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CÂMPUS ERECHIM
CURSO DE HISTÓRIA
ERECHIM-RS
2020
FAUSTO EVALDO STRASSBURGER
ERECHIM-RS
2020
FAUSTO EVALDO STRASSBURGER
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Orientadora Profª. Drª. Isabel Rosa Gritti
Universidade Federal da Fronteira Sul – Câmpus Erechim
_____________________________
Prof. Paulo Bitencourt
Universidade Federal da Fronteira Sul – Câmpus Erechim
_____________________________
Profª. Drª. Caroline Rippe
Universidade Federal da Fronteira Sul – Câmpus Erechim
“A história é testemunha do passado, luz
da verdade, vida da memória, mestra da
vida, anunciadora dos tempos antigos”.
Cícero
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 8
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 50
8
1 INTRODUÇÃO
justifica sua realização para entender como se deu este processo de diáspora do
homem pelo último continente por ele ocupado, passando por climas e ambientes
diversificados.
Assim, buscando descrever o que estudiosos descobriram sobre as
paisagens daquela época, baseados em conhecimentos geológicos, paleontológicos
e botânicos, bem como sobre resquícios arqueológicos deixados pelos primeiros
povoadores em sua grande marcha rumo ao desconhecido, este estudo objetivou
compreender como eram as características do novo ambiente encontrado por
aqueles humanos e como com ele interagiram para poder sobreviver frente às novas
vicissitudes vividas. Para alcançar este objetivo, traçaram-se objetivos específicos
na seguinte direção: a) Compreender como se deu a ocupação provinda da Sibéria;
b) Compreender como era o ambiente natural encontrado com relação ao clima, a
paisagem, a flora e a fauna; c) Apontar qual foi o legado arqueológico deixado pelos
primeiros humanos em sua ocupação inicial no deslocamento através do Estreito de
Bering; d) Abordar a cultura de Clóvis, bem como aspectos referentes à ocupação do
continente em época anterior.
Como hipóteses dos resultados que serão achados por meio deste estudo,
aponta-se que acredita-se que nos primeiros deslocamentos humanos, através do
Estreito de Bering, os homens primitivos se depararam com uma paisagem muito
diferente da encontrada nos dias atuais. Mudanças climáticas ocorridas durante os
milênios que separam o homem pré-histórico do homem atual, provocaram o
extermínio de diversas espécies vegetais e animais que existiam na pré-história. O
aquecimento atmosférico e do solo conduziram ao derretimento de regiões glaciais
provocando a elevação do nível do mar, sendo que hoje a “ponte” utilizada para
fazer a travessia da Ásia para a América, encontra-se no leito marinho, modificando
o ambiente natural e, por conseguinte, a flora e a fauna.
Este estudo foi organizado em capítulos, sendo que num primeiro momento
aborda-se a brevemente origem da vida no planeta e a vida na pré-história, dando
ênfase à teoria de ocupação da América proveniente da Sibéria. A seguir, no
Capítulo 3 o estudo versa sobre o ambiente natural, tratando sobre o clima, a
paisagem, a fora e a fauna existentes naquele período, trazendo informações sobre
os animais da megafauna, o clima e a vegetação com os quais se depararam os
povos que migraram da Sibéria até a América. Após, no Capítulo 4, aborda-se o
legado arqueológico deixado pelos primeiros humanos que fizeram a travessia via
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Beríngia para chegar à América e, por fim, no Capítulo 5, trata-se sobre a cultura de
Clóvis procurando saber quem foram estes primeiros americanos, como foram as
descobertas de tais povos e como esta linha de pensamento tem evoluído a partir de
outros achados que apontam diferentes direções. Neste capítulo também se aborda
as demais teorias de povoamento do continente americano.
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Por fim, há 40 mil anos surgiu na Terra o homo sapiens sapiens, ou seja, o
homem moderno, que é uma subespécie do homo sapiens, com habilidades muito
mais desenvolvidas que o homo sapiens. Esta nova espécie humana possui
facilidade de adaptação ao meio ambiente e por isso, dominou todo o planeta.
Conforme Bezerra (2019, p. 1), o homo sapiens sapiens
coletores no leste na taiga e na tundra e mais tarde, pastores. Cerca de 18 mil a.C. o
planeta sofreu grandes alterações no clima e na geografia, as quais resultaram em
mudanças drásticas na forma de convívio entre o homem e a natureza. (EDUCA
BRASIL, 2020).
Em busca de melhores condições de sobrevivência, grupos de homens e
mulheres pré-históricos se deslocam de seu território original, percorrendo a Eurásia,
usando rotas disponíveis, o norte do Himalaia e através da Beríngia – nome que
recebe a região que divide a Ásia da América, também entendida como uma espécie
de ponte terrestre de Bering.
América, havendo uma série de teorias que tentam explicar como teria sido esta
atividade. (VAIANO, 2018).
De acordo com Fagundes (apud VAIANO, 2018, p. 1) “atualmente, se imagina
que houve várias ondas migratórias distintas para as Américas, sendo uma delas
principal em relação às demais”. Assim, o povoamento do continente americano teria
se dado por uma migração principal seguida de contato via Bering, com outras
populações.
2 O Pleistoceno está compreendido entre 2.5 milhões e 11,7 mil anos atrás. Durante esta época
aconteceram 11 eventos de aquecimento global seguidos por idades do gelo. Diversos estudos
mostram que há 11.700 anos está se vivendo um período de aquecimento e nesta época o homem
não tinha praticamente nenhuma influência sobre o clima. No Pleistoceno um dos destaques é
justamente que por volta de 1,8 milhões de anos estabelecem-se as fases glaciais do Quaternário,
mesma época em que surge o Homo erectus, na África. O Pleistoceno se divide com base nos
fósseis de mamíferos extintos em (da mais antiga para a mais recente) Pleistoceno Inferior,
Pleistoceno Médio e Pleistoceno Superior. (REZENDE, 2020).
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3 O termo megafauna se refere a todos os animais desde os de grandes proporções até os pouco
maiores do que um ser humano. São incluídos neste grupo as espécies aquáticas gigantes,
especialmente baleias; os maiores animais silvestres terrestres existentes, especialmente os
elefantes, girafas, hipopótamos, rinocerontes e grandes bovinos; e também os dinossauros e outros
répteis gigantes já extintos. (OECO, 2013).
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– a Beríngia, que ficava à mostra quando o gelo fazia a água do mar baixar o
suficiente para deixá-la à mostra. Muitos destes animais como os antepassados das
hienas, já tinham sido extintos no último grande avanço do gelo, todavia, outros
animais, como cavalos e outros equinos como burros e onagros se desenvolviam e
cruzavam do Novo para o Velho Mundo, afinal a Beríngia era uma pista de “mão
dupla”. Há evidencias de que os camelos também se originaram na América e
migraram para a Ásia posteriormente, estes camelos primitivos deram origem a três
espécies gigantes: camelos com uma corcova, semelhantes aos dromedários atuais,
porém bem maiores, lhamas e camelos (que possuem duas corcovas). (ADOVASIO;
PAGE, 2011).
A fauna daquele período era fantasticamente abundante, na América do Norte
havia tartarugas gigantescas, castores com mais de 150 quilos, probóscides
(mamutes e mastodontes, estes de norte a sul do continente) incluindo os mamutes
peludos com três metros de altura, provenientes da Sibéria e do norte glacial,
originários da África e de lá para a Europa e Ásia e posteriormente para a América
pela Sibéria. Eram solitários e esquivos, alimentavam-se de folhas e galhos,
compartilharam, durante um tempo, os pântanos e florestas com os alces. Um alce
típico da Idade do Gelo foi o Cervales scotti, também conhecido como boi dos
arbustos, um dos maiores animais com galharia já encontrados no mundo. Além
deste havia o alce comum, proveniente da Europa, o caribu e o veado. Também era
possível encontrar animais ainda hoje existentes como texugo, o musaranho, a
toupeira, a doninha e a jaritacaca. (ADOVASIO; PAGE, 2011).
Os primeiros americanos também se depararam com o bisão, que já estava
na América há cerca de 30 mil anos, sendo o Bison antiquus sobrevivente até depois
da Idade do Gelo, posteriormente caçado com muita habilidade pelos humanos,
deixando inúmeros registros paleontológicos dessa atividade. Este animal cedeu
lugar ao bisão, um pouco menor, que existe até hoje. O boi almiscarado veio da
Sibéria, pela Beríngia e se espalhou pelo continente, prevalecendo no clima mais
frio. O atual antílope americano é na verdade um parente do bode que, por sua vez,
descende de uma variedade de porte bem avantajado existente no período da Idade
do Gelo.
Como se pode depreender, em sua ocupação pelo novo território, em direção
ao sul da América do Sul, aponta o arqueólogo David Meltzer, da Universidade
Metodista de Dallas, Texas, “a paisagem ia se tornando menos familiar.” (apud
26
FUSER, 2016, p. 1). Em cada assentamento os povos migrantes tiveram que achar
água e descobrir quais plantas e quais animais eram comestíveis, úteis, daninhos ou
letais. “Eles enfrentaram barreiras formidáveis, rios, montanhas e doenças
desconhecidas” (MELTZER apud FUSER, 2016, p. 1).
Por volta de 11 mil anos atrás, alguns dos paleoíndios, como são conhecidos
pelos arqueólogos, começaram a se mover para o norte, para o Canadá, à medida
que a margem sul das geleiras continentais recuava. Segundo McGhee (2016),
zonas ambientais semelhantes às encontradas hoje no Ártico e subártico do Canadá
também mudaram para o norte. Em muitas regiões, a frente de gelo foi marcada por
enormes lagos de água derretida, suas saídas represadas pelas geleiras ao norte,
cercadas por terras que sustentam a vegetação de tundra que servia de alimento
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para caribus, almíscares e outros herbívoros. Ao sul dessa estreita faixa de tundra
havia florestas de abetos e pastagens, e os paleoíndios provavelmente seguiram a
borda norte dessas zonas à medida que se moviam pelo Canadá.
Enquanto os paleoíndios ocupavam o sul do Canadá, as geleiras continentais
derreteram rapidamente e desapareceram há cerca de 7.000 anos. Um clima mais
quente do que o presente existia até cerca de 4.000 anos atrás, e os ambientes do
extremo norte do continente americano se diversificaram como floresta de coníferas,
floresta decídua, pastagem e vegetação de tundra estabeleceram-se em zonas
adequadas. Os modos de vida dos Paleoíndios que ocupam essas zonas ambientais
diversificaram-se à medida que eles, e posteriormente os imigrantes da Sibéria, se
adaptaram às condições e recursos das regiões locais. (McGHEE, 2016).
Muitos autores dão grande ênfase às glaciações no norte, pois é a partir delas
que ocorre a congelamento do solo de imensas regiões, sendo que no hemisfério
norte as mudanças de temperatura são mais intensas do que no sul, onde
predominam massas de água de maiores dimensões que possibilitam que a
temperatura fique estável durante longos períodos. No hemisfério sul, exceto na
Antártida, a glaciação foi muito mais limitada e na maioria das vezes, confinada às
altas elevações. Nenhuma das áreas glaciais do hemisfério sul mostra as evidências
das quatro glaciações máximas das latitudes norte. Portanto, entende-se que o sul
possuía clima mais agradável o que talvez tenha colaborado para que os primeiros
americanos se deslocassem pelo continente rumo ao sul à procura de melhores
condições de sobrevivência. (KERR, 2003).
Estudiosos como Maciente e Ranzi (2010) explicam que houve queda de
aproximadamente 5 ºC nas cercanias da floresta Amazônica, fazendo com que a
vegetação da América do Sul fosse totalmente reconfigurada. Porém, a florestas
úmidas do litoral não foram atingidas, mas as temperaturas mais baixas fizeram com
que florestas de imensas araucárias se expandissem pelas escarpas mais úmidas,
especialmente no que hoje são os estados do sul e sudeste brasileiro, em suas
zonas mais elevadas como os campos de altitude. (AB’SÁBER, 1992).
4 A glaciação Würm-Wisconsin ocorreu há cerca de 110 mil a 12 mil anos atrás, durante o final do
Pleistoceno. É considerado o último período glacial da Terra até os dias atuais. Utilizada como
referência para o fim do Pleistoceno. Seu auge ou período de frio mais intenso ocorreu entre 25 mil e
21 mil anos atrás. Também denominada de glaciação antropológica, porque contribuiu para os seres
humanos nas travessias marítimas pelos estreitos da África para o Oriente Médio, da Ásia para a
América do Norte, da China para o Japão e da Ásia para a Oceania. (AVPH, 2020).
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Caçadores, coletores estes povos deixaram seu legado por onde passaram,
sendo encontrados artefatos em diversos sítios espalhados por todo o continente
americano, indicando que a vida já havia sido estabelecida em boa parte do
hemisfério ocidental há mais de 10 mil anos.
O sítio arqueológico da ocupação mais antiga aceita pelos humanos nas
Américas é as Cavernas Bluefish, no norte de Yukon. Neste local, em três pequenas
cavernas com vista para uma ampla bacia, alguns artefatos de pedra lascada foram
encontrados em camadas de sedimento contendo os ossos de animais fósseis
extintos, que a datação por radiocarbono indica ter uma idade de pelo menos 10.000
a 13.000 e possivelmente de 15.000 a 18.000 anos atrás. (McGHEE, 2016).
Os artefatos incluem tipos semelhantes aos do Paleolítico final do nordeste da
Ásia e provavelmente representam uma expansão dos povos caçadores asiáticos
através da Beríngia e do Alasca até o noroeste do Canadá. Não se sabe se pessoas
semelhantes àquelas que ocuparam as cavernas Bluefish se expandiram para a
América do Norte. Um corredor relativamente estreito sem gelo pode ter existido
entre as geleiras da Cordilheira das montanhas ocidentais e a camada de gelo
Laurentide estendendo-se do Escudo Canadense, ou tal corredor pode ter sido
aberto apenas depois que as geleiras começaram a derreter e recuar, cerca de
15.000 anos atrás.
MacGhee (2016) afirma que evidências recentes sugerem que outra rota pode
ter sido tomada ao longo da costa do Pacífico, a oeste das geleiras da Cordilheira.
Nenhum local antigo foi encontrado ao longo da rota desses corredores, mas por
volta de 12.000 anos atrás, alguns grupos penetraram na área do oeste dos Estados
Unidos e desenvolveram um modo de vida adaptado para caçar grandes herbívoros
que pastavam naquelas planícies.
Cerca de 10.000 anos atrás, os paleoíndios provavelmente ocuparam pelo
menos as porções do sul do Canadá, exceto Terra Nova. A maioria dos locais é
limitada a dispersões de artefatos de pedra lascada, entre eles pontas de lança com
um canal distinto ou "flauta" removida de ambos os lados da base para permitir a
montagem em um cabo dividido. Essas "pontas caneladas" são características das
32
Por volta de 3 000 a C, já estava sendo cultivada nos vales dos rios no Novo
México e no Arizona uma espécie primitiva de milho. Depois surgiram os
primeiros sinais de irrigação e, por volta de 300 a C, indícios de vida em
aldeia. Nos primeiros séculos da era cristã, os Hohokam viviam em
povoações próximas à atual cidade de Phoenix, Arizona. Lá construíram
quadras para jogos de bola e elevações semelhantes a pirâmides,
parecidas com as encontradas no México; além de um sistema de canais e
de irrigação. (DEPARTAMENTO..., 2012, p. 7).
comeram tanta carne em tão pouco tempo. “Os homens Clóvis, praticamente todos
concordam, foram, em conjunto, o primeiro americano” (p. 226).
Todavia, essa visão tem sido contestada nos últimos trinta anos por várias
descobertas que demonstram ser mais antigas do que a cultura Clóvis, que
constituía aquela que englobava os primeiros habitantes da América. Novas
evidências indicam que a cultura Clóvis pode não ter sido a primeira das Américas.
Datações em carbono demonstram que não haveria como a migração ter acontecido
em um período tão curto de tempo.
Já havia, mesmo antes das recentes descobertas que apontam que o homem
de Clóvis não foi o primeiro grupo humano a habitar a América, descobertas de
outras pontas de lança, grande e habilmente trabalhadas, achadas em numerosos
locais, sendo algumas encontradas ainda antes da tecnologia de datação por
radiocarbono, mas que já se mostravam ser de época anterior ou idêntica à da
cultura Clóvis, o que fez com que os adeptos da Primazia de Clóvis 5 sentissem-se
encorajados a seguir afirmando que Clóvis foi o primeiro americano. Sustentavam
suas afirmações nos numerosos achados relacionados com a cultura Clóvis feitos no
Oeste e na Costa Leste dos Estados Unidos, bem como em alguns poucos no sul.
Tais achados se caracterizavam por estarem escondidos e continham pontas de
lança e outras ferramentas de caça. David Meltzer (apud ADOVASIO; PAGE, 2011)
especulou que tais ferramentas eram escondidas ou deixadas propositalmente para
quando o grupo retornasse pelo mesmo caminho, e também para cerimoniais
religiosos, porém até hoje não há explicação satisfatória para tais depósitos de
pontas de lança.
A ideia da Primazia de Clóvis com certeza se deu pelo fato de que “ninguém
tinha conseguido encontrar nenhum vestígio da chegada de seres humanos ao
continente antes de Clóvis.” (ADOVASIO; PAGE, 2011, p. 175).
5 Primazia de Clóvis proposta por arqueólogos dos EUA a partir da década de 1930. O modelo
sustentava que os antepassados dos índios eram caçadores de mamute que vieram a pé da Ásia
durante a Era do Gelo e se dispersaram rápido pela América do Norte e depois pela América do Sul.
(ANGELO, 2007).
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[...] uma tribo de caçadores armou uma grande barraca coberta de peles ao
lado de um riacho, na atual localidade de Monte Verde, no sul do Chile.
Todas as manhãs, os homens saíam atrás de lhamas e veados, capturando-
os com uma bola de pedra amarrada na ponta de uma corda – um
predecessor das boleadeiras gaúchas. Às vezes, matavam com lanças um
mastodonte. Frutas e raízes colhidas por mulheres e crianças completavam
o cardápio. (FUSER, 2016, p. 1).
Existem outras teorias que tratam de explicar como teria sido o povoamento
do continente americano. Uma delas, a teoria Autoctonista, defendida por Florentino
Ameghino, paleontólogo argentino, que anunciava, baseado em achados fósseis,
ossos humanos e de ossos de animais pré-históricos, carvão vegetal abundante,
pontas de flechas, facas de pedras, ossos pontiagudos e ferramentas supostamente
usadas para afiá-los, que o homem americano teria se originado na própria América,
mais especificamente na Patagônia, com desdobramentos imediatos na Pampa e
Pré-Cordilheira e coabitado com animais antediluvianos. Atualmente esta teoria está
completamente refutada, sendo que até hoje não foram encontrados vestígios de
fósseis de antropóides superiores no continente americano. (PINTO, 2003).
Outra teoria defende que a América teria sido povoada por povos que
dominavam a arte da pesca, que teriam vindo através do Oceano Pacífico desde
seus locais de origem, a saber: Polinésia. Ásia ou Austrália. A teoria sustentada pelo
arqueólogo canadense Knut Fladmark (1979), explica que naquela época havia uma
cadeia de ilhas muito longa, que seriam os cimos de montanhas submersas e que
hoje, devido ao aumento do nível do mar, estas ilhas estão desaparecidas. Ao
contrário da teoria Autoctonista, esta possui sustentação científica, pois em 1998, no
sul do Peru, foram descobertos dois sítios arqueológicos, com resquícios de terem
sido usados como acampamentos de povos primitivos navegadores marítimos.
Análises apontaram que o sítio Quebrada Jaguay tem 11.100 anos e há incidência
de que as pessoas se alimentavam de mariscos e peixes. Outro sítio é Quebrada
Tacahuay, um pouco mais ao sul, possuindo 10.700 anos e seus moradores
alimentavam-se de aves marinhas e peixes. Arqueólogos encontraram restos de
aves marinhas, de pequenos peixes, cuja pesca exigiria uso de redes. Encontraram
também conchas de moluscos, ferramentas e alicerces de uma habitação. “Em
42
Ainda segundo Neves et al. (1997), seu trabalho, desenvolvido com métodos
de pesquisa multivariados sobre dados craniométricos, demonstrou que os
paleoíndios – nome dado a estas populações sul-americanas, não possuem o
mesmo padrão morfológico craniano característico dos povos mongóis do nordeste
asiático (NEVES; PUCCIARELLI, 1989, 1990, 1991; NEVES; MEYER;
PUCCIARELLI, 1993; MUNFORD; ZANINI; NEVES, 1995). Além disso, em estudo
de material esqueletal, Steele e Powell (1993) também haviam encontrado
resultados semelhantes, ou seja, “similaridades morfológicas entre os primeiros sul-
americanos conhecidos e populações australianas e africanas, assim como com
alguns fósseis centro-asiáticos do final do Pleistoceno” (NEVES et al., 1997, p. 98).
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
atrás, não podendo ser Luzia então descendente dos povos que entraram no
continente por esta via. Isto leva a pensar que o Homo sapiens veio pela Beríngia
muito antes, cerca de 14 mil ou 15 mil anos atrás, percorrendo o continente rumo ao
sul em busca de sua sobrevivência.
Sobre o modo de vida destes primeiros americanos, ainda são poucos os
estudos que analisam as interações do homem primitivo com o ambiente, mas já se
sabe que eram coletores, caçavam, possuíam vida social bem organizada,
cultuavam divindades e seres da natureza, tinham cerimônias fúnebres com rituais
mortuários, se expressavam através da arte em diversas formas, como adornos
corporais, pinturas, enfeites nas armas. Eram habilidosos na confecção de
instrumentos, ferramentas e, sobretudo, nas armas que, certamente eram
importantes para a sobrevivência. Com o passar do tempo se adaptaram
perfeitamente ao meio ambiente, se fixando em assentamentos que, com a
passagem do tempo, foram formando povoamentos e até cidades, nesta época já
plantavam milho, abóbora e outras culturas, dando início ao que hoje chamamos de
civilizações antigas, especialmente na América Central e do Sul com as civilizações
Inca e Maia e, na América do Norte, os Astecas e outros grupos de paleoíndios.
O que restou claro com o desenvolvimento deste estudo é a grande
importância de se buscar aprofundamento científico a fim de elucidar questões ainda
obscuras com relação à ocupação das Américas pelos primeiros americanos. A
comunidade científica está sempre fazendo descobertas e iluminando o mundo com
novos conhecimento e cabe, portanto, ao historiador, estar a par com estas
novidades a fim de compreender melhor como foi o mundo no passado para projetar
melhor o futuro. Assunto de relevância cabal quando a tema é a nossa própria
história.
Cabe destacar que este estudo não teve a intenção de esgotar o assunto,
aliás pensa-se que tampouco tal feito é possível ao mais hábil pesquisador, afinal
são tantos meandros envolvidos que é inegável a participação de outras áreas do
conhecimento a fim de ampliar o que já se sabe acerca dos primeiros americanos.
Assim, sugere-se que pesquisas futuras se debrucem sobre o tema, especialmente
sobre as descobertas na área da genética que tem evoluído imensamente nas
últimas décadas podendo abrir novos rumos nas descobertas a respeito da
ocupação das Américas a partir do Estreito de Bering.
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REFERÊNCIAS
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