Prof. Thales H. N. de Andrade Matéria Elites Instituições e Política
Visando discutir a estabilidade das sociedades, Pareto discute neste
texto a mobilidade social tal como ocorre em relação às elites. Ou seja, qual a relação entre o fluxo de indivíduos governados para governantes, com a ordem e progresso. O primeiro elemento a partir do qual Pareto elabora sua discussão é uma tentativa de cientificar a questão com a ideia da possibilidade de qualificar em graus habilidades, ou características que - independente de julgamentos morais - poderiam ser encontrados em maior ou menor quantia nos membros da elite. Apesar de não ser levada a frente no texto isso mostra qual vai ser de certa maneira uma grande preocupação do texto - a pureza das elites. A partir da constituição da elite governante - em oposição aos não-governantes - as sociedades são divididas em dois: os governantes e os governados. Em toda atividade existe certos requisitos que lançariam a frente alguns indivíduos, a partir de suas variações pessoais. Nem toda atividade tem uma finalidade política, no entanto. Desta maneira para a discussão avançada pelo Pareto no que diz respeito aos elementos políticos alguns indivíduos terão os dons necessários, outros não. Não é, como em Mosca, evidente ao lermos o texto que a elite para Pareto se trate exatamente de um grupo de pessoas. De certa maneira parece ser necessária para uma discussão sobre elite tomar eles enquanto um conjunto, mas não há uma discussão aprofundada ao longo das páginas sobre o assunto. O que podemos dizer com maior medida de certeza é que a elite não se perpetua para sempre muito menos da mesma maneira, sofrendo mudanças constantes. Estas mudanças, apesar de necessariamente serem de um âmbito temporal, e portanto, histórica, não são discutidas enquanto tais. São elaboradas visando as circulações entre membros dos governantes e governados. Assim há uma considerável preocupação no desenrolar do texto, não propriamente em definir ou elaborar métodos de conferir quem é elite, mas discutir alguns dos efeitos deste circulação, pautada na ideia de que existiam membros da elite governante que não detém as qualidades necessárias para estar nesta categoria. Ao analisarmos dadas elites devemos estar atentos a proporção entre os membros das elites que efetivamente tenham as qualidades "requeridas" por uma dada sociedade e a velocidade da circulação entre seus membros e os de fora. Em certas sociedades com fortes laços familiares a ascensão de um pessoa à elite governante traga consigo os seus próximos, em outras mais atomizadas a sua ascensão é apenas sua. Mesmo entre este último caso é importante verificar os requisitos dos novos membros, pois, ao contrário de profissões específicas, ser membro da elite governante não é resultado de uma prova e sim de uma processo de oferta e demanda dos requisitos "necessários" para que se mantenha o equilíbrio e paz social. Para além disto, visando o equilíbrio e paz, como estado ótimo, independente de julgamento moral sobre qual tipo de sociedade estabelecida, s eria importante, os qualificados a fazer tais estudos, os cientistas sociais, quais influências estão adentrando a elite governante, pois muitos novos valores - religiosos, por exemplo, - são incorporados. Muitas vezes movimentos sociais são associados à circulação de elites, segundo Pareto. Sem discutir ideologia neste texto o autor, no entanto, menciona que para assegurar sua posição social os membros da elite recorrem a retóricas para mobilizar parcelas da população. Sob o nome de "derivações", Pareto fala de teologias que surgem com a circulação de elites, duas grandes são importantes sobre se deve ou não ser utilizada a violência. A questão, apesar de ser considerada uma bobagem pelo autor, ilustra como é pensada a circulação das elites. Alguma medida de mobilidade social parece ser desejável, pois leva a progresso civilizatório - e portanto justificaria a circulação -, por outro lado, é fundamental que não há um rompimento social que rasgaria a sociedade, portanto, uma derivação de uma teologia que defende que a violência contra uma classe ou status social não deve ganhar força.
Referência: PARETO, Vilfredo "As elites e o uso da força na sociedade", In:
SOUZA, A. (org.) Sociologia Política I. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. p. 70- 88