Você está na página 1de 9

Demência Infantil e Encefalopatias progressivas

Os distúrbios progressivos do S.N., quer degenerativos, metabólicos ou


infecciosos agrupam-se na categoria “distúrbios neurodegenerativos”, e
começam frequentemente com alterações do comportamento e pensamento.

Produzem uma disfunção cerebral progressiva e generalizada (encefalopatia e


demência). Algumas causam alterações mentais episódicas, com intervalos de
remissão e mesmo melhoras.

Os sinais diagnósticos são:


- Defeitos cognitivos sem causa aparente.
- Deterioração do desempenho escolar.
- Prejuízo ao nível cognitivo, motor, visual ou auditivo.
- História genética de problema semelhante.

A grande variedade de patologias aqui agrupadas levou a uma densificação com


base nas áreas especialmente comprometidas (Substância Cinzenta vs Branca)

Poliodistrofia (demência, convulsões)

Leucodistrofia (Espasticidade progressiva, ataxia, atrofia óptica)

Encefalopatias infecciosas (Demência, imunodeficiência)


Poliodistrofias (doenças da Substância Cinzenta)

Lipidoses

As lipidoses resultam de um armazenamento excessivo de lipídios no S.N.C. e


outros órgãos devido a uma deficiência numa enzima lisosomal específica,
resultando demência e convulsões.

Exemplos destas patologias:


- Doença de Tay-Sach
- Doença de Samdhoff
- Doença de Niemann-Pick

Em termos terapêuticos:
- Transplante de medula
- Substituição enzimática

Não têm um carácter curativo mas retardam a evolução.

Mucopolisacaridoses

Caracterizam-se por aspecto dismórfico (incluindo alterações ao nível do


esqueleto), anormalidades oculares e viscero-megália. Na maioria das formas
observa-se um declínio intelectual.
Os aspectos dismórficos incluem:
- Baixa estatura
- Macrocefalia
- Rosto “grosseiro”
- Mãos e pés em “espada”
- Abdómen proeminante

Exemplos destas patologias


- Doença de Hurler (1)
- Doença de Hunter (1)
- Doença de Sanfilippo (2)

(1) Predomínio de aspectos dismórficos;


(2) Predomínio de aspectos demenciais e problemas comportamentais.

Neste grupo de patologias são muito marcadas a hiperactividade, inatenção, e


comportamento opositor.

Em termos terapêuticos:
- Transplante de medula (com muitas duvidas relativamente ao prognóstico a
longo prazo).

Síndroma de Alpers

Poliodistrofia progressiva, caracterizada por convulsões e demência.


Uma marcada perda de memória vai espelhar-se por atrofia cortical progressiva
observada na TAC e RNM. Tem inicio na infância precoce ou adolescência e
evolui para estado vegetativo e morte.
A causa exacta é desconhecida e não existem ainda nem exames laboratoriais
para o diagnóstico, nem tratamento.
Contudo, alguns pacientes apresentam concentrações elevadas de lactose, pelo
que é possível que esteja implicada uma disfunção mitocondrial.
Outros pacientes apresentam malformações do fígado, pelo que é admitida uma
etiologia múltipla.

Doenças Mitocondriais

As encefalomiopatias mitocondriais podem comprometer ao nível do SN


periférico ou central. Os aspectos clínicos mais salientes são desarranjos
metabólicos de energia, com falha no crescimento, baixa estatura, convulsões,
oftalmoplagia e demência. Estão descritos mais de 30 distúrbios mitocondriais
com quebra neuronal e nalguns casos com evidência de neovascularização.

A evolução das diferentes doenças mitocondriais é muito variável. Os


síndromas MELAS (mitocondrial encephalopaty with acidoses and struke-like
episodes) pode evoluir com uma demência proeminentemente (com QI de 40
aos 11 anos) e complicações cardíacas e renais e alucinações visuais,
estabilizando e prolongando-se a vida até à 3ª década. Noutros casos, como o
síndroma Leigh, o doente morre em consequência de um compromisso bulbar
ou respiratório secundário.

Síndroma de RETT
Referido nos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento.
Encefalopatias Epilepticas

Este termo refere qualquer situação em que o desenvolvimento é interrompido,


ou observa-se mesmo uma regressão na sequência da epilepsia severa,
independentemente da etiologia dessa epilepsia que não responde ao tratamento.
Inclui-se aqui o síndroma de West e o síndroma de Lennox-Geastaut. Não é
conhecida neuropatologia patognomónica.

O síndroma de West surge entre os dois meses e um ano e é caracterizado por


espasmos ao nível de todo o corpo, que se intensificam com o tempo. Sem
tratamento, há uma paragem do desenvolvimento com cegueira cortical.

O síndroma de Lennox-Geastaut surge em bebés maiores, geralmente por volta


dos dois anos. É caracterizado por convulsões motoras mistas.

Os 2 síndromas apresentam marcada irritabilidade com mudanças


comportamentais.

O controlo da evolução é relativamente possível com terapêutica adequada.

Leucodistrofias (doenças da substância branca)

Enquanto que nas poliodistrofias (Doença da substância cinzenta) os


compromissos eram essencialmente convulsões e demências, as leucodistrofias
(doenças da substância branca) caracterizam-se por uma progressiva
espasticidade severa, afasia, atrofia óptica e declínio intelectual (Aicardi,1993).
Leucodistrofia metacromática

É uma doença autossomica recessiva, que aparece tarde na infância, como


resultado do armazenamento excessivo de sulfatide por deficiência da enzima
arilsulfatase A.

A LDM juvenil induz ataxia espasticidade e demência com compromisso ao


nível da memória, alterações comportamentais e sintomas que podem fazer
pensar na esquizofrenia.

Aspectos distintivos nesta doença são: desinibição, impulsividade, mau


julgamento, labilidade emocional e fraca atenção.

O diagnóstico inclui análise proteica do LCR (níveis elevados) e o tratamento


por transplante de medula óssea é eficaz, pelo menos nos casos infantis.

Doença de Krabbe

Desmielinização de células especificas.

A nível comportamental, os casos infantis apresentam uma inquietude e


irritabilidade seguida de rigidez.

As convulsões e atrofia óptica desenvolvem-se mais tarde. Por fim, a criança


fica flácida.

O transplante de medula óssea permite a correcção enzimática e melhora, ou


pelo menos estabiliza, a deterioração neurológica.
Adrenoleucodistrofia

Doença genética ligada ao cromossoma X, aparece em meninos e rapazes, que


desenvolvem perda visual, espasticidade progressiva e demência. As convulsões
não são significativas.

Dificuldades comportamentais e labilidade emocional são frequentes no inicio.


Mais tarde surge uma insidiosa deterioração no desempenho escolar, com
disfunção bulbar e compromisso visual cortical.

Os pacientes mais velhos podem chegar aos 40 anos, com desinibição que
produz hipersexualidade e alucinações frequentes e demência progressiva e
insidiosa nos 5 a 10 anos antes da morte.

O diagnóstico regista na RNM uma mielinização occipital anormal e


insuficiência adrenal. Nas fases mais tardias, pode causar uma pigmentação
aumentada na pele e gengivas, hipotensão postural e ausência de resposta à
estimulação por ACTH.

O tratamento inclui alterações na dieta (acrescentar óleo triolato glicerol e


restrição dos ácidos gordos ou cadeia longa) e transplante de medula óssea. O
efeito é limitado e encontra-se em fase experimental.

Outras leucodistrofias mais raras, como a doença Pelizaens-Merzbacher, a


doença de Canavam e a doença de Alexander apresentam características
semelhantes.
lnfecções lentas do SNC

As doenças neurodegenerativas, causando convulsões com demência


progressiva, podem também, embora mais raras, ser devidas a vírus lentos ou
infecções prévias do cérebro.

SIDA

A SIDA tem recebido uma maior atenção no grupo das infecções cerebrais
crónicas na infância. O HIV-1 infecta as células da micróglia e secundariamente
os neurónios resultando em encefalopatia HIV-1, com demência progressiva e
lenta com espasticidade.

Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva

Distúrbio sub-agudo comprometendo o sistema imunitário.

Os sintomas são: comportamento alterado acompanhado de múltiplos sinais


neurológicos, tais como: hemiparesia, ataxia, disfunção bulbar ou hemianopsia.

Na RNM são evidentes desmielinizações multi-focais e estas crianças


apresentavam diagnóstico de SIDA e tratamento imunosupressor, tinham sido
expostas a radiação ou doença linfomatosa.
Panencefalite Esclerosante Sub-aguda

Em semelhança com a encefalite sub-aguda progressiva Rubella, após um


período de latência de 5 a 10 anos, a criança desenvolve mudanças de
comportamento, quebra no desempenho escolar e, finalmente, convulsões do
tipo mioclonicas e demência. Pode provocar estupor, coma e morte em poucos
meses (forma aguda) ou progredir por vários anos (forma crónica).

A desmielinização, que primeiro se observa nas regiões occipitais, estende-se de


seguida a toda a cortiça e tronco cerebral.

Doença de Jakob-Creutsfeldt

Tal como nos adultos, causa progressivamente mioclonias severas, demências,


rigidez e espasticidade.

A criança desenvolve ansiedade e falta de “juízo social e moral”. Quando ocorre


perda de memória, então inicia-se uma rápida demência associada com afasia,
apraxia, agnósia e rigidez, assim como espasticidade e mioclomias. Ao
aproximar-se da fase terminal surge cegueira cortical, ataxia e convulsões.

Você também pode gostar