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da comunicação a partir dos anos sessenta (século XX) nos Estados Unidos,
Alemanha, França e depois em outros países levou ao desenvolvimento mais
sistemático da pragmalingüística. Algumas das primeiras elaborações sistemáticas
dos problemas pragmáticos em relação a exegese são os estudos de H. Ritt1 e E.
Arens2. Uma importante referência é Fritzleo Lentzen-Deis, a pragmalingüística
dos textos bíblicos estava presente na parte central de seus últimos trabalhos3.
1.1.
Semiótica e Método Pragmalingüístico
1
Cf.: RITT, H., Das Gebet zum Vater.
2
Cf.: ARENS, E., Komunikative Handlungen.
3
Cf.: LENTZEN-DEIS, F., Essegesi della Bibbia oggi, p. 347-359. Id., Passionsberischt als
Handlungsmodell?; Id. La ciencia de la exégesesis e la hermenéutica pastoral, p. 13-45. Id., La
Biblia en las diversas culturas, p. 1071-1085. Id., Handlungsorientierte Exegese der "Wachstums-
Gleichnisse" in Mk 4, 1-34, p. 117-134. Id., Metodi dell’esegesi tra mito storicità e
comunicazione: Prospettive “pragma-linguistiche” e conseguenze per la teologia e la pastorale,
12
p. 731-737. Id., El Evangelio de San Marcos. Id., Avances metodológicos de la exégesesis para la
praxis de hoy.
4
Para uma introdução geral a semiótica Cf.: NÖTH, W., Handbook of semiotics; Id., Panorama da
semiótica: De Platão a Peirce. Id., A semiótica no século XX. ECO, U., Tratado geral de
semiótica.
5
É importante, antes de tudo, uma distinção. O século XX viu nascer e crescer duas ciências da
linguagem. Uma é a lingüística, ciência da linguagem verbal. A outra é a semiótica, ciência de
toda e qualquer linguagem.
6
Cf.: LOCKE, J., An essay concerninr human understanding.
7
Cf.: LANBERT, J. H., Neues Organon oder Gedanken über die Erforschung und Bezeichnung
des Wahren und dessen Unterscheidung vom Irrthum und Schein. NÖTH, W., Panorama da
semiótica, p. 18.
8
Para designar a teoria geral dos signos os autores apresentavam, dentre outros, dois termos
diferentes, semiologia e semiótica. A associação Internacional de Semiótica, em 1969, por
iniciativa de Roman Jakobson, decidiu adotar semiótica como termo geral no âmbito das
investigações da semiologia e da semiótica geral. Cf.: NÖTH, W., Panorama da semiótica, p. 24.
13
1.1.1.
Charles Sanders Peirce (1839-1914)
coisa diferente dele. O signo não é uma classe de objetos, mas a função de um
objeto no processo da semiose12. Em tal processo o signo tem um efeito cognitivo
sobre o intérprete. O signo tem sua existência na mente do receptor e não no
mundo exterior. A interpretação de um signo é um processo dinâmico na mente do
receptor.
Para conhecer qualquer coisa a consciência produz um signo. Perceber já é
interpor uma camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido. O
homem só conhece o mundo porque o representa e só interpreta essa
representação numa outra representação, que Peirce denomina "interpretante" da
primeira. Por isso, o signo é uma coisa de cujo conhecimento depende o
conhecimento do objeto do signo, isto é, aquilo que é representado pelo signo. A
semiótica para Peirce contém três elementos: o signo é o primeiro, o objeto o
segundo e o interpretante o terceiro. Compreender e interpretar é traduzir um
pensamento em outro pensamento num movimento ininterrupto, pois só se pode
pensar um pensamento em outro pensamento. A ação do signo é bilateral: de um
lado, representa o que está fora dele, seu objeto; de outro lado, dirige-se para
9
A semiótica originou-se em três lugares diferentes quase simultaneamente: nos Estados Unidos,
França e Rússia. Nosso estudo estará restrito aos nomes mais significativos da semiótica no século
XX.
10
Sua principal obra é: PEIRCE, C. S., Semiótica.
11
Cf.: Ibid., p. 39.
14
12
A semiose é o processo no qual alguma coisa funciona como signo. Mais propriamente é o ato
da comunicação realizada através do signo. Cf.: BABOLIN, S., Piccolo Lessico di Semiotica, p.
66.
13
"[Minha definição de signo é:] um signo é um Cognoscível que, por um lado, é determinado
(i.e., especializado, bestimmt) por algo que não ele mesmo, denominado de seu Objeto, enquanto,
por outro lado, determina alguma Mente concreta ou potencial, determinação esta que denomino
de Interpretante criado pelo Signo, de tal forma que essa Mente Interpretante é assim determinada
mediatamente pelo objeto." PEIRCE, C. S., Semiótica, p. 160. Em sua definição de signo Peirce
afirma que ele, o signo, é um Cognoscível que é determinado e determina. O signo é determinado
pelo seu Objeto e determina uma Mente concreta, chamada por ele de Mente Interpretante.
14
Os filósofos ao longo da história procuram estabelecer um número limitado de categorias capaz
de conter a multiplicidade dos fenômenos do mundo. Peirce desenvolveu uma fenomenologia de
três categorias universais: primeiridade, secundidade e terceiridade. A primeiridade é a categoria
do sentimento imediato e presente das coisas, sem nenhuma relação com outros fenômenos do
mundo. É a categoria do sentimento sem reflexão, a mera possibilidade, do imediato e da
independência. Secundidade começa quando um fenômeno primeiro é relacionado a um segundo
fenômeno qualquer. É a categoria da comparação, da ação, do fato, da realidade e da experiência
no tempo e no espaço. Terceiridade é categoria que relaciona um fenômeno segundo a um terceiro.
É a categoria da mediação, do hábito, da memória, da continuidade e da síntese, da comunicação,
da semiose e do signo. A base do signo é uma relação triádica entre três elementos, dos quais um
deve ser o fenômeno da primeiridade, outro da secundidade e o último da terceiridade. Cf.:
PEIRCE, C. S., op. cit., p. 51.
15
As dez classes de signos: Primeiro - o quali-signo (remático e icônico) é uma qualidade que é
um signo, como a sensação de "vermelho". Segundo - o sin-signo icônico (e remático) é um objeto
particular e real que, pelas suas próprias qualidades, evoca a idéia de um outro objeto, como o
diagrama dos circuitos eletrônicos numa máquina. Terceiro - o sin-signo indicial remático dirige a
atenção a um objeto determinado pela sua própria presença, como um grito espontâneo de dor.
Quarto - o sin-signo (indicial) dicente é também um signo afetado diretamente por seu objeto, mas
é capaz de dar informações sobre esse objeto, como um cata-vento. Quinto - o legi-signo icônico
(remático) é um ícone interpretado como lei, como um diagrama. Sexto - o legi-signo indicial
remático é uma lei geral que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu
objeto, como um pronome. Sétimo - o legi-signo indicial dicente é uma lei geral afetada por um
objeto real, de tal modo que forneça informação definida a respeito desse objeto, como uma
ordem. Oitavo - o legi-signo símbolo remático é um signo convencional que ainda não tem o
caráter de uma proposição, como um dicionário. Nono - legi-signo símbolo dicente combina
15
1.1.2.
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
1.1.3.
Estruturalismo
22
Cf.: MORA PAZ, C. Acercamento teórico al método, p. 10-12.
23
Cf.: SAUSSURE, F., op. cit., p. 29-32.
24
No capítulo V do Curso de lingüística geral, Saussure apresenta os elementos internos e externos
da língua. Como lingüística externa ele destaca, por exemplo, a relação entre os costumes de uma
nação e sua repercussão na língua, a relação entre a língua e a história política, as instituições de
toda espécie (Igreja, escola...), a geografia, enfim, com todos aqueles aspectos que não fazem parte
propriamente da língua (lingüística interna) mas que a afetam substancialmente. Cf.: SAUSSURE,
F., op. cit., p. 29-32. MORA PAZ, C. op. cit., p. 13-14.
25
Cf.: PROPP, V. I., Morfologia do Conto Maravilhoso.
26
Por exemplo, em uma história um rei dá uma águia a um herói e a águia leva o herói para outro
reino. Em outra história, uma princesa dá para um herói um anel do qual surge um mágico para o
levar para outro lugar. Em ambas as histórias, os personagens têm nomes diferentes, mas a mesma
ação é executada. Cf.: STIBBE, M. W. G., Structuralism, p. 651.
17
27
Cf.: Ibid., p. 650-651.
28
Cf.: LÉVI-STRAUSS, C., Strukturale Anthropologie.
29
Cf.: STIBBE, M. W. G., op. cit., p. 652.
30
Cf.: GREIMAS, A. J., Du Sens - Essais Sémiotiques, p. 160. NÖTH, W., A semiótica no século
XX, p. 146-147.
31
Por exemplo: a diferença entre "filho" e "filha" é devida a uma relação de oposição semântica
descrita pelos traços "masculino" e "feminino". Mas esta estrutura semântica de oposição possui
um duplo aspecto: de disjunção e conjunção. Ainda com o exemplo anterior podemos dizer que a
diferença entre "masculino" e "feminino" é uma relação de disjunção. Esta por sua vez, pressupõe
uma semelhança semântica, chamada "sexo", comum tanto ao "feminino" como ao "masculino".
Esta categoria comum constitui uma relação de conjunção. Cf.: NÖTH, W., A semiótica no século
XX, p. 151-152.
18
linear com dois elementos em seus extremos. O eixo representa o traço semântico
comum. Nos pontos extremos estão os termos diferenciais. Estes são definidos
como semas32. O sema é a unidade mínima da semântica, cuja função é a de
diferenciar significações33. Um dos seus instrumentos metodológicos foi o
quadrilátero semiológico34.
Asserção Negação
(Vida) Contrariedade (Morte)
S1 S2
-S2 -S1
Não-asserção Não-negação
(Não-Morte) (Não-Vida)
Greimas propôs assim um modelo onde considera a estrutura permanente
que está atrás de toda a narrativa:
eixo de comunicação
remetente ------------------------- objeto ---------------------------- receptor
eixo de volição
32
Cf.: GREIMAS, A. J., Semántica Estrutural, p. 61.
33
Cf.: GREIMAS, A. J., Du Sens, p. 159-161. Para uma breve descrição e comentário do
quadrilátero semiótico, cf.: BABOLIN, S., Piccolo Lessico di Semiotica, p. 58-59. NÖTH, W., op.
cit., p. 147-154.
34
Cf. O quadrilátero semiótico é a representação visual da articulação lógica de uma categoria
semântica qualquer. As oposições que constituem eixos semânticos podem representar dois tipos
diferentes de relação lógica. O primeiro tipo, contradição, é a relação que existe entre dois termos
da categoria binária asserção/negação. Esta relação é descrita como a oposição entre a presença e a
ausência de um sema (s). Desta forma, um sema (S1 ), "vida", é oposto a seu não sema
contraditório (-S2), "não-vida". O segundo tipo é o da contrariedade. Dois semas de um eixo
semântico são contrários se um deles implica o contrário do outro. O contrário de (S1) "vida" é
(S2) "morte". Os dois semas pressupõem um ao outro. Além da contradição e da contrariedade
existe a complementaridade. A complementaridade surge entre os semas (S1) e (-S2) ou (S2) e (-
S1), "vida" implica "não-morte" e "morte" implica "não vida". NÖTH, W., op. cit., p. 154.
19
1.1.4.
Louis Hjelmslev (1899-1965)
35
Cf.: NÖTH, W., op. cit., p. 158-160. STIBBE, M. W. G., Structuralism, p. 652.
36
Cf.: HJLMSLEV, L. T., Prolegômenos a uma teoria da linguagem, p. 197-203.
37
Um sistema semiótico é um conjunto de signos integrados numa mesma situação comunicativa,
podendo ser desde os caracteres usados em determinado alfabeto às notas musicais numa partitura,
do som emitido pelos animais às expressões do rosto numa peça teatral.
20
1.1.5.
Roman Jakobson (1896-1982)
38
Cf.: HJLMSLEV, L. T., op. cit., p. 186.
39
Cf.: NÖTH, W., A semiótica no século XX, p. 54-55.
40
Conferir o conceito de Leitor-Modelo em: ECO, U., Lector in fabula, p. 35-50. NÖTH, W., op.
cit., p. 51.
41
A poesia é um campo de estudo mais específico dentro de uma gama de manifestações
lingüísticas. A lingüística oferece instrumentos importantes para o estudo da poética. Existe
contudo uma interdependência entre o estudo da linguagem e a criação artística. A poesia é a
linguagem em sua função estética (poética). Jakobson iniciou seus estudos de lingüística a partir da
análise de poetas russos. Integrou ainda suas investigações fonológicas, atentas às relações entre
som e sentido, com a poesia. A tensão entre som e sentido é indicada como fundamento da poesia.
Estas informações estão contidas no prefácio de João Alexandre Barbosa à obra Poética em ação.
Cf.: JAKOBSON, R., Poética em Ação, p. XIV-XXI.
21
42
O interesse de Jakobson foi além da linguagem e das artes verbais, estendeu-se a outras áreas na
cultura e na estética como: música, pintura, folclore, teatro, filme e para questões fundamentais da
semiótica, como os conceitos de signo, sistema, código comunicação e história da semiótica.
43
Cf.: NÖTH, W., A semiótica no século XX, p. 103-104.
44
A metalinguagem é a linguagem que se refere à linguagem e à comunicação. Este texto sobre as
funções da linguagem é um exemplo de metalinguagem. Quando se pergunta "O que você quer
dizer?" ou "Não entendi o que disse!" são situações verbais onde a metalinguagem é exigida. Cf.:
BABOLIN, S., Piccolo Lessico di Semiotica, p. 44-45.
45
Cf.: NÖTH, W., op cit., p. 104-105.
22
1.1.6.
Umberto Eco (nascido em 1932)
46
Umberto Eco tornou-se o semioticista mais conhecido na atualidade por causa de seus romances
best-seller O Nome da Rosa (1980) e O Pêndulo de Foucault (1988). Estes romances são trabalhos
criativos de semiótica aplicada.
47
"A semiótica se preocupa com tudo o que pode ser tomado como signo. Um signo é tudo aquilo
que pode ser tomado como substituindo significativamente outra coisa. Esta outra coisa não
precisa necessariamente existir ou estar realmente em algum lugar no momento em que um signo o
representa. Assim, a semiótica é, em princípio, a disciplina que estuda tudo que pode ser usado
com o objetivo de mentir". Cf.: ECO, U., Tratado geral de semiótica, p. 4. Com os três critérios:
do cultural, do comunicativo e do mentiroso, Eco descreve os limites da semiótica de maneira
restritiva. Conforme o critério cultural, uma semiótica natural, que estuda os signos da natureza,
não deveria existir. Conforme o do mentiroso, a semiótica só devia tratar de mensagens
intencionais, pois a essência da mentira é ser intencional. O critério da comunicação pressupõe
uma mensagem codificada em um código convencionado entre os participantes de uma
determinada cultura.
48
Cf.: ECO, U., Tratado geral de semiótica, p. 39.
49
Cf.: Id., Lector in fabula, p. 52.
23
questão está o que Eco chama de "leitor e autor modelo". "Para organizar a
própria estratégia textual, o autor deve referir-se a uma série de competências (...)
que confiram conteúdo às expressões que usa. (...) Por conseguinte, preverá um
Leitor-Modelo capaz de cooperar para a atualização textual como ele, o autor,
pensava, e de movimentar-se interpretativamente conforme ele se movimentou
gerativamente"50. Ainda em relação ao leitor modelo afirma: “... prever o próprio
Leitor-Modelo não significa somente "esperar" que exista, mas significa também
mover o texto de modo a construí-lo"51. A interpretação consistirá num processo
de identificação do leitor empírico com o leitor modelo52.
1.1.7.
Charles William Morris (1901-1979)
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50
Cf.: Ibid., p. 39.
51
Cf.: Ibid., p. 40.
52
"Para realizar-se como Leitor-Modelo, o leitor empírico tem naturalmente deveres "filológicos",
ou seja, tem o dever de recuperar, com a máxima aproximação possível, os códigos do emitente".
Ibid., p. 47.
53
Cf.: NÖTH, W., A semiótica no século XX, p. 182.
54
Cf.: MORRIS, C., Writings on the general theory of signs, p. 4.
55
A semiótica tem como objetivo uma teoria geral dos signos em todas as suas formas e
manifestações, tanto em animais quanto em homens, tanto normal como patológica, tanto
lingüística como não-lingüística, tanto pessoal como social. A semiótica é, portanto, um
empreendimento interdisciplinar. Cf.: MORRIS, C., Signification and singnificance, p. 2.
56
Cf.: MORRIS, C., Writings on the general theory of signs, p. 4.
24
1.1.8.
Conclusão
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57
A apresentação dos autores ligados à semiótica não pretendeu ser exaustiva, indicando todos os
nomes e todos os pontos de suas complexas teorias. Muitos importantes nomes ficaram de fora
como Noam Chomsky e seus estudos sobre a sintática [cf.: CHOMSKY, N., Aspects de la théorie
syntaxique] ou Karl-Otto Apel e seu jogo lingüístico transcendental [cf.: APEL, K. O.
Transformação da Filosofia]. Bem como autores mais relacionados com a filosofia da linguagem,
como por exemplo: Ludwig Wittgenstein. Sobre este último, devido à importância de sua reflexão
sobre a questão da linguagem, existe nesta dissertação um apêndice com uma breve exposição
sobre a segunda fase do seu pensamento.
25
58
A primeira experiência de análise estrutural bíblica foi no Gênesis, talvez por considerá-lo
mais semelhante aos gêneros de conto de fadas e mitos. Roland Barthes foi um dos primeiros a
aplicar o método derivado de Propp e Greimas em narrativas bíblicas. Ele afirma que todas as
narrativas obedecem a uma gramática narrativa fundamental. Da mesma maneira que uma frase
obedece a um sistema de regras, assim também acontece com as narrativas. As narrativas são
como uma longa frase. Na obra intitulada "The Struggle with the Angel" (1971) Barthes testa as
implicações desta aproximação gramatical no contexto de uma narrativa bíblica. Edmund Leach
foi um dos primeiros a aplicar o método que deriva de Lévi-Strauss. Em Gênesis como Mito
(1969), Leach usa a análise estrutural de Lévi-Strauss para realçar as estruturas míticas
permanentes atrás do texto Gênesis. Mito tem uma estrutura binária; discrimina primeiro entre
deuses e homens, e então preocupa-se com as relações intermediárias que unem os homens e
deuses. Em todo sistema de mito, segundo Leach, encontramos uma sucessão persistente de
distinções binárias como entre humano/sobre-humano, mortal/imortal, macho/feminino,
legitimo/ilegítimo, bom/ruim..., seguindo assim por uma mediação de categorias emparelhadas
distintas. Deste modo no Gênesis encontramos com opostos comuns: céu/terra, luz/escuridão,
homem/jardim, árvore de vida/árvore de morte, Unidade (Éden)/Dualidade (fora do Éden),
Jardineiro (Caim)/Pastor (Abel) e assim por diante. Leach conclui dizendo que todo mito é um
complexo e qualquer padrão que acontece em uma parte mito ocorrerá periodicamente nas mesmas
ou outras variações, em outras partes do complexo. Há uma estrutura que está comum a todas as
variações. Gênesis, como todos os outros mitos, possui estruturas permanentes do mito. Cf.
STIBBE, M. W. G., Structuralism, p. 653.
59
STIBBE, M. W. G., op. cit., p. 653.
26
60
Cf.: STIBBE, M. W. G., Structuralism, p. 654.
61
Cf.: PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA., A Interpretação da Bíblia na Igreja, p. 54-57.
62
Cf.: Ibid., p. 56-57.
63
Cf.: Ibid., p. 57.
64
Cf.: Ibid., p. 57.
27
análise semiótica. O método por outro lado pode se revelar útil no campo pastoral
para uma leitura da Escritura em ambientes não especializados65.
Apesar de suas fraquezas metodológicas, a análise estrutural é capaz de
prover determinados "insights" em narrativa bíblica que outro método não poderia
prover. É possível usar métodos estruturais sem subscrever completamente ou
necessariamente o estruturalismo como uma ideologia. A análise estrutural pode
ser usada como uma ferramenta legítima para interpretação de texto bíblico.
Assim como para aprender uma língua é preciso dominar um sistema lingüístico
de normas e regras, para analisar uma narrativa bíblica é preciso dominar daquele
sistema narrativo que gerou sua composição66.
Do estruturalismo lingüístico de Hjelmslev temos, além da segmentação e a
articulação dos elementos do texto, a importância dada ao leitor na interpretação
do sentido do texto. Jacobson reconhece que, no processo interpretação, a
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1.2.
Pragmalingüística e Bíblia
65
Cf.: Ibid., p. 57.
66
Cf.: STIBBE, M. W. G., Structuralism, p. 655.
28
Palavra não volta a Deus sem antes ter realizado aquilo para o qual foi enviada
(Cf. Is 55,10-11).
O método pragmaligüístico foi desenvolvido nos estudos bíblicos por uma
dupla razão: uma de ordem exegética e outra, pastoral. Primeiro para averiguar e
detectar a finalidade do texto, levando em conta o leitor originário do mesmo70.
Segundo, para oferecer bases firmes e confiáveis a uma nova hermenêutica
bíblica, oferecendo à pastoral bíblica critérios para decidir se uma aplicação e
atualização do texto bíblico é legítima ou não71.
O método pragmalingüístico analisa o texto a partir de seu aspecto sintático,
semântico e pragmático. A primeira etapa é a análise sintático-gramatical, onde se
estuda a relação dos signos entre si. Sua finalidade é conhecer em profundidade o
texto em seus detalhes. A segunda é a semântica, busca os significados dos signos.
67
Cf.: MORA PAZ, C., Acercamento teórico al método, p. 23.
68
CF.: LENTZEN-DEIS, F., Metodi dell’esegesi tra mito storicità e comunicazione, p. 733.
GRILLI, M., Autore e lettore, p. 456. MORA PAZ, C., Acercamento teórico al método, p. 25.
69
Cf.: RITT, H., Das Gebet zum Vater, 1979. ARENS, E., Kommunikative Handllungen. 1982.
FRANKEMÖLLE, H., Biblische Handlungsaweisung, 1983. BERGER, K., Exegese des Neuen
Testaments, 1984; EGGER, W., Methodenlehre zum Neuen Testament, 1987. LENTZEN-DEIS,
F., Passionsberichte als Handlungsmodell? 1988, p. 191-232. Id., Handllungs orientierte Exegese
der Wachstums-Gleichnisse in Mk 4, 1-34, 1990, p. 117-134. DELORME, J., Sémiotique et lecture
des Évangiles à propos de Mc 14, 1-11, 1992, p. 161-174. GRILLLI, M., Comunità e Missione: le
direttive di Matteo, 1992.
70
Cada texto nasce em estreita relação com seus leitores ou ouvintes. O texto torna-se o meio
através do qual o emissor leva sua mensagem ao receptor. Ele não é só para informar o leitor mas
para levá-lo a uma reação. Cada texto tem sua finalidade concreta. Esta finalidade é que é
objetivada pela pragmática. Cf.: BERGES, U. Lectura pragmática de 1 Samuel 12, p. 368
29
1.2.1.
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Sintática
1.2.1.1.
Considerações Gerais
71
Cf.: BERGES, U., op. cit., p. 369.
72
Cf.: MORA PAZ, C., Acercamento teórico al método, p. 10.
73
Cf.: SIMIAN-YOFRE, H. (Org.). Metodologia do Antigo Testamento, p. 95.
74
Na analise sintática os lexemas são considerados em seu aspecto morfemático, por exemplo:
uma forma verbal em relação ao tempo (indeterminado, pretérito, futuro), ao modo (realidade,
possibilidade, impossibilidade), ao aspecto (pontual, durativo, narrativo, exortativo, imperativo).
Outro exemplo: o estado absoluto ou constructo de uma forma nominal.
30
1.2.1.2.
Sintática e lingüística textual
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210276/CB
75
Cf.: GRILLI, M., Consideraciones en torno a la sintáctica, p. 32.
76
Cf.: Ibid., p.34.
77
Uma primeira dimensão da linguagem humana é a dimensão do agir. Usando a linguagem,
agimos. No ato de dizer algo, fazemos também algo. A expressão lingüística pode ser proferida
tendo como finalidade produzir determinado efeito, exercer influência sobre as pessoas. Uma
relação de tipo pragmático é aquela que visa causar determinado efeito (ação, reação) ao ser
proferida. Isto será apresentado de modo mais detalhado na análise pragmática.
31
1.2.1.3.
Operacionalidade da análise sintática
78
Sintagmas são proposições com conteúdo semântico.
79
Cf.: GRILLI, M., Evento Comunicativo e Interpretazione di un texto bíblico, p. 670
80
Paul Riccoeur apresenta algumas questões importantes para serem abordadas antes da
aproximação de um texto para explicá-lo e/ou compreendê-lo. Cf.: Riccoeur, P., Qu’est-ce q’un
Texte? Expliquer et Compreendre, p.180.
81
Cf.: GRILLI, M., Consideraciones en torno a la sintáctica, p. 35.
82
Cf.: Ibid., p. 39.
83
Com a análise sintática objetiva-se também realizar uma divisão do texto com base nos indícios
sintáticos.
32
preposições.
3) Análise das conexões: examinar como palavras, expressões e frases
encontram-se relacionadas entre si. Para tal, observar de modo especial, as
conjunções empregadas. Conjunções coordenativas: aditivas (e, nem),
adversativas (mas, contudo, porém), alternativas (ou, ora, quer, seja, nem, já...),
conclusivas (logo, pois, portanto, por conseguinte...), explicativas (que, porque,
pois, portanto). Conjunções subordinativas: causais (porque, pois, porquanto,
visto que...), concessivas (embora, conquanto, ainda que, mesmo que, se bem que,
apesar de que...), condicionais (se caso, contanto que, salvo se, desde que, a
menos que, a não ser que), conformativas (conforme, segundo, consoante), finais
(para que, a fim de que...), proporcionais (à medida que, à proporção que...),
temporais (antes que, depois que, até que, logo que...) comparativas (como, assim
como, bem como...) e consecutivas (tal, tanto, tão, tal que, tanto que). Além das
conjunções observar eventuais predileções por determinadas introduções de
84
Cf.: GRILLLI, M., Comunità e Missione: le direttive di Matteo, p. 26.
85
O método pragmalingüístico da Bíblia possui pontos de contato como o Método Histórico
Crítico. Assim como o Método Histórico Crítico, pressupõe a tradução e a crítica textual.
Compartilha ainda com ele elementos da Crítica da Constituição do texto, Crítica da Forma,
Crítica do Gênero Literário e com esta a determinação do Sitz im Leben.
86
Para a delimitação do texto valem as indicações da Crítica da Constituição do Texto. Cf.:
SIMIAN-YOFRE, H. (Org.)., Metodologia do Antigo Testamento, p. 78-84. EGGER, W.,
Metodologia do Novo Testamento, p. 53-56.
87
Temos aqui novo ponto de contato com o Método Históco-crítico. Trata-se agora da utilização
dos procedimentos metodológicos da Crítica da Forma. Cf.: EGGER, W., op. cit., p. 74-84.
SIMIAN-YOFRE, H. (Org.)., op. cit., p. 95.
33
frases. Fazer um levantamento dos verbos que ocorrem, suas eventuais repetições.
Bem como, a ordem do sujeito e predicado.
Análise do estilo: examinar o emprego das formas de expressão lingüística
do texto, em especial a incidência de figuras estilísticas (substituição, acréscimo, a
omissão e a disposição) e retóricas, como a antonomásia, ironia, metáfora,
alegoria, metonímia, hipérbole, antítese, pleonasmo...
A análise da estrutura procura segmentar um texto e articular estas
partes. São, portanto, dois momentos: a segmentação divide o texto em partes
diversas e a articulação estabelece a relação entre elas. Uma segmentação a partir
de indícios fonemáticos é mais difícil. Apesar de que alguns elementos
fonemáticos possam ser usados para a segmentação88. Para realizar uma
segmentação em nível sintático é preciso estabelecer uma grade das proposições
do texto, anotando as principais e as subordinadas, cada um dos objetos,
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88
(...) "uma aliteração pode ser ajuda preciosa, por exemplo para identificar proposições
especialmente carregadas de sentido, de alusões e de pensamentos ou sentimentos que aparecem
num texto lírico. Além disso, a diferença entre prosa e texto rítmico pode estabelecer dois
momentos de um texto." SIMIAN-YOFRE, H. (Org.)., Metodologia do Antigo Testamento, p. 98.
89
Cf.: LENTZEN-DEIS, F., Metodi dell’esegesi tra mito storicità e comunicazione, p. 735.
GRILLI, M., Autore e lettore, p. 456. BERGES, U., Lectura pragmática de 1 Sam 12, p. 370.
34
1.2.2.
Semântica
1.2.2.1.
Considerações Gerais
90
Cf.: BERGES, U., op. cit., p. 370. GRILLI, M., Comunità e Missione: le direttive di Matteo, p.
25.
91
A publicação de James Barr, The Semantics of Biblical Language (1961) é um marco na
aplicação de métodos científicos para entender o significado das palavras no âmbito bíblico. Cf.:
BARR, J., The Semantics of Biblical Language. SAWYER, J. F. A., Semantics, p. 616.
35
92
Cf.: SAWYER, J. F. A., op. cit., p. 617.
93
SIMIAN-YOFRE, H., Pragmalingüística, p. 89-90.
94
Cf.: SAWYER, J. F. A., op. cit., p. 617.
95
Cf.: SAWYER, J. F. A., op. cit., p. 618.
96
Cf.: GRILLI, M., Autore e lettore, p. 455.
96
Cf.: GRILLLI, M., Comunità e Missione: le direttive di Matteo, p. 22.
97
GRILLI, M., Evento Comunicativo e Interpretazione di un texto bíblico, p. 667-668.
36
1.2.2.2.
Operacionalidade da análise semântica
1.2.2.2.1.
Semântica da Palavra103
98
Cf.: SAUSSURE, F., Curso de lingüística geral, p. 22.
99
Cf.: MORA PAZ, C., Consideraciones en torno a la semántica, p. 51-53.
100
Cf.: GRILLI, M., Evento Comunicativo e Interpretazione di un texto bíblico, p. 668.
101
Cf.: Id., Autore e lettore, p.455.
102
Cf.: GRILLLI, M., Comunità e Missione: le direttive di Matteo, p. 26. EGGER, W.,
Metodologia do Novo Testamento, p. 90.
103
Cf.: EGGER, W., op. cit., p. 107-112.
37
104
Exemplo de sintagma: "o homem olha o plano". Para se reconhecer o significado de uma
palavra numa relação sintagmática basta analisar as seguintes frases: "ele analisa o plano", "ele
fica no plano superior". A partir da relação entre as palavras o significado de "plano" torna-se claro
nas duas frases.
105
No sintagma: "ele fica no plano inferior", o lexema "plano" pode ser substituído por "nível",
"piso", etc.
106
Cf.: BERGES, U., Lectura pragmática de 1 Sam 12, p. 370.
38
1.2.2.2.2.
Semântica do texto
explica as transformações das quais fala o texto. Para tal sugere-se o uso do
quadrilátero semiótico de A. J. Greimas109.
Quadrilátero semiótico aplicado a Mc 10, 17-31110
Riqueza tesouro no céu
Apego à família adesão a Jesus
e à riqueza seguimento
107
Cf.: EGGER, W., Metodologia do Novo Testamento, p. 112.
108
Um inventário completo de todos os campos semânticos poderia por um lado evitar que se
levasse em consideração só alguns elementos, mas por outro lado demanda muito tempo e pode até
criar confusão. Simian-Yofre oferece alguns critérios para reduzir a quantidade de material a ser
analisada. O primeiro seria privilegiar as expressões auto-semânticas (que contêm em si um
significado). Estas contribuem mais decisivamente para o significado do texto que os vocábulos de
função (preposições, conjunções, negações...). Segundo, fazer uma estatística dos vocábulos, para
por em destaque as expressões que aparecem com freqüência também aquelas que aparecem uma
única vez. Terceiro, levar em consideração os vocábulos característicos de determinado autor.
SIMIAN-YOFRE, H. (Org.)., Metodologia do Antigo Testamento, p. 94-95.
109
GREIMAS, A. J., Du Sens, p. 159-161. EGGER, W., op. cit., p. 96-97.
110
Aqui neste exemplo é tratado apenas um aspecto deste texto do Evangelho de Marcos. Cf.:
EGGER, W., op. cit., p. 97.
39
1.2.2.2.3.
Análise narrativa
111
Cf.: Ibid., p. 97-98.
112
Para uma panorâmica dos métodos cf.: GÜLICH, E.; RAIBLE, W., Linguistische Textmodelle.
40
113
Cf.: WEGNER, U., Exegese do Novo Testamento, p. 255.
114
Cf.: EGGER, W., Metodologia do Novo Testamento, p. 124.
115
Cf.: Ibid., p. 122-123
41
1.2.3.
Pragmática
1.2.3.1.
Considerações Gerais
1.2.3.2.
Concepções de Pragmática
116
Cf. GRILLI, M., Autore e lettore, p. 450. SIMIAN-YOFRE, H., Pragmalingüística, p. 83.
117
Cf.: LENTZEN- DEIS, F., Metodi dell’esegesi tra mito storicità e comunicazione, p.734.
BERGES, U., La lingüística pragmática como método de la exégesesis bíblica, p. 82.
42
ter validade para uso cotidiano da língua e apresentar dificuldades quando se trata
de textos literários e por causa da mudança de enfoque, proposto pela pragmática,
da diacronia para a sincronia.
Faz-se necessário tornar mais clara a concepção de pragmática. Para isto
apresentamos as principais concepções de pragmática desenvolvidas na
lingüística, enfocando sua importância para a compreensão dos textos bíblicos118.
Uma primeira concepção de pragmática a coloca como o estudo das relações entre
o sistema de signos e seus usuários. Ela leva em consideração os elementos
extralingüísticos que dão origem ao texto como: o tempo e o lugar das expressões,
as condições contextuais e as relações entre os emissores e destinatários. Apesar
de serem elementos importantes, só com eles não é possível avaliar
suficientemente aquilo que o emissor quis objetivar, nem o efeito produzido pelo
texto em quem o escuta. Diante disso surgem os questionamentos: será que não
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1.2.3.3.
Teoria do Ato Lingüístico
118
Cf.: DILLMANN, R., Consideraciones en torno a la pragmática, p. 59-61.
119
C.: Ibid., p. 61-66.
120
Sobre a questão dos atos lingüísticos conferir a obra de Austin, o primeiro, que de modo
explícito, mostrou a importância de uma teoria do ato lingüístico. Cf.: AUSTIN, J. L., How to do
things with words, p. 101-108 .
121
Cf.: Ibid., p. 67-93.
122
Cf.: Ibid., p. 35.
44
123
Um exemplo de ato constatativo: se alguém diz - "O rei João morreu". Caso realmente o rei
João tenha morrido, o ato constatativo é verdadeiro, caso contrário não. Já um ato performativo
como por exemplo o "sim" numa cerimônia de casamento, precisa de uma série de condições para
se verificar sua realização ou não.
124
Cf.: Ibid., p. 67.
125
Cf.: Ibid., p. 101.
126
Em alguns artigos ou livros existe uma denominação diferente para os mesmos atos
lingüísticos. Assim, visto que a proximidade sonora dos diversos atos lingüísticos e a diferença de
denominações podem causar certa confusão no entendimento dos mesmos, cabe esclarecer: ato
locutivo geralmente é tomado como ato proposicional; ato ilocutivo é o mesmo que ato prolacional
ou performativo; só o ato perlocutorio permanece idêntico.
127
Um exemplo pode ajudar a entender as diversas funções de um mesmo ato de fala (cf. 1 Sm 12,
20): que Samuel diga ao povo: "Não temais!" é um ato locucionário; que Samuel, por meio dessa
45
1.2.3.4.
Teoria do Leitor Modelo
expressão lingüística, procure tranqüilizar o povo, isso é o ato ilocutório; que por meio dessa
expressão Samuel consiga afastar alguém do medo, isso é o ato perlocutório.
128
Cf.: DILLMANN, R., Consideraciones en torno a la pragmática, p. 67.
129
Cf.: BERGES, U., La lingüística pragmática como método de la exégesesis bíblica, p. 87.
DILLMANN, R., op. cit., p. 68.
130
Vendo o texto como uma comunicação cristalizada entre autor e leitor, poder-se-ia perguntar de
qual autor e leitor se está falando. Surgiram diversos termos para responder a esta problemática.
Do lado do autor: narrador, narradores semióticos, metanarradores, sujeitos do enunciado. Do lado
do leitor: leitor empírico, leitor virtual, leitor ideal, leitor modelo, metaleitores. Cf.: GRILLI, M.
Autore e lettore, p. 450. BERGES, U., La lingüística pragmática como método de la exégesesis
bíblica, p. 84. Usaremos a expressão "Leitor Modelo" de Umberto Eco para unificar as expressões
evitando uma ambigüidade na leitura (tratar como conceitos de conteúdo diferente pelo fato de se
usar diferentes nomenclaturas) e por ser uma expressão, na nossa opinião, mais fácil de ser
compreendida . Cf.: ECO, U., Lector in fabula, p. 39.
46
um texto significa compreender a estratégia adotada pelo autor para construir seu
"Leitor Modelo"131.
Diante do texto bíblico convém perguntar: qual é o "Leitor Modelo" que o
texto bíblico apresenta? Qual é a relação que se estabelece entre ele e o leitor real?
Qual é a verdade de um texto bíblico? Para responder a estas questões convém
partir do conceito hebraico de verdade132. Enquanto para o grego a verdade
(alhvqeia) significa conformidade do pensamento com a realidade, para o hebraico
a verdade (un$b$) significa estabilidade, credibilidade e fidelidade. Pode-se dizer
então que a verdade de um texto bíblico, não está especificamente no caráter
"explicativo", mas no "experiencial", no campo da prática. A palavra de verdade
do texto bíblico não é só para ser compreendida, mas para ser obedecida. A
função do leitor modelo será de encarnar essa "verdade" oferecendo ao leitor real
uma exigência de praticá-la. O processo hermenêutico deverá evidenciar esta
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1.2.3.5.
Operacionalidade da análise pragmática
131
O texto é um processo comunicativo dinâmico onde o leitor de um texto se torna também seu
autor. Assim sendo, pode-se distinguir entre autor abstrato e autor real, entre leitor modelo e leitor
real. O autor modelo e o leitor modelo são aqueles que estão contidos no texto. Já o autor real e
leitor real são os que hoje interagem com o texto. Cf.: DILLMANN, R., Consideraciones en torno
a la pragmática, p. 68.
132
Cf.: GRILLI, M., Autore e lettore, p. 455.
133
Cf.: Id., Evento Comunicativo e Interpretazione di un texto bíblico, p. 676. GRILLI, M., Autore
e lettore, p. 450. DILLMANN, R., op. cit., p. 68-69.
134
Cf.: EGGER, W., Metodologia do Novo Testamento, p. 136.
47
135
Cf.: BERGES, U., Lectura pragmática de 1 Sam 12, p. 171.
136
Cf.: AUSTIN, J. L., How to do things with words, p. 108.
137
Cf.: GRILLI, M., Autore e lettore, p. 458.
138
Cf.: EGGER, W., Metodologia do Novo Testamento, p. 132-134.
48
139
Cf.: EGGER, W., op. cit., p. 132-134.
140
Cf.: Ibid., p. 137-138.
49
1.2.4.
Conclusão
141
Cf.: Ibid., p. 138-139
142
Cf.: SIMIAN-YOFRE, H., Pragmalingüística, p. 78-81. GRILLI, M., Evento Comunicativo e
Interpretazione di un texto bíblico, p. 661-662.
50
1.3.
Resumo dos Passos Metodológicos da Pragmalingüística
acima, existem pontos de contato com o Método Histórico Crítico que ajudam na
aproximação do texto, sobretudo na sua materialidade, em seu aspecto formal. No
uso dos procedimentos é preciso levar em conta a diversidade e a especificidade
dos textos que poderão exigir maior dedicação em um aspecto do que em outro.