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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

Reabilitação Neuropsicológica:
Acidente Vascular Cerebral (AVC)

Ana Nunes1
Universidade da Beira Interior, Portugal

Janeiro, 2018

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1º ano de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, Universidade da Beira Interior.
ana.isabel.nunes@ubi.pt

Resumo: A realização deste trabalho aborda os principais aspetos neuropsicológicos


envolvidos aquando um episódio de AVC. Nesse sentido, irão ser aprofundados alguns
conceitos referentes ao AVC (fundamentação teórica, etiologia, tratamento) e à
neuropsicologia (avaliação e reabilitação neuropsicológica). Uma vez que o tema central
do trabalho é a reabilitação neuropsicológica, o destaque deste trabalho irá ser a
abordagem à reabilitação neuropsicológica no AVC.
Palavras-chave: AVC, reabilitação neuropsicológica, neuropsicologia,
avaliação neuropsicológica.

Abstract: Throughout this work, the main neuropsychological aspects involved


during a stroke episode were approached. This way, some concepts regarding the stroke
(theoretical foundation, etiology and treatment) and neuropsychology (evaluation,
rehabilitation and neuropsychological rehabilitation) will be deepened. Since the main
work is about neuropsychological rehabilitation, the neuropsychological rehabilitation
approach in a stroke will be highlighted.
Keywords: Stroke, neuropsychological rehabilitation, neuropsychology,
neuropsychological evaluation.

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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

Introdução
As doenças vasculares constituem um dos mais graves problemas de saúde pública no
nosso país, sendo uma das principais causas de morte ou incapacidade. Esta problemática
acaba por representar, na maioria dos casos, uma tragédia pessoal e familiar, sendo que
as suas consequências se alastram para toda a dinâmica familiar.
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) define-se como o início brusco ou em forma de
crise de sintomas neurológicos, focais ou globais, que são causados por isquemia ou
hemorragia no cérebro ou à sua volta, tendo como base doenças dos vasos sanguíneos
cerebrais (Rowland, 1997 citado por Dantas, 2016). O doente pode apresentar alterações
leves (e.g. adormecimento de uma parte do corpo) ou graves (estado de inconsciência
total). A hemiplegia é o sinal típico de um episódio de AVC, podendo ocorrer tanto nas
lesões que envolvem os hemisférios cerebrais, como os pedúnculos cerebrais (Diz, 2012).
Os AVC podem ser de dois tipos: isquémicos ou hemorrágicos. Os AVC isquémicos
resultam da obstrução de um vaso sanguíneo, podendo ser devido a uma trombose, a uma
embolia ou lacunares. Por outro lado, os AVC hemorrágicos resultam da rotura dos vasos
intracranianos, com extravasamento de sangue para o tecido cerebral ou para o espaço
subaracnoideu (Brown & King, 2011 citado por Diz, 2012).
Dentro dos fatores de risco do AVC pode-se referir a idade, o sexo, a hereditariedade,
o consumo de tabaco, o abuso de substâncias como droga e álcool, as dietas ricas em
gordura animar, o sedentarismo, a obesidade, o uso de contracetivos orais, a hipertensão
arterial, histórico de doenças cardíacas, diabetes mellitus, enxaqueca, hipotiroidismo e
elevada concentração de fibrinogénio (Diz, 2012).
Um episódio de AVC pode resultar em grandes consequências para o paciente e seus
familiares, uma vez que este acaba por atingir o paciente ao nível cognitivo, emocional,
comportamental e físico.
Dentro das consequências neuropsicológicas principais aquando um episódio de AVC
podemos destacar as alterações sentidas ao nível da atenção, da perceção, da visão, da
orientação, do comportamento e das emoções.
No tratamento e reabilitação dos pacientes de AVC é necessária a intervenção por
parte de uma equipa multidisciplinar, constituída por médicos, enfermeiros, auxiliares,
fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, terapeuta da fala, assistente socia e por
psicólogo/neuropsicólogo.
A atuação do neuropsicólogo passa por primeiro realizar uma avaliação
neuropsicológica, em que o terapeuta avalia o paciente através de uma entrevista clínica,

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recolhendo dados bibliográficos e psíquicos do doente, seguindo-se um exame de sáude


mental, realizado através de vários mecanismo, como escalas, questionários ou testes.
Depois de realizada a avaliação, o terapeuta passa então para o processo de
reabilitação. Este processo é continuo e demorado e tem como principal objetivo fazer
com que o paciente recupere algumas das suas funções perdidas e retorne ao máximo
nível de funcionalidade que tinha antes do episódio de AVC (Maia, Correia & Leite,
2011).

Neuropsicologia
A Neuropsicologia consiste no estudo das relações entre o cérebro e o
comportamento, investigando as alterações cognitivas e comportamentais que estão
associadas às lesões cerebrais (Handman, Pereira & Riechi, 2011).
O termo neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez no ano de 1913, por Sir
William Osler, numa conferência nos EUA
Esta resulta da aplicação dos conhecimentos do campo das neurociências
(neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquimica e neurofarmacologia) e da atuação
profissional de psicologia (psicologia clinica, psicologia experimental, psicopatologia e
psicologia cognitiva) (Handman, Pereira & Riechi, 2011).
Os dois principais contributos da neuropsicologia são a avaliação e a reabilitação
neuropsicológica. A avaliação neuropsicológica é realizada através da aplicação de uma
bateria de testes que procuram identificar e avaliar o funcionamento cognitivo, tendo
como principais focos de investigação as funções cognitivas (memória, atenção,
linguagem, funções executivas, raciocínio, motricidade, perceção e as alterações
emocionais e de personalidade (Handman, Pereira & Riechi, 2011).
A reabilitação neuropsicológica, que irá ser mais abordada em seguida, é um processo
que visa ao tratamento das deficiências cognitivas resultantes de uma lesão neurológica,
tendo como principal objetivo capacitar os pacientes e os seus familiares a conviver, lidar,
contornar, reduzir ou superar essas mesmo incapacidades cognitivas (Wilson, 2003 citado
por Handman, Pereira & Riechi, 2011).
O estudo realizado pela neuropsicologia realiza-se a diversos níveis, tendo como
objetivo descrever, compreender ou explicar as disfunções observadas, para que sirva de
base na elaboração de um plano de reabilitação e tratamento neuropsicológico (
Abdulremane, 2010).
A neuropsicologia acarreta grandes vantagens ao nível clinico, entre as quais:
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• Determinação do status cognitivo do paciente, identificando potencialidades


ou fragilidades cognitivas;
• É um elemento fulcral no diagnóstico;
• Deteção de défices cognitivos, que não foram descobertas em avaliações
neurológicas, fisiológicas, etc;
• Prescrição terapêutica;
• Predizer a habilidade funcional do paciente no trabalho, atividades diárias, etc;
• Monitorização de alterações cognitivas, associadas à progressão da doença, ao
tratamento e à recuperação.
É importante nunca desconsiderar outros fatores que possam interferir na avaliação e
reabilitação neuropsicológica, como por exemplo a idade, o nível de escolaridade, os
sintomas psiquiátricos e a personalidade do paciente (Bartolomé & Ardila, 2005; Paulsen
& Hoth, 2004, citado por Abdulremane, 2010).

Avaliação Neuropsicológica

A avaliação neuropsicológica procura estudar a expressão comportamental da


disfunção cerebral, constituindo um elemento fulcral no diagnóstico e tratamento (Maia,
Correia & Leite, 2011).
A avaliação neuropsicológica tem como objetivo a descrição detalhada das alterações
cognitivas, emocionais e comportamentais dos sujeitos aquando de uma lesão cerebral
Este processo é considerado uma avaliação compreensiva constituída por diversos
processos indicativos da normal ou anormal funcionamento cognitivo (Maia, Correia &
Leite, 2011).
A avaliação neuropsicológica é constituída por dois diferentes processos, sendo estes
a entrevista clinica e o exame mental.
A entrevista clinica baseia-se na compilação dos dados acerca da história clinica e
pessoal do paciente, assim comos os fatores interpessoais que rodeiam o sujeito, de forma
a se reunir o maior número de dados acerca da sua orientação pessoal, espacial e temporal,
bem como do seu nível de consciência, discurso e atenção (Martins, 2013).
Por outro lado, o exame mental consiste na aplicação de questionários, escalas e
provas, tendo como finalidade a análise quantitativa e qualitativa dos resultados. O exame

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mental é baseado nos problemas neurológicos, comportamentais e nas queixas do doente.


(Simões 1997, citado por Martins, 2013)
Através dos processos utilizados na avaliação neuropsicológica (testes, baterias,
escalas) é possível avaliar os efeitos da lesão no funcionamento cerebral, o grau em que
a lesão afeta a capacidade de processar informações em determinado domínio cognitivo
e como irá afetar o desenvolvimento de competências noutros domínios, sendo desta
possível adequar de forma mais precisa o tipo de reabilitação necessária para cada caso
(Fisher & Rose, 1994 citado por Silva, 2011).
Assim, através de uma boa avaliação neuropsicológica torna-se possível responder a
determinadas questões, como por exemplo: qual a extensão das alterações ou mudanças
no estado de humor, personalidade e comportamento; em que medida estas alterações ou
mudanças verificadas são uma consequência direta ou indireta da lesão cerebral;
identificar quais os domínios cognitivos que se encontram afetados; determinar quais as
implicações das alterações encontradas no funcionamento individuo e nas suas atividades
quotidianas; que conselhos se podem fornecer ao individuo, aos seus familiares e/ou
cuidadores para uma melhor adaptação a eventuais défices; e que conselhos práticos se
podem dar para um processo eficaz de reabilitação ( Crawford 1996 citado por Augusto,
2017).
No caso específico do AVC, é importante referir que é através da avaliação
neuropsicológica que grande parte dos distúrbios cognitivos das doenças vasculares é
reconhecido. Dessa forma, é conseguido uma melhor adequação das estratégias
psicoterapêuticas e farmacológicas.

Reabilitação Neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica é um processo ativo que tem como objetivo restaurar
algumas das funções perdidas pelas pessoas aquando de uma lesão ou doença, para que
possam adquirir um bom nível de funcionamento social, físico e psíquico (Ávila &
Miotto, 2002; Ávila, 2003 citados por Maia, Correia & Leite, 2009).
Sendo esta um tratamento biopsicossocial envolve os pacientes e os seus familiares e
tem em conta as mudanças físicas, cognitivas e o contexto onde se insere o paciente (Ávila
& Miotto, 2002 citados por Maia, Correia & Leite, 2009).
O principal objetivo da reabilitação neuropsicológica passa por maximizar as funções
cognitivas, tendo por base o bem-estar psicológico, a habilidade em atividades da rotina
diária e do relacionamento social (Clare & Woods, citado por Filipe, 2009). Através desta

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melhoria na qualidade de vida psicológica do paciente, pretende-se diminuis os défices


que resultam em evitamento e isolamento social, dependência dos cuidadores e
discriminação (Kitwood, 1997 citado por Filipe, 2009).
Existem três princípios básicos válidos que sustentam a reabilitação neuropsicológica,
sendo estes a restituição, a substituição e a compensação (Haase & Lacerda, 2003).
A substituição funcional relaciona-se com o principio de Kennard, segundo o qual
quanto mais recente for a lesão, maior chance de recuperação final há. O procedimento
de substituição funcional consiste em se realizar o mesmo comportamento, mas com
recurso a outros meios (Haase & Lacerda, 2003 citado por Maia, Correia & Leite, 2009).
Na restituição há a prescrição de treinos funcionais específicos com diversos graus de
dificuldade, porém esta apenas é viável quando as lesões apresentadas são parciais os
circunscritas (Haase & Lacerda, 2003 citado por Maia, Correia & Leite, 2009).
A compensação é utilizada quando nem a restituição nem a substituição são possíveis
ou apropriadas (Coelho, 2011).
Durante a realização de um programa de reabilitação neuropsicológica é importante
ter em consideração alguns aspetos: a avaliação deve identificar as áreas alteradas e as
áreas preservadas; o treino deve ser individual e adaptado às necessidades de cada
paciente; na reabilitação deve ser envolvida a família ou o núcleo próximo do paciente; o
treino deve-se iniciar por aspetos mais restritos, aproximando-se das atividades ditas
diárias e rotineiras do paciente; o treino deve-se iniciar por atividades e exercícios que
exijam menos atenção e devem ser utilizados objetos do quotidiano do paciente; os
materiais devem ir variando consoante os vários estímulos (visuais, auditivos, táteis);
deve-se ajustar o grau de dificuldade, e forma a que o paciente não finalize a sessão com
mais erros do que acertos e deve-se controlar a eficácia da intervenção, através de registos
sistemáticos e instrumentos de averiguação das melhorias alcançadas (Lima, 2015).
Os programas de reabilitação devem ser programas holísticos, desenvolvidos por
profissionais, por uma equipa multidisciplinar e com validade ecológica. Devem ser
utilizados processos qualitativos e quantitativos (Cancela, 2008).
Como supramencionado, nesses programas devem constar exercícios que possam ser
aplicados através de qualquer meio capaz de representar situações diárias do paciente,
sendo que este é incentivado a concentrar-se, interagir, raciocinar, tomar decisões,
entender o discurso e expressar sentimentos e pensamentos (Cancela, 2008).

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Acidente Vascular Cerebral


Segundo a OMS (2003) citado por Pires (2012), o AVC é uma síndrome que se
carateriza por sinais focais de alteração da função cerebral, que não têm oura causa
aparente do que a de origem vascular.
Em Portugal, o AVC é considerado como a primeira causa de morbilidade e
mortalidade.
Os sintomas e sinais do AVC estabelecem-se de forma aguda, permanecendo mais de
24 horas ou levando à morte (OMS, 2003 citado por Pires, 2012).
Tendo em conta a sua origem, o AVC pode-se dividir em duas categorias principais,
sendo estas a hemorrágica e a isquémica.
O AVC hemorrágico representa cerca de 80% deste tipo de complicação e carateriza-
se pelo excesso de sangue dentro da cavidade craniana, podendo ser classificados como
intracerebral ou subaracnoide. Nos primeiros há uma hemorragia diretamente para o
parênquima cerebral, enquanto no subaracnoideu, a hemorragia ocorre para o espaço
subaracnoideu, misturando-se com o líquido cefalorraquidiano (Castro, 2013).
No caso do AVC isquémico, este representa os restantes 20% e pode ocorrer devido
a trombose, embolia ou hipoperfusão sistémica. Geralmente, a trombose é uma obstrução
local de uma artéria, que pode ser causada por uma doença da parede arterial. A embolia
tem como causa o bloqueio do acesso arterial de uma região do cérebro por partículas de
detritos. Já a hipoperfusão sistémica refere-se a um problema circulatório em todo o
organismo (Castro, 2013).

Causas e fatores de risco


O AVC é uma doença de causa multifatorial em que uma multiplicidade de fatores
influencia a probabilidade do individuo vir a sofrer um AVC (WHO, 2006 citado por
Coelho, 2011).
Dentro dos principais fatores de risco podemos referir a arteriosclerose, a hipertensão
arterial, o tabagismo, o colesterol elevado, o Diabetes Mellitus, a obesidade, as doenças
das válvulas e arritmias cardíacas, dilatações do coração, o género (sendo que os homens
apresentam maior incidência de AVC do que as mulheres, a hereditariedade, o
sedentarismo, o consumo excessivo de álcool, obesidade, hiperlipedimia, o sedentarismo,
o uso de anticoncepcionais orais e a idade, sendo que com o aumento da idade há um
maior risco da ocorrência de AVC (Cancela, 2008; Coelho, 2011; Martins, 2013; Pires,
2012)

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Os fatores de risco tendem a aumentar a probabilidade de um AVC, no entanto maior


parte dos mesmos podem ser atenuados com tratamento médico ou com alterações ao
nível do estilo de vida (Cancela, 2008).
Desta forma pode-se afirmar que o AVC é suscetível de prevenção, sendo que esta
pode ser feita de três maneiras, sendo estas a prevenção primária, secundária e terciária.
A primária é através de orientações para os indivíduos manterem o peso corporal
apropriado, controlarem os valores do colesterol, não fumarem e tornarem-se mais ativos
e menos sedentários; na secundária já há necessidade de tratamento e vigilância médica
de problemáticas como diabetes, hipertensão e patologia coronária; por último, a terciária
tem como destino indivíduos de maior risco, uma vez que já têm uma história anterior de
AVC, em que é necessário prevenir complicações relacionadas com a presença das
alterações cerebrais, de forma a prevenir o AVC recorrente (Coelho, 2011).

Problemas associados à lesão neurológica provocada por AVC


O AVC pode causar prejuízos cognitivos e emocionais na memória e linguagem
(Corbett, Jeferries, & Ralph, 2009 citado por Scheffer, Klein, & Almeida, 2013) , nas
funções visuoespaciais (Lima & Kaihami, 2001 citado por Scheffer, Klein, & Almeida,
2013), nas funções executivas (Park, Yoon, & Rhee, 2011; Pohjasvaara et al., 2002 citado
por Scheffer, Klein, & Almeida, 2013), atenção (Rengachary, He, Shulman, & Corbetta,
2011 citado por Scheffer, Klein, & Almeida, 2013) e a nível do humor (Terroni, Mattos,
Sobreiro, Guajardo, & Fráguas, 2009 citado por Scheffer, Klein, & Almeida, 2013).
Dentro das alterações cognitivas provocadas pelo AVC podemos destacar a alteração
do tónus, a presença de reações associadas, a perda do mecanismo de controlo postural,
as alterações da função sensorial, as alterações da função percetiva, as alterações da
comunicação, as alterações da cognição, os distúrbios emocionais e as alterações de
comportamento (Cancela, 2008; Silva, 2010):
• Alterações do tónus: pode-se inferir após o AVC, o hemicorpo afetado
apresenta um estado de flacidez caraterizado pela ausência de movimentos
voluntários, sendo que o tónus é muito baixo para iniciar o movimento, não
há resistência ao movimento passivo e o individuo é incapaz de manter um
membro em qualquer posição.
Estas alterações levam à ausência de consciencialização e de perda dos
padrões de movimento do hemicorpo afetado, bem como a padrões
inadequados do lado não afetado. Ainda que a hipotonia possa persistir, pode-

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se seguir o aparecimento de um quadro de hipertonia, em que se verifica o


aumento da resistência ao movimento passivo (espasmos).
A espasticidade produz caraterísticas típicas (posturas anormais e
movimentos estereotipados (Bobath, 1990 citado por Cancela, 2008).
• Perda do mecanismo de controlo postural: sendo que o mecanismo de
controlo postural é a base para a realização dos movimentos voluntários, este
consiste num variado número de respostas motoras automáticas adquiridas na
infância.
Este mecanismo é constituído por três grupos de reações posturais
automáticas, sendo estas as reações de retificação (responsáveis pela posição
normal da cabeça no espaço), as reações de equilíbrio (responsáveis pelas
respostas de alteração de postura e movimento) e as reações de extensão
protetiva (quando as reações de equilíbrio e de retificação se mostram
insufucientes). No caso de pacientes de AVC as reações posturais
supramencionadas não funcionam no hemicorpo afetado, impedindo o
individuo de utilizar os padrões normais de postura e de movimento (Cancela,
2008).
• Alterações da função sensorial: pode-se referir que as mais frequentes são
os défices sensoriais superficiais, os propriocetivos e os visuais.
No caso dos défices sensoriais superficiais pode-se indicar o aparecimento
de disfunções percetivas (alteração da imagem corporal, neglect unilateral) e
o aumento do risco de auto lesões.
A diminuição da sensibilidade propriocetiva contribui para a perda da
capacidade de executar movimentos eficientes controlados, para a diminuição
da sensação/noção de posição e movimento, impedindo novas aprendizagens
motoras no hemicorpo afetado.
Dentro dos défices visuais destaca-se a hemianopsia homónima (cegueira
da metade nasal de um dos olhos e da metade temporal do outro olho), a
diminuição da acuidade visual e a diplopia. É também frequente, os pacientes
apresentarem episódios de incontinência urinária (Cancela, 2008; Silva,
2010).
• Alterações da comunicação: pode-se destacar a afasia, associada à lesão do
hemisfério dominante.

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No caso da lesão ser na área de broca a afasia é expressiva, havendo


dificuldade em formar frases gramaticalmente corretas e coerentes. Se por
outro lado a lesão for na área de Wernicke a afasia é recetiva, revelando-se
dificuldades na compreensão e discurso incoerente.
Outra problemática ao nível da comunicação pode ser a disartria, em que
há uma perturbação motora dos órgãos da fonação (Silva, 2010).
• Alterações cognitivas: podem ser gerais (processamento mais lento da
informação) ou podem referir-se a um domínio específico (orientação,
atenção, memória, visão espacial e construtiva, flexibilidade mental,
planeamento e organização, linguagem).
• Distúrbios emocionais: maior parte dos doentes sentem medo, ansiedade,
frustração, raiva, tristeza e mágoa, em resultado das diversas perdas físicas e
psicológicas. Porém, a própria lesão de estruturas cerebrais pode ser um fator
de algumas alterações emocionais e de personalidade (Silva, 2010).
Com base em revisão literária, é possível indicar que o distúrbio emocional
mais comum nos pacientes de AVC é a depressão. Esta sintomatologia está
presente em 1/3 dos doentes, surgindo como um sentimento de desespero,
distúrbios do sono, alterações no sistema alimentar, aumento ou perda de peso,
letargia, falta de motivação, isolamento social, fadiga, baixa autoestima e
pensamentos suicidas (Silva, 2010).
Outra alteração emocional é a ansiedade. Esta pode ser provocada por
situações como o medo de cair, de conviver com pessoas ou estar associado
com stress pós-traumático (Silva, 2010).
Por último, pode-se referenciar o emocionalismo ou labilidade emocional.
Neste há uma falta de controlo sobre as emoções (oscilando entre rir e chorar
compulsivamente) (Silva, 2010).
• Alterações do comportamento: existe uma diferença entre as lesões no
hemicorpo direito e esquerdo.
No caso das lesões no hemicorpo direito, os indivíduos apresentam um
comportamento lento, cuidadoso, incerto e inseguro, tendendo a serem mais
realistas, ansiosos e hesitantes. Já no caso dos indivíduos que apresentam lesão
no hemicorpo esquerdo apresentam emoções instáveis, sendo capaz de inibir
a expressão das emoções espontâneas, que alteram rapidamente o
comportamento emocional sem qualquer motivo aparente (Cancela, 2008).
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Para além dos aspetos supramencionados, importa também referir que os doentes com
lesões cerebrais no hemisfério direito e esquerdo, relataram uma maior percentagem de
lesões cerebrais em doentes com lesão à direita (Coelho 2011).
Outro aspeto relacionado com o quadro neurológico relaciona-se com o facto de este
variar consoante a sua localização e extensão, sendo que o seu aparecimento,
normalmente, é repentino, oscilando entre leves ou graves, e pode ser temporário ou
permanente (Martins, 2002 citado por Cancela, 2008).

Reabilitação em pacientes de AVC


Grande parte dos AVC resultam em alterações ao nível cognitivo, contudo também
há alterações ao nível emocional, comportamental e físico.
Sendo que, como supramencionado, o AVC pode afetar diversos aspetos da vida do
paciente e das pessoas que lhe estão próximas, a reabilitação deve ser conduzida por uma
equipa multidisciplinar de profissionais de diversas áreas, não descurando o
envolvimento por parte de familiares e amigos.
A par dos médicos, enfermeiros e auxiliares que prestam todos os cuidados
necessários de assistência, o processo de reabilitação deve incluir na equipa um
fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional, um terapeuta da fala, assistente social e um
psicólogo/ neuropsicólogo (Cancela, 2008):
• Médico: tem como função a gestão dos doentes, na sua admissão, tratamento
e alta. A sua principal função é aconselhar o doente sobre o melhor programa
de reabilitação e tramento, adequando-o a este (Castro, 2013).
• Enfermeiros: têm como principal função a integração dos cuidados relativos
à esfera física, psicológica e social, tendo por base as necessidades gerais do
paciente e respetiva família, Na reabilitação, os enfermeiros detêm um papel
importante no processo de readquirir capacidades para realizar atividades
rotineiras e na educação para os hábitos de saúde (plano de medicação, higiene
pessoal, necessidades especificas para certas patologias, etc) (Castro, 2013).
Os enfermeiros têm, também, a função de apoio domiciliário, onde este
continua a orientar o doente em casa no seu processo de reabilitação (Castro,
2013).
• Fisioterapeuta: Através da avaliação da força, resistência, amplitude de
movimentos, alterações de marcha e défices sensoriais, os fisioterapeutas
conseguem estruturar um plano de reabilitação individual, de forma a ajudar
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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

o paciente a recuperar o controlo motor, na independência nas tarefas


funcionais, otimizar a estimulação sensorial e prevenir complicações
secundárias.
Outra função é auxiliar na adaptação a dispositivos auxiliares,
equipamentos de adaptação, auxiliares de locomoção, cadeiras de rodas e
órteses (Castro, 2013).
• Terapeuta ocupacional: a sua função é auxiliar o paciente nas funções
físicas, como a capacidade de se vestir e comer, nas atividades de lazer, no
regresso ao trabalho e ajudar a pessoa a reestabelecer o máximo de
independência possível, face à sua nova condição (Cancela, 2008).
• Terapeuta da fala: o seu papel é maximizar a comunicação e reduzir as
dificuldades linguísticas e motoras do discurso.
Também atua na promoção da capacidade de deglutição, bem como no
desenvolvimento de competências sociais (Castro, 2013).
• Assistente social: divulgação dos princípios e diretrizes do SNS, direitos e
deveres sociais, instruções e encaminhamento para os serviços de apoio
domiciliar e outros recursos da rede social.
Acompanhar o doente e a sua família a longo prazo, de forma a certificar-
se que as exigências da reabilitação estão a ser cumpridas e ajudar caso surja
alguma dificuldade (Castro, 2013).
• Cuidadores: maior parte dos cuidados a longo prazo são fornecidos pela
família e/ou cuidadores do paciente, trazendo grande impacto para as suas
vidas. Estes podem ter hipóteses de grande stress emocional, físico e
financeiro, surgindo muitas vezes quadro depressivos e ansiosos em
cuidadores de pacientes de AVC (Castro, 2013).
• Psicólogo: os doentes, familiares e a própria equipa multidisciplinar que
acompanha o paciente contam com o psicólogo, que seja a no apoio prestado,
como no processo de feedback das repercussões psicológicas da doença.
Este tem como um dos objetivos primordiais a avaliação e auxilio na
modificação de comportamentos que estejam a causar mau estar na pessoa ou
nos que o rodeiam. Este tema vai ser aprofundado de seguida (Castro, 2013).

Reabilitação neuropsicológica em pacientes de AVC

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Após o estágio agudo da doença, um grande número de pacientes sofrem de


consequências de lesão cerebral a longo prazo (Korzetkowska et al., 2010 citado por
Scheffer, Klein & Almeida, 2013).
Nesse sentido, após o AVC, o sujeito é confrontado com uma alteração brusca na sua
vida, podendo ver alterado significado individual de noções como o tempo, o espaço e a
perceção. O sujeito vê.se também limitado no desempenho dos seus deveres sociais,
laborais e familiares (Coelho, 2011).
Na reabilitação de um paciente de AVC , o neuropsicólogo tem o papel principal na
reabilitação da função cognitiva e na normalização da dimensão emocional e
comportamental após o trauma.
Se um individuo sofre alguma lesão cerebral, uma ou várias funções cognitivas podem
ser afetadas. De forma a proceder á sua recuperação é necessário utilizar estratégias
terapêuticas especificas para cada tipo de défice identificado (Cancela, 2008).
Antes de se iniciar a reabilitação neuropsicológica, é necessário que o paciente receba
tratamento médico adequado, sendo que o individuo deve atingir uma estabilidade médica
antes de se promover níveis de funcionamento básicos e se apoiar num processo de
adaptação à sua nova condição (Gresham et al., 1997 citado por Maia, Correia & Leite,
2011).
O objetivo primordial da reabilitação neuropsicológica passa por otimizar o
funcionamento físico, vocacional e social. Segundo Munõz & Ruiz (1999) citado por
Cancela (2008) os objetivos básicos de um programa de reabilitação neuropsicológica
passam por proporcionar um modelo que ajude o paciente e a sua família a compreender
o problema; proporcionar estratégias de treino de competências para a recuperação e/ou
compensar défices cognitivos; melhorar a atuação do paciente em diferentes situações
sociais; ajudar o individuo a estabelecer compromissos realistas de trabalho e relações
interpessoais; e promover um ambiente realista de esperança.
Aquando de um evento agudo, como é o caso do AVC, atenta-se o potencial de
restituição da função perdida, tendo por base os mecanismos de plasticidade que
permitem ao cérebro regenerar-se. Assim, este tipo de intervenção tem como objetivo
aproximar o doente o mais possível do seu nível pré-mórbido (estado anterior à lesão),
sendo dirigido para o treino da função (Neuroser, s.d)
Nos casos em que é impossível haver uma restituição da função, o neuropsicólogo
deve optar por sugerir estratégias de compensação e auxiliar na aprendizagem da sua

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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

utilização, para que seja mais fácil a adesão e adaptação por parte do paciente
(Neuroser,s.d).
A primeira tendência na reabilitação é reduzir as limitações funcionais e,
posteriormente, otimizar a reintegração social, adaptando-se ao contexto. Neste ponto, é
fulcral que os pacientes iniciem o processo de reabilitação logo após sofrerem a lesão
cerebral, pois há uma melhor perspetiva de se alcançarem resultados mais favoráveis
(Augusto, 2017).
A reabilitação neuropsicológica deve ser vista como um processo que envolve
familiares, paciente e terapeuta, de forma a proporcionar ao paciente a recuperação
máxima das suas funções cognitivas, promover o maior grau de independência,
funcionalidade e qualidade de vida possível (Augusto, 2017).
Num paciente que tenha sofrido AVC, os programas de reabilitação devem enfatizar
as sequelas físicas, cognitivas, psicológicas e emocionais (Augusto
Após a avaliação neuropsicológica a que o paciente é submetido (através de uma
entrevista clinica, seguida de um exame mental às capacidades funcionais do sujeito),
prossegue-se a reabilitação neuropsicológica.
Esta envolve a estimulação/ reabilitação cognitiva do paciente e pode ser realizada
através de computador; através de técnicas de lápis e papel; ou utilizando outras técnicas
mais específicas, como por exemplo cubos, bolas, imagens e atividades lúdicas. A escolha
da técnica vai depender do grau de colaboração e funcionalidade de cada paciente
(Augusto, 2017).
Cada sessão de reabilitação varia entre 15 a 60 minutos, dependendo da capacidade,
da resistência, da fadiga e do grau de atenção do paciente (Augusto, 2017).
O programa de intervenção de cada paciente é individualizado, ou seja, os programas
são elaborados tendo como pilar os sintomas do paciente. Este programa é realizado de
uma forma gradual, sendo que os procedimentos são realizados seguindo a ordem do mais
simples para o mais complexo, tendo em conta a evolução do paciente, de forma a não se
maximizarem os sentimentos de frustração e ansiedade (Augusto, 2017).
O processo de recuperação do paciente torna-se moroso e exige ao paciente, à sua
família e terapeuta contínuos reforços.
Nas hipóteses explicativas de recuperação e amenização das consequências, surgem
os fenómenos de neuroplasticidade (capacidade de o sistema nervoso modificar a sua
organização estrutural e funcional), a recuperação funcional na zona de penumbra e o

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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

apoio nas outras áreas cerebrais que não tenham sido afetadas na recuperação (Rudd &
Olfe, 2002 citado por Maia, Correia & Leite, 2011).
Dentro das principais estratégias de intervenção podemos referir:
• Psicoeducação: explicação dos processos e caraterísticas da fase pela qual o
paciente está a passar, o porquê das suas dificuldades e o papel de cada
elemento próximo do paciente na sua recuperação (Maia, Correia & Leite,
2011).
• Intervenção ao nível dos défices da memória: utilização de estratégias de
restabelecimento (repetição e memorização de uma lista de palavras escritas
ou verbalizadas; exercícios de computador que treinam a memória),
reorganização (aprendizagem de estratégias visuais para aumentar a memória
auditiva ou verbal; técnicas de facilitação da recuperação do material) e
estratégias comportamentais compensatórias (uso de pos-its, blocos de notas,
agendas eletrónicas, etiquetar armários, cabides, portas, etc) (Maia, Correia &
Leite, 2011).
• Intervenção na afasia: ao nível das dificuldades na compreensão do discurso
(usar frases simples retirando palavras desnecessárias; falar calmamente e
com pausas entre as palavras; usar pistas visuais; utilizar gestos enquanto se
fala; procurar que não existam estímulos ruidosos que atuem como distratores;
não gritar ou mostrar atitudes de admiração; repetir a frase várias vezes até
que haja compreensão pela parte do paciente; enfatizar palavras chave); ao
nível das dificuldades em falar ou em encontrar as palavras certas (pedir ao
paciente para apontar para um objeto e tentar dizer o nome do mesmo,
demonstrar a sua utilidade e como se utiliza; utilizar respostas positivas a
qualquer tentativa de comunicação verbal e/ou não verbal; apresentar frases
para o paciente completar; incentivar à comunicação verbal do paciente;
utilizar jogos e pequenas tarefas para trabalhar a linguagem; na aprendizagem
de uma nova palavra, introduzir verbos associados ao mesmo); ao nível das
dificuldades na escrita (Imprimir letras para o paciente copiar; escrever letras
verbalizadas; ter presente um quadro com o alfabeto, de forma a que o paciente
possa apontar quando não consegue evocar uma letra); ao nível das
dificuldades da leitura (ler palavras e frases com o paciente; mostrar uma
figura da palavra escrita; sublinhar palavras chave; gesticular aquilo que a

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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

palavra significa quando o paciente se encontra a ler) (Maia, Correia & Leite,
2011).
• Intervenção na atenção: dividida (evitar atividades que exijam atenção
dividida; estruturar as atividades de forma a conseguir executá-las sem que
haja interrupções abrutas); focalizada (minimizar ao máximo estímulos
distratores; alertar e realertar constantemente para focar a atenção na tarefa;
pedir para repetir a instrução dada; certificar-se que a pessoa está atente);
mantida (planear pequenas pausas; realizar atividades curtas; alternar
atividades de diferentes graus de interesse) e nível de ativação (sono reparador
e pausas frequentes; mudar frequentemente de tarefa; trabalhar em tarefas
menos potenciadoras de prazer quando o arousal é mais elevado; espaços
estimulantes, coloridos, com objetos (Maia, Correia & Leite, 2011).
• Intervenção na orientação: trabalhar aspetos relacionados com os vários
domínios da orientação, tais como o temporal, visual, espacial, auto e alo
psíquico, de forma a que o paciente adquira uma melhor compreensão do
ambiente que o rodeia (Maia, Correia & Leite, 2011).
Em relação à reabilitação física podem ser dadas tarefas específicas em
que o paciente é apoiado a restabelecer níveis de coordenação muscular. Neste
tipo de exercícios destacam-se a reeducação do movimento, marcha e
equilíbrio, exercícios respiratórios e de estiramentos (National Stroke
Foundation, 2005; Intercollegiate Working Party on Stroke, 2004 citado por
Maia, Correia & Leite, 2011).

Conclusão
Através da realização deste trabalho foi possível alcançar uma visão mais ampla
acerca do AVC, da sua etiologia, fatores de risco, consequência, tratamento e como é feita
a reabilitação através da equipa multidisciplinar. Foi possível, também, alcançar um
maior conhecimento acerca da forma como a neuropsicologia pode atuar neste tema.
Os estudos acerca da neuropsicologia têm relevado cada vez dados mais positivos,
sendo possível uma maior abordagem acerca da temática que abrange a inter-relação entre
cérebro e comportamento (Spadacio & Soares, 2015).
Neste campo, a avaliação neuropsicológica assume o passo primordial e é através
desta que são recolhidos os dados bibliográficos e sociais do paciente, bem como é
realizado um exame mental com questionários, testes e escalas, de forma a avaliar a
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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

dimensão e localização da lesão. A avaliação neuropsicológica tem também um papel de


destaque, uma vez que permite um diagnóstico individual e diferencial acerca da lesão
em questão, dos quadros neurológicos e psiquiátricos, da dimensão, localização e
extensão da lesão, providenciando, também, um diagnóstico e prognóstico base para o
paciente e seus familiares (Spadacio & Soares, 2015).
O segundo passo é a reabilitação neuropsicológica, que tem por base as intervenções
que objetivam a melhoria dos problemas cognitivos, sociais e emocionais do paciente
decorrentes de uma lesão especifica (Hamdan, Pereira & Riechi, 2011).
Ao nível da reabilitação neuropsicológica, esta assume o papel de dar ao paciente a
possibilidade de voltar a assumir o controlo da sua vida, auxiliando a tornar-se
independente e, quando possível, voltar ao estado de funcionalidade plena verificado
antes da ocorrência da lesão.
Quando não é possível uma reabilitação total, procura-se auxiliar o paciente e seus
cuidadores a terem uma melhor qualidade de vida e à recuperação de algumas
funcionalidades e aprendizagem de outras que sejam determinantes no processo de
readaptação à sua nova condição.
Através da realização deste estudo, foi possível verificar que a recuperação dos
doentes deve-se iniciar o mais cedo possível após a lesão e a estabilidade do paciente.
Os programas de reabilitação devem ser programas holísticos e devem ser realizados
e desenvolvidos por uma equipa multidisciplinar, para que o doente possa ser
acompanhado e tratado em todas as áreas que acarretam prejuízo para a sua vida (Cancela,
2008).
Para além disso, os programas devem incidir em representações do quotidiano do
paciente e os exercícios realizados devem utilizar instrumentos que o individuo possa
utilizar no seu dia-a-dia, sendo que desta forma o paciente é incentivado a concentrar-se,
interagir, raciocinar, tomar decisões, entender o discurso corrente e expressar os seus
sentimentos e pensamentos (Cancela, 2008).
Posto isto conclui-se que os programas de reabilitação são de extrema de importância
contribuem para uma diminuição da morbilidade e mortalidade que está associada ao
AVC, principalmente quando estão associados a estruturas físicas e equipa
multidisciplinares diferenciadas (Castro, 2013).
É também possível inferir que para além das consequências motoras e cognitivas, há
alterações psicológicas a nível emocional, que podem afetar todo o processão de
recuperação e reabilitação do paciente, tornando-se imperativo uma intervenção imediata

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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica Reabilitação Neuropsicológica no AVC

para que essas consequências não assumam precursões maiores (Pais Ribeiro, 2005 citado
por Cancela, 2008).
No entanto, é fulcral advertir para a necessidade de mais estudos nesta área, uma vez
que as publicações são ainda muito escassas, limitadas e com uma generalização que
dificulta a aplicação em problemáticas mais específicas.

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