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Autoria: Associação Brasileira de Medicina Física e
Reabilitação
O Projeto Diretrizes, iniciativa da Associação Médica Brasileira, tem por objetivo conciliar informações
da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico.
As
Asinformações
informaçõescontidas
contidasneste
nesteprojeto
projetodevem
devemser
sersubmetidas
submetidasààavaliação
avaliação e à crítica do médico,
responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.
1
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira
OBJETIVO:
Oferecer informações sobre o tratamento em reabilitação do acidente vascular
encefálico na fase aguda.
CONFLITO DE INTERESSE:
Os conflitos de interesse declarados pelos participantes da elaboração desta diretriz
estão detalhados na página 11.
Introdução
realizada por meio de fotografia lateral com o pu- Esta diretriz observou duas terapias voltadas
nho em extensão com as articulações metacarpo- aos pacientes pós-AVE em fase aguda e com
falangeanas e interfalangeanas estendidas. A média sequela de hemiparesia; a primeira com 33
de repetição consecutiva foi de três medidas14(B). pacientes que receberam fisioterapia por meio
da abordagem bobath e, a segunda, em 28 indi-
Recomendação víduos com o mesmo diagnóstico, mas tratados
O uso de órtese para membros inferiores pela abordagem do programa de reaprendizagem
previne encurtamentos musculares na fase aguda motora por cinco vezes por semana, no mínimo
pós-AVE13(A). O uso de órtese em membro supe- 40 minutos, durante todo o período de internação
rior não previne encurtamentos musculares14(B). e dando continuidade após a alta. Todos esses
pacientes apresentaram melhora na função mo-
6. O treino focado na tarefa com pacien- tora e nas atividades de vida diária. No entanto,
tes em fase aguda pós-AVE melhora o houve maior melhora da função motora no grupo
desempenho motor? que realizou terapia baseada no programa de
reaprendizado motor16(A).
Um programa adicional de exercícios
tarefa específicos, durante quatro semanas, Programa de 12 sessões de exercícios comple-
em indivíduos pós-AVE, com dependência mentares de transferência de peso����������������
, ou seja, �����
exer-
para caminhar uma distância de dez metros e, cícios com repetição de atividades autoiniciadas
clinicamente estáveis, mostrou-se efetivo para orientadas por um alvo, alcance sentado e em pé,
recuperação funcional de acordo com a tarefa realizados em 17 pacientes acima de 18 anos,
trabalhada. Foram estudados pacientes divididos após incidente de AVE, apresentando hemiplegia,
em dois grupos, um recebeu tarefas de mobili- estáveis e clinicamente hábeis a cooperar com
dade e outro de função de membros superiores. o tratamento e consentir participar do estudo,
O grupo de mobilidade realizou atividades de independentes antes do AVE, avaliados pelo teste
aquecimento, resistência em cicloergômetro e de alcance lateral, static standind balance e sit-to-
esteira, tarefas funcionais como sentar e levan- stand-to, não apresentaram diferença significativa
tar, subir degrau, balance e alongamento. O nas medidas de deslocamento de peso em pé e
grupo de membros superiores realizou atividades alcance, e tempo de levantar e sentar, quando
de aquecimento, seguidas de tarefas funcionais comparados à fisioterapia convencional efetivada
para melhora do alcance, preensão e coordena- em 18 pacientes. No entanto, houve diferença na
ção olhos-mãos. Os dois grupos apresentaram oscilação durante ortostatismo e tempo de retorno
melhora no teste de caminhada de seis minutos à posição inicial após alcance, evidenciando maior
e time up and go, no entanto, o grupo de mo- controle postural17(A).
bilidade apresentou melhor desempenho nesses
testes. O grupo de exercícios para função de Recomendação
membros superiores apresentou melhora nos Um programa de fisioterapia imediato, na
testes para destreza. Ambos os grupos realizaram sequência de um incidente de AVE, tem se
fisioterapia, uma hora por dia, cinco vezes por mostrado eficaz na recuperação funcional dos pa-
semana15(A). cientes. Essa recuperação tende a ser mais efetiva
quando esse programa é baseado em exercícios gastrocnêmico médio, com o indivíduo em pé,
orientados à tarefa/função, sendo que a melhora com o membro inferior afetado suportado por
é específica da tarefa trabalhada15-17(A). um sling, demonstrou melhora da espasticida-
de dos músculos flexores plantares segundo a
7. A estimulação elétrica funcional (FES) Composite spasticity scale (CSS), entretanto,
pode ser utilizada para adequação do sem diferença, estatisticamente, significativa
tônus muscular em pacientes com AVE entre os grupos que não realizaram a FES19(A).
em fase aguda?
Recomendação
A estimulação elétrica funcional (FES) O uso da FES reduz a espasticidade dos
aplicada por nove minutos no músculo tibial músculos flexores plantares em pacientes em
anterior (catodo na junção neuromuscular fase aguda pós-AVE. Assim, a FES pode ser
do músculo e anodo sobre a cabeça da fíbula, utilizada para adequação do tônus muscular em
corrente com frequência de 100 Hz, duração pacientes com AVE agudo18,19(A).
de pulso de ¼ 0,1ms, intervalo de pulso de ¼
0,9ms, tempo on de ¼ quatro segundos e tempo 8. A terapia de contenção induzida
off de ¼ seis segundos, com intensidade de 25% promove melhores resultados funcio-
abaixo da necessária para produzir a contração nais que a terapia convencional em
máxima do músculo), associada com técnicas pacientes com AVE em fase aguda?
inibitórias do Bobath (movimentação passiva de
flexo-extensão de tornozelo, extensão de joelho, A terapia de contenção induzida realizada
abdução e rotação externa do quadril – padrão por meio de uma hora de treinamento de ati-
inibitório reflexo) executadas em 15 minutos, vidades de vida diária e uma hora de atividades
realizadas, diariamente, por 20 dias consecu- bimanuais utilizando a constrição do membro
tivos, auxilia na redução da espasticidade do superior não-parético, além da permanência
músculo gastrocnêmico em pacientes com AVE de seis horas por dia com o membro superior
agudo, segundo a medida realizada pela escala não-parético contido, ou quando realizada por
modificada de Ashworth18(A). meio de três horas de atividades de vida diária su-
pervisionada, além de exercícios com massinha
Já a FES na frequência de 30 Hz, com e outras atividades funcionais, e permanência
tempo de pulso de 0,3 ms, intensidade de de 90% do tempo, enquanto acordados, com o
acordo com a tolerância máxima, dentro de 20 membro superior não-parético contido, aplicada
a 30 mA, usando uma sequência de ativação cinco dias por semana, durante duas semanas,
que simula uma marcha normal aplicada uma promove melhores resultados funcionais nos
vez ao dia, por 30 minutos, após 60 minutos pacientes em fase aguda pós-AVE. Essa melho-
de terapia convencional baseada na facilitação ra é tão efetiva quanto à terapia convencional
neuroevolutiva e terapia ocupacional focada em realizada com a mesma população, que consiste
atividades de vida diária, cinco dias por semana, em terapia ocupacional envolvendo técnicas de
durante três semanas, e eletrodos posicionados adaptação para atividades de vida diária, am-
em quadríceps, isquiotibiais, tibial anterior e plitude de movimento e alongamento, na qual
equipamentos para adaptação e posicionamentos afetado por meia hora. O aproveitamento desse
podem ser utilizados, e o uso do membro supe- tempo é dividido em duas etapas. Na primeira
rior parético pode ser encorajado; entretanto, etapa, por 25 minutos o paciente executa três
atividades com massinha de modelar e com cons- atividades rotineiras, por exemplo, escrever,
trição são proibidas. A melhora foi evidenciada pegar uma escova de cabelo e pentear-se, digitar
por meio das medidas realizadas a partir da NIH com o teclado do computador, pegar um copo
Stroke Scale (NIHSS), Action Research Arm Test com água e bebê-la, sendo que todas essas ati-
(ARAT), Medida de Independência Funcional vidades são efetivadas com o membro superior
(MIF), Stroke Impact Scale (subescala da função afetado. Na segunda etapa, nos cinco minutos
da mão), medidas de dor e escala de depressão restantes, o paciente faz exercícios focados em
geriátrica20(A). amplitude de movimento do membro superior
afetado. Cada seção foi repetida três vezes por
A terapia de contenção induzida realizada semana, durante dez semanas, e com restrição
três horas por dia, seis dias por semana, du- do membro superior menos afetado por cinco
rante duas semanas, obteve melhora funcional horas, cinco vezes por semana, durante dez se-
igual à dos pacientes que receberam terapia manas. Essa terapia obteve melhores resultados
convencional intensiva, segundo dados obtidos do que a terapia convencional constituída por
por meio do Fugl-Meyer Assessment of Motor exercícios de destreza manual com o membro
Recovery, Grooved Pegboard Test (GPT), Motor afetado e alongamento, além de estratégias
Activity Log (MAL) e Estimulação Magnética compensatórias com o membro não afetado, por
Transcraniana, com exceção do Fulg-Meyer, meia hora, três vezes por semana, durante dez
que mostrou uma melhora maior no grupo de semanas. Segundo o MAL, não houve diferença
terapia de contenção induzida. A terapia con- entre as terapias22(A).
vencional intensiva consistia em atividades de
vida diária bimanuais e atividades terapêuticas A terapia de contenção induzida realizada
com o membro superior afetado, focadas para por um tempo progressivo de uso, iniciando
melhorar o alongamento, o tônus muscular e a por uma hora por dia e aumentando até seis
amplitude de movimento. O número de horas horas diárias (média de 2,7 horas diárias),
diárias de terapia e o número de terapias por durante duas semanas, associada à terapia
dia eram maiores que o convencional para se convencional, que envolve facilitação do con-
aproximar da frequência e da duração da terapia trole motor proximal progredindo para tarefas
de contenção induzida. Nenhuma restrição de habilidades manuais específicas, além de
podia ser usada e os pacientes eram livres alongamento, treino de resistência, estimula-
para utilizar as duas mãos em suas atividades ção elétrica funcional, marcha e orientações,
cotidianas21(A). promove resultados semelhantes aos da terapia
convencional isolada, segundo as escalas ARAT
Segundo as escalas Fugl-Meyer Assessment of e MIF e a força de preensão (medida por meio
Motor Recovery (Fugl-Meyer) e ARAT, a terapia do dinamômetro manual Jamar). Entretanto,
de contenção induzida é constituída por ativi- segundo a CMII para controle postural, a tera-
dades realizadas com o membro superior mais pia de contenção induzida associada à terapia
de reabilitação, como a FES30(A), mostrado tidos ao treino de marcha sobre o solo quando
em pacientes pós-AVE agudo realizando treino comparado a pacientes submetidos ao treino de
de marcha no solo, treino de marcha suspensa marcha suspensa por 30 minutos, cinco vezes
e treino de marcha suspensa com uso do FES na semana, durante dois meses. Além disso,
em quadríceps na fase de apoio e dorso-flexor todos os pacientes receberam terapia com trei-
e flexores de joelho na fase de balanço, durante no do balance e descarga de peso no membro
20 minutos por dia e cinco vezes por semana, plégico33(A).
em quatro semanas29(B). Outra melhora de-
monstrada refere-se à mobilidade e deambulação Ainda foi descrito que o treino com a marcha
funcional em pacientes pós-AVE agudo de seis suspensa não parece ser um exercício superior
semanas ao serem submetidos ao treino de ao treino de exercícios domiciliares por um
marcha suspensa com e sem o uso da FES, fisioterapeuta. Foram estudados pacientes pós-
comparados aos pacientes submetidos somente AVE submetidos a três sessões de 90 minutos
ao treino de marcha convencional, em 20 minu- por semana, durante 12 a 16 semanas de treinos
tos de treino, cinco vezes por semana, durante de marcha suspensa por dois meses pós-AVE
quatro semanas28(A). e no treino de marcha suspensa seis meses
após AVE e demais pacientes sob o treino de
Ao se comparar a facilitação manual pelo exercícios domiciliares. Nos pacientes com seis
terapeuta associada à marcha suspensa mecânica meses pós-AVE, no grupo que realizou a marcha
em pacientes pós-AVE agudo de até três meses suspensa dois meses pós-AVE e no grupo que
de lesão com treino de três vezes por semana, realizou os exercícios domiciliares, os ganhos
durante seis semanas, a facilitação manual pelo obtidos foram similares na velocidade da marcha
terapeuta não adicionou resultados significati- e foram mantidos após um ano e, também, o
vos para a facilitação manual quando compa- grupo que realizou a marcha suspensa seis me-
rada ao grupo que realizou somente marcha ses pós-AVE obteve menor recuperação depois
suspensa31(A). de um ano. Apesar disso, o autor refere que o
número de quedas dos participantes do grupo
Entretanto, o treino de marcha suspensa, dois meses pós-AVE sugere que as terapias que
apesar de viável, foi descrito como tão eficaz visam à melhora do equilíbrio devem ser inclu-
quanto o treino de marcha convencional em ídas no programa para melhorar a habilidade da
pacientes pós-AVE com seis semanas de treino marcha34,35(A).
de marcha suspensa diário, de 60 minutos,
durante quatro semanas, comparados ao grupo Recomendação
que realizou fisioterapia de acordo com as ne- Apesar de não haver um consenso na li-
cessidades de cada paciente durante o mesmo teratura em relação ao treino de marcha com
período32(A). suspensão parcial de peso corporal frente à
reabilitação de pacientes pós-AVE, este vem
A marcha suspensa também foi considerada sendo utilizado como um recurso adicional à
uma escolha comparável ao andar sobre o solo, terapia e, dessa forma, descrito como viável e
em pacientes pós-AVE agudo que foram subme- seguro, além de favorecer o padrão de marcha e
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