O texto nos promove um momento de reflexão sobre o conceito de política e sua
relação com poder. Evidencia que “Toda maneira pela qual o poder é exercido se reveste de grande complexidade, às vezes não aparente à primeira vista”[pág 4]. O autor menciona também a inter-relação entre “a fonte do poder” e os submetidos a esse poder, visto que, quando o poder é exercido alguém toma a decisão e alguém é afetado e submetido a essa decisão, isso ocorre frequentemente com os governantes da nossa sociedade. O significado de “ter poder” também é abordado no texto, pois, quando pensamos em quem detém o pode ligeiramente pensamos em governantes ou pessoas que possuam um alto poder executivo, mas, ter poder não pode se resumir em quem simplesmente esta investido em algum cargo, pois é comum que ocupantes de um cargo se submetam a vontade de outras pessoas não ocupantes de cargo algum. As chamadas “eminências pardas”. [pág 4] p2. O autor também afirma que “O poder só pode ser visto, sentido, avaliado, ao exercer-se”[pág 4] p2, ou seja, antes de exercido o poder é somente uma expectativa, uma presunção de algo que se acha que vai acontecer. Portanto é na ação que se analisa o poder. O ato política possui dois aspectos, um interesse e uma decisão. “A Política passa, neste caso, a ser entendida como um processo através do qual interesses são transformados em objetivos e os objetivos são conduzidos à formulação e tomada de decisões efetivas, decisões que “vinguem”.” [pág 5] p3. É nítido que o autor deixa bem claro que o poder em si não resume o conceito de política como um todo, pois o que interessa mesmo é “ interessa é o processo de formulação e tomada de decisões.” [pág 6]. “ Alguém, de alguma forma, manda em outrem, normalmente uma minoria mandando na maioria. Este fato está no centro da coisa política.” [pág 6], essa afirmação de Ribeiro nos remete a como se configura a nossa sociedade. Promove uma reflexão sobre quem está ocupando os cargos que exercem grande influência na nossa sociedade, tomando as maiores decisões e de certa forma controlando as massas populares. Os mais afetados sempre são as classes mais baixas da sociedade e isso ocorre porque quem está na posição de controle e tomada de decisões ou como diz Ribeiro “Quem manda” em sua grande maioria não é quem detém poder não só de influência, mas quem possui capital, seja ele, social, simbólico, cultural e o mais importante, talento, a política requer um talento especial, como uma espécie de arte. Ribeiro conclui por fim , que “A Política fica então vista como o estudo e a prática da canalização de interesses com a finalidade de conseguir decisões.” Já sobre as formas de exercício do poder, Ribeiro problematiza a forma como somos influenciados com as decisões políticas, não somente nas questões que de certa forma organizam a nossa sociedade, as leis, a constituição os códigos etc.. mas sim, como “estamos imersos num processo político que penetra todas as nossas atitudes, toda a nossa maneira de ser e agir, até mesmo porque a educação, tanto a doméstica quanto a pública, é também uma formação política.” [pág 8] sabemos que nem todos de importam com questões políticas, muitos pensam no seus projetos de vida, num futuro farto no qual só irá gozar a vida, mas, sabemos que para isso seria necessário possuir uma ocupação rendosa, é necessário ter oportunidade. Oportunidades estás, que nem todos possuem e só é possível mudar esse cenário através de um processo político. Já que é por meio da política que decidimos como aplicar o dinheiro público da melhor forma garantindo o atendimento das políticas públicas que visam efetivar o cumprimento dos direitos fundamentais previstos na nossa constituição. Portanto, até para os que dizem que não ligam para a política, estão usufruindo de um direito previsto no sistema político em que vive. Ribeiro citou as primeiras civilizações e argumentou sobre os seus governantes e líderes, os mesmos que possuam poder naquela época. Afirmando que as condições para possuir poder mudam constantemente, por exemplo, para os homens das cavernas primeiramente ter força era o bastante para assumir a liderança da tribo, mas com as evoluções tecnológicas da época, como surgimento das armas, já mudavam a perspectiva do que seria possuir poder. Uma vez que, quem possuía a arma, também possuía poder, e já não bastava mais ser o mais forte para ser o líder. “[…] existe um papel social e político a ser cumprido, independente da pessoa que o desempenhe.” [pág 19]. Ou seja o papel de liderança/ chefia é atemporal e acontece independente de quem governa, pois sempre haverá alguém apto para assumir o cargo. A institucionalização também é um processo natural da nossa sociedade, visto que, hoje o Brasil possui diversas instituições, “[…] A esse conjunto de instituições — quer as do Brasil de hoje, quer as de Ugh-Ugh — dá-se o nome de Estado.” [pág 20] “[…]toda coletividade tem alguma espécie de “governo”[pág 15], essa afirmação diz respeito ao fato de que toda coletividade se organiza de determinado jeito e de acordo com as normas pré estabelecidas. Portanto, a organização se torna algo que se diferencia a coletividade humana da animalesca. Assim como o Governo, Estado, Nação e País, também possuem significados diferentes dependendo do contexto em que for utilizada. Por exemplo: num estado qualquer pode existir duas nações, pois nação nada mais é do que “[…] uma língua comum, uma história comum, tradições comuns, valores comuns, hábitos comuns, arte comum” [pág 22]. Já no capítulo 5, João fala sobre a Soberania dos Estados mais enfraquecidos e dos mais fortalecidos, e como os que estão em posição de vantagem conseguem de certa forma, influenciar as decisões dos menos favorecidos. Não explicitamente, mas por outros canais fáceis de identificar. “[…] o Estado representa sempre o interesse público, o do bem-estar da coletividade” [pág 28], afirmação presente no capítulo 6, denominado “Estado e violência”, de acordo com o autor, o Estado representa o coletivo respeitando sempre o ordenamento jurídico. A ordem jurídica para Ribeiro: “[…] subordina povo, governantes e instituições, existindo mesmo certos princípios básicos inalteráveis.” [pág 28]. Pode-se concluir então, que até para alterar a lei é né necessário seguir a lei, pois é assim que funciona a norma jurídica. Ainda nesse contexto, o estado teria o “monopólio de violência”, pois ele teria autonomia para utilizar de meios coercitivos para se fazer cumprir a lei. E a coerção é uma forma de violência. Então somente o Estado teria o chamado monopólio de violência. No capítulo 7, são citadas as formas que o estado utiliza para organizar a sociedade e se fazer cumprir e lei. No decorrer do texto o autor também explica a relação entre o estado e o Indivíduo com todas as suas variantes e complexidades. A democracia também é abordada de um ponto de vista diferente no qual Ribeiro explica que não basta o Estado utilizar o termo “democracia” para ser democrático. E para isso utiliza como exemplo o Regime militar de 1964 no Brasil. A democracia e a ditadura são grandes protagonistas quando o assunto é Estado, como já dito antes por Ribeiro, não adianta apenas autodenominar-se democrata, visto que, isso não tem muita importância, o que realmente tem peso ao avaliar o regime de um Estado é a não unilateridade. É quando o povo faz parte da tomada de decisão, quando participa diretamente ou indiretamente, seja votando ou se candidatando a ser votado, expressando suas opiniões sem censura alguma. Já sobre a Ditadura, “[…]podemos dizer que a ditadura se caracteriza não só pela sua visível unilateralidade (as decisões vêm “de cima para baixo” e são impostas aos governados), como pelo fechamento do processo decisório público”[pág 52].
O texto de João Ubaldo Ribeiro aborda diferentes aspectos da escolha de
governantes em diferentes contextos políticos. O autor menciona que, mesmo em ditaduras, os governantes não são eternos e há sempre um processo de escolha, seja imposta ao povo ou através de outros mecanismos. Ele destaca que alguns governantes são escolhidos por hereditariedade, mas esse processo tem perdido importância atualmente, especialmente nas monarquias que tendem a adotar regimes parlamentaristas, onde o poder decisório está concentrado no Parlamento.
O texto também discute a escolha de governantes por meio da força, seja em
Estados conquistados militarmente, colônias ou através de golpes de Estado, onde há a tomada violenta do poder por facções descontentes com a situação política. O autor faz uma distinção entre golpes de Estado e revoluções, onde as últimas são caracterizadas por alterações mais profundas na sociedade e economia. Sobre os partidos políticos e suas características, ele destaca que os partidos políticos organizados, como conhecemos hoje, são um fenômeno relativamente recente, provavelmente relacionado ao surgimento dos parlamentos. Além disso, menciona a classificação dos partidos políticos em "reivindicatórios", "reformistas" e "revolucionários", com base nas mudanças que pretendem trazer à sociedade e às instituições. O texto também discute diferentes sistemas de partidos, como o unipartidarismo, o bipartidismo e o pluripartidismo, bem como os métodos de escolha de candidatos, como as primárias. O trecho aborda a existência de ideologias no cotidiano das pessoas, destacando que todos possuímos uma forma de pensamento ideológico. A ideologia é uma maneira de ver o mundo, moldando nossa percepção e explicação dos fatos. Ela está relacionada com a existência de classes sociais, sendo influenciada pelas circunstâncias concretas de nossa existência, como ocupação profissional e posição socioeconômica. Além disso, o texto menciona a relação entre ideologia e teoria, enfatizando que a política se faz na ação concreta numa sociedade, e uma teoria posta em ação assume caráter ideológico. O exemplo ilustrativo dado é o da comunidade fictícia de Ugh-Ugh, onde as diferentes posições na estrutura socioeconômica geram ideologias conservadoras e reivindicatórias/revolucionárias, respectivamente, para os dominantes e os escravos. O trecho aborda a complexidade da assunção de uma ideologia, destacando que não é um processo mecânico ou simples. A educação tem caráter ideológico, pois transmite valores politicamente significativos, mas nem sempre é consciente ou intencional. A classe social não determina automaticamente nossa forma de pensar e agir politicamente, pois outros fatores podem influenciar nossa consciência. A ideologia básica, normalmente vista em termos de Esquerda e Direita, pode assumir várias formas e variações, não sendo uma distinção clara. As posições de Esquerda tendem a acreditar na aperfeiçoabilidade do homem e na possibilidade de resolver os problemas sociais, enquanto as posições de Direita consideram certas características do homem como imutáveis e buscam soluções adequadas a essa natureza. O texto enfatiza que os rótulos são enganosos e que devemos procurar as fontes diretas para entender uma ideologia, não aceitando os rótulos sem questionar e pensar criticamente. A conscientização ideológica pode gerar paixões e nos permite agir com consciência de nossos interesses e identidade. Ribeiro finaliza destacando que quem manda é aquele que leva vantagem, e essa vantagem pode ser percebida em vários níveis. Aqueles que se sentem no poder podem, na verdade, estar apenas satisfeitos com alguns desejos pessoais. A noção de poder é relativa, e a chave está em levar vantagem sobre os outros, não importando se formalmente ocupam posições de autoridade. A diferença entre quem detém a autoridade e quem detém o conhecimento necessário para tomar decisões pode ameaçar a representatividade popular nas democracias. O fenômeno da tecnocracia, com governantes sendo especialistas e técnicos, pode levar à submissão total à ciência e tecnologia, que também possuem aspectos ideológicos e precisam ser supervisionadas pela coletividade. A dominação ideológica ocorre através de diversos mecanismos, como linguagem, hábitos, tradições e aspirações que aprendemos a desenvolver como se fossem nossas, quando, na verdade, podem ser imposições culturais e econômicas. A resistência a essa dominação só é possível através da consciência política e da produção cultural livre e autônoma.