Avaliação da atenção dividida e concentrada em
pacientes pós acidente vascular encefálico
Eveline Silva Holanda Lima, Paloma Cavalcante Bezerra de Medeiros, Lidyane Costa Feitosa.
Universidade Federal do Piauí Av. São Sebastião, 2819, Parnaíba, PI, CEP: 64202-020.
Resumo  Objetivou-se avaliar aspectos atencionais em
pacientes pós AVE. Participaram deste estudo 16 pessoas, 8
pessoas acometida e 8 controle. Foi utilizado um questionário
sócio-demográfico e os testes da Bateria Geral de Funções
Mentais 1 e 2 (BGFM-1; BGFM-2) o primeiro com a finalidade
de avaliar a atenção dividida e o segundo para avaliar a atenção
concentrada. Os resultados foram agrupados em planilha de
acordo com o grupo de pertença (GC e GE), depois analisados
conforme o manual da bateria. Foi utilizado o software PASW-
18, para realização das análises estatísticas. A ANOVA para
medidas repetidas não mostrou diferença significativa entre os
grupos F (10,5) = 1,17, p > 0,05 quanto a aspectos atencionais.
Os resultados sugerem uma alteração na atenção dividida de
pacientes com AVE, apesar das estatísticas não mostrar
diferença significativa. Neste sentido, estes resultados salientam
a importância de mais estudos na área com uma amostra maior.
Palavras-Chave  Avaliação, Atenção, Acidente vascular
encefálico.
I. INTRODUÇÃO
Um dos problemas de saúde que vem aumentando o
número de casos a cada ano é o Acidente Vascular Encefálico
(AVE), termo ultilizado quando ocorre a interrupção do
fornecimento de sangue a qualquer parte do encéfalo, devido
a traumatismos, hipertensão arterial, tumores, placas
gordurosas, aneurisma, dentre outros. Este problema pode ser
classificado como isquêmico (AVEI) ou hemorrágico
(AVEH).
O AVEI pode ser definido como a interrupção do fluxo
sanguíneo na artéria de uma área do encéfalo, abstendo a
mesma de ser irrigada pelo sangue oxigenado. Já quando se
trata do AVEH, ocorre o rompimento de algum vaso
sanguíneo pertencente ao encéfalo, causando sangramento e
aumento da pressão intracraniana [1].
Apesar dessa doença ser mais conhecida como AVC, o
nome que deve ser empregado corretamente para ela é AVE,
tendo em vista que o cérebro é uma das partes que compõe o
encéfalo, juntamente ao tronco encefálico e o cerebelo, os
quais também podem ser atingidos por um AVE, logo estaria
excluindo-se cerca de 20% dos casos que ocorrem nessas
duas regiões, utilizando-se o termo AVC [2].
O AVE ocasiona vários problemas para o indivíduo que
foi acometido, e um deles seria a hemiplegia, consistindo na
perda de movimentos de um hemisfério do corpo resultando
em diversas alterações musculares, sensitivas e cognitivas
que comprometem em maior ou menor grau a independência
funcional [3].
Após um AVE, o comprometimento cognitivo pode
chegar a 35,2%. Desta forma, deve-se ressaltar que os
estudos sobre o prejuízo cognitivo pós-AVE são de grande
importância para auxiliar nos quadros das doenças
degenerativas. Estes estudos poderão colaborar na questão da
recuperação funcional e no risco de mortalidade. Para a
realização de uma análise aperfeiçoada sobre esses prejuízos
cognitivos nos pacientes, faz-se necessário o uso de uma
bateria neuropsicológica. [4].
O AVE tem como uma de suas consequências, alterações
comportamentais, que poderão desencadear depressão,
ansiedade, insônia e agitação, causando prejuízo direto na
qualidade de vida do paciente, na percepção de si mesmo e na
maneira como irá enfrentar essa nova condição [4].
A pessoa acometida pelo AVE tem predisposição a
desenvolver distúrbios no campo visual e déficits na
percepção que poderiam resultar em perda atencional,
contudo é a localização da lesão que irá determinar o tipo e a
extensão do distúrbio ou déficit [6].
O tratamento para indivíduos que sofrem desta doença é
realizado por uma equipe que é composta por médico,
fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta
ocupacional, dentre outros. Existem várias formas de
tratamento que são adequadas de acordo com as
características e com cada tipo de situação do paciente. Para
tanto, é de grande relevância que sejam determinados os
fatores de risco, o grau e localização da lesão, os aspectos
neuropsicológicos envolvidos, e principalmente o tipo de
AVE, possibilitando destinar o tratamento apropriado para
cada caso [4].
Sabe-se que cerca de 50 a 70% das pessoas que são
acometidas pelo AVE que sobrevivem, conseguem obter
independência funcional [7]. Mas para que isso ocorra, o
tratamento deve ser iniciado precocemente, assim o paciente
poderá alcançar melhores resultados em decorrência da
neuroplasticidade; capacidade que determinadas áreas do
cérebro não afetadas por uma lesão, de assumir a função das
áreas lesionadas [8].
Sobre este aspecto, destaca-se o papel da neuropsicologia
cognitiva, que tem oferecido contribuição significativa para a
compreensão dos processos cognitivos e seus correlatos
neurológicos, bem como no desenvolvimento de
procedimentos avaliativos e a partir disto intervir na
reabilitação de pacientes vítimas de lesões ou disfunções.
Contudo, profissionais que atuam na avaliação
neuropsicológica tem se deparado com a frequente escassez
de instrumentos precisos, validados e normatizados ao
alcance da pesquisa e do diagnóstico [9].
Portanto, considera-se a relevância desse estudo em
função não somente da escassez de material de referência
sobre a relação entre AVE e as funções da Atenção, como por
ser uma função cognitiva fundamental para a consciência e ao
bom funcionamento da memória, raciocínio e outras
habilidades cognitivas.
Atenção
A atenção pode ser pontuada como uma das funções
mentais que são fundamentais para os indivíduos. Como
apresenta atitude direcional e seletiva, possibilita que os
indivíduos mantenham precaução acerca dos eventos ao seu
redor, e respondam aos estímulos proeminentes ou mesmo
inibam os que não satisfazem aos seus interesses ou suas
finalidades e quais requerem uma ação [10]-[11].
O objetivo da atenção seria o direcionamento e a seleção
de determinados estímulos específicos que são selecionados
pelo sujeito, e a inibição dos que não são relevantes. Desta
forma, o ato de prestar atenção seria o de focalizar a
consciência, concentrando, assim, os processos mentais em
uma tarefa principal, deixando em segundo plano as demais
[10].
Com relação às bases biológicas da atenção, aponta-se a
formação reticular, na parte superior do tronco encefálico,
como sendo a responsável pela manutenção do tono de vigília
e manifestação da reação de alerta geral, enquanto o córtex
límbico e a região frontal estariam relacionados ao
reconhecimento seletivo, inibição dos estímulos irrelevantes
[10].
Algumas teorias tentam explicar o funcionamento da
atenção, como por exemplo, a teoria de bottleneck ou teoria
do filtro, afirmando que todas as informações passariam por
um filtro, o qual permitiria apenas que um canal de
informação alcançasse a percepção, na maioria das vezes, as
que possuem características mais marcantes são selecionadas,
enquanto as que teriam características menos interessantes,
seriam percebidas de forma secundária. Logo, a atenção
funciona não só como filtro no processo de percepção, mas
também mantém o controle sobre o mesmo [8].
Ao processo psíquico da atenção, podem ser atribuídas
divisões, a saber: sustentada, dividida e a seletiva. A atenção
sustentada ocorre quando a pessoa, em um determinado
período de tempo, está preparada para perceber e responder
as modificações características nos estímulos. Já na dividida,
a pessoa atende a dois ou mais estímulos simultâneos,
respondendo a cada um conforme o necessário, abrangendo
aspectos espaciais e temporais. Por fim, na seletiva, a pessoa
é capaz de direcionar sua atenção para uma parte do ambiente
e, simultaneamente, ignorar os demais estímulos a sua volta
[10]-[11]-[12].
A atenção é ainda dividida em: sensorial, intelectual e
executiva. A sensorial acontece quando há um processamento
que seleciona informações e mantém vínculo com os
sentidos. Na intelectual, por sua vez, há o processamento de
pensamentos embasados na direção e na seletividade. E a
atenção executiva é requerida em ocasiões que abrangem um
planejamento ou uma tomada de decisão, sendo necessário
detectar falhas e responder a atos que não são comuns [10].
Todas estas subdivisões indicam que a atenção é, dentre
funções cognitivas, a que, provavelmente, com mais
frequência se torna danificada nos episódios de danos
cerebrais, sem depender de sua localização [10].
Para fins deste trabalho, considerou-se a atenção
concentrada e a atenção dividida.
Atenção Concentrada
Este tipo de atenção caracteriza-se pela capacidade de
selecionar um estímulo específico dentre os vários que estão
disponíveis no ambiente, e manter o foco no mesmo, sendo
essencial para outros processos como, por exemplo, o
aprendizado, atividades no trânsito, entre outras. É
considerada um sistema orgânico, possuindo anatomia
funcional própria, circuito e estrutura celular. Por intermédio
da cronometria mental de eletroencefalogramas e imagens
cerebrais por ressonância magnética, é possível observar
quais áreas do cérebro estão implicadas neste processo.
Tendo em vista que, a atenção é uma importante função
mental, suas bases biológicas despertam o interesse de muitos
estudiosos [8]
Atenção Difusa
A atenção difusa refere-se à capacidade que a pessoa
possui em ficar atento e procurar vários estímulos dispersos
ao seu redor. Logo, sua função estaria relacionada em auxiliar
o sujeito na obtenção de informações rápidas do meio que o
cerca para uma resposta adequada ao estímulo, criando-se
assim, um estado de alerta a indícios de perigo e mudanças
ambientais, este tipo de atenção também é conhecida como
de vigilância [8].
A maioria dos testes psicológicos que avaliam atenção
pede para que o participante procure no campo visual que lhe
é mostrado o que foi pedido, ou seja, são normalmente testes
de varredura do campo visual [8]. Pessoas que foram
acometidas por um AVE, teriam uma predisposição para
desenvolver distúrbios no seu campo visual ou déficits na
percepção que comprometem a atenção. Sendo que pacientes
com lesões na região frontal apresentam dificuldades de
atenção, que seria um fácil contágio pelos outros estímulos
ambientais [6].
Aspectos atencionais em idosos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma
pessoa idosa aquela com 60 anos ou mais se ela morar em
países em desenvolvimento, mas as pessoas que moram em
países desenvolvidos só são consideradas idosas com 65 anos
ou mais [13].
O déficit cognitivo nos idosos pode estar ligado a
alterações neurológicas naturais que acontecem na velhice,
influenciados pela situação afetivo/emocional do indivíduo
[15], como também associado a doenças comuns nessa faixa
etária, a exemplo do AVE [16].
O surgimento dos problemas cognitivos pode ser
influenciado pelos locais silenciosos dos AVE e as lesões
vasculares em substância branca cerebral, que possuem itens
de perigo dos fatores de risco cardiovasculares [14].
Com o envelhecimento, a disposição para se reconstruir
episódios negativos, diminui, concomitantemente aumentam-
se os riscos dos danos biológicos, motivacionais, sociais e
cognitivos, na esfera pessoal, social e expressiva [17].
As mudanças que acontecem na parte física intervêm nos
reflexos e nas funções fisiológicas, já as mudanças na parte
sensorial podem comprometer os órgãos dos sentidos: visão,
olfato, tato, paladar e audição. Na parte cognitiva, são
combinadas ao decréscimo nos episódios que necessitam de
atenção, rapidez, concentração e de raciocínio indutivo [15]-
[16].
As funções cognitivas, em especial a atenção, são
fundamentais na manutenção do equilíbrio. Idosos que
apresentam danos no equilíbrio e quedas podem estar com a
parte cognitiva da atenção prejudicada em relação ao
comando da postura [5].
 Os idosos que apresentam déficit cognitivo atingem o
dobro de quedas, em comparação com as pessoas que não
apresentam déficit cognitivo [18].
Enquanto uma pessoa que sai todo dia de sua casa
apresenta apenas 1,0 de taxa de risco para quedas, uma
pessoa com déficit cognitivo apresenta 2,3. Logo, os
prejuízos nas funções cognitivas se relacionam diretamente
com um episódio de queda, pois reduzem a atenção, a
memória e o julgamento, além de influenciar no controle da
postura, na orientação viso-espacial e nas mudanças de
comportamento [18].
Portanto, a conservação das funções cognitivas contribui
para a independência do idoso e a avaliação dessas funções é
considerada uma medida preventiva. Deste modo, quando de
maneira precoce, os problemas são examinados, as chances
de uma intervenção farmacológica, uma reabilitação
neuropsicológica, atividades físicas e de lazer apropriadas
tornam maiores e o quadro estável poderá continuar por mais
tempo [15].
II. MÉTODO
1) Tipo de estudo: A presente pesquisa trata-se de um
estudo quase experimental, ex post facto, do tipo transversal,
sendo esse bastante rígido no método e aproxima-se das
pesquisas experimentais [19].
2) Local de estudo: A pesquisa foi desenvolvida no
Serviço Escola de Psicologia (SEP) da Universidade Federal
do Piauí, Campus Universitário, Parnaíba - Piauí.
3) Caracterização da amostra: Foram recrutados 19
sujeitos para participar da pesquisa, no entanto, apenas 16
efetivaram sua participação, pois os outros três não se
enquadravam nos critérios de inclusão da amostra do GE.
Dois dos três participantes eram analfabetos e o outro
apresentava problemas na visão, ficando assim
impossibilitados de responder aos testes.
Logo, cada grupo, controle e experimental (GC e GE), foi
composto por 8 indivíduos, sendo 5 do sexo feminino e 3 do
sexo masculino. O GC apresentou idade entre 41 e 64 anos
(m = 54,75; dp = 8,58) e o GE entre 41 e 77 anos (m = 58,50;
dp = 13,15).
O GE foi composto por indivíduos que tinham
diagnóstico de AVE, sendo 5 AVEI, 1 AVEH e 2 não sabiam
identificar. Estes participantes foram recrutados na clínica de
Fisioterapia de UFPI, na cidade de Parnaíba.
4) Instrumentos Utilizados: Primeiramente foi utilizado
um questionário sócio-demográfico com perguntas que
visavam caracterizar a amostra. Depois foram utilizadas a
Bateria Geral de Funções Mentais (BGFM-1) – Testes de
Atenção Difusa [20] e a Bateria Geral de Funções Mentais
(BGFM-2) – Testes de Atenção Concentrada [21], que são
testes psicológicos que servem para mensurar a atenção.
No primeiro volume, que é a BGFM-1 Testes de Atenção
Difusa, averigua-se tanto a atenção difusa quanto a atenção
difusa complexa e é composto por:
TEDIF – 1 Teste de Atenção Difusa Forma 1
TEDIF – 2 Teste de Atenção Difusa Complexa Forma 2
TEDIF – 3 Teste de Atenção Difusa Complexa Forma 3
Já no segundo volume que é a BGFM-2 Testes de
Atenção Concentrada, é examinada a atenção concentrada
complexa e os testes que a compõem são:
TECON – 1 Teste de Atenção Concentrada - Forma 1
TECON – 2 Teste de Atenção Concentrada - Forma 2
TECON – 3 Teste de Atenção Concentrada - Forma 3
Tanto no manual da BGFM- 1 quanto no manual da
BGFM-2, os pontos são divididos em 5 categorias: Zona
Inferior (ZI), Zona Média Inferior (ZMI), Zona Média (ZM),
Zona Média Superior (ZMS) e Zona Superior (ZS). Essas
categorias podem ser analisadas segundo a escolaridade dos
participantes ou num parâmetro geral. A análise foi feita
mediante esse último parâmetro devido à dificuldade de se
parear os sujeitos quanto a esse critério.
5) Procedimento: O pesquisador responsável pela
aplicação dos testes foi devidamente treinado e habilitado
para a efetivação das aplicações. Primeiramente, foi aplicado
um questionário com perguntas sobre dados sócio-
demográficos (idade, sexo, escolaridade, entre outras) e
aspectos clínicos (diagnóstico e outros).
Posteriormente, foram aplicados individualmente os testes
neuropsicológicos para caracterizar possíveis danos causados
pelo AVE. Aplicou-se a BGFM-1 e a BGFM-2,
respectivamente. As sessões de aplicação duraram em torno
de 25 minutos.
6) Análise dos dados: Foi utilizado o pacote estatístico
PASW, versão 18, para realização da análise descritiva dos
dados, caracterizando a amostra quanto a aspectos sócio-
demográficos e clínicos.
Os resultados alcançados na BGFM-1 e na BGFM-2
foram plotados em planilha e analisados segundo o manual
desses instrumentos e depois foi feita Análise de Variância
(ANOVA) para medidas repetidas para comparação dos
resultados nos três testes entre os grupos controle e
experimental.
7) Aspectos Éticos: Este estudo foi submetido à
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) – UFPI. Os
procedimentos práticos desta pesquisa somente foram
realizados após o recebimento do parecer favorável, de
número CAAE: 0146.0.045.000-11, pelo CEP.
III. RESULTADOS
O estudo contou com 3 mulheres e 5 homens tanto no GE
quanto no GC. Quanto à escolaridade no GE, 25% das
pessoas relataram ter o ensino fundamental incompleto,
12,5% ensino fundamental completo, 25% ensino médio
completo, 12,5% ensino superior completo, 12,5% pós
graduação e 12,5% não estudaram. No GC, 50% de pessoas
relataram ter ensino fundamental incompleto, 12,5% ensino
médio completo, 12,5% ensino superior completo e 25% de
pessoas não estudaram.
No GE, em relação ao diagnóstico, tem-se 62,5% de
pessoas que foram acometidas por um AVEI, 12,5%
acometidas por um AVEH e 25% de pessoas não sabiam a
definição. Há 62,5% de pessoas que foram acometidas por
um AVE que possuem casos de pessoas na família que
também foram acometidas pela doença. E, quanto à
medicação, 100% das pessoas do GE tomam medicação.
Já os resultados de cada um dos participantes em cada
teste (TEDIF 1, 2 e 3; TECON 1, 2 e 3) foram agrupados em
planilhas de acordo com cada grupo (GE e GC) e analisados
conforme os manuais.
No TEDIF-1, os participantes do GC apresentaram uma
média de 19,12 pontos, e os participantes do GE 17, 25 e
ambos foram classificados, segundo o manual do teste, na ZI.
No TEDIF-2, os participantes do GC obtiveram média de
19,25 pontos, enquanto que os participantes do GE obtiveram
12,75 pontos e ambos foram classificados como pertencentes
a ZI. No TEDIF-3 os participantes do GC obtiveram média
de 17,62 pontos e os participantes do GE obtiveram 11,87
pontos, ficando ambos na ZI. Assim, no resultado dos três
testes de atenção difusa pode-se perceber que não houve
diferença na classificação dos grupos, segundo o manual dos
testes, no entanto, o GC apresentou uma maior pontuação em
toda bateria do que o GE.
Já no TECON-1, os participantes do GC obtiveram,
aproximadamente, 43 pontos e foram classificados na ZI,
enquanto que os participantes do GE obtiveram,
aproximadamente, 71 pontos e ficaram classificados na ZMI.
No TECON-2, os participantes do GC obtiveram,
aproximadamente, uma média de 30 pontos e foram
classificados na ZI, já o GE obteve 62,5 pontos e foi
classificado na Zona Média Inferior. No TECON-3, o GC Figura 1 Curva de pontuação média obtida em cada teste em função do
obteve, aproximadamente, 35 pontos, enquanto o GE obteve grupo. Nota: 1= TECON-1, 2=TECON-2, 3=TECON-3, 4=TEDIF-1,
5=TEIDF-2, 6=TEDIF-3
44 pontos e ambos foram classificados na Zona Inferior.
Deste modo, percebe-se que o GE obteve maior pontuação
em comparação com o GC nos TECON 1, 2 e 3.
IV. DISCUSSÃO
No presente estudo o grupo controle (indivíduos sem
diagnóstico de AVE) apresentou maior pontuação na bateria
Com base na avaliação feita da BGFM-1, onde se
de teste de atenção difusa BGFM-1 e o grupo experimental
mensura a atenção dividida, pode-se concluir que as pessoas
(indivíduos com diagnóstico de AVE), por sua vez,
que não foram acometidas pelo AVE tiveram desempenho
apresentou maior pontuação no teste de atenção concentrada
semelhante quando comparadas com pessoas que foram
BGFM-2.
acometidas pela doença, no que diz respeito a interpretação
TABELA I: MÉDIA, DESVIO PADRÃO E CLASSIFICAÇÃO DO do manual por Zonas. No entanto, apesar dos grupos (GE e
RESULTADO DE CADA GRUPO POR TESTE GC) serem classificados na mesma Zona, nesta bateria, o GE
apresenta uma tendência a ter pontuações inferiores.
Já com base na avaliação feita da BGFM-2, onde é
Grupos / Classificação mensurada a atenção concentrada, conclui-se que aquelas
Testes GC* GE* pessoas que foram acometidas pelo AVE tiveram um melhor
TEDFI 1 m= 19,12; ZI m = 17,25; ZI desempenho quando comparadas com as pessoas que não
dp = 7,18 dp=9,60 foram acometidas pela doença. E, nesta bateria, o GE teve
TEDFI 2 m = 19,25; ZI m = 12,75; ZI pontuações e classificações em Zonas melhores que o GC.
dp = 8,69 dp = 7,36 Neste sentido, a hipótese de pesquisa não foi confirmada,
TEDFI 3 m = 17,62; ZI m = 11,87; ZI pois a análise estatística não mostrou diferença significativa
dp = 9,88 dp = 10,61 na atenção das pessoas acometidas pelo AVE, em
TECON 1 m = 42,87; ZI m = 71,25; ZMI comparação com as pessoas que não foram acometidas.
dp=25,46 dp = 42,13 Apesar do método e da amostra do presente estudo, por
TECON 2 m = 30,12; ZI m = 62,50; ZMI suas peculiaridades, não permitirem uma comparação direta
dp = 29,90 dp = 42,17 dos resultados deste com os de outros estudos encontrados na
TECON 3 m = 34,87; ZI m = 44; ZI literatura, pode-se atribuir a esse resultado a influência da
dp = 47,15 dp = 40,19 escolaridade, da idade dos participantes, bem como a
localização do AVE que difere entre eles, mas que não foi
Os resultados da bateria BGMF - 1 vão ao encontro da controlada neste estudo.
hipótese de pesquisa deste estudo onde foram encontradas Segundo a literatura cientifica existe uma influência
alterações no processamento atencional decorrentes do AVE. significativa tanto da escolaridade quanto da idade sobre o
Ainda, se utilizando do software PASW, versão 18.0, foi desempenho em testes neuropsicológicos [22]-[23].
realizada Análise de Variância (ANOVA) para medidas Em estudo realizado utilizando-se o Teste de
repetidas, ao nível de significância de 5% (p<0,05). Cancelamento, um teste que mensura a atenção, a idade e a
A ANOVA não mostrou diferença significativa entre os série dos alunos influenciaram no desempenho dos testes, em
grupos F (10,5) = 1,17, p > 0,05. O gráfico a seguir (Figura especial, nos escores de tempo dos instrumentos, propondo
1), mostra os resultados dos pacientes com AVE (GE) e que o desempenho pode melhorar com o aumento da faixa
indivíduos não acometidos (GC), cada qual com n = 8, para etária e do nível de escolaridade. Deste modo, as baixas
os testes TECON 1, 2 e 3; TEDIF 1, 2 e 3, respectivamente. pontuações dos participantes nos testes da BGFM-1 e da
BGFM-2, podem estar associadas ao baixo nível de
escolaridade dos participantes e do número das idades destes
[24].
Após um episódio de AVE, é comum se falar em
comprometimento cognitivo, este termo é usado para
envolver as diferentes modificações cognitivas e
comportamentais ocasionadas [25]. A atenção é, dentre as
funções cognitivas, a que, provavelmente, com mais
frequência, se torna danificada nos episódios de danos
cerebrais [26]. No entanto, com a presente pesquisa, é
possível afirmar que um episódio de AVE não é um fator
preditor, que, necessariamente, venha a ocasionar alteração
nessa função cognitiva (atenção).
A atenção quando danificada em consequência de um
dano cerebral, independe da localização do mesmo [26]. O
resultado do presente estudo não corrobora com essa
afirmação, uma vez que o grupo experimental apresentou
uma tendência a ter pior pontuação apenas no que diz
respeito à atenção difusa, que por sua vez está ligada a uma
área específica do cérebro (córtex pré-frontal), que pode estar
relacionada, especificamente, à área danificada pelo AVE.
De acordo com o estudo sobre o efeito prognóstico da
Incontinência Urinária (IC) em pacientes pós-AVE, em um
ano de resultado, em relação às medidas de atenção e
processamento mental da velocidade, apontou-se que os
pacientes com IC pós-AVE são menos atentos do que
pacientes com IC independente do tipo clínico de IC [27], no
entanto essa variável não foi controlada neste estudo.
Em pesquisas sobre a relação do sono e as funções
cognitivas, atenção e memória, em pacientes com AVE
isquêmico agudo hemisférico e sua evolução ao longo do
tempo, a atenção melhorou de maneira significativa na
maioria dos pacientes na fase de recuperação após o derrame
[28]. Vale ressaltar que todos os pacientes que participaram
do presente estudo estão em acompanhamento neurológico o
que pode já ter levado os mesmo a apresentarem uma
melhora.
Dados estatísticos revelam que 80% dos casos de AVE,
quando acontecem, são do tipo isquêmico e os outros 20% de
origem hemorrágica, sendo os tipos de AVE considerados
como uma emergência clínica nos últimos anos, em
decorrência da sua prevalência. A amostra do presente estudo
vai ao encontro desses dados, uma vez que há uma maior
porcentagem (87,5%) de participantes com AVEI comparado
com a prevalência dos participantes com AVEH (12,5%)
[29].
Foi demonstrado que a pressão arterial pode ocasionar um
aumento triplo na incidência de um AVE, podendo haver
uma relação entre a pressão arterial sistólica e o risco de um
acidente vascular encefálico [30]. Dentre os participantes da
amostra do GE, 75% apresentam problemas de hipertensão,
corroborando com os estudos que trazem esta doença como
fator que aumenta as chances de desencadear um episódio de
AVE e estar presente na vida daquelas pessoas que já tiveram
um AVE. Para fins de pesquisa, faz-se necessário controlar
essas variáveis na avaliação cognitiva, e assim no
desempenho dos testes neuropsicológicos [31].
Neste contexto, a psicologia tem realizado vários estudos
que oferecem uma contribuição importante para o tratamento
das disfunções cognitivas. Os psicólogos demonstram cada
vez mais interesse pela reabilitação desses distúrbios. Assim,
foram desenvolvidos métodos e traçadas diferentes
estratégias para compensar as disfunções de atenção,
memória, perceptuais ou de funções executivas [32].
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da importância do aspecto cognitivo atencional
para a manutenção de funções vitais como o equilíbrio,
objetivou-se investigar a relação deste construto em idosos
acometidos pelo AVE.
Os dados encontrados revelaram que não houve um
prejuízo significativo da atenção em pessoas que sofreram
AVE, ao se comparar com as pessoas sem acometimento,
contrapondo-se a maioria dos estudos encontrados na
literatura, que são indicativos de uma possível predisposição
para desenvolver distúrbios cognitivos, comprometendo a
atenção. Entretanto, os dados obtidos nesta pesquisa podem
ser atribuídos à influência exercida pelo nível de escolaridade
e a idade dos participantes, já que é consensual afirmar que
estes fatores exercem influência significativa no desempenho
sobre testes neuropsicológicos. Considera-se ainda o fato de
todos os participantes estarem em processo de reabilitação
clínica e sob tratamento medicamentoso, que poderia estar
resultando em benefícios neuropsicológicos em decorrência
da neuroplasticidade celular.
Neste sentido, sugere-se para os próximos estudos um
maior controle de variáveis tais como o momento do dia para
a realização do teste, o nível de escolaridade, a idade dos
participantes, outros tipos de afecções médicas e/ou
psicológicas, a fim de que se evitem interferências na
avaliação cognitiva.
Esta pesquisa salienta a importância da realização de mais
estudos na área, relacionando a atenção ao AVE,
investigando, principalmente casos de pacientes em
recuperação, e em acompanhamento neurológico, como os
participantes da presente pesquisa.
Sugere-se, ainda, estudos comparando o desempenho dos
grupos de pessoas diagnosticadas com AVEI e com AVEH,
como também o aumento do número de participantes da
amostra, podendo coletar dados em outras clínicas. Pode-se
considerar também estudos que façam uso de equipamentos
sofisticados, obtendo imagens funcionais, que, aliadas as
baterias neuropsicológicas possam fornecer maiores
informações.
Este material pode servir de apoio quanto as
consequências do AVE, e auxílio na reflexão de
pesquisadores e profissionais que atuam diretamente com
estes aspectos, na medida em que se pauta em dados da
realidade, fundamentos em bases estatísticas. Estudo que
pode ser replicado em outros contextos regionais ou assumir
novas direções na forma de sua execução, sintetizando os
valores que uma ou mais variáveis podem exercer, para que
se tenha uma visão global da variação das mesmas,
promovendo o diálogo entre os resultados.
Por fim, estudos sobre o prejuízo cognitivo pós-AVE são
de grande relevância para fundamentar a elaboração de
práticas clínicas relacionadas à reabilitação neurocognitiva da
função atencional, de importância singular para o exercício
da independência e manutenção da qualidade de vida. Como
também para subsidiar a implementação de políticas públicas
para o tratamento dos quadros das doenças degenerativas que
acometem a população brasileira.
REFERÊNCIAS
[1] H. R., Leite; A. P. N., Nunes & C. L., Corrêa. “Perfil
epidemiológico de pacientes acometidos por acidente
vascular encefálico cadastrados na estratégia de saúde
 da família em Diamantina, MG”. Fisioterapia e
Pesquisa, São Paulo, 16 (1), mar., 2009.
[2] G., Ruzzon. “Acidente Vascular Encefálico”, 2011.
Recuperado em http://www.fisioneuro.com. Acesso em
12 de outubro de 2011.
[3] A. B., Benvegnu; L. A., Gomes; C. T., Souza de; T. B.,
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