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Resumo
Este texto tem o objetivo de discutir frente aos textos lidos e as discussões estabelecidas em aula pela
disciplina optativa APF 9110 – Sistemas Eleitorais, Partidários e Políticos, e discorrer sobre a
atualidade dos debates em torno da ideia de um projeto de Reforma Política para o Brasil e as
consequências para a sociedade contemporânea. Exporemos uma breve análise da proposta de um
novo sistema político – o sistema de semi-presidencialismo e suas implicações quanto a adequação aos
sistemas eleitoral e partidário do país.
Abstract
This text has the objective of discussing the texts read and the discussions established in class by the
optional discipline APF 9110 – Electoral, Partition and Political Systems, and to discuss the current
debates around the idea of a project of Political Reform for Brazil And the consequences for
contemporary society. We will present a brief analysis of the proposal for a new political system – the
Semi-Presidentialism system and its implications for the adequacy of the electoral and partisan
systems of the country.
Keywords: Political Reform. Political System. Semi-Presidentialism. Brazilian Society.
Introdução
A jovem democracia brasileira vem sofrendo constantes ataques aos seus fundamentos e a
representação política, um dos pilares de nossa política vive em um pandemônio sem
precedentes; os políticos que a priori foram elegidos para representar os interesses do povo e
dar respostas as demandas apresentadas por nossa sociedade complexa e plural estão cada vez
mais apartados do povo, o que coloca em xeque, a legitimidade de nosso sistema político e
partidário e a forma de como nossos processos eleitorais estão sendo conduzidos.
No caso brasileiro, vimos de camarote este cenário trágico acometer o último mandato da ex-
Presidenta Dilma Rousseff, mediante toda a crise política, a falta de governabilidade e a falta
de apoio total da bancada parlamentar cooperou para o acirramento da crise política e social, e
sendo agravada pela forte crise econômica (PIB retroativo, altas taxas de desemprego,
inflação alta e altas taxas de juros) demonstrou o quanto o sistema político brasileiro é frágil e
não resiste a crises internas e externas de grande impacto.
A crise de nosso sistema político se dá pelo fato de que ao ser eleito por uma massa, o
Presidente assume um compromisso para com povo, este personagem estará representando-a
na arena política e que suas ações estarão voltados ao bem público e de interesse da maioria,
ou dos seus eleitores na acepção final do fato. Este profissional político sabe “jogar o jogo” e
conhece muito bem as regras e bastidores, é altamente qualificado para isto, mas, ao não
atender as demandas de seus representados (ou pior atende demandas de interesses
particulares de grupos e corporações) coloca em questão a instituição política e a qualidade da
Democracia; o que dado os processos históricos e temporais, leva a grande maioria a pensar
que a política não serve para nada a não ser engordar as contas bancárias de seus atores.
Na realidade o que está em crise é o agente representativo figurado no papel do político
profissional e de nossas instituições fragilizadas; o problema está dado, a questão é quem é
este agente e qual o seu papel no jogo político e social, as quais interesses e quais as
prioridades que ele atende. Em tese o sistema político, os políticos profissionais e as
instituições deveriam estar inteiramente ligado aos processos sociais que se colocam em suas
agendas, mas, de fato isto, não tem ocorrido de forma coerente e que coloca em questão todo
o sistema político presidencialista e aflora a cada dia mais a crise de representação, a
corrupção e a importância de nossas instituições e regras estabelecidas.
A questão colocou em xeque a qualidade de nossa Democracia e de nossas instituições
políticas, e abriu mão para as discussões sobre os pilares democráticos de nosso país, ou seja,
a necessidade de se pensar sobre uma reforma política, no âmbito de alterações sobre o nosso
sistema eleitoral, político e partidário. A reforma política representa caminho essencial para
iniciar a extinção das mazelas herdadas de nosso passado cultural patrimonialista, clientelista
e patriarcalista e um passo ao rumo a construção de uma nação de fato democrática.
O Brasil é uma República, presidencialista, federativa, com representação
proporcional e multipartidarismo. O Poder Legislativo é bicameral: na
Câmara dos Deputados, eleita através do sistema proporcional de listas
abertas, se fazem representar os cidadãos, enquanto no Senado Federal,
eleito através do sistema majoritário, se fazem representar os estados da
Federação (três senadores para cada estado da Federação). Tais
características são, todas elas, tendentes à dispersão de poder entre os atores
relevantes, garantem a participação institucionalizada das minorias e
facultam a expressão da heterogeneidade e do pluralismo societais. Portanto,
no que se refere ao eixo método de constituição das instâncias decisórias, o
Brasil pode ser classificado como pertencente ao modelo consensual de
democracia. (ANASTASIA & AVRITZER, 2006, p. 22)
Em sua jovem jornada democrática, o Brasil já foi vítima de um golpe militar, que culminou
em uma dura e sangrenta ditadura – 21 anos de uma tirania sem precedentes em nossa história
e com um prejuízo humano e social incalculável. E para além disso, já presenciamos três
processos de impeachment, em 1955 com a destituição ao poder dos então presidentes Carlos
Luz e Café Filho; em 1995, pouco antes de ser validado o processo, o então presidente
Fernando Collor de Mello, renunciou ao seu mandato. E recentemente, em 2016, a presidenta
Dilma Rousseff foi cassada e destituída do poder pelo Congresso Nacional.
A questão colocou em xeque a qualidade de nossa Democracia e de nossas instituições
políticas, e abriu mão para as discussões sobre os pilares democráticos de nosso país, ou seja,
a necessidade de se pensar sobre uma reforma política, no âmbito de alterações sobre o nosso
sistema eleitoral, político e partidário. A reforma política representa caminho essencial para
estabelecermos uma nação de fato democrática e representativa. Apresentaremos nesta
proposta a possibilidade de ser pensado outra forma de sistema político – o Semi-
Presidencialismo e as implicações e mudanças necessárias que tal modelo pode causar nos
demais sistemas – eleitoral e partidário.
Para Sartori (1982) “os partidos são canais de expressão. Isto é, pertencem, em primeiro lugar
e principalmente aos meios de representação: são instrumentos, ou uma agência, de
representação do povo, expressando suas reivindicações (SARTORI, 1982, p. 48)”. Para além
da formação das organizações e da liberdade das massas de reivindicarem suas demandas por
meio da afiliação aos partidos políticos, é necessário estabelecer ao país uma estrutura
partidária coesa e bem estruturada que lhe permitam condições para exercerem a liberdade de
se organizarem e condições democráticas para as suas lutas e reivindicações. Giovani Sartori,
em sua obra Partidos e Sistemas Partidários (1982) nos alerta sobre a natureza de nosso
sistema partidário:
(…) não obstante, do ponto de vista deste livro, perdura a conclusão de que o
sistema partidário brasileiro (e, concretamente, sua sequência de sistemas)
não revela uma consolidação estrutural, e isso por duas razões conjuntas: os
partidos brasileiros não podem ser qualificados como um subsistema
autônomo e, segundo, eles não tiveram um desenvolvimento espontâneo
(SARTORI, 1982, p. 19)
Segundo David V. Fleischer (1981) “a estrutura do sistema partidário tem uma dimensão
temporal, ou seja, ela corta o tempo, em um movimento permanente de mudança. A
estruturação é, pois, um processo (FLEISCHER, 1981, p. 10)”. Segundo o autor é necessário
entender que estas estruturas mudam, são um processo, que precisa ser revisto de tempos em
tempos, são acúmulos de mudanças ocorridas no contexto social e político.
A reforma política aqui proposta é estabelecer um sistema partidário coeso e estruturado que
permita aos indivíduos estabelecer com clareza mecanismos que promovam de fato a
representação política, crie controles contra a corrupção e outros males, e, qualifique e
fortaleça a Democracia representativa e participativa.
Regras para ser um partido; Federações partidárias; Fim das coligações eleitorais e
inclusão da cláusula de barreira no processo eleitoral.
Pela classificação Giovanni Sartori (1982), o sistema partidário brasileiro deve ser
classificado como pluralismo moderado, ou seja, multipartidarismo de baixa polarização
ideológica, alguns autores o classificam como um sistema pluripartidário fragmentado, e
também com baixa polarização ideológica, dado o fato de que uma vez que os partidos
políticos, no Brasil, ainda não funcionam como legítimo canal de comunicação entre a
sociedade e o Estado, mediante a apresentação de programas de governo que representem
diferentes ideias na forma e condução da coisa pública. Segundo Sartori (1982) o pluralismo
moderado é um misto de propriedades sistêmicas do modelo do bipartidarismo com o modelo
do pluralismo polarizado.
Face às propriedades do bipartidarismo, o principal traço marcante do
pluralismo moderado é o governo de coalização. Essa característica resulta
do fato de que os partidos relevantes são pelo menos três, que nenhum
partido alcança, geralmente, a maioria absoluta, e que parece absurdo
permitir que o partido maior ou dominante governe sozinho quando pode ser
obrigado a dividir o poder (SARTORI, 1982, p. 206).
Atualmente o sistema eleitoral brasileiro é definido pelas seguintes regras: 1) As eleições para
presidente, governador, prefeito e senador são determinadas pelo sistema majoritário.
(Concatenar com referência teórica); 2) As eleições para deputados federais, estaduais,
distritais e vereadores são determinadas pelo sistema proporcional com lista aberta.
No sistema majoritário o que importa é o candidato que recebe o maior número de votos em
determinado distrito eleitoral – entendido “distrito eleitoral” como “circunscrição”, o espaço
geográfico delimitado em que se dá a eleição de um cargo eletivo. No sistema proporcional o
que importa é a proporção de votos recebidos pelo Partido, cuja parcela corresponderá ao
número de cadeiras que lhe será atribuído no Parlamento.
Numa definição mais precisa, sistema eleitoral constitui “o conjunto de técnicas e
procedimentos que se empregam na realização das eleições, destinados a organizar a
representação do povo no território nacional” (ARAS, 2006, p. 326). Neste caso o sistema
eleitoral brasileiro aponta uma das tendências de Maurice Duverger: “o sistema majoritário
em dois turnos combinado com a representação proporcional tendem ao multipartidarismo”, o
que fato, é um fenômeno comprovado no caso brasileiro.
Forma de votação
A proposta em vigência visa em manter a forma atual das eleições para o pleito do Executivo,
ou seja, para os cargos executivos (Presidente, Governador e Prefeito) uso do sistema
majoritário em dois turnos e para Senado e suplente em apenas um turno; e salvo ressalva,
para a eleição de prefeitos em cidades com menos de 200.000 mil habitantes apenas em
primeiro turno. Em relação ao pleito para as vagas do Legislativo, a presente proposta, esta de
acordo com o Projeto de Lei apresentada recentemente ao Congresso Nacional e visa adotar
um sistema proporcional de lista flexível. A grande vantagem da lista flexível é o
fortalecimento dos partidos, mas permitindo ao eleitor o voto “personalizado”. Contudo, ela
poderia não resultar numa distribuição territorial equânime, já que os partidos poderiam
priorizar candidatos dos grandes centros, em detrimento das pequenas localidades.
Neste sistema, os partidos definem a ordem dos candidatos antes das
eleições, mas os eleitores podem votar em um determinado nome da lista. O
voto dado na legenda confirma o ordenamento dos candidatos definido pelos
partidos. Caso um candidato obtenha um número significativo de votos (os
critérios de contagem variam em cada país) ele pode mudar sua posição na
lista. Esse sistema é utilizado na Áustria, Holanda, Bélgica, Suécia,
Dinamarca e Noruega. Nestes países, em geral, o eleitor confirma a lista
partidária, por isso, é reduzido o contingente de candidatos que conseguem
mudar suas posições na lista (NICOLAU, 2006, p. 133)
Justificativa: Segundo Anastasia & Avritzer (2006) as eleições proporcionais quando não bem
definidas causam distorções na representação e precisam ser revistas e modificadas para
garantir de fato a observância do princípio de igualdade política entre os cidadãos. A atual
forma utilizada pelo sistema proporcional com lista aberta, tem demonstrado um mal que
precisa ser cortado do sistema eleitoral, pois permite que candidatos “puxadores de votos”
arrastem consigo candidatos que não foram bem votados, e não foram de consenso da
população, ou seja, privilegiam os partidos e não a opção eleitoral da população. Além disso,
é necessário validar a ideia de que para a proposição acima é uma garantia que de fato o voto
popular da maioria tem valor e importância na constituição de sua representação no
parlamento e de fato seu direito é respeitado na formação de uma sociedade política e
democrática. Para que tal sistema se sustente é necessário a realização de prévias partidárias
com consulta e exposição ao eleitorado, para que este tenha ciência da lista nominal da
composição de listas partidárias. A proposição deste sistema possibilita o fortalecimento de
mecanismos que combatam a formação de oligarquias partidárias e amplia a identificação dos
cidadãos com nossas instituições políticas e democráticas.
Regras para transformar votos em cadeiras nas casas legislativas
Com referência as últimas eleições, e visando o alto grau de abstenções, para se estabelecer
uma Democracia de fato representativa e que condiz com a opinião dos eleitores, colocamos
em pauta a proposta de discussão da obrigatoriedade ou não do voto, ou seja, da adoção do
voto facultativo.
Justificativa: Ao analisar as últimas eleições observa-se um aumento significativo da
abstinência dos eleitores em quase todos os distritos. Um cenário problemático, e que, coloca
em questão a qualidade dos candidatos e dos partidos. Acho que uma vez definido o voto
facultativo, o processo leva os candidatos a necessidade de qualificar a sua candidatura e suas
propostas, e força-os a conquistar de fato o eleitor. O processo exigiria dos candidatos e
partidos políticos prévias e a explicação dos seus projetos e pautas de governo, para além
disso, exigiria dos mesmos as defesas destes projetos nos atuais debates televisivos, e de fato,
qualificaria as propostas e levaria o eleitorado a uma conscientização de seu papel
fundamental na escolha.
Suplências de Senadores
A presente proposta visa definir que aos cargos de suplência para a vagas de Senadores seja
definido o nome do suplente no processo eleitoral.
Justificativa: Em relação a tal processo, a suplência atualmente é efetividade por agentes que
não são constituídos por votação, e geralmente tais cargos são preenchidas por indivíduos
indicados (parentes, amigos, outros), o que dá vazão a formação de patronatos e clientelismo e
fortalece os desvios de conduta e amplia a margem para a corrupção. Ao fortalecer a
necessidade de votação obrigatória, o eleitorado fica ciente de qual candidato e seu suplente
está em competição pelo cargo legislativo.
A presente proposta concorda com a adoção do financiamento público das campanhas, de ser
definido um teto para os gastos públicos com campanhas, regras para a prestação de contas,
regras para a formação de fundo nacional de arrecadação de doações individuais e de
empresas.
Justificativa: O importante é que o financiamento público ataca as causas da corrupção,
permite que os candidatos possam fazer campanha sem recorrer a relações que os tornam
vulneráveis, e facilita a fiscalização e punição das burlas. Ademais, a proposta também prevê
sanções de natureza para os candidatos e partidos que violarem as regras (sanções do tipo:
perda da candidatura, suspensão do partido por período determinado de 02 eleições
subsequentes), em caso eleito – suspensão do mandato).
Em relação a forma de arrecadação, poderá ser realizado por doações de pessoas físicas e
jurídicas, mas, apenas ao fundo nacional e pela manutenção do recurso destinado atualmente
ao fundo partidário; não há necessidade de criar outros mecanismos para arrecadação e estas
arrecadações só poderão ser realizadas durante o ano eleitoral, e toda a verba será
redistribuída igualmente para todos os partidos em competição durante as eleições, e caso haja
excedente, após as eleições, a verba será destinada a outras instâncias da esfera pública
(educação, saúde, outras) com a devida normatização dos processos.
A proposta prevê a legitimação e regras para estabelecer um teto para os gastos públicos com
o processo das campanhas durante o ano eleitoral e sanções graves para aqueles que violarem
o regimento.
Considerações Finais
No presente artigo procuramos debater sobre as possibilidades para serem pensados pontos e
pautas para um reforma política no Brasil, tendo como objetivo analisar as possíveis variáveis
que poderiam ser implantadas para melhorar a qualidade da representatividade e da
Democracia no país. A demanda atual dos movimentos sociais brasileiros, nada mais é, por
conseguinte, do que uma reivindicação por mais representação e vem, portanto, na forma de
aperfeiçoamento das regras das instituições representativas. Segundo Cintra (2007): “O
sistema político deve ser compreendido como um subsistema da sociedade no qual o
indivíduo pode desempenhar diferentes papéis, tais como cidadãos, eleitor, integrante de um
partido político ou de uma associação profissional, como parlamentar nos diversos níveis de
representação ou como manifestante, etc.”
Concluindo, é importante considerar que a maneira como são conformadas as estruturas
institucionais políticas de uma nação, interferem seriamente sobre suas possibilidades de
desenvolvimento do país. Em um Estado em que suas estruturas políticas e sociais são sólidas
e consolidadas permite à sua sociedade e aos indivíduos a conscientização dos ideais
democráticos e republicanos.
Referências Bibliográficas