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Resenha

Jung o Homem Criativo, por Luiz Paulo Grinberg


São Paulo: Paulus, 2ª ed., 2003

Este texto tem como objetivo resenhar o segundo capítulo da obra “Jung O Homem
Criativo”, de Luiz Paulo Grinberg, cujo título é “A descida ao Inconsciente”. Esta
produção é dividida da seguinte forma: após a apresentação e prefácio, encontramos a
introdução, seguida de mais oito capítulos, finalizando com “Glossário”, “Jung e seu
tempo” e a “Bibliografia”. Totalizado na versão em formato PDF, 238 páginas.
Grinberg, no capítulo alvo deste texto, discorre sobre o movimento de Jung rumo às
imagens que povoavam seu inconsciente, entrando em contato com as profundezas da
psique. O autor nos mostra como isso trouxe a Jung a vivência de seu mito pessoal,
que só foi possível acontecer por ter Jung uma consciência bem estabelecida e um
retorno à sua criança interior – basicamente voltar a brincar, a se relacionar com as
próprias lembranças dos momentos de gozo lúdico e do registro das fantasias oriundas
desse processo.
A percepção de que temos uma capacidade inata para a formação de símbolos se
revela ainda com mais clareza nesse período de interiorização de Jung, possibilitando
caminhos de cura nos momentos de maior revés ambiental e psicológico. Jung vivia
aquilo que chamou de “metanoia”, uma espécie de crise no meio da vida que leva o
ser a mais um passo extremamente significativo de transformação da personalidade.
Esta crise leva ao sacrifício de um “herói interior”, e esta morte simbólica permite que
um novo deus, uma “criança divina” mude o estado anterior levando o ser rumo a sua
totalidade.
De acordo com o autor, Jung confirma que há em todo ser um centro regulador que o
encaminha à sua própria inteireza, movimento este que leva o nome de
“individuação”, sendo esta a meta do desenvolvimento psíquico. Jung percebia que a
ciência usual não conseguia abarcar toda a complexidade do ser, e por isso partia em
busca de um olhar mais integral, holístico, que proporcionasse um estudo da alma,
menos linear e rígido, e mais subjetivo e associativo.
Foi através de sua experiência com as próprias fantasias que se tornou capaz de
perceber como a psique integra algo maior que si mesma, que o ser não está
totalmente no controle de seus atos, e que há imagens numinosas, com energia
própria, influenciando ações, afetos e ideias humanas. O mundo imaginal para Jung era
uma das principais funções da psique, por isso para ele foi tão importante dedicar-se
ao estudo de produções e fenômenos não explicados pela razão lógica. Dedicou-se
então aos estudos da Alquimia, Mitologia, Sistemas de Crença como as Religiões ao
redor do mundo e a Sincronicidade: fenômenos que indicam uma relação entre
energia física e psíquica, coincidências sem explicação causal que provocam uma
mudança anímica no ser que experimenta tal fenômeno. Assim, Jung nos mostra que
sua vida foi o mais plena possível de significado e entrega a ser quem nasceu para ser:
si mesmo.
A experiência proporcionada pela leitura de Grinberg foi bastante elucidativa pois,
mesmo familiarizada com as passagens da vida de Jung abordadas pelo autor, pude ver
uma espécie de síntese que facilita a compreensão dos principais conceitos da
psicologia complexa. O autor preocupou-se em complementar a leitura, e propor
alguns questionamentos ao final de cada capítulo, o que amplifica o conteúdo a ser
internalizado pela leitura.
A vida de Jung parece sempre nos provocar à originalidade, à desconstruções e retorno
aquela vivência anterior às cascas que formamos no decorrer da vida, para que nossa
essência vital encontre o seu lugar na psique. Diria até mesmo que há uma tentação de
se comparar com este mestre, de se sentir de certa forma incapaz quando isto
acontece, pois Jung teve uma vida repleta de realizações e produtividade. Todavia, se
estivermos realmente vivenciando a psicologia proposta por Jung, logo perceberemos
que o mestre nos convida a nos livrarmos das comparações para não morrermos
cópias de outrem.
Quem deseja viver uma vida de autorrealização precisará ter na alma que muitas
mortes acontecerão pelo caminho, todavia o que pode trazer consolo, é lembrar-se
que a vida é cíclica: após a morte, vem o renascimento, após a tempestade, vem a
bonança, após a renúncia, vem a recompensa. Somos todos livres para sermos
exatamente quem somos, mas toda liberdade vem acompanhada de responsabilidade,
e quem tiver disponibilidade emocional para tal, poderá envolver-se com a própria
existência.

Sobre a autor
Luiz Paulo Grinberg é médico psiquiatra formado pela Escola Paulista de Medicina
(Universidade de São Paulo – Unifesp) e analista junguiano membro da Sociedade
Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), filiado a International Analytical Psychology
Association (IAPA). Atualmente, clinica como Psiquiatra e Analista na cidade de São
Paulo.

Mical Albanezi Cavalcante de Oliveira


Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Psicoterapia Junguiana da Universidade
Paulista – UNIP Paraíso

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