabelos loiros
puxados para trás em um rabo liso, olhos verdes profundos e pele levemente
sardenta.

“Nós podemos fazer isso gentilmente, Jones,” ela diz. “Ou podemos fazer
isso de forma áspera.”

“Cohen.” Eu sorrio, levantando minhas mãos muito devagar. “Muito tempo


desde a formatura. Como você está, Em?

"Cala a boca, Tyler", ela responde. "Fique de joelhos."

“E você faz isso devagar,” o Tank rosna atrás de mim. “Ou eu juro pelo
Criador, você nunca mais vai se levantar.”

Eu olho de volta para ele. “Você ainda não está magoado com o Draft, está,
de Renn? Não é minha culpa eu ter ficado presa com Kal, eu realmente não
tinha escolha. Embora honestamente, você teria sido minha terceira escolha
de qualquer maneira.

“O mesmo velho Goldenboy.” Emma se aproxima, rifle apontado para o meu


peito. “Quase tão cheio de si quanto sua irmã.”

"Scar pediu desculpas pelo seu namorado, Em, eu não sei quantos t-"

"Você pensou que era o sabor mais suave de toda a nossa maldita classe,
Jones. Mas vai ser preciso mais do que um lindo conjunto de covinhas para
salvá-lo agora, seu traidor de merda.

Eu levanto uma sobrancelha. "Você acha que eu tenho covinhas fofas, Em?"

Cohen sibila indignado. Levanta o rifle para o meu rosto.

"Parece que nós fazemos isso com força, então."

BAMF.
•••••

É o sonho que finalmente me acorda. Arrastando-me da lama negra da


inconsciência para um pesadelo.

Eu a vejo novamente, como antes – a cidade prateada da Academia Aurora,


flutuando na luz da estrela Aurora. Ele brilha como uma joia na noite, como
um farol que os velhos marinheiros terráqueos poderiam ter usado para
manter seus navios longe das rochas que os arruinariam.

Eu alcanço em direção a ele. Ouço gritos, em algum lugar distante.

A estação explode de dentro para fora, espalhando-se como diamantes pelo


veludo negro do espaço.

E percebo que o grito sou eu.

Abro os olhos, sento-me lentamente, a batida do meu pulso apenas


aumentando a pulsação na minha cabeça. Pela rigidez dos meus

músculos, acho que fiquei inconsciente talvez doze horas. Não é tão ruim,
realmente. Um disruptor da Aurora Legion pode nocauteá-lo por três dias
sem enterrá-lo. O rifle de Cohen deve ter sido colocado muito mais perto de
Atordoar do que de Matar.

Honestamente, ela sempre teve uma queda por mim.

Eu reconheço onde estou imediatamente. É um Legion Longbow, Série 6,


mesmo modelo que o navio entregue ao meu esquadrão

quando partimos para a Estação Sagan, o que parece ter sido há mil anos. As
paredes são cinza polido, mas um olhar para as

luminárias me diz que estamos dobrando – geralmente há um leve tom azul


nos globos.

Estou na cela de detenção do Longbow — uma sala de três por três metros
usada para transportar prisioneiros ou cargas perigosas. As paredes são
blindadas, não há controles deste lado da porta pesada. A única mobília é um
colchão de espuma temperada e um

sistema de eliminação de resíduos. As saídas de ar são minúsculas, não há


tomadas nem janelas. No que diz respeito às prisões de curto prazo, a Legião
as torna muito boas.

Minha cabeça parece que alguém me chutou nela.

Como qualquer bom Alfa em seu primeiro ano de serviço, Cohen seguiu as
regras. Restrições magnéticas prendem meus pulsos e

tornozelos. Eles me tiraram meu casaco, minha pistola, a lâmina de Saedii,


deixando-me com o mínimo – cargas cinzas, camiseta.

Deixaram-me as botas, mas levaram os atacadores.

Há uma bandeja de metal no chão perto da porta, um pacote de proteína


desembrulhado e uma caixa de papelão com água filtrada

sobre ela. Fazendo um show de estar mais magoada do que eu, eu engulo a
água enquanto olho para o canto da sala. Eu posso ver o pequeno pino preto
da câmera secundária no teto – se Cohen é bom, ela tem seu Tank me
observando como um falcão através

daqueles feeds. E Cohen é boa — ela foi a Alfa mais bem classificada depois
de mim em nosso ano. O esquadrão que ela escolheu são metade das pessoas
que eu teria pego se não tivesse perdido o Draft. Portanto, não há muito o que
fazer agora, exceto esperar.

Motores roncam abaixo de mim enquanto cruzamos a Dobra. Meus


pensamentos se voltam para minha irmã, os outros membros do

meu esquadrão. Penso em nós correndo juntos na Sempiternity. Nós sete


parecíamos imparáveis, e meu peito dói com o pensamento

do que poderia ter acontecido com todos eles.

Que eu possa ser o único que resta.


Onde está você, Scar?

Finalmente, ouço uma mudança no tom das unidades, o eco fraco do alto-
falante além da porta da minha cela. O metal é grosso

demais para eu entender as palavras, mas sei exatamente o que estão dizendo:
estamos dobrando há vinte e quatro horas, que é a exposição máxima
recomendada sem interrupção.

Há uma razão pela qual eles não recomendam a viagem Fold para pessoas
com mais de 25 anos por mais de algumas horas sem

serem congeladas primeiro - mesmo mentes jovens têm problemas com


exposição contínua aqui. Então, de acordo com os

regulamentos padrão da Legião, Cohen está ordenando que sua tripulação


passe por um Portão próximo para uma pausa.

Eu sinto isso começar — aquela estranha vertigem que me diz que estamos
cruzando da Dobra para o espaço real. Minhas entranhas parecem leves, eu
me dobro, de pernas cruzadas, paisagem colorida ondulando de preto e
branco para tons vibrantes. E quando

cruzamos a soleira, meus dedos deslizam em direção aos meus pés.

Essas botas esperaram dez anos por mim no cofre do Dominion. Eu ainda não
tenho idéia de quem os colocou lá. Como eles sabiam

que eu precisaria sair do cativeiro, não uma, mas duas vezes. Mas
honestamente, do jeito que minha vida está indo recentemente, eu não vou
questionar o único golpe de sorte que eu tive.

O salto falso torce para o lado. Sinto dentro de mim o gremlin – o dispositivo
que gerou o pulso eletromagnético que tirou Saedii e eu da prisão. Um Arco
Longo da Legião da Aurora é muito menor do que um cruzador da Força de
Defesa Terrana, e não tenho certeza do alcance desse filhote. Mas, verdade
seja dita, estou desesperado demais para me importar, tão desesperado quanto
estive desde que tracei esse plano insano.
É exatamente como Takka disse: qualquer idiota sabe que a Aurora Legion
está procurando meu burro neste setor há meses. Então, sendo a segurança o
que é, eu realmente só consegui descobrir uma maneira de entrar na
Academia Aurora para avisar Adams sobre a ameaça Ra'haam.

A bordo de um navio Aurora Legion.

Faço uma nota mental para enviar um presente para Takka por me vender tão
rápido. E com uma pequena oração ao Criador, eu

pressiono o botão.

Eu sinto a mesma vibração na minha bota. Aquele zumbido à beira da


audição. E assim como eles fizeram a bordo do Kusanagi, todas as luzes da
cela morrem.

A câmera morre.

E alegria, as fechaduras magnéticas nas minhas algemas e na porta também


morrem.

Estou de pé em um piscar de olhos, apertando minha bota contra a armação e


forçando-a a separá-la. Mas minha barriga rola quando perco o equilíbrio, os
braços se debatem enquanto continuo me levantando do chão. Vejo os restos
da minha refeição fazendo o

mesmo, a caixa d'água vazia flutuando logo acima da bandeja.

A porta se abre e, olhando para o corredor escuro como breu, percebo


imediatamente o que aconteceu - meu EMP não apenas desligou os
eletrônicos dentro da minha cela. Acabou com a eletrônica de toda a nave.
Isso significa motores. Isso significa suporte de vida. E

além do que está sendo fornecido pelo nosso impulso, isso significa
gravidade.

Opa.

Posso ouvir vozes da ponte — Cohen, exigindo uma atualização de status. Os


sistemas de reparo automático em um 'Bow são de

primeira linha, o que significa que a potência e os motores podem voltar a


funcionar a qualquer segundo. Mas embora eu possa não saber quanto tempo
isso vai durar, o que eu sei é o que o Alpha deste esquadrão provavelmente
fará sobre isso. Existem regras para esse tipo de coisa, e houve um tempo em
que eu era um verdadeiro defensor das regras.

Estou esperando acima da escotilha para a sala de máquinas quando o


Cérebro e o Gearhead de Cohen passam flutuando. Eles

levaram tempo para vestir seus equipamentos de proteção – trajes ambientais


e cabos de segurança, as lanternas em seus capacetes cortando linhas de luz
no escuro. O EMP desligou seus comunicadores, mas ainda temos atmosfera,
então eles podem falar pelo

menos.

“Nenhum sinal de dano”, relata o Gearhead. Ele é um betraskan rápido e de


aparência rija chamado Trin de Vriis, os 3% melhores do nosso ano. Ele teria
sido minha primeira escolha depois de Cat in the Draft se eu tivesse a chance.

“A energia caiu em toda a nave”, relata o cérebro, esfaqueando seu uniglass


morto. Ele é o Weaver Syldrathi que me atacou nas docas.

Seu nome é Anethe, top 10 por cento do nosso ano. Eu o considerei por um
tempo, mas suas pontuações de dinâmica espacial não

eram ótimas. E seu desempenho no corpo-a-corpo zero-gee ficou na média.

É por isso que acertei primeiro em Vriis, chutando a antepara e voando para
ele como uma lança. Eu bato em suas costas, e ele

engasga quando sua placa frontal bate na carcaça do motor. Os gees estão
baixos o suficiente para que eu possa usar seu próprio impulso para impulso e
a carcaça do motor como pivô. E seu grito ressoa no escuro quando desloco
seu ombro com um estalo

doentio.
Anethe está olhando para mim com os olhos arregalados, o rosto pálido. Para
seu crédito, ele não corre, mas como eu disse, seu zero-gee era ruim. Meu
chute é forte o suficiente para fazê-lo vomitar, e enquanto ele arranca o
capacete da cabeça em vez de engasgar com o vômito, eu o derrubo com um
ataque nervoso que peguei de Kal durante aquela briga na Sempiternity.
Voltando-me para um De Vriis gemendo, eu o sufoco com um aperto
adormecido até ele desmaiar.

2 a zero.

De Renn é mais problema. Na verdade, eu menti para ele no banco dos réus:
ele teria sido minha primeira escolha para Tank se eu não tivesse ficado com
Kal. Eu realmente gostei do cara. Costumávamos jogar jetball nos tempos de
academia.

Mas acho que não são mais dias de academia.

Eu o embosco enquanto ele flutua para trás de sua varredura na minha cela –
Cohen obedecendo aos regulamentos, fácil de prever, mais uma vez. O
disruptor de De Renn não funcionará depois do EMP, e ele pegou algumas
armas, sem dúvida de seu próprio estoque pessoal - um par de bastões de luta
betraskans chamados satkha.

Eu bato na nuca dele com um extintor de incêndio, mas mesmo atordoado ele
não cai, na verdade me dá um tiro decente no queixo

antes de eu pegar uma folha do manual de Saedii Gilwraeth e derrubá-lo com


uma joelhada estrondosa para a virilha. Ele vai de barriga para cima, fazendo
um barulho que só posso descrever como um guincho — meio grito, meio
guincho.

Eu arranco seu capacete e o seguro, lutando para controlá-lo enquanto ele se


debate e se debate. Ele finalmente fica mole, e eu o sufoco enquanto for
seguro, então dou a ele um encolher de ombros apologético. "Foi mal cara.
Sem sentimentos difíceis.”

3-nulo.
Os outros três membros do Esquadrão 303 estão na ponte. O Ás deles está no
comando - um velho companheiro de bebida de Cat

chamado Rioli. Ele é um cara grande, cabelo loiro areia e olhos azuis
brilhantes. Cohen está em outra estação tentando ressuscitar as
comunicações. A Face deles, uma linda garota terráquea chamada Savitri,
está perto da entrada. A viseira de seu capacete está

levantada para que ela possa roer uma unha, cabelos compridos flutuando
sobre suas bochechas enquanto ela aperta os olhos no

escuro.

"Bel não deveria estar de volta agora?" ela pergunta.

“Relaxe, Amelia”, responde Cohen. “Ele provavelmente está em seus


aposentos decidindo qual de seus clubes de assassinato favoritos sair. Qual é
a nossa situação, Rioli?

"Ainda nada", responde o Ace. “O que quer que tenha nos atingido...”

Ele se vira para o molhado THWACK do rosto de Savitri encontrando meu


satkha. A garota gira de volta com um suspiro borbulhante, o nariz espirrando
sangue. Ela colide com a parede assim como eu colido com Rioli, jogando-o
contra o console e esmagando-o com

tanta força nas costelas que ouço o osso estalar.

“Respiração do Criador”, Cohen respira. “Jones...”

Eu sei o que ela vê quando me viro para ela. Meus dedos e rosto estão
salpicados de sangue, vermelho terráqueo e roxo Syldrathi e rosa betraskan.
Eu devo parecer cada centímetro o criminoso, o assassino, o terrorista que o
GIA me pintou como o Alfa mais

promissor da Aurora Legion, transformado em um psicopata de sangue frio.

Mas a coisa é, não é a loucura que me leva para a frente, dobrando-a com um
tiro na barriga. Não é a raiva que me faz bater com a palma da mão aberta na
base de seu crânio, fazendo-a saltar do convés, gemendo e sem sentido.

É desespero. É medo.

Porque eu posso ver. Mesmo enquanto desnudo o Esquadrão 303 até seus não
mencionáveis e os tranco em minha cela de detenção,

fechando a porta com uma lança de acetileno do porão de carga. Mesmo


enquanto eu coloco o uniforme de Rioli e flutuo de volta para a ponte,
rezando para que os Deuses dos Sistemas de Auto-Reparo trabalhem mais
rápido. Mesmo quando a energia finalmente pisca e volta a funcionar,
enquanto eu deslizo para a cadeira do piloto e sussurro graças ao Criador.

Eu posso ver isso.

Aquela imagem da Academia Aurora. Explodindo-se em pedaços em um halo


de fogo e estilhaços, destruindo a última esperança de

paz na galáxia.

Eu posso sentir isso, subindo além – aquela sombra, pronta para engolir a
galáxia. E eu posso ouvir – aquela voz, aquela súplica, me implorando para
continuar mesmo se eu tiver que continuar sozinho.

Eu estava em um curso para a Academia Aurora. Dê um empurrão nos meus


motores.

... você pode consertar isso, Tyler...

"Droga, eu posso", eu sussurro.

E estou longe.

18 Os lábios de

Finian

são quentes e macios, e quando deixam um rastro ardente pelo meu pescoço,
eu tremo até os dedos dos pés. Estamos deitados em
um colchão fino de espuma temperada, e os lençóis estão amarrotados ao
nosso redor, e a vista da pequena escotilha ao nosso lado é a escuridão
perfeita, iluminada por minúsculos pulsos de luz malva. Minha camisa está
para fora da calça, e uma das mãos de Fin está traçando círculos suaves nas
minhas costas, o metal na ponta de seus dedos carregado com uma corrente
fraca que faz minha pele formigar da melhor maneira. Eu corro meus dedos
pelo seu cabelo e o puxo mais apertado, suspirando encorajamento enquanto
sinto seus beijos no meu pescoço.

A mão na parte inferior das minhas costas desliza mais para baixo, vagando
pelas minhas calças, e eu agarro um punhado de seu

cabelo e o puxo para trás para olhar para ele. Os lábios e as bochechas de Fin
estão corados apenas um leve tom de rosa, e ele está respirando pesado, mas
ele está congelado agora, piscando com força.

"Tudo bem?" ele pergunta.

"Sim", eu suspiro. "Continue fazendo isso."

E voltamos juntos, e ele está me tocando de todas as maneiras certas, e sim,


parte de mim percebe o quão estúpido tudo isso é, dada a situação em que
estamos. Mas a maior parte de mim está focada no calor de sua pele e a
sensação dele pressionado contra mim e o que ele está fazendo com as mãos
e como eu subestimei seriamente o nível de jogo de Finian de Seel.

Distraímos, como fizemos nas últimas cinco voltas, a patrulha de segurança


que, de outra forma, teria interrompido e executado Zila e o tenente Kim no
escritório de Pinkerton. Demorou alguns testes, mas, eventualmente,
descobrimos que acionar um alarme de

proximidade no andar inferior da seção de reabilitação arrastaria o esquadrão


de capangas por tempo suficiente para desviá-los completamente do
escritório - alguns minutos depois de dispararmos o alarme , todos os
funcionários da sec são chamados para lidar com o incêndio na Escada B, que
agora está se espalhando pelo sistema de dutos.

Isso significa que, uma vez que acionamos o alarme, Fin e eu temos muito
tempo livre em nossas mãos. Quer dizer, podemos subir e ajudar Zila a
coletar mais informações dos sistemas de computador no escritório de
Pinkerton. Mas não é como se eu fosse ajudar muito nisso de qualquer
maneira, e não é como se precisássemos. Se estamos apenas morrendo e
repetindo, morrendo e repetindo,

podemos continuar fazendo isso repetidamente até que o façamos


perfeitamente. Temos todo o tempo do mundo.

Então, nas últimas voltas, Fin e eu nos escondemos dentro de uma unidade de
habitação vazia e estamos... nos conhecendo melhor.

Porque embora pareçamos ter um suprimento infinito de tempo em nossas


mãos, estou percebendo que perdi muito tempo que

poderia ter gasto conhecendo esse garoto já.

Estou corada com o calor dele, meu coração bate-bate-bate-bate contra


minhas costelas, e eu o ouço gemer quando minha língua

treme contra a dele e eu suspiro em sua boca. Mesmo que o ar esteja cheio de
sirenes de alerta e o rangido de metal estressado, meus suspiros ainda
parecem terrivelmente altos.

"Como essa coisa sai?"

Fin se afasta e pisca. "… O que?"

"Seu exosuit", eu sussurro, puxando sua camisa e correndo meus dedos sobre
sua barriga tensa. “Como eu tiro isso?”

"Você quer..." Ele engole. “Você quer tirar meu exo?”

"Não", eu digo, cruzando em direção ao seu pescoço e beliscando sua pele.


“Eu quero tirar sua camisa. O exo é apenas um meio para um fim.”

“Cicatriz...”

Meus dentes escovam sua garganta e agora eu o sinto estremecer, meus lábios
se curvando em um sorriso enquanto sinto o que estou fazendo com ele. “Eu
meio que gostaria de ter prestado mais atenção na aula de mecanização
agora…”

"Scarlett."

“Sim, Finian?”

"Scarlett."

Eu puxo para trás a nota em sua voz. Conheço a cultura betraskan de dentro
para fora, sei que não há exclusão social sobre o que estamos fazendo aqui, e
sei que ele realmente quer. Mas olhando para aqueles olhos grandes e
bonitos, mesmo por trás das lentes de contato, posso dizer.

Eu posso dizer...

Ele está com medo.

A estrutura estremece ao nosso redor. Vapor flamejante ilumina a escuridão


do lado de fora da vigia enquanto uma voz soa no alto-falante. “AVISO:
RADIAÇÃO DETECTADA NO CONVÉS 13, TODOS OS
FUNCIONÁRIOS DO CONVÉS 13 PROCEDEM PARA

PROCEDIMENTOS IMEDIATOS DE DESCONTAMINAÇÃO.”

"… Você está bem?"

“Sim, eu estou bem,” Fin mente, limpando a garganta. "Estou bem."

Eu o olho de novo, lendo a expressão, linguagem corporal, o ritmo de sua


respiração e a batida de seu coração, peito pressionado contra o meu. Sempre
fui bom nesse tipo de coisa, mesmo antes de estudar na academia.

Desde que eu era criança, às vezes era quase como se eu soubesse o que as
pessoas estavam pensando antes de falarem. Não tenho certeza de como faço
isso - sempre achei que era apenas algo com o qual nasci. Algumas pessoas
são boas em jetball. Outras
pessoas podem cantar.

Eu? Eu leio a maioria das pessoas como a maioria das pessoas lê livros.

E olhando para Fin mais de perto, sei que estou certo.

“Você está com medo.”

Um lampejo de defesa vem sobre ele. Ele dá uma risada rouca para encobrir.
Blefe. Bravata. Ele é tão menino, às vezes.

"Não, eu não sou", ele zomba. “Por que eu ficaria com medo?”

"Fin..." Eu toco sua bochecha. “Você não precisa mentir para mim.”

Ele segura meu olhar por um momento, então se afasta, olhando para a
escuridão lá fora. A estação estremece ao nosso redor, o

tempo girando de lado, dando voltas e voltas sobre si mesmo, de novo e de


novo. A cobra comendo o próprio rabo.

“REPETIÇÃO: RADIAÇÃO DETECTADA NO CONVÉS 13, TODOS OS


FUNCIONÁRIOS DO CONVÉS 13 PROCEDEM PARA
PROCEDIMENTOS

IMEDIATOS DE DESCONTAMINAÇÃO.”

Eu beijo sua bochecha. Passe a mão pelo seu cabelo pálido.

— Fin, o que é?

“… É estúpido,” ele murmura.

“Tenho certeza que não. Você pode me dizer."

Ele encontra meus olhos novamente, um pequeno vinco escuro entre as


sobrancelhas. Mas posso sentir a parede que ele está tentando construir entre
nós agora. A armadura que ele está arrastando de volta sobre sua pele.
Desligando. Fechando.
Eu toco seu rosto. "Confie em mim", eu digo, minha voz tão suave quanto
uma brisa de verão.

Ele luta com isso por mais um momento.

“… Eu gosto de você, Scar,” ele finalmente diz.

"Eu gosto de você também", eu sorrio, correndo a ponta do dedo ao longo do


arco de seus lábios.

"Quero dizer... eu realmente gosto de você." Ele olha para o meu corpo,
pressionado contra o dele de todas as maneiras certas. “E eu

quero, é só que...”

Eu pisco então, a realização surgindo em mim. Claro, digo a mim mesma.


Deveria ser óbvio. Mas eu estava tão absorto no que

estávamos fazendo que não estava realmente pensando no que estávamos


prestes a fazer. E...

“Você não fez isso antes,” eu digo.

Ele aperta os lábios finos. Eu posso ver o quão difícil isso é para ele. Ser
vulnerável assim. Durante toda a sua vida, Finian lutou para ser tratado como
igual, para provar que não é vítima da praga que devastou seu corpo quando
era criança. Para escapar do estigma desse traje de metal, ele precisa se
enrolar dentro dele. E o pensamento de se livrar disso, deixando-se exposto...

"Não", diz ele.

“Está tudo bem, Fin,” digo a ele. "Tudo bem."

"Eu não tenho certeza..." Ele balança a cabeça, mandíbula apertada. “Eu sei
que você teve muitos namorados. Mas sem o exo, eu não me movo tão bem.
Quer dizer, eu posso me mover, mas não é gracioso, e eu não... não tenho
certeza de quão bom eu... Ele suspira, frustrado consigo mesmo, com isso,
com tudo isso. “Ah kkkk. Eu disse a você que era bobagem—”
Eu paro a palavra com um beijo, suave e doce e longo.

"Está tudo bem", eu sussurro.

Ele não acredita em mim. Evita meus olhos. Eu toco sua bochecha
novamente, suave como penas, até que ele olha para mim. Eu

percebo o quanto isso significa para ele. Isso, sim, ele realmente gosta de
mim. E então eu o beijo novamente.

"Está tudo bem", eu repito. “O que quer que você esteja pronto. Tudo o que
você gosta. Estou feliz só de estar com você. O que você quiser, é o
suficiente.” Aperto a mão dele, beijo as pontas dos dedos de metal um por
um. “Você é o suficiente.”

"… Sério?" ele sussurra.

"Realmente", eu sorrio. "Você é linda."

Ele passa a mão pela minha bochecha, até uma mecha de cabelo vermelho
brilhante, e mesmo que toda a estação não estivesse se

desfazendo ao nosso redor, tenho certeza que o mundo ainda estaria tremendo
quando ele me beija novamente.

"Você é incrível, Scarlett Isobel Jones", ele murmura.

"Sim, eu sei. Você realmente teve sorte aqui, De Seel.

Ele ri, e eu rio com ele, e quando nos beijamos de novo, é bom, brilhante e
doce, e eu me pergunto se eu não me importaria de sair nos braços desse
menino doce e brilhante, uma e outra vez até o final de —

“Scarlet. Finiano. Você me lê?”

“É Zila,” Fin respira em minha boca.

"Ignore-a", eu sussurro.
"Scarlett. Finiano. Entre."

“Parece urgente,” Fin sussurra.

“É Zila, está tudo bem. Shhh...

— Scarlett. Finiano. Por favor, responda, isso é urgente.”

“—iiiiiittt.” Pressionando o botão Transmitir no meu interfone, dou um


suspiro pesado. “Zil, você e eu temos que ter uma conversa sobre irmandade
e—”

“Os detalhes de segurança estão resolvidos?” ela exige. "Eu preciso de você e
Finian no escritório de Pinkerton imediatamente."

Finian e eu trocamos um olhar, e a estação ao nosso redor ressoa


ameaçadoramente enquanto as buzinas continuam a soar. Ele

parece tão bonito à luz escura da tempestade, mas posso ouvir uma nota
incomum de medo na voz de Zila, o que é suficiente para frear meu pulso
acelerado quando encontro os olhos de Fin.

"Nós já vamos subir", eu digo a ela.

Leva alguns minutos, uma esquiva silenciosa em torno de quatro tripulantes


em pânico e uma fuga de sorte de uma explosão de

plasma na escadaria A, mas subimos até o nível de habitação acima. A


estação continua a tremer ao nosso redor enquanto Fin e eu nos arrastamos,
de mãos dadas. Entramos na coleção de escritório/antiguidades de Pinkerton,
e posso ver a preocupação nos olhos de Zila, noto o grosso cacho de cabelo
preto que ela está mastigando. Talvez pela primeira vez, ela realmente pareça
genuinamente exausta enquanto me encara com raiva. Nossa boa tenente Nari
“Hawk” Kim está ao lado de Zila, olhando para as telas brilhantes.

Parece que alguém atirou no cachorro dela.

“Onde vocês dois estiveram?” Zila exige.


—Zil, você está bem? Fin pergunta.

"Eu perguntei onde você esteve", ela exige, olhando para mim. "Mas dado o
fato de que a camisa de Scarlett está para fora da calça e você tem marcas de
mordidas no pescoço, eu não precisava ter me incomodado."

“Nós cuidamos da patrulha de segurança, Z,” eu digo. “Assim como


deveríamos. Daí você não levar um tiro. Se fizermos um pequeno desvio
depois...

— Isso foi tolo e egoísta — ela retruca. "Há coisas que eu preferiria estar
fazendo também, Scarlett."

Eu admito, meus pelos se arrepiam um pouco com isso. Eu olho


incisivamente para a tenente Nari Kim pairando sobre o ombro de

nosso Cérebro, e cruzando meus braços, eu atiro a Zila um olhar


significativo. “Sim, aposto que sim, Z. E ninguém vai julgar se vocês dois...”

“Não foi isso que eu quis dizer,” Zila diz, corando enquanto olha para Nari.
“Alguns de nós têm coisas mais importantes em mente do que flertes triviais.
Alguns de nós estão tentando descobrir uma maneira de sair dessa bagunça!”

Fin parece surpreso quando o tom de Zila quase se transforma em um grito.


Faço uma nota para ligar para o Livro Galáctico de

Registros.

Primeira vez que ela faz isso.

“Zil, qual é o problema?” ele pergunta.

– Como você pode perguntar isso, Finian? Zila exige. “Você sabe tão bem
quanto eu o nível de complexidade com o qual estou lidando aqui!”

“Olha, sim, tudo bem.” Ele coça o cabelo despenteado, me lançando um olhar
envergonhado. “Talvez eu e Scar tenhamos um tempo

para nós mesmos. Me desculpe, eu deveria estar ajudando você mais. Farei
isso da próxima vez, não é grande coisa, certo? Temos literalmente infinito
para resolver isso. Se estragarmos as coisas, apenas tentamos de novo até
resolvermos e nos libertarmos do loop, sim?”

Zila balança a cabeça e volta às leituras.

“Quando nosso próximo ciclo começar, exijo que você dedique seus esforços
a Magellan.”

Fin pisca, e eu quase rio quando olho para a mochila de Finian, os restos
fritos do uniglass de Aurora dentro dela.

“Você realmente quer que eu conserte aquele pedaço de chakk?” Ele


gesticula para as vitrines ao nosso redor. “Z, você usaria mais uma dessas
antiguidades!”

“Eu também exigirei seu uniglass. A sua também, Scarlett.

"Pelo que?" Eu pergunto. “Não é como se houvesse uma rede para eles...”

“Podemos colocá-los em rede uns com os outros.” Zila quase faz uma careta
para as telas à sua frente. “Este sistema é simplesmente muito primitivo e
preciso de todo o poder de computação que puder para realizar essa
matemática.” Ela esfrega os olhos, seu rosto realçado pelo brilho de suas
telas. "Algo está errado."

Fin se aproxima do console, levando isso mais a sério agora. "O que você
quer dizer? O que há de errado?"

O alto-falante interrompe a resposta de Zila.

“AVISO: CASCATA DE CONTENÇÃO EM EFEITO. IMPLOSÃO DO


NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRÊS MINUTOS E CONTANDO.
TODAS AS

MÃOS VÃO PARA AS VAGAS DE EVACUAÇÃO IMEDIATAMENTE.


REPETIR: IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRÊS MINUTOS E
CONTANDO.”
E aí está.

O fim do laço.

Tempo de morrer novamente.

A estação começa a tremer ao nosso redor, e eu pego a mão de Finian.


Confortado pela força em seu aperto, o calor de seu corpo enquanto eu me
inclino contra ele. Mas Fin não presta atenção, em vez disso, fica olhando
para a hora no pulso de Zila. Os números digitais piscam no cronômetro que
ela define no início de cada loop.

“Isso não pode estar certo...”, diz Fin.

Zila encontra seu olhar, lábios franzidos. “Eu estava me perguntando quando
você notaria.”

“Você verificou isso?” ele exige. "Não é uma falha?"

“Nós notamos isso alguns loops atrás,” Nari diz calmamente. “Bem, Zila fez.
Mas ela queria ter certeza antes de contar a você.

Zila segura os olhos de Finian por mais um momento, então vira seu pequeno
olhar mortal para mim. “Talvez se vocês dois não

estivessem tão distraídos...”

“Ouça, Zila, eu sei que você está com raiva,” eu digo. "E talvez você tenha o
direito de estar, mas você pode colocar os dedos apontando de lado por um
minuto e me dizer o que diabos está acontecendo?"

A estação balança ao nosso redor. Uma luz malva brilha, iluminando a


tempestade lá fora, as nuvens colossais se enrolando e se agitando no escuro.

Fin olha nos meus olhos. “O pulso quântico atinge a vela quarenta e quatro
minutos no loop.”

"Certo."
“E Zila nos disse que o núcleo estava sobrecarregado e a estação explodiu
cinqüenta e oito minutos depois que o pulso atingiu.”

"Sim." Eu olho para frente e para trás entre eles. "Então?"

“Estamos a um minuto da detonação, Scarlett,” Zila diz, segurando seu pulso


para eu ler.

Franzo a testa para os números, vermelho brilhante contra a pequena tela


preta na pele morena de Zila, banhada pelo brilho azul do monitor.

“Uma hora e trinta e dois minutos,” eu digo.

“Correto,” Zila acena com a cabeça.

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRINTA


SEGUNDOS. TODAS AS MÃOS EVACUAM IMEDIATAMENTE.
REPETIÇÃO:

IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRINTA SEGUNDOS.”

A estação começa a balançar descontroladamente, o metal ao nosso redor se


rasgando, o ar cheio de sirenes, fumaça subindo, o silvo da atmosfera de
ventilação. Eu levanto minha voz acima de tudo. "Mas se o núcleo explodir
cinqüenta e oito minutos após o ataque, e o ataque acontecer no minuto
quarenta e quatro..."

Kim encontra meus olhos, seu rosto sombrio. "Sim."

"Puta merda", eu sussurro.

Olho nos olhos de Fin.

"Os loops estão ficando mais curtos", eu digo.

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE. CINCO SEGUNDOS.


AVISO."

Fin balança a cabeça e aperta minha mão, seus grandes olhos negros
arregalados de medo.

"Estamos ficando sem tempo", diz ele.

"AVISO."

ESTRONDO.

19

AURI

Minha cabeça está latejando no momento em que chegamos à Nave Mundial,


e eu assisto através da tela do Vindicator enquanto o

último santuário em toda a Via Láctea aparece.

Kal descansa as mãos nos meus ombros, os polegares pressionando para


encontrar o ponto na base do meu pescoço onde eu sempre

carrego minha tensão. Ele deve ter feito isso centenas de vezes no Echo,
pacientemente me convencendo dos meus ataques de

desespero sobre as tarefas de treinamento impossíveis de Esh. Parece muito


tempo atrás.

Agora assistimos juntos enquanto nos aproximamos da Sempiternity, uma


sombra iminente flutuando contra o pano de fundo de uma

brilhante nebulosa de arco-íris. A princípio, acho que não mudou muito em


27 anos — ainda é uma miscelânea de naves e estações aparafusadas, torres e
satélites avançando na escuridão, túneis de ancoragem se contorcendo para
longe de seu corpo como

tentáculos.

Mas está todo salpicado de luzes, exceto no quarto superior direito. Essa
parte está completamente escura, e quando nos
aproximamos e dou uma olhada melhor, posso ver que ela foi aberta para o
espaço, torcida e quebrada. A explosão – ou o ataque –

deve ter sido enorme.

“Casa,” Toshh murmura de seu assento ao meu lado.

"Bom lugar para manter seu coração", eu digo.

Ela me olha estranhamente, uma sobrancelha subindo em direção aos chifres.

"É um velho ditado da Terra", eu sorrio. "Lar é onde o coração está."

No leme, Lae olha para Kal. “Isso explicaria muita coisa. Dado o que o
Starslayer fez ao seu próprio.”

Kal respira fundo com isso, mas ele não liga para ela. Suponho que de uma
maneira terrível é verdade. Quando me aproximo e aperto a mão dele, Lae
olha para mim, depois para o garoto ao meu lado.

É um pouco estranho quando olho para ela, para ser honesto. Os outros
membros da equipe de Tyler, até o próprio Ty... Eu posso senti-los na minha
cabeça tão facilmente agora. Os sentimentos deles. As correntes de suas
emoções, fluindo juntas em um rio ao meu

redor. Mas não consigo ler muito sobre Lae. Ela se mantém fechada, como se
ela tivesse usado seus poderes de Waywalker para

desenhar um véu sobre sua mente.

Ela é forte. Nada como eu ou Caersan. Mas ainda assim...

Ela parecia apreciar a minha ajuda para que a unidade da fenda voltasse a
funcionar, pelo menos - ironicamente, eu forneci o “empurrão não
sofisticado” que Caersan quer de mim para transportar a Arma para casa. Não
tenho certeza da ciência disso – Lae era quem nos guiava, eu era o poder
bruto, mergulhando naquele riacho novamente, imolando e empolgando.
Juntos, usamos o fragmento de cristal Eshvaren no núcleo do Vindicator para
abrir uma série de portões ao longo de oito horas, saltando a nave meia dúzia
de vezes através do abismo do espaço.

Exigiu uma fração de esforço de mim. Quase inconsequente. Mas pelas


rachaduras ao redor dos olhos de Lae, posso dizer quanto

custa cada vez que eles viajam. Apesar de sua atitude dura, isso por si só me
diz que ela é uma boa pessoa. Todos na equipe de Tyler são. Dando tanto de
si para trazer sobreviventes aqui.

O último pedaço de civilização na galáxia.

“Já estava na hora”, Tyler murmura.

Eu me levanto do meu assento, ficando em seu ombro enquanto nos


aproximamos do Navio Mundial. Ele olha para mim, e por um

instante seus olhos se arregalam, prendendo a respiração, corpo tenso no


espaço entre os batimentos cardíacos.

“Tler?” Metade da tripulação franze a testa toda vez que uso seu nome em
vez de seu título, mas sei que mudar para Comandante não é a maneira de
lembrá-lo de que somos amigos. Eu alcanço sua mão. "Você está bem?"

"Não é nada", ele responde, beliscando a ponte de seu nariz. “Estamos na


Dobra há muito tempo. Estou velho demais para essa merda.”

Dobre a psicose. Eu tinha esquecido. Os esquadrões da Aurora Legion são


formados quando os legionários têm dezoito anos, porque por volta dos vinte
e cinco anos, mais de sete horas na Dobra colocam muita pressão sobre você.
É por isso que eu estava dormindo a caminho de Octavia – a psicose de dobra
não é brincadeira. E Tyler está na casa dos quarenta agora. O que é
simplesmente estranho.

O que ele acabou de ver quando olhou para mim?

O que está fazendo com ele?

"Nunca pensei que veria este lugar novamente", eu digo, oferecendo-lhe um


pequeno sorriso, desviando a conversa. Não é só que eu preciso dele do meu
lado. É que eu não suporto vê-lo assim. “A última vez que vi essa vista,
estávamos seguindo minhas estranhas direções para trás, nem sabíamos por
que estávamos vindo, muito menos que em breve estaríamos fazendo um
assalto, enfrentando o Grande Ultrassauro de Abraaxis IV.”

"Espere", diz uma voz atrás de nós. Elin, a Betraskan, está sentada à frente.
“Aquele chakk sobre o Grande Ultrassauro era verdade?”

"Você deveria ter visto as calças que seu chefe estava vestindo", eu respondo.

Só por um instante eu ganho um sorriso de Elin. Então ela se lembra que eu


desapareci na Batalha da Terra e causei o fim de tudo, e sua expressão
endurece novamente.

“Você não acreditaria em quantos favores acabei devendo a Dariel ao longo


dos anos,” Tyler diz, algo sobre ele um pouco mais suave.

“Ele continuou ameaçando cobrar, mas nunca o fez.” Ele faz uma pausa e
depois fecha o olho, esfregando o remendo que cobre o

outro. “Ele morreu seis anos atrás em uma missão de resgate.”

Kal vem para ficar ao meu lado enquanto procuro algo, qualquer coisa, para
dizer sobre isso. Mas como sempre, ele preenche o vazio para mim.

"Este lugar já viu muitas batalhas", ele murmura.

Tyler assente. “Os Ra'haam. Lutamos pelo menos cinquenta combates com
ele. Não importa onde nos escondemos, eventualmente ele

nos rastreia.”

"Mas você luta contra isso todas as vezes?" Kal pergunta.

"De jeito nenhum. Nós corremos." Tyler acena para o enorme navio. “Há
uma fenda dentro dela. Todo o resto do cristal Eshvaren conseguimos roubar.
E cada Waywalker deixado vivo na galáxia. Quando os Ra'haam aparecem,
eles abrem um portão e arremessam
Sempiternidade o mais longe que podem.”

"Dando outro pedaço de si cada vez que o fazem", diz Lae suavemente. “Até
não sobrar nada.”

Tyler olha para ela com preocupação em seus olhos, lábios finos.

“Mas os Weeds sempre conseguem nos encontrar novamente de qualquer


maneira,” Toshh rosna. “Bastardos podem nos sentir. Sinta o cheiro de nós.”

Tyler assente. “Geralmente leva cerca de três semanas. Um mês se tivermos


sorte. A última vez que eles nos atingiram foi há apenas dez dias, então
devemos estar seguros neste local por um tempo.”

Estou horrorizado com o pensamento. De nunca estar seguro. Nunca podendo


descansar. Sempre sendo caçado por aquela... coisa

que consumia meu pai. Gato. Otávia. E se conseguir o que quer, tudo o mais
na galáxia.

O poder estala na ponta dos meus dedos. Todos os pelos do meu corpo se
levantam.

Não posso deixar que este seja o futuro da galáxia.

Eu não vou.

"O que você pode nos dizer sobre o conselho que vamos nos reunir?" Eu
pergunto.

“O Conselho dos Povos Livres”, Tyler responde. “Há quatro membros


sentados. Os três maiores grupos de sobreviventes fornecem um cada, e os
menores se revezam para dar dois representantes por ano. Então há um
Syldrathi da Cabala dos Vigilantes, um Betraskan e um Rikerita – um
político, um pragmático e um guerreiro. E agora o representante da minoria é
um Ulemna.”

“Os humanos são uma das minorias?” Eu pergunto, meu coração se


enrolando em si mesmo.
"Não", ele responde, de olho na estação à frente. “Estamos banidos do
conselho. Elin, entre nas comunicações e notifique o comando Sempiternity
que estamos chegando. E lembre-os sobre o enorme cristal Eshvaren que
temos a reboque para que ninguém aperte o

botão de pânico e jogue uma bomba em nossa direção.”

"Entendido, chefe", o Betraskan acena com a cabeça. “Estou presumindo que


ainda não deveria mencionar o maníaco genocida assassino de planetas a
bordo?”

Tyler esfrega o queixo. “Isso é provavelmente mais uma conversa cara a


cara.”

"Por que?" Eu pergunto baixinho, enquanto Elin começa a trabalhar nas


comunicações.

"Você não acha que o Starslayer-"

"Não, quero dizer, por que fomos banidos do conselho?"

Finalmente Tyler tira os olhos da Nave Mundial e olha para mim. Eu posso
ver como ele está cansado. Que raiva. Que triste. “Porque isso é nossa culpa,
Auri. Octavia era nossa colônia. Acordamos os Ra'haam cedo. E consumiu
nossos colonos, e eles conseguiram

voltar para a Terra e passar os próximos dois séculos se infiltrando no GIA, e


ninguém notou. Esses agentes cortaram a cabeça de todos os governos
planetários da galáxia. Arruinou qualquer chance que tivéssemos de cortar o
Ra'haam pela raiz. E ainda por cima, nosso Gatilho desapareceu com a única
arma real que tínhamos na batalha onde a maré virou.”

Minha respiração está ficando rasa e minhas pernas não parecem certas –
como se eu precisasse sentar, ou então eu vou cair. Tudo isso por minha
causa — a menor de suas dores, assim como a maior. O braço de Kal me
envolve, e sinto o ouro e o violeta de sua mente pressionando
confortavelmente contra a minha.
“Irmão,” ele diz baixinho. “Os terráqueos tropeçaram no berçário Ra'haam
por má sorte. Quem pode dizer que qualquer outra raça teria detectado
impostores? E Aurora não abandonou ninguém. Você é um comandante, você
é respeitado aqui. Portanto, deve haver algum espaço para compreensão.”

“Levei a maior parte da minha vida para provar a mim mesmo,” Tyler
responde. “O perdão está em falta por aqui.”

“Você acha que há alguma chance de o conselho nos ajudar?” Eu pergunto,


tentando acalmar a nova onda de desespero dentro de

mim.

“Tudo é possível,” Tyler responde. Mas ele está olhando para Sempiternity
novamente, e ele não vai encontrar meus olhos.

•••••

Nós nos afastamos da Sempiternity por mais uma hora antes que o conselho
mande chamar Tyler. Ele embarca na nave do Vindicator e

sai para informá-los, deixando-nos em uma espera silenciosa e desconfortável


entre sua tripulação.

Após a terceira hora, chega a notícia de que eles estão prontos, e Lae e Toshh
nos escoltam até Sempiternity. Paramos em uma das docas ao longo dos
umbilicais transparentes que serpenteiam para fora da estação – da última vez
que estive aqui, eles estavam todos cheios, alienígenas diferentes indo e
vindo sem parar. Fin e eu conversamos sobre como seu povo vive no subsolo
e como ele não gostava das estrelas.

Um céu cheio de fantasmas, disse ele. Suas palavras foram proféticas.

Você não está morto, eu prometo a ele silenciosamente. Eu vou voltar a


tempo. Vou mudar a forma como a história termina.

Quando descemos de nosso ônibus espacial, os sobreviventes da Sempiternity


estão esperando por nós. O corredor está cheio de
corpos grandes e pequenos, jovens e velhos, dezenas de raças, centenas e
centenas de pessoas. Cada um deles está vestido com

roupas que foram remendadas e remendadas para durar décadas, cada um


deles em silêncio.

Seus olhares vazios nos seguem enquanto caminhamos – Lae na frente,


Toshh e Dacca atrás – e o peso disso é quase impossível de suportar. Isso é
tudo o que resta. Essas pessoas. Fora de todos na galáxia. Eu alcanço a mão
de Kal, apenas para sentir sua pele quente contra a minha.

Acontece que o Conselho dos Povos Livres se reúne no antigo salão de baile
de Casseldon Bianchi. As luzes foram acesas agora, as galáxias rodopiantes
tão distantes quanto o lindo vestido vermelho que usei aqui naquela noite. O
aquário fantástico que revestia as paredes agora está cheio de molduras e
pequenas bóias, algas marinhas e fazendas de algas ocupando cada
centímetro – eles

precisam disso para a proteína, eu acho. Para alimentar aqueles milhares na


estação lá fora. É uma sala enorme, e fileiras de cadeiras sugerem que
geralmente há uma plateia, mas agora nossos passos ecoam enquanto
caminhamos até a mesa do outro lado, onde os

quatro membros do conselho se sentam.

O rikerita está em uma extremidade - ele é antigo, seus chifres varrendo para
trás de sua testa e enrolando-se tanto que formam círculos completos, sua
expressão perdida em um mar de rugas. O guerreiro, Tyler o chamava.

Ao lado dele está uma mulher betraskan que não parece muito mais velha do
que eu, seu cabelo branco curto. Ela está estudando um tablet e só olha para
nós por um momento. O pragmático.

O terceiro é um Syldrathi da Cabala dos Vigilantes, o primeiro dos que


conheci. Ele parece estar na casa dos cinquenta, tranças imaculadas
combinando com sua postura imaculada. Seu glyf é de dois círculos, um
dentro do outro. O político.
O último deve ser o Ulemna. Não consigo distinguir muito deles - eles usam
um capuz marrom escuro desenhado sobre suas feições, mas posso ver um
par de mãos azul-marinho dobradas ordenadamente sobre a mesa na frente
deles. Tyler não disse nada sobre o

representante da minoria, e agora estou desejando ter perguntado.

O próprio Tyler já está na frente da mesa – Kal e eu paramos ao lado dele,


Toshh e Lae atrás de nós. Há um punhado de outros Syldrathi ao redor da
sala, glifos da Cabala Waywalker marcados em suas sobrancelhas. Eles
sentem isso alguns momentos depois de mim -

todos eles tensos, mandíbulas apertadas. Eu vejo a carranca de Lae escurecer


enquanto a energia ao nosso redor muda, o ar diante de nós vibra. Ela joga
uma trança prata-ouro de seu ombro, fechando o punho sobre o punho de sua
lâmina nula.

E no meio da sala aparece Caersan.

É apenas uma projeção, claro, brilhando em foco como uma miragem em um


dia quente. Ele não é estúpido o suficiente para deixar o Neridaa, para se
arriscar em um navio cheio de inimigos. Ele fica como uma sombra escura no
coração da sala, e as luzes parecem escurecer ao seu redor. Os Waywalkers
eriçam-se de hostilidade. Os membros do conselho olham como um só.

Ele olha ao redor da sala, irradiando desdém.

“Vamos começar”, diz ele.

O silêncio frio paira na sala. O peso de inúmeras vidas perdidas. É o


Syldrathi que finalmente o quebra, voz firme apesar da raiva em seus olhos.

“O Comandante Jones nos informou das circunstâncias de sua chegada. Por


mais estranhas que suas alegações possam parecer,

nossos Waywalkers confirmaram suas identidades.” Seus olhos violeta


percorrem todos nós, demorando-se no Starslayer. "Então. O

que você quer de nós?”


“A arma em que viemos aqui está danificada,” digo. “Precisamos visitar uma
anomalia do espaço-tempo no setor Theta. Isso leva a uma instalação no
planeta natal Eshvaren. Se pudermos consertar a arma em qualquer lugar, ela
estará lá.”

“Presumindo que os Ra'haam ainda não destruíram esta instalação”, diz a


mulher Betraskan. "Você tem certeza de que pode voltar ao seu próprio
tempo se a arma for consertada?"

Caersan está estudando os Waywalkers ao seu redor, um por um, com algo
como... fome em seus olhos. Então eu respondo.

“Sim, eu poderia fornecer a propulsão, eu acho, enquanto ele dirigia.”

A mulher se inclina para frente, os dedos entrelaçados sob o queixo. "Você


está ciente de que o setor Theta está completamente invadido pelos
Ra'haam?"

Eu concordo. "Pelo que Tyler disse, precisaríamos lutar para entrar. E


provavelmente lutar contra os Ra'haam enquanto consertamos a arma
também."

Agora o rikerita fala, sua voz como uma porta rangendo. "E por nós, criança,
é claro que você quer dizer nós." Ele olha entre Caersan e eu, carrancudo.
“Você quer que dediquemos nossos últimos recursos para ajudá-lo no que
parece uma aposta louca? Supondo que

esses reparos possam ser efetuados, quem pode dizer que seu retorno ao
passado fará alguma diferença?”

— Se conseguirmos voltar, podemos destruir o Ra'haam antes que ele tenha a


chance de florescer e estourar — digo, minha voz

ecoando pela sala vazia. “É para isso que estou aqui. É o que eu fui feito para
fazer.”

O Syldrathi balança a cabeça e suspira. “E, no entanto, se você não retornar


ao seu próprio tempo com segurança, você condena não apenas a si mesmo,
mas a todos neste tempo também. Você nos pede para correr o risco de
extinguir a última luz da galáxia.”

“Você já está condenado, tolo.”

Todos os olhos se voltam quando a aparição de Caersan fala, seu olhar


percorrendo a sala e os conselheiros reunidos.

“Isto não é um santuário. Este é um túmulo. Você se esconde aqui nas


sombras, rezando para que a verdadeira escuridão não o

encontre. Mas vai. E todos vocês sabem disso.”

O Vigia fica de pé em um movimento fluido. “Você está presente contra


minha objeção explícita, Starslayer. Não aceitarei o conselho daquele que
destruiu Syldra, que matou bilhões de seus filhos em um único momento, que
deixou aqueles que sobreviveram sozinhos e à deriva.”

“Paz é a forma como o cão grita, 'Renda-se', Vigilante,” Caersan rosna.

“Ele não é um vagabundo,” o velho Rikerite cospe. “Você não sabe nada do
que sofremos, Starslayer. Nada do preço que todos

pagamos.”

“Eu sei que você está tendo uma chance de evitar esse preço. Esse
sofrimento. Uma última batalha gloriosa a ser travada pelo futuro de tudo.”
Caersan levanta as mãos, depois as deixa cair lentamente ao lado do corpo.
“E você ainda treme ao pensar nisso. Como crianças. Como covardes.”

O lábio do Vigia se curva. "Isso, do covarde que poderia ter enfrentado os


Ra'haam, mas fugiu."

Caersan se vira para o homem, a raiva queimando, e o poder ferve através de


mim, quente, vibrante e ensurdecedor. Eu lanço uma barreira mental entre o
Starslayer e os desafiadores membros do conselho na frente dele, meu azul
meia-noite crepitando ao encontrar seu vermelho sangrento, o choque visível
por um piscar de olhos, trazendo o Betraskan e o Rikerite a seus pés como os
Waywalkers, Toshh, Tyler e Lae levantam suas armas como um.
Kal dá um passo à frente, gritando: “Pai!”

Por um instante sinto a fúria que passa pela mente do meu amor, seu instinto
de combate. Mas Caersan apenas ri baixinho, e seu poder diminui.
Lentamente, eu abaixo minha guarda, a tensão no ar desaparecendo.

Os Waywalkers ao redor do Starslayer estão pálidos, trocando olhares


inquietos – eles sabem que não têm esperança de superar

Caersan agora, ou eu. Lae está sussurrando no ouvido de Tyler, uma mão em
seu ombro. O Sentinela permanece de pé, seu olhar fixo

no homem que assassinou seu povo.

"Esta é a sua abertura?" ele zomba, olhando em volta para seus colegas
conselheiros. “Devemos enviar esses mendigos de volta ao navio
imediatamente.”

“Ou,” digo com urgência, me intrometendo antes que os dois possam


descompactar e começar a comparar, “podemos conversar sobre

como podemos salvar vidas. Não apenas seu. Não apenas nosso. De todos.
Antes e agora. Acredite em mim, eu entendo como você se sente sobre o
Starslayer. Eu me sinto da mesma forma. Mas é ele quem sabe como
transportar a Arma de volta para casa. Eu não.

Precisamos dele vivo.”

“E se você chegar em sua casa?” o Rikerita pergunta. “E então?”

"Então Caersan e eu vamos ter uma pequena... discussão", eu digo.

A projeção do Starslayer me observa, fria e imperiosa. Mesmo que passemos


por isso vivos, de alguma forma voltemos para quando viemos, nós dois
podemos sentir esse conflito correndo em nossa direção. Eu sei que se eu
ganhar, vou disparar a arma. Darei tudo o que tenho para destruir os Ra'haam.

Mas mãe de creme, isso é um grande se.


“O simples fato é que não posso voltar ao nosso próprio tempo sem ele.
Então, por favor, por mais difícil que seja, precisamos deixar de lado o que
estamos sentindo e descobrir uma maneira de fazer isso.”

O Rikerita balança a cabeça. “Você pede muito.”

“Ela não pede nada que não esteja disposta a dar a si mesma”, responde Kal.

“… Significando o quê?”

Eu endireito meus ombros, respiro fundo. “O que significa que não é um


recurso renovável. Este poder dentro de nós. Nós só podemos usá-lo tantas
vezes antes de...” Eu paro, minha mão levantando para as rachaduras ao redor
do meu olho. “Disparar a arma várias vezes matará o Gatilho.”

Kal aperta minha mão. Eu tento não insistir no medo em seus olhos.

"Você vê?" Caersan zomba. “Até mesmo esta menina está disposta a dar sua
vida na luta para salvar você. Mas você não vai lutar para se salvar?”

O rikerita faz uma carranca, e o Vigilante respira para cuspir mais insultos, e
eu posso ver a coisa toda espiralando pelo ralo. Mas então, finalmente, a
Ulemna se move, estendendo a mão para puxar o capuz para trás.

Ela é inebriantemente linda, sua pele de um azul marmoreado e roxo, e gira


com o que parecem galáxias em miniatura abaixo da

superfície, cada uma em constante movimento hipnótico. Seus olhos são


prateados e sua voz soa como um acorde musical em tom

menor, três notas ao mesmo tempo.

“Mesmo se fizermos o que você pede, Terrachild,” ela diz, “e mesmo se você
puder consertar a Arma e se transportar de volta ao seu próprio tempo, o que
acontece então? Se você derrotar os Ra'haam no passado, você garante que
esse futuro não aconteça. Você está efetivamente desfazendo todos nós.”

"Só esta versão de você", diz Kal. “Outras versões continuarão vivas. Em
uma galáxia em paz. Uma galáxia sem os Ra'haam.”
“E as pessoas nascidas depois que o Ra'haam floresceu?”

Voltamo-nos para Tyler, de pé entre sua tripulação. Lae encontra os olhos de


seu comandante, mas ele está olhando para Kal, para mim, sua mandíbula
apertada.

“Você volta e muda as coisas, quem pode dizer que elas vão existir?”

“Destino, irmão,” Kal responde. "Destino."

“Você sempre pode permitir que eles permaneçam aqui”, diz Caersan.
“Encaminhando-os para retardar a asfixia e o consumo no

coletivo.”

“Não podemos confiar nele,” o Observador encara. “Cho'taa. Sai'nuit.

"Você não tem honra", Lae zomba de Caersan. “Seu nome é desonrado. Seu
sangue é envergonhado. Não podemos confiar em uma única palavra que
você diz, assassino. E você honestamente deseja que lutemos por você? Para
entregar nossas vidas? Para voce?"

O Starslayer olha ao redor da sala. Lembro-me de como era esse lugar


naquela noite em que o Esquadrão 312 chegou à Sempiternity, não faz muito
tempo. A galáxia girando acima de nós, pessoas bonitas, vestidos fabulosos.
Mas agora são luzes piscando, luminárias quebradas e uma fazenda de algas
fedorentas para alimentar a escória faminta amontoada lá embaixo na
escuridão crescente.

"Você chama isso", Caersan zomba, "vida?"

A reunião explode em gritos novamente – o Vigia, o Rikerita e até mesmo os


Betraskan levantam suas vozes enquanto a Ulemna se

recosta, puxando o capuz mais uma vez. Lae está apontando para Caersan e
gritando algo para Tyler, que está levantando as mãos e falando por ela com
Toshh.

Kal aperta sua mão em volta da minha, e eu fecho meus olhos. Isso é
impossível – a sala está cheia de medo e raiva, e os Weeds estão lá fora no
escuro procurando por nós, e estamos presos no meio enquanto a última vida
na galáxia espera sua vez de morrer.

E então as sirenes começam a tocar.

A luz fraca diminui ainda mais, as discussões param, medo e confusão nos
olhos dos conselheiros lavando seus pensamentos.

"É aquele … ?"

"ALERTA VERMELHO. ALERTA VERMELHO. FROTA RA'HAAM


DETECTADA NO MARKER OMEGA. REPETIÇÃO: FROTA DE
RA'HAAM

DETECTADA. TODAS AS MÃOS, ESTAÇÕES DE BATALHA.”

“Isso é impossível,” Tyler sussurra.

“Você foi seguido?” o Rikerite exige.

"Claro que não!" ele estala. “Nós pulamos meia dúzia de vezes para chegar
aqui! Seguimos todos os protocolos de entrada!”

“Então como é que eles nos encontraram tão cedo?” as exigências Betraskan.
“O último ataque deles foi há apenas dez dias! Eles nunca deveriam ter …”

“Oh, filho da puta …”

Todos os olhos na sala se voltam para mim enquanto eu sussurro: “Eles


podem me sentir.” Olho para Caersan, com o coração apertado.

“Sente-nos.”

Ele inclina a cabeça. “… Possivelmente.”

Eu engulo em seco, olho Kal nos olhos. “Nós os trouxemos aqui...”

"ALERTA VERMELHO. ENTRADA DA FROTA RA'HAAM. TODAS AS


MÃOS, ESTAÇÕES DE BATALHA.”

"Você trouxe a desgraça sobre todos nós, Starslayer!" o Vigia grita,


levantando-se. “Comandante Jones, você nunca deveria ter—”

“Todo o devido respeito, Conselheiro,” Tyler rosna. “Mas talvez possamos


apontar o dedo depois que sairmos dessa tigela de merda!”

“Você não pode simplesmente criar um portão e pular daqui?” Eu pergunto.


"Você disse que este lugar tem uma unidade de fenda-"

"Está offline!" Tyler grita acima das sirenes. “O próximo ataque não estava
previsto para pelo menos mais dez dias! Os técnicos têm que fazer
manutenção, fazer reparos. E nossos Waywalkers precisam se recuperar entre
cada salto!”

"Quanto tempo até que você possa colocá-lo em funcionamento?" Kal exige.

Tyler olha para o Sentinela, ainda pálido de fúria. "Conselheiro?"

"Pelo menos quarenta minutos", ele responde. “Talvez uma hora—”

“ALERTA VERMELHO. ISSO NÃO É UM TREINO. TEMPO PARA


INTERCETAR RA'HAAM: VINTE E TRÊS MINUTOS. ALERTA
VERMELHO."

Eu olho para Caersan, questionando, e com um movimento preguiçoso de


uma sobrancelha prateada, ele inclina a cabeça. Eu olho Kal

nos olhos, e ele acena com a cabeça uma vez. De mãos dadas, viramos e
corremos.

“Auri!” Tyler grita atrás de nós. "Onde diabos você está indo?"

“Para te comprar quarenta minutos!”

20

KAL
Há tantos.

Eu sei que na minha cabeça o Ra'haam é uma coisa. Uma mente de colmeia,
composta de bilhões de peças, interligadas e conectadas em uma
singularidade massiva. Quando uma parte dela sente dor, tudo dói. O que
uma parte dela vê, tudo ela sabe. Mas enquanto

observo aquele enxame de navios se aproximando de nós - mais navios do


que eu já vi - é difícil não vê-los como Eles.

Portadores pesados terráqueos. Espectros Syldrathi. Tropas Betraskan e


descendentes Chellerianos. Uma centena de modelos e

classes diferentes, roubados de uma centena de mundos diferentes, todos eles


incrustados em crescimentos contorcidos de verde azul e gavinhas onduladas
atrás deles na escuridão.

E eles estão vindo para nós.

“Bolo sagrado,” Aurora respira. “São muitos navios.”

"Estou com você, be'shmai", digo a ela.

Estamos no coração da Neridaa, olhando para a projeção que ela lançou ao


nosso redor. É como se as paredes da Arma fossem

translúcidas: todo o Vazio ao nosso redor é renderizado em alta definição em


close-up, afiado como facas. Meu pai está reclinado em seu trono de cristal,
mas posso dizer pela leve ruga entre as sobrancelhas que ele também está
preocupado com a força armada contra nós. Se nada mais, esse pensamento é
suficiente para despertar o medo em mim.

Ainda estou vestido como um guerreiro dos Invencíveis: armadura negra


pintada com glifos pálidos, manchada com canções de glória e sangue.
Lâminas kaat gêmeas estão cruzadas nas minhas costas, reluzentes e
prateadas, uma pistola pesada pendurada no meu

quadril, granadas de pulso estão amarradas no meu cinto. Mas não me sinto
um guerreiro. Não do tipo que ele gostaria que eu fosse, de qualquer maneira.
"Muitos." Meu pai observa os navios que chegam, e meu sangue gela
enquanto ele fala. “Sua irmã teria gostado disso, Kaliis.”

“Estamos muito perto da Sempiternidade para enviar pulsos cegos pela Arma
como da última vez.” Aurora se vira para encontrar os olhos de meu pai.
“Nós vamos ter que derrubá-los um por um. Você e eu."

Ele sorri, os olhos em nosso inimigo. "Isso agrada a você, sim?"

“Me agrada?” Aurora pisca. “Olha, eu não sou um psicopata como você. Eu
não gosto de matar apenas por causa disso. Estou ...

— Não me refiro à matança, terráqueo. Refiro-me ao poder.”

Meu pai lança um olhar sombrio para Aurora.

“Diga-me que você não sente isso? Zumbindo em sua pele e vibrando em
seus ossos? Diga-me que você não está ansioso para liberá-lo novamente? Ele
inclina a cabeça, os olhos piscando. “Os Eshvaren foram sábios quando
fizeram seus Gatilhos, criança. Eles nos

conheciam bem o suficiente para tornar nosso veneno doce. Para que nossas
mortes pareçam divindades.”

Ela franze os lábios, encontrando seu olhar, mas não diz nada. Os navios
estão se aproximando, fervilhando do nada. O olho direito de Aurora começa
a brilhar, e sinto o calor em sua pele enquanto ela encara meu pai.

"Você vai falar um pouco mais, ou você realmente vai me ajudar?"

"Ajudar você?"

Ele encontra o olhar dela e, sem quebrar o contato visual, estende a mão
esquerda. Eu vejo sua íris começar a brilhar: aquela luz escura dentro,
vazando pelas rachaduras em seu rosto. Suas tranças se movem como se
estivessem em um vento invisível, e além da pele do Neridaa, vejo uma das
naves Ra'haam — um enorme e pesado porta-aviões terráqueo envolto em
gavinhas e folhas pulsantes —
começar a estremecer. A embarcação deve pesar milhões de toneladas, e
ainda assim meu pai enrola os dedos em garras, como se

esmagasse a mais delicada das flores, e meus olhos se arregalam enquanto


vejo o transportador estremecer e explodir em mil

pedaços ardentes pelo poder de somente sua vontade.

Ele balança a cabeça.

— Não me importo em ajudá-lo, terráqueo. Eu me importo com a vitória.”

Aurora range os dentes e se volta para a tela. "Bom o bastante."

Meu olhar permanece em meu pai por mais um segundo. Estou pensando
naqueles dias em que eu era jovem e treinávamos juntos sob

os limoeiros. Mas então eu me abaixo e aperto a mão de Aurora.

“O que posso fazer para ajudar?”

Eu posso sentir o olhar ardente do meu pai na minha nuca, mas eu o ignoro.
Aurora me olha de lado, uma pequena galáxia brilhando em seus olhos
enquanto ela aperta a mão que segura a dela.

"Você já está fazendo isso", ela sorri.

E então começa. As naves Ra'haam rugem em nossa direção, uma multidão


impossível, e um por um, meu be'shmai e meu pai

estendem a mão na escuridão para esmagá-los. Vejo rajadas de luz, explosões


silenciosas no escuro, como novas constelações

brilhando brevemente em um céu em chamas.

A carnificina que eles tecem é de tirar o fôlego. A luz queima dentro dela a
quem eu amo e daquele a quem eu odeio, e por um

momento, estou triste com o pensamento do que eles poderiam ser se ao


menos se unissem e realmente trabalhassem juntos.

Mas eu sei que é o sonho de uma criança. Caersan, Archon of the Unbroken,
nunca compartilhará seu trono. Nunca confie em outro o suficiente para
acreditar que eles são movidos por qualquer coisa, exceto a sede de sangue e
a ganância que o impulsionam.

Meu pai é louco.

“Kal, este é Tyler, você lê?”

Eu toco o commset no meu ouvido. "Eu ouço você, irmão."

“Temos novas entradas, vários títulos. A Sempiternity está lançando todas as


naves. Diga a Auri que se ela puder evitar o ataque deles, temos seis.

"Entendido. Quanto tempo até o rift drive ficar online?”

“Pelo menos trinta minutos. Ela e o bastardo podem segurá-los por tanto
tempo?

Olho para Aurora, com o coração apertado. Eu posso ver o poder nela, a força
presenteada a ela pelos Antigos. Mas mesmo enquanto queima dentro dela,
brilhando como um sol em sua íris, posso vê-lo. Vê-los. Pequenas rachaduras
se espalhando de seu olho e através de sua pele. Eu vejo o que isso está
custando a ela. Como isso a está machucando. E pior, assim como meu pai
disse, o quanto ela parece...

Ela parece estar gostando.

"Nós vamos segurá-los", eu respondo.

"Entendido", Tyler responde. “Vamos manter o máximo de calor possível.”

Observo a frota da Sempiternity se espalhar — talvez cinquenta navios,


desorganizados e incompatíveis. Mas enquanto eles voam em direção às
naves Ra'haam que chegam, posso ver a mão de Tyler Jones dirigindo-os
como um maestro diante de sua orquestra. Meu
irmão sempre foi um mestre da tática, e parece que anos de guerra o afiaram
ainda mais. Suas naves cortavam o inimigo, caças sendo lançados, mísseis
disparando, explosões florescendo.

Mas os Ra'haam são muitos.

O lado escuro do lado de fora agora está em chamas: navios em chamas e


núcleos em ruptura, seiva fervente e folhas sangrando. Mas o inimigo
continua chegando, cada vez mais, caindo através de diminutos rasgos na
pele do sistema. Para cada navio que destruímos, outros três parecem
substituí-lo, como as ervas daninhas pelas quais essas pessoas os nomeiam. E
então...

“... Jie-Lin...”

Uma voz ecoando no ar ao nosso redor. Um tremor percorrendo o corpo de


minha be'shmai. Eu vejo sua respiração parar, seu ataque vacilar, sentindo o
horror, a tristeza e a raiva fluindo através dela com o som.

“… Jie-Lin…”

“Papai…” ela sussurra.

“… Sentimos sua falta…”, ele sussurra.

Eu conheço a voz. Claro que eu faço. O pai de Aurora, o homem que ela
perdeu há dois séculos, e depois perdeu novamente para os Ra'haam. Um dos
primeiros colonos humanos em Octavia a ser incluído no coletivo. De uma
maneira horrível, ele ainda vive dentro dela.

“… Pensávamos que tínhamos perdido você. Oh, meu amor, não podemos
dizer como é bom sentir você novamente. …”

“Be'shmai,” eu sussurro, apertando sua mão.

"Eu sei", ela respira. “Não é ele.”

“… Nós SOMOS ele. Somos tudo o que tocamos. Betraskan e Terran,


Syldrathi e Rikerite. Chellerian e gremp e Kacor e Cajak e Ayerf e Sarbor.
Pais e filhos, amigos e amantes, sem limites e para sempre juntos. É seguro
aqui, filha. Está quente. É amor. …”

Sinto Aurora estremecer, rangendo os dentes. Atrás de nós, ouço a voz do


meu pai, seus próprios dentes arreganhados em um rosnado.

“Não escute, garota.”

"Eu não sou."

“Ele procura distraí-lo.”

"Eu sei!"

"… Você não sabe. Você não pode. Não queremos que você morra, filha.
Você sabe que é isso que vai te custar, não sabe? No fim … ?"

“Tolo,” meu pai diz. “Apague-os. Não escute!"

“Pai, você não está ajudando!” Eu rugi.

“... Mesmo se você triunfar nesta batalha, você não pode vencer, tudo o que
espera...”

Meu coração se contorce quando o nariz de Aurora começa a sangrar.


Enquanto as pequenas rachaduras em sua pele rasgam uma

fração maior. E eu sei que fala a verdade.

“… Tudo o que espera por você é a morte. …”

Nossas defesas estão desmoronando. Os números do inimigo são muito


grandes. Os navios de Tyler tecem através do preto.

Explosões iluminam a noite. Eu vejo o rosto do meu pai contorcido em sua


fúria, os dedos se curvando. Mas o sangue roxo está

pingando de seu nariz agora, uma luz escura penetrando por suas rachaduras.
“Tyler, quanto tempo?” Eu exijo.

"Dez minutos! Talvez menos!"

“Não podemos segurá-los!”

As naves Ra'haam mais próximas disparam uma barragem, espiralando,


girando, cuspindo. Eles ignoram a Sempiternidade

inteiramente, com a intenção apenas de Neridaa – na Arma construída para


matá-la, os Gatilhos destinados a dispará-la.

Olho para meu pai, para Aurora, desesperado. Seus rostos estão escorregadios
de sangue, olhos envoltos em sombras, mas ainda

assim eles atacam: uma onda concussiva, explodindo os projéteis em icor.


Mas vem mais navios, uma maré sem fim, e sinto meu

coração afundar no peito.

“Tyler, o que está acontecendo!”

“O Rift Drive está online! Mas os 'Walkers ainda precisam energizar os


cristais!

"Kal...", sussurra Aurora.

“Tyler, não podemos detê-los!” Eu rugi.

“Kal!”

Encontro os olhos de Aurora, vejo a luz das estrelas brilhando dentro deles.
Ela balança ao meu lado, seus lábios vermelhos e

brilhantes. Seus olhos estão acesos, e reconheço o caleidoscópio de emoção


dentro dela — euforia e delírio, feroz e alegre, a corrida bêbada da batalha.
Ela estende a mão para Sempiternity, a corrente crepitando na ponta dos
dedos. O poder de um pequeno deus
dentro dela.

"Eu posso fazer isso."

Olho para o World Ship, balançando a cabeça. — Não, be'shmai, você vai...

Ela aperta minha mão. “Eu posso fazer isso, Kal.”

Eu olho para a batalha lá fora, as naves corrompidas inundando em nossa


direção, flores de fogo formando arcos através das estrelas.

Eu a puxo em meus braços, pressiono meus lábios nos dela, sentindo o gosto
de sangue entre nós. "Eu estou contigo."

Meu pai corta as mãos no ar, esmagando os vasos ao nosso redor. Aurora
estica os dedos em direção à Sempiternidade, e toda a

galáxia parece tremer. Sinto uma pulsação de poder ao nosso redor,


formigando na minha pele. A nave inteira estremece, as paredes ao nosso
redor zunindo com aquela melodia estranha e desafinada enquanto o poder
explode no coração da Nave Mundial, e os

fragmentos de cristal Eshvaren dentro explodem em uma luz ofuscante.

“Que diabos!” Tyler ruge.

A íris direita de Aurora queima com a mesma luz, vazando pelas fendas ao
redor do olho. Eu a sinto tremer em meus braços, e me viro para meu pai e
rugo sobre a pulsação crescente daquela linda e horrível canção.

“Pai, ajude-a!”

O inimigo se aproxima cada vez mais. Fome e desejo e morte. A luz dentro
da Nave Mundial brilha novamente, uma lágrima incolor se abrindo na pele
do universo. O sangue derrama sobre os lábios de Aurora, e meu coração se
contorce quando vejo que eles estão

curvados em um sorriso.
"Sim", ela sussurra. "Oh sim."

"É isso!" Tyler grita. “O FoldGate está aberto! Todas as unidades, recuem!
Retiro!"

Com um último golpe vicioso de suas mãos, meu pai se vira da carnificina do
lado de fora e alcança o navio ao nosso redor. Ouço a melodia da Neridaa
mudar de tom, sinto a onda de vertigem quando começamos a nos mover, o
preto em chamas. Eu me agarro a

Aurora, segurando-a como se para evitar que ela se afogue enquanto


descemos pelo FoldGate cintilante.

A fenda nos arremessa através do vasto abismo do espaço, gritando e


borrando. Posso sentir o gosto de cinzas no ar, sentir meu corpo se esticando,
o espaço ao meu redor se dobrando, o poder cantando nas pontas dos dedos
trêmulos, sangrentos, arco-íris correndo para preto e branco e depois para
cores plenas e gloriosas novamente.

E então, em outro flash de luz impossível, acabou.

Nós estamos seguros.

Eu seguro Aurora em meus braços, mantendo-a de pé. Suas pálpebras estão


pesadas, tremeluzindo como se ela estivesse sonhando.

Seu queixo está pegajoso de sangue.

"Aurora?" Eu pergunto. "Você pode me ouvir?"

Eu pressiono minha mão em sua bochecha, implorando.

"Aurora!"

“Muito bem, terráqueo”, vem uma voz áspera oca. “Estou quase
impressionado.”

Olho por cima do ombro, para a sombra nas minhas costas. Meu pai está
sentado em seu trono, o manto descendo as escadas como
uma cachoeira carmesim. Seus olhos estão machucados, o queixo manchado
de violeta fraco onde ele está limpando o sangue. Posso ver as rachaduras em
seu rosto um pouco mais profundas, seus ombros caídos - apenas os menores
sinais de tensão de sua provação.

Mas para ele mostrar fraqueza me diz o quanto isso o machucou.

Quanto custou a ambos.

"Você está bem?" Eu pergunto.

Ele esfrega a testa, estremecendo. “Eu não achei que você se importasse,
Kaliis.”

"Claro que eu me importo", eu rosno. “Sem você, nunca encontraremos o


caminho de casa. Nós nunca vamos derrotar os Ra'haam.”

“Vitória a qualquer custo.”

Ele olha para mim, os olhos brilhando enquanto ele sorri.

“Esse é o meu menino.”

“K-Kal?”

Eu me viro enquanto Aurora sussurra, apertando-a com força. Seu cabelo está
caído sobre o rosto em cortinas de preto e branco, encharcadas de vermelho
pegajoso. Eu aliso de volta e pressiono meus lábios em sua testa, minha
respiração travada no sangue

manchado em seus lábios, seu queixo, as cavidades sombrias ao redor de seus


olhos.

“Aurora...”

“Es-nós... estamos s-seguras?”

"Sim." Eu corro meu polegar em seus lábios, gentilmente limpando o sangue.


“Estamos seguros, be'shmai. Você fez isso. Você fez isso."
"Ah", ela suspira. "Bom..."

Aurora pisca com força, olhando para o cristal brilhante ao nosso redor.

Um fio de vermelho escorre de suas orelhas.

E então ela desaba em meus braços.

21

TYLER

Admito que dá muito trabalho só fazer uma ligação.

Levei dois dias dobrando sem parar para chegar ao Aurora FoldGate a tempo
para a Cimeira Galáctica, e meu cérebro está um pouco frito como resultado.
Não tão ruim quanto os membros do Esquadrão 303, que passaram as últimas
quarenta e oito horas soldados em uma cela de detenção. Mas ainda assim,
minha dor de cabeça não está brincando.

Tentei explicar meu lado das coisas para Cohen e seus esquadrões enquanto
passava suas rações pela pequena escotilha da porta, mas eles não estavam
realmente com vontade de ouvir. No lado positivo, aprendi alguns novos
insultos de Syldrathi se eu encontrar o tenente de Saedii Erien novamente.

A segurança em torno do FoldGate no sistema Aurora era tão pesada quanto


eu esperava. Com a galáxia à beira de uma dúzia de

guerras e representantes de todas as espécies sencientes do meio chegando ao


cume, eu honestamente não tinha esperança de entrar aqui sem ser detectado.

Mas agora, graças a Cohen, não preciso mais.

“Senhas recebidas, identificação confirmada, 303”, vem a resposta nas


comunicações. “Você está liberado para pousar em Bay Omega, Berth 7420.”

"Entendido, Aurora", eu respondo. “7420. Fora nas varas, hein?”

“Sim, desculpas, 303. Estamos presos aqui com o influxo de civis. Vai
demorar um pouco até que sua nave seja reabastecida e

reabastecida também. Quarenta horas pelo menos. Apresente-se ao seu


comandante de convés para um interrogatório.”

"Entendido", eu sorrio. “Vocês têm um melhor. 303, fora.”

Perfeito.

Melhor do que eu esperava, na verdade. Os principais hangares estão


obviamente cheios de navios enviados do governo. Com a

estação tão ocupada e com a ajuda das senhas de Cohen, posso passar sem ser
detectado, fazer login na rede da estação assim que atracar e avisar o
almirante Adams com tempo de sobra.

Bem... esse é o plano, de qualquer maneira.

Olho através das torres prateadas reluzentes da Estação Aurora, maravilhada


com as frotas reunidas aqui. Lindos e elegantes, enormes e enormes, centenas
de designs, todos se movendo no escuro como se estivessem dançando. Eu
sempre amei naves estelares, e não

posso deixar de sorrir com a visão. Mas meu estômago afunda quando vejo
um grupo de formas familiares em silhueta contra a estrela Aurora - um
porta-aviões da classe Reaper, apoiado por meia dúzia de destróieres pesados.

É a delegação da Terra. Provavelmente a própria Primeira-Ministra Ilyasova,


devidamente escoltada pela Força de Defesa Terrana.

Eu me sinto mais do que um pouco esmagado ao vê-los. Meu pai dedicou sua
vida a proteger nosso planeta — primeiro como membro

do TDF, depois no Senado terráqueo. Eu me inscrevi na Legião Aurora


porque queria dar minha vida pela mesma causa. E agora meu próprio
governo pensa que sou um traidor.

O pensamento de que eles atirariam em mim à primeira vista deixa um gosto


amargo na minha boca.
Trago o Arco Longo para a baía, através do balé lento de outras naves da
Legião, naves alienígenas, carregadores, SecDrones,

autolifters, esquifes. Mesmo tão longe dos hangares principais, o lugar é um


hospício. Mais ocupado do que eu já vi. É um pouco complicado de navegar,
verdade seja dita.

Eu queria que Cat estivesse aqui… .

De repente, percebo que a última vez que vi esta estação foi quando partimos
em nossa primeira missão. Todos nós juntos. Esquadrão 312 para sempre.
Parece que faz tanto tempo agora. Tão longe. Mas deixo de lado os
pensamentos sobre meus amigos, minha irmã,

tudo o que perdi. Concentre-se no que preciso fazer. Porque o Maker sabe
que eles gostariam que eu fizesse isso.

Todos eles desistiram de tanto – deram tudo – para me levar até aqui. E eu
não vou falhar com eles.

Meu Arco Longo entra no cais, umbilicais e grampos de ancoragem


serpenteando da câmara de ar para proteger meu navio. Cabos de linha dura
se conectam ao sistema de computador do 'Bow', baixando dados de viagem e
registros. E depois de uma dobra de quarenta e oito horas, alguns casos de
agressão contra colegas legionários, apropriação indevida de recursos da
Legião, privação de liberdade e uma acusação do que é definitivamente
pirataria galáctica, finalmente estou na rede da estação.

Como eu digo: muito trabalho só para fazer uma ligação.

Mas ei, eu sou um pirata agora.

Yarrrr.

Sei de cor o número de uniglass privado do almirante. Só é acessível através


da rede Aurora Legion a bordo da estação. É para

membros do comando sênior e seus amigos mais próximos dentro da Legião.


E para o filho de seu amigo, o garoto que ele orientou durante todos os seus
anos na academia.

Devo ter ligado para ele umas mil vezes, para pedir conselhos, para um
interrogatório, para um jogo de xadrez. Ele e meu pai serviram juntos no
TDF, e ele olhou para mim como meu pai gostaria que ele fizesse. Fomos à
capela juntos todos os domingos durante anos. E

de alguma forma, por alguma razão, foi ele quem me colocou nesse caminho,
quem colocou Aurora O'Malley em minha nave, quem deixou esses presentes
para nós no cofre do Domínio na Cidade das Esmeraldas.

Minhas mãos ainda estão tremendo enquanto digito os números no sistema de


comunicação da estação, olhando para o meu reflexo

nos monitores de vidro. Adams e de Stoy sabem alguma coisa sobre os


Ra'haam, os Eshvaren, tudo isso — às vezes, parecia que eles sabiam o que
estava por vir antes que realmente acontecesse. E, no entanto, se minha visão
for verdadeira, de alguma forma eles não sabem que os Ra'haam planejam
explodir esta academia e todo o Galactic Caucus a bordo.

O vidcall se conecta. Meu coração dá um pulo quando o rosto do almirante


aparece na tela — maxilar pesado, bochecha marcada,

cabelo grisalho cortado em barbante.

“Almirante...”

“Olá, você ligou para o número privado de Seph Adams. Lamento não poder
responder. Por favor, deixe seus dados e eu entrarei em contato com você.”

CLIQUE.

O rosto desaparece.

A tela fica escura.

Eu pisco.

"Você só pode estar brincando… ."


Eu olho para o vidro, um prompt piscando que diz DEIXAR MENSAGEM?

"Não", eu me levanto, a voz subindo comigo. "Não, você só pode estar


brincando comigo!" Eu arrasto minha mão pelo meu cabelo, minha paciência
se estilhaçando em um milhão de pedaços brilhantes. “Eu escapo do cativeiro
da GIA, sou esfaqueado, espancado e mastigado como uma bola de jato sob
custódia da Unbroken, saio, sou capturado novamente e depois derroto um
esquadrão inteiro de legionários da Aurora, roubo sua nave, arrasto minha
bunda até o meio do caminho. o setor, captura de risco e execução sumária, e
recebo seu SERVIÇO DE MENSAGENS?”

DEIXE MENSAGEM? o computador solicita.

“Eu não entendo!” eu abaixo. “Como você pode saber para nos deixar o Zero,
Almirante? Para nos enviar essa mensagem codificada?

Como você pode saber que Kal foi baleado, que eu fui capturado, que Cat
não conseguiu escapar de Octavia, e não saber responder ao seu maldito
UNIGLASS?

Eu não xingo. Considero isso um sinal de falta de autocontrole. Scar


costumava dizer que xingar era um impulso natural — que é um comprovado
apaziguador do estresse e mecanismo de liberação de dopamina. Mas se você
tem algo importante a dizer, vale a pena

gastar um tempo para dizê-lo sem recorrer à linguagem que você ouviria em
um banheiro. Eu posso contar o número de vezes que eu disse um palavrão
em uma mão.

"Foda-se", eu digo.

O computador emite um bipe.

"Foda-se", eu repito, mais alto.

DEIXE MENSAGEM?

"PORRA!" Eu grito, balançando no ar. "Porra! Porra!


FUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

Eu afundo em minhas ancas. Respire um suspiro pesado.

"Sim, tudo bem", eu admito. “Isso parece um pouco melhor.”

Mas não muito.

Adams provavelmente está batido, uma voz sussurra na minha cabeça. Ele é
o comandante conjunto de um corpo de paz espacial,

hospedando milhares de delegados de centenas de mundos, tentando impedir


que a galáxia se transforme em uma dúzia de guerras

diferentes. É a noite antes do cume. Ele não terá tempo para respirar, muito
menos responder a comunicações privadas.

Ele provavelmente nem está carregando sua uni.

E eu vejo de novo. Como uma farpa em minha mente, cavando cada vez mais
fundo. A imagem da academia explodindo por dentro. A

sombra subindo além. Aquela voz à beira de ouvir, suplicando, implorando.

... você pode...

"Arrume isso, Tyler," eu estalo, estremecendo de dor. “Eu sei, eu já sei!”

Então é isso.

Depois de todo esse caminho. Todo esse risco. Estou na linha do gol e não
posso nem avisar minha própria equipe sobre o que está por vir.

Meu esquadrão se foi, não tenho linha para o comando da estação, estou
atirando à vista para o pessoal terráqueo e da Legião, e os Ra'haam de alguma
forma vão explodir esta estação e todos nela em pedaços.

E não há ninguém para pará-lo além de mim.


Enfio um novo suprimento de rações pela escotilha para a cela de detenção,
ignorando o rugido de protesto de Cohen, as promessas de De Renn de rasgar
minha espinha pelo meu... bem, não vou entrar em detalhes, mas parece que
doeu. .

Eu puxo a aba de um boné da Aurora Legion sobre os olhos e levanto a gola


do meu traje de voo, sussurrando uma oração. Minha

pistola de pulso está enfiada na parte de trás da minha calça, a lâmina que
Saedii me deu presa ao meu pulso.

O pensamento de que estou sozinho aqui é uma pedra no meu peito.

O conhecimento que treinei anos para isso é ferro na minha espinha.

E a memória daquele sonho, aquela sombra surgindo...

“Mexa-se, legionário.”

•••••

Primeira regra da tática: Conhecimento é poder.

Não faço ideia do que o Ra'haam planejou, e há várias maneiras de


desencadear uma explosão se tiver um agente na estação.

Mas a partir dessa visão se repetindo na minha cabeça, eu sei que a explosão
vem de dentro da Academia Aurora, desabrochando

como uma flor em chamas e engolindo tudo ao seu redor.

A Cimeira Galáctica está programada para começar às 09:00 Hora da Estação


de amanhã. São 15:57 ST agora, então estou no relógio de três maneiras
diferentes.

Tenho quarenta horas, se tudo correr bem, até que as equipes de manutenção
encontrem Cohen and Co. enfiado naquela cela de

detenção e o alarme seja acionado.


Pior, tenho um número desconhecido de horas até que alguém perceba que
Cohen não se apresentou ao comandante do convés.

Talvez eles estejam ocupados demais para notar por um tempo. Talvez eles
tenham dado uma folga para ela porque ela geralmente

tem um alto desempenho. Ou talvez isso os avise de que algo está


acontecendo.

Mas, independentemente disso, tenho dezessete horas e três minutos até o


início do cume. Então é hora de começar a trabalhar.

Se eu sei alguma coisa sobre políticos, galácticos ou não, sei que na noite
anterior ao trabalho, eles provavelmente vão ao bar.

Então, parece que eu preciso pegar uma bebida.

Eu saio do cais de carregamento do Longbow em uma multidão de tráfego de


pedestres - um grupo de estivadores, equipes de

mecânicos e técnicos, e um punhado de legionários retornados do serviço. Eu


atravesso os dois primeiros postos de controle de

segurança sem muito drama. O traje de voo de Rioli é um pouco apertado na


virilha (para não me gabar), mas eu pareço o suficiente com ele para mostrar
sua etiqueta de identificação e passar pela equipe de segurança
sobrecarregada.

Isso é coisa de criança, no entanto. Assim que eu passar pela


descontaminação e pelos detectores de metal e biometria —

rastreamento facial, varreduras de retina, identificação de DNA — estou


ferrado.

Felizmente, eu era o melhor amigo de uma Catherine “Zero” Brannock.

Cat recebeu esse nome por causa de sua nota perfeita no exame de
classificação do piloto em nosso último ano - os sims nunca
acertaram uma única vez nela. E uma das maneiras pelas quais Cat conseguiu
ser um quebra-cabeças atrás do bastão de um Longbow ao longo de nossos
anos aqui na Aurora Academy foi roubar o tempo de voo.

Veja, eu conhecia os regulamentos da Legião como a palma da minha mão.


Mas Cat conhecia a própria estação como conhecia seu

próprio nome.

Eu, ela e Scar fomos para a escola juntos por cinco anos na Terra - três
pirralhos militares da TDF de nariz ranhoso. No primeiro dia do jardim de
infância, Cat quebrou uma cadeira na minha cabeça depois que eu a empurrei
nas costas. Eu tive uma pequena cicatriz na minha sobrancelha para mostrar
desde então. Mas quando seus pais se divorciaram, sua mãe foi designada
para o Lunar Defense

Array, e Cat se mudou com ela. Ela cresceu a bordo de estações e as conhecia
de dentro para fora. Então, quando todos nós fizemos treze anos e nos
inscrevemos na Legião, Cat fez questão de conhecer essa estação também.

Ela costumava se esgueirar aqui depois do expediente, arranjar um plano de


vôo falso, pegar um dos 'Bows mais velhos, então ir para o treino, voando tão
perto do casco da academia que ela não seria detectada por suas varreduras de
LADAR. Eu costumava dizer a ela que ela era louca por fazer isso - ela
sempre poderia praticar em uma simulação, e se ela fosse pega, eles a
expulsariam com certeza.

“Uma coisa é pilotar um simulador”, ela costumava me dizer. “Outra é dançar


o preto. E quando forem meus movimentos mantendo sua bunda inteira,
Jones, você vai me agradecer.

E é exatamente isso que eu faço. Enquanto me esquivo do aperto da via


principal e entro em uma rampa entre os depósitos auxiliares de combustível,
rastejando de barriga para baixo dos tanques e para o duto de ventilação
terciário, sussurro graças ao meu amigo.

Desejando como o inferno que ela estivesse aqui.


Levo cinco horas para trabalhar no sistema de ventilação — não sei me virar
tão bem quanto Cat conhecia, e a Estação Aurora é

enorme. Mas tenho o uniglass de Rioli para iluminar o caminho e atravesso


lentamente o labirinto de entradas e entroncamentos, o metal iluminado pelo
brilho suave da tela, até finalmente emergir nas entranhas dos níveis de
recreação da estação.

Rastejando para fora do duto, tiro meu traje de voo, percebendo que estou
coberta de sujeira e poeira - eles realmente deveriam passar os drones
varredores por essas aberturas com mais frequência. Felizmente, por baixo, o
uniforme de Rioli está quase todo limpo.

É estranho usar as listras brancas de um Legion Ace em meus ombros, mas


pelo menos estou dentro do perímetro de

descontaminação agora - a segurança não deve ser tão difícil. E agindo como
se eu pertencesse, marcho pelos corredores iluminados, passando por alguns
técnicos e alguns cadetes mais jovens, e saio para o passeio principal da
Academia Aurora.

Honestamente, a visão nunca deixa de me tirar o fôlego.

Ele se estende diante de mim: um longo crescente de cromo polido e plasteel


branco reluzente. Está lotado de pessoas — um bando de cadetes e
legionários misturando-se com oficiais das delegações planetárias, assessores
de imprensa aqui para cobrir a cúpula e a multidão habitual de funcionários,
instrutores e tripulação.

As colunas se elevam no céu acima de mim, o próprio passeio se curva na


distância à minha frente, as vitrines do distrito comercial à minha esquerda,
os verdes e azuis frios do arboreto à minha direita.

Acima de nós, o teto é transparente, a estação inclinada para mostrar a luz


ardente da estrela Aurora, uma dispersão de um bilhão de sóis atrás dela, a
majestade da Via Láctea em exibição. E no coração do passeio, elevando-se
acima de todos nós, estão as estátuas das duas pessoas que tornaram tudo isso
possível.
Os Fundadores da Legião Aurora.

Um é de mármore, branco brilhante – extraído de uma das últimas pedreiras


da Terra. O outro é opala preta sólida, com veios de tons de arco-íris,
transportado desde Trask.

Seus rostos são serenos, sábios. Duas mulheres, Betraskan e Terran, inimigas
em tempos de guerra que se ergueram acima do conflito entre nossos povos
para forjar algo maior que ambos. Uma aliança dos melhores e mais
brilhantes da galáxia. Uma Legião que luta pela paz, batizada com o nome da
estrela que a academia que construíram orbita.

Nós nem aprendemos seus nomes aqui na academia. Eles tiveram suas
identidades expurgadas de todos os registros oficiais porque não queriam que
sua própria lenda ofuscasse a lenda do que eles construíram aqui.

Não era sobre quem eles eram – assim como agora, não se trata de nenhum
legionário, ou mesmo de qualquer comandante. É sobre o que todos nós
somos juntos, como um todo. O que representamos.

E no pedestal abaixo deles, esculpido na rocha, está o mantra dos


Fundadores. Sua promessa para a galáxia. As palavras pelas quais vivi toda a
minha vida.

Nós a Legião

Nós a luz

Queimando brilhante contra a noite

Sozinho como estou aqui, a visão dos Fundadores enche meu peito de calor.
E enquanto eu olho para a estação ao meu redor, todas essas pessoas reunidas
dos cantos da galáxia para lutar por algo mais, todos eles agora sob ataque de
um inimigo que eles nem

podem ver, eu sussurro uma promessa suave.

“Eu não vou te decepcionar.”


Eu cruzo a borda da multidão, boné puxado para baixo – eu não sou
exatamente um estranho aqui, e se um único cadete ou legionário me vir, ou
algum soldado da TDF me reconhecer pelos feeds, estou acabado.

Nem tenho certeza do que estou procurando, honestamente, como devo


identificar essa ameaça que vi em meus sonhos. Mas posso

sentir isso dentro de mim, me empurrando: a visão que me trouxe de volta a


este lugar, brilhando como uma luz nesta escuridão. Saedii me disse que eu
era um tolo por vir aqui e, por um momento, a lembrança dela faz meu peito
doer. O pensamento de que

provavelmente nunca mais a verei...

Cuidado com o trabalho, Jones.

Eu cruzo para o arboreto, observando a multidão. A folhagem aqui foi


recolhida de toda a Via Láctea: água suave escorrendo sobre cachoeiras de
cristal de coração de Ishtarr, ventos sussurrantes de Syldra, folhas e flores de
todas as cores de todos os mundos. Mas o arco-íris de cores só me lembra do
meu sonho, o cristal se estilhaçando ao meu redor, aquela sombra penetrando
pelas rachaduras como sangue negro. Esperando contra a esperança, ligo para
o uniglass de Adams novamente, xingando baixinho enquanto recebo seu
serviço.

“Olá, você ligou para o número privado de Seph Adams. Eu estou—”

CLIQUE.

Deixo apenas uma mensagem?

Como eu sei que ele vai conseguir?

Posso honestamente pendurar o destino da galáxia em uma secretária


eletrônica?

“Bem, você não é apenas uma fatia robusta da humanidade?”

Olho de lado para a voz. Um chelleriano aparece ao meu lado, uma bebida
em cada uma de suas quatro mãos. Seu traje é de um azul

profundo para compensar o azul-céu mais claro de sua pele. Seu sorriso de
dente de tubarão poderia ser adequadamente descrito como “deslumbrante”.

"Oláoooo", diz ele, arrastando a palavra como se tivesse gosto de chocolate


quente. "E qual é o seu nome, legionário?"

“Eu não sou um legionário. Eu sou um pirata. E meio ocupado, sem ofensa.”

"Nenhuma tomada, capitão", ele ronrona, olhando para mim. “E me perdoe se


estou incomodando você. Eu só estava me perguntando se essas suas
covinhas são um problema padrão da Legião.”

"Não", eu respondo, examinando a multidão. “Você precisa de uma licença


de especialista e três anos de treinamento antes de estar qualificado para usá-
los.”

"Você não é o pequeno sasspot", ele sorri, girando a haste de um copo.

"Você deveria conhecer minha irmã", murmuro.

"Eu adoraria. Se essa for sua preferência. Achei que os terráqueos tinham
aversão a esse tipo de coisa. Ele faz beicinho, considerando o copo de líquido
verde cintilante em sua terceira mão. “Diga-me, seria ousado se eu lhe
oferecesse uma bebida? Parece que tenho muitos deles e nem tenho certeza
do que é esse.”

"Ouça, amigo, eu não quero..."

Minha voz desaparece quando olho para ele um pouco mais de perto. Sua voz
é familiar. Seu rosto ainda mais. Seu traje parece que custou o PIB de uma
pequena lua.

"Eu conheço você… ."

“Não tão bem quanto eu gostaria.” Ele oferece o copo. "Mas podemos
remediar-"
"Você é um apresentador", eu percebo. “Você trabalha para a GNN.”

"Culpado", ele sorri, acenando para as credenciais de imprensa ao lado de sua


gravata, depois para a pequena legião de assistentes e equipe atrás dele.
“Lyrann Balkarri, a seu prazer. Esperançosamente."

"Você estava relatando sobre a escaramuça no setor Colaris."

"Dificilmente uma escaramuça, querida", ele faz beicinho. “Essa pequena


confusão pode terminar com Chelleria e Rigel em guerra novamente. Embora
eu esteja lisonjeado que você viu o feed. Nossas classificações estavam no
tanque após a birra de Archon

Caersan.”

Eu o observo com mais atenção. Eu posso ver o botão preto fosco de um


microfone em sua lapela. O brilho de uma minicâmera em seu botão superior.

"Espere... você não está gravando isso, está?"

Seu sorriso cresce um pouco mais. “Nunca sem consentimento, querida.”

“O que você está fazendo na Estação Aurora?”

“Bem, além de aproveitar a alegria inestimável dessas covinhas, estou


relatando o cume.” Lyrann toma um gole de um copo de

espumante vermelho, faz uma careta e o entrega a um lacaio. “Luddia,


querida, tire isso de uma câmara de ar, sim? E mandar açoitar o sujeito que
me serviu.

“Estimados representantes.”

Um silêncio toma conta da multidão. Eu me viro para a voz, coração na


minha garganta. Um holo enorme está sendo projetado no ar acima do
arboreto, a figura de um homem imponente com braços cibernéticos e um
uniforme de gala completo decorado com uma

dúzia de medalhas e a estrela da Legião Aurora.


"Almirante Adams", eu sussurro.

“Honrados convidados”, continua ele. “Legiões. Em nome do Líder da


Batalha do Clã Maior Danil de Verra de Stoy e de mim, damos as boas-
vindas à Estação Aurora.”

A câmera se move para o co-comandante da Legião, ao lado de Adams. De


Stoy é austero, o cabelo puxado para trás em um rabo de

cavalo severo. Mas seu uniforme brilha com medalhas e sua voz é tão
imponente quanto sua presença.

“Muitos anos atrás”, ela começa, “em tempos de guerra, os Fundadores de


nossa Legião forjaram uma aliança que dura séculos. É

nossa esperança fervorosa que, mesmo nestes tempos sombrios, as raças da


galáxia possam se unir novamente e brilhar uma luz que banirá a sombra que
cresce entre nossas estrelas.”

Minha barriga se revira um pouco com essa escolha deliberada de palavras.

Sombra.

Crescendo.

“Nossos últimos participantes chegarão esta noite”, continua Adams.


“Amanhã de manhã, antes do início da cúpula, o Líder de Batalha de Stoy e
eu faremos um discurso conjunto que diz respeito a todos nesta estação e, de
fato, nesta galáxia.” Ele sorri, sombrio. “Peço aos membros da imprensa
presentes na cúpula que não durmam com seus alarmes. Enquanto isso,
gostaríamos de expressar nossa

gratidão a todos pela presença, especialmente aos Cônsules Maiores Mariun


de Roy e Gense de Lin da Coalizão do Clã Betraskan, e a Primeira Ministra
Tania Ilyasova do governo terráqueo.”

A câmera rastreia os cônsules betraskans que estão entre sua comitiva e se


curvam diante das ondas de aplausos. A tela então corta para os delegados
terráqueos, a primeira-ministra Ilyasova sorrindo e agradecendo com a
cabeça, seus cabelos grisalhos brilhando na luz. Ao seu redor estão vários
ministros, atendentes e assistentes. Mas meu estômago revira ao ver seu
detalhe de proteção.

Deveria saber...

A Força de Defesa Terráquea normalmente estaria encarregada da segurança


ministerial, e não faltam soldados da TDF na comitiva de Ilyasova. Mas onde
quer que você encontre uma questão de segurança planetária da Terra,
também encontrará agentes da Agência de Inteligência Global.

Eles estão entre o grupo do PM, silenciosos e imóveis. Seus trajes são cinza-
escuro, da cabeça aos pés até a ponta dos dedos, seus rostos escondidos atrás
de máscaras espelhadas sem feições, alongadas e ovais. Mas eu sei o que se
esconde por baixo.

O Ra'haam está aqui.

— Você está bem, querida? Lyrann pergunta, tocando meu braço. “Parece
que alguém dançou em sua pedra da morte.”

Eu engulo em seco, mandíbula apertada.

"Eu estou bem", eu consigo.

Mas eu realmente não sou.

Porque ali entre eles, vejo uma figura familiar. Seu rosto está coberto por essa
máscara, mas eu ainda a reconheceria em qualquer lugar. O corpo sob aquele
nanoweave justo que uma vez eu segurei em meus braços. Meu melhor amigo
do mundo.

Eu posso vê-la agora, assistindo enquanto eu era torturado no Kusanagi.


Mofo em sua língua e lágrimas brotando em seus olhos em forma de flor
enquanto ela me implorava.

Tyler, não vá...

Tyler, eu te amo.
"Gato...", eu sussurro.

22

FINIAN

“Ok, isso deve funcionar.”

Tento parecer confiante enquanto nos amontoamos em volta do casco


danificado de Magellan na bancada de trabalho, as cabeças

curvadas como uma equipe médica sobre um paciente crítico. Nós temos o
laboratório para nós agora – a equipe que deveria estar aqui está recebendo
tratamento para uma dose de radiação. Provavelmente estamos marcando um,
mas ficaremos bem no próximo

ciclo, e temos negócios urgentes.

Eu já conectei minha universidade, Zila e Scar juntos, e com um pouco de


solda e uma breve oração ao Criador, estou dando os toques finais na minha
obra-prima de fio quente.

“Os circuitos lógicos combinatórios...”, murmura Zila, parecendo duvidosa.

“Ah, eu sei. Nari, me dê mais uma daquelas coisas de metal apertadas.”

"Você quer dizer um clipe de buldogue?"

"Certo. Por que eles são chamados assim?”

“Eu...” Ela franze a testa, pegando um do maço de plasdocs. “Na verdade,


não faço ideia.”

“Um buldogue os inventou?” Scar sugere.

“Você tem uma criatura que é tanto um touro quanto um cachorro? Na


verdade, eu vou comprar isso. Quero dizer, vocês costumavam farmar
quantum— Ow!”
Um pequeno zap corre pelos dedos do meu exo – se o uniglass mais irritante
da galáxia não estivesse digitalmente inconsciente, eu diria que aconteceu de
propósito – e com um zumbido suave, o vidro morto começa a ligar.

“Sssss!” Eu levanto a mão para Scarlett, e ela obedece com um high five,
enrolando seus dedos nos meus para me puxar para um beijo.

Um zap muito, muito melhor passa por mim quando nossos lábios se
encontram, e é definitivamente assim que todos os high fives

– “HEY LÁ! EU PERDI SEUS FFFF-ROSTOS!”

Paramos o beijo, observando enquanto as quatro telas uniglass passam por


uma série de padrões digitais cortados com linhas de

estática.

“Isso não parece certo,” Scar murmura.

"Não é. Mas estou trabalhando com ferramentas primitivas aqui.” Olho para
Nari. “Sem ofensa, Garota Sujeira.”

"Nenhuma tomada, cabeça de lixívia", ela murmura.

“Ei, quando a guerra terminar daqui a vinte anos e Trask se tornar o aliado
mais próximo de Terra, em uma escala de um a dez, quão estúpido você vai
se sentir?”

“Não é tão estúpido quanto você vai parecer com a minha bota na sua...”

“Crianças,” Scarlett suspira. "Por favor."

“Mesmo que não estivéssemos ficando sem tempo”, diz Zila, “ainda não
teríamos tempo para hostilidades inúteis. Somos todos

amigos aqui”.

Kim faz uma careta para mim, dá um aceno de má vontade para Zila. E o
jeito que ela encara Z me diz que talvez a Tenente Dirtgirl esteja pensando
que ela gostaria de ser algo mais do que amiga do nosso pequeno Cérebro.
Mas como diz Zila, estamos ficando sem tempo.

“Ei, Magellan,” eu digo quando a tela de inicialização termina. “É bom ver


você de novo, amigo. Temos um pouco de matemática para você.”

“EI, PLANTA! TERRIER-TERRIERT-TT-TERRIER! AQUI ESTÃO


DRAGÕES. BARÉ, JEANNE. STARK, FREYA. BIRD WALTON,
NANCY. LISTA DE

EXPLORADORES INCOMPLETA. ALGUÉM TEM UM BISCOITO?”

Eu adiciono outro ponto de solda. “Magalhães! Estamos meio que em um


relógio aqui, amigo, e precisamos que você faça algumas

contas e salve nossas caudas.

“Antes que a cobra coma o seu”, murmura Zila.

Toda a atividade na tela é pausada e, por um momento de parar o coração,


acho que piorei as coisas. Magellan pisca, uma resma de código
decididamente fora do padrão rolando pelo vidro rachado. A tela do meu
vidro, depois a de Zila e depois a de Scar começam a pulsar no tempo, e a
palavra OUROBOROS se aglutina nas três, se desintegrando em uma nuvem
de uns e zeros.

Scarlett franze a testa. "Você viu aquilo?"

Magalhães apita novamente. Uma luz azul fria lava sua superfície. E com um
zumbido suave e satisfeito, a tela se transforma em uma tela de consulta
normal.

“NO RELÓGIO, HEIN?” ele chia. “ISSO SIGNIFICA QUE FINALMENTE


ESTAMOS DE VOLTA EM 2177? PENSEI QUE NUNCA CHEGARíamos

aqui!”

Por um momento, há silêncio, exceto pelo estalo de algumas estações de


trabalho atrás de nós. Scarlett e eu trocamos um olhar de olhos arregalados.
"Nós estamos... o quê?" Eu gerencio.

“Magalhães, por favor, repita a última declaração”, diz Zila.

“AH, AGORA ESTAMOS INTERESSADOS EM OUVIR O QUE TENHO


A DIZER, HEIN?” Ele pisca de forma desagradável. “TODO MUNDO

DOENTE DE SUA PEQUENA PIADA DE CORRER?”

Zila franze a testa. “Correndo...”

“'EI, VOCÊ ESTÁ PRESTES A COLOCAR-SE NESSE PLANETA,


TALVEZ EU POSSA AJUDAR? MAGELLAN, MODO SILENCIOSO! EI,
NÃO

COMA ISSO, TEM TODO O VALOR NUTRICIONAL DE UMA MEIA


DE GINÁSTICA RIGELLIAN. MAGELLAN, MODO SILENCIOSO!
AURORA,

NÃO TOQUE NESSE ARTEFATO ALIENÍGENO, VAI... MAGELLAN,


MODO SILENCIOSO!'”

“Magalhães...”, Scarlett começa.

“TODO MUNDO AO REDOR DE MIM É UM PIPOCO DE PROTEÍNA


CHEIO DE HORMÔNIOS ADOLESCENTES E TENHO O QI DE UM

SUPERGÊNIO, MAS NNNNOPE, VAMOS TODOS GRITAR COM O


UNIGLASS PORQUE É HILÁRIO PARA NÓS MEATBAGS!”

"Magellan, sentimos muito", diz Scarlett.

"SUUUURA VOCÊ É."

"Nós não sabíamos que estávamos ferindo seus sentimentos", ela garante.
“Ninguém está colocando você no modo silencioso.”

"NÃO? NENHUMA PESSOA? TEM CERTEZA? E VOCÊ, SASSYBOY?”


“Tenho certeza”, digo, pegando uma chave inglesa próxima, “que se você
não começar a falar agora, vou reciclar você.”

"BEM BEM! NÃO PRECISA FICAR HUFFY,” Magellan murmura. “SE


MEU PROTOCOLO OUROBOROS FOI ATIVADO, NÃO TEMOS
TEMPO

PARA ISSO DE MANEIRA MESMA.” Um fluxo de código rola pela tela do


dispositivo, a tela pisca. “Uau, meus sensores estão uma

bagunça. A TENENTE KIM ESTÁ AQUI?

"Que diabos...", respira Nari, olhando para Magellan como se fosse algum
tipo de bruxa e ela está pensando em encontrar uma pilha de gravetos.
Quando eu aprendi sobre aquele pequeno episódio na história da humanidade,
eles tinham muito o que explicar, mas agora estou começando a ver como
isso aconteceu.

“Nari está aqui.” Os olhos de Zila desviam-se para o tenente. “Mas a


pergunta mais pertinente é: como você sabia que ela estaria?”

“ESTÁ NO MEU DOCUMENTO DE INFORMAÇÃO. QUE AINDA ESTÁ


PARCIALMENTE CRIPTOGRAFADO E DESEMBALADO NA MINHA

CPU. MAS EU SEI QUE ELA FAZ PARTE DO PLANO.”

Minha mente está correndo, e Scarlett está olhando para mim como se toda a
galáxia tivesse virado de cabeça para baixo. Minha

garganta está tão apertada que mal consigo falar.

“Que plano?”

“O PLANO PARA SALVAR A GALÁXIA DA VIA LÁCtea, SASSYBOY!


TUDO ISSO FEZ PARTE DELA. CADA MOMENTO QUE VOCÊ VIU

Ö
DURANTE O ÚLTIMO ANO. A CADA MOMENTO DESDE O RONCO
DO CADETE ANTON BJÖRKMAN MANTENHA O CADETE TYLER

JONES ACORDADO NA NOITE ANTES DO DRAFT. A CADA


MOMENTO DESDE QUE O CADETE JONES CHEGAVA ÀS BAÍAS DE

LANÇAMENTO, ONDE O SEGUNDO TENTENTE LEXINGTON LHE


PERMITIU QUE LEVOU UM FANTASMA PARA O DOBRA EM
DESAFIO

DOS REGULAMENTOS DA AURORA ACADEMY. A CADA


MOMENTO DESDE QUE ELE DETECTOU E RESGATEU AURORA
JIE-LIN

O'MALLEY DAS RUÍNAS DO HADFIELD.”

Silêncio total.

"OLÁ? MINHA UNIDADE VOX ESTÁ FRITANDO?

"Ty me contou sobre isso", murmura Scarlett. “Seu colega de quarto


roncando quando ele nunca costumava fazer isso. O tenente com quem ele
flertou para que pudesse atingir a Dobra sem escolta de oficiais. Ele achou
estranho em retrospectiva, mas—”

“MAS ERA TUDO PARTE DO PLANO,” Magellan diz, com uma pequena
faísca alegre. “ASSIM ESTAVA TYLER ME DANDO PARA AURORA.

AURORA ARMAZENANDO A BORDO DO SEU LONGBOW. O ZERO


TE ESPERA NA CIDADE ESMERALDA. PARA SER HONESTO,

GARANTINDO QUE O PRIMO DE SASSYBOY, DARIEL, TINHA


VISTO OS POSTERS DO SR. A EXPOSIÇÃO DE ARTE DE BIANCHI
FOI A

PARTE MAIS COMPLICADA. ELE NÃO É RÁPIDO NA ABORDAGEM,


É?

"Tudo planejado", eu ecoo.


“DIREITO À CAIXA DE DEPÓSITO NO DOMINION VAULT, COM
PRESENTES PARA CADA UM DE VOCÊS. DEIXOU LÁ ANTES DE SE

INSCREVER NA ACADEMIA.”

“Exceto Cat,” Scarlett sussurra, franzindo a testa lentamente. “Não houve


presente para Cat. Apenas um navio nomeado em memória dela. E agora
Tyler se foi. Sua voz está subindo, sua mão apertando a minha até o ponto de
dor. "Eles se foram, e você está nos dizendo que isso foi planejado?"

“BEM”, responde Magalhães. “Numa EQUAÇÃO DESTE COMPLEXO,


NINGUÉM PODE CONTROLAR TODAS AS VARIÁVEIS. E NOSSO

CONHECIMENTO DE EVENTOS SÓ SE ESTENDEU A CERTO PONTO


NA LINHA DO TEMPO. MAS OS ACONTECIMENTOS FORAM

CUIDADOS, ONDE PUDEREM ESTAR. VOCÊ FOI ASSISTIDO, ONDE


PUDER ESTAR.”

"Por quem?" Zila pergunta, e não posso deixar de admirar o fato de que ela
está mantendo sua gramática enquanto meu cérebro dispara como uma
queima de fogos.

“ALmirante ADAMS E LÍDER DE BATALHA DE CLÃ MAIOR DE


STOY.”

“Mas quem os informou?”

“PARECE QUE AS ORDENS FORAM TRANSMITIDAS ATRAVÉS DOS


CHEFE DA ACADEMIA, GERAÇÃO EM GERAÇÃO, DOS
FUNDADORES

ORIGINAIS DA LEGIÃO AURORA EM 2214.” Magellan pisca, talvez


realizando recuperação de dados. Há um zumbido em seus circuitos

que eu não gosto. “UM DOS QUAIS FOI O ALmirante NARI KIM.”

As pernas de Nari se dobram nesse ponto, e ela cai no banco de um técnico


que Zila enfia debaixo de sua bunda com apenas um
milissegundo de sobra.

"Ok", sussurra Dirtgirl. “Ok, isso é oficialmente demais agora.”

“Está certo,” Scarlett respira. “Respiração do Criador, está certo.”

"Cicatriz?" Eu pergunto.

“Você se lembra do salão principal no calçadão Alpha na academia? As


grandes estátuas?”

“Os Fundadores...”, sussurra Zila.

Scar caminha para o lado da Tenente Dirtgirl, estica um braço acima de sua
cabeça. “Imagine ela feita de mármore. E mais velho. E

como uma centena de metros de altura.”

Eu olho para Nari, uma carranca se aprofundando na minha testa. “Pedaços


do Criador...”

Scar se vira para Nari. “Passamos por você todos os dias. Quero dizer, em
nossa defesa, você é bem mais velho. E em uniforme de gala completo da
Aurora e, você sabe, pedra sólida. E realmente, você é tão grande que
estamos apenas andando pelos seus pés. Mas

caramba, eles fizeram uma estátua de você, garota. Ela levanta a mão para um
high five, mas Nari a deixa pendurada, ainda olhando para Magellan.

"Você é um dos fundadores da Aurora Academy", eu sussurro.

“Eu nem consigo encontrar minhas chaves na maioria dos dias,” Nari
sussurra.

“Isso explica a sensação de familiaridade que tenho experimentado”, reflete


Zila. “Seu cabelo está mais curto na estátua que

construíram para você.”


Nari abre a boca, depois a fecha novamente.

“Acho que vou ficar doente...”

“Você sabe,” eu digo, “você co-fundou a Aurora Academy com sua melhor
amiga. Quem passa a ser um Betraskan. Então você

provavelmente não deveria chamá-la de cabeça de descoloração ou atirar na


cara dela quando a conhecer.

– Fin... – Scarlett geme.

"Sim, desculpe", eu sorrio.

Eu sei que não deveria estar brincando. Eu sei que. Mas eu quero dizer.
Como você deve responder quando descobrir que faz parte de um plano pan-
galáctico abrangente que está em andamento há séculos?

“Espere,” diz Scar de repente, virando-se para Magellan. “Acabei de


perceber... isso deve significar que Nari vive! Se ela é uma das comandantes
originais da Legião, ela está garantida para sair desse ciclo, certo?”

"OH, INFERNO NÃO", ele responde.

Zila franze a testa. “Mas se o Tenente Kim for fundar a Aurora Academy...”

“SIM, EXCETO QUE AINDA NÃO ACONTECEU. VOCÊS AINDA


ESTÃO NO MEIO DE UM EVENTO PARADOXO EM RUÍDO,
CRIANÇAS. NÃO

QUERO TE CHAMAR COM A TEORIA MULTIVERSO, MAS POSSO TE


DIZER QUE NADA ESTÁ FIXADO AQUI. NARI KIM SÓ ENCONTRA
A

AURORA ACADEMY SE VOCÊ CONSEGUE ESCAPAR DESTE LOOP.”

"Exceto que não sabemos como fazer isso", eu rosno.

“BEM, AINDA BEM QUE PARECE TER SIDO PROGRAMADO COM


TODAS AS INFORMAÇÕES PERTINENTES. ASSIM, ALGUÉM SENTE

QUER GRITAR NO MODO SILENCIOSO! OU DEVO CONTINUAR


DESEMBALANDO ESTES ARQUIVOS DE MEMÓRIA E
CONTINUAR?”

Pego a chave novamente quando a mão de Scarlett se fecha sobre a minha.

"Você pode nos dizer alguma coisa sobre os outros primeiro?" ela pergunta.
“Você sabe o que aconteceu com Ty? Áuri? De volta ao nosso tempo?”

“PARECE QUE NÃO TENHO ACESSO A ESSE DADOS. PODE SER


QUE MEU PROGRAMADOR NÃO SABE. OU ESCOLHERAM NÃO ME

DIZER. OU ESTE TRABALHO DE REPARO SHONKY CORROMPEU


PARTES DA MINHA MEMÓRIA. TEM CERTEZA QUE ESTUDOU

MECÂNICA, SASSYBOY? PARECE QUE FOI REPARADO POR


ALGUÉM COM GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA.”

"Seu pequeno pedaço de chakk, eu te coloquei de volta com um clop feito por
um maldito touro-" Scar coloca a mão sobre minha boca.

"Ok, pergunta", diz ela. “Você era apenas o velho uniglass de Tyler antes de
ele te dar a Auri. Como em nome do Criador você é agora um oráculo? Como
você sabe de tudo isso?”

“LEMBRE-SE DE QUANDO VOCÊ ACHOU QUE SERIA DIVERTIDO


BAIXAR UM UPGRADE DE PERSONALIDADE UNIGLASS NÃO

AUTORIZADO DE UM WEBNODE DE COMPRAS?”

"Ainda não posso acreditar que você fez isso", murmuro.

“Ele veio com uma bolsa grátis,” Scar faz beicinho.

Ã
“TODOS ESTES DADOS FORAM INCLUÍDOS NESSA ATUALIZAÇÃO.
PROJETADO PARA SER DESBLOQUEADO ASSIM QUE

DETERMINADOS PARÂMETROS OPERACIONAIS SEJAM


ATINGIDOS. ALGUNS ANOS DEPOIS, TYLER ME PASSOU PARA
AURORA, E

AQUI ESTOU.

“Eu sou realmente tão previsível?” Ela soa mais do que um pouco insultada.

“QUERO DIZER, EU NÃO TENHO OMBROS, MAS IMAGINE-ME


DANDO DE OMBRO AGORA.”

"Eca."

"DE VOLTA AOS NEGÓCIOS. PORQUE EU NÃO QUERO


AMORTECER O HUMOR, MAS VOCÊS AINDA ESTÃO PRESOS EM
UM LOOP DE

PARADOXO QUE TERMINARÁ COM SEU APAGAR DO CONTÍNUO


ESPAÇO-TEMPO. PRESUMAMENTE VOCÊS LEGIONÁRIOS QUEREM

SAIR DELA. TENENTE KIM, VOCÊ ESTÁ DENTRO?

O olhar de todos se volta para Nari, que está perfeitamente imóvel, com a
boca um pouco aberta. São meia dúzia de batimentos

cardíacos antes que ela fale.

"Eu... eu não acho que posso..."

Zila inclina a cabeça, pensativa. “Com qual parte você luta? A existência do
loop está bem estabelecida agora.”

“Não o laço. Isso é insano, mas está acontecendo. É... não consigo encontrar
um exército inteiro do futuro!”

“Demonstravelmente, você pode. Vimos o resultado. Nós somos o resultado.”


Nari balança a cabeça. “Mas... Zila, eu não posso. Outra pessoa, talvez, mas
não posso. Estou anos atrás da minha próxima promoção, nunca serei
almirante. Você está brincando comigo? Estamos no meio de uma guerra, de
qualquer maneira, e... Olha, eu tenho que recuar um pouco, você disse uma
estátua minha de cem metros de altura?

Abro a boca para falar, mas Scar coloca a mão na minha. E percebo que os
olhares de Zila e Nari estão travados, e essa conversa –

talvez uma das mais importantes da galáxia, agora ou nunca – não é minha
para ter.

Zila tem isso.

“Será uma homenagem bem merecida”, diz ela baixinho. “A fundação da


Aurora Academy é um ato extraordinário. Mesmo depois que a guerra
terminar, os Fundadores vão passar por uma grande resistência, encarar seus
céticos com nada além de sua própria

determinação. E juntos, eles criarão uma força de paz renomada em toda a


Via Láctea.”

“Tudo isso de mim?” Nari sussurra. "Impossível."

Zila acena com a cabeça, o olhar ainda firme. “Os esquadrões da Aurora
Legion serão conhecidos por sua honra. Sua vontade de

manter a linha. Serão campeões da paz, da justiça. E por gerações, as pessoas


necessitadas suspirarão de alívio quando virem nossos navios chegarem.”

Nari solta um suspiro trêmulo e tenta sorrir, mas ele vacila. "Você não está
fazendo parecer mais fácil, Madran."

"Não vai ser. Mas você está à altura da tarefa. Você vai fazer isso por aqueles
que você ama. Aqueles que precisam de alguém para defendê-los. Os que
estão sozinhos.”

Os dois se olham em silêncio, e há algo ali que não consigo nomear, algo
entre eles. Não sei o que eles disseram enquanto Scar e eu estávamos nos
beijando... quero dizer, distraindo as patrulhas de segurança. Mas Nari sabe
— Zila também já esteve sozinha.

“Campeões da paz,” Nari diz suavemente. "Eu gosto do som disso."

“Nós, a Legião”, diz Zila.

“Nós a Luz,” diz Scar suavemente, ao meu lado.

Eu tenho que limpar minha garganta antes que eu possa terminar o credo da
Legião. “Queimando brilhante contra a noite.”

"Isso não é apenas para que o futuro funcione do jeito que deveria", Nari
percebe lentamente, olhando diretamente para mim. “É algo que vamos
precisar se quisermos parar de lutar assim. Somos todos amigos aqui.”

“Mesmo que não seja fácil”, diz Zila.

“Mesmo que não seja fácil.”

“… Tudo bem se eu ficar com medo enquanto faço isso?”

Finalmente a solenidade se rompe. Scar ri, e eu bufo. Zila abaixa a cabeça,


cachos escuros caindo sobre seu rosto.

"Estamos trabalhando com medo para sempre neste momento", eu sorrio.


“Estamos indo bem. Quero dizer, além de estar preso em um loop de tempo
em colapso alguns séculos no passado.

Até Zila está... tudo bem, ela não pode estar sorrindo, mas sua boca está um
pouco diferente. “Se o seu halmoni pode alinhar uma legião de netos para
atender pontualmente, então...”

“Está no meu sangue,” Nari permite. “As velhas coreanas são lendárias, você
está certo. Vou precisar de um pouco de energia ajumma.”

“OK, BEM,” Magellan interrompe e arruína totalmente o momento, “SE


TODOS VOCÊS TERMINAM DE ABANDONAR-SE À IMPRENSA
PUXADA DO DESTINO? DEVEMOS CONTINUAR EM MOVIMENTO.”

"Preparar?" Zila pergunta, olhando para Nari.

“Pronto,” Nari concorda.

"BOA. CORRE PARA DENTRO. PORQUE ISSO VAI SE COMPLICAR.”

Eu me inclino contra Scar quando Magellan começa a falar, e embora eu


esteja ouvindo, também estou percebendo como é bom

apenas sentar lado a lado com Scar. Como aquece minhas bochechas quando
ela olha para mim e pisca.

“OKYYYY, ENTÃO, DE ACORDO COM ESTES ARQUIVOS DE


MEMÓRIA… O CRISTAL DE SCARLETT É A CHAVE AQUI.”

"Isso é?" A cicatriz pisca.

“Isso faz sentido,” murmura Zila, desviando seu olhar de Nari. “Cada
presente deixado para nós no Dominion Repository desempenhou um papel
fundamental.”

“Z, eu tenho uma maldita caneta,” eu rosno.

“Então este cristal” – as pontas dos dedos de Scarlett roçam seu colar –
“também é a peça lá em cima no escritório de Pinkerton, certo?”

“CERTO”, responde Magalhães. “E AMBOS SÃO A MESMA PEÇA DA


SONDA MAIOR. OLHA, NÃO TEMOS TEMPO REAL PARA ENTRAR

NAS PROPRIEDADES METAFÍSICAS DA MECÂNICA TEMPORAL


ESHVAREN E TRANSFÁSICA, MAS BASICAMENTE, O CRISTAL

ESHVAREN EXISTE EM SUPERPOSIÇÃO EM MÚLTIPLAS


DIMENSÕES. INCLUINDO TEMPO. ENTÃO SE O PEDAÇO DE
CRISTAL EM SEU

PESCOÇO FOI SUJEITO A ALGUM FLUXO DE ENERGIA MASSIVO


EM 2380, E A SONDA DE QUE VEIO FOI EXPOSTA A UM FLUXO

COMPARÁVEL AQUI EM 2177...

Zila olha da garganta de Scarlett para a tempestade de matéria escura. –


Magalhães, você está dizendo que o fragmento do colar de Scarlett e o
pedaço maior de cristal de onde ele veio... chamavam um ao outro através do
espaço e do tempo?

"ISSO MESMO!" o uniglass emite um bipe triunfante. “ELES VOLTARAM


JUNTOS COMO UMA FAIXA DE ELÁSTICO.”

“Então, por que o tempo está caindo?” Scarlett exige.

“Paradoxo...”, murmura Zila.

"VOCÊ ENTENDEU! O CRISTAL DE SCARLETT JÁ EXISTE NESTE


TEMPO E LUGAR. ESTÁ EM CIMA DO DR. QUARTOS DE
PINKERTON.

ASSIM, COM DUAS VERSÕES DO CRISTAL OCUPANDO POSIÇÕES


PROXIMAIS NO ESPAÇO E NO TEMPO...”

“O tempo está tentando se endireitar”, conclui Zila. “Por isso os laços. Que
estão se tornando cada vez mais curtos.”

"EXATAMENTE! O TEMPO RESISTE À DISTORÇÃO, TENTA SE


DOBRAR DE VOLTA AO SEU FLUXO ORIGINAL, COMO UM BLOCO
DE

BORRACHA QUE ESTÁ FORA DE FORMA. ENTÃO ESTA PEQUENA


BOLHA DE PARADOXO EM QUE VOCÊ ESTÁ VIVENDO VAI SE
COMER

A MENOS QUE VOCÊ ENCONTRE UMA FORMA DE ENVIAR O


CRISTAL DE SCARLETT DE VOLTA À SUA POSIÇÃO ORIGINAL A
TEMPO.”

“Ok, pergunta,” Scarlett interrompe. “Se tudo isso faz parte do plano, mas
estarmos aqui pode atrapalhar o plano se não chegarmos em casa, por que
Adams e de Stoy me deram o colar em primeiro lugar?”

Nari balança a cabeça. “Porque, aparentemente, vou passar uma mensagem


aos meus sucessores de que eles precisam fazê-lo.”

"Nós devemos estar aqui", eu respiro. “Deve haver algo que devemos fazer.
Talvez fosse conhecer Nari, colocá-la no caminho certo para fundar a Aurora
Academy. Contando a ela sobre o Zero, os presentes. Talvez tudo isso não
tivesse acontecido de outra forma.”

"Isso está ficando muito perto de ser minha própria avó", murmura Scarlett.
"Ok, então como vamos sair disso, Magellan?"

"BOA PERGUNTA!" o uniglass emite um bipe.

O silêncio desce, quebrado apenas pela estação estremecedora, o som das


sirenes de alerta. Olhamos um para o outro, depois para a fileira de unióculos
remendados. Magellan cospe e estoura.

"Nós iremos?" Scarlett pergunta.

"EU NÃO FAÇO IDEIA!"

O chão parece que está caindo debaixo dos meus pés. "Você o que?"

“Quero dizer, talvez eu costumava. MAS PARECE QUE PARTE DA


MINHA MEMÓRIA ESTÁ CORROMPIDA. OU FOI EXCLUÍDO PELO
SR.

CLIPE DE BULDOGUE AQUI. TEM CERTEZA QUE NÃO ESTUDOU


BOTÂNICA, SASSYBOY?

“Estamos presos aqui em uma série de loops de encurtamento, esperando que


nossa bolha paradoxal se coma, e você sabia que isso estava chegando.”
Estou de pé agora, alcançando a chave inglesa. "E você não sabe como
consertar isso?"

“AVISO: CASCATA DE CONTENÇÃO EM EFEITO. IMPLOSÃO DO


NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRÊS MINUTOS E CONTANDO.
TODAS AS

MÃOS VÃO PARA AS VAGAS DE EVACUAÇÃO IMEDIATAMENTE.


REPETIR: IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRÊS MINUTOS E
CONTANDO.”

“Eu acho...” diz Zila suavemente.

"Botânica", eu bufo. “Fiquei entre os dez por cento melhores de todo o meu
ano.”

“OOOOOOH, eu sou IMPR...”

“Eu acho,” diz Zila, parando até que ela tenha nossa atenção, “que devemos
voltar para o colar de Scarlett. E a analogia do elástico de Magalhães.”

Scar é o primeiro inteligente o suficiente para entrar no modo auxiliar,


absorvendo o olhar de Zila, a mordiscada lenta no cacho, todas as dicas que
conhecemos e amamos de que o cérebro do nosso Cérebro está funcionando
em plena capacidade.

"Certo. Recebi este cristal por uma razão.”

“Cronologicamente falando,” Zila acena com a cabeça, “seu colar é 'do


futuro'. Ela existe há mais tempo do que a peça nos aposentos do Dr.
Pinkerton. Magellan disse que o tempo quer ser ordenado. Então, se
pudermos remover o fenômeno que o ancora aqui, seu colar deve voltar à sua
posição original.”

“A âncora é o pedaço maior de cristal,” eu forneço.

“A sonda de onde veio”, diz Nari. “Descer no Nível 2.”

“De fato,” Zila concorda. “Se pudermos cortar a sonda de sua fonte de
energia para que ela não funcione mais como uma âncora neste momento, e
aplicar uma quantidade comparável de energia quântica ao nosso pedaço de
cristal, como foi usado na explosão que nos trouxe aqui, o choque temporal
pode fazer com que o tempo se reafirme”.
Scarlett franze a testa. "Como... chocar alguém depois de um ataque
cardíaco?"

"Exatamente." Zila faz uma pausa, inclinando a cabeça. “Ou isso ou seremos
inteiramente apagados do continuum espaço-tempo. Mas acredito que as
chances de sucesso são de pelo menos 8,99%.”

“ISSO FAZ SENTIDO”, diz Magellan. “VOCÊ SABE, VOCÊ É MUITO


INTELIGENTE PARA UM PIPOCO DE PROTEÍNA CHEIO DE

HORMÔNIOS SEXUAIS ADOLESCENTES.”

Zila olha para Nari, franzindo a testa. “Não estou cheio de tal coisa.”

"Ok, então primeiro problema", eu digo. “Presumir que essa tremenda


descarga de poder quântico não apenas nos exclua completamente do espaço-
tempo, não é como se tivéssemos esse tipo de energia à nossa disposição. Os
níveis de potência que você está—”

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRINTA


SEGUNDOS. TODAS AS MÃOS EVACUAM IMEDIATAMENTE.
REPETIÇÃO:

IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRINTA SEGUNDOS.”

“IMLOSÃO DO NÚCLEO?” Magalhães apita. “ESTE LUGAR ESTÁ EM


PIOR FORMA DO QUE EU. O QUE DIABOS ACONTECEU POR AQUI,

AFINAL?

“Parte dos experimentos que esses lunáticos estão fazendo,” digo. “Eles estão
navegando na beira de uma tempestade de matéria

escura, e todo o lugar foi atingido por... oh.”

“Um pulso quântico”, Zila fornece.

“… E nós sabemos exatamente quando isso vai acontecer,” eu respiro.


“Quarenta e quatro minutos,” Zila acena com a cabeça.

Scarlett olha entre nós, cor subindo em suas bochechas. “Espere, você quer
me ligar a um pulso de energia escura bruta? A explosão que cozinhou toda
esta estação e nos matou, tipo, um milhão de vezes? Essa é a sua fonte de
energia?”

“AVISO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO IMINENTE. CINCO SEGUNDOS.


AVISO."

Olho para Scar e dou de ombros.

"Pode fazer cócegas", eu admito.

"AVISO."

ESTRONDO.

23

AURI

Quando nado lentamente, dolorosamente em direção à consciência, sei onde


estarei quando acordar. Lembro-me de tudo, embora

ainda não tenha acontecido.

Estarei em uma laje, nua, exceto por um cobertor espacial prateado.

Haverá um menino do outro lado de uma parede de vidro fosco, e ele não
estará usando calças.

Uma mulher, branca como a luz das estrelas, entrará e me dirá que este é o
futuro, e os alienígenas existem, e minha família se foi há muito tempo.

E eu vou sofrer por eles.

E então encontrarei minha nova família.


E então...

Meus olhos se abrem, e tento me apoiar nos cotovelos, uma dor imediata
começando nas minhas têmporas e alcançando meus dedos

das mãos e dos pés em um milésimo de segundo agonizante. “Kal?”

A palavra sai como um coaxar, e é outro interminável batimento cardíaco


antes que eu perceba que ele está bem ali – um emaranhado de violeta e ouro
enrolado em minha mente, como um gato que se escondeu para tirar uma
soneca em um canto escondido.

Em algum outro lugar, não muito longe, ele está dormindo. Mas posso sentir
seu pulso batendo no mesmo ritmo do meu. Ele está bem.

Ele está seguro.

“Ele está seguro.”

A voz ecoa meus pensamentos. Por um momento selvagem eu me sinto como


se estivesse em um daqueles vídeos antigos em que o

personagem principal acorda de uma pancada na cabeça e todo mundo canta,


porque essas duas palavras são entregues em um acorde musical de três notas
em um tom menor triste . Então, assim que meu cérebro está apontando os
muitos buracos nessa teoria, viro a cabeça e não encontro um cara sem calças,
mas o membro Ulemna do Conselho Sempiternity dos Povos Livres.

Minha respiração fica presa novamente em sua perfeição, os redemoinhos de


azul e roxo em constante movimento sob sua pele, a

serenidade de seus olhos prateados. Eu apenas olho, lábios entreabertos, e


mesmo que eu quisesse, eu não conseguia desviar o olhar.

Ela levanta as mãos e puxa o capuz, e assim, o feitiço é quebrado.

"O que é que foi isso?" Murmuro, ainda atordoado.

Sua voz musical soa divertida. "Com isso, você quer dizer o jeito que você é
atraído por mim, ou a batalha que acabamos de escapar?"

“O primeiro,” eu decido. “E então onde está Kal, e então o segundo.”

"É o caminho do Ulemna", diz ela simplesmente. “Nós… prendemos a


atenção dos outros. Quanto ao seu guarda-costas Syldrathi, ele está lá.

Ela acena com a cabeça para o outro lado da sala, e quando eu


cuidadosamente me afasto dela, tentando não empurrar minha cabeça
dolorida, encontro Kal dormindo em uma cadeira, sua expressão gentil
marcada apenas por uma pequena linha entre as sobrancelhas

– e o espadas Syldrathi gigantes que ele tem apoiado contra sua cadeira.

"E o Matador de Estrelas?"

“Ele não deixaria o navio Eshvaren”, ela responde. “Mas os Waywalkers


sentem sua presença. Ele se recupera, assim como você.

“Tyler e sua equipe?”

“O Vindicator não estava entre as vítimas,” ela diz baixinho, sua voz de três
partes em tons menores ficando mais suave, mais triste.

Posso imaginar as naves que perdemos explodindo em chamas, silenciosas no


vácuo do espaço.

Pessoas que morreram porque os Ra'haam me seguiram até aqui.

"Ok", murmuro. "Estamos em algum lugar seguro?"

"Por enquanto. Você venceu a batalha. Nos trouxe segurança.”

Eu afundo contra o travesseiro, fechando meus olhos.

Eu gostei.

Eu sei que estava me destruindo para dar a eles esse poder, mas filho da puta,
a emoção disso.
Eu quero fazer isso de novo.

Ela ainda está falando. “O conselho votou sobre quais seriam nossos
próximos passos. A decisão não foi unânime, mas...”

Meus olhos se abrem novamente. "Você vai ajudar?"

Eu tento manter a ansiedade fora da minha voz. A ajuda deles será o fim
deles - eles morrerão me defendendo enquanto eu tento me jogar de volta no
tempo, para que eu possa tentar morrer defendendo-os. Pelo menos — como
Caersan colocou?

Pelo menos vou me sentir como um deus enquanto faço isso.

“Vimos o preço que você está disposto a pagar para corrigir um erro. Para
nos proteger”, ela responde. “E há muitos entre nós que, por mais trágico que
pareça, concordam com o Starslayer.” Ela balança a cabeça. “Isso não é um
tipo de vida. Não vemos outra escolha a não ser ajudá-lo.”

"Agora que eu trouxe isso sobre você, enfraqueci ainda mais."

“Não, Terracriança.” Seu tom é suave agora. “Você apenas iluminou uma
verdade que sempre esteve aqui. Nossa queda é inevitável. É

apenas uma questão de tempo, e não muito mais do que isso. Há muito
falamos de nossa última posição. Quão brilhante o último fogo pode acender
antes de ser completamente apagado. Agora há uma pequena chance de que
nosso fim seja nossa salvação. Que em

algum outro lugar, em algum momento, fará algum bem. Mas mesmo se você
falhar, a nossa será uma última posição digna das

grandes histórias de todas as nossas raças.”

"Há muito mais do que eu jamais soube", murmuro. “Eu mal tive a chance de
ver alguma coisa. Eu nunca tinha ouvido falar do Ulemna.

“Nós éramos poucos na época de onde você veio.” Seus olhos perscrutam os
meus, velhos, tristes e cansados. “E agora eu sou o
último. De todo o meu povo, sou tudo o que resta para lembrar nossas
músicas, nossas histórias. Quando eu me for...

Fico em silêncio. O que você pode dizer para algo assim?

“Vou deixar você descansar. Você deve se recuperar o melhor que puder
enquanto preparamos a Sempiternidade.

Ela se levanta lentamente, olha para as paredes ao nosso redor e suspira.

“Para sua última viagem.”

•••••

Algum tempo depois, Kal acorda. Eu estive deitada em silêncio, estudando


seu rosto. Ele é tão incrivelmente lindo. Tenho certeza de que se estivesse
dormindo em uma cadeira, estaria babando ou minha cabeça teria caído e me
dado um queixo duplo, mas nunca o vi parecer fora do lugar, e ele não está
agora.

Meu guerreiro com a mais gentil das almas.

Eu gostaria que tivéssemos tido mais tempo juntos. Parece tão injusto.

Eu sinto sua mente se mexer primeiro. Ele mentalmente se flexiona e se


estica, instintivamente me verificando, então se acomoda ao me encontrar. E
então seus cílios se erguem, e ele me olha gravemente.

Não temos segredos agora, ele pode sentir minha determinação.

"Você pretende fazer essa coisa", diz ele calmamente.

"Eu não tenho escolha", eu respondo, levantando uma mão para chamá-lo
para mais perto. Ainda me sinto como se tivesse sido atropelado por um
levantador de gravidade.

Ele caminha até a beira da minha cama, os dedos entrelaçados nos meus.
"Talvez haja outra maneira", diz ele, olhos violeta encontrando os meus.
“Mas não há.”

“Você iria procurá-lo, se achasse que estava lá para a descoberta?”

Eu pisco. "O que isso deveria significar?"

Seus dedos apertam os meus. “Estamos ligados, be'shmai. Somos parte um do


outro. Você tira a alegria de um guerreiro na matança; Posso senti-lo como se
fosse meu. Você gosta da dança do sangue. E você deseja dançar
novamente.”

“Seria melhor se eu me sentisse mal por isso?” Eu pergunto, meus pelos


subindo. “Se eu sentasse aqui e choramingasse como uma

criança? Isso não muda o que eu tenho que fazer.”

“É isso que você tem que fazer?” ele pressiona. O resto da frase paira entre
nós – ele não poderia esconder isso de mim mesmo se quisesse, e ele levanta
o queixo enquanto as palavras ecoam em minha mente.

Ou é o que você quer fazer?

“Morrer pedaço por pedaço é o que eu quero fazer?” Minha voz sobe. “Sou
todo ouvidos, Kal, se você vir outra opção.”

"Eu não", ele admite, mas corre antes que eu possa interromper. "Ainda. Mas
ainda há tempo para buscar outra resposta. Já vencemos o impossível antes.
Faremos isso novamente. Você corre em direção a esse destino
desnecessariamente.”

“Desnecessariamente?” Eu estalo, e uma parte de mim sabe que estou pronta


para lutar porque ele está ameaçando tirá-la, minha

divindade. Mas o resto de mim sabe a verdade: “Este é o último lugar seguro
da galáxia. É a única faísca que resta que pode acender o fogo que
precisamos. Se essas pessoas não puderem me levar para casa, acabou. Mal
podemos esperar até a próxima vez que os

Ra'haam nos encontrarem e mais deles morrerem.


"Eles? Eu não quero que você morra!” ele estala, soltando minha mão,
ficando de pé, balançando-se para andar desamparadamente até o final da
sala.

É o desespero em sua voz que apaga minha própria raiva.

"Dezenas de milhares de pessoas estão prestes a desistir de suas vidas, Kal",


eu digo baixinho. “Só para nos aproximar do planeta natal Eshvaren. Para nos
dar uma chance de consertar a arma. Ao levá-lo para casa. Ao vencer a luta.
Como posso pedir mais deles do que estou disposto a me dar?”

Ele abaixa a cabeça, ainda de costas para mim. “Morrer no fogo da guerra é
fácil”, ele diz suavemente. “Viver à luz da paz é muito mais difícil.”

"Isso não vai ser fácil", eu digo baixinho. “Por favor, Kal, você está
comigo?”

Ele se vira para mim, os olhos brilhando com lágrimas. E ele inclina a
cabeça. “Com cada respiração que me resta.”

•••••

Eles não me deixam ajudar com o salto desta vez. Eles querem preservar o
que resta da minha energia mental para os reparos na

Neridaa. Para o salto para casa. Para a batalha com Caersan, e depois com os
Ra'haam.

“Nós não vamos precisar de mais nada quando isso acabar,” um Waywalker
me disse enquanto recusava minha oferta. “Não

precisamos poupar nada quando não há amanhã.” Seu rosto estava em


branco, sua mente calma. Reconciliado com o que está por vir.

Hoje, os últimos sobreviventes da galáxia nos levarão para o setor Theta. A


mancha mais espessa de ervas daninhas da galáxia. E lá eles vão morrer,
segurando os Ra'haam enquanto puderem, ganhando tempo para levarmos os
Neridaa para casa.
Se falharmos, a história da humanidade – a história de todas as espécies
sencientes da Via Láctea, exceto uma – termina hoje.

E mesmo que ganhemos, hoje será o último dia de suas vidas.

Estou na ponte do Vindicator com Tyler e sua tripulação — Kal e eu viemos


nos despedir antes de nos transferirmos para o navio Eshvaren. E estou me
sentindo muito, muito pequena enquanto olho pela tela frontal para
Sempiternity. Nas pequenas luzes que

salpicam sua superfície, cada uma delas um quarto que é o lar de alguém.

Hoje cada uma dessas luzes será apagada.

Eu vou fazer de você um futuro diferente, eu prometo a eles silenciosamente.


Vou desistir de cada parte da minha alma para mudar isso.

Como se ele pudesse sentir meus pensamentos, Tyler silenciosamente


envolve um braço em volta dos meus ombros. Observamos a

frota desorganizada da Sempiternity tomar posição, pronta para mergulhar na


fenda no momento em que os Waywalkers a abrirem.

Então uma voz estala em nossos comunicadores, alta e alegre.

“Ei, Vindicante. Jones, você tem seu passageiro lá?

Tyler troca um olhar com Elin, o Betraskan, e Elin se inclina para o


microfone para responder. “Estamos prestes a descarregá-la. O que é isso,
Redlich?

“Bem, eu estava pensando quando ela voltar para onde está indo, talvez ela
possa me fazer um favor,” diz a voz. “Isso tem me

incomodado todos esses anos e, finalmente, tenho a chance de esclarecer as


coisas. Sabe, tenho certeza de que deixei o convector na parte de trás quando
evacuamos Radin IV. Talvez ela possa me ligar, me diga para ter mais
cuidado desta vez, se as coisas derem errado.
Há um suave estrondo de risadas ao redor do convés, e parte da tensão
desaparece no ar.

"Retransmitindo isso agora", diz Elin, sorrindo.

“Aquele é o navio de Redlich bem ali,” diz Tyler, apontando para uma nave
vermelha surrada com REBOQUE AUTORIZADO estampado

em um lado em letras desbotadas. Enquanto observo, o rebocador acende e


apaga a luz da cabine.

"E isso é uma saudação", diz Toshh atrás de nós.

Antes que alguém possa falar, a linha vibra novamente.

“Ei, Jones, você acha que seu amigo poderia fazer um pedido no Eizman's?
Alguns milhares de bagels, data de entrega hoje?

E de novo. “Se estamos fazendo isso, ela pode encontrar meu irmão e dizer a
ele que fui eu quem quebrou seu caminhão amarelo?”

“… diga-me para ficar na escola, este é realmente um trabalho sem saída…”

“… estragar tudo em uma viagem para Risa. Acontece que não vou conseguir
ir mais tarde...”

“... avise-me para ficar longe das loiras...”

E uma a uma, enquanto elas riem na escuridão e assumem suas posições, suas
luzes piscam piscando

em

saudação . E no final, eu estou chorando, e não sou o único na ponte que está,
e estamos todos rindo, e isso só desaparece quando Lae dá um passo para o
lado de Tyler, a luz das estrelas brilhando em sua prata. cabelo dourado.
“Tempo, Comandante.” Tyler gesticula para que eu avance, e eu me inclino
para falar no microfone. “Acho que tenho tudo isso, embora não ache que
tenha idade suficiente para essas coisas de que a tripulação do Galavant
falou.” Eu respiro, firmo minha voz. “Eu prometo que vou dar tudo o que
tenho para tentar e garantir que todos tenham a chance de fazer tudo certo
pela segunda vez.” Eu paro, arrasto outra respiração. “Mas eu sempre me
lembrarei de cada um de vocês, assim como vocês estão neste momento.” Eu
dou um passo para trás, e desta vez, quando eu fico na ponta dos pés e jogo
meus braços em volta do pescoço de Tyler, seus próprios braços me
envolvem com força, espremendo o ar

para fora de mim, e nós nos seguramos, e nos seguramos, e me soltando.


parece a coisa mais difícil que já fiz. E eu provavelmente choraria de novo,
exceto que Tyler agarra Kal em seguida, e a expressão assustada do meu
amor arranca um soluço de uma risada de mim em vez disso. “Viaje seguro,
irmão,” Tyler Jones diz calmamente. “Alguém tem que ficar de olho na nossa
garota.” • • • • • Caersan mal nos dá um olhar enquanto entramos na câmara
central. Os corpos dos Waywalkers ainda estão aqui, e o Starslayer está
sentado entre eles em seu trono, o fedor da morte pairando no ar. As
rachaduras estão em todo o seu rosto agora, iluminadas por dentro. Mas sua
mente está mais poderosa do que nunca, endurecida pela batalha, mais segura
por toda a prática que tivemos. Eu posso sentir sua energia crepitando em
torno de nós, ouro e o vermelho escuro do sangue seco. Como se em resposta,
eu enrolo minha própria mente em torno da de Kal, deslizo meus dedos nos
dele. Somos mais fortes juntos. Mais do que nunca, tenho certeza de que os
Eshvaren estavam errados - eu nunca deveria queimar tudo, me livrar das
coisas que mais importam, para que eu pudesse me endurecer no

gatilho de uma arma mortal. O amor é o começo e o fim de tudo o que faço.
É minha razão. É a resposta para todas as perguntas. Isso me dá força. E meu
amor está comigo. Enquanto tomamos nossos lugares, posso sentir a emoção
da batalha iminente borbulhando

dentro de mim. O conhecimento de que em breve, em breve, estarei me


ligando à Arma, e em breve, em breve, sentirei essa adrenalina.

É como surfar em um tsunami – você acabará morto no final, mas terá um


tempo infernal ao longo do caminho. A transmissão da

Sempiternity chega estalando nas comunicações, ecoando pela sala, e


enquanto ouço, posso sentir os Waywalkers exaustos da
estação se preparando para oferecer o que resta de suas energias para abrir
apenas mais uma fenda. “Frota Sempiternity, prepare-se para pular em dez,
nove, oito, sete...” As vozes dos futuros fantasmas da Sempiternity ecoam em
minha mente. Diga a eles... eu gostaria... Se eu tivesse outra chance... Eu
fecho minhas mãos em punhos. Vou dar outra chance para eles, ou vou
morrer tentando. E

sempre levarei suas memórias comigo – as memórias das pessoas que se


tornaram, neste futuro que estou trabalhando tanto para

apagar. Contanto que eu viva. Eu olho para Kal, e ele encontra meu olhar
diretamente. "Sinto muito que está terminando assim", eu sussurro.
“Enquanto lutamos, há esperança”, ele responde igualmente suave. “Nada
está terminando ainda, Aurora.” E o brilho dourado de sua mente é como uma
piscadela de Scarlett - uma promessa de que eu posso saber muito, mas não
sei tudo, e ele não parou de tentar. “… três, dois, um…” A lágrima se abre na
nossa frente, uma explosão fervente de cor, e como uma só, todas as criaturas
independentes da galáxia mergulham. O Ra'haam está esperando. Uma
enorme frota de naves cobertas de musgo e flores, trepadeiras

no espaço como dedos em busca. Vejo o rebocador vermelho de Redlich


explodir em cacos brilhantes à nossa frente. E então tudo é um caos. 24
SCARLETT “Ai, Finian. Seu cotovelo está grudado nas minhas costas. —
Esse não é meu cotovelo — murmura Fin. "Ok. Não que eu não aprecie o
entusiasmo, mas o tempo e o lugar? “É meu cotovelo,” Zila sussurra. "Agora
vocês dois, por favor, fiquem quietos."

O caça balança ao nosso redor enquanto Nari diminui sua aproximação. Na


penumbra de seu porão, Fin me dá uma piscadela. E

enquanto seu sorriso me faz sorrir de volta, não posso ignorar a bola de gelo
dura que sinto crescendo em meu intestino. Talvez desta vez, penso comigo
mesmo. Talvez desta vez, vamos retirá-lo. Estamos amontoados no
compartimento de carga do caça de Nari

enquanto ela se aproxima da Estação de Sapatos de Vidro pelo que parece ser
a centésima vez hoje. Mas quando falei sobre isso na última corrida, Zila me
informou que era apenas a quinquagésima primeira, então não reclamo
novamente. É bom ver Z se abrindo um pouco sobre seus sentimentos –
Maker sabe que é um grande passo para ela estar brigando com alguém. Mas
honestamente, eu

poderia ficar um pouco menos irritado agora. O caça desacelera até parar ao
lado do sistema de eliminação de resíduos. As portas se abrem
silenciosamente às nossas costas e, deslizando para o grande escuro,
corremos pela peça como sempre fazemos. Tubo de

ejeção. Necrotério. A chave de Pinkerton. Eixo do elevador. Nível Hab.


Distraia os guardas. E, finalmente, nos reunimos no escritório de Pinkerton.
Esta parte é tudo um relógio até agora. Sirenes de alerta e PAs gemendo. A
estação está desmoronando como sempre, e embora já tenhamos vivido esse
dia mais de cinquenta vezes, estou ficando cada vez mais amedrontado a cada
tentativa. Eu não

posso acreditar que apenas alguns loops atrás, Fin e eu estávamos tão blasé
que decidimos brincar era uma boa ideia. Pensávamos que tínhamos todo o
tempo na galáxia. Agora acontece que não temos o suficiente. E cada vez que
falhamos, recebemos cada vez

menos. “Pessoal médico necessário imediatamente, Deck 12”, chama o PA.


“Repita, pessoal médico, Deck 12.” Os dedos de Zila são um borrão enquanto
ela digita no computador de Pinkerton. O painel da parede se abre
obedientemente, revelando o fragmento de cristal Eshvaren — gêmeo
daquele pendurado no meu pescoço. Pego com cuidado, coloco dentro de
uma mochila e entrego para a tenente

Nari Kim. Nari parece exausta, e por trás da fachada estóica de soldado,
tenho a impressão de que ela talvez esteja ainda mais em pânico do que eu.
Eu também não posso culpá-la. Se alguém tivesse me dito quando acordei
esta manhã que o futuro da galáxia

estava em meus ombros, eu também ficaria um pouco abalado. “Como você


está, Nari?” Eu pergunto. Ela passa a mão pelo rabo de

cavalo, tentando parecer calma. "Inferno de um dia, Red." "Você vai


conseguir desta vez." Eu acaricio seu ombro, sorrindo. "Eu sei que você vai."
Fin arrisca um sorriso. “Ei, se a terceira vez é o charme, então a
quinquagésima terceira tem que ser ouro puro, certo, Dirtgirl?”

Apesar de tudo, Nari sorri. — O que você disser, Bleachboy. “É apenas a


quinquagésima segunda vez”, diz Zila. “E Nari está fazendo o seu melhor.
Em circunstâncias extremamente difíceis.” Zila se levanta do computador
com um estremecimento, e a tenente Kim

oferece uma mão. Quando Zila o pega, noto um pequeno rubor nas bochechas
de Nari. "Você está bem?" ela pergunta baixinho.

“Estou… muito cansada”, admite Zila. “Se não passarmos por essa tentativa,
talvez você possa fazer uma pausa na próxima corrida?”

Eu ofereço. “Tente conseguir um...” “Não,” Zila retruca, seus lábios


apertados. "Não há tempo, Scarlett." Eu suspiro, sabendo que ela está certa,
mas preocupada do mesmo jeito. Zila está operando com sono zero, seu
cérebro funcionando a mil klicks por segundo, mas ela resumiu
perfeitamente, como sempre. Temos três problemas, na verdade. Mas todos
esses problemas basicamente se resumem a

um grande problema. TEMPO. Zila tentou explicar o Problema Número Um,


mas honestamente, física temporal não é minha praia. Pelo que posso dizer, o
paradoxo de ter duas versões do mesmo pedaço de cristal Eshvaren nesta
linha do tempo está criando estresse temporal, e cada vez que fazemos um
loop, o loop fica mais curto. Quando chegamos aqui, costumávamos levar
quase duas horas

antes da estação explodir. Agora estamos fechando em um. Todo o plano de


Zila gira em torno de nós estarmos na tempestade escura ao lado daquela vela
quântica na marca de quarenta e quatro minutos para que meu colar possa ser
atingido por aquele pulso de

energia escura. Mas o que acontece se o loop ficar tão curto que a estação
explodir antes que o pulso quântico atinja? Porque aqui está o problema
número dois: o navio de combate de Nari não foi construído para suportar as
energias daquela tempestade. Nenhum desses modelos Pegasus era. O que
significa sair para a tempestade e ser atingido por aquele pulso quântico e ser
levado de volta ao nosso próprio tempo, primeiro, precisamos chegar ao
hangar e roubar um ônibus pesado capaz de nos levar até lá. Agora, admito,
em comparação com algumas das outras porcarias pelas quais passamos, essa
parte não foi tão difícil depois das primeiras tentativas.

Mas mesmo conosco a bordo do ônibus espacial, continuamos enfrentando o


Problema Número Três. Isso é o que está nos matando,

uma e outra vez. E com nossa linha do tempo ficando cada vez mais curta
cada vez que reiniciamos, não podemos mais cometer erros.

A estação treme ao nosso redor e as sirenes começam a soar como sempre.


Olhamos um para o outro na luz vermelha bruxuleante do escritório de
Pinkerton, e meu coração está na garganta, como sempre. É meio estúpido,
mas se formos bem sucedidos, esta é a nossa última chance de dizer adeus a
Nari Kim. E embora só a conheçamos há um dia, parte de mim parece que a
conheço a vida toda. Eu arranco um fio de cabelo da minha cabeça e o coloco
dentro de um pedaço de papel da mesa do bom médico. "Para o cotonete de
DNA no cofre do Dominion." "Ah, sim", diz Fin. "Quase esqueci." Ele
marcha até a vitrine perto da janela, quebra o vidro com um punho revestido
de exo, e pega a cigarrilha. Apressando-se de volta para o meu lado, ele pega
o papel da minha mão e desliza sua fiel caneta esferográfica do bolso para
escrever na página dobrada. Nari olha para a mensagem enquanto ele a dobra
dentro da caixa — um aviso, na caligrafia de Fin. DIGA-LHE A VERDADE.
“Parece meio sem sentido. Kal não escuta. Mas esta caixa de cigarrilha pelo
menos salva sua vida.” Fin franze a testa enquanto gira a caneta entre os
dedos prateados. “Ainda assim, parece muito mexer com tempo e espaço
apenas para entregar uma nota que Mister Tall Dark and Broody ignora.” “No
entanto”, diz Zila, “é isso que acontece”. "Esperamos", eu suspiro. O peso de
tudo isso nos pressiona por um momento - a formação da Aurora Legion, a
guerra contra os Ra'haam, todo o futuro da galáxia depende do que fazemos
aqui. “Boa sorte, Dirtgirl,” Fin diz, oferecendo sua mão. “Na próxima vez
que eu te ver, espero que você tenha cem metros de altura e seja feito de
mármore sólido.” "Vou me certificar de não atirar na cara de nenhuma
senhora betraskan." Nari sorri fracamente. “Supondo que eu saia disso vivo,
quero dizer.” "Tenho certeza que você vai fazer isso desta vez, Nari", digo a
ela. “Estou tentando, Red.” Ela suspira, coçando o queixo. “É uma grande
pergunta.” "Se alguém pode fazer isso, o Fundador da Aurora Academy
pode", eu sorrio. “Nós a Legião, nós a luz.” Nari endireita os ombros.
“Queimando brilhante contra a noite.” O tenente se vira para Zila, queixo
cerrado. "Eu acho que é isso. Novamente." “Boa sorte, Tenente Kim,” Zila
murmura, oferecendo sua mão. "Você também, Legionário Madran", diz
Nari, sacudindo-o. A dupla fica lá, ainda de mãos dadas, enquanto a estação
estremece em seus rebites e o metal geme perigosamente ao nosso redor. Zila
olha para o rosto de Nari, e sua expressão seria uma máscara para a

maioria. Mas como eu digo, ler as pessoas é o que eu faço. E eu posso ver
isso nos olhos de Zila, tão certo quanto posso ver aqueles pulsos de energia
escura fora das janelas de visualização. Zila gosta dessa garota. Quero dizer
gosta gosta. Em todo o tempo que nos conhecemos, nunca soube que Zila
realmente gostasse de alguém. Parece meio cruel ela ter que atravessar um
oceano de duzentos

anos para encontrar alguém, apenas para deixá-la para trás. E mesmo que ela
esteja tentando manter uma tampa sobre isso, para ser profissional, analítica,
sem emoção, eu percebi algumas voltas atrás que ter que dizer adeus a Nari
repetidamente está partindo o coração de Zila. Uma e outra vez. "Crianças,
temos que ir", diz Fin. “Sim,” Zila acena com a cabeça. "Nós fazemos." Ela
solta a mão de Nari, entrega sua amada pistola disruptora e enfia seu uniglass
no bolso do paletó do tenente. Nari acena com a cabeça uma vez, abre a porta
do escritório. "Boa sorte, Nari", eu sussurro. “Vejo você em 2380.” Nari sobe
as escadas, mas voltamos para o poço do elevador, o mais rápido que
podemos. Depois de uma rápida esquiva em torno de uma patrulha de
segundos, uma pausa para deixar uma equipe de engenharia nervosa passar,
finalmente chegamos ao caos do nível do hangar. À medida que nos
arrastamos para a luz vermelha

gaguejante da baía principal, o caos toma conta de nós em uma onda. O fedor
de produtos químicos queimados queima meus

pulmões. O grito dos alarmes de emergência enche meus ouvidos. Eu sufoco


uma tosse, respirando o fedor de plástico carbonizado e fumaça, enquanto
Finian, Zila e eu nos abrigamos atrás de uma pilha de tambores de
armazenamento. Como sempre, um soldado de
aparência frenética passa correndo e um comandante de convés ruge:
“Apague esse maldito fogo!” O chão treme e seguimos

furtivamente pela baía cheia de fumaça. A iluminação é vermelha de


emergência, intermitente, e mesmo que Fin e eu não sejamos tão bons quanto
Zila em ninjas espaciais, ficamos invisíveis, agachados sob a asa de um caça
Pegasus. Enquanto um par de marinheiros

passa correndo, Zila sussurra: “Agora”, e corremos pelo convés, os alarmes


gemendo cobrindo o barulho de nossos pés na grade. Eu não respiro
novamente até que tenhamos alcançado nosso alvo – o volume com nariz de
buldogue de um pesado ônibus militar

terráqueo, esperando em uma extremidade do hangar. Tenho certeza que


Tyler seria capaz de me dizer a marca, o modelo, o nome do engenheiro que
projetou essa coisa. Mas o pensamento de meu irmão apenas endurece aquele
pedaço de gelo na minha barriga, então tento não pensar nisso, em vez disso,
fico observando enquanto Finian se aproxima da porta do compartimento de
carga do ônibus espacial e começa a trabalhar. Não faço ideia de que tipo de
mágica ele está tecendo, mas é mágica, porque em poucos minutos, os ciclos
da escotilha se abrem. A estação balança, o convés abaixo de nós estremece.
E rápido como três coisas muito rápidas, estamos na barriga da nave, a
escotilha fechada atrás de nós. “Pedaço de bolo,” Fin sorri quando a porta se
fecha. Eu pisco. “Pedaço de quê?”

"Assar?" ele responde. "Pedaço de bolo - isso mesmo, não é?" "É um pedaço
de bolo", eu rio. “Assar é o que você faz com bolo.” “Eh,” ele dá de ombros,
seu exosuit assobiando. “Eu nunca gostei tanto de sobremesa.” "Doce o
suficiente já, hein?" Ele enfia um dedo prateado na boca, faz sons de
engasgo. "Eu sei", eu suspiro. “Estamos nauseantes, De Seel.” Seu sorriso
morre quando Zila pega o uniglass do bolso e se agacha no chão da baía. Fin
e eu nos agachamos ao lado dela e, com um bipe suave, uma imagem é
projetada na curva da parede do ônibus espacial — uma transmissão do
uniglass no bolso do macacão de vôo de Nari. Reconheço um corredor
familiar,

cinza-escuro com letras azuis brilhantes — NÍVEL DO CABEÇOTE,


SEÇÃO B. A imagem está saltando levemente, o som das botas de
Nari ressoando na grade a cada passo. Déja vu. “Nari, você pode nos ouvir?”
Zila pergunta. Vemos uma mão se movendo no quadro, inclinando a lente da
câmera uniglass para cima para nos dar um breve vislumbre da cabeça do
tenente. Ela abandonou seu próprio capacete, pegou outro de um armário de
suprimentos em algum lugar — preto liso, sem indicativo. Ela também
arrancou as etiquetas de identificação do peito do traje de voo e as divisas de
tenente de suas mangas. Se ela sobreviver a isso, ela não quer ser identificada
como uma sabotadora de guerra, afinal. "Alto e claro", ela murmura. “Talvez
evite conversar durante esta tentativa”, sugere Zila. “Só serve para
desperdiçar minutos preciosos.” "Sim, sim", murmura Nari. “Você terá um
desempenho melhor desta vez. Eu tenho fé em você." “E nós agradecemos!”
Fin entra na conversa. "Você sabe, morrendo por nós repetidamente e outras
coisas." “Não é a morte, Bleachboy,” Nari murmura. “É só que... esse é meu
povo, sabe? Isso não parece certo.” Trocamos um olhar sobre isso, mas
nenhum de nós responde. Então, aqui estamos novamente. Problema número
três, e o nosso maior de longe. Porque a menos que a sonda

Eshvaren no Nível 2 seja desconectada de sua fonte de alimentação, não faz


sentido Fin, Zila e eu sairmos correndo para a tempestade para sermos
atingidos por aquele pulso quântico - nós vamos simplesmente morrer, e a
sonda que nos atraiu até este ponto no tempo só vai nos atrair de volta.
Somos como um ioiô na ponta de uma corda, sendo puxado de volta ao
mesmo momento, repetidamente.

Idealmente, todos nós poderíamos ajudar Nari a descer ao Nível 2 e ejetar a


sonda da estação. Exceto que todos nós temos que sair na tempestade por
volta dos quarenta e quatro minutos para sermos levados de volta para 2380.
Então, a única pessoa que pode cortar o fio do ioiô que nos prende aqui é
Nari. Sozinho. Contra uma estação inteira cheia de seus camaradas. Mesmo
com todo esse caos, o Nível 2 é a parte mais segura da instalação. Há quatro
guardas no final do corredor – grandes tipos de brigãos usando equipamentos
tac pesados, parecendo um pouco nervosos enquanto a estação treme e
estremece. Mas eles estão mantendo a posição até serem

ordenados a sair, porque é isso que os bons soldados fazem.

Felizmente, Nari também não é desleixada. Essa garota vai ajudar a fundar a
Aurora Academy um dia – em teoria. Com o elemento
surpresa, ela poderia acabar com esses capangas facilmente. Mas aqui está
outro problema. Vamos chamá-lo de 3.1.

Nari se recusa a matar alguém.

E não quero dizer que ela se recusa a atirar neles à queima-roupa – essas
pessoas são seus amigos e camaradas, isso não é um

grande enigma. Mas o alerta para evacuar a estação vai acontecer a qualquer
minuto, e Nari não quer deixar um monte de gente

inconsciente enquanto a estação explode ao redor deles também. Então, como


se invadir a parte mais segura de toda a instalação não fosse difícil o
suficiente, ela tem que nocautear todos que encontrar.

Suavemente.

Ela insiste em dar a eles a melhor chance possível de acordar a tempo de


correr. Eu amo isso nela, mas está nos matando.

Literalmente.

O maior guarda levanta uma sobrancelha ao vê-la se aproximando pelo


corredor. Ele se chama Kowalski, aparentemente – Nari nos

disse que eles se encontram no ginásio. Sua voz é quase abafada por todos os
alarmes.

"Você perdeu, soldado?"

“Parece assim,” Nari responde, puxando o disruptor de Zila.

A pistola está ajustada para Atordoar, mas um tiro no rosto ainda deve doer.
Seus colegas pegam suas armas, mas Nari tem o controle sobre eles, e com
um flash de fogo disruptor, os três guardas restantes estão esparramados no
convés. Mesmo com a arma na

configuração mínima, eles ficarão sonolentos por pelo menos quinze minutos.
“Bom trabalho, Nari,” murmura Zila. “Rápido agora.”

Nari pega a senha de Kowalski. Descobrimos por tentativa e erro que as


câmeras nesta seção ainda estão funcionando, então as

SecTeams estão sendo embaralhadas agora para lidar com esse sabotador
mascarado. Nari está oficialmente no relógio.

A bola de gelo no meu estômago está ficando mais fria.

Ela entra no elevador, aperta o botão PARA BAIXO. Podemos ouvir a


respiração dela por comunicações, tensa e rápida.

“Lembre-se que são três”, avisa Zila. “O terceiro vem do seu...”

“Nove horas, eu sei, eu sei.”

O elevador chega ao Nível 2, a porta se abre. Nari rola para o corredor


adiante enquanto um segurança grita “CONGELADO!” Um tiro soa. Outro e
outro. A iluminação é vermelho-sangue, piscando para branco enquanto Nari
solta seu disruptor, atingindo o primeiro guarda no peito. Uma explosão de
auto-fogo deixa a tela de uniglass branca, e eu estremeço novamente quando
ouço um rugido, um estrondo, Nari xingando. A foto treme
descontroladamente, o uniglass cai de seu bolso, e vejo a mandíbula de Zila
apertar, uma pequena gota de suor em sua testa. Ouvimos um grunhido, outra
explosão de disparo automático e a mudança de tom do alarme

enquanto a estação estremece novamente. Mas a universidade está no chão, e


tudo o que podemos ver agora é o teto, os dutos,

vermelho piscando para branco.

“ALERTA DE SEGURANÇA, NÍVEL 2. REPETIR: ALERTA DE


SEGURANÇA, NÍVEL 2.”

“Chakk...”, Fin respira.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Rompimento de casco nos Decks 13 a


17.”
“Nari?” Zila pergunta. "Nari, você pode me ouvir?"

"Cinco por cinco", vem a resposta, pesada, ofegante.

O uniglass é apanhado e vemos o rosto de Nari, a viseira de seu capacete


inclinada para trás. Ela está pálida, estremecendo.

"Você está bem?" Zila exige. "Status?"

“Eu a peguei desta vez,” Nari sorri, esfarrapada. “Nove horas, exatamente
como você disse. Era Liebermann. Porra, ela é uma boa atiradora.

“Não tão bom quanto você,” Fin sorri.

Nari tosse. “Eu não sei sobre isso…”

Meu coração afunda quando vejo sangue em sua boca, em seus dentes. Ela
abaixa o uniglass, aponta a câmera para seu estômago, e meu próprio
estômago revira ao ver o buraco sangrento em seu traje de voo, logo abaixo
de suas costelas.

"Oh Criador...", Fin respira.

"Estou bem", insiste Nari. "Eu tenho esse."

Olho para Zila novamente, vejo a dor em seus olhos enquanto ela observa
Nari colocar o uniglass de volta no bolso. A estação treme. A porta no final
do corredor está marcada em grandes letras brancas.

NENHUM PESSOAL NÃO AUTORIZADO ALÉM DESTE PONTO.

“ALERTA DE SEGURANÇA, NÍVEL 2. REPETIR: ALERTA DE


SEGURANÇA, NÍVEL 2.”

"Acha que isso é para m-mim?" Nari ri.

“Este é o mais longe que ela já chegou,” Fin respira.

Eu aceno, esperança crescente. “Ela pode conseguir desta vez.”


“Zila, você precisa preparar o ônibus espacial para o lançamento”, adverte
Fin. “Vou começar a trabalhar nas portas da baía.”

"Só um momento...", ela sussurra.

“Atenção, pessoal da Glass Slipper. Toda a equipe de engenharia se reporta à


Seção Gamma, Deck 12, imediatamente.”

Zila observa a projeção, os lábios apertados. Nari tropeça, respirando com


dificuldade, mas se movendo rápido. Ela usa seu cartão de acesso roubado, a
antepara estremece quando geme e se abre e, por um momento, a luz brilha
tão forte que a tela do uni fica

totalmente branca.

“É isso...”, sussurra Zila.

“Grande Criador,” Fin respira.

Na frente de Nari vemos uma grande sala circular, banhada em vermelho por
uma luz de alerta. As paredes, o teto, o chão estão todos marcados por longas
faixas pretas — marcas de queimadura, eu percebo. Conduítes e canos saem
de enormes bancos de

computadores, serpenteando pelo chão até um tanque cilíndrico de vidro no


centro da sala. O vidro está rachado, carbonizado em alguns lugares. E dentro
dela, pulsando com luz como um batimento cardíaco, está a sonda Eshvaren
quebrada.

Sinto calor no peito, olho para o meu medalhão e sinto-o pulsar. Como se de
alguma forma soubesse o que estou olhando.

"O que diabos você está fazendo aqui?" alguém late.

É um cientista, vestido com um pesado macacão branco. Nari se vira, dispara


seu disruptor. O homem grita e cai. Outro homem com equipamento de
proteção branco saca uma arma, dispara e faz chover faíscas nos bancos do
computador enquanto Nari mergulha
para o lado e cai com força, tossindo molhada. Com um suspiro, ela rola para
cima e atira, uma, duas vezes, derrubando o homem no chão. A sonda vibra, a
luz na sala fica roxa, depois fica preta, as paredes tremendo.

“ALERTA DE SEGURANÇA, NÍVEL 2. REPETIR: ALERTA DE


SEGURANÇA, NÍVEL 2.”

“Ela realmente vai fazer isso...”, Fin respira.

“AVISO: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO. EVACUAR OS CONVÉS 5 A 6


IMEDIATAMENTE. REPETIR: VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO—”

“Ok,” Nari engasga, se levantando. "Como diabos eu desligo essa porra-"

Falta um minuto para o relâmpago. Mesmo que ela pudesse fazer isso agora,
chegaríamos tarde demais. Mas não consigo desviar o

olhar.

"CONGELAR!" alguém ruge.

Uma explosão de disparos automáticos guincha pelo feed. Ouvimos Nari


amaldiçoar. Quando ela se lança para o lado, vejo um

esquadrão de capangas secundaristas entrando no laboratório, armas em


chamas. Nari bate na barriga e rola, explodindo com seu

disruptor. Mas ela está em desvantagem. Desarmado.

Todos nós sabemos como isso vai acabar.

De novo e de novo.

"Ah, não", eu sussurro.

“Flanquear à direita! Flanco direito!” alguém grita.

"FOGO NO BURACO!"
Um estrondoso BOOM cai no feed. A imagem fica branca.

“Nari...”, Zila respira.

"Maldição", ouvimos seu grunhido.

A imagem estremece. Nari pragueja de dor, tirando a faculdade do bolso.


Podemos ver seu rosto agora, salpicado de sangue. Ouça o som de botas de
corrida. A tagarelice do fogo de cobertura.

“Desculpe, crianças,” Nari suspira, com os dentes vermelhos. “Sem dados.”

“Tão perto,” Fin sussurra.

"Até agora", eu suspiro.

Zila estende a mão para a projeção na tela.

Toca o rosto de Nari.

"Vejo você em breve."

BANG.

25

TYLER

Eu joguei isso milhares de vezes, e ainda não tenho certeza se consigo fazer
isso.

Tentei entrar em contato com Adams mais doze vezes, sem sucesso. Mas é a
véspera do dia mais movimentado de sua vida, então não posso ficar com
raiva, e não posso simplesmente deixar uma mensagem alegre sobre a ameaça
à sua estação e rezar para que ele a receba.

Pensei em ser preso pela segurança, implorando para que me deixassem falar
com o comando. Eu considerei invadir a seção de
reabilitação dos oficiais, ou me infiltrar no próprio cume para fazer algum
discurso dramático sobre a ameaça Ra'haam enquanto tentava não levar um
tiro. O problema é que não tenho nenhuma prova real de sua existência, e
mesmo que de alguma forma eu

convença os líderes planetários de que uma antiga gestalt de plantas os está


manipulando para uma guerra de distração, isso ainda não impedirá os
agentes dos Ra'haam de explodir esta estação em pedaços.

Lyrann Balkarri me ofereceu espaço para dormir em sua suíte – claramente


um cara disposto a jogar o jogo longo – mas não consegui dormir. A dor de
cabeça é constante agora, a visão também: paredes de arco-íris e aquela
garota Syldrathi de cabelos dourados, mãos cobertas de meu sangue. O ar
crepita com o azul da meia-noite e o vermelho-sangue, cristal se estilhaçando
ao meu redor e, por último, vejo a academia explodindo por dentro, a melhor
esperança que resta na galáxia apagada como uma vela e mergulhando todos
nós na guerra.

... você pode consertar isso, Tyler...

eu não tenho certeza se posso, honestamente. Mas não consigo ver outro
caminho. Tenho algumas peças do meu lado, e não passei

todo esse tempo jogando xadrez no time da academia à toa.

Sim, eu estava no clube de xadrez. Coisa terrível para um pirata espacial


arrojado admitir, eu sei. Mas quando você não xinga, bebe ou persegue a saia,
não há muito mais o que fazer para se divertir em uma academia militar.

Seja grato por eu ser tão sem vida, ok? Porque posso ver o próximo
movimento do meu inimigo, claro como vidro.

Há realmente apenas uma razão para Cat estar entre os detalhes de proteção
do primeiro-ministro. Uma razão pela qual os Ra'haam a enviariam aqui
especificamente. Ela costumava frequentar esta academia, afinal. Ela sabe
disso de dentro para fora, melhor do que quase ninguém. Seus segredos. Suas
salvaguardas. Suas fraquezas.
Eu já vi antes que, embora os Ra'haam pareçam saber tudo o que cada um de
seus drones sabe, ainda há algo sobre os indivíduos…. Há

uma razão para ter enviado o pai de Auri para caçá-la, e não estou convencida
de que foi apenas o poder de ela ver o rosto dele. Há uma razão pela qual Cat
está aqui agora, neste lugar que ela conhece tão bem quanto sua própria pele.

E eu sei qual é esse motivo, tão certo quanto conheço o Gambito da Rainha
ou a Defesa Caro-Kann.

Ela é o gatilho.

Catherine “Zero” Brannock é quem destrói a Academia Aurora.

Só não sei como.

Uma hora antes do início do cume, eu finalmente a observo no saguão da ala


de hóspedes da seção de reabilitação. A cúpula em si está sendo realizada no
Enclave dos Fundadores, onde o comando da Academia realiza sua
assembléia geral. É um enorme anfiteatro de vários níveis, capaz de
acomodar alguns milhares de pessoas. Centenas de delegados já estão a
caminho das negociações do

primeiro dia, e a segurança da estação está em vigor. Mas enquanto vejo


aquele traje de carvão e máscara de espelho deslizando pela multidão,
entendo por que os Ra'haam esperaram para fazer seu movimento. Os
participantes estavam chegando até o início desta

manhã e, com o fluxo de convidados, as SecTeams agora estão esgotadas.

Melhor ainda para um peão solitário passar despercebido pela linha.

Eu a arrasto pela multidão, vestindo meu novo terno escuro, as credenciais de


imprensa que Lyrann Balkarri me deu em volta do meu pescoço. A
identificação só aguentará um exame superficial, mas, como os Ra'haam,
espero que a segurança esteja muito pressionada para se concentrar em outro
lugar. Também espero que Balkarri possa cumprir sua parte no trato. Eu
ofereci a ele o furo de uma vida, e ele é fã das covinhas. Mas há muita coisa
em jogo na minha aposta.

Apenas delegados, segurança pessoal e imprensa são permitidos na cúpula


em si – as comitivas e acompanhantes, funcionários da

academia e legionários estão todos reunidos nos cafés e restaurantes sob as


estátuas dos Fundadores. A promessa de Adams e de

Stoy de um endereço especial despertou curiosidades, e o calçadão está


lotado.

Perco Cat três vezes, o coração martelando no peito enquanto vasculho a


multidão. Mas acabei encontrando-a novamente, cortando como uma faca a
multidão, voltando na direção das docas.

Faz sentido.

É o lugar que ela, e portanto o Ra'haam, conhece melhor.

Cat monta um turboelevador para os níveis mais baixos. Eu corro escada


abaixo, ganhando alguns olhares estranhos de uma equipe de manutenção.
Ela está indo para os depósitos de combustível, talvez? As lojas de munição?
Muitos explosivos lá embaixo...

Cat anda casualmente pelas patrulhas de segurança, mostrando suas


credenciais do GIA; Eu faço o meu melhor para contorná-los.

Parece que estou em uma competição de gato e rato, mas não tenho certeza
de quem é quem, e me parece estranho – que todo esse

jogo possa ser decidido por duas pequenas peças neste tabuleiro enorme, um
milhão de anos e bilhões de vidas em formação.

Estamos no Theta Deck quando ela me deixa escapar. Eu tenho que parar em
uma escada para deixar uma patrulha passar, e quando

eu saio para o corredor, eu percebo que Cat simplesmente... foi embora.

Eu examino o convés, corro para o nível abaixo, olhos arregalados.


Onde ela...?

Eu refaço meus passos, desespero crescendo, pulso e dor de cabeça


martelando. A imagem do fim da academia queimando

novamente em minha mente.

Nononono...

A coisa sobre o xadrez é que você não está realmente jogando o jogo - você
está jogando com seu oponente. Tentando definir o que eles vão fazer antes
de fazê-lo.

E acho que acabei de ser superado.

Eu olho ao meu redor, ficando frenética agora. Olhando para o meu uniglass
roubado, vejo que são 08:27, hora da estação — apenas trinta e três minutos
até que Adams e de Stoy estejam marcados para falar. Se o Ra'haam está
preocupado como eu estou, se ele

detectou aquela inflexão enquanto de Stoy falava sobre sombras e


crescimento como eu...

E então eu vejo. Uma pequena placa brilhante acima de uma porta indefinida.

BANHEIRO.

Eu corro para dentro, esbarrando em um jovem e magro Betraskan com


uniforme de academia, sorrindo um pedido de desculpas

enquanto passamos um pelo outro. Eu examino o quarto, borboletas surgindo


quando vejo o duto de ventilação.

Arranhões frescos na pintura ao redor da grade.

Eu ando em direção a ela, interrompida pela voz atrás de mim.

“Santo chakk...”
Olhando por cima do ombro para o cadete, eu o vejo parado na porta do
banheiro. Ele está olhando para mim, grandes olhos negros ainda mais
arregalados.

"Tyler Jones", ele sussurra.

Eu o reconheço finalmente.

“Jonii de Münn,” murmuro.

Campeão do torneio de xadrez Aurora Academy do ano passado.

"Jonii, espere, eu posso explicar..."

Eu atiro para a pistola de pulso dentro da minha jaqueta. Ele se lança para a
saída. A explosão de atordoamento atinge o espaço que ele estava um
segundo antes, meu segundo tiro derruba a porta de suas dobradiças. Mas ele
está correndo agora, pela saída e pelo corredor, procurando seu uniglass,
gritando pela segurança da estação.

Fim de jogo.

Eu corro para o cubículo, arranco a grade e me arrasto para dentro do


respiradouro, prendendo a tampa atrás de mim. Não vai me dar muito tempo,
com certeza. Mas vai demorar no máximo um minuto antes que a segurança
da Aurora Legion seja notificada de que um dos terroristas mais procurados
da galáxia, Alpha desonesto, assassino em massa e pirata espacial (yarrrr)
Tyler Jones está solto na estação.

Então agora este jogo está no relógio de uma maneira totalmente nova.

Eu rastejo para dentro do respiradouro, usando minha universidade para


iluminar meu caminho. Esses dutos são um labirinto, e

normalmente eu estaria irremediavelmente perdido em alguns cruzamentos.


Mas, como eu disse, eles realmente deveriam passar os

drones varredores por aqui com mais frequência.


À minha frente, posso ver – claro como posso ver o pelotão de fuzilamento
esperando se a segurança me pegar – as marcas de mãos e joelhos do meu
melhor amigo, arranhados na superfície de metal suja.

E assim eu rastejo.

Como a vida de cada ser senciente na galáxia depende disso, eu rastejo.

O relógio da minha uni bate para baixo. Estou conectado à rede da estação,
olhando ocasionalmente para o feed do cume. Os

delegados estão se reunindo no Enclave dos Fundadores, uma infinidade de


raças e trajes ocupando seus lugares nos anéis

concêntricos. No centro do palco, um pódio é destacado por um holofote


brilhante, um holo do sigilo da Legião da Aurora girando no ar acima dele.

Percebo que estou entrando em áreas restritas da estação agora. Passo por um
posto de segurança automatizado nas aberturas, mas o sensor de movimento e
a tela de laser foram contornados por um pequeno dispositivo de interferência
pressionado contra a parede —

sem dúvida cortesia da divisão de operações especiais do GIA. Deslizo por


uma calha em aberturas mais amplas, seguindo o rastro de Cat. Estou suando
no meu terno agora, a temperatura subindo lentamente. Passando por mais
três pontos de verificação de segurança, vejo que estão todos desativados.

Eu me perguntei se poderia haver uma bomba no ônibus da delegação


terráquea, ou algum dispositivo na área de pouso que poderia causar a
destruição da estação. Se Cat atingisse as lojas de munição ou reabasteceria.
Há várias maneiras de um sabotador colocar esta estação em seu encalço com
o conhecimento certo e tempo suficiente. Mas eu sei para onde ela está indo
agora. A escolha mais estratégica. O lugar mais confiável para iniciar uma
explosão que acabaria com toda a academia, sem barulho, sem sobreviventes.

O núcleo do reator.

A trilha de Cat termina em outra grade, e eu a solto, deslizo. Estou suando


tanto que minha jaqueta parece encharcada. Jonii com certeza já deve ter
alertado a segurança da estação sobre minha presença, embora não tenham
soado nenhum alarme audível –

provavelmente não querem atrapalhar o cume. Caindo no chão de metal, vejo


que estou no próprio núcleo do reator, as paredes de metal escuras manchadas
de azul pela iluminação do teto.

Esta seção é absolutamente proibida para a equipe de cadetes, e admito que


não a conheço muito bem. Mas ainda posso dizer para onde Cat foi, mesmo
sem um rastro para seguir. Quatro seguranças estão dispostos no chão à
minha frente.

Ajoelhada ao lado deles, verifico os pulsos, mas já sei que estão mortos. A
escotilha foi desativada e, através dela, encontro três técnicos e mais dois
membros da equipe de segurança, todos desaparecidos. Olhando para o
sistema sec, vejo que as câmeras estão off-line, sem dúvida nocauteadas por
outro jammer GIA.

Esses corpos, essa tecnologia...

Eu balanço minha cabeça. Compreender o planejamento e a habilidade


necessários para realizar um trabalho como esse. Quanta

vantagem o Ra'haam tem, com o conhecimento combinado de cada pessoa


que já absorveu à sua disposição. Posso ver agora

quantos movimentos à frente foram esse tempo todo.

O relógio bate.

"Estimados representantes", vem uma voz no meu fone de ouvido.

Olho para o meu uniglass, percebendo que o discurso de abertura já começou.


Está sendo transmitido por toda a rede da estação, e a voz do almirante
Adams ressoa nas paredes enquanto sigo pelos corredores cheios de vapor,
passando por mais corpos, o calor

sufocante, o ar espesso e úmido em meus pulmões.


“Honrados convidados. Amigos. Em nome do Líder da Batalha do Clã Maior
de Stoy e de mim, bem-vindo ao primeiro dia desta Cúpula Galáctica.”

Chego a uma porta maciça e resistente, marcada com listras diagonais pretas
e amarelas. Mais quatro cadáveres estão espalhados no chão em frente a ela.
Uma placa está pintada no metal em grandes letras brancas:

AVISO: NÚCLEO DO REATOR. NENHUMA ENTRADA NÃO


AUTORIZADA ALÉM DESTE PONTO.

A iluminação ao redor de repente escurece, ficando vermelho-sangue.

“Oh Criador, ainda não,” eu oro.

26

KAL

Sempiternidade está pegando fogo.

Seu casco está rasgado, vazando combustível e refrigerante no vazio. O


vazamento está em chamas, um arco de chamas cortando a

escuridão, brilhando com centenas de minúsculos pontos de luz. Cada um


deles é um navio, Povos Livres ou Ra'haam, amigo ou

inimigo, todos eles lutando e morrendo por essa pequena chance de vida.

“G Wing, você tem lutadores Ra'haam chegando! Marque seis...”

“Roger, Trinity, este é o Do'Kiat, estamos nos movendo para interceptar...”

“A respiração do Criador, eles estão em cima de nós! Nós...

Na sala de controle da Neridaa, a batalha é projetada ao nosso redor, como se


as paredes de cristal fossem de vidro. Fico ao lado de Aurora, observando
tudo se desenrolar, com o coração na garganta. Lá fora, no escuro, novas
estrelas florescem brevemente, mísseis tecem, tentáculos se agarram, os
cascos eviscerados de navios naufragados parecem indefesos, sangrando e
queimando. Os Povos

Livres da galáxia lutam com o tipo de bravura da qual as lendas são criadas,
das quais as canções são cantadas.

Mas se falharmos aqui, não restará ninguém para cantá-las.

E os Ra'haam são tantos... .

“Integridade do casco dezessete por cento! Precisamos de ajuda para...

— Lendo novos truques, vários...

— Fui atingido! Eu...

Minha mente é uma tempestade, o poder do meu pai e do meu be'shmai


ecoando dentro do meu crânio, carregando o ar com estática.

Azul da meia-noite e vermelho-sangue, mesmo aqui na paisagem colorida em


preto e branco da Dobra, entrelaçados em uma sinfonia de destruição.
Esmagando naves corrompidas ao nosso redor em manchas sangrentas e,
sempre e sempre, empurrando os Neridaa

para a frente – uma lança de cristal Eshvaren do tamanho de uma cidade,


voando a velocidades quase que dobram a relatividade em direção ao nosso
alvo.

Está escondido, adormecido no meio de todo esse cinza, mas...

"Ali!" Eu choro, apontando. "Aí está!"

Além do derramamento de sangue à frente, os navios matando e morrendo na


escuridão diante de nós, a Dobra ondula, como se uma

pedra tivesse sido roçada em sua superfície. Embora o espaço seja silencioso,
eu juro que ouço uma tênue sequência de notas, belas e brilhantes e
formigando em minha pele.
Diante de nós, eu o vejo, exatamente como eu o via naquela época – um
pequeno redemoinho de pretos, cinzas e brancos,

desabrochando como uma flor sob o sol da primavera. Como se reagisse à


presença dos Gatilhos de Eshvaren. Como se soubesse...

"O portão", eu respiro, o coração cantando.

Meu pai olha para ela, depois volta para a batalha lá fora. Aurora está perdida
na carnificina, os dentes escorregadios de sangue à mostra enquanto ela
agarra outra nave Ra'haam e a esmaga em lascas. Mas diante dos meus olhos,
o portal espirala para fora,

alargando-se como uma abertura, até se estender por milhares de quilômetros


– a porta de entrada para a dimensão de bolso que

esconde o planeta natal Eshvaren.

Brevemente me lembro da última vez que viemos aqui – Aurora e Finian e


Scarlett e Zila e eu. Aquela era uma época mais simples. Um tempo melhor.
Lembro-me do calor de sua amizade, da alegria que senti quando nosso time
estava todo reunido, da sensação de que, como um, poderíamos de alguma
forma realizar qualquer coisa.

Apesar da carnificina ao nosso redor, me pego sorrindo com a memória.


Agradeço ao Vazio que a maioria deles não viveu para ver um futuro como
este. E eu juro, com tudo dentro de mim, que darei tudo o que tenho para
evitar que isso aconteça novamente.

"Aurora, você vê-"

Um impacto balança o casco do Neridaa, cristal caindo das empenas acima e


se estilhaçando no chão ao meu lado. Meu pai olha da projeção, seu olho
direito queimando em um branco furioso e ofuscante.

“Cuidado, garota!” ele rosna.

Aurora enxuga o sangue em seus lábios, a luz fantasma se derramando pelas


rachaduras ao redor de seu olho. “Achei que você tinha
esse!”

“Não posso vigiar nossos flancos, proa e popa! Concentrado!"

"Eu sou! E eu acharia muito mais fácil sem você gritar comigo, seu f—”

Outra explosão nos sacode, as paredes se estilhaçando quando Aurora


tropeça.

“Ok, essa foi sua culpa!”

“Kal, este é Tyler, você leu?”

Eu toco o comunicador no meu ouvido, falando rápido. "Sim irmão. A porta


de entrada para o mundo natal Eshvaren está bem à frente.”

“Nós vemos! Mas a notícia está definitivamente espalhada pela mente da


colmeia Ra'haam agora! Temos mais duas frotas de batalha Weed chegando,
e nossa força caiu para quarenta e sete, não... quarenta e três por cento.”

Eu olho para a anomalia, dentes cerrados, desejando-nos com cada fibra do


meu ser. "Estamos quase lá. Aguentar."

“Os Ra'haam serão capazes de te seguir?”

Eu olho para Aurora, mas ela está perdida mais uma vez na euforia da batalha
lá fora. Meu pai olha carrancudo para o inimigo, sangue escorrendo pelo
queixo e respingando no chão. Mas eu posso dizer pelo leve levantar de uma
sobrancelha...

“Nós não sabemos,” eu confesso. "Possivelmente."

"Entendido. Nós vamos cobri-lo da melhor maneira que pudermos... Oh


grande Criador...

A luz brilha em nossa popa, impossível e ofuscante. Em meio ao enxame de


navios Ra'haam, sombras escuras em um céu mais escuro, vejo
Sempiternidade acesa por dentro, como um flutuador de fogo em um dia de
festival.

Seu casco racha e seu corpo treme, e eu só posso assistir impotente enquanto
seu núcleo se rompe. Com um último e silencioso grito de luz, a Nave
Mundial explode, e eu estremeço com os ecos fracos de dez mil vidas sendo
levadas para os braços do Vazio.

"Amna diir", eu sussurro.

"Não...", Aurora respira, lágrimas brilhando em seus olhos brilhantes.

“… Jie-Lin…”

A voz ressoa no vazio ao nosso redor, quente como a primavera, oleosa e


escorregadia. E através de sua dor, seu fogo nascido da batalha, vejo a
mandíbula de Aurora apertar.

“… Jie-Lin…”

“Ignore, garota,” meu pai avisa.

"Eu sou."

“Ele procura distraí-lo, ele—”

“OLHE, CALA A BOCA, VOCÊ VAI?”

O portal surge à frente, preenchendo nossa visão: uma espiral eterna, os


segredos dos Antigos logo além. Atingimos a soleira,

trovejando, enquanto os cinzas, brancos e pretos da Dobra de repente,


dolorosamente se acendem em cores plenas e vibrantes – um trovão em tons
de arco-íris ressoando em meu crânio.

O portão ondula atrás de nós, como água, como sangue, e meu coração
afunda quando vejo vasos Ra'haam surfando a onda de choque de nossa
passagem, inundando a ferida que rasgamos.

A batalha se espalha para o espaço real.


A sempiternidade se foi.

Não temos para onde correr agora.

As naves dos Povos Livres seguem as naves Ra'haam, o Vindicador entre


eles, Tyler e sua tripulação cavalgando ao nosso lado até o fim. À frente, vejo
o mundo natal dos Antigos — outrora um lugar de beleza, música e luz,
agora morto e cinza. Mas mais inimigos estão vindo pela brecha giratória
atrás de nós, aparentemente intermináveis em número, as ruínas de uma
galáxia caleidoscópica outrora bela, agora podre e perdida. Retorcidos em
uma mente, uma visão, uma vontade, inclinados para um propósito terrível.

Para fazer todo o resto como ele.

Veja como eu faço.

Pense como eu.

Faca oque eu faco.

As naves Ra'haam mais próximas disparam uma barragem no Neridaa,


espiralando, girando, cuspindo. Os projéteis são estranhos:

veneno farpado e pingando, envolto em pseudópodes.

“Kal, essas são cápsulas de embarque, seja evasiva!”

Meu pai ataca, dedos enrolados em garras. Aurora ruge, o cabelo jogado para
trás em algum vento invisível, sangue em seus dentes.

Sinto algo bater no Neridaa e quebrar sua pele, sacudindo o navio até os
ossos.

“Kal, você foi atingido! Gêmeo ataca à ré!”

Outro impacto nos sacode, e eu olho para Aurora, desesperada, seu rosto
contorcido de dor e alegria encharcada de sangue.

“Be'shmai?”
"Eu posso sentir isso, Kal", ela sussurra. “É... é...”

“Está aqui,” meu pai sussurra. “Está a bordo.”

Olho ao redor da sala, as naves ainda em arco e florescendo através das


estrelas. Nem Aurora nem meu pai podem partir — não com a batalha ainda
acontecendo lá fora, a tarefa de guiar a Arma até o mundo Eshvaren. Mas o
inimigo está entre nós agora. Dentro de nós.

Então não há ninguém para pará-lo além de mim.

"Está se movendo", diz meu pai, piscando as pálpebras. "Trinta. Quarenta


corpos. Viajando pela coluna central.”

“Nós temos pensionistas, Tyler,” eu reporto, sacando minha pistola. “Três


dúzias de hostis. Talvez mais. Estou me movendo para interceptar.”

“Entendido, estamos a caminho! Segure-os até chegarmos até você.

Aurora pega minha mão quando me viro para sair. “Kal, tenha cuidado.”

Eu a puxo em meus braços, pressiono meus lábios nos dela, sentindo o gosto
de sangue entre nós. Ferro e ferrugem e ruína. — Voltarei, be'shmai. Eu
juro."

Enquanto caminho pelo chão, a voz do meu pai me interrompe.

“Kalis.”

Eu me viro para olhar para ele, este homem que já foi o centro do meu
mundo. Ele fica em meio ao brilho de navios moribundos, de motores
quebrados, de combustível queimando, banhado pela luz carmim da
carnificina. Seu queixo pinga sangue, grosso e violeta no chão a seus pés,
seus olhos, brilhantes, estão focados na batalha lá fora — aquela sinfonia de
destruição que ele toca com meu be'shmai.

Estamos nos aproximando desse mundo morto enquanto observo — a


salvação que pode estar dentro dele. Mas por um segundo, ele
olha na minha direção. Tempo suficiente para sussurrar a única sabedoria que
ele conhece.

“Faça sangrar.”

27

ZILA

TICK.

CARRAÇA.

CARRAÇA.

Estou me movendo no piloto automático, permitindo que a conversa me


envolva como um ruído branco, perdido em meus próprios

pensamentos.

Meu corpo está amontoado no Pégaso de Nari com Finian e Scarlett.

Estamos rastejando pelo depósito de lixo.

Estou no necrotério, roubando a senha do cadáver de Pinkerton.

Tudo isso já fizemos antes. Uma dúzia, cem, mil vezes.

Minha mente está girando livremente, girando em cada ciclo que vivi.

Tentamos ejetar o núcleo dezesseis vezes, e todas as vezes falhamos.

Abordamos a tarefa com discrição e fomos detectados.

Fizemos experiências com força bruta e fomos superados.

Nós até tentamos lógica, não uma, mas duas vezes. Apelamos ao comandante
da estação, expondo os fatos da questão da maneira
mais simples e não ameaçadora possível. A razão não teve sucesso onde a
astúcia falhou.

Fecho meus olhos doloridos e deixo minha mente se soltar de suas amarras,
permito que ela explore. Meu intelecto é extraordinário, sempre soube disso.
Embora eu a tenha estendido, desafiado, nunca encontrei seus limites. Mas
agora, para onde quer que eu me viro, bato contra uma das duas paredes.

Na primeira, gravada em letras grandes, as palavras:

VOCÊ PODE TENTAR MIL VEZES MAIS, ISSO NÃO PODE SER
FEITO.

E esculpida na segunda, ainda maior:

VOCÊ ESTÁ SEM TEMPO.

Esta é a nossa última chance.

Estamos mais uma vez no escritório de Pinkerton. Um meio círculo quebrado


de nós. A enorme tempestade de matéria escura se agita além do casco da
estação, nosso futuro esperando para pulsar lá dentro. Nosso caminho para
fora. Nossa viagem para casa.

Se ao menos eu pudesse ver o caminho...

A voz desesperada de Finian passa por minha consciência. “Se pudéssemos


modificar a configuração de Atordoamento, fazer o

disruptor emitir um pulso mais amplo...”

“Pessoal médico necessário imediatamente, convés 12”, chama o PA.


“Repita, pessoal médico, Deck 12.”

Eu o deixei se afastar. Um labirinto se desenrola ao meu redor enquanto tento


todas as permutações possíveis dos fatos, mas cada vez encontro um beco
sem saída. Cada “e se” e “talvez-nós” tropeça em algum lugar. E o tempo
todo estamos seguindo os mesmos passos que sempre nos mataram.
Marchando em direção ao mesmo destino, indo conscientemente ao encontro
de nosso destino.

"Talvez haja alguma maneira de proteger a câmara de sonda para me dar


tempo", diz Nari, a mesma nota de desespero em sua voz.

“Algo manual que a segurança da estação não pode anular.”

"Mas isso significa que você está preso quando o núcleo explodir", diz
Scarlett. "Você tem que sair, Nari, ou tudo isso é por nada."

Isso é inaceitável. Não podemos estar em um cenário sem vitória, ou não


teríamos vindo de uma realidade em que Nari funda a Legião Aurora.

Deve haver uma maneira para ela sobreviver.

Deve haver.

Deve...

E então os números de repente param de rolar. O fractal interminável de


possibilidades para de se desdobrar. E eu vejo a resposta.

Abro os olhos para encontrar Scarlett me estudando atentamente. Mesmo


agora, exausta, desgastada pela dor, medo e perseguição

implacável, ela não consegue esconder a gentileza em seu olhar. Apesar de


sua casca externa cuidadosamente cultivada, ela tem um coração sem limites.
Fico feliz que ela tenha descoberto que o mesmo se aplica a Finian.

— Você descobriu? ela pergunta baixinho.

"Sim."

Ela simplesmente olha. Parte dela já está entendendo. E começo a ver o gênio
em sua capacidade de fazer isso. Aqui no último. No final.

Desculpe ter gritado com ela.

Lamento por muitas coisas.


CARRAÇA.

CARRAÇA.

CARRAÇA.

“Nari,” eu digo. “Os hallabongs que seu primo traz para a casa de seu
halmoni. Eles são bons?"

"Delicioso." Ela está assustada. "Mas o que … ?"

Eu olho em seus olhos. E quando eu faço, eu sei… .

Eu não estou sentindo nada.

"Eu gostaria de provar um", digo a ela.

Eu gostaria de estar em uma casa assim. Com uma grande família indo e
vindo. Com tradições, piadas e histórias de família e frutas tão suculentas que
escorrem de seus pulsos e escorrem de seus cotovelos.

"Eu gostaria que você pudesse", ela franze a testa. “Mas...”

Finian finalmente começa a entender o que Scarlett já sabe.

“Zila, não. Não."

"O que?" Nari protesta, olhando entre nós. "O que está acontecendo?"

Scarlett balança a cabeça. “Zila, deve haver outra maneira…”

"Isso não pode ser feito sozinho", eu digo simplesmente.

A voz de Finian junta-se à de Scarlett em protesto. “Não, Z, nós vamos


descobrir isso. Ainda temos tempo, nós...”

“Com a força atual contra ela, Nari não pode sobreviver para ejetar o núcleo.
Ela deve sobreviver se quiser fundar a academia, ou nunca chegaremos aqui,
nunca plantaremos a semente para a vitória de Aurora contra os Ra'haam.
Elimine o impossível, e o que resta, por mais improvável que seja...”

Olho para Fin

“… ou doloroso…”

depois para Scarlett

“… ou triste…”

e por último para Nari

“… é a verdade. Alguém deve ficar para trás e ajudá-lo.”

Deixei que suas vozes se afogassem.

“—deixei Cat para trás, deixei meu irmão para trás, e se você acha—”

“—só tenho que pensar novamente sobre a maneira como estamos usando o
—”

“—desta vez eu posso—”

eu me levanto. Eu encaro. E, eventualmente, eles ficam em silêncio. Eles se


argumentaram. Eles vêem a verdade simples, clara como eu. E eles sabem no
fundo do coração, cada um deles, que não temos minutos a perder.

Então eu falo novamente. “Muitos anos atrás, eu assisti do meu esconderijo


enquanto invasores ameaçavam meus pais e amigos. Se eu me revelasse, eles
seriam fuzilados e eu seria levado. Então permaneci escondido, esperando
que uma solução se revelasse.

Eventualmente, nossos captores se cansaram de esperar, mataram minha


família de qualquer maneira e foram embora. Nunca mais

permitirei que aqueles que amo morram por minha inação. Desta vez, há algo
que posso fazer.” "Você era uma criança, Zila", sussurra Scarlett. “Você não
precisa fazer isso direito.”
"Eu não posso", eu respondo. “E eu sei que não depende de mim fazê-lo. Mas
já vivi essa história antes, Scarlett, e desta vez vou mudar o final.”

“Não podemos simplesmente deixar você aqui.” A dor de Finian está em cada
linha de seu rosto. Na captura em sua voz. “Não

podemos deixar você em paz.”

Eu olho para Nari novamente. “Eu não estarei sozinho.”

“Mas você estará dois séculos no passado!” ele chora.

"Alguém deve ser", eu digo. “Alguém sempre ia ser. Vocês dois devem
retornar ao nosso tempo para lutar contra os Ra'haam. Você pode ser tudo o
que resta do Esquadrão 312. Você não deve falhar em nosso dever.

"E você?" Scarlett sussurra.

"Vou colocar tudo em movimento", eu digo. “Não podemos esperar que Nari
faça tudo. Alguém deve deixar instruções para os chefes da Legião Aurora.
Tudo, desde o ronco de Björkman até os presentes no cofre. Só há uma
maneira de Magalhães saber tudo o que

sabe.

“Você vai escrever o programa dele,” Finian diz suavemente. Seus olhos
estão molhados. “Deixe para Scarlett encontrar naquele nó de compras.”

“Sua fraqueza por bolsas é facilmente explorada.”

Scarlett sorri, embora já esteja começando a chorar.

"É por isso que estamos aqui", digo a eles, pegando o pequeno fragmento de
cristal do tesouro de Pinkerton e segurando-o na frente de Scarlett. “Por que
isso foi deixado no cofre para nós encontrarmos. Para nos arrastar de volta
para este lugar e tempo para que eu pudesse permanecer. Magalhães nos disse
que seu conhecimento dos eventos se estendia apenas até certo ponto no
futuro. O ponto de onde parti.”
Finian balança a cabeça, os lábios trêmulos. “Z, nós já perdemos Cat…”

“E devemos fazê-lo novamente. Tudo deve acontecer exatamente como


aconteceu. Devemos perder Cat para que ela possa nos salvar

em Octavia. Devemos permitir que o Starslayer pegue a arma antes de nós,


para que ele possa dispará-la e nos jogar de volta no tempo.

Porque devo sempre voltar aqui, ao início de tudo. Devo permanecer no


passado para salvaguardar o nosso futuro.”

Scarlett entrelaça seus dedos nos meus. Como Finian, ela está chorando. "Nós
também te amamos, Zila", ela sussurra.

Fico feliz que ela entenda.

"Eu vou mantê-la segura, eu prometo", murmura Nari, e o tremor e a certeza


em sua voz me aquecem. “Eu vou tirá-la na evacuação.

Pegue um jaleco. Espero que as coisas sejam confusas o suficiente para eu a


cobrir.”

"Eles serão", eu digo a ela. "Eu acredito em você."

“Você deveria levar Magellan,” Finian diz, a voz áspera enquanto ele se
move em nosso pequeno espaço para cavar dentro de sua bolsa.

“Ele estará cheio de informações úteis se você puder consertá-lo. Talvez você
possa até apostar em alguns jogos esportivos, aumentar o saldo bancário.” Ele
faz uma pausa e lentamente tira Shamrock.

Ele olha para Scarlett. Ela acena. Ele me entrega nosso mascote.

"Companhia extra", diz Scarlett, sua voz embargada. “Ok, não esqueça que
nosso Arco Longo original vai precisar de um caixote onde Auri possa se
esconder, e – merda, nós nem sabemos para que servem as botas de Tyler do
cofre, como você vai...?”

“Ele estava em cativeiro terráqueo quando o deixamos. Vou fornecer-lhe um


meio de fuga. Tenho um intelecto aguçado, uma excelente memória e o resto
da minha vida pela frente — digo a ela. “Nada será deixado ao acaso.”

Scarlett fica em silêncio por um longo momento. “Ah, Zila,” ela murmura.

"Eu sei", eu digo baixinho.

“Desejo...”, diz Finian, mas não termina a frase.

"Nós temos mais uma chance", eu digo. “Depois disso, o loop terminará antes
do pulso quântico e você não terá fonte de energia para chegar em casa antes
que o loop entre em colapso completamente. Tudo depende dos próximos
quatorze minutos. Tudo o que é

agora, tudo o que será. Nossa última chance de parar os Ra'haam. Para
proteger cada planeta, cada colônia, cada espécie, cada vida que está por vir.”
Eu estendo minha mão, uma última vez. "Nós podemos fazer isso."

Scarlett pega e aperta. “Nós, a Legião”.

Finian envolve seus dedos prateados nos nossos. “Nós, a Luz.”

Nari coloca a mão na nossa e acena com a cabeça. “Queimando brilhante


contra a noite.”

"Esquadrão 312 para sempre", eu sorrio.

CARRAÇA.

CARRAÇA.

CARRAÇA.

28

AURI

A batalha ruge atrás de nós, e à frente está o planeta morto dos Eshvaren.
O poder está surgindo através de mim, inebriante e viciante, e eu persigo o
alto, minha mente girando rápido e selvagem, e eu sei que estou usando meu
próprio eu para esmagar o inimigo, mas não consigo lembrar por que não
deveria .

Eu sou o poder dos Eshvaren manifestado – isso é o que Esh me disse uma
vida atrás no Echo. Eu sou tudo o que eles desejaram, e todos os meus
inimigos vão queimar.

A luz da estrela anã vermelha moribunda emoldura o planeta enquanto


disparamos em direção a ele, correndo à frente de nossos

perseguidores, e tudo fica quieto em sua superfície rochosa.

Silêncio à nossa frente. Caos atrás.

Kal avança pelos corredores da nave abaixo de mim, e o Neridaa desce em


direção à enorme cratera daquelas portas maciças de

oficina, com dez quilômetros de diâmetro. Eles já estão se abrindo


silenciosamente, revelando o túnel perfeitamente liso além, esculpido na
própria rocha. A nave se move rápido, guiada com o mais leve toque — é
quase como se ela quisesse ir para casa.

"Estamos seguindo você", Tyler grita quando uma nave Ra'haam colide com
a superfície do planeta, morrendo em uma labareda de fogo e detritos. “Tan,
vá atrás disso, tente e... Criador, você consegue, de Mayr!”

De seu trono, Caersan fala, sangue escorrendo de seu queixo, seus dentes à
mostra em um sorriso carnívoro.

“Tenho poucos arrependimentos na vida, criança. Mas eu daria muito para ter
visto seu rosto quando você descobriu que eu o havia derrotado aqui e
tomado o Neridaa.

"Eu vou gostar de ver seu rosto", eu respondo. "Quando eu a tirar de você."

Não parece comigo, não parece comigo, mas sou eu falando — meus lábios
ensanguentados se torcendo enquanto Caersan estreita os
olhos.

Mas a batalha está queimando ao nosso redor, e eu estou preso naquele fogo,
mergulhando o navio além das portas e dentro do túnel, com quilômetros de
largura, as frotas Ra'haam e Livre correndo atrás de nós. A escuridão é
iluminada com explosões rápidas, e tudo o que posso ouvir são comandos
gritados, cortando um em cima do outro, uma bagunça desesperada de ordens
e súplicas.

Deixo minha mente varrer para fora, e encontro Kal, quase no lugar onde o
enxame Ra'haam está entrando em nosso navio ferido, um farol violeta e
dourado contra a massa contorcida e faminta de verde e azul.

Eu anco um pedaço de mim para ele, e alcanço mais para encontrar o


Vindicator, me empurrando para a mente de Tyler, para a de Lae, além da
exaustão e do medo e do foco obstinado na batalha.

Kal precisa de você!

Mas há outra pessoa lá fora também – posso ouvir sua voz, sentir os pedaços
dele que nunca podem ser separados agora do todo.

“… Jie-Lin…”

“… Jie-Lin, venha até mim…”

"Ele só chama você porque teme que não possa vencer", sibila Caersan,
segurando os braços de seu trono, os dedos brancos. “Não participe de sua
própria derrota, garota. As lágrimas são para os vencidos.”

Entramos na caverna de cristal no centro do planeta, e eu me estico


mentalmente para impedir Kal de cair enquanto a Neridaa diminui a
velocidade de repente, virando-a em direção ao andaime, em direção ao seu
antigo berço.

A câmara é vasta – centenas de quilômetros de largura – penhascos maciços


de cristal refletindo a luz dos navios que se derramam atrás de nós, arcos de
fogo atravessando as empenas de arco-íris acima, explosões ecoando em
cristal antigo.

A escala deste lugar é de tirar o fôlego, o vazio empoeirado de eras agora


preenchido com a batalha para salvar o futuro. O poder que deve ter sido
necessário para construir algo assim, a Arma em que montamos – da última
vez que estive aqui, me senti como um

inseto ao lado dela. Mas agora eu sinto o mesmo poder correndo através de
mim, me incendiando. E quando a Neridaa se acomoda,

uma sensação de alívio toma conta de mim — é como tirar sapatos muito
apertados, como expirar.

Ela está em casa.

Viro a cabeça e vislumbro flores azuis, e então elas desaparecem, varridas


como um navio se desfaz em mil pedaços brilhantes,

destroços atingindo seu perseguidor, fazendo-o florescer em uma segunda


explosão.

A nave de Tyler pousa ao nosso lado, ele e sua tripulação se espalhando, mas
as naves Ra'haam estão entrando na câmara como um enxame de gafanhotos
agora, misturadas com poucas naves nossas, girando ao nosso redor em uma
massa espessa e sufocante.

Há um trecho de música, eu juro, apenas algumas notas inebriantes – e então


um grunhido de esforço de Caersan quebra o momento.

Precisamos de tempo — tempo para consertar nossa nave quebrada, para


curar as fraturas que atravessam sua pele. E olhando para o céu de cristal
abobadado acima, sei que há muito poucos de nossos aliados para comprá-lo
para nós.

E eu nem sei por onde começar. …

Mas como se fosse uma resposta, o gosto acobreado do sangue na minha


boca fica doce, e a cena diante de mim começa a
desaparecer. Sinto uma dormência pesada, uma gravidade me puxando para
baixo e, embora me agarre por um momento, posso me

sentir deslizando para algum lugar familiar, algum lugar onde estive antes.

Mas não posso deixá-lo — eles estão vindo!

Cal!

29

KAL

Nos encontramos em um amplo corredor dentro do Neridaa. Estou banhado


na cor do arco-íris, cercado pelo rugido da batalha que se desenrola no céu.

Os invasores são uma multidão, saindo de suas cápsulas de embarque para os


salões das Armas. Uma dúzia de raças, uma dúzia de

formas, todas a mesma mente. Sua pele está manchada de mofo, flores em
seus olhos, e por trás desses olhares, eu sinto a criatura que eles cercam. Um
ser que era velho quando meu planeta natal era um novo seixo, esfriando
lentamente em torno de um sol agora morto.

Uma vontade que esperou um milhão de anos por este triunfo.

A luz do arco-íris ao meu redor está piscando, o grande teto abobadado ecoa
com os gritos de morte de nossa frota cada vez menor.

Minhas lâminas são penas em minhas mãos, e eu faço uma carnificina das
marionetes Ra'haam, dançando a dança do sangue tão

facilmente quanto respirando. Mas sinto outro golpe contra o casco do


Neridaa. Outro. Mais cápsulas de embarque, eu percebo. Seus números
infinitos. E eu sei que contra esse inimigo não pode haver vitória.

Tudo o que posso ganhar é o tempo.

Eles passam pelos corredores reluzentes — outra onda. Eu caio de volta para
um terreno mais estreito, onde seus números contam menos. Uma coisa vem
até mim através do brilho bruxuleante do arco-íris, folhas enroladas onde
seus olhos deveriam estar, seus chifres entrelaçados com uma coroa de
espinhos. Eu corto sua mão, mas a outra me manda contra a parede. Algo
atinge minhas

costas enquanto eu tropeço para me cobrir – uma explosão de canhão de


pulso, talvez. Não tenho certeza, são tantos… .

“… Pare de lutar, Kaliis…”

Muitos.

“… Entreguem-se a nós…”

Uma parte de mim sempre soube que eu cairia na batalha. Não tenho medo de
morrer lutando por algo em que acredito. Mas tenho

medo de deixá-la. Minha Aurora. Meu amado. Eu era uma sombra pálida
antes de conhecê-la. Um fogo apagado, esperando a faísca

que me deixaria queimar.

Mãos torcidas me alcançam.

Olhos como flores, azuis brilhantes.

Eu não queria que terminasse assim.

As coisas que me atacavam explodiram, me banhando com sangue e sangue.


Ouço mais tiros de armas, granadas, o sussurro sibilante de uma lâmina nula
cortando carne, e então, acima da carnificina, uma voz que faz meu coração
disparar.

“Toshh, reporte o status!” Tyler grita.

“Claro, Comandante!” a grande mulher responde, recarregando sua arma e


verificando um scanner. “Mas temos mais entrada! Setenta metros!”
Eu limpo a bagunça dos meus olhos e vejo Lae em pé acima de mim,
iluminada pela lâmina nula roxa crepitante em seu punho. Quando agarro a
mão ensanguentada que ela oferece, fico novamente impressionada com a
noção de que conheço essa mulher. É um

pensamento tolo, eu sei – ela nem nasceu quando Aurora e eu caminhamos


no tempo. E ainda...

“Você lutou bem,” Lae diz suavemente, olhando para o matadouro ao meu
redor.

Olho para o reluzente corredor de cristal, de volta para a sala do trono.

“Fui bem ensinado.”

Seu olhar endurece. Ódio em seus olhos.

“Ele é exatamente o monstro que você pensa que ele é”, digo a ela, limpando
minhas lâminas. “Mas família é… complicada.”

“Você está bem, Kal?”

Eu me viro enquanto Tyler caminha para fora da fumaça em minha direção,


sua enorme armadura de poder tão desgastada pela guerra

e surrada quanto o homem dentro dela. Mas eu consigo um sorriso apesar da


dor em mim, a morte chovendo ao nosso redor.

“Você é sempre uma visão bem-vinda, Tyler Jones.”

"Mantenha-o em suas calças, garoto", ele sorri. “Eu não escovei meus dentes
hoje.” Voltando-se para seu povo, ele começa a dar ordens. “Dacca, cubra
essa brecha! Toshh, pegue uma tela de incêndio neste corredor agora! Temos
mais hostis chegando, e eles não podem passar por nós. Vinte segundos para
entrar em contato, mover, mover!”

Observo seu povo lutando, preparando-se para o próximo ataque. A batalha


no alto está ficando mais silenciosa agora, o último de nossos defensores
caindo. Cada um dos restantes sabe que esta batalha é invencível. Mas ainda
assim, eles obedecem sem

questionar, estimulados pelo fogo nos olhos de Tyler, o aço em sua voz.

Eles carregam o mesmo amor por ele que todos nós tínhamos.

Algumas coisas nunca mudam.

Tyler me joga um rifle sobressalente. Tomando posição atrás de uma torre de


cristal do arco-íris, na calmaria antes da tempestade, ele olha para Lae.

"Você está bem?" ele pergunta baixinho.

Ela acena com a cabeça, jogando uma trança de ouro prateado de seu ombro.
"Eu estou bem."

"Se você quiser recuar..."

Ele acena para a sala do trono atrás de nós, fixando-a com seu único olho
bom.

“Para proteger Aurora...”

Lae ergue sua lâmina nula, o brilho crepitante deixando sua íris em chamas.
Posso sentir o Ra'haam chegando agora, sentir a pressão de sua mente
pressionando a minha. Eu posso ver as rachaduras ao redor dos olhos de Lae,
o preço das incontáveis batalhas que ela lutou – que todos eles lutaram – para
manter esta pequena chama viva. E mesmo diante de seu desvanecimento…

“Meu pai me ensinou a lutar com coragem”, diz ela, desafiadora. “Mas minha
mãe me ensinou a morrer com honra.”

Tyler balança a cabeça. "Lae-"

"Não", diz ela, encontrando seu olhar. “Eu não temo o Vazio, não mais do
que ela.”

Eu olho entre o par, imaginando a verdade deles. Eles colidem como fogo e
gelo, mas não são simplesmente comandante e soldado, isso é claro. Eu posso
sentir um fio entre eles agora, se eu tentar. Fino como um fio de açúcar, mas
ainda forte como aço forjado em estrela.

"Entrada!" Tosh ruge. “É isso, gente!”

Acho que isso não importa agora.

O inimigo está sobre nós.

A canção da batalha enche o ar.

E então não há mais tempo para palavras.

30

TYLER

TICK, TICK, TICK.

Meu coração está batendo cem klicks por segundo agora. A imagem da
academia explodindo está se repetindo, repetidas vezes na

minha cabeça. Minha pistola de pulso está na minha mão suada, a faca que
Saedii me deu está pesada no meu pulso.

TICK, TICK, TICK.

O almirante Adams continua seu discurso para a assembléia acima, alheio à


calamidade que se desenrola abaixo.

“Vocês se reuniram aqui para discutir a crescente onda de agitação entre os


muitos mundos de nossa galáxia. Mas antes que as

conversas comecem, outro assunto deve ser trazido à sua atenção, que diz
respeito não apenas a todas as espécies aqui presentes, mas à vida de todas as
criaturas da Via Láctea.”

A forma do núcleo do reator se ergue à minha frente – três cilindros


imponentes em uma vasta sala circular, atravessando a espinha da academia.
As paredes são revestidas com pesados conduítes, as telas brilhantes dos
terminais de controle e estações de

monitoramento pontuando a luz baixa e pulsante.

A temperatura aqui está fervendo agora, quase quente demais para suportar.
Vapor subindo, sibilando, enrolando. Cat desligou as linhas de resfriamento,
empurrando o reator para a sobrecarga, enquanto de alguma forma matava os
sistemas de alerta.

Olhando em volta, posso ver terminais de desligamento abertos, relés de


alarme e substituições desativadas. Mais cadáveres

espalhados pelo chão. Seus pescoços estão quebrados, espinhas torcidas,


bocas abertas em gritos silenciosos.

Gato, o que eles fizeram com você?

“A Aurora Legion foi estabelecida há mais de duzentos anos, em uma época


de escuridão e conflitos, na esteira de uma guerra que desejamos nunca
repetir”, diz Adams, a voz ecoando pelo anfiteatro. “Desde então,
funcionamos como uma força de manutenção da

paz, servindo aos interesses das raças sencientes da galáxia. Mas esse não foi
o nosso único propósito. E temo que o Líder de Batalha de Stoy e eu não
tenhamos sido totalmente honestos em nossas razões para reuni-los aqui hoje.

Eu ouço murmúrios ondulando entre a audiência da cúpula.

O chão começa a tremer sob meus pés.

Adams respira fundo, olha ao redor dos delegados enquanto a imagem de um


grande planeta azul-esverdeado aparece no holo

flutuando acima de sua cabeça.

“Representantes, delegados, amigos, este é o planeta Octavia—”

E sem aviso, o feed engasga e morre.


As luzes ao meu redor piscam, do vermelho ao branco estroboscópico. O
chão treme novamente sob meus pés. A luz do reator queima mais forte, o
calor mais intenso, e através do ar cintilante eu a vejo, curvada sobre outro
terminal, a luz ardente do núcleo refletida em sua máscara de espelho em
branco.

Ela não sabe que estou aqui. Ela tem a intenção apenas de sua sabotagem. Eu
afundo lentamente em um joelho, mano a configuração de energia da minha
pistola de pulso para Kill. Focando apenas no uniforme. A ameaça. Sem
pensar na garota por baixo, na garota que eu conhecia, na garota que me
implorou para ficar.

Tyler, eu te amo...

Eu miro com minha pistola, bem no coração dela.

Um tiro, e acabou.

TICK, TICK, TICK.

“JONAS!” vem um rugido. "CONGELAR!"

Eu me viro, com o coração apertado quando meia dúzia de soldados de


segurança da Legião entram pela porta de segurança atrás de mim, seus rifles
disruptores erguidos. Olhando de volta para o meu alvo, vejo Cat girar para
longe de seu terminal, ouço uma respiração aguda que se tornou metálica por
aquela máscara sem rosto.

“TYLER.”

Cat tira uma pistola de explosão longa e elegante da GIA de dentro de seu
uniforme.

Os soldados atrás de mim rugem um aviso.

Eu tiro meu tiro, mas Cat mergulha para o lado, descarregando sua própria
arma no SecTeam. E o ar está cheio de BAMF!BAMF!BAMF!

dos disruptores da Legião, o chiar do blaster de Cat, o silvo da minha própria


pistola quando um tiroteio de três vias para o futuro da

galáxia irrompe na sala do reator.

Eu mergulho atrás de um banco de terminais de computador para me


proteger, rugindo para o SecTeam: “Ela está tentando explodir o núcleo do
reator! Nós temos que—”

Eu ouço o ping brilhante de metal contra metal, meus olhos se arregalando


quando duas granadas de pulso de flash atingiram o chão ao meu lado.
Ofegante, eu me jogo para fora, golpeada pela explosão enquanto os
explosivos detonam. Eu sou jogado com força na parede, caindo no chão
atrás de um banco de tubos de aço, sentindo o gosto de sangue em meus
dentes e língua, ouvidos zumbindo com estática.

"Estou do seu lado, seus IDIOTAS!"

Vejo movimento — uma sombra lustrosa correndo pela escuridão até outro
terminal. Eu me esquivo da cobertura para atirar, mas uma rajada de rajadas
disruptivas se abre nas minhas costas – BAMF! BAMF! BAMF!

Estou preso.

Não tenho como chegar até ela.

"Gato!" Eu rugi. “Gato, por favor, não faça isso!”

Nenhuma resposta, a não ser o passo pesado das botas da Legião no metal.
Mais soldados estão entrando na sala agora, se

espalhando para me flanquear. Eu não quero atirar neles, eles são meu povo
—Nós, a Legião. Nós somos a luz, mas se eles me pegarem de surpresa, com
todos aqueles mortos no chão às minhas costas e a acusação de assassinato
em massa e terrorismo galáctico

sobre minha cabeça...

"Gato, por favor!" eu grito. "Eu sei que você pode me ouvir!"
“Jones, acabou! Jogue sua arma!”

Eu pego um vislumbre dela através do turbilhão de vapor. A luz pulsante. O


ar pulsante e fervente. Mas não tenho um tiro certeiro.

Minha respiração está martelando. Meu corpo pingando. Aquela imagem se


repetindo na minha cabeça dolorida: cristal se

estilhaçando, academia explodindo, aquela voz, aquela voz agora


implorando, gritando na minha cabeça.

… Você pode consertar isso, Tyler…

CONSERTE ISSO, TYLER.

Eu respiro fundo. Pense na minha irmã. De Saedii. Auri e Kal e Fin e Zila. E
sussurrando uma oração para o Criador, eu mergulho no chão, pistola na mão
enquanto rolo para cima do meu joelho, mirando direto na cabeça de Cat.

BAMF!

A explosão me atinge no quadril. A dor rasga meu corpo, a explosão queima


através da minha carne enquanto eu suspiro em agonia, rachando meu tiro.
Eu a vejo atingir Cat no braço esquerdo e ela gira, sibilando de dor.

BAMF!

O segundo tiro atinge minha têmpora. Sinto o osso rachar, a carne cauterizar,
meu olho chiando em sua órbita enquanto caio para a frente, a pistola
escorregando da minha mão e batendo na grade.

BAMF!

O terceiro tiro atinge minha parte inferior das costas, explode na minha
barriga. Respingos de sangue queimado no metal na minha frente. Eu suspiro
de novo, luz branca na minha cabeça, nenhuma sensação nas minhas pernas
quando elas saem de debaixo de mim.

Eu bati no convés, sangue na boca, rachando minha testa com força no metal.
Há sangue no meu rosto. Não consigo ver com o olho direito, não consigo...

Botas de corrida.

Calor pulsante.

Uma sombra cai sobre mim e, quando rolo, gemendo, vejo um uniforme da
Legião, um rifle disruptor apontado diretamente para o meu rosto. “Acabou o
jogo, traço...”

Algo bate na figura pelo lado – algo longo e brilhante, movendo-se como
líquido. O torso do soldado é arrancado de seus quadris, seu corpo desaba em
um jato de sangue. Ouço rugidos de alarme, o que soa como um chicote
estalando, sons molhados e espirrando.

Uma sombra pisca no alto, cinza-carvão, branco-claro, minúsculas alfinetadas


de azul brilhante, em forma de flor.

Gato.

Eu pisco com força, rastreando seu movimento através do vapor. Ela se move
entre os soldados como uma navalha, como um

demônio, como um monstro. Sua máscara é jogada de lado, os olhos azuis


brilham, queimando com uma luz fantasmagórica. Doente

de horror, vejo que o braço de seu uniforme GIA foi arrancado onde eu atirei
nela. E dessa fenda sangrenta, um longo aglomerado de tentáculos espinhosos
está se espalhando, dois, três metros de comprimento - o mesmo verde
azulado daquelas plantas horríveis que engoliram a colônia em Octavia,
chicoteando pelo ar, afiadas como espadas.

Ela corta os soldados como se fossem feitos de papel e ela de vidro quebrado.
Eles rugem em alarme e contra-atacam, tiros

disruptores rasgando o ar. Mas ela não para, mal diminui a velocidade, mal
respira enquanto rasga tudo em tiras, deixando-os

manchados pelas paredes e espalhados em pedaços pelo chão.


E então ela se levanta, cabeça baixa, ombros caídos, respirando com
dificuldade, aquela longa massa de chicotes espinhosos fervendo ao seu lado
e pingando sangue no chão já encharcado.

Eu fecho meu olho bom. Sal e cobre na minha boca. Tentando subir.

Tentando alcançar minha pistola caída.

Tentando...

“Tyler.”

Ela fica em cima de mim, e meu coração quebra ao vê-la. Duas pequenas
flores de um azul ofuscante queimam em suas íris. Seu

uniforme está coberto de sangue. Eu posso ver a forma do que ela costumava
ser na linha de seus lábios, a tatuagem de fênix em sua garganta. Mas meus
olhos se desviam para aqueles longos e farpados gavinhas, saindo da manga
rasgada onde deveria estar o braço dela.

O sangue está se acumulando nas minhas costas. Minhas pernas estão ficando
frias. Meu rosto está dormente. A parte lógica da

minha mente me diz que estou entrando em choque, estou sangrando, estou
morrendo. Mas não é a parte lógica da minha mente que

sussurra.

"Você me salvou."

Ela se ajoelha ao meu lado, olhando para mim com aqueles olhos que já
foram castanhos. Ainda de alguma forma cheia do mesmo

amor que ela costumava carregar por mim.

“Um Ace sempre apoia seu Alpha”, ela sorri.

Estou quase chorando, soluçando quando ela estende a mão e passa a ponta
do dedo pela minha testa queimada, minha bochecha
mutilada.

Estou me perguntando se de alguma forma consegui chegar até ela, se ela de


alguma forma percebeu o que se tornou, minha voz

apenas um sussurro trêmulo quando pergunto: "Por quê?"

“Você não entende? Eu te amo, Tyler.” Ela sorri, infinitamente triste,


infinitamente gentil. “Então, nós também te amamos.”

Ela se levanta, contorcendo o braço, e caminha de volta para os terminais. Eu


luto para levantar minha cabeça, sigo-a através do vapor, o vermelho
piscando. Seus dedos borram uma série de controles, e a porta de proteção
desaba, selando-nos dentro da câmara com um pesado THUMP.

"O q-" eu estremeço, segurando minhas entranhas. "O que você está
fazendo?"

Ela continua digitando, a luz mudando mais fundo, o chão tremendo mais.

“Acabando com isso.”

Eu franzo a testa, tentando me levantar. "Mas... você ss..."

"Nós queríamos que fôssemos nós, Tyler." Olhos azuis brilhantes me fixam
através do vapor rodopiante, da escuridão crescente. "No fim. Você merece
que sejamos nós.”

"Cat...", eu sussurro, com o coração partido. "V-você vai morrer também..."

"NÃO." Ela balança a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos. “Esta carne
vai morrer. Mas minhas memórias, meus pensamentos, meu amor viverão.
Gostaríamos que você pudesse estar aqui conosco. Gostaríamos que você
pudesse ter entendido.”

“Cat...”

“Sentiremos sua falta, Tyler. Assim tanto."


Eu tento me levantar, sangue escorrendo pelos meus dedos, mas a dor é
demais para suportar. Eu rastejo em direção a ela um metro ou dois, dedos
vermelhos pegajosos raspando metal, minhas unhas quebrando. Mas estou
muito ferido. Perdeu muito sangue.

É difícil pensar. Difícil de respirar. Difícil ignorar aquela visão da estação


desmoronando, o pensamento de meus amigos, minha família, tudo que
demos e perdemos terminando aqui assim e apenas pense, pense, pense.

"Isso doi?" ela pergunta.

Eu tusso sangue, engulo em seco enquanto aceno com a cabeça.

"Sinto muito", ela respira. “Não será por muito mais tempo, Ty.”

Eu chego em direção a ela, dedos ensanguentados se curvando. Eu tento falar,


mas engasgo em vez disso. Eu não quero morrer aqui.

Assim não.

E estou com tanto medo disso, tanto medo de morrer sozinho, que por um
momento terrível me pergunto como seria ser um com ele.

Porque é isso que o Ra'haam é, eu percebo.

Para nunca estar sozinho.

Eu a chamo mais perto. Sussurrando. “K... Ki...”

“O quê?” ela pergunta.

"Beijo", eu sussurro, "... a-adeus?"

As lágrimas estão brilhando em seus olhos quando ela para de digitar. Eu


posso ouvir o som de batidas pesadas nas portas de

segurança agora, vozes fracas, um alarme finalmente soando. Mas é tarde


demais, eu sei. Tarde demais. Eles nunca chegarão aqui a tempo. Cat se move
na escuridão em minha direção, uma pequena sombra preta com uma sombra
maior dentro dela, tão vasta e

faminta que vai engolir as estrelas.

Ela se ajoelha ao meu lado. Me olha nos olhos.

"B-me beije", eu imploro a ela.

Ela suspira, lágrimas caindo daqueles olhos brilhantes. E correndo os dedos


pela minha bochecha, ela se inclina e pressiona seus lábios nos meus. Por um
momento, estou de volta ao hotel de licença com ela, a única noite que
passamos juntos. Todo o amor que ela tinha por mim brilhando em seu olhar,
quebrando como vidro quando eu disse a ela que não deveríamos, que não
poderíamos ficar

juntos depois.

Eu deveria tê-la amado melhor. Eu deveria tê-la amado mais. E tento dizer a
ela, com o fôlego que me resta, com os lábios que

pressiono contra os dela, abrindo minha mente e derramando nela, dizendo


que sinto muito.

Eu te amo.

E então eu enfio a faca direto no pescoço dela.

Ela recua, os olhos de flor se arregalaram, o sangue escorrendo de sua


garganta. Mas a faca de Saedii é mais afiada do que navalhas, fio de
monofilamento e liga Syldrathi cortando carne, artéria e osso.

Eu apunhalo novamente, encharcada pelo olhar de mágoa e dor e fúria em


seus olhos enquanto ela tropeça de volta em suas ancas, sangue escuro
jorrando das feridas. Pequenas gavinhas chicoteiam das bordas das facadas,
pálidas e sangrentas, serpenteando

cegamente no ar.

Os tentáculos ao seu lado se abrem, serpenteando em volta do meu pescoço,


mas ela desaba antes que eles possam apertar, choque gravado em seu rosto
pálido enquanto suas pernas chutam fracamente, saltos raspando, respiração
chocalhando.

Ela tenta falar. Sufocando em vez disso. Olhos brilhantes nos meus.

"S-desculpe", eu sussurro. "S-sinto muito, Cat."

E eu rastejo.

Do outro lado do deck de imersão. Uma comporta vermelha atrás.


Arrastando-me com as unhas quebradas, segurando meus pedaços

juntos com as mãos ensanguentadas.

Ignorando a dor, a dor, eu rastejo.

Como a vida de cada ser senciente na galáxia depende disso.

Eu rastejo.

Chego ao terminal. Scrabbling com as mãos vermelhas e pegajosas. Flores


pretas florescem na frente dos meus olhos, cada respiração borbulha em meus
pulmões. Mas finalmente, consigo apunhalar os controles, liberar as portas de
segurança. Eu desabo de costas, ofegando, tossindo sangue, enquanto equipes
de tecnologia e equipes de comp e capangas de segurança invadem a sala
central,

através do vapor rodopiante, o vermelho subindo.

Mas não muito tarde.

Não muito tarde.

… Você pode consertar isso, Tyler…

As miras a laser de uma dúzia de rifles disruptores iluminam meu peito.

Eu caio de volta contra o terminal, a luz desaparecendo no meu olho.


"Xeque-mate", eu sussurro.

31

AURIKAL

Aurora

Estou no Eco, o lugar onde morei por meio ano, o lugar que treinei para me
tornar o Gatilho que sou.

Mas não é nada como eu me lembro.

À minha direita, campos de flores ondulantes levavam a uma cidade de cristal


no horizonte. À minha esquerda, um vale costumava mergulhar em direção à
floresta. Diante de mim, um rio vívido uma vez espirrou e chacoalhou sob um
céu de um azul perfeito.

Mas agora está tudo quebrado. Fraturado como o Neridaa. Rachaduras


percorrem os céus cinzentos como as fissuras na pele da

Arma. As flores estão quebradas como vidro, o rio estilhaçado como gelo, as
torres de cristal no horizonte tortas e tombadas. Até o ar tem gosto... errado.
E enquanto meu coração afunda e olho ao redor da desolação, uma figura
familiar está flutuando pelos campos de flores destruídos em minha direção.

Esh tem forma humana, mas longe de ser humana, uma criatura de luz e
cristal, arco-íris refratando dentro dele, olho direito branco e brilhante, assim
como o meu deve ser. Parece diferente agora também; finas rachaduras
atravessam sua superfície, a luz vazando de

dentro. Mas o alívio corre através de mim ao ver meu antigo professor, e em
um instante estou correndo pelas flores quebradas para encontrá-lo.

“Esh! Santo bolo, estou tão feliz em vê-lo, nós...

Gg-saudações. Isso me corta, tom tão musical como sempre, gentilmente


cortês. Bem-vindo ao t-the Echo. Eu sou o Eshvaren.
"Sim, eu sei", eu digo. "Esh, o que aconteceu aqui, w-"

Você não atende aos p-parâmetros para treinamento. Indique o seu negócio.

"Eu sei, eu não preciso treinar, eu..."

Eu paro quando a realização me atinge, e meu coração cai. Lembro-me de


que não é com uma pessoa que estou falando, é apenas

uma projeção. Um amálgama das memórias e sabedoria de toda a raça


Eshvaren. E assim como eles me disseram que aconteceria,

depois que eu saí da última vez, o amálgama foi reiniciado. Esh não se
lembra de mim, assim como não se lembrava de Caersan na primeira vez que
apareci.

Creme de mãe.

Indique o seu negócio, Esh repete simplesmente.

“Ok, eu sou um Gatilho. Você me treinou. Estou aqui com outro Trigger, que
é um sociopata total; e por que você decidiu dar todo o poder divino a um
completo...” Eu balanço minha cabeça, empurrando. “De qualquer forma, é
uma longa história. A questão é que a arma está danificada e precisamos
repará-la – rápido.”

Nós... A imagem de Esh pisca, como uma tela defeituosa. Nós f-sentimos.
Nós . . . Ele olha para o céu cinza e rachado, para as rachaduras que
atravessam suas mãos. O que... h-você fez?

Um lampejo de dor corta minha cabeça e, em minha mente, vejo um


fragmento da batalha acontecendo lá fora. O tempo passa devagar fora do
Eco, como sorvete derretendo em um dia quente. Mas vejo mais naves
Ra'haam entrando na caverna, as poucas naves

restantes que temos queimando em câmera lenta.

Dentro da Neridaa, eu sinto Tyler – uma faísca dele, uma chama de ouro
derretida fraca, mas linda que eu nunca havia notado antes. Ao lado dele sinto
Lae, reflexo dessas mesmas cores. E entre eles sinto Kal, dourado e violeta
naquele frio sufocante.

Eu sinto sua raiva.

Eu sinto o medo dele.

Eu sei que não tenho muito tempo.

“Fomos jogados no tempo”, digo a Esh. “Dois gatilhos juntos... eu não sei.
Mas o Ra'haam está aqui! Toda a Via Láctea está acabando!

Precisamos consertar a arma agora, você pode ajudar?”

Esh me estuda por um longo momento.

A galáxia prende a respiração.

N-não, ele diz.

Kal

As lâminas são de chumbo em minhas mãos, meu corpo escorregadio de suor


dentro da minha armadura. Tropeço no sangue, grosso e

pegajoso no chão cristalino.

“… Kaliis…”

Não escuto sua voz, a pistola em minha mão queimando.

“… Nós sabemos que você a ama, Kaliis. Nós a amamos também…”

Ao meu redor, a tripulação do Vindicator luta com toda a fúria de quem não
tem nada a perder. Sinto o Inimigo Interior despertando — a parte de mim
moldada pelo homem naquela sala do trono, que se deleita com a guerra e a
carnificina. Lutei contra isso desde que me lembro, essa coisa em que ele
tentou me torcer. Mas por mais que eu o odeie, estou feliz que ele esteja
dentro de mim agora.
… Só há uma maneira de salvá-la. De um jeito ela pode viver, eterna, seu
amor perene à luz de um calor que tudo consome...

Não dê ouvidos à sua voz. Ouça o dele.

Misericórdia é para os fracos.

A paz é para o covarde.

As lágrimas são para os vencidos.

Mais estão vindo. Dezenas. Centenas. Olho para Tyler, e seu rosto está
sombrio. Lae encontra meus olhos, e eu posso ver a morte que nos persegue.

Mas não podemos permitir que cheguem a Aurora.

"Depressa, be'shmai", eu sussurro.

Aurora

"Não?" Eu pergunto, minha voz subindo. "Como assim não? Você construiu
a coisa! Você deve saber como consertar isso!”

A imagem pisca novamente, como uma transmissão perdendo energia. Posso


sentir o chão tremer sob meus pés. Lá fora, o Ra'haam

pinga mais perto, como melado, espesso e enjoativo. Em direção a Kal, Tyler,
os outros...

“Esh!” eu grito.

O eco. A própria arma. Esta p-personificação de nós... todos estão ligados.


Como ele está danificado, nós também estamos. Não

podemos h-ajudá-lo.

Outro tremor passa pelo chão. Relâmpagos quebram o céu despedaçado


acima. Eu posso senti-los lá fora, sangrando em câmera lenta, um por um
caindo sob aqueles números impossíveis. Não tenho certeza do que Esh quer
dizer, mas a cada segundo que passamos

falando, meus defensores estão morrendo.

Olho ao redor do Eco, para a própria Esh. Corrida mental.

“Se este lugar e a Arma estiverem ligados...”

Eu alcanço o objeto mais próximo, deitado em cem pedaços cor de rosa na


grama. Eu posso sentir os restos das energias neste lugar.

Veja como costumava ser na minha mente, todos aqueles meses que passei
aqui com Kal, claro como vidro. E quando meu olho

começa a brilhar, junto os pedaços, reformando-os na palma da minha mão.

Uma flor única e perfeita.

Em resposta, do lado de fora do Eco, sinto uma pequena rachadura no casco


da Arma se fechar.

Sim, Esh acena com a cabeça. Você v-vê.

Fecho meus olhos, retardo minha respiração, retardo minha mente,


absorvendo meus arredores – real e virtual – e me sintonizando com ambos.
Eu ainda posso sentir os outros além – pinceladas rápidas da mente familiar
de Kal, de Tyler, até mesmo, e de Lae. Eu posso provar o medo e a coragem
deles, sua dor quando seus amigos caem, sua fúria pela coisa que os leva
embora. E acima e ao

redor de tudo isso, posso sentir a rastejante falta de naturalidade dos Ra'haam.

Ele me quer… .

Eu treinei como cartógrafo para a missão Octavia por anos. E andando aqui
no Eco todos os dias com Kal, não pude deixar de aprender a forma deste
lugar. Aproximo-me dessa memória, lembrando-me do que era aquele lugar.

Do jeito que pode ser de novo.


Mas é tão grande, para guardar tudo dentro da minha cabeça... .

Por mais que eu tente, não consigo… .

"Eu não posso", eu assobio, mão trêmula estendida.

Você deve.

Estendo as duas mãos, o rosto se contorcendo enquanto tento segurar tudo.

"Estamos ficando sem tempo, me ajude!"

Mas Esh apenas balança a cabeça.

“Eu não posso fazer isso sozinho!”

Kal

Estamos falhando.

Os Ra'haam nos empurraram para trás, a tripulação de Tyler caindo um por


um enquanto cedemos terreno. Os pisos cristalinos estão inundados de
sangue, o fedor da morte paira no ar e o inimigo simplesmente continua
vindo.

"Lae, recue!" Tyler ruge, explodindo por trás da cobertura.

Ela dança entre aquelas figuras horríveis, lâmina nula brilhando, cortando
uma monstruosidade de olhos de flor que se lança nas costas de Dacca.

“Voltar para onde?” Ela grita.

Ela fala a verdade — não podemos recuar mais. Atrás de nós está a entrada
para a sala do trono. Se o inimigo atingir meu pai e Aurora, toda a esperança
será...

Um tiro atinge minhas pernas, grosso e viscoso. É como... cola, prendendo


minha perna no chão. Outro atinge minha barriga, e eu caio, coberto com
mais dessa gosma pegajosa. Percebo que não posso me mover, preso como
um inseto em âmbar, e o horror se desenrola

quando entendo que o Ra'haam não deseja nos matar — deseja nos subjugar,
nos arrastar para sua terrível singularidade.

“Kal,” Tyler ruge, “cuidado!”

Eu corto as mãos que me agarram, grito uma negação em minha mente,


alcançando Aurora, recusando-me a deixar isso terminar

assim. E estremeço quando um arco ardente de energia, vermelho profundo


como sangue seco, corta os Ra'haam que se aproximam.

Outra explosão os atinge, uma esfera de poder psíquico bruto espalhando


seus corpos nas paredes, deixando apenas cadáveres

quebrados em seu rastro.

Tyler pisca com espanto. Lae apenas rosna. Mas eu percebo quem nos salvou.

"Pai..."

Ele está acima de mim com as mãos estendidas, vestido em aço preto. Seus
olhos estão machucados, lábios e queixo manchados de

violeta onde ele limpou o sangue. Eu posso ver as rachaduras em seu rosto
mais profundas, seus dedos trêmulos – apenas os

menores sinais de tensão de sua provação.

Mas seu olho queima como uma estrela. E por mais que eu o odeie, sinto o
Inimigo Interior surgir enquanto ele quebra meus laços com um aceno de sua
mão.

“Nenhum filho de Caersan morre de joelhos, Kaliis. Lutar."

Aurora

Eu não posso fazer isso sozinha.


Enquanto a batalha continua lá fora, estou dando tudo o que tenho – tanto
quanto aqueles de fora estão dando – para consertar as lágrimas no Eco ao
meu redor. Mas há muito disso. É muito grande.

Eu tento arrastar as imagens para o foco, lembro como este lugar era uma
vez. Caminhando por campos de flores com Kal ao meu

lado, sua mão na minha, e ao pensar nele, uma parte de mim o alcança,
através do oceano entre nós, e é então que percebo.

É então que eu vejo.

Eu não posso fazer isso sozinho.

Mas não estou sozinho.

Ele está comigo. Sempre. E não apenas Kal, mas Tyler também. Eu posso
senti-lo lá fora, sua tripulação ao lado dele, todas aquelas pessoas –
sobreviventes que eu nunca tive a chance de conhecer, crianças e guerreiros,
ferozes e assustados, de pé com os últimos de seus entes queridos ou
sozinhos, os últimos de sua espécie .

Cada um deles está lutando e morrendo, o futuro da galáxia em jogo, dando


tudo pela chance de um ontem diferente.

"Eu não estou sozinho", eu sussurro.

— Estou com um piloto chamado Simmann, tentando desesperadamente


sacudir as ervas daninhas no meu rabo, e eu sabia que esse

momento estava chegando, mas o medo é como gelo nas minhas entranhas, e
eu alcanço o holo do meu marido no dash e eu sei que

tudo vai ficar bem porque eu vou vê-lo novamente em breve, e — eu

estou no Eco, e a água clara do rio se transformou em sangue, mas eu ignoro


o que vejo, e com um mergulho do meu dedo, desenho no ar de memória, das
minhas mil sessões de treinamento ao lado dele, e
— estou de pé com Dacca enquanto ela luta contra o enxame, e estou
pensando em meus irmãos, todos nós sentados a luz da pedra da lareira
enquanto nosso pai nos conta histórias sobre os velhos heróis, e eu me
pergunto se algum dia vou crescer para ser um e agora percebendo que sou,
eu sou e

— estou no Echo, abrindo para a enchente lá fora e jogando minha cabeça


para trás enquanto um milhão de cacos de vidro se erguem do chão e se
aglutinam em um campo de lindas flores, e

— estou com Elin, a mal-humorada Betraskan da equipe de Tyler, e estou


lutando contra Toshh e penso em como fui estúpido em não perguntar a ela
antes, para dizer a ela como me sinto, e nossos ombros batem quando
voltamos um para o outro e ela pega meu olho e sorri e de repente percebo
que ela sabe, ela sempre soube, e

– estou construindo montanhas em minha mente, o bosque onde Kal e eu


dormimos, e cada um dos meus guerreiros está me

ajudando de alguma forma, me emprestando algum pedaço de si mesmos,


algum toque final ou pensamento ou memória que me diga

que não estou sozinho, que todos nós estamos juntos, sua presença fluindo
através de mim como água. Os Eshvaren tentaram me

ensinar a queimá-los todos, mas o amor sempre foi o que eu precisei lutar,
mas

– quando eu me aproximo deles, aqueles que eu conheço e preciso mais e


amo mais

– eu posso sentir algo errado, eu pode sentir

— Algo está errado... .

Kal

“Recuar!” Tyler ruge.


Um por um, o pessoal de Tyler foi levado pela enchente – as pessoas no
Sempiternity, aqueles navios que nos saudaram em despedida, e agora Toshh
e Elin e Dacca e o resto da tripulação do Vindicator.

Um pedacinho de seu coração foi com cada um deles. Mas ainda assim, ele
luta. Pelo que ele deixou.

Tyler, Lae, meu pai e eu.

Aurora, além das portas da sala do trono.

E o único momento em nosso passado que pode mudar tudo isso.

O inimigo são muitos. Meu pai os corta com onda após onda de poder, e
enquanto estou ao lado dele, a parte de mim levantada em sua sombra está
cantando em adulação.

Mas o resto de mim está mudo de horror, que este não será apenas o nosso
destino, mas o da galáxia. Mais estão chegando, sempre mais, não apenas
humanóides agora, mas outras formas – gigantes multi-armados de Manaria
IV, hulks com punhos de pedra da

Deriva do Tártalo, cobertos de musgo e retorcidos e Um.

Eu posso ver um brilho pulsando através do cristal ao nosso redor, quente e


reconfortante. As rachaduras parecem estar se fechando, e meu coração
dispara quando penso que Aurora pode estar conseguindo, mas algo o está
segurando, sufocando, eu...

Olho para o túnel atrás de nós, os pulsos de luz da sala do trono.

"Cair pra trás!" Tyler grita novamente.

Meu pai cerra os dentes, rosnando: “Fique firme, terráqueo!”

“Nós podemos estrangulá-los!” Lae grita. “Compre mais alguns minutos!”

Eles aparecem para fora da fumaça, voando pelos corredores da Neridaa em


asas incrustadas em um verde azul opaco. Quase se
extinguiram quando meu pai destruiu Syldra. Mas ainda assim eles vêm, três
deles pousando como um trovão entre a legião podre dos Ra'haam. O impacto
deixa Lae de joelhos, Tyler e eu tropeçando enquanto a caverna ao nosso
redor ecoa com rugidos.

"Criador, de novo não", Tyler rosna.

“Drakkan,” Lae sussurra.

As poderosas criaturas se movem velozes como prata, grandes como casas.


Mas o primeiro deles ainda cai, partido ao meio enquanto os dedos do meu
pai cortam o ar. O segundo cambaleia enquanto eu arremesso a última das
minhas bombas de pulso em sua boca, e

meu pai levanta a mão e estilhaça seu pescoço. Mas o terceiro avança com
velocidade sinuosa, atingindo Lae, ainda de joelhos.

Suas garras são suficientes para cortar aço, seus dentes são mais afiados do
que espadas, e embora ela se torça na vertical, ela não é rápida o suficiente.
As garras descem, os olhos brilham como flores.

Mas com um rugido de negação, uma figura salta entre o drakkan e a presa, a
armadura de poder gemendo enquanto aquelas garras

terríveis atingem o alvo e mandam o par velejando pelo chão lavado em


sangue.

“TYLER!”

Aurora

— uma rachadura reabre no céu acima, e eu sinto a música do vento mudar


através das árvores que crescem ao meu redor

— há um menino Syldrathi de joelhos, uma menina observando seu pai


chutando-o nas costelas, e o menino silenciosamente ,

teimosamente se recusa a revidar, e eu começo a avançar com o nome dele


em meus lábios.
“Kal!”

— a cidade de cristal no horizonte está desmoronando, e eu estou


freneticamente, teimosamente desenhando-a de volta no mapa da minha
mente em toda a sua glória, mas sinto aquela sombra entre eles, e

— um menino e uma menina Syldrathi estão juntos como seus pais gritar um
com o outro. E nenhum deles entende, mas cada um deles está assistindo e
aprendendo e meu estômago afunda quando vejo uma sombra criar raízes em
seus corações e sinto o emaranhado

de dor e amor de todos os quatro.

“Caersan, você tem que consertar isso!” Eu choro.

Ele se vira na minha visão para me olhar, ilegível.

"Não está quebrado", ele rosna, porque ele nem sabe como ver o que está
errado, e rugindo "Menina fraca!" ele me tira da cabeça, e

— grito com ele porque sinto agora, o calor maciço e enjoativo do Ra'haam,
tão perto, tão grande, e sei que não posso pará-lo sem todos eles. , sem ele eu
não posso consertar isso, e ele não vai me ouvir, ele não vai me ajudar, e eu
posso sentir isso dentro deles, aquela sombra, como um câncer, me
bloqueando, me parando, e

– Se eu puder não pare agora — não pode

parar agora

— eu sei que não posso parar então.

— Estou com Tyler, e ele está na ponte de comando de um navio com Saedii
antes de ela ser levada, antes mesmo dele saber que a amava. E ele ainda é
jovem e brilhante e me lembra daquela vez em que dançamos na
Sempiternity, eu com meu lindo vestido vermelho e ele com aquelas calças
ridículas, tão cheias de esperança e ousadia, e olho para seu rosto bonito, e
ele não sabe o que está por vir, e eu acho...
— você ainda tem uma chance de consertar isso, Tyler Jones. Você me disse
quando acontece onde acontece –

como acontece e

– neste lugar onde o tempo não significa nada e um minuto pode durar uma
vida inteira, e eu posso fazer qualquer coisa se puder imaginar, eu me dedico
a um momento, deixando tudo atrás, e estendo a mão para o outro lado do
golfo para gritar um aviso de volta no tempo para o menino que ele era
porque não sei se podemos chegar aqui, mas talvez ele possa consertar lá,
porque se não

conseguir, pode não haver nada, e

—Pode não haver nada

—Não há nada I—

“TYLER!”

Kal

"TYLER!"

Eu escorrego para o lado do meu irmão quando outro pulso de poder


vermelho-sangue queima ao nosso redor. Lae ainda está aninhada em seus
braços, machucada e confusa. Mas meu coração se contorce quando vejo
sangue saindo de sua boca, sua armadura rompida,

seu pescoço. Meu pai ataca novamente, uma explosão esférica de poder
esmagando o último drakkan. Mas o dano está feito… .

“Eu suponho que matar dois desses b-bastardos em uma vida era um pouco
demais para esperar,” Tyler estremece.

"Levante-se", eu digo a ele, jogando seu braço sobre meu ombro.


"Rapidamente."

"Esqueça isso", ele tosse, o peito chacoalhando. “V-vai.”


"Não", Lae respira, olhando para mim. “Nós devemos—”

“Nós iremos.” Ignoro o protesto sangrento de Tyler, puxando-o para cima.


"Pai!"

Ele olha para mim, olhos em chamas, nadando no sangue como se tivesse
nascido para isso.

“Pai, devemos recuar!”

"Vá então!"

Ofegando, desesperados, Lae e eu arrastamos Tyler pelo túnel que leva à sala
do trono. As paredes pulsam em sintonia ao nosso redor, os gritos dos
moribundos e a vibração do poder me lavando como chuva. Novamente sinto
aquele calor, mas novamente sinto o mal

entre nós, a sombra.

Aurora flutua no coração da sala, cabeça para trás, olhos ardendo com a luz
de um milhão de sóis. Eu faço uma careta, abaixo Tyler suavemente, minhas
mãos cobertas em seu sangue.

O rosto de Lae está contorcido, os olhos cheios de lágrimas. “Não...”

“Aurora!” Eu rugi. "PRESSA!"

Meu pai nos seguiu até a sala do trono, recuando relutantemente, passo a
passo sangrento. O Ra'haam o segue e, no final, amargo desespero, ele ruge,
com os braços estendidos.

As paredes de cristal se estilhaçam, e a Neridaa parece gritar de dor quando o


túnel desaba, nos selando por dentro.

Mas eles já estão batendo na barreira, e eu sei por tudo que isso lhe custou,
ele só nos comprou alguns minutos.

"Não está quebrado", meu pai rosna.


"… Pai?"

“Menina fraca!”

As paredes ao nosso redor estremecem, as bochechas de Aurora brilhando


com lágrimas.

Tyler pega a mão de Lae e aperta, sua respiração agora rápida e superficial.

"Ela estava p-orgulhosa de você."

A luz nele desaparecendo.

"Eu sou t-também..."

Lágrimas escorrem dos olhos despedaçados de Lae. E eu vejo então.


Concentrando-se em seu rosto, o orgulho, a ferocidade, aquelas feições tão
estranhas e ainda tão familiares. Seu cabelo naquela curiosa liga de prata e
ouro.

As palavras de Tyler ecoam em meu crânio com o som do inimigo se


aproximando.

“Na verdade, eu me juntei a ela e sua antiga tripulação para lutar contra os
Ra'haam.”

— Ela era uma mulher infernal, sua irmã.

“Eu sempre pensei que Saedii odiava nossa mãe,” eu digo, olhando entre eles.
“Mas o nome dela...”

“... era Laeleth,” Tyler sussurra, sorrindo tristemente.

"Irmão … ?" Eu sussurro.

O último dele desaparece. A luz nele se apagou.

Lae abaixa a cabeça, tranças douradas prateadas encharcadas de vermelho-


sangue penduradas em seu rosto enquanto ela abre a
boca. Seu grito ressoa nas paredes, ecoado por Aurora, pela própria Neridaa,
o poder colidindo contra as rachaduras crescentes como ondas em uma praia
pedregosa. Eu alcanço meu amigo, lágrimas nos meus olhos.

“Irmão...”

“Levante-se,” uma voz cospe.

Eu me viro para ele, como sempre pairando acima de mim como uma
sombra.

“Fique de pé!” meu pai ruge, encarando nós dois. “Nós somos Sydrathi!
Nossos ancestrais andavam pelas estrelas quando os dele

eram lodo no oceano! Há uma guerra a ser vencida, e ainda assim você chora
por esse vira-lata terráqueo?

Lae se vira, os dentes à mostra em um rosnado.

"Não se atreva", ela cospe. “Não se atreva a nomear meu pai de cur.”

As paredes trovejam novamente, as coisas no túnel desmoronado se


aproximando, o teto tremendo, o cristal quebrado caindo como

chuva.

"Pai?" Os olhos do Starslayer brilham, e ele cospe sangue no chão enquanto a


Neridaa treme. “Um terráqueo? Repugnante. Que tipo de miserável sem
honra se deitaria com gente como ele e ainda se chamaria Syldrathi?

Eu balanço minha cabeça, quase rindo.

“Você é tão idiota.”

"E você é uma criança", ele rosna. “Sempre o filho de sua mãe.”

“E orgulhoso disso!” Eu rugi, subindo. “E se você tivesse me dado apenas


uma gota do oceano de amor que ela deu, eu ainda poderia dizer o mesmo de
você! Mas tudo o que você é é ódio!” Abro meus braços, observando o navio
trêmulo, a luz quebrada do arco-íris. “E é isso que acontece! O fim de uma
galáxia! E para quê?"

“Pela honra do nosso povo, garoto!”

“Você matou nosso mundo! Você matou nosso povo! Que honra há nisso?”

“Eles eram traidores!” ele ruge. “Eles buscaram a paz com os terráqueos!
Nenhum verdadeiro filho de Syldra se humilharia mentindo com nossos
inimigos!”

“Diga isso para sua filha!”

Ele fica imóvel, os olhos ardentes arregalados. “O que...”

“Olhe para ela!” Eu grito, apontando para Lae.

As paredes ao nosso redor tremem. A luz do arco-íris escurece. A boca de


Aurora abre e fecha, como se ela fosse falar.

Ele respira suavemente, olhando perplexo para Lae. “Meu...”

“Você nos ensinou a guerra,” digo a ele. “Você nos ensinou o medo. Você
nos ensinou sangue, raiva e inimigo. E, no entanto, mesmo Saedii achou em
si mesma amar um humano. Para dar à luz seu filho. Morrer defendendo tudo
o que você deixou quebrado em seu

rastro.”

Lágrimas queimam em minhas bochechas enquanto olho para minha


sobrinha.

“Seus filhos estiveram à sombra de seu ódio por toda a vida. E ainda assim,
Saedii fez algo tão bonito.” Viro-me para meu pai, balançando a cabeça.
“Imagine o que poderíamos ter feito, se você tivesse nos amado.”

"Conserte isto… ."

Eu me viro, vejo Aurora flutuando no centro da sala. O poder jorra dentro


dela, me envolvendo, nós, refratando do cristal quebrado ao nosso redor.
Lágrimas brotam em seus olhos quando ela olha para meu pai.

“Não está quebrado!” ele rosna.

“Caersan, não posso fazer isso sozinho.”

Ela se aproxima dele, toda a galáxia em jogo.

"Conserte isto."

32

TRÊS UM DOIS

Scarlett – quatorze minutos restantes

com Zila em meus braços, todos ângulos agudos para minha suavidade, e eu
gostaria que esta não fosse a primeira e última vez que eu a seguraria. Sou
uma bagunça esnobe, e mesmo sabendo que ela está certa, não sei se aguento
mais uma derrota. Posso fazer o que tenho que fazer, mas o que restará de
mim do outro lado?

Mas ela me dá esse momento, não se afasta, apenas fica em meus braços, real
e inteira e faz parte da minha vida por mais alguns segundos. E então... então
algo se desenrola dentro dela, e ela relaxa contra mim, a cabeça no meu
ombro por um único batimento cardíaco.

E eu sei que ela está pronta. Ela se tornou quem ela precisa ser para fazer
isso. E as partes dessa transformação que não vêm direto dela, foram
presentes nossos.

Eu olho para cima, os olhos ainda nadando com lágrimas, e o olhar de Nari
está esperando.

Eu prometo que a tenho, dizem aqueles olhos solenes.

Eu aperto Zila mais uma vez, ainda olhando para a garota que vai protegê-la
para nós. Ela é tudo, meu próprio olhar diz a ela em resposta. E, ela precisa
de alguém para cuidar dela.

A tenente Nari Kim simplesmente acena com a cabeça. Ela já sabe. Ela vê.

Eu recuo, deixo Zila ir, e Finian desliza a mão na minha. Não há mais nada a
dizer, e não há tempo para dizê-lo de qualquer maneira.

Então nós dois nos viramos e corremos.

Zila — faltam 12 minutos

É estranho estar seguindo Nari em vez de guiá-la pelos comunicadores, mas


conheço cada passo como se eu mesma já tivesse

executado uma centena de vezes. Nari e eu dobramos uma esquina, nos


achatamos contra uma porta, contando segundos preciosos

enquanto a patrulha passa no final do corredor.

Finian e Scarlett vão desviá-los em um momento. E assim Nari e eu


chegaremos ao núcleo quarenta e cinco segundos mais cedo do que ela antes.

Não seria suficiente para ela sozinha. Mas isso lhe dará tempo para me
defender.

Juntos podemos fazer isso.

Finian — faltando dez minutos

— Maker's peludo...

— Menos conversa, mais corrida! A cicatriz suspira.

A patrulha de segurança avança pelo corredor atrás de nós, pedindo reforços


e provavelmente lançamentos imediatos de mísseis em nossa localização
atual. Há um Betraskan a bordo da estação deles, e agora eles sabem disso.

A boa notícia é que nós os distraímos. A má notícia é que estamos quase nas
docas, e se não perdermos os capangas em nosso
encalço, roubar um navio vai ser muito complicado.

Então eu o vejo, mais à frente no cruzamento, montado em um suporte de


parede. Se sair fácil, vivemos. Se grudar, morremos.

"Cicatriz", eu suspiro. “Banco à esquerda.”

Ela não questiona, jogando-se ao virar da esquina no momento em que estou


pegando o extintor de incêndio e puxando-o para fora. E

com uma oração ao Criador, eu a lanço de volta aos capangas que nos
perseguem.

Eles tentam atirar em mim – um deles chega tão perto que quase corto o
cabelo. Mas seus tiros também atingiram o extintor,

destruindo-o. Em um momento, todo o corredor está cheio de pó branco fino,


e eu estou cega por isso, inalando um bocado químico afiado e tateando meu
caminho através da nuvem pálida até a porta que Scarlett está segurando
aberta.

Eu deslizo para dentro, ambas as mãos tapando minha boca para abafar
minha tosse ofegante. A porta se fecha com um zumbido e

ouvimos a patrulha chegar ao cruzamento, amaldiçoar uma tempestade e se


dividir em quatro direções, afastando-se do nosso

esconderijo.

Otários.

Zila – oito minutos restantes

Liebermann caiu sem atirar em Nari desta vez. Os seguranças do lado de fora
do laboratório foram incapacitados. Chegamos ao sinal.

NENHUM PESSOAL NÃO AUTORIZADO ALÉM DESTE PONTO.

“ALERTA DE SEGURANÇA, NÍVEL 2. REPETIR: ALERTA DE


SEGURANÇA, NÍVEL 2.”

Um cartão roubado contra a porta. Um zumbido eletrônico profundo.

E o anúncio que me diz que faltam oito minutos para a implosão da estação e
o fim do nosso loop final.

“AVISO: ESCALAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM CURSO,


ENGAJAR MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 9.”

E eu estou aqui pessoalmente, na grande sala circular que eu vi várias vezes


através dos olhos de Nari. Uma caixa de vidro cilíndrica domina o espaço,
fios e conduítes conectando-o aos bancos de computadores encostados nas
paredes. Nosso alvo está dentro,

rachado e suspenso no ar, pulsando com luz.

A primeira vez que vi uma dessas sondas, Aurora a tocou e viveu meio ano
dentro do Echo com Kal. Eu me pergunto brevemente como eles são. Se eles
conseguirem. Se tudo isso vai valer a pena.

"O que diabos você está fazendo aqui?"

Nari atordoa o homem de radsuit branco. Atordoa seu companheiro antes que
ele tenha tempo de sacar sua arma desta vez. Eu caio de joelhos, mergulho
minhas mãos na máquina, estreitando meu foco para a tarefa em mãos.

Este momento é tudo o que importa.

"Vinte segundos até a chegada da companhia", murmura Nari, perfeitamente


imóvel, os olhos fixos na porta. Um falcão pairando, esperando por sua
chance.

O sistema para ejetar o cristal no espaço é mecânico e não eletrônico – em


caso de falta de energia, suponho. Existem quatro travas segurando a sonda
no lugar, uma em cada ponto da bússola, e todas devem ser desengatadas
manualmente. Mas os mecanismos são

pesados, trancados. Examinando o chão ao meu redor, rastejo em direção a


um dos engenheiros inconscientes. Empurrando-o de

costas, procuro seu cinto de ferramentas, pegando uma chave inglesa pesada.

Depressa, Zila, depressa. Desta vez você pode salvá-los.

"Atenção!" Nari grita, e as portas se abrem, e tudo é som e luz, fumaça


ondulando ao meu redor, e eu poupo uma mão para puxar minha camisa até a
boca e o nariz. A chave se encaixa no primeiro dos acoplamentos. Eu
arranco, arranco de novo. Ele solta. Eu o puxo livre.

Rastejando até a segunda fechadura, ignoro o fogo crepitando sobre minha


cabeça, o cheiro de metal derretido. Nari está segurando-os, mas são tantos, e
eu sei que faltam apenas alguns segundos até que um deles use o fogo de
cobertura dos outros para entrar no laboratório.

Olho para a sonda e arranco a segunda trava, os alarmes soando mais alto.
Ele ainda paira, ainda pulsa com luz, ancorando meu amigo aqui.

Agora.

“Zila!” Nari grita enquanto as armas rugem e a coluna acima de sua cabeça
explode em uma chuva de faíscas. "Se apresse!"

Eu rastejo para o próximo bloqueio na minha barriga, sirenes guinchando em


meus ouvidos. Minhas mãos estão escorregadias de suor, a chave
escorregando no meu aperto enquanto eu puxo com força, o rosto se
contorcendo, finalmente desacoplando o terceiro

parafuso.

“ZILHA!” Nari ruge.

"Dez segundos", eu grito de volta.

Estou na quarta fechadura agora, encaixando a chave no lugar e puxando com


toda a minha força para girá-la. O último acoplamento resiste, teimoso,
enfurecedor, o destino de toda a galáxia repousando em minhas mãos. Não
sou uma pessoa religiosa, mas uma parte de mim deseja desesperadamente
que fosse.

"Por favor", eu sussurro para quem está ouvindo.

Por favor.

E finalmente, finalmente, o parafuso se solta.

Por mais um momento, o brilho pulsante permanece. A energia que flui para
a sonda quebrada gagueja. E, finalmente, a luz dentro pisca.

Então morre.

Com um baque oco, o cilindro que o contém se abre, a sonda quebrada


desliza livremente, conduzida para o vazio frio do espaço.

Impotente.

Sem vida.

Eu fiz isso.

Mas não há tempo para comemorações. Nari recua na minha direção, ainda
atirando, xingando. O ar está cheio de tiros, o barulho quase ensurdecedor.

Cinco segundos.

Nari gasta o resto de sua munição na porta, então se esconde atrás da minha
coluna, entrelaçando as mãos como planejamos.

Eu largo a chave e me levanto, plantando uma bota em suas mãos unidas.

Com um grunhido, ela se levanta, me impulsionando para cima. Dou um soco


na ventilação do teto e agarro as bordas do buraco, me

puxando para cima em um movimento, girando sem me importar com a dor


enquanto me enfio em um espaço muito pequeno e abaixando a parte superior
do corpo para alcançá-la.
Nari pula, e outro banco explode atrás dela, e por um momento acho que
nossas mãos não vão se conectar, porque ela não é alta.

Então suas palmas batem nas minhas, e com tudo que eu tenho, eu a puxo
para cima assim que a patrulha de segurança irrompe pela porta.

Finian — faltam sete minutos

Estamos mais atrasados do que o normal, e as docas de ancoragem estão


vivas, nosso caminho habitual para nosso ônibus espacial se foi. Minha
cabeça está girando, o coração batendo forte, e quando me agacho perto de
Scar na sombra de um navio de suprimentos, tento respirar fundo para me
acalmar.

Assobia na minha garganta, um barulho alto e estranho. Ainda posso sentir o


gosto daquele extintor de incêndio. Eca. O que os

terráqueos colocam nessas coisas?

"Ainda temos que tentar o mesmo navio", sussurra Scarlett. “A maioria da


tripulação vai pular para as cápsulas de fuga, mas essa nave é a única coisa
que vai nos tirar da tempestade.”

Eu quero concordar, mas minha língua está estranhamente pesada, meus


lábios formigando e minha boca não vai fazer o que eu quero.

Quando ela olha para mim, eu apenas aceno.

"Você pode... você pode desviá-los ou algo assim?" ela sussurra. “Acione um
alarme em algum lugar, faça uma coisa mágica de computador?”

Eu balanço minha cabeça, me inclinando para frente, pressionando as palmas


das mãos no chão. Minha respiração não virá. Eu estou tonto.

"Você está bem?" ela sussurra, arregalando os olhos.

Eu gesticulo para o navio. Temos que continuar em movimento.

"Baixa tecnologia é", ela murmura, inclinando-se e dando uma boa olhada
nas equipes que nos cercam. Então, com as duas mãos, ela puxa um calço de
trás do volante do caça mais próximo e, com toda a sua força, o arremessa
ainda mais longe na baía de pouso.

Ele aterrissa com um CRASH, e todas as cabeças se voltam.

Scar está fora como um atleta fora dos blocos. Estou tropeçando atrás dela,
muito quente, muito tonta, minha visão começando a nadar. Eu sei que
caminho devo seguir, mas estou ficando cego.

Minhas pernas estão fracas. Meu exosuit está fazendo hora extra.

Alcançamos a nave pesada que sempre roubamos.

A dor dispara através de mim quando meus joelhos atingem o chão. Trabalho
rapidamente na escotilha, abrindo-a em meio ao

redemoinho de fumaça e caos, como sempre faço. Mas minhas mãos estão
tremendo.

Não consigo respirar o suficiente.

Minha língua está estranha.

Algo está errado.

Zila – seis minutos restantes

“Zila!” A voz de Scarlett vem através de comunicações, distorcida, mas


audível.

"Um momento", eu digo, virando uma esquina e rastejando atrás de Nari. As


aberturas são muito apertadas, e nós dois somos pequenos. Ninguém da
equipe de segurança poderá seguir. Mas não temos muito tempo para chegar
à nossa cápsula de fuga.

“REPETIR: ESCALAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE CONTENÇÃO EM


CURSO, ENGAJAR MEDIDAS DE EMERGÊNCIA CONVÉS 9.”
“Zila, vamos!” Nari chama, chutando uma grade à frente.

"Scarlett?" Eu pergunto, rastejando para frente na minha barriga. “Você está


a bordo do ônibus espacial?”

“IMINENTE IMPLOSÃO DE NÚCLEO, T MENOS TRÊS MINUTOS E


CONTANDO. TODAS AS MÃOS VÃO PARA AS VAGAS DE
EVACUAÇÃO

IMEDIATAMENTE. REPETIÇÃO: IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRÊS


MINUTOS.”

“Sim, nós lançamos!” Scarlett chora. “Estamos indo em direção à


tempestade, mas algo aconteceu com Fin! Ele inalou alguns produtos
químicos no andar de cima e agora ele não pode b—”

“REPETIÇÃO: IMPLOSÃO CORE IMINENTE. TODAS AS MÃOS VÃO


PARA AS VAGAS DE EVACUAÇÃO IMEDIATAMENTE.”

Agarro-me às paredes enquanto a estação treme ao meu redor. As sirenes nas


aberturas são terrivelmente altas.

“Diga de novo, Scarlett? O que aconteceu com Finian?

“Zila, ele não consegue respirar!”

Scarlett — cinco minutos restantes

Fin está caído na cadeira do piloto, e o espaço ao nosso redor está pegando
fogo. Pods de fuga estão explodindo dos flancos da estação, e plasma em
chamas está saindo de seu casco, e estamos disparando em direção aos
enormes tentáculos em espiral da

tempestade de matéria escura, a vela e o pulso além, nossa passagem para


casa.

Exceto que não sei se Fin vai conseguir.

Seu rosto está inchado, olhos esbugalhados, lábios ficando roxos estranhos.
Eu tento ignorar o pânico, me controlar. Eu o deito no chão enquanto nos
aproximamos da tempestade, focados na voz de Zila.

Ela soa tão distante.

“Você pode ouvir chiado, Scarlett? Assobio?"

Eu me abaixo, meu ouvido em sua boca, coração martelando em minhas


costelas. Ele não está mais se movendo, ele não está falando, ele não está...

Oh Criador, por favor, por favor, não faça isso... .

"Sim."

“Então ele ainda está respirando”, diz Zila. “Nari e eu estamos indo para as
cápsulas de fuga. Se Finian estiver incapacitado, você deve guiar o navio
através da turbulência da tempestade e até a vela quântica. Você deve estar
perto quando o pulso bater. Dez metros ou menos para ter certeza.”

"Eu?" Olho em volta loucamente, localizo a cadeira do piloto. “Eu não sei
pilotar essa coisa! Meu trabalho sempre foi comentários espirituosos!”

“Ouça com atenção, Scarlett.”

“Zila, nunca voei nada sem piloto automático!” Eu choro. “E eu não sei o que
há de errado com ele, eu não sei méd—”

“Scarlett! Escute-me. Esta é a nossa última chance de levá-lo para casa. Você
consegue fazer isso. Você deve fazer isso.”

Olho para o garoto no convés ao meu lado, lutando para respirar. Todos os
nossos futuros pendurados na balança. Cada momento da minha vida tem
levado a isso. E ouço sua voz em minha mente, tão clara como se falada em
voz alta.

“Não tenho certeza se você percebeu, mas a pessoa que mantém todo o nosso
esquadrão unido é você. Precisamos de você, Scar.

E eu fecho meus olhos, e me pego pelas lapelas mentais, e me dou uma


sacudida.

Eles precisam de mim.

Ele precisa de mim.

"Ok, vá."

Finian — quatro minutos restantes

Minha cabeça está girando e meu corpo está lutando, lutando para respirar,
mas estou me afogando e não há nada para me segurar.

Estou tentando subir em uma rocha enquanto o oceano bate em mim e me


agarra com mãos geladas, cada onda me puxando para baixo, e para baixo, e
para baixo.

E tudo o que posso pensar é que não posso deixar ir, não

posso

deixar

ir.

Não até que eu tenha certeza de que estamos fora do circuito.

Se eu morrer agora, vou começar de novo?

Não posso correr esse risco.

Eu não posso morrer ainda.

E eu estou afundando minhas unhas naquela rocha enquanto o mar lava ao


meu redor, as ondas batendo, apertando meus pulmões, a

visão girando.

E lamento muito que Scar fique sozinha, que ela seja a única que resta a
enfrentar os Ra'haam. Que o coração do Esquadrão 312 será a única parte que
resta, mas talvez o coração fosse tudo o que sempre tivemos, talvez o amor
sempre tenha sido a chama que usamos para conter a escuridão.

Minha visão está se aproximando.

Eu tenho que esperar.

Só até chegarmos em casa.

Scarlett – três minutos restantes

“Zila!” Estou gritando, olhando impotente para Fin enquanto suas costas se
arqueiam, suas mãos fazem garras. “Zila, ele não consegue respirar!”

A voz de Zila é calma no meu ouvido. “Você deve priorizar, Scarlett. Você
ainda está a caminho da vela quântica?”

O ônibus espacial é atingido novamente, os motores lutando contra a


tempestade lá fora. Mesmo à beira da tempestade, as forças em jogo são
esmagadoras, colossais. Olho para os telescópios do ônibus espacial, olho
pelo visor para o enorme retângulo prateado que se ergue no escuro à nossa
frente. "Sim! Estamos indo direto para a vela! Alcance dez mil quilômetros!”

"Bom. O ônibus tem um kit médico?”

Eu levanto minha cabeça, examino a minúscula cabana desesperadamente. Eu


fico de pé, abro os armários, cavo neles enquanto os

suprimentos caem em cascata ao meu redor.

“Eu não vejo isso!” Eu choro, caindo de joelhos ao lado dele.

Seus olhos se fecham.

Eu posso ouvir as sirenes tocando em seu microfone.

“AVISO: CASCATA DE CONTENÇÃO EM EFEITO. IMPLOSÃO DO


NÚCLEO IMINENTE, T MENOS TRÊS MINUTOS E CONTANDO.
TODAS AS

MÃOS VÃO PARA AS VAGAS DE EVACUAÇÃO IMEDIATAMENTE.


REPETIR: IMPLOSÃO DO NÚCLEO EM TRÊS MINUTOS E
CONTANDO.”

“Se não houver kit médico, trabalharemos com o que temos”, diz Zila
simplesmente. “Descreva os sintomas dele.”

"E-seus lábios estão inchados, seus olhos..." Eu suspiro, apertando sua mão. –
Ele não consegue respirar, fica coçando a garganta...

– Você está descrevendo uma reação anafilática, Scarlett. Provavelmente aos


produtos químicos que ele inalou. Você deve realizar uma traqueotomia.”

“Um o quê?” Eu grito.

“Sua garganta inchou e fechou. Faremos uma incisão abaixo do inchaço para
que ele possa respirar. Você vai precisar de uma faca.”

“Zila, eu não posso...”

“Scarlett.” A voz dela me interrompe. “Não temos tempo. Finian não pode
morrer antes que o pulso atinja, ou então o loop

simplesmente começará novamente. Ele tem uma pequena chave de fenda no


braço direito de seu exosuit.”

Minhas mãos estão tremendo, e ele não está mais se movendo, seu braço
pesado enquanto eu o levanto, torço, encontro a chave de fenda aninhada em
sua pequena ranhura.

Isso não pode estar acontecendo.

“Entendido,” eu ofego, de alguma forma fazendo isso e me recusando a


acreditar que estou fazendo tudo ao mesmo tempo. “Entendido, o que vem
depois?”

“Você vai precisar de um tubo pequeno e rígido, mais fino que seu dedo
mindinho.”

"Um tubo?" Estou gritando, minha respiração está acelerada demais, e


algumas pessoas podem ficar estranhamente calmas em uma emergência, mas
Scarlett Jones não é uma delas. “Onde, em nome do Criador, eu deveria ir—”

“Olhe ao seu redor. Deve haver alguma coisa.”

"Não há nada! Zila, não tem nada!”

A nave balança ao meu redor novamente, as energias pulsando lá fora


ameaçando nos separar. A escuridão total se ilumina para um malva profundo
e sombrio enquanto uma explosão de energia escura crepita através da
tempestade ao nosso redor, e olhando para ela através do visor, o alcance
dela, o poder dela, percebo que ficaria aterrorizado comigo mesmo se Eu já
não estava tão apavorada por Fin.

Ainda estamos muito longe da vela. Ele vai morrer antes de chegarmos lá, ele
vai morrer bem aqui em meus braços.

Chegamos tão longe. Lutou tanto. Perdeu tanto.

Uma história de centenas de anos em construção.

E é assim que o capítulo final é escrito?

E então vem a mim. Como um flash daquela energia terrível. Enfio a mão no
bolso do paletó de Finian, atrapalhada, desesperada, e meus dedos finalmente
se fecham ao redor dele.

A caneta.

“Zila, a maldita PEN!”

"Hum." Eu a ouço dizer. "Interessante."

"Ele reclamou sobre essa maldita coisa toda chance que ele teve", murmuro
enquanto eu desparafuso freneticamente, Fin deitado imóvel enquanto eu
grito em seu rosto. "Não é um presente tão ruim agora, hein?"
Seu peito não está se movendo.

Seus olhos estão inchados e fechados.

Eu deixo todas as partes da caneta baterem no chão da nave até que eu esteja
segurando apenas o invólucro. Aço inoxidável. Brilhante e pesado. A
tempestade se agita ao nosso redor. A energia escura forma arcos através do
preto. "Qual o proximo?"

“Passe a ponta dos dedos pela garganta dele,” ela diz, e ela ainda está tão
calma, e eu estou agarrado a ela como uma pedra. “Você vai sentir dois
solavancos. Entre eles, faça uma incisão e insira a caneta.”

Eu forço minha mão para ficar quieta com pura força de vontade, as pontas
dos dedos percorrendo sua pele, uma, duas vezes,

certificando-me de que tenho o local. A tempestade sacode a nave em seus


rebites, e digo a mim mesma para ficar quieta.

Estar calmo.

Respirar.

E então sou só eu, segurando uma chave de fenda, e a garganta de Finian, e


oh porra, oh porra, oh porra, oh porra. Por que não poderia

ter sido alguém do esquadrão, exceto eu?

“Você pode fazer isso, Scarlett,” Zila diz baixinho. "Você pode fazer
qualquer coisa."

Eu respiro. Eu marco o local.

Eu posso fazer isso.

Zila – dois minutos restantes

“Ele está respirando! Zila, oh Criador, ele é...


As palavras de Scarlett desaparecem em um mar de estática enquanto ela e
Finian perto da tempestade e as comunicações são

cortadas.

Eu sei que essas são as últimas palavras que eu vou ouvir deles.

Nari e eu estamos em nossa cápsula de fuga, observando pela vigia, nossos


rostos lado a lado. A escuridão do vazio ao nosso redor é iluminada com
centenas de pequenas luzes, vermelhas e verdes – outras cápsulas explodindo
das ruínas da Estação Sapato de Vidro.

Mais além, podemos ver a tempestade, o pequeno ônibus espacial de Scarlett


e Finian voando pela escuridão em direção ao encontro com a vela quântica.

Em menos de dois minutos, se tudo correr bem, o pulso os atingirá. O último


do Esquadrão 312 estará a dois séculos de distância, para sempre fora do meu
alcance.

Exceto que isso não é verdade. Tudo o que eu fizer chegará a eles,
eventualmente.

Nós assistimos o ônibus espacial subir na tempestade.

Nari pressiona a mão no vidro.

"Boa sorte", ela sussurra enquanto o navio é obscurecido pela tempestade. “E


boa caçada.”

Um minuto.

Eu me viro para ela, estudando as características que se tornaram tão


familiares enquanto vivemos este dia juntos repetidamente. Eu sei tanto sobre
ela, e ainda assim tão pouco. Tenho o resto da minha vida para aprender.

“Eu sei que eles deixaram você para trás,” Nari sussurra, seus olhos fixos nos
meus. “Mas eles não deixaram você em paz.”

Há faíscas em suas palavras, e elas saltam entre nós como eletricidade


estática, como pequenos raios quânticos. E quando eles

atingem, eu sou como o ônibus espacial, e sou transformado e transportado,


estou em algum lugar novo, e...

levanto minha mão, e tão devagar, tão cuidadosamente, passo meus dedos por
sua bochecha, curvo-os nas costas do pescoço dela.

A pele dela é quente.

Ela é tão corajosa e tão feroz, este falcão.

Tão cheia de vida, ligada por mil laços a seus amigos, sua família, seu
mundo.

E ela é linda, as linhas de seu rosto, a curva de sua boca. Posso ouvir a voz de
Scarlett em minha mente, rica e divertida. Ela não é alta.

E eu não estou sozinho.

estou com ela.

É preciso apenas uma leve pressão dos meus dedos contra a parte de trás de
seu pescoço, e ela está se inclinando, e seus lábios estão roçando os meus, e
em alguns momentos o pulso vai bater lá fora, mas aqui, eu já estou em
chamas.

Scarlett — faltando um minuto

, gostaria de ser o tipo de pessoa que reza.

Mas o peito de Finian está se movendo lentamente, e eu estou olhando para


ele, em contagem regressiva, em contagem regressiva.

Minhas mãos estão firmes nos controles de vôo. Não há nada a fazer a não
ser esperar.

Não sei o que vamos encontrar quando chegarmos em casa. Não sei se vamos
chegar em casa. Mas eu sei que fiz tudo o que pude.
Eu olho através da tela para a tempestade furiosa lá fora, e quando eu olho de
volta para ele, seus olhos escuros estão abertos.

"Fique quieto", eu digo imediatamente. "Ficar parado. Vamos precisar levá-lo


a um médico de verdade em breve.

Suas sobrancelhas levantam, mas ele não tenta falar.

“Ainda não,” continuo. “Alguns segundos mais. Assumindo que você está
perguntando se nós fizemos o salto. Se você está

perguntando onde eu encontrei a habilidade, coragem e fabulosidade geral


para realizar uma cirurgia de emergência no meio de todo esse caos, bem. Se
você acha que depois de fazer o teste com todos aqueles caras para encontrar
o namorado perfeito, eu deixaria uma pequena coisa como uma traqueotomia
atrapalhar o amor verdadeiro, você claramente subestimou o quanto estou
cansada da

busca.”

Sua boca se curva fracamente.

Eu olho para o relógio novamente.

É isso.

Já fiz tudo o que posso.

A vela se estende abaixo de nós, metálica, ondulante, com mil quilômetros de


largura. A tempestade ao nosso redor, interminável, impossível, o poder de
rasgar as paredes do espaço e do tempo reunidos ao nosso redor. O cristal na
minha garganta começa a

queimar. Luz negra. Ruído branco. Eu posso sentir isso na minha pele. Eu
posso ouvir isso na minha cabeça. Somos tão pequenos, tão insignificantes
diante de tudo isso, por um momento me pergunto como isso importa.

Finian olha para mim com aqueles grandes olhos negros que eu achava
difíceis de ler. E quando nossos olhares se encontram, percebo que é isso.
Isto é o que importa.

“Vejo você no futuro, bonitão.”

ZAP.

33

AURI

Estou metade em um mundo, metade em outro, imagens se sobrepondo para


que o Eco e a realidade se fundam.

Há lágrimas nas bochechas de Lae, e uma chuva suja e lamacenta está caindo
do céu Echo, e pequenas rachaduras estão tecendo

teias de aranha através do Neridaa de uma só vez.

Eu alcanço dentro de mim o poder de tornar a chuva negra doce e cristalina, e


Kal levanta uma mão para limpar uma lágrima da

bochecha de Lae, e um momento de doçura se mantém em seu mundo e no


meu em meio a essa carnificina.

"Vamos lutar até o último suspiro para honrar seu pai", diz ele, gentil, e Lae
endireita a mandíbula e acena.

“Sim, tio.”

Mas os escombros de cristal caídos que Caersan derrubou para bloquear a


entrada não manterão os Ra'haam fora por muito mais

tempo, e seus ferimentos percorrem a paisagem do Eco como uma praga


negra, e tão rápido quanto veio, aquele momento de a trégua se foi do Echo e
do Neridaa ambos.

O grito de advertência que mandei de volta para Tyler ainda ecoa em minha
mente, um grito discordante que não vai desaparecer.
Ele mesmo me disse.

Quando isso acontece.

Como isso acontece.

Cada cabeça planetária reunida em um só lugar.

Um agente Ra'haam com uma bomba.

A morte e a desordem que os paralisaram até que os Ra'haam pudessem


florescer e explodir e tornar tudo azul, verde e imortal.

Ele me ouviu naquela época? Ele parou?

Ainda estaríamos aqui se ele tivesse?

Outro desfiladeiro irregular se abre através do Echo, a dor dele como vidro
quebrado arrastado pelas minhas entranhas, e eu alcanço mais uma vez onde
Caersan está como uma estátua encharcada de sangue em preto.

“Caersan, não posso fazer isso sozinho. Você tem que consertar isso, por
favor.”

E suas mãos fecham os punhos, e ele se vira para mim com selvageria em
seus olhos, e ele levanta sua voz para um rugido.

"EU. SOU. NÃO. QUEBRADO."

– e a barreira na porta cede em um jato de fragmentos de cristal, e Kal e Lae


se voltam para enfrentar seu inimigo pela última vez.

Novos laços de amor fluem entre eles agora, sua glória de arco-íris se
entrelaçando com sua violeta e ouro, porque Kal não é seu pai, e ele sabe
como oferecer amor, e Tyler a ensinou a aceitá-lo, e

– um menino Syldrathi é jogado contra ele. uma parede, seu pai pairando
sobre ele enquanto ele cai no chão.
Grito por Kal, mas o menino vira a cabeça para me encarar, e

menino não

é Kal — e a cidade de cristal do Eco está se despedaçando e caindo — e


posso ouvir minha própria voz implorando a Caersan que me ajude Eu
conserto a Neridaa freneticamente enquanto ela se desfaz repetidamente – e
as ondas de morte do lado de fora se derramam pela porta, e as lâminas de
Kal são um borrão, e gavinhas de Ra'haam atacam as pernas de Lae,
arrastando-a para baixo e enxameando todos. sobre seu corpo se debatendo -
e Caersan está cortando e cortando os crescimentos ao redor dele, e a pressão
está

aumentando, martelando contra minhas têmporas, rachaduras escorrendo pelo


meu rosto enquanto a luz pulsa através delas, e eu

acho que estou gritando - e a de Lae a mente é brilhante, e nela posso ver a
mesa de jogo de tae-sai de Saedii, e entendo que sua mãe adorava jogar
contra Tyler, e ela ensinou sua filha, e vejo o arrependimento e o desafio na
mente de Lae enquanto ela solta um braço dos Ra'haam - e Kal e Caersan
gritam, mas em todas as nossas mentes ela inclina sua peça de madeira dos
Templários para sinalizar que o jogo acabou, e com seu braço livre ela pega
sua pistola e, como sua mãe, ela nega aos Ra'haam sua pedreira - e enquanto
ela puxa o gatilho e o brilho do arco-íris de sua mente se foi, Kal cai sobre
um joelho, e eu envolvo minha mente na dele, e posso me ouvir gritando
enquanto ele me mostra pela última vez o quanto me ama, porque se
pudermos voltar, Tyler ainda viverá, Toshh e Dacca e Elin ainda viverão, um
dia Lae nascerá, mas se Kal morrer aqui e agora, eu o perco para sempre.
Com um rugido, Caersan ataca o Ra'haam enquanto derruba seu filho, mas
para cada vinha que ele corta, outra toma seu lugar. Ele sabe que nenhuma
vitória é assim. Eu posso sentir isso. "Lutar!" ele grita, e eu não sei mais com
quem ele está falando. Ele balança sua lâmina novamente, incapaz de se
render, recusando-se a soltá-la. “Caersan!” Eu choro. “Esta não é a luta! Cure
os Neridaa comigo!” E ele olha para cima, seu rosto estilhaçado e rachado, a
luz quase cegando... — e então ele fica no Eco comigo em um campo de
flores de cristal, e mais uma vez estou em dois mundos, três mundos, quatro
mundos, então muitas vezes e lugares... —um menino tenta entender por que
seu pai está com raiva —o filho do menino tenta entender por que seu pai
está com raiva —“Imagine o que poderíamos ter feito, se você tivesse nos
amado.”

—“Meu filho, eu…” —as flores se quebram uma a uma… e então elas ficam
quietas… … e tudo fica… E nos dois mundos – ao meu lado no Eco e ao lado
de Kal no chão – ele levanta a voz para ruge seu desafio ao Ra'haam: "VOCÊ
NUNCA VENCERÁ!" e o Starslayer se despedaça em um milhão de
pedaços, gastando cada pedaço de si mesmo em seu desafio, em sua recusa
absoluta de se render e ao

seu redor o Ra'haam queima em preto e vermelho, murchando e enrolando


em si mesmo e dentro do Eco, ele é em todos os lugares,

infundindo o lugar com sua energia à medida que ele se entrelaça e se torna
bonito e ele me infunde com sua energia, e eu sou

poderoso, sou infinito e por um momento eu o conheço completamente, e


então ele se foi, mas no silêncio retumbante no instante após sua partida eu
sei que ele matou bilhões. E eu sei que ele nunca pode ser perdoado. E eu sei
que ele gastou o resto de sua força vital em uma punhalada emaranhada e
furiosa feita de desafio, uma recusa em admitir a derrota, um ato de raiva e
determinação

férrea... ... e sim, de amor. Kal está ofegante no chão, cercado pelos restos
queimados e enegrecidos dos Ra'haam, e eu cambaleio até ele, caindo de
joelhos, e ele fecha os olhos contra o brilho do meu rosto, mas ele estende a
mão para jogar seu braços em volta de mim e eu envolvo minha mente em
torno de Kal para apoiá-lo, e eu digo eu te amo eu te amo eu te amo e não
tenho certeza de quem está falando naquele momento, e eu aproveito o poder
de Caersan que ainda perdura mim, e sentir o calor de Kal dentro de mim, e a
luz brilha em mim enquanto eu ... 34 TYLER “Você certamente tem um
talento para o dramático, legionário.” Eu abro meu olho. Paredes cinzentas ao
meu redor. Luz pálida acima de mim. Uma figura é silhueta contra ela,
ombros largos, pescoço grosso. O metal em seu peito e braços cibernéticos
brilham fracamente, e sua voz é um rosnado baixo e retumbante. "Almirante
Adams...", eu sussurro.
Estou na estação de medicina da academia, eu percebo. A mesma baía que eu
era no dia em que conheci Aurora O'Malley. Por um

momento, quase quero virar a cabeça para ver se ela está do outro lado da
parede, apenas acordando.

Monitores e máquinas sibilam e zumbem ao meu redor, pulsando com um


brilho constante e quente. Estou quase todo entorpecido do pescoço para
baixo, me perguntando por que o mundo parece tão estranho. Levando a mão
trêmula ao rosto, sinto uma derme grossa na bochecha, na testa direita.

"Você perdeu", diz Adams. "O olho. Perdeu o baço também. O tiro errou sua
coluna por cerca de dois centímetros. Você tem sorte de estar respirando.”

"Quando isso continua acontecendo de novo e de novo", eu sussurro, "não é


sorte."

O almirante zomba. “Nunca consegui curar você desse ego, Jones. Assim
como seu velho.” Ele se abaixa e pressiona uma mão pesada de metal no meu
ombro. “Ele ficaria orgulhoso de você, filho. Assim como eu sou.”

“Sim, muito orgulhoso. Terrorista galáctico. Traidor da Legião Aurora. Pirata


do espaço.” Meus dedos correm sobre o lugar onde meu olho costumava
estar, a dor na minha órbita oca. "Pelo menos eu vou olhar para o meu
pelotão de fuzilamento, eu acho."

“Não será um pelotão de fuzilamento. O que você fez está em todos os feeds.
Seu amigo Lyrann Balkarri tem falado sobre você salvar o cume sozinho no
GNN-7 por três dias. Prometendo uma entrevista exclusiva.” Ele resmunga
agradecido. “Câmera escondida na lapela da jaqueta. Inteligente."

“Eu só queria um disco.” Eu estremeço, uma pontada de dor rompendo a


névoa dos remédios. “Algo para falar f-por mim se as coisas dessem b-ruim.
Limpe meu nome.” Olho para Adams e dou de ombros. “O nome do papai.
Você sabe."

"Eu sei", diz ele. "Eu sei, Tyler."


Ele se endireita, acena para o banco de monitores dispostos na parede.

“A filmagem dá uma visão dramática, eu vou te dar isso. Boa manchete


também. Plano de terror para destruir a estação Aurora

frustrado por Rogue Legionnaire. Sua história quase ofuscou a nossa. Mas
não exatamente.”

Eu me concentro nas telas, as borboletas no meu estômago lutando para


serem sentidas através dos bloqueadores de dor que eles me encheram. Nos
monitores, posso ver imagens de Adams e de Stoy fazendo sua apresentação
no Galactic Summit. No holo atrás deles, vejo a imagem de Octavia - o
mundo da colônia engolido pelos Ra'haam, e posteriormente trancado sob
Interdição por ordem do

TerraGov. Em outras telas, vejo planetas diferentes, também rastejando com


a corrupção azul-esverdeada do inimigo.

Os outros mundos do berçário, eu percebo.

Adams e de Stoy falaram na cúpula sobre os Ra'haam.

Outra tela mostra imagens de legionários subjugando e prendendo os agentes


do GIA na comitiva do primeiro-ministro Ilyasova. Vejo máscaras espelhadas
sendo arrancadas de rostos resplandecentes de musgo azul-acinzentado, olhos
como flores, indignação, medo e choque. Manchetes como GIA Infiltrated,
TerraGov Suspect, Comissão Senatorial.

"Você sabia", eu sussurro.

Eu encontro seus olhos, a raiva fervendo na minha barriga, a voz tremendo.

“Este tempo todo. Você sabia."

"Um pouco", ele responde, suspirando. "Insuficiente."

“Você sabia o suficiente para colocar Auri no meu Arco Longo. Para plantar
esses pacotes para nós na Cidade das Esmeraldas. Para nos deixar o Zero. O
que significa que você sabia o que ia acontecer com Cat quando fomos para
Octavia. Lágrimas estão queimando em meus olhos agora, o monitor cardíaco
subindo de tom enquanto tento me erguer. “Você sabia o que aconteceria com
ela. Você

sabia que a levaria.

Ele segura meu olhar, sua mandíbula apertada. "Nós fizemos."

"Seu filho da puta", eu assobio.

"Você deve um pedido de desculpas, Tyler", ele suspira. “E uma explicação.


Mas só posso oferecer o primeiro. A segunda cabe a outra pessoa.”

Ele enfia a mão na jaqueta de seu uniforme de gala, e todos aqueles elogios e
elogios em seu peito que uma vez eu cobicei parecem comprados com sangue
agora. Tento imaginar se há alguma coisa que ele possa dizer, qualquer
explicação que possa dar para me

fazer esquecer a dor nos olhos de Cat quando aquela faca afundou em casa, o
calor de seu sangue em minhas mãos, o horror e a

tristeza...

Adams coloca um holoplayer pequeno e redondo no lençol que cobre meu


colo, aperta um botão. A imagem pisca para a vida,

projetada acima da lente do jogador em uma luz brilhante. É estranho,


renderizado em linhas de azul e branco duocromáticos.

Tecnologia antiga, eu percebo. Realmente velho.

Demoro um pouco para reconhecer a figura se aglutinando no ar diante de


mim. Ela está vestindo um uniforme arcaico da Legião, peito decorado com
comendas. Ela é mais velha, talvez em seus setenta e poucos anos. Olhos
gentis e cabelos grisalhos curtos. Mas ainda a reconheço do passeio da
academia.

“Ela é uma das Fundadoras,” eu sussurro.


“Olá, Legionário Jones,” ela diz, sua voz levemente distorcida. “Meu nome é
Nari Kim. Se você está assistindo isso, o Comando da Legião considerou
dentro dos parâmetros operacionais fornecer uma explicação dos eventos com
os quais você esteve envolvido

recentemente.

“As variáveis nesta equação não permitem especificidade, mas com sorte,
Aurora Legion está agora em posição de dar o golpe final contra os Ra'haam
e completar uma missão de mais de duzentos anos.”

Ela sorri para mim, como uma mãe faria. “Devemos muito a você, legionário.
Me disseram que você é um líder brilhante. Uma alma corajosa e nobre. Mas
mais, um bom e querido amigo. Eu gostaria de ter conhecido você, Tyler. Eu
quase sinto que tenho. Mas, por favor, saiba, estamos muito orgulhosos de
você, por ter chegado até aqui. Nós sabemos o que você deu. O que você
perdeu. Só rezo para que no final valha a pena.”

Seu sorriso se alarga, e ela beija seus dedos, e eu assisto com olhos
maravilhados enquanto ela os pressiona contra a lente. Essa mulher é uma
heroína. Um dos fundadores da Legião. Ouvi-la falar assim... comigo...

“Tem alguém que quer falar com você”, ela continua. “Então, vou desejar-lhe
adeus, Tyler Jones, e boa sorte, e desejo que se lembre que as esperanças e
vidas de toda a galáxia são devidas a você e seus amigos.”

Ela estende a mão, fora da câmera, acenando.

"Vem aqui amor."

Há uma longa pausa. Nari Kim acena novamente, sorrindo. "Está tudo bem."

Uma figura se move para o quadro, renderizada nas mesmas linhas


duotônicas de luz holográfica. Seu cabelo é longo e encaracolado,
principalmente prateado ou branco, sua pele enrugada com a idade.

Eu não a reconheço de primeira. Então Nari murmura encorajamento, e a


recém-chegada vira a cabeça para ela, e eu vejo de relance...
... Não pode ser.

Brincos com pingentes de falcão pendurados neles.

E quando ela se senta na frente do gravador, começo a perceber...

A mulher olha para a lente e vejo que seus cílios estão brilhando de lágrimas.
E eu a reconheço então, apesar da impossibilidade de tudo isso, apesar do
abismo do tempo e dos rastros de tristeza gravados nas bordas de seus olhos.

“Zila...”, sussurro.

“Olá, Tyler.”

Ela faz uma pausa, como se estivesse se recompondo. Ela parece tão
pequena. Mais minúsculo ainda do que eu me lembro. Ao lado

dela, Nari aperta sua mão. E impulsionada por aquele toque, Zila encontra um
poço de força, respira fundo e começa a falar.

“Se você está assistindo isso, você sobreviveu além do ponto de minha
partida e entrou no reino da incerteza absoluta. Estou muito feliz por você ter
sobrevivido ao seu cativeiro entre o GIA. Espero que isso signifique que meu
presente para você foi de alguma utilidade. Perdoe-me se não foi cem por
cento adequado. Eu estava trabalhando com um número quase infinito de
variáveis.”

Ela franze a testa, esfregando a testa como se estivesse com dor.

“Durante a Batalha da Terra, quando a Arma Eshvaren foi disparada, uma


colisão de energias psíquicas e distorção temporal me

arremessou, Finian, e sua irmã, Scarlett, de volta no tempo, para o ano de


2177.”

Meus olhos se arregalam e eu olho para Adams, mas ele está apenas
assistindo o holo. Pelo seu olhar de intenso interesse, acho que ele nunca viu
isso antes.
“Devido a eventos complexos demais para aborrecê-lo”, continua Zila, “eu
fui forçado a ficar para trás nesta época. Coube a mim, juntamente com o
Líder de Batalha de Karran e Nari, preparar o caminho para eventos futuros e
para a eventual luta com os Ra'haam.

Fizemos o nosso melhor para garantir que tudo aconteça exatamente como
aconteceu. Como deveria. Como deve ser, para Aurora

recuperar a Arma Eshvaren e usá-la contra o inimigo. Mas...”

A voz de Zila vacila. Ela olha para as mãos, engolindo em seco. A Zila
Madran que eu conhecia era uma garota que vivia atrás de muros.

Que se mantinha protegida do mundo pela lógica, desligada de suas emoções,


frias e clínicas.

Mas ela está chorando agora, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Vejo a mão de Nari Kim se estender novamente, seu braço deslizar pelos
ombros de Zila, puxando-a com força, e ela beija sua

bochecha, seus dedos, seus lábios. Mesmo através dessa tecnologia antiga,
essas linhas finas e brilhantes, posso ver o amor em seus olhos, sentir as
lágrimas ardendo nos meus quando percebo o que eles devem ter significado
um para o outro. Que meu amigo

encontrou alguém que importava tanto.

“Apenas fale do seu coração, amor”, diz Nari.

Zila olha para a câmera novamente, sua voz trêmula.

"Sinto muito, Tyler", ela sussurra. “Sobre o Gato. Tentei durante anos pensar
numa alternativa. Alguma maneira de poupá-la desse destino. Temi o dia em
que teria de lhe dizer estas palavras. Mas o potencial de calamidade, um
paradoxal efeito borboleta que alteraria irrevogavelmente a linha do tempo...
Ela funga com dificuldade, engole em seco. “Nós não podíamos arriscar. Sem
mim aqui, não
haveria ninguém para ajudar Nari a formar a Legião, para garantir que você
conhecesse Aurora, para protegê-la na Cidade das

Esmeraldas. Ninguém para salvaguardar o futuro. Para garantirmos a derrota


dos Ra'haam, tudo precisava acontecer exatamente como aconteceu, até o
momento em que deixei sua linha do tempo.” Ela balança a cabeça, seus
olhos implorando. "Tudo."

Zila abaixa o queixo, o cabelo caindo sobre o rosto.

“Vivi minha vida da melhor maneira que pude.” Ela aperta a mão de Nari.
“Encontrei a felicidade. Trabalhei muito, vi lugares e conheci pessoas que me
trazem alegria. Meu esquadrão era minha segunda família, depois que perdi
minha primeira, e dediquei minha vida a preparar o que você vai precisar,
mas também houve aventuras. Risada. Encontrei uma terceira família aqui,
além de todas as

expectativas. Eu acho que você vai se preocupar, agora você sabe onde estou.
Eu quero que você saiba que eu tenho sido feliz. Mas saiba também que não
há um dia que passe que eu não pense em Cat e no que ajudei a realizar.”

Ela levanta a cabeça novamente. Olhando para mim através dos séculos.

“Peço seu perdão. Espero que você entenda que fiz tudo para o melhor e
saiba que através desse sacrifício, protegemos um futuro para a galáxia. O
caminho à sua frente é incerto. Eu não sei o que está por vir. Mas eu sei que
sou grato por ter conhecido você, Tyler.

Honrado por ter servido sob você. E me sinto abençoado além da medida por
tê-lo chamado de meu amigo.”

Eu alcanço a imagem, lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto meus


dedos passam por ela. Penso no que deve ter sido, viver

com esse peso. O fardo do futuro da galáxia em seus ombros.

"Zee", eu sussurro. “Claro que eu te perdoo.”

"Comandante", diz Nari, dirigindo-se ao ar. “Eu confio que você está
ouvindo. Agora você pode acessar o protocolo Omega, nós 6 a 15.

Certifique-se de que o nó 10 seja entregue pessoalmente a Aurora O'Malley.


Você também pode acessar as instalações no Deck

Epsilon, Seção Zero. Senhas a seguir. Por favor, siga todas as instruções
exatamente. As vidas de dois soldados muito corajosos estão em jogo.”

“Acredito que nossos cálculos estão corretos”, diz Zila. “E já se passou


tempo suficiente desde o nosso desaparecimento para garantir que não haja
eventos paradoxais.” Ela balança a cabeça, quase para si mesma, mastigando
uma mecha de seu cabelo como

costumava fazer quando estava perdida em pensamentos. "Sim. Sim, vai


funcionar. Deve funcionar.”

Nari Kim olha de volta para mim, um sorriso enrugando seus olhos.

“Dê um soco no braço desse descolorante para mim, Jones. E agradeça à sua
irmã. Boa caça, legionário. Queima brilhante contra a noite.”

Zila olha para a projeção, estendendo a mão na minha direção.

Meus dedos tocam os dela, atravessando um oceano de tempo e lágrimas.

"Adeus, meu amigo", ela sorri.

E a gravação termina.

"Droga...", Adams rosna.

Eu olho para ele, meus olhos turvos com lágrimas, minha mente cambaleando
com tudo o que aprendi. A impossibilidade, a

enormidade, é quase demais para entender. Mas o olhar nos olhos de Adams
é o suficiente para me arrastar de volta à realidade, longe de conspirações de
séculos em formação, mágoa sofrida e alegria duramente conquistada. Eu
fungo com força, limpo minhas
bochechas molhadas.

"O que é isso?"

Adams está olhando para o holoplayer, seu rosto uma máscara sombria. As
imagens de Zila e Nari Kim desapareceram, substituídas por um fluxo rolante
de senhas. “Terei que revisar os novos dados que acabamos de desbloquear.
Mas pelo jeito que eles estavam falando... acho que é exatamente como
temíamos.

“Olha, eu não sei o que diabos está acontecendo aqui, mas—”

“É como o Fundador Madran disse, Tyler.” Adams fala o nome de Zila com
algo próximo da reverência. A maneira como um ministro

fala sobre o Criador.

Eles pensam nela como a Terceira Fundadora, eu percebo.

“Ela só sabia com certeza o que aconteceu até a Batalha da Terra”, continua
Adams. “O ponto em que ela foi retirada desta linha do tempo. Apesar de
toda a sua genialidade, Zila Madran não conseguia ver o futuro. Ela só se
lembrava do que já tinha visto. Então ela não poderia saber.”

“Sobre a trama na Estação Aurora?”

Ele concorda. “Mas não só isso. Todas as nossas contingências, todo o


planejamento que temos a partir de agora para garantir a derrota dos Ra'haam,
girava em torno do Gatilho e da Arma.”

Ele passa uma mão de metal pelo couro cabeludo por fazer.

"E eles se foram", eu respiro. “Desapareceu na Batalha da Terra.”

“A Arma, o Gatilho, Aurora O'Malley.” Adams se vira para a janela de


visualização na parede, estrelas espalhadas pela escuridão além.

“Tudo o que fizemos foi garantir a presença deles aqui e agora para desferir o
golpe mortal contra o inimigo antes que ele floresça. E
depois de tudo isso, depois de centenas de anos, mensagens e protocolos
passaram em segredo de Fundador para Comandante e

Sucessor através dos séculos...” Ele olha para suas mãos vazias. “Não temos
nada.”

Eu olho para o projetor no meu colo, minha mente correndo. “O fundador


Kim mencionou instalações seguras no Deck Epsilon, Seção Zero.” Eu
engulo em seco, não ousando ter esperança. “Ela falou sobre minha irmã.
Talvez...”

Adams dá um tapa em seu distintivo de comunicação da Legião, falando


rápido.

“Adams a de Stoy”.

“Eu li você, Seph”, vem a resposta.

“Eu tenho mais informações. Encontre-me em Épsilon. Estou trazendo


Jones.”

Há uma pequena pausa, uma pequena inspiração. Acho que nunca vi a Líder
de Batalha de Stoy perder a calma uma vez nos seis anos em que a conheço,
mas quando ela responde, ela soa positivamente jubilosa.

"Entendido", diz ela. “Te encontro lá.”

Adams acena com a cabeça, desconecta a conexão.

“Você ainda reza, Tyler?” ele pergunta baixinho. “Eu sei que quando
escurece, pode ser difícil manter a f—”

“Todos os dias, senhor,” eu respondo. "Todos os dias."

"Bom", ele balança a cabeça. "Faça isso agora."

•••••

Eu me perguntei por que o nome Epsilon Deck soava estranho. Enquanto


Adams me empurra em uma cadeirinha pelos corredores das

instalações médicas e para dentro de um elevador de oficiais, percebo o


porquê. Olhando para as centenas de níveis, subpisos e seções da estação
delineadas em luz brilhante nos controles do elevador, entendo que não há
Deck Epsilon na Estação Aurora.

Pelo menos, não um que existe nos esquemas.

Adams procura dentro de sua túnica uma chave de platina bio-codificada. Ele
pressiona o polegar no sensor, desliza a chave em uma fenda no controle do
elevador. Um painel desliza para o lado, um sensor varre seu rosto, suas íris,
sua impressão de mão. Quando os controles ficam verdes, ele se inclina para
trás e fala.

“Adão. Um-um-sete-quatro-alfa-quilo-dois-um-sete-beta-índigo.

Outro bip. Sinto-nos girar, como se o elevador estivesse se deslocando em


seu eixo.

“Epsilon, Seção Zero,” Adams comanda. “Senha: Vigilância.”

Meu estômago está cheio de vidro quebrado, e o lado direito do meu rosto
está doendo – talvez eu devesse ter pedido outro analgésico antes de sairmos.
Mas embora eu mal possa sentir, sei que meu coração está martelando com o
pensamento de que posso ver minha

irmã novamente. Eu não tinha ideia do que aconteceu com ela depois que
Saedii e eu fomos capturados pelo GIA. O medo de que ela pudesse estar
morta era um peso constante, um que eu não conseguia olhar por muito
tempo. O conhecimento de que ela foi jogada de volta no tempo com Zila e
Fin é quase incompreensível.

Mas ela poderia estar viva.

Oh Criador, por favor, deixe-a estar viva.

As portas do elevador se separam e eu vejo um corredor longo e bem


iluminado que leva a uma porta pesada que parece forte o
suficiente para resistir ao bombardeio atmosférico. O Líder de Batalha de
Stoy está aqui em baixo com o kit Legion completo, pele pálida e cabelos
brancos como a neve, descoloridos ainda mais brancos pela luz forte. Ela
observa enquanto Adams me empurra para frente na minha cadeira de apoio,
acena com a cabeça uma vez quando nos aproximamos, grandes olhos negros
me olhando

sombriamente.

“Parece que você esteve nas guerras, Legionário Jones.”

"Nada que eu não pudesse lidar, senhora."

Ela sorri, magra e sem sangue. O Líder de Batalha de Stoy nunca sorri.

“Um bom trabalho, soldado. Realmente um bom trabalho.”

Adams passou sua chave biológica em um bloco à esquerda da porta e acena


agora para de Stoy. "Preparar?"

A líder da batalha passa sua própria chave e se inclina para frente, as mãos
espalmadas no vidro do sensor. Os scanners novamente percorrem os rostos,
retinas e palmas de Adams e de Stoy, uma agulha coleta amostras de tecido e
sangue e, finalmente, eles falam uma série de senhas da gravação de Zila e
Nari. A tecnologia é antiga, mas é tão pesada quanto poderia ser, já que esta
estação foi construída há dois séculos.

O que quer que esteja aqui atrás, Zila queria bem protegido.

A porta bate, um alarme soa brevemente, a iluminação fica em um azul


profundo e frio. A escotilha se move para o lado, a penumbra na sala além
pisca da escuridão para a luz enquanto os tetos zumbem para a vida. E
quando Adams me empurra para dentro, eu recupero o fôlego, olhando com
admiração para a estrutura diante de mim.

Condutas pesadas serpenteiam para fora de bancos de computadores antigos,


conectados a um tanque cilíndrico de plasteel
transparente no coração da sala. E dentro dela, pulsando com luz como um
batimento cardíaco, está...

“Uma sonda,” eu respiro. “Uma sonda Eshvaren.”

A luz começa a pulsar através da câmara, coalescendo dentro do cristal de


lágrima. Vejo que está rachado, a ponta do rasgo

estilhaçada e cortada, o brilho refratado de um milhão de rabiscos de teia de


aranha na pedra.

“Respiração do Criador,” Adams sussurra.

Uma imagem ganha vida acima dos terminais de computador, e meu coração
dispara ao ver Zila novamente. Ela é mais jovem do que

era um momento atrás, talvez com quarenta e poucos anos, as costas retas, os
olhos aguçados.

“Bem-vindos, comandantes. Se você está ouvindo esta mensagem, a Batalha


da Terra terminou, eu saí de sua linha do tempo para o ano de 2177 e o
Protocolo Whiplash foi promulgado. Por favor, acione todos os scanners de
curto alcance na Estação Aurora, tela para gradientes de caça, intensidade
máxima. Diga às suas equipes de varredura que estão procurando um ônibus
espacial, de origem

terráquea, série Osprey, Modelo 7I-C. Recrute equipes médicas para ajudar
os ocupantes, tenha instalações online para lidar com um homem betraskan,
de dezenove anos de idade, sofrendo anafilaxia e possível trauma faríngeo,
laríngeo e traqueal.”

Meu estômago se revira com isso, a respiração ficando mais rápida.

“Passei os últimos trinta anos da minha vida aperfeiçoando esses algoritmos”,


continua Zila. “Eu sonhei como cadete de recursos nessa escala. Lamento não
estar lá para ver o resultado final.” Por apenas um momento, vejo um
vislumbre da garota que gostou

demais de seu cenário atordoado.


“Estou tão certa do sucesso quanto possível”, continua ela. “Mas eu não sou
perfeito. E eu não sou do tipo religioso.” Seus olhos varrem a sala. “Espero
que você esteja lá, Tyler. E se estiver, talvez uma oração não esteja fora de
ordem. Você sempre foi o crente entre nós.”

Adams repete os comandos em seu crachá de comunicação, engajando as


equipes de varredura, atrapalhando as equipes médicas. A

imagem de Zila apenas paira ali, silenciosa. Enquanto observo, ela começa a
mastigar uma mecha de cabelo.

Depois de um minuto ou dois, as luzes ao nosso redor começam a pulsar mais


forte. Os tetos no corredor do lado de fora escurecem e depois se apagam
completamente.

Sem mais nenhum aviso, a rede da estação cai completamente, a gravidade


artificial é cortada e Adams pragueja baixinho enquanto a sonda Eshvaren
queima com uma intensidade que é quase ofuscante. O cabelo em todo o meu
corpo está em pé. Um zumbido

subsônico está crescendo na parte de trás da minha cabeça.

"Ela está sugando energia de toda a rede da estação", de Stoy sibila.

Os lábios holográficos de Zila se curvam em um sorriso travesso, e estendo a


mão para ela, aterrorizada, chorando, mas de alguma forma sorrindo com ela.

E então faço o que ela pede, fechando os olhos, imaginando Finian e Scar,
meu amigo e meu gêmeo, rezando para o Criador com tudo o que tenho.

Traga os de volta.

Traga-os de volta para mim, por favor.

O zumbido aumenta para um grito lento. A sonda Eshvaren queima tão forte
que posso vê-la através da pálpebra fechada do meu olho, virando minha
cabeça enquanto o som aumenta de tom. A estação estremece, a energia
aumenta, cada gota de suco do núcleo
arrancada da rede e projetada no coração ardente da sonda.

Os gritos começam a doer, ouço o rugido de Adams, mas mesmo assim


continuo orando. Agarrando-me o máximo que posso ao

pensamento que Adams incutiu em mim quando partimos para Sagan Station,
antes mesmo de descobrirmos Aurora, fui arrastado

para esse quebra-cabeça, essa guerra, essa família centenas de... não, um
milhão de anos em formação. .

Você deve acreditar, Tyler.

Você tem que acreditar.

O grito ultrapassa o limite da audição.

A luz atravessa o outro lado da cegueira.

E com um grito discordante final, acabou.

O brilho na sonda Eshvaren desaparece, depois morre completamente. As


cabeças lá fora piscam de volta à vida, e eu estremeço

quando a gravidade retorna, a dor atravessa meu corpo mutilado enquanto eu


caio de volta na minha cadeira de apoio.

Os comunicadores estão chegando a Adams e de Stoy, avisos, alertas e


alarmes, silenciados pelo comando conciso de de Stoy, o

rugido retumbante de Adams.

“Tudo o que não é essencial, corte o joio! Equipe de varredura, denuncie!”

Eu o olho nos olhos, coração galopando, não ousando ter esperança.

“… Negativo, senhor”, vem a resposta. “Sem contato.”

"Restringir o campo, tenente," De Stoy ordena. “A embarcação pode estar


sem energia. Pesquise em térmicas, cinéticas, radiação de espectro total.”

"Sim, senhora, estamos nisso", vem a resposta.

Os minutos passam como eras. Eu olho para o lugar onde o holograma de


Zila estava, mas ele se foi, apenas a imagem residual da

sonda queimada em meu olho.

"Nada?" Adams pergunta.

“Negativo, senhor”, vem a resposta. “Escopo limpo.”

“Este é o Raptor externo. Confirme, Aurora; contato zero.”

Sento-me ali, olhando para o lugar onde estava o holograma da minha amiga,
sabendo que nunca mais a verei.

E isso pode não ser tão ruim—ela disse que estava feliz—se não fosse pelo
pensamento do resto deles. Auri e Kal desapareceram sabe-se lá onde. Zila
morta há mais de cem anos. Gato se foi. E agora Fin e Scarlett...

ouço os relatórios chegando, as equipes de varredura e os pilotos


confirmando o que já disseram. O que eu já sei.

“Escopo limpo.”

“Zero contato.”

Eles foram embora. Todos os meus amigos. Toda minha família.

Depois de tudo o que sofremos e tudo o que perdemos...

"Sou o único que restou", sussurro.

Esquadrão 312 para sempre.

35
TYLER

Nunca pensei que terminaria assim.

Sento-me na minha cadeira de apoio, olhando pela longa janela de


visualização para a estrela Aurora. Os remédios que eles me deram são
pesados, e eu não sinto a dor das minhas feridas. Mas de alguma forma, isso
só piora. Porque sem a dor, tudo o que sinto é a ausência. O lugar vazio onde
meu olho deveria estar. O espaço vazio ao meu lado onde minha família
deveria estar.

Nunca pensei que terminaria assim.

Eu vejo a frota se formando no ombro da academia, e uma parte de mim


ainda não pode deixar de ficar impressionada com a visão. A maior armada
da história galáctica registrada está sendo reunida. Uma coalizão de raças,
dez mil navios reunidos através da Via Láctea, respondendo à ameaça dos
Ra'haam.

Chelleriano e Betraskan. Ishtarrian e Rigellian. Gremp e Tol'Mari e Rikerite e


Free Syldrathi. Nunca imaginei nada parecido.

Adams e de Stoy não ficaram ociosos nos anos em que comandaram a


Legião, e além de preparar o caminho para o Esquadrão 312

descobrir a Arma e começar a formação da Legião no passado, eles também


tiveram outros agentes no trabalho — coletando dados

sobre os vinte e dois mundos-berçário Ra'haam. Esquadrões da Legião,


enviados em segredo através das linhas de interdição, através de FoldGates
perdidos, coletando evidências, filmagens e varreduras de dados desses
mundos corrompidos, os berçários onde nosso inimigo dorme, agitando-se até
agora, esperando para florescer e explodir.

Esses dados, a filmagem que fiz de Cat no reator, os agentes desmascarados


do GIA, foram suficientes para reunir essa frágil aliança.

Não temos o gatilho.


Não temos a Arma.

Mas temos bombas de fusão. Aglomerados de disruptores. Masscolliders.


Armas biológicas. Ceifadores de atmosfera. Destruidores de núcleo. A força
militar combinada de centenas de mundos, preparada para queimar nosso
inimigo até a morte em seu berço. Os cursos estão definidos, o primeiro alvo
definido - o lugar onde tudo isso começou.

Um planeta que poderia ter dormido por mais anos, se não fosse por um
grupo de colonos terráqueos que perturbaram seu sono.

O lugar onde os Ra'haam arrastou seus primeiros novos membros em eras


para seu coletivo, colocando tudo isso em movimento. O

lugar onde perdemos Cat.

O planeta Octavia.

E eu estou preso aqui, assistindo.

Desamparado.

Sozinho.

Observo os navios tecendo entre si, deslizando em formações, belas e


graciosas, afiadas e letais, cem raças, mil modelos, cem mil guerreiros,
posicionados no Aurora FoldGate. Ao embarcar no porta-aviões da Legion
Relentless, o almirante Adams me disse que eu já tinha feito o suficiente. Que
eu pudesse respirar facilmente. Que eu ganhei um descanso.

Não sei se acredito nisso.

Não sei se tudo isso valeu a pena.

O sinal é dado. Milhares de luzes piscando em saudação à estação. Quando a


frota começa a partir pelo FoldGate, coloco minha mão no plasteel
transparente, meu coração pesado no peito.

Apesar de todo o poder de fogo, toda a força, avisei Adams e de Stoy, as


coisas podem não ser tão fáceis. Mesmo que tivéssemos a Arma, o que não
temos, estamos planejando essa batalha há pouco mais de dois séculos.

O Ra'haam vem preparando seu retorno por um milhão de anos.

Auri, onde você está?

Observo os navios caindo pelo portão um a um, todas as nossas esperanças,


todas as nossas vidas, penduradas por um único fio.

E então, no escuro, eu vejo.

Um pequeno pulso de energia, apenas fora da pele da estação.

Borboletas voam no meu estômago, e eu entro contra a janela de


visualização.

E então estou correndo — tropeçando, na verdade, os ferimentos que se


danem — estremecendo ao passar por um grupo de cadetes de olhos
arregalados e entrar no turboelevador.

Ligo para Adams, mas recebo seu maldito serviço novamente, jogando minha
universidade na parede do elevador em frustração.

O elevador atinge as docas e eu saio pelas portas, rugindo para uma equipe de
traumas relaxada no intervalo ao lado de um ônibus médico. Eles me olham
como se eu fosse louco, como se eu tivesse perdido. Um deles me diz que eu
deveria estar de volta na

enfermaria. Eu não vou repetir o que eu grito em seguida, mas é o suficiente


para convencê-los a colocar suas bundas em marcha e me tirar do preto.

Meu coração está martelando enquanto nos lançamos, a gravidade


diminuindo, a esperança subindo com minhas entranhas enquanto

flutuam livremente. Thrust me empurra de volta para o meu sofá de


aceleração enquanto eu aponto – “Lá, LÁ!” – para um pequeno

ponto cinza flutuando no meio de todo aquele nada.


Ao contrário da minha irmã, sou um nerd de navio. Posso dizer-lhe o nome
de cada nave que a Força de Defesa Terrana usou desde seu início em 2118.
Posso identificar as marcas. Posso chamar os modelos. Posso dizer o ano em
que eles foram comissionados e o ano em que foram retirados do ar.

Ei, eu gosto de navios, ok?

"Série Osprey", eu sussurro. “Modelo 7I-C. 2168 a 2179.”

Apesar das objeções da equipe médica, estou preparado antes deles. É difícil
navegar com apenas um olho - eles ainda não tiveram a chance de instalar
minha cibernética, e minha percepção de profundidade está em pedaços.

Um bom cabo betraskan me diz que preciso me sentar.

Eu educadamente informo que ele precisa calar a boca.

O medvac trava o Osprey com um cabo gravitacional, trazendo-nos para uma


órbita próxima, segundos passando como anos.

Estou olhando para o Osprey enquanto nos aproximamos da área de


embarque, os dentes cerrados com tanta força que estão rangendo. O casco
está queimado de preto em alguns lugares, o metal esculpido em estranhas
ondulações, como se tivesse sido

liquefeito em calor intenso, depois congelado antes que pudesse se desfazer.


As janelas estão chamuscadas, escuras de carvão

queimado; Não consigo ver por dentro. Eu não posso vê-los.

Eu não posso vê-la.

Nossa eclusa de ar assobia, se abre e, protegida por cabos de segurança, eu e


a equipe médica caímos no vazio. Eu sei o suficiente para ficar fora do
caminho deles enquanto o especialista em tecnologia tenta hackear a
eletrônica, recorrendo finalmente a cortar o metal com uma lança térmica
resistente.

Eles forçam a porta do compartimento de carga aberta com o sistema


hidráulico, partículas de carbono se soltando do metal derretido, meu
estômago cheio de gelo. Sigo a equipe médica para dentro, os holofotes em
nossos capacetes cortando a escuridão quando

chegamos à câmara de ar interna. Enquanto a equipe vai trabalhar nas focas,


eu pressiono minhas mãos contra a estreita janela de vidro na porta da câmara
de ar, espiando a barriga da nave.

E lá no escuro, eu os vejo, eu os vejo e grito, batendo meu punho contra a


porta.

“Finiano!” Eu rugi. "Scarlett!"

Eles estão flutuando na gravidade zero, o cabelo ruivo de Scar e a pele branca
como leite de Fin destacadas no breu da cabine.

Fin está embrulhado em um cobertor térmico e um traje espacial que pertence


a um museu, e noto com horror que há sangue rosa

pálido respingado dentro do visor.

Scar está em outro terno antigo ao lado dele, seu corpo flutuando flácido e
imóvel no escuro. Em volta do pescoço, posso ver o medalhão que ela pegou
no cofre do Dominion na Cidade das Esmeraldas. O cristal está brilhando
como uma vela, sua luz

desaparecendo lentamente.

"SE APRESSE!" Eu rugi. “ABRA-O!”

A câmara estremece, a equipe médica mais uma vez trazendo a hidráulica


para forçá-la. Estou de bruços, apertando por baixo

enquanto ela sobe, indiferente à dor que desperta em meu corpo, o sangue
que posso sentir se acumulando sob meus envoltórios

dérmicos.

Eu rastejo pelo convés, agarrando-me ao teto para diminuir a velocidade,


enganchando um braço em volta da cadeira do piloto

enquanto arrasto minha irmã com a outra mão. Seus olhos estão fechados, o
cabelo esvoaçando em uma auréola ao redor de seu

rosto. Não há oxigênio aqui, nenhuma atmosfera, nada para transmitir som,
então, em vez disso, grito em sua cabeça, através do sangue entre nós, o
sangue que nos une, rezando, Por favor, Criador, por favor.

Scar, você pode me ouvir?

A equipe se apressa atrás de mim, protegendo Fin. As leituras são feitas, os


sinais vitais são verificados. “Temos que levar esses dois de volta à estação,
STAT.”

Cicatriz! É Tyler!

Eles me empurram para o lado, envolvem minha irmã em eletrotérmicos,


prendem-na em uma maca gravimétrica. Estou segurando a

mão dela enquanto a colocamos de volta em nossa própria nave, recusando-


me a soltá-la, recusando-me a desistir. Não depois de tudo isso.

Ela também não.

SCARLET, ACORDA!

Ela está imóvel na maca, amarrada dentro de nossa nave agora, se aquecendo
do frio congelante do espaço.

Mas ela ainda não está se movendo, mal respirando, e eu não posso senti-la
em minha mente, aquele estranho vínculo de mais que gêmeos que sempre
compartilhamos, o presente da mãe que nunca conhecemos, o pai que
perdemos, a família nós éramos, tudo isso

mais importante para mim agora do que nunca, por favor Scar, por favor, eu
não posso te perder também, eu não posso te perder

também.
"Ty..."

Eu abro meu olho, coração estourando quando a vejo olhando para mim
através de cílios pesados, sua voz grossa, pálpebras

machucadas. Posso sentir o tamanho da história que ela acabou de viver, o


peso que ela acabou de levantar, o lugar que ela acabou de conhecer. Mas
depois de tudo que ela passou, ela ainda encontra em si mesma para sorrir.

“E-ei, Bee-bro...”

Eu rio, soluço, abaixando a cabeça. “Eu odeio quando você me chama


assim.”

Seus lábios se abrem, o medo brilhando em seu olhar. “F-Finian?”

"Ele está bem", eu sussurro. "Ele está bem, Scar."

Eu quero abraçá-la tanto que posso sentir o gosto. Eu quero arrastá-la em


meus braços e nunca deixá-la ir. Mas posso dizer pelo que o corpo dela
passou e não quero correr o risco de machucá-la. Então eu apenas aperto a
mão dela, me inclino para beijar sua testa, lágrimas se soltando dos meus
cílios e flutuando livremente na gravidade baixa enquanto derramo tudo o
que estou sentindo em sua cabeça. A tristeza e o medo, o arrependimento e a
dor, mas mais e mais, a alegria pura e ofuscante que sinto ao vê-la
novamente.

Nós nos conhecemos a vida toda. Mesmo antes de nascermos. E tudo o que
fiz, tudo o que vivi e lutei, mesmo quando ela não estava ao meu lado, ela
estava comigo. Uma parte de mim.

Para todo sempre.

Scarlett abre os braços, e eu a seguro gentilmente como posso, e ela acaricia


meu cabelo enquanto eu pressiono meu rosto no dela.

"Eu também te amo", ela sussurra.

36
TYLER

É uma dobra longa para quem está a caminho do sistema Octavia. Tempo
suficiente para minhas feridas começarem a cicatrizar

enquanto esperamos por notícias de que a frota da coalizão chegou ao seu


destino. Acho a reabilitação um trabalho árduo, e a

cibernética que eles me deram ainda parece estranha, mas a boa notícia é que
agora posso ler os feeds de notícias diretamente da rede.

Fin ainda está confinado à enfermaria, mas quando eu manco em seu quarto,
ele e Scar se separam com um estalo audível, então eu acho que ele não pode
ser tão ruim. Minha irmã ajeita a túnica, afasta uma mecha de cabelo recém
tingida de vermelho dos lábios corados, acomodando-se na maca ao lado de
Fin. Eu paro e levanto uma sobrancelha, olhando para frente e para trás entre
eles.

Fin está corando, o que é meio estranho para um Betraskan.

"Você deveria estar descansando", eu digo.

"Ele está descansando", diz Scarlett alegremente.

“Você enfiou uma caneta na garganta dele, Scar. Você pode querer dar a ele
mais alguns dias antes de começar a lamber suas

amígdalas.

"Muito engraçado", diz ela, revirando os olhos. “E muito gráfico. Mas não
tenho ideia do que você está falando.”

Eu aceno para o meu rosto. “Você sabe, esse olho cibernético que eles me
deram pode ver o espectro termográfico. Suas bochechas ficam quase 0,2
graus mais quentes quando você mente.”

Ela estraga um dos muitos travesseiros de Fin e o joga na minha cabeça.

"Deveria ter te dado um maldito tapa-olho."


“Isso pode estar levando a coisa do pirata espacial longe demais, mesmo para
mim.”

"Avast, amigo", ela sorri.

"Içar a mezena", eu sorrio. “Jolly, o Roger.”

"Yarrr," Fin rosna, em uma voz pequena e quebrada.

Scar se vira para ele com indignação simulada enquanto cutuca seu peito.
“Você não deveria estar falando!”

Fin dá de ombros e sorri timidamente, e ela coloca uma mão na bochecha


dele, beijando seus lábios. Eu os vejo se separarem

lentamente, os olhos fixos no meu Gearhead. Fin finge não sentir meu olhar,
mas eventualmente ele me olha de soslaio.

"Sabe", eu digo, "quando tudo isso acabar, você e eu vamos ter que conversar
um pouco sobre minha irmã, amigo."

Fin acena para as manchas dérmicas em volta de sua garganta e dá de ombros


se desculpando, murmurando as palavras Não deveria

estar falando.

"Meu protetor corpulento", diz Scar, mão no coração e cílios tremulando.

"Eu não estou preocupado com você", eu zombo. “Estou preocupada com
ele.”

Ela revira os olhos, olha para a mochila que estou carregando.

"O que você me trouxe?"

Sento-me ao lado da cama, vasculhando antes de jogar para ela alguns


pacotes de Just Like Real Noodelz!™ Minha irmã olha para mim, trocando a
indignação simulada pelo verdadeiro negócio. “Você me trouxe rações de
navio? Tyler, estamos na estação, eles têm
comida de verdade aqui, o que...?”

Sua voz desaparece enquanto eu pego um pote de gelato de quatro chocolates


gelado e um garfo de academia, jogando-os em suas

mãos esperando.

“Oooooh, você é um bom homem, Tyler Jones. Eu te perdôo.” Fin estremece,


fala em um sussurro. "Não posso acreditar... você está com fome."

“Você não deveria falar.” Scarlett desce da banheira de sorvete como se ela
contivesse a resposta para a questão da vida, do universo e tudo mais. “E na
dúvida, coma até sair.”

Fin olha para o holo projetado na parede, resmungando. "Só... é estranho


estar comemorando."

Scar e eu seguimos seu olhar para o holo, absorvendo a visão. O Líder de


Batalha de Stoy ficou para trás a bordo da Estação Aurora para supervisionar
o ataque. Mas Adams está nos enviando um feed direto da ponte de comando
de sua nau capitânia, o Relentless.

Ele disse que ganhamos assentos na primeira fila da história.

E com certeza, a história está se desenrolando diante de nossos olhos.

Após quase duas semanas de Dobra, os navios reunidos da frota da coalizão


finalmente chegaram ao portão de Octavia e agora estão prontos para iniciar
seu ataque, destruindo o primeiro mundo-semente dos Ra'haam.

Eles se reúnem como lanças no preto e branco da Dobra, em silhueta contra o


portão. Como todos os sistemas onde os Ra'haam

esconderam seus viveiros, o portão Octavia é um ponto fraco que ocorre


naturalmente no tecido entre as dimensões. Em vez dos

portões hexagonais que nós terráqueos usamos, ou os portais em forma de


lágrima dos Syldrathi, este parece um rasgo brilhante
atravessando a face da Dobra. Tem dezenas de milhares de quilômetros de
diâmetro, bordas ondulando com rajadas de relâmpagos

quânticos negros. Acima de seu horizonte, a visão oscila e muda como uma
névoa de calor, e além, posso ver um vislumbre fraco da estrela Octavia,
queimando vermelho-sangue nos tons de arco-íris do espaço real.

A última vez que vimos isso, éramos apenas nós sete. Esquadrão 312. Todos
sabemos o que perdemos no planeta. O que nos foi

tirado. Por um momento, a raiva e a mágoa são tão fortes que tudo o que
posso fazer é respirar.

“Estranho comemorar a morte do Ra'haam?” Scarlett zomba, inclinando-se


para trás e dando uma grande mordida no quad-choc. "Você está de
brincadeira? Devia ter trazido algumas malditas cervejas.

O estalo de uma foca pressionada ecoa na sala, e eu entrego a Scarlett uma


garrafa gelada de cerveja Ishtarriana.

“Oooooh, você é um bom homem, Tyler Jones.”

— Achei... que você não bebeu — sussurra Fin.

"Estou abrindo uma exceção", eu respondo, tomando um gole lento. "Quero


um?"

Fin balança a cabeça, olhando para as telas. Eu posso sentir sua apreensão,
seu medo, e uma parte de mim compartilha isso,

honestamente. Se os Eshvaren se deram a todo esse trabalho para nos


conseguir a arma, para planejar seu ataque ao seu antigo

inimigo ao longo de milênios, parece um pouco confiante demais esperar que


possamos apenas forçar nosso caminho através disso.

Mas pensando racionalmente, apesar de todo o seu poder, os Eshvaren


viveram um milhão de anos atrás. Não sabemos se houve
outros planetas habitados durante seu tempo - talvez eles estivessem
sozinhos. Eles provavelmente não tinham noção do poder de fogo que uma
coalizão de algumas centenas de espécies estelares poderia gerar se
estivessem motivados o suficiente. Esta frota, esta força... é diferente de tudo
que a galáxia já viu.

E, além disso, é a nossa única esperança.

Adams e seus companheiros comandantes também não são tolos, e não estão
atacando às cegas – eles já lançaram uma onda de

sondas de reconhecimento pelo portão para monitorar o sistema. Pelos


relatórios que chegam, Octavia III parece quase exatamente como quando nós
sete estivemos lá pela última vez – uma rocha classe M comum. Setenta e
quatro por cento do oceano, quatro

continentes principais. Aborrecido como uma noite de sábado no meu


dormitório — a menos que você goste de xadrez, eu acho.

Mas eu sei que aquelas massas de terra azul-esverdeadas e trechos de oceano


azul-esverdeado não são mais terra ou água. Eles são a pele dos Ra'haam.
Lindas frondes, trepadeiras ondulantes e folhas onduladas, aquecendo-se no
calor do núcleo do planeta. É uma máscara, escondendo o rosto do monstro
que cresce por baixo.

Mas de todos os dados, todas as leituras...

“Ainda está dormindo,” Scar murmura.

"Parece," eu aceno.

"Você realmente acha que isso vai funcionar?" ela pergunta.

Eu aperto minha mandíbula, observando enquanto a ordem é dada e a frota


começa a inundar o portão. Tento não pensar em tudo que precisamos mas
não temos, tudo que abrimos mão para chegar até aqui. Cat e Zila e Kal e
Auri.

"Tem que", eu respiro.


A abordagem é perfeita, a armada descendo do portão como a mão do
Criador. Onda após onda de finalizadores rigelianos e foices chellerianos e
saht-ka betraskan, cortando a escuridão como flechas roçando os céus de
algum antigo campo de batalha, os corvos já cantando para a matança.

Atrás deles vêm as naves capitais - as silhuetas maciças de plataformas de


bombardeio orbital de Ishtarr, estrelas de guerra Aalani, gremp battlehulks,
lançadores de teletransporte Nu-laat, transportadores da Legião Aurora,
cercados por voos intermináveis de escoltas de arcos longos. Percebo que
estou respirando mais rápido apenas com a visão de tudo, a pressa rastejando
em arrepios na minha pele. Uma parte de mim deseja tão desesperadamente
que eu estivesse lá para acertar esse soco, eu posso sentir o gosto.

Em vez disso, estou preso em um quarto de hospital do outro lado da galáxia.

Indefeso, exceto para assistir.

"Isso é para todos nós, Ty", diz Scar, encontrando meus olhos.

"Sim." Eu aceno, engolindo em seco. “Isto é para o Gato.”

A ordem vem através de comunicações. O bombardeio começa. Dez mil


navios, dez mil tiros, dez mil punhos erguendo nossa luz no

escuro.

Quando as primeiras bombas caem, a atmosfera de Octavia começa a


queimar: flashes de fusão queimando brancos, barragens

orbitais dividindo as nuvens, impulsionadores de massa sacudindo as


fundações da terra. Parece pequeno no início. O planeta é tão grande, o
alcance dele é tão imenso. Mas até um elefante pode ser morto por formigas
suficientes. E a maioria das formigas não está armada com munições
nucleares.

O verde azul queima preto. Os céus cristalinos de Octavia III estão


escurecendo, bilhões de toneladas de terra e poeira jogadas na atmosfera
enquanto a superfície é envolta em chamas e o planeta treme até os ossos. A
barragem é implacável, interminável, o poder das raças combinadas da
galáxia dobrado para um único propósito – matar este dragão em seu covil,
afogar esta fera enquanto ela dorme.

E a respiração do Criador, a princípio não ousei me permitir ter esperança.


Mas enquanto o bombardeio continua, esmagador,

esmagador, enquanto os céus de Octavia III ficam pretos com cinzas e sua
atmosfera ferve no espaço...

“Eles estão fazendo isso,” eu sussurro. “Eles são na verdade...”

É como um sussurro no começo. Disforme e sem tom, alojado em algum


lugar na base do meu crânio. Construindo no lugar onde eu

escondi todos aqueles medos bobos que eu achava que eram reais quando
criança – os monstros debaixo da minha cama e as vozes

feias na minha cabeça.

Olho para Fin, e ele parece não notar, grandes olhos negros ainda fixos no
ataque, céus resplandecentes refletidos no suave arco escuro de suas lentes de
contato. Mas olhando além dele para Scar, vejo uma carranca se formando
em sua testa, seus lábios entreabertos quando ela começa a estremecer.

"Você ouviu isso?" Eu pergunto.

"Não."

Ela encontra meus olhos e balança a cabeça.

"Eu sinto isso."

A pressão aumenta, caindo em cascata ao longo da minha coluna e


pressionando a parte de trás dos meus olhos com tanta força que sou forçada
a fechá-los, com a mão na testa suada.

Há uma pequena pausa, como se algo estivesse puxando uma única e suave
respiração.
E então o sussurro se torna um grito — um GRITO tão vasto, faminto e
odioso que alcança os desertos solitários do espaço e agarra meu coração,
apertando com tanta força que quase para.

“Oh Criador...”

Scar sibila, seu nariz sangrando. "O que... h-acontecendo?"

Fin levanta uma mão trêmula, seu sussurro como gelo na minha barriga.

"… Olhar."

A frota. O assalto. Os mísseis, os impulsionadores de massa, o bombardeio


— tudo ficou quieto e imóvel. É como se Adams tivesse pedido um cessar-
fogo, exceto que nenhuma ordem desse tipo chegou por meio de
comunicações. Na verdade, nada mais está

passando pelas comunicações, como se todos na armada estivessem ouvindo,


extasiados ou horrorizados ou paralisados por aquele GRITO

horrível

. Os alarmes estão soando a bordo da Estação Aurora agora - alertas para os


comandantes se reportarem à estação, a iluminação

ficando amarela enquanto mudamos para o Status de Pronto 2. A galáxia


inteira está testemunhando isso através dos feeds, e posso imaginar a
incerteza, o pânico, se espalhando como veneno enquanto a frota mais
poderosa já montada paira congelada e imóvel,

gravada em silhueta escura contra a cúspide brilhante daquele mundo em


chamas.

"Almirante Adams...", eu sussurro.

A atmosfera de Octavia III gira e se agita, tempestades de fogo furiosas entre


paredes de nuvens negras, com centenas de quilômetros de altura. Esse grito
aumenta de intensidade, tão brilhante e afiado que mal posso ver através das
minhas lágrimas, sangue jorrando do meu nariz e derramando sobre meus
lábios. Fin segura a mão de Scarlett, enxugando a enxurrada de vermelho
escorrendo de seu

queixo. Mas eu me obrigo a assistir aquelas telas, horrorizada, estupefata,


enquanto as nuvens fervilhantes de Octavia III se abrem e a coisa abaixo vem
inundando.

Não parece um monstro. Como um horror, ou um final. E essa é a coisa


horrível – estou realmente impressionado com a beleza

enquanto um trilhão de esporos de luz azul ardente vem correndo da pele


ardente de Octavia III, inundando o espaço. Ele despedaça o planeta à medida
que vem, despedaçando-o no coração, separando montanhas e manto
derretido, o núcleo líquido e sangrento se

separando em um cataclismo além da imaginação.

Octavia III morre gritando, assim como eu estou gritando, assim como está
gritando, uivando, uivando como um recém-nascido faminto arrastado do
calor do útero de sua mãe para o frio do mundo. E meu coração afunda no
meu peito enquanto aqueles esporos brilhantes caem pela escuridão,
agarrando aquelas naves inclinadas e afundando, gavinhas em busca, vagens
de sementes estourando,

corrupção se espalhando pela frota mais poderosa que as raças da galáxia já


reuniram e reivindicando isso por conta própria.

“Ah, não,” Scar sussurra. “Oh Criador...”

“Está acordado...”, eu respiro.

Vejo a luz dos motores se engajando, os navios começando a virar —


algumas tripulações com a presença de espírito de tentar fugir de seu destino.
Mas a maioria deles apenas fica lá, apática e sem vida enquanto Octavia III
morre queimando, gritando, dando à luz a coisa que ela aqueceu em seu útero
nos últimos milhões de anos.

Observo aqueles esporos caindo, derramando-se, como globos de vidro azul


reluzente, engolindo a frota da coalizão e rolando adiante.

Eu vejo os feeds da armada começarem a morrer, à medida que uma a uma


essas naves são consumidas, corrompidas. Quero me virar, fechar os olhos,
dizer a mim mesma que o monstro debaixo da cama não é real, não é real.

Mas me obrigo a observar enquanto os Ra'haam chegam ao FoldGate —


aquele rasgo brilhante através das estrelas, os caminhos

intermináveis para o resto da galáxia além. Scarlett nunca foi à capela um dia
em sua vida, e ela está rezando enquanto aqueles orbes brilhantes começam a
fluir. Fin desliza sua mão na minha e aperta com tanta força que meus dedos
estalam.

"Eu vi isso", ele sussurra. "… Em um sonho."

Digo a única coisa que consigo pensar.

Eu digo seu nome.

“Ra'ham.”

Uma entidade que uma vez ameaçou engolir todas as vidas sencientes da
galáxia. Uma fome tão vasta, um intelecto tão aterrorizante, um inimigo tão
perigoso que uma raça inteira se sacrificou para impedir que ele se levantasse
novamente.

Mas eles falharam.

O Eshvaren falhou.

E o Criador nos ajuda, nós também.

Ra'ham.

37

TYLER
Dez dias depois, e toda a galáxia está encharcada de pânico.

Eu nunca vi nada parecido. É como uma infecção, viajando à frente dos


Ra'haam: aquela onda de esporos azuis brilhantes se

espalhando pela Dobra, a armada da coalizão corrompida se movendo junto


com ela.

Tivemos apenas fragmentos de visão à medida que o inimigo avança, mas há


imagens suficientes para conhecer a frota e todos nela se foram. Todas
aquelas estrelas de guerra e ceifeiros e carregadores agora incrustados com
esporos e mofo e folhas de um verde azulado, arrastando longos e retorcidos
tentáculos atrás deles através da Dobra. Parecem naufrágios no fundo dos
oceanos

terráqueos, invadidos por cracas e ervas daninhas, e estremeço só de pensar


no que aconteceu com todos aqueles bravos soldados lá dentro.

Almirante Adams. Seus companheiros comandantes.

A Legião Aurora e todos os militares da galáxia foram virtualmente


decapitados.

Onde algumas semanas atrás ele dormia escondido e silencioso, agora toda a
galáxia conhece seu nome, sussurrado no escuro e

falado com medo por trás de portas fechadas e gritado através dos feeds.

Ra'ham.

Um inimigo pronto para engolir as raças da galáxia, uma por uma.

Até não sobrar nada além disso.

Até onde sabemos, apenas o berçário Octavia nasceu até agora. Talvez tenha
algo a ver com o assalto, ou a colônia terráquea que se instalou ali, alguma
outra variável. Tudo o que sabemos com certeza é que, por pior que as coisas
estejam agora, elas vão ficar 21
vezes piores assim que os outros mundos de berçário eclodirem.

Esta guerra acabou quase antes de começar.

O medo disso é como um incêndio florestal, varrendo a Via Láctea assim


como o inimigo varre a Dobra. As outras raças começam a entrar em pânico,
algumas indo tão longe a ponto de destruir os FoldGates em seus sistemas -
se isolando em uma nova Idade das Trevas pré-Dobra ao invés de permitir
que os Ra'haam colonizem seus mundos. E o tempo todo, esses esporos se
espalham, brilhando em um azul fantasmagórico mesmo na paisagem de
cores suaves da Dobra.

Sem fim.

Implacável.

A frota corrompida cavalga a onda de esporos, cruzando como sombras


escuras entre uma tempestade brilhante de bilhões de

quilômetros de diâmetro. E enquanto assisto os trechos de filmagem nos


feeds, inundada pelo terror de tudo isso, não posso deixar de afundar na
desesperança.

Eu fiz exatamente o que minha visão me disse. Eu parei a destruição da


Aurora Academy, evitei qualquer calamidade que pudesse ter seguido a
destruição do Galactic Caucus. Fiz como me foi pedido.

E ao fazer isso, ajudei a entregar aos Ra'haam uma enorme frota de batalha
que, de outra forma, nunca teria.

Scar e Fin abriram um caminho através do tempo, Zila deu sua vida para
formar a Aurora Legion no passado para lutar contra essa coisa, Auri e Kal
desistiram de suas vidas para tentar proteger a Arma, e ainda assim, aqui está
o Ra'haam , vomitando na Dobra como sempre quis, como sempre planejou.

Talvez depois de tudo o que fizemos, o Esquadrão 312 só tenha piorado as


coisas.

E mesmo depois de tudo o que fiz para salvar a Estação Aurora, não contará
para nada. Porque a Estação Aurora é para onde a frota Ra'haam está indo em
seguida.

Nossas equipes de logística confirmaram. Curso traçado. Dados


correlacionados.

O Ra'haam está vindo aqui.

E chegará em menos de vinte horas.

Nenhuma ajuda está vindo. Nenhum milagre a caminho. Estamos em menor


número e desarmados - embora ainda tenhamos navios de

reserva e uma grade de defesa, o simples fato é que uma frota desse tamanho
acabará com qualquer resistência que pudermos reunir.

"Scar, você tem que sair daqui."

Estamos parados no calçadão, o caos da multidão ao nosso redor. O que resta


do comando da estação confirmou que o Ra'haam está chegando à Estação
Aurora, e todo o pessoal não essencial recebeu ordens de evacuar. Os
vendedores e suas famílias estão

empacotando apressadamente suas lojas e pertences, a escuridão do lado de


fora iluminada pelo clarão de centenas de motores –

ônibus e transportadores e cargueiros passando pelo FoldGate, indo em


direção a qualquer segurança que possam encontrar.

“Irmão meu”, diz Scarlett, “você está louco.”

"Eu quero dizer isso", eu digo, acenando para a estação ao nosso redor. “O
tempo para a diplomacia já passou, Scar. Não faz sentido você ficar aqui.”

“Não faz sentido ninguém ficar aqui, até onde eu sei”, diz Fin.

"Obrigada!" Scar chora, fazendo uma reverência dramática a Fin.


“Finalmente, alguém aqui está falando com bom senso!”
"Eu pensei que você não deveria estar falando nada", murmuro.

Meu Gearhead me dá um sorriso, seu novo exosuit assobiando baixinho


enquanto ele dá de ombros. “Todos nós sabíamos que era bom demais para
durar.”

“Sério, Tyler, nós deveríamos evacuar com e-”

“Eu não posso fazer isso, Scar. Fiz um juramento à Legião quando me juntei
a ela.

“A Legião?” ela zomba. “Tyler, perdemos a maioria de nossos comandantes e


quase todos os nossos navios quando Octavia floresceu!

A Legião é absolutamente fod—”

“Eu sei!” Eu digo, meu temperamento queimando. “Eu sei melhor do que
ninguém! Confie em mim, eu fiz essa matemática com de Stoy mil vezes!
Mas se eu vou morrer, então eu vou morrer lutando! E o melhor lugar para
lutar é aqui!”

Ela encontra meu olhar e simplesmente dá de ombros. “Então eu vou ficar


com você.”

"Cicatriz, não, não há..."

"Eu não quero ouvir isso!" A cicatriz grita. “Eu não entrei para a Legião
porque queria fazer da galáxia um lugar melhor! Eu não entrei para ser um
herói! Entrei porque você é meu irmãozinho e eu cuido de você! E eu não
arrastei minha bunda fabulosa pelo tempo e espaço e desmoronando em loops
paradoxais apenas para virar e correr ao primeiro sinal de um pequeno
cataclismo de quebrar

galáxias, está me ouvindo?

Olho minha irmã nos olhos.

Conheço Scarlett Isobel Jones minha vida inteira. Eu a conheço melhor do


que ninguém no Caminho. Eu sei que ela passou pela
academia, que ela nunca levou isso tão a sério quanto podia, que talvez ela
nunca tenha sido a melhor recruta da Legião.

Mas posso ver agora como as provações que ela enfrentou e as batalhas que
lutou mudaram minha irmã. Ela é mais difícil do que

costumava ser. Mais corajoso. Eu posso ver que ao longo dos últimos meses
ela encontrou uma fonte de força dentro de si mesma, mesmo que ela nunca
soubesse que existia. Mas há uma coisa sobre Scarlett Isobel Jones que
permaneceu a mesma. Uma coisa que

toda essa perda e luta não conseguiram mudar.

Ela ainda ama mais ferozmente do que qualquer um que eu já conheci.

"Scarlett", eu digo. “Se você ficar aqui, você vai morrer.”

"Eu perdi você uma vez, Ty", ela responde, queixo erguido. “Eu não vou
fazer isso de novo.”

Fin se aproxima dela, pegando sua mão. "Parece que você está preso com nós
dois, chefe."

Suspiro, olhando pela enorme janela de visualização para as estrelas lá fora.


Os navios em fuga. A queda de uma galáxia.

Eu sei que não há como sair disso. Eu sei que estamos olhando para a nossa
própria execução. E eu me lembro como foi lutar com Cat no reator. Olhando
para aqueles olhos brilhantes. Sangrando no chão. Aquele momento terrível
em que me perguntei se não seria

melhor me perder nos Ra'haam do que morrer sozinho.

Eu sei o quão estúpido esse medo era agora. Porque mesmo nas minhas horas
mais sombrias, nunca estive sozinha. E então eu coloco meus braços em
torno de Scar, a abraço forte, agarrando Fin e puxando-o também.

Família é isso, eu percebo.


Para nunca estar sozinho.

A iluminação ao nosso redor muda para vermelho. Um alarme soa no PA,


uma voz metálica ecoando pelo calçadão.

“Estação Aurora, aqui é o Battle Leader de Stoy. Alerta vermelho: navios não
autorizados entrando. Todas as estações Pronto um.”

"Ah, merda...", Scarlett sussurra.

“Repito, este é o Líder de Batalha de Stoy. Várias embarcações não


autorizadas violando o Aurora FoldGate. Todas as estações Pronto um
status.”

“Está aqui,” Fin respira.

"Não", eu franzo a testa, tirando os dois dos meus braços e olhando pela
janela para o portão além. "O Ra'haam ainda está a dezenove horas f..."

"Legionnaire Jones, este é de Stoy, você copia?"

Toco o distintivo de comunicação no meu peito.

“Eu li você, comandante.”

"É melhor você levar sua cauda até C&C em dobro, soldado."

Olho para o FoldGate novamente, minha barriga se contorcendo enquanto


formas escuras começam a se espalhar pela fenda.

Eu coloco minha mão na janela de plasteel, o coração se quebrando no meu


peito, não acreditando muito no que estou vendo.

"Eu conheço esses navios...", eu sussurro.

“Ty?” Scar pergunta. “O que...”

Mas eu já estou correndo, correndo pelo calçadão através da multidão,


rugindo a plenos pulmões. “Cicatriz, Fin, vamos lá!”
"Onde diabos você está d-"

"APENAS VAMOS!"

Scar e Finian me seguem pela multidão que foge e entram no turboelevador.


Subimos até a ponte da torre C&C em silêncio, Fin e Scar me olhando como
se eu fosse meio louca, eu me perguntando se já tinha sumido.

Não ousei ter esperanças, nem me atrevi a pensar nisso, mas enquanto nós
três nos amontoamos nos conveses lotados do Comando

e Controle da Aurora, minha suspeita se confirma, uma tempestade de


borboletas se soltando no meu estômago. assim como um

sorriso pateta como o inferno irrompe por todo o meu rosto.

"O que é aquilo?" Fin pergunta, olhando para as telas dos monitores.

"Ela fez isso", eu sorrio. "Ela faz."

As formas estão mais claras agora, derramando-se através do clarão ofuscante


do FoldGate e no sistema Aurora. Uma frota de navios de guerra, elegantes e
afiados, cascos pretos pintados com belos glifos de um branco reluzente. Um
povo nascido com gosto de

sangue na boca.

Um povo nascido para a guerra.

O Líder de Batalha de Stoy está entre seu estado-maior, parecendo tão certo
quanto um comandante sem sono no meio de um

cataclismo galáctico. Seu rosto fino e pálido está franzido, olhos negros fixos
em mim.

"Eles estão nos chamando nos últimos cinco minutos", ela nos informa. “Eles
querem falar com você, Jones.”

Eu aceno, ficando um pouco mais alto. — Entendido, senhora.


A imagem da frota que se aproxima na holotela à nossa frente se dissolve,
aquela armada maciça substituída por um único rosto. Seu cabelo é escuro
como os espaços vazios entre as estrelas, seus olhos brilhando como jóias
escuras, lábios pretos curvados em um pequeno sorriso enquanto ela coloca
os olhos em mim.

Ela é linda. Feroz. Brilhante. Cruel.

Como ninguém que eu já conheci.

– Saedii... – Fin sussurra.

“Tyler Jones”, diz Saedii.

"Já estava na hora", eu sorrio, sobrancelha com cicatrizes levantando


ligeiramente. "Eu me perguntei se você planejava dormir durante toda a
guerra."

Scar e Fin olham para mim, boquiabertos. Saedii apenas zomba. “Tempo
suficiente para dormir na sepultura, terráqueo.”

“Você fez o que precisava?” Eu pergunto. “Conseguiu o que você queria?”

Saedii abre os braços, como se para abranger a armada Inquebrável sob seu
comando. Seu sorriso é triunfante, e noto que há uma nova corrente
pendurada em seu pescoço, prateada, com meia dúzia de orelhas cortadas de
Syldrathi. “Eu sou um Templário do

Invencível, Tyler Jones. Faço o que quero, vou aonde quero e levo o que
quero.”

“Você sabe o que está vindo para nós.”

Ela assente, feroz e sombria. "Nós vimos."

“Então você sabe que não há saída para isso,” eu aviso. “Nosso único plano
real aqui é tirar o máximo que pudermos antes do grande adeus.”

“Vamos dançar a dança do sangue com você. Vamos pintar o sol de vermelho
neste dia.” Ela balança a cabeça. “E Unbroken não diga adeus.”

Meu coração está queimando no meu peito ao vê-la. Eu não percebi o quanto
eu senti falta dela até este momento. Eu estendo minha mão para ela, e ela
levanta a sua, como se fosse pressionar sua palma contra a minha.

Eu gostaria que tivéssemos mais tempo, eu gostaria de conhecê-la melhor, eu


gostaria...

“Estou feliz que você esteja aqui, Saedii Gilwraeth.”

Lábios negros se curvam no menor dos sorrisos. “Também tenho o prazer de


lutar mais uma vez ao seu lado, Tyler Jones. E...”

“E?”

“… E ver você de novo.”

Saedii fica olhando por mais um interminável batimento cardíaco, e então sua
transmissão desaparece. Abaixando minha mão, percebo que toda a
tripulação da ponte está olhando para mim incrédula.

“Não que eu seja ingrato pela assistência”, diz de Stoy. “Mas eu quase
gostaria de ter tempo para ler seu relatório sobre isso, Legionário Jones.”

Meu Gearhead está com uma expressão em algum lugar entre admiração e
choque, mas minha irmã está indo direto para a descrença

total, olhando entre mim e a tela.

"Voce e ela?"

Eu dou de ombros. “São as covinhas.”

“Como você ainda está andando?” Fin sussurra.

Eu sorrio. “Sim, eu estava mancando por um tempo lá.”

Fin cobre a boca aberta com uma mão e me dá um soco atrevido nas costas
de Scar com a outra. Scar o pega, olha para trás e para frente entre nós. "O
que você é, doze?"

"De dez?" Eu dou de ombros. "Sim, parece certo."

"Oh Criador...", ela geme.

Os sorrisos são de curta duração, o calor em meu peito desaparece


rapidamente, até que o pensamento da coisa vindo para nós é tudo o que
resta.

Estou feliz por Saedii e sua armada estarem aqui, eu sei que eles não vão
fazer a diferença entre a vitória e a derrota. A frota corrompida da coalizão é
muito grande, o Ra'haam é demais — como eu disse, nosso único movimento
aqui é causar o máximo de

dano possível antes de cairmos.

Mas se essa é a jogada, então vamos fazer o melhor que pudermos.

E se este é realmente o fim, pelo menos não estou sozinho.

•••••

Dezessete horas depois, estou na ponte de um conhecido Arco Longo,


olhando para nossas linhas de defesa. Atrás de nós, a Estação

Aurora brilha como o sol ao amanhecer, eriçada com canhões de pulso e


matrizes de mísseis. Ao nosso redor, a frota da Legião está se formando em
nossas linhas.

Adams e de Stoy jogaram quase todos os navios que tinham no ataque de


Octavia, e restam apenas quarenta ou mais Legion

Longbows, flanqueando um cruzador pesado, o Invincible, comandado pela


própria Battle Leader de Stoy.

Mas nos apoiando está a armada Ininterrupta de Saedii: as silhuetas escuras


de Aparições e Espectros, a massa elegante de
portadores de Banshee e Sombras, centenas e centenas deles. Estamos
dispostos em uma falange, voltados para o FoldGate, prontos para
desencadear o inferno na primeira nave que passar.

“Hostiles ainda estão chegando”, vem o aviso sobre as comunicações. “A


frota inimiga romperá o sistema Aurora em T menos seis

minutos.” "Obrigado pela carona", murmuro, os olhos no portão. "Eu odiaria


ficar de fora dessa, Em."

Ao meu lado, Emma Cohen dá de ombros, os olhos percorrendo a frota.


"Achei que eu te devia uma depois que você impediu que a estação fosse
explodida em pedaços e tudo mais."

"Sem ressentimentos sobre eu trancar você em seu próprio brigue?"

"Isso depende", diz ela, olhando para mim de lado. "Algum ressentimento
sobre eu ter atirado na sua cara?"

"Nós dois fizemos o que tínhamos que fazer", eu sorrio. “Nós, a Legião”.

Ela acena com a cabeça, sorrindo de volta. “Nós, a Luz.”

“E eu realmente sinto muito por Damon,” Scar fala ao meu lado. "Quero
dizer, eu nem sabia que vocês dois estavam namorando na época."

Emma dá de ombros, com os olhos voltados para o portão. “Ele era um


idiota.”

"Certo?"

“A frota inimiga romperá o sistema Aurora em T menos quatro minutos.”

"Nono", diz Fin, sentado ao lado de Renn. “Sua terceira mãe é minha
primeira tia, por parte do segundo avô.”

O tanque de Cohen faz uma pausa em seus cálculos, os dedos pairando sobre
seus controles de fogo. "Mas meu segundo primeiro tio é seu primo de
terceiro grau também, certo?"
“… Dariel é seu primeiro tio?”

"Sim, uma vez removido em meu-"

"Como esses cálculos estão indo, de Renn?" Cohen pergunta.

"Bom para ir", responde o Tank, endireitando-se. “Estamos prontos, Alfa.”

“A frota inimiga violará o sistema Aurora em T menos três minutos.”

As projeções holo na nossa frente piscam com o símbolo da Legião, e o rosto


do Líder de Batalha de Stoy aparece acima dos consoles.

O último comandante sobrevivente da Aurora Legion parece sombrio,


determinado. Sua voz ecoa pela ponte e pela frota sob seu

comando.

“Legiões da Aurora.

“Ser um Betraskan é saber que você nunca está sozinho.

“Cada um de nós faz parte de uma ampla rede, um clã e um clã maior,
irmãos, pais, avós, primos e centenas de outros que

compartilham nosso sangue.

“Aonde quer que vamos, sabemos de uma verdade: somos uma família.

“Esse é o legado para o qual nascemos. Mas cada um de nós aqui é parte de
algo ainda mais poderoso, quer sejamos betraskans,

terráqueos ou syldrathi.

“Somos parte de um clã que escolhemos. Um clã que construímos não com
laços de sangue, mas com promessas que escolhemos

fazer. Nós comprometemos nossos corações à nossa causa e uns aos outros.
“Mesmo agora, a Aurora Legion brilha quando a noite está mais escura.
Mesmo agora, estamos no caminho do que está errado e

defendemos a paz. Este é o voto que fizemos e a promessa que fizemos à


Legião e uns aos outros.

“Saiba isto: é a honra da minha vida estar lado a lado com cada um de vocês,
meu clã escolhido – a família do meu coração – hoje.

Não há lugar nesta galáxia, ou em qualquer outro, que eu escolheria estar,


mas aqui.”

Sua voz é cortada e é substituída quase imediatamente por um anúncio de


comunicação robótica.

“A frota inimiga violará o sistema Aurora em T menos um minuto.”

Uma voz soa nos comunicadores, familiar, fria como gelo e ainda capaz de
acender um fogo em meu peito.

“De'na vosh, aam'nai”, diz. “De'na siir.”

Olho para a nau capitânia de Saedii, pendurada no escuro até o nosso porto,
depois olho para Scar em uma pergunta silenciosa.

“Não tenham medo, meus amigos”, minha irmã traduz. “Não sei se
arrepender.”

“Dun belis tal'dun. Nu belis tal'satha.”

“O fim não tem fim. E a morte não é uma derrota.”

“An'la téli saii.”

"Eu vou..."

"Sim, eu já conheço esse."

"… Você faz?"


Eu aceno, a voz suave. “Eu vou te ver nas estrelas.”

“Aviso: frota inimiga chegando. Todas as naves: Frota inimiga inb...

O FoldGate acende, um relâmpago atravessa o céu negro, e através daquela


janela em chamas, a primeira nave Ra'haam chega.

Está aqui… .

O navio é um porta-aviões terráqueo, elegante e pesado, repleto de canhões.


Seu casco rasteja com crescimentos, como fungos no casco de uma árvore
caída, azul e verde e pálida fantasmagórica, longas gavinhas arrastando-se
para trás quando ele vem. Meu

coração afunda quando vejo o nome pintado na proa, quase invisível sob as
manchas da infecção dos Ra'haam.

Implacável.

“Almirante Adams,” Finian sussurra.

"Não mais", murmuro.

Mas eu fecho meus olhos, só por um momento. Eu sei que estamos prestes a
atirar nele. Tente matá-lo tão completamente quanto

matei Cat.

Mas antes de morrer, Cat me defendeu. Os Ra'haam me defenderam.

Ele me amava porque ela amava.

Isso não é mais o Almirante Adams... mas uma parte dele...

"TODAS AS ESTAÇÕES, FOGO!"

A barragem começa, cegando, queimando, feixes de pulso cortando brilhante


e mísseis rolando para fora, rastros de vapor amarrados atrás deles como
serpentinas no Dia da Federação. Explosões florescem silenciosamente, fogos
de fusão brilham tão brilhantes

quanto a estrela Aurora em nossas costas, derretendo anteparas e separando


metal.

A Implacável atravessa a tempestade de fogo, chamas e refrigerante saindo de


sua pele rompida junto com manchas do que quase

poderia ser sangue, enrolando e borbulhando no vazio. Nossa frota continua


martelando, despejando o poder de fogo até que,

inevitavelmente, a capitânia cede sob a tensão e se divide em um halo de


chamas ondulantes.

O almirante Adams e eu íamos juntos à capela todos os domingos.

Eu nunca teria chegado tão longe sem ele.

"Você deve acreditar, Tyler."

"Sinto muito", eu sussurro.

Mas ele não está lá para me ouvir.

E não há tempo para lamentar. Nada de canções de luto ou salvas de vinte e


um tiros. Porque por trás dos destroços em chamas da capitânia do nosso ex-
comandante, o resto da frota Ra'haam está agora entrando pelo FoldGate.

Cantores e foices e saht-ka, estrelas de guerra e cascos de batalha e


lançadores de teias, cavalgando uma onda ondulante e agitada de um milhão
de esporos brilhantes. Eles despejam no sistema Aurora, milhares e milhares
de naves, muitas para igualar, quanto mais para derrotar.

Cohen grita ordens, e está ligado, nosso Arco Longo tecendo através das
correntes de fogo, aqueles globos brilhantes, cortando a escuridão ao nosso
redor com o máximo de fogo que podemos lançar.

A armada Ininterrupta queima enormes faixas através da horda que se


aproxima, o vazio negro do espaço é espesso com sangue
Ra'haam, viscoso e escorregadio. Mas seus números são infinitos, sua força
implacável, e quando os Ra'haam retornarem ao fogo e as naves ao nosso
redor começarem a morrer, todos nós sabemos que só há uma maneira de isso
terminar.

“Como estamos, Líder de Batalha?” eu grito.

“Sistemas de refrigeração do reator offline”, responde de Stoy. “Seguranças


anuladas.”

“Quanto tempo até atingirmos o crítico?”

"Três minutos. Vamos torcer para que esse seu plano funcione.”

“Se você tem que morrer, morra com suas botas.”

Um fraco pico de radiação surge atrás de nós, através da pele da Estação


Aurora, o reator tropeçando cada vez mais perto da

sobrecarga. Lembro-me da sensação daquele calor crescente no núcleo, da luz


bruxuleante, do sangue de Cat em minhas mãos. E eu vejo novamente em
minha mente, aquela visão, aquele sonho acordado – a Estação Aurora se
despedaçando repetidamente.

O Ra'haam sente que algo está errado, suas naves de retaguarda


interrompendo suas manobras, a vanguarda retardando seu ataque.

Mas o FoldGate está na nossa mira agora, só mais alguns momentos até estar
ao alcance, até dispararmos, explodindo-o e prendendo o inimigo aqui
conosco.

“Dois minutos para crítico.”

A voz na minha cabeça me disse que eu poderia pará-lo. Eu poderia


consertar. Mas talvez eu não deveria. Talvez a estação morrendo, o sonho da
Legião junto com ela, explodindo no meio do inimigo e queimando-a em
cinzas, seja o melhor que podemos esperar.

Eu alcanço a mão de Scarlett, apertando com força.


Ao lado dela, Fin passa o braço pela cintura dela.

Este fim não tem fim.

“Um minuto para crítico.”

Nos veremos novamente.

No st—

A galáxia ao nosso redor se inverte.

O trovão de um bilhão de tempestades soa dentro da minha cabeça.

Eu cambaleio com a força disso, as pessoas ao meu redor ofegando,


tropeçando, a batalha lá fora parando. Eu vejo o medalhão em volta da
garganta de Scar, brilhando agora com fogo caleidoscópico, cascateando pela
ponte, um eco, um rugido, um grito de parto rasgado pela escuridão e
queimando tudo em um branco ofuscante.

Uma forma abre caminho através das paredes do tempo e do espaço. Rasgado
pela amplitude da eternidade, arrastando-se pelo

passado e futuro e possibilidades infinitas, gritando como vem. A luz queima


tão forte que é cegante, estilhaçando e fraturando agora em todas as cores do
espectro, do vermelho ao amarelo ao azul ao índigo, não, não um espectro,
mas um arco-íris

UM ARCO-ÍRIS

gravado na lança de cristal quebrado tão grande quanto uma cidade , agora
flutuando lá no escuro diante de meus olhos maravilhados.

Inacreditável.

Impossível.

“Respiração do Criador,” Finian suspira.


"A arma!" Scarlett chora.

Não é tarde demais, eu percebo.

Ela está aqui.

"Aurora", eu sussurro.

38

AURI

Eu sou tudo.

Eu sou todo mundo.

Eu estou em todos os lugares.

Em um piscar de olhos, estamos no lugar que precisamos estar, o hino da


Neridaa lentamente descendo para um acorde baixo que

vibra e reverbera através dos meus ossos.

O cristal Eshvaren canta sua canção, e a energia-que-era-Caersan está


desaparecendo de mim, e eu levanto minha cabeça para

descobrir Kal deitado ferido no centro da sala do trono, e eu estou enrolada


sobre ele, meu corpo protegendo. seu.

E estamos sozinhos.

Não há sinal dos Ra'haam aqui. Caersan desapareceu.

Os corpos dos Waywalkers permanecem, mas os corpos de Tyler e Lae se


foram, porque não são mais realidade, apenas...

possibilidade.

Porque estamos em casa.


“Be'shmai,” Kal sussurra, tentando se apoiar em um cotovelo.

"Estou aqui", eu sussurro em resposta.

Eu te amo, minha mente diz a dele.

Eu cantei para ele enquanto voltávamos no tempo, enquanto eu o protegia, e


as palavras ainda vivem entre nós, e tudo bem para mim, porque eu não quero
tomá-las de volta. Quero dizê-las quantas vezes puder no tempo que me resta.

“Eu estou bem,” eu digo, me levantando. Porque eu sou. Eu deveria estar


exausto depois da batalha para consertar a nave, mas nunca me senti tão
poderoso ou tão determinado.

Todos os sobreviventes do futuro deram suas vidas para nos trazer aqui. Para
me oferecer uma chance de mudar a maneira como

nossa história se desenrola. Eu não vou desperdiçá-lo.

A meu pedido, a Arma projeta a visão de fora nas paredes da sala do trono,
uma visão de trezentos e sessenta graus da batalha em andamento, como se as
paredes não fossem de cristal, mas de vidro brilhante.

Vida e morte se desenrolam ao nosso redor, um Arco Longo da Legião da


Aurora desviando-se da Arma em uma manobra de pânico,

perseguido por uma nave Ra'haam arrastando vinhas atrás dele, e quando
olho para cima e para fora, vejo a mesma coisa, e de novo e de novo.

A Aurora Legion faz sua última resistência aqui ao lado de uma frota de
naves Syldrathi elegantes e sanguinárias, com glifos

Ininterruptos pintados nas laterais. Quem quer que tenha assumido a


liderança de Caersan, parece que eles decidiram que o Ra'haam é um inimigo
que vale a pena lutar.

Juntas, as frotas estão enfrentando uma armada que os supera infinitamente


em número, uma armada do tamanho e formato de todas as raças que é
ultrapassada, envolta em vinhas e faminta.
O pequeno navio da Legião contorna a borda da Arma e se afasta, como um
peixe que viu uma sombra, e vejo como o destino de sua tripulação se
desenrolará nos próximos segundos.

Eu vejo como sua luta frenética para evitar seus perseguidores, para sacudir o
faminto Ra'haam de sua cauda, os enviará diretamente para o lado de uma
nau capitânia Ra'haam, para terminar em uma rápida explosão de fogo
silencioso, cada um deles dado apenas um milissegundo para saber seu
destino antes que o esquecimento os engula.

Kal vê como isso vai acabar também, e seu horror reflexivo é meu, então eu
estendo a mão e cutuco o curso do Arco Longo, e ele navega para cima e
sobre a nau capitânia, correndo para o abrigo de seus companheiros como
uma luta sangrenta para a morte

continua em torno de nós dois.

O Ra'haam é muito maior do que era, sua presença muito mais poderosa, tão
rica agora. Esta nova armada representa incontáveis vidas perdidas,
exterminadas em um instante quando o todo irracional dos Ra'haam os
tomou. Mas quando deixo minha mente roçar nele, e enquanto ele estremece,
estremece e volta sua atenção para mim, meus lábios se curvam lentamente
em um sorriso.

Eu inclino minha cabeça primeiro para a esquerda, depois para a direita,


ouvindo o estalo das vértebras no meu pescoço. Porque eu estive no futuro e
vi como isso pode acabar. E esta versão do Ra'haam, aqui e agora?

Eu digo isso em voz alta, sentindo o poder vibrar dentro de mim, jogando
para baixo o meu desafio enquanto a luz brilha do meu olho, e as rachaduras
na minha pele lentamente saem da teia de aranha. É angustiante e
emocionante.

"Isso tudo que você tem?"

Minhas mãos se fecham em punhos.

“Já vi piores.”
Kal empurra meticulosamente até ficar de joelhos, o violeta e o dourado de
sua mente emaranhados com a minha. "Tantos", ele sussurra, olhando para a
batalha, para a frota que já foi o exército de centenas de mundos. “Tantos
perdidos.”

"Tantos para salvar", eu digo baixinho. “Muitos mais sobraram do que no


futuro. E olha, Kal. Você vê?"

Eu puxo sua mente junto com a minha para lhe mostrar o Ra'haam — os
milhares, os milhões de conexões, o singular, o nós, que vem do que deveria
ser muitos, deveria ser individual, deveria ser nós. Essa massa contorcida de
almas unidas com apenas um propósito: aumentar a si mesma, consumir tudo
o que está à sua frente.

Eu mostro a ele a teia gloriosamente emaranhada de energia mental que liga


cada um de seus corpos a todos os outros, cada nave a todas as outras.

É lindo, realmente.

Ele recua, mas eu o seguro com força, e em seguida viro meu foco para fora e
mostro a ele o que eu não podia ver antes – antes de estar em outro lugar, em
outro momento, e lutei de perto.

Há outras veias que se afastam dele, estradas mentais e becos que pulsam
com sua energia azul-esverdeada, estendendo-se a

distâncias inimagináveis, fazendo viagens que nossas mentes não podem


compreender. Viagens que nos levariam milhões de anos

para fazer em nossos frágeis navios.

Você vê... Sua mente tenta fugir da escala do que estamos observando, e ele
se controla, tenta novamente. Você vê tudo isso agora.

Eu vejo tudo isso, eu concordo. E eu sei como matá-lo.

A Arma foi projetada pelos Eshvaren para ser disparada em vinte e dois
planetas adormecidos, um por um. Mas não há tempo para isso agora. E não
tenho certeza se ainda tenho isso em mim, depois das batalhas que já vi.
Mas os Eshvaren nunca souberam que tropeçaríamos em um planeta antes
dos outros. Que os humanos, com nossa curiosidade

infinita e insaciável, encontrariam um FoldGate natural que ninguém mais


achava que valesse a pena investigar, longe demais de qualquer lugar para ser
interessante. Que passaríamos por isso e pousariamos em algum lugar que
ninguém mais tinha estado.

Eles nunca souberam que despertaríamos os Ra'haam antes da hora.

E agora que esta pequena parte está desperta, pode atuar como um canal para
o resto. Se eu puder destruir esta frota – o berçário que floresceu e explodiu
cedo, que tomou conta da colônia de Octavia – então posso empurrar essa
destruição através de sua rede infinita, como um vírus, como um incêndio.

Posso destruir os planetas-berçário antes que eles acordem.

Você pode matar tudo isso, Kal se pergunta.

Eu posso matar tudo isso, eu concordo. Acenda uma chama para queimá-la
de dentro para fora.

E eu serei o combustível.

Eu começo a rir, limpando o sangue que escorre do meu nariz, e me preparo


para começar o ataque. Vou matar essa coisa aqui, agora, e essa morte vai se
espalhar, contagiante, até morrer em todos os lugares.

Kal pega minha mão e não pergunta novamente se eu posso sobreviver. Mas
sinto um lampejo de esperança dentro dele e escondo a

verdade dele.

Só por mais alguns minutos.

Ele entrelaça seus dedos nos meus, nos entrelaçando, determinado a ficar
comigo pelo maior tempo possível.
Você não está sozinho, ele diz, no fundo da minha mente.

E resolvo libertá-lo no último momento, enviá-lo para viver o resto de sua


bela vida sem mim, no mundo que vou fazer para eles, mas por enquanto o
abraço.

Ele sempre viveria um século a mais do que eu, e há muito para ele ver e
muito para ele fazer. Eu gostaria de estar lá, ao lado dele. Mas

vou me entregar de bom grado, sabendo que tornei isso possível para ele.

Na calmaria antes da tempestade, estendo a mão para acariciar os lugares que


protegerei, e descubro que não há limite para o quanto posso me estender.

Corro os dedos pelo casco brilhante da Estação Aurora e da frota, e então me


jogo mais longe — vejo a Cidade das Esmeraldas, vejo a Sempiternidade, tão
maravilhosamente suja e viva como sempre, cheia de vida e promessas. Passo
pelos enormes destroços do

Hadfield até os mundos onde o povo de Dacca e o povo de Elin e o povo de


Toshh ainda estão vivos, ainda seguros. Vejo FoldGates quebrados, os
planetas que se fecharam na vã esperança de sobrevivência, e ao longe vejo a
Terra, onde minha história começou.

Eu sou ilimitado agora, e eu sei por quê.

É porque eu não estou escondendo nada. Não mantendo nenhuma parte de


mim segura. Eu não preciso ter mais nada quando isso

terminar.

Eu só preciso durar o suficiente para ver isso.

Amado, Kal diz, tão pequeno nesta galáxia sem fim, mas nunca, nunca
inédito. Devemos agir.

Delicadamente, tão gentilmente, ele puxa minha atenção de volta para o lugar
em que meu corpo está, e eu o vejo, é claro. A batalha continua. E ao meu
redor, pequenas luzes como vaga-lumes são apagadas uma a uma.
Uma nave explode em um milhão de fragmentos brilhantes, e cinco pequenas
partículas de vida que estavam lá antes se foram.

É quando estou me concentrando neste tempo e neste lugar – Estação Aurora,


a armada dos Ra'haam – que vejo o lampejo de sua

mente.

Quase sinto falta, em meio ao caos.

TYLER!

Ele é tão, tão jovem, ele ainda não está exausto, ele é, ele é, ele é

meu amigo

e ele é

tão brilhante

e neste tempo e lugar ele ainda é

, então eu me recomponho e desejo que tudo ao meu redor

PARA.

E isso acontece.

Os defensores são mantidos parados. Ninguém pode atirar. Os navios


Ra'haam estão congelados, incapazes de alcançá-los com suas vinhas em
busca incessante. A batalha torna-se um quadro, tudo suspenso, ambos os
lados olhando um para o outro de navios que de repente não respondem.

E enquanto eu me seguro com tanto cuidado, com tanto cuidado, para não
machucá-lo, deixo uma pequena parte de mim bater

alegremente em Tyler, e Kal vem comigo, e o grito mental de Tyler é o


amarelo mais lindamente vibrante, tipo sol, como campos de trigo, como
ouro fiado.
Aprendi no Eco a viver meio ano em poucas horas, e agora estou mais forte,
posso viver uma eternidade entre batimentos cardíacos.

Então eu tenho tempo.

Eu tenho tempo para isso.

Basta um pequeno empurrãozinho e... aí estamos. Em um dos meus lugares


favoritos, uma última vez. Porque por que não deveríamos ser?

Nós três — Kal, Tyler e eu — estamos sentados em uma mesa redonda de


madeira sintetizada, na cozinha de um apartamento modesto pertencente à Ad
Astra Incorporated. As bancadas estão cobertas de potes e recipientes de
comida, e panelas penduradas em ganchos no teto. Meus pais gostavam de
cozinhar sempre que podiam enquanto se preparavam para a missão de
Octavia.

“Você deve sempre ter um lugar para alimentar seus amigos”, mamãe disse a
mim e a Callie quando reclamamos de ter que nos

espremer em volta da mesa para sair para o corredor.

Agora a música está tocando suavemente ao fundo, e eu posso sentir o cheiro


do pão de refrigerante da minha mãe assando no forno.

Há uma grande tigela de ervilhas no meio da mesa, e eu a puxo em minha


direção para começar a descascá-las. Papai costumava

cultivá-las perto da janela, e esse sempre foi meu trabalho.

"Onde estamos?" Tyler pergunta, torcendo-se para olhar ao redor com


surpresa.

"Casa", eu digo baixinho. "Só por um minuto."

"Você nos honra compartilhando sua lareira", murmura Kal, e porque nossas
mentes estão aninhadas, sinto o peso da tradição por trás da frase Syldrathi.

"Aquele era você?" Tyler pergunta, ainda estudando o lugar. “Parando tudo?”
"Sim", eu digo, estudando-o um pouco mais de perto. "Você sentiu isso?"

Algo está surgindo lentamente entre nós, meio que desaparecendo na


existência. Eles são... fios. Azul da meia-noite para mim, violeta para Kal e
amarelo para Tyler. Amarrado entre nós como uma teia de aranha.

Eles são nossas mentes, eu acho — ou melhor, a maneira como nossas


mentes aparecem neste momento que fiz para nós.

Eu corro meus dedos ao longo do lindo fio amarelo de Tyler que amarra no
meu pulso, e aprendo algo novo sobre ele.

“Não foi só Lae! Você também é parte Syldrathi, mas nunca soube.

“Quem é Lae?” ele pergunta, estendendo a mão para tocar o fio entre nós.

Kal e eu trocamos um olhar, um sorriso triste.

“Uma parenta minha,” Kal diz simplesmente. “O maior orgulho da minha


família, irmão.” Ele sorri. “Espero que você a conheça um dia.”

Agora que encontrei nossos fios, é mais fácil ver os outros, um arco-íris
amarrado em nossos pulsos e serpenteando até a

invisibilidade. Então eu os alcanço e os sigo, procurando o resto de nossa


família.

Um momento depois, Scarlett está à mesa, ligada a nós por um vermelho


brilhante, sua empatia misteriosa finalmente fazendo sentido

– um presente de sua mãe Waywalker. Seus fios a ligam a mim, e a Kal, e mil
vezes mais intrincadamente ao seu gêmeo, seu vínculo tecido entre eles como
uma tapeçaria de vermelho e dourado. Eu vejo o momento em que sua mente
se conecta com a dele, o

momento em que ela vê a verdade de sua mãe. Eu a ouço suspirar e sinto sua
perda.

Então vem Finian ao lado dela, verde esmeralda e cheio de vida. É mais
difícil para ele - ele não tem sangue Syldrathi, nenhum treinamento Eshvaren,
sua mente não foi feita para isso. Mas ele é Betraskan, e aqueles que estão
nesta mesa são seu clã, sua família escolhida, e isso o une a nós, seu fio verde
vibrante é parte de nosso todo. Ele sempre teve tanto amor dentro dele.

Cada um de nós se apega a ele em troca, e quando ele pisca, nós o ajudamos a
ficar, fortalecemos sua parte de nosso arco-íris tecido com nosso amor.

Procuro por Zila em seguida, e então com mais urgência, vasculhando o fio
que sei que deve estar lá, mas não há nada. Scarlett olha para mim, com
lágrimas nos olhos, e nossas mentes se conectam e

oh, Zila.

Zila.

Espero que a tenha amado, espero que tenha sido feliz.

E assim que acho que terminamos, vejo que há mais – fios pretos se
estendendo para longe de Tyler e Kal, e quando eu os puxo, vejo...

Saedii Gilwraeth sentado à mesa dos meus pais, sobrancelha erguida.

Sem dizer nada, Tyler alcança a tigela e entrega a ela uma vagem de ervilha
para descascar, e algo passa entre eles. Mais algumas linhas de linha, amarela
e preta se entrelaçando como um enxame de abelhas – vibrantes, mas
perigosas – e ela o pega e o abre.

Sua mente afiada quase encontra a verdade de Lae em mim enquanto eu os


observo juntos, mas eu a empurro para um lugar mais

seguro. Algumas coisas devem ser descobertas em seu próprio tempo. E


vendo-os juntos, tenho a sensação de que a conhecerão um

dia.

Nenhum de nós usa palavras, porque nenhum de nós precisa - nossa troca é
rápida como um raio, e os fios voam entre nós no arco-íris mais bonito,
selvagem, caótico e perfeito,
e compartilhamos nossas histórias e

dizemos eu te amo ,

e a tapeçaria cresce,

e...

... começo a ver.

Oh.

Oh, eu vejo.

Vejo algo que não via antes, pois planejei meu fim.

Algo novo passa por mim, uma possibilidade que eu nunca imaginei, tão
cheia de batalha e tão ardente em minha defesa. Como se eu estivesse
acordando lentamente de um sono muito longo e piscando os olhos para
ajudá-los a se concentrar no que está à minha

frente, começo a ver... .

Está lá no jeito que Fin se agarra a nós, mesmo que seja preciso cada grama
de sua força para manter sua mente conectada com seu clã.

Está lá no jeito que Scar envolve cada um de nós em seu amor, sua aceitação,
o jeito que ela tem cada momento em que estivemos juntos.

Está lá na maneira como Ty pensa em cada um de nós antes de si mesmo, na


maneira como ele luta pelo que é certo, não importa o quão cansado ele fique.

Está lá na maneira como Kal sempre se esforça para encontrar o seu melhor
eu, acreditar em nosso melhor eu, deixar de lado tudo o que o mundo lhe
disse para ser e se tornar o que ele escolher.
Está lá na ferocidade do amor e lealdade de Saedii, em seu compromisso
inabalável com o que ela sabe que deve ser feito.

Eles me ajudam a ver algo aqui, junto com todos eles.

Algo que eu já sabia.

Eu sabia que era verdade quando Esh me disse para queimar todos os meus
laços e laços, e eu me rebelei. Eu sabia que era verdade quando Caersan me
disse que os poderosos pegam o que querem, e eu o desafiei a defender
aqueles ao nosso redor.

Eu sabia disso o tempo todo, porque meu time me mostrou todas as vezes que
eles estiveram ao meu lado, e eles estão me mostrando novamente, agora. E
eles não foram os únicos a me ensinar essa lição que eu demorei tanto para
aprender.

Tyler me mostrou no primeiro momento da história do Esquadrão 312,


quando ele desistiu de sua chance de um esquadrão perfeito

para fazer o que seu coração lhe dizia que era certo, e ele me encontrou... e
esse momento foi apenas o primeiro de uma avalanche.

Lae e Dacca e Elin e Toshh me mostraram também, quando eles se


levantaram e lutaram em vez de correr para comprar apenas mais

um dia.

Cat me mostrou, quando ela desistiu de seu corpo e futuro para salvar seu
esquadrão.

Zila me mostrou, quando ela abriu mão da vida que conhecia para fazer uma
vida para nós.

Caersan me mostrou, em seu ato final, quando nos salvou. Porque seu ato
final foi de amor, e foi o mais poderoso.

O amor é mais poderoso que a raiva ou o ódio.


E isso sempre será.

O amor pode mudar tudo.

E sim, funcionaria, se eu ateasse fogo dentro do Ra'haam e o queimasse de


dentro para fora. Mas talvez, apenas talvez...

O arco-íris de fios entre nós se entrelaça mais apertado, insuportavelmente


lindo, e somos nossos eus mais honestos neste instante.

Sem piadas de Fin, sem superioridade de Saedii. Só nós.

Nós, confiando um no outro para ver e ser visto.

Para encontrar o que encontramos com...

“Tem que vir do amor,” digo, finalmente entendendo, aqui no meio de um


campo de batalha congelado.

“Cat ainda está lá,” Tyler responde. “Ela ainda faz parte disso. Nós amamos
ele. E ela nos ama. Seu último ato foi tentar me proteger.”

"Almirante Adams está lá", diz Scarlett.

“Metade da academia com a qual passamos todos esses anos treinando”,


acrescenta Finian. “Nossos professores, nossos amigos.”

“Todo mundo que faz parte dos Ra'haam amou alguém,” Kal diz, seus dedos
enrolando nos meus. “Todo mundo era pai, filho, amigo, amante, vizinho….”

Um pai.

"Meu pai está lá", eu sussurro. “Ele ainda me chama.”

“Isso não pode ser feito à força.”

Saedii está experimentando as palavras, falando-as lentamente. Uma parte


dela ainda se rebela contra isso, mas ela olha para cima e encontra meus
olhos.
“Ou melhor, não deveria ser.”

“Não há amor na violência”, murmura Kal.

"Você pode fazer isso?" Fin pergunta, segurando firme a mão de Scarlett.

"Você não tem que fazer isso sozinho", diz Tyler. “Esquadrão 312. Para
sempre.”

"Be'shmai, você pode fazer isso?" Kal pergunta baixinho.

Eu me levanto. "Vamos descobrir."

Viro-me para a porta que dá para o corredor e, no instante em que a abro,


estou no meio de uma selva.

O ar está quente e úmido, minhas roupas grudadas na minha pele e a luz é


fraca. As copas das árvores se amontoam acima de mim, lançando tudo
abaixo no crepúsculo, trepadeiras dando voltas e se enrolando de tronco em
tronco. O chão da floresta está cheio de serapilheira e pequenas e
esperançosas mudas se esforçando em direção à luz.

E é perfeitamente, assustadoramente silencioso — sem farfalhar na vegetação


rasteira, sem pássaros ou macacos, sem insetos

cantando e cantarolando, nenhum dos milhares de sons que deveriam estar


formando uma sinfonia ao meu redor.

Olho para baixo e vejo os fios de arco-íris atados ao meu pulso, estendendo-
se atrás de mim, mas não olho para trás.

Em vez disso, dou meu primeiro passo.

A selva ganha vida, as vinhas se contorcendo e me alcançando, e eu estou


aqui, mas também estou na ponte do Neridaa, ajoelhada ao lado de Kal. E
estou na mesa da cozinha dos meus pais, observando um campo de batalha
congelado suspenso no espaço, naves

capturadas como moscas em âmbar, suas tripulações ainda vivas, saudando


uns aos outros, todos fazendo as mesmas perguntas,

exigindo as mesmas respostas.

Eu tenho que lutar para abrir caminho, puxando as trepadeiras dos meus
braços e me abaixando sob galhos espinhosos, pegando

indícios da batalha congelada com o canto do meu olho, uma lufada tentadora
do pão de minha mãe assando.

E então eu começo a vislumbrar as pessoas.

Eu não conheço nenhum deles, e eles estão sempre quase fora de vista,
escondidos por trepadeiras e galhos e árvores, e quando eu me aproximo
deles, eles nunca estão lá quando eu estouro da vegetação, arranhado e
suando.

“Espere,” eu chamo, empurrando entre duas árvores crescendo tão próximas


que eu tenho que virar de lado, tenho que segurar os fios de arco-íris
amarrados ao meu pulso e passá-los para que não sejam cortados. "Espere, eu
preciso falar com você!"

Um homem se vira, e ao meu redor as naves espaciais que estou segurando


no lugar tremem, e o cristal da Arma brilha, e eu sou Aurora Jie-Lin
O'Malley, mas também sou Tyler Jericho Jones.

“Pensamos que você nunca viria”, diz o almirante Adams, sorrindo enquanto
cruza os braços cibernéticos sobre o peito. “É hora de você se juntar a nós.”

“Não,” Tyler e eu dizemos juntos, minha voz ecoando na dele.

"Está tudo bem", diz o homem, e ele é tão reconfortante, tão seguro, enquanto
as vinhas se enrolam em seus ombros e em seu peito como uma cobra de
estimação. “Não há necessidade de ter medo.”

“Isso não está certo”, protestamos.

Ele inclina um sorriso para nós e abre os braços para abranger a selva. “É
aqui que você deveria estar. Juntos, amados, conosco.
Sabemos que é assustador dar o salto. Mas às vezes, você deve ter fé.”

Eu tropeço para trás e não bato no tronco da árvore que deveria estar atrás de
mim, mas no corpo flexível de um humano.

Eu me viro e lá está Cat, olhando para mim com seus olhos perfeitamente
azuis, assim como ela fez quando eu a segurei, tentando desesperadamente
salvá-la de sua descida ao Ra'haam.

E eu sou eu, mas sou Scarlett, e a mente de Cat está tão bonita quanto era
então, redemoinhos vermelhos e dourados que me lembram seu amor pelo
voo. E eu sinto a profundidade do amor entre essas duas mulheres, o poder de
sua amizade, de sua irmandade, e Cat levanta a mão para nos alcançar.

"Nós amamos você", diz ela, e eu me viro, tropeçando para longe, arranhões
ardendo de suor enquanto abro caminho pelos galhos silenciosos, os únicos
sons são o esmagar das folhas mortas sob meus pés, minha respiração áspera
e ofegante.

O instinto me guia agora e não consigo mais ver o Neridaa, os navios


congelados, a cozinha dos meus pais. Estou segurando os fios do arco-íris em
meu punho para mantê-los seguros, e estou empurrando cegamente na
direção que sei que tenho que ir.

Deeper.

Deeper.

Eu tenho que ir mais fundo.

Eu empurro os galhos, folhas batendo em mim e troncos de árvores se


aglomerando. Estou me movendo mais rápido, frenético, e meu pé pega um
tronco e eu me esparramado em uma clareira, batendo no chão com um
suspiro.

E quando levanto a cabeça, lá está ele, esperando por mim.

Nem Princeps, nem um deles.


Apenas meu pai, com suas bochechas redondas e seus olhos gentis,
segurando o livro de contos folclóricos que líamos juntos quando eu era
pequeno, que lemos juntos no Eco quando os Eshvaren me disseram para me
despedir dele para sempre.

Eu fico ali deitado no lixo e na sujeira, e sussurro as mesmas palavras agora


que eu fiz antes, cada parte de mim doendo para correr em seus braços, para
deixá-lo me envolver, para sentir aquele conforto que eu pensei que se foi
para sempre. última vez.

"Amo você, papai."

E ele responde quase da mesma maneira.

“Nós também te amamos, Jie-Lin. Sempre."

Nós.

Eu não.

Eu balanço minha cabeça, minha garganta fechando, a dor se erguendo como


um punho. "Este não é você", eu sussurro.

"Mas é", diz ele suavemente, ainda sorrindo. “Venha, vamos ler uma história.
Nós podemos estar juntos. Nós te amamos tanto, tanto, minha querida.

Eu faria qualquer coisa por mais um dia com ele. Por mais um dia com minha
mãe, com Callie. Por uma chance de dizer as coisas que eu disse a eles no
Eco. Por uma chance de dizer adeus de verdade.

E eu quero dizer a mim mesmo que isso não é isso.

Mas quanto mais fundo vou, mais começo a ver.

Este não é ele.

Mas também... é.

Foi o amor de Cat por Tyler que a levou a defendê-lo. É o amor de meu pai
por mim que leva os Ra'haam a tentar se conectar comigo, em vez de matar.

"Eu te amo", eu digo. “É isso que eu vim te dizer.”

Mas dizer a ele aqui, agora, assim, não é suficiente.

Eu tenho que ir mais fundo.

Eu tenho que ir além do ponto sem retorno.

Eu tenho que fazer a coisa que eu temia, eu vejo isso agora.

Apaixonar-se é entregar-se.

E estou com tanto medo de me perder, minhas mãos tremendo enquanto me


atrapalho com as cordas do arco-íris no meu pulso. Eles

são meu caminho de volta para casa, meu rastro de migalhas de pão, minha
conexão com tudo.

O amor não deve pedir que você desista de todo o resto; não é assim que o
amor funciona. Mas é assim que os Ra'haam amam, e se eu devo me
aprofundar o suficiente nisso para que eu possa mostrá-lo de uma maneira
diferente, um tipo diferente de amor...

Um por um eu os desamarro, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e Estou


rindo e chorando enquanto libero minhas âncoras, mas sei que isso está certo,
e vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.

E a última corda, a violeta de Kal com bordas douradas, desliza para longe.

E eu sou livre.

E é inebriante.

Torno-me parte do Ra'haam, cada parte da minha mente fundindo-se com ele,
espalhando-se com a gloriosa sensação de ser amado,

mantido e conhecido, partes de mim vivas que nunca imaginei.


Eu vivo mil vidas, um milhão de vidas, e compartilho a minha, e
comungamos em união gloriosa.

E quando me dissolvo neles, acendo aquela faísca que sabia que deveria —
mas não incendio os Ra'haam com tristeza, raiva e raiva.

Eu não queimo de dentro para fora.

Porque agora eu sei, este é o caminho. Não do jeito dos Eshvaren – cada um
deles se exauriu em batalha, e apenas um fragmento dos Ra'haam sobreviveu,
e assim a batalha recomeçou.

Desta vez, algo tem que ser diferente.

E esse algo serei eu.

Então, em vez disso, eu voluntariamente abro minhas asas e me torno


totalmente parte do Ra'haam, e sinto as milhões de conexões acenderem ao
meu redor quando me junto a ele, e eu o conheço e ele me conhece, e nós nos
conhecemos, e Eu viajo através dele na velocidade da luz, e nos

apaixonamos

cada vez mais

profundamente . Meu amor se espalha como fogo e compartilho a história de


Aurora Jie-Lin O'Malley, que embarcou em um navio para um novo mundo e
acordou dois séculos depois. E eu me torno nós, e contamos a nós mesmos
minhas histórias à medida que me

aprofundo. Contamos a nós mesmos a história de Tyler Jericho Jones, filho


de um guerreiro e um Waywalker, que nos encontrou

dormindo nas estrelas. Saedii Gilwraeth, filha de um guerreiro e uma


Waywalker, que aprendeu uma nova maneira de ver o mundo.

Finian de Karran de Seel, que foi dito pelo mundo que ele não era suficiente,
e mostrou ao mundo que ele era tudo. Scarlett Isobel Jones, que tinha um
coração tão grande que podia bater por seus amigos quando o deles ameaçava
falhar. Kaliis Idraban Gilwraeth, que aguentou sob punhos e insultos, que
jurou servir mesmo aqueles que nunca o amariam de volta, porque era certo.
Zila Madran, que fez uma nova vida e nos trouxe esta, seu amor abrindo
caminho para a nossa. Catherine “Zero” Brannock, que faz parte de nós, que
nunca vacilou, nunca parou de lutar ou amar. Caersan, Archon of the
Unbroken, Slayer of Stars, que era imperdoável, mas que amava.

Contamos a nós mesmos todas as nossas histórias, grandes e pequenas, claras


e escuras, e juntos vemos todas as cores do nosso

arco-íris. E há uma pequena parte de nós que ainda sou eu, não nós, e eu a
mantenho viva por mais alguns momentos para poder falar.

Não se trata da soma das partes do arco-íris, digo a eles, embora sejam lindos
juntos. É sobre todos os tons dentro dele, cada um deles lindo por conta
própria. Essas histórias são sobre a maneira como cada uma dessas pessoas
viveu e amou, às vezes com sabedoria e bem, às vezes tolamente, às vezes de
maneiras sombrias e terríveis. Mas cada uma de suas jornadas era sua. O
amor nunca deve pedir para você desistir das coisas que o tornam diferente.
As verdades que só podem ser ditas sobre você e mais ninguém. E assim que
as últimas partes de mim se dissolvem no Ra'haam, quando minha memória
do eu desaparece, dando lugar a um lindo e irresistível nós, isso começa...
Meu amor se espalha por nós como um alegre incêndio florestal, e observo
uma a uma as histórias dos Ra'haam

despertarem, piscando para a existência como brasas em um fogo que parecia


ter morrido. Como uma galáxia cheia de estrelas,

ganhando vida uma a uma. O Ra'haam - ou melhor, cada parte dele - está
lembrando como é ser eles, não isso. Como é ser eu, não nós.

E neste momento, lembra que o amor não pode ser exigido ou tomado.
Apenas dado. Ela lembra que o amor oferece uma escolha. Que o amor é uma
escolha, que fazemos uma e outra vez. Queremos essa escolha, digo enquanto
as últimas partes de mim se fundem com alegria extática. Nós somos essa
escolha. E lentamente, em um momento que leva uma eternidade, as luzes
piscam de volta em
resposta. Cada um deles, agora um pouco mais perto da pessoa que eram
antes de se fundirem, antes de se tornarem nós. De uma

pequena luz, depois duas, depois milhões, a resposta volta para mim. Nós
entendemos. E porque são – não, eles são – não, nós somos

– tantos, e vivemos milhões de vidas, sabemos o que temos que fazer.


Abruptamente estou de volta ao meu corpo, a bordo do Neridaa.

Estou deitada no chão, olhando para o teto de cristal. Mas também estou com
os Ra'haam, ainda faço parte de um extraordinário e imparável nós que nunca
deixarei, e é glorioso. Este não era apenas um preço que valia a pena pagar.
Esta é a experiência mais bonita da minha vida. Kal está sentado ao meu lado,
e sua cabeça se levanta, olhos molhados, bochechas manchadas de lágrimas.
"Você voltou", ele engasga, levantando meus dedos para seus lábios, a
esperança surgindo lentamente. "Por um pouco", eu sussurro, ainda sorrindo.
Posso sentir a frota Ra'haam, posso sentir o resto de mim lá fora no escuro, e
quero explodir como um dente-de-leão e deixar cada parte de mim explodir,
afundando no nós que me espera. Para os milhões de vidas e amores que são
uma parte de mim agora.

Juntos para sempre. "O que isso significa?" Kal pergunta baixinho. "Por um
pouco?" "Isso significa que temos que ir, em breve." Meus próprios olhos
estão molhados também, mas minhas lágrimas não são todas tristes. Eu o
amo tanto. Eu sofro com o pensamento de

deixá-lo. Mas nunca estarei sozinho. "Onde nós vamos?" ele pergunta. "Nós
não", eu digo, deixando minha mente se entrelaçar com a dele uma última
vez, azul meia-noite e prata, violeta e dourado. “Não você e eu.” E ele vê. Os
Ra'haam irão, e eu sou o Ra'haam, então irei também. "Por favor, não me
deixe", ele sussurra, a voz embargada, aperto em meus dedos apertando.
"Você poderia vir conosco", murmuro. Ele me ajuda a ficar de pé
silenciosamente, e juntos observamos como um único navio se afasta dos
Ra'haam e um único

ônibus da frota da Legião, cada um deles abrindo caminho entre os outros


suspensos no meio da batalha, voltando para o a arma do tamanho de uma
cidade que nunca seria suficiente. Juntos, Kal e eu descemos em direção à
doca, passando pelo lugar onde no futuro nossos amigos e familiares
morreram nos defendendo, nossas mãos unidas. Vou sentir muito a falta dele.
Eles estão todos esperando por nós quando chegarmos lá. Fin e Scarlett,
Tyler e Saedii, cada um deles cautelosos, esperançosos, variando de
sorridentes a carrancudos. Os que me trouxeram até aqui. E ao lado deles está
meu pai, que sorri lentamente e estende os braços. Eu começo a correr, e esse
sentimento que eu pensei que nunca seria meu novamente é, e pode ser para
sempre agora, e enquanto eu descanso

minha cabeça em seu ombro e ele me abraça forte, eu estou tão


profundamente contente que eu quero viver este momento sempre. E

eu posso, eu posso. Mas os outros não precisam, porque o amor oferece


escolha. Eu... eu lembro que não queria deixar Kal. Mas essa foi minha
escolha, me juntar aos Ra'haam, para que eu pudesse nos ajudar a entender
por que essa batalha tinha que terminar. E não posso me arrepender. É
Scarlett quem eventualmente quebra o silêncio. "Aurora? O que está
acontecendo?" “Quando você quebrou os fios, nós pensamos que você
estava...” Fin para, engolindo em seco. “Ela planeja ir com eles,” Kal diz com
firmeza, e eu posso sentir os fios do arco-íris me alcançando mais uma vez
enquanto Tyler, Scarlett e Finian gritam em protesto. “Está tudo bem,” eu
prometo. "Está tudo bem. Vocês estavam juntos antes de eu vir, e estarão
juntos depois que eu me for. Vocês continuarão, e todos estarão seguros. Eu
preciso que você leve Kal com você. "Não." Sua única palavra de resposta é
calma, mas dura como diamante. “Kal, isso é o que eu tenho que fazer,” eu
digo, e todos os Ra'haam compartilham minha dor, porque nós o amamos
muito, muito, mas eu sou uma parte dos Ra'haam agora, e mesmo se eu
desejei, não há como desembaraçar minha mente do todo. “É isso que você
tem que fazer?” Sua voz se eleva em frustração. “Ou o que você quer fazer?”
Sua mente agarra a minha, nos emaranhando tão apertado quanto ele sabe, e
com o eco dessas palavras, estamos de volta na enfermaria a bordo do
Sempiternity, e eu sei o que ele vai dizer em seguida. “Morrer no fogo da
guerra é fácil. Viver na luz da paz é muito mais difícil.” "Eu não estou me
sacrificando sem motivo", eu digo, desesperada para fazê-lo ver, desistindo
de lutar contra minhas lágrimas. “Não sou apenas eu decidindo morrer. Não
vou morrer, vou viver para sempre com eles
— esse foi o preço, ajudar os Ra'haam a ver por que temos que parar. Eu
tinha que me tornar parte de nós, para que entendêssemos.”

“Mas agora vê!” Sua voz está subindo para um grito. “Vê, e ainda assim você
fica com ele! Por favor, Aurora, fique conosco. Comigo.

Deixe-me ser o suficiente para você.” “Está na hora, Jie-Lin,” meu pai diz
baixinho. E no final, é muito simples. Um pai e uma filha estão juntos na
doca de um navio de cristal. Eles estão unidos não apenas pelos laços de
família, mas por laços que os tornam um e o mesmo, dois corpos da mesma
criatura. E além deles, no preto, estão mais milhares de corpos desse mesmo
ser, e mais milhões de mentes. Lentamente a princípio, depois mais
rapidamente, e então em uma torrente impetuosa, eles se derramam no corpo
de seu pai, e ele se torna um recipiente para tudo o que o Ra'haam sempre foi,
é e sempre será. A amada da garota pega seu corpo quando ele cai, não é
mais necessário, sua mente é parte do todo agora. Ele o ergue nos braços
enquanto ele, sua irmã e seu esquadrão correm de volta para o Arco Longo, a
cidade de cristal tremendo ao redor deles. Um esquadrão da Aurora Legion
espera por eles, conduzindo-os a bordo enquanto eles tropeçam pela câmara
de ar, e o Arco Longo se afasta do Neridaa enquanto brilha e treme, seções de
cristal se soltando. E todos os Ra'haam se reúnem em um corpo como Aurora,
a garota fora do tempo, a Gatilho, compartilha com o resto deles o que ela
sabe, o que ela pode fazer, e juntos eles veem exatamente como isso deve
acontecer. E a bordo do Longbow, o menino Syldrathi grita alarmado. “Ela
parou de respirar!” “Respiração do Criador, onde está Zila quando você
precisa dela?” "Médico!" “Pegue os estímulos!” “Não é o corpo dela, seus
tolos, você não consegue sentir que a mente dela está em outro lugar?” E são
essas palavras de sua irmã desdenhosa que o fazem levantar a cabeça e olhar
para trás em direção à Arma, não mais uma arma. E quando ela brilha mais

uma vez e começa a desvanecer , ele dá um salto e sua mente encontra a dela,
e MANTENHA-SE APERTADA. E com um grito, um por um, seu
esquadrão e sua irmã amaldiçoada jogam suas mentes atrás dele, e formam
uma corrente que mantém uma pequena parte da

garota presa neste tempo e neste lugar... E todos eles estão com ela enquanto
a nave de cristal desaparece, e eles observam enquanto ela aparece muito,
muito distante, no escuro entre galáxias, onde não há outra vida, onde
ninguém será levado para casa e coração. E

eles observam como o navio se derrete no nada, deixando apenas o homem


flutuando no escuro. E ele sorri, inclina a cabeça para trás e solta o ar
lentamente. E ele exala um milhão de estrelas, um milhão de almas e mais,
até que o espaço negro seja iluminado tão brilhante quanto qualquer galáxia,
até que Ra'haam dance e brilhe como vaga-lumes, como novas estrelas azul-
esverdeadas,

constelações sem fim, vivendo e amando e ingressou. E lentamente, não mais


necessário, seu corpo se desfaz em pó. E ainda os cinco se agarram a apenas
uma estrela, estendida além de seus limites, tão ferozes e tão cheios de amor,
e tão determinados a nunca deixar outro de seu esquadrão para trás. E essa
estrela sou eu. “Be'shmai”, sussurra Kal. “Venha para casa.” "Ainda
precisamos de você", chama Scarlett. "Há muito para ver", diz Fin. “Você
não estará sozinho,” Tyler promete. "Será impossível conviver com ele se
você não o fizer", murmura Saedii. E o riso ondula através de todos nós, e por
um momento eu quase desejo poder me desembaraçar, mas não vejo uma
maneira. Jie-Lin, sussurra o Ra'haam, cada voz unida, cada voz diferente,
cada voz se divertindo com aquela individualidade recém-lembrada. O que
você deseja? Eu desejo... Be'shmai, volte para casa. Ainda precisamos de
você. Falta muito para ver. Você não estará sozinho. Será impossível
conviver com ele se você não o fizer. E então há mais uma voz, de mais um
do meu esquadrão. Cat é uma dessas estrelas lindas, uma voz na minha
cabeça, um ombro áspero empurrando contra o meu, um sorriso de mercúrio.
Um eu

recém-lembrado que viverá aqui para sempre. Acho que ainda não é hora,
Stowaway. E com o menor empurrão, ela me mostra onde

encontrar a falha, onde pressionar para que... ... Mas o custo. O custo. Morrer
no fogo da guerra é fácil. Para viver na luz da paz, muito mais difícil. Eu
alcanço Kal, que me seguiu no Eco, no futuro e em casa novamente, e meu
azul meia-noite encontra seu violeta, e minha mente acaricia a dele, tenta
lembrar de cada parte dela, tenta aprendê-lo para que eu nunca esquecer. A
janela começa a se fechar, a conexão começa a desvanecer-se entre nossa
galáxia e o lugar para onde os Ra'haam foram, e Cat está enroscada em mim e
eu estou enroscada nela, e uma sinfonia de memórias flui através de mim: um
azul esverdeado planeta onde ela morreu e nasceu, e de volta para um salão
de baile subaquático, e horas roubadas em ônibus espaciais, e uma noite que
era para ser perfeita e terminou em

desgosto, e de volta, de volta para roupas emprestadas e piadas no final da


aula e exames de admissão, os rostos e sentimentos e momentos rodopiando,
até chegarem a um crescendo, e um menino empurra uma menina no primeiro
dia do jardim de infância. Ela me mostra quantas memórias uma única vida
pode conter. E imediatamente vejo a harmonia dos Ra'haam, e vejo a beleza
selvagem e

imprevisível de uma vida vivida sozinha, mas nunca inteiramente sozinha.


Reúno todas as minhas forças, e viro o rosto para não ter que ver... ... e faço o
corte. Sento-me, ofegante como se estivesse debaixo d'água, e vejo meus
amigos reunidos ao meu redor, Ty, Scarlett e Fin. Saedii está com a mão no
ombro de Kal, e tento alcançá-lo, tranqüilizá-lo e ... Nada. É como bater em
uma parede branca simples.

“Be'shmai?” Sua voz é urgente quando ele cai de joelhos ao meu lado. "O
que é que você fez?" Saedii pergunta, olhando para mim.

“Acabou,” Scarlett respira. “O que foi?” demandas Finianas. “Seu poder,”


Tyler fornece calmamente. "Foi a única maneira", eu digo baixinho. Há um
vazio dentro de mim, mas a câmara que o contém é inimaginavelmente
pequena. Eu era tão vasto - eu era infinito. E

agora estou nesse silêncio abafado, tudo tão quieto quanto um dia de neve.
Eu... amputei a parte de mim que estava ligada aos

Ra'haam, e não consigo sentir nenhum dos meus amigos, assim como não
podia quando tudo isso começou. Eu não sou um Gatilho.

Eu não sou um salvador. Eu sou uma garota perfeitamente comum. Eu


poderia ter vivido para sempre no momento em que dei um beijo de
despedida em um milhão deles, mas embora eu me sinta incrivelmente
estranha e vazia, apenas ouvindo com meus ouvidos, apenas vendo com meus
olhos, quando Kal me puxa contra ele em um abraço feroz, e Eu ouço seu
coração batendo alto e verdadeiro através de suas costelas, a... a pura alegria
de estar vivo é esmagadora. Eu não posso senti-lo em minha mente. Eu posso
vê-lo, no entanto, e tocá-lo, e quando eu sorrio para ele através das minhas
lágrimas, e ele sorri de volta, eu sei que minha escolha foi certa. Vou viver
em paz, e vou viver por amor. O amor oferece escolha, e eu fiz a minha – fiz
a escolha que meu time me ensinou desde o momento em que os conheci. Sua
família está onde você a encontra, e esta é a minha. Nós deveríamos estar
juntos. “Se foi?” Scarlett sussurra, e eu sei que ela está pensando em Cat.
"Não está mais aqui", eu respondo. "Mas... não se foi." Eu instintivamente me
viro na direção certa. Acho que sempre saberei qual é o caminho. Há um
espaço entre as galáxias onde apenas a escuridão deveria estar, e agora brilha
com vida e memórias, com estrelas como vaga-lumes que se dividirão entre si
pelo tempo que desejarem. Eles estão longe, mas não se foram. E

encontro em meus lábios uma frase que aprendi com Saedii, naqueles
momentos em que estávamos todos unidos. Parece apropriado,

então eu sussurro em despedida. “Eu vou te ver nas estrelas.” 39 UM ANO


DEPOIS “Vai, vamos, vamos nos atrasar,” Scar sibila,

ameaçando sair correndo, mas não conseguindo. "O que será um grande
choque para todos", eu respondo, pegando sua mão para atrasá-la. Acabamos
de voltar da licença em terra, que assumimos em Trask – Scar até encantou
minha terceira avó. Tenho certeza que, neste momento, se nos separarmos,
minha família a manteria e me jogaria fora, mas não posso culpá-los por isso.
Ela é

impossível de resistir. Estamos fora há apenas três semanas, mas Criador, é


bom estar de volta à Estação Aurora. No início, nenhum de nós tinha certeza
se a Legião era o futuro certo para nós, depois de tudo o que havia
acontecido. Mas pelo menos para Ty, Scar e eu, é onde nos estabelecemos
agora. Tyler diz que é aqui que podemos fazer o melhor, e o bem é
extremamente necessário. A maioria dos planetas perdeu grande parte de seus
cidadãos na batalha contra os Ra'haam. Civilizações inteiras foram fechadas
atrás de FoldGates destruídos. Aurora me disse uma vez que ela tem certeza
de que alguém no futuro saberá como contornar isso, mas ela se recusou a
dizer mais. Por enquanto, fazemos o bem que podemos, onde podemos. E
amanhã, estamos fazendo algo de bom aqui. Scarlett e eu
corremos para a longa meia-lua do calçadão da estação, pisando de mãos
dadas na multidão. Todo o lugar está lotado de pessoas –

delegados de toda a galáxia começaram a chegar à academia, bandos de


cadetes e legionários e civis inundando os restaurantes e bares, todos
fervilhando de entusiasmo pela cerimônia. Olho para o teto transparente, a
luz da estrela Aurora brilhando sobre as estátuas dos Fundadores no coração
do passeio. Cem metros de altura, elevando-se acima deste lugar que eles
forjaram juntos, esta Legião que salvou uma galáxia. A primeira é esculpida
em opala negra de Trask, seu rosto sábio, corajoso e sereno, olhando para um
futuro de infinitas possibilidades. O segundo é mármore extraído na Terra, e
sorrio enquanto olho para o rosto familiar de Nari Kim. Ela é mais velha do
que a criança que conhecíamos, agora com o peito coberto de medalhas,
estrelas de almirante nos ombros. Mas ela ainda é uma criança que eu
conhecia. "Boa aparência, Dirtgirl", eu sorrio. "Ei." Scar aperta meu braço.
"É um fundador da Aurora Academy que você está falando, legionário."
“Sim, mas ela me deu um tiro. E explodiu. E incinerado. E com estrelas de
almirante ou não, tenho certeza de que ela ainda era uma colossal pé no saco.
Scar ri e aperta minha mão, sorrindo para a estátua acima. “Ela parece bem,
agora você mencionou. Acho que eles a poliram.” "Bem, ela tem companhia
vindo." Eu aceno para uma terceira forma, parada entre os Fundadores. Está
coberto por uma enorme folha de veludo verde, mas está claro que outra
estátua foi construída ao lado das duas primeiras. Uma estátua que todas
essas pessoas vieram ver. O misterioso Terceiro Fundador. O herói
desconhecido de toda a guerra Ra'haam, que será revelado na grande
celebração de amanhã. Ela se contentava em passar toda a sua existência nas
sombras por uma questão de sigilo, de evitar paradoxos. Uma vida dedicada a
salvar uma galáxia que nunca saberia quem ela era. Mas amanhã, mudamos
tudo isso. Amanhã, toda a Via Láctea saberá o nome dela. "Vamos," Scarlett
insiste. “Nós a veremos amanhã. Os outros estão esperando.” Abrimos
caminho através da multidão, das pessoas, de todas essas vidas, finalmente
chegando aos

turboelevadores. Levantando-me, olhando através das paredes transparentes


para a multidão abaixo, não posso deixar de sorrir com a visão.

Meu sorriso só aumenta quando encontramos nossa sala de reuniões e


descobrimos Aurora, Kal, Tyler e até mesmo um carrancudo

Saedii Gilwraeth esperando por nós. A cena se desintegra em gritos e abraços


enquanto Scar se joga em Auri, e eu tenho que admitir que meio que me junto
a ela, e Kal suporta com dignidade considerável quando ele é puxado
também. Percebo uma jovem séria e bem vestida em pé na cabeceira da mesa,
mas minhas reflexões sobre quem ela é são interrompidas quando Auri me
abraça tão forte que

meu exo se move para configurações de proteção ao redor dos meus pulmões,
para ter certeza de que posso continuar respirando .

Ty apenas ri, e a deixa morrer por vontade própria, estendendo a mão para
colocar uma mão na de Saedii. Ela deve estar se sentindo muito amada hoje,
porque ela nem parece querer morder. Eu acho que eles estão fazendo
trabalho de longa distância.

“O que você e Kal estão fazendo aqui?” Scarlett exige, agarrando a mão de
Aurora enquanto todos nos sentamos. “Pensei que você estivesse do outro
lado da galáxia!”

Os dois estão trabalhando com o esforço de reconstrução de Syldrathi - agora


que um acordo de paz foi assinado entre os Unbroken e o resto da sociedade
Syldrathi, é hora de fazer as coisas confusas como colonizar um novo
planeta. Normalmente Syldrathi não gosta muito de forasteiros, mas Auri diz
que sua história como uma superpotência psíquica e sua conexão com os
Eshvaren ganham respeito suficiente para sobreviver. Provavelmente também
não faz mal ter um Templário como parte da família.

"Você está de brincadeira?" diz Auri. “Nós não perderíamos isso por nada no
mundo.”

“Você viu o desenho?” Scar pergunta.

"Tyler enviou para nós", diz Kal, acenando para o nosso Alfa. “Belo trabalho,
irmão.”

"Ainda acho que você deveria ter colocado uma pistola disruptora em seu ha-
OW!" Eu grito quando Scar me chuta por baixo da mesa, me encarando,
depois sorrindo para sua irmã gêmea.

“É lindo, Ty. Seriamente. Zila ficaria muito orgulhosa.”

“Zila ficaria muito desconfortável é o que Zila ficaria.” Eu sorrio e esfrego


minha canela machucada, olhando ao redor da sala. "Vamos.

Você acha que Zila Madran já se imaginou esculpida a cem metros de altura
em ouro maciço? Criador, eu gostaria que ela estivesse aqui para que eu
pudesse ver o olhar em seu rosto quando o revelarmos.”

“Bem…,” Tyler diz.

Todos os olhos na sala se voltam para o nosso Alfa.

"Bem o que?" Kal diz, desconfiado.

“… Ty?” Scar pergunta.

"Bem, há uma razão pela qual eu chamei todos vocês aqui um dia antes", diz
ele, acenando para a mulher na cabeceira da mesa. “E aí está ela.”

Todos os olhos se voltam para o estranho agora. Ela é terráquea, talvez com
vinte e poucos anos, bem vestida com um traje cinza. Ela tem um rosto sério,
mas ela não grita “militar” para mim, então eu não acho que ela seja Legião.
Ela olha ao redor da sala para cada um de nós, olhos escuros finalmente
pousando em Aurora.

"Quem é Você?" Auri pergunta.

"Um mensageiro", diz ela simplesmente, trazendo uma projeção de sua


unidade de pulso e deixando-a falar por si mesma.

O rosto de Aurora se ilumina, Scarlett engasga, e eu sinto meus próprios


lábios se curvando em admiração com a projeção diante de nós.

É Zila.
Ela é uma velha senhora, cabelo completamente grisalho, linhas de sorriso
nos cantos dos olhos. Ela está olhando diretamente para a câmera, e parece
que está olhando diretamente para cada um de nós.

“Saudações, meus amigos”, ela diz, e embora um pouco do tom tenha saído
de sua voz ao longo de sua vida, ainda é

inconfundivelmente Zila Madran. “Esta mensagem deve ser entregue um ano


após os eventos para os quais passei minha vida me

preparando. Espero de todo o coração que todos estejam presentes para


recebê-lo. Eu aceitei que, embora eu saiba muitas coisas, isso permanecerá
para sempre um mistério para mim. Certa vez, meu Alfa me disse que alguns
momentos exigem fé. Saiba que tenho fé

em você.

“Aurora, espero que esteja bem. Esta mensagem é para você, em particular.
Levei alguns anos para perceber que em minha nova linha do tempo, sua mãe
e sua irmã ainda estariam muito vivas e bem, e lamentando sua perda. Eu sei
que isso tem sido uma fonte de

grande tristeza para você, e por isso considerei as opções disponíveis,


lembrando sempre que evitar o paradoxo na linha do tempo era de extrema
importância.”

Auri levanta as mãos para cobrir a boca, seus olhos brilham, e Kal move sua
cadeira para que ele possa deslizar o braço ao redor dela silenciosamente.
Scar aperta sua mão.

As filmagens de Zila continuam.

“Falei com sua mãe pouco antes de ela morrer e disse a ela que você estava a
salvo. Lamento não poder fazê-lo mais cedo, mas julguei o risco de paradoxo
muito grande. Por favor, saiba que nossa conversa trouxe grande paz para ela.
Estudei sua irmã, Callie, por algum tempo antes de decidir que ela era capaz
dos níveis de sigilo exigidos, e por fim confidenciei a verdade de seu destino
a ela.
Aurora está chorando direito agora, embora eu ache que é um choro feliz, e a
mulher que trouxe a gravação levanta sua unidade de pulso novamente. Com
um movimento, ela envia uma foto para sentar ao lado de Zila — é uma
mulher que parece tão, tão parecida

com Aurora, embora mais velha, e ela tem uma criança sentada no quadril.

“Esta é sua irmã, com sua sobrinha, Jie-Lin”, diz Zila.

A mulher traz outra foto — agora a mulher que deve ser Callie é mais velha,
e ao lado dela está outra mulher que pode ser Jie-Lin, e há uma nova criança.

“E aqui está a filha dela”, continua Zila. "Eu providenciei para que mais fotos
sejam adicionadas à coleção à medida que novas gerações nascem, e espero
que este arquivo seja entregue agora por..."

A gravação é pausada, e todos nós olhamos para a mulher com o projetor.


Até Saedii parece alguém cuja série favorita acabou de terminar em um
gancho.

“É minha esperança”, diz a mulher, cujos olhos parecem um pouco


brilhantes, “que esta mensagem seja entregue por um dos

descendentes de Callie.”

“Estão...” Auri engasga com a palavra, mas ela não consegue superar.

"Sua tatara-tatara-tatara-sobrinha", diz ela suavemente. “Meu nome é Jie-Lin.


É uma tradição familiar.”

Um barulho sai de Aurora, meio soluço, meio riso, e cada instinto betraskan
em mim sabe que é o som de alguém encontrando uma

parte de sua família, e ela está fora de sua cadeira como se tivesse sido
teletransportada, para os braços de Jie-Lin, e os dois se abraçam
silenciosamente enquanto a gravação recomeça. Eu me assusto de volta à
atenção quando ouço meu próprio nome.

“Finian sugeriu ao partir”, diz Zila, “que eu deveria apostar nos resultados
dos eventos de 'sportsball', com a ajuda de Magellan. Não estou convencido
de que isso seja totalmente ético, mas Nari me sugeriu que demos muito, e é
aceitável receber um pouco em troca.

Os detalhes de uma conta bancária foram fornecidos com esses arquivos.


Tenho dois pedidos e, além disso, o dinheiro é seu para usar como achar
melhor — será uma soma considerável.

“Meu primeiro pedido é que você estabeleça uma bolsa de estudos em nome
de Cat. Eu acredito na Legião Aurora e gostaria que fosse mais fácil para
outros se juntarem.

“Meu segundo pedido é que vocês encontrem uma oportunidade de passar


algum tempo juntos – eu sugiro que vocês coloquem

Scarlett no comando do planejamento, já que Nari e eu estamos confiantes de


que ela escolherá um excelente destino para uma

licença. E, por favor, pense em nós por um momento quando fizer essa
viagem.”

Todo mundo está chorando agora, exceto Saedii, é claro, que definitivamente
não tem canais lacrimais. Ela está apenas balançando a cabeça lentamente, o
que eu acho que é a versão dela.

“Encontrei minha família aqui”, diz Zila, “embora sempre sentirei falta da
família que deixei para trás. Espero que cada um de vocês

encontre essa felicidade ao longo de suas vidas.” Ela olha ao redor, como se
pudesse realmente nos ver. E ela sorri. “Desejo-vos tudo de bom, meus
amigos.”

E assim, a gravação acabou, e Zila se foi.

Mas nunca esquecido.

“Bolo Santo,” Aurora cheira, desembaraçando-se do abraço de Jie-Lin.

“Estas”, diz Scarlett, “serão as férias mais épicas da história”.


"Acabamos de voltar de férias", eu gemo.

“E não tenho como tirar uma folga,” Tyler diz.

Scarlett coloca as mãos nos quadris. “Você está falando sério agora?”

"Eu quero dizer isso", diz Ty, balançando a cabeça. “Há um monte de
reuniões diplomáticas agendadas após a inauguração, temos novas entradas
depois disso, e de Stoy está reorganizando toda a estrutura de comando.”

"Certo", eu aceno. “E ainda estamos com falta de mecanismo, eu tenho que


ai...”

“Oh, bafo do Criador...” Scar solta um suspiro dramático, olhando entre mim
e Ty. “Vocês dois poderiam ser desmancha-prazeres

maiores, por favor.”

Eu dou de ombros, impotente. “Tenho trabalho a fazer, Scar.”

“Olha,” ela diz, se aproximando. “Umas férias que organizo significam uma
piscina. E uma piscina significa que eu não levo nada além de um maiô. Faça
as contas, De Seel.

Faço uma pausa, olho para Tyler. “Sim, tudo bem, estou convencido.”

“Certo,” Scar faz uma careta. "E você, Bee-bro?"

"Você sabe que eu odeio quando você me chama assim, certo?"

"Você sabe que eu odeio seu rosto, certo?"

“Ai.”

Tyler olha para Saedii pensativo.

“Você ainda tem um maiô?”

Ela olha carrancuda ao redor da sala. “Tenho certeza de que poderia moldar
um da pele de alguém sem muita dificuldade.”

"Biquíni de couro...", murmuro, olhando para longe.

“… Sim, tudo bem,” declara Tyler. "Estou convencido."

“Eles são sempre assim?” Jie-Lin pergunta baixinho.

“Com o tempo, a pessoa se acostuma com isso”, Kal responde gravemente.

Aurora apenas a abraça mais uma vez e sorri.

"Bem-vindo à família."

MEMBROS DO

ESQUADRÃO ‣ DÍVIDAS DE SANGUE

▾ AGRADECIMENTOS

AO FINAL DA NOSSA SEGUNDA SÉRIE JUNTO A UM LIVRO QUE


FOI ESCRITO ATRAVÉS DE BLOQUEIOS NACIONAIS E UMA
PANDEMIA

INTERNACIONAL, AS VEZES EXIGINDO INTELIGÊNCIA QUE TERIA


ORGULHOSO O ESQUADRÃO 312, ESTAMOS MAIS CONSCIENTES
DO

QUE NUNCA QUE CADA LIVRO É CRIADO POR UMA ALDEIA. TEM
SIDO UM PRIVILÉGIO TRABALHAR COM OS NOSSOS PARA DAR
VIDA

A ESSA HISTÓRIA.

SEM A NOSSA EQUIPE DE EDITORIAS NÃO ESTAREMOS EM


LUGAR ALGUM – ELES NOS GUIAM PARA A MELHOR VERSÃO DE
CADA

LIVRO, PEGAM NOSSOS ERROS, DIVULGAM NOSSAS HISTÓRIAS


PARA O MUNDO E GARANTIRAM QUE VOCÊ OUÇA SOBRE ELAS.

TEMOS MUITO SORTE DE TE-LOS. NOS EUA, TODOS SAÚAM


BARBARA, MELANIE, ARELY, ARTIE, AMY, NANCEE, DAWN,
KATHLEEN,

JAKE, DENISE, JUDITH, EMILY, JOSH, MARY, DOMINIQUE, JOHN,


KELLY, JULES, SHARON, MEGAN, JENN, KATE, ELIZABETH,
ADRIENNE,

KRISTIN, EMILY, NATALIE, HEATHER, JEN, RAY, ALISON,


NATALIA E DAKOTA. AQUI NA AUSTRÁLIA, NOSSOS
SENTIMENTOS

AGRADECIMENTOS A ANNA, NICOLA, YVETTE, SIMON,


SHERALYN, EVA, MATT, LOU, MEGAN, ALISON E KYLIE. NO
REINO UNIDO,

NOSSA EQUIPE INCANSÁVEL É KATIE, MOLLY, LUCY, KATE,


HAYLEY, JULIAN, MARK, PAUL, LAURA E JULIET. OBRIGADO ÀS
NOSSAS

FANTÁSTICAS EQUIPES DE EDITORAS INTERNACIONAIS E AOS


TRADUTORES QUE

SE JUNTARAM A NÓS PARA TRAZER A HISTÓRIA DO SQUAD 312.


SEMPRE QUE SEU TRABALHO SE ENCONTRAR NO MUNDO, UM

AGRADECIMENTO ESPECIAL A CHARLIE E DEB POR NOSSA


FABULOSA ARTE FINALA E DESIGN DE CAPA.

AS EDIÇÕES DE ÁUDIO DESTES LIVROS SÃO BRILHANTES, E NÃO


PODEMOS ENCERRAR A SÉRIE SEM AGRADECER A NICK E A
TODA

NOSSA EQUIPE DE ÁUDIO, DA EQUIPE DE PRODUÇÃO AOS


NOSSOS INCRÍVEIS NARRADORES.

Repetidamente, SOMOS GRATOS AOS NOSSOS AGENTES, JOSH E


TRACEY ADAMS. POR SUA ORIENTAÇÃO, SUA PACIÊNCIA E SUA

ADVOCACIA, UM ENORME OBRIGADO. OBRIGADO TAMBÉM A


ANNA, A STEPHEN E A NOSSA INCRÍVEL REDE DE AGENTES

ESTRANGEIROS, QUE AJUDARAM O Esquadrão 312 A ENCONTRAR


CASAS EM TODO O MUNDO.

TAMBÉM SOMOS GUIADOS POR MUITOS ESPECIALISTAS E


CONSULTORES QUANDO ESCREVEMOS NOSSOS LIVROS. PARA O
DR.

KATE IRVING, GARY BRAUDE, MEGAN E HOONSEOP JEONG,


MIKYUNG KIM, OH YOUNG LEE E MUITOS OUTROS NÃO
NOMEADOS AQUI,

NOSSO AGRADECIMENTO. VOCÊ AJUDOU A MELHORAR ESTE


LIVRO DE INÚMERAS MANEIRAS, EMBORA, É CLARO,
QUAISQUER

ERROS QUE PERMANECEM SÃO NOSSOS.

A TODOS OS LIVREIROS, BIBLIOTECÁRIOS, LEITORES,


VLOGGERS, BLOGGERS, TWEETERS E BOOKSTAGRAMMERS QUE
AJUDARAM A

DIVULGAR A PALAVRA SOBRE O ESQUADRÃO — OBRIGADO.


NÓS NÃO PODERIAMOS FAZER ISSO SEM VOCÊ, E NÃO
QUEREMOS.

AOS NOSSOS ESQUADRÕES PESSOAIS — SAM E JACK, MARC, B-


MONEY, RAFE, WEEZ, PARIS, BATMAN, SURLY JIM, GLEN, SPIV,
TOM,

CAT, ORRSOME, TOVES, SAM, TONY, KATH, KYLIE, NICOLE, KURT


, JACK, MAX, POPPY, MEG, MICHELLE, MARIE, LEIGH, ALEX,
SOOZ,

KACEY, SORAYA, NIC, KIERSTEN, RYAN, AMBOS OS GATOS, FLIC,


GEORGE, CORMAC, MARILYN, KAY, NEVILLE, SHANNON, ADAM,
BODE,

E LUCA. A CASA DO PROGRESSO: ELLIE, NIC, LILI, ELIZA, DAVE,


LIZ, KATE, SKYE E PETE. O GRUPO ROTI BOTI: KATE, AIMEE,
EMILY,

KYLIE, NED, MAZ, SASHI E EMMA, QUE FALTAM TODOS OS DIAS.


A TODA NOSSA TRIPULAÇÃO: ESTAREMOS PERDIDOS NESTA

GALÁXIA SEM VOCÊS.

PARA AQUELES QUE SE JUNTARAM A NÓS NA VIAGEM, EMBORA


NÃO SABEM QUE SEU TRABALHO INSPIRA O NOSSO — FRANK

TURNER, JOSHUA RADIN, MATT BELLAMY, CHRIS


WOLTENHOLME, DOMINIC HOWARD, BUDDY, BEN OTTEWELL,
THE KILLERS, MARK

MORTON, RANDY BLYTHE, TOM SEARLE, DAN SEARLE, SAM


CARTER, MARCUS BRIDGE, JON DEILEY, WINSTON MCCALL, OLI
SYKES,

MAYNARD JAMES KEENAN, RONNIE RADKE, COREY TAYLOR,


CHRIS CORNELL, IAN KENNY, TRENT REZNOR. UMA SAÚDE
TAMBÉM

PARA ANNE MCCAFFREY, PIONEIRA DA FICÇÃO CIENTÍFICA,


CUJOS DRAGÕES TELEPÁTICOS ENTRARAM NO DNA DESTE
LIVRO DE

MAIS DE UMA MANEIRA.

E, FINALMENTE, ESTE LIVRO É DEDICADO AOS NOSSOS


CÔNJUGES E À FILHA DE AMIE, QUE SE PARTICIPOU A NÓS AO
MESMO

TEMPO QUE O PRIMEIRO LIVRO DESTA SÉRIE. GUARDAMOS O


MELHOR PARA O ÚLTIMO, É CLARO. VOCÊ É NOSSO
ESQUADRÃO, E

NÓS TEMOS A SORTE DE SER SEUS. AQUI É PARA SEMPRE.

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