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Sumário:
Pratica o crime de burla por defraudação previsto e punido pelo artigo 299º, nº 1, alínea
a) do Código Penal, em concurso aparente de infracções com o crime de uso de
documentos falsos, prevenido pelo artigo, 542º, do mesmo código, aquele que defraudar
outrem fazendo com que se lhe entregue dinheiro, usando de falsa qualidade de
beneficiário de uma indemnização que sabia que não lhe era devida.
Acórdão
Jerónimo Luís Rafael, filho de Luís Rafael e de Jossefa Francisco José, natural de
Maxixe, Província de Inhambane, à data dos factos com 37 anos de idade, solteiro,
electricista e residente no bairro de Rumbane “3”, em Maxixe;
Victorino Zacarias Stefane, filho Stefane Litsure e de Ilda Florência Gin Cumbane,
à data dos factos com 30 anos de idade, solteiro, pedreiro e residente em Malaíça;
Como encobridores:
A responsabilidade criminal dos réus foi agravada pelas circunstâncias 1ª, 7ª, 9ª,
e 25ª, todas do artigo 34º do Código Penal, sem indicação de nenhuma circunstância
atenuante, fls. 153 a 160 dos autos.
1. O Douto acórdão deu como provado que o réu Augusto Stefane Litsure
beneficiou-se indevidamente de 50.850.000,00Mts como consta da douta
acusação do Ministério Público;
2. O réu Jerónimo, consciente deste facto veio a beneficiar-se de
2.000.000,00Mts (fls. 227 e verso);
3. O Tribunal considerou o réu Jerónimo culpado por ter procedido contra todas
as normas e princípios que regem a actuação dos funcionários públicos, por
não ter reportado a fraude à direcção da empresa quando dela teve
conhecimento, fls. 228;
4. O tribunal chegou à conclusão de que o réu Augusto estava consciente que
não tinha direito à indemnização e ao não comunicar o facto à EDM tinha a
intenção de se beneficiar dos respectivos valores;
5. Tendo o tribunal considerado o réu Augusto culpado, não devia absolvê-lo e,
ao fazê-lo, a consequência é a nulidade da sentença porque os fundamentos
estão em oposição com a decisão, nos termos da al. c), n.° 1, do artigo 668º
do Código de Processo Civil, aplicável por força do § 1º do Código de Processo
Penal
É um facto assente, e o réu Augusto Stefane confessou, que não tinha direito a
receber da EDM nenhum valor indemnizatório, por não ser titular de nenhuma
benfeitoria onde atravessaria a linha em que seriam implantados os postes de energia
de alta tensão de Chicumbane à Lindela.
O tribunal recorrido considerou não ter ficado provado que tenha sido o co-réu
Jerónimo que integrou o nome do co-réu Augusto nas listas dos beneficiários das
indemnizações a serem pagas pela EDM aos titulares de benfeitorias situadas no traçado
da linha de energia.Neste aspecto, alinhamos com o entendimento do tribunal
recorrido, pois apesar de haver prova indiciária nesse sentido, este facto não ficou
provado em sede de audiência de discussão e julgamento. Concordamos, igualmente,
que não há prova de que o valor exacto recebido pelo mesmo co-réu tenha sido o de
30.000,00Mts (trinta mil meticais). Mas, não restam dúvidas de que por ordens dadas
pelo co-réu Jerónimo, o valor recebido pelo co-réu Augusto foi dividido entre este e os
co-réus Jerónimo, Inácio, Alfredo e Felizberto Cumbane, também conhecido por
“Maquelimane”.
De referir que para este tribunal, se o co-réu Jerónimo não tivesse recebido parte
do valor em causa, não vemos porque razão se teria preocupado em procurar pelo co-
réu Augusto, para saber como havia recebido a indemnização e onde estava o dinheiro.
Além disso, é que sendo o co-réu Jerónimo trabalhador da EDM, tendo tomado
conhecimento de que o co-réu Augusto havia recebido, indevidamente, um valor
indemnizatório, não denunciou o facto à EDM.
Já em relação ao co-réu Augusto Stefane Litsure, importa, uma vez mais referir
que o mesmo recebeu um valor que sabia que não lhe era devido e o co-réu Jerónimo
Luís Rafael mesmo sabendo que o dinheiro que o primeiro recebera não lhe era devido,
beneficiou de uma parte do mesmo, tal como o fizeram os co-réus Alfredo Nhanala e
Inácio Capetine Guirrugo.
Ora, tendo em conta o estabelecido no artigo 57º (fins das penas), e havendo
obrigatoriedade de aplicação de penas alternativas, considerando a moldura penal em
abstracto a que cabe ao crime cometido pelos co-réus, cfr. artigo 89º, n.° 2, ambos do
Código Penal, e uma vez reunidos os pressupostos há que aplicar aos ora réus este novo
regime.
Decisão:
As penas de prisão aplicadas a todos os co-réus são substituídas por multa nos
termos do artigo 89º, n.° 1, al. d) do Código Penal e n.° 3 do mesmo dispositivo legal, à
taxa diária de 15,00Mts (quinze meticais).
Quanto ao valor da indemnização, vão todos os co-réus condenados,
solidariamente, ao pagamento da quantia de 50.850,00 Mts (cinquenta mil e oitocentos
e cinquenta meticais), valor com que se locupletaram indevidamente.