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Clipe Jovem 2022 – Aula 01 (10/03)

Literatura: tem que sentir, e não apenas ler;

Leitura como forma de cuidar do corpo: contra os princípios românticos ensinados na


escola (ninguém me entende, vou escrever para desabafar e guardar na gaveta)

Quando se guarda a escrita, seu corpo mofa: quanto mais se ocupa uma página, mais
nos entregamos ao outro, sem garantia;

Escrita: não é diferente da vida real;

Escola e sociedade querem colocar padrões: regras de como escrever (necessidade do


começo, meio e fim; regras de escrita; desenvolvimentos já pré-estabelecidos)

Escritores são aqueles que queixam essa imposição, essa igualdade: criar padrões, e
não seguir.

Cada obra é a vida de seu escritor:

Qual pessoa estou construindo com meu texto? Qual a melhor versão de mim? Até
que ponto posso chegar?

Escrita não tem limites.

Leitura é empréstimo, roubo, segredo;

Escritor possui uma antena que capta tudo, desde o invisível até o visível, desde
encarnados até desencarnados etc. (feito de memórias e segredos, ocultos)

Incorporamos (materialmente, espiritualmente, de forma xamânica) os corpos, de


forma a nos transformar em um ser mais múltiplo e potente (melhor versão de si)

Palavras dormem enquanto dicionário; despertam quando transformadas em


literatura.

Deixar o corpo acontecer (se precisamos respirar, que se coloque três pontinhos no
texto [e está tudo bem!! Podemos fazer isso]
Literatura é um modo de respirar, sendo construída no texto: criamos nossos
próprios limites (se não conseguimos terminar um raciocínio, que exponhamos isso no
nosso texto!)

Escrita é um corpo livre o qual respira.

Caos na literatura (“O Dia em que os Discos Voadores Chegaram”, de Neil Gaiman):
não segue regras específicas, nem função lógica, porém tudo ocorre de forma fluida e
convincente, sem ter confusão ou causar descrença.

• Atividade de escrita: continuar o conto apresentado (citado acima):

“(...) Você não percebeu nada disso porque estava sentada em seu quarto,

sem fazer nada, nem lendo, apenas olhando para o telefone,

imaginando se eu iria lhe telefonar.”

Já que pouco importa os discos,

os zumbis e os Deuses adormecidos Ou pedir ajuda.


despertados
Quando ficou sentada durante cinco
e as fadas que chegaram horas

e as cidades de cristal. Na frente de uma prova

Pouco importa os computadores E, quando menos esperava,


rebelados
O dia do resultado da primeira
As máquinas do tempo e o Yeti pouco chamada
amedrontado.
Quem conseguiu acessar não foi você
Nada disso te importava
E eu pude te ligar, ainda mais
Desde aquele intenso dia extasiada,

Quando às seis horas despertava Quando soube da notícia,

Ansiosa demais para conseguir falar Você foi a primeira em Fisioterapia.

Autor é uma entidade: é ele mesmo e os Outros (autores)

Escritor manipula diversos discursos e escolhe quais quer (ou não) reproduzir
Construção de uma escritora mais interessante para o mundo.
Toda literatura é uma forma de se dizer “eu te amo”: todo texto propõe algo de
forma implícita

Escritor perde parte de seu tempo para se dedicar à escrita, mesmo não sabendo se
irá ser ouvido/lido

“Eu te amo” é uma entrega de si, um dom doado para o ouvinte, como a uma
oferenda.

Escrever é um ato de amor: literatura não tem uma utilidade, porém é uma entrega
do ser, da pessoa.

Literatura é feita de palavras e silêncio:

Menos é mais: quanto menos, mais intenso; quanto mais, mais intencionalidade

Ambiguidade da palavras: muitas vezes, uma palavra ou frase já nos basta para
entendermos determinada mensagem (como o “Bom dia” como final para o conto de
Neil Gaiman, proposto por aluna durante a aula).

Corpo relacional: literatura se relaciona de formas diferentes (um texto que agrada
a um tipo de leitor pode não agradar para outro, por exemplo).

Para um texto ser bom, ou ele:

1. Faz a pessoa se calar, refletir;

2. ou faz a pessoa falar, dá lacunas para que sua imaginação preencha.

“Poesia se faz com palavras, e não com ideias” (frase de Mallarmé para Degas)

Inspirações, em alguma hora, tomam forma e se fecundam, deixando de serem


simples ideias e se tornando literatura.

Desejo é movimento; escrita é movimento; corpo é movimento; logo, corpo é escrita.

Todo texto é um corpo, por isso nos provoca (irradiações fluídicas de determinados
corpos, atração por certos tipos de irradiações): deve-se deixar fluir (por isso nem
todos os corpos nos provocam)
➔ O que pode o corpo fazer? Que corpo é esse que eu tenho?
➔ Pode dançar [com as palavras], caminhar [com a mente], potencializar [as
ideias], questionar [o entorno, o pensamento], contagiar [alguém],
experimentar [novas ideias, novas idealizações].

Atividade de escrita (baseada no poema “Tenho uma Folha Branca”, de Ana Cristina
César):

Há uma folha branca

aqui, à minha espera.

Sem esperar, contudo, que eu espere que ela sinta

a vontade de se ter

desenhado,

desgrenhado,

umas poucas palavras

sem nexo,

nem norte.

A literatura não é ensinada, e sim cutucada

Convide da folha vazia, em branco: vai além das palavras, podendo se expandir para
qualquer manifestação artística (dobradura, desenho, pintura etc.)

Intimidade com a página: o que ela pode receber de mim mesma? Isso já é meu
corpo

Folha e texto: espaço onde se dança.

Importância do silêncio: a pausa é (também) uma forma de ocupar espaço.

Textos nos fazem viver

Viver é melhor que sonhar: tudo é possível na literatura.

Escrever e expor nosso texto é estar vulnerável

Quem escreve se desnuda, se entrega


Escrever é tirar a roupa, é mostrar nossa alma: tirar a roupa só mostra o corpo,
nada mais (corpo é matéria, sem importância [Artes Cênicas]); já escrever, expor o
que está em sua alma é o verdadeiro ato desnudar.

Todo texto é um corpo, e o corpo é movimento: seja no papel, na tela de um quadro,


na voz, entre outros;

Todo corpo em movimento está no espaço.

Os grifos nos livros são uma marca pessoal: ao relermos nossas próprias marcações,
podemos perceber a passagem do tempo e a mudança no nosso ser (o que antes era
importante, hoje já não é mais e vice-versa).

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