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Josep Fontana
Coordenação IJ'tlllol'l"I
,..,
Irmã jacirua Turolo (i,II( :1 Introduçao ao estudo
Assessoria Admintstrtühu!
Irmã Teresa J\ntl Sol'i:lllt da história geral
Assessoria comerctat
Irmã Áurea de Alrn 'ida N:lS<'iIlIl'11111
Revisão Técnica
Beatriz Teixeira Weber
José Jobson Arruda
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ciersnae SOCIalS
1111', II~"" l'pil,.,~a~'Il\, 'umu ItlS 'onlilh\ll'w 111,11 1"1111
'upfLul 1
vu. d.1 N()II/J(111e IIW()lr('.
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s us d C'Itos. I'. rI,If(),
-xpl cito, dlr 'to, in isiv . Não usa meias-palavras, int .rdltos,
nlus: 'S, m '[Moras, ircunlóquios. Por isso mesmo, em certos pas- o cenário da
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sos, suas formulaçõ s cortantes chegam a ser rudes. A rudeza que
I ou 'os pod m s p rrnitír, pela densidade intelectual e humana história
[u ' .arr 'gamo Sem peias, põe-se de corpo inteiro em suas obras,
11ÜO s in 10 casual a escolha da epígrafe, nos versos de Walt
Whitman: "Esta é a cidade e eu sou um dos cidadãos", cabendo-
Ih ' por inteiro a paráfrase "Esta é a história e eu sou um doshis-
toriad r s".
o cenário da história é o cenário da atividade humana:
o meio físico em que se desenvolve a vida dos homens e das mu-
lheres. Seu estudo comporta um duplo enfoque: o das relações
do homem com o meio que o rodeia e o da identificação das suas
atividades. Antes, os historiadores ocupavam-se apenas da dis-
José Jobson de Andrade Arruda
tribuição humana no espaço: da "geografia histórica". Nos últi-
mos anos, porém, aprenderam a ver a importância da relação
transformadora do homem com o meio natural que o rodeia.
as
----~: bases físicas da vida
o ponto de partida do estudo da relação do homem com
o meio é a consideração da dinâmica da vida. Toda a energia uti-
lizada pelos seres vivos procede, em última instância, do Sol.
Como se pode ver no gráfico (figura 1.1), a maior parte da ener-
'gia que nosso planeta recebe pela radiação solar retoma refleti-
da ao espaço em forma de luz ou de calor. Uma parte dessa ener-
gia esquenta a terra e os mares, sendo absorvida e transformada
pelas plantas; outra parte é retida na atmosfera pela presença de
nuvens e, principalmente, de gases que a absorvem, como o dió-
xido de carbono.
Podemos ver, na figura l.2, como se produz o aproveita-
mento da energia pela matéria viva, representada como um
ecossistema com diversos níveis tráficos (ou seja, de alimenta-
ção). A energia solar recebida - umas 3.000 Kcal por m' ao dia
- reflete-se em uma grande proporção, porém as plantas absor-
vem uma parte da mesma por meio da fotossíntese. As plantas
formam o primeiro nível trófico, denominado autótrofos porque
se alimentam por si mesmas, sem ter que consumir o que pro-
vi
c Iplllllo 1 Clll'lIl1l1dlll lellll
Radiação solar
~o
Calor da respiração
dissipada no espaço
Radiação enviada
ao espaço
De acordo com a segunda lei da termodinâmica, em cada Figura 1.2. De ]ean Paul Déleage, Historia de Ia ecologia, Barcelona,
passo dado de um nível trófico a outro, uma parte da energia se Icaria, p.148.
13
----+----------------!
1
capítulo I o cenário da história
s de superfície tracejada) - cada vez menor e envolve um apro- um número reduzido de outros produtos vegetais. Calculou-se
v itamento cada vez mais reduzido da energia solar recebida. que um homem, para sobreviver alimentando-se naturalmente,
Numa representação elementar, 10 é a radiação solar, 11 a necessita um espaço dez vezes maior que o que é necessário a
parte aproveitada pela fotossíntese, da qual tem que se descon- um macaco. Daí, o grande avanço que a invenção da pecuária
tar RI - a respiração neste nível - para obter 12, que é a parte significou para os humanos, permitindo a utilização de animais
máxima que poderá absorver o segundo nível trófico com a in- herbívoros (ovelhas, vacas, coelhos ete.) que podem assimilar ali-
gestão das plantas. Se, de 12, subtrairmos agora R2 - a respiração mentos vegetais que o homem não pode utilizar diretamente,
deste nível - teremos 13, que é o que pode absorver o terceiro mas, sim, indiretamente, consumindo a carne e o leite daqueles.
nível (o dos carnívoros que comem herbívoros), do qual se sub- O que consiste numa aberração é que alimentemos o gado com
trai R3, sua respiração, para obter 14, que é o que chega aos car- cereais que poderíamos consumir diretamente, como atualmente
nívoros que se alimentamde outros carnívoros, os quais só apro- se faz em muitos casos (cerca de 37% da colheita mundial de ce-
veitam, para formar a sua biomassa, o que resta depois de dedu- reais destina-se ao consumo animal), pois, desta forma, perde-
zir sua própria respiração. Em cada um desses passos, há uma mos uma grande quantidade do potencial da alimentação huma-
perda considerável de energia. na pelo gosto de obter uma comida mais refinada. Isto vem de-
Detenhamo-nos um momento a considerar em qual dos ní- monstrar nossa vocação de carnívoros. 2
veis tróficos se situaria o homem. É um herbívoro ou um carnívo-
ro? Do ponto de vista natural, é fundamentalmente um carnívoro
a máquina planetária ventos e
- no princípio de sua história talvez fosse mais um coletor de car- ~-------
ne putrefata do que caçador! - que completa sua alimentação co- correntes
mendo frutas, um alimento vegetal que pode assimilar diretamen-
t~, difer ntemente do que acontece com a maioria das ervas c O Sol tem outros efeitos sobre a vida, além de proporcio-
rolhas, que não pode digerir sem que lhe provoquem problemas nar-lhe energia. O mais importante é a manutenção de tempera-
int stinais. No entanto, o homem conseguiu estender sua alimen- turas adequadas para os seres vivos: um fenômeno no qual têm
tação vegetal graças ao cozimento, que lhe permite assimilar ali- participação essencial as correntes do mar e os ventos, que de-
rn entes que, de outro modo, resultariam ingeríveis e, inclusive, terminam, em boa medida, as diferenças climáticas.
venenosos: não pode se alimentar com o grão do trigo como fa- A água dos mares e os ventos atmosféricos têm grandes
z em muitos animais, ou com batata ou mandioca cruas, porém circulaçôes determinadas pela rotação do planeta (poderíamos
sab fazer pão de trigo ou cozinhar as batatas e a mandioca. dizer que 'se atrasam' em relação à rotação da massa sólida,
A grande diferença de alimentação que existe entre um ho como conseqüência da chamada "força de Coriolis") apresentan-
111 '111 e um macaco, para citar um exemplo, é que este pode ali
do giros regulares que vão no sentido dos ponteiros do relógio
m .ntar-se de folhas e ervas, o que lhe permite aproveitar ampla ao norte e, no sentido contrário, ao sul. A figura 1.3 mostra como
m 'I l 'a energia acumulada pela fotossíntese em seu ambícntc. os alísios sopram do paralelo 30 até o Equador (tanto no sul
I':nquanto isso, o h mern só pode comer diretamente os frutos l'
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guru I, ) li '('mil '(11 j I 'ntlfl ar que há uma r tação paral 'Ia Ia março e chegavam à Goa até setembro, aproveitando os ventos
.1j.\WI 10 mar na sup 'rfí lc, Ent mdc-se, assim, p rqu , na 'J o 'a de verão. Permaneciam ali até janeiro e fevereiro, saindo de Goa
1[1 J1[lV .gaç: () a veja, foi possível dar o salto transoceânico apro- quando sopravam os ventos do norte, para chegar à Lisboa em
v .ltando as ir ulaçõ s dos v ntos e as correntes. Levado pelos agosto ou em setembro: passavam um ano no mar e, ano e meio,
altsíos, s se podia chegar da Europa à América através duma na viagem completa.
rota qu fosse até o sul, tocando as Canárias, e que conduzia ne-
. .ssaríam ote às Antilhas (é a rota da viagem de Colombo); e ,
da América à Europa, só se podia voltar, subindo mais ao norte,
para tomar a corrente do Golfo e aproveitar os contralísios que
S pram de oeste à leste.
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Figura 1.4
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H 'nlll~I\'().~ \11.11,1111 umn lalx:1 I, t 'Ir" que 1111111.1 AIII 'de:1 do A rorr 10 (;011'0 ' pllca I11LdlOSaSI "tos da h 'nignl la-
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dido t 'r uma temperatura mais suave qu a de outras zonas do
unt ',~ clr -uluvam I' I 'st ' a o st , S" a .urnulararn no aribc " planeta na mesma latitude. No Paleolítico, por exemplo, o limite
I r -sslonunck com granel f r a at o norte, d ram lugar à cor- dos gelos na Europa se encontrava mais ao norte do que na Amé-
r .ntc 'ir ular do golfo que é a mais potent cio mundo. Esta COf- rica e os ventos cálidos lhe asseguravam um pluviosidade maior
(figura l. 5).
r .ru ' sob' pela costa norte-americana até que encontra a barr i-
ra submarina dos bancos da Terra Nova; a água fria que vem do
P )[0 Norte impede que a quente progrida mais além e a desvia
til' O leste, em direção à Europa. Na zona de contato destas duas
grand s correntes - desde Terra Nova até a Islândia e as costas
da Noruega - localiza-se uma das zonas marinhas biologicamen-
t mais fecundas do mar, onde a pesca é muito rica.
." I
:
ra Ló), uma denominação que deriva das palavras gregas que
significam "calor" e "sal", tem sua origem nas diferenças de den-
O "
sidade produzidas pela temperatura e pela salinidade. A água da
zona do Antártico tem uma maior densidade porque, ao conge-
.., lar, o gelo desprende cerca de 70% do sal que contém e carrega
de salinidade as águas próximas de modo que estas, ao aumen-
tar de peso, afundam, iniciando uma circulação em profundida-
de que será compensada por outras correntes de água menos
oeste
densa (e mais quente) em sentido contrário. Esta circulação é im-
portantíssima porque a água superficial leva o oxigênio até o fun-
Escudo de Massas do do mar enquanto que, a que sobe para substituí-Ia, arrasta até
gelo continentais
emersas a superfície os minerais - nitratos, fosfatos, carbono e minúscu-
Fronteira da
água fria las quantidades de alguns metais - necessários ao desenvolvi-
mento dos organismos vegetais que têm que fazer a fotossíntese.
Figura 1.5. O gelo e a corrente do golfo durante a última glaciação.
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" p , 'I:tl. ( prtm -lro 'lu ' d 'v 'mos vai irlzar . quc, corno um los afl rarn nto de águas profundas: são zonas de mar que hoje se
dois 'I -m 'nlOs transmlssorcs Ia .n .rgía solar, o mar t .m uma ln - defendem a tiros de canhão.
port; n Ia .ru .ial.
A relação do homem com o mar tem que ver, além disso,
upa 70% da superfí 10 planeta; isto significa qu r '- com a navegação, que se encontra submetida pelos condiciona-
, ibe 70% de toda a radiação solar ,como retém uma parte mentos naturais, estando ainda mais na época da navegação a
maior da energia r cebida do que a atmosfera, atua como regu- vela (quer dizer, na maior parte da história da humanidade). Para
lador do calor. A fotossíntese, ao contrário, é menos eficaz aqui fazermos uma idéia destes condicionamentos, examinaremos o
qu n ci 10 terrestre que vimos antes. O fitoplâncton ou plânc- caso de um mar que tem sido fundamental em nossa história,
ton veg tal (composto por algas, em geral muito pequenas, que como é o Mediterrâneo.
S' o arrastadas pelas correntes) que o produz é encontrado abun-
O Mediterrâneo tem poucos rios importantes que lhe per-
dant mente nas zonas onde há correntes profundas que levam mitem recuperar a água evaporada. Antes da construção das re-
água para a superfície e, com ela, os nutrientes necessários para presas do Nilo, só recebia, de seus rios, 25% da água evaporada
os processos da vida. As zonas centrais dos oceanos - estes ma- (agora lhe chega menos). Outros 4% vinham do mar Negro, que
res tropicais de um azul profundo - são, em termos da vida, va- recebe do Danúbio e dos grandes rios russos e ucranianos mais
zios e estéreis como um deserto. água do que evapora, o que provoca a existência de uma corren-
O fítoplâncton é consumido pelo zooplâncton herbívoro
te até o sul pelos estreitos da Turquia; porém 71% da água de
(formado por animais minúsculos), que, por sua vez, é absorvi- substituição da evaporada entra pelo estreito de Gibraltar em
do pelos pequenos predadores, os quais servem de alimento a uma grande corrente superficial, compensada por outra profun-
peixes maiores, que são os que, finalmente, nós comemos. Cál- da, que leva ao Atlântico a água mais salgada do Mediterrâneo.
culos feitos na zona do canal da Mancha mostram que cada hec- Esta corrente de superfície, que tem uma velocidade de seis mi-
tare de mar produz, ao dia, 5 Kg de fitoplâncton que, depois de lhas/ ajuda a explicar a dificuldade das viagens até o Atlântico.
passar pelos níveis tróficos do zooplâncton e dos pequenos pei- Assim, gera-se uma corrente superficial que gira em senti-
xes que o comem, dão 26 g de pescado apto para nosso consu- do contrário aos ponteiros do relógio, a uma velocidade que
mo. A complexidade da cadeia alimentar no mar explica estes varia de seis milhas em Gibraltar até meia ou uma milha nas cos-
baixos rendimentos. tas do grande golfo da Itália, França e Espanha. No estreito de
Falamos antes da importância do afloramento à superfície Mesina pode chegar, também, a ser de seis ou mais milhas, o
de águas profundas que carregam elementos minerais. Quando
os organismos marinhos morrem sem haver sido consumidos
por outros, depositam-se no fundo do mar e, com eles, os mine-
4. As marés vermelhas que aparecem, em certas ocasiões, próximas à
rais que formam seu corpo, os quais ficarão depositados sem de-
costa, são conseqüência do lançamento, no mar, de adubos químicos uti-
comporem-se. Onde não há afloramentos de águas profundas lizados na agricultura. O plâncton vegetal encontra, então, substâncias
(upwelling), estas substâncias ficam inertes no fundo, as águas minerais abundantes, cresce enormemente e forma estas camadas de al-
superficiais são pobres em minerais, há pouco plâncton e não gas vermelhas que acabam sendo excessivas: o zooplâncton não pode
chegar a consumi-Ias e as algas, muito abundantes, esgotam o oxigênio
existe muita vida, há, portanto, pouca pesca. Próximo às costas,
disponível, não permitindo a vida animal.
onde o vento empurra a água superficial mar a dentro e faz su- 5. Um nó é uma medida de velocidade que eqüivale a uma milha marí-
bir a das camadas mais profundas para substituí-Ia, ou ali onde tima (quer dizer 1.852m) por hora.
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1\ 'I' '.'Ir 'l)t~lI' lo, a Isto, os ventos lomlnant '.'I qu " durunt ' .ompre 'nu 'r qu • os onclicionantes do meio tiveram um papel
os 111 '.'I '.'I '111 qu . S • navegava nos I .mpos unt -rtor os ao vapor, írnp rtante na história do mundo mediterrâneo (figura 1.7).
qll'r liz 'r no ver; o, luas ° s 'mpr ° sopravam d ' noro -st, ti su-
I -ste, 'sp ° .íalm .nt . no Mediterrâneo ori enral, entenderemos por
'lu " ti princípio, as condiçõ s para a navegação eram muito mais
favoráv 'is para os habitantes das costas européias do que para os
tias c stas africanas, que têm ventos e correntes contrárias para
viajar de leste a oeste e que, tão pouco, tinham facilidades nas
t rav essias de sul a norte porque, quando sopra o vento do sul, o
vcnt quente ou siroco, este é tão violento que não serve para a
navegação.
Figura 1.8. Este mapa, que indica as rotas seguidas pelos navegantes
fenícios e os lugares onde estabeleceram suas colônias, confirma,
neste caso concreto, o que mostra o anterior (Robin Osborne, Gree-
ce in the making, 1200-479 BC, Londres, Routledge, 1996).
Correntes
........ ~ Rotas principais de neveeeçãc
~~~~~~
Ventos dominantes (no verão)
800Km
o clima e a história
Até agora falamos de aspectos estáticos, que parecem mais
Figura 1.7. Correntes, ventos dominantes (no verão) e principais ro- próprios da geografia do que da história, Agora, faz-se necessá-
tas de navegação no Mediterrâneo (de Jonh H. Pryor, Geography, rio considerar a ação do meio natural desde um ponto de vista
technology, and uiar; Cambridge, Cambridge University Press, 1988). dinâmico: a influência das mudanças do clima na história.
Desde a antigüidade, especulou-se sobre a influência que
Existe, além disso, um contraste entre as costas do norte, as diferenças de clima exerceram nas sociedades humanas. O
que têm abundância de portos e refúgios de fácil acesso, e as do tema foi divulgado por um dos grandes pensadores ilustrados do
sul que, na parte ocidental, oferecem uma acolhida difícil, estan- século XVIII, Montesquieu, que escreveu tanto sobre ciências na-
do cheias de rochedos, de modo que, historicamente, têm sido turais, quanto sobre política e história." Montesquieu sustentava
cenário de inumeráveis naufrágios e desastres; enquanto isso, na
parte oriental, são planas e com bancos de areia. Por outra par-
te, as ilhas que facilitam as escalas nas longas viagens, desde Chi- 6. Sendo produtor de vinho de Bordeaux que exportava para a Inglater-
pre até Maiorca, estão muito mais próximas da costa norte. Para ra, é compreensível que vivesse dependente do clima, que tanta influên-
cia tinha na qualidade e na quantidade do vinho, gerador de sua fortuna.
dominar o Mediterrâneo, os muçulmanos tiveram que ocupá-Ias
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'dOI 'S o f 'torno 10 S<l11HlI ' Utilizam s, ainda, as medidas de dois isótopos do oxígê-
no '( ra ' l, faz os h om 'os mais f rt s ativos, dá-lh 'S .onflan- ni 7 nas águas dos mares do passado, que conhecemos graças ao
çu '111 si m .srn 8 • os faz mais vai ntes fato de que as conchas dos foraminíferos fósseis refletem qual era
f 'dor! lade. Nos países quentes, ao contrário, as fibras se rela- a proporção destes isótopos na ágüã"Qüando estavam vivos, o
xam, diminui sua força e os homens são preguiçosos. Com esta que nos permite fazer, a partir destes fósseis, um calendário bas-
l 'orla, justificava-se a escravização dos negros que viviam nos tante exato das flutuações do clima nos últimos 780.000 anos (fi-
tr pi s, sob o argumento de que não trabalhariam se não fos- gura 1.9). Também podemos estudar as variações que ocorreram
s em obrigados a fazê-lo. no campo magnético segundo a orientação que mostram as par-
Existe também outro velho preconceito, paralelo a este, se- tículas nas correntes de lava, tendo, ainda, outros sinais, mais
gundo o qual, onde o clima é suave e a vida fácil, os homens se complexos, que nos proporcionam respostas muito ricas.
sforçam pouco - é o tópico da ociosidade rnerídíongl, - enquan- No gráfico da figura 1.10 há uma curva que mostra a evo-
to que, ao contrário, condições de vida mais difícif'e'stimulam a lução da temperatura nos últimos 125.000 anos (as datas medem-
iniciativa humana e são mais favoráveis ao desenvolvimento da se de zero, que é o momento atual, para trás, até 125.000 anos
civilização, desde que não cheguem a ser tão duras que a sim- antes do presente), obtida a partir das camadas anuais de gelo da
ples sobrevivência absorva toda a capacidade dos homens, impe- Groenlândia. No gráfico, aparece claramente refletida a última
dindo-os de progredir em outros aspectos, como ocorre nos de- glaciação; o aquecimento dos últimos dez mil anos parece espe-
sertos e nas zonas polares geladas, onde habitam os lapões e os tacular, porém, podemos ver, que não é outra coisa do que um
Inuit, Não vale a pena ocupar-se destes preconceitos porque os retorno à situação anterior à glaciação.
elementos fundamentais que baseiam nossa cultura - como o al-
fabeto e o sistema numérico índio, sem os quais a ciência moder-
na teria sido impossível - não foram inventados no frio norte,
mas sim no quente sul.
Muito mais interessante, ao contrário, é o papel que tive-
ram as variações do clima na história das sociedades humanas: o
esfriamento e as glaciações, o ressecamento progressivo de algu-
mas zonas ou as inundações.
Como podemos conhecer a evolução do clima no passado?
Só conservamos medidas regulares de temperatura e de pluviosi-
dade há uns duzentos e cinqüenta anos. Para etapas anteriores,
dependíamos, até algum tempo, dos testemunhos mais ou menos
impressionistas dos contemporâneos: relatos de inundações ou de
secas, preces 'aos santos etc. Hoje, entretanto, somos capazes de
fazer que alguns registros naturais nos falem dando-nos respostas 7. Na água do mar, encontram-se dois isótopos do oxigênio, com um
exatas. Os gelos polares, cujas camadas foram se acumulando sem peso atômico de 16 e 18 respectivamente (o segundo em uma propor-
ção muito reduzida), que se comportam de maneiras distintas no que diz
se derreterem, não só nos proporcionam informações sobre a
respeito à evaporação. A proporção que tem existido em um momento
temperatura, como, inclusive, sobre a composição do ar - a quan- dado, entre um e outro, indica se houve maior ou menor degelo de ne-
tidade de dióxido de carbono que continha, por exemplo - gra- ves (quer dizer, se a época era mais ou menos quente).
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.;. .;. .;. .J.
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limite superior
do núcleo
surgimcnto de manchas solares. Quando o Sol é ativo, há man-
chas e, paradoxalmente, as zonas livres das mesmas são mais bri-
13 lhantes. O resultado é que o astro emite um pouco mais de ener-
o 32
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gia e, principalmente, muito mais partículas carregadas que pro-
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um WMi mo este, que corresponde à história do clima no he- I 01' duas grandes massa' de ar: um limite superior (um anticiclo-
Il1lsf ri norte, não é válido para o sul. Sabemos, por exemplo, n ,) de ar frio sobre o pólo Norte, que é relativamente estática, e
qu 'na poca glacial havia grandes massas de gelo no Ártico que outro que está sobre o Saara e sobre a Arábia, que tem uma cer-
I 'S iam até a metade da Inglaterra e que, pela retenção de água ta mobilidade, deslocando-se de sul a norte e vice-versa. A razão
n .sta massa, o nível do mar era 40 m mais baixo - podia-se ir a deste comportamento diferente dos dois limites superiores é que
p 'do ontinente à Inglaterra e da Inglaterra à Irlanda. Porém, no as variações da atividade solar influem muito pouco no pólo,
Antártico, a situação era parecida com a de hoje - não fazia mais onde os raios chegam indiretos, sendo muito nos trópicos, e que
frio, n m havia mais gelo -, nos trópicos, havia maior aridez e, a diferença do calor recebido faz mover este limite superior do
em alguns lugares, fazia mais calor que hoje (por exemplo, a sul. Entre os dois máximos (entre os dois anticiclones) situa-se
água do Índico era mais quente). A falta de chuvas no nordeste uma espécie de vale por onde passam os ares úmidos do Atlân-
da Sibéria, por sua vez, dava lugar a que não houvesse gelo, o tico: as depressões que se dirigem ao continente euroasiático em
qu permitiu que os homens pudessem passar por ela e, como o forma de ciclones. Da atividade solar que desloca o limite supe-
mar havia baixado de nível, a cruzassem, andando até a América rior do sul depende, pois, o curso desta circulação que leva chu-
pela zona de Bering. vas em uma ou outra direção e que marcou a história da Ásia
Na Europa, a temperatura era, em média, uns 4° a 6° abai- central com suas ondulações. Quando há chuvas, a erva cresce
xo da atual, porém, o fato de que houvesse poucas chuvas fazia na estepe e os povos nômades prosperam; quando vem a seca,
com que a neve fosse escassa e os invernos não muito mais ri- a subsistência se lhes torna impossível, tendo que fugir para os
gorosos que os atuais (não é verdade que os homens viveram territórios próximos, invadindo Europa, a Índia ou a China. As-
1 em cavernas, entre outras razões porque elas não existiam em sim explicam-se as grandes invasões, como a dos hunos, dos tur-
número suficiente para alojá-los). O homem foi se adaptando a cos e dos mongóís."
estas mudanças climáticas: foi seguindo em direção ao norte,
acompanhando os rebanhos de grandes animais que fugiam da
falta de pastos como conseqüência da aridez, vestindo-se com as
peles dos animais que caçava a fim de defender-se das tempera-
turas mais baixas.
Não obstante, a temperatura não basta para explicar tudo
em relação ao clima. Um dos fatores mais importantes - como
podemos compreender facilmente hoje, quando estamos acostu-
mados a ver cotidianamente gráficos meteorológicos que mos-
tram o deslocamento das zonas de altas e baixas pressões - é a
circulação atmosférica: as mudanças nas circulações dos ciclones
(convém não confundir os ciclones com os furacões), ou talvez
seja melhor chamá-los "depressões", que são as zonas de baixa
pressão às que se opõem os anticiclones, ou zonas de alta pres-
8. Isto, que é mais complexo do que esta visão simplificada pode fazer
são (anticiclone eqüivale normalmente a bom tempo - tempo en- crer, está admiravelmente explicado no livro de L.N. Gumilev, La busque-
solarado e seco - e depressão, a chuva e mau tempo). da de um reino imaginaria, Barcelona, Crítica, 1994, p. 24 s.
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