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05/12/2022 21:23 Descomplica

Reabilitando adultos

O exame neuropsicológico e a reabilitação de adultos serão


pertinentes em casos de rebaixamentos e alterações cognitivo-
comportamentais, geralmente associadas a um acometimento
neurológico. Tal acometimento pode ser derivado de uma lesão
cerebral, de uma patologia, de um transtorno ou de outras etiologias que
causem distúrbios ou disfunções neuropsicológicas. Em geral, as funções
frequentemente prejudicadas em decorrência desses acontecimentos são
a atenção, memória, aprendizagem e funções executivas (flexibilidade,
planejamento, controle inibitório). Também merece destaque as alterações
perceptuais, de reconhecimento e de planejamento e execução motora.

Alguns aspectos deverão ser observados pelo profissional, que


poderão explicar a extensão e intensidade dos prejuízos, tais como
aspectos neuropatológicos, a localização da lesão, a conduta
medicamentosa e fatores psicossociais. Neste último aspecto ressaltam-
se os fatores pré-mórbidos de personalidade, escolaridade, dinâmica
familiar, nível cultural e recursos disponíveis na comunidade imediata.

O Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é uma das patologias mais


comuns na reabilitação neuropsicológica de adultos. O TCE pode gerar
lesões diretamente ou indiretamente, em decorrência de mecanismos
cerebrais de aceleração e desaceleração ou a lesões derivadas de
prejuízos secundários. Durante a fase aguda do TCE, é importante estar
atento a possíveis complicadores, como distúrbios vasculares, elevação
da pressão craniana e diminuição da oxigenação. Se o TCE for leve,
outros prejuízos graves podem ser ocasionados por tais complicações na

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fase aguda. Ainda, a lesão axonal difusa pode gerar alterações


atencionais e executivas.

É comum o paciente despertar desorientado e confuso, na fase


subaguda após o retorno da consciência. Neste período, frequentemente
há a ocorrência de quadros de Amnésia pós-traumática (APT), que
podem durar de minutos a semanas – o período de duração da APT é um
importante indicativo de prognóstico do caso, indicando sua gravidade.
Durante esta fase, ainda não é possível estabelecer um verdadeiro
diagnóstico dos prejuízos neuropsicológicos. Para tanto, é necessário a
estabilização do quadro de ATP, assim como das outras sequelas da fase
aguda, o que pode durar de 6 meses a 1 ano após a lesão.

Nesta fase, a avaliação e a reabilitação terão objetivos diferentes


dos que serão pautados após a estabilização do quadro. Inicialmente, o
trabalho de orientação aos cuidadores é primordial, sobretudo em relação
à agitação psicomotora e estimulação controlada (paciente com alerta
flutuante e atenção difusa). Com o paciente, é preciso orientá-lo
constantemente e acompanhar a evolução do quadro de ATP. Apenas
após este acompanhamento, uma bateria de avaliação formal e
estruturada deve ser aplicada para investigar as principais consequências
do acometimento neurológico.

Além do TCE, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), também


chamado de Acidente Vascular Encefálico (AVE), é frequente e possível
causador de severas sequelas neuropsicológicas. Esta é uma patologia
derivada de uma hemorragia ou uma isquemia dos vasos sanguíneos
cerebrais. Nos dois casos, a parte do cérebro afetada deixa de ser irrigada
e recebe nutrientes, de forma que ocorre a morte neuronal nas regiões
vizinhas ao AVC. Diversos são os fatores de risco para um AVC, como
hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes, colesterol alto e tabagismo. As
consequências dependerão da gravidade, extensão e da estrutura

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afetada, mas em geral, os AVCs isquêmicos apresentam um perfil


lateralizado, em que um lado sofre mais consequências que o outro,
podendo ocasionar heminegligência visual em lesões à direita e afasias
em lesões à esquerda.

Outro caso passível de avaliação e reabilitação neuropsicológica em


adultos são os quadros de transtornos neurocognitivos associados ao
HIV/Aids. O vírus da imunodeficiência humana (HIV, em inglês) é
causador da Aids – não necessariamente uma pessoa soropositiva (com
HIV) desenvolve a doença Aids, mas ainda assim pode transmitir. Este
vírus ataca o sistema imunológico, dificultando a defesa do organismo. A
literatura científica é prolífica em apresentar perfis neuropsicológicos
variados e quadros neuropatológicos causados pelo HIV/Aids. Sabe-se
que o HIV/Aids produz manifestações neurológicas em cerca de 40 a 70%
das pessoas soropositivas.

Consta que pessoas com Aids em estado avançado apresentam


rebaixamentos intensos em vários domínios cognitivos; pacientes crônicos
apresentam maior taxa de rebaixamento cognitivo em comparação a
pessoas recém infectadas; e pessoas assintomáticas, embora em menor
escala, podem apresentar rebaixamentos em alguns domínios
específicos. Tais aspectos são associados ao fato de o cérebro ser pouco
suscetível aos antirretrovirais, tornando-se um alvo menos protegido. Os
efeitos dos danos cognitivos estão associados a prejuízos da
administração da medicação (devido a alterações nas funções executivas,
atenção e memória), maior risco de óbito, risco aumentado de
desenvolver processos demenciais e maior risco de transmissão. Nestes
casos, a reabilitação, além de reabilitar os transtornos cognitivos, deve
estar atenta e intervir em aspectos comportamentais e emocionais,
frequentemente alterados nestes casos, de maneira a melhorar a
qualidade de vida da pessoa convivendo com HIV/Aids.

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Pessoas com doenças desmielinizantes também são frequentemente


encaminhadas para reabilitação neuropsicológica. Tais doenças são
aquelas em que a bainha de mielina dos neurônios sofrem processos
inflamatórios que vão degradando-as gradativamente, podendo ou não
deixar as demais partes do neurônio intactas, como os axônios. Dividem-
se em dois grupos: a) encefalomielite disseminada aguda (ADEM) e
encefalomielite hemorrágica; e b) esclerose múltipla (EM) e esclerose
cerebral difusa.

A ADEM é uma doença aguda, autoimune, que geralmente surge após


uma infecção, quando o sistema imunológico gera uma resposta
exagerada para dar conta da infecção. Um dos principais aspectos da
ADEM é sua rapidez e início abrupto das alterações neurológicas, que
dificultam a investigação preventiva e levam pessoas ao óbito antes do
diagnóstico clínico. Em geral, a sintomatologia envolve alterações
neurológicas, motoras, psiquiátricas, cognitivas e sociais e a ADEM pode
acometer pessoas em qualquer faixa etária, da infância à velhice.
Contudo, quando acomete crianças têm maiores chances de
recuperação.

A EM também é uma doença autoimune, mas acomete principalmente


jovens entre 20 e 40 anos. O quadro é derivado de um processo
inflamatório na bainha de mielina, que passa a ser desmielinizada em
algumas áreas específicas do neurônio, formando “buracos”. É comum
que a EM evolua clinicamente por meio de surtos e remissões (SR), sem
deixar grandes sequelas caso a remielinização seja completa no
momento posterior à remissão. Embora seja mais incomum, também
pode ocorrer de forma crônica progressiva (CP), com constante e
gradativo processo de desmielinização e perdas cognitivas.

Tanto na ADEM quanto na EM, o principal foco da reabilitação será o


direcionamento do trabalho ao bem-estar do paciente. Através de técnicas

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e métodos interventivos, busca-se instrumentalizar o paciente para


conviver da melhor maneira possível com o seu novo quadro de
habilidades e características intelectuais, físicas, comportamentais e
psicossociais. Consta a importância do emprego de várias ações:
capacitar o paciente, ensiná-lo a lidar com seus défices, a conviver com
seus novos limites, a contornar esses limites utilizando estratégias, reduzir
incapacidades, superar suas próprias expectativas, diminuindo a chance
de quadros comórbidos de depressão e ansiedade.

Os transtornos neuropsiquiátricos também podem ser


encaminhados para reabilitação neuropsicológica devido ao panorama de
disfunções cognitivas associados aos diagnósticos. Por exemplo, no caso
do Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), diversas pesquisas no meio
científico vêm apontando as alterações neurológicas, como a
hiperatividade do tálamo e os rebaixamentos nos gânglios da base. O
TOC é caracterizado por obsessões (ideias, pensamentos, imagens ou
impulsos repetitivos e intrusivos) e compulsões (comportamentos
repetitivos que visam à redução das obsessões). Aponta-se que podem
haver comprometimentos da memória não verbal, das habilidades
visuoespaciais e, sobretudo, das funções executivas, como planejamento,
flexibilidade cognitiva e memória operacional.

Atividade Extra

Utilizando a ressonância magnética para compreender as alterações


cerebrais em pacientes com HIV/Aids.

“Os pacientes imunossuprimidos, principalmente os que têm HIV positivo,


podem ter infecções oportunistas, e algumas acometem
caracteristicamente o cérebro. Dentre as principais estão a
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neurotoxoplasmose, a criptococose, a tuberculose e a neurosífilis. A


neurotoxoplasmose usualmente cursa com formações expansivas na
transição córtico-subcortical e nos núcleos da base”.

Fonte: Neurorradio em pauta.

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hQAFHzne5uQ

Referência Bibliográfica

ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: ab.


interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica. Artmed
Editora, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3jbeRXM

NOGUEIRA, G. S.; SEIDL, E. M. F. Reabilitação Cognitiva e


Neuropsicológica de Pessoas que Vivem com a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida. Brasília Med, v. 51, n. 3.4, p. 268-276, 2014.
Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/rbm.org.br/pdf/v51n3-
4a10.pdf

PEREIRA, R. R. De Manha a mania do comportamento de repetição ao


TOC: aspectos neuropsicológicos do transtorno obsessivo-
compulsivo. Psicologia. PT: o portal dos psicólogos. s/l, Abr,
Salvador/BA, p. 1-7, 2013. Disponível em:
https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0780.pdf

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