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Artigo de Opinião

Português

Juliana Schindler

25 de Maio de 2021
Olhos que julgam: A realidade oculta dos pequenos centros

A violência de gênero, não só enquanto ato físico, mas simbólico de desvalorização e


subjugação social da mulher, é um fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade. Muito
embora em cidades pequenas pouco se comenta sobre; assédio, violência doméstica, estupro,
feminicídio em grande parte são pouco recorrentes nestas cidades onde a ignorância predomina em
uma porção de habitantes, que ao se deparar com algum acontecimento anormal semelhante aos
citados a cima, culpam a vítima sem nem pensar duas vezes, sendo esta em sua maioria do gênero
feminino. Uma sociedade que se diz evoluída, com tantos veículos de informação, persiste em
julgar e apontar o dedo culpando a quem necessita de auxílio e apoio.
A falta de campanhas publicitárias em redes de TV, rádios e jornais que detém de grande
alcance conscientizando a população em geral sobre o que é violência contra a mulher, como
acontece a prática em âmbitos de vida privada ou como ocorre em ação coletiva, afeta
principalmente habitantes de cidades pequenas, onde estes não acompanham em seu dia a dia
situações como esta; mesmo que haja recursos para pesquisas sobre este tema não o fazem, desta
forma perpetuando o pensamento de que a culpada sempre é a vítima, utilizando de justificativas
ultrapassadas como: “olha a roupa que ela vestia, parece que estava pedindo para ser estrupada”, “o
marido a agredia e ela não o denunciou, parece que gostava de apanhar”, “com esse short ela
implorava para ser assediada”, “ela estava la provocando, pediu para morrer”, “ela merecia morrer”.
Em cidades pequenas a população tem o pensamento de que crimes não acontecem nestas
localizações, pois “todos se conhecem”, mas ao prestar atenção aos detalhes percebe-se uma velha
amiga da escola que apanha em silêncio e tem medo até de sair de casa por não saber qual a reação
do marido ao saber que ela saiu, ao encontrar uma mulher qualquer na rua nota-se a tristeza em seu
olhar e o abuso psicológico que a mesma enfrenta diariamente, xingamentos, palavras de baixo
calão, onde é notório que não só a violência física está presente como a violência psicológica, em
um domingo você acorda e recebe a notícia de que sua vizinha está morta, como? O marido a matou
após uma discussão na madrugada. A ingenuidade, o fechar os olhos para quem pede socorro
mesmo em silêncio, mata! O julgar, achar-se dono da razão ao afirmar que a vítima quem é a
culpada, independente da situação é no mínimo desrespeitoso com os familiares da mesma. A
hipocrisia presente nestas situações, nestes crimes; pois a vítima é a culpada até acontecer com uma
mulher de sua família, um abuso, um feminicídio, ou até mesmo um assédio, então você muda de
opinião com relação ao culpado ou mantém suas palavras até o fim?
Portanto, deve-se abrir os olhos, observar, pesquisar; propagandas públicas têm de serem
feitas para que a informação alcance cada vez mais pessoas, para que o ódio gratuito não seja
distribuído em um momento de dor e que a empatia seja posta em prática, para que quando ocorra
uma agressão a vítima saiba como pedir socorro, para que as pessoas vejam que milhares de
mulheres são mortas todos os anos e que não é uma cidade pequena que impede que isso possa
acontecer com qualquer uma, para que os verdadeiros culpados sintam medo e finalmente, para que
parem de nos matar.

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