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Existe muita preocupação em relação à contaminação através de gotículas de saliva que podem carrear
microrganismos patogênicos expelidos decorrente do ato de falar, gritar, tossir ou espirrar sobre os
alimentos. Neste sentido acompanhei durante dois anos aproximadamente algumas cozinhas industriais
aqui em São Paulo, analisando superfícies e alimentos preparados pelos manipuladores sem utilização de
máscaras e repetindo as análises nas mesmas cozinhas com os mesmos manipuladores utilizando
máscaras. As análises não revelaram alteração nas contagens nem na presença de patógenos, onde se
conclui que a utilização de máscara não revelou redução na contagem microbiana dos alimentos nem
das superfícies (bancadas e utensílios).
A partir destas observações e na ausência de outros trabalhos que comprovem a eficácia das máscaras,
entendo que não adianta investir em máscaras e forçar os manipuladores a utilizá-las porque não há
garantia de controle da contaminação.
Na realidade a utilização de máscaras durante a manipulação de alimentos pode provocar efeito inverso,
ou seja:
Tenho recomendado o uso de máscaras em casos muito especiais, como por exemplo, em indústrias
onde o ar do ambiente de trabalho pode provocar contaminações químicas ou microbiológicas através da
inalação pelos funcionários e não dos funcionários ao ambiente ou alimentos. Estas máscaras são
especiais, com filtração e fluxo de ar controlados, para não comprometer o trato respiratório. As
mascaras, assim com as luvas devem poderão ser utilizadas como item das boas práticas, devendo ser
decidido pela própria empresa a necessidade de seu uso.
Para evitar que ocorra contaminação excessiva dos manipuladores aos alimentos, é muito mais
importante a conscientização e o treinamento, adequando procedimentos pessoais e educacionais que
visem melhorar a higiene ambiental, pessoal e a redução do contato manual nos alimentos que já foram
coccionados (cozidos, assados, etc.) ou desinfetados, sendo ainda mais importante, o controle das
etapas de processo onde há maior risco dos microrganismos sobreviverem e se multiplicarem, devendo
ser controlados os tempos ou as temperaturas nos pontos críticos de controle.
As regras de procedimentos das Boas Práticas e o controle das Etapas de Processo são definidas pelo ?
Codex Alimentarius? da FAO, constituindo um documento utilizado mundialmente como referência para o
controle higiênico-sanitário na preparação de alimentos prontos para o consumo. É importante observar
que o Codex não faz nenhuma indicação do uso de máscaras.
É importante ressaltar que o ?Codex Alimentarius? e o ICMSF não reconhecem que a utilização de
máscaras seja um procedimento adequado para a proteção dos alimentos, e também que não existe na
Legislação Federal, nem na Estadual (Portaria CVS 6) e na Municipal (Portaria 2535) de São Paulo a
obrigatoriedade da utilização de máscaras na manipulação de alimentos.
VETO TOTAL
AO PROJETO DE LEI NI1 238/97
Veto do CVS Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo contra um projeto de Lei que
propunha a obrigatoriedade do uso de luvas e máscaras em cozinhas industriais, cujo veto foi assinado
pelo Governador Geraldo Alckmin.
Senhor Presidente,
Tenho a honra de levar ao conhecimento de Vossa Excelência, para os devidos fins, que, nos termos do
artigo 28. ~ 1'. combinado com o artigo 1,7, Inciso IV. da Constituição Estadual. resolvo vetar,
lotalmente, o Projeto de lei n° 238. de 1997, aprovado por essa nobre Assembléia conforme Autógrafo
nº 24.165. '
Não obstante reconheça os elevados propósitos ~ue nortearam a iniciativa parlamentar, vejo-me na
contingência de negar sanção li iniciativa, pelos motivos que passo a expor:
Dentro desse quadro, cabe destacar que a legislação vigente já fornece, consoante salientado pela
Secretaria da Saúde, manifestando-se sobre a proposta legislativa em tela, instrumentos e meios efi-
cazes par a o controle da qualidade dos alimentos, bem como para sua adequada fiscalização pelos
orgãos incumbidos de exercer a vigilância sanitária.
'asta, depois de ressaltar que a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos depende de um conjunto je
práticas e procedimentos interligados e interdependentes, a serem observados em toda a cadeia
alimentar, e que se encontram suficientemente disciplinados na legislação em vigor, definiu posição
contrária ao projeto. apresentando ponderáveis razões de ordem técnica. que desaconselham o
acolhimento da medida, assim indicadas:
De acordo com Hobbs e Gilbert "os trabalhos têm demonstrado que o uso de luvas não representam
vantagem no controle microbiológico em relação às mãos sem luvas. Às vezes o seu uso é recomen.
dado, como por exemplo. luvas com superflcie lisa, sem rupturas e bem lavadas, como proteção do
manipulador, para trabalhar com alimentos conge- lados ou quando existe contato prolongado das mãos
com água quente ou detergente.. Para trabalhos
rápidos como separação de saladas e sandui.ches são recomendados luvas finas e descartáveis e não
por muito tempo.De acordo com trabalhos realizados por Bryan F., foram isoladas bactérias do gênero
Salmonella sp. com as seguintes taxas de isolamento: mãos sem proteção: 30%; mãos com luvas de
plástico: 31%; mãos com luvas de borracha: 37%;
De acordo com trabalhos
realizados por Silva Jr. no controle microbiológico de alimentos manipulados em cozinhas industriais.
analisando alimentos manipulados com as mãos sem proteção (higienizadas adequadamente e alimentos
manipulados com luvas, não houve diferença nos resultados obtidos, demonstrando que a utilização de
luvas não representa uma redução significativa do número de microrganismo durante a manipulação de
alimentos, Ainda, de acordo com os testes realizados, a utilização de máscaras não Interferiu nos
resultados obtidos.
para tal. Entretanto, a opção de utilização de luvas e máscaras não exime o cumprimento de todos os
demais requisitos de higiene. devendo estar todas as operações e seus respectivos procedimentos pre-
vistos nas normas de boas práticas de produção/elaboração/prestação de serviços implantadas.
Assim justificada a
impugnação ao Projeto de lei
n9 238. de 1991, e fazendo-a publicar no Diário Oficial do Estado, em obediência ao disposto no §
3' do artigo 28 da Constituição do Estado, restituo o assunto ao reexame dessa ilustre Casa de Leis.
A Sua Excelência o Senhor Deputado Paulo Kobayashi, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado.